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Criado no Brasil.
Playlist
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Ćapítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo
Agradecimentos
Como em todos os meus livros, GAME OVER não seria diferente, a história
conta com músicas selecionadas especialmente para a Aubrey e o Owen
15 ANOS ANTES
Lágrimas escorrem pelo meu rosto e tudo que eu quero é minha mãe comigo,
mas isso é impossível, porque ela está morta e eu não tenho mais ninguém
no mundo para cuidar de mim.
— Sei que está com medo, mas tenho certeza de que as coisas vão se ajeitar
daqui para frente. — Diz, carinhosamente, mas eu não consigo sair do lugar.
Tudo que consigo encarar nesse momento é a lápide com a foto que destaca
seu sorriso que eu nunca mais vou ver.
— Eu só quero minha mãe. — Digo, com a voz fanha por causa do catarro
que escorre pelo meu nariz.
— Eu também quero, querido, e faria qualquer coisa para tê-la de volta aqui,
eu juro, mas a partir de hoje você vai ficar comigo e eu prometo que eu vou
cuidar de você, prometo que nada vai te faltar.
Encaro pela primeira vez a mulher a minha frente e pisco várias vezes.
Percebo que ela é parecida com a mamãe, seus olhos são idênticos,
Meu pai.
Tem muito tempo que eu não vejo o papai, a última vez que o vi foi no meu
aniversário de cinco anos e já tenho quase sete.
— Eu vou cuidar de você, Owen, vou cuidar de você como sua mãe me
pediu.
— Ela pediu?
Uma lágrima escorre pelo seu rosto, mas rapidamente ela seca.
— Pediu e eu prometi para ela que ia cuidar de você como se fosse meu
filho. Eu prometo, Owen, que vou cumprir a promessa da sua mãe.
Ela estende a mão para mim e, por alguns segundos, eu apenas olho para a
palma virada em minha direção num convite para que eu vá de livre e
espontânea vontade, e é o que eu faço. Seguro na mão dessa completa
desconhecida e ela me puxa para um abraço. Sei que ela está chorando,
porque consigo ouvir seus fungados.
Nunca tive planos de voltar para o Canadá, mas aqui estou eu novamente,
pronta para minha nova vida, pronta para tentar me adaptar novamente em
Toronto.
Graças a Deus esse apartamento veio mobiliado, daria muito trabalho trazer
todos os móveis de Nova Iorque ou comprar móveis novos aqui.
Caminho em direção ao quarto que será meu escritório e decido dar início na
organização de tudo, pois tem cinco caixas de livros aqui dentro e preciso
organizar todos eles. Olho para a minha estante, único móvel que trouxe de
NY e percebo como ficou perfeita na parede do quarto. Não é qualquer
estante que comporta meus livros.
Sempre fui apaixonada por livros e ler romances para mim é como me
entregar uma vida nova, é participar efetivamente da vida de alguém sem
que esse alguém saiba o que está acontecendo.
Comecei a ler muito nova e desde então eu já sabia que queria escrever para
tocar o coração das pessoas, queria transmitir para elas a sensação que um
romance causa enquanto você está lendo.
Lancei meu primeiro livro aos 20 anos de idade e devo dizer que achei que
esse sonho nunca fosse dar certo, mas deu. Posso não ser uma escritora
mundialmente reconhecida como a Collen Hoover, mas tenho minha cota de
leitores, uma editora que acredita no meu potencial e uma renda fixa, porque
meus livros fazem sucesso.
querer viver a vida do personagem e, entenda, isso não é fácil, ainda mais
para alguém que nunca se apaixonou.
Exato, nunca me apaixonei. Tive meus casos, minhas experiências, mas não,
nunca entreguei meu coração para homem nenhum, porque até agora
nenhum foi digno de chegar perto do meu coração.
Posso estar fantasiando um amor que nunca vou viver? Talvez, mas ainda
sonho em me apaixonar perdidamente, de perder o ar quando ver a pessoa,
de sentir meu coração acelerar só de pensar nesse alguém, de sentir as
famosas “borboletas no estômago” ao vê-lo.
Tenho 27 anos e ainda não encontrei o homem que vai me fazer viver um
amor dessa forma, não encontrei o homem que faça ao menos meu coração
disparar com um simples olhar, mas não me preocupo com isso.
Enquanto a pessoa certa não chega, vou continuar vivendo o romance dos
meus personagens e assistindo outros casais se apaixonarem, sem se dar
conta de que são apaixonados.
Termino a primeira caixa e passo para que tem minha coleção de livros de
fantasia, um dos meus gêneros preferidos. Ainda não me acho capaz de
escrever um livro assim, porque exige mais concentração do que
imaginamos.
Passo a manhã inteira organizando minha estante, deixo minha mesa do jeito
que quero e minha poltrona de leitura estrategicamente posicionada perto da
janela, onde tenho uma vista linda de boa parte da cidade de Toronto.
Mãe: Oi, minha filha, como você está? Amanheci bem, não se preocupe
comigo, acredito que os remédios estejam fazendo efeito, já que não senti
dor nenhuma durante a noite.
Eu: Estou finalizando, não se preocupe, daqui a pouco eu passos aí para ver
como a senhora está.
Eu: Não precisa, vou procurar algo para comer aqui perto mesmo!
Mandei uma mensagem para minha mãe explicando para ela que eu dormi
demais, mas que iria para casa dela assim que eu comesse algo. Ela
respondeu dizendo que não tinha problema e que sabia que eu estaria
cansada por causa da viagem.
De banho tomado e com alma renovada, opto por vestir um vestido soltinho,
de alcinhas. Ainda estamos no verão, mas logo o outono vai dar as caras e
Toronto vai começar a esfriar, além de se tornar uma das cidades mais
lindas.
Pego minha bolsa, meu celular e saio do apartamento. Vou passar em algum
lugar para comer algo, mas não conheço muita coisa aqui no centro de
Toronto. Assim que chego na portaria, vou até o porteiro e o cumprimento.
— Boa noite, eu sou nova aqui na cidade e queria indicação de um local para
comer.
— Hoje não tenho muita preferência, quero algum lugar que a comida seja
gostosa!
— Aqui perto tem um bar, na verdade é uma mistura de bar com lanchonete.
Você vai encontrar de tudo ali e, além da comida ser excelente, é point dos
jovens aqui em Toronto.
Me despeço dele e sigo na direção que ele indicou. Assim que chego no
local e entro, paraliso na porta.
— Boa noite, posso ajudar? — Uma moça loira pergunta, sorrindo para
mim.
Daria cerca de uns 18 anos para ela, parece ser bem nova.
— Está lotado hoje. — Comento, enquanto ela me leva até uma mesa vazia.
Agora minha ficha cai. Canadá é um dos países em que mais se joga hóquei,
não me atentei a esse detalhe porque nunca fui muito ligada à jogo.
Olho para o cardápio e me assusto com a variedade de coisas que tem por
aqui e, por fim, escolho algo simples. Ela anota meu pedido e eu fico
sozinha.
Pego meu celular e entro na minha rede social de autora e vejo que a menina
responsável por mexer nas minhas redes sociais soltou um spoiler do meu
próximo lançamento e já tem vários comentários.
Sorrio ao ver que as meninas estão animadas com a história nova e respiro
fundo ao ver que eu preciso terminar esse livro urgentemente. Odeio
bloqueio criativo!
— Gostou da comida?
— Wendy!
— Acho que você vai gostar, realmente é bem calmo durante o dia!
— Eu quem agradeço!
Deixo a lanchonete e assim que entro no táxi que pedi para ir à casa da
minha mãe, vejo uma mensagem da Emília, uma das responsáveis por uma
editora aqui em Toronto. Era apenas a confirmação do nosso encontro
amanhã pela manhã.
Ainda não quero comemorar sem nada ter uma certeza, mas talvez eu
consiga fechar com uma editora daqui e isso me deixa animada. Sorrio e
envio uma mensagem de confirmação para ela.
Posso não estar na cidade que eu almejei, mas continuarei trabalhando para
fazer aquilo que sempre fiz: escrever livros!
Olho para o jogador na minha frente. Estou em posição inicial, o árbitro está
em nosso meio, o juiz apita e o puck[2] é jogado para o alto.
pequeno disco vem uma velocidade incrível e eu tomo sua posse, correndo
em direção ao gol o mais rápido que posso, seguido pela equipe adversária.
Hamilton Jones é nosso treinador, um dos poucos homens que posso dizer
que tenho orgulho de me espelhar. O senhor Jones é como um pai para cada
um dentro desse time, ele incentiva, cobra e nos faz dar nosso sangue em
todo o treino, mas ele faz isso porque conhece nosso potencial e sabe onde
podemos chegar.
— Essa foi a primeira vitória de muitas que virão, tenho certeza de que essa
será a melhor temporada que já fizemos! Concordam time!? —
Grita.
O hóquei entrou na minha vida de uma maneira muito natural, hoje não me
vejo fazendo outra coisa se não for isso, não me vejo vestido de terno e
gravata, dentro de uma sala, envolto de papéis e com casos para resolver,
como meu pai sonha.
Infelizmente, para ele meu sonho não tem relevância e ele acredita
prontamente que tudo isso seja uma fase passageira e quando eu me formar,
irei assumir a empresa que é minha por direito.
— Vamos beber, Hughes. — Zach, meu melhor amigo, diz, batendo nas
minhas costas em seguida.
— Não sei se é uma boa ideia. — Murmuro, eu não acharia mal ir beber,
mas amanhã tenho uma prova importante e não quero ir de ressaca para a
aula.
— É isso aí, porra! É assim que se fala! — Diz e se vira para nossos amigos.
— Vamos para o Red Rock depois daqui, vamos comemorar!
Como sempre acontece, algumas pessoas se reúnem aqui para torcerem pela
gente, a maioria são nossos colegas da universidade mesmo.
— Sei que sim, mas você foi brilhante como sempre, Owen, não tem como
negar!
— Ela sempre faz isso cara, não sei porque vocês ainda têm esperança de
mudança. — David comenta, rindo.
— É pra já meninos!
Wendy se afasta, e todos nós viramos para olhar sua bunda arrebitada dentro
do uniforme do bar.
— Porque?
— Na verdade, acho que o fato maior é ela ser apaixonada por ele.
— Para de ser modesto, Owen. — Lucca diz. — Todos nós sabemos que
vocês dois já se pegaram, você deu um pé naquela bunda linda que ela tem e
ela segue apaixonada por você.
Rio e passo a língua nos lábios, meus olhos vão em busca da Wendy.
Ela é linda, não tem como negar esse fato. A loira com olhos esverdeados,
sorriso doce e fala mansa pode te enganar completamente, passando a
imagem de anjo, que não corresponde nem um pouco com sua personalidade
atrevida, atraente e puramente sensual.
Ela é sexy pra cacete, me deixa louco na cama, mas é apenas isso, não posso
dar a ela o que ela quer, um relacionamento sério.
Meus amigos sorriem, sabendo que é a verdade. Mas não quero me envolver
seriamente com ninguém, primeiro porque meu foco atual é a NHL e preciso
dar tudo de mim para ser notado, segundo porque o que rola entre nós dois é
apenas sexo, não existe nada mais do que isso e nem vai existir.
Minha cabeça parece que vai estourar... Me mexo na cama e sinto um corpo
ao meu lado e imediatamente paraliso. Mas que porra...
Abro meus olhos e vejo uma ruiva, nua, completamente espalhada na minha
cama.
Inferno!
— Como...
Fecho a porta antes de ser acertado por algum objeto que ela tentasse atirar
em mim e sigo para a cozinha.
Os caras estão tomando café, e todos estão em uma situação pior que a
minha, devo dizer.
— Só se for pra ele que veio acompanhado para casa. — Caleb murmura.
— Espero que ao menos tenha fodido com camisinha, a última coisa que
precisamos aqui são minis Hughes correndo pela casa. — Zach diz e
— Falô pra vocês, até o treino. — David fala, subindo na sua moto também
e sumindo em seguida.
— Você dirige, Owen. — Zach joga a chave do carro para mim e entra no
carro, seguido por Caleb e o Elliot.
Meus pensamentos ainda estão meio confusos por conta do álcool, respiro
fundo e me pergunto como vou fazer a droga da prova hoje.
Eu não deveria ter bebido, isso teria evitado que eu levasse aquela mulher
pra cama. Posso ser um cafajeste, mas pelo menos me lembro do nome das
mulheres que passam a noite comigo, ela nem isso.
— Cuidado, Owen!
Piso no freio na hora, sentindo meu sangue gelar ao sentir o carro batendo
em uma pessoa.
Puta merda!
Eu atropelei alguém!
Sinto meu corpo todo paralisar com esse pensamento. Isso não aconteceu,
tenho certeza disso, não pode ter acontecido, não...
Ela geme mais uma vez e abre os olhos, piscando várias vezes, então seu
olhar se fixa no meu. Sinto meu coração acelerar, assim como minha
respiração parece ter ficado mais escarça.
— Você não presta atenção enquanto dirige não? — Pergunta, com raiva.
— Como?
Sei que não é hora para isso, mas porra! Que mulher dos olhos lindos, puta
que pariu!
Analiso seus traços e constato que não são apenas seus olhos que são lindos,
o rosto dela parece beirar a perfeição, acho que em toda a minha vida eu
nunca tinha visto uma mulher tão linda como ela.
— Obrigada.
Ela usa a frente do carro para organizar as folhas e guarda tudo na pasta
novamente, ajeita a bolsa e se vira para mim.
— Preste atenção enquanto dirige, garoto, acho que você não quer matar
ninguém agora.
— Eu peço desculpas por isso, eu realmente estava distraído e...
Ela se vira e segue. Demoro um tempo para raciocinar e ir atrás dela. Seguro
seu braço e a puxo, ela me encara com uma sobrancelha arqueada.
— Não tenho tempo para isso, garoto, não se preocupe! Para a sua sorte não
quebrei nenhum osso, então apenas volte a fazer o que estava fazendo. Só
dirija com cuidado, talvez não tenha tanta sorte da próxima vez.
Ela não espera uma resposta, apenas se vira e segue seu caminho.
— Nem me fale.
Observo a mulher sumir do meu campo de visão e encaro meu amigo, ainda
tentando assimilar tudo que aconteceu agora, mas ainda não consigo.
Ele coloca um braço em torno do meu ombro e seguimos para o meu carro, a
multidão de pessoas já tinha se dispersado.
— Pense pelo lado bom, pelo menos a polícia não foi envolvida, seria ruim
demais você ter que explicar para o Hamilton porque foi parar na delegacia.
— David argumenta
Ele tem razão, seria mil vezes pior se eu tivesse parado na delegacia.
Caleb pergunta.
— Acho que o Owen reparou bem, afinal de contas, ele parecia hipnotizado
por ela. — Zach me zoa e jogo uma bolinha de guardanapo nele.
— Ela era bonita, não dá pra negar. — Concordo, me lembrando dos
detalhes do seu rosto, o nariz pequeno e arrebitado, os olhos expressivos, a
boca perfeita e as sobrancelhas bem desenhadas.
— Você está certo, Caleb, aquela mulher é linda pra cacete, acho que nunca
vi uma mulher tão linda quanto ela em toda a minha vida.
— Ela é bonita, não dá para negar, mas completamente fora do meu alcance.
Para piorar recebo uma mensagem do meu pai, exigindo que eu vá à casa
dele imediatamente, pois tem um assunto urgente para tratar comigo.
Tenho até medo do que poder ser, porque vindo do meu pai posso esperar
literalmente qualquer coisa.
— Muito bem!
— Sempre damos um jeito, não se preocupe. — Beijo sua testa e ela sorri.
— Meu pai...
— Talvez não seja nada, querido, mas é melhor não o deixar esperando.
— Cheguei.
— Owen, querido! — Ela deixa o livro de lado e vem me abraçar.
— Como você está? — Mag se afasta e segura meu rosto, como se quisesse
conferir se estou machucado.
— O que...
— Você não passa de uma criança mimada que acha que pode fazer tudo que
quer e sair ileso de punições!
Não acredito que fui chamado aqui para ouvir sermão, mas eu deveria
imaginar. Na verdade, meu pai nunca me chamaria para outra coisa.
— Como é?
— Não tem discussão, não tem negociação, não tem porra nenhuma que me
faça mudar de ideia. Considere isso um castigo brando em comparação ao
que posso fazer com você.
— Posso saber ao menos o motivo dessa decisão?
— A porra do motivo...
— Isso é mentira...
Não respondo, não adianta nada eu responder ou não, não vai fazê-lo mudar
de ideia.
— Bebeu?
— Bebi.
— Chris...
Ele deixa seu escritório, a porta bate e eu fecho os olhos, respirando fundo.
— Eu vou conversar com seu pai, Owen, está de cabeça quente e...
— Não se preocupe, Mag, você sabe tão bem quanto eu que nada vai fazê-lo
mudar de ideia.
— Tem certeza?
Pisco para ela e deixamos o escritório do meu pai. Margareth é uma das
pessoas mais importantes para mim, foi ela quem cuidou de mim quando
pensei que tudo estava acabado. Foi graças a ela que recebi amor e cuidado
de mãe e, apesar de não ser minha mãe biológica, ela é a minha
mãe do coração e fez exatamente o que a minha mãe pediu a ela, cuidou de
mim.
Depois de um tempo eu descobri que a Margareth era irmã da minha mãe,
por isso na época eu as achei muito parecidas. Meu pai era casado com a
Mag desde sempre, mas teve um caso com a minha mãe e com isso eu fui
concebido.
Sim, sou fruto de uma traição do meu pai com a minha mãe, não me orgulho
disso, acredite. Na época fiquei com ódio do meu pai, me perguntei como ele
pode trair a Mag dessa maneira, depois fiquei com raiva da minha mãe, por
ter sido amante do meu pai e traído a irmã dela, mas no fim das contas,
minha tia disse que nada disso importava, porque eles dois deram a ela o
presente mais importante que ela já ganhou, que foi a oportunidade de me
criar.
Beijo sua testa e deixo a mansão. Sigo em direção ao meu carro, coloco
meus óculos escuros e abro um sorriso de lado.
Pensando pelo lado positivo das coisas, será muito interessante ter um
apartamento só para mim, afinal de contas, terei um espaço mais reservado
para dar algumas festas especiais.
Respiro fundo ao me olhar no espelho, sinto uma dor no meu cotovelo, mas
nada que me impeça de fazer algo. Só de lembrar daquele infeliz que estava
bêbado me dá nos nervos.
Tenho certeza de que ele é algum desses universitários metidos a ricos, que
os pais bancam tudo e que não adiantaria em nada chamar a polícia, eu só
iria me estressar porque em questão de segundos a história toda seria
esquecida, melhor não perder meu tempo com isso.
Deixo o banheiro e volto para a recepção, a secretária ainda está ali e sorri
para mm.
— Claro!
Sigo a moça até o fim do corredor e ela abre a porta de uma sala gigante.
Começa.
— É uma história fascinante, Aubrey! A leveza com que você escreve temas
sensíveis, a forma como aborda cada detalhe, o romance...
Simplesmente perfeito!
Você não faz noção de como é difícil encontrar algo que se encaixe nos
padrões da nossa editora. — Ela se levanta e começa a andar atrás de sua
mesa. — Todos os dias recebemos dezenas de originais, mas nenhum deles
me chamou a atenção como o seu, não pense que não pesquisei suas outras
obras e devo dizer que estou encantada com sua escrita.
— Você está sorrindo mais. — Minha mãe observa e não consigo conter o
sorriso em meus lábios.
Ela aperta minha mão e encaro seu rosto, que está mais magro que o normal,
o olhar cansado, juntamente com olheiras profundas e seu semblante está
carregado de sono.
— Isso não chega a ser nenhum terço do que eu posso fazer pela senhora.
Ela volta a encarar a agulha em seu braço e faço de tudo para reprimir o
choro entalado em minha garganta. A verdade é que minha mãe havia
perdido a esperança de viver, ela só está aqui por minha causa, apenas por
isso.
Uma lágrima teimosa escorre pelo meu rosto e eu rapidamente a seco, antes
que ela possa ver.
— Não chore, querida! — Ela diz e percebo que ela notou, mais algumas
lágrimas escorrem e eu mordo o lábio inferior.
O sorriso que ela me dá me quebra por dentro, pois eu sei que há muito ela já
desistiu de viver, já desistiu de se curar e só está esperando o momento certo
para que deixe esse mundo.
— Apesar de tudo que está acontecendo, Aubrey, você estar aqui comigo foi
uma das melhores coisas que me aconteceu.
— Como eu poderia não estar com você, mãe? — Pergunto e ela sorri,
suspirando.
— Seque essas lágrimas, meu bem, eu ainda estou aqui e não pretendo te
deixar tão cedo.
— Te amo, mãe.
— Eu também te amo, meu bem, mais do que qualquer coisa nesse mundo!
Jamais se esqueça disso.
Uma das piores dores que o ser humano pode sentir é a dor da perda.
Mas acho que a dor de saber que alguém está prestes a partir, prestes a te
deixar e você nem ao menos sabe quando isso vai acontecer, mas que vai
acontecer uma hora ou outra, é pior ainda.
Sophia Davis é a pessoa mais próxima que posso chamar de melhor amiga.
Moramos juntas desde a faculdade e dividimos vários momentos juntas, mas
desde que ela descobriu que estava grávida do seu melhor
Por falar nisso, minha afilhada está prestes a nascer e eu mal posso esperar
para conhecê-la.
Prendo meus cabelos e entro debaixo da água quente, sentido todo o cansaço
do dia ir embora. Confesso que ir para as quimioterapias com a minha mãe
me deixam exausta, sei que ela deve ficar muito mais, porém só quem
acompanha o dilema de alguém com câncer sabe como a rotina intensa de
idas ao hospital e de plantão é exaustiva.
Visto um pijama quentinho e vou para a cozinha, decidida a preparar um chá
para mim, afinal, é o mais próximo de algo que consigo preparar sem que
minha cozinha pegue fogo.
Me sento no sofá com meu chá de camomila e meu kindle, só assim para eu
conseguir relaxar e ficar em paz.
eu preciso aguentar essa rotina intensa e pela minha mãe eu farei esse
sacrifício.
Teria sido muito mais fácil se eu estivesse morando com ela e, inclusive,
esse era o plano inicial, mas minha mãe insistiu que eu alugasse um
apartamento para mim para não me sobrecarregar pois, segundo ela, já
bastava que eu fosse ao hospital com ela e ficasse o dia inteiro. Como ela
tem uma enfermeira que mora com ela, não faria sentido que eu fosse para lá
também.
Tomo um gole do meu chá e suspiro. Tem coisas que não conseguimos
controlar e a única coisa que podemos fazer é aceitar o destino como ele é,
sem perguntas ou lamentações.
Graças a Deus hoje é sábado! Uma semana nunca passou tão lentamente
como essa, guardo minhas coisas dentro da minha bolsa e confiro a hora, são
10:00h da manhã.
Assim que confiro que está tudo guardado, abro a porta do meu apartamento,
dando de cara com várias caixas no corredor. A porta do apartamento da
frente está aberta e reviro os olhos, sabendo que ganhei um novo vizinho.
Ele está conversando com outro rapaz, então seu olhar se desvia e se prende
ao meu e eu perco o fôlego por completo, sentindo meu coração acelerar,
minha boca secar e entreabro os lábios para conseguir respirar corretamente.
Vejo a compreensão chegar em seus olhos e ela piscar, dando um passo para
trás.
Sorrio de lado, não conseguindo esconder a graça que sua reação me causa.
Dou um passo para fora do elevador e me aproximo mais dela. Para sua
sorte, seguro uma caixa de papelão e é exatamente essa a distância que
ficamos um do outro.
Não falamos nada por cerca de vinte segundos, e são os vintes segundos
mais longos da minha vida.
A morena me acompanha com o olhar, mas não diz nada, apenas segue em
direção ao elevador, onde entra e observo as portas se fecharem lentamente,
me dando uma última visão dela.
Reflito.
— E ela parece ser daquele tipo de pessoa que te mata só com o olhar.
— Quem diria que a sua vizinha seria a mulher que você atropelou e que,
indiretamente, é responsável por você ter saído da fraternidade, não é?
— Eu sei que você vai sentir minha falta, Zach, pode dizer.
— Vai pra puta que pariu, Owen! — Xinga, indo para a cozinha e eu fico na
sala.
Tudo que consigo pensar é na minha nova vizinha, quem diria que eu
encontraria a mulher que atropelei aquele dia? Confesso que ela ficou na
minha cabeça desde então, me perguntei o que teria acontecido com ela, se
estava bem, se não tinha se machucado gravemente. Mas, pelo que consegui
ver, ela está muito bem e isso me deixa mais aliviado.
Me pergunto o que ela iria fazer naquele dia, pois ela parecia com pressa e
preocupada. Me lembro claramente do Zach entregando a ela várias folhas
de papéis que haviam escapado quando a atropelei. Talvez ela seja alguma
empresária... Universitária eu sei que ela não é, conheço uma universitária
de longe e ela já passou dessa fase, o que significa que ela é mais velha do
que eu e...
— Como?
— Contando que eu prometi que me casaria com umas cinco senhoras ali,
talvez elas queiram me matar. — Digo e me coloco de pé.
— Te admiro por isso, cara. — Encaro meu amigo e sorrio olhando para o
chão.
— É o mínimo que posso fazer, Zach, se eu pudesse fazer mais eu faria, mas
agora é apenas isso que está ao meu alcance.
