Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAPA:
Vitória Mendes
DIAGRAMAÇÃO:
Brooke Mars (@_brookemars)
Vitória Mendes
LEITURA CRÍTICA:
Ana Paula Ferreira (@ferreirareads)
REVISÃO:
Camille Gomes (@k.millereditorial)
Stephany Cardozo Gomes (@sterevisa)
ILUSTRAÇÕES:
Eduarda Oliveira (@arda.arts)
Gabriela Góis (@olhosdtinta)
15 de julho de 2015
“Querido diário, essa não é uma história de amor, mas uma história
de como eu me apaixonei pela filha do meu futuro padrasto...
Eu poderia dizer que aquele era mais um fim de tarde de um
domingo qualquer, enquanto eu saía da escolinha de futebol e ia para casa
caminhando, como sempre, porém, eu sabia que algo iria acontecer
naquele dia.
O sol era forte, e nenhuma nuvem dava qualquer indício de chuva,
entretanto, o vento era gélido e causava arrepios sempre que entrava em
contato com minha pele. Minhas mãos, que tremulavam devido ao frio,
estavam escondidas dentro dos bolsos do meu casaco, o capuz do moletom
cobria minha cabeça conforme eu andava de cabeça baixa.
Um homem vestido em um terno preto de três peças passou por mim
correndo.
— Allison, querida! Cadê você? — ele gritou, e eu olhei para trás.
O homem era alto, com ombros largos e cabelos loiros escuros,
aparentava ter a mesma idade dos meus pais, ele voltou a andar, olhando
para todos os lados e ainda chamando o nome da garota, e eu continuei
meu caminho para casa.
Virando a esquina, escutei um grito fino, foi apenas aí que eu entrei
em alerta e finalmente levantei a cabeça, então eu a vi...
Cabelos loiros quase dourados cobriam seu rosto, que estava baixo,
olhando para o tornozelo que sangrava.
— Você precisa de ajuda? — perguntei, ao me aproximar e me
agachar.
— Não — rosnou, tentando se levantar.
— Me dá sua mão — pedi, estendendo a minha, a fim de ajudá-la.
— Nã... — começou a responder, mas logo sua voz perdeu a força
quando nossos olhares se cruzaram.
Eu acredito que foi ali que eu me apaixonei por ela, nós passamos
alguns segundos nos encarando, mas para mim, naquele instante, pareciam
minutos, horas, uma vida inteira.
Certo que eu era uma criança, ainda sou, afinal passaram seis
meses desde aquele dia, e continuo tendo apenas treze anos. Contudo, ela
me olhava na mesma intensidade que eu tinha meu olhar nela, seus azuis
turquesa tinham um brilho único que continuava a chamar atenção, mesmo
quando sua pupila começava a dilatar. Pude notar também, as pequenas
sardas clarinhas ao redor dos seus olhos e na pontinha do nariz, que se
franziu.
Em seguida, meus olhos pararam em seus lábios rosados, que
sorriram, na mesma hora em que os cantos da minha boca se ergueram. Eu
sabia que eu era muito jovem para pensar naquilo, quer dizer, eu ainda
sou. No entanto, meu corpo e minha cabeça vibravam de uma forma
diferente, e foi estranho, pela primeira vez sentir minha boca salivar por
algo que não fosse comida. Algo me dizia que eu deveria beijá-la.
Precipitado, mais uma vez, eu sei.
Naquele momento, eu lhe ofereci minha mão novamente, e dessa
vez, ela pegou, sem hesitar, porém, logo a soltou, ao dar um pulo,
assustada.
— Allison! — a voz de um homem gritou, mas agora, o que me tirou
de órbita, foi a garota loira à minha frente se levantar em um supetão,
mesmo ainda estando com seu tornozelo machucado.
Então, eu lembrei do homem que passou por mim procurando
alguém.
— Seu nome é Allison? — perguntei, acompanhando-a.
Ela assentiu, e eu estendi minha mão outra vez para ela.
— Eu conheço um lugar que a gente pode ir, e ele não nos achará,
Allie-run — disse, ela olhou para minha mão, analisando-a, e em seguida
para meu rosto.
— Allie-run?!
— Porque você parece que gosta de fugir e correr — expliquei, e ela
riu, finalmente me estendendo a mão.
Quando nossas mãos se tocaram pela primeira vez, eu me senti
completo, como nunca havia sentido antes.
Aliás, se você me permite, a partir de agora vou passar a te chamar
de Joey, mais tarde, quem sabe, eu te explico o porquê, entretanto, eu
prefiro te dar um nome por enquanto, acho que se torna algo mais íntimo.
Como eu estava dizendo, quer dizer... escrevendo, isso, eu estava
escrevendo.
ENFIM!
Nossas mãos se tocaram, e eu não queria soltá-la nunca mais,
contudo, fui obrigado, quando finalmente chegamos ao nosso destino.
— Uma igreja? — Allison perguntou.
— Minha mãe nunca me procuraria na igreja — reflito.
— Nem meu pai. — Ela riu, franzindo o nariz, e eu sorri, porque ela
ficou fofa fazendo essa cara.
Nós entramos na igreja e sentamos nos últimos bancos, os mais
próximos da saída. O pastor Tanner conversava com um grupo de jovens,
mas não deixou de acenar quando me viu.
— Acho melhor limpar isso — sugeri, apontando para o seu
tornozelo, que mesmo pouco, ainda sangrava.
Quando Allison ergueu o pé, colocando-o em cima do banco, eu
peguei a minha mochila, onde eu sempre carrego minhas inúmeras coisas,
uma delas é um pequeno kit de primeiros socorros.
— Você deve estar se perguntando porque eu fugi do meu pai — ela
disse, e eu meneei a cabeça de um lado para o outro.
Não cheguei a questiona-la em momento algum sobre sua fuga,
mesmo que eu tenha a trazido até aqui e a acompanhado. Mesmo assim, ela
começou a explicar.
— Meu pai vai casar de novo. — Bufou, assim que eu joguei um
pouco de água e limpei o sangue. — Isso dói.
— É só água. — Subi os olhos para olhá-la. — Seus pais são
separados?
— Minha mãe morreu — disse em um tom de voz mais baixo, e eu
imediatamente parei de limpar sua perna.
Engoli em seco, tentando raciocinar o que dizer naquela situação.
Por muitas vezes, eu sempre acabo dizendo algo inconveniente, soltando
uma piadinha ou dizendo algo que não faça muito sentido, mas dessa vez,
eu pude pensar um pouco antes de respondê-la.
— Sinto muito...
— Eu também. — Ela me olhou, compadecida, e eu lhe soltei um
pequeno sorriso, antes de voltar a limpar o sangue com uma gaze. — Ela
morreu há um ano, mas ela já estava doente há muito tempo. Aucth —
reclamou, quando eu comecei a passar um pouco de álcool.
— Desculpa — sussurrei.
— Tudo bem — anuiu, então eu encostei outra gaze no ferimento e
fiz um curativo. — Para um garoto, até que você faz curativos bem.
— Isso é porque eu vivo me machucando — expliquei. — Jogo
futebol americano, então, sou cheio de machucados.
— Mas você não é grande para jogar futebol — analisou.
— Sou maior que você — revidei, erguendo uma sobrancelha. Ela
riu, e eu sorri.
Porque por mais que estivéssemos dentro de uma igreja, que por
sinal é a mesma igreja em que estou agora, esperando a cerimônia
começar em breve, eu me sentia totalmente agraciado pela presença dela.
De uma garota que eu conheci e por quem logo me apaixonei.
Nós passamos alguns segundos apenas nos encarando, e quando
notei que aquilo estava começando a ficar constrangedor, voltei ao assunto
que havia começado.
— E por que você não quer que seu pai se case?
— Não é que eu não queira que meu pai se case. — Ela revirou os
olhos, e eu já disse que ela fica linda quando faz isso? — O problema é ele
casar com a enfermeira que cuidou da minha mãe por anos.
— Ele traiu a sua mãe? — perguntei, e ela deu de ombros. — Minha
mãe traiu meu pai — confessei em um riso triste. — Eles brigavam muito, e
sempre que acontecia, e eu via, eles costumavam dizer que não era nada.
— Porque eles sempre pensam que as crianças não entendem nada
— Allison disse.
— Pois é.
— Eles se separaram por que seu pai descobriu a traição?
— Não. — Joguei a cabeça para o lado. — Acho que meu pai não
sabe disso, apenas eu. — Eu engoli em seco, lembrando das mensagens que
havia visto no celular da minha mãe há pouco menos de três meses daquele
dia.
Meus pais haviam se separado logo após a virada de ano. Os
motivos? O dinheiro nunca era o suficiente para manter a família, pois
apenas minha mãe trabalhava, enquanto meu pai dava algumas aulas
particulares de luta. Ao menos, foi isso que ela disse, ela só deixou de fora
que estava saindo com um homem desde a Ação de Graças, quando eu vi a
mensagem no celular da minha mãe, ela passou um pouco mais de um mês
jurando que tinha plantões extras no hospital onde trabalhava ou então que
alguma outra enfermeira precisava que ela cobrisse o seu horário.
Entretanto, a verdade é que ela estava mesmo saindo com outro homem, ao
passo que meu pai ficava sentado à mesa da cozinha, tentando fechar as
contas do mês.
— Eles eram felizes? — Allison me perguntou.
— Acho que nunca foram.
Ela estava insatisfeita com a relação deles, isso é verdade, pois por
vezes dizia que iria me criar para eu nunca fracassar igual meu pai, e que
nossa vida iria melhorar sem ele.
A questão é que eu nunca o vi como um fracassado, como minha
mãe fazia questão de sempre dizer, apenas porque quando eles se
conheceram, ele estava entrando no mundo dos ringues de luta, contudo,
após uma lesão, em menos de um ano de carreira profissional, foi obrigado
a gastar todo o dinheiro que havia ganhado até então com tratamentos
médicos. Nessa época, eu tinha cerca de dois anos de idade, mas foi ali que
se firmou o fim do relacionamento deles, que empurraram com a barriga
por mais dez anos.
— Meus pais eram — comentou em um sorriso triste. — Pelo
menos, até minha mãe descobrir o câncer. Ela tentava me dizer que estava
tudo bem, mesmo eu sabendo que não estava, eu a vi perder a vida durante
meses seguidos. Sabe o que é pior? Ela me disse, um dia antes de morrer,
que precisava que meu pai e eu seguíssemos em frente após a morte dela,
foi por isso que eu o encorajei a sair com outras mulheres depois de seis
meses de luto.
— Mas você não esperava que fosse alguém tão próximo assim —
completei.
— Ele está apaixonado — refletiu. — Porque eu acho que ninguém
pede alguém em casamento em tão pouco tempo a menos que esteja, e
estávamos indo para a casa dela, um jantar para me apresentar a ela e
também ao filho dela, mas na hora que íamos saindo do carro, eu vi a
caixinha de veludo ao mesmo tempo que a vi saindo de casa.
— A mulher, a enfermeira, ela é legal?
— O pior é que sim. — Ela fez uma careta. — Você acha que eu
estou sendo muito infantil por ter fugido quando vi o anel dentro do paletó
do meu pai?
Eu ri.
— Quantos anos você tem?
— Treze.
— Não. — Bufei em uma risada, e ela riu junto a mim.
Nós dois nos olhamos outra vez, eu coloquei a minha mão no banco
entre nós, com a palma virada para cima, Allison também o fez, porém a
sua com a palma virada para baixo e encostando na minha.
Ali, eu não sabia, só que foi a partir daquele instante que as coisas
começaram a mudar para mim drasticamente, não só porque eu queria e
procurava por seu contato a todo e qualquer momento desde então, mas
porque enquanto tudo na minha cabeça me dizia que eu havia me
apaixonado pela primeira vez e de quebra, uma paixão à primeira vista,
tudo ruiu quando as portas da igreja se abriram, nossas mãos se afastaram,
e voz da minha mãe ecoou pelo local:
— Aí estão eles!
Allison me olhou assustada, antes de levar seus olhos de volta para
a minha mãe, que estava ao lado do homem vestido em um terno caro de
três peças.
— Você é o filho da Susan?
— Seu pai é o amante da minha mãe? — devolvi.
Bom diário, ou Joey, essa é a apenas a forma como eu a conheci,
porque a história que eu tenho para contar daqui em diante, ainda é um
pouco mais longa.
Entretanto, o casamento deve começar em breve, estou ouvindo
vários convidados chegando, quem sabe mais tarde, após a festa, eu não
venho aqui falar mais um pouco.
Volto aqui mais tarde, amigo, minha avó começou a me chamar,
pois chegou a hora de eu dar a mão à minha mãe e entrar com ela na
igreja para ela se casar com o pai da garota que eu amo.”
20 de julho de 2015
8 de maio de 2020
“Eu sei, eu sei, Joey, faz pouco mais de um ano desde a última vez
em que estive aqui, desde que Allison beijou o seu primo durante uma festa
da família na intenção de se vingar, porque viu a Sadie saindo do porão na
calada da noite.
A frustração continua a mesma, eu continuo ignorando todo e
qualquer sentimento que tenha por Allie, as coisas com minha mãe
continuam da mesma forma, e com o tempo, ela parou de insistir que somos
irmãos. Ridículo, não é mesmo? Um cara com dezoito anos estar
apaixonado pela mesma garota desde os treze e não conseguir assumir isso.
Mas como você já sabe, as coisas são complicadas para serem do
jeito que eu queria que fossem. Muitas coisas aconteceram nesse último
ano, como por exemplo, eu ter sido diagnosticado com TDAH[1], e que
apesar disso, eu finalmente consegui começar a disfarçar bem os meus
sentimentos em relação à Allie. Entretanto, não bem o suficiente para não
mostrar que eu tenho um tipo específico de garotas, que começou a
desabrochar nesse último ano.
Meu “tipo” consiste basicamente em cabelos loiros, nariz afilado e
olhos claros. O problema é que todas as vezes em que beijo qualquer uma
dessas garotas ou até mesmo chego a dormir com elas, ainda assim, não
me sinto completo.
Não pense mal de mim, eu juro que não a imagino quando estou
com outras, porque isso seria doentio da minha parte.
De toda forma, eu não estou aqui hoje para falar sobre minha
atração em específico. E sim, sobre a noite de hoje, na qual Allison foi a
rainha do baile de formatura. Eu convivo com ela todos os dias há mais de
cinco anos, eu já a vi em todos os trajes possíveis...
E de todos eles, o meu preferido é, com certeza, o vestido de tecido
preto brilhoso, que agarrava a sua cintura curvilínea, com uma saia cheia
de camadas e para completar, uma fenda que deixava sua perna à mostra.
Embora ela seja consideravelmente mais baixa do que eu, os saltos
finos que ela usava a fizeram ficar na altura do meu nariz, e foi no
momento em que Harvey nos convenceu a tirarmos uma foto juntos, melhor
dizendo, abraçados, que eu quase perdi todos os meus anos de controle,
doido para sentir um pouco mais do seu cheiro.
— É uma pena que ninguém tenha te convidado para o baile,
querida — minha mãe disse, conforme segurava a mão de Allie. — Todos
vão se arrepender quando te verem tão linda e ainda com uma coroa na
cabeça.
— Quem já está arrependida, na realidade, sou eu — respondeu
Allie em contrapartida. — Vai ser uma vergonha, porque além de eu ir
sozinha, ainda vou perder algo que sequer cogitei entrar na competição.
É verdade, Allison não pensava em ser a rainha do baile, mas com a
ajuda de um dos meus amigos, Wes, eu consegui fazê-la entrar na votação.
Daí você me pergunta: Por que eu fiz isso? Bom, foi porque um dia,
enquanto ela fazia uma sessão de filmes com Heaven, sua melhor amiga, eu
a escutei dizendo que seu sonho era viver algo igual aos filmes, namorar
um cara do time, ser a rainha do baile de formatura e ir para a faculdade
junto desse cara.
Ela pode não ter um namorado que faça parte do time de futebol,
entretanto ela tem a mim, que daria de tudo para ela viver pelo menos vinte
por centro do seu sonho. Então foi isso que eu fiz.
— Você não vai estar sozinha, linda — seu pai logo tratou de
animá-la. — O Grey será sua companhia ou esqueceu que ele também não
vai com ninguém?!
Eu levo meus olhos diretamente para Allison, que me devolve com
um brilho nos seus. O canto da minha boca se ergue em um sorriso, porém
ele logo morre, quando vejo os olhos de águia da minha mãe me fuzilarem.
