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COPYRIGHT © 2023 MILENA SEYFILD

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Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações mencionadas são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

CAPA
Thais Alves

DIAGRAMAÇÃO
Milena Seyfild

REVISÃO
Gabrielle Andrade

ILUSTRAÇÃO
@_bluebble_

Irmãos por Acaso


[Recurso Digital] / Milena Seyfild
— 1ª Edição; 2023
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira
3. Jovens Adultos
4. Ficção I. Título
Esta obra foi revisada conforme o Novo Acordo Ortográfico.
Sumário
AVISO
Dedicatória
PLAYLIST
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Esse livro é um bully romance! Ou seja, o protagonista masculino vai agir
como um valentão, vai perseguir a protagonista e o relacionamento deles de
nenhuma forma começa saudável. O gênero também é conhecido por uma
aproximação “forçada” onde muitas vezes ele invade o espaço pessoal dela.
Se ao ler isso você não se sentir confortável ou inclinado a seguir com a
leitura, pare. A sua saúde mental e bem estar valem muito mais do que
qualquer entretenimento. O livro também possui gatilhos como: abandono
parental, bullying, violência física (não entre os protagonistas) e verbal,
ameaças, perseguição, stalker. Além disso, o tema incesto também será
mencionado.
Lembrando que Irmãos por Acaso já foi uma fanfic publicada com o meu
pseudônimo Miles Seyfild. Ela foi reescrita do zero, mas algumas cenas e
situações permanecem as mesmas.
Irmãos por Acaso NÃO é recomendado para menores de 18 anos. Ele
possui cenas gráficas de sexo, além de linguagem de baixo calão.
Essa história veio pra mim em um sonho. Eu sei, estou soando um pouco
como a Stephanie Meyer, mas é verdade. Eu tinha viajado para a cidade
natal da minha mãe, a Bahia, e na época estava estudando para o vestibular.
Eu passei a vida toda escrevendo fanfics, mas naquela época fazia um
tempo que não abria o word. Sonhei que eu ia para uma festa e ficava com
um menino sem saber que, na verdade, em determinado momento era o
irmão gêmeo dele. Lembro de pular da cama e sair correndo para escrever o
prólogo dessa história sem nenhuma pretensão, só para me divertir. No final
das contas decidi publicar no Fanfic Obsession e qual não foi a minha
surpresa ao entrar no site e ver a história no top 5 mais lidas do site? Eu
tinha um grupo de leitoras fiéis que sempre me mandava mensagens
querendo atualizações, e sinto muito em dizer que nunca dei um final para
esses personagens. Eu passei na faculdade, comecei a trabalhar, foquei em
outras coisas e infelizmente acabei perdendo o interesse por eles.
Isso até a pandemia infelizmente existir e eu passar mais tempo em casa.
Voltei a me dedicar à escrita e a leitura, e, bom, o resultado é esse.
Finalmente estou dando um final a quem me fez voltar a ter paixão por criar
uma história do zero.
Espero que eles também façam vocês se apaixonarem. Respeitem os
gatilhos de vocês caso os tenha, e bem vindos ao meu caos particular.
Para o garoto que achou o arquivo dessa fanfic no Wattpad, passou a
madrugada editando como se fosse um livro e me deu de presente no meu
aniversário, mesmo me conhecendo há apenas três meses. Feliz aniversário
de quatro anos, amor. E obrigada por ter acreditado em mim antes de mim
mesma.
Assassinato vive para sempre, e assim também a guerra
É a sobrevivência do mais apto, rico contra o pobre
No final do dia, é um traço humano
Escondido bem no fundo dentro do nosso DNA
Savages | Marina

três meses antes

Lucy está tagarelando sem parar sobre a maldita festa para a qual
quer me arrastar essa noite. Eu não deveria ter dito que tinha acabado de
chegar do Brasil, porque assim que soube minha nacionalidade, ela abriu
um sorriso brilhante e gritou como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
Meu pai, Lucas, relutou muito para deixar que eu viesse fazer
faculdade tão longe de casa. Ele sempre foi superprotetor e vigiou cada
mísero passo que eu dava enquanto crescia e eu o entendo.
O mundo é cheio de predadores.
Para a minha sorte, a minha mãe veio a trabalho para os Estados
Unidos muito tempo atrás e eu pude usar essa desculpa para vir também.
Aquela velha ladainha de “é uma boa desculpa para nos reaproximar e blá
blá blá…”.
Enfim. Garotas fazem o que precisam fazer.
E isso nos traz de volta para a minha situação atual. Meu cabelo
preto está com as pontas cacheadas. Meu vestido florido rosa claro é
decotado e está bem apertado ao redor do meu corpo, o que pode causar
uma boa ou má impressão.
Lucy vibrou assim que me viu colocando-o. Talvez seja pelo
estereótipo da latina ou só vontade de cultivar uma verdadeira amizade
comigo. Acho que nunca vou saber suas verdadeiras intenções.
Obrigada pela desconfiança infinita, papai.
— Nem consigo acreditar que finalmente estou indo para uma festa
de fraternidade com a minha colega de quarto! — ela grita. Seu rosto está
congelado em uma expressão animada. — A minha irmã mais velha já está
se formando, mas sempre contava para as minhas amigas e eu sobre elas. A
bebida, as pessoas, o sexo…
— Uau. E eu achava que só no Brasil a gente encarava a faculdade
como o filme American Pie — tento brincar, usando a exata quantidade de
palavras para não parecer que não me importo.
Apesar de não estar dando a mínima.
Lucy abre um sorriso.
— Tem um garoto que eu esbarrei no primeiro dia em que cheguei
aqui. Cabelos pretos, olhos castanhos, porte atlético. Gostoso, sabe? Tipo,
gostoso mesmo. Quase babei em cima dele. Estou mentalizando que ele
estará lá — me explica, aplicando uma generosa camada de rímel nos olhos.
Nós duas terminamos de nos arrumar quase simultaneamente, e
depois que trancamos o nosso quarto, ela liga para o serviço de táxi da
universidade. Caminhamos em silêncio até o carro e permanecemos assim
até o motorista nos levar para a casa mais enorme, barulhenta e abarrotada
de gente do campus.
Meu Deus.
A música está alta. Essa é a primeira coisa que eu reparo, em
seguida dos poucos carros estacionados ao redor. Lucy sai de dentro do táxi
gritando para alguém que conhece e a garota vomitando no gramado acena
de volta para ela.
Ok…
— Tem muita gente aqui. Vem, e cuidado para não se perder — me
avisa, segurando a minha mão como se eu fosse uma menina de dez anos.
Me seguro com tudo que há em mim para não revirar os olhos.
As pessoas à nossa volta ignoram completamente a nossa presença,
a não ser alguns rapazes que nos encaram descaradamente. Já estou bolando
estratégias para conseguir fugir dessa confusão e me camuflar no banheiro
ao menor sinal de distração de Lucy.
— Não estou vendo ele em lugar nenhum — lamenta, ficando na
pontinha do pé para virar o rosto em busca do menino misterioso. — Viu
algum garoto como o que eu te descrevi?
Ela só pode estar de sacanagem comigo, né? Ela me descreveu o
cara mais genérico do mundo. Literalmente existem uns vinte nessa festa
que se encaixam nessas especificações.
Abro um sorriso meigo.
— Não. Acho que vou beber água. Você quer?
Lucy faz um beicinho, mas nega lentamente com a cabeça.
— Vou continuar procurando por ele, mas tome cuidado. Não beba
nada que te oferecerem, ok? E me procure antes de ir embora.
Não sei se estou ficando irritada por estar sendo tratada como
criança ou se meu mau humor infernal é por causa da minha mãe. Ela não
me ligou desde que eu pisei os pés nesse país e as poucas mensagens que
trocamos foram enigmáticas pra cacete.
Essa merda não sai da minha cabeça.
“Preciso te contar uma coisa, mas não quero que fique brava
comigo”.
Tipo, quem manda uma mensagem dessas se realmente não quer
chatear alguém?
Mas estou tentando ser positiva. Minha mãe veio para esse país
quando eu tinha apenas cinco anos e eu fui criada sozinha pelo meu pai
desde então. Nunca tive raiva ou rancor dela, porque sei que todo o seu
sacrifício foi para me proporcionar uma vida melhor. Sempre pagou a
pensão adiantada, me ligava todos os dias antes de eu dormir e fazia
questão de acompanhar a minha vida acadêmica de perto.
Nossa relação só começou a esfriar quando eu entrei na pré-
adolescência. Os hormônios fazem você ter raiva toda hora, até mesmo de
pessoas que racionalmente você jamais teria. E depois que meu pai se casou
com a Vanessa, entendi a importância de ter uma mãe presente.
Foi ela que me ensinou a usar um absorvente, que me explicou o
que era menstruação e me acalmou quando eu surtei achando que meu peito
não cresceria mais do que naquela época. Foi no ombro dela que eu chorei
quando um garoto partiu o meu coração pela primeira vez e também foi
Vanessa que me deu a pessoa que eu mais amo no mundo: meu irmão,
Guilherme.
Depois que o Gui nasceu, todo o resto do mundo passou a não ter a
mesma importância para mim. E eu passei a me afastar da minha mãe cada
vez mais, ao ponto de passar um mês inteiro sem trocarmos uma mensagem
sequer.
Até agora.
A cozinha estranhamente está praticamente vazia. Dou graças a
Deus por ter um lugar deserto o suficiente para eu ser capaz de escutar
meus próprios pensamentos, e abro os armários em busca de um copo.
Estranho.
Onde estão os copinhos vermelhos de plástico, o beer pong, os
Cheetos, ponches e toda a merda clichê de festa de fraternidade que nos
prometem nas universidades gringas?
Sorrio com o pensamento. Então encontro um copo de vidro com
um brasão engraçado de um tubarão fazendo uma careta. Pesco o celular do
bolso para tirar uma foto e enviar para a minha melhor amiga de infância,
Marina, e em seguida, vou até a pia para enchê-lo com água.
É quando eu termino de beber o líquido e viro em direção a porta
que tomo um susto.
Um garoto de cabelo preto, mandíbula marcada, olhos escuros e
corpo musculoso está me encarando intensamente. Sua jaqueta esportiva
azul me envia um sinal de alerta e eu arrumo minha postura. Ele nem pisca
e a carranca em seu rosto me deixa imediatamente nervosa.
Ele desce o olhar para encarar o que estou segurando.
— Quem te deu permissão para vir aqui? — pergunta, o tom de voz
frio.
Ah, merda. O que se diz numa situação assim?
Abro um sorriso sem graça.
— Ninguém. Eu só estava com sede.
Ele continua me encarando. Depois, inclina o rosto para o lado, com
a maior expressão de tédio que eu já vi.
— Você está usando o meu copo.
Olho para a minha mão que ainda está apertado firmemente o copo
de vidro com o desenho do tubarão.
— Sinto muito. Vou colocar onde eu achei.
— Claro que vai.
Ah, cara… Não estou gostando muito de como esse cara está
falando comigo. Mas tá, tudo bem, eu sou a errada aqui. E é por isso que
faço exatamente o que disse, lavando o copo na pia antes de guardá-lo na
despensa novamente. Tudo isso sob seu olhar observador, que segue cada
um dos meus movimentos.
— De onde você é? — ele pergunta, o olhar cético.
— Eu moro em um dos alojamentos.
— Quero saber de qual país você é.
Ah, sim. Ele deve ter percebido o meu sotaque. Não acho isso algo
ruim, porque na verdade me dá a oportunidade de me explicar. E, talvez, eu
consiga dar o fora daqui. Essa situação não está sendo nada confortável para
mim e ficar presa em um local fechado com um cara desse tamanho está me
deixando mais nervosa a cada segundo.
— Eu sou brasileira.
Um brilho de surpresa aparece em seu olhar. Depois, ele começa a
me medir de cima a baixo descaradamente.
— Agora faz sentido.
Espera, o quê?
— Como assim faz sentido?
O canalha simplesmente dá de ombros, como se não fosse nada
demais. Meus dedos começam a se fechar em punhos e eu daria tudo para
arrancar esse olhar zombador de seu rosto.
— Convivo com uma brasileira. Conheço o seu tipo — diz com um
tom de voz rouco.
Eu não saí do Brasil para ouvir uma coisa assim na minha primeira
semana aqui, caramba.
Não mesmo.
— O meu tipo? — pergunto, parando no meio do caminho em
direção à porta.
Ele ainda está me encarando, como um desafio mudo. Seu olhar
percorre todo o meu corpo novamente e eu não sei porque sinto a súbita
necessidade de me cobrir. Ele me encara com tanta luxúria que é como se
eu estivesse completamente nua.
— O tipo de mulher que acha que pode pegar o que quiser.
Não consigo evitar revirar os olhos.
— Foi só um copo, cara. Eu magoei tanto os seus sentimentos
assim? — debocho, cansada desse joguinho.
Ele aperta os lábios em uma linha fina. Seu olhar de
descontentamento é lentamente substituído pelo brilho do desafio.
E eu não deveria estar sentindo borboletas no estômago ao assisti-lo
se aproximar, tão lentamente que é quase como ver um predador se
preparando para caçar. Dou alguns passos para trás, acuada, mas isso não o
impede. Ele continua se aproximando de mim até que minhas costas estão
pressionadas contra a porta da cozinha.
Estou ferrada.
Seu olhar intimidador varre do meu rosto até os meus dedos dos pés.
Então ele ergue as sobrancelhas e o cheiro de seu perfume me invade em
cheio.
— Quem disse que eu tenho sentimentos? — zomba, abrindo um
sorriso sádico para mim.
Eu não respondo nada. Apenas observo quando ele leva o polegar
até a minha boca, passando o dedo suavemente pelo meu lábio. Viro o
rosto, me afastando de seu toque, mas isso só pareceu diverti-lo mais.
Meu coração nunca bateu tão rápido.
— Não está falando tanto agora, está?
Cretino.
— Desculpa — peço, mesmo que cada mísera parte do meu corpo
esteja me odiando por isso agora.
Estou vulnerável e não sou burra. Não posso lutar fisicamente com
ele e fugir daqui, tampouco gritar. A música está tão alta do lado de fora
que seria impossível me ouvir.
E ele parece estar bem consciente disso também.
— Você é bonita — diz com indiferença.
— Obrigada…?
— Você tem um pescoço bonito também — continua, como se eu
não tivesse dito nada. — Alguém já te disse isso antes?
— A maioria dos caras costuma elogiar outras partes minhas. —
Recupero a minha voz, limpando a garganta. — E a minha amiga deve estar
me procurando, então…
Ele faz a pior coisa que poderia ter feito.
O que mudou todo o rumo da nossa história e me fez desejar voltar
no tempo, para esse exato momento, tantas vezes depois desse dia.
Ele me beija.
Não é um beijo comum. Minhas costas batem contra a parede e
nossa diferença de tamanho fica bem evidente quando seus braços imensos
se apoiam atrás da minha cabeça, fazendo uma prisão com seu próprio
corpo.
Abro os lábios lentamente, surpresa com a invasão. Ele usa a língua
sem pudor algum, uma das mãos agarrando meu seio. Eu provavelmente
deveria chutá-lo nas bolas, me virar e sair correndo, mas algo está fazendo
meu estômago embrulhar e não é necessariamente… Ruim.
É até gostoso.
Um cara lindo e misterioso está me agarrando contra uma porta. Ele
usa as mãos para segurar meu rosto, aprofundando ainda mais o beijo.
Grunho contra seus lábios quando sinto seus dentes me morderem com toda
a força.
Isso não o faz parar, no entanto. O sabor metálico de sangue invade
a minha boca conforme continuamos lentamente nessa dança, ambos nos
beijando com agressividade e fome.
Nunca mais quero ver esse cara de novo. E esse pensamento só
parece tornar o momento ainda mais excitante.
Quando nos afastamos, sua boca está manchada. Estamos os dois
sem fôlego, o peito dele subindo e descendo rapidamente. Seu olhar intenso
está fixo em mim e ele parece dividido em me agarrar novamente ou me
deixar ir embora.
Engulo em seco.
— Você quer uma bebida, ladra de copos? — ele pergunta,
sarcástico.
O que acabou de acontecer?
Pisco lentamente, encarando-o com perplexidade. Ele vai da água
para o vinho em questão de segundos e eu estou ficando mais confusa a
cada segundo que passa.
— Não devo aceitar bebida de estranhos — murmuro.
Ele junta as sobrancelhas.
— Não sou um estranho.
— Sim, você é.
— Não, eu não sou. E vou pegar uma bebida para você. Não se
atreva a sair daqui, ouviu bem?
Balanço a cabeça positivamente, em transe. Ele parece se dar por
satisfeito e usa a porta que dá acesso ao jardim. Antes de sair, me lança
mais um olhar escrutinador. Depois, sai em busca de nossas bebidas.
Me apoio contra a parede, colocando a mão delicadamente sobre a
minha boca. A pressão me faz soltar um “ai!”, porque a minha boca
realmente está machucada. O beijo foi uma experiência quase
extracorpórea, mas não posso contar para ninguém que deixei um estranho
arrancar sangue de mim enquanto me agarrava.
E o problema não vai ser contar sobre tudo o que aconteceu, mas
sim explicar o porquê de eu ter gostado.
Deus, não sei quem é esse garoto. Ele pode ser um serial killer, um
psicopata que se disfarça de estudante para ir atrás de possíveis vítimas. Se
for esse o caso, estou fodida, porque caí feito um patinho.
Minutos se passam e eu começo a questionar a minha sanidade
mental. Estou realmente sentada no chão de uma cozinha imunda de
fraternidade à espera de um garoto que mal conheço e que não foi nada
gentil?
Qual a porra do meu problema?
Estou me odiando por sentir desapontamento ao abrir a porta e
voltar para a aglomeração de pessoas. Enxergo Lucy ao longe com um copo
vermelho na mão, rodeada por garotas que se parecem com ela. Todas estão
gargalhando, chapadas, e ao assistir essa cena, decido chamar o serviço de
táxi sozinha. Não vou estragar a noite da Lucy só porque estou com um
péssimo humor.
Ligo o telefone e começo a digitar quando um peito forte colide
contra mim. O cara faz questão de me equilibrar antes de dizer,
debochando:
— É melhor você olhar por onde anda, gata. Nem todos os caras são
legais como eu.
Espera… Essa voz. Eu conheço essa voz.
Arregalando os olhos, eu ergo meu rosto tão rápido que minha
cabeça se choca contra o queixo do estranho. Eu solto um lamúrio sofrido,
então ele pragueja alto o suficiente para acordar os mortos.
— Puta merda, gatinha. Você vai acabar colocando alguém em
perigo — zomba, esfregando a mão sobre o queixo.
É ele. O garoto misterioso da cozinha. O desgraçado disse que ia
buscar a nossa bebida e me deixou esperando por ele sozinha enquanto
estava, na verdade, curtindo a festa.
Sou muito idiota.
— Você não trouxe a minha bebida — respondo, encarando-o
friamente.
Isso parece diverti-lo. Algumas pessoas à nossa volta parecem
interessadas na cena que se desenrola, mas eu não ligo. Não vou aceitar ser
humilhada publicamente por algum atleta de fraternidade que se acha tão
superior.
— Isso foi uma falha minha, mas eu planejo corrigi-la agora mesmo
— responde com escárnio.
Franze o cenho.
Isso não parece certo. Quero dizer, é o mesmo rosto, o mesmo
sorriso zombeteiro, a mesma pose superior. Mas quando ele abre a boca, o
tom de voz não soa tão intimidador como antes.
Nem me causa os mesmos calafrios.
Balanço a cabeça, tentando dispersar esses sentimentos.
Provavelmente é coisa da minha cabeça, e pelo andar da carruagem, ela não
vai nada bem.
O estranho me oferece a mão e eu aceito sem hesitar. O que é um
pingo de água para quem já está encharcada, não é mesmo?
E não é só no sentido figurado.
Quando passamos por um corredor vazio, finalmente consigo fazê-
lo parar.
— Por que você está agindo assim? — pergunto, genuinamente
confusa.
Ele franze a testa.
— Assim como?
— Como se não me conhecesse. Nós acabamos de nos beijar,
lembra? Você disse que ia buscar as bebidas, mas não apareceu. Eu usei seu
copo para beber água e você não gostou.
Sua expressão assume um brilho de divertimento que me pega
completamente desprevenida. Ele abre um sorriso mordaz, cheio de dentes
para mim, e aquela velha sensação de intimidação volta com força total.
— Eu fiz tudo isso mesmo, hein?
Pisco lentamente.
— Eu acho que é melhor eu ir embora daqui — balbucio, dando as
costas para o estranho.
Ele me puxa pelo braço na mesma hora, nos deixando cara a cara.
Prendo a respiração, sentindo seu hálito pertinho da minha boca.
— Mostra pra mim como eu te beijei — manda com o tom de voz
rouco.
Não estou sentindo borboletas no estômago como da última vez e
meu coração está batendo em seu ritmo normal. Ele é o homem mais lindo
que eu já vi e sua beleza é tão surreal que parece ter saído diretamente dos
livros.
Seus lábios se chocam com os meus, mas é… Diferente. Não tem a
agressividade de antes, tampouco me sinto dominada por uma necessidade
de entregar tudo a ele. Minha pele não está arrepiada, nem sinto vontade de
explorá-lo com as mãos.
Será que tudo aquilo não passou de um completo delírio?
Mas é então que finalmente entendo tudo.
Porque sou arrancada bruscamente durante o beijo. O impacto é tão
grande que prendo a respiração por alguns segundos.
E então, o vejo.
Ou melhor: os vejo.
O estranho e sua perfeita réplica. Um está em cima do outro, socos
estão sendo trocados e o barulho ensurdecedor de música foi substituído por
grunhidos e sons de brigas.
Eles estão se matando.
Coloco a mão sobre a boca, chocada. Nunca vi uma cena assim
antes e sinto pavor em cada mísera célula do meu corpo.
As pessoas passam por mim e vejo caras tão grandes como eles,
usando as mesmas jaquetas azuis com brasões, tentando apartar a briga.
Quando finalmente desgrudam os dois, um deles está com o rosto
coberto de sangue. Apesar disso, está sorrindo abertamente para o outro,
que está com uma expressão furiosa.
Na verdade, ele parece pronto para esmagar alguém com suas
próprias mãos.
É ele.
O meu estranho.
Viro o rosto para tentar me esconder e é quando vejo Lucy me
encarando, apavorada. Nunca me senti tão aliviada por ter vindo com
alguém essa noite e começo a ir em sua direção.
Antes mesmo de alcançá-la, Lucy já está gesticulando feito louca.
— Cecília… O que você fez? — ela pergunta cuidadosamente.
Consigo ver que ela realmente está se esforçando para não me julgar
e isso lhe dá mais alguns pontos na escala da nossa amizade.
— Acho que essa conversa precisa acontecer quando estivermos em
segurança. Pode chamar o táxi? — peço, praticamente implorando.
Ela não parece nada satisfeita, mas me obedece mesmo assim.
Depois que ela recebe a confirmação do carro, começamos a nos espremer
entre as pessoas em direção à saída.
Quando o ar da noite bate em meu rosto, respiro aliviada.
— Eu fiquei com aqueles dois caras. Os dois que são idênticos. Eu
achei que eles eram a mesma pessoa… — murmuro com o tom de voz
baixo.
Lucy chia, virando para mim com os olhos arregalados. Ela agarra o
meu antebraço e ao avistar o carro estacionado à nossa espera, manda
entredentes:
— Precisamos ir embora agora!
E quem sou eu para discutir?
Aceleramos ainda mais o passo e mal desejamos boa noite para o
motorista antes de nos afundarmos no banco de trás. Ao fechar a porta com
força, sinto que posso voltar a respirar.
— Os gêmeos Donovan, Cecília. De todos os caras dessa
universidade, você tinha que se meter justamente com eles?
Gêmeos?
Ah, merda…
Bom, não posso negar que faz sentido. Como pude ser tão burra?
Abro a boca para tentar me explicar, mas Lucy abafa um grito de
pavor. Assustada, viro para o lado.
O estranho está com as mãos no vidro do meu lado do táxi, o rosto
com respingos e gotas de sangue que não pertencem a ele, mas sim ao
irmão. Ele está me encarando com um olhar sádico, sem piscar nem uma
vez.
Engulo em seco. Estou com medo.
E mesmo depois que o táxi finalmente começa a andar e ele
desgruda do carro, ainda sinto como se ele continuasse me observando.
Tragédia agridoce
Não é engraçado
Quando estou sentada sozinha
Você está bem na minha frente
Bittersweet Tragedy | Melanie Martinez

Nunca acreditei muito no destino. Para mim, as coisas acontecem


por uma série de mini decisões que você toma todos os dias. Pegar um
ônibus atrasado pode mudar o rumo do seu relacionamento, assim como
decidir ir a pé ao invés de entrar em um táxi.
Mas depois da festa da Theta Nu, eu mudei completamente o meu
pensamento.
Baron Donovan daria um jeito de se infiltrar na minha vida. Mesmo
se eu tivesse pego todos os atalhos, mudado os caminhos, evitando sair
naquela maldita noite e não fosse me esconder na porra da cozinha.
Mesmo assim, ele daria um jeito de me encontrar.
E de transformar a minha vida em um inferno.
Estudar em Granville se tornou um sonho quando eu estava no
ensino médio. Foram três anos de pura dedicação, me esforçando nas aulas
de inglês e me preparando para aplicar para as universidades que me
interessavam.
Quando fui aceita, chorei de alegria. Estudar Moda sempre foi um
sonho e morar na Califórnia também. Já conseguia me imaginar tirando
fotos embaixo do letreiro de Hollywood, desenhando croquis e costurando
as minhas próprias peças.
Estava tudo tão perfeito.
Nem a relação distante com a minha mãe se tornou um problema.
Como eu cheguei aqui assim que minhas aulas começaram, não
conseguimos nos encontrar com tanta frequência. Ela marcou um jantar
para hoje à noite e me fez prometer que eu não faltaria, porque “o segredo”
que ela vem guardando de mim desde que cheguei finalmente será revelado
hoje à noite.
Que seja.
— Vai passar a noite fora? — Lucy pergunta, levantando o olhar de
seu celular.
Ela tem um problema sério com esse negócio. Não consegue passar
um dia inteiro sem gastar horas nas redes sociais.
— Sim. Vou jantar com a minha mãe.
— Finalmente alguém está saindo da toca — ela brinca. — Depois
me conta como foi.
— Pode deixar.
Lucy vive enchendo o saco sobre precisar aparecer mais nas festas
da faculdade, mas ultimamente eu tenho passado tudo que envolve
socializar por aqui. Principalmente depois do que aconteceu naquela noite.
Eu descobri no dia seguinte quem eles eram. Baron Donovan é o
capitão do time de hóquei, conhecido popularmente por ser cabeça quente.
Ele extravasa toda a agressividade no gelo, mas mesmo assim, seus
companheiros de time ainda precisam pisar em ovos quando ele está por
perto.
Era por isso que a cozinha estava vazia, embora a casa estivesse
lotada. Ele não gosta que mexam nas coisas dele, que pisem onde ele faz a
própria comida. As pessoas respeitam porque o temem.
Seu irmão gêmeo, Brandon Donovan, faz parte do time de basquete.
Ele não tem o olhar sádico ou o sorriso manipulador no canto da boca igual
ao do irmão, mas seu olhar debochado me disse muito naquela noite. Ele
gosta de fingir ser confiável e provavelmente se diverte bastante quando
mostra como é de verdade.
Quando Lucy e eu chegamos em casa naquela noite, senti o
significado de pavor. Senti nos poros, em cada camada de pele que possuo.
Porque haviam bilhetes, milhares deles, espalhados na minha cama.
Como ele descobriu o lugar em que durmo? Como conseguiu fazer
isso antes de chegarmos até aqui? Por que ele quis vir atrás de mim?
São perguntas que me faço até hoje e que já comecei a aceitar que
talvez não tenham respostas.
Em cada bloquinho amarelo de papel só havia uma frase: você vai
pagar.
O quê? Eu sinceramente não entendo até agora.
Depois disso, me retrai ainda mais e não faço questão de mais
nenhuma experiência “universitária”. Às vezes, posso jurar que escuto
passos me seguindo quando ando sozinha pelo campus ou uma sombra que
se camufla na minha quando olho para trás, assustada.
Estou sendo sempre observada. Baron não precisou fazer seu
joguinho psicológico comigo, porque deixou seus discípulos encarregados
do trabalho. Eles estão sempre lá, à espreita. Me encarando, me seguindo,
se certificando de que eu não tenha contato com ninguém.
Ninguém além de Lucy, que também se tornou uma pária por minha
causa.
Não somos mais bem-vindas em muitos dos círculos sociais
importantes daqui. As fraternidades e sororidades não permitem a nossa
presença. Recebo olhares zombeteiros nas salas de aula e tenho certeza de
que estou sendo sabotada.
Precisei desenhar alguns croquis experimentais na minha disciplina
principal. Passei a noite inteira contornando cada traço, conferindo meu
material um milhão de vezes para ter certeza de que estava perfeito — e foi
tudo em vão. Porque quando abri o meu portfólio para mostrá-los para o
meu professor, estavam todos manchados de tinta preta.
Por cima, uma palavra estava escrita em vermelho: vadia.
Nunca senti a humilhação dessa forma. Como se alguém estivesse
apertando a sua garganta, torcendo seu pescoço e sorrindo diabolicamente
enquanto te assiste sufocar. Porque eu sei, eu apenas sei, que Baron sempre
está em algum lugar me assistindo. Se divertindo com o que está causando
em mim.
Me marcando como seu brinquedinho pessoal.
Mas embora esteja vivendo os piores meses da minha vida, eu não
abaixo a cabeça. Vir para Granville sempre foi o meu maior sonho e não
vou desistir só porque me atrevi beber um copo d’água em uma festa.
Francamente? Ninguém pode ter tanto azar assim.
Pelo menos, era o que eu pensava.

Mamãe está terminando de ajeitar o visual no carro, conferindo cada


cacho no cabelo pelo espelho retrovisor.
Estamos paradas na frente do restaurante há pelo menos vinte
minutos, e a julgar pela ansiedade que demonstrou desde que me buscou no
meu alojamento mais cedo, só posso presumir que seja algo sério.
Ai, merda. Tipo… Será que ela está devendo algum traficante barra
pesada? Nunca tivemos uma conversa sobre uso de drogas ou
entorpecentes. Droga, nunca nem tivemos aquela conversa. Minha mãe é
quase uma desconhecida para mim.
— O que foi? — pergunto, finalmente, virando meu rosto para ela.
Minha mãe abre um sorriso. Ela é uma mulher linda, com cachos
pretos e a pele bronzeada. Sempre obcecada por praticar exercícios físicos,
desde que eu era criança, essa foi a única exigência que ela fazia para o meu
pai. Quando comecei a fazer academia, ainda adolescente, eu a odiava.
Hoje eu adoro não ser sedentária e ter um estilo de vida saudável.
— Não é nada. Eu só não quero que você fique com raiva de mim.
Como assim não quer que eu fique com raiva?
Balanço a cabeça, sem saber se entendi muito bem o que ela acabou
de dizer.
— Você está começando a me assustar. — Abro um sorriso nervoso,
usando a máscara da garota “legal” para esconder o quanto ela realmente
está me irritando.
Do jeito que eu ando com sorte, esse seria um momento perfeito
para ela me avisar que está devendo a um mafioso um dinheiro que não
pode pagar e me deu como garantia.
Ela suspira.
— Eu só quero que você saiba por mim. Eu te amo, Cecília, e te
deixar no Brasil foi a coisa mais difícil que eu já fiz na minha vida — ela
começa se explicando. — Não quero que você pense, nem por um segundo,
que isso signifique que eu não me importe com a sua opinião ou com os
seus sentimentos, porque não é a verdade.
Preciso reprimir a vontade de bocejar.
— Eu sei que você precisou fazer o que tinha que fazer, mãe. Não te
julgo por isso. Você nunca deixou de ser minha mãe por causa disso — digo
e não estou mentindo.
Ela só passou a ser uma estranha quando não manteve a frequência
de ligações. Quando me mandava uma meia dúzia de mensagens com a
desculpa de que estava “ocupada” enquanto Vanessa estava sempre
disponível para me escutar e acolher.
Vir para outro país não teve nada a ver com o nosso distanciamento.
— Eu fico feliz com isso. — Ela abre o porta-luvas do carro e tira
de lá uma coisa brilhante. Como sou desatenta, não percebo até que ela o
coloca no dedo. A pedra está reluzindo tanto que não deixa dúvidas: é um
diamante. — Eu estou noiva.
Uou.
UOU.
Tá, confesso que não estava esperando por essa.
Minha mãe, a mesma que disse: “ah, tudo bem, filha, venha para a
Califórnia cursar Moda”, acabou de me dizer que está noiva. Ela vai se
casar. Provavelmente está em um relacionamento de anos e eu não faço
ideia de quem seja o sujeito.
Então a minha ficha cai.
Fecho os olhos.
— Ele está lá dentro, não está? — pergunto com um tom de
sofrimento na voz.
Ela abre um sorriso triste. É bom saber que ela se compadece da
minha dor.
— Alexander é um bom homem. Perdeu a esposa há dez anos e não
manteve outros relacionamentos antes de mim. Nos conhecemos em um dos
eventos da empresa dele e foi amor à primeira vista.
— A empresa dele?
Ela suspira de novo.
— É. Ele é dono da NicyD.
Pisco lentamente, balançando a cabeça em total estado de choque.
— NicyD, a empresa que você trabalhou durante todos esses anos?!
Minha mãe abre a boca, um pouco sem graça. É, ela me deve
algumas explicações por aqui.
NicyD é uma companhia especializada em doces, particularmente os
que levam caramelos. Eles acabaram se tornando uma rede enorme e minha
mãe sempre trabalhou na parte financeira. Eles pagam um salário bom o
suficiente para ela ter uma vida estável e boa aqui, enquanto continuava
mandando dinheiro para ajudar na minha criação todos os meses.
— É por isso que eu evitei comentar com você ou com seu pai. Não
queria ser julgada por causa disso. Nunca precisei me envolver com
ninguém para chegar onde eu cheguei — frisa, ajeitando a postura no
banco. — Além do mais, seu pai já me odeia de qualquer jeito…
— Ele não te odeia.
— Eu não queria dar mais munição para ele.
Continuo encarando-a, perplexa.
— Quando eu acho que você não pode mais me surpreender…
— Estive esperando o momento certo para apresentar vocês. Queria
que todos estivessem disponíveis para fazermos do jeito certo. Como uma
família.
Informação demais.
E uma delas, em específico, chamou muito a minha atenção.
— O que você quer dizer com “todos disponíveis”? — pergunto,
desenhando aspas no ar. Em seguida, abro a boca, me dando conta de seu
plano. — Ele tem filhos, não tem?
— São garotos adoráveis. Você vai amar seus novos irmãos.
— Puta merda, mãe!
— Olha essa boca, Cecília Braga. Eu sabia que morar com o seu pai
só podia acabar resultando nisso.
Reviro os olhos, sentindo um aperto diferente na garganta. Me sinto
traída. Eu aprendi muito cedo a não levar para o coração certas atitudes da
minha mãe, mas ela nunca tinha escondido uma informação dessas antes.
Enquanto eu chorava no meu travesseiro depois de ter meu coração
partido pela primeira vez, rezando ao universo para que tudo passasse de
uma vez, ela esteve aqui, brincando de casinha com a nova família.
Ele tem filhos. Será que ela ajuda ele na criação? Será que faz
cafuné neles antes de dormirem? Lê histórias? Assistem filmes? Será que
ela deu para eles tudo o que não deu para mim?
— Eu não queria que você ficasse assim — lamenta ela com a voz
triste. — Não queria que você pensasse que não é importante pra mim.
Evito encará-la. Não quero ser mal-educada ou acabar dizendo algo
irreversível, então faço o que eu aprendi de melhor: engulo a minha raiva
junto com o meu orgulho.
— Acho que não é uma boa ideia deixarmos eles esperando —
desconverso, agradecendo ao universo por manter minha voz firme.
Ela continua me encarando, frustrada. Mas não discute. Murmura
um: “você tem razão” e me acompanha quando eu saio do carro, abrindo
um sorriso fraco para mim. Eu apenas faço um meneio de cabeça em
resposta, mantendo meu queixo erguido.
Aparentemente, vou conhecer minha família postiça.
A entrada do restaurante é a coisa mais impressionante que eu já vi.
Tem um chafariz com uma sereia esculpida no centro e só por isso eu já
presumo que o chefe talvez seja especialista em frutos do mar.
Ele é cercado por árvores, o que só dá ao ambiente um toque mais
místico. Luzes de fadas estão acesas por todo o lugar e eu prendo a
respiração ao notar os detalhes: as paredes imitam madeira, como se o
restaurante ficasse dentro de uma dessas cabana de fábulas infantis.
— É lindo aqui, não é? Eu sabia que você ia gostar. Me lembro bem
que você era fanática pela A Bela e a Fera. Todos os seus aniversários até
os seus dez anos foram desse tema. — Ela encosta o ombro no meu, dando
um empurradinha de leve.
Eu realmente estou impressionada por ela estar tentando.
— Sim. Até que eu cresci — alfineto, sem conseguir resistir.
A verdade é que eu estou apaixonada por cada detalhe do que vi até
agora.
Um funcionário do local vem nos recepcionar e minha mãe me
chama com a mão.
— Estamos com os Donovan — minha mãe responde, apontando
para o fundo do restaurante.
Espera… O quê?
Eu ouvi certo?
Ela falou a palavra que começa com D?
Imediatamente sou tomada pelo medo. Olho para todos os lados,
procurando por ele. Com medo de estar sendo observada, vigiada,
perseguida.
Minha mãe toca no meu braço delicadamente.
— Cecília? Está tudo bem?
Bem? Como pode algo ficar bem depois dele? Não está nada bem e
suspeito que nunca fique bem de novo.
Estou começando a cogitar fingir uma infecção estomacal severa ou
até mesmo um ataque cardíaco quando, de repente, pares de olhos castanhos
familiares demais surgem no meu campo de visão.
O mesmo sorriso sem jeito está estampado em seu rosto enquanto
exibe um terno que cai perfeitamente bem em seu corpo.
Hoje eu sei diferenciá-los.
— Oi, Suzan. Estávamos esperando vocês — diz Brandon, com um
sorriso de garoto bonzinho que me causa arrepios.
Minha mãe acaricia o braço dele lentamente, parecendo
genuinamente satisfeita.
— Que gentileza sua nos buscar, Bran. Essa aqui é a minha filha,
Cecília. Ela também estuda em Granville.
O desgraçado abre um sorriso e a cicatriz em seu rosto fica visível.
Me arrepio inteira. Dizem que Baron usou uma garrafa para fazer esse corte
em especial e eu nunca agradeci tanto por ter me afastado da cena antes de
presenciar essa atrocidade.
Brandon, no entanto, passou a exibi-la com orgulho. Como se fosse
um grande troféu ter levado uma surra do irmão gêmeo na primeira festa do
semestre sediada por sua própria fraternidade.
— Como sua filha é linda, Suzan. Com certeza puxou a mãe.
— Ah, Brandon! Assim eu fico sem graça. — Ela cora, passando a
mão no cabelo como se tivesse acabado de ser convidada para integrar o
casting da Victoria’s Secret.
— Eu só estou dizendo a verdade. É um prazer finalmente conhecê-
la, Cecília — ele responde, estendendo a mão para mim.
Eu o encaro e depois viro o rosto para minha mãe.
Brandon continua com a mão estendida em minha direção enquanto
eu pondero os prós e contras de seguir com o meu plano inicial: “sabe o que
é? Estou com problemas intestinais, se é que você me entende…”.
Brandon arqueia uma sobrancelha perfeita para mim.
Minha mãe me dá aquela olhada, a que diz: “não me envergonhe na
frente de estranhos” e eu assisto em câmera lenta quando minha mão toca
na dele. Brandon aperta seus dedos ao redor dos meus, aplicando um pouco
mais de força do que o necessário.
Ele observa nossas mãos juntas e eu faço força para me livrar do seu
aperto. Isso parece diverti-lo, porque faz questão de mantê-la presa.
Para qualquer pobre desavisado que esteja assistindo essa cena de
longe, podemos parecer um casal de jovens comum. Até mesmo a minha
mãe abre um sorriso satisfeito, como se estivesse secretamente torcendo por
isso.
— Fico feliz que vocês tenham se dado tão bem — ela diz,
sugestivamente. — Mas acho que seu pai está nos esperando, Bran. O
Baron disse que tinha um jogo importante nesta semana e que não poderia
vir por causa do horário do treino amanhã.
Brandon não desvia o olhar do meu, tampouco faz questão de
afastar a mão quando responde, sorrindo:
— Na verdade… Ele fez um esforço para vir também. Os dois estão
nos esperando em uma mesa reservada.
Minha mãe pisca, parecendo surpresa. Não deixo de notar como sua
postura ficou desconcertada com essa informação.
Ora, ora… Será que a madrasta perfeita não se dá muito bem com o
enteado perfeito?
Não deveria ter ficado tão feliz por saber que ela também tem
problemas com ele, mas eu fico.
— Ah… Uau. Isso é bom. — Ela se recompõe. — Acho que é
melhor ele conhecer a Cecília de uma vez. Você vai gostar dele também,
Ceci.
Eu a chamaria de mentirosa e mostraria os dentes em ameaça se eu
não estivesse no meio de um teatrinho com Brandon aqui.
Ela sabe muito bem como Baron é e está mentindo para mim
descaradamente.
Brandon observa nossa troca silenciosa de olhares com uma
expressão divertida. Não tenho dúvidas de como virei o entretenimento
principal de sua noite.
Ele passa a língua suavemente pelos lábios.
— Eu não tenho dúvidas de que vai ser um prazer para o Baron
conhecer a sua filha, Suzan.
Eu quero ficar dentro de casa o dia todo
Eu quero que o mundo vá embora
Eu quero sangue, coragem e bolo de chocolate
Eu quero ser uma verdadeira mentira
Teen Idle | Marina

A garota parece irritada, mas não está mais do que eu.


Além de puto, estou entediado pra caralho.
Ela está tentando me fazer ficar duro há mais de meia hora e não
está obtendo nenhum resultado. Os gemidos falsos e a rebolada ao tirar a
roupa não me ajudaram em nada e, na verdade, só me deixou mais
enfurecido.
— Está ficando bom? — ela pergunta, esperançosa, abaixando o
tom de voz como se isso fosse sexy.
Arranco a garota de cima de mim, sem paciência. Ela está se
esfregando no meu colo como se isso fosse o suficiente para me excitar.
Poderia deixá-la me chupar para acelerar o processo, mas só de pensar
nisso, tenho ânsia. Estou guardando toda essa parte para uma garota que
não sai da porra da minha cabeça.
É por isso que eu não queria escutar o tom de voz da garota
esparramada na minha cama, nem encará-la nos olhos.
Pedi para que se virasse de quatro e ficasse pronta para me receber,
a garota concordou como se tivesse acabado de ganhar na porra da loteria.
Tudo isso para me desobedecer dez minutos depois.
Sequer consegui ficar duro com a visão. Esse cabelo ruivo, o corpo
arqueado, os olhos âmbares… Tudo parece errado.
Coloco minhas roupas, ainda mais estressado do que estava antes de
começarmos isso. Ela está me encarando na cama como um cachorro que
caiu do caminhão da mudança, fazendo um beicinho que me irrita
profundamente.
— Podemos tentar de novo? — Ela inclina seu corpo para frente,
exibindo seus seios descaradamente.
Desvio o olhar, sentindo asco de seu desespero.
Transar comigo se tornou uma espécie de troféu para a metade das
garotas dessa universidade. E não é porque meu pai é rico, meu irmão um
astro do basquete ou eu o capitão do time de hóquei. Mas sim pela minha
fama de não ser fácil de ser conquistado.
Me tornei um joguinho. Uma disputa.
Descobriram que uma das sororidades criou, inclusive, um sistema
de pontos entre as novas meninas e me tornaram uma espécie de iniciação.
Começaram a frequentar todos os jogos e tentaram me emboscar tantas
vezes na saída que me irritei.
Levei três delas para a cama antes de descobrir sobre o real motivo
de estarem atrás de mim.
Depois disso, as fiz pagarem.
Duas delas pediram transferência depois que eu acabei com elas. E a
partir daí, me tornei uma espécie de líder na fraternidade em que moro
também.
— Vai embora — mando, jogando o vestido que ela estava usando
em sua direção.
A garota não esconde o desapontamento, mas eu não poderia me
importar menos.
Enquanto ela se veste, uma batida soa na porta.
— Tem certeza que não vai? — Brandon pergunta, com um sorriso
irritante nos lábios.
Eu o encaro, sem nenhuma reação. Ele inclina o corpo para dar uma
olhada na garota terminando de se arrumar no meu quarto e assobia,
balançando a cabeça.
— Entendi tudo, mano. Falo para a nossa meia-irmã que você
mandou lembranças — zomba.
Babaca. Imbecil.
Burro.
Eu não deveria pensar isso sobre o garoto que dividi tudo, até
mesmo o útero da nossa mãe. Mas é inevitável. Brandon vive sem pensar
nas consequências e eu sou obrigado a lidar com elas.
Meu pai é um merda. E ele, com certeza, não merecia o amor da
minha mãe. Ela precisou aturar traições, violência física e viveu o inferno
na Terra antes de um câncer arrancá-la de nós para sempre.
Nunca contei isso para ninguém, mas eu rezei quando ela se foi.
Não de raiva, arrependimento, mágoa ou desespero.
Mas sim de alívio.
Eu não precisaria testemunhar mais o seu sofrimento. Seja pelo que
vivia diariamente em casa com o meu pai ou pela doença desgraçada que a
levou.
Um dia, quando eu tinha oito anos, ela tentou fugir. Sei disso porque
acordei no meio da noite e a encontrei na cozinha, carregando malas e mais
alguns pertences. Eu perguntei se podia ir junto e ela concordou.
Achei que iríamos recomeçar em um lugar novo.
Mas é claro que o meu pai não aceitaria deixá-la livre. Ele nos
encontrou, prendeu a minha mãe em uma clínica de reabilitação e me
deixou de castigo por semanas.
Naquele dia chuvoso, quando sua lanterna refletiu no vidro do meu
lado do carro e ele nos levou de volta para casa contra a nossa vontade, eu
disse para ele que o odiava pela primeira vez.
E desde então faço questão de lembrá-lo frequentemente.
Quando soube que ele começou a namorar alguma vadiazinha que
trabalhava em uma das unidades da NicyD, senti asco. Como ele podia
apagar e esquecer a minha mãe com tanta facilidade, porra?
Mas claro que ele tinha que escolher uma mulher completamente
oposta ao que a que me deu a vida era. Ela não tem olhares doces e sorrisos
carinhosos, mas sim uma expressão decidida e um corpo de supermodelo.
Ela vive na academia enquanto o babaca do meu pai não sai do escritório e
quando nos vimos pela primeira vez, tocou no meu braço sugestivamente.
Uma grande vagabunda.
Estava planejando uma maneira de tirá-la do meu caminho de vez,
mas uma noite mudou os meus planos. Meu pai nos convidou para um
jantar e eu tinha tudo preparado. Quando chegamos lá, eles nos contaram
sobre a nossa irmã postiça.
A filha dela.
Ela é três anos mais nova do que Brandon e eu. Quando Suzan
abriu o celular para nos mostrar a foto dela, cheia de orgulho, algo
aconteceu.
Não sei explicar como ou o porquê. Nem consigo destrinchar porque
a porra do meu coração acelerou tanto ou o motivo das minhas mãos
tremerem daquele jeito. Quando levantei meu olhar assustado para
Brandon, ele parecia perfeitamente normal.
Normal.
Como ele conseguiu ficar normal depois de ver a foto da garota
mais linda desse mundo, caralho? Como? Ela simplesmente andava por aí,
sozinha, vivendo a vida como se não estivesse deixando as pessoas
completamente insanas?
O mundo só podia estar louco.
Meus planos mudaram drasticamente depois daquele dia. Eu não
estava mais planejando um jeito de mandá-la embora, mas sim de conseguir
trazer a filha dela para o meu país.
Foram meses de pura manipulação.
Enquanto eu esperava, comecei a segui-la nas redes sociais usando
uma conta falsa no Instagram. Fiquei obcecado com essa garota por meses,
analisando cada foto, ansiando por vídeos, usando as migalhas que ela
postava para me masturbar enquanto não a tinha ao alcance das mãos.
Tantos. Meses. Porra.
Esperando, calculando, ansiando por finalmente tê-la ao meu
alcance.
E, de repente, ela está aqui. Ela está aqui e nos encontramos como
na porra de um conto de fadas. Ela entrou na minha cozinha, o território
proibido de todas as festas que damos na fraternidade.
É como se essa coisinha conseguisse sentir que o que é meu,
também é dela. Entrou lá e de todos os copos que podia escolher para beber
água, foi o meu que pegou.
Estávamos conectados. Eu sei que ela sentiu isso.
Até vê-la se agarrando com o meu irmão.
Brandon. Com as mãos nela.
Como ela não conseguiu perceber que não era eu?
Seu corpo respondeu a ele da mesma forma que respondeu a mim?
E foi então que percebi que tudo foi em vão.
Ela não passa de uma grande vadia, assim como a mãe.
Fui mais uma vez só um joguinho. Só uma peça de xadrez no
tabuleiro de uma garota que não faz ideia de com quem mexeu aquela noite.
E deixar uma cicatriz no rosto do babaca do meu irmão gêmeo não
foi o suficiente.
Precisava de mais.
Eu ainda preciso de mais.
Aterrorizá-la pelo campus está começando a me entediar. E pelo
brilho no olhar “de quem sabe das coisas” de Brandon, tenho certeza que
meu irmão já captou o que estou pensando.
— Imagine a carinha de surpresa dela quando vir você lá — ele me
atiça. — Aposto que vai ficar com aquele olhar de medo. Vai querer se
esconder com a mamãe e então vai se dar conta de que estará presa com a
gente para sempre. Presa com você para sempre.
A carranca irritada é inevitável ao escutá-lo se referir a Cecília como
“nossa”. Ela não é nossa porra nenhuma.
É só minha.
E já passou da hora dela entender isso. Se não for por bem, será por
mal.
A garota que acabei de tentar comer passa pela gente o mais
silenciosamente possível, mas nem isso é capaz de mantê-la longe do olhar
de Brandon. Ele a segura pelo braço sem nada de gentileza e sussurra algo
em seu ouvido que tenho certeza de que foi obsceno.
Ela cora da cabeça aos pés.
Em seguida, assente com a cabeça e meu irmão a deixa ir.
Arqueio a sobrancelha.
— Vai ficar com os meus restos de novo?
Brandon mostra seus dentes pra mim.
— É o que dizem, o irmão mais velho é o mais sábio. Não posso
fazer nada se você tem bom gosto. Não me importo de dividir.
Eu pisco. Então seguro Brandon pelo colarinho da blusa, prensando-
o contra a parede. O desgraçado abre um sorriso debochado quando eu uso
meu braço para pressionar a sua garganta.
— Nunca mais se aproxime dela novamente. Você pode ser o meu
irmão, mas nem isso vai me impedir de acabar com você.
Bran ergue as mãos em sinal de derrota. Depois me lança um olhar
divertido.
— Essa garota vai acabar se tornando o seu ponto fraco, irmão. E eu
mal posso esperar por isso.
“Essa garota vai acabar se tornando o seu ponto fraco, irmão”. As
palavras de Brandon ainda ressoam na minha mente quando estou sentado
de frente para o meu pai, no restaurante mais piegas que ele e sua
mulherzinha poderiam ter escolhido.
Brandon, como o falso cavalheiro que é, foi buscá-las na entrada.
Tento controlar a raiva ao imaginar os dois juntos. Desde aquela
maldita festa que eu não consigo tirar a porra do beijo que trocaram da
minha cabeça.
Quando suas pernas nuas entram no meu campo de visão, trinco os
dentes. Meu pai me lança um olhar em advertimento conforme se levanta, e
eu, a contragosto, faço o mesmo.
Tudo para receber a futura esposinha dele e sua filha da melhor
maneira.
— Encontrei duas belas moças perdidas e decidi trazê-las para jantar
com a gente. Tudo bem? — Brandon não disfarça o bom humor, jogando a
primeira piadinha de muitas que se seguirão ao restante da noite.
— Não poderia estar melhor — concorda o meu pai, andando o
restante do caminho para encontrar sua noiva e também a nova enteada.
Cecília, como eu já esperava, está mais pálida do que o normal. Um
brilho de terror espelha em seus olhos e isso quase me faz sorrir. Adoro que
ela esteja se sentindo assim porque agora sabe que está presa a mim.
Meu olhar desvia para onde a mão de Brandon a segura. O
desgraçado do meu irmão está pressionando as costas dela gentilmente,
como se servisse de apoio para que Cecília continuasse de pé.
Eu preciso de apenas um olhar para ele entender exatamente o que
deve fazer. Brandon se afasta de Cecília alguns centímetros, tentando fazer
da forma mais natural.
Ela, ao contrário dele, sequer consegue me encarar.
Vamos, garotinha. Cadê a menina valente e que adora se exibir no
Instagram? Para onde ela foi?
— Esses aqui são os meus filhos. — O tom de voz do meu pai é
polido. — O Brandon você já conheceu, e esse… — Sinto seu olhar de
advertência sobre mim, mesmo sem virar o rosto. — É o mais velho. Baron.
Cecília traga em seco. Seu pescoço fica vermelho e ela
discretamente começa a passar a unha sobre a pele.
Está ansiosa.
O ar à nossa volta está crepitando.
Vamos, Cecília. Não me decepcione.
Vamos.
Ela levanta o rosto a contragosto. Os olhos castanhos encaram os
meus e a sua beleza me golpeia sem dó nem piedade. Adoro como ela
sempre usa roupas curtas, que lembram muito o estilo de atrizes de sitcom
dos anos 90.
Será que ela gosta de assisti-los também?
— Prazer — resmungo com o tom de voz rouco.
Ela me encara.
— É bom conhecê-lo, Baron.
Fecho os olhos, saboreando a sensação de escutar meu nome sair de
seus lábios.
Todos nos sentamos à mesa ao mesmo tempo. Cecília se senta entre
a mãe e o Brandon, ficando de frente para mim. Sua respiração está pesada,
seu decote subindo e descendo sem parar.
Eu a deixei assim.
— Sua mãe fala muito sobre você, Cecília — meu pai continua. —
Ela comentou que você está estudando Moda. Está gostando?
Ela mal levanta o rosto para encará-lo. Pigarreia, cabisbaixa,
respondendo em um fio de voz:
— Estou. É bem legal.
Eles continuam fazendo perguntas sobre o curso, a faculdade e o que
ela está achando da cidade até agora. Não parecem perceber que ela está
praticamente cuspindo as palavras com dificuldade.
Ela quer estar em qualquer lugar, menos aqui, e eu sei bem o
porquê.
— Ouvi dizer que um dos seus professores recebeu um trabalho seu
de uma forma interessante — Brandon provoca, dando uma cotovelada de
brincadeira no braço de Cecília.
Suas bochechas enrubescem na hora. Ela passa os dedos suavemente
sobre a pele, bem no local onde Brandon a tocou e eu relaxo um pouco mais
na minha cadeira.
— Eu tive um problema… Mas já consegui resolver. Ele entendeu
que não foi minha culpa. — Ela lança um olhar rápido para mim na última
palavra.
Ora, ora… Parece que alguém prestou atenção aos sinais.
— Sua mãe e eu estávamos pensando sobre você — o jeito como
meu pai começa tão casualmente me faz empertigar. Ele não mencionou
nada disso para mim. — Não conseguimos passar tempo suficiente juntos
porque você está morando na faculdade e, bem, ela não fica muito longe da
casa que temos aqui em Granville. Então tivemos uma ideia.
A mãe dela começa a bater palmas na cadeira, como se fosse a porra
de uma criança de cinco anos. Não estou gostando do rumo dessa conversa.
— Achamos que seria uma boa ideia ter você conosco por uns
meses. Vamos comprar um carro de presente para você e o trajeto da nossa
casa até a universidade não leva mais do que uma hora. Dessa forma, nós
duas podemos nos aproximar de novo e você pode conhecer Alexander
melhor. Podemos sair para jantar sempre em família, assim você também
pode se aproximar dos seus novos irmãos.
— Irmãos postiços — Brandon corrige, abrindo um sorriso irônico.
Eu encaro o meu pai, que está me observando com cautela. Ele me
lança uma expressão de aviso e eu semicerro os olhos. Estamos em uma
disputa de poder silenciosa aqui e ele sabe bem disso.
— Ah… Uau. É uma grande gentileza — ela gagueja, arrumando o
cabelo atrás da orelha. — Não tenho certeza se é uma boa ideia.
A expressão da mãe dela começa a murchar.
Meu pai, vendo que a futura esposa mimada não está tendo o que
quer, decide intervir:
— É a melhor forma de começarmos isso do jeito certo, Cecília. Sua
mãe nos contou sobre como a separação de vocês aconteceu. Você morando
conosco pode, inclusive, ajudá-la nos preparativos do casamento. Brandon e
Baron não ficam nunca em casa, então seria bom ter uma presença jovem
para variar — ele tenta fazer uma piada, mas eu percebo que ele a
convenceu.
Seus olhos se arregalam, virando para mim por um milésimo de
segundo. É o suficiente para eu sentir um arrepio me atravessar.
Adrenalina pura.
— Pensando bem… — murmura, com um brilho aliviado no olhar.
Abro um sorriso. Cecília com certeza deve estar comemorando por
dentro ao achar que conseguiu se livrar de mim e de toda a minha
perseguição contra ela.
Mal ela sabe que esse jogo acabou de começar.
Nós fazemos os nossos pedidos ao som de piadas sem graça de
Brandon, junto com o tom de voz polido do meu pai. Eles estão
conversando sobre a temporada de basquete que acabou de começar e eu
me limito a revirar os olhos.
Brandon nunca teve disciplina para nada. Ele não leva o esporte a
sério e se meu pai acha que tem alguma chance dele ir parar na NBA, só
pode ter enlouquecido.
— Com licença. Vou retocar a maquiagem — Cecília diz, se
levantando em seguida à procura do banheiro.
Eu a observo por alguns segundos, me levantando da cadeira sem
desviar o olhar. Sinto uma mão quente contra a minha e viro o rosto para
dar de cara com meu pai me encarando.
Arqueio a sobrancelha.
— Baron, não.
Lanço um sorriso cruel para ele. Então vou ao encontro de Cecília,
que está de frente a um espelho. Ela está com as mãos sobre o rosto,
respirando profundamente e eu entro em seu campo de visão.
Sua expressão desmorona quando ela me encara através do espelho.
Meu rosto está inexpressivo, como se eu estivesse entediado pra caralho.
Por dentro, é como se fogos de artifício estivessem explodindo dentro de
mim.
— Baron…
Sim. Diga o meu nome.
Ela dá um passo para trás, se atrapalhando ao perceber que isso a
deixa ainda mais perto de mim. Olho para ambos os lados algumas vezes
para ter certeza de que estamos sozinhos, então termino a nossa distância
com passos largos.
Cecília arregala os olhos quando eu passo um braço por sua cintura,
colocando minha mão sobre sua boca. Ela se remexe, tentando se soltar,
mas eu entro no banheiro masculino, ainda segurando-a com força.
Pressiono seu corpo contra a porta atrás de nós, bloqueando a
passagem de qualquer um que tente entrar.
Com uma mão ainda pressionando sua boca, uso a outra para passar
os dedos suavemente sobre seu pescoço. Cecília arregala os olhos e sinto
sua língua começar a deslizar pela minha palma.
— Eu gosto disso — digo com calma.
Ela para na mesma hora.
Ela consegue ser tão previsível às vezes. Sorte a dela que compensa
o resto do tempo me causando uma verdadeira dor nas bolas. Caso
contrário, já não sobraria muito de Cecília Braga.
— Vou tirar a mão da sua boca. Você vai ser uma boa garota e vai
continuar em silêncio, não vai? Tem algumas coisas que precisamos
conversar.
Seus olhos castanhos me percorrem com temor. Eu sustento seu
olhar, mantendo minha expressão entediada de sempre. Ela finalmente
assente com a cabeça — como se tivesse uma escolha — e eu retiro minha
mão de sua boca.
Percorro com meu dedo seus lábios macios, desenhando a linha
deles como se eu nunca tivesse beijado-os antes. O gosto dela ainda me
assombra quando vou dormir.
— O que você quer? — soluça, encarando fixamente meus dedos
em seus lábios.
Abro um sorriso sádico.
— Acho que você já tem a sua resposta.
Ela suspira.
— Me deixa em paz, tá legal? Sinto muito se causei algum
problema. Não era a minha intenção. Foi a minha primeira semana, não
conhecia ninguém e a minha amiga Lucy me convenceu de que seria uma
boa ideia me enturmar. Eu não sabia que seríamos irmãos.
Irmãos.
Irmãos.
Irmãos.
— Você não é minha irmã — cuspo, descendo minha mão
lentamente até alcançar seu pescoço.
Os olhos de Cecília quase saltam para fora. Pressiono só o suficiente
para mantê-la parada exatamente onde eu a quero e ela abre a boca, arfando.
Preencho a distância entre nós, nossos narizes quase se tocando.
Quase consigo sentir o cheiro do medo de Cecília.
— Eu realmente sinto muito.
Intensifico o meu aperto.
Estou assistindo-a como se fosse um desses sapos que temos que
dissecar na aula de laboratório do colegial. Ao mesmo tempo em que ela se
submete a mim porque sabe que tenho mais poder, mantém uma aura de
intocável que me tira completamente do sério.
— Você beijou o meu irmão naquela noite. Você saiu da cozinha
mesmo quando eu mandei que esperasse. E agora, olhe só para você… —
murmuro com desdém. — Me encarando como se eu fosse ter piedade.
Como se eu me importasse. Achando que vai conseguir se ver livre de
mim…
— Baron, nossos pais estão nos esperando.
— Era o que você queria naquela noite? Estava participando de
alguma espécie de jogo?
Isso parece pegá-la de surpresa. Cecília me encara com
perplexidade, ainda imóvel contra a minha mão.
— É óbvio que não. Qual parte do “era a minha primeira semana na
faculdade” que você não entendeu? Eu nem sabia quem você era, Baron.
Não tinha noção nenhuma da sua existência. O problema não é meu se
vocês dois decidiram ir para uma festa usando o mesmo casaco. Você queria
que eu fizesse o quê? Que tivesse adivinhado que vossa alteza dividiu o
útero com outro indivíduo? A minha bola de cristal fica em casa quando eu
saio — ela responde, sarcástica.
Continuo com os meus olhos fixos nos dela.
— Espero que continue com esse bom humor quando tudo isso
acabar.
Ela não mexe um músculo. Continua me encarando, em um desafio
mudo, mesmo que eu saiba o quanto ela está apavorada por dentro.
Esfrego meu polegar lentamente pela sua jugular. Cecília respira
fundo, encarando de soslaio cada mísero movimento de minha mão ao redor
de seu pescoço.
Aproximo meu rosto de sua orelha, sussurrando:
— Vamos voltar para a mesa e fingir que está tudo bem. Não fique
me encarando com esses olhos assustados. Você vai dizer ao meu pai que
não quer ir morar com eles e então vai voltar para o campus comigo hoje à
noite. Entendeu?
Quando me afasto, seus olhos castanhos estão marejados.
Ah… Porra. Não queria que ela fosse tão fácil de quebrar assim.
Talvez o prazer da caçada só esteja sendo excitante para mim.
Talvez Cecília seja exatamente como todas as outras.
Mas, quando ela dá as costas para mim sem dizer uma palavra e se
senta com os nossos pais, um calafrio diferente percorre todo o meu corpo.
Observo a expressão de todos os presentes na mesa e mesmo de longe,
posso dizer com certeza que ela não vai fazer o que eu mandei.
Ótimo.
Porque vai ser ainda melhor persegui-la dentro da minha própria
casa.
Não, eu não sou sua escravinha
Não, eu não funciono dessa forma
Você só tem coisas ruins a dizer
Você está sempre perguntando o que está acontecendo comigo
Seventeen | Marina

Depois que Baron voltou para a mesa, o mais próximo de clima bom
que tínhamos tido até então, morreu. Ele obviamente tem problemas com o
pai, porque Alexander não parava de lhe lançar olhares de aviso que
chegavam a arrepiar a minha pele.
O cretino não parecia abalado com eles, no entanto. É como se os
dois compartilhassem um segredo e se comunicassem sobre ele apenas pelo
olhar.
Brandon não parecia alheio ao fato. De vez em quando soltava uma
piadinha que fazia Baron lhe encarar com um brilho meio sádico nas írises
escuras.
Me arrepio só de lembrar.
Obrigada, mas não. Não quero me envolver ainda mais com esses
dois projetos de psicopatas que decidiram fazer da minha vida um inferno
por causa de uma confusão inocente em uma festa de fraternidade na porra
do meu primeiro dia de aula.
Não mesmo.
Depois que terminamos o nosso jantar, Baron ficou me encarando
com um olhar mortal. Eu o encarei de volta, mortificada, realmente
considerando seguir suas ordens.
Mas então… Arrepios. Eu não podia entrar no carro com esse
projeto de satã. Ele poderia me sequestrar, me arrastar para uma floresta e
nunca encontrariam o meu corpo, já que ele é rico e tem recursos para sumir
com cada pedacinho meu.
Já falei que esse cara me dá arrepios? Já? Bom, acho importante
ressaltar.
Minha mãe havia me convidado para passar a noite em casa antes
mesmo de sairmos para jantar e não hesitei em aceitar. Coloquei algumas
roupas e objetos de higiene pessoal esperando ter uma noite das meninas,
pronta para me aproximar dela.
O que eu não sabia, obviamente, é que ela está morando com
alguém. Mais especificamente seu futuro marido, o milionário Alexander
Donovan. Não é querendo dar uma de estraga-prazeres, mas acho que essa
informação é algo importante de se mencionar para a própria filha.
No entanto, respirei aliviada quando o carro de Baron sumiu no
horizonte, carregando junto seu irmão mais novo.
Liberdade.
É isso que me leva até onde estou agora. Sozinha em uma casa
maior do que estou acostumada, enrolada nos melhores lençóis que já
tocaram a minha pele. Me espreguiço e levo todo o tempo do mundo antes
de descer em busca de café.
Minha mãe tinha me avisado que ela e Alexander costumam acordar
cedo e ir para o trabalho antes mesmo do sol nascer. É por isso que não me
preocupo em colocar uma roupa assim que levanto. Estou usando meu
pijama preto que consiste em um conjunto de renda de alças finas e um
short que não deixa muito para a imaginação.
Coloco uma música da Lana Del Rey para tocar enquanto me
resolvo com a cafeteira. Depois de algumas tentativas frustradas, finalmente
o cheiro de café começa a preencher o ambiente.
Começo a dar alguns pulinhos ao tentar cantar junto o som de
Brooklyn Baby. É um ritual que tento manter durante toda a manhã e no
início eu me convencia de que era uma forma de exercício físico. Dançar
faz bem para o meu corpo, eu repetia para o meu pai sempre que ele me via
rodopiar pelo chão da cozinha.
Eu me agacho para procurar alguns talheres antes de ir para a
despensa e é então que eu o ouço.
— Olha, vejam só… — A voz debochada pertence a Brandon.
Eu me viro o mais rápido que posso, gritando. Ele levanta a
sobrancelha diante da minha reação e eu coloco a mão sobre meu peito,
sentindo meu coração retumbar como um louco.
Ele está vestindo um uniforme e eu me lembro do que falamos
ontem no jantar. Brandon faz parte do time de basquete da universidade.
Seu olhar malicioso e cheio de lascívia começa a percorrer meu corpo de
cima a baixo e eu sinto uma necessidade absurda de me cobrir.
— Não olha pra mim! — reajo, cruzando os braços a fim de
proteger alguma coisa de seu campo de visão.
— Eu gostei da dança. Você até leva jeito para a coisa. Já pensou em
tentar entrar para o grupo de Granville? Aposto que as audições estão quase
abrindo.
— Você é mesmo muito invasivo. Está fazendo o que aqui? —
questiono, tentando desesperadamente mudar de assunto.
Que humilhação. Brandon me pegou dançando tal qual uma
lagartixa em fuga. A constatação faz as minhas bochechas esquentarem e eu
tenho certeza que meu pescoço deve estar mais vermelho do que um
tomate.
Brandon dá de ombros.
— Eu dormi aqui. Você fez café? — Ele passa por mim como se não
fosse nada demais, caminhando até a cafeteira.
Mordo o lábio inferior, dando um passo para o lado a fim de lhe
conceder espaço. Sei que não tenho o direito de perguntar, mas, mesmo
assim…
— Você passou a noite aqui?
Ele segura uma xícara fumegante com o café, me lançando um olhar
sarcástico. Depois de bebericar o líquido quente, se vira para mim.
— Não que eu precise me justificar para você, mas sim. Baron e eu
temos quartos na nossa casa. Está surpresa?
Engulo em seco. Ele está certo, obviamente. A casa é deles e eu não
deveria questionar a presença de Brandon na cozinha.
Mas…
Ontem à noite eu achei que estava livre dos dois. Realmente
acreditei nisso. A sensação de alívio lentamente começa a ser substituída
pelo arrepio de medo que me acomete sempre que lembro dele.
Baron.
— Mas não se preocupe… — Ele faz um gesto de desdém com as
mãos. — Não vou ficar muito tempo. Baron acordou cedo porque precisava
ir para o treino, então depois que eu for, você terá todo esse espaço para
você.
Me encolho ao ouvir suas palavras.
— Não estou te expulsando. A casa é sua.
Ele coloca a xícara na lava-louças.
— Eu sei. Você não poderia me expulsar nem se quisesse. A sua
sorte é que eu preciso buscar uma pessoa no aeroporto.
Meu olhar encontra o dele, curiosa.
— Uma pessoa?
— Uma garota.
Uau.
— Você tem namorada?
Brandon abre um sorriso arrogante.
— Por quê? Isso te interessa?
Reviro os olhos.
Não, idiota, é claro que isso não me interessa. Só fico irritada de
pensar que talvez tenha sido o motivo de um coração partido. Nenhuma
mulher merece ser traída e esse pensamento me faz murchar.
— Se você namora, por que me beijou naquela noite?
— Eu não namoro. E você também queria me beijar.
— Eu pensei que você fosse outra pessoa — só me dou conta do que
acabei de dizer depois que as palavras escapam de mim.
Arregalo os olhos, querendo pegá-las de volta, mas é tarde demais.
Brandon abre um sorriso malicioso, encostando o corpo forte contra a
bancada da cozinha.
De repente, é como se eu estivesse nua na frente dele. A forma
como me encara é como se tivesse acabado de me pegar no flagra fazendo
algo proibido.
— Baron vai adorar saber disso — zomba, me examinando
atentamente.
Dou um passo em sua direção.
— Não, por favor! Não foi isso que eu quis dizer!
— Ele ficou bem mal depois do que aconteceu naquela noite, sabia?
Isso aqui — ele aponta para a cicatriz, agora quase imperceptível perto do
seu supercílio — inchou e não ficou bonito. Demorou semanas para sair da
fase nojenta e assustadora e chegar na sexy.
Engulo em seco.
— Eu não tive a intenção de causar nada entre vocês dois.
— Eu sei, Ceci. Você não tem culpa de ter chegado no meio da
história. Ainda assim, Baron não gostou nada. Nós dois estamos em sua
lista do ódio.
— Lista do ódio?
Ele faz um gesto com as mãos, como se dispensasse a minha
pergunta.
— Modo de dizer. Meu irmão se blindou muito desde que entramos
na faculdade e tem uns amigos meio barra-pesada. Quando decidem acabar
com alguém, não tem muito o que fazer.
— Entendi. Ele é o gêmeo mau e você o gêmeo bom.
Os lábios de Brandon tremem com uma risada.
— Gêmeo mau? Você tem quantos anos? Cinco?
— Ultimamente, eu me sinto como uma criança se escondendo do
valentão no parquinho. Baron não tem deixado a minha vida fácil por lá.
Ele me encara.
— É, eu soube. E eu sinto muito em te dizer que isso não vai
melhorar daqui pra frente. Meu irmão… É complicado.
— Complicada sou eu. Ele é um lunático. Um psicopata!
— Não posso discordar. Mas agora eu preciso mesmo buscar essa
garota ou então meu pai vai me encher pelo restante da semana.
Isso desperta a minha curiosidade.
— Seu pai quer que você busque uma garota?
Brandon sorri com os olhos.
— Está com medo de eu estar acobertando uma possível traição?
Encolho meus ombros.
— Não quero que a minha mãe seja enganada. Posso não ser tão
próxima dela, mas ainda assim…
— Como você pode se importar tanto com alguém que claramente
está cagando para você?
Suas palavras me atingem em cheio. Não consigo deixar de notar
um brilho real de curiosidade em seu olhar, mas nem isso apazigua o
sentimento que está varrendo sobre mim.
— Minha mãe pode ter ido embora, mas eu tive a sorte de ter um pai
incrível. E além do mais, ela sempre fez questão de estar presente enquanto
eu crescia. Não julgo ela por ter vindo para cá em busca de uma vida
melhor. Ninguém questiona quando um homem faz isso.
Brandon simplesmente dá de ombros.
— Isso não faz sentido para mim. Abandono é abandono, não
importa se é homem ou mulher.
— Já que está falando tanto sobre isso, cadê a sua mãe?
Ele me olha com divertimento.
— Minha mãe morreu, Cecília. Brandon e eu éramos adolescentes
quando ela foi embora.
Imediatamente a conversa que eu tive com a minha mãe ontem à
noite voltou à tona.
“Alexander é um bom homem. Perdeu a esposa há dez anos e não
manteve outros relacionamentos antes de mim.”
Droga. Posso enfiar a minha cabeça dentro de um saco de lixo ou
será que a vergonha já está estampada em meu rosto?
— Sinto muito.
— Tudo bem. Estou saindo agora, então se você quiser uma
carona… A não ser que prefira ficar aqui sozinha.
Aqui sozinha? Depois de descobrir que Baron não só tem a chave da
casa como também dormiu aqui? Não, obrigada.
— Vou só colocar uma roupa e te encontro na garagem.
Um sorriso malicioso aparece em seus lábios.
— Ah, que pena. Eu gostei muito do que você está usando agora.
— Seu pervertido — resmungo, lhe dando as costas logo em
seguida.
Baron é um ser humano desprezível, mas Brandon não é tão ruim
assim. É meio arrogante e parece estar sempre me avaliando, mas pelo
menos não fala comigo como se eu não passasse de um inseto que quer
enxotar do seu caminho.
Depois que termino de me arrumar, vou em direção ao belo Jaguar
que ele já deixou estrategicamente ligado. Quando eu entro, ele começa a
dirigir e mergulhamos em um silêncio agradável.
— Eu posso te dar um conselho? — pergunta ele, franzindo o cenho
para o sol escaldante da Califórnia.
Eu faço que sim com a cabeça, semicerrando os olhos.
— Tente não irritar o Baron mais do que ele já está. Não conte que
eu te dei uma carona — me instrui, girando o volante para a esquerda. — E
caso esbarre em Hunter e Kaden por aí, dê meia-volta. A não ser que eles
estejam te seguindo. Nesse caso, você só os ignora mesmo.
— Eu sabia — murmuro, apertando os lábios.
Brandon se inclina um pouco na minha direção.
— Você disse o quê?
Eu suspiro.
— Eu sabia que estava sendo seguida. Eu tinha essa sensação
sempre que pisava os pés no meu dormitório, mas sempre que eu me virava,
não tinha ninguém por perto.
— Eles são bons em se camuflar. Baron deve estar mesmo
envolvido…
— Seu irmão é um doente. Eu só quero que ele me deixe em paz.
Brandon pigarreia.
— Não sei muito o que dizer. A gente já não se dava bem, depois de
você, então… Ele está fingindo que eu não existo e prefiro assim. Deus me
livre de cruzar o caminho do Baron novamente.
Coloco as mãos sobre o peito, forçando uma cara lisonjeada.
— Então quer dizer que eu fui a premiada? Que honra.
Brandon balança a cabeça, sem esconder o sorriso.
— Não ficaria brincando com isso se fosse você. Ele realmente
parece muito interessado. Não tirou os olhos da sua roupa quando fomos
jantar ontem à noite.
Suspirando, encosto minha cabeça na janela do carro. O vento está
bagunçando meus cabelos e eu respiro fundo, absorvendo o máximo que
posso dessa sensação.
— Posso te fazer uma pergunta, Brandon?
— Manda aí.
— Por que você me beijou naquela festa? Não suspeitou nem um
pouco de que eu estivesse falando de outra pessoa?
Ele aperta o volante com mais força.
— Eu sabia quem você era. Sua mãe já tinha mostrado fotos suas
para nós, Cecília — me explica, com o tom de voz indiferente. — Achei
curioso você ter vindo falar comigo. Nem prestei atenção no que era. Mas
mesmo assim… Gostei de ter beijado você. E se teve como bônus irritar o
idiota do meu irmão, só vejo vantagens.
— O amor fraternal de vocês é mesmo lindo — zombo, sarcástica.
— Só não quero ficar no meio disso. Vou passar despercebida durante esses
quatro anos e depois vou voltar para o Brasil. Vai ser como se eu nunca
tivesse existido na vida de vocês.
— Você sabe que não é verdade. Somos irmãos agora.
— Irmãos… — testo como a palavra soa na minha voz. — Você
acha mesmo que esse casamento vai durar?
Brandon dá de ombros.
— Meu pai nunca mais se casou depois que a minha mãe morreu.
Teve namoradas, Baron e eu conhecemos algumas… Mas elas sempre vão
embora. É difícil dizer. Sua mãe está resistindo bem.
— Resistindo bem?
Brandon suspira mais uma vez e isso está começando a me irritar.
Não é um suspiro do tipo: “poxa, como estou cansado”, mas sim um
resignado que mostra um pouco de impaciência. Como se as coisas
estivessem claras e só eu não estivesse entendendo muito bem.
— O Baron não pega leve com nenhuma mulher que namora o meu
pai. Até hoje ele não superou o que aconteceu com a nossa mãe, então… É,
ele às vezes consegue ser cruel.
— Às vezes? — Zombo.
— Tá bom, sempre. Acho que é a maneira dele punir o nosso pai
por ter sido um marido de merda. Não quer deixar ele ser feliz. Uma das
namoradas que meu pai teve por mais tempo se chamava Rachel. Ela era
bem mais nova, extrovertida e aguentou bem todas as chantagens e ameaças
de Baron. Realmente cheguei a pensar que meu pai se casaria com ela. Mas
aí…
Eu me curvo para frente, interessada.
— Aí…? — Incentivo.
— Aí, num belo dia, meu pai recebeu algumas fotos. Baron estava
comendo a nossa madrasta por meses. Ela mandava mensagens realmente
deprimentes, dizendo o quanto estava “ansiosa” por finalmente poder morar
na mesma casa que ele. Meu pai ficou furioso, terminou tudo com ela e
assim que entramos na universidade, Baron se mudou. Tudo estava
voltando ao normal, mas aí você chegou.
— Não fiz nada para ele.
— Eu realmente espero que não. — Brandon ri com sarcasmo. —
Mas mesmo que não tenha feito, eu te recomendaria cuidado.
— Entendido. Fugir de Hunter e Kaden, ignorar o Baron, tentar me
esconder. Precisar ser necessariamente nessa ordem?
— Cuidado com essa língua, Cecília. Ela já te colocou em apuros
demais…
Sua observação me faz estremecer. Tentar levar as coisas com
leveza não parece muito eficaz por aqui.
Brandon me deixa na universidade antes de seguir para o aeroporto
e eu vou direto para o que será muito em breve o meu antigo dormitório. Ao
chegar no corredor, escuto um fungar baixinho que me causa verdadeiros
arrepios.
Ao abrir a porta, descubro o porquê.
Lucy está soluçando, o rosto mostrando um desespero latente. Os
cabelos estão em uma confusão só, como se ela tivesse corrido muito.
Engulo em seco, dando um passo à frente.
— Lucy… O que aconteceu?
— Ele… Ele…
— Ei, calma… — Me aproximo o suficiente para ficar a altura de
seus olhos. — O que aconteceu?
— Eu tentei impedir, Ceci. Eu juro que eu tentei — ela continua, se
embolando.
O sabor amargo de bile invade a minha boca. Como se fosse em
câmera lenta, viro o rosto, dando uma olhada no meu lado do quarto.
Quase caio para trás. Lucy apoia as minhas costas, me ajudando a
me equilibrar.
— Meu Deus — soluço, sem acreditar no que meus olhos estão
vendo.
Minhas roupas estão todas espalhadas pelo chão, picotadas em
minúsculos pedacinhos. Meus porta-retratos, fotos do meu pai, da minha
madrasta, do meu irmão estão estilhaçados no chão.
Uma confusão de vidro, tecidos e na parede, uma tinta em vermelho
que diz: eu avisei.
A mesma tinta que ele usou para arruinar o meu portfólio.
Cretino. Idiota. Filho da puta.
— Ah! — o grito enche meus pulmões, o desespero se infiltrando
em mim lentamente. — Esse babaca não perde por esperar!
— Cecília, eu sinto muito, mas não posso mais ficar aqui com você.
— As palavras de Lucy saem atropeladas e eu fecho os olhos com força. —
Não sei como as coisas estão com você e o Baron, mas hoje foi assustador
pra caramba. O Kaden veio aqui e…
— Kaden? Esteve aqui? No nosso quarto? — Minhas perguntas
saem emboladas, como se eu não conseguisse entender o que ela está
dizendo.
Lucy balança a cabeça freneticamente para cima e depois para
baixo.
— Kaden e Hunter apareceram aqui com tacos de beisebol e uma
tesoura. Eu tentei gritar, mas aí o Kaden me segurou. Ele ficou com a mão
na minha boca enquanto o Hunter destruía toda a sua parte do quarto. Eu
tentei pará-los! Eu juro que eu tentei! Mas comecei a pensar que eu seria a
próxima se… E eu… Sinto muito! — Ela continua a chorar, uma bagunça
de soluços e murmúrios atropelados.
— Lucy, você não tem culpa — consolo-a, segurando seu rosto
entre as minhas mãos. Ela me encara. — Não precisa sair daqui. Eu vou
embora. Não quero colocar você em risco.
— Mas, Ceci…
— Minha mãe mora em um casarão há uma hora daqui. Ontem
mesmo eu dormi lá e vou ganhar um carro — respondo com o tom de voz
trêmulo.
Vou ganhar um carro, mas não tenho mais roupas.
Quanta ironia.
Não posso usar cartão de crédito aqui. Meu pai me mataria quando
eu ligasse pedindo dinheiro para pagar, então… Vou precisar recorrer à
minha mãe.
Tudo o que eu menos queria.
— Você tem certeza? — Lucy me pergunta novamente, a respiração
um pouco mais calma.
Balanço a cabeça.
— Tenho. Não é justo que você se mude daqui quando o problema
dele é comigo.
— Eu avisei para você não se meter com eles, Cecília. O Baron é
um louco. Eu fiquei sabendo que há dois semestres atrás, uma sororidade
decidiu fazer um jogo de iniciação. As meninas precisavam ficar com ele,
porque era praticamente impossível. Todas elas iam aos jogos de hóquei e
ficavam esperando ele depois dos treinos. Ele devia desconfiar que algo
estava rolando e então descobriu…
Meu coração para.
— Não me diga que…
Lucy está com a expressão mais mortificada que eu já vi.
— Uma das meninas venceu o jogo. Sofia. Eles chegaram a transar
mais de uma vez, pelo que ouvi falar. Ela não está mais aqui para nos contar
o que aconteceu.
— Lucy, ele não fez alguma coisa… Séria… Fez? — Minha voz sai
entrecortada.
Minha amiga olha para os lados, como se temesse a presença de
Kaden e Hunter ainda por perto. Depois, abaixa o tom de voz antes de me
responder:
— Eles a sequestraram. Levaram ela para algum lugar e depois a
Sofia parecia outra pessoa. Estava sempre em estado catatônico, olhando
para os lados, morrendo de medo. Nunca nos contou o que aconteceu lá,
mas não deve ter sido algo bom. Pediu transferência um semestre depois e
nunca mais foi vista por aqui.
Eu trago em seco.
É, estou fodida. Um maníaco psicopata está mantendo os amigos
dele de olho em mim e parece que sequestrar e aterrorizar garotas faz parte
de seu plano curricular.
Quando Lucy abre a boca para se desculpar mais uma vez, eu a
interrompo.
— Não tinha como eu escapar disso, Lucy. Nem se eu quisesse.
— O que você quer dizer?
— Baron Donovan vai ser o meu meio-irmão. Minha mãe me
revelou ontem que o noivo dela é…
— Alexander Donovan?
— Isso aí.
— Ai meu deus, Cecília.
— Aham.
— Mas você…
— É.
— Mas eles…
— Isso mesmo.
Ela abre ainda mais os olhos, o rosto tomado pelo pavor. Gostaria de
não estar sendo afetada pelo seu óbvio desespero, mas a verdade é que
estou com medo pra cacete.
Baron está me caçando e não de um jeito bom.
— O que você vai fazer? — ela pergunta em um fio de voz.
Viro meu rosto novamente para encarar minhas roupas cortadas e
espalhadas no chão.
Preciso dar um jeito de me livrar desse vidro o quanto antes, penso.
Quando eu a encaro, seus olhos estão exalando o pior dos
sentimentos: pena.
Que maravilha.
— Vou beber. Quer ir comigo?
Meus amigos não andam, eles correm
Mergulhando pelados em tocas de coelho por diversão
Estouram, estouram balões com armas
Ficam chapados com hélio
Mad Hatter | Melanie Martinez

Kaden caminha livremente pelo vestiário, as gotas d'água


escorrendo por seu torso nu. Hunter já terminou de se vestir e os dois me
encaram com um sorriso sugestivo nos lábios.
— O que foi? — pergunto, irritado.
— Fizemos o que você pediu — me informa Hunter, tirando os
cachos castanhos da frente do rosto. — Fomos até o dormitório dela e
destruímos tudo. Não sobrou nada lá.
Eu sorrio, satisfeito.
— Você vai voltar para a sua casa, Donovan? — é a vez de Kaden
perguntar, entediado.
— Vou. Vocês vão ter que me ajudar a carregar algumas coisas para
lá essa semana.
— Fechou. Só avisar o dia — diz Hunter e Kaden concorda com a
cabeça.
Não sou o melhor amigo do mundo, mas sei que não é por isso que
eles se mantêm por perto e obedecem as minhas regras. Kaden é um garoto
ruivo, com olhos azuis e maçãs do rosto tão proeminentes que lhe dão uma
aparência muito mais jovem do que verdadeiramente é.
Parece a porra de um anjo quando caminha pelo campus com os
ombros cabisbaixos, mas a verdade é que ele gosta de infligir dor. Isso se
tornou sua válvula de escape conforme os anos se passaram e estar comigo
lhe permite isso.
Hunter, por outro lado, só parece continuar nos seguindo por
comodidade. Ele se diverte com as coisas que fazemos pelo campus, mas
acredito que se não tivéssemos nos conhecido no treino de basquete quando
fui buscar Brandon há três anos, ele provavelmente só ignoraria a nossa
presença.
— Aquela garota estava lá — continua Kaden, jogando a toalha por
cima do ombro. — Lucy. Cara, você precisava ver o quanto ela gritou
quando entramos.
— Acho que quase gozei nas calças só de ouvi-la pedir socorro —
concorda Hunter, balançando a cabeça.
Eu os examino. Não me importo se eles querem começar uma
espécie de jogo com a tal da Lucy, contanto que deixem Cecília só para
mim.
Ela é minha para eu fazer o que quiser e muito em breve vai
descobrir isso.
Hunter e Kaden estão ficando de olho nela por mim nas últimas
semanas. Como capitão do time de hóquei de Granville, não posso me dar o
luxo de segui-la por aí. Quando meus amigos também não podem, eu
mando alguns dos puxa-saco da fraternidade que querem tanto a minha
aprovação.
O rosto assustado de Cecília quando percebeu minha presença no
restaurante é a prova de que ela sabe que está sendo vigiada. Meu pau se
aperta na calça quando penso em tê-la sobre o mesmo teto que eu pelos
próximos dias.
Ah, vai ser divertido…
Os dois babacas continuam conversando e zoando as caras que Lucy
fez quando invadiram o dormitório dela. Meu celular toca e o nome de
Brandon me faz ter vontade de socar alguém.
Meu irmão gêmeo tem iniciado um jogo perigoso.
— O que você quer? — atendo, impaciente.
Ele solta uma risada anasalada.
— Briana chegou. Ela vai ficar lá em casa pelas próximas semanas e
eu estou no aeroporto para buscá-la.
Aperto o telefone com mais força.
— E?
— Só achei que você gostaria de saber.
— Eu tô cagando para o que você ou a Briana decidem fazer. Não
me ligue de novo.
— Sempre um amor, irmão. Esqueci como você é bem-humorado —
Brandon provoca com um tom de voz falsamente alegre. — Depois
pergunte à Cecília se ela gostou da carona. Posso oferecer para ela sempre
que quiser.
Meu peito aperta com o tom sugestivo de Brandon.
Meu irmão não aprende.
Mas, em breve, vai entender porque não é uma boa ideia me
provocar.
— Você está avisado, Brandon. Não se aproxime dela novamente.
Ele ri ironicamente.
— Ela também vai ser a minha irmãzinha, Baron. Você precisa parar
de ser tão egoísta. Espero que tenha um bom treino.
Ele desliga o telefone na minha cara e eu sinto meus músculos se
retesarem.
Puta que pariu. Cecília realmente está aqui no campus? E veio de
carona com o Brandon?
Isso só pode ser brincadeira, porra.
— Quem precisamos matar agora? — brinca Kaden, embora eu
perceba um brilho divertido em seu olhar.
Ele às vezes age como um psicopata fodido, mas eu gosto. Hunter se
junta a nós, os três devidamente uniformizados antes de entrarmos no gelo.
— Ninguém. Mas Brandon precisa aprender uma lição.

