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É proibida a distribuição de toda ou qualquer parte desta história.
Os direitos da autora foram assegurados. Plágio é crime.
Esta é uma obra de ficção recomendada para maiores de dezoito anos.
Nomes, cidade onde a história majoritariamente se passa, personagens e
acontecimentos descritos aqui são frutos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
Capa: G.B. Design Editorial
Diagramação: Luana Berle | @lbdesigneditorial
Revisão de texto: Hanna Câmara
Artes: Anamin Dario (@sketchesanmin) e Eduarda Nascimento
(@arda.arts)
PLAYLIST
NOTAS DA AUTORA
AVISOS DE GATILHO
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
Sejam bem-vindos, leitores.
Primeiramente gostaria de agradecer o interesse pelo livro e desejar
que Alexia e Aiden possam lhe arrancar algumas risadas.
Caso esse não seja seu primeiro contato com a minha escrita,
gostaria de informar que diferente de Em seus braços, meu primeiro livro
publicado, Perverso Destino não carrega uma carga dramática tão grande e,
assim que iniciar a leitura, vai notar a diferença notável entre eles. Então, de
antemão, gostaria de deixar claro que se trata de uma linguagem mais
informal, se adequando à proposta.
Apesar de haver menções a outros personagens, a leitura desse
livro pode ser feita de maneira completamente independente, mas sinta-se a
vontade para conhecer minhas outras histórias, caso surja o interesse.
A intenção que tenho com Perverso Destino, é que a leitura seja
fluida, rápida, leve e divertida, como um momento de respiro entre as
leituras mais densas.
Também deixo registrado que uma das cidades em que se passa
alguns acontecimentos da história, se trata de uma cidade fictícia. Apesar de
alguns elementos da história se assemelharem a vida real, utilizei da licença
poética em alguns aspectos do enredo.
Espero que, assim como foi comigo, Aiden e Alexia possam
invadir seus corações, e fazer com que se apaixonem por cada uma de suas
nuances. Esses dois foram meu respiro durante toda a escrita e me vi tão
apegada a eles, que me doía pensar em finalizá-los, mesmo sabendo que
vão conquistar e dominar muitos corações, assim como fizeram com o meu.
Agora aqui estão eles, prontos para que possam conhecê-los, e espero que
os aceitem do jeitinho que são.
Alerta bônus: as betas também advertem sobre o risco de se
apaixonar e se viciar no protagonista masculino em questão.
Desejo-lhe uma boa leitura!
Podem me encontrar nas redes sociais e ficar sabendo de todas as
novidades através do usuário @autorapjardim.
Esse livro é proibido para menores de dezoito anos e pode conter
assuntos sensíveis como o uso de bebidas alcoólicas em excesso, agressão
verbal e física, assédio, sexo explícito e sem preservativo e palavras de
baixo calão.
Caso não se sinta confortável com algum dos temas citados,
preserve sua saúde mental acima de tudo.
A todos que dizem não ao amor, que ele os possa surpreender e
invadir suas vidas como uma chuva repentina em um dia ensolarado.
Fodida!
Não se passam das nove da manhã e eu já me encontro
completamente fodida!
Não consigo parar de pensar no tamanho do meu azar, quando o
quarto motorista seguido cancela a viagem nesse aplicativo idiota.
Qual é?! Meu bairro nem é considerado o mais perigoso das
redondezas, mas esses filhos da puta insistem em infernizar a minha vida.
É claro que tudo estava indo bem demais para ser verdade. Não
posso simplesmente encher a cara, escrever um currículo estando
completamente bêbada e mandar para diversos escritórios de advocacia,
praticamente me humilhando por uma vaga de assistente, e, muito menos,
ser chamada por um deles: um dos mais bem sucedidos das redondezas de
Los Angeles, conhecido por advogar para empresários famosos e para a
elite de LA, para realizar uma entrevista dois dias depois do ocorrido.
A pessoa responsável pela seleção de currículos só poderia estar
tão bêbada quanto eu.
Mas é claro que não estou reclamando, mesmo tendo que
atravessar de ônibus toda a distância entre Garden City, a cidadezinha quase
pitoresca em que moro, escondida nos arredores do grande condado de Los
Angeles, para chegar até a sede do escritório, lá no fundo, talvez escavando
muito e quase alcançando petróleo, estou grata pela oportunidade.
Estou sim.
Só estou um pouco estressada por nada ser tão fácil, mas já estou
acostumada a ter que me esforçar um pouco além do comum.
Estava fácil demais, então é claro que alguma coisa daria errado, e
justo hoje, no dia da entrevista marcada, o que agora é meu ex-namorado,
tinha de ter ido me importunar bêbado às três da manhã, e só largado da
minha porta às seis, com a ajuda de um guardinha de segurança que
encontrei na rua, já que os policiais não fazem questão de entrarem em meu
bairro somente para livrar uma mulher cansada de seu ex importuno.
Estou extremamente exausta, tendo tido apenas três horas de sono,
e muito puta por, justamente hoje, me atrasar. Não que seja algo raro de se
acontecer, dona Mirta, uma das minhas chefes, vive puxando minhas
orelhas, às vezes literalmente, por conta dos meus atrasos na lanchonete.
Mas a questão, é que não poderia acontecer justo quando eu tenho uma
entrevista marcada para às dez horas, do outro lado da cidade.
Inteiramente fodida!
Começo a correr de encontro ao ponto de ônibus, enquanto espero
o aplicativo procurar mais um motorista. Quando estou prestes a virar a
esquina, consigo ver o ônibus que eu precisaria pegar em último caso, pois
a viagem levaria, sendo muito otimista, cerca de uma hora e meia ou mais
até o local.
Ele passa do outro lado da calçada, com todos os passageiros já
embarcados, e com eles, levando todo o restante da minha escassa paciência
para este dia.
Tenho vontade de gritar a plenos pulmões bem no meio da rua,
chorar de raiva e fazer birra como a criança mimada da qual um dia fui, e
depois socar alguma coisa para extravasar o ódio.
Mas apenas respiro fundo, imaginando mil formas diferentes de
matar o babaca do meu ex e, mantendo o controle, tento pensar no lado bom
das coisas, assim como Luke vem me aconselhando.
Pelo menos hoje não está chovendo, o que pode ser considerado
um bom ponto pois essa cidadezinha esteve debaixo de constantes chuvas
nos últimos dois dias.
Como nada que esteja tão ruim que não possa piorar, assim que
termino de mentalizar, ouço trovões vindos do céu, que a poucos minutos
estava ensolarado.
Ótimo! Pensar positivo é o caralho.
Preciso me lembrar de dizer isso ao Luke antes de mandá-lo ir se
foder pelo péssimo conselho.
Volto a olhar o celular e vejo que mais um motorista foi encontrado
e está a caminho, a seis minutos do local. Se esse não cancelar, já posso me
considerar vitoriosa.
Assim que sinto os primeiros pingos grossos de chuva começarem
a cair em meu rosto, corro para debaixo de um toldo para aguardar o carro.
Esse dia não pode piorar!
Após implorar e quase oferecer a minha alma para o motorista
ultrapassar o limite de velocidade, chego em frente ao escritório Davidson e
Munhoz exatamente às dez e sete, levemente, talvez não tão leve assim,
molhada por conta da chuva torrencial que cai lá fora, e com os cabelos
úmidos.
Enquanto passo pelas belas portas da entrada, me pego pensando se
poderiam cancelar a entrevista por conta de cinco minutos de atraso, mas
existe aquilo de tolerância em todos os lugares, não posso ter me fodido
tanto assim, mas, por via das dúvidas, corro para pegar o elevador prestes a
se fechar e me encaminho para onde me foi instruído através da notificação
que recebi com a data e horário da entrevista.
As pessoas que se encontram no ambiente fechado, me olham
como se eu fosse algo exótico a ser visto e estivesse completamente
inadequada para estar ali naquele local.
Respiro fundo, me lembrando que estou estudando para ser uma
advogada bem sucedida e que não tenho dinheiro para bancar uma que me
defendesse no tribunal por descer a mão na cara de algumas pessoas.
Além de que preciso guardar meu réu primário para algo que valha
a pena.
É com esse pensamento que, após saltar no andar correto, a
cobertura, passo meu nome para a secretária, informando que vim para uma
entrevista e mostrando o e-mail que me enviaram com o protocolo, ela olha
para o relógio e realiza uma inspeção minuciosa sobre o meu corpo, em
seguida expressa uma careta da qual não me agradou nadinha, e se não
fossem as circunstâncias quase desesperadoras em que me encontro, tiraria
satisfações com ela agora mesmo.
Alexia, você não tem dinheiro para pagar um advogado. Respira e
se controla!
Meu Deus como eu queria um docinho, bem agora.
A loira falsa com cara de quem comeu e não gostou, me encaminha
para dentro do local, indicando a segunda porta à esquerda do amplo
corredor, onde brilha uma placa dourada com o nome “Aiden Munhoz”.
Dou duas batidas na porta e ouço um “entre” sair de uma voz
grossa e levemente rouca. Olho para os meus braços e vejo meus pelinhos
todos em pé.
Não é possível que eu tenha me arrepiado somente com uma voz,
tenho até medo do que vou encontrar ali dentro. A última coisa que preciso
é de um possível chefe gostoso para perturbar a minha mente.
Adentro a sala e encontro um par de olhos tão escuro e intensos
quanto meu cabelo tingido, um belo par de sobrancelhas grossas fazem
parte da carranca que o homem à minha frente direciona para mim, sua
boca bem delineada e carnuda fecha todo o pacote da perdição com chave
de ouro.
Eu poderia babar aqui mesmo, sob a camisa social dele, que se
encontra dobrada até os cotovelos, revelando as veias saltadas que possui
por todo antebraço e delineando com precisão seus músculos, se ele não
estivesse com uma expressão mortal em sua face.
— Bom dia! — digo sorridente e tento soar o mais simpática que
consigo, apesar da manhã apocalíptica que tive. — Sou Alexia Stewart, vim
por conta de uma entrevista para ser assistente.
— Imaginei que fosse. — o sujeito sequer altera um mísero
músculo do rosto. — Acha que é correto, além de chegar atrasada para um
compromisso importante, aparecer com as roupas completamente
encharcadas e com os cabelos pingando mais que uma goteira de um
telhado baleado?
Franzo a testa com a comparação singular, mas logo me irrito por
seu tom rude.
— Foram só cinco minutos — começo tentando me manter
pacífica, pois preciso muito do emprego —, e quanto a água pingando no
seu piso lustrado, se o senhor fosse capaz de se virar e olhar para as janelas,
veria que está caindo o mundo lá fora.
O homem bem apessoado, que já não me atrai tanto assim quanto
quando ouvi sua voz, olha através da janela e quando lança os olhos sobre
mim de novo, ergue uma de suas sobrancelhas.
— Nunca ouviu falar em guarda-chuva, senhorita Stewart?
— Está brincando comigo, não é mesmo? — pergunto estupefata
com seu jeito estupido de ser. — Isso só pode ser um teste, e com certeza
estou a ponto de ser reprovada.
Ele se mantém impassível em sua cadeira giratória, e me pergunto
se algum coração bate em seu peito.
— Não se trata de um teste, mas como demonstra que reprovaria,
não vejo motivos para sequer dar início a sua entrevista. — ele passa a
arrumar os papéis que estavam espalhados por sua mesa, agindo como se eu
não estivesse mais diante de sua presença.
Sequer tenho reação diante disso, e quando passo o peso de uma
perna para outra, o som dos meus sapatos encharcados chama sua atenção,
atraindo seu olhar para mim. Ele franze a testa, provavelmente se
perguntando o que ainda estou fazendo ali.
— Pode se retirar, senhorita Stewart. — aponta para a porta às
minhas costas, e assim que me sento em uma das cadeiras a sua frente, ele
fecha os olhos com força e respira fundo, depositando os papéis sobre a
mesa. — Qual a parte sobre eu sequer ter visto motivos para realizar sua
entrevista, você não entendeu?
— Eu me desloquei da minha casa até aqui, que não fica nem um
pouco perto, por algo que você se comprometeu comigo, gastei um de meus
rins com um motorista e ainda corro o risco de pegar uma pneumonia por
estar, como o senhor muito bem observou, ensopada da chuva. Eu vou
realizar essa entrevista e não saio daqui antes de passar pelo processo
meramente formal. Posso ser bem insistente.
Ele novamente respira fundo, e ao abrir os olhos e direcionar seu
olhar intenso em meus olhos, sinto um calor estranho passar por meus
braços, como se estivesse entrando e chamas.
Estranho.
— Tudo bem então, vamos acabar logo com isso, meu tempo é
algo precioso demais para ser desperdiçado com algo que sei que não terá
futuro algum.
Me seguro para não perder o controle e a compostura, seria bem
ruim se eu me levantasse da cadeira confortável e desse um belo tapa em
seu rosto com traços perfeitos.
— Estou pronta.
— Como já sei o seu nome e também sei que está prestes a iniciar
o último ano de Direito, como consta em seu currículo, me fale sobre suas
experiências na área.
Fodeu!
— Experiências? — questiono, tentando ganhar tempo para
inventar uma desculpa. Sei que é errado mentir em uma entrevista, mas já
funcionou uma vez, por mais que aqui minhas chances sejam mínimas, não
custa nada tentar.
— Sim, senhorita Stewart, experiências. Possui alguma
recomendação de um advogado anterior que tenha sido assistente ou até que
tenha sido estagiária? — arqueia uma das sobrancelhas e o amaldiçoou por
continuar sendo tão gostoso.
Seria mais fácil se ele fosse feio, sabe?
— Para falar a verdade, essa seria minha primeira oportunidade de
trabalhar com algo assim. Estou procurando experiências agora que me
aproximo da formatura.
Assim que termino de falar, vejo suas feições se transformarem. E
se antes pensei tê-lo visto furioso, estava enganada. Ele parece
completamente transtornado, mas agora estampa uma expressão de
impaciência, que também poderia facilmente ser confundida com o mais
belo e puro ódio.
— Está me dizendo que sequer tem alguma experiência na área em
que procura emprego? — ele pressiona os dedos na ponte do nariz ao fechar
os olhos mais uma vez e antes de tornar a abri-los, posso ouvir um
murmúrio ininteligível, talvez em outra língua, deixar seus lábios — Como
pode chegar ao último ano de faculdade, sem ter tido alguma experiência na
área em que está cursando?
— Como disse anteriormente, estou à procura dela, e como poderei
adquiri-la sem que me deem uma oportunidade para isso?
Sinto a raiva borbulhar em mim, por mais que ele estivesse me
tirando do sério desde o momento que passei por essa porta, estava tentando
me manter calma, mas sua arrogância e sua prepotência, estão me deixando
furiosa.
Esse cara não tem um pingo de respeito.
— Estou procurando pessoas experientes, não possuo funcionários
disponíveis a todo tempo para ficarem ensinando, e muito menos tenho
tempo e disposição para erros de uma pessoa iniciante. — ele se levanta e
aponta para a porta novamente. — Muito obrigado pelo interesse, mas está
dispensada.
Não acredito no que estou ouvindo.
