Você está na página 1de 372

1ª Edição

2023

Copyright © 2023 Scarlett Castello

Revisão: Paula Domingues

Diagramação Digital: Paula Domingues

Capa: Paola Santiago

Esta é uma obra ficcional.

Qualquer semelhança entre nomes, locais ou fatos da vida real é


mera coincidência.

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro


pode ser utilizada ou reproduzida em quaisquer meios existentes sem
a autorização por escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Esta obra pode conter gatilhos, tais como... Menções a violência
física e psicológica.

É inadequado a menores de 18 anos, pois contém cenas de sexo e


linguajar impróprio.
Noah Brown é o típico Bad Boy que sempre teve tudo o que queria
em um estalar de dedos. Mas após ter o seu coração partido, ele jurou
colocar uma pedra no lugar do coração e viver apenas de
relacionamentos com prazos de validade.

Mulherengo assumido, Noah está convicto que o amor não é para


ele, isso até Melissa Turner reaparecer na sua vida, e ameaçar sua paz.

Melissa Turner acabou de sair de um relacionamento abusivo, ela


fugiu de Stanford para Yale porque sabia que seu melhor amigo a faria se
sentir ela mesma outra vez. Ela acreditava que já havia superado sua
paixonite por seu melhor amigo de infância, o que logo percebeu que não
aconteceu. O problema é que ela o tinha perseguido Noah na
adolescência e o bad boy teme a presença de Melissa no mesmo espaço
que ele.

Noah quer Melissa longe porque ela o conhece demais para que
sua vida continue segura.

Melissa quer Noah por perto porque ele desperta as emoções que
ela achou que tinha esquecido.
 
AVISO
SINOPSE
SUMÁRIO
PRÓLOGO
Melissa
CAPÍTULO 1
Noah
CAPÍTULO 2
Melissa
CAPÍTULO 3
Noah
CAPÍTULO 4
Melissa
CAPÍTULO 5
Noah
CAPÍTULO 6
Melissa
CAPÍTULO 7
Noah
CAPÍTULO 8
Melissa
CAPÍTULO 9
Noah
CAPÍTULO 10
Melissa
CAPÍTULO 11
Noah
CAPÍTULO 12
Melissa
CAPÍTULO 13
Noah
CAPÍTULO 14
Melissa
Capítulo 15
Noah
CAPÍTULO 16
Melissa
CAPÍTULO 17
Noah
CAPÍTULO 18
Melissa
CAPÍTULO 19
Noah
CAPÍTULO 20
Melissa
CAPÍTULO 21
Noah
CAPÍTULO 22
Melissa
CAPÍTULO 23
Noah
CAPÍTULO 24
Melissa
CAPÍTULO 25
Noah
CAPÍTULO 26
Melissa
CAPÍTULO 27
Noah
CAPÍTULO 28
Melissa
CAPÍTULO 29
Noah
CAPÍTULO 30
Melissa
CAPÍTULO 31
Noah
CAPÍTULO 32
Melissa
CAPÍTULO 33
Noah
CAPÍTULO 34
Melissa
CAPÍTULO 35
Noah
CAPÍTULO 36
Melissa
CAPÍTULO 37
Noah
CAPÍTULO 38
Melissa
CAPÍTULO 39
Noah
CAPÍTULO 40
Melissa
CAPÍTULO 41
Noah
CAPÍTULO 42
Melissa
CAPÍTULO 43
Noah
CAPÍTULO 44
Melissa
CAPÍTULO 45
Noah
CAPÍTULO 46
Melissa
CAPÍTULO 47
Noah
CAPÍTULO 48
Melissa
CAPÍTULO 49
Noah
CAPÍTULO 50
Melissa
CAPÍTULO 51
Noah
CAPÍTULO 52
Melissa
CAPÍTULO 53
Noah
CAPÍTULO 54
Melissa
CAPÍTULO 55
Noah
CAPÍTULO 56
Melissa
CAPÍTULO 57
Noah
EPÍLOGO
Elijah
OBRAS DA AUTORA
LIAM : A OBSESSÃO DO BAD BOY (BULLDOGS YALE)
UMA FILHA PARA O BILIONÁRIO ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)
GRÁVIDA E REJEITADA PELO VIÚVO ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)
SIGAM A AUTORA
Melissa

Não sei por que pensei que algo de bom ainda restava no coração
de Noah Brown... nem faço ideia do porquê, eu sequer pensei, que ele
tinha um coração.

Esse era o pensamento que se repetia na minha cabeça, enquanto


eu me afastava das arquibancadas e caminhava para longe do grupo que
comemorava a vitória deles.

Aproveitei para vestir o casaco enquanto seguia para o


estacionamento, meu coração estava disparado no peito, e eu só
pensava que, precisava me afastar de Noah, antes que ele me fizesse
chorar na frente de tantas pessoas estranhas.

Praticamente corri em direção ao meu carro, já que Hayesha tinha


me pedido para irmos em dois carros apenas para o caso de sairmos
depois do jogo, ter vaga para os garotos, eu simplesmente apaguei
aquele pensamento quando entrei no veículo e comecei a dirigir.

Precisava me afastar de Noah, colocar uma boa distância entre nós


dois.
O ar ao redor parecia quente demais, então eu abri as janelas do
carro e dirigi, meu coração batia forte contra o peito, e minhas mãos
tremiam, mas me mantive focada na estrada, mesmo sentindo as
lágrimas escorrerem pelo meu rosto e penderem na minha mandíbula.

Foi a última vez.

Noah quebrou o meu coração pela última vez em sua vida, porque
ao sair da arquibancada daquele jeito, eu não estava abandonando
apenas os meus amigos, estava abandonando o sentimento que me
consumia sempre que olhava para ele.
Noah

Depois de alguns ataques de pânico pensando no que inferno,


Melissa estava fazendo em Yale. Eu sentia que tinha retrocedido os
últimos anos de terapia para esquecer as merdas que meu último
relacionamento fez com a minha cabeça.

Melissa Turner e eu fomos amigos de infância, melhores amigos,


na verdade. Em certo momento da minha vida, ninguém sabia mais sobre
mim do que ela, mas quando chegamos a adolescência, eu comecei a
me interessar por mulheres, mas não queria um relacionamento sério. A
maioria dos meus encontros se resumiam em uma foda vergonhosa, e
uma garota com quem não falava outra vez, porém. Mel resolveu
estragar nossa amizade me dizendo estar apaixonada por mim.

Naquela época, eu não estava pronto para um relacionamento, mal


tinha completado dezesseis anos, não queria estragar nossa amizade, e
principalmente, não achava que a primeira vez da garota que eu amava
tanto, devia ser com um idiota que apenas fosse querer transar com ela
uma vez.
O grande inferno começou quando eu recusei o coração dela, a
minha amiga que sabia tudo sobre mim, resolveu usar todas as armas
para me seduzir.

A obsessão de Melissa por mim estava beirando a sociopatia, e eu


temia que ela cortasse minhas bolas para colocar em algum tipo de altar
bizarro.

Após um ano de perseguição da parte dela, e de tentativas minhas


de não a magoar, e de principalmente manter meu saco preso ao meu
corpo, uma garota nova virou minha vida do avesso, Bianca era linda de
enlouquecer todos os garotos da escola, e quando ela me deu uma
chance, eu fiquei viciado nela.

Mel se tornou ainda mais instável quando eu comecei namorar a


Bianca, e nós finalmente, nos afastamos completamente.

Não era saudável para ela me ter por perto, e quando eu vi como
ela surtou ao me ver com Bianca, cheguei até mesmo a temer minha
integridade física.

Estremeci quando as lembranças se tornaram claras em meus


pensamentos.

— Você está bem? — Elijah me perguntou.

— Estou — respondi observando Liam e Amber da distância em


que estávamos deles. — Preciso resolver uma coisa.

— Aonde você vai? — Elijah tentou me perguntar, mas ignorei meu


amigo.

Após todos os acontecimentos com Bianca, Mel e todas as sessões


de terapia que tive que fazer para lidar com os traumas do
relacionamento, e a perda da minha melhor amiga, só havia uma pessoa
no mundo que tinha acompanhado todo o processo de fundo do poço em
que eu me enfiei, e só ela poderia me aconselhar isso.

— Com licença, preciso roubar ela por um momento — avisei


pegando Hayesha pelo braço e levando comigo para longe de Jack.

— Enlouqueceu? — minha irmã me perguntou quando nos


afastamos do namorado dela.

— Preciso falar com você — sussurrei. — É urgente, e tem que ser


em particular.

Hayesha parou de protestar e me acompanhou.

A mão da minha irmã parecia quente contra a minha, quando os


dedos dela finalmente envolveram os meus. Nós seguimos andando até
estarmos debaixo de uma árvore aleatória, longe de ouvidos atentos.

— O que aconteceu? — Hayesha perguntou com uma paciência


que eu não a ouvia dirigir a mim há muito tempo.

— Acho que ela voltou por minha causa. Para me perseguir outra
vez. Vai começar novamente. Depois de tanto tempo, ela deve ter uma
escultura de cera em tamanho real de mim — falei ouvindo minha própria
insanidade.

— Do que você está falando? — ela questionou.

— Melissa.

Minha irmã me observou com o rosto neutro, era quase


surpreendente ver Hayesha sem a diversão comum.

— Você está deixando a paranoia tomar conta outra vez — avisou.


— Não estou! Caralho, Hayesha, por que mais, aquela doida sairia
de sabe Deus onde estava, para vir justamente para cá? Ela sabia que
eu estava estudando em Yale! — lembrei.

— Noah, você está muito nervoso — minha irmã sussurrou, ela


soltou minhas mãos e segurou o meu rosto entre as suas, que estavam
quentes. — Está frio como um cadáver. Respire fundo.

Fiz conforme ela ordenou e Hayesha respirou junto comigo, como


fez tantas vezes antes, tentando impedir que eu tivesse crises de pânico
ou tentando me tirar de uma.

— Pense com calma. Se Melissa sabia todo esse tempo que você
estava em Yale, e ela queria te perseguir até aqui, ela teria vindo muito
antes. Talvez tivesse entrado no mesmo ano que você — sussurrou e eu
sacudi a cabeça.

Hayesha apertou meu rosto entre as mãos, demonstrando


finalmente sua impaciência.

— Eu não acho que Melissa esteja realmente te perseguindo. Ela


foi sua amiga por muitos anos, Noah, acha mesmo que ela seria capaz
de te machucar? — inquiriu.

Relembrei a garota que se colocava em risco para pegar gatos em


cima de árvore, e ajudar pássaros com asas machucadas. Droga, aquela
garotinha uma vez tentou ajudar um rato.

— Não sei — admiti confuso.

— Está bem — ela sussurrou. — Só tente não entrar em pânico,


muito tempo se passou desde a época que ela te perseguia, com certeza
a vida dela seguiu, assim como a sua. Melissa pode ter muitas razões
para ter vindo para Yale.
— Você acha mesmo? — indaguei, e minha irmã assentiu.

— Você precisa relaxar um pouco, tenho certeza de que, se a sua


amizade foi tão importante assim para ela, com certeza, Melissa vai te
contar as razões dela, em algum momento — suspira — eu olhei nos
olhos daquela garota Noah, e não acho que vi algo bom ali.

— O que você quer dizer com isso?

— Mel parece ter passado por alguma coisa muito ruim —


sussurrou afastando as mãos do meu rosto.

Inspirei fundo quando Hayesha disse que voltaria para Jack, e


observei minha irmã se afastando, aquele pensamento me fez ponderar a
respeito de Mel, apesar do meu medo de ter aquela garota me
perseguindo outra vez, eu me importava o bastante para me preocupar
com a ideia de que algo poderia ter acontecido com ela.

Me sentei na grama e encostei meu corpo na árvore, peguei o


celular do bolso e pesquisei o nome da Mel nas redes sociais, encontrei
um perfil que não tinha foto, apenas um fundo preto. E o único post era
uma imagem de Yale e as palavras:

Um recomeço, pode ser a verdadeira linha de largada.

Não havia como entender a mente de Melissa com aquelas


palavras, mas o pensamento me deixou inquieto, observei a paisagem do
campus, a frase ressoando no vazio interior do meu corpo.

Melissa Turner estava de volta a minha vida, independente do que


eu pensasse a respeito dessa ideia.
Melissa

Estava no quarto encarando a janela, com as lembranças me


assombrando outra vez, meu coração acelerado no peito, me prendendo
a sensação de pânico que criava ramificações em cada pensamento
meu.

Quando a porta do quarto se abriu, eu me virei assustada, mas vi


Amber entrando com um sorriso no rosto, o sorriso dela vacilou ao notar
que me assustou, e eu tentei disfarçar o medo. Coloquei os fios soltos do
meu cabelo que escapavam do coque atrás das minhas orelhas, e tentei
sorrir.

— Assustei você? — ela questionou parecendo nervosa.

— Não, eu só estava com a cabeça longe. Você parece animada —


falei observando o rosto alegre dela.

— Liam e os meninos organizaram uma festa, a última antes das


provas.

— Você nunca me pareceu o tipo de garota que se anima com


festas — admiti aquele pensamento, e Amber sorriu.
— Não sou, mas ultimamente Liam tem me feito curtir um pouco
estar em uma festa — ela explicou. — Você vem?

— Não sei se é uma boa ideia — respondi evasiva.

Amber se sentou ao meu lado e me observou com aquele olhar de


quem sabia demais.

— Não sei o que aconteceu com você antes de vir para cá, mas eu
acho que ficar trancada, sozinha, não vai te ajudar a seguir em frente.
Não acha que sair um pouco e se distrair pode ser melhor do que ficar
aqui encarando seus fantasmas? — a loira me perguntou diretamente.

Pensei a respeito do que ela dizia.

— Parece que você será uma boa psicóloga, Amber — elogiei, e


ela sorriu.

— Vou tomar um banho — ela disse e correu para o banheiro.

Eu abri o armário, estudando as roupas que tinha trazido comigo.


Peguei uma calça jeans preta, e um cropped azul-escuro, observei a
combinação, e gostei do que via. Vesti as roupas enquanto Amber ainda
estava no banheiro, levei minhas mãos ao cabelo desfazendo aquele
coque, e deixando os fios vermelhos cobrirem meus ombros.

Enfiei o celular no bolso de trás da calça e preparei uma


maquiagem básica, caprichando apenas no rímel e no delineador.
Apliquei um blush suave que deixasse as sardas à mostra, e optei por um
batom nude.

Amber saiu do banheiro e assobiou quando me viu.

— Nossa! Você está linda Melissa. Posso te perguntar uma coisa?


— Claro — sussurrei, temendo o que ela perguntaria sobre meu
passado recente.

Encarei o espelho arrumando a maquiagem que estava perfeita.

— Você e Noah? — ela indagou, e eu sorri ao olhar de volta para


ela.

— Noah foi o meu melhor amigo por muitos anos, nós éramos
inseparáveis na infância, mas quando chegamos a adolescência, Noah
queria aproveitar a vida com garotas que tinham o corpo de uma mulher,
e eu era muito moleca, meus peitos demoraram mais que a maioria para
se desenvolverem, e não havia enchimento de sutiã no mundo que
fizesse ele prestar atenção em mim. Os anos seguintes serviram para
nos afastar mais a cada dia, eu estava obcecada, me declarando para
ele sempre que tinha uma oportunidade, e Noah estava tentando me
afastar.

— E esse foi o fim? — questionou enquanto arrumava o cabelo


com uma escova.

— Não, dois anos atrás, quando nos vimos pela última vez, Noah
me disse que eu era uma sociopata, e que deveria ficar longe dele ou ele
pediria uma ordem de restrição. Ele disse algumas outras coisas, mas é
melhor não remoer o passado. No final, ele veio para Yale, e eu fui para
Stanford.

— E você resolveu vir do outro lado do país de volta para cá? —


Amber questionou, pelo modo como ela me olhava pelo espelho,
imaginei que ela estivesse perguntando mais que aquilo, mas resolvi
fingir que não entendia a pergunta.
— Não gostei da vista do Pacífico, o Atlântico sempre pareceu mais
bonito — dei uma piscadela para ela.

Talvez Amber Jones fosse uma pessoa confiável, talvez nós algum
dia desenvolvêssemos uma amizade em que eu confiaria tudo a ela, mas
naquele instante, após carregar todo o fardo que tinha sido obrigada a
levar de um lado do país ao outro, eu tinha aceitado que não podia
confiar completamente em todas as pessoas.

— Está pronta? — ela perguntou e eu assenti.

Nós caminhamos para fora do quarto e eu já conseguia ouvir o


barulho da música alta que tocava no andar inferior do prédio. Amber
seguiu descendo as escadas comigo ao seu lado.

Era estranho estar em uma festa, a última em que estive foi a dos
calouros do dormitório em Stanford, a festa em que conheci Anthony.

Resolvi não pensar naquela lembrança para não estragar meu


clima de festa que tinha acabado de surgir.

Assim que botamos os pés na festa, avistei a irmã de Noah em pé


entre as pernas de Jack, que estava sentado em um banco alto, perto do
bar improvisado. Ela acenou para nós, e Amber me puxou pela mão para
junto da amiga.

— É impressão minha, ou tem gente demais aqui para serem só os


moradores do prédio? — questionei.

— As festas de Noah, Elijah e Liam atraem pessoas do campus


inteiro. Falando nos três palhaços — Hayesha sussurrou indicando os
amigos que se aproximavam de nós.
Meu coração saltou no peito, quase como se quisesse atrair a
atenção de Noah e berrar dentro do meu corpo “ei, olha para mim..., olha
como eu estou quebrado”.

Ignorei as batidas aceleradas e forcei um sorriso.

Liam agarrou Amber pela cintura, erguendo a namorada para


sentá-la sobre um dos bancos. Amber praguejou beliscando a barriga
dele.

— Oi — sussurrei.

— Olá para esta bela criatura — Elijah disse.

Noah não me respondeu, apenas se aproximou do balcão e bateu


com as mãos ali pedindo uma bebida.

— O que você estuda, Melissa? — Elijah me perguntou

— Eu estava cursando Ciência da Computação, mas pedi mudança


de curso quando vim para cá, vou começar Direito em breve — respondi.

Noah exalou um riso, e me perguntei se ele ouvia nossa conversa.

— Você vai ter muitos pretendentes em breve no seu curso, então


vamos beber algo juntos, enquanto não tem uma fila de caras atrás de
você — Elijah falou com um sorriso lindo repuxando os lábios dele.

— Claro, vamos beber algo — concordei me aproximando para


pedir uma bebida.

O barman que estava entregando drinks se aproximou do nosso


grupo e perguntou o que íamos querer.

— Um Sazerac — Noah e eu dissemos ao mesmo tempo.


Encarei o rosto dele, e Noah revirou os olhos.

— Na verdade, me dê duas doses de tequila — mudou o pedido.

Aguardei meu drink e Elijah pediu algo que não prestei atenção,
Amber se aproximou de mim perguntando o que eu estava achando do
caos que era aquela festa. Liam agarrou os ombros de Elijah, e os dois
começaram a rir, falando algo sobre Noah que achei melhor não tentar
entender.

— A festa está bem agitada — falei alto tentando ser ouvida


através da música alta que começou a ser tocada.

Meu celular vibrou no meu bolso e apanhei o aparelho, o número


desconhecido deixou meu coração descompassado, mas ainda assim
levei o celular ao ouvido e cobri a outra orelha tentando ouvir.

— Oi, Mel — sussurrou aquela voz que me deixava enjoada.

Tirei o celular da orelha, e meu coração quase saiu pela boca,


enquanto eu, sem sequer finalizar a chamada, levava o dedo trêmulo ao
botão lateral para desligar o celular.

Minhas mãos tremiam quando olhei ao redor, os olhos de Noah


estavam sobre meu rosto, mas Amber segurou meu braço chamando
minha atenção.

— Você está bem? Ficou pálida de repente — ela avisou.

— Estou bem — respondi com a voz rouca, apanhei o copo que o


barman me entregou e entornei a bebida de uma vez.

Estava acabado, eu tinha partido para o outro lado do país, não


tinha como ele se aproximar para me torturar outra vez.
Noah

Ficar perto de Melissa, ia me arrastar para o fundo do poço, concluí


mentalmente quando quase me aproximei dela, quando a vi em pânico,
para saber o que estava acontecendo.

Era idiota pensar que eu conseguia lidar com ela. Mel sempre foi
uma pessoa importante para mim, e me afastar dela foi uma das coisas
mais difíceis que precisei fazer na vida.

Precisei usar todo o meu autocontrole para dar as costas para ela e
caminhar para fora daquela sala. Continue em frente, eu dizia a mim
mesmo conforme meus pés me levavam para fora do dormitório, e a
noite fria me recebia.

Engoli em seco aquela situação amarga, e continuei andando


deixando até mesmo o meu carro para trás. Se eu hesitasse por um
segundo, ia ser o meu fim. E não estava pronto para simplesmente
esquecer tudo que Melissa tinha feito na adolescência.

Andei de volta para o meu dormitório, o Sharks Shoal, tudo que eu


precisava naquele instante era de um lugar silencioso para reordenar
meus pensamentos. Parei de andar no meio do corredor e ignorei as
pessoas que passavam por mim, talvez aquele não fosse o melhor jeito
de lidar com a situação com Mel, talvez me isolar, e reviver minhas
memórias do nosso trágico fim apenas fizesse com que eu me sentisse
um babaca, e quisesse voltar lá, então eu apanhei o celular e disquei um
número que não esperava mais discar.

Victoria atendeu pouco antes da ligação ir para a caixa de


mensagens:

— Quem é vivo sempre aparece — ela falou com um riso na voz.

— Onde você está? — indaguei.

— Estou em um encontro — ela respondeu com a voz doce.

— Largue esse idiota e me encontre — ordenei e ela riu.

— Mas ele é um idiota tão fofo, o que eu ganho por ir encontrar


você agora?

— Vou foder você até que esteja cansada de gozar — rebati,


fazendo algumas garotas apressarem o passo ao passarem por mim.

— Esse é o meu garoto — ela retrucou. — Estou no meu quarto,


pode vir que a minha colega provavelmente vai ficar na festa do Eagle’s a
noite inteira.

— Achei que você estava em um encontro — murmurei com


diversão percorrendo o meu corpo.

— E eu achei que você não ia mais me procurar depois que o


nosso contrato acabou — ela rebateu desligando.

Exalei um riso ao descer as escadas outra vez.


Aquilo era o que realmente ia me fazer deixar as merdas do meu
passado, enterradas no fundo do poço, que cavei para colocá-las.

Caminhei pelas ruas vazias que separavam nossos dormitórios,


Victoria Árias é uma mulher fácil de lidar, nos seis meses em que nos
encontramos puramente com intuitos sexuais, ela jamais exigiu que eu
ficasse na cama dela um minuto além do que eu estivesse disposto a
ficar.

Nunca perguntei de que país a família dela veio, e ela nunca se


importou em dizer, da mesma forma que jamais falamos sobre nossas
personalidades.

Quando bati na porta do quarto de Victoria, ela abriu quase


instantaneamente, a mulher estava usando um roupão, e pelo sorriso em
seu rosto, imaginei que não houvesse coisa alguma por baixo dele.

Invadi o quarto e ela fechou a porta com força, assim que meus
dedos agarraram o nó que prendia o roupão, o abri e constatei
exatamente o que vinha imaginando, o corpo de Victoria estava
exatamente igual, com aquele quadril largo, e os seios fartos.

— Vai passar o resto da noite apenas me olhando? — ela indagou,


me fazendo rir.

Avancei sobre o corpo dela, mordendo o pescoço exposto, e


afastando o roupão para que caísse no chão. Victoria arrancou meu
casaco e puxou a camisa que eu usava para cima, meu coração disparou
no peito enquanto ela me puxava mais para si, deixando os peitos
colados no meu corpo.

Minha boca encontrou a dela, e nós devoramos os lábios um do


outro, minha mão percorreu sua barriga lisa, até encontrar aquele ponto
sensível entre as pernas e começar um toque circular, que fez a mulher
arfar contra a minha boca.

Victoria agarrou o cinto da minha calça e o abriu com alguma


dificuldade, em seguida abriu a calça e a puxou o suficiente para expor o
meu pau, o ar naquele quarto pareceu ferver quando ela me puxou em
direção aquela cama, me dando apenas um pequeno instante para
colocar a camisinha, e já estava pulando sobre o meu corpo.

Eu invadi o corpo dela com força, segurando-a pelas costas e


enterrando minha mão nos cabelos cacheados, o cheiro dela era floral, e
me fez inspirar fundo algumas vezes, a boca dela voltou a colar na
minha, e ela me cavalgou sem se importar com onde exatamente
estavam meus pensamentos.

Segurei seu corpo junto ao meu e continuei fazendo com que ela
quicasse no meu colo, apressei aquele movimento quando senti os
músculos dela me apertando, e a garota gemeu alto contra o meu ouvido.

A deitei sobre a cama, mantendo aquele movimento, mesmo que


ela estivesse com o corpo imóvel observando meu rosto, os dedos dela
percorreram meu pescoço, e ela respirava ofegante.

Mantive o ritmo mesmo naquela situação, até que a perna dela


envolveu meu corpo, a garota voltou a se mover comigo, eu sentia que
estava prestes a gozar, mas tentei ao máximo segurar aquela sensação.

— Noah! — ela soltou o meu nome como se praguejar aquela


sensação. — Eu vou gozar de novo.

Esbocei um sorriso quando ela praticamente gritou no meio


daquele orgasmo, e eu finalmente me derramei. Victoria sorriu satisfeita
quando me afastei dela e me sentei ao seu lado na cama descartando a
camisinha.

Observei o rosto de Victoria por um instante, me perguntando que


tipo de babaca sem consideração eu seria, se falasse com ela sobre o
problema com Melissa.

— O que foi? — ela perguntou me observando.

— Nada — respondi desviando o olhar. — Vamos repetir isso


qualquer dia.

Com essas palavras, eu me levantei e caminhei para fora do


quarto, a mulher apenas respondeu:

— É só me ligar — avisou.

Assim que a porta do quarto de Victoria se fechou as minhas


costas, eu apanhei um cigarro e o prendi entre os dedos, há muito tempo,
minha mãe vinha insistindo que eu parasse de fumar, e eu até tentava
parar, mas quando o inferno resolvia saltitar na minha vida, a
necessidade de fuga falava mais alto que qualquer autocuidado.

Acendi o cigarro quando saí do dormitório e caminhei pelas ruas,


tragando a fumaça, enquanto tentava não pensar demais na merda que
minha vida tinha se tornado.

Liam estava namorando sério, Elijah andava todo esquisito desde


sabe Deus o que, e eu estava com a minha perseguidora de volta à ativa.

Nossa vida de bad boys partidores de corações tinha chegado a um


fim trágico, e eu não estava disposto a cair naquele clichê idiota de bad
boy rendido por uma mulher.
Eu podia ter a mulher que quisesse na vida, pelo tempo que
quisesse, não me prenderia a uma só apenas devido a lembranças de
um passado enterrado.

Quando levei o cigarro à boca, encarei a tatuagem em formato de


meia-lua, aquela que nunca consegui cobrir.

****

No dia seguinte, encontrei com Elijah e Liam no campo para o


treino, eu não tinha respondido às mensagens do nosso grupo, nos chats
online, apenas porque podia explodir com um deles se fizessem uma
piada sobre o que poderia ou não estar acontecendo na minha vida.

Elijah já vinha sendo um pé no saco, eu não precisava do recém-


transformado Liam, me fodendo também.

Fui direto para o vestiário, estava atrasado de propósito para evitar


conversas com eles, e imaginei que o treinador fosse gritar as cinquenta
voltas no campo ao fim do treino que de fato gritou quando me viu. Assim
que entrei no vestiário, percebi que não teria a paz que desejava, porque
os dois idiotas entraram.

— Onde você foi ontem? — Liam indagou.

— Ah, você notou que saí no meio da festa? Achei que estava
distraído demais com a sua namorada para perceber — retruquei tirando
a camisa que usava.

— Você nunca sai mais cedo de festas — Elijah declarou.

— Eu saí com alguém — menti.


— Eu juro pela minha vida que vi você saindo sozinho de lá —
rebateu.

Dizer para ele que fui me encontrar com Victoria, causaria mais
problemas do que soluções, quando tudo acabou entre nós, eu tinha dito
a Elijah que nunca mais voltaria a dormir com Victoria, nem que minha
vida dependesse disso.

É aquele velho problema de dizer “dessa água não beberei”,


naquela altura eu estava até comendo o balde que me serviu.

— Me senti mal. Uma enxaqueca horrível — falei.

— Você nunca sentiu uma dor de cabeça na vida — Elijah retrucou.

— Porra, Elijah! Eu tive um inferno de dor de cabeça, larga a merda


do osso e me deixa em paz! — ordenei batendo a porta do armário.

Elijah se aproximou, e Liam o segurou.

— Vamos deixar ele em paz, quando quiser falar, ele vai nos
procurar — aconselhou.

— Filho da puta sem consideração — Elijah praguejou e saiu do


vestiário.

Encarei Liam esperando para arrumar briga com meu outro amigo,
já havia fodido a amizade com um, por que não foder com o outro, mas
Liam apenas sacudiu a cabeça e saiu do vestiário seguindo Elijah .
Melissa

Talvez eu estivesse exagerando.

Estava cursando Direito, e ainda assim tinha enfiado na minha


grade uma cadeira de computação gráfica, só porque vi que Noah fazia
aquela matéria. De alguma forma, estar perto de Noah acalmava meus
pensamentos com relação aos acontecimentos recentes, mesmo que ele
me odiasse, eu precisava estar perto dele para sentir que as coisas
estavam de volta no lugar.

Caminhei pelo campus em direção ao prédio daquela aula, meu


coração acelerava no peito a cada passo que eu dava para mais perto do
lugar, Noah sempre foi meu amigo, mesmo quando nós tivemos uma
briga feia que acabou com meu coração destroçado, ainda assim, eu o
amava, pelo tempo que passamos juntos.

No nosso penúltimo ano de escola, eu tinha realmente encurralado


Noah algumas vezes, tinha dito que ele se arrependeria de não me
escolher, que eu o amava há anos e nós dois estávamos destinados um
ao outro.
Eu jurava isso para Noah com tanta frequência, que em algum
momento ele se cansou, nós mal nos falamos por meses, até que eu
soube que ele e a namorada haviam terminado e fui conversar com ele.

Tudo que eu queria era consolar o meu amigo, mesmo que, no


fundo, estivesse feliz com aquele fim.

Então Noah me xingou por me aproximar dele. Ele me disse que eu


estava feliz com aquele fim e não deveria fingir o contrário, que eu era
uma vadia sem coração, igual a ela, e quando eu disse que o amava,
Noah gritou que o amor era a maior ilusão da vida, e que se eu repetisse
aquela merda para ele, me arrependeria amargamente.

Depois daquilo, Noah e eu nunca mais nos falamos.

Meus pensamentos me trouxeram de volta ao instante atual,


quando parei diante da porta aberta daquela sala, havia mais homens
que mulheres naquela turma, e eu me senti grata por vestir a saia que
estava usando, quando senti todos os olhares se voltarem para mim.

Noah estava com o rosto enfiado em um caderno, fazendo


anotações e não pareceu notar os burburinhos na turma, senti meu
coração descompassar quando caminhei até o lugar vazio ao lado dele.

— Bom dia! — desejei.

— Bom… — Noah começou, mas se interrompeu me olhando —


que porra você está fazendo aqui?

A turma pareceu atenta à nossa conversa, e ele baixou a voz para


conversar sem atrair tanta atenção para nós dois.

— Não vai me responder? — inquiriu visivelmente irritado.


— Quando você me perguntar com educação, eu te respondo —
garanti e abri o caderno para fazer algumas anotações.

— A louca que me seguiu até Yale está pedindo que eu tenha


educação — ele sussurrou e riu baixo.

— Você não faz ideia do que está falando — avisei com a voz
calma.

— Melissa, eu te conheço, conheço mais do que você se conhece


provavelmente. Quando se interessa por algo, você fica obcecada, e
nada faz você desistir. Achei que nossa última conversa tinha deixado as
coisas claras.

— Ela deixou. Transparente. Não estou em Yale pelo que sentia por
você, Noah — falei.

— Então por que inferno está numa turma do meu curso, quando
você está cursando Direito?

— Eu já disse que quando você me perguntar com educação, vou


te responder — rebati.

O professor entrou na sala obrigando Noah a se inclinar na minha


direção para falar comigo sem interferir na aula.

— O que você está fazendo aqui, Mel? — questionou com aquele


sussurro.

Maldição, meu apelido naquele sussurro despertava memórias.


Lembranças distantes de segredos trocados, encarei o rosto de Noah,
conseguindo ver claramente o garoto, com uma espinha na bochecha e
um sorriso inocente no rosto, o olhar do homem a minha frente era
diferente, astuto. Não havia sorriso em seu rosto para eu comparar, mas
ainda assim, aquele sussurro me desestruturou.

— Eu queria ficar perto de você, por isso, estou nessa aula.

Noah sorriu, havia uma maldade naquele sorriso que eu nunca


tinha visto no rosto dele. O que a vida tinha feito ao meu amigo para
destruir a essência do garoto inocente que ele foi enquanto crescemos?

— Viu só? Você continua sendo a maluca perseguidora, mas vou


poupar o seu tempo, Melissa, mesmo depois desses anos, eu ainda não
acredito no amor. Então não importa o quanto você tente me conquistar
ou perseguir, não vai adiantar. Escute bem o que as pessoas falam sobre
mim aqui. O seu amigo de infância está morto. E ele continuará assim.

— Sr. Brown, algum problema com a minha aula? — o professor


questionou.

— Não, senhor — ele respondeu, virando-se para olhar o homem.

— Eu não conheço você — o professor falou me encarando.

— Sou Melissa Turner, acabei de vir de Stanford — contei.

— Vai cursar Ciência da Computação? — ele perguntou.

— Só a sua aula — falei com um sorriso no rosto. — Eu mudei de


curso quando vim para cá.

— Se minha aula é tão importante, tente prestar mais atenção a ela


— pediu.

Quando o homem retomou sua fala, eu não pude mais manter


aquela conversa com Noah, porque ele estava sempre me lançando um
olhar, como se estivesse realmente interessado na minha razão para
estar ali.

A aula continuou, e eu me vi sustentando o olhar daquele


professor, porque olhar para Noah era torturante, meu amigo
simplesmente não conseguia enxergar que eu estava assustada, que
nada no meu comportamento estava como antes.

Será que Noah acreditava mesmo que eu tinha me tornado uma


pessoa tão fechada nos últimos anos?

No final da aula, eu finalmente observei o meu amigo que fechava o


caderno, e disse:

— Eu não estou aqui para perseguir você, Noah, nem estou


tentando seduzir você. Infelizmente, minha vida virou do avesso, e eu
percebi que o avesso não é o meu melhor lado. Estou nessa aula porque
precisava do meu melhor amigo, mas você me mostrou que ele pode
estar realmente morto.

Me afastei de Noah, e antes que saísse da sala, o professor me


chamou.

— Dei uma olhada nas suas notas enquanto vocês faziam as


anotações — ele confessou e sorriu.

O rosto do professor era jovem, a barba castanha era cumprida, e


os olhos marrons tinham manchas esverdeadas.

— Você tem talento para isso, suas notas eram excelentes —


elogiou. — Posso saber o que você vai cursar agora?

— Direito — respondi diretamente.


— Você não gosta de computação, ou simplesmente tomou a
decisão de trocar de curso por outras razões? — inquiriu apoiando o
corpo contra a mesa.

— Não foram razões simples — admiti com meu sorriso falhando.

— Não sei o que te aconteceu que fez você mudar de curso, mas
pense com calma, às vezes tomamos decisões com base em um estágio
ruim da vida, e passamos muito tempo, arrependidos delas — alertou.

— Vou pensar — prometi.

— Aqui — ele pegou um cartão da própria carteira e me entregou.


— Se você quiser conversar, ou retomar o curso, posso tentar te ajudar
com a grade por aqui.

— Obrigada — sussurrei guardando o cartão no caderno. — Bom


dia!

— Bom dia, srta. Turner.

Saí da sala sem conseguir conter aquela vontade de olhar para


trás, e ver o professor me observando sair. Quando saí da sala, vi que
Noah estava parado no corredor e me observou com cautela, mas como
ele não falou comigo, apenas segui meu caminho para longe do meu
amigo de infância.
Noah

Eu tinha planejado colocar Melissa contra parede, e perguntar o


que tinha exatamente acontecido com ela, que fez com que essa
necessidade súbita de me ver e estar comigo reaparecesse, mas não
pude fazer isso porque o professor a chamou, e quando vi como aquele
homem olhava para ela, percebi que talvez a conversa dos dois não
fosse exatamente de professor e aluna.

Aquilo me deixou puto, e eu nem mesmo sabia o motivo, eu não


seria hipócrita de pensar que professor se envolver com alunas era
errado, porque eu já tinha tido caso com uma professora, mas ver aquele
homem tão interessado na Mel, me irritou.

Me sentei embaixo de uma árvore, ignorando minhas próximas


aulas. Ótimo, Melissa Turner mal pisou no campus e eu já estava
desperdiçando minha vida com cigarros e fuga de aulas.

Traguei um cigarro inteiro, antes de finalmente me levantar daquele


lugar, eu estava disposto a retomar minha vida, ignorar minha raiva do
professor, e ignorar a briga que tive com Mel naquela sala de aula, mas
as palavras dela se repetiram em meus pensamentos, que ela precisava
do melhor amigo.

Mel parecia estranha desde que retornou. Quando éramos


adolescentes, ela dançou bêbada em cima de uma mesa tirando a blusa,
e eu precisei tirá-la de lá antes que completasse o strip, mas na festa da
noite anterior, ela parecia distante, e quando atendeu aquele maldito
telefone ela tremeu e ficou pálida como um cadáver.

Minhas lembranças com Mel chegaram aos meus pensamentos, e


um sorriso puxou meus lábios, aquela ruiva tinha um temperamento
fervoroso que eu adorava quando éramos crianças. Rendia boas brigas,
e Mel tinha sido meu ombro amigo em muitos momentos em que meus
pais discutiam e eu precisava me esconder por algumas horas.

Encarei a tela do celular vendo as horas, já era quase hora do


almoço.

Talvez fosse o momento de abaixar os escudos e ouvir o que ela


precisava me dizer, porque a Melissa que veio de Stanford, é muito
diferente da Melissa que abandonei.

Enfiei o segundo cigarro de volta no maço e andei em direção ao


Eagle’s, por tudo que tínhamos passado juntos, e todos os segredos
trocados, eu podia dar a Mel uma chance de explicar, porque EU, era tão
importante para ela naquele momento.

Justamente o pior entre os três canalhas daquela universidade.

Cumprimentei algumas pessoas que passavam por mim no prédio


enquanto subia as escadas para o dormitório de Amber. Meu coração
acelerava com aquele trajeto, e eu me perguntava quando exatamente
tinha me tornado aquele idiota emotivo.
Assim que cheguei ao corredor que levava ao quarto delas, aquele
órgão imbecil no meu peito parecia prestes a cavar um buraco no meu
tórax.

Me aproximei da porta e percebi estar entreaberta, ergui o punho


para bater, não arriscaria pegar a namorada do meu melhor amigo, nua,
mas a risada de Hayesha me interrompeu.

— Não acredito que você fez isso — ela falou histérica.

— Pergunte ao seu irmão, ele me tirou de cima da mesa — Melissa


retrucou com diversão na voz.

— Mel, sem querer me intrometer na sua vida, mas já fazendo isso


— Amber disse.

Olhei ao redor percebendo que o corredor estava vazio, então


ninguém poderia pensar que eu era um pervertido espiando garotas num
quarto. Bom, uma delas era minha irmã.

— Quando nos vimos há uns dias, você estava cobrindo algo no


rosto com maquiagem… — Amber continuou.

— Ah! — Mel exalou um riso.

Eu conhecia aquela garota bem o bastante, para saber que não


havia alegria naquela risada, apenas uma angústia que ela não mostraria
a qualquer pessoa.

— Eu precisei sair de Stanford. Sabe o quanto você sonhou a vida


inteira com Yale, Amber? Eu tive o mesmo sonho com Stanford. Entrei
para estudar Ciência da Computação, e tudo parecia perfeito, para
melhorar tudo, na festa dos calouros eu conheci Anthony. Ele era lindo,
sabe aqueles homens que você bate o olho e pensa, uau? Bom... esse é
ele. Eu não conhecia ninguém na universidade, e no meio de tantas
calouras, ele me viu e se aproximou, nós conversamos, e poxa, a
química parecia mágica entre nós — Mel se interrompeu quando a voz
falhou. — Até que tudo virou um pesadelo terrível. Foi o pior ano da
minha vida.

— O que aconteceu? — Hayesha perguntou, e a voz da minha irmã


parecia tão cheia de compaixão que eu me recostei a parede para não
cair.

— Anthony começou a se comportar de maneira controladora, no


começo eu achava que era cuidado, ou ciúme. Me dizia para não vestir
roupas tão curtas, porque eu podia me resfriar, ou atrair atenção de
algum pervertido, depois começou a perguntar por que eu ficava tanto
tempo no celular. Pedia para ver as mensagens que eu trocava com os
meus colegas de turma. Então as coisas foram piorando, como se
estivéssemos descendo uma escadaria eterna que estava me levando
direto ao fundo do poço. Anthony gritava comigo por coisas tolas, depois
se desculpava e dizia que eu o obrigava a agir assim — a voz de Melissa
falhou outra vez, e eu fechei minhas mãos em punho ao ouvir aquela
parte.

— Então, o que vi no seu rosto… — Amber sussurrou.

— Ele não me bateu. Estávamos discutindo e ele começou a atirar


coisas nas paredes, eu corri para fugir de seu ataque, e uma bola de
sinuca atingiu meu rosto, mas percebi que aquele seria o próximo
estágio. Anthony já tinha me atacado algumas vezes, segurado meus
braços com força, às vezes me beliscando, e ali eu soube,
semiconsciente, que se continuasse perto, talvez jamais conseguisse
fugir dele, então quando ele me levou até o meu quarto em Stanford, eu
pedi para ele comprar algumas coisas para tratar do machucado, e fugi,
fui até a reitoria, eles chamaram a polícia e eu pedi uma ordem de
restrição, Anthony foi expulso da universidade, mas após achar ter visto
ele me seguindo algumas noites, eu decidi que era hora de sair de lá,
antes que as coisas dessem ainda mais errado — confessou.

— Mel, eu sinto muito — Hay falou.

— Foi ele que te ligou ontem? — Amber perguntou. — Filho da


puta!

Imaginei que Mel tivesse dado uma resposta silenciosa já que


Amber reagiu daquela maneira, eu acertei a porta com o pé sem querer e
resolvi sair dali antes que as três percebessem que eu estava ouvindo
atrás da porta.

Disparei pelo corredor, e desci as escadas em disparada.

Melissa Turner, a garota que machuquei, aquela que me perseguiu,


tinha passado por um relacionamento abusivo. Tudo parecia fazer
sentido naquele instante, como ela parecia irritada sempre que eu dizia
que ela estava me perseguindo. O jeito como Mel parecia assustada na
festa, o fato de ela dizer que precisava do melhor amigo.

Nós dois passamos boa parte da adolescência, um ajudando o


outro a fugir de pessoas inconvenientes. Eu devia ter notado.

Minha arrogância, e o medo estúpido, fizeram com que eu tratasse


mal uma garota que estava tão frágil. Se eu tivesse olhado nos olhos
dela, se me desse a porra desse trabalho, talvez tivesse visto o que
estava tão óbvio, até mesmo na voz dela.

Apanhei o celular e verifiquei a lista de lojas que estavam nos


arredores da faculdade, então saí em disparada para pegar o carro, eu
precisaria dirigir bastante para conseguir tudo que precisava. Há anos eu
não precisava lidar com uma merda tão grande, então, no mínimo, podia
me esforçar um pouco.
Melissa

Podia jurar que Noah esteve no quarto mais cedo, aquela pessoa
que correu pelo corredor, eu tinha quase certeza de que foi ele, mesmo
que Amber e Hayesha jurassem que não ouviram ninguém.

Ignorei meus pensamentos que me arrastavam de volta para ele, e


foquei no rapaz que estava sentado ao meu lado, explicando os tópicos
que eu precisaria estudar para chegar ao nível de todos da turma.

Eu estava bem atrasada, então Brian estava sendo de grande


ajuda.

— Não sei como te agradecer, Brian! Está salvando minha vida —


avisei.

— Tome um café comigo qualquer dia — pediu, e o olhei sorrindo.

— Claro, podemos tomar um café sim — falei mesmo que a ideia


de ter um encontro me assustasse.

— Então, se você estudar tudo isso, não acho que vai ter
problemas para acompanhar as matérias — ele disse.
Um barulho de cochichos na sala me fez desviar os olhos dos de
Brian, quase caí da cadeira quando vi uma cesta enorme ser colocada na
mesa à minha frente. Encarei a pessoa que a trouxe, e Noah estava em
pé sorrindo para mim.

— Noah? — questionei tentando ter certeza de que estava


realmente lidando com um momento real.

— Sim? — rebateu.

— O que é isso? — inquiri me afastando da cesta quase como se


tivesse um animal peçonhento dentro.

— É uma trégua, e um pedido de desculpas por ontem, eu não


devia ter te tratado daquela maneira.

Olhei ao redor reparando em como estávamos chamando atenção.


Amber não exagerou quando disse que aquele trio era famoso na
universidade, até mesmo Brian, que esteve falando comigo, chamou um
colega para conversar com ele para se afastar da nossa cena.

— Podemos falar lá fora? — chamei.

Nós saímos da sala e eu andei pelo corredor até estarmos junto a


um pilar, Noah observava o meu rosto como se procurasse algo, quase
levei a mão a maçã do rosto para esconder aquele hematoma que já
desaparecia, mas que eu ainda cobria com maquiagem.

— Explique — pedi.

— Mel, eu agi mal ontem, não devia ter falado com você daquela
maneira. Nós fomos muito próximos quando éramos crianças, e eu
gostaria mesmo de poder ter nossa amizade outra vez, mas uma coisa
precisa ficar clara. Sua perseguição me fez mal, destruiu nossa amizade
antes, então eu não quero cometer o mesmo erro. A cesta foi um pedido
de desculpas e uma trégua, realmente não quero mais brigar com você, e
ficaria feliz se me desculpasse.

Encarei o homem com os braços cruzados na altura do peito,


aquele era um sinal de que eu me protegia, e talvez Noah não
percebesse aquilo. Ele não tocou no assunto daquela conversa com
Amber e Hayesha, então imaginei que a irmã dele não mencionou, e que
talvez não fosse ele atrás daquela porta.

— Está bem — sussurrei. — Eu perdoo você.

— Obrigado, Mel — murmurou e beijou a minha cabeça. — Até


mais.

— Até — respondi rouca.

Muito tempo antes, eu tinha realmente acreditado que superei Noah


Brown, depois de tudo que aconteceu com Anthony, tive certeza de que
não conseguiria me apaixonar outra vez, mas observando Noah
caminhar para longe de mim, com aquele sorriso calmo no rosto, sem
todas as armas apontadas para mim, meu coração acelerava no peito
como se eu tivesse quinze anos outra vez. E eu me vi questionando, um
coração poderia deixar de amar alguém?

Engoli meus receios e caminhei de volta para a sala de aula, tirei a


cesta de cima da mesa, e a coloquei junto a minha mochila no chão.
Brian, que parecia imerso no próprio livro, não voltou a falar comigo. E a
sala foi preenchida por uma fofoca que me deixou pela primeira vez na
vida, desconfortável com a possibilidade de ser o centro das atenções.

Peguei o celular no bolso do casaco e abri minha rede social, havia


diversas marcações no meu perfil, stories de Noah com aquele sorriso, e
a cesta nas mãos. Na maioria deles havia questionamentos sobre a
redenção de mais um bad boy da universidade.

Levei minhas mãos a cabeça tentando sustentar minha sanidade


no lugar, Noah podia ter me pedido desculpas a sós, agora eu seria o
centro das atenções, e não conseguia imaginar situação pior naquele
momento.

Ao fim da aula, peguei a cesta e caminhei pelo campus em direção


ao Eagle’s, e aquele trajeto nunca pareceu mais longo, havia mãos
apontando para mim a cada passo, aquela cesta atraía atenção, como se
todos no campus soubessem que Noah Brown me deu aquele presente.

Quando finalmente cheguei ao dormitório, eu corri para o quarto e


entrei apressada, colocando a cesta em cima da mesa e me sentando na
cama para encarar o objeto.

Meu vinho rosé favorito, estava ali, com vários dos meus bombons
favoritos, pão de mel, e outras comidas que eu sempre comi.

Noah provavelmente se esforçou para montar aquele presente, e


eu estava imóvel observando tudo, me perguntando o significado de
tanto esforço.

— Eu vi fotos suas em todas as redes sociais que sigo hoje! —


Amber avisou entrando no quarto.

— Este é o motivo — apontei para a cesta.

Ela se aproximou do meu presente e sussurrou que era muita


gentileza de Noah.

— Gentileza até demais — falei.


— Brigaram novamente? — ela questionou.

— Não! Essa é a pior parte, esse novo Noah parece um enigma


que não consigo decifrar — eu disse exasperada.

— Calma — Amber pediu se sentando na própria cama. — Noah é


um cara legal, mesmo que esteja no clube dos bad boys daqui.

— Como você conseguiu lidar com essa atenção toda? — inquiri.

Amber sorriu e observou o presente.

— Liam uma vez me jogou em cima do ombro, e me carregou pelo


campus para me obrigar a sair com ele — contou e eu arregalei os olhos.

— E você saiu?

— Sim, eu não gosto de chamar atenção, então fazia qualquer


acordo para ele não atrair os olhos do campus inteiro para nós.

— E como está lidando com essa atenção? — perguntei


novamente.

— Eu amo o Liam, então não me importa se tem uma, ou mil


pessoas nos olhando quando estamos juntos, porque quando estamos,
na minha cabeça, só há ele e eu.

Encarei a cesta de presentes atenciosos por um instante, e inspirei


fundo.

— Não, existe algo assim entre mim e Noah, talvez nunca exista,
porque eu fui a maluca que o perseguia, esse tipo de coisa não se
esquece facilmente — comentei.
— Esse é um presente atencioso demais para um simples pedido
de desculpas, não acho que ele encontrou essa cesta pronta em uma loja
— Amber insistiu. — Enfim, as pessoas vão achar outras razões para
fofocar em breve, tente não se importar muito com isso até lá. Aliás,
cuidado com as malucas que vão te perseguir para saber como você
seduziu o Noah.

— Do que você está falando? — indaguei com um riso me subindo


a garganta de forma involuntária.

— Eu tive minha cota de pessoas que queriam me encher a


paciência por causa, do Liam. Parece que os três são como troféus
nessa universidade, só há três deles, e a competição para ter um, é
acirrada.

— Parece que terei dias bem agitados — comentei, e Amber me


abraçou pela cintura.

— Você sobrevive.

Esbocei um sorriso, e fui finalmente abrir o presente que Noah tinha


me dado. Aquele cheiro de perfume amadeirado dele estava impregnado
na cesta, e aquele cheiro familiar me fez sorrir enquanto retirava algumas
guloseimas de dentro.
Noah

Talvez eu tenha feito uma merda de proporções enormes, eu tinha


vacilado com Melissa, e fiz meu melhor para pedir desculpas, mas talvez
fazer isso dando um presente enorme em meio a uma turma cheia de
pessoas com celulares sempre conectados, não tenha sido a ideia mais
genial que tive na vida.

Mesmo que meu perfil nas redes sociais estivesse sendo


bombardeado de mensagens de pessoas me perguntando a respeito
daquele momento, eu simplesmente ignorei todas aquelas pessoas.
Repeti a mim mesmo, enquanto seguia para o treino, que estava tudo
bem, e que todos sempre falaram da minha vida, não havia nada novo
nisso.

Ajustei os fones nos ouvidos, ouvindo música, aquilo era um hábito


ruim, eu ouvia música para silenciar meus pensamentos, mas
aparentemente, nem aquilo estava me ajudando naquele instante.

Assim que entrei no vestiário, tirei os fones para começar a me


vestir. Liam agarrou meu pescoço e sorriu.
— Parece que virei o mestre e vocês meus aprendizes — ele disse
indicando Elijah.

— Me tire desse meio — Elijah avisou.

— Como eu virei seu aprendiz? — perguntei com o cenho franzido.

Liam pegou o próprio celular e me estendeu a tela, com uma foto


minha entregando a cesta para Mel.

— Aprendeu minha tática de vencer pelo cansaço? — Liam me


questionou e eu ri.

— Liam, no dia que eu virar o cachorrinho de uma mulher como


você, pode me internar num sanatório — informei.

— Não é você o cara que sempre diz que nunca devemos dizer
“dessa água não beberei”? — Elijah perguntou fazendo sinal de aspas
com as mãos.

— Dessa água aí eu posso garantir que nunca beberei — falei


fechando a porta do armário.

Nós entramos no campo, e o treinador deu as ordens para o treino.


Meu corpo tentava se ater ao que ele dizia, mas minha mente estava
muito longe dali, ainda focada na conversa de Amber, Hayesha, e Mel,
que eu tinha ouvido.

O treino foi intenso, e devido à minha falta de atenção, acabei


levando um encontrão de Jack e bati com a cabeça no chão, me deitei
imóvel observando o céu girar diante dos meus olhos, o capacete me
protegeu, mas não tinha me livrado daquela sensação horrível. Cuspi o
protetor da boca, e ergui o polegar confirmando para o namorado da
minha irmã que estava tudo bem.
Ele me ajudou a levantar, e eu balancei a cabeça tentando colocar
as ideias no lugar.

Pensar demais em Melissa estava destruindo minha racionalidade,


e eu não gostava de ser irracional. Quando me deixei levar por emoções,
me vi preso em um relacionamento doentio, e no final, tive meu coração
destruído, talvez se Elijah não estivesse lá, minha necessidade daquela
mulher narcisista tivesse me levado a esquecer a traição.

— Onde está sua mente hoje, Noah? — ele me perguntou quando


se aproximou.

— Bem longe daqui. — Admiti.

— Então volte para cá — Elijah avisou indicando o técnico que me


encarava.

— Pode deixar — murmurei.

Coloquei todo aquele ódio que eu vinha nutrindo pelo ex-namorado


de Mel, naquele campo, e treinei pesado como há muito tempo não
treinava.

Depois do treino, eu segui para um restaurante do campus com


Liam e Elijah, sem garotas daquela vez, nós só nos sentamos numa
mesa, comemos três pizzas gigantes, e bebemos cerveja até que meu
estômago doesse.