Deixa-me te contar um segredo, Joey, é algo que eu não me
arrependo nem um pouco de ter feito. Pode me julgar, me chamar de louco,
ciumento, o que for. No entanto, é graças a mim, também, que ela não tem
companhia para o baile, porque opções não faltaram.
— Eu estava pensando em chamar a Allie para o baile — disse meu
amigo Elliot, há duas semanas.
No mesmo instante em que ele cogitou essa ideia, eu estreitei meus
olhos em sua direção, e ele soltou uma gargalhada, debochando de mim.
— É desse jeito mesmo que você está convencendo todos os caras
da escola a não a chamarem para o baile?
— Não estou convencendo ninguém a nada. — Dei de ombros.
— Verdade, você está praticamente fuzilando as pessoas com esse
olhar matador, sempre que cogitam chamá-la para o baile. Vou te dizer
uma coisa, ou você assume que gosta dela de uma vez ou a deixa viver a
vida dela.
— Em momento algum até hoje a impendi de viver, impedi?
— Você não deixar ninguém convida-la para o baile é a mesma
coisa — Elliot respondeu, e eu soltei um xingamento em resposta, o que o
fez rir.
Durante as próximas duas semanas, eu me arrependi amargamente
por ter agido como um troglodita, ao tentar impedir que ela tivesse
qualquer outra companhia. Contudo, joguei esse arrependimento fora no
instante em que a vi descer as escadas do primeiro andar.
Se você realmente existisse, Joey, pelo pouco que te conheci,
enquanto assisti a alguns episódios de Friends, tenho minhas dúvidas se
você sentiria orgulho de mim ou se decepcionaria comigo. Sendo sincero,
acho que você sequer entenderia de primeira o que estaria acontecendo.
Porque você não seria capaz de entender que nenhum cara é bom o
suficiente para ela, porque ninguém conhece todas as peculiaridades de
Allison como eu.
Ninguém sabe quantas vezes que ela consegue assistir a todas as
dez temporadas da sua série preferida em um ano – seu recorde foi seis, no
ano passado –, também não sabem que durante o banho ela gosta de levar
um caixa de som para dentro do banheiro e colocar o volume no máximo,
enquanto toca músicas da Ariana Grande.
Ninguém sabe que ainda costuma fugir quando se estressa com
alguma coisa, seja para o jardim ou o balanço na varanda, que veio da sua
casa antiga. No começo, minha mãe era contra o móvel, porém Allie foi
irredutível quando disse que as melhores lembranças que ela tinha com sua
mãe vinham daquele balanço. E que toda semana, ela ainda visita o túmulo
da mulher que partiu há alguns anos, sendo derrotada por um câncer de
mama, mas que tinha como suas flores preferidas as margaridas, que
segundo ela, têm o significado de pureza.
E tudo que é puro, é bom.
E Allison é pureza, desde o nosso primeiro encontro eu soube disso.
Então sim, Joey, para que alguém possa merecer alguém como
Allison, tem que ser tão puro quanto ela, e nenhum desses idiotas que
estudam com a gente, é. Nem mesmo o Elliot, que mesmo seguindo seu
celibato à risca, ainda assim, foi pego transando com duas líderes de
torcida na sala de máquinas em cima do auditório no ano passado.
Não cheguei a me arrepender nem mesmo quando minha mãe andou
em minha direção com um sorriso falso no rosto, sei disso, porque seus
olhos me atacavam, ela tocou as lapelas do meu paletó, entretanto, quando
ela ergue o queixo para me encarar, eu fui mais rápido que ela, ao
sussurrar para que apenas ela escutasse:
— Eu sei, ela é minha irmã. — Eu coloquei um sorriso falso no meu
rosto, imitando o da minha mãe, e embora eu tenha dito isso com muita
convicção para convencê-la, tudo em mim me dizia que eu deveria mandá-
la se foder.
Contudo, me contive.
— Está pronta, Allie? — perguntei, quando minha mãe ficou ao meu
lado.
Eu parei de me importar com ela no instante em que Allie subiu
seus olhos em minha direção, iluminando toda a nossa sala de estar.
— Preciso apenas de mais uma foto de vocês dois juntos, por favor
— Harvey pediu, e eu achei fofo.
Allison riu da animação do pai, e eu me juntei a ela novamente,
ficando ao seu lado e olhando diretamente para a câmera que seu pai
segurava, mas ele fez uma careta.
— Coloca a mão na cintura dela, Grey — ele pediu, eu cocei a
garganta.
Totalmente sem jeito, pois eu nunca a toquei assim, eu nunca pude
tocá-la dessa forma. E no momento em que o fiz, minha mão suava, eu
estava nervoso, e talvez possa ser apenas uma loucura da minha cabeça,
porém arrisco dizer que não, pois quando meus dedos se curvaram sobre
sua pele coberta pelo tecido fino do vestido, no segundo em que suas costas
arquearam, se ajustando contra o meu corpo, o quadril de Allison ficou na
mesma altura do meu pau.
Agora é que eu acho que ultrapassei todos os limites da loucura,
pois ali, todo o sangue que havia em minha cabeça desceu para o meu
quadril e encheu o meu pau, e quer saber o melhor mesmo?
Foi mal, cara, parei de escrever aqui porque só de pensar na
situação, eu voltei a ficar duro...
Mas voltando ao assunto.
Allie sentiu, e ela sentiu tanto, que seu rosto inteiro ficou
enrubescido, pois ela trouxe seus olhos para mim, arregalados, surpresa. E
eu não sabia onde enfiar minha cara, contudo, fui obrigado a sorrir,
quando Harvey disse:
— Perfeito, agora sorriam.
E eu o fiz, orgulhosamente eu sorri, enquanto meu pau estremecia
dentro das minhas calças, sentindo uma fagulha do corpo de Allie, e ela
também sorriu, enquanto algo brilhava no fundo dos seus olhos.
A luz do flash invadiu meus olhos, e foi apenas nesse momento que
eu pisquei, em seguida, ela saiu de perto de mim, pedindo desculpas e
ajeitando os fios do seu cabelo.
— Greyson... — minha mãe avisou, quando eu ainda mantinha meus
olhos em Allison.
Seria errado eu mostrar o dedo do meio para ela naquela ocasião?
Porque eu quase fiz isso. Porém, decidi ignora-la, quando escutei a buzina
da limosine lá fora.
— Eles chegaram — disse Allie, animada.
— Preciso de uma foto de todos juntos. — Harvey parecia ainda
mais animado.
— Pai... — Allie reclamou com ele, revirando os olhos.
— Não me culpe, eu prometi à sua mãe que tiraria mil fotos se fosse
necessário nesse dia — ele lamentou. — Estou apenas cumprindo minha
promessa.
Era impossível não se lamentar com o comentário de Harvey
naquele momento, apesar de ele estar casado com minha mãe há tantos
anos hoje, quando ele fala da sua falecida esposa ainda é notória a tristeza
dele, e eu não o julgo, pois ele parecia a amá-la o suficiente para sentir sua
falta até hoje. E mesmo que ame minha mãe, pois sei que a ama, ainda
assim, ele perdeu alguém com quem passou anos e construiu algo junto a
ela.
— Um momento — eu pedi, caminhando em direção à porta.
Quando a abri, vi o motorista já com a porta aberta e todos meus amigos lá
dentro. — Desçam e venham aqui — eu chamei em um grito.
O primeiro a se colocar para fora foi Elliot, que não entendia bem o
que eu queria.
— O que foi?
— Só desce e vem aqui, e chama os outros — pedi.
Poucos minutos depois, todos estavam na minha sala, com exceção
de Drew.
— Onde está o Drew? — minha mãe perguntou à Heaven, sua até
então namorada, que usava um vestido azul claro comprido.
— Ele não quis descer — ela comenta em um sorriso triste.
— Sendo o babaca que ele sempre é — Wes disse, bufando em
seguida.
— Não querendo me meter no seu relacionamento — Harvey
começou, quando aponto a câmera para nós. — E nem te ofender, mas você
merece alguém melhor do que aquele idiota.
— Não me ofende — ela respondeu.
Apesar de não demonstrar, ainda era notório em seu semblante a
forma como ela se incomodou com aquilo. Contudo, logo passou, quando
Harvey nos deu várias instruções de posse para as fotos.
Após a sessão, todos se despediram dele e da minha mãe, e quando
eu estava pronto para ir, Harvey colocou a mão no meu ombro e disse:
— Muito obrigado por isso, garoto.
— Eu sei que era importante para você e para a Elena — citei o
nome da sua falecida esposa.
— Era sim, mas não agradeço apenas por isso, agradeço por
sempre cuidar da nossa garota, mesmo que não demonstre muito, eu vejo o
quanto se importa com ela.
Meu coração praticamente se arrebentou nessa hora, e com a voz
fraca o respondi.
— É esse o papel dos irmãos, não é mesmo?! — tentei brincar,
mesmo que inseguro com aquilo.
— Vocês não são irmãos — o marido da minha mãe disse em uma
careta, e minha mãe, que se colocou ao seu lado justo nesse momento, o
fuzilou. — Agora, vai lá, aproveita a noite.
Durante todo o restante da noite, eu me senti totalmente confuso
sobre a fala de Harvey, pois até então, desde que minha mãe assumiu seu
relacionamento com ele e vivia dizendo que somos uma família, que somos
irmãos e blábláblá, eu acreditava que Harvey também tinha aqueles
mesmos pensamentos que minha mãe.
Totalmente inerte a tudo que havia ao meu redor, só voltei ao
normal quando me anunciaram como o rei do baile de formatura.
E é aí que entra mais um motivo para que eu impedisse todos os
outros de chamarem Allie para ir ao baile, pois eu tinha quase certeza
absoluta de que eu seria o rei, e essa era a desculpa perfeita para que eu
pudesse pegar em sua mão e conduzi-la em uma dança. Pois eu também fiz
de tudo para que ela pudesse ser a rainha nessa noite.
Heaven, que foi a responsável por anunciar os ganhadores, disse em
um sussurro:
— Ela recebeu todos os votos da noite.
— Eu sei — disse com um sorriso estampado no rosto, enquanto a
assistia caminhar entre as pessoas até o palco.
— Como? — Heaven trouxe seus olhos para mim.
— Porque eu votei nela exatamente duzentas e quarenta e nove
vezes.
— Grey... — A voz de Heaven morreu aos poucos, quando Allie
subiu no palco, e então, outra aluna da comissão do baile foi a responsável
por colocar a coroa sobre a cabeça dela.
— Não conta para ninguém — eu supliquei em um sorriso, e ela me
lançou outro à medida que assentia com a cabeça. Fui até Allie e peguei
sua mão. — Me concede a última valsa, rainha?
Algo diferente brilhou em seus olhos naquele instante, e eu posso
dizer que aconteceu o mesmo comigo, pois foi enquanto eu segurava a sua
mão no meio do salão e dançava Perfect do Ed Sheeran lentamente.
Ao final da música, ela me chamou.
— Espera — pediu, segurando minha mão com firmeza.
Eu não a respondi, pois um nó enorme havia se formado em minha
garganta naquele momento. Meus olhos se conectaram aos dela da mesma
forma de quando eu a vi pela primeira vez. Durante quatro minutos e vinte
e três segundos, eu pude segurá-la meus braços e dizer, ao menos em minha
mente, tudo o que ela era para mim, mesmo que nunca pudéssemos ficar
juntos, e tudo ao nosso redor dissesse que era errado eu sentir o que sentia
por ela. Eu ainda a via como a garota que estava fugindo do pai, porque
ele iria se casar novamente, eu ainda a via como a garota em quem eu quis
dar o primeiro beijo, porque ela ainda era e seria para sempre, a garota
que eu amaria em segredo pelo resto da minha vida.”
Eu quero te abraçar quando não deveria
Quando estou deitada ao lado de outra pessoa
Você está preso na minha cabeça
E eu não consigo te tirar dela
BACK TO YOU | SELENA GOMEZ
2 anos depois
Eu devo estar ficando louca, ou talvez surda, mas entre essas duas
opções, a loucura é mais cabível.
É impossível não arregalar os olhos e depois fechá-los com tanta
força, a ponto de que no momento em que eu os abro, parece que há várias
luzes piscando ao meu redor, e tudo no meu cérebro grita: “alerta
vermelho, alerta vermelho, alerta vermelho.” Meu dedo indicador sobe e
depois desce, e sobe de novo, e desce outra vez.
Minha boca começa a fazer movimentos contínuos de abre e fecha,
e de verdade, eu não estou entendendo nada. Eu estou louca, louquinha,
pirada.
Por acaso eu morri e não senti? Fui baleada?
Ah, é um sonho, só pode ser um sonho, pena que vai se tornar um
pesadelo no segundo em que eu acordar, porque eu vou saber que nada do
que eu acabo de escutar é verdade. O pior de tudo, é que eu não quero
acordar.
Mas que merda.
Sequer lembro a hora em que fui dormir.
As únicas coisas que eu me lembro são: usar meu golfinho pela
manhã e não me satisfazer com ele, me levantar, tomar um banho quente,
depois fazer o café e tomar enquanto vestia minha roupa, assistir as
primeiras aulas, almoço com um grupo de estudos, mandar uma mensagem
para o Colin, dizendo que iria jantar na cidade dos meus pais, voltar para o
dormitório, encontrar Axel e Heaven quase transando na sala, trocar de
roupa, descer, entrar no carro do Grey, parar no estacionamento do
mercado, assistir a dois episódios de Friends e chegar em casa. Uma rotina
normal, que exerço com sucesso todas às quartas.
Ou seja, eu realmente não lembro de ter adormecido em hora
alguma em todo esse dia, porém, acontece que eu dormi, estou sonhando e
provavelmente devo estar babando meu rosto inteiro, porque só em um
sonho muito louco o Grey seria capaz de olhar no fundo dos meus olhos e
dizer que quer me beijar.
Quer dizer, eu acho que ele quer me beijar, afinal, o único padrasto
que ele tem é meu pai, e a única filha que meu pai tem, sou eu.
É isso, é um sonho, é apenas um sonho. Eu nem sei o porquê eu
estou surtando, eu não sei porque tem várias luzes vermelhas piscando na
minha cabeça.
Eu estou entrando em pane.
Curto-circuito, é isso. Minha cabeça está dando um curto-circuito, e
eu estou prestes a morrer. O pior de tudo é que eu sou muito nova para
morrer.
Porra!
Sou tão nova, que ainda sou virgem, a única coisa dura que chegou
próxima à minha entrada foi um vibrador de golfinho.
Eu vou morrer sem nunca ter transado antes. Mas que grande
merda!
Após vários segundos, que acabaram se transformando em minutos,
finalmente a minha cabeça decide trabalhar, e minha voz abandonar a
minha boca, quando eu falo:
— O que você disse? — Ainda estou confusa com o que acabo de
ouvir, entretanto eu preciso que ele diga novamente, para ter a certeza de
que não ouvi nada errado, de que não estou doida e, principalmente, que eu
não estou sonhando.
Grey começa a olhar de um lado para o outro, tentando encontrar
uma forma de escapar da minha pergunta, por isso, ele acaba mentindo.
— Se eu não lavar a roupa agora, não terei nada para vestir amanhã
— mente.
Na cara de pau, ele simplesmente mente para mim, porque uma
coisa não tem nada a ver com a outra.
— Não, não, não, não! Você não disse isso — acuso, apontando o
dedo em seu peito.
— Disse sim — ele se afasta e começa a andar apressadamente em
direção aos fundos da nossa casa.
— Não disse nada. — Ele começa a correr, e eu o sigo.
O problema é que o maldito do Greyson é um atleta, e a função dele
no time é exatamente essa; correr. Mesmo que eu tente ser tão ligeira
quanto ele, ainda assim, não consigo alcançá-lo, quando ele já está no
quintal, e eu ainda estou no beco.
— Você tá se fazendo de doido agora, Grey, eu ouvi bem o que você
disse.
— Eu juro que não sei do que você está falando, Allison.
— Você disse que queria... — As próximas palavras morrem na
minha boca, porque para mim é completamente estranho pensar nessa
possibilidade, pensar que realmente o Grey queira fazer o que ele disse.
Afinal, são quase oito anos vivendo nesse limbo onde nunca sei o
que ele quer, e no momento em que ele expõe, ele simplesmente começa a
fugir de mim, igual uma garota foge da chuva quando usa uma maquiagem
que não é prova d’água.
— Que queria o quê? — ele pergunta, já com a mão na maçaneta da
porta, prestes a entrar em casa.
— Que queria...
Merda!
