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Esta obra literária é uma ficção. Qualquer nome, lugar, personagens e situações mencionadas são
produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
CAPA
Thais Alves
DIAGRAMAÇÃO
Milena Seyfild
REVISÃO
Gabrielle Andrade
ILUSTRAÇÃO
@_bluebble_
Lucy está tagarelando sem parar sobre a maldita festa para a qual
quer me arrastar essa noite. Eu não deveria ter dito que tinha acabado de
chegar do Brasil, porque assim que soube minha nacionalidade, ela abriu
um sorriso brilhante e gritou como se tivesse acabado de ganhar na loteria.
Meu pai, Lucas, relutou muito para deixar que eu viesse fazer
faculdade tão longe de casa. Ele sempre foi superprotetor e vigiou cada
mísero passo que eu dava enquanto crescia e eu o entendo.
O mundo é cheio de predadores.
Para a minha sorte, a minha mãe veio a trabalho para os Estados
Unidos muito tempo atrás e eu pude usar essa desculpa para vir também.
Aquela velha ladainha de “é uma boa desculpa para nos reaproximar e blá
blá blá…”.
Enfim. Garotas fazem o que precisam fazer.
E isso nos traz de volta para a minha situação atual. Meu cabelo
preto está com as pontas cacheadas. Meu vestido florido rosa claro é
decotado e está bem apertado ao redor do meu corpo, o que pode causar
uma boa ou má impressão.
Lucy vibrou assim que me viu colocando-o. Talvez seja pelo
estereótipo da latina ou só vontade de cultivar uma verdadeira amizade
comigo. Acho que nunca vou saber suas verdadeiras intenções.
Obrigada pela desconfiança infinita, papai.
— Nem consigo acreditar que finalmente estou indo para uma festa
de fraternidade com a minha colega de quarto! — ela grita. Seu rosto está
congelado em uma expressão animada. — A minha irmã mais velha já está
se formando, mas sempre contava para as minhas amigas e eu sobre elas. A
bebida, as pessoas, o sexo…
— Uau. E eu achava que só no Brasil a gente encarava a faculdade
como o filme American Pie — tento brincar, usando a exata quantidade de
palavras para não parecer que não me importo.
Apesar de não estar dando a mínima.
Lucy abre um sorriso.
— Tem um garoto que eu esbarrei no primeiro dia em que cheguei
aqui. Cabelos pretos, olhos castanhos, porte atlético. Gostoso, sabe? Tipo,
gostoso mesmo. Quase babei em cima dele. Estou mentalizando que ele
estará lá — me explica, aplicando uma generosa camada de rímel nos olhos.
Nós duas terminamos de nos arrumar quase simultaneamente, e
depois que trancamos o nosso quarto, ela liga para o serviço de táxi da
universidade. Caminhamos em silêncio até o carro e permanecemos assim
até o motorista nos levar para a casa mais enorme, barulhenta e abarrotada
de gente do campus.
Meu Deus.
A música está alta. Essa é a primeira coisa que eu reparo, em
seguida dos poucos carros estacionados ao redor. Lucy sai de dentro do táxi
gritando para alguém que conhece e a garota vomitando no gramado acena
de volta para ela.
Ok…
— Tem muita gente aqui. Vem, e cuidado para não se perder — me
avisa, segurando a minha mão como se eu fosse uma menina de dez anos.
Me seguro com tudo que há em mim para não revirar os olhos.
As pessoas à nossa volta ignoram completamente a nossa presença,
a não ser alguns rapazes que nos encaram descaradamente. Já estou bolando
estratégias para conseguir fugir dessa confusão e me camuflar no banheiro
ao menor sinal de distração de Lucy.
— Não estou vendo ele em lugar nenhum — lamenta, ficando na
pontinha do pé para virar o rosto em busca do menino misterioso. — Viu
algum garoto como o que eu te descrevi?
Ela só pode estar de sacanagem comigo, né? Ela me descreveu o
cara mais genérico do mundo. Literalmente existem uns vinte nessa festa
que se encaixam nessas especificações.
Abro um sorriso meigo.
— Não. Acho que vou beber água. Você quer?
Lucy faz um beicinho, mas nega lentamente com a cabeça.
— Vou continuar procurando por ele, mas tome cuidado. Não beba
nada que te oferecerem, ok? E me procure antes de ir embora.
Não sei se estou ficando irritada por estar sendo tratada como
criança ou se meu mau humor infernal é por causa da minha mãe. Ela não
me ligou desde que eu pisei os pés nesse país e as poucas mensagens que
trocamos foram enigmáticas pra cacete.
Essa merda não sai da minha cabeça.
“Preciso te contar uma coisa, mas não quero que fique brava
comigo”.
Tipo, quem manda uma mensagem dessas se realmente não quer
chatear alguém?
Mas estou tentando ser positiva. Minha mãe veio para esse país
quando eu tinha apenas cinco anos e eu fui criada sozinha pelo meu pai
desde então. Nunca tive raiva ou rancor dela, porque sei que todo o seu
sacrifício foi para me proporcionar uma vida melhor. Sempre pagou a
pensão adiantada, me ligava todos os dias antes de eu dormir e fazia
questão de acompanhar a minha vida acadêmica de perto.
Nossa relação só começou a esfriar quando eu entrei na pré-
adolescência. Os hormônios fazem você ter raiva toda hora, até mesmo de
pessoas que racionalmente você jamais teria. E depois que meu pai se casou
com a Vanessa, entendi a importância de ter uma mãe presente.
Foi ela que me ensinou a usar um absorvente, que me explicou o
que era menstruação e me acalmou quando eu surtei achando que meu peito
não cresceria mais do que naquela época. Foi no ombro dela que eu chorei
quando um garoto partiu o meu coração pela primeira vez e também foi
Vanessa que me deu a pessoa que eu mais amo no mundo: meu irmão,
Guilherme.
Depois que o Gui nasceu, todo o resto do mundo passou a não ter a
mesma importância para mim. E eu passei a me afastar da minha mãe cada
vez mais, ao ponto de passar um mês inteiro sem trocarmos uma mensagem
sequer.
Até agora.
A cozinha estranhamente está praticamente vazia. Dou graças a
Deus por ter um lugar deserto o suficiente para eu ser capaz de escutar
meus próprios pensamentos, e abro os armários em busca de um copo.
Estranho.
Onde estão os copinhos vermelhos de plástico, o beer pong, os
Cheetos, ponches e toda a merda clichê de festa de fraternidade que nos
prometem nas universidades gringas?
Sorrio com o pensamento. Então encontro um copo de vidro com
um brasão engraçado de um tubarão fazendo uma careta. Pesco o celular do
bolso para tirar uma foto e enviar para a minha melhor amiga de infância,
Marina, e em seguida, vou até a pia para enchê-lo com água.
É quando eu termino de beber o líquido e viro em direção a porta
que tomo um susto.
Um garoto de cabelo preto, mandíbula marcada, olhos escuros e
corpo musculoso está me encarando intensamente. Sua jaqueta esportiva
azul me envia um sinal de alerta e eu arrumo minha postura. Ele nem pisca
e a carranca em seu rosto me deixa imediatamente nervosa.
Ele desce o olhar para encarar o que estou segurando.
— Quem te deu permissão para vir aqui? — pergunta, o tom de voz
frio.
Ah, merda. O que se diz numa situação assim?
Abro um sorriso sem graça.
— Ninguém. Eu só estava com sede.
Ele continua me encarando. Depois, inclina o rosto para o lado, com
a maior expressão de tédio que eu já vi.
— Você está usando o meu copo.
Olho para a minha mão que ainda está apertado firmemente o copo
de vidro com o desenho do tubarão.
— Sinto muito. Vou colocar onde eu achei.
— Claro que vai.
Ah, cara… Não estou gostando muito de como esse cara está
falando comigo. Mas tá, tudo bem, eu sou a errada aqui. E é por isso que
faço exatamente o que disse, lavando o copo na pia antes de guardá-lo na
despensa novamente. Tudo isso sob seu olhar observador, que segue cada
um dos meus movimentos.
— De onde você é? — ele pergunta, o olhar cético.
— Eu moro em um dos alojamentos.
— Quero saber de qual país você é.
Ah, sim. Ele deve ter percebido o meu sotaque. Não acho isso algo
ruim, porque na verdade me dá a oportunidade de me explicar. E, talvez, eu
consiga dar o fora daqui. Essa situação não está sendo nada confortável para
mim e ficar presa em um local fechado com um cara desse tamanho está me
deixando mais nervosa a cada segundo.
— Eu sou brasileira.
Um brilho de surpresa aparece em seu olhar. Depois, ele começa a
me medir de cima a baixo descaradamente.
— Agora faz sentido.
Espera, o quê?
— Como assim faz sentido?
O canalha simplesmente dá de ombros, como se não fosse nada
demais. Meus dedos começam a se fechar em punhos e eu daria tudo para
arrancar esse olhar zombador de seu rosto.
— Convivo com uma brasileira. Conheço o seu tipo — diz com um
tom de voz rouco.
Eu não saí do Brasil para ouvir uma coisa assim na minha primeira
semana aqui, caramba.
Não mesmo.
— O meu tipo? — pergunto, parando no meio do caminho em
direção à porta.
Ele ainda está me encarando, como um desafio mudo. Seu olhar
percorre todo o meu corpo novamente e eu não sei porque sinto a súbita
necessidade de me cobrir. Ele me encara com tanta luxúria que é como se
eu estivesse completamente nua.
— O tipo de mulher que acha que pode pegar o que quiser.
Não consigo evitar revirar os olhos.
— Foi só um copo, cara. Eu magoei tanto os seus sentimentos
assim? — debocho, cansada desse joguinho.
Ele aperta os lábios em uma linha fina. Seu olhar de
descontentamento é lentamente substituído pelo brilho do desafio.
E eu não deveria estar sentindo borboletas no estômago ao assisti-lo
se aproximar, tão lentamente que é quase como ver um predador se
preparando para caçar. Dou alguns passos para trás, acuada, mas isso não o
impede. Ele continua se aproximando de mim até que minhas costas estão
pressionadas contra a porta da cozinha.
Estou ferrada.
Seu olhar intimidador varre do meu rosto até os meus dedos dos pés.
Então ele ergue as sobrancelhas e o cheiro de seu perfume me invade em
cheio.
— Quem disse que eu tenho sentimentos? — zomba, abrindo um
sorriso sádico para mim.
Eu não respondo nada. Apenas observo quando ele leva o polegar
até a minha boca, passando o dedo suavemente pelo meu lábio. Viro o
rosto, me afastando de seu toque, mas isso só pareceu diverti-lo mais.
Meu coração nunca bateu tão rápido.
— Não está falando tanto agora, está?
Cretino.
— Desculpa — peço, mesmo que cada mísera parte do meu corpo
esteja me odiando por isso agora.
Estou vulnerável e não sou burra. Não posso lutar fisicamente com
ele e fugir daqui, tampouco gritar. A música está tão alta do lado de fora
que seria impossível me ouvir.
E ele parece estar bem consciente disso também.
— Você é bonita — diz com indiferença.
— Obrigada…?
— Você tem um pescoço bonito também — continua, como se eu
não tivesse dito nada. — Alguém já te disse isso antes?
— A maioria dos caras costuma elogiar outras partes minhas. —
Recupero a minha voz, limpando a garganta. — E a minha amiga deve estar
me procurando, então…
Ele faz a pior coisa que poderia ter feito.
O que mudou todo o rumo da nossa história e me fez desejar voltar
no tempo, para esse exato momento, tantas vezes depois desse dia.
Ele me beija.
Não é um beijo comum. Minhas costas batem contra a parede e
nossa diferença de tamanho fica bem evidente quando seus braços imensos
se apoiam atrás da minha cabeça, fazendo uma prisão com seu próprio
corpo.
Abro os lábios lentamente, surpresa com a invasão. Ele usa a língua
sem pudor algum, uma das mãos agarrando meu seio. Eu provavelmente
deveria chutá-lo nas bolas, me virar e sair correndo, mas algo está fazendo
meu estômago embrulhar e não é necessariamente… Ruim.
É até gostoso.
Um cara lindo e misterioso está me agarrando contra uma porta. Ele
usa as mãos para segurar meu rosto, aprofundando ainda mais o beijo.
Grunho contra seus lábios quando sinto seus dentes me morderem com toda
a força.
Isso não o faz parar, no entanto. O sabor metálico de sangue invade
a minha boca conforme continuamos lentamente nessa dança, ambos nos
beijando com agressividade e fome.
Nunca mais quero ver esse cara de novo. E esse pensamento só
parece tornar o momento ainda mais excitante.
Quando nos afastamos, sua boca está manchada. Estamos os dois
sem fôlego, o peito dele subindo e descendo rapidamente. Seu olhar intenso
está fixo em mim e ele parece dividido em me agarrar novamente ou me
deixar ir embora.
Engulo em seco.
— Você quer uma bebida, ladra de copos? — ele pergunta,
sarcástico.
O que acabou de acontecer?
Pisco lentamente, encarando-o com perplexidade. Ele vai da água
para o vinho em questão de segundos e eu estou ficando mais confusa a
cada segundo que passa.
— Não devo aceitar bebida de estranhos — murmuro.
Ele junta as sobrancelhas.
— Não sou um estranho.
— Sim, você é.
— Não, eu não sou. E vou pegar uma bebida para você. Não se
atreva a sair daqui, ouviu bem?
Balanço a cabeça positivamente, em transe. Ele parece se dar por
satisfeito e usa a porta que dá acesso ao jardim. Antes de sair, me lança
mais um olhar escrutinador. Depois, sai em busca de nossas bebidas.
Me apoio contra a parede, colocando a mão delicadamente sobre a
minha boca. A pressão me faz soltar um “ai!”, porque a minha boca
realmente está machucada. O beijo foi uma experiência quase
extracorpórea, mas não posso contar para ninguém que deixei um estranho
arrancar sangue de mim enquanto me agarrava.
E o problema não vai ser contar sobre tudo o que aconteceu, mas
sim explicar o porquê de eu ter gostado.
Deus, não sei quem é esse garoto. Ele pode ser um serial killer, um
psicopata que se disfarça de estudante para ir atrás de possíveis vítimas. Se
for esse o caso, estou fodida, porque caí feito um patinho.
Minutos se passam e eu começo a questionar a minha sanidade
mental. Estou realmente sentada no chão de uma cozinha imunda de
fraternidade à espera de um garoto que mal conheço e que não foi nada
gentil?
Qual a porra do meu problema?
Estou me odiando por sentir desapontamento ao abrir a porta e
voltar para a aglomeração de pessoas. Enxergo Lucy ao longe com um copo
vermelho na mão, rodeada por garotas que se parecem com ela. Todas estão
gargalhando, chapadas, e ao assistir essa cena, decido chamar o serviço de
táxi sozinha. Não vou estragar a noite da Lucy só porque estou com um
péssimo humor.
Ligo o telefone e começo a digitar quando um peito forte colide
contra mim. O cara faz questão de me equilibrar antes de dizer,
debochando:
— É melhor você olhar por onde anda, gata. Nem todos os caras são
legais como eu.
