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Copyright 2023 © Juju Figueiredo Todos os direitos reservados.

Criado no Brasil.

Capa: Ellen Ferreira

Revisão: Lih Parreira

Diagramação Digital: Juju Figueiredo

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produtos da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —

tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei


n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Playlist

Sinopse

Prólogo

Capítulo 1

Capítulo 2

Capítulo 3

Capítulo 4

Capítulo 5

Capítulo 6
Ćapítulo 7

Capítulo 8

Capítulo 9

Capítulo 10

Capítulo 11

Capítulo 12

Capítulo 13

Capítulo 14

Capítulo 15

Capítulo 16

Capítulo 17

Capítulo 18

Capítulo 19

Capítulo 20

Capítulo 21

Capítulo 22

Capítulo 23

Capítulo 24

Capítulo 25

Capítulo 26
Capítulo 27

Capítulo 28

Capítulo 29

Capítulo 30

Capítulo 31

Capítulo 32

Capítulo 33

Capítulo 34

Capítulo 35

Capítulo 36

Capítulo 37

Epílogo

GRÁVIDA DO MEU MELHOR AMIGO

Agradecimentos
Como em todos os meus livros, GAME OVER não seria diferente, a história
conta com músicas selecionadas especialmente para a Aubrey e o Owen

Basta apontar o QRcode para o código abaixo!

Enimies to lovers, vizinhos, found Family, clichê invertido, e-esport Ela é


uma escritora calma.

Ele é um universitário e jogador de hóquei em ascensão.

Ela é uma mulher que sonha em viver um amor tranquilo.

Ele só quer saber de farra, mulheres e diversão.

Ela se muda para o Canadá para cuidar da mãe.

Ele sai da fraternidade para um apartamento por ordem do pai.

Ela só quer tranquilidade em seu novo apartamento.

Ele ama dar festas extremamente barulhentas.


Ela odeia o seu vizinho festeiro.

Ele odeia a sua vizinha certinha.

Ela é mais velha que ele.

Ele ama provocá-la.

Dois opostos completos, dividindo um desejo inexplicável.

O jogo só está começando e eles tem mais em comum do que imaginam.


Mas uma coisa é certa, quando o jogo acabar, nenhum dos dois será o
mesmo.

Livro não recomendado para menores de 18 anos, contem cenas sexuais


gráficas.

Para todas vocês que sonham em se

apaixonar por um homem que se pareça

com um personagem literário

15 ANOS ANTES

Lágrimas escorrem pelo meu rosto e tudo que eu quero é minha mãe comigo,
mas isso é impossível, porque ela está morta e eu não tenho mais ninguém
no mundo para cuidar de mim.

— Querido, precisamos ir.


Uma mulher se abaixa na minha frente e não consigo identificar se eu a
conheço, mas ela deve ser importante, pois todos que vieram ao enterro da
mamãe eram importantes para ela.

— Sei que está com medo, mas tenho certeza de que as coisas vão se ajeitar
daqui para frente. — Diz, carinhosamente, mas eu não consigo sair do lugar.
Tudo que consigo encarar nesse momento é a lápide com a foto que destaca
seu sorriso que eu nunca mais vou ver.

— Eu só quero minha mãe. — Digo, com a voz fanha por causa do catarro
que escorre pelo meu nariz.

— Eu também quero, querido, e faria qualquer coisa para tê-la de volta aqui,
eu juro, mas a partir de hoje você vai ficar comigo e eu prometo que eu vou
cuidar de você, prometo que nada vai te faltar.

Encaro pela primeira vez a mulher a minha frente e pisco várias vezes.
Percebo que ela é parecida com a mamãe, seus olhos são idênticos,

mas não é ela.

— Quem é você? — Pergunto.

— Sou uma amiga da sua mãe e do seu pai.

Meu pai.

Tem muito tempo que eu não vejo o papai, a última vez que o vi foi no meu
aniversário de cinco anos e já tenho quase sete.

— O que você quer comigo?

— Eu vou cuidar de você, Owen, vou cuidar de você como sua mãe me
pediu.

— Ela pediu?

Uma lágrima escorre pelo seu rosto, mas rapidamente ela seca.
— Pediu e eu prometi para ela que ia cuidar de você como se fosse meu
filho. Eu prometo, Owen, que vou cumprir a promessa da sua mãe.

Ela estende a mão para mim e, por alguns segundos, eu apenas olho para a
palma virada em minha direção num convite para que eu vá de livre e
espontânea vontade, e é o que eu faço. Seguro na mão dessa completa
desconhecida e ela me puxa para um abraço. Sei que ela está chorando,
porque consigo ouvir seus fungados.

— Vai ficar tudo bem, Owen, eu te prometo.

E ficou, pelo menos por um tempo, até as coisas se tornarem insuportáveis.

Nunca tive planos de voltar para o Canadá, mas aqui estou eu novamente,
pronta para minha nova vida, pronta para tentar me adaptar novamente em
Toronto.

Respiro fundo e me sento no sofá. Minhas coisas já estão praticamente todas


as arrumadas, pois passei quase a noite inteira organizando tudo, deixando
tudo no lugar. Eu poderia ter deixado pra hoje, mas estava sem sono e optei
por organizar para deixar minha mente ocupada.

Pego meu celular e abro na conversa com a minha mãe.

Eu: Como você amanheceu hoje?

A resposta não vem de imediato, então deixo o aparelho em cima do sofá e


me levanto, indo em direção a cozinha. Abro a geladeira e pego um copo de
água, que tomo rapidamente.
Eu ainda tenho algumas coisas para organizar, como meu escritório, por
exemplo, que ainda nem entrei. Organizei apenas as coisas da cozinha e do
meu quarto.

Graças a Deus esse apartamento veio mobiliado, daria muito trabalho trazer
todos os móveis de Nova Iorque ou comprar móveis novos aqui.

Caminho em direção ao quarto que será meu escritório e decido dar início na
organização de tudo, pois tem cinco caixas de livros aqui dentro e preciso
organizar todos eles. Olho para a minha estante, único móvel que trouxe de
NY e percebo como ficou perfeita na parede do quarto. Não é qualquer
estante que comporta meus livros.

— Vamos lá, Aubrey, coragem! — Digo para mim mesma enquanto


caminho até a primeira caixa.

Sempre fui apaixonada por livros e ler romances para mim é como me
entregar uma vida nova, é participar efetivamente da vida de alguém sem
que esse alguém saiba o que está acontecendo.

Comecei a ler muito nova e desde então eu já sabia que queria escrever para
tocar o coração das pessoas, queria transmitir para elas a sensação que um
romance causa enquanto você está lendo.

Lancei meu primeiro livro aos 20 anos de idade e devo dizer que achei que
esse sonho nunca fosse dar certo, mas deu. Posso não ser uma escritora
mundialmente reconhecida como a Collen Hoover, mas tenho minha cota de
leitores, uma editora que acredita no meu potencial e uma renda fixa, porque
meus livros fazem sucesso.

Não estou me gabando, acredite, mas sei do meu potencial e da minha


capacidade. Escrever é a minha vida e nunca me imaginei fazendo outra
coisa, então dou todo o meu suor e o meu sangue no que eu faço.

Abro a primeira caixa, onde estão os livros de romance, alguns autografados,


outros não e começo a organizá-los na prateleira, seguindo uma sequência de
cores.
Acredite quando digo que escrever um romance não é fácil, é mais do que
colocar palavras em um papel: é transmitir sentimentos, sensações, desejo,
angústia, causar no leitor uma sensação de empatia, fazer o leitor

querer viver a vida do personagem e, entenda, isso não é fácil, ainda mais
para alguém que nunca se apaixonou.

Exato, nunca me apaixonei. Tive meus casos, minhas experiências, mas não,
nunca entreguei meu coração para homem nenhum, porque até agora
nenhum foi digno de chegar perto do meu coração.

Posso estar fantasiando um amor que nunca vou viver? Talvez, mas ainda
sonho em me apaixonar perdidamente, de perder o ar quando ver a pessoa,
de sentir meu coração acelerar só de pensar nesse alguém, de sentir as
famosas “borboletas no estômago” ao vê-lo.

Quero viver um amor calmo, tranquilo, onde exista respeito, conversa e


felicidade.

Tenho 27 anos e ainda não encontrei o homem que vai me fazer viver um
amor dessa forma, não encontrei o homem que faça ao menos meu coração
disparar com um simples olhar, mas não me preocupo com isso.

Enquanto a pessoa certa não chega, vou continuar vivendo o romance dos
meus personagens e assistindo outros casais se apaixonarem, sem se dar
conta de que são apaixonados.

Termino a primeira caixa e passo para que tem minha coleção de livros de
fantasia, um dos meus gêneros preferidos. Ainda não me acho capaz de
escrever um livro assim, porque exige mais concentração do que
imaginamos.

Passo a manhã inteira organizando minha estante, deixo minha mesa do jeito
que quero e minha poltrona de leitura estrategicamente posicionada perto da
janela, onde tenho uma vista linda de boa parte da cidade de Toronto.

Toronto é um lugar lindo e morar aqui é um sonho de consumo, mas voltar


para cá depois de já ter estabelecido uma vida inteira em Nova Iorque é
como regredir tudo que consegui avançar e me sinto frustrada por isso.
Suspiro e vou até a sala pegar meu celular, vejo que tem mensagem da
minha mãe e abro para ler.

Mãe: Oi, minha filha, como você está? Amanheci bem, não se preocupe
comigo, acredito que os remédios estejam fazendo efeito, já que não senti
dor nenhuma durante a noite.

Eu: Fico aliviada com isso, mãe.

Mãe: Terminou de arrumar suas coisas?

Eu: Estou finalizando, não se preocupe, daqui a pouco eu passos aí para ver
como a senhora está.

Mãe: Vou preparar algo para você comer, então!

Eu: Não precisa, vou procurar algo para comer aqui perto mesmo!

Mãe: Tudo bem, estarei te esperando! Te amo!

Eu: Também te amo, mãe, até mais tarde.

Bloqueio o aparelho e abro a boca em um bocejo. Estou começando a sentir


falta da noite de sono que perdi e talvez não seja uma má ideia tirar um
cochilo.

Sigo em direção ao meu quarto, determinada a dormir apenas meia hora.


São exatamente 18:25h!

Eu dormi a tarde inteira!

Acordei assustada e desnorteada, sem saber que horas eram porque


simplesmente escureceu. Quando peguei meu celular e conferi a hora me

assustei mais ainda, percebendo quão cansada eu estava.

Mandei uma mensagem para minha mãe explicando para ela que eu dormi
demais, mas que iria para casa dela assim que eu comesse algo. Ela
respondeu dizendo que não tinha problema e que sabia que eu estaria
cansada por causa da viagem.

Vou direto tomar um banho, preciso renovar minhas energias e colocar


minha cabeça no lugar.

De banho tomado e com alma renovada, opto por vestir um vestido soltinho,
de alcinhas. Ainda estamos no verão, mas logo o outono vai dar as caras e
Toronto vai começar a esfriar, além de se tornar uma das cidades mais
lindas.

Deixo meu cabelo solto e faço a maquiagem de sempre, que consiste em um


rímel, delineador e batom. Nunca me preocupei muito com uma maquiagem
mais elaborada devido ao fato de trabalhar em home office, então fico bem à
vontade em relação a isso.

Pego minha bolsa, meu celular e saio do apartamento. Vou passar em algum
lugar para comer algo, mas não conheço muita coisa aqui no centro de
Toronto. Assim que chego na portaria, vou até o porteiro e o cumprimento.

— Boa noite, eu sou nova aqui na cidade e queria indicação de um local para
comer.

— Boa noite, senhorita! Você gosta de lugares mais calmos, agitados...

— Hoje não tenho muita preferência, quero algum lugar que a comida seja
gostosa!
— Aqui perto tem um bar, na verdade é uma mistura de bar com lanchonete.
Você vai encontrar de tudo ali e, além da comida ser excelente, é point dos
jovens aqui em Toronto.

Pondero se devo aceitar ou não, afinal de contas, não queria um lugar


movimentado, mas penso que por ser quarta-feira talvez não esteja tão cheio
assim.

— Irei até lá, muito obrigada!

Me despeço dele e sigo na direção que ele indicou. Assim que chego no
local e entro, paraliso na porta.

Está lotado e eu não entendo o motivo. Os jovens de hoje em dia marcam


suas reuniões mesmo no meio de semana?

— Boa noite, posso ajudar? — Uma moça loira pergunta, sorrindo para
mim.

Daria cerca de uns 18 anos para ela, parece ser bem nova.

Suspiro, já estou aqui mesmo, vou comer logo.

— Está lotado hoje. — Comento, enquanto ela me leva até uma mesa vazia.

— Sim, hoje tem jogo dos Canucks[1] . — Diz, animada e eu franzo o


cenho. — O time de hóquei universitário, — Explica — a universidade em
peso vem assistir ao jogo aqui.

Agora minha ficha cai. Canadá é um dos países em que mais se joga hóquei,
não me atentei a esse detalhe porque nunca fui muito ligada à jogo.

— Vai querer o quê?

Olho para o cardápio e me assusto com a variedade de coisas que tem por
aqui e, por fim, escolho algo simples. Ela anota meu pedido e eu fico
sozinha.
Pego meu celular e entro na minha rede social de autora e vejo que a menina
responsável por mexer nas minhas redes sociais soltou um spoiler do meu
próximo lançamento e já tem vários comentários.

Sorrio ao ver que as meninas estão animadas com a história nova e respiro
fundo ao ver que eu preciso terminar esse livro urgentemente. Odeio

bloqueio criativo!

— Seu pedido! — A moça deixa minha bandeja em cima da mesa e eu


agradeço.

Começo a comer e me surpreendo. Realmente a comida é muito boa!


Termino de comer e chamo a garota simpática que me atendeu.

— Gostou da comida?

— Excelente, estou surpreendida!

— Fico feliz em saber!

— Como é o seu nome? — Pergunto.

— Wendy!

— Certo, Wendy, vocês funcionam durante o dia também? —

Questiono, enquanto pego minha carteira para realizar o pagamento.

— Sim, durante o dia é mais tranquilo e as noites no meio da semana,


quando não tem jogos, também!

— Perfeito, acho que vou passar a trabalhar aqui durante o dia!

— Acho que você vai gostar, realmente é bem calmo durante o dia!

— Obrigada, Wendy, tenha um ótimo trabalho!

— Eu quem agradeço!
Deixo a lanchonete e assim que entro no táxi que pedi para ir à casa da
minha mãe, vejo uma mensagem da Emília, uma das responsáveis por uma
editora aqui em Toronto. Era apenas a confirmação do nosso encontro
amanhã pela manhã.

Ainda não quero comemorar sem nada ter uma certeza, mas talvez eu
consiga fechar com uma editora daqui e isso me deixa animada. Sorrio e
envio uma mensagem de confirmação para ela.

Posso não estar na cidade que eu almejei, mas continuarei trabalhando para
fazer aquilo que sempre fiz: escrever livros!

Olho para o jogador na minha frente. Estou em posição inicial, o árbitro está
em nosso meio, o juiz apita e o puck[2] é jogado para o alto.

Imediatamente começamos a brigar pelo pequeno disco, mas logo consigo a


posse, deslizo rapidamente sobre o gelo, sendo fechado por um jogador do
outro time. Com minha visão periférica consigo ver o Caleb e rapidamente
jogo o disco para ele, que se movimenta rapidamente para cima da defesa do
time adversário, mas ao invés de jogar direto para o gol, o disco para no taco
do Zach. Quase consigo ver o sorriso do meu amigo ao ver a defesa vindo
toda cima dele.

Sem pensar duas vezes, ele joga o puck em minha direção. O

pequeno disco vem uma velocidade incrível e eu tomo sua posse, correndo
em direção ao gol o mais rápido que posso, seguido pela equipe adversária.

O goleiro se prepara defender minha jogada, mas é em vão, segundos depois


o disco acerta a rede adversária e a torcida dispara em comemoração!
Meus companheiros vêm todos para cima de mim, comemorando o gol e o
juiz apita, finalizando a partida.

Mais uma vitória, mais um momento histórico para o nosso time!

— Isso aí, porra! — Zach grita assim que chegamos no vestiário.

— Muito bom, galera! Jogo excelente! — O senhor Jones diz, entrando no


vestiário em seguida.

Hamilton Jones é nosso treinador, um dos poucos homens que posso dizer
que tenho orgulho de me espelhar. O senhor Jones é como um pai para cada
um dentro desse time, ele incentiva, cobra e nos faz dar nosso sangue em
todo o treino, mas ele faz isso porque conhece nosso potencial e sabe onde
podemos chegar.

— Essa foi a primeira vitória de muitas que virão, tenho certeza de que essa
será a melhor temporada que já fizemos! Concordam time!? —

Grita.

O vestiário explode em gritos e comemorações.

O hóquei entrou na minha vida de uma maneira muito natural, hoje não me
vejo fazendo outra coisa se não for isso, não me vejo vestido de terno e
gravata, dentro de uma sala, envolto de papéis e com casos para resolver,
como meu pai sonha.

Infelizmente, para ele meu sonho não tem relevância e ele acredita
prontamente que tudo isso seja uma fase passageira e quando eu me formar,
irei assumir a empresa que é minha por direito.

Grande ilusão a dele, é tudo que posso afirmar.

— Vamos beber, Hughes. — Zach, meu melhor amigo, diz, batendo nas
minhas costas em seguida.

— Não sei se é uma boa ideia. — Murmuro, eu não acharia mal ir beber,
mas amanhã tenho uma prova importante e não quero ir de ressaca para a
aula.

— Qual é, Owen, quer mesmo bancar o certinho agora? —

Pergunta, rindo e eu nego.

— Quer saber, vamos beber! Precisamos comemorar! — Digo.

— É isso aí, porra! É assim que se fala! — Diz e se vira para nossos amigos.
— Vamos para o Red Rock depois daqui, vamos comemorar!

Mais uma explosão de gritos no vestiário e eu entro no meio. Eu amo esses


caras, todos eles, são a minha família e isso não mudará nunca.

O bar fica em alvoroço quando entramos, todos assistiram ao jogo.

Como sempre acontece, algumas pessoas se reúnem aqui para torcerem pela
gente, a maioria são nossos colegas da universidade mesmo.

Fazemos parte do time universitário, um dos melhores de Toronto e todos


almejamos uma vaga na NHL, a liga nacional de hóquei no gelo.

Entrar seria um sonho para todos.

— Parabéns, meninos! — Wendy diz, vindo animada em nossa direção e se


joga em meus braços.
— Obrigada, Wendy, foi um trabalho em conjunto. — Digo quando ela se
afasta.

— Sei que sim, mas você foi brilhante como sempre, Owen, não tem como
negar!

— Como se não tivéssemos participado da jogada. — Caleb diz, indignado.

— Ela sempre faz isso cara, não sei porque vocês ainda têm esperança de
mudança. — David comenta, rindo.

— O que vão querer beber? — Ela pergunta, já pegando o bloquinho de


anotações.

— Chope? — Lucca pergunta e todos concordamos.

— É pra já meninos!

Wendy se afasta, e todos nós viramos para olhar sua bunda arrebitada dentro
do uniforme do bar.

— Owen, você é um filho da puta sortudo! — David comenta.

— Porque?

— Só pelo fato de já ter pego a Wendy. — Elliot reitera.

— Na verdade, acho que o fato maior é ela ser apaixonada por ele.

— Zach solta e todos concordam.

— Vocês estão viajando. — Digo.

— Para de ser modesto, Owen. — Lucca diz. — Todos nós sabemos que
vocês dois já se pegaram, você deu um pé naquela bunda linda que ela tem e
ela segue apaixonada por você.

Rio e passo a língua nos lábios, meus olhos vão em busca da Wendy.
Ela é linda, não tem como negar esse fato. A loira com olhos esverdeados,
sorriso doce e fala mansa pode te enganar completamente, passando a
imagem de anjo, que não corresponde nem um pouco com sua personalidade
atrevida, atraente e puramente sensual.

Ela é sexy pra cacete, me deixa louco na cama, mas é apenas isso, não posso
dar a ela o que ela quer, um relacionamento sério.

— Se a Wendy não quisesse um relacionamento sério, — Digo enquanto ela


caminha em direção a nossa mesa — certamente ela ainda estaria em minha
cama.

Meus amigos sorriem, sabendo que é a verdade. Mas não quero me envolver
seriamente com ninguém, primeiro porque meu foco atual é a NHL e preciso
dar tudo de mim para ser notado, segundo porque o que rola entre nós dois é
apenas sexo, não existe nada mais do que isso e nem vai existir.

— A bebida de vocês, meninos. — Wendy diz ao colocar tudo na mesa. —


Fiquem à vontade.

Ela pisca e se retira.

— Ah, se essa loira me desse bola. — Lucca murmura, praticamente


comendo a garçonete com os olhos.

— Acredite, seríamos os caras mais felizes desse mundo! — David


completa.
Pego meu copo e ergo, eles fazem o mesmo.

— Ao jogo de hoje! — Grito e eles me acompanham, gritando junto.

Definitivamente, eu não podia pedir amigos melhores!

Minha cabeça parece que vai estourar... Me mexo na cama e sinto um corpo
ao meu lado e imediatamente paraliso. Mas que porra...

Abro meus olhos e vejo uma ruiva, nua, completamente espalhada na minha
cama.

Inferno!

Quando foi que eu vim para casa com ela?

Me sento e respiro fundo. Ignorando a dor de cabeça aguda que me


acompanha, me levanto e sigo para o banheiro. Tomo um banho na água
gelada e visto uma roupa casual: jeans, camiseta e o casaco do time por
cima, passo os dedos entre os fios do meu cabelo e sigo para fora do
banheiro.

A ruiva ainda está dormindo e eu me pergunto o que diabos aconteceu na


noite passada e como ela veio parar na minha cama.

Me aproximo dela e cutuco seu braço.

— Hey, acorde! — Chamo, ela se mexe, desnorteada e abre os olhos, me


encarando, um sorriso preguiço nasce em seus lábios.

— Bom dia, Hughes. — Diz, sonolenta.

— Precisa ir embora. — Digo, já me afastando.

— Como...

— Pode ficar à vontade, se quiser comer algo é só ir até a cozinha, mas


preciso ir.
Abro a porta do quarto.

— É sério isso? Vai me dispensar depois de...

— Olha, não me lembro do que aconteceu, muito menos como chegamos


aqui em casa no meio da noite, mas espero que tenha valido a pena para
você, mas não vai rolar novamente.

— Você é um escroto! Como você pode...

— Eu sou Owen Hughes, ruiva, eu posso tudo o que eu quiser.

Fecho a porta antes de ser acertado por algum objeto que ela tentasse atirar
em mim e sigo para a cozinha.

Os caras estão tomando café, e todos estão em uma situação pior que a
minha, devo dizer.

— Bom dia! — Falo, em falsa animação.

— Bom para quem? — Lucca pergunta, mal-humorado.

— Só se for pra ele que veio acompanhado para casa. — Caleb murmura.

— Falando nisso... — Me sirvo de um pouco de café. — Quem é a mulher


na minha cama?

— Puta que pariu! — David diz, gargalhando. — Não se lembra?

— Você é mesmo um puto, Hughes. — Elliot diz.

— Espero que ao menos tenha fodido com camisinha, a última coisa que
precisamos aqui são minis Hughes correndo pela casa. — Zach diz e

acerto um tapa na cabeça dele.

— Não se preocupem quanto a isso, posso estar no pior grau da bebedice,


não esqueço a porra da camisinha!
— Odeio ser o mais responsável do grupo. — Elliot diz encarando o relógio
na parede da cozinha. — Mas precisamos ir logo!

Termino me café e fico de pé, seguimos para fora da casa da fraternidade.

— Nos vemos lá! — Lucca diz, já subindo na sua moto e saindo


imediatamente.

— Falô pra vocês, até o treino. — David fala, subindo na sua moto também
e sumindo em seguida.

— Você dirige, Owen. — Zach joga a chave do carro para mim e entra no
carro, seguido por Caleb e o Elliot.

Entro no carro e dou a partida, seguindo em direção à universidade.

Meus pensamentos ainda estão meio confusos por conta do álcool, respiro
fundo e me pergunto como vou fazer a droga da prova hoje.

Eu não deveria ter bebido, isso teria evitado que eu levasse aquela mulher
pra cama. Posso ser um cafajeste, mas pelo menos me lembro do nome das
mulheres que passam a noite comigo, ela nem isso.

— Cuidado, Owen!

Piso no freio na hora, sentindo meu sangue gelar ao sentir o carro batendo
em uma pessoa.

Puta merda!

— Puta que pariu! — Eles exclamam ao mesmo tempo, mas eu só consigo


pensar em uma coisa.

Eu atropelei alguém!

Puta que pariu!


E se eu tiver matado alguém?

Sinto meu corpo todo paralisar com esse pensamento. Isso não aconteceu,
tenho certeza disso, não pode ter acontecido, não...

— Owen! — Pisco, olhando para o Elliot, que me encara desesperado. —


Você está bem? — Pergunta, preocupado e eu assinto, olhando para frente e
vendo várias pessoas se aproximando do carro.

Imediatamente abro a porta e desço do veículo, indo para a parte da frente. É


uma mulher, está usando calças jeans, sobretudo e tem vários papéis
espalhados pelo chão. Passo pelas pessoas que estão murmurando entre si e
vejo alguém dizer que o socorro já foi acionado.

Me aproximo da mulher e a ouço gemer, rapidamente me abaixo ao seu lado


e observo seu rosto fazer uma careta de dor.

— Você está bem, moça? — Pergunto.

Ela geme mais uma vez e abre os olhos, piscando várias vezes, então seu
olhar se fixa no meu. Sinto meu coração acelerar, assim como minha
respiração parece ter ficado mais escarça.

Ela tem os olhos mais lindos que eu já vi minha vida.

Me sinto preso neles, como se tivesse uma força invisível me puxando em


sua direção.

Engulo em seco e quebro o contato visual, mas volto a encará-la em seguida.


— Você está bem? Consegue me ouvir? — Torno a perguntar e ela pisca,
parecendo se lembrar do que aconteceu.

— Você não presta atenção enquanto dirige não? — Pergunta, com raiva.

— Como?

— Poderia ter me matado! — Ela se senta e geme de dor.

— Cuidado! — Digo, me aproximando e segurando sua cintura, seu rosto se


vira em minha direção e seus olhos castanhos se prendem aos meus
novamente.

Sei que não é hora para isso, mas porra! Que mulher dos olhos lindos, puta
que pariu!

Analiso seus traços e constato que não são apenas seus olhos que são lindos,
o rosto dela parece beirar a perfeição, acho que em toda a minha vida eu
nunca tinha visto uma mulher tão linda como ela.

— Quer parar de me encarar e me ajudar a levantar? — Pergunta, com raiva


e eu pisco, me colocando de pé e a ajudando.

— Eles chamaram a emergência, devem estar chegando e devem ter


chamado a polícia também...

— Não tenho tempo para isso. — Murmura, pegando as coisas que se


espalharam no chão.

— Suas folhas... — Zach entrega os papéis que se espalharam pelo asfalto.

— Obrigada.

Ela usa a frente do carro para organizar as folhas e guarda tudo na pasta
novamente, ajeita a bolsa e se vira para mim.

— Preste atenção enquanto dirige, garoto, acho que você não quer matar
ninguém agora.
— Eu peço desculpas por isso, eu realmente estava distraído e...

— É, percebi. Com licença.

Ela se vira e segue. Demoro um tempo para raciocinar e ir atrás dela. Seguro
seu braço e a puxo, ela me encara com uma sobrancelha arqueada.

— Não vai esperar a ambulância? A polícia? Você pode ter se machucado


e...

— Não tenho tempo para isso, garoto, não se preocupe! Para a sua sorte não
quebrei nenhum osso, então apenas volte a fazer o que estava fazendo. Só
dirija com cuidado, talvez não tenha tanta sorte da próxima vez.

Ela não espera uma resposta, apenas se vira e segue seu caminho.

— Você está bem, cara? — Zach pergunta, parando ao meu lado.

Continuo observando a morena que segue seu caminho, como se nada


tivesse acontecido.

— Acho que ela está bem. — Murmuro.

— Que susto, cara! Que susto!

— Nem me fale.

Observo a mulher sumir do meu campo de visão e encaro meu amigo, ainda
tentando assimilar tudo que aconteceu agora, mas ainda não consigo.

— Vamos cara, pensar nisso vai te deixar maluco, vamos embora.

Ele coloca um braço em torno do meu ombro e seguimos para o meu carro, a
multidão de pessoas já tinha se dispersado.

— Pode deixar que eu dirijo agora. — Elliot diz, estendendo a mão e eu


entrego a chave para ele, me sentando no banco de trás.
Apesar de não ter acontecido nada demais, dificilmente eu conseguirei
esquecer o que aconteceu aqui hoje e, menos ainda, dessa mulher
completamente misteriosa para mim.

— Não acredito nisso! — Lucca diz, completamente chocado.

— Pois é, nem eu tô acreditando nessa porra ainda. — Murmuro, depois de


explicar para meus amigos o que aconteceu pela manhã.

— Pense pelo lado bom, pelo menos a polícia não foi envolvida, seria ruim
demais você ter que explicar para o Hamilton porque foi parar na delegacia.
— David argumenta

Ele tem razão, seria mil vezes pior se eu tivesse parado na delegacia.

Ainda bem que tudo se resolveu.

— Agora, vocês repararam o quanto aquela mulher era linda? —

Caleb pergunta.

E sorrio de lado, balançando a cabeça em negação.

— Acho que o Owen reparou bem, afinal de contas, ele parecia hipnotizado
por ela. — Zach me zoa e jogo uma bolinha de guardanapo nele.
— Ela era bonita, não dá pra negar. — Concordo, me lembrando dos
detalhes do seu rosto, o nariz pequeno e arrebitado, os olhos expressivos, a
boca perfeita e as sobrancelhas bem desenhadas.

Mais que linda, aquela mulher parece uma deusa.

— Pensando nela, Owen? — Elliot brinca.

— Você está certo, Caleb, aquela mulher é linda pra cacete, acho que nunca
vi uma mulher tão linda quanto ela em toda a minha vida.

— Ihhhhhh... — Falam, em coro.

— Apaixonou! — Zach comenta.

— Está hipnotizado, isso sim! — David comenta, rindo.

— Cara, você ficou assim só porque atropelou a mulher, imagina se tivesse


beijado! — Lucca zoa e nego.

— Ela é bonita, não dá para negar, mas completamente fora do meu alcance.

— Por que? — Zach pergunta.

— Porque dificilmente verei aquela mulher novamente.


A prova foi uma decepção, ainda estou com o acidente que aconteceu na
parte da manhã na minha mente e não consegui me concentrar em nenhuma
questão. Meu plano era revisar o conteúdo na parte da manhã, mas por conta
do acidente não consegui. É como se eu ainda não tivesse assimilado o que
aconteceu.

Para piorar recebo uma mensagem do meu pai, exigindo que eu vá à casa
dele imediatamente, pois tem um assunto urgente para tratar comigo.

Tenho até medo do que poder ser, porque vindo do meu pai posso esperar
literalmente qualquer coisa.

Chego na mansão dos Hughes e sou recebido pela Noely, a governanta.

— Owen, querido, que saudades de você! — Diz, me abraçando.

— Também estava com saudades, como você está?

— Muito bem!

— Precisa ir um dia na fraternidade, Noely. — Digo.

— Preciso mesmo, imagino como vocês seis sobrevivem naquela casa.

— Sempre damos um jeito, não se preocupe. — Beijo sua testa e ela sorri.
— Meu pai...

— No escritório dele. — Diz e seu olhar muda.

— Estou muito encrencado?

— Talvez não seja nada, querido, mas é melhor não o deixar esperando.

Assinto e sigo em direção ao escritório e, assim que bato na porta, já entro


direto, sem esperar sua resposta. Ele está sentado à sua mesa e a Mag está
sentada na poltrona, lendo um livro.

— Cheguei.
— Owen, querido! — Ela deixa o livro de lado e vem me abraçar.

— Como você está? — Mag se afasta e segura meu rosto, como se quisesse
conferir se estou machucado.

— Margareth. — Meu pai chama, ela se afasta e suspira, sorrindo


tristemente para mim.

Olho para meu pai e me aproximo da mesa.

— O que foi que...

— Você é um irresponsável, Owen Hughes. — Diz, sério e eu paro de andar,


tentando saber aonde ele quer chegar.

— O que...

— Você não passa de uma criança mimada que acha que pode fazer tudo que
quer e sair ileso de punições!

Não acredito que fui chamado aqui para ouvir sermão, mas eu deveria
imaginar. Na verdade, meu pai nunca me chamaria para outra coisa.

— E o que mais? — Arqueio uma sobrancelha em sinal de desafio e ele dá


um passo em minha direção, mas a Meg entra na frente dele.

— Querido, não se exalte, por favor!

O todo poderoso Christian Hughes respira fundo, fecha os olhos e aperta o


meio entre os olhos, voltando a me encarar segundos depois.

— Você vai se mudar para um apartamento. — Aponta um dedo para mim.

— Como é?

— Não tem discussão, não tem negociação, não tem porra nenhuma que me
faça mudar de ideia. Considere isso um castigo brando em comparação ao
que posso fazer com você.
— Posso saber ao menos o motivo dessa decisão?

— Não se faça de inocente, Owen...

— A porra do motivo...

— Essa é a porra do motivo, Owen! — Praticamente joga o tablet em minha


mão.

Congelo ao ver a notícia.

“O grande jogador de hóquei, Owen Hughes, atropelou hoje uma pessoa


pela manhã. De acordo com fontes que estavam no local, o jogador estava
bêbado e não prestou atenção quando o semáforo fechou. Algumas
testemunhas disseram que a mulher disse que colocaria Owen na cadeia.”

— Isso é mentira...

— Não atropelou essa mulher? — Pergunta e eu me calo.

— Atropelei. — Explico, devagar e o encaro. — Mas ela não disse em


momento nenhum que iria me processar.

— O que estava fazendo ontem à noite após o jogo?

Não respondo, não adianta nada eu responder ou não, não vai fazê-lo mudar
de ideia.

— Fui ao Red Rock comemorar.

— Bebeu?

— Bebi.

— Está decidido, Owen, você vai sair da fraternidade e vai morar em um


apartamento.

— Você não tem esse direito...


— Eu tenho sim, não meça poderes comigo, Owen, você certamente não
aguentaria. Tem esse fim de semana para organizar suas coisas, sair da
fraternidade e se mudar para o apartamento que eu arrumei para você.

Engulo em seco e fecho as mãos em punhos.

— Chris...

— Não tente justificar as atitudes dele, Margareth. Está na hora de crescer


pra vida, Owen, você não tem mais sete anos de idade.

Ele deixa seu escritório, a porta bate e eu fecho os olhos, respirando fundo.

— Eu vou conversar com seu pai, Owen, está de cabeça quente e...

— Não se preocupe, Mag, você sabe tão bem quanto eu que nada vai fazê-lo
mudar de ideia.

— Sinto muito, querido, sei o quanto gosta da fraternidade.

— Não se preocupe quanto a isso, Mag. — Me aproximo dela e dou um


beijo em sua testa. — Não sou mais criança, consigo muito bem morar
sozinho.

— Me preocupo com você, Owen — Murmura.

— Eu sei, mas vou ficar bem, prometo pra você.

— Tem certeza?

— Claro que eu tenho, afinal de contas, eu sou Owen Hughes.

Pisco para ela e deixamos o escritório do meu pai. Margareth é uma das
pessoas mais importantes para mim, foi ela quem cuidou de mim quando
pensei que tudo estava acabado. Foi graças a ela que recebi amor e cuidado
de mãe e, apesar de não ser minha mãe biológica, ela é a minha

mãe do coração e fez exatamente o que a minha mãe pediu a ela, cuidou de
mim.
Depois de um tempo eu descobri que a Margareth era irmã da minha mãe,
por isso na época eu as achei muito parecidas. Meu pai era casado com a
Mag desde sempre, mas teve um caso com a minha mãe e com isso eu fui
concebido.

Sim, sou fruto de uma traição do meu pai com a minha mãe, não me orgulho
disso, acredite. Na época fiquei com ódio do meu pai, me perguntei como ele
pode trair a Mag dessa maneira, depois fiquei com raiva da minha mãe, por
ter sido amante do meu pai e traído a irmã dela, mas no fim das contas,
minha tia disse que nada disso importava, porque eles dois deram a ela o
presente mais importante que ela já ganhou, que foi a oportunidade de me
criar.

— Preciso ir. — Digo e ela assente.

— Se precisar de algo me ligue, não importa o horário, eu irei correndo.

— Pode deixar, vou fazer isso.

Beijo sua testa e deixo a mansão. Sigo em direção ao meu carro, coloco
meus óculos escuros e abro um sorriso de lado.

Pensando pelo lado positivo das coisas, será muito interessante ter um
apartamento só para mim, afinal de contas, terei um espaço mais reservado
para dar algumas festas especiais.

— É, papai, talvez o senhor não devesse ter me tirado da fraternidade.

Entro no carro e dou a partida, seguindo em direção a Universidade de


Toronto.
Entro no grande escritório e sou recebida por uma moça simpática, que diz
que a Emília me atenderá em alguns instantes, agradeço e peço para usar o
banheiro enquanto isso. Ela aponta para um corredor e diz ser a segunda
porta a esquerda, sigo o caminho orientado por ela e me tranco no cômodo
elegante.

Respiro fundo ao me olhar no espelho, sinto uma dor no meu cotovelo, mas
nada que me impeça de fazer algo. Só de lembrar daquele infeliz que estava
bêbado me dá nos nervos.

Tenho certeza de que ele é algum desses universitários metidos a ricos, que
os pais bancam tudo e que não adiantaria em nada chamar a polícia, eu só
iria me estressar porque em questão de segundos a história toda seria
esquecida, melhor não perder meu tempo com isso.

Lavo minhas mãos, ajeito meu cabelo, dou um retoque na maquiagem e


estou pronta para entrar na personagem de escritora responsável que está
prestes a assinar contrato com uma editora importante.

Deixo o banheiro e volto para a recepção, a secretária ainda está ali e sorri
para mm.

— Pode me acompanhar, senhorita Stuart?

— Claro!

Sigo a moça até o fim do corredor e ela abre a porta de uma sala gigante.

— Emília, a Aubrey já está aqui. — Diz e me dá passagem para que eu


entre.

Agradeço com um aceno de cabeça e sigo em direção da mesa, a mulher me


recebe com um sorriso e entende a mão para mim.

— Aubrey Stuart, que prazer conhecer você!

— O prazer é todo meu, acredite! — Digo, sorrindo.

— Sente-se, vamos conversar!


Me sento e deixo minhas coisas em cima do meu colo, respirando fundo.

— Devo dizer que fiquei extremamente interessada no seu livro. —

Começa.

— Fico feliz com isso!

— É uma história fascinante, Aubrey! A leveza com que você escreve temas
sensíveis, a forma como aborda cada detalhe, o romance...

Simplesmente perfeito!

— De todos os livros que já escrevi, esse é sem dúvidas o meu favorito. —


Sorrio para ela.

— Será uma honra ter nossa editora trabalhando nesse arquivo!

Você não faz noção de como é difícil encontrar algo que se encaixe nos
padrões da nossa editora. — Ela se levanta e começa a andar atrás de sua
mesa. — Todos os dias recebemos dezenas de originais, mas nenhum deles
me chamou a atenção como o seu, não pense que não pesquisei suas outras
obras e devo dizer que estou encantada com sua escrita.

— Fico lisonjeada com isso!

— Aubrey, será um prazer trabalhar esse livro com você!

— O prazer será todo meu, acredite!


Ela estende a mão para mim e eu a aperto, sorrindo para ela. Sinto que essa
parceria será o início de algo muito maior!

— Você está sorrindo mais. — Minha mãe observa e não consigo conter o
sorriso em meus lábios.

— Talvez eu tenha fechado o maior contrato da minha vida. —

Digo, sorrindo para ela.

— Estou tão orgulhosa de você, querida.

Ela aperta minha mão e encaro seu rosto, que está mais magro que o normal,
o olhar cansado, juntamente com olheiras profundas e seu semblante está
carregado de sono.

— Esse livro será especialmente para a senhora! — Digo, sorrindo.

— Só de saber que minha filha escreveu um livro em minha homenagem, eu


já fico sem palavras. Você é muito mais do que eu mereço, Aubrey! Muito
mais!

— Isso não chega a ser nenhum terço do que eu posso fazer pela senhora.

Ela volta a encarar a agulha em seu braço e faço de tudo para reprimir o
choro entalado em minha garganta. A verdade é que minha mãe havia
perdido a esperança de viver, ela só está aqui por minha causa, apenas por
isso.

Uma lágrima teimosa escorre pelo meu rosto e eu rapidamente a seco, antes
que ela possa ver.

— Não chore, querida! — Ela diz e percebo que ela notou, mais algumas
lágrimas escorrem e eu mordo o lábio inferior.

— A senhora vai ficar bem. — Aperto sua mão.

O sorriso que ela me dá me quebra por dentro, pois eu sei que há muito ela já
desistiu de viver, já desistiu de se curar e só está esperando o momento certo
para que deixe esse mundo.

— Apesar de tudo que está acontecendo, Aubrey, você estar aqui comigo foi
uma das melhores coisas que me aconteceu.

— Como eu poderia não estar com você, mãe? — Pergunto e ela sorri,
suspirando.

— Seque essas lágrimas, meu bem, eu ainda estou aqui e não pretendo te
deixar tão cedo.

Levo sua mão até minha boca e deposito um beijo demorando.

— Te amo, mãe.
— Eu também te amo, meu bem, mais do que qualquer coisa nesse mundo!
Jamais se esqueça disso.

Uma das piores dores que o ser humano pode sentir é a dor da perda.

Mas acho que a dor de saber que alguém está prestes a partir, prestes a te
deixar e você nem ao menos sabe quando isso vai acontecer, mas que vai
acontecer uma hora ou outra, é pior ainda.

As portas do elevador se abrem e eu sigo para meu novo apartamento.


Confesso que morar sozinha é bom, mas sinto falta da Soph e das
maluquices dela.

Sophia Davis é a pessoa mais próxima que posso chamar de melhor amiga.
Moramos juntas desde a faculdade e dividimos vários momentos juntas, mas
desde que ela descobriu que estava grávida do seu melhor

amigo de infância e que eles começaram a namorar, ela se mudou do nosso


apartamento em NY e passei a ficar sozinha.

Por falar nisso, minha afilhada está prestes a nascer e eu mal posso esperar
para conhecê-la.

Abro a porta do meu apartamento e entro, deixando minhas coisas em cima


do sofá e indo direto para o banheiro, quero tomar um banho relaxante e
descansar.

Após o atropelamento, quando a adrenalina foi passando, foi que eu senti as


dores aparecendo. Assim que entro no banheiro, vou tirando a blusa com
calma, faço uma careta de dor e vejo que há marcas de roxo no cotovelo e
próximo a ele, que foram os locais que mais foram atingidos quando eu bati
no chão. Vejo que há arranhões, mas nada que um remédio, pomada e gelo
para me deixarem novinha em folha para amanhã.

Prendo meus cabelos e entro debaixo da água quente, sentido todo o cansaço
do dia ir embora. Confesso que ir para as quimioterapias com a minha mãe
me deixam exausta, sei que ela deve ficar muito mais, porém só quem
acompanha o dilema de alguém com câncer sabe como a rotina intensa de
idas ao hospital e de plantão é exaustiva.
Visto um pijama quentinho e vou para a cozinha, decidida a preparar um chá
para mim, afinal, é o mais próximo de algo que consigo preparar sem que
minha cozinha pegue fogo.

Me sento no sofá com meu chá de camomila e meu kindle, só assim para eu
conseguir relaxar e ficar em paz.

Apesar do dia ter começado com um atropelamento, consegui fechar com


uma ótima editora aqui em Toronto, acompanhei minha mãe em mais uma
quimioterapia e assim sigo para os próximos dias, que não mudariam em
muita coisa e tudo que posso fazer agora é pedir forças a Deus, porque

eu preciso aguentar essa rotina intensa e pela minha mãe eu farei esse
sacrifício.

Teria sido muito mais fácil se eu estivesse morando com ela e, inclusive,
esse era o plano inicial, mas minha mãe insistiu que eu alugasse um
apartamento para mim para não me sobrecarregar pois, segundo ela, já
bastava que eu fosse ao hospital com ela e ficasse o dia inteiro. Como ela
tem uma enfermeira que mora com ela, não faria sentido que eu fosse para lá
também.

Tomo um gole do meu chá e suspiro. Tem coisas que não conseguimos
controlar e a única coisa que podemos fazer é aceitar o destino como ele é,
sem perguntas ou lamentações.
Graças a Deus hoje é sábado! Uma semana nunca passou tão lentamente
como essa, guardo minhas coisas dentro da minha bolsa e confiro a hora, são
10:00h da manhã.

Hoje vou passar o dia no Red Rock o bar/lanchonete/point universitário da


cidade, comprovei que durante o dia o local é excelente para escrever e
preciso mesmo mudar os ares para ter inspiração nova para meu próximo
livro, que está extremamente difícil de sair.

Assim que confiro que está tudo guardado, abro a porta do meu apartamento,
dando de cara com várias caixas no corredor. A porta do apartamento da
frente está aberta e reviro os olhos, sabendo que ganhei um novo vizinho.

Quando vim atrás do apartamento fui informada de que o da frente estava


vazio, mas pelo que percebi já encontraram um inquilino para ocupá-

lo, e pelo jeito é um inquilino bagunceiro.

Suspiro e tranco a porta do meu apartamento para o elevador, tomando


cuidado para não tropeçar em nada. Assim que aperto o botão para chamá-lo
as portas se abrem e dou de cara com um dos caras com o sorriso mais lindo
que já vi na minha vida.

Ele está conversando com outro rapaz, então seu olhar se desvia e se prende
ao meu e eu perco o fôlego por completo, sentindo meu coração acelerar,
minha boca secar e entreabro os lábios para conseguir respirar corretamente.

Mas que diabos é isso?

Uma coisa é certa, eu jamais esqueceria esses olhos.


Seu rosto é inesquecível, eu a reconheceria em qualquer lugar que eu a visse,
exatamente como acontece agora.

A morena me encara, sem saber como reagir. Não sei se consegue me


reconhecer, mas sei quem ela é e isso me fascina, porque não imaginei que
fosse reencontrá-la novamente.

Vejo a compreensão chegar em seus olhos e ela piscar, dando um passo para
trás.

— Era só o que me faltava! — Murmura e desvia o olhar do meu.

Sorrio de lado, não conseguindo esconder a graça que sua reação me causa.

Dou um passo para fora do elevador e me aproximo mais dela. Para sua
sorte, seguro uma caixa de papelão e é exatamente essa a distância que
ficamos um do outro.

— Como vai? — Pergunto, atraindo sua atenção novamente. Seus olhos


voltam aos meus e eu me contenho para não desviar os olhos dos dela.

Me sinto preso em seus olhos, que são extremamente profundos e parecem


me puxar de uma maneira incompreensível.

Ela me reconhece, se não reconhecesse não reviraria os olhos como agora.

— Pretende me atropelar novamente? — Pergunta, arqueando a sobrancelha


perfeitamente desenhada.

— Não posso fazer uma simples pergunta?

— Não, não pode.

Não falamos nada por cerca de vinte segundos, e são os vintes segundos
mais longos da minha vida.

— Se você não percebe. — Diz, ainda me encarando. — Você está


atrapalhando a passagem para o elevador.
— Sinto muito. — Digo e me afasto para o lado, dando espaço para que ela
passe.

A morena me acompanha com o olhar, mas não diz nada, apenas segue em
direção ao elevador, onde entra e observo as portas se fecharem lentamente,
me dando uma última visão dela.

— O que foi isso? — Zach pergunta.

— Não sei, mas acho que acabei de conhecer minha vizinha —

Reflito.

— E ela parece ser daquele tipo de pessoa que te mata só com o olhar.

— Quem diria que eu iria encontrar aquela mulher novamente? —

Pergunto enquanto caminho em direção ao meu novo apartamento.

— Quem diria que a sua vizinha seria a mulher que você atropelou e que,
indiretamente, é responsável por você ter saído da fraternidade, não é?

Que mundo pequeno!

— Eu sei que você vai sentir minha falta, Zach, pode dizer.

— Vai pra puta que pariu, Owen! — Xinga, indo para a cozinha e eu fico na
sala.

Tudo que consigo pensar é na minha nova vizinha, quem diria que eu
encontraria a mulher que atropelei aquele dia? Confesso que ela ficou na
minha cabeça desde então, me perguntei o que teria acontecido com ela, se
estava bem, se não tinha se machucado gravemente. Mas, pelo que consegui
ver, ela está muito bem e isso me deixa mais aliviado.

Me pergunto o que ela iria fazer naquele dia, pois ela parecia com pressa e
preocupada. Me lembro claramente do Zach entregando a ela várias folhas
de papéis que haviam escapado quando a atropelei. Talvez ela seja alguma
empresária... Universitária eu sei que ela não é, conheço uma universitária
de longe e ela já passou dessa fase, o que significa que ela é mais velha do
que eu e...

— Vai ao hospital que dia? — Zach pergunta, me tirando do mar de


pensamentos que me encontro.

— Como?

— Hospital, cara? Vai que dia?

— Na próxima semana. — Respondo. — Não consegui essa semana por


causa da mudança, mas vou na próxima com certeza.

— Já devem estar com saudades de você.

— Contando que eu prometi que me casaria com umas cinco senhoras ali,
talvez elas queiram me matar. — Digo e me coloco de pé.

— Te admiro por isso, cara. — Encaro meu amigo e sorrio olhando para o
chão.

— É o mínimo que posso fazer, Zach, se eu pudesse fazer mais eu faria, mas
agora é apenas isso que está ao meu alcance.

Meu amigo assente.

— Bom, já colocamos tudo para dentro, vou te deixar organizando tudo e


vou voltar para a fraternidade, temos reunião mais tarde, não se esqueça.

— Pode deixar, estarei lá.

Zach bate nas minhas costas e deixa meu novo apartamento, fico sozinho
olhando para o amontoado de caixas e malas dentro da sala, respiro fundo e
decido dar um jeito logo nisso, afinal de contas, tenho alguns planos para
hoje a noite.

Minha nova casa precisa de uma inauguração a altura de Owen Hughes!


Eu não consigo acreditar, simplesmente não entra na minha cabeça que meu
novo vizinho é o garoto que me atropelou. Meu Deus, que mundo
minúsculo! De tanta gente que poderia ser meu vizinho, o universo fez
questão de colocar ele como essa pessoa.

— Seu café, Aubrey!

— Obrigada, Wendy! — Agradeço, pegando a xicara e já tomando um


pouco.

Desde que conversei com ela e falei que viria algumas vezes na semana,
durante o dia, para poder trabalhar aqui, ela deu um jeito de reservar uma
mesa mais afastada para que eu obtivesse mais silêncio ainda.

Wendy é uma boa menina, gosto de conversar com ela quando chego, acho
ela mega simpática e atenciosa.

— Parece que você levantou com o pé esquerdo hoje. — Comenta.

— Apenas descobri quem é meu novo vizinho.

— Não é gente boa?

— Não sei, só o vi uma vez, porém como dizem por aí, a primeira impressão
é que fica, e a dele não foi muito positiva. — Digo, olhando para meu
computador.

— Imagino, mas quem sabe com o tempo vocês não acabam se dando bem?

Acabo rindo e balançando a cabeça.

— Vou acreditar no seu positivismo, Wendy! — Ela sorri lindamente. —


Aliás, porque está trabalhando hoje pela manhã?
— Ah! Hoje é sábado! Fim de semana eu trabalho durante o dia e a noite. —
Explica, dando de ombros, como se não fosse nada demais.

— Nada de folgas? — pergunto, séria.

— Eu tenho folgas, mas quando penso no que preciso, dinheiro é sempre


importante e o Red sempre precisa de gente pra trabalhar, principalmente aos
fins de semana. Então não me importo de vir o dia inteiro.

— Isso é errado, você vai acabar passando mal em algum momento.

— Falo.

— Não se preocupe, geralmente uso meus períodos de aula para descansar.

— Mas, e as aulas, ficam como?

Estou realmente preocupada. Wendy suspira, não conseguindo fugir do meu


interrogatório.

— Até aqui eu tenho dado conta de tudo, Aubrey, não se preocupe.

— Me promete que se precisar de ajuda vai me procurar? —

Pergunto, ela me encara por alguns segundos, até finalmente assentir.

— Pode deixar, agora vou deixar você trabalhar!


Concordo e ela se afasta da mesa. Suspiro e encaro meu computador, pronta
para tentar escrever pelo menos 500 palavras hoje.

Passei umas cinco horas no Red Rock e não consegui escrever um parágrafo
que me agradasse por inteiro. Me pergunto como posso estar completamente
travada dessa maneira, não é possível!

Isso nunca me aconteceu antes, sempre foi muito fácil transmitir as cenas da
minha cabeça para o papel, mas agora... agora existe um enorme bloqueio
que não me deixa fluir em nada quando se trata da escrita.

— Você precisa viver um romance, isso sim! — Sophia grita do outro lado da
linha e eu reviro os olhos. Como sempre, minha melhor amiga está tentando
me arrumar um namorado.

— Menos Soph, menos!

— Menos coisa nenhuma! Como você vai fazer alguém se apaixonar dentro
dos seus livros se você nunca se apaixonou antes? Não faz sentido, Aubrey!

— Fiz isso a minha vida inteira, Soph e tem dado certo!

— Talvez seja a hora de mudar alguns pontos — Diz, indignada. —

Você precisa conhecer novos ares, se distrair, namorar! Quem sabe tudo isso
não vai fazer você abrir a mente?

— Quer mais novos ares do que me mudar de país? — Questiono e olho


para os lados para atravessar a rua, afinal, não quero ser atropelada
novamente.

— Isso já foi excelente, agora falta só arrumar um namorado!

— Sonha! — Resmungo.

— Não precisa namorar, Aubrey, apenas pegue, sei lá, dá uns beijos,
amassos, mas sinta na pele a experiência. Encarne a mocinha dos seus
livros e esqueça que você está esperando o príncipe do cavalo branco
aparecer na sua porta te pedindo em casamento.
Suspiro. Não é tão simples como ela pensa, não é apenas pegar e pronto, tem
toda a questão de sentimentos, de química, de entrosamento...

simplesmente não dá!