Depois que o treino acaba e a noite cai, os caras tentam me


convencer a ir para uma festa fora da universidade. É uma balada de vários
andares e que é conhecida por ter atrações especiais em cada um deles. É
difícil pra caralho conseguir colocar o seu nome na lista, mas é óbvio que
nós já temos o nosso permanente por lá.
— Eu tenho assuntos para resolver em casa — respondo. — Mas se
divirtam por mim.
Kaden sorri, passando o braço pelo meu pescoço. Não gosto quando
ele fica pegajoso assim, mas eu me forço a aturar porque não posso perder a
pessoa mais leal a mim.
— Pode deixar que vamos, Baron. E você também. Nos conte
detalhes sobre como foi a noite com a sua irmã — ironiza.
Hunter já foi para o próprio apartamento, já que o maníaco não
gosta de dividir seu espaço com mais ninguém. Kaden também mora na
fraternidade comigo, e embora não diga nada, eu percebo que me mudar de
novo para a casa do meu pai não é algo que o deixe totalmente feliz.
Que se foda.
Quando chego em casa mais tarde, o cheiro de comida caseira me
invade. Desde que meu pai começou a namorar com a tal da Suzan,
passamos a ter refeições como essa com mais frequência.
Ouço uma música baixinho, mas não consigo entender nada do que
está sendo dito, porque é em português. Risadas ressoam conforme eu
caminho, despreocupado, até a cozinha.
Cecília está cozinhando com a mãe. As duas estão conversando em
sua língua materna, então só o que posso fazer é cruzar os braços e observá-
las.
Não sei como uma mulher como Suzan conseguiu dar a vida a
alguém como Cecília. Quando estão lado a lado assim, fica ainda mais
perceptível. Os olhos de Suzan não têm vida como os de Cecília. Ela não
sorri largamente e nem joga a cabeça para trás por causa das gargalhadas.
— Baron! — Quando se dá conta da minha presença, a minha
madrasta literalmente congela.
Ela corre para desligar a música, meio atrapalhada, e eu observo
Cecília ficar tensa.
E ela deveria estar mesmo. Principalmente depois que eu soube da
carona que Brandon deu a ela hoje mais cedo.
— Cecília — falo.
Ela se recusa a me encarar.
Sempre tão teimosa. Sempre resistindo.
— Não estávamos esperando você aqui — Suzan começa a
tagarelar, passando a mão sobre o próprio cabelo várias vezes. — Seu pai
ainda não chegou…
Viro meu rosto para ela, lançando um olhar mortal. Ela engole em
seco audivelmente, dando um passo para trás.
— Por acaso eu perguntei do meu pai, porra?
Ela desvia o olhar.
Que mulher irritante.
Cecília continua imóvel, como uma estátua. É fofo a princípio, mas
depois isso começa a me irritar.
— Ceci, acho que ele está falando com você — minha madrasta diz,
com um sorriso apaziguador nos lábios.
Ela realmente está me entregando a filha por livre e espontânea
vontade só para se ver livre de mim.
Mas Cecília parece querer agradar a mãe. A prova disso é que se
vira, contra a própria vontade, e sobe o olhar furioso para me encarar.
Acho que alguém já descobriu o que aconteceu em seu dormitório.
— Baron — diz ela.
Nós dois nos encaramos.
Minha madrasta parece completamente mortificada, sem saber o que
fazer ou para onde ir. Ela abre a boca e murmura algo incompreensível, mas
eu lanço um olhar em advertência.
Ela volta a fechar a boca.
— Mãe… — Cecília suspira. — Você pode continuar o jantar
sozinha? Vou acompanhar o Baron. Acho que tem algo que ele precisa me
dizer.
Arqueio a sobrancelha.
Aparentemente, a forma mais fácil de chegar até a filha é usando a
mãe. Cecília não cedeu nenhuma vez para mim, mesmo quando estava se
sentindo ameaçada. Quando mudei o foco para a minha madrasta, ela
pareceu finalmente entender quem é que está no controle.
Ela esbarra no meu ombro de propósito ao passar por mim e eu
sorrio.
Não esperava menos.
Vou seguindo-a devagar, um passo de cada vez, sem a mínima
pressa. Cecília parece um gatinho perdido, virando corredores e abrindo
portas como se tentasse achar uma forma de escapar de mim.
— Acho que podemos conversar aqui — ela suspira, entrando na
sala de jogos.
Meu pai mobiliou esse lugar quando Brandon e eu entramos na
puberdade. Colocou uma televisão enorme e os mais variados jogos,
achando que isso iria evitar o rodízio de garotas que meu irmão e eu já
estávamos começando a trazer.
Não preciso nem dizer o quanto foi em vão.
— O que você quer? — Cecília é direta e eu inclino a cabeça para o
lado, avaliando-a.
Minha garota nem pisca ao perceber o quanto estou irritado.
Flexiono o maxilar, dou um passo à frente e então estendo a mão para
passar os dedos por seus fios de cabelo.
Ela se retrai.
— Você entrou em um carro com o meu irmão hoje.
— E você destruiu o meu dormitório. Por quê?
Eu a encaro.
— Porque eu posso.
— Você é psicótico.
— E você não tem sido uma boa garota. Onde estão os seus modos?
Nunca aprendeu que precisa obedecer aos mais velhos? — Zombo,
rangendo os dentes.
Cecília balança a cabeça, parecendo enojada com a forma a qual eu
estou falando.
Foda-se. Eu me sinto irritado a cada segundo que penso nela com
Brandon, no carro dele, sorrindo para ele. Como se ela não pertencesse a
mim desde a primeira vez que pus meus olhos nela.
— Você vai se mudar para cá — falo.
— Ainda não tenho certeza…
— Vou precisar destruir mais o quê para você entender? A sua
amiga Lucy não gostou muito da nossa última visita.
Seus olhos furiosos me encaram com uma raiva mortal. Ela é tão
previsível. Eu só preciso ameaçar uma das pessoas mais próximas a ela e
tenho tudo o que preciso.
— Você e seus amigos vão deixar a Lucy em paz. Não quero você
agindo desse jeito perto da minha mãe também — diz ela em tom de aviso.
Levanto uma sobrancelha, observando seu dedo apontado para mim.
Em outra ocasião, eu cogitaria mordê-lo, mas estou gostando da forma que
ela está me enfrentando.
— Eu faço os acordos, Cecília. Não você.
— Eu não vou te obedecer, Baron. Pode ir tirando isso da sua
cabeça.
Chega a ser engraçado como ela realmente acredita no que está
dizendo. Eu me aproximo lentamente, como um predador. Cecília dá alguns
passos para trás, o olhar brilhando de medo. Eu ergo a mão para segurar
uma mecha de seu cabelo, passando o dedo até a ponta.
Ela desvia o olhar, em choque. Cecília praticamente está congelada
enquanto eu tento memorizar cada textura de seus cabelos castanhos.
— Coloque você uma coisa na sua cabeça, irmãzinha… — zombo,
aproveitando sua distração para afundar o nariz em seu cabelo e inspirar.
Morango. Cecília estremece sob mim. Não sei se de excitação ou pavor,
mas consigo perceber como seu corpo parece inconsistente. — Você é
minha. E quando aprender a andar na linha, a sua vida vai ser muito mais
fácil. Posso acabar com qualquer um por você. Posso incendiar essa casa.
Posso sumir com os nossos pais. Posso matar Kaden e Hunter se eles se
aproximarem muito de você. Posso acabar com o Brandon por olhá-la por
muito tempo. Tudo o que você precisa fazer é dizer sim.
Quando ergo o rosto para encará-la, a mesma expressão furiosa
continua. Ela empurra meu peito com força, se afastando de mim o máximo
que pode.
É realmente uma pena.
— Nunca serei sua, Baron. Prefiro morrer.
Estalo a língua, balançando a cabeça. A minha expressão
desapontada não deve estar convincente, porque Cecília se empertiga
quando eu lanço um olhar em sua direção.
— Cuidado com o que você deseja, Cecília.
Eu sou o glacê, não preciso de um homem para adoçar minha vida
O Príncipe Encantado simplesmente não é aquele que eu acho que preciso
Você está com sede, você acha que eu me entrego de graça
Estou me acabando de rir de tanta estupidez
Gingerbread Man | Melanie Martinez

Na semana seguinte minha mãe faz questão de me ajudar com a


mudança. Brandon se mostrou prestativo também, embora estivesse
distante. Ele ainda não me contou quem era a pessoa que ele precisava
buscar no aeroporto naquele dia e eu não perguntei a respeito.
— Vou sentir sua falta — murmura Lucy, quando eu termino de
enfiar o que resta das minhas coisas numa mochila.
Graças ao meu diabólico meio-irmão, não demorei tanto tempo
quanto achei que levaria. Ele fez questão de destruir metade das minhas
coisas.
— Vamos continuar nos vendo. Só que agora você não precisa se
preocupar com ninguém aparecendo no nosso dormitório do nada.
Ela suspira.
— Nunca vou perdoar o Baron por fazer você ir embora. Sabe
quantas garotas vão ter a mesma paciência que você teve comigo, Cecília?
Isso mesmo. Zero.
— Então tente pegar leve com elas, Lucy. Além do mais, vamos nos
ver o tempo todo. É uma promessa. E você pode dormir na minha casa nova
sempre que quiser.
Lucy bufa, abraçando os próprios joelhos. Não sei porque, mas me
sinto tocada por ela parecer estar tão abatida. Estou nessa universidade há
quatro meses e às vezes me sinto tão sozinha que é uma surpresa ver o
quanto alguém se apegou a mim.
— Com o filho de satã morando no mesmo teto? Eu passo,
obrigada.
— Ele não mora lá…
— Você não caiu nessa, caiu?
Eu respiro fundo, ajeitando a mochila sobre meus ombros.
— Gosto de pensar que lá ele não vai ter coragem de fazer o mesmo
que aqui. O pai dele estará sempre por perto.
Lucy revira os olhos, soltando uma risada irônica.
— O pai não deve ser muito diferente do filho se deixa ele
atormentar garotas desse jeito. Eu já te disse, Ceci. Esses boatos sobre o
Baron não é algo que surgiu hoje, eles são antigos. Com certeza o todo
poderoso Alexander já sabe disso.
— Minha mãe não me entregaria aos lobos assim — defendo,
tentando convencer mais a mim mesma do que a minha amiga.
Ela dá de ombros.
— Eu dormiria de olhos bem abertos se fosse você. Principalmente
se o seu quarto for perto do Baron.
— Vou conseguir um spray de pimenta — decido e Lucy mostra os
dentes para mim.
— Gengibre, Ceci. Mas não se preocupe, vou arranjar um para você.
— Ela pisca, se levantando para me dar um abraço de despedida.
Depois que me despeço da Lucy, vou até meu carro novo para
guardar o restante das minhas coisas. Decido ir à biblioteca logo em seguida
para conseguir desenhar meus últimos croquis em paz, me arrependendo
amargamente de ter vindo de saia hoje.
Está um frio do caralho.
O meu cropped de alcinha não ajuda. Sempre gostei de me vestir
bem, e sigo pelo menos umas cinquenta garotas cujas as contas são focadas
totalmente em moda do dia a dia. Meu passatempo era encher o carrinho
com todas as peças caras que eu jamais teria dinheiro para pagar — e
acabar comprando tudo parcelado, comprometendo toda a minha mesada
por meses.
Aqui eu não tenho essa possibilidade, mas depois do que Baron fez
com metade das minhas peças, o pai dele se dispôs a pagar por um novo
guarda-roupa. Até agora estou me perguntando se a minha mãe contou para
ele o que aconteceu ou só decidiu que não valia a pena brigar por isso.
A biblioteca está praticamente vazia quando eu chego, então decido
pegar uma mesa não tão afastada de onde a bibliotecária possa me ver. Eu
ainda estou mantendo minhas antenas ligadas, porque Kaden e Hunter com
certeza devem estar me caçando pelo campus a mando do meu irmão
postiço.
Quando me curvo para pegar um livro sobre a história da moda em
uma das estantes, sinto meu corpo se chocar contra o peitoral firme de
alguém.
— Ei! — A voz aveludada chega aos meus ouvidos enquanto o
estranho me segura pelos ombros.
— Ai, meu Deus! Mil desculpas! — peço, envergonhada.
Com certeza minhas bochechas devem estar na cor de um pimentão.
O garoto afasta o cabelo comprido do rosto e os fios loiros não me
parecem familiares. Ele tem olhos castanhos, o que automaticamente o
torna mais confiável para mim. Está vestindo uma camiseta de alguma série
dos anos 90 e segurando um livro grande sobre o julgamento do O. J.
Simpson.
— Eu deveria prestar mais atenção. De vez em quando eu fico
distraído. — Ele coça a cabeça com a ponta do dedo. — A semana de
provas está praticamente aí.
— Nem me fala. Vou ficar o dia inteiro estudando também —
explico, mostrando meu livro.
Ele sorri.
— Bom, acho que nós dois estamos no mesmo barco. O que acha de
estudarmos juntos? Quer dizer, cada um estudar para a sua prova, só que
sentados um do lado do outro.
Ele é charmoso, gentil e tem um sorriso digno daquele vizinho que
te levaria ao baile no último ano da escola. O sorriso torto é fofo e o tom de
voz dele é calmo. Não preciso pensar duas vezes antes de concordar.
— Sou o Noah, a propósito.
— Cecília.
— Você é de onde? Seu sotaque…
— Brasil. Vim fazer faculdade aqui — explico, gesticulando.
Noah abre mais um sorriso e então caminhamos juntos até a mesa
onde a minha bolsa está.
Nós nos sentamos lado a lado e enquanto ele mergulha de vez na
leitura de seu livro, eu procuro todos os meus marca-textos e canetinhas
para esboçar um croqui antes de voltar meu olhar para o livro.
Trocamos olhares furtivos enquanto cada um se concentra em sua
leitura. Minhas bochechas esquentam quando percebo que seu olhar está
sobre mim, mas ainda bem que sempre consigo manter a minha cara de
blefe.
Quando se tem pais separados, de vez em quando é necessário. Já
perdi as contas de quantas vezes, após desligar o telefone com a minha mãe,
precisei fingir que ela não havia xingado até a quinta geração do meu pai.
Mas a nossa paz não dura muito tempo. Sinto uma mão sobre meu
ombro, apertando a ponta dos dedos. Viro para trás, assustada, dando de
cara com um par de olhos azuis e um cabelo ruivo.
Ele está sorrindo de forma irônica e quando viro para encarar Noah,
vejo que ele também está sendo segurado por alguém. Ele é moreno e o
cabelo comprido cai sobre seus olhos.
— Que porra é essa? — exclamo, tentando me desvencilhar do
aperto.
O garoto volta a me pressionar contra a cadeira, abrindo um sorriso
malicioso para mim.
— Baron não vai gostar de saber que você estava aqui com outro
garoto… — ele diz, o nome do meu algoz rolando em sua língua como se
fosse um doce.
— Baron não tem nada a ver com a minha vida — respondo
entredentes.
O ruivo levanta uma sobrancelha para mim, dizendo sem precisar de
palavras que discorda do que acabei de dizer.
— Viemos te buscar — o garoto que segura Noah pelo colarinho da
blusa diz, como se estivesse entediado. — Vai ser do jeito fácil ou do jeito
difícil?
Abro um sorriso irônico.
— Não vai ser de jeito nenhum!
Noah está com os olhos arregalados, mudando o olhar de um para o
outro, como se para ter certeza do que está acontecendo.
Engulo em seco. Mais uma pessoa que está sofrendo as
consequências por algo que tem a ver apenas comigo. Isso não é justo.
— Cecília, você anda com os caras do hóquei? — pergunta ele com
a voz abafada.
Franzo o cenho. Baron é capitão do time de hóquei aqui em
Granville, o que explica o copo com o desenho de tubarão. Eles são os
“Angry Sharks” e por se tratar de times da primeira divisão, eles levam o
esporte realmente a sério por aqui.
— Eu não ando com ninguém.
— Ela é do Baron — me interrompe o garoto ruivo e seu amigo
segura o rosto do Noah com brutalidade, forçando-o a olhar para o lado.
— Não olhe para ela — cospe ele, rangendo os dentes.
Meu coração parece um tambor. Minhas mãos começam a suar e
sinto aquele frio insuportável de medo começar a percorrer a minha
espinha. Isso não está certo. Ninguém deveria ser ameaçado e perseguido
por simplesmente existir.
— Eu não sabia — explica Noah, um pouco acanhado. — Qual é,
Hunter? Baron não me disse nada.
Hunter? Ah, claro. Só podia ser. Presumo que o menino que ainda
está me segurando seja Kaden. Ele sorri para mim com uma aura de Peter
Pan e sinceramente? É assustador pra caralho.
Cadê a bibliotecária quando se precisa dela, hein? Posso afirmar
com absoluta certeza que todo esse barulho não deveria ser permitido.
— Não se preocupe, cara. Baron vai saber o que você estava
fazendo com a garota dele na biblioteca — Peter Pan diz com um brilho
sádico de diversão no olhar.
Eu me livro dele com um safanão, completamente irritada.
— Não sou de ninguém. E vocês podem mandar o Baron se foder.
Noah, eu sinto muito por isso. — Peço desculpas, notando, pela primeira
vez, o emblema costurado à sua mochila. A porra de um tubarãozinho
bravo. — Você é fã do time de hóquei?
Ele abre a boca para me responder, mas Hunter pressiona sua nuca
contra a mesa.
— Ele faz parte do time, Cecília — explica Kaden, sorrindo como
um menino. — E está atrás da garota do capitão. Não preciso te explicar o
quanto isso é errado, não é?
Viro meu rosto tão rápido para encarar Noah que perco o equilíbrio.
Kaden usa a mão para me apoiar, e assim que minhas pernas estão firmes
novamente, empurro-o para longe.
— Você estava querendo manter os olhos em mim para o Baron? —
pergunto à Noah com a voz trêmula.
Mesmo sem conseguir levantar a cabeça e me encarar, ele franze o
cenho. Depois de agonizantes segundos, ele engole em seco audivelmente e
balança a cabeça.
— Eu não fazia ideia de quem você era, Cecília. Já tinha ouvido
falar de você, mas não associei seu nome à pessoa. Sinto muito.
Meus olhos começam a lacrimejar. Não é de tristeza ou
mortificação, mas sim de raiva. Ódio. Irritação. Vontade de sair por essas
portas gritando feito louca, pronta para destruir qualquer um que cruze o
meu caminho.
Baron Donovan vai se arrepender.
— Me deixem em paz, porra. Todos vocês. — Com o dedo em riste,
pego a minha mochila e coloco de qualquer maneira sobre meus ombros.
Kaden solta uma risada irônica, gargalhando.
— Não vai dar, florzinha. Nós somos seus guarda-costas oficiais. Eu
recomendo começar a fazer uma escala para Hunter e eu termos dias de
folga, sabe como é. O papai aqui também precisa se divertir. Sua amiga
Lucy está com os dias livres?
Eu praticamente rosno, empurrando seu peito com certa força para
trás. Kaden sorri, sem se mover um centímetro.
— Vai ser mais divertido do que eu pensei — brinca ele, passando
os dedos pelos fios ruivos.
— Fique longe dela também. Fiquem longe da gente!
Não dou chance para Kaden me responder, porque lhe dou as costas
e saio praticamente correndo da biblioteca.
Ao fundo, ainda consigo ouvir sua risada estridente.

Quando chego em casa, não vou direto para o meu quarto. Ao invés
disso, começo a perambular pelo segundo andar, testando todas as
maçanetas até encontrar o que estou buscando.
O quarto de Baron.
Não vou deixar ele sair impune depois do que fez com o meu. Ah,
não vou mesmo.
Por sorte, ele tem deixado a porta destrancada desde que começou a
sua mudança para cá também. Brandon continua morando no alojamento na
faculdade, então não teremos ele para amortecer nossos embates quando
ambos morarmos aqui para valer.
Tenho calafrios só de pensar.
O quarto dele é uma mistura de tons de cinza e preto e isso não me
surpreende. A cama está meticulosamente feita e artigos esportivos estão
organizados em fileiras perto da porta de saída. Alguns tacos de hóquei
estão pendurados em sua parede e eu engulo em seco ao ver a porta para o
closet.
Simplesmente incrível. O tipo de quarto que você só vê nos filmes.
Passo o dedo pelos móveis, em busca de algo que eu também possa
arruinar. Com o máximo de cuidado, entro no closet de Baron. Tento não
fazer nenhum barulho quando as luzes acendem e uma infinidade de roupas
que variam entre ternos, blusas de marcas caríssimas e uniformes de hóquei
aparecem de uma vez.
Em uma organização que me tira o fôlego.
Eu poderia bagunçar tudo isso, mas sei que ele provavelmente só
iria rir. Além do mais, com certeza não seria ele que arrumaria a bagunça
depois.
E eu queria que doesse. Que doesse nele.
Então eu vejo. Escondida em uma caixa atrás de seus uniformes dos
Angry Sharks, está uma vasta coleção de fotos de Baron pequeno com uma
mulher. Ela sorri, com marcas de expressão evidenciando a idade.
Provavelmente é a mãe dele, penso.
Passo as fotos, sem conseguir reconhecer o brilho divertido no olhar
daquele garotinho no monstro que me persegue hoje. Como eles podem ser
a mesma pessoa? Parece impossível para mim. Esse menino está segurando
a mão da mãe como se fosse sua tábua de salvação e o idiota que sabotou
meu portfólio pode ser tudo, menos doce.
Ele não é mais como esse garoto.
E, às vezes, é preciso enfrentar as consequências.
Sentindo a adrenalina correr nas minhas veias, começo a procurar
algo com que eu possa cortar. Baron guarda uma coleção de tesouras em
uma de suas gavetas e eu estremeço só de pensar no porquê.
Lembrete mental: sempre dormir com a minha porta trancada.
Encaro as cinco fotos com receio. Em apenas uma delas Brandon
também está presente e eu só consigo pensar em como isso combina com a
personalidade narcisista dele. As coisas sempre precisam acontecer como
ele quer, na hora que quer e como ele quer.
Vamos, Cecília. Você não tem muito tempo.
Respiro fundo.
No fim das contas, não consegui cortar todas as fotos como
planejava. Cortei duas, picotando e espalhando pelo chão do seu closet da
mesma forma que ele fez com as minhas fotos no meu dormitório. Eram as
únicas com o meu pai que eu havia trazido para cá e isso me irritou. Sei que
posso conseguir de novo, mas é tão injusto.
Coloco a caixa no mesmo lugar que encontrei, assim como a
tesoura. Deixo os restos mortais da foto sobre o chão e corro para o meu
quarto, trancando a porta assim que entro no banheiro.
Esfrego o sabão pelo meu corpo como se estivesse tentando lavar o
que acabei de fazer de mim. Nunca seria capaz de cortar as fotos de alguém
com a mãe que já morreu, mas o sentimento de raiva falou mais alto. Eu
queria que o Baron sentisse a mesma raiva que eu ao se deparar com algo
que ele estimava tanto naquele estado.
Ao terminar o banho, eu visto meu pijama favorito, um short de
seda preto com um cropped do mesmo tamanho. Hoje está fazendo mais
calor do que eu esperava, então depois de ir ao banheiro mais uma vez para
usar o secador, decido arrumá-lo em um coque no topo da cabeça.
Quando volto para o meu quarto mais uma vez, literalmente
congelo.
Baron está sentado na minha cama.
Sem camisa e vestindo nada mais do que uma calça de moletom.
Os olhos se estreitam assim que me encaram e eu sinto cada poro do
meu corpo se arrepiar.
Estamos sozinhos em casa. Minha mãe e meu padrasto não estão
aqui.
Engulo em seco.
Ele me encara com a mesma expressão blasé de sempre. Parece até
um tanto quanto entediado, como se me esperar desse jeito fosse só mais
uma das tarefas do seu dia.
— Baron — murmuro. — Será que você pode sair do meu quarto?
Ele nem ao menos tem a decência de levantar o rosto para me
encarar. Continua sentado na minha cama, segurando uma… Tesoura?
Arregalo os olhos.
Ah, merda. Merda.
— Por que eu deveria? Você também não esteve no meu? — O tom
malicioso em sua voz me deixa arrepiada.
Desvio o olhar, envergonhada. Eu poderia tentar negar, mas seria
burrice. Ele sabe que não tem mais ninguém em casa além de mim.
— Estamos quites agora — digo, empinando o queixo. — E eu
espero que deixe seus amigos longe de mim. Estou falando sério. Não quero
aqueles caras me seguindo.
Baron aperta os dedos ao redor da tesoura e eu dou um pulo para
trás. Ele vira o rosto para mim, a sobrancelha arqueada e um sorriso
surpreso nos lábios.
Não deveria ter mostrado o quanto ele me assusta, porque o filho de
satã provavelmente vai usar isso como uma ferramenta contra mim.
— Você fala como se eu me importasse com o que você quer — diz
ele em um tom de voz rouco.
Passo o peso de um pé para o outro, sem saber muito bem como
reagir. Baron continua brincando com a tesoura, arrastando a ponta
delicadamente sobre a minha roupa de cama.
Como se estivesse fazendo uma carícia. Bem, bem suave.
— Você não deveria ter destruído o meu quarto. Perdi quase todas as
minhas coisas por sua causa. Além de… De fotos com o meu pai —
continuo, engolindo em seco.
Ele desvia seu olhar imperturbável para me encarar. O rosto está
retorcido em uma expressão que mescla raiva e divertimento. Eu não
conseguiria imaginar algo assim meses atrás, mas aqui estamos.
Dou um pulo para trás quando Baron salta da minha cama. O fato
dele ainda estar segurando a maldita tesoura não me passa despercebido.
— Pijama bonito — desdenha ele, chegando tão perto que me faz
tropeçar.
Mas Baron não para.
Ele não para até que eu esteja imprensada contra a parede. Seus
olhos escuros me encaram sem deixar transparecer uma emoção sequer e eu
sinto meu coração acelerar.
— Por que você ainda está aqui? — Consigo encontrar a minha voz,
mesmo que ela esteja trêmula.
Baron dá de ombros, levantando a mão para tocar o meu rosto. Eu
desvio, evitando seu toque, e seu olhar pisca em divertimento para mim.
— Não gosto quando você foge de mim assim. Seria tão mais fácil
se você só aceitasse…
Eu pisco, encarando-o com desprezo.
— Aceitasse o quê?
— Que você me pertence agora.
Preciso de todo autocontrole do mundo para não explodir em uma
risada.
Baron me examina como se eu fosse um passarinho com as asas
quebradas que ele acabou de encontrar. Não consigo evitar o calor que me
acomete ao perceber a intensidade em sua expressão e abro a boca para
dizer algo.
Mas nada sai.
Engulo em seco, sentindo meu cabelo cair como cascata pelas
minhas costas. Dou um pulo, surpresa, ao me dar conta do que acabou de
acontecer. Baron desfez o meu coque.
— Prefiro você com o cabelo solto — ele sussurra baixinho perto do
meu ouvido e estremeço com o contato.
Isso até sentir o metal frio contra a minha pele.
Arregalo os olhos, desviando o rosto para encarar sua outra mão. A
que estava segurando a tesoura.
— O que você está fazendo? — pergunto em um fio de voz.
— Shh…
— Baron.
— Não posso negar o quanto fiquei surpreso com a sua retaliação,
Cecília. Sempre soube que você seria uma lutadora. — Ele continua
arrastando o metal bem devagar sobre a minha pele.
Eu encaro em choque a tesoura subindo pela minha barriga. O toque
é tão leve que eu só o percebo por causa da diferença de temperatura.
Estou tão concentrada com o caminho que a tesoura está fazendo
que nem percebo Baron se aproximar ainda mais. Ele afunda o rosto no
meu pescoço e chupa um ponto forte, me arrancando um gemido.
Não deveria ficar tão excitada assim. Sua língua traça a minha pele
delicadamente enquanto a tesoura continua percorrendo o meu corpo. Ao
chegar perto do coração, sua mão para.
— Eu poderia enfiar isso aqui e ninguém me impediria. — Ele ri,
rouco. — Você sabe disso, não sabe?
Engulo em seco.
— Você não faria isso — digo, sentindo a minha voz vacilar.
Baron leva a tesoura até a altura dos meus seios. Ele passa a ponta
por um mamilo, me fazendo arfar. Ele começa a brincar com meus mamilos
usando o metal e eu preciso morder o lábio para não dar o gostinho de me
ouvir gemer.
Deus, nunca estive tão excitada assim antes. Eu definitivamente
devo ter algum problema.
— Tem razão. Eu não faria isso com você — diz com a boca perto
demais da minha. — Mas isso não significa que você não precisará ser
punida. Eu sugiro que não me provoque nunca mais como fez hoje.
É um martírio precisar encará-lo enquanto ele continua usando a
tesoura para me estimular.
— Você não é tão assustador como pensa que é — atiro, atropelando
as palavras em uma lufada de ar.
Baron ergue uma sobrancelha. Depois, lentamente abre o sorriso
mais sinistro que eu já vi.
— E você não é tão esperta como pensa que é.
E então ele faz a coisa mais maluca que poderia.
Ele me beija.
Ele. Me. Beija.
E não foi só um encostar de lábios para me colocar no meu lugar
como pensei que seria ao sentir sua boca na minha. Não. É um toque bruto,
carregado de raiva e tesão reprimido. E, talvez… Vingança.
Sim, se a vingança tivesse um toque ou sabor, definitivamente seria
esse.
Não posso culpar a confusão ou a adrenalina, porque assim que a
língua de Baron toca a minha, o mundo ao nosso redor parece explodir. Me
afasto alguns centímetros, completamente em choque. Estou me preparando
para dizer umas poucas e boas para ele quando Baron me encara, com o
mesmo sorriso de antes.
Trago em seco mais uma vez.
Ele entende isso como um convite, porque sua mão larga a tesoura
no chão e agarra minha nuca, puxando meu rosto para um beijo intenso. Sua
língua decide entrar no jogo e, olha, posso afirmar que ela não é só afiada
apenas com as palavras. Sua boca começa a se mover com a minha
lentamente e eu sinto um arrepio atravessar da ponta do meu pé até meu
último fio de cabelo.
Eu já havia beijado uma quantidade considerável de bocas durante a
minha vida, mas esse beijo realmente parece coisa de outro mundo. Ou
então as borboletas no estômago e a queimação que está começando a se
alastrar por todo o meu corpo não poderiam estar mais erradas.
Era como se eu estivesse em chamas e Baron fosse a labareda que
começou tudo isso.
Até me esqueço que estamos prestes a nos tornar irmãos.
Com meus pensamentos, não percebo nossos corpos se movendo até
que caímos em cima do colchão e, ai, meu Deus, sentir seu peso distribuído
em cima de mim é ainda mais gostoso do que tê-lo contra a parede. Todos
os seus músculos apertam cada parte minha e solto um longo suspiro em
sua boca quando sinto suas mãos apertarem bruscamente a minha bunda.
Ele rosna, selvagem, enquanto desce os beijos pelo meu pescoço e
maxilar. Eu sinto como se pudesse derreter a qualquer momento, ou melhor,
como se minhas entranhas estivessem derretendo. E devo admitir que, nesse
momento, seria a melhor coisa que poderia me acontecer.
Não acredito que estou deixando Baron me tocar dessa forma.
Um barulho no andar de baixo me faz pular, quebrando o beijo.
Alguém chegou em casa.
Baron, no entanto, não liga. Ele volta a atacar meus lábios como se
nos beijarmos em minha cama depois da aula fosse a coisa mais normal e
corriqueira do mundo.
Espalmo minhas mãos em seu peito, empurrando-o de leve.
— Tem alguém aqui — digo.
Ele levanta uma sobrancelha, impaciente.
— E daí?
Ah, é claro que ele não liga. Esqueci que estou me pegando com um
ser humano desprovido de qualquer sentimento básico.
Me desvencilho de seu toque, rolando o corpo para o lado. Baron
usa as mãos para me manter na cama, o rosto franzido em uma careta
confusa.
Era só o que estava faltando para completar esse dia de merda.
— Não acabamos ainda, amor — diz ele entredentes.
É a minha vez de semicerrar os olhos.
— Acho que acabamos sim.
— Isso só acaba quando eu disser que acabou. E, por enquanto,
quero continuar brincando com você.
Brincando.
É tudo isso que eu sou afinal de contas. A porra de um brinquedo
que ele usa e faz o que quiser.
— Vai sonhando — atiro, rangendo os dentes.
Baron continua imperturbável. O olhar intenso recai sobre o meu
pijama, agora completamente retorcido e amassado. Meu corpo está muito à
mostra. Ele coloca a mão sobre a minha barriga e um arrepio sobe pela
minha espinha.
— O que você pensa que está fazendo?
Mas ele não responde. Raspa os dedos pela minha pele como se eu
fosse uma obra de arte que ele quer apreciar bem lentamente.
Desvio o olhar ao escutar barulhos de passos se aproximando. Na
melhor das hipóteses, Brandon decidiu vir para casa hoje. Na pior, meu
novo padrasto vai acabar presenciando um show e tanto.
— Baron — resmungo, sentindo sua mão descer um pouco mais.
A pessoa está se aproximando do meu quarto. Ouço batidinhas na
porta ao mesmo tempo que os dedos de Baron entram no meio das minhas
pernas.
— Cecília? — É a voz da minha mãe e eu arregalo os olhos.
Ele começa a me acariciar, como se estivéssemos sozinhos. O rosto
está concentrado e ele nem se move ao escutar o barulho da maçaneta girar.
— Oi, mãe — suspiro, me sentindo a pior filha do mundo.
— Achei que você poderia precisar de ajuda para arrumar algumas
coisas. Acho que estamos sozinhas em casa.
Ah, se ela soubesse…
Baron ergue a sobrancelha, movendo a mão em círculos. A carícia é
leve, como se não passasse de uma promessa. Ele não parece estar com
pressa. Está aproveitando cada segundo do meu desespero.
— Hã… Tudo bem, mãe, eu… Eu vou te chamar, caso eu precise.
Mas obrigada! — respondo em português.
Quando escuto seus passos indo embora, volto a respirar.
Dou um tapa no ombro de Baron, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
— Você enlouqueceu? E se ela tivesse visto a gente?
— E daí?
— É tudo que você consegue falar?
Baron dá de ombros.
— É que eu realmente não me importo. Se ela pegasse a gente junto,
só iria entender que você é minha.
Abro a boca, mas estou tão chocada com suas palavras frias que não
encontro nada para refutá-las. Não tem como você ganhar de um maluco.
Você só acena e dá as costas, deixando-o pensar o que quiser.
— Vai embora do meu quarto — sibilio, irritada. — Você já fez o
suficiente.
Baron passa a ponta dos dedos pelo meu rosto, segurando meu
queixo com uma delicadeza sinistra. Não é o tipo de gesto que eu espero de
alguém como ele, o que só o torna mais assustador.
— Isso ainda não acabou — declara, um segundo antes de eu sentir
seu peso sumir de cima de mim.
Baron vira o rosto para me encarar por cima do ombro antes de
caminhar até a porta. Abrindo o sorriso mais sarcástico que eu já vi no rosto
de alguém, ele lança um olhar para a tesoura, agora esquecida no chão.
— Espero que você tenha entendido uma lição valiosa hoje. Não
pretendo ser tão benevolente da próxima vez.
Da próxima vez? Porra, eu só queria que esse maluco me deixasse
em paz.
— Espero que você também tenha aprendido a sua — respondo, já
que não sou conhecida por conseguir manter a língua dentro da boca para
começar.
Ele arqueia a sobrancelha. O rosto inexpressivo não me diz nada,
mas o brilho em seu olhar demonstra diversão.
Isso é algo que estou começando a notar em Baron. Muitas vezes ele
parece inexpressivo ou até mesmo entediado, mas se prestar bem atenção
em seus olhos, terá todas as suas respostas.
— Faça o seu pior, Baron — continuo, mesmo sabendo que isso
provavelmente vai acabar me colocando em apuros. — Estou preparada
para tudo. Você não vai vencer.
Ele continua sorrindo como a porra de um psicopata. Fico esperando
uma resposta atravessada, uma ameaça velada, um rosnado, qualquer coisa.
Mas ele só continua parado na frente da porta, o rosto como uma folha em
branco.
Por fim, ele sai do quarto.
Não antes de resmungar um bem-humorado: “boa noite, irmã”, com
um tom tão condescendente que foi pior do que qualquer ameaça que ele
poderia ter feito.
Eu estou muito fodida.
E todas as crianças gritam
Por favor, pare, você está me assustando
Eu não consigo impedir essa energia terrível
É isso aí, acho bom ter medo de mim
Quem está no controle?
Control | Halsey

Existe um ditado que é assim: se não pode vencê-los, junte-se a eles.


E é com essa frase na cabeça que eu envio uma mensagem para Lucy,
perguntando se a festa na fraternidade continua de pé.
Ela me responde na mesma hora com um simples: “vem” e eu não
penso duas vezes. Me troco em menos de cinco minutos e não me preocupo
em colocar muita maquiagem — até porque não tem nada que eu odeie
mais do que chegar cansada em casa e precisar lidar com demaquilante e
camadas de base.
É sério, é um pesadelo.
— Vai sair? — minha mãe pergunta, segurando uma taça com vinho
tinto até quase a borda.
Franzo o cenho, mas não faço questão de perguntar o motivo da
bebedeira.
— Vou. Devo chegar só amanhã. Provavelmente vou beber e devo
dormir no quarto da Lucy.
— Sua antiga colega de quarto?
— Essa mesma.
— Estou feliz que você está conseguindo se adaptar com facilidade
por aqui. Fico mais aliviada.
Abro um sorriso fraco, querendo sumir daqui o mais rápido
possível. Se Baron sonhar que estou saindo, com certeza vai me seguir e só
de pensar nisso, já sinto minhas bochechas ficarem quentes.
Estávamos nos beijando, ele com a mão entre as minhas pernas
enquanto minha mãe batia na porta.
Desvio o olhar, envergonhada.
— Estou indo. Não me espere.
Ela me grita algo sobre “tomar cuidado” e “não aceitar bebidas de
estranhos” e eu escondo um sorriso. É o tipo de coisa que meu pai me diria
se estivesse aqui e isso faz meu peito apertar. Não estamos nos falando com
tanta frequência desde que cheguei aqui e eu me culpo totalmente por isso.
Ele, Vanessa e o Gui estão tentando manter contato comigo, mas eu sempre
estou tão… Exausta. Quando não estou estudando ou desenhando feito
louca, normalmente estou tentando deixar o sono em dia. Não sobram
muitas horas para conversar com a minha família, mas prometo a mim
mesma que isso vai mudar essa semana. Nem que eu precise sacrificar duas
horas de sono.
Quando chego ao campus, mando mensagem para Lucy pedindo
para ela me esperar nos alojamentos. Ela aparece com uma garota a
tiracolo, o cabelo loiro contrastando com o vestido vermelho que está
usando.
Simplesmente deslumbrante.
As duas abrem um sorriso enorme antes de entrarem no carro e eu
me apresso ao me apresentar.
— Sou Cecília — digo, estendendo a mão para o banco de trás.
A menina abre um sorriso fofo.
— Prazer, Cecília. Sou Amy, mas pode me chamar de A.
— Amy é uma das amigas da minha irmã mais velha. Ela se
transferiu para Granville tem pouco tempo, mas parece conhecer todo
mundo aqui — me explica Lucy, animada.
Ela solta uma risada do banco de trás.
— A fama de vocês não é das melhores. Ouvi dizer que Baron está
atrás de você como um gato que persegue um rato.
Suas palavras me fazem retesar.
— Ele colocou na cabeça que a Cecília pertence a ele — zomba
Lucy e eu sei que a animosidade dela também se estende aos melhores
amigos de Baron. — Você acredita que Kaden e Hunter destruíram o nosso
antigo quarto? Tipo, quem faz esse tipo de coisa?
Os olhos de Amy encontram os meus pelo vidro retrovisor e eu não
sei dizer se é pela intensidade em seu olhar, mas meu corpo inteiro fica
arrepiado.
— Eles — responde ela, sem desviar o rosto. — Eles fazem esse
tipo de coisa.

A festa está exatamente como da primeira vez em que eu fui.


Lotada, com música alta e pessoas enchendo a cara. Alguns casais se
pegando no gramado, e quando digo isso, quero dizer se pegando para valer.
Lucy e Amy retorcem o rosto em uma careta quando precisamos
literalmente passar por cima de um garoto que conseguiu chegar à segunda
base com uma garota.
— Ninguém mais tem classe nesse lugar — resmunga Lucy. Tento
passar por ela em direção à cozinha, mas minha amiga puxa meu braço sem
tanta delicadeza. — Onde você pensa que vai?
Franzo o cenho.
— Acho que estou com sede. Vou pegar uma bebida.
Ela estala a língua, irônica.
— Ah, mas não vai mesmo. Preciso lembrar o que aconteceu da
última vez que fomos a uma festa juntas? Você acabou com um psicopata a
tiracolo.
Amy bufa em uma risada e eu sinto meu rosto corar. Ela precisava
mesmo colocar as coisas dessa forma?
— Vocês podem me acompanhar até lá, então? — peço, me sentindo
uma criança de cinco anos.
Lucy abre um sorriso brilhante, segurando minha mão como se nós
duas fôssemos as melhores amigas do jardim da infância. Posso sentir o
olhar das pessoas me queimando enquanto caminhamos pela casa enorme
de três andares, mas um arrepio na espinha me faz empacar onde estou.
— Ceci, você não estava com sede? — pergunta Lucy e eu desvio
meu olhar alarmado para o dela. — O que foi?
Ela vira o rosto para encarar o que estou vendo e sua respiração é
sufocada pela surpresa.
Kaden está nos encarando com um brilho animado no olhar. Ele está
com os braços cruzados, usando a jaqueta do time. Suas sobrancelhas se
unem ao nos observar e seu rosto brincalhão não me deixa menos nervosa.
Na verdade, só me mantém mais aterrorizada.
— Ora, ora…
Amy solta um chiado ao nosso lado. Seus olhos também estão
arregalados e ela parece querer se enfiar em um buraco.
Entra na fila, amiga, porque eu também quero.
— Amy Jones… — o nome dela brinca nos lábios dele e Amy se
empertiga ao meu lado. — Hunter sabe que você está de volta?
Isso me pega completamente de surpresa. O que Hunter tem a ver
com a vida dela?
— Isso não é da conta dele — é Lucy que diz, ríspida. Ela me
lembra muito um gato e está colocando as garras para fora para valer. —
Será que dá para você sumir da nossa frente, Kaden? Está impedindo a
passagem e a Cecília está com sede.
Kaden abre um sorriso sarcástico.
— Se eu fosse a Cecília, começaria a me preocupar com algo a mais
além da sede. Baron já sabe que você está aqui. E quando ele te pegar…
Puta que pariu. Sinto meu olhar começar a piscar violentamente e
tenho certeza de que estou à beira de um ataque de nervos. Não faz nem
cinco minutos que estamos nessa festa, porra.
— Baron pode ir se foder. E, de preferência, que ele leve você e seu
amigo Hunter também — cuspo, sentindo uma onda de adrenalina me
atravessar.
Kaden começa a gargalhar. Parece que ele acabou de ouvir a piada
mais engraçada do mundo. Na verdade, está rindo tanto que os ombros
estão balançando, enquanto o rosto fica em um tom intenso de vermelho.
— Eu consigo ver o porquê de ele estar tão obcecado com você,
linda. Se você já não fosse dele…
— Eu. Não. Sou. Dele — digo entredentes. — Cristo, o que eu
preciso fazer para todos vocês me deixarem em paz?!
— Paz? — zomba ele, inclinando a cabeça para o lado. — Se eu
fosse você, não contaria muito com isso. Não depois de ter vindo aqui. Você
sabe que vai ter consequências, não sabe?
Uma onda de frustração e irritação me invade. Não quero me privar
de ir aonde eu quiser, falar com quem eu quiser ou viver a vida como eu
bem entender porque um cara acha que pode mandar em mim.
— Cecília — uma mão pousa no meu ombro e eu me sobressaio.
São os mesmos olhos, o mesmo maxilar marcado, a mesma altura, mas, ao
mesmo tempo… Não são.
Brandon está aqui.
Amy e Lucy respiram aliviadas.
— Finalmente — resmungo, girando o corpo para encará-lo. —
Você pode me tirar daqui?
Ele parece hesitar por alguns segundos, mas concorda com a cabeça
mesmo assim.
— Posso, claro. Suas amigas também vêm?
Ambas acenam freneticamente com a cabeça e eu escuto a voz fria
de Kaden soar perto de nós.
— É melhor você dar o fora, Brandon. Você sabe que vai se
arrepender.
Meu irmão postiço legal abre um sorriso condescendente.
— Pode até ser, K. Mas a cara do meu irmão quando chegar aqui e
não encontrá-la não tem preço.
Kaden está com a expressão tão fechada que eu preciso reprimir um
soluço. Suas feições normalmente são sempre brincalhonas, não assassinas.
Os olhos escureceram tão rápido que eu preciso balançar a cabeça para ter
certeza de que estou enxergando bem.
— Você sabe o que eu sou capaz de fazer. Você sabe o que ele é
capaz de fazer — salienta Kaden, sem um traço de humanidade no rosto
travesso que me lembra tanto o Peter Pan.
Brandon passa o braço ao redor dos meus ombros, me puxando
protetoramente em sua direção. O contato não me deixa totalmente
confortável, principalmente por todas as pessoas que assistem ao nosso
drama como se fosse o episódio de uma série.
— Eu sei. Mas elas vão comigo do mesmo jeito.
Engulo em seco, observando como Amy sutilmente dá um passo
para trás. Seus ombros estão tensos e eu preciso me lembrar de perguntar
sobre isso assim que tiver uma chance. Esse não é o rosto de alguém que
está com algum receio, mas sim de alguém com pavor.
De medo.
Como se tivesse acabado de ver um fantasma.
— Você está bem, Amy? — sussurro, fazendo-a virar o rosto para
mim. Ela precisa de alguns segundos para assimilar minhas palavras, mas
finalmente balança a cabeça, engolindo em seco.
— Não. Não estou.
Ela continua com a expressão assustada, mas não tenho tempo de
perguntar mais nada a respeito. Amy simplesmente nos dá as costas e
começa a correr, como se suas roupas estivessem pegando fogo.
Ótimo. Perdi mais uma amiga em potencial por causa do maluco do
meu irmão postiço. Vou fazer uma aposta de quantas serão até o fim do ano.
— Ah, merda. Hunter vai ficar puto comigo — resmunga Kaden,
balançando a cabeça. — Mas não vou dar a chance de Baron sentir o
mesmo. Se afaste dela, Brandon.
Meu irmão postiço intensifica o aperto ao redor dos meus ombros.
Eu gostaria que ele estivesse fazendo isso por algum senso de
responsabilidade ou mesmo de justiça comigo, mas eu sei que é só orgulho.
Aquela velha história de mijar para marcar território.
— Eu tomo minhas próprias decisões — digo, empertigando o
queixo. — E estou caindo fora. Vamos, Lucy.
Kaden semicerra os olhos. Depois, estende a mão para minha amiga,
puxando-a contra seu corpo.
— Você pode ir, mas a Lucy fica.
Viro meu rosto para encará-la, vendo seus olhos crescerem
conforme continua pressionada a Kaden. Eu sei que ela tem muito mais
medo dele e de Baron do que tem de Hunter.
Porra.
— Que infantilidade — resmungo, revirando os olhos. — Não
temos mais cinco anos.
Kaden ergue uma sobrancelha, descendo a mão lentamente pelo
pescoço de Lucy. Ele a está segurando só com um braço e minha amiga está
parada como uma estátua. É como se um movimento brusco fosse o
suficiente para fazê-lo atacar.
— Vamos, Cecília. — Brandon me segura pelo braço, mas eu me
solto.
— Não posso deixar a Lucy sozinha com ele.
— Ele não vai machucá-la.
O demônio conhecido como Kaden ri da frase de Brandon como se
fosse uma piada particular entre os dois.
— Não vou?
— Por que você não deixa a Lucy decidir se quer ficar, para variar?
— atira Brandon, com o rosto vermelho de irritação.
Kaden abre um sorriso diabólico.
— E por que você não larga a Cecília, Brandon? Fiquei sabendo que
a Briana está de volta. Ela não vai gostar de ver isso.
Briana? Isso chama a minha atenção. Não foi essa a menina que
Brandon buscou no aeroporto um dia desses?
— Quem é ela? — eu pergunto, virando o rosto para encarar Bran.
Seu rosto está retorcido com irritação e ele está flexionando a
mandíbula. Parece estar fazendo um esforço sobre-humano para não
avançar até Kaden e socá-lo até arrancar o sorrisinho arrogante do rosto.
— Ninguém importante — responde Brandon. — Vamos embora.
— Não posso deixar a Lucy para trás.
Ele respira fundo.
— Estou indo nessa, Cecília. Nos vemos em casa.
Abro a boca, em choque. Então vai ser assim? Ele simplesmente vai
me largar para trás como se eu não fosse nada? Balanço a cabeça, irritada.
Será que ninguém nesse país conhece o significado de lealdade?
Observo Brandon ir embora ao som da risada estridente de Kaden.
Agora estou considerando seriamente pegar um dos copos de vidro que
estão usando para servir shots e usar como arma. Quanto tempo teríamos
até que ele se recuperasse do ataque?
Meus pensamentos são interrompidos quando uma comoção
diferente parece tomar conta da galera. Rostos se viram, olhos se arregalam,
expressões assustadas começam a surgir.
O arrepio na minha nuca me diz tudo o que preciso saber.
Baron está aqui.
O sorriso brilhante de Kaden fica maior, se é que isso é possível. Ele
continua com a mão no pescoço de Lucy e eu fico irritada por ver como as
pessoas parecem simplesmente ignorar isso. Eles podem fazer o que quiser
que ninguém irá intervir.
— Agora sim a festa vai começar — bufa Kaden, apertando mais
Lucy contra seu corpo.
Eu encaro a minha amiga, sentindo uma adrenalina diferente
percorrer o meu corpo. Estou me sentindo tentada a sair correndo daqui
para evitar o confronto com Baron, mas não tenho coragem de fazer isso
sabendo que ela vai ficar sobre a posse de Kaden.
— Vai — murmura Lucy, com o rosto lânguido. — É melhor você
correr, Ceci.
Kaden coloca a mão sobre a boca dela, tampando-a. Lucy vira o
rosto para ele, fúria brilhando em seu olhar.
— Corra, Ceci — zomba ele. — Baron vai adorar. Já não percebeu
que te perseguir é a melhor parte desse jogo?
Engulo em seco. Eu sei que ele está certo. A caça é o que está
deixando Baron mais interessado em mim. Ainda assim, não consigo dar o
braço a torcer.
— Tarde demais — diz Kaden, com um sorriso sádico espelhando
seu olhar.
Guincho, tentando virar o rosto para trás. E quando digo que estou
tentando, é no sentido literal.
Baron me pegou pelo pescoço.
Um silêncio sepulcral toma conta da festa. As pessoas estão com
copos a centímetros da boca, os corpos se amontoando para assistir o
desenrolar disso.
— Eu achei que tínhamos deixado algumas coisas esclarecidas hoje,
Cecília. — Sua voz faz um arrepio percorrer a minha espinha.
Ele não estava só irritado. Era um nível de ódio que eu ainda não
tinha sentido até agora.
— Acho que ela precisa de uma lição — diz Kaden, com seu rosto
brincalhão. Parece uma criança em manhã de natal e isso me assusta pra
caralho.
Não consigo observar o rosto de Baron, mas sinto seu corpo
retesado atrás de mim. Estou mais do que fodida.
Estou morta.
Ele não vai me deixar escapar ilesa disso.
— Eu posso ter perdoado o que você fez com as fotos da minha
mãe, mas isso? — murmura ele em um tom mortal. — Você vai aprender a
me obedecer, Cecília.
— Baron, eu só queria sair com as minhas amigas. Não foi nada
demais — resmungo, me sentindo uma idiota por precisar dar explicações a
ele.
Sua risada irônica chega aos meus ouvidos e encaro a expectativa no
olhar das pessoas. Estão todos esperando o gran finale. Querendo que
Baron faça algo comigo bem na frente de todas elas.
E isso me deixa mais puta do que qualquer merda que ele ou Kaden
tenham feito até agora.
— Qual o problema de vocês? — atiro, muito irritada. Algumas
pessoas desviam o olhar, constrangidas, mas a maioria só começa a rir.
Ninguém dá a mínima para o que Lucy e eu estamos enfrentando
aqui. As pessoas acham normal. Esse é o tipo de coisa que as universidades
precisam deixar explícitas em seus sites e folhetos. “Psicopatas e
perseguidores são vistos como celebridades no campus, então venha por sua
conta e risco”. Definitivamente, não teria me aplicado para Granville se eu
soubesse disso.
— Eles sabem que quem me desobedece, sofre as consequências. Eu
já disse que você é minha, Cecília. E você veio a uma festa na porra da
minha fraternidade sem mim. Exibindo seu corpo para qualquer um. O que
acha que iria acontecer, hein?
Abro um sorriso carregado de ironia. A faísca de irritação volta com
tudo e eu sinto vontade de berrar para Baron que eu tomo minhas próprias
decisões, que não vou viver à mercê dele e do que ele acha que eu devo
fazer.
No entanto, eu só digo uma coisa.
— Você e eu vamos ser irmãos, Baron. Não vai acontecer nada entre
nós. Já pensou se nossos pais decidem ter um filho? Vamos ter um irmão
em comum. Isso precisa acabar.
O aperto ao redor do meu pescoço se intensifica e sua respiração
açoita minha nuca. Ele está ficando com raiva de mim a cada nova frase que
eu digo, mas é inevitável. Não consigo ficar calada.
— Jantares em família, manhãs de natal, domingos de páscoa…
Tudo isso pelo resto de nossas vidas. E vão começar a achar muito estranho
essa sua obsessão por mim. Pela sua irmã.
Sua risada zombeteira me atinge em cheio. Ele segura meu quadril,
pressionando sua ereção contra a minha bunda. O gesto me pega em cheio e
eu preciso reprimir o choque.
— Isso parece o que um irmão devia sentir por uma irmã, Cecília?
— resmunga ele, sem nenhuma entonação na voz. — Você e eu não somos
parentes. Não dividimos sangue. Não dou a mínima para o que os nossos
pais decidem fazer com a vida deles, mas nada vai me impedir de ter você.
E acho que está na hora de você entender isso de uma vez por todas.
Isso me faz paralisar.
— O que você quer dizer com isso? — pergunto, tentando afastar o
traço de medo da minha voz.
Mas Baron me ignora.
— Kaden, eu preciso que você arranje uma corda pra mim. Uma
corda firme.
— Levo para você em cinco minutos — responde ele, finalmente
libertando Lucy do seu aperto. — Não diga que eu não te avisei, Cecília.
— Baron… — murmuro, engolindo todo o meu orgulho. — Não
faça nada que você vai se arrepender. Nossos pais…
Ele segura meu queixo com força, me fazendo encará-lo. Os olhos
castanhos estão quase pretos e isso faz meu coração acelerar. Nunca vi algo
assim. Parece que Baron está possuído por algo. Ele sequer parece humano.
— Não se preocupe com isso, Cecília. Eu não me arrependo de nada
que eu faço.
Correndo pelo estacionamento
Ele me perseguiu e não queria parar
Peguei, tá com você
Peguei, peguei, tá com você
Tag, You’re It | Melanie Martinez

Ninguém me para quando eu coloco Cecília sobre meus ombros e


subo até o segundo andar, mas eu sinto os passos atrás de mim. Estão todos
aguardando o show.
Semicerro os olhos ao assistir Kaden arrastar Lucy atrás de nós.
Nunca consegui entender a dinâmica de K com as garotas que gosta, e Deus
nos ajude, ele parece meio obcecado com a antiga colega de quarto da
minha irmã.
Irmã.
A palavra soa amarga. Cecília e eu não somos irmãos, não importa o
que ela diga para tentar se livrar de mim.
— O que você vai fazer? — pergunta ela com um fio de medo na
voz.
Bom. Medo é bom. Talvez ela aprenda a seguir mais seus instintos e
pare de me testar depois que aprender a lição.
Meu antigo quarto continua intacto. Minhas coisas pessoais já não
estão mais aqui, mas ninguém se mudou para ele ainda. Não tenho certeza
se deixarei isso acontecer, porque eu gosto de ter um lugar para ficar no
campus e, porra, meu pai reformou essa casa assim que entrei na
fraternidade. Esses caras me devem.
— Você vai descobrir em breve — murmuro, passando a mão
carinhosamente pelo seu cabelo.
Cecília estremece e eu sei que não é de pavor. Ela pode não admitir,
mas adora o meu toque. E, em breve, vai me implorar para continuar com as
mãos em cima dela.
Kaden me traz a corda assim que entro no meu quarto. Jogo Cecília
sobre a minha antiga cama como se fosse um saco de batatas e ela
resmunga ao sentir a bunda bater no colchão.
— Filho da puta!
Sorrio.
— Segure ela — digo a Kaden, enrolando a corda lentamente pelo
meu pulso.
Cecília observa tudo sem piscar. Lucy tenta intervir e pula em cima
de K, mas ele a agarra e a empurra para trás.
Minha paciência já está escassa e isso está me levando ao limite.
— Baron, pare com isso — resmunga Cecília, rangendo os dentes.
— Eu já entendi, tá legal? Não posso aparecer no seu território.
Eu nem me dou ao trabalho de responder. Ao invés disso, apenas
sorrio.
Cecília é estonteante. O cabelo ondulado está uma bagunça de fios e
o perfume de rosas está impregnado em cada centímetro da porra do quarto.
Quase quero bater a cabeça de Kaden na parede para que ele não consiga
sentir a essência dela.
Seguro seus pulsos juntos quando ela tenta se debater. Amarro
ambos sobre a cabeça dela, dando um aperto firme na cabeceira da cama.
Meu pau se contrai com a visão dela assim, usando um vestido que a deixa
tão gostosa na minha cama.
Se as circunstâncias fossem outras, eu provavelmente iria fodê-la
aqui e agora sem pensar duas vezes. É uma pena que Cecília não queira
tornar a nossa vida mais fácil.
— Mande os caras entrarem — mando, sabendo que Kaden vai
correr para que a minha ordem seja atendida.
— Espera, você não pode deixar que eles me vejam assim! — berra
Cecília, um brilho de desespero em seu olhar.
Passo meus dedos carinhosamente sobre sua bochecha, mas ela
desvia o rosto.
— Eu disse que você teria que lidar com as consequências.
— Você é um completo maluco.
Pisco lentamente.
— Sou mesmo. E a causa é você.
Ela não parece abalada com as minhas palavras. O brilho furioso em
seu olhar fica mais intenso quando a multidão se junta na minha porta.
Algumas pessoas levantam seus telefones para capturar o momento e eu
vejo o rosto de Cecília se retorcer de pavor.
— Desliguem essa merda — mando, lançando um olhar para Kaden.
Ele nem pensa antes de pegar alguns telefones que estão ao seu
alcance e arremessá-los na parede. Com um olhar de advertência, todos
guardam os aparelhos em seus bolsos.
— Cecília Braga é minha — digo, contraindo a minha mandíbula.
— Estou reivindicando ela. Ninguém pode olhá-la. Ninguém chega perto
dela a não ser eu. E se ela for convidada para mais uma porra de festa, eu
juro que mato cada um de vocês com as minhas próprias mãos, caralho.
Entenderam?
Os murmúrios ficam mais altos conforme alguns caras do time se
aproximam da cena. Apesar de querer ensiná-la uma lição, não saio da
frente dela. Não quero que nenhum deles veja o que me pertence.
— O show acabou — anuncia Kaden, com um sorriso brilhante no
rosto. Lucy ainda está em seus braços, chutando e lutando como a porra de
uma gata. K vai sair com o rosto completamente arranhado.
As pessoas se dispersam do meu quarto em bando, assim como
vieram. Eu sei que amanhã todo mundo no campus vai saber o que
aconteceu aqui e então, Cecília vai aprender de uma vez por todas que não
se deve brincar com o diabo.
Com a ponta do dedo, traço a sua mandíbula delicadamente. Seus
olhos estão marejados, a expressão retorcida em vergonha.
— Eu te odeio tanto — murmura ela com a voz trêmula.
Suspiro.
— Vai embora, K — mando, escutando sua amiga Lucy berrar
enquanto Kaden a carrega para longe do quarto. O olhar de Cecília dispara
em direção à porta, a raiva sendo substituída lentamente pela preocupação.
Quando seu rosto vira para mim novamente, o ódio continua lá.
— Não vou te perdoar por ter feito isso, Baron. Foi humilhante.
Respiro fundo.
— Você não tem noção das coisas que eu poderia ter feito com você,
amor. Não tem noção. — Aproximo o rosto do seu, roçando meus lábios
em seu pescoço. Cecília prende a respiração. — Poderia foder você na
frente deles. Mostrar como nós dois pertencemos um ao outro. Poderia ir
atrás daquele garoto que você conheceu na biblioteca… Noah, não é? —
Uma centelha de reconhecimento cruza seu rosto, mas passa depressa. —
Posso fazer dele um exemplo. Deixá-lo pendurado por dias. Causar um
trauma que não o deixe jogar nunca mais. É isso que você quer?
Cecília engole em seco, balançando a cabeça lentamente para os
lados.
Não.
Ela prefere que eu a puna ao invés disso.
— Eu sabia que essa seria a sua resposta. Você é uma boa garota.
— Você vai pagar por tudo isso um dia, Baron.
Abro um sorriso. Depois, levanto o rosto para pressionar um beijo
em sua testa. Ela se retrai, querendo se afastar o máximo possível de mim.
— Tenha uma boa noite — murmuro.
Seus olhos se arregalam em choque.
— Onde você vai?
Abro um sorriso malicioso.
— Você quer que eu fique?
Cecília se encolhe.
— Não, mas não posso ficar aqui assim. Você precisa me soltar.
Eu a encaro intensamente por longos segundos.
— Vou deixar você assim por algumas horas. Agora você vai
aprender a me obedecer.