Zach bate nas minhas costas e deixa meu novo apartamento, fico sozinho
olhando para o amontoado de caixas e malas dentro da sala, respiro fundo e
decido dar um jeito logo nisso, afinal de contas, tenho alguns planos para
hoje a noite.
Desde que conversei com ela e falei que viria algumas vezes na semana,
durante o dia, para poder trabalhar aqui, ela deu um jeito de reservar uma
mesa mais afastada para que eu obtivesse mais silêncio ainda.
Wendy é uma boa menina, gosto de conversar com ela quando chego, acho
ela mega simpática e atenciosa.
— Não sei, só o vi uma vez, porém como dizem por aí, a primeira impressão
é que fica, e a dele não foi muito positiva. — Digo, olhando para meu
computador.
— Imagino, mas quem sabe com o tempo vocês não acabam se dando bem?
— Falo.
Passei umas cinco horas no Red Rock e não consegui escrever um parágrafo
que me agradasse por inteiro. Me pergunto como posso estar completamente
travada dessa maneira, não é possível!
Isso nunca me aconteceu antes, sempre foi muito fácil transmitir as cenas da
minha cabeça para o papel, mas agora... agora existe um enorme bloqueio
que não me deixa fluir em nada quando se trata da escrita.
— Você precisa viver um romance, isso sim! — Sophia grita do outro lado da
linha e eu reviro os olhos. Como sempre, minha melhor amiga está tentando
me arrumar um namorado.
— Menos coisa nenhuma! Como você vai fazer alguém se apaixonar dentro
dos seus livros se você nunca se apaixonou antes? Não faz sentido, Aubrey!
Você precisa conhecer novos ares, se distrair, namorar! Quem sabe tudo isso
não vai fazer você abrir a mente?
— Sonha! — Resmungo.
— Não precisa namorar, Aubrey, apenas pegue, sei lá, dá uns beijos,
amassos, mas sinta na pele a experiência. Encarne a mocinha dos seus
livros e esqueça que você está esperando o príncipe do cavalo branco
aparecer na sua porta te pedindo em casamento.
Suspiro. Não é tão simples como ela pensa, não é apenas pegar e pronto, tem
toda a questão de sentimentos, de química, de entrosamento...
Para ela falar é fácil, sempre teve uma química incrível com o Benjamin, seu
namorado e, mesmo antes de descobrirem estar apaixonados
Já tentei ser da turma do pessoal que pega e não se apega, mas não adianta,
não me sinto confortável sendo desse jeito.
Saio do elevador devagar e reviro os olhos ao ver que o som vem da casa do
meu mais novo vizinho.
O som parece mais alto daqui e dá pra ouvir algumas pessoas conversando.
Na verdade, gritando, porque com um som dessa altura é impossível
conversar normalmente.
— Olha, ele está ocupado, mas se quiser posso resolver seu problema... —
Seus olhos descem sugestivamente pelo meu corpo e eu reviro os olhos.
Passo por ele sem agradecer e sigo para o lugar que me mandou e, assim que
abro a porta do quarto, sem bater e nem nada, dou de cara com o meu
vizinho beijando, na verdade, praticamente engolindo a boca de outra garota.
— Mas que porra... — Ele diz, parando de beijar a menina, mas se cala ao
me ver.
Reviro os olhos.
Problema técnico?
Cruzo os braços e espero que ele faça alguma coisa, mas tudo que faz e
erguer o braço direito e passar a mão na cabeça, o que me faz notar que ele
está sem camisa. Percebo que seu corpo é definido, muito definido para falar
a verdade, os braços são musculosos e mesmo ele estando de lado, consigo
ver que sua barriga é perfeitamente trincada.
A menina me encara com desdém, que não me abala, pega suas coisas e
passa por mim, batendo o ombro no meu de propósito.
— Assim como?
— Estraga prazeres.
Ele para a centímetros de distância de mim, da mesma forma que parou mais
cedo, mas dessa vez a diferença é que não temos uma caixa de papelão para
impedir a aproximação.
Meu vizinho é mais alto que eu, então preciso erguer os olhos para encará-lo
melhor. Dessa maneira consigo focar ainda mais em seu rosto.
— Nós moramos em um prédio, onde existem regras e uma dessas regras diz
que é expressamente proibido dar festas que perturbem a paz de outros
inquilinos. — Digo e ele sorri de lado.
Devo ressaltar que ele tem covinhas, percebi isso mais cedo, mas vendo
agora de perto, isso o deixa ainda mais com cara de garoto. Ele desvia os
olhos dos meus por alguns segundos, mas volta a me encarar, só que dessa
vez parece ser mais perigoso.
— Sua festa privada está nos corredores do prédio, seu som dá para ser
ouvido do elevador e tenho certeza que os vizinhos dos andares superior e
inferior não estão nem um pouco felizes com esse barulho todo.
— Seu nome, já nos encontramos três vezes e eu ainda não sei como você se
chama, acho que posso saber o nome da minha vizinha, não?
Diz.
— Não precisa se dar ao trabalho de fazer isso, pode deixar que eu mesma
faço!
— A festa acabou! Todo mundo pra fora! — Digo e eles me olham com
raiva.
— Se essa festa não acabar em cinco minutos, eu chamo a polícia e vai ser
bem pior!
Ele não olha para seus convidados em momento nenhum, quando percebem
que ele está falando sério, noto as pessoas começarem a sair.
— Espero que tenham ficado para ajudar na limpeza, esse lugar está uma
zona.
Me viro para sair, mas meu vizinho segura meu braço novamente, olho para
ele e suspiro profundamente.
Puxo meu braço do seu e deixo seu apartamento, já pego a chave do meu e
entro rapidamente, fechando a porta e me escorando nela.
— Acredite, Owen, ela ter ido atrás de você ou não, não fez muita diferença,
ela ia acabar com a festa de qualquer jeito. — David diz.
Aubrey Stuart.
Dificilmente eu vou esquecer esse nome, ainda mais com a dona dele sendo
minha vizinha.
— Quem diria que o Owen tiraria a sorte grande, não é? Que vizinha
gostosa! — Lucca diz.
— Seria muito bom se a vizinha gostosa não fosse a mulher que atropelei
essa semana. — Digo.
— Não mesmo.
Se ela pensa que vai ter sossego, ela está muito enganada.
— Sim, senhor!
— Owen, preciso de você mais agressivo! Não tenha medo de jogar, Zach e
Caleb estão aqui para dar todo o apoio que você precisa nos ataques!
— Sim, treinador!
— Quero todos vocês com sangue nos olhos, nosso próximo jogo é no fim
de semana que vem e temos muita coisa para colocar em ordem! Na próxima
semana teremos um treino intenso durante a semana, não faltem!
— Sim, senhor!
— Vamos, vamos!
Assim que coloco meus patins na pista de gelo faço questão de respirar
fundo. Pisar aqui exige toda a minha concentração, o que significa que não
posso deixar outros pensamentos invadirem minha mente, minha
concentração precisa estra 100% voltada para o jogo e é isso que decido
fazer agora, esquecer o mundo e focar em jogar.
O puck é jogado e eu consigo a posse dele de imediato, corro em direção ao
gol adversário, mas o disco é tomado de mim no instante que em a defesa me
barra, olho para o lado, vendo o atacante reserva do meu time correr em
direção ao gol e jogar o disco numa velocidade impressionante, por sorte o
Lucca consegue impedir o gol.
— Preciso que redobre sua atenção. Você foi bom hoje, mas sei que pode ser
melhor, você não é o center desse time atoa, lembre-se disso!
Ele tem razão, preciso dar minha vida em cada jogo e nos treinos também e é
isso que vou passar a fazer.
— Está atrasado! — Paola diz e joga a roupa para mim, consigo perceber
pelo seu tom de voz que ela esteve chorando.
Ela deixa a sala e eu encaro o Josh, fazendo uma pergunta com os olhos.
Faço trabalho voluntário no hospital desde que completei 18 anos, uma das
minhas maiores alegrias é vir aqui e trazer um pouco de alegria para pessoas
que perderam o motivo para sorrir.
Conheci a Paola e o Josh assim, nos tornamos amigos e trabalhamos juntos
trazendo um pouco de diversão para pessoas em estágio terminal do câncer.
Só quem enfrenta essa luta sabe como é doloroso passar por ela e se sentir
sozinho, só quem enfrenta sabe o quão bom é receber um abraço e um
sorriso sincero.
Não é fácil estar aqui, afinal de contas, acabamos nos apegando aos
pacientes daqui e quando recebemos a notícia de alguma morte, nosso
— Eu sei, mas não deixa de ser triste, eu amava ficar conversando com ela.
Fico triste por não ter conseguido me despedir.
— Tenho certeza que aonde quer que ela esteja, ela está feliz por ter tido a
oportunidade de ter conhecido você.
— Vamos lá, Owen, hoje nós vamos para a ala adulta. A ala infantil será na
sexta.
Pego a peruca e coloco meu melhor sorriso no rosto, dando lugar ao palhaço
pipoca, onde seu único objetivo de vida é fazer as pessoas sorrirem.
— BOA TARDE PESSOAL! — Grito, assim que entro na sala onde são
realizadas as quimioterapias, sou recebido com palmas e começo a me
aproximar das pacientes.
— Como todos vocês sabem, hoje é um dia muito, muito, muito, muito,
muito, muito, muito... — Paro para respirar —... muito, muito, muito,
muito... Eu já disse muito?
— Anda logo, Pipoca, não temos o dia inteiro! — Josh diz, com uma voz
modificada e olhando zangado para o relógio imaginário.
— Me pergunto quem é a louca que vai casar com você! — Ele resmunga.
— Não chame minha noiva de louca, Paçoca. — Digo. — Ela vai gostar de
mim pelas minhas qualidades!
— E quais são?
— Ora! — Começo a andar pelo quarto, de maneira bem engraçada, que faz
algumas pessoas rirem. — Eu tenho várias qualidades!
— Quais?
— Várias!
— Mais quais?
— VÁRIAS!
— Pipoca!
— Primeiro: sou inteligente! Não sou, meninas? — Pergunto para elas que
concordam comigo. — Segundo: sou atraente! não sou, meninas?
— ACHEI VOCÊS!
Paola entra na sala, com uma cara de raiva e o Josh vem correndo para atrás
de mim.
— Rosinha, meu amor, que saudades que eu estava de você! Posso explicar
tudinho!
— Ah, pode é?
— Posso, eu vim passear com o Pipoca, porque ele ainda insiste em arrumar
uma noiva!
— Qual a graça?
— Se eu descobrir que vocês saíram mais uma vez sem falar comigo, eu juro
que os dois vão ficar sem arrumar noiva nenhuma!
— Menos, Paola.
— Vamos lá, pessoal! — Josh diz, passando ambos os braços por nossos
ombros. — Vamos conversar com o pessoal.
— Dona Kristen! O que a senhora faz aqui no dia de hoje? Que eu saiba sua
quimio é só na sexta!
— Perfeito!
— Em paz!
Em nossa última conversa ela me relatou que a filha estava vindo de Nova
Iorque para Toronto, apenas para ajudar a cuidar dela.
— Não diga isso. — Peço, parando de andar e ela dá tapinhas na minha mão.
— Pense pelo lado bom, quero muito viver a tempo de você encontrar sua
noiva!
Ela deixa escapar uma lágrima e eu rapidamente a seco, beijando sua testa
em seguida.
— Vamos lá, Pipoca! Não quero receber olhares maldosos por monopolizar
sua atenção apenas para mim!
Vou direto tomar um banho, preciso estudar para uma prova, mas com o
estomago vazio não rola, então decido ir a Jack rock comer algo.
Visto uma calça jeans, uma camiseta e pego o casaco do time. Pego meu
Me sento nas cadeiras perto do balcão e procuro pela Wendy, mas não a
encontro.
— Vai beber?
— Sim, muito linda! — Comento e me viro para ele. — O que ela faz aqui?
— Vem praticamente todos os dias, passa o dia inteiro trabalhando naquele
computador, não ligo, já que ela faz todas as refeições dela aqui também,
hoje ficou até mais tarde porque o movimento é fraco. É por causa dela que a
Wendy está de folga
— Sim, ela argumentou comigo que a garota não deveria trabalhar tantas
horas por dia e ainda ter que dar conta da universidade. Eu sei disso,
— Ela conversou comigo, falei que nunca impedi a garota de tirar folga, mas
era uma decisão dela, ela pediu permissão para conversar coma Wendy e
aparentemente deu certo.
— Uau!
Rio e bebo um gole da minha água. Será que isso é algum tipo de
encantamento pra fazer com que todos os homens fiquem obcecados em sua
beleza surreal?
— Red, pode levar minha comida naquela mesa. — Digo, apontando para a
mesa da Aubrey.
Sorrio de lado.
Meu vizinho está na minha frente, com aquele sorriso cafajeste que eu
aprendi a odiar desde a primeira vez que vi.
— Estava muito bem antes de você se sentar na minha mesa, há uns dois
minutos.
— Nunca te disseram que se sentar na mesa dos outros sem ser convidado é
falta de educação?
— Trabalhando... Algo que você não deve nem saber o que é, porque mal
saiu das fraldas ainda.
— Por que não procura uma garota da sua idade para atazanar a paciência?
— Questiono.
— Não sei... talvez porque ache mais interessante vir conversar com você.
— O Red disse que você vem trabalhar aqui praticamente todos os dias. —
Comenta e eu ergo os olhos para ele, que continua me encarando.
Reviro os olhos.
— Seu jantar, Owen! — Red deixa um prato na frente dele e se vira para
mim. — Tudo bem por aqui, Aubrey?
Fecho meu notebook, me levanto, pego minhas coisas e me viro para o Red.
— Boa noite, Red! Até amanhã!
que está meio frio. Deveria ter trago um casaco quando saí de casa, mas nem
me toquei que poderia esfriar.
Sim, pesquisei sobre ele e não foi muito difícil descobrir quem ele é,
inclusive, achei uma matéria referente ao atropelamento, a mídia é tão
perversa que colocou que eu ameacei chamar a polícia, alegando que ele
estava bêbado e iria denunciá-lo e que não sei o que.
Havia mais alguns motivos para ficar longe do meu vizinho encrenqueiro.
É incrível como não consigo tirar ele da minha cabeça! Seus olhos
castanhos, o nariz afilado, o rosto anguloso e os lábios perfeitamente
desenhados, o sorriso safado e as covinhas dão a ele um ar absurdamente
sensual.
— Sim, porque?
— Obrigada por ter me feito tirar folga ontem, acho que eu nem imaginava
que poderia dormir tanto. — Diz, timidamente.
Termino de mastigar e a encaro.
— Trabalho em excesso nunca é bom, Wendy! Precisa tirar uma folga, seu
corpo vai pedir de isso de uma maneira ou de outra.
— O que ele está fazendo aqui agora? — Ouço a Wendy murmurar e ergo os
olhos para a porta.
— O Owen geralmente não vem aqui durante o dia, é estranho vê-lo aqui
nesse horário. Vou atendê-lo.
Assinto e observo a menina ir até o meu vizinho, pela forma que eles
conversam imagino que eles sejam íntimos. Wendy coloca uma mecha de
cabelo atrás da orelha e sorri timidamente para ele, noto que toda vez que ela
fala algo, sua mão toca no braço dele, um sinal claro que é afim dele.
— Aubrey.. .
— Existe algum horário do dia em que você não venha tirar a minha
paciência?
Ele sorri.
Nesse exato momento eu me odeio muito por achar esse maldito sorriso
perfeito.
Porque esse infeliz tinha que ter um sorriso assim? Alguém me explica?
— Começar de novo?
— Sim, podemos tentar começar novamente, pelo que percebi vamos nos
ver muito por aí. Você é minha vizinha e frequenta o mesmo bar que eu, por
isso acho que podemos tentar ter uma amizade tolerável.
— Vamos lá, Aubrey, estou vindo com a bandeira da paz estendida para
você, o que acha de uma trégua nas patadas?
— Não sei se... — Meu celular toca e eu olho para o aparelho, vejo o nome
da Dakota na tela. — Preciso atender, só um momento.
— Não precisa...
— Você não vai conseguir chegar no seu carro desse jeito. — Fala e aponta
para minha bolsa meio aberta, minha agenda na minha mão, mais
— Me mudei para Toronto tem pouco tempo, não trouxe meu carro.
— Eu te levo.
— Como?
— Eu te levo, meu carro está estacionado aqui em frente, vai ser mais fácil
para você.
— Não precisa...
— Aceite, Aubrey, vamos considerar isso um ato para selar a paz entre nós.
— Vou apenas te ajudar com isso. — Ele segura minha agenda e em seguida
meu notebook. — Vamos lá, morena.
— Como? — Meus olhos encontram os seus por alguns segundos, então sua
atenção volta para o trânsito.
— Não vou te atacar. — Repete. — Está agindo como se eu fosse fazer algo
com você a qualquer momento.
— Desculpa.
— Sério?
— Sim.
— Então você sabe o que eu faço? — Percebo que ele ergue a sobrancelha.
— Como é?
— O que?
— Escrever.
— É um sonho, é viajar dentro das palavras, é viver algo que você nunca
viveria, é se apaixonar milhares de vezes e não ser capaz de dizer qual
personagem você ama mais, é ter o poder de causar nas pessoas todos os
sentimentos possíveis, seja ele ódio, paixão, amor, desejo, raiva... É
mágico.
— Concordo plenamente, quando é algo que a gente ama, não tem como não
falar com orgulho.
— Vou pensar no seu caso, prometo! — Abro a porta do carro, mas paro
quando ele chama meu nome.
— Aubrey!
— Sim? — O encaro.
— Boa sorte! Seja lá o que você vai fazer aqui hoje, parece ser importante.
— Obrigada, Owen.
Desço do carro, pego minhas coisas e dou um tchauzinho para ele, seguindo
em direção a entrada do hotel em seguida.
Porém, enquanto caminho até a recepção, não consigo tirar o sorriso do meu
rosto. O motivo eu não sei, mas é impossível parar de sorrir feio uma boba.
— Palestra? — questiono.
Dakota diz.
— Vai ser uma excelente ideia, Aubrey, só preciso que você aceite!
— Não mesmo! Conversei com a Emília mais cedo também e ela super
aprovou a ideia. Você vai se sair bem, Aubrey, eu não conheço outra pessoa
que tenha a competência, a capacidade e a experiência que você para isso.
— Perfeito! Eu sabia que podia contar com você, Aubrey, sempre soube!
— Ainda não trouxe seu carro, não é? — Pergunta enquanto seguimos para a
saída do hotel.
— Não, nem sei se vou trazer. Se possível, Dakota, queria que você tentasse
vendê-lo para mim.
— Certo, entendo.
Olho para onde ela está olhando e me assunto ao ver o Owen ali sentado,
mexendo no celular e alheio ao que acontece ao seu redor. Não consigo
acreditar que ele está me esperando, prefiro acreditar que ele esteja aqui por
uma mera coincidência.
— Aubrey?
— Sim?
— Você o conhece?
— Ele é... — Volto a encará-lo, no exato momento que seus olhos encontram
os meus, ele se levanta e começa a caminhar em nossa direção.
— Meu vizinho. — Digo, antes dele se aproximar por completo.
— Terminou?
— Não sei se você reparou, morena, mas estamos do outro lado da cidade, se
eu já te trouxe, o que custaria levar embora? Afinal de contas,
— Isso é loucura, Owen! — Sussurro, caminhando junto com ele para a fora
do prédio.
— Por que?
Ele para de andar e se vira para mim, quase me fazendo bater contra seu
corpo.
— Obrigação, eu sei, mas ficaria preocupado se você não conseguisse voltar
para casa.
Diz, ele olha para os lados e solta uma lufada de ar, voltando a me encarar.
Ele diz e tudo que eu faço é concordar, seguindo-o até o seu carro.
Nem eu sei responder porque a esperei, mas quando dei por mim estava
andando em círculos pelo quarteirão. Decidi estacionar o carro e entrar no
prédio, algumas pessoas me reconheceram e pediram para tirar foto,
perguntaram se eu queria algo, mas apenas disse que estava esperando uma
pessoa.
Talvez eu esteja realmente ficando louco, não sei, quem esperaria por uma
pessoa tanto tempo assim? Mas confesso que ver seus olhos de surpresa em
minha direção foram uma recompensa e tanto.
— Como?
— Você ficou praticamente a tarde inteira naquele salão, não sei se comeu
algo. Me sentirei pior se você desmaiar de fome no volante e acabar matando
nós dois. — Rio do seu comentário.
— Nada disso, vamos parar para comermos algo e, quem sabe assim, eu me
sinta menos em dívida com você.
— Não precisa...
— Oi?
— Sei que está frio lá fora, mas essa jaqueta grita quem você é aos quatro
cantos. — Ela tem razão e eu tiro a peça de roupa, jogando-a no banco de
trás.
Aubrey gargalha e, puta que pariu, acho que nunca mais ouvirei um som tão
lindo quanto esse.
Pergunta errada, eu sei, mas a expressão que ela faz me deixa curioso com
sua possível resposta.
— Entenda uma coisa, Owen, nem que você tivesse a minha idade eu me
envolveria com você.
— É bom doer mesmo, assim você evita soltar mais um comentário desses.
Ele sorri de lado e volta a olhar o cardápio. Por incrível que pareça, o clima
fica leve, fazemos nossos pedidos e ele me conta que essa é uma das suas
lanchonetes favoritas.
— Eu gosto, morei aqui minha infância inteira, mas nada se compara a Nova
Iorque.
— Sem sombra de dúvidas, mas não sei quando vai acontecer, pois o motivo
que me fez voltar para o Canadá é complicado.
Não me sinto pronta para compartilhar sobre minha mãe, nem a Soph sabe
direito o que aconteceu e ela insistiu horrores para que eu contasse.
— Entendo...
— Gosta da área?
— Compreendo.
— Sua cara.
Acabo rindo.
— Sério?
— Sim, você tem cara de ser aquelas professorar sexys que deixam os alunos
completamente apaixonados.
— Problemas? — questiono.
— Por que?
Ele se vira para mim novamente, mas dessa vez consigo parar um pouco
mais afastado dele.
Arregalo os olhos.
— Não!
— Sim!
— Quais?
— Isso o que?
Ainda não consigo assimilar tudo que aconteceu, principalmente com o fator
vizinho na jogada.
Me jogo no sofá e respiro fundo.
— É melhor parar com essa brincadeira, Aubrey. — Falo para mim mesma.
— Antes que acabe com consequências irreversíveis.
Meu celular vibra no meu bolso e eu sorrio ao ver uma mensagem da Soph.
Soph: Como você está, Aubrey? Está se adaptando bem? Já sinto sua falta.
Soph: Pode ter certeza de que está melhor do que eu, afinal, ela só fica
dentro da minha barriga, não aguento mais andar por aí com esse peso
todo, mal vejo a hora dela nascer.
Travo nessa pergunta. É difícil falar sobre o estado de saúde da minha mãe,
principalmente quando não temos nada muito concluído. Daqui duas
semanas ela vai fazer uma nova bateria de exames e então vamos sentar com
os médicos e ver o que eles vão falar.
Tenho muito medo do que pode acontecer, afinal de contas, é a minha mãe, a
única família que eu tenho.
Meus dedos tremem enquanto digito, mas respiro fundo e tento controlar
isso.
Eu: Na medida do possível ela está bem, Soph, não se preocupe.
Eu: Vai ficar tudo bem, fica tranquila. A única com que você deve se
preocupar é o nascimento da Sadie.
Soph: Aubrey...
Eu: Preciso ir, tenho que organizar algumas coisas, me mande notícias!
Amo você.
Bloqueio a tela do celular antes de ver a sua resposta. Respiro fundo, sinto
meus olhos marejados e pisco várias vezes para impedir as lágrimas de
caírem.
— Vai ficar tudo bem, Aubrey. — Digo para mim mesma. — Vai ficar tudo
bem.
Todos os dias eu falo isso para mim mesma, como um mantra, que não me
deixa desistir de tudo e sofrer com algo que não aconteceu.
Elliot diz.
— Ganhar a liga esse ano seria muito bom! — Digo em ironia e o Elliot me
taca uma almofada.
— Que tal uma festa surpresa? — David diz e começamos a zoar ele.
— Podemos fazer uma festa, mas podemos fazer algo diferente nessa festa!
— Elliot diz.
— Boa, boa! Posso falar com ele pra reservar o bar um dia só pra gente fazer
essa comemoração! — Falo.
— Perfeito! Acho que ele vai gostar, afinal, todo os anos nós só damos
parabéns para ele ou fazemos um bolinho no vestiário mesmo. Ele merece
uma festa de verdade! — Elliot diz.
— Fechou então galera, daqui um mês temos que estar com tudo pronto! —
Zach diz.
— Fechado!
Me despeço dos meninos e sigo para meu carro, mas não antes de ser
chamado pelo Zach.
— Você parece meio aéreo, não sei, pode ser coisa da minha cabeça, mas
está diferente.
— Inclusive, acho que quando a poeira baixar você pode voltar pra
fraternidade, não acredito que seu pai deixaria você permanentemente no
apartamento.
— Mas sabe de uma coisa, Zach? — Pergunto e abro a porta do meu carro,
já entrando.
— O quê?
Meu amigo arqueia uma sobrancelha e eu pisco para ele, dando a partida no
carro.
Mal sabe eles que o motivo que me faz querer ficar naquele apartamento tem
olhos escuros e sedutores, além de um sorriso capaz de deixar qualquer um
hipnotizado.
Hipnotizado.
É exatamente assim que Aubrey me deixa e ela mal se dá conta do efeito que
causa em mim.