— Você está parecendo que morreu e saiu do cemitério nos últimos


dias — Liam me disse.

— É como tenho me sentido na maior parte do tempo — admiti.


— Ter Melissa de volta na sua vida está confundindo sua antiga
vida com a atual — Elijah falou se encostando na cadeira que estava
sentado.

— Melissa e eu fomos amigos por muitos anos, ela sabia mais


sobre mim do que qualquer outra pessoa no mundo. Sabe mais sobre o
meu passado do que vocês dois juntos — confessei.

Meus amigos trocaram um olhar, e eu ignorei aquele gesto,


engolindo o que sobrou da cerveja na minha caneca.

— Quando nós tínhamos quinze anos, Melissa disse estar


apaixonada por mim. Céus, eu só pensava em foder, sonhava com
mulheres que tinham corpão, e Mel demorou um pouco para ter o corpo
que tem hoje. Eu não queria perder minha melhor amiga, então rejeitei
seu coração — contei.

— E ela começou a te perseguir como uma maluca — Elijah


completou.

— Daí você começou a namorar a líder de torcida gostosa, e


Melissa começou a te dizer que aquilo seria sua ruína — Liam continuou.

— E ela estava certa, aquele namoro foi a ruína do garoto que eu


era — admiti cruzando os braços e me encostando na cadeira.

— Então, se Melissa foi tão ruim no fim desse tempo que vocês
passaram juntos, por que você deu aquele presente? — Elijah me
perguntou.

Engoli as palavras que ameaçaram subir pela minha garganta, e


desviei os olhos dos meus amigos, observando a rua pela vidraça, eu
não sabia como dizer aos dois que a mulher que estava ali, não estava
realmente me perseguindo como pensei que estivesse.
Não sabia como dizer que ela estava destruída a um nível, que eu
talvez jamais compreendesse, nós dois passamos por relações tóxicas,
ambos tivemos nossas mentes fodidas, mas eu nunca entenderia o que
Mel passou. O medo pela própria integridade física.

— De alguma forma, quando eu olho para ela, ainda vejo a amiga


que brigava comigo quando era criança. Ainda vejo aquele cabelo
desgrenhado, e a roupa suja de lama, enquanto a gente limpava
arranhões que causamos um no outro. Fui um babaca com ela, e precisei
pedir desculpas — falei sem olhar para os meus amigos.

Mentir para os dois não era fácil, mesmo que aquilo não fosse uma
mentira, não era uma verdade completa, mas eu não queria explicar as
coisas com mais clareza, não estava pronto para fazer isso.

— Bom, você vai ter que lidar com essas fofocas, vocês dois vão —
Liam avisou balançando o próprio celular na minha frente.

— As pessoas vão encontrar outras coisas para falar — declarei


erguendo os ombros.

— Isso me traz lembranças — Elijah disse observando o celular e


sorrindo. — Aquele vídeo de Liam carregando Amber no ombro pela
universidade, ainda me faz chorar de rir. Aquilo, sim, foi vencer a pobre
coitada pelo cansaço. E olhe só o prêmio, um canalha emocionalmente
perturbado que nunca ouve um não.

— Eu sei ouvi um não — Liam falou erguendo o rosto do celular.

— Sério que essa foi a parte que te incomodou? — perguntei, e


meu amigo guardou o celular no bolso ao dizer.

— Nunca neguei que sou um canalha, e aceitar que temos um


problema é o primeiro passo para a cura — Liam declarou apoiando o
cotovelo na mesa.

— Falando em problema… — comecei virando o rosto para Elijah.


— Qual a porra do seu?

— De qual deles estamos falando? — Elijah indagou também


guardando o celular.

— Você não sai com ninguém há um bom tempo — Liam falou


acompanhando meu raciocínio.

— Não estou interessado — Elijah rebateu.

— Logo você que coleciona casos de uma noite não está


interessado? — Liam indagou. — Há quanto tempo você está sem
transar?

— Sei lá — Elijah murmurou olhando ao redor para as pessoas que


nós estávamos atraindo atenção.

— Esse é o novo recorde — declarei, e Liam riu.

— Alguém partiu seu coração, Elijah? — Liam perguntou, e o nosso


amigo não respondeu, se encostando na cadeira outra vez e encarando a
entrada do restaurante.

— Não imaginei que encontraria vocês aqui — Hayesha falou com


aquele tom de voz irritado.

— Não se preocupe, não vamos atrapalhar seu encontro — avisei


cumprimentando Jack com um aceno de cabeça.

— Tenho que ir, o meu trabalho não vai ficar pronto sozinho —
Elijah disse se levantando da mesa e caminhando para fora do
restaurante.
Melissa

Aqueles textos estavam prestes a explodir minha cabeça.

Eu estava com a cara enfiada em livros de direito desde que saí da


última aula do dia, estava desesperada por um instante longe dos livros.
As palavras já pareciam flutuar ao meu redor.

Quando Amber chegou no quarto no fim da tarde, ela apertou meu


ombro e desejou boa sorte nos estudos, antes de entrar no banheiro, eu
me recostei na cadeira, sentindo minha coluna tentando voltar para o
lugar, depois de tanto tempo sentada torta naquela posição e ouvi as
batidas na porta.

Caminhei para lá e destranquei. Liam sorriu em cumprimento.

— Amber está tomando banho — avisei abrindo a porta.

Ele entrou no quarto e se sentou na cama da namorada, voltei a me


sentar na cadeira e observei os livros. Esfreguei os olhos secos e virei o
corpo na cadeira para olhar para Liam.

— Posso te perguntar uma coisa? — questionei, e Liam assentiu.


Pela forma como ele pressionou os lábios, imaginei que estivesse
contendo algum tipo de piada. Ignorei aquilo e comecei:

— O que aconteceu com Noah nos últimos anos?

Liam respirou fundo e retrucou:

— Muita coisa aconteceu nos últimos anos.

— Quando Noah e eu éramos amigos, ele era um cara incrível,


cheio de sonhos, gentil, meu amigo de verdade, não importava se eu
precisasse dele às 2 da manhã, ele estava lá para me ajudar. O Noah de
agora é bem diferente disso. Ele tem sido grosseiro desde que me viu
aqui, eu entendo, até certo ponto, considerando como nossa amizade
acabou, mas veja — apontei para o presente.

Liam observou o presente que estava em cima da minha cama e


ficou calado esperando que eu concluísse.

— Esse não é o tipo de coisa que você encontra por aí, ele
precisou comprar cada item separado, e montar a cesta — expliquei. —
Como devo pensar nele agora? Ele colocou aí dentro tudo que eu gosto,
e me entregou isso com um pedido de desculpas pelas grosserias.

— Noah ainda é um cara legal — Liam falou. — O último


relacionamento dele, destruiu toda a fé que ele tinha no amor, desde
então, Noah se relaciona com mulheres usando um contrato.

— Um contrato? — inquiri, e Liam assentiu.

— Apenas sexo — ele avisou. — Noah passou por mal bocados


para sair do fundo do poço em que estava. Descobrir uma traição no dia
do seu aniversário, flagrar os dois, isso foi demais para ele, Elijah estava
lá, o que foi uma grande sorte, porque Noah estava tão submisso às
vontades daquela mulher, que talvez ela conseguisse fazer ele acreditar
que aquilo era culpa dele. Quando Noah se recuperou, ele simplesmente
decidiu que não acreditava no amor.

— Eu não sabia que tinha sido no dia do aniversário dele — admiti,


e Liam assentiu.

— Noah nunca fala a respeito, sobre o que aconteceu quando ele


os flagrou, só ele e Elijah sabem, nunca me contaram a história toda.

Encarei o namorado de Amber, me perguntando a razão para ele


não estar com os dois naquele dia. Apenas a minha curiosidade me
corroendo.

— Alguma parte do garoto que conheci ainda está lá? — fiz aquela
pergunta que vinha me assustando desde o início.

— Não sei se sou a pessoa certa para responder isso. Acho que
Noah é o único que pode te dizer.

— Eu sinto falta dele — admiti. — Sinto falta do amigo que me


protegia na escola.

Amber abriu a porta do banheiro, saindo de lá, usando um vestido


azul-escuro que ia até o meio das coxas, ela usava um par de saltos que
a deixavam uns bons, 12 centímetros mais alta.

— Desculpe a demora — ela falou sorrindo para o namorado.

— Está tudo bem, Melissa estava me distraindo — Liam confessou.

— Você está linda, Amber — elogiei, e o rosto dela ficou vermelho.

Observei aquele casal que era tão oposto, e sorri, Liam e Amber
eram muito fofos juntos, mesmo que eles fossem tão diferentes.
— Vai ficar aqui a noite inteira? — Amber perguntou.

— Tenho muita coisa para estudar.

— Se você se cansar disso aí, pode chamar Elijah para sair, ou ir


ao quarto dele, sério, aquele idiota está precisando de companhia —
Liam me disse, e eu ri.

— Eu vou ficar bem por aqui — admiti.

— Boa noite — Amber falou.

— Boa noite, e bom encontro para vocês — desejei.

Quando os dois saíram do quarto juntos, eu peguei meu celular, e


comecei a passar os stories em que tinha sido marcada naquele dia.
Alguns perfis fakes andavam me enviando mensagens, mas eu estava
apagando as conversas sem abri-las.

Não precisava de Anthony fodendo ainda mais a minha mente.

Inspirei fundo e abri o perfil de Noah, o meu amigo raramente


postava fotos de si, havia imagens do time, imagens de cálculos nos
cadernos dele, naquela letra que era estranhamente mais bonita que a
minha.

Noah em algum momento de nossa amizade foi bastante narcisista,


ele costumava fotografar o próprio rosto diversas vezes, após ver o perfil
dele, me perguntei se ele tinha sido tão ferido, que aquela parte dele que
se amava tão intensamente, que precisava expor esse amor, havia
morrido.

— Onde você e eu nos desencontramos dessa maneira, Noah? —


inquiri estudando a foto dele sentado ao lado de Elijah com uma garrafa
na mão.

Aquele sorriso no rosto de Noah era terrivelmente calmo e


controlado, totalmente diferente dos sorrisos simples que ele costumava
ter. Mesmo que aquele homem fosse tão diferente do garoto que amei,
ao ponto de perder a sensatez por ele, de algum modo, Noah Brown
ainda fazia o meu coração descompassar.

Travei a tela do celular e fechei os olhos, deixando minha mente


vagar pelas lembranças recentes. Os sorrisos e as discussões com
Noah. Aquelas lembranças, que conseguiam ofuscar a escuridão de tudo
que Anthony representou, naquele ano de relacionamento destrutivo.

Entrei no banheiro para tomar banho e coloquei uma música para


tocar no celular.

Quando saí do box, e espremi o cabelo na toalha observando o


espelho, percebi que aquele machucado no meu rosto, já não dava para
notar, inspirei fundo e me vi grata por estar me livrando daquela
lembrança que me arrastava de volta ao passado recente.

Meu celular notificou uma mensagem e eu apanhei o aparelho de


cima da pia para observar a tela.
Noah

Meu colega de quarto era um cara bem legal, chamado Simon, eu


não o considerava um amigo, já que nós éramos totalmente diferentes
um do outro, mas enquanto eu me via no meu dilema da vez, acabei
atrapalhando a concentração de Simon num projeto que ele estava
preparando para apresentar.

— Deixa eu ver se entendi — Simon começou quando eu contei


meu dilema de me aproximar ou não de uma amiga do passado. — Ela é
importante para você, vocês se conhecem desde a infância, e você partiu
o coração dela, mas agora que ela retornou e você sabe que não tem a
ver com perseguição, você não sabe se deve ou não se aproximar dela?

Ele repetiu a história inteira em forma de perguntas, e eu assenti.

— Eu acho que se ela está precisando de um amigo agora, você


deveria ajudar — ele comentou.

— Por que você acha isso? — questionei.

— Porque eu estive na posição de precisar de um amigo. Meus


pais me pressionaram muito na época do ensino médio, e eu tive crises
de ansiedade, e bom, não é um período que eu gosto de lembrar — ele
se interrompeu e me encarou. — A questão, é que se ela está passando
por um momento difícil, e disse que precisa de um amigo, você pode ser
a diferença, entre sair do fundo do poço, ou começar a cavar para ir cada
vez mais para o fundo. O problema da sua amiga fazer isso, é que ela
pode acabar se enterrando viva, e depois disso, é mais difícil subir.

Observei Simon em silêncio, me perguntando o que ele passou.

— Estender a mão quando alguém precisa não vai fazer com que
você desacelere a sua vida, ou atrapalhar o seu percurso. Às vezes, esse
é o caminho que você precisa seguir — ele completou e pediu licença
para voltar ao projeto.

Apanhei o celular e digitei uma mensagem para Mel, perguntando


se ela queria dar uma volta pelo campus comigo.

A resposta chegou um minuto depois:

— Onde nos encontramos?

— Vou caminhando até o Eagle’s, podemos nos encontrar no


caminho.

— Tudo bem. Vou só me vestir e saio do prédio.

Encarei a tela, dizendo a mim mesmo que aquela era a decisão


certa.

— Obrigado pela conversa, Simon — falei pegando o casaco para


sair do quarto.

— Quando precisar.
Abandonando meu quarto, eu caminhei para fora do prédio, e
ignorei a necessidade de ouvir música enquanto seguia para o prédio
dormitório dela.

Avistei uma garota usando calça justa de malhar, e tênis, o cabelo


estava preso em um rabo de cavalo, e ela usava um casaco aberto,
expondo a blusa justa, meu coração acelerou ao ver aquele cabelo
vermelho na luz. Ela corria em minha direção, e sorriu quando
desacelerou se aproximando mais.

— Oi — cumprimentei.

— Eu não esperava seu convite — admitiu.

— Acho que eu estava te devendo uma conversa, sem trocas de


farpas — enfatizei e Melissa riu.

Comecei a caminhar, e ela seguiu ao meu lado.

— Então, o que quer falar comigo? — indagou.

— Eu estava me lembrando de quando você me ligava no meio da


noite, dizendo precisar correr, e eu ia junto só para te fazer companhia —
falei, e Mel sorriu outra vez.

— Bons tempos — sussurrou.

— Você está bem diferente de como era antes — comentei.

— Agora eu tenho peitos, e você não consegue tirar os olhos


deles? — ela retrucou, e eu praguejei resmungando. Mel empurrou o
meu corpo com o dela e falou: — Só estou brincando com você.

— É sério — sussurrei. — Você está bem diferente.


O sorriso dela se desfez, e Mel enlaçou as mãos junto às costas.

— Quando eu fui para Stanford, e você veio para Yale, eu decidi


que superaria você. Tinha esperado você me enxergar por tanto tempo,
que estava sozinha, virgem, e com um belo coração partido — ela
confessou.

— O que houve depois disso? Eu sei que tudo que te falei naquele
dia pode ter sido doloroso, mas você parece..., sem ofensas, um
fantasma da pessoa que era.

— Não, isso não tem a ver com você. Quando fui à festa de
calouros de lá, acabei dormindo com o Anthony, ele é lindo, e me fez
pensar que se importava comigo. Eu acabei me convencendo que estava
apaixonada por ele. Aquela noite se tornou uma semana bem louca. E
então, uma relação que foi problemática desde o começo. Anthony era
controlador.

Mel interrompeu a história por um momento, e consegui ver o peito


dela inflando quando respirou fundo.

— Prefiro não detalhar como foi o último ano da minha vida, mas no
final, quando algo aconteceu, e meu rosto estava roxo, percebi que
precisava fugir daquela situação. Yale parecia longe o bastante para fugir
dele e eu sabia que você estava aqui — os olhos verdes dela me
encararam. — Me desculpe te trazer problemas, eu sei que foi egoísmo,
mas eu estava certa em pensar que quando visse você, as coisas
voltariam a ter sentido.

Sustentei o olhar de Melissa, e acabei meneando a cabeça em


confirmação.
— Eu nem sei por que estou te contando tudo isso — admitiu
exalando um riso frágil que me partiu por dentro.

Segurei o braço de Melissa interrompendo nossa caminhada, e


aquele olhar me estudou.

— Você sabe que pode confiar em mim; por isso, está me contando
tudo isso... e sabe... — eu me interrompi, segurando aquele olhar por um
instante de silêncio — … que sempre serei seu amigo, eu sempre vou
estar aqui por você. Mel. Essa parte de mim, a parte que é leal aos
amigos, ela ainda está aqui.

Os olhos de Mel marejaram, e meu coração acelerou com aquela


visão.

— Você sempre vai ser importante para mim, por tudo que vivemos
juntos — confessei.

Cobri a cabeça dela com o capuz, e puxei seu corpo para o meu.

Melissa me envolveu com os braços, pressionando o corpo contra o


meu, aquela garota magra, parecia tão frágil, que me deixou nervoso
estar segurando-a contra mim.

Mel enterrou o rosto no meu peito, e meu coração acelerou quando


notei aquele encaixe perfeito que nós dois sempre tivemos. Aquilo ainda
existia, aquela sensação de que tudo estava em seu devido lugar, que
surgia quando Melissa Turner me abraçava.

Me afastei dela com algum esforço, e fingi não ver quando Mel
limpou lágrimas do rosto.

— Quem perder paga o café — avisei indicando a cafeteria à


distância.
Melissa correu a minha frente, e eu a segui, tentando manter um
ritmo lento, ela segurou a porta e sorriu, ao notar que eu a deixei vencer.

— Velhos hábitos nunca morrem — ela comentou quando entramos


no lugar.

Nos aproximamos do balcão para escolhermos os cafés, quando a


atendente nos entregou os copos, Melissa se sentou junto a uma mesa,
eu deslizei no banco para me sentar ao seu lado, com meu joelho
tocando a perna dela.

Mel não se afastou do toque, como pensei que faria. Quando


estudei seu rosto, ela sorriu para mim.

Observei enquanto a garota colocava açúcar no café e estremeci.

— Nessa quantidade de açúcar você vai dar sorte se estiver viva


para sua formatura — avisei, fazendo a garota rir.

— A vida já é bem amarga, não preciso do café assim — ela


retrucou engolindo um pouco do café. — E você me diz que não vou
chegar à formatura devido ao açúcar desde que éramos crianças.

Observei a mão de Melissa, que estava em volta do copo, e aquela


cicatriz no formato de uma meia-lua ali.

Estiquei a mão até tocar a cicatriz, aquela que ela conseguiu para
impedir que meu rosto fosse atingido por uma pedra, que algum dos
vizinhos atirou em direção a minha cabeça. Eu me lembrava do sangue
na mão dela, enquanto eu pressionava minha camisa ali. Nós tínhamos
dez anos na época, três anos depois, eu fiz a tatuagem que marcava
minha mão direita.
Mel segurou minha mão, deslizando o dedo pela tatuagem que
marcava minha pele.

— Obrigada por hoje — Ela falou, com a mão segurando a minha.

— Não quero me afastar de você novamente, Melissa — admiti.

— Então não se afaste — ela sorriu parecendo incerta.

— Mas eu não sou aquele garoto, a pessoa que eu sou hoje, não é
o tipo de amizade que você deveria ter — sussurrei.

— Eu decido quem são as pessoas de quem posso ser amiga —


Mel avisou com o rosto ficando mortalmente sério. — Ninguém mais, vai
me dizer quem é ou não, boa companhia para mim. Se você não for mais
aquele garoto, tudo bem, consigo lidar com isso, mas não se afaste de
mim, porque no momento, estar perto de você, afasta os demônios que
ele colocou na minha cabeça.

Puxei a cabeça de Mel para mim, e beijei sua testa. Torcendo para
não me arrepender daquela amizade reconstruída.
Melissa

Mastiguei a caneta observando a janela, as provas estavam se


aproximando, e eu vinha passando meu tempo entre as aulas, a
biblioteca com Adam, e o quarto, meu estoque de post-its tinha acabado
rápido, de tantas anotações que colei na mesa. Como estava atrasada
em relação aos outros alunos, eu não podia me dar ao luxo de tirar uma
folga.

Meu celular sinalizou uma mensagem, e a abri.

— Soube que está estudando demais, tente dormir e comer direito


— Noah tinha digitado.

Esbocei um sorriso ao ver o cuidado do meu amigo, não tínhamos


nos vistos na última semana, porque eu estava atolada com os estudos,
mas vínhamos conversando por mensagem com frequência.

— O que você está fazendo? — inquiri.

— Planejando a morte de Elijah, você vai me ajudar a enterrar o


corpo — ele respondeu, e eu ri.

— O que ele fez?


— Está me enchendo, querendo saber com quem estou trocando
tantas mensagens.

Esbocei um sorriso e respondi:

— Talvez eu devesse mandar mensagem para ele também, Elijah


deve estar solitário.

— Fique longe dele. Aquele filho da puta, consegue o coração de


uma mulher só com um meio sorriso, e depois o cretino o esmaga com
uma pedra. — A mensagem de Noah parecia tão estranha que esperei
alguma continuação.

— Ele sempre parece gentil quando conversamos — retruquei.

— Gentil? Tudo em Elijah é arma de sedução — Noah avisou. —


Fique longe dele — completou.

Reli aquelas mensagens, sentindo meu coração acelerar no peito,


olhei para as horas no aparelho e arregalei os olhos, passava das duas
da manhã.

— Tenho que dormir, vou encontrar alguém na biblioteca para


estudar às seis. Boa noite!

— Alguém? — Noah indagou, mas o ignorei.

Se eu respondesse à mensagem, provavelmente nos arrastaríamos


por mais tempo de conversa, e não podia me dar esse tempo.

Amber provavelmente ia dormir no quarto de Liam, ou chegaria


mais tarde, eu corri no banheiro para escovar os dentes, e me atirei na
cama, dormindo quase imediatamente.
Acordei com o celular alarmando às cinco e meia, e corri pelo
quarto para tomar um banho, meus olhos pareciam cheios de areia, mas
eu ignorei a sensação, e me aprontei para encontrar Adam na biblioteca.
Apliquei uma base sob os olhos para esconder aquelas olheiras gigantes,
e fiz uma maquiagem básica, vesti uma calça jeans clara, e coloquei um
casaco preto por cima da blusa de linho branca.

Peguei a mochila e corri para fora do quarto, deixando Amber ainda


dormindo para trás.

O caminho até a biblioteca foi rápido, e eu encontrei Adam na


entrada. O rapaz sorriu quando me viu, nós entramos juntos e me vi
imóvel naquela mesa observando a pilha de livros que ele trazia.

— Você leu todos eles? — inquiri.

— Quase todos. Alguns eu só li os tópicos que vimos em aula —


avisou.

Ele me estendeu um caderno.

— Aqui tem todos os temas que vimos nos últimos meses, você
pode passar essas anotações para o seu caderno e ir estudando ao seu
tempo — instruiu.

— Obrigada.

Abri o caderno e tentei não franzir a testa quando vi a letra dele, eu


me esforcei para entender o que estava escrito ali, não queria
constranger o cara que estava me ajudando com tanta boa vontade,
então, não perguntei o que estava escrito.

— Você pode me emprestar o caderno para anotar com calma


depois? Assim não perdemos tempo com isso, e podemos estudar —
pedi, e ele assentiu.

— Só preciso que me devolva amanhã.

— Devolvo, com certeza — falei colocando o caderno dele na


bolsa.

Nós lemos algumas coisas, e Adam me entregava livros abertos


para fazer anotações, aquele tempo que tínhamos estava quase
acabando, quando eu ergui o rosto e vi Noah, sentado na mesa atrás de
Adam, o meu amigo nos encarava sem se mover.

Após sustentar meu olhar por um longo momento, Noah se


levantou e caminhou para fora da biblioteca.

— Melissa, você está bem? — Adam perguntou.

— Estou, eu só lembrei que tenho algo para resolver, podemos


continuar depois? — questionei.

— Claro, pode ir. Eu guardo os livros.

— Obrigada!

Apanhei minhas coisas sem me importar de colocar tudo na


mochila. Não havia nada entre mim e Noah, muito pelo contrário, ele
tinha deixado claro que não haveria, mas então por que eu me sentia
assim? Por que eu sentia como se aquilo fosse uma traição?

Enquanto me arrumava de manhã, tinha refletido sobre o que falei


com ele de madrugada, e não entendi por que não tinha dito que ia
estudar com Adam.

Encontrei Noah no meio da rua, e corri para alcançá-lo.


Os saltos das botas que eu usava eram largos, mas ainda me
desequilibrei algumas vezes naquele caminho.

Segurei o braço de Noah, o impedindo de continuar se afastando.

— Bom dia para você também — falei com a voz cheia de


sarcasmo.

— Eu vim hoje para te levar para comer, porque imaginei que você
estava pulando refeições para estudar, mas vi que você não precisa de
mais alguém para se preocupar com você — retrucou.

— O que você quer dizer com isso? — rebati engolindo a raiva que
se acumulava no meu estômago.

— Veja só, há um cara ali dentro, pronto para te carregar pelo


campus se você pedir. O nosso professor também pareceu disposto. O
que foi Mel? Está tentando ver qual deles tem o pau maior para foder
você? — interrogou, e eu soltei os cadernos que vinha segurando.

Fechei minha mão em punho e movi aquele soco em direção ao


rosto de Noah. Meu amigo nem se moveu, mas eu exalei um grito
quando senti o impacto na minha mão, eu tinha mantido o polegar dentro
da mão, e sentia que o dedo tinha saído do lugar.

— Mel — Noah chamou com a voz menos agressiva.

— Me deixe em paz! — ordenei fazendo com que ele me soltasse.

— Me deixe ver sua mão — pediu.

— Eu queria ter arrancado todos os seus dentes! — praguejei com


lágrimas descendo pelo meu rosto.

— Mel, me desculpe, eu não devia…


— Não devia ser um babaca? — perguntei furiosa. — Você e eu
não temos nada, Noah! Eu não estou perguntando quais bocetas você
está fodendo, então não se meta na minha vida, e não fale da minha vida
sexual como se a conhecesse!

— Me deixe te levar até a enfermaria — Noah pediu apanhando


minhas coisas do chão. — Eu já pedi desculpas, Melissa!

— Por que diabos você está falando assim comigo hoje? —


questionei encarando Noah, e segurando minha mão direita com a
esquerda.

Noah me encarou sem responder, e eu o amaldiçoei caminhando


pela calçada, deixando os cadernos com ele.

Noah me segurou pelo braço e puxou na direção contrária, dizendo


que a enfermaria era para o outro lado. Caminhei com ele ignorando que
mesmo com a mão latejando, eu ainda queria socá-lo.
Noah

Depois que levei Mel até a enfermaria, e ela disse à médica que
machucou a mão socando meu rosto, a mulher me encarou parecendo
nervosa com a situação. Assenti e garanti que estava tudo bem.

O dedo polegar de Mel estava fora do lugar e ela precisaria usar


um gesso na mão por uns dias.

A mulher entregou a Melissa alguns remédios para dor, e quando


saímos de lá, encarei Mel me perguntando se oferecia ou não ajuda para
ir ao dormitório.

— Até mais, Noah — ela fala em tom afiado, e pega os cadernos


que ainda estou carregando com a mão esquerda.

Fiquei imóvel observando a mulher se afastar, e me perguntando


qual a porra do meu problema? Me vi dentro das salas de aula,
observando enquanto os professores pareciam marionetes, com a boca
mexendo sem que palavra alguma chegasse aos meus ouvidos.

Eu estava tão perdido em pensamentos, que não notei quando a


última aula do dia acabou, até que Simon apertou meu ombro em um
aviso silencioso.

— Você parece perdido hoje — ele comentou.

— Estou mais do que você imagina — admiti. — Tenho que ir ao


treino.

Nós caminhamos para fora da sala e tomamos caminhos


diferentes, eu dirigi até o campo, para o treino daquele dia, Liam e Elijah
estavam atrasados para variar, aproveitei para adiantar os exercícios
físicos de alongamento. Com os fones no ouvido para conter aqueles
pensamentos do dia.

Que merda eu tinha feito com Mel, tinha sido pior que um babaca.
Ela estava certa, não havia nada entre nós, e mesmo que ela tivesse a
liberdade de dormir com o campus inteiro, eu não gostava daquela ideia.

Quando pensava em outros homens tocando aquela mulher, meu


corpo fervia em um ódio que eu não sentia há muitos anos.

Deixei aquele sentimento de lado quando o treino começou, não


precisava de mais sermões de Liam no campo. Minhas pernas
queimaram, e eu tentava manter minha atenção nos gritos do
quarterback sobre as estratégias.

Nosso próximo jogo seria contra os Leões de Colúmbia, e aquele


não era um time fácil de vencer. Por isso, nossos treinos precisavam ser
mais intensos do que nunca.

Quando saí do banho, Liam já estava conversando com Amber ao


telefone, sobre encontrar com ela, encarei Elijah:

— Quer encher a cara?


— Agora — meu amigo respondeu prendendo o cabelo longo em
um coque que o deixava parecendo um samurai.

Liam nos observou saindo, e indagou sem emitir som o que íamos
fazer, sinalizei que, estávamos indo beber, e ele nos dispensou com a
mão.

— O que está acontecendo com você? — perguntei ao Elijah


enquanto nós caminhávamos para o meu carro.

— Me fodi esse semestre — avisou abrindo a porta do carona.

— Onde está sua mente, Elijah? — interroguei rindo.

— E onde está a sua? Nunca vi você tão distraído nos jogos.

— Essa é uma pergunta que eu estou fazendo a mim mesmo há


muitos dias — sussurrei.

Elijah olhava pela janela do carro, para Jack, que estava montando
na moto, o namorado da minha irmã sorria ao falar no telefone, Jack e eu
nunca fomos próximos. Ele era no máximo um conhecido, Elijah e Liam,
por outro lado, o viam como amigo.

— Mel deslocou o polegar me socando hoje — contei.

— Eu estava mesmo curioso com esse roxo na sua bochecha —


Elijah respondeu tirando os olhos de Jack e me observando.

Toquei o maxilar onde ela me acertou, e senti aquela parte do rosto


dolorido.

— Doeu mais nela do que em mim — comentei erguendo os


ombros.
Comecei a dirigir para o bar, Elijah e eu não estávamos no melhor
momento da nossa amizade, mas ao menos, entre nós dois, não haveria
a pressão de falar sobre o que estava nos incomodando.

Nós mal nos sentamos no bar, e já começamos a entornar canecas


de cerveja, e doses duplas de uísque, tequila, e o que mais tivesse
naquele bar que pudesse apagar nossos problemas da mente.

Na mesa atrás da nossa, havia um grupo de garotas da


universidade, eu só sabia disso porque elas usavam blusas parecidas,
com o nome.

Arrastei a cadeira até bater contra a de uma delas, aquele truque


sempre funcionava para falar com mulheres, sem demonstrar tanto
interesse.

— Me desculpe — falei. — Ah, você também é de Yale! Qual o seu


curso, nunca te vi pelo campus.

— Filosofia.

— Eu me chamo Noah — estendi a mão.

— Nathalie — a loira apertou minha mão. — Minhas amigas, Alicia,


Beatrice e Erika.

— Meu amigo Elijah.

Observei Elijah que entornou mais uma dose e apenas


cumprimentou as mulheres com um aceno de cabeça.

— Parece que vocês decidiram afogar as mágoas — ela comentou


com um sorriso no rosto.
— Mais ou menos isso — admiti, e o sorriso dela começou a se
desfazer.

Elijah continuou bebendo em silêncio, enquanto eu falava com


Nathalie, uma das amigas dela acabou se aproximando de Elijah e
oferecendo algumas batatas, meu amigo esboçou um sorriso de canto
para a mulher, que me espantou que ela não tenha caído no colo dele.

— Então, o que aconteceu com você para precisar afogar as


mágoas? — Nathalie me perguntou.

— Uma mulher me confundiu.

— Namorada? — ela questionou.

Descartei aquela ideia, o que a fez sorrir.

— Não gosto da ideia de manter relações firmes. Não me agrada


prender ninguém a mim — aquele discurso tinha me rendido algumas
calcinhas abaixadas na vida, e eu imaginei que conseguiria aquele feito
outra vez.

Nathalie olhou para as duas amigas na mesa, que pareciam


distraídas com alguma coisa no celular, e me disse:

— Vou ao banheiro.

Quando saiu da mesa, ela caminhou com aquela minissaia pelo


bar, atraindo alguns olhares, pensei em dizer para Elijah não me esperar,
mas percebi que o meu amigo estava literalmente com a mulher no colo,
e a língua enfiada na garganta dela. O canalha conseguia tudo com um
meio sorriso, e um elogio naquela voz de locutor.
Segui a loira pelo bar, e antes que eu conseguisse perguntar algo,
ela me puxou para dentro do banheiro daquele lugar, baixei a cabeça
para atacar a boca dela, e tranquei a porta daquele banheiro.

A mulher saltou envolvendo meu corpo com as pernas, caminhei


até a pia e a sentei em cima do tampo, Nathalie estremeceu contra o
objeto frio.

A saia dela estava levantada, revelando uma calcinha vermelha de


tecido, eu nunca me importei muito com aquele tipo de detalhe, mas o
vermelho realmente vinha parecendo mais atrativo ultimamente. Rasguei
a embalagem de preservativo nos dentes enquanto a mulher abria minha
calça.

— Exatamente como imaginei — ela sussurrou envolvendo meu


pau com a mão.

Contive um som animalesco, que ameaçou me subir a garganta, e


afastei a mão dela para conseguir colocar a camisinha, agarrei a calcinha
dela e a puxei para baixo. A mulher agarrou meus ombros montando em
mim. Cobri sua boca com a minha para impedir que gritasse.

Apoiei o corpo dela contra a parede, e a fodi com todo o ódio


daquela confusão mental que Melissa vinha causando em meus
pensamentos.

A mulher gemia alto em meu ouvido, instigando que eu


continuasse, com a voz rouca. Aquela, sim, era a minha vida, uma noite
de selvageria com uma estranha que jamais cumprimentaria outra vez.
Melissa

Passei o dia a base de analgésico, e com a cabeça doendo mais


do que a minha mão, não conseguia fazer anotações para estudar,
porque Noah me fez machucar a mão direita, Adam estava tentando me
ajudar a gravar todos os textos que eu precisava estudar no celular, mas
eu já me sentia mal, por estar abusando da boa vontade dele.

— Me desculpe por estar te incomodando tanto — falei me


encostando na cadeira. — Ainda mais agora.

Ergui a mão para sinalizar a mão machucada.

— Ainda não acredito que você socou o rosto do Noah Brown.


Achei que eu fosse o único nesse lugar que não tinha interesse naquele
trio — comentou.

— Noah e eu fomos amigos por muitos anos na infância, mas eu


subestimei o desenvolvimento físico dele. Antigamente, socar o rosto
dele teria tido algum efeito.

— Eu vou te devolver o seu caderno, já que não consigo copiar


seus resumos — falei apanhando o caderno da minha mochila.
— Posso te mandar as fotos do caderno se você quiser — sugeriu.

— Você faria isso? — indaguei.

— Claro.

— Você é um anjo, Adam — sussurrei com um sorriso no rosto.

— Não se preocupe com isso.

Ele interrompeu o movimento de tirar mais fotos do caderno, e


observou a tela do próprio celular.

— Algum problema? — questionei.

— Não, é que acabei de receber um convite para um encontro —


avisou.

— Pode ir se quiser, eu guardo os livros.

— Tem certeza de que consegue? — ele perguntou observando a


quantidade de livros grossos.

— Tenho, minha mão esquerda sempre foi mais forte.

— Boa noite! — Adam desejou e apanhou as próprias coisas para


sair da biblioteca.

Fechei os livros que estavam abertos, e comecei a levar um a um


de volta para as estantes, aquele trabalho consumiu um bom tempo, já
que eu só podia usar uma mão. Quando finalmente acabei, meus pés me
arrastaram pela biblioteca, até que o ar frio da noite me envolveu.

Arrumei o cachecol em volta do pescoço e caminhei pelas ruas


vazias, indo em direção a uma lanchonete, porque meu estômago estava
devorando algum outro órgão dentro do meu corpo.
— Boa noite! — um atendente me disse.

— Um combo grande, por favor — pedi e fiz um malabarismo para


tirar a mochila das costas e pegar a carteira.

— Só um momento — falou recebendo o pagamento e me pedindo


para me sentar enquanto esperava.

Me sentei o mais perto possível do balcão, e peguei o celular para


verificar se tinha recebido alguma mensagem. Ignorando os números
estranhos, e as mensagens de Adam, com as primeiras fotos do caderno
dele, eu abri o chat de Noah, era difícil digitar com uma mão só, mas eu
consegui escrever as palavras:

— Seu rosto está bem?

Encarei a mensagem na tela com o dedo perto do botão de enviar,


porém, acabei não mandando aquela mensagem, apaguei o conteúdo e
travei o celular, olhei pelo vidro, para a rua, e vi um homem do outro lado
da rua, sob uma árvore, na sombra.

O capuz não me deixava saber se o conhecia. Meu coração


acelerou e eu estava prestes a pegar o celular outra vez para ligar para
alguém, mas o homem atrás do balcão sinalizou que meu pedido estava
pronto.

— Estou indo — falei olhando para ele.

Ao olhar outra vez para a árvore, antes de me levantar, não havia


mais ninguém lá. Talvez Noah tivesse razão, e eu estivesse estudando
demais.

— Obrigada — eu disse pegando o pacote de papel que o homem


me entregava.
— Bom apetite — ele sussurrou.

Esbocei um sorriso e saí da lanchonete, as ruas estavam quase


vazias, e não havia sinal do homem que eu tinha visto antes, então
inspirei fundo para acalmar minha mente prestes a entrar em pânico, e
caminhei em direção ao dormitório.

Alguns casais passaram por mim naquele caminho e foi impossível


não pensar em Anthony, não me lembrar de como nós caminhamos de
mãos dadas pelas ruas tantas vezes antes. Meu corpo estremeceu, e eu
tive uma sensação estranha no estômago, um medo irracional de olhar
para trás.

Meu corpo que simplesmente estagnou no meio da rua, demorou


para voltar a ter controle, vire-se! Eu dizia a mim mesma, mas o corpo se
recusava, meu coração batia descompassado e eu já sentia minha
respiração se tornando acelerada e difícil. Movi lentamente a cabeça, até
conseguir virar o rosto para olhar por cima do ombro.

O estranho usando um capuz escuro estava a poucos metros de


mim, meu cérebro respondia instintivamente para que eu me afastasse,
então forcei minhas pernas trêmulas a caminhar, virando a cabeça
ocasionalmente para ter certeza de que ele estava mesmo atrás de mim.

Por favor... Por favor, aqui não.

Repeti essas palavras em meus pensamentos e continuei andando


cada vez mais rápido, porque ele continuava às minhas costas, eu ainda
estava a duas quadras do Eagle’s, meu corpo começou a tentar acelerar
ainda mais aquela caminhada, e era cada vez mais difícil respirar sem
parecer em pânico.
Quando eu já conseguia ver o Eagle’s a distância, com um trajeto
mal iluminado pelas árvores, meu corpo foi tomado pela adrenalina
daquele momento. Fuja! Minha mente pareceu gritar para o meu sistema
nervoso e eu corri.

Com o barulho das botas batendo no chão, sendo o único som


naquele ambiente vazio, meu coração acelerado, e o som de suas
batidas ensurdecendo meus ouvidos. Continuei correndo pela escuridão,
sempre olhando para trás para verificar a distância que ele estava de
mim.

Apenas aquela maneira de correr, como os punhos ficavam rente


ao corpo, quase sem se mover, aquilo o denunciava. Anthony estava em
Yale.

Minhas pernas me moveram, e minha garganta travou com aquele


choro que eu não conseguia sufocar, não havia voz para gritar por ajuda,
não havia nada ali que me ajudasse, mas eu estava tão perto do edifício
que seria minha salvação, tão perto daquela proteção, sabia disso,
mesmo com a visão embaçada pelas lágrimas.

Virei o rosto para ver se ele ainda me seguia, e ainda era possível
vê-lo na escuridão das árvores, aquele torpor de medo e adrenalina me
deixaram alheia ao caminho e eu esbarrei em um homem que me
segurou, o grito de pânico ficou preso em minha garganta, o cheiro de
bebida forte e cigarros me envolveu, mas ergui os olhos sentindo que
desmaiaria se Anthony estivesse à minha frente. Olhar para o rosto de
Noah foi como olhar para um oásis em meio a um deserto escaldante e
assustador.

Meus braços o envolveram.


Noah

Eu tinha acabado de deixar um Elijah semiconsciente dentro do


dormitório.

Quando saí do banheiro com Nathalie, a amiga dela me disse que


Elijah estava apagado na mesa. Ajudei meu amigo a chegar no
dormitório, e estava prestes a retornar ao meu, quando vi Melissa
correndo pela rua.

Me vi imóvel observando a garota correr na minha direção, e quase


caí com ela quando esbarrou no meu corpo, a envolvi para que não
caísse. Mel ergueu o rosto para me encarar, e reparei que as lágrimas
borraram sua maquiagem, ela me abraçou, enterrando o rosto no meu
peito, e um som doloroso escapou da boca dela.

O corpo de Mel tremia contra o meu, e quase senti o álcool


abandonando completamente o meu corpo.

— Mel? — chamei com a voz tomada pelo medo do que tinha


acontecido com ela.
Encarei o caminho que Melissa tinha feito e vi um homem com
capuz na escuridão, ele estagnou e se virou recuando de volta pelo
trajeto que tinha feito.

— Mel, quem é aquele? O que aconteceu? — interroguei em


pânico tentando me afastar dela.

— É ele… — ela garantiu com a voz rouca.

Tentei me afastar novamente, mas Melissa me agarrou com mais


força.

— Se você me soltar, eu vou cair — avisou.

— Nunca vou soltar você. Mel — prometi apanhando o celular do


bolso, e discando o número que nunca usei naquele campus.

— Segurança do campus — a pessoa que me atendeu falou.

— Oi, eu sou Noah Brown, estudante do segundo ano de Ciência


da Computação. Tinha um homem estranho seguindo a minha amiga no
campus — avisei. — O nome dela é Melissa Turner, estudante de Direito.
Aconteceu perto do Eagle’s.

— Vou mandar alguém para cobrir a área.

— Obrigado — falei travando a mandíbula, enquanto Mel tremia


abraçada comigo.

Melissa continuou chorando, agarrada ao meu corpo, pressionei o


corpo dela contra o meu, deixando que chorasse o que precisava. Por
algum motivo, eu me sentia sujo, envergonhado por estar abraçando
aquela garota depois de tudo que tinha feito naquela noite.

— Você está bem? — perguntei.


Mel se afastou de mim com mais lágrimas rolando pelo rosto dela,
afastei uma das minhas mãos do seu corpo, para limpar as lágrimas que
escorriam no rosto da garota.

— Estou — sussurrou parecendo incerta.

— Sente-se aqui um pouco — chamei, e me sentei ao lado dela na


calçada.

Melissa obedeceu, quase como se estivesse precisando de


comandos para funcionar, para entender o que precisava fazer. Eu
desejei não estar tão bêbado para conseguir ser mais útil para ela
naquele instante.

Envolvi os ombros dela com o braço, e Melissa segurou minha coxa


com os braços, deitando a cabeça no meu joelho. Inclinei minha cabeça
até estar beijando seus cabelos.

— Vai ficar tudo bem — prometi com os lábios grudados na orelha


dela.

Eu sentia as lágrimas de Mel tocando minha perna, com o corpo


ainda tremendo, o que me fez abraçá-la com mais força.

— Estou aqui com você — enfatizei.

Mel apertou mais minha perna em resposta, eu não conseguia


imaginar o que aquele desgraçado fez com aquela garota para que ela
reagisse daquela maneira ao vê-lo.

Melissa Turner sempre foi uma jovem alegre, extrovertida, e cheia


de sarcasmo, além de absurdamente linda, mas ela parecia feita de vidro
naquele momento, e o babaca que a seguiu, parecia uma pedra atirada
contra o vidro.
Deixei minha amiga ali, tentando acalmar toda aquela tristeza. É
possível que um babaca canalha consiga curar um coração tão ferido?
Eu não sabia a resposta para essa pergunta, nem sabia se era a melhor
opção para cuidar de Mel naquele instante, mas algo instintivo, e meio
predatório em mim, não queria abrir mão daquele cuidado.

— Não vou deixá-lo te machucar de novo — sussurrei acariciando


as costas dela.

— Não me prometa o que não vai cumprir — rebateu com a voz


rouca.

— Estou te fazendo um juramento. Mel — reforcei. — Nunca mais


vou deixar que alguém te machuque.

— Noah… — a voz dela falhou ao sussurrar meu nome, e eu me


senti um maldito pervertido ao me sentir excitado com o meu nome na
boca dela.

— Melissa — murmurei o nome, roçando meu nariz na orelha dela.

Os dedos de Mel me apertaram mais, e eu podia jurar que ela


estava segurando o fôlego.

— Não me abandone outra vez — a súplica na voz de Mel abalou


aquela estrutura reforçada de metal que eu estava construindo ao meu
redor.

— Nunca — prometi novamente.

O corpo de Mel não tremia como antes, e quando ela ergueu o


rosto da minha perna, me perguntei como era possível uma mulher ser
tão linda, mesmo quando estava chorando, voltei a limpar as lágrimas do
rosto dela, manchando meus dedos na maquiagem borrada.
Sustentei o olhar de Mel, segurando aquele instante de confusão
de sentimentos, que tinha se estabelecido entre nós. Eu tinha noção de
que estava me abrindo com tanta facilidade porque o álcool estava me
afetando, mas tinha a impressão de que não ia me arrepender no dia
seguinte.

Mel aproximou o rosto do meu, envolvendo o meu rosto com as


mãos, ela encostou a testa na minha e murmurou:

— Obrigada.

Meu coração saltou no peito, estávamos tão perto que eu


conseguia sentir o cheiro das lágrimas dela, conseguia sentir o cheiro de
sabonete floral na pele dela, e meu corpo inflamou com o desejo de
provar o sabor daquela pele, porém, eu sabia o que tinha feito antes dali,
e jamais me permitiria beijar Melissa sabendo que eu tinha acabado de
foder com uma mulher que nem me lembrava o nome.

— Vou levar você para o dormitório — falei me afastando daquele


contato antes que eu sucumbisse, e abandonasse aquela regra pessoal.

Peguei a mochila dela, e o saco de comida que Mel tinha deixado


no chão. Ajudei a garota a ficar de pé, e mantive aquele braço ao redor
de sua cintura, conforme nós caminhávamos pelo que faltava de caminho
até a entrada do Eagle’s.

Melissa não falou mais nada, ela não me pressionou, não pareceu
decepcionada por eu interromper aquele momento entre nós. Mel
simplesmente me seguiu, como se aquela merda de consolo que pude
oferecer, tivesse tido algum significado para ela.

Nós subimos as escadas juntos, e eu tinha a leve sensação de que


algumas pessoas nos fotografaram, mas não tive a menor vontade de
desviar a atenção dela para mandar alguém se foder, apenas continuei
ajudando a garota a subir as escadas.

Vasculhei a bolsa de Mel até conseguir as chaves do quarto dela,


abri a porta me perguntando se era uma boa ideia entrar ali com ela. Se
eu conseguiria ser o amigo que Mel precisava, assim que abri a porta,
contive um suspiro ao ver Amber dentro do lugar.
Melissa

Aquele quarto parecia um conforto naquele instante, observei o


rosto de Noah que parecia aliviado em ver Amber. Eu quase acreditei que
Noah me beijaria quando estávamos naquela calçada, o mais estranho
foi que desejei aquele beijo. Desejei, mesmo vendo as marcas de unhas
no pescoço dele, mesmo sabendo que Noah esteve com alguém antes
de me encontrar, ainda havia batom no pescoço dele.

— Você está bem? — ele voltou a me perguntar.

— Estou — sussurrei.

— O que aconteceu? — Amber perguntou parecendo preocupada,


olhando de mim para Noah.

— Alguém a seguiu, ela acabou esbarrando em mim aqui perto —


Noah contou quando eu fiquei muda, incapaz de encontrar minha voz.

— Quem? — Amber indagou se aproximando de mim.

— Anthony — falei com o nome rasgando minha garganta.


— Ele está aqui? Como? Vocês chamaram a polícia? — minha
colega de quarto questionou.

— Eu liguei para segurança do campus. Você tem que ir a uma


delegacia pedir uma ordem de restrição — Noah me disse.

— Eu tenho uma ordem de restrição — avisei.

— Parece que isso não está sendo muito útil — Noah resmungou.
— Vou tentar saber com os seguranças se o encontraram.

Noah estava prestes a sair do quarto, quando o segurei pelo braço.

— Você está muito bêbado — lembrei. — Anthony nos viu juntos,


não fique andando por aí nesse estado. Ele não é confiável.

— Vou ficar bem — garanti.

Pelo canto dos olhos vi Amber mexendo no celular.

— Não seja teimoso, Noah — pedi com a voz embargando outra


vez.

Se algo acontecesse com ele por minha causa, eu jamais me


perdoaria, queria dizer isso a Noah, mas não conseguia colocar em
palavras o meu medo de que algo acontecesse com ele.

— Fique com Liam e Elijah hoje — Amber disse erguendo o celular.


— Liam está descendo.

— Não precisa de tudo isso — Noah retrucou parecendo irritado.

— Melissa tem razão, Noah. Você está muito alterado, e esse cara
ainda pode estar por perto — Amber alertou.
Noah segurou meu braço atraindo minha atenção para si, e
ignorando o que Amber dizia.

— Você está mesmo bem?

— Vou ficar — prometi segurando a mão dele.

— Não vou ficar sossegado sabendo que ele pode estar aqui. Tão
perto de você — Noah murmurou fechando os olhos com força.

Batidas na porta me interromperam, e Amber abriu. Liam olhou


para a namorada com preocupação e entrou no quarto, para entender o
que estava acontecendo.

— Vamos, Noah, Melissa deve estar precisando dormir — Liam


avisou.

— Cuide dela, por favor — Noah falou para Amber.

— Pode deixar — Amber respondeu enquanto Liam praticamente


arrastava Noah para fora do quarto.

Quando Amber e eu ficamos sozinhas no quarto, a loira me


estudou respirando fundo.

— Você quer tomar banho enquanto eu vejo o que sobrou do seu


jantar? — ela perguntou.

— Está bem — sussurrei e caminhei em direção ao banheiro.

Meu coração disparou quando fiquei sozinha, obriguei minha mente


a relaxar, e tirei as roupas que estava usando, entrei embaixo do
chuveiro sem desfazer o rabo de cavalo que tinha feito de manhã. Puxei
o elástico com a mão esquerda.
A água escorreu pelo meu corpo, e eu agradeci aquela limpeza,
mesmo que minhas lembranças me sufocassem, com as memórias das
mãos dele, no meu corpo me obrigando a esfregar minha pele com a
esponja na tentativa de me livrar da sensação.

Batidas na porta do banheiro me trouxeram de volta ao presente.


Anthony não podia mais me tocar, aquilo acabou. Fechei o chuveiro e saí
do box, vestindo o roupão, abri a porta e vi Amber me esperando.

— Você precisa comer algo — ela me lembrou.

Caminhei até a minha escrivaninha onde um sanduíche amassado


estava em cima de um prato de papel, as batatas estavam do lado com
uma aparência bem pior.

— Quer que eu ajude com o cabelo? — Amber me perguntou e eu


assenti enquanto pegava uma batata com a mão esquerda e a levava à
boca.

Amber foi até o banheiro e voltou com uma toalha, que usou para
secar meu cabelo, me vi engolindo as batatas que não pareciam ter
gosto real na minha boca.

— Eu sei que você está com medo, mas não vamos deixar ele te
machucar — ela sussurrou.

Fechei os olhos deixando aquelas palavras entrarem na minha


cabeça, Amber começou a pentear o meu cabelo e aproveitei aquela
sensação, como quando minha mãe fazia isso quando eu era criança.

Terminei as batatas e segurei o sanduíche com a mão esquerda, a


primeira mordida espalhou molho e picles por todo o prato, Amber riu
atrás de mim, e eu acabei repuxando os lábios. Continuei comendo até
que não restasse mais nada no prato.
Amber abriu a garrafa do suco que estava dentro da sacola e eu
bebi.

— Obrigada, por tudo — falei me encostando na cadeira.

— Não precisa agradecer por isso. Minha mãe viveu um


relacionamento tóxico por muitos anos.

— Seu pai? — perguntei e Amber assentiu.

— Ele colocou fogo na nossa casa, e morreu no incêndio — Amber


contou.

Eu sabia que Amber tinha perdido o pai recentemente, mas ela


nunca tinha me contado a respeito, e como não éramos tão próximas,
nunca me senti no direito de perguntar sobre tudo isso.

— Sei que você está muito ferida agora, mas com o tempo você vai
melhorar.

— Eu fico feliz de ter vindo para Yale — admiti. — Vocês são todos
tão unidos, que não consigo imaginar companhia melhor nesse
momento.

— Bom, somos todos bem diferentes, e brigamos na maior parte do


tempo, mas estamos sempre dispostos a ajudar uns, aos outros. Somos
como uma família grande e feliz na maior parte do tempo — ela falou, e
eu ri. — Bem-vinda a ela, e saiba que os três loucos vão te fazer surtar
na maior parte do tempo.

— Estou ansiosa por isso — respondi com aquele sorriso ainda no


rosto.
Me levantei da cadeira e fui até o armário, peguei roupas limpas e
voltei ao banheiro para me vestir, enquanto fazia um malabarismo para
conseguir me vestir usando apenas a mão esquerda, quando voltei para
o quarto, me deitei na cama e ouvi Amber me desejando boa noite.

Eu realmente esperava ter uma, boa noite de sono.

Mesmo que eu soubesse que seria difícil conseguir dormir com


tudo que estava acontecendo. Fechei os olhos com força, e as palavras
de Noah pareceram ecoar dentro de mim.

Ele estava comigo outra vez, essas palavras foram capazes de me


arrastar para o mundo dos sonhos.
Noah

Eu acordei na manhã seguinte com a boca seca, deitado em uma


montanha de lençóis, no chão do quarto de Liam e Elijah. Um filme de
tudo que aconteceu na noite anterior passou na minha cabeça.

Me sentei em cima dos lençóis e observei o quarto, Elijah não


estava na cama, mas pelo barulho no banheiro, imaginei que ele já
estivesse lá. Liam estava com o celular na mão, deitado na cama, pelo
sorriso no rosto dele, imaginei que meu amigo estivesse falando com
Amber.

— Bom dia! — desejei apenas para atrair a atenção do meu amigo.

— Que noite — Liam falou bloqueando a tela do celular.

— Nem me fale — pedi observando o meu amigo.

— Amber me disse que Melissa ainda está dormindo.

Assenti, grato por ter notícias dela.

— Como você se enfiou nisso? — Liam me perguntou.