Por que eu não consigo falar logo de uma vez? Por que é tão difícil
olhar na cara da pessoa por quem eu sou apaixonada por anos e repetir o
que ele acabara de dizer? Por que é tão difícil apenas dizer...
— Te beijar? — ele completa, e eu me afasto, dando um passo para
trás.
Novamente, isso parece ser uma total loucura, porque nunca que o
Grey seria tão ousado em dizer.
Quer dizer, nunca que o Grey me enxergou de qualquer outra forma
que não fosse fraternal. Eu sei que às vezes eu penso que não, mas ele já
deixou evidente e claro como água cristalina que não nutre qualquer atração
por mim.
Poxa, até mesmo quando eu corto meu cabelo, ele, que está comigo
diariamente, custa a perceber. Imagina só, o cara que nunca reparou em
mim, que me trata como se eu fosse apenas a filha do marido da mãe dele,
simplesmente decide olhar para mim um dia e dizer que quer me beijar?
Duas vezes seguidas.
É por isso que eu tenho quase certeza de que tudo isso é um sonho,
então eu acabo cedendo ao meu sonho e criando coragem para enfrentá-lo
de uma vez.
— Sim, você disse exatamente isso, que quer me beijar. Ou isso é
uma total loucura da minha cabeça, quem sabe até da sua, ou é uma
pegadinha de mau gosto.
— Ou apenas um sonho — sugere, ao dar de ombros.
— Pois é, provavelmente é um sonho. Afinal, a única coisa que eu
sou sua, é irmã, não é mesmo?! — pergunto retoricamente, em um desafio.
Retomo o passo que dei para trás e caminho em sua direção
lentamente, sem tirar meus olhos dele. E por mais que Grey seja cerca de
uns quarenta centímetros mais alto do que eu, eu não deixo de fitá-lo
enquanto me aproximo dele e vou erguendo minha cabeça, para ainda
conseguir enxergar seu rosto.
— Ou realmente você ouviu errado, e tudo que eu quis dizer é que
eu preciso lavar minhas roupas.
— As roupas que você deixa guardadas em seu carro caso um dia
precise fugir apenas porque me beijou? — Estreito olhos, e essa minha
ousadia momentânea faz com que Grey vacile, buscando alguma
escapatória, olhando para os lados. — Você não seria tão covarde assim,
seria, Greyson? De me beijar e simplesmente fugir? Mas por que você
fugiria? Por que tem medo dos nossos pais?
Ele tenta responder, porém hesita quando abre e fecha a boca
rapidamente. Portanto, eu decido cutucá-lo um pouco mais.
— Ou é do Colin que você tem medo?
Ele ri, nervoso.
— Colin?! Quem é o Colin? — ironiza, também estreitando os olhos
para mim.
Os cantos da minha boca se erguem em um sorriso tão forçado, que
minha mandíbula chega a doer.
— Meu namorado — afirmo, como se fosse verdade, e foda-se se
não é, eu sei que não é, mas também sei que o Grey não faz a mínima ideia
de que realmente não estamos juntos.
— Grande coisa — responde, e dessa vez, eu posso ver a fúria
iluminando seus olhos castanhos. A mesma fúria que eu vi ontem na hora
do almoço, enquanto Colin cobria minha mão com a sua, e também quando
ele nos viu juntos pela primeira vez, e todas as vezes seguintes.
O Grey pode passar essa imagem de inofensivo para várias pessoas,
entretanto no fundo, bem no fundo mesmo, eu sei que ele pode ser tudo,
menos uma pessoa inocente.
— É mesmo — provoco, mordendo o lábio inferior.
Como é fácil instigar a raiva em Grey, contudo, só agora que eu
estou sabendo como fazer, porque até dado momento, eu não fazia ideia de
que era capaz de provocá-lo dessa forma. Quer dizer, até sabia, na verdade,
eu suspeitava, mas agora? Bom, agora é diferente, porque eu sei que alguma
coisa, por mínima que seja, ele sente.
— Eu não quero te ofender, Allie, mas parece que você não sabe o
que é grande.
— E você sabe?!
— Você quer saber se eu sei? — Sua pergunta faz meus olhos quase
saltarem para fora.
O que está acontecendo aqui? Porque até dez minutos atrás,
estávamos nos tratando como meros estranhos, e agora, do nada, ele está
sugerindo que eu veja o... o... o... negócio dele?
É por isso que eu tenho certeza de que isso é apenas um sonho.
— Não — respondo. — O que eu quero realmente saber é se o que
você disse é verdade ou não.
— Qual a diferença se for verdade ou não? — Seus olhos caem
sobre minha boca, assim como aconteceu duas vezes apenas hoje. Antes eu
pensava que ele estava somente pensando em alguma coisa aleatória. No
entanto, agora sei que não, pelo menos, eu prefiro pensar que não.
— Muita diferença.
— Para falar a verdade não, porque se eu disser que não, nós dois
sabemos que nunca irá acontecer. E se eu disser que sim, também sabemos
que o resultado é o mesmo, porque no final do dia, ainda assim, por mais
que eu deseje com todas as forças do universo te beijar, nada vai acontecer
entre nós dois.
É muita informação para eu conseguir processar em tão pouco
tempo, é muita coisa confusa, muita palavra difícil. As luzes vermelhas
voltaram a piscar na minha cabeça.
— Você por acaso está tentando brincar comigo de alguma forma,
Grey? Porque cada palavra que sai da sua boca hoje, só me deixa cada vez
mais confusa.
— Eu posso estar fazendo tudo nesse momento, menos brincando.
Talvez eu esteja apenas sendo impulsivo, ou egoísta, até mesmo ingênuo, ou
quem sabe, idiota, como sempre fui, não é mesmo?
— O que você está fazendo, Grey?
— Estou sendo sincero — revela. — Pela primeira vez na vida, uma
coisa sai da minha boca sem eu ter tempo de pensar, e eu finalmente estou
seguindo no mesmo assunto, sem fugir.
— Mas você quis fugir no início — o contradigo.
— E agora não estou mais, estou? Afinal, se o que eu disse, sendo
verdade ou não, no final, não vai mudar muita coisa.
É isso que ele pensa afinal? Que a vida, a nossa vida, continuaria a
mesma se o que ele disse é verdade ou não? Pois para mim é óbvio que tudo
irá mudar, eu não sei exatamente se será uma coisa boa, mas o que eu sei é
que vai mudar, e ele não pode dizer que não vai.
Nego com a cabeça, a fim de descredibilizar a sua crença.
— Muita coisa muda, Grey — sussurro, fechando os olhos.
Ele solta outra risada, e dessa vez é sem graça, seca, sem vida. Um
riso infeliz.
— Muda?! Me corrija se eu estiver errado, mas se eu disser que é
verdade, ainda assim, você vai estar namorando com o Colin, e nós
continuaremos sendo irmãos, ou não?
— E você ainda olha na minha cara e diz que está sendo sincero.
— Mas eu estou, afinal, somos irmãos, e você está namorando o
meu capitão.
Agora é a minha vez de soltar uma risada infeliz, porque até certo
ponto, eu imaginei que as coisas poderiam ter mudado, eu pensei que eu
estava provocando-o, eu genuinamente cogitei a ideia de que ele estava com
ciúmes.
Contudo, aí está, novamente, o mesmo Grey que deu um murro no
capitão do seu time, apenas porque ele estava “desrespeitando” a sua irmã.
O mesmo Grey que não aceita que eu fique com outra pessoa, apenas para
me proteger. Ele nunca, arrisco dizer que jamais, será o Grey que eu sempre
sonhei.
Em algum instante durante essa pequena discussão, até me veio à
cabeça a conversa que tive ontem com o Colin, sobre o que eu mereço, e
imediatamente passo a ligar todas as palavras dele aos meus sentimentos
estúpidos pelo Grey, imaginando a possibilidade de que finalmente ele
estaria prestes a se declarar para mim. Entretanto, eu sou uma grande idiota
mesmo, não é?! Porque até mesmo cheguei a ponto de acreditar que estava
sonhando, porque tudo estava bom demais para ser verdade.
— Olha, eu sinceramente não sei qual é o seu problema com o
Colin, eu também não sei qual é o seu problema comigo, Grey. Isso tudo é
só porque eu estou namorando um de seus amigos? Porque eu nunca soube
que existia uma regra na sociedade de que não se pode namorar amigos de
irmãos. Porque é isso que você vai dizer no final, que somos irmãos e que
você está tentando me proteger. — As palavras passam a sair da minha boca
apressadamente, à medida que a minha raiva por ele aumenta. — Eu já te
disse várias vezes e espero que essa seja a última vez que eu digo isso, eu
não sou sua irmã, eu não sou sua parente, então pare de me tratar como se
eu fosse. Porque eu não sou! — esbravejo.
Grey me olha perplexo, assustado. Eu também acabo me assustando
com meu tom de voz.
Faço questão de deixá-lo sozinho, quando empurro a mão dele, que
cobria a maçaneta, e entro em casa.
Respiro aliviada ao ver que meu pai e Susan ainda não chegaram,
pego as sacolas que ainda seguro e as deixo na bancada da cozinha. Ouço a
porta fechar atrás de mim, mas não faço questão de olhar para trás, afinal, já
estou puta com ele o suficiente e se eu me atrever a encontrar seu maldito
rosto perfeito, é capaz de eu dar um soco nele.
Porque apenas esse idiota é capaz de me levar do céu ao inferno
com meras palavras e momentos ilusórios.
— Não esquece de guardar tudo na geladeira, para depois sua mãe
não ficar dando showzinho — é tudo o que digo, antes de sair da cozinha e
subir as escadas indo em direção ao meu quarto.
Eu quero secar aquelas lágrimas, beijar aqueles lábios
Isso é tudo que eu tenho pensado
Porque uma luz acendeu quando eu ouvi aquela música
CAN I BE HIM | JAMES ARTHUR
Eu sempre vejo todo mundo falar sobre ter depressão, como é viver
com a depressão e como é tentar superá-la. No entanto, nunca vi ninguém
falar sobre como é viver e cuidar de alguém que tem depressão.
Ontem à noite quando saí de casa, pensei em ir direto para república
e deixar minha mente espairecer, mas isso mudou quando eu recebi uma
ligação, mais um trabalho com o qual meu pai havia se comprometido e
mais um em que eu fui obrigado a passar a noite acordado para finalizar a
tempo, já que ele não havia conseguido sair da cama nos últimos três dias.
Pela manhã, ele parecia bem, ao menos era o que ele me dizia
enquanto insistia para que eu voltasse para o campus, pois ele iria acabar o
trabalho. Porém, tudo durou menos de duas horas.
Foram apenas duas horas; cento e vinte minutos para que ele se
desestabilizasse outra vez, sete mil e duzentos segundos para que a vontade
de viver, por mínima que fosse, se esvaísse das suas veias.
— Eu posso voltar ao trabalho — ele insiste pela quarta vez desde
que eu voltei para a oficina.
Já sentado no banquinho em frente à Kawasaki, uso a chave stater
na corrente, afrouxando-a.
— Falta apenas o andamento da moto, eu posso terminar, pai —
respondo, ao tirar a corrente e as coroas para trocá-las. — Por que o senhor
não coloca algo para assistirmos, e quando terminar aqui, eu faço algo para
comermos? — sugiro, olhado para ele de relance por cima do ombro.
— Eu não deveria estar te incomodando assim, pequeno.
Sorrio com o apelido que o velho Dawson me dá desde que eu era
criança e mesmo já me tornando um adulto, ele não deixa de me chamar
dessa forma.
— Não incomoda, pai, sério. Pode ir, já, já eu termino aqui.
Ele leva a mão até a nuca, coçando-a, ele não parece concordar, mas
apenas abaixa a cabeça, apático, e usa a porta da garagem para entrar em
casa.
Meus ombros, que antes estavam tensos, despencam quando ele
desaparece.
Mesmo insistindo, dizendo que consegue, eu sei que ele não
consegue. Essa não é a primeira vez que eu venho, porém confesso que
queria que fosse a última, mesmo sabendo que não será. Durante suas
crises, ele permanece calado, só me liga em último caso. Mesmo ele
dizendo que eu não preciso me preocupar, ele sabe que no fim, eu acabo
aqui, ajudando-o.
Não sei ao certo quando meu pai entrou no limbo da depressão,
entretanto me passa pela cabeça que tudo começou quando ele foi obrigado
a se aposentar da carreira de lutador, devido à lesão. Ele tomou analgésicos
durante anos, o que era uma das reclamações constantes da minha mãe. Ela
gritava com ele, esbravejava, até mesmo chegava a quebrar as coisas dentro
de casa, enquanto ele apenas mantinha sua cabeça baixa.
Antes eu pensava que ele reagir daquela forma era porque a amava e
não queria uma briga, na verdade, hoje eu entendo que ele não sentia nem
mesmo vontade de brigar com ela.
Contudo, nem sempre ele foi assim, porque óbvio, há os dias bons.
Por mais que hoje eles sejam poucos, houve uma época em que vinham
com mais frequências.
Foi devido a esses bons dias que eu aprendi a lutar com ele e
também que eu o assisti ajeitar dezenas de motos durante esses dias.
Recentemente, de uns dois anos para cá, que as coisas vieram a piorar.
Chegou a um ponto de ele ter mais de dez trabalhos atrasados ao mesmo
tempo, e os clientes acabarem desistindo do serviço, e sem serviço, não tem
dinheiro, e se não tem dinheiro, não tem várias coisas, como energia, água e
comida.
Ele deixou de se importar com o básico, desde então, eu tenho dado
o meu máximo para conseguir ajudá-lo quando esses dias chegam. Ele não
aceita mais tantos trabalhos como antes e quando aceita, acaba que quem
toma conta, no final, sou eu.
É por isso que eu acabo me submetendo a algumas situações, como
as lutas clandestinas — o que tornou um bônus os dias em que meu pai me
ensinou a lutar —, é com o dinheiro das apostas que eu consigo sustentar a
casa dele de alguma maneira.
Meus amigos pensam que eu luto porque eu sou idiota e gosto de
apanhar. Elliot, o mais próximo, pensa que é porque eu desejo entregar o
carro de luxo que Harvey me presenteou e pretendo comprar um com meu
próprio dinheiro, mas mal sabe ele que toda a grana que recebo, acaba
sendo destinada às contas e boletos de casa.
Quando finalizo o serviço, faço os testes na moto e em seguida ligo
para o dono, em menos de uma hora, ele a pega e faz o pagamento do
serviço. Reservo uma parte do dinheiro e dou uma saída rápida até o
mercado.
Ao voltar para a casa do meu pai, abro a porta e coloco um sorriso
no rosto, a fim de que ele perceba que as coisas deram certo e está tudo
bem, porém ele sequer olha em minha direção.
A barba está por fazer, os fios ondulados do cabelo cobrem sua
orelha, eu me esqueço a última vez em que cortei seu cabelo e aparei a sua
barba, então faço uma anotação mental de que na próxima visita, eu preciso
fazer isso.
Ele está segurando uma cerveja long neck que já parece estar quente
entre seus dedos. Os olhos opacos assistem ao jornal local, que passa algo
sobre a competição da escola juvenil da cidade, ele nem mesmo se interessa
pelo que está assistindo.
Me aproximo dele, tiro o dinheiro que sobrou do conserto da moto e
coloco no aparador que há ao lado da poltrona onde ele está sentado.
— Leon veio pegar a Kawaski, elogiou o serviço e até deixou uma
gorjeta — informo.
Os olhos castanhos do meu pai sobem em minha direção
vagarosamente, e eu consigo notar o canto do seu lábio erguer-se menos de
um milímetro, em uma demonstração de sorriso, eu acho?!
— Certo, acho que amanhã vence o gás, então eu já pago — ele diz,
com um tom de voz frio.
— Para falar a verdade, venceu na semana passada, e eu já paguei
— digo, já indo em direção à cozinha para que ele não consiga ver que o
meu sorriso forçado já foi embora. — Mas na semana que vem tem água,
energia, telefone, internet e tevê para pagar. — Coloco as compras no
balcão da cozinha, que é o que divide ela e a sala, e me viro a tempo de ver
que ele está se levantando e colocando a garrafa em cima do dinheiro que
acabei de deixar lá. — Aonde você vai?
— Estou cansado, vou dormir.
Ele começa a caminhar em direção ao corredor, porém para quando
o chamo.
— Pai — ele se vira —, você vai para o jogo amanhã?
— Jogo de quê?
— A final da temporada, o nosso time conseguiu ir para a final.