Minha vida universitária não foi aquele mar de rosas, nunca fui o tipo de
garota que frequentava festas, que bebia até esquecer o próprio o nome ou
que fazia parte da turma popular da escola.
Eu era conhecida, claro, minha melhor amiga era a Sophia, ela sim foi tudo
isso, chamava a atenção por onde passava, era ativa em festas e pegava sem
se apegar, ela e o Benjamin eram assim, até se darem conta de que sempre
foram apaixonados um pelo outro, o verdadeiro friends to lovers que todo o
leitor ama!
Apesar de estar no ciclo de amizades deles dois, eu não era eles dois, e por
isso minha vibe sempre foi mais caseira, com meus livros, filmes e séries.
Assinto e sorrio de lábios fechados. Sigo na direção que ela indicou e bato
na porta.
— Pode entrar!
Giro a maçaneta e abro a porta. Assim que ela se abre dou de cara com uma
sala ampla e uma mesa mais a fundo, com uma mulher elegante sentada à
mesa, ela ergue os olhos e sorri para mim.
— Aubrey Stuart? — Pergunta e eu assinto. — Sou Anastácia, pode entrar!
— Ela se coloca de pé e vem me receber. — É um prazer conhecer você, sou
fã dos seus livros!
— Conversei com a Dakota e ela me disse que você seria a pessoa correta
para fazer essa palestra.
que acha?
— Certo!
— Perfeito!
Assinto, concordando.
— Entendi.
— Quer conhecer o Campus? Acredito que fique mais fácil para não se
perder aqui dentro!
— Vou adorar!
— Então vamos!
— Ali nós temos o prédio do pessoal que cursa direito, tudo que envolve
esse curso em especifico fica ali, problemas em relação a professores e
disciplinas vão para a ala especifica e dependendo do caso, sobe para a
administração.
— Entendi...
Tem poucos alunos nos gramados, o que me faz imaginar que eles estejam
em aula. Assim que entramos no prédio destinado a literatura inglesa, eu fico
em choque.
— Uau! — Comento.
— Incrível, não é? Quem estuda aqui realmente entra dentro desse universo
da literatura.
O primeiro corredor parece um museu. Tem quadros de escritores famosos
espalhados pelas paredes, citações pintadas a mão em determinadas partes,
livros em cima de mesas, algumas prateleiras, mesas.
— Perfeito!
Chegamos em outro corredor, mais simples que a entrada, porém não deixa
de ser elegante.
— Por aqui!
Seguimos na direção oposta das salas de aulas, vejo duas portas de vidro e
sorrio ao constatar que estamos indo para a biblioteca.
— A universidade tem uma biblioteca, mas com o passar dos anos decidiram
montar uma biblioteca própria para o curso.
— Perfeita!
O local, assim como o térreo do prédio, é cheio de sofás e mesas para estudo,
pinturas nas paredes, citações e quadros e, mais ao fundo, várias prateleiras
cheias de livros.
Sorrio e volto a apreciar o ambiente. Com toda a certeza seria aqui que eu
ficaria durante minhas horas livres.
Assinto e a sigo.
Continuamos a andar e sinto os olhares de alguns alunos sobre mim, mas não
deixo me abalar, afinal, eu não sou mais uma universitária.
— O que...
— Com certeza! Esses meninos são de ouro, Aubrey, talentosos como você
nunca viu, inclusive, terão um jogo importante esse fim de semana e está
convidada a assistir.
— Eu... — Começo, me virando para ela, mas paro ao ver o Owen atrás
dela.
Seus olhos se prendem aos meus, engulo em seco. Ele parece surpreso ao me
ver ali, mas logo abre um sorriso de lado, fazendo aparecer as benditas
covinhas que eu acho super sexy.
— Owen, está é a Aubrey, ela vai dar uma palestra importante sobre a
literatura no fim desse mês aqui na universidade e a convidei para assistir
algumas aulas no curso de Literatura inglesa.
Demoro mais tempo que o considerado normal para apertar sua mão, e
quando ele a segura, sinto um calor estranho subir pelo meu corpo.
— Claro.
— Pode ajudar a Aubrey a se localizar? Preciso ir até o prédio da
administração resolver algumas coisas. — Diz e me encara em seguida. —
— Foi um prazer conhecer você, Aubrey! E vamos nos encontrar mais vezes
— Diz, sorrindo.
— Claro!
— Diz.
— Certo.
Responde, sorrindo.
— Não pense que isso é um pretexto para você tirar minha paciência.
— Pra onde?
— Não precisa entender para assistir, quem sabe não é uma oportunidade
para você se interessar?
— Quer carona?
— O quê?
— Carona para casa, preciso passar no meu apartamento para pegar uma
coisa que esqueci, ia aproveitar a hora do almoço para isso.
— Não é uma boa ideia...
— Porque não? Estamos indo para o mesmo lugar, somos vizinhos e assim
você não precisa gastar com táxi.
Céus, se eu tivesse uma arma atiraria agora mesmo contra Owen Hughes.
Pelo olhar da Aubrey, se ela pudesse já teria atirado uma pedra em mim.
Sinto seu olhar queimar minhas costas enquanto andamos em direção ao
estacionamento.
Ela não fala mais nada até chegarmos no meu carro. Abro a porta do carro
para ela, apenas para irritá-la e tenho certeza de que se um olhar matasse, eu
estaria morto nesse exato momento.
Aubrey entra no carro e eu dou a volta no veículo. Entro e coloco meus
óculos escuros antes de dar a partida.
— Acho que você iria gostar. — Digo e ela me encara, tentando saber do
que estou falando. — De hóquei — explico.
— Impossível.
Rio, sem conseguir acreditar, mas não falo mais nada. Ligo o som e IDGAF
começa a tocar. Com minha visão periférica vejo a Aubrey tamborilar os
dedos na perna, dentro do ritmo da música.
— Gosta de música?
— Existe uma diferença entre música e agressão aos ouvidos, Owen, que era
exatamente o que você estava fazendo naquela noite.
— Sim!
— Queria ser assim, se eu for fazer algo ouvindo música, me concentro
demais na música e me perco no que estou fazendo.
— Impressionante.
Ficamos calados, mas não dura muito, pois chegamos ao nosso prédio. Entro
com o carro na garagem e o guardo na minha vaga. Aubrey desce e eu faço o
mesmo, acionando o alarme em seguida. Caminhamos juntos para o elevador
e aperto o botão do décimo andar.
Silêncio.
Coloco as mãos no bolso e desvio o olhar para ela, que está mexendo no
celular.
Ainda fico abismado com a beleza dessa mulher e sempre me pergunto como
ela consegue ser tão linda. Diferente das meninas com quem costumo sair,
ela não está nem aí para quem eu sou, para o que eu faço ou sobre meu
futuro, além de falar extremamente bem. Adoro ficar ouvindo-a
falar, mesmo que seja mal de mim. E a escrita? Meu Deus, ela escreve
divinamente bem.
Sim, procurei os livros dela quando ela me contou que era escritora e já
comecei a ler um, pelo celular mesmo. Pesquisei como funciona e vi que dá
para baixar um aplicativo e comprar os livros por lá, então fiz isso e foi uma
excelente ideia.
Minha resposta a faz parar a mão antes de alcançar a maçaneta da porta e ela
se vira para mim.
— Como?
Tento mais uma vez ajeitar a gravata, mas falho. Não adianta, nunca vou
conseguir colocar essa porra direito. Suspiro, frustrado e pego o paletó,
assim que termino de me vestir, me encaro no espelho.
Antes de sair de casa pego meu celular e vou olhar as mensagens do grupo
que mantenho com meus colegas. Agora que não estou mais na fraternidade
fica mais difícil de saber das coisas.
Lucca: Eu!!
David: Tô dentro!
David: Garota não, Lucca! Mulher, com M maiúsculo mesmo. Ela está
longe de ser como as meninas da universidade.
Zach: Sabia!
David: KKKKKKKKKKKKKKK
Pondero se devo contar a eles que ela é escritora e que a palestra é sobre
literatura, mas acabo sorrindo ao decidir que é melhor que eles descubram
sozinhos.
Eu: Fui!
Elliot: É um filho da puta mesmo!
A gravata ainda está me incomodando, prefiro não usar, mas meu pai faz
questão que esses jantares sejam extremamente formais. Como se fossemos
a porra de uma família feliz!
— Aubrey?
Seus olhos me encaram então descem pelo meu corpo, fazendo o caminho
inverso em seguida e parando em meus olhos.
— Gostou?
— Está com menos cara de garoto. — Fala, com um sorriso dançando nos
lábios.
Observo seu rosto mais de perto e assim que ela termina, seus olhos
encontram os meus.
— Está bonito, garoto. — Diz, sorrindo de lado, mas sem soltar minha
gravata. Quando começa a se afastar, ergo o braço e seguro sua mão.
— Isso o quê?
Me aproximo mais do seu corpo, sua respiração acelera e sinto seu pulso
acelerar.
— Que você não é tão imune a mim o quanto finge ser. — Sussurro em sua
orelha.
Meu coração parece querer saltar pra fora do meu peito e minha respiração
está acelerada. Parece que vim pelas escadas até o décimo andar.
São tantos porquês que ainda não consigo processar o que aconteceu agora.
Seu perfume entrou nos meus sentidos e por alguns segundos perdi a
completa noção do que estava acontecendo. Quando sua respiração atingiu
minha pele, senti minha barriga gelar e quando ele sussurrou em meu
ouvido, minha pele inteira se arrepiou.
Respiro fundo e vou para meu quarto. Preciso tomar banho, procurar algo
para comer e dormir, apenas isso.
Antes que eu entre no banheiro meu celular começa a tocar. Pego o aparelho
dentro da bolsa e sinto meu coração acelerar ao ver o nome da Julie, a
enfermeira particular da minha mãe.
— Aubrey...
— Kristen Stuart... Ela deu entrada aqui, é paciente da área de oncologia e...
Mordo o lábio inferior e respiro fundo, não vou começar a chorar, nem posso
fazer isso.
— Eu espero que sim. — Digo, com a voz fraca. — Eu espero que sim.
— Mãe, como a senhora está? — pergunto, mesmo sabendo que ela não vai
responder. — A senhora está proibida de me deixar, entendeu?
Meus olhos se enchem de lágrimas, mas não permito que elas caiam, aperto
sua mão e dou um beijo em sua testa.
— Pode deixar.
— Doutora...
— Foi tudo em vão? — Pergunto, olhando para o nada. — Tudo que ela
passou até aqui, foi em vão?
— Não, doutora, não é difícil de entender, eu só quero saber se tudo que ela
já passou até aqui foi em vão! Todo esse tratamento, dores, vindas ao
hospital, o dinheiro gasto....
— Mas elas não funcionaram. Minha mãe está com metástase em dois
órgãos, e agora? O que vai ser feito?
— As chances de cura?
— Aubrey...
— Nós vamos fazer o possível para que sua mãe não sinta dores, mas não
podemos dar uma estimativa de vida agora, precisamos fazer mais exames.
Vou adiantar todos os exames dela e com isso vou conseguir dar uma
estimativa para você.
Começo a andar parecendo um zumbi, não tenho forças nem para deixar as
lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Não volto para o quarto da minha mãe, pelo contrário, deixo o hospital e
entro no primeiro táxi que vejo, sentindo meu peito doer cada vez mais.
— Owen, será que você pode prestar atenção no que eu estou tentando te
dizer? — Meu pai pergunta e eu suspiro.
— Estou prestando.
— Merece mesmo.
— Essa semana irei visitar alguns lugares, já tenho a ideia inteira na minha
cabeça, vou conversar com o decorador, entregar minhas referências e tudo.
— Diz, animada.
— Você com alguns romances para me indicar? Desde quando você lê?
— Ok...
Isso é um fato, direito pode não ser meu sonho, mas com certeza seria uma
área que seguiria, porém, nada me faria desistir do hóquei. Esse é o meu
sonho e não vou abrir mão dele.
— Com o tempo você pega gosto pela área. Ninguém começa algo que gosta
logo de cara, Owen, coloque isso na sua cabeça.
Não demoro muito para chegar no meu prédio e enquanto faço a volta para
entrar na garagem, uma mulher sentada no banco da praça chama minha
atenção.
— Aconteceu alguma coisa? — Pergunto e seguro seu rosto, mas ela apenas
chora mais, com mais dor e mais desespero.
Suas lágrimas não param de cair e vê-la assim faz meu coração se apertar.
Me sento ao seu lado e a puxo para mim, que vem sem resistência nenhuma.
Escondo seu rosto em meu peito e isso faz com que ela chore mais alto.
Aubrey se acalma cerca de dez minutos depois. Ela se afasta de mim, mas
não me encara, mexendo as mãos inquietamente.
Sei que se assusta quando seguro sua mão e ela ergue o rosto para me
encarar. Seus olhos estão inchados, seu nariz vermelho e sei que a qualquer
momento ela pode desmoronar de novo.
Mais duas lágrimas escorrem pelo seu rosto e eu ergo a outra mão para secá-
las.
— Eu só quero esquecer que o dia de hoje existiu. — Diz e olha para o céu.
— Não importa quantas vezes eu questione ou tente acordar desse pesadelo,
ele é real demais e eu não sei se vou conseguir suportar.
— Tem algumas que eu simplesmente não quero ter que enfrentar, mas não
tenho para onde fugir.
— Não podemos fugir daquilo que está destinado a nós, mas podemos tentar
tornar isso mais leve. É assim que sempre faço.
— Guardar uma dor pra si próprio é uma das piores coisas que podemos
fazer, Aubrey, sempre que tiver a oportunidade de colocar isso para fora,
coloque, independente do que as pessoas vão pensar.
Ela assente e encara nossas mãos juntas, então puxa a dela e se coloca de pé.
— Preciso ir.
— Eu te acompanho...
Ela se vira e eu fico observando-a, até ela acenar para um táxi e entrar.
Fico mais alguns minutos no mesmo lugar. Encaro o céu e sorrio um pouco.
— Sabe, mãe... — Falo, baixinho. — Acho que a Aubrey seria o tipo de
mulher que você adoraria conhecer.
Assim que entro no quarto em que minha mãe está, Julie ergue a cabeça e
sorri tristemente para mim. Ela se levanta e me abraça.
— Vamos enfrentar isso juntas. — Falo para ela que assente, seus olhos
estão pequenos e vejo que ela também esteve chorando.
— Juntas! — Fala.
— Tem certeza?
— Tenho.
Ela concorda, pega suas coisas e deixa o quarto, dando um beijo na minha
mãe antes.
Assim que fico sozinha com ela, me aproximo da cama e seguro sua mão.
— Eu vou cuidar da senhora, vou cuidar de tudo e ficar com você o máximo
possível, não vou te deixar sozinha.
— Querida...
— Descansa, mãe...
— Desculpa, Aubrey. — Sussurra e uma lágrima escorre pelo seu rosto.
Ela ergue a outra mão e tira uma mecha de cabelo do meu rosto.
— Você se tornou uma mulher especial, Aubrey, mas não esqueça de as que
vezes podemos dividir um peso, nem sempre conseguimos carregar um fardo
sozinha.
— Te amo, mãe.
A abraço e fico assim com ela, até sentir ela pegar no sono novamente.
Permito que as lágrimas silenciosas voltem a escorrer pelo meu rosto e
respiro fundo ao perceber que meu coração sabe que não terei muito tempo
com ela.
Deixei o hospital por volta das seis da manhã. A Julie chegou eram 5:30h e
disse que eu deveria ir para casa descansar um pouco, mas mal sabia ela que
eu precisava ir direto para a universidade.
Tomo um banho longo e me visto uma calça Jeans wide leg, uma blusa de
manga cumprida de lã e um par de tênis branco, pois hoje está um pouco
frio. Faço um coque baixo no cabelo e deixo algumas mechas soltas na
frente.
Arrumo minhas coisas e vou para cozinha, preciso de um café para seguir
com o dia de hoje que será longo.
Logo após assistir as aulas irei direto para o hospital. Quero ficar mais tempo
com minha mãe.
Vou até a máquina, pego uma xicara com café e tomo para iniciar o meu dia,
ciente de que apenas isso não será suficiente para me manter acordada o dia
todo. Organizo as coisas na cozinha e confiro a hora.
7:30h.
Preciso sair, mas antes que eu dê um passo em direção ao quarto para pegar
minhas coisas, a campainha toca e eu franzo cenho.
— Me buscar?
— Universidade.
— Como você...
— Isso não vai dar certo! — Murmuro e me afasto, o que o faz entrar. Olho
por cima do ombro de cara feira para ele, mas não surge efeito, pois ele está
observando a decoração do apartamento.
Pelo que conheço do Owen, não adianta dizer não para ele.
Pego tudo e volto para sala. Ele ainda está analisando a decoração.
— Curso Direito, mas esse apartamento não tem nada a ver com você.
— É diferente. — Digo.
— É autêntico.
— Não tenho tempo para isso e, como quase não estou ficando em casa, não
me importo muito.
Ele me encara por um tempo e tento analisar o que ele está pensando, mas é
impossível. Owen ergue o pulso e olha o relógio.
Assim que entramos no elevador percebo que tudo que eu não queria era
chamar a atenção, mas isso vai acontecer. Como não vou chamar a atenção
se estou indo para a universidade com o astro do hóquei?
Me xingo mentalmente e decido que essa vai ser a última vez que vou aceitar
sua carona.
Quando o Owen estaciona o carro, pego meu celular para mandar uma
mensagem para a Julie.
Julie : Sua mãe disse que você não precisa parar sua agenda por causa
dela.
Eu: Isso não está em discussão, Julie, estarei aí no horário do almoço. Diga
a ela que eu amo.
A porta do carro se abre e olho para o Owen no instante que ele me estende
um copo do Starbucks.
— O que...
— Como você...
Ele me encara e sorri de lado, sua mão se ergue e sinto seus dedos
resvalarem em baixo dos meus olhos.
— Sei que não teve uma boa noite de sono. Vi a hora que saiu ontem à noite
e a hora que chegou hoje pela manhã e, além do mais, nem a maquiagem
conseguiu disfarçar o cansaço em seus olhos, morena.
— Não, apenas fiquei preocupado com você, só isso. Agora vamos, não
quero chegar atrasado.
Ele volta sua atenção para frente, liga o carro e aproveito para tomar meu
café. Assim que tomo um pouco, sorrio.
Estaciono o carro e encaro Aubrey, que parece decidir se vai descer ou não.
— O que foi?
— Péssima ideia ter vindo com você. — Murmura ao olhar pela janela.
— Por que?
que, obviamente não vai acontecer, já que eu acabei de chegar com capitão
do time de hóquei!
— Se é isso que você quer, então vamos nos afastar, Aubrey, não vou me
aproximar mais de você.
Respiro fundo e desço do carro também, chamando ainda mais atenção. Sigo
para estádio de hóquei e vou direto para o vestiário.
— Acho que deve ter a ver com a carona que ele trouxe para a universidade
hoje. — David diz ao entrar no vestiário.
— Anda dando carona para sua vizinha, Owen? — Caleb comenta e eu rolo
os olhos.
— Querem parar de zoação? Acho que já deu, não é?
O pessoal começa a seguir o treinador, mas eu fico e noto que o Zach ficou
também.
— Não sei, cara, queria muito saber, muito mesmo, mas não faço a mínima
ideia. — respondo e ele assente, como se entendesse o que estou dizendo.
— Eu sei, mas só quero entender porque não consigo parar de pensar nela.
Desde aquele maldito atropelamento ela não sai da minha cabeça.
— Do quê?
Ele tem razão, preciso esvaziar minha mente e a melhor forma disso
acontecer é saindo com alguém. Desde a ruiva que eu não me lembro o
nome não estive com mais ninguém e deve ser por esse motivo que não
consigo tirar os olhos da única mulher que definitivamente não posso ter.
— Tem razão, preciso pegar alguém.
Assinto, concordando. É isso que vou fazer, vou comer alguém e tirar a
minha vizinha da minha cabeça.
As aulas que eu assisti foram fantásticas e confesso que me fez sentir falta da
época que eu estudava, o que me faz pensar que eu deva tentar fazer alguma
pós graduação.
Estou com fome e preciso comer algo. Ergo o pulso e confiro a hora, acho
que consigo comer algo antes de ir para o hospital.
Sigo na direção do refeitório, mas paro ao ouvir uma voz me chamar. Viro
para trás e vejo a Wendy correndo em minha direção.
— Quer companhia?
— Aceito.
Ela sorri e seguimos para o refeitório. Sentamos em uma mesa separada e ela
fica mexendo no celular.
— Que foi?
— Meu jeito?
— Eu até faço isso, mas não gosto quando os holofotes estão sobre a minha
cabeça.
— Hmmm?
— Eu...
Encaro todos, um por um, sem saber o que dizer. Primeiramente, devo
ressaltar que são todos lindos, acho que se fosse um concurso de beleza, com
toda a certeza, eu não saberia qual escolher. Segundo, me perdi
completamente nas palavras, pois todos eles olham para mim como se fosse
a única garota existente no mundo.
— Difícil não chamar a atenção com uma beleza dessas! — O que se sentou
na ponta da mesa diz e sorri para mim.
— Vamos nos apresentar! — O que está abraçado com a Wendy diz e sorri
para mim.
Ele tem os cabelos um pouco grandes, com leve nuances loiras, os olhos são
escuros e ele tem um sorriso de lado bem fofo.
— Prazer, Zach, sou Aubrey. — Respondo.
— Prazer, Lucca.
— Me chamo Elliot. — O que se sentou na ponta diz. Ele parece ser mais
fechado que os outros, não vejo traço de sorriso em seus lábios, mas consigo
ver as tatuagens despontando em seus dedos. Apesar de não sorrir, seus
olhos escuros tramitem um certo divertimento com a situação. Lindo, apenas
isso.
Assinto, cumprimentando-o.
— E você? — Pergunto, para o garoto que não disse nada desde que chegou,
ele ergue os olhos do celular e me encara, sorrindo em seguida.
Ele tem olhos azuis, uma barba perfeitamente aparada e um olhar gentil.
Termino de comer, apena escutando eles conversarem sobre o jogo que terá
no sábado, o qual ainda não sei se vou assistir.
Eles são legais, mas não sei se um próximo encontro vai rolar.
Pego meu celular e solicito um táxi. Está na hora de ver como minha mãe
está.
Assim que chego no hospital vou direto para o quarto que minha mãe está
internada, mas ao chegar lá encontro a cama vazia e a Julie está sentada no
sofá lendo um livro.
— Volta?
— Sim, sabe que o hospital tem aquelas pessoas que fazem trabalho
voluntário para pacientes com câncer, a dona Kristen pegou uma amizade
com um palhaço e ele veio visitá-la hoje.
— O que está acontecendo ali? — Pergunto para uma enfermeira que está
passando, ela sorri para mim.
Meus olhos vão para o palhaço que está brincando com ela e meu coração dá
um pulo.
Olho mais atentamente e vejo a maneira como ele interage com as pacientes,
fazendo-as rir.
Esse sorriso...
— Está tudo bem, querido? — Kristen pergunta ao meu lado e me viro para
ela, assentindo.
— Está sim, só pensei ter visto uma pessoa que eu conheço. — Digo e volto
a encarar a porta, agora fechada.
Assim que finalizo, me viro para a Kristen que sorri para mim. Só estou aqui
hoje porque a Julie, enfermeira dela, me mandou uma mensagem
avisando que ela havia sido internada ontem à noite. Pela mensagem que ela
mandou entendi que as coisas não estavam tão boas como a senhora a minha
frente me dizia.
— A senhora sabe muito bem que não posso encontrar minha noiva, Kristen.
— digo.
— Ah, mas pode sim! Um rapaz tão bonito igual você, é claro que pode se
casar! — Faz um sinal de desdém com a mão.
— Se fosse isso mesmo não estaria com isso no braço. — Aponto para o
pedestal de soro em seu braço.
— Bem também.
— Sim, senhora!
— Nada demais, agora faço o que eu peço, ande! Vamos, Julie, querida.
Sigo em direção a sala que uso para trocar de roupa. Como estou sozinho
hoje, fiz algo bem mais simples no rosto. Então rapidamente consigo me
livrar da tinta, visto minhas roupas e guardo o restante na mochila, saio da
sala e sigo até o quarto que a dona Kristen está internada.
Bato na porta.
Assim que entro sinto meu coração doer um pouco, ela está deitada com
alguns fios estão conectados na sua pele e ela usa um cateter nasal para
facilitar a respiração.
— De pena.
— Jamais!
— Obrigada por ter vindo hoje, Owen. — Diz, alisando minha mão.
— Não agradeça como se eu não fosse mais te ver. — Digo e ela sorri.
— A cada minuto que se passa sinto que meu tempo está acabando.
— Kristen...
— Não chore, meu filho, você é uma das melhores coisas que essa doença
me trouxe, acredite quando digo isso.
— Eu digo o mesmo.
— Obrigada por me fazer sorrir, quanto tudo que eu mais quero é chorar.
Durante todo esse tempo em que faço trabalho voluntário no hospital tenho
tentado de todas as formas me manter o mais afastado possível da vida
pessoal das pacientes, pois eu sei que é difícil saber que a qualquer momento
eles não estarão mais entre nós.
Só que com a Kristen foi diferente, essa senhora me cativou por completo e
me fez ver que meu papel é mais do que um simples palhaço que alegra a
vida das pessoas.
Seus olhos se prendem aos meus, noto sua respiração se acelerar e ela
entreabre os lábios, puxando o ar pesadamente.
