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1ª Edição — novembro de 2023

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte dessa obra poderá ser reproduzida ou transmitida
por qualquer forma, meios eletrônicos ou mecânicos sem consentimento e autorização por escrito da
autora.

Capa: Maya Passos


Revisão: Susana Pierote, Camilla Nunes
Diagramação: Maya Passos, Susana Pierote
Betagem: Yasmin Lopes, Olívia Pelinson, Patrícia Ramos, Amanda Andrade, Panmirys Melo,
Carolina Martins, Duda Rodrigues (@dudalendoporai)
Ilustração Topos de Capítulo: Tacyla Priscila
Ilustração cena: Carlos Miguel.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com fatos é mera coincidência. Nenhuma
parte desse livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes — tangíveis ou
intangíveis — sem prévia autorização da autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido
na lei nº 9.610/98, punido pelo artigo 184 do código penal.

TEXTO REVISADO SEGUNDO O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.


Sumário
Nota do Mason
Sinopse
Playlist
Nota da Autora
Capítulo 01 — Mason Rilley
Capítulo 02 — Violet West
Capítulo 03 — Violet West
Capítulo 04 — Mason Rilley
Capítulo 05 — Violet West
Capítulo 06 — Mason Rilley
Capítulo 07 — Violet West
Capítulo 08 — Mason Rilley
Capítulo 09 — Violet West
Capítulo 10 — Violet West
Capítulo 11 — Mason Rilley
Capítulo 12 — Mason Rilley
Capítulo 13 — Violet West
Capítulo 14 — Mason Rilley
Capítulo 15 — Violet West
Capítulo 16 — Violet West
Capítulo 17 — Violet West
Capítulo 18— Mason Rilley
Capítulo 19 — Violet West
Capítulo 20 — Mason Rilley
Capítulo 21 — Violet West
Capítulo 22 — Violet West
Capítulo 23 — Mason Rilley
Capítulo 24 — Violet West
Capítulo 25 — Violet West
Capítulo 26 — Mason Rilley
Capítulo 27 — Mason Rilley
Capítulo 28 — Violet West
Capítulo 29 — Mason Rilley
Capítulo 30 — Mason Rilley
Capítulo 31 — Violet West
Capítulo 32 — Violet West
Capítulo 33 — Mason Rilley
Capítulo 34 — Mason Rilley
Capítulo 35 — Mason Rilley
Capítulo 36 — Violet West
Capítulo 37 — Mason Rilley
Capítulo 38 — Violet West
Epílogo — Mason Rilley
Agradecimentos
Leia Também
Nota do Mason
Olá, gatinha, meu nome é Mason Rilley e talvez você me conheça
de outros livros, ou não. Na verdade, tanto faz, pois tenho certeza de que se
você ainda não me ama, vai amar em algum momento. Rá, fica quietinha aí,
Maya!
Sim, gente, a Maya tá puta porque eu furei a fila. Ela queria
escrever um mafioso lá que, honestamente, não chega aos meus pés.
Provavelmente, agora você está achando que ando demais com o Frank e
fiquei convencido igual a ele, mas não. Vou provar pra você que tudo que
falei até agora é verdade, mesmo que minha autora esteja fazendo careta
para a tela do computador enquanto digita as minhas palavras. Eu me
recuso a sair da cabeça dela, viu?!
Todo mundo costuma achar que sou um cara legal, e de fato eu
sou; talvez também pensem que sou incapaz de fazer algumas coisas, no
entanto, você vai descobrir aqui que eu posso ser doce e amargo, quente e
frio, raso e intenso na mesma medida. No fim das contas, sou só um carinha
comum.
Meu pai me disse uma vez, há muito tempo, que se tem algo que
você não pode contar para quem deveria saber tudo sobre a sua vida, então
certamente você não deveria estar fazendo aquilo, e eu nunca esqueci essa
frase.
Antes dela, Lukas sabia de todos os meus passos, ele sempre foi o
meu melhor amigo, irmão de coração, e aí, tudo despencou. Como algo
pode parecer tão errado e tão certo ao mesmo tempo? Como explicar para o
meu melhor amigo que eu transei com a irmãzinha dele de dezoito anos,
mesmo jamais querendo um relacionamento?
Não me entendam mal, ela é uma garota legal, ok, às vezes nem
tanto..., mas eu não sou o tipo de cara que ama.
Calma, não foi bem isso que eu quis dizer. Eu amo minha irmã,
minha mãe e meus amigos mais do que qualquer coisa nesse mundo. Amo
meu trabalho também e o apartamento que eu conquistei com meu suor e
esforço. Mas sei o quanto é doloroso perder alguém a quem se ama tanto.
E não, não sou assim porque alguém partiu meu coração. Ele nunca
acelerou forte o suficiente para sofrer danos por impacto, então, nunca levei
a pior em uma colisão. É física pura, não tem como..., mas dessa vez me
acertaram rápido e forte o suficiente.
E então, eu quebrei!
Sinopse
Comédia Romântica — New Adult — Melhor amigo do irmão
— Age Gap — Só tem uma cama — Enemies to Haters to
Lovers
Mason Rilley:
Acredite em mim, eu não vou me apaixonar pela irmãzinha caçula do meu melhor amigo. Pelo
menos, foi isso que prometi para mim mesmo e estou disposto a lutar para cumprir.
Violet e eu somos totalmente o oposto um do outro:
Ela parece ser um verdadeiro furacão, enquanto eu prefiro a calmaria.
Ela gosta de barulho, eu prefiro o silêncio.
Ela age por emoção, enquanto eu costumava usar a razão em cada atitude.
Ela é uma diabinha disposta a me levar para o inferno, e eu posso até ser a pior espécie de anjo,
mas antes dela, sempre tive meus pés bem firmes no chão.
Está vendo só?
Na minha opinião, seria impossível que qualquer sentimento se transformasse em algo bom
nessa história. No entanto, tudo mudou quando ela veio morar em San Francisco para estudar música
na UC Berkeley. Digamos que tê-la por perto tornou as coisas um pouco mais interessantes e eu já
sentia como se meu autocontrole estivesse por um fio, a situação piora consideravelmente quando a
diaba precisa passar alguns dias em meu apartamento.
Ela é desafiadora, encrenqueira, linda, gostosa e cheia de sonhos, e a cada segundo com ela, eu
me perco nos meus próprios princípios.
A questão é: até quando conseguirei resistir?
Playlist

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Nota da Autora
Olá, para você que já me conhece de outros surtos e também para você que é novo ou nova
por aqui. É sempre um prazer estar de volta!
Quando comecei a escrever MaVi, eu tinha planos completamente diferentes, bom... essa
conversa já nem é mais novidade, pois eles sempre fazem isso comigo. O Mason é uma criatura
curiosamente perigosa, que tem uma enorme dificuldade em encontrar as próprias roupas nos
momentos críticos e uma aptidão fodida em dar socos não planejados, tudo isso enquanto tenta ser
uma pessoa melhor, meditando.
A Violet..., nada a reclamar sobre ela. A diabinha sempre tem seus motivos.
Espero que eles te arrebatem da mesma forma que fizeram comigo nesse processo maluco.
Foram muitos dias e madrugadas de luta, muitas descobertas e autossabotagem. Horas antes de
lançar, cheguei a pensar que não ia conseguir terminar, mas olha só..., estamos aqui.
Antes de prosseguir com a leitura, preciso pedir para que fique atenta(o) aos gatilhos citados
no texto como abandono parental, negligência, luto e abuso sexual. Caso não seja confortável para
você, é melhor que não leia, ou até mesmo pule certas partes incômodas. Mas, em geral, é uma
história fofinha, que no fim vai te deixar cheia de amor e coração quentinho.
Se precisar surtar, o que tenho quase certeza de que vai acontecer, minhas redes sociais
sempre estão abertas, e eu vou ter muito prazer em te responder lá no meu Instagram:
@autoramayapassos
É isso.
Um grande beijo e boa leitura!
A todos que acreditam em seus sonhos, mesmo que ninguém acredite;
Ao amor que floresce em meio ao caos;
A todas as regras quebradas!
Meia-noite
Você vem me buscar, faróis apagados
Uma viagem longa
Poderia acabar em chamas ou no paraíso

Entra em cena, oh
Já faz um tempo desde que ouvi falar de você
(Ouvi falar de você)

E eu devia apenas te dizer para ir embora, porque eu


Sei exatamente onde isso leva, mas eu
Fico vendo a gente dar voltas e voltas toda vez

Você tem aquele olhar sonhador de James Dean em seus olhos


E estou com aqueles lábios vermelhos, o clássico que você adora
E quando nós terminamos, voltamos todas as vezes
Porque nós nunca saímos de moda
Nós nunca saímos de moda

Você tem aquele cabelo comprido, penteado para trás, camiseta branca
E eu tenho aquela fé de boa garota, e uma saia pequena e apertada
E quando nós terminamos, voltamos todas as vezes
Porque nós nunca saímos de moda
Nós nunca saímos de moda
Style — Taylor Swift
Capítulo 01 — Mason Rilley

Regra nº 1: Passe a odiar todos os


momentos em que ela está por perto.

Olhei através da multidão, procurando pela minha irmã que me


avisou por mensagem que havia chegado. Hoje é um dos dias tranquilos na
ClubParty,[1] onde a boate não chegava a lotar, mas ainda assim muitas
pessoas dançavam no meio da pista, envoltos pela fumaça artificial, luzes
ofuscantes e música alta. Eu normalmente nem sairia do escritório se não
fosse pela visita de Megan, no entanto, sua aparição inesperada não me
incomodava.
Desde que ela e Lukas começaram a se relacionar, boa parte das
minhas preocupações com minha irmã acabaram. Meu amigo sempre foi
um puto de primeira, porém, ele nem chegava aos pés dos idiotas com
quem Megan namorou antes. Eu tinha a impressão de que minha irmã havia
herdado toda a vocação para “dedo podre” que deveria ser dividido entre os
membros minha família, pois não houve sequer um namorado dela que
valesse alguma coisa, era incrível! Isso mudou no último verão, quando os
dois passaram a cuidar um do outro e então ela veio morar em San
Francisco.
Minha vida era melhor com Megan por perto, mesmo que não
tivesse um pingo de juízo naquela cabeça bonita.
Quando cansei de procurá-la entre a multidão, dei a volta pela
parte de dentro da boate para chegar ao bar principal, assim, ela conseguiria
me encontrar com facilidade.
— Tá a fim de fazer arte hoje, chefe? — Isaac perguntou, com um
sorriso empolgado.
O pirralho tinha apenas dezenove anos e trabalhava para se manter
na Berkeley[2]. O ensinei tudo que sabia, e em poucos meses ele preparava
drinks melhor do que eu. Não que eu fosse um grande exemplo de barman,
mas, assim como ele, também precisei trabalhar para me manter na
universidade. Olhava para o moleque e quase enxergava o Mason de onze
anos atrás que pegava tudo que tinha e arranjava uma maneira de aprimorar.
— Só passar o tempo, parceiro. — Peguei um pano embaixo do
balcão e pendurei sobre o ombro.
— A ruivinha ali parece disposta a perder muito tempo com você.
— Sorri de lado quando Isaac ergueu o queixo, apontando para alguém
atrás de mim.
Me virei com a mesma expressão estampada no rosto e aproximei-
me da moça. Com o tempo, aprendi que é no balcão do bar onde a magia
acontece e, se a gata mostrar interesse o suficiente, rola um combo extra:
peça uma bebida e de quebra fique molhada.
É um bom negócio para ambas as partes.
— Bem-vinda, linda! — Apoiei minhas mãos sobre a bancada,
flexionando os músculos e notando seu olhar desviando lentamente para as
partes descobertas do meu corpo. A camiseta regata deixava meus braços
completamente descobertos. Eu nem estava com essa bola toda, mas tinha
uma rotina de treinos e conseguia me manter em forma. — O que vai beber
hoje?
Os olhos castanhos voltaram aos meus e lentamente a ruiva abriu
um sorriso.
— Isso vai depender do que você tem para me oferecer.
Uuuh!
É gata e tem atitude. Eu quem ganhei o combo dessa vez.
Abri a boca para devolver o flerte. A cantada quase saiu e eu até já
conseguia me imaginar saindo daqui hoje com uma boa companhia, até que
(puta que pariu, ainda não acredito que isso realmente aconteceu) ela
apareceu.
— Iiih, é melhor correr, garota! Ele tem o pau minúsculo, beija
muito mal e acorda com um bafo que é um horror. Sério! — A peste
arregalou os olhos, enquanto eu continuava perplexo por aquela
interrupção. — Como as aparências enganam, não é? — Violet suspirou de
forma dramática, como se estivesse arrasando na porra do teatrinho que
fazia.
— Violet! — chamei entredentes, sentindo o sangue correr dez
vezes mais rápido pelas minhas veias e uma grande parte dele se acumular
em minha cabeça.
Eu ia matar aquela filha da puta!
— Eu... — Ouvi a voz da ruiva ao longe, notando pelo canto do
olho sua cabeça virar de um lado para o outro, alternando-se entre mim e a
pirralha parada ao seu lado. — Minhas amigas estão me chamando —
falou, ficando de pé para correr dali.
Queria mesmo parar e explicar que Violet só estava implicando,
brincando, ou seja lá o que essa filha do satanás quisesse fazer comigo, já
que não me deixava em paz. Entretanto, meu corpo inteiro estava em alerta,
as palmas das minhas mãos suavam e meu peito arfava. Cenas de um
Mason descontrolado pulando o balcão e mostrando a essa pentelha quem
beija mal e tem o pau minúsculo passaram pela minha mente e tão logo se
foram.
A quem ela compararia, afinal? A gaiola de ouro em que cresceu,
cheia de mimos, proteção e bajulação, não a preparou para o mundo.
Tampouco para mim.
— Que porra você está fazendo aqui? — berrei, mesmo que não
precisasse. A boate era perfeitamente projetada para a acústica diminuir
nessa parte do salão. As pessoas não precisavam gritar para fazer seus
pedidos, ou até mesmo para conversar deste lado.
Ela apoiou os braços em cima do balcão devagar, se inclinando em
minha direção, enquanto seus lábios e língua se movimentavam para mascar
o chiclete que eu só havia notado agora.
— Com “aqui” — Seus dedos finos se curvaram em frente ao meu
rosto, fazendo aspas no ar — você quer dizer na boate ou em San
Francisco?
Na verdade, na verdade mesmo, eu queria perguntar o que ela
estava fazendo na minha vida. Porra! Se eu soubesse que aturar a irmã mais
nova do seu melhor amigo era uma tarefa tão ultrajante, humilhante e
cansativa, teria poupado Lukas de todos os anos que o mantive perto de
Megan.
Na época eu achava até engraçado, e agora estou pagando. Com
juros muito abusivos neste caralho!
— Os dois, engraçadinha. — Encapetada, isso sim. — O que você
está fazendo aqui, nesta cidade, neste planeta, inclusive?
A filha da puta riu.
Não entendi o motivo de cara, mas ela parecia feliz em me deixar
puto.
Foi assim desde a primeira vez em que nos conhecemos
oficialmente. Eu cheguei a vê-la quando criança poucas vezes, mas nunca
nos falamos de fato. Natalie parecia ter um certo tipo de superproteção
sobre ela, pois, como Lukas costumava dizer: ela não se “misturava”. No
último feriado de 4 de julho[3], as coisas mudaram quando Violet veio passar
alguns dias com o irmão.
Modéstia à parte, eu era bom com pessoas. Elas naturalmente
gostavam de mim, porém essa pirralha encheu a porra do meu saco até dizer
basta. E eu achava que minha irmã era impossível... que engano!
— O gato comeu a porra da sua língua? — insisti, quando vi que
ela continuava com uma expressão de superioridade.
Irritante!
Irritante pra caralho!
— Piadinha do jardim de infância? — provocou, ainda com um
sorriso estampado no rosto.
— É para combinar com a sua idade, bebê!
Estufei o peito ao ver seu rosto ganhar um tom de vermelho. Eu
estava começando a irritá-la. Aquilo era bom, mas eu ainda estava puto.
— Vai se foder!
— Eu iria, se você não tivesse me atrapalhado, sua...
— Calma, Mason! — Isaac parou ao meu lado, tentando remediar
a situação. — Você quer pedir alguma bebida, Vi?
Vi?
Que porra de intimidade era aquela?
Voltei minha atenção para ele com o cenho franzido e vi sua
expressão murchar.
— Na verdade, não. — Ela ergueu as duas sobrancelhas para o
barman e depois voltou os olhos para mim outra vez.
— Então por que diabos você está aqui, Violet? — perguntei,
tentando soar menos raivoso. Tentando e falhando.
— Não te contaram nada ainda, né? — A pirralha pareceu
pensativa por um momento, mas logo aquilo desapareceu, dando lugar a
velha e irritante Violet petulante de sempre.
— Contaram? Contaram o quê? — Franzi o rosto, confuso.
Sinceramente?
Eu preferia não ter entendido.
Preferia mesmo não ter recebido aquela porra de notícia. Mas ela
veio e desceu pela minha garganta com um amargor do caralho.
— Agora eu moro aqui.
Capítulo 02 — Violet West

Querido Diário, meu dia foi uma


merda... bom, nem tanto.

Do corredor em que ficavam os camarins e escritórios, eu


conseguia ouvir os gritos do Mason.
— Podiam pelo menos ter me avisado! — Ele parecia bravo,
enquanto eu prendia o riso, preocupada em não chamar a atenção deles. —
E ainda deixaram aquela peste solta por aqui. Sabem o que ela fez?
— Mason, pega leve! — Megan falou, em tom de repreensão.
— “Pega leve?” — Aquilo que eu ouvi foi um rosnado? — Ela
chegou no bar dizendo para uma desconhecida que eu tinha o pau pequeno
e sou eu que tenho que pegar leve? — Trouxe minha mão até a boca e o
nariz, cobrindo-os.
Eu nem deveria estar ali, então, me denunciar tiraria toda a
diversão da coisa.
Me custava um pouco entender essa satisfação em irritar tanto
alguém. Até esqueci da tristeza e de todos os problemas que tinha quando vi
aquele belo rosto tomado pelo choque mais cedo no bar da boate.
Que cena, minhas amigas!
Mason era gatinho. Um gatinho muito filho da puta e metido, mas
ainda assim um gatinho. Porém, eu não sentia absolutamente nada por ele
além da raiva.
Tudo começou há pouco mais de um ano, quando Lukas me
convidou para passar o feriado em San Francisco. Tinha adorado nossa
aproximação e Megan só tornava tudo ainda melhor. Ela era demais! Assim
que cheguei, descobri que o irmão da minha cunhada era quem me esperava
no aeroporto, pois acabei chegando algumas horas mais tarde do que o
previsto.
Assim que vi uma foto sua pela primeira vez, houve um breve
momento em que me lembro de achar bonitos aqueles olhos brilhantes e o
sorriso simpático, entretanto, quando o encontrei, notei que as coisas não
seriam tão fáceis. Para começar, ele parecia impaciente e muito incomodado
por estar me esperando, e ainda ter que fazer sala para mim por algumas
horas até Lukas conseguir sair da construtora.
Ele era um grosso e sequer se ofereceu para carregar minhas
bagagens. Tudo bem que as malas tinham rodinhas, mas um homem de
verdade faria a gentileza de arrastá-las.

Há pouco mais de um ano, no verão...

— Como assim você não pode vir? — quase choraminguei ao


perguntar ao Lukas por telefone. Eu nunca tinha viajado sozinha, na
verdade, nunca me permitiam ir muito longe sem que alguém estivesse por
perto.
— Fica calma, maninha, pedi ao Mason pra te pegar.
— Mason? — Ergui as sobrancelhas, me esquivando das pessoas
enquanto saía da área de desembarque.
— Sim, meu amigo, irmão da Megan. — Eu sequer sabia que ela
tinha um irmão... — Ele está na Starbucks te esperando. Vou mandar uma
foto para que você possa identificá-lo.
— Tudo bem... — concordei, mesmo que não gostasse nada
daquilo.
Não curtia muito conhecer pessoas assim e nem de ter alguém me
fazendo um favor. Me sentia desconfortável.
Arrastei minhas malas até a cafeteria e peguei meu telefone, vendo
meu irmão e seu amigo na imagem. Na hora que pus os olhos naquele
sorriso simpático, até pensei que nós dois fôssemos nos dar bem, já que ele
era um charme, porém, eu não poderia estar mais enganada.
Foi impossível não o reconhecer, contudo, diferente da simpatia
que demonstrava ter na imagem, um Mason rabugento estava sentado com
o notebook em sua frente. Ele nem ergueu os olhos quando me aproximei,
mas mesmo assim dei-lhe uma chance e resolvi ser a primeira a falar.
— Oi, eu sou a...
— Violet — ele completou minha frase, sem deixar que eu
terminasse de falar. — Sei quem você é.
Troquei o peso de um pé para o outro, me sentindo desconfortável
pela sua indiferença.
— E você é o Mason... — falei devagar, de maneira decepcionada,
mais para mim do que para ele.
Preferia ficar cinco horas na sala vip do aeroporto ao ter que lidar
com a má vontade do melhor amigo do meu irmão, mas era o que eu tinha.
Finalmente ele resolveu erguer os olhos e tão logo os estreitou,
como se houvesse algo de errado comigo. Desviei o olhar, sem querer que
ele enxergasse o misto de sensações que transpassavam em meu interior.
Era sempre assim que eu me sentia em casa: deslocada, errada,
inadequada... Sempre tive uma forma bem específica de lidar com isso
quando se tratava do meu pai e da minha madrasta, mas aqui, com um cara
que eu não conhecia, só consegui sentir o baque em meu peito, aquela
velha e conhecida sensação de estar no lugar errado, de ser de uma
maneira que ele não esperava que eu fosse.

— Será que vocês podem calar a porra da boca? — Fui trazida de


volta das minhas lembranças quando a voz do Jeff sobrepôs a de todos os
outros dentro do escritório, e um silêncio aterrador seguiu, até ele voltar a
falar: — Eu sabia que ainda tinha moral nessa merda.
Prendi o riso quando o advogado comemorou. Podia até imaginar a
expressão fulminante dos outros dentro da sala. O Jeff era o meu favorito
entre eles, sem contar o meu irmão, claro!
— Ah, vai se foder! — Mason xingou, ainda parecendo irritado,
mas depois voltou a ficar quieto.
— Cara, por que caralhos você está tão irritado? — Jeff voltou a
perguntar. — Sua reação é muito irracional, se levar em conta que nada,
absolutamente nada, te tira do sério.
— Eu e Violet conversamos, Mason. Ela concordou em parar de te
provocar. — Meu irmão entrou em minha defesa, a voz dele ainda era a
mais calma de todas dentro daquela sala. — E faz quase um ano desde que
vocês se encontraram pela primeira vez, tenho certeza de que ela
amadureceu um pouco até aqui.
Hmm, bobinho!
A risada seca de Mason penetrou no meu cérebro, como se ele
estivesse rindo dentro da minha cabeça. Eu definitivamente detestava
aquele som.
— Você acredita mesmo nisso? — ele perguntou após a risada
histérica, e mais alguns segundos de silêncio seguiram. — Da última vez eu
fui parar no hospital, Lukas! Acho que agora ela consegue me enterrar de
vez.
— Já explicamos que foi sem querer. — A voz exausta de Megan
se sobrepôs a do irmão. — Acho que você está apenas com ciúmes, e eu
entendo, mas a Vi é inofensiva, Mason.
— Ela é a minha irmã, cara. Sei que fomos só nós dois por muito
tempo, mas a Violet faz parte da minha vida, e você não precisa gostar dela,
apenas estabelecer uma boa convivência, como... — Lukas se interrompeu,
me deixando intrigada.
— Você ia comparar ele e a sua irmã com você e a Megan, não
era? — Jeff colocou em palavras as minhas dúvidas.
— Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra —
Mason falou, cortando o papo. — Além disso, vocês dois nunca se deram
realmente bem antes de...
— Completa a frase, inferno. Somos todos adultos, você pode
admitir em voz alta que o Lukas almoça e janta sua irmã todo santo dia. —
O tom malicioso do advogado me fez franzir o rosto em aversão.
— Você é nojento — Megan retrucou.
— Prefere que eu use outros termos?
— Jeff, cala a porra da boca! — Lukas disse de maneira categórica,
soltando um longo suspiro logo depois. — Não vou mandar minha irmã
embora, Mason.
— Sei que não — o senhor irritadinho respondeu, me deixando
intrigada pelo seu tom pacífico. — Mas isso não significa que irei
concordar com todas as merdas que ela faz.
— Tudo bem.
— E Violet não pode ficar vindo aqui na boate sozinha sempre que
quiser, pois ela nem tem idade para isso.
Se eu bem me lembro, Lukas e Mason faziam coisas piores quando
completaram seus dezoito anos, mas eu não podia. Que babaca!
— Tá bom... — Lukas concordou muito fácil para o meu gosto.
Todos ficaram em silêncio por algum tempo, e minha mente
começou a viajar pelas possibilidades. O que o idiota exigiria agora como
condição?
E por que diabos Mason podia fazer exigências e eu não?
— Então, acho que está tudo bem.
— Se não está, vai ficar... — Revirei os olhos para a fala do meu
irmão.
Eu não me mudei para infernizar a vida de Mason, na verdade, a
única razão de eu estar em San Francisco agora era porque o meu querido
pai me deu um ultimato: ou eu fazia o que ele queria, ou não passava mais
nenhum dia embaixo do mesmo teto que a família West. Acredito que nem
preciso dizer como tudo terminou dada a minha atual situação.
Desencostei da parede assim que a porta foi aberta e eles saíram
enfileirados do escritório. Não deu tempo de correr ou me esconder, e eles
nem pareceram surpresos com a minha presença ali. Meu irmão me deu
uma piscadinha condescendente, Megan tentou conter o sorriso lateral, mas
não conseguiu. Mason sequer me olhou, checando algo em seu Iphone.
Imbecil!
E o Jeff sorria de orelha a orelha, como se todos nós estivéssemos
perdendo uma grande piada que só aquela mente maquiavélica tinha acesso.
— Bem-vinda a San Francisco, baixinha.
Cerrei os olhos, sem entender a intenção nas palavras dele; ainda
assim, aceitei o cumprimento com um menear de cabeça.
Capítulo 03 — Violet West

Querido diário, eu odeio Mason Rilley!

Ainda era cedo quando entramos no apartamento do meu irmão no


centro da cidade. A única mala que consegui trazer ainda estava na entrada
do quarto de hósp... do meu quarto. Não seria nem um pouco fácil me
acostumar com a vida e o ritmo das coisas por aqui, mas eu me esforçaria.
Aparentemente, agora era apenas eu por mim mesma, e isso não deveria
doer tanto quanto doía.
— Vou tomar um banho e me deitar — falei para Lukas e Megan,
sentindo uma necessidade de ficar sozinha e de dar privacidade aos dois.
— Não prefere comer algo antes? — Meu irmão perguntou.
— Estou sem fome — Tentei sorrir, esticando meus lábios —, só
um pouco cansada mesmo.
— Bom descanso, então. — Megan sorriu, tirando a jaqueta jeans e
pendurando-a perto da porta. — Ah, e não liga para a implicância do
Mason, ele ainda não superou aquele lance da canela — ela completou, mas
logo após repensou e voltou a falar: — E do sal no café...
— Tá tudo bem, Meg, a implicância é recíproca — dei uma
risadinha ao dizer, já me movendo pela sala. — Até amanhã — falei, antes
de arrastar a mala para dentro do cômodo e fechar a porta atrás de mim.
Girei a chave, finalmente desabando todos os muros que ergui ao
meu redor para que ninguém enxergasse minhas feridas. No silêncio do meu
novo refúgio, o único som que eu conseguia ouvir era do meu coração
retumbante, que chegava a doer a cada batida. Minha respiração também
começava a pesar e todas as lágrimas que segurei por todo esse tempo até
aqui escorreram pelo meu rosto.
Era uma sensação amarga, uma dor que parecia querer arrancar um
pedaço de mim.
Me sentia descartável. Inadequada. Substituível.
Isso e mais uma dúzia de emoções ruins me tiravam do chão.
Não foi só o fato de eles terem me chutado na primeira vez que
discordei de alguma decisão sobre mim. Foi a indiferença que vi nos olhos
do meu pai ao dizer que eu podia ir embora e depois as palavras mais duras
que poderia me dizer: você deveria ter morrido no lugar dela.
Eu preferia mesmo morrer ao ter que ouvir algo assim.
Sempre fui ensinada a ser grata por Natalie ter me criado como
filha desde bebê e isso me prendeu a muitas de suas vontades. Papai fazia
questão de enfatizar o quanto eu parecia com minha mãe e o quanto queria
que ela ainda estivesse viva, porém, nunca dissera com exatidão que
preferia que eu não existisse, mesmo que a sensação sempre estivesse
presente em algum lugar no meu subconsciente.
Na minha cabeça, também era por isso que Lukas havia se afastado
da nossa família. Cresci pensando que ele sentia ódio de mim por não ter
uma mãe por perto, mesmo que nunca tivessem me dito isso com todas as
letras, era o que ficava no ar na maioria das vezes em que tocavam no nome
do meu irmão mais velho. A sensação começou a se desfazer há pouco mais
de dois anos, no casamento do Thomas, e desde então nós dois estamos
mais unidos.
E aí eu vim parar aqui...
Assim que saí de casa e o avisei sobre o que aconteceu, ele me
arranjou um lugar para ficar e começou a providenciar minha passagem.
Fiquei três dias com a mãe da Megan em San Diego e vim para cá apenas
com Baunilha, meu furão que agora dormia dentro da gaiola pequena que
consegui trazer, e as roupas da pequena mala que fiz. Não havia o
suficiente, mas pelo menos o essencial para recomeçar.
Abri minha mala no meio do quarto e peguei um vestidinho
confortável antes de entrar no banheiro interligado ao cômodo. Era muito
bom deixar as lágrimas fluírem livremente, sem precisar segurar aquela
postura de quem pouco se importa. Doeu ser chutada do lugar que chamei
de lar a vida inteira, doeu mais ainda eles nem se preocuparem se eu estava
bem, abrigada ou alimentada. Na primeira oportunidade, viraram mesmo as
costas para mim.
Será que eu era tão insuportável assim ao ponto de não me
aturarem mais?
E será mesmo que isso deveria doer tanto?

Despertei com a vibração do meu celular embaixo do travesseiro.


Nem me lembrava em que momento entre chorar, me lamentar e me afundar
em autopiedade eu acabei dormindo. Ao menos descansei um pouco, já que
foi impossível dormir bem nos últimos três dias.
Desliguei o alarme, que tocava todos os dias às oito da manhã, e
me sentei na cama para dormir mais um pouco na posição vertical antes do
celular despertar outra vez.
Minha cabeça pendeu para baixo e meu queixo encontrou um lugar
nada confortável em meu ombro ossudo, mas foi assim que eu despertei
outra vez, quando o aparelho vibrou na minha mão. Suspirei, esfregando os
olhos e me arrastando para fora da cama.
— Ai, caralho! — Xinguei, ao tropeçar na mala que eu mesma abri
no meio do quarto.
— Violet? — A voz de Lukas soou do corredor. — Tudo bem aí?
— Sim! — Gritei de volta, sem muita paciência para me explicar.
— Tá bom... — Ele murmurou e logo depois seus passos se
afastaram.
Fiz minha higiene pessoal, troquei o pijama e coloquei um pouco
de comida na gaiola do Baunilha antes de sair do quarto. Precisava soltá-lo
pela casa um pouco, ou levá-lo para passear na rua no fim da tarde, em
algum momento ele destruiria sua própria casa em busca de algo para fazer.
Pelo menos ele dormia pra caramba, inclusive durante o dia.
— Você sabe que isso não é justo... — Fui ouvindo a voz do meu
irmão à medida que me aproximava da cozinha. — Ela não fez nada de
errado, pai, só algo que o senhor não aprova.
Me esgueirei pela sala devagar, tentando não chamar sua atenção,
mas falhei. Lukas acenou com a cabeça para mim, como se me desse
permissão para me unir a ele, que estava na cozinha, atrás do balcão.
— É melhor eu desligar — meu irmão falou entredentes, com a
feição tomada pela revolta, e eu fiz uma careta, pensando se queria entender
o que o velho falou para deixá-lo tão possesso.
Nos encaramos por alguns segundos após ele desligar a chamada.
Ainda considerava se era uma boa ideia perguntar, porém, mesmo assim
arrisquei:
— Por que está me olhando assim?
— Ele me disse que te viram beijando uma garota. — Meu rosto
deve ter ganhado um tom carmim, que era muito raro aparecer, mas eu não
estava confortável em discutir sobre minha sexualidade com o meu irmão.
— Por que não me contou?
— Porque não era da sua conta... — Tentei não soar grosseira, mas
era algo muito óbvio para não ser dito. — Mudaria alguma coisa se eu
tivesse te falado?
— Claro que não, só achei que ele tinha te expulsado por querer
estudar música e tentei de defender. — Meu irmão soou ofendido com a
acusação, mas sua resposta também aliviou um pouco meu estado de alerta.
— Só fiquei surpreso, ainda mais por isso ter servido como motivação para
ele te mandar embora de casa.
— Ele te disse para me expulsar também? — Perguntei, curvando
o lábio em um sorriso lateral.
— Como sabe?
— Ele falou que se eu fosse atrás do Thomas ele daria um jeito de
me jogar na rua — contei, com um certo desdém, escondendo o quanto
aquilo doía.
— Isso é um absurdo. — Lukas negou com a cabeça, incrédulo.
— Eu acho que sou bissexual — falei, antes que a pergunta
surgisse. — Quando estive aqui ano passado, ainda não sabia que sentia
atração por mulheres, na verdade, ainda é confuso para mim. — Corei mais
uma vez ao admitir.
Foi só uma festa de despedida do colégio e uma atração por
alguém que eu sequer tinha visto antes. Apenas aconteceu. Antes disso, eu
só tinha me atraído por garotos, que eu me lembre.
Faith era quatro anos mais velha e me deu a porcaria do orgasmo
mais intenso que já tive. Não que houvesse muito com o que comparar, mas
ela era boa.
— Você não me deve explicações, Violet — disse enquanto abria a
geladeira e tirava um pote de iogurte de dentro. — Também não deveria se
envergonhar. — Ele arrastou o pote em minha direção e abriu uma gaveta,
tirando uma colher de dentro e colocando-a ao lado. — Melhor comer, não
vi você se alimentando ontem.
Minha última refeição tinha sido o café da manhã no aeroporto,
mas não senti fome pelo restante do dia.
— Valeu... — Falei, abrindo o pote e começando a comer devagar
com a colher. — Eu tinha ido contar sobre a Berkeley, não imaginei que as
coisas fossem acabar dessa maneira.
Esperei até o último segundo para falar com ele. Depois de nem
chegar perto de entrar em Julliard e nem na UCLA, Berkeley era a minha
melhor opção. Eu tinha o dinheiro da herança da minha mãe, pois completei
dezoito anos um pouco antes do período de inscrição terminar, e isso me
ajudou a fazer tudo por debaixo dos panos. Em nenhum momento me
perguntaram sobre onde ou o que eu pretendia estudar. Na verdade, eles não
prestavam atenção em mim a menos que eu aparecesse fazendo algo de
errado ou quisessem posar de família unida e feliz.
— Eu imaginei... — Lukas meneou a cabeça devagar. — Não
esperava que as coisas fossem se complicar tanto, mas queria ter estado lá
quando a discussão aconteceu.
— Foi muito repentino, não tinha como saber que tudo viraria uma
tempestade tão depressa. — Dei de ombros, tentando soar indiferente. — E
eu também não queria te trazer problemas, mas não sabia para quem ligar.
— Eu e o papai sempre tivemos problemas.
— Que agora vão ficar mil vezes piores. Ele detesta que discordem
dele.
— E foi o que eu sempre fiz, maninha.
Fiquei olhando para o rosto dele, que era bem diferente do meu,
procurando por algum arrependimento em me hospedar aqui.
— Eu posso mesmo morar com vocês?
— É claro que pode, Violet!
Era tarde demais para conseguir uma vaga nos dormitórios da
universidade, e eu não conhecia ninguém disposto a dividir o aluguel
comigo, não que eu tivesse dinheiro para isso, de qualquer maneira.
Aluguéis custavam caro e gastar o único dinheiro que eu tinha podia me
prejudicar em algum momento. A universidade era paga anualmente e nem
sonhando eu conseguiria juntar tanto dinheiro tão rápido.
— Prometo que vou tentar não incomodar muito, e minhas aulas
começam em um mês.
Eu precisava arranjar uma maneira de ganhar grana o quanto antes,
já que não pretendia ficar pedindo dinheiro ao meu irmão, e nem tinha mais
os cartões ilimitados de papai para fazer compras no shopping ou ir à
farmácia quando eu precisava de algo.
— Quer a verdade? — Lukas perguntou, inclinando um pouco a
cabeça e eu acenei, atenta. — Estou feliz que você esteja aqui, mesmo sob
essas circunstâncias. Antes eu me sentia um pouco culpado por ter perdido
uma parte da sua vida e agora eu posso te ensinar a dirigir e te levar ao seu
primeiro dia de aula.
Franzi o nariz quando ele falou em me levar às aulas. Isso não seria
muito jardim de infância?
— O quê? — ele questionou, arqueando uma sobrancelha.
— Eu já sei dirigir — contei, esticando os lábios em um pedido de
desculpas. — O Thomas me ensinou.
A última parte quase não foi dita, já que os dois tinham uma bela
rixa, que eu estava longe de entender e também de questionar.
— Por que você sabe dirigir, mas ainda não tem a carta?
— Sei lá! — Dei de ombros, terminando de comer. Nunca tinha
pensado sobre isso, na verdade. Também não me deixavam ir a lugar algum
sem o motorista, então, o que eu faria com a carta?
Depois de ver como Lukas era livre aqui, comecei a entender um
pouco do porquê ele vivia afastado de todos nós.
Nunca pude sair sozinha, ir a parques ou brincar na casa das
minhas amigas. Só fui ao cinema depois dos quinze, e foi quando
começaram a me deixar sair “sozinha” com o motorista da família, caso ele
estivesse disponível; senão, eu podia me deitar no quarto e chorar.
Arranjava qualquer desculpa para passar mais tempo na escola, já
que era o único lugar que me permitiam estar sozinha.
Eu não podia pegar carona com ninguém, ir a bibliotecas, ter um
cachorro ou andar sozinha pela rua. Em algum momento eu devo ter me
questionado se aquilo era superproteção ou excesso de controle, contudo,
não soube responder.
Terminei de comer e fui ao quarto pegar meu diário. Eu gostava de
escrever um pouco todas as manhãs e, sempre que ficava impossível dormir
à noite, costumava colocar em palavras tudo que eu estava pensando, o que
não era nada mais do que algumas bobagens, mas me ajudavam a esvaziar a
mente. Era um hábito velho, conselho da professora que me alfabetizou. Ela
nos fazia escrever um pequeno texto todas as manhãs, sobre como nosso dia
havia começado, e desde então adotei o diário como parte da minha
existência.
Lukas ficou no sofá, mexendo no celular, e eu ocupei a bancada,
tendo-o à minha vista, mas eu não estava prestando atenção no que meu
irmão fazia. Lembrei do Baunilha, do passeio que faria com ele e também
da necessidade de soltá-lo um pouco pela casa depois. Adotei o bichinho há
apenas sete meses, ainda era um filhote, mas sem supervisão tinha potencial
para causar um belo estrago. Abri a boca para falar sobre o assunto, porém,
a porta foi escancarada e Mason surgiu.
Como sempre, aparecendo nos momentos mais inoportunos.
— Bom dia, família! — O idiota falou animado, como se não
estivesse dando chilique na noite anterior.
— Bom dia — Lukas retribuiu, e eu continuei quieta e abaixei os
olhos, focando no diário aberto à minha frente.
Coloquei a data com a minha caneta rosa favorita e escrevi
“Querido diário...”
— Olha só, você colocou a criança para pintar enquanto os adultos
trabalham — suspirei quando ele provocou e antes de responder à altura,
terminei a frase que escrevia antes:
“Querido Diário, eu odeio Mason Rilley.”
Capítulo 04 — Mason Rilley

Regra nº 2: Sempre que possível,


desvie o olhar. Ela é perigosa.

Há pouco mais de um ano, no verão...


— Você deve estar de brincadeira! — Falei incrédulo para um
Lukas preocupado do outro lado da linha.
— Não estou cara... Ela está viajando de avião sozinha pela
primeira vez, tem apenas dezessete anos e o voo atrasou, eu deveria buscá-
la de manhã, mas ela só chegou agora. Você não costuma ver noticiários,
mas já deve ter ouvido histórias bizarras de como garotas desaparecem
misteriosamente... — Revirei os olhos, cansado da ladainha dele ao
telefone. — Não foi fácil convencer o papai a deixá-la vir, imagina só se ele
fica sabendo que eu a deixei sozinha lá no aeroporto?
— Então você espera que eu pare tudo que estou fazendo agora
para buscar a sua irmã adolescente fora da cidade? — Falei
tranquilamente, como se não fosse realmente um problema. Não deveria
ser, na verdade, mas hoje, especificamente hoje, era um problema do
caralho. — E onde vou deixá-la? — Perguntei, curioso.
— Ela não pode ficar com você por algumas horas?
Caralho, Lukas, eu só quero te matar nesse momento...
Olhei de relance para a tela do meu notebook, onde as abas
abriam e fechavam sem a minha interferência. O técnico de manutenção
parecia estar tendo problemas para corrigir o bug, já que estávamos aqui
há mais de uma hora. Porém, eu precisava entregar um projeto até o fim do
dia para um cliente muito importante. Falhar não era uma possibilidade, e
se o carinha do TI não conseguisse solucionar essa merda, eu iria atrás de
um computador novo.
Trabalhei até às três da manhã ontem e tudo parecia normal, até
iniciar o notebook essa manhã e a tela congelar na área de trabalho. Não
dava nem para aumentar o volume, nem o touchpad funcionava
— Você não tem ideia do quanto eu te odeio agora. — Suspirei,
ansioso e irritado. — Que horas ela chega?
— Às 13h — Eu tinha duas horas para chegar ao aeroporto, era
possível, pelo menos... — Só vou conseguir sair daqui às 18h, mas acho que
a Megan sai do trabalho às 16h hoje.
A ideia de usar o notebook da minha irmã passou pela minha
cabeça no momento em que ele falou dela, porém, meus programas
costumavam ser muito mais pesados do que os softwares que ela usava
para desenhar, então, eu necessitava de algo mais potente. Em vez de
resolver meu problema, poderia facilmente causar outro para Megan.
— Vou levar meu notebook para o Starbucks e fico lá esperando.
— Cara... fico te devendo essa.
— Ah, mas nem se preocupe que eu vou cobrar, seu filho de um
puto. — Lukas deu risada antes de se despedir, provavelmente achando que
era brincadeira.
Eu poderia até estar brincando, porém, ele nem sequer imaginava
como meu dia começou caótico, e até o momento só tinha piorado.
Contudo, ele sempre esteve aqui para mim quando precisei, era isso que os
amigos faziam afinal de contas.
No meu trajeto de casa para o aeroporto só havia um problema: se
eu desligasse o notebook, interromperia a porra do diagnóstico, e o
carinha nerd teria que recomeçar tudo outra vez. Eu não podia nem mexer
nas configurações para desabilitar a hibernação ao fechar a tela, por isso
o coloquei aberto no banco do carona e acelerei, pegando o caminho mais
curto e rápido, temendo que a bateria não descarregasse no processo.
Peguei trânsito, óbvio, e o trajeto que deveria ter durado vinte e
cinco minutos se estendeu por cinquenta. A minha bateria não aguentou até
lá, minha paciência também não, e quando me sentei na cafeteria e
consegui uma tomada livre para carregar meu computador, toda a porra de
processo que o Corey havia começado antes precisou ser reiniciado.
Acompanhei com os olhos conforme ele reinicializava a porcaria
toda. Se precisasse de uma formatação, eu com certeza entraria em
desespero hoje. Óbvio que eu salvava todos os meus projetos na nuvem,
porém, quando parei de editar o último essa madrugada, não imaginei que
apenas algumas horinhas de sono me levariam a tal desastre.
Quando ela chegou, o diagnóstico estava quase em 100%, e não
me dignei a levantar o olhar para vê-la.
97%...
— Oi, eu sou a...
98%...
— Violet, eu sei quem você é.
99%...
99%...
99%...
Caralho, isso não acaba?
— E você é o Mason — disse de maneira triste.
99%...
Seu tom me chamou atenção, e quando finalmente a olhei, cerrei
as pálpebras, confuso.
Eu esperava uma adolescente, talvez alguém com um Yorkshire e
uma camiseta do Mickey Mouse, uma mala rosa e um iPhone da mesma
cor. A garota que estava em minha frente não condizia com as minhas
expectativas.
Ela era linda, com os olhos grandes e expressivos, o nariz e queixo
finos e proporcionais, e as bochechas levemente saltadas traziam a ela um
ar meio angelical. Os cabelos longos tinham o mesmo tom de mel de seus
olhos, não pude deixar de notar.
Sua blusinha preta ia até um pouco acima do seu umbigo,
terminando antes da calça pantalona da mesma cor. Parei de notar
detalhes nela quando meu cérebro passou a mandar vários alertas de que
mesmo com essa aparência, ela tinha dezessete anos, apenas. UMA
CRIANÇA!
— Já falaram de mim pra você — Arqueei uma sobrancelha,
realmente curioso agora.
— Sim. — A garota voltou a suspirar. — É aquilo que costumam
dizer... Crie um pônei maldito, mas não crie expectativas.
Inclinei a cabeça para o lado, surpreso pela sua indireta, mas,
antes que eu dissesse qualquer coisa, meu celular apitou em cima da mesa
e eu desviei minha atenção para ele:
Corey: Deu erro.
Conferi a tela e havia uma mensagem de falha no diagnóstico.
Puta merda...
Corey: Vou reiniciar, mas seria mais eficiente que você viesse até a
loja.
Dei uma breve olhada na garota à minha frente, que agora estava
sentada e tinha a atenção em todos os lugares da cafeteria, menos em mim.
Eu podia arrastá-la até o shopping e obrigá-la a me esperar? Sim, eu
podia.
— Vamos embora — informei, vendo Corey recomeçar o processo
de diagnóstico novamente e puxando o carregador da tomada para
recolher meu notebook.
Em um momento, eu estava de cabeça baixa, dando atenção ao
cabo em minha mão, no outro, precisei segurar a mesinha que tombou para
frente, fazendo com que o copo de café tombasse, derramando inteiro em
cima do meu teclado e uma boa parte em mim.
— Meu Deus! — Olhei para ela assim que a exclamação deixou
sua boca e seus olhos também pareciam querer pular das órbitas de tão
arregalados.
Não demorou muito para que a tela do notebook apagasse, claro.
Minha perna pinicando pela queimadura do líquido quente nem foi tão
incômodo comparado à porra do meu computador, que provavelmente
agora não prestava para nada.
— É melhor você começar a rezar mesmo!
Se meu SSD estivesse queimado, Lukas ia ter que tirar um projeto
do cu para ser entregue ainda hoje.

Dias atuais...
— Você não pode mandá-la para a universidade e lhe dar uma
mesada mensal? — falei, após Violet deixar a sala de estar com a porra
quadril estreito balançando de um lado para o outro enquanto sua bunda
empinada se movia bem na linha dos meus olhos.
Eu a detestava.
Éramos inimigos.
Ela me odiava, graças a Deus...
— Não. Quero tê-la por perto — Lukas afirmou de maneira
tranquila ao passo que continuava trabalhando em seu computador.
Nossas reuniões eram bem comuns, pois a minha empresa tinha
vários projetos em conjunto com a sua, então, quase sempre estávamos em
contato, mas ele preferia que eu viesse até o seu apartamento por ser mais
espaçoso, e como eu morava a apenas um quarteirão daqui, não me
incomodava.
Antes... antes não me incomodava, agora, com ela aqui o tempo
inteiro, provavelmente eu iria surtar em algum momento.
— Pra quê? — Minha voz saiu mais aguda e alta do que planejei,
contudo, a questão já havia deixado meus lábios quando meu melhor amigo
tirou os olhos da tela lentamente, fitando meu rosto com uma das
sobrancelhas saltadas.
Ele não disse nada por 5... 14... 23... 32...
Sim, eu estava contando.
Setenta e nove segundos, quase oitenta depois, finalmente o infeliz
resolveu se mover da posição em que estava.
Eu só conseguia pensar em como alguém fica tanto tempo parado
em apenas uma posição conforme ele fechava o computador e depositava-o
sobre a mesinha no centro da sala, e então Lukas se virou para mim, me
avaliando por mais um curto período antes de perguntar:
— Até quando você pretende agir que nem um adolescente?
Se fosse um soco, doeria menos no meu ego, pode apostar!
— Não sou eu que me comporto igual a um adolescente aqui, cara.
Você é quem trouxe a adolescente para morar debaixo do seu teto —
respondi de maneira calma, tomando cuidado para não demonstrar meu
incômodo.
— Em primeiro lugar, precisa parar de falar como se fosse um
problema tê-la aqui, Mason. — Ele estava irritado, e foda-se, não era meu
dever deixá-lo feliz. — É a minha irmã. Eu a acolheria mesmo que ela
tivesse escolhido vir morar comigo sem nenhum outro motivo e sei muito
bem que você faria o mesmo pela Megan.
— Claro, eu praticamente criei a Megan — contrapus, franzindo o
cenho para ele.
Mesmo que minha irmã, na grande maioria das vezes, tivesse
respostas afiadas e malcriadas para Lukas, eu ou mamãe sempre ficamos
por perto para dizer até onde ela poderia ir, mesmo que a criatura sempre
ultrapassasse a linha. No caso deles, toda vez que sua irmãzinha aprontava
algo, havia uma razão que justificasse.
Violet nunca estava errada.
Ela era uma diaba. Uma diaba gostosa, mas ainda assim a
reencarnação dos meus piores pesadelos e o preço por todos os meus
pecados.
— E eu deveria estar lá para ela, você sabe! — Sua voz sobrepôs a
minha, talvez os moradores dos apartamentos de cima e de baixo tivessem
escutado. — Estive lá em todas as vezes que levou e buscou Megan na
escola, a levei para o parque junto com você, ajudei a construir a mesinha
que ela desenhava, e também segurava a escada quando você queria
pendurar mais um desenho dela pela casa.
— Não acredito que agora resolveu passar tudo isso na minha
cara...
— Porra, para uma pessoa extremamente racional, você está
agindo como um idiota. — Ele abanou uma das mãos, e achei que fosse
levá-la para o cabelo, como costumava fazer, mas Lukas respirou fundo, e
tornou a falar: — Eu só sinto culpa, Mason. Fui embora para correr atrás
dos meus sonhos e a deixei sozinha com os lobos, tem noção?
A compreensão caiu como um tijolo na minha cabeça.
Eu não tinha ideia de que ele se sentia assim, já que nunca
tínhamos conversado sobre esse assunto. Sabia que ele tentava se aproximar
da irmã, mas não que havia uma ferida naquele movimento.
Eu estive lá quando Megan era criança, a protegi, fiz o dever de
casa na mesa da cozinha ao seu lado enquanto Lukas me esperava para
jogar videogame. Eu a ensinei a chutar os caras direto nas bolas e sofri pra
caralho quando me mudei para estudar em Berkeley. Lukas deve ter me
ouvido chorar bêbado uma noite, e no outro dia não questionou o motivo,
no entanto, no fundo o meu amigo sabia que eu sentia falta da minha mãe e
irmã... já ele não tinha alguém para voltar além da pequena Violet.
Me recostei, levando as mãos para trás da cabeça, fitando o teto
branco e pensando no que dizer para aliviar a tensão dele e a minha
também.
— Você tinha que ir — comecei devagar —, eu também tive que ir
embora, e você sabe o quanto doeu.
— Na época eu não sentia — Sua voz estava mais baixa agora. —
Coloquei na cabeça que não era minha obrigação e segui em frente. Tudo
que eu queria era sair daquela casa.
— E não era mesmo sua obrigação, Lukas.
— Também não era sua obrigação acordar mais cedo e levar sua
irmã na escola para que sua mãe pudesse dormir mais algumas horas
quando você sequer descansou. — Aquilo desceu duro pela minha garganta.
Eu fazia tudo por elas. Lukas sabia, ele viu.
Viu todos os momentos que sacrifiquei, todas as noites de sono que
perdi quando Megan estava com febre ou mamãe tinha crises de choro
compulsivas e não conseguia se acalmar. Todas as vezes que a tirei da lama,
ele soube. Era o único que entendia, a única pessoa para quem eu podia
desabafar.
— Não quero voltar nisso, Mason — Lukas voltou a falar, se
arrependendo das suas palavras anteriores —, mas não me julgue por querer
fazer pela Violet ao menos um porcento do que fez por sua mãe e irmã.
— Nunca vou te julgar por isso, cara.
— E precisa parar de reclamar no meu ouvido também. — Claro,
agora ele tinha exigências...
— Vai precisar de protetores auriculares, Lukas, porque eu vou
reclamar. — Virei o rosto pra ele, soando convicto. — Violet não vai deixar
de me importunar e eu não vou agir como se ela fosse especial e intocável.
— Devia parar de se comportar como se fosse todo zen e adorável
também. — A voz de Violet irrompeu na minha cabeça, reverberando pelos
meus neurônios como uma maldita praga. — Todo mundo já sacou que
você esconde alguma coisa por trás dessa sua falsa personalidade “good
vibes”.
— Não sabia que a conversa tinha descido ao seu nível, coisinha
mimada. — Sorri para ela, devolvendo a provocação com a mesma moeda.
— Uau, tudo isso é desejo de estar por cima?
Não pude deixar de enxergar duplo sentido em sua frase, fazendo
minha expressão fechar e anulando toda a diversão da brincadeira. O
vestidinho florido tomara que caia que usava não servia para cobrir muito
de seu corpo, deixando os ombros, decote reto pequeno e pernas à mostra, e
o esforço que fiz para desviar o olhar foi quase extraordinário.
Violet notou o meu recuo e piscou apenas um olho para mim,
mordendo o lábio inferior em deboche. Filha de uma...
— Vocês dois ainda vão me matar. Puta merda! — Lukas
resmungou ao meu lado.
— Vim perguntar se você precisa que eu saia para deixá-los mais à
vontade — Ela olhou para o irmão, libertando o lábio inferior de seus
dentes e franzindo-os. — As paredes aqui são bem finas, então, mesmo sem
querer, acabo ouvindo a conversa.
— Não falamos nada demais. — Lukas deu de ombros,
disfarçando.
— Você podia ir dar uma voltinha lá na casa do caralho —
resmunguei baixinho, sorrindo, e não demorou até sentir o soco de Lukas
no meu braço.
— O quê? — Ela inclinou o rosto para frente, franzindo o cenho
como se estivesse confusa. — Não entendi direito, você disse que já ia pra
casa sentar em algum caralho?
— Violet! — seu irmão a interrompeu, em tom repreensivo.
— Ele quem começou. — A diaba deu de ombros, tranquilamente.
— Não precisa ir a lugar nenhum se não quiser — meu amigo
falou e eu fiquei quieto, deixando que ele lidasse com sua nova
responsabilidade.
Eu precisava mesmo aprender a suportar a Violet e os rompantes
de raiva que ela me fazia sentir. O fato era que ninguém jamais me tirou do
chão como essa garota costumava fazer, e eu me sentia meio perdido
quando ela estava por perto.
Contudo, o foco agora era não perder o equilíbrio.
Capítulo 05 — Violet West

Querido diário, hoje descobri que nem


sempre é a vida que te fode.