Espera… Essa voz. Eu conheço essa voz.
Arregalando os olhos, eu ergo meu rosto tão rápido que minha
cabeça se choca contra o queixo do estranho. Eu solto um lamúrio sofrido,
então ele pragueja alto o suficiente para acordar os mortos.
— Puta merda, gatinha. Você vai acabar colocando alguém em
perigo — zomba, esfregando a mão sobre o queixo.
É ele. O garoto misterioso da cozinha. O desgraçado disse que ia
buscar a nossa bebida e me deixou esperando por ele sozinha enquanto
estava, na verdade, curtindo a festa.
Sou muito idiota.
— Você não trouxe a minha bebida — respondo, encarando-o
friamente.
Isso parece diverti-lo. Algumas pessoas à nossa volta parecem
interessadas na cena que se desenrola, mas eu não ligo. Não vou aceitar ser
humilhada publicamente por algum atleta de fraternidade que se acha tão
superior.
— Isso foi uma falha minha, mas eu planejo corrigi-la agora mesmo
— responde com escárnio.
Franze o cenho.
Isso não parece certo. Quero dizer, é o mesmo rosto, o mesmo
sorriso zombeteiro, a mesma pose superior. Mas quando ele abre a boca, o
tom de voz não soa tão intimidador como antes.
Nem me causa os mesmos calafrios.
Balanço a cabeça, tentando dispersar esses sentimentos.
Provavelmente é coisa da minha cabeça, e pelo andar da carruagem, ela não
vai nada bem.
O estranho me oferece a mão e eu aceito sem hesitar. O que é um
pingo de água para quem já está encharcada, não é mesmo?
E não é só no sentido figurado.
Quando passamos por um corredor vazio, finalmente consigo fazê-
lo parar.
— Por que você está agindo assim? — pergunto, genuinamente
confusa.
Ele franze a testa.
— Assim como?
— Como se não me conhecesse. Nós acabamos de nos beijar,
lembra? Você disse que ia buscar as bebidas, mas não apareceu. Eu usei seu
copo para beber água e você não gostou.
Sua expressão assume um brilho de divertimento que me pega
completamente desprevenida. Ele abre um sorriso mordaz, cheio de dentes
para mim, e aquela velha sensação de intimidação volta com força total.
— Eu fiz tudo isso mesmo, hein?
Pisco lentamente.
— Eu acho que é melhor eu ir embora daqui — balbucio, dando as
costas para o estranho.
Ele me puxa pelo braço na mesma hora, nos deixando cara a cara.
Prendo a respiração, sentindo seu hálito pertinho da minha boca.
— Mostra pra mim como eu te beijei — manda com o tom de voz
rouco.
Não estou sentindo borboletas no estômago como da última vez e
meu coração está batendo em seu ritmo normal. Ele é o homem mais lindo
que eu já vi e sua beleza é tão surreal que parece ter saído diretamente dos
livros.
Seus lábios se chocam com os meus, mas é… Diferente. Não tem a
agressividade de antes, tampouco me sinto dominada por uma necessidade
de entregar tudo a ele. Minha pele não está arrepiada, nem sinto vontade de
explorá-lo com as mãos.
Será que tudo aquilo não passou de um completo delírio?
Mas é então que finalmente entendo tudo.
Porque sou arrancada bruscamente durante o beijo. O impacto é tão
grande que prendo a respiração por alguns segundos.
E então, o vejo.
Ou melhor: os vejo.
O estranho e sua perfeita réplica. Um está em cima do outro, socos
estão sendo trocados e o barulho ensurdecedor de música foi substituído por
grunhidos e sons de brigas.
Eles estão se matando.
Coloco a mão sobre a boca, chocada. Nunca vi uma cena assim
antes e sinto pavor em cada mísera célula do meu corpo.
As pessoas passam por mim e vejo caras tão grandes como eles,
usando as mesmas jaquetas azuis com brasões, tentando apartar a briga.
Quando finalmente desgrudam os dois, um deles está com o rosto
coberto de sangue. Apesar disso, está sorrindo abertamente para o outro,
que está com uma expressão furiosa.
Na verdade, ele parece pronto para esmagar alguém com suas
próprias mãos.
É ele.
O meu estranho.
Viro o rosto para tentar me esconder e é quando vejo Lucy me
encarando, apavorada. Nunca me senti tão aliviada por ter vindo com
alguém essa noite e começo a ir em sua direção.
Antes mesmo de alcançá-la, Lucy já está gesticulando feito louca.
— Cecília… O que você fez? — ela pergunta cuidadosamente.
Consigo ver que ela realmente está se esforçando para não me julgar
e isso lhe dá mais alguns pontos na escala da nossa amizade.
— Acho que essa conversa precisa acontecer quando estivermos em
segurança. Pode chamar o táxi? — peço, praticamente implorando.
Ela não parece nada satisfeita, mas me obedece mesmo assim.
Depois que ela recebe a confirmação do carro, começamos a nos espremer
entre as pessoas em direção à saída.
Quando o ar da noite bate em meu rosto, respiro aliviada.
— Eu fiquei com aqueles dois caras. Os dois que são idênticos. Eu
achei que eles eram a mesma pessoa… — murmuro com o tom de voz
baixo.
Lucy chia, virando para mim com os olhos arregalados. Ela agarra o
meu antebraço e ao avistar o carro estacionado à nossa espera, manda
entredentes:
— Precisamos ir embora agora!
E quem sou eu para discutir?
Aceleramos ainda mais o passo e mal desejamos boa noite para o
motorista antes de nos afundarmos no banco de trás. Ao fechar a porta com
força, sinto que posso voltar a respirar.
— Os gêmeos Donovan, Cecília. De todos os caras dessa
universidade, você tinha que se meter justamente com eles?
Gêmeos?
Ah, merda…
Bom, não posso negar que faz sentido. Como pude ser tão burra?
Abro a boca para tentar me explicar, mas Lucy abafa um grito de
pavor. Assustada, viro para o lado.
O estranho está com as mãos no vidro do meu lado do táxi, o rosto
com respingos e gotas de sangue que não pertencem a ele, mas sim ao
irmão. Ele está me encarando com um olhar sádico, sem piscar nem uma
vez.
Engulo em seco. Estou com medo.
E mesmo depois que o táxi finalmente começa a andar e ele
desgruda do carro, ainda sinto como se ele continuasse me observando.
Tragédia agridoce
Não é engraçado
Quando estou sentada sozinha
Você está bem na minha frente
Bittersweet Tragedy | Melanie Martinez
Depois que Baron voltou para a mesa, o mais próximo de clima bom
que tínhamos tido até então, morreu. Ele obviamente tem problemas com o
pai, porque Alexander não parava de lhe lançar olhares de aviso que
chegavam a arrepiar a minha pele.
O cretino não parecia abalado com eles, no entanto. É como se os
dois compartilhassem um segredo e se comunicassem sobre ele apenas pelo
olhar.
Brandon não parecia alheio ao fato. De vez em quando soltava uma
piadinha que fazia Baron lhe encarar com um brilho meio sádico nas írises
escuras.
Me arrepio só de lembrar.
Obrigada, mas não. Não quero me envolver ainda mais com esses
dois projetos de psicopatas que decidiram fazer da minha vida um inferno
por causa de uma confusão inocente em uma festa de fraternidade na porra
do meu primeiro dia de aula.
Não mesmo.
Depois que terminamos o nosso jantar, Baron ficou me encarando
com um olhar mortal. Eu o encarei de volta, mortificada, realmente
considerando seguir suas ordens.
Mas então… Arrepios. Eu não podia entrar no carro com esse
projeto de satã. Ele poderia me sequestrar, me arrastar para uma floresta e
nunca encontrariam o meu corpo, já que ele é rico e tem recursos para sumir
com cada pedacinho meu.
Já falei que esse cara me dá arrepios? Já? Bom, acho importante
ressaltar.
Minha mãe havia me convidado para passar a noite em casa antes
mesmo de sairmos para jantar e não hesitei em aceitar. Coloquei algumas
roupas e objetos de higiene pessoal esperando ter uma noite das meninas,
pronta para me aproximar dela.
O que eu não sabia, obviamente, é que ela está morando com
alguém. Mais especificamente seu futuro marido, o milionário Alexander
Donovan. Não é querendo dar uma de estraga-prazeres, mas acho que essa
informação é algo importante de se mencionar para a própria filha.
No entanto, respirei aliviada quando o carro de Baron sumiu no
horizonte, carregando junto seu irmão mais novo.
Liberdade.
É isso que me leva até onde estou agora. Sozinha em uma casa
maior do que estou acostumada, enrolada nos melhores lençóis que já
tocaram a minha pele. Me espreguiço e levo todo o tempo do mundo antes
de descer em busca de café.
Minha mãe tinha me avisado que ela e Alexander costumam acordar
cedo e ir para o trabalho antes mesmo do sol nascer. É por isso que não me
preocupo em colocar uma roupa assim que levanto. Estou usando meu
pijama preto que consiste em um conjunto de renda de alças finas e um
short que não deixa muito para a imaginação.
Coloco uma música da Lana Del Rey para tocar enquanto me
resolvo com a cafeteira. Depois de algumas tentativas frustradas, finalmente
o cheiro de café começa a preencher o ambiente.
Começo a dar alguns pulinhos ao tentar cantar junto o som de
Brooklyn Baby. É um ritual que tento manter durante toda a manhã e no
início eu me convencia de que era uma forma de exercício físico. Dançar
faz bem para o meu corpo, eu repetia para o meu pai sempre que ele me via
rodopiar pelo chão da cozinha.
Eu me agacho para procurar alguns talheres antes de ir para a
despensa e é então que eu o ouço.
— Olha, vejam só… — A voz debochada pertence a Brandon.
Eu me viro o mais rápido que posso, gritando. Ele levanta a
sobrancelha diante da minha reação e eu coloco a mão sobre meu peito,
sentindo meu coração retumbar como um louco.
Ele está vestindo um uniforme e eu me lembro do que falamos
ontem no jantar. Brandon faz parte do time de basquete da universidade.
Seu olhar malicioso e cheio de lascívia começa a percorrer meu corpo de
cima a baixo e eu sinto uma necessidade absurda de me cobrir.
— Não olha pra mim! — reajo, cruzando os braços a fim de
proteger alguma coisa de seu campo de visão.
— Eu gostei da dança. Você até leva jeito para a coisa. Já pensou em
tentar entrar para o grupo de Granville? Aposto que as audições estão quase
abrindo.
— Você é mesmo muito invasivo. Está fazendo o que aqui? —
questiono, tentando desesperadamente mudar de assunto.
Que humilhação. Brandon me pegou dançando tal qual uma
lagartixa em fuga. A constatação faz as minhas bochechas esquentarem e eu
tenho certeza que meu pescoço deve estar mais vermelho do que um
tomate.
Brandon dá de ombros.
— Eu dormi aqui. Você fez café? — Ele passa por mim como se não
fosse nada demais, caminhando até a cafeteira.
Mordo o lábio inferior, dando um passo para o lado a fim de lhe
conceder espaço. Sei que não tenho o direito de perguntar, mas, mesmo
assim…
— Você passou a noite aqui?
Ele segura uma xícara fumegante com o café, me lançando um olhar
sarcástico. Depois de bebericar o líquido quente, se vira para mim.
— Não que eu precise me justificar para você, mas sim. Baron e eu
temos quartos na nossa casa. Está surpresa?
Engulo em seco. Ele está certo, obviamente. A casa é deles e eu não
deveria questionar a presença de Brandon na cozinha.
Mas…
Ontem à noite eu achei que estava livre dos dois. Realmente
acreditei nisso. A sensação de alívio lentamente começa a ser substituída
pelo arrepio de medo que me acomete sempre que lembro dele.
Baron.
— Mas não se preocupe… — Ele faz um gesto de desdém com as
mãos. — Não vou ficar muito tempo. Baron acordou cedo porque precisava
ir para o treino, então depois que eu for, você terá todo esse espaço para
você.
Me encolho ao ouvir suas palavras.
— Não estou te expulsando. A casa é sua.
Ele coloca a xícara na lava-louças.
— Eu sei. Você não poderia me expulsar nem se quisesse. A sua
sorte é que eu preciso buscar uma pessoa no aeroporto.
Meu olhar encontra o dele, curiosa.
— Uma pessoa?
— Uma garota.
Uau.
— Você tem namorada?
Brandon abre um sorriso arrogante.
— Por quê? Isso te interessa?
Reviro os olhos.
Não, idiota, é claro que isso não me interessa. Só fico irritada de
pensar que talvez tenha sido o motivo de um coração partido. Nenhuma
mulher merece ser traída e esse pensamento me faz murchar.
— Se você namora, por que me beijou naquela noite?
— Eu não namoro. E você também queria me beijar.
— Eu pensei que você fosse outra pessoa — só me dou conta do que
acabei de dizer depois que as palavras escapam de mim.
Arregalo os olhos, querendo pegá-las de volta, mas é tarde demais.
Brandon abre um sorriso malicioso, encostando o corpo forte contra a
bancada da cozinha.
De repente, é como se eu estivesse nua na frente dele. A forma
como me encara é como se tivesse acabado de me pegar no flagra fazendo
algo proibido.
— Baron vai adorar saber disso — zomba, me examinando
atentamente.
Dou um passo em sua direção.
— Não, por favor! Não foi isso que eu quis dizer!
— Ele ficou bem mal depois do que aconteceu naquela noite, sabia?
Isso aqui — ele aponta para a cicatriz, agora quase imperceptível perto do
seu supercílio — inchou e não ficou bonito. Demorou semanas para sair da
fase nojenta e assustadora e chegar na sexy.
Engulo em seco.
— Eu não tive a intenção de causar nada entre vocês dois.
— Eu sei, Ceci. Você não tem culpa de ter chegado no meio da
história. Ainda assim, Baron não gostou nada. Nós dois estamos em sua
lista do ódio.
— Lista do ódio?
Ele faz um gesto com as mãos, como se dispensasse a minha
pergunta.
— Modo de dizer. Meu irmão se blindou muito desde que entramos
na faculdade e tem uns amigos meio barra-pesada. Quando decidem acabar
com alguém, não tem muito o que fazer.
— Entendi. Ele é o gêmeo mau e você o gêmeo bom.
Os lábios de Brandon tremem com uma risada.
— Gêmeo mau? Você tem quantos anos? Cinco?
— Ultimamente, eu me sinto como uma criança se escondendo do
valentão no parquinho. Baron não tem deixado a minha vida fácil por lá.
Ele me encara.
— É, eu soube. E eu sinto muito em te dizer que isso não vai
melhorar daqui pra frente. Meu irmão… É complicado.
— Complicada sou eu. Ele é um lunático. Um psicopata!
— Não posso discordar. Mas agora eu preciso mesmo buscar essa
garota ou então meu pai vai me encher pelo restante da semana.
Isso desperta a minha curiosidade.
— Seu pai quer que você busque uma garota?
Brandon sorri com os olhos.
— Está com medo de eu estar acobertando uma possível traição?
Encolho meus ombros.
— Não quero que a minha mãe seja enganada. Posso não ser tão
próxima dela, mas ainda assim…
— Como você pode se importar tanto com alguém que claramente
está cagando para você?
Suas palavras me atingem em cheio. Não consigo deixar de notar
um brilho real de curiosidade em seu olhar, mas nem isso apazigua o
sentimento que está varrendo sobre mim.
— Minha mãe pode ter ido embora, mas eu tive a sorte de ter um pai
incrível. E além do mais, ela sempre fez questão de estar presente enquanto
eu crescia. Não julgo ela por ter vindo para cá em busca de uma vida
melhor. Ninguém questiona quando um homem faz isso.
Brandon simplesmente dá de ombros.
— Isso não faz sentido para mim. Abandono é abandono, não
importa se é homem ou mulher.
— Já que está falando tanto sobre isso, cadê a sua mãe?
Ele me olha com divertimento.
— Minha mãe morreu, Cecília. Brandon e eu éramos adolescentes
quando ela foi embora.
Imediatamente a conversa que eu tive com a minha mãe ontem à
noite voltou à tona.
“Alexander é um bom homem. Perdeu a esposa há dez anos e não
manteve outros relacionamentos antes de mim.”
Droga. Posso enfiar a minha cabeça dentro de um saco de lixo ou
será que a vergonha já está estampada em meu rosto?
— Sinto muito.
— Tudo bem. Estou saindo agora, então se você quiser uma
carona… A não ser que prefira ficar aqui sozinha.
Aqui sozinha? Depois de descobrir que Baron não só tem a chave da
casa como também dormiu aqui? Não, obrigada.
— Vou só colocar uma roupa e te encontro na garagem.
Um sorriso malicioso aparece em seus lábios.
— Ah, que pena. Eu gostei muito do que você está usando agora.
— Seu pervertido — resmungo, lhe dando as costas logo em
seguida.
Baron é um ser humano desprezível, mas Brandon não é tão ruim
assim. É meio arrogante e parece estar sempre me avaliando, mas pelo
menos não fala comigo como se eu não passasse de um inseto que quer
enxotar do seu caminho.
Depois que termino de me arrumar, vou em direção ao belo Jaguar
que ele já deixou estrategicamente ligado. Quando eu entro, ele começa a
dirigir e mergulhamos em um silêncio agradável.
— Eu posso te dar um conselho? — pergunta ele, franzindo o cenho
para o sol escaldante da Califórnia.
Eu faço que sim com a cabeça, semicerrando os olhos.
— Tente não irritar o Baron mais do que ele já está. Não conte que
eu te dei uma carona — me instrui, girando o volante para a esquerda. — E
caso esbarre em Hunter e Kaden por aí, dê meia-volta. A não ser que eles
estejam te seguindo. Nesse caso, você só os ignora mesmo.
— Eu sabia — murmuro, apertando os lábios.
Brandon se inclina um pouco na minha direção.
— Você disse o quê?
Eu suspiro.
— Eu sabia que estava sendo seguida. Eu tinha essa sensação
sempre que pisava os pés no meu dormitório, mas sempre que eu me virava,
não tinha ninguém por perto.
— Eles são bons em se camuflar. Baron deve estar mesmo
envolvido…
— Seu irmão é um doente. Eu só quero que ele me deixe em paz.
Brandon pigarreia.
— Não sei muito o que dizer. A gente já não se dava bem, depois de
você, então… Ele está fingindo que eu não existo e prefiro assim. Deus me
livre de cruzar o caminho do Baron novamente.
Coloco as mãos sobre o peito, forçando uma cara lisonjeada.
— Então quer dizer que eu fui a premiada? Que honra.
Brandon balança a cabeça, sem esconder o sorriso.
— Não ficaria brincando com isso se fosse você. Ele realmente
parece muito interessado. Não tirou os olhos da sua roupa quando fomos
jantar ontem à noite.
Suspirando, encosto minha cabeça na janela do carro. O vento está
bagunçando meus cabelos e eu respiro fundo, absorvendo o máximo que
posso dessa sensação.
— Posso te fazer uma pergunta, Brandon?
— Manda aí.
— Por que você me beijou naquela festa? Não suspeitou nem um
pouco de que eu estivesse falando de outra pessoa?
Ele aperta o volante com mais força.
— Eu sabia quem você era. Sua mãe já tinha mostrado fotos suas
para nós, Cecília — me explica, com o tom de voz indiferente. — Achei
curioso você ter vindo falar comigo. Nem prestei atenção no que era. Mas
mesmo assim… Gostei de ter beijado você. E se teve como bônus irritar o
idiota do meu irmão, só vejo vantagens.
— O amor fraternal de vocês é mesmo lindo — zombo, sarcástica.
— Só não quero ficar no meio disso. Vou passar despercebida durante esses
quatro anos e depois vou voltar para o Brasil. Vai ser como se eu nunca
tivesse existido na vida de vocês.
— Você sabe que não é verdade. Somos irmãos agora.
— Irmãos… — testo como a palavra soa na minha voz. — Você
acha mesmo que esse casamento vai durar?
Brandon dá de ombros.
— Meu pai nunca mais se casou depois que a minha mãe morreu.
Teve namoradas, Baron e eu conhecemos algumas… Mas elas sempre vão
embora. É difícil dizer. Sua mãe está resistindo bem.
— Resistindo bem?
Brandon suspira mais uma vez e isso está começando a me irritar.
Não é um suspiro do tipo: “poxa, como estou cansado”, mas sim um
resignado que mostra um pouco de impaciência. Como se as coisas
estivessem claras e só eu não estivesse entendendo muito bem.
— O Baron não pega leve com nenhuma mulher que namora o meu
pai. Até hoje ele não superou o que aconteceu com a nossa mãe, então… É,
ele às vezes consegue ser cruel.
— Às vezes? — Zombo.
— Tá bom, sempre. Acho que é a maneira dele punir o nosso pai
por ter sido um marido de merda. Não quer deixar ele ser feliz. Uma das
namoradas que meu pai teve por mais tempo se chamava Rachel. Ela era
bem mais nova, extrovertida e aguentou bem todas as chantagens e ameaças
de Baron. Realmente cheguei a pensar que meu pai se casaria com ela. Mas
aí…
Eu me curvo para frente, interessada.
— Aí…? — Incentivo.
— Aí, num belo dia, meu pai recebeu algumas fotos. Baron estava
comendo a nossa madrasta por meses. Ela mandava mensagens realmente
deprimentes, dizendo o quanto estava “ansiosa” por finalmente poder morar
na mesma casa que ele. Meu pai ficou furioso, terminou tudo com ela e
assim que entramos na universidade, Baron se mudou. Tudo estava
voltando ao normal, mas aí você chegou.
— Não fiz nada para ele.
— Eu realmente espero que não. — Brandon ri com sarcasmo. —
Mas mesmo que não tenha feito, eu te recomendaria cuidado.
— Entendido. Fugir de Hunter e Kaden, ignorar o Baron, tentar me
esconder. Precisar ser necessariamente nessa ordem?
— Cuidado com essa língua, Cecília. Ela já te colocou em apuros
demais…
Sua observação me faz estremecer. Tentar levar as coisas com
leveza não parece muito eficaz por aqui.
Brandon me deixa na universidade antes de seguir para o aeroporto
e eu vou direto para o que será muito em breve o meu antigo dormitório. Ao
chegar no corredor, escuto um fungar baixinho que me causa verdadeiros
arrepios.
Ao abrir a porta, descubro o porquê.
Lucy está soluçando, o rosto mostrando um desespero latente. Os
cabelos estão em uma confusão só, como se ela tivesse corrido muito.
Engulo em seco, dando um passo à frente.
— Lucy… O que aconteceu?
— Ele… Ele…
— Ei, calma… — Me aproximo o suficiente para ficar a altura de
seus olhos. — O que aconteceu?
— Eu tentei impedir, Ceci. Eu juro que eu tentei — ela continua, se
embolando.
O sabor amargo de bile invade a minha boca. Como se fosse em
câmera lenta, viro o rosto, dando uma olhada no meu lado do quarto.
Quase caio para trás. Lucy apoia as minhas costas, me ajudando a
me equilibrar.
— Meu Deus — soluço, sem acreditar no que meus olhos estão
vendo.
Minhas roupas estão todas espalhadas pelo chão, picotadas em
minúsculos pedacinhos. Meus porta-retratos, fotos do meu pai, da minha
madrasta, do meu irmão estão estilhaçados no chão.
Uma confusão de vidro, tecidos e na parede, uma tinta em vermelho
que diz: eu avisei.
A mesma tinta que ele usou para arruinar o meu portfólio.
Cretino. Idiota. Filho da puta.
— Ah! — o grito enche meus pulmões, o desespero se infiltrando
em mim lentamente. — Esse babaca não perde por esperar!
— Cecília, eu sinto muito, mas não posso mais ficar aqui com você.
— As palavras de Lucy saem atropeladas e eu fecho os olhos com força. —
Não sei como as coisas estão com você e o Baron, mas hoje foi assustador
pra caramba. O Kaden veio aqui e…
— Kaden? Esteve aqui? No nosso quarto? — Minhas perguntas
saem emboladas, como se eu não conseguisse entender o que ela está
dizendo.
Lucy balança a cabeça freneticamente para cima e depois para
baixo.
— Kaden e Hunter apareceram aqui com tacos de beisebol e uma
tesoura. Eu tentei gritar, mas aí o Kaden me segurou. Ele ficou com a mão
na minha boca enquanto o Hunter destruía toda a sua parte do quarto. Eu
tentei pará-los! Eu juro que eu tentei! Mas comecei a pensar que eu seria a
próxima se… E eu… Sinto muito! — Ela continua a chorar, uma bagunça
de soluços e murmúrios atropelados.
— Lucy, você não tem culpa — consolo-a, segurando seu rosto
entre as minhas mãos. Ela me encara. — Não precisa sair daqui. Eu vou
embora. Não quero colocar você em risco.
— Mas, Ceci…
— Minha mãe mora em um casarão há uma hora daqui. Ontem
mesmo eu dormi lá e vou ganhar um carro — respondo com o tom de voz
trêmulo.
Vou ganhar um carro, mas não tenho mais roupas.
Quanta ironia.
Não posso usar cartão de crédito aqui. Meu pai me mataria quando
eu ligasse pedindo dinheiro para pagar, então… Vou precisar recorrer à
minha mãe.
Tudo o que eu menos queria.
— Você tem certeza? — Lucy me pergunta novamente, a respiração
um pouco mais calma.
Balanço a cabeça.
— Tenho. Não é justo que você se mude daqui quando o problema
dele é comigo.
— Eu avisei para você não se meter com eles, Cecília. O Baron é
um louco. Eu fiquei sabendo que há dois semestres atrás, uma sororidade
decidiu fazer um jogo de iniciação. As meninas precisavam ficar com ele,
porque era praticamente impossível. Todas elas iam aos jogos de hóquei e
ficavam esperando ele depois dos treinos. Ele devia desconfiar que algo
estava rolando e então descobriu…
Meu coração para.
— Não me diga que…
Lucy está com a expressão mais mortificada que eu já vi.
— Uma das meninas venceu o jogo. Sofia. Eles chegaram a transar
mais de uma vez, pelo que ouvi falar. Ela não está mais aqui para nos contar
o que aconteceu.
— Lucy, ele não fez alguma coisa… Séria… Fez? — Minha voz sai
entrecortada.
Minha amiga olha para os lados, como se temesse a presença de
Kaden e Hunter ainda por perto. Depois, abaixa o tom de voz antes de me
responder:
— Eles a sequestraram. Levaram ela para algum lugar e depois a
Sofia parecia outra pessoa. Estava sempre em estado catatônico, olhando
para os lados, morrendo de medo. Nunca nos contou o que aconteceu lá,
mas não deve ter sido algo bom. Pediu transferência um semestre depois e
nunca mais foi vista por aqui.
Eu trago em seco.
É, estou fodida. Um maníaco psicopata está mantendo os amigos
dele de olho em mim e parece que sequestrar e aterrorizar garotas faz parte
de seu plano curricular.
Quando Lucy abre a boca para se desculpar mais uma vez, eu a
interrompo.
— Não tinha como eu escapar disso, Lucy. Nem se eu quisesse.
— O que você quer dizer?
— Baron Donovan vai ser o meu meio-irmão. Minha mãe me
revelou ontem que o noivo dela é…
— Alexander Donovan?
— Isso aí.
— Ai meu deus, Cecília.
— Aham.
— Mas você…
— É.
— Mas eles…
— Isso mesmo.
Ela abre ainda mais os olhos, o rosto tomado pelo pavor. Gostaria de
não estar sendo afetada pelo seu óbvio desespero, mas a verdade é que
estou com medo pra cacete.
Baron está me caçando e não de um jeito bom.
— O que você vai fazer? — ela pergunta em um fio de voz.
Viro meu rosto novamente para encarar minhas roupas cortadas e
espalhadas no chão.
Preciso dar um jeito de me livrar desse vidro o quanto antes, penso.
Quando eu a encaro, seus olhos estão exalando o pior dos
sentimentos: pena.
Que maravilha.
— Vou beber. Quer ir comigo?
Meus amigos não andam, eles correm
Mergulhando pelados em tocas de coelho por diversão
Estouram, estouram balões com armas
Ficam chapados com hélio
Mad Hatter | Melanie Martinez
Quando chego em casa, não vou direto para o meu quarto. Ao invés
disso, começo a perambular pelo segundo andar, testando todas as
maçanetas até encontrar o que estou buscando.
O quarto de Baron.
Não vou deixar ele sair impune depois do que fez com o meu. Ah,
não vou mesmo.
Por sorte, ele tem deixado a porta destrancada desde que começou a
sua mudança para cá também. Brandon continua morando no alojamento na
faculdade, então não teremos ele para amortecer nossos embates quando
ambos morarmos aqui para valer.
Tenho calafrios só de pensar.
O quarto dele é uma mistura de tons de cinza e preto e isso não me
surpreende. A cama está meticulosamente feita e artigos esportivos estão
organizados em fileiras perto da porta de saída. Alguns tacos de hóquei
estão pendurados em sua parede e eu engulo em seco ao ver a porta para o
closet.
Simplesmente incrível. O tipo de quarto que você só vê nos filmes.
Passo o dedo pelos móveis, em busca de algo que eu também possa
arruinar. Com o máximo de cuidado, entro no closet de Baron. Tento não
fazer nenhum barulho quando as luzes acendem e uma infinidade de roupas
que variam entre ternos, blusas de marcas caríssimas e uniformes de hóquei
aparecem de uma vez.
Em uma organização que me tira o fôlego.
Eu poderia bagunçar tudo isso, mas sei que ele provavelmente só
iria rir. Além do mais, com certeza não seria ele que arrumaria a bagunça
depois.
E eu queria que doesse. Que doesse nele.
Então eu vejo. Escondida em uma caixa atrás de seus uniformes dos
Angry Sharks, está uma vasta coleção de fotos de Baron pequeno com uma
mulher. Ela sorri, com marcas de expressão evidenciando a idade.
Provavelmente é a mãe dele, penso.
Passo as fotos, sem conseguir reconhecer o brilho divertido no olhar
daquele garotinho no monstro que me persegue hoje. Como eles podem ser
a mesma pessoa? Parece impossível para mim. Esse menino está segurando
a mão da mãe como se fosse sua tábua de salvação e o idiota que sabotou
meu portfólio pode ser tudo, menos doce.
Ele não é mais como esse garoto.
E, às vezes, é preciso enfrentar as consequências.
Sentindo a adrenalina correr nas minhas veias, começo a procurar
algo com que eu possa cortar. Baron guarda uma coleção de tesouras em
uma de suas gavetas e eu estremeço só de pensar no porquê.
Lembrete mental: sempre dormir com a minha porta trancada.
Encaro as cinco fotos com receio. Em apenas uma delas Brandon
também está presente e eu só consigo pensar em como isso combina com a
personalidade narcisista dele. As coisas sempre precisam acontecer como
ele quer, na hora que quer e como ele quer.
Vamos, Cecília. Você não tem muito tempo.
Respiro fundo.
No fim das contas, não consegui cortar todas as fotos como
planejava. Cortei duas, picotando e espalhando pelo chão do seu closet da
mesma forma que ele fez com as minhas fotos no meu dormitório. Eram as
únicas com o meu pai que eu havia trazido para cá e isso me irritou. Sei que
posso conseguir de novo, mas é tão injusto.
Coloco a caixa no mesmo lugar que encontrei, assim como a
tesoura. Deixo os restos mortais da foto sobre o chão e corro para o meu
quarto, trancando a porta assim que entro no banheiro.
Esfrego o sabão pelo meu corpo como se estivesse tentando lavar o
que acabei de fazer de mim. Nunca seria capaz de cortar as fotos de alguém
com a mãe que já morreu, mas o sentimento de raiva falou mais alto. Eu
queria que o Baron sentisse a mesma raiva que eu ao se deparar com algo
que ele estimava tanto naquele estado.
Ao terminar o banho, eu visto meu pijama favorito, um short de
seda preto com um cropped do mesmo tamanho. Hoje está fazendo mais
calor do que eu esperava, então depois de ir ao banheiro mais uma vez para
usar o secador, decido arrumá-lo em um coque no topo da cabeça.
Quando volto para o meu quarto mais uma vez, literalmente
congelo.
Baron está sentado na minha cama.
Sem camisa e vestindo nada mais do que uma calça de moletom.
Os olhos se estreitam assim que me encaram e eu sinto cada poro do
meu corpo se arrepiar.
Estamos sozinhos em casa. Minha mãe e meu padrasto não estão
aqui.
Engulo em seco.
Ele me encara com a mesma expressão blasé de sempre. Parece até
um tanto quanto entediado, como se me esperar desse jeito fosse só mais
uma das tarefas do seu dia.
— Baron — murmuro. — Será que você pode sair do meu quarto?
Ele nem ao menos tem a decência de levantar o rosto para me
encarar. Continua sentado na minha cama, segurando uma… Tesoura?
Arregalo os olhos.
Ah, merda. Merda.
— Por que eu deveria? Você também não esteve no meu? — O tom
malicioso em sua voz me deixa arrepiada.
Desvio o olhar, envergonhada. Eu poderia tentar negar, mas seria
burrice. Ele sabe que não tem mais ninguém em casa além de mim.
— Estamos quites agora — digo, empinando o queixo. — E eu
espero que deixe seus amigos longe de mim. Estou falando sério. Não quero
aqueles caras me seguindo.
Baron aperta os dedos ao redor da tesoura e eu dou um pulo para
trás. Ele vira o rosto para mim, a sobrancelha arqueada e um sorriso
surpreso nos lábios.
Não deveria ter mostrado o quanto ele me assusta, porque o filho de
satã provavelmente vai usar isso como uma ferramenta contra mim.
— Você fala como se eu me importasse com o que você quer — diz
ele em um tom de voz rouco.
Passo o peso de um pé para o outro, sem saber muito bem como
reagir. Baron continua brincando com a tesoura, arrastando a ponta
delicadamente sobre a minha roupa de cama.
Como se estivesse fazendo uma carícia. Bem, bem suave.
— Você não deveria ter destruído o meu quarto. Perdi quase todas as
minhas coisas por sua causa. Além de… De fotos com o meu pai —
continuo, engolindo em seco.
Ele desvia seu olhar imperturbável para me encarar. O rosto está
retorcido em uma expressão que mescla raiva e divertimento. Eu não
conseguiria imaginar algo assim meses atrás, mas aqui estamos.
Dou um pulo para trás quando Baron salta da minha cama. O fato
dele ainda estar segurando a maldita tesoura não me passa despercebido.
— Pijama bonito — desdenha ele, chegando tão perto que me faz
tropeçar.
Mas Baron não para.
Ele não para até que eu esteja imprensada contra a parede. Seus
olhos escuros me encaram sem deixar transparecer uma emoção sequer e eu
sinto meu coração acelerar.
— Por que você ainda está aqui? — Consigo encontrar a minha voz,
mesmo que ela esteja trêmula.
Baron dá de ombros, levantando a mão para tocar o meu rosto. Eu
desvio, evitando seu toque, e seu olhar pisca em divertimento para mim.
— Não gosto quando você foge de mim assim. Seria tão mais fácil
se você só aceitasse…
Eu pisco, encarando-o com desprezo.
— Aceitasse o quê?
— Que você me pertence agora.
Preciso de todo autocontrole do mundo para não explodir em uma
risada.
Baron me examina como se eu fosse um passarinho com as asas
quebradas que ele acabou de encontrar. Não consigo evitar o calor que me
acomete ao perceber a intensidade em sua expressão e abro a boca para
dizer algo.
Mas nada sai.
Engulo em seco, sentindo meu cabelo cair como cascata pelas
minhas costas. Dou um pulo, surpresa, ao me dar conta do que acabou de
acontecer. Baron desfez o meu coque.
— Prefiro você com o cabelo solto — ele sussurra baixinho perto do
meu ouvido e estremeço com o contato.
Isso até sentir o metal frio contra a minha pele.
Arregalo os olhos, desviando o rosto para encarar sua outra mão. A
que estava segurando a tesoura.
— O que você está fazendo? — pergunto em um fio de voz.
— Shh…
— Baron.
— Não posso negar o quanto fiquei surpreso com a sua retaliação,
Cecília. Sempre soube que você seria uma lutadora. — Ele continua
arrastando o metal bem devagar sobre a minha pele.
Eu encaro em choque a tesoura subindo pela minha barriga. O toque
é tão leve que eu só o percebo por causa da diferença de temperatura.
Estou tão concentrada com o caminho que a tesoura está fazendo
que nem percebo Baron se aproximar ainda mais. Ele afunda o rosto no
meu pescoço e chupa um ponto forte, me arrancando um gemido.
Não deveria ficar tão excitada assim. Sua língua traça a minha pele
delicadamente enquanto a tesoura continua percorrendo o meu corpo. Ao
chegar perto do coração, sua mão para.
— Eu poderia enfiar isso aqui e ninguém me impediria. — Ele ri,
rouco. — Você sabe disso, não sabe?
Engulo em seco.
— Você não faria isso — digo, sentindo a minha voz vacilar.
Baron leva a tesoura até a altura dos meus seios. Ele passa a ponta
por um mamilo, me fazendo arfar. Ele começa a brincar com meus mamilos
usando o metal e eu preciso morder o lábio para não dar o gostinho de me
ouvir gemer.
Deus, nunca estive tão excitada assim antes. Eu definitivamente
devo ter algum problema.
— Tem razão. Eu não faria isso com você — diz com a boca perto
demais da minha. — Mas isso não significa que você não precisará ser
punida. Eu sugiro que não me provoque nunca mais como fez hoje.
É um martírio precisar encará-lo enquanto ele continua usando a
tesoura para me estimular.
— Você não é tão assustador como pensa que é — atiro, atropelando
as palavras em uma lufada de ar.
Baron ergue uma sobrancelha. Depois, lentamente abre o sorriso
mais sinistro que eu já vi.
— E você não é tão esperta como pensa que é.
E então ele faz a coisa mais maluca que poderia.
Ele me beija.
Ele. Me. Beija.
E não foi só um encostar de lábios para me colocar no meu lugar
como pensei que seria ao sentir sua boca na minha. Não. É um toque bruto,
carregado de raiva e tesão reprimido. E, talvez… Vingança.
Sim, se a vingança tivesse um toque ou sabor, definitivamente seria
esse.
Não posso culpar a confusão ou a adrenalina, porque assim que a
língua de Baron toca a minha, o mundo ao nosso redor parece explodir. Me
afasto alguns centímetros, completamente em choque. Estou me preparando
para dizer umas poucas e boas para ele quando Baron me encara, com o
mesmo sorriso de antes.
Trago em seco mais uma vez.
Ele entende isso como um convite, porque sua mão larga a tesoura
no chão e agarra minha nuca, puxando meu rosto para um beijo intenso. Sua
língua decide entrar no jogo e, olha, posso afirmar que ela não é só afiada
apenas com as palavras. Sua boca começa a se mover com a minha
lentamente e eu sinto um arrepio atravessar da ponta do meu pé até meu
último fio de cabelo.
Eu já havia beijado uma quantidade considerável de bocas durante a
minha vida, mas esse beijo realmente parece coisa de outro mundo. Ou
então as borboletas no estômago e a queimação que está começando a se
alastrar por todo o meu corpo não poderiam estar mais erradas.
Era como se eu estivesse em chamas e Baron fosse a labareda que
começou tudo isso.
Até me esqueço que estamos prestes a nos tornar irmãos.
Com meus pensamentos, não percebo nossos corpos se movendo até
que caímos em cima do colchão e, ai, meu Deus, sentir seu peso distribuído
em cima de mim é ainda mais gostoso do que tê-lo contra a parede. Todos
os seus músculos apertam cada parte minha e solto um longo suspiro em
sua boca quando sinto suas mãos apertarem bruscamente a minha bunda.
Ele rosna, selvagem, enquanto desce os beijos pelo meu pescoço e
maxilar. Eu sinto como se pudesse derreter a qualquer momento, ou melhor,
como se minhas entranhas estivessem derretendo. E devo admitir que, nesse
momento, seria a melhor coisa que poderia me acontecer.
Não acredito que estou deixando Baron me tocar dessa forma.
Um barulho no andar de baixo me faz pular, quebrando o beijo.
Alguém chegou em casa.
Baron, no entanto, não liga. Ele volta a atacar meus lábios como se
nos beijarmos em minha cama depois da aula fosse a coisa mais normal e
corriqueira do mundo.
Espalmo minhas mãos em seu peito, empurrando-o de leve.
— Tem alguém aqui — digo.
Ele levanta uma sobrancelha, impaciente.
— E daí?
Ah, é claro que ele não liga. Esqueci que estou me pegando com um
ser humano desprovido de qualquer sentimento básico.
Me desvencilho de seu toque, rolando o corpo para o lado. Baron
usa as mãos para me manter na cama, o rosto franzido em uma careta
confusa.
Era só o que estava faltando para completar esse dia de merda.
— Não acabamos ainda, amor — diz ele entredentes.
É a minha vez de semicerrar os olhos.
— Acho que acabamos sim.
— Isso só acaba quando eu disser que acabou. E, por enquanto,
quero continuar brincando com você.
Brincando.
É tudo isso que eu sou afinal de contas. A porra de um brinquedo
que ele usa e faz o que quiser.
— Vai sonhando — atiro, rangendo os dentes.
Baron continua imperturbável. O olhar intenso recai sobre o meu
pijama, agora completamente retorcido e amassado. Meu corpo está muito à
mostra. Ele coloca a mão sobre a minha barriga e um arrepio sobe pela
minha espinha.
— O que você pensa que está fazendo?
Mas ele não responde. Raspa os dedos pela minha pele como se eu
fosse uma obra de arte que ele quer apreciar bem lentamente.
Desvio o olhar ao escutar barulhos de passos se aproximando. Na
melhor das hipóteses, Brandon decidiu vir para casa hoje. Na pior, meu
novo padrasto vai acabar presenciando um show e tanto.
— Baron — resmungo, sentindo sua mão descer um pouco mais.
A pessoa está se aproximando do meu quarto. Ouço batidinhas na
porta ao mesmo tempo que os dedos de Baron entram no meio das minhas
pernas.
— Cecília? — É a voz da minha mãe e eu arregalo os olhos.
Ele começa a me acariciar, como se estivéssemos sozinhos. O rosto
está concentrado e ele nem se move ao escutar o barulho da maçaneta girar.
— Oi, mãe — suspiro, me sentindo a pior filha do mundo.
— Achei que você poderia precisar de ajuda para arrumar algumas
coisas. Acho que estamos sozinhas em casa.
Ah, se ela soubesse…
Baron ergue a sobrancelha, movendo a mão em círculos. A carícia é
leve, como se não passasse de uma promessa. Ele não parece estar com
pressa. Está aproveitando cada segundo do meu desespero.
— Hã… Tudo bem, mãe, eu… Eu vou te chamar, caso eu precise.
Mas obrigada! — respondo em português.
Quando escuto seus passos indo embora, volto a respirar.
Dou um tapa no ombro de Baron, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
— Você enlouqueceu? E se ela tivesse visto a gente?
— E daí?
— É tudo que você consegue falar?
Baron dá de ombros.
— É que eu realmente não me importo. Se ela pegasse a gente junto,
só iria entender que você é minha.
Abro a boca, mas estou tão chocada com suas palavras frias que não
encontro nada para refutá-las. Não tem como você ganhar de um maluco.
Você só acena e dá as costas, deixando-o pensar o que quiser.
— Vai embora do meu quarto — sibilio, irritada. — Você já fez o
suficiente.
Baron passa a ponta dos dedos pelo meu rosto, segurando meu
queixo com uma delicadeza sinistra. Não é o tipo de gesto que eu espero de
alguém como ele, o que só o torna mais assustador.
— Isso ainda não acabou — declara, um segundo antes de eu sentir
seu peso sumir de cima de mim.
Baron vira o rosto para me encarar por cima do ombro antes de
caminhar até a porta. Abrindo o sorriso mais sarcástico que eu já vi no rosto
de alguém, ele lança um olhar para a tesoura, agora esquecida no chão.
— Espero que você tenha entendido uma lição valiosa hoje. Não
pretendo ser tão benevolente da próxima vez.
Da próxima vez? Porra, eu só queria que esse maluco me deixasse
em paz.
— Espero que você também tenha aprendido a sua — respondo, já
que não sou conhecida por conseguir manter a língua dentro da boca para
começar.
Ele arqueia a sobrancelha. O rosto inexpressivo não me diz nada,
mas o brilho em seu olhar demonstra diversão.
Isso é algo que estou começando a notar em Baron. Muitas vezes ele
parece inexpressivo ou até mesmo entediado, mas se prestar bem atenção
em seus olhos, terá todas as suas respostas.
— Faça o seu pior, Baron — continuo, mesmo sabendo que isso
provavelmente vai acabar me colocando em apuros. — Estou preparada
para tudo. Você não vai vencer.
Ele continua sorrindo como a porra de um psicopata. Fico esperando
uma resposta atravessada, uma ameaça velada, um rosnado, qualquer coisa.
Mas ele só continua parado na frente da porta, o rosto como uma folha em
branco.
Por fim, ele sai do quarto.
Não antes de resmungar um bem-humorado: “boa noite, irmã”, com
um tom tão condescendente que foi pior do que qualquer ameaça que ele
poderia ter feito.
Eu estou muito fodida.
E todas as crianças gritam
Por favor, pare, você está me assustando
Eu não consigo impedir essa energia terrível
É isso aí, acho bom ter medo de mim
Quem está no controle?
Control | Halsey
Baron está com os olhos fixos em mim quando volto para dentro do
quarto. Uma bandeja de prata está sobre a cama e meu estômago ronca ao
sentir o cheiro de comida no ar.
Estou quase salivando de tanta fome.
— Eu estava prestes a invadir o banheiro de novo — ele diz, como
quem não quer nada.
Vou direto até a comida, sem me preocupar se ele está sentado na
mesma cama que eu. O desgraçado solta uma risada rouca ao me ver tão
desesperada para me alimentar e eu considero as minhas chances de fugir
da polícia caso use o meu garfo em sua jugular.
— Você parece um bichinho comendo assim… — murmura ele,
com diversão na voz. Em seguida, coloca a mão sobre o meu cabelo,
fazendo um carinho como se eu fosse mesmo a porra de um animal
indefeso.
Me desvencilho de seu toque, levando comigo o carbonara com a
paleta de cordeiro que estão tão saborosos que quase me levam ao orgasmo.
E olha que eu não sou de comparar o prazer de comer com o prazer do sexo
à toa, não.
Baron me observa com zombaria, até se servir também. Nós dois
comemos em silêncio, o olhar dele queimando sobre mim a todo o
momento. Depois que termino o meu jantar, começo a ir na direção do
banheiro, mas ele segura meu tornozelo com força e me puxa de volta para
a cama.
— Onde pensa que vai? — pergunta, arqueando a sobrancelha.
Não vou te responder, canalha.
Faço força com o pé para me livrar de seu toque, mas isso só parece
deixá-lo ainda mais animado. Ele me segura na cama, imobilizando o meu
corpo com o seu. O momento me lembra o de hoje de manhã, quando fiz o
mesmo com a Lucy.
O Karma não falha mesmo.
— Eu te fiz uma pergunta. Se me responder, vou te deixar ir.
Como se eu fosse acreditar em algo que você diz, idiota.
Bufando, eu me dou por vencida, amolecendo sobre a cama
enquanto o peso dele me pressiona contra o colchão. Baron é um homem
grande, com músculos sobressalentes e quase dois metros de altura. Sei que
não tenho nenhuma chance lutando contra ele, então nem me darei ao
trabalho.
Baron abre um sorriso maníaco para mim um segundo antes de
abaixar a cabeça.
— Eu gosto mais quando você luta — ele murmura na minha orelha,
baixinho. — É mais gostoso assim.
Eu lhe dou minha expressão mais entediada como resposta, como se
suas palavras não me afetassem em nada.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Você realmente acha que vai passar todo o final de semana
agindo assim, hein?
Dou de ombros, sem conseguir desviar a minha atenção de todos os
pontos do corpo dele que estão tocando o meu. O abdômen está pressionado
contra a minha barriga e um dos joelhos está perigosamente perto da minha
parte mais íntima.
Desvio o olhar para onde nossos corpos estão pressionados e Baron
faz o mesmo. Ele vira o rosto para mim, avermelhado, com a mandíbula
travada. Vejo-o engolir em seco enquanto a minha respiração começa a
acelerar com a nossa proximidade.
Porra, como algo tão simples pode causar um verdadeiro incêndio
dentro de mim? Isso não é justo.
— Você está sentindo isso, não está? — provoca, começando a
dedilhar a minha cintura com seu polegar. — Você sente o quanto o seu
corpo implora pelo meu. Como a sua pele está arrepiada por causa do meu
toque. Você gosta de mim, Cecília.
Gosto de como você me faz sentir, tenho vontade de corrigir. Mas
mesmo assim, me contenho.
Baron não vê isso como um empecilho. Ele afunda seu rosto no meu
pescoço, inspirando meu cheiro como se ele fosse lhe deixar chapado.
Quando ele volta a me encarar, seus olhos estão mais escuros. A visão me
causa um frio na espinha, algo que eu não consigo decifrar.
— É insano o quanto você mexe comigo. Não consigo explicar. —
Ele balança a cabeça, usando a ponta dos dedos para acariciar o meu rosto.
Gostaria muito de dizer que estou assustada ou irritada com o toque
possessivo e que grita “minha” de Baron, mas essa merda está começando a
me excitar de verdade. Minha calcinha está molhada só de vê-lo ficar assim
por causa do meu cheiro e não consigo impedir a minha mente de pensar
em como ele pode me levar à loucura.
Como se lesse a minha mente, Baron leva o olhar até a minha
barriga. Eu o encaro em resposta e quando seus olhos encontram os meus,
faço um aceno de cabeça.
É quase imperceptível, curto e é necessário deixar o meu orgulho de
lado para conseguir fazê-lo, mas não vou voltar atrás.
Eu assinto.
Ele rosna algo inaudível, atacando meus lábios logo em seguida. O
gosto do vinho que bebeu com o jantar invade meus sentidos de uma vez e
ele segura a minha cintura com força, me fazendo sentir sua ereção contra a
minha barriga.
Baron está muito duro.
Gemo em seus lábios, começando a perder a cabeça. Ele segura
minha nuca com as duas mãos, completamente fora de si, me beijando
como um homem louco. Seus lábios descem para o meu pescoço e é como
se ele deixasse um rastro por onde passa.
Um rastro que está começando a me deixar louca.
Agarro seus cabelos, sem me importar em como isso vai fazer o
sorrisinho arrogante de Baron surgir com tudo. Ele grunhe contra a minha
pele, usando a língua e os dentes para me levar à loucura, beijando e
mordiscando o meu pescoço como se fosse um homem que passou dias
longe da mulher que ama.
Da mulher que ama.
A realidade não poderia ser mais diferente.
Baron não me ama. Ele apenas está obcecado por mim.
Ao sentir sua boca se mover do pescoço até o meu colo, fecho os
olhos, reprimindo o suspiro de prazer que quer escapar de mim.
— Você está tão gostosa usando o meu uniforme que eu não vou
conseguir tirar essa roupa de você — diz ele com a voz carregada de desejo.
Prendo a respiração, vendo-o levantar a blusa enquanto me encara
com intensidade. Nossos olhos estão travados em uma batalha silenciosa
enquanto fico cada vez mais exposta a ele.
Com a blusa dobrada até em cima, ele abaixa a cabeça para ficar na
altura dos meus seios. Não estou usando sutiã porque além de ser
desconfortável pra caralho, tudo o que eu tenho aqui é um biquíni molhado
e sujo de areia.
— Porra…
Sua língua quente é a primeira coisa que eu sinto. Ele não espera
nem mais um segundo antes de abocanhar o meu mamilo e sugá-lo com
uma delicadeza surpreendente, a sucção suave ao ponto de me fazer revirar
os olhos.
Aperto minhas pernas ao redor de seus quadris, completamente
excitada. Ele intercala entre lambidas suaves, sua mão agarrando o outro
seio com possessividade.
Não posso olhar. Não posso olhar.
Se eu olhar e ver sua devoção da mesma forma que eu a estou
sentindo, sei que estarei perdida. Vou querer me entregar a ele e Baron vai
vencer.
Ele vai conseguir tudo o que quer de mim.
— A partir de hoje, não quero que você durma mais com a porta do
seu quarto trancada. Vou entrar lá todas as noites depois que nossos pais
forem dormir e vou chupar seus mamilos assim. Por horas. — Seu tom de
voz não dá margem para discussão.
Se conseguir me fazer gozar, vou deixar você entrar sempre que
quiser.
Eu mesma me assusto com o pensamento.
Ele segura um dos meus seios com a mão, passando a língua bem
superficialmente. A promessa de um contato faz meu corpo se aquecer e um
calor gostoso começa a surgir em meu ventre.
— Você já está ficando vermelha. Delícia — o desgraçado me
provoca, sugando meu seio enquanto espalma as mãos sobre a minha
barriga.
Se ele começasse a descer um pouquinho mais…
E, como sempre, é quase como se Baron conseguisse ler a minha
mente. Ele vai passando as mãos pela minha pele, carinhoso, enquanto sua
boca beija cada centímetro do meu corpo.
São beijos molhados e tão suaves que eu sinto vontade de puxá-lo
para cima e abraçá-lo com força. É bem irônico pensar que estou aqui e me
sentindo assim depois de ele ter me sequestrado na praia hoje mais cedo.
— Você precisa ser venerada. Adorada. E é o que pretendo fazer
todos os dias a partir de hoje — continua, com a boca colada na minha pele.
O calor de seu hálito me atinge conforme suas palavras são ditas e eu
preciso morder o lábio para não deixar um gemido escapar. — Vou beijar
cada parte sua, Cecília. Até as partes que você não gosta. Que acha feia ou
que não fica à mostra. E, porra, essas serão as minhas favoritas.
Seus dedos estão segurando os meus quadris com força conforme
ele continua descendo. Ao sentir seus lábios na minha virilha, abro a boca.
Estou praticamente arfando com a mera ideia de ele cair de boca em mim.
A expectativa está me matando.
— Você está morrendo de vontade de sentir meus lábios em você,
não é? — me provoca, descendo a mão pelas minhas coxas.
Seus polegares me acariciam bem devagar e eu abro ainda mais as
minhas pernas. Baron se posiciona entre elas e então finalmente crio
coragem de abrir os olhos e encará-lo.
E… Merda. Não deveria ter feito isso.
Porque ver o rosto corado de Baron enquanto seus olhos agora mais
escuros do que eu jamais vi me encaram com tamanha intensidade, é desleal
comigo mesma. Prendo o fôlego, contemplando a visão mais excitante que
meus olhos já viram.
Nem nos meus sonhos mais obscuros eu poderia imaginar algo
assim.
Ele é o meu irmão postiço, porra.
— Você sabe que eu faço qualquer coisa por você, Cecília. Qualquer
coisa — enfatiza, mostrando a língua antes de deixar uma lambida no canto
da minha coxa.
Puta que pariu. Os arrepios não deveriam ser tão intensos assim,
deveriam?
— É muito difícil saber se você está gostando de algo ou não.
Parece que o gato comeu sua língua.
Se você não consegue entender a linguagem corporal de uma garota,
então, nem deveria ter entrado nesse jogo, idiota.
Baron está conduzindo a situação exatamente como planejou. E,
devo dizer, é um truque de mestre. Me seduzir e provocar com sua boca
quente até me levar ao ponto de implorar para sentir sua língua me sugando.
Eu já deveria ter imaginado que ele faria algo assim.
Mas eu aperto meus lábios em uma linha fina, encarando-o com o
queixo empinado. Ele vai entender o recado.
Pelo menos é o que eu espero.
Hoje ele conseguiu tudo o que queria. Me arrastou da praia, me fez
usar sua blusa do time e, merda, até a minha comida escolheu.
A única coisa que me recuso a entregar de bandeja para Baron é a
minha voz. Minhas palavras.
E posso continuar nesse joguinho para sempre.
— Vou adorar provar seu sabor, Cecília. Sentir sua boceta pulsando
na minha língua enquanto eu sugo tudo bem devagar. Bem assim… — E
para provar que é o próprio diabo encarnado, Baron faz uma “emulação” do
movimento por cima da minha coxa. Só de pensar nele fazendo o mesmo no
meio das minhas pernas, eu estremeço. Ele me atira um olhar satisfeito. —
Só você pode acabar com a nossa agonia, amor. Só preciso que você me
peça. Tudo o que você me pedir, é seu.
“Tudo o que você me pedir, é seu.”
O impacto de suas palavras não deixa de me assustar. Baron é um
homem poderoso, herdeiro de várias empresas e promessa do hóquei. Ele
tem tanta influência que o mundo está aos seus pés. Esse tipo de poder
nunca foi algo que eu almejei para mim… Mas, às vezes, eu me pego
pensando em como minha vida seria se eu o pedisse, de fato, tudo o que eu
quero.
Para de pensar nessas merdas, Cecília. Você não quer se igualar a
ele.
— E se eu fizer isso… — Ele ergue as sobrancelhas, pegando sua
taça de vinho novamente. Eu arregalo os olhos, vendo-o despejar o líquido
escuro sobre a pele da minha barriga. Baron suga o vinho diretamente de
mim, fazendo questão de manter os olhos abertos para assistir a minha
reação.
A sensação da bebida gelada contra sua língua quente dispara fogos
de artifício por toda a minha pele. Estou sensível, excitada, cheia de desejo
e com muita vontade de gozar. Nunca pensei que estaria quase chorando
para ser tocada por Baron, mas aqui estou.
— Hm… Você continua sem falar.
O satã encarnado abre um sorriso maquiavélico, arrastando seus
dedos na direção da minha calcinha. Quando o tecido começa a descer pelas
minhas pernas, seus olhos são atraídos diretamente para a minha boceta.
— Caralho… — murmura, fechando os olhos. — Você está
encharcada. Isso deve estar sendo doloroso… Você deve estar precisando de
um alívio, amor. — Abro os olhos ao sentir seus dedos me tocando. É breve
e quase imperceptível, mas o contato me deixa em chamas. — Olha só
como você está pingando…
E como o demônio que é, Baron leva os dedos até a boca e suga
com vontade. Lambo os lábios, sentindo minha boceta ficar ainda mais
molhada com essa visão.
— Porra… Seu gosto é muito melhor do que eu pensei, Cecília.
Você pode acabar me acostumando mal. Vou precisar desse sabor todos os
dias na minha boca. — Ele sorri, pegando a calcinha molhada e levando-a
diretamente ao seu nariz.
Estreito os olhos, sentindo meu pescoço esquentar com a visão do
que esse pervertido está fazendo.
Baron inspira, como um viciado, antes de colocar a calcinha no
bolso de sua calça de moletom.
— Você está vermelha — ele constata, inclinando a cabeça para o
lado. — Me ver sentindo o seu cheiro te deixa assim, amor?
Estou cogitando seriamente pegar um dos travesseiros e colocar
sobre a sua maldita boca.
— Se está ficando corada e ofegante só de me ver fazer isso, mal
posso esperar para ver qual será a sua reação quando eu afundar meu rosto
entre as suas pernas. Ou… — Ele abre mais um de seus sorrisos para mim.
— Quando eu estiver tão fundo em você que será impossível dizer onde eu
começo e você termina.
Aham, vai sonhando.
Eu levanto uma sobrancelha para ele, pouco me importando se a
minha reação vai aborrecê-lo. É um fato que estou com tanto tesão que não
será necessário muito para eu gozar, mas minhas mãos continuam
funcionando perfeitamente bem, obrigada.
Baron franze o cenho.
— Você não quer mesmo falar comigo, hein?
Dou de ombros, torcendo para a minha expressão de tédio estar
funcionando. Quero atingi-lo de alguma forma. Principalmente por ele estar
me deixando nessa situação tão frustrante.
— É uma pena, Cecília. É realmente uma pena. — Ele ergue uma
sobrancelha para mim. — Meu pau está doendo com essa visão. Você sem
mais nada além da minha camiseta. Corada, ofegante, pingando para mim…
Pronta para gozar com o menor toque. Você não faz ideia do quanto está me
matando, amor.
Se ele estiver sentindo a metade do que eu estou, então sim, eu faço
ideia de como é.
Nossos olhares se sustentam por longos segundos. Ele está tenso, os
ombros travados. Eu estou relaxada, esparramada na cama como se o
esperasse.
Qualquer pessoa que entrasse aqui testemunharia um casal em uma
espécie de jogo sexy.
Mas a disputa silenciosa entre nós está falando mais alto do que o
desejo.
Não vou ceder.
E ele também não.
— Merda… — ele xinga, frustrado, passando as mãos furiosamente
sobre o próprio rosto. — É só você me pedir, Cecília. Me peça que eu acabo
com essa tortura para nós dois. Você vai gozar tão gostoso que mal se
lembrará seu nome amanhã, amor. Vou passar cada hora e cada minuto me
dedicando para o seu prazer. Sugando e tomando cada gota da sua
excitação… Até o seu cheiro estar impregnado em cada parte do meu corpo.
Vou usar essa porra como perfurme, eu juro.
Ai, merda. Merda, merda.
Suas palavras já estão quase sendo o suficiente para me levar ao
limite. Se eu tivesse algo para…
Ah!
Baron me abraça pela cintura, apoiando sua cabeça na minha barriga
à mostra novamente. Seus beijos estão cada vez mais desesperados e eu
preciso reprimir a vontade de agarrar seus cabelos com os meus dedos.
É isso que ele quer. Que eu perca o controle de mim.
Baron, sem perceber, apoia um dos seus joelhos entre as minhas
pernas. Ele faz isso quando sobe os beijos de volta até os meus seios, agora
ainda mais sensíveis depois dele tê-los chupado por tanto tempo.
Quando sua língua quente encontra o meu mamilo novamente, eu
movimento meus quadris contra a sua coxa. Estou tão excitada que não é
necessário muito mais que isso e quando Baron se dá conta do que comecei
a fazer, é tarde demais.
Estou gozando.
O prazer violento irradia por todo o meu corpo e fecho os olhos,
colocando a mão sobre a minha boca. Não vou deixar que ele tenha sequer
um gemido.
Absolutamente nada.
— Que porra? — Baron desvia o olhar para mim, indignado. —
Você acabou de gozar?
A expressão satisfeita em meu rosto deve lhe dar explicações o
suficiente, porque ele se afasta da cama como se tivesse acabado de levar
um soco. Cambaleia para trás, desnorteado, e eu abro um sorriso
convencido para ele.
— Você é uma jogadora difícil de derrotar. — Balança a cabeça, se
aproximando da cama novamente. — Mas eu gostei disso, meu amor. E
adorei ver como você gozou por minha causa.
E, verdade seja dita, isso é fato.
Gozei por causa de Baron Donovan.
E adorei cada segundo.
Não diga que você precisa de mim se
Você sabe que está indo embora, eu não posso fazer isso
Eu não posso fazer isso, mas você faz isso bem
Porque eu sou bonita quando choro
Pretty When You Cry | Lana Del Rey
Meu maxilar está doendo pra caralho e meu olho com certeza vai
ficar roxo depois do jogo de hoje. Eu sempre fico dolorido depois de uma
partida, mas hoje meus músculos parecem gelatina.
Um dos jogadores do time de Chicago decidiu que queria uma briga
e, porra, escolheu o cara certo para isso. O árbitro precisou patinar feito
louco para apartar quando fui com tudo para cima dele, logo depois do
babaca ter tentado interceptar o disco quase me acertando com o taco.
— Que beleza! — A voz irritantemente divertida de Kaden chega
aos meus ouvidos. — Eu achei que hoje teríamos um verdadeiro banho de
sangue. Estou um pouco decepcionado. — Ele finge limpar uma lágrima
imaginária da bochecha e eu contraio o maxilar, respirando fundo.
Hunter surge no meu campo de visão, com o olho já começando a
ficar roxo. Ele também brigou hoje durante o jogo, o que não é nenhuma
novidade.
— Cara, como vocês dois têm azar… — Kaden continua
balançando a cabeça. Os olhos estão brilhando como se ele fosse um
menino em uma porra de parque de diversões. — As garotas de vocês
decidiram se rebelar na primeira semana dos jogos. Que timing perfeito!
Eu mal levanto os olhos para lançar um olhar de aviso quando
Hunter praticamente parte para cima de Kaden, rosnando feito um cachorro.
Mas que porra é essa?
— Ela não é minha garota! — grita ele, bufando. — Na verdade,
soube que ela vai ser transferida daqui há duas semanas para outra
universidade. Pode parar com as suas piadas.
Hunter já devia conhecer Kaden bem o suficiente para saber que
isso só vai deixá-lo mais interessado no assunto. Consequentemente, o
humor baixo e vil também será usado como uma arma.
— Então quer dizer que você foi atrás dela… — Ele finge coçar o
queixo, abrindo um sorriso maníaco. — Nosso menino está crescendo,
Baron. Ele até consegue falar com as pessoas. Tenho certeza que a
psicóloga vai ver isso como um grande progresso.
Alguém me mata.
— Cala a porra da boca, Kaden. Ninguém aguenta as suas merdas
por muito tempo — grunhe Hunter, começando a se retrair.
O movimento me chama atenção. Ele sempre foi fechado ao nosso
redor, mas nunca reagiu dessa maneira.
Amy é uma garota da cidade natal de Hunter. Eles vêm de um
lugarzinho no interior do Kansas chamado Barlow e, aparentemente, não
havia nenhuma chance de ascender socialmente se mantendo lá. Eles
cresceram se encontrando em quermesses e eventos da prefeitura minúscula
de lá, mas só foram se tornar amigos no ensino médio.
Hunter se mudou da cidade com quinze anos para a cidade vizinha,
que também era muito maior do que o lugar onde nasceu. Pelo visto, os pais
de Amy também tiveram a mesma ideia.
Os dois se esbarraram nos corredores no primeiro dia de aula, mas
de acordo com ele, não teve interesse em manter uma conversa longa com a
garota que não conseguia parar de falar.
Isso até ele descobrir que os pais de Amy eram, na verdade, os
novos funcionários da casa dele. A mãe era cozinheira em tempo integral e
o pai o levava e buscava na escola, além de outros compromissos
importantes. O pai dela tinha outro emprego, mas o serviço extra de
motorista ajudava a pagar a mensalidade da escola na cidade.
E, depois disso, não temos tantos detalhes. Hunter nos contou um
dia quando estava balbuciando, bêbado como um gambá e mal conseguindo
se aguentar de pé. Disse o quanto Amy e ele começaram sendo amigos e
dividindo a paixão por mangás e quadrinhos. Depois, eles começaram a
fazer maratonas de filme e, quando percebeu, já estavam se beijando em
qualquer oportunidade em que seus pais viravam as costas.
Não conseguimos mais arrancar detalhes dele sobre o assunto, mas
Kaden se refere à Amy como a “pequena perseguidora” de Hunter. Deduzo
que ela tentou sabotar a grande chance dele vir para Granville como jogador
de hóquei quando descobriu que ele teria que se mudar de Estado.
— Você é sempre tão estressadinho, Hunter. — Kaden balança a
cabeça. — Se quer saber, a garota tem o meu respeito. Ela é tão louca por
você que te seguiu até aqui, cara. Não deveria enxotá-la de volta para
aquele buraco. Se ela fosse minha, eu a arrastaria até o vestiário e…
— Mas ela não é sua, K — eu o interrompo, vendo o pescoço de
Hunter assumir um tom avermelhado. — E acho que todos nós já estamos
estressados demais com o jogo de hoje. Melhor pararmos por aqui.
Ele ainda balbucia mais alguma merda, mas eu lanço um olhar
solidário para Hunter. Não costumo bancar o “amigo protetor”, mas às
vezes a discrepância entre esses dois me dá nos nervos.
Kaden nunca sabe o momento de fechar a boca e Hunter nunca sabe
quando deve abri-la.
O vestiário está cheio, então preciso me espremer entre dois caras
antes de chegar até os chuveiros. Tomo um banho rápido antes de correr até
o estacionamento, sem querer esperar mais nenhum segundo aqui.
Preciso estar no mesmo ambiente que Cecília de novo.
Eu achei que depois de passar o final de semana inteiro sentindo o
cheiro dela, observando-a enquanto dorme ou mesmo assistindo-a fazer
pequenas coisas no dia a dia, seria o suficiente para tirar um pouco dessa
necessidade de estar sempre do lado dela.
Mas não tirou. E aqui estou eu, moído como um filho da puta depois
de um jogo contra um dos nossos maiores rivais, correndo de volta para ela.
Entretanto, para o meu azar, não é Cecília que eu vejo assim que
coloco os pés na minha casa.
É o meu pai.
— Finalmente, hein? — ele diz, levando o copo com o líquido
âmbar até os lábios.
Whisky puro. Seu favorito desde que a mamãe morreu.
Ele não está usando um terno, o que significa que chegou bem mais
cedo do trabalho. O cabelo está molhado, os olhos um pouco avermelhados
e a ruga ao redor dos lábios se acentua quando ele dá uma olhada no meu
estado.
— Jesus, Baron. Parece que um caminhão passou por cima de você.
E passou mesmo, seu filho da puta.
Arqueio a sobrancelha na direção dele, me preparando para a
batalha que estamos prestes a ter. A mesma que sempre temos.
— Você me esperando na sala igual fazia quando eu tinha quinze
anos? — Cruzo os braços, erguendo meu queixo.
Ele deixa uma risada seca escapar de seus lábios.
É uma dança que eu já conheço e por isso não quero pisar em ovos.
Sei exatamente o que faz Alexander Donovan sair mais cedo do trabalho
para esperar pelos filhos na sala de estar.
Ele quer nos dar ordens.
— Você levou a Cecília para o nosso hotel à beira-mar no sábado e
só trouxe ela no domingo. Isso não teria problema, é óbvio… — Ele
semicerra os olhos. — Se você não tivesse levado ela contra a própria
vontade. Que merda deu em você, filho?
Fecho os olhos, estalando o pescoço como eu faço quando estou me
aquecendo no vestiário antes de uma grande partida.
— Baron, se você fez algo com ela, eu juro que…
— Não fiz nada com ela. Nada que seja da sua conta, pelo menos.
— Eu não estou com paciência para aturar o seu desrespeito hoje.
Suzan é a mulher que eu amo e prometi cuidar dessa garota como se fosse
minha filha.
Dou um passo à frente, rangendo os dentes.
— Ela não é a sua filha e não é o seu dever cuidar dela!
Ele estreita os olhos.
— E de quem é esse dever, então? Seu? — zomba, bebericando
mais um gole de sua bebida.
— Talvez seja. — Dou de ombros. — Você foi incapaz de cuidar da
sua esposa, porra. Incapaz de cuidar dos próprios filhos. O que te faz pensar
que vai conseguir cuidar da Cecília?
— E o que faz você pensar que vai, Baron? — atira de volta,
colocando o copo com cuidado no aparador da sala. — Eu achei que essa
obsessão com ela não passasse de ciúmes. Me convenci de que era algo
passageiro e que vocês iam começar a agir como irmãos implicantes com
ela. — Ele balança a cabeça, coçando o queixo devagar. — Mas fui ingênuo
demais. Garotos jovens com uma menina da mesma idade não poderia dar
em outra coisa.
Eu sou um vulcão prestes a explodir.
A cada merda que sai da boca do meu pai sobre o que ele pensa que
sabe a respeito dos meus sentimentos em relação à Cecília, meu sangue
ferve. Isso não é só sobre atração física ou ciúmes.
É sobre conexão.
É sobre saber cada mínimo detalhe da vida dela, até os mais feios e
repulsivos, e desejá-la tão desesperadamente que parece que a porra do meu
coração vai explodir.
Ele nunca sentiu nada nem remotamente parecido com isso. É por
isso que não entende.
Uma lembrança com a minha mãe me atinge com força. Estávamos
no carro, cochichando um para o outro no meio de uma grande tempestade.
Foi a primeira vez que ela tentou ir embora comigo e deixá-lo.
— Baron… Homens como o seu pai não costumam amar nada além
de sua conta bancária. Eles não vivem pela paixão. Não sentem nada além
de ganância e vontade de acumular mais e mais… — Os dedos frios dela
passeavam pelos meus cabelos e era a melhor sensação do mundo. — Não
seja assim, meu filho. Não seja movido só pelo dinheiro e pelas coisas
materiais que pode conquistar. Quero que você viva por alguém. Quero que
encontre a pessoa certa para você. Não faça como o seu pai… Ou como eu.
Minha mãe me fez prometer que não seria como ele e eu acordo
todos os dias tentando cumprir essa promessa. Tentando me distanciar o
máximo possível de Alexander Donovan e tudo o que ele representa.
— Isso precisa parar, Baron. E precisa parar agora — ele diz, com o
dedo apontado para mim.
Mas o meu rosto já está congelado na expressão indiferente que eu
sei que o tira do sério.
— E se eu não parar?
Seus olhos escurecem, o maxilar trava. Quando ele se empertiga, é
como me ver através do espelho. Uma versão mais velha e com certeza
mais experiente.
Mas definitivamente não é mais cruel.
— Então precisarei te afastar. Você pode escolher qualquer
apartamento que quiser perto da faculdade, mas vai precisar sair daqui.
Caso continue perseguindo a Cecília pelo campus, vou colocar seguranças
para vigiá-la.
Meu nariz infla, a irritação está subindo em ondas violentas. Estou
vendo vermelho conforme ele continua enumerando todas as formas que
pretende me manter longe e afastado dela.
— Só por cima do meu cadáver, Alexander. E não estou brincando
— respondo com uma expressão mortal. — Não há nada e nem ninguém
capaz de me manter longe dela. Ninguém.
Seus ombros caem.
Eu estive observando-o nas últimas semanas e ele definitivamente
parece muito apaixonado pela Suzan. Me surpreendi pela forma como eles
se olham ou como ele realmente parece se importar com alguém além de si
mesmo pela primeira vez.
Entendo que esse amor pode estar colocando-o em uma posição
delicada a respeito de Cecília e eu. Ela deve estar cobrando isso dele, mas,
caralho… Nem fodendo vou deixar que me mantenha longe dela.
E ele sabe que eu tenho recursos o suficiente para lutar por isso.
— Não queria que isso chegasse tão longe, filho. Nunca imaginei
que um dia poderia cogitar te expulsar de casa. — Ele balança a cabeça e…
Merda. Aquelas são lágrimas? — Cecília é uma boa menina, Baron. Ela
não merece nada que você tenha feito com ela.
Puta que pariu. Como ele pode afirmar isso se nem a conhece?
— Esse é o meu primeiro e último aviso. Espero que seja o
suficiente.
Sigo-o com os olhos conforme ele me deixa sozinho.
Não verbalizo, mas só tenho um pensamento em minha cabeça
agora.
Ele não perde por esperar.
Cinzas, cinzas, hora de dormir
Ooh querido, você me quer agora?
Não aguento mais, preciso te colocar na cama
Cantar uma canção de ninar onde você morre no final
Milk and Cookies | Melanie Martinez
Kaden passa voando sobre mim, o rosto furioso sem deixar dúvidas
de quanto está irritado comigo.
Estou fazendo merda, mas isso não é novidade.
Minhas costas batem na grade transparente que fica ao redor do
rinque e Kaden a soca do lado do meu rosto. Em qualquer outro dia, eu o
mataria por essa audácia. Mas hoje, eu permito que ele faça isso.
Estou bastante irritado comigo mesmo também.
Não consigo me concentrar. Meus pés não parecem obedecer os
meus comandos e embora eu tenha conseguido roubar alguns discos e até
auxiliado Kaden a fazer um gol contra os nossos rivais (que no treino de
hoje incluem o Hunter), preciso admitir que minha dispersão sendo o
capitão do time é inaceitável.
— Que porra é essa, Donovan?! Perdeu um disco para a porra do
Noah Ricci?! — Seu rosto corado e ofegante o deixa parecendo um duende.
De certa forma, é engraçado. — Está quase entregando a vitória para eles de
bandeja!
Me desvencilhando de seu aperto, continuo patinando. A sensação
de deslizar pelo gelo é inebriante e uma das poucas coisas que me manteve
vivo durante todos esses anos.
Isso até ela chegar.
E agora, cá estou eu. Tendo devaneios na porra de um treino
importante para caralho, já que estamos disputando o Frozen Four e o
próximo jogo será aqui, em Granville. Vamos enfrentar os babacas de
Boston e só de pensar nisso, já sinto minha pulsação acelerar.
Apesar de estar agindo como se tivesse razão, sei que não tenho.
Todos os caras estão percebendo como eu estou disperso nesses últimos
jogos e eu me sinto um merda por isso. Uma das razões de ter sido eleito
como capitão foi a minha capacidade de colocar uma máscara de frieza ao
entrar no rinque.
Agora, olhe para mim. Mal conseguindo fazer um lance sem tirar o
sorriso dela da minha cabeça.
Kaden passa patinando por mim como um furacão.
— Não adianta me dar as costas e sair feito um menino mimado,
Donovan. Você sabe que está errado. Que diabos está errado com você?!
— Eu não posso errar nenhuma vez? Preciso agir feito uma máquina
sempre? Me deixe em paz.
Ele desliza pelo gelo mais rápido do que eu, me interceptando no
caminho para ficar de frente para mim. Os olhos azuis estão nublados com a
fúria.
— Sim, você não pode errar, porra! Foi você que decidiu pegar essa
responsabilidade para você. Quer ser o capitão, então aja como um! Você
sabe que eu nunca disse para você se afastar dessa garota e até te ajudei a
persegui-la por aí, mas você precisa entender suas prioridades! A minha
sempre será os Angry Sharks. Já perdi muito nessa vida, Baron, e sou
fodido pra caralho por conta disso. Não vou permitir que ninguém tire de
mim a única esperança que eu tenho de não acabar tendo uma vida de
merda. Nem mesmo você!
As palavras saem atropeladas, mas o que ele diz me atinge em
cheio. Não sou um idiota, reconheço que embora tenha sofrido com a perda
da minha mãe, nada se compara ao que Kaden precisou enfrentar enquanto
crescia no sistema de adoção.
Resignado, eu ergo o queixo.
— Me passe a merda do disco, K.
Ele solta um suspiro de alívio ao perceber a mudança na minha
postura.
Mas Kaden tem razão e eu reconheço isso.
Preciso deixar a Cecília de lado por enquanto. Só até passarmos
pelos playoffs, pelo menos. Depois, posso continuar nosso jogo como se
nada tivesse mudado.
Ela vai entender.
Cecília está usando uma antiga blusa minha dos Angry Sharks, o
cabelo está molhado e todo penteado para trás e nos pés está com uma meia
de O Fantasma da Ópera.
Eu tirei sarro assim que vi ela vestindo, mas preciso admitir que não
tem nada que essa garota use que não a deixe completamente deslumbrante.
— Não sei se confio muito nas suas habilidades de cozinheiro,
Baron… — ela zomba, me vendo preparar uma omelete para o nosso café
da manhã.
O banho acabou sendo mais longo do que eu previa. Depois de
transar com ela contra a parede do box, eu não resisti ao vê-la toda molhada
e se trocando no meu quarto. Acabei chupando Cecília em cima da minha
cama, adorando saber que ela estava sendo a minha primeira refeição do
dia.
— Pode confiar. Eu sempre gostei de preparar a minha comida —
explico, colocando o omelete pronto em um dos pratos. — Meu pai sempre
contratou cozinheiros, mas a minha mãe sempre me mostrou documentários
sobre o preparo correto dos alimentos. Quando eu era criança, fiquei por
muito tempo apavorado com a ideia de acabar pegando salmonela ou
qualquer merda dessas. Como sempre quis ser atleta e treinava desde
pequeno, cuidar da alimentação também fazia parte da minha rotina. Cuido
disso desde então.
— Uau. E seu pai também comia o que você preparava?
Balanço a cabeça.
— Meu pai não ficava muito tempo em casa. Tudo o que eu sei,
aprendi com a minha mãe. Brandon, por outro lado… Ele sempre foi mais
distante. Acho que ele preferia a companhia do Alexander mesmo.
Eu estendo o prato para ela, que o leva até o nariz para cheirar.
Estreito os olhos, fingindo irritação, e Cecília abre um sorriso enorme para
mim.
— O cheiro parece realmente muito bom. Vou só pegar uma xícara
de café antes de passar a tarde toda trabalhando no meu projeto de design
de moda — murmura, deixando os ombros caírem.
Vou até ela a passos largos, esmagando seus lábios nos meus.
— Se conseguir terminar tudo hoje, vou repetir o que fizemos na
noite passada.
— Hm… Isso sim é motivação de verdade.
Eu rio contra a sua boca, aproveitando sua distração para enfiar a
língua na dela. Nós dois começamos a nos pegar para valer e eu estou quase
descendo as mãos para agarrar suas coxas e colocá-la em cima da bancada
quando um pigarrear soa alto e claro.
Ela me solta, um pouco atordoada, abrindo a boca em choque
quando dá de cara com o meu pai.
Alexander está usando um dos ternos de sua infinita coleção, com os
braços cruzados. Ele semicerra os olhos para nós dois e a forma com a qual
Cecília se encolhe ao meu lado me deixa irritado pra caralho.
Não gosto que a presença dele esteja intimidando-a.
— Vocês dois estão juntos? — pergunta ele com uma expressão
decepcionada.
Cecília abre a boca rapidamente para se explicar, mas eu a
interrompo antes que diga qualquer coisa.
— Estamos sim — respondo, erguendo o queixo em um desafio.
Ele passa as mãos sobre o próprio rosto, parecendo exausto. Em
seguida, dá passos largos em direção à cafeteira cheia. Meu pai se serve de
uma xícara de café, colocando a mão no bolso enquanto nos observa, em
silêncio.
— Não sei como reagir a isso — diz, suspirando. — Suzan não vai
gostar.
Travo o maxilar, sem desviar o olhar dele.
— Suzan pode ir se foder. Ela não tem nada a ver com isso.
— Baron! — Cecília segura o meu braço, me repreendendo. — Ela
é a minha mãe.
Meu pai ergue a sobrancelha para mim.
— Isso não é um jeito muito lisonjeiro de se referir à sua sogra,
Baron. Onde estão os modos que eu te ensinei?
Eu olho para cima, sem conseguir acreditar nessa conversa.
Meu pai quer discutir sobre como foi uma figura paterna de merda
logo hoje? Só pode ser sacanagem.
— Você não me ensinou nada. Tudo o que eu sou é fruto da
educação que a minha mãe me deu.
Seus olhos azuis ficam mais escuros de repente.
— Talvez seja por isso que esteja agindo assim — ele rebate, antes
de levar a xícara novamente aos lábios.
Dou um passo em sua direção, pronto para socá-lo pela forma com a
qual se refere à minha mãe. Cecília, no entanto, aperta meu braço
novamente.
Só ela tem o poder de me acalmar desse jeito.
Viro meu rosto para ela, tentando apaziguar a raiva que está lutando
para assumir o controle. Ela balança a cabeça, passando a mão
carinhosamente pelas minhas costas.
O ar volta aos meus pulmões.
— Vou subir. Acho que você e o seu pai tem muito a conversar —
ela diz, desviando o olhar entre meu pai e eu. — Nos vemos mais tarde,
tudo bem?
Antes dela se afastar, eu a puxo novamente para roubar mais um
beijo. Cecília fica nervosa por estarmos nos beijando na frente do meu pai,
mas foda-se. Ele precisa entender que não vamos parar.
Ela é minha agora.
E eu sou dela há tempo demais.
— Isso não é uma boa ideia, filho — ele começa, colocando a louça
suja em cima da bancada.
— Eu acho que isso não é da sua conta — rebato, cruzando os
braços.
Ele respira fundo, estreitando os olhos para mim.
— Quando o meu filho começa a se envolver com a minha enteada,
eu diria que é da minha conta sim. Eu te avisei para deixar essa garota em
paz, Baron. Infelizmente, você não me dá nenhuma escolha.
Bufando, eu dou um passo em sua direção.
— E vai fazer o quê? Me expulsar de casa? Foda-se, eu compro um
apartamento novo. Vai me proibir de vê-la? Você sabe muito bem que isso
não vai funcionar. Cecília e eu estamos juntos, e é bom que você se
acostume com isso.
— Baron…
— Você não está em posição para me dar conselhos. Pensa que eu
não sei que você anda desviando dinheiro da minha conta, a conta que o
vovô fez questão de deixar para o meu irmão e eu, e entregando tudo para a
filha da puta da Briana? — explodo, cansado de tanta hipocrisia. — Será
que a sua esposinha faz ideia do tipo de diversão que o marido novo está
buscando? Ela tem a mesma idade da Cecília, porra.
Os olhos do meu pai estão mais furiosos do que eu jamais vi. Ele
cerra os punhos, parecendo dividido entre arrumar a gola do paletó e sair
sem dizer mais nenhuma palavra ou partir para as vias de fato comigo.
Estou com tanta vontade de fazê-lo pagar por como fez a Cecília se
sentir, que estou ansiando para que ele escolha a segunda opção.
O ar à nossa volta está crepitando com a raiva e palavras não ditas.
Ele sempre foi um grande filho da puta com a minha mãe e ela me contou
algumas vezes do quão violento ele poderia ser.
Que tal mostrar isso para alguém do seu tamanho, babaca?
Mas meu pai não é burro e tampouco impulsivo, ao contrário de
mim. Ele sabe controlar muito bem o seu temperamento e é o que eu estou
observando Alexander fazer.
— Sinto muito que tenha descoberto isso, Baron. Eu vou repor cada
centavo e é por isso que não disse nada nem a você e nem ao seu irmão.
Vocês não sentiriam falta. Só precisava de uma quantia sem despertar
suspeitas…
Balançando a cabeça, encaro-o com escárnio.
— Sem despertar as suspeitas da sua noiva, você quer dizer? Se
ameaçar o meu relacionamento com a Cecília novamente, ela saberá do
dinheiro que você está enviando para ela. Estou falando sério, velho. Nunca
mais olhe pra ela desse jeito de novo.
Você não é meu namorado
E eu não sou sua namorada
Mas você não quer que eu veja mais ninguém
E eu não quero que você veja ninguém
Boyfriend | Ariana Grande
Eu: Você não deveria beber antes dos vinte e um. Está produzindo provas
contra si mesma.
O Mundo de Cecília: No meu país, eu posso beber daqui dois anos. E
meus pais sabiam o que eu estava fazendo ;)
Eu: Por que escrever um blog em inglês quando essa nem é a sua primeira
língua?
Não fui nada gentil na minha primeira pergunta, mas eu precisava saber.
Cecília Braga: Não quero que os meus pais descubram esse blog. Ele
começou como uma brincadeira, era só pra treinar o meu inglês. Estudei
em uma escola bilíngue e era um saco não ter ninguém para treinar. Além
disso, minha mãe mora nos Estados Unidos.
Comecei a digitar “por quê?”, mas parei. Talvez ela fosse uma pessoa
melhor do que eu, uma dessas que conseguia liberar perdão até para os
maiores filhos da puta que passaram por sua vida.
Eu não era assim.
Os textos dela começaram a ficar cada vez mais raros, até que um
dia desapareceram de vez. Encontrei o Instagram de Cecília uma vez e,
porra… Ela estava crescida.
O cabelo chegava na metade das costas, a cintura fina se destacava
nas fotos que ela postava de biquíni, os olhos ficavam claros na luz do sol.
E, de repente, as palavras que ela publicava de vez em quando nos
stories eram a melhor parte do meu dia.
Qualquer migalha de uma foto sua era o suficiente para fazer o meu
coração morto voltar a bater.
Eu me sentia como a porra de uma adolescente apaixonada pelo
Harry Styles, inventando histórias e cenários imaginários enquanto
acompanhava alguém de longe. Vivendo por um amor platônico e
unilateral, sonhando com o dia em que se encontrassem e percebessem que
eram o amor da vida um do outro.
Minha obsessão. A garota que começou um diário na internet sem
saber que acabaria no meu radar.
E eu a queria.
E, porra… Eu a teria.
Isso era uma promessa.
No vale das bonecas nós dormimos
Tem um buraco dentro de mim
Vivendo com identidades
Que não pertencem a mim
Valley of the Dolls | Marina
Meu rosto bate na parede quando Baron vem por cima de mim,
usando a boca para beijar e chupar a pele exposta da minha nuca. Seu hálito
quente se choca contra minha pele e sinto arrepios por toda a parte.
Ele enfia a mão na minha calcinha enquanto se esfrega em mim por
trás e mesmo que o corredor esteja vazio, a possibilidade de qualquer um
passar só aumenta ainda mais nosso tesão.
— Porra, que saudades disso — ele ofega, massageando meu clitóris
com os dedos habilidosos.
Minha respiração sai em lufadas enquanto ele continua me tocando,
suavemente e sem parar. Estou cada vez mais molhada, seus dedos
espalhando a minha lubrificação por toda a parte.
Baron segura meu rosto quan do aproxima os lábios dos meus.
Estou de costas para ele, com o pescoço virado para conseguir beijá-lo,
enquanto monto sua mão em busca do meu prazer.
— Preciso entrar em você agora — rosna ele, tateando a parede até
encontrar a maçaneta de um quarto.
O primeiro que tentamos está ocupado por Kaden e Lucy. Ele está
deitado na cama, completamente nu, enquanto a minha amiga monta o seu
rosto descontroladamente.
Porra, tá aí uma imagem que vai ser difícil esquecer.
— Que merda. — Baron solta uma risada quando volta a fechar a
porta.
Mas eu não quero deixar que isso estrague o nosso momento, então
pulo em seu colo, passando as minhas pernas ao redor do seu quadril. Ele
me segura na mesma hora, as mãos agarrando as minhas coxas enquanto
nossos lábios colidem.
Puta. Que. Pariu. Como vou conseguir viver sabendo que o único
cara capaz de fazer meu corpo sentir todas essas sensações é ele?
Quando minhas costas batem na parede, Baron começa a descer os
beijos pelo meu pescoço. Ele usa a língua para lamber todo o pedaço de
pele que encontra e de repente fico muito feliz por ter escolhido essa saia
xadrez.
Ele vai se agachando, sem se importar que ainda estamos no
corredor, e começa a descer a minha calcinha pelas pernas.
Estou tão excitada que não estou nem aí para quem quiser parar e
apreciar o show. Só preciso da boca dele me chupando, me fazendo gozar e
me levando à loucura como só ele sabe.
— Estava sedento por isso — ele murmura um segundo antes de
cair de boca em mim.
Meu corpo amolece contra a parede, meus joelhos perdem a força.
Mas os ombros fortes de Baron servem como uma espécie de banco
enquanto ele me chupa com vontade, usando a língua para me estimular
enquanto deixa beijos delicados por toda a minha carne inchada.
— Baron… — gemo, perdendo o pouco do controle que eu ainda
possuía.
A imagem de seu rosto entre as minhas pernas sempre vai ser a
minha preferida.
— Me perdoa, Cecília — o filho da mãe pede com o tom de voz
rouco.
É covardia me pedir desculpas quando está me chupando tão
gostoso assim e ele sabe.
Ele sabe o quanto eu adoro sentir sua boca em mim, com avidez ao
me saborear. Ele esfrega os lábios com sofreguidão pelo meu clitóris,
abrindo um sorriso diabólico ao sentir minhas pernas começarem a tremer.
— Vou fazer isso todos os dias pelo resto da minha vida para
mostrar o quanto estou arrependido. Nosso dia só vai começar depois de eu
sentir você gozando na minha língua.
Reviro os olhos, tomada pelo prazer que suas palavras misturadas
com o ritmo de sua língua me proporcionam.
Ele sobe as mãos até os meus seios, apertando-os por cima da blusa,
quando escutamos um grunhido nos tirar da névoa do desejo.
Um casal está parado, ambos com os olhos arregalados para a cena
que estão vendo.
Baron desgruda a boca de mim, os lábios brilhando com a minha
lubrificação. Ele franze o cenho, irritado.
— Caiam fora, porra.
Eles nem pensam duas vezes antes de nos darem as costas e irem
embora.
E Baron, como se nada tivesse acontecido, começa a me chupar
novamente. Agarro seus cabelos, começando a me esfregar na sua boca
como se fosse uma amazonas, cavalgando seu rosto em busca do meu
orgasmo.
Estou tanto tempo na seca que só de não ter gozado em dois minutos
eu já me sinto vitoriosa.
— Ah, merda… Você é tão gostosa, amor.
O prazer se avoluma no meu ventre antes de sentir o fio de prazer
subir da unha do pé até o meu último fio de cabelo. Baron continua com o
rosto enfiado na minha boceta, chupando com sofreguidão até que as
minhas pernas caem, moles, ao lado do meu corpo.
— Você ganhou uns dois pontos com isso, mas não pense que é o
suficiente — sussurro com a voz lenta.
Ele está com o rosto todo molhado com a minha excitação. Baron
abre um sorriso safado para mim antes de concordar com a cabeça.
— Nós nem começamos ainda, Cecília.
Passamos pela porta do quarto que está sendo ocupado por Kaden e
Lucy até encontrarmos um que esteja livre.
Baron não perde tempo ao me jogar contra a cama arrumada, vindo
por cima de mim como um predador. Ele arranca a saia das minhas pernas,
me deixando completamente nua da cintura para baixo. Em seguida, tira a
própria blusa, jogando-a no chão do quarto como se fosse um pano de chão.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi.
Engulo em seco ao ver seus olhos escurecerem de desejo. Ele
começa a passar o dedo lentamente pela minha pele, igualzinho fez da
última vez que nos vimos, só que num fio do meu cabelo.
— Achei que nunca mais ia te tocar assim… — Sua voz
melancólica me pega de surpresa. — Eu estava enlouquecendo, Ceci.
Ficando completamente maluco sem você.
Nossos olhares não se desgrudam enquanto ele abaixa o rosto,
beijando a minha barriga com suavidez. Uma lufada de ar escapa de mim
com a imagem de Baron submisso, murmurando palavras de desculpas
enquanto beija minha pele com paixão.
— Um dia eu te pedi para ser completamente devota a mim. Eu
achava que era isso que eu queria.
Minha voz não sai tão firme quando eu pergunto, confusa:
— E não é o que você quer?
Baron encosta a bochecha na minha barriga, circulando os braços ao
redor da minha cintura ao me puxar para um abraço. O gesto me pega de
surpresa por quebrar o clima, mas eu não o pararia agora.
— Não. Eu quero ter você, Cecília. Do meu lado ou acima de mim.
Tanto faz. Mas só quero que você queira estar comigo. Não posso voltar
para o inferno em que eu estava sem você.
E por mais brega ou cafona que isso possa soar, é a primeira vez que
sinto verdade nas palavras de Baron. O desespero no rosto, o jeito como ele
esfrega a bochecha na pele da minha barriga, como se estivesse tentando
guardar cada pedacinho meu nele.
Quando Baron sobe o rosto para me encarar, eu o encontro no meio
do caminho, roubando um beijo de seus lábios. Ele sorri contra a minha
boca ao segurar minha nuca com possessividade, descendo o rosto para
distribuir beijos pelo meu pescoço e colo.
— Tira isso — ele pede, me ajudando a tirar a minha blusa.
A calça dele é a próxima a ir parar no chão e quando estou prestes a
tirar meus saltos, ele para.
— Fique com eles.
Seu pau salta livre quando eu o ajudo a tirar sua roupa íntima
também e eu me coloco de joelhos sobre a cama para chupá-lo. Baron
geme, jogando a cabeça para trás ao fechar os olhos, aproveitando a
sensação de ter minha boca lambendo-o.
— Eu amo tanto foder sua boca, amor. — Sua voz rouca me faz
sentir uma fisgada entre as pernas.
Como ele pode ser tão sexy?
Começo a mover a minha cabeça para frente e para trás, alucinada
por estar com ele novamente. Baron me ajuda, impulsionando os quadris até
seu pau atingir a minha garganta. Ele segura meu cabelo com carinho,
tirando alguns fios do rosto enquanto arremete com mais força.
— Porra, Cecília. Preciso entrar em você agora.
E quem sou eu para negar isso a ele?
Me afasto o suficiente para que ele possa se acomodar entre as
minhas pernas e ele estoca em mim sem esperar mais nenhum segundo.
Minha voz fica presa na garganta enquanto ele segura meus quadris, me
fodendo com toda a saudade que ele diz sentir por mim.
— Caralho… Você é perfeita, porra.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço, gemendo quando Baron
tira o pau mais uma vez antes de arremeter com força.
— Como pensei que poderia sobreviver sem isso? — pergunto mais
para mim mesma, com a voz fraca.
Mas Baron Donovan escutou e o sorriso arrogante em seu rosto me
diz tudo o que ele deve estar pensando.
Você não conseguiria.
— Abra mais as pernas para mim — ele manda, deslizando para
dentro e para fora de mim.
— Como quiser, amor.
O apelido escapa sem querer, mas é o suficiente para Baron
congelar, me lançando um olhar em adoração. Quando avança em minha
direção dessa vez, sei que estou perdida.
Estou tão molhada que estamos fazendo uma verdadeira bagunça
nesses lençóis enquanto ele me fode, sem parar, sem dó. Gememos em
uníssono, um na boca do outro, enlouquecidos pelo prazer que somente
nossos corpos podem nos dar.
Baron desce o rosto até encontrar meu mamilo sensível. Ele chupa
um enquanto aperta com força o outro, sem deixar de entrar em mim.
Circulo sua cintura com minhas pernas, vendo estrelas quando ele atinge
um lugar ainda mais fundo.
— Ai, meu Deus — suspiro, fincando minhas unhas em sua bunda
para senti-lo ainda mais dentro de mim. — Continue fazendo isso.
E como um súdito, Baron obedece ao meu comando. Ele aumenta a
velocidade, subindo a mão até o meu pescoço para apertar com vontade
antes de se concentrar na minha boceta.
Eu nunca pensei que ficaria tão excitada ao ser enforcada, mas estou
quase entrando em combustão.
— Você vai gozar pra mim, amor?
É impressionante como o meu corpo obedece o comando de sua
voz. Eu sinto a dor deliciosa do orgasmo subir pelo meu corpo, gozando
sem parar enquanto Baron continua arremetendo para dentro de mim.
Ele grunhe, mordendo o meu pescoço com força quando seu próprio
alívio chega. Baron goza dentro de mim, me marcando e reivindicando
como se nunca tivéssemos nos separado.
Em seguida, beija no local da mordida com carinho. Ao subir o
rosto para o meu, seu polegar faz um carinho na minha bochecha e meu
coração começa a acelerar.
Eu realmente não conseguiria mais viver sem a sua loucura.
Sem você.
FIM.
Em primeiro lugar, obrigada, meu Deus, por todas as bênçãos que eu
tenho recebido. Terminar mais um livro é um sonho se realizando e essa
história em específico ainda mais. Esses personagens estão comigo desde
2016 e depois de irem para o Fanfic Obsession e Wattpad, finalmente estão
na Amazon.
Quando eu comecei a reescrever essa história, eu agradeci ao meu
namorado por ter acreditado em mim desde o início. Eu mostrei a fanfic
publicada no Wattpad e ele editou como se fosse um livro e levou no meu
aniversário. O que eu não sabia era que até o final desse livro, eu me
tornaria noiva. Te amo tanto, amor. Mal posso esperar para passar o resto da
vida com você.
Para minha mãe e meus irmãos, Bryan e Geovana, só posso dizer o
quanto os amo. É por vocês que eu acordo todos os dias e abro o Docs para
começar uma nova história.
Gabrielle Andrade, minha revisora desde o meu primeiro livro
publicado, obrigada demais por toda a sua dedicação, surtos, sugestões e
ideias. Você foi meu maior achado no mercado editorial e tá presa comigo
para sempre. Conseguimos mais um, Gabi!
Aline e Luiza, minhas betas apocalípticas e maravilhosas. Vocês são
muito mais do que isso, são minhas amigas pessoais e a razão de eu não ter
desistido deles. Obrigada por me acalmarem em todo esse processo e por
também terem me incentivado quando eu achei que o melhor era apagar
todo esse arquivo. Vocês são maravilhosas demais.
Bruna Oliveira, Malu, Adrielle, Stef, minhas amigas que aturam
todas as minhas loucuras, meu choro e as dezenas de ilustrações que eu
mando para vocês, obrigada por todo o apoio de sempre. Ter vocês na
minha vida é meu maior privilégio.
Tati Biasi, amiga, obrigada por me emprestar a melhor cidade
fictícia do Rio de Janeiro como um lar para a Cecília também. Eu amo que
quando eu coloquei o sobrenome Braga na hora você disse: é prima da
Paula. E foi mesmo! Te amo demais. Obrigada por compartilhar o mundo
maravilhoso de ESE comigo e com eles.
Geovana @vanbookss, obrigada por ter feito o feed mais lindo do
mundo para apresentar esses personagens para os leitores. Trabalhar com
você é sempre uma honra.
Camilla Nunes, obrigada por ter me escutado sobre esses
personagens há tanto tempo. Eles finalmente tiveram um final, e espero ter
feito jus ao que você leu em 2016. Obrigada por tudo!
Aline Bianca, obrigada por segurar as pontas e me acalmar quando
eu queria desistir de tudo. Você foi um grande achado nesse meio e sou
muito grata por poder te chamar de amiga.
Minhas parceiras lindas Isabelly @booksauzier, Mari
@libranydamari, Saah @s.saori.i, leticia @ticiabook, Julia @juureads05,
Maria & Ana @booksviana, Mabily @booksdamabi, Mari Aragão
@_estantedamari, Leticia @books_xavier, Emanuella
@_uma.leitora.qulquer, Abigail @mundoliterario15, Manoela Flores
@manub.ooks, Laura @lbebooks, Carolina Dias @donnaguriaoficial,
Samyra @jovemliterariaa, Valeria @livroseestrelas, Lola @forksreadz,
Gaby @booksgabys, Paty @mundoliterariodapaty, Larisse
@estrela_literaria, Bruna @eolivroenaoacapa, Nanat
@esposadotrevorwhite , Duda Klazer @dudakbooks_, Rafinha
@literasboni, Micaelly @leitoracheck, Maria Luiza @luizalvsbooks, Maria
Flores @manub.ooks e Jéssica @lendocomajessica. Obrigada por toda a
dedicação em espalhar a palavra desses dois! Vocês são incríveis.
E agora falando com você, leitor. Obrigada por ter lido esse livro até
o fim. Mal posso esperar para recomeçar esse processo do início e tudo isso
porque existem pessoas que acreditam no meu trabalho e amam o que eu
escrevo. Vocês são a minha maior conquista.
E caso queiram me matar pelo final em aberto do Hunter, saibam
que ele terá um spin-off para contar sua própria história. Me sigam no
Instagram @mseyfild para acompanharem tudo.
Com amor,
Miles Seyfild.
LEIA: E SE EU ME IMPORTASSE?
LEIA AQUI
SINOPSE:
Paula Braga nunca se importou com ninguém além dos seus. Leonardo Ortega se importa com
qualquer ser humano que cruza seu caminho.
Ela é a Princesa da Tríade do Mal. Ele é o Garoto de Ouro da cidade.
O ódio sempre ditou a relação dos dois. E quando a fase mais esperada da vida de Leonardo se inicia,
ele descobre que Paula será responsável por cuidar da sua imagem para que seja eleito o Prefeito de
Coroa do Sul.
Mesmo que Leonardo repita milhares de mantras na sua cabeça, a raiva de Paula por ele parece
incontrolável e seu jeito o tira do sério. E por mais que seja difícil trabalharem juntos, com o tempo,
se torna ainda pior permanecerem separados.
Totalmente opostos e capazes de criar uma química de intensa potência quando toda raiva explode
entre eles.