Então a minha ficha caí e eu me viro para a Kristen, que está sorrindo.
— A sua filha...
Diz, animadamente.
Eu só nunca consegui ligar uma coisa com a outra porque a Kristen nunca
disse o nome da filha dela, só disse que ela era inteligente, linda e que faria
qualquer coisa pela felicidade dela.
— Vamos lá gente, falem alguma coisa! — Kristen diz, quando percebe que
estamos apenas nos olhando.
— Como?
— Casal? Nós dois? Nem que ele fosse o último cara da face da terra!
— E nem que ela fosse a última mulher. — Digo e ela me encara, arqueando
a sobrancelha.
— Então admite que estava dando de em cima de mim esse tempo inteiro?
— Não admito nada, já que agora estou dizendo que não ficaria com você
nem que fosse a última mulher da terra!
— Nada disso, não preciso de babá. A Julie está aqui e eu estou no hospital,
estou exatamente no único lugar que pode me ajudar quando eu precisar.
— Mãe...
Olho para a Aubrey que parece querer contrariar a vontade da mãe, me viro
para a Kristen e beijo sua testa.
— Não vou!
— Como é...
Dou a volta na cama e seguro sua mão, a puxando para fora do quarto.
— Você não pode fazer isso! — Protesta, tentando se livrar do meu aperto,
mas paro e a puxo para mim. Seu corpo colide com o meu e olho dentro dos
seus olhos.
— Por favor, Aubrey, vamos nos ajudar nessa? Eu estou tentando não
desabar porque descobri que minha paciente preferida entrou em estado
terminal e não estou afim de dar um show no corredor do hospital. Será que
você pode colaborar um pouco?
Ela para de se mexer e desvia os olhos dos meus. Sinto sua mão relaxar
embaixo da minha e respiro fundo.
— Desculpe. — Fala.
— Só vamos embora.
Me viro e ela me segue, sem protestar e sem se dar conta de que ainda
estamos de mãos dadas.
O silêncio no carro é perturbador. Nenhum de nós dois falou mais nada e por
um momento consigo entender o que ele sente nesse exato momento. Foi a
mesma coisa que senti ontem, quando me permiti desabar e ser amparada
por ele.
Após uns quinze minutos percebo que estamos andando sem rumo nenhum.
Sua voz é distante e eu prefiro ficar calada. Olho para a janela do carro e
vejo que estamos nos aproximando da costa e abro um pequeno sorriso ao
ver o mar.
Desde que cheguei em Toronto não tive a oportunidade de ir à praia, pois a
correria do dia-a-dia me impossibilitou de vir até aqui.
A pergunta me pega desprevenida e viro o rosto para ele, mas ele está
concentrado na estrada. Olho para frente e assinto, respondendo em seguida.
— Quero.
Ele não responde, apenas continua seguindo na direção que estamos indo.
Após uns quinze minutos entramos em uma estrada de terra e ele para o
carro perto de uma árvore.
Abro a porta do carro e desço. Sinto o cheiro da água salgada e sorrio ao ver
o mar se movendo tranquilamente.
Owen para ao meu lado e ficamos assim por alguns minutos até ele se virar
para mim.
— Quer descer?
— Vai ajudar você a ter estabilidade, tem muitas pedras grandes aqui —
Explica.
Pouso minha mão em cima da dele e firmo o meu peso ali, ele me ajuda a
passar pelas pedras, até chegarmos na areia.
Solto sua mão, mas fico parada, apenas encarando a imensidão azul a minha
frente.
Owen está mais a frente e olha para traz. Fixo meu olhar nele e me pego
pensando, por um milésimo de segundo, como as coisas seriam se ele não
fosse tão novo.
— Minha mãe sempre me trazia aqui quando eu era criança. — Diz e eu viro
o rosto para olhá-lo.
— É calmo.
— Eu amava correr com ela, éramos só nos dois, foi uma das melhores
épocas da minha vida.
— Como?
— Nós vivemos uma vida pensando em tudo que nos aconteceu de bom,
procurando de alguma forma vivenciar aquelas mesmas emoções, sem nos
preocuparmos em construir novas memórias.
— Nem todas pensam assim. Quantas não vivem vinte quatro horas para o
trabalho ou simplesmente se esquecem dos bons momentos da vida?
Voltamos a olhar para frente e ele aponta para o lado esquerdo, onde tem
várias pedras.
Owen me ajuda a subir nas pedras, que são meio íngremes e escorregadias.
— Eu amava subir aqui quando era criança, perdi as contas de quantas vezes
machuquei os pés nessas pedras, e, por mais que minha mãe brigasse, ela
sempre me trazia aqui de novo.
— Sua mãe parece ser uma pessoa maravilhosa! — Digo olhando para a
água.
— Ela era.
Era.
No passado.
Viro o rosto para olhá-lo, no mesmo instante que ele faz o mesmo e entendo
a dor em seus olhos.
Ele entende o que estou sentido, o medo que está me afligindo, a sensação de
impotência que me domina a cada vez que penso que não posso fazer nada
para ajudar a minha mãe.
Meus olhos se enchem de lágrimas e uma escorre pelo meu rosto, mas
rapidamente ele a seca.
— Dói porque somos humanos e temos sentimentos, mas não podemos nos
prender a dor. Não podemos mudar o destino.
Ele me puxa para si, me envolvendo nos seus braços e mais uma vez, pelo
segundo dia consecutivo, eu me deixo ser consolada pelo Owen.
Nesse momento eu não sei dizer se estou me referindo ao pôr do sol ou a ela.
Aubrey sorri para mim e volta a encarar o espetáculo a nossa frente e faço o
mesmo. É incrível como o tempo parece estar parado nesse exato momento.
Neste instante, esquecer os problemas é relaxante, um calmante para alma.
— Como você...
— Ainda não consigo acreditar que você colocou os dois naquela situação
após a conversa deles.
— Não sei, mas geralmente homens não gostam desse tipo de livro.
— Romance. — Diz.
— Vamos embora, Owen, acho que a falta de comida está afetando seu
cérebro!
Fico de pé enquanto observo ela tentar descer pelo mesmo local que viemos.
— O que foi?
— Meu pé
Ela se apoia em mim e eu me abaixo para poder olhar, está sagrando.
— Está doendo.
— Eu sei que sim, mas precisamos descer isso aqui e se eu te pegar no colo
agora vamos cair os dois, só confia em mim, ok?
Ela assente, passo seu braço pelo meu ombro e começo a descer com ela.
Percebo que ela geme de dor a cada vez que precisa tocar o pé no chão. Com
dificuldade conseguimos alcançar a areia.
— Não, mas se formos esperar você conseguir caminhar até o carro iriamos
ficar aqui a noite inteira, sem contar que iria sujar ainda mais o machucado.
Demoramos cerca de dez minutos para chegar no carro e paramos para pegar
seu tênis.
— Aubrey, acho que você perdeu a noção do tempo que passei dirigindo. —
Falo.
— Como?
Ela coloca as pernas para dentro do carro, fecho a porta e dou a volta no
veículo. Encontramos uma farmácia uns cinco minutos depois, compro todos
os matérias para fazer o curativo e levo até ela.
— Owen...
— Não seja teimosa, Aubrey. — Digo e ela fica calada por alguns segundos.
— Certo.
Lavo o seu pé com soro e ela solta um gemido involuntário, mas continuo o
processo de limpar o curativo e, por fim, coloco um faixa envolvendo seu pé.
— Obrigada.
A ajudo a ficar de pé e voltamos para o carro, ela ainda continua sem poder
colocar o pé no chão.
Andamos por uns dez minutos e achamos um bar, que parece ser decente.
— O que acha?
— Sim, senhorita.
— Vem.
— Não se preocupe, morena, não vou beber nada a ponto de ficar bêbado,
mas acredite, depois do dia de hoje preciso ingerir algo alcoólico.
Ela suspira, se dando por vencida e bebendo todo o uísque, fazendo careta
em seguida.
— Meu Deus, como vocês bebem isso? É horrível!
— Como uma bebida ruim desse jeito pode me deixar bêbada tão rápido? —
pergunta, erguendo o copo cheio e se preparando para virá-lo outra vez.
— Está me elogiando.
— Não gosto de te elogiar. Já tem o ego muito grande para ser elogiado por
mim.
— Nem morta!
Ela assente. Sigo para o balcão, realizo o pagamento e volto para onde a
Aubrey está.
Passo o braço dela pelo meu ombro e a pego no colo. Sua cabeça se encosta
em meu peito e deixo o estabelecimento, sentindo seu corpo se encolher em
meus braços por causa do frio.
— Não, estou preocupada comigo. Afinal, estou de carona e sou muito nova
pra morrer.
— Por que?
— Não dê em cima de mim, garoto! Posso estar bêbada, mas ainda sei
quando alguém está flertando.
— Não está?
Aproximo meu rosto do dela e percebo que seus olhos se arregalam e sua
respiração se torna escarça.
— Você é extremante linda, Aubrey — Falo, olhando dentro dos seus olhos.
— Acredite, se em algum momento eu quiser ficar com você, isso vai
acontecer.
— Medo de quê?
— De se apaixonar por mim.
Aubrey sorri de lado e aproxima o rosto do meu. Seus olhos ainda estão
nublados pela bebida, mas tem um pingo de sanidade ali dentro.
— Quer apostar?
Minhas mãos sobem pelos seus braços até chegarem ao seu pescoço, fazendo
com que ela fique parada e me encare.
Sorrio de lado.
— Aubrey...
Sorrio de lado e aproximo minha boca da dela. Noto que sua respiração
trava, mas não a beijo, apenas encosto meus lábios no canto de
sua boca, subindo até sua orelha.
Ela coloca os pés para dentro do carro e eu fecho a porta, sorrindo ao dar a
volta no veículo. Posso estar me metendo no maior erro da minha vida? Sim,
mas eu estou disposto a qualquer coisa para ganhar essa aposta.
Decidi que não vamos para casa hoje. Mesmo não tendo bebido tanto quanto
a Aubrey, bebi mais do que deveria e voltar para casa nesse estado não é
bom, porque não quero causar nenhum acidente na estrada.
— Aubrey! — Chamo, segurando seu braço e ela pisca, fazendo uma careta
em seguida.
Desço do carro, dou a volta e a ajudo a descer. Ela se apoia em mim, tranco
o veículo e caminhamos para o hotel.
Assinto e viro o rosto para encara a Aubrey, que está mexendo no celular.
— Vamos, princesa.
Tenho que concordar que o hotel não é de melhor qualidade, mas não queria
arriscar indo mais para o centro da cidade.
— Qual?
— Pergunta.
Ela não diz nada, o elevador para e seguimos para o nosso quarto.
Estou com meus pensamentos um pouco nublados. Não deveria ter bebido
desse jeito, mas quando dei por mim o álcool já tinha subido na minha
cabeça mais do que deveria e isso me colocou no mesmo quarto que meu
vizinho.
Não que vá acontecer algo, porque não vai, mas não é uma boa ideia estar no
mesmo ambiente que ele.
— Falando sozinha?
Owen está sem camisa, parada na porta do banheiro. Seus cabelos ainda
estão pingando água e alguns gostas ainda escorrem pela sua pele.
— Gosta do que vê, Aubrey? — Ele sorri de lado e eu fecho os olhos com
força.
— É a bebida. — Digo.
Owen me encara, sem dizer nada, por longos segundos. Parece durar uma
eternidade.
Meu coração acelera dentro do meu peito e sinto minha boca secar.
Entreabro os lábios para conseguir respirar melhor e seus olhos descem para
minha boca, voltando para meus olhos em seguida.
— Terei.
Meu Deus, eu não posso me sentir atraída pelo Owen, definitivamente não
posso!
Tomo um banho rápido, visto a mesma roupa e refaço o curativo no meu pé.
Sinto que a bebida deu uma trégua, com a ajuda da água gelada.
Mesmo com o tempo frio achei por bem tomar banho na água fria pra me
ajudar a acordar.
Deixo o banheiro e o Owen está deitado no chão. Sinto o frio arrepiar minha
pele e sigo para cama.
Ele apaga as luzes, mas não consigo dormir imediatamente. Fico olhando
para o teto e me preocupo se ele está sentindo frio.
— Owen?
— Sim?
— Vou me sentir culpada se você amanhecer com alguma gripe por causa do
frio.
No minuto seguinte sinto a cama afundar com seu peso e ele deita ao meu
lado.
— Não pense que isso é alguma brecha para você tentar algo. —
Falo.
— Certo.
Aproveito o momento para observar seu rosto. Sua pele é macia, seus traços
são delicados e únicos, ela tem sardas quase imperceptíveis pelas bochechas
e que sobem pelo nariz arrebitado, seus lábios são extremamente perfeitos e
seus olhos, mesmo fechados, transmitem serenidade.
Ela é linda! Tão linda que as vezes me vejo perdido em sua beleza.
Ela mexe o rosto e suas pálpebras se movimentam, mas não acorda, apenas
continua dormindo profundamente. Sorrio de lado, tão linda...
Meu celular começa a tocar e eu olho para o aparelho que está em cima de
uma poltrona. Com cuidado, ajeito a Aubrey na cama, me levanto, pego meu
celular e vejo que o nome do Zach na tela.
— Fala.
— O treinador está puto com você, Owen! É melhor você vir correndo para
cá.
Puta que pariu, como essa mulher consegue ser tão linda ao acordar?
Pergunta, preocupada.
— Não é.
— Certo.
— Pra quê?
— Pronto, agora você tem meu número. — Digo e sorrio de lado e ela, por
sua vez, revira os olhos.
— Eu acho que vai sim. — Digo, mas não dou espaço para que ela diga
nada, apenas me viro e entro no meu apartamento.
— Ainda não acredito que faltou o último treino antes do jogo porque estava
com uma mulher!
— Eu...
— Treinador.
— Espero que tenha uma excelente desculpa para ter faltado ao treino de
hoje, último treino, sem nenhum aviso prévio!
— Treinador...
Passo a língua nos lábios. A verdade é que não quero que ninguém saiba que
eu estive com Aubrey e não é porque tenho vergonha dela, mas porque o dia
de ontem foi tão especial para mim, apesar da notícia da Kristen, que eu não
queria compartilhar com mais ninguém.
Respondo por fim. Ele assente e ergue a prancheta que carrega para todos os
lados.
— Você está fora do jogo de amanhã, Owen. — Diz, enquanto anota algo
rapidamente.
Todos nós nos viramos em direção a voz feminina que surgiu do nada.
Respiro fundo e tento não ficar nervosa com todos os olhares sobre mim.
Ergo o pé enfaixado, que por sinal está doendo muito, já que tive que
praticamente correr para chegar até aqui.
— E por que você veio entregar uma justificativa para a falta do Owen?
— Porque ele quer muito jogar amanhã, porque o hóquei é a vida dele e
porque eu sei que ele não iria contar nada. Apenas aceitaria ficar no banco de
reserva assistindo ao jogo de amanhã.
— Sim, treinador?
mas como punição pelo atraso, ficará aqui para organizar o vestiário e a
quadra.
Me viro e deixo o vestiário. Meu pé ainda está doendo e por esse motivo
ando mais devagar que o normal. Meus planos realmente consistiam em ficar
em casa e deixar meu pé descansar, sem fazer esforço, mas eu não conseguia
parar de pensar no Owen e na possibilidade de que ele não jogue amanhã.
Quando dei por mim já tinha chamado um táxi e estava correndo em direção
ao centro de treinamento.
— Senhorita Aubrey?
— Pois não?
— Irei levar a senhorita até a enfermaria. — Fala.
— Não precisa se preocupar, está doendo apenas por causa do esforço e...
— Certo, obrigada.
Ele oferece o braço e eu apoio o peso do meu corpo nele, então seguimos
para a enfermaria.
A enfermeira que cuidou do meu ferimento disse que foi um corte fundo e,
apesar de não precisar de pontos, doía muito todas as vezes que eu firmava o
pé no chão. Ela me deu algumas orientações, dentre elas, que devo evitar de
colocar o pé no chão e não devo me esforçar. O resultado é que agora estou
sentada em frente ao vestiário masculino, porque disse para o treinador
Hamilton que o Owen me levaria para casa.
Eu só me meto em enrascada!
São 18:00h e eu quero dormir. Na verdade, queria ir ver minha mãe, que
ficou super preocupada quando falei do meu pé, mas disse a ela que estava
tudo e que ela podia ficar tranquila que amanhã daria um jeito de vê-la.
Encosto a cabeça na parede e encaro o teto. Eu só quero ir embora!
Estou com fome, pois mal comi hoje e ainda me sinto culpada por não ter
trabalhado nada. Apenas consegui adiantar uma parte do discurso que quero
falar, pois enquanto estava na enfermaria digitei tudo pelo celular. É ruim?
— Não aconteceu nada. — Falo e coloco minhas mãos por cima das dele.
— Então...
— Tive que falar para o seu treinador que você me levaria em casa.
Por esse motivo tive que esperar você terminar sua punição, já que você não
podia sair antes.
— E o pé?
— Owen...
— Você não pode colocar no chão e já que me esperou até agora, nada mais
justo te carregar até o meu carro.
Obrigado.
— Por?
Nunca vou esquecer o que você fez hoje. Pode parecer pouco, mas foi muito
mais do que já fizeram por mim.
Ele sorri e eu olho para frente, torcendo para que ele não sinta meu coração
acelerado dentro do meu peito.
Coloco a Aubrey dentro do carro e dou a volta. O caminho para nosso prédio
é feito em silêncio e tudo que consigo ouvir é a sua respiração e o meu
coração batendo descontrolado dentro do meu peito. Não sei que tipo de
reação é essa, nunca senti isso antes, mas parece que com ela todos os
sentimentos parecem ser novos e únicos.
— Não quero parecer que estou dependendo de você. — Ela faz careta e eu a
pego no colo.
— Pode repetir o que você acabou de dizer? — Peço e ela sorri, balançando
a cabeça em negação.
— Nem morta!
— Se precisar de algo me chame. — Falo.
Antes de me levantar, aproximo o rosto do seu e ela se assusta, mas tudo que
faço é beijar sua testa demoradamente e me erguer em seguida.
Seria tão simples chegar e beijar seus lábios! Percebo que meu desejo de
fazê-la sorrir aumenta a cada instante, seu perfume me inebria e a vontade de
ficar cada vez mais ao seu lado aumenta a cada dia. Sinto que, desde que a vi
pela primeira vez, estou perdendo o controle da situação, o que nunca havia
acontecido.
— O Zach...
Olho para onde ela aponta e vejo meu amigo mexendo no celular.
— Valeu, loirinha.
— Apenas um suco de laranja. Não quero beber hoje, pois o jogo é amanhã e
preciso estar focado.
— Obrigada.
Ela sorri para mim e se vira. Sigo na direção à mesa que meu amigo está e
me sento à sua frente. Ele ergue os olhos do celular e me lança um sorriso
debochado, antes de guardar o aparelho.
— Você e sua vizinha. Não acredito que a voz que ouvi hoje de manhã era
dela!
— Zach...
— Eu não sei, pela primeira vez eu não sei o que está acontecendo entre
mim e uma mulher. Estar com a Aubrey é uma caixinha de surpresas.
Ela consegue ser intensa e leve ao mesmo tempo, me fazer rir e refletir, sem
contar que posso ficar horas observando a beleza dela. Ainda não consigo
acreditar que ela seja tão linda.
Preciso dar os parabéns pra essa mulher, por conseguir fazer esse milagre
acontecer!
Ela se vira e meu amigo fica observando-a se afastar. Rio e balanço a cabeça
em negação, pego meu suco e bebo um gole.
— O que foi? — pergunta.
— Mas não sou apaixonado por ela e já tem tempos que não nos pegamos.
— Eu sei disso, mas prefiro correr atrás de quem quer algo comigo do que
implorar por atenção. A Wendy já deixou claro qual a escolha dela, mesmo
que você não queira nada com ela.
— Nega porque mulheres fazem isso. Se ela realmente não tivesse interesse
em você, ela não teria aparecido no vestiário e falado a seu favor para o
treinador.
Acho que só vou conseguir acreditar quando a Aubrey me disser isso com
todas as letras, olhando dentro dos meus olhos.
— Tem certeza de que você está bem, mãe? — pergunto, olhando para a tela
do celular e ela apenas balança a mão.
— Não se preocupe, Aubrey, estou ótima!
Ela faz careta e eu respiro fundo, sei que ela quer me polpar, mas não é
assim que as coisas funcionam. Ela é a minha mãe e eu vou estar ao lado
dela em todos os momentos, principalmente os mais difíceis.
— Eu também não entendo nada, mas assisto apenas para vê-lo jogar e
pelos comentários que ouço, ele é muito bom!
— Pare de tentar enganar sua mãe. Ainda quero saber tudo sobre vocês já
se conhecerem! Parece coisa de destino!
Owen é um garoto tão bom, seria o genro que toda sogra pediu a Deus.
— Mãe...
— Dona Kristen!
— Vai cuidar nas suas coisas querida, e mande pelo menos uma mensagem
desejando boa sorte para ele!
Porém, a cada palavra que escrevo, Owen vem na minha mente, como um
maldito fantasma que aparece para assombrar. Tudo que vou escrever remete
a ele, ao seu sorriso, ao seu perfume e às suas ações.
— Maldito Owen Hughes! Por que você não sai da minha mente?
— Quer apostar?
Suas mãos sobem pelos meus braços, até chegarem ao meu pescoço, ele me
imobiliza e sinto minha pele se arrepiar ao seu toque.
— Quer apostar ou não?
Puta merda, eu amo esse sorrio... Quer dizer, odeio! Odeio esse maldito
sorriso sexy.
— Aubrey...
Olho a hora e vejo que está quase na hora do almoço. Preciso pedir algo para
comer, já que sair está fora de cogitação.
Mande pelo menos uma mensagem desejando boa sorte para ele!
Abro o aplicativo de mensagens e procuro seu contato. Sorrio ao ver que ele
salvou como garoto. Abro a conversa e digito uma mensagem, porém não
envio.
— Quem será?
Me levanto e caminho até a sala, bem devagar para não forçar o pé.
Assim que abro a porta, me assusto ao ver o Owen escorado no batente do
seu apartamento.
— Eu vim pegar a minha sorte para o jogo de hoje. — ele diz e vem em
minha direção.
Ele me beija.
Por um momento tudo parece parar, o tempo congela quando seus lábios
encostam nos meus.
Owen Hughes me beija e eu... bom, eu ignoro tudo à minha volta e o beijo
de volta.
Por um segundo eu achei que ela iria me empurrar, mas quando ela
correspondeu ao meu beijo... Puta merda! Eu morri e fui parar no céu no
mesmo instante.
Passo meu braço em volta da sua cintura e puxo-a para mais perto.
Seguro sua nuca com a outra mão e devoro seus lábios, chupo sua língua e
me perco na porra desse beijo que desejei por tanto tempo.
As mãos da Aubrey apertam meus braços e eu prenso seu corpo contra a
porta, aperto sua cintura com força e minha mão entra por baixo da blusa
que ela está usando, sentindo a pele macia sobre meu toque.
— Não, não estou, não sei como consegui me segurar tanto para provar o
gosto da sua boca.
Ergo uma mão, contorno os lábios dela com o polegar e o gesto a faz fechar
os olhos.
Como seria provar cada pedacinho desse corpo? Como seria explorar sua
pele e fazê-la implorar para que eu desse a ela tudo que ela mais desejasse?
— Owen... — Ela se afasta de mim. — Você precisa ir, vai chegar atrasado
no jogo.
— Tem razão. — digo, sem soltá-la. — Nós ainda não terminamos, Aubrey.
— Ah, Aubrey, vai sim. Vai acontecer mais vezes do que podemos controlar.
— Você é maluco.
Ela me empurra e eu sorrio de lado. Ela fecha a porta e eu não consigo tirar o
sorriso do meu rosto.
Puta que pariu, essa mulher vai tirar toda a minha sanidade, tenho certeza
disso.
Voltando à realidade, saio do elevador e sigo para meu carro, pois preciso
correr para o local do jogo. Se chegar atrasado hoje dificilmente serei
perdoado, mesmo que o papa venha falar em meu favor.
— O quê?
— Não sei, você está com um sorrisinho no rosto que não some de jeito
nenhum.
— Deve ser por causa da vizinha dele. — Elliot diz, sorrindo de lado.
— Você ainda tem dúvidas? — David diz. — Por qual outro motivo aquela
mulher viria defender o Owen para o treinador, se não fosse por isso?
— Ele está certo, minha vida amorosa não vai nos fazer ganhar o jogo de
hoje. — falo, assumindo um tom sério. — Temos que vencer esse jogo.
Elliot diz.
— Somos uma equipe e vamos dar tudo de nós nesse jogo de hoje!
— Caleb diz.
— Confio em vocês rapazes. Esse vai ser o melhor jogo das nossas vidas!
Assim que piso no gelo e deslizo para o meio da pista, o grito da torcida
invade meus ouvidos e noto que o estádio está lotado. Aceno para a torcida
do nosso time e meus amigos fazem o mesmo.
Queria dizer que estou entendendo alguma coisa do que estou assistindo,
mas a verdade é que só estou vendo um monte de homens correndo no gelo
atrás de um disco que eu mal consigo ver, vestidos com roupas de proteção e
capacete, trombando uns nos outros.
Totalmente sem graça dou um sorriso de lado e bebo um gole do meu suco.
É claro que ela seria apaixonada por ele, preciso contar nos dedos as garotas
que eu conheço que não são apaixonadas pelo Owen ou que ele já não tenha
pegado.