— Parabéns, pequeno. — Um falso sorriso aparece em sua boca. —
Não sabia que isso havia acontecido.
As palavras que saem da sua boca parecem como facas afiadas
diretamente na minha pele. Me esforço para não fechar os olhos e negar
com a cabeça, o máximo que faço é respirar fundo, ao informá-lo:
— Eu te disse no ano novo, quando vim te ver.
Ele coça a nuca.
— Ah, eu devo ter esquecido.
— Tudo bem — concordo em uma calma fingida. — Mas o senhor
irá amanhã, certo?! — pergunto, mesmo sabendo que muito provavelmente
amanhã será outro dia ruim, e ele não irá, até mesmo pode ser um dia mais
ou menos como hoje, mas ele irá esquecer, embora ele acabe concordando
ao anuir com a cabeça. — Devo acordá-lo quando a comida estiver pronta?
— Por favor — pede, já voltando ao corredor e em seguida,
sumindo dentro do quarto.
É... pelo menos ele ainda tem coragem de sair de um cômodo para o
outro.
Guardo a maior parte das coisas que comprei no armário e geladeira,
deixando do lado de fora apenas o que vou precisar para fazer macarrão
com queijo, afinal, é o meu preferido e o do meu pai também.
Quando já estou finalizando a comida, meu celular toca em cima da
mesa, o pego rapidamente, e ele acaba escorregando da minha mão, e
caindo no chão. Solto um xingamento baixinho, lembrando que minha mão
está gordurosa devido ao molho e ao queijo, as passo na calça jeans antes de
pegar o aparelho novamente e quando o pego, o número de Elliot aparece
na tela do celular.
— Onde caralhos você está? — pergunta no mesmo instante em que
atendo a ligação.
— Bom falar com você também meu parceiro — cumprimento,
desligando o fogo.
— Você faltou ao treino, seu idiota — xinga, eu afasto o celular do
rosto para ver a hora e só então me toco que já se passam das seis.
— Quão fodido eu estou?
— Só saberemos amanhã, se o técnico Willians deixar você como
titular ou não, por mais que fosse um treino extra, ele ainda está bravo.
— Eu esqueci — lamento, ao soltar uma lufada de ar.
— E ele não é o único que está com raiva de você.
— O Kane também? — Imediatamente lembro do nosso parceiro,
afinal, ele leva o futebol a sério demais, a ponto de puxar a orelha de todo
mundo mais do que o próprio Colin, que é nosso capitão.
— É também, mas isso já de praxe. Mas é o Colin mesmo que está
com raiva de você — anuncia, e eu sinto meu corpo inteiro esquentar de
raiva.
— Quero que ele se foda.
— Deixa de ser imaturo, porra — Elliot rosna. — Parece que você
combinou de conversar com a Allison, e eu não sei o que é, sinceramente,
nem quero, porque senão, é capaz de você estragar minhas núpcias.
— Núpcias? — pergunto, atônito. — Você se casou, cara? —
Ligeiramente me sinto feliz com a informação.
— Casei, claro que eu casei. Óbvio que não, idiota, mas voltar com
Sadie é como uma lua de mel.
Faço uma careta ao imaginar as cenas.
— Me poupe dos detalhes por favor.
— Não se preocupe. — Escuto a pancada de algo, e me parece ser o
armário. — De toda forma, ele está irado com você porque você tem uma
conversa com a Allie. Você não está perturbando a garota que está com um
namorado... está, Grey?
A resposta que Elliot recebe de mim é o puro e mais limpo silêncio,
quando não o respondo, apenas engulo em seco lembrando de tudo que
aconteceu hoje, somente porque, finalmente, em anos, eu disse a verdade.
Eu chego a ficar irritado com o fato de Colin estar com raiva de
mim por conta disso. Eu não sei se Allie disse a ele sobre nossa conversa,
que estava mais para uma discussão, também não sei se ele sabe do bilhete
que eu escrevi, e realmente me passa o pensamento de que eu quero que ele
se foda. Contudo, se eu estivesse no lugar dele, ela fosse minha namorada, e
eu soubesse que outro cara, que é louco por ela, prometeu uma conversa, é
obvio que eu também estaria puto.
Chego a ficar puto apenas por ele estar ao lado dela todos os dias,
respirando o mesmo ar que ela, quem dirá nas vezes em que a chama de
linda ou segura sua mão. Sorte a minha que vi os dois se beijarem uma
única vez, porém foi o suficiente para que eu ficasse louco.
Embora eu sempre soubesse que mesmo sendo alucinado por ela, eu
seria um covarde que me negaria a estar com ela, eu jamais imaginei que
me sentiria como um lixo ambulante quando a visse sendo feliz com outra
pessoa.
Pois, por incontáveis vezes eu imaginei estar ao seu lado, e em
centenas de noites, eu sonhei com nós dois juntos. Pena que mesmo que eu
lhe diga toda a verdade em breve, ainda assim, não será o suficiente para
que ela possa passar um pano em tudo que escondi durante anos. Ela está
com outra pessoa. Ela está feliz.
E eu lhe contar a verdade, estará mais ligado ao meu egoísmo do
que à sua felicidade. Soube disso desde o momento em que passei o papel
por debaixo da sua porta e saí da casa do seu pai, mas mesmo assim, eu o
fiz. Pois, apesar de ter 99% de certeza que o mínimo que vou receber é um
grande não, ainda há 1% dentro de mim, bem lá no fundo, que me diz que
não será dessa forma.
— Terra chamando Grey — Elliot grita, e eu me espanto.
— O-oi — gaguejo, ao respondê-lo.
— Você está importunando a Allie ou não?
— Não — respondo, apressado demais. — Claro que não.
— E o que você tem para conversar com ela?
— Nada demais — minto.
— Você está mentindo.
— Não estou.
— Eu te conheço.
— Conhece nada.
— Conheço sim.
— Não conhece.
— Conheço, e você está mentindo. Se eu descobrir a verdade, você
me paga.
— Você disse que não queria saber porque senão iria estragar suas
núpcias sem casamento — o lembro.
— Precisa enfatizar o fato de que não tem casamento?
— Precisa estar em núpcias sem casamento?
— Touché. — Elliot respira audivelmente. — Só espero que você
não foda tudo. Agora tenho que ir, minha mulher tá me esperando.
— Eu também espero — respondo com certo desânimo, desligando
o celular.
Olho em volta da cozinha e lembro do jantar, então vou até o quarto
do meu pai para chamá-lo.
No entanto, quando entro, me deparo com o vidro laranja de uma de
suas medicações aberto. Jogo alguns comprimidos em cima da mesa e os
conto. Fiz o mesmo ontem à noite, quando cheguei aqui, então percebo que
faltam apenas dois e me dou ao luxo de respirar aliviado por isso, em
seguida tampo a medicação e a levo de volta para o armário do banheiro.
Retorno ao seu quarto, deixo um recado dizendo que o espero no jogo
amanhã e depois subo o cobertor sobre seu corpo, para cobri-lo.
Não deixo de dar um beijo na sua cabeça e saio do quarto, tentando
me convencer de que seus dias bons estão chegando, mesmo perdendo
totalmente as esperanças.
“Ei, Joey... já faz um tempo que eu não venho aqui. Pouco mais de
dois anos, acredito eu, pois na última vez em que nos falamos foi para me
despedir de você.
Acontece que eu não sou muito bom em por ponto final nas coisas,
talvez eu não seja tão bom com vírgulas também.
Daí você me pergunta, se eu não sei escrever, por que estou aqui,
afinal?
É simples, meu amigo.
Eu a beijei.
Isso mesmo que você está lendo... ou ouvindo. Bom, não sei ao
certo.
Eu a beijei, e por sorte, não foi apenas uma vez, foram duas. Duas
vezes, Joeeeeeeey!
Não sabia ao certo com quem falar sobre isso, não sabia como falar
os meus sentimentos sobre tudo o que aconteceu, muitas pessoas estavam
perto de nós naquele momento, mas nenhuma é capaz de entender o que
houve de verdade, então eu vim à sua busca. Por mais que eu tenha me
despedido lá atrás, eu voltei. Pois naquela época, eu pensei que havia tido
um ponto final para nós dois. Acontece que esse ponto se multiplicou por
três, e vivemos em reticência até a última sexta-feira.
Para ser mais exato, já faz uma semana desde o acontecido.
No momento em que nossas bocas se fundiram, acredite em mim, eu
nunca me senti tão completo antes. É óbvio que já fiquei com outras
garotas, garotos também, porém apesar do desejo carnal que senti por eles,
nenhum conseguiu me preencher mais do que tê-la em meus braços.
Se eu tocar meus lábios agora, ainda posso sentir o seu gosto, e
acredite, é o melhor de todos.
Durante o tempo em que permanecemos juntos, por duas vezes
seguidas, foi como se todos os problemas que me cercam, todas as coisas
que me foram ditas ao longo dos anos, todos os sentimentos que foram
reprimidos, mastigados e engolidos, nunca tivessem existido.
Contudo, nas duas vezes em que nos separamos, tudo voltou a ser
como era antes. As preocupações, os “e se”, e principalmente o medo.
Medo de que exatamente?
De não dar certo? Dos nossos pais? Do que as pessoas que estavam
próximas a nós fossem falar? Do que faríamos em seguida? Se aquilo iria
continuar?
Check.
Check.
Check.
Check.
Check.
Mesmo com todos esses medos juntos, se misturando com a certeza
de que agora eu a tinha, eu não desejaria por nada no mundo tê-la longe.
Sei que sou egoísta, nunca neguei isso, mas talvez agora eu possa
afirmar que não sou mais um covarde como antes, porque finalmente eu
pude expor tudo o que sentia, não apenas com palavras, mas com gestos
também.
E mesmo que Allison tenha me dito que precisava de um tempo para
ter certeza do que estava acontecendo, eu não me importei. Sabe por quê?
Porque tê-la comigo depois de longos anos, foi a confirmação que eu tanto
precisava de que era ela. Sempre foi ela e sempre será.
Por isso eu disse que prometi esperar e eu vou. Não sei de quanto
tempo ela precisará. Não sei de quais certezas ela precisa. Não sei nem
mesmo o que vai acontecer quando ela vier até mim, entretanto eu sei que
eu vou esperá-la. E algo, bem lá no fundo, me diz que não vai demorar
tanto assim.
Talvez seja por isso que eu tenho passado todos esses últimos dias
ansioso, porém feliz, feliz até demais, principalmente quando a encontro.
Sabendo que o seu café preferido do campus é o do carrinho que
fica próximo ao prédio da Biblioteca, eu tive que fazer um trabalho árduo
na segunda pela manhã, em me mover igual o Flash de um lado do campus
ao outro, onde fica os prédios dos dormitórios, para que o café não
esfriasse e para que eu conseguisse alcança-la a tempo.
Agradeci aos céus quando isso aconteceu, pois eu tive exatamente
três segundos para conseguir respirar, até Allison sair pelas portas de vidro
do prédio. Seus olhos se estreitaram na minha direção assim que ela me
viu.
— O que está fazendo aqui? — sibilou.
Admito que demorei um pouco para raciocinar o que ela tinha
acabado de falar, por isso a primeira coisa que fiz foi lhe entregar o café.
— Pensei em trazer um pouco de café antes da primeira aula.
Ela sorriu, e aquele sorriso iluminou meu dia.
— Obrigada — sussurrou, antes de dar o primeiro gole no café.
Eu me senti lisonjeado quando percebi as partes saltadas das suas
bochechas ficarem vermelhas, o que eu apelidei carinhosamente de “efeito
Grey”. Não que eu esteja me achando por isso, mas é que quando ela fica
com vergonha de outras pessoas no geral, seu rosto inteiro esquenta, porém
eu já havia percebido, desde que éramos mais novos, que quando acontecia
comigo, a vermelhidão de seu rosto se encontrava apenas nas partes altas
das maçãs do seu rosto.
Joey, você já ouviu falar que quando estamos completamente
perdidos de paixão, só temos olhos para a nossa amada? Então, isso é
verdade, pois eu só pude perceber que ela estava acompanhada de outras
pessoas naquela manhã, quando Lynnox, com os cabelos ondulados altos e
armados, pulou na minha frente e disse:
— Não tem café para mim, bobão?
Heaven, que estava ao seu lado, também se meteu.
— Nem para mim? — Seus olhos azuis cintilaram.
— É claro que não tem, não é a nós que ele está querendo
compensar os anos em que se fez de doido — Sadie também se meteu.
Olha, nós temos um grande grupo de amigos, o que é bom quando
precisamos rir e também precisamos de apoio, entretanto se torna ruim
quando eles passam a interferir em momentos que deveriam ser singulares.
Digo isso porque quando Sadie fez a sua bela observação, mostrei a
ela meu dedo do meio, que logo em seguida quase foi quebrado, quando
Elliot apareceu de surpresa.
— Desrespeitando minha garota assim na minha frente, amigo?
— A culpa não é minha se ultimamente ela tem tido uma língua tão
afiada — tentei me defender, e a ruiva acabou me devolvendo uma careta.
— Agora por que você não pega ela e o restante, e as leva para suas
devidas aulas?
Pedi a Elliot, que olhou de relance de mim para Allison, e então
pegou na mão da sua namorada, e as outras garotas os acompanharam,
olhando para trás e rindo.
— Eu pensei que tinha pedido um tempo para ter certeza de
algumas coisas — Allison disse, quando começamos a caminhar sozinhos.
— E eu estou respeitando esse tempo.
— Não é isso que o café do carrinho da Biblioteca me diz. — Ela
ergueu o copo.
Dei um sorrisinho com a boca fechada, antes de falar uma grande
merda.
— Apenas uma forma de dar bom dia como um bom irmão faria.
Sabe quando eu percebi que havia dito besteira, Joey? Quando,
pela primeira vez em anos, Allison ergue sua mão em punho e deu um
murro no braço.
— Ok, ok — sibilei, soltando um assobio de dor ao pegar no meu
braço. — Abortar missão, já entendi que você não gosta quando me refiro a
nós dois como irmãos.
— Você diz isso, mas parece que não, já que sempre faz questão de
trazer o assunto à tona em todas as oportunidades.
— Acredite em mim, depois desse socão agonizante, eu aprendi.
Juro que aprendi.
— É bom mesmo, porque se você vai esperar eu ter certeza de algo,
é bom parar com essa história de irmãos, porque eu odeio.
— Anotado — murmurei, o que fez com ela me fuzilasse com olhos.
— Espero que você não tenha sido irônico, porque senão, eu dou
outro murro no seu braço bom.
Meus olhos se abriram, espantados.
— Juro que não foi ironia. — Subi as mãos em rendição, e
finalmente ela riu.
Olha, ela pode ser baixinha, mas de forma alguma eu recomendo
qualquer pessoa a se atrever a chegar perto dela quando ela está com
raiva, principalmente quando essa raiva é direcionada a mim, pois houve
uma vez em que um de seus socos deixou o meu rosto inchado por dias
seguidos.
Isso foi quando eu a vi com Colin pela primeira vez, porém Colin é
passado.
Ao menos, eu espero que seja...
Ainda não conversamos sobre isso, afinal, mal tivemos conversas
decentes nesses últimos dias, a não ser pelas manhãs, quando levo seu café,
e caminhamos juntos até as nossas próximas aulas.
É assim que eu tenho seguido, Joey, cada vez com mais certeza de
que continuo apaixonado pela garota que roubou minha atenção quando eu
era apenas um garoto, e cada dia que passa, com mais esperança de que as
coisas entre nós andem para frente, por mais que eu não saiba o que fazer
quando isso acontecer.
Foi bom conversar com você de novo, amigo, trago atualizações
assim que as coisas derem mais certo ainda.”
Ao finalizar a escrita, dessa vez, feita pelo celular, encaminho o
documento para a impressora do meu quarto em casa, para quando me
conectar a ela, a impressão ser feita, e eu juntar a carta ao restante do diário.
Saio do quarto no mesmo instante em que Elliot sai do seu
acompanhado por Sadie, e é inevitável não fazer careta.
— Não acredito que vocês passaram a noite transando aqui — digo,
quando o casal me olha.
— Alguém aqui tem que transar, meu amigo — Elliot ri.
— Que nojo — digo, e Sadie me mostra o dedo do meio. — Com
ela, você não briga, não é?
— Tudo o que a minha Watson faz, ela faz com razão.
Reviro os olhos ao repetir em uma voz fina o que Elliot acaba de
falar.
— Bom dia, minhas vidas — somos cumprimentados por Colin, que
também sai do seu quarto e passa por nós em direção às escadas.