Mandamos todos embora assim que desço. Os outros moradores da


fraternidade também foram “convidados” a se retirar e me obedeceram
como uns malditos cachorrinhos.
Hunter está coçando o pescoço como um maldito louco. A pele já
está em carne viva de tanto que suas unhas a arranharam. Ele fica assim
quando está nervoso e eu entendo muito bem o motivo de sua inquietação.
— Você está querendo me dizer que Amy está aqui? Aqui, na
Califórnia? — Ao cruzar os braços, Hunter faz um meneio de cabeça. —
Você só pode estar brincando comigo, porra.
Kaden ergue as mãos em sinal de rendição. O sorriso debochado
permanece em seu rosto travesso.
— Não mate o mensageiro, cara. Estou te dizendo. Parece que a sua
pequena perseguidora conseguiu te encontrar…
Hunter contrai a mandíbula, provavelmente calculando o tempo que
vai precisar para matar e enterrar Kaden sem deixar rastros. A dinâmica dos
dois costuma me irritar na maior parte do tempo, mas hoje nem mesmo eles
são capazes de conter a minha euforia.
Cecília está amarrada na minha cama.
Sorrio ao me lembrar do rosto assustado ao perceber que estava
sendo observada. Ela não deveria se sentir assim. Em breve, vai descobrir
que estava exatamente onde ela pertence.
— Onde está o Brandon? — pergunto.
Os dois viram o rosto para mim. Kaden arqueando a sobrancelha,
Hunter revirando os olhos.
— Seu irmão é um cuzão. Ele saiu correndo quando eu avisei que
você estava chegando — é K que responde, dando de ombros. — Briana
deve estar segurando a coleira bem firme.
Tinha me esquecido desse detalhe. Brandon está escondendo a
vagabunda de mim desde que ela chegou, mas não vai durar muito tempo.
Ela vai ficar na minha casa nas próximas semanas.
— Ele não deve estar muito longe. Encontrem-no — digo, me
virando para servir uma dose de rum. — E tragam para mim.
Eu não preciso dizer duas vezes. Os dois saem, obstinados, atrás do
meu irmão gêmeo. Viro a cabeça ao sentir a bebida quente queimar minha
garganta, saboreando a sensação.
Hunter e Kaden empurram Brandon pela porta não muito tempo
depois. Meu irmão tenta se debater entre eles, completamente irritado. A
performance não me impressiona em nada. Brandon sempre gostou de ser o
centro das atenções.
— Que porra é essa?! — esbraveja, sacudindo o braço até Kaden
jogá-lo no centro da sala de convivência.
Alguns dos idiotas quiseram comprar uma mesa de pebolim, outros,
de hóquei de mesa. Eles gastam um tempo absurdo brincando e apostando
nessas coisas como se tivessem cinco anos, mas é mais uma das coisas que
eu deixo passar. Não ligo se o desempenho deles cair no gelo. É menos
concorrência para mim.
— Foi mais fácil do que eu pensava — resmunga Hunter, se
servindo com o resto da bebida que deixei em cima do balcão. — Ele estava
tentando se agarrar com a Briana no alojamento. O cara não percebe quando
leva um fora.
— Puta que pariu! — berra o meu irmão, começando a ficar
vermelho. — Será que você nunca vai me deixar em paz, caralho?!
Sorvo um gole da bebida, arqueando uma sobrancelha lentamente.
— Por que eu te daria paz se você é incapaz de fazer o mesmo por
mim?
Brandon retorce o rosto com incredulidade. Depois, balança a
cabeça, soltando uma risada irônica.
— Isso tudo é por causa da nossa irmã?
Seguro o copo de vidro com força até sentir meus dedos doerem.
Posso estar parecendo impassível por fora, mas só de ouvi-lo se referindo a
ela como “nossa” faz surgir uma onda violenta sobre mim. E eu realmente
não estou disposto a cumprir pena por causa dele.
— Ela não é sua. Ela não é nada sua.
Brandon realmente não tem um pingo de autopreservação, porque
abre um sorriso cínico para mim. As mãos estão se abrindo e fechando em
punhos e eu sei que isso é um traço de sua ansiedade. Ele quer me desafiar,
mas não parece disposto a pagar o preço por isso.
— Ela também não é nada sua, Baron. E ela nem quer ser. Será que
um dia você vai entender isso? — Brandon suspira. — Mas, muito em
breve, nosso pai se casará com a Suzan. E quando isso acontecer, seremos
irmãos. Nós três. Então esse seu joguinho com a Cecília está com os dias
contados, mano. Sugiro começar a ir atrás de um novo hobby.
Um olhar é tudo o que eu preciso para que Kaden entenda. Ele
agarra o cabelo de Brandon com força e meu irmão não consegue conter o
grito. Hunter segura seus braços para trás, imobilizando-o e eu tomo todo o
tempo do mundo até andar em sua direção. Meus passos são lentos
enquanto meus melhores amigos o seguram para que ele consiga me
encarar.
— Eu não continuaria por esse caminho se fosse você, Brandon.
Não me importo se você acha que me conhece pelo nosso parentesco. Você
não faz ideia do que sou capaz. E quanto à Cecília… Se. Afaste. Dela. Não
vou pedir com a mesma gentileza duas vezes.
Ele solta um grunhido quando Kaden intensifica o aperto.
— Você é um desgraçado, Baron. É isso que você é. Primeiro foi a
Briana e agora… AH! — Um grito irrompe de sua garganta quando Hunter
o acerta nas bolas. Meu irmão cai para frente, mortificado, cobrindo o
próprio pau com as mãos. — Seu doente filho da puta.
Me ajoelho até nossos olhares ficarem nivelados. Temos
praticamente o mesmo rosto, mas onde eu demonstro frieza, ele demonstra
cinismo. Onde eu camuflo meus sentimentos, ele os expõe para qualquer
um tomar e fazer o que bem entender.
E é exatamente o que estou fazendo.
— Não vou pedir duas vezes, Brandon. Não queira medir forças
comigo. Você sabe que não tem nenhuma chance.
Você conhecia o jogo e o jogou, mata saber que você foi derrotado
Vejo os arames rasgando enquanto você respira
Você sabia que tinha um motivo
Isso o matou como uma doença
Wires | The Neighbourhood

Sinto uma respiração ritmada quando abro os olhos. Em meu peito


também há uma pressão.
Pisco, completamente perdida. Meus braços ainda estão amarrados à
cabeceira da cama e então, tudo volta em flashes. Eu me lembro de Baron
me usando como um exemplo de força. Lembro de como ele me tocou… A
delicadeza e o cuidado em seu gesto só me deixaram mais enojada. Irritada.
Com raiva de todo esse cinismo.
Ele estava tentando transformar a minha vida em um verdadeiro
inferno enquanto me dizia palavras doces.
Canalha.
E é então que o vejo. Os olhos estão fechados, o rosto tão
dolorosamente lindo esbanjando uma paz tão serena que parece um sonho.
Seu corpo imenso está subindo e descendo conforme ele respira.
Baron Donovan está dormindo sobre mim. Ele está sem camisa,
usando apenas uma calça de moletom. O rosto está na altura dos meus
seios, as mãos agarrando meus quadris. Vê-lo tão vulnerável faz meu
coração acelerar.
Ele é tão maravilhoso. Os cílios longos, as bochechas altas, o
maxilar marcado. Os braços são enormes, o corpo é esculpido como o atleta
que ele é. Me lembro imediatamente da primeira vez que eu o vi e uma
onda de frustração toma conta do meu corpo. Se ele não fosse tão maluco,
talvez as coisas tivessem seguido um rumo diferente.
Talvez eu pudesse ser verdadeiramente dele.
Me mexo o suficiente para que ele acorde. Não funciona como o
planejado e Baron abraça a minha cintura com mais força. Ele esfrega o
rosto no meu quadril, ronronando como se eu fosse seu travesseiro mais
confortável.
Desgraçado.
— Baron — digo, meio gritando. — Baron!
Ele nem se move. Meus braços estão dormentes por ficarem tantas
horas presos na cabeceira da cama e tenho certeza de que ganharei uma bela
dor nas costas durante o dia de hoje.
Usando minha perna direita, eu tento empurrá-lo o máximo que
consigo para longe de mim. O movimento não me traz o resultado desejado,
afinal, ele deve pesar mais de cem quilos.
— Porra — praguejo, respirando fundo.
Empurro-o com a minha perna de novo, dessa vez tentando alcançar
um local específico. Sua calça está caindo sobre os quadris e vejo o “V”
bem marcado em seu corpo torneado. Mordo a boca, apreciando em silêncio
o desperdício de um corpo tão gostoso.
O dono dele precisava mesmo ser o satã encarnado?
Eu me remexo e me contorço para conseguir colocar meu pé no
lugar que eu quero. Quando sinto a protuberância, paro de respirar. Seu pau
está duro e acho que nunca senti algo assim. Parece maior do que os que eu
já experimentei e isso só me deixa ainda mais frustrada.
Tudo poderia ser diferente se não fosse por ele.
Respiro fundo antes de golpeá-lo com toda a força lá. Tudo acontece
em questão de segundos. Não chego a chutá-lo nas bolas como eu
pretendia, porque Baron segura meu pé e o intercepta a caminho do golpe.
Porra.
— Eu sabia que não podia confiar em você enquanto eu dormia —
murmura, ainda de olhos fechados. — Mas eu gostei muito do que você
estava fazendo com o pé antes. Podemos continuar, se quiser.
Arregalo os olhos, sentindo minha boca secar.
— Eu não estava fazendo nada, Baron.
— Não foi o que pareceu. Se quiser continuar me masturbando, sou
todo seu. Podemos aproveitar suas mãos presas assim enquanto eu chupo
sua boceta até gozar. Ou então, se preferir, vamos fazer os dois ao mesmo
tempo. Não me importo.
Abro a boca, literalmente em choque. A pior parte de escutar suas
palavras tão depravadas ditas com tanta normalidade é sentir minha
calcinha ficar molhada ao visualizar os diferentes cenários que ele está
pintando para mim.
Pigarreando, tento me recompor. Não posso cair nesse joguinho
dele. É exatamente o que Baron quer.
— Eu vou passar tudo isso, obrigada. Só quero que você me solte.
— Impossível, amor. São quatro da manhã. Você vai querer voltar
para casa sozinha, eu não vou deixar e vamos acabar em uma briga feia.
— Eu preciso ir pra casa. Tenho aula daqui a algumas horas e não
posso aparecer assim. Preciso das minhas roupas, de um banho e…
— Você pode tomar banho aqui. Quanto às roupas, acho que
consigo arranjar uma calça que te sirva. Você pode vestir uma camiseta
minha.
Solto uma risada sem humor. O movimento faz meu corpo balançar
e Baron me abraça com força pela cintura. Ele se aconchega em mim,
esfregando o rosto no meu pescoço como se fôssemos um casal de
conchinha na cama.
— Eu não vou usar a sua roupa como se fosse uma namoradinha
sua, Baron. E estou pedindo com educação pra você me soltar.
Ele solta uma risada nasal, deixando um beijo quente e molhado em
um ponto do meu pescoço que me faz revirar os olhos e arrepiar. É gostoso,
embora eu esteja agradecendo aos céus por ele não conseguir ver a
expressão de prazer no meu rosto.
— As pessoas aqui já sabem que você é minha, Cecília. Você usar a
minha roupa não será surpresa.
— As pessoas sabem que eu sou sua irmã, né? Porque é a única
coisa que serei sua. Irmã postiça. O resto são só delírios de vozes da sua
cabeça.
Baron solta mais uma risada. É sem vida, fria e um tanto quanto
irônica. Ele segura meu queixo com os dedos, puxando meu rosto para trás.
Nossos olhos se encontram em uma batalha silenciosa e eu sustento seu
olhar furioso.
— Você não é a minha irmã, Cecília. Pare de dizer isso.
— Só estou dizendo a verdade.
Ele estreita os olhos, abaixando o tom de voz para um sussurro
mortal.
— Você não vai continuar usando essa palavra quando meu pau
estiver enfiado em você. Nem quando gozar na minha língua. Não acha que
vai ser estranho?
Meu rosto se contorce de raiva e ultraje. Quem ele pensa que é?
— Baron, não vou pra cama contigo nem que você seja o último
homem da face da Terra. Quanto mais cedo você encarar isso e enfiar nessa
sua cabeça que seremos irmãos, melhor.
Ele contorce o maxilar, a expressão mudando lentamente de
sarcástica para letal. Os olhos ficam mais escuros, a respiração fica rarefeita
e eu sinto um arrepio de medo percorrer a minha espinha.
Mas ainda não acabamos.
Abrindo um sorriso cínico, eu cravo a faca ainda mais fundo.
— Você vai precisar se acostumar com o que quer que seja isso que
acha que sente por mim. Principalmente quando nossos pais se casarem.
Vou começar a namorar e vou levar meu namorado para casa. Quando meu
pai vier do Brasil para cá, ele vai achar que você cuida de mim como um
irmão superprotetor. É só isso que seremos. Entendeu?
— Eu mato qualquer um que você levar para casa dizendo ser seu
namorado, Cecília. Qualquer um — rosna ele com o tom de voz rouco. —
Não aconselho continuar com essa conversa.
Nossos rostos estão tão próximos que sinto seu hálito em meu rosto
conforme ele fala. Ou melhor, me ameaça.
— Palavras são só palavras, Baron. Eu não acredito nem um pouco
nelas. Você não jogaria a sua vida fora cometendo um crime só porque eu
quero ficar com outra pessoa. Sem chance.
Ele junta as sobrancelhas.
— Acha mesmo que só estou brincando? Acha mesmo que eu não
seria capaz de matar qualquer um que tente algo com você? Se pensa isso,
realmente não estamos na mesma página. Eu mataria até mesmo o meu
irmão se ele tentasse algo com você.
“Eu mataria até mesmo o meu irmão.”
Engulo em seco, lembrando da noite em que nos conhecemos. Ele
não chegou a matar o Brandon, mas a surra foi tão feia que o coitado
ganhou uma cicatriz. Kaden e Hunter ficam de olho em mim pelo campus,
mas eu realmente não saí com ninguém ainda. De fato, não sei do que ele é
capaz.
Mas ainda assim, não me importo. É um absurdo eu precisar me
privar de escolhas porque um maluco pensa que é o meu dono.
— Baron, mal nos conhecemos. Eu, literalmente, não sabia da sua
existência até quatro meses atrás. Será que podemos só fingir que tudo isso
não aconteceu?
Ele respira fundo, passando o dedo delicadamente pelo meu rosto.
Sua palma está quente contra a minha pele fria e isso me causa um calafrio.
Baron continua o carinho, ignorando tudo o que eu disse.
— Eu conheço você, Cecília. Sei que sempre quis cursar Moda
porque desde que assistiu aos Jogos Vorazes, queria ser a Effy. Sei também
que você adora musicais da Broadway, principalmente Beetlejuice e
Hadestown. Também sei que a sua comida favorita é lasanha, embora você
também ame macarrão com molho de queijo. Quando tinha sete anos, foi
em uma excursão da escola em uma fazenda e desde então passou a ser uma
defensora dos animais. No Brasil, você tem quatro cachorros e três gatos
que resgatou. Também sei que ganhou um concurso no ensino médio de um
estilista famoso no seu país. Você precisava desenhar um vestido usando
materiais recicláveis e o seu foi o melhor. Foi a primeira vez que usaram
uma peça que você mesma fez em um desfile grande. Aposto que esse fator
foi determinante para você ser aceita aqui em Granville. Sua madrasta,
Vanessa, é quem te criou desde que você era adolescente. Sei que a sua mãe
te deixou com seu pai sem olhar para trás, e embora você negue, isso te
machuca sempre que você lembra. Você fala três línguas, gosta de praticar
exercícios e tenta se alimentar todos os dias no mesmo horário. Sua série
favorita de livros é As Peças Infernais, da Cassandra Clare. Você gosta
muito de séries dramáticas dos anos dois mil, mas a mais importante para
você é One Tree Hill. Você até começou a assistir basquete depois de
terminar a primeira temporada, mas não gostou muito da dinâmica do jogo.
Aliás, o único esporte que você realmente curte assistir é o futebol. Mesmo
não sendo fã de nenhum time em específico, você adorava acompanhar o
seu pai quando ele ia assistir aos jogos em estádios. Sua cor favorita é
vermelho. Sua banda favorita é o Queen, embora tenha amado 5 Seconds of
Summer quando era adolescente. Preciso continuar?
Minha voz fica travada na garganta enquanto eu o encaro,
completamente perplexa. Pisco os olhos várias vezes, respirando fundo pela
boca, mas as palavras simplesmente não saem.
Não consigo acreditar no que acabei de ouvir.
— Como… Como você sabe de todas essas coisas sobre mim? —
gaguejo, encontrando a minha voz.
Baron grunhe, passando os dedos pelo meu rosto mais uma vez. Eu
observo o seu movimento como uma pessoa condenada à morte encara seu
carrasco.
— Porque eu gostei de você desde a primeira vez que eu te vi. Eu
sabia que você tinha nascido para ser minha, Cecília. Te procurei em todas
as redes sociais. Achei seu Twitter e li tudo o que você já escreveu. Até
procurei nas coisas da sua mãe mensagens que trocaram ao longo dos anos.
Você é minha, assim como eu sou seu.
Tudo bem, tudo bem… Motivos para não assassinar o seu irmão
postiço:
Número um: sério, cara? Aqui nos Estados Unidos existe uma coisa
chamada prisão perpétua. Não vale a pena jogar toda a sua vida fora por
causa de um psicopata que decidiu que te namorava antes mesmo de te
conhecer.
Número dois: seu pai, sua madrasta e seu irmão ficarão devastados.
Sério, imagine o Gui usando um terno no seu julgamento televisionado. As
lágrimas escorrendo, os ombros tremendo… Não vai ser legal causar um
trauma desses no seu irmão de verdade.
Número três: Você não vai causar uma boa impressão no seu
padrasto e isso vai arruinar a relação dele com a sua mãe.
— Você precisa se tratar, Baron. E não estou falando isso da boca
para fora, não. Isso não é normal.
Os olhos dele escurecem conforme ele me observa. Seu rosto fica
ainda mais próximo do meu e consigo sentir seus lábios roçarem a minha
boca de leve. A lembrança de nosso beijo no meu quarto mais cedo me
invade com força, mas faço questão de empurrar esses pensamentos para
bem longe.
— Normal é superestimado, Cecília. Eu sou um homem que
consegue o que quer. Eu sei o que eu quero. E quando começar a me
conhecer, vai entender os meus motivos. Nós somos perfeitos um para o
outro.
Ah, nem fodendo.
Preciso me lembrar de enviar uma mensagem para Lucy mais tarde.
Talvez ela me ajude com as malas depois que eu decidir me mudar para o
Paraguai.
— Eu só preciso que você me solte, Baron.
Ele abre um sorriso com o rosto sonolento, se recostando ainda mais
sobre o meu corpo. Grunho, irritada, mas respiro fundo antes de falar
alguma besteira. Preciso me lembrar que estou em desvantagem aqui.
— Vamos dormir, amor. Amanhã é um longo dia e eu quero você no
meu jogo na semana que vem. Estou ansioso por isso.
Oi?
Porra, jogo? Esse cara só pode estar vivendo uma realidade
paralela.
— Não vou ao seu jogo. E estou falando sério — digo. — E se me
deixar presa assim nem que seja por mais um segundo, eu juro que vou…
— Vai fazer o quê? Gritar? Pedir socorro? Encontrar ajuda? — bufa,
cheio de si. — Ninguém aqui vai contra as minhas ordens. Ninguém virá
por você, Cecília. Absolutamente ninguém. Você está sob meu controle.
Engolindo em seco, eu lanço o olhar mais mortal que eu consigo.
Provavelmente não estou aparecendo tão ameaçadora como eu pretendia,
mas espero que ele veja o quanto essa ideia é repulsiva para mim.
— Você pode mandar seus amigos invadirem o meu quarto e
destruírem tudo. Pode stalkear a minha vida e colocar pessoas para me
vigiarem. Pode até me amarrar à sua cama ou me ameaçar com uma
tesoura, Baron, mas eu jamais serei sua. Eu não vou ceder.
Suspirando, ele levanta os braços até suas mãos alcançarem a corda.
Assim que sinto meus pulsos livres, quase choro com o alívio. Meus
membros já estavam dormentes pela falta de circulação.
— Isso é o que vamos ver, amor.
Eu estou cansada de me sentir como se eu estivesse louca pra caralho
Cansei de dirigir até ver as estrelas nos olhos
Isso é tudo que tenho para me manter sã, amor
Então eu apenas dirijo, apenas dirijo
Ride | Lana Del Rey

Meus colegas de time estão murmurando entre si conforme vou


caminhando pelo vestiário. Minha toalha está jogada por cima do ombro
enquanto continuo avançando na direção de Kaden e Hunter.
Os dois estão com os ombros relaxados e se movendo em sincronia.
Kaden faz um movimento com as mãos e eu percebo que estão trocando
experiências sobre o jogo. Vamos enfrentar a UCLA na próxima semana e
eles estão sendo nossa maior dor de cabeça.
— Ei, Baron. Vamos para a academia mais tarde? — pergunta
Hunter, com a expressão de tédio habitual no rosto.
Estalo o pescoço, dando uma olhada em como os outros membros
do time estão se comportando. Noah, um dos nossos novatos, desvia o olhar
quando percebe que eu estou observando-os.
Franzo o cenho.
— Noah está brincando com fogo — diz Kaden, sarcástico como
sempre. — Encontramos ele estudando com a Cecília há uns dias atrás.
Isso faz minha pulsação acelerar. Viro o rosto lentamente para
encarar o meu até então melhor amigo e o sorriso brincalhão está dançando
em seus lábios.
O babaca sabe muito bem como me provocar.
— Dá um tempo, cara. Seja sutil. Ninguém precisa saber o quanto
você está obcecado com a sua nova irmãzinha — zomba, balançando a
cabeça. — Use toda essa raiva quando estiver no gelo. Você sabe que temos
um jogo importante na semana que vem.
Ele tem um ponto, mas continuo irritado mesmo assim. Hunter nos
dá um tapinha no ombro depois de colocar o uniforme, saindo do vestiário
com as costas tensas.
Kaden foi um garoto órfão que cresceu no sistema de adoção desse
país. Ou seja, teve uma vida de merda. Passou de casa em casa até
completar doze anos e finalmente ser acolhido por um desses casais que
abrigam crianças sem casa para conseguir a porra de um cheque todo mês.
Costumo pensar em quanto o sadismo de Kaden se intensificou por
causa daquelas pessoas. Ele não diz muito sobre o que acontecia lá, mas não
foi necessário. Meu pai sempre faz questão de investigar as pessoas que
andam com a gente e K quase não passou no seu crivo.
— Esse garoto parou no hospital tantas vezes enquanto crescia que
eu não consigo acreditar na admissão dele em Granville. Ele vivia coberto
por marcas roxas e hematomas. Não passa de um valentão, Baron — disse
meu pai, me mostrando a longa ficha hospitalar de Kaden.
Homens como o meu pai não conseguem pensar muito além do que
veem. Eu soube assim que li as especificações dos ferimentos de Kaden.
Contusões, inchaços, vermelhidão, marcas de mordida, hematomas, costelas
quebradas, braços fraturados… Eram seus “pais” adotivos. Eles o
espancaram frequentemente e só Deus sabe o porquê.
Embora houvesse muita raiva e sede de vingança, em Kaden
também havia uma vontade absurda de ir embora da antiga cidade no
interior do Tennessee e nunca mais depender de ninguém. Acho que é por
isso que ele se apegou tanto ao hóquei. Assim ele podia extravasar toda a
sua raiva sem acabar preso.
— Hunter podia socializar mais de vez em quando — divaga Kaden,
colocando o uniforme dos Angry Sharks. — Não custava nada para o cuzão
nos esperar.
Bebo um gole de água da minha garrafa, ainda encarando Noah à
distância. Eu ainda não havia esquecido a respeito dele estar perto da minha
Cecília na biblioteca.
— Hunter não gosta de perder tempo aqui, ao contrário de você.
Kaden semicerra os olhos para mim.
— Você também ainda não colocou o uniforme, babaca.
— Tenho outros planos aqui.
Ele segue meu olhar até Noah e um sorriso perverso se abre em seu
rosto. Ele balança a cabeça, como se não acreditasse, e eu me empertigo.
— Eu disse para você extravasar sua raiva durante o gelo, Baron. E
se quer saber, ele não foi tão estúpido assim. Se afastou dela tão rápido
quando soube que ela pertencia a você que parecia que Cecília tinha
contado para ele que tinha clamídia.
Minha postura endurece. Kaden pode achar que suas palavras vão
minimizar a raiva que estou sentindo, mas ele não poderia estar mais
enganado. Eu ainda sinto minhas mãos tremendo com a vontade de
extravasar a raiva.
Raiva não.
Ódio.
Sinto duas mãos me agarrarem pelos ombros, me puxando com
força para trás. K está esbanjando seu sorriso arrogante, os olhos brilhando
com diversão. O desgraçado adora me tirar do sério.
— Qual é, Baron? Eu espero mais de você, e embora a nervosinha
não admita, ela também. Vai socar o cara no vestiário e ser expulso do
time? Perder a chance do draft, de sair das sombras do seu pai, por nada?
Você sabe que eu tenho razão.
E a parte mais irritante de todas é que ele realmente está certo. Não
vou atrás de Noah agora. Lugar público, muitas testemunhas, pouco
provável de conseguir escapar ileso.
Agora, muito em breve, num beco escuro… São muitas
possibilidades.
O sorriso de Kaden aumenta conforme ele se dá conta do que a
minha mente está trabalhando. Ele esfrega a mão uma na outra, dando um
pulo animado enquanto dá risada.
— É disso que estou falando, cara! — Passa um braço ao redor do
meu pescoço, me puxando como se eu fosse seu irmão mais novo. — Mal
posso esperar para colocar em ação tudo o que essa sua cabeça fodida está
planejando. Acho que vou mijar nas calças de alegria.
— Então desgruda de mim — zombo.
— Nah, jamais. É desse jeito que eu marco território.
— Você é mesmo um pé no saco.
— Sou. E você é um maluco, Baron. Acho que é por isso que ainda
somos amigos.
Sorrio.
— Você tem planos para hoje à noite? — pergunto.
Ele balança a cabeça, me arrastando pelo corredor do vestiário. Nós
paramos apenas para colocar nossos equipamentos de proteção, de frente
um para o outro.
— Por quê? Está pensando em dividir seu novo brinquedinho
comigo? — brinca ele, arqueando a sobrancelha.
Preciso reprimir o suspiro frustrado de mim. Kaden às vezes
conseguia chegar no nível do insuportável.
— Só por cima do meu cadáver. Meu pai nos convidou para um
jantar em um dos restaurantes da nossa família. Ele quer fazer um
comunicado oficial ou seja lá o que for — respondo, flexionando os bíceps.
— Briana provavelmente estará lá. Pensei em convidar o Hunter também,
mas ele parece estar mais alheio do que nunca.
Kaden bufa.
— Aquele cara é estranho. Você por acaso já ouviu falar da família
dele?
— Não, mas isso não importa — digo. — Eu só preciso de um
amortecedor. Brandon está me tirando do sério e com Briana por perto…
Kaden sorri feito um menino.
— Você está com medo de acabar cortando a garganta do seu irmão
na frente de todo mundo, não é? Aposto que isso vai fazer a Cecília te
notar…
— Vai se foder. O que te faz pensar que ela já não me quer?
Ele apenas balança os ombros, como quem não quer nada.
Desgraçado.
Vai manter os pensamentos para ele mesmo. Kaden usa essa fachada
de brincalhão para mascarar quem ele verdadeiramente é. Hunter pode se
manter em silêncio a maior parte do tempo, mas K é o observador de
verdade. Ele consegue roubar um disco e correr para o gol enquanto desliza
entre as pernas de um jogador de mais de cem quilos. Tudo isso porque
conseguiu decifrar os movimentos dele enquanto assistia, sem piscar.
E isso é intrigante pra caralho.

Depois do treino, Kaden e eu vamos até a fraternidade para trocar de


roupa e nos arrumar para o jantar com o meu pai. Mando uma mensagem
para Hunter por força do hábito, mas ele nos dispensa com uma desculpa
genérica.
Azar o dele. Ou sorte, se eu pensar na merda de noite que Kaden e
eu estamos prestes a ter.
Pelo menos terei a chance de vê-la. E, na melhor das hipóteses, vou
pensar em alguma coisa para colocá-la em seu lugar. Manter Cecília comigo
na cama a noite inteira depois que fugiu para a festa da fraternidade não foi
o bastante e eu quero mais.
Mais dela.
Mais da sua raiva.
Mais do seu ódio.
Da sua repulsa.
Do nojo.
Eu quero tudo de ruim que vier dela. Eu sei que sou o único que ela
tem tido a coragem de mostrar esse seu lado e isso me faz sentir possessivo
pra caralho. Ela reserva algo que é só pra mim.
O quão masoquista isso me torna?
Quando Kaden e eu chegamos ao restaurante, a hostess nos leva até
a Sala VIP, reservada exclusivamente para membros da nossa família.
Quando meu pai decidiu investir no restaurante de uma cozinheira que
venceu um desses reality shows, fiquei enojado.
Depois de ver as filas dando voltas no quarteirão por mais de um
ano, compreendi o que meu pai viu no negócio. Hoje a rede tem mais de
cinco unidades espalhadas pela Califórnia e meu pai já está em contato com
outros sócios para abrir em mais lugares.
Um dia, quem sabe, a franquia não seria conhecida pelo mundo
inteiro igual a marca de doces da nossa família, NicyD.
— Eu nunca vou me acostumar com essa merda — diz Kaden,
mexendo no colarinho do terno que eu o forcei a vestir. Ele não está
acostumado a usar roupas assim, então parece uma criança birrenta
reclamando do calor. — Seu pai é o dono desse lugar. Será que ele se
importaria se eu estivesse usando uma roupa normal?
— Sim. Ele se importaria.
Kaden revira os olhos.
— Foda-se. Odeio essa merda.
Eu não poderia concordar mais.
O local é arejado e aberto, a vista é de frente para a praia. A brisa do
mar nos engolfa de uma vez conforme vamos subindo as escadas até a sala
especial, e ao nos aproximarmos da porta, finalmente os ouço.
Estão rindo.
Rindo pra caramba.
E a voz dela se sobressai a de todos eles.
Ela está se divertindo sem mim? Que porra é essa?
Cecília está sorrindo sem ser na minha presença. Ela está
oferecendo o sorriso que me pertence para outra pessoa.
Empurro a porta sem nenhuma delicadeza, o barulho alto fazendo
todos os presentes na enorme mesa pularem de suas cadeiras. Levanto a
sobrancelha, encarando com diversão todos os rostos que me olham de
volta.
Cecília é a única que eu vejo, no entanto. O vestido soltinho de
verão marca suas curvas com precisão e, porra, como eu quero afundar
meus dentes em sua pele macia. Quero marcá-la e reivindicá-la como minha
na frente de todas essas pessoas. Quero ouvi-la gritar meu nome para que
todos entendam quem é seu dono.
Essa ideia faz meu pau pulsar dentro da calça. Porra, como essa
garota consegue ter tanto poder sobre o meu corpo dessa maneira?
É excitante pra cacete.
— Olha quem chegou… — zomba Brandon, colocando a mão sobre
os ombros da vagabunda que há anos não vejo. — Já estávamos
comemorando a ideia de você não aparecer. É uma pena.
Ignoro os comentários sarcásticos do meu irmão e secretamente
admiro sua coragem. Depois de tudo o que eu fiz com ele e de todas as
ameaças, Brandon ainda acha que é uma boa ideia me provocar.
— Agora a festa vai começar — atiça Kaden, com um sorriso
maníaco no rosto. Não entendo a princípio, mas então desvio o olhar de
Cecília para a garota que está congelada feito uma estátua. Lucy.
Meu amigo nem espera um comando antes de se sentar ao lado da
garota de cabelos loiros que está encolhida no canto da mesa. O brilho de
seu rosto sumiu desde que entramos, mas isso não me importa.
A única que me importa mal consegue levantar os olhos.
Ah, qual é? Cadê a minha menina de língua afiada? Cadê a garota
que picou as fotos da minha mãe e depois foi até uma festa na minha
fraternidade? É com essa que eu gosto de brincar.
— Baron. — A voz suave de Briana chega aos meus ouvidos e sinto
meus ombros tensionarem.
Todos os olhares se voltam para a nossa interação. Meu irmão fica
mais possessivo, agarrando a cintura de Briana como se ela pudesse sair
correndo a qualquer momento do seu lado. Conhecendo-a, eu também
temeria o mesmo.
Meu pai limpa a garganta, abrindo um sorriso complacente. Ele
começa a puxar um assunto aleatório sobre a construção do restaurante ou
sobre a escolha da chefe para a casa, mas meus olhos estão sobre ela.
Briana.
O cabelo está mais longo do que o habitual. Lembro que ela odiava
deixá-lo crescer assim e sempre preferia um corte em que conseguisse sentir
o vento bater na nuca. Ela sempre foi uma garota dos esportes e o futebol se
tornou sua obsessão desde que entramos na escola.
Éramos o trio mais popular do colégio. Eu estava despontando no
hóquei, treinando dez horas por dia, sete dias na semana para conseguir
chegar ao nível da faculdade. Brandon estava indo bem no basquete e o
time do colégio chegou a disputar o estadual. Mas Briana sempre foi um
gênio. Craque. A estrela do time.
Quando a vi jogar pela primeira vez, perdi o fôlego. Ela driblava
cada adversária, marcava gols como se não fosse nada demais. Depois de
um tempo, perdeu a graça. As garotas da escola não estavam em seu nível e
um dia ela me disse que ficava entediada em campo por conseguir vencer
com tanta facilidade.
Me lembro de pensar no quanto éramos parecidos. Eu me sentia
exatamente assim quando lançava um disco no gol na época do colégio. Os
caras não mereciam usar aqueles patins. Mal conseguiam segurar o taco e
jogar ao mesmo tempo, e eu contava os dias para me livrar de todos eles.
Vê-la assim, na minha frente, depois de três anos, me causa uma
sensação ruim. Não é ódio, muito menos rancor ou mágoa. É a mais pura
indiferença. Passei anos sonhando com o dia que eu a encontraria de novo,
pensando em todas as coisas que eu faria para destruir sua vida ou fazê-la se
arrepender de ter nascido. Vendo-a na minha frente assim, do lado da garota
que me faz gozar nas calças só de me encarar, relaxo imediatamente.
Briana não me afeta em absolutamente nada.
— Estamos esperando você se sentar para começar os pedidos. Será
que é pedir demais? — pergunta Brandon, com uma carranca nada sutil no
rosto. O babaca acha mesmo que eu vou tentar algo contra sua preciosa
namoradinha?
Inclino a cabeça para o lado, observando-o. Lanço um olhar de
advertência que faz seus ombros se encolherem e então me sento ao lado de
Cecília. Ela prende a respiração quando eu me aproximo do seu rosto.
— Boa noite, amor. Você deveria pedir o salmão com molho de
maracujá. É o melhor prato do cardápio — digo suavemente.
Ela estremece.
— Não como peixe e nem nada que venha do mar.
Hm, isso me pega de surpresa. É uma informação valiosa.
— Experimente o cordeiro, então. Um dos melhores pratos.
Ela pega o cardápio e começa a me ignorar deliberadamente. Seus
olhos passam por todas as opções diversas vezes antes de me responder.
— Não preciso de sugestões suas, Baron. Na verdade, não preciso
de nada que venha de você. Será que dá para me deixar em paz?
Me recosto na cadeira, sentindo a adrenalina deliciosa que apenas
Cecília consegue me proporcionar. Eu a inspeciono minuciosamente,
imaginando como ela vai implorar pelo meu pau quando eu a levar ao
limite. Vou fazê-la entender o quanto precisa de mim. Principalmente
quando ela estiver ofegante, necessitada e quente.
— Cecília — chama Briana, desviando o olhar por um segundo para
encontrar meu rosto. Endureço meu olhar, observando minha meia-irmã
encarar a desgraçada à sua frente. — Eles também tem uma opção com
buffet. Fica lá embaixo e tem várias opções. O filé mignon também é um
dos meus pratos favoritos daqui. Eu sei que é a comida mais próxima do
que vocês comem no Brasil, então…
Cecília abre a porra de um sorriso brilhante para Briana. As duas
trocam um olhar que me arrepia a espinha, como se fossem amigas.
Porra…
— Obrigada, Bri. É isso mesmo que eu vou pedir.
Ela fecha o cardápio novamente e o coloca sobre a mesa.
Eu encaro Briana, semicerrando os olhos. Ela está planejando
alguma coisa, mas não faço ideia do que sua cabeça fodida está cogitando.
Só espero que ela esteja pronta para retaliações e não fuja igual uma
maldita covarde dessa vez.
Porque nosso jogo está prestes a começar.
Eu posso ouvir sirenes, sirenes
Ele me bateu e isso pareceu como um beijo
Eu posso ouvir violinos, violinos
Me dê toda a sua ultraviolência
Ultraviolence | Lana Del Rey

— Essa roupa está me deixando desconfortável — resmunga Lucy,


quase não mexendo os lábios. Ela está tentando passar despercebida porque
Kaden não consegue tirar as mãos dela. — Sério, Cecília, devíamos colocar
os vestidos mais justos que trouxemos.
Ela está se referindo aos vestidos mais “chiques” que colocamos na
mochila para o caso de estarmos simples demais para a ocasião. Depois que
convidei Lucy para o jantar “em família”, fomos até a casa dela nos
arrumar, já que ainda não tive tempo para comprar roupas novas depois da
merda que Baron fez.
Ficamos indecisas entre vestidos de verão soltinhos ou roupas mais
elegantes. Sabemos que Alexander é rico, mas não sabíamos se o
restaurante em si era para a classe alta.
— Vamos colocá-los na mochila só por precaução. Se estivermos
muito gatas borralheiras, a gente dá uma fugida para o banheiro e se troca.
Que tal? — ela sugeriu, abrindo um sorriso como se fosse um gênio.
Eu concordei na hora, mas realmente estava com fé de que a ocasião
não seria nada demais. Quero dizer, tá, eu sei que meu padrasto é rico e tem
uma marca de doces que já se espalhou por todo o continente, mas o cara
abriu um restaurante com uma ex-participante de reality show. Será mesmo
que o lugar poderia ser tão glamouroso assim?
A resposta é: sim, podia.
Mas acho que ela só começou a ficar realmente incomodada quando
Kaden apareceu vestindo um terno que provavelmente custava mais do que
o nosso ano inteiro na faculdade. Embora estejamos em um local privado e
afastado, as portas ainda são de vidro e é possível ver uma ou outra fã de
hóquei babando nos dois idiotas aqui.
— Tá, vamos lá. Mas não pense que eu sei o motivo real por trás
disso — digo, abrindo um sorriso convencido. Depois, limpo a garganta
para atrair a atenção dos demais. — Lucy e eu vamos dar uma olhadinha na
parte do buffet. Voltamos em cinco minutos.
Brandon estreita os olhos na minha direção do outro lado da mesa.
Sinto o corpo de Baron endurecer ao meu lado, mas decido ignorar a
sensação deliberadamente.
Não vou encará-lo. Não vou encará-lo. Não vou encará-lo. Não
vou.
— Você acabou de pedir — diz Brandon, com uma expressão
confusa.
Respiro fundo. Eu podia ter ganhado irmãos postiços mais
intrometidos? Não, eu não podia.
— Eu vou acompanhar a Lucy — respondo, abrindo um sorriso
falso. — Mas em breve eu volto para lhe dar o prazer da minha companhia,
irmão.
— Ah! — minha mãe exclama, colocando as mãos sobre a boca. Ela
parece genuinamente impressionada. — Irmão! Ouviu isso, Alexander?
Eles já estão se chamando assim!
Meu padrasto abre um sorriso casto, segurando a mão da minha mãe
antes de levá-la até os lábios e beijar. Ela pisca algumas vezes para afastar
as lágrimas de emoção e eu me pergunto se elas são reais de verdade. Com
Suzan é sempre uma caixinha de surpresas.
— Nós vamos ser uma família, Suzan. Assim como eu te prometi —
responde o meu padrasto, complacente.
É, eu definitivamente vou mandar um e-mail para o meu pai
contando sobre tudo isso. Já consigo imaginar Vanessa com um balde de
pipoca pedindo para eu descrever cada cena com riqueza de detalhes.
Um barulho nos pega de surpresa e eu quebro a única regra que me
impus essa noite: a de não olhar. Porque o som veio de Baron, que
simplesmente derrubou uma das cadeiras com violência no chão. O sorriso
que eu estava esbanjando em meu rosto morre e o medo volta com toda
força.
Ele realmente arremessou uma cadeira no chão no meio da porra do
jantar? Puta que pariu.
Mas eu deveria ter me sentido grata ou, no mínimo, com sorte.
Porque até então não havia sido nada demais. Diferente de quando ele
coloca o copo com um líquido âmbar sobre a mesa lentamente e esbarra
nele de propósito, fazendo o conteúdo cair sobre toda a minha roupa.
O choque do líquido gelado com a minha pele não é o que me
assusta. O barulho do vidro se espatifando no chão me faz dar um pulo e
logo funcionários entram enlouquecidos para arrumar a bagunça que um
cara mimado e arrogante acabou de fazer.
— Baron — Alexander diz, com o maxilar cerrado. — Pare.
Meu meio-irmão sustenta o olhar do pai com um sorriso zombeteiro
no rosto. Ele se recosta sobre a sua cadeira, se achando a porra de um deus,
desafiando o pai com uma expressão macabra no rosto.
Engulo em seco.
— Agora nós temos mais um motivo para trocarmos de roupa —
sussurra Lucy, baixinho. Seus olhos ainda estão arregalados pela cena que
acabou de assistir. — Quer ir lá agora?
Assinto.
Ninguém nos questiona quando levantamos da mesa, mas sinto o
olhar de Baron queimando em minhas costas. Nós descemos os lances de
escada, viramos algumas esquinas e vejo o quanto esse restaurante está
lotado. Pessoas se divertem, comem e tiram fotos de todos os ângulos
possíveis.
Vasculhamos o local em busca do banheiro e gememos em uníssono
ao vermos a fila de gente esperando para usar. Está aí uma sugestão que eu
com certeza vou fazer para o meu padrasto mais tarde: construa mais
banheiros se o seu restaurante tem filas intermináveis. É o mais gentil a se
fazer.
— Talvez na área VIP tenha um banheiro privativo. Podemos voltar
lá — sugere Lucy com um tom otimista.
Estreito os olhos.
— Não volto para aquele lugar assim nem que me paguem. O Baron
não podia ser mais ridículo, podia? Jogar refrigerante em mim e arremessar
cadeiras? Estamos no quê, no ensino médio?
Lucy balança a cabeça lentamente.
— Ele ficou irritado quando você se referiu ao Brandon como um
irmão. O que por sinal é um grande alerta vermelho. Será que não passou
pela sua cabeça ligar, tipo assim, para a polícia?
Abro um sorriso cínico, colocando a língua no céu da boca.
— Ah, se fosse fácil, o corpo de Baron já estaria desovado na
floresta atrás da nossa casa, Lucy. Meu padrasto é o pai dele, lembra? E
além do mais, não vou ficar aqui para sempre. Assim que conseguir esse
diploma, eu volto para o Brasil sem pensar duas vezes.
Ela franze o cenho.
— Mas pensei que você queria trabalhar aqui, em Hollywood. Não
era seu plano?
Deixo meus ombros caírem, exalando toda a minha frustração.
— Sim, era meu plano inicial. Mas isso foi antes de um maluco
psicopata ficar obcecado por mim há meses, me stalkear em todas as redes
sociais, idealizar uma mulher perfeita na cabeça e me encurralar em uma
festa.
Ela abre a boca, em choque, e eu sei que ela vai me perguntar
detalhes sobre a parte do “obcecado há meses” e “stalker”, mas corto todas
as suas perguntas fazendo um gesto de mão com desdém.
— Essa história é longa e eu vou te contar a respeito quando
estivermos morrendo de dor de cabeça por causa da ressaca. Agora vamos
atrás de algum lugar para eu trocar esse vestido sujo.
Seguro Lucy pela mão e a puxo para fora do restaurante, vamos em
direção à praia linda e reluzente, que, com o horário, estava com uma lua
tão linda que a minha vontade na verdade era tirar toda a roupa e dar um
belo mergulho. E olha que não é todo dia que estou receptiva à ideia de
água gelada e areia grudenta.
Vamos até o carro e pegamos as mochilas antes de começarmos a
nossa busca por um lugar reservado para fazermos a troca de roupas.
Passando os olhos rapidamente pelo local, avisto ao lado a porta de
uma sala acoplada. Olho para ambos os lados antes de testar a fechadura e
abro um sorriso convencido ao perceber que está aberto.
— Vamos nos trocar aqui. — Aponto, abrindo um sorriso orgulhoso.
Já mencionei que não tenho muita paciência para resolver um
problema?
— Tá maluca, Cecília? Isso é um depósito de lixo! E,
aparentemente, do restaurante. O cheiro já está me deixando enjoada e essa
nem é a pior parte. Imagina se pegam a gente!
Reviro os olhos, ignorando sua preocupação válida.
— E quem é que iria encontrar a gente aqui, Lucy? Para todos os
efeitos, estamos na área VIP. Ou, então, no banheiro do restaurante.
Abro a porta de metal, me deparando com um cubículo até que bem
limpinho. Daria para fazermos a troca em poucos minutos.
Minha amiga, entretanto, torce o nariz ao vasculhar o lugar.
— Não sei não...
Sem pensar, puxo Lucy para dentro do espaço e fecho a porta. Ela
dá um gritinho assustado, mas ignoro seu estado enquanto tento (ou melhor,
luto) para desamarrar as tiras do vestido. Minha amiga deu tantos nós na
hora de arrumar a roupa em mim, que estou começando a cogitar uma
possível tentativa de assassinato. Acho que o plano inicial era esperar que
eu morresse enforcada ao tentar tirar essa roupa.
— Argh! LUCY! Por que você teve que amarrar tão apertado assim?
Já saímos da época vitoriana há séculos.
Ela começa a me ajudar a desamarrar a peça.
— Você é tão dramática… — resmunga, correndo os dedos pelas
minhas costas. Quando o aperto se afrouxa, deixo o vestido cair até os meus
pés. — Cecília! Você não veio usando sutiã! — ela constata o óbvio.
— Dã! Agora tira essa roupa e me passa a minha mochila, por favor.
Lucy parece ponderar por alguns segundos, mas devido ao meu
estado seminu, ela acaba se apressando.
— Mas que merda! — ela ralha enquanto tenta passar o vestido
pela cabeça.
— Anda logo, Lucy! — peço, afoita.
— Não quer sair, Cecília!
— Como assim não quer sair?
— Me ajuda aqui! Ficou preso!
— Volto a repetir: por que você tinha que amarrar esse negócio tão
forte?
Ela grunhe.
— Eu amarro assim para o vestido não soltar na frente de todo
mundo. Ou você acha que o Baron me deixaria em paz se mais algum
homem visse os peitos da namoradinha dele?
Reviro os olhos, decidindo ignorar deliberadamente o comentário
sobre Baron. É então que percebo tarde demais o erro da minha amiga. A
renda do decote do vestido tinha se enroscado nos brincos que ela está
usando. Tento ir com calma para resolver tudo da melhor forma possível,
mas como o universo nunca colabora ao meu favor e o karma está sempre
querendo curtir com a minha cara, o impensável acontece.
A porta se abre de supetão, revelando... Uma, duas, três?
Três pessoas?
Lucy finalmente consegue se ver livre do vestido e abre um sorriso
de agradecimento em minha direção. Contudo, esse vai morrendo conforme
ela se dá conta da situação em que nos encontramos.
As silhuetas dos três homens lentamente começam a se tornar mais
nítidas. Não é necessário fazer muito esforço para saber quem está nos
encarando.
Estamos só de calcinha na presença de Brandon, Baron e Kaden.
Universo, esse é um bom momento para começar o apocalipse. Um
momento ideal, na verdade.
Lucy grita, desesperada, rapidamente recolhendo o vestido do chão
e o colocando rente ao corpo, tentando se cobrir da melhor forma possível.
Já eu? Ah... Eu ainda estou processando tudo que tinha acabado de
acontecer.
E nem queria terminar o raciocínio, para ser honesta.
Kaden, entretanto, consegue quebrar o silêncio.
— Isso é bem melhor do que imaginar vocês duas em uma guerra de
travesseiros... — murmura ele, o olhar queimando sobre Lucy. Ele parece
hipnotizado encarando o corpo dela quase completamente exposto e reviro
os olhos, nem um pouco surpresa com o seu descaramento.
Limpo a garganta, recuperando a minha voz.
Um par de olhos me encara com uma fúria mortal. Nem é necessário
dizer a quem pertence.
— Perguntamos sobre vocês na recepção porque estávamos
preocupados. A hostess comentou que viu vocês duas entrando aqui e
achamos que vocês estavam se limpando. Aparentemente, interrompemos
alguma coisa… — continua Kaden, quase abrindo um buraco nas calças
com a ereção proeminente.
Homens são tão previsíveis.
Brandon não está olhando para mim, o que me deixa secretamente
aliviada. Cubro meus seios com as mãos, vendo Baron abrir e fechar as
mãos lentamente, como se estivesse se controlando. Posso perceber pela
coloração vermelha de seu pescoço que ele está excitado, porque foi
exatamente como ele ficou quando nos beijamos no meu quarto outro dia.
A excitação, no entanto, também está misturada com a raiva. Se não
houvesse tantas testemunhas, ele já teria partido para cima de Brandon e
Kaden por terem tido vislumbre dos meus mamilos.
— Nunca viu uma mulher seminua antes, maninho? — pergunto,
ácida.
Baron semicerra os olhos, inclinando a cabeça levemente para a
esquerda. O ar à nossa volta parece estalar enquanto ele franze os lábios,
soltando um rosnado baixinho que eu sinto em cada poro da minha pele.
— Se. Vista. — ele diz, cerrando os dentes.
Eu sei que não deveria, mas é mais forte do que eu. Deixo minhas
mãos caírem ao lado do meu corpo, ciente de que agora todos eles podem
olhar o meu corpo. Escuto barulho de engasgos e exclamações surpresas,
mas eu continuo a minha tarefa como se não tivesse mais ninguém presente.
— Cecília! — ralha Lucy, ainda segurando as roupas protetoramente
na frente do corpo.
Eu dou as costas para todos eles, sabendo que os olhares serão
desviados para a minha bunda coberta apenas com um fio dental. Foda-se.
Se fossem cavalheiros, já teriam fechado a porra da porta e estariam agora
nos esperando do lado de fora. Não serei uma dama em resposta.
Depois de terminar de me vestir, me viro para Lucy, colocando meu
corpo protetoramente na frente do dela para que nenhum deles tenha a visão
de sua nudez. Ela me lança um olhar agradecido enquanto coloca o vestido
de gala que escolheu para ser o seu reserva.
— Nunca me arrependi tanto de querer estar com a roupa adequada
para a ocasião. Devíamos ter continuado como um cosplay da Cinderela
antes da transformação — resmunga baixinho, o que arranca uma risada
nervosa de mim. — Por que eles não saem daqui?
— Porque são todos uns babacas, Lucy. É por isso. E agora se
prepare para o show.
— Show? O quê…
Mas eu a interrompo no meio de seu questionamento. Girando nos
calcanhares, dou de cara com o rosto raivoso do meu irmão postiço. Baron
me encara com todo o ódio e rancor que sente por mim e eu abro um sorriso
em resposta. Ele não vai me controlar. Simplesmente não vai rolar.
— Espero que tenham gostado do que viram, rapazes — murmuro
com um traço de perversidade na voz. — Agora, se nos derem licença…
Brandon pisca os olhos incessantemente, nervoso. Embora tenha
agido como um babaca assim como os outros, ele é o que eu mais confio
aqui. Faço um meneio de cabeça para que ele me siga e esbarro no ombro
de Baron propositalmente ao passar por ele.
Ele me puxa na mesma hora em sua direção, colocando o braço ao
redor da minha cintura como se estivesse me reivindicando.
— Eu realmente odiaria ter que ensinar uma lição ao Brandon na
frente de tantas pessoas, mas não me teste, Cecília. Acha que eu tenho
medo de ir para a cadeia? Acha que eu ficaria preso? — Sua voz é quase
um sussurro no meu ouvido, tão baixa que o grave me dá calafrios. — Você
já o colocou em problemas demais essa noite. Pode apostar que a cicatriz no
rosto dele ganhará uma companheira em breve.
Não faço esforço para me soltar. Ao invés disso, inclino o rosto para
trás, deixando meus lábios perto dos seus. Baron volta o olhar irritado para
mim, o maxilar travado. Sua expressão está sombria tal qual um dia
chuvoso.
— Você realmente pensa que eu ligo se você fizer algo contra ele?
Ah, faça-me o favor. Estou contando os dias para ir embora daqui e fingir
que você nunca existiu — digo, levantando o braço para dar um tapinha em
seu rosto. — Depois de tudo o que você fez comigo nesses últimos dias,
estou anestesiada. Nada mais vindo de você pode me afetar.
Sua respiração começa a subir e descer em uma velocidade
impressionante. As narinas ficam dilatadas, o olhar escurece e, porra, o
sorriso sádico volta com intensidade em seu rosto perfeito.
Continuo sustentando seu olhar, mas dessa vez sem tanta confiança.
Baron me deixa ir e eu estreito os olhos, desconfiada. Ele não pode
ter me deixado sair dessa tão fácil, principalmente depois de tudo que
acabei de jogar em sua cara.
— Vamos, Lucy — chamo a minha amiga, cambaleando. Ela segura
meu braço e eu recupero o equilíbrio.
Quando nos afastamos dos três, ela se inclina para sussurrar para
mim:
— Você não devia provocá-lo tanto, Cecília. Ele já está pegando no
seu pé por nada, não acho que seja uma…
— Eu quero que ele se foda. Ele acha que eu tenho que obedecer as
regrinhas dele porque vai ser o meu meio-irmão? Ou talvez seja por causa
da fortuna da família dele, né? Ah, não, é porque o capitão do time de
hóquei da universidade manda e desmanda em todos os babacas de
fraternidade! — respondo, sentindo a bile queimar a cada frase dita. Eu não
estou com uma simples raiva do Baron; estou fervendo de ódio. — Lucy,
ele destruiu o nosso dormitório. Minhas roupas. Minhas fotos. Tudo se foi
por causa dele. O vestido que eu estou usando? É seu! Esses sapatos? —
Aponto para meus pés, engolindo em seco. — São da minha mãe! Isso sem
contar o dia em que ele me amarrou na cama e fez todos os membros da
fraternidade testemunharem. Sabe como isso foi humilhante? Tem ideia de
como eu me senti? Quero que ele suma da minha vida, Lucy. Quero que
ele… — Mas sou interrompida por um barulho que me causa arrepios na
espinha.
Lucy e eu nos encaramos, apavoradas, antes de virarmos para trás.
Baron está segurando Brandon pelos cabelos.
Nossos olhares se cruzam por um milésimo de segundo e eu nego
lentamente com a cabeça.
Não. Por favor, não. Por favor.
Meus olhos começam a lacrimejar quando ele abre um sorriso
maquiavélico na minha direção. Brandon está com os olhos fechados,
resistindo à dor que o aperto do irmão está lhe causando.
O Brandon não. Por favor.
Começo a correr na direção deles, sentindo o desespero e a
adrenalina tomarem conta de mim. Lucy começa a gritar, mas eu continuo o
meu caminho. Não posso deixar uma tragédia acontecer.
Baron está segurando uma garrafa de vidro quebrada.
Ai, meu Deus. Ele não vai usar isso para acertar o irmão, vai?
— BARON! — grito, sem me incomodar com a atenção das pessoas
à nossa volta.
Ele ergue a sobrancelha na minha direção.
— Curioso. Eu achei que mais nada que eu fizesse poderia te afetar
— zomba, levando a garrafa na direção do rosto do irmão.
Kaden começa a rir descontroladamente.
— Baron, não faz isso! — imploro, passando os dedos pelos meus
cabelos desesperadamente. — A nossa família está lá em cima…
— Nossa família? Quantas vezes vou precisar repetir que você não é
a minha irmã, porra? — esbraveja, travando o maxilar. — Esse idiota estava
secando os seus peitos. Kaden não desviou o olhar um segundo sequer da
Lucy, mas ele, sim. Brandon estava babando feito um cão sarnento e eu não
posso permitir que ele continue com os olhos intactos depois disso.
Ah, puta que pariu…
— Quem decide isso sou eu, Baron. O corpo é meu — retruco, me
aproximando um pouco mais deles. — Se você fizer isso, não tem mais
volta. Não importa o que você faça, eu jamais conseguiria te perdoar. Estou
falando sério. Larga. Isso. Agora.
Ele desvia o olhar louco para mim, afrouxando um pouco o aperto
no cabelo do irmão.
— O que eu ganho se fizer exatamente o que você quer?
Engulo em seco.
— Podemos sair daqui agora. Mas você precisa me prometer que
não vai mais ameaçar o Brandon. Se você chegar perto de fazer outra coisa
assim, eu juro que…
— Não farei.
Levanto a cabeça lentamente, encontrando seu olhar ansioso.
Assinto, vendo-o empurrar Brandon para frente como se ele não passasse de
um saco de batatas. Quero me virar para perguntar se ele está bem, mas sei
que isso pode agravar a situação e fazê-lo se esquecer do nosso acordo,
então continuo exatamente onde estou.
Baron estende a mão lentamente na minha direção.
— Vem comigo.
Que se foda, sim, me dê isso
Isso é o paraíso
O que eu realmente quero
É a inocência perdida
Gods & Monsters | Lana Del Rey

Levar uma garota a um cemitério não é o que muitos consideram


romântico. A verdade é que toda a adrenalina do momento me fez entrar em
parafuso e quando pensei em algo do meu mundo que eu gostaria de
compartilhar com ela, apenas esse fez sentido.
E não é porque a minha mãe está enterrada aqui.
Quando nós dois fugimos juntos, ela me trouxe para o parque que
fica atrás de todos os túmulos. Ela costumava dizer que achava irônico
como um parque cheio de flores, brinquedos e crianças correndo repletas de
vida poderia ficar na frente de um lugar onde a energia da morte permeava.
Eu me lembro de ser muito novo, mas mesmo assim suas palavras
fincaram em mim como garras. Tudo aquilo fazia sentido e era lindo. A
vida e a morte se sobrepondo uma sobre a outra em um eterno contraste,
presas nesse momento.
Para sempre.
Cecília está usando um vestido mais justo do que o anterior, mas os
braços ainda estão desprotegidos. Ela os cruza na frente do peito para
afastar o frio, mas eu já estou tirando o meu paletó para colocar sobre seus
ombros.
— Não precisa… — ela começa a protestar, mas eu ignoro suas
reclamações. Depois de colocar minha roupa nela, sinto uma pontada de
possessividade varrer sobre o meu corpo. Como ela pode não ver o quanto
foi feita para mim?
Até as minhas roupas caem perfeitamente bem nela.
— Eu não sou um monstro, Cecília. Eu consigo ser um cavalheiro.
Ela revira os olhos, deixando escapar um riso abafado.
— Engraçado ouvir isso do cara que só não mandou o irmão para o
hospital porque eu concordei em vir até aqui. Já aviso que não sou a pessoa
mais saudável do mundo, então meus órgãos não seriam tão vantajosos
assim.
Um riso escapa de mim enquanto eu levo minha mão sobre seu
rosto. Ela desvia do meu toque por puro reflexo e eu a recolho novamente.
— Isso é mentira. Você é saudável sim. Faz academia, bebe mais de
dois litros de água por dia, tenta comer sempre comida preparada em casa…
Era por isso que você estava cozinhando com a sua mãe outro dia, não é?
Você gosta de deixar as porções prontas para o resto da semana.
O queixo dela cai.
— Ai, meu Deus! Você é completamente bizarro — afirma ela,
balançando a cabeça. — E tá bom, pode até ser que eu tenha uma rotina
legal, mas a minha família por parte de pai sofre de doenças cardíacas. E eu
tenho uma tia que tem sérios problemas nos rins.
Eu enrugo a testa, sentindo a preocupação tomar conta do meu
corpo.
— Você faz exames regularmente? Já fez testes para saber se tudo
isso é genético?
Ela me encara, dessa vez com perplexidade.
— Eu não consigo te entender. Uma hora você manda seus
amiguinhos me vigiarem como se eu tivesse cinco anos de idade, outra hora
você aparece agindo superprotetor e preocupado. Acho que não tenho mais
idade para esse tipo de coisa.
— Que tipo de coisa?
— Lidar com um valentão. Argumentar com alguém que acha que
pode arruinar uma pessoa só porque não conseguiu o que quer. Me responda
uma coisa, Baron… Se por acaso eu abrir minhas pernas para você, isso
tudo termina? Você vai começar a agir como um cara qualquer e fingir que
eu não existo? Porque, sinceramente, se isso for tudo pela “caçada”... — Ela
desenha aspas no ar com uma expressão entediada. — Eu estou disposta a
desistir desse jogo. Deixo você ter o que quiser.
Ela não faz a menor ideia do que está falando.
Ela não sabe que eu a conheço melhor do que qualquer pessoa.
Cecília não tem noção do que vem se tornando para mim desde que
eu soube da sua existência. De como eu acompanhei cada postagem no
Instagram como um maldito fã, colocando alertas em todas as suas redes
sociais.
Nos vídeos em que ela fala sobre sua paixão. Sobre o texto que
escreveu a respeito da mãe e a sensação de abandono — e como aquilo me
tocou profundamente.
Ela não sabe que eu li cada parágrafo, frase e palavra que ela
costumava postar no blog que criou quando tinha apenas quinze anos. Não
faz ideia de como eu me tornei obcecado com os poucos vídeos que ela
postou no TikTok.
Me apaixonei por Cecília Braga assim como um fã que se apaixona
por seu ídolo. À distância, de forma platônica, criando o desejo de estar
com alguém que você não conhece de verdade. Amando-a de longe, sem
saber se a sensação será a mesma quando deixar de ser platônico.
Transformá-la numa fantasia.
Merda, existia até um nome para quem decidia colocar no papel
tudo isso. Fanfics. Existiam milhares espalhadas na internet, escritas por
pessoas de diferentes países e inspiradas em absolutamente tudo.
Internamente, eu também havia criado uma com a Cecília. A minha
diferença é que eu a faria se tornar real. E estou pouco me fodendo se isso
me faz parecer um louco obsessivo do caralho. Acontece que, infelizmente
para ela, a realidade superou muito a fantasia.
E agora eu preciso dela como uma droga. Ansiando a próxima dose,
sentindo o corpo implorar por mais quando não a vejo por tempo suficiente.
Já perdi as contas de quantas vezes gozei no chuveiro com a lembrança do
nosso beijo na cama dela.
Porra.
— Ah, Cecília… — Abaixo minha voz, colocando uma mecha do
seu cabelo para trás da orelha. — Se eu quisesse apenas isso, eu já teria
conseguido. No dia em que nos beijamos na sua cama ou então quando
você estava amarrada na minha. Poderia ter tentado te seduzir. O que eu
quero de você vai muito além disso.
— E o que seria?
— Devoção. Sua mais completa devoção a mim.
Ela coloca a língua no céu da boca com uma expressão irônica.
— Se você acha que vai conseguir me controlar, está enganado,
Baron. Meu pai não me criou para abaixar a cabeça quando alguém me diz
que sim. Mesmo que algo acontecesse entre a gente, você teria que aprender
a controlar o seu temperamento.
Abro um sorriso.
— Então quer dizer que existe essa chance?
Cecília revira os olhos, me dando um empurrão sem tanta força.
— Não vai se achando, não. Para você ser homem para mim, ainda
falta muito. Socar as pessoas por me olharem não é um bom começo.
— E o que você espera que eu faça? Fique de braços cruzados
enquanto um babaca fique olhando para você como se quisesse devorá-la?
— Você quer dizer… — Ela sorri. — Exatamente como você faz?
Isso me soa um pouco hipócrita.
Cerro o maxilar.
— É diferente, Cecília.
— Diferente por quê? Nosso futuro grau de parentesco lhe concede
permissão sobre mim ou é sua estranha obsessão? — bufa ela, deixando os
ombros caírem. — Também não sou sua, Baron. Isso coloca você
exatamente no mesmo lugar de todos esses babacas.
Gostaria de agarrá-la e lhe dizer exatamente como sou diferente de
todos os outros. Mas, assim como um jogo de xadrez, é importante saber
quando é a hora certa de mover sua próxima peça.
E rosnar como um maldito homem das cavernas só vai fazê-la
manter a razão. Preciso mostrar outro lado meu para ela. Porra, não foi por
isso que escolhi esse lugar para começo de conversa?
Sorrio o mais pacificamente que consigo.
— Você já tinha vindo aqui antes? — pergunto, mudando de
assunto.
Ela se contrai por baixo do meu paletó, dando uma olhada ao redor.
Depois me lança um olhar sarcástico.
— Você quer dizer o cemitério? Ah, sabe como é… Não costumam
colocar nas listas de passeios obrigatórios para turistas.
— Eu adoro como você sempre tem uma resposta na ponta da língua
— pontuo, colocando as mãos no bolso da minha calça. — Mas esse lugar é
especial para mim. Minha mãe está enterrada aqui.
Cecília arregala os olhos.
— Sua mãe está enterrada aqui? Neste lugar? É tão…
— Tão deprimente? — arrisco, mostrando os dentes para ela.
Ela estreita os olhos.
— Eu ia dizer simples. Quero dizer, o lugar é lindo, mas achei que
as pessoas ricas comprassem mausoléus ou sei lá o quê. Sabe? Para
decorarem como um museu e eternizarem seu legado.
Eu arrisco um olhar em sua direção e fico feliz ao ver que a rusga
em sua testa se dissipou. Ela está abaixando a guarda.
— Minha mãe sempre amou esse cemitério. Está vendo aquele
cercado ali? — Aponto para frente, sem saber se ela vai conseguir
vislumbrar algo pela quantidade de árvores. Cecília aperta os olhos,
forçando o corpo para frente em uma tentativa de enxergar melhor. Em
seguida, assente rapidamente com a cabeça. — Ela costumava me trazer
para brincar nesse parquinho. Me contou que achou fascinante um local tão
movimentado e cheio de crianças ficar na frente do lugar que representa a
morte. Sempre ficava reflexiva. Depois que descobriu a doença, me fez
prometer que eu convenceria o meu pai a enterrá-la aqui. Ela não queria um
lugar glamouroso que não representava nada para ela, sabe? E, um dia,
quando estava praticamente sedada pelos remédios, me disse que depois
que partisse, era aqui onde eu encontraria o espírito dela.
— Uau. Sua mãe era aquele tipo de mulher.
Me empertigo na mesma hora.
Como assim?
— O que você quer dizer? — pergunto, me retraindo.
Cecília levanta o olhar para encontrar o meu.
— O tipo de mulher que gosta de reparar nos detalhes da vida, que
não passa correndo pelos dias e momentos. Eu confesso que jamais
perceberia essa ironia… — Solta uma risada fraca. — Ela, com certeza,
deveria ter vários momentos de epifania assim. Deve ter sido uma mãe
incrível.
Eu engulo em seco com suas palavras. Espero que ela repare na
conexão que estamos tendo, em como nossas mentes funcionam na mesma
velocidade e iguais. Eu sabia que ela adoraria vir aqui para conhecer a
história da minha mãe e estava certo.
Você não pode continuar mentindo para si mesma, amor. Você me
pertence.
— Ela adoraria você — solto sem pensar.
Cecília me encara como se eu tivesse acabado de dizer que castrei
Brandon usando uma faquinha de serra. Seus olhos estão fechados e a boca
retorcida em uma expressão de zombaria.
— Ah, claro. Ela iria adorar a filha da amante do marido dela. Além
do mais, se a sua mãe ainda estivesse viva, eu nem estaria aqui.
Sua frase me pega desprevenido. De certa forma, ela tem razão. Mas
será que é tão difícil manter o otimismo, porra? Eu sei que eu daria um jeito
de encontrá-la. Não importa como, mas eu o faria.
O celular dela começa a tocar e ela o atende na mesma hora. Travo o
maxilar, irritado por quem quer que esteja nos interrompendo, mas me
mantenho em silêncio.
Preciso fazê-la ceder.
— Oi, mãe. Eu estava passando mal e Baron me levou para casa. Eu
estou bem. — Ela faz uma longa pausa. — Não, mãe, não estou correndo
perigo. Ah… Na verdade, nós vamos sair para comer em um fast-food
mesmo. Uma vez só não vai me matar. Se puder dar uma carona para Lucy,
eu agradeço. Ela vai dormir na nossa casa hoje. — Ela faz questão de me
encarar ao dizer isso.
Pobre Cecília. Ela acha mesmo que manter a amiga dela em casa vai
me impedir de esgueirar para o seu quarto durante a madrugada?
Ela continua tranquilizando a mãe por mais alguns segundos e, em
seguida, desliga o telefone. Me encara com uma expressão entediada e
então revira os olhos.
— Eu me sinto lisonjeada quando você fica me encarando assim,
como se eu fosse uma obra de arte. Mas, porra, eu estou congelando aqui. E
ainda estou com fome. Será que podemos fazer o que eu disse para minha
mãe que iríamos?
É engraçado vê-la me pedindo por algo.
Na verdade, é bem mais do que isso. É excitante, empolgante, bom
para caralho e eu só quero que ela continue me pedindo para satisfazê-la.
Quero que ela saiba que é a única mulher que eu deixaria colocar uma
coleira em mim e me comandar.
Ela só tem que ceder, porra. E entender que é minha da mesma
forma que eu também sou dela.
— Eu tenho o lugar perfeito para te levar — respondo, sorrindo.
Cecília estremece.
— Odeio quando você sorri assim. Parece um psicopata que acabou
de encontrar a presa perfeita. Me dá arrepios.
Ergo uma sobrancelha.
— É só o meu jeito.
Ela semicerra os olhos.
— Sei. E derramar aquele refrigerante em mim de propósito também
foi só o “seu jeito”? — pergunta, desenhando aspas no ar.
— Não fiz por querer. Fiquei irritado com o que você disse para o
Brandon.
Ela cruza os braços.
— Ficou irritado por eu chamar o meu futuro irmão postiço de
irmão?
Ah, caralho. Ela também não facilita.
— Eu já te disse que nós não somos irmãos, porra. Será que vou ter
que desenhar isso? — Passo os dedos pelo meu cabelo furiosamente. —
Talvez eu faça uma tatuagem em você. Na porra do seu braço, quem sabe?
Para te lembrar de que não importa o que os nossos pais façam com a
vidinha de merda deles, isso não nos torna parentes de nenhuma forma.
Ela coloca a mão sobre o peito teatralmente. Depois, finge enxugar
uma lágrima do canto do olho.
Essa garota não pode ser normal.
— Isso me magoou, tá legal? Saber que meu próprio irmão não
consegue me enxergar como uma família — diz, gesticulando como uma
atriz.
Abro um sorriso perverso.
O mesmo sorriso que ela acabou confessando que a faz arrepiar.
— Ah, mas eu te enxergo como uma família, sim. Você vai carregar
todos os meus filhos e vai ter o meu sobrenome. Vai ficar no camarote da
família em todos os meus jogos e com certeza vai estar usando a minha
camiseta lá. Toda vez que eu me sair bem em uma temporada, você vai
deixar eu te engravidar de novo. Vamos dar entrevistas de fim de ano e
posar para capas de revista como um casal perfeito e quando eu for em talk
shows, vou contar sobre como meus filhos sabem falar português por causa
da mãe. Quer que eu continue? Minha imaginação é bem fértil.
Cecília nem consegue me encarar nos olhos. Os ombros estão para
baixo, a postura defensiva e o meu paletó sobre seus ombros de repente
parece grande demais.
Merda.
Acho que fui longe demais.
— Baron… Você me assusta — murmura.
Porra.
Me aproximo ainda mais de seu corpinho frágil, apoiando meu
queixo em sua cabeça. Ela está dura feito uma pedra em meus braços, mas
mesmo assim, ainda parecemos tão certos. Um dia, ela vai perceber que
tudo o que eu faço não é porque eu quero atingi-la ou fazê-la se sentir mal.
Mas sim porque me esqueci de respirar a primeira vez que vi o rosto
dela através da tela do celular. E que só agora eu estou entendendo o
verdadeiro significado de viver.
— Você vai se acostumar, amor — sussurro, passando a mão
carinhosamente por suas costas.
— E… E se eu não me acostumar?
Minha coluna se retesa com o tremular de sua voz.
— Você vai.
Ficamos em silêncio, até eu sentir seu corpo relaxar pela primeira
vez. A sensação é tão inebriante que eu quase solto um grito de
comemoração, mas me contenho. Nossos corpos se encaixam em um abraço
que faz a minha pele inteira se arrepiar.
É a coisa mais maravilhosa que eu já senti. Mais poderoso do que
qualquer orgasmo que eu já tive na vida. Arrisco dizer que até mais do que
vencer a temporada do ano passado pelos Angry Sharks.
— Baron?
— Hm.
— Eu estou realmente com muita fome.
Deixo uma risada escapar de meus lábios, ainda com o rosto em seu
cabelo.
— Conheço um lugar excelente.
Porque você é jovem, você é selvagem, você é livre
Você está dançando em círculos em volta de mim
Você é louco pra caralho
Você é louco por mim
Cruel World | Lana Del Rey

— Cecília! Eu juro que vou testar uma técnica de café quente e


entornar tudo em cima de você. Tá na hora de levantar! — A voz estridente
de Lucy me arranca do meu maravilhoso mundo dos sonhos.
O quê?
Eu resmungo algo inaudível, irritada, coçando os olhos ao me sentar
desajeitadamente na cama.
— Você ainda está aqui? — bocejo, sem me preocupar com o estado
das minhas roupas ou do meu cabelo.
Depois que Baron e eu chegamos em casa, corri para me trancar no
meu quarto. Ele deu risada enquanto eu tropeçava nas escadas e eu fiquei
aliviada ao ver Lucy dormindo pacificamente na minha cama.
Agora eu estou meio que arrependida disso.
— E não pretendo ir embora tão cedo. Meu Deus, esse lugar é
incrível. Entendo totalmente você preferir dirigir quase duas horas ao invés
de ficar em um dormitório.
— Na verdade, eu só tenho essa preferência porque o herdeiro do
dono dessa casa acha que eu sou dele. Acho que você deve ter se esquecido
do que aconteceu com o nosso quarto, né? — provoco-a, me virando para
puxar o lençol até ele cobrir o meu rosto.
Estou quase pegando no sono novamente quando Lucy o arranca de
cima de mim, usando expressões e palavras que não consigo entender.
— Hoje é sábado, Cecília. Pelo amor de Deus, vamos sair. Você
ainda não conhece a praia de Granville e eu posso te garantir que é incrível.
Eu a encaro com os olhos cerrados.
— Eu sou do Brasil, sua maluca. Acha mesmo que alguma praia
daqui vai superar as da minha terra natal?
— Sua mãe e seu padrasto também querem nos levar para um
almoço. Algo me diz que o lugar vai ser ainda mais chique do que o de
ontem.
Reviro os olhos.
— Se quiser ir, Lucy, fique à vontade! Mas eu não. — Sou firme,
me jogando na cama novamente.
Minha amiga bufa, cruzando os braços antes de se sentar na beirada
da cama.
— Não vou ficar confortável andando por aí com a sua família
sozinha, Ceci. Qual é?
— E quem disse que eu também me sinto? E para sua informação,
essas pessoas não são a minha família. A única família que eu tenho está no
Brasil agora e jamais fariam qualquer coisa para me machucar, ao contrário
dessas pessoas.
Lucy cruza os braços na frente do corpo.
— Brandon sumiu ontem à noite. Depois que você e Baron saíram,
ele também foi embora. Acho que ele tentou chamar a tal Briana para ir
com ele, mas ela foi taxativa ao negar. Isso o irritou.
Espera… Isso é interessante.
Me sento novamente, totalmente focada em Lucy. Minha amiga
arqueia a sobrancelha para mim.
— Agora você acordou? — me provoca com um sorriso nos lábios.
— Fofoca é a minha religião, Lucy. E eu quero muito saber qual a
relação desses dois com a Briana. Não faço ideia de quem ela é.
— Isso é tão esquisito… — murmura ela. — Ela parece tão íntima
do tal Alexander que parece até da família. Brandon está pendurado nela
como um maluco, e Baron mal consegue olhá-la.
— Será que ela é amante do Alexander?
Lucy arregala os olhos, desviando o rosto para todos os lados a fim
de se certificar de que ninguém escutou o que eu acabei de dizer. Acho
graça da sua preocupação, mas também faço uma anotação mental para não
cometer um ato falho desses novamente.
As paredes aqui têm ouvidos.
— Acho que ele não seria capaz de se envolver com alguém tão
jovem. Ela tem a mesma ideia que os filhos dele, Cecília.
— E você acha que isso importa para homens, Lucy? Existe uma
coisa no mundo chamada Sugar Daddy e eu não duvido nada que um
homem como o Alexander mantenha algumas garotas pelo dinheiro.
— Eu não sei de quem você puxou esse pessimismo. Esse cara vai
se casar com a sua mãe. Se ele ter uma amante fosse algo real, acho que
devíamos estar planejando uma forma de desmascará-lo.
— Ah, pra quê? Minha mãe gosta desse padrão de vida. A mulher
dele morreu de leucemia, Lucy, e esse cara teve um milhão de namoradas
desde então. Se bobear, minha mãe quis fisgá-lo justamente por causa disso.
Nem todo mundo liga para traição.
Minha amiga parece reflexiva, levando o dedo indicador até os
lábios para roer suas unhas. Esse é um hábito que ela começou a
desenvolver desde que um certo rapaz apareceu em seu caminho.
— Acho que eu seria capaz de matar um homem se ele me
enganasse — diz ela, por fim. — Jamais conseguiria aceitar a ideia de ser
passada para trás.
Dou de ombros, jogando os cobertores de lado para me colocar de
pé.
— Quanto drama. Se eu descobrisse uma traição, iria apenas me
vingar. Nada dramático, mas o suficiente para ele pensar duas vezes antes
de fazer com a próxima. Depois, eu provavelmente iria para cama com
todos os melhores amigos dele.
— Que cruel.
Abro um sorriso.
— Mas você nem precisa se preocupar com isso, Lucy. Kaden
jamais será capaz de te enganar. Ele te encara como se você fosse um pernil
sendo assado lentamente do lado de fora de um restaurante. E quando ele
conseguir te comer…
— Eu não acredito que você disse isso! Sua vaca! — ela grita,
gargalhando, antes de atingir minha cabeça com um travesseiro.
— LUCY! — protesto, me virando de frente a fim de tentar parar
seu próximo ataque.
Infelizmente para mim, minha melhor amiga já possui mais dois
enormes travesseiros, um em cada mão, e me acerta de todos os lados
possíveis. Sem pensar duas vezes, procuro uma almofada que está mais
próxima de mim e a atinjo com toda força, desequilibrando-a e fazendo-a
cair deitada na minha cama.
Com um sorriso vitorioso, subo em cima dela e me sento em sua
barriga, segurando suas duas mãos rentes ao rosto. Lucy se debate
desesperadamente tentando se soltar, mas eu continuo firme.
Não fiz aulas de artes marciais por meses à toa.
— Diga que eu sou a melhor amiga do mundo e que eu tenho razão!
— mando, taxativa.
— JAMAIS!
— Eu não tô brincando! Posso ficar aqui o dia inteiro...
Ela tenta se debater mais uma vez, mas eu intensifico o aperto em
seu punho, fazendo-a gemer de dor.
— ME SOLTA! — ela choraminga, mas eu sei que é tudo
fingimento.
Me pergunto o porquê de ela não estar fazendo testes em Hollywood
para papéis na televisão. A garota é boa… Tão boa que posso jurar que
acabei de ver uma lágrima escorrer.
— Cecília... — ela me adverte.
— Lucy... — eu zombo, arqueando a sobrancelha.
Continuamos nos encarando por alguns segundos, em uma disputa
silenciosa para ver quem pisca primeiro, até uma voz insuportavelmente
familiar brotar do nada:
— Ai, meu Deus, eu morri, fui pro céu e ninguém me avisou?
Kaden, irritante como sempre, deixa a porta bater ao entrar no meu
quarto.
Revirando os olhos, eu saio de cima de Lucy, libertando-a da minha
armadilha.
— Não, não… Não parem, por favor! — ele implora, o olhar
malicioso queimando sobre nós duas. — Eu não sabia que vocês faziam
guerra de travesseiros. Pelo amor de Deus, vocês precisam me deixar
participar!
Lucy e eu nos entreolhamos, segurando uma risada.
Esse cara só pode estar de sacanagem.
— O Baron vai adorar saber disso — provoca Lucy, me fazendo
fechar a cara. — Cai fora, Kaden.
Ele abre um sorriso travesso, se aproximando dela como um maldito
predador. Os cabelos ruivos estão jogados sobre o rosto e só agora eu
percebo a quantidade de sardas que ele possui.
— Eu estou aqui por causa dele. Ele quer que eu leve você para
algum lugar, assim vai conseguir um tempo a sós com a nova irmãzinha.
Cruzes. E irmãzinha, cacete?
Às vezes, eu me referia a mim mesma dessa forma para irritar o
Baron, mas isso era eu. Não gosto de Kaden usando o termo para se referir
a mim.
— Impossível. Lucy e eu temos muitos planos juntas — minto,
arqueando a sobrancelha com uma expressão vitoriosa. — E o meu final de
semana está todo comprometido.
Lucy vira o rosto para mim, me encarando com uma expressão
resignada.
Dou de ombros.
— E para onde as mocinhas pensam que vão? — questiona Kaden,
dessa vez com o rosto impassível.
Merda. É tão mais fácil quando consigo ler as pessoas.
— Praia — respondo, na lata. — Vamos passar o dia na praia e
depois vamos almoçar com os meus pais. À noite, eu vou fazer pipoca e um
doce brasileiro chamado brigadeiro — continuo, cada vez mais
convincente. — E então vamos maratonar vários episódios de Gossip Girl.
Como pode ver, minha agenda está cheia.
Kaden estreita os olhos.
— Baron não vai aceitar isso.
— Baron pode ir se foder — respondo, dando de ombros.
O garoto ruivo deixa uma risada incrédula escapar de seus lábios.
— E ele está lá embaixo pensando que ontem à noite vocês dois
criaram algum tipo de conexão de merda. Você é dura na queda, Cecília.
Mas eu aconselho a ter cuidado… Ele não vai continuar paciente por muito
tempo.
Lucy me cutuca com o cotovelo quase imperceptivelmente, mas eu a
ignoro. Com certeza deve estar querendo todos os detalhes sobre a noite
anterior que eu ainda não contei.
Não é como se eu tivesse tido tempo também.
— Vou contar para ele sobre os planos de vocês… Mas já posso
dizer por mim que achei interessante. Acho que vou acompanhá-las.
— Vai sonhando… — resmunga Lucy.
Os olhos azuis de Kaden se voltam para ela com tanta rapidez que
minha amiga prende o fôlego.
— Eu já estou sonhando com você há dias demais, Lucy. Uma hora
ou outra você sai da minha fantasia e vem parar aqui… — Ele aponta para a
própria virilha, gargalhando ao escutar nossos sons de nojo. — E eu jamais
perderia a chance de ver vocês duas de biquíni.
Inclino a cabeça para o lado, irritada.
— Isso tudo é porque você está na seca, Kaden? Achei que os
jogadores de hóquei tinham uma fila enorme de meninas pelo campus.
— E quem disse que não tem? — rebate, arrogante. — Mas nem
tudo que vem fácil é o melhor. Eu particularmente adoro a parte da caçada.
Perseguir a presa e vê-la ceder lentamente… Acho que é por isso que Baron
e eu temos tanto em comum.
Bufando, marcho até a minha cama e pego um dos travesseiros que
antes eu estava pensando em usar para sufocar Lucy. Uso ele como uma
arma ao atacar Kaden com raiva, vendo minha melhor amiga pegar sua
própria almofada para me ajudar.
— Sai daqui! — berro, irritada, querendo que ele suma da minha
frente.
Kaden não para de rir ao caminhar lentamente para a porta. É como
se ele sequer sentisse as almofadas em seu corpo, um semideus com a
confiança e a arrogância do próprio Hades.
— Meu Deus, parecia que ele não ia embora nunca! — resmungo ao
me atirar na cama novamente.
Lucy está em pé, de frente para mim, com um sorriso animado no
rosto. Minha expressão vai desmoronando quando me dou conta da furada
em que eu me meti: vou precisar seguir o roteiro da minha amiga para o
final de semana.
Porra… Só queria assistir uma série dos anos dois mil e estudar um
pouco para a matéria de História da Arte. É pedir muito, universo?
Bom, aparentemente, é sim. Porque Lucy agora parece uma criança
que entrou sem a supervisão dos pais em uma grande loja de doces.
— Será que a sua mãe vai se importar de nos emprestar o cartão de
crédito?
Soltando um muxoxo, eu a encaro.
— Por que precisaríamos de um?
— Porque você ainda não comprou suas roupas e nós temos que
achar uma roupa de banho para você.
Porra, ela tem razão! Eu preciso mesmo comprar roupas novas por
causa do que o babaca do meu irmão postiço fez.
E um biquíni novo não iria me cair mal…
— Acho que ela não vai dizer não — digo com um sorriso de canto.
Você força, eu me afasto, me sinto mais quente que fogo
Eu acho que ninguém nunca me fez sentir assim tão nas nuvens
Te desejo, querido, garoto, é você que eu desejo
Seu amor, seu amor, seu amor
West Coast | Lana Del Rey