— Wendy!
— Preciso ir trabalhar!
Aperto os lábios e ainda consigo sentir a pressão dos lábios do Owen sobre
os meus, sua mão em minha cintura. O beijo me pegou desprevenida. Jamais
imaginaria que ele fosse me beijar daquela maneira.
Só sei que depois que ele foi embora me sentei no sofá e tudo que eu
conseguia fazer era relembrar cada segundo do beijo. Isso estava me
deixando fora de mim, que acabei decidindo vir ao Red Rock para espairecer.
Tive que chamar um táxi para poder chegar até aqui, já que ainda não posso
caminhar com firmeza.
Tomo o restante do meu suco e volto a olhar para a TV. O placar está
empatado, todos estão preocupados e só faltam alguns minutos para o jogo
acabar. Sei como essa vitória é importante para os meninos, mesmo não
entendendo nada do esporte em si.
O disco vai parar com o outro jogador, que joga de volta para o Owen. Ele
bate o taco com força, mandando o disco para o gol.
O bar explode em gritos e o juiz finaliza a partida. Sorrio, sabendo que eles
venceram. Uma vitória merecida, por sinal. Os próximos minutos são de
muitas conversas e comemorações por parte do pessoal e da televisão. Após,
vejo o treinador dar uma entrevista, afirmando que o time está complemente
focado em ganhar os próximos jogos e que todo o empenho deles está em
vencer a liga universitária.
— Sim, sim. Sabe que não gosto muito de barulho. — digo e ela ri.
— Como?
— Os meninos, eles sempre vêm para cá depois do jogo, por isso o bar está
tão lotado hoje. As meninas acham uma oportunidade perfeita para tentar
algo com os jogadores.
— Não curto muito isso. — Fico de pé e sorrio para Wendy. — Até amanhã,
Wendy.
Deixo o bar e sigo em direção ao ponto de táxi, mas me detenho ao ver dois
carros pararem em frente ao bar, próximo a mim. Consigo ver
— Pra onde?
— Pra casa. Acha mesmo que eu vou deixar você andar com o pé
machucado?
— Eu ia pegar um táxi.
— Owen...
— Quer apostar?
O caminho até o nosso prédio é rápido, ainda mais quando feito de carro.
Owen e eu não trocamos uma palavra durante o percurso e me sinto nervosa,
como se fosse uma adolescente de quinze anos andando de carro com o cara
mais desejado do momento.
— Está calada.
— Tem certeza?
— Eu direi que você precisa comemorar com quem está com você desde o
início. Além do mais, os meninos precisam do capitão deles na
comemoração.
— Parabéns pela sua vitória! Assisti ao jogo e, apesar de não entender muita
coisa, pelo que vi todos comentarem, você jogou muito bem.
— Se você quiser posso te explicar como funciona o jogo. — fala.
— Certo, garoto, vamos ver se consigo aprender algo assim. — Ele sorri de
canto. — Boa noite, Owen.
Abro a porta do carro, mas sua mão segura meu pulso e eu o encaro.
Nossas respirações se misturam, meu coração bate mais rápido e meus lábios
se entreabrem automaticamente.
— Owen...
Nossos lábios estão famintos um pelo outro, nosso beijo se torna mais ávido
e nem um pouco suficiente. Owen morde meu lábio inferior,
suga meu lábio superior e volta a me beijar com vontade, me deixando sem
ar.
O sabor de seu beijo me deixa viciada e a maneira como ele devora meus
lábios me deixa completamente a sua mercê.
Me afasto dele. Minha respiração está pesada e meu coração parece querer
sair do meu peito de tão rápido que bate. Não acredito que o beijei
novamente!
Seus dedos tocam meu queixo gentilmente, me fazendo erguer a cabeça para
encará-lo.
— Não, Aubrey, nós nos beijamos e a partir de agora não tem mais volta.
— Eu preciso ir.
— Pensando em alguém?
Namorando?
— Mãe!
— Isso são perguntas normais que uma mãe deve fazer para uma filha,
Aubrey! Me responda, querida!
— Está namorando?
— Mas não é assim que você descreve em seus livros? “Os olhos dela
brilharam ao perceber que seu coração finalmente estava batendo por
alguém.”
— Meu Deus, mãe! Me lembre de nunca trazer meus livros para senhora ler!
Além do mais, esse tipo de coisa só acontece nos livros!
— Será?
Olho de cara feia para ela, que apenas ergue as mãos e volta sua atenção ao
seu kindle.
Pego meu celular e vejo que acabou de chegar uma mensagem do Owen.
— Responder quem?
— Por que não? Deveria ser, afinal de contas não temos tempo a perder
quando queremos algo ou alguém.
— Será que é tão diferente assim ou você está criando essas diferenças?
— Queria que as coisas fossem iguais nos meus livros, tudo se ajeitando
num passe de mágica.
— E se der errado?
— Vira experiência, vira histórias... — Ela ergue o kindle e sorri para mim.
— Está na hora de construir a sua história, Aubrey e não a dos seus
personagens.
Rolo os olhos.
Garoto: Ia não, vou. O que acha de sair comigo hoje à noite, Aubrey?
— É isso aí garota!
Balanço a cabeça em negação, não acreditando que realmente vou sair com o
Owen.
Termino de fazer minha maquiagem, passo um perfume e confiro meu visual
no espelho, percebendo que gosto da combinação final do look.
Estou usando uma saia, meia calça térmica, porque está frio, uma blusa de
frio de lã, coturno e, para finalizar o look, coloquei uma jaqueta de couro.
Owen não disse aonde iria me levar, mas, de qualquer maneira, estou usando
uma roupa neutra e acredito que ele não vá me levar em nenhum lugar
extremamente chique.
A campainha toca, olho para o relógio e vejo que faltam cinco minutos para
às oito. Pego minha bolsa, sigo para a porta e, assim que abro, preciso
controlar minha respiração. Owen está usando uma jaqueta de couro aberta,
semelhante à minha, por abaixo está usando uma camiseta preta sem
estampa, consigo ver a corrente que ele usa se destacar no tecido, calça jeans
escura e tênis.
— É incrível como você consegue ficar ainda mais linda que o normal.
Ele sorri e estende o braço para mim. Arqueio a sobrancelha, querendo saber
o que isso significa.
— Para você se apoiar, acho que seu pé ainda não está totalmente sarado.
— Está bem melhor do que antes. — digo, mas mesmo assim aceito sua
ajuda.
— Surpresa.
— Amo quando você fica zangada desse jeito, fica ainda mais linda.
— Bom, eu ainda não sei exatamente do que você gosta, então te trouxe em
um lugar que tem de tudo um pouco!
— Acho que já tenho uma breve ideia do que você não resiste.
— Por que?
— Dizem que a gente se adapta aos locais que costumamos frequentar, deve
ser isso.
— Por quê?
— Por que “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” [3]
Sorrio quando ele cita a frase do livro O pequeno príncipe. Owen é uma
caixa surpresas e não sei dizer se eu gosto disso.
O café do local era uma delícia, um dos melhores que já tomei na minha
vida. Após comermos, decidimos ficar andando por ali mesmo.
— É da natureza dela fingir que tudo está bem quando na verdade está tudo
desmoronando. Foi exatamente assim quando meu pai morreu. Ela fingiu
que estava tudo bem, mas na verdade não estava.
— Você nem imagina, mas agora é diferente. Com meu pai não sofri tanto
porque ele sempre viajou muito e meu contato maior sempre foi com minha
mãe. Agora ela está em uma situação que me deixa sem o controle do que
pode acontecer.
— A Kristen também é importante para mim, por ser a paciente que eu mais
me apeguei ali dentro. Acredite quando eu digo que não sei como
as coisas vão se resolver daqui pra frente, mas eu estarei ao seu lado para o
que der e vier, sempre que precisar.
Sorrio e ele se aproxima novamente de mim, mas, diferente das outras vezes,
não me assusto com isso. Fecho os olhos quando seus lábios tocam minha
testa em um beijo casto.
— Vamos? Ainda temos muita coisa para olhar por aqui! — diz e eu sorrio,
concordando.
Owen não solta minha mão, pelo contrário, ele entrelaça nossos dedos e me
puxa para começar a andar.
Então pego uma meia calça térmica, um vestido de lã na cor cinza, meu
coturno e me visto, optando por deixar o cabelo solto. Me encaro no espelho
e vejo que meu visual está perfeito. Pego um casaco mais grosso para usar
caso faça ainda mais frio.
Graças aos céus essa é a última semana que preciso ir para a faculdade, pois
essa vida de observar aulas não é comigo. Minha palestra está quase pronta,
só faltam alguns ajustes e logo ela estará finalizada.
Uma batida na porta me faz olhar a hora e ver que preciso sair. Pego minhas
coisas e sigo para a sala. Quando abro a porta vejo Owen encostado no
batente, numa mão ele segura o celular e na outra um copo de café do
Starbucks.
Arregalo os olhos.
— Owen!
— Sim, princesa?
— Que se dane se alguém nos ver, princesa, não devemos nada a ninguém.
Ele me beija.
Suas duas mãos seguram meu rosto com delicadeza e seus lábios se moldam
aos meus com leveza.
Tudo que posso dizer é que me sinto feliz como nunca me senti antes e
talvez isso seja perigoso.
— Owen! — Olho na direção que meu nome foi chamado e vejo a Wendy do
outro lado da rua. Ela acena para mim e vem em minha direção.
— Vim falar com você. O Red tentou te ligar, mas seu celular só caí na caixa
postal.
— Ele está descarregado. O dia de hoje foi tão corrido que não tive tempo de
colocá-lo para carregar.
— Ah sim, entendi. Bom, o Red pediu para você e os meninos irem ao bar
hoje à noite para conversarem sobre o aniversário do treinador.
— Quem sabe outro dia então? Estou realmente com saudades de sair com
você e...
— Estou saindo com outra pessoa, Wendy. — falo de uma vez e ela arregala
os olhos.
— Exatamente isso.
— Uau! — Ela se afasta e sorri sem graça para mim. — Acho que
finalmente alguém conseguiu conquistar seu coração.
Wendy não diz mais nada, apenas se vira e vai embora. Sigo meu caminho
de volta ao prédio e entro no elevador, apertando em seguida o botão do meu
andar.
Assim que chego no meu andar vou direto para o apartamento da Aubrey.
Nessa última semana nossa rotina tem se baseado em: eu acordo mais cedo
todos os dias, me arrumo, vou até o Starbucks, compro café para ela, volto
para nosso prédio, bato no seu apartamento, ela abre a porta, pega o café e eu
lhe roubo um selinho.
Confesso que nunca me imaginei fazendo algo do tipo, mas todas as noites
eu anseio para que o dia amanheça logo, apenas para começar essa rotina
que estabelecemos.
Ela ainda não quer ser vista comigo e em partes eu entendo sua resistência.
Então não forço nada, mas meu desejo é chegar de mãos dadas
com ela em todos os lugares, beijá-la a todo momento e mostrar para todos
que ela é diferente das outras garotas que eu já saí.
Aubrey abre a porta e sorri para mim. Dessa vez não preciso roubar um
selinho dela, é ela quem faz isso, pegando o copo de café da minha mão em
seguida.
— Assim como?
— Não deveria.
— Mas adoro. — Puxo seu corpo para perto do meu, ergo minha mão livre
para seu rosto e coloco uma mecha de cabelo atrás de sua orelha.
— Por que sinto que as coisas entre a gente estão indo rápido demais?
— O Red quer nos ver hoje para terminarmos de tratar sobre a festa do
treinador.
— É na próxima semana, né?
— Também acho.
— Você prometeu...
— Eu prometi que iria pensar, Owen. Não sei se já me sinto pronta para
aparecer em público ao seu lado, mesmo que seja apenas para os seus
amigos.
Assinto, mas não volto a falar nada. Sei que não tenho uma fama muito
boa... Mas porra! Analisando tudo que tenho feito por ela, será que não dá
pra ter um pouco de confiança em mim?
— Não fica magoado, Owen, a questão não é você, é o que as pessoas vão
pensar, sou mais velha que você e...
— Não ligo para sua idade, Aubrey. Nunca liguei, mas você se importa
demais com isso. Mas não te culpo, só me resta esperar agora.
— Desculpa.
Eu não vou pressioná-la, afinal de contas, tem apenas uma semana que
estamos saindo e não quero parecer desesperado. Quero que tudo aconteça
naturalmente e sem pressa, então resolvo não tocar mais nesse assunto.
Suspiro. Quem diria que Owen Hughes estaria suspirando por causa de uma
mulher?
— Tem certeza de que não vai ser prejuízo para você, Red, fechar em pleno
sábado? — Lucca pergunta e ele nega.
— Não, vai ser até bom, pois posso dar folga para alguns funcionários e
aproveitar o dia para descansar também. Além do mais, vocês estão me
pagando mais do que eu faturo em uma noite. Por um valor desse fecho até
uma semana, sem reclamar.
— Está tudo bem cara? Você parece estar no mundo da lua desde o fim do
treino — Lucca fala.
— Só estou cansado. — digo, e não deixa de ser verdade.
A porta do bar é aberta e um adolescente entra. Ele carrega uma cesta cheia
de rosas e observo que ele passa de mesa em mesa vendendo-as, mas
ninguém quer comprar.
— 50 rosas, senhor.
— Eu quero todas.
— Muito obrigada, senhor! Tenho certeza de que sua namorada vai gostar
muito!
— Quero saber quem é a garota misteriosa que está saindo com você que
merece até mesmo um buquê de flores que custou cem dólares! —
Lucca fala.
Deixo o bar mesmo com os protestos deles e sigo para meu carro.
Assim que chego no prédio e pego elevador me pergunto se ela vai gostar
das rosas. Nunca dei flores para mulher nenhuma, então não sei dizer se
estou fazendo certo.
Ela pega o buquê da minha mão e sorri, levando as rosas até o nariz,
sentindo o cheiro delas.
Ela sorri e se aproxima de mim, sua mão livre segura meu pescoço e seguro
em sua cintura.
Ela me beija, seguro sua cintura com mais força e colo nossos corpos.
Aumento o ritmo do beijo, invado sua boca com minha língua e mordo seu
lábio inferior em seguida, voltando a beijá-la em seguida. A empurro para
dentro do apartamento e fecho a porta com o pé.
Ouço o baque das flores caindo no chão e as duas mãos da Aubrey vão para
o meu pescoço e cabelo.
Minhas mãos entram por baixo da blusa que ela está usando, sentindo a
maciez da sua pele. Continuamos nos beijando, conforme eu a empurro até
suas costas baterem na parede. Pressiono meu corpo contra o dela e meu pau
dá sinal de vida imediatamente. Aubrey geme contra minha boca ao notar
como estou.
Desço minha boca para seu pescoço e prendo suas mãos acima da sua
cabeça, voltando a beijar sua boca em seguida.
Mordo seu lábio inferior com força e ela geme, abrindo os olhos em seguida.
O castanho deles estão praticamente ocultos por conta das pupilas dilatadas,
a respiração pesada e desenfreada, o peito subindo descendo rapidamente.
— Você desse jeito é a própria visão do inferno, Aubrey... — falo e mordo
seu queixo, descendo para o seu pescoço.
Passo a língua na pele, sentindo seu gosto e me deliciando com seus gemidos
contidos. Subo para sua orelha, mordo o lóbulo e ela se contorce, sorrio de
lado.
— Sabe, princesa... — sussurro e solto suas mãos. Levo uma mão até sua
nuca e afasto os fios de cabelo. — Posso ser um cavalheiro na maioria das
vezes, mas meu desejo de foder você aumenta a cada vez que te beijo.
Aubrey arfa.
— Aubrey, eu quero foder você, quero te chupar até você implorar para
gozar, quero que você me peça para te comer com força até você perder
todas as suas estruturas.
Dessa vez sem nenhuma restrição, chupo sua língua e faço com ela
exatamente o que vou fazer com sua boceta. Ergo seu corpo e ela prende as
pernas em volta da minha cintura.
Abro a porta do cômodo e entro de uma vez, jogo ela em cima da cama e ela
me encara. Noto as bochechas coradas e o peito subindo e
descendo rapidamente.
Tiro o casaco que estou usando, as botas e a camisa, ficando apenas de calça.
O olhar da Aubrey percorre todo o meu peitoral.
Vou para cima dela lentamente. Aubrey deita as costas na cama e uso minhas
pernas para abrir as dela.
— Owen...
Beijo-a, sentindo suas mãos apertarem meus braços e sua língua competir
com a minha. Paro de beijá-la e inverto nossas posições.
Ela morde o lábio inferior e percorre as mãos pelo meu abdômen, as unhas
arranhando a pele sensível, me fazendo ficar com um puta tesão.
Seus olhos se prendem aos meus enquanto ela rebola devagar no meu colo e
aperto suas coxas, pressionando-a mais contra mim.
— Esse jogo pode ser jogado por dois, Aubrey... — murmuro, apertando sua
bunda.
Sem esperar muito, ela mesma tira a camiseta que está usando, jogando-a em
qualquer canto. Meus olhos param nos seios firmes, os bicos duros pedem
pela minha boca.
Chupo seu outro seio, aumentando a pressão dela sobre meu pau, que está
todo babado só de imaginar como será estar dentro dela.
Sua respiração dobra de velocidade e sei que ela está prestes a gozar.
Beijo sua boca e vou descendo, beijando o vale dos seus seios, sua barriga,
umbigo, até chegar no short que ela está usando.
— Owen...
Não falo nada, apenas deslizo minha língua pela abertura melada.
— Porra! — Ela diz.
— Continua, eu tô quase...
— Owen...
— Calma, princesa. Você vai gozar, na hora que eu quiser que você goze.
Filho da puta!
Ele se afasta da cama e tira a calça e a cueca, liberando seu pau que está
duro. Observo a cabeça brilhante pelo liquido pré-gozo.
Minha boceta pulsa ao imaginar ele dentro de mim e sinto meu clitóris
clamar por atenção. Sem nenhuma vergonha levo minha mão até minha
entrada e começo a me masturbar. Owen sorri, não acreditando no que estou
fazendo.
— Aubrey...
Sinto ele se aproximar da cama, mas não consigo parar, pois sinto o orgasmo
se formando e preciso me aliviar. Sinto sua mão em cima da minha e ele
começa a fazer o que eu estava fazendo. Seu polegar fricciona meu clitóris
no ponto certo e abro a boca, em um grito mudo.
— Você quer gozar? — pergunta, olhando dentro dos meus olhos e apenas
assinto, incapaz de responder qualquer outra coisa. — Então implora.
Ele desliza um dedo para dentro de mime eu ergo o quadril, buscando por
mais.
— Owen...
Owen rasga um pacote de camisinha e cobre seu pau. Meu corpo está mole
por causa do orgasmo, mas mesmo assim monto em cima dele, sentindo a
cabeça do seu pau na minha entrada, mas não desço de uma vez, apenas
grudo nossas testas uma na outra e abro os olhos. Meus cabelos estão
grudados na testa por causa do suor, minha respiração está irregular e tudo
que eu quero é sentar nele.
— Porra! — ele diz e eu jogo pescoço para traz, sua língua passeia na pele
suada e ele aperta minha cintura.
Conforme eu sento em cima dele com mais rapidez, mais aumenta a pressão
do seu pau dentro de mim.
— Isso, rebola essa boceta gostosa e engole todo meu pau, isso... —
ele diz e eu paro, solto-o e apoio as mãos nas suas coxas, então volto a
rebolar em cima dele.
— Achei que beijar você seria meu único vicio, mas pelo jeito foder você
entrou para o top 1.
— Você vai me deixar mal acostumada, garoto — digo e ele sorri, me
beijando em seguida.
— Acho que vou ter que foder você de novo — fala, voltando a beijar meu
pescoço.
— Por que?
— Me chamou de garoto.
Sorrio.
— Aubrey, graças a deus conseguimos falar com você, pensei que tinha
acontecido algo. — É a voz do Benjamin.
—A Soph está dormindo agora, quando ela acordar peço para ela te ligar.
— Obrigada!
— Aconteceu algo?
Olho para trás e vejo o Owen parado no meio do corredor, apenas de calça,
sem camisa, os cabelos bagunçados e os olhos inchados de sono.
Ele segura minha cintura e me ergue, passo as pernas em volta da sua cintura
e sorrio.
— Estar com você, Aubrey é como usar a droga mais viciante do mundo, se
você sumir por alguns minutos eu fico louco.
— Está exagerando.
— Não estou... — Sua mão acaricia meu rosto. — Bom dia, princesa.
— Principe, é?
— Nada e você?
— Owen!
Suas mãos vão para short e no instante seguinte estou sem ele e sem
calcinha, e completamente molhada.
— Vai ser rápido, princesa. Só quero te fazer gozar — diz, erguendo minha
perna até que eu fique com o pé no balcão, e a outra perna em seu ombro.
Completamente aberta para ele.
— Owen...
— Rápido...
Preciso me segurar com força para não perder o equilíbrio, então eu gozo.
Meu corpo amolece e o Owen me encara, me puxando para si.
O novo apelido que dei ao Owen resume bem tudo que ele tem feito por
mim nos últimos dias, comprar café para mim todos os dias de manhã,
mesmo quando eu não vou para a universidade com ele, as mensagens fofas
de bom dia que ele me manda, as flores que ele me dá, porque depois
daquele buquê ele me traz uma rosa todas as noites.
E sempre nos vemos, não importa o dia, nem que seja apenas para ele me dar
um beijo de boa noite.
— Impressão? Aubrey, tem dias que venho reparando esse sorriso diferente
no seu rosto. Alguma coisa aconteceu!
— Acho que isso tem a ver com um certo palhaço! — minha mãe diz,
entrando no quarto, Julie e eu corremos para ajudá-la.
— Deveria ter nos avisado! — Julie protesta e minha mãe faz um gesto de
desdém.
— Mãe...
— Sério, querida, eu estou bem. Na verdade, se eu pudesse eu estaria em
casa, só estou aqui por causa dos exames que preciso fazer, mas assim que o
resultado sair eu quero minha casa de volta.
Meu coração dispara contra meu peito, o Owen deve estar no hospital hoje.
propósito ou não, mas ele pula a nossa mesa. Ele está conversando com
outro palhaço, que eu não sei quem é.
— Já disse que você tem que parar de procurar por essa noiva, pipoca! Ela
não existe! — o palhaço diz bravo.
— Existe sim e eu posso provar! — fala, determinado.
— A minha noiva tem cabelos castanhos escuros, ela tem olhos castanhos
que brilham quando ela está feliz com algo, ela tem o sorriso mais lindo que
eu já vi na minha vida inteirinha! — Ele olha na minha direção. — Ela é a
mulher mais inteligente que eu já conheci nessa vida, além de ser a mais
linda que eu já vi.
Acho que ele se perdeu um pouco no personagem, mas não consigo deixar
de sorrir a abaixar a cabeça, com vergonha, mas logo volto a olhar para ele,
o outro palhaço ao perceber que o Owen saiu do personagem trata de dar um
tapa na cabeça do amigo, que faz todos os pacientes rirem.
— Como se uma mulher desse jeito fosse olhar para você, Pipoca, se liga!
Isso é tudo coisa da sua cabeça!
— Não é não! Na próxima semana eu vou trazer minha noiva, vocês querem
ver?
— Melhor parte?
— Apoia o que?
— Vocês dois, está na cara que ele está apaixonado por você.
Um homem apaixonado move céus e terras para ver a mulher amada feliz e
não tenha dúvida de que ele faria isso por você sem pensar duas vezes!
Olho para o Owen e sorrio, sentindo o perfume da rosa.
Owen me surpreende todos os dias e meu maior medo é de que nós dois nos
machuquemos nessa fase em que estamos, mesmo não sabendo que fase é
essa.
— Eu amei, é incrível esse trabalho que você faz, quem conhece o Owen
apenas por causa do hóquei não imagina o cara maravilhoso que você é. —
Ele sorri de lado e eu continuo tirando os resquícios da tinta. — Posso fazer
uma pergunta?
— Owen...
— Está tudo bem, Aubrey. — Ele segura minhas duas mãos e me puxa para
perto dele.
Seu polegar seca uma lágrima que escapou dos meus olhos sem querer.
— Ia sim, ela iria me dizer que eu não posso deixar você escapar por nada
desse mundo. No mundo existe apenas uma mulher que é capaz de abalar
por completo as estruturas de um homem, Aubrey. Para mim, essa
— Pelo o que?
— Sempre.
O auditório está lotado, acho que nunca vi tanta gente aqui, a não ser em
eventos externos.
— Espero que essa palestra não dê sono — Lucca murmura. — Não dormi
de noite porque estava estudando para uma prova.
— Verdade, já fazem semanas que vocês estão saindo e até agora você não
veio apresentá-la formalmente — Caleb argumenta.
Zach se pronuncia pela primeira vez e minha vontade é de lhe dar um tapa,
mas apenas reviro os olhos.
— Vocês deveriam procurar alguma coisa de útil pra fazer ao invés de focar
no meu relacionamento — falo e olho para frente. Vejo a reitora subir no
palco e pegar o microfone.
Eu: Tenho certeza de que você vai se sair muito bem, não se preocupe.
Eu: Não fique, sei que você consegue. Qualquer coisa basta olhar para
mim, estou na terceira fileira, bem em frente ao palco.
— Bom dia a todos! — Bloqueio o aparelho e foco meu olhar na reitora, que
sorri para os alunos. — Que alegria ver esse auditório lotado!