— Você ainda está me devendo uma explicação de como vocês dois
voltaram a se falar e também do porquê não estão brigando depois de você
ter beijado a namorada dele em público, e ainda levar café para ela todas as
manhãs — Elliot observa.
Eu dou uma olhada no meu relógio, vendo que já estou
possivelmente atrasado para o café de todos os dias.
— Talvez em outra hora eu faça isso — digo, já dando as costas e
fazendo o mesmo caminho que Colin.
Elliot murmura alguma coisa, seguido de Sadie, mas eu não ouço,
pois já estou descendo as escadas, me apressando para fazer o que tenho
feito todas as manhãs, pela quinta vez essa semana.
Pego o carro no estacionamento, dirijo até o campus, mais próximo
o possível da Biblioteca, pago dois cafés e saio caminhando em uma quase
corrida até o dormitório. Chegando lá, quase deixo os dois copos caírem,
quando o celular vibra em meu bolso.
Faço uma manobra para pegá-lo e sou pego de surpresa quando vejo
uma mensagem de Harvey em um grupo criado por ele, contendo o meu
número e o de Allison como destinatários.
Harvey: Estou indo a uma viagem à Los Angeles com a Susan, a
casa estará livre durante o fim de semana.
Não consigo imaginar ao certo o que ele quer dizer com a
mensagem, portanto, respondo-o apenas com um emoji sorrindo, em
seguida, Allison faz o mesmo, acompanhado de um coração.
Coloco um sorriso no rosto no instante em que Allie aparece do lado
de fora do dormitório, entretanto ele logo se transforma em uma careta
quando franzo todo o rosto ao ver que Colin está ao lado dela.
Ele se aproxima de mim, beija minha testa e depois sai andando na
nossa frente.
— O que foi isso? — eu pergunto.
— Acabamos de pôr um fim no nosso “namoro”. — Allie faz aspas
com as mãos, antes de pegar o café. — Bom dia. — Ela sorri, o efeito Grey
acompanha seu rosto.
— Esse é um ótimo dia, Allie-run, um ótimo dia — exclamo, sem
fazer questão alguma de esconder a minha animação pela notícia que ela
acaba de me dar.
— Idiota — murmura em tom brincalhão, e eu sorrio antes de tomar
um gole do meu café.
Todos os dias eu tenho acordado animado, mas hoje foi um pouco
diferente, afinal, coisas boas estão chegando.
A sua mente joga esse jogo também?
Pensa em mim e em você
Acho que vou fingir
Até que tudo faça sentido
LIKE I WANT YOU | GIVEON
— Pensei que vocês iam passar o fim de semana fora, depois que o
Harvey disse que a casa estava liberada — digo assim que encontro a minha
mãe sentada em uma das banquetas da cozinha.
— Ele disse, foi?
Assinto.
— Bom, ele vai passar o fim de semana fora com certeza, já eu, não.
— Aconteceu algo? — inquiro, preocupado, ao notar que o seu
semblante não é dos melhores.
— Senta aqui. — Minha mãe oferece a banqueta ao lado.
De início, eu estranho seu comportamento e estreito o olhar em sua
direção, contudo, ela me lança um sorriso encorajador. Por mais que ela
tenha tentado fazer uma lavagem cerebral em mim, digamos assim, durante
anos, sobre o meu posto na vida de Allison e Harvey, que ela tenha traído o
meu pai, e isso tenha me gerado um rancor enorme quanto a ela, Susan
ainda é minha mãe, e eu ainda sinto afeto por ela.
Claro que eu sinto, é impossível não sentir.
— O que foi? — digo, cruzando as mãos após me sentar ao seu
lado.
Ela aponta na direção do corte que há na lateral do meu rosto.
— Onde você conseguiu esse corte?
Meus dedos tocam o corte levemente, e eu viro o rosto.
— Na academia — minto. — Nada demais. Já, já deve cicatrizar.
Minha mãe me olha desconfiada, e eu sei que coisa boa não vem aí.
Me preparo para o seu interrogatório de forma ansiosa, a ponto de que meu
estômago embrulha, e um suor fino desce por minha têmpora.
— E o olho roxo de um mês atrás, foi na academia também?
Não a respondo, apenas assinto ao dar um gole seco, fazendo com
que o pomo-de-adão suba e desça, pois eu não lembro do que eu havia
contado a ela quando apareci com um hematoma da última luta.
— Pensava que tinha sido no jogo das quartas de finais.
— Eu não... — tento começar a me explicar, mas ela me interrompe,
ao erguer a mão.
— Eu vou te perguntar de novo, onde você conseguiu esse corte,
Greyson? — Seu tom agora é seco e acusatório.
Minha mãe olha diretamente nos meus olhos, e eu sinto o fogo
saindo deles.
— Academia — insisto.
Ela abaixa a cabeça, e então ouço um riso, mas não é como se ela
estivesse achando graça de algo.
Observo todos os seus movimentos. Primeiro, ela respira fundo e
ergue a cabeça, olhando para cima, em sequência, seus lábios se franzem, e
ela volta a olhar para frente, balançando a cabeça levemente. Uma de suas
mãos é erguida e toca sua boca, enquanto ela fica pensativa, depois a mão
livre encontra o celular em cima da bancada da cozinha, e ela desliza o dedo
sobre a tela.
Meu peito se aperta, e minha respiração falha no instante em que ela
põe o celular de volta sobre a pedra branca de mármore e empurra o celular
para mim.
— O seu pai sabe sobre isso? — é a primeira coisa que ela pergunta.
É impossível me controlar quando eu a escuto dizer isso com tanta
insignificância. Trinco os dentes, e minha perna começa a balançar
rapidamente.
— Não o envolva nisso.
— Não vou — é tudo que ela diz por agora.
Ela pega o celular novamente e bloqueia a tela, fazendo com que a
imagem da luta de ontem desapareça da minha frente.
— Mas imagina eu estar em uma viagem com meu marido e
precisar voltar para casa às pressas, preocupada com o seu estado, porque
nessa idade, você decidiu se envolver em lutas clandestinas.
— Quem te mandou isso? — Aponto para o celular com o queixo.
— Não interessa quem mandou.
Abaixo a cabeça para respirar fundo.
— Onde você quer chegar, afinal de contas, mãe?
— Primeiro, eu quero saber o porquê de você estar fazendo isso.
Sacudo a cabeça, e meus ombros caem. Sem resposta.
— Você não sabe? É tudo o que eu mereço como resposta?
Minha perna volta a balançar, e minha mãe começa a tamborilar os
dedos sobre a superfície de mármore. Ela respira fundo e audivelmente.
— Eu sei que eu não sou a melhor mãe do mundo, tá legal? — Olho
de relance para ela, quando a ouço soltar uma risada infeliz. — Eu sei que
eu nunca fui do tipo que chega e pergunta o que você fez, como foi seu dia
ou como você está. Mas você lembra quem trabalhava horas e horas por dia,
e muitas vezes estendia até a noite, para conseguir colocar você em uma
escola boa e te manter na escolinha de futebol?
— Mas eu nunca te pedi nada disso — digo simplesmente.
Minha mãe me olha, chocada. Até consigo ver um lampejo de
tristeza em seus olhos.
— Desculpa — peço, mesmo que pareça forçado.
— Tudo bem. — Ela ri e funga, para impedir as lágrimas de caírem.
— Você realmente nunca pediu, mas eu sou sua mãe e eu sabia do que você
gostava quando era criança, e eu só queria te ver feliz.
— Queria mesmo?! — pergunto, porque por mais que o assunto seja
outro nesse momento, não consigo não lembrar das vezes em que ela me
pressionou para me manter longe de Allison.
— Não vamos falar sobre isso agora, Greyson — me repreende,
entendendo o que estou falando. — Quero que fique bem claro que ontem,
foi a sua última luta.
Neste instante, é minha vez de levantar a cabeça e olhar para ela,
chocado.
— Você não me disse o motivo da luta, e se não há motivos, não há
porque continuar também — explica.
— Sou maior de idade — esse é o meu argumento, e é claro que ela
ri.
— Uma grande merda, não é? Ser maior de idade? Por acaso foi a
sua idade que te deu uma bolsa de estudos em uma das melhores
universidades do país? Você vai dizer que é maior de idade quando seu
treinador, reitor ou a comissão esportiva universitária descobrir o que faz e
lhe expulsarem do time?
— Isso não vai acontecer — digo com firmeza.
— Claro que não vai, porque você não vai fazer mais. — Me
preparo para responder, e como sempre, ela é mais rápida. — Estou falando
sério, você não vai perder sua bolsa de estudos pelo futebol por conta de
uma luta idiota.
— Não é como se eu fosse parar de estudar por isso, é? — desafio-a.
Minha mãe dispara os olhos em minha direção.
— O que você quer dizer com isso?
— Nada. — Dou de ombros e me levanto da banqueta, indo em
direção à máquina de café. — Apenas que você conseguiu um marido rico
para isso ou estou errado?
— É sério que você pensa isso de mim?
Fico em silêncio e começo a preparar o café puro, do jeito que
Allison gosta.
— Tudo bem, já vi que essa nossa conversa não vai ter um fim
muito bom, porque você vai tentar me atacar — ela começa a dizer, mas eu
não me viro em sua direção, apenas escuto. — E você pode até não
acreditar quando eu digo que eu amo o Harvey, se não amasse, não estaria
com ele durante todo esse tempo.
Certo, agora eu a olho, porém por cima do ombro, erguendo uma
sobrancelha para ela. Minha mãe me fita com raiva.
— Eu o amo.
— Eu não estou dizendo nada — murmuro.
— Mas está pensando.
Minha cabeça pende para o lado, vejo que o café está próximo de
ficar pronto e pego uma caneca no armário.
— Desde quando você toma café pela manhã? — minha mãe
pergunta.
Minha língua se afia para dar uma resposta a ela, contudo, somos
interrompidos quando Allison adentra a cozinha, através da porta do
quintal. Eu automaticamente arregalo os olhos, olhando em sua direção,
tentando imaginar como ela fez isso.
— Bom dia — ela nos cumprimenta e olha diretamente para minha
mãe. — Meu pai voltou também?
Me viro e vejo minha mãe balançar a cabeça.
— Onde você estava? — ela pergunta à Allison. — Cheguei, seu
carro estava na garagem, a porta do seu quarto aberta, mas nada de você.
— Dormi na Heaven — ela mente em um sorriso faceiro, e só então
noto o quão suada ela está, parecendo que acabou de correr uma maratona.
Me viro de volta para o armário e pego outra caneca, quando a
cafeteira avisa que o café está pronto, servindo as duas, em seguida, estendo
uma na direção de Allison e faço a mesma pergunta que tenho feito todas as
manhãs na última semana:
— Café?
— Claro. — Ela aceita com um sorriso e toma um gole.
Cubro minha boca com a caneca e também tomo um pouco do
líquido quente. Allison pisca para mim, depois olha na direção da minha
mãe e aponta para fora da cozinha, indicando que está saindo.
Noto que minha mãe estreita os olhos, olhando entre mim e Allison,
claramente desconfiada, porém, acaba sorrindo quando Allie sai da cozinha.
— Certeza de que ela estava na Heaven? — ela me pergunta.
— Foi o que ela disse. — Meus ombros se erguem e depois caem,
quando dou outro gole no café e deixo o restante na pia.
Quando começo a sair da cozinha, Susan me chama.
— Aonde você vai?
— Meu pai — digo, e ela revira os olhos, como sempre.
— Não esquece o que eu te disse — grita, quando eu já estou fora
da cozinha.
Pegando o celular no meu bolso, volto em direção ao porão e mando
uma mensagem para Allie.
Eu: Me encontra na praia em uma hora?
A resposta não demora muito.
Allie: OK.
Não menti para minha mãe quando disse que ia até meu pai, afinal,
preciso seguir com o plano de pagar as suas contas e fazer compras. Porém,
o tempo é suficiente para depois encontrar Allison na praia, e também,
Susan não precisa saber de todos os meus passos.
Seu corpo treme assustado quando eu me sento atrás dela,
abraçando-a.
— Coloca uma arma na minha cabeça na próxima, se for para me
matar.
— Jamais te mataria, Allie-run.
Ela faz um biquinho, e eu beijo seu pescoço.
— Desculpa pelo atraso, aconteceram alguns imprevistos.
Não minto para ela, pois o sistema de pagamento de contas que tem
ao lado do supermercado estava com problemas, e isso acabou me
atrasando.
— Você avisou — ela me lembra, já que eu havia mandado uma
mensagem.
— Mesmo assim. — Dessa vez, quem faz um biquinho sou eu.
— Isso não combina com você. — Ela ri, e eu faço a careta,
imitando-a quando está concentrada.
Sinto meu abdômen arder, quando Allison me dá uma cotovelada, e
solto um assobio fino.
— O que tem de pequena, tem de forte — sibilo.
Ela faz pouco caso e volta a olhar pro mar, eu a acompanho.
O som das ondas é tranquilo, e a brisa do mar faz com que todo o
estresse vá embora, além de claro, estar assim com Allison.
Eu poderia dizer que eu esperava agir feito um estranho entorno
dela, uma vez que isso é algo completamente novo, tanto para mim quanto
para ela. Contudo, é tudo tão natural, que não precisa ser estranho.
É como se algo bem lá no fundo me dissesse que está tudo tão certo,
que eu não preciso ter pressa de nada.
Sei que são poucos dias, na realidade, poucas horas, que estamos
juntos. Estamos juntos, não estamos? Pelo menos, eu acho que sim, então
vou considerar que sim.
De toda forma, é realmente um tempo curto, entretanto, tudo em
mim grita que é certo, desde a maneira como meu coração bate
tranquilamente, junto à minha respiração calma, até os sorrisos bobos que
acabo soltando apenas por estar abraçado com ela e me sentindo tão
confortável, que não preciso de uma conversa só para dizer que estou
próximo a ela.
E o jeito como Allison age, me diz que ela sente exatamente a
mesma coisa que eu.
Ela vira seu rosto minimamente, vejo que ela está me olhando, e sua
boca faz um biquinho, então viro meu também e acabo dando um selinho
nela, que no final, solta um risinho, e eu a beijo outra vez.
— Sabe uma coisa que eu estava pensando? — lembro
repentinamente.
— O que? — ela pergunta, curiosa.
— Como você saiu do porão e entrou pela porta do quintal sem ser
vista?
Allie demora um pouco para responder, quando abaixa a cabeça,
como se estivesse se preparando para falar algo importante. Então ela
confessa:
— Eu subi poucos segundos depois de você. — Eu a olho sem
entender, já que sua resposta não me explica exatamente o que ela fez. —
Então eu escutei toda a discussão de vocês — assume.
Volto a olhar para frente e anuo.
— Inclusive a parte em que você disse que ela casou com meu pai
por interesse.
Eu engulo em seco, me concentrando para não falar nada e continuo
observando as ondas do mar.
— Então, quando você levantou e foi fazer o café, eu corri para a
porta da frente, saí, dei a volta e entrei pelo quintal.
Meu cenho se franze, imaginando a cena.
— Você é bem rápida — elogio.
A cabeça de Allie se move quando ela concorda, e ela volta a olhar
para frente também.
— Você realmente acha que ela se casou por interesse?
— Não sei — confesso. — Ela disse que o amava, mas ela também
amava o meu pai, e sei que amor nunca foi o suficiente para ela.
Me calo, e nós dois ficamos em silêncio por um tempo, parece que
por esse instante, voltamos a ser o Grey e Allie do dia em que se
conheceram, e sinto meu coração se completar, pois naquele dia, foi a
primeira vez em que eu conversei com alguém tão abertamente sobre minha
vida.
Deixei de lado o Grey bobalhão que todo mundo conhece e coloquei
meus sentimentos à risca — assim como fiz com o Joey durante tanto
tempo, mas agora estou fazendo com ela —, pois tudo o que escrevi
naquele caderno, sempre foi tudo o que eu quis falar a ela.
O silêncio ronda entre nós dois novamente, até Allison voltar a falar.
— Eu nunca soube o real motivo do meu pai se casar com ela. —
Ela hesita por um momento, como se o que tivesse acabado de falar fosse
besteira, então eu passo as mãos em seus cabelos, prendendo-os para trás.
— É que foi tudo tão de repente, não sei explicar bem, mas eu lembro de
dizer que ele deveria seguir em frente, afinal, era o que minha mãe queria
para nós dois, e ela sempre dizia isso, caso chegasse a morrer. Ela nunca
romantizou a doença dela — Allison fala tristemente.
— Como assim? — indago.