Minha mãe solta um gritinho feliz ao me estender seu cartão de


crédito. É a única pessoa do mundo que fica contente por perder dinheiro.
Ela nos assegura de que o limite é o suficiente para eu comprar todas as
roupas de que preciso e eu sinto uma onda de animação finalmente me
atingir.
Quando cruzamos a sala para irmos até a garagem, damos de cara
com Briana. Ela está usando óculos de armação grossa enquanto se inclina
para continuar lendo o livro de anatomia que está sobre seu colo.
— Bom dia! Vocês vão sair? — pergunta ela, um pouco interessada
demais.
Lucy e eu nos entreolhamos, sem saber o que dizer.
Assinto lentamente, por fim.
— Vamos às compras e depois à praia. Provavelmente vamos
almoçar fora… — continuo, com o tom de voz baixo.
O olhar de Briana se acende como se fosse luz em uma grande
árvore de Natal.
— Eu conheço as melhores lojas da região. Costumava comprar
roupas em um shopping aqui perto, porque tem de tudo. Desde as grandes
marcas de grife até as de departamento. Ah, e eles também tem restaurantes
incríveis.
Porra… Ela está mesmo se convidando para passar o dia com a
gente?
Sinto um beliscão na costela de Lucy, mas não me dou o trabalho de
virar para saber o que ela quer. Encarando Briana, abro um sorriso educado.
— Parece bom. Eu não conheço muito bem as redondezas e seria
legal ter uma guia turística.
Ela salta do sofá, abrindo um sorriso repleto de dentes dessa vez.
— Eu só preciso trocar de roupa e…
— Na verdade… Eu prefiro que a gente vá agora. Literalmente
nesse segundo. Estamos correndo um grande risco, se é que me entende…
A compreensão parece atingir seu rosto angelical antes que eu
precise dizer.
— Ah… O Baron — ela constata, com os ombros para baixo.
Arregalando os olhos, eu giro no calcanhar de forma dramática para
ter certeza de que continuamos sozinhas aqui.
— É melhor não dizer o nome dele — peço, sem medo de soar
muito dramática. — Se chamarmos mais de uma vez, ele é invocado. Igual
a esses demônios de filmes de baixo orçamento.
Ela solta uma risada.
— Ninguém nunca conseguiu descrevê-lo tão bem antes. Vocês
devem ser mesmo próximos — diz ela, como quem não quer nada.
Faço um sinal para que Briana e Lucy me sigam até a garagem e
vou marchando até lá com ambas em meu encalço. Pouco antes de alcançar
a BMW da minha mãe, eu a respondo:
— Próximos é uma palavra bem forte. Ele acha que eu sou dele e eu
continuo tentando fingir que ele não existe — explico, abrindo a porta do
motorista.
Depois que estamos todas dentro do carro, finalmente dou a partida.
Merda… Vou ficar mal acostumada. No Brasil, eu costumava dirigir
um carro manual do meu pai, que de vez em quando fazia os meus pobres
pés doerem de tanto precisar pressionar aquela embreagem dura. Esse carro
é tão leve e confortável de dirigir que, na verdade, parece que ele está se
dirigindo sozinho.
O carro que ganhei do meu padrasto para ir a faculdade também é
automático e muito tranquilo de manusear. Mas… Cacete. Nada se compara
a esse daqui.
Preciso me lembrar de agradar minha genitora muito bem durante as
próximas semanas. Quero que ela me empreste seu carro outras vezes.
— Desculpa se eu soar muito indelicada… — Limpo a garganta,
dando uma olhada em Briana pelo retrovisor. — Mas eu preciso mesmo te
perguntar. De onde você conhece o Alexander e os gêmeos? Quero dizer, eu
estou aqui porque a minha mãe é a Suzan. Eles vão se casar e eu decidi
fazer faculdade aqui.
Lucy me encara do banco do carona, murmurando um “muito sutil”
só com os lábios, sem emitir som algum. Depois faz um sinal de joinha com
os dedos que me diz tudo o que eu preciso saber: não pareceu nada natural.
Briana solta uma risada sem graça.
— Eu sei que você é a filha da Suzan, Cecília. À essa altura, quem
não sabe?
Encaro minha amiga de soslaio, que está virada para mim. Nós duas
parecemos aqueles detetives de séries policiais que acham que uma frase
fora de contexto pode entregar o assassino de bandeja.
Só espero que a pose não esteja tão ridícula como a deles.
— Eu cresci aqui. — continua Briana, agora encarando a paisagem
que passa por nós. — Quer dizer… Não aqui na casa deles. Mas sim na casa
vizinha. Ela não pertence mais aos meus pais porque eles se mudaram há
dois anos para o Texas. Eu fui para a faculdade de Boston e eles nunca
gostaram muito da Califórnia. Fez sentido venderem a casa e viverem suas
vidas depois que o passarinho saiu do ninho.
— É, faz sentido mesmo — concordo, limpando a garganta em
seguida. — Você e os meninos são bem amigos, hein?
Lucy abre tanto a boca que eu me arrependo instantaneamente do
que acabei de dizer. Ela deixa o corpo cair dramaticamente contra o banco e
eu estreito meus olhos. Acho que ela está passando tempo demais comigo.
Briana, do banco de trás, solta uma risada anasalada.
— Não precisa ficar com ciúmes, Cecília. Baron e eu não somos
mais como antes — diz, simplesmente. — E Brandon é como um irmão.
Ele é o meu melhor amigo e tudo o que me resta dessa cidade. Pelo menos,
por enquanto.
O tom de voz dela não soa receoso e muito menos maldoso. Não
sinto como se fosse um ataque pessoal a mim. Ela só parece esconder
muitos segredos e a alma fofoqueira que habita em mim está se sentindo
cada vez mais instigada.
Mas pera… Ela por acaso deu a entender que a aproximação dela
com o Baron me incomodaria?
Puta que pariu.
— Eu não estou com ciúmes do Baron — atiro, encarando-a por
cima do ombro.
Briana dá de ombros, apertando os lábios em uma linha fina.
— Se é o que você diz…
— Eu. Não. Tenho. Ciúmes. Dele — pontuo entredentes. — E eu
realmente ficaria muito feliz se você o levasse para bem longe de mim.
— Aposto que ele fica radiante ao saber disso — ela continua
provocando e eu me arrependo na hora de ter topado chamá-la para a nossa
ida às compras. — Seu jeito de falar me soa familiar. Já nos encontramos
antes?
Isso me pega de surpresa.
— Acho que não.
— Espera… Eu costumava ler o blog de uma Cecília. Ela escrevia
quando era adolescente e um dos textos viralizou. Era sobre o Ano-Novo.
Mas todos eles eram em inglês…
Fecho os olhos, sentindo o meu coração acelerar. Que porra é essa?
Ela sabia sobre O Mundo de Cecília?
Lucy me encara de soslaio, abrindo um sorrisinho.
— Eu também lia de vez em quando. Mas ela parou de publicar
depois de um tempo e então sumiu. Acho que nem está mais no ar. É
engraçado porque posso jurar que já vi seu rosto antes…
Ela tem razão. Faz tempo que esse site não existe mais.
Quando eu era uma préadolescente confusa com meus sentimentos e
com raiva da minha mãe por ter ido embora, comecei esse blog on-line. Eu
contava sobre o meu dia a dia, discorria sobre meus sentimentos e
normalmente falava mal das pessoas da minha escola.
Mas um texto infantil sobre o meu Ano-Novo acabou viralizando e
como eu escrevia em inglês, acabei atraindo um público fiel de meninas
canadenses, inglesas e americanas. Trocávamos experiências e eu
aproveitava para fazer novas amizades.
Na minha cabeça fazia sentido treinar o meu inglês escrevendo
sobre mim e também… Isso me fazia sentir mais próxima da minha mãe.
Não sei se por ela ter ido para outro país, mas eu sonhava com o dia em que
ela o encontraria e sentiria orgulho de mim.
Nem preciso dizer que isso nunca aconteceu, preciso?
Continuamos em silêncio até chegarmos no maior shopping da
região. O assunto “Brandon e Baron” é esquecido assim como o blog e nós
vamos de loja em loja, experimentando todas as roupas da alta temporada.
É o meu paraíso particular.
— Cecília, você bem que podia me dar uma consultoria de moda de
graça, né? Aproveitar que estamos aqui para você conseguir alguma
experiência. Quer dizer, antes de ser contratada pela Khloe Kardashian.
— Eu estou no primeiro semestre, garota. — Sorrio, encarando
Briana por cima do ombro. Ela está encarando um manequim com o olhar
perdido, fixando-o num ponto cego.
Lucy e eu nos entreolhamos, arregalando os olhos uma para a outra.
Briana tem segredos. E, aparentemente, não quer compartilhá-los com a
gente.
Ficamos mais duas horas no shopping e eu já estou sentindo muito
pelo meu padrasto. Ele vai precisar ser forte quando der uma olhada na
fatura do cartão de crédito.
— Agora vamos colocar todas essas sacolas no carro… — começa
Lucy, com a voz animada. — E depois a praia. O que acham?
— Parece bom — concordo.
— Por mim, tudo bem — diz Briana, com um sorriso amigável.
Nós dirigimos até a praia favorita de Lucy na cidade e eu abro um
sorriso ao ver como ela lembra a do Brasil em alguns aspectos. Parte da
minha família mora no Rio de Janeiro, mais especificamente em Coroa do
Sul. Gosto de praias com gente, calor humano e o caos de uma família que
se programou para levar as crianças no final de semana.
— Meus pais me traziam aqui quando eu era pequena — ela nos
explica, dando de ombros. — Fiquei feliz quando entrei para Granville por
causa disso também. Vou poder vir aqui sempre que eu quiser.
Procuramos um lugar mais distante na areia a pedido de Briana e
depois de estender algumas toalhas para poder nos bronzear, tiro toda a
minha roupa. O biquíni eu consegui em uma loja que havia feito uma
coleção especial com um designer brasileiro.
Graças a Deus por isso.
Lucy e Briana, no entanto, parecem não achar que eu tive tanta sorte
assim. As duas me encaram, boquiabertas, como se eu tivesse acabado de
tirar todas as minhas roupas e ficado nua de uma hora para a outra.
Mas que porra?
— Cecília… — Lucy começa, já com o rosto vermelho. E, cara, eu
aposto que não é por causa do sol. — O que acha de colocar um short por
cima desse… Disso… Dessa…
— É só um biquíni — defendo, franzindo o cenho. — Qual o
problema?
— Hm… — Briana limpa a garganta, sem conseguir desviar o olhar
da areia. — Acho que eu vou pegar alguma coisa para beber. O sol está
quente demais aqui. Mais tarde eu volto.
E então, como se não fosse nada demais, ela vai embora.
Ok…
Me deito ao lado de Lucy, ignorando as olhadas nadas sutis que ela
dá para o meu corpo. Vou aproveitar o dia para me bronzear e esquecer de
todos os problemas que ainda me esperam quando eu voltar para casa mais
tarde.
— Me ajuda com o protetor solar? — ela pede, depois de um tempo.
Como eu pude me esquecer do protetor, caramba? Pegar uma
insolação e ficar queimada de sol pelo restante da semana definitivamente é
algo que eu não preciso.
— Claro.
Quando estou passando o creme em suas costas, ela pigarreia,
dizendo:
— Como será que seus dois irmãos estão, hein? Junto com aquele
amigo idiota deles.
Faço um meneio com a cabeça, dando de ombros.
— E eu é que sei? Mas aposto que o Baron deve estar com Kaden
em algum canto da cidade. Provavelmente comprando cordas ou objetos
para me ameaçar mais tarde.
— E o Brandon uma hora dessas com certeza deve estar tentando
comprar a passagem da Briana de volta. Essa garota é muito estranha.
Reviro os olhos, limpando um pouco a areia das minhas pernas.
— Você ouviu o que ela estava dizendo sobre eu ter ciúmes do
Baron? Eu tive que usar todo o meu autocontrole para não bater em um
poste de propósito.
Lucy abre um sorriso.
— Já parou para pensar que ela pode ter algum tipo de relação com
os dois? Pensa só, o Brandon fica agindo todo territorialista ao redor dela.
Baron mal consegue encará-la sem querer arremessar cadeiras. E ela
cresceu aqui… Além do mais, Alexander também parece muito confortável
com a presença dela na casa.
— Imagina se, na verdade, ela tivesse um caso com os três? O pai e
os dois filhos gêmeos. — Embora a ideia soe absurda, não consigo segurar
a minha risada. — Ela precisa ter desistido da vida para se submeter a algo
assim. Principalmente com aqueles dois demônios.
— Ela até pode ser um pouco louca por topar isso... Mas cega, não.
Eles são lindos, vai. O problema é só a personalidade. Especificamente de
um tal jogador de hóquei…
Arqueio a sobrancelha, surpresa.
— Jura? Não acredito que você acha mesmo isso.
— Não se faz de sonsa, Ceci. Não fui eu que fiquei com os dois no
mesmo dia, né?
Filha da mãe. Não acredito que ela acabou de jogar isso na minha
cara.
Franzo a testa, me levantando de supetão. Lucy só pode estar de
sacanagem mesmo.
— Ah, chega! Eu vou nadar. Fica aí pensando na personalidade ruim
daquele encosto enquanto eu curto essa maravilha — digo, irônica, dando
as costas para a minha melhor amiga.
Fato é que eu nunca fui muito fã de praia quando eu morei no Rio de
Janeiro. Foram apenas dois anos antes de eu me mudar para Brasília, mas
acho que você só dá valor para alguma coisa quando perde. Costumava me
irritar com as nossas idas à praia quando estava em Coroa do Sul. Havia
algo com a água salgada, areia quente e corpos seminus que me deixavam
extremamente receosa. E isso não melhorou nem quando eu me esforçava.
Eu me queimava com facilidade e como uma boa pré-adolescente rebelde,
só queria colocar meus fones de ouvido e escutar Justin Bieber sem parar
enquanto fantasiava com o nosso futuro casamento.
Mas assim que perdi a chance de entrar no mar sempre que eu
queria, a praia se tornou um dos meus lugares favoritos no mundo. Me
lembro de contar os dias para visitar a minha família no Rio só para
acampar na praia como uma turista.
Fecho os olhos e me jogo com tudo na água gelada, rezando para
que não engolisse nem uma única gota daquele mar salgado ou que a água
não respingue no meu olho. Ao sentir as ondas se quebrando e rir como
uma criança, imediatamente me lembro de como meu pai costumava me
chamar de “bicho do mato” por não gostar de ir à praia com ele. Como as
coisas mudam, hein? Ele sempre me dizia que eu precisava tirar a cabeça da
fantasia e me arriscar mais na vida real, e, de certa forma, estou seguindo
seu conselho agora.
Me arrisquei. Mudei de país para fazer faculdade, dirijo sozinha por
duas horas para chegar em Granville, vou à festas e é justamente por causa
disso que a minha vida está desse jeito.
Você me paga, pai.
Gasto bons minutos na água e quando já estou sentindo meus dedos
enrugarem, decido voltar para perto de Lucy. Minha amiga, entretanto, não
está mais no local em que eu a havia deixado.
— Porra... — murmuro, procurando uma toalha nas minhas coisas
para me secar.
Coloco minha saída de praia às pressas, irritada com esse sumiço
repentino de Lucy. Quando eu encontrar essa baixinha de novo, ela vai
entender o significado da palavra “surra”.
Porque, como se não bastasse ela evaporar feito fumaça enquanto eu
estava nadando, ela também deixou todas as minhas coisas aqui.
Tá, pode ser meu pensamento de brasileira extremamente cautelosa
e com medo de ser roubada, mas precaução nunca é demais. E perigo existe
em qualquer país, cacete.
E, como se o mundo estivesse conspirando com a minha mente, um
grito atrás de mim quase me faz saltar.
— Cecília! — Reconheço a voz desesperada na mesma hora. —
CECI!
Giro sob os calcanhares para encarar Briana, que está tentando
recuperar o fôlego. Parece que a garota veio correndo até mim, o peito está
subindo e descendo em uma velocidade preocupante.
— Saia daqui! — ela manda, gesticulando feito doida. Eu franzo o
cenho, confusa pra caralho, até que meu olhar segue sua mão até a pista do
outro lado da rua.
Um Jaguar preto.
Meu coração começa a acelerar.
Esse carro tem um dono. Um dono muito, muito maluco.
— Merda — murmuro, me abaixando para catar todas as minhas
coisas no chão.
Briana começa a me ajudar e com um timing perfeito, percebo
finalmente as mensagens e chamadas perdidas que havia no meu celular.
De Lucy.
“Eles estão aqui, Cecília. Precisei correr quando vi Kaden atrás de
mim, mas acho que isso só o divertiu. Mil desculpas, mas eu precisei pegar
o carro. Me encontre na sua casa.”
Poxa... Eu ficando puta com ela e a coitada só queria se livrar.
Mas espera… Essa cretina realmente me deixou para trás?
Retiro o que eu disse. Lucy vai mesmo conhecer o significado da
palavra surra quando nós duas ficarmos cara a cara de novo.
— Vamos! — Briana manda, equilibrando o restante das coisas nas
mãos enquanto a gente corre na direção contrária a do carro dele.
— Lucy levou o carro! — berro, começando a sentir a adrenalina do
perigo iminente.
Ela franze o cenho.
— Sim, eu vi ela saindo com ele como uma maldita piloto de fuga.
Foi assim que eu percebi que tinha algo de errado. E sabia que precisava te
encontrar.
Bom, foi o que eu pensei.
Mas o nosso plano de fugir não funciona exatamente como o
planejado. Porque escuto um soluço alto atrás de mim e ao parar para
observar sobre meu ombro, eu o vejo.
Baron.
Ele está segurando Briana pelos ombros, mas o olhar obsessivo não
desvia do meu rosto um segundo sequer.
— Cecília. — Meu nome desliza por seus lábios como uma
promessa velada.
Engulo em seco.
Ah, merda.
— Baron.
Nossos olhares se encaram. Eu não quero ceder, tampouco ele.
Briana está parada como uma estátua entre nós, o rosto pálido
demonstrando um pavor que eu jamais vi no semblante de alguém. É a
expressão de uma vítima que conhece a capacidade de seu algoz.
Ela sabe do que Baron é capaz de fazer.
— Pensei que tínhamos nos entendido ontem. — Ele estreita os
olhos. — Pensei que você tinha aprendido uma lição.
É claro que ele pensou. E, com certeza, deve ter tido fantasias sobre
eu fazendo tudo o que ele queria sem pestanejar.
Dou de ombros.
— Sou de libra. Sabe como é, de vez em quando a balança fica
desequilibrada — zombo, mesmo sabendo que não deveria fazer isso.
O olhar penetrante dele lentamente é substituído para o frio e sem
vida que me causa arrepios. A expressão em seu rosto se fecha como um dia
nublado e é só então que escuto a voz brincalhona de Kaden atrás de mim.
Com Hunter em seu encalço.
— Chegamos na hora certa. A festa começou, porra! — Kaden
debocha, levando uma garrafa de cerveja aos lábios. — Estava sentindo
falta de correr atrás de você, Cecília. Obrigado pela diversão.
Nem faço questão de responder. Só mostro o dedo do meio, sem
nenhuma sutileza, o que arranca uma gargalhada sincera de Kaden.
Hunter, como sempre, continua em um silêncio mortal. Não consigo
entender como esses três são amigos. Eles não têm nada em comum.
— Vocês dois, levem essa daqui para a minha casa — Baron manda,
empurrando Briana na direção dos amigos. — Vou levar a Cecília comigo.
Digam ao meu pai que estamos na faculdade. E se a mãe dela perguntar…
— Ele abre um sorriso cruel. — Podem dizer que eu trago o que sobrar dela
na segunda-feira.
Mais uma onda de risadas começa e eu sinto meu estômago afundar
ao constatar o que está prestes a acontecer.
Baron está me sequestrando.
— Você não se atreveria… — murmuro, cambaleando para trás.
Mas ele nem pisca ao inclinar a cabeça para o lado, me avaliando
como um predador assiste a sua presa.
Me viro para tentar fugir, mesmo sabendo que as minhas chances
são praticamente nulas. Os braços de Hunter são como uma gaiola de ferro
ao meu redor enquanto Baron caminha com a maior calma do mundo na
minha direção.
Antes de me puxar para seus próprios braços, ele diz:
— Eu te avisei para não me provocar, Cecília. Está na hora de você
aprender isso de uma vez por todas.
Você acabou de cometer o pior erro
E você vai se arrepender, querido
Porque uma vez que você dá e então você tira
Você só vai acabar querendo
Again | Noah Cyrus part. XXXTENTACION

Sequestrada aos dezoito anos.


Eu provavelmente deveria escrever um livro sobre essa merda
algum dia.
Baron entrou em uma rodovia assim que conseguiu me jogar no
banco do carona e agora está acelerando feito um louco. Não abri a boca
desde que ele me pegou no colo, me segurando como se eu fosse sua
namoradinha e me pôs com as mãos amarradas ao seu lado.
E agora o psicopata está rindo como um louco. Os olhos estão
faiscando enquanto ele continua com as mãos no volante, me levando para
algum lugar.
— Você sabe que vou tentar escapar na primeira oportunidade que
eu tiver, não sabe? — grito, tentando soltar as minhas mãos do nó duplo que
o desgraçado deu. — É melhor você rezar para uma viatura não passar por
nós.
Mas não importa o que eu diga, é como se eu estivesse invisível. Ele
continua com os olhos fixos na estrada, de vez em quando travando a
mandíbula quando eu digo algo que o aborrece. No geral, é como estar
sendo realmente sequestrada.
Quando começa a anoitecer, acabo pegando no sono. O cochilo não
dura mais do que uns vinte minutos e acordo com o solavanco do carro
finalmente estacionando.
— Chegamos, amor — anuncia Baron, fazendo um carinho no meu
cabelo. Desvio do seu toque, irritada, o que só parece diverti-lo ainda mais.
— Você deve estar com fome.
Agora quem fica em silêncio sou eu. Vou fazer greve e não
conversar com ele enquanto essa palhaçada durar, mas do jeito que os
miolos dele funcionam, é capaz de isso só tornar a coisa toda ainda mais
divertida.
— Você vai gostar daqui — continua, com o tom de voz baixo. —
Acho que talvez até já conheça.
Ah, sério? Em um país que eu nunca estive, seu cretino?
Reviro os olhos, encolhendo as mãos que estão amarradas junto ao
peito. Baron franze o cenho, encarando o meu drama com certa
preocupação.
— Isso deve estar começando a te machucar. Vou te soltar, mas você
precisa me prometer que não vai gritar e nem tentar fugir. Por favor,
Cecília.
Preciso fazer um esforço descomunal para não me inclinar sobre ele
e tentar de tudo: arranhar sua cara, dar um soco em seu rosto, puxar seus
cabelos. O pacote completo. Porque, caralho, esse cara só pode estar
viajando.
Arqueando a sobrancelha, eu viro meu rosto para ele. Seu olhar
escurece ao me encarar e a pior parte de tudo isso é não ter ideia do que está
se passando em sua mente.
— Eu sei que você é uma boa garota. Por isso estou te dando esse
voto de confiança, sim? — continua, dessa vez já estendendo a mão para
desfazer o nó da corda ao redor dos meus pulsos. Quando me sinto livre,
começo a massagear a minha pele na mesma hora.
E tenho uma sensação de dejá vù de quando Baron me deixou
amarrada à sua cama a noite inteira.
Estamos em um círculo sem fim, sempre voltando para o lugar de
início.
Baron puxa meu braço com delicadeza, mas o movimento me
assusta. Me retraio contra o banco, mas ele insiste e busca a minha pele
novamente. Seus dedos começam a massagear a área mais machucada pela
corda e a sensação de alívio quase me arranca um gemido.
Porra, ele é bom com as mãos. E definitivamente sabe como fazer
uma massagem.
— Está melhor assim? — pergunta ele, com uma certa doçura na
voz.
Não o entendo.
Quando estamos sozinhos, ele age de forma doce e protetora. Ainda
diz coisas que me assustam e me deixam um tanto quanto alerta, mas nada
se compara à forma como ele se comporta quando estamos em público.
É como se seus demônios ficassem sempre à espreita, esperando o
momento certo de sair e atacar.
Isso não me deixa com menos medo.
— Você está com raiva de mim… — murmura ele, ainda usando os
dedos para aliviar a minha dor. — Mas eu estou muito puto com você,
Cecília.
Nem me dou ao trabalho de levantar o rosto para encará-lo.
Continuo de olhos fechados, com a cabeça apoiada na janela do carro,
aproveitando a sensação da massagem. É a única coisa que quero de Baron
no momento.
— Você saiu sem mim. Nem se preocupou em saber sobre os planos
que eu tinha para nós… — ele divaga, a voz repleta de escárnio. — Eu
tento confiar em você. Mas sempre que estamos quase nos entendendo,
você foge e se fecha. Por quê?
Minha boca ainda está selada e é assim que pretendo ficar daqui
para a frente.
Ele suspira e uma centelha de reconhecimento toma conta de seus
olhos.
Baron finalmente entendeu o que estou tentando fazer.
E ao constatar isso, abre um sorriso diabólico para mim. Um repleto
de dentes, que faz seus olhos castanhos escurecerem ao ponto de se
tornarem quase pretos.
— Vai ser um final de semana muito interessante.

Eu tento disfarçar o meu deslumbramento da melhor forma que eu


posso, mas é praticamente impossível quando dou de cara com a fachada do
hotel em que estamos. É enorme, com um letreiro lindo e, caramba, com
certeza é de luxo.
Baron para ao meu lado, me encarando sem esconder a presunção
no rosto. Ele parece extremamente satisfeito com a minha reação.
Canalha.
— Essa rede de hotéis é da minha família. Era do meu avô, na
verdade, mas ele deixou para Brandon e eu. Meu pai ainda administra o
negócio porque nenhum de nós teve interesse pelo ramo hoteleiro, mas
recebemos um bom dinheiro todo ano. Essa unidade aqui sempre foi o meu
preferido.
Suas palavras me pegam desprevenida. Mas, ainda assim, não dou o
braço a torcer. Baron não podia me arrancar da praia e me trazer aqui à
força, e embora ele esteja tentando provar um ponto me arrastando até aqui,
eu também posso.
Não serei dele até eu querer ser.
Essa é a diferença.
— Essa roupa deve estar te incomodando… — ele murmura, dando
uma olhada no meu biquíni.
A roupa de banho secou durante a viagem, mas eu ainda consigo
sentir a areia em lugares bem incômodos. Isso sem contar no meu cabelo
que secou sem nenhum produto para minimizar o frizz ou mesmo sem
pentear.
Devo estar uma beleza…
— Tem uma loja de conveniência aqui. Vou arranjar roupas
confortáveis para você. Vem. — Ele me puxa pela mão, entrelaçando
nossos dedos como se fôssemos um casal comum indo passar o final de
semana em um hotel luxuoso.
Eu poderia gritar e pedir por socorro, mas sinceramente? Só quero
um banho quente, lavar o cabelo, colocar uma roupa confortável e dormir
até o dia seguinte. Meu celular está com ele e vou dar um jeito de recuperá-
lo de volta. Vou mandar minha localização para a minha mãe e com certeza
ela vai dar um jeito de me tirar daqui.
Ou eu denuncio ela também. Estou ficando cansada da dinâmica
maluca da minha “nova” família.
Quando entramos no saguão, meus olhos quase saltam para fora. O
cheiro delicioso, os lustres pendurados, a movimentação de funcionários…
Depois de horas presa em um carro, quase choro ao ver tantas pessoas
normais por perto.
— Senhor Donovan! — Um homem se aproxima de nós. Ele está
usando um terno verde com um crachá bem visível no bolso do paletó. — É
um prazer recebê-lo de novo.
— Estou subindo para a minha cobertura, Charles. Devo descer para
buscar algumas coisas daqui a pouco, mas não quero ser incomodado. E
caso o meu pai ligue para cá perguntando por mim ou por ela… Diga que
estamos ocupados. Entendido?
O senhor acena com a cabeça, mas o sorriso genuíno no rosto não
me passa despercebido. Ele realmente parece feliz por estar recepcionando
Baron aqui.
Interessante.
— Espero que aproveitem a estadia de vocês no Granville Hotel.
Baron me segura pela cintura, colando meu corpo no seu.
— Vamos ficar só até amanhã à noite. E, Charles… Peça para a
cozinha mandar todos os pratos de massa que vocês têm disponíveis no
cardápio. Ah, e a melhor carne também.
Meu estômago ronca e se contrai só com a imagem desse banquete.
Estou quase salivando de vontade, mas tento continuar impassível.
Não vou abrir um sorriso e me derreter como se ele estivesse agindo
assim porque se importa demais com o meu bem-estar. Só estou com tanta
fome assim porque ele me trouxe até aqui, para início de conversa.
Boa, Cecília. Você está no caminho certo.
Se bem que… Ele realmente lembrou que eu não como frutos do
mar. Por ser um hotel que fica em uma região cercada de praias, é de se
esperar que seja o carro-chefe.
Sorrio, mas não deixo transparecer.
Boa jogada, Donovan.
— Você não vai mesmo falar comigo durante todo o tempo que
ficarmos aqui? — pergunta ele, com um sorriso de canto.
Dou de ombros.
Quando chegamos até o elevador privativo, ele me encurrala contra
a parede. Ergo o queixo, sem medo de seu próximo movimento, sustentando
seu olhar intenso com a mesma veracidade.
— Estou achando isso muito excitante. E pode apostar, vou
transformar essa porra em um desafio. Vou fazer você falar até amanhã,
Cecília. Nem que seja uma frase. Uma palavra… Ou um gemido.
Arqueio a sobrancelha, emulando a melhor expressão blasé que eu
consigo. Não vou dar o gostinho a Baron de ficar afetada por algumas
baixarias que ele diz.
Ele enrosca a mão no cabelo da minha nuca, aproveitando o ângulo
para segurar o meu pescoço. Fico imobilizada contra a parede, sentindo
cada centímetro do seu corpo musculoso contra o meu.
Não posso negar que ele me atrai. Ele é gostoso, tem o rosto de um
modelo da Victoria’s Secrets e um cheiro tão bom que me faz ter vontade de
afundar em seu pescoço por horas, só inalando o perfume.
Mas realmente não posso ceder.
Pelo menos não ainda.
Ah não ser que…
Que seja por mim. Não vai fazer mal tirar uma casquinha, não é?
— Você é tão linda. — Sua voz é quase um sussurro de tão rouca. O
timbre grave reverbera por todo o meu corpo e sinto minha pele arrepiar. —
É quase doloroso estar tão perto e ainda assim não poder te tocar. Não poder
te devorar e tomar tudo o que eu quero de você. Se conseguisse sentir a
minha agonia, Cecília… — Baron grunhe, se desgrudando de mim assim
que as portas do elevador abrem. — Mas você vai me sentir. Em breve. Em
toda a porra do seu corpo. Dentro de você, no seu rosto, nos seus peitos, até
no seu cabelo. Não sobrará uma parte sua que não pertencerá a mim.
Nenhuma que eu não reivindique.
Ah, faça-me o favor. Esse discurso eu já ouvi.
Continuo encarando-o, ainda sem demonstrar nenhuma expressão,
até ver uma veia de seu pescoço pulsar. Relutantemente, Baron sai da minha
frente e me dá espaço para sair. A porta dupla da cobertura é enorme e ele
usa um cartão-chave para abrir o quarto.
— Pode tomar banho. Vou buscar algumas roupas para você. O
hotel trabalha com os melhores produtos do mercado, então você vai
encontrar produtos de cabelo e corpo no meu banheiro. Ah não ser que você
tenha alguma preferência. É só me dizer que eu trago para você — ele diz,
como quem não quer nada.
Ah, tá. Vai sonhando.
Abro um sorriso, acenando educadamente com a cabeça. Baron
ainda está em meu encalço quando eu entro no quarto, mas eu me viro antes
que ele consiga me alcançar. Fecho a porta dupla na cara dele, mesmo
sabendo que ele é o único que possui a chave e que isso lhe dá acesso
imediato até mim.
É só pelo prazer de mantê-lo do lado de fora.
A risada fria dele chega aos meus ouvidos como uma melodia
suave. Estremeço, dando uma olhada na suíte que Baron possui no hotel.
Porra.
Tá bom, acho que estou conseguindo entender o motivo dele ser tão
mimado e achar que pode ter tudo o que quer. Eu cresci com meu pai
comprando roupas da Lilica Repilica para mim e só isso foi o suficiente
para eu abrir o berreiro quando ele me dizia “não”. Imagina ter um padrão
de vida desses desde criança.
O quarto é tão grande que eu conseguiria me perder facilmente aqui
dentro. Sinto uma vontade louca de explorar cada centímetro e me jogar
sobre os lençóis de milhões de fios, mas de acordo com os planos de Baron,
terei tempo o suficiente para isso.
Vou direto para o banheiro e quase gemo ao saber que vou poder me
aliviar e tirar essa roupa grudenta. Os produtos de cabelo são de marcas
locais, mas com certeza custam mais do que o meu shampoo de vinte
dólares.
Muito mais.
Estou lavando o cabelo, aproveitando o jato do chuveiro duplo como
se fosse uma massagem. A água quente cai sobre mim e a sensação de bem-
estar é boa demais para suportar. É quase um sonho.
— Cecília, voltei. — A voz de satã reverbera através da porta do
banheiro.
Merda, será que eu a tranquei?
Seus passos parecem cada vez mais próximos e eu arregalo os olhos.
Me apresso ao terminar de esfregar a espuma do meu corpo, mas não sou
rápida o suficiente.
— Você está tomando banho? — Sua voz caçoa. — Se não me
responder, vou entrar.
Ah, merda.
Porra, porra, porra.
Não posso falar. Se eu falar, eu perco e estou farta de sempre perder
para ele.
Procuro o objeto mais próximo disponível e gemo de frustração ao
ver que é um vidrinho com o shampoo. Um hotel tão luxuoso assim não
poderia oferecer cosméticos em tamanho full, não?
— Como você não disse nada, posso presumir que está em perigo.
Estou entrando. — Ele nem ao menos tenta esconder a satisfação em seu
tom de voz.
Baron gira a maçaneta e meu coração acelera.
Ele abre a porta lentamente e eu dou passos para trás dentro do box,
me odiando por não ter escolhido a banheira. Eu poderia tentar me esconder
com a espuma de banho pelo menos.
Quando meu irmão postiço coloca a cabeça para dentro do banheiro,
eu arremesso o shampoo em sua direção. O objeto acerta seu rosto em
cheio, mas não faz nem cosquinha. Ele desvia o olhar para o shampoo no
chão e eu aproveito sua distração para sair do box e agarrar a toalha que
está empilhada na bancada enorme à minha frente.
Baron ergue a cabeça lentamente, arqueando a sobrancelha para
mim.
— Eu esperava algo pior — escarnece, sorrindo.
Reviro os olhos, prendendo a toalha ao redor do meu corpo.
— Trouxe isso aqui para você — ele diz, me estendendo uma pilha
de roupas. — O secador de cabelo fica no armário, junto com escovas e
outros itens que você talvez precise. Eu pensei em trazer um sutiã além da
calcinha… Mas você não me disse o seu número.
Ah, sim, babaca. Porque é muito difícil supor a minha numeração
quando você mesmo já me viu seminua antes.
Preciso respirar fundo para não acabar xingando-o. Aceito as roupas
com certa relutância, sentindo a raiva tomar conta de mim ao me dar conta
do que esse desgraçado me trouxe.
Seguro a blusa dos Angry Sharks com apenas dois dedos, como se
fossem algo profano.
— Eu sempre deixo algumas roupas do time nas redes de hotéis da
minha família. Sabe, para o caso de algum fã pedir. — Seu sorriso é cheio
de escárnio. — Você realmente tirou a sorte grande por estar aqui comigo.
Torço o tecido da roupa com fúria, vendo-o se divertir com a minha
irritação. Por fim, suspiro, frustrada, deixando a peça de roupa cair no chão.
Os olhos de Baron seguem o movimento com uma ironia insuportável em
sua expressão.
Nunca senti tanta vontade de estapear alguém.
— Vou dar um tempo para você terminar de se vestir e se arrumar.
Mas não demore, porque eu vou atrás de você sem nem pensar duas vezes.
O restaurante acabou de deixar o jantar e eu aposto que você está com
fome.
Desvio o olhar do seu, encarando meu reflexo no espelho. Seguro
ainda mais o nó da toalha contra mim, vendo-o aparecer nas minhas costas.
A visão de Baron é de tirar o fôlego. Ele é tão lindo que dói. A
beleza clássica e óbvia, que arranca suspiros de qualquer pessoa que o veja.
Foi assim comigo, afinal. Quando eu o vi pela primeira vez, mal
soube reagir diante de seu rosto tão perfeito.
Ele ergue a mão, usando seus dedos para segurar meu queixo com
possessividade. Baron está nos encarando pelo espelho, tão hipnotizado
com a nossa visão juntos como eu. Viro meu rosto conforme seu aperto se
intensifica e quando nossos olhares se encontram, eu prendo a respiração.
— Você vai ter o mundo aos seus pés, Cecília. No dia em que você
finalmente dizer sim, você terá a porra do mundo se curvando a você.
Engulo em seco, sem conseguir entender o que suas palavras me
causaram.
E mesmo quando Baron me deixa sozinha, coloco minhas mãos
sobre meu rosto.
Eu ainda sinto o toque suave de seus dedos sobre a minha pele.
Você é desequilibrado como eu?
Você é estranho como eu?
Ascendendo fósforos apenas para engolir a chama como eu?
Você se chama de furacão do caralho como eu?
Gasoline | Halsey

Baron está com os olhos fixos em mim quando volto para dentro do
quarto. Uma bandeja de prata está sobre a cama e meu estômago ronca ao
sentir o cheiro de comida no ar.
Estou quase salivando de tanta fome.
— Eu estava prestes a invadir o banheiro de novo — ele diz, como
quem não quer nada.
Vou direto até a comida, sem me preocupar se ele está sentado na
mesma cama que eu. O desgraçado solta uma risada rouca ao me ver tão
desesperada para me alimentar e eu considero as minhas chances de fugir
da polícia caso use o meu garfo em sua jugular.
— Você parece um bichinho comendo assim… — murmura ele,
com diversão na voz. Em seguida, coloca a mão sobre o meu cabelo,
fazendo um carinho como se eu fosse mesmo a porra de um animal
indefeso.
Me desvencilho de seu toque, levando comigo o carbonara com a
paleta de cordeiro que estão tão saborosos que quase me levam ao orgasmo.
E olha que eu não sou de comparar o prazer de comer com o prazer do sexo
à toa, não.
Baron me observa com zombaria, até se servir também. Nós dois
comemos em silêncio, o olhar dele queimando sobre mim a todo o
momento. Depois que termino o meu jantar, começo a ir na direção do
banheiro, mas ele segura meu tornozelo com força e me puxa de volta para
a cama.
— Onde pensa que vai? — pergunta, arqueando a sobrancelha.
Não vou te responder, canalha.
Faço força com o pé para me livrar de seu toque, mas isso só parece
deixá-lo ainda mais animado. Ele me segura na cama, imobilizando o meu
corpo com o seu. O momento me lembra o de hoje de manhã, quando fiz o
mesmo com a Lucy.
O Karma não falha mesmo.
— Eu te fiz uma pergunta. Se me responder, vou te deixar ir.
Como se eu fosse acreditar em algo que você diz, idiota.
Bufando, eu me dou por vencida, amolecendo sobre a cama
enquanto o peso dele me pressiona contra o colchão. Baron é um homem
grande, com músculos sobressalentes e quase dois metros de altura. Sei que
não tenho nenhuma chance lutando contra ele, então nem me darei ao
trabalho.
Baron abre um sorriso maníaco para mim um segundo antes de
abaixar a cabeça.
— Eu gosto mais quando você luta — ele murmura na minha orelha,
baixinho. — É mais gostoso assim.
Eu lhe dou minha expressão mais entediada como resposta, como se
suas palavras não me afetassem em nada.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Você realmente acha que vai passar todo o final de semana
agindo assim, hein?
Dou de ombros, sem conseguir desviar a minha atenção de todos os
pontos do corpo dele que estão tocando o meu. O abdômen está pressionado
contra a minha barriga e um dos joelhos está perigosamente perto da minha
parte mais íntima.
Desvio o olhar para onde nossos corpos estão pressionados e Baron
faz o mesmo. Ele vira o rosto para mim, avermelhado, com a mandíbula
travada. Vejo-o engolir em seco enquanto a minha respiração começa a
acelerar com a nossa proximidade.
Porra, como algo tão simples pode causar um verdadeiro incêndio
dentro de mim? Isso não é justo.
— Você está sentindo isso, não está? — provoca, começando a
dedilhar a minha cintura com seu polegar. — Você sente o quanto o seu
corpo implora pelo meu. Como a sua pele está arrepiada por causa do meu
toque. Você gosta de mim, Cecília.
Gosto de como você me faz sentir, tenho vontade de corrigir. Mas
mesmo assim, me contenho.
Baron não vê isso como um empecilho. Ele afunda seu rosto no meu
pescoço, inspirando meu cheiro como se ele fosse lhe deixar chapado.
Quando ele volta a me encarar, seus olhos estão mais escuros. A visão me
causa um frio na espinha, algo que eu não consigo decifrar.
— É insano o quanto você mexe comigo. Não consigo explicar. —
Ele balança a cabeça, usando a ponta dos dedos para acariciar o meu rosto.
Gostaria muito de dizer que estou assustada ou irritada com o toque
possessivo e que grita “minha” de Baron, mas essa merda está começando a
me excitar de verdade. Minha calcinha está molhada só de vê-lo ficar assim
por causa do meu cheiro e não consigo impedir a minha mente de pensar
em como ele pode me levar à loucura.
Como se lesse a minha mente, Baron leva o olhar até a minha
barriga. Eu o encaro em resposta e quando seus olhos encontram os meus,
faço um aceno de cabeça.
É quase imperceptível, curto e é necessário deixar o meu orgulho de
lado para conseguir fazê-lo, mas não vou voltar atrás.
Eu assinto.
Ele rosna algo inaudível, atacando meus lábios logo em seguida. O
gosto do vinho que bebeu com o jantar invade meus sentidos de uma vez e
ele segura a minha cintura com força, me fazendo sentir sua ereção contra a
minha barriga.
Baron está muito duro.
Gemo em seus lábios, começando a perder a cabeça. Ele segura
minha nuca com as duas mãos, completamente fora de si, me beijando
como um homem louco. Seus lábios descem para o meu pescoço e é como
se ele deixasse um rastro por onde passa.
Um rastro que está começando a me deixar louca.
Agarro seus cabelos, sem me importar em como isso vai fazer o
sorrisinho arrogante de Baron surgir com tudo. Ele grunhe contra a minha
pele, usando a língua e os dentes para me levar à loucura, beijando e
mordiscando o meu pescoço como se fosse um homem que passou dias
longe da mulher que ama.
Da mulher que ama.
A realidade não poderia ser mais diferente.
Baron não me ama. Ele apenas está obcecado por mim.
Ao sentir sua boca se mover do pescoço até o meu colo, fecho os
olhos, reprimindo o suspiro de prazer que quer escapar de mim.
— Você está tão gostosa usando o meu uniforme que eu não vou
conseguir tirar essa roupa de você — diz ele com a voz carregada de desejo.
Prendo a respiração, vendo-o levantar a blusa enquanto me encara
com intensidade. Nossos olhos estão travados em uma batalha silenciosa
enquanto fico cada vez mais exposta a ele.
Com a blusa dobrada até em cima, ele abaixa a cabeça para ficar na
altura dos meus seios. Não estou usando sutiã porque além de ser
desconfortável pra caralho, tudo o que eu tenho aqui é um biquíni molhado
e sujo de areia.
— Porra…
Sua língua quente é a primeira coisa que eu sinto. Ele não espera
nem mais um segundo antes de abocanhar o meu mamilo e sugá-lo com
uma delicadeza surpreendente, a sucção suave ao ponto de me fazer revirar
os olhos.
Aperto minhas pernas ao redor de seus quadris, completamente
excitada. Ele intercala entre lambidas suaves, sua mão agarrando o outro
seio com possessividade.
Não posso olhar. Não posso olhar.
Se eu olhar e ver sua devoção da mesma forma que eu a estou
sentindo, sei que estarei perdida. Vou querer me entregar a ele e Baron vai
vencer.
Ele vai conseguir tudo o que quer de mim.
— A partir de hoje, não quero que você durma mais com a porta do
seu quarto trancada. Vou entrar lá todas as noites depois que nossos pais
forem dormir e vou chupar seus mamilos assim. Por horas. — Seu tom de
voz não dá margem para discussão.
Se conseguir me fazer gozar, vou deixar você entrar sempre que
quiser.
Eu mesma me assusto com o pensamento.
Ele segura um dos meus seios com a mão, passando a língua bem
superficialmente. A promessa de um contato faz meu corpo se aquecer e um
calor gostoso começa a surgir em meu ventre.
— Você já está ficando vermelha. Delícia — o desgraçado me
provoca, sugando meu seio enquanto espalma as mãos sobre a minha
barriga.
Se ele começasse a descer um pouquinho mais…
E, como sempre, é quase como se Baron conseguisse ler a minha
mente. Ele vai passando as mãos pela minha pele, carinhoso, enquanto sua
boca beija cada centímetro do meu corpo.
São beijos molhados e tão suaves que eu sinto vontade de puxá-lo
para cima e abraçá-lo com força. É bem irônico pensar que estou aqui e me
sentindo assim depois de ele ter me sequestrado na praia hoje mais cedo.
— Você precisa ser venerada. Adorada. E é o que pretendo fazer
todos os dias a partir de hoje — continua, com a boca colada na minha pele.
O calor de seu hálito me atinge conforme suas palavras são ditas e eu
preciso morder o lábio para não deixar um gemido escapar. — Vou beijar
cada parte sua, Cecília. Até as partes que você não gosta. Que acha feia ou
que não fica à mostra. E, porra, essas serão as minhas favoritas.
Seus dedos estão segurando os meus quadris com força conforme
ele continua descendo. Ao sentir seus lábios na minha virilha, abro a boca.
Estou praticamente arfando com a mera ideia de ele cair de boca em mim.
A expectativa está me matando.
— Você está morrendo de vontade de sentir meus lábios em você,
não é? — me provoca, descendo a mão pelas minhas coxas.
Seus polegares me acariciam bem devagar e eu abro ainda mais as
minhas pernas. Baron se posiciona entre elas e então finalmente crio
coragem de abrir os olhos e encará-lo.
E… Merda. Não deveria ter feito isso.
Porque ver o rosto corado de Baron enquanto seus olhos agora mais
escuros do que eu jamais vi me encaram com tamanha intensidade, é desleal
comigo mesma. Prendo o fôlego, contemplando a visão mais excitante que
meus olhos já viram.
Nem nos meus sonhos mais obscuros eu poderia imaginar algo
assim.
Ele é o meu irmão postiço, porra.
— Você sabe que eu faço qualquer coisa por você, Cecília. Qualquer
coisa — enfatiza, mostrando a língua antes de deixar uma lambida no canto
da minha coxa.
Puta que pariu. Os arrepios não deveriam ser tão intensos assim,
deveriam?
— É muito difícil saber se você está gostando de algo ou não.
Parece que o gato comeu sua língua.
Se você não consegue entender a linguagem corporal de uma garota,
então, nem deveria ter entrado nesse jogo, idiota.
Baron está conduzindo a situação exatamente como planejou. E,
devo dizer, é um truque de mestre. Me seduzir e provocar com sua boca
quente até me levar ao ponto de implorar para sentir sua língua me sugando.
Eu já deveria ter imaginado que ele faria algo assim.
Mas eu aperto meus lábios em uma linha fina, encarando-o com o
queixo empinado. Ele vai entender o recado.
Pelo menos é o que eu espero.
Hoje ele conseguiu tudo o que queria. Me arrastou da praia, me fez
usar sua blusa do time e, merda, até a minha comida escolheu.
A única coisa que me recuso a entregar de bandeja para Baron é a
minha voz. Minhas palavras.
E posso continuar nesse joguinho para sempre.
— Vou adorar provar seu sabor, Cecília. Sentir sua boceta pulsando
na minha língua enquanto eu sugo tudo bem devagar. Bem assim… — E
para provar que é o próprio diabo encarnado, Baron faz uma “emulação” do
movimento por cima da minha coxa. Só de pensar nele fazendo o mesmo no
meio das minhas pernas, eu estremeço. Ele me atira um olhar satisfeito. —
Só você pode acabar com a nossa agonia, amor. Só preciso que você me
peça. Tudo o que você me pedir, é seu.
“Tudo o que você me pedir, é seu.”
O impacto de suas palavras não deixa de me assustar. Baron é um
homem poderoso, herdeiro de várias empresas e promessa do hóquei. Ele
tem tanta influência que o mundo está aos seus pés. Esse tipo de poder
nunca foi algo que eu almejei para mim… Mas, às vezes, eu me pego
pensando em como minha vida seria se eu o pedisse, de fato, tudo o que eu
quero.
Para de pensar nessas merdas, Cecília. Você não quer se igualar a
ele.
— E se eu fizer isso… — Ele ergue as sobrancelhas, pegando sua
taça de vinho novamente. Eu arregalo os olhos, vendo-o despejar o líquido
escuro sobre a pele da minha barriga. Baron suga o vinho diretamente de
mim, fazendo questão de manter os olhos abertos para assistir a minha
reação.
A sensação da bebida gelada contra sua língua quente dispara fogos
de artifício por toda a minha pele. Estou sensível, excitada, cheia de desejo
e com muita vontade de gozar. Nunca pensei que estaria quase chorando
para ser tocada por Baron, mas aqui estou.
— Hm… Você continua sem falar.
O satã encarnado abre um sorriso maquiavélico, arrastando seus
dedos na direção da minha calcinha. Quando o tecido começa a descer pelas
minhas pernas, seus olhos são atraídos diretamente para a minha boceta.
— Caralho… — murmura, fechando os olhos. — Você está
encharcada. Isso deve estar sendo doloroso… Você deve estar precisando de
um alívio, amor. — Abro os olhos ao sentir seus dedos me tocando. É breve
e quase imperceptível, mas o contato me deixa em chamas. — Olha só
como você está pingando…
E como o demônio que é, Baron leva os dedos até a boca e suga
com vontade. Lambo os lábios, sentindo minha boceta ficar ainda mais
molhada com essa visão.
— Porra… Seu gosto é muito melhor do que eu pensei, Cecília.
Você pode acabar me acostumando mal. Vou precisar desse sabor todos os
dias na minha boca. — Ele sorri, pegando a calcinha molhada e levando-a
diretamente ao seu nariz.
Estreito os olhos, sentindo meu pescoço esquentar com a visão do
que esse pervertido está fazendo.
Baron inspira, como um viciado, antes de colocar a calcinha no
bolso de sua calça de moletom.
— Você está vermelha — ele constata, inclinando a cabeça para o
lado. — Me ver sentindo o seu cheiro te deixa assim, amor?
Estou cogitando seriamente pegar um dos travesseiros e colocar
sobre a sua maldita boca.
— Se está ficando corada e ofegante só de me ver fazer isso, mal
posso esperar para ver qual será a sua reação quando eu afundar meu rosto
entre as suas pernas. Ou… — Ele abre mais um de seus sorrisos para mim.
— Quando eu estiver tão fundo em você que será impossível dizer onde eu
começo e você termina.
Aham, vai sonhando.
Eu levanto uma sobrancelha para ele, pouco me importando se a
minha reação vai aborrecê-lo. É um fato que estou com tanto tesão que não
será necessário muito para eu gozar, mas minhas mãos continuam
funcionando perfeitamente bem, obrigada.
Baron franze o cenho.
— Você não quer mesmo falar comigo, hein?
Dou de ombros, torcendo para a minha expressão de tédio estar
funcionando. Quero atingi-lo de alguma forma. Principalmente por ele estar
me deixando nessa situação tão frustrante.
— É uma pena, Cecília. É realmente uma pena. — Ele ergue uma
sobrancelha para mim. — Meu pau está doendo com essa visão. Você sem
mais nada além da minha camiseta. Corada, ofegante, pingando para mim…
Pronta para gozar com o menor toque. Você não faz ideia do quanto está me
matando, amor.
Se ele estiver sentindo a metade do que eu estou, então sim, eu faço
ideia de como é.
Nossos olhares se sustentam por longos segundos. Ele está tenso, os
ombros travados. Eu estou relaxada, esparramada na cama como se o
esperasse.
Qualquer pessoa que entrasse aqui testemunharia um casal em uma
espécie de jogo sexy.
Mas a disputa silenciosa entre nós está falando mais alto do que o
desejo.
Não vou ceder.
E ele também não.
— Merda… — ele xinga, frustrado, passando as mãos furiosamente
sobre o próprio rosto. — É só você me pedir, Cecília. Me peça que eu acabo
com essa tortura para nós dois. Você vai gozar tão gostoso que mal se
lembrará seu nome amanhã, amor. Vou passar cada hora e cada minuto me
dedicando para o seu prazer. Sugando e tomando cada gota da sua
excitação… Até o seu cheiro estar impregnado em cada parte do meu corpo.
Vou usar essa porra como perfurme, eu juro.
Ai, merda. Merda, merda.
Suas palavras já estão quase sendo o suficiente para me levar ao
limite. Se eu tivesse algo para…
Ah!
Baron me abraça pela cintura, apoiando sua cabeça na minha barriga
à mostra novamente. Seus beijos estão cada vez mais desesperados e eu
preciso reprimir a vontade de agarrar seus cabelos com os meus dedos.
É isso que ele quer. Que eu perca o controle de mim.
Baron, sem perceber, apoia um dos seus joelhos entre as minhas
pernas. Ele faz isso quando sobe os beijos de volta até os meus seios, agora
ainda mais sensíveis depois dele tê-los chupado por tanto tempo.
Quando sua língua quente encontra o meu mamilo novamente, eu
movimento meus quadris contra a sua coxa. Estou tão excitada que não é
necessário muito mais que isso e quando Baron se dá conta do que comecei
a fazer, é tarde demais.
Estou gozando.
O prazer violento irradia por todo o meu corpo e fecho os olhos,
colocando a mão sobre a minha boca. Não vou deixar que ele tenha sequer
um gemido.
Absolutamente nada.
— Que porra? — Baron desvia o olhar para mim, indignado. —
Você acabou de gozar?
A expressão satisfeita em meu rosto deve lhe dar explicações o
suficiente, porque ele se afasta da cama como se tivesse acabado de levar
um soco. Cambaleia para trás, desnorteado, e eu abro um sorriso
convencido para ele.
— Você é uma jogadora difícil de derrotar. — Balança a cabeça, se
aproximando da cama novamente. — Mas eu gostei disso, meu amor. E
adorei ver como você gozou por minha causa.
E, verdade seja dita, isso é fato.
Gozei por causa de Baron Donovan.
E adorei cada segundo.
Não diga que você precisa de mim se
Você sabe que está indo embora, eu não posso fazer isso
Eu não posso fazer isso, mas você faz isso bem
Porque eu sou bonita quando choro
Pretty When You Cry | Lana Del Rey

Meu maxilar está doendo pra caralho e meu olho com certeza vai
ficar roxo depois do jogo de hoje. Eu sempre fico dolorido depois de uma
partida, mas hoje meus músculos parecem gelatina.
Um dos jogadores do time de Chicago decidiu que queria uma briga
e, porra, escolheu o cara certo para isso. O árbitro precisou patinar feito
louco para apartar quando fui com tudo para cima dele, logo depois do
babaca ter tentado interceptar o disco quase me acertando com o taco.
— Que beleza! — A voz irritantemente divertida de Kaden chega
aos meus ouvidos. — Eu achei que hoje teríamos um verdadeiro banho de
sangue. Estou um pouco decepcionado. — Ele finge limpar uma lágrima
imaginária da bochecha e eu contraio o maxilar, respirando fundo.
Hunter surge no meu campo de visão, com o olho já começando a
ficar roxo. Ele também brigou hoje durante o jogo, o que não é nenhuma
novidade.
— Cara, como vocês dois têm azar… — Kaden continua
balançando a cabeça. Os olhos estão brilhando como se ele fosse um
menino em uma porra de parque de diversões. — As garotas de vocês
decidiram se rebelar na primeira semana dos jogos. Que timing perfeito!
Eu mal levanto os olhos para lançar um olhar de aviso quando
Hunter praticamente parte para cima de Kaden, rosnando feito um cachorro.
Mas que porra é essa?
— Ela não é minha garota! — grita ele, bufando. — Na verdade,
soube que ela vai ser transferida daqui há duas semanas para outra
universidade. Pode parar com as suas piadas.
Hunter já devia conhecer Kaden bem o suficiente para saber que
isso só vai deixá-lo mais interessado no assunto. Consequentemente, o
humor baixo e vil também será usado como uma arma.
— Então quer dizer que você foi atrás dela… — Ele finge coçar o
queixo, abrindo um sorriso maníaco. — Nosso menino está crescendo,
Baron. Ele até consegue falar com as pessoas. Tenho certeza que a
psicóloga vai ver isso como um grande progresso.
Alguém me mata.
— Cala a porra da boca, Kaden. Ninguém aguenta as suas merdas
por muito tempo — grunhe Hunter, começando a se retrair.
O movimento me chama atenção. Ele sempre foi fechado ao nosso
redor, mas nunca reagiu dessa maneira.
Amy é uma garota da cidade natal de Hunter. Eles vêm de um
lugarzinho no interior do Kansas chamado Barlow e, aparentemente, não
havia nenhuma chance de ascender socialmente se mantendo lá. Eles
cresceram se encontrando em quermesses e eventos da prefeitura minúscula
de lá, mas só foram se tornar amigos no ensino médio.
Hunter se mudou da cidade com quinze anos para a cidade vizinha,
que também era muito maior do que o lugar onde nasceu. Pelo visto, os pais
de Amy também tiveram a mesma ideia.
Os dois se esbarraram nos corredores no primeiro dia de aula, mas
de acordo com ele, não teve interesse em manter uma conversa longa com a
garota que não conseguia parar de falar.
Isso até ele descobrir que os pais de Amy eram, na verdade, os
novos funcionários da casa dele. A mãe era cozinheira em tempo integral e
o pai o levava e buscava na escola, além de outros compromissos
importantes. O pai dela tinha outro emprego, mas o serviço extra de
motorista ajudava a pagar a mensalidade da escola na cidade.
E, depois disso, não temos tantos detalhes. Hunter nos contou um
dia quando estava balbuciando, bêbado como um gambá e mal conseguindo
se aguentar de pé. Disse o quanto Amy e ele começaram sendo amigos e
dividindo a paixão por mangás e quadrinhos. Depois, eles começaram a
fazer maratonas de filme e, quando percebeu, já estavam se beijando em
qualquer oportunidade em que seus pais viravam as costas.
Não conseguimos mais arrancar detalhes dele sobre o assunto, mas
Kaden se refere à Amy como a “pequena perseguidora” de Hunter. Deduzo
que ela tentou sabotar a grande chance dele vir para Granville como jogador
de hóquei quando descobriu que ele teria que se mudar de Estado.
— Você é sempre tão estressadinho, Hunter. — Kaden balança a
cabeça. — Se quer saber, a garota tem o meu respeito. Ela é tão louca por
você que te seguiu até aqui, cara. Não deveria enxotá-la de volta para
aquele buraco. Se ela fosse minha, eu a arrastaria até o vestiário e…
— Mas ela não é sua, K — eu o interrompo, vendo o pescoço de
Hunter assumir um tom avermelhado. — E acho que todos nós já estamos
estressados demais com o jogo de hoje. Melhor pararmos por aqui.
Ele ainda balbucia mais alguma merda, mas eu lanço um olhar
solidário para Hunter. Não costumo bancar o “amigo protetor”, mas às
vezes a discrepância entre esses dois me dá nos nervos.
Kaden nunca sabe o momento de fechar a boca e Hunter nunca sabe
quando deve abri-la.
O vestiário está cheio, então preciso me espremer entre dois caras
antes de chegar até os chuveiros. Tomo um banho rápido antes de correr até
o estacionamento, sem querer esperar mais nenhum segundo aqui.
Preciso estar no mesmo ambiente que Cecília de novo.
Eu achei que depois de passar o final de semana inteiro sentindo o
cheiro dela, observando-a enquanto dorme ou mesmo assistindo-a fazer
pequenas coisas no dia a dia, seria o suficiente para tirar um pouco dessa
necessidade de estar sempre do lado dela.
Mas não tirou. E aqui estou eu, moído como um filho da puta depois
de um jogo contra um dos nossos maiores rivais, correndo de volta para ela.
Entretanto, para o meu azar, não é Cecília que eu vejo assim que
coloco os pés na minha casa.
É o meu pai.
— Finalmente, hein? — ele diz, levando o copo com o líquido
âmbar até os lábios.
Whisky puro. Seu favorito desde que a mamãe morreu.
Ele não está usando um terno, o que significa que chegou bem mais
cedo do trabalho. O cabelo está molhado, os olhos um pouco avermelhados
e a ruga ao redor dos lábios se acentua quando ele dá uma olhada no meu
estado.
— Jesus, Baron. Parece que um caminhão passou por cima de você.
E passou mesmo, seu filho da puta.
Arqueio a sobrancelha na direção dele, me preparando para a
batalha que estamos prestes a ter. A mesma que sempre temos.
— Você me esperando na sala igual fazia quando eu tinha quinze
anos? — Cruzo os braços, erguendo meu queixo.
Ele deixa uma risada seca escapar de seus lábios.
É uma dança que eu já conheço e por isso não quero pisar em ovos.
Sei exatamente o que faz Alexander Donovan sair mais cedo do trabalho
para esperar pelos filhos na sala de estar.
Ele quer nos dar ordens.
— Você levou a Cecília para o nosso hotel à beira-mar no sábado e
só trouxe ela no domingo. Isso não teria problema, é óbvio… — Ele
semicerra os olhos. — Se você não tivesse levado ela contra a própria
vontade. Que merda deu em você, filho?
Fecho os olhos, estalando o pescoço como eu faço quando estou me
aquecendo no vestiário antes de uma grande partida.
— Baron, se você fez algo com ela, eu juro que…
— Não fiz nada com ela. Nada que seja da sua conta, pelo menos.
— Eu não estou com paciência para aturar o seu desrespeito hoje.
Suzan é a mulher que eu amo e prometi cuidar dessa garota como se fosse
minha filha.
Dou um passo à frente, rangendo os dentes.
— Ela não é a sua filha e não é o seu dever cuidar dela!
Ele estreita os olhos.
— E de quem é esse dever, então? Seu? — zomba, bebericando
mais um gole de sua bebida.
— Talvez seja. — Dou de ombros. — Você foi incapaz de cuidar da
sua esposa, porra. Incapaz de cuidar dos próprios filhos. O que te faz pensar
que vai conseguir cuidar da Cecília?
— E o que faz você pensar que vai, Baron? — atira de volta,
colocando o copo com cuidado no aparador da sala. — Eu achei que essa
obsessão com ela não passasse de ciúmes. Me convenci de que era algo
passageiro e que vocês iam começar a agir como irmãos implicantes com
ela. — Ele balança a cabeça, coçando o queixo devagar. — Mas fui ingênuo
demais. Garotos jovens com uma menina da mesma idade não poderia dar
em outra coisa.
Eu sou um vulcão prestes a explodir.
A cada merda que sai da boca do meu pai sobre o que ele pensa que
sabe a respeito dos meus sentimentos em relação à Cecília, meu sangue
ferve. Isso não é só sobre atração física ou ciúmes.
É sobre conexão.
É sobre saber cada mínimo detalhe da vida dela, até os mais feios e
repulsivos, e desejá-la tão desesperadamente que parece que a porra do meu
coração vai explodir.
Ele nunca sentiu nada nem remotamente parecido com isso. É por
isso que não entende.
Uma lembrança com a minha mãe me atinge com força. Estávamos
no carro, cochichando um para o outro no meio de uma grande tempestade.
Foi a primeira vez que ela tentou ir embora comigo e deixá-lo.
— Baron… Homens como o seu pai não costumam amar nada além
de sua conta bancária. Eles não vivem pela paixão. Não sentem nada além
de ganância e vontade de acumular mais e mais… — Os dedos frios dela
passeavam pelos meus cabelos e era a melhor sensação do mundo. — Não
seja assim, meu filho. Não seja movido só pelo dinheiro e pelas coisas
materiais que pode conquistar. Quero que você viva por alguém. Quero que
encontre a pessoa certa para você. Não faça como o seu pai… Ou como eu.
Minha mãe me fez prometer que não seria como ele e eu acordo
todos os dias tentando cumprir essa promessa. Tentando me distanciar o
máximo possível de Alexander Donovan e tudo o que ele representa.
— Isso precisa parar, Baron. E precisa parar agora — ele diz, com o
dedo apontado para mim.
Mas o meu rosto já está congelado na expressão indiferente que eu
sei que o tira do sério.
— E se eu não parar?
Seus olhos escurecem, o maxilar trava. Quando ele se empertiga, é
como me ver através do espelho. Uma versão mais velha e com certeza
mais experiente.
Mas definitivamente não é mais cruel.
— Então precisarei te afastar. Você pode escolher qualquer
apartamento que quiser perto da faculdade, mas vai precisar sair daqui.
Caso continue perseguindo a Cecília pelo campus, vou colocar seguranças
para vigiá-la.
Meu nariz infla, a irritação está subindo em ondas violentas. Estou
vendo vermelho conforme ele continua enumerando todas as formas que
pretende me manter longe e afastado dela.
— Só por cima do meu cadáver, Alexander. E não estou brincando
— respondo com uma expressão mortal. — Não há nada e nem ninguém
capaz de me manter longe dela. Ninguém.
Seus ombros caem.
Eu estive observando-o nas últimas semanas e ele definitivamente
parece muito apaixonado pela Suzan. Me surpreendi pela forma como eles
se olham ou como ele realmente parece se importar com alguém além de si
mesmo pela primeira vez.
Entendo que esse amor pode estar colocando-o em uma posição
delicada a respeito de Cecília e eu. Ela deve estar cobrando isso dele, mas,
caralho… Nem fodendo vou deixar que me mantenha longe dela.
E ele sabe que eu tenho recursos o suficiente para lutar por isso.
— Não queria que isso chegasse tão longe, filho. Nunca imaginei
que um dia poderia cogitar te expulsar de casa. — Ele balança a cabeça e…
Merda. Aquelas são lágrimas? — Cecília é uma boa menina, Baron. Ela
não merece nada que você tenha feito com ela.
Puta que pariu. Como ele pode afirmar isso se nem a conhece?
— Esse é o meu primeiro e último aviso. Espero que seja o
suficiente.
Sigo-o com os olhos conforme ele me deixa sozinho.
Não verbalizo, mas só tenho um pensamento em minha cabeça
agora.
Ele não perde por esperar.
Cinzas, cinzas, hora de dormir
Ooh querido, você me quer agora?
Não aguento mais, preciso te colocar na cama
Cantar uma canção de ninar onde você morre no final
Milk and Cookies | Melanie Martinez

Desde que Baron me trouxe de volta à cidade, tenho evitado ele a


semana toda. Precisei pedir ajuda da minha mãe e do meu padrasto para
isso acontecer, mas tudo tem saído conforme o planejado.
Tenho me concentrado cada vez mais nas minhas aulas. Uma das
minhas matérias favoritas tinha definido um projeto final que consistia em
costurar e tirar do papel um dos croquis que desenhamos durante o
semestre. Só de pensar na matemática da coisa e em todos os materiais de
geometria que precisei comprar para isso, tenho vontade de me jogar de
uma ponte.
E eu jurando que nunca mais ia precisar ver números de novo depois
que entrasse na faculdade de Moda.
Foi nesse período que descobri que Baron está no último ano da
faculdade de Economia. Ele quer ser escolhido na primeira rodada do draft,
então eu imaginava que não levava as aulas tão a sério. Isso até ver uma das
listas em cima do balcão da cozinha, onde o nome dele aparecia em
destaque.
Aparentemente, ele tem passado nos semestres como o primeiro
aluno da turma e está sido invicto há muito tempo.
Me jogar no meu curso fez bem para mim. Lucy tem sido a minha
modelo oficial, mas eu decidi fazer algo diferente de última hora. Em uma
grande referência ao look jeans de Britney Spears e Justin Timberlake em
2001, eu desenhei um conjunto de casal. Eu precisei fazer justiça à roupa
que virou chacota por anos em revistas de fofocas, então o meu conjunto
jeans se complementa de maneira mais suave.
Sempre adorei desenhar e customizar, e mal posso esperar para
colocar todas as aplicações e finalizar os desenhos nas peças depois que
elas estiverem prontas.
— Você pode pedir para o Brandon — sugere Lucy, dando uma bela
lambida no seu sorvete de caramelo.
Nós duas estamos no refeitório da faculdade, um dos meus lugares
favoritos ultimamente, diga-se de passagem. Eu estou com o meu caderno
de desenho, concentrada, finalizando um dos croquis que pretendo colocar
no meu portfólio novo.
— Pedir para o Brandon? — Ergo as sobrancelhas. — Acho que
você perdeu a parte em que eu disse querer distância desses dois.
— Ele nunca te fez nada…
— Diretamente, nunca fez. Mas desde que eles entraram na minha
vida, tudo tem dado errado. Cansei. A partir de agora eu sou Cecília Braga,
a intercambista que não gosta de conversar com atletas no campus.
Lucy abre a boca, mas nenhuma palavra sai. Ela só fica me
encarando por alguns segundos e eu desvio meu olhar para o desenho que já
está tomando forma.
— Cecília…
— Agora não. Estou concentrada. — Começo a contornar o traço
com o lápis preto, mas a minha amiga me puxa pelo braço. — Ai, Lucy! Eu
podia perder todo o desenho se borrasse ele, sabia?
— Eu só queria dizer que acho que seu desejo se realizou.
Franzo o cenho novamente.
— Como assim?
Ela arregala os olhos, fazendo um meneio de cabeça sutil para a
frente. Confusa, sigo sua instrução, virando o pescoço para dar de cara com
Baron.
E uma garota.
Ela está usando o uniforme dos Angry Sharks.
O uniforme dele dos Angry Sharks.
Tem cabelos ruivos, um nariz cheio de sardas e um sorriso que diz:
“eu sei que estão todos olhando para mim”. Nada disso me atinge, no
entanto. O que me causa calafrios e um estranho gosto amargo na boca são
as mãos dela, que agora estão entrelaçadas firmemente no braço dele.
Que porra é essa?
— Meu Deus, não acredito nisso. — A voz de Lucy me desperta do
meu torpor e eu viro o rosto de volta para ela. — Achei que ela tinha se
transferido semestre passado.
— Quem é ela?
— É a Vicky. Ela jogava vôlei pela universidade e era muito boa.
Muito mesmo — frisa, arregalando os olhos. — Estávamos ganhando todas
as competições com ela na equipe. Uma pena ter saído daqui.
Vicky. Até o nome combina com ela. É o nome de uma garota
decidida e que sabe muito bem o que quer.
— Ela sempre foi próxima do Baron assim?
Lucy solta uma risada.
— Você está com ciúmes?
Faço uma careta horrorizada, sentindo minhas bochechas
queimarem.
Não. Eu não estou com ciúmes desse babaca.
— Eu? Com ciúmes dele? — debocho, voltando a minha atenção
furiosamente para o caderno de desenho na minha mão. — Eu não ligo para
o Baron, Lucy. Na verdade, eu estou muito animada com a ideia dele me
deixar em paz.
Ela cruza os braços, se recostando na cadeira do refeitório. Como é
horário de almoço, ele está lotado e todos os olhares estão voltados para o
grupinho de atletas exibindo seus casacos azuis com a logo do tubarão
bravo.
Beisebol, hóquei, futebol americano, basquete… E, aparentemente,
vôlei.
Argh.
Pensando assim, eu de fato pareço uma namorada ciumenta. Mas,
porra, o cara literalmente me leva para o hotel da família no meio do nada e
diz o quanto está obcecado por mim só para aparecer com outra
publicamente assim?
Foda-se. Ele não me deve nada.
E nem eu devo a ele.
— Eu acho que vocês duas precisam disso aqui. — Uma voz
brincalhona nos arranca de nossos devaneios, colocando sobre a mesa um
folheto.
— Que merda é essa? — Lucy pergunta a Kaden, com o rosto
retorcido em uma careta furiosa. — Vocês imprimiram isso?
Ele abre um sorriso de orelha a orelha.
— Nós somos profissionais, gatinha. E uma festa fora do campus é
algo grande.
— Fora do campus? — eu intervenho, pegando um dos folhetos
para conferir o que meu cérebro já tinha deduzido: será na minha casa. —
Porra, vocês estão malucos?!
Eu deveria ter desconfiado que algo iria acontecer esse final de
semana. Minha mãe e Alexander decidiram passar dois dias fora para
resolver algumas questões do casamento. Conhecendo a minha mãe, ela só
quer uma desculpa para fugir um pouco da loucura que se instalou na sua
casa.
— Não vai ter festa lá, Kaden. Estamos no fim do semestre. Eu
preciso terminar um projeto importante e…
— A casa não é sua, Cecília — ele me interrompe, ainda com o
sorriso irritante nos lábios. — Mas aqui está o convite para as duas. Usem
algo bem bonito, tudo bem?
Kaden dá uma puxada no rabo de cavalo de Lucy antes de voltar
para o seu grupinho de atletas que está chamando atenção. Até eu preciso
admitir que o contraste do seu cabelo vermelho com o casaco azul do time o
deixa estranhamente atraente.
— Esse filho da puta! — resmunga Lucy, ajeitando o cabelo. —
Não se preocupe, Ceci. Você pode dormir comigo esses próximos dias.
Até parece que vou acatar ordens como a porra de uma irmã mais
nova.
Deixo o caderno sobre a mesa, irritada. Minha amiga até tenta
segurar a minha mão e me puxar de volta para a cadeira, mas estou focada.
Marcho decididamente até onde Baron está sentado, com a tal Vicky
apoiada sobre seu peito.
A irritação que isso me causa é devidamente ignorada.
— Que porra é essa?! — guincho, jogando um dos “convites” em
cima dele.
Baron vira o rosto para mim lentamente.
Seus amigos encerram as conversas paralelas para prestarem
atenção no que está prestes a acontecer, mas nem isso me intimida. Estou
muito puta.
— Isso é um convite — ele diz, como se eu fosse idiota.
— Você não vai dar uma festa enquanto nossos pais estão fora.
— E quem vai me impedir? — Ele arqueia a sobrancelha. — Você?
Cruzo os braços, semicerrando os olhos.
— Se for necessário, sim. Eu preciso terminar meu projeto para a
aula de Design de Moda. Além do mais, preciso terminar de ler dois livros
para a minha prova final de História da Arte! Não posso ficar em um
ambiente com tanto barulho e…
— Então você deveria ficar por aqui. Estudar na biblioteca — ele
me interrompe, colocando o braço em volta de Vicky. A garota parece
surpresa, mas definitivamente não tenta se afastar. — A festa vai acontecer,
Cecília.
Cretino. Babaca. Filho da puta da mais baixa qualidade.
Respirando fundo, eu ignoro solenemente os ruídos de risadas e
murmúrios baixinhos que parecem vir de todos os lugares. Sei que todos os
olhares estão voltados para nós dois agora e é só por isso que eu não tento
arremessar a cadeira mais próxima em Baron.
— Você deve ser a Cecília — a garota diz com um sorriso simpático
no rosto. — Eu sou a Vicky. Prazer! — Ela estende a mão para mim e eu a
aperto, sorrindo de volta. — Eu ouvi falar muito de você! Quem diria que
Baron Donovan teria uma irmã mais nova, hein? Acho que finalmente
existe alguém capaz de colocá-lo no lugar dele.
Tá, eu definitivamente gosto dela.
Baron, no entanto, lança um olhar irritado para a pobre Vicky.
— Ela não é minha irmã.
Eu abro um sorriso.
— Na verdade, sou sim. E muito prazer, Vicky.
— Ai! — Kaden diz, colocando a mão sobre o peito
dramaticamente. — Essa doeu.
Reviro os olhos, voltando a minha atenção para o meu inimigo
número um.
— Estou falando sério, Baron. Não quero nada de festa esse final de
semana.
Ele abre um sorriso frio.
— Desde quando eu me importo com o que você quer?
As risadas ecoam alto à nossa volta e eu me retraio ao escutar um
dos caras da fraternidade gritar: “isso aí, Baron! Prenda ela de novo na sua
cama para ver se ela entende isso de uma vez!”. Os outros garotos parecem
adorar a ideia, porque começam a incentivá-lo também.
Baron inclina a cabeça para o lado, fingindo pensar na ideia. Os
olhos estão mais escuros do que o normal, então eu me preparo para o
golpe.
— Vocês têm razão. Talvez eu devesse amarrá-la na biblioteca por
alguns dias. Ela disse que quer silêncio, não é?
Os imbecis comemoram, como se a ideia de Baron fosse algo
genial.
Não é a dor de ser humilhada publicamente que me enche de
vergonha e fúria. Muito menos o olhar de pena que a garota praticamente
sentada no colo de Baron lança para mim.
Mas sim o olhar frio e calculista dele.
Depois de tudo o que ele disse e tudo o que fez, sei que não deveria
esperar menos dele. Baron é como um valentão da oitava série que acha que
te tratar mal é uma forma de “chamar sua atenção”, que assim vai fazer
você notá-lo e para evitar novas situações constrangedoras, você vai acabar
cedendo e fazendo tudo o que ele quiser.
Mas, porra… Nem por cima do meu cadáver.
Baron Donovan não vai vencer.
Ignorando o bolo na minha garganta, eu abro um sorriso para o
garoto que está gritando todas as atrocidades que acha que Baron deveria
fazer comigo.
— Na verdade, essa ideia me parece boa. No entanto… Quando for
amarrada a cama de alguém, que seja um que saiba lidar com todo o resto.
Fazer o serviço completo, sabe? Alguns caras só sabem falar. — Viro o
rosto discretamente para o meu irmão postiço, que agora ergue as
sobrancelhas.
— Eu conseguiria dar um jeito em você, hein? — o babaca
murmura e o desejo em sua voz me causa arrepios de nojo.
— Você não saberia agradar uma mulher nem que ela te desse um
mapa, idiota. Acho que isso também é algo que vocês aprenderam com o
capitão de vocês.
Mais uma onda de risadas recomeça, mas não presto atenção no que
estão falando agora. Meus olhos estão focados em Baron, que está com um
microssorriso no rosto normalmente sem expressão.
— Não vá para casa se não quiser barulho. É simples.
— Você me fez sair do dormitório e me mudar para aquela casa. Eu
não sou um brinquedo que você pode controlar, Baron. Não vou fazer o que
você quiser.
Ele dá de ombros.
— Então se prepare para uma noite bem desconfortável, Cecília.
— Vai se foder.
— Pode ter certeza que é o que pretendo fazer esse final de semana
— ele responde, dando um apertão na cintura de Vicky.
Eu ignoro a pontada estranha que isso me causa. Minha boca fica
seca de repente e eu tento me convencer de que isso é pela falta de
consideração dele comigo.
E não… Ciúme.
— Você é um idiota — digo, antes de lhe dar as costas.
Meu rosto ainda está pegando fogo quando sento de novo à minha
mesa. Seguro o lápis com tanta força ao recomeçar o desenho que Lucy
precisa segurar a minha mão.
— Ei… Ele não vale a pena, Cecília. Você mesma disse que isso é
sua chance de se livrar dele. Aproveita.
É, pensando por esse lado… Lucy tem mesmo razão.
Respiro fundo.
— Eu sei, é só que… Como ele pode me tratar tão mal na frente das
pessoas se ele que vive correndo atrás de mim? Isso me tira do sério.
— Você nunca tinha conhecido um homem antes?
— Fala sério.
— Estou falando sério, Ceci. Homens são estúpidos assim. Mas
você não precisa aceitar tudo calada… — Ela abre um sorriso conspiratório.
— Se Baron quer dar uma festa, então tudo bem. Nós fomos convidadas,
não fomos?
Deixo meus ombros caírem, desnorteada.
— Sim, fomos convidadas, mas eu não posso ignorar minhas
obrigações. Eu preciso terminar muita coisa da faculdade nos próximos
dias.
— É, mas isso não significa que não podemos dar uma passada lá.
Só para tirar ele um pouco do sério.
— Como?
— Usando a fraqueza dele. — Minha amiga agora está com os olhos
brilhando, o rosto com uma expressão maníaca.
Eu bufo, voltando a desenhar.
— Baron não tem fraqueza, Lucy.
— Ah, ele com certeza tem.
— E o que é?
Ela me encara como se eu fosse a maior idiota do mundo.
— Você.
Eu preciso te matar
Essa é a única maneira de tirar você da minha cabeça
Oh, eu preciso te matar
Para silenciar todas as pequenas coisas encantadores que você disse
Dead to Me | Melanie Martinez