Para ela falar é fácil, sempre teve uma química incrível com o Benjamin, seu
namorado e, mesmo antes de descobrirem estar apaixonados

um pelo outro, já exalavam a tabela periódica inteira apenas com o olhar e é


isso que quero para mim, quero essa química explosiva, mas também quero
cumplicidade, lealdade, sinceridade, respeito, companheirismo.

Já tentei ser da turma do pessoal que pega e não se apega, mas não adianta,
não me sinto confortável sendo desse jeito.

Entro no prédio e cumprimento o porteiro com um aceno de mão.

— Vou entrar no elevador, Soph, te mando mensagem quando chegar em


casa. — aviso.

— Ok, pense no que eu te disse, beleza? Vai te fazer bem!

Reviro os olhos, encerro a chamada, aperto o botão do décimo andar e


espero o elevador subir. Acabo rindo sozinha e balançando a cabeça em
negação, só a Sophia para me dar um conselho como esse.

As portas do elevador se abrem e antes que eu dê o primeiro passo, congelo.

O som no corredor está estrondando, pessoas conversando e um casal mais à


frente se beijando como se estivessem em um quarto.

— Mas o que está acontecendo aqui? — Sussurro, completamente assustada.

Saio do elevador devagar e reviro os olhos ao ver que o som vem da casa do
meu mais novo vizinho.

Tinha que ser!


Pedindo licença para as pessoas, sigo em direção a porta, que fica bem em
frente à minha.

O som parece mais alto daqui e dá pra ouvir algumas pessoas conversando.
Na verdade, gritando, porque com um som dessa altura é impossível
conversar normalmente.

Percebo que a festa é composta por jovens universitários.

Reconheço essas jaquetas em qualquer canto. Entro no apartamento do meu

vizinho sem me preocupar se fui convidada ou não.

Sinto o olhar de algumas meninas em cima de mim e de alguns rapazes


também.

— Opa! Em que posso ajudar senhorita? — Um rapaz pergunta, me


impedindo de seguir meu caminho.

— Onde está o dono do apartamento? — Questiono, séria.

Ele me encara, achando minha pergunta estranha.

— Olha, ele está ocupado, mas se quiser posso resolver seu problema... —
Seus olhos descem sugestivamente pelo meu corpo e eu reviro os olhos.

Universitários e seus hormônios incontroláveis.

— Onde está o dono do apartamento? — Repito, lentamente e ele nota que


não estou para brincadeira.

— Só seguir o corredor, primeira porta a direita. — Diz, me dando


passagem.

Passo por ele sem agradecer e sigo para o lugar que me mandou e, assim que
abro a porta do quarto, sem bater e nem nada, dou de cara com o meu
vizinho beijando, na verdade, praticamente engolindo a boca de outra garota.
— Mas que porra... — Ele diz, parando de beijar a menina, mas se cala ao
me ver.

— Você vai acabar com a droga dessa festa agora!

— Owen, o que está acontecendo? — A garota pergunta, perdida.

Owen... Então esse é o nome dele?

— Nada, querida, só um probleminha técnico.

Reviro os olhos.

Problema técnico?

Pelo amor de Deus!

Cruzo os braços e espero que ele faça alguma coisa, mas tudo que faz e
erguer o braço direito e passar a mão na cabeça, o que me faz notar que ele
está sem camisa. Percebo que seu corpo é definido, muito definido para falar
a verdade, os braços são musculosos e mesmo ele estando de lado, consigo
ver que sua barriga é perfeitamente trincada.

Aubrey, você está maluca? Para de olhar para o garoto assim!

Minha mente adverte e eu desvio o olhar, engolindo em seco.

— Estou esperando... — Murmuro e arqueio uma sobrancelha quando ele


me encara.
— Querida... — Diz, se virando para a menina. — Será que pode esperar lá
fora, por favor? Só vou resolver esse probleminha aqui.

A menina me encara com desdém, que não me abala, pega suas coisas e
passa por mim, batendo o ombro no meu de propósito.

— Você é sempre assim? — Questiona, vindo em minha direção.

— Assim como?

— Estraga prazeres.

Ele para a centímetros de distância de mim, da mesma forma que parou mais
cedo, mas dessa vez a diferença é que não temos uma caixa de papelão para
impedir a aproximação.

Meu vizinho é mais alto que eu, então preciso erguer os olhos para encará-lo
melhor. Dessa maneira consigo focar ainda mais em seu rosto.

Seus olhos são castanhos, a sobrancelha é bem definida, o nariz é afilado, o


queixo é quadrado e os lábios são bem desenhados.

— Nós moramos em um prédio, onde existem regras e uma dessas regras diz
que é expressamente proibido dar festas que perturbem a paz de outros
inquilinos. — Digo e ele sorri de lado.

Devo ressaltar que ele tem covinhas, percebi isso mais cedo, mas vendo
agora de perto, isso o deixa ainda mais com cara de garoto. Ele desvia os
olhos dos meus por alguns segundos, mas volta a me encarar, só que dessa
vez parece ser mais perigoso.

— É uma festa privada. — Argumenta.

— Sua festa privada está nos corredores do prédio, seu som dá para ser
ouvido do elevador e tenho certeza que os vizinhos dos andares superior e
inferior não estão nem um pouco felizes com esse barulho todo.

— Qual o seu nome? — Pergunta e eu pisco.


— Como?

— Seu nome, já nos encontramos três vezes e eu ainda não sei como você se
chama, acho que posso saber o nome da minha vizinha, não?

Rio sem acreditar no que está acontecendo aqui.

— Só pode ser brincadeira — Murmuro.

— Apenas seu nome e eu desligo tudo e mando todos embora —

Diz.

Sua aproximação é perigosa, o som alto na casa parece ter acabado, e só


consigo ouvir meu coração batendo apressadamente em meu peito.

— Não precisa se dar ao trabalho de fazer isso, pode deixar que eu mesma
faço!

Vejo a confusão em seus olhos e me viro no instante seguinte, volto para a


sala que parece ter mais pessoas que a primeira vez, paro e olho para os
lados, sendo alvo dos olhares de várias pessoas.

Encontro a caixa de som e vou em direção a ela, tiro o som da tomada e a


música morre, dando lugar a várias pessoas falando.

— A festa acabou! Todo mundo pra fora! — Digo e eles me olham com
raiva.

— Tá maluca, porra? — Sua mão se prende em meu braço, me fazendo olhá-


lo. Arqueio uma sobrancelha para ele, em sinal de desafio.

Me aproximo o suficiente para conseguir sussurrar em sua orelha.

— Se essa festa não acabar em cinco minutos, eu chamo a polícia e vai ser
bem pior!

Ignoro o seu perfume completamente perturbador e me afasto apenas para


encará-lo com seriedade. O silêncio domina o ambiente e sei que todos estão
assistindo nosso embate apenas com o olhar. Sua mão solta meu braço, mas
ele não para de me encarar.

— A festa acabou. — Diz, lentamente. — Todo mundo pra fora, agora!

Ele não olha para seus convidados em momento nenhum, quando percebem
que ele está falando sério, noto as pessoas começarem a sair.

— Satisfeita? — Questiona, quando fica ele e mais cinco rapazes dentro do


apartamento.

Olho para os garotos que ficaram e depois para a bagunça no apartamento.

— Espero que tenham ficado para ajudar na limpeza, esse lugar está uma
zona.

Me viro para sair, mas meu vizinho segura meu braço novamente, olho para
ele e suspiro profundamente.

— Aubrey... — Digo e ele pisca, sem entender. — Meu nome é Aubrey


Stuart e eu espero não precisar ter que vir aqui novamente por causa de
barulho, porque se eu vier, a polícia vem junto.

Puxo meu braço do seu e deixo seu apartamento, já pego a chave do meu e
entro rapidamente, fechando a porta e me escorando nela.

Era só o que me faltava, ter um vizinho universitário e festeiro!

— Deus me dê paciência, porque vou precisar, com toda a certeza!

— Isso foi sexy pra cacete! — Lucca comenta.


— Se eu soubesse que ela queria acabar com a festa não tinha nem falado
onde você estava. — Elliot diz.

— Você o que? Filho da puta! — Falo, me virando para ele.

— Acredite, Owen, ela ter ido atrás de você ou não, não fez muita diferença,
ela ia acabar com a festa de qualquer jeito. — David diz.

Suspiro e me jogo no sofá.

Aubrey Stuart.

Dificilmente eu vou esquecer esse nome, ainda mais com a dona dele sendo
minha vizinha.

Quem diria que ela iria acabar com a minha festa?

— Quem diria que o Owen tiraria a sorte grande, não é? Que vizinha
gostosa! — Lucca diz.

— Seria muito bom se a vizinha gostosa não fosse a mulher que atropelei
essa semana. — Digo.

— Tá de brincadeira, não é? — David questiona e eu nego.

— Não mesmo.

— Caralho! — Elliot diz. — Não consegui associar as duas pessoas, mas é


ela mesma, tem o mesmo olhar feroz de quando viu que foi o Owen que a
atropelou.

— É, meu amigo, você está fodido! — Zach debocha.

— E nem é no sentido bom da palavra. — Caleb zomba e eles riem, mas


tudo que eu consigo pensar agora é que terei um bom motivo para
atormentar minha nova vizinha.

Se ela pensa que vai ter sossego, ela está muito enganada.

— Vamos lá pessoal, titulares contra reservas! Quero um jogo limpo e


direto! Zach, pode aproveitar para treinar suas entradas mais rápidas!

— Sim, senhor!

— Owen, preciso de você mais agressivo! Não tenha medo de jogar, Zach e
Caleb estão aqui para dar todo o apoio que você precisa nos ataques!

— Sim, treinador!

— Quero todos vocês com sangue nos olhos, nosso próximo jogo é no fim
de semana que vem e temos muita coisa para colocar em ordem! Na próxima
semana teremos um treino intenso durante a semana, não faltem!

— Sim, senhor!

— Vamos, vamos!

Assim que coloco meus patins na pista de gelo faço questão de respirar
fundo. Pisar aqui exige toda a minha concentração, o que significa que não
posso deixar outros pensamentos invadirem minha mente, minha
concentração precisa estra 100% voltada para o jogo e é isso que decido
fazer agora, esquecer o mundo e focar em jogar.
O puck é jogado e eu consigo a posse dele de imediato, corro em direção ao
gol adversário, mas o disco é tomado de mim no instante que em a defesa me
barra, olho para o lado, vendo o atacante reserva do meu time correr em
direção ao gol e jogar o disco numa velocidade impressionante, por sorte o
Lucca consegue impedir o gol.

— Atenção, Owen! Atenção! — O senhor Jones grita e eu assinto, correndo


até o local em que eles estão.

O puck é jogado novamente e consigo a posse, correndo em direção ao gol, e


jogando de uma vez, mas o goleiro reserva defende.

No final do treino, terminamos empatados e eu me jogo no banco.

Ao avistar o treinador vir em minha direção, bebo um gole de água.

— Preciso que redobre sua atenção. Você foi bom hoje, mas sei que pode ser
melhor, você não é o center desse time atoa, lembre-se disso!

Assinto e ele me deixa sozinho.

Ele tem razão, preciso dar minha vida em cada jogo e nos treinos também e é
isso que vou passar a fazer.

— O que vai fazer depois do treino? — David pergunta, se sentando ao meu


lado.

Ergo o pulso e confiro a hora.

— Tenho um compromisso mais tarde. — Digo, já me colocando de pé.

— Você e seus compromissos misteriosos! — Diz.

— Acontece, nos vemos amanhã, cara!

Ele assente e eu sigo em direção ao vestiário.

Preciso me trocar rápido, não gosto de me atrasar, mas infelizmente com os


treinos mais intensos nos últimos dias isso tem sido inevitável.
Pego minhas coisas e coloco tudo dentro da mochila, já saindo apressado.
Pego meu celular e vejo uma mensagem do Josh.

Josh: Estamos apenas esperando você!

Eu: Estou chegando, segura mais quinze minutos!

Jogo o celular na mochila e corro em direção ao meu carro. Preciso correr,


só espero não atropelar ninguém no caminho novamente.

Consigo chegar em dez minutos e por sorte do destino, sem atropelar


ninguém. Entro correndo no hospital e mal cumprimento a recepcionista,
apenas sigo em direção a sala em que estão me esperando.

— Cheguei, foi mal a demora! — Digo assim que entro na sala.

— Está atrasado! — Paola diz e joga a roupa para mim, consigo perceber
pelo seu tom de voz que ela esteve chorando.

Ela deixa a sala e eu encaro o Josh, fazendo uma pergunta com os olhos.

— A senhora que ela visitava sempre faleceu na noite passada. —

Assinto, deixo minhas coisas em cima de uma cadeira e vou me vestir.

Faço trabalho voluntário no hospital desde que completei 18 anos, uma das
minhas maiores alegrias é vir aqui e trazer um pouco de alegria para pessoas
que perderam o motivo para sorrir.
Conheci a Paola e o Josh assim, nos tornamos amigos e trabalhamos juntos
trazendo um pouco de diversão para pessoas em estágio terminal do câncer.
Só quem enfrenta essa luta sabe como é doloroso passar por ela e se sentir
sozinho, só quem enfrenta sabe o quão bom é receber um abraço e um
sorriso sincero.

Não é fácil estar aqui, afinal de contas, acabamos nos apegando aos
pacientes daqui e quando recebemos a notícia de alguma morte, nosso

coração dói e tentamos o máximo não deixar transparecer nossa dor.

— Deixa eu ajudar você. — Paola se aproxima de mim e começa a passar a


tinta branca em meu rosto.

Consigo notar seu nariz vermelho e os olhos marejados.

— Ela está em um lugar melhor, Paola. — Digo e ela sorri tristemente,


concordando com um aceno de cabeça.

— Eu sei, mas não deixa de ser triste, eu amava ficar conversando com ela.
Fico triste por não ter conseguido me despedir.

— Tenho certeza que aonde quer que ela esteja, ela está feliz por ter tido a
oportunidade de ter conhecido você.

Ela se afasta e sorri para mim.

— Vamos lá, Owen, hoje nós vamos para a ala adulta. A ala infantil será na
sexta.

Pego a peruca e coloco meu melhor sorriso no rosto, dando lugar ao palhaço
pipoca, onde seu único objetivo de vida é fazer as pessoas sorrirem.

— Vamos lá! — Josh diz.

Seguimos em direção a ala da oncologia, cumprimento os enfermeiros e


começamos a fazer graça pelo caminho, com alguns pacientes que estão nos
corredores.
Entrego uma flor para uma mulher bonita, que tem o rosto vermelho por
causa do choro e ela sorri em agradecimento.

— BOA TARDE PESSOAL! — Grito, assim que entro na sala onde são
realizadas as quimioterapias, sou recebido com palmas e começo a me
aproximar das pacientes.

Aperto a mão de todas rapidamente e volto para o centro da sala.

— Como todos vocês sabem, hoje é um dia muito, muito, muito, muito,
muito, muito, muito... — Paro para respirar —... muito, muito, muito,
muito... Eu já disse muito?

— Anda logo, Pipoca, não temos o dia inteiro! — Josh diz, com uma voz
modificada e olhando zangado para o relógio imaginário.

— Ok, ok! Hoje é o dia em que eu vou conhecer a minha noiva! —

Digo, abrindo os braços.

As pacientes batem palmas.

— Me pergunto quem é a louca que vai casar com você! — Ele resmunga.

— Não chame minha noiva de louca, Paçoca. — Digo. — Ela vai gostar de
mim pelas minhas qualidades!

— E quais são?

— Ora! — Começo a andar pelo quarto, de maneira bem engraçada, que faz
algumas pessoas rirem. — Eu tenho várias qualidades!

— Quais?

— Várias!

— Mais quais?

— VÁRIAS!
— Pipoca!

Pulo de susto quando ele grita meu nome e o encaro.

— Primeiro: sou inteligente! Não sou, meninas? — Pergunto para elas que
concordam comigo. — Segundo: sou atraente! não sou, meninas?

— Elas concordam novamente. — Terceiro...

— Ah, pelo amor de Deus... — Paçoca resmunga.

— Sou muito sexy! — Completo, segurando os suspensórios da calça que eu


uso.

— Seu narcisismo me incomoda. — ele diz.

Pisco e me viro para as pacientes.

— O que é narcisismo? — pergunto em um sussurro, mas logo dou um pulo.


— Não importa, não importa! O que interessa hoje é que vou

encontrar a minha noiva e... — Faço uma pausa dramática, sorrindo em


seguida. — Vou me casar com ela!

— ACHEI VOCÊS!

Paola entra na sala, com uma cara de raiva e o Josh vem correndo para atrás
de mim.

— Rosinha! — grito, indo até ela e lhe dando um beijo estralado na


bochecha! Deixando o Paçoca desprotegido.

— Me solta, Pipoca! Odeio grude! — ela diz, se afastando. — Eu vim


procurar o... — Ela olha para o Josh. — Achei você, seu palhaço sem
vergonha.

— Rosinha, meu amor, que saudades que eu estava de você! Posso explicar
tudinho!
— Ah, pode é?

— Posso, eu vim passear com o Pipoca, porque ele ainda insiste em arrumar
uma noiva!

Rosinha me encara e começa a rir descontroladamente, cruzo os braços.

— Qual a graça?

— Ainda está nisso, se eu fosse você desistiria!

— Nada disso! Ainda vou encontrar a noiva perfeita! — Falo, convicto.

— Narcisista desse jeito, só se você se casar com seu próprio reflexo!

Volto a encarar a plateia.

— O que é narcisismo? — Elas riem ainda mais.

— Já chega, vamos para casa! — Rosinha diz, segurando o Josh e eu pela


orelha.

— Ai, ai, ai, ai, ai! — gritamos juntos.

— Se eu descobrir que vocês saíram mais uma vez sem falar comigo, eu juro
que os dois vão ficar sem arrumar noiva nenhuma!

Passamos pela porta e ouvimos os aplausos do lado de dentro, Paola nos


solta e sorri para nós dois.

— Estou começando a achar que em breve precisaremos achar uma noiva


realmente para você, Owen! — Ela diz e eu faço careta.

— Menos, Paola.

— Vamos lá, pessoal! — Josh diz, passando ambos os braços por nossos
ombros. — Vamos conversar com o pessoal.

Retornamos para a sala, esse é o momento em que vamos conversar


individualmente com os pacientes, um momento único devo ressaltar.
Sorrio ao ver minha paciente predileta.

— Dona Kristen! O que a senhora faz aqui no dia de hoje? Que eu saiba sua
quimio é só na sexta!

— Acha mesmo que perderia a oportunidade de ver vocês? São a alegria do


meu dia!

Rio com seu elogio e estendo a mão para ela.

— Que tal uma volta?

— Perfeito!

Entrelaço seu braço no meu e seguimos para fora.

— Como a senhora está?

— Em paz!

— Sua filha chegou?

Em nossa última conversa ela me relatou que a filha estava vindo de Nova
Iorque para Toronto, apenas para ajudar a cuidar dela.

— Sim, na semana passada. — Noto que ela sorri tristemente.

— Não está feliz?


— Estou, mas é que com ela aqui, sei que talvez não tenha muito mais
tempo de vida. — Diz.

— Não diga isso. — Peço, parando de andar e ela dá tapinhas na minha mão.

— Esse é o ciclo da vida, garoto: nós nascemos, vivemos e morremos! Tudo


normal.

— Odeio quando a senhora tem esses pensamentos.

— Pense pelo lado bom, quero muito viver a tempo de você encontrar sua
noiva!

Agora é a minha vez de rir.

— Essa é a graça da história, Sra. Stuart, eu nunca encontrarei minha noiva,


exatamente para vocês viverem até que eu a encontre.

Ela deixa escapar uma lágrima e eu rapidamente a seco, beijando sua testa
em seguida.

— Vamos lá, Pipoca! Não quero receber olhares maldosos por monopolizar
sua atenção apenas para mim!

Rio e voltamos para a sala da quimioterapia.


Chego em meu apartamento e passam das 19:00h, estou com fome e não tem
nada para comer aqui, preciso ir ao mercado o mais rápido possível ou então
vou morrer de fome.

Vou direto tomar um banho, preciso estudar para uma prova, mas com o
estomago vazio não rola, então decido ir a Jack rock comer algo.

Visto uma calça jeans, uma camiseta e pego o casaco do time. Pego meu

celular, carteira e as chaves do carro e sigo para o point da noite em plena


segunda.

Assim que as portas do bar se abrem, agradeço por estar especialmente


vazio, é segunda-feira, se estivesse lotado eu realmente diria que a juventude
está perdida.

Me sento nas cadeiras perto do balcão e procuro pela Wendy, mas não a
encontro.

— Ora, ora, o que traz a estrela do hóquei aqui nessa noite?

— Red, me vê a melhor comida por favor, estou faminto! — Peço e ele


assente.

— Vai beber?

— Apenas água. — Digo e ele arqueia a sobrancelha. — Preciso ser


responsável alguma vez na vida! — Explico e ele ri, se afastando.

Olho em volta do local e me assusto ao ver uma mulher em uma mesa


afastada, mexendo no computador, franzo o cenho, mesmo de longe,
reconheço esses cabelos pretos em qualquer lugar.

O que ela está fazendo aqui?

— Linda, não é? — Red pergunta, colocando a água na minha frente.

— Sim, muito linda! — Comento e me viro para ele. — O que ela faz aqui?
— Vem praticamente todos os dias, passa o dia inteiro trabalhando naquele
computador, não ligo, já que ela faz todas as refeições dela aqui também,
hoje ficou até mais tarde porque o movimento é fraco. É por causa dela que a
Wendy está de folga

— Sério? — Volto a olhá-lo.

— Sim, ela argumentou comigo que a garota não deveria trabalhar tantas
horas por dia e ainda ter que dar conta da universidade. Eu sei disso,

mas é difícil fazer a Wendy aceitar que ela tem limites.

— Sim, sim... — Conheço a Wendy muito bem e nunca vi ela de folga, é a


primeira vez. — Como ela conseguiu?

— Ela conversou comigo, falei que nunca impedi a garota de tirar folga, mas
era uma decisão dela, ela pediu permissão para conversar coma Wendy e
aparentemente deu certo.

— Uau!

— Uau mesmo! Ela tem um poder de convencimento incrível, além de ser


linda. Acho que nunca vi uma mulher tão bonita!

Rio e bebo um gole da minha água. Será que isso é algum tipo de
encantamento pra fazer com que todos os homens fiquem obcecados em sua
beleza surreal?

— Red, pode levar minha comida naquela mesa. — Digo, apontando para a
mesa da Aubrey.

O homem ri, sem acreditar.

— Owen, aquela mulher é muita areia pro seu caminhãozinho...

Sorrio de lado.

— Não se preocupe, Red, não vou dar em cima dela.


Com isso, sigo em direção da mesa dela, me sento na cadeira a sua frente e
ela ergue os olhos para me encarar.

— Como vai, morena?

Ela abre a boca, sem conseguir acreditar na minha presença ali.

— Era só o que me faltava! — Murmura, o que me faz sorrir.

Meu vizinho está na minha frente, com aquele sorriso cafajeste que eu
aprendi a odiar desde a primeira vez que vi.

— Será que eu não consigo ter um minuto de paz? — Questiono a mim


mesma.

— Só vim ver como minha querida vizinha está.

— Estava muito bem antes de você se sentar na minha mesa, há uns dois
minutos.

— Nunca te disseram que deveria ser mais cordial com os vizinhos?

— Nunca te disseram que se sentar na mesa dos outros sem ser convidado é
falta de educação?

— Sempre com uma resposta na ponta da língua. — Murmura, sorrindo.

— O que você quer? — Pergunto, sem paciência.


— Só fiquei curioso para saber o que você está fazendo aqui em plena
segunda-feira.

— Trabalhando... Algo que você não deve nem saber o que é, porque mal
saiu das fraldas ainda.

— Como é? — Ele endireita o corpo na cadeira e apoia as mãos na mesa.

— Por que não procura uma garota da sua idade para atazanar a paciência?
— Questiono.

— Não sei... talvez porque ache mais interessante vir conversar com você.

— Eu devo ter cometido algum pecado muito grande, só pode!

Volto a encarar o computador e salvo todos os arquivos, desligando tudo.

— O Red disse que você vem trabalhar aqui praticamente todos os dias. —
Comenta e eu ergo os olhos para ele, que continua me encarando.

— Eu considerava um bom lugar, até ver que você o frequenta também.

— Todo esse ressentimento é porque eu te atropelei?

Reviro os olhos.

— Não, imagina! — Digo, sendo irônica. — Só não suporto os jogos de


vocês universitários que acham que conseguem tudo que quer por ser ricos e
famosos!

— Acha que sou rico e famoso?

— Pelo amor de Deus!

— Seu jantar, Owen! — Red deixa um prato na frente dele e se vira para
mim. — Tudo bem por aqui, Aubrey?

— Tudo tranquilo... Inclusive, já estou até de saída!

Fecho meu notebook, me levanto, pego minhas coisas e me viro para o Red.
— Boa noite, Red! Até amanhã!

— Boa noite, querida!

Não faço questão de me despedir do Owen, então apenas deixo a lanchonete,


sigo em direção ao prédio em que moro e respiro fundo ao notar

que está meio frio. Deveria ter trago um casaco quando saí de casa, mas nem
me toquei que poderia esfriar.

Sigo em direção ao meu prédio me perguntando porque alguém como o


Owen me tira tanto a paciência. Claro, tem a questão do atropelamento, de
ser meu vizinho, de dar uma festa em um prédio, de ser arrogante e ter
aquele sorrisinho que me faz querer bater naquela carinha linda...

Suspiro, balanço a cabeça e tento espantar esses pensamentos.

Owen Hughes, a estrela em ascensão do hóquei universitário, o garoto


popular da universidade de Toronto, o filho do poderoso advogado
Christopher Hughes.

Sim, pesquisei sobre ele e não foi muito difícil descobrir quem ele é,
inclusive, achei uma matéria referente ao atropelamento, a mídia é tão
perversa que colocou que eu ameacei chamar a polícia, alegando que ele
estava bêbado e iria denunciá-lo e que não sei o que.

Ao chegar no prédio, cumprimento o porteiro, entro no elevador e aperto o


botão do décimo andar.

Havia mais alguns motivos para ficar longe do meu vizinho encrenqueiro.

Ele é um bebê, pois tem 22 anos e é um pegador nato, o típico cafajeste


universitário. Pondero que são dois motivos bem prudentes, afinal, a última
coisa que eu quero é confusão com um bando de universitárias achando que
tenho algum tipo de relacionamento com o Owen.

Encolho os ombros e balanço a cabeça em negação só de pensar na


possibilidade.
— Deus me livre! — Digo, as portas do elevador se abrem e eu sigo para o
meu apartamento, só quero um banho e cair na minha cama.

É incrível como não consigo tirar ele da minha cabeça! Seus olhos
castanhos, o nariz afilado, o rosto anguloso e os lábios perfeitamente
desenhados, o sorriso safado e as covinhas dão a ele um ar absurdamente
sensual.

Apago o trecho que acabei de escrever e afasto as mãos do teclado do


computador.

Não acredito que eu estou fazendo minha personagem descrever o meu


vizinho, não é possível!

— Está tudo bem, Aubrey? — Wendy pergunta, colocando meu almoço na


mesa e eu pisco, fechando a tela do computador em seguida.

— Sim, porque?

— Ficou pálida de repente.

— Fome, acho que é isso! — Digo, enquanto coloco meu computador de


lado e começo a comer.

— Obrigada por ter me feito tirar folga ontem, acho que eu nem imaginava
que poderia dormir tanto. — Diz, timidamente.
Termino de mastigar e a encaro.

— Trabalho em excesso nunca é bom, Wendy! Precisa tirar uma folga, seu
corpo vai pedir de isso de uma maneira ou de outra.

— Sim, sim, eu sei. Obrigada!

— Nem precisa me agradecer!

Volto a comer, me atentando ao sabor da comida, que tem se tornado minha


preferida.

— O que ele está fazendo aqui agora? — Ouço a Wendy murmurar e ergo os
olhos para a porta.

Vejo Owen cumprimentar o Red e me controlo para não revirar os olhos.

— O que foi? — Pergunto, na inocência.

— O Owen geralmente não vem aqui durante o dia, é estranho vê-lo aqui
nesse horário. Vou atendê-lo.

Assinto e observo a menina ir até o meu vizinho, pela forma que eles
conversam imagino que eles sejam íntimos. Wendy coloca uma mecha de
cabelo atrás da orelha e sorri timidamente para ele, noto que toda vez que ela
fala algo, sua mão toca no braço dele, um sinal claro que é afim dele.

Rio e balanço a cabeça em negativo, voltando a comer, Owen Hughes e seu


charme de fazer todas as meninas se encantarem por ele. Não as culpo, afinal
de contas, ele é lindo, não dá pra negar esse fato, mas sei também que usa
sua beleza a próprio favor.

— Aubrey.. .

— Tava demorando. — Murmuro e encaro meu vizinho, que agora se senta


na minha frente novamente.

— Como vai a minha querida vizinha?


— Ela tava muito bem até meu querido vizinho se sentar com ela.

— Existe algum horário do dia em que você esteja de bom humor?

— Existe algum horário do dia em que você não venha tirar a minha
paciência?

Ele sorri.

Nesse exato momento eu me odeio muito por achar esse maldito sorriso
perfeito.

Porque esse infeliz tinha que ter um sorriso assim? Alguém me explica?

— Owen, eu não tenho o dia inteiro. — Digo.

— Então você já sabe o meu nome? — Pergunta, presunçoso.

— Infelizmente, tive esse desprazer de descobrir.

— O que acha de começarmos de novo? — Pergunta e eu arqueio uma


sobrancelha.

— Começar de novo?

— Sim, podemos tentar começar novamente, pelo que percebi vamos nos
ver muito por aí. Você é minha vizinha e frequenta o mesmo bar que eu, por
isso acho que podemos tentar ter uma amizade tolerável.

— E quem disse que eu quero ser sua amiga?

— Vamos lá, Aubrey, estou vindo com a bandeira da paz estendida para
você, o que acha de uma trégua nas patadas?

Isso seria uma péssima ideia.

— Não sei se... — Meu celular toca e eu olho para o aparelho, vejo o nome
da Dakota na tela. — Preciso atender, só um momento.

Atendo a chamada, surpresa por ela estar me ligando.


— Está em Toronto? — Pergunto, surpresa. — Agora? — Ergo o pulso para
conferir a hora e assinto. — Estarei aí o mais rápido possível, obrigada!

Encerro a chamada e começo a guardar minhas coisas.

— O que houve? — ele pergunta.

— Preciso ir embora, tenho uma reunião de última hora.

— Eu te ajudo! — Diz, se levantando também.

— Não precisa...

— Você não vai conseguir chegar no seu carro desse jeito. — Fala e aponta
para minha bolsa meio aberta, minha agenda na minha mão, mais

uma pasta e meu notebook debaixo do braço.

— Eu ia chamar um táxi. — Digo.

— Não tem carro?

— Me mudei para Toronto tem pouco tempo, não trouxe meu carro.

— Eu te levo.

— Como?

— Eu te levo, meu carro está estacionado aqui em frente, vai ser mais fácil
para você.

— Não precisa...

— Aceite, Aubrey, vamos considerar isso um ato para selar a paz entre nós.

Respiro fundo e pondero se devo aceitar ou não. Considerando que essa


reunião não estava na minha agenda e que eu não sei quando conseguirei um
táxi aqui, talvez seja melhor aceitar.
— Ok, garoto, vou aceitar sua carona, mas isso não significa que vamos virar
amigos ou algo do tipo! — Aviso e ele sorri de lado, filho da mãe.

— Pode deixar, morena, vamos considerar isso um começo.

Ele se aproxima de mim e eu prendo o ar por alguns instantes, ele sorri


diante da minha reação.

— Vou apenas te ajudar com isso. — Ele segura minha agenda e em seguida
meu notebook. — Vamos lá, morena.

Ele e afasta e eu olho para os lados, respirando fundo em seguida.

É apenas uma carona, só isso!

O silêncio no carro é predominante, bato os dedos nos joelhos e tento me


manter calma. Sinto o olhar do Owen em mim no instante em que o carro
para no semáforo.

— Eu não vou te atacar, Aubrey.

— Como? — Meus olhos encontram os seus por alguns segundos, então sua
atenção volta para o trânsito.

— Não vou te atacar. — Repete. — Está agindo como se eu fosse fazer algo
com você a qualquer momento.

— Desculpa.

— O que você faz? — Pergunta, mudando de assunto.


— Eu sou escritora. — Revelo e ele se vira para mim, surpreso.

— Sério?

— Sim.

— E você escreve aqueles livros, tipo Orgulho e Preconceito?

Rio e balanço a cabeça em negação.

— Não! Escrevo mais voltado para o público jovem.

— Uau! Eu estou com uma escritora no meu carro!

— Como se você não fosse um jogador de hóquei no auge da carreira.

— Então você sabe o que eu faço? — Percebo que ele ergue a sobrancelha.

— Ouvi boatos. — Dou de ombros.

— Como é?

— O que?

— Escrever.

Sorrio, amo falar da minha profissão, do que eu faço, de como eu faço, é


uma realização para mim.

— É um sonho, é viajar dentro das palavras, é viver algo que você nunca
viveria, é se apaixonar milhares de vezes e não ser capaz de dizer qual
personagem você ama mais, é ter o poder de causar nas pessoas todos os
sentimentos possíveis, seja ele ódio, paixão, amor, desejo, raiva... É

mágico.

— É a primeira vez que eu vejo você falando assim de algo.

— É a minha paixão, Owen. — Digo, virando o rosto para ele. —


Não tem como falar de outra forma.

— Concordo plenamente, quando é algo que a gente ama, não tem como não
falar com orgulho.

— O hóquei pra você é assim? — Pergunto e ele assente.

— Acho que é mais do que isso. — Murmura e fica calado em seguida,


penso que ele não vai falar mais nada, porém me surpreendo quando o faz.
— O hóquei me trouxe de volta a vida, morena, se eu estou vivo hoje é por
causa dele.

Seus olhos cruzam com os meus e consigo entender a profundidade do que


ele diz, assinto, concordando com ele.

— Chegamos! — Anuncia, parando em frente a um hotel muito grande.

— Obrigada, não precisava ter me trago até aqui — Digo.

— Não precisa me agradecer, morena, como eu disse, entenda isso como


uma bandeira branca erguida a nosso favor — Diz e eu balanço a cabeça em
negação.

— Vou pensar no seu caso, prometo! — Abro a porta do carro, mas paro
quando ele chama meu nome.

— Aubrey!
— Sim? — O encaro.

— Boa sorte! Seja lá o que você vai fazer aqui hoje, parece ser importante.

— Obrigada, Owen.

Desço do carro, pego minhas coisas e dou um tchauzinho para ele, seguindo
em direção a entrada do hotel em seguida.

Porém, enquanto caminho até a recepção, não consigo tirar o sorriso do meu
rosto. O motivo eu não sei, mas é impossível parar de sorrir feio uma boba.

— Palestra? — questiono.

— Exatamente, palestra! Você é a melhor na área, Aubrey! —

Dakota diz.

Penso um pouco, nunca fui muito de dar entrevistas ou aparecer em redes


sociais, a mídia nunca foi muito a minha praia, sempre preferi me esconder
atrás dos meus livros e até agora isso tem dado certo.

— Não sei se isso vai ser uma boa ideia...

— Vai ser uma excelente ideia, Aubrey, só preciso que você aceite!

Dakota Parker é a dona da editora em que publico em Nova Iorque, inclusive


foi ela quem me indicou a Emília aqui em Toronto. Dakota é uma mulher
exuberante, que transmite uma onda de autoridade por onde passa, é uma
mulher extraordinária, que está sempre pronta para ajudar no que for preciso
e admiro muito isso nela.

— Não vou ter como fugir, não é?

— Não mesmo! Conversei com a Emília mais cedo também e ela super
aprovou a ideia. Você vai se sair bem, Aubrey, eu não conheço outra pessoa
que tenha a competência, a capacidade e a experiência que você para isso.

Assinto, concordando e solto um suspiro, não tenho para onde fugir.


— Certo, Dakota, pode avisar que irei realizar essa palestra.

— Perfeito! Eu sabia que podia contar com você, Aubrey, sempre soube!

Ela sorri animadamente enquanto eu me pergunto onde foi que eu me meti.

Ficamos conversando por mais tempo no restaurante do hotel, até que dá o


horário dela ir para o aeroporto.

— Ainda não trouxe seu carro, não é? — Pergunta enquanto seguimos para a
saída do hotel.

— Não, nem sei se vou trazer. Se possível, Dakota, queria que você tentasse
vendê-lo para mim.

— Tem certeza disso?

— Sim, eu tenho, não sei quanto tempo vou ficar em Toronto.

— Certo, entendo.

Ela suspira e para de andar.

— Uau, que garoto bonito!

Olho para onde ela está olhando e me assunto ao ver o Owen ali sentado,
mexendo no celular e alheio ao que acontece ao seu redor. Não consigo
acreditar que ele está me esperando, prefiro acreditar que ele esteja aqui por
uma mera coincidência.

— Aubrey?

Olho para a Dakota, que tem um sorriso discreto no rosto.

— Sim?

— Você o conhece?

— Ele é... — Volto a encará-lo, no exato momento que seus olhos encontram
os meus, ele se levanta e começa a caminhar em nossa direção.
— Meu vizinho. — Digo, antes dele se aproximar por completo.

— Terminou?

— Sim... — Sussurro e ele sorri de lado. Owen se vira para a Dakota e


estende a mão para ela.

— Muito prazer, Owen Hughes.

— O prazer é todo meu, sou Dakota Parker. — Dakota sorri animadamente


para ele e se vira para mim. — Vamos nos falando por mensagem, Aubrey.
Eu já vou indo, foi um prazer conversar com você, querida.

Ela me abraça e sussurra em meu ouvido:

— Que garoto lindo! Querida, por favor, não o deixe escapar!

Arregalo os olhos e ela se afasta, sorrindo. Observo minha chefe ir embora e


me viro para o Owen.

— O que está fazendo aqui? — Pergunto.

— Simples, esperando você.

— Não precisava ter feito isso!

— Não sei se você reparou, morena, mas estamos do outro lado da cidade, se
eu já te trouxe, o que custaria levar embora? Afinal de contas,

somos vizinhos, esqueceu?

— Isso é loucura, Owen! — Sussurro, caminhando junto com ele para a fora
do prédio.

— Por que?

— Você não tinha nenhuma...

Ele para de andar e se vira para mim, quase me fazendo bater contra seu
corpo.
— Obrigação, eu sei, mas ficaria preocupado se você não conseguisse voltar
para casa.

— Era só eu pedir um táxi. — Murmuro.

— Eu sei, mas isso não me isenta de uma possível preocupação. —

Diz, ele olha para os lados e solta uma lufada de ar, voltando a me encarar.

— Vamos embora, morena.

Ele diz e tudo que eu faço é concordar, seguindo-o até o seu carro.

Nem eu sei responder porque a esperei, mas quando dei por mim estava
andando em círculos pelo quarteirão. Decidi estacionar o carro e entrar no
prédio, algumas pessoas me reconheceram e pediram para tirar foto,
perguntaram se eu queria algo, mas apenas disse que estava esperando uma
pessoa.

Me distraí mexendo nas minhas redes sociais e quando percebi já haviam se


passado três horas, foi nesse instante que ergui os olhos e a vi.

Talvez eu esteja realmente ficando louco, não sei, quem esperaria por uma
pessoa tanto tempo assim? Mas confesso que ver seus olhos de surpresa em
minha direção foram uma recompensa e tanto.

Agora a Aubrey está com a cabeça encostada no vidro do carro, olhando


para os prédios que se passam rapidamente pelo campo de visão.

Estamos em silêncio desde que entramos no veículo e, pela primeira vez na


vida, não sei como começar um assunto com uma mulher. Me sinto frustrado
e surpreso ao mesmo tempo.
— Vai querer comer algo? — Ela pergunta, me pegando de surpresa.

— Como?

— Você ficou praticamente a tarde inteira naquele salão, não sei se comeu
algo. Me sentirei pior se você desmaiar de fome no volante e acabar matando
nós dois. — Rio do seu comentário.

— Ainda não comi nada, mas não estou com fome.

— Nada disso, vamos parar para comermos algo e, quem sabe assim, eu me
sinta menos em dívida com você.

— Não precisa...

— Eu faço questão, garoto. — Diz.

— Certo, tem um local aqui perto que é ótimo.

— Então vamos nele.

Conduzo o carro até a lanchonete e estaciono, pego um boné que está no


banco de trás e coloco.

— Sempre me pergunto se esses disfarces funcionam... — Ela comenta, me


encarando.

— Se a pessoa não estiver procurando um astro do hóquei em ascensão sim,


funciona, caso o contrário, não.

— É melhor tirar o casaco — Diz.

— Oi?

— Sei que está frio lá fora, mas essa jaqueta grita quem você é aos quatro
cantos. — Ela tem razão e eu tiro a peça de roupa, jogando-a no banco de
trás.

— Por sorte tenho outro casaco no porta-malas. Vamos lá?


Aubrey abre a porta do carro e desce, faço o mesmo e vou buscar o outro
casaco. Me visto, tranco o veículo e seguimos para a lanchonete. Nos
sentamos em uma mesa um tanto afastada e começamos a olhar o cardápio.

— Vai pedir o que, garoto? — Pergunta e ergo os olhos para ela.

— Por que me chama de garoto?

— Porque é o que você é: um garoto.

— É um modo diferente de me chamar de novinho?

Aubrey gargalha e, puta que pariu, acho que nunca mais ouvirei um som tão
lindo quanto esse.

— Talvez! — diz, quando se recupera. — Você realmente é muito novinho.

— Tenho 22 anos, morena, não sou tão novo assim.

— Sim, você é. — Diz, me encarando profundamente.

— E o que você faria se eu não fosse tão novo? — Pergunto e vejo a


surpresa em seus olhos.

Pergunta errada, eu sei, mas a expressão que ela faz me deixa curioso com
sua possível resposta.

A pergunta dele me pega completamente desprevenida. Totalmente para


falar a verdade.
— Você não perguntou isso! — Murmuro, sem acreditar.

— Perguntei e quero uma resposta, morena. — Diz.

— Entenda uma coisa, Owen, nem que você tivesse a minha idade eu me
envolveria com você.

Ele coloca a mão no coração, fazendo uma careta.

— Essa doeu, morena. — Diz, sendo dramático e eu reviro os olhos.

— É bom doer mesmo, assim você evita soltar mais um comentário desses.

Ele sorri de lado e volta a olhar o cardápio. Por incrível que pareça, o clima
fica leve, fazemos nossos pedidos e ele me conta que essa é uma das suas
lanchonetes favoritas.

Sempre vem aqui quando pode.

— Mas está gostando de Toronto? — Pergunta enquanto comemos.

— Eu gosto, morei aqui minha infância inteira, mas nada se compara a Nova
Iorque.

Ele ri e passa a língua nos lábios.

— Se tiver a oportunidade de voltar, você voltaria?

— Sem sombra de dúvidas, mas não sei quando vai acontecer, pois o motivo
que me fez voltar para o Canadá é complicado.

Não me sinto pronta para compartilhar sobre minha mãe, nem a Soph sabe
direito o que aconteceu e ela insistiu horrores para que eu contasse.

— Entendo...

— E você pretende ser a estrela do hóquei aqui.

— É uma das minhas metas.


— Você cursa o que?

— Direito. — Franzo o cenho. — Eu sei, nada ver, mas é uma das


exigências do meu pai.

— Gosta da área?

— Nem um pouco, mas até minha carreira se consolidar preciso estar


cursando algo.

— Compreendo.

— E você, se formou em que?

— Literatura Inglesa. — Digo e ele sorri. — O que foi?

— Sua cara.

Acabo rindo.

— Sério?

— Sim, você tem cara de ser aquelas professorar sexys que deixam os alunos
completamente apaixonados.

Rio da sua comparação.

— É isso que se passa na sua cabeça? — Questiono.

— Um garoto pode sonhar. — Fala, usando o apelido que dei a ele.

— É, garoto, pelo menos sonhar você pode. — Falo, me perguntando como


diabos essa conversa sempre escapa para esse lado.

O celular dele toca.

— Não vai atender?

— São meus amigos — Diz, olhando a tela.


— Pode ser importante. Pode atender, não vou ficar com raiva.

Estou começando a gostar desses sorrisos de canto que ele solta, é


completamente sexy.

— Fala, Elliot! — Owen ergue o pulso para conferir a hora e assente. —


Estarei aí em trinta minutos, até mais.

— Problemas? — questiono.

— Algumas coisas na fraternidade.

— Por falar nisso, porque morar em um apartamento quando se tem a casa


na fraternidade? — Questiono, curiosa. Nos colocamos de pé e seguimos
para o caixa.

— Meu querido pai me obrigou a me mudar para um apartamento.

— Por que?

Ele se vira para mim novamente, mas dessa vez consigo parar um pouco
mais afastado dele.

— Porque atropelei uma mulher extremamente sexy e, de acordo com as


notícias, ela queria me denunciar para a polícia.

Arregalo os olhos.

— Não!

— Sim!

Pagamos nossos lanches e seguimos em direção ao carro.

— Eu não fazia ideia. — Digo, quando saímos da lanchonete e seguimos até


o carro. — Se você quiser posso tentar falar com ele, dizer que foi um mal
entendido e...
— Não precisa, Aubrey. — Diz, ao parar do lado do motorista e me encarar
por cima do carro. — Meu pai já queria me tirar da fraternidade, o
atropelamento foi o pretexto perfeito.

Ele entra no carro e eu faço o mesmo, colocando o cinto.

— Além do mais, — Continua — eu tenho ótimos motivos pra querer


continuar naquele apartamento.

— Quais?

— Eu tenho uma vizinha extremamente sexy. — Paraliso e o encaro.

— Devia parar com isso, garoto — digo.

— Isso o que?

— Dar em cima de mim. — Falo.

— Não se preocupe, Aubrey. — Diz, olhando dentro dos meus olhos. —


Quando eu estiver dando em cima de você, você vai conseguir notar a
diferença entre uma brincadeira e um flerte.

Entro no meu apartamento me perguntando que caos foi esse hoje.

Ainda não consigo assimilar tudo que aconteceu, principalmente com o fator
vizinho na jogada.
Me jogo no sofá e respiro fundo.

— É melhor parar com essa brincadeira, Aubrey. — Falo para mim mesma.
— Antes que acabe com consequências irreversíveis.

Meu celular vibra no meu bolso e eu sorrio ao ver uma mensagem da Soph.

Soph: Como você está, Aubrey? Está se adaptando bem? Já sinto sua falta.

Eu: Estou bem, a adaptação tem sido tranquila na medida do possível e


também sinto sua falta! Como a Sadie está?

Soph: Pode ter certeza de que está melhor do que eu, afinal, ela só fica
dentro da minha barriga, não aguento mais andar por aí com esse peso
todo, mal vejo a hora dela nascer.

Eu: Estou muito curiosa para ver o rostinho da minha afilhada!

Soph: Queria muito que estivesse aqui pro nascimento dela.

Eu: No momento vai ser meio inviável, já que eu cheguei praticamente na


semana passada!

Soph: Eu sei, tô só expressando minha vontade.

Eu: Esse desejo aí vai ser meio impossível de realizar.

Soph: E como sua mãe está?

Travo nessa pergunta. É difícil falar sobre o estado de saúde da minha mãe,
principalmente quando não temos nada muito concluído. Daqui duas
semanas ela vai fazer uma nova bateria de exames e então vamos sentar com
os médicos e ver o que eles vão falar.

Tenho muito medo do que pode acontecer, afinal de contas, é a minha mãe, a
única família que eu tenho.

Meus dedos tremem enquanto digito, mas respiro fundo e tento controlar
isso.
Eu: Na medida do possível ela está bem, Soph, não se preocupe.

Soph: Impossível não me preocupar, sabe disso.

Eu: Vai ficar tudo bem, fica tranquila. A única com que você deve se
preocupar é o nascimento da Sadie.

Soph: Aubrey...

Eu: Preciso ir, tenho que organizar algumas coisas, me mande notícias!
Amo você.

Bloqueio a tela do celular antes de ver a sua resposta. Respiro fundo, sinto
meus olhos marejados e pisco várias vezes para impedir as lágrimas de
caírem.

— Vai ficar tudo bem, Aubrey. — Digo para mim mesma. — Vai ficar tudo
bem.

Todos os dias eu falo isso para mim mesma, como um mantra, que não me
deixa desistir de tudo e sofrer com algo que não aconteceu.

— Passou o dia sumido. — Elliot comenta assim que me jogo no sofá e


tomo um gole da minha cerveja.

— Estava ocupado. — Digo.

— Com o que? — Zach pergunta e se senta ao meu lado. — Pensei que ia


aparecer na biblioteca para resolvermos aquele trabalho de Direito Civil.

— A gente resolve amanhã, hoje realmente não tive como.

— E... Tá todo misterioso, ele. — Lucca diz em zoação.


Bebo o restante da minha cerveja.

— Bom, mas eu chamei vocês aqui para um assunto importante. —

Elliot diz.

— Mande! — David diz.

— O aniversário do treinador Hamilton está chegando! Temos que preparar


alguma coisa pra ele!

— Verdade! — Zach concorda.

— É o último ano dele como nosso treinador, não é? — Pergunto e eles


assentem.

— Precisamos pensar em algo que vai ficar marcado na memória dele. —


Lucca diz.

— Ganhar a liga esse ano seria muito bom! — Digo em ironia e o Elliot me
taca uma almofada.

— Isso a gente já sabe, não é? Mané! — Elliot diz.

— Estou brincando, brincando!

— Que tal uma festa surpresa? — David diz e começamos a zoar ele.

— Nossa que ideia genial, David! — Zach dá um tapa na cabeça do David.

— Podemos fazer uma festa, mas podemos fazer algo diferente nessa festa!
— Elliot diz.

— Mas diferente como?

— Podemos fazer algo no Red Rock! — Lucca diz.

— Boa, boa! Posso falar com ele pra reservar o bar um dia só pra gente fazer
essa comemoração! — Falo.
— Perfeito! Acho que ele vai gostar, afinal, todo os anos nós só damos
parabéns para ele ou fazemos um bolinho no vestiário mesmo. Ele merece
uma festa de verdade! — Elliot diz.

— É isso! Vou montar um grupo no whats e nomear como

“Operação Festa Surpresa do Senhor Jones”! — Falo, já pegando meu


celular.

— Fechou então galera, daqui um mês temos que estar com tudo pronto! —
Zach diz.

— Fechado!

A ideia da festa de aniversário para o Senhor Jones é excelente, nosso


treinador merece muito mais. O que podemos fazer a curto prazo é a festa e a
longo prazo, ganhar a liga esse ano.

Me despeço dos meninos e sigo para meu carro, mas não antes de ser
chamado pelo Zach.

— O que foi? — Questiono, me encostando na lataria.

— Está tudo bem mesmo? — Questiona.

— Sim, porque não estaria?

— Você parece meio aéreo, não sei, pode ser coisa da minha cabeça, mas
está diferente.

Sorrio de lado, me lembrando que passei o dia ao lado da Aubrey, e talvez


esse seja o motivo da minha mente não parar de pensar no sorriso dela por
um só instante.

— Não precisa se preocupar, Zach, é apenas a cabeça lotada de coisa: os


jogos, a faculdade, o fato de ter me mudado de casa...

— Inclusive, acho que quando a poeira baixar você pode voltar pra
fraternidade, não acredito que seu pai deixaria você permanentemente no
apartamento.

— Mas sabe de uma coisa, Zach? — Pergunto e abro a porta do meu carro,
já entrando.

— O quê?

Abro o vidro e fecho a porta.

— Estou gostando de morar sozinho: o local é agradável, aconchegante e eu


definitivamente gosto daquele lugar.

Meu amigo arqueia uma sobrancelha e eu pisco para ele, dando a partida no
carro.

Mal sabe eles que o motivo que me faz querer ficar naquele apartamento tem
olhos escuros e sedutores, além de um sorriso capaz de deixar qualquer um
hipnotizado.

Hipnotizado.

É exatamente assim que Aubrey me deixa e ela mal se dá conta do efeito que
causa em mim.

O táxi para em frente à universidade de Toronto, mas permaneço dentro do


carro. Tem tantos anos que eu não piso em uma universidade que tento
recriar a sensação na minha cabeça, mas parece impossível.

— Está tudo bem? — O motorista pergunta, me encarando pelo retrovisor


interno.
Pisco várias vezes, assentindo.

— Sim, sim! Obrigada!

O motorista assente e eu desço do carro, respiro fundo e sigo para o campus.

Minha vida universitária não foi aquele mar de rosas, nunca fui o tipo de
garota que frequentava festas, que bebia até esquecer o próprio o nome ou
que fazia parte da turma popular da escola.

Eu era conhecida, claro, minha melhor amiga era a Sophia, ela sim foi tudo
isso, chamava a atenção por onde passava, era ativa em festas e pegava sem
se apegar, ela e o Benjamin eram assim, até se darem conta de que sempre
foram apaixonados um pelo outro, o verdadeiro friends to lovers que todo o
leitor ama!

Apesar de estar no ciclo de amizades deles dois, eu não era eles dois, e por
isso minha vibe sempre foi mais caseira, com meus livros, filmes e séries.

Paro na entrada do prédio da administração e pego meu celular para verificar


o nome da pessoa que preciso procurar aqui dentro. Sigo em direção as
escadas e, assim que chego ao andar superior, vejo um balcão e uma senhora
digitando rapidamente no computador.

— Bom dia! — Cumprimento e ela ergue os olhos para me encarar.

— Você é a escritora? — Pergunta, animada e eu confirmo. — A reitora já


está esperando você, pode seguir esse corretor e entrar na segunda porta a
esquerda.

Assinto e sorrio de lábios fechados. Sigo na direção que ela indicou e bato
na porta.

— Pode entrar!

Giro a maçaneta e abro a porta. Assim que ela se abre dou de cara com uma
sala ampla e uma mesa mais a fundo, com uma mulher elegante sentada à
mesa, ela ergue os olhos e sorri para mim.
— Aubrey Stuart? — Pergunta e eu assinto. — Sou Anastácia, pode entrar!
— Ela se coloca de pé e vem me receber. — É um prazer conhecer você, sou
fã dos seus livros!

— Obrigada! — agradeço, sem graça.

Ela indica a cadeira e eu me sento.

— Conversei com a Dakota e ela me disse que você seria a pessoa correta
para fazer essa palestra.

— Se a Dakota disse, não vou questionar, certo?

— Estamos programando a palestra para ocorrer no fim do mês. O

que acha?

— Perfeito, terei tempo para me preparar!

— Enquanto isso, o que acha de assistir as aulas de literatura inglesa? Você


vai conhecendo os alunos e conversando com eles.

— Eu acho uma excelente ideia!

— Apesar de ser uma palestra voltada especialmente para os acadêmicos de


Literatura inglesa, ela é aberta para todos os universitários.

— Certo!

— A professora Abigail, que ministra a disciplina de literatura, vai entrar em


contato com você em breve, para te passar os horários das aulas e as turmas,
pra você não ficar perdida!

— Perfeito!

Assinto, concordando.

— Entendi.
— Quer conhecer o Campus? Acredito que fique mais fácil para não se
perder aqui dentro!

— Vou adorar!

— Então vamos!

Sigo a Anastácia e deixamos a sala e o prédio da administração.

— É enorme aqui! — Comento.

— Sim! Se perder aqui é extremamente comum quando se é novato!

— Depois que se acostuma é como se estivesse andando dentro de casa. —


Murmuro e ela sorri, concordando.

— Ali nós temos o prédio do pessoal que cursa direito, tudo que envolve
esse curso em especifico fica ali, problemas em relação a professores e
disciplinas vão para a ala especifica e dependendo do caso, sobe para a
administração.

— Entendi...

— Mais a frente é o prédio da administração, e o do lado é o prédio de


Literatura Inglesa! Vamos lá?

Mal tenho tempo de confirmar, Anastácia já está caminhando em direção ao


prédio.

Tem poucos alunos nos gramados, o que me faz imaginar que eles estejam
em aula. Assim que entramos no prédio destinado a literatura inglesa, eu fico
em choque.

— Uau! — Comento.

— Incrível, não é? Quem estuda aqui realmente entra dentro desse universo
da literatura.
O primeiro corredor parece um museu. Tem quadros de escritores famosos
espalhados pelas paredes, citações pintadas a mão em determinadas partes,
livros em cima de mesas, algumas prateleiras, mesas.

Tem livros espelhados por todos os lados desse corredor.

— Eu nunca tinha visto nada desse tipo, é maravilhoso! —

Comento, completamente apaixonada pelo local.

— Essa é a entrada do prédio, confesso que é um dos mais lindos!

— Perfeito!

— Vamos, por aqui!

A sigo em direção a escadaria em formato de caracol e consigo perceber


trechos de livros escritos na parede enquanto subimos os degraus.

Chegamos em outro corredor, mais simples que a entrada, porém não deixa
de ser elegante.

— Aqui é onde as primeiras turmas de literatura ficam quando chegam na


universidade. Temos as salas de aulas normais, salas de leitura, salas para
descanso. Tudo vai se repetindo nos andares de cima, tentamos ao máximo
deixar esses ambientes padronizados.

— Eu estou encantada, acho que vou cursar Literatura Inglesa novamente.


— Comento e ela ri.

— Por aqui!

Seguimos na direção oposta das salas de aulas, vejo duas portas de vidro e
sorrio ao constatar que estamos indo para a biblioteca.

— A universidade tem uma biblioteca, mas com o passar dos anos decidiram
montar uma biblioteca própria para o curso.

— Uau! — Digo, encantada com o ambiente.


— Linda, não é?

— Perfeita!

O local, assim como o térreo do prédio, é cheio de sofás e mesas para estudo,
pinturas nas paredes, citações e quadros e, mais ao fundo, várias prateleiras
cheias de livros.

— A sagacidade dos alunos me surpreende. — Me viro para ela.

— Sim! Concordo plenamente com você!

Sorrio e volto a apreciar o ambiente. Com toda a certeza seria aqui que eu
ficaria durante minhas horas livres.

— Vamos? — Pergunta, olhando no relógio. — Vou te mostrar o refeitório e


te liberar.

Assinto e a sigo.

O refeitório fica um pouco longe do prédio de Literatura Inglesa, tivemos


que passar pelo gramado, onde já tinham bem mais alunos que mais cedo.

— Estamos em horário de almoço, então os arredores do Campus ficam


lotado de alunos. — Explica.

Continuamos a andar e sinto os olhares de alguns alunos sobre mim, mas não
deixo me abalar, afinal, eu não sou mais uma universitária.

Assim que chegamos na entrada do refeitório noto um aglomerado de


alunos, especificamente garotas, em volta de uma mesa.

— O que...

— Mesa dos jogadores de hóquei da faculdade. — Explica, meu olhar


confuso e a compreensão me atinge.

É bem provável que o Owen esteja nesse meio.


— Famosos como sempre — Murmuro.

— Com certeza! Esses meninos são de ouro, Aubrey, talentosos como você
nunca viu, inclusive, terão um jogo importante esse fim de semana e está
convidada a assistir.

— Eu... — Começo, me virando para ela, mas paro ao ver o Owen atrás
dela.

Seus olhos se prendem aos meus, engulo em seco. Ele parece surpreso ao me
ver ali, mas logo abre um sorriso de lado, fazendo aparecer as benditas
covinhas que eu acho super sexy.

— Mais quem diria... — Ele diz e a Anastácia se vira em sua direção.

— Owen Hughes! — Diz ela, sorrindo e se vira para mim. —

Aubrey, esse é o Owen, capitão do time de hóquei, estuda direito e é um dos


nomes mais promissores que temos aqui na universidade.

— Sério? — Pergunto, fingindo não saber de nada disso.

— Owen, está é a Aubrey, ela vai dar uma palestra importante sobre a
literatura no fim desse mês aqui na universidade e a convidei para assistir
algumas aulas no curso de Literatura inglesa.

— Interessante... — Ele diz, entrando no meu jogo. — É um prazer conhece-


la, Aubrey. — Ele estende a mão para mim.

Demoro mais tempo que o considerado normal para apertar sua mão, e
quando ele a segura, sinto um calor estranho subir pelo meu corpo.

— Digo o mesmo. — Respondo e ele solta minha mão.

— Owen, faça um favor para mim? — Anastácia olha o relógio.

— Claro.
— Pode ajudar a Aubrey a se localizar? Preciso ir até o prédio da
administração resolver algumas coisas. — Diz e me encara em seguida. —

Tudo bem para você?

— Claro, sem problemas! — Respondo, mesmo tendo todos os problemas


do mundo.

— Foi um prazer conhecer você, Aubrey! E vamos nos encontrar mais vezes
— Diz, sorrindo.

— Claro!

— A professora Abigail vai entrar em contato com você ainda hoje.

— Diz.

— Certo.

— Owen? — Ela se vira na direção dele.

— Não se preocupe, Sra. Pierce, ela estará em boas mãos. —

Responde, sem me encarar.

— Obrigada! Tenham um bom dia!

Ela gira os calcanhares e deixa o refeitório, me deixando sozinha com o


Owen. Olho para baixo e em seguida para o lado, onde a aglomeração de
meninas ainda está grande.

— Quem diria, não é? — Pergunta, se aproximando de mim.

Desvio o olhar para ele.

— Quem diria o quê?

— Que agora vamos nos encontrar na Universidade também. —

Responde, sorrindo.
— Não pense que isso é um pretexto para você tirar minha paciência.

— Longe de mim fazer isso, Aubrey. — Diz, colocando a mão no coração,


se fazendo de ofendido.

Arqueio uma sobrancelha para ele e volto a encarar os universitários, que


ainda não perceberam a presença do capitão do time de hóquei ao meu lado.

— Cínico como sempre. — Murmuro e o ouço sorrir.

— Você vai? — pergunta.

— Pra onde?

— Ao jogo, no sábado — Diz e o encaro.

— Não, entendo zero sobre hóquei.

— Não precisa entender para assistir, quem sabe não é uma oportunidade
para você se interessar?

— Não acho que seja meu caso.

— Vai recusar um convite feito pela reitora da universidade?

— Não acho que tenha sido um convite formal.

— Nunca saberemos, não é? — Pergunta.

Balanço a cabeça em negação e ergo o pulso para olhar a hora.

— Preciso ir embora, será que...

— Quer carona?

— O quê?

— Carona para casa, preciso passar no meu apartamento para pegar uma
coisa que esqueci, ia aproveitar a hora do almoço para isso.
— Não é uma boa ideia...

— Porque não? Estamos indo para o mesmo lugar, somos vizinhos e assim
você não precisa gastar com táxi.

— As pessoas falam, Owen — Digo, sendo bem óbvia.

Algumas meninas já haviam percebido a presença do astro do hóquei ao meu


lado e estão me encarando com um olhar não muito amigável.

— Não se preocupe, morena. — Diz e se aproxima mais de mim. —

Eu não ligo para o que as pessoas dizem.

Então ele segura minha mão e me conduz para fora do refeitório.

Céus, se eu tivesse uma arma atiraria agora mesmo contra Owen Hughes.

Pelo olhar da Aubrey, se ela pudesse já teria atirado uma pedra em mim.
Sinto seu olhar queimar minhas costas enquanto andamos em direção ao
estacionamento.

— Owen, vou matar você! — Diz.

— Nada fora do normal, morena!

Ela não fala mais nada até chegarmos no meu carro. Abro a porta do carro
para ela, apenas para irritá-la e tenho certeza de que se um olhar matasse, eu
estaria morto nesse exato momento.
Aubrey entra no carro e eu dou a volta no veículo. Entro e coloco meus
óculos escuros antes de dar a partida.

— Acho que você iria gostar. — Digo e ela me encara, tentando saber do
que estou falando. — De hóquei — explico.

— Não é um esporte que seja minha cara.

— E qual esporte é a sua cara, senhorita?

— Acho que nenhum. — Dá de ombros.

— Impossível.

— Não é impossível, só não me atraí.

Rio, sem conseguir acreditar, mas não falo mais nada. Ligo o som e IDGAF
começa a tocar. Com minha visão periférica vejo a Aubrey tamborilar os
dedos na perna, dentro do ritmo da música.

— Gosta de música?

— Amo música! — Responde e me encara.

— Então porque acabou com minha festa naquele dia? — Pergunto,


indignado e ela revira os olhos.

— Existe uma diferença entre música e agressão aos ouvidos, Owen, que era
exatamente o que você estava fazendo naquela noite.

— Você é incompreensível! — Murmuro e vejo a sombra de um sorriso em


seus lábios.

— No mais, amo música, estou sempre escutando e até trabalho ouvindo


música.

— Está falando sério? Escreve ouvindo música?

— Sim!
— Queria ser assim, se eu for fazer algo ouvindo música, me concentro
demais na música e me perco no que estou fazendo.

— Você acaba acostumando.

— Impressionante.

Ficamos calados, mas não dura muito, pois chegamos ao nosso prédio. Entro
com o carro na garagem e o guardo na minha vaga. Aubrey desce e eu faço o
mesmo, acionando o alarme em seguida. Caminhamos juntos para o elevador
e aperto o botão do décimo andar.

Silêncio.

Coloco as mãos no bolso e desvio o olhar para ela, que está mexendo no
celular.

Ainda fico abismado com a beleza dessa mulher e sempre me pergunto como
ela consegue ser tão linda. Diferente das meninas com quem costumo sair,
ela não está nem aí para quem eu sou, para o que eu faço ou sobre meu
futuro, além de falar extremamente bem. Adoro ficar ouvindo-a

falar, mesmo que seja mal de mim. E a escrita? Meu Deus, ela escreve
divinamente bem.

Sim, procurei os livros dela quando ela me contou que era escritora e já
comecei a ler um, pelo celular mesmo. Pesquisei como funciona e vi que dá
para baixar um aplicativo e comprar os livros por lá, então fiz isso e foi uma
excelente ideia.

Quando ela me disse que escrever é colocar sentimentos através das


palavras, pensei que fosse até um trocadilho, mas não, essa mulher sabe
exatamente como mexer com as emoções usando a escrita.

— Por que está me olhando?

Pisco, mas antes de responder as portas se abrem e deixamos o elevador.


Caminhamos até a porta dos nossos apartamentos, que ficam uma de frente
para a outra.

— Porque você é bonita.

Minha resposta a faz parar a mão antes de alcançar a maçaneta da porta e ela
se vira para mim.

— Como?

— Você, Aubrey, é linda! Impossível não olhar para você.

Percebi que ela fica um pouco fora de si e continua a me encarar, como se


procurasse alguma brincadeira no que eu falei, mas eu jamais brincaria com
algo assim.

— Obrigada, Owen. — Diz e me dá um sorriso discreto, abrindo a porta e


entrando em seguida.

Fico quase um minuto encarando a porta do apartamento fechada e sorrio ao


me virar e entrar no meu.

Tento mais uma vez ajeitar a gravata, mas falho. Não adianta, nunca vou
conseguir colocar essa porra direito. Suspiro, frustrado e pego o paletó,
assim que termino de me vestir, me encaro no espelho.

Odeio me vestir assim.


Pareço um pinguim de geladeira.

Suspiro e pego meu celular. Vejo que a Meg já me enviou o endereço do


restaurante que meu pai marcou nosso jantar essa noite e reviro os olhos.
Confesso que a ideia de faltar a esse jantar é extremamente tentadora, mas
isso só iria piorar a minha situação com meu pai, então é melhor enfrentar
um jantar chato do que suas ordens nem um pouco convencionais.

Antes de sair de casa pego meu celular e vou olhar as mensagens do grupo
que mantenho com meus colegas. Agora que não estou mais na fraternidade
fica mais difícil de saber das coisas.

Lucca: Eu tenho quase certeza que é ela!

David: Mas e se não for?

Elliot: Eu tenho certeza que é ela, aquela bunda arrebitada e os olhos


expressivos eram os mesmos!

Caleb: Só vamos saber se era ou não quando o puto do Hughes aparecer!

Zach: Quem quer fazer apostas?

Lucca: Eu!!

David: Tô dentro!

Caleb: Eu aposto que sim!

Elliot: Eu aposto a favor também!

Eu: Mas que porra está acontecendo aqui?

Zach: Apareceu a Margarida!

Elliot: Já não era sem tempo!

David: Tava para ir no teu apartamento ver o que tu tava fazendo.

Eu: Alguém pode me explicar o que está acontecendo?


Lucca: A garota que tava com você mais cedo, era a sua vizinha gostosa,
não era?

David: Garota não, Lucca! Mulher, com M maiúsculo mesmo. Ela está
longe de ser como as meninas da universidade.

Lucca: Cacete, deu para entender o que eu quis dizer.

Elliot: Responde aí, Hughes, era ou não?

Eu: Era sim.

Zach: Sabia!

Caleb: O que ela foi fazer na universidade?

Lucca: Com certeza não foi ver o vizinho dela!

David: KKKKKKKKKKKKKKK

Eu: Nossa, que engraçados vocês estão hoje, fizeram curso?

Zach: Responde aí, Owen!

Eu: Ela vai fazer uma palestra na universidade no fim do mês, a pedido da


Sra. Pierce.

Elliot: Palestra sobre o que?

Pondero se devo contar a eles que ela é escritora e que a palestra é sobre
literatura, mas acabo sorrindo ao decidir que é melhor que eles descubram
sozinhos.

Eu: Vocês vão ter que esperar para descobrir.

David: Qual é, Owen?

Lucca: Pô, cara, fala sério!

Eu: Fui!
Elliot: É um filho da puta mesmo!

Bloqueio a tela do celular, guardo no bolso do terno e confiro se não estou


esquecendo de nada.

A gravata ainda está me incomodando, prefiro não usar, mas meu pai faz
questão que esses jantares sejam extremamente formais. Como se fossemos
a porra de uma família feliz!

Suspiro e deixo meu apartamento. Assim que tranco a porta o elevador se


abre e eu vejo a Aubrey caminhar em minha direção, mas ela está distraída
mexendo no celular e não nota minha presença.

— Aubrey?

Ela se assusta com minha voz e para imediatamente.

Seus olhos me encaram então descem pelo meu corpo, fazendo o caminho
inverso em seguida e parando em meus olhos.

— Quem é você e o que fez com meu vizinho universitário? —

Pergunta, dando alguns passos em minha direção.

— Gostou?

— Está com menos cara de garoto. — Fala, com um sorriso dançando nos
lábios.

— Então se eu usar isso direto...

— Sem chances, garoto, pode esquecer.

Rio da sua resposta e ela guarda o celular no bolso.

— Alguma comemoração importante?

— Apenas um jantar em família, nada demais.

— Estou vendo o “nada de mais” pela roupa que está usando.


— Exigências do todo-poderoso Christian Hughes. — Explico e ela enruga a
testa, o que acho muito lindo.

— Bom, nesse caso, vamos arrumar isso...

Ela se aproxima de mim e segura minha gravata, ajeitando o nó que não


conseguir fazer direito.

Observo seu rosto mais de perto e assim que ela termina, seus olhos
encontram os meus.

— Está bonito, garoto. — Diz, sorrindo de lado, mas sem soltar minha
gravata. Quando começa a se afastar, ergo o braço e seguro sua mão.

Aubrey arregala os olhos e entreabre os lábios.

— Deveria parar com isso. — Falo.

— Isso o quê?

— Me olhar dessa maneira.

— Não estou te olhando de maneira nenhuma...

Me aproximo mais do seu corpo, sua respiração acelera e sinto seu pulso
acelerar.

— O que está fazendo? — Pergunta, nervosa.

— Testando minha teoria. — Falo e aproximo os lábios da sua orelha. Seu


perfume penetra em todos os meus sentidos, me fazendo querer afundar o
rosto bem ali e não sair mais.

— Que teoria? — Sorrio ao notar que sua voz está trêmula.

— Que você não é tão imune a mim o quanto finge ser. — Sussurro em sua
orelha.

A solto e me afasto dela, sorrindo.


Seus olhos estão arregalados e consigo notar facilmente que não esperava
que eu fizesse isso.

— Tenha uma ótima noite, vizinha!

Sigo em direção ao elevador sorrindo. Quando as portas começam a se


fechar, noto que Aubrey ainda está parada no mesmo lugar.

Meu coração parece querer saltar pra fora do meu peito e minha respiração
está acelerada. Parece que vim pelas escadas até o décimo andar.

Ainda estou de pé por um milagre, pois minhas pernas parecem gelatina.

O que acabou de acontecer aqui?

Por que aquele garoto tem que fazer isso?

Por que eu fui inventar de arrumar a droga da gravata dele?

São tantos porquês que ainda não consigo processar o que aconteceu agora.

Seu perfume entrou nos meus sentidos e por alguns segundos perdi a
completa noção do que estava acontecendo. Quando sua respiração atingiu
minha pele, senti minha barriga gelar e quando ele sussurrou em meu
ouvido, minha pele inteira se arrepiou.

Passo as mãos nos cabelos e me viro para trás, as portas do elevador já se


fecharam e apoio uma mão na parede e a outra no meu peito, tentando
acalmar o ritmo do meu coração.
Mais calma, sigo para meu apartamento, tranco a porta e me jogo no sofá.

Preciso me afastar desse garoto, não é normal me sentir assim por um


menino que parece que mal acabou de sair das fraldas.

Cada vez que me aproximo do Owen meu cérebro emite um alerta e eu


venho tentado me manter distante, mas parece que quanto mais eu me afasto
dele, mais ele decide se aproximar e isso definitivamente não é nada bom.

Respiro fundo e vou para meu quarto. Preciso tomar banho, procurar algo
para comer e dormir, apenas isso.

Antes que eu entre no banheiro meu celular começa a tocar. Pego o aparelho
dentro da bolsa e sinto meu coração acelerar ao ver o nome da Julie, a
enfermeira particular da minha mãe.

— Julie, aconteceu alguma coisa? — Pergunto, assim que atendo.

— A Kristen sofreu um pequeno desmaio. — Diz, nervosa. — Eu a trouxe às


pressas para o hospital e...

— Eu estou indo para aí agora! — Falo.

— Aubrey...

— Chego em dez minutos, Julie!


Encerro a chamada e corro em direção a porta. Nesse momento nada
importa, apenas o fato de saber se minha mãe está bem.

Chego no hospital cerca de quinze minutos depois. Pedi urgência para o


motorista e tenho certeza de que ele deve ter levado algumas multas por
ultrapassar alguns sinais vermelhos. Dei um dinheiro a mais para ele assim
que ele estacionou e agradeço a ajuda.

Entro correndo e vou direto para a recepção.

— Boa noite, em que...

— Kristen Stuart... Ela deu entrada aqui, é paciente da área de oncologia e...

— Qual o seu parentesco com a paciente?

— Filha, sou filha dela.

— Ela está no quarto 308, no quinto andar.

Assinto e corro em direção ao elevador.

Mordo o lábio inferior e respiro fundo, não vou começar a chorar, nem posso
fazer isso.

Assim que as portas se abrem, começo a andar rápido em busca do quarto.


Quando vejo a Julie, corro em sua direção.

— Onde ela está? — Pergunto.

— Acabou de ser levada para realizar alguns exames.

— O que aconteceu, Julie? Ela parecia tão bem hoje de manhã.

— Ainda não sabemos. Estávamos conversando e do nada ela começou a


tossir muito, então jorrou do sangue do nariz e ela desmaiou em seguida.
Chamei a emergência imediatamente e viemos para cá.

Me sento em uma cadeira e levo as mãos ao rosto.


Não é a primeira vez que ela desmaia, mas isso não me deixa menos
apreensiva.

— Fique calma, Aubrey, vamos ter fé de que nada vai acontecer. —

Julie diz, passando as mãos nas minhas costas.

— Eu espero que sim. — Digo, com a voz fraca. — Eu espero que sim.

Esperamos cerca de uma hora até eu ver os enfermeiros trazendo a maca da


minha mãe. Me coloco de pé e vejo que ela está dormindo, eles a colocam
dentro do quarto e os sigo. Assim que ela está posicionada corretamente, me
aproximo e seguro sua mão.

— Mãe, como a senhora está? — pergunto, mesmo sabendo que ela não vai
responder. — A senhora está proibida de me deixar, entendeu?

Meus olhos se enchem de lágrimas, mas não permito que elas caiam, aperto
sua mão e dou um beijo em sua testa.

— Podemos conversar por um instante, Aubrey? — A Dra. Brigite, médica


da minha mãe pede e eu assinto.

— Fica com ela, Julie? — Peço.

— Pode deixar.

Acompanho a médica da minha mãe. O caminho até a sala é feito em


silêncio e não me sinto nada confortável em relação a isso. Entramos em sua
sala e ela indica a cadeira para que eu me sente.

— Doutora...

— Não tenho boas notícias, Aubrey.

Me calo no exato momento, minhas mãos se fecham em punhos e eu assinto,


entendendo o que ela quer dizer.

— Pode falar. — Peço, tentando manter firmeza na voz.


— A Kristen atingiu o estágio 4 do câncer no colo do útero.

Meus lábios tremem involuntariamente e eu mordo o inferior para controlar


o tremor.

— Fizemos uma ressonância magnética e identificamos metástases nos


pulmões e no fígado.

— Mas ela estava fazendo todos os tratamentos, vem a todas as


quimioterapias, toma os remédios, porque não regrediu?

— Nem sempre as quimioterapias tem os resultados que esperamos.

— Foi tudo em vão? — Pergunto, olhando para o nada. — Tudo que ela
passou até aqui, foi em vão?

— Sei que é difícil de entender, Aubrey...

— Não, doutora, não é difícil de entender, eu só quero saber se tudo que ela
já passou até aqui foi em vão! Todo esse tratamento, dores, vindas ao
hospital, o dinheiro gasto....

— Quando a Kristen chegou aqui, o estágio do câncer dela já era avançado,


Aubrey, nós fizemos o possível para que as quimioterapias funcionassem e...

— Mas elas não funcionaram. Minha mãe está com metástase em dois
órgãos, e agora? O que vai ser feito?

— Vamos começar outra rodada de quimioterapia, vamos induzir novos


medicamentos e...

— As chances de cura?

— Aubrey...

— Não tem, não é?

— Nós vamos fazer o possível para que sua mãe não sinta dores, mas não
podemos dar uma estimativa de vida agora, precisamos fazer mais exames.
Vou adiantar todos os exames dela e com isso vou conseguir dar uma
estimativa para você.

Não falo mais nada, apenas me coloco de pé e deixo a sua sala.

Começo a andar parecendo um zumbi, não tenho forças nem para deixar as
lágrimas escorrem pelo meu rosto.

Não volto para o quarto da minha mãe, pelo contrário, deixo o hospital e
entro no primeiro táxi que vejo, sentindo meu peito doer cada vez mais.

Minha vontade nesse exato momento é deixar a mesa e ir embora.

Nunca estive em um jantar tão chato quanto esse.

— Owen, será que você pode prestar atenção no que eu estou tentando te
dizer? — Meu pai pergunta e eu suspiro.

— Estou prestando.

— Não está não.

— Por favor, gente, estamos em um jantar de família e não de negócios. —


Minha madrasta diz.

— Como você está, Mag? — Pergunto, me virando para ela e sorrindo.

— Estou bem. Acredita que eu finalmente tomei coragem e decidi abrir a


livraria que sempre quis?

— Está falando sério?


— Sim, seu pai resolveu me dar de presente de casamento. — Diz e olha
para o marido.

Pela primeira vez em alguns anos, desde que comecei a compreender a


relação deles, noto um olhar de carinho do meu pai para a Meg.

— Estou surpreso. — Comento.

— A Mag merece um presente de casamento à altura dela, Owen.

— Merece mesmo.

Mag sorri e se vira para mim.

— Essa semana irei visitar alguns lugares, já tenho a ideia inteira na minha
cabeça, vou conversar com o decorador, entregar minhas referências e tudo.

— E que livros você pensa em vender?

— De tudo um pouco, mas a preferência são sempre os romances.

— Diz, animada.

— Tenho alguns pra te indicar. — Falo e tomo um gole do meu vinho.

Margareth franze o cenho.

— Você com alguns romances para me indicar? Desde quando você lê?

Dou de ombros, como se não fosse nada demais.

— Conheci alguns livros que despertaram minha curiosidade, apenas isso.


Depois passo o nome para você.

Ela apenas assente, ainda surpresa com isso.

— Ok...

— E a faculdade? — Meu pai pergunta e suspiro.


— Está indo melhor do que eu pensava.

Isso é um fato, direito pode não ser meu sonho, mas com certeza seria uma
área que seguiria, porém, nada me faria desistir do hóquei. Esse é o meu
sonho e não vou abrir mão dele.

— Com o tempo você pega gosto pela área. Ninguém começa algo que gosta
logo de cara, Owen, coloque isso na sua cabeça.

Apesar de algumas farpas trocadas, o restante do jantar foi tolerável.

No final, me despeço deles e sigo para o meu carro.

Não demoro muito para chegar no meu prédio e enquanto faço a volta para
entrar na garagem, uma mulher sentada no banco da praça chama minha
atenção.

Piso no freio e abaixo o vidro, tentando ver quem é e meus olhos se


arregalam ao ver que é a Aubrey. Não penso duas vezes, estaciono o carro e
desço imediatamente.

Me aproximo dela e me ajoelho na sua frente.

— Aubrey, você está bem?

Ela levanta o rosto para mim e me assusto ao vê-la chorando.

— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto e seguro seu rosto, mas ela apenas
chora mais, com mais dor e mais desespero.

Suas lágrimas não param de cair e vê-la assim faz meu coração se apertar.

— Aubrey... — Sussurro seu nome.

Me sento ao seu lado e a puxo para mim, que vem sem resistência nenhuma.
Escondo seu rosto em meu peito e isso faz com que ela chore mais alto.

Um choro de dor, de desespero, de medo.


Afago seus cabelos e ela segura o tecido do tenro com força, enquanto chora
abertamente, me fazendo questionar o que aconteceu para que ela fique nesse
estado.

Aubrey se acalma cerca de dez minutos depois. Ela se afasta de mim, mas
não me encara, mexendo as mãos inquietamente.

— Aubrey... — Chamo, mas ela sequer me encara.

— Me desculpe por isso. — Pede e eu me aproximo mais dela.

Sei que se assusta quando seguro sua mão e ela ergue o rosto para me
encarar. Seus olhos estão inchados, seu nariz vermelho e sei que a qualquer
momento ela pode desmoronar de novo.

— Não precisa se preocupar. — Digo e começo a desenhar círculos


aleatórios no dorso de sua mão. — Às vezes a gente precisa apenas chorar.

Mais duas lágrimas escorrem pelo seu rosto e eu ergo a outra mão para secá-
las.

— Por que parou aqui? — Pergunta em seguida.

— Te vi e quis saber se estava bem. Você não parecia bem.

— Eu só quero esquecer que o dia de hoje existiu. — Diz e olha para o céu.
— Não importa quantas vezes eu questione ou tente acordar desse pesadelo,
ele é real demais e eu não sei se vou conseguir suportar.

Olho para o céu também e sorrio tristemente.


— Nunca enfrentaremos batalhas que não podemos lutar, Aubrey.

Ela nega e se vira para mim.

— Tem algumas que eu simplesmente não quero ter que enfrentar, mas não
tenho para onde fugir.

— Não podemos fugir daquilo que está destinado a nós, mas podemos tentar
tornar isso mais leve. É assim que sempre faço.

Durante minha adolescência inteira fiz essas perguntas: por que um


garotinho de seis anos teve que lidar sozinho com a doença e a morte da
mãe? São coisas que eu nunca entenderia naquela época, mas hoje consigo
ter um pensamento claro sobre isso.

— Obrigada, não era sua obrigação parar aqui e...

— Guardar uma dor pra si próprio é uma das piores coisas que podemos
fazer, Aubrey, sempre que tiver a oportunidade de colocar isso para fora,
coloque, independente do que as pessoas vão pensar.

Ela assente e encara nossas mãos juntas, então puxa a dela e se coloca de pé.

— Preciso ir.

— Eu te acompanho...

— Não vou pra casa, preciso ir para outro lugar.

— Quer carona? — Me coloco de pé e ela nega.

— Você já me ajudou demais, Owen. — Diz e sorri tristemente para mim. —


Eu vou sozinha, obrigada.

Ela se vira e eu fico observando-a, até ela acenar para um táxi e entrar.

Fico mais alguns minutos no mesmo lugar. Encaro o céu e sorrio um pouco.
— Sabe, mãe... — Falo, baixinho. — Acho que a Aubrey seria o tipo de
mulher que você adoraria conhecer.

Me viro em direção ao meu carro e deixo o local.

Assim que entro no quarto em que minha mãe está, Julie ergue a cabeça e
sorri tristemente para mim. Ela se levanta e me abraça.

— Vamos enfrentar isso juntas. — Falo para ela que assente, seus olhos
estão pequenos e vejo que ela também esteve chorando.

— Juntas! — Fala.

Olho para minha mãe e sorrio tristemente.

— Pode ir para casa, Julie, vou seguir a partir daqui.

— Tem certeza?

— Tenho.

Ela concorda, pega suas coisas e deixa o quarto, dando um beijo na minha
mãe antes.

Assim que fico sozinha com ela, me aproximo da cama e seguro sua mão.

— Eu vou cuidar da senhora, vou cuidar de tudo e ficar com você o máximo
possível, não vou te deixar sozinha.

Lentamente seus olhos se abrem e focam em mim.

— Querida...

— Descansa, mãe...
— Desculpa, Aubrey. — Sussurra e uma lágrima escorre pelo seu rosto.

— Não é sua culpa! — Falo.

— Mas eu já sabia, eu já sentia que os tratamentos não estavam fazendo


efeito, eu sabia que tinha algo de errado dentro de mim, eu só não

quis preocupar você.

Pressiono os lábios um no outro e aperto sua mão.

— Não importa, vou estar com você, sempre, independente da situação.

Ela ergue a outra mão e tira uma mecha de cabelo do meu rosto.

— Você se tornou uma mulher especial, Aubrey, mas não esqueça de as que
vezes podemos dividir um peso, nem sempre conseguimos carregar um fardo
sozinha.

Assinto e beijo seu rosto.

— Te amo, mãe.

— Eu também te amo, querida, com a minha vida.

A abraço e fico assim com ela, até sentir ela pegar no sono novamente.
Permito que as lágrimas silenciosas voltem a escorrer pelo meu rosto e
respiro fundo ao perceber que meu coração sabe que não terei muito tempo
com ela.

Deixei o hospital por volta das seis da manhã. A Julie chegou eram 5:30h e
disse que eu deveria ir para casa descansar um pouco, mas mal sabia ela que
eu precisava ir direto para a universidade.

Assim que entro no prédio, cumprimento o porteiro e sigo para o elevador.


Pego meu celular e vejo que a professora Abigail havia me mandado os
horários das aulas ontem à noite e que a primeira aula começa às 8:00h, ou
seja, tenho duas horas para organizar as coisas e estar na universidade.

Tomo um banho longo e me visto uma calça Jeans wide leg, uma blusa de
manga cumprida de lã e um par de tênis branco, pois hoje está um pouco
frio. Faço um coque baixo no cabelo e deixo algumas mechas soltas na
frente.

Faço uma maquiagem um pouco mais elaborada na pele, pois preciso


esconder a noite de sono que não tive. Passo um batom claro e me encaro no
espelho, acho que consigo me misturar com os universitários dessa maneira.

Arrumo minhas coisas e vou para cozinha, preciso de um café para seguir
com o dia de hoje que será longo.

Logo após assistir as aulas irei direto para o hospital. Quero ficar mais tempo
com minha mãe.

Vou até a máquina, pego uma xicara com café e tomo para iniciar o meu dia,
ciente de que apenas isso não será suficiente para me manter acordada o dia
todo. Organizo as coisas na cozinha e confiro a hora.

7:30h.

Preciso sair, mas antes que eu dê um passo em direção ao quarto para pegar
minhas coisas, a campainha toca e eu franzo cenho.

— Quem será? — Sussurro e dou meia volta, abro a porta e me assusto ao


ver o Owen parado na porta.
— Owen, o que você está fazendo aqui? — Pergunto. A noite passada vem
na minha mente e tenho medo que ele pergunte o que aconteceu, não quero
falar disso com ninguém.

— Vim te buscar. — Diz e abaixa os óculos escuros até a ponta do nariz.

— Me buscar?

— Universidade.

— Como você...

— Me encontrei com a reitora ontem à noite e ela acabou me contando que


você começa as assistir as aulas de literatura inglesa hoje, então, estou me
prontificando para te levar.

— Não pedi que me levasse. — Digo, seca.

— Não vai me custar nada, Aubrey, vamos para o mesmo lugar.

— Isso não vai dar certo! — Murmuro e me afasto, o que o faz entrar. Olho
por cima do ombro de cara feira para ele, mas não surge efeito, pois ele está
observando a decoração do apartamento.

Apenas solto uma respiração profunda e vou pegar minhas coisas.

Pelo que conheço do Owen, não adianta dizer não para ele.

Pego tudo e volto para sala. Ele ainda está analisando a decoração.

— Pensei que cursasse Direito e não Design de interiores. — Digo e ele me


encara.

— Curso Direito, mas esse apartamento não tem nada a ver com você.

— Como pode dizer isso, se não me conhece?

Owen franze o cenho e aponta para o papel de parede da sala.


— Sério que você quer que eu acredite que esse papel de parede laranja com
azul e formas indefinidas é a sua cara?

Olho para o papel de parede que ele aponta e dou de ombros.

— É diferente. — Digo.

— É horrível, Aubrey, meus olhos doem só de olhar para ele.

— É autêntico.

— E você teimosa. — Ele cruza os braços e ergue uma sobrancelha para


mim.

— Você tem razão, esse papel é horrível.

Ele sorri e balança a cabeça em negação.

— Por que não muda?

— Não tenho tempo para isso e, como quase não estou ficando em casa, não
me importo muito.

Ele me encara por um tempo e tento analisar o que ele está pensando, mas é
impossível. Owen ergue o pulso e olha o relógio.

— Vamos, senão vamos chegar atrasados.

Assim que entramos no elevador percebo que tudo que eu não queria era
chamar a atenção, mas isso vai acontecer. Como não vou chamar a atenção
se estou indo para a universidade com o astro do hóquei?

Me xingo mentalmente e decido que essa vai ser a última vez que vou aceitar
sua carona.

As portas se abrem e vamos em direção ao seu carro. Assim que entramos


Owen dá a partida e se vira para mim.
— Tudo bem se pararmos em um local antes? Vai ser rápido — Diz e eu
assinto, não estou no poder de exigir nada, afinal de contas, sou passageira.

Quando o Owen estaciona o carro, pego meu celular para mandar uma
mensagem para a Julie.

Julie: Ela acordou, tomou café, um banho e estamos esperando a médica


para começar os exames.

Eu: Estarei aí na hora do almoço.

Julie : Sua mãe disse que você não precisa parar sua agenda por causa
dela.

Eu: Isso não está em discussão, Julie, estarei aí no horário do almoço. Diga
a ela que eu amo.

Julie: Ela também te ama.

A porta do carro se abre e olho para o Owen no instante que ele me estende
um copo do Starbucks.

— O que...

— Café expresso, vai te ajudar a ficar acordada.

— Como você...

Ele me encara e sorri de lado, sua mão se ergue e sinto seus dedos
resvalarem em baixo dos meus olhos.

— Sei que não teve uma boa noite de sono. Vi a hora que saiu ontem à noite
e a hora que chegou hoje pela manhã e, além do mais, nem a maquiagem
conseguiu disfarçar o cansaço em seus olhos, morena.

— Estava me espionando? — Pergunto e seguro o copo.

— Não, apenas fiquei preocupado com você, só isso. Agora vamos, não
quero chegar atrasado.
Ele volta sua atenção para frente, liga o carro e aproveito para tomar meu
café. Assim que tomo um pouco, sorrio.

Meu preferido, mas ele não precisa saber disso.

Estaciono o carro e encaro Aubrey, que parece decidir se vai descer ou não.

— O que foi?

— Péssima ideia ter vindo com você. — Murmura ao olhar pela janela.

— Por que?

— Minha ideia era chamar o mínimo de atenção possível, Owen! O

que, obviamente não vai acontecer, já que eu acabei de chegar com capitão
do time de hóquei!

Sorrio e me aproximo dela.

— Tá maluco? — Ela arregala os olhos.

— Não se preocupe, ninguém consegue ver a gente pelo lado de fora.

— Acho melhor você parar. — Diz.

— Parar com o quê? — Pergunto.

— De dar em cima de mim, eu não sou uma universitária, Owen. Eu já me


formei, eu trabalho, eu...
— Quem disse que eu ligo para isso?

— Deveria, sou mais velha que você.

— Não ligo para idade.

— Mas eu ligo! É melhor parar de tentar dar em cima de mim, de me


agradar e de se preocupar comigo. Posso me cuidar sozinha, não sou um
bebê.

Assinto e me afasto dela.

— Se é isso que você quer, então vamos nos afastar, Aubrey, não vou me
aproximar mais de você.

Ela acena com a cabeça e abre a porta do carro, descendo em seguida. É


automático a atenção que ela recebe, vejo que ela para por alguns segundos,
até criar coragem e seguir para o prédio de Literatura Inglesa.

Respiro fundo e desço do carro também, chamando ainda mais atenção. Sigo
para estádio de hóquei e vou direto para o vestiário.

— Que cara é essa? — Zach pergunta e eu o ignoro, abro a porta do meu


armário e jogo minhas coisas lá dentro.

— Parece que a princesa acordou com o pé esquerdo hoje... —

Elliot comenta, rindo.

— Acho que deve ter a ver com a carona que ele trouxe para a universidade
hoje. — David diz ao entrar no vestiário.

— Carona? — Perguntam juntos.

— Só se fala disso nos corredores da universidade, que o Owen chegou e


uma morena desceu do carro dele. — Completa.

— Anda dando carona para sua vizinha, Owen? — Caleb comenta e eu rolo
os olhos.
— Querem parar de zoação? Acho que já deu, não é?

— Acho que ele levou um fora. — Lucca diz e eles riem.

— Vamos parar com a gracinha pessoal! — O treinador entra no vestiário —


Quero falar com todos vocês.

O pessoal começa a seguir o treinador, mas eu fico e noto que o Zach ficou
também.

— O que está rolando? — Pergunta e eu respiro fundo.

— Não sei, cara, queria muito saber, muito mesmo, mas não faço a mínima
ideia. — respondo e ele assente, como se entendesse o que estou dizendo.

— É por causa da vizinha?

Acabo sorrindo sem vontade.

— Aquela mulher é completamente diferente de tudo, Zach. Mesmo sabendo


que ela não é pro meu bico, quando vejo já estou na porta do apartamento
dela ou procurando por ela em algum lugar.

— Se eu fosse você parava de me meter no caminho dela. Está na cara que


ela não quer papo com você.

— Eu sei, mas só quero entender porque não consigo parar de pensar nela.
Desde aquele maldito atropelamento ela não sai da minha cabeça.

— Sabe do que você está precisando?

— Do quê?

— Sair e pegar alguém... há quanto tempo não faz isso?

Ele tem razão, preciso esvaziar minha mente e a melhor forma disso
acontecer é saindo com alguém. Desde a ruiva que eu não me lembro o
nome não estive com mais ninguém e deve ser por esse motivo que não
consigo tirar os olhos da única mulher que definitivamente não posso ter.
— Tem razão, preciso pegar alguém.

— Tenho certeza de que oportunidades não faltam na sua agenda.

Assinto, concordando. É isso que vou fazer, vou comer alguém e tirar a
minha vizinha da minha cabeça.

As aulas que eu assisti foram fantásticas e confesso que me fez sentir falta da
época que eu estudava, o que me faz pensar que eu deva tentar fazer alguma
pós graduação.

Converso um pouco com a professora assim que todos os alunos deixam a


sala e, com a ajuda dela, consigo implementar ainda mais o conteúdo que
vou palestrar. Agradeço sua ajuda e sigo para fora da sala.

Estou com fome e preciso comer algo. Ergo o pulso e confiro a hora, acho
que consigo comer algo antes de ir para o hospital.

Sigo na direção do refeitório, mas paro ao ouvir uma voz me chamar. Viro
para trás e vejo a Wendy correndo em minha direção.

— Wendy? — Pergunto, só pra ter certeza.

— Nem acreditei que era você mesma quando te vi na escadaria. —

Diz ao me alcançar. — O que faz aqui?

— Vou dar uma palestra na universidade no fim do mês e a reitora disse que


seria interessante eu assistir as aulas como ouvinte para entender o perfil dos
alunos.

— Que legal! Está indo para onde agora?


— Vou comer alguma coisa, tenho um compromisso daqui a pouco.

— Quer companhia?

— Aceito.

Ela sorri e seguimos para o refeitório. Sentamos em uma mesa separada e ela
fica mexendo no celular.

— Não vai comer? — Pergunto.

— Estou sem fome. — Diz e guarda o celular, sorrindo.

— Que foi?

— Já percebi que não gosta muito de ser o centro das atenções. —

Diz e eu faço careta.

— Nunca foi meu forte. — Dou de ombros e ela sorri.

— Pelo seu jeito, nem parece.

— Meu jeito?

— Sim, você é linda, é inteligente, é escritora, parece que sempre se dá bem


com todos e conversa com todo mundo.

— Eu até faço isso, mas não gosto quando os holofotes estão sobre a minha
cabeça.

— Dá pra entender porque você é diferente...

— Hmmm?

Os burburinhos no refeitório começam a aumentar, Wendy se vira em


direção a porta e eu levo meu olhar até lá. Os jogadores de hóquei entram,
parecendo desfilar a cada passo dado.
Observo seus olhos procurando uma mesa, até parar na nossa e eles
seguirem em nossa direção.

— Eles estão vindo pra cá? — Questiono, nervosa e Wendy assenti,


sorrindo.

— Sim, sempre almoçamos juntos.

— Eu...

— Hora, hora, se não é a vizinha do Owen! — Um deles comenta e se senta


ao lado da Wendy, passando o braço por seus ombros.

— Você é ainda mais linda do que me lembrava. Não tive oportunidade de te


ver direito depois daquela festa. — O que se senta ao meu lado diz.

Encaro todos, um por um, sem saber o que dizer. Primeiramente, devo
ressaltar que são todos lindos, acho que se fosse um concurso de beleza, com
toda a certeza, eu não saberia qual escolher. Segundo, me perdi
completamente nas palavras, pois todos eles olham para mim como se fosse
a única garota existente no mundo.

— Parem de olhar para a Aubrey dessa maneira. — Wendy adverte-os. —


Ela não gosta de ser o centro das atenções.

— Difícil não chamar a atenção com uma beleza dessas! — O que se sentou
na ponta da mesa diz e sorri para mim.

— Desculpas, mas não conheço vocês então...

— Vamos nos apresentar! — O que está abraçado com a Wendy diz e sorri
para mim.

— Muito prazer, senhorita, me chamo Zachary, mas pode me chamar de


chamar de Zach!

Ele tem os cabelos um pouco grandes, com leve nuances loiras, os olhos são
escuros e ele tem um sorriso de lado bem fofo.
— Prazer, Zach, sou Aubrey. — Respondo.

— Eu sou o Lucca! — O que se sentou ao meu lado esquerdo diz e pisca


para mim. Ele tem os cabelos cortados na máquina, seus olhos são escuros,
as sobrancelhas grossas e ele tem o sorriso de lado mais aberto que o Zach.

— Prazer, Lucca.

— Sou o David. — O que se sentou ao meu lado direito diz. — O

mais bonito do grupo, devo dizer.

Ele tem o sorriso aberto, os olhos azuis e os cabelos penteados de lado,


igualmente bonito como os outros.

— Como vai, David? — Digo, rindo de sua autoconfiança.

— Me chamo Elliot. — O que se sentou na ponta diz. Ele parece ser mais
fechado que os outros, não vejo traço de sorriso em seus lábios, mas consigo
ver as tatuagens despontando em seus dedos. Apesar de não sorrir, seus
olhos escuros tramitem um certo divertimento com a situação. Lindo, apenas
isso.

Assinto, cumprimentando-o.

— E você? — Pergunto, para o garoto que não disse nada desde que chegou,
ele ergue os olhos do celular e me encara, sorrindo em seguida.

— Sou o Caleb, prazer em conhece-la.

Ele tem olhos azuis, uma barba perfeitamente aparada e um olhar gentil.

É, gostei deles, pelo menos a princípio.

— O que traz a vizinha do nosso amigo na universidade? — Lucca pergunta.

— Trabalho. — É tudo que respondo e eles parecem se contentar com minha


resposta.
— Inclusive... — Nesse momento me dou conta de que o Owen não está
presente.

— Ele saiu. — Zach responde meu questionamento antes que eu o faça.

— Quem? — Pergunto, me fazendo de desentendida e ele abre um sorriso


presunçoso.

— Owen, sei que estava procurando por ele.

— Nem senti falta. — Bebo um gole do meu refrigerante, eles riem da


minha resposta.

Termino de comer, apena escutando eles conversarem sobre o jogo que terá
no sábado, o qual ainda não sei se vou assistir.

Arrumo minhas coisas e me coloco de pé.

— Já vai? — Wendy pergunta e eu assinto.

— Sim, tenho um compromisso. — Respondo.

— Foi bom conhecer você, Aubrey. — David diz.

— Sim, você parece ser bem tranquila. — Caleb comenta e eu sorrio.

— Sou sim. — Falo e deixo a mesa.


— Nos esbarramos por aí. — Lucca diz quando me afasto e apenas aceno
para eles.

Eles são legais, mas não sei se um próximo encontro vai rolar.

Pego meu celular e solicito um táxi. Está na hora de ver como minha mãe
está.

Assim que chego no hospital vou direto para o quarto que minha mãe está
internada, mas ao chegar lá encontro a cama vazia e a Julie está sentada no
sofá lendo um livro.

— Onde minha mãe está? — Pergunto.

— Ah, ela foi dar uma volta. — Diz e me encara.

— Volta?

— Sim, sabe que o hospital tem aquelas pessoas que fazem trabalho
voluntário para pacientes com câncer, a dona Kristen pegou uma amizade
com um palhaço e ele veio visitá-la hoje.

— Tem muito tempo que eles saíram? — Pergunto.

— Uns dez minutos. Se quiser, pode ir procurá-los.

— Vou procurar a médica. Se quiser ir embora, pode ir.

— Não se preocupe comigo.

Assinto, deixo o quarto e começo a andar pelos corredores em busca da


minha mãe. Até que começo a escutar muitas risadas perto do local onde
ocorrem as quimioterapias.

— O que está acontecendo ali? — Pergunto para uma enfermeira que está
passando, ela sorri para mim.

— É a Caravana da Alegria, são os voluntários que vem ficar com os


pacientes e trazer um pouco de felicidade para eles.
— Posso ver?

— Claro que pode, fique à vontade.

Ela volta a andar e eu sigo em direção ao ambulatório. Abro a porta apenas o


suficiente para conseguir enxergar lá dentro. Busco minha mãe com os olhos
e a encontro, ela está gargalhando e batendo palmas alegremente no meio da
sala, sentada em uma cadeira de rodas e parece nem se importar com esse
detalhe.

Meus olhos vão para o palhaço que está brincando com ela e meu coração dá
um pulo.

Esse sorriso, eu conheço esse sorriso.

Olho mais atentamente e vejo a maneira como ele interage com as pacientes,
fazendo-as rir.

Esse sorriso...

De onde eu conheço esse sorriso?

As memórias vêm na hora.

Owen sorrindo para mim no elevador, na porta da minha casa, no carro, no


bar, no hotel...

— Não pode ser... — Sussurro.

Como se estivesse me ouvindo, seus olhos encontram os meus, ele paralisa e


nesse exato momento eu sei que é ele.
Eu paraliso no exato momento que vejo a Aubrey espiando através da porta.

O que ela está fazendo aqui?

Nossos olhos fazem a mesma pergunta silenciosa ao se encontrarem e, por


um momento, me esqueço completamente do que estou fazendo.

Apenas fico parado, encarando a porta.

Aos poucos noto as pacientes se virando para onde eu olho e, quando a


Aubrey percebe, se vira e deixa o local.

— Está tudo bem, querido? — Kristen pergunta ao meu lado e me viro para
ela, assentindo.

— Está sim, só pensei ter visto uma pessoa que eu conheço. — Digo e volto
a encarar a porta, agora fechada.

Balanço a cabeça e decido ignorar esse acontecimento. Volto minha atenção


para as pacientes e sorrio para minha plateia.

— Eu preciso achar minha noiva! — digo, dramaticamente.

Mesmo com a Aubrey rondando minha cabeça, continuo a apresentação,


arrancando risada dos pacientes e dançando com alguns no final.

Assim que finalizo, me viro para a Kristen que sorri para mim. Só estou aqui
hoje porque a Julie, enfermeira dela, me mandou uma mensagem
avisando que ela havia sido internada ontem à noite. Pela mensagem que ela
mandou entendi que as coisas não estavam tão boas como a senhora a minha
frente me dizia.

— Quero que conheça uma pessoa! — diz.

— E quem seria essa pessoa?

— Sua futura noiva, ora! Minha filha!

Sorrio e rolo os olhos em seguida.

— A senhora sabe muito bem que não posso encontrar minha noiva, Kristen.
— digo.

— Ah, mas pode sim! Um rapaz tão bonito igual você, é claro que pode se
casar! — Faz um sinal de desdém com a mão.

— E como a senhora está? — Questiono, mudando de assunto.

— Mais forte que um touro. — Diz.

— Se fosse isso mesmo não estaria com isso no braço. — Aponto para o
pedestal de soro em seu braço.

— Frescura, isso sim, posso muto bem ir para casa.

— Tem que se cuidar direitinho, dona Kristen, não é mais nenhuma


mocinha.

— Eu sei, quem me dera se eu fosse, já estaria casada com você há muito


tempo.

Tenho que rir da sua fala.

— Vamos, dona Kristen?

Me coloco de pé e cumprimento a Julie.

— Como vai? — Pergunto e ela assente.


— Vou bem e você?

— Bem também.

— Ela já chegou, Julie? — Kirsten pergunta assim que a enfermeira segura


sua cadeira de rodas.

— Sim, senhora!

— Garoto, vá se limpar, quero que venha ao meu quarto quando estiver


saindo!

— O que você está aprontando, Kristen? — Questiono.

— Nada demais, agora faço o que eu peço, ande! Vamos, Julie, querida.

Julie começa a empurrar a cadeira de rodas e eu tiro a boina que estava


usando, minha mente voltando para a Aubrey.

— O que você estava fazendo, morena? — Questiono.

Sigo em direção a sala que uso para trocar de roupa. Como estou sozinho
hoje, fiz algo bem mais simples no rosto. Então rapidamente consigo me
livrar da tinta, visto minhas roupas e guardo o restante na mochila, saio da
sala e sigo até o quarto que a dona Kristen está internada.

Bato na porta.

— Pode entrar! — Ela responde.

Assim que entro sinto meu coração doer um pouco, ela está deitada com
alguns fios estão conectados na sua pele e ela usa um cateter nasal para
facilitar a respiração.

— Não faça essa cara. — Diz e sorrio para ela.

— Que cara estou fazendo?

— De pena.
— Jamais!

Me aproximo da cama e seguro sua mão.

— Obrigada por ter vindo hoje, Owen. — Diz, alisando minha mão.

— Não agradeça como se eu não fosse mais te ver. — Digo e ela sorri.

— A cada minuto que se passa sinto que meu tempo está acabando.

— Ela olha para a janela e sinto um bolo se formar em minha garganta. —

Quero viver todos os dias como se fosse o último.

— Kristen...

— Não chore, meu filho, você é uma das melhores coisas que essa doença
me trouxe, acredite quando digo isso.

— Eu digo o mesmo.

Levo sua mão até meus lábios e deposito um beijo casto.

— Obrigada por me fazer sorrir, quanto tudo que eu mais quero é chorar.

É nesse momento que preciso piscar para conter minhas lágrimas.

Durante todo esse tempo em que faço trabalho voluntário no hospital tenho
tentado de todas as formas me manter o mais afastado possível da vida
pessoal das pacientes, pois eu sei que é difícil saber que a qualquer momento
eles não estarão mais entre nós.

Só que com a Kristen foi diferente, essa senhora me cativou por completo e
me fez ver que meu papel é mais do que um simples palhaço que alegra a
vida das pessoas.

A porta do quarto se abre.

— Mãe, a senhora sabia que...