— Ela confiava que poderia melhorar, mas também sabia que suas
chances não eram as maiores, então com o tempo, ela passou a sobreviver
com a doença, e quando isso aconteceu, ela nos disse que no dia em que ela
partisse, não deveríamos ficar nos martirizando e parando as nossas vidas.
Foi por isso que um dia, enquanto meu pai chorava durante o jantar, eu
perguntei porque ele não saía para conhecer novas pessoas. — Nossos
olhares se encontram, e posso enxergar nos olhos de Allison um pedido de
desculpas sutil, assim como nos meus. — Então eu realmente não sei se ele
chegou a casar por amor ou apenas porque se sentiu pressionado a seguir
em frente, tanto pelo fantasma da minha mãe, como por eu dizer para ele
seguir em frente.
Assinto com a cabeça, entendendo onde ela quer chegar.
— Então você acha que ele se casou com a primeira mulher que viu
na sua frente?
Allie pende a cabeça para o lado, cogitando a ideia. E eu rio.
— Já que é assim, por que você não casa comigo? — proponho.
— Nossa, como você é engraçado. Hahaha. — Ri falsamente.
Dou um beijo em seu pescoço e volto a abraçá-la. Mal sabe ela que
eu estou falando sério, foda-se se é cedo demais, se ela tivesse dito aceito
agora, eu não custaria muito para pedir ao pastor Tanner para nos casar,
então assim, nós chocaríamos todos ao nosso redor.
Admito que isso seria muito engraçado e até rio ao imaginar a
situação.
— Do que está rindo? — ela pergunta.
— Nada demais. — Sorrio em resposta. — Seria muito egoísmo da
minha parte se eu quisesse que realmente minha mãe tivesse casado com
seu pai por interesse, e ele com ela apenas porque foi a primeira mulher que
viu na frente dele?
Allie fica pensativa, voltando a franzir seu o rosto, e eu fico
admirando, achando fofo mais uma vez, até que ela balança a cabeça em
negativa.
— Não — admite. — Isso seria ótimo para nós, na realidade.
— Seria, não seria?
Ela concorda, balançando a cabeça.
— Mas deixa eu te dizer uma coisa — ela diz, e eu murmuro,
pedindo para ela continuar. — Eu concordo com sua mãe.
— Do nada isso? — pergunto, assustado.
— Calma. — Ri. — Sobre a questão das lutas, eu concordo com sua
mãe, e se alguém importante descobrir, realmente vai valer a pena
continuar, só porque você “gosta”? — Ela não deixa de fazer as aspas com
as mãos.
Ontem, eu me convenci que deveria contar a verdade sobre a luta aà
Allison, contudo, o assunto morreu quando passamos a falar sobre o Joey.
Penso na possibilidade de falar sobre agora, só que deixo quieto, apenas
concordando com a cabeça.
— Ninguém vai descobrir nada, relaxa — peço.
— Grey... — ela chama, preocupada.
— Sério, ninguém vai descobrir porque eu parei a partir de ontem.
— Você está falando sério? — O azul cristalino dos olhos de Allie
se ilumina.
Concordo outra vez, e um sorriso largo toma conta dos seus lábios.
— Parei mesmo. Não pela bolsa ou por minha mãe — confesso.
— Por que então?
— Porque eu não quero mais ver você se afastando de mim como
fez ontem.
O biquinho volta para os lábios de Allie, e isso acaba tirando a
minha atenção, ela fala algo sobre as lutas, porém, eu acabo viajando,
pensando em beijá-la.
— Grey — ela grita.
Dou um pulo, me assustando.
— Sim.
— Você tá viajando de novo.
— É porque você tirou minha atenção — revelo.
— Você escutou algo do que eu disse? — Nego. — Eu estava
dizendo que eu não me afastei pela luta em si, e sim pelo motivo. Mas se
você quisesse continuar porque gosta, tudo bem. Contudo, se sua mãe
descobriu, o que impede do treinador descobrir?
Ela fala, eu escuto, mas minha atenção está totalmente voltada para
a sua boca. Talvez seja por isso que eu a escuto, apenas porque meu
hiperfoco decidiu se concentrar nela.
— Você não prestou atenção de novo, não é?!
— Me deixa te beijar, por favor — peço.
Allie franze os lábios, e antes que ela possa responder um sim,
porque eu sei que sua resposta será um sim, eu a beijo, ela se entrega a
mim, e eu me sinto satisfeito.
Segredos que tenho mantido em meu coração
São mais difíceis de esconder do que pensei
Talvez eu só queira ser seu
I WANNA BE YOURS | ARCTIC MONKEYS
Dou dois passos para trás e me escondo ao lado das portas francesas,
que dividem a cozinha e o corredor principal, no mesmo instante em que
vejo que ela acabou de colocar as louças na máquina.
Seus pés cobertos por meias pisam no chão com delicadeza, a casa
está em silêncio desde que o jantar acabou, e nossos pais subiram para o
quarto. E é por isso que eu sou obrigado a colocar a mão sobre sua boca,
evitando que um grito se alastre por todos os cômodos, quando a pego de
surpresa por trás, agarrando sua cintura e trocando-a de lugar comigo, a
pressionando contra a parede.
Os olhos de Allie arregalam quando ela me encara, e eu beijo a
pontinha do nariz dela, antes de tirar minha mão da sua boca. Contudo,
assim que faço isso, sou surpreendido por tapas no meu braço.
— Você quer me matar de susto? — Sua voz sai silenciosa, mas
irritada o suficiente.
— Apenas quis te dar um beijo de boa noite — digo, a soltando e
alisando meu braço, isso faz com que ela se derreta e me lance um
sorrisinho.
— Bem que você poderia entrar no meu quarto na calada da noite...
— sugere, ao morder o lábio inferior.
— E correr o risco de você jogar minhas roupas pela janela de
novo? Dispenso.
— Foi só uma vez, e eu fiquei nervosa. — O pedido de desculpa é
explicito em seus olhos. Allie se aproxima, suas mãos, que agora não são
nem um pouco tímidas, entram por dentro da minha camisa, tocando a
minha pele, até se juntarem às minhas costelas. — Ainda me sinto por mal
por ter te machucado — diz, melancólica.
E ela realmente sentiu, por duas semanas inteiras, não podia me ver
fazendo uma careta, que pedia desculpas, hoje, quase um mês após o
incidente, seus pedidos de desculpas vêm carregados de olhos brilhantes
cheios de luxúria. O biquinho que deveria ser triste, mas que com o jeito
que ela faz, o torna sexy, o que faz com que meu pau bombeie sangue.
Para quem se diz tão inexperiente, em pouco tempo aprendeu
direitinho como me fazer explodir de tesão.
Volto a agarrá-la pela cintura e a pressiono novamente entre a
parede e meu corpo, sua cabeça se ergue, e ela me encara, sentindo a
pressão da minha ereção em sua barriga.
Minha mão se junta ao seu rosto, passando uma mecha de cabelo
para trás, e minha boca se aproxima do seu ouvido, quando estou próximo o
suficiente, sussurro:
— Não pede desculpas novamente.
Ela inspira.
— Por que não? — pergunta, travando a respiração.
— Porque se você continuar fazendo essa carinha todas as vezes em
que me pedir desculpas por isso, em breve você vai ter que fazer sentando
no meu pau.
Meus lábios se juntam à pele do seu pescoço, dando-lhe um beijo no
mesmo instante em que Allison expira, soltando o ar pesado dos seus
pulmões.
Continuo a passear com minha boca sobre a pele macia do seu
pescoço, até a mandíbula, mordicando-a. Meus olhos encontram os seus,
que agora estão completamente escuros, ela pisca duas vezes, antes de
mexer a boca em um pedido de desculpas.
Estou prestes a tomar sua boca, quando um ranger de porta faz com
que eu pule para trás. Allison continua grudada à parede, quando Harvey
aparece no corredor, teríamos sido pegos se a porta do escritório dele não
fizesse esse barulho irritante todas as vezes em que é aberta.
— Preciso consertar isso logo — ele diz, ao fechá-la. Quando
levanta a cabeça, parece surpreso ao nos encontrar no corredor. — Ei, o que
vocês ainda estão fazendo acordados? Vocês não viajam às quatro da
manhã?
Allison finalmente se desgruda da parede, e é a primeira a
responder.
— Vim comer algo.
— E eu pegar um copo de água — explico, o que não deixa de ser
verdade. Afinal, quando subi, vim realmente atrás de água, mas me deparei
com Allison na cozinha.
Harvey coloca as mãos nos bolsos da calça.
— Sei o que é esse sentimento de vocês, e isso se chama ansiedade.
Sempre acontecia comigo durante os recessos de primavera.
Meus ombros se erguem.
— Essa é a primeira vez que viajamos para o spring break, então
realmente posso estar um pouco ansioso — confesso.
— Na minha época, costumávamos ir para Flórida, não para uma
casa de campo.
— Ideia da mãe do Elliot, para evitar muita bebida — Allison
responde o pai, que ergue a sobrancelha.
No mesmo dia em que Allison saiu com as meninas e o Wes,
estávamos na casa do Elliot, e em meio à discussão do que faríamos durante
o recesso, uma vez que ninguém queria ficar no campus ou em Stone Bay, a
senhora Tanner disse que poderia nos emprestar as chaves da casa de lago
dos seus pais, que fica a quatro horas de viagem.
E chegou a ser mais animador do que a ideia de viajar para Miami
ou Orlando.
— E isso adianta alguma coisa? — Ele olha entre nós dois, e eu
desvio o olhar, assim como sua filha. — Desde que certas pessoas — olha
diretamente para Allison —, vão com calma na tequila, não vejo nada
demais. Mas é bom vocês estarem apenas entre amigos nos próximos dias.
— Foi só uma vez pai — Allison tenta se defender, e seu pai finge
acreditar, quando se aproxima, deixando um beijo no topo da sua cabeça.
— Espero que sim, estou indo dormir, se precisarem de algo antes
da viagem, podem me acordar. — Ele passa por nós, porém antes encosta a
mão no meu ombro de forma amigável.
Balanço a cabeça, concordando, e desejo boa noite. Quando que ele
vira o corredor, indo em direção à escada, solto o ar dos meus pulmões, que
nem sequer tinha notado que estava segurando durante todo esse tempo.
— Essa foi por pouco — Allison diz.
— Foi mesmo — concordo. — É melhor você subir, antes que ele
desça ou a minha mãe apareça.
Allison dá um passo em minha direção, me olhando sob os cílios
pesados.
— Posso te esperar com a luz do abajur ligada? — Meus olhos
saltam para fora, e ela ri. — Relaxa, estou apenas brincando... ou não. —
Seu tom de voz fica sério de repente.
— Vamos dormir — sugiro. — Quem sabe amanhã, eu não invada o
seu quarto.
— Gosto da ideia. — Os cantos da sua boca se erguem.
— E eu gosto de você. — Dou um meio sorriso, antes de beijar a
ponta do seu nariz outra vez. — Boa noite, Allie-run.
— Boa noite. — Ela sorri, e nos afastamos. Quando começo a
caminhar em direção ao meu quarto, ela me chama e dou a volta. — Você
realmente veio pegar água ou apenas me assustar?
Anuo.
— Você me fez esquecer até minha sede — explico, e ela ri.
Allison se afasta, me dando passagem e acena com a mão, quando
eu entro na cozinha, ela vai embora. Pego um pouco de água, contudo, meu
estômago chega a embrulhar, quando eu volto a pensar sobre nossa viagem,
que por mais que estejamos rodeados de amigos, ainda assim, me deixa
ansioso passar tantos dias sem a presença dos nossos pais, das aulas,
estudos e jogos.
Meu celular vibra pelo que eu acho ser a terceira vez, desde que eu
tenho os cabelos de Allison presos em punho. Ela empina a bunda, fazendo
com que meu pau entre por completo nela, e é quando ela solta um gemido
abafado, que eu perco todo o meu controle e acabo me libertando.
Chega a ser incrível como a nossa sincronia acontece, e quando eu
caio na cama ao seu lado, nossas respirações são pesadas. Eu não consigo
falar nada e na realidade, nem preciso.
Apenas puxo o seu corpo nu, abraçando-a. Allie está de bruços,
portanto, seu braço passa por cima da minha barriga suada, e quando sua
cabeça descansa no vão do meu braço, beijo o seu nariz. Ela sorri, fazendo
com que meu coração dê várias e várias cambalhotas.
Meu celular vibra outra vez, e dessa vez, Allie chama minha atenção.
— Você não vai atender?
Faço uma careta, e ela belisca meu peito, me estico por cima dela
para pegar o celular e quando o pego, vejo que é uma ligação da minha mãe,
pressiono o botão de bloqueio duas vezes, para recusar a ligação.
Ela tem me ligado já faz duas semanas, faz duas semanas também
que eu não a vejo, nem vou em casa. Mais especificamente, desde que o
recesso acabou e eu quase discuti com ela naquele dia, eu tenho a evitado.
Tenho evitado qualquer coisa que me traga dor de cabeça, isso inclui
minha mãe, porque eu sei que ela vai querer conversar, e eu não estou a fim
disso, a única coisa que eu quero é permanecer deitado nessa cama ao lado
da minha garota, até que eu seja realmente obrigado a me levantar dela.
Enquanto isso não acontece, eu permaneço aqui.
— Não acha que está ignorando há tempo demais? — Allie pergunta,
pois é claro que ela viu o nome que apareceu na tela.
— Para falar a verdade, não. — Dou de ombros.
— Ela é sua mãe, uma hora você vai ter que falar com ela
abertamente.
Franzo o nariz, fazendo um biquinho e balanço a cabeça. Allison
sabe porque eu estou a ignorando, ela até entendeu no começo, mas desde o
segundo dia em que isso vem acontecendo, ela insiste para que eu atenda.
Até mesmo já atendeu uma ligação que minha mãe fez diretamente
para ela e quis me entregar o celular quando ela perguntou por mim. Por
sorte, fui salvo pelo treinador, que decidiu ir até o refeitório atrás de mim e
Elliot.
— Hoje não.
— Então que tal na segunda, quando eles chegarem de viagem?
O celular vibra novamente, porém é uma mensagem, eu apenas o
coloco de volta no móvel e quando faço isso, me jogo por cima de Allie.
— Já tenho planos para a segunda — digo, ao puxar seu lábio
inferior com o dente.
— É? — Seu rosto começa a esquentar. — E o que seriam esses
planos?
O canto da minha boca se ergue.
— Um encontro.
Ela estreita o olhar, me encarando seriamente.
— Um encontro? — repete a minha resposta em uma pergunta e
engole em seco, antes de tossir. — Com quem?
— Com você — respondo o que é óbvio.
— Não lembro de ter recebido um convite — ela desdenha, mesmo
que um sorrisinho escape por seus lábios.
— Que tal termos o nosso primeiro encontro na segunda?
— E o que você planejou? — As pontas dos seus dedos começam a
traçar meus braços, causando leves arrepios.
— Primeiro, eu vou te pegar no seu dormitório, mas dessa vez, eu
não vou levar um café como todas as manhãs. Eu vou subir até o seu quarto,
e quando você abrir a porta, vai me ver segurando um buquê de Margaridas,
porque são suas flores preferidas, e na outra mão, eu vou ter uma caixa com
vários brownies, porque é sua comida favorita. Você irá sorrir, pegar o que
tenho em minhas mãos e guardar.
— E depois? — ela se interessa, com os olhos brilhantes, ainda me
acariciando.
— Depois, você vai sair, trancar a porta e segurar minha mão, então
nós desceremos as escadas juntos e sairemos do prédio. Eu vou abrir a porta
do carro, e você irá entrar, em seguida, quando eu entrar, o som estará
tocando James Arthur, e seu estômago vai revirar, porque você estará
ansiosa. Eu vou ver você passando a mão por sua coxa e vou pegá-la, e
beijar o dorso dela, assim...
Pego sua mão e pouso um beijo no dorso, e Allison sorri, então
entrelaço nossos dedos.
— E depois?
— E depois é surpresa. — Volto a cair de lado da cama.
— Tá falando sério? — pergunta, perplexa, ao se levantar e passar a
perna por cima do meu quadril, sentando em cima, e eu afirmo em um
murmúrio. — Isso é injusto — reclama.
— Injusto é você estar sentada praticamente no meu pau e não estar
quicando nele — devolvo, ao pegá-la pela cintura e posicioná-la sobre meu
pau, já ereto.
— Você é impossível. — Ela arfa ao sentir a dureza e se ergue um
pouco, encaixando sua entrada na minha direção.