Baron não economizou nos convites, é o que eu penso quando, por


volta das seis da tarde, a campainha da nossa casa começa a tocar.
Lucy veio para cá comigo e agora está no meu closet vasculhando
cada mísera peça que eu tenho. Já descartou dois vestidos e está decidindo
se eu vou colocar um body de alças finas com uma calça de cintura alta ou
se o cropped com uma saia rodada é a melhor opção.
— Ele vai morrer quando te ver usando isso — ela diz, depois de
decidir que preciso usar o cropped.
É meio irônico que apesar de eu ser uma estudante de Moda, minha
melhor amiga esteja escolhendo as minhas roupas.
— Baron nem liga mais pra mim.
— Aham, tá bom. Ele quer que você pense isso, mas nós sabemos a
verdade.
Pesco meu blush novinho da minha nécessaire, escolhendo o pincel
que vou usar para começar a minha maquiagem.
— E ele te contou isso no chá da tarde? — debocho, abrindo um
sorriso cínico. — Ele e a Vicky parecem estar se dando bem. E para ser
sincera, a garota parece bem legal. Não quero atrapalhar os dois se algo
estiver rolando.
Lucy bufa, praticamente voando para cima de mim.
— Baron Donovan nunca teve uma namorada, Cecília. No mínimo,
a Vicky era um caso antigo que está de volta e talvez ele ache que essa seja
uma boa forma de atingir. Provocar ciúmes.
Mas eu não acredito no que ela está dizendo.
Baron pode ter simplesmente se cansado de correr atrás de mim e eu
o entendo. Até fico feliz por finalmente ser deixada em paz, mas me
preocupo com a possibilidade dele voltar ao estágio um, onde a prioridade
da vida dele era deixar a minha miserável.
— Kaden deve estar por aqui — desconverso, vendo as bochechas
dela assumirem um tom rosado. — E Hunter também. Nunca mais vi Amy
por aí…
— Sim, ela pediu transferência de novo. Aparentemente, ela não
conseguiu se adaptar muito bem à Califórnia.
Franzo o cenho.
Que estranho.
Mas a Amy não veio para cá transferida? Ela está mudando de
faculdade com tanta frequência por quê?
Balanço a cabeça, tentando não pensar muito em seus motivos. Eu já
tenho os meus próprios problemas com que lidar.
— E Kaden pode ir se foder — ela completa, revirando os olhos.
Em seguida, ela me joga o conjunto de roupas que quer que eu use e eu as
agarro no ar, arqueando a sobrancelha.
Nós terminamos de nos arrumar conversando sobre a faculdade. A
música alta começou há mais de duas horas e parece que a cada minuto que
passa, aumentam ainda mais. Em dado momento, Lucy e eu estamos
praticamente gritando para conseguir nos ouvir.
— QUE FILHO DA PUTA! — ela grita, ajeitando o vestido
vermelho no corpo.
— EU TE DISSE! — respondo, borrifando um pouco de perfume na
minha roupa. — VOU MATÁ-LO!
— E EU TE AJUDO A ESCONDER O CORPO!
Ao descermos para o primeiro andar, sinto meu rosto arder. Estou
fervendo de raiva ao ver no que a nossa sala de estar se transformou.
Centenas de pessoas estão espalhadas por todos os cantos, rindo,
conversando, bebendo, se pegando e ai, meu Deus, acho que um dos caras
do time de beisebol está fazendo xixi em um dos vasos novos da minha
mãe.
Ela vai ter um chilique.
— Que nojo. — Faço uma expressão de nojo. — E que música é
essa? Pelo menos Baron tem bom gosto.
— Eles são a Fake Affairs! A banda é o máximo e eles estudavam
em Granville antes de explodirem mundialmente. Quando vierem fazer um
show aqui, nós duas temos que ir!
— Vamos mesmo. Mas, agora, eu quero saber o que você está
planejando…
— Você vai ver em breve. Na verdade… — Ela fica na ponta dos
pés, semicerrando os olhos para tentar enxergar melhor. — Ele acabou de
chegar.
Arregalo os olhos, agarrando o braço dela.
— Ele? Ele quem?
Ela abre um sorriso dócil.
— Ele. — Ela aponta na direção de um garoto que me parece
estranhamente familiar. Aperto os olhos, tentando vê-lo melhor, até que o
dito cujo levanta o rosto.
— Noah? O que ele está fazendo aqui? — pergunto, sentindo meu
coração acelerar.
Noah é o garoto que conheci na biblioteca. Nós conversamos uma
vez e eu comentei com a Lucy sobre como Kaden e Hunter apareceram lá e
o enxotaram como se eu tivesse um dono.
— A casa também é sua, não importa o que ele diga. Então eu tomei
a liberdade de convidá-lo. — Lucy dá de ombros, como se não fosse nada
demais. — Vamos, ele deve estar te procurando.
Ela sai em disparada na minha frente e continuo parada feito uma
estátua, tentando assimilar o choque e entender o que Lucy está
planejando.
Noah abre um sorriso educado quando ela o encontra e minha amiga
não perde tempo. Ela aponta na minha direção e eu aceno, tímida, querendo
me enfiar no primeiro buraco que eu encontrar.
Não sou uma menina que cora com facilidade e fica com vergonha
tão facilmente, mas detesto esse joguinho do “quer ficar com a minha
amiga?”. Sempre odiei isso e minhas amigas do Brasil nunca conversavam
com os caras por mim.
Isso é mais uma coisa que preciso me lembrar de dizer à Lucy.
— Olha só como ele está lindo! — ela exclama, apontando para o
pobre coitado como se ele não tivesse parado bem na nossa frente.
Noah leva a mão até o pescoço, acanhado, e minhas bochechas
parecem estar sofrendo uma queimadura de terceiro grau.
Lucy é muito cara de pau.
Mas… Não posso negar que ela está certa. Noah não me
impressionou muito à primeira vista, mas devo dizer que vê-lo usando a
jaqueta do time mudou bastante a minha perspectiva sobre ele.
— Não achei que fosse ter a chance de conversar com você de novo
— diz ele, sorrindo.
É impossível negar o quanto ele é charmoso.
Dou de ombros, abrindo um sorriso em resposta. De soslaio,
percebo Lucy saindo de fininho. Ela coloca os polegares para cima em um
sinal de “vai fundo!” e eu faço uma cara brava.
— A sua amiga… Ela disse que você me convidou. Que queria que
eu viesse — ele se explica, seguindo o meu olhar. — Mas acho que pela sua
expressão talvez ela estivesse errada.
Porra… Não queria deixá-lo chateado.
Balançando a cabeça freneticamente, faço que não.
— Não é isso. Eu gostei de te ver. É só que… Lucy não me avisou
sobre isso e eu não estava preparada.
— Você precisa estar preparada para mim? — Ele acha graça,
inclinando a cabeça. — Isso é bom ou ruim?
Dou de ombros, mordendo o lábio. Por bem ou por mal, Noah
parece ser uma boa companhia. Dadas as minhas expectativas para essa
festa, isso é mais do que eu esperava.
— Pode apostar que é bom. Eu não fico nervosa com qualquer
pessoa. Na verdade, tenho uma grande dificuldade em ficar com a boca
fechada.
— Eu soube. Você enfrentou todos os idiotas da fraternidade no
refeitório, na frente de todo mundo. — Ele retorce os lábios, batendo
palmas. — Devo dizer que por um momento achei que você estivesse
naquela disputa.
— Disputa?
— Pelo Baron. Algumas garotas transformaram isso em uma
espécie de jogo e eu sinceramente não entendo o porquê. Com todo o
respeito, porque agora eu sei que ele é o seu irmão, mas esse cara é um
pouco maluco. Soube que teve uma garota que sumiu da faculdade depois
que ele acabou com ela.
Engulo em seco, me lembrando vagamente do que Lucy já havia
mencionado para mim uma vez.
— Ele não é só um pouco louco. É muito. E eu não saí do meu país
para correr atrás de ninguém — friso, sentindo meus ombros tensionarem.
— Eu nem deveria estar aqui. Preciso terminar de costurar duas peças para
uma aula de design e nem terminei de estudar todo o conteúdo para as
minhas provas finais. Baron… — suspiro, observando o vai e vem das
pessoas pela minha casa. — Ele decidiu dar essa festa sem me avisar.
Nossos pais viajaram e nós dois estamos em uma espécie de guerra fria.
Isso parece chamar a atenção de Noah, que agora está com o cenho
franzido. Ele cruza os braços, subitamente interessado e se inclina na minha
direção para conseguir ouvir melhor.
— Guerra fria? Aconteceu algo entre vocês?
Hm… Deixe-me pensar. Baron me levou para o lugar favorito da
mãe dele, que por acaso é o cemitério onde ela está enterrada e pensou que
depois disso estávamos nos dando bem. Fugi para a praia com a minha
melhor amiga e ele se achou no direito de me sequestrar e me manter no
hotel da família dele o final de semana todo e, depois disso, precisei pedir
ajuda para o meu padrasto para mantê-lo afastado. Ah, e eu tive o melhor
orgasmo da minha vida só com os estímulos da boca e dos dedos dele.
Mas ao invés de despejar esse resumo nele, eu apenas dou de
ombros, fazendo pouco caso.
— É coisa de irmão mais velho ciumento, sabe? Acho que ele ainda
não aprendeu a dividir. Não está gostando da ideia de ter uma outra irmã.
Noah parece achar graça.
— Isso é bem irônico vindo de alguém que literalmente tem um
irmão gêmeo. Ele não divide tudo desde o útero?
Eu solto uma risada e ele me acompanha. É tão bom estar na
companhia de alguém que não fica me reivindicando a cada segundo e eu
tinha me esquecido como um encontro com um garoto poderia ser
divertido.
— Brandon está na festa também. Esbarrei com ele quando vinha
para cá e ele estava acompanhado de uma menina.
— Briana. Ela é legal. Meio misteriosa, mas legal — digo, estalando
a língua no céu da boca.
Noah e eu continuamos conversando por mais algum tempo. É
impressionante o quanto ele consegue me fazer rir e depois de um tempo,
estou colocando a mão sobre a barriga para tentar me controlar. A
gargalhada sai com facilidade e toda a tensão deixa o meu corpo. Nem
consigo me lembrar do meu receio para começo de conversa.
Até que eu o sinto.
Os cabelos da minha nuca ficam arrepiados e meu coração começa a
acelerar. O cheiro dele é a primeira coisa que me atinge e eu não consigo
prever de onde ele sairá.
Mas sei que ele está aqui.
Baron.
— O que você está fazendo aqui? — ele pergunta, calmamente,
saindo das sombras como um maníaco.
Dou um pulo com o susto, mas trato de me recompor.
Baron está sem camisa, com o peito molhado. Deveria estar na
piscina com a Vicky fazendo sabe-se Deus o quê. Preciso respirar fundo e
me lembrar do quanto eu o odeio.
Noah, à minha frente, se retesa com a presença de seu capitão.
— Eu achei que tivesse sido convidada. A casa também é minha —
relembro-o, na defensiva.
Mas é então que percebo uma coisa. Os olhos de Baron não estão
mirando em mim, mas sim no garoto que agora parece querer sumir.
— Também fui convidado. Pela sua irmã — Noah se apressa em
dizer e o meu coração dispara.
Baron, lentamente vira o rosto para o meu. Sustento a minha
expressão altiva, sem querer dar o braço a torcer ou mostrar fraqueza. Ele
não tem o direito de me dizer nada.
— Ah, é mesmo? — Seu sorriso não tem um pingo de humor. —
Então quer dizer que a minha irmã está convidando pessoas para a minha
festa? — A voz ríspida me faz estremecer. — Pensei que você tinha que
estudar.
Engolindo em seco, dou de ombros.
— Não ia conseguir estudar com todo esse barulho — depois de
respondê-lo, viro meu rosto para Noah. — Quer subir? O meu quarto não
fica muito longe daqui.
O garoto assente lentamente e então começa a vir na minha direção.
É quando o inferno começa.
Kaden e Hunter surgem da porra de lugar nenhum, o primeiro
sorrindo como se estivesse na manhã de Natal. O segundo, com a expressão
entediada de sempre, segura Noah pelos ombros.
Baron, suave como um touro, me agarra pela cintura e pressiona o
corpo enorme contra o meu. Suas mãos sobem pelo meu pescoço,
segurando meu queixo com possessividade enquanto puxa meu rosto para
cima. Seus olhos estão furiosos e sem um traço de empatia.
— Você precisa fazer isso sempre, não é? — murmura, irritado.
Mesmo em desvantagem, não consigo ficar calada.
— Isso tudo é culpa sua. Você age como um neandertal. Qual é o
seu problema?
Baron traga em seco, os músculos duros feito pedra. Nossos olhos
estão travando a mesma batalha de sempre, com ambos se recusando a
desistir e deixar o outro ser o vencedor.
E então, sem mais nem menos, ele me segura pelo braço e me joga
sobre seus ombros, me arrastando escada acima como se eu não passasse de
uma mercadoria.
— Baron! SEU DESGRAÇADO, ME PÕE NO CHÃO!
Mas é óbvio que ele não me ouve.
Na verdade, a única coisa que acontece é que todos os presentes
estão prestando atenção na gente. As risadas no refeitório não são nada
comparadas aos gritos e murmúrios de agora.
Quando Baron me coloca no chão, já dentro do meu quarto, eu não
penso duas vezes antes de começar a estapeá-lo.
— Seu idiota! EU TE ODEIO!
Meus tapas não fazem nem cosquinha enquanto ele continua parado,
completamente sem expressão, observando o que faz comigo.
Suas mãos seguram meu pulso com força, parando o meu surto
completamente. Tento me soltar, com vontade de fazê-lo sentir um pouco da
dor que vive causando em mim, mas seus dedos são como barras de ferro ao
redor da minha pele.
Ele me observa atentamente, a minha respiração ofegante, os meus
olhos marejados, o ódio refletido em mim.
— Já acabou com o seu show? — pergunta, frio.
Eu mordo um pedaço da minha bochecha, pensando em como nunca
me senti assim antes. Nunca odiei tanto alguém.
Ele parece saber exatamente o que estou sentindo, porque suas
feições endurecem. Baron respira fundo, soltando meus braços como se eu
o estivesse queimando.
— Vou voltar lá para baixo. E você não vai mais sair daqui. Juro por
Deus, Cecília, se eu vir você naquela merda de festa…
Eu ergo meu queixo, rangendo os dentes.
— Vai fazer o quê, maninho? Contar para os nossos pais? Me
colocar de castigo? — bufo, sentindo a adrenalina correr pelas minhas
veias.
Baron endurece a mandíbula.
— Se for necessário, sim. Não me teste, Cecília.
Quando ele se vira para me dar as costas, não penso duas vezes
antes de pular em sua direção, impedindo-o de seguir em frente.
— Que porra?! — esbraveja, tentando se livrar de mim. — Cecília!
— Você não vai me deixar aqui como se eu fosse uma adolescente,
Baron! VOCÊ NÃO MANDA EM MIM!
Ele segura minhas pernas por trás, fazendo com que eu o envolva
por trás. Baron começa a andar comigo na direção da minha cama, se
deitando para que eu possa me soltar em segurança.
Mas eu não me solto. Na verdade, o aperto com ainda mais força.
— Eu só fico aqui se o Noah puder me fazer companhia — digo
com a voz dura. — Caso contrário, vou descer.
— Ele só sobe aqui se passar por mim — ele atira, puto. — E
mesmo se passar, eu o caçarei até o inferno. Juro que eu o mato, Cecília.
O que me assusta não é seu tom de voz ríspido e o jeito como falou.
Mas sim como eu me senti quando o escutei proferir uma sentença de morte
a Noah, caso me toque.
Eu gostei.
Deixo meus braços e pernas caírem sobre o colchão, libertando-o,
ainda muito assustada com o que estou sentindo.
Baron vira lentamente, ficando por cima de mim. Nossos corpos
estão nos tocando em todos os lugares, nossas respirações pesadas. A boca
dele se aproxima da minha e eu observo, sentindo meu coração bater
freneticamente como um louco.
Abro ainda mais minhas pernas, vendo-o se encaixar. Ele passa os
dedos suavemente sobre o meu rosto, carinhoso, enquanto me observa.
— Você quer isso? — pergunta com um toque arrogante na voz. —
Se quer, vem pegar. Cansei de ser o único a ir atrás de você.
E ele cumpre o que está dizendo. Baron fica parado igual uma
estátua, tomando o cuidado de não me esmagar com o seu peso. Seus olhos
estão acompanhando cada mísero movimento meu, ansiosos, lutando para
não assumir as rédeas e acabar com a nossa agonia.
Engolindo em seco, eu não penso em tudo o que eu lhe disse ou fiz.
Meu orgulho? Já está esquecido. Meu ódio? Só o faz desejá-lo ainda mais.
E meu coração? Porra, esse já está perdido. Ele bate tão
desesperadamente que sinto meus lábios secos, desesperada para sentir seu
gosto novamente.
Parece que já se passou uma década desde que eu tive seu sabor em
mim.
E então, sem esperar mais nenhum segundo, eu me apoio nos meus
cotovelos, ficando cara a cara com Baron.
Ele ergue a sobrancelha em um desafio mudo.
Meus olhos caem para seus lábios cheios, morrendo de vontade de
mordê-los até sangrar, da mesma forma que ele fez comigo quando nos
beijamos pela primeira vez.
Sem pensar muito, eu me inclino para frente, colando meus lábios
nos seus.
Eu vou te amar até o fim dos tempos
Eu esperaria um milhão de anos
Prometa que se lembrará de que você é meu
Blue Jeans | Lana Del Rey

Quando a boca de Cecília cobre a minha, eu ainda mantenho meus


olhos abertos. A ideia dela tomar a iniciativa é tão absurda para mim que eu
me recuso a acreditar.
Ela está mesmo me beijando?
Só posso estar sonhando.
Alguns segundos se passam e nossos lábios continuam grudados,
um selinho longo, com os dois imóveis feito estátuas. Acho que nem ela
está conseguindo entender o que está acontecendo.
Mas, caralho… Não vou deixar essa merda passar.
Meu peito se expande com o sentimento de posse que toma conta de
mim. Cada fibra do meu ser, cada célula minha e cada pedaço meu está
sentindo isso. A sensação de que ela finalmente está se entregando a mim.
O corpo dela amolece na cama e é a minha deixa para assumir o
controle. Agarro seus cabelos, ainda sem esboçar nenhuma reação, usando a
minha frieza para continuar no comando.
Cecília joga a cabeça para trás, deixando o pescoço exposto para
mim. A roupa dela foi algo que me pegou desde que ela desceu e eu fiquei
observando-a, de longe, imaginando todas as coisas perversas que eu
gostaria de fazer com ela.
Primeiro, eu a atacaria com a minha língua. Depois, abriria as
pernas dela na frente de todas aquelas pessoas e a comeria por trás,
reivindicando cada pedaço de Cecília na frente de todos os babacas que
insistem em tratá-la como a minha irmã.
Estava achando até divertida a sua provocação. A forma como ela
tentava disfarçar, mas estava morrendo de ciúmes ao me ver com a Vicky. A
confusão em seus olhos tão lindos, os lábios apertados em irritação.
Isso até ver Noah aparecendo como a porra de um príncipe
encantado.
Não sei explicar o que eu senti. Mas, a cada vez que aquele cuzão
abria a boca e arrancava uma risada dela, eu sentia nos ossos que precisava
arrancá-lo de lá. Depois, eu o prenderia no meu porão e tiraria seus olhos
por se atreverem a desejá-la.
— Você me quer — eu rosno, praticamente colando nossos rostos.
— Você me deseja até seu último fio de cabelo, Cecília. Não tente negar
isso.
Ela engole em seco, mal parecendo assimilar o que estou dizendo.
Seus olhos estão queimando de desejo, focados na minha boca. Cecília está
do mesmo jeito que ficou quando estávamos no hotel, desejosa, carente,
excitada e pronta para gozar para mim.
— Da próxima vez que deixar ele se aproximar de você ou que
sorrir para ele… — digo, entredentes. — Vou garantir que seja a última
coisa que ele faça em vida. Não estou nem aí para as consequências.
Isso parece despertá-la de seu torpor. Seus olhos sobem de volta
para encarar os meus e ela franze o cenho. Uma centelha de irritação
aparece em suas feições.
— É mesmo? Porque, da última vez que eu chequei, eu estava
solteira. Assim como você. Ou talvez esteja começando algo com aquela
garota, a Vicky. Não era ela que estava no seu colo no meio do refeitório?
Uma pontada de satisfação me atinge quando eu vejo seu lindo rosto
adquirir um tom rosado.
— Você está com ciúmes? — provoco.
Cecília mostra os dentes, dando de ombros.
— Eu? Com ciúmes de você? Faça-me o favor, Baron. — Ela
balança a cabeça, bufando. — Você só é bom pra mim quando eu quero me
divertir.
Ela pode dizer o que quiser para me atingir agora, mas eu sei a
verdade.
Cecília também se sente possessiva sobre mim.
Meu aperto em seu cabelo fica mais forte e ela joga a cabeça para
trás, arfando.
— Vicky é uma amiga. Ela jogava vôlei na faculdade e era muito
boa. Se transferiu há um ano porque conseguiu uma oportunidade melhor
na UCLA, mas voltou agora depois de sofrer uma lesão. Nós saímos para
contar novidades, mas eu não tenho olhos para mais ninguém desde que
você apareceu naquela festa.
Cecília pisca rapidamente, tentando assimilar tudo o que acabei de
dizer.
— Então por que ela estava sentada na porra do seu colo? —
pergunta, brava, semicerrando os olhos para mim.
O sorriso convencido é involuntário nos meus lábios.
— Porque você estava me evitando a semana toda desde que
voltamos do fim de semana do hotel. Meu pai me ameaçou, dizendo que me
expulsaria de casa se eu não te deixasse em paz e isso me deixou furioso.
Queria que você entendesse de uma vez por todas o quanto me quer.
— Você é um psicopata, Baron. Sério. Terapia faria tão bem para
você…
— Nunca perdi o controle antes. Sempre consegui controlar minhas
emoções muito bem, mas desde que você chegou… Porra… — Escondo
meu rosto no pescoço dela, que prende a respiração. Dou uma lambida,
saboreando o sabor de sua pele. — É como se eu não conseguisse prever
meus próximos passos. Estou vivendo para saber os seus.
Os olhos de Cecília suavizam.
— Por quê? O que você viu em mim para causar tudo isso?
Porra, como ela não sabe?
— Porque você me entende. Você me conhece melhor do que
qualquer pessoa. Só não sabe disso ainda.
Ela encolhe os ombros, ainda confusa com as minhas palavras.
Eventualmente, Cecília vai se dar conta e saber o quanto eu a perseguia
muito antes de colocar os pés nesta casa.
— Você está me ferrando, Baron. Eu deveria estar estudando agora.
Meu projeto de design também ainda não está pronto, o que significa que
vou passar o final de semana toda afundada em tarefas para a faculdade.
— Podemos estudar agora. Eu te ajudo.
— Com todo esse barulho?
— É só acabar com a festa. Mando todos para casa e teremos ela só
para nós.
Cecília parece desconfiada, me encarando como se eu fosse outra
pessoa.
— E você faria isso? Por mim?
Se eu faria isso por ela? Só pode estar brincando comigo, caralho.
— Eu faria qualquer coisa por você.
— É engraçado dizer isso quando deu a festa mesmo eu pedindo
para você não fazer isso — ela resmunga, cruzando os braços e fazendo o
biquinho mais fofo do mundo. — Não foi legal.
Roubo um beijo rápido de seus lábios, adorando o quanto ela está
receptiva essa noite.
— Eu não posso ser o único a ceder e tomar iniciativa, Cecília. Você
também precisa mostrar que quer isso. Se tivesse pedido com jeitinho, eu
não teria prosseguido com isso.
Ela parece assentir com a cabeça e eu arqueio a sobrancelha ao vê-la
levar as mãos até o meu pescoço, apertando-as ao redor da minha cabeça.
— Tipo assim?
Ah, merda… Meu pau endurece na mesma hora. Sinto um arrepio
na espinha ao ver a submissão em seus olhos, o seu corpo marcado com a
roupa que está me deixando completamente louco.
Minha boca fica seca na mesma hora. Cecília se remexe embaixo de
mim, rebolando, com um brilho nos olhos que me deixa fora de órbita. Todo
o sangue do meu corpo se encontra em uma parte muito específica agora.
— Sim. Exatamente assim — sussurro com a voz rouca.
— Hmmm… — Ela se aproxima ainda mais, como uma maldita
cobra sedutora pronta para dar o bote. — E se eu tivesse feito isso… — Ela
beija o cantinho da minha boca, me deixando com tanta vontade de beijá-la
que começo a salivar.
— Aí você teria conseguido tudo o que quer de mim.
— Isso é bom. Agora eu sei o que eu preciso fazer para ter você na
palma da mão — ela diz, sorrindo como se tivesse acabado de descobrir o
maior segredo da humanidade.
Porra, estou tão apaixonado por essa garota que sinto isso até nos
ossos. Sei o que ela gosta de comer, a que horas acorda, até quando ela está
de TPM. Mas nada, NADA, se compara a tê-la nos meus braços. Viver esse
amor platonicamente foi bom, mas tê-la em carne e osso assim… Caralho, é
mil vezes melhor.
Nossos lábios se encontram em uma busca desenfreada e eu beijo,
mordo, sugo, sem pensar direito. Só preciso tomar tudo de Cecília, deixar
minha marca nela, impregná-la com meu cheiro, encharcá-la com a minha
essência ao ponto de enxergarem a gente como uma coisa só.
Não haverá mais Baron Donovan sem Cecília Braga e vice-versa.
Minhas mãos procuram por cada pedaço de pele e eu seguro seus
seios por cima da blusa minúscula. Ela arfa na minha boca, desejosa,
enquanto aperto com mais força.
— Eles são meus — aviso, vendo-a revirar os olhos de tesão. —
Cada pedaço seu me pertence, Cecília.
Arrasto sua blusa até o umbigo, deixando seus peitos à mostra para
mim. Os mamilos estão duros e prontos para serem chupados e é o que eu
faço. Começo a sugar, vendo-a se derreter abaixo de mim, completamente
entregue ao prazer que sabe que só eu consigo proporcionar.
Alcanço sua boceta com a minha mão, esfregando por cima da
calcinha. Ela abre ainda mais as pernas, me dando livre acesso onde está
mais necessitada, começando a rebolar contra os meus dedos.
— Agora não sou mais o seu maninho, não é? — provoco,
alternando os beijos entre seus seios. Cecília está com a respiração
ofegante, agarrando meus cabelos como se a ideia de eu me afastar a
machucasse fisicamente. — Pede para eu fazer você gozar.
— Baron… Eu preciso muito gozar.
Chupo um mamilo com suavidade, sentindo-a estremecer embaixo
de mim.
— Seu desejo é uma ordem. Vou cuidar de você, Cecília. E depois,
vou acabar com a porra dessa festa e vamos estudar juntos.
Ela assente rapidamente com a cabeça, sem parecer estar escutando
realmente o que estou dizendo. Cecília está muito envolvida em todas as
sensações que meu corpo está lhe proporcionando e eu adoro saber que está
perdendo o controle por minha causa.
Minha causa.
Volto a dar atenção para os seus peitos, usando os dedos para
masturbá-la enquanto seus quadris mexem em busca da minha mão. Uso os
dentes para morder seu pescoço, agarrando sua cintura com força.
Minha mão finalmente entra em sua calcinha e eu preciso apertar os
olhos com força para não cometer uma loucura quando sinto o quanto ela
está molhada para mim. Daria tudo para tirar meu pau para fora e entrar
nela de uma vez, me perder em sua doçura e gozar em sua boceta pela
primeira vez.
Mas isso não vai acontecer tão rápido e definitivamente não quando
uma dúzia de desconhecidos está na minha sala de estar.
— Porra, você está encharcada… — murmuro, sentindo minhas
bolas formigarem. — Tudo isso é pra mim, amor?
— Sim…
Caralho, caralho, caralho. Vou acabar explodindo só de ouvi-la
toda receptiva assim.
Cubro sua boca com a minha, enfiando um dedo dentro dela.
Espalho sua excitação por toda a carne dolorida dela, usando o polegar em
seu clitóris inchado. Cecília abre a boca, excitada contra os meus lábios,
rebolando em meus dedos em busca de seu próprio prazer.
— Mal posso esperar para sentir isso no meu pau — sussurro,
afoito, sentindo meu pau mais duro que pedra. — Você vai gozar nele
também, não vai? Igualzinho está fazendo com meus dedos. Isso, amor. Me
aperta assim…
— Baron… — ela geme, cada vez mais excitada.
Quando seus olhos arregalam e suas bochechas ficam vermelhas,
sinto suas pernas começarem a tremer. Olho para baixo, completamente
apaixonado pela visão. Cecília gozando é um espetáculo que eu não
pretendo perder um show sequer a partir de agora.
O corpo está mole, completamente satisfeito depois do orgasmo. Os
olhos estão pesados, o rosto lívido, as bochechas coradas.
É a coisa mais linda que meus olhos já viram.
Eu a beijo, completamente apaixonado, louco, obcecado por cada
centímetro dessa garota. Ela corresponde na mesma hora, receptiva, carente
e pronta para ser comida.
Merda. Não posso pensar nisso agora, porra.
Me afasto o suficiente só para tirar minha mão do meio de suas
pernas, lambendo o líquido dela dos meus dedos. Cecília fica acanhada,
mas não desvia o olhar do meu gesto nem por um segundo.
— Vou descer e acabar com a festa. Já volto, amor.
Quando saio de seu quarto, só consigo pensar no que meu pai diria
se visse como a enteada dele está agora. Na cama, à minha espera e com um
sorriso satisfeito de alguém que acabou de trepar.
Eu disse que ele jamais seria capaz de nos afastar e mal posso
esperar para ele entender isso de uma vez por todas.
Urso de gelatina, torta doce
Quero ser adorada
Eu sou a garota por quem você morreria
Bubblegum Bitch | Marina

Depois que Baron desce, eu decido tomar um banho frio. A minha


mente quer me acusar por ser fraca e ter cedido ao desejo que senti, mas
estou tentando me distrair.
Não demora muito para a música sumir completamente, seguido de
barulho de passos em bando.
Eles realmente estão indo embora.
E isso é bom. Não consigo ter paz quando eu sei que tenho muitas
coisas para fazer e estou pensando em quantas páginas eu ainda preciso ler
para a minha prova de História da Arte.
Estou terminando de colocar o meu pijama quando Baron surge na
porta, ainda sem camisa, agora exibindo um sorrisinho arrogante no rosto.
— Porra… Você quer estudar usando isso? — Seus olhos me
percorrem da cabeça aos pés e eu fico estranhamente satisfeita com isso.
— Estou usando um pijama. Quero ficar confortável.
— Puta merda… — Ele passa as mãos sobre o rosto, descontrolado.
— Não vou conseguir manter as minhas mãos longe de você se estiver
usando isso. Espere aí.
Cruzando os braços, eu faço o que ele manda. Ele vai até o próprio
quarto e traz um moletom de Harvard, grande e parecendo gasto. Me
entrega com uma expressão convencida no rosto, como quem diz: “olha só
a ideia genial que eu tive!”.
— Harvard? — pergunto, aceitando o moletom.
Ele assente.
— Era da minha mãe. Ela não chegou a se formar lá porque
engravidou de mim e não conseguiu concluir, mas morou em Boston por
dois anos enquanto estudava lá.
— Uau. E por que você não tentou ir para lá?
Baron dá de ombros.
— Não queria viver à sombra dela e não gosto tanto de frio assim.
Prefiro a praia, dias quentes, sol. Eu já vivo no gelo… Literalmente.
Quando tenho um tempo livre, gosto de saber que o verão está me
esperando.
— Olha… Não sabia disso.
Seus olhos intensos encontram os meus na mesma hora.
— Há muita coisa minha para você conhecer, Cecília. Se me der
uma abertura, resolvemos esse problema.
Semicerro os olhos para ele.
— Quem sabe um dia, né? Mas agora eu realmente preciso terminar
de estudar.
— E o que você precisa para isso?
Suspirando, eu me sento na minha cama.
— Preciso terminar de ler alguns artigos e textos acadêmicos para
uma prova, então estou pensando em usar a estrutura de tópicos para
conseguir memorizar tudo. Depois de terminar esses resumos, preciso focar
no meu projeto. O problema vai ser achar o modelo…
— Modelo?
— É, para as roupas. Só preciso de um modelo de corpo para eu
costurar, porque não é necessário na hora da apresentação. Só vou precisar
de algumas fotos, claro. Para apresentar na aula — explico, gesticulando. —
As peças ficarão em exibição nos manequins no estúdio da faculdade. Estou
muito empolgada com isso.
— Você ama mesmo moda, hein?
— Amo. Só não a parte da matemática. — Coloco a língua para
fora, fazendo uma careta. — Eu sempre soube que a geometria seria uma
das coisas principais nas aulas, mas fazer cálculo é algo que está me
matando.
— Matemática é simples. É algo exato. Você só precisa entender as
fórmulas e consegue se virar bem.
Inclino a cabeça para o lado, sorrindo.
— Você diz isso porque é uma espécie de prodígio. Eu vi as suas
notas em cima da mesa.
Baron mostra os dentes, a expressão confiante.
— Não sou um prodígio, só sou dedicado. Tudo o que eu decido
fazer é com excelência. Gosto de pensar que dou o máximo de mim em
tudo — continua, persuasivo. — Imagina como é ir para cama comigo…
— Você não tem jeito mesmo.
— Eu desejo você, Cecília. Você sabe disso. — Seu sorriso
arrogante não vacila segundo algum. — Acho que deveríamos começar com
o projeto, já que você só precisa das medidas para costurar. Eu posso te
ajudar na parte da matemática.
Eu concordo, buscando meus materiais. Baron não demonstra
nenhuma reação quando eu mostro a foto de Britney Spears e Justin
Timberlake que serviram de inspiração para compor o look do meu projeto.
— Eu ainda vou customizar — explico, subitamente sem jeito. —
Se você não quiser ser modelo, eu posso encontrar outra pessoa…
— Não.
Sua resposta rápida faz meu coração acelerar. Não posso negar o
quanto é delicioso ter alguém disposto a fazer qualquer coisa por você, a
qualquer hora.
Nós dois colocamos o tecido no chão junto com o croqui que eu
finalizei pela manhã. Estou com um vinco na testa, concentrada, usando a
fita métrica ao redor do meu pescoço para tirar as medidas de Baron.
— Vou precisar que você tire essa calça — aviso.
Ele não hesita ao arrancá-la de seu corpo e, porra… Baron está
apenas de cueca na minha frente.
E acho que estou com a boca aberta.
Seu corpo é enorme, mas isso já era notável mesmo sob as roupas.
Os músculos salientes estão saltados e noto uma pequena mancha perto do
seu quadril.
E por falar em quadril…
A linha “V”, mais conhecida como “o caminho da felicidade”, é tão
marcada que eu preciso dar um passo para trás para me impedir de colocar
o dedo ali para sentir.
Ele é o homem mais gostoso do mundo e ninguém vai conseguir me
convencer do contrário disso.
— Sabe que não precisa só ficar olhando, não é? — Baron me pega
no flagra.
Limpando a garganta, eu balanço a cabeça.
— Eu só estava conferindo o seu tamanho. Não sei se teremos
tecido o suficiente — desconverso.
Ele não cai nessa. Na verdade, o sorriso malicioso só fica maior.
— Entendo. Então quer dizer que você precisa de todo o meu
tamanho… Se esse é o caso, acho que ainda estou vestido demais.
— Eu já tenho o que eu preciso. Mas obrigada.
— Tem certeza?
— Tenho — respondo, sentindo minhas bochechas esquentarem. —
Você está vestindo só uma peça de roupa, Baron.
— Na sua presença, isso já é demais.
Ignoro deliberadamente a queimação que começo a sentir na minha
garganta. Os olhos de Baron queimam sobre mim, à espera de uma reação
que não vem.
Ando até a minha janela e abro as cortinas, quebrando nossa
conexão.
— Podemos começar? — pergunto e ele assente, resignado.
Sou cuidadosa ao encostar em sua pele, sabendo muito bem do que
acontece quando nos tocamos. Explosão e calafrios por todas as partes e
tudo o que eu não preciso agora é ficar me pegando com o meu irmão
postiço.
Começo tirando suas medidas da parte superior, anotando cada
centímetro no meu caderno para conseguir costurar as roupas depois.
Quando me agacho para começar a fazer o mesmo com suas pernas, escuto-
o grunhir.
— Sonho com você de joelhos desse jeito há muito tempo, mas não
imaginei que seria assim — diz com o tom de voz baixo.
— Assim como?
— Sem você estar com os lábios abertos e pronta para me receber.
Porra.
Sinto uma fisgada entre as pernas, a necessidade de me sentir
preenchida por ele pulsando por todo o meu corpo. Levanto os olhos,
encarando as írises escuras de Baron de baixo para cima.
A visão é de tirar o fôlego.
E eu estar nessa posição me faz pensar em como seria se eu, de fato,
estivesse assim para recebê-lo na minha boca.
Se concentre na sua atividade, Cecília.
Limpando a garganta, eu balanço a cabeça. Em seguida, volto a
prestar atenção nas medidas que preciso anotar.
— Como era a sua mãe? — pergunto, mudando de assunto. — Sei
que ela gostava de visitar um cemitério, mas quero saber de mais detalhes.
Baron fica em silêncio por alguns segundos. Depois, começa a falar:
— Uma mulher incrível. Tinha uma risada escandalosa e gostava de
dançar pela casa. Quando ela estava aqui, nossa casa sempre estava cheia de
vida. Depois que ela se foi, é como se tudo tivesse morrido junto com ela.
Às vezes, eu sinto que eu também.
Ergo o rosto novamente para encará-lo.
— Sinto muito pela sua perda. Não sei o que eu faria se eu perdesse
o meu pai.
— Ele é um bom pai para você?
Abro um sorriso fraco.
— Ele é o melhor pai do mundo. E depois que se casou com a
Vanessa, finalmente tive o gostinho de como é ter uma família completa e
feliz. Ela praticamente me adotou como filha dela e eu a amo como uma
mãe — pigarreio, sem jeito. — Não consegui ligar para eles com tanta
frequência como gostaria e isso me deixa chateada. Mas, de certa forma…
— De certa forma…? — Baron incentiva.
— Acho que estou dando uma chance para eles serem uma família
completa sem mim. Só papai, Vanessa e o Gui. Às vezes, eu sentia como se
estivesse sobrando, atrapalhando a vida que meu pai teria se nunca tivesse
engravidado a minha mãe. Quando ela mudou de país e ele precisou cuidar
de mim sozinho, não senti como um abandono. Até hoje não sinto. Homens
vão embora com a desculpa de que precisam trabalhar todos os dias e não
são julgados. Eu sei que ela fez o que precisava fazer para sobreviver.
— Isso não muda o fato dela ter te deixado — ele rebate com a voz
irritada. — Ela é a pessoa mais burra que eu conheço.
Me retraio imediatamente. Posso não ter a melhor relação do mundo
com a minha mãe, mas também é inaceitável ficar calada e escutar alguém
xingando-a dessa forma.
— Minha mãe não é burra. Você não diria o mesmo se fosse o meu
pai que tivesse ido embora.
— Teria sim. Ele seria outro burro.
— Baron, quer parar de agir como um babaca? Achei que estávamos
em trégua.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Estamos em trégua?
— Pensei que sim. Mas agora você está agindo como um idiota de
novo.
Ele bufa.
— Desculpa, mas não faz sentido para mim.
— O que não faz?
— Qualquer pessoa do mundo cogitar deixar você. Isso que não faz
sentido para mim.
E ele acerta mais uma vez.
Acerta em cheio o meu coração.
Pisco os olhos rapidamente, tentando conter as lágrimas que, de
repente, surgem. Elas também vêm do nada e eu balanço a cabeça para
contê-las.
Nem eu mesma tinha percebido o quanto a ideia do abandono aperta
o meu peito. Eu realmente não odeio minha mãe e nem tenho raiva dela,
mas o fato dela ter escolhido me deixar é algo que está guardado em algum
lugar dentro de mim.
Um lugar tão escondido que eu me assusto ao perceber que Baron
foi o responsável por eu acessá-lo.
— Ela não merece respirar o mesmo ar que você, amor. Ela não
merece nada. Não depois de ter te largado sem olhar para trás.
Mordo o lábio inferior, me concentrando em sua panturrilha. Foco
em um ponto fixo, mas meu olhar perdido não demonstra nada do que estou
sentindo de verdade.
— Como eu disse, minha mãe fez o que tinha que fazer. — Limpo a
garganta novamente. — E eu não vou julgá-la por isso. Tive uma vida boa,
meu pai fez um ótimo trabalho me criando. Tenho hábitos saudáveis, não
como porcarias. Se ela estivesse por perto, tudo seria diferente. Nós nem
teríamos nos conhecido — brinco, pensando se essa não seria uma
excelente vantagem.
Baron grunhe novamente, se desvencilhando do meu toque para se
agachar também. Estamos de frente um para o outro, ambos ajoelhados no
chão do meu quarto rosa.
— Mesmo se nossos pais nunca tivessem se conhecido e que você
não tivesse vindo para cá, eu daria um jeito de te encontrar, Cecília. Nem
que fosse em uma próxima vida, mas eu a acharia. E a tornaria minha.
Quando ele me puxa em sua direção para me esmagar em um
abraço, eu só permito.
E faço o que eu jurei para mim mesma que não faria em sua
presença jamais.
Eu choro.
O poder da juventude está em minha mente
Pôr do sol, cidade pequena, meu tempo acabou
Você ainda vai me amar quando eu brilhar
Pelas palavras, não pela beleza?
Old Money | Lana Del Rey

Kaden passa voando sobre mim, o rosto furioso sem deixar dúvidas
de quanto está irritado comigo.
Estou fazendo merda, mas isso não é novidade.
Minhas costas batem na grade transparente que fica ao redor do
rinque e Kaden a soca do lado do meu rosto. Em qualquer outro dia, eu o
mataria por essa audácia. Mas hoje, eu permito que ele faça isso.
Estou bastante irritado comigo mesmo também.
Não consigo me concentrar. Meus pés não parecem obedecer os
meus comandos e embora eu tenha conseguido roubar alguns discos e até
auxiliado Kaden a fazer um gol contra os nossos rivais (que no treino de
hoje incluem o Hunter), preciso admitir que minha dispersão sendo o
capitão do time é inaceitável.
— Que porra é essa, Donovan?! Perdeu um disco para a porra do
Noah Ricci?! — Seu rosto corado e ofegante o deixa parecendo um duende.
De certa forma, é engraçado. — Está quase entregando a vitória para eles de
bandeja!
Me desvencilhando de seu aperto, continuo patinando. A sensação
de deslizar pelo gelo é inebriante e uma das poucas coisas que me manteve
vivo durante todos esses anos.
Isso até ela chegar.
E agora, cá estou eu. Tendo devaneios na porra de um treino
importante para caralho, já que estamos disputando o Frozen Four e o
próximo jogo será aqui, em Granville. Vamos enfrentar os babacas de
Boston e só de pensar nisso, já sinto minha pulsação acelerar.
Apesar de estar agindo como se tivesse razão, sei que não tenho.
Todos os caras estão percebendo como eu estou disperso nesses últimos
jogos e eu me sinto um merda por isso. Uma das razões de ter sido eleito
como capitão foi a minha capacidade de colocar uma máscara de frieza ao
entrar no rinque.
Agora, olhe para mim. Mal conseguindo fazer um lance sem tirar o
sorriso dela da minha cabeça.
Kaden passa patinando por mim como um furacão.
— Não adianta me dar as costas e sair feito um menino mimado,
Donovan. Você sabe que está errado. Que diabos está errado com você?!
— Eu não posso errar nenhuma vez? Preciso agir feito uma máquina
sempre? Me deixe em paz.
Ele desliza pelo gelo mais rápido do que eu, me interceptando no
caminho para ficar de frente para mim. Os olhos azuis estão nublados com a
fúria.
— Sim, você não pode errar, porra! Foi você que decidiu pegar essa
responsabilidade para você. Quer ser o capitão, então aja como um! Você
sabe que eu nunca disse para você se afastar dessa garota e até te ajudei a
persegui-la por aí, mas você precisa entender suas prioridades! A minha
sempre será os Angry Sharks. Já perdi muito nessa vida, Baron, e sou
fodido pra caralho por conta disso. Não vou permitir que ninguém tire de
mim a única esperança que eu tenho de não acabar tendo uma vida de
merda. Nem mesmo você!
As palavras saem atropeladas, mas o que ele diz me atinge em
cheio. Não sou um idiota, reconheço que embora tenha sofrido com a perda
da minha mãe, nada se compara ao que Kaden precisou enfrentar enquanto
crescia no sistema de adoção.
Resignado, eu ergo o queixo.
— Me passe a merda do disco, K.
Ele solta um suspiro de alívio ao perceber a mudança na minha
postura.
Mas Kaden tem razão e eu reconheço isso.
Preciso deixar a Cecília de lado por enquanto. Só até passarmos
pelos playoffs, pelo menos. Depois, posso continuar nosso jogo como se
nada tivesse mudado.
Ela vai entender.

Meus músculos estão me matando. Cada osso, cada junta e


partezinha do meu corpo está dolorida, inchada e eu só consigo pensar em
uma banheira de gelo para me afundar e anestesiar essa sensação.
Parece que a porra de um caminhão passou por cima de mim e deu
ré várias vezes.
Mas, infelizmente, terei que me contentar com o banho frio rápido
que tive após o treino. Hoje tenho uma prova importante à tarde e embora
eu saiba que vou tirar de letra, essa merda ainda está me deixando nervoso.
— Epa, encontrar com você esse horário deve ser algum sinal! — A
voz irritante de Brandon chega até mim e eu acelero o passo. — Qual é,
Baron? Me ignorar no meio do campus? O que os seus súditos vão pensar?
Respiro fundo.
Se eu me virar e acertá-lo no queixo, provavelmente acabarei na sala
do reitor. E, com certeza, da polícia também.
Brandon vale o meu estresse ao passar por isso?
Definitivamente não.
Mas o babaca parece não entender. Ele começa a correr, alcançando
as minhas passadas largas.
— Brincadeiras à parte, precisamos conversar. É sobre a Briana.
— Estou cagando para a Briana e principalmente para você. Já te
disse para me deixar fora disso.
— Então você não se importa que ela tenha passado um tempo com
a sua preciosa Cecília?
Que merda é essa?
Paro na mesma hora, virando o rosto sério para encará-lo.
— Elas foram à praia e foi isso — respondo, frio.
Brandon abre o sorriso debochado que sempre me tira do sério,
ajeitando melhor a mochila sobre um dos ombros.
— Elas primeiro foram às compras e conversaram antes disso
também. Não achou estranho a Cecília tentar fugir de você quando chegou?
O sequestro foi bem dramático, mas é bem a sua cara.
— O que a Briana disse para ela?
Meu irmão abre a merda do sorriso irritante de novo.
— Eu não sei. Ela está fechada, se esquivando de mim como uma
enguia. Não sei o que fazer.
— Briana não vale nada, mas eu sei que isso não vai te impedir de
correr atrás dela como um cachorrinho. Vocês dois se merecem — atiro,
antes de começar a andar.
Brandon usa a mão para impedir meu movimento.
— Você pode achar que não é da sua conta, mas isso está prestes a
ser. Briana não foi embora daquela vez porque quis, Baron. Ela fugiu. E,
por algum motivo, está de volta. Isso não te desperta nenhuma curiosidade?
— A minha única curiosidade é saber o motivo de você achar que
pode me tocar desse jeito.
Ele deixa o braço cair, o rosto mortificado.
— Encontrei uma coisa.
Franzo o cenho.
— Que tipo de coisa?
Suspirando, Brandon tira o celular do bolso. Ele passa alguns
segundos procurando uma imagem em sua galeria e quando finalmente
encontra, ele hesita em me mostrar.
Tiro o aparelho de suas mãos com um movimento.
E não poderia estar mais surpreso.
É uma conversa entre a Briana e o meu pai. Os dois estão trocando
mensagens de forma impessoal, mas, espera… Meu pai está enviando
dinheiro para a conta dela periodicamente? Que porra é essa?
— Puta que pariu! — exclamo, conferindo o restante das capturas
de tela. Meu pai tem desviado dinheiro de contas da empresa para mandar
quantias enormes de dinheiro para Briana, alguns desses fundos deixados
pelo meu avô para o meu irmão e eu.
— Eu desconfiei quando fui ao banco. Estava querendo trocar de
carro, você sabe — Brandon continua. — O gerente veio conversar comigo
sobre as quantias que estavam sendo sacadas com o seu cartão. Nós dois
não somos próximos, mas eu sabia que você não estava comprando nada tão
caro ultimamente. Não quando está se preparando para os playoffs. Pedi
para que ele verificasse a câmera de segurança e então eu vi nosso pai. Ele
tem sacado pequenas quantias, mas começou a aumentar recentemente. Isso
já está acontecendo há algum tempo — ele suspira. — Encontrei essas
mensagens no celular da Briana. Peguei quando ela estava dormindo e
então tudo fez sentido.
— Acha que o nosso pai está comendo ela? — pergunto, direto.
Brandon me encara, em choque com a minha franqueza.
— Eu não sei. Talvez ela esteja em apuros e ele só está tentando
ajudar.
— Nos roubando? Sacando dinheiro das contas da empresa que o
vovô deixou pra gente? — bufo, sentindo a irritação começar a queimar a
minha garganta. — Vou matá-lo e depois farei o mesmo com ela.
— Baron, a gente ainda não sabe o que está acontecendo.
Mostro os dentes para ele, puto pra caralho com o nível de
ignorância do meu irmão. Normalmente, eu só reviro os olhos quando ele
age com essa inocência irritante, mas hoje estou realmente cogitando ser
ainda mais maldoso.
— Não sabemos o que está acontecendo? — suspiro em
exasperação. — Vou te contar. Seu precioso papai está trepando com a
garota que obviamente não está a fim de você. Pare de correr atrás dela,
cara. Está patético. Provavelmente, ela está ameaçando ele, como toda boa
alpinista social. E agora os dois estão nos roubando, tudo isso para que meu
pai continue nessa farsa de bom marido.
Brandon flexiona a mandíbula, irritado.
— Você. Não. Sabe. Disso.
Exibo minha melhor expressão entediada.
— Eu costumava achar que você era só ingênuo. Agora, eu percebo
o quanto você é burro. Está na cara que eles estão juntos, Brandon.
— Eu não deveria ter te contado. Esqueci por alguns segundos com
quem eu estou lidando, mas não farei isso duas vezes.
Estalo o pescoço, como se estivesse prestes a entrar em um ringue
de luta livre.
— E nem vai precisar, porque agora eu estou na jogada. E vou
descobrir o que esses dois estão tentando fazer.
— Não precisa se envolver nisso, Baron. Eu cuido da Briana.
Eu o encaro, irônico.
— É, deu pra ver o quanto você está cuidando disso. A garota mal
consegue te encarar nos olhos. Tenha um pouco de orgulho, porra.
— Diz o homem que está se rastejando pela nossa irmã postiça há
meses. Ela já consegue ficar no mesmo ambiente que você sem tentar fugir
na primeira oportunidade? — atira, nervoso.
Dou um passo à frente, reprimindo a vontade de usar minhas mãos
em seu pescoço para estrangulá-lo.
— Cuidado com essa boca.
— Você sabe que eu nunca vou te obedecer. Você pode ser o meu
irmão gêmeo e mais velho, mas se tem algo que não possui de mim, é
respeito. Você pode ir para o inferno, Baron.
— Olha quem está mostrando as garras… — debocho, sarcástico.
— Se a Briana estiver tentando me ferrar, ela vai enfrentar as
consequências. E pode apostar, irmão, que não terá fogo no inferno o
suficiente para me impedir de ir atrás dela quando eu descobrir. É melhor
você ser mais rápido do que eu.
— Isso é uma ameaça?
Balanço a cabeça lentamente.
— Não, isso é uma promessa. E vou te avisar de novo… Não se
aproxime da Cecília. Já te perdoei uma vez por isso, mas de uma próxima…
Não sei do que sou capaz.
Brandon me encara intensamente por alguns segundos, abrindo e
fechando a boca repetidas vezes. Ele quer me dizer algo, mas está faltando
coragem.
Ele sempre foi um frouxo mesmo.
— Não sei porque insisto em tentar incluir você na minha vida.
Semicerro os olhos.
— Eu sei o porquê. Nunca conseguiu fazer nada sozinho, por que
dessa vez seria diferente? Até quando a mamãe conseguiu fugir e me levou,
você tinha que estragar. Tinha que se meter onde ninguém te chamou.
Brandon dá um passo para trás com os olhos magoados. Parece que
eu o soquei na cara.
— Chamei o papai aquela noite porque fiquei preocupado. Ela levou
você embora, Baron, e eu não queria ficar longe de você.
— Você estava com ciúmes, isso sim. — Ranjo os dentes. —
Provavelmente, porque não foi escolhido para ir com ela. Você sempre
ficou do lado dele, seguindo-o por toda a parte. Por que não podia deixar
que a gente fosse para longe? Por que teve que intervir?
Brandon me encara.
— Porque eu te amava. Você era o meu irmão e eu não queria que
você fosse embora.
Suas palavras não causam qualquer impacto em mim. Ao contrário
disso, só inflamam a minha fúria ainda mais.
Mostro os dentes para ele.
— Conseguiu o que queria. Estou aqui e não vou mais te deixar em
paz. Se for esperto, vai conseguir dar um jeito na Briana antes de eu colocar
minhas mãos nela. Caso contrário, reze. Mas reze com toda a fé que você
tem. Porque eu não vou ter misericórdia dela duas vezes.
Eu tive que passar pelo inferno
Para provar que não sou louca
E tive que conhecer o diabo
Apenas para saber o nome dele
Ghost | Ella Henderson

Sinto o impacto antes de me dar conta do que está prestes a


acontecer.
Escuto um grunhido e murmuro um “sinto muito” sem graça
enquanto o rapaz me segura pelos ombros, impedindo a minha queda.
Quase fui de cara no chão no meio da faculdade inteira.
— A gente tem que parar de se esbarrar por aí, hein? — Noah
brinca, me ajudando a pegar alguns dos materiais que caíram no chão.
Eu estava me preparando para a minha aula de História da Arte,
relendo alguns dos resumos que fiz para a prova que estou prestes a ter e
acabei me distraindo. Não deveria andar pelo campus sem de fato enxergar
o que está acontecendo ao meu redor, mas quando estou ansiosa, não penso
com muita racionalidade.
— Foi mal. Tenho uma prova chatinha daqui a pouco e só consigo
pensar nela.
— Tudo bem. — Ele faz um gesto de desdém com as mãos. — E
depois da prova? Tem algo planejado?
Me viro tão rápido para encará-lo que quase perco o equilíbrio
novamente.
— Tem certeza que quer me convidar para alguma coisa? O Baron
não foi muito simpático com você da última vez.
Noah encolhe os ombros, as bochechas ficam vermelhas. Me
arrependo imediatamente de ter lembrado sobre o que aconteceu entre os
dois na festa.
— É, ele não tem me dado folga. Mas acho que é coisa de irmão,
não? — pergunta com as mãos no bolso da calça. — De qualquer forma,
não é um encontro. Eu só ia te convidar para assistir ao jogo hoje à noite.
Estamos disputando os playoffs e os nossos rivais de hoje são da
Universidade de Boston. Se você quer uma experiência universitária
completa por aqui, precisa assistir.
Solto um muxoxo, ajeitando a minha mochila nos ombros.
— Mas precisa ser hóquei? Acho que eu me daria melhor com o
basquete. Ou, quem sabe, natação. Algo que eu não fique completamente
perdida.
— Assim você me magoa. Como vou poder me exibir para você se
formos assistir ao jogo de outro esporte?
— Você disse que não é um encontro — eu o lembro, sorrindo.
Noah retribui o mesmo.
— Ainda não é — salienta. — Mas e aí, o que me diz? Posso te
procurar na arquibancada hoje à noite?
Mordendo o lábio inferior, eu faço que sim.
Tecnicamente não é um encontro e eu ainda não fui a nenhum jogo
da universidade. Depois da prova, eu, provavelmente, vou querer relaxar e a
última coisa que vai passar pela minha casa é ir para casa.
— Pode me procurar.

Lucy me embosca na saída da aula, já com uma expressão derrotada


no rosto. Hoje o sol nos deu uma trégua e ambas estamos usando o moletom
da universidade com o clima mais sombrio.
Talvez o universo esteja espelhando como estamos nos sentindo por
dentro hoje.
— A minha prova foi coisa de filme de terror. Eu juro, Cecília, que
fui a todas as aulas e prestei atenção direitinho! Estive trancada naquela
biblioteca nessas últimas semanas e estava confiante, mas o professor
redigiu aquelas questões no inferno. É impossível alguém com o QI normal
passar.
É, eu não posso dizer algo muito diferente da minha própria prova.
Estou com bom pressentimento porque consegui responder mais da metade
sem grandes complicações, mas mesmo assim talvez não seja o suficiente
para a média que eu estou buscando.
— Está a fim de ir ao jogo de hóquei hoje à noite? — mudo de
assunto, sem querer pensar muito no meu fracasso acadêmico.
Lucy para de repente.
— Espera, você já está indo para os jogos do Baron como se fosse
uma maria-patins? Por essa eu não esperava.
A mochila parece ficar mais pesada nas minhas costas.
— Não é isso. O Noah me convidou para assistir e eu não tenho
nada melhor para fazer mais tarde. O que me diz?
Lucy abre a boca, completamente em choque. Pisca os olhos várias
vezes, tentando assimilar a informação que acabei de jogar em cima dela.
— Meu Deus, Ceci… Você é mesmo maluca.
— Não sou. Baron e eu estamos bem — respondo, encolhendo os
ombros. — Ele até concordou em ser o meu modelo no projeto final da
faculdade. Eu não sou namorada dele, Lucy, e nem tenho planos de ser.
Vamos estar sempre na vida um do outro por causa dos nossos pais, mas
não posso deixar de viver por medo dele.
Minha amiga assobia.
— Eu acho que você gosta de deixar ele louco. Essa merda te excita,
não é?
Eu reviro os olhos, mesmo que no fundo ela tenha razão. Gosto de
fazê-lo perder o controle.
— Justo você me dizendo isso? Eu devo te lembrar que a
responsável por trazer o Noah de volta à jogada foi você? Além do mais,
Baron deve estar saindo com aquela garota. Vicky.
Lucy faz uma careta, colocando a língua para fora como um
cachorro.
— Você acha mesmo que se ele estivesse com ela, ele teria te
arrastado para cima daquele jeito? Sem contar que depois disso, a festa
acabou. Baron enxotou todo mundo para fora, inclusive a Vicky.
Dou de ombros, me encolhendo sob o moletom por causa do frio.
— Isso não muda o fato dele ter levado ela até a festa. Se ele pode
sair com outras pessoas, por que eu não posso? Isso não é justo e ele não é
meu dono.
— Eu acho que ele não concorda muito com isso.
— Problema dele. Você vai comigo ou não?
Deixando os ombros caírem, Lucy balança a cabeça
afirmativamente.
— Eu sei que vou acabar me arrependendo disso, mas tudo bem. Eu
vou com você.
Nós acabamos passando no shopping para almoçar e depois de
irmos para o alojamento de Lucy tirar um cochilo, acordamos bem a tempo
de começar a nos arrumar para o jogo.
Não discordo quando a minha melhor amiga passa um batom
vermelho ou exagera na quantidade de glitter na maquiagem. Deixo,
inclusive, ela escolher as roupas que quer que eu vista.
A calça justa combina perfeitamente com o cropped de manga longa
e meu cabelo solto cai por cima de toda a combinação.
— Você está tão linda — Lucy suspira. — Estamos ferradas. Baron
vai surtar.
Eu bufo.
— Baron precisa aprender que o mundo não gira ao redor dele.
Agora é melhor irmos ou vamos acabar atrasadas.
Ela não discorda de mim e eu peço o serviço de táxi da faculdade.
Quando chegamos ao rinque, a atmosfera ao nosso redor me contagia
imediatamente.
As pessoas realmente são fãs de esportes por aqui.
Os torcedores estão usando camisetas e moletons dos times que vão
se enfrentar essa noite, além de pintarem os rostos com as cores da
universidade. O barulho, os chiados e o cheiro de cerveja barata permeiam
o ar e isso é estranhamente reconfortante.
— Isso é tão legal! — exclamo, quando um grupo de caras passa por
nós, entoando um hino em conjunto.
— É, essa parte sim. Quando o jogo começar, a história vai mudar.
— Que pessimismo. Normalmente é você que me convence a ir para
os eventos de Granville — provoco.
Lucy deixa os ombros caírem.
— Não quero que o Kaden saiba que eu estou aqui.
— Isso vai ser impossível. — Cruzo os braços. — Ele vai notar a
sua presença assim que pisar os pés lá dentro.
— E é por isso que temos que ficar bem escondidas. Pelo menos é o
que eu vou tentar fazer.
Eu suspiro.
— Não posso fazer isso. Prometi ao Noah que ele poderia procurar
por mim hoje à noite.
— Resumindo… Você está procurando encrenca.
Semicerro os olhos para ela.
— Acho melhor entrarmos agora.
Nós duas vamos até a bilheteria e compramos os ingressos para o
jogo de hoje à noite, e contrariando Lucy, conseguimos lugares
relativamente bons. Não é tão perto do rinque quanto eu gostaria, mas vou
conseguir ver tudo muito bem.
— Ainda acho que isso é uma má ideia — ela resmunga quando
encontramos as nossas fileiras. — Sério, Cecília, isso vai acabar mal.
— Lucy, se você não queria vir, era só ter me dito não — respondo.
— Além do mais, eles estarão no meio do jogo. O que você acha que o
Kaden, Hunter ou Baron serão capazes de fazer dentro do gelo?
Ela bufa, se sentando na cadeira.
— Você realmente o subestima.
E, talvez, bem no fundo, ela tenha razão.
Quando o primeiro tempo se inicia, as pessoas à nossa volta vão ao
delírio. Hóquei é um esporte bastante violento, então as pancadas me fazem
estremecer sempre que acontecem.
Não é à toa que os jogadores profissionais sempre têm dentes
faltando.
Eles dão a vida para tentar recuperar um disco e, de vez em quando,
sobra até para o árbitro. A partida começou não tem nem vinte minutos,
mas ele já precisou interferir em mais brigas do que sou capaz de contar.
— O Noah é aquele ali. Camisa número sete. — Lucy aponta, um
pouco menos tensa. Com todos os equipamentos de proteção e a
concentração na partida, é impossível que os jogadores notem qualquer
coisa acontecendo na arquibancada.
Os Angry Sharks realmente são bons, e embora ambos os times
estejam presos em um empate, as chances de gol dos tubarões foi muito
superior aos do time rival. Provavelmente vão acabar conseguindo marcar
um em breve.
— O primeiro período acabou. Ainda faltam dois, contanto que um
deles marque um gol e vença — Lucy diz, quando eu franzo o cenho para o
fim da partida. — Com todas as interrupções por causa das brigas, acho que
o jogo passa das 23h.
— Eu estou achando divertido. E o Baron é realmente bom.
Isso é algo que eu preciso admitir.
Ele é como um foguete no gelo, exalando tanta confiança que é
notável o poder que isso causa nos demais atletas do time. Os garotos o
seguem de queixo erguido, entendo sinais que ele faz com os dedos ou com
um aceno de cabeça.
Baron Donovan é um líder nato.
E isso fica mais claro para mim a cada dia que estou nessa cidade.
— Por que eles estão saindo? — pergunto.
— Agora tem o intervalo. São quinze minutos. Se quiser chamar a
atenção do Noah, a hora é agora.
Cogito a possibilidade de descer até a grade de proteção, mas me
detenho. Não quero me esgueirar entre os jogadores fanáticos e ter a chance
de levar empurrões, então tudo o que eu faço é me inclinar para a frente e
ficar de pé, pulando o bastante para chamar a atenção dele.
A tarefa parece impossível porque, assim como eu, há dezenas de
outras garotas tentando chamar atenção de algum jogador.
Por sorte, Noah já está à minha procura. Ele movimenta o rosto ao
redor da arquibancada, a cabeça indo de um lado para o outro. Quando
finalmente me encontra, ele me chama com a mão.
— Acho que ele quer que você desça até lá — minha amiga diz,
franzindo o cenho.
— Será que isso é uma boa ideia?
— Ele não tem muito tempo. Precisa ir até o vestiário para repassar
algumas técnicas. Ou você desce, ou manda ele ir.
Sem parar para pensar muito a respeito, decido ir até a ele. Não leva
mais do que dez segundos, mas o sorriso que ele abre ao me ver me deixa
tensa. Noah me disse que não considera isso um encontro, mas ao vê-lo me
encarar com um sorriso bobo nos lábios, eu fico preocupada.
— Você veio.
— Eu disse que viria. — Dou de ombros.
— Está gostando do jogo?
— Olha, eu confesso que estava esperando algo mais monótono.
Nem entendo direito as regras, mas estou me divertindo pra caramba com as
brigas. Pensei que aquele garoto realmente fosse te acertar.
Noah bufa.
— Ele bem que tentou. Escuta, eu preciso mesmo ir para o vestiário
agora, mas espero poder te encontrar depois do jogo. O que você acha?
Merda.
É, ele com certeza está me convidando para um encontro agora.
Minha boca de repente fica seca e eu preciso forçar o meu cérebro
para elaborar uma resposta minimamente aceitável. Noah me encara através
do vidro de proteção com expectativa e eu me sinto a pessoa mais escrota
do mundo.
É quando um barulho me faz dar um pulo.
Ele se repete e eu viro o rosto, me deparando com uma cena
assustadora.
Baron está batendo as mãos na grade de proteção, rugindo palavras
que eu não entendo.
Noah é arrancado de lá por alguém e eu abro a boca, sem saber
muito o que dizer para o garoto que está tomado pela fúria na minha frente.
— Que porra é essa, Cecília? Você veio ao meu jogo por causa dele?
— Seu tom de voz mortal não deixa dúvidas de qual seria a resposta certa.
Suspirando, eu desvio o olhar.
— Ele me convidou e eu vim. Eu não posso assistir mais aos jogos,
é isso? Pensei que isso fazia parte da experiência universitária.
Sei que não deveria brincar com fogo, mas as palavras escapam de
mim tão rápido que não consigo me conter.
Baron abre um sorriso sinistro para mim em resposta.
Merda.
Ativei esse lado dele e estou me sentindo a garota mais idiota da
porra desse campus inteiro.
— Espero que aproveite o restante do jogo, então — ele diz, ríspido,
patinando para longe de mim.
Merda.
As pessoas à nossa volta estão cochichando, algumas com as
sobrancelhas erguidas para mim. Um grupo de garotas assobia
sugestivamente quando subo de volta ao meu lugar ao lado de Lucy, que
está me esperando com uma expressão vitoriosa que diz “eu te avisei”.
É, ela me avisou.
— Quer ir embora? — ela pergunta, depois de um tempo.
Eu odeio que todos estejam me encarando como se eu fosse uma
aberração, mas depois do show que Baron deu a todos aqui, isso não
poderia ser diferente.
— Não — respondo, suspirando. — Se eu fugir, vai ser pior. Ele
gosta disso. De me… Caçar.
Ela finge um arrepio, passando as mãos sobre os braços à mostra.
— Cruzes.
Assistimos ao restante do jogo em um silêncio mortal. Em parte por
causa da apreensão do que me espera depois que a partida acabar, mas
também porque Baron entrou… Transformado.
Para não dizer o pior.
Ele já parecia obstinado e focado antes de me ver aqui, mas agora
ele está me causando tremores de medo. Está tão violento que chegou a
conseguir uma falta e eu posso jurar que um dos ataques com o taco não
estava mirando exatamente no disco, mas sim em… Noah.
As pessoas gritam, ensandecidas, enquanto eu estou testemunhando
a violência da forma mais pura e simples. Em um determinado lance, o
jogador do time rival consegue roubar o disco de Baron. Ele, nem um pouco
feliz, fez uma jogada que com certeza não deve estar nas regras.
Ele usou o cotovelo para afastá-lo.
Alguém grita “ai!” bem alto, mas a partida segue mesmo assim. Não
entendo muito bem de hóquei, mas a forma que Baron está jogando não
pode ser considerada justa.
— Bom, pelo menos estamos vencendo — Lucy comenta, bem na
hora em que Kaden consegue marcar um gol. Estamos com dois a zero. A
torcida vai ao delírio e ele faz um coração com as mãos na direção da minha
amiga. — Eu odeio esse cara. E ele é tão convencido…
— Todos eles são. Esse pelo menos não está planejando te perseguir
— resmungo.
Quando o fim da partida é anunciado, minha boca fica seca na
mesma hora. Meu coração começa a martelar em meus ouvidos e minhas
mãos estão suando frio.
É agora.
A multidão começa a se dispersar, a maioria indo na direção da
saída, mas eu fico exatamente onde estou. Baron ainda está no gelo, cercado
por seus colegas de time que agora comemoram a vitória.
Mas ele não.
Seus olhos estão fixos em mim.
— Se quiser tentar correr, a hora é agora — Lucy murmura,
encarando a cena que se desenrola em sua frente.
Eu permaneço sentada.
— Não vou dar o gostinho a ele. Além do mais, não fiz nada de
errado. Estou assistindo a um jogo na sexta à noite como todo aluno desse
campus tem direito. Quanto mais cedo Baron aprender que não me controla,
melhor pra ele.
Lucy ergue as mãos em sinal de rendição.
— Você que sabe. Mas se eu fosse você, tomaria cuidado.
— Eu sou grandinha o suficiente, Lucy. Não precisa se preocupar.
Alguém limpa a garganta perto da gente e nos viramos para encarar
um garoto. Não me lembro dele, mas me parece familiar. Provavelmente
deve fazer parte da fraternidade de Baron.
— Ele quer que você vá ao vestiário — ele diz e eu entendo na
mesma hora.
— Isso não é proibido? — pergunto.
Posso não ser tão experiente quando o assunto é esportes
universitários, mas sei que o vestiário não é um lugar onde qualquer pessoa
transita sem uma autorização prévia.
O cara, entretanto, dá de ombros.
— Eu só vim aqui fazer o que me mandaram. Sou calouro e estou
tentando entrar na Theta Nu. Vou precisar que venham comigo.
Lucy se coloca de pé.
— Venham? No plural?
O garoto simplesmente vira o rosto para encará-la.
— Sim. Você também foi requisitada. Kaden me pediu para trazê-la.
— Você pode mandar o Kaden queimar no inferno — ela cospe
entredentes. — É muita audácia!
— Você mesma vai conseguir fazer isso daqui a pouco — ele
devolve, impassível. — A gente pode fazer do jeito fácil ou do jeito difícil.
Eu aconselho o jeito fácil se não querem chamar atenção. Vocês sabem
como boatos são fáceis de serem espalhados.
— E você deveria saber que está ameaçando a enteada de Alexander
Donovan. — Minha amiga ergue a sobrancelha, sem abaixar a cabeça. —
Uma ligação e ela acaba com você.
Uou.
Eu mesma nunca precisei dar uma carteirada, mas não vou impedir
Lucy de continuar.
O garoto, contudo, não parece convencido.
— Baron Donovan me mandou aqui. Sem ofensas, mas eu tenho
mais medo do que ele pode fazer — ele responde, colocando as mãos nos
bolsos. — E se eu fosse você, também teria.
— A Cecília não tem medo dele. — A língua de Lucy não para um
segundo. — E nós não vamos sair daqui.
— Lucy — eu chamo.
Ela me encara de cima, o rosto mostrando irritação.
— Eu vou — respondo, deixando os ombros caírem. — Eu vou.
— Cecília, você não pode…
— Ele não vai desistir. É melhor eu acabar com isso de uma vez. —
Reviro os olhos. — Você pode me levar?
O garoto assente com a cabeça. Em seguida, aponta para a Lucy.
— Mas e ela?
Nós dois viramos o rosto para encará-la. Minha amiga retorce a
boca, contrariada, mas acaba cedendo.
— Se ela vai, então eu também vou — diz, por fim.
Quando nós duas começamos a seguir o calouro, uma sensação
estranha toma conta de mim. Algo não está certo e é como se o meu sexto
sentido estivesse tentando me alertar sobre isso de todas as formas.
A cada passo que damos em direção ao vestiário é como se eu
estivesse prestes a entrar no inferno. E, porra, eu preferia me encontrar com
o próprio diabo do que ter que encarar os olhos do garoto que assombra
todos os meus pensamentos desde que me encurralou na cozinha de sua
festa.
Louca, mas eu a amo, nunca fugiria dela
Faço, sem camisinha, nunca deixaria alguém tocar nela
Juro que nos deixamos doidos, ela é tão teimosa
Mas que porra é o amor sem dor, sem sofrimento
Him & I | G-Eazy ft. Halsey

Nós o seguimos em silêncio, nos desvencilhando dos torcedores


fanáticos que berram e entoam hinos como se estivessem no melhor dia de
suas vidas. Porra, eu já entendi que o esporte é uma coisa importante para
esses pessoas, mas o barulho excessivo e o cheiro de testosterona no ar
estão começando a me deixar irritada.
Definitivamente, é a primeira e a última vez que vou colocar os pés
aqui.
— É por aqui. — O garoto da fraternidade aponta para duas portas
enormes, logo quando conseguimos deixar a multidão para trás.
Um segurança está parado em frente a ela, mas se faz de cego
quando o cara abre a porta e faz um meneio de cabeça para que a gente
possa entrar.
Ser rico e ter contatos deve ser bom demais.
Lucy e eu nos entreolhamos, mas sou eu que tenho a iniciativa de
entrar no vestiário primeiro. Ele está escuro e eu engulo em seco com o
pensamento do que pode estar me aguardando lá dentro.
— Ah! — O grito da minha amiga me faz dar um pulo e a risada
divertida que soa no ambiente me causa arrepios. — Argh! Me larga!
Não tenho tempo de investigar o que acabou de acontecer nesse
breu, porque logo é a minha vez de sentir os braços fortes me segurando
pela cintura. O cheiro inconfundível me golpeia de uma vez, e antes mesmo
dele dizer qualquer coisa, eu apenas sei quem é.
— Jogada perigosa, maninha. Muito perigosa. — Seu hálito quente
sopra em meus ouvidos e essa merda faz todos os pelos do meu corpo
ficarem em pé.
Tento me soltar do seu aperto, mas é em vão. Seus braços são como
aço ao redor do meu quadril.
— Pensei que estávamos bem — devolvo, na defensiva. — Você
levou uma garota para casa na última festa e eu assisti a um jogo na sexta à
noite. Qual a porra do problema?
Sua risada sádica não me pega de surpresa.
— Saber que você está com ciúmes me deixa com tesão pra
caralho.
— Não estou com ciúmes!
— Ah, mas eu tenho certeza que está sim. E eu acho que está
usando o Noah para me atingir — ele atira, esfregando o nariz gelado no
meu pescoço.
Merda, talvez isso esteja começando a me excitar. A forma
possessiva com que Baron consegue controlar o meu corpo é inexplicável,
algo que eu nunca senti antes.
Ele segura minha nuca com delicadeza. Depois, me empurra até que
minhas costas estão apoiadas na parede. Vê-lo usar o uniforme, mesmo que
sob uma fraca luz, me deixa ansiosa.
— Não estou — digo com a voz trêmula. — Só queria me divertir. E
você nunca me convidou para um jogo.
Ops.
Merda.
Seus braços congelam ao meu redor, o movimento de seu rosto em
meu pescoço parando completamente. Depois de alguns segundos
torturantes em silêncio absoluto, ele suspira.
Quando sinto sua boca tocar a minha, levo minhas mãos até o seu
rosto. No início, penso em afastá-lo e sair correndo. Mas ao sentir a maciez
de seus lábios sobre os meus, me detenho.
Não quero fugir dele.
Não hoje.
— Erro meu. Não vai se repetir. Na verdade… Muita coisa vai ser
diferente depois de hoje. Principalmente para o Noah.
— Baron, não. Nós dois não tivemos nada.
Ele suspira, resignado.
— Eu sei que não. Mas isso não significa que ele não tenha tentado
chamar a sua atenção. Andou dizendo por aí que sou seu irmão mais velho e
ciumento por causa disso, mas ele não faz ideia.
Sua voz calma é lentamente substituída pela versão fria e desprovida
de sentimentos que eu simplesmente odeio.
— Eu não ia sair com ele. Não desse jeito.
A mão de Baron sobe lentamente até a minha bochecha, fazendo um
carinho suave como se eu fosse seu bichinho de estimação.
— Eu sei que você não faria. Você é a minha boa menina, amor.
Amor.
Toda vez que ele usa essa palavra para se referir a mim, um milhão
de borboletas começam a se agitar no meu estômago. Sei que não deveria
me sentir assim pelo meu irmão postiço, mas é inevitável.
Ele está assumindo o controle do meu corpo, dos meus
pensamentos, dos meus sentimentos… E de mim.
Completamente.
— Você vai precisar me perdoar por isso — ele diz, por fim. — Mas
eu prometo compensar você depois.
— Espera… O quê?
— Podem colocar a venda — ele manda e eu sinto sua mão forte
subir até o meu queixo. Baron me segura, me imobilizando completamente,
quando alguém amarra um pano ao redor dos meus olhos.
— Baron! — eu protesto, começando a ficar muito puta. — Isso não
tem graça!
Vozes sussurram ao meu redor e embora eu não esteja exatamente
com medo, também não me sinto confortável. Depois de alguns segundos,
ele me alça pela cintura como se eu não passasse de um pedaço de carne e
me joga sobre seus ombros, caminhando comigo por aí como se não fosse
nada demais.
— Para onde estamos indo? — questiono, segurando sua camiseta
com força.
— Você vai descobrir em breve.
Ele caminha por alguns minutos e logo eu sinto o vento gelado
açoitar o meu rosto. Nós estamos agora do lado de fora e as risadas das
pessoas à nossa volta me deixam tensa.
— Ninguém está nos encarando, está? — pergunto em um fio de
voz.
Baron não responde, mas me joga um pouco para cima para poder
ajustar melhor o meu peso sobre seu ombro.
— Se estão olhando, não ligo. Estou cansado dessa merda.
Ele me coloca no chão depois de algum tempo e então percebo que
estou dentro de um carro.
Meu coração começa a acelerar.
— Vou precisar amarrar as suas mãos, amor. Espero que me perdoe
por isso. Vai ser rápido, eu prometo.
Minha boca fica seca.
— Pensei que tínhamos superado essa fase — sussurro.
— Eu também, mas você sempre me dá um motivo para não confiar
mais em você. Espero que as coisas mudem de vez depois dessa noite.
A raiva sobe borbulhando pela minha garganta. Quem esse cara
pensa que é? Eu que sou uma pessoa nada confiável? Acho que ele só pode
estar com problema de memória.
— Você não me dá motivos para confiar em você, Baron. E se
continuar agindo assim, só vai conseguir me afastar mais ainda.
Escuto sua respiração irregular conforme ele segura meus pulsos
juntos. Tenho uma sensação de dejá vù quando a corda começa a se enrolar
ao redor da minha pele e depois que ele termina o serviço, prende o cinto de
segurança em mim.
É um cretino mesmo.
Ele bate a porta do carro e em seguida se senta ao meu lado, dando
partida segundos depois.
— Você não me dá escolha, Cecília. Você não me deu nenhuma
escolha.
Engulo em seco, nervosa pela velocidade em que ele está dirigindo.
A janela do carro está aberta e o vento está fazendo o meu cabelo voar para
todos os lados.
O tom condescendente de Baron não melhora o meu humor. Ele está
me colocando na posição de causadora simplesmente por eu reagir. Por não
aceitar suas ordens e retaliar todas as merdas que fez comigo desde que
cheguei.
— Você é que não me deu nenhuma escolha — jogo em sua cara,
tentando soltar minhas mãos.
É completamente em vão.
— Estou cansado de correr atrás de você. É sempre a mesma merda.
Eu me afasto, você cede, ficamos bem, você foge. Talvez esteja achando
que tem outras opções por aí, mas isso vai acabar hoje.
— Baron.
— Não quero mais ouvir nenhuma palavra.
Quando ele freia bruscamente, consigo ouvir o pneu cantando.
Maldito.
Se eu não infartar antes de chegarmos onde quer que seja, já será um
milagre.
— Chegamos — ele me informa e escuto quando o carro é colocado
em ponto morto.
Não passa mais do que cinco segundos antes da porta do meu lado
ser aberta, com o vento gelado e o cheiro de fumaça me golpeando de uma
vez só. Ele finalmente liberta as minhas mãos, fazendo o mesmo com a
venda.
Pisco os olhos rapidamente, me acostumando com a escuridão do
lugar.
— Onde estamos?
Baron surge na minha frente, ainda usando o uniforme do jogo. Ele
está suado, com uma expressão mortal no rosto. Um rosto muito
machucado, diga-se de passagem. Ele está com um princípio de olho roxo e
um filete de sangue está escorrendo pelo seu rosto.
Dou um passo para trás, assustada.
Que porra é essa?
— Seu namoradinho sabe lutar. Disso eu gostei. Pensei que seria
mais fácil — ele zomba, vindo na minha direção para me segurar pelo
antebraço. — Ele está esperando você.
Namoradinho?
Ele está se referindo a Noah, não está?
Fecho os olhos, sentindo o arrepio de medo arranhar a minha
espinha.
— Baron, por tudo que é mais sagrado… — suplico, engolindo um
soluço. — Me diz que você não fez nada com ele. Por favor.
Sua mandíbula flexiona quando ele me encara, impassível.
— Por que você mesma não vê?
Porra, porra, PORRA!
Lucy tinha razão. Eu mesma busquei isso e agora alguém legal está
pagando o preço. Eu não podia deixá-lo vencer, podia? Eu tinha que
desafiá-lo, levá-lo ao limite e fugir.
— Se você fez algo com ele, não vou te perdoar — digo,
mortificada. — Estou falando sério.
Seu rosto sombrio se ilumina ao escutar minhas palavras. Uma
risada amarga ressoa dele e a expressão entediada de sempre aparece.
Sua máscara favorita.
— Eu ainda não fiz nada com ele. Mas conhecendo o pequeno
Ricci, talvez ele aprecie o show. Agora vem. — Ele me puxa pela mão,
entrando na casa abandonada que está cercada de árvores.
Ele tem uma casa no meio de um bosque? Baron só pode ser
maluco.
Kaden está nos esperando na frente da porta com um sorriso sinistro
em seu rosto. Hunter, ao seu lado, também está exibindo um olho roxo.
Aparentemente, Noah é duro na queda.
Isso me faz abrir um sorriso. Gosto de pensar que esses idiotas
tiveram o que merecem.
— Ele está lá dentro? — Baron pergunta e eu mal consigo encará-lo
nos olhos.
Kaden solta uma risada estridente.
— Está sim. Tentou fugir algumas vezes, mas demos um jeito nele.
Vamos ficar esperando aqui.
Baron acena com a cabeça, me empurrando com delicadeza para
dentro da casa.
Na verdade, essa merda está mais para um galpão.
Não tem móveis, nem decoração, muito menos um ambiente
aconchegante que mostre que algum ser humano já habitou aqui. Só a mais
pura escuridão, misturada com poeira e um filete de luz que entra por uma
das janelas emperradas.
— Que lugar é esse? — sussurro conforme continuo avançando para
dentro.
Baron grunhe.
— Isso importa? Não vamos ficar muito tempo.
Engulo em seco quando escuto um fungar baixinho. Em seguida,
esse barulho se transforma em um gemido de dor e eu esquadrinho o local
com os olhos em busca do som.
Noah está encostado em uma das paredes, as mãos presas, uma
venda nos olhos e uma mordaça na boca. Seu rosto parece tão machucado
quanto o de Baron e Hunter e isso aperta o meu coração.
Dou um passo em sua direção, pronta para ajudá-lo, mas Baron me
detém. Ele segura o meu braço com força, me puxando em sua direção.
— Não. Se. Atreva.
— Ele está machucado! — soluço, sentindo a culpa me invadir.
— E vai ficar mais ainda se você for até lá — cospe, subindo a mão
pelo meu pescoço.
Eu fico parada exatamente onde ele me deixa quando Baron me
solta, indo até Noah. É preciso de todo o meu autocontrole para não
socorrê-lo, mas entendi que se eu fizer isso, só vou piorar a situação.
Baron tira a venda dos olhos dele, que agora estão piscando
descontroladamente, sem conseguir focar em ponto nenhum. A mordaça é a
próxima coisa que ele tira de Noah.
— Baron…
— Cala a boca. Já não tinha te avisado para ficar longe dela,
caralho? — ele rosna, o rosto começando a ficar vermelho de raiva.
— Me desculpe. Achei que ela fosse a sua irmã.
Ele solta uma risada amarga.
— Minha irmã? — ele zomba, como se tivesse escutado a piada
mais engraçada do mundo. — Cecília é minha. Cada parte do corpo dela me
pertence. Cada gemido, cada sorriso, cada olhar que ela tem, é meu. Você
está me entendendo?
Noah balança a cabeça para cima e para baixo desesperadamente,
sem conseguir encarar seu capitão nos olhos.
Baron me chama com os dedos, e mesmo sentindo que meu coração
vai explodir a qualquer momento, eu vou.
— Você não vai mais olhar pra ela. Porra, vai sequer respirar quando
Cecília estiver por perto. Não quero que você sinta nem o cheiro da minha
garota.
Enquanto diz isso com o tom de voz lânguido, Baron me coloca na
frente de seu corpo. Ouvir ele falando assim deveria me assustar, mas fico
excitada com o tom brusco. Suas mãos começam a massagear meus ombros
enquanto meu olhar continua preso ao de Noah. Ele desvia o rosto, nervoso,
quando meu irmão postiço começa a desabotoar a minha calça.
— Baron, o que você está fazendo? — questiono, assustada ao sentir
sua mão me acariciando.
— Mostrando pra ele de uma vez por todas a quem você pertence.
Aparentemente, um aviso não foi o suficiente. Talvez depois de ver com os
próprios olhos, ele aprenda a deixar você em paz.
Espera, o quê?
Não tenho tempo de raciocinar quando ele termina de tirar a calça
pelas minhas pernas, jogando-a no chão sem hesitar. Eu seguro seu pulso,
nervosa, sentindo a excitação crepitar entre nós dois.
Isso não está certo.
— Você vai deixar ele ir embora depois disso? — pergunto em um
fio de voz.
Baron semicerra os olhos para mim.
— Vai depender de como você vai se comportar depois.
E, sem esperar mais nenhum segundo, seus lábios estão grudados
nos meus. Nossas bocas se encontram em um misto de raiva e fome, e eu
saboreio com vontade quando sua língua começa a se movimentar com a
minha.
Com o canto do olho, consigo enxergar Noah nos observando. Os
olhos inchados estão arregalados, mas ele não parece estar achando ruim a
sua “punição”.
Baron desce a boca para o meu pescoço enquanto usa a mão para me
masturbar e eu me permito fechar os olhos para desfrutar de suas carícias.
É como dizem… Se está no inferno, melhor abraçar o diabo.
Seus dedos começam a se movimentar ao redor do meu clitóris e eu
suspiro, me esquecendo por um segundo onde eu estou. Quando ele enfia
um dedo em mim, seu corpo estremece atrás de mim.
— Porra… Você está tão molhada pra mim, amor. — Ele chupa meu
pescoço, segurando meu queixo com firmeza. — Não acho que temos uma
relação tão fraternal assim, hein? O que me diz, Noah?
Mas o garoto não responde.
Na verdade, posso jurar que ele não está nem respirando.
Seus olhos estão virados para o lado, embora seu corpo continue
imóvel contra a parede e o chão sujos desse galpão.
— Você está gostando disso, sua diaba — ele sussurra no meu
ouvido, sedutor. — Está adorando ser reivindicada por mim. Qualquer dia
desses, vou fazer isso na porra da mesa do refeitório. Vou comer você lá e
todos vão saber que você é minha.
— Baron, por favor — gemo, sem saber exatamente pelo que estou
pedindo.
Ele solta uma risadinha maligna quando abre bem as minhas pernas,
me deixando completamente exposta.
Não demora mais do que um segundo para ele estar na minha frente,
se ajoelhando como disse que queria que eu fizesse. Ele afasta minha
calcinha com os dedos, sem parecer querer tirá-la. Vejo a ponta da sua
língua um momento antes dele usá-la em mim, lambendo meu clitóris e
dando beijos na minha boceta.
Eu mordo o lábio para não gemer, enfiando meus dedos entre seus
cabelos.
— Você é tão gostosa. Tão doce, porra — ele sussurra, me chupando
sem parar. — Sonhei com isso tantas vezes… Acho melhor você começar a
trancar a porta do seu quarto a partir de hoje, Cecília.
Sinto minha perna tremer quando Baron introduz mais um dedo em
mim, usando a língua para estimular meu clitóris enquanto me masturba
com a mão. Eu rebolo em sua direção, desesperada para continuar fazendo
o prazer crescer dentro de mim.
— Como se isso fosse te impedir de entrar — murmuro, rouca.
Ele solta uma risada contra a minha pele, segurando minhas coxas
com força. Eu estou apertando elas ao redor de sua cabeça e isso só está
deixando Baron ainda mais sedento.
— Você vai gozar no meu rosto, não vai? — ele instiga, aumentando
a velocidade dos dedos em mim. — Mostra pra ele o quanto você me
pertence, Cecília.
Puta que pariu.
A voz grossa de Baron misturada com a habilidade de seus dedos e
língua me deixam à beira de um precipício. E a queda parece ser tão
deliciosa que preciso respirar fundo para não me jogar.
Ele afunda o rosto na minha boceta, incontrolável, sugando e
chupando minha carne molhada enquanto enfia mais um dedo em mim. A
pressão começa a se formar no meu ventre, fazendo minhas pernas
bambearem e meus sentidos se perderem completamente.
Quem eu sou? Onde estou? Como vim parar aqui?
Tudo some quando meu algoz começa a usar sua mágica em mim,
me tirando de órbita e me transformando em um poço de sensações. Ele usa
a língua para construir o meu orgasmo, tornando a expectativa insuportável,
levando a minha necessidade ao limite.
Nunca estive com tanto tesão antes.
E nunca, jamais, nada foi tão bom quanto isso.
— Goza na minha boca, amor. Agora.
Quando sua voz rouca me suplica, é como se meu corpo
reconhecesse seu verdadeiro dono. E eu me quebro em um milhão de
pedaços, cavalgando seu rosto com desespero, puxando sua cabeça contra
mim como se eu nunca fosse ter o suficiente dele.
Meu corpo relaxa, satisfeito, e a vergonha me golpeia de uma vez só
quando me lembro de onde estou.
Acho que estou contaminada com a mesma loucura que Baron
possui.
Ele se afasta do meu corpo mole, atirando minha calça em mim para
que eu possa me cobrir. Em seguida, leva os dedos até a boca, sugando até a
última gota do que resta de mim em sua mão.
Engulo em seco, sentindo um arrepio na espinha de excitação ao ver
sua fome por mim.
Depois, ele se vira para olhar Noah. O garoto está com os ombros
caídos, sem conseguir encarar nenhum de nós dois nos olhos.
— Espero que tenha aprendido dessa vez, Ricci. Não vou dar um
próximo aviso.
Um amor, duas bocas
Um amor, uma casa
Sem camisa, sem blusa
Só a gente, você vai descobrir
Sweater Weather | The Neighbourhood

Cecília está em silêncio quando entramos no carro.