Seus cabelos estão presos em um coque, ela está usando calça social, blusa
social e sapatos de salto. Quando a vi mais cedo, pensei que teria algum tipo
de parada cardíaca, nunca a tinha visto tão linda, séria e profissional.
Confesso que isso me deixou um pouco abalado. Porra, essa mulher pode ter
o homem que quiser aos seus pés, mas eu tive a sorte de entrar em sua vida,
conhecê-la, entender cada detalhe dela, seus pensamentos, gostos e
particularidades.
Acredite, me considero o homem mais sortudo do mundo por estar com essa
mulher.
— Bom dia a todos! — ela diz assim que pega o microfone e sorri para o
público.
— Porra, Owen! — Elliot sussurra ao meu lado. — Você tirou a porra da
sorte grande, em cara!
— E agora, será que podemos falar com ela? — David pergunta e eu nego.
— Não, vocês não vão falar com ela agora. — digo ao me levantar.
— E por que não? Quer manter ela só para você? — Caleb questiona e eu
bato na sua nuca.
— Nada disso, no momento certo vocês vão conversar com ela, mas não vai
ser agora, então não adianta. — digo.
— Nesse caso, vamos que hoje ainda temos aulas, provas e uma reunião com
o treinador. — Elliot fala.
— Tudo certo!
Assim que entro vejo Aubrey conversando com a reitora, que sorri
animadamente para ela. Me aproximo lentamente das duas.
— Irei esperar!
Olho para ela, que parece querer cavar um buraco no chão e se enfiar dentro.
— Bom, preciso ir, tenho outras coisas para organizar! Até mais!
Quando digo isso parece que todo o ar dos pulmões da Aubrey se esvai e ela
respira fundo e fecha os olhos.
— Acha mesmo?
— Mais perfeita que você, apenas duas de você e isso é algo impossível de
acontecer!
— Bobo! — ela diz e sorri. Seguro sua mão, puxo-a para um abraço e a
aperto contra meu corpo e, nesse momento, sinto-a tremer.
— Eu te disse que tenho pavor de falar em público. Todas as vezes que isso
acontece começo a passar mal — responde.
— Estou aqui com você, princesa. Já passou! Você foi excelente, todos
amaram a palestra e amaram ver você falar e se expressar. Além do mais,
tenho certeza de que isso vai fazer com que todos queiram ler seus livros.
Ela ri e sinto seu corpo relaxar. Me afasto apenas para beijar sua testa
demoradamente.
— Não quero ser a responsável por fazer você perder aula, Owen —
— Tem certeza?
Assinto e ela caminha até a mesa, pega seu casaco, sua bolsa e vem até mim.
Assim que ela para na minha frente, fico olhando para ela. O tempo parece
ter parado e só existe essa mulher na minha frente.
— Você é um galanteador nato, Owen, preciso tomar cuidado com isso. Seus
elogios vão me deixar mal acostumada.
Ela sorri e me aproximo dela, beijo seu queixo, a ponta de seu nariz e em
seguida o canto de sua boca.
— Não me importo.
— Você é maluco.
— Vamos, princesa!
Como Aubrey não precisava mais ir para a faculdade, ficou mais difícil de
vê-la sempre, porém não deixei de comprar café para ela todas as manhãs.
Mesmo que não dê pra entregar pessoalmente, todos os dias mando entregar
um copo de café para ela, que sempre me manda uma foto do copo e uma
mensagem de agradecimento.
Segundo ela, era algo muito íntimo do time e que não queria atrapalha e
nem nada, mas rebati todas as suas desculpas e, no final, ela acabou
aceitando vir comigo.
— A Aubrey me faz bem, cara. Amo estar com ela, conversar, vê-la sorrir...
É diferente de qualquer outra garota, é como se eu estivesse enxergando uma
mulher de verdade pela primeira vez, vendo além do que eu estou
acostumado.
Deixei o Zach no bar e fui para a casa da Kristen buscar a Aubrey, como
havíamos combinado. Aubrey me enviou o endereço por mensagem e agora
estou aqui, encostado na lateral do carro, esperando-a sair da casa. O
A porta se abre e sorrio quando a vejo. Ela está usando um casaco pesado,
um vestido e botas.
— Como estou?
— Está pronta?
— Estou.
Abro a porta do carro para ela, dou a volta e entro, ligando o veículo em
seguida e saindo. Chegamos no bar dez minutos depois.
— Certo.
— Vem!
Puxo-a e entramos no bar, chamando a atenção de todos que estão ali.
Aubrey tem entrado aos poucos na minha vida e não consigo determinar se,
no futuro, isso vai ser bom ou ruim.
Quinze minutos depois que chegamos, Red veio avisar que o carro do
Hamilton havia acabado de estacionar em frente do bar. Nessa hora todos
ficamos em silêncio à espera do exato momento em que a porta vai ser
aberta.
Acho que nunca vi esse local tão silencioso, nem mesmo quando venho
durante o dia para trabalhar aqui.
Assim que a porta se abre, as luzes são acesas e começamos a bater palmas e
cantar os parabéns.
— Parabéns para você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos
de vida!
Noto que o treinador fica sem reação por alguns segundos, mas logo começa
a sorrir.
— Não!!! Tudo!!!— Eles gritam de uma vez e vão abraçar o treinador, que
está visivelmente emocionado.
— Apenas vocês para me fazerem uma surpresa dessa — ele diz, após os
abraços.
— Queríamos fazer algo diferente dessa vez. É sempre um bolo no vestiário.
— Lucca diz.
— Vocês vivem me surpreendendo, não quero nem saber como será após o
final dessa temporada. — diz, sério.
— Vocês não são as pessoas mais fáceis do mundo, devo confessar, mas
aprendi e aprendo com vocês todos os dias. Para mim, vocês são como filhos
e eu tenho muito orgulho de cada um de vocês, da maneira como vocês estão
aprendendo a lidar com a vida e dos profissionais que irão se tornar.
— Obrigado a vocês que estão aqui hoje também, sei que contribuíram de
alguma forma e me sinto honrado com a presença de todos.
— Agora que já passou toda a melação, vamos comer, porque isso é uma
festa! — Caleb grita.
Assinto e olho para frente. Vejo Wendy me encarar, engulo em seco e decido
ir até ela.
— Posso conversar com você? — pergunto e ela assente, sem me encarar. —
Sei que gosta do Owen. — falo de uma vez.
Olho para frente, vendo Owen conversar com os amigos e então ele me
encarar, sorrindo para mim.
— Não foi de repente. O Owen sabe exatamente o que fazer quando quer
conquistar alguém. É incrível essa capacidade que ele tem.
— Eu nunca vi o Owen agir desse jeito com nenhuma outra garota, nem
comigo... e olha que somos amigos.
— Eu não estou com raiva, só precisei analisar a situação melhor, eu... — ela
para de falar e sorri tristemente para mim. — Só pensei que algum dia o
Owen me olharia e veria mais que uma amiga. Mas a sortuda da história foi
você e eu fico feliz com isso, de verdade.
— Espero que eu não precise ter essa conversa com metade do Campus. —
aviso e ele sorri, segurando minha cintura e me puxando pra si.
Sorrio e ele me beija, mas logo nos separamos, ao ouvirmos uma tosse ao
nosso lado. Abaixo o rosto ao ver o treinador ali.
pergunta e eu confirmo.
— Ai!
— Eu também!
— Sempre soube que você não tinha a cabeça no lugar. Meu Deus!
— Você é extremamente bom de lábia, Owen, espero não estar caindo nos
seus truques.
O domingo foi tranquilo e, por incrível que pareça, minha mãe aceitou vir
até o meu apartamento pela primeira vez e gostou de passar o dia comigo.
Fizemos as unhas uma da outra, arrumamos os cabelos e no fim do dia o
Owen apareceu de surpresa com um buquê de flores para ela, que ficou
extremamente emocionada com o gesto.
Levamos ela para casa, porque ela não queria passar a noite no meu
apartamento. Depois de voltarmos, Owen e eu decidimos assistir um filme,
mas dormi na metade e acordei no meio da noite sozinha, na minha cama e
com um bilhete dele me desejando bons sonhos.
A médica olha para nós dois e assente, apontando para a sua sala em
seguida.
— Eu queria ter boas notícias, Aubrey. — começa e sinto meu coração errar
uma batida. — Eu queria poder dizer que nós cometemos um erro e que sua
mãe não está afetada por metástase, mas infelizmente não é isso que ocorreu.
— Eu sinto muito, Aubrey. Sua mãe está em estado terminal. Com cinco
metástases, as quimioterapias podem comprometer ainda mais o estado dela
e só iria adiantar o processo.
Concordo, mas nesse momento eu não estou ouvindo mais nada e tudo que
ronda a minha cabeça é que minha mãe só tem mais alguns meses
— Vou deixar vocês dois sozinhos. — ela diz, mas eu estou vendo tudo
nublado. Só ouço o barulho da cadeira se afastando e da porta se abrindo e
fechando.
É aqui que eu me permito chorar, porque eu realmente não sei o que fazer
com essa notícia.
É impossível receber uma notícia dessa fica e bem. É impossível fingir que
estamos felizes quando estamos gritando por dentro.
Quando eu era criança e não entendia muito bem das coisas, minha mãe
escondeu até o último minuto que iria morrer. Se soubesse que aquelas
seriam minhas últimas horas com ela, teria dito que a amava mais vezes.
Entretanto só consegui compreender a gravidade da doença dela quando vi
aquele caixão sendo abaixado e só consegui entender o quanto ela sofreu
quando decidi trabalhar como voluntário para pacientes terminais. O começo
foi extremamente difícil e eu chorava todas as vezes que terminava minhas
apresentações, porque lembrava que minha mãe sabia que iria morrer, mas
guardou isso apenas para ela.
Deixo o banheiro e vejo Aubrey sentada em uma das cadeiras de espera. Seu
olhar está perdido, seus olhos estão inchados por causa das lágrimas e seu
nariz está vermelho.
— Eu não sei o que fazer, Owen. Parece que meu mundo desmoronou.
— A doutora Brigite está contando pra minha mãe agora. — diz e funga. —
Depois que ela sair a gente entra.
Assinto e fico dessa forma com ela. Cerca de cinco minutos depois a porta
do quarto da Kristen se abre e a médica sai sorrindo.
— Não acredito que você está chorando, Aubrey! — Kristen resmunga e sou
obrigado a dar um sorriso.
— Como a senhora está? — pergunta, cautelosa.
— Mãe...
— Mas mãe...
— Não quero que a senhora sofra. — ela diz, a voz abafada pelas lágrimas.
— Mas eu não estou sofrendo, querida! — Ela se afasta e sorri para a filha.
— Estou feliz por ter tido a oportunidade de fazer de tudo nessa vida. Viver
é uma dadiva e eu fiz isso com excelência. — Kristen olha para mim e sorri.
— Não quero ver nenhum dos dois chorando. A partir de hoje está proibido
falar sobre quanto tempo tenho de vida, certo?
diz e se afasta para pegar sua bolsa. Aubrey me encara e eu abro os braços
para ela, abraçando-a.
— Obrigada.
— Foco no jogo! — Hamilton grita, mas tudo que eu consigo é olhar para a
mulher sentada na arquibancada, mexendo no celular.
— Se você não prestar atenção no jogo fica difícil cara! — Caleb grita.
— Exagero? Você fica parecendo um babacão quando ela chega onde a gente
está. — Lucca diz, sorrindo.
— Vocês ficam aí tirando sarro, mas quando for a vez de vocês, quem vai rir
sou eu. — Falo e eles ficam me zoando.
— Preciso que vocês deem 200% de si no nosso próximo jogo. Sei que as
coisas estão corridas, mas sei também que vocês conseguirão fazer o melhor
jogo da vida de vocês!
— Sim, treinador?
Lanço o disco para a rede e ele passa por debaixo das pernas do goleiro.
Deslizo na pista de gelo e olho para arquibancada. Aubrey está sorrindo para
mim e pisco para ela. Eu não sei o feitiço que essa mulher lançou em mim,
mas sei que ele é altamente eficaz.
— O que vai fazer essa noite? — Zach pergunta e eu me viro para ele.
— Cedo? Vocês estão juntos há mais de dois meses e acha que é cedo?
Não respondo e paro para analisar a situação. Não havia observado que
estamos juntos há tanto tempo assim, parece que só se passaram dias.
Olho para os lados e vejo a Aubrey sentada nas cadeiras próximas dali. Me
aproximo dela e assim que ela me vê fica de pé, já sorrindo para mim.
Desde que a Aubrey tentou cozinhar para mim uma vez, evito deixá-la na
cozinha. Ela é uma negação para isso, é melhor ela ficar apenas com os
livros.
— Está nevando! — Aubrey murmura e olho para ela, que está encantada.
— Aubrey, cheguei!
— Estou indo! — Ela grita de volta e segundos depois ela aparece na sala.
Ela está usando calças, botas, blusa de frio, casaco, luvas, cachecol e gorro.
— Prontíssima!
— Você fica ainda mais linda quando exagera. — Digo, apertando seu nariz.
— Isso não foi premeditado, mas espero que você esteja pronta para
conhecer meu pai e minha madrasta.
— Owen...
— Mag, pai... — Digo, já que ele não pronunciou uma palavra desde que me
aproximei. — Essa é a Aubrey, minha namorada.
Pela primeira vez na vida vejo meu pai arregalar os olhos, enquanto minha
madrasta abre o maior sorriso do mundo.
Meu corpo inteiro trava quando Owen me apresenta como sua namorada. Ele
aperta minha mão em sinal de compreensão e eu engulo em seco.
— Meu Deus! Eu sou sua fã. Já li todos os seus livros e sempre estou de
olho nos seus lançamentos!
— Claro que eu estou! Não consigo acreditar que você está namorando meu
filho! — Ela olha para nós dois e sorri.
— Você parece ser bem mais velha que o Owen. — Comenta e sorrio de
lado.
— Uau! Que história! Como vocês se conheceram? — Mag, que entendi ser
o apelido dela, pergunta.
— Christopher... — Mag diz, mas ele ignora totalmente a esposa e foca seu
olhar em mim.
— Como assim?
Mas é claro! Tinha que ter o pai que quer obrigar o filho a seguir sua
profissão porque quer deixar a empresa e toda essa baboseira que sempre
ouvimos por aí.
— Desde que o Owen esteja feliz, ele tem todo o meu apoio no que for fazer.
Depois vejo o que fazer, mas não costumo muito pensar a respeito disso. O
que importa é fazer o que te faz bem, o que te traz prazer e alegria. Eu,
particularmente, não me sentiria realizada em uma roupa social, doze horas
por dia, andando pra lá e pra cá, apenas porque minha família quer que eu
siga determinada profissão.
Owen aperta minha mão por baixo da mesa e eu olho para ele, sorrindo em
seguida.
Enquanto pai e filho vão pagar a conta, Mag me arrasta para o banheiro com
ela.
— Estou tão feliz por você e pelo Owen! Nunca imaginei que ele fosse me
apresentar uma namorada!
— A fama dele não dava esperança para isso. — Murmuro e ela sorri.
— O Owen me faz muito bem e tem sido meu apoio em um momento muito
delicado da minha vida. Se não fosse por ele, não sei o que seria de mim.
Mag se despede do Owen com um abraço e Owen apenas acena para o pai.
Após, segura minha mão e deixamos o restaurante.
— Ela é a mãe que não tive, cuidou de mim e me apoiou no pior momento
da minha vida. Devo muito a ela.
— Sou fruto da traição do meu pai e da irmã dela — Diz e arregalo os olhos.
— E mesmo sabendo disso ela não deixou de me amar nem por um segundo.
— Não me importo com isso, não quero ter nada a ver com essa história.
Mas a maior qualidade da Mag é não deixar que o passado influencie na
pessoa que ela é de verdade.
— Exemplo?
— Desculpe por aquilo, mas precisava dizer algo concreto com meu pai ali.
Não queria ter que te colocar nessa situação.
— Boa noite.
— Sim?
— Eu queria preparar algo especial, mas acho que já está passando da hora.
— Nunca tive tanta certeza de algo na minha vida, Aubrey, pode ter certeza
disso.
Ele volta a me beijar, me afasto dele e me viro, já correndo para meu quarto,
com ele atrás de mim.
Tiro a touca, casaco, botas, blusa e ele faz o mesmo, ficando apenas de calça.
Ele se aproxima de mim e me beija lentamente, mordendo meu lábio
inferior.
Suas mãos apertam minha cintura e eu arfo quando ele ergue meu corpo.
Prendo as pernas na sua cintura e ele se senta na cama. Volto a beijá-lo,
acariciando sua nuca.
Suas mãos sobem para meu sutiã e em segundos a peça está no chão. Meus
seios estão duros de tesão, esperando que ele faça alguma coisa.
— Owen...
Fecho os olhos, jogando a cabeça para trás. Sinto meu ventre formigar,
minha boceta já está toda melada.
Owen volta a me beijar, seguro seu pescoço e ele aperta minha cintura, me
fazendo aumentar o contato da minha intimidade, mesmo ainda com roupas.
Saio de cima dele e tiro a calça e ele faz o mesmo, ficando só de cueca.
Consigo ver o volume do seu pau, já completamente duro.
Owen se aproxima de mim como se eu fosse uma presa e ele o caçador. Ele
ergue a mão e infiltra os dedos no meu cabelo, me puxando para si.
E faço o que ele manda. Engatinho até o meio da cama e empinando a bunda
para ele. Sinto o colchão afundar, ele se posiciona atrás de mim e suas mãos
percorrem minha bunda, estralando um tapa na pele sensível.
Owen puxa minha calcinha, que se rasga. Seu corpo inclina para frente e ele
morde meu ombro.
Minha respiração está acelerada, meus cabelos estão grudando na pele por
causa do suor e minha boceta parece gritar para que ele a toque.
Solto um gemido quando sinto seus dedos brincarem com os grandes lábios.
— Owen... — Gemo.
Ele se afasta e em seguida sinto seu pau passar pelos meus grandes lábios,
encostar no clitóris e me deixar fora de mim. Ele continua com esse
processo, me fazendo gemer baixinho e apertar o lençol da cama entre meus
dedos.
Quando menos espero, ele entra em mim, minhas paredes internas o apertam
e ele geme.
Owen começa a socar com força dentro de mim e meus gemidos se tornam
mais altos. Ele se torna mais veloz e o aperto das suas mãos se torna mais
forte.
Minha boceta o aperta ainda mais e seu pau entra e sai de dentro de mim
causando um barulho altamente erótico. Sinto meu baixo ventre se apertar e
sei que vou gozar a qualquer momento.
Ele se inclina sobre mim e mete ainda mais rápido. Sua mão me suspende
um pouco e ele aperta meus seios, o que me causa dor e prazer ao mesmo.
Gozo no instante seguinte. Ele goza em seguida, jogando seu peso em cima
de mim. Caio na cama, cansada e completamente morta.
— Transar com você é uma das melhores coisas que eu faço nessa vida —
Owen diz e eu sorrio.
Viro de barriga para cima e ele vem para cima de mim, afastando minhas
pernas com o joelho.
— Owen...
— Vai ser devagarzinho, amor. — Ele diz, já entrando em mim de novo e
solto um gemido, por estar sensível.
— Por que?
Ela resmunga algo, mas não fala mais nada. Entramos na cafeteria e nos
sentamos em uma mesa mais afastada.
— Que cheiro maravilhoso esse lugar tem! — Kristen diz, respirando fundo.
— Boa tarde. Já decidiram o que vão querer? — Uma atendente vem até nós.
— Não sei... acho que pode ser waffle com mel e um capuccino.
— Certo!
tomado tem surtido efeito e quem olha de longe para minha mãe mal sabe o
que ela tem.
— Amor... Quem diria que eu iria me apaixonar igual nos meus livros?
— Mas isso estava na cara. Quando dizem que uma mãe conhece os gostos
dos filhos, estão super certos. Desde o dia em que conheci o Owen eu sabia
que ele seria o homem perfeito para você.
— Quem se preocupa com idade é creche, querida! — Ela segura minha mão
por cima da mesa. — Eu quero que você seja feliz e percebo que vocês têm
uma cumplicidade gigante, uma maneira de comunicação única e são lindos
juntos, isso é o que importa.
— É para isso que as mães servem, Aubrey. Para apoiar os filhos em todas as
situações! Lembre-se sempre disso.
— Obrigada!
— Vamos comer, porque você precisa compensar o fato de ter me feito andar
até aqui!
— Perfeito!
— Vamos lá, Aubrey! Eu sei que você consegue — Digo para mim mesma.
Dois meses.
Esse é o prazo que a Emília me deu e preciso correr contra o tempo para
conseguir dar conta.
Tive que acrescentar um personagem. Não planejei isso, não tinha intenção
de escrever nada amoroso, mas aqui estou eu, escrevendo uma história de
amor entre uma mãe solo que tem câncer e o médico que cuida dela.
Eles têm um laço lindo e uma cumplicidade que me faz chorar todas as vezes
que me pego escrevendo.
— Owen! — Ponho minhas mãos em cima das dele, mas ele não se afasta.
Sussurra em meu ouvido. — Mas você também precisa viver. Estou sentido
falta da minha namorada.
— Você tem razão, mas quero aproveitar ao máximo esse pico de inspiração.
Tem tanto tempo que não tenho isso!
Ouço-o sorrir.
— Você precisa relaxar um pouco. Hoje é sábado e você está sentada na
frente desse notebook desde a hora que você acordou e já são 17
horas.
Ele tira as mãos dos meus olhos e gira a minha cadeira em sua direção.
Tem dias que ainda não acredito que Owen lê meus livros. Nos últimos dias
ele conseguiu finalizar mais dois, me ligando indignado com um
determinado personagem que morreu.
Sorrio e o abraço.
Owen se tornou meu fã número um e eu amo a maneira que ele enaltece meu
trabalho.
— Excelente!
Emília marcou uma reunião comigo. Como estou na reta final do livro,
precisamos tratar dos detalhes do lançamento e quanto vamos investir no
processo editorial.
Entro no prédio e sigo direto para o andar onde a editora se encontra. Assim
que chego sou recebida pela secretária, que me leva direto para a sala da
Anastácia.
livro tem uma coisa diferente dos outros livros... A maneira como você
coloca os personagens se relacionando... É perfeito!
Se prepare, porque esse livro será nosso próximo best-seller! Agora vamos
falar de negócios e produção editorial: pra isso acontecer precisamos
investir, por isso fiz algumas análises, fiz algumas pesquisas e concluí que
vamos ter que investir pesado.
— Na faixa de quanto?
— Aqui. — Ela me entrega um tablet e fico assustada com o valor que ela
colocou ali.
— Tudo isso?
— Eu sei que é muito e boa parte vai sair do bolso da editora, mas estamos
visando lucro, um lucro altíssimo, Aubrey. Esse livro tem um potencial
enorme e estamos apostando tudo nesse lançamento.
Concordo, já sabia que seria um custo alto. Mas as coisas não estão tão
fáceis pra mim nos últimos meses, devido ao fato de todo o valor gasto no
tratamento da minha mãe está saindo do meu bolso: remédios, exames,
consultas, estadia no hospital... Ter esse dinheiro para investir agora é quase
impossível, mas estou acreditando tanto nesse livro que não quero e nem vou
perder essa oportunidade!
— Perfeito! Aubrey, se prepare, pois o seu nome vai ser conhecido em toda a
América do Norte e, se brincar, no mundo inteiro!
Um mês depois
— Como?
— E vocês vão!
Vocês são o melhor time da temporada inteira. Vocês vão vencer, acredito
nisso e você deve acreditar também.
— A cobrança nos últimos dias tem sido mais pesada do que eu imaginava.
O treinador tem colocado mais pressão e estamos todos nervosos porque
esse jogo vai decidir nossa carreira, Aubrey!
— Obrigada, princesa.
— O que seria da minha vida sem você, em? — Pergunto e ela faz uma
careta.
— Definitivamente, chata.
A cada dia que passa tenho mais certeza de que amo essa mulher e de que é
com ela que eu quero passar o resto da minha. Só estou esperando o
momento certo para dizer isso a ela.
— Por que?
— Você iria se apaixonar por mim de qualquer maneira — Ela responde
sorrindo e eu caio na gargalhada.
Ela me beija.
— Tem certeza de que não quer ajuda? — Owen pergunta, após estacionar o
carro em frente à universidade.
Hoje preciso levar minha mãe para fazer alguns exames em uma clínica e o
Owen me emprestou o carro para isso, então viemos para a universidade e
daqui eu vou levar o carro.
Owen me entrega a chave e eu entro no carro, mas não saio de imediato, pois
meu celular toca e eu sorrio ao ver o nome da Soph.
Estou com muita saudade da minha amiga, mas a vida adulta nos pegou de
jeito e não é todo dia que conseguimos conversar. Mas procuramos sempre
nos atualizarmos sobre o que está acontecendo em nossas vidas.
— Soph! — digo, assim que atendo o telefone.
— Você nunca me conta o que está havendo. Você não confia em mim?
— Eu confio, mas você está em uma fase tão boa, Soph. Está com o
Benjamin, com uma bebê que precisa de atenção e não quero atrapalhar o
seu momento com meus problemas.
Sorrio e suspiro.
— Eu quero te contar tudo, Soph. Tudo mesmo! Mas por ligação não dá... é
muita coisa que aconteceu nos últimos meses e algumas mudanças são bem
drásticas.
— Bom, eu estou te ligando porque acho que tenho a solução para nosso
problema.
— Qual solução?