Levanto com toda a ira que me toma e aponto o dedo em riste
diretamente para seu rosto, o que se torna quase vergonhoso já que ele é tão
enorme quanto um jogador de futebol americano, e eu pareço mais um
Minion diante do seu corpo.
— Pois saiba, Senhor Escroto, que eu nunca mais quero olhar
nessa sua cara repleta de arrogância, você é completamente desprezível e
não sinto a menor vontade de ter qualquer tipo de relação com você, por
mais superficial que seja, sequer quero cruzar seu caminho outra vez. Foi
um grande desprazer conhecê-lo, senhor Munhoz, e espero que o destino
não nos coloque no mesmo ambiente outra vez.
Saio batendo a porta com toda força que consigo, sem dar tempo
de ouvir sua réplica, ficando apenas com o som de seu suspiro,
aparentemente furioso, em meus ouvidos e dou um encontrão em um
homem de cabelos compridos e de expressão curiosa no rosto, que passava
pelo corredor antes de entrar na porta ao lado.
Será que é pré requisito ser gostoso e completamente gato para
poder trabalhar aqui?
Passo pela secretária na velocidade da luz, que me encarava com
os olhos esbugalhados já que provavelmente ouviu tudo e desço pelo
elevador que para minha sorte, agora se encontra vazio.
Que inferno de dia!
Não vejo a hora de chegar na lanchonete e me entupir do
cheesecake da dona Mirta.
Já ouviram falar no termo "pagando com a língua"? Pois bem, eu
aprendi e vivenciei o sentido literal desse pequeno ditado, em se tratando do
Senhor Escroto… Oops, senhor Aiden Munhoz.
Paguei com a língua, e muito bem pago.
Eu sou Alexia Stewart, e essa é a história da minha grande tomação
de cu… Quero dizer, é a história da minha vida e a prova de como o destino
pode ser perverso.
“Tinha que ter altas, altas expectativas para viver
Mirando nas estrelas quando eu não conseguia alcançar o sucesso
Não tinha um centavo, mas eu sempre tive uma visão
Sempre tive altas, altas expectativas”
High Hopes - Pan!nc at the Disco
Porra!
O dia mal começou e já estou puto da vida por conta da entrevista
que tenho marcada para daqui alguns minutos.
Mas que caralho de vida, que não me dá sossego quanto aos erros
que cometo quando estou levemente embriagado.
Algumas semanas atrás, por alguma razão idiota, decidi que seria
uma boa ideia eu mesmo responder alguns e-mails do setor de RH do
escritório, depois de ter bebido além da conta. Acontece que no dia seguinte
quando fui analisar o tamanho da merda que havia sido feita, percebi que
confirmei uma entrevista com uma jovem, da qual me lembro de ter feito
apenas pelo fato de ter me interessado pela sua aparência, baseada na foto
que continha em seu currículo.
Burro pra caralho!
Não sei como pude ser tão irresponsável assim, principalmente em
se tratar da Davidson & Munhoz. Trato esse escritório como se fosse a coisa
mais valiosa da minha vida, porque de fato ele é. Não importa o que as más
línguas dizem, eu e Henry ralamos muito para chegarmos onde estamos
hoje, e não consigo acreditar que me deixei levar por um rostinho bonito e
gentil.
Parece que quando estou bêbado, a única cabeça que funciona é a
de baixo.
Respiro pesadamente pela milésima vez só esta breve manhã e vou
até o aparador em dos cantos da sala ampla, e me sirvo do café forte e sem
açúcar que pedi para colocarem ali mais cedo, driblando a garrafa atraente
de whisky.
Antes de me sentar em um dos sofás dispostos em volta da
mesinha de centro, levo o líquido amargo até a boca, fechando os olhos em
contemplação quando o calor dele encontra minha boca.
Só assim para eu tentar me manter calmo diante da merda que
cometi.
É mais do que óbvio que vou ter de dispensar a garota, o que me
dói admitir, levando em conta que ela poderia ser um ótimo acréscimo a
equipe de assistentes, mas não posso me deixar levar por conta de uma
noite de bebedeira, além de que não posso correr o risco de me sentir
atraído por uma funcionária e, se bem me lembro, sua beleza parecia ser
quase perfeita.
Termino meu café e volto a me sentar de frente à mesa, aguardando
os poucos minutos que faltam para que a entrevista comece.
Quando me dou conta de que se passaram cinco minutos do horário
informado a ela, volto atrás quanto ao breve arrependimento de dispensá-la
assim que passasse pela porta, levando em conta que não consegue honrar
com os compromissos.
É quase cruel, mas um peso deixa meus ombros, quando percebo
que terei um motivo plausível para não aceitá-la como parte da equipe.
Se tem uma coisa que me tira profundamente do sério, são atrasos.
Os minutos continuam passando e a irritação com que me
encontrava logo que acordei, volta a ressurgir e respiro fundo tentando não
deixá-la me dominar. Passo as mãos sobre o rosto, tentando me tranquilizar
e às retorno para a mesa, quando ouço alguns toques na porta.
Assim que confirmo a entrada da pessoa do outro lado, uma
baixinha sorridente, com cabelos e roupas úmidas passam pelo batente, e…
caralho.
Porra, ela é ainda mais perfeita pessoalmente.
— Bom dia. Sou Alexia Stewart, vim por conta de uma entrevista
para assistente. — Sua voz, apesar do tom um pouco grave, soa simpática
mas não abala minha decisão, e me lembra o motivo pelo qual está parada
na entrada da minha sala e o motivo pelo qual irei dispensá-la.
Que assim seja feito, então.
SEIS MESES DEPOIS
Assim que passo pelas portas giratórias do banco, é como se um
peso finalmente deixasse meus ombros após longos anos.
Quase não consigo acreditar que, após quatro anos, consegui quitar
toda a dívida que tinha sobre o empréstimo gigantesco que precisamos fazer
quando tudo desabou sob nossas cabeças.
Sem essa dívida pesando a cada mês que se passa, agora sou capaz
de ter um respiro financeiro curto mas, ainda sim, aliviador.
Quando pego o celular, decidida a mandar uma mensagem para
Luke, Marco e Lia, uma amiga que fiz na faculdade, quando ainda
estávamos cursando o preparatório, para podermos sair e comemorar a
grande novidade.
Até porque não seria eu, se não estivesse pronta para gastar o que
sequer tenho sobrando antes da hora, quando recebo um e-mail da
universidade, me lembrando que as aulas se iniciam na próxima semana,
junto da lista gigantesca de materiais para esse novo semestre.
Como caralhos eu pude esquecer dessa maldita lista?
Ser bolsista na Garden University tem muitos dos seus privilégios,
é claro, já que além da mensalidade gratuita, também tenho um quarto
garantido no alojamento da universidade, e também descontos nas refeições
do refeitório, mas, infelizmente, materiais mais baratos, não estão entre
eles.
Luke e Marco me consideram um pouco idiota, por mesmo tendo
uma vaga em um dos alojamentos, ter optado por gastar com um
apartamento minúsculo decadente, mas eles não entendem como são
guerreiros por me aguentarem todos esses anos, e sei que só me suportam
porque não dividem o mesmo espaço que eu todos os dias.
Sou individualista e amo meu espaço pessoal, por isso tenho
certeza que não daria muito certo morar no campus e acabar correndo o
risco de perder minha bolsa por uma briga qualquer com alguma
desavisada.
Prefiro pagar dona Martha e os abusos do aluguel por aquele
cubículo, do que arrumar mais confusão por aí.
Finalmente abro o documento que contém a lista de livros que vou
precisar, e já me preparo para a facada que terei de gastar com os livros. Me
animo um pouco ao perceber que contém alguns sobre Direito Empresarial,
sinal de que vou cursar a matéria que já tenho como escolha profissional
futuramente.
Quando preenchi as disciplinas a cursar nesse período, um pouco
antes das férias, estava com a cabeça tão cheia que nem me dei conta do
que tinha selecionado.
Parabéns Alexia do passado, por ter feito algo certo em meio a
tantas cagadas.
Coloco meus fones e ‘So What’, da P!nk, estoura por meus
ouvidos, me relaxando instantaneamente.
Sou louca por essa mulher!
Passo as mãos por meus fios curtos desde o dia desastroso de
meses atrás, e me recordo que preciso comprar tinta para pintá-los antes que
o louro comece a aparecer nas raízes.
O ônibus pelo qual eu estava a espera, finalmente passa, já que não
posso me dar ao luxo de ficar andando com carros de aplicativos a todo
tempo, e o doce momento de encontrar assentos vagos no transporte, enche
meu pobre coração de felicidade por não precisar atravessar toda a cidade
me sacolejando em pé.
Vejo quando uma garota passa por mim e me lança um olhar
questionador, provavelmente se perguntando o que uma mulher vestida com
roupas aparentemente luxuosas, combinado aos saltos, está fazendo em um
transporte público.
Posso até decifrar o leve sentimento de pena que passa por seus
olhos.
Não posso julgá-la pelo olhar que me lança, já que teria o mesmo
questionamento, e uma parte de mim até que gosta dos olhares estranhos
que sempre recebo por conta das minhas roupas destoante dos ambientes
em que frequento.
Não posso fazer nada se minha conta bancária não condiz com
meu estilo, até porque: pobre sim, mas brega nunca.
Sinto meu celular vibrando em meus dedos e quando olho por
sobre a barra de notificações, um sorriso sincero escapa pelos meus lábios
por ter amigos que me conhecem e que pensam como eu.
Luke
Se minhas contas e minha memória estiverem certas, terminou de
pagar o banco essa semana.
Venha aqui para a casa do Marco, Lia já está a caminho e vamos
comemorar nos embebedando na piscina.
Leu meus pensamentos.
Estou a caminho.
Me levanto quase desesperada, já salivando por um drink
preparado por Marco e puxo a cordinha do ônibus, para que pudesse descer
na próxima parada e ir até a casa do mesmo, que fica no lado oposto de
onde estava indo.
Tudo que preciso nesse sábado de folga, terrivelmente quente, é
ficar à beira da piscina regada a álcool.
Depois da minha entrada ter sido autorizada por uma das mulheres
que prestam serviço na casa de Marco, passo pelas portas do fundo,
encontrando meus amigos já dentro da piscina. Me aproximo deles e tomo o
copo de bebida das mãos de Luke, entornando todo o líquido, constatando
que se tratava de vodca com xarope de frutas vermelhas, mais vodca que
xarope para ser sincera, e o líquido desce rasgando por minha garganta.
— Achei que hoje seria um dia bom, mas pela expressão no seu
rosto, diria que seria capaz de matar qualquer desavisado que cruzasse seu
caminho. — É Lia quem diz, e observo os pares de olhos em mim. — Isso
porque nossas aulas nem começaram ainda. Viva!
— Acabei de cruzar com Aiden Munhoz, o babaca da entrevista de
emprego. — Tiro os sapatos os deixando de canto e aproveitando o vestido
mais curto que me encontro, me sento na beira da piscina, colocando os pés
na água. — Maldito destino que não me deixa em paz por muito tempo.
— Seu rosto tá vermelho, melzinho. — Luke toma o copo, agora
vazio, da minha mão e constata o óbvio. — Só não sei dizer se é por conta
do sol que faz, pela raiva que sente ou por conta do tesão de ter encontrado
o arrogante gostoso mais uma vez em poucos meses.
Fuzilo seu rosto, que ergue as mãos em rendição.
— Não negou nenhuma das acusações, não é, bonitinha? — Marco
acompanha o noivo nas provocações.
— Se continuarem a dizer essas coisas absurdas, juro que me
levanto e dou meia volta até em casa. — Notam que não estou para
brincadeiras e se calam por hora e respiro fundo. — Hoje é um dia feliz!
Me livrei de uma dívida que me atormentava e nada, nem aquele filho da
puta arrogante, vai estragar meu dia!
Profiro as palavras, esperando que se tornem realidade, já que meu
coração ainda bate acelerado por conta da discussão com o idiota e fecho os
olhos respirando fundo outra vez para tentar me acalmar.
— Além de que estamos prestes a cursar o nosso penúltimo
período, e vamos ter a chance de conseguir estagiar em alguns dos maiores
escritórios da região. — Lia bate levemente seu copo em meu braço, como
se estivesse brindando.
— Estava me esquecendo disso. — Abro os olhos e a fito. —
Espero conseguir ser uma dos seis alunos escolhidos para o projeto.
Um dos planos de carreira que a Garden oferece no último ano de
curso, é conceder vagas de estágios nos maiores estabelecimentos ou
escritórios da região, de acordo com o curso específico, para os alunos que
mais se destacarem durante a graduação.
Me mato de estudar, perdendo noites de sono na companhia de
Legalmente Loira e Lilo e Stitch para me manter acordada e espero
conseguir ser uma das selecionadas.
— É claro que vai! — Marco, que só agora vejo que deixou a
piscina, se aproxima de mim com uma bebida em mãos e a entrega para
mim. — De limão, seu preferido. — pisca e sorrio para ele. — E sabe que
vai ser escolhida porque dá a vida nos estudos, se não te escolherem, após
concluir o curso e se tornar uma advogada incrível, você os processa.
Sorrio para os meus amigos, que concordam com a fala de Marco.
— Se eu conseguir e tiver sucesso nos meus planos, vou ser uma
advogada foda e que trabalha no jurídico de umas das maiores empresas de
energia solar do país, sem ter tempo para me preocupar em processar meus
antigos professores.
— E vai ser! — Luke se aproxima e deixa um beijo rápido em meu
rosto, e com o movimento, molhando a barra do meu vestido, o que me faz
encará-lo de maneira séria. — Não me olha assim se não te puxo de roupa e
tudo para a água.
Ameaço me levantar e sair dali, mas sou impedida pelos três, que
me seguram no lugar, o que acaba me molhando ainda mais.
Ficamos por ali um tempo, enquanto conversamos e bebemos um
pouco além do necessário, mas, por alguma razão desconhecida, não
consigo tirar dos meus pensamentos, os olhos escuros de olhar intenso do
babaca que estava apenas com um short de corrida, boné e tênis esportivos
nos pés.
Fico retornando a nossa discussão, pensando em coisas mais
coerentes que eu poderia ter dito, e é como se eu sentisse sua mão segurar
meu braço outra vez, fazendo com que um calor se espalhasse pela minha
pele.
O maldito tinha de ser tão gostoso assim para o mal da minha
própria sanidade?
Sinto um beliscão em meu braço e olho em direção a quem o
desferiu, pronta para xingar mas encontro os olhos empolgados de Lia sobre
mim, que por conta da luz do sol combinado a sua pele marrom claro, se
encontravam um pouco mais claros que o comum e sorrio para a mesma.
— Como está se sentindo com o início do nosso último ano na
Garden? — posso notar como está animada com a ideia. — Não sei se estou
mais nervosa com as provas finais que estão cada vez mais perto, ou com o
fato de que daqui a um ano seremos oficialmente formadas e vamos estar
advogando.
— Estou mais focada no presente e se chegarei viva até a
formatura. — Me levanto e tiro a roupa, sem me sentir envergonhada por
ficar apenas de calcinha e sutiã na frente dos meus amigos.
Atingimos o grau máximo da intimidade quando certa vez acabei
bebendo além da conta, o que estou aprendendo a controlar, mas só se vive
uma vez, e precisei que me ajudassem a tomar banho após cair em uma
piscina de lama.
Depois desse dia, nunca mais coloquei os pés em uma festa
universitária e muito menos em uma república estudantil, mas também
perdi completamente a vergonha dos presentes aqui hoje.
— Ou ao menos se conseguirei chegar até lá com a minha bolsa de
estudos intacta. — Concluo a fala antes de pular na piscina e me juntar a
eles.
A água morna me envolve e é um acalento para meu corpo que
começava a suar por conta do calor infernal que faz no dia de hoje. Não
gosto tanto assim do calor, o que podemos dizer que pode ser um problema
para alguém que mora num lugar que passa a maior parte do ano sob o
intenso sol e mesmo nas noites de inverno não ficamos abaixo dos nove
graus.
— Se for preciso, faço sua escolta nas aulas dos professores com
quem tem certa intriga a partir deste semestre. — Marco oferece e espirro
um pouco de água em sua direção. — Falo sério, tenho medo de que chegue
no café sendo escoltada por policiais por ter agredido alguém.
— Não fale assim da minha criança incompreendida. — Luke diz
ao me abraçar, ou melhor, me prender em seus braços, já que sabe que fujo
de abraços demorados. — Apesar desse jeito meio descontrolado, ela nunca
fez mal a uma formiga. Só é um pouco estressada, às vezes bruta nas
palavras e levemente impaciente.
— Obrigada por me defender, mas acho que consigo fazer isso
sozinha. — digo em tom de brincadeira e ao se afastar de mim, ele desfere
um tapa fraco em meu ombro. — Mas agora sem brincadeiras, estou
animada com esse novo semestre.
— Vi em uma da lista que me enviaram que vamos cursar Direito
Empresarial juntas, lembro como estava doida para cursar isso desde o
início da faculdade.
Sorrio com a boa memória de Lia, e por um momento me recordo
de como essa amizade apenas surgiu porque ela entrou na sala errada e me
dispus a levá-la até a aula certa. Ela, junto de Luke e Marco são os únicos
que sei que posso contar de verdade, já que aprendi desde muito cedo que
amizades sinceras são raras.
Desde muito nova aprendi que certas amizades vem como também
se vão muito fáceis, dependendo do ciclo em que você se relaciona. Posso
dizer que sofri um pouco nesse quesito, quando papai começou a perder
todo dinheiro que tínhamos, minhas amizades se foram tão rápidas como
vieram. Acho que por isso tenho receio em confiar em qualquer pessoa que
cruza meu caminho.
Tô reflexiva demais, certeza que devo estar para menstruar,
sentimental desse jeito.
— Sim, desde que comecei a faculdade, pretendo seguir no ramo
empresarial. — Me aproximo da borda e descanso meus braços nela. —
Meu sonho sempre foi fazer parte do jurídico da Bakers & Stewart
Corporation, e é um dos sonhos que pretendo realizar, mesmo que agora
seja somente Bakers Corporation.
— Tenho certeza que vai conseguir!
Sorrio brevemente com a confiança que meus amigos depositam e
mim e logo o desfaço ao me lembrar que por conta do idiota do senhor
Munhoz, perdi a chance de trabalhar em um dos melhores escritórios do
ramo empresarial.
Filho da puta arrogante.
Preciso dar um jeito de fazer com que meus pensamentos parem de
me levar até ele, odiá-lo está ficando exaustivo.
Eu devo ter feito muita coisa errada em outra vida, para merecer
tanta desgraça de uma única vez.
Não acredito que vou ter aulas com aquele escroto!
Assim que ele deposita a folha na minha mesa, percebo que seus
olhos estão direcionados para minhas pernas.
Eu sei que sou gostosa, e você tem que viver sabendo que nunca
vai encostar em tudo isso aqui.
Tenho vontade de dizer as palavras em voz alta, mas antes que eu
pudesse fazer, sinto uma cotovelada nas minhas costelas, e assim que o
babaca sai da minha mesa, olho fulminante em direção a Lia.
— Levar uma mordida na mão, quando tapou minha boca, não foi
o suficiente para parar de me impedir? — Sou um pouco grossa, mas neste
momento estou completamente enraivecida com ela.
— Tudo bem, da próxima deixo você abrir essa boca grande e falar
o que quiser, correndo o risco de perder sua bolsa.
Ela se vira para frente e sei que fiz besteira. Bufo uma ou duas
vezes, ensaiando um pedido de desculpas, mas assim que me viro para ela,
o idiota começa a palestrar sua primeira aula.
Ainda não acredito que vou ter que suportar ele. Ainda mais nas
aulas que eram pra ser minhas preferidas.
Porra de vida!
Olho para trás, onde sei que vou encontrar Ethan, e quando ele
percebe meu olhar sobre ele, sorri feito um palhaço e pelo que entendo dos
movimentos que sua boca faz, diz algo parecido sobre como nosso novo
professor é foda.
Balanço a cabeça e me viro para frente, para ao menos tentar
prestar atenção em alguma coisa.
Meus olhos instintivamente, passeiam pelo corpo do homem à
nossa frente, e quase não consigo conter o suspiro, ao passo que o faço.
Sério, ele tinha que ser tão gostoso?
Tento focar nas palavras que fala, direcionando o olhar em sua
boca, mas se torna uma péssima ideia quando constato que até os lábios
dele são perfeitos. Mudo de estratégia e foco nas suas orbes escuras, mas
quando ele as coloca em mim, com sua típica expressão odiosa, com um
olhar intenso, sinto como se minha pele estivesse pegando fogo.
Ótimo! Começamos bem com isso.
Assim que a turma é liberada, vejo que Lia sai às pressas e preciso
me apressar para poder falar com ela. Seguro seu braço com delicadeza
quando já estamos fora do prédio e ela se vira em minha direção com uma
expressão cansada.
— Me desculpa! — vejo quando franze o cenho e quase reviro os
olhos por conta da surpresa com meu pedido. — Não faz essa cara! Sempre
me desculpo quando assumo meus erros.
— Exatamente, e você quase nunca assume que está errada. —
Estou pronta para rebater quando vejo uma de suas sobrancelhas se erguer,
como se a minha próxima ação fosse provar seu ponto.
— Enfim, me desculpa por ter te mordido quando evitou que eu
provavelmente fosse expulsa da sala, já que todos os palavrões possíveis
estavam prontos pra deixar minha boca naquela hora. — sorrio sem graça e
voltamos a caminhar juntas pelo campus. — E desculpa por ter sido
grosseira, mas você mereceu.
— Viu? Não consegue se desculpar sem culpar o outro por alguma
coisa. — apesar da acusação, posso ver um sorriso em seus lábios. — Te
desculpo, mas posso saber o porque eu mereci?
— Sabia que ele seria nosso professor e não me contou. — a
empurro de leve pelo ombro e ela gargalha. — Viu como você também
pode ser diabólica, quando quer?
— Eu sabia, e se você tivesse tido a decência de ter aberto a lista
de professores, teria visto o nome dele nela. — me empurra de volta. —
Não te contei porque sabia como estava animada pra essa aula e não queria
te desanimar antes mesmo de começarmos. Foi pro seu bem.
Reviro os olhos e a empurro mais forte dessa vez, fazendo com que
ela solte um gritinho.
— Já que a minha presença aqui está sendo desvalorizada, vou ir
atrás de quem realmente a aprecia.
Assim que ela se vira para ir ao sentido contrário da lanchonete, a
seguro pelo colarinho, irritada por saber até quem ela vai.
— Você não vai atrás daquele moleque, Lia. — Ela suspira pesado
e se vira pra mim. — Ele não te merece e você sabe disso. Sempre foi um
babaca, mas agora que a bandinha sem nome dele tá começando a fazer
sucesso, tá ficando cada vez pior.
— O Mark não é tão idiota como você pensa, Alexia, devia dar
uma chance e pelo menos conversar com ele. — ela repete as mesmas
palavras que a ouço dizer desde que começou a ficar com Marcus. —
Nunca oficializamos nada, então ele pode muito bem ficar com quem ele
quiser.
Tento segurar minha língua, mas falho miseravelmente.
— Enquanto você se mantém fiel, ficando só com ele, parecendo
uma namorada toda abobalhada por ele, o cara come todo mundo de dentro
e fora desta universidade. — Lia fecha sua expressão, e antes de vir com o
papinho de que fica com bem entender, só não faz isso porque não quer, a
corto antes de começar. — Isso pra mim é papo de corna mansa, Lia. E
você não é assim, nunca foi.
— Eu fico com quem eu quiser e quando bem entender, Alexia. —
não disse? — Só não tenho vontade, já que o Mark me basta. E eu não sou
corna, não temos nada sério, não ligo dele ficar com outras.
Tá bom.
Diz isso pra Lia de cinco dias atrás que estava bêbada e chorando
enquanto falava como detesta quando vê Marcus ficando com alguém em
alguma festa.
— Lia, você é o que? Quatro ou cinco anos mais velha que ele?
Não pode sofrer por um moleque. Só falo isso pro seu bem.
— Eu sei, e não sofro por ele. — ela revira os olhos como se minha
acusação fosse totalmente inválida. — Preciso mesmo ir a um lugar,
encontro você e Luke mais tarde.
Ela beija minha bochecha e vai saltitando, literalmente saltitando,
até o prédio em que sei que Mark estuda.
Não sei o que ela vê nesse moleque, que não valoriza sequer uma
mulher a sua volta. Lia é inteligente demais pra sofrer por um cara como o
Marcus, mas tanto eu quanto Luke estamos cansados de tentar abrir os
olhos dela.
Não importa o que aconteça, vou estar aqui para colar os caquinhos
do coração dela quando for preciso.
E não querendo jogar praga ou algo assim, mas tenho quase certeza
de que hora ou outra, ela vai precisar.
Assim que coloco os pés na sala de jantar, onde mamãe insiste que
façamos todas as refeições do dia juntos, ou ao menos parte dela,
considerando que não trabalhamos na cidade e dificilmente conseguimos vir
almoçar, me arrependo amargamente por ter aceitado ir até a boate com
Henry na noite de ontem.
Só de ouvir as risadas estridentes dos gêmeos, minha cabeça
começa a pulsar e sei que vou ter que lidar com a maldita enxaqueca pós
ressaca, por boa parte do dia.
— Bom dia, filho. — meu pai é o primeiro a notar minha presença,
antes de eu me dirigir até a cadeira. — A noite foi agitada pelo visto.
— Agitada foi pouco, pai. — Adrian responde estampando um
sorriso divertido nos lábios. — Tive que ajudar o bonitão a subir as escadas,
ou teríamos que lidar com um enterro essa manhã.
Assim que as palavras saem da boca do idiota, nossa mãe puxa a
orelha do mesmo ao mesmo tempo que sua mulher estapeia, sem delicadeza
alguma, o seu braço.
— Infelizmente, dessa vez o Adrian está certo. — Minha voz sai
mais rouca do que o normal, além da dor que se faz presente na minha
garganta. — Não sei nem como consegui acertar o caminho para casa.
Tinha me esquecido que não sou mais tão jovem assim e que beber o tanto
que bebi ontem, não traz nada de bom no dia seguinte.
— Você não acertou o caminho para casa, bebezão. — Adrian que
massageia a orelha me responde e o questiono com um olhar enquanto me
sirvo do pão de queijo maravilhoso da dona Mariana. — A mulher com
quem você passou a noite que te trouxe e depois pegou um Uber para ir pra
casa.
Que ótimo!
Não faço ideia de quem se trata a mulher e muito menos do que
fizemos na noite passada.
Na verdade, tenho alguns flashes na mente, de quando estávamos
fodendo no banheiro da boate, mas não posso afirmar que se trata da mesma
mulher.
— Pelo visto você nem lembra da pobre coitada. — mamãe diz
com pesar, mas vejo que segura o riso.
Sorrio fraco para a mesma e me sirvo do café sem açúcar, feito
especialmente para mim, já que sou o único que prefiro assim, e a atenção
de todos é desviada para Clarice, que quando começa a falar não consegue
parar nem para respirar.
Tomo meu café em silêncio, passando os dedos pelas têmporas vez
outra, numa tentativa falha de aliviar a dor excruciante, mas consigo pegar
algumas partes do assunto, sobre o aniversário da mesma.
Já estava quase me esquecendo que daqui algumas semanas nossa
princesinha já completa seus vinte anos.
Parece que foi a alguns dias que tive que acudir Adrian, quando a
ficante dele, do Brasil, contou que estava grávida e o idiota desmaiou nos
meus braços.
O bom foi que o choque serviu para que eu pudesse estapeá-lo no
rosto até que acordasse, sem tomar nenhuma bronca por estar batendo nele.
Pensei que a ideia de ser tio aos dezesseis anos seria péssima, mas
foi uma das melhores coisas que me aconteceu e tenho orgulho de ter feito
parte da criação de Clarice.
Passávamos juntos, todo tempo que eu tinha de sobra, enquanto
seu pai estava começando a universidade e sua mãe decidia voltar ao Brasil,
já que não se adaptou aos Estados Unidos, cedendo a guarda integral para
Adrian.
Eu estive presente em quase todos os seus momentos mais
importantes. Quando ela deu os primeiros passinhos, eu que ajudei a se
equilibrar enquanto os pais dela fotografavam, nas suas primeiras palavras
estávamos juntos, e fiz questão de zombar meu irmão por ter sido
"mamãe”, e claro, eu que ensinei a pequena devoradora de livros a ler.
Uma coisa que não imaginam quando me julgam por conta do meu
jeito mais fechado, e diria que até intimidador, é que quando estou em casa
sou facilmente rendido por meus sobrinhos e feito de gato e sapato.
— Tio? — a mão de Clarice passa na frente dos meus olhos e foco
minha atenção no que a mesma fala. — Tudo bem? Tá sorrindo feito um
idiota aí.
— Tudo sim, princesinha. — Sorrio enquanto ignoro o cochicho
dos meus pais sobre eu estar pensando em alguma mulher. — O que foi?
— Tinha perguntado como foi seu primeiro dia de aula na Garden.
— Ela colocou um pedaço de abacaxi na boca enquanto me fitava com os
olhos castanhos, que assim como sua pele morena, os puxou de sua mãe. —
Sei que já se passaram alguns dias mas tinha me esquecido.
— Foi um desastre e pensei seriamente em ir direto até a diretora
me demitir. — Todos me olham curiosos e surpresos, até mesmo os gêmeos
me fitam com curiosidade. — Não sei nem o porquê de eu ter aceitado essa
ideia estúpida.
— Aceitou porque está sempre tentando se provar. — Adrian me
lança uma piscadela. — Não conseguiu recusar a proposta da diretora,
quando te ofereceu o antigo cargo dela a base dos elogios sobre ser o
melhor da área, e foi todo esse papo que te ganhou, então agora precisa
fazer jus ao seu nome, Aiden Munhoz.
Por incrível que possa parecer, o idiota realmente me incentiva
com essas palavras.
— Bem lembrado. — Sorrio cinicamente enquanto bebo o restante
do café antes de me levantar. — E acabou de me lembrar o porquê não
posso desistir. Sou o melhor e vão pensar o que de mim se eu me render?
Que não aguentei lidar com um bando de jovens adultos que acabaram de
sair das fraldas?
— É assim que se fala, cara. — Passo por ele e antes de tocar em
sua mão estendida para um toque, deposito um tapa em sua nuca. — Te
odeio.
Saio de casa estampando um sorriso brincalhão, que morre aos
poucos quando a dor volta de forma dobrada.
Caralho de whisky!
Estou finalizando de revisar alguns contratos antes de enviá-los a
um dos meus clientes quando minha porta é aberta de forma bruta, e não
faço questão de erguer o rosto para saber de quem se trata.
— Pode ao menos fechar a porta, por favor?
A porta se fecha sem resposta alguma da parte de Henry, e ele se
senta à minha frente em seguida, depositando uma pasta fina sobre a mesa.
Encaro o material de papel pardo e finalmente fito seu rosto,
arqueando uma das sobrancelhas sem entender do que se trata.
— Esqueceu que quando aceitou ser professor na Garden, também
meteu o escritório numa parceria com a universidade? — Minha expressão
é pura confusão, porque não me lembrava, e com certeza não me esqueceria
de algo assim, até ver o sorriso enorme que Henry abre.
— Você fechou uma parceria com eles?
Deposito a caneta que estava na minha mão sobre os papéis e levo
meus dedos a ponte do meu nariz, fechando brevemente os olhos e
respirando fundo.
— Nós fechamos uma parceria, para receber alguns dos melhores
alunos do curso de Direito como estagiários. — Assim que volto a abrir os
olhos, ele abre a maldita pasta e começa a tirar algumas fichas de dentro. —
Ao todo são seis escolhidos pela reitora e podemos ficar com três deles, não
é legal?
Sua empolgação se assemelha como se estivesse falando sobre os
novos cachorrinhos que adotou.
Ele encontra a resposta estampada em meu rosto e dá de ombros
como se não fosse nada.
— Enfim, trouxe as fichas deles para escolhermos juntos os três.
— Posso ver como está empolgado com ideia e não querendo acabar com
toda sua animação, decido não me intrometer. — Como você também é o
professor deles, mesmo tendo dado apenas uma aula, ela deixou que
escolhêssemos os nossos e o restante fica com o outro escritório que tem
um acordo similar.
— Não vou me intrometer nos seus negócios, e com certeza não
vou te ajudar a escolher os alunos.
— Por que não? — ele fecha a pasta e coloca os pés sobre a mesa.
Como eu odeio esse maldito hábito.
— Porque não vou querer nenhum dos estagiários comigo, sabe
que não tenho paciência pra erros de iniciantes. — Empurro os pés dele,
que cai no chão fazendo um barulho estrondoso. — Ainda mais se tratando
de pessoas que agora são meus alunos, não posso misturar as coisas e
acabar atrapalhando ainda mais a vida dos pobres coitados naquela
faculdade, caso façam algum estrago por aqui.
— Faz sentido. — Vejo ele passar os dedos sobre a barba cheia, e
já sei que vem alguma merda por aí. — Sabe que ao ser professor, está
numa posição que precisa ser paciente com erros iniciantes, não é? Tenho
certeza que vai reprovar todos os seus alunos.
— Sai da minha sala, Henry. — Aponto para a porta a suas costas.
— Estou com uma puta dor de cabeça por causa de ontem à noite, culpa que
atribuo a você, e não quero mais encheção de saco.
— Ei, calminha aí. A culpa foi das garrafas de whisky que você
tomou inteira e sozinho. — Ergue as mãos em rendição. — Mas então
vamos mudar de assunto. Que tal me falar daquela morena gostosa que
estava levando pro banheiro e depois não te vi pelo resto da noite?
— Saia antes que eu chame os seguranças, Henry. — Coloco a
testa sobre a mesa, em um claro sinal de derrota.
— Sou o dono, não podem me expulsar. — Fala como se fosse
óbvio. — Tudo bem, próximo tópico. — se faz silêncio por alguns minutos
e antes que eu pudesse comemorar, ele desfere um tapa, no que imagino ter
sido sua coxa.
— O que foi?
— Odeio quando está de ressaca, fica com o humor pior do que já
é. — ele vai até a porta e posso ouvi-lo pedir a Samantha que traga meu
café, amargo como a morte, nas palavras dele, e volta a se sentar. —
Lembra do convite para aquela première que recebemos e somente eu fui,
no sábado?
Levanto minha cabeça e faço um gesto com as mãos para que
pudesse terminar de dizer o que começou.
— Acabei me envolvendo numa briga com uma das mulheres que
foi convidada. — Ergo as sobrancelhas num claro sinal de interesse e ele
continua sem pausas. — Basicamente eu acabei tropeçando na calda
enorme do vestido exagerado dela, e rasguei todo o tecido.
— Não quero nem saber a maneira com que ela provavelmente
quis comer seu fígado.
— Ela ameaçou enfiar o salto cravejado dela pela minha goela até
sair pelo meu rabo. — Faz uma expressão de pesar e o acompanho ao
pensar no sofrimento que seria ter de expelir um sapato desses. — Só não
fizemos um barraco na frente das câmeras porque acho que se importa
bastante com a reputação. Mas não posso negar que ela era muito gostosa.
Samantha entra na sala e deixa meu café, olhando furiosa para meu
sócio que sorri amarelo para a mesma. Antes de bater à porta, ela aponta o
dedo do meio para Henry, que lhe lança um beijo.
— Acho que isso conta como insubordinação, podemos demitir
ela.
— Não podemos, Aiden. — Ele suspirou pesaroso. — E admita
que sonha em demiti-la porque sabe que ela fala mal de você pelas costas, e
só não faz isso porque ela trabalha muito bem.
— Assumo. — tomo um gole da bebida quente e o alívio que o seu
amargor traz é imediato. — Não sabia que estavam tendo algo sério a ponto
dela se irritar com sua fala sobre outra mulher.
— Não estamos. — ele se levanta e caminha em direção a porta. —
Mas não posso fazer nada se todas acabam se apaixonando por mim. Acho
que é o cabelo.
Ele deixa a sala, largando a porta aberta para trás.
Maldito.
— Tem certeza que não vai querer nenhum dos estagiários pra
você? — ouço Henry perguntar pela terceira vez desde que estamos na
academia, enquanto corremos na esteira. — Eles podem servir pra alguma
coisa, ou vai negar que era um bom estagiário quando foi sua vez?
Retiro o fone de ouvido e os guardo no bolso dessa vez, aceitando
que não vou conseguir escutar minhas músicas enquanto estiver com o
maldito ao meu lado.
— Tenho certeza absoluta, Henry. — Minha voz soa tediosa, já
cansado de responder a mesma pergunta. — E não tem como comparar os
estagiários de hoje em dia com os de dez anos atrás. Nós realmente
trabalhávamos, não ficávamos à toa ou servindo cafezinho.
— Você pode colocar seu estagiário pra trabalhar de verdade. —
Ele dá de ombros e arruma a faixa em seu cabelo, antes de ajustar seu
coque. — Sabe como é, moldar um futuro advogado como você bem
entender e depois ter orgulho de dizer a todos por aí que foi com você que
ele aprendeu tudo que sabe.
Olho pra ele, incrédulo.
Como ele pensa que usar esse papo de orgulho, vai conseguir me
manipular a aceitar um dos estagiários?!
— Não adianta, não vou. — Desligo a esteira, que vai se
desacelerando e pego a garrafa de água no suporte ao lado. — Não tenho
paciência para lidar com erros de iniciante, já estou velho e não quero
correr o risco de ter um infarto antes da hora.
Bebo um gole da água gelada e sinto meu coração ir se acalmando
aos poucos, enquanto limpo o suor que escorre por todo meu rosto, com a
toalha que estava pendurada em meus ombros.
— Então tudo que eu te digo é, boa sorte, amigo. — Henry salta da
esteira e bate em meu ombro ao passar por mim e prosseguir para os
vestiários. — Realmente espero não receber nenhuma chamada urgente da
universidade, com a notícia de que caiu duro em uma das aulas por conta de
uma das alunas, especificamente uma que mexe com você.
Por que esse merda tinha que lembrar disso?
— Consegue parar de tocar no assunto daquela peste? A raiva volta
sem controle só de ouvir sobre ela, e não vou cair duro por conta de uma
mulherzinha mimada.
— É, talvez não. — Ele se vira de frente para mim e ao ver o
sorriso sacana em seu rosto, sei que vai abrir a boca pra falar alguma
besteira. — Mas tô achando que duro é uma palavra que vai se aplicar bem
a sua situação, todas as quintas-feiras.
Ele sai correndo e o acerto com a garrafinha de plástico em minha
mão, que pega em suas costas antes dele passar pela porta do vestiário.
Só espero que esse maldito esteja errado.
Não consigo imaginar o quão fodido vou estar se ele estiver certo.
“Sem advogados
Para pleitear meu caso
Sem órbitas
Para me mandar para o espaço sideral
E meus dedos
Estão enfeitados
Com diamantes e ouro
Mas isso não vai me ajudar agora”
Trouble - P!nk
Ouço as porras das batidas na minha porta, mas não faço questão
de abri-la ou de sequer responder ao chamado.
Hoje estou com um humor do cão e descer pra jantar em família só
iria me foder ainda mais, porque provavelmente levaria uns tapas de mamãe
por conta da impaciência.
Desde que a notícia que a pequena peste vai passar a estagiar na
D&M me atingiu como um soco nas bolas, não consegui me concentrar em
mais nada durante o dia.
As poucas reuniões que participei foram um fracasso já que não
conseguia prestar atenção ao que estavam falando, e sequer ir descontar
toda raiva na academia ajudou em alguma coisa.
Como vou lidar com aquela mimadinha andando pelo prédio, com
toda sua insubordinação e irresponsabilidade?
Vou precisar evitar ao máximo ficar perto dela e saber sobre seu
trabalho ali ou tenho certeza de que vamos pôr o prédio abaixo.
— Aiden, abre a merda dessa porta antes que eu arrombe, ou pior
— ouço a voz de Adrian sair abafada por conta da espessura da porta do
meu quarto. —, chamo a mãe pra vir derrubá-la. Você que escolhe.
Inferno, não posso ter um segundo de paz.
Levanto e largo o celular que estava em minhas mãos sobre a
cama, aberto na conversa com Henry, o qual convenientemente tinha coisas
urgentes a tratar hoje e sequer apareceu no escritório e também não
respondia às minhas mensagens.
Certeza que esse filho da puta sabia quem estava escolhendo, tudo
para infernizar ainda mais a minha vida.
Abro a porta e não dou atenção à expressão indignada de Adrian,
dando as costas ao mesmo em seguida.
— Tá maluco, cara? — ele fala em português e ouço o barulho da
porta ser fechada enquanto me jogo de costas em minha cama.
Tô parecendo a porra de um adolescente.
— Chegou mais cedo que o costume, não se deu ao trabalho de
cumprimentar nem seus sobrinhos que te chamavam e se trancou aqui em
cima. Que merda tá acontecendo?
Ele metralha suas perguntas, mas posso notar o tom preocupado
com que as faz, e somente por consideração a sua aparente preocupação, me
sento virado para ele, disposto a contar toda a enrascada em que me meti.
— Caralho, Aiden! — penso em tapar os ouvidos por conta da sua
reação exagerada após meu breve monólogo resumindo toda minha fodida
situação com a peste. — Como assim chamou ela pra uma entrevista por ter
achado a garota atraente? Ainda mais você que é tão profissional.
Não me dou ao trabalho de responder seu apontamento óbvio e ele
prossegue.
— Bom, o que sugiro agora é evitar cruzar o caminho dela
enquanto ela estiver por lá — ele se levanta da poltrona em que estava e
passa a se sentar ao meu lado na cama, colocando uma das mãos no meu
ombro, como se fosse dar um ótimo conselho. —, ao menos, se não quiser
ter um caso sério de bolas roxas e precisar tomar uma ducha gelada cada
vez que passar por ela nos corredores. O melhor é fugir.
Olho pra ele indignado e o empurro, me levantando e começando a
andar de um lado ao outro.
— Não prestou atenção em nada do que eu disse? — questiono
incrédulo, passando as mãos pela barba. — Eu não suporto aquela mimada,
Adrian, toda vez que nos encontramos sempre termina em discussão e não
posso correr o risco do meu escritório virar um campo minado com uma
estagiária.
É claro que ela é sim, gostosa pra caralho, mas o que realmente me
preocupa é o fato de que vamos acabar nos matando.
— Prestei atenção em tudo que saiu da sua boca sobre essa tal de
Alexia, e tudo que consegui pensar, foi que você está fodido Aiden, porque
é nítido que a deseja.
— Eu não a desejo, tá bom? — aponto um dedo em sua direção, e
o idiota tem a ousadia de gargalhar. — Não nego que ela é sim, muito
bonita, tem um corpo fodidamente gostoso e aqueles saltos só valorizam
ainda mais suas pernas, mas não passa disso. A raiva que sinto quando
aquela petulante me olha é mil vezes maior que a vontade de foder com ela.
— Então existe uma vontade de foder com ela. — Ele sorri
vitorioso e desisto de argumentar com ele.
— Além de agora ser minha funcionária, a peste também é minha
aluna, Adrian. Seria completamente antiético.
— Então, está me dizendo que se ela não fosse sua aluna, ou sua
funcionária, com certeza aconteceria?
Suspiro derrotado e me sento novamente.
Onde caralhos eu fui me meter?
— Ainda existe o fato de nos odiarmos, mas sim, se ela não tivesse
deixado minha sala encharcada e me ofendido sem parar desde que nos
conhecemos, talvez eu tentaria a sorte se fossem outras circunstâncias.
Meu Deus, o que eu tô falando?
A mulher é a peste em pessoa, petulante e completamente
desequilibrada.
Mas gostosa, infelizmente isso também.
— Sai do meu quarto. — Aponto para a porta e ele me olha
confuso. — Anda, sai daqui e diga a todos que não estou bem.
— Por que quer que eu saia? Pensei que estivesse te ajudando.
— Só está atrapalhando e me fazendo pensar em coisas que não
deveria sequer passar pela minha cabeça.
O empurro para que levante e ele o faz com uma expressão
vitoriosa no rosto.
— Eu saio, mas não vejo a hora de você me ligar contando que
foram pra cama juntos. — Ele chega à porta e se vira pra mim. — Tanto
ódio assim, só pode levar ao tesão acumulado entre vocês dois, não dou um
mês para que desistam de resistir.
Antes que eu pudesse xingá-lo mais uma vez, ele sai do quarto,
batendo a porta, e consigo ouvir seus passos pelo corredor junto de um
assobio de uma música qualquer.
Idiota!
Adrian e Henry não podem estar certos, isso não vai acabar em um
tesão qualquer até irmos pra cama.
Ela é minha aluna e agora vai ser minha funcionária, e isso soa
errado em tantos níveis diferentes que preciso até parar e respirar fundo
para controlar meus pensamentos.
Preciso focar no fato de que ela é uma peste, mimada e
irresponsável, e que corro o risco de infartar por conta da petulância dela.
Não posso ficar pensando em como seu rosto atrevido e quase
perfeito combina perfeitamente com ela ou como as pernas dela ficam ainda
mais gostosas quando está usando um dos seus Scarpins e como ficariam
perfeitas em torno do meu quadril, ou até mesmo como sua boca delicada
seria incrível para…
Porra, Aiden!
Tudo culpa dos malditos e suas insinuações.
Sorrio para meu pai enquanto ele completa meu copo com o
whisky e viro o pedaço de picanha na grelha fumegante, ouvindo o chiar
que faz com o contato que acompanha seu aroma.
Olho para a mesa no jardim, onde minha mãe, acompanhada de
Francie, coloca as vasilhas com toda a comida deliciosa, que só uma boa
brasileira consegue fazer.
Sorrio sozinho ao pensar em como hoje vou me satisfazer do arroz,
da farofa e da maionese da dona Mariana, sem esquecer do molho de alho
divino que só ela faz, mas meu sorriso murcha ao ver Henry passar pela
porta com um olhar tranquilo.
O maldito simplesmente desapareceu mais cedo e só respondeu as
mensagens de mamãe o convidando para o churrasco.
Interesseiro do caralho.
Termino de virar os pedaços de carne pouco antes dele se
aproximar e me abraçar, dando leves tapinhas nas minhas costas.
Quando se afasta e percebe que minha expressão não se alterou
com seu contato, segura meus ombros em uma tentativa de me acalmar.
— Respira fundo, se lembre que estamos em um jantar em família,
que é noite do churrasco e que sou seu melhor amigo.
— Que caralho de melhor amigo, Henry?! — aumento meu tom de
voz, chamando a atenção de todos e vejo pelo canto de olho quando Adrian
impede nossos pais de se aproximarem. — Como você me contrata aquela
petulante como uma das estagiárias? — questiono furioso, ainda mais pelo
fato de estar sendo ignorado a dois dias. — Se quer me foder ao menos me
leve pra jantar antes de fazer o serviço mal feito.
— Em minha defesa, eu realmente não sabia quem ela era. — me
solto de suas mãos e me viro para a churrasqueira a fim de tirar as carnes de
lá antes que passassem do ponto. — Na foto da ficha que a reitora mandou,
ela estava de cabelos curtos, e devo ressaltar que nem lembrava direito do
rosto dela, já que quase não a vi e só me lembrava dos fios compridos.
— Isso não é desculpa, sabia o nome dela.
Começo a cortar os pedaços da carne repleta de gordura e evito
olhar em seu rosto.
— E eu vou saber de quem se trata cada Alexia que aparece por aí?
— ele questiona derrotado, se senta em uma das cadeiras que estava por
perto e posso notar que está sendo sincero. — Só fui perceber a merda que
tinha feito quando ela entrou na minha sala hoje mais cedo para levar a
documentação. Perdão, cara.
— Por isso sumiu e não queria me responder desde ontem?
— Ontem eu sai pra fazer trilha, estava estressado com muita coisa
acontecendo em casa. — Olho para ele em uma pergunta silenciosa. —
Depois te conto tudo. Mas acredite quando eu digo que não tinha noção de
quem ela era. Se quiser posso entrar em contato com a universidade e pedir
para que a troquem ou pensar em uma outra alternativa.
Penso por um momento no que isso acarretaria e com certeza seria
um alívio e tanto não ter conhecimento da presença constante daquela peste,
mas por um segundo me lembro do olhar de desespero que mostrou pelo
emprego no nosso primeiro encontro, meses atrás, e também no brilho
vitorioso que tinha no olhar hoje mais cedo.
Até que pode ser interessante saber até onde ela pode conseguir
chegar no escritório. A garra e com certeza a petulância para ser uma boa
advogada ela tem, só precisa aprender a controlar seus instintos explosivos.
Seria interessante saber como ela vai se sair, podendo acompanhar
seu progresso de perto.
— Não precisa. — Henry que estava cabisbaixo levanta o rosto em
minha direção rapidamente, e um sorriso torto brinca em sua expressão. —
Vamos ver como ela se sai, e espero que esteja preparado para uma possível
catástrofe caso nos encontremos muito pelos corredores.
— Pode deixar, vou estar sempre pronto com algumas camisinhas
no bolso, caso vocês precisem.
Ele pisca antes de ir em direção a mesa se servir, e pede para minha
mãe colocar alguns de seus pagodes para tocar, alegando estar sentindo falta
de alguma coisa.
Minha mãe liga o som interno da casa onde “Cheia de Manias"
começa a tocar e meu pai tira Clarice para dançar enquanto os gêmeos
também os seguem tentando seguir os passos do avô e da irmã.
Assim que coloco a travessa com as carnes cortadas sobre a mesa,
vejo que Henry conversa com Adrian e o idiota do meu irmão me olha
gargalhando.
— Tá muito fodido, maninho.
Ele faz um sinal com as mãos para enfatizar sua fala e começa a
cantar a música enquanto sai dançando atrás dos outros.
Tô fodido!
“Nós combinamos
Mais do que farinha do mesmo saco, você e eu
Nós mudamos o clima, sim
Sinto calor em pleno inverno quando você está perto de mim”
Sucker - Jonas Brothers
Assim que passo pela porta, posso notar que o barulho das
conversas paralelas da turma se encerrarem assim que notam minha
presença.
Olho para toda a turma e não consigo disfarçar minha surpresa
quando encontro o motivo da minha noite mal dormida, já sentada em sua
cadeira enquanto ouve sua amiga falar, mesmo parecendo que não presta
atenção em uma só palavra do que ouve.
Tivemos uma quantidade baixa de aulas, mas nesse pouco tempo já
pude perceber que se atrasar está enraizado na peste, como o sangue em
suas veias.
Essa é a primeira vez em que eu chego e a mesma já está na sala de
aula, o que por si só já é um fato curioso.
Tudo se torna ainda mais estranho quando os minutos da aula se
passam e é como se ela não estivesse ali, pois pela primeira vez não esboça
nenhuma reação as minhas falas ou a dos colegas, nem mesmo quando
chamei sua atenção pedindo que prestasse atenção, por ter lhe feito uma
pergunta e ela sequer a ter escutado.
Penso que talvez pudesse ter sido sono ou algo tipo, mas quando a
situação segue a mesma após o intervalo, não consigo tirar minha atenção
dela, e quase me sinto um idiota por estar preocupado com o que pode estar
acontecendo.
Talvez ela esteja passando mal ou contraiu alguma doença desde a
última vez que a vi. Também penso que o que aconteceu no dia anterior a
pudesse ter afetado e a preocupação só aumenta, assim como também a
culpa e o medo de ter passado dos limites.
Por que não consegui me controlar ontem, porra?
Sei que ela correspondeu ao beijo, mas pelo que percebo hoje, com
certeza deve estar arrependida e preciso conversar com ela a respeito.
Não foi minha intenção fazer com que ela se sentisse mal pelo que
aconteceu, até porque não deveria ter acontecido, levando em conta que sou
chefe e também seu professor.
Diversas hipóteses passam por minha cabeça.
Ela pode estar agindo assim por medo de algo acontecer por conta
da nossa situação profissional e acadêmica ou realmente se arrependeu e
não sabe como se portar, e é pensando nisso que tomo a decisão de pedir
que ficasse após a aula para conversarmos.
Ela me olha confusa, não sei se por não ter prestado atenção no que
disse, já que pediu que eu repetisse, ou se justamente por ter ouvido e não
ter entendido o motivo.
Assim que todos os alunos deixam a sala, a última sendo sua
amiga, que cochicha algo em seu ouvido antes de nos deixar a sós, me
encaminho até a porta, a fechando para ter mais privacidade sobre o assunto
e quando vejo que a mesma não saiu do lugar, vou até ela, me apoiando na
cadeira a sua frente.
Quase sorrio quando ela me olha com uma das sobrancelhas
erguidas, em um claro sinal de irritação.
— Pode ser rápido, professor? Tenho que ir para meu estágio e
meu chefe detesta atrasos.
Pelo tom petulante e o sorriso debochado, ao menos posso ficar
tranquilo ao constatar que o que quer que seja, não a afetou tanto assim.
— Acho que precisamos conversar sobre algumas coisas que
acabaram saindo do controle ontem, Alexia.
Meu tom soa sério e vejo sua expressão endurecer assim que as
palavras deixam minha boca.
Já vi que vai ser uma conversa difícil.
Deus me proteja dessa peste.
“Mas quando você olha para mim
A única lembrança é de nós dois nos beijando sob o luar
Oh, oh, oh, oh, oh
Não consigo lembrar de te esquecer”
Can’t Remember to Forget you - Shakira feat. Rihanna
Acabo de encerrar uma ligação com um dos meus clientes que vem
dando trabalho para aceitar um acordo envolvendo a posse da sua empresa,
quando ouço dois toques sutis na porta.
Coloco o telefone com tanta força na mesa, que confiro se o
aparelho não quebrou.
Hoje o dia já começou infernal, pois tive que correr até a
universidade assinar alguns papéis e logo em seguida tive que resolver
alguns conflitos internos do escritório.
Pedi a Samantha que não deixasse ninguém entrar depois que
voltei do meu almoço, há cerca de trinta minutos, mas é claro que não iria
respeitar meu pedido e a prova disso são os toques insistentes na porta.
Digo que entre a contragosto, mas preciso conter o sorriso que
tenho vontade de abrir quando uma cabeça sorridente passa pela porta,
junto com seu terninho azul escuro e uma saia mais curta do que eu acharia
necessário para trabalhar.
— É impressionante como desde a primeira vez que entrei aqui,
sua voz me faz arrepiar toda e ter vontade de pular no seu pescoço,
arrancando suas roupas. — Ela fecha a porta e se aproxima com alguns
papéis. — A diferença é que agora eu posso fazer isso sem parecer uma
louca.
Venho descobrindo que Alexia não possui filtro algum depois que
começa a pegar intimidade. E o mais impressionante, é que tenho gostado
disso.
— Isso são modos de se falar com seu superior? — questiono e ela
dá de ombros. — Então sempre me quis, desde aquele dia infernal?
Analiso os papéis enquanto noto sua aproximação da minha
cadeira.
— Ao menos bati antes de entrar. — ela passa as mãos por meus
ombros em uma caricia, levando os dedos até os meus cabelos. — Podemos
considerar como uma evolução e, sim, confesso que te achei um pedaço de
mal caminho desde aquele dia, mas acabou quando abriu a boca.
Puxa meus cabelos, me fazendo olhar em sua direção antes de
grudar nossas bocas em um beijo.
Subo uma de minhas mãos por sua perna, apertando e arranhando
de leve antes dela se afastar.
— Preciso da assinatura. — aponta para os papéis.
— Estava com vontade de fazer isso desde que te vi no campus
mais cedo. — Beijo sua boca outra vez. — E preciso que passe a usar saias
mais longas. — volto minha atenção para a mesa enquanto ela mexe em
minhas canetas. — Vou intitular uma regra de vestimenta que proíbe o uso
de saias com menos de vinte palmos de comprimento.
— Está muito engraçado pra quem eu ouvi dizer pelos corredores,
que estava espumando de raiva desde que chegou. — coloca os cotovelos
na mesa e me olha. — Por acaso seguiu meu conselho e comeu algum doce
para aliviar a tensão?
— Não sou uma formiga ambulante como você, Alexia.
Após algumas discussões nessas semanas, ela sempre me mandava
comer algum doce para ver se passava meu estresse e tenho minhas
suspeitas de que a mesma seja apaixonada por tudo que envolva açúcar.
— Isso não vem ao caso, mas quero saber porque o tamanho das
minhas saias te incomodam.
— Não me incomodam. — começo a assinar os papéis. — Mas
fico aliviado que te tirei de perto do Jonas, notava como ele olhava para
suas pernas e não gostava nada daquilo.
— Tá ficando maluco de vez, babaca? — seu tom começa a
aumentar e respiro fundo já percebendo que a mesma começa a se irritar. —
Quer dizer que me tirou de lá por puro ciúmes?
— Ciúmes? — também aumentei meu tom de voz com o absurdo
que sai da sua boca. — Eu, com ciúmes de você?
— É o que está parecendo.
— Mas é claro que não! — rio sem graça alguma. — Você é que
deve estar pirando de vez, peste. Só não queria ninguém olhando para as
pernas que agora são minhas.
— Suas?! — ela ri e fecho a cara diante da sua cena. — Me poupe,
Aiden.
— Se a boceta é minha, porque as pernas não podem ser?
Ela me olha chocada e quando ameaço lembrá-la da sua fala, me
silencia com um movimento.
— Não precisa me lembrar, sei bem o que disse aquele dia, mas
você continua sendo muito escroto. — diz ainda em negação. — Sua sorte é
que é realmente muito gostoso e me faz gozar como ninguém.
Apontou o dedo na minha direção e sorriu de lado, me levando a
sorrir também e em seguida ouço a porta começar a ser aberta.
— Mas tenho certeza que essa porra toda, foi puro ciúmes.
Olho para as pessoas que passam pela entrada e observo Adrian
tampar os ouvidos de Cecília ao mesmo tempo que Francie tampa as de
Caio, por conta da boca suja.
Alexia segue meu olhar e toda a cor some de seu rosto ao notar que
temos companhia. Observo como Cecília sorri para ela, que por sua vez
estampa um sorriso nervoso para a família na porta.
— Boa tarde! — Francie é a primeira dizer enquanto o idiota ao
seu lado cai na gargalhada. — Estamos atrapalhando algo?
— Não, podem entrar. — sorrio discretamente, me controlando
para não rir do choque de Alexia.
— Tem certeza? — Francie sorri em direção a minha peste e ela
começa a dar pequenos passos, pronta para sair da sala. — Pode ficar,
voltamos daqui a pouco.
— Voltamos? — Adrian questiona enquanto é puxado pela mulher
para fora da sala, e meus sobrinhos balançam as mãos em aceno, ainda com
os ouvidos tampados. — Claro, er.. vamos na copa dar café pras crianças.
— Desculpe o incômodo, Adrian disse que hoje seria um bom dia
para trazer as crianças depois de Cecília nos perturbar para te ver. —
Francie some de vista e posso ouvir minha sobrinha reclamar que não quer
café, antes de Adrian fechar a porta.
— Alexia? — questiono, notando que a mesma está estática. —
Tudo bem? Sabe que não falei sério sobre o lance das saias e das pernas,
não é?
Em partes era sério, mas é claro que não quis chateá-la com o
assunto e temo ter passado dos limites.
— Claro que sei, você não enlouqueceu ainda. — Respira fundo.
— Era sua família, não era? — confirmo quando se vira para mim. —
Que…l-lindos, são lindos seus sobrinhos, sabe? As crianças são lindas, elas
falam muito?
Começo a rir de seu nervosismo, já entendendo tudo e fico ainda
mais curioso para saber sobre o que conversou com Cecília quando esteve
em casa.
— Já estou sabendo que conversou com Cecília no sábado, Alexia.
— Ela arregalou os olhos. — O que minha terrorista falou que te deixou em
pânico?
— Disse que eu era sua namorada! — quase grita, apavorada e vai
até a mesa pegar os papéis. — Pedi que não contasse que eu estava lá
porque fiquei com medo da merda que isso poderia dar. Se descobrem que
estamos tendo alguma coisa, posso perder minha bolsa e tudo virar uma
confusão. E agora ela sabe que sou daqui do escritório.
Então essa era sua preocupação ao ser descoberta comigo.
Sorrio em compaixão, vendo que realmente ficou nervosa com a
possibilidade de algo assim ocorrer.
— Fica tranquila. — tento acalmá-la, indo até a mesma e passando
uma das mãos nas suas costas e a outra segura firme seu queixo, fazendo
com que olhe para mim. — Cecília é esperta até demais para idade, vou
conversar com ela sobre isso e explicar que entendeu errado.
Ela assente e começa a respirar mais tranquilamente.
Não resisto e deixo um beijo rápido em seus lábios e em seguida
faço o mesmo em sua testa.
Detestei ver como ela ficou abalada com a possibilidade de não
conseguir terminar os estudos por conta do que estamos fazendo.
Porra!
Ela se despede, ainda um pouco abalada, e segue em direção a
saída, sem olhar para atrás.
É egoísta torcer para que não volte atrás no nosso acordo, para que
continue tendo ela para mim, mas não consigo evitar.
Ela está me fodendo.
— Sinto muito por estragar seus planos, mas não será hoje que
vamos assistir seu desenho animado, linda.
Ouço a voz de Aiden enquanto saio do banheiro e me encaminho
até a cama onde ele já estava sentado, somente com uma calça de moletom
no corpo.
— Tinha esquecido que hoje tem jogo do Corinthians e você vai
ser obrigada a assistir comigo. — aponta para o símbolo em seu peito e se
levanta para mexer em algo da TV assim que me acomodo nos travesseiros
e ele olha divertido para mim. — Pensei que hoje te veria mais informal.
Olho para minhas roupas, franzindo a testa para o conjunto que
uso.
— Para isso teria que me ver dormindo em minha casa, então sinto
muito, mas nunca vai acontecer.
Sorrio e ouço ele murmurar algo parecido com um “isso é o que
veremos”, mas antes que eu pudesse o rebater, um apito deixa meu celular,
anunciando uma nova mensagem.
Como o aparelho estava ao lado da televisão, peço que Aiden o
traga para mim e não poderia ter escolhido hora pior para isso.
O sorriso que estava em meu rosto, vai morrendo aos poucos
quando o observo ler o que quer que estivesse ali e sua expressão mortal se
fazer presente, como se estivesse prestes a esmurrar o primeiro desavisado
que o perturbasse.
Não senti falta desse Aiden.
— Aiden, o que foi?
Ele aponta o celular para mim.
— Porque um tal de Snake quer te encontrar em um beco sujo de
Garden City, e ainda está mandando você ir sozinha como da última vez,
junto com o pagamento combinado se não quiser receber mais uma visita
dos seguranças dele?
Fodeu
“Então vamos deixar os vizinhos bravos
No lugar que sentimos as lágrimas
No lugar para se perder os medos
Sim, comportamento imprudente
Um lugar que é tão puro, tão sujo, tão bruto
Ficar na cama o dia todo, cama o dia todo, cama o dia todo
Transando e brigando
É nosso paraíso e nossa zona de guerra
É nosso paraíso e nossa zona de guerra”
Pillowtalk - Zayn
Sinto meu coração errar uma batida e meu sangue congelar nas
veias.
Como vou conseguir sair dessa agora?
— N-não faço ideia. — quase dou na minha própria cara por
gaguejar. — Deve s-ser algum id-diota querendo, não sei… me dar um
trote.
Minha voz é trêmula e observo Aiden arquear uma das
sobrancelhas, não aceitando minha desculpa esfarrapada.
— Aiden, seu jogo — aponto para a TV quando a tela se acende de
repente, com a imagem de um campo verde. —, vai começar, então é
melhor vir sentar e assistir logo.
Tento mudar de assunto, ainda sentindo meu coração quase
parando no peito e minhas mãos começam a suar de nervoso quando ele
sequer olha para a tela quando abaixa o volume e cruza os braços no peito.
— Não vou cair nessa, Alexia.
Por que eu concordei em vir aqui, mesmo? O que eu tinha na
cabeça quando aceitei? Já não tinha dito a mim mesma que aceitar estar
num local pessoal, torna tudo mais difícil?
Me deixei levar pela emoção do momento, agora estou
completamente fodida.
— Além de você ter salvo o contato, conheço um lugar e uma
pessoa que usa esse mesmo codinome em Garden City e — ele respira
fundo, desfazendo um pouco da carranca, voltando a se sentar no colchão,
ao meu lado. —, por experiência própria, sei que se for a mesma pessoa,
receber uma mensagem dessas não pode trazer nada de bom futuramente.
Respiro fundo, tentando não começar a suar, normalizando meus
batimentos.
Sem perceber, meus olhos ficam longes e meus pensamentos me
levam a pensar que talvez não seja má ideia compartilhar com alguém o que
vem acontecendo.
Está sendo exaustivo guardar essa situação só para mim, e tenho
medo dos meus nervos não aguentarem tanto tempo sem dividir isso com
alguém.
Mas, porra!
Logo o Aiden?
Sinto meus olhos começarem a arder com as lágrimas e minhas
bochechas esquentarem.
Não é possível que eu esteja a um passo de desabar na frente dele,
outra vez.
Sinto seu toque quente e macio na mão que estava sobre meu colo,
e a primeira lágrima solitária cai quando ele entrelaça nossos dedos em um
aperto forte.
Porra, Aiden, o que você está fazendo comigo?
— Ei, pequena peste. — sua voz é suave, como me lembro que foi
quando eu chorei em seu ombro da última vez. — Pode me contar o que
está acontecendo.
Balanço a cabeça numa negativa e sinto falta do calor de sua mão
quando ele a tira do meu alcance.
O calor reconfortante que ele me faz sentir, retorna dobrado
quando sinto seus braços me enlaçando e me levando de encontro ao seu
corpo.
Penso em resistir, mas a sensação de conforto que ele me traz é
tanta, que desisto de lutar contra e me pego me aninhando a ele, repousando
o rosto em seu peito macio e morno por conta do aquecedor interno do loft.
Uma de suas mãos apertam meu corpo enquanto sinto seus dedos
deixando um carinho suave nos meus cabelos.
Respiro fundo, absorvendo seu cheiro único e me deixando sentir
segura ali.
— Sei que não dou motivos para o que vou dizer agora, porque
apesar do nosso… — ele trava por alguns segundos e aproveito a pausa
para enxugar as lágrimas que deixavam meus olhos. — …da nossa
situação, acho que nunca a fiz sentir que pudesse confiar em mim, mas
posso afirmar que pode.
O sinto um pouco tenso, mas acredito que seja por não saber
nomear o que temos.
Não o culpo por isso, pensei que seria apenas algumas fodas
causais até passar o tesão, mas vem sendo mais que isso e prefiro não
pensar muito no assunto agora.
— Estou devendo uns duzentos mil dólares para esse tal de Snake,
porque minha vó morreu e deixou essa dívida para trás e agora estão me
ameaçando por isso.
Ergo meu rosto para ele e vejo quando seus olhar se transforma em
pura ira.
Teremos uma longa noite.
Controlo a vontade absurda que tenho de sorrir quando o aperto de
Aiden em torno de mim se intensifica, talvez como um instinto de proteção.
Depois de contar tudo que vem acontecendo desde que descobri a
dívida de vovó com esse tal homem, apesar do olhar matador e dos nós dos
dedos esbranquiçados e fechados em punho em certos momentos, Aiden se
mantém surpreendentemente calmo.
Talvez seja isso que ele vem tentando me ensinar todo esse tempo,
sobre aprender a me controlar e não explodir, porque tenho quase certeza de
que ele está possesso da vida, apesar de se manter aparentemente calmo.
— E por que não pensou em ir correndo para uma delegacia,
Alexia? — sua voz se altera um pouco e o olho feio no mesmo momento,
fazendo ele bufar e diminuir o tom. — Desculpe, mas por que não contou a
ninguém e não foi atrás da justiça? Você conhece os rostos deles e isso daria
em prisão na certa.
— Porque além do fato de eu não ter onde cair morta, conhecemos
o sistema Aiden, não é tão fácil assim. — volto a repousar a cabeça no seu
peito. — E pelo que vi, esse cara não é qualquer merda, então na certa deve
ter policiais ao lado dele.
Ele suspira derrotado.
— Não vou conseguir te convencer a denunciá-los? — nego com a
cabeça e ele murmura algo em sua outra língua. — Então ao menos me
deixe…
— Não vai pagar minhas dívidas, Aiden. — Não deixo que ele
termine o que ia dizer e ele bufa exasperado. — Já estou me resolvendo
com o dinheiro e como disse antes, entrei em um acordo com eles, está tudo
sob controle.
— Alexia, eles são perigosos, já te ameaçaram. — suspira
derrotado. — Me deixe levá-la aos encontros dos pagamentos, pelo menos.
— arqueio uma das sobrancelhas. — Prometo que eles não vão saber da
minha presença, posso imaginar o modo deles de agir.
Sua fala me traz uma lembrança de algo que disse antes disso tudo
começar.
— Como você os conhece? — sinto seu coração acelerar e me
afasto dele para enxergar seu rosto, notando que o mesmo ficou um pouco
pálido. — Está tudo bem?
Ele tenta sorrir mas falha miseravelmente então assente levemente
enquanto me abraça forte e deixa um beijo em minha testa.
Não disfarço o sorriso que deixo escapar com o gesto.
— Está sim, é só que é uma época da minha vida que não gosto de
lembrar.
Ele suspira e penso que deixou o assunto de lado, mas quando
menos espero, ele começa a falar.
— Sempre fui muito orgulhoso. — deixo uma risada sarcástica
escapar e ele dá um tapinha leve no meu braço. — Quando estava perto de
terminar a faculdade, meu pai me ofereceu um cargo no escritório dele,
como associado. Não aceitei.
Franzo a testa, não entendendo onde essa história vai chegar, mas
não o interrompo.
— Não queria que tudo que eu conquistasse a partir dali, fosse
associado ao meu sobrenome e ao nepotismo de ter nascido em uma família
de advogados bem sucedidos e que já tinham sua fama feita. Queria
conquistar tudo por conta própria, ser dono e ter orgulho de ter construído
desde o princípio, meu próprio império, por assim dizer.
— Tão burro. — murmuro sem conseguir deixar de comentar algo
e olho para ele. — Se meu pai estivesse vivo eu iria cobrá-lo de me colocar
de uma vez na equipe jurídica da empresa, não que eu tenha orgulho de
admitir isso.
— E por isso eu sou o melhor. — noto seu tom brincalhão e belisco
seu braço. — Estou brincando, e pensando no que acabei me metendo
depois, tenho que concordar com você.
— Continua, quero saber mais de você e antes que me chame de
curiosa, não seria nada mais justo, já que sabe tudo sobre a minha vida.
— Não estou gostando disso de perceber que tem razão nas coisas
que fala. — ele faz um biquinho e cedi a tentação de deixar um beijo ali, o
que arranca um sorriso de nós dois.
Meu estômago volta a sentir as temidas borboletas, e sinto estarem
detestando esses momentos mais íntimos entre nós.
— Bom, não aceitei qualquer tipo de ajuda vinda dos meus pais, e
quando eu e Henry começamos nossa busca por abrir o escritório, o
dinheiro que eu tinha não era o suficiente para todas as despesas. — fecho
os olhos em pesar, já imaginando onde isso vai chegar. — Fiquei sabendo
de um homem que emprestava quantias muito altas de dinheiro, com um
prazo bom para tudo ser pago, se eu não ligasse para os juros.
Ele para um momento e volto a abrir os olhos, notando que seu
olhar estava distante, como se estivesse revivendo a memória.
Comecei uma carícia suave em seu peitoral, o que fez ele esboçar
um sorriso suave com o qual já me acostumei, que não me surpreende como
antes, mas não deixa de me fazer sentir coisas estranhas.
— Fui atrás dele, que na época estava abrindo sua boate, que hoje
faz muito sucesso, e ele usava o mesmo codinome do cara que te enviou as
mensagens e provavelmente se trata da mesma pessoa, só que muito mais
influente e perigoso do que dez anos atrás. — ele apoia o queixo em minha
cabeça. — Se apresentou para mim como Snake. Me emprestou toda a
quantia de que eu precisava para entrar na sociedade com Henry, mas
diferente do que imaginei na época, que em poucos meses conquistaremos o
mundo e eu já teria o suficiente para pagar tudo que devia, não aconteceu.
“Quando atrasei o primeiro pagamento que havíamos acertado, o
próprio Snake e mais um cara me encurralaram quando eu estava saindo do
pequeno escritório que tínhamos aberto e me deram a maior surra que já
tomei na vida. Prometeram que se eu não o pagasse, receberia mais uma
visita dentro de poucos dias e faria questão de deixar sequelas. Por sorte eu
ainda tinha uma quantia emergencial guardada e consegui pagar antes do
prazo, e graças aos muitos esforços meus e de Henry, considerando que
quase não tínhamos mais vida, começamos a pegar muitos casos e o
escritório foi crescendo. Consegui pagar tudo que eu devia em menos de um
ano depois disso, mas até hoje sinto as dores daquele espancamento.”
Sinto um aperto estranho no peito e apesar das palavras de consolo
se formarem na minha língua, não consigo pronunciá-las.
É surreal mas, gostaria de poder ter o ajudado quando tudo
aconteceu e algo em mim lamenta mais do que devia, por saber pelo que
passou.
— Você é a primeira pessoa pra quem conto essa parte da minha
vida. — ele murmura baixinho, como se tivesse vergonha. — Nem mesmo
Henry sabe de tudo isso. É…estranho.
Assinto, concordando com sua fala, mas prefiro ficar em silêncio
por não saber mais o que falar ou por medo de falar algo que não devo.
Fico feliz que deu tudo certo para que pudesse estar aqui hoje.
— Você precisa denunciá-los, antes que acabe acontecendo alguma
coisa com você, Alexia, e juro que só de lembrar daquele roxo no seu rosto,
meu sangue ferve. — diz no meu ouvido e o calor familiar passa por meu
corpo. — Não me importo que vai conseguir pagar o valor que combinaram
mensalmente, eles podem não cumprir a palavra, mas me importo com a
sua segurança e… — ele para de falar de repente, e sinto meu coração
descompassar quando continua. —, e me preocupo com você, peste.
Ele suspira e eu prendo a respiração.
Ele se preocupa comigo.
Luto contra a sensação boa que me atinge ao saber disso e pisco
rapidamente para afastar a emoção que tomou conta dos meus olhos mais
uma vez.
— Sou loira. — murmuro tão baixinho que temo ele não ter
ouvido, mas assim que o sinto se afastar, sei que ouviu.
— Sei que está mudando de assunto, mas eu realmente não
esperava por isso.
— Esse preto não se passa de tinta, que passo religiosamente todo
mês ou assim que o loiro começa a aparecer na raiz. — ele pega uma
mecha, que noto estar quase voltando ao comprimento anterior ao dia que
fui no salão ajeitar a merda que havia feito.
Preciso cortar de novo. Gostei deles curtos.
— E meu filme favorito realmente é Legalmente Loira, mas não
foi por isso que escolhi cursar Direito.
Ele solta uma risada gostosa e rouca, soltando meu cabelo,
voltando a me abraçar e estranhamente me sinto como se estivesse… em
casa.
— Por que está me contando isso?
— Acabou de dizer que dividiu uma parte da sua vida que ninguém
mais sabia, então achei justo fazer o mesmo. — suspiro e me levanto indo
em direção ao controle da televisão, numa tentativa de afastar a boa
sensação que me fez sentir. — Tudo bem que meus amigos sabem que na
verdade sou loira, mas achei que devia saber também.
Realmente quis lhe contar isso.
Estranho.
— Comecei a pintar depois que meus pais morreram e minha vida
de patricinha acabou, achei que não combinava mais comigo.
Sinto seu olhar em mim quando aumento o volume do seu jogo,
que já acontecia a um tempo.
— Tenho certeza que fica tão maravilhosa loira, quanto é como
morena.
Sua voz soa ainda mais grave e quando me viro para ele, posso
jurar que seus olhos brilham quando em contato com os meus.
Me odeio por não ter reação diante de um elogio e sinto minhas
bochechas arderem.
— Por que não pega aquela tal de brigadeiro, que já deve estar no
ponto desde a hora que fez, e o comemos enquanto assistimos o que quer
que isso seja?
Pergunto apontando para a TV e ele sorri enquanto se levanta, indo
para a pequena cozinha.
— Então não errei quando te chamei de Elle Woods, hein? — ouço
sua provocação mas o ignoro tentando entender o que se passa na tela
plana.
Obviamente sei como um futebol acontece, mas ainda prefiro o
bom futebol americano, que vez ou outra assistia com meu pai.
Os times que aparecem à minha frente, estão divididos pelas cores
dos uniformes e não sei para qual o homem que se senta ao meu lado torce,
mas fico interessada no time que se veste de verde.
— Tenho certeza que quando experimentar, não vai mais querer
outra coisa. — ele diz enquanto aponta uma colher cheia do doce marrom
em minha direção, que não me deixa pegar quando avanço sedenta. — Seja
boazinha e abre a boca para mim, linda.
Meu corpo quase pega fogo ao ouvir dizer as palavras e as imagino
em outro contexto.
Contraio minhas pernas e suspiro me lembrando o que visto por
baixo das roupas, essa noite.
Abro a boca, aceitando que coloque a colher nela. Raspo todo o
doce dali e..
Puta. Que. Pariu.
Que tipo de perfeição é essa?!
Nunca tinha comido nenhum doce tão delicioso na vida e posso
jurar que é melhor até que o cheesecake de dona Mirta.
Esse homem jogou feitiço na comida de hoje, não é possível que
tudo esteja tão maravilhosamente delicioso.
Se me disserem que vou encontrar comidas tão boas no Brasil, já
sei que vou precisar fazer uma visita ao país assim que for uma advogada
bem sucedida.
— Aiden! — exclamo em um grito e o vejo abrir um sorriso largo
e cheio de dentes, feliz com minha reação. — Essa é a melhor coisa que eu
já comi na minha vida, e não estou brincando!
Não ligo de falar de boca de cheia e tomo a colher da mão dele,
junto da panela e pronta para mais disso.
— Precisa me ensinar a fazer.
— Segredo de estado, e agora será minha arma contra você,
sempre que ameaçar me matar.
Reviro os olhos mas volto a comer mais da oitava maravilha do
mundo que tenho à minha disposição.
— Eu poderia comer baldes disso.
— Estarei à disposição para fornecer, linda.
Ele continua sorrindo e quando me ajeito, ele avança para pegar
um pouco do doce, mas me nego a entregá-lo.
— Preste atenção no seu jogo que eu me viro com isso. — aponto
para frente. — Estou torcendo para o time de verde.
— Ta de brincadeira com a minha cara, Alexia?! — ele soa
indignado e concluo que o time tatuado em seu peito se trata do rival ao
qual escolhi. — É melhor calar essa boca antes que eu te expulse daqui, sua
peste.
Ele cruza os braços com a cara fechada e volto a comer o doce, não
duvidando da sua capacidade de me expulsar, mas não consigo me conter de
soltar uma risadinha quando o time dele sofre um gol logo em seguida.
— Ei!
Reclamo quando ele toma a panela e a colher das minhas mãos.
Aiden desliga a televisão, bufando de raiva e em total descrença de
que seu time perdeu.
Sorrio, mas parte de mim se compadece com a situação.
— Acho que está se esquecendo de uma coisa.
— Não sei o que posso estar esquecendo, mas sei que você é uma
pé frio para mim, pequena peste. — resmunga irritado.
— Posso ser bem quente quando quero, babaca. — aproximo
minha boca de seu ouvido quando vejo que tenho sua atenção. — Se
esqueceu da sua sobremesa?
Dou uma mordida no lóbulo da sua orelha e vejo seus pelos se
arrepiarem antes de me afastar e começar a tirar a blusa, a jogando junto do
terninho que já estava sobre o chão.
— Como eu poderia me esquecer disso? — ele sorri malicioso. —
Eu até merecia algo especial depois dessa perda horrenda que meu coringão
me deu.
Sorrio maliciosamente e monto em seu colo, logo depois de jogar
minha calça para longe e deixo nossos lábios a poucos centímetros, fazendo
com que sua respiração quente se misturasse com a minha.
— O que acha de me comer de quatro hoje, senhor Aiden Munhoz?
As palavras saem de forma lenta e sensual da minha boca e antes
que eu pudesse tomar uma ação, ele gruda nossos lábios, agarrando meus
cabelos entre os dedos.
Vou puxando sua calça de moletom para baixo enquanto me sinto
ser devorada por sua língua e dentes. Tenho de me afastar para concluir a
tarefa, o que ele faz a base de resmungos então já tiro sua cueca junto antes
de voltar a me sentar em seu colo.
Envolvo seu pescoço com meus braços mas ele não permite puxá-
lo até mim, pois gruda as mãos nas minhas cinturas e me afasta, admirando
a lingerie com que eu me encontro.
— Se eu soubesse que estava com isso por debaixo das roupas o
tempo todo, teríamos pulado toda a falação e partido direto para esse
momento.
Não deixo de sorrir, pois seria uma mentira se eu dissesse que não
me importaria se ele não notasse o que eu vesti para hoje.
Um corset vermelho era o destaque no meu corpo, junto da
calcinha minúscula e do sutiã transparente com algumas rosas entalhadas. O
conjunto trazia uma cinta liga discreta, mas nem por isso menos sensual.
Realmente vim esta noite na intenção de ser muito bem fodida pelo
homem que me admira como se eu fosse uma obra prima diante de seus pés.
O calor que eu sentia antes passa a queimar meu corpo, e minha
boceta começa a pulsar, almejando o contato de seu corpo conforme ele me
devora com o olhar.
Já me vesti assim para namorados e até para alguns caras nada
especiais, mas é a primeira vez que além de desejada, eu me sinto
completamente poderosa e incrivelmente bonita no que uso.
— Você está absurdamente linda essa noite, Alexia. — sua voz
grossa se faz presente e seus olhos passam lentamente por todo meu corpo
mais uma vez, antes de repousar nos meus olhos. — Sempre está
maravilhosa, mas dessa vez parece ter algo diferente. Não sei o que é mas
sei que seria um pecado eu deixar de te fazer gozar em todas as posições
possíveis enquanto veste isso.
Sorrimos juntos e ele me puxa para si, passando as mãos pelos
detalhes do que visto e volta a devorar minha boca.
Me perco nele quando seus beijos começam a descer por meu
pescoço e ir em direção aos meus seios e começo a rebolar em seu pau já
completamente ereto quando coloca um dos peitos para fora e passa a sugar
com força.
Solto alguns gemidos e levo as mãos em direção aos diversos
fechos do corset, mas as mãos de Aiden me impedem de abri-los.
— Vou te comer como está, Alexia. — ele fala e depois deixa uma
mordida no meu pescoço antes de trocar nossas posições. — Não vamos
desperdiçar nenhuma peça do que está usando e só vai tirá-las conforme os
orgasmos que tiver.
Ele se coloca atrás de mim e sorrio antes de me abaixar,
posicionando as mãos na outra extremidade do colchão enquanto empino
minha bunda em sua direção, e o ouço colocar a camisinha.
Assim que tudo volta ao silêncio, olho sobre o ombro e noto seu
peito subindo e descendo de forma descontrolada enquanto admira a
posição em que estou.
Ele passa as mãos grandes por minha bunda e deixa um tapa forte
em uma das nádegas, me fazendo gemer com a ardência prazerosa e sorrio
em resposta.
— Estava louco para que chegasse o dia em que te foderia nessa
posição, peste. — sua voz é rouca, carregada de desejo.
Uma de suas mãos sobe a caminho das minhas costas e por onde
seus dedos passam, vai deixando uma trilha de arrepios por minha coluna e
vou arquejando conforme avança.
Ele chega ao destino e enlaça meus cabelos em seu punhos, os
puxando em sua direção ao mesmo tempo em que segura firme em minha
cintura, e sinto seu pau cutucar minha bunda por cima do tecido.
Solto um gemido alto, já sentindo minha boceta encharcar, sedenta
por ser tocada.
Levo uma das minhas mãos para dentro da calcinha e quando toco
no meu clitóris inchado, solto um gemido alto enquanto sinto beijos sendo
depositados atrás da minha orelha e pescoço.
Quando Aiden percebe o que eu estava prestes a fazer, segura meu
pulso e me faz tirar a mão de onde estava, a levando até seu rosto.
Olho por sobre o ombro mais uma vez e quase salivo quando ele
leva meus dedos até sua boca e os chupa como se fosse seu prato favorito.
— Ainda não chegou a hora de se masturbar para mim, linda. —
sorri soltando meu pulso e volto a me apoiar no colchão. — Mas fique
ciente que esse dia vai chegar.
Dou uma rebola em seu pau, fazendo com que sinta como minha
calcinha está úmida e como estou clamando por ele, que sorri mais largo.
— Vai ter que pedir o que quer, Alexia. — reviro os olhos e acho
que chego a bufar antes de sentir mais um tapa ser desferido do outro lado
da minha bunda.
Sempre acabo marcada no final de tudo, como uma lembrança de
que sempre fodemos gostoso.
— Não vai ter o que quer antes de pedir.
Volto a rebolar e somente com esse precário contato, sinto meu
corpo todo clamar por mais.
— Me fode, Aiden. — olho para ele, que ainda segura meus
cabelos e começa a passar os dedos pela borda da calcinha. — Preciso que
me foda, agora.
Antes que eu continuasse a pedir, ele coloca o tecido de lado, ajeita
nossas posições me empurrando para baixo e mete em minha entrada.
Jogo meu peso sobre meus cotovelos e solto um gemido que parece
mais um grito de alívio quando ele começa a estocar com força, me levando
ao delírio.
Ele desfere mais alguns tapas e isso intensifica ainda mais o prazer.
Sinto que poderia começar a pegar fogo a qualquer momento enquanto ouço
o barulho que nossos corpos fazem ao se chocarem.
— Aiden… — começo a gemer seu nome enlouquecidamente,
sentindo o aperto em meus cabelos se intensificar conforme eu começo a
rebolar nele entre uma estocada e outra. — Aiden… mais forte.
Ele solta os meus cabelos e segura minha cintura com as duas
mãos, intensificando ainda mais os movimentos e sinto nossas peles
escorregadias uma contra a outra.
Sinto o orgasmo começar a chegar e quando ouço os gemidos
roucos dele, sei que também está perto. Ele enlaça meu corpo com seus
braços e levo minhas mãos até eles, enterrando minhas curtas unhas em sua
carne, me fazendo levantar o corpo e ficar grudada a ele nos últimos
minutos em que está dentro de mim, antes de gozarmos juntos.
Nos deixamos cair de lado sobre o colchão, ainda abraçados e
completamente ofegantes.
Ele não dá nenhum sinal de querer se afastar, seguimos assim até
nossas respirações se normalizarem e fecho os meus olhos, sentindo meu
corpo desacelerar e esperando minhas forças voltarem.
De repente sinto Aiden sair de mim e o barulho da camisinha
sendo jogada no chão, antes de me virar para ele e encontrar seu sorriso
ladino.
— Acho que já podemos nos livrar disso antes do próximo
orgasmo. — ele diz já se desfazendo da minha calcinha, junto da cinta liga.
— Prometeu ser minha sobremesa e vou fazer questão de te saborear a noite
toda, linda.
Não deixo de sorrir para ele enquanto começa a subir os beijos por
minhas pernas.
Que noite!
“Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso
Algo no modo como você se mexe
Me faz sentir como se não pudesse viver sem você
Isso me leva do começo ao fim
Eu quero que você fique”
Stay - Rihanna feat. Mikky Ekko
Meus olhos saltam das órbitas assim que o senhor Peter coloca na
mesa, a travessa com o famoso bolo de cenoura com calda de chocolate,
que minha sogra prometeu fazer especialmente para mim após descobrir
que sou fissurada em doces.
Faz alguns dias desde que tanto eu quanto Aiden nos pedimos em
casamento, e decidiram fazer um jantar em comemoração, para oficializar
meu ingresso na família.
Por um momento admiro como Aiden, seu irmão e mãe estão
vestindo a camiseta do seu time brasileiro, que ainda não consigo
pronunciar o nome, pois após o jantar vamos assistir a uma partida do jogo.
Vou me manter calada sobre a torcida, para não me meter em
problemas como da última vez e não correr o risco de tirarem meu doce de
mim.
Apesar de ser a segunda vez que estou à mesa com eles, é como se
já os conhecesse por toda vida.
Amo essa sensação.
— Prove, querida. — Mariana corta um pedaço, colocando em
minha frente. — Tenho certeza de que vai amar, ainda mais do que o
brigadeiro do Aiden.
— Amor, por que só você não sabe cozinhar nessa família? —
Francie questiona enquanto ajuda a distribuir os pedaços para os demais. —
Aiden conquistou Alexia pelo estômago e você nem isso teve a capacidade
de fazer.
— Mas podemos combinar que tenho atributos melhores que os do
meu irmão, e que te deixam muito mais satisfeita. — Adrian a responde em
um tom malicioso, levando a esposa e sorrir lascivamente, em
concordância.
— Vocês já estão com um filho no forno, então acho melhor se
acalmarem. — Peter chama a atenção do filho, mas com um sorriso nos
lábios.
— Deixe eles, quero muito mais netos enchendo essa casa. — sua
esposa rebate e deixo uma risada escapar. — Vocês também precisam
começar a colocar essa minha ideia em prática.
— Ainda não consigo acreditar que vão casar. — Henry volta a
comentar depois de nos encarar boquiaberto por um bom tempo. — Acho
que vou precisar arrumar alguém, se não vou acabar ficando sozinho.
— Vou ter que parabenizar a mulher que te aturar. — Adrian o
provoca. — Mas por precaução, já vou comprar sua coleira também, porque
se meu irmão conseguiu alguém, é a prova de que milagres existem.
Os dois começam a rir e são acompanhados por todos, inclusive eu.
— Alexia nem se formou ainda, mamãe. — meu noivo ignora as
provocações.
Porra!
Noivo, Aiden é meu noivo.
Levo meu olhar até ele e me deixo perder em seus traços enquanto
discute com a mãe sobre a ideia de darmos netos a ela.
Apesar de ser cheia de decisões impensadas e precipitadas, pedi-lo
em casamento foi a coisa mais sensata e certa que já fiz.
Quando eu estava deitada em seu peito, sentindo sua respiração
tranquila e suave após ter arriscado a própria vida apenas para me manter
segura, o fato de que desejaria dormir com ele todos os dias e sentir a
mesma sensação de pertencimento, não saía dos meus pensamentos.
Cheguei a perder a noção de quanto tempo fiquei ali, apenas o
observando e pensando em tudo que passamos dentro de tão pouco tempo.
Revisitei as conversas com meus amigos e todos os conselhos que
me deram sobre estar desperdiçando a chance de ser feliz com o homem
que amo, por conta de um medo bobo.
É claro que ainda tinha o fato de sua carreira entrar em risco, mas
se eu estivesse certa e Aiden sentisse ao menos metade do que sentia por
ele, acreditei que não se incomodaria com algumas fofocas.
Não posso deixar de esquecer do choque que tive quando me
contou que pediu demissão da universidade após minha saída da sala da
reitora.
Ainda não consigo acreditar no que fez e sinto vontade de esgana-
lo quando lembro, e logo após o beijar.
Sempre prometi a mim mesma nunca desperdiçar as chances que
surgirem em minha vida, e percebi que estava fazendo justamente o
contrário.
Foi como um despertar e de repente entendi todas as vezes que fui
apontada como teimosa pelos meus amigos.
Dou total razão a eles.
Sai dali decidida a me abrir por completo a ele, expor todos os
sentimentos que vinham me rondando desde que ele chegou em minha vida
e por algum motivo, não conseguia tirar o par de alianças acompanhado do
solitário, que estava mofando na minha gaveta.
Porra como me tornei brega.
Não consigo expressar a explosão de felicidade que senti me
dominar quando ele invadiu minha casa, jogando todas aquelas palavras em
cima de mim.
Não poderia ter amado mais.
— Vamos, tia Alexia.
A voz de Cecília me tira dos meus pensamentos, e encontro um
sorriso bobo no rosto de Aiden.
Assim que me viro para a pequena, noto que todos me olhavam
com a mesma expressão.
— Vocês são tão fofinhos. — é Clarice quem diz, com um sorriso
bobo no rosto.
— São mesmo. — O homem de cabelos cumpridos acompanha,
colocando as mãos sobre o queixo. — Sempre estive certo sobre como
acabaria esse envolvimento de vocês.
— Se não calar essa boca, vai sair dessa casa levando um chute na
bunda. — Aiden diz com um sorriso irônico nos lábios.
— É mais fácil sua família o expulsar do que a mim. — o outro
começa a rir. — Me amam muito mais.
— Tia Alexia, precisa comer o bolo da vovó. — A criança volta a
falar, atraindo a atenção e então levo um pedaço à boca.
— Acho que vamos ter de nos mudar para o Brasil depois de casar.
— murmuro voltando a atenção ao homem ao meu lado. — Se todas as
comidas de lá forem maravilhosas assim, precisamos sair correndo desse
país.
Todos caem na risada com meu comentário.
— Mas o meu bolo você só encontra aqui, querida, e nem
experimentou meu pão de queijo ainda. — minha sogra diz divertida. —
Vai ter que aprender a lidar com o fato de que, em breve, vai dividir o
mesmo teto que nós.
— Tenho a impressão de que vou amar.
— Você poderia se mudar já. — Aiden sugere pensativo. — Já
fizemos tudo que os casados fazem e até mais um pouco, o que seria
morarmos juntos? — deixo um tapa em seu ombro bom. — Ai! Não menti
em nada, peste.
— Eu acho uma ótima ideia. — meu sogro aprova, sorrindo em
minha direção.
— Considerem como um teste drive para saber se não vão se matar
depois de alguns dias morando sob o mesmo teto. — Henry comenta.
— Aproveitem enquanto não tem nada assinado, porque eu não
tive essa opção quando assinei aquela porcaria de acordo sem sequer
conhecer a louca da noiva.
É a vez de Francie estapear o marido após sua fala.
— Ai! Francie, que caralho, estou só brincando.
Caio se aproxima do pai e deixa um puxão em sua orelha.
— Falou palavra feia, papai, não pode. — O menino sorri e corre
de volta ao lugar, dando gargalhadas com os irmãos.
— Acho que vai ser excelente.
Aiden aperta minha coxa por debaixo da mesa e sorrimos um para
o outro.
Paguei tanto a língua com esse babaca, o que custa mais isso?
UM TEMPO DEPOIS
Respiro fundo, tentando regularizar minha respiração
descompassada e esfrego minhas mãos uma na outra para aplacar o
nervosismo.
Me viro em direção ao espelho gigante que tenho em nosso quarto,
conferindo se cada mínimo detalhe está em seu devido lugar.
Admiro um pouco o vestido vermelho tomara que caia. Passo os
dedos pelo decote em coração, que valorizam meus seios e ajeito a fenda do
lado esquerdo, que vai até mais da metade das minhas coxas.
O tecido é todo repleto de brilho e os scarpins preto envernizados,
dão o toque final em meus pés.
Passo os dedos entre meus fios curtos e escuros, deixando-os solto
para que eu me sinta confortável com o capelo[8] sobre a cabeça.
Quase não consigo acreditar que chegou o dia da minha formatura.
Tanta coisa aconteceu nesse último ano, que pensei que não
chegaria viva para realizar esse sonho.
Mas aqui estou eu, me preparando para colar grau, onde fui
escolhida para prestar os agradecimentos aos convidados após ter concluído
os estudos como uma das alunas destaque do curso.
Que merda passou pela cabeça da minha turma ao me escolher
entre os melhores, para algo assim?
Sobressalto quando a porta se abre e Aiden entra em nosso quarto a
passos rápidos.
Nosso quarto.
Ainda é difícil acreditar que alguém me ama o suficiente para
morar comigo e me aceitar com toda minha loucura e bagunça.
Não vou mentir e dizer que tudo seguiu as mil maravilhas depois
dos pedidos de casamento, porque vez ou outra ainda protagonizamos
algumas discussões.
Até porque eu ainda continuo a mesma teimosa de sempre e Aiden
ainda segue sendo um pouco babaca quando quer.
Mas sempre acabamos resolvendo de forma rápida, pois
geralmente são discussões por motivos idiotas.
Como da última vez em que decidi ajudá-lo na cozinha e acabamos
brigando porque aparentemente eu sou um desastre nela, apesar de querer
comandá-la e levamos alguns xingos de sua mãe pela bagunça que fizemos.
Não tenho culpa de ter um instinto de líder, está no meu sangue,
porra!
— Sempre acreditei que fosse ser a causa do meu infarto precoce.
— ele me abraça por trás e não consigo deixar de pensar o quanto está
gostoso em suas roupas sociais escuras. — Está tão maravilhosa que estou
pensando em não te deixar sair desse quarto hoje.
Ele deixa um beijo em meu pescoço, me trazendo a sensação de
que meu corpo começou a entrar em chamas.
Nunca me canso disso.
— Sou capaz de te deixar amarrado sob os pés da cama. — digo
com um sorriso nos lábios. — Não me matei naquela universidade para
perder minha festa de formatura.
Ele deposita outro beijo no mesmo local e estendo minha mão
esquerda a frente, admirando o anel que um dia foi da minha mãe, sentindo
uma pontada de saudade.
— Tenho certeza que eles estariam muito orgulhosos de tudo que
tem conquistado. — A voz dele é suave em meus ouvidos.
Sorrio com suas palavras e suspiro, afastando os pensamentos
melancólicos.
Me viro em sua direção e deixo um beijo suave em sua boca.
— Tenho uma novidade.
— É sobre aquela entrevista que marcaram depois de enviarmos os
currículos caindo de bêbados um mês atrás?
Não consigo deixar de rir enquanto confirmo, me lembrando do dia
em que resolvemos nos embebedar antes de enviar os emails que definiriam
minha vida profissional após a conclusão da faculdade.
— Só espero que não tenha ocorrido nada parecido com nosso
primeiro encontro. — ele fecha a expressão. — Só pode existir um chefe
babaca e gostoso na sua vida, minha peste.
— Pode ter certeza que não foi nada parecido com aquilo. —
respiro fundo, controlando minha risada. — Consegui o emprego.
Ele arregala os olhos ao mesmo tempo que escancara um sorriso e
me levanta do chão, rodopiando comigo em seus braços.
— Me põe no chão, porra! — grito assustada. — Se esse vestido
estragar eu faço questão de arrancar seus rins, Aiden!
— Nunca duvidei de você. — me coloca de volta no chão e não
deixo de dar um empurrão em seus ombros. — Sempre soube que tem
potencial para tudo que deseja. É uma das advogadas mais incríveis que
conheço.
Agradeço seus elogios com um beijo rápido e o abraço, me
aconchegando em seu peito, sentindo o calor gostoso que pertencer ali me
proporciona.
— Não consigo acreditar que estou realizando todos os planos dos
quais sempre sonhei. — suspiro e ele me aperta contra si. — É surreal
pensar que agora vou fazer parte da equipe jurídica da empresa que um dia
teve o meu nome.
— Espero que não te coloquem para trabalhar com aquele idiota.
— se refere a Ethan solto uma gargalhada.
— Ciúmes a uma hora dessas, senhor Aiden?— questiono sorrindo
em seu peito. — Pensei que com o anel em meu dedo, já tivesse ficado
claro o suficiente de que já sou sua.
— Não me canso de ouvir isso. — ele suspira e rio de sua reação.
— Mas ainda assim não confio nele. — ele diz e posso apostar que está
carrancudo. — Ainda mais depois de descobrir que minha sobrinha caiu nos
encantos estúpidos dele.
— Caiu mais do que você poderia imaginar. — sussurro a última
parte e me assusto quando ele levanta meu rosto em sua direção. — O que
foi?
— Que história é essa?
— Não sei do que está falando. — tento me soltar de seu abraço
mas me impede.
Trocamos um olhar intenso e quando sinto suas mãos descerem
para minhas pernas, preciso me controlar para não pular em seu colo e
aceitar sua ideia de nos trancar no quarto.
— Estamos atrasados, acho melhor irmos.
Ele me puxa para um beijo e por sorte ainda não tinha passado o
batom.
Nossas línguas duelam e como em todos os beijos, me sinto ser
incendiada por ele.
Ele interrompe, ofegante e segura minha mandíbula, fitando minha
boca.
— Acho melhor sairmos daqui, antes que eu te jogue naquela cama
e te foda até estar rouca demais para qualquer discurso. — deposita um
beijo em minha testa. — Espero que a cerimônia não demore tanto.
— Se servir como incentivo. — aproximo meus lábios perto de sua
orelha e sorrio ao ver seus pelos se eriçarem. — Tive que descartar o uso da
calcinha com esse vestido.
Deixo um beijo no local arrepiado e me afasto indo em direção a
porta.
— Acabou de foder comigo, peste!
Me apresso em sair do quarto quando ouço seus passos atrás de
mim e quando chego na ponta da escada, olho para baixo e me deparo com
toda a família de Aiden, agora também minha, todos vestidos de maneira
elegante e prontos para prestigiarem minha conquista, até mesmo o bebê
nos braços de Adrian está vestido para a ocasião.
Os gêmeos correm em minha direção, cada um me abraçando de
um lado.
— Está pronta, tia? — Cecília questiona e sinto Aiden se
aproximar.
Ele carrega Caio, que pula em seu colo e a garotinha prende minha
mão na sua. Meu noivo se põe ao meu lado e descemos as escadas de mãos
dadas.
— Como nunca estive antes.
Sou tão sortuda.
FIM
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me permitido chegar até
aqui, na conclusão de mais um livro, rumo a um novo sonho.
Não poderia deixar de agradecer a minha mãe e irmã, que seguem
sendo meus maiores pilares em cada passo que dou.
Em seguida agradeço a todas as minhas betas maravilhosas, Luana,
Marcielle, Lina, Duda, Bárbara, Maria, Regiane, Amanda e Pe, que
embarcaram comigo nessa loucura, suportando todos os surtos e me
ajudando a chegar até aqui. Vocês foram incríveis nessa jornada, e devo
muito a vocês por todo apoio e ajuda na criação dessa história. Amo vocês.
Nana, meu xuxu, já não sei nem mais como te agradecer por tanto.
Muito obrigada por permanecer ao meu lado desde o início, acreditando no
meu potencial. Você segue fazendo um trabalho impecável e sou
eternamente grata por sua parceria e principalmente por sua amizade. Te
amo.
Também não poderia deixar de agradecer a minha surtadinha. Lu,
não canso de falar como você é importante para mim, sou muito grata por
sua chegada repentina na minha vida, por cada surto, desabafos e sonhos
compartilhados. Espero que possamos crescer cada vez mais juntas. Te
amo.
E claro que nunca me esqueceria da minha Barbie! A primeira
leitora que surtou comigo e que se tornou um presente que o lançamento de
ESB me trouxe. De leitora, passou não somente a ser uma de minhas betas,
como também uma amiga incrível. Agradeço por todo apoio, conselhos e
principalmente por suportar meus surtos, você foi essencial para PD. Sou
grata demais por ter te conhecido. Te amo, neném.
Sempre gosto de agradecer aos personagens por me concederem a
honra de levar suas histórias ao mundo, e com Alexia e Aiden não seria
diferente. Esse casal me cativou por completo, sou eternamente grata a eles,
em especial a Alexia, que assim como fez com Aiden, invadiu minha mente
aos berros, e não sossegou até que eu começasse a pôr em palavras os seus
sentimentos e sua história um tanto caótica, foi uma honra fazer parte de
seu destino.
Por último e não menos importante, agradeço a você leitor, que
chegou até aqui, espero que continue acompanhando os futuros
lançamentos e desejo que tenham se envolvido com a leitura e se
apaixonado pela história de Aiden e Alexia tanto quanto eu. Espero que eles
tenham te proporcionado o respiro necessário para o que vem aí, pois Tabita
e Charlie nos aguardam.
Até breve.
[1]
Banco considerado o mais seguro do mundo, localizado na Alemanha.
[2]
É uma divindade grega por meio da qual a justiça é definida, no sentido moral, como o sentimento
da verdade, da equidade e da humanidade, colocado acima das paixões humanas.
[3]
Vestimenta de magistrado.
[4]
Elle Woods é a protagonista do romance Legalmente Loira.
[5]
Doença cardíaca de origem genética
[6]
Instrumento processual para impugnação ou revisão de decisões judiciais.
[7]
Um homem mais velho e rico que sustenta uma namorada jovem.
[8]
Chapéu usado pelos universitários na cerimônia de colação de grau.