Eu fico de olho nela, mesmo sem dizer nenhuma palavra enquanto
vou dirigindo furiosamente até a nossa casa.
Nossa casa.
O pensamento me envia uma onda de adrenalina. Tecnicamente só
estamos morando sob o mesmo teto por causa de nossos pais, mas em breve
realmente estaremos construindo um lar só nosso.
Mal posso esperar por isso.
— Não acredito que você fez isso — diz, depois de um tempo. O
rosto está apoiado na janela fechada.
Eu bufo.
— O quê? Não acredita que eu te fiz gozar? Essa não foi a primeira
vez.
— Fizemos isso na frente de outra pessoa, Baron. E ele estava
machucado. Eu sou horrível.
Aperto o volante com força entre meus dedos, com raiva. Tudo o
que fazemos um com o outro é especial e não vou admitir que ela veja de
forma diferente.
— Noah sabe que mereceu. Agora ele não vai mais me desafiar. —
Estalo o pescoço com os olhos focados na estrada. — Além do mais, esse é
o lance dele. O garoto é um maldito voyeur e nunca fez questão de
esconder. Pode apostar que deve estar batendo uma com o pequeno show
que demos para ele agora mesmo.
Cecília quase engasga com a saliva, pulando no banco do carona
como se eu tivesse acabado de dizer que sua mãe curte voyeurismo.
— Espera, como assim?
Meus olhos desviam da estrada por um segundo para poder encarar
a vermelhidão deliciosa em seu pescoço. Quero afundar meus dentes ali.
— É, ele curte alguns fetiches. Saiu com um outro cara do time e
essas merdas se espalharam rapidamente. Quando vi que ele ainda estava
atrás de você, tive essa ideia.
Cecília cruza os braços, meio emburrada.
— Então por que você e ele estão com o rosto tão machucado, hein?
O Hunter também está com o olho roxo — ela pontua, ainda desconcertada
com a minha informação.
Eu suspiro.
— Hunter ganhou o olho roxo na partida de hoje, amor. Mas preciso
admitir que Noah me surpreendeu. Me socou antes que eu tivesse chance de
revidar.
Ela se remexe no banco, inclinando-se na minha direção.
Arqueio a sobrancelha, surpreso com a audácia dela. Cecília
normalmente fingiria que não está nem aí para mim e ocasionalmente me
perguntaria sobre o meu machucado, mas não hoje. Agora ela está
inspecionando a ferida que está começando a cicatrizar no meu supercílio,
concentrada.
— Vamos precisar limpar isso. Ainda está sangrando — murmura,
passando a ponta do dedo ao redor do machucado.
— Você vai limpar pra mim?
Ela morde o lábio. Em seguida, se joga no banco do carona
novamente, suspirando.
— Acho que sim. Você arranjou confusão por minha causa, afinal.
De novo.
Faço uma curva com o carro, soltando uma risada sem humor.
— E arranjaria quantas fossem necessárias até você entender que
não vou desistir de nós.
Cecília pode negar de todas as formas possíveis, mas o brilho
excitado em seu olhar é claro. Ela gosta de me enlouquecer e ama quando
eu mostro o quanto sou maluco por ela.
Depois de estacionar o carro na garagem e garantir que a casa está
vazia, levo Cecília até o meu quarto. Não faço questão de acender nenhuma
luz, então tudo o que temos de iluminação é o brilho da lua aparecendo na
minha janela.
— Já parou para pensar no que os nossos pais diriam se
descobrissem isso? — ela pergunta, do nada.
— Meu pai me ameaçou, disse que eu teria que ir embora de casa se
eu não mantivesse as mãos longe de você.
Ela rodopia pelo meu quarto, me encarando por cima do ombro.
— E o que você disse pra ele?
— Eu disse que ele poderia tentar.
Cecília aperta os lábios em uma linha fina, sem saber o que me
responder.
Eu vou até o meu closet, separando uma camiseta antes de voltar
para o quarto. Ela está sentada na minha cama, o rosto retorcido em uma
expressão tensa.
Não precisa temer nada quando eu estou cuidando de você, amor.
— Aqui. Vista isso — mando, estendendo a roupa para ela.
— Mais uma blusa de Harvard? Essa é da sua mãe também?
Balanço a cabeça negativamente.
— Essa é minha. Comprei quando fiz uma visita à universidade, na
época em que eu ainda cogitava estudar lá.
Ela franze o cenho.
— Então você realmente chegou a pensar nisso… — cochicha, se
despindo lentamente na minha frente. Prendo a respiração, hipnotizado pela
beleza dela. É como se cada movimento estivesse me enfeitiçando. — E
não foi por causa do sol?
— Em partes. Eu realmente prefiro o calor. Mas também houve algo
mais.
Ela inclina a cabeça para o lado.
— O que houve?
Passando os dedos pelo meu cabelo, eu me sento ao seu lado.
Cecília termina de colocar a roupa e eu fico nu. Ela não faz questão de
desviar o olhar de mim e eu adoro isso.
— Vou tomar banho. Quando eu terminar, a gente conversa.
— Era uma garota?
Porra.
Definitivamente, não quero ter essa conversa com ela agora.
Suspirando, eu vou em busca da minha toalha. Cecília deve estar
tendo uma visão e tanto da minha bunda agora, mas se ela acha isso ruim,
não diz uma palavra sobre isso.
— Mais tarde conversaremos sobre isso — respondo, ansioso para
conseguir colocar meus pensamentos de volta no lugar.
Essa garota está me deixando completamente louco.
E, sem dúvida alguma, está se tornando a minha ruína. Meu ponto
fraco. A única coisa capaz de me destruir.
(...)
Quando eu saio do banho, não encontro Cecília em lugar nenhum.
Isso me irrita a princípio, mas assim que termino de vestir a calça de
moletom no closet, escuto seus passos de volta.
Ela está mastigando alguma coisa e ao engolir, me abre um sorriso.
Sinto que posso voltar a respirar novamente.
— Eu estava com muita fome, então precisei descer para fazer um
sanduíche. Espero que isso não magoe os seus sentimentos.
Estreito os olhos em sua direção, sabendo muito bem que ela tem
consciência da minha irritação ao não encontrá-la na minha cama quando eu
voltei.
Cecília aperta os olhos, a feição de repente preocupada.
— Seu supercílio está sangrando de novo. Você esfregou isso, não
foi?
— Eu tive que lavar. Não posso pegar uma infecção quando os jogos
só estão começando.
Ela retorce as mãos na bainha da camiseta, parecendo
desconcertada. Dou passos largos em sua direção, encurralando-a até que
suas costas estão pressionadas contra a parede fria do meu quarto. Os olhos
de Cecília esquadrinham o meu rosto e um sentimento de satisfação me
enche ao perceber o brilho de preocupação em seus olhos.
Ela realmente parece se importar.
— Eu estou bem — digo, a centímetros de sua boca.
Suas bochechas começam a corar quando eu seguro a base do seu
pescoço, acariciando sua pele com suavidade. Ela engole em seco, me
encarando de baixo para cima, como se eu fosse uma divindade.
— Quero você. Acho que não aguento mais um segundo nessa
tortura, Cecília — confesso, me aproximando de seu ouvido. Mordo o
lóbulo de sua orelha, vendo-a prender a respiração. — Você também me
quer?
Preciso ouvir as palavras.
Tenho que ouvi-la dizer.
Mas Cecília fica em silêncio por mais alguns segundos torturantes.
Seu peito sobe e desce, a respiração arfante. Os olhos estão nublados com o
desejo, mas mesmo assim ela se recusa a dar o braço a torcer.
Minha menina teimosa.
— Diga.
Ela abre a boca, seu hálito quente me atingindo. Estou ansioso,
pressionando meu corpo ainda mais no dela.
— Você sabe que me quer — instigo, aproximando minha boca da
sua. Faço que vou beijá-la e quando estou perto o suficiente, dou um passo
para trás. Cecília solta um som estranho, decepcionada. — Se você me
disser o que eu quero ouvir, serei todo seu. Vou passar a noite toda
concentrado em te dar prazer de todas as formas possíveis, meu amor. Você
sabe disso.
Ela passa a língua pelos lábios, pensativa.
Meus polegares estão pressionando o seu pescoço, fazendo uma
massagem suave enquanto sua respiração fica cada vez mais rarefeita.
Porra, acabei de chupar Cecília todinha e mesmo assim estou
salivando só de pensar na possibilidade de fazer isso de novo. Não sei que
tipo de feitiço ela jogou em mim, mas estou cada dia mais viciado nela.
Nossos olhos se encontram mais uma vez e ela finalmente parece ter
tomado uma decisão.
— Eu sou sua, Baron. Sou só sua.
— Sim, meu amor. Você é. — Seguro seu rosto entre as minhas
mãos, sentindo a paixão dominar cada centímetro do meu corpo. Ela engole
em seco, vendo toda a minha intensidade através dos meus olhos. — E
agora vou pegar o que é meu.
Ela geme quando eu esmago minha boca na dela. Nós dois nos
embebedamos de nossos cheiros, dos sons, da sensação de estarmos um nos
braços do outro.
E tudo parece tão certo. Tão certo, porra.
Esfrego meu nariz em seu pescoço, me inebriando de seu cheiro
doce. Ela agarra meus cabelos, desesperada por me manter por perto e nem
a dor no meu supercílio é capaz de me desconcentrar disso.
Finalmente terei Cecília na minha cama. Vamos nos tornar um só,
corpo e alma, e depois disso nada mais será o mesmo.
— Você é tudo o que eu sempre quis — murmuro, alucinado, sem
conseguir manter minhas mãos longe de seu corpo. Subo de seus quadris até
os seus seios e aperto, ficando com mais tesão ainda por ela estar usando
apenas a minha camiseta. — Vou passar a noite inteira dentro de você.
Ninguém vai ser capaz de me tirar daí — sussurro, passando os dedos
lentamente por sua boceta molhada. Ela aperta as coxas ao redor da minha
mão, desesperada por me manter ali. — É isso que você quer, não é?
Ela murmura algo inaudível enquanto eu arrasto meus dentes pela
pele do seu pescoço. Cecília rebola na minha mão algumas vezes, mas
então se afasta. Fico desnorteado por alguns segundos, ainda bêbado pela
sensação de tesão.
Minha garota abre um sorrisinho diabólico para mim e eu arqueio a
sobrancelha para ela. Sem fazer perguntas, Cecília troca de posição comigo.
Seu corpo está na frente do meu e minhas costas estão encostadas na
parede.
— O que você está aprontando, diabinha? — pergunto baixinho.
Ela só me lança um olhar cheio de lascívia quando, lentamente, se
ajoelha na minha frente.
Puta que pariu.
— Está na minha vez de retribuir o que você fez hoje mais cedo.
Não vou desperdiçar nenhuma gota, capitão.
Neste momento, eu não tenho vergonha
Gritando a plenos pulmões por você
Não tenho medo de enfrentar isso
Eu preciso de você mais do que eu queria
Shameless | Camila Cabello

Baron me encara com um misto de prazer, satisfação e puro choque


quando eu lentamente desamarro o nó de sua calça de moletom, arrastando-
a até o meio de suas coxas.
Suas mãos vão direto para o meu cabelo quando eu seguro a base de
seu pau com força, vendo-o estremecer ao sentir o contato da minha pele
com a sua. Começo a acariciá-lo por alguns minutos, movendo minha mão
para frente e para trás.
Ele suspira audivelmente, jogando a cabeça para trás.
— Que delícia, amor.
E está prestes a ficar mais ainda.
Ainda de joelhos, me aproximo um pouco mais dele. Abro a boca,
assim como ele me disse que queria me ver fazendo e coloco a língua para
fora primeiro.
Brinco com a cabeça de seu pau, lambendo suavemente e sem
nenhuma pressa. Suas pernas ficam tensas e ele continua fazendo um
carinho no meu cabelo como se eu não passasse de um bichinho de
estimação.
— Você parece um sonho assim. Ajoelhada, lambendo o meu pau…
Isso, assim… — Ele me guia tanto com os dedos, como com suas palavras
sujas. — Não vou aguentar muito tempo. Me coloque todo na sua boca, por
favor.
Por favor?
Quando eu escutei Baron pedir por algo com tanta educação antes?
Se estivéssemos em qualquer outro momento, isso teria me
arrancando uma boa risada.
— Só porque você me pediu com jeitinho.
E, sem perder mais tempo, eu o abocanho de uma vez só. Baron
murmura um “puta merda” quando eu tento levá-lo até o fundo da minha
garganta. Quase engasgo com o seu tamanho, mas uso uma técnica que
aprendi vendo vídeos sobre o assunto no YouTube e prendo a respiração.
Depois que a vontade de vomitar passa, eu continuo levando-o até o meu
máximo.
Baron não perde tempo. Ele começa a movimentar os quadris para
frente e para trás, fodendo a minha boca sem dó. Quando eu ergo minha
cabeça para encará-lo, vejo seus olhos mais escuros do que eu jamais vi. Ele
parece possuído pelo desejo, completamente tomado pelas sensações.
Assim como eu fiquei algumas horas atrás.
— Não vou aguentar. Ver você assim, toda submissa e me chupando
como se estivesse faminta… Porra, Cecília. Vou acabar gozando na sua
boca.
É exatamente o que eu quero.
Portanto, eu aumento a velocidade conforme os olhos de Baron se
reviram com prazer. Depois de mais alguns minutos usando a língua e as
mãos para masturbá-lo, ele afasta o pau da minha boca.
Tento prendê-lo, já viciada em sentir seu sabor nos meus lábios.
Seguro seus quadris com força, enfiando-o todo na minha boca de novo.
Baron geme, afastando o meu cabelo do rosto para me observar.
— Eu quero chupar você também, amor. Podemos fazer isso ao
mesmo tempo. Estou salivando de vontade de sentir sua boceta na minha
boca de novo.
Minhas pernas parecem feitas de gelatina quando sinto minha boceta
se contrair ao ouvir suas palavras.
Ah… Então, tudo bem.
Me afasto de seu pau, vendo-o se ajoelhar para ficarmos frente a
frente. Ele se deita sobre o tapete do quarto, o mesmo que possui o logo
enorme dos Angry Sharks à mostra. Parece uma profanação a nossa
primeira vez ser em cima de algo que simboliza o time em que ele joga,
mas isso só me deixa ainda mais excitada.
— Vem aqui. — Ele segura o meu tornozelo, me arrastando até que
eu esteja posicionada contra o seu rosto.
Baron arruma os meus quadris e eu fico de bruços. Meu rosto está
novamente de frente para o seu pau enquanto ele se apoia nos cotovelos
para ter um melhor acesso à minha boceta.
— Que coisa linda — ele suspira, um segundo antes de dar um beijo
na minha intimidade quente e latejante. — Eu já sou um viciado. Porra…
Quando Baron mergulha de vez em mim, usando os lábios, dentes e
língua para me chupar enquanto eu levanto ainda mais a blusa que estou
usando. Minha bunda está completamente à mostra e eu gemo conforme
rebolo em seu rosto para aprofundar o contato.
— Baron…
Ele dá uma lambida lenta que vai da minha entrada até o clitóris,
sugando a minha carne com uma delicadeza que faz meus olhos se
revirarem de prazer. Minha pele está arrepiada, apreciando cada toque e
cada beijo que ele deixa na minha pele.
E, porra, ele é um maldito.
É um maldito porque também me viciou nisso.
Me viciou nele.
E por mais que eu odeie admitir, também estou viciada nesse jogo
que estamos jogando. Estou amando a ideia de estar sendo perseguida pelo
meu irmão postiço porque ele não consegue manter as mãos longe de mim.
— Você está gostando disso, não é? Diz pra mim o quanto você ama
o que estou fazendo com você — ele atiça, segurando minha bunda com as
duas mãos, firme.
Baron está me devorando, assim como faria com um pedaço de
carne. E porra, isso está fazendo a minha respiração ficar fora de controle.
— Eu amo o que você está fazendo comigo — ofego
descontroladamente. — Amo tanto que vou retribuir.
— Porra… — ele geme, quando eu caio de boca em seu pau.
Uso a língua para provocá-lo assim como ele está fazendo comigo e
logo nós dois entramos em um ritmo intenso. Eu o chupo com vontade,
levando-o até o fundo da minha garganta enquanto ele usa os dedos e a boca
para sugarem o meu clitóris e me masturbar sem parar.
Não estamos nem conseguindo respirar direito com tanto prazer.
Um arrepio gostoso desce pela minha espinha e eu aperto minhas
coxas ao redor do rosto de Baron conforme vou cavalgando sua língua. Ele
dá um tapa na minha bunda, forte, e eu solto um gemido ainda com o seu
pau na minha boca.
— Isso é por ter ido ao meu jogo para ver outro cara — ele se
explica, ainda com a boca em mim. — Da próxima vez, vou fazer isso na
frente de todo mundo. Você entendeu?
— Sim, sim, sim… — grito, completamente fora de mim.
Estou muito alucinada com tudo o que ele está fazendo comigo para
me importar com qualquer uma de suas ameaças.
— Você vai ser a minha boa garota, Cecília.
Quando Baron começa a mover a língua de forma ritmada contra
mim, sinto minhas pernas tensionarem. Ele ergue os quadris, me ajudando a
tomar mais dele dentro da minha boca enquanto chupa meu clitóris com
vontade, usando um dos dedos dentro de mim.
Estou tão perto.
— Eu quero que você goze na minha boca de novo, amor. Vou
querer que você faça isso todos os dias — o diabo em pessoa murmura com
a voz grave.
E quando sua boca quente cobre a minha boceta mais uma vez é o
suficiente para o orgasmo explodir em mim sem dó nem piedade.
É tão intenso que eu acabo gritando, sem controle, enquanto rebolo
no seu rosto para aproveitar cada resquício dessa sensação enlouquecedora.
Baron está com as mãos firmes em meu quadril, me ajudando a capturar até
o último fio de prazer.
— Calma, meu amor — ele sussurra, apoiando o rosto nas minhas
costas. — Vou te dar mais um.
Minha respiração está ofegante e eu apoio meu rosto em sua barriga.
Seu pau está todo babado e eu o coloco na boca novamente. Ele acaricia
minha cabeça com carinho enquanto eu tiro alguns dos fios molhados de
suor do meu rosto.
Estou tão cansada.
Mas eu nunca me senti tão viva.
— Vamos pra cama. Eu quero comer você agora — ele diz com um
grunhido.
Me levanto de cima dele, sendo prontamente seguida.
Baron me leva para a sua cama coberta de lençóis pretos que é tão
diferente do meu quarto. Nossos olhos estão presos um no outro, uma
conexão que vai ser difícil de quebrar daqui para frente.
Ele passa a ponta dos dedos no meu rosto e eu prendo a respiração.
E seus olhos… Merda, acho que nunca vi uma veneração como essa
antes. Baron mal parece acreditar no que está acontecendo e faz um carinho
no meu rosto como se eu fosse a coisa mais preciosa que ele já tocou.
O tempo parece parar quando seus dedos começam a dedilhar a pele
do meu pescoço lentamente. Eu observo seus movimentos, hipnotizada em
como ele parece vulnerável e carinhoso.
— Você parece um sonho — ele diz com a voz séria. — O sonho
que eu pensei que eu jamais conseguiria manter.
Engulo em seco, cobrindo a minha mão com a sua.
Posso me arrepender disso amanhã, mas nunca quis tanto algo como
eu o quero agora.
— Estou aqui, Baron. E sou real.
Ele passa o polegar suavemente sobre meu lábio inferior, parecendo
absorver minhas palavras. Em seguida, balança a cabeça afirmativamente,
com um tipo de convicção diferente no olhar.
— Você é. E nunca vai me deixar de novo… Não é? — A
insegurança em seu tom de voz me pega completamente desprevenida.
Levando minha mão até seu rosto, eu retribuo o carinho que ele teve
comigo até agora. Baron fecha os olhos, recostando a bochecha contra a
minha palma como se eu fosse sua tábua de salvação.
— Eu prometo que vou continuar sendo sua amanhã, Baron. E pelo
tempo que eu ficar aqui, serei fiel a você. Óbvio que se for recíproco —
bufo, me lembrando de como ele parecia próximo da tal da Vicky.
Baron abre os olhos novamente e as írises castanhas parecem
escurecer ainda mais.
— Desde que você apareceu, tem sido só você, Cecília. Tentei sair
com outras garotas porque não aceitava o poder que você tem pelo meu
corpo, mas, porra… Meu pau é seu súdito. E ele não estava levantando para
ninguém mais a não ser você.
Eu arregalo os olhos, achando graça do trocadilho.
— Ele é um bom soldado. É só por causa dele que eu aturo você —
brinco, me apoiando nos cotovelos para ficar cara a cara com ele. — O que
acha de entrar em mim agora, hein, capitão?
Baron abre um sorriso, balançando a cabeça.
— Eu amo quando você me chama assim.
— Capitão — sibilo, passado a língua suavemente sobre meu lábio.
Ele grunhe em resposta, me silenciando com a sua boca.
Nossos lábios se fundem e viram uma coisa só e, de repente, sinto
suas mãos em todos os lugares. Ele as enfia por baixo da minha camiseta,
apertando meus seios com vontade e eu sinto meu corpo estremecer em sua
cama.
Ele a tira por cima da minha cabeça, arremessando-a no chão como
se não passasse de um pedaço de pano.
— Olhe só para você… — ele murmura, acariciando a minha pele,
seus olhos me percorrendo da cabeça aos pés. — Tão linda e tão minha.
Estou completamente nua e não me importo. Na verdade, nunca
estive tão confortável antes na presença de alguém.
A calça de Baron é a próxima coisa da qual ele se livra. Ela estava
presa em seus tornozelos e enquanto ele a arranca de seu corpo, seus olhos
não deixam os meus por um segundo sequer.
— Você pode assistir o quanto quiser, amor. Sou todo seu também.
Ai, meu útero.
Ele não pode dizer coisas assim quando eu estou com tanto tesão e
vulnerável. Vou querer me casar e ter bebês com ele, e não sei se é uma boa
ideia tendo em vista que nossos pais ainda nem sabem sobre o nosso
envolvimento.
— Abra mais essas pernas pra mim.
Eu faço como ele manda, com a expectativa nas alturas. Baron vem
por cima de mim, trilhando um caminho de beijos que vão do meu pescoço
até os meus seios. Sua respiração quente contra a minha pele me provoca
arrepios e eu lambo meus lábios secos, desesperada para senti-lo dentro de
mim de uma vez.
Sua boca captura um mamilo intumescido e eu gemo, querendo me
afundar em seu corpo e acabar com a minha agonia.
Mas meu algoz não parece nada inclinado em facilitar para mim.
Ao contrário disso, ele continua usando a língua para me torturar da
forma mais deliciosa do mundo. Ele alterna seus beijos entre um seio e o
outro, me enlouquecendo.
— Você é tão deliciosa, Cecília. Se pudesse sentir o que faz comigo,
talvez você entendesse a minha obsessão por você.
Não, Baron. Você é que está me levando à loucura. E vai acabar me
transformando na porra de uma psicopata também.
Eu abro a boca, pronta para suplicar, quando Baron arqueia a
sobrancelha para mim e segura as minhas coxas, me deixando ainda mais
aberta para ele.
— Sua boceta está tão molhada que eu fico me perguntando como
você ainda conseguia negar o quanto queria isso. O quanto me quer. — Ele
faz uma pausa. — Preciso de uma camisinha?
Eu o encaro, surpresa. Estou tão ansiosa para senti-lo dentro de mim
que nem pensei a respeito.
— Eu estou tomando pílula e não estou transando com mais
ninguém… — respondo, baixinho.
— Graças a Deus.
Assisto quando ele suspira, encarando a minha intimidade
fixamente. De repente, toda a vergonha que eu não estava sentindo, começa
a subir pela minha pele. Não é como se fosse estranho estar assim na frente
dele, mas não sei como me sinto ao ver Baron me encarando dessa forma.
— Quero guardar essa imagem para sempre.
Pigarreando, eu me apoio nos meus cotovelos.
— Não precisa. Você vai ver outras vezes — digo, mesmo com
vergonha.
Ele abre um sorriso no canto da boca, convencido.
— Pode apostar que vou ver sim.
E então Baron se enfia entre as minhas coxas, encaixando seu pau
na minha entrada sem a mínima pressa. Quando ele finalmente entra em
mim, eu suspiro em seus lábios, sentindo a pressão me rasgar da forma mais
deliciosa possível.
Não sou virgem. A minha primeira vez aconteceu com o meu
namoradinho do ensino médio e nós dois estávamos tão nervosos e
inseguros que eu nem me lembro se na primeira vez o pau dele entrou de
verdade em mim. Começamos a aprender sobre o prazer conforme
praticamos, e depois que eu entrei em Granville, nós terminamos de forma
amigável. Ele ficaria no Brasil, eu viria para os Estados Unidos e ambos
concordamos que estar preso a alguém agora não fazia muito sentido.
Em resumo, foi bom, mas nada comparado ao que Baron Donovan
está fazendo com o meu corpo.
Ele mete em mim com mais força, ajustando seu tamanho no meu
corpo. Cravo minhas unhas em suas costas, abrindo ainda mais as minhas
pernas para circulá-las ao redor de seus quadris.
Baron afunda o rosto no meu pescoço, a respiração quente me
causando cosquinhas.
Solto uma risadinha, sem conseguir segurar.
— Está rindo? — ele pergunta, franzindo o cenho para mim.
Mordo o lábio inferior.
— Não é nada. Eu sinto cosquinha em um ponto do meu pescoço e a
sua boca estava muito perto de lá. Foi isso — explico com a voz trêmula.
Baron continua se movendo para fora e para dentro de mim, com
uma calma insuportável, enquanto meus olhos não conseguem ficar
parados. Eu observo onde nossos corpos estão unidos com devoção, ficando
ainda mais excitada por estarmos tão entregues um ao outro ao ponto de não
estarmos usando uma camisinha.
Porra, esse é o tipo de coisa que eu jamais admitiria com o meu
antigo namorado. Agora eu estou ansiosa por vê-lo escorrendo de dentro de
mim.
O que isso me torna?
— Sua boceta está me apertando como se quisesse que eu ficasse
aqui pra sempre. Puta merda… — ele geme, me comendo com mais força.
Nós ficamos por um bom tempo assim, eu aberta enquanto ele
segura minhas coxas e mete com vontade, saboreando cada um dos meus
gemidos com seus lábios. Suas costas se tornaram meu quadro pessoal e
minhas unhas estão deixando verdadeiras marcas em sua pele.
Quando Baron ergue o rosto suado para mim, eu prendo a
respiração.
— Quero que você sente em mim. Consegue fazer isso?
Eu balanço a cabeça na mesma hora, fazendo que sim.
Ele abre um sorrisinho quando nos ajeitamos, ele agora sentado e
encostado na cabeceira da cama enquanto eu sento sobre seu pau
lentamente, aproveitando a sensação de estar finalmente sendo preenchida
por ele.
Ai, meu Deus. Suspiro quando Baron coloca as mãos na minha
cintura, me ajudando com os movimentos conforme eu subo e desço,
jogando a cabeça para trás, arrepiada com todas as sensações que ele está
me fazendo sentir.
Espalmo minhas mãos em seu peito largo, empurrando-o
delicadamente para trás enquanto pego impulso, cavalgando-o sem parar.
Ele joga a cabeça para trás, aproveitando o prazer que agora eu estou dando
a ele.
Eu.
Ele geme, fechando os olhos enquanto eu pego o controle para mim.
Meus cabelos estão molhados com o suor e eu sinto a minha pele pegajosa
junto com a dele. Seu quarto está fazendo um calor infernal e, de repente,
eu me pego pensando se o ar-condicionado está ligado ou não.
Foda-se.
Baron e eu poderíamos ficar horas trancados nesse quarto e assando
com o clima quente e mesmo assim seria perfeito.
Porque é ele e porque sou eu.
E nós dois juntos nos transformamos nessa mistura de sensações e
prazer.
— Você fica tão linda subindo e descendo no meu pau, amor. Você
vai conseguir me fazer gozar assim… — ele incentiva com a boca suja que
eu estou aprendendo a amar.
O pensamento me pega de surpresa e eu preciso fazer um esforço
para não deixar o choque transparecer no meu rosto.
Amar? Baron Donovan? Deus, eu só posso estar à beira da loucura.
Quando ele inclina o corpo para trás, sinto seu pau ir mais fundo
dentro de mim. Essa nova posição parece atingir algo diferente, porque o
arrepio que percorre a minha espinha quase me tira de órbita.
Estremeço, completamente alucinada com o que acabei de sentir.
Começo a subir e descer sem parar, sem controle, e as mãos de Baron vão
acabar deixando marcas na minha pele por estar me segurando com tanta
força.
Mas não me importo, porque estou quase gozando e o mundo inteiro
poderia explodir que eu continuaria perseguindo o meu orgasmo.
— Cecília, amor, eu vou…
— Eu também vou — digo, atropelando as palavras.
Baron começa a erguer os quadris e eu aumento o ritmo, ansiosa
para me encontrar com suas investidas.
Quando suas mãos sobem até a minha nuca e agarram meu cabelo
com força, eu cravo meus dentes em seu ombro, sentindo o meu corpo
amolecer enquanto o orgasmo mais intenso que eu já tive toma conta do
meu corpo.
Baron beija meu pescoço, gemendo na minha pele enquanto explode
dentro de mim. Eu continuo cavalgando seu pau, maravilhada ao ver seu
líquido quente escorrer de mim conforme eu continuo concentrada em nos
dar prazer.
— Porra — ele ofega, detendo os meus movimentos. — Como
consegui viver sem isso todo esse tempo?
Sorrindo, eu tiro alguns dos fios de cabelo molhados da sua testa.
Depois, encosto nossos rostos, me sentindo completamente satisfeita.
— Não sei. Mas, definitivamente, não quero mais ficar sem.
Diga sim para o paraíso
Diga sim para mim
Se você for, eu ficarei
Se você voltar, eu estarei bem aqui
Say Yes To Heaven | Lana Del Rey

O corpo quente dela está subindo e descendo pacificamente sobre o


meu enquanto eu a observo dormir. Seus cabelos estão uma bagunça,
espalhados pela minha cama, e o filete de raio de sol que cai sobre o seu
rosto parece lhe incomodar.
Cecília aperta os olhos, incomodada com a claridade, e depois de se
remexer por mais algum tempo na cama para fugir da luz do dia, finalmente
abre os olhos. Ela pisca, atordoada, parecendo precisar de um tempo para se
lembrar de onde está.
Prendo a respiração, nervoso em como seu humor estará nesta
manhã. Sei que ela me prometeu que não fugiria mais, porém… Promessas
são só palavras jogadas ao vento. Na maioria das vezes, elas não significam
nada.
— Que preguiça de levantar… — ela murmura, sonolenta.
E então seu corpo parece buscar mais ainda o meu e ela se
aconchega em mim tão manhosa que tenho vontade de beijar seu rosto
inteiro.
Espera… Agora eu posso fazer isso.
E é exatamente o que eu faço. Dou um beijo em sua testa,
suavemente, e depois desço meus lábios até suas bochechas. Em seguida,
vou até o pescoço e ela abre um sorriso desleixado.
— Alguém acordou feliz — ela brinca, passeando os dedos
despretensiosamente pelo meu cabelo. — Ontem não foi um sonho, não é?
— Graças a Deus não — respondo, abraçando sua cintura. —
Queria ficar na cama com você o dia todo.
Ela faz um carinho na minha nuca, o que quase me faz ronronar. Faz
muitos anos que eu não tenho uma sensação de paz como estou tendo agora.
— Eu também queria, mas hoje eu preciso me concentrar na costura.
Essa parte é a mais difícil e depois só vou precisar fotografar você e a Lucy
para o meu projeto.
— Eu tenho treino mais tarde também — bufo, me irritando ao
perceber o quanto o nosso tempo juntos é escasso. — Mal posso esperar
pelas férias.
Os dedos de Cecília param o que estavam fazendo no meu cabelo.
— Eu não. Depois que o semestre acabar, vamos ter que encarar o
casamento dos nossos pais. Baron… Precisamos contar.
Esfrego minha bochecha contra a sua barriga, sentindo as garras da
raiva querendo arranhar a superfície.
— Meu pai já desconfia que algo está rolando. Mas sendo sincero,
que se foda a opinião deles. Nada disso vai mudar o que sentimos um pelo
outro ou o que estamos fazendo. Não é?
Ela fica calada por segundos insuportáveis. Estou realmente
cogitando abrir as pernas dela e comê-la até que Cecília esqueça o próprio
nome. Se dar prazer ao seu corpo é minha arma secreta, foda-se, vou usar
essa merda até ela entender o quanto me quer.
— Certo — ela suspira, afirmando com a cabeça. — Acho que
minha mãe pode não gostar disso. E como eu estou aqui por causa dela,
talvez isso seja um problema.
Me levanto rapidamente, ficando cara a cara com ela. Apoio minhas
mãos ao lado de sua cabeça, tomando o cuidado de não esmagá-la com o
meu peso.
— Cecília, entenda uma coisa de uma vez por todas. Eu não vou
deixar ninguém me separar de você. Ninguém. Eles podem tentar, mas eu
tenho recursos o suficiente para sustentar até os nossos netos. Eu entendo
que seja importante pra você a aprovação da sua mãe, mas não vamos
deixar ela se meter entre nós. Tudo bem?
Ela parece pensativa por alguns segundos, mas finalmente balança a
cabeça, parecendo um pouco mais confiante.
— Tudo bem.
Abro um sorriso em resposta, me inclinando para roubar um breve
beijo de seus lábios.
Ela me empurra delicadamente, sorrindo.
— Preciso ir ao banheiro primeiro. E depois, definitivamente, quero
comer alguma coisa. Alguém acabou com a minha energia ontem à noite.
— Cecília semicerra os olhos para mim.
Eu forço uma expressão inocente, erguendo as mãos para cima em
sinal de rendição.
— Quem? Eu?
— É, você mesmo. — Ela coloca a língua para fora. — Acho que
preciso de um banho também. Fizemos uma bagunça e tanto.
Meu pau fica duro na mesma hora quando me lembro de como gozei
dentro dela. Por um segundo, cheguei a pensar em como seria se Cecília
ficasse grávida. O pensamento não me assustou como eu pensei que faria e,
na verdade, só me deixou ainda mais louco para ter logo uma família com
ela.
— Acho que vou precisar de mais um pouco para refrescar a minha
memória — resmungo, esfregando a minha ereção na sua bunda. Cecília,
como a diabinha que é, se inclina ainda mais na minha direção. — Porra…
— O que você acha de tomar banho comigo? — convida com a voz
rouca.
Ela nem precisa me perguntar duas vezes.

Cecília está usando uma antiga blusa minha dos Angry Sharks, o
cabelo está molhado e todo penteado para trás e nos pés está com uma meia
de O Fantasma da Ópera.
Eu tirei sarro assim que vi ela vestindo, mas preciso admitir que não
tem nada que essa garota use que não a deixe completamente deslumbrante.
— Não sei se confio muito nas suas habilidades de cozinheiro,
Baron… — ela zomba, me vendo preparar uma omelete para o nosso café
da manhã.
O banho acabou sendo mais longo do que eu previa. Depois de
transar com ela contra a parede do box, eu não resisti ao vê-la toda molhada
e se trocando no meu quarto. Acabei chupando Cecília em cima da minha
cama, adorando saber que ela estava sendo a minha primeira refeição do
dia.
— Pode confiar. Eu sempre gostei de preparar a minha comida —
explico, colocando o omelete pronto em um dos pratos. — Meu pai sempre
contratou cozinheiros, mas a minha mãe sempre me mostrou documentários
sobre o preparo correto dos alimentos. Quando eu era criança, fiquei por
muito tempo apavorado com a ideia de acabar pegando salmonela ou
qualquer merda dessas. Como sempre quis ser atleta e treinava desde
pequeno, cuidar da alimentação também fazia parte da minha rotina. Cuido
disso desde então.
— Uau. E seu pai também comia o que você preparava?
Balanço a cabeça.
— Meu pai não ficava muito tempo em casa. Tudo o que eu sei,
aprendi com a minha mãe. Brandon, por outro lado… Ele sempre foi mais
distante. Acho que ele preferia a companhia do Alexander mesmo.
Eu estendo o prato para ela, que o leva até o nariz para cheirar.
Estreito os olhos, fingindo irritação, e Cecília abre um sorriso enorme para
mim.
— O cheiro parece realmente muito bom. Vou só pegar uma xícara
de café antes de passar a tarde toda trabalhando no meu projeto de design
de moda — murmura, deixando os ombros caírem.
Vou até ela a passos largos, esmagando seus lábios nos meus.
— Se conseguir terminar tudo hoje, vou repetir o que fizemos na
noite passada.
— Hm… Isso sim é motivação de verdade.
Eu rio contra a sua boca, aproveitando sua distração para enfiar a
língua na dela. Nós dois começamos a nos pegar para valer e eu estou quase
descendo as mãos para agarrar suas coxas e colocá-la em cima da bancada
quando um pigarrear soa alto e claro.
Ela me solta, um pouco atordoada, abrindo a boca em choque
quando dá de cara com o meu pai.
Alexander está usando um dos ternos de sua infinita coleção, com os
braços cruzados. Ele semicerra os olhos para nós dois e a forma com a qual
Cecília se encolhe ao meu lado me deixa irritado pra caralho.
Não gosto que a presença dele esteja intimidando-a.
— Vocês dois estão juntos? — pergunta ele com uma expressão
decepcionada.
Cecília abre a boca rapidamente para se explicar, mas eu a
interrompo antes que diga qualquer coisa.
— Estamos sim — respondo, erguendo o queixo em um desafio.
Ele passa as mãos sobre o próprio rosto, parecendo exausto. Em
seguida, dá passos largos em direção à cafeteira cheia. Meu pai se serve de
uma xícara de café, colocando a mão no bolso enquanto nos observa, em
silêncio.
— Não sei como reagir a isso — diz, suspirando. — Suzan não vai
gostar.
Travo o maxilar, sem desviar o olhar dele.
— Suzan pode ir se foder. Ela não tem nada a ver com isso.
— Baron! — Cecília segura o meu braço, me repreendendo. — Ela
é a minha mãe.
Meu pai ergue a sobrancelha para mim.
— Isso não é um jeito muito lisonjeiro de se referir à sua sogra,
Baron. Onde estão os modos que eu te ensinei?
Eu olho para cima, sem conseguir acreditar nessa conversa.
Meu pai quer discutir sobre como foi uma figura paterna de merda
logo hoje? Só pode ser sacanagem.
— Você não me ensinou nada. Tudo o que eu sou é fruto da
educação que a minha mãe me deu.
Seus olhos azuis ficam mais escuros de repente.
— Talvez seja por isso que esteja agindo assim — ele rebate, antes
de levar a xícara novamente aos lábios.
Dou um passo em sua direção, pronto para socá-lo pela forma com a
qual se refere à minha mãe. Cecília, no entanto, aperta meu braço
novamente.
Só ela tem o poder de me acalmar desse jeito.
Viro meu rosto para ela, tentando apaziguar a raiva que está lutando
para assumir o controle. Ela balança a cabeça, passando a mão
carinhosamente pelas minhas costas.
O ar volta aos meus pulmões.
— Vou subir. Acho que você e o seu pai tem muito a conversar —
ela diz, desviando o olhar entre meu pai e eu. — Nos vemos mais tarde,
tudo bem?
Antes dela se afastar, eu a puxo novamente para roubar mais um
beijo. Cecília fica nervosa por estarmos nos beijando na frente do meu pai,
mas foda-se. Ele precisa entender que não vamos parar.
Ela é minha agora.
E eu sou dela há tempo demais.
— Isso não é uma boa ideia, filho — ele começa, colocando a louça
suja em cima da bancada.
— Eu acho que isso não é da sua conta — rebato, cruzando os
braços.
Ele respira fundo, estreitando os olhos para mim.
— Quando o meu filho começa a se envolver com a minha enteada,
eu diria que é da minha conta sim. Eu te avisei para deixar essa garota em
paz, Baron. Infelizmente, você não me dá nenhuma escolha.
Bufando, eu dou um passo em sua direção.
— E vai fazer o quê? Me expulsar de casa? Foda-se, eu compro um
apartamento novo. Vai me proibir de vê-la? Você sabe muito bem que isso
não vai funcionar. Cecília e eu estamos juntos, e é bom que você se
acostume com isso.
— Baron…
— Você não está em posição para me dar conselhos. Pensa que eu
não sei que você anda desviando dinheiro da minha conta, a conta que o
vovô fez questão de deixar para o meu irmão e eu, e entregando tudo para a
filha da puta da Briana? — explodo, cansado de tanta hipocrisia. — Será
que a sua esposinha faz ideia do tipo de diversão que o marido novo está
buscando? Ela tem a mesma idade da Cecília, porra.
Os olhos do meu pai estão mais furiosos do que eu jamais vi. Ele
cerra os punhos, parecendo dividido entre arrumar a gola do paletó e sair
sem dizer mais nenhuma palavra ou partir para as vias de fato comigo.
Estou com tanta vontade de fazê-lo pagar por como fez a Cecília se
sentir, que estou ansiando para que ele escolha a segunda opção.
O ar à nossa volta está crepitando com a raiva e palavras não ditas.
Ele sempre foi um grande filho da puta com a minha mãe e ela me contou
algumas vezes do quão violento ele poderia ser.
Que tal mostrar isso para alguém do seu tamanho, babaca?
Mas meu pai não é burro e tampouco impulsivo, ao contrário de
mim. Ele sabe controlar muito bem o seu temperamento e é o que eu estou
observando Alexander fazer.
— Sinto muito que tenha descoberto isso, Baron. Eu vou repor cada
centavo e é por isso que não disse nada nem a você e nem ao seu irmão.
Vocês não sentiriam falta. Só precisava de uma quantia sem despertar
suspeitas…
Balançando a cabeça, encaro-o com escárnio.
— Sem despertar as suspeitas da sua noiva, você quer dizer? Se
ameaçar o meu relacionamento com a Cecília novamente, ela saberá do
dinheiro que você está enviando para ela. Estou falando sério, velho. Nunca
mais olhe pra ela desse jeito de novo.
Você não é meu namorado
E eu não sou sua namorada
Mas você não quer que eu veja mais ninguém
E eu não quero que você veja ninguém
Boyfriend | Ariana Grande

Treinar quando Cecília está na minha casa e sozinha é praticamente


uma tortura. A minha mente não consegue se concentrar em mais nada além
de suas pernas torneadas, a cintura fina ou a boceta viciante que está me
esperando em cima da cama quando eu voltar.
— Ei, Baron… — Kaden surge no vestiário com um sorriso
diabólico nos lábios. — Precisa de mim ou de Hunter durante a semana?
Franzo o cenho.
— Não tenho nada em mente. Por quê?
Ele coça a própria nuca, tirando a toalha molhada dos ombros.
Depois de balançar a cabeça de um lado para o outro igual um cachorro,
diz:
— Eu estou pensando em levar a Lucy para sair. Você sabe, como
um encontro.
Espera, o quê? Kaden querendo levar uma garota para a porra de
um encontro? Será que a Terra ainda está girando?
— Eu nem sabia que você curtia essas coisas, cara — resmungo,
coçando o peito. — Está pensando no quê?
Kaden suspira, passando a toalha sobre o cabelo ruivo molhado. Ele
normalmente tem essa aura de menino perdido, sempre com um olhar
travesso ao conversar com as pessoas. Hoje, no entanto, está mais sério do
que o normal.
— Não é sobre mim. Lucy não é como a Cecília — ele suspira,
deixando os ombros caírem. — Isso de perseguir e tentar conquistar ela
sendo sexy até funcionou por um tempo, mas um encontro faz diferença.
Ela quer algo romântico.
Ergo as sobrancelhas para ele.
— E você está tão a fim assim que está mesmo cogitando em fazer
isso?
Kaden dá de ombros.
— Eu gosto da Lucy, Baron. Ela não me olha com nojo ou como se
eu não fosse nada. As outras garotas… Elas sempre vão preferir os
jogadores riquinhos ou os babacas que usam um terno. Nenhuma delas quer
ser vista em público comigo.
— Eu diria que isso é mais pelo seu lado sádico do que pela sua
situação econômica — zombo, sabendo muito bem que Kaden não quer a
minha pena.
Ele nunca quis isso de ninguém.
Hunter caminha até a nossa direção, o rosto contorcido na confusão.
Quando ele chega perto o suficiente, Kaden continua:
— Queria que fosse algo especial. Talvez se eu levasse ela para um
restaurante legal… — Ele faz uma pausa. — Você consegue uma reserva
pra mim naquele restaurante do seu pai, Baron?
— Posso conseguir, mas ela já esteve lá. Um lugar novo seria
interessante.
— Você já levou a Cecília a um encontro?
Paro para pensar na questão por alguns segundos, mas logo a
memória me atinge com força.
— Apresentei o cemitério em que a minha mãe está enterrada. Não
sei se foi romântico, mas acho que foi quando ela começou a se abrir pra
mim.
Kaden bufa e Hunter ergue a sobrancelha.
— Se eu tiver que levar a Lucy para algum lugar em que eu mostre
algo do meu passado, acabaríamos no subúrbio, na casa da minha ex-
família adotiva. Ao invés de sexo, vou conseguir lágrimas.
Hunter balança a cabeça, o cabelo preto caindo sobre o rosto.
— Vocês dois estão falando sobre encontros? — Ele arqueia a
sobrancelha, confuso. — Cemitério e casas adotivas? Vocês dois são
idiotas, por acaso?
Eu fico de pé, encarando-o de cima a baixo.
— Como se você tivesse muita experiência com romantismo.
— Na verdade, eu tenho sim. — Ele se empertiga. — E sei que
garotas não se contentam com pouco. Cecília pode estar se apaixonando por
você, mas se não se esforçar, vai perdê-la.
Kaden cruza os braços, parecendo subitamente interessado no que
Hunter tem a dizer.
Filho da puta, eu agora estou interessado no que ele está dizendo.
— Tem mais algum conselho? — pergunto, voltando a me sentar.
— Cara, garotas gostam de toda a merda clichê que você já ouviu
falar. Pétalas de rosa na cama, jantar à luz de velas, locais com uma vista
bonita. Cinema para ver os dramalhões em cartaz, final de semana em uma
casa de campo. Somem isso com longas conversas e uma massagem antes
de enfiar o pau nela, e pronto. Não é tão difícil assim.
Kaden e eu nos entreolhamos em silêncio.
— Uau… — o ruivo brinca, esfregando uma mão na outra como um
diabinho. — Onde você aprendeu tudo isso, Hunter? Hm, deixe-me pensar.
Amy, a filha da empregada? Ela realmente foi uma garota de sorte.
E, simples assim, a máscara sombria volta ao rosto de Hunter. Ele
sempre a coloca quando mencionamos Amy e isso me faz estreitar os olhos
para ele. Sei toda a história resumidamente, mas os detalhes ele parece
querer levar ao túmulo.
— Amy não tem nada a ver com isso — ele resmunga, se trocando
rapidamente. — Vejo vocês mais tarde?
Kaden semicerra os olhos.
— Se você estiver disponível, sim. Faz um tempo que não nos
vemos. Parece que você quer estar em qualquer lugar, menos com a gente.
— Ah, isso tudo é saudade? — ele zomba, um traço de tédio
passando por seu rosto. — Não se preocupem. Preciso resolver algumas
coisas, mas depois tudo voltará ao normal. Seremos nós três contra o
mundo.
Kaden sorri sem um pingo de humor.
— Os três mosqueteiros. Um por todos e todos por um.
Embora ele tenha dito isso em um tom irônico, não posso deixar de
pensar que, durante esses três anos que estamos na faculdade, estávamos
sempre agindo assim.
Um por todos e todos por um.
Meu lema, em tese, continua sendo esse. Mas a diferença é que a
única pessoa pela qual eu daria a minha vida não está nesse vestiário agora.
Quando saio do vestiário, só tenho uma coisa em mente: preciso
chegar até o meu carro. Quanto mais cedo eu for para casa, mais tempo
terei com a Cecília no meu quarto.
Meu pai acabou cedendo à minha ameaça quando soube que eu
também tinha prints de sua conversa com a Briana. Tudo não passou de
blefe porque quem me mostrou as provas foi o Brandon, mas ele não vai
ficar sabendo dessa conversa por um bom tempo.
— Só espero que vocês sejam mais cuidadosos, Baron. Suzan… Ela
não vai gostar disso. E você não pode manipular todas as pessoas do
mundo — me alfinetou, balançando a cabeça. — Vai acabar afastando a
Cecília se fizer a relação dela com a mãe piorar.
Fiquei irritado ao ouvi-lo falar sobre a minha garota com tanta
propriedade, mas eu sei que ele está com a razão nessa. Porra, não só ele
como o próprio Hunter. Cecília e eu estamos cada vez mais próximos e a
química entre nós é algo de outro mundo. Mas… Cacete, até eu preciso
admitir que tenho agido como um homem das cavernas em torno dela.
Vou fazer algo especial. Levá-la para um jantar, talvez a apresente
ao iate da minha família. Só de pensar em velejar sob as estrelas com ela
nos meus braços, sinto meu coração acelerar.
Cecília Braga é uma rainha e merece toda a porra do romantismo
que eu posso proporcionar a ela.
— Baron? — Uma voz suave me chama, me arrancando dos meus
pensamentos. — Podemos conversar?
Espera… Eu conheço essa voz.
É a voz da primeira pessoa que partiu o meu coração.
Briana está a poucos metros de distância, o rosto retorcido em uma
expressão receosa. É nítido o quanto ela quer se aproximar, mas não vai.
Ela sabe que não deve mais chegar perto de mim.
Ignorando seu chamado, eu apresso meu passo na direção do meu
carro.
Mas Briana continua me provando a sua estupidez quando não
desiste de vir atrás de mim e eu cerro meus punhos ao escutar seus passos.
Depois de alguns segundos me seguindo, ela berra a plenos pulmões:
— Baron, não é nada do que você está pensando! Seu pai e eu não
temos nada!
Sua frase faz minhas pupilas dilatarem e eu giro nos calcanhares
para encarar seus olhos de cachorrinho. Se fosse há alguns anos, essa
carinha seria o suficiente para me deixar de joelhos.
Hoje não.
Hoje ver sua expressão só me causa mais raiva e repulsa.
Briana é a rainha da manipulação e eu aprendi isso da pior forma
possível.
Eu a alcanço em poucas passadas e ela começa a andar para trás,
assustada com a minha expressão mortal conforme eu a encurralo contra
uma árvore.
— Não me importo com quem você anda trepando por aí, Briana.
Quer foder com o meu pai? Foda-se. Fique à vontade. Só tenha certeza de
esconder isso do babaca do meu irmão primeiro. Ele não vai perdoar se for
magoado uma segunda vez.
Seus olhos brilham com a mágoa, mas eu não me importo. Ela
engole em seco, visivelmente desconfortável, enquanto muda o peso de um
pé para o outro.
— Eu não tinha nenhuma intenção de magoar nenhum de vocês,
Baron. Não foi isso que eu quis fazer quando fui embora. Se você
soubesse…
— Se eu soubesse o quê? Hein, porra? — esbravejo, dando um
passo para trás. Não consigo mais ficar tão perto dela assim sem ter vontade
de vomitar. — Você não mudou nada, Briana. Continua com a sua
manipulação e suas táticas de merda. Mas agora o jogo mudou e eu não sou
mais como antes. Não vai se safar dessa vez.
— Um dia você vai acabar se arrependendo de não me ouvir, Baron.
Espero que não seja tarde demais.
— Você pode dizer o que quiser pra mim, mas eu não acredito em
mais nenhuma palavra que sai da sua boca. Você não passa de uma
mentirosa e de uma ladra. Sabia que meu pai tem desviado dinheiro da
minha conta para pagar seus cheques? — Inclino a cabeça para o lado,
observando sua postura mudar. — Se a Suzan descobrir essa merda, eu juro
que mato vocês dois. Estou pouco me fodendo para a noiva do meu pai ou
para você, mas se isso afetar a Cecília de alguma forma…
Seu rosto muda lentamente de magoado para enfurecido. Ela abre
um sorriso irônico, soltando uma risada amarga.
— Cecília, sempre ela. Seu irmão me contou sobre a sua obsessão
pela sua irmã. Sim, Baron, vocês dois estão prestes a se tornarem irmãos.
Ficou tão obcecado com as fotos dela que passou a seguir a menina em
todas as redes sociais, além dos amigos mais próximos e até familiares de
outro país. Sabotou os relacionamentos dela à distância, manipulou seu pai
para convencer a sua madrasta para trazê-la para os Estados Unidos e
destruiu o dormitório da menina para que ela fosse morar na casa do seu
pai. Pensando bem… Se ela está com você agora, deve ser igualzinha. Os
dois se merecem.
Quando Briana termina de falar, suas bochechas estão mais
vermelhas do que um tomate. Ela arregala os olhos, parecendo entender a
merda que acabou de fazer e nega lentamente com a cabeça.
— Eu não quis dizer isso… Eu…
Dou um passo em sua direção, falando baixinho para que só ela
consiga ouvir:
— Escute bem, Briana. E espero que entenda isso de uma vez por
todas. Você não cita o nome da Cecília, você não usa ela contra mim e você
não faz perguntas sobre ela para o Brandon, caralho. Será que você
consegue entender isso? — Ela balança a cabeça rapidamente, engolindo
em seco. — Você não conhece a minha nova versão, mas eu vou te dar um
conselho. Você não vai querer brincar comigo dessa vez. Minhas armas
agora são mais letais e a minha piedade… É algo que não existe mais.
Fique. Longe. Do. Meu. Caminho.
Quando me afasto, ela abaixa os ombros. Estou começando a pensar
que agora ela vai finalmente me deixar em paz quando ela diz, mortificada.
— Pergunte ao seu pai porque eu fui embora. Questione ele sobre
isso. Você vai entender o que aconteceu naquela época, Baron. Eu não tive
culpa… E nem escolha.
Eu gosto dos olhos tristes, caras maus
Boca cheia de mentiras bem intencionadas
Me beije no corredor
Ghost | Halsey

— Eu odeio ter que conversar com você através de uma tela de


computador — resmunga meu pai, ajeitando o óculos no rosto. — Argh!
Guilherme, venha ver a sua irmã.
— Pai, se afaste um pouco da câmera — eu peço, rindo. — Eu só
estou vendo o seu nariz agora.
Ele se reclina um pouco para trás, exibindo um sorriso meio torto no
rosto. Sei que não tenho sido uma boa filha, não respondo suas mensagens
com tanta rapidez e quase nunca faço videochamadas como essa.
Mas… Caramba. Tem tanta coisa acontecendo agora.
— Seu irmão está querendo passar as férias por aí. Eu disse para o
Gui que se conseguirmos o visto dele, vocês dois podem visitar a Flórida e
Nova York. Assim você leva ele à Disney e tem companhia para assistir aos
seus musicais na Broadway.
Solto um gritinho animado, sem conseguir conter a empolgação.
Quando eu estava em casa, não conseguia passar um dia inteiro sem
cantarolar a trilha sonora de Wicked. Popular sempre foi a minha música de
“limpar a casa” e na época, Guilherme odiava.
— Pai, isso seria incrível! Estou com muitas saudades de vocês —
lamento com a voz baixa. — Eu deveria ligar mais vezes.
Meu pai estreita os olhos para mim. Seus cabelos não estão mais tão
escuros como eram quando eu morava no Brasil, mas os fios brancos lhe
dão um charme encantador. Ele costumava me levar até as farmácias e pedir
para que eu comprasse tinta preta como se fosse para mim e assim que
Vanessa levava o Gui para a escola, pedia para que eu retocasse seu cabelo.
Essas lembranças me arrancam um sorriso. Lucas Braga continua o
mesmo pai coruja e brincalhão de sempre, mesmo à distância. Vanessa e
Guilherme têm muita sorte por terem ele por perto.
— Onde está a Vanessa? — pergunto, bebendo um gole do meu
frapuccino do Starbucks que comprei no mercado.
Não é a coisa mais saudável do mundo, mas é viciante.
— Ela deve estar chegando, saiu com algumas amigas. A gente
precisa se entreter agora que não temos mais você nos arrastando para
restaurantes veganos. — Sua voz soa brincalhona.
— Você está morrendo de saudades da minha comida que eu sei.
Soube que o musical Heathers finalmente chegou ao Brasil e acho que
vocês poderiam gostar. Vão por mim, por favor.
Ele acena positivamente com a cabeça.
É então que Gui aparece ao fundo, com fones de ouvido gigantes
sobre a cabeça e o rosto enfiado no tablet que ganhou em seu último
aniversário. Quando ele olha para a tela do computador e me vê, abre um
sorriso.
— Lembrou que a sua família de verdade não tem notícias suas há
dias? — ele pergunta, brincando, mas sei que tem um fundo de verdade na
mágoa em sua voz.
Família de verdade.
É isso que eles são para mim, não é?
Guilherme não aceitou muito bem quando soube que eu viria até os
Estados Unidos fazer faculdade e, de quebra, teria mais contato com a
minha mãe biológica. Na cabeça dele, Vanessa sempre foi e sempre será a
minha mãe.
A nossa mãe.
Quando ele nasceu, nossa família já estava completa. Então o ciúme
dele foi compreensível, embora não completamente infundado.
Eu amo Vanessa como se ela fosse a minha mãe, mas eu não podia
fingir que Suzan não existia.
— Eu também estava morrendo de saudades de você, pestinha —
resmungo, tirando o cabelo do rosto. — Você cresceu tanto, Gui. Queria
estar aí.
— Ele agora está namorando! — meu pai interrompe, aos risos.
Guilherme revira os olhos, colocando os fones novamente.
— Não estamos namorando, pai. Só estamos ficando.
— Mas você trouxe a moça para jantar aqui, Guilherme. Sua mãe
até preparou uma torta de morango pra ela. — Meu pai ajeita os óculos
sobre o nariz. — Esses adolescentes de hoje em dia vão acabar deixando
seus pais loucos.
— Os tempos mudaram, meu velho. Primeiro a gente fica, se der
certo partimos para o namoro. Não é, Ceci? — Meu irmão busca o meu
apoio e eu começo a balançar a cabeça.
— É verdade. Mas o tempo máximo de tempo ficando é de dois
meses. Depois disso ou você pede a menina em namoro, ou você deixa ela
em paz. Entendeu? — É então que me dou conta de que o meu irmãozinho,
o mesmo garoto que reclamava sobre o quanto as garotas eram nojentas, já
está com a sua primeira namorada. — Gui, quando foi que você começou a
beijar?!
As bochechas do meu irmão ficam mais vermelhas do que um
tomate e ele nem se despede de mim ao sair correndo. Meu pai começa a
gargalhar, limpando uma lágrima no canto do olho.
— Constranger os próprios filhos é uma das maiores vantagens de
ser pai. Isso quando a irmã mais velha não faz primeiro — ele brinca. —
Mas não pense que eu não vou querer saber sobre você, Cecília. Está
saindo com algum garoto?
Coloco a língua para fora, fazendo uma careta de nojo.
— Credo, pai, pelo amor de Deus. Não quero conversar sobre essas
coisas com você.
Ele cruza os braços.
— Achei que éramos melhores amigos.
— É, mas você continua sendo o meu pai. Sem conversa sobre
garotos com você e ponto final. Você só vai saber algo a respeito caso eu
comece a namorar.
A minha cara de pau está passando de todos os limites agora, mas eu
não posso contar a ele que estou começando a me envolver romanticamente
com o meu irmão postiço. Papai nem sabe que a minha mãe está noiva, para
começo de conversa.
E sim, sei que fui covarde pra cacete ao florear a história. Mas, ei,
meus pais não conversam mais entre si desde que eu fiz dezesseis anos,
então não precisam ficar sabendo sobre as intimidades um do outro. Só
comentei que a minha mãe deu a ideia de eu ficar com ela em sua casa ao
invés do alojamento e ele não fez mais perguntas.
— A saudade machuca demais — ele diz, suspirando. — A gente
prepara os filhos para o mundo, mas nunca estamos prontos quando o
passarinho sai do ninho.
— E agora o senhor está começando a soar brega — zombo,
colocando a língua para fora. — Prometo ligar com mais frequência, tudo
bem? E avise ao Gui que eu quero fotos da namorada dele.
Sua risada rouca ecoa pelo meu quarto e, porra, meu peito aperta
com a falta que ter o meu pai por perto me faz. Achei que estava pronta
para morar sozinha e ser independente, mas tudo o que eu preciso agora é
de seu colo.
— Tenha uma boa noite, filha. Quero um e-mail com todos os
detalhes das matérias que você está fazendo, incluindo o grau de
dificuldade. Sabe que papai pode mandar dinheiro para uma máquina de
costura, não sabe?
Mordo o lábio inferior.
Minha máquina de costura era uma espécie de melhor amiga quando
eu morava no Brasil e eu passava horas no meu quarto costurando peças de
roupa que eu salvava no Pinterest. Não a trouxe quando eu me mudei, o que
significa que estou costurando a dedo as peças da aula de design.
Bem, nem preciso comentar sobre como isso acabou me atrasando.
— Eu gosto de fazer tudo no manual. É vintage — brinco,
inclinando a cabeça para o lado. — Agora eu vou precisar desligar.
— Vou deixar você ir se me prometer que vamos nos falar com mais
frequência.
— Prometo. Quero ver a Vanessa com você na próxima.
Depois que nos despedimos mais uma vez, eu desligo a chamada.
Me espreguiço em cima da cadeira, apoiando meus cotovelos na
escrivaninha do meu quarto. Estou cogitando tirar o restante do dia de folga
quando uma voz suave me chama atenção.
— Aquele era o seu pai? — Baron está com os braços cruzados, o
corpo apoiado no batente da porta do meu quarto.
Arqueio a sobrancelha na sua direção.
— Está me espiando agora?
— E desde quando não estou? — ele rebate com uma expressão
arrogante. — Só passei para te avisar que vamos sair. Coloque uma roupa
sexy, mas confortável.
As borboletas no meu estômago começam a enlouquecer com o tom
de voz mandão dele. Estava esperando que ele pulasse em cima de mim e
me devorasse por horas, mas a ideia de sair com ele me deixa ainda mais
empolgada.
— Vamos para onde? — pergunto.
— É surpresa, mas posso dizer que você vai adorar.
— Hm… Misterioso. — Começo a mexer as sobrancelhas, fazendo
uma careta engraçada. — Tá, vou colocar uma roupa. Se isso envolver
qualquer tipo de atividade física… Nunca mais fale comigo.
Eu arranco uma risada dele. E não é uma cínica e sem emoção como
ele normalmente ri, mas um sorriso de verdade. Daqueles que fazem suas
linhas de expressão se intensificarem e que acentuam as covinhas nas
bochechas dele que, caramba, eu nem sabia que ele tinha.
Meu coração erra uma batida com essa imagem e eu gostaria de
estar com uma câmera na mão para capturar esse momento para sempre.
— Por que você está me encarando assim? — ele pergunta.
Dou de ombros, colocando meu cabelo para o alto a fim de amarrá-
lo em um coque. Vou precisar tomar um banho rápido porque já perdi as
contas de quantas horas fiquei presa nesse quarto.
— Eu gosto do seu sorriso. Talvez se você tivesse me mostrado ele
antes, teríamos nos resolvido mais cedo.
— Porra, se eu soubesse que isso era tudo o que você queria… —
Ele continua sorrindo, dessa vez colocando uma mão ao redor da nuca,
acanhado. — Bom, se é disso que você gosta, é isso que você vai ter. Vou
sorrir sempre.
Estreito os olhos.
— Mas quero todos os seus sorrisos pra mim, Donovan. Não
exagere.
E então acontece novamente. Ele sorri como um menino, jogando a
cabeça para trás com as minhas palavras.
Acho que posso acabar me viciando em seus sorrisos.

Quando coloco o pé no primeiro degrau da escada, escuto o assobio


de Baron soar em alto e bom som. Ele está me esperando logo embaixo,
vestindo um terno preto que o deixa completamente deslumbrante.
Mas o que me chama atenção não é isso.
São as rosas vermelhas que ele está segurando perto do corpo. Meu
corpo inteiro parece incendiar com essa visão e meu coração começa a
martelar em meus ouvidos.
— Porra, Cecília… — Ele passa as mãos sobre o rosto, parecendo
desesperado. — Como vou conseguir ficar com as minhas mãos longe de
você usando isso?
Olho para baixo, conferindo o vestido de paetê com alças finas que
escolhi para a ocasião. Quando estava escolhendo uma roupa, me lembrei
de sua condição financeira e cheguei à conclusão de que o melhor era
escolher algo mais chique.
E, puta merda, eu estava certa.
Sua respiração parece mais ofegante conforme vou descendo os
degraus, com um salto alto tão fino que já estou me arrependendo.
De repente, parece que sou a Laney do filme Ela É Demais, na cena
em que ela passou pela transformação e o personagem de Freddie Prinze a
espera no último degrau, embasbacado.
— Você é absolutamente perfeita. Tão perfeita que estou quase
ficando sem ar. — Seus olhos estão nublados de desejo, me percorrendo da
cabeça aos pés. Quando me aproximo novamente, seu cenho se franze. —
Acho que não quero mais sair de casa.
Arqueio a sobrancelha para ele, sorrindo.
— Nem pensar, capitão. Quero ir para esse lugar misterioso.
Ele me encara intensamente, passando o polegar pelo osso do meu
pescoço. Minha pele começa a ficar arrepiada quando seu rosto se
aproxima, a respiração quente me atingindo em cheio.
— Você vai ter que colocar uma venda, então.