— Então, isso significa que você aceita sair comigo? — pergunto,
quando ela se movimenta, rebolando sobre meu pau. Meus dedos apertam
sua cintura.
— É óbvio que eu aceito. — Ela vacila, quando geme.
— Está marcado então — digo por fim. — Agora rebola, vai —
peço, ao encher minha mão com seu peito, acariciando-o.
Me assusto quando vejo uma marca roxa em suas costelas, mas
chego a ignorar, talvez possa ser resultado das nossas inúmeras sessões de
sexo no último mês.
Grey passa por nós, e Valerie o chama, mas ele parece totalmente
inerte quando a ignora e caminha para fora do Jenkins com o celular na
mão.
Espero mais uma dose de bebida ser servida para ir atrás dele.
Enquanto isso, Elliot se aproxima de nós, eu o chamo, e ele vem ao meu
encontro.
— Aconteceu algo com o Grey? — pergunto, sentindo as palavras
embolarem na minha língua.
— Não, por quê?
— Ele saiu — explico, ao cobrir a boca com a mão, impedindo de
sair um arroto.
— Ah. — Elliot parece pensar. — Ele recebeu uma ligação e saiu
para atender.
Dou um murmúrio em resposta, então a bartender serve a próxima
rodada de tequila. Coloco um pouco de sal na boca, antes de tomar a dose e
chupar o limão, assim que tombo minha cabeça para frente, me sinto tonta e
mesmo assim, me levanto do banquinho, apoiando minhas mãos na bancada
do bar.
— Aonde você vai nesse estado? — Elliot pergunta, ao me segurar
pela cintura.
— Até o Grey. — Aponto para a porta.
— Não prefere que eu o chame, e ele venha até você? — oferece, e
nego.
— Estou bem — digo, me desfazendo do seu aperto e dando um
passo para frente. — Consigo fazer isso sozinha. — Desvio de Elliot
quando ele parece pronto para me segurar outra vez.
Sinto seu olhar me queimar, porém não importo, então giro os pés e
caminho na direção da saída do Jenkins. Preciso usar uma força extrema
para puxar a porta e apenas quando o sininho toca, eu saio do local lotado e
barulhento.
Preciso abraçar meu corpo para me proteger da rajada de vento que
atinge meu rosto, movendo a cabeça para tirar a mecha de cabelo da minha
visão, enxergo Grey. Ele está a cerca de cinco passos de distância de mim,
acaba de tirar o celular do ouvido, contudo, permanece parado de costas
para mim. A cabeça erguida, olhando para a pista sem movimento algum de
carros.
Meus passos são silenciosos enquanto eu me aproximo dele, um
sorriso involuntário se ergue em meus lábios, e então, quando estou atrás
dele, o abraço.
Grey pula, assustado, e posiciono minha cabeça no vão do seu
braço, olhando para ele.
— Ei, sou eu. — Rio, então ele se vira, e eu sou obrigada a me
desfazer do abraço por instante.
— Allie, preciso falar com você... — ele começa, e eu passo os
braços por seu pescoço.
— Eu também — digo, ao passar língua pelo lábio inferior,
sentindo-me feliz pelo que estou prestes a lhe contar.
— É sobre nossos pais. — Grey engole em seco.
— Eu também.
Meu sorriso se torna mais largo.
— Meu pai vai conversar com sua mãe sobre nós dois esse... —
digo, quebrando a promessa que havia feito ao meu pai, quando no mesmo
segundo em que começo a falar, Grey também fala. Contudo, ele me diz
algo completamente diferente, que me cala, me deixando fora de órbita.
— Eles sofreram um acidente na estrada e estão no hospital. — Suas
palavras são firmes.
Balanço a cabeça, uma, duas, três vezes.
Meus olhos se fecham com força, e eu engulo em seco, sentindo o
amargor tomar conta da minha boca. Tentando raciocinar o que acabo de
falar, mas principalmente, o que acabo de escutar.
— O que você disse? — indago em choque, sentindo a sobriedade
voltar ao meu corpo aos poucos.
— Me ligaram do hospital, houve um acidente, e eles foram levados
para o lá — ele repete, dessa vez de outra forma.
— Mas eles estão bem, certo?! — A pergunta sai incerta, porque ela
não quer uma resposta qualquer, ela quer uma certa, de que realmente eles
estão bem.
— Eu não sei — é o que Grey responde, então meus braços caem,
me desfazendo do nosso abraço instantaneamente.
Começo a balançar a cabeça, pois tudo em que penso nesse
momento, é no pior. Várias teorias rondam por ela, minha respiração retesa,
e meus batimentos cardíacos são quase inexistentes. Sinto o sangue se
esvair do meu corpo e rosto.
Grey me segura, apoiando sua mão em meu rosto e me firmando no
chão pela cintura, quando minhas pernas bambeiam, sob a ameaça de
falharem.
— Tudo o que me informaram é que eles estão no hospital e que
precisamos ir até eles, nada foi dito além disso. — Suas palavras tentam
transparecer confiança, meus olhos entregam o medo, eu consigo ver que
ele está tão preocupado quanto eu. — Vamos pegar nossas coisas e vamos
até lá, certo? — sugere, e eu balanço a cabeça.
— Tudo bem — um sussurro sai por minha boca.
Então Grey pega a minha mão, e caminhamos, entrando de volta no
bar, ele me guia, pois tudo o que vejo à minha frente é turvo e confuso, uma
mistura do álcool com o medo do que possa ter acontecido.
No momento em que chegamos à mesa em que nossos amigos estão,
Grey pega minha bolsa e suas chaves do carro. Alguém pergunta o que
aconteceu, talvez nós dois estejamos tensos demais, Grey explica, eu não
consigo falar nada, quando pego a bolsa de suas mãos e procuro lá dentro
por meu celular.
Todos se levantam rapidamente, quando eu finalmente o acho, Axel
toma as chaves da mão de Grey, dizendo que dirige, e Kane diz que vai
pagar a conta, mas nos encontra em breve.
Grey pega minha mão novamente, me levando de volta à saída, eu
tento me soltar para conseguir discar o número do meu pai, porém ele
continua com seu aperto firme em mim, como se ele precisasse disso para
se manter são.
Ele age como se soubesse o que estivesse fazendo, ao abrir a porta
traseira para mim, e eu ajo em total automático quando entro.
Ouço o motor ganhando vida, e logo em seguida Axel dá partida no
carro e acelera. Eu digito o número do meu pai e levo o celular até o
ouvido.
Caixa postal.
Tento o da Susan, e ele chama, por exatos trinta segundos, tocando
exatamente oito vezes, antes de cair na caixa postal.
Disco o número deles mais algumas vezes durante os quarenta
minutos que nos separam do hospital. São feitas cento e duas ligações, e
todas elas me levam à caixa postal, eu não deixo nenhuma mensagem, pois
logo estou desligando e ligando novamente.
Eu queria minha mãe aqui agora, eu queria ela me dizendo que vai
ficar tudo bem, que meu pai está bem, que no máximo, ele apenas se
arranhou.
No entanto, o hospital não ligaria a uma hora da madrugada por um
simples arranhão, ligaria?
Lágrimas começam a encharcar meus olhos, mas nenhuma desce
por meu rosto, levo a mão até o coração quando não o sinto batendo, meus
dedos tremem, e minha pele queima, minha língua se torna áspera, como se
estivesse ficando dormente.
É uma sensação de vida e morte.
Eu sei que eu estou viva, porém todo o meu corpo me dá indícios de
que ele está morto.
Uma pressão extrema toma conta da minha cabeça, apertando-a, e o
restante do caminho vai se transformando em um borrão na minha mente,
porque tudo que eu consigo processar é o momento em que a notícia foi
dada, repetindo, por várias e várias vezes, tento ligar para o número deles
em uma esperança que eu não sei exatamente de onde tiro, mas ela me diz
que um deles irá atender, isso impede que as lágrimas desçam e continuem
ali, estacionadas nos meus olhos, ou porque talvez meu coração esteja tão
apertado ao ponto de eu não senti-lo bater.
— Eles não estão bem — é o que eu digo assim que a porta da sala
de espera é aberta.
Sei que todos me ouvem, pois todos os rostos são virados na minha
direção, mas eu não me importo, apenas adentro a sala e me sento. Grey me
acompanha, enquanto nossos amigos ficam do lado de fora, uma vez que no
momento, é permitido apenas a família.
Chegamos no hospital há alguns minutos, e na recepção, ao invés de
nos encaminharem até meu pai e Susan, eles nos trouxeram para a sala de
espera, informando que em breve a equipe médica vem falar conosco.
— Por que você disse isso? — Grey indaga, ao sentar-se ao meu
lado.
Engulo em seco, lembrando dos dias que eu nunca pensei que iria
reviver antes.
— Sempre que acontecia algo grave com minha mãe, eles nos
traziam para a sala de espera, e nunca até ela — explico.
Grey anui, ao abaixar a cabeça.
Seus braços estão apoiados nas coxas, ao passo que os dedos estão
transpassados. Ele os aperta, fazendo força. Sei que ele não quer demonstrar
agora, porém ele está tão nervoso quanto eu, quem sabe mais.
Aproximo minha mão das suas, desfazendo o nó delas ao pegar uma
para mim, nossos dedos se cruzam, e eu abaixo a cabeça, para olhá-lo.
— Desculpa — peço, e ele me olha de canto de olho. — Não queria
ter agido assim.
— Tudo bem. — Sua voz sai rouca, quase em um murmúrio. —
Talvez eles estejam mal, mas talvez estejam apenas fazendo alguns exames
— ele tenta transparecer a confiança, entretanto, ele sabe que não é bem
assim.
— Talvez... — repito sem muitas expectativas.
Grey e eu continuamos de mãos dadas, conforme aguardamos
qualquer pessoa entrar por essa porta. Mesmo que eu já esteja mais calma
do que estava no caminho até aqui, a espera é difícil.
Meus pensamentos são uma confusão, minha mente visualiza vários
cenários diferentes, e eu tento ao máximo me desprender deles, pois não
estou pronta para ver nenhum dos dois intubado, assim como vi minha mãe
em alguns dias.
Também não estou preparada para ver a terra os engolindo, é por
isso que balanço a perna com força, me obrigando a parar com esses
pensamentos que me fazem tão mal, a ponto de me deixarem enjoada.
Minhas unhas atacam a parte desnuda da minha coxa, levantando a
saia que uso, pressiono a carne, a fim de trazer um pouco de alívio à minha
mente e acabo encontrando uma marca roxa ali, então afundo meu dedo
nela. A pontada contra minha pele consegue aliviar a turbulência dos meus
pensamentos, mas isso não dura muito tempo.
A porta contrária por onde entramos é aberta, e dois médicos
entram, um tira a sua touca, enquanto outra, que parece ser mais nova, o
segue. Eu a reconheço, seus olhos são claros assim como seus cabelos, ela é
a mesma que ficou responsável por Heaven durante o tempo da sua
internação há cerca de um ano, Promise sempre nos recebeu com um sorriso
de confiança no rosto naquela época.
Contudo, hoje ela está diferente, seus olhos estão opacos, a boca
fechada em uma linha fina, e quando ela fixa o olhar em mim, ela engole
em seco, então ela olha para Grey, passando a fixar o seu olhar nele, assim
como médico que se apresenta como James.
— É um pouco difícil de explicar o caso — ele diz, após se
apresentar e pedir para que a gente se sente, ele acaba de sair do centro
cirúrgico, onde acompanhava meu pai. — Harvey passou muito tempo entre
as ferragens, e isso causou alguns traumas em sua caixa torácica e crânio.
As lágrimas, que enchiam meus olhos desde que saímos do bar,
rolam por meu rosto de forma descontrolada, meus ouvidos tapam, e eu não
consigo ouvir mais nada do que ele tem a dizer sobre meu pai. Minha
cabeça gira, e sinto o toque da mão de Grey em minhas costas.
Eu tento falar algo e não consigo, então ele pergunta.
— Quando poderemos vê-lo?
— Ele precisará de um tempo de repouso na UTI, o estado ainda
consideramos o estado dele grave para tudo o que aconteceu, mas
acreditamos que em breve poderão vê-lo por alguns minutos — James
responde solidário.
Levo minhas mãos até meu rosto, enxugando as lágrimas, um pouco
aliviada, mas muito mais transtornada com tudo o que acabo de ouvir.
— E Susan? — decido perguntar, minha voz saindo trêmula e
embargada. — Ainda está em cirurgia?
É nesse instante que eu sinto o ar parar de rodar sobre nós.
Não existe mais oxigênio quando dois pares de olhos fitam Grey, e
apenas ele. É notória a dor nos olhos dos profissionais quando o fitam, eu
conheço esse olhar, eu já fugi dele.
E antes que qualquer um deles fale qualquer coisa, eu agarro o corpo
de Grey, que cai sobre o meu colo, então, as palavras que estavam
engasgadas feito um nó na garganta de Promise desde que ela entrou por
aquela porta, saem, carregadas de pesar.
— Infelizmente, não foi possível salvá-la. Susan veio a óbito ainda
no local do acidente.
Eles não dizem mais nada.
Eu não peço mais nada.
Grey não reage a nada.
Tudo o que conseguimos fazer é chorar, ao passo que eu tento
acalmá-lo, a ferida que havia cicatrizado há tantos anos, reabre, ao assistir
sua reação pela perda da mãe.
Ao contrário de mim, Grey não foge, ele se agarra em minhas
pernas como se eu fosse tudo o que ele tivesse, e eu seguro para que ele não
perca o seu mundo, enquanto entra em prantos.
Xingando meu nome, desejando que eu tivesse ficado
Você se transformou em seus piores medos
E você está se corroendo em culpa, bêbado com essa dor
Apagando os bons anos
E você está xingando meu nome, desejando que eu tivesse ficado
Veja como minhas lágrimas ricocheteiam
MY TEARS RICOCHET | TAYLOR SWIFT
“Não se atreva”.
É tudo que eu consigo pensar desde a sua partida.
Não se atreva a ir embora.
Não se atreva a morrer.
Não se atreva a me deixar sozinha.
Não se atreva a ir embora com um sorriso no rosto.
Apenas, por favor, não se atreva.
A última vez que eu o vi, ele estava sorrindo. Ele me disse que
estava bem, mesmo que eu sentisse que não estava nada bem. Não é normal
uma pessoa estar em um estado crítico e magicamente melhorar, e então,
logo depois morrer, porque tudo começou a falhar ao mesmo tempo.
Os médicos chamam esse acontecimento “magicamente trágico” de
súbita, onde pacientes em estado grave, igual ao meu pai, têm uma melhora
repentina, e boom. Basicamente isso, como uma bomba relógio, ele
explode. Ou melhor, ele piora drasticamente e morre.
Há quem chame também de última chance.
A última oportunidade de dizer que ama, a última vez que dará um
sermão e o último pedido feito em vida.
Ele teve sorte de ter essa última chance, mas e eu? Como eu fico?
Tudo que eu sinto é a vontade de ir embora, me juntar a eles, porque junto a
ida do meu pai, eu perdi os cinquenta por cento restante do que eu era. Anos
após a morte da minha mãe, ainda é difícil sobreviver sem ela, mas sem
ele? É quase que insuportável.
No entanto, mais insuportável do que isso é viver tendo que ver
todos os olhares penosos direcionados a mim. Todos me perguntam se eu
estou bem, e ninguém entende o que eu perdi. Todas as perdas são perdas,
no final das contas, a única diferença entre elas, é se acontecem de forma
abrupta ou gradual.
Eu perdi minha mãe gradualmente, pois eu sabia que uma hora iria
chegar a hora de eu me despedir dela. Quanto ao meu pai, aconteceu tudo
de forma abrupta, em um dia eu o abracei, no outro aconteceu um acidente,
e durante dias eu pedi para que ele melhorasse, pois ainda havia uma
fagulha de esperança sobre sua melhora. E ele até melhorou, mesmo que eu
sentisse que havia algo de errado ali, ele melhorou. E eu tentei focar nisso.
Porém, repentinamente, ele foi embora da mesma forma que melhorou.
Como superar isso?
Respirando?
Vivendo um dia de cada vez?
Aceitar que eu nunca mais vou vê-lo?
Escutar a voz dele em minha cabeça todas as vezes em que eu
pensar nele, da mesma maneira que acontece quando se trata da minha mãe,
como uma assombração?
Não. Não. Não e não.