Parei para pensar na noite anterior, ignorando o gosto amargo na
boca.

— Eu trouxe Elijah para cá e quando estava saindo daqui, Melissa


estava correndo na rua, e esbarrou em mim. Eu vi um cara seguindo-a,
queria ter corrido atrás dele, mas Mel me disse que se eu a soltasse, ela
ia cair na rua. Liguei para segurança, e fiquei esperando com ela até que
ela conseguisse andar.

Esfreguei a testa, mais em um tic nervoso, que em necessidade.

— Quero ver como ela está — avisei.

Me levantei da cama improvisada, e observei o quarto de Liam e


Elijah. Meu amigo saiu do banheiro com uma toalha enrolada na cintura e
me estudou.

— Liam me contou o que aconteceu. Melissa está bem?

— Ela vai ficar — garanti.

Meu celular tocou e eu o peguei para atender.

— Noah Brown? — questionou uma voz feminina.

— Sou eu — respondi temendo ter dado meu número a uma


completa, estranha.

— Eu sou da segurança do campus, estou ligando para dizer que


fizemos uma busca pelo homem suspeito que você disse que seguiu sua
amiga — ela explicou.

— Encontraram? — perguntei alarmado.


— Não, vasculhamos o campus inteiro, mas não havia ninguém
que não fosse estudante ou professor. Vamos fazer uma verificação das
câmeras de segurança do horário, e eu volto a entrar em contato — ela
informou, e eu quase xinguei a incompetência daquela segurança.

— Está bem — respondi a contragosto e desliguei.

— O que foi? — Elijah perguntou.

— Nenhum sinal dele — contei. — Posso pegar uma roupa sua


emprestada? — perguntei a Liam, já que as de Elijah ficavam
normalmente apertadas em mim.

— Claro — respondeu.

Segui para o banheiro deles e tomei um banho, para me livrar


daquele cheiro horrível que se impregnou no meu corpo.

Depois daquele banho, eu vesti as roupas que Liam me emprestou


e comecei a descer as escadas, encontrei Mel na porta do quarto, ela me
estudou, depois sorriu, ao me ver ali.

— O que faz aqui tão cedo? — questionou.

— Já que nós estamos indo para o mesmo lugar, pensei que


poderíamos ir juntos.

— Claro — ela sussurrou.

Peguei a mochila que ela tinha jogado sobre o ombro esquerdo e


comecei a caminhar ao lado dela.

— Noah, eu queria agradecer por ontem — falou — ter você por


perto naquele momento, foi realmente muito importante.
— Não precisa me agradecer por isso, eu queria não ter estado tão
bêbado, podia ter pensado melhor — admiti.

— Você agiu bem — Melissa sorriu.

Nós continuamos em silêncio até estarmos fora do Eagle’s e Mel


finalmente rompeu o silêncio, dizendo:

— Parece que somos o assunto do campus outra vez — ela


sussurrou.

Não havia sorriso no rosto de Mel, eu tinha notado na noite anterior


que algumas pessoas nos fotografaram, o problema é que pegaram a
garota em um momento de fragilidade.

Melissa tentou prender o próprio cabelo. Esbocei um sorriso e


coloquei a mochila dela, no meu ombro, peguei o elástico que ela tinha
no pulso esquerdo, e comecei a prender o cabelo dela. Reparei na forma
como a pele de Melissa arrepiava sempre que meus dedos tocavam seu
pescoço.

Aquele sinal do corpo dela me fez demorar um pouco naquela


tarefa, eu também me vi deslizando os dedos pela pele exposta daquele
pescoço fino.

Céus, eu estava louco para beijar aquele ponto do pescoço e ver o


que isso faria com ela.

Quando notei o que o desejo estava fazendo com o meu corpo,


acabei finalizando o penteado dela, que ficou um pouco torto, mas
Melissa sorriu.

Aquele foi todo o clima que me permiti ter com ela naquele dia, nós
saímos da sala que teríamos a prova juntos, eu deixei Melissa na sala
em que ela faria a próxima prova, e corri para a minha. No fim do dia,
retornei para buscar a garota e levar de volta ao Eagle’s.

Nós paramos para comer algo na lanchonete, e eu acabei ajudando


Melissa a cortar a carne do prato dela. Mel agradeceu, mas aquele
sorriso no rosto dela parecia diferente de antes, como se ela estivesse
cautelosa comigo.

Assim que terminamos a comida, eu a levei para o dormitório,


avisando que ela não saísse sozinha. Mel entrou no Eagle’s, olhei ao
redor para ver as pessoas que nos observavam, e acabei vendo minha
irmã e Jack entre as pessoas que observavam a cena.

— Noah, vamos conversar um pouco — minha irmã pediu se


afastando do namorado.

— O que foi? — indaguei.

— O que você está fazendo? — Hayesha me perguntou.

— Hay, seja mais específica — pedi.

— Por que você está dando a ela toda essa esperança? Por que
jogar com o coração dela? Melissa é uma boa pessoa. Ela está numa
situação bem ruim desde que terminou com o último namorado, se você
não quer um relacionamento sério, se vai apenas partir o coração dela, é
melhor você se afastar, e deixar que ela conheça alguém que possa
oferecer a ela mais do que você está disposto. Tudo bem que você
queira ser um mulherengo babaca, mas ao menos, procure mulheres que
não têm sentimentos por você. Isso é cruel.

— Eu não estou dando esperanças a ela, Hayesha. Ontem à noite,


alguém estava seguindo Mel no campus, ela acha que foi o ex dela. Por
sorte, eu estava deixando Elijah aqui e ela esbarrou comigo.
— Anthony estava aqui? — Os olhos da minha irmã se arregalaram
ao perguntar.

— Achei que Amber havia contado — falei.

— Não falei com Amber hoje, nem ontem, estava com Jack — ela
disse.

Revirei os olhos ao ouvir aquelas palavras.

— Você devia ter cuidado com isso. Esqueceu o que me aconteceu


no último relacionamento? — questionei.

— Nem todos são assim, Noah. Se você se permitisse olhar além


da sua dor, ia ver que o mundo ainda é colorido, que ainda existem
pessoas boas ao seu redor.

— Eu prefiro não deixar ninguém invadir meu espaço.

— Prefere partir corações ao invés de ter o seu coração partido? —


Hayesha indagou, mas aquela pergunta não precisava de uma resposta.

— É errado querer me proteger? — perguntei com a voz calma,


apesar da raiva que me corroía.

— Não, mas é errado deixar alguém vulnerável se aproximar, e


fazer promessas que não pretende cumprir.

— Como você…

— Eu te conheço, Noah — ela me interrompeu. — Sei que você se


importa com Melissa, e sei o quanto você se torna protetor com as
pessoas que ama. Só não a deixe confundir as coisas.
Com essas palavras minha irmã voltou para Jack, e eu o
cumprimentei com um aceno de cabeça.
Melissa

Não era como se eu esperasse estar com Noah o dia inteiro, sabia
que o garoto tinha a vida dele e não podia dedicar todo o seu tempo a
mim, mas estar enfurnada dentro do quarto, sem nada para fazer depois
das provas, era tedioso.

Minha mão tinha se recuperado o suficiente para que eu tirasse a


tala que vinha usando, porém, ainda era doloroso mexer demais o
polegar. Inspirei fundo, exalando o ar pesadamente, e girei a cadeira
sobre as rodinhas, enquanto observava o quarto naquele tédio que
parecia infinito.

Noah e eu vínhamos nos encontrando quase diariamente, para ver


episódios de séries aleatórias, ou comer, e eu estava acostumada
demais com a presença constante dele, naquela tarde quando perguntei
o que íamos fazer, ele me disse que ia jogar sinuca com Liam e Elijah,
acabei dizendo ao meu amigo que aproveitaria a folga dele para estudar,
mas depois de dez minutos relendo textos, comecei a stalkear o perfil de
Liam nas redes sociais, e vi os stories dos três bebendo cerveja e
jogando sinuca.
O sorriso descontraído no rosto de Noah fez com que eu me
perguntasse se ele estava bem em passar tempo comigo, Noah parecia
sempre tenso quando estávamos juntos. Meu cérebro traidor começava a
questionar se não era melhor me afastar dele, mas meu coração egoísta
sabia que eu não conseguiria me afastar daquele idiota.

Quando a porta abriu, eu parei de rodar na cadeira, e Amber


entrou, minha visão demorou um pouco para parar de rodar, e eu sorri
para minha colega.

— Você está bem? — Amber me perguntou.

— Só estou entediada — avisei rindo.

— Não saiu desse quarto hoje?

— Ainda não — admiti.

— Vou tomar banho, e depois nós podemos assistir a um filme —


Amber ofereceu. — Vou chamar Hayesha, e fazemos uma noite das
meninas.

— Eu ia adorar isso — falei.

Minha colega de quarto caminhou para o banheiro, e eu me vi


imóvel observando o celular, enquanto esperava ela retornar ao quarto.
Hayesha e Amber estavam se tornando amigas importantes para mim, o
que me fazia ver que talvez finalmente estivesse onde tinha que estar,
nada me prendia tanto em Stanford quanto minhas novas amizades em
Yale me faziam desejar colocar raízes ali.

Meus pensamentos retornaram para o celular quando percebi que


Jane, minha ex-colega de quarto de Stanford, estava me mandando
mensagem, o que era bem estranho, já que nós pouco falávamos ao
longo do meu tempo na universidade.

— Mel, você deixou uns livros no quarto, minha nova colega está
precisando do espaço e perguntou se eu podia te devolver. Precisei vir
visitar meus pais e estou na cidade, pode me encontrar para pegar os
livros?

Encarei a mensagem, eu vinha mesmo reclamando do tédio


naquele dia. Amber saiu do banheiro e me estudou.

— O que você quer ver? — perguntou.

— Eu preciso sair, na verdade, uma colega me pediu para


encontrar com ela no Chicken and Onion, quer vir comigo? — questionei.

O restaurante era fora do campus, e seria uma viagem tediosa se


eu tivesse que ir sozinha. Amber sorriu ao ouvir a pergunta, mas aquele
sorriso não parecia exatamente uma concordância.

— Não posso. Mel. Eu preciso resolver um assunto do trabalho, ia


fazer isso enquanto víamos o filme.

— Você se importa se deixarmos o filme para depois? — indaguei


me levantando.

— Não, está tranquilo. Hayesha estava vindo para cá, mas eu vou
organizar o que preciso enquanto conversamos — Amber avisou.

— Está bem, até mais tarde.

— Até.

Peguei o casaco e as chaves do carro que eu raramente usava, saí


do quarto e caminhei pelo corredor, Hayesha que vinha subindo as
escadas sorriu ao me ver.

— Estava indo agora para nossa sessão de filmes — ela falou.

— Eu tenho que dar uma saída, mas devo voltar em uma hora —
avisei. — Amber está esperando você.

— Ah, está bem… você vai sozinha? — ela questionou.

Hayesha olhava ao meu redor quase como se esperasse Noah


surgir de dentro da minha sombra.

— Sim, Noah está com os amigos hoje — contei.

Meu celular vibrou com outra mensagem de Jane, não consegui ler
porque o aparelho se desligou e eu olhei da tela escura para Hayesha.

— Eu tenho que ir — sussurrei.

Me afastei de Hayesha e desci as escadas saindo do Eagle’s.


Encarei aquele caminho que ainda vinha me assombrando, observando
cada homem que caminhava por aquelas ruas, nenhum deles se parecia
com Anthony. Suspirei aliviada, e segui em direção ao estacionamento.

Entrei no carro e dei a partida, o carregador que eu normalmente


tinha no carro não estava ali, praguejei mentalmente e comecei a dirigir.
Liguei o aparelho de som do carro apenas para não ficar no completo
silêncio durante o caminho.

As músicas trocavam naquele caminho, e eu tentava não lembrar


de tudo que aconteceu em Stanford durante a viagem de carro. Se meu
telefone estivesse com um pouco de bateria que fosse, eu teria ligado
para Noah, não sabia exatamente o motivo para pensar tanto nele
naquele momento, mas sentia uma necessidade de falar com ele.
Vasculhei o porta-luvas procurando o carregador e acabei
encontrando um spray de pimenta que meu pai colocou ali quando me
deu o carro. Peguei o objeto e o coloquei no bolso. Aquilo estava ali há
tanto tempo, que eu tinha medo de acabar cegando alguém, então
pensei em jogar fora quando tivesse oportunidade.

Não havia sinal do carregador, então respirei, controlando aquela


necessidade irracional de falar com Noah.

Talvez a ausência do carregador fosse algo bom, se Noah


soubesse que eu estava saindo do campus sozinha, podia abandonar os
amigos para me acompanhar. E depois de tudo que vinha fazendo, meu
amigo precisava de uma folga.

Minha mente focava na música que estava tocando, aquela que


representava tanto o que Noah e eu tínhamos, um sorriso curvou minha
boca enquanto eu me lembrava daqueles braços ao meu redor, enquanto
víamos filmes de terror no quarto escuro.

As lembranças de Noah rindo ao me apertar mais na segurança


daqueles braços, ele estava consumindo demais dos meus
pensamentos. Invadindo um espaço que eu tinha prometido manter
fechado no meu coração.
Noah

Estar com Mel diariamente, vendo filmes, abraçado com ela, ou


comendo juntos, estava criando uma rotina agradável, meus dedos
digitaram mensagens para ela no celular perguntando se estava tudo
bem, mas Mel nem mesmo recebeu as mensagens.

— É a sua vez de jogar — Elijah me avisou chutando meu pé.

Deixei o celular de lado e fui até a mesa de sinuca.

— Então, o que está acontecendo entre você e Melissa? — ele me


perguntou enquanto eu mirava na mesa.

— Por que está me perguntando isso? — retruquei acertando as


bolas.

— Porque você tem passado mais tempo com ela do que eu passo
com Amber — Liam avisou observando minhas jogadas.

— Mel está precisando do amigo dela — sussurrei.

— Sim, a situação que ela está passando é complicada, mas vocês


têm uma história juntos — Elijah avisou. — Tem certeza que estar com
uma garota com quem você já teve tantos momentos importantes, não
mexe com você?

— Deveria? — rebati, mesmo que meu coração andasse inquieto


sempre que eu estava com Melissa, e que eu não procurasse outra
mulher há muito tempo.

— Bom, se você não está sendo afetado por isso, é um psicopata


— Elijah sussurrou. — Além disso, como ela se sente com essa
aproximação de vocês?

Errei a tacada quando meu amigo concluiu a pergunta, e me afastei


da mesa, deixando que ele fosse até ela com um sorriso debochado no
rosto.

— A última coisa na cabeça de Mel, agora, deve ser a necessidade


de encontrar alguém — falei.

— Mas vocês têm uma história, Noah, não pode simplesmente


ignorar isso. Se não tem interesse real nela, devia tentar esclarecer tudo.
Vocês estão passando tempo demais juntos, e isso pode acabar
afastando qualquer outro cara que possa se aproximar dela. Ela pode
acabar rejeitando alguém que tenha interesse real nela por sua causa —
Liam enfatizou.

— Está bem, está bem. Eu não tenho três anos, sei o que estou
fazendo — avisei mantendo os olhos em Elijah porque nosso amigo
gostava de trapacear.

Liam pegou o celular do bolso revirando os olhos e depois colocou


o aparelho contra o ouvido. Foi minha vez de revirar os olhos, entornei a
bebida do meu copo e encarei Elijah ouvindo o que Liam dizia.
— Oi, você chegou do estágio? — ele perguntou e riu de qualquer
que fosse a resposta. — Estão vendo filmes?

— Pode perguntar a Amber se Mel está bem? O celular dela está


desligado — falei.

— Noah está perguntando por Mel — Liam avisou.

Encarei o meu amigo esperando a resposta dele.

— Ela disse que Melissa saiu, uma colega de quarto dela em


Stanford avisou que precisava entregar umas coisas.

Eu senti o sangue fugir do meu rosto ao ouvir aquelas palavras.


Peguei o celular que Liam segurava contra a orelha, e meu amigo
protestou, mas eu já estava com o aparelho no ouvido.

— Amber, para onde Mel foi? — questionei nervoso.

— Eu não sei direito, Noah, ela disse que ia encontrar essa colega
em um restaurante — avisou.

— Qual restaurante, Amber? — perguntei quase gritando e Liam


me chamou em aviso. — Desculpe, você sabe para qual restaurante ela
foi?

— Ela disse Chicken… eu não lembro direito.

— Chicken and onion? — indaguei.

— Isso, esse mesmo. Noah, o que está acontecendo? — ela me


perguntou.

— Eu espero estar errado — falei e devolvi o celular para Liam. —


Pode me emprestar o carro?
— Para onde você vai? — Elijah perguntou.

— Acho que isso pode ser coisa do ex de Mel — avisei. — Preciso


ir a esse restaurante.

Minha mão continuava estendida esperando a chave do carro, mas


Liam praguejou e largou o taco de sinuca em cima da mesa.

— Vamos juntos, não vou te emprestar meu carro quando você


parece prestes a ter um infarto.

— É sério? — Elijah perguntou. — Vamos mesmo atrapalhar o


papo calcinha de Melissa com a amiga, apenas devido à paranoia de
Noah?

— Vamos logo — Liam puxou Elijah obrigando meu amigo a largar


o taco de qualquer jeito, e nós caminhamos para o carro.

Elijah entrou no banco de trás, e eu me vi no banco do carona,


deixando Liam dirigir. Meu amigo parecia calmo, mas eu estava prestes a
explodir com o nervosismo que tomava posse do meu corpo.

— Fique calmo, vamos chegar lá. Pelo que Amber falou. Mel saiu
há vinte minutos — Liam disse dando partida no carro.

— Então pise fundo, se tiver multa eu pago depois — rebati.

— Obedece, Liam, ou ele vai acabar explodindo dentro do carro —


Elijah falou se recostando mais no banco, e apoiando o pé no banco de
couro, para encarar a janela.

Ignorei o comentário de Elijah, e Liam realmente pisou fundo no


acelerador conforme seguia para fora do campus.
Nós estávamos a pelo menos meia hora do lugar, se as leis de
trânsito fossem respeitadas. Liam, por outro lado, dirigiu como se a vida
dele dependesse disso.

É em momentos como esse que enxergamos o quanto somos


fortes juntos. Liam, Elijah e eu estávamos dispostos a ir aos confins da
Terra um pelos outros.

Eu observei a estrada, meu corpo estava tão preso a ideia de que


Mel estava em perigo, que mesmo que Liam estivesse correndo com o
carro, ainda me parecia estarmos indo em câmera lenta. Levei a mão à
boca agarrando o lábio frio entre os dedos.

Um filme de cada momento que passei com Melissa nos últimos


dias passou pela minha cabeça, aquela paz que tínhamos construído
ainda parecia tão frágil, se Mel realmente estivesse caminhando para
uma armadilha de Anthony, tudo poderia se desfazer em questão de
minutos.

— O que você acha que pode estar acontecendo? — Elijah me


perguntou.

— Acho que Anthony armou esse encontro. Mel pode estar indo
encontrar com ele — falei a teoria causando um peso no meu estômago.

— Ela tem uma ordem de restrição — Liam lembrou.

— Sim, mas se ele chegou ao ponto de seguir ela no campus, pode


não estar se importando com as consequências disso — sussurrei.

— Acelera mais. Liam — Elijah pediu.

Olhei para o meu amigo que estava no banco de trás, e nossos


olhos se encontraram.
— Se tem uma coisa que aprendi nos últimos anos, é que esse
babaca é intuitivo, se ele acha que algo está errado, provavelmente está
— Elijah avisou, e eu assenti em agradecimento, enquanto Liam pisava
mais fundo no acelerador.

— Só lembrem que se a gente morrer no caminho, não vamos


ajudar ninguém — Liam disse nos fazendo rir nervosamente.
Melissa

Quando estacionei no final da rua do restaurante, meus pés


pareciam tensos para caminhar até lá, talvez o tempo que fiquei sem
dirigir estivesse cobrando o seu preço.

Travei o carro e andei em direção ao restaurante, o vidro espelhado


não me permitia ver nada no interior do lugar, então caminhei para a
porta.

— Boa noite! — falei para a mulher na entrada. — Eu vim encontrar


uma amiga.

— Qual o nome? — questionou.

— Jane Michaels — disse.

— Mesa 10 — a mulher me disse. — É aquela ali perto da janela.

Ela me indicou uma mesa que estava vazia, havia uma taça de
vinho em cima da mesa. Caminhei para lá e me sentei na cadeira em
frente aquela. Um garçom se aproximou de mim e perguntou se eu
queria beber algo.
— Pode me trazer uma água, por favor — pedi.

O homem saiu andando e eu batuquei meus dedos na mesa,


observando o exterior do restaurante. Não havia nenhuma anormalidade
na rua, o pôr do sol manchava o céu com roxo e laranja naquele
momento do dia, que era o meu favorito. Permaneci encarando aquele
pôr do sol e murmurei um agradecimento quando o garçom me avisou da
água.

Jane estava demorando no banheiro, mas eu estava precisando ver


aquele pôr do sol, precisava ver uma coisa bonita como aquela.

— Esse sempre foi o seu momento favorito do dia — uma voz


masculina me disse, e eu podia jurar que meu coração parou de bater
por uns dois segundos.

O crepúsculo não parecia mais tão bonito quando ouvi aquela voz.
Movi minha cabeça lentamente para olhar para a cadeira à minha frente.
Anthony estava sentado ali, diante de mim, com aquele sorriso no rosto e
segurando a taça de vinho.

— Anthony — o nome saiu fraco pela minha boca, como se aquele


homem arrancasse qualquer senso de força do meu corpo.

— Oi, Mel — ele disse sorrindo.

— Onde está Jane? — indaguei com a respiração acelerando. — O


que você está fazendo aqui?

— Essa coisa toda de livros foi uma desculpa. Eu pedi um favor a


Jane — contou.

Conforme Anthony falava, eu comecei a ouvir um apito em meu


ouvido, senti minha boca secar, e a imagem daqueles objetos voando
pelo cômodo enquanto ele gritava, passou pelos meus pensamentos. Eu
estava hiperventilando, se continuasse daquela forma, podia ter um
ataque de pânico ali, e não conseguia nem me levantar para fugir dele.

— Eu senti sua falta, tentei conversar com você antes, mas você
fugiu, e aquele cara, aliás, quem é ele? Por que estava tocando em
você? — interrogou.

— Eu tenho uma ordem de restrição — lembrei com a voz rouca.


Minha garganta parecia estar se fechando.

— Só eu posso tocar você, Melissa — ele disse me ignorando.

Movam-se! Ordenei as minhas pernas, que pareciam incapazes de


obedecer ao comando desesperado do meu cérebro. Bati com os punhos
nas laterais das coxas tentando fazer meu corpo recuperar os sentidos.

— Não tente fugir de mim. Mel! — Anthony ordenou, e eu me


assustei com a voz irritada dele.

Aquele desgraçado sabia, ele me conhecia o suficiente para ter


notado àquela altura, que eu estava procurando uma maneira de escapar
dele.

— Por favor — sussurrei. — Fique longe de mim, por favor.

Eu odiava implorar, odiava ter que pedir para ele se afastar de mim,
odiava ter tanto medo, que aquilo me paralisava.

Não havia a menor possibilidade de eu conseguir simplesmente


escapar daquela situação intacta, se eu gritasse, Anthony podia me
machucar, se eu pedisse ajuda, ele notaria.
— Eu não posso. Mel. Você me pertence — ele falou. — Não posso
me afastar de você.

— Eu não pertenço a você! — avisei com raiva.

— Melissa, pare de agir como uma criança — ordenou. — Nós dois


sabemos que você não pode fugir para sempre. Eu fui seu primeiro em
muitas coisas, e você me prometeu que eu seria o último.

— Isso foi antes! — rebati.

— Antes de você encontrar outro babaca para montar? — indagou.

— Não, antes de perceber que você é um pedaço de merda, e que


não merece, respirar o mesmo ar que eu.

Anthony quebrou a taça com a mão, e eu me sobressaltei, engoli o


pavor que ameaçou fazer o meu corpo tremer sem qualquer controle.

Encarei a mesa que estávamos sentados e segurei a toalha branca


entre os dedos, Anthony me observava com atenção, tentando ver o que
eu faria. Se eu corresse, ele me alcançaria? Se tentasse pedir ajuda
naquele restaurante… não, isso seria humilhante.

Puxei a toalha da mesa, fazendo todos os pratos, talheres e copos


caírem no chão.

Se ele ia agir como louco, então eu ensinaria para ele o caminho


do manicômio.

— Eu não sou sua! — falei com a voz carregada de ódio. — Nunca


fui, e nunca vou ser. Tivemos algo, fizemos promessas, mas palavras, o
vento leva, Anthony. O que você me fez, isso não pode ser apagado.
Guardei tudo na memória, para nunca mais me esquecer de tudo que eu
não estava disposta a enfrentar outra vez. Se você quer agir como louco,
rasgue todo o seu dinheiro, ou viaje para dentro, de um vulcão em
erupção, mas faça um favor para nós dois, fique longe, porque eu prefiro
morrer a aceitar você de volta.

Minhas pernas finalmente me obedeceram e eu me levantei,


pisando em cima do vidro quebrado com os tênis protegendo meus pés.
Todas as pessoas no restaurante se viraram para nos observar, dei as
costas para Anthony e caminhei em direção a saída do restaurante,
implorando mentalmente para ele não me seguir.

Encarei os olhos do garçom que tinha me servido, água, talvez o


homem tivesse notado o olhar de desespero no meu rosto, pois ele parou
Anthony dizendo que ele precisava pagar o prejuízo dos estragos que eu
tinha feito.

Aproveitei aquela vantagem para correr em direção a porta do


restaurante, me amaldiçoando pela burrice de ter ido até aquele lugar.

— Melissa! — Anthony gritou.

Virei o rosto para o interior do restaurante a tempo de ver que ele


socou o garçom e corria em minha direção, puxei a porta de vidro ao
invés de empurrar e me atrapalhei na fuga, Anthony agarrou o meu braço
quando finalmente saí do restaurante.

Meu coração acelerou naquele instante, o ar não entrava no meu


pulmão, e eu olhei em pânico para o rosto do homem que me destruiu.
Noah

Liam estava dirigindo como se de fato fôssemos todos morrer se o


carro batesse, deixei aquele pensamento de lado, apenas por pensar que
Mel estava em perigo.

Quando o restaurante ficou visível na rua, eu saltei do carro e corri


em direção ao lugar. Mel saiu do restaurante e um cara segurava o braço
dela. A garota tinha o rosto vermelho e pegou algo do bolso.

Ela direcionou o spray de pimenta na direção dos olhos de Anthony


e espirrou o líquido, o babaca praguejou levando a mão livre aos olhos.
Eu tinha uma leve noção de que Liam e Elijah gritavam por mim, mas a
raiva que eu sentia por ver o medo no rosto de Mel me deixou alheio
àquilo.

Me aproximei dos dois já socando o rosto do babaca. Mel e ele


caíram juntos, e a ruiva me observou com um misto de alívio e terror.

Liam me segurou enquanto Elijah ajudava Mel a ficar de pé, os


meus amigos tentavam entender a situação, e percebi que talvez eles
não soubessem o que estava acontecendo.
— Você está bem? — Elijah perguntou a Mel, ela assentiu, eu me
contorci contra os braços de Liam para tentar acertar a cara do
desgraçado outra vez.

— Nós chamamos a polícia — um funcionário do restaurante disse


ao sair do lugar.

Anthony, que estava com a mão sobre os olhos, fez menção de se


levantar, e eu arrastei Liam junto comigo quando me joguei em cima dele.
Meu amigo acabou me soltando para se levantar e nós mantivemos
Anthony ali no chão.

Quando Liam segurou Anthony, ele sinalizou para que eu fosse ver
como Mel estava, Elijah perguntava ao garçom o que tinha acontecido, e
Mel estava imóvel perto do meu amigo, assim que notou que eu a
estudava, Melissa se afastou dele e me abraçou.

— Você está bem? — questionei ansioso.

— Estou — a voz dela estava rouca.

Mel tinha o casaco e a calça sujos de poeira, mas não parecia


haver outro problema com ela. Pressionei o corpo dela contra o meu,
aliviado por ver que tínhamos chegado a tempo. Me arrisquei em beijar a
cabeça de Mel, e a mulher estremeceu, agarrando o meu casaco entre
os dedos.

— Meus olhos — Anthony praguejou. — O que fez com os meus


olhos?

— Spray de pimenta vencido — Mel sussurrou.

Exalei um riso, mesmo que o momento fosse inoportuno.


— Vou buscar água para lavar os olhos desse desgraçado — o
garçom ofereceu.

Olhando para o rosto do homem, percebi que ele tinha o lábio


cortado, parecia ter sido um soco. Mel, que reparou o meu olhar, esperou
o homem sair para explicar:

— Ele tentou atrasar Anthony lá dentro, para me dar tempo de


escapar.

Nós esperamos por cerca de dez minutos enquanto Anthony


limpava os olhos com água em um balde, com Liam e Elijah de olho nele.
Mel agradeceu ao garçom pela ajuda, e disse que pagaria os prejuízos
que ela causou no lugar.

— Se você precisar de cuidados médicos… — ela disse para o


homem que nos observava.

— Não se preocupe com isso, não é a primeira briga em que me


meto — ele garantiu sorrindo.

Quando a polícia chegou, Anthony foi algemado e colocado na


viatura.

— Nós vamos seguir a viatura de carro para prestar depoimento —


avisei a policial que olhava para Mel como se imaginasse como pedir
para ela ir naquela viatura.

— Certo — a mulher falou entrando na viatura.

Caminhei com Mel para o carro dela, e a garota me entregou a


chave, se sentando no banco do carona. Liam, que já estava com o
celular no ouvido, provavelmente explicando a Amber o que estava
acontecendo, seguiu Elijah em direção ao próprio carro.
Eu dei partida e comecei a dirigir, segurei a mão de Mel que estava
sobre a perna dela, fazendo um movimento repetitivo de deslizar a mão
pela coxa, numa tentativa de manter a calma.

— Você está mesmo bem? — questionei, e ela assentiu nervosa.

— Eu não sabia — começou, e se interrompeu, caindo em um


choro.

Mantive minha mão em volta da dela, observando a estrada o


tempo todo, para não nos afastarmos demais da viatura. Mel estava
secando as lágrimas com a manga, e tentou falar algumas vezes, mas a
voz tremia e embargava.

— Não sabia que ele estava aqui — ela concluiu com a voz rouca.

— Por que não me avisou que ia vir sozinha para cá? — perguntei
sem demonstrar meu nervosismo na voz.

— Porque fiquei sem bateria — explicou.

— Você entende que eu podia chegar aqui e encontrar você morta?


— interroguei ousando desviar os olhos da estrada para olhar para o
rosto dela.

Mel assentiu.

— Me desculpe — pediu.

— Não, você não tem que pedir desculpas para mim. É a sua vida.
Mel, precisa ter mais cuidado — alertei.

— Eu estava cansada de ficar só no quarto, e Jane me mandou


mensagem — ela contou.
— Se queria sair, por que não me disse? Podíamos ter ido a algum
lugar — falei.

— Você passou a semana inteira cuidando de mim, Noah.


Precisava de uma folga — rebateu com a voz mais firme que antes.

— Eu pareço estar incomodado, ou precisando de uma folga de


você? — perguntei olhando novamente para ela. — Não tire conclusões
precipitadas. Mel.

Estacionei o carro em frente à delegacia, e descemos, Elijah e Liam


chegaram, e nós quatro entramos juntos no prédio.

Depois do que pareceu ser uma eternidade, nós fomos chamados


um a um para prestar depoimento. Mel que esteve segurando minha
mão, se afastou de mim para entrar na sala de interrogatório, e enfim,
Liam e Elijah suspiraram ao mesmo tempo, do meu lado.

— Relacionamento abusivo… — Elijah sussurrou. — Que inferno,


parece que garotas legais sempre se atraem por escrotos malditos.

— Isso é porque os babacas legais estão ocupados com sexo


casual — Liam retrucou.

— Obrigado pela ajuda — falei.

— Você devia ter nos contado — Liam disse, e eu o observei.

— Achei que Amber tivesse contado — rebati.

— Ela não sai por aí contando os segredos das outras pessoas —


Liam falou, e eu ri.

— E eu deveria ser o fofoqueiro? Elijah, é o espalhador de fofocas


— lembrei. — Já estamos muito bem com só um deles no grupo.
— Esse caos todo não vai ajudá-la — Elijah disse sem se importar
com a minha grosseria.

— Mel estava assustada porque ele a seguiu pela faculdade, e


mesmo assim caiu nessa armadilha estúpida e veio até aqui — contei.

— Ela parece uma garota e tanto — Elijah falou. — E você parece


se importar com ela mais do que deixa parecer. Tenha cuidado para não
a afastar da sua vida devido a erros idiotas do passado, e depois se
arrepender disso, alguém pode passar na sua frente e ver o que ela
realmente é. Nesse dia, a pessoa não vai ser estúpida ao ponto de deixá-
la escapar.

Nosso amigo com o cabelo desgrenhado se levantou, prendendo o


cabelo em um coque, e disse precisar fumar, então saiu da delegacia nos
deixando sentados olhando para as costas dele. Comecei a me perguntar
se Elijah tinha razão. A ideia de estar apaixonado por Mel cravou
espinhos no meu coração, e eu não estava disposto a sentir aquela dor
outra vez.
Melissa

Após responder a inúmeras repetições da mesma pergunta: por


que fui ao restaurante, se Anthony estava lá, e por que não pedi ajuda
direto no estabelecimento? A polícia finalmente me liberou. Caminhei
pela delegacia arrastando os pés, até me encontrar com os três garotos
que estavam esperando em cadeiras na recepção. Encarei Noah que
desviou os olhos dos meus e retribuí o sorriso de Elijah.

— Podemos ir? — perguntei fazendo com que se levantassem.

Nós caminhamos para fora da delegacia, e eu segui para o meu


carro, Noah, que ainda estava com a chave, seguiu em direção ao carro
de Liam. Tentei não demonstrar o que aquela atitude dele estava fazendo
com o meu coração, mas percebi que falhei miseravelmente quando
Liam e Elijah agarraram o amigo pelos braços e sussurraram coisas
lançando olhares para mim.

Noah se afastou dos amigos e bufou, mas não me encarou quando


disse:

— Vamos.
Ele me entregou a chave do carro e caminhou para a porta do
carona.

— Obrigada pela ajuda — falei para Elijah e Liam.

Os dois assentiram, e eu segui para o carro, sentindo os olhares


dos dois sobre mim. Quando dei partida no carro, observei a nuca de
Noah, já que o idiota estava olhando pela janela. Dirigi por algum tempo
sem romper o silêncio.

Quando o tempo de silêncio se tornou insuportável, eu pigarreei


para chamar a atenção de Noah.

— O que está acontecendo? — perguntei.

— O quê? — Noah rebateu finalmente olhando para mim.

— Você foi de cavaleiro com armadura dourada, a ceifeiro do


submundo em um instante, o que aconteceu?

— Nada — respondeu.

— Nada, não é bem uma resposta — avisei.

— Você realmente tem que ser muito idiota para não pensar que
isso podia ser uma armadilha dele… — começou e eu encostei o carro.

— Ser idiota sempre foi o meu ponto forte, não foi o que você me
disse quando eu te falei o que sentia? — indaguei. — Melissa, você é
possessiva e irritante, como um carrapato grudento, está sempre ao meu
redor, e me sufocando, seu ponto forte é ser idiota. Achou mesmo que eu
ia largar minha namorada linda e que me ama por você? — Repeti as
palavras que me torturaram por anos.

— Mel…
— Você sabe a porra que fez comigo? Essas merdas se repetiram
em meus pensamentos todas as noites antes de eu ir dormir, e eram as
primeiras palavras em minha mente quando eu acordava. Então, sim,
talvez eu soubesse que Anthony era a porra de um escroto que não
valeria a pena, mas quando ele demonstrou um interesse ínfimo em mim,
eu pensei, é... talvez eu não sirva só para ser a melhor amiga, que joga
videogame com um cara — berrei.

— Está me culpando por se relacionar com ele? — indagou.

Virei o rosto para encarar a frente do carro e praguejei em um


murmúrio.

— Não sou babaca igual a você. Diferente do bad boy Noah Brown,
eu não finjo ser o que não sou, e não culpo ninguém pelas merdas que
faço.

— O que você quer dizer? — perguntou com a voz baixa.

— Quero dizer que em algum momento você vai ter que parar de
culpar Katherine pelo seu comportamento destrutivo, e ver que
independente do que ela fez com você, machucar outras pessoas foi
escolha sua. Não importa se isso foi seu mecanismo de defesa. Partir
outros corações para não ter o seu partido é uma atitude estúpida, e que
não te leva a lugar algum. No fim de uma trepada com uma gostosa
burrinha, você vai continuar estando sozinho num quarto, se lembrando
do seu passado doloroso. Se precisa de ajuda para lidar com seu
passado, arranje um terapeuta, mas pare de foder com os outros.

— Você não consegue enxergar merda nenhuma — Noah falou.

— O que eu não enxergo, Noah? Por que fingir que se preocupa se


vai me ignorar depois?
— Não estou fingindo que me preocupo. Eu realmente me
preocupo!

— Por quê? — questionei. — O que faz o maravilhoso Noah Brown


se preocupar comigo?

— Eu me importo com você, Melissa. Queria não me importar, você


não sabe a porra do inferno que estou passando por sua causa! Não me
fode fazendo perguntas, ou me acusando, tudo que fiz no passado foi
porque você me apavorou com aquela perseguição, me fez surtar com
aquele caderno cheio de “Sra. Noah Brown”.

— Eu tinha treze anos, seu imbecil. Aquilo foi uma paixão infantil. E
você está outra vez culpando outras pessoas pelos seus erros. Vamos
embora de uma vez, não adianta ficarmos nos magoando ainda mais —
sussurrei. — Não quero dizer coisas que podem machucar você. Coisas
que vou me arrepender de dizer.

Encarei os olhos de Noah por um instante, sentindo as lágrimas


queimarem em meus olhos, então desviei o olhar, colocando mechas do
meu cabelo atrás da orelha.

Voltei a ligar o carro e dirigi, ligando o som para que o veículo fosse
preenchido com a música ensurdecedora, de uma banda de rock
qualquer. Eu só não queria me lembrar que Noah estava ali do meu lado.

Nós não dissemos mais coisa alguma até que estacionei o carro,
olhei para Noah, que me encarava, aparentando um estado de choque, e
inspirei fundo antes de dizer:

— Obrigada pelo que fez por mim hoje, eu prometo não te


incomodar mais.
— Mel, você não me incomoda — a voz de Noah estava
embargada.

— Você pode ir andando para o seu prédio — falei descendo do


carro.

Noah não reclamou ou disse qualquer outra coisa, ele apenas


desceu do carro, que travei e segui andando em direção a entrada do
Eagle’s.

Depois de tudo que tinha acontecido, tudo que eu queria era minha
cama confortável e um banho para lavar o choro que não queria mostrar
para outras pessoas, mas percebi que não teria direito a isso, quando vi
Amber e Hayesha no dormitório, as duas me abraçaram
simultaneamente, e precisei de um esforço enorme para não chorar ali
mesmo.

— Você está bem? — Hayesha perguntou.

— Estou — sussurrei.

— Liam me disse que Anthony ficou detido — Amber sussurrou, e


eu assenti.

— Ele achou que podia aproveitar que estamos em outro estado


para tentar algo contra mim aqui. Que a ordem de restrição não tinha
importância, ao menos foi o que me disseram na delegacia.

— Você não tem que se preocupar com ele agora — Hayesha


lembrou.

Movi a cabeça em confirmação.


— Vou ficar bem — prometi. — Só preciso tomar um banho e
dormir um pouco.

Respirei fundo e deixei Amber com Hayesha no quarto, enquanto ia


para o banheiro, eu não queria falar com a irmã de Noah depois de tudo.
Noah

Eu tinha realmente me tornado um cara que eu não reconhecia.


Minha cabeça, que eu, orgulhosamente, dizia que nunca tive uma dor,
parecia prestes a explodir, o "ser ou não ser" de Shakespeare, parecia
brincadeira de criança na minha cabeça, se comparado a grande questão
que me rodeava naquela altura da vida.

Estava ou não apaixonado por Melissa Turner? E se estava, como


infernos arrancar aquele sentimento destrutivo de dentro de mim? A
paixão nada mais é do que uma reação química do corpo, se havia uma
maneira de desencadear, com toda certeza havia uma de desfazer o
processo.

Esfreguei o rosto e segui andando pelo campus, quando cheguei


ao meu dormitório, respirei fundo e caminhei para dentro do lugar.

Subi o primeiro lance de escadas, e me sentei no topo daquela


escadaria, observando o ambiente quase vazio ao meu redor. Era
frustrante, para dizer o mínimo, uma parte inconsciente de mim começou
a passar um filme pela minha cabeça. Uma história de como minha vida
teria sido se eu tivesse olhado para Mel antes.
Era provável que eu fosse muito zoado por não ter uma namorada
equipada, por algum tempo, mas quando Mel ficasse tão linda quanto
ficou, quando começasse a dançar em cima de mesas, completamente
alta, e as pessoas a desejassem, ela seria minha.

Eu não teria meu coração partido, e nem partiria o dela.

No final entraríamos naquela faculdade juntos, e eu poderia saciar


todos os desejos que vinham me mantendo acordado a noite.

Fechei bem os olhos e bati com a cabeça no meu joelho algumas


vezes, me perguntando se tinha finalmente sucumbido a loucura
flamejante que queimava minha mente.

— Você está bem, Noah? — uma voz feminina perguntou, e eu


ergui a cabeça.

— Alisson — falei com um sorriso no rosto. — Estou bem sim. Foi


um dia longo.

Encarei a morena deslumbrante, que ninguém acreditava que


cursava Ciência da Computação. Era talvez a garota mais bonita do
curso, e eu nunca tinha conseguido pegar. Observei a mão dela, e vi que
carregava duas garrafas de vodca.

— Entendo de dia ruim — ela comentou acompanhando meu olhar.

Apoiei a mão, o queixo, e o cotovelo no joelho, olhando para ela de


baixo.

— Terminou com o seu namorado? — inquiri em tom de


brincadeira.
— Com ele, e com a nossa namorada, estava ficando meio de fora
da relação e resolvi sair antes que o barco começasse a afundar —
respondeu erguendo os ombros.

— Sábia decisão — elogiei.

Ela observou o corredor atrás de mim, e quando baixou os olhos


para mim, um sorriso mínimo repuxou aquela boca rosada.

— Minha colega de quarto teve uma emergência em casa e


precisou sair… quer me fazer companhia?

Fiquei de pé imediatamente, e ela sorriu mais, ao me entregar uma


das garrafas que vinha carregando.

— O que aconteceu com você? — ela questionou.

— Passei o dia numa delegacia — respondi abrindo a garrafa de


bebida.

Enquanto eu tomava um longo gole da vodca, que parecia queimar


minha garganta o suficiente para que eu esquecesse de um calor
anterior.

— Eu vi os vídeos seus com a garota nova… estão juntos? —


indagou.

— Claro que não — respondi rápido o bastante para ela rir.

Alisson abriu a porta do próprio quarto e entrou, me encarando com


uma sobrancelha erguida. A pergunta silenciosa dela parecia me sufocar.

Entrei no cômodo, e Alisson fechou a porta atrás de mim, enquanto


nós dois bebemos, eu evitei olhar o quarto, verificar a vida íntima das
pessoas não, era algo que eu gostava de fazer, então, apenas continuei
sentado na cama dela entornando a bebida.

Alisson colocou a garrafa dela no chão e eu acabei acompanhando


o movimento com a minha garrafa, apenas porque não queria romper
aquele momento que sabia bem no que acabaria.

Ela agarrou meu casaco me puxando para junto de si, eu engoli


aquele beijo que ela me deu, enfiando a língua na boca quente dela. A
mulher gemeu contra a minha boca. Me deixando totalmente aceso.

As mãos dela arrancaram o casaco do meu corpo, e eu finalmente


agarrei o quadril dela, girando seu corpo para me encaixar entre suas
pernas. Enfiei minha mão nos cabelos dela, enquanto Alisson agarrava o
cós da minha calça, a garota abriu o botão, e baixou o zíper, então a mão
dela estava em volta do meu pau, e eu engoli o gemido que ameaçou
subir pela minha garganta.

— Soube que era difícil colocar ele na boca — ela sussurrou ao se


afastar de mim.

Alisson mordeu o lábio, e meu coração quase rasgou o peito


quando ela se inclinou, os lábios quentes e úmidos envolvendo a cabeça
do meu pau. O gemido finalmente escapou da minha boca.

Aquela língua agiu, me rodeava enquanto a cabeça dela subiu e


descia, me deixando incapaz de formar uma frase com sensatez.

— Caralho, Mel — sussurrei agarrando o cabelo dela com uma das


mãos, então tudo estagnou, e um frio percorreu minha coluna.

Fiquei grato quando a mulher tirou a boca do meu pau. Grato por
não sentir aqueles dentes cravados nele, naquele segundo.
Um momento de silêncio constrangedor nos atingiu, quando Alisson
me encarou com o rosto completamente inexpressivo pelo choque.

— Me des…

— Vai embora — ela ordenou interrompendo meu pedido de


desculpas.

— Porra, Alisson, eu lamento. Isso nunca aconteceu antes —


enfatizei.

— Então eu fui o primeiro sexo desinteressante o bastante para


você ter que fantasiar com outra garota? — inquiriu se levantando.

— Eu não estava fantasiando! — me defendi. — Essa garota só


não está saindo da minha cabeça.

— Não fode, Noah. Eu te trouxe aqui porque queria uma transa


com um bad boy que ia me deixar assada e relaxada, não para chupar
você, enquanto você pensa em alguém que não pode foder. Vai embora,
agora!

Ergui as mãos e me levantei, apanhando o casaco e fechando a


calça.

— Pode não acreditar, mas eu realmente lamento.

Saí do quarto antes que Alisson jogasse uma das garrafas, ou


ambas na minha cabeça.

Imóvel no corredor com uma porta batendo atrás de mim, eu pensei


no quanto estava fodido, não conseguia nem transar, porque aquela ruiva
não saía da porra da minha cabeça. Talvez eu devesse cobrir minha boca
com uma fita na próxima. Quem sabe assim, eu conseguia ter o mínimo
de respeito necessário para estar com uma garota a sós.
Melissa

Depois do meu dia infernal, tudo que eu precisava era de uma noite
de sono tranquila, tinha escapado de conversar sobre Noah com
Hayesha e Amber, mas sabia que precisava colocar para fora tudo que
eu estava sentindo. Embolei na cama mudando de posição, mas não
conseguia relaxar o bastante para fechar os olhos.

Logo cedo, eu peguei meu celular e saí do quarto, abri o aparelho


ignorando os olhares que estava recebendo, por estar usando pijama
com estampa de desenho animado, e digitei o número da única pessoa
que talvez conseguisse colocar minha cabeça no lugar.

— Oi, pai — falei quando ele atendeu.

— Minha vida! Como estão as coisas na nova universidade? —


perguntou.

A empolgação dele me lembrava sempre da mentira que contei,


fechei os olhos por um instante para não me permitir reviver tudo aquilo.

— Estão boas, eu estou gostando da mudança de curso —


tagarelei tentando soar animada.
Meu pai suspirou audivelmente.

— Isso é ótimo, querida. Eu estava preocupado, já que você


sempre quis cursar Ciência da Computação, e repentinamente mudou de
curso. Estava preocupado com sua adaptação — admitiu.

— Eu não queria te preocupar — sussurrei, me sentando nos


degraus da escadaria e brincando com o cadarço da calça que usava.

— Você não parece muito bem… aconteceu algo? — questionou.

— Não, nada aconteceu — menti sentindo aquela trava na minha


garganta. Fechei os olhos com força, e inspirei antes de continuar: —
Escuta pai, eu reencontrei o Noah.

— Noah Brown? — A voz do meu pai soou divertida.

Ele e o pai de Noah eram amigos, então sempre apostaram que


nós dois acabaríamos ficando juntos.

— Sim, pai, que outro Noah eu conheço? — perguntei revirando os


olhos.

— Existem muitos no mundo — ele lembrou, e eu estava prestes a


desistir daquela conversa, quando meu pai se desculpou pela
brincadeira. — Qual o problema?

— Acho que voltamos a ser amigos — comentei.

— E isso te preocupa?

— Não sei, pai. Você sabe bem como as coisas terminaram da


última vez — sussurrei incerta.
— Minha querida, vocês não são mais dois adolescentes, você
certamente não é a mesma pessoa daquela época. E eu tenho certeza
de que ele mudou muito nesse tempo também. Sei que você sentiu falta
dele, se estão tendo a oportunidade de retomar essa amizade, talvez
seja uma boa ideia. Acho que um pode ser de grande ajuda para o outro.

— E se nós dois apenas nos machucarmos novamente? —


perguntei encarando o ambiente ao redor, com pessoas que passavam
por mim, me olhando como se eu fosse um animal solto dentro do prédio.

— Às vezes as pessoas que se amam, acabam se machucando,


mas a diferença do amadurecimento, é saber reconhecer o próprio erro e
tentar se redimir. Não vou dizer para você entregar seu coração para ele
numa bandeja, só que você é a pessoa que melhor conhece o garoto por
baixo de todas aquelas camadas de proteção.

Observei meus pés descalços e minha mão, que ainda tinha aquela
cicatriz de meia-lua, a cicatriz que Noah fez uma tatuagem para combinar
com ela. Uma tatuagem que ele não cobriu, mesmo tendo tantas outras.

— Você está tomando seus remédios direito? — mudei de assunto.

— Sempre, coloquei os alarmes no celular para ficar atento aos


horários. Ela entrou em contato com você? — ele me perguntou.

— Não. Da última vez que eu stalkeei ela, as fotos pareciam ter


sido tiradas no Egito — confessei.

— Devia mandar mensagem para ela — aconselhou.

— Não, ela tem meu número, ela resolveu ir embora, se quiser falar
comigo, me manda mensagem — falei.

— Está bem, não vou insistir — garantiu, e eu respirei fundo.


— Pai, eu tenho que ir, vou me atrasar para as aulas se não me
aprontar — avisei.

— Diga ao Noah que se ele partir seu coração, eu parto a cabeça


dele. — Eu ri ao ouvir a ameaça. — Eu te amo.

— Também te amo.

Finalizei a chamada e caminhei de volta para o quarto.

Amber já tinha se levantado quando cheguei, mas ela parecia estar


no banheiro, fui até o armário e escolhi uma roupa para o dia. Em
seguida, esperei minha colega de quarto sair do banheiro enquanto eu
rascunhava uma mensagem para Noah, mesmo após apagar e
reescrever dez vezes, não consegui enviar.

— Bom dia! Como você está hoje? — aquelas palavras pareceram


estúpidas, considerando como tínhamos nos afastado ontem.

Recomecei perguntando se ele estava mais calmo, mas apaguei


novamente e iniciei minha última tentativa com:

— Me desculpe…

Um pedido de desculpas não parecia certo, um simples bom dia


parecia menos certo ainda. Então, simplesmente desisti de mandar uma
mensagem para ele.

Joguei o celular em cima da mesa e encostei a cabeça na cadeira


encarando o teto. Tinha como nossa situação ficar ainda pior? — Me
perguntei.

— Você parece angustiada — Amber disse ao sair do banheiro.

— Não faz ideia do quanto — admiti.


— Se quiser conversar — ela sussurrou enquanto se olhava no
espelho.

— Agora eu não posso, mas com certeza mais tarde vou precisar
dessa conversa.

— Quando quiser — ela falou e colocou a própria mochila no


ombro. — Eu preciso ir, tenho que me encontrar com Liam.

— Está bem — falei com um sorriso no rosto.

— Tenha um bom dia.

— Você também.

A loira saiu do quarto me deixando a sós com meus pensamentos


outra vez. Encarei o espelho, e finalmente entendi por que todos me
olharam como se eu fosse um animal solto dentro do prédio.

Meu cabelo estava desgrenhado, e eu tinha maquiagem borrada no


rosto. Eu ia pintar o cabelo, e talvez fazer uma ou duas cirurgias
plásticas, pensei enquanto seguia para o interior do banheiro.

Aquele dia podia ser um grande passo em direção a um futuro que


eu só conseguia imaginar nos meus sonhos, ou podia ser um grande
salto em direção a um precipício, e podia nem haver água embaixo para
aparar minha queda, mas eu tinha aula com Noah, então, ele seria
obrigado a me ouvir.
Noah

Depois da noite infernal com Alisson, eu decidi dirigir a noite toda,


apesar de estarmos em pleno outono, me vi sentado na praia,
observando o mar.

Aquele tipo de cenário acalmava uma boa parte dos meus


pensamentos.

Mesmo que eu soubesse que inalar aquele ar salgado e frio não


fosse realmente acabar com meus problemas, meu corpo precisava
relaxar. Quando meu celular alarmou no horário que eu deveria acordar
para as aulas, me levantei, e caminhei para o carro, lembrando a mim
mesmo que não podia perder mais aulas.

Me sentei no banco do motorista e liguei o aquecedor, recuperando


o controle sobre minhas mãos antes de dar partida. Durante todo o
trajeto de volta, eu mantive o rádio ligado, não podia me dar ao luxo de
trazer de volta os pensamentos que jurei lançar ao mar.

Cheguei ao dormitório mal tendo tempo de escovar os dentes, e


tomar um banho, para tirar a areia do corpo, antes de correr para a aula.
Assim que cheguei à sala, eu quis dar meia-volta, mas não podia
fazer isso, ou daria a todos a ideia de que tinha algo errado. Mel estava
sentada ao lado do assento que eu ocupava normalmente, me perguntei
se pareceria muito estranho se eu me sentasse em outro lugar.

— Não se preocupe, senhor Brown, nós esperamos você tomar a


decisão importante de onde vai se sentar, para que nós possamos
continuar — o professor avisou.

— Me desculpe — falei e caminhei para me sentar ao lado de Mel.

— Então, como eu estava dizendo antes, a pessoa sentada ao seu


lado será sua parceira no projeto — ele falou me encarando, e eu contive
a vontade de olhar para Melissa.

Tentava fugir da garota, e agora precisava passar mais tempo com


ela. Fechei os olhos me perguntando se aquele era um tipo de carma que
retornava, por todo o mal que causei naquele mundo infernal.

— Você parece cansado — Mel constatou.

— Não dormi ontem — respondi.

Pelo canto dos olhos vi a decepção no rosto de Mel enquanto me


observava, até que a garota virou o rosto para fingir prestar atenção na
aula.

Era melhor que ela tirasse conclusões erradas, e pensasse que


passei a noite com alguém, aquilo faria com que ela se afastasse de
mim.

— Sobre o projeto… — Melissa começou.

— Nos falamos depois — prometi e me levantei da cadeira.


No fim daquela primeira aula, resolvi deixar o futuro diploma ser
queimado, e caminhei de volta para o dormitório, ativei o alarme do
celular para não perder a hora do treino, e me joguei sobre a cama,
dormindo o resto da manhã.

Quando estava a caminho do treino, meu corpo parecia cheio de


energia, ansioso para finalmente fazer algo que me movesse, e fizesse
tudo em mim doer, ao ponto de não me lembrar das confusões dos meus
pensamentos.

Vesti as roupas de treino, e estava calçando as chuteiras, quando


Liam e Elijah finalmente entraram no lugar, ambos parecendo
empolgados com algo. O próximo jogo estava se aproximando, e aquela
energia do time parecia prestes a nos fazer correr até a lua.

Meus amigos me cumprimentaram e abriram os próprios armários.

— Poxa amor, eu já disse que estou indo para o treino — a voz de


Jack saiu alta, quando ele entrou no vestiário. — Sim, nós podemos nos
ver mais tarde.

Elijah fechou a porta do próprio armário com força, e falou que


escorregou da mão dele, antes de caminhar para longe de nós para se
vestir. Jack finalizou a chamada e nos cumprimentou ao se vestir.

Amarrei a minha chuteira esquerda e me levantei do banco,


deixando, Liam e Jack conversando. Jack podia ser amigo dos meus
amigos e namorado da minha irmã, mas tinha algo nele que não me
agradava, ninguém é perfeitinho igual a ele. Nenhum humano na face da
Terra é como ele.

Segui para o campo e comecei a me aquecer para o treino, depois


do aquecimento, e quando começamos a correr, nos derrubar e atacar,
libertando toda aquela selvageria contida em nossos corpos, minha
mente finalmente começou a estabilizar.

Pegar a bola, correr pelo campo, defender Liam, aquele era o


sentimento que devia aquecer a minha alma. Que sempre aqueceu. A
necessidade de correr atrás dos meus sonhos, aquilo sempre me moveu.
É a única coisa imutável na minha vida.

Ao fim do treino, o treinador nos reuniu e começou a falar:

— O próximo jogo não será aqui, estaremos em um campo inimigo,


com uma torcida majoritariamente adversária, mas nós treinamos duro,
construímos nosso caminho até aqui, e merecemos vencer. Essa família
merece ir adiante nessa competição. Até o título nacional ser nosso! —
ele disse e todos gritaram. — Levem suas namoradas, seus amigos
próximos, e familiares, vamos montar nossa torcida.

Nós saímos do campo, planejando a festa daquela noite para


relaxar, antes do próximo jogo no fim de semana.

Liam já estava entrando em contato com alguns dos fornecedores


favoritos para fazer aquela festa acontecer, Elijah corria atrás dos outros
detalhes, e eu só pensava em finalmente poder encher a cara com eles,
mesmo que a namorada de Liam estivesse por perto, e nosso amigo não
fosse beber como antes.

Envolvi os ombros de Elijah que me olhou curioso.

— Essa noite meu amigo, nós vamos ficar mais bêbados que dois
gambás — prometi, e Elijah riu.

Mesmo que Elijah sempre fosse reservado quanto às próprias


coisas, e um grande fofoqueiro quanto às coisas dos outros, meu amigo
ainda era uma pessoa boa de conselhos, e boa principalmente como
companhia, para afogar as mágoas.

— Parece que vocês dois estão prontos para esquecer os


problemas hoje — Jack comentou nos observando. — Problemas com
garotas?

— Problemas com a vida — Elijah respondeu.

— Os dois solteiros do trio de bad boys mais famosos de Yale?


Como a vida de vocês pode ser complicada? — ele perguntou rindo.

— As pessoas são exageradas — comentei.

— Na verdade, eu diria que as pessoas só veem o que querem ver,


conhecemos uma boa parcela de imbecis que mereciam muito mais esse
título de bad boy do que nós. Muitos só se escondem atrás de máscaras
de bons moços — Elijah disse se afastando do meu braço, para apressar
o passo em direção ao chuveiro, lancei a Jack um olhar, e percebi o
namorado dá, minha irmã, sem o sorriso que vinha mantendo.

— Que bicho o mordeu? — Jack indagou.

— Não faço a menor ideia.

— Elijah é sempre o sorridente entre vocês três, é até estranho vê-


lo desse jeito — comentou seguindo para o próprio armário.

— Ninguém aqui conhece Elijah direito — avisei. — Ele só deixa


que as pessoas vejam até onde ele está disposto a mostrar. Ninguém
conhece realmente todas as camadas dele.

— Bom saber disso — Jack falou.


Melissa

É, talvez eu estivesse louca, talvez sempre tivesse sido, mas girar


naquela cadeira estava começando a evidenciar sinais que eu vinha
ignorando.

Noah e eu discutimos muitas vezes enquanto crescíamos, nossas


brigas podiam ser sobre o filme que íamos ver no cinema, o melhor sabor
de sorvete, ou qualquer coisa só gênero.

Brigar com ele logo após ter sido salva por seu grupo, aquilo vinha
me torturando, eu não sabia exatamente o que tinha feito com ele. O que
tinha dito que fez a atitude dele mudar completamente. Saber que ele
estava distante, e provavelmente com raiva de mim, aquilo era um tipo
especial de tortura com o qual eu já tinha me acostumado nos últimos
tempos.

Tomei mais um impulso dando outro giro de 360.º na cadeira, e


continuei rodando, enquanto me perguntava como corrigir as coisas.
Noah Brown, um dos bad boys mais populares de Yale, tinha se tornado
meu forte desde que coloquei os pés na universidade.
E eu sentia falta de ver filmes com ele. Sentia falta de agarrar seu
corpo desnecessariamente quando víamos um filme de terror, ou de
colocar os pés junto dos dele, dizendo estar com frio. Sentia tanta falta
de passar um tempo com ele, que meu corpo parecia prestes a explodir
só de pensar nisso.

— Eu acho que qualquer dia, vou entrar nesse quarto e vamos ter
um belo buraco no chão — a voz de Amber me fez parar a cadeira, e
minha visão rodopiou quando tentei vê-la.

— Acho que se eu cair alguns andares, isso seria hilário —


comentei.

A loira riu se sentando na cadeira da própria escrivaninha e


puxando a cadeira para perto de mim. Nós nos encaramos até que minha
visão se ajustou.

— Vamos lá, sou uma formanda em psicologia, com algum talento


para conselhos. Me conte seus infortúnios — Amber disse, cruzando os
braços, e arrumando óculos invisíveis.

Exalei um riso, e ergui a mão ainda enfaixada para mostrar aquele


machucado que eu já não sentia.

— Quando eu era criança, isso não costumava doer tanto —


confessei. — Socar a cara de Noah era algo que eu fazia com
frequência.

— Vocês têm laços que não são construídos com facilidade —


Amber falou.

— Sim, mas também temos traumas um com o outro que não são
fáceis de esquecer. Quando éramos adolescentes, eu era apaixonada
pelo Noah. Para ser honesta, eu era obcecada por ele, eu ia a todos os
lugares que ele ia, fazia amizade com as garotas de quem ele gostava,
para afastá-las dele, não vou dizer que meu comportamento era certo,
hoje eu sei que não, mas naquela época, eu era só a melhor amiga que
demorou a se desenvolver, e que ele via quase como uma irmã mais
nova.

— E aí? — Amber questionou quando fiquei calada.

— Bom, Noah se interessou por uma líder de torcida, ele já jogava


futebol naquela época, e já chamava bastante atenção. E não consegui
fazer nada para afastar os dois. Depois eu descobri algumas coisas
sobre ela, e tentei avisar ao Noah, mas ele não acreditou em mim,
quando ele soube da traição, eu tentei me aproximar, e ele me acusou de
estar como abutre. Tivemos uma briga feia e não nos falamos mais.

As palavras ainda saíam de mim, carregadas de pesar, e eu


percebi, talvez pela primeira vez em muito tempo, que podia não ter
superado. Que cada passo que dei desde aquele dia, me arrastou de
volta para Noah, como se ele fosse o norte da minha bússola mental.

— Depois de tudo que passei com Anthony, vir para Yale e


encontrar com Noah, aquilo foi a melhor coisa que me aconteceu desde
então. Mas agora, eu acho que estraguei tudo. Ele está me afastando
outra vez. Eu só queria saber se uma parte do garoto que conheci ainda
está lá.

Amber ficou quieta me estudando, e eu aguardei que ela dissesse


algo. A loira sorriu, e se inclinou na cadeira.

— Dá para ver que você se importa muito com o Noah. É difícil ver
uma empolgação real no seu rosto, mas sempre que falamos dele, você
parece se acender — Amber falou.
— Não sei o que fazer — admiti.

— Há algum tempo, eu teria dito que Noah é um canalha que não


vale a pena, e que você devia correr na direção contrária à dele, mas eu
namoro um dos melhores amigos dele. E pelo que pude conhecer
daqueles três nos últimos meses, eles têm corações enormes. São
pessoas gentis e protetoras.

— Então você acha que eu deveria dizer ao Noah como me sinto?


— indaguei confusa.

— Não, palavras em situações como a sua e de Noah, muitas


vezes não têm significado. Meu conselho é, tente conquistá-lo, faça tudo
ao seu alcance para mostrar a ele, que você está realmente apaixonada.
Faça tudo que puder, sem toda a obsessão de antes, apenas seja você
mesma, sem necessidade de esconder suas cicatrizes e fingir ser algo
que já deixou de ser.

Observei minha colega de quarto ainda em silêncio, apenas porque


eu não conseguia alcançar minha voz para dar uma resposta.

— É óbvio para qualquer um que observe vocês dois juntos, que


ambos carregam sentimentos um pelo outro. Acho que nossos
sentimentos podem nos dar asas para alcançar o céu, ou nos amarrar a
uma âncora que vai nos arrastar para o fundo de um oceano. Enquanto
você não tiver certeza de que fez tudo ao seu alcance para conquistar
Noah, não vai conseguir desapegar desse sentimento. Porque uma parte
sua vai estar sempre insistindo que você poderia ter feito mais.

— Acho que sei o que você quer dizer — admiti com pesar.

— Ótimo. Eu tenho um encontro, e Liam vai me torturar por deixar


ele me esperando no frio, então tenho que ir — Amber falou seguindo
para o banheiro.

— Obrigada — murmurei.

Quando Amber entrou no banheiro, eu apanhei o celular e comecei


a digitar uma mensagem, mesmo sem saber o que viria daquilo, eu
caminhei para o meu armário e comecei a verificar os vestidos que tinha
trazido comigo.
Noah

Permaneci encarando a mensagem que tinha recebido de Mel. Um


jantar. Mel estava me convidando para jantar em um restaurante, não
muito longe do campus, eu fiquei tanto tempo imóvel, que Simon estalou
os dedos na frente do meu rosto.

— Você está bem? — ele me perguntou parecendo cauteloso.

— Estou. É só que Mel me chamou para jantar.

— E você já respondeu? — indagou.

— Não sei o que responder — admiti.

— Bom, se você gosta tanto dela quanto parece, devia aceitar —


Simon aconselhou.

— Não sou bom para ela. Nunca fui. Mel merece o melhor da vida,
e eu sou aquela fruta podre que consegue colocar a cesta inteira a
perder — expliquei.

— Então diga isso a ela.


Simon me indicou o celular, e voltou a focar no trabalho que estava
fazendo em cima da mesa. Eu observei a tela novamente, e digitei uma
mensagem curta:

— Vou pegar você no seu prédio.

Me troquei em uma velocidade recorde, e corri para fora do quarto,


ouvindo Simon gritar um... “Boa sorte”, caminhei pelo dormitório,
ignorando os olhares que recebia, normalmente eu ficava muito tempo
usando roupas casuais, mas quando me vestia com o mínimo de
elegância, atraía mais atenção do que o normal.

Segui andando até o estacionamento para pegar o meu carro, o


caminho até o dormitório Eagle's foi marcado pela minha necessidade de
ensaiar um discurso mentalmente, as palavras sobre como eu era ruim
para Mel, que não me apegaria num relacionamento, porque não queria
ter meu coração partido outra vez, e não arriscaria partir o dela.

Essa ideia se repetiu em meus pensamentos diversas vezes, com


palavras diferentes, mas carregando a mesma ideia, se Melissa quisesse
minha amizade, eu aceitaria, podia não ficar tão próximo dela como
antes, mas permaneceria ao seu lado, contudo, não me permitiria mais
que isso.

Estacionei o carro do outro lado da rua, e observei a entrada do


prédio, esperando que ela aparecesse, peguei o celular para mandar
uma mensagem avisando que tinha chegado, mas não precisei enviar o
texto, porque Mel apareceu ainda no interior do prédio. Ela falava com
algumas pessoas que a cumprimentavam, mas fiquei perdido na minha
cabeça por um momento.

Ela usava um vestido vermelho, justo no corpo, que descia até o


meio das coxas dela. Mel tinha um sobretudo preto que estava aberto,
expondo o corpo que se desenvolveu absurdamente bem.

Quando saí do meu instante inicial de torpor. Mel estava imóvel,


falando com um cara. Desci do carro, sentindo algo perfurando meu
corpo, uma irritação que eu desconhecia completamente, atravessei a
rua, e meus passos me guiaram pela entrada do Eagle’s.

Melissa usava saltos pretos e uma bolsa de mão xadrez, de


vermelho com preto. Droga, de todos os filmes e HQs existentes, havia
apenas uma personagem que me deixava aceso, e nesse instante,
Melissa parecia uma versão encarnada dela.

A garota desviou os olhos do homem com quem conversava e


sorriu ao me ver.

— Vamos indo? — chamei.

Mel devolveu o celular ao estranho, e eu lancei um olhar para ele,


se pegou o número dela, eu duvidava que ele tentasse ligar para ela. Nós
caminhamos para fora do prédio, e como se um ímã nos atraísse, minha
mão estava na cintura de Melissa, guiando-a para o carro.

Abri a porta do carona para ela, que sorriu ao entrar no veículo,


aquela garota perigosamente sabia como mexer com a minha cabeça.

Entrei no carro e ela me estudou ao colocar o cinto.

— Não achei que você fosse aceitar meu convite.

— Também não achei que aceitaria — admiti.

— E o que fez você mudar de ideia? — ela perguntou.

— Meu colega de quarto me deu um bom conselho. E ver você


nesse cosplay me fez pensar que valeu a pena sair do quarto. — Melissa
gargalhou, preenchendo o carro com aquela risada que eu adorava.

— Eu lembro que você gostava muito da Arlequina — ela comentou


puxando mais a saia do vestido para baixo.

Comecei a dirigir, antes que desistisse da ideia de ir a um


restaurante e avançasse em cima dela, naquele carro mesmo.

— Deixa eu me atualizar sobre como estão as coisas… — comecei,


e ela murmurou uma concordância. — As últimas notícias que tive sobre
você, foi que seus pais se divorciaram, que sua mãe resolveu viajar o
mundo com um cara mais novo.

— Sim, eu mal falo com ela nos últimos tempos — admitiu.

— Também soube que seu pai estava doente — sussurrei essa


parte, porque sempre soube a importância que o pai de Mel tinha na vida
dela.

— Ele ficou muito tempo doente, foram vários meses internado,


esperando um transplante de rim — contou.

— Mas ele está bem agora?

— Sim, ele se recuperou bem. Está tomando medicamentos, e me


enlouquecendo para eu falar com a minha mãe com mais frequência. Ele
também disse que quer ver você — ela avisou.

— Vou adorar visitar o Sr. Turner. Ele me ajudou muito nos treinos
quando eu estava aprendendo a jogar futebol — comentei.

— Seu pai nunca aprendeu. Aliás, como estão os seus pais? — Mel
questionou.
— Como sempre, um esperando o outro morrer para não perder
metade em um divórcio — falei e Mel riu.

Era aquele o modo como Hayesha e eu sempre falávamos do


casamento dos nossos pais. Em algum momento, os dois foram
apaixonados, eles se casaram apenas dois meses depois que se
conheceram. Hayesha e eu nascemos menos de dois anos depois, após
isso, ninguém sabe exatamente quando os dois passaram a se odiar
como faziam.

— Hayesha parece muito feliz com Jack — ela falou, e eu torci os


lábios. — Encontrei com ela agora na escadaria, ela elogiou a minha
roupa.

— Ela estava saindo para encontrar Jack? — interroguei.

— Não, até perguntei se ela ia sair com ele, mas ela disse que
precisava estudar — Mel contou.

Entreguei a chave do carro ao manobrista, enquanto caminhava ao


lado da garota em direção ao interior do restaurante. Aquele era um dos
lugares mais bonitos da região. Mel sorriu quando o maître nos recebeu.

— Mesa para dois? — perguntou, e eu concordei.

Mel tirou o casaco expondo o vestido justo no corpo, as costas


nuas, cobertas por sardas, e as alças finas do vestido, que me
perguntei... quão facilmente as alças se partiriam.
Melissa

Tentei não demonstrar o quanto estava nervosa.

Noah e eu havíamos feito refeições, juntos, tantas vezes antes, que


eu não poderia contar, mas aquela era diferente. Minha tentativa de
atingir o desejo de Noah parecia ter funcionado, mas eu não queria só
transar com ele, queria Noah por completo.

Evitei falar demais no passado para não retrocedermos à época em


que eu o persegui. Quando o garçom veio nos entregar o cardápio, Noah
o dispensou rápido, apenas pedindo um vinho.

— Você está realmente linda. Mel — elogiou.

Esbocei um sorriso.

— Obrigada — falei. — Vamos fazer um trato, não falar mais do


passado por hoje, vamos fingir que nos conhecemos agora pouco e
estamos em um encontro?

Noah estudou o meu rosto como se não compreendesse direito o


que eu estava pretendendo fazer.
— Está bem — a voz dele saiu em um sussurro.

— Eu estou cursando Direito atualmente, saí de Ciência da


Computação quando deixei Stanford para trás — falei.

— E o que levou você a mudar de curso?

— Acho que eu quero ajudar as pessoas, quero fazer mais do que


trabalhar com tecnologia. Ajudar pessoas a encontrarem justiça nesse
mundo — expliquei.

— E você está gostando do curso?

— Não é bem o que eu esperava, e é preciso estudar mais do que


eu estava acostumada — admiti.

O garçom retornou trazendo o vinho, e nós pedimos a comida, só


quando o homem se afastou, Noah retomou a conversa:

— Se você não está feliz, sabe que sempre pode mudar de ideia,
ninguém é capaz de salvar o mundo. Mesmo que a gente se esforce e
renuncie a tudo para ajudar cada pessoa que passa por nossa vida, no
fim, ainda terá sido insignificante perto de toda a merda que acontece no
mundo.

— Não planejo salvar o mundo. Só quero sair dele pensando que


fiz algo bom. Tem muita merda acontecendo por aí, posso não salvar o
mundo, mas vou ficar feliz se puder salvar ao menos uma — murmurei.

Noah sorriu ao ouvir aquelas palavras, nós dois sempre tivemos


muitos pontos de vista diferentes sobre a vida.

— Você cresceu muito nos últimos anos — Noah sussurrou.

— Os anos me fizeram bem — falei fazendo meu amigo rir.


— É mais do que isso — ele retrucou. — Você cresceu como
pessoa.

Me recostei na cadeira e o observei, meu sorriso vacilou um pouco


enquanto girava a taça de vinho na mesa.

— Acho que ver uma das pessoas que mais amo no mundo à beira
da morte, foi um impacto e tanto. Talvez a Melissa de antes nem exista
mais.

— Você quer dizer a Melissa que dançava bêbada em cima de


mesas? — perguntou rindo.

Joguei o guardanapo que estava no meu colo, no rosto de Noah.


Ele continuou sorrindo e me estendeu o objeto.

Não tinha como manter nosso passado longe da nossa conversa,


porque minha relação com Noah não era comum, tínhamos uma história
enorme, que nos conectou de uma maneira que poucas pessoas
experimentam na vida, por isso, desisti de manter o passado fora da
conversa.

— E como foi a sua vida? — questionei. — O que você fez desde o


fim de tudo com Katherine?

— Sabe o que fiz — murmurou. — Eu parti tantos corações, que


comecei a me relacionar com mulheres apenas assinando um contrato.

— E você foi feliz nesses anos? — indaguei.

Noah ergueu os ombros, e tamborilou os dedos da mão direita na


mesa, sem desviar os olhos dos meus.
— A felicidade não é definida por relações, eu sou feliz, mas essa
parte da minha vida se tornou mais fácil depois que aprendi uma lição
valiosa com Katherine.

— E o que você aprendeu com ela? — perguntei sentindo o ciúme


revirar meu estômago.

— Aprendi que o amor é uma ilusão. Um marketing criado pela


sociedade, para fazer com que as pessoas acreditassem que haveria
uma base para relacionamentos que não tivesse a ver com status social
e financeiro. O amor é a pior das mentiras alimentadas por filmes, livros e
uma sorte de entretenimentos que idealizam uma pessoa perfeita para
cada um, criando um padrão inalcançável que apenas faz com que as
pessoas sejam constantemente desapontadas em suas relações.

— Acredita mesmo que o amor não existe? — inquiri com a voz


rouca.

— Acredito em paixão ou desejo, é tudo uma grande armadilha do


nosso corpo…

Segurei a mão de Noah que estava sobre a mesa e ele interrompeu


o que dizia. Os olhos dele foram para nossas mãos juntas, mais
especificamente para a tatuagem em formato de meia-lua, que meus
dedos acariciavam na mão dele.

— Se o amor é apenas uma invenção da sociedade… por que você


a manteve por todos esses anos? Por que não a cobriu como cobriu
tantas das tatuagens idiotas que fez na adolescência? Eu sei que disse
muitas coisas para você ontem, e que nos magoamos muito nos últimos
anos, mas eu sei que você se importa comigo, Noah. Manter essa
tatuagem, é o maior sinal disso — garanti segurando a mão dele com
firmeza, o impedindo de se afastar do meu toque. — Quando vejo essa
tatuagem na sua mão, só consigo pensar que ela é um sinal.

— Um sinal de quê? — a voz de Noah soou rouca quando fez


aquela pergunta.

Os olhos escuros dele encontraram os meus, meu corpo inteiro


aqueceu quando vi aquele olhar brilhando em minha direção. Aquele
olhar que eu não via há muito tempo.

— Um sinal de que eu estou no seu coração. Isso pode te


incomodar e você pode até querer explicar isso com desejo ou paixão,
mas nós dois sabemos que um corpo humano só fica apaixonado por
dois anos. Nos conhecemos há muitos anos para simplesmente colocar
nossos sentimentos no colo da paixão. Manter essa tatuagem, é sua
maneira de não conseguir esconder que sempre houve um lugar no seu
coração para mim, e eu tenho certeza de que sempre haverá.

Noah e eu nos encaramos por um longo tempo, uma daquelas


trocas de olhares silenciosas que parecem falar mais do que uma
conversa de horas. Eu conseguia ver em seus olhos, que aquilo o afetou,
minhas palavras o atingiram como golpes de punhos. Noah Brown, o bad
boy que partia corações, estava apavorado. Meu coração galopou no
peito, porque eu percebi naquele instante que tudo que senti por Noah,
sempre esteve ali, que todas as nossas lembranças, alimentaram aquele
sentimento, e o tempo que tínhamos passado juntos na universidade me
despertou para um sentimento mais intenso do que aquele que senti na
adolescência.

Se eu acreditasse em destino, diria que Noah Brown era o meu.


Noah

Afastei minha mão da de Mel antes que minha mente cedesse aos
desejos do meu corpo, aquele toque carinhoso despertou algo dentro de
mim, e eu não queria que aquilo tomasse o controle.

— Vou pagar a conta — falei tentando me afastar da ruiva, para


pensar racionalmente outra vez.

— Não, eu te convidei — Mel disse pegando a bolsa, mas eu já


estava entregando o cartão ao garçom, que se aproximou quando
chamei.

— Não quero ficar em dívida — murmurei.

O rosto de Melissa perdeu um pouco da alegria que manteve


durante todo o jantar, mas ela apenas pressionou os lábios, e não disse
mais nada. Quando o homem retornou me devolvendo o cartão. Mel e eu
nos levantamos, observei junto ao restaurante inteiro a ruiva vestir o
casaco, a mulher desfilou pelo restaurante indo em direção a saída, e me
senti idiota por ficar apenas parado observando.
Quando me aproximei de Mel, percebi que ela respirou fundo ao
perceber minha presença.

— Vamos? — chamei.

Ela me olhou e puxou os lábios em um sorriso mínimo. O


manobrista trouxe meu carro e nós dois entramos. Mel me observou
percebendo que eu a estudava, mas nada foi dito, então dei partida no
carro.

Enquanto eu dirigia. Mel apenas seguiu em silêncio.

— Eu preciso te dizer uma coisa. Mel. Sei o que você pretendia


com esse encontro de hoje, sei por que você se vestiu dessa maneira e
expôs o melhor de você — comecei sabendo que ela estava atenta ao
que eu dizia. — E é melhor você não pensar em mim dessa maneira. Eu
não tenho um coração, Melissa. Quando tudo aconteceu com Katherine,
eu joguei o que sobrou dele fora, e o vazio aqui dentro não pode ser
ocupado.

— Noah, eu sei que você foi ferido e o quanto quis esquecer que
tudo aconteceu, sei o quanto isso ainda deve doer, mas isso não vai te
curar, só vai fazer essa ferida sangrar mais — Mel falou. — Se você me
der uma chance. Não, se nos der uma chance, nós dois podemos nos
curar juntos.

Estacionei o carro no acostamento e estudei o rosto de Melissa que


soltou o próprio cinto, ela segurou o meu rosto entre as mãos,
desfazendo minha armadura com um toque tão inofensivo.

— Não me afaste desse jeito, Noah — pediu.

— Eu nunca arrisquei nada desde ela. Todas as minhas relações


foram baseadas em sexo, eu assinava contratos de exclusividade com as
garotas, e nós apenas transávamos, sem lidar com emoções —
confessei segurando os antebraços dela.

— Somos humanos, Noah, não dá para nos desligarmos das


nossas emoções como você finge fazer — ela retrucou.

— Porque você não entende. Mel? — inquiri sentindo a respiração


quente dela contra meu rosto, em minhas palmas eu sentia seu pulso
acelerado. — Eu não sou bom para você. Talvez nunca tenha sido. Você
merece mais.

— Eu decido o que é bom para mim — ela declarou e colou os


lábios aos meus.

Minhas mãos a puxaram para mim. Meus dedos se enterraram no


cabelo vermelho macio, prendendo os fios em sua nuca, e minha língua
invadiu a boca quente dela.

Melissa Turner era minha ruína.

A língua dela tocou a minha, e meu corpo inteiro arrepiou, cada


toque daquelas mãos segurando firme meu corpo contra si, me faziam
desejar mais dela. Fazia o meu coração acelerar mais descompassando,
aquelas batidas frenéticas em meu peito.

O ar naquele carro se tornou quente, o cheiro de baunilha daquele


desodorante que Mel usava desde sempre, me preencheu, arrancando a
sensatez da minha mente, me levando a desejar mais daquela garota.

Antes que meu corpo a puxasse para cima do meu colo, eu me


afastei segurando o volante com força e recostando a testa ao objeto.

— Noah? — ela chamou sem fôlego.


— Não! Eu não vou deixar isso embaralhar as coisas no meu
coração. Levei muito tempo para organizar minha vida, Melissa, não vou
me atirar do penhasco com você. Paixões servem apenas para
destruição.

— Você não percebe que todos os seus contratos não passam de


pedaços de papel? Quantos corações se partiram no processo de fim
desses contratos, Noah? — ela questionou.

— Eu nunca fiquei tempo o suficiente para ver o estrago que isso


podia ter causado, e nem me importo com isso — rebati com a voz
carregada de irritação.

— Isso é covardia, Noah! Você ficou muito mal, e ao invés de


escalar para voltar a superfície, simplesmente construiu essa fortaleza aí
— falou.

— E se eu estiver satisfeito com isso?

— Então eu diria que você é um completo idiota. E que não


imaginava que o Noah Brown, que derruba homens enormes em um
campo de futebol, tem medo de deixar alguém se aproximar dele e tentar
tocar o seu coração, mas sabe o que eu vejo quando olho nos seus
olhos?

Ela esperou, até que ergui a cabeça e nossos olhos se


encontraram, as narinas de Mel estavam dilatadas de pura fúria. O olhar
dela parecia afiado como nunca vi antes.

— Eu consegui passar por todas as proteções que você criou a sua


volta, e é por isso que você tem essa necessidade ridícula de me
machucar, mas quer saber de uma coisa? Pode me empurrar para fora e
construir outra parede, pode fazer isso um milhão de vezes, e eu posso
destruir todas elas com um toque. Você pode me machucar e até mesmo
tentar me afastar, mas tudo isso é inútil. Seu coração está aí, e o meu já
o encontrou. Noah, estamos feridos, mas o seu coração reaprendeu a
bater quando eu voltei para a sua vida. Negue o quanto quiser, apenas
saiba que está negando para si. Porque eu vejo tudo isso no seu olhar.

— Chega, vamos embora — avisei. — Você não me conhece tão


bem quanto pensa.

— Não conheço? — questionou com a voz divertida.

— Não. E em breve você vai perceber que me amar foi o maior erro
da sua vida.

— Não, não foi. Independentemente do que você fizer comigo, não


vai me machucar tanto quanto já fui ferida — Mel garantiu e voltou a
colocar o cinto, olhando pela janela.

Sim, Melissa ainda estava ferida, e era justamente por causa


daquele tipo de cicatriz, que eu não podia arriscar me envolver com ela.
Porque se eu me tornasse um canalha com ela, se simplesmente
sucumbisse aquele desejo. Mel sairia ferida, e eu nunca poderia me
perdoar por machucar ela mais do que ela já estava machucada.

Se minhas atitudes canalhas ferissem Melissa, tudo que eu era


seria destruído, porque maior do que a dor que eu causaria a ela, seria a
dor que sentiria por vê-la sofrendo.

Eu não sou bom o bastante para Mel.


Melissa

Por mais que eu tenha demonstrado confiança ao falar com Noah,


aquela confiança escoava entre meus dedos, tudo que eu queria, era sair
daquele carro e entrar no dormitório.

Meu corpo ainda estava aceso por conta do beijo, e precisava


desesperadamente me afastar de Noah, antes que algo realmente ruim
acontecesse.

Quando o carro estacionou em frente ao Eagle’s, eu não olhei para


o rapaz quando sussurrei um “boa noite”, apenas abri a porta do carro e
desci dele.

Aquele ciúme que o levou a me encontrar a caminho do carro, não


o fez descer para me acompanhar de volta, mesmo que Noah ainda
estivesse parado, eu não me virei para olhar para ele. Quando um dos
rapazes do Eagle’s me cumprimentou, sorri acenando para ele, só então
ouvi Noah arrancar com o carro cantando pneu.

Segui andando para o interior do prédio, fechando o casaco preto


no processo, aquela noite não saiu como eu estava planejando. Sentir o
gosto daquele beijo de Noah ainda na minha boca, estava sendo a pior
parte. Meu corpo arrepiava apenas com a lembrança de como o toque
dele foi firme.

Eu desejava Noah com tanta força que talvez estivesse disposta a


assinar um acordo com ele.

Prendi o cabelo em um nó e entrei no quarto que estava vazio.


Suspirei aliviada por não precisar falar sobre aquela noite com Amber.

Minha colega de quarto tinha elogiado como me vesti e dizendo


que Noah não resistiria ao me ver assim. Realmente, não resistiu, mas
no fim, ele jogou um balde de água fria sobre nós dois.

Inspirei outra vez e tirei o casaco, deixando os saltos largados no


quarto, caminhei para o banheiro me livrando do vestido no caminho.

****

Na manhã seguinte, eu acordei cedo, ao invés de ir as minhas


aulas de direito, segui em direção ao prédio em que Hayesha tinha aulas
naquele dia. Esperei a irmã de Noah em frente ao prédio. Ignorando os
olhares que recebia. Assim que ela me viu, suspirou.

— Tem tempo para tomar um café? — perguntei.

— Claro, vamos lá — respondeu caminhando ao meu lado.

— Você está bem? — interroguei.

— Me dei mal numa prova, e estou com uma dor de cabeça


horrível.

— Se quiser podemos conversar depois — sugeri.

— Não, vamos conversar.


Hayesha cumprimentava algumas pessoas com a cabeça,
conforme seguia andando, em algum momento ela pegou o celular e
respondeu mensagens, ela sorriu ao dizer que Amber falou que um
furacão passou pelo nosso quarto.

— Jack queria me ver — ela sussurrou encarando o celular.

— Sério, se você não puder conversar agora…

— Relaxa, posso me encontrar com Jack após falar com você —


avisou.

— Eu acho incrível o relacionamento que vocês têm — admiti, e


Hayesha deixou o celular de lado me encarando.

— Nós só tentamos ser honestos um com o outro. Jack é sempre


cuidadoso, está sempre preocupado comigo andando sozinha por aí —
ela sorriu ao contar e meu estômago deu uma cambalhota.

Mordi o lábio para afastar o incômodo que aquelas palavras


despertavam em mim.

— Jack me seguiu por um tempo antes de eu finalmente aceitar


sair com ele. Após conviver com Noah e os amigos por tanto tempo, eu
queria distância dos jogadores de futebol, mas ele não faz o estilo bad
boy, que o trio faz — comentou.

— Você parece gostar muito dele — sussurrei.

— Sim, eu o amo. Nunca tinha dito isso para um cara antes, mas
Jack é especial — ela falou com um sorriso no rosto.

Nós entramos em uma cafeteria e fizemos nossos pedidos antes de


nos sentarmos.
— Então, o que você queria falar comigo? — Hayesha me
perguntou quando nos sentamos.

Minha mente tinha entrado em um looping de lembranças, quando


Hayesha falou de Jack, então eu sorri, me desprendendo de tudo aquilo,
e comecei:

— Ontem à noite eu saí com o seu irmão.

— Um encontro? — ela perguntou.

— Sim, tudo estava indo bem, mas Noah se fechou. Hayesha, por
favor, me conte o que aconteceu quando Noah e Katherine se
separaram.

A irmã dele suspirou.

— Noah e Katherine eram o melhor exemplo de faísca e gasolina,


quando estavam juntos havia sempre o prazer do calor e o perigo da
explosão. Noah era ciumento, e ela gostava de provocar esse lado dele,
o que ninguém imaginava, era que ela realmente estava pegando outras
pessoas. Era aniversário de Noah quando ele estava planejando fazer
uma surpresa para ela. Meu irmão nunca disse do que se tratava. Tudo
deu errado quando ele chegou de surpresa na casa dela e acabou
pegando-a na cama com outro cara, eu não sei quem foi, porque Noah
nunca disse, pelo que soubemos depois, Elijah, que morava na mesma
rua, acabou ouvindo a confusão e correu até lá, quando percebeu que
Noah gritava, Katherine era manipuladora ao ponto de tentar distorcer o
que Noah tinha visto, Elijah foi um grande apoio, ele fez o meu irmão
enxergar o que estava realmente acontecendo. Depois disso, nossos
pais receberam uma ligação, dizendo que Noah estava na delegacia, eu
fui com eles até lá e vi Noah todo ensanguentado, ele estava sentado no
chão da cela, parecendo um animal sem racionalidade, e Elijah que
também foi preso, estava tentando conversar com ele. Nós o levamos
para casa, Noah destruiu o quarto dele de um jeito que tiveram que
mudar ele de quarto, e aquele cômodo está vazio até hoje.

Hayesha encarou o vidro da lanchonete, quase como se sua mente


estivesse revivendo tudo, eu tinha encontrado Noah dias depois daquilo,
não sabia que tinha acontecido no aniversário dele, só sabia que Noah
tinha brigado com um amante de Katherine.

— Os meses seguintes foram uma tortura para qualquer um dentro


daquela casa, Noah bebia até beirar o coma, depois disso, chorava até
dormir, ele não queria comer, nem ir à terapia, não queria falar com
ninguém. Elijah e Liam levaram semanas tentando conversar com ele a
respeito. Como os dois o ajudaram eu não sei, se você quiser saber vai
ter que perguntar a eles. Os três fizeram uma viagem juntos, e quando
voltou, Noah era o que é agora, e nós nunca mais falamos a respeito de
Katherine. Independente do quanto você ame o Noah, desde que eram
muito jovens, você vai ter que tirar muita coisa do caminho para chegar a
ele. Se você quiser insistir nisso, vai precisar lutar muito para chegar ao
coração do meu irmão, Noah desistiu do amor naquela época, e eu não
tenho nada para dizer que possa te ajudar.

Respirei fundo quando Hayesha terminou a história, e observei o


café ainda nas minhas mãos.

— Você já me ajudou mais do que pode imaginar — garanti.

— Então, eu te desejo sorte. Mel. Espero mesmo que você consiga


ultrapassar aquelas barreiras que Noah criou ao redor de si, meu irmão
merece ser amado. Se até Liam Stevens conseguiu se abrir para alguém,
fazer Noah se abrir não vai ser uma missão impossível.

— Obrigada — falei.
— Eu tenho que ir agora — Hayesha sussurrou.

— Claro, desculpe tomar o seu tempo.

A mulher sorriu e apertou meu ombro ao passar por mim. Encarei a


rua pelo vidro, Noah tinha passado por uma situação difícil que talvez
ninguém além dele mesmo, pudesse compreender.

Me perguntei se devia falar com Elijah ou Liam a respeito daquele


período, ou se isso seria invasivo demais.
Noah

Depois, de como meu corpo reagiu ao beijo com Mel, eu


simplesmente vinha agindo como um adolescente cheio de tesão, que
precisava correr para o banheiro de madrugada, isso estava estragando
minha vida, e eu sabia que não podia simplesmente continuar daquela
forma.

Tínhamos viajado para a cidade vizinha no ônibus do time, e eu


estava ansioso por aquele jogo, Hayesha, Amber e Mel, estavam indo de
carro para o jogo.

Aquilo acabaria naquele dia, eu daria um golpe final no coração de


Melissa, que a afastaria de mim, e talvez com o tempo, minha mente se
reestruturasse.

Fechei os olhos ouvindo aquela música alta nos fones de ouvido.

Quando o ônibus parou, eu me vi imóvel por um momento. Depois


de tudo que tínhamos vivido, não apenas na infância, mas nas últimas
semanas, não sabia se conseguiria partir o coração de Mel outra vez,
algo em mim se quebrava apenas com esse pensamento.
Se isso era um problema da paixão, eu diria que esse sentimento é
pior que drogas.

— Noah? — a voz de Liam me fez abrir os olhos. — Tudo bem?

— Tudo.

— Vamos arrebentar a cara desses babacas! — Jack falou ao


passar pelo corredor do ônibus.

— Vai bulldogs! — Liam gritou e todos os jogadores repetiram.

Me levantei do assento e caminhei pelo ônibus, também indo em


direção a saída, nós seguimos para o vestiário, aquele era talvez o
instante que eu adorava nos jogos, ouvir os gritos da torcida, sentir
aquela energia que passavam para nós no formato de comemorações.

Os esportes reúnem pessoas, fazem com que todos vibrem juntos


e nós fazemos parte daquilo, somos os precursores daquele caos, cheio
de energia animada.

Entramos no vestiário e começamos a nos aprontar para o jogo,


depois de vestidos, nós usamos a tinta azul no rosto. Esperamos por
todos os jogadores, e o treinador começou seus discursos de incentivo.

Aquele era quase um ritual, mantive minha mente no jogo, nas


nossas estratégias, porque se não tivesse aquele incentivo inicial, meu
corpo sucumbiria a meus pensamentos e logo eu estaria atrapalhando
todos no campo.

Saímos do vestiário com a cabeça erguida e gritos de incentivo da


nossa torcida, meus olhos captaram uma fila com três garotas na frente
das arquibancadas, não foi difícil prestar atenção nelas, porque Mel
estava ali, com o cabelo ruivo solto, atraindo a atenção para si.
Nos posicionamos no campo naquele início já comum, os gritos das
arquibancadas quase sobrepondo o som que saía dos autofalantes do
campo, meus olhos focaram aquele ponto em que as três garotas
estavam. Mel usava uma blusa com um 23, enorme nela, o número que
eu usava nos uniformes. Eu teria sorrido, se não estivesse prestes a
destruir aquela alegria dela.

O jogo começou e assumi minha posição perto de Liam e Elijah, as


estratégias daquele dia exigiriam que eu desse cobertura a Liam
enquanto nosso quarterback estava assumindo a responsabilidade. Elijah
e eu pegaríamos a tarefa depois de algum tempo de jogo, apenas para
confundir os adversários que passariam a maior, parte do jogo, focando
em Liam.

Quando recebemos permissão para iniciar a partida, logo


estávamos correndo pelo campo, derrubando jogadores com o nosso
corpo, meu ombro esquerdo começou a reclamar do esforço de derrubar
jogadores mais largos que eu, mas continuei fazendo meu trabalho.

O primeiro touchdown era sempre o mais importante do jogo. Liam


foi erguido do chão por Elijah, e nós todos comemoramos juntos, o placar
foi iniciado e os jogadores do time adversário nos olharam como hienas
carniceiras, prontas para atacar covardemente um bando forte.

— Vamos aumentar essa vantagem, estratégia 42. Liam disse


quando nos reunimos — ele instruiu.

Pisquei os olhos, confuso, aquilo ia de encontro com a ideia inicial


do jogo, a bola seria passada para mim e não para ele. Liam e eu
correríamos pelo campo, com o quarterback servindo de isca. Qualquer
adversário que nos conhecesse sabia que Liam, sempre tinha a posse da
bola no começo do jogo.
Assenti para o meu amigo em confirmação e nós voltamos a
formação inicial.

Respirei fundo sem focar demais no grupo adversário, a bola era


nossa, eu só precisava ser rápido o bastante para marcar, e confiar nos
meus companheiros de time para me dar a cobertura que eu precisava.

Assim que a bola chegou nas minhas mãos, minhas pernas


dispararam, eu não me dava o trabalho de olhar para o lado, não podia
desviar o foco, confiança é a base de um time, era o que eu ouvia desde
que comecei a jogar futebol anos antes.

Esforcei meu corpo naquela corrida, torcendo para ter cobertura.

Elijah derrubou um jogador ao meu lado, e eu acompanhei o


movimento com o canto dos olhos. Liam foi atirado ao chão com o
jogador enorme que ele tentou tirar de perto de mim, então eu finalmente
cruzei a linha, e atirei a bola no chão quando marcamos. Gritei em
comemoração, e exalei um riso ao ver um Elijah meio mancando
caminhando até mim.

Me aproximei do resto do time, e finalmente permiti que os sons


das arquibancadas chegassem aos meus ouvidos. Aquele som
maravilhoso que eu abafava sempre que um jogo começava.

Ergui o rosto para ver as três garotas que gritavam quase como se
fossem se juntar as líderes de torcida. Olhando para o grupo de azul que
saltava, meu estômago se revirou. Desde que tudo aconteceu com
Katherine, eu nunca tinha me permitido envolver com uma líder de
torcida.

Meus olhos focaram na garota negra que usava uma trança, os


olhos dela estavam em mim, e o sorriso se alargou quando percebeu que
eu a observava.

Ainda restava algum tempo de jogo, mas aquela garota seria o meu
alvo, não me permiti olhar para Mel outra vez, se olhasse, talvez minha
coragem se esvaísse.

Retornando ao jogo, nós impedimos o ataque dos adversários,


segurando o placar, e marcamos mais alguns pontos. Faltava menos de
um minuto para o fim do jogo, estávamos em 19 a 0, mas os adversários
não perderiam tão feio estando em casa, eu pude ver isso nos olhos do
quarterback deles quando nos posicionamos para mais uma defesa.

Quando a partida final começou, eu me preparei para correr e


segurar o quarterback, meu coração disparou quando me arremessei
contra o cara, derrubando-o, em seguida avancei em direção ao running
back.

Meu corpo foi atingido pela lateral, enquanto caía, procurei Jack
com os olhos, mas vi o idiota imóvel no chão. Uma pilha de corpos se
formou em cima de mim, e o running avançou marcando alguns pontos.
Eu praguejei mentalmente, ouvindo o fim do jogo ser narrado, os
jogadores não se mexeram, e eu me vi sem fôlego embaixo de todo
aquele peso.

— Saiam de cima, filhos da puta! — praguejei, me mexendo para


me afastar dos imbecis que me soterravam.

Quando começaram a se mover, um deles me estendeu a mão, eu


a aceitei e me levantei apertando a mão do cara.

— Bom jogo — elogiei.

— Parabéns pela vitória — ele respondeu dando um tapa nas


minhas costas.
Encontrei meus amigos que me envolveram os ombros, e nós
caminhamos lado a lado em direção às arquibancadas. Jack já estava lá,
perto da minha irmã, que tirou o capacete da cabeça dele e o beijou.
Liam se afastou de mim e foi até Amber.

— Quer um beijinho também? — Elijah me perguntou e eu


empurrei o meu amigo, que ria para longe de mim.

Meus olhos encontraram os de Mel apenas por um segundo, um


que pareceu durar uma eternidade, meus pés me levaram até a líder de
torcida que sorriu ao ver minha aproximação. Antes que eu dissesse
algo, a garota me puxou para um beijo.
Melissa

Não sei por que pensei que algo de bom ainda restava no coração
de Noah... não sei por que, eu tolamente pensei que ele tinha um
coração.

Esse era o pensamento que se repetia na minha cabeça, enquanto


eu me afastava das arquibancadas e caminhava para longe do grupo,
que comemorava a vitória deles.

Aproveitei para vestir o casaco enquanto seguia para o


estacionamento, meu coração estava disparado no peito, e eu só
pensava que, precisava me afastar de Noah, antes que ele me fizesse
chorar na frente de tantas pessoas estranhas.

Praticamente corri em direção ao meu carro, já que Hayesha tinha


me pedido para irmos em dois carros apenas para o caso de sairmos
depois do jogo, ter vaga para os garotos, eu simplesmente apaguei
aquele pensamento, quando entrei no veículo e comecei a dirigir.

Precisava me afastar de Noah, colocar uma boa distância entre nós


dois.
O ar ao redor parecia quente demais, então eu abri as janelas do
carro e dirigi, meu coração batia forte contra o peito, e minhas mãos
tremiam, mas me mantive focada na estrada, mesmo sentindo as
lágrimas escorrerem pelo meu rosto e penderem na minha mandíbula.

Foi a última vez.

Noah quebrou o meu coração pela última vez em sua vida, porque
ao sair da arquibancada daquele jeito, eu não estava abandonando
apenas os meus amigos, estava abandonando o sentimento que me
consumia sempre que olhava para ele. Não me importava se jamais
sentiria aquele desejo que fazia meu interior pulsar.

Parei o carro apenas para respirar fundo um pouco, e tentar me


acalmar o bastante para continuar dirigindo sem ser um perigo para os
outros e para mim.

Prendi o cabelo com o elástico que estava no, porta luvas e encarei
meu reflexo no espelho, a maquiagem borrada, e os olhos apagados.
Pensar que ainda existia uma parte dele que amei na infância, dentro do
homem que ele se tornou, foi uma das maiores idiotices da minha
existência. O Noah Brown que vi naquele campo, era um narcisista que
estava disposto a tudo para afastar uma garota pegajosa dele.

Amber tinha me dito que eu só conseguiria me desprender do


sentimento que tinha por Noah quando sentisse que fiz tudo ao meu
alcance para conquistá-lo. Àquela altura, eu aceitava a derrota, nada
mais do que eu fizesse mudaria as coisas, e eu já não queria fazer coisas
para tê-lo na minha vida.

Meu celular começou a tocar e meu coração saltou no peito, peguei


o aparelho do bolso e encarei a tela, Amber estava ligando para mim.
Fechei os olhos suspirando, não sabia se me sentia aliviada ou
decepcionada por não ser uma chamada de Noah.

Desliguei o aparelho e o joguei no banco do carona, voltei a dirigir


sentindo meu coração magoado aceitar que não havia futuro em bater
por causa dele.

Engoli meu orgulho e continuei dirigindo até estar de volta ao


Eagle’s. Usei lenços no carro para limpar a maquiagem borrada do rosto,
também limpei a tinta azul do meu rosto. O casaco estava bem fechado,
me impedindo de passar pela humilhação de ser vista com o número de
Noah no peito.

Caminhei pelo estacionamento voltando a soltar o cabelo, os óculos


escuros podiam parecer estranhos, já que era noite, mas eu não ia
mostrar meus olhos inchados pelo lugar, apenas continuei andando para
o interior do prédio.

Cumprimentei algumas pessoas que falavam comigo durante


aquele percurso em direção a segurança do meu quarto.

Entrei no quarto e tirei o casaco, em seguida arranquei a blusa que


usava, e a enfiei na lixeira do quarto, fui para o banheiro pensando em
me livrar do que tivesse restado daquelas lágrimas.

Eu tinha dito a Noah, que ele não podia me machucar, mas eu não
tinha ideia do quanto aquilo me machucaria.

Depois daquele banho, eu vesti um pijama e me deitei na cama


pegando o celular, quando liguei o aparelho percebi que não tinha sido
tão sutil quanto pensei que fui, Hayesha e Amber tinham me ligado várias
vezes, havia até uma ligação de Elijah no meu celular.
Minha caixa de mensagens estava cheia também, mas abri aquela
que estava mais me chamando atenção:

— Eu te disse que me amar era um erro.

Joguei o celular na parede oposta do quarto e não me dei o


trabalho de me levantar para ver se quebrei o aparelho de vez, apenas
continuei deitada encarando o teto.

Quando ouvi a porta do quarto sendo aberta, fechei os olhos e fingi


que estava dormindo, Amber caminhou pelo lugar resmungando algo que
eu não conseguia ouvir, e minutos, ou talvez uma hora depois, minha
colega de quarto foi dormir.

Imóvel, na escuridão completa, em algum momento, adormeci e só


acordei porque o celular de Amber despertou.

Me sentei na cama esfregando os olhos inchados.

— Parece que sua noite não foi das melhores — Amber me disse
ainda deitada.

— Nem me fale — respondi sem virar o rosto para encarar a


garota.

— Você está bem? — ela perguntou, e meus olhos se grudam no


celular destruído no chão.

— Vou ficar bem — falei me levantando da cama e pegando o


aparelho quebrado.

Não mencionamos mais o assunto da noite anterior, e eu me


preparei para as aulas em silêncio, quando saí do quarto disse a Amber:
— Vou ter que comprar um celular novo antes de ir para as aulas,
até mais tarde.

— Até — Amber me respondeu.

Peguei o carro na garagem, e comecei a dirigir pelo campus,


parando apenas para beber um café. Eu não queria me dar tempo para
pensar sobre a noite anterior, não queria me lembrar daquele beijo no
carro dias antes, tudo que minha mente pedia, era que eu focasse em
seguir em frente.

Bebendo o meu café, dirigi até uma loja qualquer para comprar um
celular novo, e quando o fiz, agradeci a atendente e comecei a organizar
o aparelho, restaurando meu número, e aguardando os backups serem
concluídos.

Voltei para o campus ouvindo música no carro, até estar de volta ao


Eagle’s. Deixei o carro no estacionamento e comecei a correr pelo
campus tentando não me atrasar para a aula.

Fiquei aliviada por ver Noah sentado perto de um garoto, e o único


lugar disponível era em frente ao professor.

O homem que já estava dando sua aula me cumprimentou com a


cabeça quando passei e me sentei. Fiz algumas anotações sentindo o
olhar do professor sobre mim.

No fim da aula, antes que eu saísse da sala, ele me perguntou:

— Decidiu se vai continuar com direito?

— Estou fazendo alguns testes, vou tirar esse período para


descobrir o que fazer da vida — admiti.
— Se precisar de ajuda com a minha matéria, pode me procurar —
ele garantiu. — Ainda tem meu número?

— Na verdade, eu perdi meu celular, pode anotar seu número aqui?


— inquiri entregando o celular novo para ele.

O homem sorriu e pegou o aparelho salvando o próprio número.

— Mandei uma mensagem para o meu, assim também vou ter o


seu número — avisou e eu exalei um riso.

— Está bem. Tenho que ir agora — falei pegando o celular de volta,


e caminhando para fora da sala, Noah ainda estava sentado lá quando
saí.

Era o momento de seguir em frente, eu tinha feito tudo ao meu


alcance para encontrar o coração de Noah, mas não se pode achar o que
não quer ser encontrado.
Noah

Por que nosso cérebro e nosso coração não podem estar em


sincronia? Me perguntei quebrando o lápis que estava segurando,
enquanto observava Mel passar trocar contato com nosso professor
canalha.

Eu tinha feito o que achava que seria melhor para mim, magoado a
garota, esperando que ela se afastasse, mas por que infernos estava me
sentindo tão completamente destruído quanto naquele instante?

A garota sorriu e pegou o celular antes de sair da sala, ela ainda


sorria quando me lançou um olhar, eu a conhecia bem o bastante para
saber que aquele era o sorriso que ela usava quando queria encantar as
pessoas.

Melissa tinha um jeito meigo que sempre encantou nossos


conhecidos enquanto crescíamos, a garota conseguia descontos em
lojas, e conseguia até mesmo coisas que não devem ser mencionadas,
como comprar bebidas sem apresentar documentos, já que não tínhamos
idade para isso.
Acabei sorrindo ao notar aquele sorriso, minha – Mel, não estava
realmente interessada no professor, ela estava ciente da minha atenção,
e estava me provocando. Me levantei da cadeira e caminhei para fora
apressado. Quando vi Mel se afastando pela rua, estagnei, perguntando
se eu tinha contraído a bipolaridade de Liam.

Deixei de lado a ideia de ir as demais aulas, e caminhei para o


dormitório, trocando aquelas roupas pesadas por roupas que me
permitissem correr com facilidade.

Saí do quarto trancando a porta, e coloquei os fones nos ouvidos,


ao passo que descia as escadas, meu coração batia tão rápido no peito
que eu não conseguia simplesmente me acalmar, até mesmo temi ter um
ataque de pânico naquele prédio, rodeado por pessoas que passariam a
me encarar como se eu tivesse algum problema.

Assim que pisei na calçada, fiz alguns alongamentos conforme


caminhava, então comecei a correr, deixando meus pensamentos de
lado, e segui com passos largos, ignorando os olhares que as pessoas
me direcionavam.

Todos os alunos estavam seguindo para suas aulas, mas ali estava
eu, incapaz de obedecer àquele padrão social apenas porque meu corpo
começou a aceitar as ordens do meu coração, e ignorar totalmente meu
instinto de autoproteção.

Aquele gosto do beijo de Mel acendeu meu corpo, e eu praguejei


ao apressar mais o passo, já tinha percorrido uns dois quilômetros, mas
minha mente simplesmente se recusava a entrar em sintonia com o meu
corpo outra vez.

Melissa Turner foi a bomba relógio da minha vida, aquela que


estava a segundos de explodir e eu não conseguia decidir se cortava o
fio, ou se deixava o estrago acontecer.

Eu tinha beijado outra garota na frente dela, tinha feito aquilo para
afastá-la, o que funcionou fodidamente bem, mas ali estava eu,
despedaçado por machucar aquela garota tão extraordinária, que tinha
tanto significado em meu coração.

Meus pés me moveram pelo campus, e eu parei apenas para tomar


um gole de água em uma lanchonete. Aquela era a parte do campus
dedicada a cinema e artes em geral. Eu observei pelo vidro da
lanchonete enquanto as pessoas gravavam cenas com câmeras, e gente
dançava no meio da rua.

Eu realmente não conseguia lidar com aquela parte do campus, a


animação das artes era diferente da animação que eu estava
acostumado com os esportes.

Paguei pela minha água e voltei a andar pela rua, com a música me
impedindo de ouvir o que aquelas pessoas falavam. Movi os olhos pelo
ambiente, inspirando fundo, meus olhos se grudaram em uma pessoa
conhecida.

Apertei os olhos para ter certeza do que via, minha visão sempre foi
excelente, mas naquele instante, eu duvidava do que via, simplesmente
não fazia sentido que Jack estivesse passeando por aquela parte do
campus. Até onde eu sabia, Jack cursava engenharia, não imaginava o
namorado da minha irmã, tendo algum assunto que o levasse aquela
parte do campus.

Jack continuou andando em direção a um prédio, e eu desviei o


olhar, não era da minha conta o que ele fazia ali, e eu já tinha minhas
próprias preocupações com as quais lidar.
Peguei o celular no bolso e vi a última mensagem que enviei para
Mel, fechei os olhos limpando o suor da testa na manga. Tinha precisado
de vários minutos digitando e apagando mensagens, até enviar aquela.

Eu nem mesmo imaginava o que Mel sentiu quando leu aquelas


palavras.

Minha vontade de jogar o celular na lata de lixo só não foi cumprida


porque eu recebi uma ligação.

— Sim? — questionei ao atender.

— Noah, você sabe o que aconteceu com a sua irmã? — A voz da


minha mãe chegou aos meus ouvidos.

— Não, mãe, não sei o que houve — falei.

— Ela não atende as minhas ligações.

Já parou para pensar que ela pode estar te ignorando? Perguntei


mentalmente, mas respirei fundo para não mandar aquela resposta em
voz alta.

— Ela estuda medicina, mãe. Hayesha deve estar com a cara


enfiada em algum livro da biblioteca. Sei que você não frequenta muitas,
mas não dá para usar telefone na biblioteca.

— Não seja grosseiro! Você é igual ao infeliz do seu pai, não pode
ao menos me responder com educação? — rebateu irritada.

— Era só isso? — inquiri ignorando as palavras dela.

— Recebi uma ligação de Kathy essa semana — ela falou. —


Parece que ela está entrando para uma agência grande de modelos esse
ano.
— Ela deve ter dormido com metade dos acionistas para conseguir
isso — retruquei desligando a chamada e voltando a colocar os fones de
ouvido.

Se soubesse quem era, teria seguido o exemplo de Hayesha e


ignorado. Dizer que nossa mãe era uma pessoa problemática era um
eufemismo. Após anos sendo forçada a entrar em dietas mirabolantes, e
posar como modelo, Hayesha simplesmente se revoltou aos dezoito
anos, e fugiu de casa. Minha mãe adorava Katherine, porque a
vagabunda queria ser exatamente o que minha mãe queria que Hayesha
fosse.

Pensar que a mulher que me colocou no mundo, ainda tinha


contato com a garota que quase destruiu minha vida, era uma grande
cereja no bolo de merda que estava minha vida nos últimos dias.

Voltei a ligar a música e corri de volta pelo caminho que me levaria


ao dormitório.

Hayesha e eu tínhamos feito muitos acordos na infância e


adolescência, nunca confiaríamos nos nossos pais desmiolados para
cuidarem de nós. Um cuida do outro, depois que fomos para a faculdade,
as coisas se tornaram um pouco melhores para nós.

Ter aquela distância entre nós e nossos pais, foi algo que melhorou
muito nossas mentes, a falta de pressão com nosso futuro. Eu imaginava
o quanto aquilo tinha sido infinitamente melhor para minha irmã.

Quando finalmente cheguei ao Wood Buffalo, meu corpo estava


pingando suor e minhas pernas doíam, aquela dor física era o que eu
precisava para esquecer meu dilema com Mel por um tempo.
A conversa com minha mãe também foi de grande ajuda, porém eu
não estava tão desesperado ao ponto de ligar para ela sempre que
quisesse me livrar dos pensamentos sobre Melissa.
Melissa

Eu tinha ignorado o celular por boa parte do meu dia, mas durante
o almoço, acabei verificando minhas mensagens, uma das caixas de
mensagens com mais notificações era a de Peter, nosso professor.

Ignorei as mensagens que perguntavam como eu estava, sabia


que, aquele tipo de mensagem levava a lugar nenhum, dificilmente
chegaria para um estranho e falaria que minha vida estava uma merda.

No fim do chat havia uma mensagem, que era o que ele parecia
querer dizer desde o começo:

— Você quer jantar comigo? Conheço um restaurante francês


excelente não muito longe do campus.

Reli a mensagem algumas vezes deixando meu sanduíche


parcialmente comido em cima do prato. Eu não estava realmente com
vontade de sair do dormitório, não queria sair com aquele cara, mas o
que mais eu poderia fazer com a minha noite? Ficar atrapalhando as
noites de Amber e Liam, e sentindo pena de mim mesma? Não, eu podia
sair, ter um jantar, e conversar com alguém que tinha um interesse por
mim.
— Está bem — digitei, mas me vi imóvel com o celular na mão.

Era mesmo uma boa ideia sair com um cara que eu mal conhecia,
apenas porque Noah feriu meu coração, e eu queria desesperadamente
seguir em frente? — Me questionei, mas quando observei a rua pelo
vidro da lanchonete, vi Noah passando correndo, com fones no ouvido,
torci os lábios furiosa e enviei a mensagem.

— Te encontro no Eagle’s às 7 h — ele respondeu imediatamente.

****

Voltei para o dormitório após passar a tarde na biblioteca, caminhei


pelo dormitório em direção ao meu quarto, e vi que Amber tirava os
sapatos, mantendo o celular em uma chamada de vídeo ativa.

— Ame, você vem mesmo? — uma menina perguntava.

— Já disse que vou — Amber respondeu.

— Quem é essa? — a criança perguntou, e Amber sorriu ao pegar


o celular.

— Essa é minha colega de quarto, o nome dela é Mel.

— Oi, Anne — falei sorrindo enquanto acenava para a menina.

A criança enfiou a cara no celular e exalou um grito que fez com


que Amber levasse o dedo aos ouvidos.

— O seu cabelo é assim mesmo? — Anne perguntou. — É tinta?

— Não — respondi rindo.

— Você parece a Merida! — A menina gritou.


Encarei Amber que sorriu.

— Ela adora pessoas ruivas — Amber esclareceu, e eu ri.

— Você é muito fofa, Anne — comentei.

— Vou poder brincar com você quando for aí? — ela perguntou.

— Anne, nós nos vemos na Ação de Graças — Amber falou. — Eu


te amo, depois ligo para vocês.

— Também te amo! — ela respondeu fazendo bico.

Quando a chamada foi finalizada, eu observei minha colega de


quarto.

— Ela é muito linda — elogiei.

— Tem adoração pelo Liam — Amber contou revirando os olhos. —


Então, o que você faz aqui tão cedo? Geralmente fica na biblioteca até
tarde.

— Tenho um encontro — admiti caminhando para o armário.

— Com quem? — Amber perguntou.

Ela estava ciente de que eu tinha desistido de Noah, mas nós ainda
não tínhamos falado sobre o jogo, eu estava evitando o assunto o
máximo que podia.

— Um dos professores de Ciência da Computação — confessei.

Amber sorriu.

— Um professor? Isso é muito interessante.


— Sim, ele me chamou para jantar. Preciso me apressar — avisei
quando encarei a tela do celular.

Peguei uma calça justa e uma blusa elegante, o casaco marrom


estava jogado de qualquer jeito em cima da cama, e os saltos ali perto.
Amber não falou nada quando corri para o banheiro. Depois do banho, eu
me vesti e observei meu reflexo no espelho, enquanto colocava um par
de brincos pequenos.

O batom na minha boca era de um rosa-claro e havia pouca


maquiagem no meu rosto. Aquela roupa, quase gritava “nada de sexo”,
aquela maquiagem me fazia parecer uma adolescente puritana, mas de
algum modo, me senti satisfeita com aquela escolha, eu não conhecia
Peter, e com toda certeza, não queria que aquela noite acabasse em um
quarto.

Respirei fundo e me virei, Amber tinha entrado no banheiro assim


que saí, então calcei os sapatos e peguei o casaco, conferindo minha
carteira e celular, assim como também enfiei um spray de pimenta novo
na bolsa pequena que estava levando comigo.

— Amber, estou indo! Boa noite! — falei através da porta.

— Boa noite! E tente não se forçar a nada — ela aconselhou, e eu


sorri.

Caminhei para fora do quarto vestindo o casaco, e pendurando a


bolsa no ombro, segui andando pelo interior do prédio, estudando cada
detalhe do que estava disposta a contar a Peter.

Quando cheguei à frente do dormitório, faltavam cinco minutos para


as sete, fiquei de pé na entrada observando meus pés. Minha mente
vagou pelo beijo que Noah e eu tivemos no carro, aquele beijo que ainda
me deixava acesa a noite.

Uma buzina me chamou atenção, e eu caminhei em direção ao


carro, para entrar e ver um Peter sorridente, que beijou o meu rosto.

— Você está bonita — elogiou.

Esbocei um sorriso agradecendo.

Peter começou a dirigir e meu coração se inquietou quando


começamos a nos afastar do campus.

— Você não vai ter problemas por estarmos saindo? — perguntei.

— Não conto se você não contar — ele retrucou com um sorriso no


rosto.

Nós caímos em um silêncio inquieto, e eu me vi tentada a pegar o


celular para me distrair, mas achei que seria muito indelicado, já que
aquilo devia ser um encontro.

— Eu pensei em te chamar para sair antes, mas você parecia muito


próxima do Noah, pensei estarem saindo — ele comentou.

— Somos amigos de infância — respondi.

— Era isso? — ele questionou me olhando, e eu assenti.

— Nos conhecemos desde muito pequenos, Noah nunca me viu


com interesse — avisei.

— Acho que eu deveria ficar feliz com isso — ele rebateu me


olhando outra vez, com aquele sorriso de canto que, em outra ocasião,
provavelmente faria meu estômago se revirar.
Nós ficamos em silêncio novamente, e eu estava com os dedos
inquietos para pegar o celular, aproveitei a deixa quando meu celular
sinalizou uma notificação.

Disfarçadamente eu escondi a tela, era apenas uma notificação de


app, mas eu sorri, e digitei para Amber o nome do restaurante para onde
íamos, com as palavras “se eu precisar de ajuda, te mando mensagem”.
A paranoia estava começando a tomar o controle da minha mente.

— Desculpe por isso, minha colega de quarto — sussurrei.

— Vocês são muito próximas? — ele perguntou.

— Acho que sim — respondi sem vontade de falar demais sobre as


minhas relações.

Aquele encontro estava literalmente fadado a cair na minha lista de


fiascos.

O momento sem palavras trocadas entre nós, durou até que


finalmente chegamos ao bendito restaurante, enquanto Peter procurava
um lugar para estacionar, peguei o celular novamente, e Amber me
mandava uma mensagem, dizendo que eu podia relaxar, que ela sabia
onde era o restaurante. Se algo desse errado, sabia que Amber
convenceria Liam a vir me ajudar, com ela e talvez, Elijah se juntasse aos
dois.

Elijah tinha se tornado uma figura importante, percebi quando


imaginei o amigo de Noah vindo me salvar, tínhamos trocado poucas
palavras em algumas conversas, mas Elijah parecia alguém que exalava
aquele tipo de confiança.

Se ele não fosse amigo de Noah, talvez eu tivesse chamado ele


para sair. Quem sabe tivesse mais química entre nós, do que entre mim e
o professor que caminhava em minha direção. Quanto antes aquele
jantar acabasse, mais rápido eu podia voltar para o dormitório e fingir que
aquele encontro nunca aconteceu.
Noah

Minha manhã foi uma merda, e não tínhamos treino à tarde, então
tudo que eu podia fazer, era encher a cara em algum lugar com Liam e
Elijah, bom, pelo menos com Elijah, já que os remédios de Liam não
deixavam ele beber com frequência.

Tinha chegado primeiro ao bar e estava sentado, observando as


garotas que estavam por ali, aquele clima era familiar, eu me sentava ali,
bebia com os meus amigos, até irmos a uma mesa daquelas ou até elas
virem para a nossa mesa.

Naquele dia, estranhamente, eu não tinha a menor vontade de ir


até elas, e quando percebi que uma garota parou ao meu lado, exalei
pesadamente.

— Você está sozinho? Quer companhia? — a mulher perguntou.

— Estou esperando uns amigos — avisei.

— Posso fazer companhia enquanto eles não chegam? — ela


questionou.
— Não estou no clima — sussurrei entornando a bebida do copo na
minha mão.

Ela se afastou, e eu pedi mais uma bebida, enquanto esperava que


a dose chegasse, me mantive quieto encarando o lugar, tinha uma garota
com o cabelo vermelho no canto do bar, em uma mesa com outras
garotas. Foquei meus olhos nela, mesmo que aquilo fosse involuntário.

Minha mente reviveu os últimos dias com Mel, as noites deitados


na cama dela assistindo filmes, e as pernas de Mel entrelaçadas às
minhas. Mesmo que eu soubesse exatamente o que aquele gesto
significava, me mantive distante.

Talvez eu me arrependesse, percebi naquele instante. Eu estava


desesperado por aquela garota, e não tinha nada que pudesse fazer,
porque não sei se acabaria em apenas umas noites de sexo.

— Você está aqui faz tempo se eu julgar pelo cheiro de álcool —


Elijah disse ao se sentar na minha frente.

Olhei ao redor procurando por Liam.

— Ele está estacionando com Amber — Elijah falou.

— Que legal — murmurei apanhando o próximo copo que tinham


deixado ali, um instante antes.

— Tente demonstrar um pouco menos o seu descontentamento.


Talvez Liam não perceba — Ele aconselhou, e eu esbocei um sorriso
sem diversão.  — Está mais rabugento que de costume — percebeu,
sinalizando para o barman trazer uma bebida. — O que aconteceu?

— Melissa aconteceu — esclareci, e meu amigo sorriu.


— Minhas crianças estão crescendo — ele murmurou, limpando
sujeira inexistente na manga. — Deixa o tio te explicar umas coisas. Às
vezes, você não vai conseguir controlar seus sentimentos, essa química
cerebral, não, é algo que nós possamos ligar e desligar quando bem
entendemos. Liam caiu no jogo de copas, e agora é a sua vez.

— Não vou cometer esses erros novamente, mesmo que isso


destrua minha mente, vou proteger meu coração — avisei.

Elijah gargalhou ao ouvir aquilo, e apanhou o copo da própria


bebida agradecendo.

— Você acha mesmo que o coração é algo tão importante? Ele é


só um órgão no peito, que a única função é bombear o sangue, mas quer
saber o que é importante de verdade? — me perguntou, e todo o humor
desapareceu do seu rosto, eu nunca tinha visto aquela expressão no
rosto do meu amigo. — Encontrar uma garota legal, que está disposta a
ter uma relação de verdade com você, isso realmente é importante. Sexo
de uma noite não marca sua vida, por mais interessante que seja a
boceta, você não se lembrará dessa noite por muito tempo, e eu duvido
que se lembre, do nome da garota por muito tempo. Não deixe Melissa
escapar, Noah. Se você deixar, vai se arrepender para o resto da vida.

— Você estava lá, viu o que Katherine fez comigo — retruquei.

— Sim, eu vi, mas também vi o rastro de corações partidos que


você abandonou nos últimos anos. A sua necessidade de se agarrar ao
que Katherine te fez, é doentia, isso está te matando aos poucos, e
quando você perceber que se importa tão pouco com ela, que mesmo o
coração partido que ela deixou para trás não tem significado, quando
você olhar para trás, e perceber que suas lembranças com Melissa são
tão felizes que você simplesmente não pode mais desapegar dela, pode
ser tarde demais, porque Mel não vai esperar para sempre — avisou.

Não pude responder a Elijah, porque Amber e Liam chegaram na


mesa, o casal feliz vinha sorrindo de alguma piada trocada entre eles. Eu
não pude dizer a Elijah que Katherine não tinha mais importância na
minha vida.

— Amber, você é um colírio para os olhos, quando você está por


perto, eu não preciso ser o tio chato — Elijah falou fazendo a namorada
do nosso amigo beliscar o nariz dele.

— Então eu me torno a tia chata? — ela indagou.

— Não, você só é uma formanda em psicologia, e ótima no que faz


— ele rebateu afastando o nariz dos dedos dela.

— Ah, sim — respondeu sorrindo.

Os olhos de Amber vieram para mim, e a raiva que cintilou no olhar


dela, eu tinha plena consciência que era pelo beijo que partiu o coração
de Mel. O humor da namorada de Liam mudou novamente quando ela
voltou os olhos para o namorado que trazia um suco para ela.

— Como estão as coisas no Eagle’s? — Elijah perguntou a Amber,


e tomou um gole longo da própria bebida.

— Você está no Eagle’s também — Amber lembrou.

— Sim, mas não tenho frequentado o dormitório feminino com


frequência — ele retrucou.

Amber ergueu os ombros.


— As garotas legais de lá estão acabando — murmurou, e Elijah
pareceu muito interessado na fofoca.

— Conte-me tudo — pediu.

— Para você espalhar a fofoca? — Amber questionou. — Não.

— Assim você me ofende, Amber, eu não espalho fofocas, só troco


informações quando é conveniente, e eu posso ganhar algo com isso.

A loira riu ao ouvir aquela explicação, e Liam interrompeu a


conversa dos dois:

— Ela quer dizer que uma certa garota que conhecemos saiu hoje
para jantar com um homem mais velho.

— Quem foi o cafajeste que tirou Melissa do Eagle’s? — Elijah


perguntou quando eu fiquei imóvel.

— Eu acho que um cafajeste não se incomodaria em levar ela a um


restaurante francês — Amber murmurou.

— Restaurante francês — Elijah sussurrou como se saboreasse a


informação. — Isso é diferente.

— Eu espero que esse cara seja legal. Mel merece alguém que a
valorize — Amber falou, e eu senti aquela alfinetada como se a garota
tivesse enfiado uma agulha no meu olho.

— Eu podia valorizar uma garota como aquela — Elijah rebateu, e


eu soquei a mesa interrompendo a conversa completamente.

— Tá de sacanagem? — perguntei, e meu amigo me estudou com


aquela expressão sarcástica.
— O quê? Você não quer nada sério com Mel, então ninguém pode
querer? — Elijah indagou.

Suspirei me afastando para não socar a cara do meu amigo.

— Por que não deixa a garota seguir com a vida dela, se você está
tão disposto a ser um bosta? — Elijah questionou aos berros.

Todos os olhos do bar estavam sobre mim, mas eu não me


importei. Tudo que interessava naquele momento, era que Melissa
estava em um restaurante francês, com um merdinha, e eu não
conseguia aceitar isso.
Melissa

Aquele jantar foi um desastre completo, eu detestava comida


francesa para início do caos, passar a noite inteira ouvindo Peter
tagarelar sobre os alunos, as aulas, e a formação dele, também não era
uma coisa interessante.

Não era nem nove horas quando anunciei que precisava


desesperadamente voltar ao dormitório, para terminar uma dissertação.

— Nós podemos remarcar esse jantar — ele sugeriu enquanto


saíamos do restaurante. — Para um dia mais tranquilo.

— Claro, podemos ver isso — murmurei forçando um sorriso.

Inspirei fundo, cansada até mesmo daquela voz arrastada, mas


tudo isso deu duas cambalhotas quando eu vi Noah imóvel na frente do
restaurante, ele estava com uma camisa fina, e me perguntei se não
estava com frio. Engoli minha preocupação deixando aquilo de lado.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei com a voz irritada.

— Mel, eu sinto muito pelo que fiz no jogo, aquilo foi estúpido, mas
se você me deixar explicar… — Noah falou.
— Sente? Você sequer sabe o que é sentir muito? — rebati
interrompendo o que ele queria dizer.

— Melissa, vamos conversar, por favor — pediu.

— Não tenho nada para falar com você, Noah — sussurrei


seguindo adiante.

Peter estava um passo atrás de mim, Noah segurou meu braço, me


impedindo de seguir andando, e eu o estudei furiosa.

Ele me olhou de cima a baixo, e o sorriso que puxou os lábios dele


me era claro, ele estava comparando como me vesti para sair com ele, e
como estava vestida para aquele encontro.

Eu odiava que Noah me conhecesse tão bem.

— Não aja impulsivamente apenas para me magoar — Noah disse,


e aquilo me inflou com um ódio incontrolável.

— Eu tenho todo direito de fazer o que quiser com a droga da


minha vida, e isso não é da sua conta! Você deixou isso perfeitamente
claro.

— Eu cometi a porra de um erro, Melissa, e estou tentando falar


com você. Deixe de ser teimosa e venha conversar comigo por alguns
minutos.

Me vi dividida entre socar a cara de Noah novamente, ou fazer algo


ainda mais estúpido. Eu tinha muito amor pelo meu corpo, e não
arriscaria machucar a mão uma segunda vez, por isso, acabei optando
pela coisa mais estúpida, me virei puxando Peter pelo braço e colei
nossos lábios.
Aquele beijo tinha um gosto estranho e frio, me deixando cansada,
assim que começou. Eu me afastei de Peter poucos segundos depois,
sem dar tempo de ele abrir minha boca com a dele. Estudei o rosto do
professor.

— Vamos sair daqui — pedi.

A sobrancelha dele se ergueu, eu tinha noção da confusão que


aquelas palavras poderiam causar, mas não me importava, aquela
confusão era bem-vinda, quando eu pensava que Noah ficaria mais
confuso do que o próprio Peter.

— Não faça isso. Mel. — A voz de Noah partiu algo dentro de mim.

Eu me recusava a deixar aquele filho da mãe brincar com o meu


coração, não era mais a Melissa de doze anos, completamente
apaixonada por ele. Não depois do que passei com Anthony, e não
depois do jogo.

Encarei o rosto de Noah apenas por um segundo e afastei meu


braço do aperto frouxo dele.

— Adeus, Noah — falei.

Caminhei ao lado de Peter em direção ao carro dele, o ar a nossa


volta pareceu tão gelado que meu corpo parecia travado por causa
daquele frio.

Entrei no carro e observei Noah pelo retrovisor do lado do


passageiro. Ver aquele idiota imóvel no meio da calçada observando
aquele carro, quase me fez descer e ir até ele, eu provavelmente bateria
nele até ficar cansada, e conhecia Noah bem o bastante para saber que
ele deixaria que eu fizesse isso, mas eu não podia deixar que Noah
brincasse comigo.
Chega de pessoas jogando com o meu coração.

Peter me assustou ao se inclinar para pegar o cinto e colocar em


mim.

— Desculpe — pedi.

— Não tem problema — ele deu partida no carro e me estudou com


algum tipo de cautela, como se esperasse que eu dissesse para onde
poderíamos ir.

— Pode me levar de volta? — sussurrei o pedido.

Peter assentiu e deu partida no carro.

— Me desculpe ter te beijado daquele jeito. Noah é teimoso


demais, se eu não, fizesse algo assim, ele ia me enfiar no carro dele para
ter a conversa que tanto quer ter — expliquei.

— Não tem problema, normalmente eu tomo a iniciativa para beijar


uma mulher, isso foi interessante.

Exalei um riso.

— Eu realmente tenho que estudar hoje — esclareci quando


percebi que ele não estava com pressa ao dirigir.

— Quero aproveitar o máximo possível sua companhia — ele


rebateu enquanto dirigia de volta ao campus.

Nosso silêncio se tornou sufocante ao ponto de eu quase pedir


para ele parar o carro e pegar um táxi, para ir o resto do caminho.
Mesmo assim, me obriguei a ficar naquele veículo, apenas porque seria
muita babaquice deixá-lo ali depois de tudo que eu tinha feito naquela
noite.
Beijar Peter foi uma estupidez maior do que eu podia ter imaginado,
no momento da minha raiva de Noah. Aquela viagem de volta ao campus
foi tão inquietante que precisei me conter diversas vezes para não
suspirar de puro tédio, frustração ou raiva.

Assim que o carro parou, eu me movi para tirar o cinto que estava
usando, e Peter segurou meu rosto, puxando-me para um beijo, a boca
dele abriu a minha, e aquela língua invadiu minha boca, meu corpo
pareceu rejeitar aquele beijo. Eu me afastei do beijo e sussurrei:

— Boa noite!

— Boa noite — ele respondeu sorrindo.

Desci do carro sem olhar para trás, e suspirei, enquanto andava em


direção ao meu quarto no dormitório.

Aquela noite não podia ficar pior, me vi pensando conforme subia


as escadas para o interior do prédio. Limpei minha boca na manga,
ignorando a mancha de batom que se formou ali, e meus pés me levaram
até o meu quarto. Assim que cheguei, percebi que a noite podia piorar, e
muito.

A gravata ao redor da maçaneta me dava um aviso silencioso,


pensei em me sentar naquela escadaria, mas aquilo seria ainda mais
patético, engoli em seco e comecei a subir as escadas, se Liam e Amber
estavam de volta, as chances de Elijah estar no quarto dele também
eram grandes.

Subi em direção ao quarto e bati na porta de madeira.

— Tá aberto, Liam — ele murmurou com a voz rouca.


Abri a porta e espiei o interior do quarto, Elijah que estava deitado
sem camisa na cama, ergueu a cabeça para me encarar.

— Posso me esconder aqui um pouco? — pedi.

Ele se sentou na cama, e apanhou a camisa que estava ao lado do


corpo, vestindo-a apressado.

— Claro — retrucou.

Invadi o quarto fechando a porta atrás de mim, e fiquei imóvel no


meio do lugar.

— Senta — Elijah falou com um sorriso divertido no rosto.

Me sentei na cama oposta imaginando que aquela era a cama de


Liam, e tirei os saltos dos meus pés que agradeceram a ausência
daqueles sapatos.

— Nossa — Elijah murmurou ao ver as bolhas nos meus


tornozelos. — Por que você usa um negócio desses?

— O preço da beleza — murmurei rindo.

— Você é doida — Elijah disse, e se levantou.

Ele caminhou em direção ao banheiro e pegou um kit de primeiros


socorros, quando voltou, ele pegou meu pé ignorando meu protesto, e
começou a limpar aquele machucado.

— Parece que seu encontro não foi muito bom — Elijah murmurou
colocando um band-aid no meu pé, e pegando o outro. — Eu ouvi uns
rumores que quando você saiu com Noah, estava parecendo uma
Arlequina sexy, e hoje você está parecendo…
— Uma adolescente puritana? — completei, e ele riu.

— É... por aí — comentou, limpando o outro machucado.

— Acho que já tive mais química com uma pedra — admiti. — Sei
lá, talvez eu não esteja pronta para sair com alguém.

— Parece que Noah, mesmo sendo o rei dos babacas, tem um


grande poder sobre o seu coração — Elijah disse colocando o segundo
band-aid e se levantando para guardar o kit de primeiros socorros.

— Aparentemente — sussurrei a concordância.

— Bom, eu diria que você e ele têm muito que conversar.

— Cansei de falar com Noah. Cansei de deixá-lo brincar com o


meu coração — falei convicta.

Elijah assentiu, ele voltou para o quarto e organizou a própria


cama.

— Pelo que eu conheço de Liam, ele não deve voltar hoje, então...
— ele indicou a própria cama — fique à vontade para dormir nessa cama.

— Está mesmo bem se eu ficar aqui?

— Claro, eu quero mesmo incomodar Noah — Elijah disse me


dando uma piscadela.

Me levantei da cama de Liam pedindo licença para usar o banheiro


dele, e quando retornei ao quarto, me enfiei debaixo dos cobertores da
cama de Elijah.
Noah

Não pude fazer nada além de observar Mel se afastar com o nosso
professor, eu merecia aquilo, disse a mim mesmo. Ver a boca de Mel na
dele foi doloroso, tão doloroso que meu peito parecia prestes a explodir.

Quando o frio naquela calçada se tornou insuportável, eu caminhei


de volta para o carro, e me sentei no banco do motorista, ligando o
aquecedor, uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto, e eu a limpei
confuso.

Será que o carma era tão filho da puta, e eu tinha finalmente


partido meu próprio coração? Me perguntei ao ligar o carro e dirigir de
volta para o campus.

Eu não esperava ver Mel naquela noite, mas entrei no Eagle’s


mesmo assim, quando entrei no prédio, meus pés me levaram até o
quarto de Mel e Amber, mas havia uma gravata na porta, não tinha como
Peter trazer Mel de volta ao dormitório para transar ali, não quando
estavam em uma posição professor e aluna.

Aquilo era coisa do Liam, mas se Liam estava ali com Amber, Mel
não estava no quarto, desci as escadas travando a mandíbula enquanto
o fazia e meus pés me guiaram de volta ao carro.

Encarei o prédio uma última vez antes de seguir adiante.

Quando cheguei ao meu quarto, Simon perguntou que bicho me


mordeu, quando bati a porta com força e eu respondi:

— Nenhum.

Caminhei até o banheiro, e depois de um banho longo, me vesti e


me deitei para dormir, aquela seria uma longa noite. Me virei para um
lado e cobri a cabeça com o lençol, apenas para não olhar para o meu
colega de quarto.

****

Eu era um fracasso completo e já tinha aceitado isso, mas estava


ali, em frente ao prédio de psicologia, com um café e uma caixa de
biscoitos. Tinha visto Liam comprando aqueles biscoitos para Amber
tantas vezes, que foi fácil comprar aquela caixa de suborno.

Assim que a garota saiu da aula, me encarou surpresa, e a


expressão em seu rosto era de pura desconfiança quando caminhou em
minha direção.

Estendi a caixa de biscoitos e o café para ela, Amber olhou para


ambos como se estivessem envenenados, e eu revirei os olhos.

— Eu não mataria a namorada do meu amigo — avisei.

— Tudo bem — ela falou lentamente e apanhou os subornos. — O


que você quer de mim?

— Ontem à noite eu segui Mel até o restaurante.


— Não me lembro de ter dito o nome do restaurante — ela
comentou abrindo a caixa de biscoitos e pegando um.

— Você não disse, mas há poucos restaurantes franceses na


região, encontrei eles no segundo que verifiquei.

— Parece que você se esforçou bastante para encontrar uma


garota que não te interessa, e interromper o encontro dela — Amber
comentou com uma expressão sagaz e mordeu o biscoito.

Evitei revirar os olhos e inspirei fundo.

— Mel e eu brigamos ontem, e ela pode ter feito uma merda de


proporções épicas, porque estava com raiva de mim — esclareci.

O rosto de Amber pareceu divertido ao ouvir aquelas palavras, e eu


me perguntei o que aquela diversão significava.

— Então, o que eu preciso saber é. Mel voltou para o quarto ontem


à noite? Você sabe se ela dormiu com o Peter? — interroguei.

— Mel não voltou para o quarto, mas ela estava no Eagle’s ontem à
noite — ela contou e enfiou o resto do biscoito parcialmente mordido na
boca.

Esperei que a garota falasse mais, mas ela simplesmente me


encarou esperando que eu dissesse algo.

— Ela estava com Hayesha? — perguntei, e Amber não conteve o


sorriso naquele momento.

Comecei a me perguntar se meu rosto estava pintado de palhaço


para toda aquela graça no rosto dela.
— Não vou me meter na vida de vocês e dizer o que não devo, mas
não se preocupe, fofocas rolam soltas nesse lugar, em breve você vai
saber.

— Está me dando troco por não contar o problema de Liam? —


questionei irritado.

— Por favor, não sou tão infantil.

— Então pode responder à pergunta?

— Não. — A olhei confuso e Amber sorriu. — Ela não estava com


Hayesha.

Amber encarou o relógio no braço e pressionou os lábios.

— Eu tenho que ir, tenho outra aula agora, e estou atrasada —


explicou e agradeceu os biscoitos ao andar para longe de mim.

Eu não entendia como Liam gostava de ser torturado por aquela


garota, Amber tinha um temperamento horrível. Esfreguei o rosto
repassando as informações que consegui com ela.

Havia algo ali. Mel não estava no campus há muito tempo, a


maioria das pessoas do Eagle’s não estava no curso de direito, ela pegou
uma vaga no dormitório que surgiu, então ela não conhecia muita gente
por lá. Talvez Liam soubesse, seja lá, qual fosse o segredo que Amber
tinha escondido.

Peguei o celular do bolso e disquei o número de Liam. Ignorando


todas as notificações nas redes sociais.

— Oi — Liam falou.

— Não minta para mim — exigi.


— Eu nunca minto para os meus amigos — Liam lembrou.

— Você sabe onde Mel passou a noite? — questionei.

— Venha para o dormitório, Elijah e eu ainda estamos aqui — Liam


retrucou.

Meu amigo finalizou a chamada e eu corri em direção ao Eagle’s,


com o coração acelerado, para Liam querer falar comigo pessoalmente,
eu sentia que um pandemônio estava prestes a acontecer.

Assim que subi as escadas, escancarei a porta do quarto de Liam e


Elijah sem me dar o trabalho de bater.

— Que merda tá acontecendo?

— Senta-se aí — Liam ordenou.

Me sentei ao lado de Liam, e Elijah, que estava na própria cama,


parecia distraído com o celular.

— Mel passou a noite aqui — Liam soltou e eu encarei Elijah com


um olhar furioso. — Antes de você partir para agressão. Escute a história
toda.

— Fale — ordenei, e Elijah ergueu os olhos do celular.

— Não tenho nada para falar — Elijah disse.

— Como assim não tem nada para contar? Você estava me


aconselhando a falar com ela ontem, como pode ter dormido com ela?

— Quem disse que dormi com ela? — Elijah rebateu.

Encarei Liam com uma confusão evidente no meu rosto.


— Quando eu cheguei hoje de manhã, esse idiota estava tomando
banho, e Mel estava dormindo na cama dele. Eu pensei exatamente o
que você está pensando, e perguntei que merda tava acontecendo. Mel
acordou, e explicou que ele dormiu na minha cama e ela dormiu na dele.
Ela saiu do encontro desastroso com Peter e chegou aqui para ver que o
quarto dela estava ocupado, então ela fez a primeira coisa que ocorreu, e
veio para cá.

— Mel também disse que se tivesse dormido comigo, você não


teria nada a ver com isso, mas ela não era uma vagabunda sem
escrúpulos, então jamais ficaria com um amigo seu — Elijah completou.

— Então o que aconteceu ontem à noite? — indaguei nervoso.

— Eu conversei com ela, disse que vocês dois precisavam


conversar, ajudei ela com uns machucados nos tornozelos, e disse para
ela dormir aqui. Estava tão bêbado que apaguei pouco depois. E eu já
disse a vocês que não estou no clima de me envolver com ninguém no
momento — Elijah esclareceu. — Agora que já resolvemos isso, eu vou
para as minhas aulas.

Elijah saiu do quarto fechando a porta atrás de si, e eu observei


Liam tentando entender o que estava acontecendo com o nosso amigo.

— Ele está estranho faz um tempo — Liam disse. — Evasivo e sem


querer falar a respeito.

— Será que ele está apaixonado? — inquiri. Liam e eu nos


observamos e rimos ao mesmo tempo.

— Não, Elijah nunca demonstrou interesse em alguém — Liam


falou e nós saímos do quarto.
As redes sociais estavam cheias de fofocas sobre Mel entrando
num carro ontem à noite, e sobre ela saindo do quarto de Elijah de
manhã, as pessoas me marcaram nas publicações de forma doentia,
como se machucar os outros fosse divertido.
Melissa

Depois de umas horas desperdiçadas, vendo que eu tinha me


tornado o centro da fofoca da faculdade, acabei ignorando os
comentários e publicações envolvendo meu nome, e liguei para o meu
pai.

— Oi, amor — ele disse assim que atendeu.

— Oi, pai. Como você está? — perguntei.

— Melhor agora. Eu ia mesmo ligar para você.

— O que houve? — perguntei ansiosa.

— Aconteceu um problema na fábrica do Texas, eu precisei vir para


cá ontem à noite — contou.

— Algum problema grande? — questionei nervosa.

— Não, só um gerente que estava se achando o proprietário.

Murmurei aliviada, e ele ficou quieto por um tempo, o que era muito
estranho.
— Devido à viagem, eu não vou conseguir voltar a tempo para o
feriado — explicou.

— Ah, tudo bem — sussurrei.

— Você pode passar o feriado com algum dos seus amigos? —


questionou preocupado.

— Claro, vou ver com alguém — menti.

— Ótimo, eu vou passar o jantar com um dos funcionários, ele me


convidou.

— Que bom, pai. Eu tenho que ir agora, amo você.

— Também te amo.

Quando finalizei a chamada, percebi que aquele feriado seria bem


solitário. Me levantei da lanchonete e segui para o quarto. Amber estava
arrumando uma mochila, esbocei um sorriso em cumprimento.

— Se aprontando para ir para casa? — questionei.

— Sim, Liam e eu vamos passar o feriado na casa da minha mãe.

— Isso é ótimo — falei.

— Vai passar com o seu pai? — Amber me perguntou.

— Mudança de planos, ele teve que ir ao Texas resolver um


problema do trabalho, então vou ficar no campus — expliquei.

— Se você quiser, pode vir conosco — ofereceu.

— Tem certeza? Sua mãe não vai se importar?


— Nós nunca tivemos comemorações de Dia de Ação de Graças —
Amber admitiu. — Ela vai gostar de ter mais gente por perto.

— Se está tudo bem — sussurrei. — Obrigada!

Corri pelo quarto enfiando roupas em uma mochila. Quando


finalizei aquele trabalho, Amber me disse que Liam estava esperando no
carro. Nós caminhamos juntas, e muitas pessoas que nos observavam
passar sussurravam umas com as outras.

— Você se acostuma com as fofocas — Amber garantiu.

— Parece que é o preço por andar com aqueles três — murmurei.

— Não aconteceu nada mesmo entre você e Elijah?

— Não — respondi sorrindo. — Elijah é lindo, mas eu não magoaria


Noah dessa maneira, e sei que ele também não.

— Sim, mas Elijah é um cara muito legal — Amber falou.

— Ele é, sim, mas eu sinto que Elijah está ferido — comentei.

— Também teve essa impressão? — Amber questionou, e eu


assenti.

— Eu não tenho intimidade o bastante para perguntar a ele a


respeito.

— Provavelmente se formos depender da sensibilidade de Noah e


Liam para saber a respeito, o coitado vai passar a vida sem falar sobre o
assunto — Amber suspirou, e eu ri.

Nós caminhamos até o carro de Liam, e ele me cumprimentou com


um sorriso antes de entrarmos.
— Como o idiota do futebol aqui reagiu quando viu você na cama
de Elijah? — Amber me perguntou.

Exalei um riso.

— Ele foi para cima de Elijah como se estivesse prestes a partir a


cabeça do coitado ao meio — contei.

Amber estralou a língua.

— Sempre pensando mais com os músculos do que com o cérebro


— ela comentou.

— O que você pensaria se visse ela deitada na cama de Elijah? —


Liam perguntou a namorada.

— Eu pensaria que nós dois ocupamos o quarto, e Mel não ia


entrar lá naquele momento, então ela foi para o lugar que sabia que ia ter
uma cama vazia — Amber falou, e Liam a olhou como se ela tivesse
duas cabeças.

Eu ri da briga dos dois, e Amber se virou para mim.

— Ignore, somos sempre assim — ela avisou.

— Pelo menos você não deslocou o dedo dando um soco nele —


falei.

— Não, mas ela pulou em cima de mim me derrubando numa


calçada — Liam rebateu.

— Eu fiz isso porque esse imbecil ficou parado no meio da rua


dizendo que ia deixar um carro atropelar ele.

Liam gargalhou ao ouvir aquilo.


— Eu nunca morreria atropelado, ia estragar o velório — Liam
falou, e Amber praguejou baixo.

— Hoje eu sei que você é um narcisista, mas na época achava que


ia realmente ficar lá até um carro te atropelar.

— Você se preocupava até quando fingia me odiar.

— Eu não fingia te odiar, eu realmente te odiava — rebateu a


garota.

— Vamos deixar você acreditar nisso, se faz você se sentir melhor.

O resto da viagem de carro foi tão divertida quanto o começo,


Amber e Liam tinham umas discussões idiotas, e raramente me
colocavam no meio, o que me deixou livre para mexer no celular e avaliar
as fofocas que estavam sendo disseminadas a meu respeito.

— Esqueça essas fofocas — Amber sugeriu.

— Estou tentando — admiti.

— Nós estamos chegando — Liam avisou.

— Se Anne te incomodar devido ao seu cabelo, é só avisar, que


Liam distrai ela, quando ele está presente, ela esquece a existência de
qualquer outra pessoa — Amber falou.

— Isso é porque eu sou um irmão mais divertido do que você —


Liam falou, fazendo com que Amber o xingasse.

— Tudo bem — murmurei rindo.

Nós descemos junto a um prédio, e caminhamos em direção ao


interior do lugar. Liam cumprimentou o porteiro, e nós entramos num
elevador.

Aquela era a primeira vez que eu ia passar ação de graças longe


do meu pai. A sensação não era boa, e por alguma razão imbecil, eu só
pensava que queria ver Noah.

Quando chegamos ao apartamento, a mãe de Amber nos recebeu


com um sorriso, e uma menina de uns quatro anos correu pela casa
pulando nos braços de Liam. Amber resmungou por não ser abraçada
primeiro, e a menina foi do colo dele para o dela, beijando o rosto da irmã
mais velha.

— Ah, você é a Merida — ela gritou quando prestou atenção em


mim.

— O nome dela é Melissa, Anne — Amber lembrou.

— Ela é bonita — a menina elogiou.

— Anne, deixe os três respirarem antes que você os sufoque com


tantas perguntas — a Sra. Jones falou. — Entrem. O jantar está quase
pronto, só relaxem um pouco, vocês devem estar exaustos de tanto
estudar.

A mulher mais velha pegou a menina do colo de Amber e a colocou


no chão.

— Vou colocar as mochilas no quarto de Anne — Amber avisou.


Noah

— Era melhor termos ido para casa de Elijah ou ido passar o


feriado com Liam — falei pela milésima vez, desde que Hayesha e eu
entramos no carro para dirigirmos até a casa em que crescemos.

— Eu já te disse mil vezes. Liam vai passar o feriado com Amber


na casa da mãe dela, lá já é pequeno demais, só íamos atrapalhar. E eu
não vou passar o feriado na casa de Elijah — enfatizou a última parte
demonstrando irritação.

— Então por que você não vai passar o feriado com seu namorado,
e eu vou passar o feriado com Elijah? — perguntei devolvendo no
mesmo tom.

— Porque Jack mora em Nova Iorque! — ela rebateu irada.

Hayesha enterrou os dedos na minha barriga e me beliscou, soltei


a mão esquerda do volante para empurrar minha irmã para longe de
mim.

— Espero mesmo que dessa vez eles nos deem uma folga —
comentei.
— Papai me ligou há umas duas semanas, jurou que não
aguentava mais — Hayesha disse.

— Sua mãe ligou, dizendo querer falar com você — falei.

— Você saiu daquela barriga do mesmo jeito que eu, se ela é


minha mãe, é sua também — Hayesha me lembrou.

Apanhei o copo de café, e vi que estava vazio, encarei minha irmã


que sorriu, a desgraçada tinha tomado o café inteiro enquanto eu dirigia.
Nós respiramos fundo, em sincronia quando nos aproximamos do portão
da propriedade.

— Espero mesmo que tudo dê certo dessa vez — sussurrei.

O portão abriu e eu dirigi pelo caminho que nos levaria até a


entrada da casa, Hayesha saltou do carro primeiro, pegando a bolsa dela
no banco de trás, deixei o maço de cigarros no, porta luvas, sabendo que
aquilo causaria um caos que eu queria evitar, só então peguei minha
mochila e saí do carro.

Pendurei os fones no pescoço esperando uma deixa para cobrir


meus ouvidos e ignorar as discussões. Hayesha que me esperava para
entrar na casa, seguiu ao meu lado até o interior.

Assim que entrei, estranhei que a casa estivesse completamente


em silêncio, olhei para minha irmã, quase dizendo para ela esperar do
lado de fora enquanto verificava se tudo estava bem, ou se nossos pais
finalmente tinham se matado.

— Não tem graça — ela resmungou reconhecendo o meu olhar.

Hayesha passou na minha frente e começou a gritar pelo nosso


pai.
— Eu estou aqui — ele gritou do escritório.

Nós seguimos para o cômodo familiar, onde costumávamos nos


esconder da mamãe, quando éramos crianças. Abri a porta e nós vimos
o homem de meia-idade, sentado na cadeira atrás da escrivaninha com
um copo de uísque na mão.

— Entrem, entrem. Este é o lugar mais seguro do mundo hoje —


comentou. — Ela não vai entrar nesse escritório, nem se a vida dela
depender disso.

O homem revirou os olhos e entornou a bebida do copo, enquanto


Hayesha se aproximava para abraçar nosso pai, meu olhar grudou na
mão esquerda dele, a aliança não estava no dedo anelar. Reparando no
meu olhar, meu pai sorriu, abraçou Hayesha e veio até mim, para um
abraço rápido.

— Parece que esse ano nós não teremos uma celebração com
direito a brigas e peru sendo jogado na minha cabeça — ele contou.

— O que quer dizer? — Hayesha perguntou.

— Sua mãe está nesse momento saqueando a casa, limpando


todos os cofres, e pegando cada centavo que guardei nessa casa nos
últimos anos.

— Vocês resolveram se divorciar? — indaguei diretamente.

— Noah, Hayesha, eu passei os últimos vinte anos aguentando as


insanidades dessa mulher por vocês. Passei todos esses anos tentando
empurrar isso com a barriga para que vocês não precisassem escolher
um lado, mas são adultos agora, e eu cheguei ao meu limite. Desde que
vocês foram para a faculdade, isso aqui tem se tornado difícil de lidar —
explicou.
— Eu vou ver como ela está — falei, e ele assentiu.

Hayesha se sentou em frente à escrivaninha. Eu deixei minha irmã


com o nosso pai, largando a mochila no chão, perto dela, e segui pela
casa com uma vontade de acender um cigarro me corroendo, meus pés
me levaram ao quarto da minha mãe, que estava parecendo ter sido
vítima de um furacão.

— Fazendo faxina? — perguntei batendo no batente de madeira da


porta.

A mulher me lançou um olhar irritado enquanto despejava as joias


de uma caixa de madeira dentro da mala.

— Acho que você já falou com ele, se está aqui vindo falar comigo
— ela afirmou estagnando e me olhando.

— Ele já nos contou.

Observei a mulher que tinha o cabelo preso para cima, e os pés


descalços, ela tinha passado os últimos vinte anos fazendo tratamentos
estéticos para parecer mais jovem, se alguém dissesse que a mulher de
quarenta e cinco anos a minha frente, tinha trinta e dois, eu acreditaria. O
jeans justo enfatizava as curvas do corpo que estava, constantemente,
exercitando.

— Está aqui para me julgar? Seu pai já fez a minha caveira em


meia hora de conversa? — ela interrogou, caminhando pelo quarto e
abrindo os armários.

Ela apanhou alguns vestidos que custam um carro, e colocou na


mala sem qualquer cuidado.

— Por que eu julgaria você? — indaguei.


— Porque você é igualzinho a ele. Sempre com esse ar de
superioridade, esse seu jeito indiferente, e a necessidade constante de
agir como se eu fosse um monstro.

— Nunca me senti superior a ninguém — me defendi.

E só eu sabia o quanto tudo aquilo mexia com a minha mente,


ninguém mais precisava lidar com as merdas que eu acumulava. Então a
indiferença era um mecanismo de defesa.

— O que você está fazendo aqui, se não veio me julgar? — ela


questionou.

— Você está bem? — perguntei calmamente.

A mulher estagnou o movimento de colocar mais vestidos na mala


e me encarou. Ela ainda usava o diamante no dedo esquerdo, eu não
saberia dizer se aquilo era por emoção, ou por quanto valia, e naquele
instante não sabia se me importava.

— Meu casamento acabou, Noah. Como acha que estou? —


retrucou em voz baixa.

— Para onde está indo? — indaguei.

— Por enquanto, para a cobertura em Los Angeles, depois eu vejo


o que faço em seguida — explicou.

— Quando você vai?

Ela me olhou tentando entender por que eu estava ali, e, porque


fazia tantas perguntas, se eu sempre fiquei distante.

Aquelas questões estavam claras no rosto dela.


— Vou em alguns minutos.

A mulher se aproximou de mim e segurou uma de minhas mãos,


erguendo a cabeça para me encarar.

— Não espero que você e sua irmã entendam isso tudo. Nunca vou
pedir que entendam, só lamento muito.

Antes que eu me movesse para abraçar a mulher, ela se afastou de


mim e foi até a mala, fechando o objeto. Ela arrastou duas malas para
fora do quarto, e calçou sapatos que estavam junto à porta.

— Feliz ação de graças — desejei quando ela estava no corredor.

Fiquei alguns instantes no quarto, observando o lugar saqueado,


meu coração acelerou, e eu esfreguei a testa antes de refazer o caminho
até o escritório, vendo Hayesha abraçando minha mãe junto a porta de
saída da casa.

Quando entrei no escritório outra vez, vi meu pai vestindo o paletó


com o telefone grudado na orelha.

— Sim, sim, eu entendo, estou indo até aí agora mesmo.

Ele finalizou a chamada e me encarou.

— Com o anúncio do divórcio, as coisas estão meio caóticas na


diretoria, preciso ir até lá ver o que posso fazer para controlar o caos —
explicou. — Vocês vão ficar aqui esta noite?

— Não, vamos para casa de um amigo — avisei.

— Certo, feliz ação de graças — ele disse me abraçando outra vez.


Apanhei as mochilas do chão, e liguei para a única pessoa que
Hayesha precisava naquele momento.
Melissa

Encarei Amber que estava surpresa por receber uma ligação. Ela
esperou alguns toques antes de atender.

— Noah, aconteceu alguma coisa? — ela inquiriu observando o


meu rosto.

Da distância em que estávamos, eu não conseguia entender o que


Noah dizia, mas pela expressão de Amber a coisa não parecia boa.

— Poxa, Noah, eu sinto muito. Vou te mandar o endereço por


mensagem, pode vir com Hayesha, Liam está aqui, ele vai querer falar
com você — avisou.

Quando Amber desligou a chamada, eu a olhei alarmada,


esperando que ela me dissesse o que estava acontecendo com Noah,
mas ela passou o endereço por mensagem antes de me dizer:

— Os pais de Noah se separaram, ele virá para cá com Hayesha


para passar o feriado.

Meu coração deu cambalhotas ao ouvir aquilo, me perguntei se


devia ficar ali, se ficasse, o que eu poderia dizer a Noah, os pais dele
tinham um casamento ruim e Noah cresceu com esse tipo de relação
como exemplo, quando éramos crianças, ele sempre temeu que os pais
se divorciassem, como diziam que fariam.

— Talvez seja melhor eu ir.

— Noah, é seu amigo, Hayesha também. Eles estão precisando do


apoio dos amigos agora — Amber disse. — Pense um pouco se vai ou se
fica, não vou tentar te convencer.

Ela saiu do quarto, dizendo que ia explicar a situação a mãe e ao


Liam, eu me vi imóvel naquele quarto infantil, pegando um dos ursos de
pelúcia e me sentando no chão.

Eu sabia como Noah estava se sentindo, passei por aquilo. Meus


pais também tiveram uma relação ruim, e eu sabia o quanto quis ter
Noah por perto quando eles se divorciaram.

A irmã de Amber botou a cabeça para dentro do quarto e entrou,


ela andou até a cama e se esforçou para subir, observei cada
movimento.

— Ame disse para eu vir ficar com você — ela avisou.

— Posso perguntar por que você gosta tanto do Liam? —


questionei.

— Ele é legal — ela falou sorrindo.

— Só por isso? — rebati.

— Ame não sorria tanto antes, quando começou a namorar ele, ela
sorri. Liam cuida da gente — ela explicou, e eu a observei confusa.
— Você acha que eu devo desculpar alguém que fez algo ruim
comigo? — perguntei.

Céus, eu tinha enlouquecido para pedir conselhos a uma criança.

— Quando alguém da escola briga comigo, a professora faz a


gente se abraçar e pedir desculpas — ela falou.

— E você desculpa seus colegas? — inquiri.

A menina ergueu os ombros em um gesto casual que me fez sorrir.

— Se eu não desculpar o que fazem comigo, não vão desculpar o


que eu faço — ela se aproximou da borda da cama, e encarou a porta. —
Uma vez, eu colei chiclete no cabelo da Alicia, ela chorou muito, e a
professora demorou muito tempo para tirar o chiclete.

— E o que ela fez com você?

— Ela tinha roubado meu leite — a menina estufou as bochechas.

— Isso é muito grave — comentei e ela assentiu enfaticamente.

— A professora nos colocou de castigo por um tempão, depois eu


tive que abraçar ela e pedir desculpas.

— E você ainda é amiga da Alicia? — perguntei.

— Ela me devolveu um leite, e dividiu os biscoitos dela comigo —


contou.

Esbocei um sorriso ao ouvir a explicação, aquela era uma coisa


que eu sentia falta da infância, tínhamos uma capacidade maior de
perdoar e pedir desculpas com sinceridade.

Me mexi inquieta, devolvendo o urso para a menina.


— Peguei emprestado — sussurrei.

— Ele é bom em confortar — Anne disse.

— Ele é sim.

A menina se levantou da cama e saltou para o chão, me deixando


nervosa com a possibilidade de ela cair, e eu corri atrás dela para fora do
quarto. Anne correu para Liam, e eu observei Amber que ajudava a mãe
na cozinha.

Me sentei no sofá inquieta, observando Anne e Liam brincando no


chão, não sabia por que a ideia de ter Noah ali, me inquietava tanto,
porque eu me sentia dividida entre a necessidade de fugir, e a ansiedade
por estar ali, por ele.

O clima da casa ficou estranhamente quieto, até que batidas na


porta fizeram Amber ir até lá abrir. Virei o rosto de onde estava, e encarei
Hayesha e Noah, que entravam na casa. Amber abraçou Hayesha.

— Como vocês estão? — Liam perguntou do chão, com Anne em


pé no ombro dele.

— Bem — Noah respondeu.

A voz de Noah pareceu tão frágil que eu me perguntei o quanto ele


se esforçava para parecer bem, ele encarava Liam com a menina no
ombro, e um sorriso pouco alegre surgiu em seu rosto.

— Mãe, eu vou conversar um pouco com ela — Amber avisou


levando Hayesha consigo para o quarto de Anne.

Encarei Noah, e meu coração saltou no peito, os olhos escuros


dele me encararam de volta, e eu não conseguia encontrar palavras para
falar com ele.

— Se importam de ir comprar vinho? — a mãe de Amber pediu. —


Não temos bebidas em casa, mas parece que vocês vão querer algo
para acompanhar o jantar.

Ela me olhava, e eu assenti me levantando.

Liam, que permanecia tentando equilibrar Anne nos ombros, me


lançou um olhar sugestivo, e eu assenti disfarçadamente.

— Eu não conheço essa região muito bem, Noah, se importa de vir


comigo? — indaguei.

— Não, vamos — ele chamou pedindo licença para deixar as


mochilas no sofá.

Peguei meu casaco na entrada da casa e caminhei para a porta.


Liam nos estudava enquanto saíamos, e eu segui com Noah ao meu lado
pelo corredor em direção ao elevador, nenhum de nós disse coisa
alguma, enquanto esperávamos, assim que entramos no elevador e a
porta se fechou. Noah suspirou, se recostando a barra de metal.

Encarei a porta respirando fundo antes de me aproximar dele,


envolvi o pescoço do meu amigo, com uma das minhas pernas entre as
dele, as mãos de Noah que antes seguravam a barra de metal, na qual
se apoiava, vieram rapidamente para o meu corpo, me pressionando
contra si.

— Sinto muito — sussurrei.

Noah enterrou o rosto no meu pescoço, e senti o nariz dele


inalando o meu perfume, aquele gesto espalhou um arrepio por todo o
meu corpo, mas não me movi, não me mexi enquanto Noah me
pressionava contra o próprio corpo.

Eu sentia o corpo dele relaxando contra o meu, sentia aquele


tremor inicial desaparecer, queria dizer algo para ele, mas simplesmente
não encontrava as palavras certas para falar o que senti quando
aconteceu tudo aquilo comigo.
Noah

Me vi imóvel com o corpo de Melissa preso ao meu, eu tinha medo


de me afastar daquele abraço e nós voltarmos a estaca zero em que nos
encontrávamos. Com Mel me odiando por ser um maldito babaca.

Então eu a segurei contra mim, mesmo quando a porta do elevador


se abriu, e nós não descemos. Mel continuou imóvel, e tudo que eu
conseguia pensar em dizer a ela era:

— Por favor, Mel, me perdoa.

Ela fez que não, ainda me segurando contra si, meus olhos se
fecharam com força porque eu simplesmente não conseguia aceitar que
aquele era o fim, que o sentimento que cresceu dentro do meu corpo
estava fadado ao fracasso devido ao meu erro estúpido.

— Não me peça desculpas, não assim, não agora — pediu.

— Eu não consigo pensar em outra coisa para dizer — admiti.

Mel se afastou um pouco, mas não pôde se afastar muito porque


eu ainda a segurava contra o meu corpo.
Aproximei meu rosto do dela, em uma calma torturante, meu corpo
clamando desesperadamente por pressa, porque eu precisava sentir o
sabor daqueles lábios. Assim que minha boca encontrou a dela. Mel
envolveu minha cabeça com as mãos, me puxando para mais perto de si,
meu corpo se incendiou quando girei nossos corpos deixando o corpo
dela colado a barra onde estive recostado.

Minha língua invadiu a boca de Mel e ela gemeu, meu corpo estava
em chamas, o ar no elevador se tornou quente, eu tinha a leve noção de
que ele subia e descia abrindo em diversos andares, mas não me afastei
dela.

Um beijo nunca teve tanto significado na minha vida.

Nunca me senti tão viciado no sabor dos lábios de alguém antes,


Melissa Turner era como uma heroína, uma droga capaz de remover
todas as minhas amarras e me fazer alçar voo.

Eu estava viciado nela, ardendo no desejo que me consumia


selvagemente, ela estava me tirando dos eixos, e mesmo que aquilo
fosse contra tudo que acreditei por anos, não me incomodava, eu não me
incomodava em pular todos aqueles precipícios com ela.

Minhas mãos passearam por seu corpo, e Mel se afastou,


recuperando o fôlego, ela ainda estava próxima a mim e a expressão em
seu rosto era dolorosa.

— O que foi? — indaguei.

— Não posso fazer isso — sussurrou.

— O quê? — questionei confuso.


— Noah, você está sofrendo, e eu entendo isso, entendo mesmo,
— comentou — mas eu não posso.

— Mel, converse comigo — pedi com aquela confusão me


sufocando.

Ela abriu os olhos e eu vi que, estavam marejados.

— Você me magoou muito, Noah, eu te amei por anos, desejei que


você sentisse metade do que eu sentia por você, e mesmo que eu não
consiga deletar você do meu coração, ainda posso proteger ele do que
você é capaz de causar.

— Mel, eu não... — comecei, mas a garota se afastou de mim e


saiu do elevador.

A segui, pedindo que me esperasse.

— Melissa! — chamei segurando-a pelo braço quando saímos do


prédio. — Eu sinto muito, de verdade. Fui um escroto, e realmente
entendo que você não queira olhar para a minha cara agora. Entendo de
verdade, mas não consigo aceitar isso. Você foi a melhor coisa que
aconteceu na minha vida Mel, pode parecer falso ou insignificante agora,
mas eu sei que, no fundo, sempre me interessei por você, minha mente
sempre focou em você, mesmo quando eu me convencia de que me
atraía por outras pessoas, eu tinha medo.

— Medo de quê? — Mel perguntou diretamente.

— Medo de não ser bom o bastante para você. Medo de não ser o
cara que você merecia que eu fosse. Tive medo de partir seu coração de
um jeito irreparável, por isso, eu me afastei e me contentei em ficar com
outras pessoas. Katherine sempre te odiou, porque ela dizia que eu
parecia feliz quando falava de você, feliz como nunca conseguia ser com
ela.

Nossos olhos se encontraram medindo as palavras ditas, medindo


aquela verdade, que Mel me conhecia o bastante para ver nos meus
olhos.

Ela observou minha mão, que deslizou pelo braço dela até segurar
sua mão, observou nossos dedos entrelaçados, e ergueu o rosto para me
observar novamente. Mel limpou as lágrimas do rosto com a manga do
braço livre.

— Palavras, Noah, não têm significado quando nem mesmo você


está certo do que sente. Eu estou muito cansada desse sentimento
unilateral. Não vamos falar disso agora, tudo que você precisa sentir
hoje, é o que o divórcio dos seus pais causou em você. E não tente
mudar o foco disso.

— Mas eu preciso que você me escute. Preciso que me perdoe —


sussurrei.

— Não, você precisa separar as coisas, e entender que cada


sentimento precisa ser sentido separadamente.

— Não posso deixar isso seguir dessa maneira, com você indo
para outros braços, não consigo aceitar a ideia de que outra boca esteja
provando a sua. Se eu tivesse agido direito, só a minha teria tido esse
prazer.

— Vamos comprar o vinho e voltar para o apartamento — Mel falou


afastando a mão da minha, e seguindo andando a minha frente.

Reparei na forma como ela limpava o rosto com as mangas, e me


senti o pior dos otários por estar sempre agindo na hora errada.
Segui a garota pela calçada até estar caminhando ao seu lado.

Mel não se afastou quando envolvi os ombros dela com o braço, e


beijei sua cabeça.

— Me desculpe por ser um idiota — murmurei fazendo ela rir.

— Essa é sua melhor qualidade — ela rebateu, me fazendo


acompanhar sua risada.

Nós dois entramos num supermercado e caminhamos pelo lugar,


procurando por vinhos que todos gostassem, acabamos comprando um
rosé que Mel adorava, e um vinho tinto comum, enquanto caminhávamos
de volta para a casa de Amber, eu sussurrei para Mel:

— Eu sei que você dormiu, no quarto de Elijah.

— Nunca faria isso com você — Mel garantiu.

— Eu sei. E mesmo que eu não mereça esse tipo de consideração,


agradeço por isso. Nunca conseguiria competir com ele — falei, e Mel riu.

— Elijah é realmente uma pessoa especial — ela elogiou.

Nós seguimos o resto do caminho em silêncio, e Mel pareceu


perdida nos próprios pensamentos, portanto, deixei que a garota o
fizesse. Nós tínhamos baixado a guarda, e eu tinha dito muitas coisas
que nunca tinha permitido que chegasse à superfície, então ia tomar
aquilo como uma vitória para um dia.

Quando chegamos ao apartamento, Liam estava com um olhar


esperto em minha direção, Mel foi para a cozinha com os vinhos, e se
ofereceu para ajudar, Hayesha e Amber não estavam à vista, e a irmã de
Amber estava no braço de Liam.
Melissa

Eu sabia que Hayesha e Amber precisavam conversar, a irmã de


Noah precisava da melhor amiga naquele momento, também sabia, que
Noah provavelmente precisava de um tempo, eu retribuí aquele beijo,
meu corpo o desejou com tanta força, que preferi beijá-lo a conviver com
a possibilidade do beijo.

Mesmo que eu quisesse odiar Noah, não conseguia, porque o meu


coração idiota o amava.

— Não faço ideia de como cozinhar — avisei a mãe de Amber, que


sorriu.

— Não tem problema, vamos achar algo para você fazer que não
queime nada — ela falou, e eu ri.

Logo a mulher me pediu para cortar legumes, o cheiro de peru


assando fez meu estômago roncar, e a mulher me ofereceu um punhado
de frutas secas para comer enquanto trabalhava.

Agradeci.
— Amber me disse que seu pai viajou a trabalho — a mulher
comentou.

— Sim, essa é a primeira vez que passamos o feriado longe um do


outro — contei.

— E a sua mãe? — ela me perguntou cautelosa enquanto pegava


os legumes que eu cortava sem qualquer cuidado.

— Minha mãe sempre foi um espírito livre, como ela costuma dizer,
ela gosta muito de viajar, então... raramente, passávamos feriados em
família. Pelo que vi nas redes sociais, ela estava na África.

— Às vezes os pais acham que terão todo tempo do mundo com os


filhos, então cometemos erros, achando que serão para sempre nossas
crianças, que vão nos perdoar e nos enxergar como heróis, mas isso
passa tão rápido, e quando menos esperamos, vocês são adultos e estão
nos protegendo dos nossos erros — Nora falou com uma voz carregada
de tristeza, que me fez estudá-la. — Não deveria ser assim.

Nunca questionei Amber a respeito de como era a relação dela com


a mãe, sabia que recentemente ela tinha perdido o pai, mas ao olhar
para a mãe dela, eu sentia que havia um grande abismo entre as duas.

— O que mais posso fazer? — questionei tentando romper aquele


clima melancólico que se formou na cozinha.

Nora Jones era uma mulher que parecia ter visto o pior do mundo,
e mesmo assim, ela parecia estar tentando, tentando se encontrar, e
encontrar a filha no processo.

Mesmo com um luto recente e com toda a dor que ela parecia
carregar, a mulher tinha aberto as portas daquela casa para três, ou
talvez quatro, se contasse Liam, jovens perdidos, passarem um feriado
que seria solitário.

****

Depois que o jantar ficou pronto, eu pedi licença para tomar um


banho, e bati na porta do quarto, interrompendo a conversa de Amber e
Hayesha apenas por tempo o bastante para pegar minha mochila.

— Você está bem? — perguntei a Hayesha, e ela assentiu.

— Nós sempre esperamos esse fim há anos — ela respondeu.

— Você conseguiu falar com Noah? — Amber me perguntou.

— Um pouco — falei evasiva. — Sua mãe disse que o jantar está


pronto, então eu vou tomar um banho.

Aquele foi provavelmente o banho mais rápido da minha vida,


coloquei uma maquiagem básica em frente ao espelho e saí do banheiro.
Após guardar a mochila no quarto, eu me sentei no sofá, com uma boa
distância entre mim e Noah, ignorando o olhar que ele me direcionava.

Liam ligou a TV para ver o jogo de futebol que estava passando, só


então notei o olhar de Noah deixando o meu rosto, finalmente o encarei.
Eu estava ferrada, meu coração estava fodendo a minha cabeça, mas eu
não ia simplesmente deixar aquele babaca jogar com os meus
sentimentos.

Não havia espaço no balcão da cozinha para todos nós, então


acabamos apenas deixando a comida sobre ele, cada um serviu o
próprio prato, e nós nos sentamos ao redor da mesa de centro, acabei
me sentando no chão para apoiar o prato, e Noah se sentou ao meu
lado, com o joelho encostado ao meu.
Eu não me afastei dele, não ia permitir que ele notasse que me
afetava.

— Sei que nós nunca tivemos esse hábito, mas eu gostaria de dizer
que sou grata por ter vocês aqui. Amber nunca teve um grupo de
pessoas tão próximas antes, e agora eu percebo que ela nunca foi tão
feliz. Anne nunca foi tão agitada, mas eu sou grata por isso também —
Nora falou.

Encarei a mulher, e ela esperou que mais alguém dissesse algo.

— Eu sou grata, por ter encontrado essas pessoas — Amber disse,


e Liam beijou a cabeça dela.

— Eu agradeço por encontrar essa garota, que me ajudou a querer


ser melhor — Liam sussurrou.

— Sou grata pelo meu namorado — Hayesha falou e nós rimos.

— Eu sou grato por estar no time, por ter uma oportunidade de


perseguir o meu sonho, mas principalmente, sou grato por ter uma
segunda chance — Noah disse, e eu o olhei pelo canto dos olhos.

— Sou grata por estar viva, pela vida do meu pai, e por encontrar
todos vocês — sussurrei.

Nós começamos a comer, e Noah abriu a primeira garrafa de vinho,


enquanto ele nos servia, eu observei as pessoas reunidas naquela sala.

Aquele era um clima que eu não queria esquecer, não me


importaria de passar os próximos feriados daquela maneira.

— Sra. Jones, o que Mel fez dessa comida? Tenho medo de morrer
envenenado — Noah falou, e eu dei uma cotovelada nas costelas dele.
— Você é um imbecil — acusei.

— A comida é segura — a mãe de Amber garantiu exalando um


riso.

— Mas você não vai comer o que fiz — avisei enfiando o garfo no
prato dele para pegar as batatas cozidas, Noah afastou o prato de mim e
colocou algumas batatas na boca.

— Eu sou um atleta, preciso manter meu peso — ele lembrou


quando engoliu a comida.

— Acho que perder uns quilos te faria bem — resmunguei.

Noah pegou minha mão colocando-a sobre o próprio abdômen


definido, e Liam cobriu os olhos de Anne quando aquilo aconteceu. Senti
meu corpo inteiro acelerar.

— Isso parece algo que precisa perder gordura? — Noah


perguntou com o sorriso desaparecendo do rosto.

A mãe de Amber pigarreou, e nós a estudamos, ela indicou a


menina que lutava com a mão de Liam, para afastá-la do próprio rosto, e
Noah soltou minha mão.

— Desculpe — sussurrei.

Liam tirou a mão do rosto de Anne, que o olhou irritada.

Voltei a comer, evitando olhar para Noah ao fazer isso. Agradeci


mentalmente por estar usando maquiagem, ou meu rosto vermelho seria
mais facilmente visto.
Noah

Liam e eu, tentamos limpar a cozinha, com a mãe de Amber nos


dizendo o que fazer, para não destruirmos nada, enquanto eu lavava os
pratos. Liam secava e guardava, perdi no, pedra, papel ou tesoura.

Apenas quando terminamos ali, percebi que Nora havia puxado a


mesa de centro para longe do sofá, e tinha colocado um colchão inflável
para nós dormirmos.

Mel, Hayesha e Amber, já tinham ocupado o quarto da irmã de


Amber.

— Vocês são bem altos, mas o sofá e o colchão devem ser


suficientes para hoje — ela falou.

— Está ótimo Nora, obrigado — Liam falou.

— Obrigado por nos receber de última hora — sussurrei, e a mulher


sorriu.

— Não se preocupe com isso. Boa noite! — ela saiu andando para
o quarto, e eu me deitei no sofá.
Liam ocupou o colchão inflável, dizendo que eu ia parar no inferno
por aquilo.

— Vocês voltaram bem agitados das compras — ele comentou me


encarando.

— Eu posso ter estragado tudo para sempre — admiti em um


sussurro, desviando os olhos do meu amigo para encarar o teto. —
Talvez sempre tenha sido ela, mas eu era um idiota cheio de tesão,
talvez, no fundo, eu soubesse que era ela, que meu coração desejava de
verdade. Mel sempre esteve lá e inconscientemente posso ter acreditado
que ela nunca iria embora, mas quando ela foi para Stanford, quando
precisei passar meses sem ver seu rosto, e quando soube que havia
alguém com ela, meu mundo virou um caos.

— Você está apaixonado por ela? — Liam perguntou.

Voltei meus olhos para o rosto dele. Desde que Liam começou a
namorar Amber, desde que ele aceitou que vivia em dois extremos, e que
aquela característica o tornava uma pessoa complicada de manter uma
relação tão próxima, ele havia melhorado, meu amigo tinha se tornado
uma pessoa menos temperamental e mais propensa a alegrias saudáveis

— Como você conseguiu? Como conseguiu simplesmente aceitar


esse sentimento? — questionei.

— Eu não passei pelo que você passou — Liam falou. — Com


Amber, tudo começou num desejo insano e as coisas evoluíram, a pior
parte, foi admitir que estava apaixonado, a segunda pior, foi aprender que
não sou perfeito para ela e talvez ela merecesse alguém melhor do que
eu.
Nós caímos em um silêncio inquieto, admitir que estava apaixonado
parecia uma tarefa fácil, mas quando eu parava para pensar a respeito,
minha mente e meu coração entravam em confronto.

— Você está apaixonado por ela? — Liam voltou a perguntar.

— Eu estou — sussurrei.

— Então faça de tudo para mostrar isso para ela — enfatizou.

— Mas depois do que fiz no jogo. Mel não aceita minhas desculpas,
ela acha que estou jogando com o coração dela.

— Vai desistir? — Liam inquiriu incrédulo.

— Não sei o que posso fazer.

Ele se sentou no colchão inflável praguejando o objeto, e me


encarou com irritação no rosto, eu não saberia dizer se a irritação era
pelo colchão, ou por minha causa.

— Se você estiver certo e Melissa te ama desde que eram


crianças, esse tipo de sentimento não desaparece — Liam falou. — Eu
aposto minha posição de quarterback que ela te perdoa.

Observei Liam com atenção.

Havia uma coisa sobre Liam Stevens que lhe dava tanta
credibilidade, isso nada tinha a ver com dinheiro, ou status social.
Sempre que ele demonstrava certeza em algo, acertava suas apostas.

— Acho que depois de tudo que me aconteceu com relação a


Katherine, eu desisti, não de viver, mas desisti de ter esperança em
felicidade — confessei.
— O que exatamente aconteceu naquele dia para você se sentir
assim? — Liam indagou.

Imaginei que pela primeira vez na vida, Elijah tinha conseguido


guardar um segredo de verdade, esbocei um sorriso pensando em
parabenizar o meu amigo por aquele gesto.

— Eu tinha comprado uma aliança, para pedir Katherine em


casamento — contei.

— Caralho! — Liam soltou com os olhos arregalados.

— Hoje eu sei que um casamento entre nós acabaria em divórcio,


mas... mesmo assim, estava tão cego, que ia fazer o pedido. Eu tinha
escolhido um anel caro, daqueles que aparecem nesses filmes idiotas de
romance, estava indo para a casa dela com a caixinha de joias no bolso,
quando entrei, ela estava na cama com Fred, aquilo destruiu algo dentro
de mim — expliquei.

Liam não cortou o silêncio, nem mesmo para xingar como fez
anteriormente.

— Elijah pegou a aliança antes que eu jogasse fora, e foi até a loja,
não sei como, mas ele conseguiu convencer a mulher a reembolsar —
expliquei. — Meu pai teria me matado se desperdiçasse tanto dinheiro.

— Você era muito jovem naquela época — Liam disse.

Mesmo que aquilo tivesse acontecido apenas dois anos antes, eu


sentia que aquelas palavras eram verdadeiras, muita coisa mudou dentro
de mim desde aquela época.

— Eu sei — garanti.
— Mas eu acredito que você não vai cometer o mesmo erro com
Melissa, e acho que você deveria abrir esse coração de pedra para ela —
aconselhou. — Se quer conquistar essa garota, vai ter que ser sincero de
verdade.

Ponderei sobre o que Liam dizia, aquilo fazia sentido, poucas vezes
na vida eu permiti que pessoas entrassem no meu coração, e isso era
uma característica anterior a Katherine. Eu vivi com medo de ser
magoado.

Meu colega de quarto, que eu conhecia há tanto tempo, nem


mesmo considerava um amigo, o namorado da minha irmã.

Minha vida inteira foi como uma seleção minuciosa de quem


entraria no meu coração, e quem não o faria. Mel tinha sido aquela que
esteve nele desde sempre, a única de quem senti falta quando me
afastei.

Por mais difícil que fosse admitir, eu tinha errado com Melissa,
diversas e diversas vezes, tinha agido como um canalha que não
merecia os sentimentos dela.

Tudo bem, eu podia admitir que estava apaixonado e podia admitir


que não me sentia bom o bastante para ela, mas não conseguia aceitar
que Mel se envolvesse com qualquer merdinha que estivesse
interessado em uma foda.

Eu via além daquela aparência maravilhosa. Conhecia cada


aspecto daquela personalidade, desde a garota delicada, àquela
selvagem, que parecia estar sempre em chamas.

Olhei para a porta do quarto em que Mel estava, e sorri, aquele era
meu ponto de partida, mesmo que o jogo tenha começado há muito, eu
ainda podia fazer a diferença.

Melissa Turner seria minha, porque ela sempre foi a dona do meu
coração, sempre foi a amiga do garoto solitário que não deixava as
pessoas entrarem, mas ela seria a minha redenção.

A redenção do bad boy.


Melissa

Quando entramos naquele quarto, Amber, Hayesha e eu,


organizamos os colchões no chão, para dormir, por um longo tempo,
aquele silêncio que nos envolveu me fez relembrar aquele beijo no
elevador, meu coração disparava àquela lembrança.

Nós nos deitamos, com Amber entre mim e Hayesha.

— Mel? — Amber chamou, e eu notei que não era a primeira vez


que me chamava.

— Oi — suspirei bagunçando o cabelo com os dedos. — Desculpa,


minha cabeça está cheia.

— O que aconteceu? — ela inquiriu se apoiando nos cotovelos.

— Mais cedo, quando vocês entraram aqui para conversar, eu fui


comprar vinho com Noah, aquilo foi uma desculpa para apenas sair e
falar com ele — contei.

As lembranças me distraíram por um momento, e acabei sorrindo.

— Então? — Hayesha indagou me trazendo de volta.


— Então eu o abracei no elevador, e Noah me beijou — confessei.

— Pelo jeito como você está falando, não foi o primeiro beijo de
vocês — Amber acusou.

— Não, não foi — sorri. — Nós nos beijamos no dia em que


jantamos juntos.

— E o que você disse para ele? — Amber perguntou ansiosa.

— Falei que não ia deixá-lo brincar com o meu coração —


sussurrei.

O silêncio naquele quarto se tornou ensurdecedor, Hayesha se


apoiou nos cotovelos para me olhar.

— Acha mesmo que ele está tentando jogar com o seu coração? —
ela questionou.

Encarei a irmã do garoto que eu amava, me perguntando se


conversar sobre os sentimentos que eu tinha por Noah era uma boa
ideia.

— Depois de tudo que Noah me fez passar, eu não sei — admiti.

— Você gosta dele? — Amber perguntou.

— Claro que sim.

— Então, meu irmão cometeu alguns erros com você, e eu entendo


que você provavelmente não acredita nos sentimentos dele, mas eu
estive no seu lugar, se não tivesse deixado de lado as ideias que eu tinha
sobre os jogadores de futebol, nunca teria namorado Jack.
— Liam me carregou no ombro pelo campus para me obrigar a
jantar com ele — Amber disse. — Ele me perseguiu, e me venceu pelo
cansaço.

Hayesha riu quando ela falou a respeito.

— O problema, é que Noah e eu temos um passado — murmurei


encarando o teto. — Se eu tivesse conhecido ele aqui, tudo seria mais
fácil, mas nosso passado me vem à cabeça sempre que o encaro, e ele
beijar outra garota apenas para me machucar, foi um pouco demais.

— Então você não consegue perdoar ele — Amber sussurrou.

— Não. Ao menos não enquanto eu não tiver certeza de que ele


está sendo sincero.

Nenhuma de nós falou depois daquelas palavras.

— Como está o tratamento de Liam, Amber? — Hayesha perguntou


mudando o assunto.

— Ele está indo bem, com as medicações e o tratamento


apropriado, ele passou a ter menos mudanças de humor.

— Isso é ótimo — Hayesha disse. — Era difícil para você — ela diz
para Amber — tinha que ver Mel, Liam saía do zero a um milhão em
segundos, podia estar numa boa numa festa, se ele mudasse de humor,
alguma briga acontecia. E Noah, e Elijah, acabavam tendo que tirar ele
do lugar. Amber fez muitas mudanças.

— Não fiz nada. Liam apenas enxergou que precisava de ajuda.


Toda a melhora dele, é mérito dele — contou. — Mesmo com as
mudanças de humor, e o comportamento autodestrutivo, o Liam Stevens,
daquela época, foi uma das melhores pessoas que conheci.
Observei a loira em silêncio, percebendo o quanto ela parecia feliz
ao falar dele. Aquele era o tipo de sentimento que alguém esperava
encontrar em um relacionamento, algo que eu sempre desejei.

Enquanto Hayesha e Amber discutiam suas relações, eu me vi


quieta, refletindo mentalmente sobre meus problemas com Noah, e sobre
meus antigos problemas com Anthony, tudo era uma grande mistura de
angústia, apenas tentei deletar dos meus pensamentos as torturas de
Anthony, me permitindo lembrar dos beijos de Noah.

Logo minha mente foi embalada pelo sono, e eu adormeci. Quando


acordei na manhã seguinte, meu corpo estava dolorido por dormir
parcialmente sobre o colchão, e com boa parte do corpo no chão. Me
levantei com dificuldade, e saí do quarto fechando a porta atrás de mim.

Liam dormia no colchão inflável no chão, e Noah estava sentado no


banco junto ao balcão da cozinha, com uma caneca de café nas mãos,
eu me aproximei dele, sem deixar transparecer que aquele olhar
percorrendo o meu corpo me afetava.

Ele focou os olhos no meu busto sem sutiã, naquela blusa


apertada.

— Você que fez? — perguntei em um sussurro indicando a xícara.

Noah assentiu me estendendo a xícara de café, apanhei o objeto


tomando um gole longo. Esbocei um sorriso ao perceber que Noah ainda
bebia café com leite e açúcar.

Anos antes, quando bebemos café, juntos, dividindo uma xícara


como aquela, ele tinha tentado me forçar a beber café puro, sem açúcar,
mas eu acabei adoçando a bebida e colocando leite.

— As lembranças são muitas, não é? — questionou em voz baixa.


— Difíceis de esquecer — admiti me sentando no banco ao lado
dele.

— Você e eu temos uma história Mel. E mesmo que nós dois


tenhamos escrito algumas páginas longe um do outro, não
conseguiremos seguir separados até o final.

— Palavras, palavras, já pensou em virar escritor ao invés de ser


jogador de futebol? Parece que você tem talento para isso —retruquei.

Ele colocou mechas do meu cabelo atrás das minhas orelhas


enquanto eu bebia mais alguns goles do café.

— Como eu posso me redimir? — Noah indagou.

— Eu não sei. Talvez você possa vir a este mundo numa próxima
encarnação, com menos inclinação a ser um babaca — falei deixando a
xícara em cima do balcão.

Ele me segurou pela cintura, puxando meu corpo para junto de si,
minhas pernas estavam bambas, e Noah conseguiu se colocar entre
elas, sustentando o meu olhar.

Engoli em seco, observando o rosto dele.

— Nós dois sabemos o efeito que tenho sobre você — ele


murmurou. — Você sabe que não consegue me esquecer, e eu aposto
que assim como foi para mim, nenhum beijo pareceu tão certo e
prazeroso quanto os nossos.

Aquela voz rouca tão perto, me deixava desesperada por aquele


beijo que ele parecia tão disposto a me dar, Noah não se afastou, as
mãos dele seguraram o meu quadril, e eu senti minha pele arrepiar.
— Não aja como se pudesse evitar — ele disse.

Noah inclinou a cabeça para estar mais próximo do meu ouvido, e


as palavras seguintes vieram como um sussurro.

— Você ainda me ama, Melissa. Seu corpo ainda me deseja, como


sempre desejou. A diferença aqui, não é o que você sente por mim —
prosseguiu.

— E qual a diferença? — indaguei com a voz espantosamente


firme.

— A diferença, é que hoje você me deseja muito mais do que


antes, hoje... você atiraria cada medo ao inferno se pudesse mergulhar
nisso. Só que quebrei sua confiança, machuquei o seu coração — Noah
se afastou, e os olhos dele não tinham o brilho malicioso de antes. —
Vou provar para você que aquilo me machucou mais, porque ver você
sofrendo, é a pior das torturas.

Aproximei meu rosto do dele, até ele fechar os olhos, esperando


aquele beijo, quando nossas bocas estavam quase roçando uma na
outra, eu sussurrei:

— Boa sorte, Noah.

Então fiquei de pé, e caminhei em direção ao banheiro, fechando a


porta entre nós. Esfreguei o rosto com as mãos me perguntando como eu
conseguiria lidar com aquele dilema, como poderia suportar aquele
latejar constante que tomava conta do meu interior, sempre que nossos
corpos se tocavam.

Noah Brown era um perigo para o meu autocontrole.


Noah

Eu estava fodido, percebi quando Mel caminhou em direção ao


banheiro, meu pau latejava dentro da calça, e tudo que aquela mulher
fez, foi brincar comigo. Engoli seco aquele tormento e imaginei que
precisava urgentemente do perdão dela.

Meu celular sinalizou outra mensagem, e eu observei a tela dele,


Victoria estava me mandando fotos numa rede social. Não precisei baixar
as fotos para saber serem um convite. Travei o celular e bati com a
cabeça no balcão, abri novamente o celular, e deletei as fotos sem baixar
para ver melhor.

Aquela manhã foi introspectiva, eu ignorei as mensagens que


recebia, não apenas de Victoria, como de outras garotas também.

O meu coração estava tão estupidamente apaixonado, que


desliguei o celular e apenas fiquei observando Melissa naquela casa,
interagindo com as garotas.

Liam apertou o meu ombro quando se sentou ao meu lado.


Eu não sabia se o meu amigo tinha ouvido parte da conversa que
tive com Mel, ou não, mas àquela altura, não me importava com isso.

O que eu sentia por Mel já não podia ser escondido, então eu não
esperava privacidade quando falei com ela mais cedo, naquela sala.

Depois de um café da manhã tão agitado quanto foi o jantar, nós


nos dividimos para voltar à universidade, Hayesha voltaria com Liam e
Amber, enquanto Mel, foi praticamente atirada por nossos amigos no
meu carro.

Nós agradecemos à mãe de Amber pelo jantar, e saímos do


apartamento, com a irmã de Amber gritando que queria que voltássemos
para brincar com ela outra vez.

Nunca fui muito fã de crianças, mas entendia por que Liam tinha se
apegado tanto àquela menina.

Quando Mel e eu entramos no meu carro, a garota colocou o cinto


e suspirou.

— Mel… — comecei.

— Noah — ela falou quando me interrompi, e eu sorri como um


idiota.

— Eu só ia dizer que você está bonita — falei.

— Obrigada, é o meu melhor visual, meu cabelo não viu um pente,


e parece que meu corpo foi atropelado enquanto dormia — Mel
respondeu.

A ruiva sorriu, e eu dei partida no carro, ter Mel junto comigo


naquele carro me trazia uma sensação de paz, que fazia meu coração
ficar indeciso se acelerava, ou se acalmava completamente.

Aquela garota tinha um poder sobre mim, que eu já não temia.

Flagrei Mel me olhando e sorri, ela parecia mais atenta aos meus
movimentos, que em qualquer outro momento dos nossos encontros
recentes.

— Quer me dizer algo? — indaguei voltando o rosto para ela ao


parar em um sinal vermelho.

Estava dirigindo tão devagar que já não tinha sinal do carro de


Liam.

— Por que acha que eu quero te dizer algo? — ela perguntou


sustentando o meu olhar.

— Porque você continua me encarando.

— E eu só posso encarar você se tiver alguma coisa para falar? —


questionou naquele tom de voz travesso.

— Você pode me encarar o quanto quiser, mas também precisa


saber, que pode me dizer qualquer coisa — falei segurando a mão dela
que estava sobre a coxa.

Mel estudou o movimento, e o carro atrás de nós, buzinou, segui


adiante com aquele silêncio estranho nos envolvendo.

— Odeio você — ela sussurrou olhando pela janela, movi o olhar


para ela por um instante.

— Isso é um problema — suspirei, e ela me olhou curiosa,


acompanhei aquilo pelo canto dos olhos.
— Não tenho o direito de odiar você? — ela questionou
visivelmente irritada.

— Você tem direito de fazer e sentir o que quiser, mas é


problemático que nós dois estejamos sempre em desequilíbrio. Um de
nós amando, e o outro odiando, acho que nós dois passamos da idade
aceitável para vivermos como cão e gato — expliquei.

Mel exalou pesadamente, voltei o olhar para ela, vendo a surpresa


em seu rosto, que rapidamente mudou para uma expressão de cautela.

— Sempre foi você Mel. Você sempre ocupou o meu coração. Eu


só precisei amadurecer para perceber que simplesmente não dá para
continuar sem você. Mesmo que eu não seja bom o bastante, mesmo
que você mereça alguém que te ame cem vezes mais, não consigo abrir
mão de você.

— Por que está me dizendo isso? — Mel perguntou com a voz


rouca.

— Porque desde que você retornou a minha vida, percebi que o


coração que achei que tinha jogado fora, destruído, e colocado uma
pedra no lugar, esse coração não era meu para fazer o que quisesse, ele
estava com você, por isso eu me sentia vazio, porque o meu coração
estava do outro lado do país, e eu só pude encontrá-lo quando você
retornou. Se eu tivesse esse tempo, passaria os próximos mil anos
tentando te mostrar que o que digo é verdade, mesmo que precisasse
esperar cada dia desses mil anos, até que você finalmente acreditasse.

— Noah… — Mel falou com a voz falhando.

— Eu amo você, Melissa, amo tanto, que levei um tempo longo


demais para entender isso — admiti sem qualquer remorso.
A garota sentada ao meu lado ficou quieta, eu não esperava que
Mel me dissesse que também me amava, seria egoísta esperar isso dela,
depois de tudo que fiz para afastá-la de mim, mas eu faria o possível
para que ela visse aquela verdade com os próprios olhos.

Quando parei o carro em frente ao Eagle’s. Mel tirou o cinto e levou


a mão a porta para descer.

— Até mais, Noah.

— Mel? — chamei, ela se virou para mim e minha mão segurou o


rosto dela.

Minha boca tocou a dela em um beijo suave.

— Eu vou te prometer uma coisa, a partir de agora, vou usar todo o


meu esforço e perseverança nisso. Serei a última coisa em que você vai
pensar antes de adormecer, e a primeira em sua mente quando acordar,
se você me esqueceu, farei com que se apaixone por mim novamente, se
isso exigir cada hora do meu dia, então usarei cada maldito segundo pelo
resto da minha existência. Não vou deixar você Mel.

— Não use palavras, Noah. Já disse que você me magoou com


suas atitudes, palavras não vão corrigir esse erro.

— Apenas aceite, que nós dois estamos caminhando em direção


um ao outro, desde que nos conhecemos na areia do parque, você e eu
estamos fadados a nos amar desde então. Eu vou conquistar seu
coração outra vez, porque é impossível que você me odeie de verdade,
vejo isso no seu rosto sempre que me olha com essa raiva.

— Boa sorte com isso — Mel sussurrou se afastando da minha


mão, e descendo do carro.
****

Minha corrida em direção ao coração de Mel começou naquele


mesmo dia, quando encomendei algumas flores para ela. Tulipas, nada
de rosas, Mel adorava tulipas desde a infância, e eu imaginei que aquele
seria o presente perfeito.

Quando o entregador foi embora, eu estava imóvel no gramado em


frente ao prédio das aulas dela, de direito, acenei para Melissa quando
ela saiu da aula, e percebi que muitas pessoas nos observavam,
algumas fotografaram.

Mel caminhou até mim contendo aquele sorriso constrangido que


tentava se formar no rosto dela.

— O que é isso? — ela indagou.

Aproximei meu rosto da orelha dela e sussurrei:

— Estamos travando uma batalha perdida Mel. Conheço você,


tenho todas as armas para derrubar seu forte, vou chegar ao seu
coração.

Meus olhos encontraram os dela, que pareceu ansiosa com


aquelas palavras.

— Eu amo você — falei e me afastei, dando alguns passos para


trás com um sorriso no rosto.

Mel, sequer conseguia esconder o quanto eu mexia com ela. Nada


me impediria de chegar ao coração dela outra vez.
Melissa

Após receber as tulipas de Noah, meu dia foi parecido com o de


uma atriz famosa caminhando nas ruas, onde quer que eu passasse com
aquele buquê enorme de flores, pessoas me fotografaram.

Não tive tempo de ir ao quarto deixar as flores, então apenas segui


de aula em aula carregando aquele símbolo enorme da tentativa de
Noah, de mostrar que estava apaixonado.

Caminhei pelo campus de volta ao dormitório antes do almoço, eu


não iria a mais nenhum lugar com ele, assim que entrei no quarto,
Amber, que já estava se aprontando para o trabalho, sorriu ao ver as
flores.

— É enorme — ela disse.

— Sim — falei. — E eu me senti o dia inteiro como um animal


exótico que chega ao zoológico.

Amber riu ao passar a blusa pela cabeça e começar a arrumar o


cabelo.
— Como você lidou com Liam na fase conquista? — questionei
ansiosa.

— Em algum momento, eu só me deixei vencer, ele ia continuar


com essas exibições enormes enquanto eu não me rendesse.

— Você se arrependeu da decisão de dar uma chance para ele?

Amber interrompeu o movimento da escova no cabelo, e sorriu ao


me estudar.

— Eu nunca me arrependi dessa decisão. Liam é sem dúvidas…

— Uma das melhores pessoas que você já conheceu — completei


fazendo minha amiga rir.

— Sim — Amber se aproximou.

Eu encarava as flores como se tentasse entender o que Noah


queria dizer com aquilo, conhecendo o idiota, ele provavelmente deu
trabalho a pessoa que montou aquele buquê.

— Você conhece Noah melhor que ninguém, pelo que Hayesha me


contou. Ninguém pode te dizer se vale a pena dar uma chance para ele,
não existe pessoa melhor para saber se vale a pena ou não, do que
você.

— Acho que estou com medo — admiti.

— Do quê? — Amber indagou sorrindo.

— Eu não tinha sentimentos fortes por Anthony, e ele quase me


destruiu, não tenho uma relação com Noah, e o poder que ele tem sobre
o meu coração já me deixou desestabilizada, aquele beijo de Noah
naquela garota foi doloroso demais. Eu tenho medo de deixá-lo entrar na
minha vida, e depois disso, precisar lidar com o estilo de vida dele.

— Tem medo de que ele traia você? — Amber questionou, e


assenti. — Eu também tinha esse receio com Liam quando começamos.
Achei que seria uma diversão, e em algum momento ele iria se cansar de
mim, mas se nós passarmos a vida inteira esperando pelo instante em
que seremos magoados por outras pessoas, não conseguiremos viver
um momento completo de felicidade. Noah foi um canalha, mas pelo
pouco que conheço ele, assim como Liam e Elijah, ele parece estar se
escondendo, toda essa fortaleza de bad boy que foge de
relacionamentos, é como os três escolheram lidar com as próprias
mágoas e receios.

Meu celular sinalizou uma mensagem, e eu peguei o aparelho do


bolso apenas porque pensava ser Noah, mas a pessoa que me enviava
um convite para almoçar era Peter. Virei a tela para Amber ler a
mensagem.

— Como se eu não tivesse problemas emocionais o bastante —


comentei e Amber sorriu.

— Se você não tem interesse nele, deveria ser honesta —


aconselhou.

****

Depois que Amber saiu correndo para trabalhar, eu me vi imóvel


com o celular numa mão, e o buquê de flores preso ao antebraço oposto.
Olhei das flores para o celular, e minha mente me recordou dois
momentos... primeiro; ... O beijo que troquei com Noah naquele elevador,
uma lembrança que espalhou um arrepio pelo meu corpo, e fez o meu
coração acelerar. Segundo; ... O beijo que tive com Peter, meu corpo
esfriou completamente com aquela lembrança.

Enviei uma mensagem ao professor aceitando sair para almoçar


com ele. O homem me escreveu dizendo que me pegaria no dormitório,
mas eu respondi dizendo que me encontraria com ele no restaurante.

Não tinha vasos naquele quarto, então eu peguei o balde decorado


com borboletas onde guardava lápis, e joguei o conteúdo sobre a cama,
enchi aquele balde com água e coloquei as flores dentro dele.

Antes que eu caminhasse para o banheiro, recebi mais uma


mensagem, abri a tela do celular para ver, e dessa vez era Noah:

— Quer almoçar comigo?

Inspirei fundo antes de começar a digitar uma resposta:

— Tenho uma pendência a resolver agora no almoço.

— Algum problema? — Noah respondeu.

— Não, só preciso dar um fora — digitei, mas me vi incerta de


mandar aquela mensagem para ele.

Ignorando aquela sensação, eu enviei a mensagem e caminhei


para o banheiro, ignorando as mensagens que recebi depois daquela.

Me vesti em roupas simples, e prendi o cabelo para cima, quando


saí do banheiro, peguei o celular outra vez e vi as mensagens de Noah:

— Devo ver isso como um incentivo?

— Tente não ser cruel demais com o sujeito.


— Mesmo que você vá dizer que isso não é um incentivo, já vou
presumir que sim.

Exalei uma risada ao ler a última mensagem, e mandei uma foto do


meu dedo do meio para ele.

Saí do quarto e peguei o carro no estacionamento, liguei o som


apenas para distrair minha mente, não queria ficar planejando discursos
do que falaria para Peter, queria apenas ser honesta com o homem.

Desci do carro perto do restaurante, e caminhei o resto do caminho


até estar lá dentro. O lugar era elegante, e o maitre na entrada me olhou
como se eu fosse um cão abandonado que invadiu o lugar.

Meu jeans rasgado, e o casaco velho que tinha sido um presente


de Noah quando eu tinha dezesseis anos, contribuíram para aquilo,
ignorei o olhar do homem e disse o nome de Peter.

Ele me guiou pelo restaurante até a mesa em que Peter estava, o


próprio professor me olhou como se perguntasse qual era o meu
problema.

— Que bom que conseguiu achar o restaurante — ele falou


disfarçando a surpresa.

— Não posso ficar muito — avisei me sentando sem tirar o casaco.

Peter ao perceber aquilo se recostou a cadeira e cruzou os braços


me olhando.

— Veio aqui me dizer que não vai continuar me vendo —


comentou.

— Como sabe disso? — indaguei.


— Primeiro você se vestiu como quem quer esconder sua beleza,
segundo nem se deu o trabalho de tirar o casaco, e chegou avisando que
não ia demorar, e terceiro, eu também tenho redes sociais — Peter disse
sorrindo. — Você e Noah estão sérios?

Por um instante pensei em mentir para ele e dizer que sim, mas
repensei aquela ideia.

— Eu acabei de sair de um relacionamento bem ruim, vim de


Stanford para Yale porque estava com medo dele acabar me
machucando ainda mais — admiti, e a postura de Peter mudou para algo
menos intimidador. — Não estou em uma relação com Noah, não sei se
estou pronta para relacionamentos por enquanto. A verdade é que estar
sozinha com um estranho ainda é assustador.

— Eu sinto muito — ele falou com a voz menos divertida que antes.

— Você me disse que eu deveria pensar melhor se deveria desistir


de Ciência da Computação devido a uma fase da vida, mas a verdade, é
que a adolescente que adorava computadores e queria facilitar vidas com
o uso da tecnologia não existe mais. Depois de tudo que passei, não
posso simplesmente fechar os olhos para um problema que acontece
com tanta frequência, por isso, quero estudar Direito. Posso perder muito
tempo com estudos, e provavelmente, reprovarei em várias matérias por
estar pegando tudo pela metade agora, mas é algo que preciso fazer.

— Eu entendo e admiro sua coragem — Peter disse.

— Me desculpe por qualquer problema que tenha causado —


sussurrei.

— Não se preocupe com isso. Se está sendo tão honesta, também


serei, não estava procurando um relacionamento, o que eu queria com
você era casualidade, mas entendo que você precise de algo diferente.
Espero que Noah Brown possa cuidar de você — ele desejou.

Agradeci a Peter pelas palavras, e me despedi dele.


Noah

Eu não sabia exatamente o motivo, mas me vi imóvel perto do


Eagle’s logo depois do almoço, só tinha parado para almoçar porque tive
medo de desmaiar de fome em algum lugar.

A saída de Mel para dar um fora, só podia ser com Peter, e eu tinha
a leve impressão de que aquilo não seria uma coisa difícil.

Ouvi um barulho familiar de chaves balançando, e me virei de onde


estava sentado no corrimão de concreto. Mel andava distraída girando as
chaves na mão. Reconheci o casaco imediatamente, nós tínhamos saído
juntos para ver um filme, e começou a esfriar de repente. Mel estava
usando uma blusa de mangas curtas, e começou a tremer do meu lado
na fila do cinema.

Eu tinha envolvido o corpo dela com o braço, e saímos da fila do


filme, depois disso, eu a levei a uma loja e comprei o casaco, mesmo que
ela estivesse protestando.

Ela ficou imóvel quando me viu e segurou as chaves na mão.

— O que você está fazendo aqui? — ela interrogou.


— Podemos conversar? — questionei em um tom de voz
desarmado.

Melissa suspirou e subiu as escadas, eu a segui de perto sabendo


que aquilo era uma afirmativa, se não fosse falar comigo. Mel teria dito
que não queria falar. Quando entrou no quarto, ela deixou a porta aberta,
e eu a segui. Fechei a porta atrás de mim e me apoiei nela.

— Achei que você já tivesse se livrado desse casaco — comentei.

— Você sabe que eu nunca me livro de presentes — retrucou


tirando o casaco e colocando-o pendurado.

Apenas estudei enquanto ela pegava lápis e um monte de outros


objetos que estavam espalhados em cima da cama, e jogava tudo numa
gaveta. Aquele momento de silêncio fez com que o meu coração
disparasse, mesmo aquela versão de Mel, sem maquiagem, sem roupa
sexy, parecia estranhamente linda para mim.

Em cima da mesa, um balde decorado, estava servindo de vaso


para as flores que dei a ela, só aí entendi os objetos jogados na cama.

— Então, sobre o que quer falar? — ela perguntou me estudando.

— Eu não quero mais fingir Mel. Cansei disso.

Ela me olhou confusa, e eu respirei fundo caminhando lentamente


até ela.

— Cansei de fingir que não estou apaixonado por você, cansei de


agir como se não me importasse quando outros caras flertam com você,
cansei de dizer por aí que não tenho um coração. Tudo que eu te disse
era a mais absoluta, verdade, amo você. Sempre foi você. E eu tenho
certeza de que nunca haverá outra pessoa.
— A líder de torcida parecia ter um espaço — ela rebateu com a
voz rouca.

Eu estagnei a poucos centímetros dela, obrigando a garota a


erguer a cabeça para me encarar nos olhos. Os olhos de Mel estavam
firmes, e aquele olhar parecia me enlouquecer.

— Eu sinto muito, posso pedir desculpas um milhão de vezes se


você quiser — murmurei. — Só preciso que me diga como me redimir.

— Você e eu passamos da fase da redenção, Noah, chegamos a


um beco sem saída, você é como fogo incontrolável — ela rebateu.

— Posso ser o que você quiser que eu seja, posso ser


incontrolável, ou ser apenas a lavareda de uma vela, posso aquecer seu
corpo em noites frias, ou iluminar sua escuridão, posso afastar
predadores. Nada é apenas bom ou mau. Eu sei quanta destruição já te
causei, sei o quanto não sou merecedor do seu perdão, ainda assim,
estou pedindo por ele, porque não consigo passar um dia longe de você.
Isso é pior do que enfrentar um campo cheio de jogadores, é pior do que
abandonar o sonho de jogar futebol profissional.

Segurei o rosto de Mel com uma das mãos, observando os olhos


dela, e aqueles lábios entreabertos que eram um convite irrecusável.

— Noah, eu não…

Interrompi o que Mel ia dizer com um beijo, no instante em que


nossas bocas se tocaram, aquele desejo que me consumia, ardeu por
todo o meu corpo. As mãos de Mel me seguraram o pescoço, prendendo
minha cabeça junto de si. Segurei a cintura dela, a puxando para mim até
ter aquele corpo perfeitamente encaixado no meu.
Mel gemeu quando minha língua percorreu sua boca e eu a ergui
do chão, as pernas dela enlaçaram o meu corpo, o ar daquele quarto
sempre esteve tão quente? Me perguntei enquanto carregava a garota
até a cama que ela ocupava no quarto.

Ela arrancou o casaco que eu usava deixando a peça largada no


chão, e quando coloquei seu corpo sobre a cama. Mel me encarou
ofegante.

Minhas mãos percorreram o corpo dela, até que segurei a blusa


que ela usava puxando a peça de roupa para cima com a ajuda dela.
Meus olhos estudaram o tronco despido dela, demorando um pouco mais
naqueles seios cobertos por um sutiã azul-escuro, a pele descia lisa pela
barriga até o umbigo profundo, todo o calor do meu corpo sumiu quando
vi uma cicatriz enorme na lateral direita do corpo dela.

— Mel, o que aconteceu com você? — questionei apavorado


tocando a cicatriz.

Ela se sentou na cama observando o meu rosto, e sorriu.

— Quando meu pai ficou doente, ele estava na fila de espera por
um transplante, o relógio estava contra ele, então eu fiz os exames para
ver se éramos compatíveis. Ele não soube quem seria o doador até
depois da cirurgia — contou.

— O Sr. Turner deve ter ficado louco — comentei.

— Assim que ele acordou, nós tivemos a primeira grande briga das
nossas vidas, estávamos os dois em um quarto de hospital, discutindo
que eu poderia precisar daquele rim, e eu disse que já tinha precisado
para salvar a vida dele — explicou sorrindo.
— Doou um rim ao seu pai sem ele concordar com a ideia? —
indaguei curioso.

— Foi poucos meses depois da nossa grande briga, ele estava


morrendo, eu não pude suportar a ideia, temos o mesmo tipo sanguíneo,
então, se ao menos eu pudesse ter uma chance de salvá-lo.

— Isso é admirável, Melissa — elogiei.

Mel ficou de joelhos na cama e observou o meu rosto com atenção,


segurei a cintura dela com as mãos, deixando aquele calor retornar aos
poucos ao meu corpo, a boca de Mel estava sobre a minha novamente, e
logo aquele desejo retornou, tomando o espaço do pavor e de todos os
anseios da minha mente.

Quando Mel arrancou minha camisa, os dedos dela percorreram


meu peito e meu abdômen, tocando cada curva dos músculos com os
dedos quentes, que espalhavam arrepios pelo meu corpo. Mel lambeu os
lábios, e meu corpo pareceu ainda mais em chamas ao ver aquele gesto
cheio de desejo.

Eu estava prestes a abrir o sutiã de Mel quando meu celular


alarmou, me afastei do beijo para pegar o aparelho e desativar o alarme.

— O que foi? — ela perguntou.

— Se eu não correr, vou me atrasar para o treino — falei.

Mel se afastou de mim e colocou a blusa de volta no corpo. Minha


mente berrava que aquilo era uma situação desesperadora, mas a ruiva
sorriu ao olhar para mim.
Melissa

Segurei o rosto de Noah entre as mãos, e ele voltou a envolver


minha cintura.

— Vá para o seu treino, eu preciso estudar. Tenho um trabalho que


vai consumir muitas horas na biblioteca — contei.

— Podemos nos encontrar mais tarde? — indagou parecendo


ansioso.

— Claro, você me manda uma mensagem.

Noah aproximou o rosto do meu, beijando meus lábios


rapidamente, e repetiu que nos veríamos mais tarde, antes de sair do
quarto fechando a porta atrás de si.

Sozinha com meus pensamentos, me vi repassando o que tinha


acontecido naqueles minutos, e me perguntei se tudo aquilo foi real ou
apenas uma imaginação muito realista.

Meu celular sinalizou uma mensagem, e eu vi que Noah me


mandava algumas palavras:
— Foi real, e eu estou ansioso por mais.

Aquele canalha realmente me conhecia, percebi com um sorriso


bobo no rosto, me dei apenas o tempo necessário para pegar o material
que precisaria para fazer o trabalho, antes de sair do quarto e seguir do
Eagle’s, para a biblioteca do campus, enquanto andava, eu me via
repassando em meus pensamentos o que tinha acontecido com Noah,
mesmo que meu coração desejasse desesperadamente acreditar no que
ele dizia, minha mente me traía, e me vi deixando pensamentos criarem
raízes.

Noah tinha percebido que estava apaixonado em um instante,


então talvez ele percebesse que não era tudo que imaginou em breve.
De qualquer forma, aquele alarme me impediu de fazer algo que talvez
me arrependesse depois, se eu me entregar completamente ao desejo
que sinto por Noah Brown, meu coração pode ser destruído de um jeito
irreparável, se ele notar que não é isso que quer.

Respirei fundo e me concentrei no que estava à minha frente, o


trabalho que eu tinha que fazer valeria uma boa parte da minha nota
final, então... depois eu pensaria na minha relação com Noah, depois.

Entrei na biblioteca, afastando dos meus pensamentos aquela


necessidade imediata de pensar no homem negro que tirou minha blusa
em alguns minutos de conversa.

Quando entrei na biblioteca, acabei pegando meu celular para


colocar no modo silencioso e vi que Amber estava me mandando
mensagem.

— Que fotos são essas bombardeando minhas redes sociais de


você e Noah no nosso quarto?
Fechei os olhos amaldiçoando a internet e as pessoas fofoqueiras
que pareciam não ter vida própria.

— Nós estamos nos acertando, eu conto tudo mais tarde — prometi


numa mensagem.

— Quero detalhes — Amber avisou me fazendo rir.

Me desculpei com um garoto que me olhou com uma carranca


devido ao barulho que fiz.

— Estou na biblioteca fazendo um trabalho, mais tarde


conversamos.

Amber desejou sorte no trabalho, e eu enfiei o celular no bolso da


calça, antes de começar a pegar livros enormes nas prateleiras.
Equilibrei aquele peso com dificuldade, e caminhei até uma mesa, me
sentei e comecei a buscar os temas, e fazer algumas anotações.

Meu dedo latejava e eu olhei ao redor garantindo que ninguém


prestava atenção em mim, tirei o celular do bolso e desliguei o flash da
câmera, antes de começar a fotografar as páginas que eram pertinentes
com o tema do trabalho.

Encarei meu polegar que tremia, e prometi que faria Noah se sentir
culpado por aquilo. Quando tinha todas as fotos que precisava, comecei
a guardar os livros de volta nas prateleiras que tinha tirado. Peguei o
último dos livros para colocar na prateleira, e assim que guardei aquele
objeto, ouvi uma voz familiar.

Peter parecia estar falando no telefone perto de uma janela, pensei


em me afastar antes que ele me visse, mas o conteúdo da conversa me
deixou imóvel:
— Sim, querida, eu vou chegar a tempo da sua consulta, também
estou ansioso para saber sobre o bebê — falou. Ele exalou uma risada
relaxado. — Claro que estou usando a aliança, mas não se preocupe, eu
nunca vou me envolver com uma aluna.

Franzi o cenho em descrença, a cara-de-pau daquele imbecil,


inspirada pela minha raiva, pensei em ir até lá e, falar alto o bastante
para a esposa dele ouvir, algo como... “Não posso ir ao nosso encontro
hoje à noite”, mas uma coisa me impediu, a mulher estava grávida, então
eu não queria causar aquele tipo de estresse.

Respirei fundo e disse a mim mesma que aquele tipo de traição


nunca ficava sem punição. Em algum momento aquilo voltaria para ele.
Exalei o ar pesadamente fazendo com que Peter se virasse para me
encarar, ele arregalou os olhos ao me ver, e eu estalei a língua, antes de
me virar para sair da biblioteca.

Vesti o casaco, o fechei bem em volta do corpo já que o frio estava


nos castigando, então tratei de pegar minha mochila e colocar meus
cadernos e lápis dentro dela.

Antes que eu conseguisse sair da biblioteca, Peter me impediu,


colocando-se no meu caminho.

— Não sei o que você ouviu, mas podia não espalhar? — indagou.

— Para você continuar conquistando alunas ingênuas? Ah, me


desculpe, eu esqueci que você está acima disso — comentei.

— Não é inteligente comprar briga com um professor.

— Está ameaçando minhas notas? — inquiri.

— Não foi uma ameaça — retrucou.


— Foi o que pareceu. — A voz de um garoto que eu não conhecia
soou perto de mim.

— Simon, não se envolva, estou apenas conversando com a Srta.


Turner — Peter rebateu.

— Sua discussão atraiu a atenção de todos, afinal estamos em


uma biblioteca — o garoto falou.

Peter pareceu subitamente ciente da atenção que estávamos


atraindo, e saiu da biblioteca antes de mim. Encarei o garoto estranho e
sussurrei um agradecimento.

— Você é a amiga do Noah, não é? — ele indagou.

— Você o conhece?

— Sou o colega de quarto dele, Simon Anderson. — O garoto


sorriu ao estender a mão.

Apertei a mão dele, e observei enquanto ele se levantava.

— Estou de saída também, podemos ir juntos?

— Claro — sussurrei.

Peguei o celular do bolso enquanto esperava ele pegar as próprias


coisas, e enviei uma mensagem para Noah, avisando que estava saindo
da biblioteca com o colega de quarto dele. Eu tinha passado mais tempo
na biblioteca do que imaginei, quando olhei as horas e notei que passava
das seis.

— Ele é um cara legal — Noah respondeu.


Enfiei o celular de volta no bolso e sorri ao acompanhar o colega de
Noah para fora da biblioteca, eu não sabia se Simon sabia pelo que eu
tinha passado antes, duvidava que Noah tivesse contado aquilo para
alguém fora do seu grupo íntimo, mas ter a companhia daquele garoto
para voltar, pareceu uma benção naquele momento.

Após discutir com Peter impulsivamente, eu teria ficado com medo


de andar sozinha pelo campus.

— Noah me disse que você estuda Direito — ele comentou


puxando assunto.

— Sim.

— Você deve viver à base de cafeína e livros — Simon falou, me


fazendo rir.

— É por aí — retruquei. — Você e Noah são muito próximos?

— Não muito, ele não é do tipo que deixa as pessoas se


aproximarem. E eu não sou exatamente um bad boy — ele explicou, e eu
voltei a rir.

— Noah é uma pessoa bem fechada — comentei.

— Vocês se conhecem desde a infância, não é?

Assenti.

— Obrigada por sua ajuda mais cedo — falei quando nos


aproximamos do Eagle’s. — E por vir até aqui comigo.

— Não tem problema — ele rebateu com um sorriso. — Até mais.

— Até.
Me apressei para o interior do prédio, me perguntando se Amber já
teria retornado. Abri a porta do quarto apenas para a escuridão silenciosa
me receber, tirei os sapatos e acendi a luz. Segui para o banheiro e
recebi uma mensagem de Noah quando entrei.

— Estou no Eagle’s — ele avisou.

— Estou no banheiro, a porta do quarto está aberta.

Entrei no box para tomar banho e cantarolei uma das músicas que
mais gostava de cantar na infância. Quando terminei de tomar banho, e
me vesti em roupas quentes, imaginando que Noah provavelmente me
chamaria para jantar fora daquele quarto, saí do banheiro e me deparei
com Noah sentado na minha cama.

Ele tinha tirado o casaco, e estava com aquela camisa justa,


enfatizando os músculos.

Eu tinha dito a mim mesma que teria cautela e agiria com calma
nesse relacionamento, o problema é que a montanha de músculos a
minha frente era uma tentação ao meu autocontrole, que se esvaía entre
os meus dedos sempre que eu olhava para ele.

Noah me puxou pela mão, me sentando no colo dele, quando me


aproximei.

— Senti sua falta — comentou.

— Nos vimos há poucas horas — retruquei.

— E ainda assim parece que meses se passaram.

Ele colocou mechas do meu cabelo que se desprendiam do coque


atrás das minhas orelhas, enquanto me estudava os olhos. A boca de
Noah devorou a minha, e eu senti aquele autocontrole se tornando uma
lembrança distante em minha mente.

— Noah — murmurei o nome interrompendo aquele beijo.

— O quê? — inquiriu com a voz rouca.

— Eu preciso ir com calma — avisei. — Sei que a gente se


conhece há muito tempo, e sei o que quase aconteceu aqui mais cedo,
mas eu realmente preciso desse tempo.

Noah apenas me observou segurando o meu quadril, e esperando


que eu explicasse.

— Não estou duvidando dos seus sentimentos, mas tenho medo de


que em algum momento, você acabe fugindo deles e eu não suportaria
ter meu coração partido por você novamente — admiti.

— Eu entendo — ele disse beijando meu rosto. — Vamos jantar?

Fiz que sim me levantando do colo dele, e nós saímos do quarto


juntos, vesti meu casaco no corredor e Noah o dele, o sorriso no rosto
daquele homem ao meu lado me lembrava tanto o sorriso gentil do
garoto de anos antes, que meu coração dava cambalhotas no peito.

Nós fomos andando pelo campus até a lanchonete mais próxima do


Eagle’s. Noah e eu nos sentamos e pedimos o jantar, meu corpo inteiro
tremia por conta do frio, então acabei com Noah ao meu lado, e o braço
dele em volta dos meus ombros.

— Você pretende trabalhar com computação quando sair da


faculdade? — indaguei.
— Não, meu sonho não mudou desde que éramos crianças, eu
ainda quero jogar futebol profissional, e até recebi algumas propostas.

— Sempre soube que você realizaria seu sonho — garanti com um


sorriso no rosto.

— Você me deu forças para sonhar quando éramos crianças —


sussurrou.
Noah

Eu estava sendo torturado de alguma forma, passar noites deitado


numa cama com Mel, vendo filmes, ter a garota montada em mim, mas
todas aquelas peças de roupas nos separando, aquilo era uma espécie
particularmente apropriada de tortura.

Estava correndo no campo de treino, com Liam me perguntando


como estavam as coisas com Mel.

— Estamos nos entendendo, começamos um namoro bem devagar


— confessei.

— Depois do que você fez com ela, me espanta que ela tenha dado
essa chance — Elijah comentou se intrometendo na conversa.

— Sabe, você devia ser meu amigo — lembrei.

— Eu sou seu amigo, mas não é por ser seu amigo que vou mentir,
e dizer que você não é um filho da puta sem coração — ele retrucou.

Exalei um riso forçado e mostrei um punho para ele, meu amigo


ergueu as mãos com um sorriso no rosto.
— O jogo é amanhã, pessoal, querem que eu adie enquanto vocês
resolvem os problemas amorosos? — o treinador gritou.

— Desculpe, treinador! — Nós respondemos.

Continuamos o treino em silêncio, e eu me vi ansioso com o jogo


do dia seguinte.

****

Mel e eu tínhamos caminhado pelo campus juntos depois do treino,


a ruiva sorria ao ouvir sobre como foi o treinamento de hoje.

— Elijah está parecendo um velho rabugento ultimamente — falei


irritado.

— Sério que você não notou? — ela questionou.

Parei no meio da calçada, segurando sua mão e a observei.

— Ele te contou algo na noite que você dormiu, no quarto dele? —


perguntei ansioso.

— Nem precisou contar — ela rebateu parecendo cautelosa.

— O quê? — voltei a questionar.

— Elijah está sofrendo, Noah. Tem algo muito errado acontecendo


com o seu amigo.

Observei o rosto calmo de Mel, minha namorada parecia sentir uma


tristeza enorme por falar do sofrimento de Elijah, e eu me perguntei se
era um babaca que só olhava para as próprias bolas, já que não tinha
notado que meu amigo de longa data estava sofrendo.

— Por que acha isso?


— Quando eu cheguei ao campus, Elijah parecia animado, todos
sempre dizem que ele estava sempre flertando e cheio de humor, mas
ultimamente, não vejo isso nele. Na noite em que dormi no quarto dele,
ele parecia exausto. Elijah está sempre aconselhando você e Liam, até
mesmo comigo, ou com Amber, ele parece ter essa necessidade de
ajudar e segurar a barra que precisamos, mas quem o ajuda com o peso
que ele carrega?

Estudei o rosto de Mel, Liam e eu tínhamos questionado se Elijah


estava apaixonado e levou um fora, mas aquela dúvida tinha sido
dissolvida, porque Elijah nunca demonstrou interesse completo por
ninguém. Nenhuma mulher parecia atrair a atenção dele completamente,
o máximo que já vi, foi Elijah tendo fodas de uma noite com garotas que
se atiravam em cima dele.

— Nós nunca falamos sobre ele — admiti. — Sempre conversamos


sobre os meus problemas, ou os problemas do Liam, mas Elijah nunca
fala dele mesmo.

— Todos dizem que ele é um fofoqueiro, mas o que realmente


sabemos sobre os sentimentos de Elijah além daquilo que ele mostra? —
Mel indagou. — Estou preocupada com ele. Amber também.

Segurei o rosto de Mel e me inclinei para beijar a testa dela.

— Não fique, vou tentar conversar com ele — prometi.

Nós voltamos a caminhar, e Mel exalou um riso.

— O que foi? — questionei.

— Espero que você não se machuque amanhã — avisou.

Ergui uma sobrancelha observando o rosto dela.


— Se vocês ganharem, posso reconsiderar a ideia de irmos com
calma.

— É um desafio, Melissa? — indaguei.

— Talvez seja — ela ergueu os ombros.

— É bom estar pronta para cumprir essa promessa — falei com um


sorriso no rosto.

Pela forma como Mel pressionou mais os dedos na minha mão,


percebi que aquilo mexeu com ela.

****

Estávamos no vestiário e eu observava Elijah em seus sorrisos,


que não pareciam alterar aquele semblante sombrio dele.

Meu amigo sorria para todos que o cumprimentavam e


principalmente, exalando risos quando alguém soltava o cabelo longo
demais dele, mas ele apenas pegava o elástico de volta e o prendia outra
vez.

Quando não havia olhos por perto, o sorriso se desfazia sem,


deixar qualquer resquício de alegria no rosto dele.

Ele ergueu o rosto de onde estava amarrando as chuteiras e me


observou, Elijah sorriu como se tentando esconder o que quer que ele
queria manter para si.

— Vamos lá pessoal, está quase na hora — o treinador nos disse.


— Noah, é bom que seus pés funcionem bem hoje, lembrem que essas
cobras têm tanto veneno quanto o animal que os representa.
Os, serpentes, tinham um ataque absurdo, então diversas
oportunidades de field goal, apareciam. O que poderia nos garantir uma
oportunidade, ninguém no time chutava como eu, por isso, o aviso foi
direcionado a mim.

— Sim, senhor — falei.

Nós fomos em direção ao campo, e eu vasculhei as arquibancadas


com os olhos. Mel estava com as amigas nos observando, elas gritaram
quando nos viram, e eu sorri observando o rosto da ruiva.

Me concentrei no campo, tentando não me distrair com a presença


dela. Eu tinha um prêmio que almejava mais do que a vitória naquele
jogo. O ar frio me atingia tentando destruir meu corpo, mas eu me
mantinha firme, aquele jogo era importante demais para mim, para que
me deixasse afetar pelo vento.

Nós assumimos formação, com todas as preparações iniciais sendo


feitas. Liam caminhou até o juiz, e a bola começaria conosco.

Comemorei internamente enquanto me preparava para o início da


partida.

O som nos deu o incentivo para começar, Liam, Elijah, e eu,


assumimos nossas posições. Meu corpo esquentou com aquela
adrenalina que nos tomava. Liam agarrou a bola e nós começamos a
correr pelo campo, o quarterback arremessou e Elijah a agarrou antes de
mim, derrubei um dos jogadores apoiando o meu amigo que corria para
marcar aquele ponto.

O placar começou com nossa vantagem, e eu ergui Elijah do chão


em comemoração, nós corremos de volta pelo campo, ignorando as
provocações do time adversário.
Com o decorrer do relógio, nosso time foi levando pancada,
ferimentos precisaram de primeiros socorros, eu saltei para escapar de
um chute na perna, minha mente ficou completamente longe daquele
caos, e eu só conseguia pensar no meu objetivo final com aquele jogo.

Minha exaustão, assim como a do time, era evidente quando


tivemos um tempo para discutir as próximas estratégias, a sobrancelha
de Elijah estava sangrando, e ele praguejava o adversário enquanto
limpava o sangue da testa, e alguém tentava conter aquele sangramento.

— Vai continuar? — perguntei.

— Vou quebrar o nariz daquele imbecil — ele vociferou observando


o cara enorme que estava junto ao time adversário.

— Eu vou arremessar para o Elijah outra vez, eles vão te atacar


com tudo, temos que aproveitar isso, o jogo está empatado, não
podemos deixar essa oportunidade escapar. Noah, você já sabe o que
fazer — Liam avisou.

Assenti, observando o time que ofegava.

— Vamos acabar com esses merdas antes que Elijah mate um


deles — falei, e meu amigo riu.

— Bulldogs!!! — Nós gritamos antes de voltar ao campo.

Tomamos nossas posições no campo, com a bola prestes a ser


passada entre nós, meu corpo inteiro entrou em um estado de torpor,
carregado de adrenalina. Eu inspirei fundo quando a bola passou para
Liam, e comecei a correr com Elijah.

Aquela era nossa última oportunidade de vencer o jogo rápido, meu


coração disparou no peito quando segurei um dos jogadores, Elijah
agarrou a bola que Liam jogou, e os dois jogadores que passaram por
mim e por Jack, acabaram derrubando o meu amigo que praguejou, mas
também vi um dos jogadores dos, Serpentes xingar.

O jogo foi interrompido, Elijah tinha a testa sangrando outra vez e o


jogador do outro time estava com o nariz sangrando, meu amigo sorriu
ao me observar.

Me preparei para aquela última jogada.

Não quis olhar para Mel, apenas ergui a mão em um meio coração
que costumávamos usar na infância quando nos despedíamos. Aquele
sinal fez com que muitos gritos soassem na arena, mas havia apenas
uma pessoa que era dona daquele Field Goal, uma que tinha tomado
posse do meu coração.

A bola foi posicionada, e eu me vi esperando o sinal para chutar.


Encarei as traves com toda a minha atenção dividida entre a bola, e elas,
qualquer som além da minha respiração foi silenciado, o único que me
despertou do momento de concentração, foi o som de alerta para que eu
avançasse.

Corri em direção a bola, com cada um dos meus sentidos


direcionados àquele chute, assim que meu pé atingiu a bola, o mundo
pareceu desacelerar, os sons se tornaram abafados, e eu podia ouvir
meu coração batendo acelerado contra o peito.

A bola chegou ao meio das barras, e eu gritei em comemoração


caindo de joelhos, meus amigos se aproximaram me agarrando pelos
ombros e me levantaram daquela posição.

Tirei o capacete da cabeça, com a minha mente tomada por um


único objetivo.
Ergui os olhos para a arquibancada e corri em direção ao meu
objetivo, passando pelas líderes de torcida até estar em pé na grade que
me separava dela. Mel sorriu envergonhada.

— Por um instante achei que fosse agarrar outra líder de torcida —


ela admitiu.

— Nunca mais, Mel — prometi, puxando a cintura dela para


aproximar o corpo dela para o meu, e minha boca encontrou a dela com
todo aquele desejo me consumindo.
Melissa

Depois daquele beijo, Noah foi arrancado de mim pelos jogadores,


e ele saiu com um sorriso, me lembrando com o olhar da promessa do
dia anterior.

Segui com Hayesha e Amber para o estacionamento naquela noite,


Amber tinha vindo com o carro de Liam, Hayesha com o dela, e eu tinha
dirigido o meu, já que cada uma de nós tinha planos diferentes para o fim
do jogo, aquilo parecia a melhor solução.

— O jogo foi incrível! — Amber falou. — Eu nunca pensei que fosse


gostar tanto de futebol.

— Gosta do jogo ou do quarterback? — Hayesha indagou e a loira


riu.

— Vocês vão para onde esta noite? — Amber me perguntou.

— Não sei, Noah disse que seria uma surpresa — confessei.

— Da primeira vez que Liam me disse ter uma surpresa, ele me


levou para uma casa no lago.
— E Jack? — perguntei a Hayesha.

— Jack não faz o tipo inclinado ao clichê romântico, ele sempre diz
que não importa onde a gente esteja, desde que estejamos juntos, já é
um lugar especial — ela respondeu.

— E o que exatamente você vê nele? — Amber retrucou.

— Você já olhou para aquele garoto? — Hayesha perguntou com a


voz esganiçada.

Quando avistamos Noah, Liam e Jack caminhando em nossa


direção reparei no namorado da irmã de Noah, Jack era realmente lindo,
os olhos esverdeados, corpo alto, e com a quantidade perfeita de
músculos, e um sorriso capaz de tirar uma mulher dos eixos, mas algo
nele me fazia querer me afastar.

Abracei Noah quando ele se aproximou de mim, e longe de nós,


com o celular no ouvido, Elijah estava com a chave do próprio carro na
mão. Acenei para ele que sorriu e acenou de volta.

Ele não se aproximou para nos cumprimentar, apenas entrou no


próprio carro e foi embora.

— Parece que alguém tem um encontro essa noite — Jack


comentou observando Elijah.

— Isso é sério? — questionei.

— Provavelmente, sim, mas Elijah é um cara tão fechado que não


sei como consegue mulher — Jack sussurrou.

— Elijah, na verdade, sempre tem assuntos interessantes —


Hayesha falou — entre os três patetas aqui, ele sempre foi o que mais
conseguia manter conversas comigo. E olhe que Noah é meu irmão.

— Ele é ótimo em dar conselhos também — Amber avisou.

— E falar com ele sempre me faz rir — completei.

— Parece que nós três seremos trocados por um cara


monossilábico — Jack falou, e eu revirei os olhos.

— Podemos ir? — perguntei a Noah, ignorando o que o namorado


de Hayesha dizia.

— Vamos — ele estendeu a mão pegando a chave do carro.

Nos despedimos dos nossos amigos, e Noah entrou no meu carro


pelo lado do motorista, eu me sentei no banco do carona e o observei,
esperando que me desse uma pista do que poderia estar planejando
para aquela noite, mas o rapaz apenas me dirigiu um sorriso e deu
partida no carro.

— Aquele Field Goal para mim… — sussurrei.

— Tudo por você — Noah garantiu.

— Posso acabar acreditando nisso — avisei.

— Pode acreditar. Vou te fazer enxergar que você merece ter tudo
de bom nesse mundo. Porque sua existência, é digna de coisas
maravilhosas. E vou-me esforçar para te proporcionar isso.

Esbocei um sorriso, e Noah continuou dirigindo, nós já nos


aproximávamos do mar, enquanto nossas conversas se mantinham sobre
o jogo, sobre os trabalhos da faculdade, e sobre o meu aniversário que
se aproximava.
Ele parou em um hotel, e um homem abriu a porta para mim, e
pegou as chaves do carro, nós descemos e caminhamos para o interior
do lugar, Noah me guiou para o elevador, e eu o estudei.

— Estou curiosa — admiti.

Ele envolveu minha cintura e baixou os olhos para o meu rosto.

— Eu prometi a mim mesmo que quando fôssemos ter nossa


primeira vez, faria isso de uma forma única, porque cometo erros com
você desde que percebi que você estava apaixonada por mim, e eu
precisava mostrar o quanto essa relação é importante.

Eu me mantive calada, sustentando o olhar dele, até que


caminhamos para fora do elevador, quando Noah abriu a porta daquele
quarto, meu coração disparou, o cheiro de um jantar preencheu meu
nariz, tulipas vermelhas decoravam o quarto, e a iluminação estava
reduzida.

— Eu vinha pensando em cada detalhe dessa noite, desde que


você me aceitou — Noah confessou fechando a porta atrás de nós e
caminhando em direção a mesa, ele serviu vinho rosé em duas taças e
me entregou uma delas.

— Obrigada por fazer tudo isso — sussurrei.

Tomei um longo gole daquele vinho, e Noah observou cada


movimento. Ele largou a própria taça e se aproximou de mim, os lábios
dele colaram aos meus, e meu coração disparou, envolvi o pescoço dele
com a mão livre, sentindo cada parte do meu corpo se acender com esse
beijo.

Deixei a minha própria taça de lado e Noah me pressionou mais


contra si, quando sentiu minha mão direita envolver o pescoço dele.
Os lábios dele percorreram um caminho de beijos até o meu
pescoço, e eu exalei um gemido alto, quando os dentes dele atacaram
minha clavícula. Noah segurou o laço que prendia o casaco à minha volta
e o soltou.

— Caralho, Melissa! — ele praguejou quando viu que eu usava o


vestido vermelho do nosso primeiro encontro.

Esbocei um sorriso ao ouvir aquela reação.

Noah voltou a devorar os meus lábios se movendo para tirar o


próprio casaco, ele envolveu o meu corpo erguendo-me do chão. Atirei
os sapatos para longe dos pés quando senti que o homem me carregava
em direção àquela cama enorme.

Noah me deitou sobre a cama, com o corpo acima do meu, uma


das mãos dele se enterrou no meu cabelo segurando os fios com
firmeza, e eu engoli um gemido ao senti-lo rígido contra o meu corpo.

Segurei a camisa que ele usava, erguendo o tecido para tirá-lo do


corpo dele, observei a tatuagem em seu peito, as marcas que eram, em
sua maioria, estranhas para mim, meus dedos exploraram as tatuagens,
reconhecendo os detalhes delas.

Noah segurou uma de minhas mãos e a levou aos lábios.

— Isso é real? — questionei deslizando minhas unhas da mão


esquerda pelas costas dele.

Noah agarrou o vestido que eu usava pelo meio, amassando o


tecido entre os dedos.

— É real — garantiu.
Ele segurou meu vestido com ambas as mãos e puxou a peça para
cima, me livrando da roupa, Ele observou meu corpo livre daquelas
peças de roupa, as mãos dele deslizaram pela minha pele causando
arrepios.

Meus dedos percorreram a calça dele, abrindo o cinto, o botão, e o


zíper, Noah se afastou de mim apenas para tirar os sapatos que usava, e
eu me ajoelhei na cama, beijando o pescoço exposto,

Ele atirou os sapatos no chão, e se livrou das meias, se afastou das


minhas mãos apenas para se livrar da calça com a cueca.

Minha boca secou ao ver o tamanho daquele pau, eu tinha noção


disso da nossa época de adolescentes, em momentos constrangedores,
quando Noah ficava excitado e tentava disfarçar, mas vê-lo
completamente despido me fez arder.

Noah apanhou apenas um pacotinho do bolso da calça antes de


largá-la no chão, deixando o pacote de lado, ele se sentou na cama, com
as mãos voltando a percorrer meu corpo, eu engoli em seco sentindo o ar
do quarto ser preenchido pelo cheiro cítrico da pele dele.

— Noah — sussurrei o nome.

— Hm? — ele questionou segurando meu corpo, e deslizando as


mãos pelas minhas costas até abrir o meu sutiã.

— Eu não tenho experiência com algo assim — admiti, e ele sorriu.

Claro que eu já tinha feito sexo antes, mas Anthony era tão
desproporcional, que chegava a ser decepcionante. Noah puxou o meu
rosto para perto do dele.

— Então vamos com calma — ele garantiu.


Sua boca voltou a minha, com a língua invadindo minha boca, meu
coração saltou no peito, então ele inclinou o corpo sobre o meu, fazendo
com que eu me deitasse outra vez, o ar a minha volta não parecia
suficiente para que eu respirasse com calma.

A boca dele explorou o meu corpo, provando a pele do meu


pescoço, até que Noah chegou aos meus seios, ele explorou cada um
deles, com a língua úmida, dando voltas nos mamilos e me fazendo
engasgar um gemido.

Ele lambeu minha barriga até segurar minha calcinha de renda com
as mãos, o objeto se rasgou com o puxão que ele deu, Noah me lançou
um olhar de desculpas, mas minha mente, conseguia focar apenas nele e
no quanto meu corpo latejava de desejo. Abriu minhas pernas com uma
das mãos, e seus lábios percorreram a extensão da minha coxa de forma
dolorosa.

Quando a língua de Noah me tocou, precisei me segurar ao


travesseiro para conter aquele desejo insano de gritar o nome dele.

Ele deslizou a língua úmida pela minha entrada antes de focar no


meu clítoris, e o ar naquele maldito quarto estava escasso, meu corpo
parecia prestes a entrar em combustão, mas ainda assim,
preguiçosamente, ele deslizou uma das mãos pela minha coxa até que
um de seus dedos tocou a minha entrada, e eu me movi inquieta para
senti-lo dentro de mim.

Noah enterrou um dos dedos em um movimento rápido, me


fazendo exalar o ar pesadamente, em seguida ele o retirou e enterrou
dois dedos, enquanto sua língua me percorria, um calor revirava o meu
ventre e meu coração parecia prestes a rasgar o peito. Então se afastou,
quando meu corpo se contorcia quase de forma incontrolável, apanhou o
pacote ao seu lado e abriu o preservativo.

Eu respirei com dificuldade me apoiando nos cotovelos.

Ele cobriu o pau com o preservativo, e voltou a se inclinar sobre


mim, afastando minhas pernas com as dele. Voltei a me recostar nos
travesseiros e o homem encostou o pau na minha entrada, eu estava
muito molhada naquele instante. Ele me segurou contra si, quando
começou a me penetrar de forma lenta.

Noah parecia testar o meu limite, tendo o cuidado de me deixar


ajustar ao tamanho dele, eu respirei entredentes enquanto ele se
enterrava cada vez mais fundo.

Me agarrei ao seu corpo, enterrando as unhas nas suas costas, a


boca do homem encontrou a minha, engolindo os gemidos altos que
escapavam de mim. Quando Noah estava completamente dentro de mim,
eu o senti deslizar para fora, e voltar a me penetrar numa estocada lenta.

Seus dedos entrelaçaram aos meus, segurando minhas mãos


acima da minha cabeça, e o homem se inclinou para tocar meus seios
com a língua outra vez me fazendo gritar:

— Noah!

A necessidade dele, me fazendo ansiar por mais.

— Você está bem com isso? — perguntou com um olhar ardente


em minha direção, que quase me fez gozar.

— Sim — sussurrei.

— O que você quer de mim, Mel?


— Tudo — respondi com o corpo tremendo contra o dele.

— Como você é gananciosa — Noah retrucou, me fazendo rir.

— Pare de me torturar — pedi.

Uma das mãos dele segurou minha perna junto ao seu corpo,
estocando com força, me fazendo gemer mais alto.

Noah continuou naquela velocidade, parecendo estar cada vez


mais fundo, meu interior se contorcia ao redor dele, meu coração parecia
prestes a explodir no peito, e eu continuava agarrada ao seu corpo,
puxando o rosto dele para um beijo.

Meu corpo estava prestes a explodir, eu conseguia sentir o


orgasmo se aproximando, e Noah, ao notar aquela mudança no meu
corpo, aumentou suas estocadas e eu não consegui engolir todos os
sons que me subiram pela garganta, o corpo dele me atingia, molhando o
meu com seu suor.

Eu me derramei trêmula, e Noah me segurou contra si,


mordiscando a pele do meu pescoço até que ele mesmo tivesse gozado.
Enquanto o corpo de Noah tremia sobre o meu, meus dedos percorriam
as costas dele, deslizando pelo suor.
Noah

Mel e eu tínhamos agido como dois coelhos naquele hotel, quando


fomos ao banheiro para tomar banho, nós acabamos transando uma
segunda vez na banheira, e quando ela disse que as pernas estavam
fracas, eu sorri, colocando o cabelo molhado atrás das orelhas dela.

Quando voltamos ao quarto usando roupão. Mel se sentou no meu


colo, enquanto nós comíamos, a refeição que havia sido deixada
intocada, e quando nos deitamos para tentar dormir, eu acordei de
madrugada com Melissa montando no meu corpo.

Já passava do meio-dia quando nós finalmente deixamos o hotel e


retornamos ao campus. Mel, que ligava o celular, observou a tela
inquieta.

— O que foi? — perguntei.

— Amber disse, que Liam e ela estão no bar, Elijah e os outros


estão a caminho, ela perguntou se íamos aparecer.

— Você quer ir? — inquiri.

— Quero — falou.
— Então vamos.

Mudei de direção, e Mel ligou o som do carro deixando aquelas


músicas que ouvíamos juntos preencherem o veículo.

Quando estacionei, nós caminhamos para dentro do bar e vimos


Elijah já sentado com Amber e Liam. Ele sorriu ao nos ver entrando de
mãos dadas.

— Achei que vocês só iam deixar o quarto de hotel quando


estivessem morrendo de inanição — ele falou.

Mel exalou um riso ao se sentar perto de Amber, deixando que eu


me sentasse ao lado de Elijah. Meu amigo colocou o braço sobre os
meus ombros e lançou um sorriso em direção a Mel.

— Não vamos perder tempo, estamos aqui para beber — Mel disse
livrando-se das piadas de Elijah.

Caminhei até o balcão para pegar bebidas para nós, e quando


voltei, já avistei Hayesha e Jack entrando no bar, os dois caminharam
para a mesa e eu entreguei uma bebida a Mel, ela começou a beber.

— Vai com calma — Amber sugeriu.

— Esquece, nem Liam consegue competir com ela

— Vou pegar bebidas — Jack falou beijando minha irmã ao se


levantar.

Hayesha sorriu quando o namorado se afastou, e Elijah me


cutucou.

— Pode me dar licença? — pediu.


— Vai ao banheiro? — perguntei me afastando.

— Não, tenho algo importante para fazer — ele disse, e deixou


vinte dólares em cima da mesa.

— Elijah? — Amber chamou, mas ele só acenou.

Enquanto Elijah caminhava para fora do bar. Liam se levantou para


seguir nosso amigo, eu estava prestes a ir atrás deles, quando Hayesha
me segurou.

— Deixe os idiotas se resolverem — aconselhou.

— Eles são meus amigos, Hayesha — lembrei.

— E você vai deixar sua namorada para ir atrás de um amigo que


não parece estar ligando muito para vocês? — Jack indagou se sentando
ao lado da minha irmã.

— Qual a porra do seu problema? — questionei o namorado da


minha irmã que ficou de pé.

— Noah, já chega — Hayesha falou.

— Achei que você não namorasse babacas, Hayesha, o que


mudou? — perguntei irritado sem desviar os olhos do rosto do idiota.

— O rei dos babacas quer discutir níveis de babaquice — Jack


retrucou rindo. — Vamos nos poupar da hipocrisia, Noah.

Eu estava prestes a agarrar o namorado da minha irmã pela


camisa, quando Liam voltou, pela maneira como meu amigo veio nos
encarando, me perguntei se ele ia socar alguém, mas Liam desabou
perto de Amber e encarou Hayesha.
— E então? — Mel perguntou interrompendo toda aquela confusão
com a voz calma. — Conseguiu falar com ele?

— É melhor darmos um pouco de espaço para Elijah — Liam disse.

Amber segurou o braço de Liam estudando seu rosto, e os dois


trocaram um olhar que provavelmente só eles entenderiam. Jack voltou a
se sentar, e Mel se levantou.

— Vamos dar uma volta — ela sugeriu.

Deixei dinheiro em cima da mesa para cobrir nossa parte da conta,


e saímos do bar, eu estava prestes a andar em direção ao carro, quando
vi Mel seguindo andando pela calçada.

— O que foi? — questionei.

— Vamos procurar o nosso amigo para entender o que ele está


passando — ela falou.

— Não é melhor ir de carro? — perguntei.

— Não, o carro dele está ali — Mel apontou para o carro de Elijah
estacionado, e nós começamos a andar pelo campus procurando por ele.

Eu seguia Mel, enquanto ela movia os olhos como se procurasse


Elijah pelo lugar, ela vasculhava as árvores com os olhos, e até as
vitrines das cafeterias.

— Me desculpe por aquela quase briga — falei. — Se eu não


tivesse me distraído com Jack, saberíamos o que Elijah conversou com
Liam.

— Se você não tivesse no caminho, eu teria provavelmente jogado


o copo na cabeça daquele imbecil — Mel avisou sem me encarar.
Nós percorremos toda a área ao redor do bar, mas não havia o
menor sinal de Elijah, eu tentei ligar para ele algumas vezes, mas meu
amigo não atendeu as chamadas.

— Ele sempre age assim? — Mel perguntou.

— Faz muito tempo que não vejo ele agir desse jeito — admiti.

— Espero que ele esteja bem — Mel sussurrou.

— Vamos, está frio. Elijah provavelmente está com alguém —


garanti.

Nós seguimos de volta para o carro, e mandei uma mensagem para


Liam no caminho, dizendo que não voltaríamos para o bar.

Quando deixei Mel no Eagle’s, ela sorriu, apesar da preocupação


com Elijah.

— Obrigado por ontem — falei.

— Eu que agradeço. Aquilo foi inesquecível — confessou.

Esbocei um sorriso ao puxar o rosto dela para um beijo.

Mel desceu do carro e seguiu para o interior do dormitório, só então


voltei a dirigir. Ainda que eu soubesse que Elijah não atenderia o
telefone, continuei tentando ligar para ele.

Meu celular sinalizou uma mensagem de Liam, dizendo que Elijah


precisava de um tempo e eu não me preocupasse.

— Que porra está acontecendo com ele? — digitei em resposta.

— Elijah realmente está com o coração partido, vamos dar tempo


para ele pensar, antes de nos contar com calma o que aconteceu — Liam
respondeu.

Eu odiava quando me deixavam de lado. Elijah sempre foi muito


próximo de Liam, e os dois tinham segredos desde a adolescência, o que
me incomodava, mas nunca incomodou tanto quanto naquele instante.

Elijah estava com o coração partido, e tudo que eu podia fazer


como amigo, era esperar que ele quisesse conversar? — Me questionei.

Se ao menos tivesse certeza de quem havia partido o coração do


meu amigo, poderia tentar resolver as coisas, entender melhor a
situação.

Talvez Liam falasse com Amber sobre aquilo, e ela contasse a Mel,
ponderei enquanto suspirava e tentava outra vez ligar para Elijah, apenas
para ouvir a voz dele dizer:

— Oi, aqui é o Elijah, provavelmente eu estou dormindo agora,


deixa um recado que eu retorno depois.

— Porra, Elijah! Dá para você uma vez na vida confiar em mim e


me deixar te ajudar? — questionei e desliguei.
Melissa

Tinha esperança de que Amber me contasse algo sobre Elijah, mas


tudo que Liam tinha dito para ela a respeito, foi que ele precisava de um
tempo, e que ninguém deveria importuná-lo.

Meu coração apertava, em todo o tempo que conhecia Elijah, ele


nunca tinha parecido tão decepcionado quanto naquela tarde.

Duas semanas tinham se passado desde que ele passou por


aquele problema, Noah e Liam, garantiram que ele parecia bem, mas
quando eu topava com Elijah, ele sempre erguia o celular e dizia ter um
encontro.

Com as festas de fim de ano, nós tínhamos combinado que


passaríamos todos na minha casa, eu tinha tomado o cuidado de sondar
com Noah, para saber onde Jack passaria o Natal, antes de chamar
Hayesha, tudo que eu não precisava, era estragar o Natal e meu
aniversário, quebrando algo na cabeça de Elijah.

— Você falou com a sua mãe? — perguntei a Amber, enquanto


minha colega de quarto preparava uma mochila com roupas.
— Falei, Liam e eu vamos buscá-la com Anne. Ela demorou um
pouco para aceitar invadir o Natal de alguém, mas como expliquei que é
o seu aniversário, ela aceitou.

— Que bom — comentei. — Você conseguiu falar com Elijah nas


últimas semanas?

Amber suspirou enfiando alguns objetos na mochila.

— Não, sempre que vou ao quarto de Liam, Elijah não está, ou está
de saída.

— Encontros? — questionei, e ela assentiu em confirmação. —


Encontrei com ele algumas vezes no corredor e ele sempre usa essa
desculpa.

— Acho que, Liam pode ter razão, talvez Elijah precise de um


tempo — falou.

— Você acha que Hayesha… — sussurrei tentando não parecer


uma acusação.

— Liam me disse, que quando ele era adolescente, soube que


Hayesha nunca tinha beijado ninguém e pegou no pé dela para ser o
primeiro, mas Hayesha com raiva dele, acabou dando o primeiro beijo
com Elijah, depois disso eles não tiveram mais nada, Liam e Elijah
sempre prometeram a Noah que não magoariam a irmã dele.

— Você estava no bar antes de nós, Elijah já parecia estranho? —


perguntei, e Amber negou com a cabeça.

— Parece que está acontecendo algum tipo de rivalidade entre


Elijah e Jack. Liam me disse que os dois costumavam se dar bem, mas
há algum tempo, Jack tem agido como agiu no bar, e Elijah não acerta as
contas com ele porque tem medo de perder a posição no time — Amber
contou.

— Não gosto dele — admiti.

— Existem estudos, que dizem, que nosso corpo tem maneiras de


detectar padrões em pessoas, quando vemos alguém que não gostamos,
apenas por olhar, esses estudos dizem que nosso cérebro reconhece
padrões que vimos em alguém que nos fez mal, e acaba nos alertando
para nos afastarmos dessa pessoa que olhamos — Amber disse.

— Bom, pelo bem de Hayesha, eu espero que tenha sido uma


impressão errada.

****

Entrei em casa carregando a minha mochila e gritei pelo meu pai, o


homem surgiu com um sorriso no rosto, o cabelo escuro já tinha algumas
mechas grisalhas, e o sorriso já fazia várias marcas de expressão
surgirem no rosto dele.

— Você está em casa! — ele comemorou me levantando do chão.

— Cuidado — falei voltando a pisar no chão. — Não posso te dar


mais um rim.

Meu pai me olhou com uma carranca, e eu abracei o braço dele.

— Desculpe a brincadeira — sussurrei.

— Quando seus amigos chegam? — perguntou retornando ao


humor anterior.

— Noah e a irmã estão a caminho, Liam e Amber, foram buscar a


mãe dela, e Elijah, só Deus sabe — falei.
— Então o Noah finalmente abriu os olhos para ver que você
sempre foi a pessoa certa para ele — papai comemorou pessoalmente.

Revirei os olhos.

— Tente não ficar dando atenção só a ele a noite toda — pedi.

— Eu adoro aquele garoto, lembro quando vocês dois passavam


tanto tempo juntos, que sua mãe dizia que vocês namoravam desde que
usavam fraldas.

— Vou levar as coisas pro quarto, Maria está preparando o jantar?


— perguntei pela empregada, que me conhecia desde que eu estava no
útero da minha mãe.

— Sim, veja se você consegue convencê-la a ficar para o seu jantar


de aniversário — papai pediu.

— Vou tentar — prometi carregando a mochila pelas escadas.

Observei o quarto que não usava há algum tempo, e sorri ao notar


que Maria provavelmente arrumou a bagunça que eu tinha deixado ali da
última vez que estive em casa.

Joguei a bolsa em cima da cama e corri de volta pelas escadas,


assim que entrei na cozinha, a mulher mexicana soltou a faca que vinha
usando para cortar legumes.

— Mi pelirroja[1]! — ela exclamou me abraçando.

Maria era uma mulher baixinha que tinha mais de cinquenta anos,
ela estava sempre cantando pela casa, músicas num espanhol que me
encantava quando era criança.

— Mi querida! — falei empolgada ao ser esmagada pela mulher.


— Como estás linda, hija — ela falou em um inglês carregado de
sotaque.

— Obrigada, não estou mais bonita do que você — falei e ela me


beliscou a barriga.

— Soube que você e o pequeno Noah estão namorando — ela


disse com um sorriso que iluminou o rosto.

— Ele não é mais, pequeno, querida.

Caminhei pela cozinha e peguei a faca para ajudar Maria, a mulher


levou a mão ao peito, lembrando da vez em que eu quase amputei parte
do dedo tentando ajudar ela na cozinha. Maria lançou uma prece a Deus
quando notou que eu estava usando a faca corretamente.

— Maria? — chamei, e ela, que abria o forno para verificar o peru,


me respondeu em espanhol. — Você vai ficar para o jantar hoje?

— Dios mio, pelirroja.

— Maria — falei com a voz carregada de súplica.

— Não posso.

Fiz um bico, e deixei a faca de lado, abraçando a mulher.

— Vai me abandonar? — perguntei.

— Você está grande demais para isso, pelirroja.

Ouvi meu pai falando aos gritos, de empolgação, e imaginei que


Noah tivesse chegado.

— Vá cumprimentar seus convidados.


— Mas... você não vai mesmo ficar? — pressionei.

— Posso ficar uns minutos — ela avisou, e eu sorri vitoriosa. — Vá


falar com os seus amigos e deixe minha cozinha.

Corri para fora da cozinha antes que ela me acertasse com o pano.

Meu pai ainda conversava com Noah quando cheguei na sala, e


Hayesha parecia meio alheia a situação, a garota suspirou aliviada
quando me viu.

— Vou levar vocês para os quartos lá em cima, para vocês


guardarem suas coisas — chamei.

Os dois me seguiram, mesmo que Noah tivesse que praticamente


fugir do meu pai para fazer isso, então mostrei o meu quarto para
Hayesha, e ela colocou a mochila em cima da minha cama.

— Pode ficar à vontade, eu vou mostrar o quarto que eles vão


dormir — avisei a garota, enquanto saía do quarto.

Guiei Noah pela casa até o quarto de hóspedes, ele colocou a


mochila na cama e me segurou junto a si.

— Achei que fosse conseguir um tempinho sozinho com você —


ele falou roçando os lábios contra os meus.

— Não sei se teremos tempo hoje, mas eu estou ansiosa para ter
um tempo a sós com você — admiti.

— Mel, chegaram mais convidados — meu pai gritou do andar de


baixo, e eu me afastei de Noah, para descermos as escadas juntos.

Elijah estava na entrada, Amber, Liam, Nora, e Anne também.


— Parece que chegaram todos — falei animada quando desci as
escadas.

Depois das apresentações, eu acabei levando os demais para os


quartos, e voltei para o andar de baixo com eles.

Meu pai estava conversando com a mãe de Amber, que não havia
subido conosco.

****

Já estávamos colocando a mesa para o jantar, e meu pai ainda


conversava com a mãe de Amber, lancei um olhar para a loira.

— Você acha aquilo ali normal? — perguntei.

— Parece que eles estão se entendendo bem — Hayesha


comentou enquanto me ajudava a decorar a mesa.

— Nunca vi minha mãe conversando dessa maneira com alguém


— Amber disse.

— Se eles se casarem, Melissa, você vai ganhar duas irmãs —


Hayesha comentou rindo.

— Eles não vão se casar — Amber retrucou lançando um olhar


para os nossos pais.

Pela primeira vez em muito tempo, tive um jantar de aniversário


cheio de risos. Meu pai parecia animado com a mesa cheia de pessoas,
Maria estava sentada, comendo, enquanto resmungava em espanhol que
éramos muito barulhentos.

Até mesmo Elijah parecia estar se divertindo naquele jantar.


Noah

Depois do jantar, Amber pegou Anne que dormia no colo da mãe e


disse que levaria a menina para dormir com ela, Mel e Hayesha também
caminharam pelas escadas, então Elijah, Liam e eu, acabamos nos
recolhendo.

Enquanto subia as escadas, lancei um olhar para trás e vi a mãe de


Amber e o pai de Mel sentando lado a lado no sofá.

Se aquilo ali não acabaria em sexo, eu desconhecia o assunto.

Sacudi a cabeça para tirar aquela ideia dali e caminhei até o quarto
de hóspedes que tinha dois beliches. Subi na cama de cima de um deles,
e Elijah acabou tomando a cama superior do outro. Liam se deitou na
cama embaixo da de Elijah.

— Não vou arriscar você cair em cima de mim de madrugada —


Liam falou.

Elijah riu.

— Como sua família deixou você vir para cá hoje? — perguntei a


Elijah.
— Eu não pedi permissão, só entrei no carro e vim para cá. E o
celular está desligado — avisou.

— Quem é você e o que fez com nosso amigo? — questionei, e


Elijah riu.

— Passei minha vida inteira seguindo regras e lidando com as


minhas promessas, no final, isso não me rendeu os frutos que eu
gostaria, então estou dando um tempo — ele retrucou.

— Precisamos de uma grande festa de ano novo — Liam


interrompeu aquela conversa.

— Eagle’s? — Elijah perguntou.

— Sempre — ele rebateu.

— Temos uma semana para organizar tudo, ao menos você pensou


com antecedência dessa vez — falei fazendo Liam rir.

****

Desde que tínhamos pisado no campus outra vez. Liam nos fez
trabalhar na festa de ano novo, Mel e Amber estavam ocupadas com a
decoração, e minha irmã apenas Deus sabia em que buraco tinha se
enfiado.

Deixei um botijão de cerveja em um canto da sala, e me joguei no


sofá, ignorando os pedidos de Liam, eu tinha prometido a mim mesmo
que se ele aparecesse na minha frente pedindo mais um favor, eu o
mataria.

— Parece que você está se esforçando demais — Mel falou


próxima de mim, puxei a minha namorada para o sofá e a envolvi.
Amber pigarreou me fazendo soltar Melissa.

— O seu namorado é um filho da puta carrasco — avisei, e a loira


riu.

— Ele só age assim com vocês, porque vocês fazem tudo que ele
manda — ela avisou.

Elijah que estava cochilando numa poltrona com as pernas caídas


sobre um dos braços, e a cabeça pendurada, acabou acordando quando
começamos a falar.

— Pode me ajudar com isso? — Amber pediu a Elijah entregando


um globo.

Ele se levantou do sofá praguejando, e movendo o pescoço para


se livrar de alguma tensão.

— Sai da frente Polegarzinha — ele disse pegando o globo das


mãos de Amber, e se esticando para pendurar no teto.

— Só não te dou um chute porque você está ajudando — ela


avisou entregando outros objetos para ele pendurar.

— Falando em coisas dignas de chutar, onde está o seu


namorado? — perguntei a Amber.

— Ele disse algo sobre quebrar uma loja de fogos de artifício — ela
comentou entregando outro objeto para Elijah.

— E você não fica preocupada que ele realmente vá fazer isso? —


Mel perguntou.

— Liam é inofensivo — Amber sussurrou.


Eu me levantei para voltar a organizar o bar, enquanto Mel subia no
sofá para pendurar os objetos. Me perguntei para que, as duas
compraram tanta decoração, se alguém chegasse à meia-noite sóbrio
seria um milagre. Ajustei as bebidas na estante que Liam já tinha deixado
naquele cômodo, de forma permanente.

— Olhem, se eu precisar fazer outra confusão para ter as coisas


que paguei, vou desistir dessa festa, e passar o ano novo bêbado em
algum lugar — Liam praguejou ao entrar na sala com várias sacolas nas
mãos.

— Pensei que você tinha caído em algum buraco aberto na rua —


Elijah resmungou. — Ajude a sua namorada a decorar, que eu vou
montar essas coisas lá fora.

— Vocês souberam algo da minha irmã? — perguntei olhando de


Amber para Mel.

— Ela me disse precisar de um dia de beleza para fazer uma


surpresa para Jack — Amber contou.

— Uma grande surpresa seria ela dar um pé na bunda daquele


inútil — resmunguei voltando ao trabalho.

Ainda não tinha esquecido os comentários dele sobre Elijah, e nem


pretendia esquecer.

O trabalho de decoração consumiu boa parte da nossa tarde,


quando tudo estava finalizado, Amber e Mel foram se arrumar, algumas
pessoas já chegavam para a festa. Eu me sentei em um lugar e comecei
a beber, Liam e Elijah, já estavam bebendo comigo. Cerca de uma hora
depois, Mel e Amber desceram, as duas estavam usando vestidos curtos,
o de Mel era branco, e o da loira azul.
Amber pegou um refrigerante, enquanto Mel se sentava para beber
conosco.

Servi a bebida forte em alguns copos.

Liam, Elijah, e eu, rimos, mas Mel observava os copos séria, aquela
garota sempre foi competitiva. Um instante depois que servi as bebidas,
e gritei que começássemos, nós começamos a entornar os copos, e Mel
terminou primeiro do que eu e Liam.

— Elijah e Mel terminaram ao mesmo tempo — Amber disse.

Sendo a única sóbria ali, nós confiamos nela.

Servi mais doses para Elijah e Mel, e a ruiva sorriu para Elijah
como se esperasse que o sorriso distraísse meu amigo.

A sala já estava cheia àquela altura, pessoas que eu sequer


conhecia estavam ali, e uma música ensurdecedora preenchia a sala.

Quando eu disse para os dois beberem, Elijah chegou apenas ao


terceiro copo antes de ficar mortalmente imóvel. Estalei os dedos na
frente do rosto do meu amigo tentando atrair a atenção dele, mas o grito
de vitória de Mel me distraiu.

Mel ergueu a palma para Amber, e a loira acertou a mão na dela.

— Eu demorei, mas cheguei — Hayesha falou ao se aproximar da


nossa mesa. — Vocês viram o Jack?

— Hayesha… — Elijah sussurrou, mas minha irmã o ignorou,


pegando o celular do bolso.

Minha irmã pegou o controle que estava em cima da nossa mesa, e


pausou a música, quando o celular tocou do outro lado da festa, Elijah
ficou de pé, se colocando em frente a Hayesha, meu amigo segurou o
rosto da minha irmã e eu me levantei, temendo que Elijah tivesse bebido
demais e estivesse prestes a fazer uma merda descomunal.

— Ei, cara, tá bêbado? — perguntei.

— Não vá até lá — Elijah sussurrou, me ignorando.

O celular parou de tocar e a festa inteira parecia estranhamente


silenciosa, Hayesha afastou as mãos de Elijah de si e o empurrou para o
lado, sem dificuldade, já que meu amigo estava meio alto naquele
instante.

Mel segurou meu braço, e eu baixei os olhos para a minha


namorada ainda segurando o braço de Elijah, ela me indicou o outro lado
da sala, e vi Jack com uma garota no colo, eles estavam tão colados, que
me perguntei se estavam transando ali no meio daquela festa.
Melissa

Continuei segurando o braço de Noah, imaginando que se eu o


soltasse, ele partiria a cabeça de Jack ao meio. Amber, que estava com o
corpo apoiado no de Liam, praguejou ao ver o que nós víamos, meus
olhos se voltaram para Hayesha e percebi que o rosto dela estava pálido,
uma lágrima escorreu pela bochecha dela, apenas aquela lágrima.

Ela não mentiu quando disse que estava se preparando para fazer
uma surpresa para Jack, Hayesha estava maquiada, a pele dela parecia
brilhar, como se tivesse acabado de sair de um spa. Ela usava um
vestido solto, rosa.

A decepção no rosto de Hayesha era evidente, ela apanhou a


garrafa de bebida que estava em cima da mesa, escapando da minha
mão quando tentei agarrar a garrafa, e a garota a arremessou, sorte de
Jack e da garota que ela tinha mira ruim. A garrafa se espatifou na
parede ao lado da cabeça do namorado dela.

Hayesha marchou em direção ao namorado, a garota que saiu de


cima dele, desapareceu na multidão, era até mesmo difícil localizá-la.
Jack ficou de pé, percebendo que seria atacado, Hayesha acertou o rosto
dele com um tapa, e se afastou.

— Você é um porco imundo! Não tem talento para futebol, e nem


mesmo para satisfazer uma mulher, sua aparência te garantiu tudo que
tem, mas vou te lembrar de uma coisa, meu querido, sua aparência não
será essa para sempre. Eu espero ver seu futuro glorioso quando estiver
decrépito e sozinho em algum lugar — ela falou.

— Hay… — ele sussurrou.

— Não me chama de Hay, seu imbecil! Se você tiver apreço pela


vidinha de merda que está levando, é melhor nunca mais cruzar o meu
caminho — ameaçou.

Quando Hayesha se virou para nós, ela encarou Elijah que estava
observando a tudo aquilo imóvel.

— E você também! — ela disse. — Você ia simplesmente me


impedir de ver isso, me deixando ser humilhada dessa maneira.

— Eu só estava tentando te proteger — Elijah rebateu.

— Proteger? — ela riu limpando a lágrima que rolou pelo rosto. —


Você, com essa sua pose de bom moço, pode enganar todos aqui, mas
não me engana! Não é melhor que Jack, Noah, ou o imbecil do Liam. Eu
quero que você apodreça bem longe de mim. Queria tanto defender seu
amigo, vai lá, consolá-lo, por perder a melhor coisa que aconteceu com
ele, por ser um babaca inútil.

Ela passou por Elijah e saiu da festa, as pessoas que pegaram as


bebidas das prateleiras começaram a levar a festa para fora do prédio.
Encarei Amber, tendo uma conversa silenciosa com ela.
— Eu vou atrás dela — a loira sussurrou.

Noah e Liam, foram até Jack, que continuava imóvel.

Não prestei atenção ao que os dois discutiram com o babaca,


apenas observei Elijah desabar no sofá, finalmente percebi o que esteve
tão óbvio todo aquele tempo, Elijah era realmente apaixonado por
Hayesha, eu enxerguei nele, aquela dor que eu mesma tinha carregado.

Me sentei ao lado do amigo de Noah, e ele me encarou com os


olhos vermelhos.

— Eu realmente tentei protegê-la. Ela não merecia passar por isso


— ele sussurrou.

— Eu sei — admiti.

Envolvi o braço de Elijah, e encostei minha cabeça no ombro dele.


Elijah pareceu incerto ao recostar a cabeça na minha.

— Se você se afastar de mim agora, — ele sussurrou quando eu


estava prestes a soltar o braço dele, algo na voz de Elijah me deixou
mortalmente quieta — não sei o que vou ser capaz de fazer com ele.

Agarrei o braço de Elijah com mais força, observando a confusão


que acontecia entre Liam, Noah e Jack.

— Não vale a pena — lembrei.

— Eu sei — concordou no mesmo tom de voz assustador.

— Vem comigo — chamei me levantando, e puxando Elijah para


fora da festa.
Ele pareceu demorar a entender o que eu estava querendo dizer,
mas assim que puxei o braço dele com força, Elijah se deixou guiar para
fora daquela sala, eu o guiei pelo dormitório em direção as escadas, nós
começamos a subir os degraus com passos lentos, Elijah parecia me
seguir de forma mecânica.

— Não, espera, eu não posso simplesmente ir para o quarto,


preciso falar com ela — ele estagnou no meio dos degraus.

— Elijah, confia em mim, eu já estive na posição que você está.


Nada do que você disser a Hayesha agora, vai fazê-la ver as coisas de
outra maneira — avisei.

Ele me olhou espantado.

— Liam contou? — questionou.

— Não, Amber me disse que ele não falou nada, mas ficou bem
óbvio quando te vi lá dentro — expliquei.

— Porque você passou pelo mesmo com Noah — Elijah lembrou, e


eu assenti.

— Como você suportou isso? — ele me perguntou.

— Quando amamos uma pessoa de verdade, desejamos que essa


pessoa seja feliz. Era isso que eu pensava com relação a Noah, que se
ele estava feliz, eu estava bem — falei.

O amigo de Noah escapou do meu aperto em seu braço e se


sentou na escada, eu me sentei perto dele. Elijah me estudou por um
momento.

— Vai sujar seu vestido — avisou, e eu ri.


— Eu coloco na máquina de lavar.

Nós ficamos em silêncio, com aquele humor mínimo que eu trouxe


para a nossa conversa, se dissipando.

— Você vai ficar bem — garanti. — Deixe Hayesha se acalmar um


pouco, ela estava realmente apaixonada por Jack. No último mês, ela
nos disse que ele nunca fez nada romântico por ela, porque dizia que
qualquer momento em qualquer lugar era especial se estivessem juntos.
Ela perdeu um dia inteiro longe de todos nós para fazer uma surpresa
para ele, e quando chegou, ela foi surpreendida da pior maneira possível.

Elijah assentiu ao ouvir aquelas palavras.

— Nesse momento, tudo que ela consegue ver é a raiva que está
sentindo, mas não se preocupe, quando ela se acalmar um pouco, você
pode tentar falar com ela, — sugeri — mas posso te dar um conselho?

Elijah fez que sim e voltou os olhos para o meu rosto.

— Não se diminua para caber no mundo de ninguém. Você é uma


pessoa maravilhosa, Elijah — falei.

— Obrigado pela conversa — ele sussurrou e beijou minha cabeça


antes de subir as escadas, me deixando sozinha com meus
pensamentos.

Continuei imóvel, observando o térreo do dormitório. Liam saiu


arrastando um Noah furioso daquela sala, e eu me sentei reta,
observando o meu namorado forçando o próprio corpo para voltar para
perto daquele desgraçado.

Talvez Jack estivesse muito bêbado para agarrar uma mulher ali,
no meio da festa, aos olhos de qualquer um de nós, mas independente
do estado mental dele, a merda que fez, não podia ser desfeita.

Me levantei e desci os degraus da escada, parando perto de Noah,


que me encarou com uma expressão derrotada.

Liam o soltou, quando notou que o amigo já não se debatia.

— Não protegi a minha irmã — ele murmurou.

— Eu sei — falei segurando o rosto dele.


Noah

Quando a queima de fogos começou, eu estava sentado com Mel


nas escadas, a minha namorada me dizendo para deixar Hayesha com
Amber. Mesmo que Amber fosse uma pessoa que eu julgava ser difícil,
sempre soube que ela era confiável, além disso, ela tinha experiência
com relações difíceis, pelo que Liam contou dos pais dela.

Fechei os olhos me permitindo relaxar um pouco, para não seguir


Jack.

O desgraçado tinha fugido enquanto Liam me arrastava para fora


daquela sala, antes que eu realmente partisse o crânio dele. Ele fez a
minha irmã chorar, e eu não podia perdoar aquele tipo de atitude.

— Provavelmente, a última coisa que sua irmã quer ver nesse


momento, é um jogador de futebol, dê tempo a ela — Mel sussurrou me
trazendo de volta dos meus pensamentos.

— Mesmo sendo jogador de futebol, eu ainda sou o irmão dela —


lembrei.

— Eu sei — comentou.
Mais fogos de artifício soaram ao longe, e os gritos das pessoas
que comemoravam o ano novo fora do prédio. Mel e eu olhamos pela
janela, observando os fogos, que explodiam ao nosso redor. Segurei a
mão de Melissa, e ela me olhou.

— Feliz ano novo, Mel. — Sussurrei e ela sorriu.

— Feliz ano novo, Noah — respondeu se inclinando para me beijar.


— Um beijo à meia-noite — ela sussurrou ao afastar os lábios dos meus,
apenas por um instante.

Mesmo com as últimas horas sendo dignas de um pesadelo, eu


tinha ao meu lado, algo que me colocava de volta nos eixos. Melissa
Turner estava ao meu lado, mesmo depois de tudo que eu tinha feito.

A boca de Mel estava fria contra a minha, envolvi o corpo dela com
meu braço, puxando-a mais para perto de mim. Enquanto eu tentava
aquecer o corpo dela. Mel segurou meu rosto com a mão fria, e os olhos
verdes me encararam.

— Eu te amo, Noah — Mel sussurrou pela primeira vez desde que


tínhamos começado a namorar.

Meu coração acelerou ao ouvir a garota dizer aquelas palavras, e


eu a puxei para mim, beijando aquela mulher, com todo o desejo que
vinha me consumindo desde que botei os olhos nela, quando voltou para
minha vida.

— Eu amo você, sempre foi você — garanti.

Mel voltou a me beijar, com a língua percorrendo meus dentes,


aquele desejo me aquecia completamente, e se não fosse a situação em
que nós estávamos, eu teria pegado minha namorada em um cômodo
qualquer daquele dormitório.
Interrompi o nosso beijo com aquela promessa silenciosa nos meus
olhos.

— Vamos beber algo — sugeri.

Nós descemos a escada e seguimos em direção a sala, que


parecia ter sido saqueada. Mel se sentou em um banco junto ao bar, e eu
dei a volta no balcão, para procurar alguma bebida que estivesse ali.

— Vodka — sussurrei olhando para ela.

Mel contorceu o rosto, e eu ri.

— Não foi isso que você bebeu quando tentou fazer aquele strip na
mesa? — perguntei abrindo a garrafa.

— Ao menos dessa vez não teremos uma plateia — ela rebateu,


me fazendo rir mais, enquanto servia duas doses da bebida.

Entreguei um dos copos para Mel e ela o ergueu em um brinde.

— As velhas e novas lembranças — falou.

Bati com o meu copo contra o dela e observei enquanto a garota


virava o copo, engolindo a bebida. Acabei bebendo em seguida, em um
gole.

— Eu não imaginei que a Melissa Turner, que dançava bêbada em


cima de mesas, se tornaria uma pessoa tão sábia — admiti.

— Também não imaginou que a Melissa, tábua, teria um corpão,


mas cá estamos, o planeta gira — ela retrucou me fazendo rir.

— O fato de você ser uma versão menos insana da Arlequina


também é uma novidade — falei e Mel gargalhou.
— Acha que sou menos insana que ela? — ela interrogou.

Observei a mulher com alguma incerteza, ela já tinha bebido


bastante antes, e tinha acabado de entornar uma quantidade generosa
de vodka.

— Um bulldog comeu sua língua, Noah?

Exalei um riso, e ouvi um baque, quando ela deixou os sapatos


caírem no chão, afastando os copos que estavam em cima do balcão, e
subiu nele.

Me vi imóvel, observando a garota que se sentou no objeto.

Melissa me segurou pela camisa, e me puxou para perto de si, com


uma perna de cada lado do meu corpo. Mel me estudou com uma
expressão tão sexy, que meu pau latejou ao estudar aquele rosto.

— Quanto a bebida está te afetando? — perguntei com a voz


rouca.

— Não tanto quanto você imagina — respondeu esboçando um


sorriso naqueles lábios, cobertos por uma camada generosa de batom
escuro.

— Tem certeza? Você está parecendo um pouco fora de si —


admiti, temendo que ela estivesse bêbada demais para lembrar do que
aconteceria ali.

— A linha entre a luxúria e a insanidade é muito tênue, Noah


Brown, eu sinto que cruzei o limite há muito tempo, e a culpa é toda sua
— ela avisou.

— Minha? — indaguei me divertindo com a situação.


— Sim — ela respondeu, deslizando pelo balcão, enquanto
rodeava meu corpo com as pernas. — Você bagunçou a minha cabeça
muito tempo atrás.

— E o que você acha que fez com a minha? — perguntei


segurando o quadril dela.

Mel piscou os olhos inocentemente.

— Essa sua boca suja, e seu jeito ardente, são a minha


condenação.

— Estou te arrastando para o inferno? — ela questionou.

— Não, você está me levando para onde quiser ir, porque


independentemente de onde for, eu irei com você — avisei.

Minha boca capturou a dela, e meus dentes prenderam o lábio


dela, com alguma força. Mel pressionou o corpo contra o meu, deixando
o meu pau ainda mais duro, ao notar que estava tocando a boceta dela,
mesmo com todas aquelas camadas de roupas que nos separavam.

Finalmente segurei o cabelo dela e aprofundei aquele beijo,


deixando qualquer resquício de pensamento longe da minha cabeça, eu
precisava desesperadamente do corpo dela no meu, precisava ouvir o
meu nome saindo daqueles lábios em forma de gemido.

Levantei as saias folgadas do vestido que ela usava, e segurei a


calcinha que ela usava, puxando o tecido para baixo. Meu coração
disparou no peito quando senti os dedos de Melissa tateando minha
calça, tentando me libertar daqueles tecidos, que naquele instante eram
uma tortura tão frustrante para mim, quanto para ela.
Mel mordeu meu ombro quando me enterrei nela, engolindo um
grito, aquela reação me deixou momentaneamente imóvel, mas Melissa
se moveu, ansiosa por mais.

Segurei o balcão daquele bar com uma das mãos, e a cintura da


mulher com a outra, enquanto estocava contra o corpo dela. Sentindo
seu interior quente, me apertar de uma maneira que apenas me
enlouqueceu mais.
Melissa

Quando me levantei, depois das quatro da tarde, vi que Amber


estava sentada na cama dela, observando o celular.

— Boa tarde! — sussurrei.

— Boa tarde! — ela sorriu.

— Como você está com essa aparência? — perguntei ao ver a loira


com o cabelo penteado, e uma roupa simples, mas limpa e sem estar
amarrotada.

— Essa é a vantagem de não beber — ela respondeu rindo.

Embolei na cama para me sentar com o lençol em volta do meu


corpo.

— Como Hayesha está? — questionei quando finalmente um filme


da noite anterior passou pela minha cabeça.

— Nada bem — Amber suspirou, deixando o celular de lado. —


Mesmo que para todos nós, Jack fosse um completo inútil. Ela gostava
bastante dele, e ainda gosta.
— Vai precisar de tempo para esquecer completamente —
sussurrei, e Amber assentiu.

— Você conseguiu falar com Elijah ontem?

— Conversamos um pouco. Eu consegui convencer ele a não ir


atrás de Hayesha ontem — contei apenas aquela parte da conversa,
porque não sabia se Amber tinha notado a paixão de Elijah por Hayesha,
ou se eu acabaria revelando algo que não me diz respeito.

— Foi melhor ele não ter ido até lá — admitiu.

Nós ficamos quietas por um tempo longo, então, prendi o cabelo no


elástico que estava preso no meu braço, eu tinha chegado no quarto
depois das três da manhã, Noah e eu tínhamos secado a garrafa de
vodka, me lembro de ter tomado banho, e me enfiado no pijama antes de
desmaiar na cama.

— Não consigo imaginar como Elijah está se sentindo — minha


colega de quarto sussurrou depois de um longo instante.

Encarei a loira me perguntando se ela tinha finalmente percebido.

— Ele tentou proteger Hayesha de ver algo que a magoaria muito e


acabou sendo colocado na mira dela, com Jack — explicou quando não
respondi imediatamente.

Exalei pesadamente me livrando do lençol e me encostando na


parede.

— Acho que o problema está maior do que você imagina —


confessei, e Amber me olhou confusa. — Se as coisas acontecerem
como imagino, talvez Elijah saia disso ainda mais ferido.
— O que você quer dizer? — ela perguntou.

— Não é óbvio? — murmurei.

— Acha mesmo que Elijah está apaixonado por ela? — Amber


perguntou com a voz mais baixa.

Quase como se o assunto fosse perigoso.

— Tenho certeza disso — afirmei. — Eu estive nessa posição por


muitos anos. Está bem óbvio, na verdade. Se eu não estivesse tão ferida,
ou cega, com meus próprios problemas quando cheguei aqui, teria visto
antes.

— Mesmo que todos enxergassem antes, não tinha o que nós


pudéssemos fazer. Hayesha escolheu se envolver com Jack. E eu não
acho que Elijah seja covarde ao ponto de não contar para ela o que sente
— Amber falou.

Me levantei da cama, ponderando as palavras de Amber, meu


corpo pedia por um banho e um café.

— Tenho que beber um café — avisei ao andar até o banheiro. —


Quer ir comigo?

— Claro.

Entrei no banheiro e tomei um banho rápido, quando saí, Amber já


estava vestida para sair, me vesti e nós saímos do dormitório, andando
lado a lado.

— Vai chamar Hayesha? — perguntei, quando Amber estava com o


celular na mão.

— Mandei uma mensagem, mas ela não me respondeu.


— Podemos comprar o café e ir até o quarto dela — sugeri.

— Tem certeza? — Amber indagou aliviada, e eu assenti.

Nós seguimos para o café, Amber e eu fizemos nossos pedidos, e


a loira pediu um café para Hayesha, quando recebemos nossos pedidos,
com alguns croissants, nós refizemos o caminho para o dormitório.

Assim que chegamos à porta do quarto de Hayesha, Amber bateu,


e como Hayesha não respondeu, ela abriu o quarto, não estava trancado.
A irmã de Noah, que estava sentada em uma cadeira, com um cigarro na
mão, virou a cabeça em nossa direção e apagou o cigarro em um
cinzeiro.

— Você está bem? — perguntei ao entrar no quarto atrás de


Amber.

— Estou ótima. Vocês trouxeram croissants? — ela indagou se


levantando da cadeira.

Eu me sentei na cama arrumada, que imaginei ser da colega de


quarto de Hayesha, e Amber se sentou ao meu lado.

— Não sabia que você fuma — admiti.

— Só quando estou estressada — ela respondeu.

Hayesha tirou um dos doces da sacola de papel e mordeu, encarei


o rosto de Amber preocupada, mas a loira observava a irmã de Noah
com olhos afiados, procurando qualquer indício de mentira.

— Vejam, eu sei que estão preocupadas, sei que ontem eu estava


na merda, e agradeço o que você fez por mim, — ela falou olhando para
Amber — mas quando digo que estou bem, é porque eu estou bem. Jack
não foi o primeiro babaca que conheci. Tenho um irmão que é um. Sem
ofensas. — Ela me dirigiu um olhar, ao falar sobre Noah. — Se estou
triste? Claro que sim, eu perdi tempo com ele, achei que ele me amava, e
eu até mesmo falei que o amava, mas vou superar isso. Jack não vai
destruir quem eu sou com essa traição — ela enfatizou.

— Vamos sair? Uma tarde só das garotas? — Amber chamou.

— Não quero sair desse quarto — Hayesha avisou.

— Então podemos pedir comida, e fazer uma tarde de meninas


aqui — sugeri.

Mandei uma mensagem para Noah, Amber me olhou parecendo


tentar entender o que eu estava fazendo:

— Estou pedindo suprimentos — esclareci.

Tirei o casaco, deixando a peça de roupa jogada na cama, e


observei enquanto Hayesha ligava o som, deixando uma música alta
preencher o quarto.

A irmã de Noah pegou Amber pela mão e a levantou para dançar


com ela, a loira pareceu envergonhada ao ser obrigada a dançar. Eu ri
observando a interação das duas. Noah tinha me respondido dizendo
que levaria o que pedi.

Hayesha pegou uma garrafa de vodka que tinha no quarto, e eu


gargalhei ainda mais, prevendo que aquilo seria uma péssima ideia.

Assim que Noah bateu na porta, abri, mas sem deixar ele ver o que
estava acontecendo no quarto.
— O que diabos tá acontecendo aí? — ele perguntou assustado
tentando passar por mim.

Peguei a sacola que ele carregava, e sorri para o meu namorado.

— Tarde de meninas, aproveite, e diga ao Liam.

— Sempre imaginei tarde de meninas com filme e música baixa,


enquanto vocês conversam tomando vinho — ele sussurrou, e eu ri.

— Tchau, Noah — falei tentando fechar a porta, mas ele segurou o


objeto.

— Não vou ganhar nem um beijo? — questionou, e eu sorri ao me


aproximar para beijar os lábios dele.

— Tchau — eu disse, entrando no quarto e fechando a porta atrás


de mim.

Hayesha estava com um copo de vodka, oferecendo uma dose que


seria metade da que eu tomaria normalmente.

— Eu não bebo — Amber enfatizou.

— Estamos só nós aqui — a irmã de Noah lembrou.

Eu estava prestes a pegar o copo da mão de Hayesha, quando


Amber revirou os olhos, pegou o objeto e engoliu o líquido. Ela tossiu um
pouco, e Hayesha me olhou sorrindo.

— Suprimentos — falei levantando a sacola.

Noah tinha trazido batatas e vinho.

Hayesha continuou puxando Amber para dançar até que se virou


para mim, e disse que eu também devia dançar.
— Mel só dança quando tem uma mesa para subir — a irmã de
Noah acusou, e eu me levantei rindo.
Noah

Se aquilo era a forma, como as garotas se apoiavam em um


término, então eu imaginei que minha irmã estaria com uma baita
enxaqueca para se preocupar no dia seguinte, ao ponto de esquecer da
existência de Jack.

Subi mais um lance de escadas, e me vi na porta do quarto de Liam


e Elijah, bati na porta e os dois mandaram entrar. Quando entrei no
quarto, vi Elijah atirando uma bola na parede, enquanto Liam estava
deitado na própria cama, com um livro de medicina nas mãos.

— Hoje é o primeiro dia do ano, enquanto vocês estão aqui agindo


como se fossem um casal de velhos, Melissa, Amber e Hayesha, estão
fazendo uma festa de garotas no quarto da minha irmã. Estamos nos
tornando três idiotas, enquanto três garotas se divertem como nós nos
divertíamos — avisei.

— Vocês estão namorando, qual a graça de saímos para beber? —


Elijah indagou.

— A graça, meu amigo descabelado, é você pegar as mulheres que


vão flertar com todos nós — enfatizei, fazendo Liam largar o livro de lado.
— Vamos lá — ele disse.

— Não quero sair — Elijah falou, e eu encarei Liam.

— Você quer levantar sua bunda dessa cama e ir tomar banho, ou


quer que a gente te arraste para aquele banheiro? — Liam perguntou, e
nosso amigo nos estudou.

Elijah ficou de pé praguejando e caminhou em direção ao banheiro.

— Ele está bem? — perguntei ao Liam.

— Vai ficar — Liam garantiu.

Ele também se levantou da cama e foi trocar de roupa, enquanto


Elijah ainda estava no banheiro. Quando a porta do banheiro se abriu,
Elijah saiu de lá colocando o cabelo para trás com os dedos, ele usava
uma camisa cinza justa, uma calça preta, e coturnos nos pés.

Assobiei, e Elijah ergueu o dedo do meio na minha direção.

Os dois vestiram os casacos, e nós três saímos do quarto, quando


descemos as escadas, a música no quarto de Hayesha chegou aos
nossos ouvidos, o som estava abafado, mas ainda era alto.

— Meu Deus — Elijah falou. — Elas vão ficar bem?

— Se a namorada de Liam continuar bebendo, eu não sei —


comentei, e Liam tentou ir em direção ao quarto.

Elijah e eu o pegamos pelos braços, e arrastamos para as escadas.

— Esperem, Amber não bebe — ele disse.

— Hoje ela está bebendo — avisei.


— Como você sabe? — Liam perguntou, e eu abri o celular
mostrando a foto que Mel tinha me enviado. — Céus, eu preciso tirar ela
de lá.

— Não seja estraga prazeres. Mel disse que elas não vão nos
aceitar naquele quarto hoje — falei ajudando Elijah a carregar nosso
amigo para o estacionamento.

Depois de muito protestar. Liam finalmente cedeu, e Elijah ligou o


próprio carro para sairmos do campus.

Mesmo que o humor estivesse preenchendo o carro, eu sentado no


banco do passageiro, ainda notava uma tristeza que consumia Elijah.
Nós continuamos dirigindo até estarmos em frente ao bar. Elijah
estacionou, e nós caminhamos para dentro.

Aquele lugar era familiar, nós tínhamos ido até ali tantas vezes
antes, que o homem atrás do balcão sorriu quando nos viu.

Nós nos sentamos junto ao balcão, e o homem disse:

— A primeira é por conta da casa, meu lucro caiu


consideravelmente, já que vocês nunca mais apareceram.

Liam riu ao aceitar a bebida que ele estendia, nós viramos os copos
engolindo a tequila.

— Vamos tentar aparecer com mais frequência — prometi.

— O fluxo de mulheres por aqui também diminuiu — Daniel falou.

— Isso é uma tragédia — Elijah disse, nos fazendo rir.

— Mas com vocês de volta aqui, elas vão voltar — afirmou o dono
do bar.
— Elijah, você terá muitas opções de relações casuais como você
gosta, apenas uma noite — eu comentei segurando o ombro do meu
amigo.

— Ouvi comentários de alguns estudantes de que vocês dois estão


namorando. Vou confessar, sempre achei que Elijah seria o primeiro de
vocês a ter uma relação séria — ele prosseguiu.

Nós pedimos mais bebidas enquanto conversávamos entre nós,


Daniel servia outras pessoas, uma garota se aproximou de mim
estendendo a mão.

— Hana — ela sussurrou.

— Meu amigo, Elijah — falei indicando o outro.

Elijah inclinou a cabeça para ver a garota de pé, perto de mim, ela
tinha olhos puxados, e o cabelo preto, ondulado.

— Tudo bem? — Elijah perguntou sorrindo.

Hana sorriu ao se aproximar de Elijah, me ignorando


completamente. Encarei Liam, que sorriu, antes de levar o copo à boca
outra vez.

— Bem-vindo a vida de comprometido — meu amigo me disse, me


entregando um copo cheio.

Engoli a bebida e voltei a encher nossos copos.

Elijah pareceu desaparecer do nosso lado, quando me virei para


procurar o meu amigo, o lugar onde ele estava sentado, agora estava
vazio.

— Você o viu sair? — perguntei.


— Deixa ele se divertir — Liam sussurrou me oferecendo mais uma
bebida.

— Onde ele foi? — Daniel perguntou indicando o lugar de Elijah.

— Eu espero que ele tenha ido para o paraíso — comentei fazendo


os dois rirem.

Daniel colocou um prato com petiscos à nossa frente e eu agradeci.

— Elijah estava precisando sair daquele quarto — Liam confessou.

— Ele parece meio aéreo esses dias — sussurrei.

Liam entornou mais um copo de bebida e encarou a entrada do bar,


como se estivesse de olho, para Elijah não ouvir nossa conversa.

— Elijah passou anos sendo rejeitado apenas para ver a pessoa


que ele amava com outro — contou.

— Quem ele poderia…? — A pergunta morreu na minha boca.

Enquanto eu formulava aquela questão, meu cérebro tinha


trabalhado em tudo que tinha acontecido nos últimos dias.

Encarei a entrada do bar, seguindo o olhar de Liam, mas não havia


o menor sinal de Elijah.

— Não — murmurei.

— Sim — Liam rebateu.

— É impossível — contrapus.

— Não, não é.
— Não... Elijah?

Liam me olhou impaciente ao me ver balbuciando a mesma


questão como um louco.

— Porra, Noah, seu amigo está apaixonado pela sua irmã e ela,
que o rejeitou tantas vezes, namorou um cara que era uma versão ruim
do que nós três somos — Liam falou irritado.

Todos os momentos de Elijah com raiva, desde que Hayesha


anunciou que estava namorando Jack, passaram pela minha cabeça. Eu
me vi percebendo como tinha sido burro ao não perceber aquilo.

Elijah podia ser um canalha tanto quanto nós, mas quando


Hayesha estava por perto, ele estava sempre flertando com ela, e nunca
aconteceu de Elijah pegar mulher com a minha irmã por perto.

Quando ele voltou para o interior do bar, eu o encarava como se


tivesse visto um fantasma, e Liam me deu uma cotovelada nas costelas.

— Interessante, divertido, mas meio monótono — Elijah disse ao se


sentar outra vez ao meu lado.

— Eu ainda estou sóbrio demais para isso — avisei entornando a


bebida no meu copo, e a do copo de Liam.

Apanhei a garrafa de bebida, que já estava pela metade, e servi os


três copos, Elijah bebeu a própria bebida e eu engoli a minha, com Liam
tomando a dele, antes que eu a roubasse outra vez.

A vida é realmente um furacão, e nós estamos no olho dele,


achando que tudo está perfeitamente tranquilo.
Melissa

Três meses tinham se passado, desde o ano novo, eu continuava


focada na universidade, e mesmo tendo chegado depois, minhas notas
ainda estavam acima da média.

Eu tinha passado a estudar com mais frequência, e mesmo assim,


ia a todos os jogos de Noah, mostrando ao meu namorado que me
importava com a carreira dele no futebol.

Meu celular tocou no meio da biblioteca e eu atendi apressada para


me livrar da música alta, caminhei para perto da janela falando aos
sussurros.

— Oi, pai, eu estou na biblioteca — avisei.

— Oi, querida, vou falar rápido. Pode vir para casa no fim de
semana?

— Aconteceu alguma coisa? — perguntei nervosa.

— Sim, mas eu quero te contar pessoalmente — explicou.

— É algo ruim? Você está tomando seus remédios direito?


— Estou tomando, mas não é algo ruim, acho que você vai gostar
da novidade — comentou parecendo animado.

— Está bem. Eu vou para casa no fim de semana — prometi.

Encarei a biblioteca com o coração acelerado, o que diabos estava


acontecendo? Me perguntei com a mente trabalhando rápido demais nas
possibilidades do que poderia ser essa novidade.

Desistindo da ideia de estudar, eu botei os livros de volta na


estante e saí da biblioteca, caminhei até o dormitório, e quando entrei no
quarto, vi Amber com o telefone no ouvido. Deixei minha bolsa na cama,
me jogando sobre o colchão depois.

— Você está bem? — Amber me perguntou quando finalizou a


chamada.

— Estou ansiosa.

— Algo está errado? — ela indagou, se sentando na cama dela.

— Meu pai me pediu para ir para casa esse fim de semana, disse
que quer me contar algo, mas só pode ser pessoalmente — contei.

— Engraçado, minha mãe estava agora mesmo pedindo para eu ir


para casa no fim de semana porque quer falar comigo pessoalmente.

Me sentei apressada ao ouvir aquelas palavras.

— O que foi? — Amber questionou assustada.

— Noah me avisou, mas eu não acreditei nele — falei sem


esconder minha surpresa.

— O que Noah te falou?


A impaciência de Amber já era óbvia.

— Acho que meu pai e a sua mãe estão saindo — avisei.

— Não, minha mãe teria me dito se estivesse saindo com alguém


— Amber decretou.

— Teria mesmo? O casamento da sua mãe não foi dos melhores,


ela contaria assim que começasse a sair com alguém, ou só quando
visse que o relacionamento estaria dando certo? — levantei a questão.
— Depois do fiasco que foi o casamento dos meus pais, eu sei que ele
saiu com pelo menos duas mulheres, mas só sei disso, porque Maria me
contou, porque ele jamais falou a respeito.

Amber me encarou quieta, ao ouvir minhas palavras.

— Vamos ver o que vai acontecer no fim de semana — sussurrei


quando Amber não disse nada.

— Minha mãe tem uma criança com ela — a loira falou depois de
um tempo.

— Meu pai adora crianças, sou filha única porque minha mãe não
quis ter mais filhos — contei.

A garota pareceu estranhamente fechada quando falei sobre isso.


Amber não me respondia, então fiz algo que não achei que faria. Ergui a
blusa para mostrar a cicatriz na lateral do meu corpo para Amber.

— O que foi isso? — ela perguntou parecendo assustada.

— Meu pai precisou de um rim, e nós somos compatíveis. Agi pelas


costas dele para doar um dos meus rins para ele — contei.

— Por que está me contando isso?


Eu me sentei ao lado de Amber, e ela me olhou, esperando uma
explicação.

— Não tenho uma boa relação com a minha mãe, — admiti — mas
meu pai sempre foi tudo para mim. Ele é uma boa pessoa, Amber. Eu
gosto muito de beber, e gosto de ter uma vida despreocupada, mas
agora preciso me cuidar sempre, porque tenho só um dos rins, e mesmo
assim, eu não me arrependo da decisão que me levou a fazer isso por
ele.

— Obrigada por me dizer isso — ela falou.

— Então, quer uma carona para a minha casa? — perguntei, e ela


me olhou confusa. — Meu pai deve estar planejando um jantar para
anunciar isso, o que deve ser na minha casa.

— Eu vou primeiro para casa da minha mãe, quero conversar com


ela e com Anne a respeito, mas se isso for verdade, vou ficar feliz que ela
tenha conseguido um relacionamento seguro — Amber disse.

Abracei Amber por um instante, empolgada com aquela ideia, eu


tinha trocado telefone com a mãe de Amber na ação de graças, ela pelo
menos uma vez por semana me mandava mensagens, perguntando se
eu estava bem, e se estava me alimentando direito.

****

Noah tinha me dito que ia sair com Elijah e Liam no fim de semana,
como nos velhos tempos, quando me despedi dele, disse que se ele
tivesse coragem de agir como nos velhos tempos, eu teria que lidar com
ele de forma dolorosa.

Depois de um beijo, o homem abriu a porta do meu carro para que


eu entrasse, e nos despedimos.
Dirigi para casa com o coração dividido, entre a empolgação e o
nervosismo. Assim que desci do carro e entrei na casa, meu pai me
recebeu com um grande abraço.

— Então, qual a novidade? — perguntei diretamente.

— Não quer se acomodar primeiro? — questionou parecendo


ansioso.

Inclinei a cabeça confusa com aquela ansiedade.

— Você por acaso está saindo com a Nora?

Os olhos do meu pai se arregalaram.

— Como você sabe sobre isso? — ele perguntou surpreso.

— Vocês não foram tão discretos no Natal, mas como não falaram
nada conosco, achei que tinha sido só um flerte.

— E como descobriu?

— Você me chamou para casa no fim de semana, tinha novidades,


e queria falar pessoalmente, a mãe dela fez o mesmo. Se era para ser
um segredo, vocês podiam ter feito as coisas de forma mais cuidadosa
— avisei.

Meu pai apertou o meu nariz entre os dedos.

— Parece que Direito combina mesmo com você — ele acusou.

— Eu estou feliz por vocês, pai — falei, e ele pareceu aliviado ao


ouvir aquelas palavras.

Depois daquela conversa rápida, eu levei a mochila para o quarto e


esperei o resto do dia, pela chegada da família de Amber. Tinha passado
a vida inteira como filha única, queria ver meu pai feliz, mas imaginava se
ter duas novas filhas postiças por perto, não diminuiria a atenção dele
para mim.

Mandei aquela preocupação para Noah por mensagem, e ele me


respondeu:

— Você é muito possessiva!

Fiz um bico ao ler a mensagem.

— Não sou possessiva — rebati.

— Você é sim.

Noah me mandou uma foto de onde ele estava com Liam e Elijah,
havia uma mulher sentada entre Elijah e Noah, mesmo vendo o braço de
Elijah em cima dela, meu corpo ferveu de irritação.

— Você nem consegue responder, mesmo vendo que ela está com
Elijah.

A acusação de Noah me fez rir.

— Vá beber e me deixe em paz — respondi largando o celular de


lado.

****

Naquela noite, quando Amber chegou em um táxi com a mãe e a


irmã, eu notei o quanto meu pai parecia feliz ao lado de Nora. Os dois
sorriam um para o outro de forma confidente, e a alegria deles por verem
que nós não estávamos tristes com aquela união, parecia ser ainda mais
importante para os dois.
Eu não tinha ideia de como tinha sido a conversa de Amber com a
mãe e a irmã mais nova, mas minha colega de quarto sorriu quando me
viu, aliviando meu peito, que estava angustiado desde a nossa conversa
mais cedo.

Nós nos sentamos no sofá, e a mãe de Amber tentou me dizer


como ela não imaginou que aquilo aconteceria àquela altura da vida, que
ela não tentou seduzir meu pai.

— Não se preocupe com isso, eu fico feliz que você seduziu. — Dei
uma piscadela para a mulher.

O jantar foi tranquilo, meu pai perguntou bastante sobre Amber com
Psicologia, enquanto a mãe dela me perguntava sobre Direito, Anne que
estava mais preocupada em comer a sobremesa que qualquer outra
coisa, só levantou a cabeça quando meu pai disse:

— Nora e eu estamos pensando em morar juntos.

Nós deixamos os talheres caírem sobre os pratos com a surpresa


daquele assunto. Mal soubemos do relacionamento deles, e os dois já
falavam em morar juntos?

Engoli a comida que estava na boca, pensando em como


responder aquela pergunta, Amber parecia tão chocada quanto eu para
quebrar o silêncio.

— Eu não tenho uma opinião sobre isso — sussurrei rouca. —


Amber?

A loira me olhou espantada.

— Acho que deixar Anne ter uma convivência com você antes de
morarem juntos, é uma boa ideia. Sr. Turner — ela comentou.
— Anne tem passado bastante tempo com ele desde o Natal, nós
até vimos uma escola para ela na região — a mãe de Amber comentou.

Amber olhou para a mãe parecendo surpresa com as palavras, e


eu estava tão longe daquele lugar com o choque, que minha voz se
perdeu em algum lugar do caminho.

Escolas? Aquelas eram decisões importantes, que se toma


esperando algo a longo prazo.

— Mel? — meu pai me chamou.

O olhar dele era tão nervoso, que eu respirei fundo para controlar
meus pensamentos.

— Se vocês estão decididos, só posso desejar que sejam felizes —


falei.

Amber respirou fundo por um segundo, e olhou para o meu pai.

— Eu não tenho nada contra essa união, só me preocupa a minha


irmã, Anne passou por muita coisa com o relacionamento anterior, ela
precisa de alguém que cuide dela e seja uma figura protetora — ela
comentou.

— Vou ser o melhor padrasto que puder, Amber, não só para ela,
como para você também, sei tudo que passaram, e você também foi bem
prejudicada com tudo isso — ele respondeu.

Esbocei um sorriso confiante para o meu pai ao ouvir o que ele


dizia, e assenti em aprovação.
Noah

Depois do fim de semana, Mel e Amber retornaram ao campus,


com a novidade de que os pais delas estavam se preparando para morar
juntos.

Estávamos a uma semana de uma semifinal, os treinos estavam


insanos ultimamente, então eu não podia simplesmente me distrair. Mel
estava focada nos estudos, e nós raramente nos víamos no campus.

Ela tinha desistido da cadeira com Peter, com isso eu não a via
nem na aula.

A semana foi tão intensa de treinos, que um dos nossos jogadores


teve o ombro deslocado e precisou ser substituído. Continuei focado
naqueles chutes, enquanto Liam e Elijah corriam.

Meu corpo estava entorpecido pela euforia que antecedia o jogo.


Quando o treino do dia acabou, eu me deitei no chão e ouvi quando Liam
caiu do meu lado, Elijah despencou do outro lado e praguejou.

— Acho que nem quando tomei o maior porre da vida, me senti tão
acabado — Elijah disse.
— Vai valer a pena — Liam garantiu.

— Vai, quando eu estiver morto, vão escrever na minha lápide; ...


“Aqui jaz Elijah, um jogador que quase vomitou as tripas de exaustão”.

— Vamos para o vestiário — chamei.

— Eu consigo dormir aqui mesmo — Elijah declarou.

Eu me levantei xingando minhas pernas, por sentir tanta dor, e


estiquei as mãos ajudando meus amigos a ficarem de pé. Quando
finalmente nos arrastamos para o interior do vestiário, eu me contive ao
ver Jack de toalha com o telefone no ouvido.

— Oi, amor, claro que vou conseguir encontrar você hoje, você vai
dançar para mim? — o cretino falou.

Um filme passou na minha cabeça ao ouvir aquelas palavras,


meses antes, eu tinha ouvido Jack falando no telefone com alguém que
ele chamava de amor, mas na época eu tinha imaginado que se tratava
de Hayesha, e para piorar, outra cena dele me veio à cabeça, quando o
vi perto do prédio de artes.

Aquele babaca estava traindo a minha irmã desde muito antes do


ano novo.

— Noah — Liam me chamou.

O tom de voz do meu amigo me fez encará-lo.

Elijah, que evitava Jack a todo custo, já tinha seguido para o


chuveiro, encarei Liam, que me lançou um olhar claro; brigar com Jack
me tiraria do time, e não levaria a lugar algum.

Passei pelo cretino e fui para o chuveiro também.


****

No dia do jogo, Mel e Amber tinham nos cumprimentado antes de


entrarmos no ônibus, as duas também deram um abraço de
encorajamento em Elijah.

Meu corpo tinha entrado no estado de concentração para o jogo,


então beijei Mel rapidamente antes de entrar no ônibus.

Quando nós partimos, eu me vi diante de uma inquietação


crescente, era um time considerável, com uma torcida que até mesmo
atraía atenção ali, havia fãs dos falcões ali.

O treinador falava suas instruções de ônibus, e brincava com


alguns dos jogadores, aquele momento de calmaria durou até chegarmos
ao campo, nós seguimos andando para o vestiário, e meu coração
acelerava mais a cada passo.

Uma semifinal era algo grande, que não dava para nós
negligenciarmos de maneira alguma.

Segui até o vestiário para me trocar, havia uma tensão no time que
normalmente não acontecia, mas aquela era nossa oportunidade de
conquistar o que não conseguimos na última temporada, tínhamos
perdido para os falcões pouco antes da semifinal.

Depois que os uniformes estavam nos nossos corpos, o treinador


nos observou e disse:

— Sei que no ano passado nós perdemos feio para esses babacas,
mas dessa vez vai ser diferente, treinamos duro, e eu sei o trabalho que
tive para colocar suas bundas em forma. Então vão lá e tragam essa
vitória para os Bulldogs! — o homem falou fazendo o time gritar.
Nós corremos para o campo com capacetes embaixo do braço, e
gritos animadores para a torcida. Eu percorri as arquibancadas com os
olhos, aquilo tinha se tornado um hábito. Mel estava lá, ao lado de Amber
e de Hayesha, minha irmã não parecia empolgada com o jogo, ela
apenas estava com os antebraços apoiados na barra de ferro que as
separava de nós, e observava o campo com os óculos escuros.

Olhei para o time, e percebi que Jack a encarava, passei pelo idiota
acertando o ombro dele com o meu. Nossos olhos se encontraram por
um instante, e eu me vi imóvel naquela ameaça. Jack desviou os olhos
primeiro, acenando para as arquibancadas.

Liam foi até o centro do campo, disputar a bola com o time


adversário, quando foi sinalizado que perdemos a posse da bola, o time
resmungou frustrado, como se aquilo representasse um mau sinal.

— Futebol não tem a ver com sorte — avisei. — Tem a ver com
preparação e trabalho em equipe. Vamos vencer isso, porque nos
esforçamos para chegar até aqui.

Entramos na formação, aguardando o início da partida, meu


coração acelerou e minha mente desfocou do caos das torcidas ao nosso
redor.

Quando a partida iniciou, eu me preparei para tentar impedir


qualquer tentativa de passar pelas nossas jardas. Corri pelo campo,
agarrando um dos jogadores inimigos e o derrubando no chão. O ataque
inimigo foi impedido por pouco, com todo o nosso esforço, soltei o
homem que segurava no chão e me levantei, nós tínhamos garantido que
o jogo estivesse empatado.

A bola passou para o nosso lado. Liam avançaria, com Elijah e eu,
tentando livrar o caminho dele, meus olhos foram para Jack, de alguma
forma eu me perguntei se podíamos confiar completamente nele.

Ao sinal, a bola foi lançada para Liam, e nós começamos a


derrubar os jogadores que tentavam impedir nosso quarterback de
avançar até a endzone. Nossa primeira marcação, deu o pontapé inicial
no jogo, os falcões não eram de perder a compostura, mas já gritavam
entre si, reclamando da falta de apoio.

Podemos não confiar em Jack, ele pode ser o único obstáculo para
o grupo, mas havia uma coisa em que eu confiava de forma cega, e era
nos meus amigos. Liam e Elijah, e no que formamos em um campo.

O jogo avançou, touchdowns foram marcados de ambos os lados,


minha perna doía depois do chute que recebi, mas me mantive firme.

Nós receberíamos o título nacional, eu não tinha a menor dúvida


disso.

— Certo, pessoal, estamos nos últimos minutos — Liam falou


quando nos juntamos, e eu engolia um gole d’água.

— Vamos só segurar o jogo até o final, estamos na frente — Jack


sugeriu.

— É exatamente assim que se perde nos últimos segundos de uma


partida — retruquei.

— Vamos marcar outra vez — Liam concordou. — Noah.

Assenti entendendo exatamente do que ele estava falando.

— Você vai conseguir? — Elijah me perguntou. — Você levou um


baita chute na perna.

— Vou — garanti, e Liam me encarou assentindo.


Recebemos o sinal para voltar ao campo, assumi meu posto, com o
coração a mil, as últimas estratégias do jogo.

Me aproximei de Liam, pronto para receber a bola, ele fingiu


receber a bola e correu, meu corpo me levou com a adrenalina
bombardeando cada pedaço de mim, então continuei correndo em
direção a endzone dos falcões.

A narração nos autofalantes era um som longe de mim, a torcida


gritando era uma situação ainda mais distante. Eu corria, com Elijah e
Liam me defendendo, não me cedi a necessidade de me virar ao ouvir
um grito, não podia perder aquele ponto, apenas quando passei da
endzone os sons chegaram aos meus ouvidos.

Restava pouco tempo de jogo, não havia como eles empatarem, eu


comemorei aquele ponto, sentindo meu corpo ser agarrado pelos meus
amigos.

Todos nós já sabíamos do resultado daquele jogo, nós estávamos


na final, éramos o primeiro time classificado para a final. Os últimos
segundos de jogo passaram de forma mecânica, sem qualquer esforço
de qualquer das partes.

— Bom trabalho, Noah — Elijah disse apoiando o punho no meu


peito.

Ele cumprimentou Liam que quase o abraçou, mas saiu andando


do campo, sem sequer nos dar um instante de comemoração, eu estava
prestes a segui-lo, quando ouvi uma voz me chamando.

Mel entrou no campo com Amber e Hayesha a seguindo, ela pulou


me abraçando, e eu agarrei a minha namorada com força, segurando-a
contra o meu corpo.
— Você conseguiu! Sempre soube que conseguiria! — ela falou
alto junto ao meu ouvido.

Mel tirou o capacete que eu ainda usava, e o soltou no chão,


mesmo que eu estivesse suado, sujo de terra, a garota me beijou.
Comemorando aquela vitória.

Cada parte do meu corpo doía, minha mente estava em um frenesi


de emoções, mas algo acalmou meus pensamentos, eu suportaria cada
embate naqueles campos pelo resto da minha carreira, suportaria os
machucados, desde que pudesse ver aquela alegria no rosto da ruiva,
aquela alegria genuína que ela expressou quando correu para mim.

— Obrigado por torcer por mim — sussurrei.

— Vou torcer em cada jogo, em cada treino, pelo resto da sua


carreira, e quando você estiver velho jogando uma bola para os seus
netos, vou torcer para fazer o seu melhor — ela prometeu me fazendo rir.

— E se eu perder um jogo?

— Vou te convencer a treinar mais, e vencer o próximo — falou.

— Caralho. Como eu consegui uma namorada tão perfeita? —


inquiri.

Mel sorriu envergonhada e voltou a me beijar. Os Bulldogs estavam


na final do campeonato.
Elijah

Eu sentia que toda aquela merda tinha começado no dia em que


saí do bar e acabei contando o que estava me enlouquecendo ao Liam.
Enquanto meus amigos não sabiam que eu estava apaixonado pela irmã
mais nova de um deles, meu mundo parecia ter algum sentido, mas
desde que contei a Liam, desde que Melissa percebeu, e provavelmente
Amber também, eu me sentia como um animal ferido, que todos tentam
tratar com carinho e cuidado.

Continuei me exercitando naquela academia com fones no ouvido,


me impedindo de pensar demais no que estava fazendo. Tirei os fones
do ouvido quando vi a garota entrando, ela colocou fones nos próprios
ouvidos e começou a correr na esteira.

Não era o único que observava a mulher correndo, Hayesha é


linda. E desde que ela terminou com Jack, parecia que havia uma fila de
homens sempre ao redor dela, e nós também não tínhamos conversado
sobre o que aconteceu naquela noite, ela tinha me bloqueado em todas
as redes sociais, e bloqueou o meu número.
Ela ainda estava naquele espaço, porque não viu que eu estava
sentado ali, observando, aquele parecia ser o meu castigo. Se
acreditasse em vidas passadas diria que eu fui uma pessoa péssima, e
vim nesta encarnação para sofrer por amor.

Me levantei de onde estava e me aproximei da esteira onde ela


corria, Hayesha diminuiu a velocidade até parar totalmente.

— O que você quer? — ela disse.

— Faz mais de três meses, Hay, quando vai conversar comigo e


ouvir o que tenho a dizer? — perguntei com a voz baixa.

— Não tenho nada para falar com você — ela retrucou me


encarando com aquele olhar afiado.

Se ela soubesse o quanto aquilo me feria, o quanto aquilo abria


feridas que não podiam cicatrizar, me perguntava se Hayesha continuaria
agindo daquela maneira.

— Você pode não acreditar em mim, mas tudo que eu fiz, foi por
você. Não queria que você se ferisse — avisei.

— Mas eu me feri e isso não tem nada a ver com você — rebateu
afiada.

Você não faz ideia do quanto sua dor tem a ver comigo. —
Respondi mentalmente, mas apenas assenti e caminhei para fora do
lugar, colocando os fones de volta nos ouvidos.

****

Hayesha
Desisti de me exercitar e saí daquele espaço, abri o chat de
conversa com Jack, eu nunca tinha coragem o bastante para limpar
aquela conversa, então com os fones no ouvido, coloquei aquele áudio
para tocar.

— Oi, amor, eu não estou podendo passar o Natal com você, mas
saiba que isso está sendo uma merda. Sinto sua falta — ele finalizava o
áudio.

Talvez eu estivesse tão desesperada por amor, que simplesmente


me deixei iludir. Meu coração ainda estava ferido, e talvez jamais se
recuperasse totalmente daquela ferida.

Estava no terraço do prédio onde a academia funcionava, de cima


consegui ver Elijah correndo pelo campus, o cabelo dele estava preso
para cima, e ele ignorava as garotas que se esforçavam para
acompanhar sua corrida.

Eu tinha partido o coração de Elijah, tinha partido um milhão de


vezes, e mesmo assim, ele voltava para tentar pela milionésima primeira
vez.

Antes era como uma piada, partir o coração de um dos três garotos
que mais partiam corações ao meu redor, mas depois se tornou uma
coisa divertida, Elijah e eu flertamos um com o outro em um tipo de
sedução que jamais levaria a algum lugar, mas aquilo acabou.

Toda a amizade que tive por Elijah, acabou quando ele se colocou
entre Jack e eu, quando ele o escolheu ao invés de me escolher. O
amigo babaca, ou a garota que ele dizia estar apaixonado, Elijah fez a
escolha dele de proteger o cretino, então eu tinha direito de escolher não
deixar ele se aproximar de mim outra vez.
LIAM: A OBSESSÃO DO BAD BOY (BULLDOGS
YALE)

SINOPSE
Você é exatamente aquilo que eu queria ser quando era criança, mas
meus demônios não permitiram.

Liam Stevens estava acostumado a ser o centro das atenções em Yale,


reconhecido pelo seu sobrenome e pelo seu estilo de vida envolto em
bebidas, drogas e mulheres. Contudo, o que poucos pareciam notar era
que, por trás da fachada de bad boy arrogante, havia um garoto
quebrado, com um passado traumático.

Amber Jones lutou a vida toda para arcar com seus estudos e tentar
melhorar a vida de sua irmã com uma formação em psicologia. Tímida,
ela odeia ser o foco das atenções, mas isso acontece quando se torna a
obsessão do bad boy mais popular da faculdade.

Liam está obcecado pela garota que é tudo aquilo que ele desejava ser.

Amber o odeia por ser tudo aquilo que ela sempre desprezou.

Como costumam dizer, amor e ódio caminham lado a lado.


UMA FILHA PARA O BILIONÁRIO ITALIANO
(IRMÃOS VITTILENO)

SINOPSE
Ele acredita que foi enganado por ela.

Ela decide manter sua gravidez inesperada em segredo!

Aos 37 anos, Louis Vittileno chegou no momento mais crucial de


sua vida: assumir a liderança da empresa da família. Um típico
italiano arrogante que sabe seu potencial para os negócios e para
as mulheres, mulherengo e conhecido por nunca ter
relacionamentos duradouros, Louis acredita que as mulheres só se
interessam por seu dinheiro e que nunca conseguirá encontrar um
grande amor.

Bianca Baptista, é a mais nova secretária do futuro presidente das


indústrias VITTILENO. Tímida desde pequena, nunca conseguiu se
relacionar com outros rapazes ou se permitir viver uma paixão, o
bullying que sofreu ainda adolescente machucou seu coração e a
encheu de inseguranças.

Ao se conhecerem na festa da empresa, um não faz ideia de quem


o outro seja, a atração explosiva resulta na primeira vez de Bianca e
em um coração partido ao acordar no dia seguinte e ver um bolo de
dinheiro no lugar que Louis deveria estar.

A convivência entre os dois na empresa é insuportável, Louis não


confia em Bianca, e ela não consegue o perdoar por humilhá-la.
Mas a química entre eles falará mais alto e quando o casal parece
estar aceitando os sentimentos que nutrem um pelo outro, uma
reviravolta coloca tudo a perder.

Bianca é acusada de traição.

Louis, com o seu cargo como futuro presidente na empresa


ameaçado.

Com a rejeição e o coração partido, ela esconde dele que


engravidou e vai embora sem olhar para trás. Quando Louis se
depara com a verdade e percebe os perigos que os rondam, não
tem outra alternativa, a não ser manter a mulher que ele ama longe
para que ela fique segura. Sem fazer ideia de que ela espera sua
filha, quando descobre a verdade ele terá de reconquistá-la
enquanto ela nega que a filha é sua.

Uma gravidez inesperada seria o suficiente para acabar com as


mágoas e unir o jovem casal que nunca vivenciaram o amor?
GRÁVIDA E REJEITADA PELO VIÚVO
ITALIANO (IRMÃOS VITTILENO)

SINOPSE
"Vou proteger seu coração como você aceita o meu cheio de
cicatrizes."

Levi Vittileno viu o seu mundo ruir ao perder sua esposa em um


acidente trágico. Agora, 2 anos depois, ele precisa voltar a viver e
conquistar o amor do seu filho Lorran, que não o, enxerga como pai.
Ele só não imaginava que um furacão em forma de mulher iria surgir
para fazer seu coração cheio de cicatrizes voltar a bater.

Olivia Baptista, sempre sonhou em ser mãe, mas após tantas


decepções ela decide que terá seu filho sozinha e não mede
esforços para que isso aconteça, já que não acredita que exista um
amor para si.

Lorran Vittileno em seus 2 anos de vida nunca viu em Levi um pai,


cresceu aos cuidados do tio e agora depois de uma mudança de
pais, se encanta por Olivia, fazendo assim com que ela seja
contratada para ser sua babá.

"Você me fez voltar a querer viver novamente."

Ela o faz lembrar de como é viver.

Ele a faz desejar uma família mais do que tudo.

Quando Olivia finalmente entrega o coração a Levi e acaba sendo


rejeitada por ele não conseguir esquecer a ex-esposa morta, ela
descobre que está grávida, com o coração aos pedaços, um filho no
ventre e o amor que sente pelo Lorran, ela toma a decisão de ir
embora com o menino.

Pode um coração tão machucado pelo luto, voltar a amar?

NÃO RECOMENDADO PARA MENORES DE 18 ANOS!


[1]
minha ruiva

Você também pode gostar