Eu tinha prometido a mim mesma que não entraria em um carro


blindado usando uma venda por livre e espontânea vontade NUNCA.
Mas cá estou eu, sentindo meu estômago revirar ao estar sentada no
banco do carona de seu Jaguar.
— É você mesmo que está dirigindo? — pergunto.
— Sim, meu amor. Mas não vai demorar muito — ele responde e eu
sinto seus lábios quentes na minha mão.
E Baron está falando a verdade, porque vinte minutos depois
estamos estacionando.
— Vou precisar que você confie em mim — ele pede com o tom de
voz grave. — Você pode fazer isso?
Eu posso fazer isso?
Porra, eu já não estou lhe dando um voto de confiança ao entrar
nesse carro em primeiro lugar?
Mas eu só aceno positivamente com a cabeça, me recostando no
banco enquanto ele bate a porta do carro. Quando o vento gelado me atinge
em cheio, Baron segura meu queixo com suavidade.
— Vem comigo.
Seus passos são calmos e confiantes e eu uso seu apoio para não
precisar me equilibrar nos meus saltos. Pela risadinha infame que ele solta,
tenho certeza de que entendeu o motivo de eu estar agarrando seu braço
com tanta força.
— Calma, meu amor. Estamos quase chegando.
— Olha, acho que está na hora de você me carregar — sibilo,
quando acabo de tropeçar em algo jogado no chão. Baron me segura pelos
quadris, com força, para me impedir de cair no chão.
— É uma boa ideia.
Solto um grito de desespero quando Baron passa seus braços ao
redor das minhas pernas, me alçando do chão como se eu não pesasse nada.
Meu primeiro impulso é tentar esticar o vestido ao máximo que eu posso
para me certificar de que não estou dando um show para as pessoas ao
redor.
Baron ri.
— Você acha mesmo que eu te seguraria assim caso tivesse alguém
por perto? Pode relaxar, Cecília.
Suspiro, aliviada, passando os braços ao redor do pescoço dele.
Ele caminha comigo em seus braços por mais alguns minutos e
quando estou prestes a reclamar de frio, Baron me coloca no chão.
— Pronto, amor. Pode tirar a venda.
O nó já está frouxo, então um puxão é o suficiente para o pano cair.
Pisco meus olhos para tentar enxergar no breu da noite, mas tudo o
que eu vejo são as estrelas.
Maldita miopia.
Baron, entretanto, segura meu queixo com carinho e vira meu rosto
lentamente para trás.
É quando perco meu fôlego.
— Um avião? — pergunto, em choque.
Ele coloca as mãos nos bolsos da calça.
— É da minha família. Ele vai nos levar até Nova York.
Coloco minhas mãos sobre a minha boca, perplexa demais para
conseguir formular uma frase. Após alguns segundos em um silêncio sem
graça, eu o encaro, balançando a cabeça.
— Você vai me levar para Nova York? Por quê?
Ele tira uma mecha do meu cabelo do rosto.
— Porque você é fã de Wicked e eu comprei ingressos para
assistirmos na Broadway. Fui um babaca com você no início, Cecília.
Fiquei tão obcecado que não me importei com os seus sentimentos ou com
o que você realmente queria. Agora eu quero fazer as coisas do jeito certo.
Meu Deus. Eu só posso estar sonhando.
Meus olhos se enchem de lágrimas quando Baron murmura mais
algumas palavras carinhosas, esfregando o nariz no meu como se fôssemos
esquimós. É tão estranho ver a sua nova versão agindo que eu fico
momentaneamente desnorteada.
— E não se preocupe com as horas de voo ou com os nossos pais —
ele continua, dessa vez me puxando para um abraço. Escondo meu rosto em
seu peito, envergonhada demais com seu gesto romântico para encará-lo. —
Conversei com o meu pai a respeito e ele vai inventar uma desculpa para a
sua mãe. Vamos ficar no meu apartamento na cidade e eu também quero te
levar em algumas lojas. Preciso te recompensar por ter destruído as suas
roupas naquela primeira semana.
Eu grunho, esfregando meu rosto em seu terno perfeito. Ele
provavelmente vai ficar todo manchado de maquiagem, mas se Baron se
importa com isso, não demonstra nenhum pouco.
— Você não precisa fazer isso. Já comprei roupas o suficiente com o
cartão de crédito do seu pai — brinco, tentando descontrair o clima.
Mas o tom de voz de Baron não deixa margem para uma
contestação.
— Eu quero fazer isso, Cecília. E vou adorar saber que você está
usando roupas que eu comprei com o meu dinheiro.
Ai, meu útero. É estranho eu estar com a sensação de estar pisando
nas nuvens?
Ele começa a acariciar o meu cabelo, me apertando ainda mais em
seus braços.
— Baron, não sei se fico confortável com você gastando tanto
dinheiro assim. Nem estamos oficialmente juntos…
Seus braços enrijecem ao meu redor e, de repente, é como se eu
estivesse abraçando uma estátua. Me afasto de seu aperto para conseguir
encará-lo nos olhos, e sua expressão não poderia estar mais furiosa.
— Tudo o que eu tenho e tudo o que vou conquistar daqui pra
frente, será seu, Cecília. Será que não consegue entender isso? — ele
suspira, esfregando a mão na própria testa. — E nem me faça responder
sobre o fato de não estarmos “oficialmente juntos”. — Desenha aspas no ar,
com desdém. — Você é minha, amor.
Me encolho, sentindo o frio de repente. Baron, atento a mim como
sempre, percebe isso e tira o paletó para colocá-lo sobre os meus ombros.
— Sou sua mesmo… — começo, inclinando a cabeça para o lado.
— Sou sua irmã.
Baron semicerra os olhos para mim e eu mostro a língua para ele.
— Brincadeirinha. Mas tudo bem, vou aceitar a viagem para Nova
York e o show da Broadway porque é um grande sonho meu. Porém, as
roupas não são negociáveis. Não quero que você fique comprando coisas
pra mim, tudo bem?
Ele suspira, não parecendo nada feliz com a minha resposta. Mas
então Baron se aproxima, entrelaçando nossos dedos com delicadeza ao
fazer um meneio de cabeça na direção do jato de sua família.
— Você não vai dar o braço a torcer mesmo, hein?
— Não. E que já fique avisado caso você queira me ter como
namorada. Quando eu tomo uma decisão, dificilmente volto atrás.
Ele ergue as sobrancelhas para mim, sorrindo.
— Namorada? Gostei de como isso soa.
E… Merda.
Acho que eu também.
Sim, um pouco mais velho, uma jaqueta de couro preta
Uma má reputação, hábitos insaciáveis
Ele estava dando em cima de mim, bastou um olhar para eu perder o ar, sim
Eu disse que se ele me beijasse, eu talvez deixasse isso rolar
My Oh My | Camila Cabello part. DaBaby

Começar um namoro às escondidas com seu irmão postiço não é a


melhor ideia do mundo, mas se eu me arrependo? Nem um pouco. Ainda
mais quando ele vai para o meu quarto no meio da noite e nós nos beijamos,
alheios ao fato de nossos pais estarem no andar de baixo.
Baron se mostrou um namorado mais fofo e gentil do que eu
esperava. Um dia, eu estava há horas trabalhando debruçada sobre a minha
mesa e quando reclamei de dor nas costas, ele começou a massagear todos
os pontos doloridos. Eu nem percebi quando comecei a dormir, só me
lembro de acordar em cima do seu peito, quentinha e confortável, sentindo
meu corpo mole e relaxado.
Ele é esse tipo de cara.
Brandon, por outro lado, está cada vez mais distante. Sei que ele tem
passado todo o tempo que tem com a Briana e eu preciso me policiar para
não me meter em um assunto que não é meu. Ele obviamente é a fim dela,
mas a garota está fazendo jogo duro.
Respeito ela por isso.
— Olha só quem eu encontrei… — A voz de Baron chega aos meus
ouvidos, rouca e sexy.
Abro um sorriso nervoso, sentindo meu coração disparar. Tem sido
assim desde que ele me levou à Nova York para assistir Wicked. Passamos
dois dias conhecendo a cidade e, em determinado momento, me peguei
pensando em como seria se não voltássemos.
Foi muito bom passar o dia com ele na cama em seu apartamento,
descobrindo todos os pontos de seu corpo que lhe dão prazer. Não
conversamos muito sobre como manter esse relacionamento às escondidas,
mas até agora tudo está funcionando perfeitamente bem.
— Eu tenho um jogo amanhã à noite e adoraria ver você lá, usando
o meu número — ele pigarreia, entrando de vez no meu quarto. — Acha
que consegue ir?
Eu me espreguiço, manhosa, sem conseguir ver mais nenhuma linha
de costura na minha frente. Nós dois não conseguimos passar tanto tempo
juntos porque temos nossas obrigações na faculdade. Baron é um prodígio
quando falamos em Economia, mas ainda precisa estar totalmente focado
no Hóquei. Eu, por outro lado, tenho tido mais trabalho com o meu curso do
que eu esperava.
— Eu espero que sim. Só preciso finalizar a calça que você vai usar
— digo por fim. — O resto das peças já está pronto. Depois disso é só
finalizar alguns croquis e arrumar o meu portfólio e eu posso finalmente me
considerar de férias.
— Já tenho planos para quando estivermos livres — ele murmura,
vindo na minha direção. — Você já foi a Aspen?
— Hã, claro. Foi no mesmo mês em que comprei a minha mansão
de quarenta milhões de dólares — bufo, irônica. — Só estive na Califórnia
e, bem… Em Nova York. E por sua causa.
Ele estreita os olhos para mim.
— Você vai conhecer a porra do mundo inteiro comigo, Cecília. É
uma promessa.
Eu ainda não me acostumei ao seu jeito de falar comigo. É como se
ele tivesse uma bola de cristal e fosse capaz de ver todos os meus dias
futuros.
— Então, Aspen… — mudo de assunto, sorrindo. — Vamos
esquiar? Porque não estou querendo dizer nada, mas meu senso de
equilíbrio é inexistente. No gelo ele diminui drasticamente. Quer mesmo
passar essa vergonha?
— Sim. E eu vou me certificar de estar sempre por perto quando
você ameaçar cair. Sempre.
Eis um fato sobre Baron Donovan: ele é intenso.
E quando fica me encarando assim, com um sorriso sinistro no
rosto, sem piscar, não sei como me sentir. Ele me observa como se eu fosse
a porra do seu mundo inteiro e meu corpo reage imediatamente.
Nós pulamos um em cima do outro, meus materiais de costura
caindo no chão. Ele agarra o meu cabelo e desce a boca aberta até o meu
pescoço, distribuindo beijos molhados que fazem meus olhos se revirarem.
— Porra, não vou conseguir me segurar. Preciso ter você — ele diz,
determinado.
Enfio meus dedos por dentro de sua blusa de manga longa, sentindo
a pele quente tocar a minha. Seu abdômen é mais duro que pedra e nunca
vou me acostumar a ter tudo isso à minha disposição.
Meu.
Baron Donovan é meu.
Enlaço minhas pernas em sua cintura, sentindo o sabor de seus
lábios nos meus. Sua língua entra com tudo na minha boca, exigente, e eu
não consigo mais negar nada a ele.
Quando caio sobre a cama, abro um sorriso. Estou ofegante,
sentindo o meu corpo começar a formigar. Ele rosna ao abaixar o rosto até o
meu, beijando tudo o que vê pela frente.
E eu sinto como se pudesse derreter a qualquer segundo.
Nunca senti isso com ninguém antes.
— Vamos ter que fazer isso rápido. Nossos pais estão em casa —
balbucio, meus sentidos comprometidos com o caminho baixo em que sua
boca está trilhando.
— Foda-se eles — ele responde, sem parar de me beijar.
— Baron… — Passo meus dedos por seu cabelo grosso. — Não
quero que a minha mãe descubra agora. Por favor?
Ele grunhe contra a pele da minha barriga, parecendo desanimado.
Mas quando sua cabeça levanta para me encarar, ele acena positivamente,
se dando por vencido.
— Depois que entrarmos de férias e a temporada acabar, quero você
só pra mim. Podemos ir para Nova York de novo ou talvez até para outro
país. Mas não vou sair de dentro de você por nada no mundo, Cecília. Estou
falando sério.
Sorrio contra os seus lábios, me sentindo muito tentada com sua
ideia.
Seus beijos se tornam mais exigentes e possessivos conforme vamos
tirando nossas peças de roupa, em um misto de afobação e adrenalina. Eu
não deveria me sentir tão excitada com a ideia de ser pega a qualquer
momento, mas, porra, saber que estamos fazendo isso escondido está me
deixando louca.
— Você é uma diabinha mesmo, não é? — Baron sussurra no meu
ouvido, descendo a mão até a minha boceta. — Está molhada assim pra
mim, meu amor? Para o cara que você disse por aí que é seu irmão?
— Sim…
— O que a sua mãe diria se visse você assim? — Ele morde meu
lóbulo quando seus dedos encontram o meu clitóris e, porra, estou
começando a ver estrelas. — Toda molhada e pronta para me receber? Acho
que ela diria que estamos nos dando bem, afinal.
Maldito. Como ele pode me acariciar tão suavemente enquanto diz
as maiores baixarias pra mim?
Baron Donovan é satã encarnado.
— Por favor. Eu preciso… — imploro com a voz ofegante.
Ele sorri.
— Do que você precisa?
Lambo o lábio suavemente, desviando meu olhar para a minha porta
entreaberta.
Se a minha mãe passar nesse corredor agora…
— Preciso de você dentro de mim. Agora.
Eu nem preciso pedir duas vezes.
Baron abaixa a calça que está usando até metade das coxas, o pau
saltando livre. Minha boca enche de água ao vê-lo manusear seu membro
até a minha entrada, pincelando algumas vezes antes de me preencher de
vez.
Nós dois gememos baixinho, as bocas se roçando enquanto
tentamos ser silenciosos.
— Puta que pariu, Cecília… — Ele aperta meus quadris
vigorosamente, metendo com força. — Que porra você está fazendo
comigo?
A eletricidade entre nós dois é palpável, assim como a química. Eu
balanço a cabeça, atordoada demais com o arrepio de prazer que toma conta
do meu corpo para responder a ele.
Baron enfia seu pau com mais força, seus quadris se chocando com
o meu. A minha cama começa a fazer barulho e nós dois nos entreolhamos,
em choque.
— Você precisa ir mais devagar — sussurro, dando um beijo no
canto de sua boca. — Vai acabar chamando atenção demais.
Baron fecha os olhos com força, respirando pela boca. Ele parece
estar reunindo todo o autocontrole que tem para não me foder
violentamente nessa cama, sem se importar com o barulho que estamos
fazendo.
— Tira essa blusa pra mim — ele pede e eu obedeço.
Não costumo usar sutiã quando estou em casa, então meus seios
ficam expostos para ele. Baron geme, parecendo um homem torturado, e
abaixa a cabeça para capturar um mamilo com a boca.
— Isso, assim… — murmuro, acariciando seu cabelo.
Ele chupa suavemente, mas depois começa a fazer movimentos
circulares com a língua ao redor da aréola. Preciso morder a minha boca
para não gemer em voz alta e Baron percebe isso.
Ao levantar o rosto, ele diz:
— Vou comer você bem devagarzinho para os nossos pais não
escutarem. Mas quero você disponível amanhã depois do jogo. Preciso ter
tempo para chupar a sua boceta e comer você aqui atrás… — Seu dedo
escorrega até a minha bunda e eu arregalo os olhos.
Nunca fiz isso antes, mas o que me deixa mais surpresa não é a
sugestão de Baron. Mas sim como o meu corpo reage a isso: com
expectativa.
— Você gosta da ideia, não é? — Ele sorri como um diabinho, os
olhos brilhando com um tipo de emoção desconhecida para mim.
Minhas bochechas esquentam quando eu aceno afirmativamente
para ele. Baron não esconde a presunção no rosto, afundando as unhas na
minha cintura ao meter com força mais uma vez.
Ele segura a cabeceira da minha cama, concentrado em me comer
sem chamar muita atenção. Eu o ajudo, erguendo meus quadris para
encontrar suas investidas, jogando a cabeça para trás e apertando meus
próprios seios em busca do meu orgasmo.
— Porra, amor. Se você conseguisse ver o quanto está gostosa
fazendo isso…
Estimulada por suas palavras, eu continuo me tocando.
Baron entra e sai de mim, e minha lubrificação começa a escorrer
entre nós. Estou molhada pra caralho e esse barulho é impossível de
camuflar.
Quando seu rosto se retorce em uma expressão de quase dor, eu
fecho os olhos, fazendo movimentos circulares no meu clitóris para
alcançá-lo. Baron goza em mim, o rosto escondido no meu pescoço
enquanto ele tenta abafar os sons.
Agora não podemos nos importar menos com o barulho.
A minha cabeceira está batendo na parede, mas foda-se, porque não
pediria para Baron ir mais devagar com as estocadas jamais. Não quando
estou sentindo sua porra escorrer em mim, prester a ter o melhor orgasmo
da minha vida.
— Quero sentir sua boceta gozar no meu pau, amor. Deixe vir — ele
pede com a voz satisfeita.
E eu deixo.
Meu corpo estremece quando Baron leva as mãos até o meu
pescoço, apertando-o enquanto o orgasmo me engolfa em ondas violentas.
Meus olhos reviram e um gemido começa a escapar de mim.
Ele coloca a mão na minha boca, metendo sem parar.
Baron só para quando minhas pernas caem de seus quadris de volta
na cama, sem forças. Meu corpo está dolorido da forma mais deliciosa
possível quando ele sai de dentro de mim, me puxando para o seu peito.
Ele beija a minha testa, carinhoso. Eu suspiro.
— Não aguento mais ter você só assim — ele lamenta. — Quero
gritar por aí que você é minha.
— Você meio que já faz isso na universidade — zombo, traçando
círculos em sua pele suada.
Ele me segura com força, me fazendo encará-lo nos olhos.
— Temos que contar para a sua mãe, Cecília.
Respiro fundo.
— Eu sei. E nós vamos… É só que tem tanta coisa acontecendo.
Não quero que ela fique estressada por causa disso.
Baron trava o maxilar, desviando o olhar do meu. Seu rosto não
demonstra nada e a máscara blasé de sempre está de volta.
Ótimo.
— Vamos fazer assim — eu continuo, puxando o lençol para nos
cobrir. — Depois do casamento a gente conta. Pode ser?
Ele não parece completamente satisfeito, mas balança a cabeça em
concordância.
E eu respiro fundo, aliviada.
Eu era tão pura quanto um rio
Mas agora acho que estou possuída
Você colocou uma febre dentro de mim
Haunting | Halsey

— Não estou acreditando nisso — Lucy resmunga, com os ombros


cabisbaixos. — Como acabamos parando aqui?
Ela está se referindo ao fato de estarmos novamente sentadas na
arquibancada para um jogo dos Angry Sharks. A diferença é que agora
estamos em um lugar muito melhor, praticamente na frente da grade de
proteção.
Dou de ombros.
— Eu comecei a namorar o capitão do time. E aí, qual a sua
desculpa?
As bochechas dela começam a corar.
— Kaden me convidou — explica, virando novamente para o jogo.
— E eu acabei percebendo que era melhor aceitar. Talvez assim ele me
deixe em paz por aí.
— Sua danadinha… E nem me contou nada sobre isso.
Ela bufa, coçando a nuca.
— Você também não me conta os detalhes sórdidos de como está o
seu romance com o seu irmão postiço. Embora eu entenda o apelo, o cara é
maluco.
— Apelo?
— De ser sexy e proibido. Essa é uma fanfic que toda garota com
pais separados já fantasiou um dia. Ganhar um irmão postiço gostoso que
invade nosso quarto de madrugada — ela tira sarro, revirando os olhos. —
Mas o Baron é um pouco esquisito com você.
E ela tem razão.
Baron me deu algumas pistas sobre o motivo de ter ficado tão
obcecado por mim, mas nada tão claro. Preciso conversar com ele e
entender o que o fez se sentir meu dono desde o início, ao ponto de me
perseguir e fazer da minha vida um inferno por não querer ceder.
— Nós estamos nos resolvendo. Percebi que não conseguiria lutar
contra por mais tempo — respondo, quando a torcida ao nosso redor vibra,
animada.
Hoje estamos em Los Angeles para o jogo dos Angry Sharks contra
os Tigers Ink. Esse time aparentemente é nosso rival também no beisebol. O
rei do home run de Granville, Nate O’Connel, foi o responsável por
eliminá-los dois anos atrás e, bem, desde então eles têm uma mágoa
diferente da nossa universidade.
O jogo não está fácil. Começamos bem, com um gol de Kaden que
fez Lucy abrir um sorriso, embora ela negue. Mas logo o capitão do time
rival conseguiu um empate e agora estamos indo para o terceiro tempo com
1x1.
— Eu não sei como você conseguiu ficar com ele depois do que
aconteceu com o Noah. O cara te chupou para marcar território — ela
sibila.
É, eu acabei contando sobre isso para Lucy.
Ela ficou completamente sem palavras, o que era de se esperar. Só
piorou quando soube que, depois disso, começamos a ficar juntos pra valer.
Fiquei com medo de como seria encarar Noah Ricci novamente, mas
ele não parecia transtornado de nenhuma forma. Nossos olhares se
encontraram quando ele entrou no rinque e o maldito lançou uma
piscadinha para mim.
Uma. Piscadinha.
Ainda bem que Baron não estava por perto para ver ou teríamos
uma parte dois daquela noite.
Se bem que… Não foi ruim. Eu jamais pensei que seria adepta ao
voyeurismo e definitivamente não está nos meus planos fazer algo parecido
no futuro, mas quem é que sabe?
— Vocês dois são estranhos e ponto final — continua Lucy,
balançando a cabeça. — Nada contra o fetiche de ninguém, mas, às vezes,
eu me pergunto se Baron não tem razão. Vocês devem ter sido feitos um
para o outro mesmo.
Um empate não é tão ruim, mas também não é motivo de
comemoração.
Ainda assim, quando Kaden sugere um restaurante de carnes para
irmos depois do jogo, todos nós topamos. Hunter diz que está cansado e que
prefere dormir, e depois que os outros dois voltam do vestiário de banho
tomado e com roupas limpas, vamos até o Jaguar de Baron.
Eu dirigi o carro dele até aqui e o treinador o dispensou de voltar no
ônibus de volta a Granville.
Estamos a caminho, ele dirigindo o próprio carro, eu no banco do
carona e o novo casalzinho no banco de trás. Nem preciso virar o rosto para
saber o que eles estão fazendo, porque o barulho molhado já me diz tudo.
Baron leva a mão até a minha coxa, apertando com força. Sei o que
ele quer e preciso me concentrar em qualquer outra coisa para não pular em
seu colo e causar um verdadeiro acidente.
Pego meu celular e abro meu Instagram.
— Quem é essa? — ele pergunta, acenando na direção do aparelho.
Minha prima acabou de postar uma foto nova e ela está
completamente deslumbrante com o cabelo loiro e os lábios vermelhos.
— É a minha prima Paula.
Baron assobia.
— Ela parece com você.
— Eu vou encarar isso como um grande elogio, já que ela parece
uma modelo.
Ele sorri, voltando o olhar para a estrada.
— Eu quero conhecer a sua família do Brasil.
— E você vai. Embora eu precise te alertar… Nada de dizer coisas
como “você me pertence” perto deles. E principalmente da minha prima
Paula. Ela provavelmente vai chutar a sua bunda de volta para o seu país.
— Acho que agora eu entendi de onde você puxou essa língua
afiada.
Eu abro um sorriso meigo.
— Você não faz ideia.
O restante do trajeto até o restaurante é tranquilo e a noite é mais
agradável do que eu pensei que seria. Kaden consegue ser uma ótima
companhia quando não está me seguindo por aí ou ameaçando a minha
melhor amiga e essa constatação me faz sorrir.
Ele rouba um beijo de Lucy no meio do jantar e embora a minha
amiga tenha revirado os olhos, é nítido que gostou do gesto. De uma
maneira bastante peculiar, eles formam um casal bonitinho.
— Quero te levar pra casa logo — Baron sussurra no meu ouvido
assim que nossos pratos chegam e eu arrasto meu pé por sua panturrilha
embaixo da mesa.
Nós comemos quase correndo e se Lucy e Kaden se incomodam
com isso, não dizem nada. Os dois também parecem desesperados para
voltar para casa.
Se me dissessem que alguns meses depois desses dois idiotas terem
destruído nosso quarto no alojamento estaríamos aqui, em um jantar pós-
jogo com eles, eu teria rido descontroladamente.
A vida é engraçada.
Depois que terminamos de jantar, Baron deixa Kaden e Lucy em um
dos hotéis da família dele. Eu o encaro, surpresa com o gesto, enquanto ele
só dá de ombros.
— É nítido o quanto eles querem passar um tempo sozinhos. Ela
tem uma colega de quarto e ele mora em uma fraternidade, então… — ele
finaliza, sem jeito.
Eu cruzo os braços, balançando a cabeça.
— Você é mesmo um bom amigo pra ele, Baron.
Ele não responde mais nada, mas a vermelhidão em seu pescoço me
diz o quanto ele ficou sem graça.
O clima hoje está tão perfeito que pareço estar vivendo em um
sonho.
Baron abre a porta do quarto para mim como um cavalheiro e ao
darmos as mãos, ele beija a minha palma com devoção.
Mas é claro que algo deveria estragar tudo.
Ninguém pode viver em um sonho para sempre.
E o nosso, na verdade, acaba de se transformar em um pesadelo.
Porque assim que abrimos a porta, nos deparamos com Alexander
Donovan e Briana abraçados.
Ela está com o rosto em seu peito, soluçando.
Ele está com nariz em seus cabelos loiros, beijando com calidez.
As mãos dela estão ao redor da cintura dele.
Ele passa os dedos suavemente sobre as costas dela.
E Baron parece a porra de uma estátua do meu lado, tão chocado
quanto eu, enquanto encaramos o que eu acredito que seja aquilo que eu
suspeitei desde o início.
Minha mãe está sendo traída.
E o canalha do seu futuro marido nem se preocupou com seus
sentimentos, trazendo a amante para dentro da própria casa.
— O que está acontecendo aqui? — eu pergunto com a voz trêmula.
Os dois se soltam na mesma hora, o olhar culpado e chocado em
seus rostos só me deixando com mais raiva ainda.
Briana é a primeira a se afastar, erguendo as mãos como quem diz
“olha, a culpa não foi minha”. Alexander, por outro lado, só abaixa a
cabeça, suspirando.
— Não achamos que vocês voltariam tão cedo — ele murmura, sem
um pingo de emoção na voz. — Não é o que vocês estão pensando.
— Então que merda está acontecendo aqui? — eu grito, dando
adeus à compostura que eu já não tinha. — Você não é obrigado a se casar
com a minha mãe, mas deveria respeitá-la.
Baron está calado ao meu lado e eu viro o rosto em sua direção em
busca de apoio. Ele não é o fã número um da minha mãe, mas não é
possível que continue do lado do pai.
Briana tem a nossa idade. Isso não o incomoda nem um pouco?
— Eu disse que era pra você se manter longe — ele sibila,
encarando Briana com um brilho sádico no olhar.
Eu estremeço ao assisti-lo intimidá-la. Já faz tanto tempo que ele
não precisa mais usar essas armas…
— Sinto muito, Baron. Não posso me afastar — ela o enfrenta,
embora esteja com os ombros caídos. — Podemos explicar tudo.
Ele abre um sorriso mordaz, amargo.
— Não quero ouvir explicações suas e muito menos dele. Acho que
a Suzan deveria recebê-las. Quem sabe onde ela pode estar agora, hein?
Alexander estreita os olhos.
— Baron, não.
— Não o quê, hein? Não ao fato de que além de você ser um merda
de pai, ainda é um marido de merda? Não foi o suficiente intimidar a minha
mãe, fazê-la a mulher mais infeliz do mundo e não dar a liberdade que ela
tanto queria, você quer repetir a dose com outra mulher? — sua mandíbula
está tensa enquanto ele continua falando. — Você é um psicopata.
Briana abre a boca, mas as palavras não saem. Alexander, por outro
lado, apenas balança a cabeça.
— Você não sabe de nada, Baron. Suas lembranças são
completamente distorcidas da realidade. E eu não preciso ficar aqui e
escutar tudo isso na frente de uma desconhecida.
A frase me atinge mais forte do que um tapa.
Uma desconhecida.
Essa sou eu, no caso. A filha da mulher que ele prometeu amar, que
colocou uma aliança no dedo, mas que agora não passa de uma intrusa.
Baron passa os braços fortes ao meu redor, me puxando em sua
direção como se isso fosse me proteger de seu pai.
Ele mostra os dentes para Alexander, ameaçador.
— Se você se referir a ela assim mais uma vez, vamos ter um sério
problema. Não fui até a polícia te denunciar porque pensei que poderíamos
resolver isso em família, mas eu juro por Deus que vou ligar para o banco
agora mesmo. Vou denunciá-lo por roubo. — Ele vira o rosto lentamente
para encarar a Briana. — E você por estelionato. O que está fazendo aqui na
minha casa, porra? A única desconhecida aqui é você.
Espera… Do que ele está falando?
Ela arregala os olhos, a mágoa brilhando em seu olhar.
Passo a mão sobre as costas de Baron, tentando chamar sua atenção
desesperadamente. Estou magoada e chocada demais com o que eu acabei
de presenciar, mas partir para a agressão verbal não é o melhor caminho.
E quando penso que não tem como isso piorar mais, Brandon surge
na sala de estar. Ele está sem camisa e com o cabelo molhado, o que me diz
que acabou de sair do banho.
Que maravilha.
— O que está acontecendo? — ele pergunta, franzindo o cenho.
Baron não perde a oportunidade.
— A sua namoradinha estava agarrada no papai, Brandon. Acho que
agora é um bom momento para mencionar os depósitos que ele tem feito
para Briana tirando dinheiro da nossa conta, não é?
Puta merda.
Não estava esperando por essa.
Brandon prende a respiração, desviando o olhar do pai para Briana
como se tivesse acabado de levar um soco.
Bem-vindo ao clube, amigão.
— Pai… Isso é verdade?
Alexander coloca as mãos nos quadris, os ombros para baixo.
Quando ele levanta o rosto, uma expressão de pesar parece permanente em
suas feições.
Ele balança a cabeça.
— Não queria que fosse assim, mas não tenho escolha. Eles
precisam saber, Bri. Não posso mais esconder isso deles.
Baron intensifica o aperto de seu abraço ao redor do meu corpo,
tenso.
— Saber o quê, porra?!
Seu pai o encara.
— Saber tudo o que aconteceu e entender o motivo de eu estar
dando dinheiro para Briana. Mas quero conversar somente com os meus
filhos. Entendido?
Ele parece querer argumentar, mas eu puxo seu braço para que ele
possa me encarar.
E então balanço a cabeça suavemente.
— Vocês precisam conversar, Baron. Vou te esperar no andar de
cima, tudo bem?
Meu namorado não parece completamente satisfeito, mas balança a
cabeça mesmo assim.
E então eu o assisto seguir atrás do pai, tenso, com a expressão
mortal de quem diz “estou pronto para matar alguém”.
Há coisas sobre as quais quero conversar,
mas é melhor eu esquecer
Mas se você me abraçar sem me machucar
Você será o primeiro a fazer isso
Cinnamon Girl | Lana Del Rey

O escritório do meu pai sempre foi um território proibido para nós.


Enquanto eu crescia, aprendi a temer ele pelo que fazia com a minha
mãe. Eu odiava vê-la chorar e aprendi que se eu obedecesse as malditas
regras dele, meu pai a deixaria em paz.
Isso até o dia que ela tentou fugir.
Eu ainda me culpo por ela ter sido pega. Se eu não tivesse
encontrado ela na cozinha saindo de fininho naquela noite, ela teria sido
livre.
Porque ao meu escutar, ela parou. E não conseguiu me deixar para
trás.
Nossa fuga não durou muito tempo, no entanto. Meu pai nos
encontrou quando estávamos no limite da cidade, prestes a deixar toda a
merda que nos cercava para trás.
O policial me pegou à força, mesmo quando gritei dizendo que
queria continuar com a minha mãe, que estava indo por livre e espontânea
vontade.
Quando voltamos para casa, tudo mudou. Minha mãe acabou
parando em uma clínica psiquiátrica e alguns anos depois descobriu a
leucemia. Foi tudo tão rápido que eu nem tive tempo de me despedir
realmente dela.
Mas tive todo o tempo do mundo para cultivar o ódio que eu sentia
do meu pai.
Grande parte da nossa fortuna vinha do lado da família da minha
mãe. A receita que fez a NicyD virar uma franquia de doces mundialmente
famosa veio do meu avô paterno e ele patenteou a receita. Quando minha
mãe faleceu, tudo isso se tornou do Brandon e eu.
E então eu tinha armas para lutar contra o meu pai.
Foram anos odiando ele, odiando a minha vida, querendo
desesperadamente voltar no tempo e ficar no meu quarto ao invés de descer
as malditas escadas.
Se eu não tivesse descido, ela teria sido feliz.
Crescer sem esperança me tornou um homem de muito rancor.
Descontei toda a minha raiva no esporte, extravasando todos esses
sentimentos no gelo com o taco na mão.
E quando eu fiz dezesseis anos, ela apareceu.
Briana Simons.
A vizinha de sorriso brilhante. A garota cuja risada eu conseguia
ouvir a quilômetros de distância e a nova líder de torcida da minha escola.
Fui um babaca com ela desde a primeira vez que a vi. Não entendo
como ela pôde insistir em uma amizade comigo e hoje quando eu paro para
pensar a respeito, fico ainda mais confuso. Nunca tratei Briana como eu
deveria ter tratado.

seis anos atrás

Briana estava com as pernas cruzadas em cima da minha cama,


com o notebook aberto em cima do colo. Ela passava o dia lendo o blog de
uma garota que compartilhava seus sentimentos nas redes sociais para
qualquer maluco ver e eu sinceramente não entendia.
— Essa menina é incrível, Baron. Você deveria dar uma olhada.
Deveríamos estar estudando para uma prova de matemática que
teríamos no dia seguinte, mas ela não saía da internet.
Briana não andava muito bem na escola, e se continuasse assim,
iria ter que sair do time de líderes de torcida. Acho que era por isso que a
mãe dela sempre gritava tanto quando ela chegava em casa.
— Se você parasse de ler essa porcaria e se concentrasse em
aprender isso aqui… — Apontei para o livro aberto na minha escrivaninha.
— Conseguiria passar em matemática.
— Ei, isso aqui não é uma porcaria. E você deveria ler, Baron. Essa
menina só tem onze anos, mas tudo o que ela escreve eu consigo sentir.
Nunca teve uma conexão assim com ninguém?
Ela me lançou uma piscadinha e eu precisei desviar o olhar.
Briana sempre me enviou sinais de que gostava de mim, e embora
fosse a minha melhor amiga, não é a pessoa que eu imaginava beijando.
Fazia isso com as meninas que eu não me importava, mas não com ela.
Nunca com ela.
Jamais a trataria assim.
Briana Simons era a minha única amiga de verdade. Ela era a
única que eu podia confiar, e de vez em quando, me peguei incomodado
quando ela estava próxima de outros meninos.
Por que ela queria estar com outros se tinha a mim?
Minha personalidade nunca foi fácil de lidar, mas Briana não se
importava. Para ser sincero, ela parecia gostar de me fazer ciúmes. E por
conta disso, começou a me provocar em toda a chance que tinha.
Mas o meu incômodo nunca era físico e sim emocional. Ela era a
minha única amiga, caramba. Não podia ter essa conexão com outros
caras, podia?
— Ei, Bri, você está livre essa noite? — Meu irmão foi entrando no
meu quarto como se fosse dele.
Eu apenas revirei os olhos.
Brandon não era tão popular na escola como eu e isso parecia
irritá-lo. Entrou para o time de basquete porque queria chamar atenção e
agora estava correndo atrás da Briana como se a minha popularidade
fosse por causa da líder de torcida.
Patético.
— Tenho que terminar de estudar, Bran. — Ela fez um biquinho
para ele. — E o Baron não parece disposto a me liberar.
— Meu irmão é sempre um chato. — Brandon coloca a língua para
fora. — Mas o que você me diz de amanhã?
Me coloquei de pé, cruzando meu quarto em passos largos.
— Eu digo que é melhor você sair do meu quarto, Brandon. Não
estou com muita paciência hoje.
— E desde quando você está? — ele retrucou, se retraindo.
Nossa relação nunca mais foi a mesma desde que eu descobri que
ele foi o responsável pelo meu pai ter encontrado minha mãe e eu em nossa
pequena fuga.
Pensei que Brandon estava dormindo, mas não. Ele nos viu sair e
foi correndo acordar o meu pai, que mobilizou a porra da cidade inteira
para nos encontrar.
— Vou me despedir de você antes de ir embora, Brandon — Bri
avisou, acenando com a mão.
Meu irmão anuiu em concordância antes de ir embora.
E eu bufei, irritado, sentando-me novamente na frente do
computador.
— Não precisa sentir tanto ciúmes, Baron — Briana cantarolou,
voltando o olhar para a tela sobre o seu colo. — Eu sou toda sua.
Toda minha.
Não sei o porquê, mas essa frase não me deixou muito feliz.
Eu gostava da Briana, mas como a minha melhor amiga. Ela era a
única que sabia sobre tudo, inclusive lhe dei detalhes de como foi a pior
noite da minha vida. Ela sabia o motivo de eu odiar o meu irmão e o meu
pai.
E é por isso que eu me irritava quando ela demonstrava muito
interesse em algum deles. Não gostava de pensar que alguém que eu
confiava tanto poderia sentir qualquer afeição pela dupla responsável por
acabar com a minha vida.
Nossas tardes eram sempre as mesmas. Ela vinha até a minha casa,
eu a esperava ansioso e estudávamos por um tempo. Isso até começarmos a
assistir filmes e séries, e depois de um tempo, começamos a correr pelo
quarteirão também.
Eu sempre enchia o saco dela para praticar exercícios físicos até
durante o final de semana.
— É por isso que você vive tendo espasmos musculares — zombei,
quando ela pediu para descansar depois de uma volta. — Você só se
exercita quando vai aos treinos das líderes de torcida, Bri. Isso não é
saudável.
Ela precisava respirar fundo para me responder, porque estava com
dificuldade de respirar.
— Você é um babaca, Donovan. O rei dos otários. Não se dá lição
de moral em uma mulher que está claramente morrendo.
Eu sempre gostei do humor dela e Briana sempre gostou de me fazer
rir.
Unimos o útil ao agradável.
Jamais me esqueci desse dia, no entanto. Ela estava ofegante, toda
suada, e eu sem camisa. Ofereci um pouco da minha água para ela e nossos
dedos se tocaram brevemente quando ela pegou a garrafa.
Não sei explicar quem tomou a iniciativa, mas aconteceu.
Nos beijamos.
Foi suave, um encostar de lábios que não me causou nenhum tipo
de arrepio. Mas quando ela se afastou de mim, sorrindo de orelha a orelha
como se tivesse acabado de beijar a porra de um princípe encantado, não
pude lhe dizer a verdade.
Não gosto de você desse jeito, Bri.
Não consegui.
Mas sendo sincero…
Nem precisei.
Porque no dia seguinte Briana Simons tinha sumido.
Como éramos vizinhos, eu sempre a via pela janela do meu quarto.
De repente, ela simplesmente desapareceu, mas a princípio não dei bola.
Ela vivia viajando para a casa dos avós, em Nashville, então pensei que ela
só tinha esquecido de me avisar.
Mas as semanas se passaram e Briana não apareceu em mais
nenhuma aula. As meninas da torcida vieram me perguntar sobre ela e eu
não tinha resposta.
Ela simplesmente evaporou.
Sumiu.
Como se nunca tivesse existido.
Como se fosse apenas alguma invenção da minha cabeça.
Mandei mensagens e ela sequer me respondia. Foram vários e-
mails pedindo desculpas por algo que nem sei se fiz, sentindo o meu
coração sangrar por perder a única pessoa que eu confiava de verdade.
— Elas se mudaram de volta para Nashville, Baron — meu pai me
disse enquanto jantávamos uma noite. — Briana se cansou dessa cidade.
Eu o encarei, sentindo o meu corpo congelar. Como ele poderia
saber algo sobre a Briana que eu ainda não sabia?
— A mãe dela me pediu ajuda — respondeu ele, como se não fosse
nada demais. — Vai ser melhor assim. Ela não estava conseguindo
alcançar a média na escola e vocês dois passavam tempo demais no quarto.
Agora vão poder se concentrar no que importa.
O garfo na minha mão entortou com a força com a qual eu o
segurava.
Eu odiava o meu pai.
Odiava com cada fibra do meu ser.
Só não pensei que Briana conseguiria ser o alvo de toda essa raiva
um dia também.
Ela não tinha culpa de ter ido embora quando sua mãe a levou. Mas
era completamente responsável por não me responder enquanto trocava
mensagens diariamente com Brandon.
Quando eu descobri que eles ainda mantinham contato, foi como
ser apunhalado no coração. A dor emocional foi tão forte que se
transformou em física e isso me deixou na merda. Quebrei o meu quarto
inteiro, inclusive a porra do notebook dela que estava esquecido em cima
da minha cama.
Mas, ao mesmo tempo… Caralho, eu estava com saudades.
Estava com saudades de ter alguém para conversar. Sentia falta de
ter Briana contando suas piadas sem graça e jamais admitiria isso para
alguém, mas eu também estava com saudade de suas reclamações quando
saíamos para correr.
Como ela pôde nos descartar como se não fôssemos nada?
Como se ela não fosse a minha melhor amiga, a única que sabia de
cada dor e mágoa que eu possuía?
Ela também me abandonou.
Mas eu não conseguia deixá-la ir.
Depois de descarregar a minha raiva, me abaixei para recolher o
que sobrou do computador dela. Estava todo estilhaçado, mas não
completamente quebrado.
E a tela mostrava o último site que ela tinha entrado.
A merda do blog que ela tanto amava, com os textos de uma pré-
adolescente reclamando da vida que mal havia começado.
O Mundo de Cecília.
Eu franzi o cenho ao ler a porra do nome, mas me agarrei a única
coisa que sobrou de Briana. A última coisa que compartilhamos juntos.
Os textos não eram nada demais, praticamente um diário on-line. A
garota só reclamava da escola, das amigas que não compartilhavam o
lanche na hora do recreio, dos garotos que a zoavam por usar aparelho nos
dentes.
Nada que fosse interessante de verdade.
Isso até eu achar uma “carta aberta” à sua mãe. Ela havia
publicado no Ano-Novo e disse ter escrito quando estava na praia com seu
pai. Ele tinha começado a namorar uma nova mulher e ela se despedia da
relação que jamais teria com a mãe biológica:

“Hoje é Ano-Novo e eu não queria te dizer adeus. Eu sei que se


você pudesse voltar no tempo, não teria feito as mesmas escolhas. Talvez eu
nem tivesse nascido! Mas obrigada, mãe. Porque mesmo não sendo o que
você sempre quis, você me deu o meu papai. E ele é o melhor pai do
mundo!
O único defeito dele é não saber pentear o meu cabelo tão bem. No
último Natal, eu fui com marias-chiquinhas tortas e um pouco do meu
cabelo ficou arrepiado, mas tudo bem. Meu pai está saindo com uma
mulher chamada Vanessa agora e ela sabe arrumar cabelos. Ela fez um
penteado lindo e um garoto do prédio vizinho me chamou pra sair.
Eu sou feliz. Mesmo que você nunca leia isso, eu precisava te
contar. Espero que você também encontre alguém que saiba arrumar os seus
cabelos, mamãe. E que te faça sorrir bastante.
Feliz Ano-Novo.”

Foi um texto infantil e sem muito nexo, apenas divagações de uma


adolescente que não tem um dos pais. Mas, de alguma forma… Suas
palavras mexeram comigo. Eu também tinha perdido a minha mãe e torcia
para que ela estivesse sendo muito feliz onde quer que ela estivesse.
Comecei a acompanhar os textos dela desde então. Ela não
publicava com tanta frequência, mas quando o fazia, eu lia tudo de uma
vez. A maioria deles era sempre reclamando de algo relacionado à escola,
mas eu continuei acompanhando mesmo assim.
Se tornou uma espécie de vício. Saber dos detalhes da vida dela me
aproximava de Briana, mesmo que de uma maneira distorcida.
Mas os anos se passaram e eu acabei entrando em Granville como
jogador de hóquei. A garota já não publicava quase nunca e no seu
aniversário de dezesseis anos publicou um texto sobre como foi beber pela
primeira vez.
“Foi horrível. A pior experiência da minha vida! Meu corpo é um
templo e eu vou precisar comer verduras pelo resto dos meus dias para me
desintoxicar de todo esse álcool.
Mas meu aniversário também me trouxe algo bom. Meu pai e a
Vanessa me deram uma máquina de costura de presente e agora vou poder
fazer meu próprio vestido de formatura! Minhas amigas também querem
que eu faça os dela, então acho que já descobri a minha verdadeira vocação.
Não bebam, crianças. Costurem!”

Esse me arrancou uma risada sincera.


Não resisti a mandar uma mensagem como quem não quer nada.
Ela me respondeu educadamente e trocamos algumas palavras pelos
comentários de seu texto.

Eu: Você não deveria beber antes dos vinte e um. Está produzindo provas
contra si mesma.
O Mundo de Cecília: No meu país, eu posso beber daqui dois anos. E
meus pais sabiam o que eu estava fazendo ;)

No meu país? Que porra era essa?

Eu: De onde você está falando?


O Mundo de Cecília: Sou do Brasil. Obrigada por me acompanhar!

Do Brasil? E escrevia os textos em inglês? Isso não fazia nenhum


sentido.
Foi então que tive a ideia de adicioná-la no Facebook. Eu não tinha
uma página, então precisei criar uma do zero. Coloquei uma foto minha
aos doze anos, onde estava usando um boné de beisebol e óculos escuros.
Na hora de escolher um nome, quase coloquei o meu.
Mas então parei.
Não queria ser fácil de ser encontrado. Desde que Briana foi
embora, eu troquei meu número e desativei o meu e-mail. Ela não tentou
entrar em contato comigo de novo, mas eu garantiria que fosse muito difícil
me achar caso ela voltasse atrás.
“B. Nicy” foi a minha escolha. O nome da empresa da minha
família também fazia referência ao “be nice” quando lido em voz alta.
Quanta ironia.
“Seja legal”. Essa merda não combina mesmo comigo.

Eu: Por que escrever um blog em inglês quando essa nem é a sua primeira
língua?

Não fui nada gentil na minha primeira pergunta, mas eu precisava saber.

Cecília Braga: Não quero que os meus pais descubram esse blog. Ele
começou como uma brincadeira, era só pra treinar o meu inglês. Estudei
em uma escola bilíngue e era um saco não ter ninguém para treinar. Além
disso, minha mãe mora nos Estados Unidos.

Espera… Como assim?

Eu: Sua mãe não está morta?


Cecília Braga: Não que eu saiba. Ela se mudou para outro país quando eu
era bem criança. Apareceu uma outra oportunidade e ela não estava mais
com o meu pai.
Eu: Mas e o seu texto do Ano-Novo? Parecia uma despedida.
Cecília Braga: E foi. Cansei de esperar por alguém que não vai voltar
mais. Hoje a minha mãe é a mulher com quem meu pai se casou. Talvez eu
envie esse texto pra ela um dia… Quero que ela saiba que sou feliz apesar
de tudo.

Comecei a digitar “por quê?”, mas parei. Talvez ela fosse uma pessoa
melhor do que eu, uma dessas que conseguia liberar perdão até para os
maiores filhos da puta que passaram por sua vida.
Eu não era assim.

Eu: Espero que um dia ela perceba a merda que fez.


Cecília Braga: Hahahaha, não se preocupe com isso! Eu estou realmente
bem <3

Os textos dela começaram a ficar cada vez mais raros, até que um
dia desapareceram de vez. Encontrei o Instagram de Cecília uma vez e,
porra… Ela estava crescida.
O cabelo chegava na metade das costas, a cintura fina se destacava
nas fotos que ela postava de biquíni, os olhos ficavam claros na luz do sol.
E, de repente, as palavras que ela publicava de vez em quando nos
stories eram a melhor parte do meu dia.
Qualquer migalha de uma foto sua era o suficiente para fazer o meu
coração morto voltar a bater.
Eu me sentia como a porra de uma adolescente apaixonada pelo
Harry Styles, inventando histórias e cenários imaginários enquanto
acompanhava alguém de longe. Vivendo por um amor platônico e
unilateral, sonhando com o dia em que se encontrassem e percebessem que
eram o amor da vida um do outro.
Minha obsessão. A garota que começou um diário na internet sem
saber que acabaria no meu radar.
E eu a queria.
E, porra… Eu a teria.
Isso era uma promessa.
No vale das bonecas nós dormimos
Tem um buraco dentro de mim
Vivendo com identidades
Que não pertencem a mim
Valley of the Dolls | Marina

Brandon se senta à frente do nosso pai, os ombros tensos. A


expressão no rosto espelha a minha: rancor.
Alexander Donovan esconde segredos demais.
— Não queria que tivéssemos uma reunião de família em público —
meu pai é quem começa, o rosto retorcido em desconforto.
Ele está se sentindo desconfortável? Por quê, porra?
Brandon solta uma risada amarga.
— Eu só quero saber o motivo das transferências. Briana nunca deu
sinal de que voltaria à cidade, mas de uns tempos para cá, parecia quase
obcecada pela ideia. Eu deveria ter desconfiado que alguma merda estava
acontecendo quando ela me disse que já tinha conversado com você e que
voltaria. Que porra está acontecendo, pai?
O incômodo surge na garganta ao me dar conta de que Brandon e
Briana se tornaram tão íntimos com o passar dos anos.
Mas faz sentido, afinal.
Os dois traidores.
— Antes de mais nada, quero que saibam que tudo o que eu venho
fazendo é para o nosso próprio bem. Nossa família não é comum, nós
somos uma empresa.
— Tudo isso pra nos dizer que está comendo a namoradinha do seu
próprio filho, velho? — bufo, já sem paciência para toda a conversa fiada
dele. — Vá direto ao assunto.
Os punhos de Alexander ficam cerrados, mas ao contrário do que eu
poderia pensar, ele não vem usá-los em mim.
Ele respira fundo, se recompondo.
— Vocês não devem se lembrar com detalhes de como foi quando
Briana Simons se mudou para a casa ao lado, mas foi uma surpresa infeliz.
Na verdade, a história começa um pouco antes disso. — Ele faz uma pausa.
— Eu as conheci em uma festa. A mãe de vocês estava usando um vestido
preto e isso chamou a minha atenção. Claro, não tanto quanto o da melhor
amiga dela. As duas cresceram juntas e se tornaram inseparáveis, e naquele
verão pareciam dispostas a encontrar rapazes. A mãe de vocês foi mais
incisiva, me chamou para sair e até me convidava para conhecer homens
poderosos que poderiam mudar a minha vida. — Ele ri, sem vida. — Mas
não importava o que ela fizesse, eu não conseguia esquecer a garota de
vestido rosa que estava acompanhando ela naquela maldita noite. Quando
estava começando a escurecer, eu a encontrei jogando moedinhas em uma
fonte. Um movimento tão simples não deveria chamar tanto a minha
atenção, mas chamou. Ela me disse que queria ter uma família, que esse era
seu maior sonho… — Meu pai pisca rapidamente, pigarreando. É como se a
lembrança fosse dolorosa demais. — Os pais dela ainda eram vivos e
estavam casados há mais de vinte anos. Tudo o que ela queria era ter o
mesmo destino.
— E o que isso tem a ver com a Briana? — Brandon interrompe,
frustrado.
Que boa maneira de cortar um clima.
Meu pai não parece ligar, se sentando com toda a calma do mundo
na cadeira de couro que mandou fazer sob medida para o seu escritório. Ele
não faz ideia das brincadeiras que Brandon e eu já inventamos e que quase
acabaram com esse móvel.
— Durante aquele verão eu acabei me envolvendo com as duas. Não
é algo da qual eu me orgulhe, mas foi inevitável. A mãe de vocês sempre
conseguia o que queria, mas meu coração pertencia a outra. Tudo parecia se
encaminhar para uma verdadeira tragédia, mas o meu próprio pai interveio.
Eu precisava decidir.
Escutar da boca do canalha que ele traiu a minha mãe muito antes de
serem casados não deveria me surpreender, mas estranhamente o faz. E,
porra, eu quero muito socá-lo por isso.
— Eu não escolheria a mãe de vocês, meninos — ele diz, com a
cabeça baixa. — Eu pretendia fugir com a mulher que eu amava de
verdade.
E então as peças parecem se encaixar perfeitamente.
Quando os meus pais se casaram, minha mãe já estava…
— Grávida — eu disparo. — Minha mãe engravidou, não foi?
Meu pai assente.
— Me preparei para contar a verdade e dizer a minha escolha, mas
ela… — Ele massageia as têmporas, como se revivesse o momento. — Ela
não era uma pessoa que sabia lidar com a palavra “não”. E estava grávida…
Não tive escolha. Precisei me casar — suspira. — Embora eu estivesse com
o coração partido, realmente acreditava que poderia fazer aquele casamento
funcionar. Mas depois que vocês nasceram, as coisas não ficaram melhores.
Ela estava sempre bebendo e com o tempo deixou o rancor crescer. Mal nos
olhávamos dentro de casa, mas ela se recusava a me dar o divórcio. Eu era o
prêmio que ela tinha disputado e ganhado, e não aceitaria me ver com outra.
Era o que sempre me dizia… — sibila, irritado. — Fiz meus próprios
investimentos e já tinha dinheiro o suficiente para viver confortavelmente,
então pedi o divórcio.
Ele pediu o divórcio? Isso não faz sentido.
Era ela que queria fugir. Ela que não aguentava mais.
— Você é um mentiroso — rosno, batendo com a mão em sua mesa.
— Era a minha mãe que não suportava você. Era ela que queria ir embora!
— Ela não queria se divorciar, Baron. E começou a usar a única
coisa que ela sabia que podia me fazer ficar. — Ele sobe o olhar para
encontrar o meu. — Você.
O quê?
Nem. Fodendo.
— Você não vai sujar a imagem da minha mãe.
— Não quero sujar, filho. Não é essa a questão — começa a se
explicar em meio a um suspiro cansado. — Eu não fui tão presente como
deveria e por isso mereço todo o seu ódio. Mas eu nunca encostei um dedo
na sua mãe, Baron.
— Nos últimos dias ela vivia com manchas pelo corpo!
— As lesões eram causadas pela doença. Quando começaram a
surgir, eu disse a ela que deveria investigar, mas a sua mãe não me escutou.
Ela preferiu usar as manchas para dizer que eu tinha começado a bater nela.
— Vocês viviam gritando um com o outro. Ela sempre precisava
fugir de você e…
— Papai não encostava nela, Baron — é o meu irmão que me
interrompe, a expressão resignada. — Um dia, eu a vi gritando na cozinha.
Acho que ela não percebeu a minha presença, então começou a gritar como
se o papai estivesse segurando ela. Foi muito estranho.
Eu viro meu rosto para ele, fervendo de ódio.
— Isso não te dava o direito de fazer o que fez. Eu estava indo
embora com a mamãe e você chamou ele — cuspo, irritado. — Foi culpa
sua!
— Baron, a mamãe estava sequestrando você, seu idiota! —
Brandon explode, pulando da cadeira. — Ela estava levando você! Tentou
me arrastar para o carro também, mas eu me escondi. Foi só por isso que eu
não fui.
Também me coloco de pé, ansioso para descontar todo o meu ódio
no rosto do meu irmão mais novo.
— Seu mentiroso filho da puta! Ela não queria levar você, ela estava
indo sozinha! Eu apareci e ela não conseguiu me deixar para trás. É por isso
que você se ressente tanto de mim, não é? Porque sabe que ela nunca amou
você como me amou!
Brandon recua, os olhos brilhando com a mágoa.
Meus punhos cerrados permanecem ao lado do meu corpo. Nem
precisarei usá-los em meu irmão hoje; minhas palavras já estão fazendo
estrago o suficiente.
— Não faço ideia do tamanho da lavagem cerebral que ela fez
contigo, mano — diz ele, por fim. — Mas acho que está na hora de acordar
para o mundo real e parar de acreditar em contos de fadas. A mamãe estava
querendo nos colocar contra o nosso pai. Ela mentia sobre as agressões,
sobre as traições e sobre estar sendo forçada a ficar em casa. Tudo naquela
noite foi arquitetado, caramba. Ela estava esperando a gente descer e
quando te viu, ofereceu que você fosse com ela. Seu medo de ser
abandonado pela mamãe era tão grande que nem pensou duas vezes antes
de pegar aquela mochila e correr até ela. A mochila já estava pronta, Baron.
Será que isso nunca te fez pensar por um segundo? Por que as suas coisas
estavam arrumadas?
Por que as minhas coisas estavam arrumadas? Que merda de
pergunta era essa?
Forço a minha mente a trabalhar, voltando para aquela maldita noite.
A noite que arruinou tudo.
— Ela deixou uma carta. — A voz do meu pai se sobressai.
Eu ergo meu queixo, orgulhoso, embora esteja sentindo como se
uma faca perfurasse o meu coração.
— Uma carta?
— Ela deixou na minha mesa aquela noite. Só encontrei depois que
consegui trazer vocês dois em segurança. Sua mãe… Não estava bem,
Baron. Quando a trouxemos de volta, ela acabou passando por uma bateria
de exames. Descobriu a doença e o resto você já sabe.
Meu maxilar está começando a doer por causa da pressão.
— Você sabia dessa carta? — pergunto, me virando para encarar
Brandon.
Meu irmão nega lentamente com a cabeça.
— Nunca mostrei essa carta para ninguém — meu pai responde,
cabisbaixo. — Nem mesmo para os policiais. Eu não queria que vocês
tivessem uma lembrança ruim da mãe de vocês. Principalmente você,
Baron.
Apoio minhas mãos em sua mesa, ficando cara a cara com ele.
Não preciso da pena dele. Nunca precisei.
Minha mãe pode não ter sido a melhor do mundo, mas ela me ouvia.
Ela me levava para sair, ela lia histórias antes de eu dormir, ela sussurrava o
quanto me amava todas as noites.
Ele não. E isso dinheiro nenhum compra.
— Quero ver essa carta — aviso, apontando o dedo para ele. — E se
eu perceber que a letra não era dela…
— Ela escreveu uma carta de despedida, Baron. O que ela faria
aquela noite… — Meu pai estremece. — Não é algo que você deseja ler.
Por favor, confie em mim.
Solto uma risada amarga.
— Confiar em você? Por que eu deveria? Até agora não faço ideia
do motivo de continuar enviando dinheiro para a Briana ou o que a minha
mãe tem a ver com isso.
Ele parece consternado, apenas balançando a cabeça como se eu
tivesse razão.
Depois de alguns segundos em silêncio, ele continua:
— Briana é minha filha.
E de repente, o meu mundo para de fazer sentido.
Meus pulmões devem estar funcionando bem, mas eu jamais
poderia dizer por mim mesmo.
Não consigo respirar.
O ar simplesmente não existe ao meu redor e ao escutar o grunhido
de Brandon, tenho certeza de que ele se sente da mesma forma.
Isso não pode estar acontecendo, porra.
— Briana Simons não é a sua filha! — meu irmão se exalta, o
pescoço começando a ficar vermelho.
Mas o olhar envergonhado do meu pai me diz mais do que suas
palavras. Ele parece estar querendo sumir.
— A mãe dela… Era a melhor amiga da mãe de vocês. As duas
engravidaram juntas naquela época, mas eu não sabia. Só descobri a
respeito de Briana quando as duas se mudaram para cá. Ela… — Ele faz
uma pausa. — Ela alugou a casa do lado com a ajuda dos pais. Queria que
vocês se aproximassem e também achava que estava na hora de Bri
conhecer o pai. Tudo estava ocorrendo bem, até que eu vi vocês dois no
jardim. Se beijando. — Ele retorce o nariz. — Concordamos que o melhor
era mandá-la de volta para seu antigo Estado. Briana descobriu tudo na
semana seguinte. É por isso que ela precisou se afastar, Baron.
— Briana, Baron, Brandon… — Meu irmão está rangendo os
dentes, o rosto retorcido em pavor. — Todos nós começamos com a porra
da letra B.
Meu pai fecha os olhos.
— Eu sempre disse que caso tivesse um filho ou filha, queria
homenagear o meu pai, Bruce. A mãe de Bri se lembrou disso enquanto a
registrava.
— Seu grande filho da puta! — Brandon avança sobre Alexander,
mas eu me coloco entre os dois.
Não tiro o direito à raiva dele, mas esse não é o momento para
violência. Ainda não temos todas as nossas respostas.
— Brandon, para com essa porra! — ordeno, agarrando-o pelos
ombros. — Você vai ter todo o tempo do mundo para descontar essa raiva
depois.
Ele luta contra mim por mais alguns segundos, louco para se livrar
do aperto e partir para cima do nosso pai.
Alexander, por outro lado, assiste tudo com um brilho de tristeza no
olhar. Uma onda de satisfação me invade ao perceber o quanto isso tudo
está fazendo ele perceber a merda de pai que é.
— Briana está te pedindo dinheiro — continuo, depois de me
certificar de que Brandon continuará calmo. — Por quê?
Ele respira fundo.
— A mãe dela está com problemas. Os avós dela morreram e elas
não sabiam a quantidade de dívidas que a casa possuía. Ela também precisa
pagar o semestre da universidade, então eu comecei as transferências. É o
mínimo que eu posso fazer depois de ter sido tão ausente. Só tirei da conta
de vocês porque seria menos suspeito, mas a quantia… — Ele joga um
cheque em cima da mesa com a sua assinatura. — Será devolvida. Cada
centavo que eu retirei, pretendo colocar de volta. Quanto a isso não se
preocupem.
Solto uma risada amarga. Não é possível que ele continue achando
que o ponto do problema é esse.
Brandon se levanta, dando as costas para o nosso pai como se ele
fosse invisível. Alexander o chama, exasperado, mas ele não se vira.
— Você não pode me julgar, Baron — ele diz com a voz rouca. —
Você não.
E ele tem razão.
Não posso julgá-lo se também agi como um babaca.
— Vou contar para a Suzan sobre tudo isso — ele continua, perdido
em pensamentos. — Ela merece saber.
— Aposto que ela vai vibrar ao saber que tem mais uma disputando
a sua herança — digo, sorrindo falsamente.
Ele semicerra os olhos para mim.
— Eu não estaria comemorando tanto se fosse você. O único
responsável por Suzan estar nas nossas vidas hoje é você, Baron. Você com
essa obsessão pela filha dela antes mesmo de eu contratá-la para uma das
filiais. Me fez trazê-la do Texas, sabotou todos os meus relacionamentos,
convenceu o seu avô a dar um cargo de confiança para ela… — a voz dele
vai abaixando à medida em que ele continua. — Acha mesmo que eu não
sei tudo o que fez? Como procurou Suzan Braga na porra do país inteiro
porque estava obcecado com uma menina que escrevia na porra de um
blog?
Meu pai não tem sido tão fácil de se manipular como eu pensava,
afinal.
Eu o estudo atentamente, me perguntando o quanto ele sabe. Se ele
faz ideia que essa merda só começou por causa da Briana e que o “blog”
que ele acabou de citar com tanto desprezo acabou se tornando a única
conexão que eu tinha com a minha… Irmã.
— Elas vão saber, Baron. Está na hora.
Mas não posso consertá-lo, não posso fazê-lo melhor
E não posso fazer nada sobre seu temperamento estranho
Mas você é incorrigível
Eu não consigo romper seu mundo
Shades Of Cool | Lana Del Rey

Minha mãe está andando de um lado para o outro, as unhas


praticamente inexistentes de tanto que ela está roendo.
— Tem alguma coisa errada — murmura ela, passando as mãos
sobre o rosto desesperado. — Eles estão demorando demais.
Quando ela chegou em casa e não encontrou Alexander, eu contei o
que estava acontecendo. Obviamente poupei detalhes a respeito da Briana,
porque acho que isso precisa ser dito pelo meu padrasto, mas a minha mãe
não é burra. Ela está desconfiando de alguma coisa.
— Acho que ele está me traindo — diz.
Viro o rosto para encará-la.
— Eu acho que ele vai esclarecer tudo o que está acontecendo em
breve.
Mas isso não parece deixar minha mãe mais tranquila.
Ela se senta ao meu lado na cama, o rosto consternado. Quando eu
me aproximo para oferecer apoio, ela me para com um gesto de mão.
— Quando eu recebi a oferta desse emprego por e-mail, achei que a
minha vida finalmente teria algum sentido. Eu estava decidida a voltar para
o Brasil caso minha situação financeira não melhorasse… — Ela abaixa o
tom de voz, sem esperança. — O salário iria resolver todos os meus
problemas, eu aumentaria a sua pensão… Achei que meu felizes para
sempre tinha chegado.
— Mas ele chegou. Você está feliz, não está?
Minha mãe fecha os olhos, sem conseguir me encarar.
— Não fui honesta com você desde o início, Cecília.
Ao ouvir seu tom de voz, eu me retraio. Sou grandinha já há algum
tempo e eu sei reconhecer quando uma bomba está prestes a ser jogada
sobre mim.
— O que você quer dizer com isso?
Ela aperta os lábios em uma linha fina, estendendo a mão para jogar
um punhado do meu cabelo para trás. O carinho é suave, mas também
carregado de remorso.
— Eu nunca quis ser mãe. Não era um sonho que eu tinha, mas
depois que você nasceu, eu percebi que gostava da ideia de ter um
pedacinho meu correndo por aí. Foi legal enquanto você era um bebê, mas
logo a rotina se tornou o meu mártir. Sempre sonhei com aventuras,
viagens, sempre fui um espírito livre e solitário. E de repente, você e seu pai
estavam comigo o tempo todo. Eu me sentia sufocada. — Tento não me
sentir pessoalmente atacada por suas palavras, mas é difícil. — Quando
decidi mudar de país, eu queria fugir. Não aguentava mais tanta
responsabilidade, mas isso cobrou seu preço. Não é fácil recomeçar em um
lugar novo, longe de todas as pessoas que você ama… — suspira, ainda
sem me encarar. — Não contei pra você como foi o início, mas era dureza.
Eu trabalhava em dois empregos e mesmo assim não estava tendo o padrão
de vida que eu achava que merecia. Estava prestes a desistir, mas aí…
Eu a encaro, esperando pelo restante da frase. Ela parece um pouco
envergonhada, mas respira fundo antes de dizer:
— Recebi esse e-mail. Não faço ideia de como me encontraram ou
porque me ofereceram a vaga, mas parecia um sonho. Uma empresa grande
e que me pagaria um bom salário. Não pensei duas vezes antes de aceitar a
oferta e então minha vida mudou. Alexander e eu… Não foi algo como
amor à primeira vista. Ele estava namorando com outra mulher na época,
mas o filho dele… — Ela parece querer estar em qualquer lugar, menos
aqui. — A garota estava saindo com o filho dele. Baron.
Espera aí… Que merda é essa?
Minha mãe deve notar minha expressão de nojo, porque estende a
mão para segurar a minha.
Minha garganta está ardendo com as lágrimas que querem
desesperadamente descer. Baron e eu nem nos conhecíamos nessa época,
mas saber que ele é capaz disso faz o meu estômago se revirar.
— Eu tive uma reação bem parecida quando eu soube, mas
aparentemente não foi algo que fez Alexander se irritar. Ele parecia se sentir
culpado de alguma forma — ela continua, apertando os dedos ao redor dos
meus. — A NicyD normalmente faz um evento de caridade anualmente.
Tem um grande leilão, comida à vontade e os mais poderosos do país
recebem o convite. E eu fui como funcionária. Estive por perto para prestar
o meu apoio a Alexander e nos beijamos. Para ser sincera, eu não esperava
que isso passasse de um lance de uma noite, mas acabamos nos
aproximando. Os dois com problemas em antigos relacionamentos, com
filhos que decepcionamos… Acho que a conexão foi instantânea. — Ela faz
uma pausa. — Então eu dormi aqui uma noite. Foi a primeira vez que
trouxemos essa relação para fora do trabalho e encontrei Baron na cozinha à
noite. Ele estava sozinho.
Ah não.
Não, não, não, não.
Meu coração começa a bater violentamente ao escutar a voz da
minha mãe falhar.
Ela não vai me dizer que teve um caso com ele, vai? Porque se isso
for real, não faço ideia do que serei capaz de fazer.
O nojo se revira no meu estômago.
— Mãe, vocês não…? — Começo a me afastar, mas suas unhas
cravam na minha pele como uma lâmina.
Ela nega lentamente com a cabeça.
— Não é isso que você está pensando. Eu jamais olharia para um
menino com a idade da minha filha. — Ela parece ultrajada. — Mas não
quer dizer que foi certo o que aconteceu.
— Você está me assustando, mãe.
— Ele… Ele sabia quem você era, Cecília. Não sei como, mas ele
tinha essas fotos no celular do seu rosto. Me mostrou e me fez um pedido.
Ele disse que se eu a convencesse a vir para cá, ele me ajudaria a continuar
com Alexander. A minha primeira reação foi negar, mas depois ele
continuou me dizendo o quanto seria melhor pra você. Que eu teria acesso a
tanto dinheiro que daria uma vida melhor para nós duas, filha. Eu…
Ela tenta continuar falando, mas já estou de pé.
Que porra é essa?
A minha cabeça está girando e eu preciso engolir a bile que acabou
de subir.
Caralho, eu preciso vomitar.
Baron Donovan é um psicopata de merda e esteve me observando
por anos? Que tipo de pessoa faz isso?
— E você não viu problema em vender a sua filha para conseguir
conquistar o milionário que daria a vida dos seus sonhos, não é? —
respondo, sentindo meus olhos arderem.
Não consigo respirar.
Não consigo respirar.
É como se a minha garganta estivesse fechada e ar nenhum
entrasse.
Coloco a mão sobre o meu pescoço, desesperada, sentindo dor
fisicamente pelo que acabei de ouvir.
Tudo não passou de uma mentira. Uma farsa.
O garoto pelo qual me apaixonei… Ele não existe.
— Eu estava com medo de contar pra você — murmuro, em estado
de choque. — Estávamos tomando cuidado para que você não descobrisse.
E todo esse tempo… Você já sabia.
Minha mãe balança a cabeça, tentando segurar as lágrimas.
— Eu não sabia, Ceci. Ele tinha fotos suas e ficava te observando à
distância, então eu pedi para o Alexander manter vocês dois afastados. Ele
me prometeu que te manteria em segurança. Achei que tinha funcionado.
Eu solto uma risada amarga.
— Funcionou tão bem que passamos o final de semana em Nova
York. Ele me sequestrou na praia e me levou para o hotel da família dele
uma vez, Alexander te contou?
Minha mãe concorda com a cabeça.
— Esse garoto… Ele não é pra você, Cecília. Baron é problemático,
instável e violento.
— E mesmo assim você concordou em me trazer para cá. Me trazer
direto para os braços dele — concluo, sentindo um vazio começar a
preencher o meu peito.
É como se a dor emocional fosse tão grande que meu corpo se
protegeu da maneira que soube.
E agora está me privando de sentir qualquer coisa.
Lanço um olhar para a mulher que me encara com os olhos
inchados, o rosto mostrando um arrependimento.
Mas eu já não me importo.
Essa mulher me deu a vida, me amamentou, esteve comigo nos
primeiros dias em que nasci. Mas agora não passa de uma desconhecida.
Alguém que eu, com certeza, não faço mais questão de manter por perto.
Eu quero tanto voltar para casa. Eu quero tanto o meu pai e a minha
verdadeira mãe, Vanessa. Preciso abraçar o Gui e sentir seu cheiro para ter
certeza de que estou segura.
Que estou a salvo.
— Preciso sair daqui — digo, sem conseguir encará-la por mais
nenhum segundo.
— Cecília, você não pode! — Ela se levanta, juntando as mãos
como se fosse fazer uma prece.
— E quem vai me impedir? Você? — Rio sem humor. — Acho que
você já fez o bastante por mim. Me faça um favor… Suma da minha vida.
Nisso você se sai muito bem.
Ela dá um passo para trás, como se tivesse acabado de ser
estapeada.
Mas eu já não estou dando a mínima. Que ela, Baron, Alexander,
Brandon e Briana se fodam.
Eu cansei desses joguinhos, dessa manipulação, dos segredinhos.
Só quero paz e a minha liberdade.
— E… — ela suspira, deixando uma lágrima escorrer pelo seu
rosto. — E se o Baron perguntar por você?
— Diga a ele que eu morri.
Minha mãe soluça, surpresa, mas que se foda.
Eu cansei de ter que ser uma garota compreensiva. Cansei de sorrir e
acenar quando todos ao meu redor parecem estar me tratando como a porra
de uma marionete.
Agora, estou desviando de narcisistas com mortais
Jogando todas as suas coisas no abismo
Agora os papéis se invertem, falei que era flexível
Gostou do meu cuspe?
EVIL | Melanie Martinez

Brandon está na sala, o rosto molhado pelas lágrimas enquanto


Briana sussurra algo para que só ele escute. Meu irmão parece desolado,
mas eu não me importo. Era óbvio que ela não dava nenhuma abertura
romântica para ele e agora talvez entenda quando uma garota lhe enviar
sinais negativos.
O que me faz lançar um olhar questionador para ela.
— Você sabia disso esse tempo todo e nunca parou para pensar que
a gente também tinha o direito de saber, não é? — pergunto.
Briana respira fundo, passando a mão pelas costas de Brandon mais
uma vez. Depois de dizer algo que só ele ouve, meu irmão balança a cabeça
em concordância.
Bri caminha até mim.
— Não é tão fácil como você pensa, Baron. Seu pai… Nosso pai —
ela se corrige. — Ele não queria um escândalo. Nós concordamos que o
melhor seria eu voltar e depois de nos resolver, contaríamos. Mas você não
facilitava em nada e inclusive não me deixou explicar. A Cecília… — Ela
respira fundo. — É ela, não é? Eu seguia ela no Instagram e a reconheci
assim que a vi. Ela escrevia textos sobre a vida que todas as meninas da
minha sala adoravam ler. A gente se identificava. Acho que comentei
contigo uma vez…
— Isso não muda como eu me sinto em relação a você, Briana —
corto-a. — Nós dois somos estranhos. Podemos dividir o mesmo genitor,
mas não é nada além disso. Não finja que somos amigos.
Ela deixa os ombros caírem, frustrada.
— O que você queria que eu fizesse, Baron? Nós éramos uma
espécie de Luke e Leia modernos e quando eu descobri a verdade, quis
morrer. Eu estava me apaixonando por você e aquilo era inaceitável. Pensei
que com o tempo você me perdoaria.
Ela ter citado Star Wars não apazigua a minha raiva.
— Você deveria ter me contado. Deveria ter dito ao Brandon antes
de voltar pra cá — respondo, balançando a cabeça.
Briana aperta os lábios em uma linha fina.
— Eu deveria, mas não contei. E agora não tem como eu voltar
atrás, então precisamos superar isso e seguir em frente. Você está com a
Cecília e ela é incrível. O Brandon em breve também deve encontrar
alguém e nós podemos nos aproximar de novo.
Solto uma risada sem humor.
— Você só pode estar brincando com a minha cara, porra. Depois de
tudo o que você fez, acha que é só voltar e bancar a irmãzinha?
— Eu acho que as escolhas dos nossos pais não podem afetar como
nós vivemos. A minha mãe fugiu, a sua quis destruir o seu pai e Alexander
omitiu tudo o que sabia de nós. Eles são os culpados e a gente não deve se
privar por conta disso — ela retruca, tirando uma mecha do cabelo do rosto.
— Pense bem, Baron. Não podemos continuar em guerra para sempre.
Guerra?
Que porra de guerra era essa, se aparentemente todos nós saímos
perdendo?
Não há um vencedor. Nunca haverá.
— Não quero ver você aqui, Briana. Estou falando sério — digo,
ignorando todas as suas palavras.
E então lhe dou as costas, correndo para as escadas como um
desesperado. Se meu pai pretende contar à Cecília sobre tudo o que eu fiz,
quero ter certeza de estar presente. Quero olhar em seus olhos e dizer o
quanto a amo, o quanto fui me apaixonando enquanto ela crescia, mesmo à
distância.
Mas quando entro em seu quarto, não encontro vestígios dela em
lugar nenhum. Seu closet está revirado e as malas que ela guardava perto da
porta simplesmente sumiram.
Não, não, não.
Isso não pode estar acontecendo, porra.
Um soluço me chama atenção e percebo que a porta do quarto do
meu pai está entreaberta. Entro como um furacão, sem pedir licença.
Suzan está chorando e meu pai está consolando-a com palavras e
sussurros de que “tudo vai ficar bem”.
A raiva se mescla com o desespero e parece que vou explodir a
qualquer momento.
— Onde ela está?! — esbravejo.
Os dois me encaram na mesma hora. Meu pai com uma expressão
que diz “agora não, Baron” e minha madrasta com… Ódio.
Seu rosto vermelho e olhos inchados indicam o quanto ela chorou.
— É tudo culpa sua! — ela explode, avançando na minha direção.
Meu pai a segura, imobilizando seus movimentos. — A minha filha está
sozinha por aí e a culpa é toda sua, seu desgraçado!
Embora suas palavras me deixem puto, o que mais me irrita é saber
que Cecília realmente foi embora. Suzan continua esperneando e gritando o
quanto quer me matar, mas eu continuo parado a centímetros de distância
dela, com uma expressão que certamente mostra o meu nível de paciência.
Quero rasgar algo com as minhas próprias mãos.
— Cala a porra da boca, caralho. Onde ela está? — grito, sem
conseguir me conter.
Preciso me certificar que Cecília está segura.
Ela pode me odiar, me querer longe e nunca mais olhar para mim de
novo, mas eu preciso ter certeza de que ela está em segurança ou então vou
acabar enlouquecendo.
Mas Suzan apenas ri, como uma lunática.
— Ela me pediu para passar um recado. Mandou eu te dizer que ela
morreu — diz com certa presunção na voz.
— Suzan! — Meu pai a segura pelos ombros, encarando-a. — Não é
hora para isso. A sua filha está sozinha por aí e precisamos encontrá-la.
Tem ideia de onde Cecília possa estar?
Mas ela não fala nada.
É óbvio que não.
Ela sempre foi egoísta demais como mãe para pensar na própria
prole. Não pensou duas vezes quando eu pedi para que trouxesse Cecília
para o país em troca da minha aprovação.
Suzan estava tão desesperada para ter uma vida de glamour que
barganhou a própria filha comigo, convencendo-a de que seria melhor para
a carreira dela vir para cá, usando o argumento de que elas se aproximariam
novamente.
Era tudo o que Cecília Braga sempre quis.
“Espero que você também encontre alguém que saiba arrumar os
seus cabelos, mamãe. E que te faça sorrir bastante.
Feliz Ano-Novo.”
Posso ter sido um desgraçado por ter usado isso contra Suzan para
conseguir a Cecília para mim, mas ela não fica muito atrás também.
— Ela não sabe onde a filha dela pode estar. Não sei nem o porquê
de ter perdido o meu tempo vindo até aqui — respondo, com um sorriso
cruel. — Você é a pessoa que menos conhece a Cecília nessa droga de casa.
Ela chorou muito por sua causa enquanto crescia… — Dou um passo em
sua direção e Suzan se encolhe nos braços do meu pai. — Mas pode ter
certeza que não vou deixar você magoar ela de novo.

Eu pensei que sabia o que era loucura.


Desespero, obsessão, devoção.
Mas eu não fazia a mínima ideia, porra.
Depois que saí como um louco do quarto do meu pai, liguei para
Kaden, Hunter e Lucy em busca de ajuda. Brandon e Briana viram o meu
desespero e decidiram que queriam me ajudar a encontrá-la.
Eu não os dispensaria agora.
— Já vasculhamos no campus inteiro, cara — Kaden diz, sem
fôlego. — A Lucy até ligou para algumas meninas do alojamento para saber
se viram alguma coisa, mas ela simplesmente sumiu. Evaporou.
— Hunter acabou de ligar — Lucy diz, o rosto retorcido em
desespero. — Cecília não está no aeroporto. Ele até subornou alguns
funcionários pra ver se conseguiam ver algo pelas câmeras de segurança,
mas não há nenhum rastro.
Briana e Brandon estão indo a um ateliê que ela visitou uma vez na
cidade e pareceu gostar. Kaden e Lucy foram até Granville enquanto Hunter
verificava nos aeroportos junto com mais alguns membros da nossa
fraternidade.
Mas não há nenhum sinal dela.
— Será que alguma coisa aconteceu? — Lucy pergunta, chorosa. —
Isso não é normal.
— Cala essa boca — mando, sem me importar em como o Kaden
vai encarar isso.
Não preciso de mais ninguém me dizendo que ela pode estar em
perigo. Já estou consciente dessa merda o suficiente.
É culpa sua. É culpa sua. É culpa sua.
O remorso martelando em meus ouvidos é a pior parte. Saber que eu
não estava por perto quando ela descobriu o que eu fiz está me matando por
dentro.
— Calma, cara. Só estamos tentando ajudar — Kaden intervém,
puxando uma Lucy assustada para os seus braços.
Ele tem razão. Estou agindo como um cuzão tratando-os assim, mas
não consigo evitar. É como se alguém tivesse arrancado o meu coração do
peito e agora o apertasse na minha frente.
Cecília é o meu coração fora do peito.
— Eu sei. Me desculpem — balbucio. — É só que… Estou quase
enlouquecendo, cara. Se algo acontecer com ela, eu juro que…
— Ei… Nada vai acontecer com ela, Baron. Cecília é esperta pra
caralho. Ela vivia me despistando quando eu era responsável por segui-la
por aí. Lembra? Só deve ter achado um esconderijo muito bom.
Esconderijo muito bom.
Não sei o porquê, mas essas palavras me deixam em alerta.
Ela não está tentando fugir. Ela está querendo se esconder.
— Baron? — Lucy me chama, mas eu já não estou aqui.
Só há um lugar afastado o suficiente para ela estar. O único refúgio
na cidade que ela conhece.
O meu esconderijo.
— Eu sei onde ela está.

