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quaisquer meios ― tangível ou intangível ― sem o devido consentimento. A violação dos direitos
autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações são produtos da
imaginação do autor. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Masked Hearts
[Recurso Digital] / Annie Belmont — 1ª Edição; 2023
+1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira 3. New Adult 4. Ficção I. Título
Novamente, sejam bem-vindos a nossa cidade caótica!
Oi, eu sou a Annie e quero que saiba, de antemão, que será um prazer
compartilhar mais uma vez com você um pouco do que Saint Vincent
significa para mim.
Mas, antes de tudo, preciso te contar um segredo. Não é sobre Saint
Vincent, mas é sobre mim: eu sempre me senti insuficiente. Sempre
acreditei que não era capaz de chegar até onde me propunha, porque não me
achava merecedora.
Eu me sentia assim até Masked Hearts. Até que Analu e Levi se
sentaram ao meu lado em um ônibus lotado durante a minha última semana
de estágio e sussurraram em meus ouvidos que nós três somos suficientes.
E, que nunca, em hipótese alguma, pararíamos de dançar.
E era a verdade. Nós não paramos. Nós nunca vamos parar!
Então, com isso, lhe digo que, assim como em Broken Hearts eu mostrei
que perdoar a si mesmo é necessário e, em War of Hearts, que devemos
continuar mesmo quando o mundo nos diga para fazermos ao contrário, em
MH eu quero te mostrar que você é suficiente. Que cada pedacinho de você
é especial. Que mesmo que acreditemos que não sejamos merecedores do
amor, da confiança e das amizades, nós somos. Nós somos donos do nosso
coração. Ninguém mais.
Por isso, este livro é como um recomeço. Um recomeço onde quero te
mostrar que você pode tudo. Que você é tudo. Então sinta. Sinta a dor que
seu coração pedir, chore se for necessário, sorria quando sentir vontade e, se
for preciso, grite.
Liberte o que você sempre guardou dentro de si.
Apenas retire sua máscara e viva. Porque, como Oliver Wright um dia
disse: Você é inigualável. E, ninguém nunca deve ditar o quão merecedor
você é.
Dito isso, preciso lembrar que, assim como nós, todos os personagens
deste livro também cometem erros e são imperfeitos. Eles sofrem, se
arrependem e evoluem. Posso dizer de antemão que a história de Analu
Parker e Levi Johnson também não é uma história feliz, ela é dolorosa e
crua. Te ensina que às vezes estamos machucados demais para perceber o
que nos rodeia. Que, às vezes, a luta contra a nossa própria mente pode ser
árdua.
Então, por favor, leia atentamente a nota de gatilhos disponível na
próxima página. E, se caso você não se sinta confortável com algum dos
assuntos listados, por favor, não prossiga com a leitura. Sua saúde mental
SEMPRE será importante para mim e é lógico, vale mais que qualquer
entretenimento.
E, se caso esse seja o seu primeiro contato com a série Saint Vincent,
preciso frisar que mesmo que Masked Hearts seja um livro independente,
ele é totalmente entrelaçado nos livros anteriores a este, que também
estão disponíveis na Amazon e no Kindle Unlimited. Para uma melhor
experiência, aconselho a lê-los primeiro.
Sem mais, desejo a cada leitor uma ótima leitura e que esse grupo que se
tornou família, a cidade mais caótica do condado e a universidade mais
amada do país, conquiste você mais uma vez!
Existe uma teoria de Friedrich Nietzsche[1] que fala sobre o Amor Fati.
Mais precisamente sobre aceitar o supremo ato do amor-próprio. Aceitar
o que nos foi dado e tirado. O bom e o ruim. A dor e o prazer. Sentimentos
inerentes à vida.
Devemos amar o que nos acontece e o que nos acontecerá. Deste modo,
reconhecemos quem somos e tudo o que aconteceu para que chegássemos
até onde estamos e entendermos que tudo foi necessário. Que precisava
acontecer da forma como aconteceu. Até mesmo as que foram
tremendamente injustas e as que nos fizeram questionar: e se tivesse
acontecido diferente?
Todavia, cada uma dessas dores, cicatrizes e memórias, nos ensinou
alguma coisa. Por essa razão, merecemos o nosso amor. Não porque foram
experiências boas, que tiraram sorrisos e felicidade de nossa alma, mas sim,
porque são parte de quem somos; mesmo não estando felizes com que nos
tornamos.
E é nesse ponto que o amor fati nos ensina que foi por conta desses
acontecimentos, que agora sabemos o que precisamos mudar e que não será
fácil.
Eu concordava com essa teoria. Concordava até alguns dias atrás, pelo
menos.
Pois, o amor fati pode ter me ensinado a aceitar tudo que passei, que
mereço o amor-próprio. Só que dentro desta teoria, não há um tutorial
explicando que quando nosso coração é tirado do nosso peito, rasgado em
pedaços e pisoteado pelas pessoas que deveriam nos amar, o amor-próprio
passa a ser mero detalhe.
Esse sentimento que nos ensinam a ser primordial em nossa vida, acaba
se escondendo atrás das muralhas, envolto a uma placa de metal. Protegido.
Ele deixa de existir quando passamos a ser considerados objetos.
Um meio para um fim.
Uma marionete em um casamento de fachada.
Uma maldita segunda opção para aqueles que deveriam nos amar desde
a concepção.
O amor-próprio é apenas um karma para aqueles que não acreditam
serem merecedores desta emoção.
Por esse motivo – e por não aguentar mais viver lastimando o que
aconteceu em minha vida – que, neste exato momento, estou em uma festa
aleatória de alguma fraternidade dos jogadores da Saint Vincent University,
ignorando meu celular que toca intensamente em minha mão e levando a
garrafa de destilado até meus lábios, sentindo a queimação em minha
garganta ao mesmo passo que caminho pela sala infestada de universitários
bêbados.
Ergo o objeto de vidro novamente, levando-o até minha boca e
engolindo uma boa quantidade em comemoração pela traição que queima
em meu âmago.
Bebo todo o líquido, ao mesmo tempo, que jogo meu corpo para cima,
pulando entre as pessoas e deixando que a melodia da música que está
emergindo nas caixas de som, evoque a excitação do momento ao invés da
tristeza que assola minha alma.
Todavia, não é suficiente. Nada é.
O álcool queima minha garganta, enquanto sinto o estilhaço em meu
peito por ter acreditado que não estava mais sozinha e me decepcionado
outra vez.
Outro gole pela sensação de abandono. Outro pelos olhos frios daquele
que deveria me amar e mais um pela pessoa que dizia ser minha amiga, mas
cravou uma faca em minhas costas.
A cada gole, um novo machucado.
Um novo estilhaço por ser a pária da família.
Um novo motivo para me quebrar.
— Eu acho que você já bebeu demais — uma voz suave, com um toque
de preocupação faz com que abaixe a garrafa e encare minha nova
companhia. — Eu estou falando sério, Parker.
Verônica Blackwell.
A mulher que pode colocar o mundo aos seus pés sem mover o dedo, me
encara com os olhos preocupados, como se importasse para ela o que está
acontecendo comigo, mesmo que uma parte de mim sempre saiba que nossa
amizade é frágil como vidro. Pois, é assim para mim, tudo é momentâneo,
nada é perpétuo.
Eu a perdi no passado pela ambição dos meus pais e pelo nosso
egoísmo. Agora sei que estou prestes a fazer a mesma coisa por não
conseguir deixar de ser uma bomba atômica, prestes a explodir e destruir o
que me rodeia e quem tenta se aproximar.
Quem tenta me salvar.
Alguém tão insignificante como você não merece salvação, querida.
A voz da pessoa que odeio com todo o meu ser, emerge em minha
mente. Me lembrando da verdade. Da minha maldita sina.
Verônica cruza os braços em frente ao corpo, chamando a minha
atenção. O movimento destaca o casaco curto de botões prateado que
combina com a blusa branca com um enorme laço na frente e a saia com
uma pequena fenda. Percebo, então, que não está aqui para a festa.
Ela não veio para comemorar a vitória do time de lacrosse ou vôlei, não
sei ao certo.
Não veio para ficar bêbada e dançar.
Ela veio por mim.
Veio porque não atendi seus telefonemas. Não participo dos almoços no
Oásis, nem das noites de pizza no apartamento. Eu não participo mais do
grupo deles.
Ela veio atrás de mim, trajada como se estivesse saindo de um dos
jantares de seus pais, pois preferi me afastar de todos a ter que conviver
com a mulher que finge ser perfeita, amorosa e no fundo é tão monstruosa
quanto cada um de nós.
Eu me afastei para não ter que olhar para minha meia-irmã.
Para a mulher de olhos doces e sorrisos gentis que se sentou ao meu
lado por meses, sorriu, fingiu ser minha amiga e foi falsa pra caralho.
Eu a odeio tanto!
Tanto que tudo dentro de mim queima apenas com a lembrança de Hazel
Grace Smith.
A namorada perfeita de um dos meus amigos. A melhor amiga de
Verônica e Summer. A filha que meu pai ama.
— Escute Vee, Analu. — Logan, que está atrás de Verônica, me tira dos
meus devaneios. — Isso que está fazendo já não é mais divertido. Está
prejudicando-a.
Arrasto meu olhar pelas suas roupas escuras, para a calça preta que se
ajusta ao corpo musculoso e a camiseta também da mesma tonalidade
escondida pela jaqueta.
— Vocês costumavam ser mais divertidos quando estavam solteiros. —
Rolo meus olhos, levando a bebida outra vez aos lábios e orando para que a
embriaguez chegue logo e tudo não passe de um borrão. — Então, a não ser
que estejam prestes a se juntarem a mim, me deem licença. Não preciso da
lição de moral de duas pessoas que fizeram coisas piores do que estou
fazendo.
Minhas palavras são como ácido. Contudo, para minha surpresa,
Verônica esbanja um sorriso. Não é um daqueles que sempre solta quando
está prestes a aprontar algo ou lançar uma de suas respostas espertas. Não.
É um sorriso frio, desprovido de emoções.
— E depois? — ela reitera. — E depois que o efeito do álcool passar e
todos os seus problemas estiverem te esperando para serem resolvidos, você
vai fazer o que? Se alcoolizar outra vez? Vai procurar outra festa e tentar
aplacar a dor? Ou vai partir para o próximo passo que a levará direto para
uma clínica de reabilitação?
Suas palavras são mais dolorosas que o tapa que uma vez deu em meu
rosto.
É doloroso, porque é a verdade.
E a constatação disso, faz o álcool descer como veneno, queimando
minha garganta de uma forma irremediável.
— Talvez — minto.
O sorriso de Blackwell se alarga.
— Neste caso, sinto muito em te dizer que a dor ainda vai ser a sua
companhia por muito tempo — ela comenta, ao mesmo tempo que percebo
um vislumbre de memórias em suas pupilas castanhas. — Ela vai te
assombrar, Analu. Será o seu pior pesadelo. E, isso não vai melhorar
enquanto não parar de agir como uma adolescente mimada e lutar para se
livrar delas.
— Às vezes, lutar não é o bastante, Verônica. — Dou de ombros. — E,
você deveria saber, já que quando tudo desabou para você, a sua saída foi
fugir dos seus problemas por quatro anos.
Crueldade. É isso que estou jogando em seu colo. É isso que preciso.
Estou fazendo a mesma coisa que fiz quando ela voltou para Saint Vincent.
Quando a provoquei ao ponto que me desse uma surra, pois, naquela época,
quando seus olhos eram tão vazios quantos os meus, eu soube que ela
poderia ser aquilo que eu precisava. Soube que ela seria a única a me dar o
que eu merecia.
Dor.
Dor crua e verdadeira. Dor que se infiltra em nosso âmago e faz morada.
Era isso que eu necessitava para sentir algo, tanto quanto Verônica
precisava da adrenalina para se sentir viva. Eu ansiei pela dor, porque na
minha alma destroçada, acreditei que era melhor sentir algo, do que não
sentir nada.
Agora, eu preciso dela de volta. Preciso esquecer a bagunça que está
minha mente e coração. Preciso apenas focar em algo que não seja a traição.
— Eu não me importo se a sua arma é me atacar com o passado, Analu
— sua voz é baixa, perigosa. — Não me importo que jogue em minha cara
meus erros, contanto que saiba que está nas suas mãos escolher se quer ficar
aqui, se embriagar e fingir que não tem responsabilidades como está
fazendo há quase dois meses, ou… — Vee inclina a cabeça para o lado —
Pode arrastar sua bunda até sua casa e descansar para amanhã voltar a ser a
minha amiga e a melhor aluna do curso de Direito antes que perca a vaga de
estágio que tanto lutou para ter.
Logan ergue o rosto assim que Vee termina de falar. Sei que ele está
chateado pela forma como falei com a sua namorada, mas sei que ele não se
intrometerá e tentará protegê-la. Verônica sabe lutar suas próprias batalhas e
eu a admiro por isso.
— Levi nos disse que o resultado sai essa semana. — Uma pequena
careta se forma no rosto do capitão ao mesmo passo que joga a novidade
em minha direção. — E ele está convicto que irá vencer.
Passo a língua pelos meus lábios, franzindo o cenho.
Levi fodido Johnson.
O capitão mais amado do campus, que conquista todos os professores e
alunos. O homem que é tão falso quanto eu. O homem de sorriso lindo e
máscaras inquebráveis.
Uma maldita pedra no meu sapato.
— O caralho que ele vai! — exclamo, ofendida.
— É mesmo? — Verônica ergue uma sobrancelha. — Porque não sei se
os McLaughlin vão aceitar uma estagiária que prefere uma festa a um
currículo acadêmico de excelência.
Levo a garrafa até meus lábios uma última vez, ingerindo uma
quantidade exagerada e a abandono na primeira mesa que avisto.
Assim que volto meu olhar para os dois, eles ainda estão me
observando. Os olhos castanhos de Verônica brilham enquanto um sorriso
nasce em seus lábios. Logan, por outro lado, apenas mantém uma expressão
presunçosa em seu rosto. Eles sabem que venceram, sabem que eu não
aceito perder para Levi Johnson.
Maldito casal perfeito!
De relance, vejo Mike Burhan nos encarar com um olhar vítreo, pronto
para vir ao nosso encontro e despejar ofensas veladas em nossa direção.
Contudo, ele apenas se limita a levar o copo avermelhado até seus lábios,
me lança uma piscadela e segue direção contrária à nossa.
— Certo, vocês venceram. — Lanço-lhes um sorriso cúmplice. — Mas,
vou precisar de uma ajudinha para chegar em casa.
Verônica sorri novamente para mim. Desta vez é caloroso e familiar.
Por trás disso, vejo o alívio. A vontade imensurável de dizer a ela que
mesmo que esteja concordando com isso, com a decisão de deixar de me
negligenciar, eu não estou voltando para o ciclo deles, me corrói por dentro.
Porém, como direi que a minha decisão de não voltar a participar da família
deles ainda continua intacta?
Não há nada no mundo que me faça ficar perto de alguém como Hazel.
Não depois que ela foi uma mentirosa de merda e me destruiu enquanto
sorria para mim como se pudéssemos ser amigas.
Estou jogando fora tudo o que construí nesses últimos meses porque,
pela primeira vez que me permiti sentir, permiti que pessoas conhecessem o
que habita a minha alma, que tivessem o poder de me decepcionar, eu saí
destroçada. Machucada de uma forma irreparável.
Permiti ser fraca. Patética.
Agora, percebo que o amor fati é apenas uma teoria que para ser
colocada em prática, é necessário mais do que a vontade de querer se
reconciliar ao amor-próprio. É necessário, sangrar, entender nossas dores.
Por isso, sei que está na hora de voltar a ser quem eu sou. Voltar ao
início. A uma nova partida. Uma nova máscara.
— É isso que os amigos fazem, Parker — Vee murmura. Sua voz é
apenas um fio de esperança. — Eles se ajudam. Se protegem.
Pisco, inclinando minha cabeça para o lado.
Eles se ajudam.
Mas onde estava a minha ajuda quando me quebrei dia após dia? Onde
estavam quando a pessoa que deveria me proteger me machucava? Onde
estavam quando eu mais chorei do que sorri em meus vinte e dois anos?
Apenas... onde?
Não há respostas para essa pergunta. Mas, se há algo que compreendi
desde a minha infância, é que deixar que o mundo conheça a nossa real
face, o que guardamos em nosso âmago, é dar a ele armas para utilizarem
contra nós.
É dar o veredito da nossa própria morte.
Por esse motivo, a solidão nunca me pareceu tão encantadora como
agora.
— Eu não saberia dizer. — Engulo em seco, dando de ombros. —
Afinal, eu nunca tive amigos que me protegessem.
Querido, eu me levantei dos mortos
Eu faço isso o tempo todo
Eu tenho uma lista de nomes
E o seu está em vermelho, sublinhado
Look What You Made Me Do | Taylor Swift
Um barulho faz com que todos nós olhemos para o lado. Para uma
mesa onde quatro garotas agora sobem e dançam.
Eu olho para Verônica e Summer que encaram o mesmo lugar que
eu. Que são atingidas por memórias. Memórias que doem, sangram e
machucam um ponto que jamais assumirei. As garotas dançam
sincronizadamente e sorriem umas para as outras.
Como nós sorríamos. Como nós dançávamos e segurávamos umas
às outras.
A mesa. A nossa mesa. A nossa tradição.
É a primeira vez que não há nenhuma de nós quatro lá. Que não há
Vee gritando para pegarem uma garrafa de tequila ou Summer reclamando
que não é uma boa pessoa quando está bêbada. Não há Dylan tentando tirar
Hazel de cima da mesa antes que ela se machuque.
Não há nada.
Há apenas lembranças e uma tradição quebrada.
Sorrio frio, voltando meu rosto para Hazel e inclino minha cabeça,
dando um último gole em minha bebida.
— Aproveite a sua festa, irmãzinha. — Umedeço meus lábios. —
Afinal, você e sua família sabem bem como tirar proveito de pessoas com
influências.
Levanto o copo outra vez em agradecimento pelo seu sofrimento, me
solto de Liam e me viro, rumo à saída. Rumo a algum lugar onde não me
sinta prestes a destruir algo ou alguém, como sempre faço.
Estou indo rumo à escuridão, pois ela é um lugar mais convidativo
do que essa festa cheia de autopiedade.
Assim que o vento frio atinge meu rosto, me permito respirar fundo.
Algumas pessoas me encaram com receio, com medo de que eu diga algo
que as fará correr de mim, todavia, elas são tão irrelevantes em minha vida
que nem mesmo o poder que tenho sobre todos eles desde que comecei a
estudar na SVU, me faz sentir algo.
Eu estou vazia.
— Indo embora tão cedo, querida?
A voz causa arrepios em meu corpo. Arrepios que não aprecio, pois
são sensações que me lembram o quanto fiquei à sua mercê por toda a
minha adolescência. Em como me manipulou, usou e depois me substituiu
como se eu fosse apenas um dos carros caros na garagem de seus pais.
Ele me fez sentir amada, então, me traiu com todo o colégio.
Ele me fez sentir como se fosse louca quando o manipulador da
história era ele.
Mike Burhan. Meu ex-namorado. O verdadeiro motivo pelo qual
deixei de acreditar que merecia o amor.
— Prefiro ambientes onde não serei obrigada a ver o seu rosto
medíocre. — Minha boca se curva num sorriso desprovido de emoções. —
Veio lamber os pés dos Blackwell’s ou tentar ser humilhado por Logan
outra vez?
Ele solta uma gargalhada.
— O seu senso de humor ainda continua intacto — debocha, dando
um passo à frente. Ergo meu queixo, mantendo a expressão desinteressada.
— Você já foi expulsa do grupo de ouro? Eles já perceberam o quão inútil
você é?
Ele sorri. É maldade pura. É um sorriso manipulador.
Dou um passo à frente, quase colidindo nossos corpos e sorrio sem
mostrar os dentes.
— Ninguém me expulsa de nada, Burhan. Eu tenho autoridade
suficiente para sair e entrar de qualquer lugar, quando bem entender. —
Pego seu copo e finjo levar até meus lábios, o cheiro de bebida barata faz
meu estômago revirar. — Mas, me diga, como é ser obcecado por alguém
que te acha um fracassado? E que é completamente apaixonada pelo seu
rival que, diga-se de passagem, é alguém que você nunca será? — Dou um
passo para trás, jogando a bebida em sua roupa cara. — Aprenda que
mesmo que tenha dinheiro como nós, o seu lugar nunca será o topo, Mike,
mas sim, o fundo do poço, onde ninguém se importa com você.
Um músculo na sua mandíbula contrai-se e seus olhos se tornam
frios.
— Sua...
— Eu tomaria cuidado com as suas próximas palavras... — Passo
minha língua pelos meus lábios. — Meu pai odiaria saber que o filho do seu
novo parceiro de negócios ofendeu a sua filhinha.
— Você nem gosta do seu pai — zomba.
— Isso não significa que eu não use a influência dele à minha
vontade.
Mike me fuzila com os olhos, prestes a perder o controle.
— Você não ousaria ser tão filha da puta.
Abro a boca para responder, mas a voz rouca, grossa e autoritária
ressoa primeiro atrás de mim.
— Ela ousaria — há um estranho tom de orgulho em sua voz. — E,
acredite em mim, todos nós amaríamos vê-la te humilhar.
Olho por cima do ombro, em direção a Levi que está parado e
escorado na porta com uma sobrancelha erguida, os braços cruzados e uma
expressão perigosa.
Seus olhos não estão em mim, mas sim em Mike. Em como ele está
próximo e poderia facilmente me atingir se quisesse, contudo, pelo olhar
que Levi dá a ele, Burhan não seria capaz de mover um dedo sequer.
— Eu achei que vocês se odiassem — debocha. — Acho que estava
enganado.
Johnson gargalha. O som não contém nenhuma emoção.
Deus, esse idiota é tão gostoso.
— Nós nos odiamos — afirma. Algo dentro de mim sente suas
palavras. — Mas o nosso desdém por você supera qualquer ódio. — Ele se
desencosta da porta e para atrás de mim, colocando sua mão em minha
lombar. — Então, Mike, sugiro que se vire e saia da casa dos meus amigos
antes que eu te mostre a saída de uma forma não tão educada.
Suprimo a vontade de rir e apenas observo-o encarar Levi como se
estivesse maluco, todavia, ele sabe que Johnson não se importará de colocá-
lo para fora da festa e que Logan o ajudará de bom grado. Com isso, meu ex
solta alguns xingamentos, se vira e desce as escadas, indo em direção ao seu
carro e nos deixando sozinhos na varanda, ouvindo apenas o barulho da
música e o falatório dos convidados.
— Eu não preciso de ajuda — digo, me afastando dele.
Ele sorri brevemente.
— Eu sei.
— Então, não tente me salvar da próxima vez — aviso.
Seus olhos se fixam nos meus a cada passo que dá. É quente,
sombrio e até mesmo o barulho incessante da festa parece diminuir. As
batidas do meu coração, de repente, perdem o compasso e posso jurar que
estou prestes a ter um ataque cardíaco, porque seria a única explicação para
o meu corpo reagir dessa maneira.
— Não haverá uma próxima vez.
Ergo uma sobrancelha.
— Você não sabe disso.
Levi sorri e meus olhos se voltam para aquela maldita covinha.
— Eu sei — há convicção em suas palavras. — Porque se Mike se
aproximar de você ou de alguém do nosso grupo, não vou avisá-lo outra
vez, eu vou mostrá-lo o que acontece quando se ameaça alguém importante
para mim e meus amigos.
Algo dentro do meu corpo rompe, é como se eu sentisse a primeira
máscara sendo estilhaçada, como se Levi tivesse entrado em meu cerne e
tivesse pegado minhas mentiras, minhas proteções e transformado em
cinzas.
Ele tem poder sobre mim.
Ele sabe disso.
Eu sei disso.
Mas há algo oculto em suas palavras. Ele não se importa comigo, ele
me odeia, eu sou sua rival. Estamos prestes a fazer um de nós sermos
demitidos no final do semestre, então, não tem como ele se importar. É isso,
ele apenas disse toda essa ladainha sobre proteção e importância porque
Summer e Verônica se importam comigo.
Elas sim. Ninguém mais.
— Boa noite, Levi — digo por fim.
— Boa noite, princesa. — Ele dá um passo para trás. — Tente não se
atrasar para o trabalho na segunda-feira.
Você é insegura, não sei por quê
As pessoas olham quando você passa pela porta
Não precisa de maquiagem para se esconder
Sendo da maneira que você é, é suficiente
What Makes You Beautiful | One Direction
PASSADO
Ninguém conta aos filhos quando um casamento está à beira da
ruína.
Alguns podem acreditar que estão fazendo isso para protegê-los de
futuros traumas, perguntas indesejadas e até mesmo dos olhares hostis da
sociedade. Mas, na verdade, isso tudo é uma invenção idiota para ocultarem
a verdadeira razão pela qual ninguém nunca fala sobre o declínio de um
matrimônio. Verdade essa que se baseia em apenas duas palavras: vergonha
e covardia.
Vergonha por não ter sido capaz de cuidar da própria família e a
deixar colapsar, e covardia por não assumir a si mesmo que é uma pessoa de
merda.
Duas razões. Duas palavras.
Duas definições para o casamento dos meus pais.
Amarro meu cabelo loiro em um rabo e ajeito o uniforme do clube
do meu pai em meu corpo, antes de me olhar no espelho uma última vez e ir
em direção a escada. O motorista já deve estar me esperando para me levar
até minha competição e, se há algo que odeio, é chegar atrasada em algum
lugar.
Verônica, minha melhor amiga, sempre me diz que preciso relaxar,
mas ela não sabe o quão importante isso é para os meus pais. Não sabe que
quando não cumpro com as regras, mamãe me priva das minhas comidas
favoritas, dos meus livros e me obrigada a participar dos seus chás da tarde
com suas amigas falsas.
Ela também não sabe que se eu não mostrar que sou a filha perfeita,
a herdeira que não comete erros e está sempre preparada para representar
nossa família, eles não irão me amar ou me olhar com orgulho. Eu nem
mesmo sei mais o que fazer para que papai me olhe com amor como antes,
antes... daquele Natal.
Balanço minha cabeça, expulsando essa memória e coloco um
sorriso no rosto.
Eu posso fazer isso. Não é a minha primeira competição.
Eu sou a melhor.
Assim que paro na sala de estar, Abbi, a assistente de mamãe, me
entrega minha bolsa e a raquete com um sorriso tenso no rosto e um pedido
de desculpas velado em seu sorriso.
— Mamãe... ela… — começo sem saber como continuar.
Abbi solta um pequeno suspiro.
Ela não está vindo.
Mais uma vez, minha mãe não vai me ver competir.
Ela nunca vai.
Não deveria me surpreender. Ela nunca se importou com o que eu
faço desde que traga o maldito troféu para casa e suas amigas a invejem
pela filha dela ser a melhor em tudo que faz. Mas, hoje eu gostaria que
estivesse lá por mim. Gostaria que sorrisse quando vencesse outra vez,
levando prestígio para nosso clube.
Eu só queria que ela se orgulhasse de mim, como se orgulha das
nossas contas bancárias.
— Ela foi convidada para um almoço com uma das suas amigas —
diz e posso até mesmo sentir um som diferente em seu tom de voz. — Sinto
muito, Analu.
Pena. É isso que irradia de seus olhos. É isso que odeio que as
pessoas sintam. Eu não quero que me olhem dessa forma ou que achem que
porque meus próprios pais me negligenciam, eu preciso desse sentimento
compadecedor.
— Não sinta. — Ergo meu queixo, imitando a expressão blasé de
papai. — Meus pais não te pagam para isso.
Seus olhos se arregalam. Por um milésimo de segundo, penso em
pedir desculpas. Mas, se fizer isso, ela poderá contar a minha mãe, e Amara
não me repreenderá por ter insultado sua funcionária, mas sim, porque eu
tive a audácia de pedir desculpas para alguém que em sua perspectiva está
abaixo de nós.
Para Amara, ninguém está acima ou é melhor do que os Parker. Ela
pega o que lhe convém, insulta aqueles que estão abaixo de sua posição
social e sorri quando despede funcionários que não a agradam.
Ela não é uma boa pessoa e mesmo assim eu ainda desejo que me
ame. Mesmo que eu saiba que por baixo do seu sorriso perfeito, dos seus
olhos idênticos aos meus e da sua simpatia, existe alguém pútrido, sem
coração e manipulador.
— Diga a minha mãe que trarei o troféu para casa — minha voz é
tão monótona que me surpreendo.
Não há lágrimas, nem angústia. É apenas aceitação.
É a minha primeira máscara nascendo.
Uma máscara que apelido de proteção. Proteção para todas as vezes
que alguém como Abbi ou todos os outros funcionários dessa casa, me
olham com olhos cheios de compadecimento e tristeza.
Eu me protejo mesmo que não seja de uma forma que me fará ser
melhor que meus pais, mas que, na verdade, me igualará.
Estou me tornando o reflexo deles. Uma cópia mal-feita que nem
mesmo eu me orgulho. Contudo, a necessidade de me proteger é maior do
que a de ser amada. Essa necessidade junto a complexidade da dor do
abandono, daqueles que deveriam me proteger, me faz entender que sempre
estarei sozinha. Sempre serei independente. Ninguém nunca vai estar lá
para mim ou estender a mão e me perguntar o porquê de o choro ser mais
frequente do que o sorriso em minha vida.
Ninguém nunca olhou uma segunda vez em minha direção. E
sempre será assim.
É isso. É a minha aceitação de que fui obrigada a aprender a ser
assim. Agora, percebo que se um dia eu vier a precisar pedir por ajuda, é
quando saberei que estou ruim. Que cheguei a um ponto onde nem mesmo
o tênis e os livros podem me salvar.
E mesmo quando chegar esse momento, eu sei que hesitarei, porque
nessas de pedir por auxílio, já permiti que me decepcionassem um milhão
de vezes, e no fim, acabei percebendo sempre a mesma coisa: que a única
pessoa que eu posso confiar, sou eu mesma.
Eu sou a minha própria fã.
Eu sou meu exemplo. Ninguém mais.
Essa constatação dói e ao mesmo tempo alivia.
Dói por saber que definitivamente sou alguém não amável. Alguém
substituível.
Alguém que precisa sempre provar seu valor, para ter um resquício
de orgulho de outra pessoa.
Eu perdi.
Pela primeira vez na minha vida, eu perdi um jogo de tênis.
Não sei em que momento perdi a concentração. Mas, sei que ver as
pessoas torcendo pelo meu adversário, ver seus pais na arquibancada
sorrindo para ele como se fosse o maior orgulho da vida deles, desencadeou
memórias que eu não sabia que estavam guardadas.
Eu pensei na forma como meu pai me segurou em meu aniversário
de cinco anos, para que eu pudesse assombrar as velas. Em como mamãe
sorriu para mim na minha primeira aula de tênis e em como ela me ensinou
a andar elegantemente em seus saltos.
Pensei em uma época em que éramos felizes, mesmo com defeitos.
Éramos uma família mesmo que sempre soubesse que o amor entre eles
faltava. Pensei em tantas coisas e então, me lembrei que não somos mais
assim. Não há minha mãe sendo alguém que desejo por perto. Meu pai é
apenas um fantasma dentro da nossa casa.
Eu pensei neles e então, perdi. Perdi a única coisa que amo.
Solto um suspiro, apoiando minha cabeça na parede gelada do
corredor do meu quarto e fecho meus olhos, absorvendo por um instante a
paz que ainda se encontra a nossa casa, antes que meu treinador ligue e os
comunique da minha derrota.
Serão semanas onde mamãe me obrigará a treinar o dobro, comer
menos e gritar todas as ofensas. Serão semanas de purgatório.
Dou um passo para trás, finalmente indo em direção ao único lugar
que me sinto segura e assim que abro a porta, ela está lá. Sentada na cadeira
em frente a minha escrivaninha, olhando para mim pelo espelho e retocando
seu batom nude com graciosidade.
Medo percorre minhas veias.
Suor frio se aloja em minhas mãos.
Tento evocar a minha máscara de proteção, mas nem isso funciona.
Amara me assusta o suficiente para que apenas o terror se aposse de
mim.
Pela minha visão periférica, posso observar alguns dos meus livros
favoritos em cima da minha cama e algumas bolsas espalhadas ao lado
deles. Isso não é normal, eu odeio bagunça. Tudo dentro desse ambiente é
organizado.
Ela está aprontando algo.
Eu sei. Eu sinto.
— Olá, querida — sua voz é calma, paciente.
Engulo em seco.
— Olá, mamãe.
Em um mundo paralelo, ela se levantaria, me puxaria para um
abraço e me diria que está tudo bem. Então, me levaria para a biblioteca no
andar debaixo, puxaria um cobertor, pegaria meu livro favorito e leria para
mim, me fazendo esquecer desse dia terrível. E, se mesmo assim, não fosse
suficiente, ela tentaria me proteger como Sirius Black protegeu Harry
Potter, após a sua fuga da prisão ou até mesmo, como Hagrid protegia
aqueles que amava, mesmo que isso significasse problemas.
Apesar de tudo isso, ela seria apenas a mãe de uma adolescente de
treze anos que teve a sua primeira derrota.
Mas, esse não é um mundo paralelo ou Hogwarts.
Isso é a vida real e nela, Amara nunca seria amável.
— Eu achei que você havia dito a Abbi que traria o troféu para casa
— ela termina de retocar o batom e se vira para mim. — Ela ouviu errado?
Dou um passo à frente, deixando minha bolsa no chão.
— Mãe, eu posso explicar.
— Eu não estou vendo um troféu, Analu — ela me interrompe. —
Então, como você pode se explicar?
Pânico sobe pela minha garganta.
Uma vontade de fugir, de me proteger, ecoa em meu peito.
Eu posso explicar, posso prometer ser melhor. Eu posso arrumar
essa bagunça.
Eu posso.
Só não me olhe como se eu fosse uma decepção.
— Eu me desconcentrei — grito, apavorada com o seu olhar. — Eu
apenas não consegui, mãe. Perder é normal, eu posso conseguir da próxima
vez.
Sua risada histérica me atinge com força, apavorando-me ainda
mais.
— Nós somos Parker’s, Analu. Nós não perdemos — debocha, se
levantando e indo em direção a minha cama. Seus passos são graciosos, seu
vestido marfim acentua suas curvas. — Você não cansa de me decepcionar,
querida? Não cansa de sempre ser tão patética e inútil?
Uma lágrima desce pela minha bochecha.
Eu sou isso o que ela diz. Eu sou insuficiente.
— Mãe...
A frase morre em meus lábios quando ela passa a mão pelas minhas
coisas favoritas. Pelos meus presentes, meus livros, minha vida.
— Eu pago milhares de dólares todos os meses para você treinar
esse esporte inútil, apenas porque é o favorito do seu pai. — Sorri
friamente. — Eu compro os melhores equipamentos e lhe dou os melhores
treinadores, Analu. E mesmo assim, você não consegue ser boa. Você ainda
continua sendo uma imprestável. Uma garota que liga apenas para esses
livros idiotas e essa vida patética de herdeira mimada. — Ela levanta a
minha bolsa preferida. Um presente que foi de Verônica. E antes que eu
possa fazer algo, Amara levanta a outra mão que contém uma tesoura e
corta todo o tecido dela. As alças, o tecido… tudo. — Eu te pedi apenas
uma coisa, Analu... Apenas um troféu e você foi incapaz de me dar isso.
Ela pega outra bolsa, faz o mesmo que a anterior e passa para a
outra.
— Mãe... por favor — suplico, lágrimas molham minhas bochechas.
— Você precisa aprender, querida — um sorriso brilhante nasce em
seus lábios. — Se não há perfeição, não há direito a ter suas coisas
favoritas.
Outras lágrimas descem pelo meu rosto.
Ela pode não ter me agredido, mas vê-la destruindo tudo o que amo
e como suas palavras machucam cada parte de mim, me atinge como um
tapa na cara, uma surra que não foi dada por meio de agressão, mas me
destruiu da mesma maneira, me mostrando o quão fraca e inútil sou.
— Apenas. Uma. Coisa. Querida.
Contudo, apenas quando ela pega o meu exemplar de Harry Potter, o
único que me salvou nos dias que as brigas dela e de papai eram
insuportáveis, que corro em sua direção, tentando salvá-lo. Tentando apenas
proteger uma parte que amo, um último presente que a vovó me deu antes
de vir a falecer.
— Não, não e não, querida — diz, sua voz divertida. — Seja uma
boa filha e volte para onde estava enquanto te puno por ter sido, mais uma
vez, uma decepção para a nossa família.
Doí.
Suas palavras doem mais do que suas ações.
Entretanto, não faço o que pede, pelo contrário, eu vou para cima
dela.
Eu pulo em seus braços, puxando o livro. Todavia, ela levanta a
tesoura e me atinge de raspão em meu estômago. Uma queimação me atinge
e sou obrigada a dar um passo para trás, olhando para baixo, para o meu
uniforme branco que agora está manchado de escarlate. Do meu próprio
sangue.
Mesmo que a adrenalina não me permita sentir uma dor intensa, eu
levanto o tecido, que antes estava imaculado, e me deparo com um corte
não tão profundo, mas o suficiente para que uma cicatriz seja eternizada em
minha pele.
Uma lembrança eterna do quão descontrolada é a mulher que
deveria me amar.
Um lembrete para nunca confiar nem mesmo naqueles que dividem
a casa comigo.
Amara não se importa se acaba de machucar a sua filha, ela apenas
levanta a tesoura que contêm respingos do meu sangue e corta as páginas do
meu livro.
Ela me tira algo que amo.
Rasga páginas que são como minha casa.
Me destrói mesmo que não esteja me tocando.
Ela assina a sentença do meu ódio.
Amara Parker me mostra a sua pior versão e eu prometo que um dia,
mesmo que demore, eu a destruirei como está fazendo nesse momento.
— Não me encare assim, querida — ela joga meus livros rasgados
no chão e caminha até mim. — Eu vou te livrar de ser tão inútil. Vou
conseguir dar ao seu pai um herdeiro digno e menos inútil.
— Como você vai fazer isso?
Ela sorri orgulhosa. É doentio, manipulador e me causa ânsia.
Mas é a sua resposta que me assusta, dói e termina de arrancar o
resto do meu coração.
— Eu estou grávida, Analu. Estou finalmente dando um herdeiro
digno ao seu pai, meu amor — comunica com tanta felicidade que um medo
percorre meu corpo. — Ele vai ser o nosso garoto de ouro. Nossa primeira
opção em tudo e você pode continuar sendo inútil nas penumbras da casa.
Ninguém poderia se apaixonar por você como eu
Ninguém poderia me prender tão perfeitamente
Você nem percebe
Você é tudo que eu preciso
Porque eu quero você e eu, você e eu
You & Me | James TW
Não é necessário muito para entender que Vee está falando de Hazel
e Analu.
itslevijohnson: como você sabe que ela foi realmente encontrar Haz,
Vee?
Merda.
Merda.
Merda.
Preocupação ronda minha mente. Eu não sei o que se sucedeu para
que a noite terminasse dessa forma, mas uma parte de mim me diz que sou
culpado pelas palavras que joguei em seu colo enquanto dançávamos.
— Eu acho que preciso daquela cerveja — digo, jogando meu
celular em meu colo. — Talvez até mais que uma.
Logan ergue uma sobrancelha.
— Por quê?
— Porque, pela primeira vez, quero ignorar o pedido de um dos
meus amigos. — Um suspiro sai dos meus lábios.
Underwood e Josh, por um momento, me olham como se não
entendessem minhas palavras. Mas, para ser sincero, nem mesmo eu
poderia explicar porque essa vontade crescente dentro do meu peito é algo
novo, algo que vem me tomando lentamente e tenho medo do que se
tornará.
Eu apenas quero ir até ela.
Quero protegê-la e me desculpar.
— Certo. Você precisa ficar bêbado — Josh murmura. — Então
acho que precisamos de um encontro com o clube dos homens.
Talvez seja exatamente isso que eu precise.
Uma noite de álcool.
Um pensamento que não seja Analu Parker.
Algo que me distraia da atenção insuportável que nos ronda.
Eu só preciso de uma noite, um motivo e uma garrafa para esquecer
o quanto a desejo.
Há sangue.
Um grito desolado.
Um choro contido.
Uma cama de hospital.
E uma perda de ambos os lados.
Meus olhos se abrem de repente. Suor escorre pela minha testa e
minha garganta está seca pelo pesadelo que me consome. Há meses ele não
voltava desta forma. Meses que a lembrança daquele dia não me atingia
desta maneira e me obrigava a reviver o pior dia de toda a minha existência.
Olho para o lado, para onde as cortinas da porta da sacada estão
abertas e o sol fraco da manhã invade meu quarto. Sei que não há
possibilidades de dormir outra vez, não quando também sei que o pesadelo
voltará.
Suspiro fundo, me sentando e passando a mão pelo meu rosto a fim
de expulsar o resto da névoa sonolenta que me rodeia e me levanto, indo até
meu closet, vestindo uma roupa de corrida e descendo a passos rápidos até a
saída da casa, a fim de não encontrar ninguém.
Correr não é meu esporte favorito, mas ele consome tempo
suficiente para que, quando eu volte, não haja ninguém e não precise
interagir com as pessoas que evito a todo custo. E também consome todos
os meus pensamentos, até mesmo aqueles importunos de ontem à noite
onde Levi conseguiu, mais uma vez, retirar uma outra parte de mim.
Assim que paro na calçada, pronta para me alongar, a silhueta de
uma loira conhecida virando a esquina quase me faz sorrir. Não é novidade
que Summer ama corridas matinais, porém quando percebo que não está
sozinha e sua companhia é um tanto quanto insuportável e está na minha
mente desde o minuto que saí de seu carro ontem à noite, tenho vontade de
me virar e esperar que eles passem. Todavia, meus planos vão por água
abaixo quando ela me vê e solta um sorriso genuíno.
— Você não deveria estar gastando o dinheiro do seu pai? — zomba,
fazendo a mesma pergunta de meses atrás.
Umedeço meus lábios, segurando um sorriso.
— E você não deveria estar sozinha? — Olho de esgueira para Levi
que me observa com curiosidade. — Você já teve companhias melhores,
Sum.
Ele cruza os braços e me lança um sorriso.
— Bom dia, princesa — Levi cumprimenta, ignorando minhas
palavras. — Alguém já te disse que o seu humor pela manhã é péssimo?
Me viro totalmente em sua direção.
— Não. — Ergo uma sobrancelha. — Quer ser o primeiro?
Levi leva a mão até seu queixo, passando um dedo de leve pela
mandíbula marcada e umedecendo os lábios. Percebo, mesmo que de
relance, que seus olhos brilham pelo tom de desafio em minhas palavras.
— Você deveria praticar yoga ao invés de tênis — sugere, divertido.
— Dizem que acalma e alivia o estresse.
— Talvez eu comece a praticar tiro ao alvo.
— E o que seria seu alvo? — Ele pergunta, divertido.
— Você — grunho, irritada.
O sorriso em seu rosto aumenta.
— Posso fornecer a foto para que possa praticar.
— Prefiro que seja em carne e osso — zombo.
— Hum. Então você gosta de jogos selvagens? — O tom sugestivo
em suas palavras me faz dar um passo à frente.
Summer solta uma risada, obrigando-nos a olhar em sua direção.
— Jesus, vocês lembram a mim e Oliver no começo do nosso
namoro — brinca, se alongando.
Franzo o cenho e Levi ergue uma sobrancelha descrente de suas
palavras. Encaro-o de cima a baixo, sem mover um músculo do meu rosto
para alterar minha expressão.
— Eu prefiro abdicar das minhas bolsas do quer ter que fingir ser
apaixonada por esse babaca. — Sorrio friamente.
Ele solta uma gargalhada fria.
— E eu, claramente, não seria tão idiota de gastar meu dinheiro
comprando coisas para você, Parker — diz, inclinado o corpo um pouco na
minha direção. — Aliás...
Summer, de repente, solta um arranhar de garganta interrompendo-o
e nos obrigando, mais uma vez, a nos afastar. Ela olha entre nós com um
sorriso zombeteiro, me indicando que não conseguirei fugir de seu
interrogatório mais tarde e se vira, olhando-nos por cima do ombro.
— Oliver está nos esperando — comunica, seus olhos brilham a
menção a Ollie. — Então é melhor brigarem mais tarde ou vou deixá-los
aqui.
Summer não dá tempo de respondermos, porque no momento
seguinte, ela dá de ombros, se vira e sai correndo em direção à casa de
Oliver.
Assim que eu e Levi começamos a segui-la, é como se o mundo
desaparecesse e todo o caos estivesse estagnado por um momento. A
sensação de vento frio batendo contra minha pele e de como os sons ao
redor se tornam uma mera melodia, me faz relaxar.
Minha atenção se volta para a forma como Levi e eu corremos lado a
lado e em sincronia. Nunca falamos ou provocamos um ao outro. Nós
apenas traçamos um caminho onde nos sentimos mais leves, confortáveis e
diferentes.
Balanço a cabeça, percebendo que estamos nos aproximando da
propriedade de Oliver e assim que paramos em frente ao enorme portão da
residência, Ollie segura a cintura de Summer, a puxa para si, deixando um
beijo casto em sua cabeça e olha para nós com um sorriso singelo em seu
rosto.
— Levi — Oliver cumprimenta e imagino que soubesse que ele se
juntaria a eles nessa corrida. — Analu?
— Ollie — devolvo, dando a ele um pequeno aceno. — Eu achava
que você odiava corridas.
Ele leva a mão à nuca, coçando-a e sorri de leve em minha direção.
— Eu estou começando a amá-las — mente. Todos nós sabemos que
ele faz isso porque é uma das coisas favoritas de Summer. — É bom ter
você se juntando a nós.
Entendo o significado de suas palavras. Sei a complexidade delas e o
que significa voltar a correr com Summer ou participar das corridas de
Verônica. Ele sabe que estou, mesmo que a passos lentos, permitindo que
eles se aproximem de mim. Estou começando a aceitar que eles estão aqui
se eu precisar e não contra mim.
Depois de alguns minutos, percebo que tomamos um ritmo
sincronizado onde Summer e Oliver correm um pouco na frente, perdidos
em seu próprio mundo e Levi e eu ficamos para trás, em silêncio. Apenas
aproveitando a corrida e fingindo que não existimos um para o outro,
mesmo que isso seja impossível.
Assim que viramos uma esquina, perto do caminho que leva ao lago,
percebo que o casal sumiu. E nem me surpreendo se eles pegaram outro
caminho que leva até o píer que é o lugar deles.
Levi me olha de esgueira quando percebe que estou procurando por
nossos amigos e solta uma pequena risada.
— Eles sempre fazem isso.
— O quê? — Ergo uma sobrancelha.
— Fogem até o píer. — Ele leva a mão até a testa, tirando o excesso
de suor. — Estou acostumado a terminar as nossas corridas sozinho.
Percebo que a expressão em rosto é acompanhada de um olhar que
apenas nós, que amamos um esporte que espanta nossos demônios,
entendemos.
Ele até mesmo acha que não percebo a forma como lançou olhares
em minha direção antes dessa pequena conversa ou como tenho que segurar
uma risada porque ele é idiota o suficiente para me encarar e soltar um bufo
exasperado por saber que estou ignorando-o.
Faço isso porque a ideia de olhá-lo me causa um sentimento que não
consigo nomear.
É uma sensação que agita meu peito quando vejo em seus olhos o
desejo que me consome dia após dia, mas junto dele, vem a decepção de
sabermos que não podemos ceder a essa vontade imensurável de deixarmos
as máscaras caírem.
Entretanto, todas essas coisas vêm acarretadas da decepção de
sabermos que não somos corajosos o suficiente a ponto de finalmente fazer
isso, de pararmos de negar a atração primordial que sentimos um pelo
outro.
Somos medrosos, quebrados e imperfeitos.
Mesmo assim, a cada olhar roubado, constato que Levi Johnson é
malditamente lindo.
Olhos obsidianos, corpo fodidamente esculpido por anos de
exercícios e um sorriso acompanhado de covinhas que, mesmo que eu
nunca admita, me fazem querer beijá-las.
A leveza que emana dele me faz sentir a mesma sensação de quando
estou em quadra ou de quando, horas antes de uma competição, me sentava
no vestiário, colocava minha música favorita e olhava para a tulipa seca
escondida em meu armário desde os meus treze anos, quando meu avô me
deu antes de falecer.
Ele me faz lembrar do motivo pelo qual eu amava o esporte.
Agora me pergunto o porquê parei de fazer isso. Por que desisti de
entender a complexidade das coisas que eu amava, e apenas passei a aceitar
o que meus pais impunham para mim, enquanto minha única forma de me
proteger foi usar máscaras que me obrigavam a expulsar todos que eu
amava do meu lado?
— Você está bem? — Levi pergunta, de repente, ao meu lado.
Dou de ombros.
— Sempre.
Ele faz uma careta.
— Não parece.
— Mas é a verdade.
— Você mente mal — ele afirma com tanta convicção que me
surpreendo.
Uma linha apareceu entre minhas sobrancelhas.
— E você presta muita atenção em uma pessoa que diz odiar.
Sua boca se curva num sorriso.
É lindo. Contagiante. Magnífico.
— É impossível não prestar atenção quando essa pessoa é
extraordinária.
Estagno no lugar, obrigando-o a parar.
Olho para o lado e percebo que paramos em frente ao gazebo da
cidade. Não há ninguém aqui. É um lugar lindo pela manhã, cheio de flores
coloridas e uma estrutura adornada por várias esculturas de anjos. O teto de
vidro e uma fonte do lado que, se não fosse tão brega, poderia até mesmo
dizer que é romântica.
Dou um passo para trás, indo em direção ao gazebo, tentando
colocar uma distância significativa entre nós e falhando miseravelmente.
Levi caminha a passos rápidos atrás de mim e quando me posiciono no
meio do ambiente, giro meu corpo, erguendo meu queixo e encarando-o
com um misto de ódio e decepção.
— Você não pode fazer isso — afirmo, batendo minha unha em seu
peito. — Você não tem esse direito.
— Fazer o quê? — Ele ergue a sobrancelha.
— Dizer que não pode me querer, escolher um lado que nem mesmo
existe e depois flertar descaradamente comigo a ponto de eu precisar chutar
a porra das suas bolas! — profiro tão rápido que não percebo que minha
voz sobe um decibel. — Não faça isso, porra. Não foda com a minha cabeça
mais do que já está fazendo.
Levi dá um passo à frente.
Seus olhos nos meus, nossos peitos subindo e descendo.
Nos cansamos dos jogos. De dar voltas e nunca sair do lugar.
— Você acha que eu gosto disso? — ele pergunta, retoricamente. —
Gosto de desejá-la e não poder tê-la?
— Eu não me importo com o que você quer, Levi. Eu não me
importo com você! — grito, desesperada. — Eu só quero que você saia da
porra da minha cabeça.
Ele recua num grunhido.
— Então saia da minha, porra!
Dou um passo para trás, fechando meus olhos por um segundo. Um
mísero segundo para tentar colocar meus pensamentos em ordem e me
lamentar por ter achado que seria uma boa ideia correr pela manhã hoje.
— Eu te odeio — me surpreendo com as minhas palavras quase que
sussurradas. — Eu te odeio tanto.
Levi solta uma respiração forte, colocando as mãos na cintura e me
encarando como se eu fosse uma idiota de merda. E talvez eu seja. Talvez
eu seja tão idiota que não percebo o quanto estamos lutando um contra o
outro para não nos atacarmos. Para não nos machucarmos mais do que o
mundo já faz.
— Não — ele responde, de repente. — Não odeia.
Ele sabe. Eu sei. Há todos os tipos de sentimentos nos rodeando,
mas ódio não é um deles, entretanto, eu ainda sou covarde demais para
assumir o que realmente está acontecendo entre nós dois.
Ruína.
Recomeços.
Nossa conversa no carro invade meu subconsciente.
— Sim — minto. — Cada célula do meu corpo te despreza.
— Impossível — murmura e percebo que não há ninguém aqui para
apaziguar o que estamos começando. Ninguém para interferir. Cada atitude
agora define o que seremos a partir desse momento. — E sabe o por quê?
Sim.
— Não, Levi — digo mais para mim do que para ele. — E não
pretendo saber.
Dou um passo para ir embora. Para ir a algum lugar onde ele não
esteja, onde sua presença não me consuma tanto quanto está me
consumindo ultimamente. Porém, meus planos vão por água abaixo quando
ele se coloca no meu caminho, segurando minha cintura e caminha comigo
até uma das pilastras do gazebo.
Uma onde as flores nos escondem do mundo, onde tudo não passa
de um borrão e nossa existência se torna a mesma no mundo todo.
Isso é errado.
Nós somos errados.
Não posso desejá-lo.
Não posso querê-lo como quero.
Levi fecha o espaço entre nós. Suas mãos seguram minha cintura e
solta uma respiração rasa se abaixando um pouco, quase que colando sua
testa na minha. Seu rosto tão perto, sua respiração fazendo cócegas em
minha bochecha.
As batidas dos nossos corações sincronizados e o mundo esquecido.
Não há máscaras. Não há luta.
Eu o vejo como ele deseja e ele me vê como sempre clamei para que
me olhassem.
— Você pretende saber sim — murmura, ele levanta a sua mão e
desenha o meu lábio inferior com os dedos. — E sabe por quê?
— Eu deveria?
Levi sorri, se abaixando mais e deixa um beijo leve em meu
pescoço.
— Você pretende saber, princesa, porque eu sei que você me deseja.
— Ele arrasta o dedo pela minha cintura, barriga e então no cós do meu
short. — Você sonha comigo te fodendo tanto quanto sonho que estou te
comendo? Você me imagina te dando prazer tanto quanto fode com a minha
mente?
Deus.
Merda.
— Não... — minha voz me trai.
— Não? — Sua outra mão sobe até meu pescoço, segurando-o. —
Então o que esses idiotas da Parte Alta diriam se vissem a preciosa Princesa
de Gelo molhada para mim em um maldito gazebo a essa hora do dia? —
Seu dedo para em meu ponto de pulsação e ele sorri depravadamente assim
que percebe meus batimentos desenfreados. — Você quer isso e eu vou te
dar, querida. — Ele se aproxima mais, beijando o canto dos meus lábios. —
Não hoje, mas eu vou. Porque quando eu te foder, Analu, vou apreciar cada
parte de você. Seus gritos, gemidos e a sua boceta.
Ergo uma sobrancelha e me arrependo amargamente por isso, pois o
sorriso do babaca aumenta.
— Você é um idiota.
— Eu posso não te foder hoje. Mas eu vou te dar algo. — Nossos
olhos se encontram. O barulho ao redor some. — Algo que eu desejo há
muito tempo.
Nada mais importa.
É como se estivéssemos criando pontes até um ao outro. Uma
interligação que nem mesmo Einstein poderia explicar. Seu toque, mesmo
que suave, me marca, me exalta e me fascina. Levi roça de leve seu lábio no
meu e o toque é uma carícia que tece versos e poesias guardados nos baús
do meu interior.
— Isso é errado. — A textura dos seus lábios é meu sonho. — Tão
errado.
Eu sei o que ele vai me dar e eu anseio, suplico e até mesmo agonizo
por isso.
— Não. — Levi se afasta. — Não é.
Então, seus lábios estão nos meus.
Me consumindo.
Me marcando.
Tomando tudo de mim para si.
Não é um beijo carinhoso, lento. Ele é punitivo, repleto de
sentimentos confusos e raiva. Raiva por finalmente cedermos ao que
desejamos por tanto tempo.
Eu me deleito entre a sensação de seu gosto e de como me sinto em
seus braços. Como o corpo de Levi se sobressai sobre o meu e na forma
como solta meu pescoço e agarra minha nuca, puxando-me para si.
Ele me devora tanto quanto eu o devoro. Nós forjamos uma dança
sincronizada, uma partida que não nos importamos de quem sairá perdendo
desde que essa sensação jamais suma.
Eu o beijo como se ele fosse minha punição por saber que nunca o
terei.
E Levi me beija como se eu fosse a sua salvação.
É errado. Mas, ao mesmo tempo, é a coisa mais certa que já me
aconteceu em anos.
Levi se afasta por um mísero segundo, buscando por oxigênio e
quando acho que vai se virar e me deixar aqui, ele me puxa outra vez e me
beija. Me beija com devoção, angústia e até mesmo raiva. Me beija como se
o tempo fosse nosso e o mundo pudesse explodir em mil pedacinhos que ele
não se importaria, contanto que estivéssemos assim.
Juntos.
Unidos.
Dilacerados.
Sua boca pede passagem com a língua e um gemido involuntário sai
baixinho dos meus lábios. Puxo seu inferior entre os dentes, arrastando
minha unha pela sua nuca e ele devolve, beijando-me duramente e com uma
vontade real.
Posso sentir tudo. Sua ereção em minhas pernas, minha boceta
pulsar e meu desejo consumindo cada átomo do meu corpo. Levi também se
sente assim, porque, de repente, ele se inclina, segura minhas pernas e me
pega no colo, prensando-me contra a pilastra e me obrigando a enrolá-las
em seu quadril.
— Diga-me que me odeia novamente — sussurra, sua ereção coberta
pelo tecido arrasta pelo meu ponto dolorido. — Me diga agora, princesa,
que ainda me despreza.
As palavras estão na ponta da minha língua.
Posso senti-las, mas não posso proferi-las.
— Você é um idiota.
Ele sorri, apertando minha coxa e me beijando novamente.
E queimo a cada vez que seu toque chega à minha pele.
Me desfaço quando seus lábios estão nos meus.
É o meu fim.
Eu caio em desgraça pelo meu inimigo. Meu novo veneno favorito.
— Não foi isso que eu pedi, querida.
Eu fecho meus olhos, escorando minha cabeça na pilastra atrás de
mim e ele beija meu pescoço, arrastando a língua por toda a extensão.
Eu posso fazer isso.
Devo fazer.
Assim que meus olhos se abrem, eu encaro o rosto de Levi e ele sabe
que o momento de segundos atrás se foi e que estou pronta para fugir como
uma maldita covarde.
Porque é isso que sou.
E mesmo assim não posso deixá-lo ficar sob minha pele.
Nunca mais posso deixar que alguém tenha esse poder de me
destruir novamente.
Não mais. Não depois de tudo o que perdi.
Não depois da vida que me roubou.
— Eu não te odeio — Surpresa toma conta de seus olhos e um
sorriso frio nasce em meus lábios. — Porque para te odiar, eu precisaria
sentir algo. E como você mesmo constatou naquela festa, eu sou vazia.
Ele me solta e eu sinto o verdadeiro vazio.
É o fim de algo.
Levi nem mesmo me responde, ele apenas se vira e vai embora.
E eu fico.
Fico com seu cheiro impregnado em meu corpo.
Seu gosto em meus lábios.
E um sentimento que não posso permitir sentir.
Mesmo que nós estejamos passando por isso
E isso faz com que você se sinta sozinha
Apenas saiba que eu morreria por você
Amor, eu morreria por você, sim
Die For You | The Weeknd
Observo Analu remexer a azeitona da sua taça pela última vez antes
de soltar um suspiro e levantar a mão para pedir mais um, mesmo sem ter
terminado o que ainda está em suas mãos. Ela definitivamente não está
bem. Não totalmente.
Parker não disse nada desde que Blake nos deixou, mas sei que algo
na conversa que tivemos com ele não a agradou. Posso perceber isso pela
forma como se concentra em algo aleatório ou a forma como se mantém em
silêncio, pensativa.
— Você não está reclamando de algo, o que me indica que está
incomodada — afirmo, deixando meu copo sobre o balcão. — Então,
desembuche, Parker.
Ela balança os ombros, inclinando a cabeça para o lado e me dando
a visão de seu rosto perfeito.
— Nada está me incomodando.
— Você tem certeza? — Ergo uma sobrancelha, descrente.
— Sim. — Leva a bebida aos lábios. — Aliás, como você saberia
que algo está incomodando?
Balanço minha bebida de leve e a encaro de esgueira, lançando-lhe
um meio sorriso.
— Vamos voltar à parte que te digo que sei tudo sobre você?
Uma linha aparece entre suas sobrancelhas.
— Você acha que sabe — resmunga, levando o copo até os lábios.
— É diferente.
— Continue mentindo para si mesma — zombo, apoiando um dos
meus cotovelos no balcão e me virando totalmente em sua direção. — É
divertido de presenciar.
— Você é irritante.
— E mesmo irritada, você continua deslumbrante.
Ela torce o nariz, fazendo com que seus olhos se cerrem junto ao
movimento.
— Pare de flertar comigo.
— Eu já tentei. — A resposta sai antes que eu possa segurar. — É
impossível.
Ela me encara como se eu fosse louco e talvez eu seja. Talvez eu
tenha perdido toda a minha sanidade quando propus aquela trégua que nós
dois sabemos que não conseguiremos suportar por muito tempo.
Não quando temos coisas demais entre nós dois. Coisas essas que
nos consomem de uma forma irremediável e traz consigo desejos que não
sabíamos que tínhamos até o momento em que nossos lábios se tocaram.
Sem perceber, uma risada fraca salta dos meus lábios. É inexplicável
tudo que vivemos nessas últimas semanas. Eu a odiava de uma forma que
ninguém compreendia e, se for sincero, desejava que meus amigos se
afastassem dela para protegê-los e que ela não tivesse a oportunidade de
machucá-los, mas agora não consigo imaginar uma vida sem que Analu
Parker esteja presente em nossa família.
— Você está bem?
— Não sei se posso te dar uma resposta certa para isso — digo, me
levantando. — Venha comigo.
Ela franze o cenho, confusa.
— Não, obrigada. — Volta sua atenção para a sua bebida. — Estou
bem aqui.
— Levante sua bunda desse banco, Analu — Reviro meus olhos. —
Nós estamos indo jogar.
Lentamente, seu rosto se vira na minha direção. O brilho ansioso de
suas pupilas e a curiosidade sendo despertada em cada parte de seu rosto faz
com que a vontade imensurável de me abaixar e beijá-la me atinja com
força.
Maldita seja essa mulher que é tão obcecada por competição como
eu.
— Que tipo de jogo?
— Você vai ver. — Lanço uma piscadela em sua direção. — Mas
precisamos de outro lugar.
— Eu não estou indo transar com você.
— Não. — Um sorriso malicioso nasce em meus lábios. — Não
hoje, pelo menos.
Analu me encara por alguns segundos, se questionando se realmente
deveria me seguir. E até eu me pergunto se isso é uma boa ideia, mesmo
sabendo que quando estamos juntos, temos a tendência de tomar atitudes
que vamos nos arrepender mais tarde. Entretanto, algo dentro de mim me
diz que talvez essa trégua que começamos naquele quarto precise de algo a
mais, um motivo para que possamos realmente começar a confiar um no
outro.
Sem isso, nada durará. E eu realmente não estou a fim de passar
quatro dias em uma guerra implacável dentro e fora do quarto.
— Nos seus piores sonhos, Projeto de Pequena Sereia.
Uma risada nasalada salta de meus lábios.
Esse apelido é o mais ridículo de que alguém já me chamou e
mesmo assim todas as vezes que ela profere, sinto algo diferente. Me sinto
como se o fato de que ela, a mulher que odeia criar laços e deixar que
alguém penetre suas muralhas, se dignou a pensar em um apelido idiota
para alguém que diz odiar tanto.
— Você vem? — pergunto.
— Eu vou te destruir nesse jogo?
— Talvez.
Analu umedece os lábios e me encara seriamente.
— Eu vou poder chutar suas bolas novamente se me irritar?
— Você está proibida de chegar perto delas.
Ela se levanta, alisa o vestido e dá um passo à frente. Seu rosto se
encontra com o meu. Nossos olhares não se desviam. Analu passa o olhar
para a minha jaqueta da SVU, pela minha calça e, por fim, para os meus
Jordan.
Aproveito para observá-la, desde o vestido preto que possui brilhos a
cada vez que seu corpo se movimenta até os saltos altos que são os motivos
dos meus piores pensamentos ultimamente.
Ela é linda. Perfeita.
— Que jogo estamos jogando dessa vez, Levi?
— Todos que você desejar, princesa.
PASSADO
Eu acordei sozinha.
Não havia resquícios de Levi quando meus olhos se abriram por
conta da claridade que entrava pela cortina semi-aberta.
Uma sensação de alívio e decepção que não compreendo toma conta
do meu corpo ao passo que me sento, puxando os lençóis para tampar meu
corpo nu e repasso toda noite em minha cabeça.
Levi não descansou até que realmente levasse nosso corpo à
exaustão. Ele me fodeu de todas as formas imagináveis. Cama, mesa,
banheiro e apenas nos possibilitamos dormir quando a manhã se
aproximava.
Agora enquanto me pego observando como todo nosso quarto está
bagunçado, me vejo questionando como poderei encará-lo sem lembrar da
sensação de seu corpo contra o meu, de sua boca me reivindicando como se
fosse seu paraíso particular e de como me senti viva a cada vez que nossas
mãos se entrelaçaram e seu corpo cobria o meu.
Eu não deveria estar pensando nele como estou.
Não deveria permitir que isso mude o que somos.
Tudo isso acaba no instante em que pisarmos em Saint Vincent e me
sentir como uma garota patética que tem pensamentos com a pessoa que
fode ela até a exaustão, não faz parte de que sou.
Soltando um bufo irritado caminho até o banheiro, me arrumando
em tempo recorde. Pego meus saltos e saio do quarto, a fim de não ter a
preocupação de Levi entrar por essa porta e precisarmos ter um momento
constrangedor pela manhã pelo qual evitei a minha vida toda.
Assim que vejo as portas do elevador se fecharem, fecho meus olhos
por um instante, pensando na série de escolhas que sucederam a esse
momento e em como parece que estamos fugindo um do outro para que não
precisemos lidar com as consequências de termos cedido ao desastroso
desejo que nos consumia.
Nunca adormeci nos braços de alguém. Nunca tive a sensação de
adormecer com alguém me segurando como se eu estivesse segura, bem-
vinda e em casa. Sempre fui a que abandonava antes de ser abandonada.
Agora, que o tabuleiro foi invertido e eu acordei sozinha em uma cama de
hotel com todas as lembranças me rodeando, me questiono até onde permiti
que Levi chegasse até mim.
Medo consome todos os meus pensamentos. Medo de que ele tenha
percebido o que realmente sou e escondo, causa um pânico em meu corpo
que não consigo compreender.
Ele é tudo o que não mereço. Tudo o que as pessoas sonham.
Levi Johnson é compassivo, gentil e amado. Ele possui um coração
invejável e uma determinação surpreendente. Seu sorriso conquista até
mesmo aqueles que não merecem ser conquistados. Ele é uma daquelas
conexões incríveis que acontece uma vez na vida, e fica marcada para
sempre.
Sem contar com o fato de que Levi desperta a sensação de que posso
ser simplesmente eu, sem enrolação, sem filtro, sem máscara, só eu; Analu
Parker, estudante de Direito e amante secreta de tulipas.
E é estranho porque ele não sabe o quanto realmente tê-lo por perto
me apavora, me faz questionar coisas que eu nem mesmo sabia que
precisava questionar. Ele alimenta algo em meu peito que sempre achei que
havia perdido.
Levi Johnson é ponto de paz, de alegria e de conforto. É alguém que
pode se passar anos, mas nunca esquecemos. Embora ele seja tudo isso, ele
ainda é alguém que eu nunca terei ao lado. Não porque não desejo, mas
porque não mereço.
Eu não sou esse tipo de pessoa que merece esse presente do destino.
Eu sou aquela que as pessoas apenas enxergam o pior. Aquela que nunca é
o ponto final da pessoa. Sou a que dá respostas grosseiras mesmo que não
haja necessidade, que ataca antes de ser atacada e desenvolveu um
complexo de proteção, por conta de tudo o que meus pais fizeram durante
todos os anos.
Eu sou quebrada.
Sou repleta de cicatrizes e com uma alma esfarrapada.
Danificada em todos os sentidos da palavra.
Um bolo se forma na minha garganta assim que percebo que saí do
elevador e caminhei até a sacada do hotel, onde diversas plantas e cadeiras
estão espalhadas. Percebo que é um lugar calmo e de descanso.
Respiro fundo, sentindo o ar entrar pelos meus pulmões e permito-
me sentar em uma das inúmeras cadeiras vazias espalhadas pelo ambiente,
deixando de lado todos os meus pensamentos conflituosos, pronta para ligar
para Theo, colocar um sorriso no rosto para que não se preocupe e me
desculpar por faltar ao nosso dia pela primeira vez em anos.
Assim que o disco número de sua babá e ergo meu iPad em frente
ao rosto, passos soam atrás de mim. Olho por cima dos ombros, avistando
Levi caminhando a passos rígidos até onde estou e respiro fundo, tentando
não demonstrar a ele o quanto sua presença me afeta.
Hoje, percebo que não é um bom dia, porque todos os meus
demônios estão à minha espreita, esperando que eu dê um passo em falso
para conseguirem me afetar.
E não preciso disso, não hoje. Não quando é um dos dias mais
importantes da minha vida.
— Você está no lugar errado — ele diz, se jogando na cadeira à
minha frente.
Franzo o cenho, confusa.
— Eu sei. — Inclino minha cabeça. — E você também.
— Eu sei.
— Por quê? — inquiro, ainda sem desligar a chamada.
— Achei que estaria vazio, precisava fazer algo — Ele dá de
ombros. — Eu posso...
Sua voz some quando uma risada infantil ressoa e me obriga a olhar
para frente. Para Theo que tem um chapéu seletor em sua cabeça e uma
réplica da varinha da Hermione em mãos. Meu irmão sorri brilhante quando
seus olhos repousam em mim e percebo que ele não está em seu quarto ou
em qualquer outro lugar de nossa casa.
— Oi, Lu! — praticamente grita.
Minha expressão rapidamente muda e faço o possível para que Theo
não perceba toda confusão que ronda minha mente, já que ele percebe tudo
à sua volta.
— Oi, Almofadinha. — Um sorriso genuíno nasce em meus lábios.
— Onde você está?
— Na casa da Ana — conta, animado. — Amara vai dar uma festa e
pediu para que ela me levasse para sua casa.
Para que as amigas dela não peçam para vê-lo.
Eu deveria estar aliviada, deveria agradecer que a sua babá o ama
tanto quanto eu. Contudo, a decepção é iminente. Ele não deveria estar
sendo retirado da sua própria casa para que a nossa progenitora dê festas
como se seus filhos não fossem apenas objetos em sua mansão cara. Porém,
mesmo que a raiva consuma uma parte de mim, a outra parte se encontra
aliviada.
Se ele não está em casa sozinho com ela, ele está seguro.
— Isso é bom. Theo, eu preciso falar sobre uma coisa...
Como dizer a ele que estou fracassando como irmã? Que tive que
abrir mão de nosso final de semana para conseguir uma medalha, que
Amara irá utilizar como uma forma de esfregar na cara de seus amigos que
sua filha é a melhor?
Olho para frente, para onde Levi ainda está sentado e nos encarando.
Meus olhos se fixam nele por único instante estudando como ele me
observa com curiosidade, como se estivesse aprendendo algo sobre mim.
Ele me encara me dando indícios de que almeja descobrir todos os
meus segredos.
— Você não está sozinha — A voz suave e curiosa do meu irmão me
faz olhar novamente para a tela. — Quem está com você, Lu?
— Como você...
— Eu te conheço, Lu. — Um novo sorriso nasce em seus lábios. —
E conheço esse brilho em seu rosto. Então quem está com você?
— Jesus, Theo! — exclamo. — É meu...
Amigo-inimigo? Parceiro temporário? Rival em trégua?
— Posso conhecê-lo? — Sua pergunta me deixa intrigada.
— Você quer conhecer alguém?
— Sim, eu gosto de conhecer seus amigos. — Ele sorri.
Solto um suspiro sabendo que Theo não me deixará em paz
enquanto eu não lhe mostrar quem está perto de mim, causando uma
mudança repentina em minha expressão corporal e olho novamente para
Levi, manejando a cabeça para que se aproxime.
Ele se levanta, ajeita sua gravata e caminha até ficar atrás de mim, se
inclinando um pouco e colocando suas mãos dos dois lados do meu braço,
fazendo com que nossos rostos tomem conta da tela.
— Oi, Theo — Levi cumprimenta inseguro. — É bom finalmente
conhecer o garoto que é o herói da Analu. — Sua sobrancelha se ergue para
o chapéu um pouco maior que o apropriado na cabeça do meu irmão. — Ou
deveria dizer, um mago?
Theo solta uma pequena gargalhada e isso agita algo dentro de mim
ao ver a felicidade tomar conta de seu rosto por alguém falar sobre sua
paixão.
Pela tela encaro Levi que sorri abertamente, dando-me a visão
perfeita de suas covinhas.
— Eu conheço você — Theo afirma, feliz e isso aquece o meu peito.
— Você estava no hospital a algumas semanas atrás, quando tive uma
consulta.
Franzo o cenho, confusa e Levi apenas dá de ombros.
— É bom ver você novamente, amigão — O sorriso de Levi se
amplia. — Meu nome é Levi.
— Então, é você quem faz a minha irmã ficar engraçada.
— Engraçada? — Levi ergue uma sobrancelha.
— Ela xinga muito e fala palavrão quando você a irrita. — O sorriso
cúmplice de Theo se iguala ao de Levi. — É engraçado.
— É mesmo? — Reviro meus olhos e Levi solta uma risada.
— Ei, você sabia que algumas galáxias têm forma elipsóide, como
se fossem uma bola de futebol americano? — Theo questiona, de repente.
Abro a boca para dizer algo a Levi, mas o homem atrás de mim
amplia o seu sorriso.
— Não, eu não sabia. — Há verdade em seu tom. — Mas você sabia
que todas as galáxias têm poeira, e que essa poeira é produzida por estrelas?
Abro minha boca perplexa por Levi saber de algo assim.
— E você sabia que isso faz com que a luz geralmente pareça ser
mais vermelha do que ela realmente é, o que pode acabar dificultando o
estudo das propriedades gerais das estrelas? — Theo devolve, seus olhos
brilham para Levi.
Por um momento, me pergunto como seria se alguém além de mim e
Ana, tentassem mostrar a ele como é ser amado.
— Não, eu não sabia disso, mas você pode me contar mais sobre
isso quando voltarmos, não é? — Levi questiona, genuíno.
Os olhos de Theo brilham em ansiedade e tenho a certeza de ele
passará todo o seu tempo procurando por curiosidades para apresentar a
Levi.
Medo toma conta do meu corpo. Eu nunca o apresentei a ninguém,
não por opção, mas Amara sempre foi clara de que ela deixaria os
domingos livres para mim e ele, contanto que ninguém da Parte Alta
soubesse que ele estava zanzando pela cidade. O que me indica que estou
incluindo Levi ao participar de um dos meus dias favoritos com Theo,
porque sei que meu irmão não me deixará em paz.
Uma parte de mim, de repente, fica feliz por saber que talvez esteja
na hora de mandar Amara para o inferno e mostrar a Theo o mundo de
possibilidades que ele possui.
— Theo. — Engulo em seco, chamando a sua atenção. — Eu não
vou poder estar em casa neste domingo.
Ele desvia o olhar de Levi para mim.
— Você vai estar com ele? — Aponta para a minha companhia.
— Algo do tipo. — Meus ombros murcham. — Sinto muito.
Meu irmão sorri. É compreensivo e não há decepção.
Esse garoto definitivamente é o meu mundo inteiro.
— Está tudo bem, Lu. — Surpresa toma conta de mim. — Levi vai
te fazer companhia e não vai te deixar sozinha no seu dia favorito, não é,
Levi?
Levi inclina a cabeça e olha para mim.
— Eu nunca a deixaria sozinha outra vez.
Eu sinto suas palavras. E mesmo sabendo que não devesse, eu
acredito nelas.
— Eu te vejo na segunda, Lu — ele se despede. — Ana vai me levar
para ver o observatório da cidade.
Mesmo com Levi ao meu lado, eu não me importo. Apenas olho
para meu irmão e sorrio.
— Eu te amo, Theo — sussurro.
— E eu amo você, Lu. — Seus olhos se mudam para Levi. — Eu
terei várias curiosidades para te mostrar, Levi.
— E eu estou ansioso por isso, campeão.
Com isso, meu irmão desliga, me deixando apenas com Levi e seu
olhar curioso sobre mim. Penso em me levantar e me proteger de seja lá o
que ele está prestes a dizer, mas a maneira como estuda meu rosto e faz
tudo dentro de mim se agitar, me obriga a apenas encará-lo com um
agradecimento silencioso.
E Levi, mesmo sem saber, acaba de conquistá-lo e fazê-lo acreditar
que seus assuntos não são tão entediantes como Henrique um dia disse.
Ele o conquistou e, consequentemente, uma parte de mim também.
E pegando até eu mesma de surpresa, me vejo falando algo que
quase nunca digo.
— Obrigada — sussurro. — Obrigada por fazê-lo sorrir desta forma.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Por que eu não faria? — questiona, curioso. — Seu irmão é
perfeito, Analu.
Fragilidade toma conta do meu olhar.
Dor por todas as vezes que eu precisei utilizar respostas frias e
humilhar pessoas para que elas não o olhassem com um olhar julgador, pelo
filho da tão perfeita matriarca da família Parker não ser tão perfeito nos
padrões da sociedade.
O homem atrás de mim que tem seu cenho franzido não sabe que
acaba de destruir mais uma das dezenas de barreiras que me protegem. Que
tem em suas mãos a única coisa que o mundo não pôde me tirar mesmo que
todos ao meu redor tentem.
O único ponto de luz que ilumina toda a minha alma escura.
— As pessoas não costumam tratá-lo assim — a verdade salta de
mim antes mesmo que eu possa me segurar. — Por culpa de Amara,
algumas pessoas acham que ele é defeituoso. Mas, não é a verdade. Meu
irmão é...
— Extraordinário — Usa a mesma palavra que um dia chegou a
dizer para mim. — Ele é inteligente, engraçado e gentil. Ele é perfeito igual
a você, Analu.
Ele é.
Levi me encara, não há dúvidas em seu olhar.
— Eu te devo desculpas — sussurro, de repente, sabendo que estou
guardando isso desde ontem à noite. — Por ontem à noite no bar. Não me
dizia respeito e eu não deveria ter te encurralado para saber sobre seu
irmão.
Sua expressão não muda.
— E eu não deveria ter feito o mesmo sobre o seu medo. —
Sinceridade ronda suas palavras. — Sinto muito.
Aceno levemente com a cabeça.
Há tanta sinceridade entre nós nesse momento que me assusto,
mesmo que meu semblante se mantenha blasé. Tentando não mostrar a ele
que esse momento importou mais para mim do que deixo aparente, abro um
sorriso sem mostrar os dentes, antes de umedecer meus lábios e lançar a ele
um olhar confiante.
— Temos um debate para vencer.
Ele sorri novamente e dessa vez é regado a desafio.
— Você está pronta para chutar algumas bundas, princesa?
Me levantando, ajeito meu vestido em meu corpo e ele se ergue,
arrumando sua gravata que horas atrás prendiam meu pulso naquela maldita
cabeceira.
Seu olhar segue o mesmo curso que o meu, parando no pedaço de
tecido. Quando percebo o que estou encarando, Levi sorri descaradamente
em minha direção e sei que as lembranças da noite passada também estão
rondando pelos seus pensamentos.
— Sempre estou pronta para isso — finalmente respondo.
Estamos indo para o campeonato que treinamos por meses. Mas
acima de tudo, para o nosso último campeonato representando a
universidade que é como nossa segunda casa há anos.
Seu olhar, de repente, me queima e a disputa corre em nossas veias.
Trégua. É isso que impomos entre nós dois. É isso que findamos
durante toda essa madrugada e é isso que estamos colocando em prática
nesse instante.
— Aliás, seu segredo está seguro comigo. — diz quando alcançamos
o elevador.
Ergo uma sobrancelha e ele me lança um olhar cheio de
significados.
— Qual segredo?
— Que a princesa de gelo possui sentimentos por trás de todos os
muros do castelo.
Encaro Levi que está à minha direita, com os braços cruzados e uma
carranca entediada.
Nem mesmo o julgo, não quando estamos sentados há quatro horas
aqui, sendo obrigados a aturar um debate que apenas serve para nos irritar.
Os melhores debates acontecem no final e é onde nós dois sempre
entramos. Por enquanto, apenas fazemos nosso papel de presidentes da
equipe e assistimos a palhaçada que é os novatos se enrolarem em suas
próprias palavras.
— Eu definitivamente precisarei de uma bebida depois dessa tortura
lenta — resmungo, revirando meus olhos.
— Uma só não vai ser o suficiente. — Levi comenta, sua expressão
se tornando blasé. — Merecemos uma garrafa inteira.
Solto uma pequena risada e logo volto meu olhar para a próxima
equipe que se posiciona para a nova rodada. Assim que meus olhos se
fixam na garota que se aproxima de seu microfone.
Abro a boca para dizer a Levi que talvez tenhamos achado a equipe
que irá disputar conosco, contudo sou interrompida com um adolescente
que para ao nosso lado, segurando nada mais do que um buquê com cinco
tulipas azuis royal.
São maravilhosas. Impecáveis.
— Analu Parker é você?
— Sim? — Ergo uma sobrancelha.
— Isso é seu.
Ele me passa as flores e antes mesmo que eu possa questioná-lo
quem enviou, ele se vira e some entre as pessoas, me deixando parada com
vários olhares, inclusive o de Levi.
Pegando o arranjo de flores com cuidado, retiro o pequeno grampo
que segura um cartão preto e quando o abro, não me surpreendo com o
conteúdo nele escrito em letras elegantes.
Eu nunca me senti tão atraído por alguém como me sinto por Analu.
É uma coisa que tento não compreender, porque talvez o significado
disso seja mais complexo do que estou disposto a lidar. Mas, quando ela
sorriu em minha direção e a felicidade inebriou dela como nunca antes, me
senti a pessoa mais sortuda do universo por ter participado desse momento
único.
Foi encantador assistir seus olhos brilharem e sua confiança
transbordar do limiar de suas máscaras. Mesmo distraída, ela se tornou
objeto de admiração de muitas pessoas naquele salão, embora aquele sorriso
em seu rosto fosse apenas para mim.
Aquele brilho irradiando de suas pupilas era para comemorar a
nossa vitória.
Minha e dela.
Naquele momento, olhei por baixo de tudo o que estava escondido e
enxerguei o que a garota que dançou comigo naquele jardim, na noite da
nossa formatura do colegial, escondia. Entendi que ela ainda está lá entre os
traumas do seu passado e submersa nas teias da sua fragilidade.
— Por que você está encarando sua bebida com um olhar estranho?
— A voz da dona dos meus pensamentos me faz olhar sobre meus ombros.
Passo meus olhos pelo vestido dourado com mangas longas e sem
decote, pelos cabelos que caem em cascatas sobre seus ombros e pelas
sandálias de salto preto. Ela joga os cabelos para trás e a cabeça pende para
o lado, destacando um pequeno brilho em suas orelhas e o batom vermelho
borgonha.
Analu nesse momento, é epítome de beleza e elegância.
Me levanto, abrindo os primeiros botões da minha camisa e me viro,
ficando na sua frente.
— Você está deslumbrante.
— Você também — devolve, erguendo uma sobrancelha. — Mas
isso não responde a minha pergunta.
— Eu estava te esperando — anuncio, estendendo a mão para que vá
primeiro. — Vamos?
Ela maneia a cabeça, sabendo que não darei mais do que isso.
— Vamos.
Caminhamos juntos até o táxi, que nos levará até o salão onde
acontece a comemoração do campeonato, com todas as universidades
reunidas. Mas durante todo o trajeto, meu pensamento é apenas nela e em
uma coisa que ninguém sabe sobre Parker.
A coisa que percebi durante todos esses anos estudando-a de longe.
Analu diz odiar elogios. Qualquer que seja o tipo. Desde sua beleza
a sua inteligência. Mas é uma mentira. Ela os ama.
Posso perceber isso em seu olhar brilhante e na forma como aperta
de leve os dedos da mão para afastar a ansiedade. A verdade é que ela
apenas não sabe lidar com eles, porque sempre foi manipulada a acreditar
que as pessoas olhavam primeiro para outras e só depois ela era enxergada.
Uma ideia totalmente contrária à realidade, já que quando entra em
qualquer lugar, é como se ela se tornasse o centro do universo, contudo é
compreensível que pense assim. É compreensível porque a culpada disso é
Amara Parker.
Apenas uma ligação para minha mãe, após Analu se trancar no
banheiro para se arrumar, foi suficiente para descobrir o que eu já
imaginava há tempos. Amara sempre foi uma narcisista escondida entre
suas roupas de luxo e sorrisos falsos.
A única coisa que lhe importava desde que se infiltrou na alta
sociedade de Saint Vincent, por conta de seu casamento com o herdeiro do
Parker Group, era que as pessoas a enxergassem como a mulher mais
sucedida da Parte Alta. A esposa troféu que causaria inveja em todas as
outras. Mas, agora estudando o estereótipo dela, compreendo que aquela
mulher é apenas um ser humano desprezível que fez tudo o que estava ao
seu alcance para estar no topo, mesmo que isso significasse destruir os
filhos no processo.
Ela machucou Analu, Theo e Hazel.
Machucou pessoas importantes para mim e meus amigos.
E, quando percebeu que sua filha, a que deveria ser a sua sombra, se
tornou mais interessante do que a sua beleza vazia e mesquinha, Amara fez
com que todas as inseguranças e medos de Analu tornassem gatilhos para
que se tornasse tão fria e manipulável.
Ela ensinou a Analu que o amor machuca, corrompe e depois
destrói.
Que ao ser compassiva dá brechas para as pessoas quebrarem o que
lhe resta e que ser a vilã pode salvá-la de tudo o que a rodeia.
Nunca havia parado para analisar isso. Não até o dia que busquei
Analu para o evento e Amara me olhou como se eu estivesse tirando seu
tesouro mais valioso. Ela sabia que eu havia entendido o que estava
escondendo e sei que ela não ficará sentada enquanto eu e meus amigos
tiramos nossa amiga das suas garras e Analu nem mesmo percebe isso.
Se eu for sincero, acho que ela sempre acreditou que ninguém nunca
seria capaz de entender o porquê ela era tão má, tão negligente consigo
mesma ou o porquê ela machucava as pessoas. Mas eu, Summer, Hazel e
Verônica, sim.
Nós conhecemos a mulher que habita abaixo de todas essas
camadas. Nós nos conhecemos e admiramos.
Porque ela é completamente extraordinária. Perfeita em todos os
níveis.
E mesmo que tudo dentro de mim grite para eu que não faça o que
estou cogitando desde que a deixei no quarto para se arrumar, eu tomo a
decisão que nunca imaginei tomar.
Eu a escolho. Escolho salvá-la. Escolho mostrar a ela que mesmo
que pareça, nem tudo está perdido ainda. Ainda há esperanças. Para ela e
para mim.
Eu a escolho com a minha primeira e única opção.
— Nós chegamos.
Antes que ela possa abrir a porta, me inclino segurando seus braços
e digo ao motorista para continuar dirigindo até o endereço que indico a ele.
— Nós não vamos a essa festa — minha voz não deixa lugar para
discussão.
Sua careta confusa faz com que um sorriso nasça em meus lábios.
— Você não está me sequestrando, certo? — Ela ergue uma
sobrancelha. — Se fizer isso, Levi, não vou pensar duas vezes sem chutar
suas bolas outra vez.
Uma gargalhada salta dos meus lábios.
— Mesmo que eu saiba que você adoraria, não estou fazendo isso.
— lhe dou um sorriso tranquilo. — Apenas, tenha paciência.
Dez minutos depois e uma Analu curiosa como uma criança de dez
anos, o táxi para em frente a um enorme jardim cercado de flores de todos
os tipos. Rosas, orquídeas, jasmins e tantas outras que não faço a mínima
ideia de seus nomes, mas nenhuma é a que desejo.
Assim que saímos do automóvel e caminhamos até uma estufa
escondida entre as dezenas de árvores e flores, sorrio. Não foi fácil achar
esse lugar com tão pouco tempo, contudo com a ajuda de mamãe, que
sempre está na cidade para compromissos e Meg, que me enviou a
localização no caminho para cá, consegui a tempo.
E agora sei que vai valer a pena.
Fito seu rosto com curiosidade, seus lábios entreabertos e seus olhos
desconfiados que estudam cada parte desse ambiente. Mas é quando abro as
portas duplas, e ela contempla o que há guardando nesse enorme ambiente,
que sua expressão se torna esplêndida.
Seus olhos cintilantes se fixam na beleza do lugar e tudo se torna
arco-íris.
Centenas de tulipas estão espalhadas pela estufa.
Tulipas vermelhas, amarelas, brancas e outras dezenas de cores.
Elas são intragáveis e possuem uma delicadeza que me deixa
curioso.
Analu dá um passo à frente, seus lábios se abrem de surpresa. Não é
como o campo de tulipas naquela foto, mas ainda assim, é como ele.
Uma parte de mim se sente orgulhoso por despertar tal emoção nela,
mas quando seu rosto se vira para onde estou, encarando-me, eu me
pergunto o que há de errado. Seus olhos estudam os meus e apenas cruzo os
braços, esperando pelo que quer que esteja rondando sua cabeça.
— Eu não podia trazer o campo de tulipas até aqui. — Dou de
ombros, colocando as mãos no bolso. — Mas trouxe a sua lembrança
preferida de uma outra forma.
Ela se vira, mordendo o lábio inferior.
— Você se lembrou — sussurra.
— Eu nunca esqueci — conto. — Até mesmo quando você ainda me
odiava, eu ainda guardava a sua lembrança favorita.
— Foi você. — Ergo uma sobrancelha pela constatação. — Todas as
tulipas na minha mesa e a até mesmo a de hoje. Foi você.
Dou de ombros novamente, tentando mostrar que foi apenas um
gesto de desculpas por tê-la chamado de vazia e por ter rejeitado quando
minha vontade era tudo, menos isso.
— Fui eu. — admito.
— Por quê?
— Porque você merecia um gesto gentil depois do mundo ter sido
tão cruel.
— Então, eu acho que terei que te dar todas essas flores para
compensar as vezes que eu fui cruel com você — ela devolve, mas não há
orgulho em suas palavras. — E acredito que mesmo assim não será
suficiente.
Suas palavras me surpreendem. Analu, em um intervalo de vinte e
quatro horas, se desculpou mais do que já presenciei a minha vida toda.
Me aproximo e assim que paro perto de seu corpo, seguro seu
queixo, erguendo-o e fazendo-a me encarar.
Seus olhos fitam os meus com algo que não consigo reconhecer, mas
gosto. Sua boca me chama mesmo que eu saiba que esse não é o momento.
Tenho vontade de me aproximar e roçar meus lábios nos seus para então,
prová-la outra vez. Entretanto não faço, porque eu desejo mais do que
apenas um beijo em meio às flores.
Eu a desejo por completo.
— Eu ainda tenho direito a uma pergunta.
Analu balança a cabeça por perceber que eu nunca esqueceria que
ainda me resta uma pergunta de nosso de dardos e eu sorrio.
— Você tem — constata.
— Sim.
— E o que você quer, Levi?
— A verdade. — Meus olhos nunca abandonam os seus. — Do que
você tem medo, Analu?
Nada em sua expressão muda, mas há um resquício de dor em suas
pupilas.
E eu desejo que ela possa observar além da vasta escuridão que
rodeia meus olhos porque lá, entre o caos e a poesia, o certo e o errado, nós
somos infinitos. Nós somos feitos da mesma matéria e posso até mesmo
constatar que nos encaixamos como nunca antes conseguimos nos encaixar
em alguém.
— Eu não tenho medo. — Sua resposta é vaga.
Sorrio, mas não há humor.
— Expressar o que está sentido exige mais coragem do que imagina,
Analu — digo, sincero. Pensando nas vezes que eu tive que repetir isso para
mim mesmo, após a morte de Matteo. Quando ano após ano, a dor da sua
perda ainda me perseguia e fazia morada em meu peito. — Todo mundo
tem medo de algo e isso não é errado. É ser humano.
Seu rosto se ergue, seus olhos castanhos tão lindos me encaram com
tudo o que não deveria estar ali. Analu está despida de sentimentos à minha
frente.
Ela é a sua versão real, a que tanto pedi para conhecer.
— Eu tenho medo de estar quebrada demais para ser consertada —
sussurra.
— Você não precisa ser consertada — murmuro. — Ninguém
precisa ser perfeito, Analu. Você pode ter pedaços faltando e ainda assim
ser a coisa mais bela do universo.
— Eu preciso. — Seus olhos lacrimejam. — Eu preciso porque só
assim eu vou conseguir superar tudo o que perdi.
— Quando meu irmão morreu, eu parei de falar — solto, algo que
nem mesmo meus amigos sabem. — Eu me culpava por ter sido a única
pessoa a conversar com ele. E com isso, me punia através do silêncio. Eu só
conseguia nadar e chorar. — Engulo em seco. — Comia o suficiente para
que pudesse ter forças e voltava para água. Isso durou por semanas até que
minha mãe me levou a diversos médicos e psicólogos. Além de ter que lidar
com a dor do luto, ela precisava lidar com as consequências das minhas
ações.
— Você não teve culpa da morte dele.
— Eu sei disso agora — confesso.
— E quando você se recuperou da perda? — inquere, como se
sentisse algo parecido.
— Quando conheci Logan e Josh — conto, um pequeno sorriso
nasce em meus lábios. — A mãe de Logan trabalhava para Thea, uma
conhecida da família, e um dia mamãe me levou até a casa de leitura dela e
ele estava lá entre os malditos livros de fantasia. Josh apareceu alguns
minutos depois e se sentou ao lado de Logan, xingando-o por não tê-lo
esperando. Eu o vi ali sorrindo e brigando um com o outro e algo dentro de
mim, me mandava ir até onde estavam. Logan me viu e apenas ergueu uma
sobrancelha.
Solto uma pequena risada lembrando do momento.
— E então? — encoraja.
— E então ele me chamou para me sentar ao lado deles e quando
não respondi, ele me chamou de estranho e Josh lhe deu um soco no braço.
— Uma risada salta de seus lábios. — Eu fiquei ofendido e o mandei para o
inferno. Eu não havia dito nada em quase cinco semanas e a primeira coisa
que disse foi um “vai para o inferno”. O pior de tudo é que eu achei que
ele se levantaria e me socaria, mas a única coisa que Logan fez foi
gargalhar, bater no chão ao seu lado e me chamar outra vez. Depois disso,
nós três nunca mais nos separamos.
— Eles sempre foram seus amigos. — Ela constata, há tristeza em
suas palavras.
— Não, Analu. Eles sempre foram mais do que meus amigos, eles
são a minha família. — Minha voz salta dos meus lábios terna. — Assim
como eu sei que as garotas são a sua.
— Verônica foi a única pessoa que segurou meu mundo quando ele
caiu — Sua voz é baixinha, dolorosa. Percebo que é a primeira vez que ela
fala sobre o assunto. — Quando voltei da viagem que me destruiu e com
medo de tudo, ela esteve lá para mim. Vee se sentou ao meu lado e me
embalou em seus braços, enquanto eu chorava. Ela maratonou Harry Potter
comigo e jogou partidas de tênis, mesmo não gostando, apenas para me
fazer companhia. Ela era a minha única amiga e eu destruí tudo o que
tínhamos para tentar agradar o meu pai, porque achei que se fizesse o que
me pediu, ele me olharia com orgulho.
Uma única lágrima desce pelos olhos dela.
Analu, que nunca permitiu que as pessoas enxergassem sua dor,
decidiu mostrá-las para a única pessoa que considera seu rival.
— O que destruiu a amizade de vocês no passado, Analu?
— Ambição. — Dor vem junto à palavra. — Meu pai queria ser
melhor que Jonathan e ele sabia que eu tinha acesso a toda a casa de Vee.
Então, ele me fez acreditar que isso o faria me amar e que ele nunca
deixaria que Amara tocasse em Theo. — Ela morde o lábio inferior antes
de continuar. — Eu entrei na casa da minha melhor amiga, descobri a senha
do cofre principal e roubei alguns papéis que nunca soube o que eram.
Meu rosto não desvia do dela enquanto ela continua a contar:
— Verônica não se importou com os papéis ou com o fato de que eu
descobri a senha do cofre da sua família, ela se importou que havia traído a
nossa amizade. A confiança que tínhamos uma na outra. Eu nunca tinha
sentido a dor de perder algo que eu amava, até aquele dia — ela murmura,
desviando o olhar por um momento. — Mas, quando ela beijou Mike
mesmo sabendo que eu gostava dele, foi a nossa ruptura final. Eu a
machuquei e ela me devolveu o golpe. E não pensei duas vezes quando tive
a chance de devolvê-lo, usando Logan assim que ela voltou para a cidade.
Só que eu a subestimei, porque ela me mostrou que não se importava e
desfilou com Mike, como se ele fosse seu prêmio.
Uma careta toma conta do meu rosto ao me lembrar da única vez
que a vi saindo do quarto de Logan, quando ele ainda tinha um ódio
incontrolável por Verônica e quando Verônica fez com que Logan a
assistisse, enquanto aproveitava da paixão de Mike.
Eles jogaram sujo e nenhum de nós gostaríamos de estar entre eles.
Mike sempre odiou Logan. Não é uma novidade, porém agora vendo
o que motivou tudo isso, acho que seu ódio por Analu sempre foi maior,
porque ele sabia que mesmo que tivesse alguma chance com Vee, ela nunca
pensaria duas vezes antes de escolher a amizade delas e o seu amor por
Logan.
— Me lembre de nunca ser inimigo de nenhuma das duas — brinco,
colocando uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
— Você não vai ser. — Ela nem mesmo percebe o que acaba de falar
e solta uma risada. — Mas, no fim, nós duas descobrimos que apenas
precisávamos de uma boa briga e uma conversa adulta.
— E agora?
— Agora ela é como uma irmã para mim novamente. Assim como
Summer e Hazel. — Um meio sorriso cruza seus lábios. — Elas são a
minha família, como você disse. Não imaginaria passar por essa vida ou por
outra sem ter elas ao meu lado. Eu queimaria o mundo por elas e sei que
elas fariam o mesmo por mim.
Não é necessário uma resposta para isso.
Nós dois sabemos disso.
Elas são o maior elo e não há nada forte o suficiente que tenha a
capacidade para destruir a irmandade que construíram. Porque não foi fácil.
Elas passaram e ainda passam por tantas coisas, lutam para se manterem
inteiras, mesmo que estejam com os corações quebrados, em guerra e até
mesmo mascarados.
Saint Vincent é elas. E nenhum de nós discordamos.
— Obrigado — me pego dizendo. — Por se permitir sentir.
Um pequeno sorriso nasce rapidamente em seus lábios e morre logo
em seguida.
— Obrigada por me ouvir.
É a minha vez de sorrir.
— Sempre que precisar, princesa.
— O mesmo para você, Projeto de Pequena Sereia.
— Esse apelido é ridículo, você sabe, né?
Sua cabeça tomba para o lado.
— E mesmo assim, você ainda me permite te chamar desta forma.
— Não adiantaria tentar pará-la. — Dou de ombros. — E eu não
desejo que pare.
Estamos enterrados em sonhos quebrados
Estamos atolados sem um fundamento
Eu não quero saber
Como é viver sem você
Não quero conhecer
O outro lado do mundo sem você
The Other Side | Ruelle
***
Amarro a faixa em meu pulso.
Olho para o espelho a minha frente, encarando meus olhos vazios.
Não escondi as marcas que estão em meu corpo desta vez. Não
preciso escondê-las, porque são exatamente elas que me obrigaram a
desviar o caminho de casa até o clube.
Eu preciso jogar.
Preciso fazer com que meu corpo fique exausto ao ponto de que
todos os pensamentos sobre Levi me deixem. Apenas preciso esquecê-lo.
Arrumando o rabo de cavalo, retiro a minha raquete reserva do
armário e sigo em direção a quadra. Assim que paro no limiar dela, olho
para o céu e percebo que a noite já se aproxima e todo o espaço está vazio,
o que me indica que ninguém ousará me interromper.
Com um suspiro, aperto o botão e assisto a máquina começar a
lançar as bolas na minha direção, me obrigando a pular, correr e esquecer
tudo o que me rodeia. A bola bate contra a raquete com precisão e o
silêncio me abraça. Não há ninguém aqui. Ninguém para me impedir de
levar meu corpo ao limite, a ponto de me deitar nesse chão e lamentar sobre
tudo o que abri mão.
Uma bola voa até mim e eu a devolvo para o outro lado da quadra.
Eu não posso tê-lo.
Outra bola.
Porque sempre é assim para mim.
Mais uma bola.
Eu sempre serei aquela que observa o amor chegar para os outros e
nunca para mim.
Eu o tive, tive a sensação de pertencimento e como anos atrás, estou
perdendo isso. Estou perdendo o que não deveria ser tirado de mim. E eu
estou tão cansada.
Tão cansada de apenas sentir a onda vir contra mim, me derrubando,
para então me afogar inúmeras vezes e tirar minhas forças. Estou cansada
de tentar me levantar e perder novamente.
O bolo em minha garganta dói.
Dói ao ponto de me fazer perder o ritmo e deixar que algumas bolas
passem por mim e outras me acertem, mas a dor não é registrada em meu
cérebro, porque ele está ocupado demais me ajudando a segurar as lágrimas,
as malditas lágrimas que me acompanham desde sempre.
Lágrimas pelas minhas dores.
Por ter sido aquela que se destruiu para proteger tudo ao seu redor.
Lágrimas pelo meu bebê.
O pequeno ser que crescia dentro de mim.
A única coisa que amei além da razão e que me foi tirado com tanta
frieza.
Fecho meus olhos por um segundo, respirando fundo.
— Minha mãe sempre diz que se você sentir que o mundo está prestes a
desabar em suas costas, a melhor coisa a se fazer é compartilhar o peso dele
com alguém. — A voz suave de Hazel me faz abrir meus olhos e a encará-
la. — Acho que você precisa de alguém para isso agora.
Ela sorri para mim.
Um sorriso tão doce e genuíno, que quem a observa não imagina que
carrega tantos demônios dentro de si. Que sorri para que ninguém enxergue
que sofreu tanto quanto nós.
Hazel é um ponto de luz. Ela é determinada, amorosa e compassiva. Ela
escolhe todos antes de si mesma.
Ela é a minha irmã.
E agora percebo o quão orgulhosa eu me sinto por dizer isso.
Minha irmã. Minha amiga. Uma das únicas coisas boas que Henrique
me deu.
— Você faria isso? — minha voz é um murmúrio.
Já não me importo se sou patética. Se estou deixando-a me ver
vulnerável. Eu apenas não quero passar mais um dia lastimando isso
sozinha. Não quero mais chorar escondida na calada da noite, nem me
sentir solitária mesmo estando ao redor de todos.
Hazel levanta o controle, desliga a máquina e caminha até onde estou.
Percebo que ela ainda veste o uniforme azul do hospital, onde está fazendo
sua residência, e isso me indica que Levi a avisou que havíamos pousado.
— Eu faria qualquer por você, Analu.
Eu nunca gostei de contato pessoal. Nunca gostei de abraços ou de
pessoas me tocando. Mas, quando Hazel me puxa, passando o braço pelos
meus ombros e me apertando em seu corpo. Me pego devolvendo o gesto
com mais força, como se realmente estivesse dividindo o peso do mundo
com alguém.
Ela se torna um porto seguro que eu nem mesmo percebi que precisava
até o momento.
Hazel me mostra que está aqui por mim e para mim.
E eu desabo.
Deixo que ela me segure, enquanto permito que todos os sentimentos
que eu guardo sejam derramados em meu peito. Deixo que ele acredite que
já não precisamos lutar para sermos suficientes, porque finalmente somos.
E Hazel me deixa fazer isso, ela me segura enquanto fico em silêncio.
Ela pega toda a minha dor e a devolve em forma de amor, irmandade e
afeto.
Nós ficamos assim por minutos. Em pé, no meio da quadra, segurando
uma a outra como se apenas isso importasse.
— Eu tenho algo para te contar — sussurra. — Algo que eu queria
compartilhar com você primeiro.
Medo toma conta de mim e me afasto um pouco, olhando em seu rosto.
Eles brilham de lágrimas não derramadas.
— Vamos precisar matar alguém para te proteger? — questiono.
Um sorriso enorme toma conta de seu rosto.
— Você arrastaria o cadáver pelo chão da sala?
Sem perceber, uma risada salta do meu peito.
— Sem sombras de dúvidas.
Sua cabeça inclina para o lado, o sorriso ainda em seu rosto.
Ela está radiante.
Diferente da última vez que nos vimos. Entretanto, quando seus lábios
se abrem, eu esperava tudo, menos suas próximas palavras.
— Eu estou grávida. — O brilho em seus olhos é incrível, mas estou
absorta demais em meus pensamentos para compreender o que está
dizendo. — Estou de poucas semanas ainda e eu estou apavorada, mas...
estou grávida.
Grávida.
Grávida.
Grávida.
Memórias tomam conta do meu subconsciente.
Dor rompe meu coração, não por ela. Eu estou feliz por isso e eu quero
que ela seja feliz, genuinamente. Mas a dor das memórias, de estar sentada
em um vaso sanitário do banheiro feminino do Saint Vincent College me
sentindo sozinha e desesperada, enquanto segurava um teste de gravidez,
toma conta de mim.
Eu não tive ninguém para compartilhar aquela notícia.
Eu não pude ficar feliz.
Não quando o medo de que meus pais descobrissem era maior do que
tudo. Mas não posso ceder a isso agora. Não é a minha história, não sou eu
que estou vivendo isso. Não tenho mais dezessete anos e Hazel não vai
terminar da mesma forma que eu terminei.
Ela está grávida.
Minha irmã vai me dar um sobrinho.
E ninguém vai tirá-lo dela, porque eu não vou permitir.
— Analu? — ela me chama quando percebe que não respondi. — Está
tudo bem? Você está pálida.
Pisco, engolindo em seco.
— Você está grávida! — exclamo, tentando não mostrar que meus
pensamentos me consumiram por um instante. — Dylan...
— Se tornou um idiota obcecado por segurança — Ela revira os olhos.
— Eu sei que isso pode prejudicar a minha faculdade, mas...
— Você sempre sonhou em ser mãe — constato. — Você está feliz?
Ela me encara hesitante e se senta na quadra, me puxando junto. Nós
nos deitamos uma do lado da outra, encarando o pôr do sol. Por um
segundo, penso que não vai responder, entretanto, ela solta uma respiração e
vira o rosto em minha direção.
— Eu estou com medo. — Há receio em seu olhar. — Eu sempre quis
ter uma vida diferente da qual fui criada. Mas, eu sempre quis uma família.
Sempre desejei poder ter meus próprios filhos e tudo aconteceu sem ser
planejado e isso... Isso é assustador, Analu.
— Está tudo bem mudar seus sonhos, Haz — digo, firmemente. — Você
pode ser uma mãe incrível e, ainda assim, ser uma médica extraordinária.
Você pode querer o mundo se assim desejar. Não há porquê ter medo ou
atrasar seus sonhos por algum tempo, porque a sociedade impõe isso.
Sonhos não têm data de validade. — Seus olhos se enchem de lágrimas. —
Além disso, eu, Dylan e todos os nossos amigos estamos aqui para te
ajudar. Somos sua família, sua rede de apoio.
Uma de sua mão se junta a minha, entrelaçando-a.
É isso. Nós somos. E não há nada no mundo que mudará isso.
— Obrigada. — Ela sorri. — Eu precisava disso.
Meneio a cabeça, voltando a olhar para o céu. E tentando não
demonstrar a ela o quanto a novidade mexeu comigo.
Como anos atrás, eu precisava que alguém dissesse isso para mim e
ninguém nunca foi capaz. Como eu também precisei de uma rede de apoio e
não havia ninguém lá por mim. Como me senti quando me deitava noite
após noite, segurando minha barriga, imaginando como poderia proteger
aquele serzinho dentro de mim, que seria a minha luz em meio a escuridão,
que seria amigo de Theo.
Eu não pude salvar o bebê.
Não pude beijá-lo, amá-lo e ensiná-lo que, mesmo que o mundo o
destruísse, ele ainda teria a mim para ajudá-lo a curar suas feridas.
Eu não pude, mas farei o possível e o impossível para que Hazel possa.
— Por quê? — questiono de repente, mudando de assunto.
— Por que o quê, Analu? — contrapôs, confusa.
Hazel se mexe no chão da quadra, pousando a mão na barriga que gera
meu sobrinho.
Meu sobrinho. Um fruto do amor dela e de Dylan.
Um ser que eu darei amor, como aquele que nos faltou a vida toda.
— Por que Dylan te chama de Ma Belle? — Ergo uma sobrancelha. —
Nós estamos nos Estados Unidos, pelo amor de Deus!
Ela solta uma gargalhada.
É verdadeira. Real. Daquelas que não imaginei que um dia soltaria para
mim.
O som é suave, mas faz com que as batidas do meu coração se acelerem.
Pois finalmente eu a tenho, tenho a irmã que mesmo que eu negasse,
sempre quis conhecer, tenho uma parte que escolheu a mim e não a
Henrique.
Tenho alguém que me segurará sempre que eu precisar.
Tenho alguém que me ama na proporção que eu a amo.
— Duas semanas antes do acidente que matou Soph, nós falsificamos
um documento do colégio e fingimos que tínhamos que ir para Paris para
um debate estudantil. — Um sorriso cruza os lábios da minha irmã. —
Éramos imprudentes e irresponsáveis…
— Vocês eram apaixonados.
— Sim, nós éramos e ainda somos — a convicção em suas palavras me
fez sorrir. — Eu não sabia nada de francês, diferente de Dylan que já era
fluente desde aquela época. — Haz solta uma pequena risada. — Ele
traduzia tudo e qualquer coisa que eu perguntava. Poderia ser mínima coisa,
ele fazia questão de me explicar como dizer e qual o significado daquilo.
— Isso não me surpreende — Reviro meus olhos.
Dylan Blackwell, desde a adolescência, sempre foi obcecado por Hazel
Grace Smith.
Ele não desistiu até que ela olhasse para ele de volta.
Eu nunca soube como eles se apaixonaram, entretanto, sempre soube
que se amavam.
— Então, em certo momento, nós estávamos em um jardim lindo — ela
continua. Há um sorriso em seu rosto que eu compreendo. É o mesmo que
lancei a Levi. — Era o meu lugar favorito em toda a nossa viagem… E ele
apenas ficou me encarando e disse isso. Eu não entendi de imediato e ele
não traduziu, apenas repetiu por todo o resto do final de semana. Quando
estávamos no avião, ele finalmente me contou. E disse que não havia outro
apelido para mim que não fosse esse.
Seus olhos estão brilhantes e há um sorriso estampado em seu rosto.
— Você o ama.
Não é necessário dizer, mas vê-la assim me faz soltar um meio sorriso
pela sua felicidade.
— Desde os meus dezesseis anos. — Ela morde o lábio inferior. —
Dylan viu o meu pior lado e permaneceu, Analu. Ele sempre soube que eu
não tinha sido criada neste lado da cidade, que nunca pertenceria a essa vida
que vocês estão acostumados, e mesmo assim fez tudo para que
pudéssemos ficar juntos. Eu só queria ele e ele se doou por completo.
Eu só queria ele e ele se doou por completo.
A imagem de Levi e o que ele fez durante toda a nossa viagem toma
conta dos meus pensamentos. Ele fez isso, ele se doou enquanto a minha
insegurança, meus demônios me consumiam.
— Quando Sophie morreu? — pergunto, de repente.
— Eu o segurei. Durante toda uma noite, eu o segurei. — Sua voz agora
é apenas um murmúrio. — Ele segurou Verônica até que ela dormisse e
ajudou Ed. Mas, quando ele apareceu no nosso lugar, ele se quebrou. O
choro, a dor, a sua roupa ensanguentada. Tudo isso é uma lembrança que
nos marcou. E, quando ele foi embora para salvar o que restava de Verônica
e Ed… Eu soube que, de alguma forma, ele seria o pilar deles, mas ninguém
seria o dele.
— Por quê? — Franzo o cenho. — Verônica, ela…
Começo, mas sou interrompida.
— Estava quebrada demais para lidar com o sentimento de outras
pessoas — Hazel completa. — Eu a amo, mas todos nós sabemos que
Verônica saiu de Saint Vincent despedaçada. Não só pela morte de Soph,
mas ter tido o seu coração quebrado pela única pessoa que a fez sentir viva.
Logan e Vee eram os pilares um do outro e quando eles caíram pela traição,
todos nós fomos juntos.
— Eu sinto muito.
Ela ergue uma sobrancelha.
— Pelo que?
— Por também ter tido que abdicar de quem também te fazia sentir viva.
Hazel encara meu rosto. Não há lampejos de tristeza, mas existem de
compadecimento. Ela sabe, ela sente que eu não estou bem.
— Acho que poderia dizer o mesmo para você também.
Um suspiro salta dos meus lábios.
— Eu não o mereço.
— Por que diz isso? — Um vinco de forma entre suas sobrancelhas.
— Porque eu vou machucá-lo como te machuquei — as palavras
escapam dos meus lábios em um sussurro regado a dor.
Eu nunca parei para refletir em quanta dor eu guardei para mim e todas
as vezes que percebo que estou vulnerável, como agora, tenho vontade de
correr de volta para as minhas máscaras, minhas armaduras. Entretanto,
basta um olhar para o lado para perceber o quanto perdi ao achar que sentir
é sinônimo de fraqueza.
Sentir significa que somos humanos e os humanos erram.
Eu estou fadada a errar e não ser perfeita. E agir como um robô não
muda esse fato.
— Mas as pessoas também vão te machucar, Analu — afirma, dando-
me um pequeno sorriso. — Isso faz parte dos relacionamentos. Sejam eles
amorosos ou não. Isso faz parte da vida. Você vai errar, vai acertar e nem
sempre as coisas vão sair como espera. Porque não há como tudo ser
perfeito. Você só precisa entender que errar faz parte da vida. E recomeçar
também.
Suas palavras se infiltram em meu âmago.
Eu nunca tinha tido uma constante em minha vida. Alguém que quisesse
permanecer, que mesmo que eu dê inúmeros motivos para ir embora, ainda
continuasse. E mesmo após a semana em que a ignorei, destruí e quase
rompi com o pouco do que construímos, Hazel está aqui. Deitada ao meu
lado. Sorrindo para mim e me mostrando que talvez ainda haja esperança.
Ela que não me deve nada, mas veio por mim.
Ela, que teria todos os motivos para me odiar, porém, escolheu me amar.
Hazel Grace. Não Smith. Mas sim, Hazel Grace Parker.
Parker porque ela é uma de nós. Ela pode não aceitar o sobrenome e
entender perfeitamente. Contudo, ainda assim, ela é. Ela é a minha irmã.
Herdeira disso tanto quanto eu e Theo.
Eu ganhei alguém que me escolheu.
Não, Henrique. A mim.
Eu não estou mais sozinha.
Eu não sou insuficiente.
E mesmo que o mundo me abandone, ela estará lá por mim.
Porque é isso que irmãos fazem.
— Você é o meu sol, Analu.
Sorrio. Lágrimas preenchem a borda dos meus olhos.
— Você é a minha pessoa, Hazel.
Antes que as portas do meu coração se fechem
Alguém me toque
Sou muito jovem para me sentir tão
Entorpecido, entorpecido, entorpecido, entorpecido
Você poderia ser a única pessoa a
Feel Something | Jaymes Young
Filha da puta.
Eu definitivamente mataria Analu por ter me dado uma meia ereção
em uma reunião com uma senhora, que me encara com os olhos afiados e
nervosos. Mas, para a minha sorte, dez minutos depois a senhora se levanta,
se despedindo de nós dois e Sebastian encerra seu dia e se dirige até os
elevadores.
Antes mesmo das portas se fecharem, estou caminhando rumo ao
almoxarifado, desviando de todos que andam zanzando pelos corredores e
querendo dobrar uma certa loira na mesa e ensiná-la como não foder com
meus pensamentos durante uma reunião.
Mas, no momento em que adentro o enorme ambiente, eu me
encosto nas portas de vidro e a observo concentrada nos arquivos à sua
frente, enquanto se inclina na enorme mesa e apoia os cotovelos na
superfície, lendo-os com fascinação. Ela leva uma caneta até os lábios,
mordendo-a e sorri quando lê algo que concorda antes de abaixá-la e riscá-
la com orgulho.
Ela apenas fica ali, envolvida em algo que ama.
Apenas deixa o mundo de lado.
Apenas é quem nasceu para ser.
Apenas.
— Eu achei que casos litigiosos eram entediantes — brinco,
cruzando os braços.
Sua cabeça se ergue, sorrindo friamente.
— Eles são. — Dá de ombros. — Troquei com uma estagiária.
— E em qual você está agora?
Seu sorriso se amplia.
— Ação de assédio sexual contra um banqueiro milionário — a
êxtase em suas palavras. — Nós vamos destruí-lo.
— Filha da mãe — xingo me aproximando dela. — Não acredito
que enquanto eu estou cuidando de um caso de herança você está com um
caso desses.
Ela se inclina para mim, deixando um novo sorriso escapar.
— O que posso fazer se eu sou a melhor?
Ergo uma sobrancelha, pegando em sua cintura e puxando-a para
mim.
— Ainda tão egocêntrica.
Antes que ela possa responder, colo meus lábios nos seus e ela
devolve o beijo em uma urgência.
Analu me beija como se estivesse a ponto de querer destruir o
mundo por mim.
Nossas línguas dançam uma contra a outra enquanto ela me segura
contra si em uma sensação diferente, posso julgar que é até mesmo um mix
de emoção que nunca ousei sentir. É como se o mundo estivesse parando
para assistir o que juntos formamos.
Minha boca se desgruda dela apenas para pegar sua mão, e levá-la
até os fundos do almoxarifado, onde duas estantes de processos nos
escondem.
É perigoso.
Inebriante.
Proibido.
Pode nos custar nossos empregos e mesmo assim não nos
importamos. Nós voltamos a nos beijar como se dependêssemos disso,
como se o mísero pensamento de estarmos separados nos destruísse. Nesse
instante somos uma coleção inimaginável de pedaços estilhaçados que se
juntam em uma nova obra de arte que nem mesmo os maiores artistas do
universo explicariam.
É novo, forjados de anos de uma luta que sabíamos que jamais
venceremos.
Nós juntamos fogo com gasolina e deixamos queimar.
Incendiamos juntos.
— Me diga, princesa... — Mordo o lóbulo da sua orelha. — Qual a
sua escala de desespero para precisar transar no trabalho?
Umedecendo os lábios, ela sorri depravadamente.
— O suficiente.
A expressão que Analu adota, é regada à luxúria. Nós dois sabemos
que estamos brincando com o perigo e não nos importamos. Nós apenas
precisamos um do outro.
Sabemos que não sairemos daqui até que terminemos o que
começamos, mesmo que o escritório ainda tenha pessoas e que elas possam
entrar a qualquer momento. Eu não me importo porque tudo o que
realmente me importa nesse momento é a loira em meus braços que me
puxa para si, colando nossos lábios novamente e dissipando o resto de
distância entre nós e meu rosto quase se choca com o dela.
— Qual é sensação, princesa? — Deslizo a mão pela sua coxa,
subindo até sua meia-calça rasgando-a com as duas mãos e arrastando o seu
vestido até que esteja em volta de sua cintura e meus dedos em sua
calcinha. — Qual a sensação de estar molhada mesmo sabendo que
qualquer idiota pode entrar aqui? Qual a sensação de saber que em minutos
eu vou estar dentro de você, enquanto precisa segurar seus gemidos?
— Desgraçado….— rosna quando vê o feito que fiz em sua meia
calça.
— Sim, eu sei. — Dou um selinho antes de me abaixar. — Eu vou te
comprar novas meias-calças. — Do outro beijo. — Quer saber? Eu vou te
comprar a porra do mundo todo se desejar.
Sem me dar tempo para que ela possa responder, cubro sua boca
com a minha, segurando a parte traseira de suas coxas e a levantando-a e
sentindo suas pernas circularem minha cintura. Apoiando-a contra uma
estante firme de processos, a cabeça de Analu tomba para trás, quando
passo a língua pela sua pele deliciosa, distribuindo pequenas mordidas, ao
mesmo tempo que inclina seu pescoço, dando-me mais acesso.
— Eu odeio te desejar tanto. Odeio que você esteja constantemente
em meus pensamentos — ela grunhe, pegando meu rosto e me dando
inúmeros beijos. — E eu odeio essa maldita covinha que tenho vontade de
beijá-la a cada hora.
Sorrio perverso, ao mesmo tempo que ela se aproxima, deixa beijos
em minha covinha e eu levo minha mão até sua calcinha, a chegando para o
lado e esfregando o dedo do meio em sua intimidade, num movimento de
vai e vem fazendo com que ela jogue sua cabeça para trás outra vez, se
esfregando descaradamente em mim.
— Odeia, é? — Ela puxa com leveza os cabelos da minha nuca. —
Então, imagina o que todos funcionários pensariam se vissem a preciosa
Princesa de Gelo com as pernas em volta da minha cintura, esperando meu
pau como uma boa garota entre os preciosos processos?
— Você é um idiota.
— Sim, eu sei. — Finalmente, coloco um dedo dentro dela. —
Agora, cale a boca e me deixe te comer antes que alguém entre aqui.
Sua cabeça é jogada para trás novamente, sentindo-me deliciar com
a necessidade que nos consome. Meu dedo, desliza com destreza
aumentando a velocidade e fazendo-a morder os lábios para suprir os
gemidos.
E, porra é quente. Observá-la fechar os olhos e me apertar para não
dar indícios de que estamos fodendo no almoxarifado do maldito estágio,
que meses atrás estávamos quase matando um ao outro, quase me leva ao
delírio.
Um farfalhar de sons invade o corredor adjacente ao nosso,
aumentando a sensação de perigo, de que alguém pode entrar, virar o
corredor de processos e nos pegar nesta situação, onde meus dedos estão
dentro dela.
Com isso, retiro meus dedos de dentro dela, alcanço os botões da
minha calça, abro o zíper e abaixo a boxer. Observando seu rosto ansioso,
no momento em que puxo a minha carteira do bolso traseiro e retiro um
preservativo, a encarando.
— Eu queria aproveitar cada parte de você, princesa. — Pego meu
pau, depois de ter escorregado o látex pelo comprimento e pincelo em sua
entrada. — Mas só o pensamento de alguém vendo-a desse jeito ou
escutando-a, me deixa furioso.
E em um impulso rápido, preencho-a, fazendo um gemido alto
escapar dos nossos lábios e sou obrigado a cobrir sua boca com a minha
para calá-la. Com isso, não desgrudamos, sua boca se funde a minha a cada
vez que empurro dentro dela e escuto seus gemidos em nosso beijo.
É desleixado.
Toma conta de tudo dentro de mim e sinto todos os poros do meu
corpo se arrepiando pela forma urgente que sua língua se entrelaça com a
minha na mesma velocidade que sua boceta engole meu pau.
Impilo com mais força, a urgência crescendo e fazendo com que
alguns processos comecem a balançar, prontos para caírem e, porra, se isso
acontecer nós estaremos ferrados. Contudo, não me importo. Eu apenas
continuo empurrando para dentro dela e sentindo sua mão se agarrar ao meu
pescoço, arranhando minha pele.
Suas unhas deslizam pelo meu corpo, até segurar meu ombro,
fincando suas unhas em minha blusa branca, amarrotando-as. Analu se
afasta por um instante, olhando nos meus olhos enquanto fodemos como se
precisássemos disso. De nós. Como se o fato de estarmos nessa juntos, é
algo pelo qual ansiamos por anos.
Nunca desviamos o olhar, nunca quebramos a conexão.
Eu entro nela, reivindicando cada parte de seu corpo. E ela me
encara permitindo isso. Desejando e até mesmo suplicando.
Eu a levo tão forte, estocando até que seus gritos são impossíveis de
segurar e voltamos a nos beijar.
— Deus, Levi... — Suas palavras saem abafadas em minha boca.
Sorrio, me afastando dela e encarando seu rosto enquanto levanto
uma das mãos e tampo sua boca, sentindo sua língua se projetar para fora e
molhar minha pele, quando uma nova conversa é iniciada ao lado do
corredor onde estamos.
— Shh... Eu amo ouvi-la gritar meu nome, mas agora eu estou
tentado a socar todas as pessoas que ousassem vê-la assim, amor —
sussurro me inclinado, deixando um beijo em seu pescoço. — Então, seja a
minha boa garota e fique quieta enquanto eu te faço gozar.
Uma de minhas mãos sobe por baixo do tecido de seu vestido e
resvala seu mamilo, para então beliscá-lo antes de descer pela barriga e
encontrar seu clitóris, massageando-o com um pouco mais de rapidez.
Obrigando-a a morder seus lábios e fechar os olhos, pendendo a cabeça para
trás e se forçando em meu pau, sendo consumida pela sensação.
Não dou tempo a ela, apenas seguro suas coxas, marcando-as com a
força e começo a entrar e sair em um ritmo descontrolado, trazendo meu
corpo para frente e para trás rápido. Sentindo as folhas balançarem e as
conversas aumentarem.
Porra, perfeito!
Ela é perfeita.
Nós dois juntos somos perfeitos.
— Levi, meu Deus, eu vou... — sussurra.
— Eu sei, princesa.
Antes que ela possa gritar, colo sua boca na minha outra vez.
Devorando seus lábios em um outro beijo animalesco e envolvente.
Suas unhas se arrastam pela minha nuca, puxando-me para si quando
sua língua ataca a minha ao mesmo tempo que faço um movimento mais
forte, mais fundo e sinto suas pernas travarem em minha cintura, sentindo
suas paredes se contraindo. O orgasmo vem para nós dois como uma
explosão, tomando conta do nosso corpo.
Minha testa cai na dela, nossas respirações se misturam e um sorriso
cruza seus lábios. O sorriso que me dá é lindo, ocupa todo o seu rosto e
percebo uma coisa.
Ela está sorrindo para mim.
Apenas sorrindo.
Linda. Perfeita.
A única coisa que achei que nunca teria e agora percebo que jamais
viverei sem.
— Você fica radiante quando sorri — sussurro, com os olhos
cravados nela. — Eu nunca me cansaria de vê-la assim.
— Lev? — Meu coração salta em minha caixa torácica pelo meu
apelido saltar de seus lábios pela primeira vez. — No baile de formatura.
Você teria me dado aquele beijo?
Meus olhos fitam os seus e me lembro de tudo. Da sensação de tê-la,
da forma como dançamos e como presenciei a sua versão real.
— Sim... — Minha voz falha. — Eu teria te beijado até que suas
lágrimas secassem.
— Por que não o fez?
Eu nunca a vi desta forma, mas percebo que finalmente Analu
Parker está se permitindo sentir todas as coisas que reprimiu em seu peito.
— Porque não queria ser o seu prêmio de consolação, Analu — falo,
baixinho, me inclinando e encostando nossas testas. — Não queria ter sido
a sua última opção naquela noite.
Ela assente, descendo do meu colo e abaixando seu vestido enquanto
eu me ajeito em minhas roupas, quando estamos vestidos novamente, ela
ergue o rosto e me encara.
Não há decepção, nem medo. Há apenas seus olhos irradiando
sentimentos.
— Você não teria sido a minha última opção — confessa, rouca. —
Seria a minha única.
E eu preciso que você saiba que estamos
Entrando nessa tão rápido, caindo como as estrelas
Nos apaixonando
E não tenho medo de dizer essas palavras
Com você estou seguro, estamos caindo como as estrelas
Falling Like The Stars | James Arthur
PASSADO
Eu deveria ter ido com Logan.
Isso definitivamente é um fato incontestável.
Se eu tivesse ido quando paramos em frente ao nosso colégio, que
passamos toda a nossa adolescência e ele encarou o lugar como se fosse seu
pior pesadelo, eu sabia que deveria ter ido com ele. Sabia que preferiria vê-
lo se afogar nas corridas clandestinas, para depois se entorpecer do álcool
até que a lembrança de Verônica não fosse um mártir em sua vida do que
estar aqui.
Eu deveria ter ido.
Deveria porque se tivesse feito isso, eu não precisaria fingir que
estar nesse local, é onde quero estar. Que fingir que estou feliz quando é
aniversário do meu irmão, não me destrói.
Eu só gostaria de ter ido com ele.
Para casa.
Para o cemitério onde está Matt.
Para qualquer lugar que essa dor não me acompanhe.
— Quem em sã consciência largaria o baile para praticar corridas,
em um parque da cidade, quando sabe que provavelmente levaria a coroa de
rei do baile? — Josh pergunta ao meu lado, me tirando dos meus devaneios.
Ele sabe a resposta, mas não a aceita e eu encaro-o, franzindo o
cenho.
— Alguém que acabou de terminar o namoro e odeia tudo que
lembra ela? — Suspiro fundo.
— Não podemos deixá-lo viver assim, Lev — Josh suspira. — Se
não salvarmos ele, ele pode perder a bolsa para a SVU.
Eu sei.
Todos nós sabemos.
Entretanto, eu imagino o quanto isso deve doer. Imagino como é
amar alguém que te destruiu na mesma proporção que se destruiu. Entendo
que meu melhor amigo precisa do seu próprio tempo para se curar e mesmo
que eu deseje ajudá-lo da forma que for, sei que estarei aqui por ele quando
a dor estiver em seu ápice.
Eu vou, até mesmo, ler aqueles livros idiotas que ele ama, apenas
para que se sinta melhor. Eu vou salvá-lo como ele me salvou quando Matt
morreu.
— Onde está Logan? — Hazel, pergunta parando ao nosso lado.
Olho para a minha amiga, vestida em um vestido azul que combina
com seus cabelos escuros e para Summer ao lado dela que encara a todos
entediada. Nenhum de nós desejamos estar aqui. Até mesmo Hazel, que faz
parte da equipe organizadora, odeia esse momento.
Não deveria ser assim.
Nós deveríamos estarmos todos juntos. Logan deveria dançar com
Vee enquanto eles recebiam a coroa, Hazel deveria estar com Dylan.
Summer, eu e Josh deveríamos brigar para vermos quem conseguiria
aguentá-los por mais tempo.
Nós deveríamos estar juntos.
Mas, não estamos e isso dói.
— Parque de diversões — respondo.
— De novo? — Summer ergue uma sobrancelha.
— Ele precisa disso — digo, deixando meus ombros murcharem. —
Apenas vamos esperar essa palhaçada acabar e vamos atrás dele, ok?
Ninguém ousou discordar.
Entretanto, não nos movemos, apenas ficamos no meio do enorme
salão decorado com o tema de primavera e observando todos felizes e
comemorando o final de mais um ciclo, enquanto nós nos perguntamos se
eles não enxergam o sofrimento alheio, se eles não percebem que quase
ninguém está se divertindo ou se é apenas eu e meus amigos que estamos
tão quebrados, ao ponto de nem mesmo aproveitar nosso último dia, antes
das férias para então irmos para a faculdade.
Me questiono se percebem que Logan não consegue nem mesmo
entrar na escola ou que Hazel evita o olhar de todos após Dylan tê-la
deixado. Enquanto Summer se esquiva de qualquer pessoa e Josh apenas
sorri porque é educado. E, por fim, se vêem nos meus olhos que o garoto de
ouro, está infeliz ao ponto de odiar tudo isso.
Nós temos uma ruptura enorme entre nosso grupo. Aconteceu
quando Sophie morreu, depois quando Verônica e Logan se estilhaçaram e
finalizou quando os irmãos Blackwell nos abandonaram sem nem mesmo
uma despedida digna.
Nossa família sentiu a eclosão que aconteceu.
Sentiu de uma forma que nem mesmo conseguimos ignorar.
— Eu estou indo buscá-lo. — Hazel se irrita. — Ele não pode perder
isso.
— Ele não vai subir naquele palco, Haz — sussurro. — Não sem
Vee. Você sabe disso.
Antes que ela possa responder, a diretora do colégio sobe no palco e
sorri para todos. Uma parte de mim se irrita ao ver a maldita coroa sendo
carregada até o centro do palco e todos aplaudem ansiosos, já que a maior
concorrência já não está mais competindo por ela.
A diretora levanta um envelope dourado, contendo o nome do rei e
rainha do ano, sorri e se inclina até sua voz ressoar pelo salão:
— Boa noite, Saint Vincent College. — Algumas pessoas assobiam
e outras gritam, mas nós apenas encaramos a cena, apáticos. — É com
grande orgulho que apresentamos a vocês o rei e rainha do baile de
formatura deste ano.
Lentamente, ela abre o envelope.
Não deveria ser assim.
Não.
É errado.
Todos nós sabemos o que está ali.
— E o rei de Saint Vincent College desde ano, é Logan Underwood,
capitão do time de futebol. — Ela sorri procurando pelo meu amigo na
multidão e claramente não encontrando. — Acho que nosso rei está ausente
hoje, mas a rainha do baile é... — A diretora olha para o papel com uma
sobrancelha erguida. Mas sabemos que ela não dirá o nome que está escrito
ali. Não quando ela nem mesmo mora mais na cidade. — Analu Parker.
Há silêncio e depois há inúmeras palmas.
Ninguém esperava. Ela não esperava.
Analu sobe com calma as escadas até estar ao lado da diretora e
aceita a coroa e o buquê de flores. Mas não há alegria, não há desejo de
estar lá. Meus olhos fitam a loira em seu vestido preto, seu sorriso forçado e
seus olhos estão vazios.
Ela não desejava isso.
Mas, não posso deixar de reparar em como a coroa lhe cai bem.
Analu pode não ter reivindicado o título de rainha do colégio. Mas,
agora percebo ela e posso dizer que a loira ocupa o lugar de princesa.
Porque ela se parece e se porta como uma.
Seus cabelos caem pelas suas costas e uma aura fria emana de sua
expressão corporal.
Ela, que odeia a todos assim como todos a evitam.
Ela, que é o sinônimo de beleza.
Ela, apenas ela, poderia ter esse título hoje.
Analu Parker, a megera insensível é malditamente a princesa.
A princesa de gelo.
Percebo então que não há ninguém esperando por ela, quando desce
as escadas, e seu acompanhante sai pela porta lateral, acompanhado de uma
outra garota. Também não há ninguém envolvendo-a em abraços apertados
ou elogiando-a. Há apenas alguém que caminha pelo ambiente com o
queixo erguido e exibindo a coroa em sua cabeça, mesmo que eu tenha a
certeza de que ela odeia tudo isso.
A garota é como uma escuridão repleta de estrelas, é assustadora e
consumidora de toda a atenção ao seu redor, mas, acima de tudo, ela é
absolutamente extraordinária.
Mesmo que eu saiba que não esperava essa vitória, não posso deixar
de dizer que ela merecia.
Analu Parker, mesmo que não acredite, merece ser a rainha de algo.
E agora, é como se ela tivesse se tornado rainha de algo maior do
que essa simples coroa.
Há uma mão.
Há alguém me puxando.
Há alguém me salvando.
Mas, eu não quero ser salva.
Não quero que ninguém me tire dessa escuridão.
Não quero, não posso.
— Porra, eu não queria fazer isso! — A voz que me jogou na água
me faz encolher. — Porra. Porra. Porra.
De repente, eu sinto tudo.
Sinto o medo que senti debaixo daquela água. Sinto as memórias
que me assombraram. Eu sinto tudo. Cada parte da minha dor. E nada é
suficiente para parar a hemorragia que se forma em meu coração.
Abro os olhos, tossindo e expelindo toda a água que ingeri. Tudo em
mim é pânico, desde o gosto de cloro em meus lábios, que me lembram a
primeira vez que isso aconteceu, até a dor em tentar respirar e todos os
meus órgãos doendo.
Meus olhos se levantam rapidamente vendo o rosto pálido de Mike.
Ele me jogou e ele se arrependeu.
Ele me destruiu e acaba de fincar a última faca.
Ele me quebrou.
— Analu.
— Saia de perto de mim! — grito, me arrastando para longe dele.
Meu salto se agarra ao meu calcanhar, minha maquiagem está
borrada e meu corpo tremendo. Meu vestido se cola em meu corpo dolorido
e meus cabelos se grudam em minha testa. Lágrimas se misturam à água
que escorre do meu corpo.
Eu sou um desastre. Sou a personificação da fraqueza.
— Saia daqui! — grito de novo. — Saia!
Paro de rastejar quando minhas costas se chocam contra a parede.
Dói
Dói.
Dói.
Minha garganta queima e minhas lágrimas descem.
Eu não consigo parar de sentir. Eu não consigo suportar a dor.
Tudo em mim quebra. Tudo em mim sente.
— Ana...
— Saia daqui. Agora. — grito, histérica. — Saia. Saia. Saia!
Seus olhos se arregalam e eu puxo minhas pernas, abraçando-a
enquanto as lágrimas me inundam a borda dos meus olhos e descem pela
minha bochecha.
Eu estou perdendo o controle.
Nada pode me parar.
O nevoeiro de memórias me atinge, me sufocando.
E quando o observo correr para fora do ginásio, eu me arrasto em
direção à minha bolsa. Puxando-a até mim antes de me arrastar até o
banheiro do vestiário. Abandonando meus saltos pelo caminho e levantando
meu vestido até que minhas coxas estejam à vista.
Assim que estou em um dos enormes boxes, eu ligo o chuveiro e
escorrego pela parede até que estou sentada no chão, observando a água cair
pelo meu corpo e grito pela dor que se acumula dentro de mim.
Eu choro.
Eu grito.
Grito por tudo.
Deixo que a dor finalmente rompa minhas últimas barreiras.
Mas, nada é suficiente.
Eu preciso de mais.
E, mesmo assim, não é suficiente.
Preciso de mais. Preciso de algo que me ajude a dissipar todos os
meus pensamentos. Que essa dor me abandone.
Eu sei o que preciso.... eu...
Puxo minha bolsa, pegando minha carteira, deixando todos meus
cartões caírem no processo. Então, acho a única lâmina que sempre levo
escondida entre as minhas coisas.
Eu não deveria fazer.
Não mais. Eu prometi a Theo que cuidaria dele para sempre e para
isso eu preciso estar perfeitamente bem.
Mas, eu não posso. Não hoje.
Hoje eu preciso de uma válvula de escape.
Só uma, eu só preciso que isso pare.
E mesmo sabendo que não deveria, eu levo a lâmina até a pele da
minha coxa e vejo o sangue vazar, escorrendo junto à água.
Dói, mas não tanto quanto a dor que corrói meu peito.
Dói, mas não tanto quanto deveria doer.
Dói, a cada vez que eu me lembro do rosto das enfermeiras.
Dói. Dói. Dói.
Dói tanto que a exaustão me pega e a escuridão me abraça.
Ela me abraça e eu sorrio.
Acabou. É o fim.
Eles conseguiram. Todos eles me destruíram.
Eu não quero dizer adeus porque dessa vez é para sempre
Agora você está nas estrelas e sete palmos nunca pareceram tão longe
Estou sozinho aqui entre os céus e as cinzas
Oh, isso dói muito por um milhão de razões diferentes
Você tirou o melhor do meu coração e deixou o resto em pedaços
In The Stars | Benson Boone
PASSADO
Eu soube que tudo estava prestes a desmoronar quando o positivo
entrou em meu campo de visão.
Não precisou de mais nada, apenas aquela única palavra para me
fazer ter certeza de que estava entrando em um limiar entre proteger a
criança que crescia dentro de mim ou se eu me protegeria. Nem mesmo
havia alguém para me segurar quando finalmente fiz o teste no banheiro da
escola, enquanto as lágrimas desciam pelo meu rosto.
Não tinha como contar a ninguém.
Se eu fizesse isso, a probabilidade de Amara me tirar essa criança
era gigantesca. E não posso nem mesmo cogitar deixá-la me tirar a única
coisa que estou disposta a proteger. Por isso e por mais dezenas de coisas
que não estão sob meu controle, sei que posso apenas contar comigo e a
minha inteligência.
Sabendo disso, eu tinha plena consciência de que para conseguir ter
êxito nisso, eu precisava de duas coisas: dinheiro e um novo passaporte.
Precisava deixar tudo pronto para uma fuga, mesmo que meu nome
saísse em todas as revistas de fofoca ou noticiários.
A herdeira do Parker Group desaparece sem deixar rastros.
Essa seria a manchete perfeita, mas para que isso desse certo, eu
precisaria fugir na noite de formatura em seis semanas. Amara estaria em
uma das suas inúmeras viagens com suas amigas e Henrique nem mesmo
voltaria para casa.
Seria a minha chance perfeita.
Entretanto, nesse plano havia um problema: eu não podia deixar
Theo para trás. Não quando eu sou a única pessoa que ele confia além da
razão. Todavia, quanto mais tempo eu demorasse para decidir como eu o
levaria embora comigo, mais tempo meu filho corria perigo de vida.
Agora, enquanto observo a minha barriga ainda sem nenhum relevo,
eu sei que poderia enfrentar o mundo por esse pequeno ser.
Pela minha estrelinha como Theo chamaria.
Eu colocaria o mundo em chamas para que ele e Theo fossem
felizes. Eu renunciaria a tudo e a todos. Não me importava se a vida
luxuosa e o conforto se tornassem apenas uma lembrança distinta em minha
vida.
Contanto que eles estivessem a salvo, tudo estaria bem.
Suspirando fundo, abaixo o uniforme do Saint Vincent College e me
arrumo, colocando os saltos e indo até o meu closet, atrás de uma das
inúmeras bolsas. Tento não demonstrar o que o turbilhão de emoções está
fazendo comigo e treino um novo sorriso, mostrando a todos que eu não me
importo com nada.
Uma máscara que está prestes a ser abandonada.
Eu só preciso me manter fora das quadras.
Da equipe de líderes de torcidas.
Das discussões com Amara.
De qualquer coisa que vá me prejudicar.
Engolindo todos esses pensamentos, saio pelos corredores, indo em
direção a sala de estar e assim que meus pés tocam o último degrau,
observo Amara parada ao lado do sofá sorrindo amorosamente para mim.
Meus olhos fitam suas mãos abertas onde repousam alguns comprimidos e
um copo de suco.
Automaticamente meu cenho se franze quando ela ajeita a postura e
se aproxima de mim, fazendo com que o vestido amarelo de verão se
balance em seu corpo com elegância e assim que para a minha frente,
estende o copo, me entregando o suco, fazendo com que algo dentro de
mim se arrepie e tudo me mande correr sentido contrário.
— O que é isso? — questiono.
Ela continua sorrindo e me pergunto se seu rosto não dói com tanta
falsidade.
Amara não é assim.
Ela deveria parar de olhar para minha roupa e dizer que preciso
voltar às dietas que sua nutricionista monta para nós duas.
Essa seria a mulher que me gerou.
— Suas vitaminas semanais — responde me entregando um
comprimido de forma única de seis lados e outra pílula redonda e branca.
— Minha médica me indicou novas.
Uma careta se forma em meu rosto, ao perceber que esses são
totalmente diferentes dos que tomava sempre que treinava ou das que sua
nutricionista receitava.
Segurando-as na mão, encaro o rosto calmo de Amara. Ela nunca foi
atenciosa com essas coisas, nem mesmo se importava se eu as tomava ou
não. Não se importou quando Theo precisou fazer novos exames e não se
importou em nenhuma das vezes que eu me machuquei dentro ou fora das
quadras.
Ela não se importa conosco.
— Eu não preciso delas mais. — Entrego-as.
O sorriso em seu rosto morre.
— Por que não? — Irritação toma conta de suas palavras. —
Decidiu ficar desleixada com a saúde agora para chamar a atenção do seu
pai?
Fecho meus olhos por um segundo.
Isso está acabando.
Só preciso suportar isso por mais alguns dias.
— Eu não treino e nem preciso delas mais, Amara. — Cruzo os
braços. — Deveria saber disso.
Ela revira os olhos.
— Sim, eu sei que você parou de competir para ficar perto daquele
garoto inútil. — Ela sorri. — Agora tome-as.
— Não. Eu parei de competir porque tive que sair no meio de um
jogo importante porque você deixou Theo cair, e ele estava machucado.
Deixei de competir porque, sabia que se continuasse, eu teria que me afastar
dele. — Minha voz é irritada. — Eu parei de competir, porque escolhi meu
irmão acima do tênis e faria isso novamente.
Eu faria qualquer coisa por ele.
E por essa criança.
Amara revira os olhos, estende os comprimidos novamente e me
entrega.
— Eu preciso de você saudável, querida. — Ela me entrega o
comprimido novamente. — Então, beba e engula esses malditos
comprimidos de boa vontade antes que eu mesma a obrigue.
Está acabando.
Só mais alguns dias.
Isso é por Theo e pelo meu filho.
Para salvá-los.
Então, mesmo odiando, eu pego as pílulas em sua mão e engulo.
E faço a mesma coisa no dia seguinte. E no próximo.
Analu não havia desmaiado pelos cortes, mas sim, por uma síncope
vasovagal que foi provocada por queda da pressão arterial e dos batimentos
cardíacos devido ao estresse emocional extremo.
Ela sentiu suas emoções ao ponto que seu corpo não aguentou.
Ela se machucou propositalmente porque as memórias eram demais
para suportar.
Analu sofreu o inimaginável nas mãos das pessoas que um dia
chegou a acreditar que a amaram. Ela se destruiu achando que não merecia
as coisas que a rodeavam. Ela se blindou para que ninguém tivesse a chance
de chegar até ela. Agora, ela colocou sua vida em perigo, porque alguém foi
cruel o suficiente para fazê-la sofrer.
Alguém não, Amara Parker. A mulher a destruiu como se ela não
passasse apenas de uma boneca em sua mobília cara.
Ela a usou, abusou e destruiu.
Sentado no chão do hospital, puxo minhas pernas, escorando meus
braços em meus joelhos e deixo minha cabeça a pender, fechando os olhos.
Estamos aqui há horas e nenhum de nós ousou atravessar aquela porta, sem
que seja buscar café ou algo para comermos. Ao contrário disso, não
ousamos sair dessa sala mesmo que todos nos observem curiosos.
Nós não a abandonamos em nenhum momento.
Ela não está sozinha. Ela nunca mais estará.
Ficamos ao lado de Analu mesmo que ela esteja dormindo com
Hazel, Vee e Summer ao seu lado no enorme quarto.
De repente, uma movimentação e um choro falso faz com que eu
abra meus olhos, encarando o casal que adentra o ambiente fingindo que se
preocupa com a filha.
A mulher loira caminha com um lenço em mãos, secando as
lágrimas enquanto o vestido Gucci combina com o terno Tom Ford do
homem ao seu lado que olha para todos os lugares à procura de alguém.
— Onde está minha filha? — Amara grita para a recepcionista. —
Onde está o meu bebê?
Me levanto, ajeitando as roupas que Ed trouxe para mim poucos
minutos atrás e assim que marcho, a passos pesados, na direção do casal,
meu semblante se fecha e meus olhos ardem em fúria. Logan, Josh, Ed e
Dylan se levantam também, sabendo exatamente o que estou prestes a fazer.
Todos eles sabem o que os dois fizeram com Hazel e Analu.
Todos eles os odeiam tanto quanto eu.
E não vamos permitir que eles a machuquem novamente.
Embora nada possa ser comparar a raiva que me consome toda vez
que fecho meus olhos e a imagem de Analu desacordada em meu colo, com
sangue a rodeando, ressurge em minha mente. Eles são os culpados pelas
suas inseguranças, medos e pela forma como ela agiu. Eles são responsáveis
pelo sofrimento que ela viveu e pela forma como precisou moldar a
realidade à sua volta para sobreviver.
— Vocês não vão entrar no quarto dela — afirmo, convicto.
Henrique dá um passo à frente, ergue o queixo e me encara.
— E quem você pensa que é para me impedir?
Passo a língua pelo meu lábio inferior antes de lhe lançar um sorriso
perigoso.
— Eu sou o homem que esteve mais tempo ao lado dela, nos últimos
meses, do que você em toda a sua vida medíocre. Eu sou a pessoa que a
segurou quando ela me contava cada atrocidade que sua esposa fez. Eu sou
quem a enxergou além de uma boneca de porcelana e a fiz sentir-se
valorizada. Eu conheci seus monstros e os abracei junto aos meus, então,
não seja condescendente comigo. — Minhas palavras saem altas e ele reteia
um segundo. — E só para te deixar ciente, Henrique Parker, eu sou a porra
do homem que vai colocar um anel no dedo dela e vai convencê-la a
abdicar desse sobrenome imundo que você carrega. E eu serei eu a pessoa
que irá fazer com que ela seja a pessoa mais feliz do que você jamais
imaginaria. Eu serei o segundo homem da vida dela, porque sei que Theo
sempre ocupará o primeiro lugar e jamais competirei com ele.
Ele não diz nada, apenas me observa com algo que não sei decifrar.
Inveja talvez. Inveja por ser corajoso o suficiente e lutar pela mulher
que amo. Despeito por estar tirando a sua herdeira.
Ele me olha com todos esses sentimentos e eu não me importo.
— Você é apenas a conquista mais recente da minha filha, querido
— Amara sorri falsamente. — Não se iluda achando que ela pode sentir
algo por alguém além de si mesma.
Encaro a mulher à minha frente.
— E você descobriu isso como? — questiono, cruzando os braços.
— Na primeira vez que a afogou em uma piscina, porque seu marido
preferiu a companhia de outras mulheres à sua ou quando induziu um
aborto em uma garota de dezessete anos?
Os olhos dela se arregalam, Henrique, de repente, pega o braço de
Amara e o segura com força.
— Você fez o que com a minha filha? — sua voz exaltada alerta os
seguranças que se aproximam.
Ele a encara como se ela fosse o pior ser humano na Terra e eu não
discordo. Amara merece tudo que está vindo para ela. Ela merece perder o
que sempre lutou para ter e eu não descansarei enquanto Analu não
terminar de destruir a sua progenitora. Entretanto, essa demonstração de
sentimentos de Henrique não anula o fato de que ele também teve
contribuição para o que está acontecendo com Analu.
Meus olhos vagueiam pelo ambiente pousando na mulher parada no
final do corredor. Amanda observa-os de longe com um ódio que nem
mesmo poderia descrever. Ela é a única mulher boa em toda essa história.
Ela lutou para proteger Hazel, se destruiu no caminho e mesmo assim não
desistiu. Ela se formou em enfermagem, deu um futuro digno a Hazel e foi
uma boa mãe para Chris e minha amiga.
Ela, de todos eles, é a única que merece encontrar a felicidade
novamente.
— Eu não fiz isso. — Amara se encolhe. — Eu nunca machucaria
nossa filha.
— Você fez. — A voz de Amanda ressoa, calando todo o ambiente.
— Você fez tudo isso. Você destruiu a sua própria filha. E quando não se
contentou em machucá-la, lhe tirou algo imperdoável. Eu estava aqui e fui
uma das enfermeiras que a segurou quando Analu gritou sobre ter perdido
seu bebê, sobre não termos conseguido salvá-lo. Eu estava aqui segurando
sua filha quando ela se quebrou, porque a sua ambição era maior do que o
desejo de protegê-la e você, além de tê-la destruído, ainda fez com que todo
o hospital apagasse o histórico dela, para que ninguém soubesse que a
herdeira Parker havia ficado grávida na adolescência.
Amara encara Amanda com desdém.
— Não dirija suas palavras a mim, sua garçonete imunda — cospe,
enojada.
— Você quer saber, Amara? Eu estou cansada de você e da sua
arrogância. — A mãe de Hazel se aproxima de nós, se colocando a minha
frente. — Você se diz tão elegante, tão perfeita, mas na verdade é apenas
uma vadia sem coração, que precisa fazer tudo isso para esconder que,
ainda, continua sendo a filha de um pai corrupto. Você fez o possível para
destruir a todos por conta de alguém que eu nem mesmo faço questão. Você
nos obrigou a ficarmos caladas e quer saber? Eu vou perder meu emprego,
mas irei fazer o que eu sempre sonhei desde que soube o que você fez.
Amara abre a boca para dizer algo, mas antes que possa falar
qualquer coisa, um tapa estala na recepção. Um tapa seguido de vários
outros. Meus olhos se arregalam ao perceber que Amanda fez o que a mãe
de Analu merecia por todos esses anos. Ela desconta toda a sua frustração e
ódio na mulher que merecia viver o inferno que fez todos passarem.
— Isso foi por ter tentado machucar a minha filha quando ela era
uma criança. — Outro tapa. — Esse por ter machucado Analu quando você
deveria ter protegido-a. — Mais um tapa e Amara tenta devolver sem
sucesso. — E esse é por você ter destruído a minha vida e das garotas que
merecem o universo.
Quando ela finalmente se afasta, parando ao meu lado, eu sorrio e
cruzo os braços.
— Vocês não irão entrar no quarto dela. — repito e não há brechas
de dúvidas em minhas palavras. — E se vocês tentarem algo, eu não
hesitarei em destruí-los. E isso definitivamente, é uma promessa.
Eu não espero pela resposta e nem desejo ouvi-la, apenas me viro e
sigo pelo corredor, rumo ao quarto de Analu. Assim que abro a porta
devagar, a imagem que encontro deixa todo meu coração aliviado.
Ela está bem.
Ela está segura.
Ela não nos abandonou.
Ao lado dela, Hazel descansa sua cabeça em seu ombro enquanto
Verônica e Summer estão dormindo em duas poltronas que acredito serem
desconfortáveis, mas que ninguém ousou discordar de quando disseram que
estariam ao lado de Analu até que ela acordasse.
Elas permaneceram.
Cada uma delas seguraram a mão de Analu e não soltaram.
Elas mostraram à loira que estariam ali por ela em qualquer situação,
em qualquer momento. Porque é isso que elas são, elas são uma unidade
que não se pode separar ou quebrar.
Essas quatros mulheres, são irmãs. São família.
E não há nada mais lindo que a amizade delas.
— Oi, Lev — a voz sonolenta de Summer me faz virar o rosto até
onde ela agora se levanta.
— Oi, Sum — cumprimento, soltando uma respiração. — Como ela
está?
— Querendo matar alguém por não darem alta logo. — Um sorriso
nasce em seus lábios e ela se aproxima, puxando-me para um abraço. —
Você se lembra quando me disse que desejava o que Logan e Dylan tinham?
— Sim? — Ergo uma sobrancelha.
— Você encontrou, Levi. — Ela sorri. — Você encontrou alguém
que vai estar lá por você, que não só vai ver você ser o melhor na classe de
debate, como vai estar ao seu lado competindo. — Meu olhar vai para a
loira adormecida. — E você finalmente tem a pessoa que merece o pedido
de Matt.
Engulo em seco.
Eu nunca parei para pensar que ainda estava o guardando.
— Você acha...
— Eu tenho certeza. — Ela fica na ponta dos pés e beija minha
bochecha. — Eu te amo, Lev.
Eu encaro a minha melhor amiga.
Seus olhos brilham em minha direção e eu fico eternamente grato
por ela ter chutado a minha bunda quando necessário, mesmo que isso
significasse entrar em um relacionamento falso com um cara que ela
odiava, apenas para não machucar as pessoas que a rodeavam.
— Eu também te amo, Sum.
Eu quero testemunhar
Gritar na luz sagrada
Você me traz de volta à vida
E tudo isso em nome do amor
In The Name Of Love | Martin Garrix feat. Bebe Rexha
Quando decidi que pediria a Elijah, uma última vez, a verdade sobre
Amara, nunca imaginei, que ele realmente estava disposto a conversar sobre
isso. Nunca imaginei que horas após ganhar aquele jogo, ele realmente teria
me mandaria um e-mail marcando um novo treino para isso.
Ele a protegeu por anos.
Ele aceitou a ira de Henrique e me treinou apenas porque ela pediu.
Elijah odiou cada segundo e mesmo assim não pediu demissão.
Contudo, todas as vezes que seus olhos me fitavam, era como se ele
soubesse algo que eu nunca teria como imaginar e agora, enquanto caminho
em direção a quadra de tênis, onde ele me espera para o nosso último treino,
me pergunto se estou pronta para realmente saber o que ele tanto esconde.
— Você está atrasada para alguém que deseja tantas respostas — ele
grunhe, segurando sua prancheta.
Os cabelos castanhos claros, mandíbula afiada e um olhar vazio me
fazem estagnar.
— Eu estou no meu horário. — Ergo uma sobrancelha. — Agora eu
me pergunto se você está pronto para deixar de ser a cadela de Amara.
Ele sorri, jogando-me uma raquete e eu a pego, acompanhando-o até
a quadra.
— Você acha que eu sou o pai de Theo. — Não é uma pergunta.
— Você é?
Ele me encara por um segundo, antes de deixar os ombros caírem e
um sorriso fraco nasce em seus lábios.
— Não. — Elijah suspira. — Eu não poderia ser.
— Então, por que Henrique te odeia? — questiono.
— Você já procurou saber o nome de solteira de Amara? —
contrapõe.
— Daugherty — digo, me lembrando da vez que vasculhei atrás de
algo que me ajudasse a derrubá-la.
— Não, Analu. Esse é o que ela colocou em seus documentos após a
morte dos seus pais — Ele sorri. — O que eu quero saber é se você sabe
qual é o sobrenome de solteira da mãe dela.
— Não. Ela nem mesmo falava de seus pais.
— Não me surpreende. — Ele sorri novamente. — O sobrenome
dela era Caine, Analu.
Caine. Caine como Elijah.
— Então você...
— Sou irmão da sua mãe, Analu. — Ele deixa um suspiro sair de
seus lábios. — Então, não posso ser o pai de Theo.
Então tudo o que eu estava planejando se torna, de repente, a coisa
mais patética do universo.
Se Elijah não é pai de Theo, quem poderia ser? Quem seria tão
monstruoso ao ponto de se relacionar com Amara sabendo que ela não é
uma mulher confiável?
— Se você não é o pai dele, por que você é tão fiel a ela?
— Eu não sou fiel a sua mãe. Se ela morrer, eu não me importaria
nem mesmo em comparecer ao funeral — ele afirma e vejo a fúria em suas
pupilas. — Quando eu me lesionei e não pude mais voltar às quadras, eu me
viciei em analgésicos. Sua mãe pagou todo o meu tratamento e cuidou das
manchetes que saíram com nosso sobrenome envolvido, em troca de que eu
treinasse você, para que Henrique sentisse orgulho ou algo semelhante. Não
me importava com você ou Theo, eu só queria a minha paz de volta e todas
as vezes que tentei sair, ela me chantageou com seus truques idiotas. Mas,
quando eu te vi abandonando a quadra na sua última competição, porque
seu irmão estava machucado, eu soube que você não era uma cópia da sua
mãe e que ainda restava alguém com nosso sangue que valeria a pena
salvar.
Solto uma risada falsa.
— Então, você escondeu os segredos dela por benevolência?
Ele cruza os braços frente ao corpo.
— Eu fiz isso porque você não estava pronta para saber a verdade.
Fiz porque você ainda era uma adolescente mimada que não saberia lidar
com a verdade. — Seu rosto não me indica que está brincando. — Como
sua mãe se casou com seu pai?
— Um acordo entre meus avós.
— E por que esse acordo foi feito?
— Porque a empresa de Henrique estava passando por uma troca de
diretoria e precisavam mostrar que ele era responsável o suficiente para
administrar todo o Parker Group — minha voz, sai confusa por não
entender o motivo que ele está relembrando isso.
— E por que será que, de todas as socialites, Amara, a filha de um
corrupto, foi a escolhida? — Um sorriso lascivo salta dos seus lábios. —
Por que alguém se casaria com ela?
— Ela o chantageou.
— Imagina o mundo todo saber que o herdeiro Parker tinha um caso
com uma garçonete que cursava enfermagem por uma bolsa estudantil? —
ele pergunta retoricamente.
A constatação caí sobre mim.
Por isso a luta para se manter no topo. Por isso a obsessão por
Henrique não sujar o nome da família com as suas traições. Amara tinha
medo de que acontecesse a mesma coisa com ela novamente. Ela tinha
medo de que as pessoas a olhassem com desdém, com despeito e a achasse
inferior.
Ela me destruiu para controlar como as pessoas a enxergam.
Meus olhos se arregalam.
— E você? Por que nunca saiu nada na mídia sobre você?
— Eu nunca fui próximo dos meus pais por não me interessar pela
empresa deles, então, fiz a minha carreira com o nome de solteira de nossa
mãe e quando tudo explodiu, fingi que os não conhecia.
— Tão fácil assim?
— Tão fácil assim. Você nunca se perguntou como seus avós
morreram? — Ele ergue uma sobrancelha e eu dou de ombros
desinteressada. — Você definitivamente odeia a sua família.
— Sim, eu odeio. — Dou de ombros. — Agora, continue.
— Acidente de carro, Analu.
— Proposital, eu suponho.
— Foi dado como suicídio — sinto o rancor em suas palavras. —
Mas meu pai era orgulhoso demais para cometer algo assim.
— Não há provas. — Cruzo meus braços. — Se você for esperto o
suficiente, saberá que para reabrir um caso de tamanha repercussão, você
terá que possuir provas concretas. Além disso, isso foi há anos, o que
significa que talvez o crime já tenha sido prescrito. O que não me ajuda em
nada.
Ele sorri.
— Mas isso não significa que você não pode alegar instabilidade
emocional e comportamental em relação a criação de Theo. — Meus olhos
se fixam nos seus. — Você pode se tornar a guardiã legal dele e tudo o que
ele tem direito por lei.
Franzo o cenho.
— Não se o pai dele estiver vivo. — Solto um suspiro. — E você
tirou todas as minhas expectativas ao me dizer que era irmão dela. A não
ser que tenha um fetiche estranho.
Ele sorri.
É um sorriso repleto de sentimentos que não consigo compreender.
Elijah sempre foi uma pessoa fechada, nunca confiou em ninguém.
Antes, eu achava que se dava ao fato de sua lesão, mas agora percebo que
ele é assim porque a sua própria irmã assassinou seus pais e destruiu tudo o
que o rodeava.
— Você tem certeza de que ele está vivo? — pergunta.
— Você sabe de algo a mais?
— É estranho Theo ter olhos verdes e o cabelo de um tom loiro
escuro, quando você e Amara possuem olhos castanhos e o loiro mais claro,
certo?
— Isso não me ajuda em nada, Elijah. — Reviro meus olhos. —
Pessoas têm filhos com características diferentes, principalmente quando os
pais não são os mesmos.
Ele dá de ombros.
— Você tem razão. — Suspiro fundo, pronta para me virar e ir
embora, entretanto suas palavras me fazem estagnar. — Mas você já
percebeu como Theo e Andrew são parecidos? Ou como os olhos de Oliver
são iguais aos de Theo?
Meu rosto fica pálido.
Eu nunca havia feito a comparação de semelhanças.
Nunca passou pelo meu pensamento.
Amara e Brandon? Impossível.
Não. Não. Não.
As vezes que ela foi para Nova York, a forma como sempre voltava
feliz, passam pela minha mente. Eu não posso acreditar nisso. Brandon
Wright sempre foi um monstro e não acredito que Amara se prestaria a isso;
A se relacionar com um homem que espancou o próprio filho e tentou
assassinar a esposa.
O pior disso tudo, é que ela realmente teria essa coragem, porque ela
me destruiu apenas pela sua ambição.
— Impossível... — me pego sussurrando.
— Pergunte a Oliver o nome da mulher que estava no apartamento
em Nova York quando ele era uma criança e derrubou a bebida favorita de
seu pai pelas escadas, fazendo com que ele a mandasse embora com um
motorista. — Elijah diz e tudo dentro de mim vira gelo. — Pergunte a ele
como ela o encarou e tire suas próprias conclusões.
— Como você sabe disso?
— Sua mãe estava hospedada no meu apartamento e xingou o
pestinha por uma noite toda. — Ele revira os olhos. — Eu apenas colhi as
informações que achei necessárias.
— Se isso for verdade...
Ele dá um passo à frente e estende uma pasta para mim.
— Você terá a guarda de Theo, Analu. — Ele sorri, é verdadeiro. —
Aqui estão as provas que você precisa. Qualquer coisa, você sabe onde me
encontrar.
Eu a pego e me viro.
Meus pensamentos a milhões por hora.
Theo, meu irmão, também pode ser irmão de Oliver e Andrew.
Puta merda!
Sabia que nos tornaríamos um bem no começo
À primeira vista, senti a energia dos raios de sol
Vi a vida dentro dos seus olhos
Então brilhe intensamente
Esta noite Você e eu
Nós somos belos como diamantes no céu
Diamonds | Rihanna
Mike me tirou algo que jamais deveria ter tirado. Ele tocou em uma
ferida que estava começando a cicatrizar. Então, me machucou e ninguém
me machuca sem que eu possa devolver o golpe.
Por isso, nós retaliamos tirando duas coisas que ele amava: o futebol
e o seu carro.
E me deleitei em cada segundo disso.
E Deus sabe que eu não estou morrendo mas eu sangro agora
E Deus sabe que é a única maneira de me curar agora
Com todo o sangue que eu perdi com você
Também se afoga o amor que eu pensei que conhecia
My Blood | Elle Goulding
Há uma coisa que todos sabem sobre nós: nós damos as melhores
festas!
Não há como negar. Quer dizer, nós esquecemos que a última existiu
e focamos nessa, principalmente porque, nesse exato momento, todos meus
amigos estão nela e se divertindo.
Não há mais aquele clima tenso e nem segredos pairando sobre
todos nós.
Nós voltamos a ser o nosso grupo de sempre.
Sem rupturas.
Observo Oliver segurar a mão de Summer girando-a, enquanto a
loira gargalha da forma como seu rosto emite uma careta por estar sóbrio,
no meio de tantas pessoas bêbadas. Ao lado dele Josh, Verônica e Analu
enchem três pequenos copos de tequila, pegam o limão e então viram o
líquido âmbar em seus lábios, emitindo uma careta.
De repente, Vee olha para a minha garota, lança a ela um sorriso
maquiavélico que Analu prontamente devolve e até mesmo Logan ao meu
lado, solta um suspiro.
Não.
Não.
Não.
Isso está acontecendo.
Elas estão voltando a fazer isso.
Estão recuperando uma tradição quebrada.
As duas caminham até Hazel e Summer, pegam suas mãos e se
viram, caminhando em direção a tão famosa mesa. E como se o DJ
entendesse o que elas estão se organizando para fazer, de repente, a melodia
de That’s My Girl do Fifth Harmony toca nos quatro cantos da casa.
Elas, o elo de Saint Vincent, estão nesse momento fazendo o que
todos sentíamos falta. Analu, Summer, Verônica e Hazel sobem com
cuidado e assim que estão centralizadas, o refrão da música ecoa e elas
dançam como se suas vidas dependessem disso.
As quatro mulheres conhecidas por nós se destacam entre o
aglomerado de pessoas.
Elas refazem sua tradição.
Elas se unificam de novo.
Summer joga a cabeça para trás sorrindo ao lado de Analu que diz
algo a Hazel. Verônica pega a garrafa de tequila, leva até os lábios e passa
para Sum, que prontamente imita a amiga, ingerindo o líquido.
Elas nem mesmo percebem que viraram atração da festa.
Que estão replicando a tradição que jamais deveria ser quebrada.
Entretanto, de repente, elas se abraçam desleixadamente. Se
abraçam não se importando se esse é um péssimo lugar para fazer isso. Elas
apenas mostram ao mundo o que esse quarteto é.
As quatro mulheres mais destemidas de Saint Vincent se abraçam
em cima de uma maldita mesa, como se mostrassem ao mundo que nada
está acima da amizade delas e talvez não esteja mesmo.
Elas se escolhem, se protegem e se amam.
Mesmo que o mundo tente separá-las, elas sempre encontram o
caminho de volta umas para as outras.
Dylan caminha a passos rápidos até lá e se escora na madeira,
olhando para cima, em direção a sua namorada que, agora, o encara com
um brilho conhecido nos olhos. Logan e eu caminhamos até encontrar
Oliver no caminho e paramos em frente a elas que erguem uma
sobrancelha.
— Qual a chance de você fugir comigo nesse exato momento? —
pergunto.
Analu sorri, se inclinando.
— Eu vou poder dirigir o seu carro? — devolve e eu solto uma
gargalhada.
— Talvez mais tarde — Dou de ombros. — Então?
Ela se inclina, segura em meus ombros e eu a desço sorrindo.
— Ei, sua traidora! — Verônica grita.
— Eu achei que ficaríamos bêbadas. — Sum diz fazendo beicinho.
— Vocês já estão bêbadas — Analu ergue uma sobrancelha.
— Mas você não — Elas contrapõem.
— Que pena. — Ela dá de ombros. — Agora eu preciso aproveitar
o meu idiota antes que ele vá competir amanhã. — Ela se virá para mim. —
E eu apostei quinhentos dólares com as meninas e com Logan de que você
vai vencer amanhã, aliás. Então, se você não ganhar, eu te deixarei sem
sexo por uma semana.
Jogo minha cabeça para trás gargalhando.
— Você sempre aposta?
Analu me encara, lançando-me uma piscadela.
— Quando você está envolvido? Com certeza.
Solto um novo sorriso e puxo-a pelas dezenas de pessoas até meu
carro estacionando na garagem privativa. Assim que ela está confortável em
seu banco, dou a volta e me sento no meu, acelerando até a saída da
propriedade dos Blackwell e pegando a rota para a casa mais afastada da
Parte Alta, que pertence aos meus avós.
Eles haviam dado a propriedade aos meus pais, mas ambos
decidiram que gostariam de deixá-la para mim e Meg. O que me faz sempre
ir para lá, quando o peso do mundo desaba em minhas costas. Sempre que
eu acho que não há lugar do mundo para mim.
Eu me sinto em paz lá.
É o meu porto seguro.
E agora quero que seja de Analu também.
Assim que os enormes portões se abrem e temos a mansão, eu
sorrio. A residência é rodeada por jardins meticulosamente cuidados e
árvores imponentes. A fachada captura a essência leve e clássica que meus
avós adoravam. Colunas de mármore clássico sustentam um alpendre
adornado com detalhes entalhados à mão, evocando uma sensação de
nobreza e prestígio.
Os tijolos aparentes exalam uma aura de tradição e autenticidade,
enquanto as janelas de vitral cuidadosamente trabalhadas refletem a luz do
sol em tons deslumbrantes por toda a residência.
Assim que estaciono, Analu ainda está olhando para todos os
detalhes com os olhos brilhando.
— Vem, eu tenho algo para você — digo, pegando sua mão e
puxando-a.
Assim que estamos dentro da residência, Analu observa tudo
intrigada. Seus olhos nunca perdem um só detalhe e observá-la encarar todo
o ambiente me mostra que eu fiz a coisa certa em ter guardado esse lugar
para mim até ela chegar.
Caminhando pelos corredores, eu a guio até as portas duplas de
mogno maciço e assim que a abro, os olhos de Analu brilham e os lábios
entreabrem, surpresa.
Quero que construa a sala secreta na biblioteca da vovó e leve
apenas a pessoa que confia lá e conte sobre nossos sonhos.
A voz de Matt soa em minha mente. Eu cumpri a minha última
promessa.
Eu trouxe alguém que confio e amo para o nosso lugar favorito.
Eu contei todos os nossos sonhos.
— Levi, isso é extraordinário. — sussurra, adentrando o espaço.
As paredes são revestidas com estantes de madeira escura que se
estendem até o teto, repletas de prateleiras de livros que contêm uma vasta
coleção de obras literárias. Cada prateleira é meticulosamente organizada,
criando uma sensação de ordem e serenidade.
Assim que paramos no centro do enorme salão, é como se ela
estivesse sido transportada para um mundo de conhecimento e beleza, onde
as páginas do passado e do presente se entrelaçam. Percebo, que para ela,
esta biblioteca é mais do que uma simples sala; é um santuário, um refúgio
para a sua mente e a imaginação.
Escorando-me em uma poltrona de couro envelhecido, observo-a
caminhar até as prateleiras e dedilhar as lombadas dos exemplares,
sussurrando os títulos baixinho.
Mas, é quando me afasto e caminho até uma porta secreta, que sua
atenção se volta para mim. Porque é atrás dessa porta, que eu realmente
guardo o meu maior tesouro. Analu caminha até mim a passos lentos e
assim que abro a sala secreta, seus olhos enchem de lágrimas na borda.
Porque ali, entre tantos lugares, eu mandei reformar toda a sala
secreta que Matt e eu amávamos. Agora toda a decoração imita o castelo de
Hogwarts. A única estante ali, possui todos os exemplares de seus livros
favoritos e todas as coleções disponíveis de Harry Potter.
Esse lugar que um dia foi o meu refúgio e do meu irmão.
Agora é o meu e o dela.
É para onde corremos quando não conseguirmos suportar nem
mesmo a nossa presença.
— Você fez isso por mim? — Ela pergunta, se virando para mim e
mordendo o lábio inferior.
— Sim. — Dou um passo à frente e coloco as mãos no bolso. — Eu
faria qualquer coisa por você.
Analu me acompanha dando um outro passo à frente.
— Você quer saber um segredo meu?
— Todos eles.
— Em um dos meus livros favoritos, eles apagavam a memória do
protagonista diversas e diversas vezes. E não importava quantas vezes
redefinissem a história, no fim, ele sempre se apaixonaria por ela
novamente. — Ela sussurra. — Você é assim para mim, Levi Johnson, eu
poderia me apaixonar por você inúmeras vezes. Eu sempre irei encontrar o
caminho de volta para o seu coração. Porque você foi meu brilho em meio a
escuridão. Foi o meu melhor amigo quando eu achei que estava sozinha.
Você me empurrou ao meu limite para que eu pudesse reagir. E eu jogaria
aquela coroa idiota mil vezes no lixo e dançaria mais mil vezes ao seu lado,
em um jardim abandonado, se isso significasse que me apaixonaria por
você no futuro, como eu me apaixonei. — Analu dá mais um passo e ergue
o queixo. — Eu te amo. Te amo com todas as nossas apostas, todas as
nossas provocações. Eu te amo por você ter dado um novo colorido a minha
vida e me feito perceber que eu não estava fadada ao fracasso.
Fecho o espaço entre nós dois.
Me abaixo e beijo seus lábios.
Eu a amo, ela me ama. É o suficiente.
Nós somos suficientes.
— Eu sempre achei que minha casa era a água. Sempre achei que eu
nunca conseguiria querer ter uma família, mas, mais uma vez, eu estava
errado. Eu sempre achei essas coisas porque ainda não tinha te encontrado,
princesa. Eu quero o mundo com você. Eu quero que sejamos os advogados
mais extraordinários do país. Quero construir uma vida ao seu lado. Eu
quero tudo com você. — Sorrio segurando seu queixo. — Eu quero assistir
Harry Potter e descobrir a minha casa, mesmo que eu não entenda nada
disso. Quero roubar champanhes depois das nossas competições. Quero
observá-la ser a melhor advogada. Eu quero tudo ao seu lado, porque você,
Analu Parker, é a minha casa.
Ao nosso lado, eu abro um pequeno armário e retiro de lá a única
coisa que deixei guardado por anos aqui.
Seus olhos se arregalam e eu sorrio enquanto levanto a coroa de
plástico e a coloco em sua cabeça, como deveria ter sido naquela noite.
Sorrindo amplamente, eu me abaixo, deixo um beijo em sua bochecha e me
afasto.
— Você a pegou.
— O lugar dela nunca foi naquela lixeira — murmuro. — Ela foi
feita para estar em sua cabeça, meu amor. Você é a rainha. Não só do baile,
você é a porra da rainha do meu coração.
Analu segura meu rosto, se firma em seu salto e dá um beijo na
minha covinha. E eu sorrio pela forma como a coroa fica torta em sua
cabeça e ela nem mesmo se importa.
— Eu estou ao seu lado até o fim, Levi Johnson.
Ela sorri. É lindo. Perfeito.
— Até o fim, Analu Parker.
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Se me perguntarem quais dos livros de Saint Vincent foi mais difícil de
escrever, eu sem dúvidas direi Masked Hearts. Ele foi um desafio, um
desafio que eu embarcaria dezenas de vezes, porque me ensinou mais do
que eu imaginava aprender. Analu e Levi foram personagens complexos,
envoltos em camadas que achei que não seria capaz de desvendar.
Entretanto, mais uma vez, eles me ensinaram que eu estava errada. Que eu
era sim capaz de conhecer e escrever sobre cada nuance que os
compunham.
E, para fazer isso, nunca estive sozinha. Para que Analu e Levi
realmente nascessem, eu tive pessoas incríveis ao meu lado que surtaram,
apoiaram e seguraram a minha mão durante todo o trajeto. Por isso, por
elas, eu estou escrevendo esses agradecimentos agora.
Em primeiro lugar, quero agradecer a minha mãe, meu braço direito, a
minha melhor amiga, que segurou o meu mundo nas costas quando, dezenas
de vezes, eu não suportava carregá-lo sozinho. Mãe, uma vez você me disse
que sempre seríamos apenas eu, você e a minha irmã. E você tinha razão,
sempre fomos apenas nós três e eu tenho orgulho de dizer que vocês são as
pessoas pelo qual eu ainda continuo dançando, mesmo quando não há
música, e não pretendo parar. Eu te amo, obrigada por ser meu maior apoio.
Você é gigante, mãe!
À, minha irmã, Maria Júlia, que a cada livro me mostra que eu posso
falhar em diversos quesitos, mas não em ser a sua a irmã mais velha. Maju,
quando você chegou em minha vida, eu era apenas uma adolescente com
medo do mundo. Você me ensinou a não temer o desconhecido e entender
que o mundo pode ser melhor. Eu te amo, até a lua ida e volta.
À, minha tia Laisa, que se tornou uma segunda mãe para mim, me
apoiou e sorriu em todas as minhas conquistas. Que segurou a minha mão e
me ajudou a correr atrás dos meus sonhos. Você é incrível e eu te amo para
sempre.
À April Jones e L. Júpiter, ou melhor, ao trio do cano, que me ensinou
que amizades podem ser construídas quando menos esperamos. Uma vez,
eu li em algum lugar que as melhores amizades chegam de repente. Eu não
acreditava nisso até conhecer vocês. Não acreditava que eu realmente teria
um encontro de almas como todos em Saint Vincent tiveram. Vocês
seguraram o mundo quando eu já não suportava mais o peso dele. Me
ensinaram que é possível construir um elo mesmo com quilômetros nos
separando. Obrigada por serem as minhas pessoas e estarem dispostas a me
ajudar, por soltarem pérolas insuperáveis e virarem noites ao meu lado.
Obrigada também por me ensinarem que amizades podem sim ser família.
E, sim, eu sei que a Júpiter está falando “amiga a gente sabe, né? A gente
sempre sabe.” e April está soltando um “foda, né?”. Enfim, eu amo vocês,
cano, e saibam que o mundo é pequeno para vocês!
À minha assessora e revisora, Camille Gomes, que enquanto eu escrevia
este livro, lidava com todo o resto. Amiga, há quase um ano atrás você
entrava na minha vida profissional e a organizava. Acho que nunca serei
capaz de agradecê-la por tanto. Obrigada por escutar meus áudios que
gabaritaram o código penal, por me segurar quando quero surtar e tudo
mais. Você é incrível. Eu te amo e obrigada por tudo!
À minha equipe de adms do grupo de leitoras: Isabella Martins, Isabela
G., Lari, Lívia. Obrigada por me darem suporte. Vocês são incríveis.
Ao meu time de betas; Ana Laura Maniá (que chorou e me cancelou),
Bruna Celestino (que ainda tem o Ollie e Sum em seu coração), Esther
Hadassa (a memória de Dory que desde WOH criava teorias), Isabella
Martins (que mandou áudios de madrugada chorando e queria matar
alguém), Karolyne Gonçalves (que chegou de repente e se tornou especial
para mim) , Ketlyn Viana (que, como sempre, me ofendeu a cada linha),
Maria E. Klazer (que surtou a cada parágrafo), Izabela Frazão (que me
pediu livros da segunda geração), Tatiane Brandão e Thiffany Amarante
(que surtaram a cada frase do Levi), Tan Wenjun (que me ajudou mais do
que poderei explicar e agradecer) e Thais Souza (que embarca em todos
livros de SV com o coração aberto); Obrigada por terem tido paciência,
terem me ajudado a capítulo e por terem amado Levi e Analu como eu
amei. A ajuda e o apoio de vocês foram essenciais para que Levi e Analu
nascessem.
À Amanda e Larissa, minhas melhores amigas. Que me deram dois
presentes inesperados, mas que agora são os meus xodós. Vocês são as
melhores amigas que eu poderia ter.
À Pigmalateia, minha revisora e leitora crítica que embarcou nesse
mundinho que é Saint Vincent e me ajudou em todos os aspectos. Amiga,
obrigada pelos áudios surtando, querendo me matar e pelos comentários que
fizeram soltar gargalhadas sinceras. Você é incrível demais!
A Iara Braga e Letícia Caroline, minhas leitoras sensíveis, que surtaram
e me ajudaram a escrever esse livro de forma responsável. Obrigada por
terem embarcado ao meu lado e surtado com a nossa cidade caótica. Foi
sensacional trabalhar ao lado de vocês!
A Ariadne Pinheiro e Isabela Crescencio, que embarcaram comigo
nesse mundo e me ajudaram na criação da estética de Masked Hearts. Serei
eternamente grata por tudo. Vocês foram extraordinárias.
Às minhas parceiras de lançamento, que criaram conteúdos incríveis,
que fizeram MH chegar até vocês. Obrigada a cada uma. Vocês foram
extraordinárias. Obrigada por tudo!
Por último, e não menos importante, a todos os meus leitores, que me
acompanharam até aqui. Que são o motivo pelo qual ainda continuo
dançando. O apoio de vocês me incentiva a continuar a criar Saint Vincent.
Mesmo quando tudo o que desejo é correr sentindo contrário, vocês me
mostram o quão gigante a nossa cidade caótica é. Saint Vincent e todas as
histórias presentes nela só existem por causa de vocês!
Com amor,
Annie Belmont.
SUMÁRIO
MASKED HEARTS
NOTAS DA AUTORA
AVISO DE GATILHO
PLAYLIST
PRÓLOGO
01 | AMOR FATI
02 | COMBATE MORTAL
03 | RESULTADOS
04 | PESSOA FAVORITA
05 | BOA SORTE
06 | PIZZA OU HAMBÚRGUER?
07 | MORALIDADE VS AMBIÇÃO
08 | TRADIÇÕES QUEBRADAS
09 | TRABALHO EM EQUIPE
10 | APOSTAS
11 | RUÍNAS – PARTE I
12 | TULIPAS
13 | SE EU CAIR
14 | ACERTO DE CONTAS
15 | DOIS PODEM JOGAR
16 | PRIMEIRA OPÇÃO
17 | ADRENALINA
18 | EXTRAORDINÁRIA
19 | SEGREDO PREDILETO
20 | TRÉGUA
21 | DEVERÍAMOS JOGAR
22 | CINCO DARDOS
23 | RUÍNAS – PARTE II
24 | ELEVADORES
25 | DUAS OPÇÕES
26 | IMBATÍVEIS
27 | ESCOLHAS
28 | EU QUERO VOCÊ
29 | PRINCESA DE GELO E GAROTO DE OURO
30 | VERDADES SENDO DITAS
31 | VOCÊ É O MEU SOL
32 | EU AINDA NEM COMECEI
33 | VOCÊ TERIA ME BEIJADO?
34 | RUÍNAS – PARTE III
35 | É O FIM
36 | RUÍNAS – PARTE IV
37 | PERDAS
38 | MINHA CONSTANTE
39 | CONFIE EM MIM
40 | REVELAÇÕES
41 | RETALIAÇÃO
42 | EU TE PEGARIA
43 | ALMA GÊMEA
44 | VOCÊ PERDER. EU VENCI.
45 | APOSTA FINAL
EPÍLOGO
BÔNUS | ESTILHAÇO
NOTAS FINAIS
AGRADECIMENTOS
SUMÁRIO
[1]
Alemão filósofo, crítico cultural, compositor prussiano, filólogo e poeta do século XIX. Foi um
crítico árduo da religião, filosofia, ciência, moral e cultura contemporânea. Adorador de aforismo,
ironia e metáfora.
[2]
O transtorno do espectro autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado
por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação
social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório
restrito de interesses e atividades.
[3]
Personagem fictício dos seriados de televisão estadunidense The Big Bang Theory e Young
Sheldon, interpretado por Jim Parsons e Iain Armitage.
[4]
Hobbit é uma criatura criada pelo escritor J.R.R. Tolkien, em seu universo fictício de O Senhor dos
Anéis. Nos livros, Hobbits são pequenas criaturas que habitam a Terra Média.
[5]
O chamado nado Medley é uma forma de competição, que se caracteriza por juntar os quatro
estilos de natação: crawl, borboleta, costas e peito
[6]
Time de basquete fictício, da obra nacional Perdendo o Controle da autora L. Jupiter. Disponível
na Amazon e Kindle Unlimited.
[7]
Tradução: Você é a pessoa mais idiota que já conheci em toda a minha existência
[8]
Tradução: Você é a pessoa mais irritante, mandona e louca desse local. Mas, também é a mais
linda, inteligente e gostosa.
[9]
Tradução: No fim dessa aposta idiota, a sua Lamborghini será minha, meu querido.
[10]
Tradução: Eu sempre soube que você era obcecada no meu carro, princesa.
[11]
Tradução: Eu sinto que isso é uma aposta desonesta, porque você não tem nada a perder e eu
tenho muito.
[12]
Italiano polímata que se destacou sendo uma das figuras mais importantes do Alto Renascimento.
Era anatomista, arquiteto, botânico, cientista, engenheiro, escultor, inventor, matemático, músico,
pintor e poeta.
[13]
Tradução: Faça garotos chorarem
[14]
Vilão de toda a saga Harry Potter, da autora britânica J.K. Rowling.