— Não! Ele disse que não temos mais porque esperar tanto, a Sadie está
com praticamente cinco meses. Vamos ter três meses para preparar tudo.
Quero muito que você venha e que seja nossa madrinha.
— Aubrey, eu não sei o que dizer!
Sorrio e olho para frente. Como eu poderia dizer não para minha amiga?
Minha melhor amiga?
— Aubrey, por que eu sinto que você está me escondendo algo muito sério?
— Não se preocupe, vai dar tudo certo. Estou muito feliz por você e pelo
Ben, vocês merecem ser felizes.
Sorrio ao me lembrar do Owen e o quanto sou feliz com ele. Minha amiga
ainda não sabe sobre o Owen e não posto nada sobre ele nas minhas redes
socais e ele também não. Gostamos de manter nosso relacionamento
somente entre os amigos mais chegados.
— COMO É, AUBREY?!
— E você não me conta nada? Como assim? Eu pensei que eu era sua
melhor amiga!
— Calma, Soph, eu tenho os meus motivos. Logo vou te contar como tudo
aconteceu, prometo!
Estamos na vida real e não em um dos livros que você escreve. — ela fala e
eu rolo os olhos.
— Posso até conhecer, mas pode ter certeza que eu não vou me interessar,
caras mais novos não me atraem, Soph.”
— Ai, Meu Deus! Já quero conhecer esse homem que está fazendo você
suspirar!
— Ok, Soph!
— Impressão, é? Por que acho que não é isso. Sinto que alguma coisa está te
preocupando. É a Kristen?
— Recebi uma ligação da Soph hoje. — Começo. Já falei da Soph pra ele,
inclusive em várias ligações nossas ele estava presente, só não fazia
barulho nenhum.
— O que foi?
— Não se preocupe com isso, sei que está preocupada com a Kristen e que
quer ficar com ela o máximo de tempo possível. Mas, meu amor, é o
casamento da sua melhor amiga, a pessoa que sempre te apoiou, mesmo
você sendo extremamente fechada com ela em relação a tudo,
principalmente em relação a sua mãe.
Suspiro.
— Vai ser. Sua mãe não vai ficar feliz ao saber que você perdeu o casamento
da sua melhor amiga por causa dela.
— Mas o dinheiro...
— O quê?
— É exatamente isso que você ouviu. Você vai ao casamento da sua melhor
amiga, sem preocupação nenhuma.
— Sério? — Confirmo.
— Tem certeza?
— Claro que eu tenho, você é meu namorado e quero que minha melhor
amiga te conheça, até porque ela só faltou abrir campanha pra que eu
arrumasse um namorado.
Owen gargalha.
— Linda.
Ele me beija.
É incrível como eu amo beijá-lo, como amo sentir sua boca em mim e em
cada parte do meu corpo. Me afasto dele e beijo seu rosto.
— Estarei te esperando.
Saio dos braços dele e deixo seu apartamento. Assim que entro no meu
respiro fundo e sorrio.
Preciso dizer para o Owen que ele é o homem da minha vida e eu preciso
fazer isso a altura de uma escritora de romances!
Um dia para preparar um piquenique! Tive que correr contra o tempo para
conseguir tudo que eu precisava: cesta, pano, comida... Mas irá valer a pena!
Graças a Deus o último dia de treinamento da equipe acabou mais cedo.
Owen havia me mandado uma mensagem avisando que estava indo para
casa, porque as ordens do treinador eram descansar e não beber.
Falei para ele que iríamos sair no fim da tarde e que ele precisaria estar
pronto às 17 horas.
Coloco tudo que vou precisar dentro da cesta de piquenique e confiro a hora.
No mesmo instante a campainha toca e eu sorrio. Sempre pontual! Pego um
lenço para vendá-lo e abro a porta.
Apesar do inverno estar acabando, o tempo ainda está frio. Então optei por
uma blusa de frio gola alta, calça, bota e ainda colocarei uma touca.
Estendo a mão e ele me entrega a chave. — Muito bem, agora você vai
vendar os seus olhos.
— Surpresa, por favor! — Peço e ele faz, cobre os olhos com a faixa e eu
dou tchau em frente ao rosto para ver se ele está me vendo e sorrio ao
constatar que não. — Hoje eu preparei algo pra gente, então só peço que
você confie em mim.
— Eu confio em você.
Confesso que meu coração parece que vai saltar pela boca. Eu nunca disse
‘eu te amo’ para alguém, porque eu sei o impacto que essa frase causa e
quero muito que esse momento seja especial para nós. É por isso que
preparei cada detalhe com carinho e atenção.
Acho que andamos de carro por cerca de uma hora. Tentei de todo modo
fazer a Aubrey me dizer aonde estamos indo, mas ela está irredutível.
Acabo sorrindo. É impossível não fazer isso quando penso o quanto sou
sortudo por ter essa mulher ao meu lado, por ser apaixonado por ela, por ter
o privilégio de vê-la sorrir todos os dias.
— Chegamos?
— Eu quis te trazer para um lugar que fosse importante para nós dois — Diz.
— Estarei esperando.
Ela segura minha mão e me puxa novamente. Andamos um pouco e ela para,
fazendo com que eu bata em seu corpo de leve.
— Machucou? — Pergunto.
— Não! — Sinto ela segurar em minha cintura. — Pode tirar a venda agora.
Faço o que ela pede e sou surpreendido por um pano estendido na areia com
várias comidas gostosas.
— Uau!
— Gostou?
— Eu amei. Geralmente são os homens que preparam algo assim para suas
namoradas. Não esperava isso.
— Vamos comer!
Com toda a certeza eu poderia viver assim pelo resto da minha vida.
— Amor, o pôr do sol! — Aubrey chama e se levanta, indo para mais perto
do mar.
Me levanto e me aproximo dela por trás, abraço sua cintura e ela se encosta
em mim.
— E presenciar ele ao seu lado é uma das coisas que eu quero fazer pra
sempre — Ela diz. Aubrey se afasta e vira de frente para mim. — Sabe,
Owen, você entrou na minha vida de uma forma completamente inusitada.
— Aliso os cabelos dela, prestando atenção em cada detalhe do que ela fala.
— Você, Owen, me ensinou que o amor não tem idade, que as pessoas não
tem poder dentro do nosso relacionamento, me ensinou também que é nos
pequenos detalhes que a gente se apaixonada, como, por exemplo, o fato de
você me comprar café todos os dias de manhã, de abrir a porta do carro para
mim, de beijar a minha testa com tanta delicadeza, de cuidar de mim
— Aubrey...
— Deixa eu terminar, por favor! — pede, meu polegar passeia por sua
bochecha, secando as lágrimas que começam a cair. — Para mim, dizer eu
“eu te amo” é um passo muito importante dentro de uma relação. Essas três
palavras tem um peso e um significado enorme, porque o amor é pra sempre
e eu quero que você esteja no meu pra sempre, que você faça da minha vida,
das minhas conquistas, dos meus fracassos... Quero compartilhar com você
mais do que as minhas histórias de amor, quero vivê-las com você. — Ela
sorri, piscando para impedir as lágrimas de caírem. — Quando nós viemos
aqui a primeira vez, fomos parar em um bar e eu disse que jamais me
apaixonaria por você e nós dois apostamos.
Sorrio com essa frase. — Me apaixonei tanto que te trouxe aqui nessa praia
hoje para dizer que eu te amo, te amo muito, te amo tanto que dói. Amo ver
você dormir, amo estar com você, amo seu sorriso, suas covinhas. Eu amo
você por completo e eu te quero na minha vida para sempre.
Engulo em seco... Não é à toa que ela é uma escritora de romances.
Como poderia simplesmente dizer para ela “eu te amo” depois de uma puta
declaração dessa?
princesa. Não sei quando me apaixonei por você, mas eu sei que não consigo
mais viver sem você na minha vida. Você é como o ar que eu respiro. Sem
você meu dia fica sem cor e eu não tenho nem vontade de sorrir. Eu amo
você, Aubrey, amo você pra caralho! E quero você para sempre.
Ela sorri e se joga nos meus braços. Seguro-a pela cintura e giro com ela
pela areia. Coloco-a no chão em seguida e ajeito seu cabelo.
Beijo-a igual a beijei da primeira vez: com desejo, como se minha vida
dependesse desse beijo, saboreando seus lábios como se fosse um manjar,
segurando seu corpo como se ele fosse minha salvação.
De tudo que já me aconteceu nessa vida, a Aubrey é o meu melhor
acontecimento e eu serei eternamente grato a ela por me ensinar a amá-la.
Beijo sua testa, em seguida seus olhos e depois sua boca. Mas o que
começou devagar, se torna rápido e feroz.
Minhas mãos entram debaixo da sua roupa e eu ergo a blusa dela, jogando-a
em um canto. Lentamente, empurro seu corpo para cama e a deito, ficando
por cima dela, distribuindo beijos pelo seu pescoço e fazendo sua pele se
arrepiar à medida que desço em direção aos seios. Vejo seu peito subir e
descer e, mesmo por cima do sutiã, consigo ver os bicos entumecidos.
Aubrey se meche em cima da cama e tira o sutiã, me dando a visão dos seus
seios. Sem perda de tempo passos a língua nos bicos, fazendo-a gemer e
chupo seus mamilos com gosto, fazendo-a se contorcer embaixo de mim.
Sinto suas mãos puxarem meus cabelos e sei que ela já está toda molhada
para mim.
Desço minha boca para a sua barriga, dando beijos molhados na pele,
parando no cós da sua calça. Agilmente, me livro da calça e calcinha de uma
vez. Abro suas pernas e aproximo meu rosto de sua boceta, molhada pela
lubrificação.
Aubrey solta um gemido alto quando passo a língua por sua boceta e chupo
seu clitóris em seguida.
— Porra, Owen... — Ela fala e puxa meus cabelos, me mantendo no lugar.
Sorrio e volto a chupá-la, saboreando sua boceta como se fosse uma iguaria
rara. Aubrey começa a se contorcer mais rápido, erguendo os quadris,
querendo aumentar o contato entre nós. Enfio dois dedos dentro dela e
começo um movimento lento de vai e vem.
— Então goza para mim, princesa — Digo, enfiando os dois dedos dentro
dela ainda mais rápido.
Aubrey tenta girar o corpo na cama, mas não consegue. Suas mãos seguram
o lençol com força e ela goza com força, gemendo alto.
— Eu tenho uma cena para testar. — Ela diz, sorrindo e eu sorrio de lado.
Ela caminha até a parede e eu vou atrás. Ela geme quando sua pele entra em
contato com a superfície fria.
Minha mão sobe pelo seu braço e para em seu pescoço, apertando
levemente.
— Aubrey, Aubrey...
— Sim.
Faço o que ela pede, afasto suas pernas e lentamente entro dento dela, apoio
um braço na parede e começo a entrar e sair de dentro dela, fazendo-a gemer.
Com a mão livre, aperto seu pescoço, apenas um pouco para que ela sinta.
Sua mão aperta meu braço e eu começo a aumentar a velocidade.
Meu pau é sugado por sua boceta e eu solto um gemido quando sinto suas
paredes me apartarem.
— Porra! — Falo e solto seu pescoço, seguro sua cintura e começo um vai e
vem alucinante.
Quando ela começa a gozar, levo a mão novamente ao seu pescoço e ela
arranha meu braço, gemendo mais alto conforme aumento a pressão da
minha mão.
Solto seu pescoço e bombeio dentro dela mais algumas vezes. Saio de dentro
dela e a pego no colo, levando-a para cama.
— Acho que essa cena vai para o meu próximo livro. — Murmura e eu beijo
a ponta do seu nariz.
Respondo.
— Fala, sorrindo.
— Meu Deus!
Ela ri e eu a beijo.
— A gente não pode ficar assim. Somos um time, precisamos acreditar que
vamos vencer. — Falo, mesmo compartilhando do mesmo sentimento que
eles.
Zach diz e passa as mãos nos cabelos. — A vitória de hoje é importante para
todos nós.
Olho para a arquibancada, buscando pela Aubrey e sorrio quando a vejo. Ela
está com os cabelos presos em um rabo de cavalo, o rosto está pintado com
as cores do time e ela está usando uma camisa minha.
Quando a vi hoje mais cedo eu quase tive um surto. Ela ficou sexy para
caralho. Aubrey joga um beijo para mim e eu sorrio para ela. Vamos vencer
esse jogo. Todos acreditam na gente, também vamos acreditar.
— Confia na gente. Vamos fazer o impossível para deixar você sempre livre.
— Zach diz.
— Não se preocupe, ninguém vai passar pela gente hoje. — Elliot afirma.
Eles dois são nossa melhor defesa e confio neles de olhos fechados.
— Lucca, você sabe que o center do outro time é conhecido por não errar
nas suas jogados.
— Ele nunca conheceu um goleiro como eu. Pode ter certeza de que não vai
passar um puck sequer aqui.
— Isso aí!
Entramos em formação e eu fico de frente para o center do time adversário.
O tempo parece ficar em câmera lenta, o juiz apita, o puck é jogado no ar e
assim que ele atinge o gelo meu oponente consegue sua
posse e eu começo a correr atrás dele. Ele é rápido e seus movimentos são
precisos, mas isso não impede que o Caleb roube o disco dele.
Rapidamente o jogo inverte, Caleb joga o puck para o Zach, que desvia de
alguns jogadores e acena para mim, jogando o disco em seguida.
De posse do objeto, corro o mais rápido que consigo, indo em direção ao gol
adversário e assim que eu lanço o puck em direção ao gol, ele passa por cima
do braço do goleiro e entra direto no gol.
Em nenhum dos jogos que assisti fiquei tão apreensiva como estou nesse.
Ainda não entendo muita coisa, mas conforme fui assistindo aos jogos
comecei a entender alguns pontos e assimilar algumas coisas.
Sei que os meninos estão preocupados, mas também sei que eles são capazes
de vencer esse jogo.
Zach, que o faz deslizar até a linha do goleiro, mas, ao invés de jogar para
gol, ele joga para Owen, que está sem marcação e mais distante do gol. Os
jogadores vão pra cima dele, que faz a jogada mais inesperada e arriscada
naquele instante, jogando o disco para o gol, mesmo daquela distância,
faltando cinco segundos para acabar o jogo.
Vejo Owen vir em minha direção e tirar o capacete. Sorrio para ele e
caminho em direção a porta que dá acesso a pista de gelo.
Assim que piso na pista, ele desliza em minha direção. Seu corpo colide com
o meu, um braço segura minha cintura e o outro pousa em minha perna,
erguendo-a um pouco, meu corpo é inclinado para trás.
Não preciso dizer mais nada, seus lábios encontram os meus e o estádio vai à
loucura novamente, porque é a primeira vez que mostramos nosso
relacionamento em público.
— Te amo, princesa.
— Era arriscado, mas tínhamos que tentar. — Zach diz para Wendy.
— Por um instante cheguei a pensar que não daria certo, mas deixei o
pensamento de lado e só fui — Owen explica.
— E que nos levou a uma vitória nos últimos segundos. — David ressalta.
— Eu sabia que vocês iriam ganhar. — Fala e Owen aperta minha cintura.
— Vocês merecem! Agora é só esperar as coisas acontecerem.
Vocês verão, logo todas as ligas estarão entrando em contato com vocês!
— Como?
Ele me entrega seu celular e vejo uma foto nossa, do momento exato em que
ele me beijou, com a seguinte legenda:
— A mídia não perde tempo — Owen diz, ao terminar de ler junto comigo.
— Tem outra aqui que mostra um vídeo e diz “Da ficção para a realidade!”
— Caleb fale e eu balanço a cabeça em negação.
Owen olha para mim e sorri.
— O que foi?
— Agora todo mundo já sabe que você é a mulher da minha vida, estou feliz
com isso.
— Também te amo!
— Vamos beber mais, galera! — Lucca grita e eu entro na vibe, mesmo não
bebendo.
— Tem certeza de que vai ficar bem, mãe? — Pergunto e ela assente.
— Mas é claro que vou! — Ela diz, como se fosse obvio. — Estou bem há
meses, Aubrey!
internação e os remédios tem mantido minha mãe estável, o que para mim é
um grande alívio.
— Mas ainda não acredito que você vai para ver Soph se casar e já voltar no
dia seguinte! — Reclama.
— Certo, certo! Mande meus parabéns pra Soph e diga que estou muito feliz
por ela! — Assinto e a abraço. — Agora vai, senão vão perder o voo!
— Sempre, Kristen.
Ele lhe dá um beijo na testa e seguimos para fora de sua casa. Owen segura
minha mão e me puxa para perto de si.
Owen segura minha mão e seguimos para fora do aeroporto. Soph queria vir
me buscar, mas achei completamente inviável, visto que ela tinha que passar
o dia se arrumando.
Estou muito animada! Tem mais de um ano que eu não vejo Soph e estou
morrendo de saudades. Sem contar que estou ansiosa para conhecer minha
afilhada.
Owen e eu queríamos passar mais tempo em Nova Iorque, mas não tem
como, infelizmente. Chegamos no hotel e vamos guardar nossas coisas.
— Você fez uma reserva em um hotel e tanto! — falo, assim que entramos
no quarto.
— É lindo!
— Vai ficar mais confortável para gente, amor. — Ele diz. — Não sabemos
que horas vamos sair da festa, então...
Voltamos para o hotel e fui direto tomar um banho, pois ainda preciso
arrumar meu cabelo. Não que eu fosse fazer algo diferente. Irei apenas secá-
lo e prender a lateral. Enquanto arrumo o cabelo e faço minha maquiagem,
Owen toma banho.
um modelo na cor verde claro, de alças finas, justo no busto, com decote
reto, cintura marcada, saia rodada e uma fenda na perna esquerda. Opto por
usá-lo com um scarpin da cor da minha pele.
— O que acha? — Pergunto, dando uma volta para que ele pudesse ver o
visual completo.
— Você está linda! Na verdade, acho que nunca te vi tão linda e olha que já
te vi de incontáveis maneiras! — Sorrio e caminho até ele, pegando a
gravata de sua mão e ajeitando o nó.
— Se lembra quando eu ajeitei sua gravata pela primeira vez? —
— Você está tão linda com esse batom vermelho! Além disso, não quero
chegar na festa manchado.
— Porque não experimenta pra ver se ele vai sair da minha boca ou não?
Ele não responde com palavras. Sua boca ataca a minha em um beijo que me
deixa sem ar. Seguro seus ombros e ele aperta minha cintura.
Quando o beijo termina afasto nossas bocas, buscando ar, mas não abro os
olhos.
— Acho que eu gostei desse batom. — Ele diz e eu sorrio, voltando a beijá-
lo.
— Eu também. — Murmuro.
Nossos lábios se moldam um no outro. Sua mão sobe até meu rosto e ele
para, me dando selinhos.
— Você não quer, mas tem uma coisa bem animada aqui. — Digo,
pressionado o quadril contra ele, sentindo o pau pulsar através da calça.
Cinco minutos depois deixamos o hotel e seguimos para o local que minha
amiga vai se casar.
O local está lotado e eu entendo. Soph e Ben são responsáveis por uma
empresa de marketing digital, a melhor de Nova Iorque, e muita gente estava
esperando o casamento deles desde o nascimento da Sadie.
— Não sabia que pela primeira vez eu ficaria desconfortável com olhares. —
Murmura, perto do meu ouvido.
— Um fato. Me pergunto se foi uma boa ideia vir. — Me viro para ele no
mesmo instante e ele para antes de bater o corpo contra o meu.
— Nem morto!
— Benjamin! Meu Deus! — Vou dar um abraço nele. — Como você está?
— Nervoso, mas feliz. Que bom que você conseguiu vir, significa muito para
a Soph.
— Sou sim.
— Obrigado!
— Vou lá. — Ele assente e beija minha testa. Deixo-o ali e sigo para a casa.
Quero muito encontrar minha amiga logo.
— Meu Deus, Soph! Você está linda! — Sussurro e ela me olha, sorrindo.
— Gostou?
— Eu amei. Meu Deus!
— Quero saber como estão as coisas com você e com sua mãe.
— É uma longa história, Soph, que não tem como ser contada agora.
Olho para trás e vejo a mãe do Ben entrando com minha afilhada, a Sadie.
— Meu Deus — Sussurro, já indo até ela, que rapidamente joga os bracinhos
para mim. — Que coisinha mais fofa você é! Meu Deus! Dá vontade de
morder!
— Vem aqui, meu amor! — Minha amiga pega a filha no colo e dá um beijo
nela.
Celine, a outra madrinha da Soph, entra no quarto e diz que a cerimônia vai
começar e minha amiga sorri. Sei que ela está fazendo a coisa mais certa da
vida dela.
Chorei durante os votos do Ben e da Soph. Sempre soube que os dois eram
apaixonados, mas eram medrosos demais para admitir isso.
— Obrigada, amiga!
— É bom você cuidar muito bem dela. A Aubrey não entrega o coração dela
para qualquer pessoa. — Avisa, com o dedo em riste.
— Pode deixar, Sophia. — Ele me encara. — Eu faço de tudo para ver essa
mulher feliz, absolutamente tudo.
Sophia não espera minha resposta, apenas segura minha mão e sai me
puxando. Voltamos para a quarto onde ela estava se arrumando.
— Me ajude a tirar esse vestido. É lindo, mas não aguento mais ficar com ele
— diz.
Acabo sorrindo e começo a contar para ela como conheci Owen, tudo que
fizemos juntos e como acabamos nos aproximando tanto.
— Exagerada...
— Exagero nada, olha bem tudo que você disse, um livro! Você viveu as
histórias de amor que você tanto coloca no papel, Aubrey e se apaixonou por
um príncipe improvável! — Sorrio, constatando que ela tem razão.
— Eu sei. Acho que nunca consegui ler tão bem uma emoção em você como
consigo ler esta. Está escrito na cara de vocês todo esse sentimento.
— Eu fui embora por causa minha mãe, lembra? — Ela assente, respiro
fundo e tomo coragem para falar. — Ela está morrendo, Soph.
— Como...
— Desculpa. Estava lidando com isso sozinha e depois o Owen chegou. Ele
é quem tem segurado as pontas comigo e tem me dado todo o apoio que
preciso.
Ela já aceitou tudo que vai acontecer e o que nos resta é aceitar também.
— Te amo, Soph.
— Agora vamos parar de chorar, trocar de roupa e voltar para a sua festa de
casamento — Falo e ela concorda.
— Sim!
— Sim?
E eu sorrio. Tudo está indo muito bem e estou extremamente feliz com isso.
2 semanas depois
Essa é a última releitura que faço no livro após finalizá-lo e antes de enviá-lo
para a gráfica. Confiro novamente se não tem nenhum erro e se está tudo
dentro dos conformes e, mais uma vez, me emociono com o final dessa
história. Com toda a certeza é a mais linda que eu já escrevi.
Emília tem razão quando diz que esse livro será meu novo best-selle r. O
lançamento será daqui há 45 dias e estou morrendo de ansiedade.
A história é sobre uma mãe solo que cuida da filha de seis anos e descobre
que está com câncer. O câncer a faz ter medo de morrer, o que faz com que
ela comece a lutar contra essa doença, fazendo de tudo para que a filha não
perceba nada, mas as coisas mudam de figura quando um médico rabugento
entra na vida delas. Ele é fechado, não quer relacionamento e não gosta de
crianças, até conhecer a filha da minha personagem.
Eles começam a desenvolver uma relação, ele se apaixona por ela, descobre
que ela está doente e move céus e terra para ajudá-la. O amor deles é
doloroso e eles sofrem muito até que tudo se resolva no final.
Abro meu e-mail e digito um recado para Emília, dizendo que está tudo certo
com o arquivo e que o mesmo já pode ser mandado para a gráfica.
Separo tudo que vou usar e, assim que começo a misturar os ingredientes,
meu celular toca. Olho o aparelho de longe e vejo o nome da Julie. Largo
tudo que estou fazendo e atendo a chamada.
O carro para e desço, correndo para o hospital. Não passo pela recepção,
apenas corro em direção para a ala onde sempre fica. Assim que chego na ala
da Oncologia, vejo a Julie sentada na recepção, olhando para baixo.
— Foi levada às pressas para fazer alguns exames. A médica não disse nada
de relevante e... estou com medo.
Meu coração está apertado! É como se houvesse algo nos meus pulmões me
impedindo de respirar corretamente. Todas as vezes que puxo o ar sinto meu
coração doer.
Ficamos cerca de uma hora esperando notícias e ainda não temos nada.
Ninguém sabe de nada ou não podem nos informar nada ainda.
Eu não posso perder minha mãe, eu não posso perde-la, eu não posso...
— Aubrey! — Olho para cima e vejo Owen, ele está com os olhos
vermelhos e sei que também chorou. Não tenho forças para ficar de pé e ele
vem até mim.
Abraço-o como se ele fosse minha tabua de salvação e deixo as lágrimas
correrem livremente pelo meu rosto.
— Vai ficar tudo bem, meu amor! Vai ficar tudo bem — Ele sussurra,
fazendo carinho no meu cabelo.
Seus olhos estão tristes e ela olha para baixo, voltando a nos encarar em
seguida.
— Nós fizemos de tudo, Aubrey — Sussurra. — Ela não vai aguentar muito
tempo. Não sei como ela está aguentando agora. Acredito que ela queira se
despedir de vocês.
Ele me leva em direção ao quarto em que ela está internada. Assim que a
porta é aberta, mais lágrimas caem pelos meus olhos e tento respirar, mas é
impossível.
— Querida... — Ela segura minha mão. — Precisa me prometer que não vai
ficar triste.
— Mãe...