Meus olhos se abriram de maneira lenta, fitando o teto mal


iluminado pela luz fraca que entrava através das janelas. Estava bem difícil
dormir e, provando isso, minha cabeça pesou, como se houvesse uma
barreira me impedindo de colocar os pensamentos em ordem.
Toc, toc, toc...
O som insistente me fez olhar devagar ao redor do quarto,
procurando por algo fora do lugar. Baunilha dormia em sua gaiola, muito
alheio à minha insônia. Às vezes eu sentia inveja dele. Dormir mais de
quinze horas por dia, sem esforço, deve ser uma dádiva divina. Deus tem
realmente seus preferidos, não há dúvidas.
Toc, toc, toc, toc, toc...
O som seco continuou, levando meu coração a acelerar suas
batidas. Não vinha da porta, muito menos da janela. Era dentro do quarto,
no banheiro, talvez?
Droga!
Eu nem tinha mais idade para me esconder embaixo da cama, e se
uma entidade estivesse no banheiro, me acharia muito fácil.
Toc, toc, toc, toc...
Eu podia muito bem gritar, porém, se não fosse nada, assustaria
Lukas e Megan, e eu vinha fazendo de tudo para ser o mais invisível
possível aqui dentro. Não queria incomodá-los, muito menos tornar minha
estadia aqui enfadonha para qualquer um deles dois, e ambos se levantavam
cedo para trabalhar.
Toc, toc, toc, toc...
Meu Deus, eu vou morrer.
Minha mente já começava a fantasiar o exato momento em que um
homem mascarado sairia do meu banheiro com um facão na mão, ou até
mesmo a Annabelle[4] começasse a fazer as portas abrirem e fecharem
sozinhas.
A clareza caiu sobre mim, quando um gemido se sobressaiu em
meio as batidas, então elas foram ficando mais rápidas, e outro gemido
baixo.
Puta merda, as paredes aqui eram mesmo finas.
Peguei um dos travesseiros e o pressionei sobre a minha cabeça na
esperança de abafar os sons, mas o baque seco da cabeceira se chocando
contra a parede seguiu invadindo minha audição, e então veio o barulho do
tapa.
As coisas estavam indo para outro nível...
Como exatamente eu olharia para o meu irmão mais velho, com
quem tenho um nível de intimidade muito limitado, inclusive, e diria que
ele precisa arranjar uma forma de prender aquilo à parede e se possível
evitar espancar a bunda da sua namorada?
Na verdade, na verdade mesmo, eu deveria estar dormindo.
Acredito que ele contava com esse pequeno detalhe quando resolveu
macetar a Megan no quarto ao lado.
Que droga! Era o apartamento dele, e mesmo que estivesse
transando à luz do dia, eu ainda era a intrusa aqui, tirando sua privacidade.
Pulei da cama, me movendo sobre as pontas dos pés para não fazer
nenhum barulho que me denunciasse. Peguei um moletom grande e o joguei
por cima da camisola fina, vestindo a legging rosa logo em seguida.
Escondi meu celular no cós da calça e saí do quarto de fininho, mantendo
minha cabeça escondida pelo capuz.
Era uma bênção que as portas aqui não fizessem barulho, tornando
muito fácil a minha escapada. Assim que saí no corredor do andar, encarei
as outras três portas fechadas, tentando manter o foco.
Para onde eu iria afinal? Já passava de uma da manhã e sem
dúvidas perambular sozinha pela rua não era a decisão mais inteligente.
Mesmo assim, saí andando para o elevador.
Em um mês inteiro morando aqui, era a primeira vez que eu os
ouvia. Não sei se tinham entrado em abstinência durante esse tempo ou
apenas eram discretos. Eles não se deitavam cedo e às vezes nem os via
chegando em casa no fim da noite.
Na mansão era fácil me esconder. Nesse último ano, costumava
passar uma semana inteira sem ver o meu pai, até que ele mandava algum
dos empregados me chamar para jantar, ameaçando me deixar com fome
caso eu não descesse. Era chato pra caramba ter que me arrumar inteira
apenas para comer no andar de baixo com ele e Natalie. Quando Thomas e
Emmy apareciam, a noite se tornava um pouco mais tolerável, mas ouvir as
meias palavras, os olhares enviesados e as tentativas fúteis de conversa me
cansavam.
Quando cheguei ao térreo, o porteiro acenou para mim com uma
expressão repleta de dúvidas, porém, não me impediu de sair para o ar
gelado da rua lotada de prédios. Olhei de um lado para o outro, procurando
alguma alma viva, mas era apenas eu.
Enfiei as mãos dentro dos bolsos do moletom e comecei a
caminhar a passos largos pela calçada. Era um bairro tranquilo, ainda assim,
àquela hora as pessoas estavam dormindo. A agitação, bares e lojas abertas
até tarde ficavam do outro lado da cidade.
Nas noites como essa em San Diego, eu gostava de me sentar na
varanda do meu quarto, com o diário aberto sobre a mesa e a vista para o
jardim da mansão. Já me deitei no telhado para olhar as estrelas e também
me arrisquei pelo quintal, não que fosse uma grande aventura, pois nosso
terreno era cercado por seguranças. A atitude mais perigosa que tomei na
vida foi sair de casa sozinha depois da meia noite. No caso, neste exato
momento.
Andei por alguns minutos, satisfeita com o silêncio sepulcral e a
quietude da rua, mas não durou muito. Os passos pesados atrás de mim me
deram a certeza de que eu não estava sozinha como pensava. Apertei os
olhos por dois segundos, sentindo meu coração acelerar e aumentando a
velocidade dos meus passos.
O que eu fui fazer?
Não olhe para trás, não olhe!
Sussurrei para mim mesma à medida que as passadas ficavam mais
audíveis. Se eu tivesse muita sorte, era só alguém que preferia se exercitar
durante a madrugada.
De qualquer forma, era tarde demais, pois sua presença estava bem
próxima a mim; bem atrás, para ser exata, e meu corpo deu um solavanco,
parando abruptamente quando fui segurada pelo braço.
Gelei, sentindo o coração bater três vezes mais rápido e a morte
começar a sussurrar meu nome baixinho.
Venha para mim, Violet, estou aguardando você!
Ainda assim, me preparei para gritar, começando a tentar encher os
pulmões de ar e respirar mais devagar ao mesmo tempo.
— Que merda você está fazendo na rua a essa hora, Violet? —
Arregalei os olhos quando Mason me colocou de frente para ele.
Minha primeira reação foi soltar um suspiro de alívio que durou
pouquíssimo tempo, já que mesmo não sendo um serial killer, era Mason
ali, me olhando como se eu tivesse seis chifres divididos entre duas
cabeças.
— Não posso nem andar na rua mais? — Sacudi meu braço,
obrigando-o a me libertar de seu aperto, e ele o fez, levando as duas mãos
até a cintura e respirando pesado.
Dei uma breve olhada na camisa molhada de suor colada em seu
peitoral, no short fino de academia e tênis esportivo. Ele tinha saído para
correr. Quem era o ser humano normal que saía para se exercitar de
madrugada? Fala sério!
— Sozinha, a praticamente duas da manhã. — Ele ergueu o pulso,
fazendo com que a luz do relógio iluminasse mais o seu rosto suado.
— Você está na rua, sozinho, às duas da manhã.
Mason olhou ao redor de nós e, depois de soltar um rosnado baixo,
voltou a segurar meu braço, me puxando pelas escadas à nossa frente.
Estava tão aflita na minha tentativa de fuga que nem me dei conta de que
estávamos parados em frente ao seu prédio, e Mason não cessou seu
exercício por minha causa, era porque já havia terminado.
Tropecei em meus pés quando ele passou voando pela portaria,
sem cumprimentar a mulher que nos olhava com curiosidade, mas eu
apenas sorri amarelo, dando de ombros. Mason nos enfiou no elevador e
apertou o botão com mais força do que necessário, e logo as portas se
fecharam, nos colocando em movimento.
— Não estou falando com uma criança, Violet, e você deve
entender os motivos pelos quais não deve sair andando sozinha na rua de
madrugada, a menos que seja extremamente necessário.
Sabia que havia razão em suas palavras, mas quem ele achava que
era?
— Foi extremamente necessário — respondi, cerrando minhas
pálpebras e evitando dar uma resposta malcriada.
— Qual o motivo? — questionou, cheio de incredulidade em seu
tom.
— Não é da sua conta, Mason — Seu olhar carrancudo continuou
em meu rosto, me forçando a responder direito. — Não consegui dormir.
Satisfeito?
— Podia ter feito um chá, porra! — Sua irritação não diminuiu
nem um pouco. Ele nunca teve insônia? Otário! — Podia ter sentado sua
bunda no sofá e passado a noite inteira vendo qualquer porcaria na
televisão, podia ter ido fazer cupcakes, mas você foi pela opção mais
estúpida e saiu caminhando sozinha de madrugada.
— Ah, cara, vai se foder! — As portas do elevador se abriram bem
na hora que terminei de xingar, e eu saí de dentro dele como se a minha
vida dependesse disso.
— Ingrata do caralho! — Mason passou na minha frente, digitando
a senha de sua fechadura eletrônico, que eu já havia decorado: 170500.
— Não pedi para você me resgatar com seus tênis Nike mágicos —
zombei, entrando junto com ele no apartamento. — Eu só precisava sair,
estava sufocada.
— A não ser que o prédio comece a pegar fogo e que você comece
a morrer sufocada de verdade, não sai daqui até amanhecer — Mason falou,
após o sistema de segurança travar a porta atrás de si. — E seu irmão vai
ficar sabendo disso.
Olhei enfurecida para aquela carinha ridícula dele, querendo pular
e esganar seu pescoço.
— Como você quiser, idiota. — Me sentei no sofá, olhando com
tédio ao redor do apartamento milimetricamente organizado.
Eu já estive aqui antes, havia uma maquete exposta no meio da sala
como uma peça decorativa. E se não fosse tão pequena, eu poderia até
acreditar que havia pessoas dentro daquele prédio, vivendo, trabalhando...
Era muito realístico. Tinha seu nome em uma placa no canto, com a
assinatura que provava que Mason era o responsável por aquele projeto.
— Vou tomar um banho — ele falou, já puxando a camisa molhada
por cima de sua cabeça. Uma gota de suor começou a descer pelo meio de
seu peitoral, acompanhei o movimento lento que ela fazia, descendo por
entre os gominhos e se perdendo no elástico da cueca. — Tente não se
meter em encrenca até eu acabar, pirralha.
Ergui meu dedo do meio para onde ele estava, acompanhando-o até
a porta do banheiro se fechar, me deixando sozinha e com tédio em sua sala
de estar.
Mason era um idiota grosseiro, mas pelo menos não estava
transando no quarto ao lado para eu ouvir. Eu devia começar a fazer sexo
também, quem sabe assim na manhã seguinte eu pudesse olhar na cara de
Lukas e Megan sem ficar envergonhada.
Puta merda, e o imbecil do Mason ainda ia contar que eu saí
durante a madrugada. Não seria difícil eles ligarem uma coisa à outra e
descobrirem os meus motivos.
Esfreguei as mãos suadas na legging quando minha mente passou
rápido pelo leque de possibilidades do dia seguinte. Eles me achariam
ridícula, óbvio, e poderiam achar que eu estava incomodada com suas
atividades noturnas. Eu realmente estava? Não, não era da minha conta.
Mas também não era normal admitir que mais um pouco ouvindo gemidos e
tapas e eu ficaria excitada.
Isso não deveria ser uma opção.
Deus, eu ia parar no inferno, com certeza, mas ainda precisava de
uma desculpa convincente.

Me deitei na cama de Mason enquanto ele ficou na sala


trabalhando. Os lençóis tinham o cheiro dele que, contrariando todas as
minhas expectativas, não era ruim, e a cama king era muito mais
confortável do que a queen que havia em meu quarto. Ele ligou o ar-
condicionado e jogou uma coberta na minha cara sem dizer nada além de:
“tente não colocar sua vida em risco nos seus sonhos também.”
Sério, eu devia colocar a vida dele em risco, isso sim!
Não sei quanto tempo passou desde a hora que me deitei, mas a
minha mente não havia parado até então.
Quando Lukas questionasse o motivo de ter saído de casa durante a
madrugada, diria que estava com insônia e resolvi pegar um ar, não
pretendia ir muito longe e ainda era cedo quando desci, só saí do prédio
perto das duas da manhã, sem saber realmente que horas eram.
Se Mason desmentir, eu nego até a morte.
A insônia não é exatamente mentira, já que minhas crises de
ansiedade costumam vir recheadas de privação de sono e falta de apetite,
mas eu já havia me acostumado. Tentava não quebrar muito minha rotina,
pois viciava bem rápido em dormir em horários disfuncionais, ainda assim
era difícil pra caramba evitar os sintomas quando chegavam.
Estava tão distraída que só senti a presença do idiota quando a
cama afundou ao meu lado e eu desviei o olhar do teto, fitando a face
cansada de Mason.
— Você vai dormir aqui? — perguntei baixinho, impressionada por
ele resolver se deitar ao meu lado.
— Ainda está acordada? — Ele fez outra pergunta, cerrando as
pálpebras em minha direção. — Quer que eu conte uma historinha pra você
dormir?
Idiota.
— Vai tirá-la dos pornôs que você assiste, Mason? — Mesmo
exausta, eu já caía de maneira muito natural em suas provocações.
Às vezes era simplesmente mais forte do que eu.
— Não preciso ver pornô para me inspirar em uma história erótica,
coisinha mimada, ao contrário de você.
— Claro! — Revirei os olhos, com preguiça da sua certeza de que
eu não sabia nada sobre sexo. Eu não sabia muito, mas pelo menos o
suficiente para ter ideias. — Eu fiz uma pergunta, Mason, por que vai
dormir aqui?
— É a minha cama.
— E eu estou nela, se não notou.
— Se quer dormir sozinha, vá para o chão ou para o sofá — ele
devolveu, se acomodando até estar de bruços, com a bochecha descansando
no travesseiro e o rosto virado em minha direção. — Eu só não aconselho,
já que é desconfortável pra caralho.
— Nunca conheci ninguém mais hospitaleiro que você, Mason —
debochei, voltando a olhar para o teto.
— Sei, é difícil mesmo me superar. — Resolvi ignorar sua frase
convencida.
Não demorou muito até Mason estar respirando devagar e
tranquilo. Parecia prestes a cochilar, enquanto meus pensamentos se
assemelhavam ao tráfego da Times Square.
— Apenas feche os olhos e durma, Violet — ele resmungou um
tempo depois, como se o seu conselho fosse a chave para a cura da insônia
no mundo inteiro.
Remédio pra quê se ele acha que é só fechar os olhos e dormir?
Ridículo!
Capítulo 06 — Mason Rilley

Regra nº 3: Não se compadeça. O


primeiro passo para gostar é sentir
empatia, por isso, não sinta!

Abri apenas um dos olhos conferindo se ela ainda estava na cama


ao meu lado, mas o lugar encontrava-se vazio. A escuridão além da janela
me confirmou que ainda não havia amanhecido.
Porra, não acredito que essa maluca saiu outra vez.
Sério, eu precisava mesmo conversar com o Lukas sobre ela, talvez
convencê-lo a internar a criatura em uma clínica psiquiátrica, já que era
completamente surtada ao ponto de ir para a rua de madrugada.
E o pior, eu nem sabia que ela era um problema meu.
Não deveria ser.
A decisão de trazê-la para o meu apartamento foi puramente
instintiva.
Eu saía para correr às vezes quando chegava da CP[5]
desacompanhado. Nem sempre estava tão cansado para dormir rápido e
gostava de me exercitar para me livrar da energia acumulada, pois
trabalhava a maior parte do tempo sentado. No entanto, não havia nada que
pudessem tirar de mim na rua, já que nem a carteira eu costumava levar. Se
tratando de uma moça de dezoito anos, sozinha, tudo era bem mais
complicado, e se Violet não entendia isso, deveria mesmo se tratar.
— Merda, eu quero dormir — resmunguei, esfregando o rosto com
a mão e rolando para o lado, na intenção de me levantar.
Ela não estava em lugar nenhum do quarto, tive certeza disso
quando olhei ao redor, mas um pouco de luz entrava pela fresta embaixo da
porta. Fiquei de pé, ainda meio zonzo, dividido entre mandar se foder e
voltar para a cama ou continuar com a missão de não deixar a irmã do meu
melhor amigo se matar.
Abri a porta, colocando a mão em frente aos olhos quando a luz me
incomodou.
Fitei minha sala de estar, não a encontrando em lugar algum,
porém, ao olhar para a cozinha, vi Violet sentada na cadeira enquanto
escrevia atentamente em uma folha de papel que ela deve ter pegado em
meu escritório. A caneta que estava em sua mão era a que ganhei em minha
formatura, tinha meu nome nela e eu detestava que usassem.
Fitei sua face distraída, ponderando se atrapalharia ou não seu
momento. Os longos cílios se agitavam à medida que ela piscava e os olhos
cor de mel não desviavam do que escrevia. O mais engraçado era sua boca
que franzia, esticava e por vezes até tremia, em um curto espaço de tempo.
Precisei desviar o olhar quando seus dentes capturaram seu lábio inferior.
Era demais.
Me movi, dando passos para trás até estar novamente dentro do
quarto. Encostei a porta devagar e me deitei, pegando meu celular para
conferir as horas. Três e quarenta da manhã.
Abri o aplicativo de segurança do meu apartamento e programei a
porta para não destravar por dentro antes das seis, dessa forma, poderia
dormir sem me preocupar se a criaturinha apocalíptica sairia do
apartamento às escondidas.
Já havia luz do lado de fora da janela quando senti um movimento
e cerrei as pálpebras para vê-la se deitando ao meu lado, contudo, em vez
de fechar os olhos, Violet voltou a observar o teto.
Não era problema meu.
Repeti algumas vezes em minha mente antes de cair no sono outra
vez.
Quando acordei, não só a cama se encontrava vazia, mas o
apartamento também. Tudo estava em seu devido lugar, exceto a folha de
papel dobrada caída no chão perto do móvel de entrada. Ainda sonolento, a
apanhei, abrindo para ler o conteúdo.

Querido diário, hoje descobri que nem sempre é a vida que te fode.
Às vezes o seu irmão também fode sua cunhada no quarto ao lado, com a
cabeceira machucando a parede e ele espancando alguma parte do corpo
dela, que eu imagino ser sua bunda…

Parei de ler, quase vomitando os sulcos do meu estômago. Amassei


o papel entre meus dedos e o atirei na lata de lixo.
Então era aquele o motivo pelo qual Violet saiu de madrugada?
Talvez estivesse mesmo com insônia, mas eu não cogitaria em hipótese
alguma que, além de não conseguir dormir, ela ouviu Lukas e Megan em
suas atividades noturnas.
Puta merda!
Nem consigo imaginar qual seria minha reação se passasse por
algo parecido, mas era meio nojento até considerar a hipótese. Se ela fugiu
no meio da noite, acredito que também não deve ter coragem para
confrontar seu irmão sobre o assunto. Entretanto, não era problema meu.
Parte de mim desconfiava que Violet não contaria nada sobre ter saído e
dessa forma, ninguém precisava saber que ela passou a noite aqui.
Me desliguei do problema e fui escovar os dentes, bebi um copo de
água e me sentei no sofá com a coluna ereta, dobrando minhas pernas em
posição de Buda e deixando minhas mãos soltas sobre meus joelhos.
Permiti que meus pensamentos fluíssem de maneira livre, sem
impedimentos ou prisões.
Era fácil. Pensar, agradecer, deixar ir.
Violet andando sozinha no meio da noite: passa.
Violet no sofá, olhando perdida para a parede: passa.
Violet deitada em minha cama, fitando o teto sem conseguir
dormir: passa.
Violet sentada em minha cozinha, escrevendo coisas depravadas
em uma folha de papel: hm, interessante.
— Puta que pariu! — Xinguei, me dando conta de que aquela
coisinha mimada não me deixava em paz nem quando eu precisava me
desligar. — Porra!
Tentei outra vez, fazendo o possível para afastá-la, e no fim tive
que desistir. Pelo visto, hoje não ia rolar. Porém, tentei. Talvez amanhã eu
pudesse optar pela meditação guiada, há séculos não precisava utilizar o
método, mas aquela criatura desequilibrava minha cabeça e, ao que parecia,
desalinhava a porra dos meus chakras[6] também.
Após tomar café da manhã, fui para o escritório dar continuidade
ao projeto que iniciei ontem. Tratava-se de uma residência de três andares
com um terreno relativamente pequeno para a quantidade de cômodos e
áreas de lazer pedidas dentro da casa, porém, eu tinha algumas ideias
ousadas para colocar em prática. Depois que tivesse o projeto desenhado e
renderizado, vinha toda a parte de apresentar e modificar caso algo não
estivesse conforme as expectativas do cliente.
Apesar de ter um espaço em casa para trabalhar, eu alugava uma
sala comercial onde marcava reuniões presenciais quando não conseguia
que fossem feitas por videoconferência e tirava apenas um dia na semana
para fiscalizar as obras que ainda estavam em andamento. Eu trabalhava de
dez a doze horas por dia e costumava ir à boate quatro ou cinco vezes na
semana. Gostava de ter controle sobre as coisas ao meu redor. Podiam me
chamar de detalhista, perfeccionista, meticuloso, porém, não podiam negar
que tudo em minha vida funcionava em perfeito equilíbrio.
Estava finalizando o andar térreo para começar a desenhar as
escadas quando ouvi o barulho da fechadura destravando.
— Estou entrando... — Lukas avisou da porta.
Franzi as sobrancelhas, sem tirar a atenção do iPad ainda, faltava
só colocar a porta do lavabo.
— Mason?
— No escritório! — Gritei, soltando a Pencil junto com o tablet em
cima da mesa.
Lukas sempre me avisava quando precisava vir aqui, e
normalmente marcávamos nossas reuniões de trabalho em seu apartamento,
que ficava bem próximo, por isso, estranhei sua aparição repentina. Talvez
fosse para falar da Violet? Impressionante que ela tivesse contado sobre seu
passeio noturno, mas esperava de verdade que se arrependesse e nunca mais
resolvesse fazer isso.
— Tenho um projeto pra você! — Ele entrou quase como um
foguete, se jogando com tudo na minha poltrona e chutando os sapatos.
Oi, Mason, tudo bem? Como anda sua agenda?
Revirei os olhos, enquanto debochava mentalmente.
— Não tenho mais tempo esse mês — recostei na cadeira, falando
de maneira tranquila. — Se for urgente, pode repassar.
— Precisa ser você, cara, então eu espero — falou de maneira
nervosa.
— Beleza. — Dei de ombros, pegando um dos cadernos que eu
usava para rabiscar e um lápis. — Fala aí, o que é? — Anotei a data e fiquei
esperando que ele descrevesse do que precisava.
— É uma casa do zero, projeto simples e moderno, com quatro
quartos, uma área de lazer com piscina e talvez uma quadra, garagem para
três carros e uma moto, três não, quatro carros... — Fui escrevendo,
enquanto ele ditava as informações da própria cabeça.
— Hum... Sabe o tamanho do terreno? — perguntei, já que pelo
visto era quase uma mansão. — E é uma quadra de quê?
— Ainda não sei, mas vamos dar um jeito de fazer caber tudo. —
Cruzou as pernas uma sobre a outra, voltando a falar: — Precisamos de dois
escritórios. O processo criativo da Megan é estranho, não dá para
dividirmos.
Parei quando percebi estar escrevendo o nome da minha irmã.
— Quê?
— O escritório da Megan, preciso que seja em outro cômod...
— Sim, isso eu entendi. — Abanei uma das mãos, interrompendo-
o. — Você quer se mudar?
Nossos apartamentos eram bem localizados, perto do escritório
dele, do centro da cidade e da ClubParty, além de ser uma região bem
tranquila.
— Na verdade, eu quero me casar com a sua irmã. — O imbecil
soltou uma risada, como se estivesse me contando que vai passear no
parque, fazer uma viagem de férias ou adotar um cachorro.
— E ela aceitou? — questionei, chocado.
— Eu não pedi ainda.
Pisquei algumas vezes, sem saber se lhe dava os parabéns ou um
soco no meio da cara. Ele queria se casar com a minha irmãzinha. Puta que
pariu!
Caralho!
Quando esse lance entre eles começou, foi muito fácil notar o
sentimento estampado no olhar dos dois, mesmo que algum tempo antes
ambos se odiassem. Eu conversei com ele, na verdade, o ameacei naquele
dia em San Diego e Lukas prometeu ser incapaz de magoá-la.
Mas, porra! Casamento os levava para outro nível.
— Essa deveria ser a hora que você me abraça e me dá os
parabéns.
— Calma, ainda estou processando. — Me levantei para buscar um
café, ainda analisando como me sentia em relação a isso.
Era uma coisa boa, de fato, talvez muito repentino, mas bom.
— Está puto porque amo sua irmã e quero me casar com ela? —
Lukas veio atrás de mim e se encostou na parede à minha frente enquanto
eu servia café na xícara.
— Quer um café? — Perguntei, erguendo a jarra da cafeteira em
sua direção.
— Não — ele fechou a expressão, me dizendo sem palavras que
queria respostas e não café.
— Só estou surpreso, cara. Foi repentino. — Dei de ombros.
Queria perguntar por que ele resolveu me contar antes de pedi-la,
mas a resposta era óbvia. Sempre compartilhamos tudo. Ele só escolheu
uma maneira muito estranha de me contar, dessa vez.
— Sim, na verdade já penso em pedir há algum tempo, mas agora
que a Violet mora conosco, por que não ter logo uma casa grande?
— Sabe que um dia sua irmãzinha mimada vai querer morar
sozinha, não é? — Franzi o cenho ao dizer.
Ele falava como se tivesse adotado a irmã de dezoito anos.
— Sim, mas quando eu e sua irmã tivermos filhos, vamos precisar
de uma casa maior também.
Quase me engasguei.
— Já quer ter filhos? — Questionei, com a voz esganiçada.
— Não agora — Ele balançou a cabeça —, porém, um dia vamos
ter, faz parte da vida, afinal.
— Fale por você — ironizei, voltando para o escritório e fazendo
com que ele viesse atrás de mim.
— Sim, senhor cético. Você pode não querer nada disso, mas o
mundo funciona dessa forma.
Me sentei em minha cadeira outra vez, acompanhando enquanto
ele se acomodava na poltrona.
Eu não era cético. Acreditava em relacionamentos e sentimentos,
só preferia não os ter. Era uma escolha muito consciente, na verdade. Não
deixava nenhum envolvimento chegar tão longe para se tornar uma paixão,
e até então vinha dando certo. Ninguém nunca conseguiu entrar na minha
cabeça, coração, nem nada do tipo.
Eu trepava.
Dava muito prazer e até conversava depois.
Levava a mulher em casa no dia seguinte, caso necessário, e
dependendo de quem fosse até repetia a ficada, mas nunca deixei passar
disso.
— Meus parabéns! — Sorri para meu melhor amigo, que também
não conseguiu segurar a expressão de felicidade. — Espero que eu seja um
dos padrinhos.
— Óbvio que é! — Ele riu, dizendo. — O que acha de viajarmos?
— Pra quê?
— Para fazer o pedido, é claro!
— O que tem em mente? — Perguntei, fechando o caderno e
bebericando meu café com calma para dar atenção ao que ele já havia
planejado.
Saímos para almoçar juntos depois e além de planos para o pedido,
tínhamos várias ideias para a casa que o meu melhor amigo queria construir.
Capítulo 07 — Violet West

Querido diário, pelo visto eu voltei para


o jardim de infância.

Levei as pontas dos dedos até minha boca outra vez, mordendo a
lateral das unhas e olhando nervosa para o lado de fora da janela do carro.
No banco da frente, meu irmão comentava com Megan que depois que me
deixasse na universidade, iria até o apartamento de Mason resolver algumas
coisas de trabalho.
Era o meu primeiro dia de aula e eu tinha estado ansiosa por todos
os dias da última semana, porém, agora o motivo havia mudado totalmente.
Há quase uma semana não via Mason, desde que deixei seu apartamento
antes de ele acordar, e claro, não tinha me esquecido que o idiota prometeu
contar ao Lukas sobre a minha saída noturna.
Quando cheguei em casa, todos estavam dormindo e ninguém tinha
notado minha ausência, por isso mantive segredo até então, mas aquele
linguarudo com certeza falaria. De qualquer maneira, estava pronta para
fingir que só saí por aí distraída, sem olhar que horas eram.
E, porra, mesmo que tenha sido uma atitude irresponsável, eu era
adulta. Ninguém podia mais brigar comigo e me deixar de castigo no quarto
sem sair por três dias como Natalie já fez. Depois reclamavam que eu não
gostava de fazer as refeições com eles, ou conversar na mesa do jantar,
contudo, o único que vinha saber se eu estava bem, e por vezes me trazer
comida, era Thomas.
Aprendi a gostar da minha companhia assim. Eu escrevia, lia
possíveis letras de músicas e poemas que criei quando criança, desenhava a
linha do tempo da minha carreira de cantora, escrevia cartas dos meus
possíveis fãs para mim mesma, mas a melhor parte mesmo era dançar
enquanto cantava, fingindo estar no meu próprio show. Ficar isolada às
vezes era bom.
— Você podia entrar para um coral! — Ouvi a voz distante da
minha cunhada, mas só percebi que falava comigo quando chamou meu
nome outra vez.
— Hum? — Olhei para frente, murmurando.
— Coral! Você devia se inscrever em um deles.
— Ah, sim! — Balancei a cabeça algumas vezes, refletindo.
Eu detestava falar em público. Das poucas vezes em que me
apresentei no colégio, o maior desafio sempre era vencer o medo de fazer
alguma estupidez em cima do palco. Esse também era o motivo que me
impedia de pegar grandes papéis. Eu sequer cantava na frente das pessoas.
Talvez, no fundo, tivesse medo de não ser boa o suficiente, mas
gostava de fingir que eu era, pelo menos dentro da minha cabeça.
Quando Lukas parou em frente à entrada, virou-se para mim,
empolgado:
— Pronta? — Perguntou.
— Nem um pouco. — Ele riu quando arregalei os olhos, negando
energeticamente com a cabeça.
— Relaxa, não tem nada de muito assustador depois desses portões
— foi Megan quem falou, sem virar para trás. — Só fique longe dos atletas,
principalmente se eles cursarem direito, engenharia ou arquitetura.
— Seu irmão é arquiteto, Megan. — Lukas franziu o cenho,
balançando a cabeça. — E seu namorado, engenheiro.
— Falei dos estudantes e atletas.
— Tá bom... — concordei, dando de ombros, e tirei o cinto, me
organizando para descer. Foi então que notei que meu irmão também se
preparava.
Abri a porta do carro e pulei com pressa para fora, observando que
algumas pessoas já entravam para suas aulas.
— Ei — Lukas chamou e eu olhei para ele um pouco
envergonhada. — Não quer que eu entre com você?
— Não! — Soltei uma risada nervosa, achando uma atitude bem
tola da parte dele. Ou talvez eu apenas não estivesse mesmo acostumada a
ter esse tipo de atenção sobre mim. — É meio pré-escola, não acha?
— Não acho... — Ele refletiu por alguns segundos. — O campus é
enorme, você pode se perder.
— Eu tenho um mapa — contrapus, já puxando-o do bolso lateral
na bolsa.
— Tudo bem, vou deixar passar essa. — Seus olhos diminuíram
quando ele sorriu, fazendo com que uma ruguinha se formasse nas laterais.
— Mas me ligue se precisar de qualquer coisa.
— Pode deixar.
— Já sabe como vai voltar pra casa?
— Amor, a Violet já tem tudo de que precisa. — Inclinei meu
corpo, para ver Megan quase pendurada na janela do carro. — Deixa sua
irmã ir viver, e vamos embora.
— Ela tem razão, já ensaiei esse dia na minha cabeça umas dez
vezes, Luk. Fica de boa!
— Eu estava lá quando você entrou na pré-escola, e agora está indo
para a universidade, tenho direito de ficar empolgado. — Meu irmão
apontou para o próprio peito, se defendendo.
— Você tá é cri-cri, homem! — Megan voltou a falar em um tom
engraçado e eu dei uma risadinha da expressão de Lukas ao ouvi-la — Vou
me atrasar para o trabalho se não formos agora.
Eu não era habituada a dar abraços, por isso fiquei imóvel quando
meu irmão passou os braços enormes ao meu redor e me apertou, desejando
um bom dia de aula.
— Me liga se precisar — ele gritou por cima do ombro, já dando a
volta para assumir o volante do carro.
Fiquei na calçada, esperando que o veículo se afastasse para
finalmente tomar coragem e entrar. Me senti como no primeiro dia do
ensino médio, quando precisei deixar o colégio que estudava desde os seis
anos e ir para um novo. Todos eram completos estranhos, cada um à sua
própria maneira. Havia alguns grupinhos formados do que eu imaginava
que fossem veteranos, já que as conversas e risadas altas podiam ser
ouvidas a metros de distância, também tinha gente sozinha e casais
abraçados um ao outro.
Caminhei por vários minutos pelo campus enorme até chegar à sala
onde aconteceria minha primeira aula. Hoje eu tinha quatro disciplinas para
cobrir, incluindo espanhol, que queria muito aprender. Várias divas do pop
cantavam em inglês e espanhol. Shakira, Jennifer Lopez, Anitta, Beyoncé,
Selena, Demi... eu poderia passar o dia citando-as. Acreditava que se eu
dominasse todas as áreas que julgava necessárias para ter sucesso na
carreira, conseguiria perder o medo e a vergonha de cantar em público.
Na hora do almoço, precisei atravessar o campus outra vez para ir
até o refeitório, onde fiz minha refeição sozinha. Estava feliz por ainda não
ter tropeçado e dado com a cara no chão, chamando a atenção de todos,
contudo, também estava triste por ninguém ter me notado. Era um
sentimento confuso, eu não queria pagar mico, óbvio, mas pensei que fosse
ao menos fazer amigos, e até então não tive muita abertura para interações.
Na última aula, o professor nos liberou quase quarenta minutos
mais cedo e apesar da vontade de explorar a universidade, saí de lá para ir
pegar o metrô. Não me lembrava do quanto era cansativo passar o dia
inteiro estudando e ainda levaria um tempo até chegar na estação mais
próxima ao apartamento de Lukas, porém, conectei meus fones de ouvido e
sentei em um canto próximo a janela, escutando minhas faixas favoritas da
Taylor Swift.
Abri a porta de casa cantarolando Cruel Summer, mas me calei na
mesma hora que dei de cara com meu irmão sentado à vontade no sofá,
abrigando Baunilha sobre seu peito.
— Você o soltou? — Perguntei impressionada, e o furão se agitou
ao ouvir minha voz, correndo por cima dos móveis até se aproximar dos
meus pés.
O apanhei do chão, acomodando-o entre meus braços e alisando a
pelagem branca. Eu já tinha conseguido comprar uma gaiola maior, com
três andares, para que ele pudesse ficar mais à vontade, mas Baunilha
precisava ser solto pela casa por algumas horas e fazer passeios na rua, que
eram diários antes do meu curso começar.
— Nem te perguntei se podia, mas ele estava agitado quando
cheguei — Lukas contou, se levantando. — Ainda tinha ração e água que
você pôs pela manhã, então achei que ele apenas quisesse sair um pouco.
Eu só havia o soltado dentro do meu quarto até então, para não os
incomodar. Entendia que não era um animal comum, além disso, esse
bebezinho amava uma bagunça.
— Sim, estávamos saindo para passear nesse horário, ele deve ter
sentido falta — contei, colocando-o no chão outra vez. — E você chegou
cedo... — comentei, surpresa. Tinha passado apenas um pouco das quatro, e
ele costumava chegar às seis.
— Sim, tivemos uns atrasos com materiais na obra, e hoje não
havia nada que eu não pudesse resolver de casa — contou distraído,
seguindo com o olhar o furão explorando a bancada e depois se virou para
mim. — Ele é que nem um cachorro, né?
— Não exatamente... — Arregalei os olhos, vendo o bichinho subir
em cima das teclas do notebook de Lukas e pular para trás assustado
quando a tela acendeu.
Curioso como era, Baunilha se aproximou da luz, farejando e
colocando a pata pequena sobre a tela. Corri e o tirei dali antes que um
estrago maior acontecesse. Sem perder tempo, ele escalou meu braço até
estar em meu ombro, esfregando-se em meu rosto.
Sorri, amando a forma como os pelos dele alisavam minha
bochecha.
— Ele se parece mais com um gato, mesmo que não seja tão
independente quanto um — contei ao meu irmão, enquanto ele nos
observava com curiosidade.
Lukas já sabia de algumas informações básicas que passei, como
não o soltar em hipótese alguma sem supervisão e não dar nenhum tipo de
comida que não fosse a ração. Na verdade, falei para não dar comida
nenhuma. Ele deve ter entendido que não deveria chegar perto, já que não
tinha tentado até hoje.
— Quando você falou, achei que ele fosse um monstro
autodestrutivo — ele riu, se jogando de costas no sofá —, mas ficou quieto
comigo aqui.
— Experimenta deixar ele solto e sozinho por algumas horas pra
ver — falei, dando a mão para Baunilha subir nela, e ele veio enquanto
Lukas ria do que eu tinha falado.
Na última vez que conseguiu escapar da gaiola, rasgou metade dos
papéis que tinha em minha escrivaninha, derrubou duas paletas de
maquiagem caríssimas e um pó compacto, além de quase morrer asfixiado
depois de ter se trancado dentro do armário embaixo da pia do banheiro.
Como ele havia conseguido entrar lá era um mistério que eu jamais
desvendaria.
— Acho que vamos ser grandes amigos.
Eu nunca precisei escolher um irmão favorito, já que Lukas não
esteve verdadeiramente presente na minha infância, mas olhando para o
último mês e esse momento em que ele brincava com o primeiro animal de
estimação que adotei na minha vida, até podia considerá-lo como favorito.
A verdade é que Lukas estava começando a ser para mim algo que
nunca tive: um porto seguro.
Capítulo 08 — Mason Rilley

Regra nº 4: Não se aproxime muito.

Megan: Estamos indo na boate comemorar o primeiro dia de


aulas da Violet. Quer ir conosco?
Revirei os olhos uma e outra vez, sentado à mesa do escritório da
ClubParty. Algumas burocracias necessitavam da minha atenção hoje, e eu
vim para cá antes mesmo dos funcionários chegarem. Normalmente a parte
jurídica e financeira era enviada pelo nosso gerente direto para o escritório
do Jeff. Redes sociais, design, publicidade, marketing e tudo que abrangia
relações públicas era feito por Frank, ele inclusive era o que mais aparecia
em público como proprietário. Lukas gerenciava a parte estrutural,
manutenção e reformas. Eu ficava responsável pelos projetos de arquitetura
e design de interiores, porém, como era o mais metódico entre nós quatro,
via o negócio como um todo e participava ativamente da gestão.
Eu: Estou aqui desde cedo, Meg.
Eu: Não esqueçam de marcá-la na entrada. Não quero ter que lidar
com problemas caso ela consiga comprar bebidas alcoólicas.
Respondi a contragosto, sentindo que precisava deixar o aviso.
Nossa casa noturna era Over 21, assim como a maioria dos bares e boates
da Califórnia. Os adolescentes até entravam, mas recebiam uma
identificação diferente, que não os permitia comprar ou ingerir nenhum tipo
de bebida alcoólica dentro do estabelecimento.
Megan: Violet não bebe, Mason, e é um dia importante pra ela.
Megan: Comporte-se.
Megan: Se sentir que vai começar a agir como um adolescente
idiota, é só se afastar.
Soltei uma risada cheia de deboche ao ler a merda que minha irmã
havia escrito. Até um dia desses, Megan só faltava matar o Lukas, isso sem
motivo algum aparente.
Eu: Não sabia que você tinha moral para me julgar, Tampinha.
Megan: Vai se foder, Mason.
Megan: Falei sério quando mandei se comportar. Ela é uma
garota legal.
Eu: Aham.
Me limitei àquela resposta, voltando a finalizar a programação para
o Halloween, pois precisava apresentar a proposta para os meninos o quanto
antes. Minha ideia era trazer algo parecido com o que fizemos no ano
passado, mas em vez de o Fantasy Party ser apenas em um dia, teríamos
um dia a cada semana pelas próximas seis até o dia das bruxas, que seria a
maior festa de Halloween que San Francisco já vira.
Já conseguia pensar até em drinks temáticos, decoração
assustadora e uma noite exótica, onde as pessoas poderiam entrar com
fantasias sexuais, com menos roupas possível. Ia ser muito louco.
Fiquei horas dentro do escritório anotando meus planos e ideias
que surgiam livremente para cada uma das seis semanas, como uma noite
das aranhas, noite dos zumbis e um especial sexta-feira 13, o dia mais
assustador do mês. Horas depois tomei coragem para sair, quando vi pelas
câmeras de segurança que Frank e Jeff tinham chegado também, e por sorte
Violet nem estava mais na área vip com eles.
Não fiz questão de procurar por ela antes de enviar para o grupo o
documento que criei.
Eu: Leiam essa merda, porque deu trabalho organizar minhas
ideias.
Jeff: Estava quase indo até aí conferir se você não está
desonrando a mesa do nosso escritório comendo alguém.
Fiz careta para a resposta do advogado. Já levei mulheres daqui
para motéis ou para casa, mas jamais transei na boate. Tinha uma relação
ótima com todos os funcionários daqui. Eles me respeitavam e
definitivamente não precisavam dessa situação como exemplo.
Eu: Nunca fiz isso aqui, ao contrário de outros...
Frank: Para de relembrar isso, caralho, eu estava bêbado.
Bêbado ou não, além de ir transar no banheiro, ainda foi pego.
Lukas: Acho que ele não está falando de você.
Lukas: Como soube disso, Mason?
Eu: Eu estava falando do Frank.
Eu: Porra! Me diz que pelo menos não foi no escritório...
Eu: Esquece, não quero saber.
Tremulei o corpo inteiro, tentando me livrar da imagem nojenta
dele pegando a Megan em algum lugar dessa boate e bloqueei o celular,
colocando-o no meu bolso.
Desliguei o computador e vesti a jaqueta de couro, preparando-me
para sair. Já estava na metade do corredor quando a porta do banheiro se
abriu e Violet saiu de dentro de maneira distraída, esbarrando com o corpo
no meu.
— Ei, olha pra frente! — Reclamei, segurando seus braços para
que ela continuasse de pé. Assim que tive a certeza de que ela não cairia, a
soltei, como se minhas mãos estivessem queimando.
— Foi sem querer — Violet esfregou um dos olhos, parecendo
cansada, mas logo sua fisionomia mudou para irritada. — E você tem
mesmo que ser tão grosso?
— Você não pode afirmar o que nunca viu, mimadinha — falei
cheio de malícia, ignorando o olhar furioso que ela me direcionou.
— Além de depravado — resmungou, colocando as mãos na
cintura para me encarar. — Achou mesmo que eu ficaria envergonhada por
causa da sua piadinha infame?
— Na verdade, não. — Dei de ombros. — Você mesma faz questão
de sair falando sobre o tamanho do meu pau por aí. — Sua fisionomia não
parecia constrangida, mas suas bochechas começaram a adquirir um tom
rosado, por isso continuei: — Além disso, se você conseguiu escrever sobre
o seu irmão transando no quarto ao lado, não tem moral alguma para me
chamar de depravado.
— De que merda você está falan... — Sua expressão murchou e
Violet desviou o olhar. Ela parecia tentar juntar peças em sua cabeça e em
um determinado momento tudo parece ter se encaixado, já que a maluca
partiu para cima de mim, agarrando as lapelas da minha jaqueta e
empurrando minhas costas com força até bater na parede.
Como uma criaturinha tão pequena tinha força para me encurralar?
— Quem te deu permissão para ler o meu papel, Mason? — A
pergunta saiu quase como um rosnado e a minha primeira reação foi
começar a rir.
— O seu papel estava no chão da minha sala, gatinha, uma hora eu
precisaria abri-lo para ver do que se tratava.
— Aquilo não era da sua conta, babaca — ela insistiu, me
empurrando outra vez contra a parede.
Mas que filha da...
Segurei seus braços e inverti nossas posições, deixando-a presa
entre mim e a parede dessa vez. Juntei seus pulsos com apenas uma das
mãos e os levei para cima de sua cabeça, tentando imobilizá-la, mas a
espertinha tentou usar os joelhos para me chutar. Chutei suas penas para os
lados e pressionei nossas pélvis, deixando a criatura sem escolha alguma a
não ser me ouvir.
Se ela tivesse visão de raio laser, eu estaria morto pelo seu olhar
fulminante, contudo, a filha da mãe só tinha uma ousadia maior do que o
ego do Frank e muita raiva por mim acumulada.
— Escuta aqui, coisinha surtada... — Aproximei meu rosto do seu,
obrigando-a a olhar nos meus olhos. Nossos narizes não se tocavam por um
centímetro apenas.
— Vai se foder! — Seu hálito de limão atingiu meu rosto quando
ela quase cuspiu o xingamento.
Ela nem imaginava quem eu queria foder...
— Você invadiu meu escritório, pegou o meu papel, minha caneta
favorita e escreveu detalhes depravados sobre a minha irmã gemendo no
quarto ao lado — Violet puxou o ar com força quando eu a ignorei,
continuando o que eu queria dizer —, acredite em mim quando digo que
queria não ter visto aquela merda, mas eu li, porque você o esqueceu na
minha casa.
— Lukas sabe? — Ela questionou em um suspiro.
— Não, e se depender de mim nunca vai saber. — Parei por um
segundo, fitando os olhos cor de mel e absorvendo a forma nada inocente
com que eles encaravam os meus. — Mas eu sugiro que você pegue leve
numa próxima vez. — Sorri de lado, voltando a provocá-la.
— Não vai ter próxima vez, idiota. — Ela se remexeu na tentativa
de se libertar, mas tudo que conseguiu fazer foi se esfregar indecorosamente
em mim.
Meu pau, que mal sabia distinguir uma ameaça e uma boceta,
começou a ganhar vida rápido demais, e nem adiantava tentar disfarçar, pois
pela expressão de Violet e o arfar denso que deixou sua boca ela já havia
sentido.
Eu queria sair daqui. Correr o mais rápido que eu conseguisse para
longe daquela praga, porém, meu corpo parecia travado, sem obedecer aos
meus comandos racionais.
Nossos lábios estavam entreabertos, com um ar quente escapando
de maneira involuntária. Àquele ponto, nossos narizes já roçavam um no
outro, como uma promessa do que viria a seguir. Eu queria tantas coisas
naquele segundo... e uma delas era desligar meu cérebro e não me lembrar
de que ela era ela, e eu era eu.
O tempo pareceu passar mais devagar e depois mais rápido, o
barulho lá embaixo ficou mais distante do que normalmente era e, de
repente, parecia certo querer beijá-la, como se eu não só quisesse, mas
quisesse pra caralho, como se tudo dependesse disso.
Não tinha escapatória.
Ela se remexeu outra vez, porém não como antes. Violet queria
tudo, menos se soltar dali.
Era tarde demais para mim.
Porra, Mason. Que merda você vai fazer?!
Minha mente tentava me alertar, mas meus lábios se abriram mais
e ela me acompanhou, buscando um encaixe. Meus olhos cerraram quando
eu quase podia sentir o toque suave das nossas bocas.
— Violet! — Megan gritou de algum lugar fora do corredor.
Dei passos rápidos para trás e me enfiei dentro do banheiro
batendo a porta com força e me trancando lá dentro.
PUTA QUE PARIU, PORRA, CARALHO!
Esfreguei a mão aberta pelo rosto e depois pelo cabelo, puxando o
ar com dificuldade.
Onde diabos eu estava com minha cabeça?
— Achei você! — Ouvi a voz abafada da minha irmã e passei a
chave na porta devagar, tentando não chamar atenção. — Achei que tivesse
se perdido.
— Estou esperando para usar — Violet respondeu. — Mas já bati
algumas vezes e ninguém responde, acho que está fechado.
— Que estranho! — Megan falou, e logo depois a fechadura
começou a ser forçada para tentar abrir. — Vamos no social, então, acho
que a fila não está grande.
Soube pelos cliques dos saltos no chão que elas já haviam se
afastado o suficiente, mas fiquei mais alguns minutos lá dentro, buscando
juízo e equilíbrio. Me perguntando como tudo saiu do controle tão depressa.
Quando cheguei à área vip exclusiva dos sócios, as duas ainda não
estavam lá, mas Lukas, Jeff, Frank e Carly conversavam.
— Cheguei! — Puxei uma cadeira entre Lukas e Jeff e me sentei
ignorando os olhares interrogativos sobre mim.
— Que cara é essa? — Jeff foi o primeiro a perguntar.
— Cara de quê?
— De quem fez alguma merda — o advogado explicou e, puta
merda, eu queria matar o filho da mãe.
— Você é louco? — Franzi o cenho, negando com a cabeça. —
Viram a proposta? — Mudei de assunto na esperança de que ninguém
insistisse naquela merda.
— Achei genial — Carly elogiou —, não que minha opinião
importe, mas já quero vir em todas as festas.
— Até na noite da fantasia sexual? — Frank questionou, sorrindo
com malícia para a sua noiva.
— Vou poder colocar uma coleira em você, Cachinhos Dourados?
Jeff, Lukas e eu demos risada quando a loira falou em voz alta o
apelido que tinha dado ao nosso amigo. Não era a primeira vez que
ouvíamos, mas não tinha como ignorar a piada.
— Au au, Cachinhos Dourados — Lukas zombou.
Frank cochichou algo no ouvido da noiva, nem um pouco irritado
pela nossa algazarra, e depois se virou para nós três.
— Por mim está aprovado. — Ele relaxou no assento, com o braço
por cima dos ombros de Carly. Feliz demais para se importar com qualquer
coisa.
A relação deles não era comum. Os dois tinham um contrato
nupcial com tempo pré-estabelecido, porém, se comportavam em público
como um casal, e pelo visto viviam como um também. Ninguém podia
dizer que os dois não tinham uma relação real já que a química era óbvia.
— Acho que vai dar certo pra caralho, só precisamos fazer alguns
ajustes e reforçar a segurança — Jeff sugeriu.
— É o tipo de festa que adolescentes amam, se não tomarmos
cuidado pode chover identidade falsa aqui — Lukas concordou com o
advogado.
— Eu tive umas ideias sobre isso também. Ainda preciso
aprimorar, mas acho válido termos um sistema de cadastro e só aprovar a
entrada de quem se registrar previamente — falei, fitando a expressão
interessada dos três. — Podemos ter alguém específico para checar cada
ficha, conferindo se as informações estão corretas.
— E o que acontece com os menores de 21 nesse caso? — Lukas
questionou. Algo me dizia que sua preocupação era em relação a Violet,
mas ignorei essa parte para respondê-lo.
— Pulseiras de identificação com chip, tipo um smartwatch. Para
fazer pedidos, o cliente precisaria aproximar a pulseira a uma máquina, que
armazenaria aquele pedido. Andei pesquisando sobre isso, o valor não é tão
alto.
— E evitaria faltas de pagamento, além de ninguém mais se
preocupar em dividir a conta na hora de pagar. Seriam todas individuais.
— Isso aí. E pelo que vi, não é difícil separar grupos. Podemos
separar o grupo vip, o pessoal da pista, os adolescentes e até o nosso
próprio acesso se quisermos.
— Isso é realmente genial — Frank concordou. — Vamos marcar
uma reunião essa semana, o que acham?
— Só me avisem o dia. — Me levantei quando vi Megan se
aproximando com Violet. Por estarem longe, ainda podia fingir que não as
tinha visto. — Preciso resolver umas pendências ainda antes de ir para casa,
não me esperem por aqui hoje — avisei em despedida e saí andando para o
outro lado.
Encará-la sem demonstrar nada na frente dos três caras que mais
me conheciam na vida seria como dar um tiro no meu próprio pé.
Capítulo 09 — Violet West

Querido diário, acho que finalmente encontrei


meu grupinho.

— Violet, vou sair em dez minutos, quer carona? — sobressaltei ao


ouvir a voz de Lukas no corredor.
— Merda! — resmunguei baixinho, me dando conta de que tinha
dormido outra vez.
— Violet? — Ele deu duas batidinhas na porta.
— Quero! — Gritei, correndo para o banheiro.
Joguei água no rosto de maneira desleixada e fiz a escovação de
dentes mais rápida da minha vida. Me vesti depressa e coloquei a mochila
nas costas, já abrindo a porta do quarto.
— Droga! — Xinguei, voltando de costas mesmo para pegar o pote
de ração e o bebedouro de Baunilha. — Bom dia, dorminhoco! — Falei
baixinho, mas ele sequer se mexeu.
Que inveja!
Corri na cozinha, coloquei ração, troquei a água e voltei ao quarto,
encaixando-os na gaiola.
— Não quer comer alguma coisa? — Meu irmão questionou, me
avaliando. — Posso esperar mais alguns minutos.
— Não — falei, desbloqueando a tela do meu celular para ver as
horas. — Eu como alguma coisa no intervalo. — Era isso ou me atrasar
para a aula de produção musical. A Sra. Hill não costumava ser agradável
com alunos atrasados ou dispersos. Hoje também teria técnica vocal, que
era uma das minhas favoritas.
— Tá bom...
Descemos para a garagem do prédio e saímos para a manhã caótica
de San Francisco, mas nem chegamos tão longe antes de meu irmão frear o
veículo. Ergui os olhos da tela do celular para saber o motivo de termos
parado e na mesma hora vi Mason caminhando em nossa direção.
Puta que pariu!
Apertei os olhos, tentando manter a calma. Desde aquele dia na
boate há mais de uma semana, tinha conseguido evitar encontrá-lo. Me
tranquei em casa o fim de semana inteiro e me ocupei com os primeiros
trabalhos da faculdade, tudo para que ele não cruzasse meu caminho.
Mason abriu a porta do passageiro em um rompante, quase se
jogando em cima do meu colo, mas travou ao me ver sentada, encarando-o
com uma expressão quase incrédula.
— Você não vai para o banco de trás? — Questionou, franzindo o
cenho.
Ele era muito imbecil mesmo. Cacete!
— Não! — Resmunguei.
— Eu pensei que fosse proibido transportar crianças no banco da
frente e sem a cadeirinha de proteção.
— E eu pensei que era impossível você ficar ainda mais babaca.
— Mason, vai logo pro banco de trás — Lukas nos interrompeu,
impaciente.
— É, Mason, mas antes sobe lá no seu apê pra pegar seu bom-
senso, acho que você esqueceu — provoquei, presenteando-o com uma
careta.
Ele bateu minha porta sem responder e entrou pela porta de trás
ainda calado. Mal-educado!
— Não sei o que faço com vocês, sério. — Meu irmão revirou os
olhos, resmungando, antes de acelerar outra vez.
— Eu só me defendo — justifiquei, voltando a olhar o meu celular
e tentando ignorar o monte de merda que Mason despejava pela boca.
Me despedi apenas de Lukas antes de descer do carro e entrei
correndo no campus, pois faltavam apenas alguns minutos para o início da
aula.
Não me admirava ele ter fingido que nada rolou, pois até eu tinha
problemas em admitir que quase deixei que me beijasse. Tínhamos ficado
presos a um desejo irracional misturado à raiva. Enclausurada na parede
daquele corredor na boate, conseguiria até enumerar os motivos pelos quais
eu queria esganá-lo com as minhas próprias mãos, a começar pela
facilidade com a qual Mason dominou meu corpo, me imobilizando e me
deixando sem escapatória.
O pior de tudo foi notar o quanto eu gostava de ser restringida
daquela maneira. Meu sangue fervia, dividido entre surpresa e ódio, desejo
e aversão.
Tudo ficou nebuloso quando tentei me libertar e me esfreguei nele
sem intenção, fazendo com que seu membro começasse a crescer embaixo
de mim.
Caralho!
Eu dizia com todas as letras que ele tinha o pau pequeno só para
provocá-lo, mas de pequeno não tinha nada, e só consegui pensar em prová-
lo. Devo ter batido com a cabeça em algum lugar e alguns dos meus
neurônios bons morreram. Só isso explicava aquele lapso de insanidade.
— Puta merda! — Ouvi o xingamento antes de ver as folhas de
papel voando na linha dos meus olhos.
— Ai, meu Deus! — Exclamei, tapando a boca com uma das mãos.
— Me desculpa — pedi, caindo de joelhos para começar a tentar arrumar a
bagunça que fiz.
Se eu não estivesse rememorando momentos proibidos com o
babaca do Mason, o pobre rapaz teria suas folhas de papel ainda intactas em
suas mãos, e não dançando pelo ar e depois espalhadas no chão do corredor.
— Sério, me desculpa! — Ele não disse nada, enquanto eu
ordenava em minhas mãos as que consegui apanhar, pois outra garota
também começou a tentar juntá-las.
Parei o que estava fazendo e olhei para frente, só agora reparando
em quem eu tinha esbarrado.
— Tá tudo bem, gracinha, dessa vez eu enumerei as páginas.
Olhando bem, o carinha parecia uma réplica muito boa dos
morenos sarcásticos das séries, com cabelos escuros que cobriam parte de
sua testa, tatuagens espalhadas pelos braços e peitoral largo, além dos olhos
intensos e sorriso de canto.
— Acho que é agora que você me diz seu nome e me chama pra
sair, sabe? — O moreno voltou a falar e eu soltei uma risada debochada,
antes de respondê-lo.
— Meu nome é Violet e eu não vou sair com você — franzi os
lábios, afirmando.
— Isso é ótimo, já que ele tem namorada — a mesma que nos
ajudou a apanhar os papéis se aproximou, passando o braço ao redor dos
ombros do rapaz e dando-lhe um olhar cheio de julgamentos.
— Ai, caralho! — Meus olhos devem ter duplicado de tamanho. —
Você é a...
— Não é ela. — O moreno sarcástico sacudiu a cabeça, franzindo
o cenho em direção à menina e depois voltando a atenção para mim. — E
eu disse que era hora de você me chamar pra sair, não falei em momento
algum que aceitaria.
— Ha, há. Muito engraçado! — Ergui as sobrancelhas, olhando
com tédio para ele.
— Eu sou a Crystal, e essa coisinha descarada aqui é o Gavin.
— Somos melhores amigos — Gavin me falou e depois inclinou o
rosto sobre o ombro para fitar a menina de cabelos encaracolados. — Achei
que você detestasse a Mel.
— Não tenho nada a favor, mas nem por isso vou concordar com
suas galinhagens por aí. — Seu rosto se transformou em uma careta
engraçada, fazendo-o rir.
Eu já não tinha nem mais tempo para interagir com eles, já que a
professora havia acabado de entrar na sala.
— Foi um prazer conhecer vocês, mas a minha aula já começou.
— Falei, chamando a atenção dos dois.
— Ei, você não é da turma do Sr. Kennedy, de Introdução à
Musicalidade? — Gavin cerrou as pálpebras, me observando com mais
atenção.
— Sim — Franzi o cenho. — E agora deveria entrar na aula da
Sra. Hill.
— Nós também! — Crystal sobressaltou-se, virando para ir até a
sala.
A perspectiva de não sofrer constrangimento sozinha me animou,
me deixando mais corajosa para entrar e assistir à aula. No fim das contas, a
professora só nos deu um olhar repreensivo antes de voltar a falar.
— Ei, Violet — Crystal cochichou atrás de mim, algum tempo
depois que entramos na aula —, vai à festa hoje?
— Festa? — Arqueei as sobrancelhas, sem saber do que ela estava
falando.
— Sim, a galera da Beta Gamma convidou geral, vai rolar um
show das Panthers.
— Mas eu não conheço ninguém — Fiz um biquinho ao falar, e
nem sabia quem eram as Panthers.
— Nós também não — Gavin disse em voz baixa. — Vamos,
florzinha, vai ser legal.
— Florzinha? — Meu rosto se transformou em uma careta pelo
apelido.
— Só ignora. Gavin adora inventar esses diminutivos toscos. —
Crystal empurrou o ombro do amigo.
— Você ama, Cristalzinho.
Acabei rindo da interação dos dois, mas quando a Sra. Hill
aumentou o tom de voz, caminhando para o lado em que estávamos,
precisei voltar a prestar atenção na aula.
Uma hora e meia depois saímos os três juntos para o refeitório.
Tinha passado a semana inteira fazendo o percurso sozinha, talvez por esse
motivo estava eufórica pela companhia deles dois.
— Qual a próxima aula de vocês? — Perguntei, colocando minha
bandeja sobre a mesa, de frente para eles.
— Vou para a aula de piano — Crystal falou antes de dar uma
mordida enorme em uma fatia de pizza.
— Nossa, eu detesto. Tentei aprender quando criança e me saí
muito mal.
— Jura? — Gavin fez beicinho, como se eu estivesse cancelando
seu maior ídolo.
— Sim, é complexo pra caramba.
— Mas você toca alguma coisa? — Ele perguntou.
— Não, e você?
— É mais fácil perguntar o que ele não toca. — Crystal apoiou o
rosto em uma das mãos, se encostando na janela ao seu lado.
— Minha família inteira trabalha com música — Gavin explicou,
roubando uma snacks do meu prato —, cresci cercado por artistas e
instrumentos e músicas.
— Deve ser o máximo, não é? — Meus olhos podem ter brilhado,
já que Gavin soltou uma risada antes de responder.
Para mim, qualquer coisa era mais empolgante do que aquela casa
mórbida e silenciosa. O único lugar legal e realmente divertido era o meu
quarto, menos nas vezes em que Natalie mandava alguém ir arrumá-lo
quando eu estava no colégio. Odiava chegar e encontrar minhas coisas fora
do lugar.
— É legal! — Ele cruzou os braços na altura do peitoral e olhou
além de mim, pensativo. — Ruim é a expectativa que depositam em você.
Não que seja ruim, de fato, só e difícil.
Assenti, mesmo que não conseguisse imaginar como seria se as
pessoas esperassem algo de mim. Ninguém nunca sonhou comigo sobre o
futuro. No fim das contas, eu sempre segurei a minha própria mão.
Capítulo 10 — Violet West

Querido diário, hoje eu fui a uma festa maneira,


dancei até meus pés latejarem e me esfreguei em vários
corpos humanos. Não consegui beijar ninguém, já que
só pensava no quase beijo que dei em Mason na
semana passada, porém, eu nunca tinha ido a uma festa
desse tipo. Foi surreal.