Me viro no exato momento que a mulher vira de frente para mim e ela para
de andar assim que me vê.

Seus olhos se prendem aos meus, noto sua respiração se acelerar e ela
entreabre os lábios, puxando o ar pesadamente.

Então a minha ficha caí e eu me viro para a Kristen, que está sorrindo.

— A sua filha...

— Aubrey, querida, vem aqui, quero te apresentar uma pessoa! —

Diz, animadamente.

Aubrey se aproxima da mãe e se posiciona do lado oposto ao que estou, seus


olhos ainda estão presos aos meus, como se não acreditasse que eu realmente
estou aqui.

— Aubrey, esse é o Owen, ele trabalha aqui no hospital como voluntário e se


veste de palhaço para animar os pacientes, uma pena, porque só essa carinha
linda dele já anima qualquer pessoa.

— Mãe! — Aubrey diz e olha para a mulher pela primeira vez.

— É a verdade, aceite! Owen, essa é a minha filha, Aubrey, que veio de


Nova Iorque para ficar comigo.

Ela volta a me encarar e tudo começa a fazer sentido dentro da minha


cabeça, como o fato dela ter se mudado a pouco tempo para o apartamento e
de estar chorando ontem quando a encontrei.

Eu só nunca consegui ligar uma coisa com a outra porque a Kristen nunca
disse o nome da filha dela, só disse que ela era inteligente, linda e que faria
qualquer coisa pela felicidade dela.

— Vamos lá gente, falem alguma coisa! — Kristen diz, quando percebe que
estamos apenas nos olhando.

— Mãe... — Ela diz e se vira para a mulher, sorrindo em seguida. —


Eu já conheço o Owen.

— Conhece? — pergunta, surpresa e me encara, apenas afirmo.

— Ela está dizendo a verdade, nós já nos conhecemos.

Voltamos a nos encarar.

— Como?

— É uma longa história, mãe, depois eu conto! — Aubrey diz e acaricia os


cabelos da mãe.

— Já que vocês já se conhecem, facilita muito as coisas para mim!

— Que coisas? — Pergunta, sem entender.

— Nem tente isso, dona Kristen — Alerto.

— Vocês dois dariam um ótimo casal!

Fecho os olhos ao mesmo tempo que a Aubrey tem um pequeno surto.

— Casal? Nós dois? Nem que ele fosse o último cara da face da terra!

— E nem que ela fosse a última mulher. — Digo e ela me encara, arqueando
a sobrancelha.

— Sério? Não era o que parecia hoje de manhã.

— Está triste porque decidi parar de dar em cima de você? —

Pergunto, sorrindo de lado e ela revira olhos.

— Então admite que estava dando de em cima de mim esse tempo inteiro?

— Não admito nada, já que agora estou dizendo que não ficaria com você
nem que fosse a última mulher da terra!

— Garoto, você é extremamente mimado e previsível!


— Morena, você é extremamente contraditória e irritante!

— Isso vai ser divertido de assistir...

— O quê? — Falamos os dois ao mesmo tempo e nos viramos para a


Kristen, que está sorrindo.

— Nada, crianças! Inclusive, podem ir embora, eu vou dormir!

— Eu vou ficar com a senhora. — Aubrey diz.

— Nada disso, não preciso de babá. A Julie está aqui e eu estou no hospital,
estou exatamente no único lugar que pode me ajudar quando eu precisar.

— Mãe...

— Eu estou mandando, Aubrey, pode ir embora! Os dois!

Olho para a Aubrey que parece querer contrariar a vontade da mãe, me viro
para a Kristen e beijo sua testa.

— Eu volto outra hora para vê-la.

— Estarei esperando, querido!

— Vamos, Aubrey. — Digo e ela me lança um olhar fulminante.

— Não vou!

— Mulher teimosa do caralho! — Digo, me esquecendo que a Kristen está


aqui.

— Como é...

Dou a volta na cama e seguro sua mão, a puxando para fora do quarto.

— Você não pode fazer isso! — Protesta, tentando se livrar do meu aperto,
mas paro e a puxo para mim. Seu corpo colide com o meu e olho dentro dos
seus olhos.
— Por favor, Aubrey, vamos nos ajudar nessa? Eu estou tentando não
desabar porque descobri que minha paciente preferida entrou em estado
terminal e não estou afim de dar um show no corredor do hospital. Será que
você pode colaborar um pouco?

Ela para de se mexer e desvia os olhos dos meus. Sinto sua mão relaxar
embaixo da minha e respiro fundo.

— Desculpe. — Fala.

— Só vamos embora.

Me viro e ela me segue, sem protestar e sem se dar conta de que ainda
estamos de mãos dadas.

O silêncio no carro é perturbador. Nenhum de nós dois falou mais nada e por
um momento consigo entender o que ele sente nesse exato momento. Foi a
mesma coisa que senti ontem, quando me permiti desabar e ser amparada
por ele.

Após uns quinze minutos percebo que estamos andando sem rumo nenhum.

— Para onde estamos indo? — Pergunto.

— Não sei, estou apenas dirigindo.

Sua voz é distante e eu prefiro ficar calada. Olho para a janela do carro e
vejo que estamos nos aproximando da costa e abro um pequeno sorriso ao
ver o mar.
Desde que cheguei em Toronto não tive a oportunidade de ir à praia, pois a
correria do dia-a-dia me impossibilitou de vir até aqui.

— Você gosta da praia? — Pergunta de repente.

— Gosto, não tive tempo de vir até quando cheguei.

— Quer andar na areia?

A pergunta me pega desprevenida e viro o rosto para ele, mas ele está
concentrado na estrada. Olho para frente e assinto, respondendo em seguida.

— Quero.

Ele não responde, apenas continua seguindo na direção que estamos indo.
Após uns quinze minutos entramos em uma estrada de terra e ele para o
carro perto de uma árvore.

Abro a porta do carro e desço. Sinto o cheiro da água salgada e sorrio ao ver
o mar se movendo tranquilamente.

Owen para ao meu lado e ficamos assim por alguns minutos até ele se virar
para mim.

— Quer descer?

Assinto e ele começa a andar pelas árvores e seguir em direção a areia. O


sigo, tendo cuidado para não tropeçar em nada. Owen para e estende a mão
para mim, o encaro.

— Vai ajudar você a ter estabilidade, tem muitas pedras grandes aqui —
Explica.

Pouso minha mão em cima da dele e firmo o meu peso ali, ele me ajuda a
passar pelas pedras, até chegarmos na areia.

Solto sua mão, mas fico parada, apenas encarando a imensidão azul a minha
frente.
Owen está mais a frente e olha para traz. Fixo meu olhar nele e me pego
pensando, por um milésimo de segundo, como as coisas seriam se ele não
fosse tão novo.

Me abaixo e retiro meus tênis e as meias, deixando tudo junto.

Gosto da sensação de sentir a areia sobre os meus pés. Começo a caminhar


em direção ao Owen, que já está perto o suficiente da água, paro ao seu lado
e ficamos assim, apenas observando a maré ir vir, de acordo com o vento.

— Minha mãe sempre me trazia aqui quando eu era criança. — Diz e eu viro
o rosto para olhá-lo.

— É calmo.

— Eu amava correr com ela, éramos só nos dois, foi uma das melhores
épocas da minha vida.

— Minha mãe me trazia muito na praia também, eu amava brincar na água,


amava fazer castelos de areia e procurar conchinhas na água. —

Sorrio com a lembrança, isso faz tanto tempo.

— Somos constituídos por lembranças — Ele diz.

— Como?

— Nós vivemos uma vida pensando em tudo que nos aconteceu de bom,
procurando de alguma forma vivenciar aquelas mesmas emoções, sem nos
preocuparmos em construir novas memórias.

Olho para frente e sorrio ao sentir o vento em meu rosto.

— Colecionar memórias deveria ser a prioridade das pessoas.

— Nem todas pensam assim. Quantas não vivem vinte quatro horas para o
trabalho ou simplesmente se esquecem dos bons momentos da vida?

— Você parece um senhor de cinquenta anos falando agora. —


Brinco e consigo arrancar uma risada dele.

— Nada de garoto agora?

Nos olhamos, sua sobrancelha está levemente arqueada e seus olhos um


pouco fechados, por causa do vento. Sorri e nego com a cabeça, sorrindo de
leve.

— Nada de garoto — Afirmo.

Voltamos a olhar para frente e ele aponta para o lado esquerdo, onde tem
várias pedras.

— Vamos caminhar até lá.

Assinto e seguimos naquela direção sem trocar nenhuma palavra, apenas


com o som do mar e do vento como nossa companhia.

Owen me ajuda a subir nas pedras, que são meio íngremes e escorregadias.

— Por que ficou descalça? — Questiona, quando finalmente conseguimos


subir as pedras.

— Qual a graça de estar na areia e não a sentir nos pés?

Ele sorri e balança a cabeça em negação.

— Uau! — Digo, assim que chegamos na beirada das pedras.

— Eu amava subir aqui quando era criança, perdi as contas de quantas vezes
machuquei os pés nessas pedras, e, por mais que minha mãe brigasse, ela
sempre me trazia aqui de novo.

— Sua mãe parece ser uma pessoa maravilhosa! — Digo olhando para a
água.

— Ela era.

Era.
No passado.

Viro o rosto para olhá-lo, no mesmo instante que ele faz o mesmo e entendo
a dor em seus olhos.

Ele perdeu a mãe.

Ele entende o que estou sentido, o medo que está me afligindo, a sensação de
impotência que me domina a cada vez que penso que não posso fazer nada
para ajudar a minha mãe.

Meus olhos se enchem de lágrimas e uma escorre pelo meu rosto, mas
rapidamente ele a seca.

— Colecionar novas memórias, Aubrey. — Ele diz, se aproximando e


segurando meu rosto. — As do passado nunca vão perder o seu valor, mas
ficar preso nelas pode ser mais doloroso. Aprendi quando eu era criança de
que a vida é feita de ciclos, nós nascemos, crescemos, vivemos nossas
experiências e morremos. Não tem como mudar isso.

— Mas dói tanto! — Digo, deixando mais algumas lágrimas escaparem.

— Dói porque somos humanos e temos sentimentos, mas não podemos nos
prender a dor. Não podemos mudar o destino.

Assinto, concordando com ele e deixo as lágrimas caírem novamente.

Ele me puxa para si, me envolvendo nos seus braços e mais uma vez, pelo
segundo dia consecutivo, eu me deixo ser consolada pelo Owen.

Tanto o pôr quanto ao nascer do sol são fenômenos que eu considero


espetaculares. Depois que entrei para a universidade, assisti-los tem se
tornado mais difíceis, mas estar aqui agora parece ser completamente certo.
— É lindo... — Aubrey diz e viro meu rosto para ela.

— Sim, é completamente lindo! — Falo.

Nesse momento eu não sei dizer se estou me referindo ao pôr do sol ou a ela.

Aubrey sorri para mim e volta a encarar o espetáculo a nossa frente e faço o
mesmo. É incrível como o tempo parece estar parado nesse exato momento.
Neste instante, esquecer os problemas é relaxante, um calmante para alma.

— Pode usar esse momento de inspiração para os seus livros. —

Falo, após alguns minutos de silêncio completo.

— Quem sabe, já escrevi algo assim...

— O nascer do sol, do alto de uma montanha... Que inspiração em?

Ela se vira para mim, o rosto em surpresa.

— Como você...

— Ainda não consigo acreditar que você colocou os dois naquela situação
após a conversa deles.

Olho para ela, sorrindo.

— Você está lendo os meus livros? Não consigo acreditar...

— Porque não? Estava curioso, então fui atrás.

— Você leu mesmo? — Pergunta, ainda sem acreditar.

Aproximo o rosto do dela, a pegando de surpresa, mas ela não se afasta.

— Você matou um cachorro na droga da história, Aubrey, como pode fazer


isso?

— Você leu mesmo!


— Por que a surpresa em eu ter lido um livro seu?

— Não sei, mas geralmente homens não gostam desse tipo de livro.

— Fala, nervosa e eu sorrio de lado.

— Seja mais especifica com o tipo de livro, Aubrey. — Peço.

— Romance. — Diz.

— Mais especifica... — Peço e ela engole seco, observo a veia do seu


pescoço pulsa e meu desejo nesse momento é passar os lábios ali, sentir a
textura da sua pele e o pulsar do seu coração.

— Eróticos! — Diz, em um sussurro.

— Nunca tinha me interessado mesmo. — Falo, sendo sincero. —

Mas devo dizer que é bem peculiar esse tipo de livro.

— É livro para mulheres.

— Homens não podem ler?

— Claro que podem, só é estranho comentar isso com um homem.

— Agora sou homem e não mais um garoto?

Ela revira os olhos e fica de pé.

— Vamos embora, Owen, acho que a falta de comida está afetando seu
cérebro!

Fico de pé enquanto observo ela tentar descer pelo mesmo local que viemos.

— Ai! — Ela grita e eu vou até ela correndo.

— O que foi?

— Meu pé
Ela se apoia em mim e eu me abaixo para poder olhar, está sagrando.

— Temos que lavar e fazer um curativo. — Digo.

— Está doendo.

— Eu sei que sim, mas precisamos descer isso aqui e se eu te pegar no colo
agora vamos cair os dois, só confia em mim, ok?

Ela assente, passo seu braço pelo meu ombro e começo a descer com ela.
Percebo que ela geme de dor a cada vez que precisa tocar o pé no chão. Com
dificuldade conseguimos alcançar a areia.

— Aqui será mais fácil. — Digo.

— O que... AH! — Ela grita quando eu a pego no colo. — Está maluco?

— Não, mas se formos esperar você conseguir caminhar até o carro iriamos
ficar aqui a noite inteira, sem contar que iria sujar ainda mais o machucado.

— Não precisa me carregar. — Murmura quando começo a andar.

— Acredite, morena, carregar você não é trabalho nenhum.

Demoramos cerca de dez minutos para chegar no carro e paramos para pegar
seu tênis.

Abro a porta do carro e a coloco no banco do passageiro.

— Vamos parar em uma farmácia e comprar curativos. — Falo.

— Não é melhor irmos direto para casa?

— Aubrey, acho que você perdeu a noção do tempo que passei dirigindo. —
Falo.

— Como?

— Estamos há umas duas horas de distância de onde moramos. É


mais fácil conseguir as coisas por aqui mesmo.

— Não quero dar trabalho.

— Não está dando trabalho, acredite.

Ela coloca as pernas para dentro do carro, fecho a porta e dou a volta no
veículo. Encontramos uma farmácia uns cinco minutos depois, compro todos
os matérias para fazer o curativo e levo até ela.

— Pode deixar que eu faço. — Diz e eu nego.

— Não, pode deixar, vai ser simples.

— Owen...

— Não seja teimosa, Aubrey. — Digo e ela fica calada por alguns segundos.

— Certo.

Lavo o seu pé com soro e ela solta um gemido involuntário, mas continuo o
processo de limpar o curativo e, por fim, coloco um faixa envolvendo seu pé.

— Prontinho! — Digo e fico de pé.

— Obrigada.

— Não precisa agradecer. — Falo, ergo o pulso e confiro a hora. —

São 19 horas, que comer algo? Eu estou faminto.

— Também estou com fome.

— Vamos procurar algo para comer, vem.

A ajudo a ficar de pé e voltamos para o carro, ela ainda continua sem poder
colocar o pé no chão.

Andamos por uns dez minutos e achamos um bar, que parece ser decente.
— O que acha?

— Estamos realmente no subúrbio de Toronto, não é?

— Sim, senhorita.

Desço do carro e dou a volta para ajudá-la.

— Vem.

Ela se apoia em mim e sorri em agradecimento. Tranco o carro e entramos


no estabelecimento. Algumas pessoas olham para nós, mas não ligamos.
Levo-a para uma mesa mais afastada e ela se senta.

Me sento na sua frente e segundos depois um homem entrega o cardápio


para nós dois.

— Vai querer o que?

— Como se tivéssemos uma variedade de comida aqui. — Sussurra e acabo


sorrindo.

Pedimos uma porção de bacon e peço uma garrafa de uísque.

— Você vai beber? — Pergunta, preocupada.

— Não se preocupe, morena, não vou beber nada a ponto de ficar bêbado,
mas acredite, depois do dia de hoje preciso ingerir algo alcoólico.

Ela suspira e assente. Ficamos em silêncio até nossos pedidos chegarem, me


sirvo de um gole da bebida e coloco para ela também, que apenas observa.

Tomo a dose de uma vez, sentindo o puro gosto de álcool. Uísque de


péssima qualidade, assim como lugar.

— Não vai te matar beber um pouco. — Falo.

Ela suspira, se dando por vencida e bebendo todo o uísque, fazendo careta
em seguida.
— Meu Deus, como vocês bebem isso? É horrível!

Rio da sua cara e me sirvo de mais um gole, analisando como o destino é


irônico. Hoje mesmo, pela manhã, Aubrey disse que era melhor não nos
encontramos mais e agora estamos aqui, sentados em um bar de procedência
duvidosa, tomando um uísque da pior qualidade.

No que é que eu fui me meter?

Não consigo conter o riso ao ver a Aubrey gargalhando sem medo.

Sua gargalhada parece música para os meus ouvidos.

— Por que está me olhando assim? — Pergunta de repente.

— Você está bêbada. — Falo e ela balança a cabeça em negativa.

— Como uma bebida ruim desse jeito pode me deixar bêbada tão rápido? —
pergunta, erguendo o copo cheio e se preparando para virá-lo outra vez.

— Chega! — Pego o copo de sua mão.

— Ei, essa bebida é minha! — Diz e faz biquinho.

Acabo sorrindo de lado, sem acreditar no que estou ouvindo.

— Seu sorriso é tão bonito! — Diz e solta um soluço.

— Você está mais bêbada do que eu imaginei.


— Por que? — Ela apoia os cotovelos na mesa e a cabeça nas mãos, me
encarando lindamente.

— Está me elogiando.

Ela faz uma careta.

— Não gosto de te elogiar. Já tem o ego muito grande para ser elogiado por
mim.

— Então me acha bonito?

— Acha que eu vou responder isso mesmo estando embriagada?

— Acho que sim.

— Nem morta!

Balanço a cabeça em negativa e me coloco de pé.

— Vou pagar nossa conta, me espere aqui.

Ela assente. Sigo para o balcão, realizo o pagamento e volto para onde a
Aubrey está.

— Vamos lá, princesa. — Falo e ela sorri.

— Gostei desse apelido! — Diz, sorrindo.

— Quer que eu te chame assim a partir de agora?

— É melhor do que morena. — Fala e assinto.

— Então vamos lá, princesa.

Passo o braço dela pelo meu ombro e a pego no colo. Sua cabeça se encosta
em meu peito e deixo o estabelecimento, sentindo seu corpo se encolher em
meus braços por causa do frio.

— Gosto do seu perfume.


— A bebida está alterando seus neurônios.

— Gosto mesmo desse cheiro. — Repete e eu sorrio.

Abro a porta do carro e a coloco ali dentro.

— Não podemos ir para casa, nós bebemos, é perigoso! — Diz, quando me


ajoelho em sua frente.

— Está preocupada comigo?

— Não, estou preocupada comigo. Afinal, estou de carona e sou muito nova
pra morrer.

— Você é uma peça, Aubrey.

— Por que?

— Linda e intrigante ao mesmo tempo.

— Não dê em cima de mim, garoto! Posso estar bêbada, mas ainda sei
quando alguém está flertando.

— Acha que estou flertando com você?

— Não está?

Aproximo meu rosto do dela e percebo que seus olhos se arregalam e sua
respiração se torna escarça.

— Você é extremante linda, Aubrey — Falo, olhando dentro dos seus olhos.
— Acredite, se em algum momento eu quiser ficar com você, isso vai
acontecer.

— Você é muito presunçoso. Usa esse truque com todas?

— Você tem medo. — Digo.

— Medo de quê?
— De se apaixonar por mim.

Aubrey sorri de lado e aproxima o rosto do meu. Seus olhos ainda estão
nublados pela bebida, mas tem um pingo de sanidade ali dentro.

— Nunca vou me apaixonar por você. — Fala, com seriedade.

— Quer apostar?

Seu sorriso aumenta.

— Apostar? Acha que tenho quantos anos? Quinze?

— Acho que está bêbada o suficiente para entrar nessa aposta.

Minhas mãos sobem pelos seus braços até chegarem ao seu pescoço, fazendo
com que ela fique parada e me encare.

— Quer apostar ou não?

— Só posso estar maluca...

Sorrio de lado.

— Aubrey...

— Aposto, Owen, eu jamais vou cair na sua lábia e muito menos me


apaixonar por você.

Sorrio de lado e aproximo minha boca da dela. Noto que sua respiração
trava, mas não a beijo, apenas encosto meus lábios no canto de
sua boca, subindo até sua orelha.

— Aubrey, Aubrey, você não tem noção do que acabou de apostar.

— Ouço sua respiração profunda e me afasto, me colocando de pé. —

Vamos embora, princesa.

Ela coloca os pés para dentro do carro e eu fecho a porta, sorrindo ao dar a
volta no veículo. Posso estar me metendo no maior erro da minha vida? Sim,
mas eu estou disposto a qualquer coisa para ganhar essa aposta.

Paro o carro no estacionamento de um hotel e me viro para a Aubrey. Ela


está com o rosto encostado na janela, sua respiração está calma e ela dorme.

Decidi que não vamos para casa hoje. Mesmo não tendo bebido tanto quanto
a Aubrey, bebi mais do que deveria e voltar para casa nesse estado não é
bom, porque não quero causar nenhum acidente na estrada.

— Aubrey! — Chamo, segurando seu braço e ela pisca, fazendo uma careta
em seguida.

— O que foi? Aonde a gente está?

— Acho melhor passarmos a noite aqui — Falo e tiro seu cinto de


segurança. — Não quero correr o risco de causar algum acidente, mesmo
não tendo bebido muito.
— Pelo menos alguém com consciência aqui. — Murmura e eu sorrio.

— Vamos lá, princesa.

Desço do carro, dou a volta e a ajudo a descer. Ela se apoia em mim, tranco
o veículo e caminhamos para o hotel.

Assim que entramos a deixo sentada em um sofá e vou até o balcão.

— Dois quartos, por favor. — peço.

— Senhor, estamos com um problema de infiltração, estamos apenas com


um quarto disponível, pois alguns encontram-se interditados e outros
ocupados.

Assinto e viro o rosto para encara a Aubrey, que está mexendo no celular.

— Sem problemas. — Digo ao me virar para a recepcionista.

Fechamos a reserva e volto até a Aubrey.

— Vamos, princesa.

Ela se apoia e seguimos para o elevador.

— Quais as chances desse elevador parar com a gente aqui dentro?

— Ela pergunta e eu rio.

Tenho que concordar que o hotel não é de melhor qualidade, mas não queria
arriscar indo mais para o centro da cidade.

— Tenho uma notícia — Falo.

— Qual?

— Vamos ficar no mesmo quarto.

Ela me encara e franze o cenho.


— Por que isso se parece exatamente com os livros que eu escrevo?

— Pergunta.

— Qualquer semelhança é uma mera coincidência, Aubrey.

Ela não diz nada, o elevador para e seguimos para o nosso quarto.

— Pode ficar à vontade. — Digo, quando a coloco sentada na cama.

— Vou tomar um banho, pode ficar com a cama.

Aubrey apenas assente e me viro, seguindo para o banheiro.

Assim que entro e fecho a porta, respiro fundo e me encaro no espelho.


Talvez ter concordado em ficar no mesmo quarto que a Aubrey tenha sido a
maior burrada que fiz na minha vida.

Estou com meus pensamentos um pouco nublados. Não deveria ter bebido
desse jeito, mas quando dei por mim o álcool já tinha subido na minha
cabeça mais do que deveria e isso me colocou no mesmo quarto que meu
vizinho.

Não que vá acontecer algo, porque não vai, mas não é uma boa ideia estar no
mesmo ambiente que ele.

Fecho os olhos, respiro fundo, me deito na cama e fico encarando o teto.


Hoje foi um dia realmente atípico. Percebo que sair com o Owen foi
completamente diferente de tudo que já tinha imaginado. Nunca imaginei
que assistiria ao pôr do sol com ele, muito menos que eu iria chorar
novamente em seus braços.
A maneira que ele cuidou de mim também foi diferente de tudo que já me
aconteceu. A forma como ele fala comigo, como ele me encara, como me
toca... balanço a cabeça em negação. Não posso pensar nisso, deve ser efeito
do álcool, apenas isso.

Com isso me vem na memória a aposta.

Que raio de aposta foi essa em que me meti?

Como vou sair dessa agora?

— Aubrey, você se mete em cada enrascada...

— Falando sozinha?

Me sento imediatamente, me arrependendo no mesmo instante.

Owen está sem camisa, parada na porta do banheiro. Seus cabelos ainda
estão pingando água e alguns gostas ainda escorrem pela sua pele.

Meus olhos descem pelo peitoral definido, os ombros largos, os braços


musculosos.

— Gosta do que vê, Aubrey? — Ele sorri de lado e eu fecho os olhos com
força.

— É a bebida. — Digo.

— Vou fingir que acredito. — Ele diz, passando por mim.

Aproveito a oportunidade e vou para o banheiro. O plano era ir correndo,


mas esqueci que meu pé estava machucado.

— Ai! — Grito, quando piso com força.

Imediatamente Owen aparece ao meu lado.

— Hey, você está bem?

— Esqueci do meu pé — Reclamo.


— Percebi. — Diz e segura minha cintura, apoiando meu peso nele.

Viro o rosto para olhá-lo e me arrependo no mesmo instante. Seus olhos se


prendem aos meus e, por alguns segundos, me esqueço de respirar.

Owen me encara, sem dizer nada, por longos segundos. Parece durar uma
eternidade.

Meu coração acelera dentro do meu peito e sinto minha boca secar.

Entreabro os lábios para conseguir respirar melhor e seus olhos descem para
minha boca, voltando para meus olhos em seguida.

Desvio o olhar e me afasto dele.

— Vou tomar um banho. — Digo.

— Certo, certo. Cuidado com o pé.

— Terei.

Mancando, sigo para o banheiro e me tranco ali dentro.

Meu Deus, eu não posso me sentir atraída pelo Owen, definitivamente não
posso!

Tomo um banho rápido, visto a mesma roupa e refaço o curativo no meu pé.
Sinto que a bebida deu uma trégua, com a ajuda da água gelada.

Mesmo com o tempo frio achei por bem tomar banho na água fria pra me
ajudar a acordar.

Deixo o banheiro e o Owen está deitado no chão. Sinto o frio arrepiar minha
pele e sigo para cama.

— Fez outro curativo? — Pergunta, assim que eu me deito.

— Sim. — Respondo, olhando para o teto.

— Certo, boa noite, princesa.


— Boa noite. — Digo, depois de demorar um pouco para responder.

Ele apaga as luzes, mas não consigo dormir imediatamente. Fico olhando
para o teto e me preocupo se ele está sentindo frio.

— Owen?

— Sim?

— Está com frio?

— Dá para aguentar — Diz.

— Deita na cama. — Peço e ganho o silêncio como resposta.

— Tem certeza disso?

— Vou me sentir culpada se você amanhecer com alguma gripe por causa do
frio.

No minuto seguinte sinto a cama afundar com seu peso e ele deita ao meu
lado.

— Não pense que isso é alguma brecha para você tentar algo. —

Falo.

— Está preocupada demais, princesa. — Ele diz. — Vamos apenas dormir,


ok?

— Certo.

Me viro para o lado, fecho os olhos e, por um milagre, pego no sono


rapidamente.
Abro os olhos ao me dar conta de que tem um peso em cima de mim. Vejo
Aubrey enroscada em mim, dormindo tranquilamente. Encaro o teto e tento
entender em que momento da noite ela me abraçou.

Aproveito o momento para observar seu rosto. Sua pele é macia, seus traços
são delicados e únicos, ela tem sardas quase imperceptíveis pelas bochechas
e que sobem pelo nariz arrebitado, seus lábios são extremamente perfeitos e
seus olhos, mesmo fechados, transmitem serenidade.

Ela é linda! Tão linda que as vezes me vejo perdido em sua beleza.

Ela mexe o rosto e suas pálpebras se movimentam, mas não acorda, apenas
continua dormindo profundamente. Sorrio de lado, tão linda...

Meu celular começa a tocar e eu olho para o aparelho que está em cima de
uma poltrona. Com cuidado, ajeito a Aubrey na cama, me levanto, pego meu
celular e vejo que o nome do Zach na tela.

— Fala.

— Onde você está? — Pergunta, desesperado.

— Eu? — Me viro e vejo Aubrey começar a se mexer na cama. —

Não tenho tempo para explicar agora, por que?

— Cara, você sabe que horas são agora?

Franzo o cenho e afasto o celular da orelha, vendo que passa das 10


horas da manhã.

— Puta que pariu! — Falo.

— O treinador está puto com você, Owen! É melhor você vir correndo para
cá.

— Porra! — Passo uma mão no cabelo, tentando pensar no que fazer.

— Aconteceu alguma coisa? — A voz da Aubrey me faz olhá-la.

Puta que pariu, como essa mulher consegue ser tão linda ao acordar?

— É a voz de uma mulher!? — Zach grita em meu ouvido. — Não acredito


que você faltou ao treino por causa de uma mulher, seu puto!

— Estarei aí o mais rápido possível! — Falo e desligo a ligação.

— O que houve? — Pergunta.

— São mais de 10h da manhã, Aubrey, e estou muito atrasado! —

Digo, enquanto saio procurando meus sapatos pelo quarto.

— 10 horas? — Sua voz é de puro desespero. — Meu Deus!

Me sento na poltrona e calço os sapatos, enquanto ela anda mancado pelo


quarto procurando suas coisas.

— Droga, como perdemos a hora desse jeito? — Ela questiona.

— Não faço a mínima ideia. — Digo.

— Droga! — Ela murmura.

Me coloco de pé e vou passar uma água no rosto. Em menos de dez minutos


estamos prontos. Deixamos o hotel e seguimos em direção ao prédio onde
moramos.
— Deveria ter ido direto para a universidade, isso sim! — Aubrey diz,
enquanto eu a ajudo a andar até o elevador.

— Preciso de um banho, trocar de roupa e comer algo. Ir direto para a


universidade agora não vai me adiantar de nada.

— O que vai acontecer com você por causa do seu atraso? —

Pergunta, preocupada.

— Talvez eu fique de fora do jogo de amanhã. — Falo em suspiro.

— Mas você não é o jogador central? O principal e...

— Exato, mas preciso dar o exemplo, princesa, não posso simplesmente


faltar ao último treino antes do jogo sem dar uma satisfação sequer. Não é
assim que as coisas funcionam.

— É minha culpa. — Murmura.

— Não é.

— É sim... Se eu não tivesse machucado o pé teríamos vindo para casa


ontem ainda.

— Não se culpe, Aubrey, por favor.

Ela suspira e se inclina para apertar o botão do nosso andar.

— Você precisa ir hoje? — pergunto e ela nega.

— Não, não preciso ir todos os dias. Vou amanhã.

— Certo.

As portas do elevador se abrem e paramos em frente a porta do meu


apartamento.

— Obrigada, Owen, mesmo tendo te atrapalhado.


— Não precisa agradecer, se precisar de algo basta me ligar. —

Digo e ela sorri negando.

— Isso será impossível de acontecer, já que não tenho seu número.

— Sorrio de lado e estendo a mão para ela.

— Me empresta seu celular.

— Pra quê?

— Me empresta. — Torno a pedir.

Ela mexe na bolsa e me entrega o aparelho já desbloqueado. Entro no


teclado, digito meu número e salvo como garoto e um coração na frente.

— Pronto, agora você tem meu número. — Digo e sorrio de lado e ela, por
sua vez, revira os olhos.

— Pode esperar sentado, pois não vou te mandar mensagem.

— Eu acho que vai sim. — Digo, mas não dou espaço para que ela diga
nada, apenas me viro e entro no meu apartamento.

Sorrio de lado e me pergunto o que essa mulher está fazendo comigo.


Assim que chego no centro de treinamento vou direto para o vestiário. Meus
amigos estão sentados, mexendo nos celulares.

— A Margarida apareceu, gente! — Lucca grita ao notar minha presença e


todos se levantam para encarar.

— Porra, cara! Onde você estava? — Caleb pergunta.

— Ainda não acredito que faltou o último treino antes do jogo porque estava
com uma mulher!

— Eu posso explicar... — Começo e todos me encaram, mas a verdade é que


eu não sei como explicar, porque nem eu entendo o que aconteceu direito.

— Estamos esperando. — Elliot diz.

— Eu...

— Owen Hughes! — A voz do treinador Hamilton soa em meus ouvidos e


me viro para vê-lo caminhar em minha direção.

— Treinador.

— Espero que tenha uma excelente desculpa para ter faltado ao treino de
hoje, último treino, sem nenhum aviso prévio!

— Treinador...

— Isso você já disse. — Fala, seriamente.

Passo a língua nos lábios. A verdade é que não quero que ninguém saiba que
eu estive com Aubrey e não é porque tenho vergonha dela, mas porque o dia
de ontem foi tão especial para mim, apesar da notícia da Kristen, que eu não
queria compartilhar com mais ninguém.

— Não tenho nenhuma desculpa para o que aconteceu hoje. —

Respondo por fim. Ele assente e ergue a prancheta que carrega para todos os
lados.
— Você está fora do jogo de amanhã, Owen. — Diz, enquanto anota algo
rapidamente.

— O Owen não tem uma desculpa, mas eu tenho!

Todos nós nos viramos em direção a voz feminina que surgiu do nada.

Meu coração acelera quando vejo a Aubrey na porta do vestiário.

— Aubrey? — Questiono e seu olhar encontra o meu.

— Tem mesmo? — Hamilton pergunta e olha dela para mim, confirmando.


— Muito bem, vamos ouvir então qual a justificativa para o Owen ter faltado
ao treino de hoje.

Respiro fundo e tento não ficar nervosa com todos os olhares sobre mim.

— O Owen estava comigo ontem durante a parte da tarde e à noite

— Falo, abaixando o olhar. — Eu machuquei meu pé em uma pedra.

Ergo o pé enfaixado, que por sinal está doendo muito, já que tive que
praticamente correr para chegar até aqui.

— Como o Owen estava comigo e estávamos praticamente do outro lado da


cidade, resolvemos ir para um hotel simples para passar a noite e ele ficou
cuidado do meu machucado até tarde e acabamos perdendo a hora hoje.

Olho para baixo no instante em que começam os burburinhos.

— Silêncio! — O homem, que eu chuto ser o trinador, diz. — Você não


parece ser aluna da universidade, nunca te vi por aqui.
— Não sou aluna, estou aqui por que darei uma palestra no fim do mês para
os alunos de Literatura Inglesa.

O treinador assente e se volta para o Owen, que não para de me encarar.

— E por que você veio entregar uma justificativa para a falta do Owen?

— Porque ele quer muito jogar amanhã, porque o hóquei é a vida dele e
porque eu sei que ele não iria contar nada. Apenas aceitaria ficar no banco de
reserva assistindo ao jogo de amanhã.

Olho para o lado, me sentindo desconcertada com o olhar do Owen sobre


mim.

— Hughes! — Chama e vejo o Owen encará-lo.

— Sim, treinador?

— Você joga amanhã, — Respiro aliviada quando ele diz isso —

mas como punição pelo atraso, ficará aqui para organizar o vestiário e a
quadra.

— Sim, senhor. Muito obrigado. — Ele diz e me encara em seguida,


sorrindo de lado para mim. É impossível não sorrir de volta para ele.

Me viro e deixo o vestiário. Meu pé ainda está doendo e por esse motivo
ando mais devagar que o normal. Meus planos realmente consistiam em ficar
em casa e deixar meu pé descansar, sem fazer esforço, mas eu não conseguia
parar de pensar no Owen e na possibilidade de que ele não jogue amanhã.
Quando dei por mim já tinha chamado um táxi e estava correndo em direção
ao centro de treinamento.

— Senhorita Aubrey?

Me viro e vejo o treinador caminhar em minha direção.

— Pois não?
— Irei levar a senhorita até a enfermaria. — Fala.

— Não precisa se preocupar, está doendo apenas por causa do esforço e...

— Faço questão, de verdade. O próprio Owen faria isso se eu não o tivesse


impedido de vir atras de você.

Sorrio sem graça e assinto.

— Certo, obrigada.

Ele oferece o braço e eu apoio o peso do meu corpo nele, então seguimos
para a enfermaria.

A enfermeira que cuidou do meu ferimento disse que foi um corte fundo e,
apesar de não precisar de pontos, doía muito todas as vezes que eu firmava o
pé no chão. Ela me deu algumas orientações, dentre elas, que devo evitar de
colocar o pé no chão e não devo me esforçar. O resultado é que agora estou
sentada em frente ao vestiário masculino, porque disse para o treinador
Hamilton que o Owen me levaria para casa.

Eu só me meto em enrascada!

São 18:00h e eu quero dormir. Na verdade, queria ir ver minha mãe, que
ficou super preocupada quando falei do meu pé, mas disse a ela que estava
tudo e que ela podia ficar tranquila que amanhã daria um jeito de vê-la.
Encosto a cabeça na parede e encaro o teto. Eu só quero ir embora!

Estou com fome, pois mal comi hoje e ainda me sinto culpada por não ter
trabalhado nada. Apenas consegui adiantar uma parte do discurso que quero
falar, pois enquanto estava na enfermaria digitei tudo pelo celular. É ruim?

Sim, mas era o que tínhamos para hoje.

A porta do vestiário se abre o Owen paralisa ao me ver aqui.

— Aubrey? O que você está fazendo aqui? — Pergunta, já vindo em minha


direção. Ele se abaixa na minha frente e segura meu rosto, me olhando
atentamente. — Aconteceu alguma coisa?

— Não aconteceu nada. — Falo e coloco minhas mãos por cima das dele.

— Então...

— Tive que falar para o seu treinador que você me levaria em casa.

Por esse motivo tive que esperar você terminar sua punição, já que você não
podia sair antes.

— Não acredito que está aqui até agora. — Fala.

— Não se preocupe, estou bem.

— E o pé?

— Fiz um novo curativo e a enfermeira disse que preciso evitar o máximo


colocar o pé no chão.

Ele assente e me solta, se colocando de pé.

— Então vamos lá.

Ele me pega no colo e eu solto um gritinho.

— Owen...
— Você não pode colocar no chão e já que me esperou até agora, nada mais
justo te carregar até o meu carro.

Assinto, decidindo não discutir. Por sorte a universidade já está praticamente


vazia, então não preciso me preocupar se alguém vai ver essa cena.

— A propósito, Aubrey... — Ele diz, enquanto me carrega. —

Obrigado.

— Por?

— Ter falado com o treinador. — Nossos olhos se encontram. —

Nunca vou esquecer o que você fez hoje. Pode parecer pouco, mas foi muito
mais do que já fizeram por mim.

— Não precisa agradecer, fiz o que achei certo.

Ele sorri e eu olho para frente, torcendo para que ele não sinta meu coração
acelerado dentro do meu peito.

Coloco a Aubrey dentro do carro e dou a volta. O caminho para nosso prédio
é feito em silêncio e tudo que consigo ouvir é a sua respiração e o meu
coração batendo descontrolado dentro do meu peito. Não sei que tipo de
reação é essa, nunca senti isso antes, mas parece que com ela todos os
sentimentos parecem ser novos e únicos.

Entro no estacionamento e deixo o carro na minha vaga. Desço do carro e


paro ao lado da Aubrey, que já abriu a porta e está tentando descer.
— Por que você não espera por minha ajuda? — Pergunto.

— Não quero parecer que estou dependendo de você. — Ela faz careta e eu a
pego no colo.

— Carregar você não é esforço nenhum, Aubrey, acredite.

Seguimos em direção ao elevador, ela aperta o botão do décimo andar e


permanecemos em silêncio. Logo as portas se abrem e sigo em direção ao
seu apartamento.

— Pode me deixar aqui...

— Abra a porta, Aubrey, por favor.

Ela me encara e assente. Mexe na bolsa, pega a chave e destranca a porta.


Entro com ela e a deixo sentada no sofá

— Obrigada, Owen, até que você não é um vizinho tão chato. —

Sorrio de lado para ela.

— Pode repetir o que você acabou de dizer? — Peço e ela sorri, balançando
a cabeça em negação.

— Nem morta!
— Se precisar de algo me chame. — Falo.

— Não adianta insistir pra eu te mandar mensagem. — Diz.

— Você continua sendo teimosa.

— Acho que isso não vai mudar.

— Boa noite, Aubrey. — Digo, olhando dentro de seus olhos.

— Boa noite, Owen.

Antes de me levantar, aproximo o rosto do seu e ela se assusta, mas tudo que
faço é beijar sua testa demoradamente e me erguer em seguida.

— Espero que vá ao jogo amanhã. — Falo ao me afastar.

— Vou pensar no seu caso.

Deixo o apartamento dela e sigo para o meu, me jogo no sofá e sorrio de


lado. O que diabos está acontecendo?

Seria tão simples chegar e beijar seus lábios! Percebo que meu desejo de
fazê-la sorrir aumenta a cada instante, seu perfume me inebria e a vontade de
ficar cada vez mais ao seu lado aumenta a cada dia. Sinto que, desde que a vi
pela primeira vez, estou perdendo o controle da situação, o que nunca havia
acontecido.

— Aubrey, o que diabos você está fazendo com a minha cabeça? —

Pergunto, olhando para o teto.

Me coloco de pé e vou tomar um banho. Talvez isso refresque minha mente.

Entro no Red Rock e a Wendy vem me receber, sorrindo.

— Owen, quanto tempo!

— E aí, Wendy, como você está?


— Bem melhor agora que você apareceu!

— O Zach...

— Está na mesa do canto. — Diz, apontando para o lado direito.

Olho para onde ela aponta e vejo meu amigo mexendo no celular.

— Valeu, loirinha.

— Vai querer algo? — pergunta assim que dou o primeiro passo.

— Apenas um suco de laranja. Não quero beber hoje, pois o jogo é amanhã e
preciso estar focado.

— Está certo, vou já servir vocês.

— Obrigada.

Ela sorri para mim e se vira. Sigo na direção à mesa que meu amigo está e
me sento à sua frente. Ele ergue os olhos do celular e me lança um sorriso
debochado, antes de guardar o aparelho.

— Quero saber de tudo. — diz.

— Tudo o quê? — questiono.

— Você e sua vizinha. Não acredito que a voz que ouvi hoje de manhã era
dela!

— Zach...

— Está rolando algo entre vocês dois? — pergunta.

— Não, não está. — digo e solto um suspiro frustrado.

— Então, o que está pegando?

— Eu não sei, pela primeira vez eu não sei o que está acontecendo entre
mim e uma mulher. Estar com a Aubrey é uma caixinha de surpresas.
Ela consegue ser intensa e leve ao mesmo tempo, me fazer rir e refletir, sem

contar que posso ficar horas observando a beleza dela. Ainda não consigo
acreditar que ela seja tão linda.

— Eu não estou acreditando que meu amigo está apaixonado.

— Não estou apaixonado. — digo.

— Pela forma que você fala da Aubrey, você está apaixonado.

— Impossível! Como posso ter sentimentos por alguém se eu nunca nem a


beijei?

— Nunca beijou? — pergunta, surpreso e eu nego. — Caralho!

Preciso dar os parabéns pra essa mulher, por conseguir fazer esse milagre
acontecer!

— Zachary, eu queria um conselho sério. — peço e meu amigo para de


sorrir, me encarando seriamente.

— Não sou a melhor pessoa para te dar conselhos a respeito de


relacionamento, Owen, mas o que posso te dizer é que não deixe essa mulher
escapar. Meu pai costumava dizer que durante nossa vida nós, homens,
vamos encontrar apenas uma mulher capaz de mexer com todos os nossos
instintos e, quando isso acontecer, não podemos deixa-la escapar.

— O suco de vocês, rapazes! — Wendy aparece e coloca os copos em nossa


frente, então ela se vira para mim. — Owen, nós poderíamos sair amanhã à
noite, o que acha? Podemos comemorar a vitória do time e...

— Eu tenho compromisso, Wendy. — falo e ergo os olhos para ela.

— Ah sim... claro... — Ela morde o lábio inferior. — Depois nos falamos


então.

Ela se vira e meu amigo fica observando-a se afastar. Rio e balanço a cabeça
em negação, pego meu suco e bebo um gole.
— O que foi? — pergunta.

— Por que não tenta ter algo com a Wendy?

— Porque ela é apaixonada por você.

— Mas não sou apaixonado por ela e já tem tempos que não nos pegamos.

— Eu sei disso, mas prefiro correr atrás de quem quer algo comigo do que
implorar por atenção. A Wendy já deixou claro qual a escolha dela, mesmo
que você não queira nada com ela.

— É, meu amigo, estamos em uma corda bamba... — digo.

— Eu estou, você não, porque é nítido para todos o interesse da Aubrey em


você.

— Ela nega até a morte, Zach.

— Nega porque mulheres fazem isso. Se ela realmente não tivesse interesse
em você, ela não teria aparecido no vestiário e falado a seu favor para o
treinador.

— Você acha? — pergunto.

— Eu tenho absoluta certeza, Owen. Aquela mulher está completamente a


fim de você, a ficha dela só não caiu ainda.

Acho que só vou conseguir acreditar quando a Aubrey me disser isso com
todas as letras, olhando dentro dos meus olhos.

— Tem certeza de que você está bem, mãe? — pergunto, olhando para a tela
do celular e ela apenas balança a mão.
— Não se preocupe, Aubrey, estou ótima!

— Amanhã estarei aí sem falta! Não quero desculpas.

— Talvez seu pé não tenha melhorado...

— Não se preocupe, ele vai estar muito bem.

Ela faz careta e eu respiro fundo, sei que ela quer me polpar, mas não é
assim que as coisas funcionam. Ela é a minha mãe e eu vou estar ao lado
dela em todos os momentos, principalmente os mais difíceis.

— Vai assistir ao jogo do Owen? — pergunta mudando de assunto.

— Não, a senhora sabe que eu não gosto hóquei. — falo.

— Eu também não entendo nada, mas assisto apenas para vê-lo jogar e
pelos comentários que ouço, ele é muito bom!

Acabo dando um sorrisinho sem querer.

— Que sorriso foi esse, dona Aubrey?

— Quem sorriu? — pergunto.

— Pare de tentar enganar sua mãe. Ainda quero saber tudo sobre vocês já
se conhecerem! Parece coisa de destino!

— Nem comece, dona Kristen!

— Começar com o quê? Só estou dizendo que parece destino! O

Owen é um garoto tão bom, seria o genro que toda sogra pediu a Deus.

— Mãe...

— Lindo, educado, inteligente, com um futuro brilhante, engraçado e que se


importa com os outros!
— Pode parar de sonhar acordada, mãe. As chances de acontecer algo entre
o Owen e eu são de menos zero!

— Quem disse que eu queria que acontecesse algo entre vocês?

Nunca disse isso, quem está dizendo é você!

— Dona Kristen!

— Vai cuidar nas suas coisas querida, e mande pelo menos uma mensagem
desejando boa sorte para ele!

— A senhora não presta! — murmuro e ela encerra a chamada.

Volto a prestar atenção na tela do computador, tentando me concentrar em


escrever.

Porém, a cada palavra que escrevo, Owen vem na minha mente, como um
maldito fantasma que aparece para assombrar. Tudo que vou escrever remete
a ele, ao seu sorriso, ao seu perfume e às suas ações.

— Maldito Owen Hughes! Por que você não sai da minha mente?

— pergunto, mesmo sabendo que ninguém vai me responder.

Aquela maldita aposta volta a minha cabeça.

— Nunca vou me apaixonar por você. — falo, tentando me manter séria.

— Quer apostar?

Sorrio, mesmo sabendo que não deveria.

— Apostar? Acha que tenho quantos anos? Quinze?

— Acho que está bêbada o suficiente para entrar nessa aposta.

Suas mãos sobem pelos meus braços, até chegarem ao meu pescoço, ele me
imobiliza e sinto minha pele se arrepiar ao seu toque.
— Quer apostar ou não?

— Só posso estar maluca...

Ele sorri de lado.

Puta merda, eu amo esse sorrio... Quer dizer, odeio! Odeio esse maldito
sorriso sexy.

— Aubrey...

— Aposto, Owen, eu jamais vou cair na sua lábia, muito menos me


apaixonar por você.

Gemo de frustração, poque esse maldito capitão parece ter alugado um


apartamento na minha cabeça, já que não consigo parar de pensar nele!

Olho a hora e vejo que está quase na hora do almoço. Preciso pedir algo para
comer, já que sair está fora de cogitação.

Mande pelo menos uma mensagem desejando boa sorte para ele!

A voz da minha mãe começa a falar na minha cabeça e eu mordo o lábio


inferior. Uma mensagem de boa sorte não vai fazer mal, certo?

Abro o aplicativo de mensagens e procuro seu contato. Sorrio ao ver que ele
salvou como garoto. Abro a conversa e digito uma mensagem, porém não
envio.

— Isso é loucura, Aubrey... — Mas apesar de hesitar, acabo enviando a


mensagem e bloqueando a tela do celular.

Uma batida na minha porta me chama a atenção e eu franzo o cenho.

— Quem será?

Me levanto e caminho até a sala, bem devagar para não forçar o pé.
Assim que abro a porta, me assusto ao ver o Owen escorado no batente do
seu apartamento.

— Owen? — Seu nome saí em forma de pergunta. — O que está fazendo


aqui? Pensei que já tivesse ido para o jogo.

— Eu vim pegar a minha sorte para o jogo de hoje. — ele diz e vem em
minha direção.

Meu coração acelera e sinto minha respiração ficar pesada.

— O que você vai faze...

Ele me beija.

Por um momento tudo parece parar, o tempo congela quando seus lábios
encostam nos meus.

Owen Hughes me beija e eu... bom, eu ignoro tudo à minha volta e o beijo
de volta.

Por um segundo eu achei que ela iria me empurrar, mas quando ela
correspondeu ao meu beijo... Puta merda! Eu morri e fui parar no céu no
mesmo instante.

Passo meu braço em volta da sua cintura e puxo-a para mais perto.

Seguro sua nuca com a outra mão e devoro seus lábios, chupo sua língua e
me perco na porra desse beijo que desejei por tanto tempo.
As mãos da Aubrey apertam meus braços e eu prenso seu corpo contra a
porta, aperto sua cintura com força e minha mão entra por baixo da blusa
que ela está usando, sentindo a pele macia sobre meu toque.

Desacelero o beijo e mordo seu lábio inferior. Me um pouco afasto dela,


abro os olhos e vejo sua boca entreaberta, sua respiração acelerada e seus
olhos permanecem fechados, mas ela logo os abre.

— Owen, o que você fez? — pergunta, em um sussurro.

— Fiz algo que nós dois queríamos há muito tempo.

— Está maluco! — diz.

— Não, não estou, não sei como consegui me segurar tanto para provar o
gosto da sua boca.

Ergo uma mão, contorno os lábios dela com o polegar e o gesto a faz fechar
os olhos.

— Isso é tão errado...

— Isso é a coisa mais certa que já fiz em toda a minha vida —

murmuro e a beijo novamente.

Inferno! Só beijei essa mulher uma vez e não consigo parar.

Como seria provar cada pedacinho desse corpo? Como seria explorar sua
pele e fazê-la implorar para que eu desse a ela tudo que ela mais desejasse?

— Owen... — Ela se afasta de mim. — Você precisa ir, vai chegar atrasado
no jogo.

— Tem razão. — digo, sem soltá-la. — Nós ainda não terminamos, Aubrey.

— Isso não vai acontecer de novo. — murmura, incerta e eu sorrio de lado.

— Ah, Aubrey, vai sim. Vai acontecer mais vezes do que podemos controlar.
— Você é maluco.

— Estou maluco por você desde o primeiro instante em que te vi.

— Você precisa ir, agora!

Ela me empurra e eu sorrio de lado. Ela fecha a porta e eu não consigo tirar o
sorriso do meu rosto.

Puta que pariu, essa mulher vai tirar toda a minha sanidade, tenho certeza
disso.

Sigo para o elevador e aperto o botão do subsolo.

Relembro os últimos acontecimentos... Já estava no carro, prestes a sair da


garagem quando recebi a mensagem da Aubrey. Quase não acreditei quando
ela me desejou boa sorte e, quando dei por mim, estava voltando para o
elevador e apertando a campainha do apartamento dela. O que aconteceu
depois, vocês já sabem.

Voltando à realidade, saio do elevador e sigo para meu carro, pois preciso
correr para o local do jogo. Se chegar atrasado hoje dificilmente serei
perdoado, mesmo que o papa venha falar em meu favor.

— Aconteceu alguma coisa! — Lucca diz, enquanto eu me visto.

— O quê?
— Não sei, você está com um sorrisinho no rosto que não some de jeito
nenhum.

— Deve ser por causa da vizinha dele. — Elliot diz, sorrindo de lado.

— Vocês não sabem de nada — falo.

— Está rolando algo entre vocês, não é? — Caleb pergunta.

— Você ainda tem dúvidas? — David diz. — Por qual outro motivo aquela
mulher viria defender o Owen para o treinador, se não fosse por isso?

— Vocês falam demais! — Zach diz.

— O que você acha, Zach? — Elliot pergunta. — Eles estão se pegando ou


não?

Meu amigo dá um sorriso de lado.

— Eu acho que a gente tem que se concentrar na porra do jogo de hoje,


senão todos vamos ser decapitados pelo treinador Hamilton.

— Ele está certo, minha vida amorosa não vai nos fazer ganhar o jogo de
hoje. — falo, assumindo um tom sério. — Temos que vencer esse jogo.

— Vamos vencer, afinal somos o time mais foda de Toronto! —

Elliot diz.

— Somos uma equipe e vamos dar tudo de nós nesse jogo de hoje!

— Caleb diz.

— É isso aí, porra! — Zach grita.

— Nós somos os Canuks porra! — grito e eles me acompanham.

Vamos vencer esse jogo de hoje, pode ter certeza disso.


A porta do vestiário se abre e o treinador entra com sua costumeira
prancheta na mão.

— Estão prontos? — pergunta.

— Já nascemos prontos, treinador. — Lucca responde e ele sorri.

— Confio em vocês rapazes. Esse vai ser o melhor jogo das nossas vidas!

Gritamos todos ao mesmo tempo e é essa empolgação que buscamos levar


para a quadra. É isso que nós fazemos, nos entregamos de corpo e alma para
o que acreditamos.

Formamos uma fila e seguimos em direção a quadra, devidamente vestidos,


com todas as proteções e com tudo pronto.

Assim que piso no gelo e deslizo para o meio da pista, o grito da torcida
invade meus ouvidos e noto que o estádio está lotado. Aceno para a torcida
do nosso time e meus amigos fazem o mesmo.

— Concentração rapazes, confio em vocês! — O treinador grita.

Tomamos nossas posições e o time adversário faz o mesmo. O juiz entra no


nosso meio e apita, jogando o disco para cima, que parece girar em câmera
lenta, mas assim que cai no gelo, eu tomo sua posse, abrindo vantagem para
nosso time.

Queria dizer que estou entendendo alguma coisa do que estou assistindo,
mas a verdade é que só estou vendo um monte de homens correndo no gelo
atrás de um disco que eu mal consigo ver, vestidos com roupas de proteção e
capacete, trombando uns nos outros.

— Qual a graça disso? — pergunto e ouço a risada da Wendy ao meu lado.


— Você não era muito adepta aos jogos, não é? — pergunta, servindo meu
copo de suco.

— Nunca fui uma pessoa muito esportiva. — falo e volto a encarar a


televisão. — Mas isso é praticamente agressão.

— Isso é um dos esportes mais jogados no Canadá, Aubrey. — Seu olhar


está na televisão. — E os meninos formam um dos melhores times que a
universidade já viu, são excelentes jogadores. Tenho certeza de que quando
o Owen terminar, ele será chamado para a liga.

Encaro seu rosto.

— Você fala muito do Owen — comento e ela sorri, me encarando.

— Ele é simplesmente uma das melhores pessoas que eu já conheci, além de


ser lindo, perfeito e o sonho de consumo de todas as meninas da
universidade.

Totalmente sem graça dou um sorriso de lado e bebo um gole do meu suco.
É claro que ela seria apaixonada por ele, preciso contar nos dedos as garotas
que eu conheço que não são apaixonadas pelo Owen ou que ele já não tenha
pegado.

— A fama é bem grande. — digo e ela sorri, concordando.

— Não posso discordar de você, o Owen é pegador, extremamente pegador e


está para nascer a garota que vai colocá-lo na linha.

— Wendy!

Red grita seu nome e ela sorri para mim.

— Preciso ir trabalhar!

Ela acena e me deixa sozinha. Volto a olhar para a televisão, tentando


entender o que está acontecendo dentro do jogo. Todos no bar estão calados,
apenas olhando apreensivos para o jogo na nossa frente.
Eu não deveria ter vindo ao Red Rock hoje, afinal de contas, o bar está lotado
por causa do jogo. Foi uma péssima ideia, mas ficar em casa estava me
deixando sufocada, principalmente depois da aparição inusitada do Owen.

Aperto os lábios e ainda consigo sentir a pressão dos lábios do Owen sobre
os meus, sua mão em minha cintura. O beijo me pegou desprevenida. Jamais
imaginaria que ele fosse me beijar daquela maneira.

Na verdade, eu não conseguia imaginar que ele realmente fosse me beijar.

Só sei que depois que ele foi embora me sentei no sofá e tudo que eu
conseguia fazer era relembrar cada segundo do beijo. Isso estava me
deixando fora de mim, que acabei decidindo vir ao Red Rock para espairecer.

Tive que chamar um táxi para poder chegar até aqui, já que ainda não posso
caminhar com firmeza.

Tomo o restante do meu suco e volto a olhar para a TV. O placar está
empatado, todos estão preocupados e só faltam alguns minutos para o jogo
acabar. Sei como essa vitória é importante para os meninos, mesmo não
entendendo nada do esporte em si.

A câmera foca no Owen, mostrando-o concentrado, analisando o jogo. Nesse


momento ele desliza até onde outro atacante está e para de frente para ele. O
juiz apita e eles começam a brigar pelo disco, até que ele consegue a posse
do objeto e desliza em uma velocidade absurda até o outro lado da quadra.
Vejo os outros jogadores correrem também.

O disco vai parar com o outro jogador, que joga de volta para o Owen. Ele
bate o taco com força, mandando o disco para o gol.

O bar explode em gritos e o juiz finaliza a partida. Sorrio, sabendo que eles
venceram. Uma vitória merecida, por sinal. Os próximos minutos são de
muitas conversas e comemorações por parte do pessoal e da televisão. Após,
vejo o treinador dar uma entrevista, afirmando que o time está complemente
focado em ganhar os próximos jogos e que todo o empenho deles está em
vencer a liga universitária.

Termino de jantar e peço a conta para a Wendy.


— Já vai? — pergunta, assim que passo o cartão.

— Sim, sim. Sabe que não gosto muito de barulho. — digo e ela ri.

— Achei que iria esperar os meninos chegarem. — Ela guarda a maquinha


de cartão no bolso do avental.

— Como?

— Os meninos, eles sempre vêm para cá depois do jogo, por isso o bar está
tão lotado hoje. As meninas acham uma oportunidade perfeita para tentar
algo com os jogadores.

Sorrio. Atitude típica de universitárias.

— Não curto muito isso. — Fico de pé e sorrio para Wendy. — Até amanhã,
Wendy.

— Até amanhã, Aubrey!

Deixo o bar e sigo em direção ao ponto de táxi, mas me detenho ao ver dois
carros pararem em frente ao bar, próximo a mim. Consigo ver

claramente os meninos saindo do carro e algumas pessoas, que estão do lado


de fora, começam a se aproximar deles, pedindo fotos e tudo.

Sorrio e balanço a cabeça em negativa, me virando de costas para eles.

— Aubrey! — Paro ao ouvir a voz do Owen.

Meu coração começa a bater mais rapidamente e eu engulo em seco.

Não me viro em sua direção, mas ele para na minha frente.

— O que está fazendo aqui? — pergunta.

— Vim apenas comer. — respondo e ele sorri de lado, coloca as mãos no


bolso e dá um passo em minha direção.

— Tem certeza de que foi apenas sobre isso?


— Não está se achando demais não? — questiono, arqueando uma
sobrancelha para ele.

Owen olha para os lados, dá mais um passo em minha direção e assim


consigo sentir seu perfume com mais intensidade. Seus olhos se prendem aos
meus e eu preciso de todo meu autocontrole para não fechar os olhos ou
respirar fundo.

— Acho que você só queria um pretexto para me ver.

— Pode continuar achando o que quiser, sabe que não é verdade.

— Vamos lá, princesa — diz.

— Pra onde?

— Pra casa. Acha mesmo que eu vou deixar você andar com o pé
machucado?

— Eu ia pegar um táxi.

— Eu posso levar você em casa.

— Não quero estragar sua comemoração.

— Não se preocupe, eles esperam.

— Owen...

Ele aproxima a boca do meu ouvido.

— Vai ser melhor ir andando do que eu te jogar em cima do meu ombro.

— Você não teria coragem...

— Quer apostar?

— Não! — respondo rápido demais e ele ri.

— Vamos lá, princesa.


Suspiro. Não tenho outra alternativa a não ser segui-lo.

O caminho até o nosso prédio é rápido, ainda mais quando feito de carro.
Owen e eu não trocamos uma palavra durante o percurso e me sinto nervosa,
como se fosse uma adolescente de quinze anos andando de carro com o cara
mais desejado do momento.

Owen estaciona o carro e se vira para mim.

— Está calada.

— Não é nada, só cansaço mesmo.

— Tem certeza?

— Não se preocupe, garoto. Vai comemorar sua vitória — digo.

— E se eu disser que quero comemorar com você? — pergunta e eu o


encaro, sorrindo de lado.

— Eu direi que você precisa comemorar com quem está com você desde o
início. Além do mais, os meninos precisam do capitão deles na
comemoração.

— De você não ganho nada?

Olho para ele e sorrio. Esse garoto não tem jeito!

— Parabéns pela sua vitória! Assisti ao jogo e, apesar de não entender muita
coisa, pelo que vi todos comentarem, você jogou muito bem.
— Se você quiser posso te explicar como funciona o jogo. — fala.

— Não sei se é uma boa ideia.

— Vou só explicar algumas coisas para você, apenas isso.

Olho para ele não respondo de imediato, mas acabo assentido.

— Certo, garoto, vamos ver se consigo aprender algo assim. — Ele sorri de
canto. — Boa noite, Owen.

Abro a porta do carro, mas sua mão segura meu pulso e eu o encaro.

— Será que eu mereço um beijo no rosto?

Acabo sorrindo e prendo o lábio inferior com os dentes, mas acabo


assentindo. Ele me solta e eu me aproximo dele o suficiente para beijar sua
bochecha, mas antes de encostar os lábios em sua pele, ele vira o rosto em
minha direção.

Paro na mesma hora.

Nossas respirações se misturam, meu coração bate mais rápido e meus lábios
se entreabrem automaticamente.

— Owen...

— Ainda não fiz nada, estou te dando a oportunidade de se afastar sem te


beijar. Mas, acredite, ficar a essa distância de você e não te beijar é uma
tortura.

— Você não presta! — sussurro e acabo fechando os olhos.

— E você não consegue resistir a isso. — murmura e seus lábios tocam os


meus.

Apenas um roçar, fazendo meu interior se agitar.


Puxo o ar com certa dificuldade e ele me beija de verdade, seus lábios se
moldando aos meus e nossas línguas se encontrando, como se fossem amigas
íntimas.

Suas mãos seguram meu rosto e eu me apoio em seu braço.

Nossos lábios estão famintos um pelo outro, nosso beijo se torna mais ávido
e nem um pouco suficiente. Owen morde meu lábio inferior,

suga meu lábio superior e volta a me beijar com vontade, me deixando sem
ar.

O sabor de seu beijo me deixa viciada e a maneira como ele devora meus
lábios me deixa completamente a sua mercê.

Me afasto dele. Minha respiração está pesada e meu coração parece querer
sair do meu peito de tão rápido que bate. Não acredito que o beijei
novamente!

— Você me beijou de novo. — sussurro, sem coragem de encará-lo.

Seus dedos tocam meu queixo gentilmente, me fazendo erguer a cabeça para
encará-lo.

— Não, Aubrey, nós nos beijamos e a partir de agora não tem mais volta.

— Isso não vai dar certo...


— Confia em mim, princesa, vai dar certo sim.

Me afasto dele e mordo o lábio inferior.

— Eu preciso ir.

Saio do carro antes que ele me impeça novamente e fecho a porta. O

vidro se abre rapidamente e ele sorri para mim.

— Dorme com Deus, princesa.

Ele pisca para mim e eu me viro, andando em direção ao prédio. Só consigo


voltar a respirar normalmente quando estou dentro do elevador.

Coloco a mão sobre meu peito e sinto meu coração descontrolado.

— Aubrey, que diabos está acontecendo com você?

— Você está com o pensamento distante, aconteceu alguma coisa?

Olho para minha mãe e pisco.

— Como? — Ela ri. — Desculpa, mãe, estava distraída.

— Pensando em alguém?

— Por que eu estaria pensando em alguém?

— Intuição de mãe. — diz e dá de ombros.

— Estou preocupada com a senhora, isso sim!

— Não precisa se preocupar comigo, se preocupe primeiro com você! Tem


estado bem? Conseguindo escrever? Fazendo amizades?

Namorando?

— Mãe!
— Isso são perguntas normais que uma mãe deve fazer para uma filha,
Aubrey! Me responda, querida!

— Está tudo indo bem, não preocupe!

— Está namorando?

— O quê? Claro que não! — respondo, depressa.

— Então porque seus olhos estão brilhando mais que o normal?

— Eles não estão brilhando coisa nenhuma, para de inventar coisa!

— Mas não é assim que você descreve em seus livros? “Os olhos dela
brilharam ao perceber que seu coração finalmente estava batendo por
alguém.”

— Meu Deus, mãe! Me lembre de nunca trazer meus livros para senhora ler!
Além do mais, esse tipo de coisa só acontece nos livros!

— Será?

Olho de cara feia para ela, que apenas ergue as mãos e volta sua atenção ao
seu kindle.

Pego meu celular e vejo que acabou de chegar uma mensagem do Owen.

Garoto: Boa tarde, princesa. Como você está?

Pondero se devo responder ou não. Decido por bloquear a tela e fecho os


olhos, mas a primeira coisa que minha mente lembra é do beijo no carro.
Como pude ser tão fraca a ponto de tê-lo beijado duas vezes?

Solto um suspiro alto.

— Deveria responder. — A voz da minha mãe me faz olhá-la.

— Responder quem?

— Quem te mandou mensagem e te deixou suspirando.


— Não é tão simples, mãe.

— Por que não? Deveria ser, afinal de contas não temos tempo a perder
quando queremos algo ou alguém.

— Essa questão é diferente, completamente diferente.

— Será que é tão diferente assim ou você está criando essas diferenças?

Desvio o olhar e encaro a janela do quarto. Me levanto da poltrona que estou


sentada e caminho em direção a ela.

— Queria que as coisas fossem iguais nos meus livros, tudo se ajeitando
num passe de mágica.

— Nem nos livros as coisas se resolvem assim, Aubrey.

— Mas a garantia de que tudo vai ter um final feliz é de 100%.

— Querida, pare de focar em como as coisas aconteceriam se isso fosse um


livro, viva o hoje sem pensar no amanhã. Ao contrário dos seus livros, a vida
pode não te dar uma segunda chance.

— E se der errado?

— Vira experiência, vira histórias... — Ela ergue o kindle e sorri para mim.
— Está na hora de construir a sua história, Aubrey e não a dos seus
personagens.

Pego meu celular e desbloqueio a tela.

Eu: Estou bem e você?


A resposta chega imediatamente, me fazendo sorrir.

Garoto: Melhor agora conversando com você.

Rolo os olhos.

Eu: Sério que jogou uma dessas para cima de mim?

Garoto: Fiquei sem ideia de como responder e te chamar para sair em


seguida, então tentei quebrar o gelo.

Eu: Você ia me chamar para sair?

Garoto: Ia não, vou. O que acha de sair comigo hoje à noite, Aubrey?

Eu: Aceito, estou mesmo com fome.

Garoto: Te pego às 20:00 horas, pode ser?

Eu: Estarei esperando!

Bloqueio a tela e olho para minha mãe, que está sorrindo.

— É isso aí garota!

Balanço a cabeça em negação, não acreditando que realmente vou sair com o
Owen.
Termino de fazer minha maquiagem, passo um perfume e confiro meu visual
no espelho, percebendo que gosto da combinação final do look.

Estou usando uma saia, meia calça térmica, porque está frio, uma blusa de
frio de lã, coturno e, para finalizar o look, coloquei uma jaqueta de couro.

Owen não disse aonde iria me levar, mas, de qualquer maneira, estou usando
uma roupa neutra e acredito que ele não vá me levar em nenhum lugar
extremamente chique.

A campainha toca, olho para o relógio e vejo que faltam cinco minutos para
às oito. Pego minha bolsa, sigo para a porta e, assim que abro, preciso
controlar minha respiração. Owen está usando uma jaqueta de couro aberta,
semelhante à minha, por abaixo está usando uma camiseta preta sem
estampa, consigo ver a corrente que ele usa se destacar no tecido, calça jeans
escura e tênis.

Seus cabelos estão perfeitamente penteados para trás e minha vontade é


passar os dedos entre os fios. Seus olhos me observam de cima a baixo e ele
sorri de lado, me encarando em seguida.

— É incrível como você consegue ficar ainda mais linda que o normal.

— Você também não está nada mal, garoto!

Ele sorri e estende o braço para mim. Arqueio a sobrancelha, querendo saber
o que isso significa.

— Para você se apoiar, acho que seu pé ainda não está totalmente sarado.

— Está bem melhor do que antes. — digo, mas mesmo assim aceito sua
ajuda.

Tranco a porta de casa e seguimos para o elevador. O perfume dele está em


todos os lugares. Maldito perfume viciante!

Chegamos ao subsolo e vamos em direção ao seu carro. Owen faz questão de


abrir a porta do carro para mim e sorrio com seu gesto. Ele dá a volta no
veículo, entra, liga o carro e em seguida já estamos nas ruas de Toronto.
— Aonde você vai me levar?

— Surpresa.

— Sério que não vai me contar?

— Você é extremamente curiosa, Aubrey.

— E você ama atiçar minha curiosidade!

Ele ri e se vira para me olhar rapidamente.

— Amo quando você fica zangada desse jeito, fica ainda mais linda.

Olho para frente e noto que preciso me acostumar a receber elogios do


Owen. Se eu me comportar igual a uma adolescente de 15 anos todas as
vezes que isso acontecer, não quero nem imaginar o que ele vai pensar.

Após cerca de quinze minutos Owen estaciona o carro e apenas quando eu


desço, é que descubro onde estamos.

— Não acredito que me trouxe no Distillery District! — falo ao olhar o


local.

— Bom, eu ainda não sei exatamente do que você gosta, então te trouxe em
um lugar que tem de tudo um pouco!

De fato, o Distillery District é uma área com vários restaurantes, bares,


cafeterias, além de algumas galerias de artes. Toda a sua estrutura traz um ar
medieval e moderno ao mesmo tempo.

— Devo dizer que acertou em cheio!

— Fico feliz por isso, vamos?

Assinto e começamos a andar. O local está lotado, o que não é estranho,


visto que é um ponto turístico de Toronto. As mini ruas estão bem
iluminadas e com várias mesas de seus respectivos estabelecimentos.
Passamos em frente a uma cafeteria e o cheiro me pega na hora.

— Acho que já tenho uma breve ideia do que você não resiste.

— Acredite, é mais forte que eu.

— Então vamos lá, senhorita! — Aponta para entrada e eu sorrio, seguindo


em direção a cafeteria.

Nos sentamos em uma mesa um pouco afastada e olhamos o cardápio, peço


um capuccino, junto com torradas e geleia e o Owen pede o mesmo.

— Não me admira você gostar de lugares assim. — diz, quando ficamos


sozinhos.

— Por que?

— Você se encaixa perfeitamente nesse local. É a sua cara!

— Dizem que a gente se adapta aos locais que costumamos frequentar, deve
ser isso.

— E isso só te torna ainda mais cativante.

— Isso me lembra a famosa frase de O pequeno príncipe. — falo e ele sorri.

— Então tome cuidado — diz.

— Por quê?

— Por que “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” [3]

Sorrio quando ele cita a frase do livro O pequeno príncipe. Owen é uma
caixa surpresas e não sei dizer se eu gosto disso.
O café do local era uma delícia, um dos melhores que já tomei na minha
vida. Após comermos, decidimos ficar andando por ali mesmo.

Apesar do frio, a noite está agradável.

— Fui ver minha mãe hoje — falo e ele me encara.

— Como ela está?

— Do jeito preocupado que só a dona Kristen é capaz de estar em uma


situação como essa. — Sorrio, sem graça.

— A Kristen é teimosa, nunca vi uma pessoa mais teimosa que ela.

— É da natureza dela fingir que tudo está bem quando na verdade está tudo
desmoronando. Foi exatamente assim quando meu pai morreu. Ela fingiu
que estava tudo bem, mas na verdade não estava.

— Vocês já passaram por muita coisa.

— Você nem imagina, mas agora é diferente. Com meu pai não sofri tanto
porque ele sempre viajou muito e meu contato maior sempre foi com minha
mãe. Agora ela está em uma situação que me deixa sem o controle do que
pode acontecer.

Me assusto quando Owen se aproxima e segura minha mão.

— A Kristen também é importante para mim, por ser a paciente que eu mais
me apeguei ali dentro. Acredite quando eu digo que não sei como
as coisas vão se resolver daqui pra frente, mas eu estarei ao seu lado para o
que der e vier, sempre que precisar.

— Obrigada, Owen, de verdade. O que você está fazendo por nós


dificilmente outra pessoa faria.

— Conte sempre comigo, princesa, sempre.

Sorrio e ele se aproxima novamente de mim, mas, diferente das outras vezes,
não me assusto com isso. Fecho os olhos quando seus lábios tocam minha
testa em um beijo casto.

Ele se afasta e eu abro os olhos.

— Vamos? Ainda temos muita coisa para olhar por aqui! — diz e eu sorrio,
concordando.

Owen não solta minha mão, pelo contrário, ele entrelaça nossos dedos e me
puxa para começar a andar.

Não consigo esconder o sorriso que brota em meus lábios.

Meu despertador toca e me remexo na

cama. Encontro meu celular debaixo da coberta e desligo o alarme. Sento-


me na cama e passo as mãos no cabelo, ajeitando os fios em um coque no
alto da cabeça.
Odeio segundas-feiras, simplesmente pelo fato de ser considerado o dia ideal
para se começar qualquer coisa na vida.

Coço os olhos e, reunindo toda a minha coragem, me levanto e sigo para o


banheiro. Faço minha higiene e vou me vestir. O frio tem sido intenso por
aqui e, pela previsão do tempo, há uma grande chance de nevar nos
próximos dias.

Então pego uma meia calça térmica, um vestido de lã na cor cinza, meu
coturno e me visto, optando por deixar o cabelo solto. Me encaro no espelho
e vejo que meu visual está perfeito. Pego um casaco mais grosso para usar
caso faça ainda mais frio.

Graças aos céus essa é a última semana que preciso ir para a faculdade, pois
essa vida de observar aulas não é comigo. Minha palestra está quase pronta,
só faltam alguns ajustes e logo ela estará finalizada.

Uma batida na porta me faz olhar a hora e ver que preciso sair. Pego minhas
coisas e sigo para a sala. Quando abro a porta vejo Owen encostado no
batente, numa mão ele segura o celular e na outra um copo de café do
Starbucks.

— O que faz aqui? — pergunto.

Ele guarda o celular e me encara.

— Bom dia para você também, princesa!

Ele me entrega o copo de café e, assim que o pego, me rouba um selinho.

Arregalo os olhos.

— Owen!

— Sim, princesa?

— Está maluco? — pergunto e ele sorri de lado.

— Sua cara de surpresa ainda é a melhor!


— Se alguém nos ver...

— Que se dane se alguém nos ver, princesa, não devemos nada a ninguém.

— Eu sei que não, mas ainda me sinto estranha a respeito de...

Ele me beija.

Suas duas mãos seguram meu rosto com delicadeza e seus lábios se moldam
aos meus com leveza.

Owen se afasta, me deixando sem reação.

— Se você se preocupa tanto assim, prometo tentar me controlar, mas não


peça para parar de te beijar, porque a essa altura do campeonato é impossível
que isso aconteça.

Não falo nada, apenas me viro para trancar meu apartamento.

Quando guarda a chave na bolsa, Owen entrelaça nossas mãos e segue em


direção ao elevador, me levando junto com ele.

Se me perguntarem qual a nossa relação com certeza não saberei responder.


Afinal de contas nem eu mesma sei o que está acontecendo.

Tudo que posso dizer é que me sinto feliz como nunca me senti antes e
talvez isso seja perigoso.

— Seu café! — A atendente do Starbucks me entrega o copo e sorrio em


agradecimento. Sigo para o caixa e pago a bebida, saindo da loja em seguida.

O vento frio me atinge em cheio e sigo em direção ao meu carro. A semana


passou voando e o fim de semana chegou, trazendo ainda mais frio e muita
expectativa para a neve que ameaça cair a qualquer momento.

— Owen! — Olho na direção que meu nome foi chamado e vejo a Wendy do
outro lado da rua. Ela acena para mim e vem em minha direção.

— Wendy, o que faz aqui tão cedo? — pergunto.

— Vim falar com você. O Red tentou te ligar, mas seu celular só caí na caixa
postal.

— Ele está descarregado. O dia de hoje foi tão corrido que não tive tempo de
colocá-lo para carregar.

— Ah sim, entendi. Bom, o Red pediu para você e os meninos irem ao bar
hoje à noite para conversarem sobre o aniversário do treinador.

— Vou avisar aos caras e à noite a gente aparece por lá!

— A gente podia fazer alguma coisa depois. — ela diz rapidamente.

— Faz tempo que não saímos ou algo assim.

Olho para os lados e em seguida para ela novamente.

— Desculpa, Wendy, mas já tenho outro compromisso.

— Quem sabe outro dia então? Estou realmente com saudades de sair com
você e...

— Estou saindo com outra pessoa, Wendy. — falo de uma vez e ela arregala
os olhos.

— Saindo? Saindo de verdade? Indo a encontros e...

— Exatamente isso.

— Impossível, você é Owen Hughes, você não sai em encontros com


garotas, você só...
— Mas essa é diferente. Com ela eu quero fazer tudo que você imaginar,
como sair, andar de mãos dadas ou só ficar olhando para ela sem me
preocupar se vamos para algum lugar ou não. Com ela eu quero fazer tudo
isso e muito mais.

— Uau! — Ela se afasta e sorri sem graça para mim. — Acho que
finalmente alguém conseguiu conquistar seu coração.

Acabo sorrindo involuntariamente ao me lembrar dos olhos arregalados da


Aubrey toda vez que eu a beijo de surpresa.

— É, acho que finalmente alguém entrou no meu coração.

Wendy não diz mais nada, apenas se vira e vai embora. Sigo meu caminho
de volta ao prédio e entro no elevador, apertando em seguida o botão do meu
andar.

Assim que chego no meu andar vou direto para o apartamento da Aubrey.
Nessa última semana nossa rotina tem se baseado em: eu acordo mais cedo
todos os dias, me arrumo, vou até o Starbucks, compro café para ela, volto
para nosso prédio, bato no seu apartamento, ela abre a porta, pega o café e eu
lhe roubo um selinho.

Confesso que nunca me imaginei fazendo algo do tipo, mas todas as noites
eu anseio para que o dia amanheça logo, apenas para começar essa rotina
que estabelecemos.

Ela ainda não quer ser vista comigo e em partes eu entendo sua resistência.
Então não forço nada, mas meu desejo é chegar de mãos dadas

com ela em todos os lugares, beijá-la a todo momento e mostrar para todos
que ela é diferente das outras garotas que eu já saí.

Aubrey abre a porta e sorri para mim. Dessa vez não preciso roubar um
selinho dela, é ela quem faz isso, pegando o copo de café da minha mão em
seguida.

— Bom dia, garoto!


— Bom dia, princesa. Posso saber o motivo dessa felicidade toda?

— pergunto e ela sorri ainda mais.

— Fim de semana está chegando, apenas isso para me deixar animada.

— Pensei que fosse minha presença. — digo e ela faz careta.

Aubrey tranca seu apartamento e eu entrelaço nossas mãos, seguindo para o


elevador.

— Vai me deixar mal acostumada assim. — diz, quando já estamos


descendo.

— Assim como?

— Comprando café todos os dias para mim.

— Adoro fazer isso.

— Não deveria.

— Mas adoro. — Puxo seu corpo para perto do meu, ergo minha mão livre
para seu rosto e coloco uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.

— Adoro ver você sorrindo.

— Por que sinto que as coisas entre a gente estão indo rápido demais?

— Não está rápido demais, Aubrey, está indo no tempo certo.

Beijo a ponta do seu nariz e ela sorri. As portas do elevador se abrem e


seguimos em direção ao meu carro. Abro a porta para ela e dou a volta no
veículo.

Assim que dou a partida e saio da garagem, olho para a Aubrey.

— O Red quer nos ver hoje para terminarmos de tratar sobre a festa do
treinador.
— É na próxima semana, né?

— Sim, acho que ele vai gostar.

— Também acho.

— Você vai, não é?

— Estou pensando ainda.

— Você prometeu...

— Eu prometi que iria pensar, Owen. Não sei se já me sinto pronta para
aparecer em público ao seu lado, mesmo que seja apenas para os seus
amigos.

Assinto, mas não volto a falar nada. Sei que não tenho uma fama muito
boa... Mas porra! Analisando tudo que tenho feito por ela, será que não dá
pra ter um pouco de confiança em mim?

— Não fica magoado, Owen, a questão não é você, é o que as pessoas vão
pensar, sou mais velha que você e...

— Não ligo para sua idade, Aubrey. Nunca liguei, mas você se importa
demais com isso. Mas não te culpo, só me resta esperar agora.

— Desculpa.

— Sem problemas, Aubrey, de verdade.

Eu não vou pressioná-la, afinal de contas, tem apenas uma semana que
estamos saindo e não quero parecer desesperado. Quero que tudo aconteça
naturalmente e sem pressa, então resolvo não tocar mais nesse assunto.

Estaciono o carro na universidade e ela se vira para mim.

— Boa aula, Owen!

— Boa aula para você também, Aubrey.


Ela se aproxima de mim e me dá um selinho, descendo do carro em seguida.

Suspiro. Quem diria que Owen Hughes estaria suspirando por causa de uma
mulher?

— Tem certeza de que não vai ser prejuízo para você, Red, fechar em pleno
sábado? — Lucca pergunta e ele nega.

— Não, vai ser até bom, pois posso dar folga para alguns funcionários e
aproveitar o dia para descansar também. Além do mais, vocês estão me
pagando mais do que eu faturo em uma noite. Por um valor desse fecho até
uma semana, sem reclamar.

Todos rimos e eu bebo mais um gole da minha bebida.

— Amanhã mesmo já vou entrar em contato com o pessoal das comidas,


doces e tudo mais. — Zach diz.

— E eu vou avisar a todos sobre o dia e o horário. — Elliot diz.

— Owen? — A voz do Caleb me traz de volta.

— O quê? — pergunto, percebendo que todos estão me encarando.

— Está tudo bem cara? Você parece estar no mundo da lua desde o fim do
treino — Lucca fala.
— Só estou cansado. — digo, e não deixa de ser verdade.

— Não sei não em... — Elliot diz.

A porta do bar é aberta e um adolescente entra. Ele carrega uma cesta cheia
de rosas e observo que ele passa de mesa em mesa vendendo-as, mas
ninguém quer comprar.

— Boa noite, vocês gostariam de comprar uma rosa? É pra ajudar no


tratamento da minha irmãzinha.

Meus amigos se entreolham e eu sorrio de lado.

— Vem aqui, menino. — Ele se aproxima de mim. — Quanto é uma rosa?

— Cada uma é 2 dólares, senhor.

— Quantas você tem aí?

Ele olha para a cesta rapidamente e volta a me encarar.

— 50 rosas, senhor.

— Eu quero todas.

— Todas?! — pergunta surpreso e eu assinto, já pegando minha carteira e


entregando cem dólares ao menino.

— Você consegue arrumar elas em um buquê? — pergunto e ele assente


rapidamente.

Em um minuto todas estão juntas, amarradas por uma fita, formando um


buquê.

— Muito obrigada, senhor! Tenho certeza de que sua namorada vai gostar
muito!

Sorrio, analisando as rosas.

— Ela vai sim.


— Para quem são as rosas? — Caleb pergunta, sorrindo.

— Pode jogar o nome na roda, Owen. — Elliot diz.

— Quero saber quem é a garota misteriosa que está saindo com você que
merece até mesmo um buquê de flores que custou cem dólares! —

Lucca fala.

— Não é da conta de vocês! — falo e me coloco de pé. — Nos vemos


amanhã!

Deixo o bar mesmo com os protestos deles e sigo para meu carro.

Assim que chego no prédio e pego elevador me pergunto se ela vai gostar
das rosas. Nunca dei flores para mulher nenhuma, então não sei dizer se
estou fazendo certo.

Saio do elevador e vou direto para o apartamento da Aubrey, aperto a


campainha e espero pacientemente que ela venha atender. Quando a porta é
aberta, ela se assusta.

— Owen, o que é isso?

— Comprei flores para você, espero que goste.

Ela pega o buquê da minha mão e sorri, levando as rosas até o nariz,
sentindo o cheiro delas.

— São lindas, eu amei, mas porque me dar flores?


— Por que queria fazer algo diferente.

— Mas diferentes do que você já faz todos os dias?

— Sabe, Aubrey, a todo instante eu fico pensando em uma maneira de te


impressionar, de fazer você sorrir. Quero fazer várias coisas com você, quero
que se lembre de cada detalhe, de cada gesto. Quero te provar que você não
é como as outras, que você é diferente e estou disposto a qualquer coisa para
te mostrar isso.

Ela sorri e se aproxima de mim, sua mão livre segura meu pescoço e seguro
em sua cintura.

— Você já me mostra isso, Owen, todos os dias.

Ela me beija, seguro sua cintura com mais força e colo nossos corpos.
Aumento o ritmo do beijo, invado sua boca com minha língua e mordo seu
lábio inferior em seguida, voltando a beijá-la em seguida. A empurro para
dentro do apartamento e fecho a porta com o pé.

Volto a segurar sua cintura com as duas mãos, apertando a região.

Ouço o baque das flores caindo no chão e as duas mãos da Aubrey vão para
o meu pescoço e cabelo.

Minhas mãos entram por baixo da blusa que ela está usando, sentindo a
maciez da sua pele. Continuamos nos beijando, conforme eu a empurro até
suas costas baterem na parede. Pressiono meu corpo contra o dela e meu pau
dá sinal de vida imediatamente. Aubrey geme contra minha boca ao notar
como estou.

— Owen... — sussurra, se afastando de mim.

Desço minha boca para seu pescoço e prendo suas mãos acima da sua
cabeça, voltando a beijar sua boca em seguida.

Mordo seu lábio inferior com força e ela geme, abrindo os olhos em seguida.
O castanho deles estão praticamente ocultos por conta das pupilas dilatadas,
a respiração pesada e desenfreada, o peito subindo descendo rapidamente.
— Você desse jeito é a própria visão do inferno, Aubrey... — falo e mordo
seu queixo, descendo para o seu pescoço.

Passo a língua na pele, sentindo seu gosto e me deliciando com seus gemidos
contidos. Subo para sua orelha, mordo o lóbulo e ela se contorce, sorrio de
lado.

— Sabe, princesa... — sussurro e solto suas mãos. Levo uma mão até sua
nuca e afasto os fios de cabelo. — Posso ser um cavalheiro na maioria das
vezes, mas meu desejo de foder você aumenta a cada vez que te beijo.

Aubrey arfa.

— Eu já estou duro só de pensar em como vai ser me enterrar bem fundo


nessa boceta.

— Owen... — ela geme e sinto ela juntar as pernas. Sorrio, satisfeito.

Me afasto dela e olho dentro dos seus olhos.

— Aubrey, eu quero foder você, quero te chupar até você implorar para
gozar, quero que você me peça para te comer com força até você perder
todas as suas estruturas.

Ela entreabre os lábios, sua respiração se acelera visivelmente e suas pupilas


se dilatam ainda mais.

— Você pode fazer o que quiser. — diz e eu volto a beijá-la.

Dessa vez sem nenhuma restrição, chupo sua língua e faço com ela
exatamente o que vou fazer com sua boceta. Ergo seu corpo e ela prende as
pernas em volta da minha cintura.

— Seu quarto... — pergunto, entre os beijos.

— Segunda porta a esquerda. — diz, sôfrega.

Abro a porta do cômodo e entro de uma vez, jogo ela em cima da cama e ela
me encara. Noto as bochechas coradas e o peito subindo e
descendo rapidamente.

Tiro o casaco que estou usando, as botas e a camisa, ficando apenas de calça.
O olhar da Aubrey percorre todo o meu peitoral.

— Gosta do que vê? — pergunto.

— Acho que venho cometendo um erro grotesco ao te chamar de garoto —


murmura e eu sorrio de lado.

Vou para cima dela lentamente. Aubrey deita as costas na cama e uso minhas
pernas para abrir as dela.

— Eu vou te mostrar agora o que o garoto aqui é capaz de fazer.

— Owen...

— Eu te disse, Aubrey... — aproximo minha boca da sua orelha. —

Essa noite você vai implorar para eu te comer.

Beijo-a, sentindo suas mãos apertarem meus braços e sua língua competir
com a minha. Paro de beijá-la e inverto nossas posições.

Aubrey se senta em cima de mim, de uma maneira fodidamente deliciosa,


bem em cima do meu pau.

— Porra, Aubrey! — Ela sorri e eu perco tudo nesse sorriso, porque é


diferente de todos que ela já me deu. É sexy e ousado, é safado e sensual.

Ela morde o lábio inferior e percorre as mãos pelo meu abdômen, as unhas
arranhando a pele sensível, me fazendo ficar com um puta tesão.

Seus olhos se prendem aos meus enquanto ela rebola devagar no meu colo e
aperto suas coxas, pressionando-a mais contra mim.

— Esse jogo pode ser jogado por dois, Aubrey... — murmuro, apertando sua
bunda.
Sem esperar muito, ela mesma tira a camiseta que está usando, jogando-a em
qualquer canto. Meus olhos param nos seios firmes, os bicos duros pedem
pela minha boca.

Sem esperar muito, passo a minha língua em um mamilo e ela geme,


jogando a cabeça para trás. Passo a língua no outro, enquanto minha mão
aperta seu seio com força.

— Você gemendo é uma maravilha, princesa. — digo, chupando seu seio em


seguida.

— Owen... — ela geme e rebola em cima de mim com mais força.

Chupo seu outro seio, aumentando a pressão dela sobre meu pau, que está
todo babado só de imaginar como será estar dentro dela.

— Que delícia, Owen... — ela geme, perdida nas sensações.

Sua respiração dobra de velocidade e sei que ela está prestes a gozar.

Inverto nossas posições e ela me olha raivosa.

— Eu te disse, princesa, você vai implorar para gozar...

Beijo sua boca e vou descendo, beijando o vale dos seus seios, sua barriga,
umbigo, até chegar no short que ela está usando.

Uso as duas mãos para tirar o short e a calcinha dela.

— Sua boceta está pingando, Aubrey. Isso tudo é vontade de gozar?

— Owen...

— Quer que eu te chupe?

— Owen, seu filho da mãe... — diz e ergue o quadril em direção ao meu


rosto. Sorrio, satisfeito.

Não falo nada, apenas deslizo minha língua pela abertura melada.
— Porra! — Ela diz.

— Shiiii.... — Chupo seu clitóris. Seu corpo ondula na cama e ela se


contorce.

— Eu não estou de brincadeira, Aubrey, te disse isso — falo, antes de voltar


a chupá-la com força.

Aperto o lençol da cama entre meus dedos e arqueio as costas, os gemidos


saindo sem permissão da minha boca. A língua do Owen trabalha na minha
boceta com maestria, me chupando e me deixando mais e mais excitada.

Seguro seus cabelos com as mãos e o mantenho ali, sentindo o orgasmo se


formar dentro de mim.

— Continua, eu tô quase...

Ele para de me chupar.

— Owen...

— Calma, princesa. Você vai gozar, na hora que eu quiser que você goze.

Filho da puta!

Ele se afasta da cama e tira a calça e a cueca, liberando seu pau que está
duro. Observo a cabeça brilhante pelo liquido pré-gozo.

Minha boceta pulsa ao imaginar ele dentro de mim e sinto meu clitóris
clamar por atenção. Sem nenhuma vergonha levo minha mão até minha
entrada e começo a me masturbar. Owen sorri, não acreditando no que estou
fazendo.
— Aubrey...

Sinto ele se aproximar da cama, mas não consigo parar, pois sinto o orgasmo
se formando e preciso me aliviar. Sinto sua mão em cima da minha e ele
começa a fazer o que eu estava fazendo. Seu polegar fricciona meu clitóris
no ponto certo e abro a boca, em um grito mudo.

— Você quer gozar? — pergunta, olhando dentro dos meus olhos e apenas
assinto, incapaz de responder qualquer outra coisa. — Então implora.

Ele desliza um dedo para dentro de mime eu ergo o quadril, buscando por
mais.

— Por favor, Owen... — imploro e ele sorri.

— Com todo prazer, princesa.

Sua pressão aumenta e eu me remexo na cama quando o orgasmo me atinge,


me fazendo gemer alto e arquear as costas da cama.

Owen continua sua tortura na minha boceta.

— Owen...

— Vem aqui princesa, senta no meu pau, vem.

Owen rasga um pacote de camisinha e cobre seu pau. Meu corpo está mole
por causa do orgasmo, mas mesmo assim monto em cima dele, sentindo a
cabeça do seu pau na minha entrada, mas não desço de uma vez, apenas
grudo nossas testas uma na outra e abro os olhos. Meus cabelos estão
grudados na testa por causa do suor, minha respiração está irregular e tudo
que eu quero é sentar nele.

— Está me torturando, princesa? — pergunta, ao roçar a cabeça do pau em


minha entrada.

— O que acha? — respondo, sem forças.

— Está esperando o que pra sentar com força?


Então é o que eu faço.

O pau de Owen me preenche instantaneamente e gememos em sincronia.

— Porra! — ele diz e eu jogo pescoço para traz, sua língua passeia na pele
suada e ele aperta minha cintura.

— Vamos lá, princesa, cavalga em mim.

Grudo nossas testas novamente, apoio os joelhos e o abraço, começando a


rebolar em cima dele.

— Isso, princesa. Inferno, essa boceta vai acabar comigo...

Aumento o ritmo das quicadas em cima dele e ele me ajuda.

Conforme eu sento em cima dele com mais rapidez, mais aumenta a pressão
do seu pau dentro de mim.

— Isso, rebola essa boceta gostosa e engole todo meu pau, isso... —

ele diz e eu paro, solto-o e apoio as mãos nas suas coxas, então volto a
rebolar em cima dele.

— Essa visão deveria ser considerada o paraíso — murmura e suas mãos


apertarem minha cintura com força.

— Eu vou gozar — aviso.

— Pode gozar, princesa, eu adoro ver você gozando.

O segundo orgasmo me atinge com força e eu mordo o lábio. Ele toma o


controle da situação, invertendo nossas posições e socando fundo dentro de
mim, gozando em seguida e escondendo o rosto no meu pescoço.

Quando nossas respirações se acalmam, ele me encara.

— Achei que beijar você seria meu único vicio, mas pelo jeito foder você
entrou para o top 1.
— Você vai me deixar mal acostumada, garoto — digo e ele sorri, me
beijando em seguida.

— Acho que vou ter que foder você de novo — fala, voltando a beijar meu
pescoço.

— Por que?

— Me chamou de garoto.

Sorrio.

— Ah, garoto, se isso for um castigo, mal posso esperar.

Ele sorri e volta a me beijar.

Me mexo na cama e sinto um braço pesado em cima de mim, abro os olhos


lentamente e vejo o Owen dormindo serenamente ao meu lado.

Fico cerca de dois minutos apenas observando-o dormir.

Ele é tão lindo, surpreendente, romântico, safado.

Sorrio ao me lembrar da noite anterior, eu não esperava metade do que


aconteceu aqui, eu não pensei, apenas fui e não me arrependo de nada.

Para não o acordar, saio da cama devagarzinho, como já estou usando um


pijama, permaneço com ele e sigo para a sala. Vejo o buquê que ele me deu
ontem jogado no chão e vou pegá-lo.
Arrumo as rosas e procuro um lugar para deixa-las. Assim que organizo isso
vou fazer um café e procurar meu celular. Encontro o aparelho em cima do
sofá e me assusto ao ver que já são quase uma da tarde.

— Meu Deus, como nós dois dormimos tanto?

Vejo que tem cinco chamadas perdidas da Sophia e duas do Benjamin,


estranho e imediatamente ligo para ela.

— Alô! — digo, assim que atende.

— Aubrey, graças a deus conseguimos falar com você, pensei que tinha
acontecido algo. — É a voz do Benjamin.

— Apenas dormir demais — falo e me sento. — Aconteceu alguma coisa?

— Só liguei para dizer meus parabéns, sua afilhada acabou de nascer!

— Está falando sério?

— Eu não brincaria com isso nem morto!

— Meu Deus, não acredito!

—A Soph está dormindo agora, quando ela acordar peço para ela te ligar.

— Tá bom, parabéns aos novos papais!

— Obrigada!

Encerro a chamada ainda não acreditando que minha afilhada nasceu.

— Aconteceu algo?

Olho para trás e vejo o Owen parado no meio do corredor, apenas de calça,
sem camisa, os cabelos bagunçados e os olhos inchados de sono.

Sorrio com a visão.


— Minha melhor amiga acabou de ganhar bebê — digo e me levanto, indo
até ele. — Dormiu bem?

— Acordei e você não estava ao meu lado.

Ele segura minha cintura e me ergue, passo as pernas em volta da sua cintura
e sorrio.

— Sentiu minha falta?

— Estar com você, Aubrey é como usar a droga mais viciante do mundo, se
você sumir por alguns minutos eu fico louco.

— Está exagerando.

— Não estou... — Sua mão acaricia meu rosto. — Bom dia, princesa.

— Bom dia, príncipe.

— Principe, é?

— Acho que faz jus ao apelido que você me deu.

Ele caminha comigo e me coloca sentada no balcão.

— E o que a princesa tem mente para hoje?

— Nada e você?

— Te foder em cada canto desse apartamento.

— Owen!

— Não estou nem brincando... — Ele me puxa para beirada do balcão. —


Preciso de um café da manhã descente.

Suas mãos vão para short e no instante seguinte estou sem ele e sem
calcinha, e completamente molhada.
— Vai ser rápido, princesa. Só quero te fazer gozar — diz, erguendo minha
perna até que eu fique com o pé no balcão, e a outra perna em seu ombro.
Completamente aberta para ele.

— Você já está me desejando.

— Owen...

— Rápido...

Ele começa a me chupar antes que possa me preparar e eu começo a gemer,


pois sua língua chicoteia meu clitóris com brutalidade, sua língua me penetra
duramente e eu sinto meu ventre se contrair conforme o estimulo aumenta.

— Owen... — puxo seu cabelo e ele enfia um dedo em mim, e continua


chupando meu clitóris com força.

— Goza na minha boca, Aubrey — ordena, chupando com mais avidez


minha boceta.

Preciso me segurar com força para não perder o equilíbrio, então eu gozo.
Meu corpo amolece e o Owen me encara, me puxando para si.

— Melhor café da manhã impossível...

— Você vai acabar comigo...


— Estamos apenas começando, princesa.

Eu queria poder saber descrever essa última semana, queria conseguir


detalhar os últimos dias, explicar os meus sentimentos, mas é impossível.

O novo apelido que dei ao Owen resume bem tudo que ele tem feito por
mim nos últimos dias, comprar café para mim todos os dias de manhã,
mesmo quando eu não vou para a universidade com ele, as mensagens fofas
de bom dia que ele me manda, as flores que ele me dá, porque depois
daquele buquê ele me traz uma rosa todas as noites.

E sempre nos vemos, não importa o dia, nem que seja apenas para ele me dar
um beijo de boa noite.

E quando estamos juntos, quando ele me faz perder todos os sentidos e me


deixa completamente a sua mercê... É incrível e viciante.

— Você está com uma cara diferente — Julie diz e eu sorrio.

— Acho que é impressão sua — falo.

— Impressão? Aubrey, tem dias que venho reparando esse sorriso diferente
no seu rosto. Alguma coisa aconteceu!

— Acho que isso tem a ver com um certo palhaço! — minha mãe diz,
entrando no quarto, Julie e eu corremos para ajudá-la.

— Aonde a senhora estava? — pergunto.

— Fui apenas esticar as pernas, ficar deitada o tempo inteiro não me


favorece em nada!

— Deveria ter nos avisado! — Julie protesta e minha mãe faz um gesto de
desdém.

— Vocês se preocupam demais!

— Mãe...
— Sério, querida, eu estou bem. Na verdade, se eu pudesse eu estaria em
casa, só estou aqui por causa dos exames que preciso fazer, mas assim que o
resultado sair eu quero minha casa de volta.

— Ok, mãe, mas colabore com a gente, ok? — peço.

— Mas eu vim buscar vocês duas! — diz.

— Buscar nós duas? — Julie questiona.

— Sim! Hoje é dia de apresentação, não quero perder por nada!

Meu coração dispara contra meu peito, o Owen deve estar no hospital hoje.

— Certo, dona Kristen, vamos para essa apresentação! — Julie diz e eu


concordo com ela, tentando não transparecer o nervosismo que estou sentido
com a possibilidade de vê-lo, mesmo tendo o visto pela manhã.

A apresentação vai acontecer no refeitório, assim que chegamos ali encontro


um lugar para podermos sentar. Olho em volta e sinto meu coração se apertar
ao perceber que todos esses pacientes que estão aqui para assistir a essa
apresentação estão em estado terminal.

Sinto minha mãe apertar minha mão e olho para ela.

— Não pense demais querida, cada paciente aqui se preocupa em viver


apenas o hoje!

Assinto e ela beija minha mão.

A porta se abre em um supetão e não consigo evitar o sorriso ao ver o Owen


vestido de palhaço, ele começa a conversar com cada paciente, perguntando
sobre uma tal noiva que ele tanto procura. Não sei se é de

propósito ou não, mas ele pula a nossa mesa. Ele está conversando com
outro palhaço, que eu não sei quem é.

— Já disse que você tem que parar de procurar por essa noiva, pipoca! Ela
não existe! — o palhaço diz bravo.
— Existe sim e eu posso provar! — fala, determinado.

— Então me prove, me descreva ela!

Ele se vira para a plateia e sorri.

— A minha noiva tem cabelos castanhos escuros, ela tem olhos castanhos
que brilham quando ela está feliz com algo, ela tem o sorriso mais lindo que
eu já vi na minha vida inteirinha! — Ele olha na minha direção. — Ela é a
mulher mais inteligente que eu já conheci nessa vida, além de ser a mais
linda que eu já vi.

Acho que ele se perdeu um pouco no personagem, mas não consigo deixar
de sorrir a abaixar a cabeça, com vergonha, mas logo volto a olhar para ele,
o outro palhaço ao perceber que o Owen saiu do personagem trata de dar um
tapa na cabeça do amigo, que faz todos os pacientes rirem.

— Como se uma mulher desse jeito fosse olhar para você, Pipoca, se liga!
Isso é tudo coisa da sua cabeça!

— Não é não! Na próxima semana eu vou trazer minha noiva, vocês querem
ver?

Todos os pacientes gritam que sim e batem palmas.

— Então eu espero todos aqui, sem exceção nenhuma, ok?

Após a concordância em som uníssono, eles se despedem da plateia e


deixam o refeitório.

— Agora é a melhor parte — minha mãe diz.

— Melhor parte?

— Eles vão conversar com os pacientes agora!


Já vi que teremos que ficar aqui, todas começam a sussurrar e eu olho para
frente apenas para ver o motivo de todo o burburinho. O Owen, ainda
vestido de palhaço, entrou com uma cesta de flores e está entregando uma
para cada pessoa dentro do refeitório.

São rosas brancas, todos os pacientes agradecem quando ele passa


entregando, quando chega na nossa mesa, ele dá uma rosa branca para minha
mãe e outra para a Julie, mas para mim é uma vermelha.

— Por que não branca? — questiono.

— Vermelho combina mais com você, princesa — sussurra e pisca para


mim.

— Eu apoio sabe — minha mãe diz, sorrindo de lado.

— Apoia o que?

— Vocês dois, está na cara que ele está apaixonado por você.

— A senhora está exagerando.

— Não mesmo, conheço um homem apaixonado de longe, Aubrey!

Um homem apaixonado move céus e terras para ver a mulher amada feliz e
não tenha dúvida de que ele faria isso por você sem pensar duas vezes!
Olho para o Owen e sorrio, sentindo o perfume da rosa.

Owen me surpreende todos os dias e meu maior medo é de que nós dois nos
machuquemos nessa fase em que estamos, mesmo não sabendo que fase é
essa.

Bato na porta e Owen olha em minha direção, sorrindo em seguida.

Ele está tirando a maquiagem do rosto.

— Quer ajuda? — pergunto e ele assente.

Entro no quarto e caminho até ele, seguro o lenço umedecido e começo a


passar no rosto dele, tirando toda a tinta.

— Gostou? — pergunta, após um tempo.

— Eu amei, é incrível esse trabalho que você faz, quem conhece o Owen
apenas por causa do hóquei não imagina o cara maravilhoso que você é. —
Ele sorri de lado e eu continuo tirando os resquícios da tinta. — Posso fazer
uma pergunta?

— Quantas você quiser, princesa.

— Por que pacientes terminais?

Ele me encara por alguns segundos, mas logo abaixa o olhar.

— Minha mãe morreu de câncer quanto eu tinha sete anos — revela e eu


paro imediatamente, minha mão abaixa no automaticamente.

— Owen...

— Está tudo bem, Aubrey. — Ele segura minhas duas mãos e me puxa para
perto dele.

— Você passou tão pouco tempo com ela...


— Eu passei tempo suficiente com ela, a Dona Susan conseguiu me ensinar
os valores da vida, como eu deveria ser grato por tudo que tenho e como
preciso viver o agora, sem pensar em ter arrependimentos futuros.

— Eu sinto muito por ela.

— Ela teria amado te conhecer, sabia?

Seu polegar seca uma lágrima que escapou dos meus olhos sem querer.

— Ia? — pergunto sorrindo.

— Ia sim, ela iria me dizer que eu não posso deixar você escapar por nada
desse mundo. No mundo existe apenas uma mulher que é capaz de abalar
por completo as estruturas de um homem, Aubrey. Para mim, essa

mulher é você, se depender de mim eu quero continuar vivendo o presente


com você, o amanhã a gente pensa depois.

Sorrio e passo os braços em volta do pescoço dele.

— Eu também quero viver o hoje com você, sem me preocupar com o


amanhã.

Ele me dá um selinho, seguido de outro e mais outro, e em seguida me


abraça apertado.

— Obrigada — digo baixinho.

— Pelo o que?

— Por estar comigo nesse momento, é mais importante do que você


imagina.

— Pode contar comigo sempre, princesa.

Ele se afasta e beija minha testa, sorrio em seguida.

— Você precisa trocar de roupa — falo.


— Pode deixar princesa, me espera?

— Sempre.

O auditório está lotado, acho que nunca vi tanta gente aqui, a não ser em
eventos externos.

— Espero que essa palestra não dê sono — Lucca murmura. — Não dormi
de noite porque estava estudando para uma prova.

— Se você dormir eu te acordo no soco, Lucca, não se preocupe —

falo, olhando para frente.

— Eu só quero saber quando você vai apresenta-la oficialmente para a gente


— Elliot comenta.

— Verdade, já fazem semanas que vocês estão saindo e até agora você não
veio apresentá-la formalmente — Caleb argumenta.

— Achei que vocês a conheciam.

— Conhecemos, mas não a conhecemos como sua garota — Lucca explica.


— Ela precisa passar pela nossa aprovação.

Olho para meu amigo e arqueio uma sobrancelha para ele.

— Desde quando preciso da aprovação de vocês?


— Você é o primeiro do grupo a arrumar alguém seriamente, é claro que ela
precisa passar pela nossa aprovação! Onde já se viu? Como podemos dizer
que ela vai fazer parte do grupo se você não a apresenta? —

Zach se pronuncia pela primeira vez e minha vontade é de lhe dar um tapa,
mas apenas reviro os olhos.

— Vocês deveriam procurar alguma coisa de útil pra fazer ao invés de focar
no meu relacionamento — falo e olho para frente. Vejo a reitora subir no
palco e pegar o microfone.

Pego meu celular e envio uma mensagem para Aubrey.

Eu: Como você está?

Princesa: Nervosa, odeio falar em público! Dei uma espiada na plateia e


está lotado! Como apareceu tanta gente?

Eu: Tenho certeza de que você vai se sair muito bem, não se preocupe.

Princesa: Estou com medo.

Eu: Não fique, sei que você consegue. Qualquer coisa basta olhar para
mim, estou na terceira fileira, bem em frente ao palco.

Princesa: Ok. Obrigada, príncipe.

Eu: Disponha, minha princesa!

— Bom dia a todos! — Bloqueio o aparelho e foco meu olhar na reitora, que
sorri para os alunos. — Que alegria ver esse auditório lotado!

Sejam todos bem-vindos! Espero que essa palestra seja extremamente


proveitosa para todos. Que sirva para abrir os olhos de vocês a respeito da
literatura e que faça todos enxergarem os benefícios que ela traz para nossas
vidas.

Todos batem palmas e ela aguarda o silêncio.


— Bom, — continua — para nos trazer essa palestra, eu convidei uma
escritora de renome em Nova Iorque e que em breve será conhecida aqui
também. Ela tem 27 anos, é natural aqui de Toronto, formada em Literatura
Inglesa e autora de vários livros best-sellers! Com vocês, Aubrey Stuart!

O auditório explode em palmas e meu coração dá um salto em meu peito


quando ela caminha até o palanque. Eu já vi várias versões da Aubrey,

mas essa é completamente nova. Ela é realmente a escritora aclamada que


vários aqui conhecem.

Seus cabelos estão presos em um coque, ela está usando calça social, blusa
social e sapatos de salto. Quando a vi mais cedo, pensei que teria algum tipo
de parada cardíaca, nunca a tinha visto tão linda, séria e profissional.
Confesso que isso me deixou um pouco abalado. Porra, essa mulher pode ter
o homem que quiser aos seus pés, mas eu tive a sorte de entrar em sua vida,
conhecê-la, entender cada detalhe dela, seus pensamentos, gostos e
particularidades.

Acredite, me considero o homem mais sortudo do mundo por estar com essa
mulher.

— Bom dia a todos! — ela diz assim que pega o microfone e sorri para o
público.
— Porra, Owen! — Elliot sussurra ao meu lado. — Você tirou a porra da
sorte grande, em cara!

Sorrio de lado e assinto. Sim, eu tirei a porra da sorte grande.

Se a Aubrey estava nervosa, não demostrou isso em momento algum.


Durante a palestra inteira ela foi concisa, direta, clara, falou perfeitamente
bem, conduziu a plateia e ainda respondeu perguntas. A palestra ao todo
durou cerca de uma hora e meia, o que eu considerei um tempo excelente.

— E agora, será que podemos falar com ela? — David pergunta e eu nego.

— Não, vocês não vão falar com ela agora. — digo ao me levantar.

— E por que não? Quer manter ela só para você? — Caleb questiona e eu
bato na sua nuca.

— Nada disso, no momento certo vocês vão conversar com ela, mas não vai
ser agora, então não adianta. — digo.

— Estraga prazeres! — Lucca diz.

— Nesse caso, vamos que hoje ainda temos aulas, provas e uma reunião com
o treinador. — Elliot fala.

— Inclusive... — Zach entra no meio do assunto —, tudo pronto para sábado


à noite?

— Tudo certo!

— Na mais perfeita ordem!

— Vai ser a melhor surpresa que já fizemos para o treinador!

— Isso aí pessoal! — Zach diz, animado.

— Bom, vou procurar a Aubrey e mais tarde encontro vocês.


Me despeço deles e sigo para o palco, já indo para a parte de trás, onde há
uma sala que serve como uma espécie de bastidor.

Assim que entro vejo Aubrey conversando com a reitora, que sorri
animadamente para ela. Me aproximo lentamente das duas.

— Sou eu quem agradeço o convite. De verdade, foi um prazer fazer essa


palestra!

— Assim que tivermos outras palestras na área de Literatura Inglesa entrarei


em contato com você!

— Irei esperar!

A reitora se vira e me vê.

— Owen, você está ai! Assistiu a palestra? — pergunta.

— Assisti e foi excelente, devo dizer.

— Não foi? Todos estão maravilhados, veio cumprimentar a Aubrey?

— Sim, sim, vim fazer isso!

Olho para ela, que parece querer cavar um buraco no chão e se enfiar dentro.

— Ela merece todos os elogios possíveis, essa mulher é um achado!

— Concordo plenamente. — digo, olhando para ela.

— Bom, preciso ir, tenho outras coisas para organizar! Até mais!

A reitora se afasta e me aproximo da Aubrey, que parece que vai desmaiar a


qualquer momento.

— Parabéns, princesa. Você foi excelente!

Quando digo isso parece que todo o ar dos pulmões da Aubrey se esvai e ela
respira fundo e fecha os olhos.
— Acha mesmo?

— Mais perfeita que você, apenas duas de você e isso é algo impossível de
acontecer!

— Bobo! — ela diz e sorri. Seguro sua mão, puxo-a para um abraço e a
aperto contra meu corpo e, nesse momento, sinto-a tremer.

— Isso tudo é nervosismo? — pergunto, alisando seus cabelos.

— Eu te disse que tenho pavor de falar em público. Todas as vezes que isso
acontece começo a passar mal — responde.

— Estou aqui com você, princesa. Já passou! Você foi excelente, todos
amaram a palestra e amaram ver você falar e se expressar. Além do mais,
tenho certeza de que isso vai fazer com que todos queiram ler seus livros.

Ela ri e sinto seu corpo relaxar. Me afasto apenas para beijar sua testa
demoradamente.

— Quer tomar um café?

— Você não tem aula?

— Depois eu recupero, quero ficar um pouco com você.

— Não quero ser a responsável por fazer você perder aula, Owen —

diz em tom de alerta.

— Não se preocupe, princesa, perder uma aula não vai me matar.

— Tem certeza?

— Absoluta, vamos lá!

— Tudo bem, tudo bem! Vou só pegar minhas coisas.

Assinto e ela caminha até a mesa, pega seu casaco, sua bolsa e vem até mim.
Assim que ela para na minha frente, fico olhando para ela. O tempo parece
ter parado e só existe essa mulher na minha frente.

— O que foi? — pergunta.

— Me pergunto como você consegue ser tão linda a ponto de me deixar


completamente hipnotizado.

Ela sorri, se aproxima de mim e joga os braços sobre meus ombros,


segurando meu pescoço.

— Você é um galanteador nato, Owen, preciso tomar cuidado com isso. Seus
elogios vão me deixar mal acostumada.

— Elogiar você é uma das minhas atividades preferidas e não me canso de


ressaltar o quanto você é linda.

Ela sorri e me aproximo dela, beijo seu queixo, a ponta de seu nariz e em
seguida o canto de sua boca.

— Alguém pode nos ver. — ela murmura, de olhos fechados e eu sorrio.

— Não me importo.

— Você é maluco.

— Acho que estou maluco por você, isso sim.


Ela sorri e me beija. Seguro sua cintura e aprofundo nosso beijo, provando
de seus lábios e brincando com sua língua, mas, da mesma forma que ela se
aproximou, ela se afastou: rápido demais.

— Vamos, Owen, você me prometeu um café!

— Vamos, princesa!

Entrelaço nossas mãos e seguimos para a saída.

A semana passou voando, provavelmente por ser semana de prova e de


muito treinamento para os próximos jogos. Isso me deixou com a sensação
de que os dias passaram mais rápidos que o normal.

Como Aubrey não precisava mais ir para a faculdade, ficou mais difícil de
vê-la sempre, porém não deixei de comprar café para ela todas as manhãs.
Mesmo que não dê pra entregar pessoalmente, todos os dias mando entregar
um copo de café para ela, que sempre me manda uma foto do copo e uma
mensagem de agradecimento.

Hoje, apesar de ser sábado, ainda não tive a oportunidade de vê-la.

Primeiro porque é a festa do treinador Hamilton e ainda preciso correr atrás


de algumas coisas, como ver se o bolo e os doces estão certos e que horas eu
devo ir buscá-los. Segundo, porque ela não dormiu em casa de sexta para
sábado, pois dona Kristen recebeu alta do hospital por pura insistência, devo
ressaltar, e Aubrey foi dormir com ela em casa. Então, só vamos nos ver a
noite, quando for buscá-la para a festa.

Foi extremamente difícil convencer Aubrey a vir a festa comigo.

Segundo ela, era algo muito íntimo do time e que não queria atrapalha e
nem nada, mas rebati todas as suas desculpas e, no final, ela acabou
aceitando vir comigo.

— Nunca imaginei que veria você apaixonado. — Zach comenta e eu sorrio.

— Não estou apaixonado. — falo.

— Não, não está. Quem está sou eu. — diz, ironicamente.

— A Aubrey me faz bem, cara. Amo estar com ela, conversar, vê-la sorrir...
É diferente de qualquer outra garota, é como se eu estivesse enxergando uma
mulher de verdade pela primeira vez, vendo além do que eu estou
acostumado.

— Isso é estar apaixonado. — rebate.

— Como sabe? Já esteve apaixonado? — Meu amigo sorri e me encara.

— Você é o primeiro da turma, não se preocupe quanto a isso. Mas não


precisa ser nenhum gênio para ver isso, está escrito na sua testa em letras
garrafais.

Sorrio e nego com a cabeça, mas não continuo a discussão.

— Vamos? Vou te deixar no bar e buscar a Aubrey.

— Ainda não acredito que ela aceitou ir à festa.


— Você não conhece meu poder de convencimento, Zach!

Pego as chaves do carro e deixamos meu apartamento.

Deixei o Zach no bar e fui para a casa da Kristen buscar a Aubrey, como
havíamos combinado. Aubrey me enviou o endereço por mensagem e agora
estou aqui, encostado na lateral do carro, esperando-a sair da casa. O

tempo está frio, os termômetros marcam 2 graus no momento e estou


esperando a hora que a neve vai começar a cair.

A porta se abre e sorrio quando a vejo. Ela está usando um casaco pesado,
um vestido e botas.

Linda como sempre!

Aubrey abre o portão, fecha e se aproxima de mim, sorrindo.

— Como estou?

— Mais linda do que nunca!

Ela abre um sorriso e me aproximo mais dela, beijando sua testa e em


seguida lhe dando um selinho.

— Está pronta?

— Estou.

Abro a porta do carro para ela, dou a volta e entro, ligando o veículo em
seguida e saindo. Chegamos no bar dez minutos depois.

— Ele ainda não chegou? — pergunta, assim que descemos do carro.

— Não. — Ergo o pulso para conferir a hora no relógio e em seguida seguro


sua mão. — Ele deve chegar a qualquer momento.

— Certo.

— Vem!
Puxo-a e entramos no bar, chamando a atenção de todos que estão ali.

— Boa noite, boa noite; — falo, sorrindo e meus amigos respondem de


volta. Sinto a Aubrey se esconder atrás de mim.

Caminho até meus amigos e olho para ela.

— Aubrey, esses são meus amigos mais próximos; — digo, apresentando-os.


— Você já deve tê-los conhecido em determinado momento.

— Olá, meninos, é um prazer rever vocês; — ela diz, sorrindo.

— Então você é a responsável por tirar o Owen da gente... — Lucca diz,


sorrindo.

— Não me responsabilizo por nada; — Aubrey diz e ergue as mãos.

— Bom, seja bem-vinda a família, Aubrey; — Elliot diz. — Afinal de


contas, uma amiga do Owen, — ele frisa bem essa palavra — é nossa amiga
também.

— Obrigada! — diz, sorrindo e me encara em seguida. Tudo que faço é


piscar para ela.

Aubrey tem entrado aos poucos na minha vida e não consigo determinar se,
no futuro, isso vai ser bom ou ruim.

O bar está completamente diferente do que estou acostumada a ver.


A decoração consiste em vários balões, uma faixa desejando os parabéns e
uma mesa repleta de doces com o bolo no centro.

Eu estava meio apreensiva de vir para o aniversário por dois motivos: um


deles é em como iria me comportar diante dos amigos do Owen. Claro que já
havia conversado com eles antes, na universidade, mas o Owen e eu ainda
trocávamos farpas nesse período. O outro motivo envolvia a Wendy, pois
estava na cara que ela era apaixonada pelo Owen e chegar aqui com ele com
toda a certeza levantaria as suspeitas dela.

Mas, felizmente, conversar com os meninos foi bem tranquilo e eles me


deixaram bem à vontade. Às vezes soltavam algumas piadas de duplo
sentido, mas fora isso, nada de relevante. Porém, com a Wendy a situação foi
mais complicada, já que ela mal olhou na minha cara desde que chegamos.

Quinze minutos depois que chegamos, Red veio avisar que o carro do
Hamilton havia acabado de estacionar em frente do bar. Nessa hora todos
ficamos em silêncio à espera do exato momento em que a porta vai ser
aberta.

Acho que nunca vi esse local tão silencioso, nem mesmo quando venho
durante o dia para trabalhar aqui.

Assim que a porta se abre, as luzes são acesas e começamos a bater palmas e
cantar os parabéns.

— Parabéns para você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos
de vida!

Noto que o treinador fica sem reação por alguns segundos, mas logo começa
a sorrir.

— E para o treinador Hamilton nada? — Elliot grita.

— Não!!! Tudo!!!— Eles gritam de uma vez e vão abraçar o treinador, que
está visivelmente emocionado.

— Apenas vocês para me fazerem uma surpresa dessa — ele diz, após os
abraços.
— Queríamos fazer algo diferente dessa vez. É sempre um bolo no vestiário.
— Lucca diz.

— Vocês vivem me surpreendendo, não quero nem saber como será após o
final dessa temporada. — diz, sério.

— Sempre seremos uma família, treinador. — Owen diz e passa o braço


pelos ombros do homem. — Se estamos aqui hoje é porque o senhor
trabalhou duro em nós, investiu e acreditou no nosso talento.

— Vocês não são as pessoas mais fáceis do mundo, devo confessar, mas
aprendi e aprendo com vocês todos os dias. Para mim, vocês são como filhos
e eu tenho muito orgulho de cada um de vocês, da maneira como vocês estão
aprendendo a lidar com a vida e dos profissionais que irão se tornar.

Pisco e sorrio, não quero parecer uma boba chorando no aniversário de


alguém com quem não tenho muita intimidade. O treinador abraça a cada um
e se vira para nós, sorrindo.

— Obrigado a vocês que estão aqui hoje também, sei que contribuíram de
alguma forma e me sinto honrado com a presença de todos.

— Agora que já passou toda a melação, vamos comer, porque isso é uma
festa! — Caleb grita.

Owen se aproxima de mim e beija meu rosto.

— Quer beber algo?

— Pode ser um suco, não gosto de bebidas alcoólicas.

— Ficaria surpreso se gostasse, não faz parte da sua personalidade.

Vou buscar para você.

Assinto e olho para frente. Vejo Wendy me encarar, engulo em seco e decido
ir até ela.
— Posso conversar com você? — pergunto e ela assente, sem me encarar. —
Sei que gosta do Owen. — falo de uma vez.

— E parece que você é a pessoa que o conquistou.

— Foi involuntário, acredite. Eu não suportava ver o Owen na minha frente.

— E então de repente você começou a ficar com ele.

Olho para frente, vendo Owen conversar com os amigos e então ele me
encarar, sorrindo para mim.

— Não foi de repente. O Owen sabe exatamente o que fazer quando quer
conquistar alguém. É incrível essa capacidade que ele tem.

— E pelo jeito não foi só ele que te conquistou — diz e me encara.

— Eu nunca vi o Owen agir desse jeito com nenhuma outra garota, nem
comigo... e olha que somos amigos.

— Não quero que você fique com raiva...

— Eu não estou com raiva, só precisei analisar a situação melhor, eu... — ela
para de falar e sorri tristemente para mim. — Só pensei que algum dia o
Owen me olharia e veria mais que uma amiga. Mas a sortuda da história foi
você e eu fico feliz com isso, de verdade.

— Obrigada. Sem ressentimentos? — pergunto e estendo a mão para ela.

— Sem ressentimentos. — diz e me pega de surpresa ao me abraçar.

Retribuo o abraço dela e ela se afasta em seguida. — Vou conversar com os


meninos.

Quando ela se afasta Owen se aproxima e me entrega minha bebida.

— Não quis atrapalhar a conversa de vocês. — explica.

— Ela é uma boa menina. — digo e bebo um gole do suco.


— Ela é, acredito que vai encontrar um cara que goste dela e mova os céus
por ela.

Sorrio ao ver o Zach conversando com a Wendy. Talvez ela já tenha


encontrado, só precisa enxergar isso.

Me viro para o Owen e sorrio.

— Espero que eu não precise ter essa conversa com metade do Campus. —
aviso e ele sorri, segurando minha cintura e me puxando pra si.

— Não se preocupe, princesa. Eu pretendo mostrar pra cidade inteira que eu


sou inteiramente seu.

Sorrio e ele me beija, mas logo nos separamos, ao ouvirmos uma tosse ao
nosso lado. Abaixo o rosto ao ver o treinador ali.

— Não vai me apresentar sua namorada, Owen? — pergunta, arqueando a


sobrancelha.

— Nós não... não somos... — começo, gaguejando e olhando do Owen para


o treinador. — Estamos nos conhecendo. — digo por fim e ele ri.

— Você é a moça que foi intervir a favor do Owen, não é? —

pergunta e eu confirmo.

— Sou eu mesma. — respondo, sorrindo.

— Suspeitei que via alguma coisa entre vocês. — comenta.

— Acredite, quando eu fui falar com o senhor não tinha nada.

— Porque ela não queria. — Owen rebate e eu lhe dou um beliscão.

— Ai!

Hamilton ri e se vira para mim.


— Devo dizer que sou totalmente a favor desse relacionamento, Aubrey.
Quem sabe assim o Owen coloca a cabeça no lugar.

— Eu sempre tive a cabeça no lugar! — rebate.

— Com certeza. — o treinador retruca e eu sorrio. — Mas estou


imensamente feliz por vocês e espero que possamos nos ver mais vezes.

— Eu também!

Ele se afasta de nós e me viro para o Owen, arqueando uma sobrancelha.

— O que foi? — pergunta.

— Sempre soube que você não tinha a cabeça no lugar. Meu Deus!

Onde eu fui me meter?

Me viro e ele me abraça por trás.

— É, mas foi só você chegar que tudo mudou. — sussurra.

— Você é extremamente bom de lábia, Owen, espero não estar caindo nos
seus truques.

Ele me vira de frente pra ele e acaricia meu rosto.

— Jamais brincaria com você, Aubrey. Nem se eu fosse louco.

— Vou acreditar em você.

Ele beija minha testa e em seguida me dá um selinho.

— Ei vocês dois! Parem de pegação e venham interagir com a gente! —


Zach grita e eu sorrio. Ele beija meu rosto e vamos até eles.

Às vezes eu não consigo acreditar que me mudar para o Canadá tenha me


proporcionado tantas coisas boas, mesmo que minha mudança tenha
acontecido em meio ao caos.
Nesse momento, aqui, com o Owen e os amigos dele, me sinto feliz e
pertencente ao lugar. Além de me sentir acolhida e bem-vinda, sinto que
encontrei pessoas confiáveis. Acho que finalmente entendi algo que tanto
vejo em livros e filmes: o conceito de amizade como família.

O domingo foi tranquilo e, por incrível que pareça, minha mãe aceitou vir
até o meu apartamento pela primeira vez e gostou de passar o dia comigo.
Fizemos as unhas uma da outra, arrumamos os cabelos e no fim do dia o
Owen apareceu de surpresa com um buquê de flores para ela, que ficou
extremamente emocionada com o gesto.

Levamos ela para casa, porque ela não queria passar a noite no meu
apartamento. Depois de voltarmos, Owen e eu decidimos assistir um filme,
mas dormi na metade e acordei no meio da noite sozinha, na minha cama e
com um bilhete dele me desejando bons sonhos.

Voltei a dormir e acordei apenas quando o despertador tocou. Hoje a minha


mãe tem vários exames para fazer e confesso que estou preocupada.

— Você está preocupada. — Owen diz e aperta minha mão.

— Não tem como não ficar, estou com medo.

— Vamos confiar que tudo vai dar certo, Aubrey.

Assinto e solto o ar vagarosamente.


— Aubrey? — Olho para frente e vejo a Doutora Brigite. — Pode me
acompanhar.

Me coloco de pé e o Owen também, que segura firmemente minha mão. Ele


pediu para me acompanhar e aceitei, pois não sei se vou ter

estrutura para ouvir tudo sozinha.

A médica olha para nós dois e assente, apontando para a sua sala em
seguida.

Quando estamos acomodados ela se senta à nossa frente e começa a mexer


no computador. Confesso que estou nervosa e minha mão livre começa a
apertar o tecido do casaco que estou usando.

Owen intensifica o aperto na minha mão e em seguida a médica nos encara.

— Eu queria ter boas notícias, Aubrey. — começa e sinto meu coração errar
uma batida. — Eu queria poder dizer que nós cometemos um erro e que sua
mãe não está afetada por metástase, mas infelizmente não é isso que ocorreu.

— Eu quero sua total sinceridade, doutor.a — peço e ela assente.

— Aubrey, nós identificamos mais três metástases: no pâncreas, no


estômago e no cérebro.

Meus olhos se enchem de lágrimas, que começam a escorrer sem minha


permissão.

— A senhora tinha dito que não tinha o mais o que fazer...

— Eu sinto muito, Aubrey. Sua mãe está em estado terminal. Com cinco
metástases, as quimioterapias podem comprometer ainda mais o estado dela
e só iria adiantar o processo.

— Qual a estimativa? — pergunto, em um sussurro.

— Oito meses, um ano, no máximo. — diz e eu assinto, concordando.


— Vamos fazer o possível para a Kristen não sofrer, Aubrey. Iremos fazer
tudo que está ao nosso alcance.

Concordo, mas nesse momento eu não estou ouvindo mais nada e tudo que
ronda a minha cabeça é que minha mãe só tem mais alguns meses

de vida e não sei o que fazer nesse processo.

— Vou deixar vocês dois sozinhos. — ela diz, mas eu estou vendo tudo
nublado. Só ouço o barulho da cadeira se afastando e da porta se abrindo e
fechando.

Olho para o Owen e ele também chora, silenciosamente.

— Minha mãe vai morrer, Owen. — digo em um sussurro quebrado.

— Ela vai morrer e eu não sei o que fazer.

— Ah, minha princesa! — diz e me puxa para um abraço.

É aqui que eu me permito chorar, porque eu realmente não sei o que fazer
com essa notícia.

É impossível receber uma notícia dessa fica e bem. É impossível fingir que
estamos felizes quando estamos gritando por dentro.

Quando eu era criança e não entendia muito bem das coisas, minha mãe
escondeu até o último minuto que iria morrer. Se soubesse que aquelas
seriam minhas últimas horas com ela, teria dito que a amava mais vezes.
Entretanto só consegui compreender a gravidade da doença dela quando vi
aquele caixão sendo abaixado e só consegui entender o quanto ela sofreu
quando decidi trabalhar como voluntário para pacientes terminais. O começo
foi extremamente difícil e eu chorava todas as vezes que terminava minhas
apresentações, porque lembrava que minha mãe sabia que iria morrer, mas
guardou isso apenas para ela.

Respiro fundo e jogo uma água no rosto, olhando em seguida no espelho.


Aqui estou eu novamente, vivendo novamente esse medo de perder alguém
que amo, alguém que é como uma avó para mim.

Deixo o banheiro e vejo Aubrey sentada em uma das cadeiras de espera. Seu
olhar está perdido, seus olhos estão inchados por causa das lágrimas e seu
nariz está vermelho.

Me aproximo dela e me abaixo, segurado sua mão.

— Princesa, você está bem?

— Eu não sei o que fazer, Owen. Parece que meu mundo desmoronou.

Acaricio seu cabelo e seco as lágrimas que voltam a cair.

— Eu estou com você, sempre. — Ela assente e respira fundo.

— A doutora Brigite está contando pra minha mãe agora. — diz e funga. —
Depois que ela sair a gente entra.

Assinto e fico dessa forma com ela. Cerca de cinco minutos depois a porta
do quarto da Kristen se abre e a médica sai sorrindo.

— A Kristen está esperando por vocês. — avisa e nos lança um olhar


solidário.

Entrelaçamos nossas mãos e entramos no quarto.

— Não acredito que você está chorando, Aubrey! — Kristen resmunga e sou
obrigado a dar um sorriso.
— Como a senhora está? — pergunta, cautelosa.

— Eu estou realmente bem, acredite!

— Mãe...

— Querida! — Kristen se aproxima da Aubrey e segura a mão da filha. —


Não tem motivos para chorar.

— Mas mãe...

— Eu já vivi tudo que eu tinha para viver, meu amor! — Os olhos da


senhora se enchem de lágrimas e ela sorri. — Eu vi você crescer e se tornar
uma mulher extraordinária, vi você correr atrás dos seus sonhos e vejo você
se apaixonando por um homem incrível, que, eu tenho certeza, vai te amar
mais do que qualquer coisa nesse mundo. Eu tive a oportunidade de ser sua
mãe. Quer alegria maior que essa?

Aubrey começa a chorar e Kristen a abraça.

— Morrer faz parte do ciclo da vida, querida. É impossível escarparmos


desse destino.

— Não quero que a senhora sofra. — ela diz, a voz abafada pelas lágrimas.

— Mas eu não estou sofrendo, querida! — Ela se afasta e sorri para a filha.
— Estou feliz por ter tido a oportunidade de fazer de tudo nessa vida. Viver
é uma dadiva e eu fiz isso com excelência. — Kristen olha para mim e sorri.
— Não quero ver nenhum dos dois chorando. A partir de hoje está proibido
falar sobre quanto tempo tenho de vida, certo?

— Pode deixar! — falo, sorrindo.

— Vamos viver como se o amanhã não existisse. O presente é a nossa maior


prova de vida. Certo, Aubrey?

— Certo, mãe. Vou tentar.

— Você vai conseguir, meu amor! Tenho certeza disso!


Ela abraça a filha novamente e sorri para mim, com compaixão.

— Cuida da minha filha. — pede, apenas movimento os lábios e eu assinto.

— Com a minha vida. — respondo, movimentando os lábios também.

— E vamos parar com esse chororô, porque quero ir para casa! —

diz e se afasta para pegar sua bolsa. Aubrey me encara e eu abro os braços
para ela, abraçando-a.

— Estou com você, princesa. — sussurro contra seus cabelos.

— Obrigada.

— Tão lindos! — Kristen suspira e Aubrey sorri.

— Vamos embora, mãe.

Ela segura a mão da senhora e ambas deixam o quarto sorrindo.

Apenas sigo-as, sabendo que os próximos meses serão de medo e aflição,


mas também serão os meses em que mais iremos fabricar memórias boas,
vivendo-os como se fosse o último dia.

Duas semanas depois

— Foco no jogo! — Hamilton grita, mas tudo que eu consigo é olhar para a
mulher sentada na arquibancada, mexendo no celular.

Que horas ela chegou aqui que eu não vi?

— Ai! — Grito assim que sou jogado no chão.

— Se você não prestar atenção no jogo fica difícil cara! — Caleb grita.

— Foi mal gente! — Falo e me levanto.

— Definitivamente a Aubrey não pode assistir aos treinos. — Elliot diz. —


O Owen esquece até seu nome quando ela está presente.
— Que exagero! — digo.

— Exagero? Você fica parecendo um babacão quando ela chega onde a gente
está. — Lucca diz, sorrindo.

— Meu amigo, se estar apaixonado é ficar desse jeito, nunca quero me


apaixonar nessa vida. — David completa.

— Vocês ficam aí tirando sarro, mas quando for a vez de vocês, quem vai rir
sou eu. — Falo e eles ficam me zoando.

— Venham aqui! — o trinador Hamilton grita e nós vamos até ele.

— Preciso que vocês deem 200% de si no nosso próximo jogo. Sei que as
coisas estão corridas, mas sei também que vocês conseguirão fazer o melhor
jogo da vida de vocês!

— Pode deixar! — Elliot fala, em tom sério. — Essa temporada é nossa,


treinador.

— Confio em vocês rapazes! Vamos lá, mais um treino! Vamos, vamos,


vamos! — começo a me afastar, mas ele me chama. — Owen!

Me viro para ele.

— Sim, treinador?

— Foco, rapaz! Foco!

— Pode deixar, treinador!

Volto para o meio da quadra e me posiciono no centro, olhando para o


jogador reserva. Quando o treinador apita, começamos a jogar. O puck fica
com o outro jogador e eu corro em seu alcance para conseguir recuperar.
Assim que ele chega próximo ao gol, consigo recuperar o disco e corro a
toda velocidade para o outro lado, desviando dos outros jogadores.

Lanço o disco para a rede e ele passa por debaixo das pernas do goleiro.
Deslizo na pista de gelo e olho para arquibancada. Aubrey está sorrindo para
mim e pisco para ela. Eu não sei o feitiço que essa mulher lançou em mim,
mas sei que ele é altamente eficaz.

O treino termina e vamos todos para o vestiário. O frio tem se intensificado


cada vez mais nos últimos dias e tem sido difícil nos mantermos aquecidos
dentro da quadra. Visto uma blusa térmica de gola alta, calça e botas, pego
meu gorro e casaco.

— O que vai fazer essa noite? — Zach pergunta e eu me viro para ele.

— Vou levar Aubrey pra jantar. — Falo.

— Quero saber quando você vai pedi-la em namoro. — Luca fala e eu


sorrio.

— Meio cedo para isso, não?

— Cedo? Vocês estão juntos há mais de dois meses e acha que é cedo?

Não respondo e paro para analisar a situação. Não havia observado que
estamos juntos há tanto tempo assim, parece que só se passaram dias.

Olho para meus amigos e eles arqueiam a sobrancelha para mim.

— Vou pensar no caso. — Falo e fecho o armário.

— Pensar no caso, tá bom! — David murmura.

— Eu dou uma semana para o Owen aparecer namorado! — Lucca grita.

— Dou mais um mês! — Caleb fala.

— Vão se lascar vocês! — Falo e saio do vestiário.

Olho para os lados e vejo a Aubrey sentada nas cadeiras próximas dali. Me
aproximo dela e assim que ela me vê fica de pé, já sorrindo para mim.

— Como você está? — Pergunta e eu lhe dou selinho.


— Melhor agora aqui com você. — Falo e ela sorri, passando os braços pelo
meu pescoço.

— Estava com saudades. — Diz.

— Eu também estava, princesa. Vamos? Já está tarde e temos uma reserva


hoje.

— Eu ainda não acredito que você vai me levar para jantar. —

Murmura, se apoiando em meu braço enquanto caminhamos juntos.

— Estou meio cansado da comida do Red e você não cozinha, princesa. —


Recebo um tapa no braço.

— Precisa dizer em voz alta? — Pergunta e eu levanto as mãos em rendição.

Desde que a Aubrey tentou cozinhar para mim uma vez, evito deixá-la na
cozinha. Ela é uma negação para isso, é melhor ela ficar apenas com os
livros.

Assim que chegamos no lado de fora paramos automaticamente.

Começou a nevar, depois de semanas esperando.

— Está nevando! — Aubrey murmura e olho para ela, que está encantada.

— Está. — Digo, ainda preso nela. Ela me encara, sorrindo.


— Nova Iorque fica linda quando neva. — Diz. — Mas nada se compara em
como Toronto fica.

— Aconselho-a a vestir roupas extremamente quentes. Com a chegada da


neve a sensação térmica piora — falo.

— Você tem razão. Vamos?

Assinto e seguimos em direção ao meu carro.

Entro no apartamento de Aubrey e presumo que ela ainda esteja se


arrumando.

— Aubrey, cheguei!

— Estou indo! — Ela grita de volta e segundos depois ela aparece na sala.

Ela está usando calças, botas, blusa de frio, casaco, luvas, cachecol e gorro.

— Está pronta? — Pergunto e ela assente.

— Prontíssima!

— Então vamos lá, senhorita.

O caminho para o restaurante demorou cerca de vinte minutos.


Fomos devagar, pois a pista está lisa por causa da neve.

— Owen, você definitivamente é louco. — Aubrey murmura assim que


entramos no restaurante.

— Por que? — Pergunto, ajudando-a tirar o casaco pesado.

— Esse é um dos restaurantes mais caros da cidade! — Sussurra.

— Você merece! — Falo.

— Nem se eu vendesse 10 mil livros eu conseguiria pagar a conta desse


lugar!

— Você fica ainda mais linda quando exagera. — Digo, apertando seu nariz.

— Senhor Hughes, por aqui!

O maitre nos recepciona e nos direciona até nossa mesa. Conforme


caminhamos paraliso de uma vez ao ver meu pai e minha madrasta ali. Por
essa eu não esperava!

Não tenho tempo de virar o rosto. Mag me vê e imediatamente abre o


sorriso.

— Owen! — Ela diz animadamente e acena para mim.

— Quem é? — Aubrey pergunta.

— Isso não foi premeditado, mas espero que você esteja pronta para
conhecer meu pai e minha madrasta.

— Como? — Pergunta apavorada.

— Vai dar certo, princesa.

O maitre acaba nos levando à mesa dos meus pais.

— Que coincidência encontrar você aqui! — Mag se levanta e me abraça.


— Digo o mesmo.

Ela se afasta e encara a Aubrey, me olhando em seguida.

— Owen...

— Mag, pai... — Digo, já que ele não pronunciou uma palavra desde que me
aproximei. — Essa é a Aubrey, minha namorada.

Pela primeira vez na vida vejo meu pai arregalar os olhos, enquanto minha
madrasta abre o maior sorriso do mundo.

Por essa eles não esperavam.

Meu corpo inteiro trava quando Owen me apresenta como sua namorada. Ele
aperta minha mão em sinal de compreensão e eu engulo em seco.

A mulher morena, de cabelos cacheados e olhos castanhos me encara.

— Eu não consigo acreditar que o Owen finalmente está namorando! Meu


Deus! É um prazer conhecê-la!

Ela se aproxima de mim e me abraça, me pegando de surpresa.

— O prazer é meu! — Digo, assim que consigo recuperar a voz.

Ela se afasta e sorri para mim, me analisando mais atentamente.

— Por que tenho a impressão de que te conheço de algum lugar? —


Questiona, semicerrando os olhos.

— Não encha a menina de perguntas, Mag. — O homem, que presumo ser o


pai do Owen, diz.

— Tudo bem. — Falo.

— Mag, Aubrey é escritora. — Owen diz.

— Aubrey Stuart? — Ela pergunta, arregalando os olhos e eu assinto.

— Sim, sou eu.

— Meu Deus! Eu sou sua fã. Já li todos os seus livros e sempre estou de
olho nos seus lançamentos!

Sorrio, sem acreditar nessa coincidência.

— Está falando sério?

— Claro que eu estou! Não consigo acreditar que você está namorando meu
filho! — Ela olha para nós dois e sorri.

— Por que não se sentam conosco? — O homem pergunta, sem esboçar


reação nenhuma. — Acredito que já fizeram cena o suficiente no restaurante.

Owen me olha, fazendo uma pergunta com os olhos e eu apenas assinto.

Nos sentamos com eles e o pai do Owen me observa atentamente.

— Você parece ser bem mais velha que o Owen. — Comenta e sorrio de
lado.

— Sim, sou mais velha que ele, tenho 27 anos.

— Uau! Que história! Como vocês se conheceram? — Mag, que entendi ser
o apelido dela, pergunta.

— É uma longa história... — Falo e me viro para o Owen. — Mas trouxe a


gente ao patamar que estamos agora.
— Devo dizer que apenas uma mulher mais velha colocaria o Owen na linha
e traria juízo para a cabeça dele. — Diz o pai de Owen.

— Christopher... — Mag diz, mas ele ignora totalmente a esposa e foca seu
olhar em mim.

— Me diga, Aubrey, você gosta do que Owen faz? — Pergunta.

— Como assim?

— O fato dele querer se dedicar ao time, ao invés de focar no curso de


direito, que com toda a certeza seria o mais viável.

Mas é claro! Tinha que ter o pai que quer obrigar o filho a seguir sua
profissão porque quer deixar a empresa e toda essa baboseira que sempre
ouvimos por aí.

— Desde que o Owen esteja feliz, ele tem todo o meu apoio no que for fazer.

Ele me encara e toma um gole do seu vinho.

— Você pretende seguir carreira de escritora a vida inteira?

— Christopher, não é? — Pergunto e ele assente. — Enquanto eu tiver


disposição para escrever, as editoras estiverem atrás dos meus livros para
publicar e isso estiver me gerando renda, sim, eu pretendo viver disso.

Depois vejo o que fazer, mas não costumo muito pensar a respeito disso. O

que importa é fazer o que te faz bem, o que te traz prazer e alegria. Eu,
particularmente, não me sentiria realizada em uma roupa social, doze horas
por dia, andando pra lá e pra cá, apenas porque minha família quer que eu
siga determinada profissão.

— Você tem uma personalidade forte.

— Não é personalidade, é a verdade. Ninguém é feliz fazendo o que não


gosta, aprendi isso desde cedo.
— O que acham de mudarmos de assunto? — Mag pergunta e sei que ela
quer evitar uma briga entre o marido e eu.

Owen aperta minha mão por baixo da mesa e eu olho para ele, sorrindo em
seguida.

— Vamos pedir, então. — Owen sugere, já pegando o cardápio.

— Ótima ideia! — Mag diz.

O restante do jantar seguiu mais leve. Conversamos coisas triviais e me


identifiquei muito com a Mag, o que me fez questionar como ela estava
casada com o Christopher, já que eles dois são completamente opostos.

Enquanto pai e filho vão pagar a conta, Mag me arrasta para o banheiro com
ela.

— Estou tão feliz por você e pelo Owen! Nunca imaginei que ele fosse me
apresentar uma namorada!

— A fama dele não dava esperança para isso. — Murmuro e ela sorri.

— Eu sempre acreditei que em algum momento ele iria encontrar uma


mulher que iria abalar seu coração e você chegou na hora certa. Fiquei
admirada com a maneira que Owen te olha, como vocês dois conversam e
como são sincronizados um com o outro.

— O Owen me faz muito bem e tem sido meu apoio em um momento muito
delicado da minha vida. Se não fosse por ele, não sei o que seria de mim.

— Fico feliz que vocês tenham esse ponto de apoio um no outro.

Sorrio para ela, deixamos o banheiro e encontramos o Owen e o Christopher


conversando. Owen já está vestido e com meu casaco na mão.

— Vamos? — Ele pergunta e eu assinto.

Ele me ajuda a vestir o casaco e ajeita meu cabelo dentro da touca.


Me viro para os pais do Owen e sorrio.

— Foi um prazer conhecê-los. — Digo e abraço a Mag.

— O prazer foi meu, querida. Vamos marcar de nos encontrarmos depois! —


Fala e eu assinto. Me viro para o pai do Owen.

— Prazer em conhecê-lo. — Digo e estendo a mão, que ele aperta em


despedida.

Mag se despede do Owen com um abraço e Owen apenas acena para o pai.
Após, segura minha mão e deixamos o restaurante.

Entramos no carro e, assim que ganhamos as ruas de Toronto, Owen resolve


falar.

— Me desculpe por não ser o jantar que você esperou — Diz.

— Por que está se desculpando? O jantar foi perfeito e fiquei feliz de


conhecer seus pais, principalmente a Meg, que é um amor de pessoa.

— Ela é a mãe que não tive, cuidou de mim e me apoiou no pior momento
da minha vida. Devo muito a ela.

— Ela ama você como um filho.

— Sou fruto da traição do meu pai e da irmã dela — Diz e arregalo os olhos.
— E mesmo sabendo disso ela não deixou de me amar nem por um segundo.

O carro para em um semáforo.

— Eu não sabia disso.

— Não me importo com isso, não quero ter nada a ver com essa história.
Mas a maior qualidade da Mag é não deixar que o passado influencie na
pessoa que ela é de verdade.

— Me pergunto se seu pai a ama.


— Do jeito dele, mas ele ama. Ela é o ponto de equilíbrio dele, sempre foi.

— Esse jantar foi bom para várias coisas — Comento.

— Exemplo?

— Descobrir que estamos namorando.

Owen sorri de lado e me encara rapidamente.

— Desculpe por aquilo, mas precisava dizer algo concreto com meu pai ali.
Não queria ter que te colocar nessa situação.

— De sua namorada? Claro, Deus me livre ser sua namorada. —

Digo, ironicamente e ele gargalha.

Chegamos no nosso prédio, ele estaciona o carro e seguimos para o elevador.


Vamos pro nosso andar e paramos na porta dos nossos apartamentos.

— Obrigada pelo jantar, Owen. — Falo.

— Eu é quem agradeço por você sempre topar minhas loucuras. —

Ele se aproxima de mim.

— Boa noite, Owen.

— Boa noite.

Me viro e abro a porta do meu apartamento.

— Aubrey! — ele me chama e eu viro para ele novamente.

— Sim?

— Eu queria preparar algo especial, mas acho que já está passando da hora.

— Passando da hora de?


Ele se aproxima de mim e segura minha mão.

— Aubrey Stuart, você quer namorar comigo? — Sorrio diante do pedido.

— Pensei que você nunca fosse pedir.

— Estava com medo de você não aceitar. — fala.

— Só se eu fosse completamente maluca.

Ele me beija, já me empurrando para dentro do apartamento. Ouço a porta se


fechar com um baque e me afasto dele, apenas por alguns segundos.

— Você tem certeza de que quer namorar comigo?

— Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida, Aubrey, pode ter certeza
disso.

Ele volta a me beijar, me afasto dele e me viro, já correndo para meu quarto,
com ele atrás de mim.

Tiro a touca, casaco, botas, blusa e ele faz o mesmo, ficando apenas de calça.
Ele se aproxima de mim e me beija lentamente, mordendo meu lábio
inferior.

Suas mãos apertam minha cintura e eu arfo quando ele ergue meu corpo.
Prendo as pernas na sua cintura e ele se senta na cama. Volto a beijá-lo,
acariciando sua nuca.

Suas mãos sobem para meu sutiã e em segundos a peça está no chão. Meus
seios estão duros de tesão, esperando que ele faça alguma coisa.

— Só estão esperando minha boca neles — Owen sussurra e eu engulo seco


quando ele passa a língua no mamilo teso.

Suspiro alto quando ele chupa o bico e morde levemente.

— Owen...
Fecho os olhos, jogando a cabeça para trás. Sinto meu ventre formigar,
minha boceta já está toda melada.

Owen volta a me beijar, seguro seu pescoço e ele aperta minha cintura, me
fazendo aumentar o contato da minha intimidade, mesmo ainda com roupas.

— Vamos tirar essas roupas. — Ele sussurra, já impaciente.

Saio de cima dele e tiro a calça e ele faz o mesmo, ficando só de cueca.
Consigo ver o volume do seu pau, já completamente duro.

Owen se aproxima de mim como se eu fosse uma presa e ele o caçador. Ele
ergue a mão e infiltra os dedos no meu cabelo, me puxando para si.

— Quero você de quatro, princesa. — Diz, beijando minha mandíbula. —


Deita na cama e empina essa bunda gostosa pra mim, vai?

E faço o que ele manda. Engatinho até o meio da cama e empinando a bunda
para ele. Sinto o colchão afundar, ele se posiciona atrás de mim e suas mãos
percorrem minha bunda, estralando um tapa na pele sensível.

Owen puxa minha calcinha, que se rasga. Seu corpo inclina para frente e ele
morde meu ombro.

— Se apoie no travesseiro e fique nessa posição.

Faço o que ele pede e viro meu rosto de lado.

Minha respiração está acelerada, meus cabelos estão grudando na pele por
causa do suor e minha boceta parece gritar para que ele a toque.

Solto um gemido quando sinto seus dedos brincarem com os grandes lábios.

— Owen... — Gemo.

— Molhadinha, molhadinha... Como sempre...

Ele enfia um dedo em mim, entrando e saindo. Abro a boca em um grito


mudo, precisando que ele seja mais rápido.
— Por favor, Owen...

— Tão linda implorando!

Ele se afasta e em seguida sinto seu pau passar pelos meus grandes lábios,
encostar no clitóris e me deixar fora de mim. Ele continua com esse
processo, me fazendo gemer baixinho e apertar o lençol da cama entre meus
dedos.

Quando menos espero, ele entra em mim, minhas paredes internas o apertam
e ele geme.

— Cacete, Aubrey! — diz e segura minha cintura.

Owen começa a socar com força dentro de mim e meus gemidos se tornam
mais altos. Ele se torna mais veloz e o aperto das suas mãos se torna mais
forte.

Minha boceta o aperta ainda mais e seu pau entra e sai de dentro de mim
causando um barulho altamente erótico. Sinto meu baixo ventre se apertar e
sei que vou gozar a qualquer momento.

— Eu vou gozar! — digo, entre respirações fundas.

— Goza, princesa, pode gozar com força.

Ele se inclina sobre mim e mete ainda mais rápido. Sua mão me suspende
um pouco e ele aperta meus seios, o que me causa dor e prazer ao mesmo.

Gozo no instante seguinte. Ele goza em seguida, jogando seu peso em cima
de mim. Caio na cama, cansada e completamente morta.

— Transar com você é uma das melhores coisas que eu faço nessa vida —
Owen diz e eu sorrio.

Viro de barriga para cima e ele vem para cima de mim, afastando minhas
pernas com o joelho.

— Owen...
— Vai ser devagarzinho, amor. — Ele diz, já entrando em mim de novo e
solto um gemido, por estar sensível.

Ele se meche dentro de mim e eu fecho os olhos, sentindo uma onda de


prazer tomar conta de mim. Owen entra e sai de mim, lentamente,
provocante. Quando já não aguento mais essa velocidade, ergo o quadril em
busca de mais e ele sorri de lado, aumentando a velocidade.

Nossas respirações estão ofegantes e segundos depois eu gozo novamente,


mordendo os lábios.

— Linda para caralho! — Owen murmura. Abro os olhos, sorrio e pisco


lentamente.

— Owen Hughes, me arrependo amargamente de ter te chamado de garoto


quando nos conhecemos. — Ele ri e me beija.

— Por que?

— Porque você é realmente maravilhoso em me fazer gozar.

Ele beija meu rosto e se levanta.

— Vamos lá, princesa, vamos tomar um banho.

No fim das contas, ele me pega no colo e me leva para o banheiro, me


ajudando a tomar um banho. Voltamos para a cama, nos embrulhamos, nos
abraçamos e dormimos, como tem sido nos últimos dias.
— Aubrey, só você para me fazer andar nesse frio! — Minha mãe reclama e
eu sorrio.

— Nem vamos andar tanto, é só o caminho para chegarmos na cafeteria.

Ela resmunga algo, mas não fala mais nada. Entramos na cafeteria e nos
sentamos em uma mesa mais afastada.

— Que cheiro maravilhoso esse lugar tem! — Kristen diz, respirando fundo.

— Muito bom, não é? — Pergunto. — Se tornou minha cafeteria preferida


exatamente por isso. O café daqui é um dos melhores!

— Boa tarde. Já decidiram o que vão querer? — Uma atendente vem até nós.

— Vamos olhar cardápio e já te chamamos — Informo e ela assente, saindo


em seguida. — O que vai querer, mãe?

— Não sei... acho que pode ser waffle com mel e um capuccino.

— Certo!

Faço nosso pedido e respiro fundo, olhando para ela.

Os últimos dias foram tranquilos. Apesar de ter se recusado a começar uma


nova sessão de quimioterapia, os remédios que ela tem

tomado tem surtido efeito e quem olha de longe para minha mãe mal sabe o
que ela tem.

— E como está o seu relacionamento com o Owen? — Pergunta, sorrindo.

— Ele me pediu em namoro ontem. — Conto e ela arregala os olhos.

— Sério? — Confirmo com a cabeça. — Eu sabia que vocês dois tinham


nascido um para o outro, sempre soube! Meu Deus, que alegria!

Como você está em relação a isso, querida?


— Eu estou feliz, nunca imaginei que Owen se encaixaria tão bem na minha
vida. Ele é o oposto de tudo que eu imaginei em um homem para me
relacionar, mas ele me completa ao ponto de não me faltar nada.

— Isso é amor, querida!

— Amor... Quem diria que eu iria me apaixonar igual nos meus livros?

— Mas isso estava na cara. Quando dizem que uma mãe conhece os gostos
dos filhos, estão super certos. Desde o dia em que conheci o Owen eu sabia
que ele seria o homem perfeito para você.

— Pelo menos a senhora não liga para questão de idade —

Murmuro e ela balança a mão.

— Quem se preocupa com idade é creche, querida! — Ela segura minha mão
por cima da mesa. — Eu quero que você seja feliz e percebo que vocês têm
uma cumplicidade gigante, uma maneira de comunicação única e são lindos
juntos, isso é o que importa.

— Obrigada, mãe, por me apoiar sempre.

— É para isso que as mães servem, Aubrey. Para apoiar os filhos em todas as
situações! Lembre-se sempre disso.

Assinto e pisco. Não quero chorar agora e nem devo.


— O pedido de vocês, meninas! — A atendente nos serve e sorrimos em
agradecimento.

— Obrigada!

Voltamos a ficar sozinhas e minha mãe sorri.

— Vamos comer, porque você precisa compensar o fato de ter me feito andar
até aqui!

— Meu Deus, mãe! — Reclamo, rindo e ela toma um gole do capuccino.

— Perfeito!

Balanço a cabeça em negação e começo a comer também. Meu principal


foco nesse momento é criar muitas memórias com a minha mãe, porque sei
que nosso tempo é limitado e quero aproveitar cada segundo ao seu lado.

Estou sentada em frente ao computador e respiro fundo. O e-mail da Emília


me fez ter um pequeno ataque de pânico. Preciso terminar esse livro, mas os
últimos meses me deixaram com a cabeça tão cheia, que não consegui me
concentrar na escrita.

— Vamos lá, Aubrey! Eu sei que você consegue — Digo para mim mesma.

Preciso terminar esse livro! A questão é que estou empacada em um


determinado momento da história e a partir daí nada flui. Já tentei mudar
essa parte da história várias vezes e toda as vezes que chego nessa mesma
cena, travo.

Dois meses.

Esse é o prazo que a Emília me deu e preciso correr contra o tempo para
conseguir dar conta.

Abro o arquivo e começo a reler, fazendo anotações sobre o que eu posso


mudar, sobre o que eu devo colocar e, quando finalmente chego no ponto
que travo, decido retirar essa cena, por enquanto. Pairo meus dedos sobre o
teclado do computador e começo a digitar uma cena diferente e é nesse
instante que as coisas começam a fluir.

Tive que acrescentar um personagem. Não planejei isso, não tinha intenção
de escrever nada amoroso, mas aqui estou eu, escrevendo uma história de
amor entre uma mãe solo que tem câncer e o médico que cuida dela.

Os dias passam e só penso nessa história, em como dois personagens


quebrados estão se reencontrando no amor e como a filha dela se torna tão
especial nesse processo de aprendizado.

Durmo pensando nesse livro.

Acordo pensando nesse livro.

Meus dias estão sendo para esse livro.

Eles têm um laço lindo e uma cumplicidade que me faz chorar todas as vezes
que me pego escrevendo.

— Café, amor! — Owen me entrega uma xícara e eu agradeço, sem olhar


para ele.

Continuo digitando freneticamente e me assusto quando as mãos do Owen


cobrem meus olhos.

— Owen! — Ponho minhas mãos em cima das dele, mas ele não se afasta.

— Hey, princesa. Eu sei que você precisa terminar esse livro —

Sussurra em meu ouvido. — Mas você também precisa viver. Estou sentido
falta da minha namorada.

Abaixo as mãos e solto um suspiro.

— Você tem razão, mas quero aproveitar ao máximo esse pico de inspiração.
Tem tanto tempo que não tenho isso!

Ouço-o sorrir.
— Você precisa relaxar um pouco. Hoje é sábado e você está sentada na
frente desse notebook desde a hora que você acordou e já são 17

horas.

— Nem vi o tempo passar.

— Eu te entendo, mas você precisa desacelerar um pouco.

— Certo, vou fazer isso.

Ele tira as mãos dos meus olhos e gira a minha cadeira em sua direção.

— Me sinto o cara mais sortudo do mundo por namorar uma escritora. —


Diz e beija a ponta do meu nariz. — Inclusive, estou louco para ler esse
livro.

— Assim que eu terminar. — Falo.

Tem dias que ainda não acredito que Owen lê meus livros. Nos últimos dias
ele conseguiu finalizar mais dois, me ligando indignado com um
determinado personagem que morreu.

— Às vezes ainda não acredito que você lê meus livros.

Owen me puxa para ficar em pé e deixamos meu escritório.

— Que tipo de namorado seria se eu não apoiasse minha namorada no que


ela faz? Saiba que eu digo isso com a maior sinceridade do mundo!

Você é uma escritora foda, Aubrey, uma das melhores!

Sorrio e o abraço.

Owen se tornou meu fã número um e eu amo a maneira que ele enaltece meu
trabalho.

— Me pergunto se você irá gostar desse que estou escrevendo.


— Tenho certeza que sim. Afinal de contas, você escreve maravilhosamente
bem.

Ele me dá um selinho e eu sorrio.

— Estou com fome — falo.

— Que tal irmos ao Red comer algo?

— Excelente!

— Então vamos, lá!

Emília marcou uma reunião comigo. Como estou na reta final do livro,
precisamos tratar dos detalhes do lançamento e quanto vamos investir no
processo editorial.

Entro no prédio e sigo direto para o andar onde a editora se encontra. Assim
que chego sou recebida pela secretária, que me leva direto para a sala da
Anastácia.

— Querida, como você está?

— Estou bem, graças a Deus.

Ela me abraça e indica o sofá para que eu sente.


— Devo confessar que li os últimos capítulos que você me enviou e estou de
coração partido, Aubrey. Meu Deus!

— Será que posso dizer que fico feliz com isso?

— Esse livro será um sucesso, Aubrey!

— Espero que sim. Depois que fiz uns reajustes no enredo estou


conseguindo progredir na escrita.

— As alterações foram perfeitas. Se eu já tinha gostado da primeira versão,


com essa então, estou encantada! E o romance? Está perfeito! Esse

livro tem uma coisa diferente dos outros livros... A maneira como você
coloca os personagens se relacionando... É perfeito!

Sorrio para ela.

— Fico imensamente feliz por estar alcançando suas expectativas!

— Aubrey, esse livro já ultrapassou todas as minhas expectativas!

Se prepare, porque esse livro será nosso próximo best-seller! Agora vamos
falar de negócios e produção editorial: pra isso acontecer precisamos
investir, por isso fiz algumas análises, fiz algumas pesquisas e concluí que
vamos ter que investir pesado.

— Na faixa de quanto?

— Aqui. — Ela me entrega um tablet e fico assustada com o valor que ela
colocou ali.

— Tudo isso?

— Eu sei que é muito e boa parte vai sair do bolso da editora, mas estamos
visando lucro, um lucro altíssimo, Aubrey. Esse livro tem um potencial
enorme e estamos apostando tudo nesse lançamento.
Concordo, já sabia que seria um custo alto. Mas as coisas não estão tão
fáceis pra mim nos últimos meses, devido ao fato de todo o valor gasto no
tratamento da minha mãe está saindo do meu bolso: remédios, exames,
consultas, estadia no hospital... Ter esse dinheiro para investir agora é quase
impossível, mas estou acreditando tanto nesse livro que não quero e nem vou
perder essa oportunidade!

— Pode fechar, Emília. Vocês estão acreditando no meu potencial e eu vou


acreditar junto!

— Perfeito! Aubrey, se prepare, pois o seu nome vai ser conhecido em toda a
América do Norte e, se brincar, no mundo inteiro!

Um mês depois

A porta do meu apartamento se abre e olho para trás, vendo a Aubrey


entrando.

— Bom dia, amor! — Diz, animada.

— Bom dia, princesa!

Pego o pano de prato e seco as mãos.

— Está fazendo o quê? Está cheirando.

Ela me dá um selinho e coloca uma sacola do Starbucks em cima do balcão.

— Preparei panquecas para gente.

— Hmm, amo! Trouxe nosso café!

Ela tira dois copos da sacola e me entrega um.


— Obrigada, princesa.

Volto para o fogão e termino de ajeitar nosso café.

— O que você tem? — Pergunta.

— Como?

— Você está nervoso e distante.

— Estou preocupado. — Desligo o fogo e me viro para ela. — A final da


temporada é na próxima semana e temos que vencer.

— E vocês vão!

— Mas e se não acontecer?

— Meu amor! — Ela se aproxima de mim e segura meu rosto. —

Vocês são o melhor time da temporada inteira. Vocês vão vencer, acredito
nisso e você deve acreditar também.

— A cobrança nos últimos dias tem sido mais pesada do que eu imaginava.
O treinador tem colocado mais pressão e estamos todos nervosos porque
esse jogo vai decidir nossa carreira, Aubrey!

Estou realmente preocupado, tudo vai se decidir a partir desse jogo.

É através dele que seremos selecionados para ligas internacionais e que


teremos a certeza se iremos ou não ter um futuro dentro do hóquei.

Os últimos treinos têm nos deixados exaustos. Além disso, tem a


preocupação com a faculdade, que também tem consumido nosso tempo.

Nunca tinha visto meus amigos tão cansados quanto agora.

— E todos vocês terão uma carreira brilhante! Owen, o treinador Hamilton


confia no talento de vocês, eu confio e a torcida acredita em vocês. Não tem
porque se preocupar, esse jogo já é de vocês. Vai dar certo, meu amor. Vocês
nasceram para isso!

Puxo-a para um abraço.

— Obrigada, princesa.

— Não precisa agradecer, estou falando a verdade, vai dar certo!

— O que seria da minha vida sem você, em? — Pergunto e ela faz uma
careta.

— Definitivamente, chata.

Rio e beijo sua testa.

A cada dia que passa tenho mais certeza de que amo essa mulher e de que é
com ela que eu quero passar o resto da minha. Só estou esperando o
momento certo para dizer isso a ela.

— Vamos comer, porque estou com fome! — Diz.

— Seu desejo é uma ordem!

Eu definitivamente me acostumei a essa rotina de tomarmos café juntos, nos


preocuparmos um com outro, dormimos juntos. Se soubesse antes que
namorar me traria tantos benefícios e me deixaria cada vez mais apaixonado,
teria dado um jeito de conhecer Aubrey antes, logo na primeira vez que a
Kristen falou dela para mim. Mas quem diria que o destino daria um jeito de
colocá-la na minha vida de uma maneira completamente diferente do
normal?

— Está sorrindo porquê? — pergunta.

— Será que se eu não tivesse te atropelado, estaríamos juntos?

— É uma boa pergunta, mas acho que sim — Responde, reflexiva.

— Por que?
— Você iria se apaixonar por mim de qualquer maneira — Ela responde
sorrindo e eu caio na gargalhada.

— Você tem razão, é impossível não se apaixonar por você.

Ela me beija.

Sim, eu amo a Aubrey, amo pra cacete!

— Tem certeza de que não quer ajuda? — Owen pergunta, após estacionar o
carro em frente à universidade.

— Claro que não. Pode ir para a sua aula tranquilo.

Hoje preciso levar minha mãe para fazer alguns exames em uma clínica e o
Owen me emprestou o carro para isso, então viemos para a universidade e
daqui eu vou levar o carro.

— Qualquer coisa me liga, princesa. — Assinto.

— Vou ligar, prometo.

Ele se aproxima de mim e me beija, sorrio e descemos do carro.

Owen me entrega a chave e eu entro no carro, mas não saio de imediato, pois
meu celular toca e eu sorrio ao ver o nome da Soph.

Estou com muita saudade da minha amiga, mas a vida adulta nos pegou de
jeito e não é todo dia que conseguimos conversar. Mas procuramos sempre
nos atualizarmos sobre o que está acontecendo em nossas vidas.
— Soph! — digo, assim que atendo o telefone.

— Aubrey, que saudade!

— Eu também estou com saudade, muita saudade na verdade, meu Deus!

— Quando você vem para Nova Iorque?

— Estou sem data definida, amiga. Aconteceram algumas coisas e...

— Você nunca me conta o que está havendo. Você não confia em mim?

— Eu confio, mas você está em uma fase tão boa, Soph. Está com o
Benjamin, com uma bebê que precisa de atenção e não quero atrapalhar o
seu momento com meus problemas.

— Amigas devem estar juntas em todos os momentos, Aubrey! Estou com


você sempre. Sei que você sempre foi mais reservada e fechada, mas ainda
estou aqui por você. Mesmo que eu tenha uma vida completamente diferente
do que eu tinha antes.

Sorrio e suspiro.

— Eu quero te contar tudo, Soph. Tudo mesmo! Mas por ligação não dá... é
muita coisa que aconteceu nos últimos meses e algumas mudanças são bem
drásticas.

— Bom, eu estou te ligando porque acho que tenho a solução para nosso
problema.

— Qual solução?

— O Ben e eu vamos nos casar em três meses!

— Está de brincadeira comigo, não é? — Pergunto, animada.

— Não! Ele disse que não temos mais porque esperar tanto, a Sadie está
com praticamente cinco meses. Vamos ter três meses para preparar tudo.
Quero muito que você venha e que seja nossa madrinha.
— Aubrey, eu não sei o que dizer!

— Você dizendo ‘sim’, para mim já é o mais importante!

Sorrio e olho para frente. Como eu poderia dizer não para minha amiga?
Minha melhor amiga?

— Eu vou fazer o possível para ir, Soph. Eu te prometo.

— Aubrey, por que eu sinto que você está me escondendo algo muito sério?

Uma lágrima escorre pelo meu olho e eu seco rapidamente.

— Não se preocupe, vai dar tudo certo. Estou muito feliz por você e pelo
Ben, vocês merecem ser felizes.

— Quero saber quando vou te ver sendo feliz com alguém. —

Sorrio ao me lembrar do Owen e o quanto sou feliz com ele. Minha amiga
ainda não sabe sobre o Owen e não posto nada sobre ele nas minhas redes
socais e ele também não. Gostamos de manter nosso relacionamento
somente entre os amigos mais chegados.

— Eu estou com alguém. — falo e mordo o lábio inferior.

— COMO É, AUBREY?!

Solto uma gargalhada.

— Isso mesmo que você escutou, Soph.

— E você não me conta nada? Como assim? Eu pensei que eu era sua
melhor amiga!

— Calma, Soph, eu tenho os meus motivos. Logo vou te contar como tudo
aconteceu, prometo!

— E como ele é? Igual ao que você me descreveu uma vez?

Sorrio, me lembrando dessa conversa.


“— E qual seria o seu perfil ideal? Mas nada de fantasiar demais!

Estamos na vida real e não em um dos livros que você escreve. — ela fala e
eu rolo os olhos.

— Simples, Soph, eu quero alguém simples, de bom coração, que tenha


vontade de crescer, objetivos e metas traçadas! Quero alguém cabeça,
alguém que tenha pulso firme e seja mais velho do que eu.

— E se você conhecer alguém mais novo?

Faço uma careta.

— Posso até conhecer, mas pode ter certeza que eu não vou me interessar,
caras mais novos não me atraem, Soph.”

— Não, amiga, ele é o meu oposto e me trata como uma princesa.

— Ai, Meu Deus! Já quero conhecer esse homem que está fazendo você
suspirar!

Sorrio e balanço a cabeça em negação.

— Vou fazer o possível para vocês se conhecerem, prometo!

— Depois me manda uma foto dele, por favor!


— Pode deixar! Amo você, amiga.

— Eu também te amo e te espero no meu casamento!

— Ok, Soph!

Encerro a chamada e mordo o lábio inferior. Como eu vou para o casamento


da minha amiga agora? Com a questão financeira e com todo esse processo
que minha mãe está passando, o que faço?

Suspiro, preciso dar um jeito.

— Você parece pensativa. — Owen comenta assim que chegamos no seu


apartamento.

— É impressão sua. — Falo e ele se aproxima de mim, tirando uma mecha


de cabelo do meu rosto.

— Impressão, é? Por que acho que não é isso. Sinto que alguma coisa está te
preocupando. É a Kristen?

Nego com um movimento de cabeça.

— Recebi uma ligação da Soph hoje. — Começo. Já falei da Soph pra ele,
inclusive em várias ligações nossas ele estava presente, só não fazia

barulho nenhum.

— O que ela queria?

— Ela vai se casar daqui há três meses e me quer como madrinha.

Caminho até o sofá e me sento. Ele me acompanha e me puxa para me


encostar nele.

— Isso é muito bom, meu amor. Mas o que te deixou preocupada?

— pergunta, fazendo carinho na minha cabeça.

— Eu não sei se eu vou conseguir ir para o casamento dela. — digo.


— Por que não?

— Primeiro, tem a situação da minha mãe, porque não quero deixá-la


sozinha, ainda mais nessa fase que ela está. Segundo, porque as coisas não
estão tão bem financeiramente para mim. Querendo ou não, os gastos com
remédios, exames, consultas e estadia no hospital são altíssimos e tenho
gastado muito. Não quero e nem posso gastar com algo agora, pois lá na
frente, posso precisar desse dinheiro.

Owen para de mexer no meu cabelo e me levanto, olhando para ele.

— O que foi?

— Não se preocupe com isso, sei que está preocupada com a Kristen e que
quer ficar com ela o máximo de tempo possível. Mas, meu amor, é o
casamento da sua melhor amiga, a pessoa que sempre te apoiou, mesmo
você sendo extremamente fechada com ela em relação a tudo,
principalmente em relação a sua mãe.

Suspiro.

— Eu queria que as coisas fossem mais fáceis.

— Vai ser. Sua mãe não vai ficar feliz ao saber que você perdeu o casamento
da sua melhor amiga por causa dela.

— Mas o dinheiro...

— Eu vou te dar essa passagem de presente, princesa.

— O quê?

— É exatamente isso que você ouviu. Você vai ao casamento da sua melhor
amiga, sem preocupação nenhuma.

— Está falando, sério?

— Mais sério, impossível.


Sorrio e me jogo em cima dele, segurando seu rosto e enchendo-o de beijos.

— Obrigada, meu amor, muito obrigada!

Ele segura minha cintura e sorri. Encosto minha testa na sua.

— Não precisa me agradecer, só de ver você feliz já vale a pena.

— Eu falei de você para ela hoje — Conto e ele se afasta de mim.

— Sério? — Confirmo.

— Quero que você vá comigo, Owen — Falo.

— Tem certeza?

— Claro que eu tenho, você é meu namorado e quero que minha melhor
amiga te conheça, até porque ela só faltou abrir campanha pra que eu
arrumasse um namorado.

Owen gargalha.

— Fico feliz por ser esse felizardo.

— Idiota — Falo, sorrindo.

— Linda.

Ele me beija.

É incrível como eu amo beijá-lo, como amo sentir sua boca em mim e em
cada parte do meu corpo. Me afasto dele e beijo seu rosto.

— Vou pra casa!

Me levanto e ele me segura pela cintura.

— Espere aí, senhorita. Aonde pensa que vai?

— Tomar um banho, organizar algumas coisas...


— Dorme comigo essa noite?

— Eu tenho dormido com você praticamente todas as noites, príncipe —


Falo.

— E nunca é o suficiente para mim — Fala e beija meu rosto.

— Volto mais tarde — Falo.

— Estarei te esperando.

Saio dos braços dele e deixo seu apartamento. Assim que entro no meu
respiro fundo e sorrio.

Preciso dizer para o Owen que ele é o homem da minha vida e eu preciso
fazer isso a altura de uma escritora de romances!

Um dia para preparar um piquenique! Tive que correr contra o tempo para
conseguir tudo que eu precisava: cesta, pano, comida... Mas irá valer a pena!
Graças a Deus o último dia de treinamento da equipe acabou mais cedo.
Owen havia me mandado uma mensagem avisando que estava indo para
casa, porque as ordens do treinador eram descansar e não beber.

Falei para ele que iríamos sair no fim da tarde e que ele precisaria estar
pronto às 17 horas.
Coloco tudo que vou precisar dentro da cesta de piquenique e confiro a hora.
No mesmo instante a campainha toca e eu sorrio. Sempre pontual! Pego um
lenço para vendá-lo e abro a porta.

— Uau! — Ele diz ao me encarar.

Apesar do inverno estar acabando, o tempo ainda está frio. Então optei por
uma blusa de frio gola alta, calça, bota e ainda colocarei uma touca.

— Você está linda.

— Você também está lindo! — Falo, me aproximando e lhe dando um


selinho.

— Vamos? — Ergo o lenço para ele. — O que é isso?

— Hoje vamos fazer algo diferente. Me dá a chave do carro. —

Estendo a mão e ele me entrega a chave. — Muito bem, agora você vai
vendar os seus olhos.

— Aubrey, o que você está aprontando?

— Surpresa, por favor! — Peço e ele faz, cobre os olhos com a faixa e eu
dou tchau em frente ao rosto para ver se ele está me vendo e sorrio ao
constatar que não. — Hoje eu preparei algo pra gente, então só peço que
você confie em mim.

— Eu confio em você.

Eu pego as coisas e seguro a mão dele, seguindo até o elevador.

Confesso que meu coração parece que vai saltar pela boca. Eu nunca disse
‘eu te amo’ para alguém, porque eu sei o impacto que essa frase causa e
quero muito que esse momento seja especial para nós. É por isso que
preparei cada detalhe com carinho e atenção.

— Para onde vamos? — Ele pergunta.


— Onde tudo começou — É tudo que eu falo.

Acho que andamos de carro por cerca de uma hora. Tentei de todo modo
fazer a Aubrey me dizer aonde estamos indo, mas ela está irredutível.

O som do carro toca uma música suave e ouço a Aubrey cantarolar.

Acabo sorrindo. É impossível não fazer isso quando penso o quanto sou
sortudo por ter essa mulher ao meu lado, por ser apaixonado por ela, por ter
o privilégio de vê-la sorrir todos os dias.

Sinto o carro parar e viro o rosto em direção a Aubrey.

— Chegamos?

— Sim, chegamos! Vou descer e já te ajudo!

Ouço a porta bater e em seguida a porta ao meu lado se abrir. Ouço o


barulho do mar e sorrio ao entender o que ela quis dizer com “onde tudo
começou”.

— Cuidado, amor! — Fala e segura minha mão.

— Não acredito que me trouxe aqui.

Começamos a caminhar pela trilha para chegar à areia.

— Eu quis te trazer para um lugar que fosse importante para nós dois — Diz.

Sinto ela parar de andar assim que pisamos na areia.


— O que foi?

— Fica aqui um minuto? Preciso arrumar algumas coisas.

— Estarei esperando.

— Não pode espiar.

— Prometo que não vou fazer nada.

Fico cerca de cinco minutos esperando a Aubrey voltar, ouvindo o barulho


do mar e das aves, sentindo o vento frio em meu rosto. Gosto dessa
sensação. Apesar de me sentir tentado a subir a venda e espiar o que minha
namorada estava aprontando, me mantive firme e continuei apreciando os
sons da natureza.

— Pronto, pode vir!

Ela segura minha mão e me puxa novamente. Andamos um pouco e ela para,
fazendo com que eu bata em seu corpo de leve.

— Machucou? — Pergunto.

— Não! — Sinto ela segurar em minha cintura. — Pode tirar a venda agora.

Faço o que ela pede e sou surpreendido por um pano estendido na areia com
várias comidas gostosas.

— Uau!

— Gostou?

— Eu amei. Geralmente são os homens que preparam algo assim para suas
namoradas. Não esperava isso.

— Quis inovar um pouco. — Responde e eu seguro seu rosto, acariciando


suas bochechas.

— Você é uma caixinha de surpresas, Aubrey.


— Eu sei que você está ansioso para o jogo de amanhã e que precisa
descansar, então pensei em fazer algo especial pra você.

— Você é incrível, Aubrey Stuart. Simplesmente a mulher mais incrível e


fantástica que eu já conheci na minha vida.

— Vamos comer então?

— Vamos comer!

Nos sentamos no pano e comemos. Aubrey deu um jeito de comprar todas as


nossas comidas favoritas e está tudo maravilhoso. Apenas por esse pequeno
detalhe eu sinto que me apaixonei por ela novamente.

Enquanto comemos, rimos e tiramos sarro um do outro.

Com toda a certeza eu poderia viver assim pelo resto da minha vida.

Assim que terminamos de comer começamos a ajeitar tudo e guardar na


cesta.

— Amor, o pôr do sol! — Aubrey chama e se levanta, indo para mais perto
do mar.

Me levanto e me aproximo dela por trás, abraço sua cintura e ela se encosta
em mim.

— Um dos fenômenos mais lindos que temos o privilégio de presenciar. —


Falo.

— E presenciar ele ao seu lado é uma das coisas que eu quero fazer pra
sempre — Ela diz. Aubrey se afasta e vira de frente para mim. — Sabe,
Owen, você entrou na minha vida de uma forma completamente inusitada.

— É, você pode colocar assim no seu próximo livro, “para conquistar o


amor da sua vida atropele-o antes de conhecê-lo”. — Brinco, ela sorri e em
seguida passa a língua nos lábios.
— Eu não imaginava que aquele garoto fosse se tornar o homem da minha
vida, muito menos que eu fosse me apaixonar perdidamente por ele.

— Aliso os cabelos dela, prestando atenção em cada detalhe do que ela fala.

— Você, Owen, me ensinou que o amor não tem idade, que as pessoas não
tem poder dentro do nosso relacionamento, me ensinou também que é nos
pequenos detalhes que a gente se apaixonada, como, por exemplo, o fato de
você me comprar café todos os dias de manhã, de abrir a porta do carro para
mim, de beijar a minha testa com tanta delicadeza, de cuidar de mim

quando eu penso que eu vou desabar, de me abraçar com força quando o


mundo à minha volta está ruindo, de mostrar que amar é mais do que dizer, é
fazer.

— Aubrey...

— Deixa eu terminar, por favor! — pede, meu polegar passeia por sua
bochecha, secando as lágrimas que começam a cair. — Para mim, dizer eu
“eu te amo” é um passo muito importante dentro de uma relação. Essas três
palavras tem um peso e um significado enorme, porque o amor é pra sempre
e eu quero que você esteja no meu pra sempre, que você faça da minha vida,
das minhas conquistas, dos meus fracassos... Quero compartilhar com você
mais do que as minhas histórias de amor, quero vivê-las com você. — Ela
sorri, piscando para impedir as lágrimas de caírem. — Quando nós viemos
aqui a primeira vez, fomos parar em um bar e eu disse que jamais me
apaixonaria por você e nós dois apostamos.

Começo a rir, me lembrando dessa aposta. Me lembro do rosto dela quando


disse que jamais se apaixonaria por mim e olha onde estamos hoje depois
que tudo isso aconteceu!

— Eu perdi essa aposta ao me apaixonar perdidamente por você. —

Sorrio com essa frase. — Me apaixonei tanto que te trouxe aqui nessa praia
hoje para dizer que eu te amo, te amo muito, te amo tanto que dói. Amo ver
você dormir, amo estar com você, amo seu sorriso, suas covinhas. Eu amo
você por completo e eu te quero na minha vida para sempre.
Engulo em seco... Não é à toa que ela é uma escritora de romances.

Como poderia simplesmente dizer para ela “eu te amo” depois de uma puta
declaração dessa?

— Não vai dizer nada?

— Você conseguiu me deixar sem palavras, princesa — Confesso e ela ri. —


Acho que tudo que posso dizer é que para nós dois é game over,

princesa. Não sei quando me apaixonei por você, mas eu sei que não consigo
mais viver sem você na minha vida. Você é como o ar que eu respiro. Sem
você meu dia fica sem cor e eu não tenho nem vontade de sorrir. Eu amo
você, Aubrey, amo você pra caralho! E quero você para sempre.

Ela sorri e se joga nos meus braços. Seguro-a pela cintura e giro com ela
pela areia. Coloco-a no chão em seguida e ajeito seu cabelo.

— Amo você, princesa.

— Amo você príncipe — Fala e eu a beijo.

Beijo-a igual a beijei da primeira vez: com desejo, como se minha vida
dependesse desse beijo, saboreando seus lábios como se fosse um manjar,
segurando seu corpo como se ele fosse minha salvação.
De tudo que já me aconteceu nessa vida, a Aubrey é o meu melhor
acontecimento e eu serei eternamente grato a ela por me ensinar a amá-la.

Abro a porta do quarto e entramos rapidamente, fecho a porta com o pé e


volto a beijá-la. Seguro sua cintura e a puxo para mim, mordendo seus lábios
em seguida.

Ela se afasta e eu a olho, contemplando sua beleza.

— Eu não quero fazer nada com pressa hoje. — Falo, me aproximando


lentamente dela.

— Nem eu — Ela diz e eu sorrio.

Beijo sua testa, em seguida seus olhos e depois sua boca. Mas o que
começou devagar, se torna rápido e feroz.

Minhas mãos entram debaixo da sua roupa e eu ergo a blusa dela, jogando-a
em um canto. Lentamente, empurro seu corpo para cama e a deito, ficando
por cima dela, distribuindo beijos pelo seu pescoço e fazendo sua pele se
arrepiar à medida que desço em direção aos seios. Vejo seu peito subir e
descer e, mesmo por cima do sutiã, consigo ver os bicos entumecidos.
Aubrey se meche em cima da cama e tira o sutiã, me dando a visão dos seus
seios. Sem perda de tempo passos a língua nos bicos, fazendo-a gemer e
chupo seus mamilos com gosto, fazendo-a se contorcer embaixo de mim.
Sinto suas mãos puxarem meus cabelos e sei que ela já está toda molhada
para mim.

Desço minha boca para a sua barriga, dando beijos molhados na pele,
parando no cós da sua calça. Agilmente, me livro da calça e calcinha de uma
vez. Abro suas pernas e aproximo meu rosto de sua boceta, molhada pela
lubrificação.

— Owen... — Ela geme e eu sorrio de lado.

— Eu vou te dar o que você quer, princesa.

Aubrey solta um gemido alto quando passo a língua por sua boceta e chupo
seu clitóris em seguida.
— Porra, Owen... — Ela fala e puxa meus cabelos, me mantendo no lugar.

Sorrio e volto a chupá-la, saboreando sua boceta como se fosse uma iguaria
rara. Aubrey começa a se contorcer mais rápido, erguendo os quadris,
querendo aumentar o contato entre nós. Enfio dois dedos dentro dela e
começo um movimento lento de vai e vem.

— Owen, meu Deus. Continue, por favor!

— Não tenho a mínima intenção de parar, princesa. — Falo, voltando a


chupar seu clitóris com força e ela grita, erguendo as costas. —

Gosta disso, não é? — pergunto, aumentando a velocidade dos meus dedos.

— Eu... sim... — Diz, gemendo.

— Então goza para mim, princesa — Digo, enfiando os dois dedos dentro
dela ainda mais rápido.

Aubrey tenta girar o corpo na cama, mas não consegue. Suas mãos seguram
o lençol com força e ela goza com força, gemendo alto.

Subo em direção a sua boca e a beijo, fazendo-a sentir seu gosto.

— Você é gostosa para caramba, princesa. Você me deixa louco de tesão —


Falo me afastando. — Estou completamente duro, pronto para te foder do
jeito que você gosta.

— E você está esperando o quê para isso? — Pergunta, ofegante.

Tiro a calça e a cueca, expondo meu pau completamente duro.

— O que você quer, princesa? — Pergunto, começando a me masturbar. —


Que eu te coma de quatro ou você quer ficar em cima de mim?

— Eu tenho uma cena para testar. — Ela diz, sorrindo e eu sorrio de lado.

— Aubrey... — Ela desce da cama e caminha até mim.


— Na cena, o personagem principal coloca a mocinha contra a parede, de
costas para ele.

Ela caminha até a parede e eu vou atrás. Ela geme quando sua pele entra em
contato com a superfície fria.

— E depois? — Pergunto, colocando seu cabelo de lado e beijando seus


ombros.

— Ele a fode desse jeito. — Murmura.

Minha mão sobe pelo seu braço e para em seu pescoço, apertando
levemente.

— Aubrey, Aubrey...

— Testes para fins científicos. — Murmura com a respiração rarefeita.

— Quer que eu te foda desse jeito?

— Sim.

Faço o que ela pede, afasto suas pernas e lentamente entro dento dela, apoio
um braço na parede e começo a entrar e sair de dentro dela, fazendo-a gemer.

— Assim? — Pergunto, fodendo-a com força.

— Isso, desse jeito.

Com a mão livre, aperto seu pescoço, apenas um pouco para que ela sinta.
Sua mão aperta meu braço e eu começo a aumentar a velocidade.

Meu pau é sugado por sua boceta e eu solto um gemido quando sinto suas
paredes me apartarem.

— Porra! — Falo e solto seu pescoço, seguro sua cintura e começo um vai e
vem alucinante.

Aubrey geme mais alto à medida que seu orgasmo se aproxima.


— Eu vou gozar... — Ela murmura, quase sem voz.

— Então goza pra mim, princesa. Goza bem gostoso.

Quando ela começa a gozar, levo a mão novamente ao seu pescoço e ela
arranha meu braço, gemendo mais alto conforme aumento a pressão da
minha mão.

Sua boceta me aperta e eu urro, gozando em seguida.

Solto seu pescoço e bombeio dentro dela mais algumas vezes. Saio de dentro
dela e a pego no colo, levando-a para cama.

Ela me encara e sorri.

— Acho que essa cena vai para o meu próximo livro. — Murmura e eu beijo
a ponta do seu nariz.

— Ela está aprovadíssima.

— Amo você, Owen. — Diz, sorrindo em seguida.

— Amo você, Aubrey.

Beijo seus lábios novamente.

— Estou com fome. — Ela murmura e eu sorrio.

— Vamos comer alguma coisa quando sairmos do hotel. —

Respondo.

— Eu ainda não acredito que viemos em um hotel só para transar.

— Fala, sorrindo.

— Se não estivesse tão frio, teríamos transado na areia. — Falo e ela me


bate.

— Se alguém nos pega, estamos ferrados.


— Quem sabe algum dia você escreve uma cena dessa e temos que testar?

— Meu Deus!

Ela ri e eu a beijo.

Porra, como eu amo essa mulher!

O Clima no vestiário é meio tenso, todos estão preocupados com o jogo e


com medo do resultado.

— A gente não pode ficar assim. Somos um time, precisamos acreditar que
vamos vencer. — Falo, mesmo compartilhando do mesmo sentimento que
eles.

— A gente sabe, mas é impossível não estar apreensivo, Owen. —

Zach diz e passa as mãos nos cabelos. — A vitória de hoje é importante para
todos nós.

— E confio plenamente na capacidade de vocês. — Olhamos para a porta e


vemos o treinador Hamilton entrar no vestiário. — Acreditem, é normal
sentir medo, ficar nervoso, mas se vocês acreditarem no potencial de vocês,
vão vencer qualquer jogo que jogarem. Na hora que entrarem naquela pista,
precisam acreditar apenas em si mesmos para ganharem essa partida. Todos
vocês chegaram longe, todos evoluíram e os nomes de vocês estão entre as
principais cotações para as melhores ligas. Então entrem naquela pista e
mostrem para o que vocês vieram. Afinal de contas, vocês são quem?

— Somos os Canuks, porra! — Elliot grita e nós gritamos em seguida.


Nós vamos vencer esse jogo!

Entramos em formação e seguimos para fora do vestiário. Assim que


entramos no ginásio, lotado, devo ressaltar, a torcida do nosso time começa a
gritar.

Olho para a arquibancada, buscando pela Aubrey e sorrio quando a vejo. Ela
está com os cabelos presos em um rabo de cavalo, o rosto está pintado com
as cores do time e ela está usando uma camisa minha.

Quando a vi hoje mais cedo eu quase tive um surto. Ela ficou sexy para
caralho. Aubrey joga um beijo para mim e eu sorrio para ela. Vamos vencer
esse jogo. Todos acreditam na gente, também vamos acreditar.

Formamos uma pequena roda e começo a soltar as coordenadas do jogo. Vou


precisar do apoio total do Zach e do Caleb, porque hoje irei arriscar mais do
que nunca.

— Confia na gente. Vamos fazer o impossível para deixar você sempre livre.
— Zach diz.

— David, Elliot — Chamo.

— Não se preocupe, ninguém vai passar pela gente hoje. — Elliot afirma.

Eles dois são nossa melhor defesa e confio neles de olhos fechados.

— Lucca, você sabe que o center do outro time é conhecido por não errar
nas suas jogados.

Lucca sorri de lado.

— Ele nunca conheceu um goleiro como eu. Pode ter certeza de que não vai
passar um puck sequer aqui.

— Eu confio em vocês, pessoal! Nós vamos vencer esse jogo hoje!

— Isso aí!
Entramos em formação e eu fico de frente para o center do time adversário.
O tempo parece ficar em câmera lenta, o juiz apita, o puck é jogado no ar e
assim que ele atinge o gelo meu oponente consegue sua

posse e eu começo a correr atrás dele. Ele é rápido e seus movimentos são
precisos, mas isso não impede que o Caleb roube o disco dele.

Rapidamente o jogo inverte, Caleb joga o puck para o Zach, que desvia de
alguns jogadores e acena para mim, jogando o disco em seguida.

De posse do objeto, corro o mais rápido que consigo, indo em direção ao gol
adversário e assim que eu lanço o puck em direção ao gol, ele passa por cima
do braço do goleiro e entra direto no gol.

O grito da torcida é ensurdecedor e eu ergo os braços, comemorando com


eles.

Nós vamos vencer essa porra!

Em nenhum dos jogos que assisti fiquei tão apreensiva como estou nesse.
Ainda não entendo muita coisa, mas conforme fui assistindo aos jogos
comecei a entender alguns pontos e assimilar algumas coisas.

Falta um tempo para terminar a partida e os Canuks precisam fazer mais um


gol, pois nesse momento os dois times estão empatados. A torcida está
silenciosa, assistindo atentamente e prendendo o ar em cada movimento
feito.

Os jogadores deslizam de um lado para o outro no gelo em uma velocidade


absurda. A cada vez que eles se trombam meu coração erra uma batida, com
medo que alguém se machuque. Ainda acho esse jogo extremamente
violento.
Mordo o lábio inferior e aperto minhas mãos. Falta um minuto para a partida
acabar e o placar ainda está empatado. A torcida inteira se coloca em pé
quando o center do time adversário toma a posse do disco e corre em direção
ao Lucca.

Prendo o ar quando ele joga o puck em direção ao gol e o tempo para. No


instante em que Lucca defende o gol, soltamos o ar. Parece que prendemos a
respiração todos juntos.

Sei que os meninos estão preocupados, mas também sei que eles são capazes
de vencer esse jogo.

— Vamos lá, Owen, confio em você! — Murmuro.

Caleb recupera a posse do disco e corre em direção ao gol adversário, sendo


perseguido pelos outros jogadores. Ele joga o disco para o

Zach, que o faz deslizar até a linha do goleiro, mas, ao invés de jogar para
gol, ele joga para Owen, que está sem marcação e mais distante do gol. Os
jogadores vão pra cima dele, que faz a jogada mais inesperada e arriscada
naquele instante, jogando o disco para o gol, mesmo daquela distância,
faltando cinco segundos para acabar o jogo.

O disco parece voar em câmera lenta e então, entra no gol.

Dou um pulo quando o placar vira e o juiz apita finalizando a partida! A


torcida em peso começa a gritar. Vejo os meninos se abraçando e o treinador
Hamilton com um sorriso enorme estampado no rosto. E sei que isso é
apenas o começo de uma grande vitória.

Vejo Owen vir em minha direção e tirar o capacete. Sorrio para ele e
caminho em direção a porta que dá acesso a pista de gelo.

Assim que piso na pista, ele desliza em minha direção. Seu corpo colide com
o meu, um braço segura minha cintura e o outro pousa em minha perna,
erguendo-a um pouco, meu corpo é inclinado para trás.

Estamos a centímetros de distância um do outro e seus olhos brilham e ele


sorri.
— Parabéns, príncipe! Você mereceu essa vitória.

— Vencemos! Nós vencemos! — Diz.

— E você está esperando o quê para começar a pegar o seu prêmio?

Não preciso dizer mais nada, seus lábios encontram os meus e o estádio vai à
loucura novamente, porque é a primeira vez que mostramos nosso
relacionamento em público.

Owen se afasta, me dá um mais um selinho e sorri para mim.

— Te amo, princesa.

— Eu também te amo, meu príncipe.

Ele me deixa ficar de pé e olha para a torcida, gritando com eles e


comemorando a tão merecida vitória.

A comemoração foi no bar de Red, como de costume. O local estava mais


lotado que o normal. Acho que nunca vi os meninos tão felizes com uma
vitória.

— Vocês quase me mataram do coração quando retrocederam a jogada! —


Red fala.
— Nem me fale! Por um momento pensei que meu coração fosse sair pela
boca — Wendy completa.

— Era arriscado, mas tínhamos que tentar. — Zach diz para Wendy.

— Nem eu e nem o Cabel conseguiríamos acertar o gol, mesmo naquela


distância.

— Por um instante cheguei a pensar que não daria certo, mas deixei o
pensamento de lado e só fui — Owen explica.

— A melhor jogada desse campeonato! — Elliot diz.

— E que nos levou a uma vitória nos últimos segundos. — David ressalta.

— Eu sabia que vocês iriam ganhar. — Fala e Owen aperta minha cintura.
— Vocês merecem! Agora é só esperar as coisas acontecerem.

Vocês verão, logo todas as ligas estarão entrando em contato com vocês!

— Inclusive, você e Owen são notícia em todas as redes sociais. —

Elliot diz, rindo.

— Como?

Ele me entrega seu celular e vejo uma foto nossa, do momento exato em que
ele me beijou, com a seguinte legenda:

O rei do gelo, conhecido por não se envolver emocionalmente, assume


relacionamento com a escritora de romances eróticos, Aubrey Stuart. De
acordo com fontes, o casal já vinha se relacionamento há alguns meses e
agora decidiram expor a situação ao público.

— A mídia não perde tempo — Owen diz, ao terminar de ler junto comigo.

— Tem outra aqui que mostra um vídeo e diz “Da ficção para a realidade!”
— Caleb fale e eu balanço a cabeça em negação.
Owen olha para mim e sorri.

— O que foi?

— Agora todo mundo já sabe que você é a mulher da minha vida, estou feliz
com isso.

Os meninos começam a gritar e eu me inclino para beijá-lo.

— Amo você! — Sussurro contra sua boca.

— Também te amo!

— Vamos beber mais, galera! — Lucca grita e eu entro na vibe, mesmo não
bebendo.

Hoje é o dia deles e eles merecem comemorar.

Três meses depois

— Tem certeza de que vai ficar bem, mãe? — Pergunto e ela assente.

— Mas é claro que vou! — Ela diz, como se fosse obvio. — Estou bem há
meses, Aubrey!

Isso é verdade, uma calmaria em meio à tempestade. Estamos indo ao


hospital para consultas de rotina, mas não houve mais nenhuma

internação e os remédios tem mantido minha mãe estável, o que para mim é
um grande alívio.

— Mas ainda não acredito que você vai para ver Soph se casar e já voltar no
dia seguinte! — Reclama.

— Owen e eu ainda não estamos de férias, mãe. — Explico e ela suspira. —


Quando estivermos mais livres, prometo que faremos uma viagem de um
mês!
Isso é verdade. Estou nos momentos finais para a organização do lançamento
do livro e estou passando muitos dias na editora para aprovação de algumas
coisas e organização do evento de lançamento.

— Certo, certo! Mande meus parabéns pra Soph e diga que estou muito feliz
por ela! — Assinto e a abraço. — Agora vai, senão vão perder o voo!

— Cuide dela, Owen! — minha mãe pede.

— Sempre, Kristen.

Ele lhe dá um beijo na testa e seguimos para fora de sua casa. Owen segura
minha mão e me puxa para perto de si.

— Está nervoso para conhecer minha amiga?

— Não diria nervoso, mas ansioso. E se ela não me aprovar? —

Pergunta, parando de andar e eu reviro os olhos.

— Impossível isso acontecer, amor. Não se preocupe!

Rio da sua cara de preocupação. A verdade é que a Soph já o aprovou, só


quer dar um susto nele.

Owen abre a porta do carro para mim e eu entro, sorrindo.

Nova Iorque, aí vamos nós!

Não demoramos nem duas horas para chegarmos em Nova Iorque.


Meu Deus! Como estava com saudades daqui! Vamos ficar em um hotel, já
que iremos voltar pra casa amanhã mesmo.

Pegamos nossa mala e pego meu celular para conferir a hora.

— O casamento é no fim da tarde. Dá tempo de deixarmos nossas coisas no


hotel, buscarmos o vestido que eu aluguei, comermos algo e depois nos
arrumarmos. O que acha?

— Perfeito! Vamos pegar um táxi.

Owen segura minha mão e seguimos para fora do aeroporto. Soph queria vir
me buscar, mas achei completamente inviável, visto que ela tinha que passar
o dia se arrumando.

Estou muito animada! Tem mais de um ano que eu não vejo Soph e estou
morrendo de saudades. Sem contar que estou ansiosa para conhecer minha
afilhada.

Owen e eu queríamos passar mais tempo em Nova Iorque, mas não tem
como, infelizmente. Chegamos no hotel e vamos guardar nossas coisas.

— Você fez uma reserva em um hotel e tanto! — falo, assim que entramos
no quarto.

— Na última vez que vim em Nova Iorque me hospedei aqui e gostei


bastante.

— É lindo!

Ele olha a hora no relógio.

— Vamos, princesa, não temos muito tempo e o casamento da sua amiga é


em um lugar um pouco afastado.

— Certo! — Pego minha bolsa e deixamos o quarto.

— Enquanto você busca o vestido, vou buscar o carro que aluguei.


— Avisa.

— Tem certeza de que é necessário alugarmos um carro?

— Vai ficar mais confortável para gente, amor. — Ele diz. — Não sabemos
que horas vamos sair da festa, então...

Assinto, compreendendo o ponto.

As próximas horas foram extremamente corridas. Peguei meu vestido e


Owen o carro que alugou. Confesso que realmente ficou mais fácil com o
carro, já que não precisamos ficar esperando por táxi em todos os lugares
que fomos.

Voltamos para o hotel e fui direto tomar um banho, pois ainda preciso
arrumar meu cabelo. Não que eu fosse fazer algo diferente. Irei apenas secá-
lo e prender a lateral. Enquanto arrumo o cabelo e faço minha maquiagem,
Owen toma banho.

Maquiagem pronta e cabelo arrumado, vou para o meu vestido. É

um modelo na cor verde claro, de alças finas, justo no busto, com decote
reto, cintura marcada, saia rodada e uma fenda na perna esquerda. Opto por
usá-lo com um scarpin da cor da minha pele.

Como acessórios coloco uma corrente de ouro, um brinco médio e uma


pulseira.

— Amor, você poderia... — Owen sai do banheiro e para ao me ver.

Seus olhos percorrem meu corpo de cima a baixo, fazendo o caminho


inverso em seguida.

— O que acha? — Pergunto, dando uma volta para que ele pudesse ver o
visual completo.

— Você está linda! Na verdade, acho que nunca te vi tão linda e olha que já
te vi de incontáveis maneiras! — Sorrio e caminho até ele, pegando a
gravata de sua mão e ajeitando o nó.
— Se lembra quando eu ajeitei sua gravata pela primeira vez? —

Pergunto e ele sorri de lado.

— Me lembro. Naquela vez eu já queria ter te beijado. — Confessa e eu


sorrio de lado, puxo a gravata fazendo-o vir também.

— Quer realizar esse desejo agora?

— Você está tão linda com esse batom vermelho! Além disso, não quero
chegar na festa manchado.

— Porque não experimenta pra ver se ele vai sair da minha boca ou não?

Ele não responde com palavras. Sua boca ataca a minha em um beijo que me
deixa sem ar. Seguro seus ombros e ele aperta minha cintura.

Quando o beijo termina afasto nossas bocas, buscando ar, mas não abro os
olhos.

— Acho que eu gostei desse batom. — Ele diz e eu sorrio, voltando a beijá-
lo.

— Eu também. — Murmuro.

Nossos lábios se moldam um no outro. Sua mão sobe até meu rosto e ele
para, me dando selinhos.

— Não é bom a gente se atrasar e não quero amassar seu vestido. —

Murmura e morde meu lábio inferior em seguida.

— Você não quer, mas tem uma coisa bem animada aqui. — Digo,
pressionado o quadril contra ele, sentindo o pau pulsar através da calça.

— E, para tristeza dele, hoje sou quem está no comando.


— Às vezes você é tão estraga prazeres! — Murmuro.

Owen me dá mais um selinho e volta para o banheiro.

Me olho no espelho e passo um pouco de perfume.

Cinco minutos depois deixamos o hotel e seguimos para o local que minha
amiga vai se casar.

O local está lotado e eu entendo. Soph e Ben são responsáveis por uma
empresa de marketing digital, a melhor de Nova Iorque, e muita gente estava
esperando o casamento deles desde o nascimento da Sadie.

Owen entrelaça os dedos nos meus e me segue, conforme eu vou entrando


no local. Sinto vários olhares em nós e sei que várias pessoas sabem quem é
o Owen e devem estar estranhando sua presença aqui.

— Não sabia que pela primeira vez eu ficaria desconfortável com olhares. —
Murmura, perto do meu ouvido.

— Estão surpresos de ver a estrela do hóquei aqui. — Falo.

— Um fato. Me pergunto se foi uma boa ideia vir. — Me viro para ele no
mesmo instante e ele para antes de bater o corpo contra o meu.

— Sua ideia era ficar no hotel enquanto eu vinha sozinha?


— Talvez?

— Nem morto!

— Aubrey? — Olho para trás e sorrio ao ver o Benjamin.

— Benjamin! Meu Deus! — Vou dar um abraço nele. — Como você está?

— Nervoso, mas feliz. Que bom que você conseguiu vir, significa muito para
a Soph.

— Eu sei! — Me viro para o Owen e o chamo. — Benjamin, esse é o Owen.


Owen esse é Benjamin, o noivo.

Eles se cumprimentam com um aperto de mão.

— Você não é o jogador de hóquei...?

— Sou sim.

— Caramba! Assisti alguns jogos seus e você joga muito bem!

— Obrigado!

— Fiquem à vontade! Qualquer coisa basta me chamarem. Aubrey, Soph


está na casa.

Assinto e me viro para o Owen.

— Vou lá. — Ele assente e beija minha testa. Deixo-o ali e sigo para a casa.
Quero muito encontrar minha amiga logo.

Vou perguntando aos funcionários no caminho onde posso encontrar a noiva


e eles me dão a localização. Assim que chego no local onde ela está, abro a
porta, me esquecendo até de bater. No instante que eu vejo a Soph, meus
olhos se enchem de lágrima.

— Meu Deus, Soph! Você está linda! — Sussurro e ela me olha, sorrindo.

— Gostou?
— Eu amei. Meu Deus!

Me aproximo dela e a abraço com força.

— Obrigada por ter vindo. — Sussurra em meu ouvido.

Perder o casamento da Soph estava completamente fora de cogitação.

— Não poderia perder o casamento da minha melhor amiga, certo?

Me afasto dela e sorrio.

— Estou imensamente feliz em te ver. Quero saber de tudo! — diz.

— Você vai saber, prometo!

— Ele está aí?

— Lá fora — digo, sorrindo.

— Quero saber como estão as coisas com você e com sua mãe.

— É uma longa história, Soph, que não tem como ser contada agora.

— Tem certeza de que não quer conversar agora?


— Absoluta! Acha mesmo que vou atrapalhar seu grande dia com meus
problemas? Não mesmo! Esse dia é exclusivamente seu.

— Vai ficar quanto tempo?

— Vamos embora amanhã cedo, mas pelo menos estou aqui.

— E te agradeço muito por isso!

— Olha quem está aqui!

Olho para trás e vejo a mãe do Ben entrando com minha afilhada, a Sadie.

— Meu Deus — Sussurro, já indo até ela, que rapidamente joga os bracinhos
para mim. — Que coisinha mais fofa você é! Meu Deus! Dá vontade de
morder!

Ela ri para mim e começa a balançar os bracinhos.

— Mamãe! — Ela diz, esticando os braços pra Soph.

— Vem aqui, meu amor! — Minha amiga pega a filha no colo e dá um beijo
nela.

— Linda! — Ela beija o rosto da mãe e eu sorrio.

Celine, a outra madrinha da Soph, entra no quarto e diz que a cerimônia vai
começar e minha amiga sorri. Sei que ela está fazendo a coisa mais certa da
vida dela.

Acho que nunca assisti a um casamento tão lindo quanto esse!

Chorei durante os votos do Ben e da Soph. Sempre soube que os dois eram
apaixonados, mas eram medrosos demais para admitir isso.

— Toma, amor. — Owen me entrega um lenço e eu seco meu rosto


cuidadosamente para não borrar a maquiagem.
Quando eles foram declarados marido e mulher, todos os convidados
bateram palmas, parabenizando os noivos.

A festa é uma recepção com comes e bebes, música e muita gente


conversando e querendo a atenção dos noivos. Depois que meus amigos
conseguem conversar com todos, eles vêm em nossa direção. Sophia me
abraça.

— Parabéns, amiga! Você merece isso e toda a felicidade do mundo!

— Obrigada, amiga!

Ela se afasta e olha para o Owen.

— Você deve ser o Owen. — Diz, sorrindo de lado.

— Eu mesmo! Prazer em conhece-la e parabéns pelo casamento.

— O prazer é meu! — Ela olha para nós dois e sorri em aprovação.

— Vocês dois combinam mesma. Amei!

— Obrigada! — Owen diz e beija minha bochecha.

— É bom você cuidar muito bem dela. A Aubrey não entrega o coração dela
para qualquer pessoa. — Avisa, com o dedo em riste.

— Pode deixar, Sophia. — Ele me encara. — Eu faço de tudo para ver essa
mulher feliz, absolutamente tudo.

Sorrio para ele, que beija minha testa.

— Tão lindos... — Sophia me encara. — Vem amiga, vou trocar de roupa.


Você vem comigo!

Sophia não espera minha resposta, apenas segura minha mão e sai me
puxando. Voltamos para a quarto onde ela estava se arrumando.
— Me ajude a tirar esse vestido. É lindo, mas não aguento mais ficar com ele
— diz.

— Sim, senhora — Falo.

— E pode começar a contar tudo, quero saber desde o começo.

— Soph, é sua festa de casamento...

— E você vai embora amanhã, não teremos tempo. Só fale, Aubrey!

Acabo sorrindo e começo a contar para ela como conheci Owen, tudo que
fizemos juntos e como acabamos nos aproximando tanto.

— Isso é praticamente um livro de romance.

— Exagerada...

— Exagero nada, olha bem tudo que você disse, um livro! Você viveu as
histórias de amor que você tanto coloca no papel, Aubrey e se apaixonou por
um príncipe improvável! — Sorrio, constatando que ela tem razão.

— Sou apaixonada por ele — Falo.

— Eu sei. Acho que nunca consegui ler tão bem uma emoção em você como
consigo ler esta. Está escrito na cara de vocês todo esse sentimento.

Abaixo a cabeça e dou um sorriso triste.

— Só que tem mais coisa, não é?

— Eu fui embora por causa minha mãe, lembra? — Ela assente, respiro
fundo e tomo coragem para falar. — Ela está morrendo, Soph.

Minha amiga arregala os olhos.

— Como...

— Está com câncer e desenvolveu metástase. A médica deu de oito meses a


um ano de vida para ela.
— Mas ela está...

— Estável, mas não sabemos até quando.

— E você não queria me contar?

— Desculpa. Estava lidando com isso sozinha e depois o Owen chegou. Ele
é quem tem segurado as pontas comigo e tem me dado todo o apoio que
preciso.

Sophia assente e abre os braços para mim.

— Sinto muito, amiga! — Fala.

— Tudo que estamos fazendo agora é construir memórias com ela.

Ela já aceitou tudo que vai acontecer e o que nos resta é aceitar também.

— Me promete que se acontecer qualquer coisa, vai me ligar? —

Ela se afasta e me encara.

— Prometo, amiga. Obrigada.

— Sempre que precisar, Aubrey!

— Te amo, Soph.

— Também te amo, amiga!

Me afasto e seco minhas lágrimas.

— Agora vamos parar de chorar, trocar de roupa e voltar para a sua festa de
casamento — Falo e ela concorda.

— Sim!

Termino de ajuda-la e voltamos para o salão. Soph vai dançar com o


Benjamin e volto para o lado do Owen.
— Conversaram? — Confirmo e apoio a cabeça em seu ombro.

— Amor... — chamo, depois de um tempo.

— Sim?

— Você acha que já estamos vivendo nosso “felizes para sempre”?

Ele segura minha mão e a beija.

— Com toda certeza, princesa.

E eu sorrio. Tudo está indo muito bem e estou extremamente feliz com isso.

2 semanas depois

Essa é a última releitura que faço no livro após finalizá-lo e antes de enviá-lo
para a gráfica. Confiro novamente se não tem nenhum erro e se está tudo
dentro dos conformes e, mais uma vez, me emociono com o final dessa
história. Com toda a certeza é a mais linda que eu já escrevi.

Emília tem razão quando diz que esse livro será meu novo best-selle r. O
lançamento será daqui há 45 dias e estou morrendo de ansiedade.

A história é sobre uma mãe solo que cuida da filha de seis anos e descobre
que está com câncer. O câncer a faz ter medo de morrer, o que faz com que
ela comece a lutar contra essa doença, fazendo de tudo para que a filha não
perceba nada, mas as coisas mudam de figura quando um médico rabugento
entra na vida delas. Ele é fechado, não quer relacionamento e não gosta de
crianças, até conhecer a filha da minha personagem.
Eles começam a desenvolver uma relação, ele se apaixona por ela, descobre
que ela está doente e move céus e terra para ajudá-la. O amor deles é
doloroso e eles sofrem muito até que tudo se resolva no final.

Sorrio ao me lembrar que Owen finalmente terminou de lê-lo na semana


passada e negou até a morte ter chorado com o livro. Ele disse que ficou
perfeito, assim como tudo que escrevo.

Abro meu e-mail e digito um recado para Emília, dizendo que está tudo certo
com o arquivo e que o mesmo já pode ser mandado para a gráfica.

Ergo os braços acima da minha cabeça e me levanto. São 15 horas, o Owen


está na universidade fazendo as últimas provas do ano e quero comer algo.
Acho que vou fazer Brownie, já que é uma das poucas coisas que faço e fica
bom.

Separo tudo que vou usar e, assim que começo a misturar os ingredientes,
meu celular toca. Olho o aparelho de longe e vejo o nome da Julie. Largo
tudo que estou fazendo e atendo a chamada.

— Julie, o que aconteceu? — Pergunto.

— A Kristen, ela... ela... — Ela chora e meu desespero aumenta.

— Ela o quê, Julie? — Grito.

— Começou a tossir sangue. Estávamos no mercado, ela desmaiou,


chamamos ambulância e agora estamos no hospital.

Meu coração dispara contra meu peito e perco a capacidade de respirar.

— Estou indo pra aí. — Digo.

Desligo a chamada e não espero nada. Saio correndo do meu apartamento e


entro no elevador. Tento ligar para Owen, mas só cai na caixa de mensagem.
É claro que ele desligou o telefone para fazer a prova! Envio uma mensagem
de voz para ele, dizendo o que aconteceu e saio do prédio, pegando o
primeiro táxi que vejo.
O caminho para o hospital parece ser ainda mais longo e estou apavorada.
Minha mãe estava tão bem, estava tomando os remédios e tínhamos
conseguido convencê-la a recomeçar as quimioterapias. Tínhamos esperança
de que ela se recuperasse, de que...

O carro para e desço, correndo para o hospital. Não passo pela recepção,
apenas corro em direção para a ala onde sempre fica. Assim que chego na ala
da Oncologia, vejo a Julie sentada na recepção, olhando para baixo.

— Julie! — Grito e vou até ela.

— Aubrey, me desculpe, me desculpe, eu não sei o que fazer, eu ...

eu estou com medo. — Ela está chorando copiosamente e a abraço, sentindo


minhas próprias lágrimas.

— Onde ela está?

— Foi levada às pressas para fazer alguns exames. A médica não disse nada
de relevante e... estou com medo.

— Eu também estou com medo. — Sussurro.

Meu coração está apertado! É como se houvesse algo nos meus pulmões me
impedindo de respirar corretamente. Todas as vezes que puxo o ar sinto meu
coração doer.

Ficamos cerca de uma hora esperando notícias e ainda não temos nada.
Ninguém sabe de nada ou não podem nos informar nada ainda.

Eu não posso perder minha mãe, eu não posso perde-la, eu não posso...

Começo a chorar baixinho e não consigo me controlar. O medo toma conta


de mim e é como se meu coração já soubesse o que vai acontecer. Puxo o ar
com dificuldade.

— Aubrey! — Olho para cima e vejo Owen, ele está com os olhos
vermelhos e sei que também chorou. Não tenho forças para ficar de pé e ele
vem até mim.
Abraço-o como se ele fosse minha tabua de salvação e deixo as lágrimas
correrem livremente pelo meu rosto.

— Owen, eu não posso perdê-la, não posso...

— Vai ficar tudo bem, meu amor! Vai ficar tudo bem — Ele sussurra,
fazendo carinho no meu cabelo.

— Aubrey? Owen? — Owen se afasta e me ajuda a ficar de pé.

— Doutora Brigite, como ela está?

Seus olhos estão tristes e ela olha para baixo, voltando a nos encarar em
seguida.

— Nós fizemos de tudo, Aubrey — Sussurra. — Ela não vai aguentar muito
tempo. Não sei como ela está aguentando agora. Acredito que ela queira se
despedir de vocês.

— Não... — Sussurro, perdendo a força nas pernas.

— Aubrey... — Owen me segura. — Amor, precisamos ver sua mãe, vem...

Ele me leva em direção ao quarto em que ela está internada. Assim que a
porta é aberta, mais lágrimas caem pelos meus olhos e tento respirar, mas é
impossível.

Owen e eu caminhamos até a cama e minha mãe abre os olhos lentamente.

— Minha filha... — Diz, com voz fraca.

— Mãe, não fala nada, você precisa se recuperar e...

— Querida... — Ela segura minha mão. — Precisa me prometer que não vai
ficar triste.

— Mãe...
— Tem que me prometer que vai viver intensamente, vai lançar todos os
livros que seu coração mandar, vai se permitir viver além do que você já
vive.

— Por que você está se despedindo? A senhora não vai morrer!

— Quero que você seja feliz, minha filha. Quero que você seja exatamente
quem você é.

— Para...

— Eu amo você, Aubrey, tenho orgulho de ser sua mãe, de ver a mulher que
você se tornou. Obrigada por tudo que fez por mim até aqui, por ter cuidado
de mim, por ter construído memórias que eu vou levar comigo para sempre,
cada momento, cada risada...

— Para mãe! Por favor, para! — Imploro de olhos fechados.

— Owen, querido. Obrigada por ter me feito rir inúmeras vezes e por ter
esse coração bondoso. Você com certeza ainda vai fazer inúmeras pessoas
rirem e se encantarem com seu jeito de ser...

— Kristen...

— Lembra quando você me disse um dia que, enquanto você não arrumasse
uma noiva, as pacientes não poderiam partir? — Ele assente e minha mãe
segura nossas mãos, juntas. — Você achou sua noiva e agora eu posso partir
em paz.

— Mãe, por favor, não...

— Amo vocês, cuidem um do outro e jamais esqueçam que o que mais


importa nessa vida é o amor. Em qualquer situação, o amor supera qualquer
obstáculo e barreira.

— Mãe...

Seu aperto em nossa mão se enfraquece, seus olhos ficam fixos em um ponto
e em seguida as pálpebras se fecham. As máquinas começam a apitar
freneticamente.

— Mãe, fala comigo! — Digo, sacudindo seu braço. — Mãe! Mãe!

MÃE, NÃO!

Seguro seu rosto.

— Mãe, por favor, volta! Mãe!

Os médicos entram no quarto e Owen me puxa.

— Não, minha mãe, não! Minha mãe, não!

— Meu amor, meu amor, meu amor! — Owen tenta me tirar do quarto, mas
é inútil.

— Mãe!

Ele me abraça, colocando minha cabeça contra meu peito e perco a força das
pernas. Caímos no chão.

Meu choro ecoa alto por todo o andar do hospital.

Meu peito dói.

Não tem ar o suficiente para respirar.


É como se tivessem arrancado meu coração e o esmagado.

Meus olhos ardem, mas não param de produzir lágrimas.

Minhas mãos apertam a roupa do Owen.

Meu corpo pede clemência e eu desabo, sentindo o mundo cair em cima de


mim.

Todas as vezes que precisei descrever um enterro em alguma cena de livro,


sempre descrevi que o dia ficava nublado, que chovia, como se aquilo fosse
um sinal de que o universo se comovia com a perda do meu personagem.

Olho para o sol que brilha no meio do céu e me pergunto se agora o universo
não deveria estar compadecido da minha dor.

Tudo que consigo fazer agora é olhar para o caixão, sendo baixado e sendo
coberto por terra.

Não consigo me mexer e não consigo mais chorar, por mais que meu
coração esteja doendo, por mais que tudo em mim esteja destruído. Só

consigo perceber que de agora em diante minha mãe não estará mais
presente comigo e isso me rasga por dentro.

Sei que vou me lembrar de todos os momentos que passamos juntas, das
risadas, broncas e conselhos... sei que cada instante estará gravado para
sempre no meu coração e que jamais vou me esquecer do sorriso dela, da sua
certeza de ter vivido o suficiente e de que já tinha cumprido sua missão aqui.

Olho para o chão e me abaixo, deixando uma flor em cima de sua lápide.

Então apenas fico aqui, compartilhando os últimos momentos com a mulher


que meu deu a vida.

— Amor? — Olho para cima e vejo o Owen e sei que ela está sofrendo tanto
quanto eu. Ele sempre foi apegado a ela. Seus olhos estão vermelhos e
lágrimas escorrem pelo seu rosto.
Fico de pé e vejo que restou apenas nós aqui.

— Ela está descansando agora. — Falo e ele entrelaça nossos dedos.

— Vou sentir falta dela... vou sentir muita falta dela!

— Eu também. — Concordo.

— Aubrey? — Ele se vira para mim e o encaro.

— Sim?

— Sabe o que sua mãe me disse quando contei a ela que minha mãe havia
morrido de câncer e que era por isso que eu me vestia de palhaço e ia para o
hospital?

— Não.

— Quando tudo na nossa vida está desmoronando e parece que nada vai dar
certo, a única coisa que resta é o amor. É nele que temos que nos apegar para
conseguir sobreviver. Foi assim que eu sobrevivi e é assim que você vai
sobreviver. É assim que vamos seguir em frente.

Assinto e sinto as lágrimas voltarem a cair.

— Dói tanto! — Sussurro e ele me abraça.

— Eu sei, princesa. Está doendo em mim também, mas agora ela vai
descansar e não vai mais sofrer.

— Promete que vai ficar comigo enquanto eu me recupero?

— Prometo que vou ficar com você para sempre, princesa. Sempre.

Ele me abraça mais apertado e entendo o que minha mãe quis dizer com
aquela frase. Quando perdemos um dos nossos, tudo que resta é o amor para
nos ajudar a ficar de pé.

E nesse momento eu tenho esse amor que vai me ajudar a seguir em frente.
Queria poder dizer que nos dias que se passaram as coisas melhoraram, mas
não foi isso que aconteceu. Aubrey parecia cada vez mais triste e em alguns
momentos eu a encontrava chorando dentro do quarto, escritório ou
banheiro.

Ela já chegou a dormir com a foto da mãe nas mãos. Me sinto impotente
nessa situação. Não sei o que fazer e muito menos como confortar o coração
dela.

Termino de me vestir e olho a hora. Vou comprar o café da Aubrey e ver


como ela está hoje. Todos os dias eu torço para que ela esteja melhor e que
se reerga, porque não suporto vê-la triste desse jeito.

Compro o café e na volta para casa vejo um menino vendendo flores.


Chamo-o e compro uma rosa pra ela. Espero que com isso eu consiga ao
menos arrancar um sorriso dela, o que tem sido difícil nos últimos dias.

Chego em frente ao apartamento dela e abro a porta, mas não entro de


imediato. Começo a sentir cheiro de brownie e franzo o cenho. Entro no
apartamento, sigo em direção a cozinha e então vejo-a de costas, usando
fones de ouvindo e balançando o corpo, enquanto lava louças.

Deixo o copo de café em cima da bancada, junto com a rosa e fico parado,
vendo-a dançar. Minha vontade é de chorar, tamanha era a vontade

de vê-la assim, vivendo a vida.

Aubrey se vira e se assusta ao me ver ali.

— Owen! — Ela coloca uma mão no peito e tira os fones de ouvido.


— Que horas você chegou?

Não consigo impedir que uma lágrima escorra pelo meu rosto. Ela vê e vem
até mim, segurando meu rosto.

— Amor, está tudo bem?

— Você está bem, princesa? — Pergunto, olhando dentro dos seus olhos
castanhos.

Aubrey sorri levemente e mexe no meu cabelo.

— Quero ficar bem e é por isso que hoje decidi voltar a viver a minha... a
nossa vida. Ainda dói saber que minha mãe realmente se foi, mas eu tô aqui,
você está aqui, estamos juntos e não quero você triste porque eu estou triste.

Acaricio seu rosto e sorrio de lado.

— Eu vou estar com você, princesa. — Falo, colocando uma mecha de


cabelo atrás da sua orelha. — Sempre, sabe disso.

— Obrigada, meu príncipe. — Beijo sua testa e ela suspira, em seguida a


abraço.

— Minha mãe tem razão — Diz, e ergue a cabeça para me encarar.

— No que?

— Tudo que nos resta é o amor.

— Sempre, princesa.

Um mês depois

— Ela vai amar isso, Owen! — Josh diz.


— Concordo plenamente e tenho certeza de que todas as pacientes também!
— Paola concorda, sorrindo.

— Ela tem se recuperado aos poucos sabe — Falo e respiro fundo.

— Mas tenho certeza de que isso vai ser uma surpresa e tanto para ela. Vou
conversar com a doutora Brigite e mantenho vocês informados.

— Quem diria, não é? — Josh diz, sorrindo. — Que você se apaixonaria


pela filha da sua paciente preferida.

— Me lembro bem da dona Kristen dizer que você ainda não tinha noiva
porque sua noiva seria a filha dela. Se eu soubesse que ela realmente estava
certa...

— Me apaixonar pela Aubrey foi inevitável. Saber que ela era filha da
Kristen me fez ver que aquela mulher realmente me conhecia e conhecia a
filha. Só assim para acertar em cheio que eu seria genro dela.

— Fico feliz que vocês estejam juntos. — Paola diz.

— Não vou me separar dela nunca, Paola! Pode anotar isso na sua agenda.

— Bom, só temos um problema — Josh diz.

— Que problema? — Pergunto.


— Agora que você tem uma noiva, precisamos escrever outro roteiro.

— Eu tenho uma ideia e Aubrey é a pessoa certa para nos ajudar!

Meus dois amigos se olham, concordam e eu sorrio. Acho que nosso projeto
está prestes a ganhar uma nova cara.

— Mas é claro que eu aceito! — Aubrey diz, quando pergunto a ela.

— Sério?

— Sim! Eu amo esse projeto de vocês e vou amar fazer parte!

Seguro seu rosto e a beijo.

— Já disse que eu te amo hoje? — Pergunto e ela faz uma cara pensativa.

— Deixa eu ver... só no café da manhã, por mensagem, na hora do almoço,


no lanche da tarde... — A beijo, interrompendo sua contagem.

— Eu amo você, Aubrey — Digo sorrindo e ela passa os braços em meu


pescoço.

— Eu também te amo, Owen. Muito!

— E você acha que vou perder a chance de ver minha nora ser prestigiada?
— Essa é a resposta que eu ganho ao perguntar se Mag vai ao lançamento do
próximo livro da Aubrey.

Rio da sua expressão.

— Ela vai ficar feliz em te ver. — Falo e tomo um café.

Estamos na cafeteria/livraria que meu pai deu a ela e devo dizer que o lugar
ficou incrível. Quando contei do espaço para a Aubrey ela amou, inclusive as
duas conversaram e boa parte dos livros da minha namorada serão vendidos
aqui.

— Quer uma notícia surpreendente? — Pergunta, sorrindo.

— Claro que eu quero, Mag.

— Está pronto? — Percebo que ela está ansiosa e eu assinto. —

Estou grávida.

Arregalo os olhos e encaro sua barriga.

— Está falando sério? — pergunto.

— Sim! Estou de quase dois meses, descobri na semana passada!

— Uau! Vou ter um irmão?

— Vai sim! — Sorrio, ainda sem acreditar.

— Meu Deus, Mag! É tudo que você sempre quis!

— Sim, seu pai ficou radiante! Acho que nunca vi o Christopher sorrir
tanto... Nos últimos dias seu pai está outra pessoa!

Seguro a mão dela por cima da mesa e sorrio.

— Você merece, Mag. Tenho certeza de que esse bebê já é muito amado por
vocês dois.

Ela assente e concorda.


— Por que você não conversa um pouco com seu pai? — Pergunta, olhando
para porta.

— Como?

Me viro para onde ela está olhando e vejo um homem de terno


impecavelmente passado entrar no estabelecimento. Meu pai caminha em
nossa direção e Mag se levanta.

— Como foi o trabalho? — Pergunta.

— Cansativo. Temos um caso extremamente complicado. Mas e você, está


bem? Não sentiu nada? Comeu nas horas certas e tomou as vitaminas?

Mag sorri e assente, acariciando a mão do meu pai em seguida.

— Sente-se. Vou preparar um café para vocês!

— Como vai, Owen? — Pergunta, ao sentar onde a Mag estava.

— Vivendo um dia cada vez. O senhor é que está muito bem.

— Eu não esperava ser pai a essa altura do campeonato. —

Confessa e dá um sorriso. — Mas eu gosto da ideia de ter mais um filho e


ainda mais de ter um filho da Mag.

— Ela está feliz.

— Ela merece ser feliz. — Ele corrige e se vira para mim. — Eu fui canalha
com ela no passado. Qualquer outra mulher teria pedido o divórcio, mas ela
não. Ela ficou comigo, me perdoou e criou você. Posso parecer um cara frio
ou distante aos olhos das pessoas de fora e até mesmo passar a impressão
que não sinto nada pela Mag, mas não é verdade. Eu a amo, Owen e faço
qualquer coisa para vê-la feliz.

— Consigo enxergar isso. — Falo.


— E sua namorada, como está? Mag comentou que ela vai lançar um livro
nos próximos dias.

— Vai sim. Ela está bem ansiosa, mas acredito que vai ser sucesso.

Aliás, tudo que ela escreve se torna um sucesso.

— Pensei que uma universidade te colocaria juízo, pensei que te tirar da


fraternidade te daria juízo. Ledo engano! O que fez você crescer realmente
foi uma mulher.

— Não apenas uma mulher, pai. A mulher da minha vida, a que eu pretendo
me casar daqui há alguns anos. Com ela vou construir uma família, ter filhos
e passar o resto da minha vida.

— Realmente você ama essa mulher.

— Amo, como nunca pensei que fosse amar alguém.

Meu pai dá um sorriso discreto e assente.

— É bom você entrar para uma liga grande de hóquei, Hughes! Não quero
meu sobrenome manchado.

Paro por um instante, olhando para ele.

— O que você disse?

— Exatamente o que você ouviu: seja melhor do que você já é em quadra,


Owen, sei que consegue isso.

— Não vai insistir para que eu siga a carreira jurídica? — Ele nega.
— Não, sua namorada tem razão, devemos fazer o que nos faz bem.

Sempre soube que você não seguiria essa carreira, nem que eu o obrigasse!

Peço apenas termine o curso, e, depois disso, você pode até vender hot dog
na rua, se estiver feliz.

Sorrio e assinto.

— Obrigada, pai.

— Vou ver se Mag precisa de ajuda, volto já.

Ele me deixa sozinho e eu sorrio para o nada. Tem coisas que acontecem e
só acreditamos ao ver com os próprios olhos. Essa cena é uma delas.

O grande dia chegou! Dia do lançamento do livro da Aubrey. Tudo foi


minimamente esquematizado para que ela fosse surpreendida e estou
nervoso, com medo de não sair como o planejado.

— Estou pronta!

Olho para a Aubrey e sorrio. Ela está linda! Essa versão CEO dela é
incrível... Minha namorada está usando uma calça folgada, uma blusa mais
colada, blazer, sapatos de salto e seus cabelos estão soltos.

— Está linda.
— Gostou?

— Está a cara de quem vai receber um prêmio best-seller. — Ela sorri.


Estendo a mão para ela, que pousa a dela sobre a minha, levo o dorso até os
lábios e deposito um beijo. — Uma verdadeira princesa.

— E você um príncipe, como sempre!

— Podemos ir?

— Sim!

Seguimos para fora do apartamento e eu pego meu celular apenas para ver
uma mensagem da Anastácia, editora do Aubrey, dizer que está tudo pronto.

O caminho até o local onde será a sessão de autógrafos leva cerca trinta
minutos. A rua do espaço alugado está cheia de carros e noto Aubrey
arregalar os olhos.

— Está tendo algum outro evento aqui perto? — pergunta e eu nego, mas
não falo nada.

Abro a porta do carro para ela. Assim que ela desce caminhamos em direção
a porta, que faço questão de abrir para ela. Quando ela entra, fica paralisada
ao ver a quantidade de pessoas que estão ali, esperando, com o livro dela nas
mãos, para receberem um autógrafo.

— Owen, o que você fez? — Pergunta ao notar os pacientes do hospital.

— Sua história é sobre superação, Aubrey, sobre nunca desistir.

Essas pessoas fazem parte dessa história. É uma maneira homenagear a


Kristen.

Ela se vira para mim e sorri.

— Eu te amo, você é o melhor!

— Vai lá, minha escritora. Essa tarde é toda sua!


O primeiro livro que vou autografar é dedicado pra minha mãe.

Abro na dedicatória e sorrio ao ler a mensagem.

Para todas vocês que lutam sozinhas, saibam que vocês nunca estão só,
sempre tem alguém que vai olhar por vocês e estar com vocês. Nunca
desistam de acreditar em si mesmas.

— Obrigada por me inspirar tanto, mãe! — Falo, pego a caneta e começo a


autografar.

Para a única mulher da minha vida. Obrigada por tudo, te amo


eternamente. Aubrey Stuart.

Fecho o livro e o deixo de lado, sorrindo para a primeira leitora da fila que,
por acaso, é minha melhor amiga. Ela sorri e me entrega o livro.

— Quero um autógrafo bem caprichado! — Fala.

— Vou pensar no seu caso!

Abro o livro e escrevo uma mensagem. Soph vem me abraçar e posar para
uma foto.

— Você merece o mundo, Aubrey! Tenho muito orgulho de você e de ser sua
amiga.

— Obrigada, Soph! De verdade!

Ela sorri e me abraça novamente.


A sessão de autógrafos leva cerca de três horas. Meus dedos ficam doendo,
mas vale a pena. Autografei os livros de todos os pacientes do hospital, que
foram me prestigiar. Confesso que não esperava por isso.

Eram pacientes que eu via diariamente na ala oncológica, que conversavam


com a minha mãe e que sentiram a dor da perda quando ela se foi.

— Estou muito feliz com a presença de todos aqui. — Emília começa. —


Nós projetamos essa tarde para ser algo marcante tanto na vida de vocês,
quanto na vida da nossa escritora. Laços de amor é um livro lindo! Um livro
que deve ser lido com uma caixa de lenços ao lado, porque é emocionante
acompanhar a história da April e do Jeremy. Como exímia leitora, esse livro
está no meu top 10 de livros favoritos. — Todos batem palmas e ela se vira
para mim, me chamando. — Mas não quero tomar o tempo de vocês, vamos
ouvir algumas palavras da Aubrey.

Uma salva de palmas é dada e eu pego o microfone, olhando para todas as


pessoas na minha frente.

— Primeiramente eu gostaria de agradecer a presença de todos aqui, estou


surpresa com a quantidade de pessoas e feliz por vocês acreditarem no meu
trabalho. Laços de amor surgiu quando minha mãe começou a lutar contra o
câncer. Foi nesse momento que vi a força dela, que vi que ela não iria parar
por causa dessa doença. Durante todo o tratamento ela se manteve firme e
forte, aguentando algumas coisas caladas e não permitindo que eu vivesse
em função dela, mesmo que eu quisesse fazer isso. Com isso nasceu a April,
a mãe solo que descobriu a doença e que não tinha outra opção que não fosse
ser forte. — Respiro fundo e passo a língua nos lábios. —

Escrever esse livro foi um desafio, ainda mais quando eu me senti incapaz de
terminar a história, porque ela não queria seguir o que eu tinha planejado. Os
personagens tinham seu próprio roteiro e quando eu decidi atender esse
roteiro, as coisas fluíram como vento. Laços de amor traz uma

história de superação, de luta, de dor, de esperança e principalmente de


amor. Eu espero de verdade que vocês gostem e que se apaixonem por essa
história, assim como eu.
Todos batem palmas, mas antes de entregar o microfone novamente para a
Anastácia, peço mais um minuto e ela assente.

— Meu obrigada especial vai para o Owen. — digo, olhando para ele e
sorrindo. — Você, meu amor, foi uma peça fundamental para a conclusão
desse livro! Sem você na minha vida, não teria conseguido passar por tanta
coisa e não teria aprendido que a gente deve dar uma chance ao amor na vida
real também. Eu te amo e é impossível medir o tamanho do meu amor por
você. Quero passar o resto da minha vida com você, escrever pra você e
vivenciar cada sentimento com você.

Ele caminha até mim e não fala nada, apenas me beija. Deixo o microfone
cair no chão e me seguro em seus ombros. Sua mão segura minha cintura e a
outra a nuca, corro os dedos pelos seus cabelos e sorrio entre o beijo.

— Te amo. — Sussurro.

— Eu te amo, princesa.

Um mês depois

Com o passar dos dias as coisas foram se ajeitando. Não é como se tudo
fosse ser colocado no lugar de uma hora para a outra, claro, mas estamos
vivendo um dia de cada vez.

Devo dizer que o lançamento do livro foi um sucesso, tanto na versão


impressa quanto na versão ebook. Vendi o triplo de cópias do que havia sido
planejado.

Foi uma surpresa saber disso. Apesar de todo esse sucesso, minha mente não
parou de criar novos enredos e já comecei a trabalhar no meu próximo livro,
que será lançado de maneira independente, em breve.

Estou animada e completamente inspirada com meu novo casal, que promete
arrancar suspiros das leitoras.

— Aubrey! Aubrey! — Ouço Owen gritar meu nome.

— No quarto! — Ele entra, está eufórico e sorridente. — O que aconteceu?


— Adivinha?

— Não faço a mínima ideia, amor, fala logo! — Peço, impaciente.

— O treinador Hamilton pediu que fosse falar com ele hoje e me disse que
vários times de hóquei entraram em contato com ele, querendo eu fosse
jogar como o jogador principal deles.

— Meu Deus! — Digo, arregalando os olhos. — Quais times?

— New York Rangers, Boston Bruins, New York Islanders e mais três.

— E agora?

— A decisão é completamente minha sobre em qual time entrar.

Segundo o treinador, terei sucesso em qualquer um dos seis que entraram em


contato e ainda me mostrou os prós e os contras de cada time. Tô aqui sem
reação ainda.

— Meu amor, eu sabia que só os melhores iriam te chamar! — Me jogo nos


braços dele, que me aperta em seguida.

— Estou feliz, porque é meu sonho, Aubrey. Escolher corretamente em qual


time vou entrar vai determinar todo o meu futuro.

— Estou tão orgulhosa de você, Owen, você não faz ideia!

Ele beija meu rosto e se afasta, sorrindo.

— Na verdade, quando estava a caminho já tinha uma decisão formada sobre


em qual dos times entrar.

— E o que você decidiu?

— Você sabe que a partir do momento que eu aceitar entrar no time, terei
que me mudar para facilitar as coisas. Estou me formando, então não tenho
nenhum impedimento.
É claro que eu entendo isso! É o trabalho dele, como eu poderia exigir que
ele ficasse em Toronto ou que fosse para qualquer outro lugar?

Não tenho esse direito.

— O que você decidir eu vou apoiar, amor — falo, alisando seus cabelos.

— Eu sei que você nunca quis voltar para o Canadá e que Nova Iorque
sempre foi a cidade que você amou. Sei também que, se puder voltar para lá,
você voltaria.

— O que quer dizer com isso?

— Eu vou aceitar a proposta do New York Rangers, então terei que me


mudar para Nova Iorque. E queria te fazer uma pergunta.

Sinto meu coração bater fortemente contra meu peito.

— Que pergunta?

— Você quer morar comigo? A gente se muda para Nova Iorque e começa
uma vida lá, juntos.

— Está falando sério?

— Você acha que eu iria embora de Toronto e iria te deixar? Nem que eu
estivesse delirando! Minha vida não existe sem você, Aubrey. Você é mais
importante que tudo na minha vida.

Sorrio para ele e assinto.

— É claro que eu vou com você! Eu vou com você pra onde você quiser.
Ele sorri e segura meu rosto.

— Então vamos começar a arrumar nossas coisas, porque vamos começar


nossa vida, juntos.

— Juntos! — repito e ele me beija.

Não demorou um mês para que o Owen fosse efetivado completamente no


time de Nova Iorque, o que nos fez adiantar algumas coisas. Ele
principalmente, por causa da faculdade. Toda a papelada dele foi organizada
e ele viria para Toronto apenas para colação de grau.

Arrumamos todas as nossas coisas. Meu apartamento em Nova Iorque nos


aguardava. Sophia fez questão de ajudar com algumas questões, então não
precisamos ficar nos preocupando em ir para lá sempre.

Nosso vôo será amanhã de manhã e, para nossa despedida, fomos ao bar do
Red, junto com nossos amigos, que também estarão se mudando em breve.
Caleb foi chamado pelo Detroit Red Wings, o Zach e o Lucca vão para o
Nashville Predators, Elliot está indo para o Calgary Flames e o David para
Vegas Golden Knights.

Vendo-os juntos, conversando, me faz pensar que mesmo que eles fiquem
separados e morem em cidades diferentes, nunca perderão esse vínculo que
existe entre eles. A amizade que compartilham é mais forte que a distância
que vai separá-los.
— Confesso que vou sentir falta dessa bagunça. — Olho para o lado e vejo a
Wendy.

— Virão outros astros de hóquei, Wendy, tão bons quanto esses.

— Eu sei, mas eles sempre serão os caras de “Canuks”, sempre estarão


presentes na história desse bar.

— Isso é um fato, todos vão sentir falta disso. — Me viro para ela e sorrio.
— Como você e Zach vão fazer?

Ela sorri e abaixa o rosto. Não é novidade para ninguém que eles começaram
a sair. Não sei em que pé anda o relacionamento deles, mas sei que está
evoluindo.

— A gente vai continuar juntos. Quando ele se mudar vai ser um pouco mais
complicado, porém queremos que dê certo.

— Fico feliz por vocês.

— Você e o Owen vão continuar visitando Toronto?

— Claro! A família do Owen mora aqui e viremos com frequência,


principalmente por causa do irmãozinho dele.

— Meninas, venham aqui brindar com a gente! — Elliot chama e eu encaro


Wendy, já puxando-a pela mão.

Fico ao lado do Owen, que passa o braço pela minha cintura.

— Isso não é uma despedida! — Ele diz. — É apenas um começo diferente


para cada um.

— É isso aí. Não importa o que aconteça daqui pra frente, sempre vamos nos
lembrar da nossa amizade — Caleb diz.

— E vamos manter contato! — David coloca.

— E sempre participar da vida um do outro! — Lucca pontua.


— E o mais importante, se em algum momento nos enfrentarmos, nunca nos
tratemos com hostilidade. — Elliot determina.

— Nós somos os Canuks, porra! — Zach grita, sendo acompanhando pelos


meninos.

O som dos copos tilintando preenchem o ambiente, junto com nossas risadas
e conversas.

Sorrio. Eles definitivamente haviam se tornado parte da minha família e


jamais vou esquecê-los.

— Vamos? — Owen pergunta após um tempo e eu assinto.

Não queremos despedidas no aeroporto, então esse é realmente um adeus.


Abraço todos os meninos, desejando boa sorte nessa nova etapa e faço o
possível para não me emocionar.

— Quando forem casar nos chamem! — Zach grita quando estamos quase
saindo.

— Vocês serão os primeiros a serem convidados! — Owen grita e sorrio


para eles, acenando.

Deixamos o bar e o Owen segura minha mão, enquanto caminhamos para


casa.

— Está pronta para começarmos nossa nova vida?

Olho para ele e confirmo.

— Mais do que pronta! Eu mal posso esperar por esse recomeço, junto com
você.

Owen sorri e beija minha mão. Hoje, tudo que tenho a agradecer é por esse
homem ter cruzado a minha vida, feito uma aposta comigo e me feito
apaixonar por ele em seguida.
Sabe de uma coisa? Acho que nossa história dá um livro... quem sabe algum
dia eu não escreva sobre ela?

— Posso saber o motivo do sorriso? — ele pergunta.

— Você me faz feliz.

— Você também me faz feliz, Aubrey. Mais do que imaginei ser possível.

É, eu tenho tudo o que preciso.

3 ANOS DEPOIS

Com o passar dos anos a gente percebe que é impossível controlar nossa
vida 100%. Sempre vamos nos deparar com alguns momentos inoportunos e
situações inusitadas.

Nesses últimos três anos Owen e eu aprendemos a lidar um com o outro,


aprendemos que nem sempre vamos conseguir terminar nossas tarefas e que
as vezes surgem prioridades diferentes.

Porém, foram três anos de aprendizado e entendimento. Três anos onde nos
conhecemos melhor, definimos nossas prioridades e fortalecemos nosso
amor.

Nesse momento me encontro em uma situação inusitada, como descrevi


acima. Uma situação que está completamente fora do planejamento.

Respiro fundo e encaro o teste de gravidez na minha mão.


Céus! Estou grávida e não faço a mínima ideia de como contar isso para o
Owen.

Não é de agora que sei que ele quer ter uma família. Vejo como ele é com o
filho mais novo da Soph, com a Sadie, mas nunca havíamos de fato decidido
que teríamos um filho. E agora eu estou aqui, descobrindo que estou grávida!

Não estou triste, pelo contrário, estou feliz! Mas um pouco em pânico,
porque não sei como dar essa notícia para o Owen. Preciso pensar em algo,
algo que seja único e que...

Paro quando consigo descobrir de que maneira contarei para ele que nossa
família vai aumentar.

Corro pra frente do computador e começo a escrever. Nos últimos anos


Owen e eu desenvolvemos um hábito: escrevo os roteiros dos livros e ele os
lê, dizendo que o que acha e se devo mudar algo.

Vou escrever um enredo, o enredo da nossa história e colocar no final que a


protagonista está grávida. Sorrio com a minha ideia e começo a digitar.

Não mudei absolutamente nada, nem os nomes. Descrevi exatamente como


aconteceu, como duas pessoas completamente opostas fizeram uma aposta e
acabaram se apaixonando.

Quando dá seis horas da tarde já estou com o roteiro impresso e pronto para
a leitura. Organizo tudo, peço nossa comida, e, para ficar menos ansiosa,
pego um livro para ler enquanto espero ele chegar.

Cerca de uma hora depois a porta é aberta e o Owen entra.

— Você demorou. — Falo e Owen sorri para mim, me dando um selinho.

— O treino de hoje foi pesado. A derrota no jogo passado fez o treinador


arrancar nosso couro hoje.

— Perder faz parte da vida também. — Digo e ele se senta ao meu lado.

— Lendo?
— Hum, hum! Inclusive tenho algo para você.

— Outro enredo?

— Sim, acho que você vai amar esse! — Me levanto e pego o papel
impresso em cima da mesa de centro. — Leia e me diz o que acha.

Owen pega o papel, começa a ler e noto que ele sorri ao se dar conta de que
é a nossa história escrita ali.

Enquanto ele lê, encaro seu rosto e me considero uma mulher de sorte por ter
esse homem completamente apaixonado por mim. Eu não poderia ter
ganhado presente melhor do que o Owen em minha vida.

Assusto quando ele se endireita no sofá e sorrio ao constatar que ele está
lendo o final da história, onde eu digo que a protagonista descobre que está
grávida.

Owen me encara e em seguida volta a olhar para o papel, depois para mim.

— Aubrey, isso é...

— O quê? — Pergunto e ele encara o papel, engolindo em seco.

— Essa é a nossa história. — Fala e eu confirmo. — Mas a protagonista


descreve no final que está grávida, isso quer dizer que...

Ele desce os olhos para minha barriga e depois sobe para meus olhos.

— Esse é o primeiro enredo da história, mas acho que terei que escrever a
parte dois daqui uns anos. Afinal, esse não é o final dela, ainda temos muito
que aprender juntos. — Pouso a mão na minha barriga e ele sorri.

— É verdade, então? Nós vamos ter um filho?

Confirmo, com os olhos cheios de lágrimas.

— Vamos, Owen, nós vamos ter um bebê.


— Meu Deus! — Ele se ajoelha no sofá e pousa a mão sobre a minha
barriga. — Eu achei que o dia mais feliz da minha vida foi quando você
disse que me amava. Definitivamente, não é! Esse superou todos.

Seguro seu rosto e seco as lágrimas com o polegar.

— E esse novo enredo da nossa vida, Owen... Você está pronto para escrevê-
lo comigo?

— Eu quero escrever todos os nossos enredos com você, Aubrey, sempre. —


Diz, emocionado. — Te amo, princesa, obrigado por isso.

— Também te amo, príncipe, pra sempre.

Sorrio e ele beija minha testa, beijando meus lábios em seguida.

Para algumas pessoas esse pode ser o final da nossa história, mas, para nós, é
apenas o começo: o começo nossa família. Afinal, para um escritor de
verdade, a história nunca acaba depois da palavra fim.

Que tal conhecer a história do Benjamin e da


Sophia? Os melhores amigos da Aubrey?
Friends to lovers - Gravidez inesperada - cicatrizes emocionais -

uma noite apenas

Eles são melhores amigos e acham que conhecem um ao outro melhor do


que ninguém, no entanto, tentam negar o desejo que sentem um pelo outro,
com medo de estragar a amizade.

Benjamin jamais se perdoaria se machucasse o coração da menina que viu


crescer.

Sophia acha que seu melhor amigo a vê como a garotinha que chegou de
repente em sua vida e que se tornou praticamente sua irmã mais nova...

Uma noite tudo muda...

E a amizade dos dois é colocada em xeque com a chegada de uma gravidez


inesperada...

Livro não recomendado para menores de 18 anos, contem cenas sexuais


gráficas e se você se sente desconfortável lendo sobre pesadelos em
relação a abandono, esse livro também não é para você, apesar de ser
algo que não é muito recorrente no livro!
Sobre a borda do copo, observo seu corpo balançar conforme o ritmo da
música.

Meus olhos estão fixos na cintura fina, subo para os seios fartos, parando em
seu rosto corado. Seus olhos estão fechados, os lábios formam um sorriso
sensual e alguns fios de cabelo grudam na pele suada.

— Se continuar olhando para Sophia dessa maneira, vou oferecer um quarto


de hotel para vocês dois.

Desvio os olhos da pista de dança e encaro meu amigo, viro o restante do


conteúdo do copo na boca e sinto a garganta queimar.

— Não fale besteiras. — É a única coisa que falo antes de pedir ao barman
que me dê mais uma dose de uísque.

— Qual é, Benjamin? Vai me dizer que nunca rolou um interesse da sua


parte?

Volto a encarar a pista, agora ela está de costas para mim, sua bunda mexe de
um lado para um outro e observo a curva de suas pernas fartas escapando
pelo tecido do vestido curto.
— Não. — Volto a olhar para meu amigo, que claramente não acredita em
uma palavra do que eu digo.

— Sou seu amigo, sabe disso, pode falar, não vai morrer se confessar que já
desejou a Sophia na sua cama.

Já desejei e ainda desejo.

Mas isso não é uma coisa que eu me orgulho de sentir, afinal, Sophia é
minha melhor amiga desde que me entendo por gente. Fomos criados juntos,
quase como irmãos, o quão errado é desejar uma pessoa que foi praticamente
criada com você?

Por isso sempre neguei com todas as forças o desejo que sinto por ela.

— A Sophia é como uma irmã para mim, e até onde eu sei, não se vai para
cama com uma irmã.

Meu amigo ri, não acreditando em uma palavra que sai da minha boca.

Foda-se.

Tomo outra dose do meu uísque.

Desce queimando e volto meu olhar para a pista.

Sophia não se importa com ninguém, nesse momento é como se não


existisse ninguém ao seu redor, ela dança de olhos fechados, com os braços
erguidos e o corpo esbelto parece ganhar vida a cada movimento sensual que
ela faz.

Caralho!

Essa mulher planeja acabar com o restante da sanidade que ainda existe em
minha cabeça.

Os últimos meses foram difíceis pra caralho! Apesar de eu sempre ter


desejado estar no meio de suas pernas, sempre consegui me manter no
controle, sempre consegui esconder meu desejo, mas não sei o que
aconteceu, que nos últimos meses tenho pensando nela 24 horas por dia,
tenho sonhado que fodíamos em todos os cantos do meu escritório e todas as
vezes eu acordo, duro pra cacete, tendo que bater uma enquanto penso em
seu corpo que foi feito para me desestabilizar.

Mas como eu disse anteriormente, Sophia é como uma irmã para mim e na
cabeça dela eu sou seu irmão mais velho, o herói que a salvava dos sonhos
ruins.

Não posso simplesmente sair do papel de herói e ir para o vilão.

— Bom, sua irmã vem aí — meu amigo diz ironicamente e eu volto minha
atenção na loira que vem em nossa direção, sorrindo para todos que cruzam
seu caminho.

— Como vão, meninos? — diz, se encostando em mim.

Seu perfume, misturado com o suor de sua pele causam um cheiro


afrodisíaco, que me faz olhar para ela. Sua atenção está focada em Marcus, e
é nesses míseros instantes que minha mente consegue projetar uma cena
onde passo minha língua pela pele suada e vou subindo até chegar em sua
orelha, onde eu prenderia o lóbulo com meus dentes, apenas para ter o prazer
de vê-la suspirar.

Seu rosto se vira para mim e sou pego olhando-a, mas não desvio os olhos.

Seus lábios se curvam em sorriso e seus olhos azuis parecem trasbordar.

Ela está bêbeda e isso é um fato.

— Benjamin... — Quando Sophia pronuncia meu nome, faz meu pau


endurecer na hora e torço para estarmos no escuro o suficiente para que
ninguém me veja nessa situação.

— Sophia, o que acha de irmos embora? — pergunto, cauteloso.

— Não! Ainda está cedo, eu nem bebi tudo que eu queria beber.

— Já está bêbada — alerto e ela faz um gesto de desdém com a mão.


— Não estou não, ainda aguento bastante.

Ela pede uma dose de tequila para o barman e eu faço careta. Ele bebe a
dose sem fazer careta e observo sua garganta se movimentar enquanto o
liquido desce, engulo em seco e peço outra dose também.

Viro o copo imediatamente e minha amiga bate palmas, animada por me ver
beber.

— Você não gosta de tequila — aponta, sorrindo.

— Sinto que irei precisar de algo mais forte essa noite — murmuro.

— Vamos dançar? — pergunta.

Solto uma risada sem graça.

— Nem fodendo, Sophia, você sabe que eu não danço — digo para ela, que
faz um biquinho sexy pra caralho.

— Por favor, só uma música! — pede e nego.

Sophia pode me pedir o mundo inteiro que eu darei a ela, menos dançar com
ela, isso é uma coisa que eu não faço.

— Você é tão careta, Benjamin — ela cantarola.

Observo ela tomar outra dose de tequila e se afastar de nós, voltando para a
pista. Será extremamente torturante vê-la dançar e ver outros caras dando em
cima dela descaradamente.

Respiro fundo e puxo meu celular do bolso do terno, confiro a hora, são mais
de 2:00h da manhã, preciso levar Sophia para casa.

— Benjamin, se importa se eu já for pra casa? Estou realmente cansado —

Marcus diz, já ficando de pé e eu nego.

— Não, pode ir. Eu vou chamar a Sophia para irmos também.


— Certo, certo. Consegue dirigir?

— Sim, não bebi a ponto de não saber onde fica minha própria casa, minha
preocupação é a loira ali. — Aponto para minha amiga.

—Tenho certeza de que com ela você consegue lidar. Até mais, Ben.

— Até, Marcus.

Sigo em direção a pista de dança e me aproximo de Sophia, ela está de


costas para mim e por tanto paro logo atrás de suas costas, seguro seu braço
delicadamente e aproximo a boca de sua orelha.

— Vamos para casa, loira, já está na hora.

Ela se vira para mim, fazendo-nos ficar extremamente próximos, as pupilas


de seus olhos estão dilatas, seus lábios entreabertos e um sorriso brinca em
sua boca.

— Já?

— Já.

Seguro sua mão e a puxo da ali, Sophia murmura algumas palavras


incoerentes, mas me segue prontamente. Deixamos a boate e seguimos para
o estacionamento. A coloco sentada no banco do carona e coloco o sinto de
segurança.

— Ben, não quero ir pra casa — murmura, antes que eu feche a porta.

— E você quer ir para onde?

— Deixa eu dormir na sua casa, por favor...

— Sophia...
— Eu só quero dormir, prometo não te atacar no meio da noite.

Solto uma risada rouca, ela está claramente bêbada.

— Vamos pra casa, cupcake.

— Tem tanto tempo que você não me chama de cupcake.

— Você não é mais criança, Soph — explico.

— Mas você me chamou agora...

Sorrio e balanço a cabeça, quando a Sophia bebe, vira uma verdadeira caixa
de perguntas.

Fecho a porta do carro e dou a volta para entrar também, coloco o sinto de
segurança e ligo o carro.

— Para sua casa? — pergunta, de maneira sonolenta.

— Para minha casa — digo, saindo do estacionamento, e seja o que Deus


quiser.

Entramos no meu apartamento e fecho a porta. Sophia se joga no meu sofá e


eu solto um suspiro.

— Vamos, Sophia, vou te levar para o quarto — digo, puxando-a pela mão.

— Me deixa dormir aqui, Ben, por favor — pede.

— Se eu deixar você dormir aqui, amanhã vai me matar ao acordar, vamos,


colabore comigo.

A levo para meu quarto e entrego uma camisa minha para que ela se troque.
Saio do quarto e vou atrás de remédio para dor de cabeça, pois tenho certeza
de que Soph irá acordar de ressaca amanhã.

Pego um comprimido e um copo com água e volto para o quarto, minha


amiga já está sentada na cama, sua roupa está jogada no chão e os cabelos
estão

presos em um coque alto.

— Tome — digo e entrego o remédio e água para ela.

— O que é isso? — pergunta.

— Pra você não acordar com ressaca amanhã — falo.

— Não gosto de remédio — murmura.

— Beba, cupcake.

Com uma careta, ela pega o remédio da minha mão, coloca na boca e ingere
a água, fazendo uma careta em seguida.

— Agora durma.

— Vai dormir aonde? — questiona, já se deitando na minha cama.

— No sofá.

— Tem espaço suficiente na cama para nós dois.

— Não vai ser uma boa ideia, Sophia. — A cubro.

— Por que? Tem medo de não conseguir se controlar durante a noite?

Rio e nego com a cabeça.

— Não maluca, tenho medo de que vomite em mim durante a noite.

— Eca...

— Exato, agora durma, amanhã você não vai se lembrar de metade dessa
conversa.

Observo Sophia se ajeitar em baixo das cobertas e fechar os olhos, fico


apenas alguns segundos ali, contemplando-a dormir, em seguida deixo o
quarto e sigo em direção ao meu escritório.

Eu tenho certeza de que não conseguirei trabalhar essa noite, ainda mais
sabendo que ela está dormindo no quarto ao lado.

Respiro fundo e decido trabalhar um pouco, mesmo já sendo domingo de


madrugada, acho que apenas isso conseguirá me distrair da tentação que está
dormindo na mesma casa que eu.

Minha cabeça doí pra caralho, não preciso nem abrir os olhos para saber que
estou com uma puta resseca. Odeio quando perco o controle da bebida dessa
maneira, mas queria extravasar ontem e apenas por isso me deixei beber
mais do que eu deveria.

Me mexo na cama e sinto que esse não é o meu colchão, afinal, conheço
muito bem onde durmo durante a noite.

Lentamente abro os olhos, agradecendo mentalmente pela janela estar


fechada. Pisco diversas vezes, sentindo uma pontada no fundo da alma, eu
definitivamente não vou beber mais dessa maneira.

Com minha visão estabilizada, tento reconhecer o quarto onde eu estou. Me


sento na cama e percebo que estou usando uma camiseta masculina.
— Sophia, aonde foi que você se meteu? — pergunto para mim mesma,
tentando assimilar aonde estou.

Com toda a certeza ainda estou com o álcool em meu organismo, passo as
mãos nos olhos e olho novamente ao meu redor, vejo um porta-retratos em
cima da mesa de cabeceira e me apresso em pegá-lo, me

xingando ao sentir outra pontada na cabeça. Assim que pego o objeto e vejo
quem está na foto respiro aliviada.

É uma foto de Benjamin em sua formatura, o que indica que estou em seu
apartamento.

Me jogo de volta na cama e me aconchego novamente em sua cama, eu


deveria ter suspeitado que estou em sua casa, afinal, saímos ontem à noite
para beber e tenho absoluta certeza do mundo que ele não me deixaria sair
com nenhum desconhecido, ainda mais no estado que eu estava.

Podre de bêbeda.

A porta se abre de uma vez e no susto me sento rapidamente na cama,


apertando os olhos por causa da claridade que entra no quarto.

— Quer me matar de susto, Benjamin? — pergunto, com raiva.

— Bom dia, Bela Adormecida, vim ver se ainda estava viva depois da
bebedeira de ontem.

Ele caminha em direção ao banheiro e eu me deito de novo, gemendo.

— Quero esquecer que ontem existiu.

— Dor de cabeça?

— Parece que ela vai explodir a qualquer momento.

— Fiz um café sem açúcar para você e tem mais remédio na cozinha, vou
trazer para você.
Ele volta para o quarto e eu me sento na cama.

— Dei muito trabalho?

— Já estou acostumado em ver você bêbada, Soph, nada de novo.

Solto um suspiro indignado.

— Vá tomar um banho e venha comer alguma coisa, sei que vai se sentir
melhor depois disso.

— Ok, papai, farei isso.

Benjamim faz uma careta e deixa o quarto, fechando a porta em seguida.


Fico cerca de cinco minutos esperando a coragem aparecer pra que possa ir
tomar banho, infelizmente ela não vem e preciso me levantar assim mesmo.

Vou direto para o banheiro, já tirando a camiseta pelo caminho.

Encontro meu vestido pendurado atrás da porta e sei que foi Ben que o
colocou ali, assim como sei também que fui eu mesma quem tirou minha
roupa ontem à noite, Benjamin jamais faria isso comigo bêbeda.

E nem sóbria.

Minha mente traiçoeira trata de gritar para mim, afinal, se tem uma coisa que
eu tenho certeza nessa vida, é que o Benjamin jamais olharia para mim como
mulher, afinal, somos melhores amigos e fomos criados juntos desde que me
entendo por gente. Benjamin Cooper jamais olharia para mim com outros
olhos.

Com um suspiro resignado, entro debaixo do chuveiro quente, deixando a


água lavar o restante da bebida.

Saio do banheiro e me seco com uma toalha que ele deixou para mim e uso a
escova de dentes que ele disse que havia dentro da gaveta do balcão. Ajeito
o coque no cabelo e fico em dúvida se uso o vestido de ontem ou se,
simplesmente, pego a camiseta que dormi.
Sorrindo, decido usar a camiseta, que ficou parecendo um vestido em mim,
mas ainda assim, proporcionalmente curta.

Deixo o quarto e vou para a cozinha, procurando pelo meu amigo, que se
movimenta pelo cômodo.

— Bom dia! — cantarolo, me sentando no balcão e ficando de frente para


ele.

— Quase boa tarde, Soph, quase boa tarde.

— Meu Deus, você não consegue parar de reclamar um minuto! —

digo, fazendo careta.

Ben serve um xicara de café e coloca na minha frente, faço uma careta assim
que cheiro forte me atinge.

Odeio café!

— Beba, vai ajudar a tirar o efeito do álcool do seu organismo.

Suspiro e bebo aquela água preta, sentido o liquido amargar em minha


língua.

— Eca, Benjamin, como você consegue beber isso?

— Sem pergunta, Soph, apenas beba.

Ele coloca um copo de água em minha frente, seguido de um comprimido.

— Para dor de cabeça — explica, quando percebe meu olhar questionador.

Bebo mais um pouco de café, mas desisto de tentar terminar, e parto logo
para o remédio e água.

— Me desculpe por ontem — digo, após alguns segundos.

— O que você fez?


— Bebi demais? — respondo, incerta.

— Sempre faz isso, Sophia.

— Mas não a ponto de ficar bêbada, acho que passei dos limites.

— Você queria extravasar, não te culpo por isso. Quer comer algo?

— pergunta, mudando de assunto e faço que sim, estou morrendo de fome.

Meu amigo ergue o pulso para conferir a hora.

— Bom, minha mãe me chamou para almoçar, mas não dei certeza de que ia,
acredito que ela não almoçou ainda, quer ir para a casa dela?

— Aceito!

— Vou avisar que vamos almoçar juntos então.

— Vou me... — Paro de falar quando me coloco de pé.

— O que foi? — pergunta, desviando os olhos da tela do celular.

Saio de trás do balcão e deixo que ele veja o problema com seus próprios
olhos.

Sinto seu olhar passear de cima a baixo pelo meu corpo, vejo seu palmo de
adão se sobressair em seu pescoço e ele volta a olhar para seu celular.

— Tem roupa feminina no meu guarda-roupa.

— Porquê você tem roupas femininas no seu guarda-roupa? —

Estreito os olhos para ele, que nem desvia a atenção da tela do celular.

— Por que sabia que em algum momento você poderia dormir aqui e
precisar de algo, não é a primeira vez que isso acontece.

Ele tem razão, querendo ou não, me sinto especial por isso, apesar de ter
quase certeza de que ele também oferece roupas para as mulheres com quem
passa a noite.

— Vou me trocar então — murmuro.

— Estarei te esperando na sala.

Sigo para o quarto dele e vou direto procurar as roupas que ele disse que
tinha, imediatamente acho uma calça jeans escura e um croped de lã, graças
a Deus a roupa serve perfeitamente em mim.

Solto meus cabelos e consigo arrumá-los com os dedos, pego minha bolsa e
vou atrás do meu celular.

Tem várias chamadas perdidas da Aubrey e eu fecho os olhos mentalmente,


sabendo que ela vai me comer viva por ter dormido fora de casa.

Ligo para ela.

— Aubrey...

— Sophia Davis, posso saber aonde passou a noite?

Suspiro e me sento na cama do Benjamin.

— Estou na casa do Benjamin — respondo, sendo sucinta.

— Bebeu demais, não foi?

— Não consegui evitar, ok? — Escuto sua lufada de ar do outro lado da


linha e sei que está se segurando para não falar demais. — Eu estou bem,
Aubrey, juro para você, Benjamin cuidou de mim todo o tempo.

— É claro que ele cuidou, está tão preocupado quanto eu.

— Desculpe, não pensei muito, apenas fui.

— Só não me preocupe mais, ok? E diga ao Benjamin que ele deveria ter me
informado que estava com você.

— Irei avisá-lo, prometo.


— Não vem pra casa agora?

— Vou almoçar com ele e sua mãe, chego no fim da tarde.

— Certo, não estarei em casa, mas mande mensagem quando chegar.

— Ok, pode deixar, amo você!

— Também amo você, maluca! Beijos.

— Beijos.

Encerro a chamada e vejo que meu amigo está na porta.

— Me esqueci de avisar a Aubrey, me perdoe. — Faço que não com a


cabeça e me levanto.

— Não precisa se desculpar, já fez o suficiente cuidando de mim, agora


vamos? Quero ver sua mãe, estou com saudades dela!

Dou a ele meu melhor sorriso e sei que ele sabe que estou fingindo estar
bem.

— Certo, cupcake, vamos lá. — Estanco no lugar e ele se vira para mim. —
O que foi?

— Me chamou de cupcake — sussurro.

— Seu apelido — diz.

— Que você não usa desde que completamos quinze anos.

— Vai implicar com isso?

— Não, só me pegou de surpresa, apenas isso.

— Vamos, embora, baixinha!

Ele abre a porta e eu sigo para fora do quarto, sentindo seu perfume tomar
conta do meu ser ao passar do meu lado.
Espero que ele passe por mim e sigo atrás dele, observando o desenho que a
camiseta faz em suas costas.

Benjamin Cooper é um homem lindo, isso é um fato que constatei a partir do


momento que completei quinze anos, e depois de dez anos nada fez minha
concepção mudar.

Acontece, que para meu melhor amigo, eu sempre serei considerada a irmã
que ele nunca teve, e isso me mata, porque eu daria tudo para mostrar a ele
que não sou mais uma menina e sim uma mulher, mas pelo que conheço
dele, eu jamais preencheria os requisitos que me levariam direto para a sua
cama, com direito a tê-lo em cima de mim.

LER LIVRO COMPLETO AQUI

Quero agradecer primeira a Deus, por ter me sustentando até aqui e por não
ter me deixado desistir do meu sonho!

Quero agradecer a Ana Caroline, que sempre esteve ao meu lado, desde o
início, me apoiando e me ajudando, amiga esse lançamento não estaria
acontecendo se não fosse você, obrigada!

Minhas leitoras queridas, obrigada por não desistirem de mim, vocês são
mais que especiais em minha vida, saibam disso!

Amo vocês e se preparem, vamos nos ver muito mais em 2023!

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[1] Nome fictício

[2] Disco usado no hóquei

[3] Frase do livro do pequeno príncipe


Document Outline
Playlist
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Ćapítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo
GRÁVIDA DO MEU MELHOR AMIGO
Agradecimentos

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