— Tem que me prometer que vai viver intensamente, vai lançar todos os
livros que seu coração mandar, vai se permitir viver além do que você já
vive.
— Quero que você seja feliz, minha filha. Quero que você seja exatamente
quem você é.
— Para...
— Eu amo você, Aubrey, tenho orgulho de ser sua mãe, de ver a mulher que
você se tornou. Obrigada por tudo que fez por mim até aqui, por ter cuidado
de mim, por ter construído memórias que eu vou levar comigo para sempre,
cada momento, cada risada...
— Owen, querido. Obrigada por ter me feito rir inúmeras vezes e por ter
esse coração bondoso. Você com certeza ainda vai fazer inúmeras pessoas
rirem e se encantarem com seu jeito de ser...
— Kristen...
— Lembra quando você me disse um dia que, enquanto você não arrumasse
uma noiva, as pacientes não poderiam partir? — Ele assente e minha mãe
segura nossas mãos, juntas. — Você achou sua noiva e agora eu posso partir
em paz.
— Mãe...
Seu aperto em nossa mão se enfraquece, seus olhos ficam fixos em um ponto
e em seguida as pálpebras se fecham. As máquinas começam a apitar
freneticamente.
MÃE, NÃO!
— Meu amor, meu amor, meu amor! — Owen tenta me tirar do quarto, mas
é inútil.
— Mãe!
Ele me abraça, colocando minha cabeça contra meu peito e perco a força das
pernas. Caímos no chão.
Olho para o sol que brilha no meio do céu e me pergunto se agora o universo
não deveria estar compadecido da minha dor.
Tudo que consigo fazer agora é olhar para o caixão, sendo baixado e sendo
coberto por terra.
Não consigo me mexer e não consigo mais chorar, por mais que meu
coração esteja doendo, por mais que tudo em mim esteja destruído. Só
consigo perceber que de agora em diante minha mãe não estará mais
presente comigo e isso me rasga por dentro.
Sei que vou me lembrar de todos os momentos que passamos juntas, das
risadas, broncas e conselhos... sei que cada instante estará gravado para
sempre no meu coração e que jamais vou me esquecer do sorriso dela, da sua
certeza de ter vivido o suficiente e de que já tinha cumprido sua missão aqui.
Olho para o chão e me abaixo, deixando uma flor em cima de sua lápide.
— Amor? — Olho para cima e vejo o Owen e sei que ela está sofrendo tanto
quanto eu. Ele sempre foi apegado a ela. Seus olhos estão vermelhos e
lágrimas escorrem pelo seu rosto.
Fico de pé e vejo que restou apenas nós aqui.
— Eu também. — Concordo.
— Sim?
— Sabe o que sua mãe me disse quando contei a ela que minha mãe havia
morrido de câncer e que era por isso que eu me vestia de palhaço e ia para o
hospital?
— Não.
— Quando tudo na nossa vida está desmoronando e parece que nada vai dar
certo, a única coisa que resta é o amor. É nele que temos que nos apegar para
conseguir sobreviver. Foi assim que eu sobrevivi e é assim que você vai
sobreviver. É assim que vamos seguir em frente.
— Eu sei, princesa. Está doendo em mim também, mas agora ela vai
descansar e não vai mais sofrer.
— Prometo que vou ficar com você para sempre, princesa. Sempre.
Ele me abraça mais apertado e entendo o que minha mãe quis dizer com
aquela frase. Quando perdemos um dos nossos, tudo que resta é o amor para
nos ajudar a ficar de pé.
E nesse momento eu tenho esse amor que vai me ajudar a seguir em frente.
Queria poder dizer que nos dias que se passaram as coisas melhoraram, mas
não foi isso que aconteceu. Aubrey parecia cada vez mais triste e em alguns
momentos eu a encontrava chorando dentro do quarto, escritório ou
banheiro.
Ela já chegou a dormir com a foto da mãe nas mãos. Me sinto impotente
nessa situação. Não sei o que fazer e muito menos como confortar o coração
dela.
Deixo o copo de café em cima da bancada, junto com a rosa e fico parado,
vendo-a dançar. Minha vontade é de chorar, tamanha era a vontade
Não consigo impedir que uma lágrima escorra pelo meu rosto. Ela vê e vem
até mim, segurando meu rosto.
— Você está bem, princesa? — Pergunto, olhando dentro dos seus olhos
castanhos.
— Quero ficar bem e é por isso que hoje decidi voltar a viver a minha... a
nossa vida. Ainda dói saber que minha mãe realmente se foi, mas eu tô aqui,
você está aqui, estamos juntos e não quero você triste porque eu estou triste.
— No que?
— Sempre, princesa.
Um mês depois
— Mas tenho certeza de que isso vai ser uma surpresa e tanto para ela. Vou
conversar com a doutora Brigite e mantenho vocês informados.
— Me lembro bem da dona Kristen dizer que você ainda não tinha noiva
porque sua noiva seria a filha dela. Se eu soubesse que ela realmente estava
certa...
— Me apaixonar pela Aubrey foi inevitável. Saber que ela era filha da
Kristen me fez ver que aquela mulher realmente me conhecia e conhecia a
filha. Só assim para acertar em cheio que eu seria genro dela.
— Não vou me separar dela nunca, Paola! Pode anotar isso na sua agenda.
Meus dois amigos se olham, concordam e eu sorrio. Acho que nosso projeto
está prestes a ganhar uma nova cara.
— Sério?
— Já disse que eu te amo hoje? — Pergunto e ela faz uma cara pensativa.
— E você acha que vou perder a chance de ver minha nora ser prestigiada?
— Essa é a resposta que eu ganho ao perguntar se Mag vai ao lançamento do
próximo livro da Aubrey.
Estamos na cafeteria/livraria que meu pai deu a ela e devo dizer que o lugar
ficou incrível. Quando contei do espaço para a Aubrey ela amou, inclusive as
duas conversaram e boa parte dos livros da minha namorada serão vendidos
aqui.
Estou grávida.
— Sim, seu pai ficou radiante! Acho que nunca vi o Christopher sorrir
tanto... Nos últimos dias seu pai está outra pessoa!
— Você merece, Mag. Tenho certeza de que esse bebê já é muito amado por
vocês dois.
— Como?
— Ela merece ser feliz. — Ele corrige e se vira para mim. — Eu fui canalha
com ela no passado. Qualquer outra mulher teria pedido o divórcio, mas ela
não. Ela ficou comigo, me perdoou e criou você. Posso parecer um cara frio
ou distante aos olhos das pessoas de fora e até mesmo passar a impressão
que não sinto nada pela Mag, mas não é verdade. Eu a amo, Owen e faço
qualquer coisa para vê-la feliz.
— Vai sim. Ela está bem ansiosa, mas acredito que vai ser sucesso.
— Não apenas uma mulher, pai. A mulher da minha vida, a que eu pretendo
me casar daqui há alguns anos. Com ela vou construir uma família, ter filhos
e passar o resto da minha vida.
— É bom você entrar para uma liga grande de hóquei, Hughes! Não quero
meu sobrenome manchado.
— Não vai insistir para que eu siga a carreira jurídica? — Ele nega.
— Não, sua namorada tem razão, devemos fazer o que nos faz bem.
Sempre soube que você não seguiria essa carreira, nem que eu o obrigasse!
Peço apenas termine o curso, e, depois disso, você pode até vender hot dog
na rua, se estiver feliz.
Sorrio e assinto.
— Obrigada, pai.
Ele me deixa sozinho e eu sorrio para o nada. Tem coisas que acontecem e
só acreditamos ao ver com os próprios olhos. Essa cena é uma delas.
— Estou pronta!
Olho para a Aubrey e sorrio. Ela está linda! Essa versão CEO dela é
incrível... Minha namorada está usando uma calça folgada, uma blusa mais
colada, blazer, sapatos de salto e seus cabelos estão soltos.
— Está linda.
— Gostou?
— Podemos ir?
— Sim!
Seguimos para fora do apartamento e eu pego meu celular apenas para ver
uma mensagem da Anastácia, editora do Aubrey, dizer que está tudo pronto.
O caminho até o local onde será a sessão de autógrafos leva cerca trinta
minutos. A rua do espaço alugado está cheia de carros e noto Aubrey
arregalar os olhos.
— Está tendo algum outro evento aqui perto? — pergunta e eu nego, mas
não falo nada.
Abro a porta do carro para ela. Assim que ela desce caminhamos em direção
a porta, que faço questão de abrir para ela. Quando ela entra, fica paralisada
ao ver a quantidade de pessoas que estão ali, esperando, com o livro dela nas
mãos, para receberem um autógrafo.
Para todas vocês que lutam sozinhas, saibam que vocês nunca estão só,
sempre tem alguém que vai olhar por vocês e estar com vocês. Nunca
desistam de acreditar em si mesmas.
Fecho o livro e o deixo de lado, sorrindo para a primeira leitora da fila que,
por acaso, é minha melhor amiga. Ela sorri e me entrega o livro.
Abro o livro e escrevo uma mensagem. Soph vem me abraçar e posar para
uma foto.
— Você merece o mundo, Aubrey! Tenho muito orgulho de você e de ser sua
amiga.
Escrever esse livro foi um desafio, ainda mais quando eu me senti incapaz de
terminar a história, porque ela não queria seguir o que eu tinha planejado. Os
personagens tinham seu próprio roteiro e quando eu decidi atender esse
roteiro, as coisas fluíram como vento. Laços de amor traz uma
— Meu obrigada especial vai para o Owen. — digo, olhando para ele e
sorrindo. — Você, meu amor, foi uma peça fundamental para a conclusão
desse livro! Sem você na minha vida, não teria conseguido passar por tanta
coisa e não teria aprendido que a gente deve dar uma chance ao amor na vida
real também. Eu te amo e é impossível medir o tamanho do meu amor por
você. Quero passar o resto da minha vida com você, escrever pra você e
vivenciar cada sentimento com você.
Ele caminha até mim e não fala nada, apenas me beija. Deixo o microfone
cair no chão e me seguro em seus ombros. Sua mão segura minha cintura e a
outra a nuca, corro os dedos pelos seus cabelos e sorrio entre o beijo.
— Te amo. — Sussurro.
— Eu te amo, princesa.
Um mês depois
Com o passar dos dias as coisas foram se ajeitando. Não é como se tudo
fosse ser colocado no lugar de uma hora para a outra, claro, mas estamos
vivendo um dia de cada vez.
Foi uma surpresa saber disso. Apesar de todo esse sucesso, minha mente não
parou de criar novos enredos e já comecei a trabalhar no meu próximo livro,
que será lançado de maneira independente, em breve.
Estou animada e completamente inspirada com meu novo casal, que promete
arrancar suspiros das leitoras.
— O treinador Hamilton pediu que fosse falar com ele hoje e me disse que
vários times de hóquei entraram em contato com ele, querendo eu fosse
jogar como o jogador principal deles.
— New York Rangers, Boston Bruins, New York Islanders e mais três.
— E agora?
— Você sabe que a partir do momento que eu aceitar entrar no time, terei
que me mudar para facilitar as coisas. Estou me formando, então não tenho
nenhum impedimento.
É claro que eu entendo isso! É o trabalho dele, como eu poderia exigir que
ele ficasse em Toronto ou que fosse para qualquer outro lugar?
— O que você decidir eu vou apoiar, amor — falo, alisando seus cabelos.
— Eu sei que você nunca quis voltar para o Canadá e que Nova Iorque
sempre foi a cidade que você amou. Sei também que, se puder voltar para lá,
você voltaria.
— Que pergunta?
— Você quer morar comigo? A gente se muda para Nova Iorque e começa
uma vida lá, juntos.
— Você acha que eu iria embora de Toronto e iria te deixar? Nem que eu
estivesse delirando! Minha vida não existe sem você, Aubrey. Você é mais
importante que tudo na minha vida.
— É claro que eu vou com você! Eu vou com você pra onde você quiser.
Ele sorri e segura meu rosto.
Nosso vôo será amanhã de manhã e, para nossa despedida, fomos ao bar do
Red, junto com nossos amigos, que também estarão se mudando em breve.
Caleb foi chamado pelo Detroit Red Wings, o Zach e o Lucca vão para o
Nashville Predators, Elliot está indo para o Calgary Flames e o David para
Vegas Golden Knights.
Vendo-os juntos, conversando, me faz pensar que mesmo que eles fiquem
separados e morem em cidades diferentes, nunca perderão esse vínculo que
existe entre eles. A amizade que compartilham é mais forte que a distância
que vai separá-los.
— Confesso que vou sentir falta dessa bagunça. — Olho para o lado e vejo a
Wendy.
— Isso é um fato, todos vão sentir falta disso. — Me viro para ela e sorrio.
— Como você e Zach vão fazer?
Ela sorri e abaixa o rosto. Não é novidade para ninguém que eles começaram
a sair. Não sei em que pé anda o relacionamento deles, mas sei que está
evoluindo.
— A gente vai continuar juntos. Quando ele se mudar vai ser um pouco mais
complicado, porém queremos que dê certo.
— É isso aí. Não importa o que aconteça daqui pra frente, sempre vamos nos
lembrar da nossa amizade — Caleb diz.
O som dos copos tilintando preenchem o ambiente, junto com nossas risadas
e conversas.
— Quando forem casar nos chamem! — Zach grita quando estamos quase
saindo.
— Mais do que pronta! Eu mal posso esperar por esse recomeço, junto com
você.
Owen sorri e beija minha mão. Hoje, tudo que tenho a agradecer é por esse
homem ter cruzado a minha vida, feito uma aposta comigo e me feito
apaixonar por ele em seguida.
Sabe de uma coisa? Acho que nossa história dá um livro... quem sabe algum
dia eu não escreva sobre ela?
— Você também me faz feliz, Aubrey. Mais do que imaginei ser possível.
3 ANOS DEPOIS
Com o passar dos anos a gente percebe que é impossível controlar nossa
vida 100%. Sempre vamos nos deparar com alguns momentos inoportunos e
situações inusitadas.
Porém, foram três anos de aprendizado e entendimento. Três anos onde nos
conhecemos melhor, definimos nossas prioridades e fortalecemos nosso
amor.
Não é de agora que sei que ele quer ter uma família. Vejo como ele é com o
filho mais novo da Soph, com a Sadie, mas nunca havíamos de fato decidido
que teríamos um filho. E agora eu estou aqui, descobrindo que estou grávida!
Não estou triste, pelo contrário, estou feliz! Mas um pouco em pânico,
porque não sei como dar essa notícia para o Owen. Preciso pensar em algo,
algo que seja único e que...
Paro quando consigo descobrir de que maneira contarei para ele que nossa
família vai aumentar.
Quando dá seis horas da tarde já estou com o roteiro impresso e pronto para
a leitura. Organizo tudo, peço nossa comida, e, para ficar menos ansiosa,
pego um livro para ler enquanto espero ele chegar.
— Perder faz parte da vida também. — Digo e ele se senta ao meu lado.
— Lendo?
— Hum, hum! Inclusive tenho algo para você.
— Outro enredo?
— Sim, acho que você vai amar esse! — Me levanto e pego o papel
impresso em cima da mesa de centro. — Leia e me diz o que acha.
Owen pega o papel, começa a ler e noto que ele sorri ao se dar conta de que
é a nossa história escrita ali.
Enquanto ele lê, encaro seu rosto e me considero uma mulher de sorte por ter
esse homem completamente apaixonado por mim. Eu não poderia ter
ganhado presente melhor do que o Owen em minha vida.
Assusto quando ele se endireita no sofá e sorrio ao constatar que ele está
lendo o final da história, onde eu digo que a protagonista descobre que está
grávida.
Owen me encara e em seguida volta a olhar para o papel, depois para mim.
Ele desce os olhos para minha barriga e depois sobe para meus olhos.
— Esse é o primeiro enredo da história, mas acho que terei que escrever a
parte dois daqui uns anos. Afinal, esse não é o final dela, ainda temos muito
que aprender juntos. — Pouso a mão na minha barriga e ele sorri.
— E esse novo enredo da nossa vida, Owen... Você está pronto para escrevê-
lo comigo?
Para algumas pessoas esse pode ser o final da nossa história, mas, para nós, é
apenas o começo: o começo nossa família. Afinal, para um escritor de
verdade, a história nunca acaba depois da palavra fim.
Sophia acha que seu melhor amigo a vê como a garotinha que chegou de
repente em sua vida e que se tornou praticamente sua irmã mais nova...
Meus olhos estão fixos na cintura fina, subo para os seios fartos, parando em
seu rosto corado. Seus olhos estão fechados, os lábios formam um sorriso
sensual e alguns fios de cabelo grudam na pele suada.
— Não fale besteiras. — É a única coisa que falo antes de pedir ao barman
que me dê mais uma dose de uísque.
Volto a encarar a pista, agora ela está de costas para mim, sua bunda mexe de
um lado para um outro e observo a curva de suas pernas fartas escapando
pelo tecido do vestido curto.
— Não. — Volto a olhar para meu amigo, que claramente não acredita em
uma palavra do que eu digo.
— Sou seu amigo, sabe disso, pode falar, não vai morrer se confessar que já
desejou a Sophia na sua cama.
Mas isso não é uma coisa que eu me orgulho de sentir, afinal, Sophia é
minha melhor amiga desde que me entendo por gente. Fomos criados juntos,
quase como irmãos, o quão errado é desejar uma pessoa que foi praticamente
criada com você?
Por isso sempre neguei com todas as forças o desejo que sinto por ela.
— A Sophia é como uma irmã para mim, e até onde eu sei, não se vai para
cama com uma irmã.
Meu amigo ri, não acreditando em uma palavra que sai da minha boca.
Foda-se.
Caralho!
Essa mulher planeja acabar com o restante da sanidade que ainda existe em
minha cabeça.
Mas como eu disse anteriormente, Sophia é como uma irmã para mim e na
cabeça dela eu sou seu irmão mais velho, o herói que a salvava dos sonhos
ruins.
— Bom, sua irmã vem aí — meu amigo diz ironicamente e eu volto minha
atenção na loira que vem em nossa direção, sorrindo para todos que cruzam
seu caminho.
Seu rosto se vira para mim e sou pego olhando-a, mas não desvio os olhos.
— Não! Ainda está cedo, eu nem bebi tudo que eu queria beber.
Ela pede uma dose de tequila para o barman e eu faço careta. Ele bebe a
dose sem fazer careta e observo sua garganta se movimentar enquanto o
liquido desce, engulo em seco e peço outra dose também.
Viro o copo imediatamente e minha amiga bate palmas, animada por me ver
beber.
— Sinto que irei precisar de algo mais forte essa noite — murmuro.
— Nem fodendo, Sophia, você sabe que eu não danço — digo para ela, que
faz um biquinho sexy pra caralho.
Sophia pode me pedir o mundo inteiro que eu darei a ela, menos dançar com
ela, isso é uma coisa que eu não faço.
Observo ela tomar outra dose de tequila e se afastar de nós, voltando para a
pista. Será extremamente torturante vê-la dançar e ver outros caras dando em
cima dela descaradamente.
Respiro fundo e puxo meu celular do bolso do terno, confiro a hora, são mais
de 2:00h da manhã, preciso levar Sophia para casa.
— Sim, não bebi a ponto de não saber onde fica minha própria casa, minha
preocupação é a loira ali. — Aponto para minha amiga.
—Tenho certeza de que com ela você consegue lidar. Até mais, Ben.
— Até, Marcus.
— Já?
— Já.
— Ben, não quero ir pra casa — murmura, antes que eu feche a porta.
— Sophia...
— Eu só quero dormir, prometo não te atacar no meio da noite.
Sorrio e balanço a cabeça, quando a Sophia bebe, vira uma verdadeira caixa
de perguntas.
Fecho a porta do carro e dou a volta para entrar também, coloco o sinto de
segurança e ligo o carro.
— Vamos, Sophia, vou te levar para o quarto — digo, puxando-a pela mão.
A levo para meu quarto e entrego uma camisa minha para que ela se troque.
Saio do quarto e vou atrás de remédio para dor de cabeça, pois tenho certeza
de que Soph irá acordar de ressaca amanhã.
— Beba, cupcake.
Com uma careta, ela pega o remédio da minha mão, coloca na boca e ingere
a água, fazendo uma careta em seguida.
— Agora durma.
— No sofá.
— Eca...
— Exato, agora durma, amanhã você não vai se lembrar de metade dessa
conversa.
Eu tenho certeza de que não conseguirei trabalhar essa noite, ainda mais
sabendo que ela está dormindo no quarto ao lado.
Minha cabeça doí pra caralho, não preciso nem abrir os olhos para saber que
estou com uma puta resseca. Odeio quando perco o controle da bebida dessa
maneira, mas queria extravasar ontem e apenas por isso me deixei beber
mais do que eu deveria.
Me mexo na cama e sinto que esse não é o meu colchão, afinal, conheço
muito bem onde durmo durante a noite.
Com toda a certeza ainda estou com o álcool em meu organismo, passo as
mãos nos olhos e olho novamente ao meu redor, vejo um porta-retratos em
cima da mesa de cabeceira e me apresso em pegá-lo, me
xingando ao sentir outra pontada na cabeça. Assim que pego o objeto e vejo
quem está na foto respiro aliviada.
É uma foto de Benjamin em sua formatura, o que indica que estou em seu
apartamento.
Podre de bêbeda.
— Bom dia, Bela Adormecida, vim ver se ainda estava viva depois da
bebedeira de ontem.
— Dor de cabeça?
— Fiz um café sem açúcar para você e tem mais remédio na cozinha, vou
trazer para você.
Ele volta para o quarto e eu me sento na cama.
— Vá tomar um banho e venha comer alguma coisa, sei que vai se sentir
melhor depois disso.
Encontro meu vestido pendurado atrás da porta e sei que foi Ben que o
colocou ali, assim como sei também que fui eu mesma quem tirou minha
roupa ontem à noite, Benjamin jamais faria isso comigo bêbeda.
E nem sóbria.
Minha mente traiçoeira trata de gritar para mim, afinal, se tem uma coisa que
eu tenho certeza nessa vida, é que o Benjamin jamais olharia para mim como
mulher, afinal, somos melhores amigos e fomos criados juntos desde que me
entendo por gente. Benjamin Cooper jamais olharia para mim com outros
olhos.
Saio do banheiro e me seco com uma toalha que ele deixou para mim e uso a
escova de dentes que ele disse que havia dentro da gaveta do balcão. Ajeito
o coque no cabelo e fico em dúvida se uso o vestido de ontem ou se,
simplesmente, pego a camiseta que dormi.
Sorrindo, decido usar a camiseta, que ficou parecendo um vestido em mim,
mas ainda assim, proporcionalmente curta.
Deixo o quarto e vou para a cozinha, procurando pelo meu amigo, que se
movimenta pelo cômodo.
Ben serve um xicara de café e coloca na minha frente, faço uma careta assim
que cheiro forte me atinge.
Odeio café!
Bebo mais um pouco de café, mas desisto de tentar terminar, e parto logo
para o remédio e água.
— Mas não a ponto de ficar bêbada, acho que passei dos limites.
— Você queria extravasar, não te culpo por isso. Quer comer algo?
— Bom, minha mãe me chamou para almoçar, mas não dei certeza de que ia,
acredito que ela não almoçou ainda, quer ir para a casa dela?
— Aceito!
Saio de trás do balcão e deixo que ele veja o problema com seus próprios
olhos.
Sinto seu olhar passear de cima a baixo pelo meu corpo, vejo seu palmo de
adão se sobressair em seu pescoço e ele volta a olhar para seu celular.
Estreito os olhos para ele, que nem desvia a atenção da tela do celular.
— Por que sabia que em algum momento você poderia dormir aqui e
precisar de algo, não é a primeira vez que isso acontece.
Ele tem razão, querendo ou não, me sinto especial por isso, apesar de ter
quase certeza de que ele também oferece roupas para as mulheres com quem
passa a noite.
Sigo para o quarto dele e vou direto procurar as roupas que ele disse que
tinha, imediatamente acho uma calça jeans escura e um croped de lã, graças
a Deus a roupa serve perfeitamente em mim.
Solto meus cabelos e consigo arrumá-los com os dedos, pego minha bolsa e
vou atrás do meu celular.
— Aubrey...
— Só não me preocupe mais, ok? E diga ao Benjamin que ele deveria ter me
informado que estava com você.
— Beijos.
Dou a ele meu melhor sorriso e sei que ele sabe que estou fingindo estar
bem.
— Certo, cupcake, vamos lá. — Estanco no lugar e ele se vira para mim. —
O que foi?
Ele abre a porta e eu sigo para fora do quarto, sentindo seu perfume tomar
conta do meu ser ao passar do meu lado.
Espero que ele passe por mim e sigo atrás dele, observando o desenho que a
camiseta faz em suas costas.
Acontece, que para meu melhor amigo, eu sempre serei considerada a irmã
que ele nunca teve, e isso me mata, porque eu daria tudo para mostrar a ele
que não sou mais uma menina e sim uma mulher, mas pelo que conheço
dele, eu jamais preencheria os requisitos que me levariam direto para a sua
cama, com direito a tê-lo em cima de mim.
Quero agradecer primeira a Deus, por ter me sustentando até aqui e por não
ter me deixado desistir do meu sonho!
Quero agradecer a Ana Caroline, que sempre esteve ao meu lado, desde o
início, me apoiando e me ajudando, amiga esse lançamento não estaria
acontecendo se não fosse você, obrigada!
Minhas leitoras queridas, obrigada por não desistirem de mim, vocês são
mais que especiais em minha vida, saibam disso!
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