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Meanings
Copyright © 2023 Isa Gomes
Título: Meanings.
Volume: 1.
Politicamente amor Ato I
DESENCONTROS: um conto de Politicamente Amor
OCASIONAL: um conto de Politicamente Amor
Politicamente amor Ato II
Obs.: Politicamente amor Ato II está indisponível.
• Meanings || O melhor amor é aquele que transborda.
CASAL CÃO E GATO • ROMANCE PROIBIDO • MORENO
SARCÁSTICO • BASQUETE
❝ Mas eu não sabia que estávamos transbordando nossas piores partes
ocultas um para o outro. E, droga, gostamos daquela merda! ❞
SINOPSE de Meanings [1° lAmores Esportivos] NA +18:
Numa cidade próxima de San Diego, a pequena Misha Daughety cresceu e
viveu uma linda infância cheia de regalias que uma família de classe alta
pode proporcionar. Hoje, trabalha em uma cafeteria para aprender sobre o
valor do trabalho duro, e vai cursar medicina ao lado de sua melhor amiga
de infância. Mas, ao iniciar o primeiro semestre da faculdade, tudo o que
parecia caminhar bem toma outro rumo quando Axel Martinez aparece e
traz bagunça à sua vida polida.
O novo e promissor jogador de basquete da cidade banhada pela praia é o
típico moreno sarcástico que planta uma pulga atrás da orelha de qualquer
um que o olha por mais de dois segundos. Sua energia magnética e a
aparição da sua família recente fez todos se perguntarem por que pessoas
tão ricas como eles se mudariam para uma cidade pequena; principalmente
sem o pai.
Eles são dois jovens talentosos.
Eles têm tudo pela frente, mas se apaixonam e arrumam problemas na
mesma intensidade.
Eles possuem um amor que não pode existir, quando o maior empecilho é
uma amarração do passado.
Será entre festas de fraternidade, jogos, praia e muitas brigas que essa
paixão nascerá do fogo de dois corações; um forjado pelo bem e outro pelo
mal, porém, igualmente suscetíveis a gerar dor.
Olá. Bem-vinde a mais uma obra minha!
Fico feliz por topar adentrar meu universo (seja pela primeira ou
sabe-se-lá qual vez). Sim, Meanings, assim como todos os meus livros, se
passa no mesmo universo (AmarAVerso).
A ideia desse projeto era ser um livro mais fofo e íntimo, mas eu
me peguei escrevendo sobre uma outra área da minha vida: a mentira. Acho
que 2023 será meu ano para falar sobre isso. Estou muito animada com o
início dessa série, e espero que vocês também. Esse é um livro que escrevi
pensando e repensando muitas vezes o que colocar na folha. Espero que
esse casal amarre vocês tanto quanto me amarraram nas coisas impensáveis
que eles faziam a cada capítulo (um pouco desesperador para uma escritora
que tinha todo um roteiro planejado? Sim, claro, com certeza, mas se o
personagem manda, a gente obedece rsrsrs).
Vamos a alguns avisos importantes sobre a série, em específico:
Meanings é o 1° livro de uma série New Adult com um pé no Dark
chamada “Amores Esportivos”. Os livros dessa série são
INDEPENDENTES, isso significa que você não precisa ler em ordem (mas
eu indico ler em ordem). A ideia da série é trazermos discussões e temas
atuais importantes no meio esportivo; seja sobre como certos temas são
vistos, elaborados ou negligenciados. A série conta com diversos esportes,
em sua produção no off; basquete, futebol americano, vôlei, hóquei; e
outros citados como: skate, ballet, ginástica artística e dentre outros.
Sobre Meanings: Esse livro, tal qual meus outros, não tem a
pretensão de retratar um casal perfeito e que ficará junto depressa e sem
problemas. As histórias que conto são pautadas na arte da representação
mais crua da humanidade. E esse livro tem um pé no dark, por isso, não se
espantem em ver um casal distorcendo a moralidade ou protagonistas
errando muito. Em todo caso, é válido ressaltar que Meanings NÃO conta a
história de um vilão ou anti-herói.
TROPES: Nesse livro temos um slow burn, entre uma afropaty e
um moreno sarcástico quebrado com passado sombrio. Uma cidade fictícia,
praia, basquete, ginástica artística e skate. Discussões e temas atuais como
racismo velado, machismo e estupro (sem cenas gráficas), alcoolismo,
imposição de gênero masculina e violência doméstica.
GATILHOS: racismo velado e estupro (sem cenas gráficas);
afastamento, abandono e/ou perda parental, violência doméstica e infantil
(cenas gráficas); alcoolismo e abuso de substâncias químicas (cenas
gráficas); dependência emocional (romântica e familiar); agressões,
machismo, abuso do poder acadêmico e imposição social atrelada a disforia
de gênero (com cenas gráficas rápidas); e comportamento antissocial
advindo de problemas familiares (sofrimento em decorrência do mesmo).
ESSE LIVRO É RECOMENDADO PARA MENORES DE 18
ANOS por conter gatilhos, cenas pesadas, sexo, drogas, violência (verbal e
física) e ter temas mais pesados com cenas gráficas leves.
Respeite seu limite e classificação indicativa. Sua saúde em
primeiro lugar sempre!
EU, AUTORA, não compactuo com esse tipo de comportamento e
nem o incentivo, as cenas aqui descritas são apenas aceitas na ficção!
E, por favor, NÃO à pirataria desta obra. Foi realmente muito
difícil para mim investir todo o dinheiro necessário para publicar esse livro.
Mas se você já estiver pirateando, por favor, ao menos divulgue
suas impressões sobre o livro nas redes sociais, indique a seus amigues
leitores pagantes ou até mesmo venha procurar comigo pessoas que possam
comprar para você, afinal, esse livro estará por apenas R$1,99 no
lançamento e R$7,99 nos dias que se seguirem.
No mais, boa leitura <3
2022.2
Para todas que precisaram chorar sem ninguém ver porque era a
única forma de extravasar a dor dilacerante que é presenciar, dia após dia,
quem você tanto ama te tratando como lixo, e, mesmo assim, ficar. Vocês
tem um coração doce e puro, o amor calmo deveria ser o guardião de vocês.
Não aceitem menos que o mínimo!
FUTURO
Eu sempre vou ser grato a você.
Você sabe, por me incentivar com a minha garota.
Eu achava engraçado você me enxergar como um porto seguro
para Misha sendo que, na real, eu sequer conseguia garantir a minha própria
sanidade.
Se fôssemos bem honestos, ela era do mundo. Eu não poderia e
nem deveria, de forma alguma, mantê-la comigo. O mundo precisa
conhecer Misha. Ela precisa ter a tão sonhada vida perfeita, pelo simples
fato de que lutou e mereceu.
Você pensou que eu poderia ser a pessoa que a acompanharia em
tudo, me influenciou a não questionar tanto se, com meu caráter, eu era
digno dela. E eu quase acreditei.
Quase.
Mesmo assim, agradeço a pequena esperança que você me
concedeu durante esse tempo.
Você não foi um dano colateral. Você nos uniu. E merecia mais,
muito mais.
Eu acho que vou sentir sua falta, porque você brilha como as
coisas caras de casa de gente rica e vai ser impossível não sofrer pela sua
ausência.
Se quer saber, a única coisa que me arrependo é de não ter agido
antes.
Gosto de você. Eu e Misha amamos você. Para sempre sentiremos
sua falta; em todas as coisas, em todos os lugares e a cada minuto.
De agora e para sempre, seu eterno garoto problema – que agora
você não salva mais.
Axel Marcone Martinez.
01
Já fazia muitos dias que meu pai não voltava para casa, e minha
mãe não comeu em nenhum deles. New York estava tomada por uma garoa
e um trovejar que me causavam um amargor intenso na boca do estômago;
ou, talvez, fosse a saudade do meu pai.
Quando ele não estava em casa, parecia que um buraco se
instaurava; minha mãe não comia, meu irmãozinho Owen fazia mais birra
do que nunca e eu tinha que cuidar para, pelo menos, tirar o lixo e não
deixar a casa cair aos pedaços. Mas, quando ele estava, esse buraco era
preenchido com o caos e a destruição no qual ele nos amarrava.
Mesmo ao pedir uma cerveja enquanto assistia as suas partidas de
basquete em silêncio, sentia que ele não se importava de verdade conosco,
porque não brigava muito. Afinal, gritar tudo bem, todas as famílias
discutem, certo? Esse é o normal. É isso que minha mãe falava. Ela também
dizia que, quando as mulheres amam demais, elas podem ficar sem comer.
"É o amor, ele faz a gente tomar decisões difíceis. Sem seu papai,
a mamãe não sente fome, filho. E tudo bem, isso mostra o quanto eu o
amo."
Nunca entendi isso muito bem.
— O papai chegou! — Owen adentrou a cozinha, gritando,
enquanto eu tentava limpar a pia para manter as coisas minimamente
organizadas.
Nosso gatinho, Alfred, pareceu despertar de seu sono em cima da
longa bancada da cozinha, espantado. O pelinho malhado se esticou todo
quando ele se espreguiçou. E, assim que o som da porta da frente se abriu, o
felino correu pela cozinha para sair pela porta dos fundos através da
passagem dos animais, assustadíssimo.
Animais sentem coisas.
Dei de ombros, após ver sua partida.
— Axeeeeeel! — meu pai gritou, parecendo muito bêbado. Não
que isso fosse fora do comum.
Corri apressado, cambaleando em meus pequenos pés.
— Sim, senhor, pai. — Parei diante dele, amarrando meus braços
atrás do corpo.
Ele pareceu pensar um pouco enquanto se arrastava para o sofá,
onde jogou seu corpo, meio sem jeito, e todo molhado. A porta ficou aberta
e a chuva, agora mais intensa, invadia a nossa varanda.
Corri para fechar a porta com cuidado, porque era grande e pesada
demais para mim.
— Me traga uma cerveja! — ordenou, parecendo meio nauseado,
passando as mãos na testa e têmporas.
Corri até a cozinha, peguei e o servi ao voltar para a sala. E, de
novo, fiquei diante dele, com as mãos para trás, esperando ordens.
Ele abriu a garrafa com o dente e cuspiu o lacre para longe; era
provável que fosse ao dentista de novo naquela semana. Corri o olhar para
onde a tampinha havia parado; precisava limpar isso quando ele subisse.
— Onde está a sua mãe? Aquela vaca tem que estar ao meu lado!
— Ela está lá em cima. Quer que eu chame ela?
Até porque, Owen estava escondido na cozinha, embaixo de nossa
imensa mesa; o que não adiantava de nada, já que o chão era tão claro que
chegava a espelhar.
— Chame, agora!
— Sim, senhor. — Corri em direção à escada, já pronto para a
subida em passos rápidos.
— E, Axel — me virei para o focar. —, pare de parecer uma
menininha com essas mãos para trás e esse corre-corre. Você anda como
uma mulherzinha. Se não aprender a ser homem logo, eu mesmo vou te
ensinar.
Sua fala paralisou meu corpo por alguns instantes na escada, mi ha
mão estava descansando na perna, enquanto a outra apoiava no corrimão.
Ajeitei minha postura, deixando a mão que estava na perna cair, tomado
pelo susto de sua repreensão. Por fim, apenas acedei, concordando.
Era meu pai, certo?
14
Noite de lua cheia. Sempre acho bonito olhar pra lua quando está
assim.
Os jovens organizadores da roda de conversa QUEER escolheram
um momento no jardim para falarmos sobre algumas questões trans e não
binárias.
Foi como uma palestra. Um rapaz falou sobre o tema de modo
geral, mas depois fomos todos conversando sobre. Uma menina de pele
escura e olhos datados de ascendência do leste-asiático mediava a
conversação. Ela parecia doce, mas fodona; só que não como a Misha. A
Misha parecia que iria socar a minha cara, o que me deixava maluco. Essa
tinha aquele olhar felino de mãe, como leoas defensivas, e o famoso olhar
43. Com certeza, ela era daquelas pessoas que marcam por onde passam,
por ser bonita, doce e ter um olhar felino; essa é uma combinação dos
infernos.
— Libriana — Hopi disse ao meu lado. O foquei, assustado,
achando que ele estava lendo meus pensamentos. Ele sorriu para mim e
cruzou as pernas. — Ela, com certeza, é libriana. Não acha? — Apontou
para a mediadora enquanto ainda estávamos todos sentados nas cadeiras,
ouvindo uns aos outros.
— Não sei. Não entendo dessas paradas de signo.
— Você é meio misterioso, Martinez. O que o traz aqui, afinal? —
Elevei as sobrancelhas, o focando melhor, desacreditado de suas perguntas.
— Perguntar não ofende. — Ele deu de ombros.
— Vim para Stacy Scarllat por causa da minha bolsa no basquete.
É no que sou bom e é meu foco.
— Hmm, então, decidiu responder a pergunta pelo que todos
sabem. Interessante. E me diga: o que fazia conversando com a filha do
treinador depois da escolha das líderes de torcida?
— Quê? Que porra! Você tava espionando a gente? — Me virei
para encará-lo, surpreso.
— Não, não. Longe de mim. É uma perguntinha inocente. Imagine
eu estar procurando fofoca por aí, hm? — falou, sem me olhar. — Estou
brincando. — E então, riu. — Só perguntei porque vi os três saindo do
ginásio naquele dia. Eu estava no estacionamento. Ia passar o fim de
semana nas terras santas, então, estava esperando alguns irmãos para irmos
juntos.
— Ah, sim.
— Também, porque hoje você falou "não sabia que atualizamos o
termo" quando citamos a palavra QUEER. Falou no plural. Existe algo a
mais que te traz aqui, para a roda de conversa, especificamente? — Seu
olhar desceu para meu cropped. Hoje usava um branco, mas com a jaqueta
preta de sempre. Então, a puxei para me cobrir mais, meio sem pensar, e
fechei o zíper até o alto.
Hopi semicerrou os olhos em minha direção.
Esse cara era muito mais esperto que qualquer um dali. Odeio
gente esperta por perto. Eu sou cheio de merdas na vida, não dá pra
conviver com gente assim.
— Talvez.
— Hm, certo. Não vamos falar de relacionamentos, então. Gostou
da palestra? — Ele voltou a focar adiante.
O rapaz que palestrou estava encerrando.
— Foi boa.
— Todos podemos lanchar lá dentro. Comidas 100% veganas à
esquerda — o garoto, que se chamava Isaque, indicou a sala do prédio da
faculdade à frente.
Eu e Hopi juntamos nossas cadeiras, como todos, e começamos a
caminhar para dentro. Andrei e Miguel estavam mais distantes, alheios a
nós.
— Eu gostei da palestra. Era algo que precisava ouvir.
— Questões de gênero?
— É. De modo mais… — Fiz um espaço com a mão e meu corpo.
— De modo mais expansivo? — sugeriu.
— É. Essa palavra aí é boa.
— Você não é bom com palavras, não é? — Hopi riu, mas sem
querer me ofender, apenas por diversão.
— Não. Nem lendo.
— Você fala palavras "difíceis" de forma engraçada. Sem maldade
— assegurou. — Fica ainda mais misterioso, Martinez. Um cara como
você, com a família que tem, falar da forma que fala… gera uma certa…
curiosidade, hm?! — Sorriu. — Sem julgamentos, mas já julgando.
— É um caralho desse aí mesmo. Você acha que falar com ela
seria bom? — Apontei para a menina que estava mediando a conversa
antes.
— Buwan? Hm, gostou da garota espertinha? — Hopi era
divertido, acho que me acostumaria fácil com ele. O que não podia, claro.
Ele era mega curioso com tudo, por Deus! — Ela adora falar com os
novatos. Pode ir tranquilo.
Me interessei, mas então reparei melhor em sua fala.
— Novatos? Você não é novato aqui?
— Quem você acha que convidou o Miguel?
— Você é…?
— Gay, talvez? Estamos na comunidade. Rótulos ainda não me
definem, mas se em lutas políticas me pedirem nomes eu usarei e peço que
também use esse. Quando eu me entender melhor eu boto uma estampa na
porta do meu quarto, beleza? — Ele riu de novo. — E sim, pronomes
ele/dele, fica tranquilo que estava usando certo.
Eu disse: esperto e divertido. Ele seria um bom amigo. Única
desvantagem: ser curioso.
— Valeu, mano. Você não sabe o que passa na minha cabeça às
vezes por causa dessas paradas. É bom saber que alguém dentro de casa
também sente essas coisas. Se topar, podemos conversar sobre isso esses
dias.
— Pode contar comigo, mas eu não tenho pressa para me definir.
O que e quando ou do modo que for está bom.
Tranquilo. O que acontecer e como acontecer está tudo bem.
Queria poder ser tranquilo assim.
Sorri para ele e demos um meio abraço de despedida. Daí, fui falar
com a menina Buwan.
— Ah, oi. Prazer, Buwan. Ela/dela. — A garota se apressou para
estender a mão e se levantou quando me aproximei.
— Prazer, Axel.
— É novo aqui, não é Axel?
— É a minha primeira vez aqui. E sou novo na faculdade também.
— Claro. Acho que me lembro de alguém comentar sobre você.
Martinez, o jogador de basquete promissor, certo?
— É — confirmei, não gostando tanto assim daquela "fama" que já
tinha.
— Sente-se. — Ela estendeu a mão para o sofá em que estava
antes. — Vamos conversar.
Fiz como ela mandou e ficamos cara a cara; talvez próximos
demais.
— Então, você joga desde sempre?
— Desde moleque vi muitos jogos com meu pai, mas ele só
começou a me ensinar quando eu tinha uns doze anos. Só no ensino médio
entrei em um time no colégio. Mas eu gosto muito mesmo. Sou apaixonado
pelo esporte desde sempre. Só não pensei de cara que também poderia
exercer como profissão.
— Entendo bem. Às vezes, nossos sonhos não são postos às claras.
O que está cursando? Escolheu algo ou…
— Estou cursando inglês.
— Com o Mister Jones? — Sua cara se enrugou toda.
— Ele mesmo. — Tentei forçar um sorriso sem jeito. — Eu sei, eu
sei. — Deixei claro que entendia seu nojo. — Bom, é… e faço matérias de
biologia e divulgação jornalística.
— Hm… jornalismo e inglês, ok. Mas onde entra a biologia?
— Pensei em ser enfermeiro ou algo assim, mas preciso aprender o
básico do idioma antes. E jornalismo é porque quero saber como as notícias
são pensadas desde o início, já que terei que lidar com a mídia por muito
tempo na minha vida, enquanto for jogador.
— A mídia é um saco.
— É, mas tô achando que nem é tão diferente do que vivemos na
vida real.
— Não é mesmo! — Ela gargalhou, mas logo se conteve e me
focou. Quase me perdi em seus olhos cor de mel. Acho que devia ser crime
sem fiança pessoas de olhares felinos olharem demais para outros humanos.
Meros humanos. Porque o olhar dela parecia me diminuir, me pelar, mostrar
coisas ocultas em mim que nem eu mesmo sabia. Como que feroz, mas,
mesmo assim, ameno. Que garota… parecia uma droga daquelas que mexe
com a nossa cabeça; nos deixando calminhos para roubar a verdade. —
Axel, eu adorei te conhecer. Existe algo em específico em que ficou com
dúvidas ou queira falar mais sobre?
— Preciso de um tempo. — As palavras saíram da minha boca e
eu nem percebi. — Estou cansado agora e… acho que confuso. Preciso me
recompor, mas ainda quero falar com você. Tenho muitas dúvidas e acho
que você pode me ajudar.
— Tudo bem. Pega meu número. Pode me mandar mensagem ou
me ligar sempre que quiser.
Estendi meu celular já desbloqueado para ela.
Essa garota era como uma sereia; enfeitiçava até as mentes mais
certas. Seja lá quem ela fosse ou o que tinha na vida, não era boa para os
olhos. Aquelas petecas claríssimas como luz do sol causam danos na cabeça
de qualquer um. Poderia jurar que estava a ponto de lhe contar meus
segredos mais íntimos.
Ainda não sabia se ela era confiável para isso.
Um passo de cada vez.
Esse era o motivo de eu gostar da Misha. Eu e ela causamos um
grande efeito um no outro, éramos nós contra o mundo, ainda assim,
pessoas individuais. Ela tinha os pensamentos dela e eu, os meus. Podíamos
ser invasivos, não tentávamos roubar um ao outro. Tudo que cada um
conseguia do outro era lutando. Talvez com desafios tóxicos? Sim, mas
ninguém é perfeito, então ok, para mim tudo bem. Mas tirar algo de mim à
força? Não, definitivamente, não era algo que me atraía.
22
Tudo estava uma zona na fraternidade; do tipo que sei bem que
desagradaria meu pai. Um cara estava jogado no chão com o nariz
espirrando sangue; aquela merda estava intensa. Outros caras o ajudavam,
mas o vi subir a blusa, revelando uma mancha roxa gigante. Quando os
meninos perceberam aquilo, olharam com desgosto para o outro lado. De
imediato, os acompanhei.
Axel estava jogado no chão também, limpando o canto da boca
onde havia um leve arranhão. Saori estava ao seu lado, tentando ajudá-lo, e
poucos garotos o repararam. O dobro de caras estavam ao redor da cena.
— Mas que porra é essa? — gritei, exigindo saber. Ao mesmo
tempo, o som alto parou e mais pessoas se amontoaram na varanda e
jardim.
Todos viraram em minha direção com as sobrancelhas elevadas,
pareciam ter recebido um comando; talvez por eu ser a filha do treinador,
talvez por eu estar falando alto demais… não sei.
— Misha? — Axel foi o primeiro a falar. Espanou a calça e se
apoiou na coluna da fraternidade para se levantar sozinho, mesmo que Saori
lhe oferecesse o braço. Ela era pequena demais para o aguentar bêbado –
era perceptível pelo seu tom de voz e molejo, quase caindo após se levantar.
Saori o ajudou mesmo sem ele querer.
Meu cérebro parecia trabalhar tão rápido quanto um furacão, e agir
logo me pareceu a única saída. Virei para o menino ensanguentado.
Coitado, tão novo, assim como Axel. O que os levou a brigar?
— Vocês! — Apontei para três caras que conhecia do time e sabia
que tinham carro; esperava que algum deles não estivesse bêbado e pudesse
dirigir. — Quem não estiver bebendo, ajude ele a ir para um hospital e os
outros, acompanhem. Você! — Apontei para uma menina que eu sabia ser
mais velha e cursar enfermagem. — Vá na cozinha e pegue alguns
algodões, álcool ou qualquer coisa que ache ser importante para aquele ali.
— Apontei em direção a Axel. — E depois, suba pro quarto dele. Vocês
dois — dessa vez, foquei em Axel e Saori — subam pro quarto dele. E o
resto de vocês, limpem a porcaria dessa casa. — Fitei os demais. —
Depressa! — Bati palmas, os dissipando.
Todos me obedeceram com rapidez.
— Misha… — Saori se aproximou para falar algo comigo, mas
neguei com a cabeça, estressada, e sinalizei para subirmos logo.
Minha amiga me respeitou, mas sei que se sentia contrariada e não
gostava disso. Apenas concordou e me ajudou a colocar os braços de Axel
em meus ombros e nos dela para o levarmos.
Subimos depressa os degraus da frente. A música voltou a tocar,
dessa vez baixa, e os garotos brincavam entre si com a organização do
ambiente, mas pararam quando viram o estado do Axel. Ele cambaleava,
ainda apoiado em meu corpo pequeno e no de Saori, franzino.
Éramos um desastre.
"Daddy Issues" soou baixo quando três meninos se aproximaram
para nos ajudar. Dois deles tomaram meu lugar e o de Saori, sorrindo sem
jeito. Acho que todos só achavam que era o caso de mais um moleque
bebendo demais e arrumando confusão, por isso não se aproximavam, mas
aqueles eram do time – um deles sendo o capitão.
— Pro quarto dele, não é? — o capitão, parado ao meu lado, me
perguntou.
— Sim.
Eu, ele e minha amiga caminhamos à frente dos outros que
carregavam Axel. Fizemos todo o percurso em um silêncio agonizante.
Chegamos no terceiro quarto da casa – o que julguei ser o de Axel
– e ele puxou um molho de chaves do bolso, destrancou a porta e nos deu
passagem para entrarmos.
Esperei Saori adentrar e acompanhar os meninos, que deitaram o
corpo de Axel na cama.
— Eu não sei que tipo de merdas ele passou ou tem, mas Axel é
um dos melhores jogadores. A real promessa que temos no time. Talvez até
roube o meu lugar. — Ele riu. — Mas hoje — elevou as sobrancelhas,
desacreditado demais. —, acho que nunca vi um cara assim. — Nervoso,
passou a mão na cabeça. Suspirei aflita, sabia que ele me relataria o que
Axel tinha feito e isso não me animava. — Ele estava tão bêbado… na real,
acho que deve ter tomado umas pílulas também. Tava muito fora de si e
arrumou briga com aquele cara. Nem sei o porquê, só sei que ele socou
muito o mano. Nunca vi um cara se meter numa briga como aquela e sair só
com um arranhado na boca como ele saiu. Seu namorado é,
definitivamente, um cara complexo. E não estou te dizendo isso porque
quero que se responsabilize por ele, sei que não é a sua obrigação, mas tente
conversar com ele. Eu também conversarei. Axel é a promessa da
faculdade, precisamos dele na linha.
— Ah… ok, mas… eu não sou a namorada dele.
— Achei que a única garota que o treinador deixaria ele namorar
seria justamente a própria filha, afinal, foi o seu nome que ele gritou quando
foi jogado no chão, mesmo com a sua amiga o ajudando. Mas faz sentido. A
filha do treinador deve ser mesmo a mais distante no radar. — Ele riu e
prendeu os lábios na boca. Droga, ele sabia que estávamos envolvidos de
uma forma tortuosa, com certeza! — Relaxa, Misha, podem continuar seja
lá o que vocês têm. Os garotos daqui são acostumados a guardarem
segredos sobre amantes uns dos outros para o treinador. — Sorrindo, ele
bateu em meu ombro e me deixou.
Ao mesmo tempo, os outros dois meninos também saíram do
quarto e o acompanharam, me dando um polegar para cima e focando
adiante.
Adentrei o quarto e, por mais que estivesse preocupada, uma parte
de mim estava feliz em saber que a fraternidade era um lugar seguro para
nós dois. Seja lá o que nós dois significasse.
— Fica com ele essa noite. Emerson e as outras meninas estão me
esperando lá embaixo para voltarmos pra fraternidade. Ele estava muito
alterado. — O olhar de Saori vagou pelo corpo estendido de Axel após ela
sair do banheiro. — A banheira tá enchendo. Se quiser… — Ela afagou os
cabelos dele e fungou, meio triste.
— Tudo bem. Eu cuido dele, sem problemas. — falei leve.
— Bom, eu tenho que ir. — disse, já seguindo para passar por
mim.
— Espera! — Segurei seu braço e Saori me focou. — Eu acho que
precisamos… conversar. Digo, um dia desses. — Flutuei as palavras, sem
saber ao certo o que queria conversar com ela.
Nossa amizade? Nossa proximidade real? Que droga, como se diz
à sua melhor amiga que acha que vocês são distantes, mas queria uma
reaproximação? Reaproximação… isso nem é o que precisamos. Devíamos
nos conectar de novo, isso sim!
Saori piscou, meio desentendida.
— É… tá. Me manda mensagem.
— Pessoalmente.
— É algo importante assim? É grave? — Ela ajustou a postura e
cruzou os braços, me dando seu total foco.
E então, eu me lembrei do quanto minha amiga era boa de coração,
mas eu não entendia porque não éramos tão próximas quanto deveríamos.
Deveríamos?
— Importante, sim, mas não urgente.
— Podemos conversar no jardim na segunda?
— Precisaríamos de mais tempo — informei.
— Tudo bem. Então, eu posso dormir na sua casa no domingo.
Pode ser?
— Claro.
Sorrimos fraco uma pra outra, visivelmente cheias de pensamentos
encobertos, e nos despedimos. Tínhamos um dia marcado para nossa
conversa. Certo. Certo… Certo?
Era correto eu exigir mais da nossa amizade? Eu, pelo menos,
queria isso mesmo? Às vezes, achava que gostava de como éramos e
pensava que não havia nada que uma escondesse da outra, porém, na
mesma hora me lembrava de que eu mesma escondia um bilhão de coisas.
Seria eu a que falaria mais nessa conversa? Eu que tinha mais segredos que
estavam me engasgando?
Tranquei a porta do quarto do Axel e passei uns segundos ali,
encostada, com todos esses pensamentos rondando a minha mente.
Era muito mais confortável, para mim, apenas esconder tudo,
porque, claro, tinha quase certeza de que ela não me escondia nada.
Esperava que Saori não ficasse brava quando eu contasse sobre Axel, mas
não podia mais esconder isso.
Olhei o cara deitado, bêbado igual um gambá, na própria cama.
Precisava do conselho de alguém sobre o que fazer com todos
aqueles sentimentos conflituosos acerca de Axel, e Saori era a minha única
amiga. Precisava contar a ela! Sabia que escolher continuar ao lado dele era
ir contra meus pais e sua carreira, mas também sabia que seria uma escolha
muito dolorida. Brigamos ontem e aquilo já foi ultrajante demais para o
meu coração. A força que nos unia era dilacerante, o magnetismo dele me
atraía e sua energia me chamava, ela me levava para seu lado em uma
corrente de ar invisível e nos aprisionava em um calabouço assustador; um
desses lugares ruins que, apenas por estar com ele, eu não sentia mais
medo. Com Axel eu não sentia temor, na verdade, posso dizer que
enfrentaria qualquer merda desse mundo. Era bizarro pensar isso.
Meu estômago esfriou com todos esses pensamentos, eu me
julgava, de certa forma, por gostar tanto dele assim. Deviam ser os anos de
uma vida aprisionada falando mais alto. Pisquei os olhos meio atônita;
parecia que as paredes iam me fechar aqui e agora. Foquei em seu corpo e
passei as mãos mil vezes no jeans da minha calça, respirando fundo.
Tudo bem, tudo bem, tudo bem!
Rumei em direção a Axel, firme em minha decisão de me acalmar.
Gostar dele não significava mais que isso; uma tola paixonite jovem. Estava
tudo bem.
— Axel. — Toquei de leve seu corpo, para tentar acordá-lo. —
Axel, você precisa acordar e tomar um banho. Não pode dormir assim.
— Misha — a voz dele soava como a de um gato ronronando e um
anjo caído. — Eu acho que reconheceria a sua voz até na morte. — Ele
abriu os olhos sem nenhuma pressa, tomando um tempo para me focar. Suas
pupilas estavam dilatadas, seus lábios roxos e suas bochechas
avermelhadas. Suas linhas de expressão pareciam cansadas, mas o
sorrisinho sarcástico ainda estava ali. — Por que eu estou na morte, certo?
Você é meu anjo da guarda, Misha? Garotos como eu não recebem
recompensa do papai Noel, então, por que Deus olharia por mim? — Sua
cabeça se curvou para o lado, me inquirindo com aquelas íris verdes
escurecidas demais agora.
— Que porra você bebeu, hein? — perguntei, me aproximando
dele e puxando seu braço. — Vamos, levanta, vou te dar um banho.
— Um pouco disso, um pouco daquilo… — divagava, juntando o
corpo ao meu para se levantar; estava mais lento que nunca. — Talvez
purple, poppers… ah, clarooooo, álcool! — pontuou, levantando o
indicador.
— Quem diabos te deu poppers?
— Um cara aí. — Deu de ombros quando finalmente chegamos ao
banheiro. — Espera, espera! — Ele parou, meio abrupto. — Você vai me
ver sem roupa pela primeira vez!
— Eu realmente não estou pensando nisso agora.
— Mas… — Axel estava alongando todas as sílabas possíveis e
esquecendo de terminar as frases.
Revirei os olhos e coloquei as mãos nos quadris quando ele se
escorou na parede do pequeno cômodo, sozinho.
— Axel, por favor, tá? É só um banho. Eu nem vou olhar para as
suas partes.
— Quer dizer pro meu pau! — Sorriu de canto.
— Axel! — o repreendi. — Banho. Agora! — Apontei para a
banheira no final do ambiente.
— Se eu me trocar de costas, você ainda vai ver a minha bunda.
Ela é bonitinha, mas não! Você gritou e foi muito má comigo. — Ele fez um
beicinho fofo. — E tudo bem, eu errei em gritar com você. Essas merdas
ficam na nossa cabeça. Eu lembro de como me sentia angustiado, meio sem
razão, quando me lembrava das brigas em casa. — Começou a divagar,
sentando no pequeno banco ao lado da pia e tirando a roupa. — Ele gritava
tanto. Porra, era um inferno aquilo! Mas acho que preferia ele me batendo
do que gritando ou batendo na minha mãe. — O quê? Desatei meus braços.
Tive que conter meu nervosismo ao ouvir seu relato de violência doméstica
e infantil. — Ele chegava em casa tão alucinado. Misha — seus olhos me
buscaram. —, eu te destratei quando gritei com você e agora estou drogado,
mas você está aqui. Eu… eu fiz algo pra você hoje? — Axel nem esperou
pela minha resposta. — Você não devia ficar com um cara que grita em
brigas. Você merece o melhor, você é melhor que isso, e sei que vai arrumar
uma pessoa perfeita um dia desses. — Terminou de tirar a roupa e entrou na
banheira que já estava quase cheia. Logo me aproximei e fechei a torneira,
já que Axel estava mais perdido que nunca em seus pensamentos.
— Sabonete — ofereci o líquido para ele.
Sua mão se estendeu enquanto eu o derramava, mas seus olhos
perscrutavam meu rosto.
— Misha… seu nome soa bonito na minha cabeça, mas eu não
consigo ser bom falando. E quando eu vi que você era tipo uma garota
perfeitinha, tive certeza que esse seu lado só prejudicaria minhas chances
com você.
— Que bobagem, Axel. Eu não sou essa pessoa.
— É, você não é. Você é muito mais. Uma luz em meio a
escuridão, a esperança de algo novo que a gente nem espera. Um novo
começo. Você é meus sentimentos mais enclausurados, estranhos e
inimagináveis vindo à tona, Misha. Não sabe a porra do barulho que causa
em meus pensamentos.
Não conseguia dizer nada, apenas segui o focando. Era impossível
parar.
— Ai, meu Deus! — sussurrei, me inclinando depressa para tentar
arrumar todo o sabonete que caía pela banheira.
— Eu falei merda, né? Eu não sou bom falando como o Bryan ou
as pessoas que você devia ficar. Sei lá porque eu falei isso, eu só… —
Sacudindo os fios, ele parecia perdido como uma criança indefesa.
— Você não falou bobagem. Eu só tô arrumando o sabonete. —
Sorri para ele, chamando seu olhar para o tanto de líquido que tinha caído.
Gargalhamos juntos ao notar a bagunça que eu tinha feito. Era divertido e
até fácil estar apenas com o Axel; sem outras pessoas e só os nossos
problemas tolos de casal. — Tem que parar de se inferiorizar tanto por não
ter tantas palavras no vocabulário. Isso você pode aprender, caso queira.
— Misha?
— Hm — respondi, ainda apressada tentando arrumar aquela
bagunça.
É melhor só deixar a água levar mesmo…
— Olha pra mim.
O fitei, espantada com a dose de realidade que a sua voz carregava.
— Diga?
— Você é boa. Realmente boa. Uma língua afiada que… por Deus!
— Joguei a minha cabeça para trás, gargalhando. Quando voltei a focá-lo,
seu rosto estava próximo de mim. Minhas sobrancelhas se elevaram no
mesmo instante que meu estômago pareceu virar um borboletário. — Seu
cheiro mora na minha cabeça — Axel se ajoelhou na banheira e se inclinou
para ficar ainda mais próximo de meu rosto, pegando um cacho, pois meu
cabelo estava natural, e o guardou atrás de minha orelha. Tudo aquilo, tudo
nele, despertava uma corrente elétrica da ponta do meu pé até a minha nuca.
— Seu cabelo mudando sempre mora na minha cabeça, seu corpo — ele me
perscrutou sem pudor; me senti nua, mas não intimidada. — mora na porra
da minha cabeça. Caralho, Misha, você é gostosa demais pra sanidade do
meu pau! — Suas sobrancelhas unidas e seus olhos vidrados no meu corpo
me esquentavam ainda mais.
— Você está bêbado. — Sorri, tentando descontrair aquele
momento todo. — Vamos pra cama. Vai ficar resfriado se ficar mais tempo
aí. — Estendi minha mão para que ele se levantasse, alcancei seu roupão,
ajudei-o a vestir um conjunto de moletom cinza e retornamos para a cama.
O deixei se agasalhando nas cobertas e voltei para apagar as luzes
e deixar meu celular em sua mesa de estudos, junto com a minha lente de
contato; que por sinal, já era. No dia seguinte, precisaria que Saori levasse
as reservas que ficam em sua casa, senão, estaria ferrada.
— Não é porque tô bêbado que menti. — Axel se virou em minha
direção, seu corpo todo coberto pelo gigante e fofo edredom branco. Me
enfiei nas cobertas junto dele, minha blusinha de poliéster tinha alças finas,
ou seja, não me ajudavam em nada com aquele frio glacial em que o quarto
se encontrava. — Gosto mesmo de você. — Se aproximou mais do meu
corpo. — Não vamos mais brigar, por favor. Vamos ser sinceros, sem
magoar um ao outro, hm?!
O analisei, seus olhinhos eram tão doces, seu rosto parecia
angelical naquele momento e sua boca, um perigo de tão chamativa.
— Uhum — sussurrei, perdida em meu desejo por ele.
E julgava que Axel soubesse, pois aproximou ainda mais o corpo
do meu, passando a mão pela minha barriga e elevando o corpo para me
olhar de cima.
— Posso te beijar?
— Você está bêbado. — Acho que meu argumento era mais para
mim mesma.
— Eu juro que não vou tentar transar com você. Pode me matar se
eu fizer isso.
— Você sabe que eu iria — o desafiei, entornando a cabeça.
— Porra, como eu sei! E eu adoro isso em você — sussurrou, rente
ao meu rosto, e então, selou nossos lábios. Logo, Axel me pediu passagem e
eu permiti. Sua língua me buscava, derretendo todo e qualquer pensamento
racional que eu tivesse. Em uma sincronia perfeita, demonstrando todo seu
interesse em mim, ele movia a boca. Sua mão foi para a minha nuca, onde
ele puxou a minha cabeça para o seu encontro, intensificando ainda mais o
nosso beijo. Axel me reivindicava e eu me permitia ser sua, eu desejava
aquilo. Gemi, excitada, e ele engoliu, gemendo de volta e soltando meu
cabelo. Sua mão foi para meu queixo e ele me distanciou devagar, puxando
meus lábios ao nos separar. — Eu podia te beijar por mil anos. — Sua
respiração era fraca, corria pelo meu rosto.
— Isso foi… — Tomei o ar, movimentando o peito, ainda imersa
no frenesi.
Axel se distanciou de mim, admirando meu movimento com um
sorrisinho de canto.
— Você está muito excitada, não é? — alfinetou.
Franzi as sobrancelhas e o foquei, incrédula com suas palavras. O
corpo dele ainda estava pairando sobre o meu, mesmo distante, então, dei
um empurrão leve em seu ombro.
— Como você é chato, Axel! — impliquei, rindo.
Ele gargalhou. Seu cabelo molhado estava todo atrás da orelha, seu
rosto já era limpo e todo aquele compilado de imagens que minhas íris
traduziam me deixava feliz. Axel rindo, relaxado. Eu gostava de como
éramos juntos e a sós.
— Seus seios estão arrepiados, o que posso fazer? — Engoliu a
risada, se inclinado para acomodar a cabeça em meu braço. — Você devia
sempre dormir aqui — enquanto ele sugeria, me virou com pressa e me
abraçou por trás, deixando-nos de conchinha; sendo eu a de dentro.
— Ai! — grunhi pela virada repentina. — Você é muito apressado!
— Eu sempre peço para te beijar, acho que sou muito tranquilo.
— Você faz o mínimo e quer aplausos? — falei, tentando soar
meio grossa.
Axel apenas gargalhou.
— Acha que pode dormir aqui amanhã também? — Sua mão, que
me circundava, começou a fazer um carinho gostoso na minha barriga.
— Amanhã já vai ser a maior trabalheira para explicar pros meus
pais onde eu dormi, imagina se eu passar dois dias fora. Não quero nem
imaginar!
— Fala que tava com a Saori. Os pais dela não te acobertam?
— Jeff não gosta muito deles — falei mais baixo, meio
incomodada de relatar aquilo; primeiro, porque nunca falei pra ninguém,
segundo, porque aquilo realmente me chateava. Poxa, Saori era a única
amiga de infância que eu tinha e, por mais que meus pais ainda a deixassem
conviver comigo, Jeff sempre falava mal dela pelas costas. E ela nunca o
destratou, pelo contrário, o respeitava e admirava demais!
— Seu pai é meio cuzão, não é?
— É… — Soltei o ar, murchando. Acho que nunca falei algo
assim do meu pai.
— Anthony é meio bonzinho, pelo menos.
— Meio. Mas aceita coisas ruins demais — comentei, já me
julgando em mil por cento.
— Relacionamentozinho… como se fala?
— Conturbado.
— É, isso aí. Acha que tem jeito?
— Nhem. Provavelmente não.
— Não vamos ser como nossos pais, não é, Misha? Vamos ser
melhores, vamos ser bons, tá? Eu te prometo isso. — Ele se inclinou,
pairando sobre mim para me focar, e depois, beijou o topo da minha cabeça.
— Sim — sussurrei quando ele voltou para o seu lugar.
Logo, Axel me abraçou mais forte. Não podia vê-lo, mas sei que
sorria. Sua mão se enfiou pela minha blusa e ele segurou meu seio; não era
de forma erótica, era muito mais. Como uma conexão. Ali, estávamos
ligados de uma forma única, íntima e nossa.
Meu coração bateu descompassado e meu corpo todo se arrepiou.
Ardia em meu peito aquele sentimento tão genuíno e verdadeiro.
Eu era dele.
E, caralho, puta que pariu, porra, era como pular de um penhasco,
mas ser abraçada por uma caminha fofa feita de novelos de lã!
— Obrigado por hoje, mentirosinha — Axel sussurrou tão baixo e
depois de tanto tempo, que jurei ser um sonho.
E se fosse Morfeu me dando "olá" com aquele sonho, eu diria que
ele podia entrar e transformar toda a minha vida real naquela alucinação.
23
Ter que voltar para casa assim, em uma manhã após dormir fora
sem avisar, não era a coisa mais vantajosa do mundo. Porém, já havia me
ocorrido e quem me ajudava nessas situações era meu pai Anthony, mas,
dessa vez, ele sequer me respondia. Com certeza, devia estar tão bravo
comigo quanto Jeff.
Abri a porta de casa e um silêncio assustador me tomou, meu
estômago embrulhou e a bile subiu. Se Jeff não estivesse em casa, ou pior,
se estivesse, ele não podia simplesmente fazer algo, certo? Ele só… ia
brigar e gritar e… bom, discussões são exaustivas, mas tudo bem, somos
família.
Dando alguns passos calmos, terminei de subir as escadas e entrei
direto no meu quarto, mas a porta aberta estampava meu futuro evidente.
Meus dois pais estavam lá, Anthony sentado na cama e Jeff, na
cadeira da escrivaninha.
— Pode entrar, Misha. Aqui ainda é a sua casa. Ou devia ser — o
último falou, com a voz enevoando o ambiente.
— Desculpa, pai. — Rumei em direção ao quarto, fechando a porta
atrás de mim. Nunca gostei que meu irmãozinho visse o que rolava em
nossas discussões. — Sei que devia ter avisado que fui dormir na casa da
Saori, mas é que foi de última hora…
— Mentiras, mentiras e mais mentiras — Jeff disse, negando com
a cabeça, ainda sentado. Olhei para Anthony, procurando por algum refúgio,
mas ele apenas negou levemente e abaixou a cabeça. — Sabe, Misha, acho
que você pensa que somos tolos, ingênuos, que não sabemos nada que
acontece na cidade. Você foi a fraternidade do meu time e, provavelmente,
dormiu lá, já que não saiu com Saori. Se bem me lembro, você passou a
última noite do baile com um menino também. Está dando pra cidade
inteira ou mentiu em ir pro baile? — Meu queixo quase foi ao chão, mas me
contive, estava acostumada com aquilo. — São tantos anos de cuidado pra
você jogar tudo fora por um idiota do time. Você sabe qual o futuro deles?
Ele deve estar te iludindo com essa falsa impressão de conforto e
estabilidade que o novo dinheiro traz, não é? Mas deixe eu te contar sobre
como as coisas podem ser na realidade. Vocês se juntam, mudam para New
York, alugam um bom apartamento, têm filhos, você vive em função de
trabalhar como médica, ser mãe e ir ver os jogos do seu namorado. Sim,
namorado, porque não terá coragem nem de se casar com ele; e,
convenhamos que se o fizesse, seria da forma mais leviana possível. E
então, você vai ter todas essas obrigações e vai começar a ficar exausta. —
Lágrimas começaram a escorrer de meus olhos, mesmo que eu não movesse
meu corpo em nenhum centímetro. — Sabe o que vai acontecer? O trabalho
vai começar a te cobrar pela sua falta de atenção, os tabloides vão comentar
sobre como você não se arruma ou se dedica a sequer ir nos jogos e seus
filhos vão falar sobre como você os trocou pelo trabalho, bom, mas essa
parte você já sabe. Teve uma mãe igual. — Jeff se pôs de pé, aproximando-
se de mim. — Se quer repetir os mesmos erros que ela, devia ter nos dito,
assim não teríamos gastado nosso tempo com você — sussurrou perto de
mim. — Você teve tudo, sempre teve, por que não pode fazer uma única
coisa que pedimos? Era só manter o legado da minha família. Parece que
não sabe o quanto lutamos para vocês terem as possibilidades que têm.
Porque na hora de romantizar a pobreza todos estarão ao seu lado,
aplaudindo, incentivando que você largue tudo que sempre teve, sua
família, as pessoas que estiveram sempre ao seu lado, para ir atrás de um
casinho qualquer que vai te trair com metade da cidade. E você tentará ser
mãe, trabalhadora e, acima de tudo, perfeita para as câmeras, mas nada será
o suficiente. Nada nunca é pra esses caras. Eu fui um deles, Misha, não
esqueça disso. Eu vi o horror que é viver em frente a tudo televisionado, o
amor de um lado e o ódio do outro. Ninguém estará ali de verdade para te
ajudar. A vida que levamos aqui é leve, sem tributos altos como aqueles.
Você pode se formar, trabalhar aqui por perto, ter um bom marido. É
simples, é o certo. Tudo depende de você e de suas boas ações, porque eu e
Anthony lutamos pra ter você e James ao nosso lado, não para nossos filhos
serem jogados a uma cova de leões desta forma.
— E você acha que isso não é tão brutal quanto? Me casar por
conveniência? Eu não sou um tributo de troca!
— Não é um tributo, mas foi um peso em nossas vidas desde
sempre. Um que aceitamos e cuidamos, quando sua mãe não quis, quando
precisávamos lutar pela nossa própria felicidade frente à minha família
conservadora, quando o luto do seu pai com a perda dos avós o destruiu e
logo em seguida a sua mãe te trocou pelo trabalho dela. Acha que era fácil
para nós dois simplesmente fugirmos? Óbvio. Mas não foi o que fizemos.
Por você, para que tivesse uma boa vida, ficamos. Te demos tudo do bom e
do melhor e você reage assim. — Seu escrutínio de repulsa foi severo por
todo meu corpo, me fazendo encolher. — Não estamos pedindo muito,
apenas que escolha um homem, um bom, um que goste até, e case-se com
ele. Tudo que sempre foi meu, será seu, e tudo que for deste será seu
também. Não estamos mais no século passado, vocês mulheres têm direitos,
tudo estará em seu nome. Pode parar de envergonhar a nossa família sendo
uma vadia que dorme todo fim de semana com um e escolher algum idiota
que aceite saciar você ou suas necessidades, basta que esse idiota seja filho
de algum dos meus amigos. É só isso que te pedimos, Misha, apenas isso,
filha. — Agora, seus olhos estavam baixos, enquanto ele se aproximava
mais de mim. — E, se você não fizer isso, vou precisar tomar medidas mais
drásticas.
— Do que está falando? — Soei baixinho.
— Grades não seriam boas a vista, mas sempre existem outras
formas de prender uma pessoa que envergonha a todos. — Ele colou a boca
no meu ouvido e sussurrou, áspero: — Eu sempre posso mandar você para
bem longe, já que tem esse ar todo motivacional de estudante. As pessoas
acreditariam, certo? — Então, se afastou por completo de mim.
— Montana nunca permitirá que faça algo assim. E existem leis.
Isso é… é…
— Sem dinheiro, sem lei. E sobre a sua mãe… — Ele riu baixo em
escárnio. — Acho que nem precisamos argumentar. — Saiu pela porta sem
sequer olhar para trás.
Todas as suas palavras arrancaram as boas raízes que haviam
crescido em meu peito na noite anterior. Agora, eu me sentia como uma
folha seca, pronta para ser varrida para o lixo.
— Não ligue para a forma dura que ele fala, querida, venha cá. —
Anthony bateu na cama para que eu me aproximasse e assim o fiz, logo me
abraçando a ele. — Você sabe que ele não faz isso por mal. É só a realidade,
querida, nós lutamos por você, queremos seu bem, sua segurança. E você só
estará segura de verdade aqui. Você entende isso, certo?
— Acho que… sim — disse, cabisbaixa, me encolhendo junto a
ele. — Mas, pai, isso não é certo. — Elevei o rosto para o focar. — Eu não
deveria me unir a alguém por obrigação, só porque os pais dele são pessoas
alucinadas. Isso o torna igual a eles.
— Misha! — Anthony me repreendeu de cara fechada. — Nunca
mais diga isso. Jeff é ciente de todos os seus atos e, se você não entende que
essa é a sua melhor opção, talvez deva passar um tempo fora, aprendendo a
dar valor a tudo que tem. — Nunca vi meu pai bravo daquela forma, se
levantando sem nenhum cuidado comigo e bravo ao ponto de nem me olhar.
— Eu conversei com você e aquele moleque — começou, de costas para
mim, diante da porta encostada. —, mas, mesmo assim, vocês insistem
nisso. — Ele virou para mim; a insatisfação escorria de sua face. — Não
seja um desgosto para nós. Dependemos de você muito mais do que
imagina — soltou, já me deixando sozinha no quarto.
Grunhi, me sentindo a pior pessoa do mundo, e me encolhi na
cama, já chorando em um silêncio ensurdecedor até ele se transformar em
um soluço profundo.
Eu sou uma péssima filha.
Eu sou uma péssima filha.
Eu sou uma péssima filha.
O amargor arranhava minha língua, me levando para uma profunda
e densa névoa, tomando a minha mente.
Eu poderia ser melhor, mais solícita, devia largar esses encontros
tolos com Axel e focar no que realmente era importante. Não havia
escapatória e seria muito ridículo da minha parte tentar fugir das pessoas
que sempre estiveram comigo e que apenas me desejavam o bem.
Eu vou encontrar um bom cara para casar. Eu vou fazer isso. Eu
juro que vou!
25
Perdemos.
Perdemos a porra do jogo.
Perdemos a porra do jogo em casa.
Eu tô muito fodido!
Jeff poderia piorar ainda mais a sua relação conosco, já que saiu e
voltou com Misha. Será que aconteceu algo? Por Deus, eu morreria se algo
acontecesse com ela.
Éramos obrigados a ir direto para o vestiário, e as animadoras
ainda se apresentariam pela última vez. Minha cabeça, confusa demais, não
me permitia pensar direito. Apenas me sentei em um dos bancos, esperando
tudo terminar para ver se conseguiria ir vê-la ou se ela viria até mim.
Mandei uma mensagem avisando sobre e aguardei.
E se ela tivesse passado mal? E se ele brigou com ela? E se eles
tivessem brigado mais porque ele soube que agora estávamos namorando?
— Bom jogo, pequeno irmão.
Kio.
Reconheceria sua voz a distância.
Elevei os olhos para o focar, meio puto com tudo e arriscando
socar a sua cara.
— O que quer aqui?!
— Oh, calma aí, irmão! Venho em paz. Os garotos estão todos
aqui, precisamos tomar banho e voltar para New York ainda hoje.
Não eram competições normais, éramos os melhores contra os
melhores. Éramos…
— Uhum — murmurei uma confirmação, fingindo entrar em seu
jogo.
— O que você faz por aqui? E onde está Calíope? As redes sociais
dela estão inativas desde as férias. Pensei que ela estivesse com vocês.
— Ela não está mais com a gente há anos — notifiquei, deixando
seus olhos de lado e abaixando a cabeça, nervoso.
Misha, esteja bem!
— Então, quer dizer que não a viu mais?
Voltei a olhar pra ele, irritado com sua insistência naquele assunto.
— Ninguém sabe onde ela está. Fui bloqueado de suas redes. E
não tem nada a respeito dela que te interesse.
— Não tem mesmo, Axel?
Me coloquei de pé, já puto com toda aquela conversa.
— Não! E pare de encher a porra do meu saco, Kio, senão, sou eu
quem vai enfiar a porrada na sua cara!
— Ou, ou, ou! — Tyler se aproximou de nós e quando me dei
conta, todos os meninos já estavam nos olhando. — Calma aí! Ninguém vai
bater em ninguém. Isso aqui é um lugar pacífico!
— É, só acho que o Axel não entendeu isso ainda — Kio mentiu
descaradamente, como se eu fosse o errado na história, nos dando as costas.
— Ah, mas você só pode tá querendo me foder…
Tyler segurou meus ombros, firmando meu corpo no lugar, e me
olhou no fundo dos olhos.
— Isso realmente vale a pena?
A luta da minha irmã valia a porra da pena, caralho, mas isso era
algo que Caliope já havia deixado claro que só ela resolveria.
E tudo se dissipou quando senti o celular vibrando em minha mão.
Misha:
Estou na porta do vestiário. Pode vir me ver?
Axel:
Claro, amor!
Apressei os passos em direção a porta e logo a vi. Seus cabelos
presos em um rabo de cavalo com os cachos leves saltando, a minissaia e a
blusa curta de manga comprida azul modelando seu corpo, mas já sem as
meias imensas.
Porra, eu tinha muita sorte de namorar aquela garota!
— Amor — meu coração acalmou um pouco quando consegui
puxar seus ombros para um abraço. Misha estava um pouco aérea, mas até
sorriu fraco em resposta a minha animação. —, o que aconteceu? Por que
saíram no meio do jogo?
— Ah, é isso. Desculpa, amor. Eu…
Parei sua fala com meu dedo.
Amor?
Tudo bem que ela já havia dito que me amava, mas isso era…
— Você me chamou de quê?
Misha revirou os olhos em minha direção.
— Você é bobo! Eu estava falando algo sério. Tivemos que deixar
vocês no meio do jogo.
— Eu queria falar sobre como você ficou linda me chamando de
amor. — Sorri de canto enquanto me aproximava para beijar sua boca, mas
bastou eu tocar seus lábios que sua mão me afastou.
— Aqui não.
Seu rosto analisava nosso redor, mostrando que haviam muitas
pessoas indo e vindo, por conta do fim do jogo.
— Você ainda não contou pro Jeff?
— Acabamos de começar esse namoro e — ela olhou de novo ao
redor — as pessoas já sabem. Ele já sabe — falou, meio cabisbaixa. —
Olha, eu não quero te criticar, mas você fez o pedido na frente de todo
mundo, mesmo sabendo que ele não devia saber ainda. Todo mundo
comenta sobre essas coisas. Saori e Emerson já sabem.
— Eu… não fiz por mal.
— Eu sei, tá?! Só que eu preciso falar com ele primeiro.
— Posso estar junto?
— Melhor não. Vamos manter as coisas do modo mais linear
possível, ok?
Uma barulheira de jogadores saindo em massa do vestiário
masculino interrompeu minha resposta. Olhamos em direção a eles. Hopi
nos notou e sorriu, vindo até nós.
— Garota fotógrafa, atendente da cafeteria e namorada do Axel,
onde estão as minhas boas fotos? — Quis saber, divertido.
— Fiz ótimas fotos de todos hoje. — Misha bateu em sua mochila
escorada no chão, próxima aos seus pés.
— Hmm… — Hopi a analisou. — Espero que seja verdade. Você
vai com Axel pra festa?
— Não.
— O quê? Por quê? — Jurava que ela ao menos iria à festa
comigo.
— Não gosto muito de festas, nunca gostei. — Sorriu fraco, mas,
de alguma forma, eu sabia que aquilo era mais do que uma simples mentira.
— Ok, se mudar de ideia… — Hopi entornou a cabeça em minha
direção, indicando que poderia levá-la. — Até mais, casalzinho vampiresco.
— Vampiresco? — perguntei, mesmo ele já se distanciando.
— Claro, eu só vejo vocês juntos de noite! — Riu, se afastando
mais.
Nos entreolhamos por dois segundos e caímos no riso também.
— Gosto dele — Misha comentou, apontando na direção que Hopi
havia saído.
— Hopi é… um chato, isso sim — eu disse, divertido. — Vamos
entrar? Preciso tomar um banho e me vestir.
— Na verdade, eu também preciso. — Apontou em direção ao
vestiário feminino.
— Olha ao redor, não tem mais ninguém aqui. Toma seu banho
comigo.
— Não, Axel, isso quebraria umas mil regras! — decretou, com o
rosto meio franzido.
— Se você não contar pra ninguém, eu também prometo não
contar, mentirosinha.
Misha olhou ainda mais ao redor, apreensiva. Um zelador limpava
o outro lado da quadra, ou seja, demoraria para chegar até nós e, mesmo
assim, ele só limpava os banheiros se não houvesse mais ninguém.
Chuveiros ligados significam pessoas lá dentro…
— Ok. Mas sem sexo! — Ela apontou em minha direção, com a
cara fechada.
— Que mente pervetida, mentirosinha. Desde quando transamos
em qualquer lugar?
— Bemmm sei das suas intenções comigo, Axel! Se deixar, você
me come até no meio dessa quadra!
— Não, que isso?! — Me aproximei de sua orelha. — Preciso
ouvir você gemendo. A quadra não seria um lugar apropriado.
Misha bateu em meu braço, afastando-se, fingindo uma carranca, e
jogou sua mochila sobre os ombros.
— Vamos, Axel. — Sua voz saiu grossa, ainda fingida.
Achei graça enquanto a seguia.
— Afinal, onde você e Jeff foram? — perguntei ao passarmos pela
entrada do vestiário. Misha seguiu para a parte dos chuveiros e eu tentei pôr
um banco contra a porta. Era melhor tentar impedir qualquer entrada. Pelo
menos algum barulho ia fazer.
— Eu precisava falar com a minha mãe depois de toda aquela
revelação que meus pais fizeram. Tinha medo de ela estar apenas
escolhendo o trabalho ao invés da família, amiga… enfim, tudo. Se fosse
isso, eu ia achar… eu ficaria bem nervosa pensando que nunca conheci a
minha mãe de verdade — contava enquanto tirava um par de roupas da
mochila e começava a remover a maquiagem.
— Entendo. — Aproveitei para pegar minhas coisas no armário e
separar a minha próxima roupa.
— Mas, graças a Deus, não era isso. Ela não tem ou teve vocação
para ser mãe, e tudo bem, certo? Essa questão de maternidade romantizada
é uma imposição patriarcal mesmo. O que importa é que ela se dedicou a
mim em todo o possível. E eu respeito isso nela.
Joguei minha toalha no ombro e me aproximei dela, por fim,
indiquei um espaço próximo aos chuveiros para colocar as toalhas e nossas
roupas, enquanto já ia em direção ao lugar.
— Você acha que ainda existe uma amizade entre as nossas mães?
— Acho que elas até saíram juntas quando vocês chegaram. Creio
que elas estão bem. — Misha deu de ombros.
— Que bom. E nosso namoro? Quando vai conversar melhor com
eles sobre? — Quis saber, ligando o chuveiro.
— Jeff contou à Montana esta noite — disse, tirando o uniforme e
levando a toalha com sua troca de roupa para próximo do chuveiro em que
eu estava. — Acho que ele ainda não se importa, já que não fizemos
aparições em público. Por isso, acho bom mantermos isso entre a gente
antes de falarmos com a família dele — revelou, meio cabisbaixa, também
entrando no chuveiro.
— Acha que ele vai te ajudar a conversar com a família? — Peguei
o sabonete que tinha acabado de usar e dei para ela, ainda me ensaboando.
— Senão, vai ser meio difícil conseguir algo, e eu não quero que a gente
não possa ficar juntos de verdade.
Sua cabeça se levantou de repente e ela tomou o sabonete da
minha mão.
— A gente já tá junto de verdade. Eu aceitei seu pedido de
namoro. Você é meu e eu sou sua! — Seu rosto todo estava enrugado,
tomado pela raiva.
Eu gostava mesmo daquilo e era estranho que fosse justo a Misha
a me despertar essas sensações.
— Você fica gostosa com raiva, mentirosinha. — Ri dela.
— Cala a boca! — Misha me empurrou de leve pelo ombro, mas o
sabonete caiu de sua mão e ela escorregou em meu corpo.
A segurei pelos ombros, impedindo sua queda.
Esperei que se distanciasse, já que nada aconteceu, mas seu
pescoço continuou para baixo e suas mãos firmes em meus braços.
— A água levou o sabão. Já pode me soltar, mentirosinha. A não
ser que queira algo mais, tão próxima assim do meu corpo.
— Eu vou sair — sussurrou, ainda grudada em mim.
— Sei, mentirosinha. — Continuei olhando-a de cima, achando
graça de como ela queria sair de perto, mas não conseguia parar de olhar
para o meu pau.
Decidi mover um pouco o corpo e nos jogar mais água. Talvez
assim ela relaxasse um pouco.
— Ai, droga! Você molhou meu cabelo, Axel — Misha deu um
pulo, correndo da água igual gato e, consequentemente, para longe de mim.
Seus dedos molhados passaram por seus fios compridos, os soltando e
estudando cada parte deles.
— Mas tá cacheado! — argumentei.
— Tá com babyliss e gel. Estava tão bonitinho. Você estragou! —
Pisando firme em minha direção, veio até mim, apontando o dedo para meu
peito. — Você não pode ser legal comigo agora que estamos namorando?
Analisei seu corpo nu de baixo para cima, tomando o tempo que eu
bem desejava, e depois foquei seu rosto enraivecido.
— O que aconteceu com suas manchas?
— O quê?
— As manchas roxas que tinha no seu corpo. O que aconteceu?
Tem bem menos e estão sumindo.
Tomando um tempo para se analisar, notou que o que eu disse era
verdade.
— Era estresse por guardar tudo pra mim — falou, meio murcha.
Puxei seu queixo para mim na mesma hora, não queria que ela me
escondesse nenhuma parte sua. Misha amarrou as mãos em meus ombros,
olhando para mim de baixo. Indiquei com a cabeça para que continuasse a
contar. — Acho que, como estou falando mais sobre meus sentimentos, elas
estão sumindo.
— Ok. E sobre o dia no carro?
— Na praia? — quis saber, confusa. Confirmei com a cabeça. — O
que tem?
— Você se machucou? Ou até mesmo não gostou de algo que fiz?
— exigi saber, apreensivo por tê-la feito algum mal.
— O quê? Por que acha isso? — Misha sorriu, achando que era
bobagem minha.
— Não sei se foi certo o que fiz. Não conversamos bem antes
sobre e…
— Tá, ok. Entendi. Você queria ter falado sobre antes, certo? Tudo
bem. Eu entendo e concordo. Mas nada do que você fez me incomodou. Na
verdade, eu gostei. Te dou total liberdade para fazer de novo.
— Achei que gostasse de dominar, pela nossa primeira conversa.
— Gosto, mas eu gosto mais de quando é você.
— Posso me acostumar com isso. — Sorri de canto, puxando seu
queixo para próximo da minha boca.
— Quero que se acostume. — Sua boca inclinou até a minha, me
beijando como se já fizesse muito tempo desde a última vez.
Me entreguei ao momento.
Seus braços circularam meu pescoço, friccionando o bico dos seios
contra meu peitoral. Desejei tomá-los na boca no mesmo instante.
Porra, a Misha me deixava maluco fazendo aquele movimento
sutil dos seios e chupando a minha língua, porque esse beijo… esse beijo…
era ela quem dominava, com certeza!
Arrastei minha mão por sua coluna, sentindo seus pelos arrepiados
e ela enterrando os dedos em meus fios. Então, segurei sua bunda e a elevei
um pouco, a deixando na ponta dos pés, esfregando o início da sua boceta
no meu pau duro. Engoli seu gemido agudo em resposta ao seu desejo
evidente.
Depressa, virei nossos corpos, a empurrando contra a parede.
— Você quer isso, amor? — quis saber, arrastando beijos por sua
mandíbula e pescoço, enquanto massageava seu seio esquerdo com uma
mão e segurava o início da sua coluna com a outra.
— Uhum — ronronou, manhosa.
Elevei os olhos para ela e notei que estava olhando pra cima e
mordendo os lábios para manter a boca fechada.
— Solta a porra da boca, mentirosinha! — exigi.
Seus olhos encontraram os meus, assustada.
— Não quero que escutem meus gemidos! — respondeu por cima
do meu tom de voz.
— Eu quero te ouvir. Só isso importa! — Arrastei minha mão por
sua bochecha, até seu queixo e o forcei para baixo, sentindo seus olhos
queimarem meu rosto assim como os meus incendiavam sua boca. Sem
retrucar, ela abriu a boca e eu enfiei meu polegar nela. — Chupa!
Um gemido interno me tomou quando ela chupou meu dedo. A
cada lambida, meu pau pulsava mais. Meus olhos tremeram, e levei a mão
para me masturbar, porém, Misha foi mais rápida e se antecipou,
massageando um pouco as bolas antes de se devotar por completo.
Notando seu ato, levei minha mão até sua boceta e encostei minha
cabeça na parede ao lado do seu ouvido.
— Porra, amor, sua boceta tá tão meladinha — falei, arrastando
meus indicador e dedo do meio pelos lábios externos e internos dela. Misha
gemeu uma exigência, sem poder falar. — Você falou que não íamos
transar, mas… — Não consegui terminar minha fala, porque ela parou de
me masturbar, tirou meu dedo da boca e apertou meu pau.
— Ou você me toca agora ou eu vou fazer pior com você —
ordenou, ainda me pressionando.
Gargalhei com a dor entalada e fixei meus olhos nos seus.
— Me espera pegar a camisinha?
— Em um segundo!
Me distanciei dela, sorrindo de canto.
— Gosto que sua pressa seja igual à minha — comentei, pegando
o pacote, abrindo e vestindo rápido.
Quando virei, indo de volta a seu encontro, ela mordeu a bochecha
por dentro, olhando direto pra mim.
— Se também quer tanto — começou, apertando as coxas uma na
outra. —, por que demora?
Alcancei seu corpo e o prendi contra a parede com o meu. Tomada
pela surpresa, Misha suspirou alto e segurou meus ombros com a mão e eu
posicionei as minhas de cada lado da sua cabeça.
— Eu estou indo com pressa, só que gostamos de nossas brigas,
então, prefiro que você esteja gritando ou sendo grossa comigo e, pra isso,
preciso ser mais… leve.
— Vai à merda, Axel. Para com isso ou eu não transo mais com
você! — disse, fingindo ódio.
— Caralho, eu realmente adoro isso em você.
— Gosto que você goste e que só você entenda os significados das
minhas mentiras. Eu te amo mais por isso — Misha falou em um meio tom,
sorrindo. — Pode, por favor, me comer de costas? — pediu, batendo os
cílios.
— Porra, que carinha é essa? Você muda muito rápido,
mentirosinha! — notei, virando seu corpo pelos ombros com força e
empurrando seu lado esquerdo. Ela virou o rosto em minha direção, já
abrindo as pernas e empinando para mim.
Tentei enfiar nela antes, bem devagar, para se acostumar com o
tamanho e não a machucar.
— Axel, por favor, eu estou me sentindo pingar! — gemeu,
abaixando a cabeça, entregue ao nosso frenesi.
Achava aquilo excitante demais para o nosso bem.
Enfiei nela e não saí por completo, repetindo o movimento, agora
mais rápido. Logo estava estocando mais vezes seguidas enquanto Misha
empinava para mim. Senti toda a descarga elétrica que era ter sua boceta
engolindo meu pau, fazendo cada parte minha se arrepiar.
Tomado pelo tesão, já não conseguia mais estocar moderadamente.
Tomei a raiz dos seus cabelos nas mãos, puxando com força exagerada sua
cabeça ao meu encontro, e a beijei. Nossos gemidos se misturavam,
estávamos ofegantes com o início de nosso orgasmos.
Misha começou a me apertar mais dentro de si, então soube que
estava próxima. Soltei seus cabelos e firmei minhas mãos em sua cintura,
metendo mais e mais rápido, focado também em sua bunda, onde estalei um
tapa.
Ela gemeu agudo, meio manhosa, e começou a estremecer com os
espasmos do orgasmo tomando seu corpo.
Tirei meu pau dela, ainda segurando sua cintura com minha mão
esquerda para a manter em pé, e joguei meu preservativo no chão. Me
marturbei mais algumas poucas vezes e a virei para ver o que faria.
Desejei aquilo com todo o ardor de meu peito e confusão de minha
mente. E Misha não pareceu contrariar. Então, gozei em sua perna,
deixando que escorresse até a última gota.
Misha apenas confirmava com a cabeça, sorrindo, ainda em meio
ao devaneio.
Me senti a porra de um animal, mas não me importei. Ela era
minha, caralho, e só minha!
Joguei seus braços por cima dos meus ombros e a sustentei no ar
enquanto a abraçava, segurando sua cabeça com as mãos.
— Eu te amo, Misha. Eu te amo pra sempre. Eu te amo de uma
forma que faz minha cabeça ter pensamentos demais. Tudo e muito mais é
verdade, arde aqui, amor. — Bati meu punho fechado em meu peito e voltei
a mão a sua cabeça. — Suas mentiras alucinam minha mente, sua boceta me
vicia e seus beijos são minha perdição.
— Eu também te amo. Eu também sempre vou te amar. Eu sou sua
e você é meu, isso é para sempre, Axel, para sempre! — Sorriu de canto,
olhando rápido para onde a havia marcado.
Nos beijamos ainda mais profundo, ainda mais intenso, e
demonstrando ainda mais nosso amor um pelo outro.
Eu nunca largaria aquela garota!
30
A garota Buwan estava na festa com alguém. Ou melhor, alguém
não, mas sim a garota que fazia pinturas em algumas pessoas; seu rosto
estava abaixado e a cabeça coberta por um capuz. Uma fila imensa rodeava
as duas. Buwan organizava tudo e a outra atuava no trabalho.
Me aproximei, meio hesitante.
Ainda longe, conseguia notar que a garota pintora era como a
Buwan; ela tinha aquela energia magnética, só que era pior, diabólica.
Quando dei por mim, meus pés já estavam próximos demais das
duas, então, Buwan me focou. Estreitando as sobrancelhas, ela me olhava
de cima a baixo. Parecia confusa por eu estar tão perto.
É, eu também estava confuso.
— Axel! — ela me cumprimentou, sorrindo animada, mudando de
repente. — Vai pintar? Olha, temos vários tipos de tintas e artes. Escolha
uma, vai ser divertido!
— Ele vai pintar como eu — a pintora falou, ainda focada em sua
função, com o rosto coberto pelo capuz. Seu rosto se elevou apenas um
pouco e notei que sua pintura era de uma caveira de Tate, dando um ar
ainda mais sombrio a ela. Aquela garota me dava um leve medo por
lembranças do passado. — Como o diabo — seus olhos caçaram os meus,
me penetraram. Ela tinha uma… luz coberta de trevas.
Era bizarro e assustador.
E identificável.
Por impulso, pensei em sair dali, mas seus olhos de sereia
chamativos demais pareciam prender meus pés no lugar. Eu nunca ousaria
sequer desejar ver alguém desobedecê-la. Parecia que seus cabelos rosas
incendiariam ao passo que ela asfixiasse a pessoa.
Deus tenha misericórdia!
Esperei que ela falasse comigo como antes, que desse alguma
abertura, mas ela não disse nada. Apenas apontou a cadeira à frente para
que eu me sentasse, e assim o fiz.
E, como quando crianças, fechei os olhos enquanto ela passava o
pincel por todo o meu rosto; indo e vindo devagar. O vento frio da praia, a
tinta refrescante e a música animada me faziam lembrar da infância.
Corríamos livres e soltos por essas terras, sorrindo abobalhados. E,
quando ela aprendeu a pintar, vivia importunando a todos para serem
cobaias. Óbvio que eu sempre aceitei.
— Ficou bom — disse, me analisando. — Próximo! — Então, não
tinha mais sua atenção e tudo pareceu ser apenas uma velha miragem.
Levantei da cadeira meio atordoado e, alguns segundos depois,
Misha tocou meu braço, me amarrando a si.
— Ai, meu Deus, você ficou um gato! Sério! — Contudo, logo
notou que eu não estava bem. — Você tá meio aéreo. O que aconteceu?
Por um segundo, minha mente viajou para o passado, mas eu não
queria aquilo.
Eu não queria relembrar nada daquilo.
Ela não queria nada daquilo.
Olhei para Misha e tentei manter o foco nela. A analisei de cima a
baixo. Minha mentirosinha usava um arco angelical com uma roupinha
curta de anjo, toda cheia de rasgos.
— Você tá com alguma roupa por baixo dessa saia?
— O quê? — Ela analisou seu corpo por um segundo. — Isso é um
body e uma saia — divagou, mas ao olhar para mim e perceber meu
sorrisinho sarcástico, entendeu o que eu queria saber. — Tá fechado até lá
embaixo. Não vamos transar hoje!
— Ah, mas isso é limitar a nossa diversão! — Fingi não achar tudo
aquilo divertido e a puxei pela cintura, para falar no pé do seu ouvido: —
Vamos ao banheiro e eu faço você gozar rapidinho, nem precisa tirar essa
porcaria de roupa.
— Axel! — Misha bateu em meu ombro, me repreendendo. —
Nem aproveitamos direito ainda, mal dançamos.
— Eu acho que vamos aproveitar muito no banheiro.
— E também, você não pode dar ideias assim.
— Assim como?
— Irrecusáveis.
Gargalhei com sua carranca séria e a puxei para mim.
— Eu amo você, mentirosinha — falei, bem próximo a sua boca, e
a beijei rápido.
Corremos entre as pessoas para passarmos por baixo das
escadarias, onde eu sabia que havia banheiros na velha casa dos Harrison. A
porta estava aberta e, quando eu já estava puxando Misha para dentro, uma
garota de cabelos em twist saiu gritando do escritório de trabalho do Sr.
Harrison.
Misha e eu paramos de rir e nos entreolhamos, nervosos.
Uma voz gritou de dentro da sala.
Uma voz feminina.
Uma voz que eu conhecia bem.
— A porra da porta, amor!
Misha, assustada, caminhou depressa até o lugar, sem soltar a
minha mão. Adentramos a sala escura e, no mesmo instante, ela se fechou
sozinha, como que por uma engrenagem esquisita.
— Puta que pariu — a voz soou de novo, assustada. — Como
vocês entraram aqui? E o que aconteceu com a porra da porta?
— Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! Ai, meu Deus! — a garota que
trabalhava na cafeteria da Misha sussurrava, meio que chorando, próxima à
porta à nossa direita.
— Pare de chorar! — a menina de cabelo rosa exigiu, novamente.
— Porra, a gente tá fodido! — Só então a percebi olhando para as próprias
mãos, cheias de sangue, e depois para um rapaz no final da sala em frente à
porta dos fundos, e para o meio da sala.
O rapaz em específico, que tinha a pele bronzeada e os cabelos
ondulados compridos, parecia o mais assustado ali.
E o espaço ao centro da sala era a mesinha do Sr. Harrison. Ela
estava encharcada de sangue que jorrava de um corpo, provavelmente,
morto.
O sangue, ainda muito fresco, espirrava de seu rosto e tronco.
Quem quer que tenha feito aquilo não poupou esforços em o
danificar.
Como em câmera lenta e no mesmo segundo, Danton entrou na
sala por trás da garota do trabalho de Misha e uma desconhecida entrou
pelas portas do fundo, olhando para um garoto próximo de lá. Esses dois
últimos eu não conhecia, eram até um pouco mais velhos que nós; ele
principalmente.
— Ok, o que eu perdi? — Danton falou apressado, já fechando a
porta atrás de si, olhando para o corpo e depois para Misha e eu. Seus olhos
quase saltaram do lugar.
— E… por que precisava de mim…? — A garota desconhecida,
que entrou logo após Danton, perguntou ao se distanciar do telefone e olhar
para o garoto no fim da sala. Ele moveu seus olhos para o corpo, mostrando
a ela o problema. Espantando-se logo em seguida, ela deu dois passos para
trás, na intenção de ir embora. Tentou abrir a porta, mas não conseguiu.
Então, apressada, se virou e tentou outras diversas vezes, sem êxito. — O
QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?! — gritou, com o corpo tremendo de
nervoso.
Olhei para Misha por um segundo e ela estava amarrada ao meu
braço como se fôssemos nos tornar um só. Calada. Tonta com toda aquela
situação.
— Ele morreu — a de cabelos rosa e caveira pintada no rosto logo
disse, meio sem reação, ainda olhando para o corpo.
— Não! — E então, a menina do trabalho da Misha gritou. — Ele
foi morto! — acusou, séria. — Assassinado! Eu vi tudo, não tem como
negar — e fitou a garota de cabelos rosa, Danton e o rapaz ao fundo.
— Coração, calma! — Danton a abraçou por trás, mas ela recusou
seus braços, parecendo enojada com tudo ao redor.
Olhei adiante e o rapaz mais velho no fundo do lugar, que tinha o
corpo todo tingido de sangue, se mantinha ainda mais recluso de todos.
Seus olhos estavam presos ora no morto e ora no chão, com as mãos muito
trêmulas.
— Assassinato, certo… — a garota no final, ao lado do menino,
deu um passo à frente e disse: — Então, quem matou? E quem é esse cara?
bônus
Meu eterno agradecimento à minha mãe por acreditar mais nesse livro que
eu e depositar toda sua confiança em mim.
Às meninas do editorial, que mesmo tudo estando uma confusão,
permanecemos unidas e conseguimos terminar. Em especial à Samantha,
você sabe o porquê amiga. Luna por estar sempre ali por trás das câmeras
me ajudando. Raquel por ter lido literalmente todas as incontáveis versões
desse livro (meu Deus, amiga, até hoje fico chocada, kkkkk).
Só eu sei tudo que passamos para conseguir publicar. Com certeza, foi o
meu livro mais difícil de todos até agora. E eu preciso de férias! Misha &
Axel sugaram tudo de mim.
Eu espero honrar a história deste livro, mas eu também espero ter tocado
seus corações. Mesmo que eu não o tenha feito, você está lendo isso, então,
meu muito obrigada.
Meanings
prólogo
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
flashback.1
14
15
16
17
18
19
20
flashback.2
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
flashback.3
32
33
34
35
36
epílogo
bônus
bônus
agradecimentos