Encarei com tédio todas as minhas roupas em cima da cama


quando Baunilha correu por cima delas, bagunçando-as ainda mais.
Eu precisava de um emprego.
Mesmo que tivesse grana o suficiente para me alimentar pelo
menos até o final da faculdade e quitar o curso, a quantia não cobria os
luxos que fui acostumada a ter a vida inteira. Até agora não precisei pedir
dinheiro ao meu irmão e esperava nunca fazer isso, mas teria que começar a
ganhar grana de algum lugar.
— Opa, opa! — Peguei o furão e coloquei na gaiola que já estava
inteiramente limpa. Os bebedouros estavam cheios e já tinha ração para ele.
A rede de dormir que o pequeno monstrinho derrubou também já estava em
seu devido lugar. — Não faz bagunça, por favor! — pedi, como se ele
entendesse. Uma parte de mim gostava de acreditar que ele compreendia
cada palavra que eu dizia.
O bichinho pulou para o chão, se enfiando dentro de uma espécie
de túnel dobrável que Lukas havia trazido da obra para ele brincar.
Peguei meu celular no meio do monte de roupas e digitei uma
mensagem rápida para Crystal.
Eu: Acho que não vou mais.
— Ei — Megan me cumprimentou ao parar na porta do meu
quarto. — Acabei de chegar, estou exausta. — Minha cunhada entrou e se
sentou no único espaço que encontrou na minha cama, chutando os sapatos.
— Nossa, eu não te vi ontem e nem hoje!
— Frank, meu chefe, vai se casar e depois viajar em lua de mel.
Lukas achou uma boa ideia tirar umas férias também, por isso estou
tentando adiantar todo trabalho que tenho. — Megan contou, só agora
reparando na zona do quarto e no roupão rosa que eu tinha amarrado na
cintura. — Você vai sair? — perguntou, olhando para a bagunça em cima da
cama.
— Tem uma festa hoje. — Deixei de fora o detalhe de que eu não
conhecia a banda. — Eu até pretendia ir, mas não tenho roupas.
Ela olhou outra vez para as peças jogadas de qualquer jeito na
cama e depois voltou a atenção para o meu rosto.
— Eu te empresto alguma coisa, vem! — Megan se levantou,
apanhando os tênis do chão.
— Você não se importa? — perguntei, antes que ela saísse do
quarto. Eu, particularmente, odiava emprestar algo meu e a última coisa que
queria era incomodá-la.
Megan me tratava muito bem. Sempre conversava comigo quando
estávamos juntas e me incluía em quase todos os planos que ela e Lukas
faziam. Já fomos à boate, tivemos noite da pizza, filme com pipoca e
sorvete. Ela até me levou para arrumar o cabelo em um salão outro dia.
Dançamos juntas ouvindo Harry Styles na sala de casa no domingo passado
também.
— Claro que não, Vi — falou por cima do ombro antes de sumir no
corredor.
Fui atrás dela, correndo para alcançá-la e quando entrei em seu
quarto encontrei meu irmão jogado na cama, mexendo no celular.
— Pensei que você fosse sair com os meninos — Megan o beijou e
eu desviei o olhar, um pouco constrangida. Baunilha escolheu esse
momento para entrar pulando no quarto.
— Ainda vamos, mas o Frank avisou que se atrasaria um pouco.
— Não o vi hoje, sabia? O caos lá na empresa só piora.
Eles foram conversando enquanto eu fiquei de pé, tentando não
prestar atenção em muitos detalhes, como:
A cabeceira parecia bem firme na parede agora. Será que ele
fixou? Esperava que sim.
— Violet vai à primeira festa de fraternidade. Não é o máximo?!
— Megan trocou de assunto, se erguendo e caminhando em direção ao
closet
— Uhum — Lukas concordou, observando o furão escalar lençol
até conseguir subir em sua cama, contudo, a expressão entediada dele
sugeria que não achava nada disso extraordinário.
— Eu queria um emprego — falei, da maneira mais aleatória
possível.
— É sério? — Ele franziu o cenho, pegando meu furão quando
tentou abrir o livro que estava em uma das mesinhas de cabeceira.
— Sim, de preferência à noite, para não atrapalhar minhas aulas.
— Podia até ver algo na construtora, mas à noite... — Meu irmão
franziu os lábios, parecendo se esforçar para arranjar uma solução.
— A boate só abre às seis — Megan gritou de dentro do closet.
— E fecha de madrugada — Lukas completou a frase dela,
negando com a cabeça. — Não acho que você vai aguentar acordar cedo
todas as manhãs se largar às duas. É insano.
Eu só tinha minha manhã completa três dias na semana, e em um
deles largava até mais cedo. Se fosse só esse o impedimento, poderia
procurar outros horários das mesmas aulas que pudesse encaixar, ou tentar
pagar a matéria no semestre seguinte.
— Se for só esse o problema, posso tentar mexer na agenda.
— Tem certeza de que quer um emprego? — Lukas me olhou com
cautela. — Não me importo de te dar dinheiro, se precisar.
Sim, porque já não bastava eu morar de favor no apartamento dele,
ainda receberia mesada. Que bela porcaria.
— Não precisa, valeu — tentei não parecer rude ao negar. — Vou
procurar algo com horário mais flexível — disse enquanto pensava nas
possibilidades.
Restaurantes e lanchonetes abriam bem mais cedo, então, seria
muita sorte conseguir o turno da noite em um horário específico. Bares e
boates eram obrigados por lei a fechar às duas da manhã, então, ainda eram
viáveis.
— Posso falar com o Mason, ele gerencia essa parte das
contratações e horários — foi Megan quem falou ao sair do closet com
algumas peças de roupas penduradas no braço.
— Agradeço a intenção, Meg, mas o Mason é a última pessoa que
vai me ajudar — soltei uma risada seca ao dizer.
— Ele me deve uns favores. — Minha cunhada piscou e passou as
peças para mim. — Vê as que servem em você, pode me devolver depois.
Agradeci e me despedi deles, indo para o meu quarto. Não
demorou muito até ouvir os pulinhos de Baunilha atrás de mim. Quando
entrei no cômodo, a tela do meu celular estava acesa com algumas
notificações.
Crystal: Por que não vai?
Crystal: Violet?
Crystal: Se o problema for a volta para casa, Gavin falou que te
daria uma carona, ele mora desse lado.
Havia um facetime perdido também, por isso logo comecei a
digitar.
Eu: Foi apenas um lapso momentâneo. Já estou me arrumando.
Minutos depois, eu estava saindo do quarto vestida em um pedaço
de pano prateado curtíssimo que deveria ter como objetivo cobrir o meu
corpo, porém, não estava sendo tão útil. Coloquei uma meia-calça preta e
botas de salto baixo na intenção de diminuir a atenção na minha bunda, que
parecia ter aumentado uns dois números de tamanho. Não que ela fosse
consideravelmente grande, mas aquele pedaço de pano fez o milagre de
mostrá-la. Também optei por uma jaqueta de couro preta para cobrir minhas
costas nuas.
Enfiei cinquenta dólares e um batom dentro de uma clutch e saí do
quarto, já solicitando um carro no aplicativo.
— Eita! — subi os olhos quando uma voz masculina chamou
minha atenção e abri um sorriso ao ver o Jeff esparramado no sofá, com as
pernas cruzadas na altura do tornozelo. — Pra onde a senhorita vai tão
bonita?
— Por favor, me diz que ela não vai sair conosco? — Minha
expressão deve ter murchado ao ouvir Mason fazendo a pergunta ao meu
irmão, já que Jeff colocou a mão na boca para segurar o riso.
— Nem se o presidente me convocasse para ficar algumas horas no
mesmo lugar que você eu iria. — Revirei os olhos, irritada.
— Deixa de ser imbecil, Mason — Lukas o repreendeu, negando
com a cabeça.
— Ela vai à primeira festinha da faculdade — Megan entrou no
cômodo, vestindo um moletom enorme que devia ser do meu irmão, já que
quase chegava na altura dos seus joelhos. — Não é o máximo?
Minha cunhada era a única que parecia verdadeiramente animada
com isso. Nem eu me sentia tão empolgada para essa festa, pois nem sabia
muito bem o que esperar.
— Saudades das festas da nossa época. O álcool, o sexo, as
drogas... — Jeff olhou para o teto, falando com um ar sonhador, mas logo
depois se lembrou de algo, e voltou a atenção para onde Lukas estava. —
Você se lembra daquela vez em que quase fomos presos por... — ele parou.
Por um momento fiquei sem entender, já que eu estava prestando
atenção no que o advogado iria dizer, curiosa demais pela história, mas
quando olhei para o meu irmão, entendi o motivo da interrupção. Lukas
parecia querer matar Jeff, com a mandíbula travada e o olhar fulminante.
Quase gargalhei, mas logo minha atenção mudou para Mason. Seu
olhar nada decente estava nas minhas pernas, as íris pareciam vidradas
como se fosse quase impossível desviá-las de mim. Troquei o peso de uma
perna para outra, sem saber como reagir, pois, era muito fácil ter de volta à
mente o momento em que ele me imprensou naquele corredor. O corpo
quente sobre o meu, as respirações densas se misturando, o tesão descabido
em um momento que deveria ser de puro ódio.
E de repente seu olhar estava no meu: intenso, ardente, queimando
minha pele e aquecendo meu sangue de uma maneira muito real para
cogitar duvidar do que eu queria, e do que ele queria também.
Mas jamais teria.
— Nada de drogas — Pisquei quando meu irmão falou, voltando a
atenção para ele. — Nem álcool.
— Sexo pode, então? — Foi Megan quem perguntou de maneira
inocente, porém, meu irmão fez uma careta.
— Tente não se meter em confusão, tá bom? — Lukas tornou a
dizer e eu acenei energeticamente, esmagando meus lábios um contra o
outro.
— O foda é que você nem pode dizer aquela famosa frase: não faça
nada que eu não faria — Jeff falou para Lukas, dando uma piscadinha na
minha direção.
— Jeff, se não parar de tentar flertar com a minha irmã, eu vou te
bater — Lukas avisou, indignado.
— Ok, gente — falei, abanando uma das mãos. — Já estou indo.
— Qualquer coisa me liga! — Megan gritou da cozinha.
— Pode deixar.
Não ousei um último olhar para Mason antes de sair para o
corredor, mas consegui sentir seu olhar impetuoso sobre mim. Não que eu
me importasse, de qualquer forma.
Diferente dos quarenta e cinco minutos que eu levava para fazer o
trajeto de metrô, de carro eu cheguei a Downtown Berkeley em apenas vinte
minutos. O nome da rua que Crystal me passou era cheia de casas grandes,
mas não havia como confundir a Beta Gamma, pois havia o nome da
fraternidade em letras garrafais na parede lateral à porta da mansão.
Paguei a corrida e respirei fundo antes de descer na calçada. As
pessoas transitavam pela rua e a porta da casa estava aberta, sem restrições
na entrada, contudo, antes de seguir até lá, enviei uma mensagem rápida
para Crystal e outra para Gavin, perguntando onde os dois estavam.
Crystal: Já entrei, vou te buscar na porta.
Crystal: Essa festa promete.
Sorri e tomei coragem, avançando pelo caminho de pedras.
Capítulo 11 — Mason Rilley

Regra nº 5: Nunca tome nada do que


ela oferecer de bom grado. Pode ser fatal.

Duas malditas semanas em que eu não conseguia pensar em mais


nada além do que aconteceu naquele corredor. Na verdade, nem se tratava
tanto do que aconteceu, mas do que poderia ter acontecido se Megan não
tivesse nos interrompido. Consegui evitar ir ao apartamento do Lukas
durante aquelas semanas, no entanto, no dia em que marcamos de sair e Jeff
veio nos encontrar, não tive como escapar. Não havia desculpas para
justificar minha ausência daquela vez, então eu fui... e meu maior erro foi
esse.
Vê-la daquela forma, tão linda e gostosa pra caralho vestida para ir
à uma festa, despertou muitas coisas dentro de mim, entre elas um ciúme
ridículo e quase doentio que me fez querer quebrar a cara de um dos meus
melhores amigos apenas por elogiá-la. Aquilo não podia ser normal, estava
longe de parecer comigo. O Mason que eu conheço não é ciumento, nem
apegado a esses detalhes. E com certeza não fica acordado até de
madrugada pensando se ela chegou em casa ou não, o que fez na festa, se
ficou com alguém...
Era difícil demais distinguir o que eu sentia e por que sentia, já que
era óbvio que nem queria pensar naquela garota. Violet me tirava do sério
desde o dia que pisou nesta cidade pela primeira vez, além de ter me feito ir
parar no hospital, até hoje nem eu entendo como me deixei enganar por sua
“boa intenção”.

Era comum que eu e os meninos passássemos os feriados juntos e


naquele 4 de julho não foi diferente. Mamãe veio para cá e alugamos uma
casa perto do mar, já que era o início do verão. Entre churrasco e bebida,
Violet resolveu servir nossos drinks. Ela já me detestava, estava escrito em
seu sorriso diabólico quando a criatura me entregou um copo com uma
bebida rosa e outra da mesma cor para Lukas.
— Por que rosa? — Ele olhou curioso para o corpo, questionando.
Eu estava desconfiado, óbvio, não nos demos nem um pouco bem
nos últimos dias. Ela me olhava sempre com ódio e eu apenas dava de
ombros, provocando ainda mais.
Provocar era seguro. Paquerar aquele corpo pequeno e curvilíneo
não era. Estava fora de questão.
— É corante, Lukas. — Ela respondeu, com um ar inocente. —
Não vai beber? — Seu beicinho apareceu, aquele que fazia seu irmão
realizar qualquer desejo que tivesse.
A garota era tudo, menos burra.
Meu amigo deu um gole longo. Corajoso.
— Hmmm! — Ele murmurou. — É bom. O que tem aqui?
— Segredo. — A diaba piscou, voltando a atenção pra mim agora
e questionando de maneira quase angelical: — Não vai tomar o seu,
Mason?
— Depois — respondi, ainda desconfiado.
— Vai esquentar, bundão, toma logo isso. — Lukas empurrou meu
ombro e eu estreitei os olhos em sua direção. Traidor.
Levei o copo aos lábios dando um gole para provar e foi como ir
ao inferno. A ardência deixou minha língua áspera e logo se espalhou pela
minha boca e garganta, meu estômago foi o próximo a queimar como se
estivessem ateando fogo nele, mas o pior mesmo foi a sensação de não
conseguir respirar.
Levantei-me depressa, derrubando o copo no chão e segurando
minha garganta com as duas mãos.
— Não dá... p-ra respirar direito — falei em um tom precário e
rouco, sentindo as lágrimas escorrerem dos meus olhos.
Eu ia matar a filha da puta!

Meu celular vibrou em cima da mesa, me tirando das lembranças


incômodas que ficavam cada dia mais recorrentes.
— Oi, Megan — atendi à minha irmã, torcendo que não estivesse
precisando de mim, pois, hoje em especial, estava atolado de trabalho.
— Onde você está?
— Em casa ainda, mas saio daqui a pouco — respondi, erguendo o
braço para fitar meu relógio.
— Qual a sua fantasia?
— Quê? — Franzi o cenho.
Eu tinha muitas fantasias em geral, hoje a maioria incluía alguém
que sequer poderia cogitar em ter, mas por que diabos minha irmã queria
saber disso?
— Com qual fantasia você vai à festa, Mason?
— Ah, nenhuma.
Nossos funcionários não iriam fantasiados hoje, apenas se fosse da
vontade deles e, como eu iria trabalhar mais do que curtir, resolvi ir com
roupas casuais e confortáveis.
— Como você convence todos a dar várias festas de halloween e
não vai fantasiado? — Megan parecia indignada.
— Não tive tempo, Meg — expliquei. — Além disso, vão ter
muitas oportunidades de me fantasiar, e acredite, fiz muitos planos para as
festas, então ninguém quer apreciá-las mais do que eu.
— Quer que eu leve algo para você?
— Não, baby, não precisa se preocupar.
— Eu estou em uma loja enorme de fantasias e vi uma que é a sua
cara.
— Então compra — falei, já que ela podia juntar o útil ao
agradável. — Eu me visto lá na boate mesmo.
— Fechado! — Respondeu, superanimada. — Beijo, amo você. —
Megan nem esperou eu responder antes de encerrar a ligação.
Apenas dei de ombros, jogando o aparelho para o lado e voltando a
focar no layout do restaurante que projetava. O local tinha sido usado como
loja por bastante tempo, então ficou um pouco mais complicado distribuir
as áreas importantes, tendo que lidar com as exigências do proprietário.
Além disso, estava estressado pra caralho pela diminuição do meu foco.
Meditar ficava cada dia mais difícil. Eu não conseguia me sentir em paz.
Porém, em breve nossa primeira Fantasy Fest começaria e eu tinha
que ajudar Timothy, nosso gerente, com a organização, já que contratamos
um serviço de decoração terceirizado. Além disso, precisava testar as novas
bebidas. Comprei uma calda que simulava sangue, um marshmallow que
parecia um olho de verdade e até aranhas comestíveis. Teríamos bebidas
com e sem travessuras. Para essa parte da festa, eu estava bem animado, já
que a do ano passado foi um sucesso e nós saímos em quatro jornais locais.
As boates de San Diego e Los Angeles teriam dois eventos, um na
sexta-feira treze e outro no dia de halloween, que seriam tão bons quanto os
da nossa sede.

Horas mais tarde, eu tinha tudo sob o mais perfeito controle na


boate. Até o DJ já estava a caminho, e pessoas fantasiadas de todas as
maneiras se enfileiravam na calçada para entrar.
Frank e Jeff estavam lá fora, recepcionando nossos clientes vips.
Convidei Bryan Evans, jogador de futebol americano que acabou de assinar
com o 49ers.[7] Eu tinha pegado o projeto de seu apartamento aqui na
cidade, porém a criatura insistiu na porra de um piso de Paviflex[8], pois
achava mais bonito. Tentei explicar que não confiava na vida útil do
material, mas ainda assim ele manteve a decisão. Já estava tão puto com os
problemas externos que apenas concordei, pensando: “então tá, depois não
diz que eu não avisei”.
Além do Evans, Frank convidou influencers locais. Jeff chamou
alguns clientes e Lukas também. A noite tinha tudo para ser histórica.
— Olha quem chegou! — Megan entrou no escritório sem bater, já
segurando uma bebida em uma das mãos e uma sacola grande na outra.
Minha irmã vestia um vestido preto, colado ao corpo com duas
fendas enormes, uma de cada lado, e Lukas estava de terno com os
primeiros botões da camisa branca abertos. Ele parecia apenas o Lukas. De
terno.
— Por que você não parece fantasiado? — questionei, franzindo o
cenho. — E nem você! — apontei para Megan.
Meu amigo ergueu uma arma de plástico em uma das mãos e
Megan ergueu uma perna, mostrando o coldre ao redor da coxa.
— Somos o Senhor e a Senhora Smith — Lukas contou, abraçando
Megan pela cintura.
— Nossa, que sem graça — zombei, rindo.
— Olha quem fala... você sequer tinha fantasia. Espera só até ver a
que comprei para a semana que vem — falou, animada demais, e jogou a
sacola em cima de mim de qualquer maneira. — Agora se veste, não temos
muito tempo.
Tirei a caixa enorme e quadrada de dentro da bolsa e abri, vendo
um par de asas brancas, uma tiara e uma camisa social de botões.
— Tá de sacanagem, né? — Perguntei, cerrando as pálpebras na
direção da minha irmã.
— Eu falei que era a sua cara. — Megan deu uns pulinhos.
Quantas copos daquela bebida ela já tinha tomado?
— Não tinha nada menos... clichê?
— Vai se vestir, porra! — Ela estalou a língua, irritada. — Se
quisesse algo menos clichê teria ido atrás.
— Diabinho teria sido mais a cara dele. — Lukas riu de mim
enquanto eu tirava a camisa que estava e colocava a branca de botões que
minha irmã havia trazido.
— Aí ele teria ficado puto, por ter a fantasia parecia com a da Vi.
— Vocês trouxeram a pirralha? — Fitei os dois, ainda mais atento.
— Mason, sério, dá um tempo — meu amigo pediu, negando com
a cabeça. — Ela só veio se divertir, não vai causar problemas.
— Você disse a mesma coisa quando ela quase me matou com uma
bebida. — Peguei o par de asas, passando os braços pelas alças. Se fossem
verdes, dava para me confundir com a sininho. — Ela não quis causar
problemas, Mason. — Forcei um tom agudo, debochando da frase que ouvi
muitas vezes quando se tratava de Violet.
— Ninguém sabia que você é alérgico à pimenta, Mason! —
Megan a defendeu outra vez e eu revirei os olhos, irritado.
Nem eu sabia que era alérgico, porém, Violet colocou muito mais
pimenta na minha bebida e não era pra ser gostosinho. Ela queria me matar
intoxicado, provavelmente.
Terminei de colocar as asas e olhei ressabiado para a auréola, que
com certeza bagunçaria meu cabelo, mas pus mesmo assim.
— Tem algo importante para resolver? — Meu amigo perguntou,
dando a volta na mesa e fitando a tela do computador. — Acho que você
precisa de uma bebida.
Sim, eu precisava mesmo.
— Está tudo sob controle por enquanto, só estou preocupado com
o número de pessoas. Estamos quase em nossa capacidade total.
— Podemos colocar os convidados em nosso camarote e abrir
ingresso para o outro — Lukas deu a ideia, fitando o painel com as
informações que iam atualizando em tempo real.
— Boa. Vou avisar aos meninos. — Dei um passo para frente, mas
meu amigo segurou meu ombro.
— Megan e eu vamos, cara. Enquanto isso você vai arranjar algo
para beber. O Timothy dá conta do resto, sério.
Concordei com a cabeça e coloquei o celular no bolso antes de sair
do escritório junto com os dois. Subi as escadas da nossa área privada
sozinho e a primeira coisa que vi ao entrar foram os dois chifres acesos na
cabeça de Violet, que não vestia nada além de uma meia arrastão, um body
vermelho e uma capa longa. A roupa não servia ao propósito de cobrir seu
corpo, pois estava quase inteiro do lado de fora me provocando em silêncio.
Diaba!
Carly, que estava vestida de Harley Quinn[9] gargalhou de algo que
a diabinha mimada disse e eu desviei meu olhar, caminhando para o nosso
bar privativo. Havia um pouco de cada bebida aqui em cima, até
refrigerante, menos os drinks da casa, que só eram servidos no bar
principal.
Servi uma dose do meu Macallan 18 anos e virei de uma vez. Não
deu tempo sentir o sabor, mas a queimação que se espalhava pelo meu peito
e garganta era prazerosa o suficiente.
Capítulo 12 — Mason Rilley

Regra nº 6: Locais pequenos e


apertados? Nem pensar!

Servi outra dose de uísque, dessa vez com gelo.


Devia ser a quarta vez que eu repetia esse processo, mas não bebia
mais com desespero tal qual a primeira dose que tomei, porém, naquele
momento sentia muita vontade de entornar o copo.
A nossa área privativa estava cheia de pessoas ocupando os sofás,
cadeiras e também de pé próximas ao guarda-corpo. Aquela área tinha uma
visão privilegiada para o palco e a pista.
O DJ tocava um remix de Break Free da Ariana Grande e a galera
ao meu redor dançava animada.
Eu não conseguia me divertir. Nada tirava os meus olhos de onde
Violet estava, numa conversa empolgada com Bryan Evans[10] fantasiado de
homem aranha. Lukas e Megan pareciam não ligar muito, os dois abraçados
em um canto, curtindo o som.
— Você parece irritado. — Um Frank vestido de coringa se
aproximou de mim. Ele tinha mesmo entrado no personagem, já que até
seus cabelos estavam pintados de verde.
— Não estou irritado. — Soltei uma risadinha seca, dando um gole
em minha bebida. — Adorei seu novo estilo, vai manter assim para a
cerimônia? — Apontei com o queixo para o cabelo dele.
— O pigmento sai com água — disse, logo depois virando-se para
onde Carly estava conversando com Jeff. O advogado estava fantasiado de
Willy Wonka.[11] — O da Carly também.
Meu amigo olhava para a garota com admiração, como se seu
mundo inteiro girasse ao redor dela. Era notável que a relação deles ia além
de um contrato, pois, perto de nós, os dois não precisariam fingir nada. E a
chama que havia no olhar de Frank era semelhante à forma como Lukas
olhava para a minha irmã.
O desgraçado estava caidinho.
— Tudo certo para a semana que vem? — Perguntei.
— Sim. Já pegou seu terno? — Fiz uma careta quando ele
perguntou. Eu detestava usar gravatas e ternos sob medida, me sentia muito
diferente do meu estilo habitual, mas era padrinho dele.
— Vou pegar amanhã — falei, mas logo desviei o olhar dele
quando Violet soltou outra risada alta, dessa vez uma de suas mãos estavam
no bíceps do Evans.
Droga!
O cara era mais alto e forte que eu, rico, famoso e bonito pra
caralho. Mas e daí?
E por que eu estava inseguro? Nunca fui assim.
— Parece que alguém gostou da pequena encrenqueira. — Frank
tinha o rosto virado na direção dos dois enquanto fazia o comentário, mas
logo meu amigo virou-se para me observar.
— Azar o dele — desdenhei, revirando os olhos.
— Se você deixasse de ser imbecil só por um minuto, admitiria que
a Violet é gata pra caralho.
— Eu nunca disse que... — Era feia? Não. Ela não chegava nem
perto de tomar esse adjetivo, porém, eu não sabia como terminar a frase de
uma maneira que não me denunciasse. Nada se tratava de beleza afinal, já
que a diaba me atraía até mesmo com aquela personalidade insuportável.
— Então você a acha bonita?
— Deveria tentar parar de colocar palavras na minha boca, Frank.
— Só estou tentando juntar as peças. Você a encara como se a
quisesse, mas fala dela como se fosse a última garota com quem ficaria.
— Porque ela é a última garota com quem eu ficaria!
— Aham... — Meu amigo cerrou as pálpebras, me avaliando. —
Então por que você parece estar com ciúmes agora?
— Ciúmes? — Soltei uma risada, tentando soar divertido. — Fala
sério, Frank. Só porque você encontrou sua alma gêmea não quer dizer que
precisa ver amor por todos os lugares que olha.
— Eu vou deixar passar essa, pelo bem da nossa amizade e
também porque você já bebeu meia garrafa de uísque.
— Não estou bêbado. — Dei de ombros, erguendo a mão livre com
a palma virada para o seu lado.
— Desde que a Violet veio morar aqui, você não está nem um
pouco normal.
— Ah, cara... Para com isso, sério! — O assunto começava a me
incomodar. Se ele esperava algum tipo de justificativa ou confissão, não
teria. — Ela é irritante, afeta minha vida, se mete em confusão sempre que
pode. Eu deveria mesmo gostar disso?
— Disso o quê? — Jeff, ou melhor, Willy Wonka se aproximou.
Lukas estava logo atrás, olhando de mim para Frank com curiosidade.
— Nada! — respondi, entornando o último gole de uísque do meu
copo e já pegando a garrafa para me servir outra vez, mas Frank a tomou da
minha mão.
— Não é dia para isso, porra. — O coringa irritante do caralho
devolveu a garrafa para a prateleira, abrindo o frigobar e tirando uma
garrafa com água de lá. — Não gosto de te ver assim, Mason, sério.
— Ele tem razão, você tem andado esquisito. — Lukas se pôs ao
meu lado, cruzando os braços.
— Estou bem — enfatizei e peguei a garrafa com água de Frank,
abrindo para tomar um gole. — Vivo trabalhando muito e dormindo pouco,
aceitei mais projetos do que posso dar conta e minha rotina está toda
desregulada. Não tenho direito de ficar estressado?
— Você é o nosso ponto de equilíbrio, cara — Jeff socou meu
ombro de leve, falando com diversão. — Se você surta, nenhum de nós
pode surtar.
— Vou me casar em menos de uma semana, tenho o direito de
surtar, porra!
— E eu vou viajar pra pedir... — Lukas olhou para os lados, se
certificando de que ninguém estivesse ouvindo depois desistiu de continuar
a frase. — Vocês sabem.
— Ainda acho que vocês estão todos loucos.
Eles me olharam como se não acreditassem em nada que saía da
minha boca, mas eu apenas ignorei, dando outra olhada ao redor. Megan
havia se juntado à diabinha e ao quarterback, e os três conversavam agora.
— Esses dias a Violet me perguntou se conseguiria arranjar um
emprego para ela e Megan sugeriu que fosse aqui. O que vocês acham?
Paralisei, incrédulo demais para dizer qualquer coisa.
Ele falava mesmo sério?
— Por mim tudo bem — Jeff foi o primeiro a concordar.
— Não vejo problema nenhum — Frank falou com os olhos
focados em mim. Encarei de volta sua face pretensiosa, ele esperava um
surto, claro, mas eu não daria esse gostinho.
— Vou ver onde conseguimos encaixá-la. — Meu tom era baixo e
pacífico, mesmo que por dentro eu estivesse gritando.
O que diabos a coisinha mimada faria aqui?
Me irritar era uma profissão, por acaso? Estavam oferecendo uma
boa grana por essa função?
— Só queria pedir que ela não ficasse até às duas, pois tem aula
pela manhã. Talvez nos fins de semana ela consiga ficar até mais tarde se
quiser — Lukas falou, olhando de relance para a irmã e a namorada.
Claro que a princesinha ainda tinha exigências.
— Melhor você falar diretamente com o Timothy então, ele que
organiza as escalas. — Resolvi tirar a responsabilidade dos meus ombros de
uma vez, para não acabar ainda mais irritado.
— Vou resolver tudo antes de viajar.
Conversamos por algum tempo, depois Megan e Violet resolveram
descer, talvez para pegar alguma bebida ou dançar na pista. Não dava para
entender aquelas duas.
— Acho que já vou para casa — falei aos meus amigos. Pretendia
ficar até a boate fechar, mas a minha paciência estava no limite e já passava
da meia noite.
— Não vai dirigir, não é? — Lukas questionou.
— Não, vou pedir um Uber, relaxa. Deixei o carro e a moto em
casa hoje, pois pretendia mesmo beber.
— Até o porre dele é planejado — Jeff zombou.
— Detesto trabalhar de ressaca — contei, com as mãos nos bolsos
e a postura relaxada. — Só bebo quando sei que no outro dia não vou ter
nada importante para dar conta.
— Já fui a uma audiência de ressaca. Foi mágico.
— Você é louco! — Frank tirou as palavras da minha boca.
Me despedi deles e desci as escadas ainda um pouco tenso. A
bebida havia me relaxado até certo ponto, mas ainda refletia sobre Violet vir
trabalhar aqui. Não tinha como evitá-la em meu próprio ambiente de
trabalho. Tirá-la da minha mente se tornava mais difícil cada dia e isso me
irritava.
Entrei na parte administrativa da boate onde ficavam os escritórios,
sala de descanso dos funcionários, camarins etc., porque havia uma saída
por trás da boate, que dava para uma rua bem mais tranquila que a avenida
da frente. A batida abafada de uma música latina que eu não conhecia me
seguia pelos corredores e assim que dobrei para o corredor principal meus
pés travaram no chão. O peito encheu-se rapidamente de ar e meu sangue
ferveu.
Ela aparecia em qualquer lugar. Fosse em meus pensamentos, às
vezes até em sonhos malucos, na rua de madrugada quando eu só queria
correr em paz, na minha vida. Nem a Megan tinha tantas aparições
repentinas assim e éramos quase vizinhos há mais de um ano. Então, por
que essa criatura não podia me deixar em paz?
— O que você está olhando? — A diaba cerrou as pálpebras e
franziu os lábios, perguntando com desdém.
Não respondi.
Apenas avancei pelo corredor e antes de passar por ela agarrei seu
braço, puxando-a comigo.
— Que merda você está fazendo? — Não respondi, apenas foquei
em enfiá-la dentro do estoque. Era uma salinha pequena, abarrotada de
prateleiras com caixas de bebidas caras, pelo menos tinha luz e eu a acendi,
fitando o olhar confuso da garota que devia ver a ira refletida nos meus.
— Que merda você está fazendo? — Devolvi, cochichando.
Se meu raciocínio estivesse correto, Violet esperava Megan sair do
banheiro.
— Do que está falando? — A diabinha mimada cochichou de
volta, parecendo confusa ao mesmo tempo que fitava minhas asas. Minhas
não... as asas.
— Por que agora decidiu que quer trabalhar aqui?
— Qual o motivo pelo qual as pessoas trabalham, querido? — Ela
pôs as duas mãos sobre a cintura, afastando a capa longa para trás e
deixando toda a silhueta de seu corpo à mostra. — Achei que fosse mais
inteligente.
— Logo aqui? Tantos lugares nesta porcaria de cidade e você
resolveu que me infernizar era mais interessante. — Me remexi,
incomodado pelo espaço pequeno, o desejo, a raiva, tudo me afetando de
uma vez.
Violet pareceu ofendida por um segundo, mas logo aquilo
desapareceu de suas feições, dando lugar a uma expressão colérica muito
parecida com a minha.
— Não sei se já notou, babaca, mas o mundo não gira ao seu redor.
— Então por que você não perde a oportunidade de tirar a minha
paz? — Sussurrei entredentes, mas logo me calei ao ouvir o som de uma
porta sendo fechada e passos ecoando pelo corredor.
Ergui o dedo, sinalizando para que Violet não falasse nada e ela
não abriu a boca, me surpreendendo. O olhar irritado e lábios em linha fina
não eram nenhuma surpresa. Esperei um pouco, até os passos se afastarem
o suficiente e abri a porta para conferir se não havia mais ninguém por ali.
— Era a Megan? — Perguntei, assim que voltei a fitá-la e Violet
acenou, tensa. — É melhor você ir antes que alguém te procure.
Segurei a maçaneta, pronto para abrir a porta outra vez, entretanto,
a coisinha ousada em minha frente colocou a mão sobre a madeira, como se
tivesse forças o suficiente para me impedir.
— Você não pode despejar um monte de besteiras pela boca, me
fazer ouvir e esperar que eu saia calada. — Não havia mais sussurros. Seu
tom de voz era alto. — Se eu tivesse opções, acha mesmo que escolheria
ficar perto de você? — A diaba riu, zombando de mim.
— Óbvio! — Abanei as mãos, nervoso. — Você agarra qualquer
chance de me deixar puto.
— Até parece que você não faz o mesmo comigo. — As botas de
salto que usava deixaram-na alguns centímetros mais alta, mas seu tamanho
ainda não alcançava o meu. Contudo, Violet estava em cima de mim, me
intimidando pela proximidade.
Sim. Eu fazia o mesmo com ela, às vezes até gostava desse jogo
imaturo que tínhamos um com o outro. Assim eu conseguia deixar a atração
de lado, sempre focado em sua atitude petulante e ignorando o quando era
linda.
Merda!
Os olhos castanhos vívidos me atraíram. Havia uma chama ali que
os fazia brilhar. Desde que a conheci naquele aeroporto, dizendo meu nome
com um ar decepcionado, mas sempre trazendo o brilho nas íris quando
precisava se impor.
Não respondi, perdido no motivo pelo qual a arrastei até aqui, mas
a diaba não continuou, me escrutinando da mesma maneira que eu fazia
com ela.
Estávamos próximos demais, de uma maneira perigosamente
atraente. Um olhar para baixo e eu veria seus lábios pintados de vermelho,
prontos para mim. Se fosse além, teria uma visão privilegiada de seu peito
arfante subindo e descendo, como ficava na maioria das vezes em que
discutimos.
O álcool, o sangue quente e a raiva fervilhando não garantiriam me
manter lúcido ao olhar para baixo.
As esferas cor de âmbar continuaram na minha linha de visão,
como território seguro, apesar que Violet me olhava de uma maneira muito
pior do que eu a ela. Havia desejo daquele lado também.
Franzi o cenho, sem entender por que ainda estava quieta.
— O quê? — Questionei, cerrando minhas pálpebras.
— Eu odeio você, Mason!
Parei por um segundo, sentindo o clima denso ao meu redor. A
atração nos rodeando como em uma dança sensual.
— Tem certeza? — Inclinei o pescoço, perguntando com certo
deboche em meu tom. — Porque parece que você está prestes a me beijar.
Sua postura sobre mim endureceu, mas Violet não recuou. Agi por
instinto: em um segundo eu tinha o controle na palma da minha mão e no
outro já o jogava pelos ares, esmagando os lábios dela com os meus.
Movi uma de minhas mãos livres para sua nuca, mantendo-a
imobilizada pra mim, e então eu esperei. Com a respiração presa e o desejo
corroendo cada célula dentro de mim enquanto nossas bocas estavam
ligadas dei a ela alguns segundos para que me afastasse.
Eu até a imaginei me chamando de imbecil ou de louco, me
empurrando para longe e cuspindo no chão. A cena quase me fez rir.
Caralho, eu estava doente!
Diferente do que imaginei que aconteceria, a diabinha separou os
lábios e mordeu o meu inferior, puxando-o entre os dentes. Enlouquecido,
passei meu braço ao redor de sua cintura fina, colando seu peito no meu e
devorando-a como eu queria desde o início.
Meus dedos foram de sua nuca para seus cabelos, enganchando os
fios enquanto eu provava o sabor doce e alucinógeno que aquela boca
possuía.
Esqueci todos os motivos que deveriam me impedir de fazer aquilo
e cedi ao desejo, erguendo seu corpo pequeno para que suas pernas
envolvessem minha cintura.
Porra! Eu estava perdido!
Capítulo 13 — Violet West

Querido diário, eu achei que tivesse


experimentado beijos ótimos, porém, nada deveria
se comparar àquelas mãos ao redor do meu corpo e
a loucura que senti em minha pele quando seus
lábios chuparam a minha língua.

Engolida. Era dessa forma que eu me sentia enquanto tinha as


mãos e boca de Mason em mim.
Meus dedos prendiam os cabelos castanhos com tanta força que as
unhas quase furavam a palma da mão, e sua língua agora brincava com a
minha de uma maneira dominante e sedutora, tirando toda e qualquer
racionalidade que pudesse existir em minha mente.
Gemi, entorpecida entre a confusão que ele causava dentro de mim
com apenas um beijo. Na teoria, eram só lábios se tocando e línguas
duelando, entretanto, a sensação febril que se espalhava por cada centímetro
da minha pele, minha boceta ensopada e o pau dele firme roçando ali,
provavam que o desejo tinha explodido entre nós dois há muito tempo.
Nada importava muito dentro daquele depósito abafado, com a luz
fraca acesa e a batida do DJ tocando Mil Veces da Anitta reverberando pelas
paredes. Nem parar para respirar eu queria, mesmo que já estivesse ficando
quase sem ar. No fundo, tive medo de interromper o momento por alguns
segundos e ter um disparo de lucidez.
Queria mais.
Queria que as mesmas mãos que seguravam com força minha
bunda, explorassem meu corpo.
Arfei quando minhas costas se chocaram contra a lateral de uma
prateleira e o quadril dele esmagou o meu, simulando uma penetração. Nós
dois estávamos vestidos, mas senti meu clitóris pulsar com o estímulo.
Porra!
O barulho de vidro espatifando no chão me assustou, fazendo com
que eu sobressaltasse em seus braços, contudo, nem isso foi o suficiente
para nos afastar. Algumas outras garrafas seguiram o mesmo destino,
caindo ao nosso redor. Não sabia direito o que fizemos, mas também não
quis parar para conferir.
Mordi seu lábio para que ele não escapasse e puxei o ar com força
antes de voltar a beijá-lo com ainda mais fome e ele gemeu, voltando a
esfregar o quadril em mim. Meus mamilos doíam presos dentro do body
apertado e eu quis me ver livre dele, ter meu corpo nu, sem nenhuma
barreira entre nós.
Me assustei outra vez quando uma batida soou na porta e logo
depois a maçaneta foi forçada.
— Está tudo bem aí? — alguém gritou.
Gemi em protesto quando sua boca deixou a minha, mas logo meu
pescoço foi chupado, lambido e mordido, me esquentando mais. O pau dele
ainda latejava embaixo de mim, da mesma forma que meu clitóris. Esperei
Mason voltar a beijar meus lábios inchados. Tudo em mim latejava como
nunca. Era confuso, gostoso e estranho, tudo ao mesmo tempo.
Derreti inteira quando beijos molhados foram deixados na lateral,
próximo à nuca, mas ele puxou o ar com força, afastando o rosto quando
quem quer que estivesse do outro lado da porta insistiu.
Abri os olhos devagar ao notar que ele não ignoraria a interrupção
e voltaria a me beijar. Sua expressão era confusa, com a testa franzida e o ar
escapando rápido por seus lábios entreabertos. Quase ri ao ver a
vermelhidão ao redor de sua boca de maneira irregular, mas preferi
continuar séria, encarando a realidade à minha frente.
Nós dois havíamos nos beijado. Um pouco mais do que apenas um
beijo, foi um beijo bom pra caralho!
Mason e eu.
Eu e Mason.
Puta merda!
Ele me soltou, me obrigando a ficar de pé. Só então notei o leve
tremor em minhas pernas, que pareciam não se firmar no chão. Observei do
canto enquanto Mason destrancava a porta e colocava a cabeça para fora,
controlando o espaço da abertura. Como eu estava um pouco atrás, não
tinha como me enxergar ali.
— O quê? — perguntou com a voz mal-humorada.
— Porra! Você não ia pra casa? — Era o Jeff. Que merda!
Me encolhi mais, movendo-me para mais perto da porta pela parte
de trás, de modo que ele não pudesse me ver.
— Ainda vou. Por quê?
— Se sua boca não estivesse imunda de batom, eu arriscaria dizer
que você enlouqueceu e está quebrando o depósito de bebidas. Só anota
quais foram para repor depois.
— Tá — Mason mexeu a perna, parecendo impaciente. — Agora
some.
— Ei, se vir a Violet, avisa que o Lukas está procurando por ela —
o advogado falou, e seu tom se assemelhava muito a um de deboche.
Arregalei os olhos, mantendo os lábios esmagados um contra o
outro. Mas o que me deu mesmo vontade de gargalhar foi a resposta de
Mason:
— Pergunte ao Evans. Ele com certeza deve saber! — Ao falar
isso, ele colocou a cabeça para dentro e bateu à porta de maneira irritada.
Que idiota!
Seria esse o momento em que a consciência cairia sobre nós e os
gritos começariam a rolar? Bom... era isso que eu esperava, entretanto, para
a minha surpresa, Mason espalmou uma das mãos na parede atrás de mim,
bem acima da minha cabeça, e segurou minha nuca, me erguendo para
encontrar meus lábios outra vez.
Caralho!
Tudo em mim voltou a formigar, o choque, a surpresa, o tesão...
Ele me dava o beijo mais gostoso que já provei na vida, mesmo que eu
conseguisse sentir o sabor do álcool no fundo, tudo se tornava uma mistura
irresistível e inebriante.
Minha mente nublou outra vez. Eu não conseguia respirar ou
pensar. Só quis sentir, segurando firme sua camisa entre meus dedos para
me certificar de que era real. Não havia mais descontrole, nossos lábios se
moviam de maneira lenta e sedutora, em um ritmo quase torturante, mas
não menos abrasador.
Até que ele me soltou. Seu olhar intenso me dizendo o quanto
também queria mais.
— Nunca achei que diria isso... — Seu tom rouco era um charme
ou eu estava tonta pelo tesão para justificar achar sua voz bonita? — mas
quer ir para o meu apartamento?
Parecia que um balde de água fria havia sido derramado em minha
cabeça quando parei para pensar direito e fiz um breve cálculo do que
aconteceria ou não dali em diante.
Eu até podia ir ao seu apartamento como propunha, porém, o que
diria na hora de me penetrar? “Olha, toma cuidado porque você é o
primeiro” ou “Cuidado ao entrar, área nunca explorada”. Eu devia mandar
bordar uma calcinha, seria menos vergonhoso.
Era Mason ali. Talvez quando descobrisse sobre minha falta de
experiência sexual, risse da minha cara e me mandasse para casa. Pelo
menos era essa atitude que eu esperava dele.
Fitei seu olhar ardendo em expectativas, mas não tive coragem de
encará-lo por muito tempo e logo desviei, fitando os cacos de uma garrafa
no chão, com um líquido rosa derramado ao redor.
— É melhor não — falei baixo, soando menos decepcionada do
que realmente estava.
Talvez Mason nunca devesse saber o quanto eu queria ir adiante,
transar com ele e sentir todas as sensações de uma penetração pela primeira
vez, mesmo com medo. Era melhor assim. Dessa forma nunca saberia que
nunca fizera sexo com ninguém e todos os seus palpites sobre isso estavam
corretos.
Podia até parecer infantil, mas quando se tratava da nossa relação,
nada era maduro e racional. Infernizar um ao outro tinha se tornado um
hábito e dar margem para ele era um tremendo erro.
Eu ainda teria que olhar na cara de Mason todos os dias, sabe-se lá
por quanto tempo, e ele tinha um potencial enorme para me decepcionar.
O aperto em minha nuca diminuiu e aos poucos ele me soltou. A
expectativa se esvaindo e dando lugar a um emaranhado de dúvidas. Nos
encaramos ainda por alguns segundos em que a possibilidade de voltar atrás
permeou meus pensamentos, no entanto, não tinha como.
Achei que ele tentaria me convencer ou argumentaria, mas Mason
me surpreendeu e abriu a porta atrás de si, saindo por ela e me deixando
sozinha no lugar.
Meu coração ainda estava acelerado quando tomei coragem e
deixei o depósito, entrando no banheiro que ficava ao lado. Engoli em seco
ao me fitar pelo espelho com os lábios inchados e manchados, os cabelos
desgrenhados, até minha roupa estava torta. Parecia que eu tinha acabado de
passar por uma tempestade e não dado uns amassos no cômodo ao lado.
Peguei alguns lenços de papel e comecei a remover as manchas de
batom, depois ajeitei meus cabelos e minhas roupas, voltando para a boate
lotada.
Antes, quando quase nos beijamos, passei alguns dias cheia de
incertezas, remoendo como seria se eu e ele tivéssemos nos beijado,
contudo, agora não havia mais dúvidas: era um beijo bom demais para
simplesmente esquecer e algo em mim dizia que aquela não seria a última
vez.
Capítulo 14 — Mason Rilley

Regra nº 7: Não compartilhe


segredos com ela. Segredos são sinais
de intimidade.

Senti minha cabeça latejar antes mesmo de abrir os olhos. A


sensação era de que tinham me acertado com uma cacetada e, porra, não era
nada bom.
Fitei o teto claro, já arrependido por ter bebido na noite passada e
então as lembranças vieram vívidas à minha mente.
Puta merda!
Eu fiz exatamente tudo que não deveria, a começar por beijá-la,
mas me lembro de querê-la de uma forma quase desesperadora, e então ela
me disse não. O que, pensando bem agora, foi o mais sensato a se fazer. Eu
costumava ser o cara racional, o que tomava as decisões sensatas e não
ficava aos beijos com uma mulher no depósito da boate, porém, quase não
me reconhecia mais. A sensação era de que absolutamente tudo dentro de
mim estava fora do lugar. Minha vida, minhas decisões e meus princípios
não pareciam mais os mesmos e eu precisava dar um jeito de reorganizar
tudo.
Levantei-me da cama, sentindo um estrondo em minha cabeça a
cada passo que eu dava dentro do meu apê e entrei no banheiro para fazer
minha higiene matinal e tomar um banho. Lembro que quando cheguei em
casa ontem, ainda com o rosto manchado de batom e meu pau ameaçando
endurecer a cada vez que eu me lembrava do beijo, tirei as asas e a tiara
ridícula, abri o restante dos botões da camisa e caí na cama da maneira que
estava.
Apesar do tesão, o sentimento de rejeição também continuava
latejando. Cedi ao desejo, me entreguei tão facilmente ao momento e ela me
disse não. O pior é que Violet queria tanto quanto eu. O álcool podia até ter
me deixado alto, mas a química entre nós dois era nítida.
De qualquer maneira, não aconteceria novamente.
Já era hora de acabar com essas loucuras, atitudes infantis e
provocações. Eu a respeitaria e exigiria que ela fizesse o mesmo por mim.
Saí do banho me sentindo um pouco melhor, mas ainda assim
tomei dois analgésicos e um corpo cheio de água para aliviar a ressaca.
Peguei meus fones de ouvido e procurei uma meditação guiada no Spotify,
me acomodando no sofá para começar. Fui afastando as lembranças de
ontem à noite e todas as outras que estavam ligadas à diabinha malcriada e
logo eu me sentia calmo o suficiente, flutuando em meu lugar de paz.
Era uma sensação plena, de tranquilidade e equilíbrio, contudo,
meu celular começou a tocar, atrapalhando a minha fluidez.
— Porra, vai se foder! — Xinguei, antes de apertar o botão no fone
que desconectava a chamada.
Votei a meditar, seguindo a voz tranquila que me instruía a subir no
topo da montanha, e puta que pariu, pelo visto eu teria que jogar alguém de
lá de cima.
— O que é? — Atendi de mau gosto, ainda com os olhos fechados.
— Cara, faz meia hora que te espero. Cadê você? — Era a voz de
Lukas na minha cabeça agora, mas não parecia tranquila como a da moça
da meditação.
— Merda! — Xinguei novamente, abrindo os olhos. — Tinha
esquecido.
Havíamos marcado antes de ontem para rever alguns projetos e dar
início aos planos da casa que ele queria construir. Depois do almoço sairia
com ele para checar as obras em andamento.
— Percebi — ele deu um murmúrio em reprovação, mas logo
voltou a falar: — Se arruma e vem, não temos muito tempo.
— Tudo bem, já chego aí.
Pelo visto a meditação ficaria para outro momento.
Me vesti e saí de casa, parando em uma barraquinha no meio do
caminho para comprar um café e uma rosquinha, pois ainda não havia
comido nada. Quando cheguei ao prédio de Lukas, que ficava a apenas
meia quadra do meu, o porteiro me cumprimentou e me mandou subir sem
interfonar. Teve época em que eu passava lá todas as manhãs, não havia um
funcionário sequer que não me conhecesse.
Como sempre, entrei sem bater, encontrando meu amigo sentado à
mesa da cozinha com vários papéis em sua frente. Devia ser o projeto cru
que criei, apenas um desenho simples, sem rasterização. Por ele ser
engenheiro, entendia bem daquela forma.
— Bom dia! — Cumprimentei, equilibrando o copo de café e a
rosquinha em apenas uma das mãos.
— Finalmente! — Lukas comemorou.
Sentei na cadeira em sua frente e tomei um pouco do meu café
antes de colocar o copo em cima da mesa. Olhei ao nosso redor,
procurando-a, mas desisti ao me lembrar de Lukas falando que ela tinha
aula na parte da manhã.
— Foi o porre que te deixou assim? — Meu amigo perguntou
depois de alguns minutos.
— Assim como? — Franzi o cenho, questionando.
— Disperso, estranho... — Ele parou um segundo, parecendo
pensar no que diria a seguir. — Além disso, você parece cansado pra quem
acabou de acordar.
— Fazia tempo que eu não bebia daquela forma. Deve ter sido
isso.
— Você merecia, cara, a festa foi um sucesso e o mérito é todo seu.
— É... — Concordei, um pouco distraído.
Se ele soubesse o que realmente acontecera nos bastidores, talvez
não tivesse a mesma opinião. Eu já havia notado sua atitude protetora
quando se tratava de Violet, ele queria recuperar todo o tempo que não teve
com a irmã na infância, e isso incluía colocar os primeiros caras pra correr.
Levando em consideração que ela morava aqui há uns dois meses,
talvez eu fosse o primeiro cara que ele deveria se livrar.
Começamos a alinhar os detalhes da casa e olharíamos três opções
de terreno ainda hoje. Eu não tinha ideia do porquê ele inventou de erguer
uma casa do zero, mas era sua vontade, então não havia o que questionar.
Também fiquei surpreso quando me falou a localização dos lotes, que
ficavam em condomínios fora da cidade.
Não precisei perguntar para ele me contar os motivos por trás de
sua decisão.
— Quando viemos morar aqui, achei o máximo a agitação, a
cidade, o ritmo frenético de morar em uma metrópole. Mas não acho que
seja inteligente construir uma família aqui. Além disso, vai ser bom para a
Violet ter um espaço maior também, mais privacidade e liberdade.
— Faz sentido. — Acenei com a cabeça, compreendendo.
Não fui criado em uma mansão como ele foi, mas nossa casa de
dois andares com quintal e jardim era muito diferente do isolamento que as
paredes de um apartamento ofereciam. Apesar de hoje em dia eu não
enxergar motivos para ter uma casa grande só para mim, concordava com
ele.
Lukas pareceu um pouco surpreso por alguns segundos, mas logo
voltou a falar sobre portas, pisos e sistema de ventilação. Me distraí
totalmente enquanto dava sugestões para uma construção mais sustentável,
até ela entrar em minha linha de visão.
Por um momento senti meu raciocínio escorregar ralo abaixo
quando parei para observá-la ainda em seu baby-doll lilás, muito diferente
da fantasia de diaba que vestia ontem. Olhando-a assim, com os olhos ainda
inchados e pequeninos, o cabelo um pouco desgrenhado, segurando um
caderno de capa dura cor de rosa e uma caneta contra o peito, nem parecia
que era a criatura mais petulante, teimosa e tagarela que já conheci. Somado
a isso, o rosto livre de maquiagem deixava Violet mais semelhante à menina
de dezoito anos que era.
— Bom dia — cumprimentou sem nos olhar, soltando um bocejo
longo, mas logo sua atenção caiu sobre mim.
Primeiro sua face perdeu um pouco da cor, era exatamente como
eu deveria estar agora. Depois desviou o olhar, com o peito subindo e
descendo mais rápido.
— Bom dia — Lukas devolveu, distraído com algo em seu celular.
— Tem café pronto e comida pra você — indicou, ainda sem prestar
atenção direito na irmã. Talvez se a olhasse, enxergasse o constrangimento
explícito que eu via.
Quis cumprimentá-la, mas achei melhor ficar quieto. Na frente de
todos, nós dois ainda nos detestávamos, seria estranho aparecer tratando-a
cordialmente, e eu nem sei por que sentia vontade de falar manso. Tinha
quase certeza de que na primeira oportunidade Violet me infernizaria, e eu a
ela.
Desviei o olhar quando ouvi cliques sobre o piso e logo o animal
peludo, branco e de quatro patas apareceu pulando pelo corredor. Era fofo,
mas eu sabia bem o quão arruaceiro um ferret podia ser.
— Vocês adotaram um furão? — Perguntei, observando a
criaturinha correr na direção de Lukas.
— É da Vi — ele respondeu, dando a mão para o animal subir. —
Achei que você soubesse.
Olhei com cara feia na direção dele acariciando a pelagem curta e
branca que o furão tinha, mas a atenção do animal estava mesmo era em
mim.
— Vem, Baunilha. — Violet passou ao lado do irmão, pegando seu
bichinho quando começou a dar muita atenção aos papéis e notebooks sobre
a mesa.
Violet se serviu de café e levou para a bancada ao nosso lado, se
sentando de costas para nós dois. Tirei o olhar da bunda dela esparramada
no banco e chamei a atenção de Lukas para voltarmos a mexer no projeto.
Adicionamos mais alguns detalhes, porém, não demorou até dar a hora de
irmos almoçar, pois marcamos com Jeff e Frank em um restaurante que
costumávamos ir.
— Vou só tomar um banho rápido e já volto. — Meu amigo se
levantou, caminhando para fora do cômodo, mas antes que chegasse muito
longe, se virou para nós: — Vocês estão de boa aí?
Violet murmurou um “uhum” sem realmente abrir a boca, e eu
apenas acenei com cara de cu e meu amigo deu de ombros, voltando a
caminhar.
— Vai contar pra ele? — Perguntei baixinho assim que Lukas se
trancou em seu quarto no fim do corredor.
Ela não tinha comentado, mas talvez tivesse a intenção de fazê-lo.
Eu nem conseguia imaginar como meu amigo reagiria ao descobrir.
— Ah, claro... Estou morrendo de orgulho. — Falou cheia de
ironia, ainda de costas para mim. — Será que ele vai me dar os parabéns
quando descobrir?
— Ontem você parecia muito satisfeita — provoquei.
— Até parece... Se depender de mim, ninguém nunca vai ficar
sabendo desse... deslize.
Ah, pronto, agora eu era o segredinho sujo da diaba.
— Não é como se eu estivesse ansioso para contar também. —
Cruzei os braços na altura do meu peito, dando de ombros sem que ela
pudesse ver.
Dessa forma, Violet e eu compartilhamos nosso primeiro segredo.
Capítulo 15 — Violet West

Querido diário, homens são


criaturas estranhas...

Frank e Carly se casaram na semana seguinte, na cerimônia mais


louca que eu já presenciei em minha vida toda. Para começar, o noivo se
virou para todos os convidados na hora dos votos e confessou que o
relacionamento deles era por contrato... bem, nem era mais, já que ele
assumiu que amava a loira.
Apesar de caótico, foi romântico.
O clima entre mim e Mason continuava tenso, talvez pior do que
antes de nos beijarmos, pois, além de todas nossas intrigas, havia o tesão,
que eu inclusive não desejava sentir, mas ardia de uma maneira incômoda
dentro de mim.
— Temos uma notícia para dar a Violet — o noivo chamou minha
atenção na mesa em que todos nós estávamos sentados.
— Para mim? — Franzi o cenho, olhando ao redor da mesa e
tentando imaginar o que eles poderiam ter para me dizer.
Tia Kara, mãe da Megan — que chegou no dia anterior para vir ao
casamento — estava sentada ao meu lado e Lukas do outro. Mason tinha
ficado bem de frente para mim, mas voltei meus olhos para Frank,
esperando pela tal notícia. Por ser fim de festa, ele já tinha a aparência
desgrenhado, só de camisa branca, gravata solta, pendurada no ombro
esquerdo e cabelo bagunçado.
— Você começa na Club Party sexta-feira — foi Jeff quem falou,
me deixando surpresa. — Precisa aparecer na quinta, para conversar com o
Tim. Ele vai te dar uma função.
— Uau, sério? — Arregalei os olhos e molhei os lábios, quase não
acreditando.
Comentei com Lukas outro dia, mas não imaginei que o assunto
estivesse em pauta.
— Parabéns, querida! — Tia Kara falou, me abraçando com
carinho pelos ombros. — Vai se dar muito bem na boate, tenho certeza!
Sorri, agradecendo, e mesmo que não tivesse a intenção, meus
olhos se encontraram com os de Mason, que se mantinham cerrados e
desconfiados.
— Está com ciúmes da mamãe, Mason? — Provoquei, mordendo a
parte de dentro dos meus lábios para evitar que meu sorriso alargasse.
A mãe dele riu ao meu lado, negando com a cabeça.
— Acho que agora você deveria prestar mais atenção em como fala
comigo, mimadinha. Já que eu sou um dos seus chefes.
Nem aquela percepção me desanimou, já que na quinta-feira eu
sairia de Berkeley direto para a CP, animada demais para começar a
trabalhar. Os meninos me explicaram na mesa que eu trabalharia apenas
quinta, sexta e sábado. Às sextas-feiras para mim eram tranquilas na
faculdade, pois tinha apenas duas aulas, e por isso os sócios chegaram
àquela decisão. Eu receberia semanalmente, um pouco menos que os outros
funcionários, mas ainda assim, o suficiente para me manter sem mexer na
minha herança e também guardar um pouco.
Megan e Lukas tirariam férias em poucos dias e eu ficaria sozinha
no apartamento. Ter um trabalho também ajudaria a preencher a falta que eu
iria sentir dos dois. Mesmo morando aqui há poucas semanas, eles me
fizeram companhia e cuidaram de mim muito mais do que papai e Natalie
em meus dezoito anos de vida.

Bati com as juntas dos dedos na porta do escritório de Timothy e


girei a maçaneta quando ele gritou para eu entrar.
— Oi, eu sou a Violet.
Ele era um rapaz magricelo, com barba espessa e uma careca que
brilhava até no escuro. Tinha uma boa aparência, apesar de parecer ter
passado dos trinta e cinco anos.
— Bem-vinda à nossa equipe, querida — cumprimentou de
maneira simpática, sem se levantar de sua cadeira. — Me pediram para te
integrar aqui, porém, não tenho nenhuma informação sua. Tem alguma
experiência que seja relevante?
Abri um sorriso falso, antes de dizer que nunca trabalhei em nada,
no entanto, aprendia bem rápido. Amanhã seria a segunda festa à fantasia
da boate, então seja lá onde fosse ficar, precisava virar expert ainda hoje.

Mason:

Apoiei as mãos no guarda-corpo da nossa área VIP, checando as


pessoas fantasiadas na pista, que dançavam e se esfregavam freneticamente.
Hoje o tema era Fantasy Free, e teríamos um prêmio para a
fantasia mais criativa.
— Acho que vou lá embaixo buscar uma bebida — mamãe gritou
para mim, sobrepondo a música com sua voz. Ela usava um vestido longo e
esvoaçante preto e um chapéu de bruxa gigante.
— Posso ir pegar — falei alto também. — O que a senhora quer
beber?
Dona Kara estava aqui desde o casamento de Frank, há cinco dias.
Insistimos para que ela ficasse um tempo conosco, já que Megan viajaria na
segunda e ela embarcaria para o Brasil em uma semana. Mamãe trabalhava
como documentarista e dessa vez gravaria na Amazônia.
Foi bom tê-la por perto essa semana. Sua presença me trazia paz,
me dava várias doses de racionalidade e calma, dessa maneira, o beijo que
dei em Violet era quase uma lembrança esquecida em minha mente.
— Fica aí, Mason. — Ela abanou a mão, já se virando para descer.
— Quero cumprimentar a Violet também, pois é possível que eu não a veja
antes de ir embora amanhã.
Acenei, deixando-a se afastar, e depois olhei em direção ao bar,
vendo a diaba sorrir de algo que Isaac disse em seu ouvido. Esperava não
precisar demitir meu melhor barman por conta dela, entretanto, apesar do
papo furado fora de hora, ela parecia estar se saindo bem.
Contanto que não saísse colocando pimenta no drink alheio, tudo
ficaria bem. Violet era simpática e acabava atraindo as pessoas.
Lukas chegou algum tempo depois e veio logo me perguntar:
— Como ela está indo?
— Tudo bem até aqui, mamãe já está lá se embebedando.
Meu amigo sorriu, vindo para o meu lado, onde podia ter a mesma
visão que eu.
— Só vim para saber dela mesmo, pois Megan chegou cansada.
Frank e Carly viajaram para a Grécia em Lua de mel e Jeff tinha
trabalho. Então, nem fiz muita questão de vir fantasiado. Coloquei
propositalmente a festa à fantasia sexy para a penúltima semana, pois todos
eles já estariam na cidade.
Lukas e eu conversamos por horas. Eu tinha a intenção de me
misturar na pista e pegar alguém, já que Violet foi a última pessoa que
beijei, precisava mesmo partir para outra e tirar de uma vez por todas
aquele dia da minha mente. Entretanto, mamãe e Lukas saíram daqui um
pouco depois da meia noite e a boate já nem estava tão cheia quanto antes.
Me tranquei no escritório e comecei a trabalhar em meus projetos
pendentes, perdendo completamente a noção do tempo. Passava um pouco
das duas quando coloquei meu notebook na mochila, tranquei a sala e
depois de checar se tinham fechado tudo lá na frente, saí pelos fundos para
pegar minha moto no estacionamento.
Pensei que tivesse sido o último a deixar a boate, mas assim que
saí para o frio da noite de outono, encontrei Violet de pé na calçada, com o
celular na mão.
— Achei que todos já tivessem ido. — Parei com a chave na
fechadura, temendo deixar alguém preso lá dentro por acidente.
A coisinha mimada deu um pequeno sobressalto.
— Ai! Quer me matar de susto, seu maluco? — Ela se virou, com a
mão sobre peito que subia e descia rápido.
Revirei os olhos, impaciente.
— Tem mais alguém aqui dentro, Violet?
— Não. Todo mundo foi embora. — Suspirou de maneira cansada.
— E o que ainda faz aqui? — Girei a chave na fechadura e desci os
poucos degraus que tinham
— Ninguém mora perto de Nob Hill para me dar uma carona ou
dividir comigo o Uber — explicou, voltando a atenção para o aparelho em
suas mãos —, mas o motorista já aceitou, está a cinco minutos daqui.
Me aproximei dela na calçada, olhando bem para o rosto com
sangue falso respingado e também escorrendo de sua boca pintada de
vermelho. Ela usava a farda comum, camisa polo preta com a logo da boate
bordada, calças jeans e tênis.
— Cancele — falei, apontando com o queixo para o aparelho.
— O quê? Ficou maluco?
— Cancele a corrida, você vai comigo.
— Olha, eu nem dormi na noite passada, estou muito cansada para
responder a qualquer provocação sua. Só vai embora, o motorista não vai
demorar.
Foi impossível não me lembrar da noite em que ficou em meu
apartamento, mas não dormiu. Ela parecia ter sérios problemas com essa
questão do sono, o que não fazia nem um pouco bem.
— Não vou falar outra vez, mimadinha. Vou te deixar em casa.
— Por que você é tão mandão? — Ela cerrou as pálpebras, me
observando com a cara fechada.
— Só quando se trata de você, princesinha. — Pisquei um dos
olhos de maneira sedutora.
— Por que se importa, Mason? — Violet falou, franzindo o cenho
enquanto mexia no aparelho para cancelar a viagem.
— Pelo mesmo motivo que eu me importo de te encontrar
caminhando sozinha pelo bairro de madrugada: pode ser perigoso.
Não precisava de muitas justificativas. Seria sacanagem deixá-la ir
para casa com um estranho em vez de levá-la, mas a pequena coisinha
irritante não parecia convencida, me olhando como se eu tivesse três chifres
em espiral como os de unicórnio.
— Só vamos logo, Violet. — Coloquei minha mão em seu
cotovelo, guiando-a para a garagem que estava um breu.
Me aproximei da minha Ducati V4 S, mas antes que chegasse
muito perto, Violet estacou os pés no chão, fazendo com que eu parasse
também.
— Tá de brincadeira, né?
— Por que eu estaria?
— Você me fez cancelar a corrida com o motorista pra me levar em
uma moto? — Questionou de maneira incrédula.
Ignorei sua questão por hora, me aproximando da moto abrindo o
compartimento na lateral para pegar meu capacete.
— É um percurso rápido, Violet.
— Eu nunca subi em uma moto. — Cruzou os braços na frente do
corpo, se esquivando um pouco para frente. Só então eu notei que além da
bolsinha minúscula que carregava ao seu lado, ela não tinha um casaco ou
jaqueta.
— Vai ser incrível. — Sorri, de maneira sincera.
Eu gostava de pilotar. Desde que Lukas resolveu nos matricular em
aulas de pilotagem por vontade de se aventurar, sou apaixonado por estar
em alta velocidade, com o vento colidindo contra o meu peito e a adrenalina
correndo em minhas veias. Violet apenas me observou com as sobrancelhas
franzidas e eu me aproximei dela, colocando com cuidado o capacete em
sua cabeça. Prendi a fivela de maneira segura e tirei minha jaqueta,
colocando-a em volta de seus ombros. Por sorte, eu tinha optado por vestir
uma camisa de algodão com mangas longas.
Precisei prender o riso, vendo-a com o capacete muito grande para
seu tamanho e quando ela colocou os braços dentro da jaqueta não consegui
mais ver suas mãos.
Subi na moto e a tirei do descanso, equilibrando-a com minhas
pernas e dando a mão para que Violet viesse subir.
— Você não tem um capacete? — Ela questionou.
— Tenho, está em sua cabeça.
Mais uma vez a diabinha me olhou como se eu fosse um
extraterrestre, mas logo aceitou minha ajuda e montou na garupa
desajeitadamente. Senti seus joelhos pressionando a lateral das minhas
pernas e o capacete próximo à minha nuca.
Girei a chave na ignição, ouvindo o motor rugir e tremer embaixo
de mim.
— Eu me seguraria se fosse você! — Falei alto, para que ela
ouvisse.
— Onde você espera que eu segure, Mason?
Por um momento esqueci que era sua primeira vez na garupa, por
isso peguei seus braços atrás de mim, rodeando-os em minha cintura.
— É sério isso? — Sua voz era pura incredulidade.
— Segura firme, mimadinha — falei, já acelerando para nos tirar
do estacionamento.
Seus braços me apertaram por trás ao mesmo tempo que o capacete
bateu na parte de trás da minha cabeça e senti seus seios pressionando
minhas costas.
Violet não se moveu durante todo o percurso, mesmo que às vezes
sentisse que ela me segurava com mais força sempre que eu acelerava um
pouco mais, porém, não cheguei a passar de sessenta quilômetros. Seria
muita irresponsabilidade, já que eu estava sem capacete.
Quando parei em frente ao prédio de Lukas, quase sentia meus
dedos congelados por conta do frio, mas firmei os pés no chão, esticando o
braço para que ela se apoiasse. Violet desceu, ficando de pé ao meu lado e
tentando abrir a fivela que prendia o capacete. Precisei puxá-la para mais
perto e eu mesmo tirá-lo de sua cabeça, colocando-o em cima do tanque.
Nos olhamos por alguns segundos. Eu não sabia o que dizer, e pelo
visto, ela também não sabia.
— Sua mãe já vai embora amanhã? — Perguntou, ainda parecendo
sem jeito.
— Sim, ela vem almoçar com a Megan aqui e depois vamos levá-la
ao aeroporto.
— Que pena, gosto muito de tê-la por perto.
Mamãe também gostava bastante da pequena coisinha teimosa, o
que não era uma surpresa, pois dona Kara é a mulher mais bondosa e
carinhosa que eu conhecia e sempre se deu muito bem com todos os nossos
amigos.
— Eu também. — Crispei os lábios, acenando devagar.
— Então... — Violet parou por um segundo, puxando os braços de
dentro da jaqueta e devolvendo-a para mim. — Obrigada por me trazer,
Mason.
— Não foi uma gentileza, ainda estou esperando meu beijo de
despedida. — Cruzei os braços na altura do peitoral, fitando-a de maneira
séria.
— Jamais faria isso espontaneamente, mas se insistir muito posso
acertar sua cabeça com uma pedra e esperar pra ver se você volta ao
normal.
Não aguentei e comecei a rir.
— Agradeço sua boa vontade, mas vou ter que dispensar. —
Neguei com a cabeça, antes de dizer: — Boa noite, princesinha. — Sorri em
zombaria pelo novo apelido que havia dado a ela.
— Boa noite, Mason. — Violet revirou os olhos, se virando para
entrar no prédio.
Antes de passar pela portaria, olhou para trás, me dando outra
encarada confusa, mas eu permaneci ali até ela sumir dentro do elevador.
Capítulo 16 — Violet West

Querido Diário, o Mason continua sendo um


imbecil, mesmo que tenha o beijo mais gostoso que
já provei.

O dia da viagem de Megan e Lukas havia chegado e mesmo triste


por precisar ficar tanto tempo sozinha e longe deles, estava feliz pelo meu
irmão. Em breve teríamos um casamento e por mais chato que eu achasse
essas festas pomposas e cheias de regras, tinha certeza de que Megan daria
um jeitinho de deixar tudo divertido.
— Se não sairmos em cinco minutos, vamos pegar trânsito —
Mason avisou, com o cotovelo apoiado na bancada que dividia sala e
cozinha.
Os óculos escuros que usava não me permitia ver seu rosto, no
entanto, conforme me movia pelo apartamento, às vezes me batia a
sensação de que ele estava me olhando.
— Isso também serve pra você, princesinha mimada —
resmungou, fitando seu celular.
— Eu já estou pronta — respondi de cara feia, voltando ao meu
quarto para encaixar o bebedouro de Baunilha na gaiola.
Quando voltei, Megan já estava conferindo os documentos ao
passo que Lukas e Mason arrastavam as malas para o lado de fora. Tranquei
o apartamento enquanto esperavam pelo elevador e depois todos descemos
para a garagem.
O aeroporto de San Francisco ficava ao sul, fora da cidade, porém,
mesmo pegando um pouco de trânsito no caminho, levamos vinte e cinco
minutos para chegar. Para quem nos olhasse de longe, parecíamos dois
casais prestes a viajar, já que cada um arrastava uma mala pelo aeroporto.
— Então — Megan se virou para mim em um movimento rápido,
já abrindo os braços para se despedir. Senti vontade de chorar, mas segurei.
— Use camisinha, fique longe das drogas, isso inclui bebidas, e continue
sendo durona com os babacas.
Não aguentei e comecei a rir antes mesmo que ela me soltasse.
— Megan! — Neguei com a cabeça, incrédula.
— O quê? — Ela riu também, limpando o cantinho do olho. —
Mamãe me dizia isso sempre que precisava ficar algum tempo fora. Mason
fala que essa frase me manteve longe de confusão por um tempo.
— É bem a cara dela mesmo. — Dona Kara parecia ser uma
mãezona, só não entendo como Mason ficou daquele jeito, já que a irmã era
tão legal.
Por falar nele, dei uma espiada ao redor, procurando por ele e meu
irmão, encontrando-os um pouco afastados de nós, tendo uma conversa
cochichada que parecia séria.
— Aposto que o Lukas está pedindo para ele ficar de olho em você
— Megan deduziu ao meu lado.
— Sério? Por que ele faria isso?
Franzi o cenho, sem entender bem seus motivos, pois, de todas as
pessoas no mundo, Mason parecia ser a última capaz de cuidar de mim.
Bem... exceto na última sexta-feira em que ele me deixou em casa. Foi bem
legal de sua parte, porém, eu e minhas paranoias tínhamos criado uma
teoria muito pertinente de que Mason só agiu assim porque queria me levar
para a cama.
O beijo que pediu em nossa despedida só reforçou ainda mais essa
hipótese.
— Lukas fica preocupado se você vai comer e dormir direito, se
vai ser responsável ao sair para as festinhas e voltar delas — Megan falou
de uma maneira muito tranquila. Meu irmão cuidava de mim, de certa
forma, mas não imaginei que ele se preocupasse a esse nível. — Eu acho
fofa a forma que ele fica querendo cuidar de você o tempo inteiro, me
lembra de como o Mason é comigo.
Soltei uma risadinha por conta da comparação, mas fiquei quieta.
A verdade é que Mason e Lukas nem se comparavam. Não respondi a ela,
já que preferia não ofender o seu irmão em sua frente. Eles não demoraram
e logo voltaram para perto de nós.
Lukas me abraçou apertado sem dizer nada e depois me segurou
pelos ombros, olhando em meus olhos.
— Se cuida, tá bem? — Falou e depois riu de lado, voltando a me
dar outro abraço.
Eu não ia chorar, droga! Eles nem ficariam fora tanto tempo assim,
mas despedidas eram cruéis.
— Não deixa o Baunilha preso o dia inteiro, ele fica estressado. —
Dei risada quando disse aquilo, ainda com os braços em volta de mim.
Se ele soubesse o estrago que Baunilha conseguia fazer quando
ficava sem supervisão, com certeza não diria aquilo. Até então estava
mantendo-o sob rédea curta, sempre trancado quando ficava fora. Mas o
deixava livre pela casa. Ele até dormia em minha cama durante a noite. O
folgado.
— Vou passear com ele para compensar, pode deixar.
Trocamos mais algumas palavras de despedida antes de eles
precisarem ir embora e só sobrar Mason e eu de pé, encarando a área de
embarque.
— Acho melhor irmos embora — disse, me fazendo acenar com a
cabeça antes de segui-lo para o estacionamento.
— O que meu irmão te falou? — Questionei, curiosa demais para
deixar passar.
— Por que eu te contaria, princesinha? — Fiz careta para sua
resposta, ciente de que não mataria minha curiosidade.
Entrei no banco do passageiro enquanto Mason ocupava o lugar do
motorista e nos tirava da vaga. Andar de carro era muito melhor do que
precisar agarrar ele pela cintura de maneira vergonhosa em uma moto. Eu
até gostei da experiência, porém, esperava não a repetir.
O percurso até Nob Hill era rápido e Mason ligou o som baixinho
sem dizer nada. Enter Sandman da banda Metálica começou a tocar pelos
alto-falantes e, curiosamente, ele passou parte do caminho cantarolando a
música até começar Master of Puppets, mas eu detestava aquela música.
Enfiei o dedo no botão de conexão do som, pegando meu celular
para vincular minha conta.
— Por que você desligou a minha música?
— Não curto essa — reclamei, enquanto o interior do veículo
ainda estava em silêncio. — Além disso, agora é a minha vez.
All Too Wellin da Taylor Swift começou a tocar, e eu fui cantando
conforme Mason dirigia emburrado.
Mesmo que tivesse ficado metade do caminho calado, assim que
chegamos a um bairro vizinho ao nosso, Mason se virou para mim, ainda
com as mãos no volante.
— Quer sair para almoçar? — A introdução de Anti-Hero foi a
próxima coisa que eu ouvi, mas logo Mason voltou a falar: — Conheço um
restaurante bom perto daqui.
Franzi o cenho, inquieta. Merda, eu amava aquela música, mas
estava tão chocada por seu convite que não conseguia raciocinar bem.
— Já pode parar te tentar ser legal comigo, Mason. — Me coloquei
na defensiva, sentindo a irritação começar a fervilhar em mim. — Não
importa o que você faça por mim, eu não vou pra cama com você.
— Como é? — Mason me olhou por um segundo, sua expressão
dividida entre choque e incredulidade.
— Você não é surdo. — Neguei com a cabeça, reprovando seu
cinismo. — Desde que me beijou naquele depósito, vem tendo umas
atitudes esquisitas. Achei que já soubesse que essa sua pose de bom moço
não cola comigo.
— Você está se ouvindo? — Ele apertou mais suas mãos no
volante, balançando a cabeça. — Se me conhecesse direito, saberia que
esquisito mesmo é viver implicando com você. Isso nem eu consigo
entender. Contudo, se eu quisesse mesmo te levar para a cama, não perderia
tempo te convidando para almoçar.
— Agora vai dizer que não queria, Mason?
Cerrei as pálpebras, me irritando com sua atitude hipócrita, já que
foi ele mesmo quem me propôs ir até o seu apartamento após aquele beijo.
Eu não era idiota para achar que ficaríamos apenas aos beijos pelo resto da
noite.
— Não é dessa forma que você está pensando. — Tentou se
justificar.
— Espero mesmo que não seja, já que nada nunca mais vai rolar
entre mim e você. Desfaça suas esperanças e pode voltar a ser o imbecil
grosso e mal-educado que sempre é quando estamos juntos.
Foi tão duro dizer aquilo quanto deve ter sido para ele me ouvir,
entretanto, em algum momento eu precisaria cortar aquela expectativa até
de mim mesma. Essa coisa entre nós tinha um potencial enorme para dar
errado.
— Olha só, eu retiro o convite — falou ao mesmo tempo que
entrava na garagem do meu prédio para deixar o carro de Lukas. — Se vira
com sua falta de habilidade culinária.
— Pode deixar. — Ainda emburrada, comecei a cutucar minhas
unhas para fingir indiferença e pulei do carro sem dizer nada assim que ele
o colocou na vaga.
Eu podia usar meu tempo para remoer aquela discussão, mas
precisava me apressar para ir à aula. Matei as duas primeiras, pois havia
prometido ir ao aeroporto com Lukas e Megan, mas não tinha justificativa
para faltar as aulas da parte da tarde. Além disso, todos os dias eu almoçava
com Gav e Crys e curtia nossa rotina juntos.

— Você parece triste — Crystal inclinou a cabeça me olhando com


atenção. Estávamos só nós duas na mesa, pois Gavin ainda não tinha
terminado a aula. — Tá tudo bem?
— Meu irmão viajou hoje — contei, distraidamente.
— Ah, sim, você tinha comentado. — Ela cerrou as pálpebras,
parecendo lembrar de algo — Mas não eram só três semanas?
— Sim, são três semanas, mas nem é nisso que estou pensando...
Comecei a contar sobre o Mason ter me convidado para almoçar,
espontaneamente. Ela e Gav sabiam de todo o histórico dele, desde que
visitei meu irmão no ano passado. Eles também sabiam das coisas que
aprontei, mas apenas riram e não me jugaram. No fim das contas, Mason
merecia.
— Vocês dois são estranhos... — Ela sorriu, negando com a
cabeça.
— Eu não! — Me defendi. — Ele fica dando uma de bom-moço e
eu que sou estranha?
— Sim... — Crystal suspirou, pensando um pouco antes de dizer:
— Nem sempre a pessoa que é legal contigo está querendo algo mais, às
vezes ele pode querer se redimir. Sei lá!
— Se redimir depois que nos beijamos e de eu negar ir para o
apartamento dele? — Ergui as sobrancelhas, com o rosto incrédulo. — É
muita coincidência.
— Mas você queria ir, pelo que entendi. Então, por que se
incomoda por ele estar te tratando de maneira decente?
Eu não soube responder de imediato. Algo dentro de mim me
mantinha na defensiva, sempre em alerta contra suas investidas, fossem
boas ou ruins.
— Meu “problema” ainda não sumiu, Crys, e nem sei quando vou
ter coragem de tentar fazer isso de novo.
Há dois anos, me reuni com a galera do colégio na casa do Ben
para fazer um trabalho. Por um milagre, me deram permissão para sair
sozinha e Thomas me levou até lá. A única coisa que não fizemos na casa
foi o bendito trabalho de física. Ficamos na piscina e depois Ben pediu para
ficar comigo. Uma coisa levou a outra e fomos parar em seu quarto, porém
ele nem conseguiu me penetrar.
— Tá, eu sei que sua primeira tentativa foi um desastre — Desastre
era pouco para descrever a experiência. — Mas nem sempre é daquela
forma, e sei lá, vai ver naquela época você não estava pronta.
— E por que agora eu estaria?
— Porque agora você quer dar pra o Mason.
Mordi a parte interior do meu lábio, evitando que eles se
esticassem.
— Eu não quero dar para o Mason — Enfatizei o nome do imbecil
—, só acho que meus hormônios despertaram justamente quando ele entrou
em meu caminho. É uma coincidência.
— Então, isso é até fácil de resolver. Escolhe alguém, fica com o
cara e dá pra ele. — Ela deu de ombros, como se fosse muito simples. —
Sério, os rapazes na faculdade não são que nem os idiotas do ensino médio.
Pelo menos eles vão saber onde fica seu clitóris.
— Crystal! — Repreendi, olhando ao redor para checar se ninguém
tinha nos escutado.
Poucos minutos depois Gavin se juntou a nós duas, nos convidando
para ir a outra festinha que rolaria na quarta-feira em comemoração à
vitória do time de futebol. O jogo ainda aconteceria, mas eles já haviam
planejado todo o esquema da vitória. Se não eram arrogantes, eu nem sabia
como defini-los.
— Eu topo, mas não posso ficar até tarde, pois tenho um teste na
semana que vem e estou estudando todos os dias — Crys falou, terminando
de tomar seu café gelado.
— Tenho que acordar cedo no dia seguinte e vou trabalhar no fim
de semana, mas acho que consigo ficar algumas horas também.
— Como você consegue ser convidado para as festinhas dos
veteranos, hein? — Crys perguntou, franzindo a testa com curiosidade.
— Um dia eu te conto meu segredinho. — Gav piscou para ela
antes de focar em mim. — Então, o apartamento do seu irmão está liberado
para uma farra?
— Você não vai me meter em problemas, Gavin. — Neguei com a
cabeça, cerrando os olhos. — Não quero ser expulsa de casa uma segunda
vez, mas posso conseguir entrada livre na boate pra vocês.
— É disso que estou falando! — Meu amigo apontou para mim,
comemorando.
— Não sei de onde ele tira tempo para ser tão inteligente se só vive
em festinhas — Crystal falou.
— Só vou ser calouro aos dezenove anos uma vez na vida. Meu
irmão me mandou aproveitar essa fase, pois ela nunca volta.
O irmão mais velho dele, Gus, jogava do outro lado do país, no
Kansas City Chiefs.[12] Era um quarterback famoso, que também se formou
aqui em Berkeley. Estendemos um pouco esse assunto de aproveitar a fase,
até a bocuda da Crys resolver perguntar:
— Gav, responde uma coisinha aqui para a minha pesquisa
pessoal...
— Hum? — Ele mordeu uma fatia da pizza, virando-se para a
melhor amiga.
— Quando você é gentil com uma garota, significa que quer levá-
la para a cama?
— Sim! — Gavin respondeu logo, de maneira muito natural.
Gritei, atraindo a atenção de algumas pessoas por perto e depois
comecei a rir da cara deles.
— Eu avisei! — Levantei os braços, comemorando.
— Espera. — Crystal ergueu a mão para mim, pedindo uma pausa
da histeria. — Então quer dizer que você só trata bem as garotas com quem
quer transar?
— Não dessa forma... — Gavin balançou a cabeça, se retratando.
— Mas não dá pra querer ficar com a garota tratando-a mal, isso é idiotice.
— Eu também acho — concordei.
— De quem vocês estão falando? — perguntou, de maneira
curiosa.
— Ninguém! — Crystal e eu falamos ao mesmo tempo, e Gavin
olhou de uma para a outra, desconfiado.
— Como vai sua namorada? — Questionei, para mudar de assunto.
Aquilo foi o suficiente para Crystal se afastar, o que me deixou
intrigada.
Eu sabia que Gavin namorava a Melissa desde os quatorze anos e
ela foi estudar em Columbia. Os dois se falavam todos os dias pelo telefone
e Mel vinha a San Francisco um fim de semana a cada mês. Já ouvi que
Crys não gostava da garota, mas não imaginei que fosse tão sério assim.
No fim, mudamos de assunto, e ela voltou a conversar
normalmente, como se nada tivesse acontecido.

Saí do banheiro com a toalha enrolada ao redor do meu corpo,


ouvindo meu celular tocar insistentemente.
— Oi, cunhadinha — atendi, sorrindo para uma Megan
inteiramente agasalhada.
Eles pousaram em Londres ontem de manhã. Passariam algum
tempo por lá e depois voariam para a Espanha. A última parada seria Paris,
onde Lukas a pediria em casamento.
— Eii — ela bocejou, ao me cumprimentar —, como você está?
— Estou bem — falei animada e olhei para a hora no canto
superior do meu celular. Passava das nove aqui na Califórnia. — Aí não
deveria ser madrugada ainda?
— São cinco e treze da manhã. Vamos fazer um passeio daqui a
pouco. — Ela bocejou outra vez, o que me fez fazer o mesmo por reflexo.
— Viajar de férias e não poder dormir até tarde é chato pra caralho,
sabia? Sinto que caí em um golpe.
Comecei a rir da sua expressão entediada.
— Para de reclamar, amor — Ouvi Lukas falando e logo meu
irmão entrou na minha linha de visão —, só temos mais três dias aqui e
hoje marquei de conhecer o palácio de Buckingham e a Tower Bridge, mas
é só hoje.
— Você disse a mesma coisa ontem quando fomos àquele outro
palácio. — Ela se virou, olhando para ele com uma expressão debochada.
— Só temos cinco dias — Lukas enfatizou, beijando a bochecha da
namorada.
— Vou chegar das férias precisando de férias, querem apostar?
— Pensa em tudo que você vai viver aí — interrompi, para
incentivá-la. — É uma experiência única.
— Exatamente — meu irmão concordou. — E como vão as coisas
por aí?
— Por aqui, tudo certo até então.
Eu vivia no meu quarto, então o apartamento estava da mesma
forma que eles deixaram. O único que realmente se arriscava pela casa era
Baunilha, quando eu podia olhá-lo.
— Está se arrumando para sair? — Megan perguntou, vendo meu
vestido novo pendurado na porta do banheiro atrás de mim.
— Sim, vou a uma festinha com Gavin e Crystal.
— Tudo bem — meu irmão quem respondeu. — Acho que Mason
vai passar aí ainda hoje ou amanhã para pegar umas autorizações que
deixei assinadas. Não se assuste ao ouvir alguém entrando.
— Ok — acenei. Não tinha visto Mason desde o início da semana.
Pensei nele esses dias, mas a distância entre nós dois era muito melhor do
que as discussões.
— Vou desligar — Megan avisou. — Lembre-se do que falei: sem
drogas.
Comecei a rir outra vez.
— Tudo bem, não vou usar drogas.
— E não importa o que digam, use camisinha.
— Megan! — Ouvi a voz do meu irmão a repreendendo no fundo.
— O quê? — Minha cunhada olhou para cima. — Só porque você
não gosta de camisinha, não significa que ela não precise usar.
— Okay, vou terminar de me arrumar, um beijo! — falei,
desligando logo em seguida.
Capítulo 17 — Violet West

Querido diário, até hoje nunca tinha parado para


pensar no quanto uma decisão ruim pode afetar
nosso dia. E hoje eu não havia tomado apenas uma,
e sim uma série de más decisões.

O time de futebol americano realmente venceu.


Apesar de prepotentes, eles eram muito bons em campo. O capitão,
Travis, parecia ser mais louco do que todo o resto do time, já que agora
estava pelado na piscina. A casa estava tão lotada que era quase impossível
transitar entre as pessoas.
— Não vai ficar com ninguém? — Crystal gritou para mim, para
sobrepor a música alta que tocava. — Eu vi o Shane te olhando algumas
vezes.
— Aquele babaca que está com duas garotas no colo? — Apontei
com o queixo para o sofá onde o Safety[13] do time fumava com uma garrafa
de bebida na mesinha ao lado e duas garotas sentadas uma em cada perna
sua. Porém, os olhos escuros estavam em mim.
Ele era bonito, não podia negar. Tinha um ar misterioso, mas era
um safado. Estava escrito em sua testa quando me secava pelos corredores
da faculdade.
— Você não quer alguém em celibato, Vi. É só pra dar uns beijos e
ir até onde quiser.
— Não vou atrás dele. — Dei de ombros. Até ficaria se fosse a
questão, mas não estava desesperada para me oferecer.
— Nem precisa, do jeito que ele te olha é capaz de chegar em você
logo — ela disse, procurando alguém ao redor. — Cadê o Gavin, hein?
— Tinha ido buscar bebidas. — Me virei para Crys, que vestia um
short branco, top azul e botas. Estava gata e estilosa, com os cabelos
encaracolados soltos, moldando seu rosto fino. — E você, não vai pegar
ninguém? Que eu saiba, só o Gav é comprometido aqui.
— Vou para os dormitórios antes da meia-noite. Preciso estudar,
lembra?
Franzi o cenho, analisando-a. Na outra festa foi a mesma coisa, ela
não ficou com ninguém e nem eu. O Gav só dançava e conversava com
qualquer coisa que falasse, ele era do tipo extremamente comunicativo.
Tinha aquele jeitinho sedutor que confundia as meninas, mas não dava
brecha para ninguém.
Por um momento, comecei a me preocupar se ela estava
apaixonada pelo melhor amigo, o que poderia ser um erro terrível, já que
Gavin parecia preso a alguma promessa que fez a tal da Mel. Às vezes eu
até esquecia que ele tinha namorada, pois falávamos pouco dela.
— Quer ir embora agora e dormir lá em casa? — Perguntei a ela,
tirando meu celular da bolsinha para ver as horas.
— Acho que hoje não é uma boa ideia. — Minha amiga entortou
os lábios. — Gavin disse que ficaria para estudar comigo.
— Ah! — acenei em compreensão.
— Mas está convidada a se juntar a nós dois, se quiser.
Não respondi, acendendo a tela do celular e me surpreendendo ao
ver uma mensagem de um número não salvo, perguntando onde eu estava.
Estranhei e expandi a notificação.
Eu: Quem é?
Desconhecido: Mason.
Olhei pasma para a resposta. Nem sabia que ele tinha meu número.
Mason: Vim pegar uns papéis no apartamento e está vazio.
Eu: É porque eu saí.
Mason: São onze da noite.
Eu: E daí?
Não esperei a resposta, bloqueando o celular. A preocupação dele
me fazia sentir coisas estranhas, incluindo um incômodo no fundo da minha
mente que me dizia o quanto era perigoso confundir a gentileza de Mason.
Pelo seu histórico, ele prestava muito menos do que qualquer
jogador idiota nessa casa. Saía acompanhado de garotas da boate, sempre
uma diferente, e elas nunca apareciam de novo. Se eu cedesse a essa
vontade de transar com ele, sem dúvidas seria apenas mais uma em sua
listinha, e caso tudo desse errado, como deu da primeira vez em que tentei
fazer sexo, viveria para sempre com o seu deboche.
Ser virgem era uma merda.
— Vi? — Crystal chamou minha atenção.
— Oi. Acho melhor não.
Gavin apareceu minutos depois, com duas latinhas de refrigerante
e um copo de bebida.
— Por que demorou tanto? — Questionei, abrindo a lata para
tomar um gole.
— Todas as bebidas estão batizadas e, até onde eu sei, as duas não
bebem.
— Valeu — falei, empurrando de leve seu ombro.
Fiquei mais um tempo com eles no canto e quando o estilo de
músicas mudou, puxei Crystal para dançar.
— Ele está vindo — ela gritou, mas eu não entendi direito o que
tinha dito até sentir uma mão grande em minha cintura.
Um pouco atordoada, virei o pescoço e vi Shane atrás de mim,
balançando junto com a música. Senti vontade de perguntar se ele enjoou
das garotas que tinha no colo ou o que ele tinha dito para elas, mas segurei
minha língua, pois nem todo mundo curtia meu humor caótico e debochado.
Continuei dançando com ele em minhas costas e de olho em
Crystal, que já tinha dispensado dois carinhas que tentavam investir. O
engraçado é que ela sempre olhava na direção de Gav, que não parecia nem
aí enquanto tagarelava com dois caras do time. Precisava conversar com ela
depois, mesmo que eu não fosse o melhor exemplo para conselhos
amorosos. Nem sabia o que estava fazendo aqui dançando com esse idiota
de mão pesada enquanto tentava tirar Mason da minha cabeça.
Me virei para Shane, sentindo vários alertas soarem em minha
mente de que eu estava cometendo a maior idiotice, mas ainda assim me
aproximei de seu ouvido, perguntando:
— Quer sair daqui?
— Vamos lá pra cima — ele falou e só então notei sua voz um
pouco embolorada e o hálito forte de bebida que ele tinha, mas ainda assim
troquei meu celular de mão, para segurar a que ele tinha oferecido para mim
e depois fui seguindo-o entre as pessoas.
Acenei para Crystal, que sorriu fazendo com os lábios um: “manda
ver, garota”, me esfreguei em vários corpos antes de subir as escadas sendo
rebocada por Shane.
Não sei por que esperei que ele me dissesse algo quando
estivéssemos a sós, por isso, me assustei quando ele me puxou para si, me
beijando de surpresa.
Não tinha magia, tesão, muito menos língua. Nada. Mas o beijei de
volta. As sensações eram muito diferentes das de quando beijei Mason
daquela maneira avassaladora. Shane não beijava mal, era até melhor do
que alguns beijos que dei durante a minha adolescência, mas era tão sem
graça quanto a cara dele.
Shane abriu uma porta atrás de si, me empurrando para dentro.
Olhei em volta quando ele acendeu a luz, vendo o banheiro sujo ao meu
redor.
— Não tem um lugar menos imundo? — Perguntei, fazendo careta.
Mas o babaca me ignorou, me erguendo pela cintura para sentar na
bancada da pia molhada. Me esquivei e tentei pular de cima, porém ele me
segurou, abrindo minhas pernas e voltando a me beijar.
Mantive os lábios imóveis, agora com o corpo retesado e muito
alerta.
— Espera — tentei falar, mas a boca dele na minha não deixava,
provavelmente nem tinha entendido o que disse.
As mãos rudes foram subindo por dentro das minhas pernas, sem
deixar que eu as fechasse, por mais que tentasse.
Merda, onde eu tinha me metido?
O empurrei pelos ombros, mas Shane nem se moveu. Era alto e
musculoso, e parecia meio descontrolado. Talvez pela bebida. Senti a alça
da minha bolsa cedendo quando ele bateu a mão lá, mas não consegui olhar
para ver onde tinha caído.
Me debati, tentando me livrar do aperto dele para sair dali, até que
Shane finalmente parou.
— O que é? — Perguntou de maneira rude.
— Eu mandei você esperar — falei, enfurecida.
— Esperar o quê, gatinha? — Ele quase voltou para cima de mim,
porém, dessa vez consegui pular para ficar de pé, sentindo minha bunda
molhada. Meu celular em minha mão também tinha molhado, já que
precisei me apoiar nele.
— Não vou ficar com você nesse banheiro sujo — disse,
empurrando seus ombros para trás, já que estava muito perto de mim.
— Nossa, que perda de tempo — o idiota falou, abrindo a porta. —
Sai daqui, vou arrumar uma boceta menos exigente pra meter.
Tremi de raiva, parada, olhando para o imbecil que não via
diferença entre uma mulher e um orifício.
— Você é um idiota! — Cuspi as palavras com asco.
— É surda, garota? — Ele gritou dessa vez, fazendo meu corpo
estremecer. — Some da minha casa!
Me virei para o corredor, tropeçando para fora e precisei me
controlar para não correr dali. Meu coração parecia descontrolado, de medo,
raiva, nojo, humilhação, tudo se misturando. Não tive coragem de procurar
pelos meus amigos, apenas saí da fraternidade de maneira automática.
Quando parei na calçada, respirando com dificuldade, ergui meu
celular para pedir um carro no aplicativo, mesmo que me sentisse
desesperada a ponto de chorar.
Havia uma chamada perdida de Mason, mas apenas ignorei,
procurando minha bolsa para ver o quanto de dinheiro eu tinha trazido.
Minha bolsa... Merda!
Olhei para a casa atrás de mim, pensando se deveria voltar para
buscar ou não.
Nem fodendo eu voltaria lá.
Fiquei um tempo encarando a rua, pensando no que fazer, até que
cedi à minha última alternativa e cliquei no número dele, que logo começou
a chamar.
Minha garganta doía pelo choro preso, mas eu engoli outra vez,
aguentando firme. Em casa eu podia me acabar de chorar, contudo, não
deixaria ninguém ver minhas dores de maneira tão explicita.
— Oi — ele atendeu, com a voz calma.
— Mason... — Respirei fundo, ainda me controlando.
— O que foi?
— Será que você poderia vir me buscar? — Eu odiava aquilo,
odiava precisar dele e me sentir vulnerável.
— Humm — ele murmurou, parando alguns segundos. — Eu fiquei
preocupado quando não te encontrei em casa, queria saber onde você
estava, mas, como sempre, agiu que nem uma adolescente petulante, aí
agora tenho que buscar você?
— Mason... — Minha voz tremeu.
Minhas alternativas eram implorar para ele ou ir buscar minha
bolsa. As duas opções eram tristes, porém, ainda assim, ele era menos ruim
do que quase ser forçada a transar em um banheiro sujo.
— O que houve? — Seu tom de voz parecia mais atento agora,
mas não respondi de imediato.
Precisei puxar o ar repetidas vezes, pois já sentia as lágrimas se
acumulando em meus olhos. Merda!
— Violet, fala comigo! — Exigiu de maneira nervosa.
— O-oi... — Me esforcei para manter o tom de voz firme, mas
estava difícil.
— Você se machucou? Está ferida?
— Não — Balancei a cabeça, mesmo que ele não pudesse ver. —
Tá tudo bem, mas eu perdi minha bolsa. Pode vir me buscar, por favor?
Depois você enche meus ouvidos sobre o quanto eu sou irresponsável,
impulsiva e mimada.
Mesmo sem querer, minha voz foi embargando no fim da frase.
— Já estou saindo, sabe explicar onde está?
Fui falando as palavras de maneira atropelada enquanto as lágrimas
insistiam em vazar. Por ele ter estudado e morado algum tempo em
Berkeley, logo soube de onde eu estava falando e avisou que estaria aqui em
dez minutos.
Não acreditei a princípio, achando que ele só falou aquilo para me
tranquilizar, mas não demorou muito até que eu visse uma moto entrando na
rua em uma velocidade absurda, e Mason parou em minha frente, cantando
pneus.
Eu estava mais calma com os braços em volta do meu próprio
corpo e as lágrimas tinham secado em meu rosto, que devia estar todo
borrado. Foi só o ver em minha frente para que a raiva e a humilhação
voltassem a me apavorar.
Não me movi, pois fiquei observando-o descer da moto com aquela
pose marrenta que tinha, enorme em sua jaqueta de couro. Mason tirou o
capacete e me encarou com atenção.
— Você não está chorando porque perdeu sua bolsa. — Não foi
uma pergunta, claro.
Balancei a cabeça devagar, sem querer falar ainda sobre o que
tinha acontecido, mas Mason se aproximou.
— Quem te deixou nesse estado? — Seu tom era raivoso e a
postura dele também, parecia prestes a arrebentar qualquer um que cruzasse
seu caminho.
— Será que só podemos ir embora? — Tive medo de voltar a
chorar, por isso perguntei com calma.
Nos encaramos por vários segundos e senti que ele estava prestes a
ceder, até nossa atenção ser desviada.
— Violet? — Crystal me chamou, preocupada. — Eu estava atrás
de você, o Shane desceu sozinho e disse que você tinha ido embora.
Senti vontade de sumir, quando ela veio tagarelando.
— Shane? — Mason soletrou como uma pergunta. — O que ele
fez?
— Boa pergunta, o que ele fez? — Gavin também questionou.
— Nada — falei, engolindo em seco. Qualquer um dos dois se
machucaria se tentassem tirar satisfação. Não valia a pena. — Só podemos
ir embora? — Olhei para Mason, implorando.
— Ele te machucou? — Crystal perguntou, espantada.
— Algum de vocês dois pode pegar minha bolsa lá em cima, por
favor? — Pedi, baixando os ombros. — Caiu dentro do banheiro, não
consegui encontrar antes de sair.
Mason inclinou o pescoço para trás quando acabei de falar, me
avaliando, depois olhou em direção à casa com os olhos brilhantes repletos
de algum sentimento que eu nunca tinha visto.
Em um segundo ele estava na minha frente, colérico, raivoso, e no
outro, marchava em direção à porta da fraternidade.
— Mason! — Gritei, me desesperando.
— Então esse é o Mason? — Gavin perguntou, me olhando com
curiosidade.
— Porra, vai atrás dele — mandei, esticando o braço na direção em
que Mason quase corria.
— Tá bom! — Gav, espalmou as duas mãos em frente ao corpo
recuando para segui-lo.
— O que o Shane fez, Violet? — Crystal segurou meu ombro,
perguntando.
— Ele foi um babaca... — Falei, agoniada. — Caramba, eu só
queria ir pra casa — choraminguei e ela me abraçou pelos ombros.
— Desculpa, amiga. — Ouvi sua voz abafada. — Não devia ter te
aconselhado a ficar com ele.
— Não foi culpa sua. — A afastei, para ver seu rosto triste. — Ele
me enfiou em um banheiro imundo e estava bêbado. Por um momento achei
que não fosse conseguir sair de lá. Foi horrível. — Mesmo sem querer, eu
chorei com as lembranças da mão dele subindo pela minha perna de
maneira rude.
— Caralho! — Crystal arregalou os olhos. — Tomara que o Mason
quebre a cara dele mesmo. Puta que pariu, até eu quero bater no filho da
puta. Você está machucada? — Ela me olhou de cima a baixo, procurando
algum hematoma.
— Fora meu emocional e minha dignidade destruída, estou bem.
Meu medo agora era Mason indo agredir um jogador, com o time
de futebol inteiro presente dentro da casa. Só esperava que ele não
arranjasse problemas com os quais não pudesse lidar.
A ideia de vê-lo machucado por minha causa me assustava, mas eu
não sabia o que fazer.
Capítulo 18— Mason Rilley

Regra nº 8: Não se preocupe demais com ela. A


preocupação é o tipo de sentimento que ocupa a
mente e quanto mais afastada da sua ela estiver,
melhor!

A raiva não me permitia raciocinar.


Eu sabia que não deveria invadir uma festa para quebrar a cara de
um garoto imbecil, mas a raiva que eu sentia não me deixava sequer pensar
em um motivo pelo qual eu não faria.
Também me sentia uma merda por ter deixado Violet sozinha na
calçada. Mesmo com pessoas que pareciam ser seus amigos por perto, ela
tinha sido machucada, então sim, ela estava sozinha.
E a visão da garota bonita com o rosto pálido e aflito e os braços ao
redor do próprio corpo me perturbou ainda mais, me incentivando ainda
mais a acabar logo com essa merda.
— Onde encontro o Shane? — Gritei para cara que estava perto
das escadas. Deveria ser jogador, pois ainda vestia a camisa do time.
— Deve estar comendo alguma vadia por aí — o imbecil falou de
maneira evasiva, se achando o engraçadinho, e eu apenas o encarei com
uma sobrancelha erguida. Tinha certeza de que parecia muito assustador
naquele momento, já que ele recuou um pouco. — O abatedouro dele fica
no banheiro do primeiro andar.
Não agradeci, muito menos esperei que ele dissesse a próxima
palavra, pulando a escada de dois em dois degraus.
— Mason, espera! — Ignorei a voz atrás de mim e comecei a abrir
as portas uma por uma, procurando o banheiro.
Quando encontrei, havia um desgraçado comendo uma garota por
trás em um banheiro imundo que fedia a urina e vômito. Os banheiros da
boate em dias lotados costumavam ficar até decentes se comparado a isso
aqui.
— Está ocupado, porra! — O cara gritou e a garota que antes tinha
os olhos fechados os abriu, me fitando.
— Continua, Shane — ela se moveu, rebolando e abrindo um
sorriso sedutor para mim, mas eu só consegui prestar atenção no nome que
saiu dos lábios dela.
Avancei apenas dois passos antes de pegar o imbecil pelo
colarinho, jogando-o com força contra a parede oposta. Ouvi o grito agudo
da garota, mas não parei, socando com força a mandíbula do filho da puta.
Ele se debateu, tentando me acertar de volta, porém estava bêbado demais
para ter alguma coordenação.
Acertei seu olho com força, sentindo meu punho doer pelo
impacto, no entanto, amanhã o imbecil teria um belo de um hematoma para
se lembrar de mim e das minhas palavras.
Quando o soltei, o miserável escorregou para o chão, colocando a
mão no rosto. Dei um passo para trás e me agachei em sua frente,
segurando seu maxilar de maneira rude entre os meus dedos.
— Eu não sei que merda você costuma dizer para convencer as
garotas a foderem com você nesse banheiro imundo — cuspi as palavras,
obrigando-o a ficar com os olhos em mim —, mas se chegar perto da Violet
outra vez, se apenas sonhar em se aproximar dela, vou fazer muito pior do
que apenas quebrar sua cara, e acredite em mim, eu não venho sozinho.
Levantei, me virando para ver a garota ainda nua encolhida perto
da porta e o rapaz que deveria estar lá fora com Violet e a amiga parado no
corredor, com os olhos arregalados.
— Deveria se vestir e sair daqui — apontei para a garota. — Nem
um animal merece foder em um lugar tão deplorável.
Vi uma bolsa largada ao lado da pia e me abaixei para pegar
quando reconheci. Já tinha visto Violet com ela uma vez e era
inconfundível, pois parecia uma concha da cor lilás.
Saí do local nojento, pegando a mesma direção pela qual entrei.
Senti a presença do outro cara atrás de mim e parei abruptamente, virando
para ele e perguntando com raiva.
— Por que não fez nada?
— Cara, eu não sabia! — Ele ergueu as mãos na frente do corpo,
com as palmas viradas para mim em sinal de rendição. — Teria impedido a
Vi de subir com ele se soubesse.
Neguei com a cabeça de maneira desgostosa e continuei a andar
rápido para sair da fraternidade. Todos nesse lugar pareciam ser grandes
imbecis. Eu não sabia direito o que deixou Violet tão nervosa, mas pela
gentileza do filho da puta quando abri a porta e a situação daquele lugar, já
deveria imaginar.
Mas a grande questão era: por que inferno ela resolveu que era
uma boa ideia ficar com esse babaca bêbado em uma festa? Podia estar
apaixonada por ele, e por esse motivo não quis ir para minha casa no dia em
que nos beijamos. Puta que pariu, de tantos garotos no mundo ela tinha que
gostar de um cara tão idiota?
Minha vontade era gritar muito com ela por isso, porém, foi só ver
seu olhar aflito outra vez para desfazer um pouco do meu impulso. A última
coisa de que ela precisava agora era que eu fosse um cretino, por isso
apenas me aproximei, com o panaca ainda em minha cola.
— Vamos embora! — disse rudemente, entregando a bolsa em sua
mão.
— O que você fez? — Perguntou, nervosa.
Não respondi, subindo na moto e pegando o outro capacete para
entregar nas mãos dela. Violet deu alguns passos em minha direção e seus
amigos acompanhavam tudo, um pouco afastados.
— Mason, o que aconteceu lá dentro? — Insistiu.
— Está com medo de que eu tenha deformado muito a cara dele?
— Sorri, de maneira amarga. — Não se preocupe, em alguns dias o rosto do
imbecil vai estar tão bonito quanto antes de eu ter batido. — disse
ironicamente, fazendo uma careta de nojo. — Agora vamos sair daqui.
Violet finalmente pegou o capacete, colocando em sua cabeça, e eu
pus o meu, antes de ajudá-la a montar na garupa. Ela me segurou pela
cintura, como a ensinei da primeira vez em que estivemos juntos, e eu
acelerei para longe.
Tinha saído correndo de casa e nem pensei em trazer um casaco
para ela, mas por sorte seu vestido preto tinha mangas que iam até depois
dos cotovelos. Pilotei acima de 120km/h, preocupado por sua voz
embargada ao telefone.
Nunca a tinha visto tão vulnerável. Nem quando chegou a San
Francisco após ser expulsa por seu pai babaca tinha um olhar tão assustado
quanto o que vi hoje. Às vezes eu tinha absoluta certeza de que ela foi
criada para não ter escrúpulos ou um pingo de humanidade como a
madrasta. Contudo, em outros eu enxergava uma garota forte e corajosa,
que corria atrás de seus sonhos e não aceitava menos do que merecia.
Tentei pilotar mais devagar na volta, mas a raiva me fazia querer
acelerar enquanto sentia seus braços me segurando de maneira firme.
Vinte minutos depois entrei na garagem do meu prédio, colocando
minha moto ao lado do SUV.
— Por que não me deixou em casa? — Ela parou em minha frente
quando descemos, entregando seu capacete em minhas mãos.
— Não sei — respondi de maneira sincera, andando para o
elevador. Segurei em seu cotovelo, forçando-a a vir comigo. As portas
duplas se fecharam em nossa frente e Violet continuou me olhando
aguardando uma resposta. — O que você faria no seu apartamento que não
pode fazer no meu?
— Talvez eu só preferisse ficar sozinha agora. — Seu olhar ainda
tinha uma angústia que me incomodava pra caralho, mas eu não queria
deixá-la sozinha, na verdade, talvez eu também precisasse de sua
companhia.
— Então você ligou para o cara errado.
Destranquei minha porta e esperei que ela entrasse antes de segui-
la para dentro.
— Quer tomar um banho ou prefere comer alguma coisa logo? —
Perguntei, tentando soar menos bravo do que estava há poucos minutos. —
Comprei comida japonesa, podemos dividir.
Violet franziu os lábios, olhando para todos os lugares, menos em
minha direção. Por um momento até achei que ela fosse gritar comigo e
dizer que ia embora, mas ela apenas perguntou:
— Tem algo que eu possa vestir?
— Sim. — Acenei, indo para o meu quarto. Entrei em meu closet e
peguei a maior camisa que eu tinha e que com certeza ficaria na altura dos
joelhos dela. Quando voltei, a princesinha continuava parada no mesmo
lugar, olhando para nada em específico e tudo ao mesmo tempo. — Pode
ficar à vontade. — Entreguei a camiseta em suas mãos e tirei minha jaqueta,
jogando-a em cima das minhas chaves perto da porta.
Era estranho vê-la tão quieta, tanto que quase a sacudi pelos
ombros, insistindo para que ela reagisse, mas Violet apenas se virou e
sumiu dentro do banheiro.
Dividi o yakissoba em dois pratos e peguei duas latas de Coca-
Cola na geladeira. Sempre comprava uma porção maior do jantar, pois às
vezes esquentava para comer no dia seguinte, então, havia o suficiente para
nós dois. Levei a comida e a bebida para a mesinha da sala e fiquei
esperando.
Não demorou muito até que ela saísse.
Diferente do que calculei, a camiseta ia apenas até o meio de suas
pernas, e por eu estar sentado no chão, meu olhar foi diretamente para elas,
mas mudei o foco rapidamente, fitando os olhos inquietos e cabelos
molhados.
— Não sei se estou com fome — comentou, sentando-se ao meu
lado no tapete.
— É o melhor yakissoba da cidade, experimente. E não é como se
fosse uma grande refeição. — Dei de ombros, pegando o prato e os hashis
para começar a comer. — Come — falei, apontando para o prato em cima
da mesinha.
Violet finalmente o pegou e eu foquei em minha própria refeição,
buscando me acalmar e ponderando se era uma boa ideia questioná-la sobre
a festa.
Eu sentia que precisava saber.
Quando Lukas me chamou em um canto mais afastado no
aeroporto e me disse para ficar de olho nela, eu o cortei, dizendo para
desencanar porque Violet era adulta e precisava aprender a ser
independente. Meu amigo insistiu, falou que alguém que cresceu como ela
demoraria mais um tempo até aprender algumas lições com a vida.
Quando tentei ser legal com ela, sua primeira reação foi entrar na
defensiva, então achei que a melhor opção seria me afastar, eu ainda a veria
de quinta a sábado na boate, então poderia dizer ao Lukas que sua
irmãzinha estava viva. Entretanto, nem chegamos ao fim da primeira
semana e a diaba se meteu em confusão.
Terminei de comer e Violet beliscou mais um pouco, largando o
prato logo em seguida.
— Você vai contar ao meu irmão? — Ela perguntou um tempo
depois. Virei o rosto, mas a princesinha não me olhava.
— Como vou falar sobre algo que nem eu mesmo sei como
aconteceu? — Tentei não ser rude, mas devo ter falhado pois a vi se
encolher um pouco. — Ele te forçou a algo? Te tratou mal? Foi ruim?
Tenho minhas teorias, mas até você me contar, tudo que eu posso dizer é
que te encontrei na rua tremendo e entrei em uma fraternidade para quebrar
a cara de um universitário idiota.
— Ele não me foçou — Violet suspirou, falando.
Esperei que continuasse, mas ela se calou.
— Sim, e você transou com ele porque quis, então?
— O quê? — A diabinha finalmente olhou para mim, com as
pálpebras cerradas. — Não transei com ele, Mason. Por mais que eu ache
essa coisa toda de virgindade uma porcaria, não estava disposta a perder a
minha dentro daquele banheiro imundo com um cara que parecia me
enxergar apenas como um buraco para meter.
Fiquei mudo.
Queria que ela reagisse, colocasse a raiva para fora, gritasse
comigo ou qualquer coisa que não a fizesse parecer frágil e magoada.
Preferia a Violet reativa e cheia de energia, entretanto, não esperava uma
conversa tão detalhada e direta. Talvez eu estivesse em choque com a
parada da virgindade também.
Violet se levantou em um movimento rápido, e a acompanhei com
o olhar até entrar em meu quarto. Merda!
Eu estava lá quando Megan menstruou pela primeira vez, mas esse
lance de virgindade era complicado. Teria dado uma surra no filho da puta
se não estivesse na faculdade. Portanto, não tinha ideia do que dizer para a
garota no meu quarto.
Peguei meu celular e enviei uma mensagem para minha irmã:
Eu: Com quem você perdeu a virgindade?
Me levantei, levei os pratos e as latas para a cozinha, e quando
voltei a pegar meu celular, Megan já tinha respondido.
Megan: Do nada, Mason? Estou no meio de uma viagem
romântica com meu namorado. Quer me fazer reviver esse momento
horrendo agora?
Eu: Então foi ruim?
Megan: Comparado ao Lukas, foi péssimo. Eu era inexperiente, o
cara nem tanto, mas ele não era muito... habilidoso.
Eu: Pelo menos ele foi gentil com você?
Megan: Sim.
Eu: Mas você queria mesmo, não é? Não foi uma atitude
impulsiva?
Megan: Sim, eu queria. Do mesmo jeito que você quis aos quinze.
Inclusive, eu queria antes, porém, só tive coragem de fazer com dezessete.
Eu: Então tá bom...
Megan: Que merda você tá aprontando?
Eu: Nada, fiquei curioso.
Megan: Hum...
Gostaria que ela estivesse aqui para conversar com Violet, visto
que as duas se davam bem. Eu não era a pessoa certa para consolá-la, pois
de três pensamentos, em pelo menos um deles eu a imaginava embaixo de
mim ou por cima, e de uma maneira nada decente.
Mesmo assim, tomei coragem e fui para o quarto. Se quisesse que
Violet ficasse sozinha, teria a deixado em casa. Me deitei ao seu lado na
cama, de costas olhando para o teto, da mesma forma que ela fazia.
— Ele mereceu apenas os dois socos ou eu devia ter batido mais?
— Tentei outra abordagem, para quebrar o clima tenso da conversa, e deve
ter funcionado, já que ela começou a rir.
— Se eu tivesse sua força, com certeza teria dado mais do que dois
socos nele.
— Pensou em envenená-lo com pimenta?
— Não, mas eu enfiaria pimenta nos olhos dele, com certeza.
— Vamos providenciar um spray pra você, então.
Ela riu outra vez, mas depois se calou, suspirando.
— Ele foi rude. Estava bêbado e ignorou as duas vezes que pedi
para parar. Quando consegui sair do lugar em que me encurralou, ele me
expulsou e disse que ia atrás de uma boceta menos exigente.
Filho da puta nojento!
— Não é que o imbecil merecia mais alguns socos?
— Eu disse... — Violet deu de ombros, falando. — Sabia que a
transa não ia ser um sonho, mas não achei que ele fosse ser tão idiota.
Não soube o que dizer. Na verdade, quase saiu um: obrigado por
não ter deixado aquele cara comer você, mas era muita loucura.
— Você fez bem em sair de lá — disse, alguns segundos depois,
virando o rosto em sua direção. — Um cara que enfia uma mulher em um
local imundo como aquele é um filho da puta fodido e cretino.
— É... — Violet fez o mesmo, fitando meus olhos.
Parecia bem mais calma do que antes, e isso me fez viajar um
pouco em sua boca rosada e nos olhos âmbar. Minha camisa tinha subido
para o início de sua virilha e as pernas estavam inteiramente de fora.
Atraindo minha atenção de maneira perigosa.
Suspirei e me sentei na beirada da cama, de costas para ela.
— Vou trabalhar um pouco — falei, me levantando. — Se precisar
de algo, estou no escritório.
Estava quase saindo do quarto quando sua voz me fez parar.
— Mason? — Olhei por cima do ombro e Violet estava apoiada
pelos cotovelos, me encarando. — Obrigada por hoje.
Apenas acenei, me dando conta de que, apesar de tudo, eu não teria
coragem de deixá-la sozinha de maneira nenhuma.
Sempre estarei aqui por ela, mesmo a xingando até a morte.
Capítulo 19 — Violet West

Querido diário, minha vida virou a maior bagunça,


em um dia está tudo ruim e no outro, pior ainda!

Praticamente pulei da cama quando um zumbido alto me acordou.


Achei que o barulho em questão fosse meu alarme, contudo, olhando ao
redor do quarto, precisei de alguns minutos para assimilar o dia de ontem e
o motivo de ter acordado na cama de Mason, com ele ao meu lado sem
camisa e com um volume imenso no short de dormir.
— Mason. — Cutuquei a lateral de seu corpo com meu indicador,
desviando o olhar do pau dele que pulsou na minha frente.
Que safado!
— Hum? — Ele resmungou, se acomodando mais e repousando a
mão em sua barriga, bem próximo à virilha.
Puta merda...
— Mason, acorda!
Ele foi abrindo os olhos devagar enquanto o celular voltava a
vibrar em cima do móvel que ficava daquele lado da cama. Não precisei
falar outra vez para ele se virar e pegar o aparelho, atendendo a chamada
com a voz rouca.
— Alô... sim, é ele.
Fiquei na cama sentada, esperando que acabasse. Nem sabia que
horas eram, mas com certeza estava atrasada para a aula, e talvez fosse
melhor eu nem pisar lá hoje.
— Merda, levanta! — Mason se sentou com rapidez, passando a
mão inteira pelo rosto.
— Por quê? — Perguntei intrigada.
— Era o porteiro do seu prédio, parece que houve um vazamento
no apartamento do Lukas e está tudo alagado.
Foi o suficiente para eu me desesperar e ficar de pé.
— Vazamento? — Minha pulsação acelerou e minhas mãos
começaram a suar. — Eu conferi tudo antes de sair, não deixei nada ligado.
— Parei para pensar e me lembrei de que Mason havia ido lá também. —
Você foi até lá ontem, ouviu algum barulho de água?
Dei à volta, até estar ao lado dele.
— Não, tudo estava silencioso, exceto pelo seu bichinho de
estimação surtando na gaiola — ele falou, olhando para o teto, ainda lerdo e
pensativo.
Baunilha dormia bastante, mas despertava várias vezes entre os
cochilos. Quando eu ou Lukas estamos em casa, sempre soltamos para
deixá-lo brincar pelo apartamento.
— Sim, e o que você fez? — Questionei, com uma desconfiança
começando a se formar em minha mente.
— Soltei ele e mandei mensagem perguntando onde você estava.
— Puta que pariu, você não fez isso! — Apertei os olhos, sem
querer acreditar.
Saí do quarto e corri até o banheiro, tirando sua camisa e
colocando o vestido de ontem de qualquer jeito pela cabeça antes de fazer
xixi. Joguei uma água no rosto e arrumei o cabelo como pude. Quando saí
no corredor, Mason estava na porta, esperando para usar o banheiro.
— Por que não podia soltá-lo? Já o vi solto pela casa.
— Baunilha é inquieto e curioso.
Não dei muitos detalhes e nem esperei por ele para sair do
apartamento, mas quando estava na metade do quarteirão quase chegando
ao prédio, Mason me alcançou, correndo.
— Violet, dá pra esperar!? — reclamou, com a respiração
entrecortada.
— Você pode ter inundado o apartamento do meu irmão e ainda
quer que eu fique te esperando?
— Não sou eu quem tenho um bichinho terrorista.
— E não fui eu que o deixei fugir da gaiola sem ao menos
perguntar se podia. — Quase parei para xingá-lo, mas precisava continuar.
Subi os degraus do prédio e passei voando pela portaria, e Mason
parou para conversar com o porteiro de plantão. Ele correu para dentro do
elevador antes de ele se fechar. Em segundos as portas se abriram no
corredor alagado.
Se o corredor estava naquele estado, o apartamento deveria estar
um caos.
— Puta que pariu, o Lukas vai me matar! — Falei, colocando a
mão na cabeça ao pisar na água empoçada.
Mason me seguiu quieto e esperou enquanto eu colocava a senha
de entrada. A água molhou meus pés e veio quase até minhas panturrilhas
quando empurrei a porta de entrada.
Caralho!
— Puta que pariu! — Mason exclamou.
Os trinta minutos seguintes foram só caos e confusão. Encontrei
Baunilha basicamente nadando no meio da cozinha, a torneira estava
quebrada e a água jorrava forte por ela, caindo diretamente no chão. Metade
dos móveis estavam boiando, o sofá tinha água até a metade e o piso já
devia estar estragado. A água tinha chegado até o quarto, porém, por um
milagre, ainda não tanto quanto na cozinha e na sala.
Mason e eu nos molhamos inteiros na missão de tapar o cano por
onde a água vazava, no entanto, eu não sabia o que fazer quanto ao resto da
casa, mesmo que o nível da água já estivesse baixando.
Puxei uma cadeira que já não boiava mais no chão e me sentei,
segurando meu próprio rosto com minhas mãos.
— Pra onde vai essa água toda, Mason?
Ele tinha acabado de desligar o telefone, estava tentando falar com
meu irmão, até agora sem sucesso.
— Deve ter um sistema de escoamento em algum lugar do
apartamento ou no corredor.
— E os móveis? — Olhei ao redor, vendo tudo metade molhado.
— O piso?
— Preciso que o seu irmão atenda a droga do telefone e entre em
contato com o seguro para eles resolverem o que fazer.
Já tinha secado Baunilha e o devolvido para dentro da gaiola, por
isso fiquei apenas ali, no meio do caos, enquanto Mason andava de um lado
para o outro, conferindo o que mais tinha sido danificado.
O Xbox do meu irmão, que estava na prateleira de baixo da rack, já
era, e o tapete da sala fazia barulho ao pisar, de tão encharcado. A parte de
baixo da geladeira tinha levado água, e os móveis de madeira também.
Provavelmente tudo estragaria.
Meu irmão ia ficar uma fera.
Eu queria chorar!
— A culpa é sua! — Apontei para Mason, furiosa.
Gritar era melhor que chorar, afinal de contas.
— Como é? — Ele franziu o cenho, parando a alguns metros de
frente para mim.
— Eu vou ser expulsa de casa pela segunda vez. — Tentei parar
para respirar, mas não consegui, emendando uma frase na outra. — E A
CULPA É TODA SUA!
— Dá para manter a calma? Seu irmão não vai te chutar daqui por
causa de um alagamento.
— Por muito menos eu fui expulsa da casa em que cresci! Imagina
só quando ele descobrir que foi o Baunilha quem arrancou a torneira da
cozinha?
— E fui eu quem o soltei — Mason rebateu, quando eu mal tinha
acabado minha frase. — E existe um seguro para esse tipo de coisa, Violet.
Para de surtar.
Era fácil pra ele me mandar parar de surtar, visto que não havia
acabado de voltar e encontrar o lugar em que mora de favor inundado, mas
eu tentei manter a calma, e quando finalmente conseguimos contato com
Lukas, eu saí para chorar no banheiro. Tinha medo de que agora ele
percebesse o peso morto que foi jogado em suas costas. Ele ia me mandar
embora, com certeza, se não hoje, em breve.
— Violet, abre a porta. — Mason começou a bater, me fazendo
revirar os olhos.
Fiquei quieta, sentindo meu peito e garganta doerem enquanto as
lágrimas desciam sem pausa. Ainda assim, consegui ouvir as vozes
abafadas do outro lado da linha.
— Ela não teve culpa, eu que soltei o terrorista.
— Tem certeza de que ela não está chorando por sua causa? Você
costuma agir como um imbecil com a coitada. — Era a voz de Megan.
— Eu não fiz nada — Mason se defendeu. — Ela acha que você
vai expulsá-la de casa.
— Claro que não! Sequer existem culpados. Baunilha só pode ser
solto quando alguém está presente, você não sabia disso e Violet só voltou
de manhã. Por falar nisso, onde ela esteve?
Droga!
Ergui a cabeça, atenta ao que ele ia falar.
— Disse que dormiu na casa de uma amiga.
— Ah, deve ter sido da Crystal. — Megan concluiu sozinha.
Ele mentiu. Então significava que não pretendia contar da confusão
de ontem à noite, ou pelo menos não por agora.
Como eu tinha arrumado dois problemas gigantes em menos de
vinte e quatro horas?
— Vou entrar em contato com o meu assistente e pedir que resolva
para mim. Enquanto isso, a Violet fica com você.
— O quê? — Mason perguntou com a voz esganiçada.
— Cara, você inundou a porra do meu apartamento, então vai ter
que abrigá-la por um tempo, até os meninos resolverem. — Lukas deu um
ultimato e pelo seu tom de voz não estava disposto a negociar.
Por essa, nem eu esperava.
— Você mesmo acabou de dizer que não existiam culpados.
— Mason, sério, não fode. Se não quiser ficar com ela, dorme no
meu quarto até tudo voltar ao normal. Em breve esse lugar vai estar cheio
de macho entrando e saindo, não quero minha irmã no meio.
— Maldita hora que eu fui tentar ajudar um animal desesperado.
Puta merda!
Limpei meu rosto e abri a porta do banheiro, Mason tropeçou,
quase caindo em cima de mim por estar escorado na porta.
— Estou bem — falei. Sabia que meus olhos e nariz estavam
vermelhos e foi o primeiro lugar para onde Mason olhou, mas eu o ignorei,
tomando o celular da mão dele.
— Desculpa, Lukas. Eu devia ter voltado pra casa, mas acabou
ficando tarde e preferi dormir lá por perto.
— Fez bem — meu irmão concordou. Ainda bem que não era
chamada de vídeo, pois se eu precisasse mentir cara a cara provavelmente
começaria a chorar outra vez. — Não é muito seguro ficar andando com
estranhos no meio da madrugada.
— A maior parte da água já sumiu — falei, parando na entrada da
sala de estar. — Mas os móveis estão molhados e seu Xbox deve ter
queimado.
Silêncio.
Era agora que ele ia surtar e me expulsar, tinha certeza.
Passaram o que eu achava que tinham sido minutos, até ele
suspirar e falar:
— Não se preocupa com nada disso. Sei que você detesta o Mason,
mas fique no apartamento dele até o meu ser liberado, tá bom?
— Tudo bem — falei devagar, surpresa por ele sequer ter
explodido.
Uma vez quebrei uma garrafa caríssima de um uísque escocês do
meu pai sem querer e nunca consegui esquecer os gritos que levei. O tapa
no meu rosto doía até hoje. Depois daquele dia, nunca mais brinquei perto
das bebidas dele.
Nos despedimos e desligamos logo em seguida.
— Viu? Eu disse que ele não ia ter uma crise. — Mason apareceu
no corredor, me olhando com aquela postura tranquila. — No fim das
contas, quem teve um ataque nervoso foi você.
Lukas podia até não ter tido uma crise, mas eu, com certeza faria
Mason surtar.
Capítulo 20 — Mason Rilley

Regra nº 9: Pode parecer óbvio, mas não chupe a


boceta dela como café da manhã na bancada da
cozinha.

Passei metade da tarde carregando os itens pessoais de Violet para


o meu apartamento.
Era até engraçada a forma em que o cenário entre nós dois mudava
de um dia para o outro. Ontem mesmo a trouxe para minha casa por
vontade própria e hoje eu só desejava não ter feito isso, pois agora a
diabinha moraria comigo.
Ela se metia em confusão, e então eu ia lá resgatá-la e acabava me
metendo em confusão.
Depois de trazer até a gaiola do furão para o meu apartamento de
cinquenta e seis metros quadrados, finalmente parei no meio do caos para
checar o estrago. Havia calçados femininos perto da porta, no lugar onde eu
costumava deixar os meus. Um tubo flexível sanfonado estava jogado no
meio da sala, por onde Baunilha entrava e saía, brincando. Olhando para ele
assim, ninguém imaginaria que era um pequeno terrorista.
Coloquei a gaiola no canto e fui ver o resto do apartamento. O
banheiro estava cheio de produtos femininos, shampoos, cremes de
tratamento, óleos, hidratantes corporais e até mesmo um depilador. No meu
closet, várias peças de roupas coloridas agora tinham seu lugar, até mesmo
bolsas e acessórios que Violet ainda terminava de organizar.
Era o apocalipse!
— Tenho que ir trabalhar daqui a uma hora, vou deixar comida e
água para Baunilha. Se ele acordar, não precisa soltá-lo, é só dar um tempo
que ele volta a dormir.
— Eu também vou para a boate — informei, e ela me olhou por
um segundo, mas logo voltou a organizar as roupas na prateleira.
Agora eu morava com uma mulher.
Puta merda!

Mal se passaram dois dias e eu já não aguentava mais ter meu


banheiro monopolizado, meu closet bagunçado e minha cama ocupada.
Não era por mal. Sabia que ela não tinha onde ficar, visto que, sem
querer, estraguei o apartamento de seu irmão. Porém, eu era acostumado a
viver sozinho. Além disso, precisava parar de olhar para ela.
As pernas dela.
O olhar dela.
O cheiro dela.
Tudo me atraía, e eu sentia que estava começando a ficar louco.
Na noite passada tive um sonho muito real, em que Violet me
seduzia com aquela voz macia e depois levava meu pau até a garganta, me
fazendo gozar em minutos. Acordei suado e desesperado no meio da noite.
Depois disso, foi um inferno voltar a dormir.
Sair e foder qualquer mulher não adiantaria, sabia que não.
Era ela. Desde aquele dia no corredor em que quase nos beijamos,
eu só conseguia gozar pensando nela.
Eu estava fodido!
Me sentei na cama ainda sonolento, ouvindo o som abafado da sua
voz, que vinha de algum lugar, cantando:
— You got that long hair, slicked back, white t-shirt. And I got that
good girl faith and a tight little skirt. And when we go crashing down, we
come back every time.[14]
E ainda tinha esse detalhe: ela estava sempre cantarolando.
Precisava admitir que a diabinha cantava bem e em alguns
momentos era gostoso de ouvir sua voz, entretanto, minha paz e silêncio
haviam acabado. Ela cantarolava no café da manhã, quando tomava banho e
praticamente berrava no meio da tarde com os fones no ouvido.
— Bom dia. — Entrei na cozinha depois de ir ao banheiro fazer
minha higiene matinal, mas ainda estava com os olhos estreitos por conta da
claridade. Encontrei Violet de costas, na bancada, mexendo em alguma
coisa no cooktop.
Ela não sabia cozinhar, já tinham me falado. Só esperava que não
estivesse tentando colocar fogo na minha casa.
— Bom dia, anjinho — ela falou, me olhando por cima do ombro.
Franzi o cenho por causa do apelido e desci mais os olhos para o
formato da bunda empinada no short do baby-doll.
Minha cozinha era minúscula. Até então eu não tinha sentido a
necessidade de ter um espaço maior, pois morava sozinho, por isso precisei
quase colar meu peito em suas costas para mexer na cafeteira. Mesmo
sabendo que ela não me queria, era impossível meu corpo não reagir à sua
proximidade.
— O que você está fazendo? — Perguntei, vendo o bacon fritando
em uma panela e os ovos queimando na outra enquanto Violet parecia
paralisada. — Tá queimando. — Apontei com o queixo para a frigideira.
— Eita! — Ela reagiu, mexendo no painel eletrônico para tentar
desligar a chama, mas acabou aumentando-a.
Suspirei, afastando seus dedos e eu mesmo desligando tudo.
— Acho melhor você se manter longe da cozinha, não é? —
Sugeri, me afastando um pouco.
— Então vou morrer de fome? — Questionou, se virando para
mim.
— Posso cozinhar ou pedir alguma coisa, mimadinha, é só me
chamar.
— Notou que você insiste em me chamar de mimadinha, mas quer
fazer por mim algo que eu sou perfeitamente capaz de aprender sozinha?
— Só estou tentando te manter a salvo — zombei, abrindo um
sorriso lateral.
— Ah, sim, que altruísta você. — Ela cerrou os olhos, me
repreendendo silenciosamente.
Fiquei olhando para sua boca o tempo todo, perturbando a mim
mesmo com a possibilidade de beijá-la outra vez.
Era só me inclinar...
Me inclinei, tocando seu nariz com o meu e checando seus olhos
surpresos, esperando por qualquer recusa ou afastamento de sua parte, mas
porra... Ela dizia com todas as letras que não me queria, no entanto, o
desejo se mostrava muito vivo em seus olhos castanhos, então eu a beijei.
Era errado. Eu não deveria. Mesmo assim foi impossível resistir ao
impulso de prová-la outra vez.
Agarrei seus cabelos com uma das mãos e segurei em sua cintura
com a outra, mantendo-a colada em mim conforme meus lábios devoravam
os seus. Eu estava faminto por ela. Queria tê-la de todas as maneiras
possíveis, matar de vez a fome absurda que eu sentia por essa diaba gostosa.
Espalmei sua bunda com as duas mãos, me deliciando com o
gritinho surpreso que soltou e a erguendo para se sentar na bancada da
cozinha. Naquela posição, seus joelhos chegavam até a altura da minha
cintura e era ela quem precisava se inclinar para me beijar.
Senti seus dedos em minha nuca, apertando, enquanto o simples
ato de respirar parecia insignificante em meio à nossa loucura. Era gostoso
demais sentir essa luxúria no ar, o barulho molhado do nosso beijo e a
necessidade de aproveitar cada segundo.
Minhas mãos tatearam seu corpo, passando pelos seios pequenos e
depois pela cintura. A arrastei para mais perto de mim e puxei a blusinha
para baixo, tocando diretamente seu biquinho ereto.
— Hummm! — Ela gemeu em minha boca, arqueando as costas
para se oferecer ainda mais.
Desci os lábios, lambendo seu queixo e logo em seguida chupei
seu pescoço com mais força do que deveria, mas em vez de reclamar, a
diabinha segurou minha cabeça com as duas mãos, me puxando mais em
sua direção. Sorri, com os lábios ainda grudados em sua pele arrepiada, e
fiz um caminho de beijos molhados até os seus seios.
Minha língua brincou com o mamilo, rodeando várias vezes antes
de fechar os lábios e sugar duro.
— Aii, Mason! — Seu rosto contorceu e ela me segurou ainda
mais forte, gemendo alto.
Meu pau nem cabia mais dentro da boxer e ouvi-la gemer meu
nome daquela forma só piorou meu estado deplorável.
Espalmei suas pernas arreganhadas, subindo e descendo as mãos
em uma carícia contínua enquanto mamava gostoso em um de seus
mamilos; quando dei atenção ao outro, ela quase gritou, esfregando a bunda
na bancada, sem conseguir se manter quieta.
Encaixei os dedos no cós do seu short e desci só um pouco,
testando se ela permitiria. Violet me soltou, se apoiando na bancada para
erguer o quadril e juntar as pernas.
— Essa é a hora que você me manda parar — falei, com o tom de
voz ainda mais rouco.
— Nem pensar... — Violet me deu a porra de um sorriso safado,
passando a língua pelos lábios logo em seguida.
Diaba sedutora dos infernos!
Cerrei as pálpebras, ainda mais excitado por sua provocação, e
voltei a atenção para o seu corpo. Lambi seu mamilo outra vez antes de
beijar a barriga sedosa.
Quando cheguei à altura de sua virilha, ela afastou ainda mais as
pernas para mim, me dando a visão da boceta rosada, lisinha e, puta merda,
estava tão molhada que o líquido escorria de sua entrada.
Respirei forte, tentando controlar meus instintos ferventes.
Minha língua serpenteou por toda a sua vulva de uma vez só,
sentindo o gosto doce de sua excitação e me perdendo em seu gemido
desesperado.
— Fala agora que não me quer, safada! — Provoquei, antes de
fechar os lábios sobre seu clitóris e sugar da mesma forma que fiz com o
seu mamilo.
Violet soltou um grito agudo e suas pernas tremeram ao meu lado.
Porra!
Gostosa e sensível!
Toda disposta e aberta para mim.
Lambi devagar, instigando seu corpo a sentir cada movimento da
minha língua, enquanto eu me perdia nos sons de abandono que saíam de
sua garganta. Meu pau doía, duro de uma maneira que talvez nunca tenha
ficado no meio de um simples oral, por isso o coloquei para fora,
começando a me tocar com uma das mãos.
Minha língua continuou rodeando seu clitóris em um movimento
contínuo que fazia seu corpo contorcer; ela estava muito perto. Apertei mais
meu membro em minha mão, intensificando a velocidade das investidas.
Gemi com a boca ainda em sua boceta e vi suas unhas rasparem na
pedra da bancada ao passo que sua cabeça pendia para trás.
Daria tudo para ver seu rosto naquele momento, mas foquei apenas
em perseguir seu prazer como um predador faminto. E quando ela gozou,
gemendo alto e se derramando em minha boca, esporrei no chão,
murmurando sons desconexos, sem conseguir afastar minha língua da
vulva, que ainda pulsava.
Uma punheta nunca tinha ficado tão interessante e gostosa.
Me afastei um pouco, admirando seu corpo largado na bancada
com os músculos relaxados e os olhos bem apertados. Seu peito subia e
descia rápido, e eu conseguia escutar sua respiração pesada.
Estiquei o corpo, pegando algumas toalhas de papel e limpando
minha virilha primeiro para enfiar o pau dentro da cueca outra vez, depois
limpei a sujeira no chão e descartei os papéis na lata de lixo.
Violet já estava sentada, ainda nua, observando meus movimentos,
e eu sorri para ela, pegando meu café que tinha ficado pronto em algum
momento enquanto eu devorava sua boceta.
— Bom dia pra você, diabinha — falei, antes de deixar a cozinha e
me trancar dentro do meu escritório.
Nenhum café da manhã teria sido melhor do que provar sua boceta,
porém, eu ainda estava faminto e insatisfeito.
Capítulo 21 — Violet West

Querido diário, era humanamente possível uma


língua fazer todas aquelas coisas? Sim, pelo visto,
era.

Olhei outra vez na direção de Mason que conversava de maneira


animada com uma mulher na outra ponta do bar. Ela parecia ser mais velha,
ainda assim era bonita e oferecida demais para o meu gosto.
Eu não podia me distrair. Tecnicamente, ainda estava em período
de experiência e alguns drinks eu precisava olhar a receita duas vezes para
não errar as doses, mas Mason atrapalhava minha concentração.
Será que eu poderia expulsá-lo de sua própria boate?
— É um Cosmopolitan? — Isaac perguntou ao meu lado, fazendo
com que eu desviasse minha atenção para ele.
O barman me ajudava muito. Na verdade, Isaac sempre foi um
fofo comigo, mas desde que comecei a trabalhar aqui, ele era o meu
salvador. Tinha anotado em um bloquinho todas as receitas de bebidas para
que eu não me perdesse e sempre que surgiam dúvidas, ele me ajudava.
Além disso, era um ótimo colega de trabalho e não parecia puxa-saco só por
eu ser irmã de um dos sócios.
— Sim — concordei, acenando com a cabeça —, está quase
pronto.
Tentei me distrair com os pedidos, que não paravam de chegar, mas
não adiantava, eu sempre acabava olhando na direção dele.
Ainda estava intrigada em como as coisas tinham acabado hoje
pela manhã. Apesar de ter sido bom, bom pra caralho, depois ele apenas
pegou uma xícara de café e saiu, me desejando bom dia.
Pelo amor de Deus, quem fazia aquilo?
Fiquei sentada na bancada com cara de trouxa, sentindo meu corpo
formigar por querer mais. O tesão não passou e perdurou durante o dia
inteiro, porém, Mason continuou fingindo que nada tinha acontecido.
Quando me arrumei para trabalhar, ele fez questão de se adiantar
para vir junto. Até perguntei para Cinara, a outra bargirl, se ele sempre
estava aqui do início ao fim do expediente, e ela me respondeu que na
maioria das vezes chegava depois e saía antes, mas desde que comecei aqui
na semana passada, não houve um dia em que ele não viesse e em todos eu
acabei voltando para casa em sua companhia.
Mason me confundia pra caralho.
Trabalhei mais um pouco, tentando focar nas bebidas que precisava
entregar e vez ou outra Isaac soltava alguma piada ridícula. Ele era
engraçado e fofo.
— Tem um cara ali que não tira os olhos de você — Isaac disse,
apontando discretamente para alguém atrás de mim.
Fiquei momentaneamente impressionada pelos olhos verdes e rosto
anguloso. A barba curta cobria boa parte da mandíbula e a boca rosada era
uma tentação. Na verdade, olhando bem para ele, parecia uma cópia do
Jesse Williams[15] mais novo, até suas orelhas eram pontudas e o olhar
intenso.
— Deixa que eu atendo. — Pisquei para o barman e me aproximei
do senhor, olhar-de-tirar-o-fôlego.
A boate não estava tão barulhenta desse lado, permitindo que nos
comunicássemos de maneira clara com os clientes, o que era um alívio.
Dava até para manter uma conversa sem ninguém ficar gritando,
exatamente como Mason ainda fazia com a coroa bonitona.
— Olá — falei, dando um sorriso simpático. — O que vai querer
hoje?
— Além de conhecer você melhor... — O desconhecido tirou os
olhos do meu rosto, focando na plaquinha em meu crachá. — Senhorita
West?
— No momento só servimos bebidas. — Mesmo lhe dando um
chega para lá sutil, meus lábios se esticaram em um sorriso lateral.
Sério, o cara era charmoso e o interesse dele cutucava levemente o
meu ego.
— Então pode me trazer uma Blue Moon? — Acenei quando ele
pediu.
— Tá com sua identidade aí? — Questionei e o homem deu risada.
— Agora fiquei curioso se você quer descobrir meu nome ou
minha idade.
— E se for os dois? — O flerte com ele fluía de maneira muito
leve.
— Sou Oliver Abernathy — Me estiquei para pegar uma cerveja
gelada no compartimento embaixo do balcão, mas sem tirar os olhos dele
—, é um prazer conhecer você.
Não respondi, apenas coloquei a longneck em cima do balcão e a
abri, empurrando em sua direção.
— O prazer é todo meu. — Dei outro sorriso antes de me afastar.
Por mais que a coisa toda estivesse interessante, o atendimento
aqui precisava ser rápido ou acabávamos sobrecarregando uns aos outros.
Quando passei os olhos por Mason outra vez, ele me encarava com um
vinco entre as sobrancelhas enquanto a mulher continuava tagarelando sem
parar.
Idiota!
Além de me deixar insatisfeita o dia inteiro e fingir que não tinha
me lambido como se fosse sua sobremesa favorita, ainda ficava flertando na
minha frente.
Ah, mas ele ia pagar...
Dei atenção para cada cliente, mulher ou homem que atendi.
Perguntei tantos nomes que meu cérebro nem era mais capaz de armazenar.
Em um determinado momento Mason surgiu atrás de mim, praticamente me
encurralando.
— Não está na hora do seu intervalo? — Questionou.
— Não, estou bem. — Olhei para ele com o cenho franzido e voltei
a falar com a garota em minha frente, mas agora a atenção dela estava em
Mason.
Me surpreendendo, Mason recuou um pouco e depois voltou com
um avental amarrado na cintura, perguntando a alguns clientes por ali se já
tinham feito o pedido.
— Flertando com clientes no meio do expediente, diabinha? — Ele
parou ao meu lado enquanto eu batia o suco de abacaxi para fazer uma Piña
Colada. — Que coisa feia.
— Já vi você fazendo a mesma coisa pelo menos uma dúzia de
vezes. — Dei de ombros, sem me importar com sua ironia.
— Tem certeza de que viu mesmo? — Ele perguntou de forma
provocativa, voltando para o balcão do bar. Quando virei para entregar a
bebida para a minha mais nova cliente favorita, Victória Fox, publicitária de
vinte e seis anos, ouvi Mason dizer para uma loira aguada: — Se eu
caprichar na tequila ganho um selinho?
Filho da puta idiota!
Olhei para o lado com nojo, vendo-o piscar para a garota e tentei
ignorá-lo, sorrindo outra vez para Victória.
— Estou aqui se precisar de mais alguma coisa.
Aproveitei que Mason tinha se afastado para preparar outro drink e
me aproximei de onde ele estava, perguntando se faltava alguém pedir, mas
foi a loira quem fez questão de me chamar.
— Sabe dizer que horas ele sai daqui? — Questionou, interessada e
apontando para onde Mason estava.
— Nem anima, mulher, ele soca fofo e tem ejaculação precoce,
então não costuma durar nem um minuto. Sério! — Abanei a mão, fingindo
desinteresse, e a loira arregalou os olhos na direção de Mason.
Me distraí com mais três pedidos, até o senhor olhar-de-tirar-o-
fôlego voltar para o bar.
— Vai querer outra? — Me aproximei, perguntando.
— Sim, e o seu contato que ainda não consegui.
Desconversei outra vez, soltando uma gracinha qualquer, e o
homem, que já estava alto por conta do álcool, gargalhou. Quando fui pegar
sua bebida, descobri que a cerveja que gostava tinha acabado ali perto e eu
precisaria repor com as que estavam geladas no freezer do depósito.
Pedi licença um minuto e saí para buscar. Quando voltei, vi Mason
falando com meu cliente de olhos verdes e me aproximei, mas não consegui
ouvir sobre o que estavam conversando, porém, o senhor olhar-de-tirar-o-
fôlego não voltou mais.
A noite continuou da mesma forma. Mason não saiu do bar e eu
devo ter dito para umas quatro desavisadas que ele tinha pau pequeno ou
era ruim de cama, algumas nem acreditaram, mas seu flerte com elas
também não durava muito. E sempre que o imbecil falava com os meus ou
minhas clientes, eles não voltavam mais ou pediam bebida a outra pessoa
caso retornassem.
Já estava quase na hora de fechar quando ele colou o corpo por trás
do meu em um canto mais escondido, me imprensando contra a bancada e
dizendo no meu ouvido:
— Se não parar de falar por aí que eu sou ruim de cama, vou
precisar te mostrar o quanto está errada. — Me arrepiei dos pés à cabeça
com sua voz sussurrada em meu ouvido.
Minha mente quase virou gelatina, mas eu precisava resistir.
— E o que você anda dizendo de mim por aí, Mason? —
Perguntei, virando o pescoço para ficar cara a cara com ele. — Por que
meus pretendentes não voltaram mais?
— Ah, eles eram seus pretendentes? — O engraçadinho cerrou as
pálpebras, questionando.
— Sim. — Suspirei, afetada demais por sua proximidade, com as
imagens de mais cedo todas retornando bem vivas à minha mente.
Meu corpo reagiu sozinho e eu me inclinei para roçar nele, vendo o
exato momento em que seus olhos escureceram e os lábios afastaram
soltando o ar quente próximo ao meu rosto.
— Bem... Um deles foi embora achando que você era menor de
idade, falei para uma das garotas que você era muito carente, por isso
atirava para todos os lados. E teve aquele engraçadinho da Blue Moon que
agora pensa que West é seu sobrenome de casada.
— Você é um cretino, Mason — acusei, mas estava quase
gargalhando.
— Não fui eu quem comecei — falou, me apertando mais contra o
balcão. — Você ainda não tirou o intervalo, quer ir direto para casa?
Faltava apenas meia hora para fechar, mas eu não sabia que podia
sair mais cedo se quisesse.
— Posso fazer isso? — Questionei, franzindo o cenho.
— Seu chefe está dizendo que sim. — Mason deu um passo para
trás quando Isaac se aproximou, por sorte estava distraído com dois copos
cheios na mão.
Fiquei desconcertada, fingindo mexer em algo na prateleira de
bebidas para disfarçar.
— Isaac, já estou indo para casa, e como Violet não tirou o
intervalo ainda, vou levá-la para que não volte sozinha. — Mason informou
ao barman, sem deixar espaço para ser questionado.
— Mas... — Tentei argumentar, porém, fui impedida pelo olhar
cortante que Mason me direcionou.
— Tudo bem, Vi — Isaac acenou para mim, concordando. — O
movimento diminuiu, o restante da equipe dá conta.
Sorri para ele e o abracei antes de sair, desejando boa noite
enquanto o anjinho do mal tinha o cenho franzido em direção a nós dois.
— É o seu novo amiguinho? — Mason questionou com deboche
quando já estávamos no corredor da administração, caminhando para a
saída traseira da boate.
— Você fica tão mais atraente de boca fechada — ironizei, com a
testa franzida na direção dele, que me puxou pelo braço para uma parede,
levando os lábios até meu ouvido.
— Não me lembro de você ter reclamado da minha boca essa
manhã — disse baixinho, acordando meu corpo outra vez.
Cretino!
— Essa manhã depois que você me deixou nua e frustrada na
bancada da cozinha?
Mason se afastou e me olhou com as sobrancelhas quase tocando
uma na outra, em confusão.
— Lembro claramente de você gozando na minha boca, diabinha.
— Você me deu um orgasmo. — Ergui meu indicador, enfatizando.
— E não foi o suficiente? — ele perguntou, mas a resposta parecia
óbvia até para ele mesmo.
— Claro que não! — Consegui escapar por baixo de seu braço e
continuei meu caminho para fora, dizendo: — Então, pare de agir como se
você tivesse me deixado muito satisfeita, porque a única coisa que
conseguiu foi despertar meu desejo por mais.
O deixei lá me olhando enquanto caminhava devagar para a saída
como se não tivesse dito nada demais, porém, mal cheguei ao
estacionamento quando Mason me alcançou e permaneceu calado, perdido
em seus próprios pensamentos.
Mais cedo, ele tinha me instruído a trazer um casaco por conta do
frio na moto, e eu o vesti antes de subir e colar meu corpo ao dele por trás.
Era a quarta vez que me dava carona e eu começava a me acostumar com
isso. Era bom andar de moto, exceto pelo medo de voar e o vento cortante,
mas a adrenalina que sentia quando ele começava a acelerar fazia meu
coração bater mais rápido e o sangue fluir pelas minhas veias. A sensação
era de estar viva.
Quando chegamos ao prédio e entramos sozinhos no elevador,
conseguia sentir o tesão crepitar entre nós dois. Parecia loucura da minha
cabeça e talvez fosse mesmo, mas meu raciocínio se liquefez quando ele me
puxou pela nuca, beijando minha boca com urgência.
Eu nunca tinha beijado tanto em um intervalo de vinte e quatro
horas, e puta merda, não podia reclamar.
Gemi quando seus dentes puxaram meu lábio inferior e não
consegui manter mais os olhos abertos, me entregando ao desejo que sentia
por ele. Quando o elevador parou em nosso andar, Mason me arrastou para
fora com pressa e assim que entramos em casa ele começou a se livrar das
próprias roupas, me incentivando a fazer o mesmo.
— No chuveiro — simplesmente falou, quando eu já estava apenas
de calcinha.
O anjinho do mal devorava meu corpo com os olhos enquanto eu
fazia o mesmo com o dele, passando pelo peitoral definido até os braços
fortes e o membro dele que latejava dentro da boxer.
Dei alguns passos para trás e tirei a calcinha pelas pernas antes de
entrar no banheiro, sem desviar o olhar do dele, mas Mason não se juntou a
mim de imediato.
Entrei no box e liguei o chuveiro, aproveitando a sensação da água
quente caindo pelo meu corpo. Ele demorou alguns minutos para aparecer
atrás de mim e eu olhei por cima do ombro, vendo-o gloriosamente nu,
como ainda não tinha presenciado.
— Se perdeu no caminho? — Sorri, ironizando.
— Estava tentando colocar a cabeça no lugar — confessou com
uma sinceridade que eu não esperava.
— E funcionou? — Me virei, perguntando de maneira curiosa.
— Se estou aqui, claramente não deve ter funcionado.
— Ou você está tentando pôr a cabeça errada no lugar errado.
Foi impossível não rir e mesmo que antes ele tivesse uma
expressão cheia de dúvidas e confusão, deu risada também.
Fui eu quem avancei para beijá-lo dessa vez, não deixando muitas
brechas para que reconsiderasse qualquer questão em sua mente.
Eu queria mais, ele também, e nesse momento não conseguia
encontrar motivos para me abster de todo tesão que me fazia sentir.
Minhas costas se chocaram contra a parede atrás de mim quando
Mason finalmente se entregou ao beijo, enfiando a língua gostosa dentro da
minha boca. Esfreguei meus seios em seu peitoral de uma maneira muito
descarada enquanto ele agarrava meu cabelo com uma das mãos e minha
bunda com a outra, me levando para mais perto de sua virilha.
Senti seu membro pela primeira vez sem barreiras, muito próximo
à minha boceta, que àquela altura latejava, buscando atenção.
Soltei um gemido, que foi abafado por sua boca, e cravei as unhas
em seu braço quando levou os dedos ao meio das minhas pernas,
explorando minha vulva devagar e com delicadeza, mas ainda assim o
suficiente para me enlouquecer. Ele tocou meu clitóris, movendo a pontinha
do dedo sobre ele devagar e deixando meu corpo em agonia.
Choraminguei em seus lábios, afastando mais as pernas e sentindo
tudo vibrar dentro de mim. Meus músculos retesando, os dedos dos pés se
agitando. Ele finalmente me deixou respirar, levando a boca ao meu ouvido.
— Não vai demorar — falou baixinho, com o dedo provocando o
lugar certo. — Sua bocetinha está tão molhada, Violet.
Foi o suficiente para me desfazer, tremendo e gemendo em
desespero, e ele permaneceu me estimulando até a onda passar.
Abri os olhos e levei minha mão até o seu membro, movendo-o
devagar e prestando atenção em sua expressão carregada de tesão.
— Posso te chupar? — perguntei, cheia de curiosidade para prová-
lo.
— Está mesmo querendo minha permissão? — Mason ergueu uma
das sobrancelhas, abrindo um sorriso lateral. — Meu pau é todo seu, diaba.
Use-o.
Sorri, ajoelhando no chão do box, segurando com as duas mãos e
encarando a cabeça rosada. Meus dedos mal fechavam em volta da
circunferência. Eu tinha mãos pequenas, e as duas palmas juntas não
cobriam o comprimento dele. Nem sabia como aquilo caberia dentro de
mim.
— Isso cabe nas pessoas mesmo? Você já testou? — indaguei, um
tanto incrédula.
— Cabe. — Mason riu, colocando uma das mãos sobre a minha
cabeça, alisando meus cabelos.
Abri os lábios sobre a cabeça, trazendo-a para minha boca. Parei
um pouco para provar com a língua a textura macia, depois suguei um
pouco para testar a reação dele, contudo, seus olhos estavam vidrados em
meus movimentos e ele parecia em uma espécie de transe.
Era um pouco difícil tê-lo em minha boca e olhar para cima ao
mesmo tempo, mas eu queria ver cada expressão que fazia. Queria que se
desfizesse por minha causa, que sentisse o mesmo tesão que me deu na
bancada da cozinha hoje pela manhã.
Segurei firme a base com uma das mãos e o levei até onde
consegui, finalmente ouvindo um gemido rouco e vendo o momento exato
em que seus olhos rolaram para cima. Voltei a lamber a cabeça devagar e
quando passei a língua pela fenda em sua glande, ele travou a mandíbula,
respirando com dificuldade.
— Você é uma virgem muito safada, diabinha — disse em meio ao
tesão e eu quase sorri, mas em vez disso o suguei outra vez, com mais
vontade. — Porra, que delícia!
Continuei os movimentos contínuos, de chupar até o meu limite e
parar um pouco para lamber o local onde ele mais reagia, fazendo com que
o pau pulsasse em minha língua.
Sempre tive a impressão de que o sexo oral proporcionava um
prazer unilateral, porém, a cada gemido dele minha boceta sofria espasmos
e meu ventre se contorcia. Era uma sensação louca e prazerosa pra cacete.
Fiquei olhando-o conforme o chupava com cada vez mais
velocidade e afinco, sentindo o exato momento em que seu membro ficou
mais rígido em minha boca e seus músculos retesaram. Mason jogou a
cabeça para trás, avisando que iria gozar, e me afastou, mandando
masturbá-lo. Segurei outra vez com as duas mãos, movendo com rapidez
para cima e para baixo, até sentir sua porra atingir meu colo e seios,
escorrendo por entre eles.
Mason me olhava como se quisesse me comer viva e, em um
movimento rápido, me puxou de volta para ele, beijando minha boca tão
forte que seus lábios pareciam querer machucar os meus.
Soltei um som em protesto quando ele se afastou, mas logo parei
quando o vi se ajoelhando em minha frente com o olhar e sorriso mais
safados que já tinha visto. Mason ergueu um dos meus joelhos, colocando
uma perna após outra em cima de seus ombros, me deixando escorada na
parede e meio-sentada. Ele me olhou outra vez, antes de enfiar o rosto
inteiro em minha boceta de uma maneira animalesca. Gritei, sentindo seus
lábios, barba e língua me estimulando de uma vez. As sensações que ele
causava em mim enquanto sua língua serpenteava pela minha vulva faziam
meu corpo inteiro pegar fogo.
Agarrei com força seus cabelos, puxando-os para mim e pulei de
susto quando as duas mãos espalmaram minhas coxas em um tapa seco que
foi muito mais gostoso do que doloroso. Puta merda, eu estava ficando
maluca.
Minha entrada latejou outra vez e eu tentei me esfregar em sua
boca da forma que podia, mesmo que meus movimentos estivessem um
pouco limitados.
— Isso, bem aí! — Falei quando lambeu minha entrada, forçando a
língua ali e fazendo com que minha cabeça pendesse para trás. — Deus,
isso é tão gostoso! — Ele explorou ainda mais minha abertura, que eu já
sentia escorrendo, e quando voltou para o meu clitóris, sugando com
firmeza, me desfiz em outro orgasmo potente, que quase me derrubou de
cima dele.
Mason me segurou firme, esperando os espasmos se desfazerem
antes de me colocar sobre os meus próprios pés outra vez e começando a
lavar meu corpo. Fiquei com os olhos fechados, apenas saboreando as
sensações de suas mãos deslizando pelo meu corpo com o cheirinho do
sabonete de limão que eu adorava. Senti seus lábios em meu rosto e abri os
olhos enquanto ele limpava seu gozo dos meus seios e colo.
Deixei que sua boca guiasse a minha em um beijo lento e molhado,
com a água quente caindo sobre nossas cabeças. Ele se lavou de forma
rápida e depois desligou o chuveiro, enrolando uma toalha ao redor do meu
corpo antes de começar a se enxugar.
Saí do banheiro bocejando e peguei um pijama limpo no closet,
vestindo-o em seguida. Sentei-me na cama, com fome e sede, mas sem
muita coragem de me levantar para preparar algo e comer. Conferindo o
celular, já eram quase três da manhã.
— Quer um sanduíche? — ele perguntou, me dando um olhar
muito tranquilo.
Não tinha clima ruim e nem constrangimento entre nós dois, o que
me fez relaxar instantaneamente.
— Por favor — pedi, me jogando de costas na cama e ouvindo a
risadinha que ele deu antes de sair do quarto.
Capítulo 22 — Violet West

Querido diário, é possível gostar e não gostar de


alguém ao mesmo tempo? Estou começando a ficar
confusa quanto a isso...

No domingo, perto do horário de almoço, Gavin me ligou avisando


que tínhamos um trabalho em trio para fazer. Eu havia faltado as aulas de
quinta e sexta-feira por motivos óbvios, e eles se lembraram de me incluir.
Mason ainda dormia quando saí de casa, pois tinha ficado acordado
trancado em seu escritório depois que me alimentou. Sequer vi a hora em
que se deitou, mas deve ter sido tarde, já que nem se mexeu quando meu
celular começou a tocar essa manhã.
O motorista do aplicativo me deixou em frente a uma casa enorme,
em Marina District, e eu olhei o endereço mais umas duas vezes,
confirmando se era mesmo o local correto. Por algum motivo, eu pensei que
Gavin morasse sozinho, porém, não havia como ninguém viver sozinho em
um lugar grande daqueles. Toquei a campainha na porta e esperei, até ele
surgir me cumprimentando.
— Já ia te ligar. Achei que estivesse perdida. — Gavin me puxou
para dentro, abraçando meus ombros.
— Cadê a Crys? — perguntei, olhando ao redor do saguão.
— Lá em cima, batendo a cabeça na parede. — Franzi o cenho,
confusa, e meu amigo explicou: — Nenhum de nós dois conseguiu evoluir
em nada até agora. Não dá pra ser criativo quando se tem apenas um fim de
semana para criar algo.
Eu ainda não sabia do que se tratava o trabalho, por isso apenas
acenei, franzindo os lábios enquanto entrávamos na sala ampla.
Uma mulher e um homem mais velhos estavam no sofá da sala e
também havia outro homem de costas para mim.
— Pai, mãe e Gus, essa é a Violet. — Uma mulher que era a cara
do meu amigo se levantou e veio até mim.
— É um prazer, querida. — A mulher sorriu, simpática.
— Minha mãe, Emma. Meu pai, Henry, e...
— E eu sou o Gus. — O irmão dele sorriu, sem esperar que ele
terminasse de falar.
Charme deve ser algo da genética deles, não é possível!
Acenei, abrindo um sorriso amarelo.
— O prazer é meu.
Quase suspirei em alívio quando Gav me puxou para fora do
cômodo, me guiando pelas escadas.
— Eu moro a uns dez minutos daqui — falei distraída, entrando no
corredor superior junto com ele.
— Nob Hill, não é? Eu passo por perto todos os dias.
— E não me dá carona! — Empurrei o ombro dele, implicando.
— Já tentei umas três vezes te levar em casa, mas você some no
fim da aula, sua surtada!
Dei risada, pois eu realmente fazia isso. Detestava pegar o metrô
de noite e sempre corria para não perder o horário.
— Graças a Deus você chegou! — Crystal pulou da cama, vindo
me abraçar. — Em algum momento eu vou esganar o Gavin, ele não me
deixa pensar.
— Eu preciso falar para ter ideias, ou pelo menos colocar uma
música alta, e ela quer silêncio — Gavin acusou, como se ficar em silêncio
fosse um absurdo.
— Tá... Sobre o que é o trabalho afinal?
— Precisamos produzir uma música inédita de no mínimo três
minutos. A letra precisa ser totalmente original, mas a melodia pode ser
inspirada. — Ele se sentou em uma cadeira giratória, pegando um violão
azul do suporte. — Porém, a Crystal acha que deveríamos começar pela
letra.
— Eu não tenho o menor talento para escrever, sério, posso criar
uma batida se quiserem, e até canto e danço se for extremamente
necessário, mas letra não é comigo.
Olhei distraída ao redor do quarto enorme, vendo uma bateria no
canto sobre um tapete felpudo, havia uma guitarra e um teclado próximos
também.
— Você toca isso tudo mesmo? — Questionei, olhando
impressionada para Gav, que agora dedilhava algumas notas em seu violão.
— Tudo não. Bateria, guitarra, violão, contrabaixo e piano.
— Uau!
— Gosto de todos, mas não sou realmente bom em nenhum deles.
— Meu amigo deu de ombros, se desmerecendo.
— Vai começar... — Crystal se afastou, voltando para se jogar na
cama.
— Por que diz isso? — Sentei-me ao lado dela, de frente para ele,
observando-o com atenção.
— Sempre que eu conseguia aprender a tocar algum, surgia o
interesse em outro. Nunca parei para me dedicar a nada direito.
— É uma forma meio negativa de pensar.
Gavin deu de ombros outra vez, mostrando que não tinha interesse
em continuar o assunto e eu apenas ignorei, sem entender muito bem o que
estava acontecendo com ele.
— Eu tenho algumas letras escritas — falei devagar, atraindo a
atenção deles para mim.
Nunca mostrei a ninguém nenhuma das minhas composições, nem
nada do que eu escrevia, no entanto, talvez pudéssemos usar e fingir que era
uma música nossa em vez de apenas minha.

Saí da casa de Gavin no fim da tarde depois que conseguimos


concluir nosso projeto. Não tive coragem de ouvir, pois nunca escutei
minha voz gravada, com instrumentos no fundo e sistema de som. Tive
medo de que estivesse um desastre.
Eu gostava de cantar, mas começava a tremer ao fazer isso na
frente de qualquer pessoa, e foi o que aconteceu a tarde inteira. No fim,
mesmo os meninos elogiando e dizendo que nosso trabalho seria o melhor,
temi escutar e descobrir que eu não era tão boa quanto achei que fosse.
Quando entrei no apartamento de Mason, o encontrei sentado no
sofá com uma lata de refrigerante na mão e terminando de comer uma fatia
de pizza. Na TV passava um jogo de futebol, e o anjinho tinha os olhos
grudados lá, mas o que me surpreendeu mesmo foi vê-lo apenas de cueca, à
vontade. Comecei a me sentir um pouco culpada por tirar parte de sua
privacidade, pois provavelmente só estava assim porque passei a tarde fora
de casa.
— Ei! — Ele finalmente me notou. — Como foi com seus amigos?
Tínhamos trocado mensagens no meio da tarde, quando me
perguntou aonde eu tinha ido. Ainda era estranho lidar com sua
preocupação, já que mal nos falávamos normalmente, a não ser que fosse
para trocar farpas um com o outro.
— Foi legal, a música ficou pronta. — Espiei Baunilha na gaiola,
pensando em soltá-lo um pouco como fiz essa manhã enquanto me
arrumava para sair, mas ele dormia de forma tranquila.
— Você quem cantou? — Mason parecia realmente interessado,
me acompanhando com o olhar até eu me sentar ao seu lado no sofá.
— Sim, deve ter ficado péssimo. — Franzi os lábios, recostando a
cabeça e olhando para o teto branco.
— Tenho certeza de que ficou incrível, diabinha.
Meu pescoço até doeu pela forma rápida como o inclinei para virar
em direção a Mason.
— Quem é você e o que fez com o Mason Rilley? — Questionei,
abismada.
— O que foi? Eu nunca falei que você cantava mal.
— Claro que não, você nunca me ouviu cantar.
Ele franziu as sobrancelhas por alguns segundos e apenas negou
com a cabeça, preferindo não responder. Olhei para a TV, não entendendo
nada do que acontecia durante a partida, mas era melhor dessa forma do que
ter que lidar com o Mason bonzinho. Até agora eu tinha visto várias versões
dele, sabia lidar com a maioria, incluindo a versão safada, porém, o Mason
gentil era demais para mim, não tinha ideia de como responder a isso.
— Pensei em ir ao Píer 39 e jantar por lá — comentou alguns
minutos depois, me fazendo tirar os olhos da TV para focar nele outra vez.
— Legal. Pode me trazer um hambúrguer? Eu mando a grana —
falei de maneira distraída, mas Mason começou a rir.
— Estou te chamando para ir junto, Violet.
— Aah!
— Quer ir comigo? — Mason perguntou e eu pisquei algumas
vezes, ainda olhando-o, mas sem saber o que dizer.
— Espera aí... — Ergui um dedo, enquanto juntava a enxurrada de
informações que vieram à minha mente. — Está me chamando para sair?
Nós dois? — Movi meu indicador, apontando entre mim e ele.
— Vamos precisar nos alimentar em algum momento e estamos
apenas nós dois presos dentro desse apartamento minúsculo, então sim,
estou te chamando para ir comer alguma coisa.
— Isso não é estranho pra você? — Arregalei os olhos, virando
meu corpo em sua direção.
— Claro que não, eu costumo fazer três refeições ao dia, fora os
lanches.
— Não estou falando disso, idiota! — Abanei a mão, começando a
ficar meio nervosa.
— Eu sei, mas não consigo entender por que está tão surpresa.
— Porque você está sendo legal.
Mason suspirou, fechando a expressão e desviando os olhos dos
meus.
— Não acha que está na hora de dar uma pausa nessa loucura? Eu
não sou esse cara escroto e perverso que você criou na sua cabeça, Violet.
— A frase veio em tom de repreensão, o que me irritou instantaneamente.
— Nem eu sou a garota fútil e mimada que você criou na sua.
— Sim, agora eu sei. — Mason voltou a me olhar com a expressão
mais tranquila.
Ficamos nos encarando por vários segundos. Esperei por negação
ou insultos, mas novamente não soube o que responder.
Mason franziu o cenho e cerrou as pálpebras antes de dizer:
— Já notou que nós dois só mostramos nosso pior um para o
outro?
— Seu pior era só isso? — Estiquei os lábios, sem conseguir
segurar a expressão convencida quando seus olhos semicerraram ainda
mais.
— Estou falando sério, Violet. Por que não podemos agir como
dois adultos?
— Não sei — Dei de ombros, realmente sem saber como responder
—, sempre achei que sua pose de bom moço fosse uma farsa...
Parei para refletir sem completar minha última frase. Mesmo que
eu tenha dito minha opinião em voz alta, os três últimos dias com ele não
tinham sido ruins, muito pelo contrário.
— Eu nunca disse que era um bom moço, mas também não sou tão
horrível assim. A verdade é que você me tira do sério.
— Hum... — Murmurei, meneando a cabeça devagar. — Vamos
fingir que não foi você quem começou, sabe..., melhor preservar um pouco
da nossa paz recém-adquirida.
— Acho bom. — Ele riu, fazendo com que um clima leve se
instalasse entre nós dois.
Capítulo 23 — Mason Rilley

Regra nº 10: Não a leve para um passeio


extremamente romântico e depois dê orgasmos de
tirar o fôlego a ela dentro do seu carro.

Desliguei o motor do carro assim que estacionei na vaga e tirei


meu cinto de segurança, sendo seguido por Violet.
Ela tinha tomado banho antes de sair e agora usava um vestido de
verão lilás, com uma jaqueta branca por cima. Seus cabelos estavam soltos,
emoldurando o rosto fino e dando ainda mais vida as írises da mesma cor.
Eu precisava tirar os olhos dela.
Inclusive, era por esse motivo que estávamos aqui: lugares
públicos significavam precisar manter a decência, ou ser preso por atentado
ao pudor. Era uma decisão racional. Trancados em meu apartamento,
corríamos muito mais riscos de acabarmos pelados do que aqui, em meio a
várias pessoas. Meu estado era tão decadente que eu sentia medo de olhá-la
por mais de trinta segundos, pois mais do que isso começava a me excitar.
Ela me desestabilizava por completo.
Saltamos do veículo e nos encontramos em frente a ele, os dois
ainda sem jeito. Ontem eu tinha meu rosto enfiado em sua boceta enquanto
ela gemia meu nome, no entanto, hoje parecíamos dois estranhos que se
conheceram por acaso no píer.
— Quer andar um pouco por aí antes de escolher o que comer? —
perguntei, olhando com interesse para a cena dela tentando domar seu
cabelo que voava em todas as direções por conta do vento forte.
— Pode ser — ela concordou antes de passar os olhos ao nosso
redor de maneira rápida. — Nunca estive aqui.
— Imaginei. — Acenei devagar, me inclinando para segurar sua
mão.
Mesmo parecendo chocada, ela aceitou meu toque e andou ao meu
lado conforme eu mostrava o lugar. Era impossível tirar a atenção das
expressões que fazia enquanto se distraia com os artistas de rua, as crianças
correndo e as luzes acendendo naquele horário. Parecia maravilhada com
tudo.
Quando chegamos à extremidade do píer, próximo à Marina,
mostrei para ela a Ilha de Alcatraz e os leões marinhos.
— Eu levaria um pra casa — Violet comentou quando os bichos se
agitaram em cima das tábuas de madeira flutuantes.
— Você gosta mesmo de animais esquisitos, não é?
— Ei, esquisito é você! — Ela teria me acertado com o cotovelo se
eu não tivesse dado um passo para trás.
Me aproximei outra vez, sorrindo e a cercando entre meus braços
quando segurei outra vez no parapeito de madeira. Tentava manter uma
distância segura, para continuar com minha mente funcionando
adequadamente. E ela ficou lá, olhando atenta para os movimentos dos
leões, que vez ou outra pulavam na água.
— Já volto, não sai daí — falei, me afastando um pouco para
comprar sorvete na lojinha que tinha por perto. Não sei por que, mas fiquei
de olho nela de longe enquanto esperava na fila para pagar a casquinha.
Quando voltei, ela fez um biquinho fofo fitando o sorvete em
minha mão.
— Eu também queria um, onde tem? — A diabinha começou a
procurar atrás de mim.
— Esse é nosso. — Ela me olhou outra vez no momento em que
ergui o sorvete próximo ao meu rosto, passando a língua devagar.
Sua respiração saiu compassada e densa à medida que seu olhar
congelava em minha boca e língua. Tomar sorvete não devia ser um
movimento sensual, mas acabou se tornando bem mais do que isso assim
que entreguei a casquinha em sua mão e ela lambeu um pouco também, sem
tirar os olhos dos meus.
Estava louco para beijá-la, tinha certeza de que o sabor doce do
sorvete e a temperatura gelada deixariam tudo melhor, porém, não tinha
certeza se conseguiria manter meu pau fora da brincadeira. Agora mesmo,
só lambendo uma casquinha de sorvete, ela parecia uma tentação.
— Você está fazendo aquela expressão de novo — acusei, tomando
o doce da sua mão e tentando tomá-lo da maneira mais decente possível.
— Que expressão?
— De quem quer muito me beijar agora.
Seus lábios foram se esticando devagar, em um sorriso cheio de
más intenções. Violet era naturalmente sedutora e o desejo sempre ficava
bem evidente em sua fisionomia, tornando a diabinha ainda mais sensual.
— É porque eu quero.
Minha própria respiração pesou ao passo que eu tentava pensar em
formas de não ficar de pau duro no meio da rua caso resolvesse beijá-la, não
encontrando nenhuma.
Voltei a chupar o sorvete e dei o restante em sua mão, desviando o
olhar quando sua língua deu voltas ao redor da guloseima. Minha mente se
encheu de imagens sórdidas dela fazendo o mesmo com a cabeça do meu
pau.
Caralho!
O sangue fluiu mais rápido para o lugar que não deveria, me
obrigando a me afastar um pouco, contudo, nem podia me virar, ou todos
veriam o meio volume que eu tinha dentro da calça. Esse impulso sexual
eufórico e fora de hora não podia ser comum. Não era possível! Uma
simples atração sexual por alguém não fazia o corpo vibrar dessa forma
com apenas um movimento ou um olhar. Pelo menos, não deveria.
A levei para um restaurante que servia os melhores tacos do píer, e
nos sentamos lado a lado para comer.
— Por que quis fazer música? — Perguntei interessado,
aproveitando que a conversa entre nós dois estava fluindo de maneira mais
leve.
— Há um tempo eu quis muito cursar teatro, mas depois percebi
que era por conta do palco. Sempre me imaginei sendo cantora. Isso nem
soaria tão ridículo se eu não tivesse vergonha de cantar na frente de
qualquer pessoa.
Acabei me lembrando dela dizendo mais cedo que eu nunca a ouvi
cantar, sendo que ela vivia cantarolando pela casa e às vezes até me
acordava enquanto cantava algo. Talvez Violet nem percebesse que o fazia,
como se cantar fosse tão natural quanto respirar.
Analisei sua fala por um segundo, pensando no que dizer.
— Sabe... sempre gostei de desenhar, mas eram artes tão
geométricas e abstratas que nem mesmo eu entendia o que eram, mas meu
pai dizia que um dia eu seria um grande arquiteto. Ele olhava meus
desenhos e dizia: “Olha só, isso é o futuro!”. — Acabei sorrindo ao lembrar
do meu pai, que agora era uma memória tão distante, mas que ainda
marcava uma parte da mim. — Há uns dois anos, quando voltei a San
Diego, encontrei alguns desses desenhos em meu antigo quarto e eram
horríveis. — Dei risada, pegando meu celular para mostrar as fotos que eu
tirei.
Havia imagens de todos os tipos, linhas retas perfeitamente
colocadas e círculos tortos, casas inclinadas para o lado e móveis que
nenhum marceneiro jamais ousaria reproduzir.
— Mas você era criança, não tinha como serem perfeitos. — Ela
riu comigo enquanto eu passava pelas imagens.
— Sim, eu sei — falei, parando na imagem da casa de Lukas e
Megan, que converti em uma versão 3D na noite passada para observar
melhor. — Porém, hoje em dia eu consigo fazer isso aqui.
— Que casa linda! — Violet aproximou os detalhes, passando
pelas janelas panorâmicas, até a piscina gigantesca que havia no quintal.
Não contei de quem era a casa, pois Lukas ainda estava guardando
segredo, mas ela observou cada detalhe e até me elogiou, o que eu não
esperava.
— Só estou querendo te mostrar que todo mundo começa de algum
lugar, seja desenhando objetos não identificados ou criando uma música
para um trabalho da faculdade. O importante é acreditar em você.
— O mais difícil é acreditar, Mason — ela replicou, tirando os
olhos da tela para focar em mim.
— Só quando você precisa que as pessoas acreditem primeiro —
disse, traçando uma linha com meu indicador, por sua mão que estava
aberta sobre a mesa, isso pareceu distraí-la por um instante, mas eu
continuei: — Quando você sabe o que quer, o mundo inteiro pode ir contra
os seus sonhos, mas você segue em frente, persevera e realiza.
— Isso foi bem profundo. — A diabinha abriu um sorriso sincero,
acenando devagar com a cabeça.
— Você ainda não viu o quão profundo eu posso ir... — Tomei um
gole da minha Coca-Cola segurando a gargalhada, mas Violet não teve o
mesmo controle.
— Como passamos de palavras de motivação para piadinhas com
duplo sentido?
— Sou muito flexível também — brinquei outra vez, piscando um
dos olhos em sua direção.

Voltamos para o carro caminhando devagar enquanto Violet


mordiscava um algodão doce gigante em formato de flor. Ela olhou demais
para o doce quando passamos por uma barraquinha, então resolvi comprar
para ela, e seus olhos brilharam como se fosse uma criança que acabou de
ganhar seu doce favorito.
Aquilo fez meu coração bater estranhamente mais rápido.
— Tem certeza de que não quer? — Ela perguntou quando
chegamos ao estacionamento do outro lado da rua.
— Tenho. — Estiquei os lábios em um sorriso pequeno, deixando
que ela andasse um pouco mais à minha frente para que eu pudesse
observá-la melhor.
Chegamos em meu carro e Violet deu a volta para abrir a porta do
passageiro, mas eu a segui, destravando o veículo apenas quando fiquei ao
seu lado. Em vez de abrir para ela, encostei seu corpo na porta cobrindo-o
com o meu.
— Ainda quer me beijar, princesinha?
Inclinei o pescoço para baixo, deixando nossos rostos alinhados na
melhor posição que consegui, contudo, em vez de beijá-la diretamente,
esfreguei meu nariz em seu pescoço, vendo sua pele arrepiar. A diabinha
tinha um cheiro divino de limão e açúcar, o que me fez arrastar a língua por
sua pede, cheio de vontade de provar cada centímetro dela.
Violet se encolheu, gemendo baixinho em meu ouvido.
Não deu para segurar a ereção dessa vez, pois meu sangue já corria
aquecido por minhas veias e eu nem tinha começado a imaginar ainda todas
as coisas que queria fazer com ela. Recuei, buscando recuperar pelo menos
um pouco do meu equilíbrio, mas ela agarrou minha camisa com uma das
mãos, me puxando de volta para si.
Senti sua língua deslizando pela minha boca com gosto de algodão
doce e aproveitei para chupá-la com força, ouvindo Violet resmungar em
protesto. Quase sorri antes de libertá-la, mas em vez disso engoli seu
murmúrio, abrindo minha boca sobre a dela. Esmaguei seu corpo contra a
lataria do meu carro, fazendo-a sentir como meu pau estava duro por ela,
como ela me deixava louco com tão pouco.
Viramos uma confusão de mãos, bocas, lábios e gemidos
entrecortados. Não era apenas um beijo, era um beijo obsceno, cheio de
intenção sexual e promessas mudas. Por sorte, o estacionamento estava
vazio e mal iluminado, ainda assim, quem passasse por ali ganharia um
show gratuito.
Desci os lábios pelo seu queixo, chupando-o também e me
deliciando com o arfar alto que escapou pelos seus lábios. Contornei sua
mandíbula, deixando um rastro molhado até chegar em seu ouvido,
raspando os dentes ali antes de chupar seu lóbulo.
— Mason! — chamou manhosa, se debatendo contra mim.
Era loucura! Aquele calor inteiro que me consumia misturado ao
tesão dolorido já havia ultrapassado os limites racionais. Era pura
insanidade.
Segurei em sua cintura e nos afastei da porta, puxando a maçaneta
para abri-la. Pulei no banco do carona e a puxei para mim. Violet encaixou
suas penas uma em cada lado do meu corpo como conseguiu, por conta do
espaço limitado, e eu fechei a porta, nos isolando.
— Eu quero tanto você que dói — falei entredentes, segurando
firme sua nuca antes de assaltar seus lábios mais uma vez com força.
Ela tirava meu controle com tanta facilidade que me dava medo.
Nunca fui esse cara descontrolado, agindo por pura emoção e tesão, prestes
a gozar na cueca por conta de uns amassos no carro. Porém, mesmo que eu
estivesse me sentindo como a porra de um adolescente punheteiro, aquele
ainda era o amasso mais gostoso que já dei em minha vida.
Segurei sua nuca e quadril, ajudando-a a se esfregar em mim como
ela já tentava fazer. Mal dava tempo de respirar, muito menos pensar.
— Mais... — Violet descolou a boca da minha para dizer. — Está
latejando, Mason... — Choramingou, colocando a cabeça em meu ombro de
modo que seus lábios ficaram bem próximos ao meu pescoço.
Meu coração batia tão forte que parecia que eu havia acabado de
correr dez quilômetros em alta velocidade, sem pausas. Precisava tanto de
um alívio. Mas vê-la se contorcendo no meu colo era ainda mais prazeroso.
Subi uma das mãos por sua perna, encontrando o caminho até sua
calcinha empapada. Porra... ela ia me matar em algum momento. Alisei um
pouco sua bocetinha por cima do tecido, ouvindo Violet urrar bem próximo
ao meu ouvido. Seus lábios abertos sobre o meu pescoço causavam uma
série de arrepios pelo meu corpo. Era eu quem estava quase a ponto de me
contorcer.
Afastei o elástico, sentindo o contato direto dos meus dedos com
sua vulva encharcada. Tirei a mão que estava em sua nuca e segurei firme
em sua cintura para mantê-la parada e enfiei a pontinha do meu dedo em
sua entrada. Ela estava relaxada e molhada demais, por isso meu dedo foi
invadindo-a sem resistência enquanto Violet ainda gemia de maneira
desesperada.
Quando tudo entrou, a safada agitou ainda mais o quadril, como se
cavalgasse em meu dedo, perseguindo o êxtase.
— É gostoso assim? — Perguntei, com o tom de voz rouco e
abafado.
— Sim, eu quero mais!
Beijei seu ombro nu conforme sentia seu corpo se esfregando no
meu e a diaba se desfazendo em êxtase em cima do meu colo.
— Imagina você assim, cavalgando no meu pau em vez dos meus
dedos. — Foi a minha vez de gemer quando sua boceta contraiu em volta
do meu dedo. — Você vai pedir mais, diabinha, vai sentar tão gostoso que
mal sentirá suas pernas no dia seguinte.
O gritinho dela reverberou pelo interior do carro quando Violet se
contorceu, gozando em minha mão.
Mesmo que meu pau estivesse dolorosamente duro, um sentimento
de pura satisfação encheu meu peito, fazendo com que um pouco do tesão
fosse dissipado naquele momento. Ela se acalmou, ainda com a respiração
agitada e as pernas trêmulas, mas seu corpo caiu como gelatina em cima do
meu.
Fiquei quieto por minutos, de olhos fechado e cabeça apoiada no
encosto do banco. Meu pau ainda latejava e, sinceramente, eu daria tudo
para me enfiar dentro dela agora, mas não seria aqui dentro do meu carro.
Violet precisava de conforto e tempo para se sentir totalmente à vontade.
Achei que tivesse dormido, até sentir o beijo sutil em meu pescoço.
Voltei a respirar pesado e escorreguei com o dedo para fora dela devagar.
— Vamos para casa? — Falei baixinho e acendi a luz do painel e
do teto para vê-la melhor.
Suas bochechas tinham um tom rosado, o que a deixava ainda mais
linda, e seus lábios emolduravam um sorriso satisfeito.
— Vai me dar mais disso quando chegarmos lá?
— Pode apostar que sim. — Me aproximei para deixar um selinho
em sua boca antes de colocar sua calcinha no lugar e pular para o banco do
motorista.
Nunca estive tão ansioso parar ter alguém em minha cama.
Capítulo 24 — Violet West

Querido diário, de todas as opções possíveis no


mundo, jamais achei que Mason seria o cara com
quem eu transaria pela primeira vez, também não
imaginei que seria tão gentil e paciente. Ele foi
perfeito!

Assim que entramos no apartamento Mason me pegou no colo, me


obrigando a passar as pernas ao redor de sua cintura.
Ele não parou de me tocar desde que saímos do píer. Aprendi a
dirigir com as duas mãos, mas Mason dirigia incrivelmente bem com
apenas uma delas enquanto a outra subia e descia por minha coxa, me
causando arrepios e não me deixando esquecer o que havia acontecido
minutos atrás naquele estacionamento.
Penetração para mim se tornou motivo de apreensão desde a minha
primeira experiência, mas Mason fez tudo parecer tão gostoso que consegui
acreditar que o segredo era apenas relaxar e deixar fluir. E era exatamente
isso que eu fazia agora à medida que seus lábios consumiam os meus
daquela maneira que apenas ele conseguia.
Me deixei levar pela sensação das suas mãos passeando pelo meu
corpo e quando menos esperei estávamos caindo em sua cama. Fiquei por
cima dele, arrastando lentamente meu quadril sobre sua pélvis ao passo que
meus lábios tentavam acompanhar o ritmo dos seus.
Mason se recostou na cabeceira e puxou meu vestido, tirando-o por
cima da minha cabeça. Tirei sua camiseta também, passando as pontas dos
dedos pelo peitoral definido. Sua pele arrepiou inteira quando meu polegar
resvalou sobre o mamilo pequeno e eu acabei rindo de sua reação.
— Escuta... — Ele chamou minha atenção, fazendo com que eu
erguesse meus olhos para fitar os seus. — Você pode ficar por cima e ir ao
seu ritmo.
Arregalei um pouco os olhos, surpresa. Tinha quase certeza de que
ia amarelar na hora de colocar o pau dele dentro de mim, por isso neguei
devagar com a cabeça, começando a ficar tensa.
— E-eu não vou conseguir. — Gaguejei, apreensiva.
— Ei — Mason falou com calma, emoldurando minha bochecha
com a mão e mantendo meu olhar no dele. — Você precisa controlar. Por
mais que eu queira muito me enfiar dentro de você, não sei qual o seu limite
e vou acabar te machucando.
— Vai doer — murmurei, ainda insegura.
— Vai doer muito mais se você se deitar e esperar pela dor, Violet.
— Ele negou com a cabeça, franzindo o cenho como se estivesse aborrecido
pela opção. — Não vai ser a melhor transa da sua vida, mas também não
precisa ser ruim.
Parei por um segundo para considerar minhas opções. Ele estava
certo em uma coisa: eu realmente esperava pela dor, como se ela fosse
inevitável.
— Não precisa ser hoje também. — Voltei a fitar seus olhos
castanhos, que pareciam tranquilos e sem pressa. — Conheço muitas
formas de te fazer gozar.
Acabei sorrindo. Ele me fez gozar de muitas maneiras diferentes
nos últimos dias, então, de fato, seu repertório era repleto de táticas.
— Tem camisinha? — Perguntei, tomando uma respiração
profunda, e Mason acenou, esticando o braço para abrir a gaveta do
aparador ao lado da cama. Ele pegou um pacote pequeno e um tubo de
lubrificante, erguendo-o no meio de nós dois.
— Você sabe colocar? — Ele franziu os lábios, parecia zombar de
mim.
— Muito engraçadinho! — Empurrei seu ombro e depois peguei a
camisinha de sua mão, colocando-a ao lado e dizendo: — Para o caso de a
gente precisar.
— Vem aqui... — Ele me puxou para mais perto, voltando a
encaixar nossas pélvis e me beijando com mais calma.
Meu quadril passou a se mover sobre o dele e eu senti seu membro
endurecendo ainda mais embaixo de mim enquanto meus seios roçavam no
peitoral dele. O tesão começava a se reconstruir, ainda mais intenso do que
antes. Era sempre surpreendente a forma como ele voltava cada vez mais
avassalador. Meu corpo inteiro tremeu e arrepiou quando Mason deixou
minha boca e se inclinou para chupar meu seio conforme sua mão
massageava o outro.
Joguei minha cabeça para trás, tirando uma das mãos de seu ombro
para apertar sua cabeça contra mim. Os gemidos saíam de maneira muito
espontânea da minha garganta à medida que eu sentia o latejar potente em
meu interior.
Fodam-se as dúvidas... Eu precisava tanto senti-lo que pulei para
trás, vendo seu olhar surpreso quando me afastei, no entanto, assim que
encaixei os dedos na lateral da calcinha, Mason entendeu o que eu queria e
começou a tirar as próprias calças, fazendo com que o seu membro saltasse
livre até repousar na parte baixa de sua barriga.
Quando voltei para cima dele, enrolei meus dedos em seus cabelos,
roçando minha vulva em seu comprimento. Olhei para baixo, vendo apenas
a glande do lado de fora, enquanto sentia a textura quente e macia do seu
pau sob mim.
Mason apertou meu quadril, segurando a respiração e me
impulsionando a friccionar nossos sexos.
— Isso! — À medida que minha boceta deslizava em cima de seu
membro, ele soprava com força, entretanto, eu queria mais, só esfregar não
parecia suficiente.
Peguei a camisinha do lado e saí de cima dele, rasgando o pacote
com meus dentes e depois levando a esfera de látex para perto de sua
glande. Meus dedos tremiam um pouco enquanto eu deslizava a camisinha
por seu comprimento. Quando ele estava totalmente coberto, suspirei outra
vez, nervosa.
Mason parecia muito calmo em sua posição meio sentado e meio
deitado, com o início das costas apoiados na cabeceira. Ele esticou o braço,
pegando o tubo de lubrificante e despejando um pouco em sua mão antes de
passá-lo em volta de seu membro.
— Não precisa ficar com medo — falou, assim que me puxou para
mais perto, passando a mão livre pelo meu rosto para afastar alguns fios de
cabelo ali. — É você quem está no comando, se não for bom e quiser parar,
vou entender.
Balancei a cabeça de um lado para o outro devagar e me aproximei
de seus lábios, beijando-o sem pressa. Suas mãos foram passeando pelo
meu corpo explorando tudo e causando uma onda de choques por onde
tocava.
Senti o gel gelado se misturando à minha lubrificação quente
quando me esfreguei nele mais uma vez antes de me erguer um pouco para
encaixar sua glande em minha entrada. Mason gemeu, cravando os dedos na
carne da minha cintura e semicerrando os olhos.
— Devagar — ele sussurrou e eu rodeei o quadril, sentindo-o me
alargar um pouco, porém, de uma maneira gostosa.
Fui descendo devagar, esperando minha boceta se acostumar com
seu tamanho e até senti uma ardência incômoda, mas só conseguia focar em
seus suspiros entrecortados, em seus lábios separados de uma maneira sexy
e em seu olhar vidrado no meu.
— Acho que não cabe tudo — falei, puxando a respiração de
maneira rápida.
Me sentia muito preenchida e algo ainda ardia lá dentro, me
impedindo de continuar.
— Tá tudo bem... — Mason beijou meu rosto e depois a minha
boca com carinho, capturando meus lábios entre os seus.
Me perdi em seu beijo, na sensação de suas mãos em volta de mim
e me soltei, finalmente tendo coragem para me mover, subindo e descendo
devagar sobre ele.
Mason rosnou em minha boca encostando sua testa na minha. Ele
parecia se segurar, mas eu não sentia mais ardência, só curiosidade e tesão.
E quase sem perceber, me encaixei nele por completo, sentindo minha vulva
encostar em seu púbis.
— Caralho, essa é a sensação mais gostosa que já experimentei. —
Sorri, mesmo achando que ele só estava dizendo aquilo por conta do
momento. — Sua bocetinha está me esmagando, Violet.
O corpo de Mason vibrou embaixo de mim, me incentivando a me
mover mais enquanto o orgasmo se construía de maneira lenta. Ele não
tirava os olhos de onde nossos corpos se uniam; e quando ele moveu a mão
para lá, arrastando devagar os dedos pelo meu clitóris, me perdi totalmente,
sem saber mais onde eu começava ou ele terminava.
Só sei que, no momento em que meu ápice explodiu, Mason veio
junto comigo, soltando gemidos roucos enquanto me segurava firme contra
seu corpo suado.

Acordei pela manhã com o barulho do meu celular despertando e


os braços de Mason me apertando firmes contra seu corpo. Diferente de
como fez nos outros dias, ontem à noite depois que nos limpamos no
chuveiro, ele não ficou em seu escritório e sim comigo, na cama.
Não lembro em que momento da nossa conversa eu acabei
dormindo, porém, hoje ele continuava aqui.
Estiquei o braço e desliguei o despertador antes de sair de seu
aperto para me levantar.
— Aonde está indo? — ele questionou com a voz rouca pelo sono.
— Pra faculdade, esqueceu?
— Posso te levar, deixa só eu tomar um café antes. — Mason
bocejou, mas esticou os músculos antes de se sentar também.
— Não precisa, Gavin vai passar aqui para me buscar.
Ele piscou algumas vezes enquanto me olhava pensativo, mas por
fim acenou devagar com a cabeça.
Mason saiu para a cozinha e eu fiquei me arrumando no closet.
Conferi minha mochila e saí para trocar a água e ração de Baunilha, que
estava acordado.
— Nossa, achei que você fosse dormir pra sempre, seu preguiçoso.
— Tirei meu furão de dentro da gaiola e fui até a cozinha com ele embaixo
do meu braço e os potes na outra mão.
O coloquei em cima da bancada onde Mason estava com os
cotovelos apoiados segurando uma xícara de café.
— Tem café pra você, diabinha — disse, se esquivando quando
meu bichinho tentou tocar sua caneca. — Não falei de você, terrorista.
Sorri, negando com a cabeça. Ele implicava com Baunilha, mas
também o soltou quando o viu acordado e sozinho. Não dava para entendê-
lo.
Organizei a água e a ração na gaiola, triste por ter que deixá-lo
trancado para não causar nenhuma catástrofe. Antes de sair, ergui Baunilha
na altura do meu rosto falando:
— Quando eu voltar, nós vamos passear — avisei, abraçando-o
antes de devolvê-lo para o seu lugarzinho.
No dia em que eu tivesse minha casa, Baunilha teria um quarto só
dele com um playground, onde poderá deitar e rolar, sem precisar viver
dentro de uma gaiola. Era uma gaiola de três andares que ocupava um
pedaço da sala de Mason, ainda assim, era uma gaiola.
Meu telefone vibrou no bolso do jeans e eu vi o nome de Gavin na
tela.
— Já vou descer — avisei ao atender e me apressei, apanhando
minhas coisas espalhadas. — Então, até mais tarde — falei para um Mason
que me observava atentamente enquanto bebericava seu café na xícara.
— Boa aula — ele desejou antes que eu batesse a porta, e tive a
impressão de que iria vir até mim, mas gritei um “obrigada” antes de sair
correndo para fora.
Capítulo 25 — Violet West

Querido diário, se eu soubesse o quanto sexo podia


ser gostoso, já teria feito. Na verdade, se Mason
não fosse tão idiota antes, eu teria dado pra ele há
muito tempo. Mas, agora podia compensar todo
tempo que perdi e já me considerava uma grande
safada.

A semana passou voando, e preciso dizer que foram os dias mais


esquisitos da minha vida. Mason e eu não brigamos uma vez sequer, o que
parecia ser impossível há uma semana. Eu saía todos os dias pela manhã e
quando ele não estava tomando café de pé na bancada, se sentava no sofá
com as pernas cruzadas e olhos fechados.
Ontem até perguntei o que estava fazendo quieto, e Mason
respondeu de uma maneira muito calma:
— Me deixa meditar em paz, diabinha.
Quase gargalhei, mas como faltava pouquíssimo tempo para Gavin
chegar, tratei de voltar a me organizar. Por falar nele, meu amigo agora me
dava carona todas as manhãs e nos encontrávamos com Crystal antes da
primeira aula.
Naquele dia, Crys, Gav e eu recebemos a nota e o feedback do
nosso trabalho de produção musical. Eufórica nem chegava perto do que
senti ao descobrir que fomos o único grupo a ganhar nota máxima, além de
recebermos o elogio pela música mais original.
— Nós dois avisamos que ficou incrível. — Crystal empurrou meu
ombro com o seu enquanto caminhávamos lado a lado para a saída. —
Acho que deveríamos sair para comemorar.
Franzi o cenho, porém, havia um sorriso enorme estampado em
meus lábios.
— Está andando demais com o Gavin, Crys — zombei e vi minha
amiga desviar o olhar.
Ainda não tive a oportunidade de conversar com ela sobre minhas
suspeitas e pela maneira como ela ficava, era melhor esperar o assunto
surgir naturalmente em vez de forçar a barra.
— Por falar nele, cadê a criatura? — Questionei, pois Gav havia
sumido desde que saímos da aula.
— Foi entregar um pen drive na rádio Berkeley.
— As pessoas ainda ouvem rádio?
— Sim, os caminhoneiros e idosos. — Dei risada do que ela disse,
mesmo que não tivesse sido em tom de piada. — Mas as músicas que
ouvimos na cantina ou pelos corredores no intervalo são selecionadas pela
galera de lá.
— Saquei. — Balancei a cabeça devagar e me encostei na lataria
do carro de Gav, quando Crystal e eu chegamos ali. — Estou tão feliz pela
nossa nota. Arrasamos muito!
— Sim, mas você deveria ter assinado a música como sua, Vi. Tem
noção do quanto ficou boa?
Franzi os lábios, fitando os olhos arregalados da minha amiga.
Ainda não tinha coragem de ouvir e talvez não tivesse algum dia, mas deve
mesmo estar bom, já que tiramos uma boa nota.
Não demorou até Gavin surgir correndo. Nos despedimos de
Crystal e pegamos o caminho para casa.
Quando entrei no apartamento, a primeira coisa que vi foi Baunilha
pulando pela sala enquanto Mason tinha a atenção na tela do notebook que
estava em cima da bancada da cozinha. Olhei curiosa de um para o outro,
me perguntando qual era o mistério dessa relação de cão e gato que tinham.
Já que Mason o chamava de terrorista e ele não perdia a oportunidade de
roubar as meias dos tênis de Mason que ficavam sempre perto da porta.
Inclusive agora havia uma pilha de meias brancas e cinzas ao lado de sua
gaiola, e os sapatos, que viviam organizados, estavam todos revirados e
misturados.
— Você soltou o Baunilha? — Perguntei, dividida entre choque e
incredulidade.
— Seu pequeno terrorista estava quase colocando a própria gaiola
abaixo — disse, erguendo os olhos para mim.
— Ele está recolhendo suas meias outra vez — avisei, apontando
para a pequena pilha no chão.
Mason suspirou de maneira dramática e depois falou:
— É, eu percebi.
Larguei minha mochila no sofá e olhei para onde meu furão agora
estava, subindo e descendo de duas latas enormes de tinta.
— O que é aquilo? — Perguntei enquanto caminhava para a
cozinha, a fim de pegar um copo com água antes de tomar um banho.
— É uma tinta que compraram da cor errada. É lilás, inclusive. Se
quiser usar depois para pintar seu quarto, é toda sua... — falou, me
interceptando no caminho e inclinando-se para deixar um selinho em meus
lábios.
Mas, logo agarrou minha cintura, me puxando para um beijo de
verdade, molhado e descontrolado.
Quando me soltou, eu já estava ofegante e com tesão, desejando
mais. Transamos todas as noites depois da minha primeira vez e, se fui
virgem algum dia, nem me lembro mais.
— Se eu não tivesse tanto trabalho para dar conta, te foderia agora
até você não aguentar mais — ele murmurou, com os lábios roçando em
minha bochecha.
— Preciso estar na boate em uma hora, anjinho, então nem se você
estivesse livre iria conseguir me arrastar até a sua cama. — Sorri,
provocando.
— Ah, é? — Mason me puxou para si mais uma vez, tomando
meus lábios e enrolando sua língua com a minha.
Suas mãos vieram parar em minha bunda, apertando com força.
Gemi, entorpecida pelo tesão que começava a me dominar e logo seus
lábios vieram parar em meu pescoço, chupando e sugando. Quando achei
que elevaria a brincadeira, Mason me soltou, respirando tão pesado quanto
eu.
— Eu tenho vinte minutos antes de estar realmente atrasada —
falei ofegante e ele riu alto.
— Quando você chegar, vamos ter o restante da noite inteira para
brincar, diabinha. — Mason era ótimo em cumprir suas promessas
indecentes, então eu apenas acenei, deixando que voltasse a se concentrar
em seu trabalho.

Mason:

Não consegui ir para a boate cedo naquele dia. Desde que Violet
começou a trabalhar lá, eu aparecia mais cedo e ficava até o fim do
expediente, mas meu trabalho estava um verdadeiro caos.
Para começar, minha reunião para apresentar um projeto que
deveria ser entregue só na semana que vem precisou ser adiantada para
sábado. Amanhã, além de ser outro dia de Fantasy Party, eu precisava ir
falar com o empreiteiro responsável de uma das obras, pois uma das tintas
foi enviada na cor errada e o proprietário do lugar me ligou avisando que
sua parede agora tinha um tom lilás belíssimo contrastando com o cinza
chumbo, e eu tive que ir até lá conferir essa merda com meus próprios
olhos. Se o dono do escritório não tivesse visto a cagada, e eu não tivesse
ido até lá interromper, o lugar inteiro ficaria lilás.
Trabalhei focado até às dez da noite. Não faltava muito para
finalizar, então eu podia deixar para colocar os detalhes finais amanhã de
madrugada. Precisava comer alguma coisa e depois queria ir buscar Violet
na boate, porém, antes mesmo de me levantar, vi a mensagem de Jeff no
nosso grupo em meio às minhas notificações.
Jeff: Parece que nossa nova bargirl é a atração principal da
boate.
Embaixo havia uma foto anexada, onde Violet sorria enquanto
servia uma bebida para um cara moreno. Eu já tinha visto ele em algum
lugar, mas não me lembrava de onde era.
Frank: É o Augusto Reese?
Jeff: Aparentemente sim. Ele tem camarote liberado, mas sequer
saiu do bar.
Lukas: Não é ele quem joga nos Chiefs?
Frank: É ele mesmo.
Jeff: Os pais dele moram aqui, até onde me lembro.
Logo depois, Jeff enviou outra foto, onde Violet gargalhava de algo
junto com o Reese.
Eu: Virou paparazzi agora, Jeff?
Enviei a mensagem, irritado por estar pensando em Violet
flertando com algum outro carinha no bar. Aquilo me incomodou pra
caralho, mas eu não podia fazer nada além de engolir.
Jeff: Chegou o mal-humorado.
Jeff: Pensei que você estaria aqui, por isso vim.
Eu: Tive alguns trabalhos para terminar, mas chego já.
Bloqueei o aparelho e o deixei em cima da bancada, indo tomar um
banho rápido antes de sair para a boate. Quando entrei pelos fundos,
encontrei Violet no corredor, saindo do depósito com uma caixa de cerveja
em mãos.
— Ei! — Ela sorriu para mim, dissipando uma parte da minha
irritação. — Achei que você só viesse mais tarde me buscar — comentou,
mas não parecia triste por me ver aqui.
— Jeff me mandou mensagem, então decidi vir. — Me inclinei e
deixei um selinho em seus lábios, pegando-a totalmente de surpresa.
— Sim, ele já passou no bar para me atormentar. — Violet revirou
os olhos, suspirando.
— O que ele fez? — Questionei, abrindo um sorriso lateral.
Jeff era um pé no saco quando queria.
— O Gus e o Gavin estão aqui — ela abriu a boca para continuar,
mas eu interrompi, perguntando:
— Gus?
— Sim, Augusto, irmão do Gav.
O Reese.
Acenei, esperando-a continuar.
— Então, Jeff passou no bar insinuando que o Gus estava dando
em cima de mim, mas não foi isso.
— Não? — Ergui as duas sobrancelhas ao perguntar.
— Ele está de olho na Cinara, se você quer saber... — Ela esticou
os lábios, me dando um sorriso pequeno.
Não sei por que, mas aquela informação me tranquilizou, então
sorri de volta.
— Quer dizer que você é a cupido agora? — Me inclinei para
beijá-la outra vez, deixando um selinho seguido do outro até aprofundar o
beijo.
Contudo, não durou muito, já que a própria diabinha me afastou.
— Mason, eu preciso trabalhar — disse apreensiva, olhando para
os dois lados do corredor. — Além do mais, alguém pode aparecer aqui.
Suspirei, concordando com a cabeça.
— Tem razão. Vou ficar por aqui até a boate fechar.
— Tudo bem. — Violet piscou para mim, antes de sair rebolando
na minha frente.
Eu estava completamente viciado nela. No beijo dela, em seu
gosto, nos gemidos que me dava quando a fazia gozar. E o pior era que eu
sequer sabia como desfazer isso.
Ao subir para a área vip, encontrei Jeff conversando com dois
advogados com quem trabalhava e me juntei a eles na mesa. De onde eu
estava, conseguia ver Violet no bar e conversar com os caras ao mesmo
tempo.
Notei que, apesar de ela dar atenção ao Reese, ele realmente estava
de olho na nossa outra bargirl. O que me incomodava mesmo eram os
outros babacas que paravam no bar, analisando minha diabinha de cima a
baixo enquanto ela estava totalmente alheia, dando conta de seu trabalho.
— Você está legal? — Jeff perguntou, depois que seus amigos
saíram para pedir drinks lá embaixo.
— Sim, a semana foi bem agitada.
— Soube que a Violet mora em seu apartamento agora.
Fiquei mudo por alguns instantes, sem saber como responder
aquilo. Achei que apenas Lukas, Megan, Violet e eu soubéssemos do que
houve na semana passada, mas o filho da mãe fofoqueiro também já tinha a
informação.
— Sim. A diaba conseguiu inundar o apartamento do Lukas,
acredita?
— Também soube que a culpa disso foi sua.
— Não foi bem minha e sim daquele animal terrorista que ela tem.
— Fui rebatendo todas as suas falas, fingindo uma irritabilidade que já nem
sentia mais.
Porém, não precisava de muito para me denunciar. Jeff era esperto
demais. Ele não era um dos melhores advogados da cidade à toa.
— Toma cuidado, Mason — alertou, depois de me analisar por
vários segundos. — Eu não acho que o Lukas vai ficar muito feliz quando
descobrir que essa sua implicância com a irmã dele é tesão reprimido.
— Não é como se ele pudesse me julgar. — Entrei na defensiva,
respondendo-o de maneira rude, e Jeff parou para escrutinar meu rosto mais
uma vez.
— Calma, cara, não estou contra você.
— Também não parece a favor.
— Só presta atenção nas suas decisões, Mason. Sério.
Apenas acenei, sem querer dar continuidade ao assunto.
Jeff foi embora perto da meia-noite e eu desci para o escritório, me
isolando lá até Violet bater na porta.
— Estamos fechando — falou, colocando apenas metade do corpo
para dentro. — Vai agora?
— Sim — respondi, desligando o computador e pegando minha
jaqueta que descansava dobrada no braço da cadeira.
Andei ao seu lado para a saída, ainda quieto, pensando sobre o que
Jeff me falou. Eu deveria mesmo considerar os riscos, calcular uma e outra
vez os motivos pelos quais eu não podia me envolver com Violet. No
entanto, eu não queria. Desde que ela veio morar aqui em San Francisco,
me sentia fora de mim, desconexo, desestabilizado. E depois que nos
entendemos, era como se tudo tivesse voltado ao normal, não tão normal, já
que a diabinha era o próprio furacão, e vez ou outra me arrastava para sua
tempestade, entretanto, eu sentia as peças dentro de mim se encaixando.
É como se ela fosse a parte que faltava e, ao mesmo tempo, a que
eu não deveria incluir de maneira alguma. Porém, eu era egoísta e canalha
demais para parar agora.
Capítulo 26 — Mason Rilley

Regra nº 11: Não ande por aí como se fosse um


maníaco, obcecado por ela. E isso não é uma
confissão, mas sim um conselho.

A boate estava sinistra no dia seguinte.


A equipe toda foi convocada para trabalhar naquela noite, pois
nossa sexta-feira 13 prometia lotação. Havia sete funcionários no bar,
incluindo Violet, que sorria para os clientes mais do que trabalhava. Algo
me dizia que a diabinha fazia aquilo de propósito, mesmo que ela fosse
naturalmente simpática. E, porra, a forma como piscava para algumas
pessoas me deixava possesso.
Então ela olhou para cima por um segundo, cerrando as pálpebras
bem na direção onde eu estava tentando conversar, mas sem conseguir,
porque aqueles sorrisos me desconcentravam, ainda mais por não serem
direcionados a mim. Eu era muito bom em arrancar xingamentos dela, às
vezes até gritos e frases malcriadas, e também tinham os gemidos, mas os
sorrisos eram raros. Eu parecia um maníaco que, em vez de trabalhar, ficava
aqui observando, rondando-a como se fosse minha para cuidar.
Mas, puta que pariu, ela também estava muito gata aquela noite.
A máscara The Purge[16] de Led descansava no topo de sua cabeça
como parte da fantasia, porém, não escondia mais o rosto bonito. O top e
minissaia pretos faziam um péssimo trabalho em cobrir seu corpo, e ela
viria apenas com aquele pedaço de pano se eu não tivesse dado a ideia de
rasgar uma camisa de botões minha e sujar de vermelho, simulando sangue.
A diabinha amou, mas ainda parecia seminua para mim.
Eu nem podia julgar os babacas que babavam nas pernas gostosas
dela... Que caralho, eu ia enlouquecer!
— Mason. — A loira em minha frente tentou chamar minha
atenção novamente.
Era uma designer de interiores com quem precisei trabalhar há
algum tempo, mas nunca tivemos outro contato além do profissional. Hoje,
pelo visto, Caitlyn achou que tivesse alguma chance. Para o meu azar, nossa
área privativa havia sido liberada novamente para clientes que comprassem
o ingresso VIP, e por mais que eu quisesse deixá-la falando sozinha, não
podia.
— Sim?
— Você parece distraído. — Ela fez um beicinho, achando que por
algum motivo que aquilo me atrairia.
Tive vontade de responder que não se tratava de distração, já que
minha atenção estava voltada para o bar da boate, no entanto, precisava ser
educado.
— Sim, hoje estamos lotados, é um péssimo dia para tentar manter
uma conversa comigo. — Tentei falar da maneira mais delicada possível,
mas era um “não estou a fim” bem óbvio.
— Ah, então será que podemos marcar alguma coisa depois? —
Perguntou e eu fitei seus olhos verdes por alguns instantes.
Era bonita, inteligente e disposta. Trabalhava em uma área muito
parecida com a minha e estava interessada em terminar a noite em minha
cama. Mas, porra, não era ela quem eu queria.
Ela não me tirava do sério, não fazia meu sangue ferver e não
despertava um ciúme descontrolado. Ela não era a Violet.
— Claro. — Sorri, fingido. — Te ligo quando tiver algum tempo
sobrando na agenda. Agora se me der licença...
Me afastei antes que ela dissesse qualquer outra coisa e desci as
escadas quase correndo. Tive um pouco de dificuldade ao passar pelas
pessoas aglomeradas na pista, mas finalmente cheguei ao bar, dando a volta
para ir para o outro lado do balcão e agarrando a diabinha pelo braço assim
que a encontrei.
— Preciso de você lá dentro um minuto — falei baixo para que só
ela ouvisse.
— Sério, agora? — Violet me olhou com as sobrancelhas franzidas
em confusão. — A sua amiguinha não precisa mais de você lá em cima? —
disse, com o sarcasmo escorrendo de sua voz.
— Sim, agora. — Assoviei, chamando a atenção de Kevin, o outro
barman, e ignorando sua última frase. — Pode terminar aqui pra ela?
— Espera... — Violet me parou, explicando a quem estava
servindo e quais pedidos ainda tinha na fila, depois me seguiu em silêncio
para fora, isso até chegarmos ao corredor administrativo, longe do barulho.
— Não consigo imaginar o que de tão urgente você quer para me
interromper no meio do trabalho, Mason.
A diabinha estava brava.
— Tenho outra função para você — falei de maneira tranquila.
Eu queria ficar à sós com ela, queria aquela visão de seu corpo
delicioso só para mim, sem precisar dividir com ninguém.
— Como assim? Eu mal consegui decorar o nome de todas as
bebidas que vocês têm, e agora quer me dar outra função?
Abri a porta e indiquei com a cabeça para que ela entrasse e logo
depois a segui, nos trancando no interior silencioso do escritório.
— Se você me trouxe aqui para transar, vou dar um chute muito
bem localizado nos seus ovos, Mason!
Ela ameaçou e eu quase pude sentir a dor de sua promessa.
— Não me dê ideias, diaba. — Dei a volta na mesa e parei em
frente ao monitor com as câmeras. — Vem aqui.
Violet me olhou ressabiada, mas caminhou devagar com os braços
cruzados na altura dos seios até parar ao meu lado.
— Preciso que fique aqui de olho nas câmeras. Qualquer confusão
ou movimento estranho, você comunica aos seguranças. — Me senti um
gênio. Aquela era a profissão mais rápida que eu tinha inventado.
— Não — ela falou, altiva.
— Como assim, “não”?
— Eu fui contratada para servir bebidas e não para ficar enfiada
dentro do escritório olhando para um monitor. Gosto de ficar no bar, de
interagir com pessoas.
— Exatamente, você foi contratada para servir bebidas, não para
flertar com os clientes.
O barulho de sua respiração ficou mais pesado ao meu lado, e
quando me inclinei para olhá-la, a diabinha estava com o rosto vermelho,
cheio de raiva.
— Não sei o que deu em você, Mason, já que há alguns instantes
estava babando nos peitos de uma loira na área vip, mas eu estou voltando
para o bar. Procure alguém pra ficar com a bunda na cadeira pelo resto da
noite, porque não serei eu.
— Acho que você não entendeu. — Soltei uma risada seca, me
erguendo para ficar cara a cara com ela. — Você não trabalha mais no bar,
sua função agora é essa, olhando as câmeras.
— Essa função nem existe aqui na CP — rebateu, cerrando as
pálpebras.
— Não existia. Agora existe e é sua.
Ergui uma sobrancelha, fitando seu olhar cortante em minha
direção. Se ela achou que me colocaria medo, estava errada. Manteria
minha decisão. Quase pude ouvir os insultos que ela me fazia em silêncio.
— Você quer que eu fique aqui? — perguntou com sarcasmo e se
sentou na cadeira atrás dela. — Então eu vou ficar. Mas não quero ter que
ver a sua cara cínica na minha frente.
— Sugiro que feche os olhos então. — Sorri, dando a volta da
mesa e me sentando na poltrona que havia do outro lado.
Eu me sentia adorável, contudo, a expressão de Violet indicava que
ela me mataria em algum momento. Estava obviamente fodido, mas
também satisfeito com a visão dela só para mim.
Fiquei o tempo inteiro olhando-a, o que nem foi tanto assim,
apenas duas horas. Ela não me dirigiu a palavra uma vez sequer, nem
quando a chamei para ir embora. Desconfiava que a diaba chutaria minha
bunda na primeira oportunidade, o que começava a me deixar preocupado.
Estacionei na garagem do prédio e Violet pulou do carro ainda sem
falar comigo. Sequer me esperou no elevador, fazendo com que eu
precisasse pegar o próximo para chegar ao meu andar. A razão começou a
me atormentar, apontando a merda que eu havia feito.
Porra!
— Violet... — chamei devagar, disposto a pedir desculpas quando
entrei em casa e a vi com um pijama nas mãos.
Em outro momento, eu provavelmente daria risada de sua
expressão enfezada, mas não parecia mais tão divertido assim irritá-la.
Ela sequer parou para me olhar antes de entrar no banheiro. Ouvi o
som da porta sendo trancada e logo depois a água do chuveiro caindo.
Quando ela saiu, vestindo um pijama de calça e camisa de mangas, eu ainda
estava preocupado.
— Violet — pronunciei seu nome mais uma vez, fazendo menção
em ir até ela, porém, a diabinha me conteve, com o braço esticado em
minha direção.
— Você não vai chegar perto de mim, seu idiota. Ah, e arrume
alguém para ficar de olho nas suas câmeras, porque eu me demito. Vou
trabalhar em um bar que você não possa ir lá abusar da sua autoridade
sendo um cuzão.
Depois de gritar as palavras da minha cara, ela se virou, batendo a
porta com força.
Me fodi.
Violet:

Nem consegui dormir de tanto ódio que eu sentia.


Aquele imbecil!
Eu gostava do meu trabalho, das pessoas que trabalhavam comigo
e do clima legal que tinha o bar. Escolhi uma fantasia incrível para a sexta-
feira 13, e ele até me ajudou a compor o look com uma camisa destruída
manchada de sangue falso. Saímos de casa em um clima muito bom e então
ele fez aquela idiotice.
Por ciúmes, talvez? Eu não sabia dizer, mas, antes de descer e me
tirar do bar, havia uma loira peituda babando em cima dele na área vip.
Fiquei irritada, claro, já que era comigo que ficava, e aquilo lá em cima se
parecia muito com um flerte nada inocente.
A boate era frequentada 80% por pessoas solteiras, a maioria ali
tinha intenção de transar no fim da noite e, pelo que eu sabia, Mason era um
desses caras que saía sempre acompanhado por uma mulher diferente.
Levantei-me antes de o sol aparecer, mas minha cabeça estava
muito agitada para simplesmente dormir. Também era estranho estar na
cama de Mason sem ele.
Peguei meu diário e fui para a sala, não o vendo em lugar nenhum
por ali. Talvez estivesse dormindo em seu escritório... eu não tinha ideia.
Me sentei em uma banqueta na cozinha e comecei a escrever o quanto
Mason era babaca, no entanto, em meio a uma frase e outra, uma ideia
surgiu e passei a olhar com um interesse diferente para as latas de tinta no
canto da sala.
Eram lilás, ele já comentara comigo isso, mas o melhor de tudo é
que tinha um pincel perto. Muito conveniente. Fui até lá, tirando o pincel de
cima para abrir a lata, vendo-a quase pela metade. Molhei as cerdas do
pincel com a tinta e o ergui, escrevendo na parede branca à minha frente
com letras garrafais a palavra: B A B A C A.
Olhei uns dez minutos para a parede com o rosto inclinado, lendo e
relendo a palavra desenhada.
Mason ia ficar uma fera!
Aquilo me fez sorrir.
Com esse pensamento, peguei uma vasilha na cozinha e coloquei
um pouco de tinta, indo até o quarto dele. Escolhi a parede que ficava bem
de frente para a sua cama e pintei ali: VIOLET WEST.
Gargalhei daquela vez, notando que até ele pintar o apartamento,
não conseguiria levar ninguém ali sem uma boa explicação para aquela
pintura. Aproveitei e coloquei umas flores em volta, para terminar de
compor o cenário, então voltei para a sala e ao lado do “babaca” coloquei
alguns tracinhos para simular o emoji de olhos cerrados: -_-.
Me sentei no sofá e fiquei lá admirando minha obra de arte por um
longo tempo, depois ignorei mais uma das mensagens do Thomas e me
perdi nas redes sociais até Mason sair do escritório bocejando e coçando os
olhos. Porém, o pior nisso tudo é que ele estava pelado.
Peladinho.
Igual a como veio ao mundo.
E o pau duro balançava à medida que andava pelo corredor.
Eu não conseguia tirar os olhos dali. Puta merda.
Mason parou no início da sala, com os olhos estreitos em mim,
mas não disse nada até eu perguntar:
— Por que diabos você está pelado?
— Fui impedido de entrar no meu quarto ontem à noite. E, caso
não tenha notado, as minhas roupas estão lá.
Eu deveria impedi-lo mais vezes de entrar no quarto se aquilo fosse
me dar a visão daquele monumento pulsando bem na minha frente.
— Se não parar de encarar o meu pau, vou enfiar ele na sua
garganta — ele ameaçou, com um olhar cortante na minha direção.
— Isso era para ser uma ameaça? — Sorri de lado, agora fitando
seu rosto.
Ele ainda não tinha visto a parede, e por um segundo comecei a me
arrepender de ter feito aquilo, até lembrar de ontem à noite e a raiva voltar
com força total.
— Vai lá pegar uma roupa no seu closet. Tem um presentinho pra
você. — Incentivei e ele me olhou confuso, dando dois passos para trás até
parar na porta do quarto.
Esperei enquanto Mason olhava para dentro do cômodo. Ele
desviou o olhar para mim e depois fitou a parede do quarto de novo, com os
olhos arregalados.
— Você não fez... — Ele andou pela sala e parou outra vez ao fitar
a parede ali. — Puta que pariu, Violet!
Comecei a gargalhar observando seu olhar desesperado. Mas o pau
continuava duro.
— Vai ter que dar um jeito de apagar essa merda — ele quase
gritou comigo e eu me levantei. Não ia discutir sentada. Já bastava ele ser
mais alto do que eu.
— Eu não vou apagar nada, isso é para você pensar duas vezes
antes de me obrigar a fazer coisas por causa... — Parei, tentando encontrar a
palavra correta. Diria que ele ficou ciúmes, mas nem sei direito o que deu
nele. — Enfim, pra parar de agir que nem um imbecil.
— Ficou maluca? — Ele usou o mesmo tom irritado que eu, se
aproximando. — Tirei você do bar porque fica flertando com os clientes, eu
avisei.
— Todo mundo flerta naquela porcaria de boate, incluindo você.
Por que só eu que sou malvista por fazer isso?
— Porque... — Ele travou, sem saber o que falar, mas seus olhos
tinham uma chama e uma intuição forte me dizia exatamente o que ele
estava pensando.
— Viu só? Nem você sabe, idiota.
— Diaba.
— Babaca.
— Mimada.
— Ordinário.
Ele foi se aproximando mais e mais, até estar com o nariz próximo
ao meu e os nossos lábios quase se tocando.
— Linda.
— Gostoso.
Espera, o que eu disse?
Nem tive tempo de corrigir a palavra ou me afastar, pois no
segundo seguinte os lábios dele estavam nos meus, de uma maneira rude e
exigente, que não me dava opção alguma a não ser retribuir.
Capítulo 27 — Mason Rilley

Regra nº 12: Jurar fidelidade unindo os dedos mindinhos?


NEM PENSAR!

Deitados no sofá, segurei firme os braços de Violet acima de sua


cabeça, cobrindo o seu corpo com o meu, à medida que retribuía o beijo
mais selvagem que já dei em alguém na minha vida.
Eu estava possesso.
Primeiro porque fui obrigado a dormir no divã vagabundo que
havia em meu escritório já que ela trancou a porta do quarto. Tudo bem, eu
tinha feito merda em obrigá-la a ficar no escritório, mas me privar de
dormir na minha cama era sacanagem. Nem uma roupa eu pude pegar
depois do banho, pois, além de se trancar, a diaba nem respondeu quando eu
bati.
O resultado disso foi algumas horas de um sono muito agitado e
desconfortável. E quando me levantei, a coisa ainda ficou pior. O mais
perturbador naquilo tudo é que eu não sabia se gritava com ela, xingava ou
a beijava. Queria fazer tudo ao mesmo tempo, mas agora só pensava em
socar toda minha raiva naquela boceta gostosa.
Soltei seus braços e agarrei seus cabelos com força, arrancando um
gemido de protesto de sua garganta.
— Vou foder essa sua boceta sem pena, diaba. — Me afastei um
segundo para ameaçar, antes de enfiar o nariz em seu pescoço.
— Eu deveria ficar com medo? — Perguntou cheia de sarcasmo,
mesmo que sua voz estivesse entrecortada pelo tesão.
Meu peito parecia querer explodir de tão rápido que meu coração
batia, e meu pau doía, de tão duro que estava.
Voltei a beijá-la, mordendo seus lábios de maneira cega à medida
que esfregava meu pau no meio de suas pernas abertas. Ela gemeu em
minha boca outra vez, tentando erguer o corpo para se esfregar ainda mais
em mim.
Me levantei, trazendo-a junto com apenas um dos braços e usando
o outro para me apoiar. Ela não era nem um pouco pesada, e ainda por cima
era pequena, o que facilitava minha locomoção. Não demorei muito para
jogá-la na cama e subir em cima dela outra vez, rosnando ao ver seu nome
pintado de roxo na parede com flores ao redor.
Filha da puta!
— Você não tem ideia do tamanho da minha raiva agora, Violet —
disse, apertando os olhos e com o rosto bem próximo ao seu. — Você vai
sentir meu pau dentro de você pelo resto da semana.
Abri os olhos ao ouvir sua risada. Por algum motivo, achei que ela
estaria com medo, mas a diaba tinha um olhar muito safado, cheio de tesão
e de expectativas.
— Faça o seu pior, Mason.
Voltei a beijá-la de forma rude, sem deixar nem tempo para que
respirasse, e enroscando meus dedos no tecido fino de seu pijama. Forcei a
costura com força, mas precisei de duas tentativas para que o tecido se
abrisse ao meio, deixando a parte superior do seu corpo exposta.
Violet mordeu meu lábio inferior com força. Eu tinha certeza de
que a marca dos seus dentes estava ali, por isso rosnei e parei por um
momento, olhando bravo para ela.
— Era o meu favorito, caramba! — Ela fitou o tecido rasgado e eu
apontei para a parede agora atrás de mim.
— Era a minha parede favorita também.
Sem deixar espaço para discussões, baixei minha cabeça,
mordendo a parte lateral de seu seio antes de enfiar quase inteiro dentro da
minha boca, sugando com força. Violet gritou, se debatendo embaixo de
mim e agarrando com força meus cabelos, forçando minha cabeça ainda
mais forte contra ela. Soltei o seio com um barulho estalado, orgulhoso da
marca do chupão que havia ficado ali e dei atenção ao mamilo, enrolando-o
com a minha língua. Seu quadril se ergueu voluntariamente, procurando
pelo meu pau para se esfregar, mas eu apenas me afastei mais, deixando-a
com vontade.
Lambi, mordi e suguei o outro seio com a mesma intensidade,
louco de tesão, mas deixando a ninfeta embaixo de mim quase sem
sanidade.
Ela gostava de sexo, procurava por mim até mais de uma vez por
dia e eu sempre estava lá, disposto e de pau duro por ela. Às vezes nem
mesmo sabia como aguentava gozar três ou quatro vezes no dia, mas, porra,
ela era gostosa demais e me levava sempre ao limite.
Desci os lábios por sua barriga enquanto ela se remexia embaixo
de mim, ansiosa por mais. Puxei a calça do pijama para baixo e enfiei o
rosto em sua boceta, lambendo tudo de uma vez. Ela já estava molhada
àquela altura, aliás, aquela gostosa sempre estava molhadinha para mim.
— Ai, Mason! — ela gemeu meu nome, daquela forma
desesperada que sempre me fazia ir além.
Encaixei minhas mãos uma em cada lado de sua bunda, erguendo
seu quadril e chupando-a como se fosse a fruta mais doce e deliciosa,
provocando seu clitóris com minha língua até sentir suas pernas tremendo
ao lado da minha cabeça.
Ela gritou, e então seu corpo se agitou em um orgasmo potente.
Não esperei seu corpo relaxar daquela vez, arreganhei suas pernas para mim
e meti nela em um impulso, sentindo a bocetinha apertar todo o meu
comprimento. Ela era apertada e molhada. Puta que pariu, aquele lugar
quente era a minha casa.
Inclinei meu corpo para cobrir o dela e aproximei meus lábios de
seu ouvido, chupando seu lóbulo antes de sussurrar com raiva:
— Filha da puta gostosa!
Violet gemeu alto, agitando o quadril embaixo de mim para que eu
fosse mais rápido, e eu meti com tudo dentro dela, sem querer parar.
— Porra, Violet! — Falei outra vez, sentindo minhas bolas
retesando, mas eu não ia gozar ainda. Tirei meu pau e a virei de costas com
apenas uma mão, em um impulso rápido. — Fica de quatro! — Mandei, e
ela não demorou a obedecer, se apoiando nos joelhos e oferecendo aquela
bunda gostosa para mim.
Soquei meu pau dentro dela outra vez, sem conseguir parar de
pensar em quantas vezes eu faria aquilo até que aquele sentimento de raiva
se dissipasse. Me inclinei um pouco, agarrando sua nuca e pressionando seu
rosto contra o colchão, buscando apoio para ir mais forte.
— Mason! — Ela chamou, manhosa, rebolando a bunda contra
mim a cada estocada funda. — Mete mais, vai!
Porra, essa mulher ainda me mataria.
Ergui seu quadril em minha direção, tirando seus joelhos do
colchão para que pudesse impulsionar contra mim enquanto metia. Seus
gritos e murmúrios entrecortados foram ficando cada vez mais altos e
insanos. O prédio inteiro já devia saber que estávamos fodendo, não tinha
como não a ouvir, mas que se foda, eu queria que o mundo inteiro soubesse
que era meu nome que saía daquela boquinha enquanto ela gozava.
— Dormi pelado na porra do meu escritório por sua causa, sabia?
— falei, entredentes, usando a raiva como combustível para não parar de
macetá-la.
— Bem-feito — ela disse, e eu aumentei o ritmo, parando só para
esfregar seu quadril contra mim enquanto meu pau permanecia enterrado
nela até o talo. — Ai! Caramba, Mason!
— É bom assim, não é, filha da puta?
Esfreguei sua boceta inteira em mim, ouvindo seus gemidos
desesperados. Naquele momento, Violet não conseguia nem pensar, eu
muito menos e quase esporrei em sua boceta quando começou a gozar, o
canal inteiro contraindo em volta de mim. Porém, uma centelha de razão me
fez lembrar que estava sem camisinha.
Tirei meu pau de dentro dela, sem querer parar para analisar a raiz
da minha falta de controle agora. Eu só precisava gozar.
Me aproximei de seu rosto e a puxei pelos cabelos, erguendo seu
rosto com a expressão arruinada para perto da minha virilha.
— Abre a boca — mandei.
Ela obedeceu, separando os lábios para mim. A safada ficava tão
obediente quando se tratava de putaria. Se a realidade fosse assim...
Enfiei meu pau em sua boca, mais devagar dessa vez. Ela se
engasgou assim que atingi seu limite, mas eu não parei, a deixei respirar e
coloquei mais fundo. Não demorou até minha glande estar tocando sua
garganta, e meu cérebro quase derretendo de tão louco que eu estava.
Me perdi totalmente quando a safada passou a lamber a cabeça do
meu pau, então eu esporrei com tudo, vendo-a se engasgar com a minha
porra à medida que o líquido escorria por seus lábios.
Que visão do caralho!
Caí ao seu lado quando a onda passou, os dois respirando com
dificuldade, como se tivéssemos acabado de correr uma maratona. Mesmo
puto, abracei seu corpo contra o meu e limpei meu gozo de sua boca com o
polegar, dando um selinho nos lábios inchados logo em seguida.
Quando me afastei, Violet tinha o cenho franzido e um olhar
confuso em minha direção.
— Achei que você estivesse bravo.
— Eu estou — respondi.
— Sério? Vou tentar te deixar bravo mais vezes. — Ela riu e eu a
olhei com as pálpebras cerradas.
— Posso te foder assim a hora que eu quiser, diaba. Só estava
pegando leve porque você era virgem até um dia desses.
Violet fez uma cara feia para mim, mas não falou mais nada. Ela
abriu a boca umas duas vezes tentando dizer alguma coisa, mas a fechou.
Quando abriu novamente e eu achei que fosse me pedir desculpas, a
princesinha falou:
— Você foi um babaca ontem.
— Eu sei, me desculpe.
Falei e fiquei aguardando que ela também me pedisse desculpas, já
que além de me expulsar do meu próprio quarto, a criatura ainda fez um
estrago em duas paredes do meu apartamento.
— O que é? — Ela franziu o cenho, erguendo um pouco a cabeça
para me olhar. — Acha que eu vou pedir desculpas? Não vou. Você fez
merda, melhore!
Tentei ficar bravo, de verdade. Porém, comecei a rir da cara de pau
que essa garota tinha.
— Odeio ver você distribuindo sorrisinhos para os clientes —
resolvi ser sincero quando parei de achar graça no que disse. — Não
suporto quando vejo os homens e as mulheres te comendo com os olhos
naquele bar.
— É um direito seu não gostar, Mason — a diabinha disse com
calma, passando um braço ao redor da minha cintura, da mesma forma que
eu a abraçava. — Também odeio quando as mulheres ficam se jogando em
cima de você, mas o que fez ontem foi chato pra caramba, me senti
humilhada.
Fiquei surpreso quando admitiu aquilo de maneira séria. Talvez
fosse a primeira conversa civilizada que tínhamos sobre o que acontecia
entre nós dois e estávamos indo bem, aparentemente.
— Em minha defesa, eu não estava flertando com ninguém lá em
cima ontem, pois só conseguia olhar para você. Por mim, teríamos vindo
para casa transar no momento em que te tirei do bar.
— Acredite, se tivesse me tirado do trabalho para transar eu ia
fazer muito pior do que pintar sua parede e te expulsar do seu quarto — ela
disse, me dando um olhar de repreensão. — A galera que trabalha comigo
percebe essas coisas, sabia?
— Ah, então você não quer que ninguém note?
— Mason, dá um tempo. — Violet balançou a cabeça, como se eu
fosse ridículo. — Não vou transar com ninguém enquanto estiver com você,
e sinceramente, espero que tenha o mesmo senso. Quando tiver a fim de
pegar outra pessoa, é só me dizer que não vamos ter mais nada e acabou.
— Simples assim? — Franzi o cenho, perguntando.
— Não deveria ser?
Baseado em todas as minhas experiências, deveria ser até bem
mais simples do que isso. Mas por que para mim as coisas não pareciam
assim tão descomplicadas entre nós dois? Por que eu sentia que acabar com
esse lance seria a coisa mais difícil que eu faria em toda minha vida?
— Promete que não vai mais flertar com seus clientes? — Decidi
mudar a direção do assunto. Falar de término e transar com outras pessoas
agora estava me deixando desnorteado.
Ergui meu dedo mindinho, esperando que respondesse, e Violet riu,
erguendo seu próprio dedo para unir e entrelaçar com o meu.
— Prometo, se você prometer parar também. Nada de pedir
selinhos e de conversinhas.
— Por mim tudo bem... — Eu só quero você mesmo!
Pensei em completar, mas deixei essa parte fora de fora.
— Então, fechado.
— Isso. E não precisa se demitir, pode voltar a trabalhar no bar.
— Você engoliu mesmo essa parada de me demitir? — Ela riu na
minha cara. — Eu ia ligar para os seus três sócios hoje reclamando de você.
— Que safada! — Estapeei sua bunda ao dizer, antes de apertá-la
contra mim de novo e beijar sua boca para selar nosso acordo.
Não demorou muito até Violet estar em cima de mim novamente,
sentando devagar no meu pau, que dessa vez estava coberto pela camisinha.
Ela era a porra do meu paraíso.
Capítulo 28 — Violet West

Querido diário, era sempre dolorido voltar ao


passado, mas quando há alguém disposto a te tirar
do lugar ruim, transportando você para uma
realidade totalmente diferente, as coisas ficam
muito melhores. Enfim, talvez eu esteja me
apaixonando.

Desci do carro de Gavin, agradecendo a carona e acenando para


ele. Cumprimentei o porteiro ao entrar no prédio de Mason e peguei o
elevador até o seu andar, ansiosa para saber qual tinha sido a resposta de
Megan ao pedido de meu irmão.
Ela tinha que dizer sim, sério!
Agora faltavam poucos dias para eles chegarem e apesar de estar
feliz em tê-los de volta, a situação do apartamento ainda me assombrava.
Além disso, já estava tão acostumada a viver com Mason e transar todos os
dias que nem imaginava como ficaríamos depois que eu estivesse de volta
ao apê do meu irmão.
Quando abri a porta, a primeira coisa que vi foi Baunilha correndo
pela sala enquanto Mason trabalhava em seu sofá.
Era impossível não sorrir para a cena. Mason detestava quando o
furão subia em sua cama, o apelido dele continuava sendo terrorista, mas
não é que os dois tinham encontrado mesmo um meio-termo para conviver?
Baunilha veio pulando em minha direção quando fechei a porta e
eu me abaixei para pegá-lo no colo.
— Oi, bebezinho! — Falei com aquela voz fina e engraçada.
Alisei seu pelo curto e depois o coloquei no chão outra vez para
brincar.
— Ei! — Me joguei no sofá ao lado de Mason, e ele se inclinou
para deixar um selinho em minha boca, antes de perguntar:
— Como foi a aula?
— Foi boa.
— Já ouviu sua música? — Perguntou, esticando os lábios em um
sorriso.
Ele perguntava quase todos os dias desde que soube que tirei nota
máxima, mas ainda não tinha coragem de ouvir minha composição, e pior:
eu mesma cantando a música.
— É possível que eu nunca ouça, sabia?
Entrelacei minhas duas mãos atrás da nuca, esticando meu corpo
no sofá e fitando o teto branco.
— Precisa acreditar no seu talento, diabinha — disse o que me
dizia sempre, da mesma maneira. Talvez ele tivesse esperanças de que um
dia eu fosse ouvi-lo.
E podia rolar..., um dia, quem sabe?
— Lukas e Megan ligaram? — Perguntei curiosa, ainda na
expectativa.
— Não mesmo. — Mason riu. — Nesse momento devem estar
deitando e rolando no quarto do hotel. — Depois ele mesmo parou a frase
para dizer: — Eca... Não quero pensar nisso.
— Como você sabe que estão comemorando?
— Ela aceitou, tenho certeza. A Megan é louca pelo seu irmão.
Inclusive, foi por isso que não quebrei a cara dele quando descobri que os
dois estavam juntos.
Fiquei quieta, por um momento pensei em perguntar se ele
pretendia contar sobre nós dois, mas talvez nem eu quisesse contar. A
última coisa que precisávamos era de qualquer pressão externa para rotular
o que havia entre nós. Ainda nem sabia se queria mesmo ficar com ele.
Tudo bem, nesse ponto eu conseguia enganar a mim mesma,
porque meu medo principal era ele não querer ficar comigo e antecipar o
fim por conta da pressão. Era mais fácil fingir que eu estava no controle e
que a possibilidade de ele me rejeitar não me afetaria.
— Sabe se já liberaram o apartamento? Pensei em passar lá para
dar uma olhada, mas a minha chave ficou com aquele cara esquisito, o Jonh
— resolvi perguntar, pois nos dias em que Megan e Lukas ligavam, não
diziam nada sobre isso.
— Não tenho ideia, ele quem está resolvendo essa parte.
— Ah!
— Já cansou de ficar aqui, diabinha? — Mason questionou, com
certo sarcasmo em sua voz.
— Ah, sim, você é extremamente enfadonho. — Me recostei,
colocando a mão sobre o meu peito de maneira dramática.
— Tem razão, eu consegui te deixar cansada em todas as noites até
aqui. — Ele se aproximou de mim, quase colando a boca em meu ouvido e
depois falando baixinho: — Mas sabe o que é engraçado? Você até pede por
isso.
Sorri, empurrando seu ombro de brincadeira.
— Não cansei de você ainda — Dei risada da sua expressão
quando coloquei o “ainda” no fim da frase. Depois continuei: — Só não
queria que Lukas encontrasse o apartamento naquele estado. Continuo
achando que ele só não me despejou porque estava na Europa. Imagina
chegar a sua casa e encontrar tudo destruído?
— Já conversamos sobre isso, Vi — Mason falou com calma,
tirando os olhos do computador outra vez para focar em mim, porém, ele
deve ter visto algo em minha expressão que o fez fechar o notebook e
colocá-lo sobre a mesinha. — Vem aqui. — Me puxou para o seu colo, com
um carinho que a cada dia eu recebia mais da parte dele. — Seu irmão ama
você, Violet, ele nunca vai te colocar na rua por causa de um motivo tão
banal. Ele até tinha o direito de ficar bravo, o que não aconteceu, mas te
expulsar por conta de um acidente que nem foi causado por você, seria
muito contraditório da parte dele.
— As pessoas são contraditórias, Mason, o tempo inteiro.
— Não dessa maneira. Você é importante para o Lukas, ele quer ter
você por perto. — Balancei a cabeça devagar, repensando o que havia
acabado de me dizer. Eu achei que fosse importante para tantas pessoas e
hoje estava aqui, em uma vida que sequer imaginei. — Por falar nesse
assunto, você nunca me contou como conseguiu ser expulsa de casa da
primeira vez. — Seu tom era ameno, havia apenas curiosidade, mas aquilo
me fez travar, e Mason notou. — Violet...
— Eu beijei uma garota.
Ele franziu o cenho quando falei aquilo, porém, logo a dúvida
tomou conta de sua fisionomia.
— Está me dizendo que seu pai expulsou você de casa porque
beijou uma garota? É isso?
— Sim.
— Espera, estou tentando entender: você beijou uma garota
qualquer na frente do seu pai?
Inclinei o pescoço, olhando com tédio para ele, mas mesmo assim
expliquei, depois de soltar um longo suspiro.
— Teve uma festa de despedida com o pessoal do colégio, eles não
costumavam me deixar ir, mas insisti muito para me despedir dos meus
amigos e acabaram me liberando. Fiquei com uma garota que conheci lá,
alguém contou para ele, não sei..., talvez sempre tenha havido uma pessoa
de olho em mim por aí e só eu não percebia — falei tudo o que sabia, já que
meu pai mal me explicou como tomou conhecimento do que aconteceu
naquela festa, apenas disse que não queria uma aberração morando sob o
mesmo teto que ele.
— Tá... — Mason parou outra vez, repensando. — Mas o seu pai
te colocou na rua sabendo que você mal tinha para onde ir só porque
contaram que você beijou uma garota?
— Não está acreditando em mim?
— Não é questão de acreditar. — Ele parou um pouco e depois seu
rosto se moveu de um lado para o outro devagar. — Sempre soube que seu
pai era um imbecil, mas não a esse nível. Pelo menos, na minha cabeça
vocês dois tinham uma relação melhor do que a dele com o Lukas.
— Na frente das pessoas ele sempre foi um ótimo pai. Em casa
ficava bêbado e dizia que minha mãe morreu por culpa minha. — Sorri de
maneira cínica, olhando para nada em particular na parede da cozinha.
— Meu Deus, que filho da puta! — Mason rugiu, de maneira
revoltada.
— Para ser sincera, no dia em que me colocou para fora, não fiquei
nem um pouco surpresa. Ele já se comportava como se não me quisesse por
perto. — Dei de ombros, fingindo indiferença. — Porém, quem mais me
decepcionou nessa confusão toda foi o Thomas.
— O que aquele imbecil fez? — Seu tom de desprezo me levou a
olhar impressionada para ele, notando que, pelo visto, não era só o Lukas
que detestava o Thomas.
Meu irmão não soube dessa parte da história, e se dependesse de
mim não saberia nunca. Por um momento pensei até em não contar para
Mason o que aconteceu, porém, eu quis desabafar.
— Quando saí de casa, só com uma mala de roupas pequena que a
Mary me ajudou a pegar, Thomas foi o primeiro a quem procurei. Mesmo
sem dizer com todas as letras que eu não podia ficar em sua casa, a
conversa que tivemos deu muito a entender que, caso o meu pai o punisse, a
responsabilidade seria minha. Sei que ele não tinha obrigação de me acolher
e também sabia que meu pai faria um inferno na vida dele, só que a forma
como ele escolheu rápido um lado fez com que eu me sentisse tão
insignificante... Ainda não consegui falar com ele desde aquele dia.
Mason afagou minhas costas, subindo e descendo a mão por ali
como uma espécie de apoio.
— O que ele te disse? — quis saber, mas eu detestava reviver
aquele dia, na verdade, nem respondia as mensagens que Thomas me
mandava vez ou outra perguntando como eu estava.
Evitava qualquer pequeno detalhe que me lembrasse da minha
família.
— Não quero repetir aquilo. — Suspirei, fitando os olhos dele que
me observavam com atenção. — Eu o considerava como meu irmão,
mesmo sem nenhum vínculo sanguíneo. Quando eu ficava de castigo no
quarto o dia inteiro, ele me trazia doces e às vezes até emprestava seu
computador escondido. Era o único que aparecia nas datas comemorativas
no colégio também, uma vez ele até foi na apresentação do Dia das Mães,
sabe? — Era sempre difícil quando chegava aquela data, já que na maioria
das vezes eu era a única criança que não tinha a quem chamar de mãe. Sem
querer, uma lágrima escapou e eu passei as costas da mão por ali, tentando
contê-la.
— E-eu sinto muito por isso, Violet — Olhei para Mason quando
ele gaguejou e seus olhos brilhavam com fúria, e também com algo muito
semelhante à tristeza.
Talvez ele soubesse o quanto foi difícil, ou não, pois tinha uma
mãe maravilhosa. Contudo, em vez de parar para pensar sobre isso, eu
apenas continuei:
— Esses dias fui comprar fantasias de halloween com a Megan e
me lembrei dele me ajudando a escolher as minhas. Papai nem Natalie
faziam isso por mim. Ele se importava comigo quando ninguém mais se
importou, já cuidou de mim quando precisei também, mas sinto que não
estou pronta para perdoá-lo por praticamente me negar ajuda naquele dia.
— Não sei nem o que dizer, princesinha. Sempre achei que você
era uma daquelas crianças privilegiadas, que têm tudo o que quer. Lukas
não comentava muito comigo sobre você, mas quando ia até sua casa nas
férias da faculdade, voltava falando da sua boa educação, das suas notas e
que era uma menina divertida. — Ele expôs seu ponto de vista. Parecia
realmente interessado em meu desabafo.
— Isso pode parecer até estranho para você, mas eu era uma
criança calma e inteligente. Tinha medo de falar algo de errado na frente
das pessoas e ser repreendida ou constrangida, por isso, sempre me
comportei nos jantares em família. — Minha infância nunca foi um lugar
legal para visitar, no entanto, naquele momento, colocar um pouco para fora
parecia me aliviar. —Por outro lado, sempre fui teimosa e, por mais que
sentisse medo de ser castigada, lutava pela minha opinião. Eu também era
muito sozinha, então, quando não tinha o que fazer, inventava, mesmo que
Natalie fosse muito sistemática e não gostasse de nada fora do lugar.
— Por falar nela, sempre tive curiosidade do porquê você não a
chama de mãe, já que foi ela quem te criou. — Seus dedos agora brincavam
com os meus enquanto uma de suas mãos continuava me afagando. O toque
era uma distração confortável.
Acabei rindo do que ele disse, pois nem conseguia me imaginar
chamando aquela mulher de mãe. Ela não se parecia nem um pouco com
uma.
— Natalie nunca escondeu que não tínhamos nenhum parentesco,
Mason. Quem cuidava de mim eram as babás, nós inclusive jamais
viajávamos sem uma até os meus quatorze anos. Papai sempre esteve
ocupado, trabalhando ou procurando controlar tudo que nem deveria ser de
seu controle. O único momento que nos reuníamos como uma família
“normal” era em jantares ou eventos.
Olhando para a minha vida agora, aquela mansão mórbida em San
Diego parecia um lugar insuportável. Eu vivia cercada de pessoas que na
maioria das vezes sequer notavam minha existência ou se preocupavam
com meu bem-estar. Tinha impressão de que me criavam por obrigação.
Tive uma infância luxuosa, com tudo que o dinheiro podia me
proporcionar: escolas caras, roupas de grife que, por mais que eu nem
pudesse escolhê-las, valiam uma fortuna. Babás o tempo inteiro me
acompanhando, motoristas para me deixar no colégio em segurança,
aparelhos eletrônicos de última geração, mas ainda faltava tanto...
Minha mente se encheu de lembranças das vezes em que papai
falou da minha mãe e de como eu era culpada por sua morte. E de quando
ele me disse que preferia que eu tivesse morrido no lugar dela.
— Podemos só mudar de assunto? — perguntei, aquilo começando
a me colocar em um profundo estado de tristeza.
Deitei minha cabeça em seu ombro, procurando por algum
consolo.
— Tudo bem. — Mason passou os braços ao meu redor, mantendo
meu corpo bem perto do seu. — Sinto muito por tudo isso, princesinha —
disse baixinho, fazendo com que meus olhos voltassem a encher de
lágrimas. — Ninguém nunca vai te fazer se sentir dessa forma aqui, eu juro.
Eu não queria chorar, pelo menos não na frente dele, por isso
engoli o bolo que se formou em minha garganta, sentindo-o descer com
dificuldade, porém, daquela vez, por mais que eu tentasse, eram muros
demais para erguer sozinha. Quando o primeiro soluço saiu, Mason me
apertou mais forte, passando uma das mãos pela minha cabeça e
sussurrando que ficaria tudo bem.
— Você está em casa, Vi — ele falou baixinho, próximo ao meu
ouvido, enquanto tentava sanar a minha dor. — Você tem uma família
agora. Pessoas que te querem por perto.
E eu confiei no que ele dizia, acreditando que tudo ficaria bem
daqui para frente.
Capítulo 29 — Mason Rilley

Regra nº 12: Não abra mão de suas regras por ela.


Transar na mesa do seu escritório é um péssimo
sinal de insanidade.

Violet: Estou indo para a CP. Megan e Lukas vão um pouco mais
tarde.
Olhei para a mensagem em minha barra de notificações e antes de
finalizar o e-mail de feedback que estava escrevendo, peguei o celular para
responder.
Eu: Vestiu mesmo aquela fantasia?
Violet: Claro que sim, eu te disse.
Eu: Meu Deus, garota, você ainda vai me matar do coração.
Violet: Queria muito ter essa sorte.
Gargalhei e mandei um emoji dando o dedo do meio para ela antes
de responder:
Eu: Nos encontramos no seu intervalo, então?
Violet: Sim.
Violet: 22h30.
Violet: Escritório ou depósito de bebidas?
Dei risada outra vez das nossas opções. Desde que Lukas e Megan
voltaram, há pouco mais de uma semana, nossos encontros estavam sendo
bem limitados, porém, a cada dia era mais gostoso ficar com ela e nenhum
de nós conseguia parar.
Eu: O que estiver livre, mas acho que tentaremos o escritório...
Por algum motivo, achei que fôssemos nos afastar um pouco
depois de não precisar mais viver sob o mesmo teto, mas a verdade é que eu
sentia falta dela o tempo inteiro, só não ficava mais triste porque
morávamos perto. Eu podia ir ao apartamento de Lukas a hora que quisesse,
e também fui buscá-la na porta do prédio de seu irmão em três madrugadas
essa semana para que ela viesse ficar um pouco comigo.
Só que estava cada dia mais difícil segurar a onda. Pelo menos, até
agora tínhamos sido discretos. Continuávamos fingindo ódio na frente de
todos, por isso ninguém havia desconfiado do nosso envolvimento.
Descobri que, além de cantar bem, a diaba era uma ótima atriz, e
depois nós dois dávamos altas gargalhadas das cenas ridículas que
interpretávamos na frente de todos.
Hoje seria a Fantasy Party Sexy, e era a nossa penúltima festa
antes da oficial, no dia de halloween. Há dois meses quando planejei esse
dia, achei que estaria trazendo uma ou até mesmo duas mulheres para casa
no fim da noite, inclusive, planejava me vestir de Gogo boy e pintaria o
terror naquele lugar, porém, aqui estava eu, colocando um terno para me
vestir de empresário, já que Violet iria de Coelhinha da PlayBoy.[17]
Alguns idiotas diriam que empresário não era bem uma fantasia
sexual, no entanto, eu discordava.
Quando entrei na boate algumas horas mais tarde, o lugar parecia
uma casa de swing. A única regra era não mostrar as partes íntimas, mas
havia mulheres apenas de lingerie, pessoas mascaradas ou amordaçadas,
policiais carregando suas mulheres algemadas e vice-versa. Aquilo era um
pandemônio.
Quando passei pelo bar, dei apenas uma piscadinha de longe para a
coelhinha, já que era uma péssima ideia me aproximar demais. Sua fantasia
não era tão explícita quanto algumas que eu vi por ali, além da tiara com
orelhas e da gravatinha, ela vestia um body preto, com uma meia arrastão da
mesma cor.
Subi para a área vip, onde eu sabia que todos me esperavam, já que
meu celular estava lotado de mensagens perguntando onde eu tinha me
enfiado.
Os ingressos VIPs para camarotes não foram vendidos hoje, e o
único a funcionar era o nosso. Não queríamos perder o controle e deixar a
festa se tornar um bacanal, além disso, assédio de nenhum tipo seria
tolerado. Por isso, era imprescindível concentrar todas as pessoas às nossas
vistas. A segurança também foi reforçada, inclusive nos banheiros, e
mesmo que fosse um evento para maiores de dezoito anos, sexo ou nudez
estavam estritamente proibidos.
No entanto, eu era a porra de um hipócrita, já que foderia minha
coelhinha no primeiro local disponível assim que tivesse a oportunidade.
— Olha quem resolveu dar o ar da graça! — Frank foi o primeiro a
notar minha presença, cheio de ironia.
O infeliz estava com uma coleira no pescoço e vestido com roupas
de couro. Sua esposa estava vestida do mesmo material, porém, seu vestido
justo ia até o meio de suas pernas onde as botas enormes começavam.
Gargalhei ao olhar para ele, mas pior mesmo foi ver a fantasia da
minha irmã e de seu agora noivo.
Lukas vestia uma bata azul de hospital, que era aberta atrás,
mostrando sua bunda, que felizmente estava coberta por uma boxer preta.
Minha irmã usava um vestido branco e vermelho que terminava no início de
suas coxas e uma meia calça branca, com botas de salto. Os dois estavam
ridículos.
— Até que enfim chegou — Lukas falou.
— Vocês estão horríveis — Ri outra vez, sem conseguir segurar.
— Não fomos nós que inventamos o tema dessa festa, seu escroto.
E por que não está fantasiado? — Lukas perguntou, franzindo o cenho para
o meu terno e camisa branca com primeiros botões abertos.
— Eu estou fantasiado. Sou um empresário.
— Isso vale? — Carly me fitou com os olhos estreitos.
— Óbvio. Vocês que são sem criatividade. Muitas mulheres têm
fetiche em caras de terno.
— Isso é ridículo — Jeff falou pela primeira vez. Em vez de mim,
ele quem acabou vindo de Gogo boy — Se eu soubesse, teria me vestido de
advogado, já que muitas mulheres também têm fetiche nisso.
— Em engenheiros também — Lukas falou.
— Como é? — Megan olhou para ele com o cenho franzido, então
meu amigo recuou, dizendo:
— É só uma brincadeira, amor.
— Você é a pessoa mais vestida dessa festa, Mason. — A
afirmação de Frank me obrigou a revirar os olhos.
— Pode ter certeza de que eu continuo sexy — me gabei antes de
ouvir uma série de insultos.
Contudo, logo eles esqueceram que eu era o único sem fantasia e
começaram a me contar sobre a viagem. Vez ou outra eu aproveitava para
olhar discretamente em direção ao bar onde a minha coelhinha estava.
Em um momento da noite, Megan e Lukas desceram para falar
com ela e pegar bebidas. Às dez, eu era o único ainda que estava
inteiramente sóbrio na mesa.
Quando meu celular vibrou no bolso da calça indicando uma
mensagem, eu até já sabia de quem era.
Violet: Estou indo para o intervalo.
Eu: Me espera no escritório, vou descer.
Os copos de bebida na mesa ainda estavam meio-cheios, sinal de
que não desceriam para buscar ainda.
— Vou aqui embaixo e já volto — disse para todo mundo ao redor
da mesa. — Ninguém vai embora antes de eu voltar.
Ouvi algumas piadinhas sobre não perder tempo tentando pegar
mulher, pois não estava vestido para a ocasião, mas ignorei, saindo da
presença deles e desci as escadas correndo.
Ao entrar no corredor administrativo, Violet já me esperava
próxima à porta com os braços cruzados.
— Que fantasia é essa? — a diaba riu ao perguntar.
— Sou seu empresário, coelhinha.
Destranquei a porta do escritório e esperei que ela passasse antes
de segui-la.
— Você é o responsável pelo meu rabinho, então. — Ela virou,
mostrando o pompom felpudo que havia no meio de sua bunda enquanto
balançava de um lado para o outro.
— Sim, eu sou o dono dele. E da coelhinha inteira. — A puxei para
mim, colando seu peito no meu e devorando seus lábios.
Ergui Violet pela cintura, obrigando-a a passar as pernas pelo meu
quadril, e ela fez, mas não demorou muito até nos interromper.
— O que foi? — questionei confuso à medida que me inclinava
para que ela conseguisse colocar os pés no chão.
— A fantasia. Se rasgá-la ou melar de algo vou precisar explicar o
que houve.
Ela se afastou, começando a tirar a roupa inteira na minha frente
enquanto eu babava e observava o show gratuito.
Tirei o terno também, sem conseguir desviar os olhos dela, e
depois desabotoei a camisa, seguido da calça, mas antes que eu conseguisse
tirar as peças por completo, ela me conteve:
— Pode ficar vestido? Achei muito sexy essa coisa de empresário.
Ela andou até mim devagar, com os seios expostos, a boceta lisinha
e as pernas gostosas me atraindo.
— Humm, não tem nada que você peça peladinha que eu não faça
vestido. — A coelhinha deu risada quando falei, mas logo nós dois
estávamos agarrados novamente.
Dessa vez, sua boceta descoberta roçava diretamente no meu pau
quando imprensei seu corpo contra a porta. Agarrei com força seus cabelos,
mantendo a cabeça imóvel enquanto a beijava. Eu nunca cansava disso: da
sua boca, da língua que sempre brincava com a minha e dos murmúrios que
soltava conforme o tesão começava a nos tomar.
Segurei firme por sua bunda e a levei para a mesa, sentando-a ali
sem interromper nosso beijo. Adorava tê-la pelada em meus braços. Era
sempre a melhor parte do dia.
Enfiei dois dedos em sua boceta enquanto nossas línguas
brincavam uma com a outra daquela maneira gostosa. Violet soltou um
grito abafado quando as pontas dos meus dedos curvaram, tocando um
ponto bem específico dentro dela, então continuei, ao passo que meus lábios
exploraram sua mandíbula e depois pescoço.
Suguei seu mamilo ereto com força e Violet precisou apoiar as
mãos atras de si para que não caísse de costas na mesa. Os músculos de
suas pernas retesaram, indicando que seu orgasmo estava próximo, por isso,
levei meu polegar até o clitóris inchado e estimulei.
Quando ela gozou gritando meu nome, precisei voltar a beijá-la
para abafar os sons enquanto seu canal contraía ao redor dos meus dedos.
Gostosa pra caralho!
Me afastei um segundo para pegar uma camisinha no bolso e cobrir
meu pau, depois fitei sua expressão safada e falei:
— Vai ser rápido, diabinha.
— Tudo bem, todo mundo já sabe que você tem ejaculação
precoce.
Foi impossível não gargalhar.
Que filha da mãe!
Me enfiei dentro dela com força, ouvindo seu suspiro entrecortado
e suas unhas cravando em minhas costas quando me agarrou com força para
se segurar.
— Vou te mostrar quem vai gozar em questão de minutos aqui,
diaba.
Movi meu quadril arremetendo rápido enquanto meu polegar
alisava seu clitóris. Ela estava toda sensível por conta do orgasmo anterior e
seus dentes se fechavam em uma parte do meu peito com força conforme
rosnava baixinho.
Quase enlouqueci à medida que sua boceta piscava em volta do
meu pau cada vez mais rápido, era tão enlouquecedora a sensação.
Passei os braços por baixo de suas pernas, segurando os dois lados
da bunda com força e a ergui, ficando de pé com ela suspensa e trazendo
seu corpo para se chocar com o meu.
— Porra, Mason! — Violet gritou, jogando a cabeça para trás.
Foi insano, rápido e selvagem, mas nós dois gozamos assim, e eu
nem sei como não caímos no chão no processo.
Peguei uma caixa de lenços de papel que havia por ali e nos limpei,
ajudando-a a vestir as roupas logo depois.
— No meu apartamento mais tarde? — perguntei, deixando vários
selinhos em seus lábios antes de conseguir soltá-la.
— Vou chegar depois das duas da manhã, você sabe...
— Sim, posso te esperar. Se Lukas e Megan forem embora antes,
saímos juntos e vamos direto para lá. O que acha?
— Fechado. — Violet deitou a cabeça no meu peito, um pouco
sonolenta. — Tenho que ir lá em cima antes que venham atrás de mim.
— Tem razão. — Acenei devagar com a cabeça.
— Vai na frente, depois eu chego lá implicando com você.
Ela riu, mas concordou, se afastando do meu abraço.
Antes que fosse muito longe eu a puxei outra vez, segurando forte
sua nuca e beijando-a quase com raiva.
Por que eu não conseguia parar? Porra!
Quando a soltei, nós dois estávamos ofegantes.
— Agora vai lá — falei, antes que rasgasse sua roupa e a fodesse
novamente aqui dentro desse escritório, até matar todo esse desejo que
sentia por ela.
A diaba piscou para mim antes de sair, e eu passei alguns minutos
com o quadril encostado na mesa, fitando a parede marrom à minha frente e
pensando como eu lidaria com tudo aquilo.
Porra!
Uma vida a dois não fazia parte dos meus planos, um
relacionamento mais sério muito menos. Mas por que essas ideias se
tornavam cada vez menos assustadoras para mim agora?
Quando subi as escadas, desacelerei ao ver Violet sentada à mesa
com todos, no mesmo lugar onde eu tinha me sentado antes. Ela parecia
feliz, sorrindo à toa enquanto Jeff fazia piadas ridículas ao seu lado. Sem
querer, meus lábios se esticaram em um sorriso. Era bom vê-la assim, e
saber que existiam pessoas ao seu redor que a queriam por perto. Controlei
meu sentimentalismo fora de hora e me aproximei, parando perto da
coelhinha e me inclinando para dizer:
— Você está no meu lugar, coisinha mimada!
Violet se virou com a expressão mais sonsa do mundo, como se
não tivesse acabado de gritar enquanto gozava no meu pau.
— Não vi seu nome escrito aqui antes de me sentar, idiota.
— Diaba!
— Babaca — ela devolveu, fazendo uma expressão de nojo.
— Mimada.
— Ordinário.
Precisei apertar meus lábios ao me lembrar da última vez que
soltamos uma série de insultos dessa forma, mas Violet não conseguiu
segurar o sorriso.
Caralho, estávamos fodidos mesmo!
Capítulo 30 — Mason Rilley

Regra nº 13: Mentir para o seu melhor amigo é


uma péssima ideia. Se você não pode contar algo
para ele, então significa que já está fodido.

Saltei do elevador no andar de Lukas, segurando meu notebook


embaixo do braço para ajustarmos os últimos detalhes de sua casa. O
terreno já havia sido escolhido e mesmo que fosse fora dos arredores da
cidade, era um ótimo local para construir uma família, como meu amigo
desejava.
Entrei sem bater como sempre fazia e vi móveis diferentes na sala
enquanto Baunilha brincava entre eles. O pequeno terrorista subia e descia
do sofá novo, e por vezes até escorregava no encosto reclinável. Sorri, me
aproximando para alisá-lo. Até dele eu sentia falta, mesmo ainda
considerando-o um animal perigoso.
Não aparecia ali desde o dia da inundação. Tinha evitado esse
tempo inteiro, já que era cada vez mais difícil Violet e eu disfarçarmos
nosso lance. Além disso, odiava mentir para o meu melhor amigo. Lukas
me conhecia desde o início da puberdade, vivemos muitas coisas juntos e
passamos por bons e maus momentos ao lado um do outro. Ele era
praticamente um irmão pra mim, e Violet tinha toda sua proteção. Era muito
fácil não me sentir culpado com ele viajando pela Europa para pedir minha
irmã em casamento. Eles ligavam uma vez no dia e eu fazia cara de
paisagem, como se nada de interessante tivesse acontecido.
Com ele aqui, as coisas eram mais difíceis.
Olhar para o meu amigo e fingir era tão difícil quanto me imaginar
dizendo toda a verdade.
“Olha, eu desvirginei sua irmã de dezoito anos, mas não quero um
relacionamento e nem estou apaixonado por ela, é só atração física.”
Porra, ele ia me matar, com toda certeza!
— Ah, você chegou! — Lukas veio do corredor, vestido de
maneira casual, com bermuda e camiseta.
— Acabei de entrar — falei, me levantando e olhando de maneira
discreta ao redor para ver se Violet estava em casa.
— Procurando por alguém, Mason? — meu amigo perguntou.
— Megan não está? — tentei disfarçar, voltando a fitar sua face
desconfiada.
— Está no trabalho, você sabe, e Violet ainda não chegou da
faculdade.
— Hum. — Acenei, enquanto ele caminhava devagar até se sentar
na mesa e eu o segui, fazendo o mesmo.
Abri meu notebook e comecei a abrir os projetos que fiz, em tese
eram os mesmos, mas havia alguns detalhes diferentes que Lukas me pediu
para testar.
— Acho que nós dois precisamos ter uma conversa franca — meu
amigo chamou minha atenção, me obrigando a tirar os olhos da tela.
— Sobre?
— Você e a Violet. — Congelei por alguns segundos, sem saber
como reagir, porém, foi Lukas quem continuou: — Me contaria se estivesse
acontecendo algo entre vocês, não é?
Engoli em seco.
Fodeu muito agora, porra!
— Claro! — Meu suspiro saiu como uma risada, mas era puro
nervosismo.
Eu não tinha certeza de nada e nem sei se ela mesma gostaria de ter
esse peso de uma relação em suas costas. Era divertido, eu gostava da
diabinha, mas nunca conversamos sobre nos expor dessa forma. Estar
juntos por uma escolha era muito diferente do que sustentar um lance por
obrigação. Os dois iriam se casar em breve, Megan era minha irmã e Violet
irmã dele. Havia tanto envolvido aqui... um passo em falso poderia estragar
nossa amizade de anos.
Porra!
Eu deveria mesmo ter pensado nisso antes de ceder e me deixar
levar pelo tesão.
— Vocês transaram enquanto Megan e eu estávamos fora? — a
pergunta custou a sair, eu sabia que aquele papo estava sendo muito mais
difícil para ele do que para mim, então, resolvi dizer o que Lukas gostaria
de ouvir.
— Não, não toquei na sua irmã.
Meu amigo suspirou, aliviado. Ele confiava em mim, e se eu
dissesse que o céu tinha amanhecido cor de rosa ele provavelmente nem se
daria ao trabalho de conferir.
— Devo me preocupar por conta desse seu suspiro aliviado? —
perguntei, particularmente ofendido por sua hipocrisia. — Cara, você vai se
casar com a minha irmã, por que eu seria proibido de ficar com a sua?
— Então você ficaria com ela apenas como retaliação?
— Claro que não, porra! — Neguei com a cabeça, franzindo o
cenho de maneira irritada. — Só não entendo por que a ideia de algo entre
mim e a Violet... — Parei por um segundo, engolindo algumas concepções
com um gosto amargo. — Pior, algo entre qualquer amigo seu com a Violet
te deixa tão preocupado.
— Não é sobre vocês. É sobre ela — ele disse, com mais calma
dessa vez. — Meu pai é um imbecil e aquela mulher que a criou é pior
ainda. Quando olho para minha irmã, vejo uma menina ainda quebrada,
juntando as peças para se reconstruir. Ela não se conhece, mal sabe o que
quer da vida — meu amigo falou aquela última parte com ênfase,
gesticulando rápido. Quis dizer que, quanto a isso, ele estava errado, mas
não o interrompi. — As chances de Violet se envolver em um
relacionamento tóxico, aceitando qualquer coisa em troca do amor que não
recebeu na infância são grandes demais, e se eu tiver que escolher entre
proteger a minha irmã e quebrar a cara de um de vocês, é bem óbvio o que
vou fazer, Mason.
— Isso é apenas a forma que você a enxerga, não quer dizer que
seja assim. — Soprei, medindo minhas palavras para não parecer que estava
contrapondo. — Ela é forte, Lukas, não é apenas uma menina perdida. Se
olhar direito, vai ver que sua irmã sabe muito bem o que quer.
Ela só não tem coragem de admitir para si mesma e para o mundo
ainda. Mesmo cheia de talento e vontade, ela sente medo de ser notada.
Guardei essa parte comigo. Violet não costumava expor suas
fragilidades dessa maneira e se ela confiou a mim, não tinha direito de
comentar com seu irmão.
— Sim, porque você a conhece muito bem, não é?
— Cara, para com isso...
— Sério, Mason, não me faça ter que escolher um lado.
Parei por um segundo observando a aflição em seu rosto. Era
preocupação real, não se tratava apenas de superproteção ou ciúmes. Ele
não queria vê-la sofrer.
— E por que você precisaria escolher um lado? É isso que não
entendo.
— Você por acaso quer um relacionamento? Sonha em construir
uma família e cuidar de alguém?
— Não, você sabe que não — respondi de cara.
Já tivemos essa conversa antes e eu sempre dizia que envelheceria
sozinho, sem filhos e sem correr o risco de ter um coração esmagado por
divórcio ou luto.
— Aí está a sua resposta. Porque eu jamais deixaria a minha irmã
se envolver com um cara que não tem a mínima intenção de amar, proteger
ou cuidar de alguém.
Meu peito afundou e respirar ficou um pouco mais difícil do que
antes. Ele tinha razão, afinal de contas. Por que eu deveria ficar com ela?
— Eu não quero nada com a sua irmã, cara. Só que ela pare de ser
tão irritante — falei para tranquilizá-lo.
Se ele acreditou em mim, não sei, no entanto, eu mesmo não
acreditava em minhas palavras.
Eu queria tudo com a Violet.
Capítulo 31 — Violet West

Querido diário... (som de suspiro)


Acho que não consigo mais fazer isso.

Eu estava feliz.
Não sabia explicar o motivo, mas havia aquela sensação de
esperança que sentia há algum tempo. Acho que tudo isso era porque meu
irmão estava construindo uma casa enorme que tinha um quarto só para
mim. Ele não se daria ao trabalho de planejar detalhes se não me quisesse
por perto, então desapeguei um pouco dessa ideia de que me colocaria na
rua por qualquer motivo que o decepcionasse.
As coisas na universidade fluíam bem, e ainda tinha Mason. Que
era uma grande incógnita na verdade, mas, ficar com ele estava sendo bom.
Melhor do que eu pensei, e não parecia ser só sexo. Ele me ouvia, se
importava e até me dava conselhos às vezes.
— Algumas bandas vão se reunir na sexta à noite para tocar, você
quer ir? — Gavin perguntou, me tirando dos meus devaneios enquanto
passávamos pela Golden Gate, voltando para San Francisco.
— Eu trabalho na sexta. — Franzi os lábios, triste por não poder
sair com eles. Já fazia um tempo desde a nossa última festa juntos. — No
próximo eu vou — prometi.
Gavin apenas deu de ombros e eu aumentei o volume do som, que
tocava The Man Who Sold The World do Nirvana.
— Acho que vou terminar com a Mel — ele falou algum tempo
depois e eu fiquei confusa, pensando se tinha mesmo ouvido aquilo.
Baixei o som antes de perguntar:
— O que disse?
— Acho que vou terminar com a Mel. — Gavin não parecia feliz,
nem triste, parecia assustado com aquilo, o que me deixou ainda mais
curiosa.
— Acha? — questionei, franzindo o cenho. — Não se acha que vai
terminar com alguém, Gav, ou você quer terminar ou não quer.
Meu amigo soltou uma risadinha sombria, antes de responder:
— Algumas coisas são mais difíceis na prática, Vi. Há algum
tempo não sinto nada pela Melissa, mas não tenho coragem de dizer isso
diretamente para ela, e acredite em mim: no nosso caso, é ainda mais
complicado.
Eu não entendia os motivos dele. Sempre ficava a impressão de
que havia algo muito maior por trás de sua falta de coragem em ser sincero
com a garota, mas ele não se abria.
— É melhor terminar de uma vez, Gav. Se acha que não tem futuro
e que um dos dois vão se magoar lá na frente, por que adiar o inevitável?
— Quando a senhorita tiver um relacionamento, nós voltamos a ter
essa conversa — ele falou rindo ao parar o carro na frente do prédio do meu
irmão. — E ficar às escondidas com o melhor amigo do seu irmão não
conta como relacionamento.
Dei língua para ele antes de abraçá-lo em despedida e sair do carro.
Entrei no elevador, planejando levar Baunilha para passear um pouco na rua
e na volta passar no apartamento de Mason.
Nossos encontros eram bem loucos assim. Algumas vezes de
madrugada, outras vezes no meu intervalo da boate..., mas de segunda a
quarta-feira era quando eu tinha mais tempo de vê-lo.
Tirei meu celular do bolso, pronta para mandar uma mensagem
avisando que apareceria, contudo, ouvi sua voz antes mesmo de abrir a
porta de casa.
— Cara, para com isso... — Seu tom não era dos melhores, o que
me deixou confusa.
— Sério, Mason, não me faça ter que escolher um lado.
Meu sangue gelou e por um momento pensei que ele tivesse
contado ao Lukas sobre nós. Não falamos sobre isso, mas achei que por
motivos óbvios nós dois não falaríamos sobre isso com eles tão cedo.
— E por que você precisaria escolher um lado? É isso que não
entendo — Mason questionou.
— Você por acaso quer um relacionamento? Sonha em construir
uma família e cuidar de alguém?
— Não, você sabe que não! — Por algum motivo, ainda
desconhecido, ouvir ele negar de maneira tão rápida que não queria um
relacionamento fez meu coração bater mais forte, mas não era uma
sensação boa que eu sentia.
— Aí está sua resposta. Porque eu não deixaria minha irmã se
envolver com um cara que não tem a mínima intenção de amar, proteger ou
cuidar de alguém.
O tempo pareceu parar.
Admirei meu irmão por seu cuidado e em contrapartida esperei
ansiosa pela resposta de Mason. Talvez ele voltasse atrás...
Porém, criar expectativas em cima de alguém é como dar o poder
de te destruir na mão daquela pessoa.
Fiquei parada, quieta. Sentindo apenas minha pulsação acelerada
enquanto aguardava ansiosa por sua resposta e por um momento até pensei
que Mason não diria nada, mas ele deu o golpe final:
— Eu não quero nada com a sua irmã, cara. Só que ela pare de ser
tão irritante.
Dei alguns passos para trás, sentindo minha esperança arrebentar
de uma vez, colocando tudo abaixo. Minha respiração pesou e as lágrimas
se acumularam em meus olhos.
Eu não podia derramá-las agora. Talvez depois, quando estivesse
em um lugar seguro para chorar, mas agora não. Entrei pela porta da escada
de emergência e me sentei no primeiro degrau, encostando a cabeça na
parede ao meu lado.
Pelo menos ali ninguém me encontraria.
Ninguém veria a tristeza que meus olhos deviam transmitir naquele
momento.
Eu não quero nada com a sua irmã...
Aquilo fez eco na minha mente por um longo tempo.
Ouvi a hora que Megan chegou e perguntou por mim ao entrar na
sala. Desliguei a vibração do meu celular, mas a tela acendeu quando
Mason me mandou uma mensagem:
Mason: Vim aqui no apartamento do Lukas. Onde você está?
Sequer peguei o celular para responder e só entrei em casa um
tempo depois de ouvi-lo indo embora.
— Ei, você demorou hoje! — Lukas falou da cozinha, enquanto ele
e Megan mexiam nas panelas.
— Fiquei estudando na biblioteca — menti, pegando Baunilha do
chão e tentando não encarar os olhos de ninguém.
— Estamos fazendo hambúrguer caseiro e vamos ver um filme,
você quer? — Megan ofereceu animada e eu estiquei os lábios, tentando dar
um sorriso.
— Comi no campus com o Gav e a Crys, me desculpem.
— De boa — minha cunhada falou, cortando algo em cima do
balcão. — Vou deixar um pra você, caso sinta fome mais tarde.
— Valeu. Vou tomar um banho, o dia foi cansativo hoje.
Me tranquei no quarto, colocando Baunilha no chão e me jogando
de costas na cama.
Não tinha futuro.
Uma hora ou outra ele me magoaria de qualquer jeito. Porém, esse
sentimento de rejeição, a sensação de ser deixada de lado mais uma vez por
alguém importante doía muito. E dessa vez, parecia ser pior.
Me encolhi quando as lágrimas vieram, fazendo minha garganta
arder e minhas entranhas se contorcerem. Nem me lembrava da última vez
que algo doeu tanto.
Eu tinha que me poupar.
Mas algumas decisões eram mesmo muito mais difíceis na prática.
Capítulo 32 — Violet West

Por que você me deu falsas esperanças?


Por que passou sal nas minhas feridas?
Foi embora e me deixou sangrando, sangrando
Por que sussurrou no escuro
Só pra me deixar na noite?
Say Don’t Go — Taylor Swift

Passei a ignorar todas as mensagens que Mason mandava, e as


chamadas deixei cair na caixa postal.
Eu nem conseguia abrir meu diário, já que todas as últimas páginas
falavam sobre ele. Em como tocava meu corpo, do quanto eu gostava dos
momentos que passávamos juntos. Minha vontade era queimar todo aquele
lixo para que nunca mais pudesse ler sobre o nosso breve envolvimento.
O peito doía sempre que eu olhava para a tela do meu celular e via
seu nome. Queria bloqueá-lo, mas sabia que em breve teria que o enfrentar
para terminar de uma vez por todas aquela história. Ele não queria nada
comigo de verdade. Eu era só mais uma das mulheres que passaria um
tempo esquentando sua cama e seria descartada depois.
Abri a conversa outra vez, vendo a resposta que mandei para ele
ontem depois de muito remoer o que fazer sobre nós dois.
Mason: Está tudo bem?
Mason: Por que não me atende?
Mason: Sério, vai só me ignorar?
Mason: Estou a ponto de ir atrás de você, Violet.
Depois de muito olhar para as mensagens repetidas, no meio da
semana resolvi que era melhor responder alguma coisa ou ele realmente não
me deixaria em paz.
Eu: Não quero mais ficar com você.
Eu: Pode me deixar em paz, por favor?
Mason: chamada não atendida.
Mason: Vem aqui em casa. Vamos conversar sobre isso.
Mason: Violet, por favor, preciso entender o que está acontecendo.
Eu: Combinamos que seria simples. Transei com você, foi bom,
mas agora acabou.
Mason: Então é isso? Estava comigo só pelo sexo?
Eu: E você não?
Ele ligou outras vezes e mandou mensagens perguntando como eu
tinha chegado àquela decisão se estávamos bem há alguns dias, mas eu não
respondi.
Na quinta-feira, perguntei ao meu irmão se teria problema não
trabalhar aquele fim de semana e ele me indagou o motivo, mas quando o
enrolei falando que a semana foi cansativa e que queria tirar um tempinho
para mim, Lukas disse que avisaria ao Timothy que eu não estaria
disponível.
Sabia que Mason iria até a boate e não estava nem um pouco
pronta para encará-lo. Quanto mais distância eu pudesse manter, melhor
seria para o meu coração estúpido se curar. Pelo menos, era nisso que eu
acreditava.
— Sei que você não quer ouvir isso, mas acho que deveria sentar e
ter uma conversa sincera com ele, Violet. Falar do que você ouviu e de
como se sente sobre isso — Crystal sugeriu com cautela enquanto
estávamos sentadas no gramado próximo à biblioteca.
Nossa aula seria só daqui a quarenta minutos e eu aproveitei para
contar, com detalhes, o que tinha acontecido.
— Vai fazer o mesmo com o Gavin?
— C-como... — Ela ficou vermelha, começando a gaguejar.
— É bem óbvio, Crys. Você também deveria contar a ele como se
sente.
— Gavin namora desde muito antes de nos conhecermos. Você
pode tentar comparar as coisas, mas não há semelhança nisso.
— E o Mason falou com todas as letras que não me queria. Por que
eu iria lá me declarar? Só quero esquecê-lo.
— Tudo bem. — Ela acenou devagar quando falei a última parte
quase com a voz embargada.
— Sério, não posso ficar aqui esperando que ele me descarte. Não
quero passar por isso.
— Tem razão, Vi. — Crystal suspirou, concordando com a cabeça.
— Você pretende ir àquela festa que vai ter hoje? — perguntei,
interessada em qualquer distração que me tirasse desse limbo de
autopiedade.
— Só vou se você for. — Crys se deitou de costas na grama,
apoiando a cabeça em meu colo enquanto falava.
— Então nós vamos, vou ficar muito bêbada essa noite.
— Isso é uma péssima ideia, Vi! — Ela arregalou os olhos em
minha direção, e eu apenas sorri.
Ficamos no gramado por mais algum tempo até a hora que tivemos
que sair correndo para ir à aula.
Cheguei em casa mais tarde do que o comum, pois passei em uma
loja para comprar o vestido que usaria esta noite. Meu coração ainda estava
em pedaços, contudo, ficar em casa só me lembraria do sentimento de
abandono. E a última coisa que eu queria era lembrar.
Pretendia encher muito a cara hoje à noite, me divertir e esquecer
de tudo.
— Hey... — Megan me cumprimentou, assim que entrei no
corredor. Ela estava linda em um vestido vermelho, se arrumando para sair.
— Tá tudo bem com você?
— Sim. — Suspirei e dei um sorriso de lábios fechados para ela.
Os dois pareciam ter notado meu péssimo humor esses dias, pois
perguntavam o tempo inteiro se algo tinha acontecido, se eu estava bem, o
porquê não comia direito. Era estranho notar que, apesar de terem suas
vidas, seus empregos e outras mil preocupações, eles se importavam
comigo. Lembravam-se de mim também.
— Vai sair? — questionei só para mudar de assunto, mas era bem
óbvio.
— Sim. — Minha cunhada abriu um sorriso radiante ao dizer: —
Seu irmão vai me levar para jantar e depois vamos para um hotel transar
muito. Não nos espere esta noite. — Dei risada quando falou.
— Vou a um show na Delta Sigma — contei, deixando de fora a
parte que eu pretendida beber. Talvez, se eu conseguisse chegar em casa
antes deles, nem notariam meu porre. — Devo voltar de madrugada.
— Tudo bem. — Megan acenou. — Se precisar, pode ligar para
um de nós dois. Temos que providenciar sua carta de trânsito, Vi. — Ela
parou por um momento, refletindo.
— Vou resolver isso. Mas hoje o Gav vai me dar uma carona. —
Olhei para as horas na tela do meu celular e congelei. — Daqui a quarenta
minutos, inclusive. Vou me arrumar.
— Okay! — Megan meneou a cabeça, me observando até eu sumir
dentro do quarto.
Olhei para minha cama, notando que minha real vontade era me
deitar ali, abraçar meus joelhos e chorar. No entanto, ele não merecia mais
as minhas lágrimas. Era capaz de sair hoje e arranjar outra mulher, das que
se jogavam em cima dele. O pensamento me causou uma revolta cega, me
obrigando a reagir e ir para o banho.
Meia hora mais tarde, fitei minha imagem no espelho. O rosto bem
maquiado, o vestido justo moldando meu corpo, mas o coração estava
apertado. Queria tanto ter o poder de desligar aquele sentimento ruim,
anestesiar meu coração com qualquer coisa, até que a angústia
desaparecesse, mas parecia impossível.
Quando saí do quarto perto do horário que marquei com Gavin,
encontrei Lukas na sala muito bem arrumado dentro de um terno escuro e
camisa preta com os primeiros botões abertos.
— Uau, que gato! — elogiei.
— Gostou? — Ele abriu as lapelas do terno, dando uma voltinha.
— Vou levar minha futura esposa a um encontro hoje.
— Nossa! — acabei me divertindo enquanto ele se gabava. —
Bom jantar para vocês — desejei, checando meu celular para ver se Gavin
tinha chegado.
— Você vai à uma festa?
— Sim, vai ter um show em uma fraternidade.
— Comeu alguma coisa durante o dia? Você sequer tocou no café
da manhã.
— Almocei com os meninos e comi um lanche no caminho para cá
— contei, tentando segurar a onda e não demonstrar que nos últimos dias eu
não sentia fome, nem sono.
As palavras de Mason ainda reverberavam em minha mente e
apertavam meu coração, fazendo o resto do corpo todo doer.
Entretanto, eu era forte. Não seria a primeira rejeição da minha
vida, talvez nem fosse a última, de acordo com o meu histórico fodido.
Meus olhos se encheram de lágrimas mais uma vez e antes que
Lukas notasse, me despedi e deixei o apartamento. Entrei dentro do
elevador e respirei fundo algumas vezes, me livrando da vontade de chorar.

Gavin, Crystal e eu entramos na sala do casarão iluminado apenas


por holofotes no teto. Uma banda tocava um heavy metal em cima do palco
à medida que a galera pulava ao redor, contudo, pelo que eu soube a noite
seria bem diversificada. Teria até country e pop. Várias bandas se
apresentariam ali.
— Vocês querem algo para beber? — Gavin gritou por cima da
música e eu respondi no mesmo tom.
— Quero algo com muito álcool, por favor.
Os dois me olharam com olhos arregalados, mas, por fim, Crystal
pediu um refrigerante e Gavin acenou, saindo para buscar.
Olhei ao redor das pessoas e vi Shane em um canto próximo com o
braço ao redor do pescoço de uma loira. Desde aquele dia da festa, ele
nunca mais olhou em minha direção, na verdade, mal nos encontrávamos
dentro do campus e essa era a primeira festa que eu comparecia depois
daquela. A lembrança trouxe Mason de volta a minha mente, fazendo com
que eu recordasse a maneira como cuidou de mim em seu apartamento. Ele
não quis me deixar sozinha ao notar o quanto eu estava devastada. Tudo
começou a desandar ali. Naquele dia eu passei a ver Mason com outros
olhos, a enxergar nele algo que, pelo visto, nem existe.
Meus olhos começaram a encher de lágrimas outra vez e eu tratei
de afastá-las. E quando Gavin voltou, me entregando um copo de plástico
com um líquido estranho dentro, dei um longo gole, sentindo a ardência
descer pela minha garganta.
Bem, antes isso do que lágrimas.
Capítulo 33 — Mason Rilley

Regra nº 14: Não sofra que nem um condenado,


também não corra atrás dela.

Fitei seu nome escrito com tinta lilás na parede do meu quarto
outra vez, me lembrando de todos os momentos bons que passamos aqui.
Cada canto desse maldito apartamento me lembrava Violet, e em alguns
cômodos nem precisava ter seu nome escrito na parede ou um insulto
direcionado a mim. O cheiro dela parecia impregnado em cada centímetro
do lugar.
Olhei mais uma vez com raiva ao redor, sentindo vontade de
quebrar tudo e construir outra vez, só para criar um lugar diferente, um em
que eu não pensasse nela a cada segundo.
Porém, a quem eu queria enganar?
Antes, o meu lar era o meu lugar de paz, e agora eu não conseguia
nem mais pensar direito enquanto vagava pelas nossas lembranças juntos.
Queria que Violet estivesse aqui.
Queria ouvir sua risada alta, suas provocações, sentir seu cheiro e
colocá-la em meu colo quando precisasse de carinho.
Eu a queria tanto que meu coração doía.
Sentir essa necessidade de estar com alguém nunca fez parte dos
meus planos. A última coisa de que eu precisava era de um sentimento tão
forte assim, mas foi impossível não construir isso por ela.
Há dias a minha vida não parecia mais a mesma. Eu acordava de
manhã e olhava meu celular para ver se havia alguma mensagem ou
chamada dela, então eu mandava algo, às vezes perguntava se estava bem,
em outras pedia para conversar, e ela nunca respondia. À tarde, começava a
ficar ansioso e insistia em ligar para seu celular, torcendo para que
atendesse nem que fosse por engano, e à noite eu mandava mais mensagens,
tentando vencê-la pelo cansaço. No entanto, a diaba parecia disposta a me
ignorar.
Preferia que ela viesse aqui e gritasse comigo. Queria ouvir de sua
boca que tudo que rolou conosco foi apenas sexo. Talvez assim eu me
conformasse. Só não aceitava uma simples mensagem de texto sem
nenhuma explicação.
Olhei outra vez as últimas mensagens que ela mandou, me
dispensando como se eu não significasse nada.
Depois desse dia, algumas fichas caíram para mim. A principal
delas me mostrava o quanto eu estava envolvido e verdadeiramente
apaixonado.
E a paixão era a porra de um sentimento cruel.
Apertei o telefone em minhas mãos, morrendo de vontade de atirá-
lo contra a parede. Não aguentava mais remoer aquilo em minha cabeça.
Levantei da cama, pegando um jeans e uma camisa qualquer no
closet. Me olhei no espelho, vendo a barba malfeita e o cabelo desgrenhado.
Meus olhos estavam com olheiras profundas por conta dos dias que eu
vinha dormindo muito mal. Que porra eu fiz com a minha vida?
Vesti uma jaqueta e saí de casa, caminhando pela calçada até parar
no prédio de Lukas. A essa altura eu nem me importava mais que todos
soubessem dos meus sentimentos.
Foda-se.
Meu amigo queria uma confissão cheia de sentimentalismo e
promessas? Ele teria, e a diaba também.
Eu só precisava colocar aquilo tudo para fora.
Gritar que ela fez com que eu me apaixonasse apenas para me
mandar uma mensagem no final dizendo que cansou de mim.
Caralho!
Como ela estava toda feliz quicando no meu pau em um dia e no
outro tinha se cansado de mim? Impossível!
E não, não se tratava de ego ou nada do tipo. Violet e eu
construímos mais do que um repertório de boas trepadas pelo tempo que
ficamos juntos, eu e ela tínhamos uma conexão. Ela falava comigo antes de
dormir e contava suas inseguranças, eu a abraçava, dizendo que precisava
confiar em si mesma. Como isso acabou assim? Por uma mensagem de
texto, porra?
Destravei a porta do apartamento de Lukas e entrei na sala escura.
— Megan? — chamei alto, mas ninguém respondeu.
Entrei pelo corredor dos quartos e todas as portas estavam abertas e
o lugar vazio.
— Que droga! — falei, passando as mãos pelos meus cabelos.
Tirei o celular do bolso, mandando outra mensagem para Violet.
Eu: Onde você está? Precisamos conversar.
Aquilo estava ficando tão repetitivo que digitei outra coisa.
Eu: Me dá apenas cinco minutos, Princesinha, prometo que te
deixo em paz depois de dizer tudo que preciso.
Saí da casa de Lukas e desci pelo elevador com o celular em mãos,
esperando ansiosamente que me respondesse e quase comemorei quando o
aplicativo mostrou que ela havia começado a digitar.
Violet: Eu não vou te encontrar. Nunca mais vai tocar em mim
depois do que disse ao meu irmão.
Violet: Se não quer nada comigo, apenas me deixe em paz.
Violet: Poupe suas palavras.
Congelei enquanto olhava para a tela. Ela sabia sobre a minha
conversa com Lukas? Por que diabos ela sabia daquilo?
Meu coração passou a bater mais rápido conforme eu procurava
uma forma de corrigir aquele engano. Falei aquilo na hora do desespero,
não queria assumir nada daquela maneira e minha única opção era negar.
E porra!
Mentir para o meu melhor amigo doeu, mas receber aquela
mensagem dela doeu muito mais. Se houvesse uma maneira de reviver
aquela conversa, eu teria feito tudo diferente.
Digitei seu número e comecei a ligar. Da primeira vez, chamou até
cair na caixa postal, mas não desisti, precisava me explicar.
— Mason, já pedi para me deixar em paz. — Violet atendeu
gritando, meio que atropelando as palavras. Uma música alta tocava no
fundo, confirmando minhas suspeitas de que ela tinha ido a alguma festa já
que Timothy avisou que ela não trabalharia neste fim de semana. — Você
diz que eu sou irritante, mas quem está sendo insuportável é você.
Ela sabia até dos detalhes. Caralho!
Não quis acreditar que Lukas teve essa coragem de dizer para ela o
que conversamos em particular. Eu só disse as palavras da forma que ele
queria ouvir e o filho da puta contou.
— As coisas não são como você está pensando, Princesinha, me
deixa explicar — pedi devagar, quase implorando.
— Explicar que estava me usando esse tempo todo apenas apara
esquentar sua cama? — ela disse outra vez, tomando fôlego em meio a
uma palavra e outra.
— Você está bêbada? — perguntei devagar, mas era óbvio pela
maneira que falava.
— Nãaaoo! — Violet respondeu, de maneira arrastada.
— Me diz onde você está...
— Não é da sua conta, Mason. Eu. Não. Sou. Da. Sua. Conta.
Depois de gritar as palavras de maneira revoltada, ela desligou, me
deixando sozinho com minhas preocupações.
Se ela conseguia se meter em confusão estando sóbria, bêbada
seria capaz de colocar o mundo de cabeça para baixo. Andei de volta para
casa, pensando em como descobriria seu paradeiro. Porém, antes de
qualquer coisa, mandei uma mensagem para Megan.
Eu: Onde você está?
Assim que entrei em meu apartamento, o celular vibrou indicando
sua resposta.
Megan: Jantando com o Lukas, e você?
Podia dar uma desculpa qualquer, mas estava cansado de mentir
para todos. Fingir não tinha mais graça.
Eu: Atrás da Violet.
Eu: O idiota do seu namorado passou uma história toda deturpada
para ela, e agora a diabinha pensa que eu não me importo, mas, porra, eu
me importo sim, eu estou apaixonado por aquela garota.
Megan: Porra, Mason! Você quer desabafar enquanto eu estou no
meio de um jantar romântico? Tá brincando, né?
Eu: Só me diz onde ela está...
Respirei fundo e digitei embaixo, implorando:
Eu: Por favor, Megan.
Megan: Ela foi a um show em uma fraternidade. Acho que o nome
é Delta Sigma...
Sorri para a mensagem, quase suspirando de alívio.
Eu: Valeu mesmo.
Megan: Se fizer merda e atrapalhar a minha noite, eu juro que
raspo sua cabeça.
Bem... a merda já estava feita. Minha intenção agora era corrigi-la.
Capítulo 34 — Mason Rilley

Regra nº 15: Se olhar para ela com admiração,


mesmo em um de seus piores momentos. Sinto muito
em informar, mas você já está fodido.

Apanhei as chaves do carro e desci para a garagem do prédio. Não


precisava colocar o endereço no GPS, já que conhecia aquela área como a
palma da minha mão, e em vinte minutos eu estava estacionando o carro na
calçada da Delta Sigma, aliviado por realmente estar rolando uma festa e
preocupado com Violet bêbada ali dentro.
Travei as portas do meu SUV e caminhei pela passarela de pedras
até entrar no ambiente barulhento e escuro que fedia a álcool e drogas.
Hoje, com trinta e um anos, não sentia a menor falta dessas festas malucas.
Amava o clima da boate, onde pessoas adultas curtiam de maneira
responsável, às vezes nem tanto, porém, sem menores de idade se entupindo
de bebida ruim.
Em um primeiro momento, fui olhando por cima das pessoas à
procura de Violet, mas logo a voz inconfundível me chamou atenção. Ergui
os olhos para o palco, vendo-a lá em cima com um microfone em uma mão
e um copo de bebida em outra, cantando de olhos fechados:
I'm drunk in the back of the car
And I cried like a baby coming home from the bar (oh)
Said I'm fine, but it wasn't true
I don't wanna keep secrets just to keep you
And I snuck in through the garden gate
Every night that summer, just to seal my fate (oh)
And I scream for whatever it's worth
I love you, ain't that the worst thing you ever heard?
He looks up, grinning like a devil[18]
Me aproximei do palco, hipnotizado pela voz melodiosa e sem
conseguir parar de fitar suas expressões, o sentimento que ela transmitia
através das frases cantadas. As pessoas ao redor vibravam junto, aplaudiam
e gritavam, admirando o show. Sim, ela era muito boa.
And it's new, the shape of your body
It's blue, the feeling I've got
And it's ooh, whoa oh
It's a cruel summer
It's cool, that's what I tell 'em
No rules in breakable heaven
But ooh, whoa oh
It's a cruel summer
With you[19]
Se conseguisse enxergar no mínimo um porcento de seu talento...
Porra, se ela ao menos visse o que vejo, não teria tanta vergonha de cantar
na frente das pessoas.
Me arrepiei inteiro com a última parte do refrão à medida que ela
sentia o que cantava, como se estivesse alheia a todos que a assistiam. Era
apenas ela e a música ali.
Violet abriu os olhos quando a música estava quase no fim e como
se já sentisse a minha presença, seu olhar encontrou com o meu e ela
continuou cantando a parte: “E eu gritei por qualquer coisa que valesse a
pena. Eu te amo, essa não é a pior coisa que você já ouviu?”, no fim da
música, a diabinha estava de joelhos em minha frente, com a expressão
cheia de revolta e tristeza.
Violet abaixou o microfone quando acabou de cantar, mas parte da
melodia da música ainda não tinha terminado.
Tudo aconteceu rápido demais quando ela tentou levantar, se
desequilibrando sobre as sandálias de salto. Não consegui agir com pressa o
suficiente antes de seu corpo se chocar contra o piso, seguido do estrondo
alto do microfone batendo no chão.
Merda!
No segundo seguinte eu estava pulando em cima do palco,
erguendo sua cabeça entre minhas mãos para saber se estava bem.
— Violet? — chamei desesperado e ela piscou.
— Ai, que vergonha! — Respirei aliviado quando ouvi sua voz. —
Eu disse que não queria ver você. — Seu tom disperso e irritado me fez
revirar os olhos.
A ergui do chão, ajeitando seu corpo pequeno em meus braços e
olhei ao redor, procurando por onde poderia descer daquela porcaria de
palco. Só então notei algumas pessoas filmando a cena com o celular e
tentei cobrir o rosto dela, já que eu tinha absoluta certeza que as imagens
parariam na internet.
Ignorei seus dois amigos que me olhavam chocados e passei pelo
meio das pessoas, tirando-a daquele lugar.
— Mason — ela quase gritou meu nome em um tom muito
parecido com repreensão. — Me põe no chão!
Não conseguia ver seu rosto, por causa da escuridão naquela parte
do quintal, mesmo assim respondi:
— Espera, tá bom? Depois você pode me xingar, gritar comigo,
fazer o que quiser, mas primeiro você vai ficar sóbria e me ouvir.
— Mason... eu acho que vou vomitar.
Ouvi um som de engasgo logo após ela falar e depois o vômito
quente molhando minha camiseta e a grudando em minha pele.
Merda, a noite só ficava melhor!
A coloquei no chão, ajudando-a a se equilibrar e segurei seu cabelo
enquanto ela curvava o corpo para vomitar mais.
— Tá tudo bem? — A mesma garota da última festa estava há
alguns metros de nós. Se não me falha a memória, se chamava Crystal.
Violet falava muito dos dois amigos para mim.
— Sim. Eu vou levá-la para casa.
A diabinha murmurou alguma coisa, o que acredito que tenha sido
uma recusa. Mas eu estava pouco me fodendo para suas vontades agora,
pelo menos não até ela estar em casa limpa, sóbria e protegida.
— Ela não quer ir com você, pode deixar que eu a levo. — Gavin
surgiu perto da amiga, conseguindo dar dois passos em nossa direção antes
de ver meu olhar furioso.
— Violet te adora, cara, então não me obrigue a te dar uma surra.
Estou tentando fazer as coisas darem certo entre nós dois, e bater em você
diminui muito as minhas chances.
— Não existe nós dois! — Violet se ergueu, quase tropeçando em
seus próprios pés antes de limpar a boca com as costas das mãos e me olhar
com raiva.
— Depois conversamos sobre isso, diaba, agora vamos embora.
Arrastei seu corpo pequeno pela cintura, sem deixar espaço para
que ela retrucasse e ajudei a se acomodar do lado do passageiro sob seus
resmungos.
— Eu consigo colocar o cinto, sai! — Ela tentou me afastar, mas
sua coordenação motora não estava nas melhores condições.
— Claro que consegue. — Passei a alça por seu torso e me estiquei
para afivelar o cinto de segurança. — Mas eu insisto em fazer por você.
Lembra?
Não esperei sua resposta e fechei sua porta, dando a volta no
veículo para assumir o volante. Precisei respirar fundo por alguns segundos
antes de ligar o carro, mas não dei partida ainda.
— Você não deveria beber, Violet. Pelo menos não dessa forma.
— Aí, quem que é você pra me dar lição de moral?
Ela estava impossível. Bêbada e irritada.
— Alguém que se preocupa com o seu bem-estar...
— Conta outra, Mason, você só se preocupa com o seu próprio
rabo.
Não respondi, pois nada que dissesse a uma Violet nesse estado
adiantaria. Talvez depois ela nem se lembrasse desse momento.
Dirigi quieto até Nob Hill. Estava aliviado por ter conseguido
encontrá-la e trazê-la em segurança comigo. Por outro lado, não sabia o
quão difícil seria convencê-la de que eu não quis dizer nada daquilo ao
Lukas e que tudo que eu mais queria era tê-la por perto.
Quando parei o carro na entrada de seu prédio, Violet cochilava no
banco ao meu lado. Olhei para ela, fitando a maquiagem borrada em
contraste com o rosto tranquilo. Já nem parecia mais a garota que vivia me
insultando desde o dia em que nos conhecemos. Também não parecia a
mulher que gritava meu nome ao gozar.
Era só a Violet.
A menina cheia de sonhos que não tinha fé em si mesma para
realizá-los. A garota que nem se esforçou para tomar meu coração para ela
da pior e melhor maneira.
Era a minha diabinha.
Desci e dei a volta no veículo, pegando-a em meus braços para
entrar no prédio. O porteiro arregalou os olhos assim que a viu quase
desmaiada, mas antes que ele ligasse para a polícia, eu expliquei:
— Ela bebeu demais. Universitários... o senhor sabe como
funciona.
O homem acenou em compreensão e não fez perguntas enquanto
eu me atrapalhava para chamar o elevador. Quando começamos a subir ela
despertou, piscando os olhos para se adaptar à claridade.
— Por que foi atrás de mim, Mason? — perguntou baixinho, sem
fazer nenhum movimento para sair dos meus braços. — E por que você está
molhado? — Fez uma careta. Pelo visto, ela nem se lembrava que tinha
vomitado em mim.
— Te conto quando estiver um pouco mais sóbria.
Violet resmungou algo ininteligível e depois voltou a fechar os
olhos, como se estivesse cansada demais para simplesmente mantê-los
abertos.
Entrei no apartamento que ainda tinha as luzes apagadas e fui
direto para o seu quarto. A coloquei sentada na cama, me livrando da
bolsinha que estava atravessada em seu corpo e dos sapatos de salto que a
derrubaram no palco mais cedo, à medida que ela me olhava com as
pálpebras cerradas, cheia de confusão.
Sua mente devia estar uma bagunça mesmo.
Tirei meu celular e carteira do bolso e chutei os sapatos, a pegando
outra vez no colo para nos enfiar embaixo do chuveiro.
Violet protestou ao sentir a água gelada caindo por sua cabeça.
Porém, precisava nos livrar daquele odor insuportável de vômito. Comecei
a tirar minhas roupas molhadas primeiro, jogando-as no chão do box e
depois foi a vez de despi-la.
— Não quero ficar nua com você — ela reclamou, ainda sem
conseguir manter os olhos inteiramente abertos.
— Já vou te vestir, mas primeiro vamos nos livrar da sujeira.
Falei com calma, começando a pentear seus cabelos para trás
debaixo da água com as pontas dos meus dedos, já que havia um pouco de
vômito ali também.
Seus lábios curvaram para baixo, antes de ela começar a soluçar de
maneira descontrolada. Arregalei os olhos sem saber direito o que estava
acontecendo.
— Você não quer mais me ver pelada — acusou, com a voz
engasgada pelo choro.
— Eu adoro você pelada, diabinha, mas não nessas condições.
Encostei sua cabeça em meu peito para que ela continuasse
chorando enquanto eu terminava de nos lavar. Era importante colocar a
raiva e a tristeza para fora.
Eu não era muito bom em lidar com lágrimas. Consolar pessoas me
trazia péssimas memorias, por isso eu mal sabia o que dizer, já que ela
estava podre de bêbada. Contudo, Violet foi se acalmando com o tempo,
respirando mais devagar.
Sequei seu corpo e a deixei sentada sob a mesma toalha em cima
da tampa do vaso para que eu pudesse me enxugar. Desconfiava que ela
começava a ficar mais sóbria. Ainda zonza, mas ao menos não chorava
mais daquela forma.
Enrolei a toalha na minha cintura e saí do banheiro para procurar
um pijama confortável entre suas coisas, quando encontrei, vesti seu corpo
molenga antes de colocá-la na cama deitada.
— Não tenta se levantar, tá bom? — falei, mas pela forma que
abraçou o travesseiro, desconfiava que ela só colocaria os pés no chão
amanhã.
Fui até a cozinha e peguei dois analgésicos e um copo grande de
água. Violet já cochilava quando voltei, mas precisei acordá-la para que
tomasse os remédios ou acabaria com uma ressaca filha da puta no dia
seguinte.
Deixei o copo em cima do aparador e observei seu rosto enquanto
me sentava na borda da cama ao seu lado.
— Violet... — Sacudi seus ombros com delicadeza.
Nem me lembrava a última vez que precisei carregar uma pessoa
bêbada, e provavelmente foi Lukas quem arrastei para casa, mas tenho
certeza de que não tive todo esse cuidado de banhá-lo e lhe dar remédios
antes de colocá-lo na cama.
A diabinha abriu os olhos devagar, piscando rápido, e eu a ajudei a
sentar, aproximando o copo de seus lábios para que bebesse a água. Ela
resmungou algumas vezes e depois segurou o copo com as próprias mãos.
Entreguei dois analgésicos para ela e mandei engolir.
— Melhor beber tudo — falei, quando ela fez menção em largar o
copo com metade da água ainda nele.
Depois de me encarar com cenho franzido, ela entornou o líquido
de uma vez, entregando o copo em minhas mãos antes de se recostar nos
travesseiros, apertando os olhos e gemendo baixinho, talvez pela tontura
que sentiu.
Fiquei olhando para ela, pensando em tantas coisas que eu queria
dizer, ao mesmo tempo, não achava que era o momento certo. Violet tinha
se tornado importante para mim e se tivéssemos um pouco mais de tempo,
talvez eu nem precisasse estar aqui implorando por sua atenção para falar
dos meus sentimentos. As coisas aconteceriam naturalmente...
Um belo dia, talvez, eu acordasse com ela ao meu lado, me dando
conta de que a pequena diaba quebrou todas as minhas regras, bagunçou a
minha vida e tomou para si um sentimento que eu nunca consegui oferecer
a ninguém.
Ela abriu os olhos um tempo depois, suas íris se conectando às
minhas. Havia tristeza ali, medo também.
— Vai dormir, diabinha — falei após um tempo, me erguendo do
colchão. — Amanhã eu volto para conversarmos melhor.
Eu não queria realmente ir, mas ela já tinha falado tantas vezes que
não me queria por perto, que talvez dormir aqui a deixasse mais irritada. E
isso era a última coisa que eu queria.
Ela inclinou o pescoço, me olhando de um jeito melancólico, e eu
virei as costas, pensando em quão ruim seria acampar no sofá da sala só
com uma toalha enrolada na cintura até ela acordar.
Teria uma boa explicação para dar ao Lukas caso ele me
encontrasse assim em seu apartamento. Podia até pegar roupas dele
emprestadas e ir para casa, mas a verdade é que eu não tinha a menor
vontade de sair de perto dela agora, pelo menos não até tudo ser
esclarecido.
Depois Violet poderia me dispensar, decidir se ficaria ou não
comigo, e eu passaria um tempo fodido, mas aos poucos seguiria em frente.
Entretanto, não a deixaria pensando que eu não tinha sentimentos por ela.
Já que eu a queria. E queria pra caralho!
Antes que eu passasse pela porta, fui parado por sua voz.
— Mason — ela chamou devagar e eu me virei, cheio de
expectativas. — Fica aqui.
Então, eu fiquei.
Capítulo 35 — Mason Rilley

Regra nº 16: Pode parecer estranho, mas, não saia


distribuindo socos por aí. Já deveríamos ter
aprendido essa parte.

Senti o cheiro dela antes mesmo de acordar e apenas por um


segundo antes de abrir os olhos, meu coração ficou em paz. Era a mesma
sensação que eu tinha todas as manhãs, quando preparava minha xícara de
café sobre o balcão da cozinha e me sentava no sofá para meditar. Meu
lugar de paz não se tratava mais de onde e sim de quem.
Era Violet.
Abri os olhos quando ela resmungou alguma coisa, se
aconchegando ainda mais contra o meu corpo. Acariciei seus cabelos e
encostei os lábios em sua testa, mantendo-a dentro do meu abraço.
Já era de dia e o quarto todo estava iluminado pela luz do sol.
— Violet? — chamei baixinho e ouvi seu murmúrio outra vez
antes de ela se agitar.
— Você está aqui mesmo? — perguntou com a voz rouca.
— Sim, não se lembra de ontem?
Ela afastou a cabeça para fitar meu rosto com os olhos estreitos
enquanto tentava recordar.
— Lembro de atender a sua chamada, de interromper um show de
rock para cantar Cruel Summer. — Seus olhos se esbugalharam e sua
expressão foi se tornando puro desespero. — Meu Deus, eu caí na frente de
um monte de gente.
Acenei devagar, esperando para ver se ela lembrava de algo mais.
Pelo menos da parte que me pediu para não ir embora.
— Você cantou na frente de muitas pessoas também, e foi incrível
— disse, já que ela parece ter resumido seu show apenas ao desastre do
final.
— Meu Deus, pra que eu fui beber? — ela choramingou, abafando
um gritinho com o travesseiro.
— Me fiz a mesma pergunta o tempo todo enquanto te trazia para
casa.
Aquilo fez Violet erguer a face outra vez, para me direcionar um
olhar emburrado.
— Eu ainda não quero falar com você, Mason.
Ela abriu a boca para voltar a reclamar, entretanto, vozes alteradas
seguidas de passos rápidos vieram do corredor e logo em seguida a porta foi
escancarada, Lukas e Megan encararam a nós dois do lado de fora. Minha
irmã tinha os lábios comprimidos um pelo outro, segurando uma risada,
mas meu amigo, se é que eu ainda podia chamá-lo assim, estava puto, com
a respiração difícil e o rosto vermelho.
— O significa isso? — ele perguntou.
Violet arregalou os olhos em minha direção, antes de virar devagar
e olhar para o seu irmão.
— Dormi aqui. — Franzi o cenho, encarando-o.
Quis me levantar, mas acabei me lembrando que estava sem
roupas. E, puta merda, seria um péssimo agravante àquela situação.
— Você... — Lukas apontou para mim, puxando o ar com força. —
Você me disse que não a queria. Você prometeu.
— Eu só falei o que você queria ouvir — enfatizei, apontando de
volta para ele e enrolando o lençol em minha cintura, sem conseguir ficar
deitado por mais tempo.
— Só te pedi uma coisa. Uma única coisa.
— Nós dois já estávamos juntos há algum tempo, criamos uma
conexão. Não é culpa minha se você resolveu compensar todos os anos que
passou longe dela agindo como o irmão mais velho babaca, cego e
superprotetor.
Joguei aquilo na cara dele. Podia até parecer uma afronta, mas na
minha opinião, era só o que Lukas precisava ouvir. Tratar Violet como uma
criança indefesa não substituiria sua infância sem ele.
— Mason! — Megan arregalou os olhos, me alertando.
— Eu não quero compensar nada — Lukas rugiu alto dando alguns
passos para dentro do quarto enquanto eu continuava parado perto da cama,
com o lençol enrolado na cintura e Violet atrás de mim. — Só quero deixá-
la bem longe de caras como você...
Fitei rapidamente os olhos da diabinha, vendo-a assustada por
nossa discussão.
— Caras como eu? — Soltei uma risada seca. — Se está com
medo é porque sabe que um dia já foi um cafajeste cético igual a mim, mas
agora está prestes a se casar com a minha irmã.
— Não compare meu amor pela Megan com o seu... — Ele parou
um momento, procurando a palavra certa — tesão pela minha irmã, porra!
— Eu te apoiei, porra, mesmo te dizendo para não partir o coração
dela, acreditei que você podia mudar — gritei, já irritado com aquele seu
excesso de proteção.
Além disso, a falta de fé que ele tinha em mim me magoava.
Éramos amigos há mais de uma década e ainda assim ele acreditava que eu
seria capaz de apenas brincar com a Violet, uma das pessoas mais
importantes na sua vida.
— São situações diferentes. — Ele negou com a cabeça, se
aproximando mais e erguendo o indicador apontado para meu rosto, depois
disse com nojo: — Você não pode querer a minha irmã só porque eu estou
com a sua, Mason, isso é doentio.
Perdi a razão naquele minuto, soltando o lençol para colidir com
meu punho em seu rosto. Era a segunda vez que Lukas dizia aquilo, como
se eu não fosse capaz de sentir algo por Violet. Fazendo parecer que a ideia
de ficar com sua irmã se tratasse apenas de um desejo de retaliação, o que
estava muito longe de ser verdade.
Lukas devolveu o soco e eu precisei sacudir a cabeça ao sentir os
ossos do meu rosto vibrarem quando ele acertou minha mandíbula pela
segunda vez. O filho da puta tinha a mão pesada, mas eu não queria parar.
Tínhamos uma grande conta pela frente, mas minha raiva maior era
a conversa particular que tivemos e depois ele foi correndo contar para
Violet.
Agarrei seus ombros e o joguei no chão, caindo em cima dele.
Pelado.
Capítulo 36 — Violet West

Querido diário, finalmente não sinto mais vontade


de queimar você. Olhar para o nome dele não dói
mais.

Gritei, pulando da cama ao ver Mason se jogar em cima do meu


irmão. Se eu já estava desesperada ao vê-los discutindo verbalmente um
com o outro, meu coração quase saiu pela boca quando começaram a brigar
na minha frente.
Por minha causa.
E Mason estava nu.
Puta merda!
Megan avançou para cima deles, mandando-os parar, e eu fiz o
mesmo, puxando um Mason revoltado para trás.
— Você encostou seu pinto nojento em mim — Lukas rugiu,
tentando avançar mais uma vez, porém, Megan pulou em suas costas o
impedindo.
— Se não parar de bater no meu irmão eu não caso mais com você
— ela gritou, o que fez Lukas olhar para o lado com uma expressão
chocada.
— Você está do lado dele? — Lukas questionou, soltando o ar com
força. — Viu o que ele fez? Foi ele quem me socou!
Megan apenas fechou os olhos, negando com a cabeça antes de
descer das costas do noivo.
— Mason, veste uma roupa, vamos conversar como quatro adultos
na sala em dez minutos.
— Eu vomitei nas roupas dele — falei, encolhendo os ombros para
pedir desculpas. — É por isso que ele está nu, nós não transamos.
Lukas olhou de mim para Mason, com sua expressão um pouco
mais aliviada.
— Hoje. Não transamos hoje — o idiota afirmou.
— Cala a boca — mandei, balançando a cabeça de maneira
incrédula.
— Tudo bem — Megan acenou —, vou trazer algo para você
vestir.
— Não vou emprestar minhas roupas para esse... — meu irmão
começou a falar, mas logo foi interceptado pelo olhar da noiva.
Megan empurrou um Lukas colérico para fora do quarto antes de
fechar a porta. Apertei os olhos, levando a ponta dos dedos para esfregá-los.
Nem acreditava que tudo aquilo estava acontecendo. Puta merda!
— Por que bateu nele? — perguntei de maneira desesperada.
— Se não fosse por ele, nós dois ainda estaríamos bem, e eu não
precisaria ir te buscar bêbada em uma festa ontem à noite. É tudo culpa
dele.
— É tudo culpa sua, Mason — corrigi e ele me olhou magoado,
mas engoliu a revolta e se virou para enrolar uma toalha na cintura.
Não precisava perguntar por que ele tinha dormido aqui, já que eu
me lembrava com muita clareza o momento em que pedi para ele ficar.
Estava carente e, apesar da raiva, sentia falta dos seus braços em volta de
mim.
Um tempo depois, Megan bateu na porta e abriu uma fresta,
jogando duas peças de roupas em direção ao seu irmão.
— Se arrumem e vão para a sala.
Acenei, ainda assustada, revoltada e com vergonha por tudo isso.
Não era para eles descobrirem assim. Na verdade, nem era para
descobrirem.
Quando terminei de prender direito meu cabelo, Mason já estava
vestido.
— Vamos? — perguntou, estendendo a mão para mim.
Olhei por vários segundos seu braço esticado e depois ergui meu
olhar para o seu, cheio de expectativas. Talvez a mesma expectativa que
senti antes de ele dizer com todas as letras que não queria nada comigo.
Desviei os olhos e passei por ele, saindo sozinha do quarto. Lukas
e Megan estavam sentados lado a lado no sofá quando cheguei. Não os
olhei ainda, ficando o mais distante possível na poltrona que eles
compraram junto com o sofá novo.
Mason se juntou a nós dois alguns segundos depois, com apreensão
bem visível em seu rosto.
— Quem vai contar quando tudo isso começou?
Foi Megan quem colocou a primeira carta na mesa, dividindo sua
atenção entre Mason e eu. Lukas permanecia taciturno, olhando para lugar
nenhum.
Suspirei e abri a boca para dizer:
— No dia da primeira Fantasy Party, nós dois discutimos e
acabamos nos beijando.
Megan meneou a cabeça, arregalando os olhos. Por que eu tinha a
impressão de que aquilo para a minha cunhada parecia uma grande fofoca
enquanto meu irmão estava puto?
— Tá, mas foi porque os dois quiseram? — ela questionou outra
vez, e Mason bufou.
— Claro que foi. — Cerrei os olhos na direção dele, o obrigando a
calar a boca.
— Sim, eu quis beijá-lo — confirmei.
— Mason, por que não contou a verdade quando Lukas perguntou?
— Porque ele é um vagabundo — meu irmão levantou a voz pela
primeira vez, dando a Mason um olhar cortante.
— Porque seu namorado burro só se importa com a própria
opinião. — Lukas tentou interrompê-lo, fazendo menção em se levantar,
mas Megan conteve seu rompante, puxando-o de volta.
— É noivo, Mason, não provoca — Megan repreendeu o irmão
também, negando com a cabeça. — Pode continuar, ainda não ouvi um
motivo justificável.
— Eu só falei o que ele queria ouvir. Pretendia conversar com
Violet depois e arranjar uma maneira de contar, mas adivinha o que ele fez?
Disse tudo para ela, sem remorso.
— Ele não me contou, Mason, eu estava chegando e ouvi.
A cor sumiu de seu rosto quando terminei de falar e depois seus
ombros baixaram.
— Acredita em mim, diabinha, eu não quis dizer aquilo. Só não
queria deixar esse... — Mason suspirou, e olhou aborrecido para Lukas,
antes de voltar a atenção para mim. — Seu irmão parecia angustiado,
realmente preocupado com você, e eu não quis tornar a situação pior
naquele momento, foi só isso.
— Certo, depois vocês dois conversam sobre isso, mas o que
aconteceu depois?
— Eu terminei com ele — falei.
— Por mensagem de texto — Mason completou.
Megan fez menção em rir, mas logo engoliu a risada e continuou:
— E como você veio parar na cama dela pelado? — Megan
apontou para o irmão, perguntando.
— Eu sabia que ela estava bêbada em uma festa quando te pedi o
endereço. Fui atrás dela e Violet vomitou minha roupa, então nos limpamos
quando chegamos aqui, mas eu não tinha o que vestir.
— Vocês voltaram? — minha cunhada indagou.
— Não — respondi ao mesmo tempo que Mason dizia:
— Sim.
Lukas olhou entre nós dois com o cenho franzido e depois sua
atenção parou em mim. Meu irmão me observou bem, antes de questionar:
— Você gosta dele?
Mordi meu lábio inferior enquanto os três me olhavam. Meu irmão
com dúvidas, Megan chega de curiosidade e Mason com a expectativa
explícita.
— Sim — admiti, engolindo minha mágoa. — Mas não foi legal
ouvir aquela conversa.
— Já falei... — Mason começou a tentar se explicar outra vez, mas
eu o interrompi.
— Entendi, Mason, você não quis admitir que estávamos juntos,
ainda assim, estou dizendo que doeu.
— Eu jamais diria aquilo se soubesse que você ouviria. Quero tudo
com você, princesinha, quero participar de todas as suas próximas primeiras
vezes, cuidar de você, implicar contigo e depois rir das nossas loucuras. —
Ele inclinou o corpo para frente, sem desgrudar o olhar do meu, movendo o
joelho para cima e para baixo de maneira ansiosa. — Quero te abraçar
quando estiver triste e sussurrar no seu ouvido que tudo vai ficar bem. E
mesmo com medo, quero me apaixonar todos os dias pelo seu sorriso,
Violet.
Suspirei, sentindo meus olhos encherem de lágrimas, e me
levantei, correndo para me jogar em seu colo. Mason passou os braços em
volta de mim e enfiou o nariz em meus cabelos sussurrando:
— Me desculpa. Não quero mais ficar longe de você.
E eu o desculpei.
Ficamos por alguns segundos abraçados e depois eu acabei me
lembrando de que Megan e Lukas ainda nos observavam.
Me virei devagar, fitando os olhos ainda aborrecidos do meu
irmão.
— Lukas... — chamei devagar. — Mason não fez nada sozinho,
nós dois nos envolvemos.
— Não o defenda! — Me encolhi quando ele me cortou e senti o
corpo de Mason retesar embaixo de mim. Depois Lukas suspirou voltando a
dizer: — Não posso interferir nisso, Violet. É a sua vida. Quis..., ainda
quero te proteger de muitas coisas, mas vou te apoiar independente das suas
escolhas. Não pense que é culpada por nossa discussão, pois o meu
problema é com Mason. Foi ele quem mentiu para mim.
— Tudo bem — Megan escolheu esse momento para interferir. —
Acho que vocês dois precisam de um momento a sós. — Apontou para nós
dois e depois completou: — Enquanto Lukas esfria a cabeça.
Ela se levantou, tentando puxar meu irmão, mas ele travou no sofá,
ainda encarando Mason e eu juntos. Depois de um pouco mais de
insistência, Lukas se levantou.
Pensei que conversaríamos ali, entretanto, Mason tinha outros
planos para nós dois àquele dia.
Capítulo 37 — Mason Rilley

Regra nº 17: Abriu seu coração para ela? Então,


meu amigo, ele já nem é mais seu!

Abracei seu corpo assim que entramos no apartamento.


— Eu estava morrendo de saudades — falei, enfiando o nariz em
seu pescoço para sentir seu cheiro gostoso.
Violet ronronou como uma gatinha e depois trouxe os lábios aos
meus, me seduzindo com seu beijo. Apertei sua cintura e a ergui, sentindo
suas pernas em volta do meu quadril. Eu queria muito matar a saudade
daquele corpo se esfregando no meu, mas tinha algo que eu precisava dizer.
— Espera — falei, a afastando um pouco. — Temos que conversar.
— Agora? — ela juntou as sobrancelhas perguntando e arrancando
uma risada minha.
— Sim, agora.
A trouxe para o sofá, deixando-a de lado no meu colo. Tinha
muitas formas de começar aquele assunto, uma mais difícil do que a outra,
mas ela tinha que saber.
— Quero que você entenda o que me levou a dizer aquilo para
Lukas. Minhas dúvidas nunca tiveram nada a ver com você, diabinha.
— Eu já entendi — Ela acenou com a cabeça — Você não queria
que ele se preocupasse. Acho até que também tinha medo pela amizade de
vocês. É isso?
Estiquei os lábios em um sorriso triste e neguei devagar com a
cabeça. Quem me dera que fosse apenas isso... Respirei fundo antes de
começar a história que eu mais detestava contar. O único que me ouviu falar
abertamente sobre aquele assunto foi Lukas, mas eu sentia que ela precisava
saber. Queria que me conhecesse por inteiro.
— Quando perdemos meu pai, eu tinha apenas doze anos — falei,
sentindo meu coração acelerar com aquelas memórias. — Foi repentino.
Em um dia estávamos jantando na mesa da cozinha sorrindo e no outro ele
tinha partido. Todos nós sofremos muito, mas a minha mãe parecia
devastada. Ela não se alimentava bem, não dormia direito, tinha crises
compulsivas de choro. Tudo isso por meses. Seus olhos perderam o brilho e
ela não fazia mais nada além de sofrer.
Minha mente foi transportada de maneira instantânea para aquela
época. A casa virada de cabeça para baixo, as pilhas de roupas sujas se
acumulando, a dispensa vazia... Eu sabia que mamãe queria ser forte,
levantar e continuar sua vida, mas ela simplesmente não conseguia. A dor a
tinha consumido.
— Tivemos alguns meses difíceis em que Lukas trazia comida de
casa escondido para nós porque mamãe não conseguia trabalhar e não
tínhamos mais dinheiro para nos manter. Eu fazia tudo: estudava enquanto
cuidava da casa, ajudava Megan com a escola e cuidava dela, fazia alguns
trabalhos pequenos para conseguir alguma grana, ao mesmo tempo que
tentava não deixar minha mãe definhar em depressão. Foi uma época fodida
na qual jurei nunca me permitir ter sentimentos por ninguém.
Violet tinha os olhos esbugalhados e marejados em minha direção.
Não devia ser algo legal de ouvir também, mas mesmo assim eu continuei:
— Achei mesmo que em algum momento fosse perder minha mãe,
mas aos poucos ela foi se erguendo, voltou ao trabalho e encontrou outra
paixão para seguir em frente: sua profissão. Eu continuei tendo que ficar de
olho em Megan, que tinha seus sete ou oito anos na época e mamãe
trabalhava o dia inteiro. Às vezes eu ainda a ouvia chorando de
madrugada... com o tempo isso passou, porém, até hoje, se você falar do
papai na frente dela, seus olhos se enchem de lágrimas. Sentimentos
sempre me assustaram. Nunca fui desses caras que traziam uma mulher
para casa a cada dia, mas nunca ficava por tanto tempo com elas para me
apegar, e assim consegui não me apaixonar. — Fiz uma pausa, fitando seus
olhos atentos a mim e continuei:
— Isso até eu conhecer você. Talvez desde o primeiro dia, a forma
como me atraiu me deixou desnorteado, confuso, e sempre que você estava
por perto eu me sentia fora de mim, desestabilizado.
— Eu te desestabilizava? — Ela riu, em meio a uma lágrima que
escapou.
— Você ainda me desestabiliza, diabinha. — Beijei sua bochecha,
interrompendo o caminho que a lágrima fazia e depois me afastei para
continuar. — Por algum motivo eu sentia que, caso chegássemos a ficar
juntos, seria insano. Mas você conseguiu quebrar todas as minhas regras e,
mesmo sem querer, destruí a maior delas e me apaixonei. Depois que você
disse que não me queria mais, eu entrei em pane. Não tinha como seguir em
frente, quando tudo que eu pensava era em te ter por perto.
— Eu tive medo de ser rejeitada outra vez — Violet falou enquanto
seu olhar continuava conectado com o meu. — Quase todos na minha vida
me deixaram de lado, Mason, e só em ouvir você dizer que não queria nada
comigo... enfim, não estava preparada para aquilo.
— Quero tudo com você, Vi — falei outra vez, segurando sua nuca
para beijar sua boca com ferocidade. Depois me afastei para dizer: — Nós
dois ainda vamos enlouquecer um ao outro. Juntos.
Ela sorriu, antes de montar em meu colo com as pernas abertas.
— Juntos! — Violet repetiu, retomando o beijo em seguida.
Explorei seu corpo com minhas mãos, querendo sentir cada
centímetro dela. Era tão real esse desejo, a vontade que eu tinha de abraçá-
la e nunca mais soltar.
— Eu senti sua falta também — Violet falou contra os meus lábios
e eu voltei a devorá-la.
Tiramos nossas roupas devagar, entre beijos molhados e carícias
demoradas, e logo nós dois estávamos entre meus lençóis, nossos corpos
roçando um contra o outro.
— Eu quero tanto você — falei em seu ouvido à medida que
minhas unhas arrancavam a pele de sua coxa, causando arrepios por todo
seu corpo.
— Me toca, Mason — ela pediu manhosa, se agitando embaixo de
mim. — Preciso das suas mãos em mim.
Obedeci, esfregando minha palma pelo seu corpo até chegar à
boceta melada.
— Sempre molhada pra mim — sussurrei contra seus lábios
inchados, engolindo seu gemido com um beijo quando enfiei dois dedos
dentro dela, curvando-os para atingir seu ponto G.
Não demorou muito até ela estar se contorcendo, gemendo meu
nome em meio ao êxtase.
Era sempre alucinante vê-la dessa maneira tão entregue, tão minha.
Após seu orgasmo se dissipar, coloquei a camisinha e penetrei sua
boceta devagar, com nossos olhos conectados e bocas muito próximas,
sentindo a respiração um do outro se misturar. E não demorou até que nosso
ritmo se tornasse insano, com seu corpo balançando embaixo de mim
enquanto eu a fodia com força, da maneira que gostava.
Quando Violet gozou pela segunda vez, me permiti ir junto,
liberando toda tensão que guardava por dias.
Passamos o sábado inteiro assim. Os dois agarrados.
Eu não queria deixá-la ir.
Na verdade, nunca mais a perderia de vista.
Capítulo 38 — Violet West

Querido diário, PUTA QUE PARIU, EU NEM


ACREDITO.

Dois meses depois.

Na primeira vez que me perguntaram na mesa do jantar o que eu


queria ser quando crescesse, respondi: quero ser uma pop star, com fãs
espalhados pelo mundo inteiro! Eu até conseguia me lembrar da voz
infantil, os olhos brilhando de empolgação daquela menininha cheia de
sonhos e vontade de ser amada não só por sua família, mas pelo mundo
inteiro.
E então eu ouvi a seguinte frase: é um sonho muito grande para
alguém tão pequena.
Aquilo me marcou, não de uma maneira muito boa, mas eu
continuei sonhando. Mesmo sem ninguém mais acreditar, eu sonhava
acordada com o dia em que minhas letras fossem cantadas por milhões de
pessoas, o dia em que meu nome seria gritado e ovacionado.
Eu sonhei, sonhei muito. Acreditei, mas o sonho foi embora junto
com a inocência dos primeiros anos da adolescência.
Hoje, eu vivia cada vez mais perto desse sonho.
De dois meses para cá, minha vida mudou completamente quando
meu vídeo cantando bêbada explodiu na internet. Hoje em dia ele tinha
mais de setecentas milhões de visualizações, aquela foi a primeira vez que
me ouvi cantar de maneira espontânea. Chorei tanto que Mason achou que
eu estava triste, no entanto, era só medo de que as pessoas me criticassem.
Sim, existia medo, ainda existe, na verdade; e todo esse problema
com a necessidade de aprovação e a tão famigerada síndrome da impostora,
somada a vários outros complexos e crenças limitantes que desenvolvi por
conta dos meus traumas na infância, no entanto, meus produtores me
mandaram para a terapia.
Os pais do Gavin, que eram donos de uma das maiores gravadoras
do país, resolveram lançar meu nome no mercado. E graças ao meu amigo,
eu não era mais conhecida como a garota que cantou bêbada em uma festa e
depois levou um tombo. Gav fez questão de soltar minha música nas redes
sociais com a legenda “essa é aquela garota do tombo”. Então, fui ficando
conhecida por outros motivos.
Ainda tinha vergonha de cantar na frente das pessoas e também de
subir sozinha em um palco, mas estava trabalhando nisso.
Ah, e eu tinha um fã clube que curiosamente se chamava:
Caidinhas pela Vi.
Meu primeiro single lançado falava sobre a garota que dispensou o
namorado vagabundo antes que ele a decepcionasse. E pelo visto, muitas
garotas da minha idade se identificavam. Menos eu.
Mason era um sonho de consumo. Tinha seus momentos de
loucura, mas me apoiava e vibrava comigo a cada conquista. Só faltava
rosnar quando alguém tentava me fazer mal e me protegia.
Eu era caidinha por ele.
— Vamos acabar nos atrasando, diabinha! — Mason gritou da sala
enquanto Megan terminava de me maquiar na frente do espelho.
— Eles podiam ser mais pacientes, né? — Megan reclamou,
revirando os olhos. — Acham que conosco é a mesma coisa, só passar os
dedos nos cabelos e pronto.
Acabei rindo, tentando não me mover para que ela não enfiasse o
pincel do delineador dentro do meu olho.
Tínhamos um jantar importante hoje com alguns investidores que
queriam me conhecer. Pelo visto, eu teria uma parceria grande para fazer,
Gavin só não quis me contar com quem era.
Lukas e Mason finalmente tinham se entendido. No primeiro mês
era estranho, já que meu namorado evitava a todo custo vir até aqui, então,
Megan e eu ficávamos apenas tentando reaproximá-los de alguma forma
sutil, porém, um belo dia os dois acabaram conversando.
Mason pediu desculpas, Lukas reconheceu que pegou pesado com
ele, então abriram duas cervejas e se juntaram no sofá para ver o 49ers
jogar.
A paz tinha voltado a reinar entre eles e agora os dois trabalhavam
juntos na obra da casa que Mason desenhou para meu irmão e Megan. A
casa estava quase pronta, entretanto, eles ainda não tinham data para o
casamento.
Quando chegamos à sala, os dois estavam conversando, vestidos
em seus respectivos smokings.
— Nossa, que gata! — Mason me puxou para si assim que parei
em sua frente, me elogiando e beijando o cantinho da minha boca.
Ainda estávamos naquela fase boba do namoro, em que não
conseguíamos nos desgrudar, e que as briguinhas bobas acabavam em uma
sessão quente de sexo. Eu esperava que essa última parte nunca mudasse,
sinceramente.
Saímos todos juntos de casa para um restaurante chiquérrimo na
cidade que ficava a uns vinte minutos de casa.
Entramos no lugar, Mason com os braços bem firmes ao redor da
minha cintura, enquanto as pessoas ao redor nos olhavam com curiosidade.
Assim que chegamos à mesa, abracei Crystal, que também fazia parte da
minha equipe, e depois Gavin, que respondia como meu empresário
enquanto seus pais ainda o instruíam e monitoravam. Juntos, formávamos
um ótimo time.
Infelizmente, depois de viralizar, precisei trancar a faculdade.
Chegou um dia que já não era mais possível andar de um lado para o outro
despercebida. As pessoas me paravam no meio da rua, nos lugares enquanto
eu estava comendo, no shopping..., ainda era estranho, mas eu começava a
me acostumar com a atenção.
Henry, o pai de Gav, nos apresentou a dois homens e uma mulher
que estavam em volta da mesa e o assunto sobre o mercado musical fluiu
antes de pedirmos nosso jantar.
A mãe do Gav, Emma, acabou se tornando uma boa amiga, podia
até dizer que ela fazia um papel materno comigo e com a minha carreira.
— Nós andamos conversando sobre seus shows, Violet — Quem
começou o assunto foi o senhor Henry — e pensamos que a primeira vez
que você subir em um palco tem que ser em um show de alguém mais
experiente. Assim, quem estiver ao seu lado pode te passar essa segurança.
Além disso, você não precisaria ficar tanto tempo sob os holofotes. Então,
arranjamos uma participação especial pra você em um show que vai
acontecer no mês que vem em Los Angeles.
Olhei entre todos eles e notei Gavin, que tinha um sorriso de orelha
a orelha, como se não conseguisse conter a empolgação.
— De quem vai ser o show? — perguntei, querendo acabar de vez
com aquele suspense.
— Bruno Mars.[20]
Precisei levar a minha mão até a boca, mas nem isso conteve meu
grito de espanto, ao passo que todos ao meu redor riam da minha reação.
Meu primeiro show seria com o Bruno Mars.
Caralho!
Epílogo — Mason Rilley

Anos depois.

Admirei por baixo dos óculos escuros minha pop star torcendo os
cabelos enquanto saía da água do mar. Linda demais em seu biquíni lilás
minúsculo.
A carreira de Violet continuava em sua melhor fase desde aquele
vídeo com milhões de visualizações. Agora, ela estava no topo da lista de
músicas mais ouvidas do mundo com seu novo sucesso: Running With You.
[21]

Era lindo vê-la realizando seus sonhos e conquistando além do que


um dia imaginou. A menina que sonhava em ser amada, hoje tinha fãs
espalhados no mundo inteiro que gritavam seu nome e a acompanhavam
por onde quer que fosse.
Até eu e Baunilha ganhamos um fã-clube nesse meio-tempo. Mas
ela era a verdadeira estrela e sem dúvidas nasceu para conquistar o mundo.
Minha esposa se aproximou de mim sorrindo e quando se inclinou
por cima da espreguiçadeira, eu a puxei, fazendo com que seu corpo caísse
por cima do meu. Ela deu um gritinho, mas logo se calou quando eu a
acolhi em meus braços. Ali, ela era só a minha menina mimadinha e cheia
de sonhos. A minha diabinha.
— Eu achei que você estivesse dormindo, amor.
— Não consigo dormir quando você parece uma sereia saindo do
mar assim. — Apertei sua bunda, passando meu nariz por seu pescoço e
Violet ronronou, se esfregando em mim. — Gostosa demais.
— Não vou dar pra você agora, Mason — ela reclamou, tentando
se afastar, mas eu segurei sua cintura firme contra mim, pois meu pau já
estava duro na sunga. — As crianças estão lá na cozinha.
Foi só falar que ouvimos um som de choro, seguido do pequeno
Liam correndo em nossa direção. Meu sobrinho, filho de Megan e Lukas,
estava com três anos de idade, e Violet e eu também éramos seus padrinhos
de batismo.
— Titia! — Liam gritou e Violet se levantou em um pulo para
pegá-lo nos braços. Precisei me virar, colocando um chapéu na frente da
minha sunga.
— Oi, meu amor.
— Eu quelo a plaia. — Ele apontou para o mar e Violet riu,
andando com ele de volta para lá.
Logo Megan e Lukas saíram de dentro da casa, meu amigo
segurava a garotinha mais velha de Frank nos braços enquanto ele vinha
logo atrás com sua caçula.
Carly e Jeff precisaram fazer uma reunião de emergência com a sua
equipe administrativa, já que houve uma remessa de produtos que saíram da
empresa de cosméticos com uma pequena falha na composição, ou algo
assim, e agora tentavam resolver.
Aquele problema quase melou nossas férias, porém, não
desistimos. Há anos tentávamos reunir a turma toda para viajar e nunca
conseguíamos.
Me levantei quando já me encontrava de uma maneira mais
decente e peguei a Hope dos braços de Lukas, levando-a para dentro d’água
também, onde Violet brincava com Liam.
Estávamos casados há dois anos e até então nunca tínhamos
conversado sobre filhos. Eu apoiava sua carreira, viajava com ela para as
gravações, os shows, as participações. Hoje em dia morávamos em Los
Angeles e éramos só nos dois.
— Está na hora de pensarmos em ter o nosso, não acha? —
indaguei e sorri ao ver Hope agitando as mãozinhas sobre as ondas.
Violet congelou por um momento, arregalando os olhos em minha
direção.
— Acha que conseguimos conciliar nossa vida maluca com uma
criança, amor?
— Por que não?
Eu sabia bem a resposta. Tinham as viagens, as gravações, os
shows e ensaios infinitos para apresentações. A vida dela era uma loucura, e
eu continuava fazendo meu trabalho, sempre a acompanhando de onde
estivesse, mas não conseguia tirar da cabeça essa possibilidade de construir
uma família com ela.
— Vou entender se você não quiser pensar nisso agora, mas não
consigo deixar de lado essa vontade de ver uma mini cópia nossa correndo
por aí, diabinha.
Violet soltou uma risada, ainda olhando para o meu rosto, dividida
entre diversão e dúvida.
— Seria uma criança apocalíptica, com toda certeza.
Acabei gargalhando também.
— Eu podia ensiná-la a meditar.
— Ela com certeza falaria pelos cotovelos, amor, não ia meditar.
Acenei com a cabeça pensando que sim, havia grandes chances de
a criança cantar o dia inteiro ou falar de maneira descontrolada também.
— Eu seria um bom pai — afirmei, olhando com carinho para os
dois pirralhos em nossos braços. — Não deixaria todo fardo em cima de
você.
— Sei que sim, Mason. — Ela suspirou.
— Vamos amadurecer a ideia, tudo bem?
Violet acenou, pensativa, e esquecemos o assunto, voltando a
brincar com as crianças dentro da água. Mais tarde naquele dia, quando a
acolhi nos meus braços para dormir, ela me olhou com certo receio,
questionando:
— Você acha que eu seria uma boa mãe?
Fitei seu olhar cheio de dúvidas e tristeza, querendo dar um soco
em mim mesmo por ter trazido aquelas questões para a sua mente.
— Você pode ser o que quiser, princesinha. Só precisa decidir se é
isso que deseja.
— Tenho tanto medo de deixar a desejar e criar alguém igual ou
pior do que eu — ela confessou baixinho, escondendo o rosto no meu peito.
— Olha pra mim, amor — chamei, e Violet o fez, ainda com o
olhar incerto. — Se isso for mesmo sua vontade, vai ser uma mãe
maravilhosa, porque você dá o melhor de si em tudo que se propõe a fazer,
princesinha.
Quis dizer que apesar do imbecil que seu pai era, Violet se tornou
uma mulher extraordinária. Ainda tinha seus traumas e inseguranças, ainda
assim, lutava contra eles. Ela era perfeita! Porém, evitávamos falar sobre
eles a menos que fosse necessário.
— Mas e meu histórico? Não tive uma mãe, Mason, mal sei o que
é isso.
— Não importa o seu histórico. Você é a garota que quebra as
regras, lembra? Nunca vi ninguém com uma aptidão tão grande em tirar o
melhor de todas as situações... então eu tenho certeza de que,
independentemente do que você quiser, vai fazer com maestria.
Ficamos algum tempo quietos enquanto ela refletia sobre o que
acabei de falar. Minutos se passaram e eu já tinha me arrependido de tocar
nesse assunto de gravidez e família com ela. Até que Violet me perguntou:
— Você acha que ela olha por mim lá de cima?
— Acho que ela tem muito orgulho de você, Violet.
Achei que fôssemos parar por ali, no entanto, a diabinha me
surpreendeu dizendo:
— Eu quero construir uma família com você, Mason. Quero dar
aos nossos filhos o amor que não tive, mesmo morrendo de medo.
— Acho que já estamos experts em vencer nossos medos.
— Sinto que posso enfrentar qualquer coisa, contanto que seja com
você — disse, se aconchegando outra vez em meus braços.
— E eu quebraria todas as minhas regras por você outra vez,
princesinha!

FIM!
Agradecimentos

Primeiramente, quero expressar minha gratidão a Deus por ter


sempre Ele ao meu lado, me guiando e me dando forças para continuar.
Preciso muito agradecer a minha equipe que não soltou (graças a
Deus. Por favor, nunca soltem) minha mão em nenhum momento, nem nos
mais desesperadores. Yasmin, Susana e Camilla, muito obrigada por todos
os surtos e todas as madrugadas. MaVi não aconteceria sem vocês.
Não posso deixar de mencionar as minhas betas, Olívia, Carol,
Patrícia, Pan e Duda, que me ajudaram a aprimorar a história e torná-la
ainda mais especial. E, é claro, minha melhor amiga Amanda, que é minha
fã número um e sempre acompanha o meu processo de escrita e surtos.
Também sou grata a todas as minhas amigas e colegas de profissão
que sempre me dão força; e à minha família, que é meu porto seguro e me
incentiva a perseguir meus sonhos.
Por fim, gostaria de agradecer às minhas parceiras nas redes
sociais, que surtaram muito junto comigo também. Sem vocês não seria
possível alcançar tantas pessoas e divulgar esse trabalho incrível. Essa
conquista também é de vocês.
Muito obrigada a todos que estiveram comigo nessa jornada.
Espero que meu livro traga muitas emoções e alegrias para sua vida.
Com carinho,
Maya Passos.
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MEGAN E LUKAS

Ela é irmã do seu melhor amigo;


Ele é o seu maior desafeto, desde a infância;
Megan e Lukas nunca conseguiram se entender, mas agora precisam
dividir o mesmo teto.
Megan Rilley está prestes a iniciar seu último ano de Design Gráfico na universidade e suas férias
perfeitas foram frustradas por seu namorado irresponsável. Decidida a terminar esse relacionamento
tóxico, ela resolve passar o verão na casa da família, pois acreditava que teria paz pelos próximos
meses. No entanto, a tranquilidade que buscava está longe de ser alcançada.
Lukas West é engenheiro e, além disso, possui uma rede de boates junto com quatro amigos.
Responsável pela parte estrutural das casas noturnas, ele recebe a missão de reformar um novo
empreendimento em sua cidade natal. Pensando no próprio conforto e privacidade, Lukas se hospeda
na casa da família do seu melhor amigo, que sempre considerou como sua, contudo, uma visitante
(in)desejada chega para tornar os dias dele um pouco mais desafiadores.
Tentando fugir de seu pai controlador, Lukas conta para a atual cunhada e ex-ficante que está de
passagem na cidade com a namorada, até então inexistente, e precisa da ajuda de Megan quando é
"intimado" a ir em um jantar na mansão dos West.
Ele a viu crescer;
Ela o acha desprezível;
Ele duvidava da atração presente entre os dois, mas precisará de sua ajuda.

Uma atração incontestável,


Um ódio inexplicável &
Uma proposta irresistível.
Agora, é Pegar ou Largar!
[1]
Boate dos amigos Mason, Lukas, Frank e Jeff, que já apareceu no Mayaverso em Pegar ou Largar
1 e 2.
[2]
(UC Berkeley) É uma das mais renomadas universidades públicas de pesquisa dos Estados Unidos
e está localizada na cidade de Berkeley, Califórnia.
[3]
Dia da Independência dos Estados Unidos.
[4]
Annabelle é uma boneca famosa na cultura popular devido ao seu suposto envolvimento em
eventos sobrenaturais. A história de Annabelle é frequentemente associada ao universo dos filmes de
terror, especificamente ao "Universo Invocação do Mal", criado pelo diretor James Wan e pelo
roteirista Leigh Whannell.
[5]
ClubParty
[6]
Chakras são centros de energia ou pontos dentro do corpo humano que se acredita
desempenharem um papel significativo em vários aspectos do bem-estar físico, mental e espiritual. O
conceito de chakras origina-se de antigas tradições indianas, particularmente na ioga, no hinduísmo e
no budismo.
[7]
O San Francisco 49ers é um time profissional de futebol americano localizado na área da Santa
Clara, Califórnia, na Baía de São Francisco. Eles competem na National Football League como um
membro da NFC West.
[8]
Os pisos Paviflex são feitos de material vinílico e geralmente consistem em folhas ou placas que
podem ser instaladas em uma variedade de ambientes, incluindo hospitais, escolas, escritórios e
outros locais de alto tráfego. Eles são conhecidos por serem resistentes às manchas, fáceis de limpar e
disponíveis em uma ampla gama de cores e designs.
[9]
Harley Quinn, cujo nome verdadeiro é Dra. Harleen Frances Quinzel, é uma personagem fictícia
do universo DC Comics, também chamada de Arlequina.
[10]
Protagonista do próximo livro da autora Camila Cocenza.
[11]
Willy Wonka é um personagem fictício criado pelo autor britânico Roald Dahl. Ele é o
personagem principal do livro "Charlie and the Chocolate Factory" (Charlie e a Fábrica de
Chocolate), publicado em 1964, Willy Wonka é um chocolateiro excêntrico que é o dono da famosa
fábrica de chocolate que leva seu nome.
[12]
O Kansas City Chiefs é um time profissional de futebol americano sediado em Kansas City,
Missouri. Os Chiefs competem na National Football League como um clube membro da divisão
oeste da American Football Conference.
[13]
Jogador de defesa do time de futebol americano.
[14]
Você tem aquele cabelo comprido, penteado para trás, camiseta branca
E eu tenho aquela fé de boa garota, e uma saia pequena e apertada
E quando nós terminamos, voltamos todas as vezes.
Trecho da música Style da Taylor Swift
[15]
Jesse Wesley Williams é um ator e modelo norte-americano. É mais conhecido por interpretar o
Dr. Jackson Avery na série de televisão da ABC Grey's Anatomy.
[16]
The Purge é uma franquia americana de filmes de terror e ação, composta por cinco filmes e uma
série de televisão. A franquia se passa numa versão distópica dos Estados Unidos onde, uma vez por
ano, durante um período de 12 horas, todo crime, incluindo até mesmo estupro e homicídio, é
legalizado.
[17]
Playboy é uma revista de entretenimento erótico direcionada para o público masculino. Foi
fundada em 1953 por Hugh Hefner. A primeira edição norte-americana teve na capa a atriz Marilyn
Monroe, sendo levada curiosamente às bancas sem número na capa da edição, pois seu criador não
tinha certeza de sua continuação.
[18]
Eu estou bêbada no banco de trás do carro
E chegando do bar, eu chorei como um bebê (oh)
Disse que estava bem, mas não era verdade
Eu não quero guardar segredos apenas para manter você
E eu entrei sorrateiramente pelo portão do jardim
Todas as noites daquele verão, só para selar meu destino (oh)
E eu gritei por qualquer coisa que valesse a pena
Eu te amo, essa não é a pior coisa que você já ouviu?
Ele olha pra cima, sorrindo como um demônio
Trecho da música Cruel Summer, de Taylor Swift.
[19]
E é nova, a forma do seu corpo
É triste, a sensação que eu tenho
E isso é ooh, uau, oh
É um verão cruel
Tá tudo bem, é o que eu digo a eles
Sem regras no paraíso frágil
Mas ooh, uau, oh
É um verão cruel
Com você
Refrão de Cruel Summer.
[20]
Bruno Mars é um cantor, compositor, produtor musical, dançarino e multi-instrumentista
americano, nascido e criado no Havaí. Depois de se formar no Ensino Médio, decidiu mudar-se para
Los Angeles, na Califórnia, onde desenvolveu sua carreira musical.
[21]
Correndo com você. Música fictícia do Mayaverso.

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