O cemitério está silencioso.


Eu começo a procurá-la por todos os túmulos, completamente
desesperado. Lucy e Kaden se ofereceram para vir comigo, mas eu os
dispensei. Quero estar a sós com ela quando a encontrar.
Começo a me desesperar ao ver que Cecília não está em lugar
nenhum, mas um som me chama atenção.
É ranhoso, como um metal velho.
Meus olhos se estreitam enquanto eu tento enxergar melhor à
distância.
O parquinho, porra.
Ela está sentada no balanço. As malas cor-de-rosa estão jogadas
sobre a areia enquanto Cecília pega impulso com o pé. Minha garota joga a
cabeça para trás, os olhos tristes vidrados no céu escuro e estrelado.
E de repente… Me sinto um merda. O maior babaca do mundo.
Eu consegui transformar a menina mais cheia de vida que já conheci
nisso. Em um poço de melancolia e tristeza, pensando que não passou de
um jogo, quando, na verdade, ela sempre significou tudo.
Tudo o que sempre importou para mim.
Não pertenço a cidade nenhuma
Não pertenço a homem nenhum
Eu sou a violência nas gotas de chuva
Eu sou um furacão
Hurricane | Halsey

Os passos de Baron são silenciosos e sutis, tão diferentes de como


ele sempre pareceu ser. O vento gelado açoita o meu rosto e embora a
minha pele esteja começando a ficar dormente, meus sentimentos estão
amortecendo a dor física.
É como se eu não existisse mais.
— Cecília. — Sua voz soa desesperada.
Baron anda lentamente até entrar no meu campo de visão. Ergo o
rosto, cansada demais de lutar contra ele ou seu poder sobre mim. No fim
das contas, é ele quem sempre vence.
Eu deveria saber.
— Meu amor, você precisa me deixar explicar.
Que piada. Ele realmente acha que existe alguma chance de
ficarmos juntos agora?
— Eu tenho tantas coisas pra te explicar. Não sei o que a sua mãe te
disse, mas…
Sua voz está começando a me irritar. E é engraçado pensar nisso,
porque a mesma voz que já sussurrou no meu ouvido sacanagens que me
faziam ver estrelas agora é intragável para mim.
— Mas eu quero que você saiba a minha versão da história — ele
continua. A fumaça que sai de sua boca enquanto fala indica o clima frio,
mas Baron não está vestindo nenhum casaco. É como se ele estivesse
anestesiado como eu. — Eu sou louco por você.
Isso você nem precisa falar, tenho vontade de gritar, mas me
contenho.
Baron passa os dedos furiosamente pelos cabelos, em desespero.
— Você me perguntou uma vez o motivo de não ter ido para
Harvard. Briana e eu nos tornamos melhores amigos assim que ela se
mudou para a casa ao lado da minha e fazíamos planos de ir para a
faculdade juntos. Eu sempre quis ir para Harvard por causa da minha mãe e
ela por causa da mãe dela. As duas estudaram juntas. — Ele balança a
cabeça. — Mas um dia ela simplesmente sumiu. Nós nos beijamos e, de
repente, ela não existia mais. Desapareceu completamente. Eu fiquei
irritado e magoado e, por um tempo, cheguei a odiá-la. Tudo o que eu tinha
dela era um site que ela costumava ler sem parar.
Fecho os olhos, respirando fundo.
— O Mundo de Cecília. Eram textos escritos por uma pré-
adolescente e que tinham milhares de acessos. Eu não entendia o motivo de
gostarem tanto, mas acabou se tornando a única conexão que tínhamos. Isso
até eu ler o seu texto sobre a sua mãe. — Baron engole em seco. — Era
como eu me sentia também. Sempre pensei em como a minha mãe estava e
se um dia ela conseguiria ser feliz. Eu comecei a escrever recados para a
minha mãe em blocos de notas, inspirado por você. Era uma forma de
terapia.
É, eu sei. Esse foi o motivo de eu ter começado a escrever sobre os
meus sentimentos também.
— Anos depois, eu criei uma conta no Facebook e te enviei uma
mensagem. Conversamos por um tempo e eu descobri que a sua mãe estava
viva. Pensei que a conexão que eu havia criado com a sua figura iria sumir
por causa disso, mas fiquei com raiva. A minha mãe tinha partido por causa
de uma doença, mas a sua escolheu te deixar. E mesmo assim você
continuava escrevendo sobre como desejava que ela fosse feliz, e não sei…
— A voz dele falha. — Não sei como começou, mas de repente eu
precisava te encontrar. Você me fascinava.
Meus olhos estão começando a arder com a vontade de chorar, mas
me mantenho firme. Não vou deixar que Baron veja o quanto suas palavras
estão me afetando.
— Não era de forma romântica. Eu nem tinha visto uma foto sua
ainda — ele se apressa em se explicar. — Eu só queria te entender.
Conversar com você e ter mais das suas palavras. Dos seus pensamentos.
Mas então você simplesmente parou de publicar, e depois de um tempo, seu
site ficou fora do ar. Eu me senti abandonado pela segunda vez.
Uma risada amarga escapa de mim, mas é inevitável. Como ele se
atreve a pensar que tudo se trata sobre ele?
Seu olhar suaviza ao perceber a minha reação e, porra, como eu me
odeio por isso. Quero que ele pense que estou completamente imune a ele.
— Eu descobri o seu Instagram e depois de um tempo, achei o da
sua mãe. Conversei com o meu avô, o pai da minha mãe, sobre contratar
uma pessoa nova para a filial da Califórnia e ele nem me pediu mais
explicações. Enviaram um e-mail oferecendo a vaga de emprego e sua mãe
não recusou.
Eu me lembro de quando ela veio falar comigo sobre o novo
emprego. Ela teria uma carga horária menor e ganharia bem mais e por isso
acabou me enviando uma pulseira caríssima no meu aniversário de
dezessete anos. O valor da pensão também aumentou e eu pude poupar mais
dinheiro para a universidade.
Quanta ironia.
— Eu queria me aproximar da sua mãe. Queria uma forma de te
trazer pra cá. — Ele engole em seco. — Mas eu não fazia ideia de como
fazer isso.
— Então convenceu até o seu pai a entrar nesse jogo doentio? —
pergunto, completamente em choque com o que ele acabou de me dizer.
Mas Baron nega lentamente com a cabeça.
— Eles acabaram se gostando de forma espontânea. O meu plano
era fazer ela ser promovida, se aproximar do meu pai, começar a frequentar
os jantares importantes da empresa… Coisas assim. Eu me aproximaria e
faria uma proposta, mas tudo ficou mais fácil quando os dois começaram a
se relacionar.
— E então você me barganhou com a minha mãe?
Seus olhos escurecem ao perceber a mágoa em minha voz. Baron
respira fundo, o rosto desesperado.
— Ela é uma mulher ambiciosa e parecia gostar do meu pai de
verdade. Mas ele… Não se apega facilmente. Principalmente depois do que
aconteceu com a minha mãe. Eu sabia que ele levaria muito em conta a
minha opinião, então decidi oferecer isso. A única coisa que ela precisava
fazer era convencer você de vir para cá.
Baron Donovan é o diabo e arquitetou todo um plano para me
arrastar para o seu inferno pessoal.
Mas a minha mãe… Eu nem sei o que pensar.
— Por favor, diga alguma coisa — ele suplica, se aproximando de
mim.
Eu lanço um olhar em advertência. Afundo meus pés na areia gelada
do parquinho, sentindo minhas coxas dormentes por estar sentada nesse
balanço por tantas horas agora.
— O que você espera que eu diga, Baron? Que eu me derreta e fale
o quanto eu te amo? — bufo, deixando meus ombros caírem. — Eu nem sei
quem você é. Não sei quem é a minha própria mãe. Eu nunca estive tão
sozinha antes.
Ele deixa um grunhido frustrado escapar.
— Você sabe quem eu sou, amor. Sou um cara completamente louco
e obcecado por você. Não estou dizendo que o que eu fiz foi certo, eu sei
que não. Mas o que você queria que eu fizesse, Cecília? Nós nunca iríamos
nos encontrar.
— Eu queria que você tivesse me dado uma escolha, para começo
de conversa. Você podia ter se aproximado de mim como alguém normal.
Mandando uma mensagem pelo Instagram, ido passar férias no Brasil.
Existiam outras dezenas de maneiras de fazer a gente se encontrar. Mas é
claro que o todo-poderoso Baron Donovan iria querer manipular todas as
pessoas ao meu redor para conseguir o que ele quer. É por isso que me
tratou tão mal quando cheguei aqui?
Seu olhar endurece.
— Eu fui um babaca com você. Não posso voltar atrás e mudar o
que eu fiz, mas, porra, eu me arrependo pra caralho. Fiquei tão irritado de
ter tido todo o trabalho de trazer você para cá e no fim te ver ficando com o
meu irmão que quase enlouqueci.
— É isso que você sempre faz, não é? Tira suas próprias conclusões
e pune as pessoas como se fosse alguma espécie de deus — eu zombo,
finalmente me levantando do balanço frio. — Mas isso não vai mais
funcionar comigo, Donovan. Eu quero a minha liberdade.
Baron cambaleia para trás como se eu tivesse acabado de esbofeteá-
lo. Os olhos castanhos semicerram enquanto ele se empertiga.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu quero dizer que cansei dos seus joguinhos. Não importa o
motivo de eu estar nesse país hoje, só importa o que eu quero daqui pra
frente. E a última coisa que eu quero é ficar perto de você — cuspo. — Vou
voltar a morar no alojamento e você vai me deixar em paz. Não vai olhar na
minha direção, não vai mandar ninguém me vigiar, vai esquecer que eu
existo.
— Mas eu te amo, Cecília. — Sua voz não passa de um sussurro. O
desespero nela é tão latente que sinto meus olhos se encherem de lágrimas.
— Você é a minha namorada, a minha melhor amiga. A única garota que
me entende.
Balançando a cabeça, dou alguns passos para trás. Preciso colocar o
máximo de distância possível entre nós.
— Você não sabe o que é amor, Baron. Não ouse dizer que me ama.
— Eu te amo mais do que amo a minha própria vida.
— Não, você não me ama. Quem ama não manipula, não coage.
Não faz bullying, não persegue. Quem ama, deixa a pessoa livre. Você
nunca foi capaz de fazer isso por mim.
Baron fecha os olhos, engolindo as lágrimas que ele não deixa cair.
O rosto mostra tanta aflição e desespero que a Cecília que ainda está
apaixonada por ele quer correr para se afundar em seus braços. Ela quer
consolá-lo e dizer que tudo ficará bem.
Eu estava assistindo ao jogo dele ainda essa noite. Fomos jantar e a
minha única preocupação era em como eu faria para entrar no quarto dele
essa noite sem que nossos pais ouvissem. Como pode algumas horas terem
tanto poder assim?
Algumas palavras foram capazes de mudar tudo.
— Por favor. Por favor — ele suplica, a expressão do rosto
mostrando um pouco do menino assustado abraçando a mãe que eu vi nas
fotos do seu quarto. — Por favor, não me deixe. Você é tudo o que eu tenho.
— Então você não tem nada. Não sou sua, Baron. E não quero ter
mais nada a ver com você.
Seus olhos assustados encontram os meus e eu finalmente permito
que uma lágrima solitária escorra pelo meu rosto. Tudo bem demonstrar
fraqueza agora.
Não pretendo vê-lo nunca mais.
— Preciso que você prometa que vai me deixar em paz. Quero ter a
sua palavra.
Baron balança a cabeça negativamente. A aflição no seu rosto não
se compara a como meu coração está sendo despedaçado nesse momento.
— Não pode me pedir para fazer isso — ele argumenta, exasperado.
— Eu não sou ninguém sem você.
Passo a língua suavemente pelos meus lábios, sentindo a cólera se
instalar em meu peito como uma velha amiga.
Ele está cabisbaixo, os ombros enormes caídos.
— Se você não me deixar em paz, juro por Deus que vou te odiar
mais a cada dia que passar. Na verdade… Talvez eu finalmente vá à
delegacia. Vou pedir um mandato de restrição contra você e me transferir
para outro Estado. Você não terá mais rastros meus Baron. Isso é uma
promessa.
Até eu me surpreendo com a firmeza da minha voz.
Ele parece consternado. Quando seus olhos encontram os meus
novamente, sou pega de surpresa pela falta de vida que encontro. Não é a
frieza ou o tédio que Baron exibia quando nos conhecemos, é algo mais
oco.
Como se a alma dele tivesse acabado de sumir.
— Se é isso que você precisa para me perdoar, eu farei.
Balanço a cabeça.
— Não estou pronta para conversar sobre perdão. Esse não é o
ponto aqui. Só quero que você finja que eu nunca existi.
Ele abre um sorriso amargo enquanto os olhos enchem de água.
— Eu nunca serei capaz de fazer isso, Cecília. O meu mundo é
você.
O Mundo de Cecília. Um refúgio que eu criei ainda adolescente com
o desejo de expor sentimentos e me conectar com a minha mãe acabou se
tornando o meu martírio pessoal. Esse é o tipo de coisa que você vê
acontecendo em filmes e se pega pensando: “ah, mas ninguém é tão louco
assim na vida real…”.
É, estou aprendendo uma lição e tanto hoje.
— Sugiro que comece a procurar outro hobby, Baron. Porque a
partir de agora, não sou mais ninguém para você. — Caminho até as minhas
malas e as pego do chão. Meu celular está vibrando com milhares de
mensagens e chamadas perdidas e entro na conversa de Lucy.
Lu <3: PELO AMOR DE DEUS, CECÍLIA BRAGA! ME DIGA QUE
VOCÊ ESTÁ VIVA E BEM. BARON VAI ACABAR COMETENDO UMA
LOUCURA.

É, ele já cometeu. E é pior do que qualquer merda que ele tenha


feito com a gente nessas últimas semanas, pode acreditar.
Mas eu só respondo com a minha localização, pedindo para que ela
venha me buscar. Lucy manda mais uma enxurrada de mensagens que eu
deliberadamente decido ignorar, e quando viro o rosto para encarar Baron,
ele está mais próximo do que nunca.
Igual a quando nos conhecemos. Ele me assustou naquela época e
continua fazendo o mesmo.
— Eu preciso me despedir. — A dor em sua voz me pega de
surpresa, mas me mantenho firme.
Baron ergue a mão e eu observo com atenção. Seu movimento vem
em minha direção e pela primeira vez, eu desvio. Seu olhar magoado é
veloz ao escrutinar o meu rosto em busca de respostas.
Mas eu só nego lentamente com a cabeça.
— Você não é mais nada pra mim.
E então Baron fecha os olhos, deixando mais algumas lágrimas
escorrerem. Ele limpa o rosto com as costas das mãos e, em seguida, engole
em seco. Quando decide falar novamente, sua voz está mais grave do que
nunca:
— Eu só quero ter uma imagem para lembrar. Só quero… — Ele
segura uma mecha do meu cabelo com dois dedos. O toque é suave e eu
nem sinto o fio repuxar com tamanha delicadeza.
Baron passa os dedos pelo fio do meu cabelo da metade até a ponta.
É como se quisesse guardar a textura na memória e quando ele inspira meu
cheiro, o rosto é tomado por uma determinação triste.
Ele parece estar aceitando o que plantou.
— Não vou mais aparecer — me promete com a voz baixa. — Vou
levar as suas coisas para o alojamento, caso não queira mais ir até a nossa
casa.
Mesmo a contragosto, eu assinto. A última coisa que eu quero é
voltar para onde a minha mãe está e não posso me dar ao luxo de me
desfazer de mais roupas. Preciso das minhas coisas.
E sendo sincera, ele me deve isso.
— Posso te levar em segurança pelo menos? — A agonia em sua
voz espelha a minha por ainda estar aqui com ele.
Cruzo os braços, finalmente sentindo o frio da madrugada. Os olhos
de Baron são ágeis como falcões e ele começa a tirar a própria camisa para
me entregar.
— Não faça isso! — eu peço, mas é tarde demais.
Ele me estende a roupa como se não fosse nada. Deve estar fazendo
uns cinco graus agora e Baron simplesmente está sem camisa.
Quando eu recuso de novo, ele diz, com um sorriso triste:
— Eu já não estou sentindo mais nada, Cecília. Te cobrir pelo
menos vai aliviar um pouco da minha agonia.
Eu suspiro.
— Tudo bem.
Nós ficamos em silêncio enquanto Lucy e Kaden não chegam. A
minha melhor amiga não comenta nada sobre o fato de eu estar usando a
blusa de manga longa dele por cima da minha própria roupa, mas em seus
olhos eu leio as entrelinhas: “quero saber tudo sobre o que aconteceu aqui
mais tarde”.
Kaden, que normalmente sempre está sorrindo como um diabinho,
demonstra uma seriedade que eu não reconheço. Seus ombros estão tensos,
o rosto mostrando a sua preocupação.
Mas basta um olhar para nós e todas as peças se encaixam.
— Espero que vocês estejam bem — ele murmura, o olhar
desviando entre Baron e eu. — Querem uma carona para casa?
Casa? A minha casa está no Brasil, nos braços acolhedores do meu
pai, sorriso gentil da Vanessa e piadas sem graça do meu irmão.
Eu não tenho uma casa aqui.
Mas prefiro guardar as minhas respostas afiadas para mim mesma.
O clima já está melancólico o suficiente.
— Eu estou de carro, mas a Cecília não vai voltar para casa. Ela vai
ficar no alojamento. Vocês podem levar ela em segurança? Por favor.
Os olhos de Lucy me percorrem da cabeça aos pés. Ela parece se dar
conta da gravidade do problema quando eu caminho lentamente em sua
direção, sem lançar mais nenhum olhar para o Baron.
— Claro que podemos, mas ela vai ficar sem o carro. Como você
vai voltar para cá depois, Ceci? — minha amiga pergunta, confusa.
Mas Baron é mais rápido do que eu ao explicar.
— Cecília não vai mais voltar pra cá. Ela vai morar em Granville de
novo. Quanto ao carro, vou levar o dela para o campus amanhã.
— Não tenho carro, Baron — respondo. — O carro é do seu pai.
— O carro é seu. Nós compramos pra você quando…
Quando eu concordei em morar na casa deles.
Eu também não me vendi? Quanta ironia.
E por um carro que não vale tanto assim, diga-se de passagem,
— Eu não quero mais ficar com ele. Pode dar para a próxima garota
que você quiser comprar — alfineto, sem conseguir controlar a língua.
Lucy vira o rosto perplexo para mim.
— Comprar? Que merda é essa, Cecília?
— Eu te explico no carro. Podemos, por favor, ir embora? Eu estou
morrendo de frio e preciso mesmo descansar.
Minha amiga não parece convencida, mas tampouco discorda de
mim. Ela faz um sinal de cabeça para Kaden que parece entender na mesma
hora.
A nossa caminhada até o veículo deles é lenta, mas o silêncio
ecoando ao nosso redor diz mais do que mil palavras.
Quando estou prestes a fechar a porta do banco de trás, uma mão me
impede.
O rosto de Baron nunca refletiu tanta agonia e desespero e eu odeio
admitir isso, mas sua pele refletida pela luz da lua o deixa parecendo um
deus.
— Só quero dizer que eu te amo, Cecília. Você é o meu mundo
inteiro e eu faria qualquer coisa para voltar no tempo e recomeçar a nossa
história do jeito certo. Espero que um dia você consiga me perdoar por tudo
o que eu fiz, mas se a distância é o que você quer de mim agora, é isso que
você terá. — Engulo em seco quando ele se agacha para me encarar nos
olhos. — Eu queimarei o mundo inteiro por você, amor. E se não me quiser
mais nessa vida, eu vou atrás de você na próxima. Isso é uma promessa.
E mesmo com o arrepio de raiva subindo a espinha, odeio admitir
que também senti alívio ao ouvi-lo me prometer isso.
Oh, é apenas eu, eu mesmo e eu
Caminhando sozinho até morrer
Porque sou meu próprio apoio para sempre
Me, Myself & I | G-Eazy

Quase um mês se passou desde que eu descobri que a minha vinda


aos Estados Unidos não passou de um plano arquitetado pela mente do meu
ex-irmão postiço doentio.
E sim, você leu certo.
Meu ex-irmão.
Minha mãe e Alexander terminaram o noivado depois que eu voltei
a morar no alojamento. Ela apareceu no meu dormitório uma semana depois
de tudo o que aconteceu e disse que vai voltar a morar no Texas.
Sem mais nem menos.
— Alexander e eu conversamos sobre tudo e chegamos a conclusão
de que é melhor nos afastarmos por um tempo. Eu realmente ficaria muito
grata se você não comentasse sobre isso ainda com o seu pai.
— Meu pai não liga para o que você faz da sua vida, mãe. E
ultimamente nem eu.
— Eu sei — ela respondeu com a voz embargada. — É por isso que
vou embora. Pelo menos por um tempo… Não consigo continuar naquela
família e fingir que nada aconteceu.
Por um lado, eu me senti aliviada. Minha mãe não iria ficar vindo
até a faculdade me emboscar para termos “uma conversa”. Eu sei que ela se
arrepende e sei que quer o meu perdão.
Mas eu não estava pronta para liberá-lo ainda.
Ela me manda mensagens todos os dias desde então, querendo saber
como estou indo na faculdade. Inicialmente, eu só ignorava e a cada vez
que o número dela aparecia com uma notificação, minha mente me levava
para aquela noite de novo.
A noite que eu descobri que nada foi real.
— Já chega, Cecília. — Lucy entra no meu quarto como um
furacão, cruzando os braços. — Você não vai passar mais um final de
semana lendo no seu quarto! Eu me recuso a deixar isso acontecer!
Mas eu ignoro seus protestos e continuo vidrada no meu romance
sobrenatural. O vampiro está prestes a morder o pescoço da sua namorada
humana no meio do sexo e isso por algum motivo está me fazendo subir
pelas paredes.
Baron Donovan podia ser o diabo encarnado, mas o desgraçado sabe
trepar como ninguém. Eu ainda acordo no meio da noite ofegante,
precisando me tocar desesperadamente com as lembranças do que ele fazia
comigo.
Será que o corpo dele também sofre com saudades de mim?
Mas eu mesma disperso esses pensamentos. Baron continuou sendo
o deus que ele é, e com o frio do semestre no mês passado, os Angry Sharks
foram para os nacionais. Venceram por um ponto de diferença e isso foi
incrível para ele, já que ele vai passar pelo draft no próximo ano.
Passar o Natal longe da minha família foi a pior parte, mas nada se
compara a ficar o Ano-Novo reclusa no meu quarto.
— Você já mandou uma mensagem para a sua mãe?
Ergo meu rosto da página que estava lendo só para balançar a
cabeça negativamente.
Lucy suspira.
— Mande uma mensagem. Depois você pode acabar se
arrependendo. — Ela estende o meu celular para mim. — Brandon também
me perguntou como você está.
Brandon acabou se mostrando um bom amigo. Nós não estamos nos
vendo com tanta frequência como antes, mas ele sempre me envia
mensagens e pergunta se eu preciso de alguma coisa.
De certa forma, ele tem agido como um irmão.
— Eu disse pra ele que você está bem melhor. — Ela aperta meu
joelho de leve. — Ele convidou a gente para a festa de Ano-Novo do time
de basquete. Eles alugaram uma casa e ele me prometeu que o Baron não
estará lá. Na verdade… Eu meio que subornei o Kaden e pedi para ele levá-
lo para o mais longe que conseguir.
Será que eu acabei de escutar isso mesmo?
Franzindo o cenho, eu levanto meu rosto para finalmente encará-la.
— Você o subornou?
Ela abre um sorriso convencido.
— Eu sabia que isso ia chamar a sua atenção. E sim, eu o subornei.
Prometi deixá-lo fazer o que quiser comigo na semana que vem e você não
faz ideia da criatividade dele. Reze por mim.
Suspiro.
— Não sei se é uma boa ideia, Lucy. Ainda não acho que estou
pronta para ver o Baron de novo.
— E não vai ver. Tenha um pouco de fé no meu homem, poxa.
Jogando os meus cobertores para o lado, eu finalmente me coloco de
pé. Lucy solta um gritinho de comemoração e bate algumas palmas,
começando a vasculhar o meu guarda-roupa.
Que dejá vù.
— Não tenho fé no seu homem e nunca terei. Ele costumava me
seguir por aí. — E aí me dou conta de que um membro da gangue não foi
citado na conversa. — Onde o Hunter vai passar a noite?
— Em Barlow. Ele voltou para a cidade natal depois que a
temporada acabou e também pediu transferência da universidade.
Puta merda.
Transferência?
— Como assim, Lucy?
Ela coloca as pernas para o ar enquanto se acomoda na minha
cama.
— É, Kaden ficou bem pra baixo. Mas ele também comentou
comigo que o Hunter estava muito distante desde que Amy apareceu aqui.
Lembra dela?
— A garota que foi com a gente para uma festa e depois sumiu
completamente?
— Ela mesma. — Lucy agora está sentada, balançando as pernas
para frente e para trás como uma garotinha. — Acho que eles têm assuntos
inacabados.
— Ele é muito corajoso de se transferir faltando um semestre para a
formatura. E o hóquei? Ele não quer ser profissional?
— Acho que ele tem novos objetivos. Hunter sempre gostou de
jogar, mas não o bastante para viver disso. Além do mais, acho que a
família dele é old money. Sabe aquela galera com dinheiro na família há
gerações? Ele nem precisa trabalhar.
— Uau. Sorte a dele. — Balanço a cabeça, incrédula. — Lucy, eu
preciso que você me prometa que o Baron não vai aparecer.
Ela suspira audivelmente, deixando os ombros caírem.
— Não posso prometer porque o Baron é imprevisível. Você o
conhece muito bem — frisa. — Mas posso te assegurar que tenho um plano
de fuga muito bom caso ele apareça. Você consegue rolar e se esconder em
um arbusto?
E pela primeira vez em semanas, eu consigo sorrir.
Lucy pode ser um pouco exagerada às vezes, mas aprendi a amar
essa garota e hoje não consigo mais me imaginar sem ela. Talvez coisas
boas realmente apareçam em situações de merda, afinal.
— Ele está muito mal, Cecília. Sei que não é isso que você quer
ouvir, mas é a verdade. Baron começou a beber depois que a temporada
terminou e o Kaden disse que o viu chorando uma vez. Eu nem consigo
imaginar a cena! — É, nem eu. — Ele dedicou todas as vitórias e gols que
fez para você. Ele sussurrava Cecília e fazia um coração com os dedos e eu
juro que vi meninas quase gozarem do meu lado com essa cena. Também
me disseram que antes de entrar no gelo, ele desenhava esse mesmo coração
com o taco na pista. Nunca pensei que seria eu a te dizer isso, mas o
Donovan realmente está arrependido.
E eu não duvido disso.
Baron me envia flores todos os dias há um mês. Elas chegam por
volta das cinco da tarde, a princípio, eu ficava muito irritada com a audácia.
Depois de tudo que esse canalha aprontou comigo, enviar rosas vermelhas
para o meu dormitório não seria o suficiente.
Joguei muitas delas fora no início. A minha lixeira ficava lotada de
pétalas murchas, e embora me doesse fazer isso com as flores, vê-las
também me machucava.
Isso até semana passada, quando eu decidi que precisava de mais
cores na minha escrivaninha. Fui até o shopping e comprei um vaso de
vidro para conseguir exibi-las e desde então não as jogo mais fora.
— Você não vai perdoar ele nunca, Cecília?
— Depende. Você perdoaria alguém que manipulou todas as pessoas
ao seu redor para conseguir ficar perto de você?
— Se ele fosse um stalker maluco querendo vender meus órgãos?
Jamais. Se ele fosse um jogador de hóquei disposto a me dar o mundo? É,
talvez eu considerasse a possibilidade.
— Não sei porque eu ainda te perguntei.
— Eu sou sincera, Cecília. Acho que você deveria perdoar a sua
mãe e o Baron de uma vez. Não estou dizendo para você voltar a conviver
com eles como se nada tivesse acontecido, mas olhe para você… — Ela
aponta para o pijama que estou usando há dois dias. — Você não sai, fica o
tempo todo aqui, está claramente desanimada com tudo. O perdão é
necessário não para que a outra pessoa se sinta bem, mas para que você
consiga seguir em frente. Voltar a viver.
Eu sei que ela tem razão. Droga, eu não sou burra. Entendo a
necessidade de superar certas coisas para conseguir seguir com a vida, mas
acho que também tenho o direito de sofrer e ficar triste.
De remoer.
Nem que seja um pouquinho.
— Estou pensando em voltar para o Brasil — murmuro do nada. —
Meu pai não está conseguindo me enviar dinheiro para sobreviver e eu não
me sinto segura para trabalhar aqui. Talvez eu vá embora depois que o
próximo semestre acabar.
Os olhos arregalados de Lucy ficam ainda maiores, se é que é
possível. Minha amiga parece que acabou de levar um tapa na cara por
causa do rosto vermelho e os olhos lacrimejando.
— Você não pode ir embora, Ceci.
— Eu… Não é que eu queira ir, Lucy. Mas você mesma acabou de
dizer que não está me reconhecendo. E eu preciso do meu pai, da Vanessa,
do Gui… Eles fazem muita falta.
— Então vá para passar férias! Você não precisa ficar lá para
sempre.
Respirando fundo, eu dedilho meus cabides até encontrar minha saia
xadrez. Depois de escolher uma blusa de manga longa, eu vou até o
banheiro.
— Não vou te prometer nada, mas está tudo tão confuso. Quero
voltar a me sentir livre e aqui sempre serei dele.
Não percebo o impacto da minha frase até que ela escapa de mim.
Mas é verdade, não é?
Embora Baron tenha cumprido a sua promessa e me deixado em
paz, todos aqui continuam me tratando como se eu fosse propriedade dele.
Os caras não se aproximam, as meninas desviam o olhar e eu continuo
fingindo que sou alguém normal.
Kaden e Lucy foram os meus modelos para a minha aula de Design
de Moda, e embora ele tenha reclamado de como achava tudo aquilo
cafona, acho que não poderia ter sido mais perfeito. Os dois estão realmente
apaixonados e as fotos capturaram bem isso.
— Vou sentir muito a sua falta. — Lucy funga com o rosto triste. —
Não sabia que você estava pensando em ir embora.
— Ei… Estou pensando a respeito ainda, tudo bem? Não é nada
confirmado, mas é uma possibilidade. Vai depender muito de como meu
próximo semestre será.
Ela pula da cama, o rosto tomado por uma coragem súbita. Depois
de me analisar da cabeça aos pés, ela abre um sorriso, com a cara de quem
acabou de ter uma ideia.
— Nós não fizemos o essencial para você conseguir seguir em
frente. É por isso que ainda está sofrendo pelos cantos.
— O que você quer dizer?
— Pensa bem, Cecília. O que as garotas fazem quando tem seu
coração partido? Qual o maior ato de coragem de uma mulher quando se
decepciona? O que elas fazem quando decidem mudar?
Devo estar com a maior cara de idiota agora, porque enquanto Lucy
me encara com expectativa, eu só consigo pensar em como ela pode estar
no meio de um colapso.
Depois de segundos em silêncio, ela perde a paciência e bufa, com
uma expressão zangada:
— O visual, Cecília. Um novo corte de cabelo, uma nova cor.
Podemos deixar seu rostinho ainda melhor.
E pensando bem… Meu cabelo está longo demais e eu sempre quis
fazer algumas luzes para realçar a minha pele. Não tenho coragem de
arriscar em um loiro porque os cuidados que ele exige é bem mais do que
estou disposta agora, mas de resto…
É uma boa ideia.
— Acho que já temos nossa atividade pré-festa, então — concordo,
vendo-a sorrir.
E quer saber? Eu também sorrio.
Estou cansada de só chorar.
O reflexo no espelho
Me diz que é hora de ir para casa
Mas eu não estou pronto
Porque você não está ao meu lado
Why’d You Only Call Me When You’re High? | Arctic Monkeys

— Nós podemos pegar os carros novos do seu pai e testar a potência


correndo naquela pista perto da propriedade da sua família — Kaden
sugere, me passando a garrafa de rum que custou mais de dez mil dólares
como se fosse cerveja de barril.
Eu me limito a forçar um sorriso. Ele é o único que ficou do meu
lado e que está fazendo de tudo para me animar.
— Só quero encher a cara e esquecer que estou vivo — digo, sem
me preocupar em como isso soa deprimente pra caralho.
Kaden deixa os ombros caírem, mas concorda com a cabeça de
qualquer jeito.
Brandon está dando uma festa hoje com o time de basquete, e
embora nossa relação tenha melhorado desde que conversamos sobre a
mamãe, ainda não somos exatamente os melhores amigos.
Meu pai, depois de muita insistência, nos mostrou a carta que ela
tinha escrito naquela noite. Ela realmente estava planejando me levar desde
o início, mas não porque eu era o mais amado.
É porque ela achava que Brandon deveria viver, ao contrário de
mim.

“Alexander, gostaria de dizer que me arrependo do que estou


prestes a fazer, mas a verdade é que você merece cada dia miserável que
passará pelo resto da sua vida. Tenho certeza que você vai atrás dela e vai
começar uma nova família sem mim. Como se eu não valesse nada e não
passasse de uma lembrança.
Não posso ir embora e deixar que você continue sua vida sem
nenhuma consequência. Como temos dois filhos idênticos, acho justo que
cada um fique com o seu. Baron sempre foi parecido comigo. Ele é esperto,
não gosta de ser passado para trás e tem uma ambição que sempre nos
assustou.
Brandon é a sua versão. Ele é mais fraco, precisa da sua proteção
até para fazer xixi. Você pode ficar com ele e ir atrás da sua antiga
namoradinha, mas vai se culpar pelo resto da vida pelo que estou prestes a
fazer.
Não se esqueça: foi você que me obrigou a isso.
Tenha uma péssima vida, Alex.”

Meu pai me encara com pesar no olhar enquanto eu sentia o meu


coração ser dilacerado, palavra por palavra. Ela realmente estava
planejando se livrar de mim. Na cabeça deturpada da minha mãe, eu era seu
espelho, assim como Brandon era do meu pai.
Ela queria me levar com ela.
— Sua mãe não estava bem, filho. Tenho certeza que ela jamais
ameaçaria sua integridade física se fosse a mulher que eu conheci naquela
festa. Nós dois nos machucamos demais — lamentou ele, uma centelha de
culpa aparecendo em suas feições.
Mas ela estava certa, não é? Afinal, eu realmente provei que era
mais parecido com ela do que com o meu pai. E é por isso que a Cecília não
fala mais comigo, que Suzan foi embora e que Hunter tenha preferido voltar
para a cidade natal.
Eu não valho a pena.
— Podemos recomeçar, Baron. Eu, você e a Briana. Esquecer todo
esse passado fodido e nos unir. Não precisamos mais viver às sombras das
escolhas dos nossos pais — Brandon sugeriu, o rosto complacente.
E é o que estamos tentando fazer desde então. Briana e eu
conversamos, fizemos as pazes e nós três começamos a tentar fazer nossa
relação funcionar.
Descobri que Brandon não é o maior fã da faculdade, mas o que
realmente me impressionou foi saber que Briana estava ajudando-o no
último semestre. É por isso que eles viviam juntos e isso traz um conforto a
mais para mim.
O que me traz de volta para Kaden, que está sentado no sofá do meu
novo apartamento como se fosse dono do lugar. Ele veio me fazer
companhia na véspera do Ano-Novo e eu tenho quase certeza de que sei o
real motivo.
Lucy deve estar fazendo companhia para Cecília também.
— Quer enviar uma mensagem pra ela? — meu amigo pergunta,
com uma expressão séria no rosto. Ele está sempre exibindo-a por aí
ultimamente e eu me culpo por isso também.
Balançando a cabeça, eu levo a garrafa até a boca.
— É melhor não. Eu prometi que deixaria ela em paz, Kaden.
Ele solta uma risada irônica.
— E como isso tem sido? Porque enviar flores todos os dias, mesmo
sem um bilhete, não é o que eu chamaria de deixar em paz.
— É diferente. Só quero que ela saiba que eu continuo pensando
nela todos os segundos do meu dia. Que eu a deixei porque a amo demais
para continuar prendendo ela.
Ele revira os olhos, forçando uma expressão de nojo.
— O Baron que eu conheci já teria pegado essa garota por aí e a
sequestrado para algum lugar. Ele só iria trazê-la de volta quando os dois já
tivessem se resolvido.
Atiro a almofada do sofá na direção dele com força, mas Kaden a
intercepta como se fosse a porra de um wide receiver do futebol americano.
— Não adianta ficar puto comigo, Donovan. Você sabe que eu tenho
razão.
Passando as mãos em desespero pelo meu cabelo, bufo, frustrado.
— Eu estou tentando ser alguém melhor, porra. Não quero continuar
fazendo as coisas desse jeito. Olha só onde essa merda me trouxe. Estou
sozinho e perdi a garota da minha vida. Vou continuar fazendo tudo do jeito
dela.
Kaden grunhe, atirando a almofada de volta em mim.
— Pode dar adeus à sua namorada, então. Porque a Cecília é linda e
os caras vão acabar se esquecendo de que vocês dois já foram um casal.
Consegue imaginá-la andando por aí de mãos dadas com o Noah? Usando o
número da camiseta dele nos jogos, conhecendo a família dele?
Meus punhos se cerram com a vontade de socar alguém. Vejo
vermelho quando o monstrinho do ciúmes começa a me espezinhar,
tomando conta do meu corpo como se essas merdas de fato estivessem
acontecendo.
Eu seria capaz de ver isso à distância? De vê-la seguir em frente
com algum babaca e ficar quieto, sem me aproximar, mesmo que meu
coração estivesse sangrando de saudades e ciúmes?
E a resposta é que eu não conseguiria, porra. Mataria qualquer
merdinha que se atrevesse a tocar o que é meu.
E Cecília Braga é minha. Sempre foi e sempre será.
— Onde ela está? — pergunto com frieza.
Kaden solta uma risada estridente, parecendo com o diabinho que
normalmente ele é. Depois de dar um pulo no sofá, meu amigo me mostra
os dentes.
— Lucy vai levá-la para a festa de Ano-Novo do time de basquete.
Se você não quisesse mesmo ir atrás dela, eu ia ter que apelar para a
imagem de todos aqueles grandalhões em volta da Cecília. A garota ia fazer
a festa.
Dou um passo ameaçador na direção de Kaden, que ergue as mãos
em sinal de rendição, morrendo de rir. Me irritar vai se tornar seu
passatempo favorito e essa merda não me deixa nada feliz.
— Baron, você deveria ver como ficou a sua cara!
— E você deveria saber que próteses dentárias não são nada baratas.
Você vai acabar perdendo uns dentes.
Ele dá de ombros.
— Nah, sou jogador de hóquei. Provavelmente vou perder todos
eles um dia. Agora ou mais pra frente, qual a diferença?
Balançando a cabeça, eu o encaro, sem reação. Ele, de fato, tem
razão, mas mesmo assim…
— Está pronto para recuperar a sua garota, capitão?
— Estou pronto.
— Já passava da hora, porra.

O time de basquete alugou uma casa enorme e afastada de todas as


outras propriedades. A mais próxima fica a um raio de quase cinquenta
quilômetros e ao ouvir todo o barulho e a quantidade de gente presente,
tudo faz sentido.
Só de pensar em Cecília andando por aqui com todos esses caras
sem camisa e prontos para agarrar qualquer coisa que se mexe, meu sangue
ferve. Brandon e eu podemos estar melhorando a nossa relação, mas ele
continua me provocando.
Acho que isso é o significado de ter um irmão, afinal.
— Preciso encontrar a Lucy ou vou acabar assassinando alguém —
sibila Kaden, torcendo o nariz para um casal que está transando no
gramado, na frente de todo mundo.
Mas mesmo depois de rodarmos o lugar inteiro duas vezes, não as
encontramos. Kaden tenta entrar em contato com Lucy, mas nossos
telefones estão sem sinal.
Que grande merda.
— Elas devem estar a caminho — murmura ele. — Provavelmente
pararam em algum lugar para comer ou qualquer porra assim.
Nós nos servimos de ponche e ficamos mais isolados, apenas
observando todo o caos dessa festa. Em determinado momento, Vicky
aparece, com um sorriso bobo nos lábios.
— Olha, vejam só… Baron Donovan finalmente dando as caras. —
Ela joga a cabeça para o lado e pelos olhos vermelhos é nítido que Vi está
fazendo muito mais do que só beber. — Está voltando à ativa?
Kaden solta uma risadinha cínica antes de virar toda a sua bebida de
uma vez.
Reviro os olhos para o seu drama.
— Estou em uma missão.
— Ah, meu Deus! Você vai tentar recuperá-la, não é? Isso é tão
romântico! — Vicky se pendura no meu pescoço, o que me arranca uma
risada.
Nós ficamos umas duas vezes antes dela pedir transferência, muito
antes de eu conhecer Cecília pessoalmente. Ela sempre foi uma boa
companhia e alguém agradável, mas ultimamente não quero estar perto de
ninguém.
— Porra — Kaden murmura, me fazendo desviar o rosto de Vicky
para a porta.
E… Puta merda.
Cecília está ao lado de Lucy, mas algo nela está diferente.
A porra do cabelo.
Ela cortou na altura dos seios e eles parecem mais claros também.
As ondas nas pontas o deixam mais volumoso e agora ela está parecendo
uma modelo da Victoria’s Secret.
Todos os putos dessa festa se viram para encará-la. Cecília está
tirando o fôlego de todos, inclusive o meu.
— Meu Deus do céu — Vicky soluça. — Essa garota é linda
demais, Baron. Se eu fosse você, corria agora. Não vai ficar sozinha por
muito tempo.
Flexiono a mandíbula, irritado para como todos os olhares de cobiça
desses caras estão sobre a minha garota. Onde foi parar o respeito, caralho?
Será que eles esqueceram de todas as merdas que eu posso fazer?
Mas é então que eu noto algo que ainda não havia percebido.
Os olhos de Cecília estão fixos em mim.
Mais especificamente nas minhas mãos. E por algum motivo idiota
do caralho, eu ainda estou segurando Vicky pelos ombros.
Seus olhos brilham com… Ciúmes? Possessividade? Mas ela logo
trata de virar o rosto, sorrindo para o primeiro pau no cu que ela vê passar.
— Ela ainda gosta de você, meu amigo. — Kaden dá um tapa
solidário no meu ombro. — Te desejo sorte. Agora eu vou foder a minha
namorada no banheiro, porque esse vestido curto está fazendo as minhas
bolas doerem.
Observo Kaden andar até a namorada, agarrando-a pela cintura e a
alçando até os ombros como se a menina não pesasse nada. Lucy grita algo
para Cecília, que assiste a cena com uma centelha de diversão no rosto.
Os caras começam a berrar palavras de incentivo para Kaden, que
ergue a mão como se fosse um guerreiro enquanto leva Lucy na direção das
escadas. Ela está com um sorriso sem graça no rosto, mas também está
segurando-o com força.
Quem diria que esses dois realmente iriam acabar dando certo?
— Será que ela está pensando que você já está acompanhado? —
Vicky sugere, parecendo achar graça. — Quer que eu fale com ela?
Mas a ideia de estar causando ciúmes em Cecília é deliciosa demais
para que eu deixe passar assim.
Vamos continuar brincando por mais um tempo.
— Aquele garoto parece pronto para atacar. — Vicky solta uma
risada, passando a língua pela borda do copo. — Ele não faz parte do time
de hóquei?
Noah fodido Ricci está andando determinado na direção de Cecília e
um arrepio na minha espinha sobe. Vou acabar cometendo uma loucura se
ele ousar…
Porra.
Ela está sorrindo para ele? Cecília realmente está sorrindo e
conversando animadamente com esse filho da puta?
— Acho que você precisa de uma bebida — a capitã do time de
vôlei resmunga, mas não faço ideia do que ela fez depois disso.
Porque meus olhos não deixam meu alvo um segundo sequer.
E… Caralho, acho que ela sabe muito bem disso. Joga o cabelo para
o lado, conversa com as pessoas, aceita bebidas de estranhos. Tudo isso
enquanto ainda estou aqui, encostado na parede, ignorando todo mundo que
vem falar comigo enquanto a observo como um maníaco.
— Ei, irmão. — Brandon surge com um sorrisinho convencido nos
lábios. — Pensei que você não viria.
Briana aparece ao seu lado, o olhar desviando para onde Cecília
esbanja toda a sua alegria e presença.
— Ele iria para qualquer lugar que a Cecília está, Bran. Lembra?
Meu irmão balança a cabeça.
— Parece que a sua garota está bem ocupada, mano. Quer que eu vá
até lá?
Eu quero que ele vá? Porra, eu deveria ir até lá.
Grunhindo, nego com a cabeça.
— Ela não quer que eu a incomode. Vou ficar aqui por um tempo, só
vigiando. Estou com medo dela beber demais.
— Eu aposto que isso não é tudo — Briana zomba. — A garota está
mais cercada do que um pedaço de carne em um mar cheio de tubarões.
Esses caras não conseguem parar de olhar.
Aperto o copo com tanta força ao redor dos meus dedos que acho
por um momento que o vidro vai quebrar.
— Se você a quer tanto, está na hora de começar a agir de novo. Ela
está com o orgulho ferido demais para abaixar a guarda — minha irmã
continua. — Talvez só esteja esperando o babaca se redimir e se desculpar.
— Eu estou deixando-a livre.
Briana bufa.
— Sim, livre para se apaixonar por outro. É isso mesmo que você
quer? Ficar aqui assistindo enquanto Noah Ricci começa a dançar?
É isso que eu quero? Definitivamente não.
Noah a segura pela mão quando a música muda de um pop genérico
para uma eletrônica. Os dois começam a dançar e em poucos segundos
todas as pessoas ao redor fazem o mesmo.
Cecília está pulando e pulsando com a música, jogando a cabeça
para trás enquanto absorve a energia de todas essas pessoas. Embora as
mãos dele na cintura dela estejam me causando uma verdadeira onda de
fúria, não posso deixar de negar o quanto meu coração acelera ao vê-la feliz
novamente.
O garoto a vira sem nenhuma delicadeza e ela abre um sorriso
surpreso. Meu rosto deve estar mais vermelho do que um tomate, porque o
sinto pegando fogo.
— Não posso negar que o cara tem atitude — Briana me provoca
mais uma vez, logo antes de se jogar no meio da multidão para dançar
também.
— Foda-se o Noah Ricci. — Meu irmão me dá mais um tapinha no
ombro, apontando o dedo para o meu peito. — Você vai fazer essa garota
voltar a fazer parte das nossas vidas, Baron. Tá me entendendo? Eu sinto
falta da Cecília. Droga, até da Suzan. Gostava da comida delas e a Ceci
sempre me fazia rir. Nós já perdemos a nossa mãe, irmão. Não vamos
deixar essa garota escapar também.
E pela primeira vez em anos, sinto vontade de puxar meu irmão para
um abraço apertado. Não porque ele está me dizendo para eu pegar o que eu
quero, mas sim por estar do meu lado até agora.
Como Kaden ficou.
E como Briana também está tentando ficar.
É o que dizem… Irmãos por acaso, amigos por opção. Fico feliz por
finalmente ter feito a escolha certa.
A constatação de que não estou mais sozinho me atinge de uma vez.
Por que eu costumava achar que ninguém me queria por perto? Esse
pensamento de “nós contra eles” que a minha mãe plantou em mim
finalmente deixou de fazer sentido.
E é com esse pensamento que caminho, decidido, até onde a
multidão de pessoas está dançando.
Noah está com os lábios no pescoço de Cecília enquanto ela rebola
contra seu corpo. Os corpos suados, o cabelo dela grudando no rosto e toda
a aura de sexo permeando o ambiente me deixa puto.
Mas reprimo todos os meus impulsos, sabendo muito bem que
causar uma cena agora só vai afastá-la ainda mais.
Ceci está com a cabeça jogada para trás, os olhos fechados. Dou um
empurrão em Noah com o ombro e o babaca me encara com o rosto em
pânico. Esse babaca realmente achou que eu ficaria parado e com os braços
cruzados enquanto ele tenta tirar uma casquinha da minha garota, porra?
Murmuro um “vaza” um segundo antes de assumir o seu lugar.
Cecília fica completamente rígida em meus braços enquanto eu a
abraço com força.
Porra, que saudades.
O cheiro dela é a primeira coisa que me atinge em cheio. Inflo
minhas narinas, ainda com o ciúme entalado na garganta. Ver outro cara
com as mãos nela ainda vai me assombrar.
— Baron — ela suspira, ainda sem se virar para me encarar.
— Oi, amor.
— Você não consegue me deixar em paz mesmo, não é?
Raspo meus lábios em sua nuca, sentindo-a estremecer contra mim.
Meu pau endurece na mesma hora, louco de vontade de entrar
dentro dela de novo.
— Não posso ficar parado enquanto outro cara toca você, Cecília.
Ela bufa, se virando para me encarar.
Nossos rostos estão a centímetros de distância e é como se o mundo
à nossa volta pudesse explodir. Nada iria conseguir me tirar desse momento,
da sensação e da química que exalamos juntos.
— É engraçado você dizer isso quando eu a vi com você agora
mesmo.
— Está com ciúmes, amor?
— Ciúmes de você? — ela debocha. — Só estou cansada de tanta
hipocrisia. Eu sou uma mulher livre e desimpedida, Baron. Posso transar
com qualquer um nessa festa. Na verdade, eu estava prestes a levar o Noah
para o segundo andar. — Seu tom de voz vai ficando mais baixo. — Ele
com certeza deve saber o que fazer para uma garota.
Arqueio a sobrancelha.
— Não é bem o que eu ouvi. Ele gosta muito mais de assistir, se é
que você me entende.
A diaba apenas dá de ombros.
— Melhor ainda. Poderíamos escolher mais um para integrar a
nossa festinha.
Subo minha mão até encontrar seu pescoço. Faço um carinho suave
com o polegar, mesmo que a minha vontade seja fodê-la na frente de todo
mundo enquanto me assistem reivindicar o que é meu.
— Só por cima do meu cadáver, Cecília. Você é minha e se algum
cuzão tiver coragem de te tocar, será morto.
E então eu vejo.
Uma centelha de excitação em seu rosto. As coxas se esfregando em
busca de alívio. Sua respiração ficando ainda mais pesada enquanto os
olhos…
Porra, as pupilas estão dilatadas. Parece que ela acabou de tomar
mais uma dose da droga que é viciada.
— É disso que você gosta, não é? — provoco, intensificando o
aperto em seu pescoço. — Você gosta quando eu digo o quanto seu corpo
me pertence.
Ela tenta negar com a cabeça, mas eu vejo os mamilos intumescidos
despontando da blusa justa.
Cecília não está usando sutiã e eu estou prestes a comê-la bem aqui.
— Vou comer você até que esqueça todas as merdas que eu fiz. Até
você me perdoar — continuo, usando a minha outra mão para encontrar sua
calcinha encharcada.
Ela arregala os olhos, mas as pessoas ao nosso redor não se
incomodam com o fato de eu estar prestes a masturbá-la na frente de todo
mundo.
— Você vai gozar gostoso no meu pau enquanto eu me desculpo
com você, não vai?
Um olhar para seu rosto vermelho e excitado e tenho a minha
confirmação.
Ela lambe os lábios suavemente, com a expressão “me coma”
gritando em seu semblante.
— Faça isso valer a pena, Donovan — ela murmura, se dando por
vencida.
Abro um sorriso de canto, sabendo muito bem que essa merda vai
ser a melhor noite das nossas vidas.
Mãos nos seus joelhos, Angelina Jolie
Deixe-me colocar minhas mãos em seus joelhos,
você pode trançar o meu cabelo
Fazer abdominais atrás em algum lugar
Peppers | Lana Del Rey part. Tommy Genesis

Meu rosto bate na parede quando Baron vem por cima de mim,
usando a boca para beijar e chupar a pele exposta da minha nuca. Seu hálito
quente se choca contra minha pele e sinto arrepios por toda a parte.
Ele enfia a mão na minha calcinha enquanto se esfrega em mim por
trás e mesmo que o corredor esteja vazio, a possibilidade de qualquer um
passar só aumenta ainda mais nosso tesão.
— Porra, que saudades disso — ele ofega, massageando meu clitóris
com os dedos habilidosos.
Minha respiração sai em lufadas enquanto ele continua me tocando,
suavemente e sem parar. Estou cada vez mais molhada, seus dedos
espalhando a minha lubrificação por toda a parte.
Baron segura meu rosto quan do aproxima os lábios dos meus.
Estou de costas para ele, com o pescoço virado para conseguir beijá-lo,
enquanto monto sua mão em busca do meu prazer.
— Preciso entrar em você agora — rosna ele, tateando a parede até
encontrar a maçaneta de um quarto.
O primeiro que tentamos está ocupado por Kaden e Lucy. Ele está
deitado na cama, completamente nu, enquanto a minha amiga monta o seu
rosto descontroladamente.
Porra, tá aí uma imagem que vai ser difícil esquecer.
— Que merda. — Baron solta uma risada quando volta a fechar a
porta.
Mas eu não quero deixar que isso estrague o nosso momento, então
pulo em seu colo, passando as minhas pernas ao redor do seu quadril. Ele
me segura na mesma hora, as mãos agarrando as minhas coxas enquanto
nossos lábios colidem.
Puta. Que. Pariu. Como vou conseguir viver sabendo que o único
cara capaz de fazer meu corpo sentir todas essas sensações é ele?
Quando minhas costas batem na parede, Baron começa a descer os
beijos pelo meu pescoço. Ele usa a língua para lamber todo o pedaço de
pele que encontra e de repente fico muito feliz por ter escolhido essa saia
xadrez.
Ele vai se agachando, sem se importar que ainda estamos no
corredor, e começa a descer a minha calcinha pelas pernas.
Estou tão excitada que não estou nem aí para quem quiser parar e
apreciar o show. Só preciso da boca dele me chupando, me fazendo gozar e
me levando à loucura como só ele sabe.
— Estava sedento por isso — ele murmura um segundo antes de
cair de boca em mim.
Meu corpo amolece contra a parede, meus joelhos perdem a força.
Mas os ombros fortes de Baron servem como uma espécie de banco
enquanto ele me chupa com vontade, usando a língua para me estimular
enquanto deixa beijos delicados por toda a minha carne inchada.
— Baron… — gemo, perdendo o pouco do controle que eu ainda
possuía.
A imagem de seu rosto entre as minhas pernas sempre vai ser a
minha preferida.
— Me perdoa, Cecília — o filho da mãe pede com o tom de voz
rouco.
É covardia me pedir desculpas quando está me chupando tão
gostoso assim e ele sabe.
Ele sabe o quanto eu adoro sentir sua boca em mim, com avidez ao
me saborear. Ele esfrega os lábios com sofreguidão pelo meu clitóris,
abrindo um sorriso diabólico ao sentir minhas pernas começarem a tremer.
— Vou fazer isso todos os dias pelo resto da minha vida para
mostrar o quanto estou arrependido. Nosso dia só vai começar depois de eu
sentir você gozando na minha língua.
Reviro os olhos, tomada pelo prazer que suas palavras misturadas
com o ritmo de sua língua me proporcionam.
Ele sobe as mãos até os meus seios, apertando-os por cima da blusa,
quando escutamos um grunhido nos tirar da névoa do desejo.
Um casal está parado, ambos com os olhos arregalados para a cena
que estão vendo.
Baron desgruda a boca de mim, os lábios brilhando com a minha
lubrificação. Ele franze o cenho, irritado.
— Caiam fora, porra.
Eles nem pensam duas vezes antes de nos darem as costas e irem
embora.
E Baron, como se nada tivesse acontecido, começa a me chupar
novamente. Agarro seus cabelos, começando a me esfregar na sua boca
como se fosse uma amazonas, cavalgando seu rosto em busca do meu
orgasmo.
Estou tanto tempo na seca que só de não ter gozado em dois minutos
eu já me sinto vitoriosa.
— Ah, merda… Você é tão gostosa, amor.
O prazer se avoluma no meu ventre antes de sentir o fio de prazer
subir da unha do pé até o meu último fio de cabelo. Baron continua com o
rosto enfiado na minha boceta, chupando com sofreguidão até que as
minhas pernas caem, moles, ao lado do meu corpo.
— Você ganhou uns dois pontos com isso, mas não pense que é o
suficiente — sussurro com a voz lenta.
Ele está com o rosto todo molhado com a minha excitação. Baron
abre um sorriso safado para mim antes de concordar com a cabeça.
— Nós nem começamos ainda, Cecília.
Passamos pela porta do quarto que está sendo ocupado por Kaden e
Lucy até encontrarmos um que esteja livre.
Baron não perde tempo ao me jogar contra a cama arrumada, vindo
por cima de mim como um predador. Ele arranca a saia das minhas pernas,
me deixando completamente nua da cintura para baixo. Em seguida, tira a
própria blusa, jogando-a no chão do quarto como se fosse um pano de chão.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi.
Engulo em seco ao ver seus olhos escurecerem de desejo. Ele
começa a passar o dedo lentamente pela minha pele, igualzinho fez da
última vez que nos vimos, só que num fio do meu cabelo.
— Achei que nunca mais ia te tocar assim… — Sua voz
melancólica me pega de surpresa. — Eu estava enlouquecendo, Ceci.
Ficando completamente maluco sem você.
Nossos olhares não se desgrudam enquanto ele abaixa o rosto,
beijando a minha barriga com suavidez. Uma lufada de ar escapa de mim
com a imagem de Baron submisso, murmurando palavras de desculpas
enquanto beija minha pele com paixão.
— Um dia eu te pedi para ser completamente devota a mim. Eu
achava que era isso que eu queria.
Minha voz não sai tão firme quando eu pergunto, confusa:
— E não é o que você quer?
Baron encosta a bochecha na minha barriga, circulando os braços ao
redor da minha cintura ao me puxar para um abraço. O gesto me pega de
surpresa por quebrar o clima, mas eu não o pararia agora.
— Não. Eu quero ter você, Cecília. Do meu lado ou acima de mim.
Tanto faz. Mas só quero que você queira estar comigo. Não posso voltar
para o inferno em que eu estava sem você.
E por mais brega ou cafona que isso possa soar, é a primeira vez que
sinto verdade nas palavras de Baron. O desespero no rosto, o jeito como ele
esfrega a bochecha na pele da minha barriga, como se estivesse tentando
guardar cada pedacinho meu nele.
Quando Baron sobe o rosto para me encarar, eu o encontro no meio
do caminho, roubando um beijo de seus lábios. Ele sorri contra a minha
boca ao segurar minha nuca com possessividade, descendo o rosto para
distribuir beijos pelo meu pescoço e colo.
— Tira isso — ele pede, me ajudando a tirar a minha blusa.
A calça dele é a próxima a ir parar no chão e quando estou prestes a
tirar meus saltos, ele para.
— Fique com eles.
Seu pau salta livre quando eu o ajudo a tirar sua roupa íntima
também e eu me coloco de joelhos sobre a cama para chupá-lo. Baron
geme, jogando a cabeça para trás ao fechar os olhos, aproveitando a
sensação de ter minha boca lambendo-o.
— Eu amo tanto foder sua boca, amor. — Sua voz rouca me faz
sentir uma fisgada entre as pernas.
Como ele pode ser tão sexy?
Começo a mover a minha cabeça para frente e para trás, alucinada
por estar com ele novamente. Baron me ajuda, impulsionando os quadris até
seu pau atingir a minha garganta. Ele segura meu cabelo com carinho,
tirando alguns fios do rosto enquanto arremete com mais força.
— Porra, Cecília. Preciso entrar em você agora.
E quem sou eu para negar isso a ele?
Me afasto o suficiente para que ele possa se acomodar entre as
minhas pernas e ele estoca em mim sem esperar mais nenhum segundo.
Minha voz fica presa na garganta enquanto ele segura meus quadris, me
fodendo com toda a saudade que ele diz sentir por mim.
— Caralho… Você é perfeita, porra.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço, gemendo quando Baron
tira o pau mais uma vez antes de arremeter com força.
— Como pensei que poderia sobreviver sem isso? — pergunto mais
para mim mesma, com a voz fraca.
Mas Baron Donovan escutou e o sorriso arrogante em seu rosto me
diz tudo o que ele deve estar pensando.
Você não conseguiria.
— Abra mais as pernas para mim — ele manda, deslizando para
dentro e para fora de mim.
— Como quiser, amor.
O apelido escapa sem querer, mas é o suficiente para Baron
congelar, me lançando um olhar em adoração. Quando avança em minha
direção dessa vez, sei que estou perdida.
Estou tão molhada que estamos fazendo uma verdadeira bagunça
nesses lençóis enquanto ele me fode, sem parar, sem dó. Gememos em
uníssono, um na boca do outro, enlouquecidos pelo prazer que somente
nossos corpos podem nos dar.
Baron desce o rosto até encontrar meu mamilo sensível. Ele chupa
um enquanto aperta com força o outro, sem deixar de entrar em mim.
Circulo sua cintura com minhas pernas, vendo estrelas quando ele atinge
um lugar ainda mais fundo.
— Ai, meu Deus — suspiro, fincando minhas unhas em sua bunda
para senti-lo ainda mais dentro de mim. — Continue fazendo isso.
E como um súdito, Baron obedece ao meu comando. Ele aumenta a
velocidade, subindo a mão até o meu pescoço para apertar com vontade
antes de se concentrar na minha boceta.
Eu nunca pensei que ficaria tão excitada ao ser enforcada, mas estou
quase entrando em combustão.
— Você vai gozar pra mim, amor?
É impressionante como o meu corpo obedece o comando de sua
voz. Eu sinto a dor deliciosa do orgasmo subir pelo meu corpo, gozando
sem parar enquanto Baron continua arremetendo para dentro de mim.
Ele grunhe, mordendo o meu pescoço com força quando seu próprio
alívio chega. Baron goza dentro de mim, me marcando e reivindicando
como se nunca tivéssemos nos separado.
Em seguida, beija no local da mordida com carinho. Ao subir o
rosto para o meu, seu polegar faz um carinho na minha bochecha e meu
coração começa a acelerar.
Eu realmente não conseguiria mais viver sem a sua loucura.
Sem você.

— Você gostou das flores? — ele pergunta, depois de gozarmos pela


terceira vez.
Baron realmente não mentiu quando disse que ia me pedir perdão
até a exaustão. Não consigo mais sentir minhas pernas depois da nossa
última posição.
Traçando círculos preguiçosos em sua barriga, eu bocejo. Estou
começando a sentir o cansaço até os ossos depois dessa pequena maratona,
mas entendo que temos assuntos para resolver.
— No início, eu as odiava. Ainda estava muito brava com você,
então as joguei fora. Mas ultimamente… Elas até que fazem uma boa
decoração.
Baron beija meu ombro desnudo.
— Eu estava passando em frente à lixeira do seu alojamento todos
os dias. Via as flores lá e me sentia um merda. Até que reparei, na semana
passada, que elas não estavam mais lá.
Sufoco uma risada ao esconder meu rosto em seu pescoço.
— Você é mesmo bem maluco, não é?
— Sou maluco por você e isso nunca vai mudar.
— Presumo que terei que me acostumar, então — brinco, mesmo
sentindo-o se retesar embaixo de mim.
Baron me puxa para os seus braços, a respiração ofegante.
— Você me perdoa, então?
E lá vamos nós.
Eu me sento para encará-lo nos olhos, puxando o lençol para cobrir
meus seios. Com a ponta dos dedos, eu desfaço o vinco que se formou em
sua testa, ele aproveita isso para segurar a palma da minha mão e beijá-la.
— Eu perdoei você e a minha mãe já tem alguns dias. Eu precisava
perdoar vocês para conseguir seguir em frente — pontuo por fim. —
Entendo que você estava desesperado para me conhecer, mas não quero que
você manipule ou controle as coisas ao meu redor nunca mais, Baron.
Nunca. Mais.
Ele assente com a cabeça fervorosamente.
— Cheguei à conclusão que não importa como nos conhecemos, a
verdade é que eu também senti essa mesma conexão por você. Me perguntei
o que eu seria capaz de fazer para te encontrar caso só eu soubesse da sua
existência…
Ele abre um sorriso prepotente.
— E você faria o mesmo que eu?
— Pelo amor de Deus, não. Eu sou um ser humano normal. Eu
provavelmente iria te mandar um monte de mensagens e entre eles poderia
ou não ter um nude, sabe como é…
— Seria realmente impossível resistir a esses peitos.
— Não é? — brinco. — Mas falando sério, chega de segredos. Na
próxima vez que eu descobrir qualquer merda a seu respeito, Baron, juro
que você nunca mais vai me ver. Nem à distância. Vou simplesmente sumir.
— Você nunca mais vai descobrir nada sobre mim, amor. Estou
falando sério. Chega de segredos. — E então ele faz uma pausa. — Ah, tem
mais uma coisa. Brandon e eu descobrimos que Briana é nossa irmã. E a
minha mãe tentou se matar quando eu era criança e o plano era me levar
junto. É, acho que te contei tudo.
Puta. Merda.
Meu queixo quase vai ao chão com a enxurrada de informações e
vou precisar de um tempo para processar tudo o que acabei de ouvir.
Pobre Baron. A mãe era uma espécie de heroína para ele e
imediatamente me recordo das fotos que ele costumava guardar nas caixas
em seu closet.
— Eu sinto muito — digo com a voz baixinha. — A gente não pode
escolher os próprios pais, não é?
Ele abre um sorriso fraco, erguendo a mão para fazer um carinho no
meu rosto.
— É, não podemos. Mas os pais também são falhos e erram. Não é
porque você teve um filho que está passível de não cometer alguns
equívocos.
Mordo meu lábio inferior, sabendo muito bem o quanto ele está
certo sobre isso. Pais também são seres humanos.
— Eu me desculpei com a sua mãe, Cecília — ele diz. — Faz umas
duas semanas desde que fui até o Texas pessoalmente para pedir perdão.
Não sei como está a relação de vocês, mas acho que vocês deveriam
conversar. Suzan cometeu erros, é verdade, mas acho que está tentando se
redimir com você. Isso é mais do que a maioria das pessoas tem.
Eu sei que isso é verdade. Já tinha perdoado a minha mãe por ter me
deixando no Brasil, perdoei novamente por não ter contado do noivado, mas
ainda não sei se estou completamente pronta para encará-la sobre me usar
como barganha para conseguir fisgar Alexander.
Baron errou na forma como fez para me trazer para perto, mas saber
que a mulher que me deu a vida não pensou duas vezes antes de me
empurrar nos braços dele dói mais.
— Vou mandar uma mensagem para ela hoje — respondo. — É
Ano-Novo, afinal.
E quando ele abre o sorriso complacente para mim, eu sei que ele
entendeu o que eu quis dizer.
É Ano-Novo e eu espero que ela esteja feliz, não importa aonde.
Espero que ela tenha alguém para pentear seus cabelos e que a
lembre de como ela é bonita.
E, talvez, eu também espere estar com ela no próximo réveillon.
— Quer sair daqui e comer alguma coisa? — eu pergunto, já
pulando da cama.
Baron franze o cenho, se espreguiçando na cama em todo o seu
tamanho.
— É Ano-Novo, já são quase quatro da manhã e eu estou exausto,
amor. Acho que não tem nenhum lugar aberto.
— Vamos para a praia então. Quero assistir o sol nascer. Novo ano,
novas escolhas e um novo recomeço.
Ele assente prontamente, ajudando a me vestir antes de fazer isso
nele mesmo. Depois de terminarmos, eu seguro seu braço, encarando-o nos
olhos.
— Eu te perdoei, mas espero que possamos ir devagar. Sem toda a
pressão do namoro. Vamos só curtir o momento, tudo bem?
Baron não parece completamente satisfeito, mas concorda com a
cabeça de qualquer maneira.
— Vamos no seu tempo. O importante é ter você de novo na minha
vida.
E antes de seus lábios tocarem os meus, um pensamento muito
satisfatório me invade.
É, eu vou gostar muito dessa nova versão dele.
Você tira os meus pés do chão
Você me faz girar
Você me deixa mais louca, mais louca
Sinto como se estivesse caindo e eu
Estou perdida em seus olhos
Crazier | Taylor Swift

um ano e meio depois

“Vamos devagar” foi o que eu disse para o meu ex-irmão postiço há


pouco mais de um ano.
Isso antes de eu descobrir que naquela mesma noite ele acabou me
engravidando.
É, digamos apenas que Baron fez o serviço completo quando quis
me reconquistar. E embora a culpa não seja completamente dele já que eu
sabia que não estava mais na pílula há semanas quando transamos no Ano-
Novo, não consigo parar de dar risada da ironia.
— Cadê a menina linda da mamãe? — brinco com Bruna, ajeitando
as maria-chiquinhas nela antes de colocar seu vestido de princesa. — O
vovô vai chorar quando ver você usando isso. Sim, ele vai — continuo
fazendo voz de criança, o que arranca gritinhos da minha filha.
Não moramos mais nos Estados Unidos porque o pai dela acabou
sendo draftado para o time de Vancouver, no Canadá. Quando ele recebeu a
oferta, estava prestes a recusar por medo de me perder, mas eu jamais
deixaria ele fazer algo assim. Pedi transferência da faculdade e pouco
tempo depois dei à luz a nossa filha.
— Vocês estão prontas? — Baron pergunta, completamente
deslumbrante em um terno caríssimo que comprou só para essa ocasião.
Seus olhos me percorrem da cabeça aos pés e a fome que vejo neles
reflete a minha. Ah, eu com certeza vou pular nele daqui a pouco.
— Pensei que você nunca ficaria mais linda do que no dia do nosso
casamento, mas caralho, Cecília. Você está me deixando louco aqui.
Ele se aproxima de mim e rouba um beijo rápido dos meus lábios.
Bruna começa a pular no banco que está sentada, doida por atenção.
— Essa só pode ser sua filha mesmo — zombo, ainda com meus
lábios colados nos seus. — Vamos acabar nos atrasando.
Ele concorda com a cabeça, pegando Bruna no colo enquanto eu
entrelaço meus braços nos dele.
Nós somos uma família.
É engraçado pensar nisso quando Brandon e Briana aparecem,
ambos com sorrisos de orelha a orelha, já se agachando para começarem a
dar atenção para a Bruna.
Sim, nós acabamos seguindo a tradição do “B” ao escolher o nome
da neném.
Briana se aproximou dos irmãos e hoje em dia eles estão mais
próximos do que nunca. Baron é o mais distante entre os três, mas fico
muito orgulhosa dele por estar se abrindo para sua família.
Brandon se mudou para Londres depois que se formou e hoje cuida
da rede de hotéis da família. Em determinado momento, acabamos
descobrindo que ele estava se envolvendo com a gerente de uma das redes
e, bom… Acho que eles estão planejando se casar no próximo verão. Lily é
uma mulher doce e engraçada e sempre traz presentes para Bruna quando
vem nos visitar com o tio Bran, então ela ganhou vários pontos com a
gente.
— Onde está a Lily? — pergunto, já entregando Bruna para o tio.
Ela ama muito o Brandon e solta esses gritinhos sempre que o vê. Já
comentei com ele que as visitas esporádicas precisam acontecer com mais
frequência.
— Ela não conseguiu vir, tinha um evento na própria família. É por
isso que não vou poder ficar até o fim da semana.
— Ah, que pena — murmuro, ajeitando o cabelo de Bruna. —
Baron não vai admitir, mas até ele está com saudades.
Meu marido bufa, cruzando os braços enormes na frente do corpo.
— Não estou não.
— Ah, ele está sim. Até de você, Bri — instigo, cutucando-a com o
ombro. — Ele não para de dizer sobre como vocês nunca vão para
Vancouver ficar mais de duas semanas.
Minha cunhada abre um sorriso convencido.
— Eu sabia que esse idiota morre de saudades da gente.
Nós ficamos conversando por mais um tempo até que nossa
presença é solicitada pelo noivo. No caminho, somos interceptados de novo,
mas dessa vez pelo casal vinte mais conhecido como Kaden e Lucy.
— Olha se não são os papais — minha amiga brinca, já tirando
Bruna das minhas mãos. — Estou doida para fazer uma dessas.
— Ei, já disse que podemos tentar hoje mesmo — Kaden zomba,
fazendo um carinho na cabeça da minha filha. — Mas nada vai conseguir
superar esse sorrisinho. Essa menina é muito inteligente.
E como se percebesse o elogio, Bruna mostra as gengivas, batendo
palminhas para a voz afetada de Kaden.
É engraçado pensar em como esses dois realmente deram certo.
Logo após a formatura, Kaden também passou pelo draft e se mudou para o
Canadá. Nós o vemos com bastante frequência, mas Lucy continua
morando na Califórnia. Eles se casaram antes da mudança de K e agora
estão contando os dias para a minha amiga se formar e nos tornarmos
vizinhas oficialmente.
Até Hunter nos visita de vez em quando. Ele continua fechado e
misterioso, mas pelo que Baron deixou escapar uma vez, a situação entre
ele e Amy está começando a melhorar.
— Está preparada para chocar todos aqueles convidados? — Lucy
me provoca, fazendo a pergunta do século.
Estamos aqui para o casamento de Suzan e Alexander. Minha mãe
ficou reclusa por um tempo, mas quando voltou para a cidade para se
despedir de mim e me ajudar com a mudança, ela e meu ex-padrasto
conversaram.
E… É. Ele não é mais “ex” nas nossas vidas.
Agora nós estamos nos arrumando para subir no altar com os nossos
pais e a nossa filha. Estamos sendo zoados porque dizem que vamos chocar
o pastor ao nos apresentar como os filhos do casal e também como marido e
mulher.
— Tecnicamente nós nos casamos primeiro — brinco, apertando os
olhos.
Depois de tudo o que aconteceu, precisei contar para o meu pai e
Vanessa toda a verdade. Não vou dizer que ele ficou feliz, mas ele respeitou
a minha decisão de perdoar todos os envolvidos e até concordou em vir para
o Canadá para conhecer Baron pessoalmente.
E por incrível que pareça, eles se deram bem. Tão bem que o Gui
vai passar um ano com a gente no ano que vem.
— Meu pai está me solicitando — Baron resmunga, não querendo
ficar longe de nós.
Eu estreito os olhos.
— Acho que a minha mãe pode estar precisando de ajuda também.
É aqui que a gente se separa.
— A gente nunca se separa. — Ele inclina a cabeça. — Fodam-se as
regras. Você vem comigo.
— Amor… — Abro um sorriso, sabendo bem o quanto ele ama
quando uso o apelido para me referir a ele. — São só algumas horas.
Depois que tudo isso acabar, você pode nos levar para casa.
E então eu me inclino em sua direção, colando meus lábios nos
dele.
Eu sei que não importa o que aconteça daqui para frente, seremos
nós três contra o mundo.
Daqui até a eternidade.

FIM.
Em primeiro lugar, obrigada, meu Deus, por todas as bênçãos que eu
tenho recebido. Terminar mais um livro é um sonho se realizando e essa
história em específico ainda mais. Esses personagens estão comigo desde
2016 e depois de irem para o Fanfic Obsession e Wattpad, finalmente estão
na Amazon.
Quando eu comecei a reescrever essa história, eu agradeci ao meu
namorado por ter acreditado em mim desde o início. Eu mostrei a fanfic
publicada no Wattpad e ele editou como se fosse um livro e levou no meu
aniversário. O que eu não sabia era que até o final desse livro, eu me
tornaria noiva. Te amo tanto, amor. Mal posso esperar para passar o resto da
vida com você.
Para minha mãe e meus irmãos, Bryan e Geovana, só posso dizer o
quanto os amo. É por vocês que eu acordo todos os dias e abro o Docs para
começar uma nova história.
Gabrielle Andrade, minha revisora desde o meu primeiro livro
publicado, obrigada demais por toda a sua dedicação, surtos, sugestões e
ideias. Você foi meu maior achado no mercado editorial e tá presa comigo
para sempre. Conseguimos mais um, Gabi!
Aline e Luiza, minhas betas apocalípticas e maravilhosas. Vocês são
muito mais do que isso, são minhas amigas pessoais e a razão de eu não ter
desistido deles. Obrigada por me acalmarem em todo esse processo e por
também terem me incentivado quando eu achei que o melhor era apagar
todo esse arquivo. Vocês são maravilhosas demais.
Bruna Oliveira, Malu, Adrielle, Stef, minhas amigas que aturam
todas as minhas loucuras, meu choro e as dezenas de ilustrações que eu
mando para vocês, obrigada por todo o apoio de sempre. Ter vocês na
minha vida é meu maior privilégio.
Tati Biasi, amiga, obrigada por me emprestar a melhor cidade
fictícia do Rio de Janeiro como um lar para a Cecília também. Eu amo que
quando eu coloquei o sobrenome Braga na hora você disse: é prima da
Paula. E foi mesmo! Te amo demais. Obrigada por compartilhar o mundo
maravilhoso de ESE comigo e com eles.
Geovana @vanbookss, obrigada por ter feito o feed mais lindo do
mundo para apresentar esses personagens para os leitores. Trabalhar com
você é sempre uma honra.
Camilla Nunes, obrigada por ter me escutado sobre esses
personagens há tanto tempo. Eles finalmente tiveram um final, e espero ter
feito jus ao que você leu em 2016. Obrigada por tudo!
Aline Bianca, obrigada por segurar as pontas e me acalmar quando
eu queria desistir de tudo. Você foi um grande achado nesse meio e sou
muito grata por poder te chamar de amiga.
Minhas parceiras lindas Isabelly @booksauzier, Mari
@libranydamari, Saah @s.saori.i, leticia @ticiabook, Julia @juureads05,
Maria & Ana @booksviana, Mabily @booksdamabi, Mari Aragão
@_estantedamari, Leticia @books_xavier, Emanuella
@_uma.leitora.qulquer, Abigail @mundoliterario15, Manoela Flores
@manub.ooks, Laura @lbebooks, Carolina Dias @donnaguriaoficial,
Samyra @jovemliterariaa, Valeria @livroseestrelas, Lola @forksreadz,
Gaby @booksgabys, Paty @mundoliterariodapaty, Larisse
@estrela_literaria, Bruna @eolivroenaoacapa, Nanat
@esposadotrevorwhite , Duda Klazer @dudakbooks_, Rafinha
@literasboni, Micaelly @leitoracheck, Maria Luiza @luizalvsbooks, Maria
Flores @manub.ooks e Jéssica @lendocomajessica. Obrigada por toda a
dedicação em espalhar a palavra desses dois! Vocês são incríveis.
E agora falando com você, leitor. Obrigada por ter lido esse livro até
o fim. Mal posso esperar para recomeçar esse processo do início e tudo isso
porque existem pessoas que acreditam no meu trabalho e amam o que eu
escrevo. Vocês são a minha maior conquista.
E caso queiram me matar pelo final em aberto do Hunter, saibam
que ele terá um spin-off para contar sua própria história. Me sigam no
Instagram @mseyfild para acompanharem tudo.
Com amor,
Miles Seyfild.
LEIA: E SE EU ME IMPORTASSE?

LEIA AQUI

SINOPSE:
Paula Braga nunca se importou com ninguém além dos seus. Leonardo Ortega se importa com
qualquer ser humano que cruza seu caminho.
Ela é a Princesa da Tríade do Mal. Ele é o Garoto de Ouro da cidade.
O ódio sempre ditou a relação dos dois. E quando a fase mais esperada da vida de Leonardo se inicia,
ele descobre que Paula será responsável por cuidar da sua imagem para que seja eleito o Prefeito de
Coroa do Sul.
Mesmo que Leonardo repita milhares de mantras na sua cabeça, a raiva de Paula por ele parece
incontrolável e seu jeito o tira do sério. E por mais que seja difícil trabalharem juntos, com o tempo,
se torna ainda pior permanecerem separados.
Totalmente opostos e capazes de criar uma química de intensa potência quando toda raiva explode
entre eles.

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