Ninguém gostaria de viver assim pelo resto da vida, sendo obrigado
a estar ali todos os dias sem as pessoas que mais amou, escutando suas
vozes, vendo seus fantasmas e nunca podendo abraçá-las, sentir o toque
quente dos seus corpos ou ouvir seus peitos retumbarem em uma risada.
Eu não quero viver com esse fardo, entretanto, ao mesmo tempo, eu
não sei viver sem ele.
Leonor, a mãe de Susan, que veio à Stone Bay logo após a morte
repentina da filha, levanta o olhar e me dá um sorriso gentil, quando entro
na sala após descer as escadas.
— Decidiu comer um pouco? — ela me pergunta, caridosa.
— Ainda estou sem fome — é tudo que eu consigo responder.
Não quero ser mal-educada com ela, no fundo, eu tento ser
amigável, porém não é tão fácil quando não sinto ânimo nem para isso.
Apesar de sua perda, ela tem sido um amor, ela tem cuidado da casa, da
comida, de mim e do Grey.
O Grey também perdeu alguém, e é por isso que eu tenho me
agarrado a ele há dias, da mesma forma como ele se agarrou em mim no dia
em que recebeu a notícia. Eu queria estar com ele há mais tempo, contudo,
Axel, Elliot, Kane e Colin decidiram fazer uma visita após o último período
de aula, e eu fui tomar banho durante esse meio tempo.
Para falar a verdade, eu fugi deles.
Liguei o chuveiro e deixei a água escorrer pelo ralo, enquanto me
mantive sentada em cima do vaso, rolando o dedo pelo celular, sem
encontrar nada que me interessasse o suficiente. Apenas após ouvir o ronco
do motor do carro em que eles vieram partir, foi que eu entrei embaixo do
chuveiro, tomei um banho rápido, vesti um novo conjunto de pijamas e
desci de volta até o porão.
Grey está sentado na cama, recostado na cabeceira, quando eu tiro o
cobertor em um movimento completamente automático e me deito, me
aconchegando em seu colchão e descansando minha cabeça sobre seu
travesseiro. Ele me observa durante todo o processo.
— Comeu alguma coisa? — Desde a notícia do acidente, mesmo
com todo o caos ao nosso redor, ele ainda se preocupa com isso.
Se eu comi ou dormi direito. Me trazendo água, verificando minha
temperatura e nunca deixando que eu vá para muito longe.
Eu não tive coragem de entrar no quarto do meu pai depois de
receber a notícia, eu só quis estar ao lado da minha mãe, eu quis buscar por
conforto nela e quando eu corri, ele me abraçou, me impedindo de ir.
Quando ele deu partida no carro no final daquela tarde, ele soube
exatamente para onde me levar e esperou a alguns metros de distância
pacientemente, enquanto tudo o que eu fazia ao encarar a lápide com o
nome da minha mãe, era chorar.
Quando me perguntaram sobre como eu iria querer o corpo do meu
pai, eu não soube o que responder. Foi ele quem resolveu isso para minha
mãe, e foi a avó de Grey que resolveu para Susan. Eu encarei a morte, eu
encarei o luto, mas eu nunca resolvi nada sobre isso, então quando olhei
atordoada para Grey, ele respondeu que preferia que o corpo fosse cremado.
Ele fez a escolha certa, porque se me perguntassem onde eu deveria
enterrar o corpo do meu pai, eu também não saberia o que responder.
Família deve ficar ao lado da família no cemitério, porém minha mãe estava
de um lado, enquanto Susan do oposto. Eu não poderia ser hipócrita e dizer
que meu pai amou apenas a minha mãe, depois de ele me contar sua
história, então eu não saberia o que fazer.
É por isso que na sala há uma urna com as cinzas dele. Talvez um
dia, eu decida onde jogá-las, enquanto isso, ela irá permanecer na mesinha
ao lado da poltrona, em frente ao janelão da sala, onde ele costumava sentar
sempre que estava em casa nos finais de tarde e ler alguma coisa.
— Estou sem fome — digo pela décima vez apenas hoje.
— Tem uma coisa que o treinador Willians sempre diz quando não
fazemos as refeições direito e falhamos durante os treinos ou jogos —
comenta, ao deitar-se ao meu lado, apoiando a cabeça na mão e tocando
meu rosto.
— E o que é? — pergunto, curiosa.
— Saco vazio não para em pé — responde, alisando as mechas do
meu cabelo.
— Sorte a minha que estou deitada — sorrio, ou ao menos tento, o
máximo que eu posso.
Grey balança a cabeça, ao estalar a língua no céu da boca.
— Você precisa comer, Allie. — Faço uma careta. — Você está com
febre, não notou isso?
— Estou? — digo, levando o dorso da minha mão até a garganta e
em seguida à testa. — Não senti nada. — Talvez seja porque eu realmente
não esteja sentindo nada.
— Espera um pouco — ele diz, já se levantando.
Grey atravessa o porão, da sua cama até a escada, subindo-a em
questão de segundos, pouco tempo depois, escuto seus passos pelo chão da
cozinha e imediatamente faço uma careta. Eu realmente não estou com
fome e sempre que eu me forço a comer quando me sinto assim, fico
enjoada.
Os passos estacam, e então ele está descendo as escadas novamente,
contudo, não há nada de comida em sua mão, mas sim, um termômetro. Ele
se senta na cama e apenas levanta meu braço, sem sequer pedir para que eu
faça.
— Não estou tão quente assim — comento, e ele me repreende
apenas com o olhar.
O termômetro apita, e ele retira.
— Trinta e nove graus é quente para porra — é tudo que diz, ao
jogar o termômetro de lado e puxar o cobertor da cama. — É isso, você vai
comer, e se não melhorar, seremos obrigados a ir ao médico.
Médico...
Isso me faz lembrar da consulta e exames que fiz na semana do
acidente e que nunca tive a oportunidade de voltar lá para obter os
resultados, mas se eu tivesse algo, provavelmente eu já estaria sentindo
alguma coisa, o que não é o caso. E mesmo que esteja com febre, ela pode
ser apenas indício de que eu esteja fraca, uma vez que tudo o que quero
fazer é passar o dia deitada, e não tenho sentido tanta fome.
Grey me oferece a mão, e eu me levanto, acompanhando-o ao subir
as escadas novamente, indo em direção à cozinha. Quando chego, já tem
um prato de espaguete servido na bancada, e Leonor do outro lado da
cozinha, nos observando.
— Desculpa por estar parecendo uma megera — peço, constrangida,
pois tudo que tenho feito com ela é ignorá-la, mesmo que ela esteja
ajudando tanto.
— Eu aceito se você comer pelo menos metade dessa comida — ela
diz, e eu sorrio sem graça. — Você tem que se cuidar também, menina.
Estou subindo, se precisarem de mim, estou lá em cima.
Ela sai da cozinha, deixando Grey e eu à sós, eu me sento em uma
banqueta, e ele me acompanha, porém antes eu possa encostar no prato, ele
já está levando para o seu lado, enrolando o macarrão no garfo e em seguida
colocando a mão em baixo, ao direcioná-lo até mim.
— O que está fazendo?
— Tendo certeza de que você vai comer — responde e franze o
cenho. — Agora abre a boca.
— E se eu passar mal?
— Não vai. Abre a boca — pede, encostando o garfo em meus
lábios.
Faço o que ele pede e ele coloca o garfo na minha boca, eu
abocanho. Quando ele tira, começo a mastigar e fecho os olhos ao sentir o
sabor da comida.
— Gostou?! — indaga, cauteloso.
— Muito bom — respondo, sentindo um pouco de ânimo.
— Receita especial da dona Leonor, ela chama de macarrão de
pizza. Ela sempre faz quando não está bem ou quando alguém que ela
conhece não está.
— Então ela fez para todos nós? — sugiro, antes de ele colocar mais
um pouco na minha boca.
Grey ergue os ombros e depois desce, voltando a se concentrar no
espaguete.
— A resposta mais segura é um sim, afinal, não está fácil para
ninguém — diz cabisbaixo, engolindo em seco.
Temos nos apoiado um no outro para não cairmos, porque se isso
acontecer, eu não sei se um dia seremos capazes de nos levantarmos outra
vez.
— Não tem gosto de pizza — comento, tentando mudar de assunto.
— Na receita do molho, eu sei que vai creme de leite, noz moscada,
bacon, queijo e orégano — diz, ao me dar outra garfada.
— E o que isso tem a ver com pizza? — digo, me lembrando do
nome que ela dá à receita.
— Nada — confessa, rindo, e eu o acompanho, pela primeira vez
em dias. — Ela apenas deu esse nome e ponto.
Grey me dá mais algumas garfadas do macarrão, mas chega um
momento em que eu não consigo comer mais nada, então peço para parar, e
ele concorda.
Conseguir comer, mesmo que sem fome, faz com que eu me sinta
melhor. Hoje era um dia que eu apenas acordei com a vontade de ficar
deitada, até que ele passasse, isso explica a falta de ânimo para fazer
qualquer coisa, porém devo admitir que a insistência de Grey para que eu
me alimentasse fez eu me sentir melhor, assim como a comida e também
nossa conversa.
— Tenho algo para você — diz, ao se levantar e ir até a pia. — Pode
fechar os olhos, por favor?
— Por quê?
— Porque eu não quero que você veja agora.
— Tudo bem — concordo, mesmo que a contragosto.
Grey demora um pouco para voltar, e eu permaneço de olhos
fechados, quando ele arrasta a banqueta para voltar a se sentar, sinto um ar
quente em meu rosto e só abro os olhos novamente, quando ele diz:
— Pode abrir.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando vejo o que ele preparou,
não é muito grande, mas é lindo, há um lacinho vermelho nele, e é tão fofo,
que me dá vontade de apertá-lo.
— Quem é esse? — digo, passando a mão sobre seu pelo dourado e
macio, a língua dele alcança meu queixo e o lambe.
— Ainda não tem um nome, pensei que você poderia escolher —
Grey responde.
— Que tal Marcel? — sugiro imediatamente.
— Eu acho Marcel ótimo — Grey responde, ao sorrir de lado,
mostrando sua covinha.
— Oi, Marcel — cumprimento o filhote de Golden Retriever, que
lambe mais uma vez meu queixo, e eu não consigo não sorrir com seu
carinho espontâneo.
As lágrimas que inundaram minha vista desde que eu abri os olhos,
são finalmente liberadas quando Grey tira um cupcake da outra banqueta,
que eu sequer havia notado antes, e o põe na minha frente. Quando eu
ponho Marcel em meu colo, pela primeira vez em muitos dias, as lágrimas
que descem por meu rosto são de algo quase parecido com felicidade.
— Você lembrou — digo, quando ele acende a vela, e me viro para
encará-lo.
— É claro que eu lembrei — diz, beijando a ponta do meu nariz. —
Feliz aniversário, Allie-run.
Então, é dessa forma que vivemos após uma perda, mesmo que o
luto doa e rasgue nossa pele como uma faca, vai doer, é claro que vai.
Contudo, iremos nos segurar nas coisas boas que foram vividas antes e
iremos nos segurar em cada coisa boa que acontece à nossa volta, e agora,
ao meu redor, eu tenho duas coisas boas acontecendo.
Grey e Marcel.
Você e eu andamos em uma linha frágil
Eu sabia disso esse tempo todo
Mas eu nunca pensei que viveria para vê-la arrebentar
Nunca pensei que veria isso
HAUNTED | TAYLOR SWIFT
Lunático.
Eu tenho andado por aí como um lunático.
Cinco dias desde que Allison decidiu ir embora. Não houve uma
despedida, um recado, uma mensagem de voz, ela apenas sumiu. Pegou
suas coisas e se foi.
As pessoas perguntam se eu estou procurando por ela... tudo que eu
tenho feito é procurar por ela. Não sei quando foi a última vez que consegui
dormir, talvez tenha sido na noite antes de ela desaparecer.
— Por que ela faria isso, Elena? — indago, fitando o túmulo da sua
mãe.
É aqui que ela vinha todas as vezes em que sentiu vontade de fugir
do mundo à sua volta. Faz três dias que eu venho e espero por ela, e nada
me traz a resposta da sua ida. Eu não sei se ela está bem, então como eu
posso saber que ela está viva? A certeza que eu tenho, é que falta algo em
mim.
Um vento forte e frio me abraça.
— Eu tenho me apegado à esperança de que ela vai voltar, sabe?! —
Rio triste. — Faz apenas cinco dias, eu sei, mas aqui dentro — aponto para
minha cabeça —, parece que faz meses desde a última vez em que a vi. Ela
vinha até você procurando por respostas, e agora quem precisa delas, sou
eu. Onde sua filha se meteu, Elena?
Uma lágrima ameaça descer por meu rosto, contudo, eu sou mais
rápido ao erguer a cabeça e respirar fundo, impedindo que ela transborde.
Eu ainda não chorei desde que vi a bagunça e ao mesmo tempo todo
o vazio que ela deixou em seu quarto. Eu não chorei porque eu não me
permiti chorar, porque eu sei que no instante em que isso acontecer, eu vou
estar desistindo da sua volta.
Vai ser como se eu tivesse aceitado que ela se foi.
Contudo, ela não se foi, ela não faria isso comigo ou com ela. Ela
não faria isso com nós dois.
— Ela faria isso conosco? — Fecho os olhos com força, engolindo
em seco.
O vento se torna mais forte, e mais rápido do que ele me atinge, ele
também para.
Eu estava acreditando que nada mais iria nos separar e até que eu
estava certo, afinal, nós dois estávamos lá um pelo outro, mesmo diante da
nossa maior perda, nós nos apoiamos, nos seguramos e nos erguemos.
Contudo, essa fé maluca que eu criei em nós dois me rasga por dentro,
porque ela simplesmente me tinha em suas mãos e me deixou, não me disse
nada, apenas se foi.
Se dissipando, como areia.
— Allison sequer me deu a oportunidade de não deixá-la ir. Eu
teria... — Respiro fundo. — Eu teria implorado. — Minha voz embarga, e
um nó se fecha na minha garganta, quase me proibindo de continuar. — Se
fosse preciso, eu teria ficado de joelhos e implorado para ela não me deixar,
e talvez ela saiba que eu realmente teria feito isso, é por isso que não
permitiu que a visse partir.
Então, a primeira lágrima desce, eu não consigo suportar mais
controlar as que vem em seguida, porque eu estou desistindo de ser forte.
Eu fui forte pelo meu pai, apoiei a sua doença enquanto fingia que
não era nada para mim. Fui forte pelo casamento da minha mãe, com medo
de destroça-lo. Fui forte quando tive que esconder o quanto amava Allie e a
queria comigo, e fui forte também para não gritar ao mundo quando
finalmente ficamos juntos.
Fui forte por várias vezes enquanto estive na sua frente desde o
acidente, porque eu sabia que ela precisava de mim.
Encontrei forças onde não deveria ter, e para quê?
Para ninguém me julgar, ou sentir pena de mim e querer me ajudar?
Apenas desisto de ser forte, ou tentar mostrar ter uma coisa que eu
não, porque isso é difícil para um caralho.
Suportar tudo é sufocante.
Então eu desisto.
Estou no estado estrangeiro
Meus pensamentos, eles sumiram
Minhas palavras estão me deixando
Elas pegaram um avião
Porque eu pensei em você
Só porque pensei em você
WINGS | BIRDY
Um mês antes...
LEIA AQUI!
Elliot precisa controlar seus desejos e seguir seu celibato à risca, enquanto
Sadie precisa se perdoar por todas as mentiras que já contou no passado.
Mas será que eles estão prontos para enfrentar as consequências de viver
um relacionamento falso como nos livros?
Elliot e Sadie nunca cogitaram ter um relacionamento antes, dirá um
romance literário, ainda mais depois de compartilharem um momento
íntimo juntos durante uma festa do time de futebol.
Contudo, quando a mãe controladora e extremamente religiosa de Elliot lhe
apresenta uma garota na intenção de fazê-lo namorar com ela, ele não vê
outra saída que não inventar estar saindo com uma antiga colega de turma.
Sadie por outro lado, guarda incontáveis segredos da sua família, e por isso
já se envolveu em várias mentiras no passado que acabaram prejudicando
não apenas a vida de terceiros, como a sua própria.
Por isso, quando Elliot lhe propõe um acordo de namoro falso, ela não
coloca muita confiança nesse acordo, afinal, ela não estaria ganhando nada
com isso, estaria?!
O fato, é que ambos sabem que todos os contratos de relacionamentos
falsos acabam se
tornando verdadeiros na maioria dos livros.
E com eles não seria diferente, seria?
LEIA AQUI!
[1]
Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade.