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COPYRIGHT © 2023 by Pâmela Jardim.

 
É proibida a distribuição de toda ou qualquer parte desta história.
Os direitos da autora foram assegurados. Plágio é crime.
Esta é uma obra de ficção recomendada para maiores de dezoito anos.
Nomes, cidade onde a história majoritariamente se passa, personagens e
acontecimentos descritos aqui são frutos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.
 
Capa: G.B. Design Editorial
Diagramação: Luana Berle | @lbdesigneditorial
Revisão de texto: Hanna Câmara
Artes: Anamin Dario (@sketchesanmin) e Eduarda Nascimento
(@arda.arts)
 
PLAYLIST
NOTAS DA AUTORA
AVISOS DE GATILHO
DEDICATÓRIA
PRÓLOGO
CAPÍTULO UM
CAPÍTULO DOIS
CAPÍTULO TRÊS
CAPÍTULO QUATRO
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
CAPÍTULO TREZE
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZOITO
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
CAPÍTULO VINTE E DOIS
CAPÍTULO VINTE E TRÊS
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
CAPÍTULO VINTE E CINCO
CAPÍTULO VINTE E SEIS
CAPÍTULO VINTE E SETE
CAPÍTULO VINTE E OITO
CAPÍTULO VINTE E NOVE
CAPÍTULO TRINTA
CAPÍTULO TRINTA E UM
CAPÍTULO TRINTA E DOIS
CAPÍTULO TRINTA E TRÊS
CAPÍTULO TRINTA E QUATRO
CAPÍTULO TRINTA E CINCO
CAPÍTULO TRINTA E SEIS
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
 
 

Ouça a playlist do livro clicando aqui.

 
 
 
Sejam bem-vindos, leitores.
Primeiramente gostaria de agradecer o interesse pelo livro e desejar
que Alexia e Aiden possam lhe arrancar algumas risadas.
Caso esse não seja seu primeiro contato com a minha escrita,
gostaria de informar que diferente de Em seus braços, meu primeiro livro
publicado, Perverso Destino não carrega uma carga dramática tão grande e,
assim que iniciar a leitura, vai notar a diferença notável entre eles. Então, de
antemão, gostaria de deixar claro que se trata de uma linguagem mais
informal, se adequando à proposta.
Apesar de haver menções a outros personagens, a leitura desse
livro pode ser feita de maneira completamente independente, mas sinta-se a
vontade para conhecer minhas outras histórias, caso surja o interesse.
A intenção que tenho com Perverso Destino, é que a leitura seja
fluida, rápida, leve e divertida, como um momento de respiro entre as
leituras mais densas.
Também deixo registrado que uma das cidades em que se passa
alguns acontecimentos da história, se trata de uma cidade fictícia. Apesar de
alguns elementos da história se assemelharem a vida real, utilizei da licença
poética em alguns aspectos do enredo.
Espero que, assim como foi comigo, Aiden e Alexia possam
invadir seus corações, e fazer com que se apaixonem por cada uma de suas
nuances. Esses dois foram meu respiro durante toda a escrita e me vi tão
apegada a eles, que me doía pensar em finalizá-los, mesmo sabendo que
vão conquistar e dominar muitos corações, assim como fizeram com o meu.
Agora aqui estão eles, prontos para que possam conhecê-los, e espero que
os aceitem do jeitinho que são.
Alerta bônus: as betas também advertem sobre o risco de se
apaixonar e se viciar no protagonista masculino em questão.
 
Desejo-lhe uma boa leitura!
 
Podem me encontrar nas redes sociais e ficar sabendo de todas as
novidades através do usuário @autorapjardim.
 
Esse livro é proibido para menores de dezoito anos e pode conter
assuntos sensíveis como o uso de bebidas alcoólicas em excesso, agressão
verbal e física, assédio, sexo explícito e sem preservativo e palavras de
baixo calão.
Caso não se sinta confortável com algum dos temas citados,
preserve sua saúde mental acima de tudo.
 
 
A todos que dizem não ao amor, que ele os possa surpreender e
invadir suas vidas como uma chuva repentina em um dia ensolarado.
 
 
Fodida!
Não se passam das nove da manhã e eu já me encontro
completamente fodida!
Não consigo parar de pensar no tamanho do meu azar, quando o
quarto motorista seguido cancela a viagem nesse aplicativo idiota.
Qual é?! Meu bairro nem é considerado o mais perigoso das
redondezas, mas esses filhos da puta insistem em infernizar a minha vida.
É claro que tudo estava indo bem demais para ser verdade. Não
posso simplesmente encher a cara, escrever um currículo estando
completamente bêbada e mandar para diversos escritórios de advocacia,
praticamente me humilhando por uma vaga de assistente, e, muito menos,
ser chamada por um deles: um dos mais bem sucedidos das redondezas de
Los Angeles, conhecido por advogar para empresários famosos e para a
elite de LA, para realizar uma entrevista dois dias depois do ocorrido.
A pessoa responsável pela seleção de currículos só poderia estar
tão bêbada quanto eu.
Mas é claro que não estou reclamando, mesmo tendo que
atravessar de ônibus toda a distância entre Garden City, a cidadezinha quase
pitoresca em que moro, escondida nos arredores do grande condado de Los
Angeles, para chegar até a sede do escritório, lá no fundo, talvez escavando
muito e quase alcançando petróleo, estou grata pela oportunidade.
Estou sim.
Só estou um pouco estressada por nada ser tão fácil, mas já estou
acostumada a ter que me esforçar um pouco além do comum.
Estava fácil demais, então é claro que alguma coisa daria errado, e
justo hoje, no dia da entrevista marcada, o que agora é meu ex-namorado,
tinha de ter ido me importunar bêbado às três da manhã, e só largado da
minha porta às seis, com a ajuda de um guardinha de segurança que
encontrei na rua, já que os policiais não fazem questão de entrarem em meu
bairro somente para livrar uma mulher cansada de seu ex importuno.
Estou extremamente exausta, tendo tido apenas três horas de sono,
e muito puta por, justamente hoje, me atrasar. Não que seja algo raro de se
acontecer, dona Mirta, uma das minhas chefes, vive puxando minhas
orelhas, às vezes literalmente, por conta dos meus atrasos na lanchonete.
Mas a questão, é que não poderia acontecer justo quando eu tenho uma
entrevista marcada para às dez horas, do outro lado da cidade.
Inteiramente fodida!
Começo a correr de encontro ao ponto de ônibus, enquanto espero
o aplicativo procurar mais um motorista. Quando estou prestes a virar a
esquina, consigo ver o ônibus que eu precisaria pegar em último caso, pois
a viagem levaria, sendo muito otimista, cerca de uma hora e meia ou mais
até o local.
Ele passa do outro lado da calçada, com todos os passageiros já
embarcados, e com eles, levando todo o restante da minha escassa paciência
para este dia.
Tenho vontade de gritar a plenos pulmões bem no meio da rua,
chorar de raiva e fazer birra como a criança mimada da qual um dia fui, e
depois socar alguma coisa para extravasar o ódio.
Mas apenas respiro fundo, imaginando mil formas diferentes de
matar o babaca do meu ex e, mantendo o controle, tento pensar no lado bom
das coisas, assim como Luke vem me aconselhando.
Pelo menos hoje não está chovendo, o que pode ser considerado
um bom ponto pois essa cidadezinha esteve debaixo de constantes chuvas
nos últimos dois dias.
Como nada que esteja tão ruim que não possa piorar, assim que
termino de mentalizar, ouço trovões vindos do céu, que a poucos minutos
estava ensolarado.
Ótimo! Pensar positivo é o caralho.
Preciso me lembrar de dizer isso ao Luke antes de mandá-lo ir se
foder pelo péssimo conselho.
Volto a olhar o celular e vejo que mais um motorista foi encontrado
e está a caminho, a seis minutos do local. Se esse não cancelar, já posso me
considerar vitoriosa.
Assim que sinto os primeiros pingos grossos de chuva começarem
a cair em meu rosto, corro para debaixo de um toldo para aguardar o carro.
Esse dia não pode piorar!
 

 
Após implorar e quase oferecer a minha alma para o motorista
ultrapassar o limite de velocidade, chego em frente ao escritório Davidson e
Munhoz exatamente às dez e sete, levemente, talvez não tão leve assim,
molhada por conta da chuva torrencial que cai lá fora, e com os cabelos
úmidos.
Enquanto passo pelas belas portas da entrada, me pego pensando se
poderiam cancelar a entrevista por conta de cinco minutos de atraso, mas
existe aquilo de tolerância em todos os lugares, não posso ter me fodido
tanto assim, mas, por via das dúvidas, corro para pegar o elevador prestes a
se fechar e me encaminho para onde me foi instruído através da notificação
que recebi com a data e horário da entrevista.
As pessoas que se encontram no ambiente fechado, me olham
como se eu fosse algo exótico a ser visto e estivesse completamente
inadequada para estar ali naquele local.
Respiro fundo, me lembrando que estou estudando para ser uma
advogada bem sucedida e que não tenho dinheiro para bancar uma que me
defendesse no tribunal por descer a mão na cara de algumas pessoas.
Além de que preciso guardar meu réu primário para algo que valha
a pena.
É com esse pensamento que, após saltar no andar correto, a
cobertura, passo meu nome para a secretária, informando que vim para uma
entrevista e mostrando o e-mail que me enviaram com o protocolo, ela olha
para o relógio e realiza uma inspeção minuciosa sobre o meu corpo, em
seguida expressa uma careta da qual não me agradou nadinha, e se não
fossem as circunstâncias quase desesperadoras em que me encontro, tiraria
satisfações com ela agora mesmo.
Alexia, você não tem dinheiro para pagar um advogado. Respira e
se controla!
Meu Deus como eu queria um docinho, bem agora.
A loira falsa com cara de quem comeu e não gostou, me encaminha
para dentro do local, indicando a segunda porta à esquerda do amplo
corredor, onde brilha uma placa dourada com o nome “Aiden Munhoz”.
Dou duas batidas na porta e ouço um “entre” sair de uma voz
grossa e levemente rouca. Olho para os meus braços e vejo meus pelinhos
todos em pé.
Não é possível que eu tenha me arrepiado somente com uma voz,
tenho até medo do que vou encontrar ali dentro. A última coisa que preciso
é de um possível chefe gostoso para perturbar a minha mente.
Adentro a sala e encontro um par de olhos tão escuro e intensos
quanto meu cabelo tingido, um belo par de sobrancelhas grossas fazem
parte da carranca que o homem à minha frente direciona para mim, sua
boca bem delineada e carnuda fecha todo o pacote da perdição com chave
de ouro.
Eu poderia babar aqui mesmo, sob a camisa social dele, que se
encontra dobrada até os cotovelos, revelando as veias saltadas que possui
por todo antebraço e delineando com precisão seus músculos, se ele não
estivesse com uma expressão mortal em sua face.
— Bom dia! — digo sorridente e tento soar o mais simpática que
consigo, apesar da manhã apocalíptica que tive. — Sou Alexia Stewart, vim
por conta de uma entrevista para ser assistente.
— Imaginei que fosse. — o sujeito sequer altera um mísero
músculo do rosto. — Acha que é correto, além de chegar atrasada para um
compromisso importante, aparecer com as roupas completamente
encharcadas e com os cabelos pingando mais que uma goteira de um
telhado baleado?
Franzo a testa com a comparação singular, mas logo me irrito por
seu tom rude.
— Foram só cinco minutos — começo tentando me manter
pacífica, pois preciso muito do emprego —, e quanto a água pingando no
seu piso lustrado, se o senhor fosse capaz de se virar e olhar para as janelas,
veria que está caindo o mundo lá fora.
O homem bem apessoado, que já não me atrai tanto assim quanto
quando ouvi sua voz, olha através da janela e quando lança os olhos sobre
mim de novo, ergue uma de suas sobrancelhas.
— Nunca ouviu falar em guarda-chuva, senhorita Stewart?
— Está brincando comigo, não é mesmo? — pergunto estupefata
com seu jeito estupido de ser. — Isso só pode ser um teste, e com certeza
estou a ponto de ser reprovada.
Ele se mantém impassível em sua cadeira giratória, e me pergunto
se algum coração bate em seu peito.
— Não se trata de um teste, mas como demonstra que reprovaria,
não vejo motivos para sequer dar início a sua entrevista. — ele passa a
arrumar os papéis que estavam espalhados por sua mesa, agindo como se eu
não estivesse mais diante de sua presença.
Sequer tenho reação diante disso, e quando passo o peso de uma
perna para outra, o som dos meus sapatos encharcados chama sua atenção,
atraindo seu olhar para mim. Ele franze a testa, provavelmente se
perguntando o que ainda estou fazendo ali.
— Pode se retirar, senhorita Stewart. — aponta para a porta às
minhas costas, e assim que me sento em uma das cadeiras a sua frente, ele
fecha os olhos com força e respira fundo, depositando os papéis sobre a
mesa. — Qual a parte sobre eu sequer ter visto motivos para realizar sua
entrevista, você não entendeu?
— Eu me desloquei da minha casa até aqui, que não fica nem um
pouco perto, por algo que você se comprometeu comigo, gastei um de meus
rins com um motorista e ainda corro o risco de pegar uma pneumonia por
estar, como o senhor muito bem observou, ensopada da chuva. Eu vou
realizar essa entrevista e não saio daqui antes de passar pelo processo
meramente formal. Posso ser bem insistente.
Ele novamente respira fundo, e ao abrir os olhos e direcionar seu
olhar intenso em meus olhos, sinto um calor estranho passar por meus
braços, como se estivesse entrando e chamas.
Estranho.
— Tudo bem então, vamos acabar logo com isso, meu tempo é
algo precioso demais para ser desperdiçado com algo que sei que não terá
futuro algum.
Me seguro para não perder o controle e a compostura, seria bem
ruim se eu me levantasse da cadeira confortável e desse um belo tapa em
seu rosto com traços perfeitos.
— Estou pronta.
— Como já sei o seu nome e também sei que está prestes a iniciar
o último ano de Direito, como consta em seu currículo, me fale sobre suas
experiências na área.
Fodeu!
— Experiências? — questiono, tentando ganhar tempo para
inventar uma desculpa. Sei que é errado mentir em uma entrevista, mas já
funcionou uma vez, por mais que aqui minhas chances sejam mínimas, não
custa nada tentar.
— Sim, senhorita Stewart, experiências. Possui alguma
recomendação de um advogado anterior que tenha sido assistente ou até que
tenha sido estagiária? — arqueia uma das sobrancelhas e o amaldiçoou por
continuar sendo tão gostoso.
Seria mais fácil se ele fosse feio, sabe?
— Para falar a verdade, essa seria minha primeira oportunidade de
trabalhar com algo assim. Estou procurando experiências agora que me
aproximo da formatura.
Assim que termino de falar, vejo suas feições se transformarem. E
se antes pensei tê-lo visto furioso, estava enganada. Ele parece
completamente transtornado, mas agora estampa uma expressão de
impaciência, que também poderia facilmente ser confundida com o mais
belo e puro ódio.
— Está me dizendo que sequer tem alguma experiência na área em
que procura emprego? — ele pressiona os dedos na ponte do nariz ao fechar
os olhos mais uma vez e antes de tornar a abri-los, posso ouvir um
murmúrio ininteligível, talvez em outra língua, deixar seus lábios — Como
pode chegar ao último ano de faculdade, sem ter tido alguma experiência na
área em que está cursando?
— Como disse anteriormente, estou à procura dela, e como poderei
adquiri-la sem que me deem uma oportunidade para isso?
Sinto a raiva borbulhar em mim, por mais que ele estivesse me
tirando do sério desde o momento que passei por essa porta, estava tentando
me manter calma, mas sua arrogância e sua prepotência, estão me deixando
furiosa.
Esse cara não tem um pingo de respeito.
— Estou procurando pessoas experientes, não possuo funcionários
disponíveis a todo tempo para ficarem ensinando, e muito menos tenho
tempo e disposição para erros de uma pessoa iniciante. — ele se levanta e
aponta para a porta novamente. — Muito obrigado pelo interesse, mas está
dispensada.
Não acredito no que estou ouvindo.
Levanto com toda a ira que me toma e aponto o dedo em riste
diretamente para seu rosto, o que se torna quase vergonhoso já que ele é tão
enorme quanto um jogador de futebol americano, e eu pareço mais um
Minion diante do seu corpo.
— Pois saiba, Senhor Escroto, que eu nunca mais quero olhar
nessa sua cara repleta de arrogância, você é completamente desprezível e
não sinto a menor vontade de ter qualquer tipo de relação com você, por
mais superficial que seja, sequer quero cruzar seu caminho outra vez. Foi
um grande desprazer conhecê-lo, senhor Munhoz, e espero que o destino
não nos coloque no mesmo ambiente outra vez.
Saio batendo a porta com toda força que consigo, sem dar tempo
de ouvir sua réplica, ficando apenas com o som de seu suspiro,
aparentemente furioso, em meus ouvidos e dou um encontrão em um
homem de cabelos compridos e de expressão curiosa no rosto, que passava
pelo corredor antes de entrar na porta ao lado.
Será que é pré requisito ser gostoso e completamente gato para
poder trabalhar aqui?
Passo pela secretária na velocidade da luz, que me encarava com
os olhos esbugalhados já que provavelmente ouviu tudo e desço pelo
elevador que para minha sorte, agora se encontra vazio.
Que inferno de dia!
Não vejo a hora de chegar na lanchonete e me entupir do
cheesecake da dona Mirta.
 
Já ouviram falar no termo "pagando com a língua"? Pois bem, eu
aprendi e vivenciei o sentido literal desse pequeno ditado, em se tratando do
Senhor Escroto… Oops, senhor Aiden Munhoz.
Paguei com a língua, e muito bem pago.
Eu sou Alexia Stewart, e essa é a história da minha grande tomação
de cu… Quero dizer, é a história da minha vida e a prova de como o destino
pode ser perverso.
“Tinha que ter altas, altas expectativas para viver
Mirando nas estrelas quando eu não conseguia alcançar o sucesso
Não tinha um centavo, mas eu sempre tive uma visão
Sempre tive altas, altas expectativas”
High Hopes - Pan!nc at the Disco
 

Passo pela porta do Garden Coffee, e ouço o sininho inconfundível


acima dela ao mesmo tempo que tenho o olhar de Luke sobre mim. Ele para
de passar o pano úmido sobre o balcão e me olha como se visse uma
assombração, em seguida fita o relógio acima da pequena passagem que
leva a cozinha.
Me aproximo do balcão e me sento em uma das várias banquetas,
colocando os braços na madeira fria pelo produto de limpeza e jogo minha
cabeça sobre minhas mãos, fechando os olhos e soltando um suspiro
cansado.
— Por acaso está doente, meu melzinho? — Ouço a voz do meu
melhor amigo e ergo o rosto em sua direção, revirando meus olhos. — É
uma da tarde de um sábado e sua jornada aqui só começa às duas, então
bem você não deve estar.
— Me serve um pedaço de cheesecake, por favor? — Faço minha
melhor cara de cachorro abandonado e um biquinho que espero partir seu
coração, ele revira os olhos e segue para a vitrine, pegando o que pedi. —
Lembra daquele escritório que me chamou para fazer uma entrevista?
— Claro que lembro, ainda não consigo acreditar que realmente te
chamaram. — Coloca o prato com um pedaço generoso do doce na minha
frente e sorrio em agradecimento. — Aquele currículo estava horroroso, foi
mais humilhante do que a vez em que tivemos que sair pedindo trocado na
calçada da fama porque tínhamos gastado tudo em comida e esquecemos de
guardar dinheiro para voltar.
Paro o movimento das minhas mãos que levavam o garfo para a
minha boca e o olho horrorizada.
— Eu nem me lembrava desse dia. Você é um monstro, sabia? 
— Claro. — Sorri de maneira dócil, mas sei que esconde toda sua
perversidade por trás desse sorriso gentil. — Mas então, me conte o que de
tão horrível aconteceu nesta entrevista para você chegar aqui uma hora
antes do seu horário de entrada, desesperada por um doce e com essa cara
horrorosa que vai te envelhecer uns bons cinco anos.
— Já te disse o quão animador você é, Luke? — ele assente
ampliando o sorriso. — Vai se foder!
— Não entendi o ódio gratuito. — Arqueia uma das sobrancelhas
para mim e ameaça tirar o prato da minha mão, o que me faz segura-lo com
mais força. — Se continuar me atacando, vou deixar você sem seu
combustível.
— Pois saiba que não é um ataque gratuito. — Ele cruza os braços
após soltar minha preciosidade, enquanto me espera, finalmente, mastigar
um pedaço da perfeição em forma de doce, e solto um suspiro de prazer. —
Eu poderia ter um orgasmo de tão gostoso que isso aqui é. Acredita?
Luke sorri calmamente e aproveita o meu momento de
contemplação, para tirar o cheesecake da minha frente. Assim que solto um
resmungo alto de incredulidade, dona Mirta, nossa chefe e também mãe de
Luke, aparece na pequena porta que leva à cozinha e me repreende com um
olhar.
— Dona Mirta, ele pegou meu doce. Se eu fosse a senhora o
demitiria agora mesmo por tratar seus clientes com tanta grosseria. — A
alerto e ela sorri com escárnio.
— O meu sonho seria mandar os dois embora, teria mais sossego
por aqui, mas infelizmente vocês fazem um bom trabalho quando não estão
implicando um com o outro ou falando da vida alheia. — Ela bate nas
costas de Luke com o pano em suas mãos e dá as costas, voltando ao seu
refúgio. — Devolve o doce para nossa menina antes que ela se recuse a
começar a servir às mesas por não ter sido bem alimentada.
A contra gosto, Luke me devolve o prato, e sorrio em satisfação
por ter meu pequeno acalento de volta.
— Inacreditável como eu sempre saio como o errado, tudo por
culpa desses seus olhos doces e mentirosos. — Deposita um peteleco em
minha testa e mostro a língua a ele. — Termina de me contar sobre a
entrevista, preciso do meu entretenimento diário com as desgraças da sua
vida.
— O melhor amigo que eu poderia ter. — Sorrio gentilmente antes
de lhe mostrar o dedo, onde ele deposita um beijo. — Antes de tudo, quero
dizer que nunca mais sigo seus conselhos sobre sempre tentar olhar o lado
positivo em certas situações.
 
Passo a próxima meia hora, divertindo meu amigo com o relato de
toda catástrofe do meu dia, que ainda estava longe de acabar, e por um
momento, como sempre acontece quando estou com Luke. Me sinto grata
por tê-lo ao meu lado em meio a todo caos que minha vida se tornou nos
últimos anos, tendo a certeza que ele foi uma das únicas coisas boas que
veio com minha nova vida.
Desisto de esperar para que meu horário de trabalho se inicie,
quando Luke começa com insinuações sobre eu ter me sentido atraída,
mesmo que por um breve momento, pelo Senhor Escroto e posso ver Mirta
comemorar quando me observa ir até o vestiário da lanchonete colocar meu
uniforme ultrapassado, mas que ela insiste dizer ser vintage por conta do
estilo meio anos oitenta que a estética do café segue.
Antes de começar a atender as mesas, passo alguns minutos
contemplando o terninho de lã em tons de azul que um dia foi de minha
mãe e tenho certeza de que ainda deve custar algum órgão meu e quitaria
quase todas as minhas dívidas. Infelizmente, o meu gosto por moda e meu
apego pelas roupas caras que me pertenciam em outra vida, não me deixam
vendê-las ou me desfazer de qualquer forma.
Minha conta bancária pode estar no vermelho, mas isso não
significa que devo me vestir mal. Meu senso de moda não morreu e muito
menos passa a ideia de que estou endividada.
Sério, aposto que, onde quer eu vá, não se passa pelos
pensamentos de ninguém que não passo de uma pobre coitada.
De repente me sinto um pouco nostálgica, como raramente
acontece e por um breve instante sinto falta dos meus pais, mas, como
sempre, não deixo o sentimento me invadir, tendo consciência de que o
passado é imutável e que não adianta ficar chorando e me lamentando pelos
cantos por algo que aconteceu anos atrás.
Se teve uma coisa que pude aprender com a tragédia que foi a
morte dos meus pais, é que devo ter total foco em meus objetivos para o
futuro, fazendo o possível para não sair dos trilhos e conseguir conquistar
tudo aquilo que eu almejo, pois, infelizmente, em alguns casos, como foi o
deles, não existem segundas chances para certos erros.
O breve momento das lembranças passa tão rápido quanto veio e
sorrio para o conjunto à minha frente, passando a mão pelos detalhes do
tecido e levando os dedos até a tatuagem com suas iniciais que tenho atrás
da orelha, antes de começar o expediente.

Passo a tarde extremamente chateada e tento não deixar


transparecer toda minha raiva com o ocorrido mais cedo, mas sinto que não
consigo fazer um bom trabalho, a julgar pelas olhadas severas que recebo
de Dona Mirta ao longo do dia. Preciso me lembrar de pedir desculpas a ela
em algum momento antes de ir para o bar e, pensando nisso, decido ficar
uma hora a mais como um pedido de desculpas.
Não preciso dizer a ela o motivo de ficar mesmo depois do horário
e muito menos em me preocupar em me explicar o porque do péssimo
humor hoje, pois tenho certeza que o fofoqueiro do Luke vai fazer questão
de contar a ela toda a tragédia que foi meu dia assim que eu passar pela
porta da saída.
Ando entre uma mesa e outra, servindo jovens universitários, que
se faz nosso público mais fiel devido ao fato do café ficar localizado dentro
do enorme Campus, o que também facilita muito a minha vida, levando em
conta que passo quase todas as minhas manhãs na grande Garden
University, lutando com unhas e dentes, dando meu suor, lágrimas e sangue,
passando por humilhações que apenas um universitário se dispõe a passar
por um pedaço de papel que atesta sua profissão.
Exageros à parte, sou muito grata pela bolsa que consegui em uma
das faculdades mais bem estimadas do estado, mas confesso que não vejo a
hora de estar bem linda com meu diploma em mãos, pronta para exercer a
advocacia.
O que me faz lembrar que preciso urgentemente de um emprego na
minha área se eu quiser me formar no tempo certo e isso faz com que a
onda de irritação gigantesca retorne, por lembrar do ocorrido mais cedo
com o famoso advogado gostosão, Aiden Munhoz.
Sem querer acabei depositando a bandeja que estava em minhas
mãos, com uma força além do necessário em cima do balcão, atraindo a
atenção do meu querido gerente.
— Se quebrasse um desses copos de milk shake retrô, eu
descontava do seu salário sem dó, melzinho. — Luke sorri para mim. —
Não vai me dizer que estava pensando no gostoso do senhor Aiden outra
vez?
— Estava. — Solto uma lufada de ar antes de retirar meu avental e
ir para trás do balcão, indo de encontro ao vestiário me trocar. — Quem
poderia imaginar que um dos advogados mais bem falado e bem sucedido
de Los Angeles, seria a arrogância e a grosseria em pessoa?! Se eu tivesse a
chance, socava a cara do imbecil sem remorso algum.
— Tenta concentrar suas forças para o seu outro expediente, que
começa daqui a meia hora naquele antro de perdição que você chama de
bar. — Ele se aproxima e deixa um beijo em minha testa. — E não esquece
da próxima parcela do banco, que vence terça-feira. Te levo seu pagamento
pelas horas extras mais tarde.
Sorrio em gratidão a ele, pois estava me esquecendo
completamente, mesmo que a grande nuvem pesada das minhas dívidas não
deixem meus pensamentos nem um segundo sequer.
 Até isso aquele escroto conseguiu me tirar do eixo, era só o que
me faltava.
Não posso nem pensar em atrasar o pagamento da porcaria do
banco, ou eles enfiam todas as taxas de atraso possíveis no meu cu e eu que
me foda para pagá-los.
Por um breve momento, amaldiçoo vovó Lucinda por não ter me
contado que ainda não tínhamos quitado toda a dívida que fizemos em meu
nome para pagar as contas absurdas que meu pai tinha com as pessoas
responsáveis por sua morte.
E mesmo não querendo, penso em todo caos que minha vida se
transformou nos últimos oito anos, quando papai começou a perder toda a
fortuna que tinha por conta das suas incontáveis dívidas de jogo.
É pensando nisso que me dirijo até o Beauty Pub, o bar que fica
mais perto da periferia de Garden e um pouco distante de toda tranquilidade
da cidadezinha.
Enquanto tiro meu conjunto de lã pela segunda vez no dia, para pôr
o uniforme quase vulgar do bar, é inacreditável pensar que um dia já morei
em uma mansão e que tinha tudo que queria aos meus pés.
Meu pai, o senhor Taylor Stewart, era sócio de uma das maiores
empresas de energia solar do estado, um negócio que só crescia e dava cada
vez mais lucros. Ele só não soube lidar muito bem com todo o dinheiro que
entrava e acabou caindo no mundo das apostas. Quando eu tinha dezesseis
anos foi quando tudo começou a desabar sobre nossas cabeças.
Aos poucos, fomos perdendo tudo, os carros luxuosos e exclusivos
que ficavam na garagem, as casas e as propriedades que tínhamos em
diversos estados e até em outros países, os vasos e os quadros valiosos que
decoravam nossas paredes, mas o xeque-mate que nos afundou de vez, foi
quando numa tentativa desesperada de pagar as dívidas que cresciam cada
vez mais, meu pai vendeu todas as ações que tinha na Bakers e Stewart
Corporation, o que não adiantou de muita coisa levando em consideração
que ele gastou todo o dinheiro em uma última grande aposta, onde dizia a
mim e minha mãe que seria o que nos tiraria da falência.
Isso só nos afundou de vez, porque além de ter perdido sua grande
chance de se reerguer, passou a dever muito mais que antes. Quando
perceberam que ele não teria como pagar, já que tivemos até mesmo de
vender nossa casa e ir morar com vó Lucinda, as pessoas as quais ele devia
o mataram a sangue frio e o deixaram em uma sarjeta qualquer.
Minha mãe não aguentou toda a situação, e se atirou do prédio em
que estava tentando conseguir um emprego quando a notificaram da sua
morte.
Eu estava no colégio quando recebi a notícia de que havia me
tornado órfã, e até hoje não consigo concluir se minha mãe acabou com a
própria vida por não conseguir viver sem meu pai, ou sem todo dinheiro
que vinha junto dele e de sua antiga reputação.
Às vezes me sinto um pouco insensível pela maneira que falo da
morte dos dois, como se fosse algo simples, mas acredito que isso se dá
pelo fato de que quase não tínhamos convivência apesar de morarmos na
mesma casa e estarmos sempre juntos.
Eles eram, na maior parte do tempo, o grande casal Stewart, apesar
do status, eram apenas mais um empresário milionário e sua esposa troféu
dentre os vários de Los Angeles, então apenas aceitei que a partir dali eu
teria que lutar com mais afinco para conquistar meus sonhos.
Aceitei o que tinha acontecido e até hoje uso como motivação para
não me deixar desviar dos meus objetivos nem desperdiçar as chances que
me são dadas.
Ou talvez eu realmente seja uma filha da puta sem sentimentos.
Assim que coloco o último bêbado para fora do bar, e consigo
finalmente fechar as portas, solto um suspiro de alívio pelo término desse
dia infernal.
Os sábados sempre são os mais agitados e nesses dias precisamos
até chamar reforços para dar conta de tudo, mas sempre fico para fechar.
Antes de tirar o pequeno avental, pego minhas gorjetas, até que
generosas, dessa noite e as coloco na minha bolsa antes de ir me trocar para
finalmente ir para casa, já sonhando com a água quente descendo pelo meu
corpo e com o pijama quentinho que vou colocar por conta da noite um
pouco fria.
Assim que ajudo o senhor Marquês a realizar o fechamento de
tudo, recebo meu pagamento da semana e sem vergonha alguma, levo as
notas verdinhas até o nariz e inspiro o aroma fétido que elas emanam,
fazendo uma careta em seguida, o que arranca uma gargalhada do dono do
bar.
— Você merecia um aumento só por esse seu jeito meio
desmiolado, Alexia.
— Não se faça de rogado, senhor Marquês. — Sorrio em direção
ao homem grisalho. — Aceito com toda felicidade um bom aumento.
— Vou pensar no seu caso, mocinha. — Passa uma das mãos pelos
meus cabelos, os bagunçando. — Agora vá para casa, precisa descansar,
está acabada.
Me despeço dele e como me encontrava morta de cansaço, desisti
de me trocar, indo embora com o uniforme preto e curto, colocando apenas
o casaco do meu terninho, para ter algo a me proteger do frio.
Chegando no prédio antigo em que moro, subo alguns lances da
escada, e quase paro no meio delas, sentando nos degraus sujos para
recuperar o fôlego.
Maldita sindica mão de vaca que não faz questão de pedir para
consertarem o elevador.
Assim que chego a minha porta, vejo que minha amada síndica,
que também é minha vizinha de apartamento, deixou colado na madeira um
aviso sobre o pagamento atrasado. Reviro os olhos e antes de entrar em
casa, deixo parte do meu pagamento enrolado junto ao aviso e o passo por
debaixo da porta ao lado da minha.
Nossa comunicação não poderia ser melhor.
Passo a chave pela fechadura e meu coração acelera no peito
quando percebo que está destrancada.
Eu não pude ser tão estúpida a ponto de não ter a trancado mais
cedo, apesar de parecer um erro que eu facilmente cometeria.
Abro a porta lentamente, com o coração quase pulando pela minha
boca e o meu cu mais trancado que cofre do banco KFW[1], pelo medo de
terem invadido minha casinha.
Assim que acendo as luzes do ambiente dividido entre sala e
cozinha, seguro o grito que tenta sair da minha garganta, pelo susto que
levo quando vejo Luke e Marco, seu noivo, deitados em uma conchinha no
meu sofá.
Antes de acordar os dois invasores, passo alguns minutos
observando a expressão segura com que dormem tranquilamente um nos
braços do outro e sorrio com a cena.
Luke conheceu Marco quando foi abordado por um policial racista
e nojento que o acusou de estar rondando algumas casas no bairro nobre de
Garden City, quando na verdade só estava fazendo uma entrega pela Garden
Coffee. Marco era o dono de uma das mansões e também quem havia feito
o pedido e o defendeu do policial.
Apesar dos obstáculos que enfrentaram no início, dizem que foi
amor à primeira vista e acredito fielmente nisso.
Apesar de não sonhar com sinos tocando em uma igreja e um
relacionamento duradouro, consigo ver a maneira como se amam e se
respeitam. Seria de invejar se eu não tivesse os objetivos para minha vida,
traçados de uma forma tão clara, e no meu futuro não existe um marido que
me espera chegar do escritório com o jantar na mesa e a banheira quentinha
nos aguardando.
Me dirijo até a cozinha e retiro duas tampas de alumínio de uma
das gavetas e as bato uma contra a outra, acima da cabeça dos meus amigos,
que acordam assustados, levantando cambaleantes e sem muito rumo das
coisas.
— Posso saber como e porque os bonitos estão no meu
apartamento? — Questiono enquanto eles se acalmam e guardo as tampas
no devido lugar.
— Tenho a chave reserva, se não se lembra. — Luke é o primeiro a
falar enquanto tem a mão sobre o peito. — Eu te odeio, sua vagabunda
ingrata. Estou me sentindo totalmente arrependido de ter vindo fazer uma
janta para você durante a madrugada.
Olho para o relógio na parede, constatando que já se passam das
três da manhã e em seguida dirijo meu olhar para o fogão, só agora
percebendo a panela acima dele e a luz do forno acesa, me deixando salivar
pela carne assada, disposta em uma assadeira que tenho certeza não ser
minha.
— Não fala assim, baby. — Marcos o abraça por trás e encosta o
queixo no ombro de Luke. — Ela teve um dia péssimo, sem contar que
amanhã se completam três meses desde que dona Lucinda faleceu, ela deve
estar entrando em colapso.
Olho intrigada para Marco, pois havia esquecido totalmente da
data de amanhã, o que me traz de volta ao ponto de ser uma pessoa sem
sentimentos alguns.
Sou muito filha da puta.
— Esqueceu da data, não é? — É Luke quem questiona.
— Acho que preciso renovar meu visual, o que acham?
Mudo totalmente de assunto, o que faz Luke revirar os olhos e seu
noivo soltar um suspiro de quem possui compaixão por minha vida
completamente caótica.
Ouço os passos dos dois que me seguem quando pego a tesoura em
uma das gavetas da cozinha e vou em direção ao banheiro por precisar
utilizar o espelho.
Um corte de cabelo sempre resolve quase todos os problemas,
certo? E se não resolver, ao menos vou estar com um visual novo.
“Estações, elas vão mudar
A vida vai fazer você crescer
Os sonhos vão fazer você chorar, chorar, chorar
Tudo é temporário
Tudo vai passar
O amor nunca morrerá, morrerá, morrerá
Eu sei que
Pássaros voam em direções diferentes
Eu espero te ver novamente’’
Birds - Imagine Dragons
 

Porra!
O dia mal começou e já estou puto da vida por conta da entrevista
que tenho marcada para daqui alguns minutos.
Mas que caralho de vida, que não me dá sossego quanto aos erros
que cometo quando estou levemente embriagado.
Algumas semanas atrás, por alguma razão idiota, decidi que seria
uma boa ideia eu mesmo responder alguns e-mails do setor de RH do
escritório, depois de ter bebido além da conta. Acontece que no dia seguinte
quando fui analisar o tamanho da merda que havia sido feita, percebi que
confirmei uma entrevista com uma jovem, da qual me lembro de ter feito
apenas pelo fato de ter me interessado pela sua aparência, baseada na foto
que continha em seu currículo.
Burro pra caralho!
Não sei como pude ser tão irresponsável assim, principalmente em
se tratar da Davidson & Munhoz. Trato esse escritório como se fosse a coisa
mais valiosa da minha vida, porque de fato ele é. Não importa o que as más
línguas dizem, eu e Henry ralamos muito para chegarmos onde estamos
hoje, e não consigo acreditar que me deixei levar por um rostinho bonito e
gentil.
Parece que quando estou bêbado, a única cabeça que funciona é a
de baixo.
Respiro pesadamente pela milésima vez só esta breve manhã e vou
até o aparador em dos cantos da sala ampla, e me sirvo do café forte e sem
açúcar que pedi para colocarem ali mais cedo, driblando a garrafa atraente
de whisky.
Antes de me sentar em um dos sofás dispostos em volta da
mesinha de centro, levo o líquido amargo até a boca, fechando os olhos em
contemplação quando o calor dele encontra minha boca.
Só assim para eu tentar me manter calmo diante da merda que
cometi.
É mais do que óbvio que vou ter de dispensar a garota, o que me
dói admitir, levando em conta que ela poderia ser um ótimo acréscimo a
equipe de assistentes, mas não posso me deixar levar por conta de uma
noite de bebedeira, além de que não posso correr o risco de me sentir
atraído por uma funcionária e, se bem me lembro, sua beleza parecia ser
quase perfeita.
Termino meu café e volto a me sentar de frente à mesa, aguardando
os poucos minutos que faltam para que a entrevista comece.
Quando me dou conta de que se passaram cinco minutos do horário
informado a ela, volto atrás quanto ao breve arrependimento de dispensá-la
assim que passasse pela porta, levando em conta que não consegue honrar
com os compromissos.
É quase cruel, mas um peso deixa meus ombros, quando percebo
que terei um motivo plausível para não aceitá-la como parte da equipe.
Se tem uma coisa que me tira profundamente do sério, são atrasos.
Os minutos continuam passando e a irritação com que me
encontrava logo que acordei, volta a ressurgir e respiro fundo tentando não
deixá-la me dominar. Passo as mãos sobre o rosto, tentando me tranquilizar
e às retorno para a mesa, quando ouço alguns toques na porta.
Assim que confirmo a entrada da pessoa do outro lado, uma
baixinha sorridente, com cabelos e roupas úmidas passam pelo batente, e…
caralho.
Porra, ela é ainda mais perfeita pessoalmente.
— Bom dia. Sou Alexia Stewart, vim por conta de uma entrevista
para assistente. — Sua voz, apesar do tom um pouco grave, soa simpática
mas não abala minha decisão, e me lembra o motivo pelo qual está parada
na entrada da minha sala e o motivo pelo qual irei dispensá-la.
Que assim seja feito, então.

Solto um suspiro pesado e furioso quando ouço a porta bater assim


que a pequena petulante me deixa sozinho.
Ninguém deu educação para essa garota?
Só muito bêbado mesmo, para pensar que ela pareceria com algo
perto da gentileza. Na realidade é uma mimadinha, abusada e que além de
não saber quando ficar quieta, não honra os compromissos que tem.
Me jogo na cadeira cogitando cancelar todos os compromissos do
meu dia depois da ceninha que tive de presenciar. Já quase não me
lembrava a última vez que perdi a paciência tão rápido na presença de
alguém, mas essa peste conseguiu me tirar do sério em alguns poucos
minutos.
Espero nunca mais cruzar seu caminho e, a partir de hoje, sequer
ousarei encostar em meu notebook após beber.
Qualquer coisa para evitar uma situação como essa.
Me recosto nas costas da cadeira e levo meus dedos até a ponte do
nariz, respirando fundo e fechando os olhos para tentar me esquecer do que
ocorreu, já que não posso nem cogitar a ideia de cancelar as reuniões que
tenho pela frente.
Mamãe vive falando que preciso aprender a controlar meu gênio,
mas como posso fazer isso quando me parece que tudo conspira a favor de
esgotar minha paciência já escassa?
Aposto que se presenciasse a discussão que tive com a pequena
peste, faria questão de puxar minha orelha e me obrigar a tecer um pedido
de desculpas, pouco se importando com o fato de que daqui a quatro anos,
completo os tão temidos quarenta anos.
Pensar nisso me faz recordar o porquê eu ter escolhido abrir mão
de todo privilégio e da cadeira garantida que tinha no escritório da família,
e ter ido atrás de abrir algo próprio.
Nunca daria certo trabalhar no mesmo lugar que meus pais. Apesar
de amá-los muito, seria insuportável.
Antes que eu pudesse concluir meus pensamentos, ouço a porta ser
aberta com agressividade e abro meus olhos, pronto para começar uma nova
discussão com quem quer que fosse, mas temendo que a peste tivesse
retornado.
Assim que meus olhos encontram o homem alto de cabelos
compridos e soltos por suas costas largas, mexendo na minha pequena
garrafa de café, suspiro de alívio, que logo passa quando o ouço abrir sua
boca grande.
— Eu diria que esse seu pequeno momento de introspecção
poderia se dar por conta da perda patética que seu time do coração sofreu
ontem, mas a julgar pela mulher baixinha e furiosa que vi deixar sua sala
alguns minutos atrás, acredito que seja por conta dela. — Ele se vira em
minha direção e leva a xícara fumegante à boca, fazendo uma careta terrível
em seguida. — É por isso que você nunca está de bem com a vida Aiden,
olha a porcaria que chama de café.
— Veio aqui para falar mal do meu time, que inclusive você nem
acompanha os jogos levando em conta que é de outro país, mas faz questão
de sempre jogar na minha cara quando perde, e além disso ainda julga meu
gosto para bebidas? — Me levanto e vou até a janela, que me concede uma
visão ampla das ruas e me amaldiçoou por fazê-lo, quando meus olhos
encontram a garota no ponto de ônibus, aparentemente falando sozinha.
Por um segundo me pergunto o que uma mulher do estilo dela, que
a julgar por suas roupas e seus saltos, parece vir de condições sociais
elevadas, estaria fazendo esperando o ônibus, mas concluo que
provavelmente deve estar a espera de um carro.
Além de mal educada, a pequena peste ainda fala sozinha.
Foi um livramento, com certeza.
— Não tem nada melhor para fazer?
Ouço o som da xícara ser depositada em algo de vidro,
provavelmente na mesinha de centro, já que ouço o som do estofado do sofá
logo em seguida.
— Até tenho algumas coisas para fazer, mas nenhuma delas é
melhor do que perturbar meu amigo por conta do time dele. — Me viro em
direção a Henry e suspiro pesaroso quando vejo que se encontra deitado na
porcaria do sofá. — Não te julgo por amar o país de origem da sua mãe,
agora escolher um dos times de lá para torcer? Não tinha nada melhor?
— Vou me lembrar dessas palavras quando ela me pedir para te
chamar nas noites de churrasco. — Volto a me sentar na minha cadeira e
aproveito para conferir os compromissos da tarde.
Quando mal posso esperar, Henry se encontra encostado na quina
da minha mesa, com os braços cruzados no peito e me olhando como se
quisesse me degolar com uma de suas cordas de alpinismo.
— Não pode nem brincar com uma ameaça dessa, Aiden, sabe que
minha presença é indispensável nos jantares da sua família. — ele se senta
na cadeira, que acredito ainda estar úmida por conta das roupas molhadas
da garota, o que confirmo o fato quando se levanta e põe a mão sobre a
bunda. — Mas que porra é essa aqui, Aiden?
— Isso é pra você aprender a não se meter onde não é chamado. —
Digo impassível enquanto começo a verificar meu e-mail.
— Aposto que se trata daquela baixinha que saiu daqui mais cedo.
— Ele anda até o banheiro localizado na porta a direita da minha mesa e
continua gritando de lá. — Quem era, inclusive? Escutei um pouco da
discussão do corredor, e já gostei dela quando ouvi te chamar de “Senhor
Escroto”.
Se minhas feições já não fossem naturalmente fechadas, aposto que
elas se contorceriam em uma carranca tremenda nesse minuto.
Quando Henry percebe que não vai obter uma resposta vinda de
mim, coloca a cabeça para fora e sinto vontade de cortar os cabelos que
exibe junto com o sorriso idiota que me lança.
— Já sei quem é. — Ele sai do banheiro e antes de voltar a se
sentar, seca a cadeira com uma toalha que trouxe consigo. — É aquela
universitária que enviou um currículo deplorável, pedindo para ser
assistente e você a chamou para uma entrevista por ter achado ela “a
mulher mais bonita que já vi na vida” — Ergo meus olhos para ele,
passando a língua sobre meus lábios secos. — Palavras suas, não minhas.
Ele ergue as mãos em forma de rendição.
— Vai para sua sala trabalhar um pouco, Henry, antes que eu te tire
daqui a pontapés.
A pior coisa de ter um melhor amigo desde a infância, é que ele te
conhece como ninguém, e sabe muito bem testar seus limites, o que
também pode ser considerado um ponto positivo, já que sabe o quanto pode
extrapolar ou não.
O idiota a minha frente cai numa gargalhada exagerada e passa a
bater na coxa, sem parar, ficando com o rosto vermelho.
No meu caso, só existem lados negativos nesse momento.
— Era ela! — ele praticamente grita após se acalmar um pouco e
recuperar o fôlego, enquanto eu volto a me recostar na cadeira e fecho meus
olhos, passando as mãos sobre a barba. — Quase não a reconheci, mas
agora estou me lembrando. Ela parecia ser mais simpática por foto e aposto
que a entrevista não foi nada como o planejado, que era dispensá-la de
maneira formal e gentil. A garota saiu daqui cuspindo fogo.
— Ela chegou aqui quase dez minutos atrasada, completamente
encharcada por conta da chuva e para piorar toda situação, não tem
nenhuma experiência na área. — Volto a abrir os olhos a tempo de ver
Henry prender os cabelos em um coque, utilizando o elástico que nunca
deixa seus pulsos. — Se antes já não teria a mínima possibilidade de
contratá-la, depois do estado em que ela chegou aqui, teriam menos chances
ainda.
— A pobre coitada não sabia que teria que lidar com um ogro,
poderia ter dado um desconto. — Arqueio uma das sobrancelhas em sua
direção e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele se levanta e anda
em direção a porta. — Agora que já fiz meu trabalho por aqui, vou brincar
de advogar para umas subcelebridades um pouco. Não sinta minha falta e
não chore pelo seu time perdedor.
Ele sai da sala, deixando a porta aberta para trás, pois sabe como
coisas assim me tiram ainda mais do sério e antes que eu precisasse me
levantar para fechá-la, Samantha, nossa secretária, passa pelo corredor e a
fecha me lançando um sorrisinho que não faço questão de retribuir.
Que dia infernal!

Assim que passo pela soleira da porta principal de casa, posso


ouvir os gritos dos gêmeos vindos da cozinha, onde devem estar
“ajudando” minha mãe a preparar o jantar, e decidido a não me estressar
ainda mais por hoje após uma tarde de reuniões fracassadas, resolvo subir
as escadas que levam até a minha ala da Mansão Munhoz.
Não que os meus sobrinhos pudessem ser capazes de me irritar ou
algo assim, amo aqueles pequenos terroristas mais que tudo, e é justamente
por amá-los que pretendo me manter afastado deles até esse meu péssimo
humor passar. Aqueles dois merecem o melhor de mim, coisa que não posso
ser no momento.
Assim que coloco o pé no primeiro degrau, vejo todo meu plano de
ter uma noite longe da mesa de jantar, ir por água abaixo, quando ouço os
passos característicos de Adrian se aproximarem de mim.
— Onde pensa que vai? — Sua voz soa grave nas minhas costas, e
me viro para encará-lo — O jantar já está quase pronto, e como sei que leva
uma eternidade no banho, sugiro que venha comer antes de subir.
Antes que eu pudesse respondê-lo, ouço mamãe me chamar pelo
nome, e pedir para que meu irmão me arraste até lá.
— Já estou fazendo isso, mamãe. — ele responde em português,
língua materna de nossa mãe e também a qual crescemos acostumados a
falar quando estamos em casa. — Vamos, deixe essa pasta aí mesmo e
venha antes que ela nos puxe pelas orelhas.
Ele me dá as costas, colocando as mãos no bolso do moletom e
andando como um maldito idiota que sabe que estragou todos os meus
planos para a noite.
De quem foi a ideia estúpida de construir uma mansão e as dividir
em alas entre os filhos para podermos morar todos sob o mesmo teto?
Tudo bem que eu escolhi ficar aqui e não em meu apartamento em
Los Angeles, mas só porque sempre gostei mais da vizinhança tranquila de
Garden City.
Completamente derrotado, deixo a pasta no degrau, mas em
seguida mudo de ideia e a levo comigo para a cozinha, onde posso estar
com os olhos nela, sabendo que nenhum dos meus sobrinhos vai ousar
mexer, e sigo com os ombros caídos até onde estão todos.
Assim que entro no ambiente caótico, me deparo com Clarice,
minha sobrinha mais velha que mal posso acreditar que está prestes a
completar vinte anos, sentada sob o balcão, com uma colher de pau na mão
enquanto aponta para a avó.
Assim que os pequenos terroristas percebem minha presença,
largam a massa de pizza que estavam nas mãos, e correm até mim, se
agarrando cada um a uma perna, consequentemente as sujando de farinha.
Fecho meus olhos e respiro fundo, sabendo que são apenas
crianças e que não merecem ser culpados por isso.
Só estou com um péssimo humor.
É só a sua família.
É só se controlar.
— Vocês estão muito ferrados, terroristas. — Ouço a irmã mais
velha deles e também a mais sensata desta casa, dizer. — Sujaram toda a
roupa do tio Aiden, podem correr antes que ele invente de jogá-los no forno
junto com as pizzas.
— Não assuste seus irmãos assim, Cisse. — Adrian passa por mim,
dando um leve tapa nos meus ombros e em seguida beija o topo dos cabelos
cacheados da filha. — Já podemos colocar as coisas na mesa, mãe?
Finalmente abro meus olhos após inspirar profundamente umas
três vezes, e direciono meus olhos para baixo, onde vejo dois sorrisos
brilhando para mim.
— Boa noite, tio. — Cecília pisca os olhos azuis para mim, como
se apenas com esse gesto, fosse capaz de me amolecer. — Você está lindo
hoje, sabia?
— E a gente te ama, muito mesmo. — Caio se junta a sua gêmea.
Os mini terroristas são bons.
E arrancam meu primeiro sorriso do dia.
— Oi terroristinhas. — me abaixo e beijo a testa de cada um deles,
que retribuem o gesto, beijando cada uma de minhas bochechas. — Boa
noite, mamãe, boa noite princesinha do tio.
Me aproximo de Clarice, deixando um beijo em sua testa e ela
revira os olhos por conta do apelido de infância.
— Boa noite, filho. — dona Mariana diz em português e sorrio a
ela, que me lança um beijo de longe, voltando a rechear a massa do que será
a nossa janta essa noite. — Seu pai está no escritório, pode arrastá-lo de lá,
por gentileza? Sua cunhada já está chegando do consultório também.
Assinto e coloco a pasta atrás de Clarice, onde tenho certeza que os
gêmeos não alcançam e vou para o escritório, em busca do senhor Munhoz.
Assim que paro em sua porta, que vejo estar entreaberta, passo
alguns minutos admirando o homem que sempre tive como um exemplo e
que serei eternamente grato por ter me ensinado a ser tudo que sou hoje.
O observo fechar seu notebook e em seguida pegar o retrato que
nunca sai de sua escrivaninha, foto que foi tirada no dia em que casou com
a minha mãe. Suspiro pesarosamente, tendo consciência que falhei no
quesito relacionamentos amorosos, coisa que me cobram até hoje, mas o
que posso fazer se simplesmente não nasci para ter relações sérias?
Só existem duas prioridades em minha vida, onde a primeira se
encontra onde estou agora, minha família e a outra se trata da minha
profissão, qualquer coisa além disso é perda total de tempo.
Ouço um pigarro à minha frente e de repente tenho os olhos azuis
do meu pai sobre mim, junto de um sorriso alegre.
— Chegou tarde hoje, filho. — Ele se levanta e se aproxima,
terminando de abrir a porta. — Sabe que se trabalhasse conosco na Williams
Associados, estaria em casa mais cedo e teria mais tempo por aqui, não é?
Sorrio e balanço a cabeça em negação. Não importa que já tenham
se passado dez anos desde que abri a Davidson e Munhoz junto de Henry,
meu pai vai sempre tentar me arrastar para seu escritório, que herdou do
meu avô.
Um dos motivos pelos quais insisti em abrir meu próprio escritório,
foi que não queria que julgassem minhas conquistas como menos
importantes por ser filho do dono. Queria trabalhar e lutar pelas minhas
coisas eu mesmo. Construir meu próprio império.
Um pouco orgulhoso talvez, mas sou quem sou e isso eu não posso
mudar.
— Desiste, meu velho. — ele abraçou meus ombros e seguimos
juntos até a sala de jantar, onde todos já estavam à mesa, incluindo minha
cunhada, Francie, que tenta colocar limites nos filhos e na enteada, que se
juntou aos irmãos mais novos para perturbá-la.
Assim que sentamos à mesa e começamos a comer, mamãe me
olha com um olhar interrogativo e de maneira silenciosa, a questiono com
um leve erguer de sobrancelhas.
— Essa cadeira vaga ao seu lado precisa ser ocupada. — quase
reviro os olhos já sabendo o assunto que está prestes a iniciar e ouço meus
sobrinhos rirem à minha frente. — Quando vou ter uma nova nora? Já
passou da hora Aiden.
— Já te disse para esquecer esse assunto, mãe. — digo de maneira
tediosa. — Minhas únicas prioridades são o escritório e vocês, não contem
com a ideia de ocupar essa cadeira.
— O titio precisa arranjar uma namorada para acabar com o mal-
humor dele. — Cecilia diz enquanto ri e seu irmão a acompanha.
— Verdade, se ele namorar vai ser mais feliz. — O outro pequeno
terrorista a acompanha e ouço a mais velha rir.
— Onde andam aprendendo essas coisas, Ceci? — A mãe deles os
repreende, mas posso ver que também está prestes a cair na risada, assim
como todos presente.
— Com o papai, ué. — a pequena diz dando de ombros e meu
irmão recebe um tapa no ombro, desferido pela esposa.
Chuto sua perna por baixa da mesa, e assim que o idiota resmunga,
recebo uma puxada de orelha vinda de nossa mãe que estava a minha
direita.
Era só o que me faltava.
Queria ter conseguido escapar desse jantar, ao menos por essa
noite.
 
“Como eu me tornei tão odiosa?
O que há com você que me faz agir deste jeito?
Eu nunca fui tão desagradável
Da, da, da, da, da”
Please Don’t leave-me - P!nk
 

 
SEIS MESES DEPOIS
 
Assim que passo pelas portas giratórias do banco, é como se um
peso finalmente deixasse meus ombros após longos anos.
Quase não consigo acreditar que, após quatro anos, consegui quitar
toda a dívida que tinha sobre o empréstimo gigantesco que precisamos fazer
quando tudo desabou sob nossas cabeças.
Sem essa dívida pesando a cada mês que se passa, agora sou capaz
de ter um respiro financeiro curto mas, ainda sim, aliviador.
Quando pego o celular, decidida a mandar uma mensagem para
Luke, Marco e Lia, uma amiga que fiz na faculdade, quando ainda
estávamos cursando o preparatório, para podermos sair e comemorar a
grande novidade.
Até porque não seria eu, se não estivesse pronta para gastar o que
sequer tenho sobrando antes da hora, quando recebo um e-mail da
universidade, me lembrando que as aulas se iniciam na próxima semana,
junto da lista gigantesca de materiais para esse novo semestre.
Como caralhos eu pude esquecer dessa maldita lista?
Ser bolsista na Garden University tem muitos dos seus privilégios,
é claro, já que além da mensalidade gratuita, também tenho um quarto
garantido no alojamento da universidade, e também descontos nas refeições
do refeitório, mas, infelizmente, materiais mais baratos, não estão entre
eles.
Luke e Marco me consideram um pouco idiota, por mesmo tendo
uma vaga em um dos alojamentos, ter optado por gastar com um
apartamento minúsculo decadente, mas eles não entendem como são
guerreiros por me aguentarem todos esses anos, e sei que só me suportam
porque não dividem o mesmo espaço que eu todos os dias.
Sou individualista e amo meu espaço pessoal, por isso tenho
certeza que não daria muito certo morar no campus e acabar correndo o
risco de perder minha bolsa por uma briga qualquer com alguma
desavisada.
Prefiro pagar dona Martha e os abusos do aluguel por aquele
cubículo, do que arrumar mais confusão por aí.
Finalmente abro o documento que contém a lista de livros que vou
precisar, e já me preparo para a facada que terei de gastar com os livros. Me
animo um pouco ao perceber que contém alguns sobre Direito Empresarial,
sinal de que vou cursar a matéria que já tenho como escolha profissional
futuramente.
Quando preenchi as disciplinas a cursar nesse período, um pouco
antes das férias, estava com a cabeça tão cheia que nem me dei conta do
que tinha selecionado.
Parabéns Alexia do passado, por ter feito algo certo em meio a
tantas cagadas.
Coloco meus fones e ‘So What’, da P!nk, estoura por meus
ouvidos, me relaxando instantaneamente.
Sou louca por essa mulher!
Passo as mãos por meus fios curtos desde o dia desastroso de
meses atrás, e me recordo que preciso comprar tinta para pintá-los antes que
o louro comece a aparecer nas raízes.
O ônibus pelo qual eu estava a espera, finalmente passa, já que não
posso me dar ao luxo de ficar andando com carros de aplicativos a todo
tempo, e o doce momento de encontrar assentos vagos no transporte, enche
meu pobre coração de felicidade por não precisar atravessar toda a cidade
me sacolejando em pé.
Vejo quando uma garota passa por mim e me lança um olhar
questionador, provavelmente se perguntando o que uma mulher vestida com
roupas aparentemente luxuosas, combinado aos saltos, está fazendo em um
transporte público.
Posso até decifrar o leve sentimento de pena que passa por seus
olhos.
Não posso julgá-la pelo olhar que me lança, já que teria o mesmo
questionamento, e uma parte de mim até que gosta dos olhares estranhos
que sempre recebo por conta das minhas roupas destoante dos ambientes
em que frequento.
Não posso fazer nada se minha conta bancária não condiz com
meu estilo, até porque: pobre sim, mas brega nunca.
Sinto meu celular vibrando em meus dedos e quando olho por
sobre a barra de notificações, um sorriso sincero escapa pelos meus lábios
por ter amigos que me conhecem e que pensam como eu.
 
Luke
Se minhas contas e minha memória estiverem certas, terminou de
pagar o banco essa semana.
Venha aqui para a casa do Marco, Lia já está a caminho e vamos
comemorar nos embebedando na piscina.
 
 
Leu meus pensamentos.
Estou a caminho.
 
Me levanto quase desesperada, já salivando por um drink
preparado por Marco e puxo a cordinha do ônibus, para que pudesse descer
na próxima parada e ir até a casa do mesmo, que fica no lado oposto de
onde estava indo.
Tudo que preciso nesse sábado de folga, terrivelmente quente, é
ficar à beira da piscina regada a álcool.

Estou andando distraída pelas ruas do bairro chique onde o noivo


de Luke mora, conferindo algumas coisas que o senhor Marquês me enviou
por  mensagem, quando esbarro em alguém estupidamente alto e forte, que
faz com que meu celular voe para o chão, fazendo um barulho que dói a
minha alma.
Porra! Era só o que me faltava essa porcaria quebrar justo agora.
Me abaixo rapidamente para pegar o pobre coitado, quando o
cheiro de suor e perfume caro entram por minhas narinas, me fazendo
arrepiar terrivelmente.
Pego o aparelho, que por sorte estava apenas com um leve trincado
na película protetora e me levanto pronta a me desculpar com o cidadão,
quando ouço o mesmo murmurar um pedido de desculpas
— Droga! Eu é que estava completamente distraída, me descul…
— Quando estou prestes a terminar minha fala, olho para o homem em que
esbarrei e posso jurar que meu rosto fica vermelho, completamente
consumido pelo ódio. — Puta. Que. Pariu! Não é possível uma coisa dessa.
Assim que meus olhos encontram seu rosto, sinto vontade de
chutar suas partes íntimas ou até mesmo estapeá-lo pela expressão de
desgosto que me lança quando percebe quem sou, após uma breve análise
por meu rosto.
— Estou esperando o pedido de desculpas que começou a tecer. —
Sua voz é grave e meus olhos acompanham o movimento de seus braços,
que se fecham sobre o peitoral desnudo onde tem tatuado um símbolo que
desconheço a origem.
O maldito tinha que ser tão gostoso assim? Só pode ser castigo!
Porra, olha esses braços e esse peito brilhando de suor.
— Meus olhos estão aqui em cima, senhorita Stewart. — Posso
notar o leve tom de deboche que passa em sua voz, e retorno meus olhos
para sua boca carnuda, envolta em uma barba escura e bem aparada. — Não
sabia que minha vizinhança andava tão mal frequentada.
— Vou te dizer o que está mal frequentado, Senhor Escroto e tenho
certeza de que não vai gostar da resposta. — Fito seus olhos escuros. —
Saiba que é sempre um desprazer te encontrar. Agora, se me der licença.
Antes que eu pudesse passar por ele, sinto suas mãos segurarem
meu braço com firmeza, me fazendo ficar no mesmo lugar e lanço um olhar
furioso a ele quando sinto o local formigar e meu coração disparar no peito
por conta da proximidade.
— Tire suas mãos horríveis de mim, antes que eu chame a polícia!
— O ameaço e ele me solta imediatamente, fechando os olhos brevemente e
respirando fundo. — E me deixe passar, não menti quando disse que não
pretendia cruzar seu caminho, seis meses atrás, quando me ofereceu aquele
show de arrogância.
— Se quer voltar meses atrás, ao menos assuma que estava
completamente errada na situação, pois além de se atrasar para um
compromisso, ainda teve a coragem de molhar todo meu escritório com a
água que pingava de suas roupas. — Sua voz é tão grave quanto me
lembrava e me repreendo por ainda me sentir atraída por ela, mas parte de
mim comemora, quando percebo que o deixo tão furioso quanto me sinto
em sua presença. — E não vou te deixar passar enquanto não me pedir
desculpas pelo ocorrido de agora, já que perdi meu fone por sua culpa.
Ele aponta para o meio da rua quando franzo o cenho confusa,
onde vejo um pequeno fone de ouvido branco no chão, segundos antes de
um carro passar por cima, o esmagando e deixando seus destroços para trás,
junto de uma bufada do senhor Aiden Desprezível Munhoz.
Sei que xingá-lo e dar apelidos ridículos a ele em minha mente soa
infantil, mas ele desperta o pior em mim e não sei como agir quanto a isso.
— Não vou pedir desculpas coisa nenhuma, além de que o senhor
poderia muito bem ter ido até lá e o ter pegado antes que isso acontecesse.
— Volto meus olhos para ele, que se encontra com sua clássica expressão
mortal descansando em seu rosto. — Se não tivesse feito charminho alguns
minutos atrás, quando impediu minha passagem, poderia ter ido até lá
evitado o estrago do seu belo fone, mas aposto que pode comprar baldes
dele. Só cuidado para não se engasgar em sua arrogância no processo.
— Você realmente não sabe quando ficar quieta, não é mesmo,
peste?
Não acredito!
— Me chamou de que?! — aumento minha voz e mesmo com os
saltos em meus pés, desejaria ser mais alta para passar alguma credibilidade
quanto a minha revolta. — Quem você pensa que é para sair dizendo esse
tipo de coisa? Quando penso que as coisas não poderiam piorar, você
simplesmente me xinga gratuitamente?
Tudo bem que o xinguei primeiro, mas quem liga?
Ele está me chamando de peste! Quem ele pensa que é para fazer
isso?
Não tem um corpo gostoso na Terra que me faça aceitar essa
situação.
— Se quer que comecemos com acusações aqui, posso muito bem
ser o primeiro, já que me ofende de todas as formas que consegue desde que
nos conhecemos naquele dia infernal. — Vejo que tenta controlar o tom de
sua voz, mas a veia que salta em seu pescoço não me passa despercebida,
principalmente quando se inclina para perto, fazendo com que nossos rostos
fiquem próximos. — É sim, uma peste! Uma pequena peste mimada, que
pensa ter o direito de fazer o que quiser, com quem quer, quando e como
quiser, sem lidar com as consequências que acarretam seus atos.
Sinto sua respiração descompassada pela fúria, atingir meu rosto e
quando percebo que estamos perto demais para o meu próprio juízo, decido
engolir ao menos parte do meu orgulho e me afastar antes que cometesse
uma besteira.
— Meu tempo não merece ser desperdiçado com o senhor, seu
escroto de merda.
Vejo seus olhos dobrarem de tamanho assim que as ofensas deixam
meus lábios e antes que tivesse tempo de me responder, saio andando
apressadamente, mas não sem antes dar um encontrão em seus ombros, o
deixando falando sozinho, resmungando como um velho ás minhas costas.
— Péssima ideia que tive de escolher justo hoje para correr no
bairro. Menina petulante do caralho…
Sua voz diminuiu ao passo que me distancio, me controlando para
não dar meia volta e ter o prazer de estapear o advogado mais bem sucedido
de Los Angeles.
Idiota.

Depois da minha entrada ter sido autorizada por uma das mulheres
que prestam serviço na casa de Marco, passo pelas portas do fundo,
encontrando meus amigos já dentro da piscina. Me aproximo deles e tomo o
copo de bebida das mãos de Luke, entornando todo o líquido, constatando
que se tratava de vodca com xarope de frutas vermelhas, mais vodca que
xarope para ser sincera, e o líquido desce rasgando por minha garganta.
— Achei que hoje seria um dia bom, mas pela expressão no seu
rosto, diria que seria capaz de matar qualquer desavisado que cruzasse seu
caminho. — É Lia quem diz, e observo os pares de olhos em mim. — Isso
porque nossas aulas nem começaram ainda. Viva!
— Acabei de cruzar com Aiden Munhoz, o babaca da entrevista de
emprego. — Tiro os sapatos os deixando de canto e aproveitando o vestido
mais curto que me encontro, me sento na beira da piscina, colocando os pés
na água. — Maldito destino que não me deixa em paz por muito tempo.
— Seu rosto tá vermelho, melzinho. — Luke toma o copo, agora
vazio, da minha mão e constata o óbvio. — Só não sei dizer se é por conta
do sol que faz, pela raiva que sente ou por conta do tesão de ter encontrado
o arrogante gostoso mais uma vez em poucos meses.
Fuzilo seu rosto, que ergue as mãos em rendição.
— Não negou nenhuma das acusações, não é, bonitinha? — Marco
acompanha o noivo nas provocações.
— Se continuarem a dizer essas coisas absurdas, juro que me
levanto e dou meia volta até em casa. — Notam que não estou para
brincadeiras e se calam por hora e respiro fundo. — Hoje é um dia feliz!
Me livrei de uma dívida que me atormentava e nada, nem aquele filho da
puta arrogante, vai estragar meu dia!
Profiro as palavras, esperando que se tornem realidade, já que meu
coração ainda bate acelerado por conta da discussão com o idiota e fecho os
olhos respirando fundo outra vez para tentar me acalmar.
— Além de que estamos prestes a cursar o nosso penúltimo
período, e vamos ter a chance de conseguir estagiar em alguns dos maiores
escritórios da região. — Lia bate levemente seu copo em meu braço, como
se estivesse brindando.
— Estava me esquecendo disso. — Abro os olhos e a fito. —
Espero conseguir ser uma dos seis alunos escolhidos para o projeto.
Um dos planos de carreira que a Garden oferece no último ano de
curso, é conceder vagas de estágios nos maiores estabelecimentos ou
escritórios da região, de acordo com o curso específico, para os alunos que
mais se destacarem durante a graduação.
Me mato de estudar, perdendo noites de sono na companhia de
Legalmente Loira e Lilo e Stitch para me manter acordada e espero
conseguir ser uma das selecionadas.
— É claro que vai! — Marco, que só agora vejo que deixou a
piscina, se aproxima de mim com uma bebida em mãos e a entrega para
mim. — De limão, seu preferido. — pisca e sorrio para ele. — E sabe que
vai ser escolhida porque dá a vida nos estudos, se não te escolherem, após
concluir o curso e se tornar uma advogada incrível, você os processa.
Sorrio para os meus amigos, que concordam com a fala de Marco.
— Se eu conseguir e tiver sucesso nos meus planos, vou ser uma
advogada foda e que trabalha no jurídico de umas das maiores empresas de
energia solar do país, sem ter tempo para me preocupar em processar meus
antigos professores.
— E vai ser! — Luke se aproxima e deixa um beijo rápido em meu
rosto, e com o movimento, molhando a barra do meu vestido, o que me faz
encará-lo de maneira séria. — Não me olha assim se não te puxo de roupa e
tudo para a água.
Ameaço me levantar e sair dali, mas sou impedida pelos três, que
me seguram no lugar, o que acaba me molhando ainda mais.
Ficamos por ali um tempo, enquanto conversamos e bebemos um
pouco além do necessário, mas, por alguma razão desconhecida, não
consigo tirar dos meus pensamentos, os olhos escuros de olhar intenso do
babaca que estava apenas com um short de corrida, boné e tênis esportivos
nos pés.
Fico retornando a nossa discussão, pensando em coisas mais
coerentes que eu poderia ter dito, e é como se eu sentisse sua mão segurar
meu braço outra vez, fazendo com que um calor se espalhasse pela minha
pele.
O maldito tinha de ser tão gostoso assim para o mal da minha
própria sanidade?
Sinto um beliscão em meu braço e olho em direção a quem o
desferiu, pronta para xingar mas encontro os olhos empolgados de Lia sobre
mim, que por conta da luz do sol combinado a sua pele marrom claro, se
encontravam um pouco mais claros que o comum e sorrio para a mesma.
— Como está se sentindo com o início do nosso último ano na
Garden? — posso notar como está animada com a ideia. — Não sei se estou
mais nervosa com as provas finais que estão cada vez mais perto, ou com o
fato de que daqui a um ano seremos oficialmente formadas e vamos estar
advogando.
— Estou mais focada no presente e se chegarei viva até a
formatura. — Me levanto e tiro a roupa, sem me sentir envergonhada por
ficar apenas de calcinha e sutiã na frente dos meus amigos.
Atingimos o grau máximo da intimidade quando certa vez acabei
bebendo além da conta, o que estou aprendendo a controlar, mas só se vive
uma vez, e precisei que me ajudassem a tomar banho após cair em uma
piscina de lama.
Depois desse dia, nunca mais coloquei os pés em uma festa
universitária e muito menos em uma república estudantil, mas também
perdi completamente a vergonha dos presentes aqui hoje.
— Ou ao menos se conseguirei chegar até lá com a minha bolsa de
estudos intacta. — Concluo a fala antes de pular na piscina e me juntar a
eles.
A água morna me envolve e é um acalento para meu corpo que
começava a suar por conta do calor infernal que faz no dia de hoje. Não
gosto tanto assim do calor, o que podemos dizer que pode ser um problema
para alguém que mora num lugar que passa a maior parte do ano sob o
intenso sol e mesmo nas noites de inverno não ficamos abaixo dos nove
graus.
— Se for preciso, faço sua escolta nas aulas dos professores com
quem tem certa intriga a partir deste semestre. — Marco oferece e espirro
um pouco de água em sua direção. — Falo sério, tenho medo de que chegue
no café sendo escoltada por policiais por ter agredido alguém.
— Não fale assim da minha criança incompreendida. — Luke diz
ao me abraçar, ou melhor, me prender em seus braços, já que sabe que fujo
de abraços demorados. — Apesar desse jeito meio descontrolado, ela nunca
fez mal a uma formiga. Só é um pouco estressada, às vezes bruta nas
palavras e levemente impaciente.
— Obrigada por me defender, mas acho que consigo fazer isso
sozinha. — digo em tom de brincadeira e ao se afastar de mim, ele desfere
um tapa fraco em meu ombro. — Mas agora sem brincadeiras, estou
animada com esse novo semestre.
— Vi em uma da lista que me enviaram que vamos cursar Direito
Empresarial juntas, lembro como estava doida para cursar isso desde o
início da faculdade.
Sorrio com a boa memória de Lia, e por um momento me recordo
de como essa amizade apenas surgiu porque ela entrou na sala errada e me
dispus a levá-la até a aula certa. Ela, junto de Luke e Marco são os únicos
que sei que posso contar de verdade, já que aprendi desde muito cedo que
amizades sinceras são raras.
Desde muito nova aprendi que certas amizades vem como também
se vão muito fáceis, dependendo do ciclo em que você se relaciona. Posso
dizer que sofri um pouco nesse quesito, quando papai começou a perder
todo dinheiro que tínhamos, minhas amizades se foram tão rápidas como
vieram. Acho que por isso tenho receio em confiar em qualquer pessoa que
cruza meu caminho.
Tô reflexiva demais, certeza que devo estar para menstruar,
sentimental desse jeito.
— Sim, desde que comecei a faculdade, pretendo seguir no ramo
empresarial. — Me aproximo da borda e descanso meus braços nela. —
Meu sonho sempre foi fazer parte do jurídico da Bakers & Stewart
Corporation, e é um dos sonhos que pretendo realizar, mesmo que agora
seja somente Bakers Corporation.
— Tenho certeza que vai conseguir!
Sorrio brevemente com a confiança que meus amigos depositam e
mim e logo o desfaço ao me lembrar que por conta do idiota do senhor
Munhoz, perdi a chance de trabalhar em um dos melhores escritórios do
ramo empresarial.
Filho da puta arrogante.
Preciso dar um jeito de fazer com que meus pensamentos parem de
me levar até ele, odiá-lo está ficando exaustivo.

Primeiro dia do meu último ano no curso de Direito!


Quem diria que eu chegaria tão longe?
Por muito tempo, eu mesma custei a acreditar nisso, mas aqui
estou, indo em direção a sala em que todas as quintas-feiras, vou ter o
prazer de entrar sorridente.
É surreal pensar que vou finalmente cursar a matéria pela qual
pretendo seguir carreira, parece que as coisas vão começar entrar nos
trilhos.
Não carrego mais o peso da dívida com o banco; por um milagre,
mesmo após a compra dos materiais necessários, sobrou um pouco de
dinheiro para eu poder ser um pouco inconsequente esse mês e terei a
oportunidade de aprender mais, e quem sabe até descolar um emprego por
conta das excelentes notas.
Quando estou quase chegando no prédio em que fui direcionada, já
que não baixei o documento com as informações das aulas e dos
professores e precisei pedir socorro a Lia sobre o dia de hoje, prometendo
baixar todas as listas no primeiro tempo vago, sinto um braço se apoiar em
meu pescoço, junto com um beijo que é depositado em minha bochecha.
Assim que os olhares raivosos das garotas ao nosso redor, se
direcionam para mim, não preciso sequer olhar para o lado para saber de
que se trata de Ethan Bakers, meu antigo colega de infância, companheiro
de curso e também a maior celebridade dos Hedgehogs, o time de handebol
da faculdade.
Ele sabe o quanto eu odeio quando aparece ao meu lado em
público!
Caralho de menino sem noção.
— Vai precisar que eu parta pra agressão verbal ou até mesmo
física para tirar os braços de mim? — Pergunto com os dentes trincados,
morrendo de ódio por sua atitude e ele tem a coragem de rir.
O canalha ri.
— Não se preocupe, Lexie. — ele usa o apelido que, assim como
meus pais, todos que eram próximos a mim em outra vida, me chamavam.
— Vi na lista que teríamos aula juntos agora. Vai ser bom para matar a
saudade.
Paro de andar, o que faz com que o mesmo finalmente tire os
braços do meu corpo e olhe para trás confuso quando não continuo ao seu
lado.
— Por que temos aula de Direito Empresarial juntos, se estou dois
anos à sua frente?
— Privilégio dos Bakers? — Questiona como se não fosse óbvio.
— Estava louco para cursar essa disciplina logo, sabe como é lá em casa. —
Se refere a pressão que de certa forma sempre sofreu por parte de seus pais
com relação a empresa. — Assim que concluí o curso preparatório e entrei
para o Direito, meu pai veio aqui conversar com a diretora e fui autorizado
a cursar mais cedo para poder estagiar na Bakers.
Assenti e sorri sarcasticamente, pensando que se não fossem todas
as tragédias que se seguiram anos atrás, provavelmente meu pai faria o
mesmo para que eu pudesse iniciar os trabalho na empresa o quanto antes.
— Meus pais mandaram lembranças, inclusive. — Sua voz me traz
de volta ao foco, e sigo andando sem fazer questão de saber se me segue ou
não. — Quando contei a eles que faríamos essa matéria juntos, pediram
para te chamar para um jantar em casa qualquer dia desses, dizendo que não
precisava ter sumido depois de tudo que rolou.
Não faço questão de respondê-lo. Esse garoto sempre foi uma
pedrinha incômoda no meu sapato desde que éramos crianças, apesar de me
simpatizar um pouco com ele.
— Ou não, você é quem sabe. — ele me alcança quando estamos
quase na porta da sala de aula, e antes de entrar correndo, considerando que
estávamos um pouco atrasados, deixa um beijo na minha bochecha antes de
dizer apressadamente. — Te avisei anos atrás que não iria crescer muito.
Estanco no lugar, respirando fundo e tentando fazer com que toda
positividade com que comecei o dia, voltasse ao meu corpo mas desisto e
entro na sala antes que levasse uma chamada de atenção por conta do atraso
logo no primeiro dia.
Entro decidida, mas toda minha autoconfiança desaparece, dando
lugar a um profundo desgosto e a uma ira que me faz sentir como se cada
terminação nervosa do meu corpo estivesse entrando em curto circuito.
Senti a chama do profundo ódio se espalhando por meu corpo, queimando
desde os fios curtos do meu cabelo, até a cutícula das minhas unhas do pé.
Parado na extremidade da sala, em uma calça social escura
acompanhada de uma camisa branca, dobrada até metade de seus braços,
estava Aiden Munhoz.
Não consigo acreditar nessa porra!
Aparentemente o destino pode ser muito perverso quando quer.
“Esse é o preço que você paga
Deixe para trás seu coração e o jogue fora
Apenas mais um produto do hoje
Melhor ser o caçador do que a presa
E você está parado no limite, de cabeça erguida”
Natural - Imagine Dragons
 

Não pode ser!


Puta que pariu, não pode ser!
Meus olhos custam a acreditar no que enxergam, porque
simplesmente não é possível uma pessoa ter tanto azar assim na vida.
Quando meus olhos encontram os da garota petulante a minha
frente, que me fita como se estivesse prestes a pular em meus pescoço e
disposta a não soltá-lo enquanto não me visse ensanguentado aos seus pés,
tenho vontade de pegar minhas coisas sobre a mesa e simplesmente deixar a
sala de aula.
É isso que dá aceitar uma proposta no calor do momento, Aiden,
você toma bem no meio do cu!
Encaro a pequena peste, que sem seus saltos envernizados é ainda
menor, em tom de desafio, a convidando a entrar em um embate comigo
perante toda a turma, mas nosso contato visual é rompido quando outra
garota de cabelos cacheados e pele morena, que aparentemente possuem a
mesma idade, entra a frente da senhorita Stewart, dizendo algo
completamente empolgada.
Elas discutem palavras rápidas, quase de maneira silenciosa por
alguns segundos, e Alexia é puxada a contragosto pela amiga, até uma das
cadeiras em um das fileiras frontais da ampla sala.
Pode parecer um pouco delirante, mas sinto que poderia ouvir os
bufares da peste, que agora tem os cabelos curtos na altura dos ombros, a
quilômetros de distância se assim quisesse.
Dou as costas à turma, indo em direção a lousa de quadro verde
antigo, assim como toda a estrutura do campus, que percebo não ter
mudado em nada desde que eu era aluno. Pego o giz e respiro fundo quando
seu pó áspero suja e resseca minha pele, antes de escrever legivelmente na
lousa o nome da disciplina a qual irei lecionar, assim como meu nome,
antes de me virar novamente para a classe.
— Bom dia! — Minha voz soa mais grave do que desejo, apesar de
não querer ser um professor que cria certo grau de intimidade com os
alunos, também não desejo ser um escroto completo. — Sou Aiden
Munhoz, alguns devem me conhecer por conta do escritório Davidson e
Munhoz, mas aqui serei apenas o professor de vocês e espero que…
Minha fala é interrompida por um pigarreio e mesmo já sabendo a
quem ele pertence, evito olhar para a mesma, me concentrando no discurso
de apresentação.
Quando estou prestes a prosseguir ouço palavras deixarem sua
boca, quase como um sussurro e meus olhos avançam diretamente em sua
direção.
— Estou atrapalhando em algo, senhorita? — fecho minha
expressão assim que encontro seu rosto avermelhado, provavelmente por
conta da raiva, que também sinto me consumir desde o momento em que
me deparei com sua figura na porta.
— Não, senhor. — ela aumenta a voz e se endireita no lugar, e
fecho os olhos por breves segundos, já prevendo que não vai calar a porra
da boca tão cedo. — Só gostaria de frisar, assim como o senhor mesmo
disse, que aqui nesta sala você é apenas o nosso professor, e não o grande
dono dos escritórios D&M.
— Estou ciente do fato, senhorita… Enfim, não importa — A
provocação escorre por meus lábios sem que eu possa controlar. — Mas eu
não teria me tornado o professor, se não fosse conhecido por ser o grande
advogado dos escritório Davidson e Munhoz, e se quiser pode você mesma
ir questionar a reitora da Universidade sobre esse acontecimento, se algo
lhe desagradar.
Me viro de costas novamente, mas antes consigo ver quando sua
amiga tampa sua boca de forma descarada, quando a peste estava prestes a
argumentar contra.
— Como eu ia dizendo, antes da nossa colega interromper de
forma desrespeitosa, a convite da Diretoria, serei o professor da disciplina
de Direito Empresarial nesse semestre e espero que possamos fazer um bom
trabalho juntos. — Começo a distribuir as folhas com todo material de
sugestão acerca das doutrinas das aulas e também com o método de
avaliação pelo qual passarão ao longo do semestre, que trouxe como forma
de precaução para os desavisados e quando estou passando perto da mesa
da baixinha petulante, meus olhos descem de seu rosto mortal, diretamente
para suas pernas descobertas por conta da saia estreita e curta que usa.
Porra, como é gostosa.
Volto meu olhar rapidamente para o seu rosto, encontrando sua
sobrancelha arqueada e me recordo o motivo de ter aceitado seu currículo
aquele dia.
Ela é fodidamente linda!
E eu estou completamente fodido.

Assim que passo pela recepção do escritório, Samantha se levanta


da cadeira e vem até mim com um dos seus sorrisos extremamente falsos, já
que sei que é uma das primeiras a me criticar em qualquer abertura que lhe
dão.
— Samantha, preciso de um café! — Passo por ela, sem fazer
questão de responder o seu cumprimento. — Amargo, o mais amargo que
você conseguir encontrar naquela cozinha.
Não espero por sua resposta e antes de entrar em minha sala e
atirar a pasta sobre a mesa, consigo ouvir o eco que seus saltos fazem
quando passa pelo corredor.
Me jogo no sofá, me recriminando por ter sido tão idiota a ponto
de aceitar a oferta da diretora da Garden University, para compor o quadro
de professores da turma de Direito.
Onde eu estava com a minha maldita cabeça?
— Enfiada no rabo de alguma mulher, com certeza. — respondo
em voz alta porque não esperava que justo nesse exato momento, meu
melhor amigo, acompanhado de nossa secretária, passariam pela porta.
— Eu adoraria estar enfiado no rabo de alguma mulher. — Henry
se senta em minha cadeira enquanto observamos Samantha depositar uma
xícara com o café que pedi, na mesinha a minha frente. — Já fazem alguns
dias desde a última vez.
Não dou atenção ao seu tom de flerte, pois sei que vez ou outra ele
e Samantha vão para a cama e já cansei de dizer o quanto antiprofissional
isso é, mas ele não dá a mínima para o fato.
— O que aconteceu de tão grave no seu primeiro dia, a ponto de
estar falando sozinho? — Questiona logo após a porta ser fechada e só
estarmos nós dois. — Não vai me dizer que ficou de pau duro por uma
aluna, isso seria antiético demais, até pra mim. Ou pior, ficou com alguma
delas?
Ele insinua divertido, em um tom brincalhão, não se levando a
sério e cai na risada logo em seguida.
— Ah qual é, não pode ter sido pior do que isso, ou — ele para de
falar de repente e ergo o olhar em sua direção, notando que me encara com
curiosidade e até mesmo certa preocupação. — , por favor, não me diga que
transou com alguma aluna?
— É claro que não, seu idiota. — Finalmente levo a xícara até os
lábios, e o amargor da bebida é capaz de me tranquilizar por alguns
segundos. — Descobri que vou dar aulas para aquela peste infernal.
Ele franze o cenho, confuso e passa os dedos por seus cabelos, os
soltando do coque e em seguida o refazendo.
Maldita mania exibicionista.
— Aquela garota da entrevista de seis meses atrás, Henry. —
Complemento.
— A mesma maluca que você encontrou no fim de semana passado
quando estava correndo? — Seu tom de voz se altera em surpresa e coloco
as mãos sobre o rosto. — A mesma que disse pra mim ao telefone, que
concluiu que se não fosse “uma peste enviada dos infernos para tirar
minha paz”, você não pensaria duas vezes em levar pra cama, depois que a
encontrou?
Sua imitação fajuta da minha voz, me faz ter vontade de arrancar
as orelhas.
Respiro fundo, me arrependendo amargamente por sempre contar
detalhes do que penso ao Henry, ele não sabe calar essa maldita boca
quando precisa.
— Acho que você já entendeu de quem se trata, não precisa ficar
lembrando certas coisas. — Bebo o restante do café de uma vez e me
levanto em direção a mesa. — E precisa melhorar essa imitação, minha voz
não é assim.
Empurro seus pés que estavam em cima da mesa e pego alguns
papéis que estavam organizados no centro, os colocando na pasta. Olho em
seu rosto, estranhando o fato de não ter dito nada sobre o assunto e encontro
uma expressão de choque.
— Não sei se agradeço ou se te levo ao hospital por essa reação.
— E eu tenho certeza que você vai cometer um crime. — Sua voz
demonstra sua preocupação e questiono sua fala. — Pelo jeito que fica
quando fala dela, vão acabar se matando ou pior, todo ódio vai virar tesão
até irem pra cama para acabar com ele. Sei que de qualquer jeito, vamos ter
que usar um dos nossos advogados criminalistas pra te tirar de trás das
grades.
— Sempre perde a chance de ficar calado, não é?
— Pode não parecer, mas tô falando sério aqui. — Ele se levanta e
fica de frente para mim, dobrando os braços sobre o peito e me encarando
de forma intimidadora.
Que funciona, já que é bem mais alto que eu.
— O que foi?
— Não vai fazer besteira, Aiden.
Seu tom de seriedade se faz presente, assim como sempre vejo se
fazer quando se trata dos assuntos do escritório. É impressionante como se
transforma de uma hora para outra quando se trata de assuntos sérios.
Sempre foi uma das coisas que mais admirei em Henry, apesar de sermos o
completo oposto um do outro em todos os quesitos, ele sabe a hora de parar
com as brincadeiras e ser responsável.
— Sei como você pode ser bem ignorante e completamente
desrespeitoso quando quer e, principalmente, quando alguém te tira do
sério. — Seus olhos azuis me fitaram. — Acontece que além da raiva que
sente por essa garota, também precisa confessar que se sente atraído por ela,
e pode ser perigoso quando essas duas coisas se juntam. Pode te fazer
ultrapassar seu limite.
— Não me sinto atraído por ela. — Nego e quase sinto minha
orelha arder, assim como acontecia quando minha mãe me pegava em uma
mentira e o olhar de Henry sugere o mesmo. — Não nego que a acho
bonita, mas toda a petulância e o cinismo, se sobrepõem a isso, sobrando
apenas a raiva, pode confiar.
— Espero que sim, tem que se lembrar que ela é sua aluna agora
— ele solta os braços e antes de passar por mim, segura meu ombro. —, e
não a mulher que te tirou a paciência por molhar seu chão, que teve vontade
de beijar quando discutiram no meio da rua ou que até mesmo, que achou
atraente quando estava bêbado. Não vai fazer merda, Aiden.
Penso em rebater suas acusações, porque não foi apenas pelo chão
molhado, também teve meu fone, além de que não cheguei a dizer com
todas as letras que tive vontade de beijá-la no fim de semana passado, mas
antes que eu pudesse o fazer, ele sai e fecha a porta atrás de si. O gesto só
mostra como ele ficou realmente preocupado com o assunto.
 
“Senhor Aiden, a reunião com o senhor Werlack sobre a patente
do dispositivo das empresas Werlack’s é daqui a quarenta minutos.”
 
A voz de Samantha explode pelo alto falante do telefone, me
lembrando de uma das reuniões mais importantes do dia com meu cliente
mais antigo, que entrou em uma enrascada sobre os direitos de um dos
dispositivos da sua empresa, antes em sociedade com um amigo.
Nem me lembrava dessa porra!
Essa mulher consegue me tirar totalmente da órbita.
Agradeço a Samantha, e volto a organizar minha pasta com os
documentos que preciso levar para a reunião, que por ironia do destino, vai
ocorrer no prédio do escritório do meu pai, que são os representantes da
outra parte envolvida.
Considerando que a reunião pode se estender, tenho certeza que
meu pai e meu irmão vão tentar me convencer a ir embora de lá, e já que
não quero me estressar além do que já me estressei hoje, pego todas as
coisas das quais vou precisar para finalizar o trabalho em casa.

Nossos clientes saem pelas portas duplas da sala de reuniões, e


quase acredito que rolariam no chão em um embate por conta do olhar duro
que trocaram.
A ganância sempre destrói tudo por onde passa, ainda mais em se
tratando de amizades.
Assim que a porta se fecha atrás de uma das assistentes do
escritório, meu irmão se joga na cadeira ao meu lado e coloca a cabeça na
mesa, tapando os ouvidos com as mãos, completamente exausto após quase
quatro horas dessa reunião interminável.
— Esses dois são uns asnos. — A voz de Adrian saiu abafada por
conta da sua posição e começo a guardar minhas coisas. — Tenho certeza
que essa birra dos dois ainda vai estender por muito tempo tudo isso.
— Estamos em lados opostos nisso, Adrian. — Digo após fechar a
pasta, me sentando. — Não podemos debater o caso agora, aqui não somos
família, lembra?
— Um caralho que não podemos! — Ele ergue o rosto em minha
direção, exasperado. — Sei que tem a mesma opinião sobre esses dois
insuportáveis. Você deveria tomar cuidado.
— Por que seu irmão deveria tomar cuidado? — Nosso pai retorna
a sala e nos entrega uma garrafinha de água para cada.
— Sobre o escritório com o Henry, a gente observa todos os dias
como abrir uma sociedade baseada na amizade, quase sempre acabam
nessas disputas judiciais.
— Confio em Henry de olhos fechados, sabe disso. — Tomo um
gole da água gelada, que refresca e acaba com minha sede, que nem sabia
estar presente. — Podemos ser opostos em muitas coisas, mas sabemos ser
profissionais .
— Então não quis entrar no escritório do papai porque não confia
em nós? — O idiota do meu irmão mais velho coloca a mão sobre o peito,
como se tivesse sendo traído. — Bom saber, Aiden, também não confio em
você e a partir de hoje não vou mais deixar meus filhos passarem o dia na
sua companhia sempre que quiserem.
Luto para não revirar os olhos diante de seu drama e ouço a risada
fraca do meu pai.
— É claro que confio, seu imbecil. — Aproveitando que
estávamos um ao lado do outro, deposito um tapa em sua nuca. — Sabe que
não quis ficar por aqui porque não queria ser reconhecido como o filho do
dono, que conquistou tudo que tem pelo nome dos pais. Nada contra você.
— Mas pelo que eu me lembre, da última vez que estive em seus
escritórios, meu sobrenome estava espalhado por todo ele. — Antes que eu
pudesse responder que se trata do sobrenome da esposa dele, consigo
constar o tom brincalhão do meu pai e os dois caem na risada olhando em
minha direção.
— Eu não sei a quem você puxou com esse humor terrível, filho.
— Meu pai caminha em direção a porta. — Precisa aprender a relaxar mais.
Vamos embora, hoje tem jogo do time horrível que vocês aprenderam a
torcer com sua mãe e ela já está me infernizando com as mensagens,
pedindo que eu passe para comprar as cervejas dela.
Seguimos nosso pai, mas não sem eu ter de escutar de Adrian que
tudo que preciso para aprender a ser mais espontâneo, como ele diz, é de
uma mulher para me apaixonar.
Maldita obsessão que essa família tem por querer me arranjar um
casamento.
— Tenho um medo real de acharem que se arranjasse um
casamento para mim, eu mudaria.
As portas do elevador se abrem e entramos com os dois ainda rindo
da situação.
— Bem que o pai e a mãe poderiam fazer isso, sabe? — Adrian
olha esperançoso para nosso pai. — Comigo funcionou, porque com você
não daria certo?
—  Isso de casar por contrato funcionou com você porque foi uma
situação completamente diferente, Adrian. — é inacreditável que ele
realmente esteja cogitando isso. — Não inventa de dar essa ideia pra nossa
mãe. Sei bem como ela cai nas suas palhaçadas.
— Vocês dois não tem jeito. — Nosso pai sorri ao nos olhar, e
posso ver a satisfação e o amor que sente por seus filhos.
Sempre que vejo esse brilho nos olhos dos meus pais e da minha
família, é inevitável sorrir. Apesar de me tirarem completamente do sério,
sou grato por tê-los.
 

A bola entra no gol e todos na sala gritam em comemoração,


exceto por meu pai, minha cunhada e minha sobrinha, que não se
interessam pelo esporte e não entendem nossa obsessão.
Minha mãe, uma brasileira nata, apesar dos estereótipos, não
poderia ser menos fanática por futebol. Cresceu em meio aos estádios junto
do meu avô e dos amigos dele, e sua paixão acabou contaminando eu e
Adrian, assim como o amor por seu time brasileiro.
Confesso que não sou muito de praticar ou torcer por esportes, mas
é impossível não gritar de alegria, ou até chorar, pelo meu coringão.
Não é à toa que tenho até o caralho do escudo dele tatuado no
peito.
Passei boa parte da infância no Brasil, antes dos meus pais
decidirem viver em Garden de forma definitiva, mas nunca deixamos de
visitar e em todas as férias nossa viagem até Porto das Palmeiras, cidade
natal da senhora Mariana, era quase sagrada. Já fui a muitos jogos do meu
time lá, mesmo depois de adulto, mas já faz algum tempo que não vamos.
Sou apaixonado pelo Brasil, principalmente pela comida, tanto que
mamãe me ensinou a fazer todos os meus pratos favoritos. Preciso dar um
jeito de tirar umas férias e arrastar todos pra lá, nem que seja para
passarmos alguns dias, talvez umas duas semanas se tivermos sorte.
Assim que nossa comemoração acaba, Clarice nos olha como se
fossemos loucos. Minha mãe se encontrava abraçada ao meu irmão,
enquanto gritamos todos os palavrões que conhecemos em português, pela
grande virada que o gol feito contra o Flamengo nos últimos minutos de
jogo, nos levou.
— Não sei como podem achar graça nisso. — Clarice diz com
espanto ao ver a vó agarrada junto ao pai.  — Sério, são onze caras
correndo atrás de uma bola, não tem sentido algum.
— Filha, convenhamos que você não pode dizer muito coisa, já
que fica toda cheia de gracinhas quando se trata do time de handebol da sua
universidade. — Adrian zomba da filha e a morena revira os olhos. —
Papai te ama, princesinha.
Ela atira uma almofada no pai, o que incita os mais novos a
fazerem o mesmo, levando Adrian a correr atrás dos filhos, e uma
perseguição se inicia em nossa sala, onde até mesmo Clarice entra na
brincadeira quando meu irmão avança nela fazendo cosquinhas na mesma.
A risada de todos ecoam pelo ambiente, e vejo o brilho apaixonado
no olhar em que Francie direciona ao marido, e me pego pensando na
loucura que foi para esses dois finalmente ficarem juntos, antes de ser
interrompido por um ataque dos dois terroristas mais novos.
— Guerra de cosquinhas com o tio Aiden! — é Caio quem grita
quando pula em meu pescoço, e antes de Cecília imitar o gêmeo, me jogo
ao chão com eles.
Ouço meus pais comentarem com minha cunhada sobre como
apenas os três netos conseguem arrancar gargalhadas sinceras e momentos
assim de mim, e olho com cara feia para minha mãe quando ela diz que
sonha em presenciar o dia que serão os meus filhos junto a mim e Adrian.
A minha velha tem a coragem de me mostrar a língua antes de sair
em direção a cozinha com sua cerveja nas mãos e a bandeira do Corinthians
amarrada a sua roupa, balançando para trás.
 
Assim que o momento de descontração passa e todos se acalmam,
subo para minha ala da casa e quando encontro meu celular na mesa do
escritório, vejo que a reitora me adicionou em um grupo de mensagens,
com os alunos e outros professores da turma de Direito, me alertando que
serve para passarmos informações e assuntos importantes referentes as
coisas urgentes que não podem esperar para a sala de aula.
Não é possível que eles realmente achem essa ideia de grupo uma
boa ideia.
Inconscientemente, meus olhos procuram algo pela lista de
contatos da turma, e assim que encontram o que queria, sinto um arrepio
estranho passar por meu corpo.
Alexia está com um batom vermelho em sua foto de perfil, o rosto
emoldurado pelos cabelos escuros e curtos e um sorriso diabólico brincando
em seus lábios, junto dos olhos um pouco fechados por conta da felicidade
que aparenta através da tela.
Caralho de mulher linda.
Essa pequena peste vai me levar ao inferno!
“E eu poderia tentar fugir, mas seria inútil
A culpa é sua
Apenas uma dose de você e eu soube que eu nunca seria a mesma”
Never be the Same - Camila Cabello
 

Eu devo ter feito muita coisa errada em outra vida, para merecer
tanta desgraça de uma única vez.
Não acredito que vou ter aulas com aquele escroto!
Assim que ele deposita a folha na minha mesa, percebo que seus
olhos estão direcionados para minhas pernas.
Eu sei que sou gostosa, e você tem que viver sabendo que nunca
vai encostar em tudo isso aqui.
Tenho vontade de dizer as palavras em voz alta, mas antes que eu
pudesse fazer, sinto uma cotovelada nas minhas costelas, e assim que o
babaca sai da minha mesa, olho fulminante em direção a Lia.
— Levar uma mordida na mão, quando tapou minha boca, não foi
o suficiente para parar de me impedir? — Sou um pouco grossa, mas neste
momento estou completamente enraivecida com ela.
— Tudo bem, da próxima deixo você abrir essa boca grande e falar
o que quiser, correndo o risco de perder sua bolsa.
Ela se vira para frente e sei que fiz besteira. Bufo uma ou duas
vezes, ensaiando um pedido de desculpas, mas assim que me viro para ela,
o idiota começa a palestrar sua primeira aula.
Ainda não acredito que vou ter que suportar ele. Ainda mais nas
aulas que eram pra ser minhas preferidas.
Porra de vida!
Olho para trás, onde sei que vou encontrar Ethan, e quando ele
percebe meu olhar sobre ele, sorri feito um palhaço e pelo que entendo dos
movimentos que sua boca faz, diz algo parecido sobre como nosso novo
professor é foda.
Balanço a cabeça e me viro para frente, para ao menos tentar
prestar atenção em alguma coisa.
Meus olhos instintivamente, passeiam pelo corpo do homem à
nossa frente, e quase não consigo conter o suspiro, ao passo que o faço.
Sério, ele tinha que ser tão gostoso?
Tento focar nas palavras que fala, direcionando o olhar em sua
boca, mas se torna uma péssima ideia quando constato que até os lábios
dele são perfeitos. Mudo de estratégia e foco nas suas orbes escuras, mas
quando ele as coloca em mim, com sua típica expressão odiosa, com um
olhar intenso, sinto como se minha pele estivesse pegando fogo.
Ótimo! Começamos bem com isso.
 
Assim que a turma é liberada, vejo que Lia sai às pressas e preciso
me apressar para poder falar com ela. Seguro seu braço com delicadeza
quando já estamos fora do prédio e ela se vira em minha direção com uma
expressão cansada.
— Me desculpa! — vejo quando franze o cenho e quase reviro os
olhos por conta da surpresa com meu pedido. — Não faz essa cara! Sempre
me desculpo quando assumo meus erros.
— Exatamente, e você quase nunca assume que está errada. —
Estou pronta para rebater quando vejo uma de suas sobrancelhas se erguer,
como se a minha próxima ação fosse provar seu ponto.
— Enfim, me desculpa por ter te mordido quando evitou que eu
provavelmente fosse expulsa da sala, já que todos os palavrões possíveis
estavam prontos pra deixar minha boca naquela hora. — sorrio sem graça e
voltamos a caminhar juntas pelo campus. — E desculpa por ter sido
grosseira, mas você mereceu.
— Viu? Não consegue se desculpar sem culpar o outro por alguma
coisa. — apesar da acusação, posso ver um sorriso em seus lábios. — Te
desculpo, mas posso saber o porque eu mereci?
— Sabia que ele seria nosso professor e não me contou. — a
empurro de leve pelo ombro e ela gargalha. — Viu como você também
pode ser diabólica, quando quer?
— Eu sabia, e se você tivesse tido a decência de ter aberto a lista
de professores, teria visto o nome dele nela. — me empurra de volta. —
Não te contei porque sabia como estava animada pra essa aula e não queria
te desanimar antes mesmo de começarmos. Foi pro seu bem.
Reviro os olhos e a empurro mais forte dessa vez, fazendo com que
ela solte um gritinho.
— Já que a minha presença aqui está sendo desvalorizada, vou ir
atrás de quem realmente a aprecia.
Assim que ela se vira para ir ao sentido contrário da lanchonete, a
seguro pelo colarinho, irritada por saber até quem ela vai.
— Você não vai atrás daquele moleque, Lia. — Ela suspira pesado
e se vira pra mim. — Ele não te merece e você sabe disso. Sempre foi um
babaca, mas agora que a bandinha sem nome dele tá começando a fazer
sucesso, tá ficando cada vez pior.
— O Mark não é tão idiota como você pensa, Alexia, devia dar
uma chance e pelo menos conversar com ele. — ela repete as mesmas
palavras que a ouço dizer desde que começou a ficar com Marcus. —
Nunca oficializamos nada, então ele pode muito bem ficar com quem ele
quiser.
Tento segurar minha língua, mas falho miseravelmente.
— Enquanto você se mantém fiel, ficando só com ele, parecendo
uma namorada toda abobalhada por ele, o cara come todo mundo de dentro
e fora desta universidade. — Lia fecha sua expressão, e antes de vir com o
papinho de que fica com bem entender, só não faz isso porque não quer, a
corto antes de começar. — Isso pra mim é papo de corna mansa, Lia. E
você não é assim, nunca foi.
— Eu fico com quem eu quiser e quando bem entender, Alexia. —
não disse? — Só não tenho vontade, já que o Mark me basta. E eu não sou
corna, não temos nada sério, não ligo dele ficar com outras.
Tá bom.
Diz isso pra Lia de cinco dias atrás que estava bêbada e chorando
enquanto falava como detesta quando vê Marcus ficando com alguém em
alguma festa.
— Lia, você é o que? Quatro ou cinco anos mais velha que ele?
Não pode sofrer por um moleque. Só falo isso pro seu bem.
— Eu sei, e não sofro por ele. — ela revira os olhos como se minha
acusação fosse totalmente inválida. — Preciso mesmo ir a um lugar,
encontro você e Luke mais tarde.
Ela beija minha bochecha e vai saltitando, literalmente saltitando,
até o prédio em que sei que Mark estuda.
Não sei o que ela vê nesse moleque, que não valoriza sequer uma
mulher a sua volta. Lia é inteligente demais pra sofrer por um cara como o
Marcus, mas tanto eu quanto Luke estamos cansados de tentar abrir os
olhos dela.
Não importa o que aconteça, vou estar aqui para colar os caquinhos
do coração dela quando for preciso.
E não querendo jogar praga ou algo assim, mas tenho quase certeza
de que hora ou outra, ela vai precisar.

Assim que finalizo o atendimento de um dos professores que


frequenta a lanchonete, minha visão periférica nota quando a ruiva bem
vestida, passa pelas portas e se senta no lugar que vem tomando como seu,
sempre no mesmo horário nos últimos dias.
Olho em sua direção e vejo quando a mesma olha por todo o
espaço, como se estivesse querendo se esconder de alguém, ou até mesmo
querendo passar despercebida.
Sinto muito, bonitona. Não tem como passar despercebida sendo
uma puta ruivona elegante, ainda mais se vestindo como se tivesse acabado
de sair de um tapete vermelho.
— Boa tarde. — me aproximo da sua mesa com um sorriso gentil,
ao qual tive de aprender a oferecer se quisesse trabalhar aqui. — O mesmo
das últimas vezes, ou algo diferente?
— Boa tarde! — sua voz é potente, um tanto rouca e combina bem
com sua postura ao sair dos lábios cheios e rosados. —  O mesmo de ontem,
por favor.
Anoto o pedido, um pedaço de torta de limão siciliano e uma coca,
e saio para buscar tentando puxar na memória se já tinha a visto por aqui
nos semestres anteriores e concluo que não, então presumo que deva ser
uma nova funcionária da universidade..
Posso estar sendo extremamente curiosa, mas preciso saber um
pouco sobre os clientes que frequentam aqui.
— É a mesma ruiva que está batendo ponto nos últimos dias? —
Luke pergunta assim que entrego o pedido em suas mãos e assinto em
confirmação. — Ela tem se tornado uma cliente fiel.
— Não é? — olho para ele e percebe que só estava esperando uma
brecha para falar sobre a desconhecida. — E ela não tem cara de ser
professora, muito menos aluna.
— Com certeza não. É só olhar pros Louboutins nos pés dela e a
Gucci pendurada no ombro.
— Ei! — dou com minha caderneta no peito dele. — Eu também
tenho um Louboutin e uma Gucci, e sou aluna daqui.
Ele me olha com um olhar zombeteiro.
— Querida, os seus Louboutins foram comprados num brechó
chique, de alguma princesinha que não queria mais os sapatos da coleção
retrasada. — Ergo as sobrancelhas para ele, questionando o que teria de
errado nisso. — Alexia, aqueles ali foram lançados a poucas semanas,
admita que não teria dinheiro pra um desses. — sorri enquanto coloca os
itens do pedido na minha bandeja. — E sua Gucci novinha foi presente do
meu noivo, agora vai trabalhar e esqueça sua vida passada regada a luxos.
Saio do balcão a contragosto e após ouvir o agradecimento da
ruiva, vejo Lia entrando e indo em até Luke.
Não preciso adivinhar o que a grande fofoqueira está contando ao
meu gerente, quando vejo os olhos do mesmo quase rolarem pelo chão ao
me olhar espantado. Ele me chama desesperado e antes mesmo de chegar
até eles, um sorriso diabólico brilha em seu rosto.
Vou matar a Lia.
— Como assim, o senhor gostoso vai te dar aulas e você não me
contou?
Olho para Lia que sorri tranquila para mim, sabendo muito bem o
que fez.
— Esse ser é tão insignificante, que até me esqueci de contar que
nós — friso a palavra enquanto aponto a mulher ao meu lado. —, iremos ter
aulas com ele. E ele não é gostoso.
Acrescento porque sei que se não refutasse o adjetivo, tenho
certeza de que me acusaria de algo.
Até porque foi exatamente por isso que evitei contar logo que
cheguei.
Aquele arrogante não sai da minha cabeça, o que me deixa furiosa
e preciso tentar não pensar ainda mais nele.
— Sua cara tá vermelha pela mentira, Alexia. — Luke debocha
enquanto ri e me dirijo para dentro a fim de me trocar e me ver livre das
acusações, aproveitando o fim do meu expediente. — Não contou porque
provavelmente não para de pensar nele e queria evitar trazer ainda mais à
tona.
Odeio como esse ridículo me conhece tão bem.
— E agora vai fazer silêncio sobre o assunto.
Ouço Lia dizer e Luke concorda com um resmungo, enquanto
retiro meu avental e penduro ao lado da porta.
— É melhor vocês começarem a rezar pela minha alma. — me viro
e eles me olham confusos. — Vou acabar cometendo um crime naquela sala
de aula e além da cadeia, ainda vou ir para o inferno por ter matado aquele
babaca. Já estou fantasiando diversas maneiras de como executar meu
plano.
— Querida, acho que o único pecado que você vai cometer com
aquele homem, é o da luxúria. — os dois riem às minhas costas quando
estou prestes a passar pelas portas de serviço. — E aposto que as suas
fantasias envolvem as diversas maneiras as quais ele vai te levar ao
orgasmo.
Ele diz as últimas palavras quase como um sussurro, para que
apenas eu e Lia escutemos e mostro o dedo do meio para eles, sem me dar o
trabalho de me virar.
Eu só espero que ele esteja errado.
Até porque se ele não fosse tão babaca, eu com certeza tentaria
levá-lo pra cama.
Preciso parar com esses pensamentos!

Quase não consigo acreditar quando o senhor Marquês me chama


de canto e me libera quase quarenta minutos antes do meu horário.
Minha vontade é de sair saltitando feito criança que acabou de
receber um doce, mas me contenho e lhe dou um abraço junto de um beijo
nas bochechas rosadas e fofinhas.
Me troco na velocidade da luz, pensando no pedaço de cheesecake
que Luke deixou em casa pra mim, e assim que coloco os pés na rua, sinto
um arrepio estranho passar por todo meu corpo.
Mas que porra esquisita é essa?
Olho à minha volta, como se ao fazer isso fosse encontrar alguém
ao meu redor, mas não encontro ninguém, além de alguns bêbados na
esquina adiante, em um outro bar.
Chacoalho meus ombros, como se ao fizer isso o arrepio fosse
deixar meu corpo e começo a andar em direção a minha casa.
Pego meu celular para ver do que se tratam as notificações que
chegaram quando o senti vibrar no bolso mais cedo.
Mas que caralho!
Será que não tenho paz?
Nenhum mísero segundo da mais absoluta tranquilidade?
Abro o grupo ridículo, que é criado no início de cada período, com
todos os alunos do curso de Direito, e vejo que nossa maravilhosa reitora
acrescentou o mais novo docente do corpo estudantil.
Vejo as mensagens de boas-vindas de alguns alunos, todos puxa-
saco, que clamam por atenção achando que vão receber notas por conta da
grande bajulação.
Coitados.
Percebo que o senhor Munhoz consegue ser escroto até mesmo por
mensagens, considerando que respondeu apenas um curto “Boa noite”, nem
fazendo questão de agradecer aos que, mesmo falsamente, estavam lhe
desejando as boas vindas.
Muito arrogante.
Sem pensar no que estou fazendo, abro seu contato e encontro sua
foto de perfil.
A logo dos escritórios Davidson e Munhoz brilha na minha tela, e
tento enterrar a pequena pontada de decepção que me acometeu, guardando
o celular na bolsa e voltando a prestar atenção no caminho à minha frente.
Bem que poderia ter ao menos uma foto dele.
Na frente do escritório, talvez?
Quando estou virando uma das várias ruas desertas até meu prédio,
ouço o som de passos nas minhas costas, mas quando me viro encontro
apenas o escuro pela falta de iluminação momentânea naquela determinada
calçada. A luz do poste pisca levemente e volta a se acender, e posso ouvir
nitidamente quando os passos se distanciam por algum beco.
O arrepio volta a passar pelo meu corpo e me apresso até chegar a
segurança da minha rua, que conta com algumas pessoas por conta de um
mercadinho vinte e quatro horas em uma das esquinas.
Assim que entro em casa, vou direto para o banho, frio por conta
do calor, e tento não pensar no que acho que posso ter ouvido alguns
minutos atrás, tentando acalmar meu coração que bate desenfreado em meu
peito.
Assim que coloco o meu melhor e favorito pijama, do Stitch, deito
e pego meu notebook idoso, junto do doce que estava na geladeira,
pensando que se talvez eu assistir ao meu filme favorito essa noite, vai fazer
com que eu me acalme, já que aparentemente o medo se apossou de mim.
Legalmente Loira é o maior acontecimento da cinematografia, e
não tem quem me faça pensar o contrário.
Antes de me enfiar no meu quarto, confiro mais de três vezes se
todas as janelas estão trancadas e, por precaução, coloco uma cadeira atrás
da porta de entrada.
Se ela não for capaz de impedir alguém de entrar, ao menos o
barulho dela vai me acordar e vou conseguir fugir pelas escadas de incêndio
antes que arrombem a porta do meu quarto.
É um ótimo plano!
Antes de finalmente deitar, recuso o convite de Lia para mais uma
das suas festas universitárias.
A uma altura dessas, álcool não me faria muito bem, considerando
que a última vez que bebi até esquecer meu nome, acabei enviando aquele
maldito currículo.
Quem sabe o que eu seria capaz de fazer agora, estando fora de
mim e com o número de telefone do escroto a minha disposição?
Melhor evitar passar por uma delegacia sobre a acusação de
ameaças virtuais.
“É a hora de começar, não é?
Fiquei um pouco maior, mas agora vou admitir
Sou apenas o mesmo que eu era
Agora, você não entende
Que eu nunca vou mudar quem sou?”
I’ts Time - Imagine Dragons
 

Assim que coloco os pés na sala de jantar, onde mamãe insiste que
façamos todas as refeições do dia juntos, ou ao menos parte dela,
considerando que não trabalhamos na cidade e dificilmente conseguimos vir
almoçar, me arrependo amargamente por ter aceitado ir até a boate com
Henry na noite de ontem.
Só de ouvir as risadas estridentes dos gêmeos, minha cabeça
começa a pulsar e sei que vou ter que lidar com a maldita enxaqueca pós
ressaca, por boa parte do dia.
— Bom dia, filho. — meu pai é o primeiro a notar minha presença,
antes de eu me dirigir até a cadeira. — A noite foi agitada pelo visto.
— Agitada foi pouco, pai. — Adrian responde estampando um
sorriso divertido nos lábios. — Tive que ajudar o bonitão a subir as escadas,
ou teríamos que lidar com um enterro essa manhã.
Assim que as palavras saem da boca do idiota, nossa mãe puxa a
orelha do mesmo ao mesmo tempo que sua mulher estapeia, sem delicadeza
alguma, o seu braço.
— Infelizmente, dessa vez o Adrian está certo. — Minha voz sai
mais rouca do que o normal, além da dor que se faz presente na minha
garganta. — Não sei nem como consegui acertar o caminho para casa.
Tinha me esquecido que não sou mais tão jovem assim e que beber o tanto
que bebi ontem, não traz nada de bom no dia seguinte.
— Você não acertou o caminho para casa, bebezão. — Adrian que
massageia a orelha me responde e o questiono com um olhar enquanto me
sirvo do pão de queijo maravilhoso da dona Mariana. — A mulher com
quem você passou a noite que te trouxe e depois pegou um Uber para ir pra
casa.
Que ótimo!
Não faço ideia de quem se trata a mulher e muito menos do que
fizemos na noite passada.
Na verdade, tenho alguns flashes na mente, de quando estávamos
fodendo no banheiro da boate, mas não posso afirmar que se trata da mesma
mulher.
— Pelo visto você nem lembra da pobre coitada. — mamãe diz
com pesar, mas vejo que segura o riso.
Sorrio fraco para a mesma e me sirvo do café sem açúcar, feito
especialmente para mim, já que sou o único que prefiro assim, e a atenção
de todos é desviada para Clarice, que quando começa a falar não consegue
parar nem para respirar.
Tomo meu café em silêncio, passando os dedos pelas têmporas vez
outra, numa tentativa falha de aliviar a dor excruciante, mas consigo pegar
algumas partes do assunto, sobre o aniversário da mesma.
Já estava quase me esquecendo que daqui algumas semanas nossa
princesinha já completa seus vinte anos.
Parece que foi a alguns dias que tive que acudir Adrian, quando a
ficante dele, do Brasil, contou que estava grávida e o idiota desmaiou nos
meus braços.
O bom foi que o choque serviu para que eu pudesse estapeá-lo no
rosto até que acordasse, sem tomar nenhuma bronca por estar batendo nele.
Pensei que a ideia de ser tio aos dezesseis anos seria péssima, mas
foi uma das melhores coisas que me aconteceu e tenho orgulho de ter feito
parte da criação de Clarice.
Passávamos juntos, todo tempo que eu tinha de sobra, enquanto
seu pai estava começando a universidade e sua mãe decidia voltar ao Brasil,
já que não se adaptou aos Estados Unidos, cedendo a guarda integral para
Adrian.
Eu estive presente em quase todos os seus momentos mais
importantes. Quando ela deu os primeiros passinhos, eu que ajudei a se
equilibrar enquanto os pais dela fotografavam, nas suas primeiras palavras
estávamos juntos, e fiz questão de zombar meu irmão por ter sido
"mamãe”, e claro, eu que ensinei a pequena devoradora de livros a ler.
Uma coisa que não imaginam quando me julgam por conta do meu
jeito mais fechado, e diria que até intimidador, é que quando estou em casa
sou facilmente rendido por meus sobrinhos e feito de gato e sapato.
— Tio? — a mão de Clarice passa na frente dos meus olhos e foco
minha atenção no que a mesma fala. — Tudo bem? Tá sorrindo feito um
idiota aí.
— Tudo sim, princesinha. — Sorrio enquanto ignoro o cochicho
dos meus pais sobre eu estar pensando em alguma mulher. — O que foi?
— Tinha perguntado como foi seu primeiro dia de aula na Garden.
— Ela colocou um pedaço de abacaxi na boca enquanto me fitava com os
olhos castanhos, que assim como sua pele morena, os puxou de sua mãe. —
Sei que já se passaram alguns dias mas tinha me esquecido.
— Foi um desastre e pensei seriamente em ir direto até a diretora
me demitir. — Todos me olham curiosos e surpresos, até mesmo os gêmeos
me fitam com curiosidade. — Não sei nem o porquê de eu ter aceitado essa
ideia estúpida.
— Aceitou porque está sempre tentando se provar. — Adrian me
lança uma piscadela. — Não conseguiu recusar a proposta da diretora,
quando te ofereceu o antigo cargo dela a base dos elogios sobre ser o
melhor da área, e foi todo esse papo que te ganhou, então agora precisa
fazer jus ao seu nome, Aiden Munhoz.
Por incrível que possa parecer, o idiota realmente me incentiva
com essas palavras.
— Bem lembrado. — Sorrio cinicamente enquanto bebo o restante
do café antes de me levantar. — E acabou de me lembrar o porquê não
posso desistir. Sou o melhor e vão pensar o que de mim se eu me render?
Que não aguentei lidar com um bando de jovens adultos que acabaram de
sair das fraldas?
— É assim que se fala, cara. — Passo por ele e antes de tocar em
sua mão estendida para um toque, deposito um tapa em sua nuca. — Te
odeio.
Saio de casa estampando um sorriso brincalhão, que morre aos
poucos quando a dor volta de forma dobrada.
Caralho de whisky!
Estou finalizando de revisar alguns contratos antes de enviá-los a
um dos meus clientes quando minha porta é aberta de forma bruta, e não
faço questão de erguer o rosto para saber de quem se trata.
— Pode ao menos fechar a porta, por favor?
A porta se fecha sem resposta alguma da parte de Henry, e ele se
senta à minha frente em seguida, depositando uma pasta fina sobre a mesa.
Encaro o material de papel pardo e finalmente fito seu rosto,
arqueando uma das sobrancelhas sem entender do que se trata.
— Esqueceu que quando aceitou ser professor na Garden, também
meteu o escritório numa parceria com a universidade? — Minha expressão
é pura confusão, porque não me lembrava, e com certeza não me esqueceria
de algo assim, até ver o sorriso enorme que Henry abre.
— Você fechou uma parceria com eles?
Deposito a caneta que estava na minha mão sobre os papéis e levo
meus dedos a ponte do meu nariz, fechando brevemente os olhos e
respirando fundo.
— Nós fechamos uma parceria, para receber alguns dos melhores
alunos do curso de Direito como estagiários. — Assim que volto a abrir os
olhos, ele abre a maldita pasta e começa a tirar algumas fichas de dentro. —
Ao todo são seis escolhidos pela reitora e podemos ficar com três deles, não
é legal?
Sua empolgação se assemelha como se estivesse falando sobre os
novos cachorrinhos que adotou.
Ele encontra a resposta estampada em meu rosto e dá de ombros
como se não fosse nada.
— Enfim, trouxe as fichas deles para escolhermos juntos os três.
— Posso ver como está empolgado com ideia e não querendo acabar com
toda sua animação, decido não me intrometer. — Como você também é o
professor deles, mesmo tendo dado apenas uma aula, ela deixou que
escolhêssemos os nossos e o restante fica com o outro escritório que tem
um acordo similar.
— Não vou me intrometer nos seus negócios, e com certeza não
vou te ajudar a escolher os alunos.
— Por que não? — ele fecha a pasta e coloca os pés sobre a mesa.
Como eu odeio esse maldito hábito.
— Porque não vou querer nenhum dos estagiários comigo, sabe
que não tenho paciência pra erros de iniciantes. — Empurro os pés dele,
que cai no chão fazendo um barulho estrondoso. — Ainda mais se tratando
de pessoas que agora são meus alunos, não posso misturar as coisas e
acabar atrapalhando ainda mais a vida dos pobres coitados naquela
faculdade, caso façam algum estrago por aqui.
— Faz sentido. — Vejo ele passar os dedos sobre a barba cheia, e
já sei que vem alguma merda por aí. — Sabe que ao ser professor, está
numa posição que precisa ser paciente com erros iniciantes, não é? Tenho
certeza que vai reprovar todos os seus alunos.
— Sai da minha sala, Henry. — Aponto para a porta a suas costas.
— Estou com uma puta dor de cabeça por causa de ontem à noite, culpa que
atribuo a você, e não quero mais encheção de saco.
— Ei, calminha aí. A culpa foi das garrafas de whisky que você
tomou inteira e sozinho. — Ergue as mãos em rendição. — Mas então
vamos mudar de assunto. Que tal me falar daquela morena gostosa que
estava levando pro banheiro e depois não te vi pelo resto da noite?
— Saia antes que eu chame os seguranças, Henry. — Coloco a
testa sobre a mesa, em um claro sinal de derrota.
— Sou o dono, não podem me expulsar. — Fala como se fosse
óbvio. — Tudo bem, próximo tópico. — se faz silêncio por alguns minutos
e antes que eu pudesse comemorar, ele desfere um tapa, no que imagino ter
sido sua coxa.
— O que foi?
— Odeio quando está de ressaca, fica com o humor pior do que já
é. — ele vai até a porta e posso ouvi-lo pedir a Samantha que traga meu
café, amargo como a morte, nas palavras dele, e volta a se sentar. —
Lembra do convite para aquela première que recebemos e somente eu fui,
no sábado?
Levanto minha cabeça e faço um gesto com as mãos para que
pudesse terminar de dizer o que começou.
— Acabei me envolvendo numa briga com uma das mulheres que
foi convidada. — Ergo as sobrancelhas num claro sinal de interesse e ele
continua sem pausas. — Basicamente eu acabei tropeçando na calda
enorme do vestido exagerado dela, e rasguei todo o tecido.
— Não quero nem saber a maneira com que ela provavelmente
quis comer seu fígado.
— Ela ameaçou enfiar o salto cravejado dela pela minha goela até
sair pelo meu rabo. — Faz uma expressão de pesar e o acompanho ao
pensar no sofrimento que seria ter de expelir um sapato desses. — Só não
fizemos um barraco na frente das câmeras porque acho que se importa
bastante com a reputação. Mas não posso negar que ela era muito gostosa.
Samantha entra na sala e deixa meu café, olhando furiosa para meu
sócio que sorri amarelo para a mesma. Antes de bater à porta, ela aponta o
dedo do meio para Henry, que lhe lança um beijo.
— Acho que isso conta como insubordinação, podemos demitir
ela.
— Não podemos, Aiden. — Ele suspirou pesaroso. — E admita
que sonha em demiti-la porque sabe que ela fala mal de você pelas costas, e
só não faz isso porque ela trabalha muito bem.
— Assumo. — tomo um gole da bebida quente e o alívio que o seu
amargor traz é imediato. — Não sabia que estavam tendo algo sério a ponto
dela se irritar com sua fala sobre outra mulher.
— Não estamos. — ele se levanta e caminha em direção a porta. —
Mas não posso fazer nada se todas acabam se apaixonando por mim. Acho
que é o cabelo.
Ele deixa a sala, largando a porta aberta para trás.
Maldito.

Após passar o dia todo atolado em um mundaréu de papéis,


percebo que Henry deixou a maldita pasta com as fichas na minha sala,
então aproveito para passar e entregar a ele e contenho a curiosidade de
bisbilhotar nossos possíveis futuros estagiários.
Dou algumas batidas em sua sala, já que, diferente dele, tenho
educação e entro após o mesmo autorizar.
Podem se passar anos, mas sempre me surpreendo quando entro na
sala de Henry.
A mesa de mogno imponente e centralizada passa um ar
sofisticado e profissional, ainda mais se levarmos em conta os adereços que
a adornam, como uma pequena estátua de Têmis[2], esculpida ao que
acredito ser ouro, combinado a sua toga[3], que fica pendurada
orgulhosamente em uma das laterais da sala. E claro que o que mais chama
atenção por destoar completamente do ambiente, são os dois sabres de luz
que tem pendurado em uma das paredes.
Mais Henry que isso, impossível.
Me sento em uma das cadeiras a frente de sua mesa, enquanto
aguardo ele finalizar uma ligação e aproveito para brincar com a ampulheta
que também tem como decoração.
Antes que eu pudesse prever, Henry desfere um tapa nas minhas
mãos, o que faz com que eu quase deixasse a porra do brinquedo cair no
chão.
— Se quebrasse, teria que comprar uma nova.
— Compraria com prazer, um brinquedinho desses não deve custar
quase nada.
— Na época paguei quase três mil dólares. — ele posiciona o
artigo, que agora imagino ser de luxo, no mesmo lugar em que peguei. —
Mas se isso for quase nada, fique à vontade para me dar mais uma, em outra
cor agora, enjoei da areia azul.
— Não vou nem dissertar sobre isso pra não falar merda. — me
levanto e coloco a pasta sobre a mesa. — Esqueceu na minha mesa.
— Chegou a dar uma olhada?
— Não fiz questão. Só contrate aqueles que parecem dar menos
trabalho. — me viro pra ele antes de sair da sala. — Te encontro na
academia daqui a meia hora.
Assim que deixo sua sala, vou até o elevador, com o intuito de ir
até um dos andares anteriores à nossa cobertura, onde ficam localizados
apenas minha sala e a de Henry.
Assim que o elevador para em um dos andares dos quais
solicitaram minha presença, ando por entres as mesas dos diversos
assistentes e advogados daquele setor, do ramo criminal em específico, e
como acontece raramente, me pego sorrindo orgulhoso ao cumprimentar
cada uma das pessoas ali.
É bom pra caralho pensar que a Davidson e Munhoz começou em
um escritório pequeno onde havia apenas duas salas e uma recepção
minúscula, que mal cabia a mesa da secretária da época. Ver como agora
ocupamos um prédio de dezesseis andares, que conseguimos expandir
nossas especialidades entre os associados, é mais satisfatório do que ver
meu time ganhar um jogo.
Foi para isso que trabalhei sem descanso desde que me formei.
Pensar em que haviam dias que se eu dormisse mais de duas horas na noite,
a considerava bem dormida. O começo disso tudo não foi nenhum pouco
fácil, eu e Henry praticamente morávamos no escritório, pegando casos e
mais casos, além de outras coisas, das quais até hoje tenho pesadelos, que
precisei me submeter para abrirmos o escritório, tentando fazer nosso nome
acontecer.
E aconteceu.
Porra, e como aconteceu.
Dez anos depois e agora temos uma cobertura destinada apenas a
nós, onde cada uma das nossas salas é maior do que o primeiro local da
D&M, contamos com mais de quarenta e cinco associados, além de todos
os assistentes e estagiários.
É bom pra caralho andar por esses corredores e ser conhecido
como um dos fundadores disso tudo.
De repente sinto a necessidade de comemorar toda nossa
caminhada e antes de entrar na sala de um dos nossos advogados seniores,
paro para enviar uma mensagem a Henry sobre planejarmos tirar alguns
dias de folga, esse ano ainda, se possível.
Assim que termino de digitar, recebo uma mensagem do maldito
grupo da faculdade, que tenho evitado de entrar, já que toda vez que estou
lendo a mensagem, alguma coisa me leva a olhar a porra do perfil daquela
peste.
O grupo se abre sem que eu consiga fechar o aplicativo, mas
focado em não dar atenção a essas perturbações, não agora que tive esse
raro pico de felicidade e contemplação por tudo que consegui conquistar,
bloqueio a tela do celular sem ler as mensagens que a reitora estava
mandando.
Assim que entro na sala, descubro que me chamaram por conta de
uma dúvida em um dos casos e me sento torcendo para que não demoremos
muito nisso, já que fazia alguns dias que não me sobrava tempo de ir até
academia e preciso muito gastar energia, eliminar o restante do álcool do
meu organismo.

— Tem certeza que não vai querer nenhum dos estagiários pra
você? — ouço Henry perguntar pela terceira vez desde que estamos na
academia, enquanto corremos na esteira. — Eles podem servir pra alguma
coisa, ou vai negar que era um bom estagiário quando foi sua vez?
Retiro o fone de ouvido e os guardo no bolso dessa vez, aceitando
que não vou conseguir escutar minhas músicas enquanto estiver com o
maldito ao meu lado.
— Tenho certeza absoluta, Henry. — Minha voz soa tediosa, já
cansado de responder a mesma pergunta. — E não tem como comparar os
estagiários de hoje em dia com os de dez anos atrás. Nós realmente
trabalhávamos, não ficávamos à toa ou servindo cafezinho.
— Você pode colocar seu estagiário pra trabalhar de verdade. —
Ele dá de ombros e arruma a faixa em seu cabelo, antes de ajustar seu
coque. — Sabe como é, moldar um futuro advogado como você bem
entender e depois ter orgulho de dizer a todos por aí que foi com você que
ele aprendeu tudo que sabe.
Olho pra ele, incrédulo.
Como ele pensa que usar esse papo de orgulho, vai conseguir me
manipular a aceitar um dos estagiários?!
— Não adianta, não vou. — Desligo a esteira, que vai se
desacelerando e pego a garrafa de água no suporte ao lado. — Não tenho
paciência para lidar com erros de iniciante, já estou velho e não quero
correr o risco de ter um infarto antes da hora.
Bebo um gole da água gelada e sinto meu coração ir se acalmando
aos poucos, enquanto limpo o suor que escorre por todo meu rosto, com a
toalha que estava pendurada em meus ombros.
— Então tudo que eu te digo é, boa sorte, amigo. — Henry salta da
esteira e bate em meu ombro ao passar por mim e prosseguir para os
vestiários. — Realmente espero não receber nenhuma chamada urgente da
universidade, com a notícia de que caiu duro em uma das aulas por conta de
uma das alunas, especificamente uma que mexe com você.
Por que esse merda tinha que lembrar disso?
— Consegue parar de tocar no assunto daquela peste? A raiva volta
sem controle só de ouvir sobre ela, e não vou cair duro por conta de uma
mulherzinha mimada.
— É, talvez não. — Ele se vira de frente para mim e ao ver o
sorriso sacana em seu rosto, sei que vai abrir a boca pra falar alguma
besteira. — Mas tô achando que duro é uma palavra que vai se aplicar bem
a sua situação, todas as quintas-feiras.
Ele sai correndo e o acerto com a garrafinha de plástico em minha
mão, que pega em suas costas antes dele passar pela porta do vestiário.
Só espero que esse maldito esteja errado.
Não consigo imaginar o quão fodido vou estar se ele estiver certo.
“Sem advogados
Para pleitear meu caso
Sem órbitas
Para me mandar para o espaço sideral
E meus dedos
Estão enfeitados
Com diamantes e ouro
Mas isso não vai me ajudar agora”
Trouble - P!nk
 

A semana mal começou e já me sinto como se um caminhão


tivesse passado por cima de mim, sem piedade e sem a intenção de tirar
meus restos da rodovia.
É terça-feira e internamente, talvez até externamente, já estou
implorando pelo fim de semana. Não que fosse mudar muita coisa na minha
situação, considerando que não tenho folga pelos próximos seis dias, mas só
a ideia de não ter que levantar cedo e ir para aquele inferno de universidade,
chega a me dar um quentinho no coração.
Nunca fui uma pessoa matinal e sempre que posso dormir até
depois das onze eu o faço e tenho vontade de pegar pelo pescoço a pessoa
que achou que seria uma boa ideia que o mundo funcionasse antes das dez
horas da manhã.
Vejo Lia se aproximar de longe, com um sorriso enorme e radiante.
Minha cabeça, que estava apoiada vergonhosamente na minha mão, tombou
de vez para a mesa de concreto.
Detesto pessoas felizes logo pela manhã.
— Bom dia! — A voz levemente estridente dela se faz presente ao
meu lado, poucos segundos antes de eu sentir um beijo ser depositado na
minha cabeça. — Posso saber por que está com essa cara logo cedo? O dia
mal começou, não é possível que tudo já esteja dando errado.
Acho incrível a forma que meus amigos me apoiam.
— Impressionante o apoio moral que tenho da sua parte, só não é
pior que o Luke. — Ergo meu rosto e direciono meus olhos para as pessoas
bem humoradas distribuídas entre os bancos do campus e o gramado
extenso. — Como vocês conseguem ser tão bem humorados às oito e meia
da manhã?
— Desamarra essa cara, Alexia. — Ela finalmente se senta ao meu
lado e tira alguns livros da bolsa. — O sol está brilhando, o dia está lindo e
ganhamos a manhã vaga por conta da apresentação dos Hedgehogs, não tem
motivos melhores que esse pra não estar sorrindo.
— Eu estaria sorrindo se estivesse em casa, debaixo das cobertas
mesmo com esse calor infernal e de preferência comendo algum doce. —
Me espreguiço e passo os dedos pelos meus olhos. — Não vai me obrigar a
ir pra aquela quadra, né?
O evento que sempre ocorre em um dos primeiros dias de aula,
conta com a apresentação tanto do time de handebol, quanto dos alunos de
artes cênicas, teatro e dança. Às vezes acontece de ter apresentação também
de algum dos times pequenos da Garden, como o vôlei ou o lacrosse, mas
por aqui, surpreendentemente o que realmente faz sucesso é o handebol,
então decidem não chamar tanta atenção assim para aqueles que não
conseguem nem sequer chegar aos campeonatos estaduais.
Acho isso uma puta injustiça, tendo em visto que treinam e dão
tudo de si, assim como os Astros do Handebol, como os meninos foram
intitulados.
— O céu é azul?
Quase respondo sua pergunta retórica com alguma coisa bem
inapropriada pra se ouvir tão cedo assim, mas desisto quando algo, ou
melhor, alguém, chama minha atenção ao atravessar o campus em direção
ao prédio de esportes, onde fica localizada a quadra de eventos e também a
quadra onde nossos jogadores vão fazer suas apresentações semestrais do
time, como os novos recrutas e essas coisas.
Aiden Munhoz caminha com seu típico trejeito de como se fosse
dono do mundo e nós fossemos apenas meros mortais dos quais ele permite
viver em seu solo sagrado.
A mão esquerda dentro do bolso da calça social, possui um relógio
enorme, que brilha mesmo de longe e posso apostar que custaria meu rim,
enquanto a outra segura seu celular em o que acredito estar em uma ligação.
Os óculos de sol descansam em seu rosto, me tirando a oportunidade de
fitar seus olhos escuros.
Perco alguns minutos o acompanhando e posso jurar que se não
fosse por Lia ter me tirado o foco dos seus braços descobertos pela camiseta
polo de mangas curtas, teria babado vergonhosamente.
Não é possível uma coisa dessas.
Esse homem foi um enviado do inferno para tirar minha paz.
— Se já terminou de secar nosso professor, será que podemos ir
pra quadra? Não quero ficar muito longe e perder o show que as meninas da
dança sempre dão.
Não faço questão de responder a provocação de Lia e apenas me
levanto a seguindo, mas não sem antes dar um leve empurrão em seu
ombro.
 
Após as duas horas mais longas de toda minha vida, as
apresentações finalmente se encerram e me amaldiçoei por ter passado
quase todo o tempo, tendo os olhos no homem que se encontrava do outro
lado da quadra, junto dos outros professores.
O babaca não saiu de sua pose de dono do mundo, passou todo o
tempo com os braços cruzados sobre o peito e com os olhos tapados pelos
óculos, me impossibilitando de saber em qual direção seu olhar estava, ou
até mesmo se estavam abertos.
A apresentação dos Hedgehogs finalmente se encerra e todos
aplaudem como se fossem nossos salvadores.
Eu é que não ergo um dedo pra aplaudir.
Antes que eu pudesse prever, Ethan sai da quadra e vem até a
minha direção, e juro por Deus que seria capaz de decepar o pau dele em
frente a todos com o que ele faz sem seguida.
— Será que pode, por favor, parar de olhar para o nosso novo
professor? — ele diz próximo ao meu ouvido para que só eu pudesse ouvir.
— Vai acabar deixando uma poça de baba nas arquibancadas e tenho medo
que alguém possa se ferir.
Ele sorri sarcasticamente após dar um beijo em minha bochecha.
Uma porra de um beijo na minha bochecha, em frente o caralho
da universidade toda!
Ele volta para o meio da quadra junto do seu time, sendo
ovacionado por ser o capitão.
Assim que ele sai e todos os xingamentos possíveis passam por
minha cabeça por conta desse intrometido, rapidamente volto meus olhos
para onde o babaca se encontrava.
Porra!
Se até o idiota do Ethan percebeu, é quase óbvio que alguém mais
tenha notado.
Posso torcer para que o senhor escroto estivesse realmente de olhos
fechados, cochilando durante toda apresentação.
Mas como sempre, tudo que pode dar certo ou errado em minha
vida, sempre acaba dando tudo absurdamente errado, assim que meus olhos
pousam nele outra vez, vejo ele descruzar os braços e enquanto levava uma
das mãos para o bolso da calça, a outra segue até o aro do óculo, o levando
para cima até ficar repousando em seus cabelos escuros, fazendo com que
seu olhar intenso paire sobre mim.
O babaca ergue uma das sobrancelhas e imito seu gesto.
Quando penso que ele vai erguer um dos lados da boca em um
sorriso cínico, ele se vira de costas, me dando o prazer infeliz de sua bela
bunda, e inicia uma conversa com um dos vários professores que estavam
ao seu redor.
— Escroto. — Sibilo para que somente eu pudesse ouvir.
Lia cutuca meu braço com o cotovelo, me chamando atenção para
irmos para fora da quadra junto da multidão, o que faço apressadamente.
A semana já podia se dar por encerrada.

Estou andando pelas ruas do campus, a caminho da lanchonete


quando ouço passos às minhas costas.
Logo me recordo da semana passada quando achei que estivesse
sendo seguida, onde o fato se repetiu nas duas noites que se seguiram e
penso qual seria a melhor decisão.
Seguir andando como se não tivesse notado nada anormal; sair
correndo sem olhar para trás ou me virar e encarar quem quer que fosse?
Obviamente nas ocasiões anteriores eu optei pela primeira opção,
mas isso porque já eram quase uma da manhã, as ruas estavam escuras e eu
estava sozinha, agora é completamente diferente.
Paro de repente, decidida a lidar com quem quer que esteja
tentando me assustar, que pelo visto decidiu fazer isso às claras agora e me
viro rapidamente, de olhos fechados, dando um soco deplorável na base do
estômago do cidadão.
Assim que ouço os palavrões saírem da voz conhecida, abro os
olhos e me deparo com Luke à minha frente, com as mãos sobre o joelho e
uma careta de dor.
— Perdão! — Corro para o seu lado e o ajudo a se erguer. —
Pensei que fosse a mesma pessoa que anda me seguindo por aí, perdão
mesmo.
Assim que as palavras deixam minha boca, Luke se recompõe e me
olha assustado, mas sei que no fundo do seu olhar repousa uma raiva e
presumo que esteja querendo me espancar.
— Não pode estar doendo tanto, não sei nem dar um soco de
qualidade. — sorrio amarelo para o mesmo que endurece as feições. —
Vamos indo, antes que eu me atrase, ainda quero almoçar antes do meu
turno começar.
— A gente vai sim, mas assim que chegarmos na Garden Coffee,
você vai me explicar direito essa história, Alexia.
Concordo apenas com um leve assentir e vamos juntos caminhando
enquanto ele conta que queria me dar um susto e que no final das contas,
quem acabou assustado foi ele.
Já sei que vou ouvir até não querer mais sobre não ter contado que
provavelmente andei sendo seguida, então assim que passamos pela porta
do café, peço que Luke espere eu estar com minhas panquecas na mesa, até
contar a ele.
O filho da mãe mal espera eu dar a primeira garfada e cobra
explicações, o que faço a contra gosto, contando o que vinha acontecendo
alguns dias atrás na volta para casa depois do bar.
— E em nenhum momento pensou em chamar a polícia? — sua
voz e sua expressão são de pura indignação com minhas atitudes e chega até
mesmo a dar um leve puxão nas minhas orelhas. — Isso foi por não ter me
contado antes.
— Ai! — passo os dedos pela orelha e tento o chutar por baixo da
mesa, mas acabo acertando o banco. — Não contei porque provavelmente
eu enlouqueci e não deve ser nada demais, pode ter sido a exaustão.
— Não importa o que pensou que fosse, Alexia, tinha que ter me
contado. — Ele pega um pedaço da minha panqueca e leva em direção a
boca. — Se eu não tivesse tido a brilhante ideia de te dar um susto hoje,
nunca descobriria sobre isso, e só sobraria meu choro quando um policial
batesse à minha porta, contando que te acharam morta em um beco
qualquer.
Um arrepio estranho passa por meu corpo, e me lembro do dia que
me contaram da morte do meu pai, consigo até visualizar o ocorrido.
Chacoalho meu corpo para espantar o pensamento e tento sorrir
para tranquilizar Luke. Penso em fazer uma piada um tanto mórbida sobre o
assunto, mas desisto porque sei como Luke ficaria ainda mais preocupado.
— Com certeza foi só a exaustão batendo, Luke. Prometo que se
acontecer uma próxima vez, te conto.
— Não vamos deixar de ter uma próxima vez. A partir de hoje eu e
Marco vamos te buscar no bar e te levar até em casa.
— Nem fodendo que vou deixar o Marco sair da casa dele e se
despencar para cá toda noite só pra fazer minha segurança. — Luke se
levanta, indo em direção ao balcão e me deixando falando sozinha no
processo. — Estou falando sério, Luke.
Grito a última parte e dona Mirta coloca o rosto para fora da
cozinha para me repreender, e acaba encontrando a visão de Luke me
mostrando o dedo.
Volto a me concentrar nas minhas panquecas enquanto ouço meu
amigo levar uma bronca da mãe e tento esquecer do assunto.
Provavelmente foi apenas a exaustão por conta dos dias caóticos
que estava tendo.
Não estou sendo perseguida e se estiver, hoje me provei que
consigo socar alguém.
Não preciso que façam minha guarda.

Mais uma quinta-feira.


Mais um dia que vou ter que suportar a presença do senhor escroto.
Quer um castigo maior que esse?
Chego à conclusão que não, quando o mesmo vê minha mão
erguida, pronta para responder uma das suas perguntas e ignora
completamente pela terceira vez seguida.
— Professor, acredito que esteja tendo algum problema com sua
visão. — Tento me manter quieta, mas acabo perdendo a luta contra meu
bom senso. — Já é a terceira vez que levanto a mão pra responder e o
senhor não notou.
— Ah, notei sim, senhorita Stewart — ele volta seus olhos para
mim, e o maldito arrepio volta a passar pelo meu corpo como da primeira
vez que ouvi sua voz. — Mas infelizmente, os colegas dos quais foram
escolhidos para responder, ergueram primeiro e não posso ser injusto
quanto a isso. Quem sabe pode tentar ter mais agilidade da próxima vez.
Estou pronta para desferir um palavrão contra ele, quando me
lembro de onde estamos e literalmente mordo minha língua. Posso ver o
exato momento em que o babaca tem a intenção de sorrir levemente, como
um sinal de vitória, mas isso não chega a acontecer pois somos
interrompidos pela entrada da reitora.
— Bom dia, Aiden. — Ela sorri gentilmente e acredito que ele não
estava esperando por sua visita, quando cochicham de canto.
Aiden.
Quanta intimidade para apenas colegas de trabalho.
— Turma, como acabei de retomar ao assunto com o professor
Aiden, quero lembrá-los que a decisão sobre os seis alunos que mais vem se
destacando, já foram escolhidos. — Ela sorri empolgada e chama a atenção
de toda turma, em especial a minha.
Conseguir uma oportunidade de estágio em algum dos escritórios
do programa em conjunto com a universidade, seria a chance da minha
carreira.
Além é claro, da ótima remuneração, eu teria a oportunidade de
trabalhar com alguns dos maiores advogados de Los Angeles, com chances
de crescer dentro da empresa caso mostrasse dedicação.
Ela volta a discursar sobre o processo das escolhas e como foram
feitas as atribuições dos estudantes, considerando que uma metade vai ter a
oportunidade de compor o quadro de estagiários de um grande escritório,
enquanto a outra vai compor a equipe jurídica de uma grande empresa,
também no cargo de estagiário.
Por um momento meus olhos desviam para Aiden, gostei de como
soa a pronúncia do seu nome sem toda a pompa ou xingamentos, e posso
ver como está incomodado com a interrupção que sofreu, e passo a acreditar
que não fazia ideia que sua aula fosse a escolhida para fazer o anúncio.
Provavelmente o babaca não se deu ao trabalho de ler as
mensagens no grupo.
Babaca, é bem melhor que Aiden.
A reitora finaliza agradecendo a dedicação de todos os estudantes e
cita os três primeiros nomes, que vão fazer parte do jurídico de uma
empresa de tecnologia.
Penso que perdi a oportunidade, considerando que a mesma
chamou aqueles que mais puxam o saco de absolutamente qualquer ser que
respire que faça parte do corpo docente da Garden.
Abro meu caderno e começo a fazer linhas e formas sem sentido,
perdendo o interesse no que vem a seguir, quando de repente sou
surpreendida ao ouvir meu nome ecoar pela sala.
— … Stewart — ergo a cabeça rapidamente, pensando que vou
levar uma bronca por não estar prestando atenção, mas ela prossegue com a
fala. — Meus parabéns, vocês três irão compor o quadro de estagiários de
um grande escritório do ramo de direito empresarial.
Ela sorri abertamente e olha para trás em direção ao babaca, que de
repente ficou pálido.
— Tenho o prazer de anunciar, que agora serão contratados da
Davidson e Munhoz…
Assim que as palavras deixam sua boca, tudo a minha volta sai de
órbita, e foco apenas em Aiden ao fundo, que tem os olhos cravados em
meu rosto.
Mas que grande inferno!
Já não bastava todas as perturbações que vou ter de enfrentar nas
aulas por conta desse escroto, a vida me vem com mais essa filha da
putagem.
Tudo graças a esse perverso destino!

Termino de limpar algumas mesas, que os homens que frequentam


o bar fazem o favor de me deixar completamente imundas e paro alguns
minutinhos atrás do balão para responder às inúmeras mensagens de Luke.
Como se não bastasse toda a gargalhada que tive de escutar dele
durante a tarde quando contei sobre o estágio, vem me perturbando sobre o
fato de não conseguir vir me buscar no fim do meu turno hoje.
O tranquilizo pela quinta vez sobre o assunto, dizendo que não
precisa se sentir culpado, já que provei nos últimos dois dias em que me
buscou, que aquilo de ser seguida era apenas coisa da minha cabeça e ele
finalmente se aquieta.
Respondê-lo me trouxe todo o inferno que passei durante o dia à
tona, onde mal pude comemorar o fato de ter conseguido um estágio por
mérito das minhas excelentes notas e a oportunidade que tanto queria.
Ainda não consigo acreditar que vou trabalhar no escritório
daquele babaca.
Estou tentando pensar pelo lado bom, que vou poder esfregar
naquela carinha arrogante dele, que mesmo ele sendo injusto e me
dispensando sem mal olhar na minha cara, vai ter que me aturar no seu
escritório de um jeito ou de outro.
O pensamento me faz sorrir abertamente e me assusto quando o
senhor Marquês acompanha minha risada e me dispensa, alegando que
consegue fazer o fechamento sozinho por conta do movimento tranquilo.
Como não sou boba e aproveito qualquer chance de sair mais cedo
dali, não dou tempo a perder e corro para me trocar e ir embora.
 
Quando estou caminhando pelas ruas da periferia de Garden,
começo a me questionar porque caralhos eu escolhi um salto tão alto para
passar o dia. Ainda mais sendo tão fino.
Passo os dedos pela saia social, um pouco mais curta que o
recomendado, e me lembro que preciso voltar aos brechós das patricinhas
da cidade ao lado, ver o que tem de novidade.
Quando estou me xingando por ter sido tão burra na escolha do
sapato pela manhã, ouço um barulho atrás de mim, que me paralisa.
— Isso só pode ser brincadeira. — Me viro e tento enxergar além
da penumbra, mas não consigo encontrar uma alma viva. — Luke, se for
você, que passou o dia todo pedindo desculpas por não vir hoje só porque
queria me assustar, saiba que não tem graça fazer isso no meio da
madrugada.
Ouço mais alguns passos e posso ver uma silhueta alta se
aproximando e a julgar pela estatura posso concluir que se trata de Luke
junto de Marco quando uma outra sombra acompanha a primeira.
— Ah, que bom que são vocês dois. — respiro aliviada e ponho a
mão sobre o peito, tentando controlar as batidas desenfreadas do meu
coração. — Já podem parar de brincadeira e dizer alguma coisa, por favor,
se não vou achar que…
Antes que eu pudesse concluir a frase, os dois corpos chegam perto
e consigo ver claramente que não se tratam de Luke ou de Marco.
Não consigo ter reação alguma a não ser sorrir desajeitada e
começar a andar para trás.
— A-acho que me confundi, já est…
— Pode parar aí mesmo onde está.
Ouço o pedido imperativo de um dos rostos tampados por uma
balaclava preta e não é preciso pedir duas vezes para que eu estanque no
lugar.
O outro se aproxima de mim e me empurra até a parede mais
próxima, onde bato as costas com tanta força, que logo penso no roxo que
vai deixar.
Porra!
Como pode tudo dar tão errado assim para uma pessoa tão nova?
Era só o que me faltava, morrer do mesmo jeito que meu pai, em
um beco sujo.
Olho para baixo em direção às mãos do homem e consigo ver
claramente a arma que o mesmo saca de sua cintura, antes de ter seu cano
gelado na altura das minhas costelas, que sinto mesmo com o tecido da
camisa de cetim.
Ele não leva as mãos para minha boca ou sequer toma outra
atitude, apenas leva o dedo aos lábios, me pedindo silêncio.
E eu seria louca de contrariar o cara com a arma?
Claro que não.
O outro se aproxima junto a nós e quase me perco nas palavras que
saem da sua boca. Quase não escuto sua voz por conta do meu coração que
bate desenfreado e se duvidar, até eles seriam capazes ouvir meus
batimentos.
Começo a respirar fundo, tentando controlar minha respiração e
junto dela, meu coração que não me dá sossego no peito, mas consigo
registrar as palavras que deixam sua boca mesmo com todo nervosismo.
Assim que o mais alto deles termina seu discurso, sua ameaça eu
diria, o da arma enfia um papel dentro da minha blusa e os dois saem, me
deixando ali, completamente apavorada.
O choro vem com força total e não consigo acreditar em tudo que
ouvi sair da boca do desgraçado. Me escorei na parede e vou me abaixando
lentamente, arranhando minha camisa e provavelmente minhas costas no
processo.
Se a situação não fosse trágica, seria cômica.
Pelo que pude entender, mesmo com o medo de ser morta e com o
cu trancado, os homens se tratam dos cobradores de um dos maiores agiotas
de Garden City, um tal de Snake.
Minha avó faleceu e deixou uma dívida de duzentos mil dólares
com o tal chefe deles, que agora pesa sobre meu colo.
A porra de duzentos mil dólares.
Que seu eu não pagar, nas palavras dele, a arma que carrega não
servirá apenas de enfeite, e o papel frio nos meus peitos contém o número
que devo ligar quando tiver com todo dinheiro em mãos, dentro de um mês,
ou vou receber outra visita deles, não muito simpática como essa.
Como vou pagar a porra de duzentos mil dólares em um mês?
Caralho de vida.
“Então me olhe nos olhos
Diga-me o que você vê
Paraíso perfeito
Se desfazendo
Eu queria poder escapar
Eu não quero fingir
Eu queria poder apagar
Fazer seu coração acreditar”
Bad Liar - Imagine Dragons
 

Ouço as porras das batidas na minha porta, mas não faço questão
de abri-la ou de sequer responder ao chamado.
Hoje estou com um humor do cão e descer pra jantar em família só
iria me foder ainda mais, porque provavelmente levaria uns tapas de mamãe
por conta da impaciência.
Desde que a notícia que a pequena peste vai passar a estagiar na
D&M me atingiu como um soco nas bolas, não consegui me concentrar em
mais nada durante o dia.
As poucas reuniões que participei foram um fracasso já que não
conseguia prestar atenção ao que estavam falando, e sequer ir descontar
toda raiva na academia ajudou em alguma coisa.
Como vou lidar com aquela mimadinha andando pelo prédio, com
toda sua insubordinação e irresponsabilidade?
Vou precisar evitar ao máximo ficar perto dela e saber sobre seu
trabalho ali ou tenho certeza de que vamos pôr o prédio abaixo.
— Aiden, abre a merda dessa porta antes que eu arrombe, ou pior
— ouço a voz de Adrian sair abafada por conta da espessura da porta do
meu quarto. —, chamo a mãe pra vir derrubá-la. Você que escolhe.
Inferno, não posso ter um segundo de paz.
Levanto e largo o celular que estava em minhas mãos sobre a
cama, aberto na conversa com Henry, o qual convenientemente tinha coisas
urgentes a tratar hoje e sequer apareceu no escritório e também não
respondia às minhas mensagens.
Certeza que esse filho da puta sabia quem estava escolhendo, tudo
para infernizar ainda mais a minha vida.
Abro a porta e não dou atenção à expressão indignada de Adrian,
dando as costas ao mesmo em seguida.
— Tá maluco, cara? — ele fala em português e ouço o barulho da
porta ser fechada enquanto me jogo de costas em minha cama.
Tô parecendo a porra de um adolescente.
— Chegou mais cedo que o costume, não se deu ao trabalho de
cumprimentar nem seus sobrinhos que te chamavam e se trancou aqui em
cima. Que merda tá acontecendo?
Ele metralha suas perguntas, mas posso notar o tom preocupado
com que as faz, e somente por consideração a sua aparente preocupação, me
sento virado para ele, disposto a contar toda a enrascada em que me meti.
— Caralho, Aiden! — penso em tapar os ouvidos por conta da sua
reação exagerada após meu breve monólogo resumindo toda minha fodida
situação com a peste. — Como assim chamou ela pra uma entrevista por ter
achado a garota atraente? Ainda mais você que é tão profissional.
Não me dou ao trabalho de responder seu apontamento óbvio e ele
prossegue.
— Bom, o que sugiro agora é evitar cruzar o caminho dela
enquanto ela estiver por lá — ele se levanta da poltrona em que estava e
passa a se sentar ao meu lado na cama, colocando uma das mãos no meu
ombro, como se fosse dar um ótimo conselho. —, ao menos, se não quiser
ter um caso sério de bolas roxas e precisar tomar uma ducha gelada cada
vez que passar por ela nos corredores. O melhor é fugir.
Olho pra ele indignado e o empurro, me levantando e começando a
andar de um lado ao outro.
— Não prestou atenção em nada do que eu disse? — questiono
incrédulo, passando as mãos pela barba. — Eu não suporto aquela mimada,
Adrian, toda vez que nos encontramos sempre termina em discussão e não
posso correr o risco do meu escritório virar um campo minado com uma
estagiária.
É claro que ela é sim, gostosa pra caralho, mas o que realmente me
preocupa é o fato de que vamos acabar nos matando.
— Prestei atenção em tudo que saiu da sua boca sobre essa tal de
Alexia, e tudo que consegui pensar, foi que você está fodido Aiden, porque
é nítido que a deseja.
— Eu não a desejo, tá bom? — aponto um dedo em sua direção, e
o idiota tem a ousadia de gargalhar. — Não nego que ela é sim, muito
bonita, tem um corpo fodidamente gostoso e aqueles saltos só valorizam
ainda mais suas pernas, mas não passa disso. A raiva que sinto quando
aquela petulante me olha é mil vezes maior que a vontade de foder com ela.
— Então existe uma vontade de foder com ela. — Ele sorri
vitorioso e desisto de argumentar com ele.
— Além de agora ser minha funcionária, a peste também é minha
aluna, Adrian. Seria completamente antiético.
— Então, está me dizendo que se ela não fosse sua aluna, ou sua
funcionária, com certeza aconteceria?
Suspiro derrotado e me sento novamente.
Onde caralhos eu fui me meter?
— Ainda existe o fato de nos odiarmos, mas sim, se ela não tivesse
deixado minha sala encharcada e me ofendido sem parar desde que nos
conhecemos, talvez eu tentaria a sorte se fossem outras circunstâncias.
Meu Deus, o que eu tô falando?
A mulher é a peste em pessoa, petulante e completamente
desequilibrada.
Mas gostosa, infelizmente isso também.
— Sai do meu quarto. — Aponto para a porta e ele me olha
confuso. — Anda, sai daqui e diga a todos que não estou bem.
— Por que quer que eu saia? Pensei que estivesse te ajudando.
— Só está atrapalhando e me fazendo pensar em coisas que não
deveria sequer passar pela minha cabeça.
O empurro para que levante e ele o faz com uma expressão
vitoriosa no rosto.
— Eu saio, mas não vejo a hora de você me ligar contando que
foram pra cama juntos. — Ele chega à porta e se vira pra mim. — Tanto
ódio assim, só pode levar ao tesão acumulado entre vocês dois, não dou um
mês para que desistam de resistir.
Antes que eu pudesse xingá-lo mais uma vez, ele sai do quarto,
batendo a porta, e consigo ouvir seus passos pelo corredor junto de um
assobio de uma música qualquer.
Idiota!
Adrian e Henry não podem estar certos, isso não vai acabar em um
tesão qualquer até irmos pra cama.
Ela é minha aluna e agora vai ser minha funcionária, e isso soa
errado em tantos níveis diferentes que preciso até parar e respirar fundo
para controlar meus pensamentos.
Preciso focar no fato de que ela é uma peste, mimada e
irresponsável, e que corro o risco de infartar por conta da petulância dela.
Não posso ficar pensando em como seu rosto atrevido e quase
perfeito combina perfeitamente com ela ou como as pernas dela ficam ainda
mais gostosas quando está usando um dos seus Scarpins e como ficariam
perfeitas em torno do meu quadril, ou até mesmo como sua boca delicada
seria incrível para…
Porra, Aiden!
Tudo culpa dos malditos e suas insinuações.

— Então ficamos combinados assim.— Thomas, uma das minhas


dores de cabeça, mas também meu cliente mais fiel e lucrativo, conclui
estendendo a mão. — Vou pedir que Ethan assuma algumas das reuniões, se
não for problema. O garoto em breve vai assumir a Bakers e quero que ele
comece a fazer parte ativamente das maiores decisões desde já.
Assinto enquanto ele aponta para o filho, o garoto loiro que assim
que passou pela minha porta mais cedo, reconheci que se trata de um dos
meus alunos.
Nos encaminhamos para a porta, após a longa reunião, mas antes
que eu pudesse sair da sala, alguém tromba no Bakers filho e pelo que ouço
de dentro da sala, o garoto deve saber de quem se trata.
Assim que meus olhos pousam na pessoa, meu sangue ferve nas
veias.
Mas que porra essa mulher está fazendo aqui em plena sexta-
feira?
— Bom dia, Lexie. — O loiro sorri abertamente e enlaça o pescoço
da minha pequena peste e deixa um beijo em sua bochecha.
Mas quanta intimidade.
— Bom dia. — A filha da mãe diz entredentes e não sei dizer ao
certo o porquê, mas quase sorrio ao perceber seu modo de agir com o
garoto. — Bom dia, senhor Bakers.
Thomas estende a mão para Alexia e vejo um sorriso pesaroso se
abrir em seu rosto antes de questioná-la.
— Como vão as coisas, Lexie? 
— Tudo conforme o não planejado, mas já estou acostumada. —
Ela olha de pai para filho, e percebo que evita dirigir seu olhar a mim.
Fico parado ouvindo os três trocarem algumas palavras e aproveito
o momento para conferir a mensagem que Henry me enviou, pedindo que
eu vá até a sala dele assim que puder.
Mas é claro que vou ter o prazer de aparecer lá hoje, ainda mais
considerando na vontade que estou de enforcá-lo com aqueles cabelos
depois do que me aprontou com os estagiários.
De repente a fala do tal Ethan me chama atenção, quando o mesmo
convida Alexia para um jantar em sua casa, e meus olhos focam
imediatamente no rosto dela, aguardando junto a eles, sua resposta.
Mas que porra é essa agora, Aiden?
O que você tem a ver com os interesses dela?
Ela recusa gentilmente o convite e não consigo conter um discreto
sorriso ao notar a expressão de derrota que paira no rosto do loiro.
Mas que caralho é isso que está acontecendo, porra?
Thomas chama minha atenção e meus olhos saem do foco dos dois
à minha frente, e respondo a despedida do mais velho, mas ainda de canto
de olhos posso ver o momento exato em que Alexia desfere uma cotovelada
no amigo.
Me seguro para não rir da situação quando o mesmo se despede
mim com uma careta de dor, e os dois seguem a caminho dos elevadores.
— Não deveria sequer direcionar a palavra a você, mas aposto que
deve ter acabado com a vida de algum desavisado por aí, para estar sorrindo
debochadamente assim.
A voz da minha peste se faz presente e meu sorriso morre aos
poucos ao tornar a olhá-la.
Minha?
Mas que porra de minha é essa, agora?
— Posso saber o que está fazendo no meu escritório? — Decido
ignorar sua provocação. — Pelo menos hoje não está pingando feito uma
torneira.
Sem intenção, meus olhos acompanham os seus, que passam desde
as suas sandálias de salto, seguindo em direção as pernas bem esculpidas e
porra, como é gostosa.
— É uma pena, bem que eu queria ter a oportunidade de invadir
sua sala e inundá-la com a água da chuva, intencionalmente dessa vez.
Seu tom é debochado e respiro fundo.
— O que veio fazer aqui, Alexia? Não estou com tempo e muito
menos energia para ficar tendo essas discussões bobas com você. Prefiro te
ignorar, me poupa o estresse.
Ela arqueia uma das sobrancelhas e deposita o peso do corpo em
uma das pernas, fazendo com que um lado de seu quadril se faça evidente
na saia social colada.
Não olha, porra. Não olha!
— Desde quando eu te dei tanta intimidade para me tratar pelo
primeiro nome, Senhor Escroto?
— Desde quando passou a me ofender sem pensar nas
consequências. — Cruzo os braços sobre o peito e sorrio internamente
quando seus olhos passearam por eles e por meu tronco.
Talvez não seja só eu a me sentir atraído aqui.
— Anda, me responde o que veio fazer aqui hoje.
— Sabe, senhor Aiden. — Ela muda repentinamente seu tom de
voz, e ele soa calmo aos meus ouvidos, quase sedutor, mas com um toque
do seu afronte usual. — Acho que não pegaria bem para você ser visto
tratando uma funcionária dessa forma.
Ela abre um sorriso diabólico nos lábios levemente avermelhados e
coloca uma mecha do seu cabelo curto atrás da orelha, enquanto meus
ombros caem e respiro fundo outras vez.
Como pude me esquecer dessa merda?
— Inclusive, vim aqui hoje a pedido do seu sócio, trazer toda a
documentação necessária para que eu comece a estagiar aqui na próxima
semana. — Aponta para a pasta em seus braços. — Me diz, senhor Munhoz,
como se sente ao saber que agora serei uma de suas subordinadas, mesmo
tendo escolhido me dispensar sem sequer ter me dado uma oportunidade?
Me aproximo de seu corpo e mesmo estando de saltos, preciso me
abaixar para que nossos olhares estejam próximos um ao outro.
Sinto minha respiração sofrer uma leve descompensada e minha
pulsação acelera quando direciono os olhos para sua boca.
Preciso respirar fundo quando vejo sua língua umedecer a carne
macia e volto a fitar seus olhos novamente antes que cometesse uma
estupidez.
— Trabalhar aqui não significa que não posso mais deixar claro
que não te suporto, peste! — sinto sua respiração quente atingir meu rosto e
posso ver quando seu sorriso dobra de tamanho, mas seus olhos não deixam
os meus por um segundo sequer. — Além de que se eu fosse você, tiraria
esse sorrisinho vitorioso do rosto.
Esquecendo completamente que nos encontrávamos no corredor e
sendo levado pela loucura que essa mulher faz acontecer com meus nervos,
aproximo minha boca de uma das suas orelhas, onde posso observar com
calma o delicado brinco que tem ali, junto de duas iniciais tatuadas, quase
escondidas.
Umedeço meus lábios, vendo como seus pelos se eriçaram, sinto
uma pontada direta no meu pau e contenho a vontade de passar a língua e a
boca naquela área, imaginando o sabor que teria, quando ela inclina
levemente a cabeça para tentar me olhar.
— Não se esqueça que a partir de hoje, como você mesma fez
questão de me alertar, será a minha subordinada, pequena peste.
Dou ênfase às palavras que se referem a sua subordinação e me
afasto abruptamente, lhe dando as costas antes que pudesse cometer mais
uma loucura.
— Porra! — ouço seu leve sibilar antes de entrar em minha sala e
fechar a porta.
Olho para minhas calças, vendo e sentindo meu pau dobrar de
tamanho no tecido apertado.
Que inferno!

Sorrio para meu pai enquanto ele completa meu copo com o
whisky e viro o pedaço de picanha na grelha fumegante, ouvindo o chiar
que faz com o contato que acompanha seu aroma.
Olho para a mesa no jardim, onde minha mãe, acompanhada de
Francie, coloca as vasilhas com toda a comida deliciosa, que só uma boa
brasileira consegue fazer.
Sorrio sozinho ao pensar em como hoje vou me satisfazer do arroz,
da farofa e da maionese da dona Mariana, sem esquecer do molho de alho
divino que só ela faz, mas meu sorriso murcha ao ver Henry passar pela
porta com um olhar tranquilo.
O maldito simplesmente desapareceu mais cedo e só respondeu as
mensagens de mamãe o convidando para o churrasco.
Interesseiro do caralho.
Termino de virar os pedaços de carne pouco antes dele se
aproximar e me abraçar, dando leves tapinhas nas minhas costas.
Quando se afasta e percebe que minha expressão não se alterou
com seu contato, segura meus ombros em uma tentativa de me acalmar.
— Respira fundo, se lembre que estamos em um jantar em família,
que é noite do churrasco e que sou seu melhor amigo.
— Que caralho de melhor amigo, Henry?! — aumento meu tom de
voz, chamando a atenção de todos e vejo pelo canto de olho quando Adrian
impede nossos pais de se aproximarem. — Como você me contrata aquela
petulante como uma das estagiárias? — questiono furioso, ainda mais pelo
fato de estar sendo ignorado a dois dias. — Se quer me foder ao menos me
leve pra jantar antes de fazer o serviço mal feito.
— Em minha defesa, eu realmente não sabia quem ela era. — me
solto de suas mãos e me viro para a churrasqueira a fim de tirar as carnes de
lá antes que passassem do ponto. — Na foto da ficha que a reitora mandou,
ela estava de cabelos curtos, e devo ressaltar que nem lembrava direito do
rosto dela, já que quase não a vi e só me lembrava dos fios compridos.
— Isso não é desculpa, sabia o nome dela.
Começo a cortar os pedaços da carne repleta de gordura e evito
olhar em seu rosto.
— E eu vou saber de quem se trata cada Alexia que aparece por aí?
— ele questiona derrotado, se senta em uma das cadeiras que estava por
perto e posso notar que está sendo sincero. — Só fui perceber a merda que
tinha feito quando ela entrou na minha sala hoje mais cedo para levar a
documentação. Perdão, cara.
— Por isso sumiu e não queria me responder desde ontem?
— Ontem eu sai pra fazer trilha, estava estressado com muita coisa
acontecendo em casa. — Olho para ele em uma pergunta silenciosa. —
Depois te conto tudo. Mas acredite quando eu digo que não tinha noção de
quem ela era. Se quiser posso entrar em contato com a universidade e pedir
para que a troquem ou pensar em uma outra alternativa.
Penso por um momento no que isso acarretaria e com certeza seria
um alívio e tanto não ter conhecimento da presença constante daquela peste,
mas por um segundo me lembro do olhar de desespero que mostrou pelo
emprego no nosso primeiro encontro, meses atrás, e também no brilho
vitorioso que tinha no olhar hoje mais cedo.
Até que pode ser interessante saber até onde ela pode conseguir
chegar no escritório. A garra e com certeza a petulância para ser uma boa
advogada ela tem, só precisa aprender a controlar seus instintos explosivos.
Seria interessante saber como ela vai se sair, podendo acompanhar
seu progresso de perto.
— Não precisa. — Henry que estava cabisbaixo levanta o rosto em
minha direção rapidamente, e um sorriso torto brinca em sua expressão. —
Vamos ver como ela se sai, e espero que esteja preparado para uma possível
catástrofe caso nos encontremos muito pelos corredores.
— Pode deixar, vou estar sempre pronto com algumas camisinhas
no bolso, caso vocês precisem.
Ele pisca antes de ir em direção a mesa se servir, e pede para minha
mãe colocar alguns de seus pagodes para tocar, alegando estar sentindo falta
de alguma coisa.
Minha mãe liga o som interno da casa onde “Cheia de Manias"
começa a tocar e meu pai tira Clarice para dançar enquanto os gêmeos
também os seguem tentando seguir os passos do avô e da irmã.
Assim que coloco a travessa com as carnes cortadas sobre a mesa,
vejo que Henry conversa com Adrian e o idiota do meu irmão me olha
gargalhando.
— Tá muito fodido, maninho.
Ele faz um sinal com as mãos para enfatizar sua fala e começa a
cantar a música enquanto sai dançando atrás dos outros.
Tô fodido!
“Nós combinamos
Mais do que farinha do mesmo saco, você e eu
Nós mudamos o clima, sim
Sinto calor em pleno inverno quando você está perto de mim”
Sucker - Jonas Brothers
 

Estou passando o pano úmido em uma das mesas, mas percebo


como meus pensamentos estão longes quando um dos outros funcionários
da lanchonete passa por mim e chama minha atenção para os chamados de
Mirta.
Vou onde ela me chama, encontrando Luke ao seu lado, ambos
com um semblante preocupado no rosto.
— Alexia, não acredito que realmente ficou chateada por precisar
cumprir seu último de serviço, querida. — Minha chefe, ao menos até o fim
do dia, esboça um sorriso e se aproxima de mim e me deixo ser abraçada
por ela. — Sei que deve estar bem cansada e considerando que amanhã se
inicia uma nova fase na sua vida, pode ir se trocar e abandonar o barco mais
cedo, até porque os domingos são sempre mais tranquilos.
— Desculpa, sei que não fui muito prestativa nesses últimos dias.
Ela faz um gesto com a mão, como se estivesse desconsiderando
minha falta de concentração nos dias anteriores.
— Sei que deve estar com muita coisa na cabeça com esse
emprego novo e com o fim da faculdade. — Ela deixa um beijo em minha
testa e posso notar que o olhar de Luke não se abrandou nesse meio tempo.
— Espero que tenha muito sucesso, e sei que se for tão obstinada em sua
carreira como sempre demonstrou esses anos aqui, tenho certeza que vai ser
uma grande advogada.
Sorrio com seu elogio e suas felicitações, retribuindo seus gestos
com um beijo em sua bochecha macia. Ela sai alegando que alguém
precisava trabalhar e pedindo que o filho acerte meu último salário antes da
minha saída.
Assim que ela se afasta o suficiente, Luke me puxa de canto, me
obrigando a me sentar em uma das cadeiras ao fundo da lanchonete.
— Essa sua desatenção não me engana, Alexia. — suspiro
pesarosa.
Já se passaram dois dias desde que recebi a ameaça dos caras
mascarados e optei por não contar nada a ninguém, especialmente a Luke,
que com certeza iria se sentir culpado por ter me deixado voltar sozinha
aquela noite.
Não consigo parar de pensar no que saiu da boca daquele
brutamontes, pois sei que nunca vou conseguir arrumar duzentos mil
dólares dentro de um mês e a preocupação com o meu bem estar vem
batendo forte.
Eu não vou vivenciar um dia em que não esteja devendo a alguém?
E agora é pior, porque estou correndo risco de vida por isso.
Tento dar meu melhor sorriso antes de tentar responder meu amigo,
sem que a vontade de chorar apareça.
— Só estou um pouco nostálgica. — Ele aperta os olhos, como se
dissesse que não acredita em nada do que sai da minha boca. — É sério,
Luke! Vou sentir falta de tirar sua paciência durante o dia e, principalmente,
de ter cheesecake de graça.
Dou um leve empurrão em seus ombros o que faz com que o
mesmo solte uma risada baixa.
Pelo jeito sou uma excelente atriz!
Já podem me contratar.
— Não duvido que esteja triste por não ter mais comida de graça
todos os dias, interesseira. — Ele acusa, se levanta e inclina a cabeça até ter
os lábios nos meus ouvidos. — Mas não consegue mentir pra mim, entendo
que não queira falar agora, mas saiba que vou arrancar a verdade de você.
Seu tom soa autoritário, e por tudo que é mais sagrado nessa porra
de mundo, me lembro do que o Senhor Escroto fez comigo quando estive
no escritório dele semana passada.
Luke caminha para dentro da cozinha e jogo minha cabeça sobre a
mesa, soltando um gemido de frustração.
Droga!
Por que as coisas precisam ser tão difíceis?
Antes que eu conseguisse controlar os rumos dos meus
pensamentos, minha cabeça se enche com cenas de quando o babaca me
disse ao pé do ouvido que agora sou sua subordinada.
Ele tinha que estar tão gostoso falando aquelas coisas naquele tom
autoritário?
Porra, a voz grossa e meio rouca daquele homem fez loucuras com
a minha calcinha aquele dia e já sei que trabalhar no mesmo ambiente que
ele vai ser uma catástrofe.
Sinceramente não sei o que é pior no momento, ser bombardeada
com as lembranças do cano frio da arma sobre minha pele ou sentir quase
que fisicamente a voz daquele homem, que fez meus pelos ficarem todos
em pé.
Ainda não tenho ideia de como ou o que vou fazer em relação a
dívida, mas preciso tentar parar de ficar pensando no assunto, ou vou acabar
explodindo.
Por enquanto, a melhor solução é fingir que nada aconteceu.
É assim que resolvo meus problemas, os ignorando até bater com
tudo na minha cara.
É isso que faço ao me levantar e me dirigir ao banheiro, sorrindo
para meus antigos colegas de expediente, ao menos até passar pela porta e
encontrar uma mulher aos prantos, tentando a todo custo tirar a maquiagem
borrada do seu rosto.
Uma mulher não, a ruiva elegante.
Que no caso é uma mulher, mas não uma qualquer.
Ela se assusta com a minha entrada repentina e me olha apavorada,
soluçando em meio às lágrimas.
A visão é quase aterrorizadora, considerando que todo seu rímel
derreteu por conta do choro e escorreu por todo seu rosto, se misturando à
base.
— Desculpa atrapalhar seu momento, mas — tento passar
segurança em minha voz ao me aproximar dela. —, está precisando de
ajuda? Não vou perguntar se está tudo bem, porque a resposta é clara.
— V-você teria, teria algum d-demaquilante? — a voz saiu
esganiçada e mesmo não sabendo o que se passa, meu coração se enche de
compaixão pela estranha.
— Pelo jeito nunca consigo ser útil. — murmuro um pedido de
desculpas por não ter o que ela precisa. — Mas tenho alguns lenços
umedecidos na bolsa, acho que podem ser úteis.
Ela assente e tenta esboçar um sorriso, que acaba fazendo com que
repouse uma careta estranha em seu rosto e saio apressada para buscar o
pacote de lenços na minha bolsa.
Quando retorno, me surpreendo por encontrá-la sentada no chão.
Não esperava uma atitude assim, considerando o conjunto de
alfaiataria caro que usa, combinado a sua Prada nos pés.
É claro que ela já estava deplorável antes de se sentar no chão,
mas prefiro me manter quieta.
— Pensei que tivesse fugido de mim, o que teria feito sentido
depois que me olhei no espelho. — Ela aponta para o espelho acima da pia.
— Eu mesma fugiria se conseguisse, mas onde quer que eu vá, eu estou.
Ela solta uma risada nasalada, tentando trazer humor a situação e
posso ver que conseguiu se acalmar do choro.
Me sento ao lado dela e estendo o pacote, que assim que pega das
minhas mãos, tira alguns pedaços de dentro e começa a passar por todo o
rosto.
Espero que termine de se limpar, em silêncio, respondendo
somente às vezes em que pede ajuda para que eu aponte onde ainda precisa
ser limpo.
Assim que ela termina, se levanta, joga todos os lenços sujos no
lixo antes de se virar para mim e estender as mãos para que eu possa me
apoiar e levantar.
Aceito sua ajuda e assim que estamos frente a frente, ela sorri
abertamente, mostrando as fileiras de dentes brancos e bem alinhados por
trás dos lábios grossos.
Essa mulher deve ser modelo ou algo assim, não é possível ter
tanta beleza desse jeito e não se aproveitar dela pra ganhar rios de
dinheiro.
— Sou Hanna, a propósito. — Ela estende uma das mãos para que
eu possa segurá-la e assim faço. — Hanna Fisher, mas acho que depois do
que vivenciamos aqui, pode se considerar íntima e me chamar apenas de
Nana.
Gostei dela.
— Alexia Stewart, mas pode me chamar só de Alexia. — Passo em
sua frente e abro a porta para que possamos sair. — O que acha de uma
torta? Eu pago.
É claro que não tenho um tostão no bolso, mas depois me acerto
com Luke.
Assim que fizemos nossos pedidos, sob o olhar curioso do meu
melhor amigo que sei que na primeira oportunidade vai me metralhar de
perguntas, sentamos em uma das mesas e ficamos nos olhando em um
silêncio quase constrangedor até ela quebrá-lo.
— Deve estar pensando o que me fizeram pra eu estar naquela
situação.
— Pra ser sincera, estava sim e agora que tocou no assunto, se
quiser podemos ir juntas até a delegacia ou eu posso chamar meus amigos
para dar um susto no sujeito.
Ela explode em uma gargalhada gostosa e acompanho sem fazer
ideia do porquê.
— Não precisa de nada disso, o motivo vai soar patético. — Ela se
interrompe e esperamos Luke depositar nosso pedido na mesa, e quase o
acerto nos pés por conta do olhar nada discreto que me lança antes de sair.
— Acho que tive o que podemos chamar de ataque de estrelismo.
Ergo uma sobrancelha, questionadora, enquanto coloco um pedaço
do cheesecake na boca e a sigo encarando enquanto o doce derrete na minha
língua.
A oitava maravilha do mundo, sem sombra de dúvidas.
— Sou atriz, de teatro. — Ela recomeça após mastigar um pedaço
da torta. — Acabei de ser recusada para um papel que queria muito e acabei
desabando.
— Pelo jeito, se tratava de um papel muito importante. — dou meu
palpite e ela assente.
— Seria um dos maiores da minha carreira, mas perdi por conta do
meu porte físico. — Franzo minha testa e ela sorri gentilmente. —
Aparentemente teriam que gastar tempo e material demais para esconder
todas as minhas sardas, — aponta para seu rosto e busto, onde exibe suas
lindas sardas e as elogio antes que pudesse continuar. —, obrigada. Então
me dispensaram apesar da minha “perfeita conduta em palco e excelente
atuação”.
— Eles foram babacas e você não deu um ataque de estrelismo, só
estava frustrada, e sinceramente, quem não estaria? Deu na cara de alguns
dos idiotas?
— Não! — ela arregala os olhos como se eu tivesse fazendo uma
acusação passível de cadeia. — Apesar de ter passado pela minha cabeça, é
claro que não. Mancharia minha reputação que arduamente construí.
Apenas aceitei as críticas e agradeci a oportunidade antes de dirigir que
nem louca pra cá.
Penso em perguntar se é alguma aluna ou se faz parte da equipe de
docentes e acabar de vez com minha curiosidade, mas penso que seria um
tanto indelicado.
— Não sou aluna ou professora, se quer saber, mas amo a torta
daqui então como ainda tenho contato com a minha antiga professora de
Fundamentos da Interpretação, sou liberada a transitar pelo campus, amo
esse lugar.
— Acabou de matar uma das minhas curiosidades sobre sua
presença constante aqui nas últimas semanas.
Ela sorri e volta a tomar a coca, antes de dizer que percebia os
olhares intrigados a ela.
Pelo jeito não sei ser discreta mesmo tentando.
Passamos mais alguns minutos conversando, onde conto a ela que
não me verá mais ali por conta do meu novo emprego, já que nada mais
justo do que contar um pouco sobre mim pra pobre coitada que eu vi se
acabando de chorar no chão do banheiro, e marcamos de nos encontrarmos
mais vezes.
Assim que ela sai pela porta da frente e o sino irritante soa, Luke
praticamente se joga na minha cadeira, pronto pra saber tudo que
conversamos, me liberando somente depois de saber tudo que queria.

Bato a porta que contém a plaquinha escrito o nome Henry


Davidson e posso notar que minhas mãos se encontram suando.
Quem diria que eu ficaria tão nervosa assim no meu primeiro dia
aqui?
Ao menos já posso considerar um dia de sorte, já que não esbarrei
no babaca em momento algum.
Assim que ouço a autorização do senhor Davidson, adentro a sala e
passo os primeiros segundos admirando o ambiente, porque na última vez
estava tão furiosa que nem consegui prestar atenção aos detalhes.
Dou atenção em especial para a ampulheta sobre a mesa e nos
sabres de luz na parede, itens incomuns de se encontrar em um escritório,
antes de retornar meu foco ao homem à minha frente.
O encontrei alguns dias atrás, quando trouxe toda a documentação,
e de imediato me lembrei dele naquele dia infernal, quando saí da sala de
seu sócio e esbarrei nele no processo.
Henry Davidson, um dos advogados mais bem sucedidos do ramo
penal, com mais causas ganhas que perdidas, atua com as celebridades e
subcelebridades de Los Angeles, conhecido por amar a vida selvagem, já
que está sempre em contato com a natureza em suas trilhas e acampamentos
a céu aberto.
Fiz minha lição de casa.
Ele exibe um sorriso empolgado e prende metade dos cabelos em
um coque no estilo samurai antes de se aproximar e me cumprimentar.
— Boa tarde. Pedi que viesse me encontrar aqui hoje sem os
demais para que possamos ter uma conversa prévia.
Puta que pariu!
Ele sabe!
É claro que ele deve ter conhecimento de todos os meus embates
com Aiden, sabe que nos odiamos e com certeza vai me dispensar por conta
disso.
Por que tinha de ser tão cabeça dura, Alexia?
— Queria ser o primeiro a dar as boas-vindas e dizer que qualquer
problema que tenha ou se precisar de algo, pode vir falar diretamente
comigo. — Ele estende meu crachá de acesso, que me concede passagem ao
prédio e a essa altura já não estou entendendo porra nenhuma. — Tenho
conhecimento sobre sua situação com Aiden e sei que meu amigo pode ser
um tanto quanto tempestuoso às vezes, então se algo acontecer, não se sinta
acanhada em vir até mim.
Sorrio amarelo, guardando o crachá na bolsa que carrego e não
entendo o sorriso extremamente feliz que continua a esboçar. A alegria dele
é evidente, mas prefiro não questionar, já que pelo visto não serei
dispensada por conta de todos os mal entendidos.
— Agradeço a recepção e também quero aproveitar para agradecer
pela oportunidade. Vou dar meu melhor e sei que vou tirar grandes
aprendizados dessa experiência.
— Não tem pelo que agradecer, senhorita Stewart, suas notas são
impecáveis e já adianto que, se sair bem em todo trabalho prático assim
como no teórico, as chances de conseguir um cargo efetivo são altas. —
Meu sorriso dobra de tamanho enquanto ele se apoia na mesa e sussurra a
última parte. — Só não conte ao Aiden que lhe disse isso, ou ele expulsaria
nós dois daqui.
— Não se preocupe, seu segredo está guardado.
Finjo fechar um zíper imaginário, trancar minha boca e jogar a
chave sobre o ombro e me assusto quando ele explode em uma gargalhada.
— Vou adorar te ter na equipe. — Ele dá a volta em sua mesa e
antes de sentar aponta para a porta. — Agora não vou mais tomar seu
tempo, pode ir se encontrar com os outros estagiários, eles estão na sala de
reuniões do sétimo andar, que já nos encontraremos de novo para eu passar
as recomendações e também onde irão atuar.
Agradeço a ele antes de sair da sala e assim que fecho a porta,
penso seriamente que faltam alguns parafusos na cabeça desse homem.
Vou em direção aos elevadores e recebo um sorriso sincero da
mesma secretária que praticamente me esnobou da outra vez.
Povinho maluco que trabalha aqui.
Entro no elevador e aperto o botão que indica o sétimo andar, mas
antes que as portas pudessem se fechar, uma mão segura fortemente um
lado delas, as paralisando.
Assim que meus olhos encontram o rosto a quem pertence a mão,
não controlo as voltas que eles dão nas órbitas.
Aiden me olha desacreditado ao entrar e apertar o botão do térreo
antes de se posicionar no espelho ao fundo do elevador.
— Bom dia, senhorita Stewart. — Sua voz atinge meus ouvidos e
seu retumbar reverbera por todo meu corpo.
Babaca gostoso!
Respondo ao seu cumprimento sem erguer muito minha voz,
tentando me concentrar em todo profissionalismo que preciso ter no
ambiente de trabalho, e tenho certeza que ser vista em uma discussão com
um dos donos não seria nada bom para o meu primeiro dia.
— Pensei que fosse uma formalidade cumprimentar os seus
superiores sempre que os encontrasse. — Ele torna a falar e preciso morder
meus lábios para evitar respondê-lo. — Quando um superior fala com você,
é educado responder, ou pode ser visto com maus olhos.
Não vou conseguir me manter quieta o tempo todo, e tenho certeza
que se abrisse a boca, sairiam uns belos de uns palavrões aqui, então respiro
fundo para tentar me controlar.
Será que essa porra de elevador não poderia ir mais rápido?
— Mas é claro que toda sua experiência sobre um ambiente assim
deve ter vindo dos filmes e séries. — Ele continua seu monólogo enquanto
vejo que ainda estamos no décimo andar. — Fico pensando, deve ter
escolhido fazer direito por conta do filme Legalmente Loira, inclusive se
pintasse os cabelos e passasse a usar mais rosa, poderia até ser confundida
com Elle Woods[4], sabe até…
Ah não!
Já chega!
Falar mal do meu filme favorito já é demais.
Penso o que acharia do fato dos meus cabelos escuros serem
pintados, já que a cor realmente se aproximava muito com a da protagonista
em meus dias de patricinha inconsequente.
Seria um prato cheio para me atormentar ainda mais com a ideia de
escolher cursar Direito por conta do filme.
Me viro para ele bruscamente, interrompendo sua fala, mas sem
que eu pudesse prever, acabo dando um encontrão em seu corpo.
Ele não estava encostado na porra do espelho?
— Eu estou tentando ser profissional aqui, se não conseguiu
perceber, Senhor Escroto. — Ergo a cabeça para olhar diretamente em seus
olhos escuros e posso jurar tê-lo visto erguer minimamente um dos cantos
da boca em um sorriso discreto. — Mas se você não consegue reconhecer
isso, vou simplesmente usar a linguagem ao qual está acostumado.
— A linguagem a que estou habituado a ouvir da sua boca, é
sempre a pior possível, pequena peste.
Ele avança mais um passo e posso ver quando seus olhos caem
diretamente na minha boca, me levando a fazer o mesmo com ele.
Tento controlar meus pensamentos ao imaginar qual sabor teria sua
boca bem delineada e qual seria a sensação de ter sua barba em contato com
meu rosto quando ele volta a falar e volto a fitar a escuridão dos seus olhos.
— Qualquer dia desses vou ter que lavar sua boca com sabão, para
aprender como se fala direito. — Ele torna a fitar meus olhos e só não nos
encontramos mais perto por conta da distância que seus braços cruzados
sobre o peito criam entre nós. — É bocuda demais e explosiva além do
limite para ser uma advogada, precisa aprender a controlar seu gênio se
quiser ter sucesso.
— Agora quer me dar lição de moral?
— Além de seu chefe, também sou seu professor, seria o certo te
alertar sobre isso, não acha?
Ele arqueia uma das sobrancelhas e por Deus, como fica ainda
mais delicioso fazendo isso?
Aperto uma perna contra a outra, me odiando por conta do desejo
horrendo que sinto por ele.
Sinto minha pele queimar com a simples aproximação de seu corpo
e minha respiração se descompassa quando noto seus olhos passarem
rapidamente por meu corpo.
— Pois saiba, que Elle Woods me ensinou muito mais sobre ser
uma boa advogada, do que aprendi em suas aulas até agora.
Conto a mentira, porque as aulas dele estão sendo proveitosas.
Faço a merda de me aproximar mais de seu corpo e levar meus
lábios a um dos seus ouvidos, para que provasse do próprio veneno e posso
sentir sua respiração se acelerar.
Seu cheiro amadeirado entra por minhas narinas e quase me perco
no que estava fazendo quando inspiro próximo ao seu pescoço.
Além de gostoso é cheiroso.
Pelo jeito caí no meu próprio feitiço.
— E recomendo que passe a andar com um lencinho pra enxugar a
baba que escorre por sua boca a cada vez que me olha, professor.
Assim que ele vira o rosto em minha direção, com uma expressão
furiosa, nossos lábios ficam a milímetros de distância e ouço as portas se
abrirem.
Lhe dou as costas antes que cometesse uma loucura ainda maior, o
deixando sozinho ali e saio pisando firme em meu Louboutin da coleção
retrasada.
Preciso parar com isso ou vou acabar me fodendo com esse
arrogante.
“Eu estou bêbada na parte de trás do carro
E chegando do bar eu chorei como um bebê (oh)
Disse que estava bem, mas não era verdade
Eu não quero guardar segredos apenas para manter você”
Cruel Summer - Taylor Swift
 

Assim que vejo que o único elevador a se abrir no térreo está


prestes a fechar, saio em disparada para conseguir chegar nele a tempo e no
processo acabo quase tropeçando nos meus saltos e caindo de cara no chão.
Paro na porta do bendito e o estapeio com toda força, o que acaba
chamando a atenção das pessoas que passavam por ali.
Claro Alexia, como se sua corrida deplorável e os gritos para ele
não fechar já não tivessem feito isso.
Sorri sem graça e me dirigi para a escada de emergência,
considerando que já me atrasei por ter calculado mal o tempo de Garden até
aqui no horário de trânsito, e preciso chegar o quanto antes até o advogado
ao qual fui direcionada no dia de ontem.
Se ele for rude como o chefe, estou fodida.
Passo pelas portas pesadas da emergência e quase choro quando
olho pra cima e vejo a quantidade de escadas que vou ter de subir até chegar
ao quarto andar.
Inferno!
Pelo menos não é acima do sétimo.
Começo a subir apressadamente, mas tomando cuidado para não
acabar torcendo o pé e complicando ainda mais toda a situação.
Pelo menos estou me atrasando no segundo dia e não no primeiro.
Afinal de contas, não dizem que a primeira impressão é a que fica?
E ontem cheguei até com antecedência e fui bem recebida por todos os
advogados e assistentes do andar que vou trabalhar, que infelizmente não é
o de Direito Empresarial e sim o de Direito Penal.
Aposto que nenhum dos três estagiários foram encaminhados a
trabalhar com empresarial porque o arrogante não deve querer estagiários
em sua equipe.
Apesar de não gostar tanto assim da área que estou, não posso
dizer que odiei, até porque estou na equipe de advogados do senhor
Davidson e pelo que pude concluir dos rápidos encontros com ele, é um
grande profissional e mais fácil de lidar do que o sócio turrão dele.
Subo mais alguns lances pensando comigo mesma se vou estar
pronta pra todo serviço e um friozinho nervoso passa por minha barriga.
Assim que me encontro frente a frente com a porta do quarto andar,
me sinto um pouco enjoada antes de abri-la e preciso respirar fundo para
tomar coragem de o fazer.
Tudo bem que ontem foi o primeiro dia, mas apenas conhecemos
todo o prédio, tanto a parte física, como também os funcionamentos da
parte interna dele.
A partir de hoje começo minha prova de fogo e vou saber se
consigo colocar em prática toda teoria que vim aprendendo nos últimos
anos.
Será que vou mesmo ser uma boa advogada como todos aqueles
que confiam em mim pensam?
Balanço minha cabeça de um lado ao outro, espantado os
pensamentos negativos e toda insegurança momentânea.
Afinal de contas, nunca vou saber as respostas se não tentar.
Não que me sinta errada em sentir insegurança com algo novo, é
muito normal além de óbvio, mas sempre aprendi desde muito nova que não
podemos deixar os medos atrapalharem nossos sonhos, ou que as
inseguranças nos impeçam de conseguir aquilo que almejamos.
Coloco um sorriso no rosto e aprumo meus ombros antes de
empurrar a porta com toda minha confiança renovada, empurrando todos os
questionamentos para o fundo da minha mente.
A porta se choca com algo e fecho os olhos pesarosos, já
imaginando que vou ter que deixar meu salário aqui antes de sequer ter
começado a trabalhar.
Assim que consigo passar por sua fresta, vejo que não atingi uma
coisa e sim uma pessoa.
Eu imploro que não seja aquele babaca.
Por favor, Deus, seriam desgraças demais pra uma semana só.
Assim que subo meu olhar pelo homem bem vestido e encontro seu
rosto, vejo que não se trata do Senhor Escroto, se faz impossível não abrir o
maior dos sorrisos.
— Boa tarde. — sorrio para o homem ruivo à minha frente que
sorri de volta enquanto passa as mãos pelos ombros. — Me desculpe por
isso, não tinha a intenção.
Só espero que não seja um dos advogados influentes aqui e me
dedure.
— Boa tarde. — suspiro de alívio quando ele sorri de volta e
estende uma das mãos para mim. — Sou Jonas Michel, e você está atrasada.
O nome não me é estranho e inclino minha cabeça o fitando para
tentar fazer alguma assimilação, mas não me recordo do cidadão.
— Não chegamos a nos conhecer pessoalmente ontem, mas Henry
me passou que vai ficar esses primeiros dias de estágio comigo, sou um dos
advogados associados do escritório.
— Ah, claro! — minhas sobrancelhas se erguem de surpresa e
também de preocupação já que o mesmo vai ser meu superior e notou que
estou atrasada. — Me desculpe pelo atraso, prometo que não vai se repetir.
Hoje aconteceram alguns imprevistos no trânsito que dificultaram que eu
chegasse no horário.
Ele sorri gentilmente e o medo deixa minhas costas enquanto ele
me pede que eu o siga até a sala.
Durante o trajeto vamos andando por entre as mesas dos assistentes
e advogados, que apesar de fazerem parte da equipe, ficam com os casos
menos influentes e vou ouvindo sobre as atribuições que terei a partir de
hoje.
Ele me explica o básico, o qual eu já sabia que seria meu papel,
como ajudar nos atendimentos aos clientes, ficar responsável por averiguar
os prazos dos processos, participar de audiências e se fizer um bom trabalho
e merecer sua confiança, vou poder agir diretamente nos casos, preparando
defesas e entre outras burocracias processuais.
Assim que paramos em frente à sua sala, ele aponta para uma mesa
que diz pertencer a mim.
— Eu vou ter uma mesa?! — não consigo conter minha
empolgação e chego a assustar o pobre homem. — Perdão, é que não
esperava ter uma mesa, pensei que iria ter de arranjar algum espaço para
trabalhar e lutar por território, essas coisas.
— Não vai precisar, tem uma mesa.
Trocamos um sorriso sincero e contenho meus pulinhos de
empolgação para não passar mais vergonha do que já passei no dia de hoje.
Ele me passa algumas papeladas e me direciona para o meu serviço
oficial na D&M e assim que sou deixada sozinha, na minha mesa, é
impossível deixar o sorriso do meu rosto.

Respondo a mensagem de Luke rapidamente antes de voltar para o


computador e atualizar a agenda de encontro com os próximos clientes de
Jonas, quando sou avisada que o mesmo me aguarda na sala do chefe.
Há duas semanas que trabalho aqui e já descobri que a grande
maioria, adora falar mal dos superiores pelas costas, em especial de Aiden e
apesar de não compactuar com as atitudes, mal posso os julgar.
Ainda mais levando em consideração que os três encontros que
tivemos por esses corredores nos últimos dias, me levaram do céu ao
inferno.
Na primeira vez, eu estava na copa indo tomar meu simples café,
mas como nunca nada é simples comigo, acabei fazendo confusão nas
garrafas em uma tentativa de ajudar, acabei adoçando todo café que
pertencia a ele.
Eu ia saber que o Senhor Escroto ama tomar café sem açúcar?
Aquela coisa estava horrível e achei que tinham errado nas
medidas e acabei melhorando a bebida.
Mas como desgraça pequena é pouca pra mim, justo no momento
em que eu estava fazendo minha até então, boa ação do dia, o babaca entrou
na copa para tomar seu delicioso café.
Tudo estava indo bem durante nossa discussão, com os
xingamentos usuais, cheguei até ficar confusa com algumas palavras que
soltou em outra língua até que quando percebi, estávamos com os rostos
quase colados um no outro e o tesão que senti por ter aquela respiração
ofegante batendo em meu rosto, foi o inferno para mim.
Aconteceram mais algumas ocasiões, onde eu mais uma vez
cheguei atrasada e tive o desprazer de ser recebida por ele em meu andar,
mas em todo o momento que estava levando uma bronca do mesmo, só
conseguia pensar em como aquelas mãos seriam ótimas se estivessem
passeando pelo meu corpo e imaginando como seriam ter seus dedos
entrando em certos lugares.
Está sendo tão insuportável ter que lidar com ele nesses encontros
explosivos, que tenho medo de acabar não resistindo e fazendo alguma
besteira.
O único local que aparentemente entramos em um acordo
silencioso, de ser nosso local neutro, vem se tratando da faculdade, ao
menos foi o que percebi desde o dia em que finalmente pude ser ouvida por
ele e respondi lindamente a uma pergunta a respeito dos atos de registro do
empresário e da sociedade.
Acho que acabei calando a boca dele aquele dia, e não me
perturbou mais nas aulas, agora me deixando responder às questões.
Passo os segundos até a chegada do elevador no último andar
tentando me lembrar se cometi algum erro nas ultimas coisas que fiz, e
acredito que não fiz nenhuma besteira.
Afinal de contas tudo que fiz até agora foram coisas simples, nada
muito exorbitante ou de muita dificuldade.
Bato a porta do babaca e respiro fundo quando sua voz grossa,
mesmo abafada pela madeira, me atinge como um soco no estômago, dando
uma pontada direta na minha boceta.
Mas que porra!
Passo pela porta e assim que entro, tenho a visão de Henry saindo
por uma porta lateral, que acredito ser o banheiro, e sorri em minha direção.
Direciono meu olhar a Jonas, que também sorri e quando olho para
Aiden, se estivesse sorrindo eu pediria para o mundo parar de girar para que
eu pudesse sair dele, antes que uma catástrofe nos atingisse.
O rosto do mesmo continua impassível, como sempre.
— Pela forma que estão me olhando, posso concluir que não fiz
besteira.
Afirmo com um sorriso ainda nervoso, o que faz os dois
sorridentes quase gargalharem e o outro bufar em sua cadeira.
— Se chegar atrasada não contasse como besteira, poderia se sentir
mais aliviada, mas para o seu azar, já pude observar você chegando em
cima da hora mais de uma vez.
— Aiden, não estamos aqui para isso. — Henry o repreende e o
agradeço por isso pois não conseguiria conter minha língua. — Estamos
aqui para parabenizá-la.
Olho espantada de Jonas para Henry, porque a última coisa que eu
esperava era uma parabenização.
— Quando estava fazendo a revisão dos contratos do caso
Summers, encontrou uma brecha que havia se passado completamente
despercebida até então.  — Jonas toma a palavra e me recordo do ocorrido,
quando o ajudei a se preparar para a audiência que teria. — Ganhamos o
caso hoje e parte do sucesso foi graças a você.
— Isso mesmo, além de que mesmo em poucos dias, afinal de
contas só fazem duas semanas que tanto você quanto os outros estagiários
estão conosco, você vem se destacando cada vez mais e se mostrando muito
competente. — Consigo sentir a empolgação de Henry com o que fala e
poderia chorar de felicidade pelo reconhecimento. — Levando isso em
consideração, acatamos ao pedido de Jonas e queríamos te anunciar
pessoalmente que vai participar ativamente em todo o processo de algum
dos próximos casos dele. Parabéns.
Meus olhos quase saltam para fora quando as palavras deixam sua
boca e por mais vergonhoso que possa parecer, não consigo conter a
dancinha de felicidade que faço ao levantar os braços e os chacoalhar junto
ao meu corpo.
Quase me esqueço de onde estou e assim que ouço as risadas, paro
imediatamente e retorno ao foco, alisando a saia do meu vestido. Meus
olhos são levados instintivamente aos de Aiden e…
Puta que pariu!
Alguém faça o mundo parar de girar pois tenho certeza que algo
muito ruim vai acontecer.
Aiden Munhoz estava sorrindo!
A porra do homem mais escroto que já tive o desprazer de
conhecer, estava sorrindo discretamente.
Não era um sorriso de felicidade e não chegava aos olhos, e muito
menos era em sinal de deboche como já vi anteriormente.
O babaca sabe sorrir de verdade!
Por um momento, concentro minha atenção no leve erguer de
lábios dele e quase não escuto a parabenização de Jonas e seu
agradecimento com o caso.
Levo meus olhos ao seus quase ao mesmo tempo que ele faz o
mesmo, e desvio rapidamente, voltando a me concentrar no ruivo.
— Muito obrigada, Jonas. — sorrio para ele tentando afastar o
calor que sobe por minhas pernas ao sentir o olhar de Aiden ainda sobre
mim. — Agradeço muito pela oportunidade e saibam que darei meu melhor.
Henry sai apressado da sala, se desculpando pela interrupção
quando sua secretária o chama sobre uma ligação importante e novamente
meus olhos desviam para o homem sentado, onde concluo que seu olhar
ainda estava em mim.
Porra de homem gostoso.
Troco mais algumas palavras de agradecimento com Jonas que se
despede de Aiden e também sai da sala nos deixando sozinhos.
— Acho que devo te dar os meus parabéns. — sua voz me chama
atenção para ele outra vez. — Espero que tenha sucesso nesse novo caso, e
não desperdice sua chance.
O tom rude volta a se fazer presente assim que o sorriso desaparece
e percebo que o breve momento milagroso passou.
Ao menos já posso dizer que presenciei um milagre em minha vida.
— Não sou de desperdiçar as chances que me são dadas. Obrigada.
— Faço uma reverência em deboche e me aproximo da saída, mas antes de
fechar a porta, olho para ele sorrindo antes de completar. — Acho que Elle
Woods soube me ensinar bem.
Pisco um dos olhos antes de fechar totalmente a porta e antes de
me encaminhar para o elevador, dou mais alguns pulinhos de alegria.
Vai dar tudo certo, tenho certeza!
 
— Ah não! — a voz de Lia explode em meus ouvidos antes de seu
riso histérico. — Quando você começa a beber vodca e depois passa para
tequila, fica incontrolável.
Viro mais um shot de tequila e a bebida desce rasgando,
queimando tudo.
Uma delícia.
De última hora, decidi chamar meus amigos para comemorar meu
aparente sucesso no estágio, ou talvez eu só estivesse tentando arrumar uma
desculpa para beber para esquecer dos problemas e principalmente, a
ameaça que sofri, que vez ou outra aparece na minha cabeça.
Duzentos mil, sabe?
É difícil ter que lidar com o fato que minha vida vale tão pouco e
nem isso eu tenho para poupá-la.
Melhor beber como se não houvesse amanhã.
— Estava precisando disso. — me jogo em cima de Luke, que se
encontra deitado no chão da minha sala. — Amanhã não vou poder ir pra
aula, vou estar acabada.
— Queria poder faltar ao serviço, mas minha chefe também é
minha mãe e me mata em dobro se eu fizer isso.
Marco deposita um selinho no noivo quando se joga sobre nós.
— Às vezes eu tenho taaanta inveja de vocês. — Minha voz sai
completamente mole e já nem sei mais o que estou falando por causa do
álcool no sangue. — Sério, queria ter alguém pra poder foder a qualquer
hora.
Recebo um tapa estalado na minha bunda e aponto o dedo a Lia
antes de reclamar da dor.
— É sério! — aumento o tom para tentar passar veracidade. — Já
faz algum tempo que não tenho tempo pra isso, porque simplesmente não
tenho tempo pra essas coisas, e a única pessoa que imaginei me comendo
quando me masturbei na última vez, foi aquele babaca gostoso.
— Se masturbou pensando no seu chefe? — Lia questiona
assustada e Marco e Luke começam a rir da minha triste situação. — E seu
professor! Nosso professor, Alexia.
— Eu sei! — me levanto e vou até as garrafas de bebida sobre a
mesa, bebendo uma delas no gargalo, sem ter ideia do que se trata. — E ele
é detestável, um babaca, arrogante e um escroto completo, mas não posso
fazer nada se mesmo assim, continua sendo um gostoso do caralho e só
consigo imaginar se fode tão bem como discute comigo!
— Por que não diz isso a ele e tenta a sorte, melzinho? — a voz do
meu melhor amigo ecoa em meu cérebro e de repente, nada faz mais
sentido do que isso.
— Da última vez que você bebeu assim, acabou o conhecendo e
tudo foi por água abaixo, acho melhor parar de beber e ir dormir, Alexia. —
Marco se faz presente com toda sua sensatez.
Por um momento os imagino como naqueles filmes cômicos, onde
de um lado dos ombros temos um pequeno diabo nos incitando a cometer
coisas terríveis, fazendo parecerem corretas e no outro há sempre um
anjinho que mesmo fazendo de tudo, nunca consegue ser ouvido.
É meio óbvio quem devo ouvir, então enquanto continuo escutando
os noivos discutirem sobre o que eu deveria fazer, com a voz de P!nk
cantando “Try” de fundo, corro até meu quarto e tiro o celular do
carregador.
Não sei como, já que tudo parecia meio embaçado, mas consigo
abrir em seu contato e enviar algo parecido com um elogio sobre seus
atributos físicos e seu péssimo humor.
Ouço meus amigos me chamando e volto para sala sorrindo feito
maluca, contando o que acabei de fazer. Não sei se por conta da bebida ou
por não terem acreditado, eles apenas me acompanham na risada, e resolvo
servir mais uma dose de tequila a todos.
Que porra eu fiz?!
 
 
“Então venha agora
Risque o fósforo
Risque o fósforo agora
Combinamos perfeitamente
Perfeitos de algum jeito
Fomos feitos um para o outro
Se aproxime um pouco mais
A chama que veio até mim
Fogo encontra a gasolina
Fogo encontra a gasolina
Estou queimando viva
Eu mal posso respirar”
Fire meet gasoline – Sai
 

Aumento a velocidade da esteira e enquanto começo a correr, dou


o play no celular e “Birds”, do Imagine Dragons, explode em meus
ouvidos.
Tento me concentrar na corrida, gastando energia numa tentativa
de afastar os pensamentos invasivos sobre certa mulher petulante que
resolveu atormentar minha mente nas últimas semanas.
É quase desesperador a maneira como o desejo por ela vem
aumentando a cada dia. Parece que quanto mais discutimos, mais o tesão
cresce e a vontade que tenho de agarra-la pelos cabelos até estar com a boca
colada a dela durante uma mínima aproximação, chega a me deixar com as
bolas roxas como um maldito adolescente que gozaria somente com um
beijo.
Porra Adrian! Só pode ter sido maldição dele!
Tudo estava sob controle, ou quase, até que hoje pela manhã
acordei com uma mensagem enviada pela mesma e não consegui mais me
livrar das imagens dessa mulher da minha mente.
Na mensagem ela dizia como não aguentava mais ter que lidar com
os pensamentos sobre eu ser, nas palavras dela, “um grande e fodido
gostoso”, alegando que se eu não fosse, mais uma vez nas palavras dela, um
“grande escroto de merda”, ela com certeza iria acabar me agarrando na
primeira oportunidade que surgisse.
A mensagem foi enviada após as duas da manhã e logo em seguida
vinha outra, essa enviada às sete e meia, pedindo desculpas pelo mal
entendido e que a mensagem seria para outra pessoa.
Pois se ela pensa que caí nessa mentira, está muito enganada, até
porque não pode ser coincidência ela usar o mesmo adjetivo tão carinhoso
que usa para me descrever sempre que pode com outras pessoas.
Posso ser um escroto, mas aposto que sou o único ao qual recebeu
esse título vindo dela nos últimos tempos.
Sinto algo bater contra minhas costas e pela visão periférica,
consigo ver que se trata de Henry com uma toalha de rosto nas mãos.
Retiro os fones enquanto meus olhos o acompanham até um dos
aparelhos de musculação.
— Tá atrasado. — faço minha primeira observação e ele a ignora
com um dar de ombros. — Pensei que conseguiríamos tomar um café
depois daqui, mas logo vou precisar voltar pro escritório por conta de uma
reunião.
Ele me olha confuso, provavelmente porque geralmente depois da
academia, prefiro ir direto pra casa já que não gosto de usar o vestiário
daqui.
— Pensei que fosse direto pra casa, até estranhei ter me chamado
pra cá durante a tarde. — ele comenta enquanto tira a camiseta antes de
começar seus exercícios, deixando a vista seu peitoral tatuado, assim como
seu braço esquerdo repleto dos traços irregulares.
Exibido.
— Não, tenho mais algumas coisas pra terminar no escritório, vou
ter que tomar banho no banheiro de lá. — diminuí um pouco a velocidade
da esteira quando sinto algumas fisgadas na minha panturrilha. — Quase
cinco anos ali e essa vai ser a segunda vez que vou usar aquele chuveiro.
Ele solta uma risada antes de voltar a direcionar os olhos curiosos
para mim.
— Como vão as aulas? — não deixo de notar seu tom malicioso e
sei que não está perguntando das aulas e sim de Alexia. — Não precisa ficar
bravo, foi só uma pergunta simples.
— As aulas estão ótimas, se quer saber, não tive um infarto ainda,
se essa for sua preocupação.
— Infarto não, mas aposto que já passou alguns perrengues
apertados nessas últimas semanas. — ele sorri de lado e sem conseguir
controlar a piada de quinta série, acabo bufando como resposta. — O que
está achando do desempenho dos nossos novos estagiários?
— Se quer saber sobre algo específico, vá direto ao ponto, Henry.
— decido acabar de vez com meu sofrimento. — O que está insinuando?
— Você quem pediu. — ele deixa o aparelho e ergue as mãos em
rendição, parando em frente a mim. — Está ficando quase palpável a tensão
sexual que você e a Alexia exalam quando estão no mesmo ambiente,
sabia?
Alexia?
Desde quando esse maldito passou a trata-la de maneira tão
informal?
Fecho os olhos por breves segundos, tentando respirar fundo e
decido tirar minha camiseta, sentindo o tecido apertar meu pescoço, quase
como se estivesse me sufocando.
— É sério, Aiden. Por mais que na maioria das vezes vocês
estejam a ponto de voar um no pescoço do outro, aposto que se de fato
fizessem isso, a única coisa que teríamos que fazer pra controlar a situação,
seria levar vocês dois para o primeiro hotel que encontrássemos ou lidar
com uma denúncia de atentado ao pudor.
— Você não consegue ficar quieto e manter seus pensamentos para
si?
— Foi você quem pediu que eu fosse direto ao ponto, só estou
resumindo a situação. — ele sorri e se apoia na esteira, a desligando e quase
me fazendo cair no processo. — Desculpe.
— Se eu me machucasse ia fazer questão de passar uns bons três
meses em casa pra você se foder sozinho naquele escritório. — o olho
furioso enquanto me ajeito após ter tropeçado. — E não quero mais ouvir
esse tipo de insinuações, sou chefe e também o professor dela, mesmo se
nos déssemos bem, estaria fora de cogitação.
— Vocês poderiam esquecer da ética pelo menos uma vez, deixar
de lado o ódio que sentem um pelo outro, para acabar com todo esse tesão,
aposto que resolveria essa situação.
Vou até o banco onde deixei minha garrafa de água e tomo um gole
generoso, limpando o suor que escorria por meu tronco com a toalha que
também estava ali.
— Mas pelo jeito são dois cabeças duras. — ele se senta de frente
pra mim. — O que está achando do desempenho dela? Seja sincero e
profissional.
Respiro fundo, me lembrando de todos os elogios que Jonas deu
sobre ela e em como vem sendo a estagiária mais empenhada nesse curto
período que estão conosco.
Por pouco quase deixo escapar um sorriso, mas me lembro de
pegá-lo olhando para as pernas dela vez ou outra.
Pelo jeito a peste realmente leva jeito nas coisas e eu não deveria
ter relutado tanto em lhe dar uma oportunidade, isso é nítido.
Me lembro das palavras que o ruivo usou, sobre ser uma mulher
competente e estar sendo excelente no que está fazendo, e preciso
concordar com ele. Ela se dispõe a fazer tudo que precisa e se dedica mais
que todos os outros estagiários, pelo que pude observar até agora.
Entretanto, não sei por qual motivo, mas quando o mesmo estava
tecendo elogios a ela, algo em mim me incomodava profundamente sobre o
jeito que falava dela.
Preciso ficar de olho nesses dois.
— Acho que ela vem fazendo um bom trabalho por tudo que ouvi e
vi sobre ela. — tento soar o mais tedioso possível. — Mas você também
sabe disso.
— Admite que ela está sendo muito boa no que faz, Aiden, e que
tem um futuro muito promissor se continuar assim.
Dou de ombros, preferindo ignorar suas intenções veladas.
— Se ela seguir assim até o fim do estágio, pode ser que possamos
considerar com que ela cresça ali conosco. — ele sugere e volto meu rosto
pra ele, onde encontro o maldito sorrindo abertamente. — Acha que
conseguiria conter toda essa — ele finge estar procurando a palavra e me
sento derrotado ao seu lado. — raiva que sente dela?
Antes que eu pudesse responder, o filho da mãe tosse falsamente
enquanto pronuncia a palavra “tesão”, e dou um soco fraco em seu ombro.
— Porra, Aiden! — ele passa as mãos sobre o local. — Estava só
brincando.
— Respondendo sua pergunta — me levanto e visto a camiseta
antes de pôr a toalha sobre os ombros. — Se ela seguir se dedicando e
mostrando ser uma excelente profissional, pode ser um caso a se pensar.
Mas ela só está conosco há poucas semanas, vamos com calma. E vai
precisar conversar com ela sobre os atrasos, porque se deixar isso para eu
fazer, não vão sair coisas boas disso.
— Vou esperar e observar mais um tempo, caso seja uma ideia real,
converso com ela. — ele sorri e se levanta, voltando ao aparelho de
musculação. — Mas poderia apostar que Alexia vai ter uma carreira
brilhante.
De novo a chamando pelo primeiro nome.
Olho para ele desconfiado que me lança uma piscadela, antes de
me despedir e ir em direção ao estacionamento.
Bato a porta do carro e antes de virar a chave na ignição, passo
mentalmente todos os meus compromissos do restante da tarde, como uma
forma de organização.
Só espero não encontrar aquela pequena peste pelos corredores!
Não suporto mais sentir meu pau duro nas calças quase todas as
vezes que nos esbarramos.
Passo apressado por Samantha e deixo avisado que estaria tomando
um banho por conta da ida à academia, e que não era para permitir a entrada
de ninguém, antes de entrar na sala.
Confiro se minhas roupas extras estavam no armário, e suspiro de
alívio quando encontro o conjunto social junto da camisa e sapatos assim
que os abro.
Por um momento tinha me esquecido se havia trago para cá, e
odiaria ter que cancelar a reunião de hoje por conta da porra da academia.
Fecho as persianas da janela, considerando que pretendo me trocar
na sala, já que não suporto me trocar em meio ao vapor do banheiro e sigo
em direção a ele enquanto vou me despindo.
Coloco as roupas suadas dentro de uma bolsa que trouxe
justamente para isso e entro debaixo do chuveiro morno, que apesar do
calor não consigo deixar de tomar.
A água morna desce pelas minhas costas, relaxando cada nervo
tensionado e aproveito para fechar os olhos e desfrutar do momento. Lavo
meus cabelos por conta do suor que gruda em meu couro cabeludo, e logo
após percorrer o sabonete por todo meu corpo, finalizo o banho.
Me seco sem muito empenho, gostando da sensação de ter alguns
pingos de água escorrendo sobre meu abdômen e enrolo a toalha na cintura
antes de passar minhas mãos pelos cabelos enquanto tentava o ajeitar frente
ao espelho.
Assim que estou pronto para retornar à sala e me trocar, toco na
maçaneta da porta, mas antes que eu pudesse trazê-la para dentro e abri-la,
alguém faz isso por mim e me assusto quando um corpo pequeno e frágil se
choca contra o meu, fazendo com que a toalha caísse.
Meus olhos encontram as jabuticabas assustadas de Alexia, que
tem as mãos em torno dos meus braços enquanto eu a segurava pela cintura
para que não caísse por conta do impacto.
Puta que pariu!

Mas que porra!


Não é possível que todos os banheiros do caralho de um prédio de
mais de quatorze andares estejam interditados por conta de um problema
interno.
E é claro que os únicos livres, estariam todos ocupados bem
quando eu mais preciso.
Eu só quero fazer meu xixi, poxa.
O dia já começou péssimo, quando acordei com a maldita ressaca e
assim que percebi a merda que tinha feito de madrugada tudo só piorou.
Tratei de inventar a pior mentira que consegui encontrar sobre a
mensagem deplorável que enviei quando estava bêbada.
Não posso beber nunca mais, aparentemente só faço merda sob o
efeito do álcool.
De quem foi a ideia horrível de mandar aquelas mensagens?
Preciso me lembrar de dar uns tapas em Luke mais tarde.
E é claro que o babaca sequer respondeu às minhas humilhações,
só não sei se isso seria uma coisa boa ou não.
Por um lado, penso que vamos fingir que nunca aconteceu, o que
seria ótimo, mas por outro lado estou morrendo de medo de ser dispensada
por ter mandado mensagens inapropriadas ao meu chefe durante a
madrugada.
Assim que as portas do último andar se abrem corro em direção ao
corredor quando percebo que Samantha não se encontrava em sua mesa.
Assim que ouvi sair da boca de um dos funcionários que eu
poderia tentar a sorte de usar um dos banheiros das salas dos chefes, não
precisei pensar duas vezes antes de sair em disparada. Ainda mais sabendo
que tanto Aiden quanto Henry deixaram o prédio mais cedo no dia de hoje.
Ao menos uma notícia boa.
Invado a sala mais próxima, sendo a de Aiden e pode parecer
burrice uma atitude dessas, mas somente o desespero da minha bexiga
quase explodindo consegue me fazer cometer loucuras.
Atravesso a distância de sua sala, que parece ainda maior agora em
meio a emergência, até chegar à fechadura da porta que leva ao banheiro.
Assim que a empurro, entrando em seguida, acabo trombando com uma
parede de músculos úmidas e quente.
Ah não!
Porra, conheço a sensação familiar de estar em contato com esse
corpo.
Seguro em seus braços para evitar uma queda e em seguida sinto
minha cintura ser apertada por suas mãos grossas.
Olho espantada para o rosto de Aiden, que se encontra com uma
expressão quase indecifrável no rosto.
Não consigo decidir se quer me matar ou me jogar na parede e
fazer sabe se lá o que.
Engulo em seco sem conseguir dar voz a minha fala e aperto seus
músculos em minhas mãos.
Por um momento de completa loucura, deslizo minhas palmas,
sentindo a textura da sua pele morna e as veias saltadas de seus braços me
levam a loucura.
Não trocamos nenhuma palavra e de repente me sinto hipnotizada
por seu olhar, que me encara como se estivesse faminto por algo, ou por
mim.
E porra, adoro a sensação de ser devorada por seu olhar.
Sinto seus braços se fecharem em torno do meu quadril, me
levando em direção a ele, o que faz com que eu sinta algo em minha
barriga.
Levo meus olhos para baixo e encontro seu pau, seu lindo pau,
devo ressaltar, completamente exposto, com sua glande rosada.
Engulo em seco mais uma vez e torno a olhar para seu rosto, o
encontrando a menos de um palmo do meu. Nossas respirações se misturam
e percebo que ainda estou passando minhas mãos pela extensão de seu
braço, em uma carícia quase selvagem e aproveitando a recente falta de
senso, aproveito para também explorar seu peitoral bem definido onde
ainda escorrem algumas gotas de água.
Sem que eu possa prever, Aiden leva as mãos para minha bunda,
me impulsionando para mais perto dele e chego a gemer com o contado de
suas mãos na região, quando o tecido da minha saia sobe.
Meus olhos não deixam os seus, assim como os dele, e de repente
sinto minha boca seca, tendo a necessidade de passar a língua sobre os
lábios.
Assim que o faço, Aiden fecha os olhos e respira fundo, tentando
controlar a respiração ofegante e após abri-los outra vez, murmura algo que
não consigo entender e sobe uma das mãos para os meus cabelos.
Ele os agarra e puxa minha cabeça em direção a ele, fazendo com
que nossas bocas fiquem a centímetros uma da outra.
Mesmo com o salto, preciso me esforçar um pouco para ficar na
posição e minha respiração se acelera, sentindo minha boceta molhar minha
calcinha. Observo seus olhos atentos passarem dos meus olhos para minha
boca e de volta à posição inicial.
Percebo que apesar dessa atitude completamente maluca, ele está
deixando a decisão final comigo.
O que é mais uma decisão errada para quem já está
completamente fodida?
Agarro seu pescoço, puxando levemente seus cabelos enquanto
acabo com a pouca distância entre nós.
Tomo sua boca em um beijo ávido e como em todas as ocasiões
que se tratam de Aiden, me sinto ir do céu ao inferno.
Concedo passagem a sua língua que, assim que pode, explora todos
os cantos da minha boca e me sinto incendiar.
O calor que começa em meus lábios se espalha por todo meu corpo
e quase acredito que estou prestes a pegar fogo, quando sinto as fisgadas na
minha boceta aumentarem por conta do beijo.
Passo a arranhar sua nuca com minhas unhas e quase deliro quando
ele solta um gemido em minha boca. Passo a chupar sua língua e sinto a
mão que está prendendo meus cabelos, descendo até estar abraçada a minha
cintura.
Ele me impulsiona para cima e com o movimento, enrolo minhas
pernas em torno do seu quadril, sentindo seu pau se endurecer cada vez
mais e aproveito a mudança de posição para me esfregar nele, com o novo
contato.
Ele encerra o beijo frenético, chupando meu lábio inferior antes de
me depositar sobre a bancada da pia. Nossas testas ficam encostadas e me
mantenho de olhos fechados enquanto tento acalmar minha respiração e
sinto suas mãos de volta em meus cabelos.
Percebo que ele tenta controlar o caos dos fios, os colocando para
trás da minha orelha e abro os olhos quando sinto seu polegar em meus
lábios.
Seus olhos, assim como seus dedos, estão na minha boca e
descendo as mãos para seu peito, observo seus lábios inchados e vermelhos,
assim como devem estar os meus.
Nossos olhos se encontram e ainda sentindo o formigamento de
sua barba em minhas bochechas, ele me toma em mais um beijo.
Me perco nas sensações que nossas bocas coladas uma à outra me
trazem, enquanto suas mãos descem para minhas coxas e apertam a carne
como se quisesse afundar os dedos ali e a ideia de ficar marcada por ele me
agrada mais do que imaginava ser possível.
Sinto minha língua ser chupada e antes que eu pudesse descer
minhas mãos para seu pênis ereto entre nós, tento retornar a lucidez e puxo
seus lábios entre os dentes antes de encerrar o beijo.
Assim que abro os olhos, dessa vez encontro uma expressão
sarcástica em seu rosto e o empurro para que pudesse descer do mármore
frio.
Tento ajeitar minhas roupas e meus cabelos enquanto pelo canto de
olho posso ver quando amarra a toalha sobre o quadril outra vez.
Mas que porra acabou de acontecer?
Bexiga traidora, que até a vontade de fazer xixi passou.
Sinto minha boceta latejar, clamando por atenção e respiro fundo
antes de me virar e encarar o homem, que agora tenho certeza de ser
gostoso.
Assim que me viro, vejo que o sorriso não deixou seu rosto.
Mas que caralho é isso?
Antes quase nunca o havia visto sorrindo, agora parece o coringa,
sem tirar o sorriso do rosto.
Um sorriso discreto, mas aposto ser o máximo que sua babaquice
permite.
— Tem certeza que aquela mensagem da madrugada foi para
pessoa errada?
Não acredito que ele vai trazer isso à tona justo agora.
— É claro que tenho, por que eu falaria aquelas coisas pra você?
— Acho que o que acabamos de fazer explicaria tudo. — Ele
aponta para o ambiente e foca os olhos em minha boca outra vez.
— Pois saiba que eu estava bêbada, não sabia o que estava
digitando, ou para quem.
— Tem certeza? Não foi o que me pareceu alguns minutos atrás,
quando estava gemendo na minha boca, pequena peste.
Porra de apelido idiota.
Seu sorriso, mesmo que mínimo, não diminui.
Eu gemi?!
— Pois saiba que apenas fui levada pelo calor do momento, até
porque quem deu o primeiro passo, não fui eu.
— Você invadiu meu banheiro primeiro, posso até te denunciar por
assédio.
Sei que não está falando sério e tento passar por ele em direção a
porta, mas sou impedida pelo mesmo que se põe a frente da passagem.
— Sou sua funcionária e sua aluna, quem acha que sairia perdendo
com uma denúncia aqui, babaca? — as palavras que saem da minha boca
fazem seu sorriso morrer e a expressão mortal ao qual estou me
acostumando volta a aparecer. — Agora, com licença, preciso ir trabalhar.
O empurro para que saia do meu caminho, e a ação não causa nada
no homem, considerando a diferença de nossas estaturas.
Continuo o empurrando para tentar passar por ele e chego a
desferir alguns tapas em seu peitoral, mas o babaca cruza os braços,
obstinado a não me deixar passar.
Mas que inferno!
Em uma medida desesperada para me ver livre dali, puxo a toalha
do seu corpo e o mesmo se assusta, finalmente saindo da porta. Aproveito a
oportunidade e saio dali apressada, me esquecendo dos riscos urinários que
posso sofrer por não ter me aliviado.
Ainda não conseguindo acreditar no que aconteceu, deixo sua sala
para trás ainda ofegante e passo os segundos tortuosos no elevador, ainda
sentindo o aperto de suas mãos por meu corpo e da sua boca devorando a
minha.
Vou ter que trocar de calcinha, porra, e preciso urgentemente de
um doce!
“Eu sinto como se estivesse me afogando
(Me afogando)
Você está me puxando para baixo e
(Me puxando para baixo)
Você está me matando lentamente
(Tão lentamente, oh, não)
Eu sinto como se estivesse me afogando
(Me afogando)”
I feel like i’m drowning - Two Feet
 

Meus olhos seguem as passadas firmes de Alexia deixarem minha


sala e até que ela passe pela porta, não consigo desviá-los das suas pernas e
da sua bunda bem empinada.
Caralho!
Só de lembrar como senti sua carne macia em minhas mãos poucos
minutos atrás, meu pau volta a pulsar, como um alerta de que sua situação
ainda não foi resolvida.
Abaixo o olhar para ele, que desde o contato com o corpo de
Alexia, segue ereto, antes de voltar a fechar a porta do banheiro e voltar
para debaixo do chuveiro.
Assim que entro embaixo da água e fecho os olhos, minha mente
me leva pra alguns minutos atrás quando estive com a pequena peste nos
braços.
Desço uma de minhas mãos até o meu pau que se encontra duro e
babando de desejo por aquela petulante, e mesmo que eu não queira
acreditar, tem um beijo fodido de gostoso. Inicio os movimentos brutos de
vai e vem por todo meu pênis e solto um riso desacreditado.
Eu, um adulto de trinta e sete anos, estou tendo que bater a porra
de uma punheta no meio do expediente porque não consegui me controlar
com a minha funcionária e fiquei de pau duro por conta da porra de um
beijo.
Como se precisasse do beijo pra isso acontecer.
Uma coisa inédita, ao menos na minha vida.
Sigo com os movimentos enquanto repasso tudo que aconteceu,
quase sentindo o gosto da sua língua novamente na minha boca e desejando
ter ela em torno do meu pau. Ela tinha um sabor de algo cítrico,
provavelmente culpa da água saborizada que fica na copa.
Solto alguns gemidos roucos e minha respiração acelera quando
começo a aumentar a pressão sobre os movimentos e a imagino ali comigo,
como quando não desperdiçou a oportunidade de se roçar em meu pau
quando a peguei no colo.
Mesmo que eu sinta minhas mãos grossas se movimentando em
meu pênis, é Alexia que tenho em meus pensamentos e como nunca,
imagino como seria estar fodendo com ela, ouvindo os palavrões e os
gemidos deixarem aquela boca e sentir seus arranhões por minhas costas
enquanto gozaríamos juntos.
— Porra, Alexia. — ouço minha voz gemer o nome dela, como um
maldito adolescente sem tê-la ali comigo.
Sinto uma fisgada atravessar meu corpo e meu coração dispara no
peito com a chegada do orgasmo e meu jato de gozo esporra em meus
dedos, sendo levado pela água morna que cai do chuveiro.
Espalmo as mãos contra a parede, onde também deixo minha testa
sentir a textura fria do azulejo.
Mas que caralho essa mulher está fazendo comigo?
Tento controlar minha respiração, voltando ao meu normal para
assimilar o que aconteceu.
Que nos desejávamos, era nítido, mas eu não imaginaria que não
conseguiria me controlar e também não esperava que a peste fosse invadir
meu banheiro e me encontrar pelado.
Quando tomei ciência de que a estava segurando e de que suas
mãos estavam passeando por meu corpo, e porra, a filha da puta foi bem
descarada na sua exploração sobre meu peitoral, não consegui conter o
desejo que surgiu redobrado por conta do contato do nosso corpo.
Quando percebi, já estava com nossas bocas a milímetros de
distância e deixei que ela decidisse o que fazer quanto a isso, já que apesar
de tudo, ainda estava receoso com sua resposta caso ousasse mais.
Ela facilmente me estapearia, como deixou claro quando por pura
birra, tentei impedir sua saída do banheiro.
Quando ela grudou nossas bocas, joguei todo o bom senso pelos
ares de uma vez e devorei seus lábios como se estivesse faminto por sentir
seu gosto.
E realmente estava.
Não sei o que acontece com essa mulher, que me tira
completamente da minha órbita e na mesma medida que me tira do sério,
também me deixa a ponto de explodir de tanto tesão.
Minha vontade quando a impulsionei e ela enrolou aquelas
malditas pernas em torno de mim, fazendo com que mesmo com o tecido
fino da sua calcinha no caminho, sentisse no meu pau o quanto estava
escorrendo por mim, era de tê-la fodido ali mesmo, sem me importar sobre
onde estávamos ou quem nos ouviria, só pensava em me afundar nela e
estocar até estarmos exausto e roucos.
Agora que o momento passou e me encontro um pouco mais
lúcido, não consigo parar de pensar nas merdas que isso pode causar, por
exemplo, no fato de que somente com esse beijo, eu possa ter me viciado
completamente no sabor dela e sentisse a necessidade de mais.
Caralho de boca gostosa.

Minha atenção é requisitada mais uma vez na reunião, e pela


terceira vez preciso pedir que um dos meus advogados repita a pergunta, já
que não consigo tirar meus pensamentos de Alexia.
Pareço um completo maníaco que ainda sente o gosto e as mãos
dela por todo meu corpo, ansiando por mais uma chance de repetir a dose.
O que aquela peste fez comigo?
Quando a reunião finalmente se encerra, peço perdão aos que
participaram, alegando que estava com alguns problemas pessoais que
estavam nublando minha mente e me retiro da sala sem sequer passar os
avisos dos quais eu pretendia.
Acabei indo procurar a porra dos meus problemas pessoais, sem
nem saber o que diria a ela quando a visse, mas lidaria com isso quando a
encontrasse e de preferência em um lugar reservado.
Mas pelo que pude perceber após a procurar em todos os andares e
perguntar sobre o paradeiro dela a qualquer um que aparecesse na minha
frente, cheguei à conclusão de que Alexia estava fugindo de mim e não
fazia ideia de onde tinha se metido.
Após o fracasso da primeira reunião, decidi cancelar a próxima e
encerrar o dia por ali mesmo. Em dez anos de carreira, nunca cancelei uma
reunião a não ser por conta de algo de extrema emergência familiar.
Essa mulher vai me arruinar.
Dirijo até em casa, pensando na confusão de coisas que ela me faz
sentir. Que a detesto é óbvio, já que me tira do sério por razões patéticas e
que às vezes sequer consigo explicar, mas também preciso admitir que
nunca senti tanto desejo assim por alguém.
Talvez Adrian e Henry realmente estão certos, e o que precisamos
é apenas de uma foda para acabar com toda essa tensão sexual, quem sabe
as coisas se amenizassem caso isso ocorresse.
Chego em casa e me surpreendo quando vejo que todos estão à
beira da piscina, não dentro dela ou coisa do tipo, apenas espalhados pela
área externa enquanto conversam.
Os mais velhos estão sentados nas espreguiçadeiras, enquanto
Clarice, junto de Caio e Cecília estão sentados na borda da piscina passando
os pés ou as mãos sobre a água, vez ou outra.
Assim que minha presença é notada, recebo sorrisos carinhosos da
parte de todos enquanto dobro as mangas da camisa, tiro os sapatos e dobro
as barras da calça até as panturrilhas para me juntar aos meus sobrinhos.
— Boa tarde, filho. — Meu pai vem acompanhado de Henry de
dentro da casa, trazendo algumas bebidas em uma travessa. — Chegou cedo
hoje, aconteceu alguma coisa?
— Nada com que precisem se preocupar. — Recebo o olhar
curioso tanto de Henry e Adrian quanto de Francie recaindo sobre mim e
dou de ombros. — Qual o motivo da reunião na piscina e a pergunta mais
importante, o que está fazendo aqui, Henry?
— Faço mais parte dessa família do que você. — Ele me lança
uma piscadela. — Além de que recebi uma ligação um tanto curiosa de
Samantha e resolvi averiguar.
Ergo uma de minhas sobrancelhas, o questionando e o mesmo dá
de ombros enquanto ajuda meu pai com as travessas.
Observo meu pai entregando os copos de sucos para os netos antes
de levar a cerveja até sua preciosa esposa, deixando um selinho nos lábios
da mesma.
Sorrio com a cena e os admiro por um momento antes de receber
um jato de água em meu corpo.
Olho em direção aos gêmeos, mas vejo suas mãos secas e concluo
que a meliante foi a mais velha. Aproveito o calor que faz mesmo que o sol
já estivesse indo embora, e sem aviso prévio me jogo na água convidativa,
levando Clarice comigo e posso ouvir suas gargalhadas enquanto caímos.
Passo os dedos pelo rosto e coloco os cabelos para trás enquanto
sou abraçado por ela, e gargalhamos sobre os pedidos dos gêmeos aos pais,
para que pudessem se juntar a nós.
— Mas, mãe — Cecília começa a argumentar enquanto o irmão
tenta a vez abraçando e beijando o pai. —, Clarice está lá com o tio Aiden e
ela nem precisou pedir, isso não é justo.
— Sua irmã está ali porque seu tio é um irresponsável. — Francie
argumenta e, sem que os filhos notassem, mostra o dedo médio para mim.
— Você e seu irmão já tomaram banho e se a Clarice não sair da água em
dez minutos, cancelamos a festa dela.
— Festa? — questiono curioso, interrompendo os pedidos das
crianças. — Não sabia que teríamos uma festa por aqui nos próximos dias.
— Por que acha que acabei por aqui? — Henry questiona abrindo
uma Corona, acompanhando mamãe. — Meu faro é ótimo para essas
coisas.
— Era isso que estávamos resolvendo, antes de jogar minha filha
na água. — Adrian, que ainda relutava contra o ataque de carinhos do filho
persistente, soa bravo e sorrio para ele. — Vamos fazer um churrasco aqui,
no sábado que vem, para comemorar os vinte anos da traidora. Tô ficando
velho.
Ele suspira pesado enquanto Clarice mostra a língua a ele e se
aconchega mais ao meu abraço.
— Fique à vontade para trazer alguém, Aiden. — mamãe sugere —
Não iríamos reclamar de ter um membro novo nessa família.
— Deixa o garoto em paz, querida. — meu pai vem em minha
defesa e tenta piscar com um olho só em minha direção, o que não tem o
resultado que esperava. — Porcaria, nunca aprendi a piscar desse jeito.
Todos rimos de como o senhor Munhoz é desajeitado e os gêmeos
sussurram algo no ouvido de Francie, que me olha divertida.
— Mamãe pediu para dizer que queremos ter priminhos, tio Aiden.
— Cecília chama atenção com sua fala e minha cunhada põe as mãos no
peito, como se estivesse sendo caluniada. — Na verdade, seria bem legal ter
primos, a Clarice tá velha já.
É aí que uma discussão começa entre os irmãos e a mais velha
acaba jogando água em todos que estavam rindo da situação.
Sorrio divertido, me sentindo feliz por pelo menos ali, apesar das
tentativas da minha mãe de conseguir uma nora, consegui me desligar, ao
menos um pouco, dos problemas que me perseguem.
Minha família sempre foi como um porto seguro para mim, por
isso tenho a consciência de que qualquer coisa além disso, não se passa de
ilusão.
Meus pais e meu irmão tiveram a sorte de encontrar alguém com
quem compartilhar a vida, e tudo bem eu não ter tido o mesmo destino. Às
vezes só precisamos aceitar que não nascemos para algo, e eu com certeza
não fui feito para me apaixonar ou para estar em um relacionamento, já que
em todos esses anos nunca senti nada parecido com paixão ou amor.
Ao menos, era isso que eu costumava pensar.

Saio do banheiro somente com uma calça de moletom enquanto


seco meus cabelos com a toalha e suspiro pesado quando encontro Henry
deitado em minha cama.
— Quem deu a permissão para entrar no meu quarto?
Ele se senta e começa a fazer um coque em seus cabelos, que
estavam soltos até o momento.
— Me pergunto como seu pai foi capaz de deixar você fazer uma
tatuagem tão feia como essa. — Aponta para o símbolo em meu peito e
jogo a toalha para cima dele.
— Porque estava com a minha mãe, e até o momento que eu estava
fazendo, ela e Adrian iriam fazer uma igual, mas desistiram de última hora
por medo da dor.
Ele balança a cabeça em negativa, antes de me jogar a toalha de
volta e assim que a pego vou em direção ao banheiro para pendurá-la,
enquanto escuto o maldito falar sobre o assunto que veio sondar essa noite.
— Recebi uma ligação da Samantha e fiquei preocupado com você
hoje.
Puta que pariu!
Será que Samantha viu ou escutou alguma coisa?
Pensando agora, não me lembro se a porta da sala estava fechada
quando Alexia invadiu o banheiro, antes de tudo acontecer.
— E o que aquela fofoqueira tinha pra dizer? — tento manter meu
tom o mais tedioso possível.
Volto para o quarto e me sento na poltrona ao canto, encarando
meu melhor amigo, o mesmo que estava certo sobre tudo que ocorreu mais
cedo, mas que nem por isso tenho vontade de contar o que aconteceu.
Não por não confiar nele ou coisa do tipo, mas sim porque seria
ridículo eu admitir que ele estava certo depois de tanto negar.
— Que um pessoal alegou que você estava se sentindo mal em
uma das reuniões e cancelou outra. — Sem que ele notasse, solto um
suspiro de alívio. — Queria saber se está tudo bem ou se aconteceu alguma
coisa, não cancela uma reunião nem quando está morrendo.
— Só me senti um pouco mal porque não tinha dormido direito. A
situação com a porra das patentes tá me tirando o sono. — Invento uma
desculpa qualquer sobre um caso difícil que já havia comentado com ele. —
Se aqueles idiotas continuarem a ser tão estúpidos quanto estão sendo,
vamos acabar perdendo o caso.
— Se realmente for só isso — ele começa a dizer enquanto se
levanta e não desvia os olhos azuis de mim nem por um segundo. —,
precisa relaxar, sabe que sempre consegue lidar com os filhos da puta mais
idiotas que passam por nosso caminho.
— Você é a prova viva disso. — sorrio tentando descontrair e
mudar de assunto enquanto o acompanho para fora do quarto. — Obrigado
pela preocupação, mas está tudo sob controle.
Ele assente e passa os braços por meu pescoço enquanto descemos
as escadas, já sentindo o cheiro da costela sendo assada no forno.
Me sinto péssimo de estar mentindo assim pra ele e de repente me
lembro de alguma coisa que ouvi minha mãe dizer sobre esconder algo do
melhor amigo, que não deveria estar fazendo aquilo, ou algo assim.
Mas a questão aqui não é o Henry saber, até porque aposto que o
maldito aprovaria o que aconteceu e até incentivaria, mas a questão é que
pela primeira vez, não estou conseguindo lidar com a confusão de coisas
que estou sentindo por uma mulher, e isso está me assustando pra caralho.

Assim que passo pela porta, posso notar que o barulho das
conversas paralelas da turma se encerrarem assim que notam minha
presença.
Olho para toda a turma e não consigo disfarçar minha surpresa
quando encontro o motivo da minha noite mal dormida, já sentada em sua
cadeira enquanto ouve sua amiga falar, mesmo parecendo que não presta
atenção em uma só palavra do que ouve.
Tivemos uma quantidade baixa de aulas, mas nesse pouco tempo já
pude perceber que se atrasar está enraizado na peste, como o sangue em
suas veias.
Essa é a primeira vez em que eu chego e a mesma já está na sala de
aula, o que por si só já é um fato curioso.
Tudo se torna ainda mais estranho quando os minutos da aula se
passam e é como se ela não estivesse ali, pois pela primeira vez não esboça
nenhuma reação as minhas falas ou a dos colegas, nem mesmo quando
chamei sua atenção pedindo que prestasse atenção, por ter lhe feito uma
pergunta e ela sequer a ter escutado.
Penso que talvez pudesse ter sido sono ou algo tipo, mas quando a
situação segue a mesma após o intervalo, não consigo tirar minha atenção
dela, e quase me sinto um idiota por estar preocupado com o que pode estar
acontecendo.
Talvez ela esteja passando mal ou contraiu alguma doença desde a
última vez que a vi. Também penso que o que aconteceu no dia anterior a
pudesse ter afetado e a preocupação só aumenta, assim como também a
culpa e o medo de ter passado dos limites.
Por que não consegui me controlar ontem, porra?
Sei que ela correspondeu ao beijo, mas pelo que percebo hoje, com
certeza deve estar arrependida e preciso conversar com ela a respeito.
Não foi minha intenção fazer com que ela se sentisse mal pelo que
aconteceu, até porque não deveria ter acontecido, levando em conta que sou
chefe e também seu professor.
Diversas hipóteses passam por minha cabeça.
Ela pode estar agindo assim por medo de algo acontecer por conta
da nossa situação profissional e acadêmica ou realmente se arrependeu e
não sabe como se portar, e é pensando nisso que tomo a decisão de pedir
que ficasse após a aula para conversarmos.
Ela me olha confusa, não sei se por não ter prestado atenção no que
disse, já que pediu que eu repetisse, ou se justamente por ter ouvido e não
ter entendido o motivo.
Assim que todos os alunos deixam a sala, a última sendo sua
amiga, que cochicha algo em seu ouvido antes de nos deixar a sós, me
encaminho até a porta, a fechando para ter mais privacidade sobre o assunto
e quando vejo que a mesma não saiu do lugar, vou até ela, me apoiando na
cadeira a sua frente.
Quase sorrio quando ela me olha com uma das sobrancelhas
erguidas, em um claro sinal de irritação.
— Pode ser rápido, professor? Tenho que ir para meu estágio e
meu chefe detesta atrasos.
Pelo tom petulante e o sorriso debochado, ao menos posso ficar
tranquilo ao constatar que o que quer que seja, não a afetou tanto assim.
— Acho que precisamos conversar sobre algumas coisas que
acabaram saindo do controle ontem, Alexia.
Meu tom soa sério e vejo sua expressão endurecer assim que as
palavras deixam minha boca.
Já vi que vai ser uma conversa difícil.
Deus me proteja dessa peste.
“Mas quando você olha para mim
A única lembrança é de nós dois nos beijando sob o luar
Oh, oh, oh, oh, oh
Não consigo lembrar de te esquecer”
Can’t Remember to Forget you - Shakira feat. Rihanna
 

Recebo uma cotovelada de Lia pela quarta vez em menos de uma


hora, e percebo que Aiden, assim como toda a turma, tem total atenção em
mim. Peço que ele repita sua pergunta, mas sequer assimilo o que sai de sua
boca e vergonhosamente digo que não tenho a resposta para aquilo.
Eu teria mil e um motivos para estar tão aérea assim, como por
exemplo o beijo que dei ontem em meu professor que também é meu chefe,
na porra do banheiro dele, ou até mesmo o fato de eu ter entrado em choque
logo depois disso e nem mesmo os doces que comprei logo em seguida
conseguiram me tirar dele.
Até mesmo o fato de eu ter precisado me masturbar assim que
cheguei em casa, porque não conseguia tirar ele e aquela porra de beijo dos
pensamentos, mas a verdade era que todo os problemas que envolviam
Aiden, sumiram da minha mente feito fumaça quando encontrei os dois
brutamontes que me ameaçaram no meu expediente do bar.
É claro que eu não teria reconhecido eles, já que na ocasião
estavam de máscaras, mas os filhos da puta fizeram questão de me
amedrontar quando cheguei à mesa deles.
Eles tiveram a coragem de me mostra a porra da arma quando fui
servi-los e me alertaram sobre meu tempo estar acabando.
Como se eu não soubesse ou conseguisse esquecer.
É claro que não tenho a merda do dinheiro e mesmo que aquela
noite não sumisse da minha mente, era como se fosse um acontecimento
irreal ou algo assim, e agora que estou me aproximando do meu aparente
prazo de vida, o medo me consome por completo.
Tentei pensar em algumas alternativas, mas nenhuma delas são
boas o suficiente.
Tenho algum dinheiro guardado, que mesmo com todas as dívidas
que tinha com o banco, dívida inclusive que antes de vovó morrer, boa parte
era paga por ela, então acredito que a mesma tenha se endividado com a
porcaria do agiota para pagar o banco e não nos deixar morrer de fome, mas
sequer chego a ter cinco mil guardado.
Mesmo com as contas a serem pagas, sempre fiz questão de
guardar alguma quantia, nem que fosse cinquenta dólares por mês, para que
se algo acontecesse eu tivesse onde recorrer.
Eu só não esperava que a emergência teria uma arma apontada na
minha cabeça caso eu não pagasse a porra de duzentos mil dólares dentro de
um mês.
Pensei em negociar com o cobrador, oferecer o que tenho agora e ir
pagando o restante em prestações, nem que isso fizesse o valor aumentar
com os juros.
Pensei em finalmente ir para a porra do alojamento, mas o dinheiro
do aluguel não faria tanta diferença assim.
Também pensei em ir até uma delegacia relatar o ocorrido, ainda
mais agora que sei como são os rostos dos sujeitos, mas é claro que nossa
justiça não funciona assim, além de que posso correr o risco de descobrirem
o que fiz e aí sim morreria em vão, já que pessoas assim sempre acabam
tendo algum contato na polícia.
Em último caso, e a hipótese que me levou às lágrimas, pensei em
vender ou leiloar todas as peças caras que tenho. Aposto que as roupas,
sapatos e bolsas que eram de minha mãe dariam um bom dinheiro ainda
hoje em dia, mas simplesmente não consigo me desfazer delas.
Posso dizer o tempo todo que sou apegada a elas por conta do meu
estilo, e não estaria mentindo porque amo me vestir assim, como se ainda
tivesse algum luxo, mas sei que no fundo, me apego tanto elas por terem
sido as únicas coisas que me sobraram, tanto da minha antiga vida, quanto
da minha mãe.
A prova disso, são a porra de um relógio e das gravatas do meu pai
estarem guardadas em uma das minhas gavetas, junto do par de alianças
deles e um solitário de rubi que as acompanha.
Pensei em leiloá-las, são peças exclusivas de um designer de joias
muito famoso, mas não me perdoaria se o fizesse. É a maneira que tenho de
senti-los comigo ainda.
Estou presa nesses pensamentos quando mais uma vez Lia chama
minha atenção para a fala de Aiden, quando vejo todos se levantando e
deixando a sala.
Ele pede que eu fique um momento, para tratar de alguns assuntos
sobre a aula e não tenho forças nem para me levantar do lugar.
Lia cochicha algo sobre estar me esperando na porta e se precisasse
de algo era só gritar, e me deixa sozinha com o babaca.
Ele vem até minha mesa e escora aquela bunda gostosa, que depois
me arrependi de não ter apertado ontem, na cadeira a minha frente.
— Pode ser rápido, professor? Tenho que ir para meu estágio e
meu chefe detesta atrasos. — Sou sarcástica em minha fala e percebo que
nota, mas fecha a expressão e quando abre a boca, posso ver que o assunto
precisa de seriedade.
— Acho que precisamos conversar sobre algumas coisas que
acabaram saindo do controle ontem, Alexia.
Acho que nunca o ouvi me chamando pelo nome.
É estranhamente prazeroso.
Fecho minhas expressões, e por um momento me recordo de como
suas mãos se encaixaram perfeitamente na minha cintura, de como gostei de
sentir elas em minha bunda e até mesmo de como queria ter aproveitado
mais o momento em que tive o prazer de roçar em seu pau.
Respiro fundo antes de voltar a falar, tentando controlar meus
pensamentos sobre o beijo fodidamente gostoso que ele tem.
Já quase não me lembrava de quanto tempo fazia que não era
pegada daquela forma, de um jeito bruto mas ao mesmo tempo cuidadoso.
Foi bom demais para minha própria sanidade.
Não deveria ser certo querer foder com o chefe, quando estão se
pegando no banheiro do escritório.
Sem contar o tamanho daquele pau.
Não me passou despercebido seu tamanho e sua grossura, e mesmo
receosa se aguentaria ser fodida por ele, adoraria tentar.
— Alexia, está prestando atenção? — Meus olhos se encontravam
nos lábios grossos dele e preciso piscar algumas vezes antes de voltar a
atenção aos seus olhos. — Quero saber de você, o que achou de ontem? Sei
que extrapolamos todos os limites, mas não quero que fique um clima ruim
entre nós.
— O clima entre nós já é péssimo, Senhor Escroto. — não abrando
minha voz para o responder. — Não precisa se preocupar, se o que quer
saber é se vou contar a alguém ou denunciá-lo sobre o que ocorreu, a
resposta é não. Por mim tudo que aconteceu ontem pode ser esquecido.
Eu vou reviver o momento todos os dias nos meus pensamentos,
mas ele não precisa saber disso.
— Não sei se vou conseguir esquecer, ou até se quero esquecer o
que aconteceu, Alexia. — Percebo que não está sendo irônico ou algo do
tipo e posso ver quando seus olhos brilham de desejo. — Mas se é assim
que quer que aconteça, não vou discutir. Só pensei que estivesse preocupada
com seu cargo no escritório ou algo assim, já que se portou de maneira
incomum essa manhã.
Não acredito que ele pensou que eu estivesse introspectiva por
conta dele e do pau que carrega nas calças.
— Você precisa entender, que nem tudo gira ao seu redor. — Me
levanto e ele se endireita, quando me aproximo dele. — Não vou negar que
o beijo foi bom, porque sendo bem sincera, foi fodidamente gostoso.
Me aproximo mais e preciso erguer meu rosto para encará-lo,
suspiro pesadamente quando sinto sua respiração quente bater em meu rosto
e posso ver quando engole em seco.
— Não precisa negar que me deseja, ontem isso ficou bem claro.
— Sorrio diabolicamente — Mas precisa saber que não passou daquilo, eu
acabei me deixando levar e não vai se repetir, porque eu não te desejo e não
sei onde estava com a cabeça quando me deixei ser beijada por você. —
Nem eu ou ele piscamos, e sua expressão se fecha ainda mais após minhas
palavras. — Apenas sinto repulsa quando me lembro do quão babaca você
pode ser.
Aproximo nossos rostos, ficando na ponta dos pés e fazendo com
que nossos lábios encostassem suavemente. Meu corpo se arrepia quando
sinto uma das mãos dele se fechar em minha cintura.
Preciso me controlar para manter minha mentira intacta e o babaca
repuxa um dos cantos dos lábios em um meio sorriso.
— Espero que consiga guardar bem os detalhes do dia de ontem,
Aiden. — Percebo que é a primeira vez que digo seu nome em de maneira
informal e posso jurar ter visto um brilho em seus olhos quando o fiz. —
Porque algo como aquilo, não vai voltar a se repetir entre nós.
Passo por ele após esbarrar meu ombro em seu braço e ouço
quando solta a respiração pesadamente, antes de desferir levemente, o que
acredito ter sido um tapa na mesa.
Saio da sala e encontro Lia sentada no banco que fica na parte
externa do nosso prédio.
Se eu realmente precisasse de ajuda e gritasse, é óbvio que não
teria ouvido dali.
Respiro fundo tentando me esquecer da sensação de ter as mãos
daquele homem em meu corpo outra vez, sentindo a região formigar por
debaixo do tecido e torcendo para que eu mesma consiga levar minha
mentira a sério.
Meu Deus, como queria esquecer de toda a ética e sensatez para
ter a chance de ser fodida por esse homem.
Mas infelizmente não posso correr o risco de perder minha bolsa
ou até mesmo a porra do estágio, além de que ele me irrita mais do que
qualquer outro ser humano nessa Terra.
Foder com ele nem deve ser tão bom assim.
Vou caminhando até minha amiga e sorrio discretamente ao
recordar o fato dele ter se preocupado com meu silêncio anormal na aula de
hoje.
Talvez ele seja uma rara exceção e goste de como sou, sentindo
falta das nossas discussões diárias.

Assim que chego com Luke ao meu apartamento, após um dia


extremamente cansativo, tento fazer com que ele não suba comigo, e
minhas tentativas são vãs, já que quando chegamos no topo da escada,
posso ver que Marco nos espera junto de Lia na entrada, com um pacote de
fast food nos braços.
Claro que nunca recuso comida, então os deixo entrar.
— Percebemos como estava meio pra baixo hoje, e mesmo que não
queira nos contar o motivo, decidimos tentar te animar. — Lia abraça meu
pescoço enquanto entramos e Marco leva as coisas para meu sofá, ligando
minha velha televisão.
—  A programação de hoje é comida gordurosa, cheesecake da
minha sogra e seu filme favorito. — Marco sorri em minha direção.
— Legalmente loira ou Lilo e Stitch?
— Lilo, a situação, pelo que Lia nos contou, é crítica e precisa de
um desenho animado para te fazer sorrir. — Luke bate em mim com o
quadril e quando vai passar acaba esbarrando o cotovelo em um dos meus
peitos, fazendo com que eu reclame pela dor. — Perdão, melzinho. Quer
um beijinho?
Assinto com uma expressão chorosa enquanto finjo colocar o seio
para fora e ele se aproxima ameaçando o beijar.
Rimos um com o outro enquanto recebemos um olhar estranho da
parte de Lia.
Não posso fazer nada se ninguém entende nossa conexão.
— Pelo jeito já está melhor, já até querendo minha boca no seu
peito, sua sem vergonha. — Luke beija o topo da minha cabeça e vai até o
sofá. — Vem aqui se achegar em nós.
— Como vocês pretendem me animar colocando esse desenho? —
questiono me jogando nos três — É meu desenho favorito por quase me
fazer chorar, não quero correr esse risco hoje.
Eles me silenciam, colocando uma batata frita na minha boca
quando o desenho começa e me calo para assistir meu desenho favorito,
abraçada aos meus melhores amigos.
 
Assim que os créditos começam a passar na tela, limpo a única
lágrima solitária que escorreu por minha bochecha antes de sorrir.
Eu amo esse desenho!
— Pelo jeito não está mesmo bem. — É Marco quem fala ao
desligar a tv e acender as luzes. — Não quer nos contar o que aconteceu pra
te deixar assim?
Encaro o rosto e os olhos atentos dos meus amigos sobre mim e
penso se não seria melhor falar logo sobre essa maldita ameaça.
Se eu contasse teria que lidar com a culpa que Luke sentiria por ter
falhado em me levar para casa durante uma noite, além de toda a ajuda que
vão querer me dar para pagar a porra da divida.
Não sou orgulhosa ou coisa do tipo, mas não quero que entrem
nisso e se ofereçam a dar dinheiro para resolver os meus problemas.
Problemas esses que tenho herdado desde que meus pais se foram.
São apenas meus e preciso tentar resolvê-los sozinha sem envolver mais
gente nisso.
É, talvez seja orgulho.
Abro a boca diversas vezes, ensaiando e hesitando em contar, por
conta da pressão do momento, acabo falando a primeira coisa que vem na
minha mente.
— Ontem vi o babaca pelado e acabamos nos beijando, cheguei até
a dar uma reboladinha no pau dele e, juro para vocês, que mesmo achando
que não aguentaria duas estocadas, queria muito ser fodida por ele. —
disparo e arregalei meus olhos junto aos deles enquanto me ouviam falar.
Puta que pariu, por que eu fiz isso?
— Sentou no pau do Senhor Escroto? — Luke praticamente grita e
o noivo precisa colocar a mão na boca dele por conta do horário já tarde.
— Infelizmente não, mas queria muito ter sentado.
Suspiro pesado antes de detalhar um pouco da loucura que foi o dia
de ontem.
Se a merda já tá feita, para que esconder os detalhes?
— E conseguiu mentir para ele na cara dura assim?  — Marco me
questiona enquanto ri depois de meu pequeno monólogo.
— E eu preocupada que vocês fossem se matar quando os deixei
sozinhos na sala. — Lia me passa o prato com meu doce e sorrio para ela.
— No máximo teria que tampar os ouvidos por conta dos seus gemidos.
— Tem certeza que vai conseguir se manter fiel à mentira? —
Luke questiona o que também é minha duvida. — Além de ter ele em sala
de aula, trabalham no mesmo lugar, vai conseguir resistir?
— Eu espero muito que sim.
Realmente desejo, porque esse babaca me traz muitos sentimentos
confusos  e conflitantes, não quero me arriscar a ter um coração partido.
Cheguei aos vinte e cinco anos sem ter tido desilusões amorosas, e
quero continuar assim.
E algo me diz que Aiden Munhoz, seria facilmente capaz de partir
o meu coração.
— Não deve ser tão difícil resistir àquele homem.
Ao menos, para meu próprio bem, espero que não seja.
“Oh, eu tenho estado atordoado e confuso
Desde o dia em que te conheci
Sim, eu perdi a cabeça
E eu faria de novo”
Dazed and Confused – Ruel
 

Tomo um gole do café e me deixo afundar na cadeira enquanto


fecho os olhos, repensando sobre a decisão que tomei algumas horas atrás.
Por que fiz isso?
Qual a porra do meu problema?
Não sei o que deu em mim para poder tomar uma atitude como
essa. Talvez eu só esteja querendo testá-la, ver até onde vai seu limite e
correndo sério risco de vida no processo.
Talvez eu tenha feito isso porque, apesar de suas palavras quando a
confrontei após a aula de ontem, sei que me deseja e que se algo saísse do
controle, acabaríamos como da última vez que estávamos no meu banheiro.
Posso ver como minha presença a afeta, e não digo isso somente
pelo fato de quase me esbofetear e desferir todos os xingamentos em minha
direção toda vez que nos encontramos, e sim porque noto como sua
respiração se descontrola, como seus pelos se eriçam e até sua boca se seca
quando estamos próximos.
Ela só é cabeça dura demais para aceitar que me quer.
Já eu não tenho esse problema.
Apesar de não suportar sua petulância, não posso lutar contra toda
a tensão que nos envolve. Não temos culpa de nos sentirmos atraídos um
pelo outro, até porque não precisamos sequer conversar, já que nossas bocas
podem ser usadas para coisas mais úteis quanto a isso.
É claro que tomei minha decisão baseada na teimosia, no fato de
que quero ver até quando vai resistir sobre o que sente.
Mas meu lado racional e profissional, também a versão que meu
sócio e que todos vão saber, é que decidi colocá-la como minha estagiária
porque quero ver de perto todo esse talento que estão alegando que Alexia
tem.
Podem considerar como um teste antes de a pôr em prova em um
caso junto de Jonas, nada mais justo do que isso, até porque assim como no
futebol, o treinador precisa ver como os jogadores estão em treino antes de
os pôr para jogo.
Só estou tomando todas as medidas antes de corrermos o risco de
perder um processo por conta da falta de experiência da estagiária, quero
apenas aperfeiçoá-la.
E foda-se que o caso que vai receber não se trata da minha área
jurídica.
A verdade é que aquele papo não me desceu ontem e ainda quero
descobrir o que aconteceu para a abalar tanto ao ponto de torná-la invisível
em minha aula.
Não gosto de admitir, mas fiquei preocupado com a minha peste e
até senti falta de ser atormentado por ela.
Abro os olhos e os passo por sobre a bagunça de papéis que se
encontram a mesa, pensando que preciso os organizar antes de encerrar o
dia, mas antes que eu pudesse fazê-lo, minha sala é invadida por um
oompa-loompa, que mesmo de saltos não passa de um metro e sessenta.
Meus olhos correm por seu corpo e recaem sobre seus lábios
vermelhos e como um maldito viciado, desejo tomá-los para mim.
Já sinto falta de beijar essa boca.
Depois que passei a admitir a porra da atração que sinto por essa
mulher, acabei me pegando a admirando e notando seus detalhes com muito
mais atenção que antes.
Como por exemplo, o fato de mesmo quando está na faculdade,
seus estilo social meio patricinha inconsequente nunca ser deixado de lado,
assim como a raridade de a encontrar sem seus Scarpins,
predominantemente escuros.
Hoje seus cabelos curtos e escuros estão meio presos, mas as
franjas estão soltas à frente de seu rosto, fazendo com que ela a coloque
atrás das orelhas para passar veracidade em seu olhar felino.
Como se eu precisasse disso para saber como está puta.
Ela cruza os braços no peito e noto como suas camisas, apesar de
sóbrias, nunca serem simples, sempre contêm algum detalhe chamativo ou
que foge do comum, como as de hoje que possui as mangas bufantes em um
tecido quase transparente.
Isso quando não está usando uma camiseta lisa de alcinhas, junto
dos blazers e terninhos que fazem o conjunto de suas saias curtas.
Não me importo de não prestar atenção no que fala e continuo a
devorando com os olhos, os descendo até sua saia que está colada em seu
corpo, que sempre as usa na altura das coxas, acredito que para valorizar
ainda mais suas pernas e fazer parecer que é mais alta.
Me lembro de como se encaixaram perfeitamente em torno do meu
quadril e desejaria poder fodê-la com elas trançadas em mim.
Seus Scarpins do dia são em um tom de vinho com alguns detalhes
em dourado escuro, assim como sua camisa e eu daria tudo para foder com
ela usando apenas esses saltos.
— Tá escutando alguma coisa do que estou falando a mais de meia
a hora aqui? — ela praticamente gritou ao se aproximar mais da minha
mesa e tiro meus olhos das pernas magníficas dela. — Por que fez isso?
— Porque eu quis. — não sorrio nem demonstro toda a satisfação
que sinto por deixá-la nesse estado.
Parece que ela fica ainda mais gostosa quando está brava e
gritando comigo.
— Desde o primeiro dia que pisei aqui, deixou claro que não tem
paciência com erros de iniciantes e se me permite lembrá-lo — ela espalma
as mãos na mesa e me encara com uma expressão mortal. Fofa. —, eu sou
apenas uma estagiária sem experiências, que vai te atrapalhar em tudo que
fizer, além do fato de que vamos acabar nos matando nesse meio tempo.
— Se continuar pensando tão pouco de si mesma, não vai
conseguir conquistar tudo que almeja. — Finjo não dar atenção a ela e
começo a organizar meus papéis em suas devidas pastas. — Considere isso
como a primeira lição, mas se quer tanto saber o porque fiz isso, talvez eu
apenas tenha mudado de ideia quanto a não tolerar erros principiantes e
tivesse decidido colaborar com os ensinamentos profissionais da próxima
geração de advogados. Ser professor vem me fazendo trabalhar muito a
questão da paciência com os erros e tudo mais.
— Mentiroso! — ela grita e bate as mãos no vidro outra vez. —
Quer apenas infernizar a minha vida, como sempre, e me torturar no
processo.
— Acredite, Alexia, — torno a olhar para ela e vejo como seu
pescoço está ficando em um tom avermelhado. — As coisas que eu
desejaria fazer com você, não envolveriam torturas, a não ser que pedisse
por elas.
Seu rosto, assim como seu pescoço, é tomado pela coloração
vermelha e noto quando respira fundo, provavelmente tentando controlar
sua respiração e movimenta as pernas uma contra a outra.
Um caralho que não me deseja.
— Eu iria pegar um caso com Jonas, e fez isso só pra ter o prazer
de me tirar dele. — me acusa e suspiro diante de sua teimosia.
— É claro que não, vai ser minha estagiária temporariamente,
justamente para que eu possa avaliar se realmente está apta para uma
responsabilidade tão grande. — Decido tirar meus olhos dela, já que eles
não conseguem se manter afastado de sua boca e termino de guardar os
papéis antes de me levantar e ir até minha pasta sobre o sofá, ouvindo o
bater dos sapatos da pequena peste sobre o piso. — Assim que tiver minha
aprovação, vai voltar para seus afazeres com Jonas.
Olho de canto e ela tem os braços cruzados em seu peito outra vez.
— E quanto tempo isso vai levar? Tenho medo de acabar
cometendo um crime e ser presa por assassinato enquanto estiver
trabalhando com você.
— Não se preocupe. — Passo por ela e a chamo para fora da sala
para que a fechasse e pudesse ir embora. — Ainda te odeio tanto, ou até
mais do que antes, com as coisas que me faz sentir, peste, e não vejo a hora
de me ver livre de você.
Ela bufa quando ouve o que se tornou seu apelido, que cai tão bem
nela, antes de finalmente começar a andar em direção a saída.
Antes de passar pela porta ela para diante de mim, próxima demais
para quem diz sentir apenas repulsa diante da minha presença.
— Espero que esteja pronto para ter que lidar comigo, então. —
Ela abre um maldito sorriso em provocação.
— É bom que você esteja pronta para mim, pequena peste. — Não
disfarço o duplo sentido de minha frase e vejo seu lindo sorriso morrer
antes dela passar por mim de vez. — Nos vemos na segunda.
Ela sai andando em minha frente e aprecio sua bunda rebolando na
saia antes de notar seu dedo médio estendido em minha direção, mesmo
estando de costas.
Que porra eu estou fazendo?

Vou dirigindo até o bar em que marquei de encontrar meu irmão


junto da esposa e de Henry, já imaginando a porrada de merda que vou ter
que escutar dos dois idiotas.
A essa altura, já que me avisaram onde os encontrar quando já
estavam juntos, Henry deve ter contado a Adrian meu ato estupido em pedir
Alexia como minha estagiária e agora vou ter que lidar com as hipóteses de
todos sobre o assunto.
Estaciono junto dos outros carros luxuosos e olho para o bar, que
mais se parece com um restaurante, considerando que assim que chego à
sua entrada preciso dar os nomes de quem a reserva foi feita antes de ser
guiado até a mesa.
Assim que me sento em uma das cadeiras, já peço uma dose de
Bourbon com gelo antes de dar uma olhada no cardápio para pedir algum
aperitivo.
Ignoro completamente o sorriso que os três estampam e a minha
cunhada é a primeira a falar.
— Vou fingir que não notei sua falta de educação em não nos
cumprimentar, já que posso ter o prazer de contar a minha sogra depois, —
ela faz uma pausa para beber seu drink de cor amarela —, mas só porque
quero saber, finalmente terei uma cunhada?
Olho para ela em total espanto e os dois idiotas ao meu lado riem
da situação.
— O que andou contando pra sua esposa, Adrian?
— Só que você estava ficando louco pela nova estagiária, ela
concluiu que você está apaixonado e que logo vamos ser seus padrinhos de
casamento.
— Ainda mais depois de eu ter contado que você repentinamente
passou a amar a ideia de ter uma estagiária a seus serviços. — Henry
debocha da situação.
— Agora quero me conte tudo, o nome dela, qual idade, como ela
é, quantas vezes já transaram. — Francie coloca as mãos abaixo do queixo e
sorri divertida. — Já estava achando que meus sogros teriam que acabar te
casando por contrato, assim como tiveram de fazer com seu irmão, mas é
claro que não daria certo já que existe somente uma pessoa tão trouxa a
ponto de aceitar uma coisa como essas em pleno século vinte e um.
Sempre que me lembram que se casaram por contrato, não consigo
deixar de imaginar que merda meus pais tinham na cabeça.
Parece que quatorze anos atrás em nossa família, vivíamos como
nos romances de época que Clarice adora ler.
— Você realmente foi muito trouxa, amor. — Adrian beija o nariz
da esposa antes de darem um selinho aos risos.
— Não vamos esquecer do porque estamos aqui. — Henry fala
enquanto solta os cabelos do coque. — Que porra de ideia foi essa?
Finalmente ficaram e queriam mais momentos a sós?
Penso em lhes contar a verdade mas não quero que ninguém saiba
sobre isso, nem quero que se considerem vitoriosos sobre o assunto.
— É claro que não. — Minha bebida chega e espero o garçom sair
enquanto dou um gole antes de voltar a falar.
A bebida desce queimando minha garganta.
Perfeito.
— A verdade é uma só, a mesma que aleguei a você mais cedo.
— Me poupa, Aiden, — Francie aumenta o tom de voz, parecendo
realmente incrédula. — Se realmente não aconteceu nada, é claro que com
essa aproximação, algo vai acontecer. É melhor eu dar um jeito de fazer
esses dois aqui se livrarem de todas as suas camisinhas. Meus filhos
precisam de primos.
— Adrian, dá pra calar a boca da sua mulher, por favor? — Falo
em português, sabendo o quanto Francie odeia não ter conseguido aprender
a língua nesses anos todos e ela desfere um tapa em meu ombro.
— Conhece a doida, sabe que quando começa a falar, não tem
pessoa no mundo que consiga fazer ficar quieta. — Ele completa também
na mesma língua e Henry começa a rir dos xingamentos de Francie sobre
nós enquanto meu irmão tenta beijar a esposa.
Minha sexta se encerra com a  encheção de todos sobre o assunto e
penso que preciso sair para beber sozinho qualquer dia desses, se quiser ter
um pouco de paz.

Desço os degraus de dois em dois, antes de encontrar os gêmeos


sentados no final das escadas, como se me esperassem.
— O que estão fazendo aqui, terroristas mirins? — Questiono me
sentando no meio dos dois, que me olham com seus olhos pidões. — O que
querem?
— A gente queria saber se pode brincar de festa do pijama, faz
tempo que não fica com a gente.
Cecília, como sempre, toma a palavra enquanto sou agarrado por
Caio e seus carinhos.
Penso em negar, mas já faz um tempo que não passo um tempo
significativo ao lado deles e decido fazer esse agrado antes de sair.
— Claro que posso, me esperem no quarto que vou fazer um
brigadeiro e já subo para assistirmos alguma coisa.
Caio me solta e ambos começam a pular e gritar de uma forma
frenética antes de saírem correndo pela casa.
— Conseguimos o brigradeiro do tio Aiden!
Os terroristas gritam em sincronia, pronunciando a palavra da
forma errada.
Não acredito que eles apenas queriam que eu fizesse o caralho do
brigadeiro.
Fui completamente manipulado.
Derrotado, me dirigi até a cozinha onde mamãe se encontra
preparando um chá antes de ir se deitar.
— Caiu na deles de novo, Aiden? — ela começa o diálogo em
português então a acompanho.
— Não me julgue, até porque também senti falta do bendito doce,
só estava sem tempo de fazer.
— Para de se fazer de durão e assume que come na palma da mão
dos seus sobrinhos, filho.
Rio e assim que pego os ingredientes, comprados todos em um
mercado brasileiro, já que nesse país não sabem fazer um leite condensado
decente e começo a preparar o doce.
— Admito que sou rendido facilmente por eles.
Minha mãe me abraça pela cintura e beija meus ombros antes de se
manter escorada neles enquanto eu mexia a panela sobre o fogo.
— A mulher que conseguir entrar em seu coração, vai ter tirado a
sorte grande, querido.
— Já falamos sobre isso, mamãe. — olho para ela e a encontro
sorrindo. — Não existe espaço pro amor na minha vida, nunca aconteceu
em todos esses anos, não vai ser agora que vai acontecer. Além de que, tudo
que importa pra mim eu já tenho e sou muito feliz assim.
— Amo quando me chama de mamãe em português, não tem nada
mais lindo do que ouvir esse homenzão com essa voz grave dizer isso tão
amavelmente. — Solto um riso frouxo e deixo um beijo em seus cabelos. —
Mas nunca diga não ao amor, Aiden. Não é tarde demais e, quem sabe ele
esbarre em você inesperadamente, como uma chuva em um dia ensolarado.
Tudo é possível.
Ela me deixa sozinho e vai atrás dos netos enquanto fico pensativo
sobre suas palavras, de repente me recordando de quando conheci a peste
que vem atormentando até mesmo os meus sonhos.
Chacoalho minha cabeça, como se para espantar meus
pensamentos e foco minha atenção na panela a minha frente.
Nem fodendo que vou me apaixonar por aquela petulante.
É apenas a vontade de foder.
É inacreditável o absurdo que pagamos nessas porcarias de
aparelhos para eles pifarem quando mais precisamos.
Decidi, como a muito tempo não fazia, sair da rotina e ir para
algum bar sozinho, aliviar a mente e talvez acabar na cama com alguém que
me fizesse esquecer da morena de um metro e meio que me atormenta, mas
a porcaria do GPS acabou me levando por alguns becos estranhos e acabei
na periferia de Garden.
O problema não é o local em si, e sim o fato que não tenho noção
de como sair daqui e pegar o caminho de volta para casa e a porra do
aparelho decidiu parar de vez.
Até a porcaria do celular está fora de área hoje, para piorar a
situação.
Decido deixar o estresse de lado quando viro em uma rua que
contém alguns comércios ainda abertos e junto deles, dois bares um de
frente para o outro, ambos lotados.
Acabo escolhendo o que mais me agrada visualmente, além do fato
de estar um pouco mais vazio que o outro.
Escolho uma das mesas para me sentar e assim que vou passando
entre as pessoas, atraio os olhares de grande parte das mulheres ali, assim
como de alguns homens mal encarados.
Percebo que a maioria mantém os olhos em meu relógio, onde o
ouro quase brilha como um farol.
Que porra de lugar eu fui me meter?
Assim que me sento, olho em volta em busca de uma garçonete ou
um atendente que fosse, e encontro uma mulher de costas com o que parece
ser o uniforme do lugar, já que assim que meus olhos a encontram, outra
passa em minha frente com a mesma roupa.
Chamo sua atenção para me servir e a loira com a saia curta junto
de uma camiseta branca e avental igualmente curto, me avisa que já serei
atendido pela responsável da mesa, gritando para outra pessoa em seguida.
Levo meus olhos para o celular, notando que já se passaram da
meia noite e penso na burrada que cometi.
Deveria ter ficado até mais tarde com os gêmeos depois de os ter
feito dormir.
Antes que eu pudesse prever, uma mulher de mesmo uniforme,
para em minha mesa e antes de levantar meu rosto para ela, imediatamente
reconheço sua voz ousada.
Não é possível.
Não posso estar ouvindo a voz dela vindo da garçonete desse lugar,
é quase inacreditável e completamente confuso.
Levanto meu rosto para a voz e assim como eu, ela se assusta ao se
dar conta de estarmos de frente para o outro.
— Alexia?
“Eu vou te usar como um sinal de alerta
Se você fizer sentido demais, você vai perder a cabeça
E eu te vou te usar como um ponto focal
Para que eu não perca de vista o que eu quero”
I Found - Amber Run
 

Assim que o olhar assustado de Aiden encontra o meu, igualmente


espantado, quase não consigo assimilar quando praticamente grita o meu
nome, em completa surpresa.
Acabo deixando a porcaria da caneta cair no chão e me abaixo para
pegá-la, mas aparentemente o babaca tem a mesma ideia, já que acabamos
batendo nossas testas, que faz um barulho péssimo por conta do contato.
Mas que porra!
O que ele está fazendo em um lugar como esse e por que resolveu
ser cavalheiro a uma hora dessas?
Além de ter que lidar com a sua presença essa noite, já que a mesa
em que se sentou é da minha responsabilidade com o esquema que faço
com as garotas nas noites de sábado, quando isso aqui enche além do
comum e precisamos das outras duas que me ajudam a servir.
Ainda vou ficar com um galo por sua culpa.
— Ai, porra! — Nos levantamos e enquanto externalizo minha dor,
o idiota apenas solta um gemido frustrado. — Não contente em me seguir
até aqui, ainda quis me dar uma cabeçada?
Ele respira fundo, mas vejo que a surpresa ainda não deixou seu
rosto, ainda mais depois de eu confirmar que se trata do meu emprego.
O que? Ele achou que eu fosse negar e me envergonhar por conta
disso?
Desde pequena sempre me destoei dos meus amigos babacas que
não sabiam respeitar as profissões alheias, consideradas inferior a posição
social que ocupávamos, quando precisei correr atrás do meu próprio
sustento, isso só me fez ter a convicção de como aquele povo com quem eu
andava, eram uns escrotos então é claro que não me envergonho. Tenho até
orgulho.
Mas imagino que o homem à minha frente seja um completo idiota,
assim como o pessoal que frequentava minha casa no passado
Se bem que, o fato dele estar desse lado da cidade, chega a ser
meio incoerente com esse meu pensamento.
— Eu não te segui, peste! — se defende e dou de ombros. —
Então, realmente trabalha aqui? — Mas qual o feitiço que tem na voz desse
homem, que sempre me deixa a ponto de pegar fogo?
— Sim. — aponto para minhas roupas e para a caderneta,
apontando o óbvio. — Agora, o que vai querer?
— Eu nunca imaginaria que trabalharia em lugar como esse — ele
continua sem dar bola para minha pergunta. —, a julgar pelas roupas que
veste e tanto por seu estilo e personalidade, pensei que fosse uma dessas
filinhas de papai que tem tudo que quer, a hora que quer e até mesmo…
— Mais um lembrete do quanto você é arrogante e babaca, Senhor
Escroto. — corto suas divagações. — E não tenho vergonha de precisar
trabalhar como garçonete em um barzinho de quinta para poder me
sustentar, agora se puder, por favor, me diga o seu pedido.
— Acho que isso é um lembrete para que eu não julgue as pessoas
baseado em sua falta de educação evidente. — ele solta uma pequena
provocação e o ignoro apontando para o papel em minhas mãos. — Pode
me servir uma dose do seu melhor whisky.
Tento ignorar o momento em que seus olhos percorrem todo meu
corpo e apesar do tempo ameno combinado com a saia curta, é como se de
repente eu incendiasse através do seu olhar.
Respiro fundo quando nossos olhos se encontram, tentando
controlar minha respiração que repentinamente se descontrolou e parece
que cada vez mais venho presenciando milagres, porque o babaca me lança
um sorriso de lado.
Tento o ignorar e anoto o que pediu, junto do número de sua mesa.
— Algo mais? — ele balança a cabeça em uma negativa. — Já
trago seu pedido então e sugiro que me deixe uma boa gorjeta ao final da
noite, considerando que poderia envenenar sua bebida e não vou fazer.
Sorri sarcástica e mais uma vez, provando que milagres existem,
ele solta uma risada um tanto contida, mas gigantesca pelo acontecimento e
não deixo de demonstrar minha surpresa.
— Estou começando a acreditar na existência de milagres. — Ergo
uma das sobrancelhas e ele torna a sua expressão habitual. — Com licença.
Me viro para ir pegar seu whisky, mas torno minha cabeça em sua
direção quando ele me chama pelo nome.
— Nunca disse que deveria se envergonhar por conta do emprego,
e sequer esperava isso vindo de você. — Ele mantém seu olhar intenso no
meu rosto e sinto como se estivesse guardando todos os detalhes para si. —
Seria até decepcionante se o fizesse ou se portasse de uma maneira
diferente por conta disso.
Assinto por não saber o que falar e saio meio sem jeito.
O que esse babaca tem que vêm conseguindo me deixar
desconcertada com essas frases sem sentido?
Vou fazendo as coisas no automático quando me lembro de como
ele vem se portando depois do nosso beijo e arrisco a dizer que eu poderia
considerar algumas coisas das quais saíram da sua boca no dia de ontem,
como pequenos flertes. Ao menos, à sua maneira.
Levo a bebida para ele e assim que a coloco sobre a mesa, tira o
olhar do celular para me agradecer.
Assim que volto a circular, noto como as mulheres do local o
encaram como se fosse sua caça e aposto que alguma delas vai acabar na
cama do babaca essa noite.
Bando de oferecidas.
Sigo atendendo as mesas, clamando para que o bar esvazie logo
para que eu possa ir embora ao menos antes das três da manhã.
Involuntariamente me lembro que a partir de segunda, vou estar
oficialmente como estagiária de Aiden.
Não consigo compreender o que o levou a tomar essa decisão, a
não ser o fato de sentir prazer em tirar minha paz e realmente não sei se vou
conseguir me controlar trabalhando junto dele.
Aceno para Luke quando passo pelo balcão, que decidiu chegar
mais cedo para me buscar hoje, alegando que já estava perto mas sei que é
porque adora fofocar com meu chefe, e ele me sopra um beijo.
Eu tenho tanta sorte de tê-lo.
Meus pensamentos se voltam para Aiden outra vez e penso que é
um completo absurdo a enxurrada de sensações que esse homem me faz
sentir.
Ao mesmo tempo que sinto vontade esbofetear sua cara quando
abre a boca para ser o arrogante que é, também sinto vontade de me agarrar
a ele e pedir que me foda onde estivermos ao sentir o timbre de sua voz
quase que fisicamente em meu corpo.
Meus pensamentos são interrompidos quando sinto um tapa ser
desferido em minha bunda.
A força foi tanta que o barulho chegou a ecoar e deixar uma leve
ardência em uma das minhas nádegas.
Me viro para o sujeito e aposto que meu rosto se encontra
vermelho de raiva nesse momento.
Percebo que todo o falatório cessou mas não ligo para mais nada
nesse momento, apenas para o homem que ri de uma forma debochada
junto de seu amigo enquanto apontam para mim.
É claro que já fui assediada anteriormente, até porque trabalho em
um bar, onde os homens acham que apenas por terem a porra de um pau
entre as pernas, e estarem levemente, ou nem isso, embriagados, estão no
direito de alisar ou de desferir algum tipo de comentário implicitamente
sexual a qualquer mulher que o agrade.
A escória da espécie.
Acontece que nunca me abordaram de forma tão direta ou de uma
forma que me desrespeitasse fisicamente, a maioria acaba ficando no
terreno aparentemente seguro ao me chamarem de gostosa ou me
convidando pras suas camas, mas após ouvirem minhas respostas nada
educadas, alguns que possuem o senso básico, acabam até se desculpando.
Pois se esse cara nojento, acha que vai continuar com esse sorriso
na cara, está bem enganado.
Jogo a bandeja que estava nas minhas mãos, sobre o chão, e o
metal acaba fazendo um estardalhaço, o que acaba até assustando algumas
pessoas e chamando mais atenção para a cena.
O rosto do cidadão se contorce em uma careta descontente e ele se
levanta, ameaçando vir em minha direção e nisso posso ver Luke, junto do
senhor Marquês, saírem de trás do balcão.
— O que foi? Esse tapa ridículo já não foi o suficiente? —
pergunto sem deboche e sem humor algum. — Agora vai marcar meu rosto
para eu ter ainda mais provas quando formos para a delegacia, seu
desgraçado?
Ele vai se aproximando e não dou sequer um passo para trás.
Se ele quiser me bater, vai ver o que meu chute pode fazer em suas
bolas antes de tentar.
Assim que vejo ele levantar sua mão em direção ao meu rosto,
sinto alguém chegar por trás de mim junto com seu aroma já conhecido e
vejo sua mão paralisar o pulso do homem antes que atingisse meu rosto.
— Vai me dizer que o playboy veio defender a vadiazinha? — o
loiro sorri, completamente bêbado e seu bafo chega a me causar uma leve
ânsia.
— Acho melhor se desculpar com ela, antes que seja tarde demais
e eu o faça se arrepender do que fez.
Puta que pariu!
Sei que estamos numa situação fodida aqui, mas ele precisava
dizer isso de um jeito tão firme que soasse até sedutor, ao menos para mim?
Me afasto um pouco quando coloca as mãos sobre minha coluna,
pedindo passagem, e assim que o faço ele chega mais perto da bêbado, sem
soltar seu pulso.
Ele vira o rosto em minha direção, e entendo seu olhar como se
questionasse se está tudo bem e assinto em resposta, completamente presa
ao seu olhar, que mesmo sendo tão mortal como antes, sei que, dessa vez,
não sou o alvo.
—  A única coisa que essa puta vai escutar de mim, vão ser os
gemidos que vou dar quando estiver a fodendo no fim da noi…
Não consigo terminar de ouvir a frase repulsiva que sai da boca
dele, porque antes que qualquer um pudesse prever, vejo Aiden fechar os
olhos e respirar fundo antes de se virar já desferindo um soco no rosto do
cidadão.
Me assusto e acabo dando alguns passos para trás, principalmente
quando o outro revida, pegando Aiden desprevenido e assim que ele leva o
terceiro soco, posso ver um filete de sangue deixar o supercílio, ou seria da
sobrancelha?
Puta que pariu.
E ninguém faz absolutamente nada.
Aiden parte para cima do homem, o derrubando depois do segundo
soco e tenho até medo de olhar e encontrá-lo inconsciente, então assim que
o moreno se ajoelha e desfere mais um soco, começo a gritar para que
alguém pudesse o pará-lo antes que matasse o sujeito.
Assim que ouvem os meus gritos histéricos, parece que o pessoal
sai do choque momentâneo e correm para segurar Aiden, o tirando do chão.
É claro que eu não ousei entrar no meio para puxá-lo como as
idiotas dos filmes de romance, porque elas sempre acabam levando uma
cotovelada ou algo parecido.
Espero Luke e Marquês o afastarem por completo do meio do
tumulto que se formou, e vou até eles, encontrando um Aiden
completamente furioso e com o supercílio cortado.
Olho para trás e vejo que o loiro já se levantou, cuspindo o sangue
de sua boca no chão e seus amigos o arrastam para fora do bar, entrando em
um carro, fugindo ás pressas dali.
Volto minha atenção para o meu babaca e…
Seu babaca, Alexia?
Que porra foi essa?
Tudo bem que o coitado está sangrando por mim, mas vamos
manter a calma.
Seguro em seu rosto, fazendo focalizar os olhos nos meus e sorrio
para ele enquanto espero que regularize sua respiração.
Faço um sinal para que meu amigo o soltasse e ele o faz, com
Marquês se afastando enquanto se desculpa e promete conversar comigo
assim que conseguir controlar o restante dos clientes.
— Para de sorrir, peste. — Aiden diz ainda furioso e respira fundo,
se acalmando aos poucos. — Acabei de entrar numa briga de bar e você fica
feliz ao me ver machucado?
Meu sorriso aumenta e ainda segurando seu rosto, o aproximo do
meu.
Quando estamos a apenas alguns centímetros de distância, não
consigo me conter e me perco entre as batidas aceleradas do meu coração,
por conta da adrenalina repentina, e junto nossos lábios.
Deposito um beijo demorado em sua boca macia, e quando começo
a desejar enfiar minha língua dentro dela até me perder, sentindo falta de
seu gosto, as afasto, tornando a sorrir.
— Obrigada por me defender. — ele não altera sua expressão mas
posso ver quando um músculo em sua boca se contrai, quase formando um
sorriso. — Mesmo que não precisasse, eu daria conta sozinha.
— Eu sei que daria.
Me afasto dele, olhando em volta e quando encontro Luke, o
mesmo tem as mãos sobre a boca em total choque.
Peço licença a ele e vou até o senhor Marquês, que pede mil
perdões pelo ocorrido e me dispensa por hoje, então vou até meu amigo que
sorri feito besta enquanto olha Aiden sentado em uma cadeira.
— Perdeu alguma coisa ali, Luke?
— Reconheci ele das fotos que pesquisei e, Alexia, ele é ainda
mais gostoso pessoalmente, além de ter batido em um cara pra defender sua
honra. — ele segura em meus ombros. — Eu entenderia perfeitamente se
decidisse sentar nesse homem. Aquele beijinho frouxo não foi nada em
comparação ao que eu faria com ele se fosse você.
— Não acha que está muito pervertido, Luke? — enlaço nossos
braços e nos levo em direção ao homem que agora esboça uma expressão de
dor ao olhar para seus dedos esfolados pelos socos.
— Boa noite. — Luke se apresenta assim que paramos diante dele
e ele se levanta em seguida. — Sou Luke, amigo da sua peste.
O idiota menciona o apelido que contei ter recebido do babaca e eu
desfiro uma cotovelada no mesmo.
— Não sou a peste dele.
— Não liga para o que ela diz. — Luke continua sorrindo quando
Aiden assente e pega sua mão em comprimento. — Quero agradecer o que
fez por ela hoje, mesmo dizendo que poderia ter se defendido sozinha,
sabemos que um tapa daquele cara e nosso minion desmontaria.
Aiden não altera suas feições por nenhum segundo sequer.
E quando eu digo que é escroto, ninguém acredita.
— Não tem pelo que agradecer, foi o mínimo e eu faria para
qualquer pessoa que fosse desrespeitada daquela forma.
— Ela não parecia ser qualquer uma quando vi vocês dando aquela
bitoca alguns minutos atrás.
— Já chega, Luke! Vamos embora. — quase grito e começo a
empurrá-lo em direção a saída, mas pelo canto de olho posso ver que Aiden
sorri.
Homem estranho.
— Me deixem levar vocês, por favor. — nós paramos e olhamos
com estranheza em sua direção. — Novamente, eu faria com qualquer
pessoa e você pode estar correndo risco daquele cara acabar perseguindo
você. Vou ficar mais tranquilo se souber que chegou em segurança em casa.
— Eu poderia mandar uma mensagem!
— Claro que ela aceita a carona!
Luke e eu dissemos ao mesmo tempo, fazendo com que um riso
sincero deixasse os lábios do negro.
— Estava pensando em esticar a noite mesmo, e até chamar Marco
até aqui. — o idiota a minha frente se vira e sorri. — Tchau, melzinho, me
manda notícias.
Ele simplesmente volta para dentro do bar, me deixando sozinha
com o babaca.
— Acho que seu amigo está te jogando para cima de mim.
— E eu vou aceitar a carona porque estou exausta depois de hoje.
O ignoro e saio em sua frente, mas acabo parando no meio da rua
por não saber onde deixou seu carro.
Ele passa por mim e me chama para atravessar a rua, destravando o
alarme da Mercedes.
Esse cara queria ser assaltado essa noite, só pode.
— É claro que ele teria uma Mercedes — cochicho comigo mesma
enquanto me dirijo até a porta do passageiro. —, os advogados gostosos e
bem sucedidos têm Mercedes.
— O que disse? — ele questiona antes de entrar e nego com a
cabeça fazendo o mesmo.
Assim que sento no banco e fechamos as portas, o seu cheiro de
perfume caro, arriscaria dizer que se trata de um Tom Ford, misturado ao
que devo imaginar ser seu aroma natural, acertam em cheio minhas narinas,
me deixando quase tonta.
É um crime esse homem, além de gostoso, ser cheiroso.
— Está tudo bem? — percebo que estava de olhos fechados, então
os abro e pela primeira vez em toda vida, acho que coro diante de um
homem.
Me viro para ele, um pouco assustada por ser pega apreciando a
porra do seu cheiro e ele ergue uma de suas sobrancelhas.
— Estava de olhos fechados e respirando fundo, pensei que tivesse
começando a passar mal. — ele diz normalmente antes de ligar o carro. —
Seria normal, depois que a adrenalina do que acabou de acontecer baixasse.
— É, c-claro — eu gaguejo —, foi isso mesmo.
— Então, me guie. — não entendo suas palavras, completamente
fora de órbita. — Até sua casa, Alexia.
— Ah, sim, claro.
Virei monossilábica, porra?
Vou falando quais ruas pegar e a poucos minutos estamos em
frente ao meu velho prédio, onde as escadas de incêndio enferrujadas são o
destaque da construção.
O observo fiscalizar tanto o prédio como também a rua antes de se
virar para mim e acender a luz interna do carro enquanto o desliga.
Aposto que não esperava que eu morasse por aqui e em um prédio
caindo aos pedaços e sorrio para ele.
— Não quero ser chamado de escroto ou de arrogante mas, nunca
pensei que trabalharia como garçonete ou que morasse nesse bairro.
— As aparências enganam, babaca. — suspiro derrotada, mas
ainda com o sorriso nos lábios. — Pergunta.
— Como?
— Considere como um agradecimento por ter esmurrado a cara de
um homem para mim. Não vou te chamar pra entrar e limpar seus
ferimentos como agradecimento porque sequer tenho o que precisaria para
limpar isso aí, sem causar infecções, então mate sua curiosidade.
— Pensei que o beijo tivesse sido sua forma de agradecer. — ele
sorri de lado e respiro fundo o ignorando. — Suas roupas e seus sapatos,
não são de alguém que moraria aqui ou que precisaria trabalhar em um bar
para se sustentar.
Assinto em deboche quando ele aponta o óbvio.
— Por que? — ele questiona e volto a fitar seu rosto.
— Antes, deixe-me perguntar uma coisa. — ele assente, como se
eu tivesse feito uma pergunta. — O senhor Bakers é seu cliente a muito
tempo, correto?
Ele assente e demonstra confusão por não entender a mudança de
assunto.
— Se lembra qual era o nome da empresa dele antes de assumi-la
majoritariamente?
— Bakers Stewart Corporati…
Ele sequer termina a frase e seus olhos dobram de tamanho quando
imagino que faz a assimilação com meu sobrenome.
— Seus pais? Eles eram Taylor e Cristal Stewart?
“Quantas vezes eu tenho que te dizer?
Mesmo chorando, você é linda
O mundo está te castigando, eu estou por perto acompanhando tudo”
All of me - Jhon Legend
 

Tento assimilar o que Alexia acaba de confirmar, com um leve


assentir, enquanto a observo levar as pontas dos dedos até uma região atrás
da sua orelha direita, onde encontrei a tatuagem na vez em que pude
observar o local com calma.
— Eles eram meus pais.
Ela confirma mais uma vez e abre um sorriso melancólico, com os
olhos no prédio antigo.
Recosto no banco, ainda impactado com a informação, me
recordando de algumas manchetes que permaneceram nos jornais e nos
sites de fofocas alguns anos atrás, envolvendo toda a polêmica da família
Stewart.
Até a ardência que sinto nos nós dos dedos e no supercílio cortado,
evaporaram diante dessa revelação.
Quando o grande empresário Taylor começou a perder tudo que
tinha, a mídia desconfiava de que ele tinha se envolvido com algumas
pessoas importantes do crime organizado, até hoje os motivos pelos quais
ele veio a falência, não foram descobertos e deram tudo por esquecido
quando seu corpo foi encontrado com ferimentos de tiros.
Logo em seguida, ouvi dizer que sua mulher acabou se suicidando
após receber a notícia de sua morte, e a única filha do casal, ficou
conhecida como a herdeira que perdeu tudo, inclusive os pais e foi
apelidada de “Herdeira do luto”, antes de desaparecer da mídia e ninguém
mais saber sobre seu paradeiro.
Me viro para Alexia, que suspira quando retomo minha atenção.
— Se precisar de mais alguns minutos para absorver, tudo bem.
Não acredito que ela precisou passar por tudo aquilo.
Agora é quase compreensível seu modo explosivo de agir.
Não que isso justifique sua falta de educação.
— Acho que conheci seu pai.
— Conheceu?  — Ela sorri, verdadeiramente dessa vez. — Ele era
um filho da puta, mas eu o amava.
— Me tornei advogado do senhor Bakers quando eles estavam
desfazendo a sociedade, seu pai estava presente em algumas das reuniões.
— Ela assente. — Como conseguiu passar por todo o caos, que imagino ter
se transformado sua vida, após o falecimento deles?
— Eu não consegui. Simples assim. — Ela respira fundo mais uma
vez. — Acho que ainda estou passando por ele, sem descanso algum. Por
isso que moro nessa espelunca quase caindo aos pedaços e trabalho como
garçonete em um bar.
Ela fitou meus olhos mas me mantive calado, desejando ouvir mais
de sua história, se assim permitisse.
— Depois que meu pai começou a ser ameaçado por conta das
dívidas de jogo que se envolveu, foi entrando em desespero e passou a
leiloar e vender tudo que podia. Foi assim que aos poucos, ele declarou a
falência. Não tínhamos mais paz em nossa vida e até hoje, não sei qual era o
valor da dívida. Os cobradores invadiam nossa casa e muitas dessas vezes,
o espancavam. — Ela engole em seco e seus olhos se encontram longe,
como se estivesse revivendo tudo aquilo. — Eu nunca estava presente
quando acontecia, sempre no colégio, em alguma festa idiota ou fazendo
compras com meus amigos, mas ocorreu de diversas vezes, eu chegar em
casa e o encontrar sangrando e todo acabado. Mesmo que se recusassem a
contar para mim o que estava acontecendo, sabia dos boatos que estavam
correndo por aí, e me doía não poder fazer nada para ajudar, então comecei
a trabalhar na Garden Coffee, me desfazendo da minha mesada e passando
a ajudá-los como podia.
Um sorriso involuntário brotou em meu rosto mas contive a
vontade de levar minhas mãos até as suas, e deixar uma leve carícia no
local.
A peste sempre foi uma pequena batalhadora, pelo que posso ver.
— É claro, que quase não dava pra nada, mas tentei fazer o
possível para ajudá-los enquanto podia e o quanto permitiam. — Ela
balançou o ombro como se não fosse nada demais.
— Foi uma atitude incrível, que poucas que cresceram com seus
privilégios fariam pelos pais em uma situação como essa. — Interrompo
sua fala e ela me olha assustada, quase como se tivesse se esquecido que eu
também estava ali. — Foi admirável. Você é admirável, pequena peste.
Mesmo com a pouca iluminação do carro, posso notar um certo
brilho em seu olhar quando as palavras escapam da minha boca e ela sorri
desconcertada.
Faço um gesto com as mãos, para que pudesse voltar a falar.
— Enfim, não demorou muito para que ele vendesse a parte dele
na Bakers Corporation, e ao invés de resolver nossa situação quase precária,
o maldito viciado foi e apostou tudo que tinha conseguido, jurando que
seria nossa virada de vida e que nos arrancaria do buraco. — Ela balança a
cabeça, mas não vejo ódio ou sequer ressentimento em suas expressões,
apenas pesar. — É óbvio que ele perdeu tudo e ainda passou a dever mais
do que antes, não levou muito tempo depois disso, para eu ser chamada na
diretoria do colégio para ser informada sobre a morte dele e também da
minha mãe.
Ela volta a olhar pela janela quando seus olhos se enchem de
lágrimas e fico sem reação.
Nenhuma mulher, exceto minhas sobrinhas, choraram em minha
frente.
Não sei o que fazer se ela começar a chorar aqui.
O que se faz numa situação dessa?
Não posso pegá-la no colo como fiz com Clarice e Cecília quando
tinham os joelhos ralados ou algo parecido e apareciam chorando para mim.
— Foi um dos dias mais dolorosos da minha vida, mas passei a
levá-lo como aprendizado. — Ela torna a falar com a voz embargada pela
emoção. — Para certos erros nessa vida, não existem segundas chances,
então temos que aproveitar todas as que nos forem oferecidas, sem
desperdiçá-las. Percebi que meu futuro e a oportunidade de fazer diferente,
era somente da minha responsabilidade e jurei naquele dia, que não deixaria
nada tolo atrapalhar meus planos para meu futuro e para as realizações dos
meus sonhos.
Ela respira fundo e quando vejo que limpa uma lágrima solitária,
sinto algo nada parecido com o que já senti antes.
Um aperto começa a sufocar meu peito e meu coração acelera
como se estivesse sentindo uma dor alucinante.
Será que estou infartando?
Sinto um bolo na garganta e fico agoniado com aquela sensação.
Mas que porra é essa?
— Fui morar com a minha avó, e desde então passei a ajudá-la
com as contas de casa e com a dívida que teve de fazer com o banco para
terminar de pagar outras dívidas deixadas por meus pais. — Ela ri sem
humor algum. — Consegui uma bolsa na Garden e como a vida adora me
foder, alguns meses atrás perdi a minha vó e tive que sair da casa em que
morávamos, passando a tomar conta de mim mesma sozinha e de maneira
definitiva dessa vez.
Ela respira fundo e a prende por alguns segundos, tentando
controlar o choro que provavelmente clama para ser solto, mas ela se
mantém forte.
O que posso fazer para te ajudar, minha peste?
— O estágio veio em boa hora já que ganho quase o dobro do que
ganhava na lanchonete que trabalhava — Volta a falar e sinto a sensação
estranha se apossar do meu corpo outra vez ao ouvir sua voz chorosa. —
Sei que poderia estar vivendo em uma situação melhor se me desfizesse das
roupas estupidamente caras que eram da minha mãe, quem sabe até leiloar
as alianças de casamento deles ou o relógio do papai, mas eu simplesmente
não consigo. — Ela ri mais uma vez, como se fosse sua fuga para não
desabar de vez. — É claro que amo me vestir bem e me sentir com certo
luxo, hábitos passados que não consigo largar, mas é mais do que isso. É a
única maneira que tenho de senti-los comigo, como se ainda estivessem
aqui e com isso pudessem me acompanhar em cada uma das minhas
conquistas.
Não aguento mais essa situação.
Levo minha mão para o seu rosto, e coloco delicadamente os dedos
em seu queixo. A observo fechar os olhos com meu contato e respirar
fundo, é quando mais uma lágrima solitária deixa seus olhos.
A viro para mim mas ela se recusa abri-los e preciso pedir que o
faça.
— Alexia, olhe para mim. — Ela negou com um balançar suave de
cabeça. — Estou te pedindo. Olhe para mim, por favor, peste.
Ela move os lábios em um sorriso e meu coração se alivia um
pouco, antes dela finalmente fitar seus olhos escuros em mim.
Assim que os abre, é como se o simples fato de nossos olhares se
encontrarem, a permitisse enfim desabar.
As lágrimas começam a sair de seus olhos sem cessar e seu rosto se
contorce em uma careta.
Mesmo assim, continua linda.
Ela começa a soluçar enquanto passo os polegares em suas
bochechas, as acariciando e limpando suas lágrimas.
Odeio vê-la tão indefesa.
Como posso fazer isso parar, linda?
Trago sua cabeça para mim e ela vem com facilidade, se
recostando em meu ombro.
A abraço como consigo, ficando torto em meu banco, e tento
consolá-la.
Passo as palmas da mão esquerda em suas costas, em um carinho
suave, enquanto a outra deposita uma cafuné em seus cabelos, sentindo a
textura macia dos fios.
Preciso respirar fundo quando seus soluços fazem o aperto em meu
peito piorar e é quase como se eu não conseguisse respirar ao ouvi-la
chorar.
De repente, é como se tudo em mim doesse a cada soluço frágil
que ela deixa escapar em meus ouvidos.
Sinto suas lágrimas quente molharem minha camisa, antes de ter
suas pequenas mãos apertando o tecido de forma desesperada.
Nunca me senti assim antes e pela primeira vez, desejo fazer com
que tudo que essa pequena está sentindo agora, de alguma forma fosse
transferida para mim.
Odeio ouvir seus xingamentos, mas odiei ainda mais ouvir seu
choro.
O que essa peste está fazendo comigo?
Ficamos nessa posição até ela se acalmar e pouco me importo com
a dor na coluna que vou sentir mais tarde.
Não consigo discernir se passam poucos minutos ou se chegamos
perto de marcar uma hora naquela posição, até que eu sinta seus soluços
diminuírem e sua respiração ir se acalmando.
Após sentir sua respiração tranquila outra vez, ela se afasta
lentamente, enxugando as lágrimas do rosto, agora vermelho.
Nunca tinha percebido o fato de Alexia não fazer o uso de
maquiagens e isso fica nítido agora, com seu rosto completamente
avermelhado, acentuando algumas pintas marrons que tem salpicadas em
pontos específicos do rosto.
Seus olhos igualmente vermelhos, piscam algumas vezes, talvez
focalizando a vista enquanto ela se dá conta da nossa proximidade, de como
ainda se mantinha agarrada a mim como um bote salva-vidas e se afasta
completamente, fazendo com que eu tirasse minhas mãos de sua costas e
cabelos.
A distância do seu corpo me causa um frio que não sentia antes de
tê-la nele.
Estranho.
— Desculpe por isso — Ela chacoalha a cabeça e sorri
envergonhada. —, eu só…
— Precisava desabar um pouco.
Ela assente e olha para fora, então faço o mesmo.
A rua é escura e parece ser fria, tão diferente do calor que senti
com ela em meus braços à poucos segundos.
— Eles sentiriam muito orgulho da mulher que você se tornou e de
tudo que ainda vai realizar. — Volto a olhar para ela, que sorri um pouco
incerta. — É claro que teriam. Faz de tudo para lutar pelo que quer e não
desiste até conseguir. Vai ser uma advogada incrível.
— Não é bem assim.
— Está trabalhando na D&M mesmo após ser recusada meses
antes, não?
Ela assente e pela primeira vez, tenho o privilégio de ouvir sua
gargalhada.
É como se algo mágico acontecesse enquanto o som sai de sua
boca.
Sou envolto por um calor, e uma sensação de alívio invade meu
peito.
O som é lindo e eu passaria horas apenas o ouvindo.
Onde eu estou me enfiando?
— Isso é verdade. — Ela respira fundo e leva as mãos até a
maçaneta da porta, antes de virar o rosto para mim. — Ainda te odeio e se
contar a alguém o que aconteceu aqui hoje, saiba que meu chute é muito
potente. E obrigada pela carona e todo resto.
— É claro que nos odiamos e essa noite nunca aconteceu. — Sorri
enquanto ela saía do carro. — Se contar a alguém que bati em um cara por
você, anulo sua prova no final do semestre, e não precisa agradecer.
Ela deu o dedo para mim antes de fechar a porta e esperei que
entrasse no prédio para poder arrancar com o carro dali, sem ter ideia de
quais ruas tomar para chegar em casa.
Que noite estranha.

— Ai, caralho! — Brado pela quinta vez quando Adrian leva o


algodão com antisséptico até o corte em meu rosto. — Deveria ter chamado
a mamãe.
— Vai lá, bonitinho — ele responde e pressiona com mais força o
algodão, enquanto tento afastar sua mão de mim. —, e corre o risco de
apanhar ainda mais por se envolver em briga de bar.
Bufo e volto a cruzar os braços em meu peito ainda desnudo por
conta do banho.
Ficamos em silêncio enquanto ele terminava de aplicar o
medicamento e cobria o machucado com algo parecido com uma fita.
Depois de repetir o procedimento, exceto o de encobrir, meus
arranhões da mão, ele se afasta e cruza os braços, imitando minha posição
enquanto se escora na bancada do meu banheiro.
Ele assume a postura do irmão mais velho ao erguer uma das
sobrancelhas e sei que estou fodido.
— Agora da pra me contar o que caralhos aconteceu com você, e
porque precisou me tirar da minha cama quentinha com a minha mulher, e
vir cuidar de você como se fosse a porra de um adolescente brigão?
Respiro fundo enquanto dou as costas a ele, saindo do banheiro e
indo em direção a minha cama.
Coloco a calça de moletom que estava em cima da mesma, já que
estava só de cueca e se vou levar uma chamada de atenção feito criança,
não quero estar praticamente pelado quando acontecer.
— Não dá as costas pra mim, Aiden.
Ele me seguiu até o quarto e o olho franzindo a testa.
— Tá parecendo a mamãe falando.
— E você a porra de um adolescente. — Ele abre os braços
exasperado. — Que isso cara? Nunca precisei te ensinar a cuidar de um
machucado porque nunca se envolveu em uma briga, não que eu saiba pelo
menos, e agora quase aos quarenta anos chega com a cara toda fodida e as
mãos raladas por socar a cara de alguém. — Ele dispara furioso e dá uma
pausa para respirar fundo. — Me conta o que aconteceu antes que chame a
mamãe.
Ele ameaça e me levanto apontando o dedo em direção a ele.
— Nem ouse, seu idiota! Não precisa disso tudo. — Suspiro
pesado. — Acabei brigando com um babaca que assediou uma das
garçonetes do bar que eu estava. Simples assim.
Ele arregala os olhos e assobia divertido antes de se sentar na
poltrona.
Mas é um maldito, mesmo, fazendo ceninha.
— Espero que a tenha levado para cama depois dele foder com a
sua cara.
— Ele ficou pior e não — me jogo na cama outra vez, sentindo
minhas costas protestarem. —, infelizmente não fui pra cama com ela, mas
não fiz pensando nisso. O cara estava indo para cima dela.
— Desprezível. — ele nega indignado. — Registraram a queixa?
Puta que pariu!
Com tudo que acabou acontecendo, até esqueci de perguntar a
Alexia se queria abrir um boletim contra o babaca.
Ótimo advogado hein, Aiden?
— Acabamos nem lembrando disso.
Ele sorri maliciosamente.
— E ainda tem a coragem de dizer que não transaram?
Agradeço a Adrian por seus cuidados com meus machucados,
mesmo tendo sido obrigado, e o expulso do meu quarto antes que eu
acabasse soltando alguma coisa sobre essa noite.
Acendo um dos abajures ao lado da cama e apago todas as luzes,
me deitando sobre as colchas.
Ergo a mão contra meu rosto e fito aqueles machucados.
É óbvio que eu já tinha brigado a esse ponto na minha época de
adolescente e mais velho cheguei a precisar me esconder de todos por conta
de uma surra que levei.
Adrian só nunca soube dos episódios.
Já havia defendido outras mulheres de assédios parecidos com esse
em algumas situações, mas nunca tinha chegado a tanto por alguém.
Quando escutei aquele verme desferindo aquelas sujeiras contra
ela, foi como se tudo desaparecesse à minha volta e eu precisasse fazê-lo se
arrepender das coisas que fez e falou.
Se o amigo de Alexia não me tivesse tirado de cima dele, teria o
espancado até ouvir um pedido de desculpas sair da sua boca.
Fico cada vez mais confuso sobre as coisas que essa peste me faz
sentir.
Nunca tinha sentido tanta angústia como senti hoje ao ouvi-la falar
da própria dor e chorar no meu ombro.
Foi como se eu sentisse a necessidade de acolhê-la por a ver tão
frágil, e cuidar até que conseguisse se erguer forte outra vez, como eu sei
que é capaz de fazer.
Nunca senti a necessidade de cuidar de mulher alguma e é
estranhamente contraditório sentir isso pela única que me faz ter vontade de
cometer um crime de ódio, quando põe as garras para fora.
Mas, vendo ali como ela estava fragilizada, sabendo do que é
capaz, a única coisa que conseguia pensar era em como eu poderia ajudá-la,
para que voltasse a me xingar e ameaçar me bater ou me assassinar de
formas terríveis, como já fez uma vez.
Pego o celular e abro em seu contato, pensando seriamente em
enviar uma mensagem, perguntando sobre seu estado. Mas acabo desistindo
e fico apenas admirando sua imagem na tela.
Mas que porra está acontecendo comigo?

Mas que porra acabou de acontecer, Alexia?


Não consigo parar de me perguntar enquanto subo as escadas, sem
ao menos verificar se a porcaria do elevador finalmente foi consertada, já
que subir os degraus se tornou um hábito.
Ao menos posso considerar como exercício físico.
Não consigo deixar de me sentir patética por ter desmoronado na
frente de Aiden.
Tinha de ter sido na frente dele?
Sei que venho me sentindo exausta, tanto física como mental e
emocionalmente, com tudo que vem acontecendo, e o fato de eu apenas
empurrar isso para longe sem senti-las de fato, só vem tornando tudo mais
intenso, mas eu precisava me acabar de chorar na frente dele?
O mais engraçado, e completamente estranho, foi ele ter me
acolhido, como se eu fosse um pássaro indefeso que precisava ser cuidado.
E o mais surreal, foi eu ter gostado de me sentir acolhida por ele.
Pensando agora pode parecer loucura, mas nunca me senti tão
confortável com alguém, exceto com Luke, Lia e Marco, para expor meus
sentimentos e contar sobre minha vida, mas com Aiden foi tão fácil
começar a falar, que quando vi já estava compartilhando quase todos os
detalhes com ele.
Ainda não contei nem a Hanna sobre a minha vida, mesmo já tendo
a encontrado mais vezes e a amizade estar crescendo cada vez mais.
Me senti longe e de repente foi como se eu estivesse passando por
aquilo de novo, e apenas queria meus pais ali comigo para me ajudar com
tudo que estou tendo que enfrentar hoje.
Quando senti seu toque em meu rosto e ele me pediu gentilmente
para olhá-lo, não sei ao certo o que encontrei em seus olhos, que me fez me
sentir segura para desabar.
Eu desmoronei.
E pela primeira vez tinha alguém ali para me amparar.
Pela primeira vez eu me deixei cair em frente a alguém e ele me
acolheu até eu conseguir me reerguer.
Chorar nos seus ombros, enquanto sentia seus carinhos em minhas
costas e os afagos nos meus cabelos, foi tão reconfortante. Me senti envolta
pelo calor de seu corpo e foi como se ele alcançasse minha alma e
aquecesse as geadas que tenho ali.
Foi aliviador.
Assim que chego ao meu andar, com um sorriso idiota no rosto, me
assusto quando vejo a porta levemente encostada.
Meu coração passa a acelerar e minhas pernas ficam bambas de
medo.
Não pode ser Luke porque ele ficou no bar e eu teria visto chegar.
O carro de Marco ou de Lia não estavam na rua então não são eles
também.
Só pode ser a porra dos cobradores.
Os flashes do dia em que presenciei meu pai todo machucado por
conta da sua dívida, me atingem em cheio e a vontade de chorar retorna
com tudo, mas agora não tenho a quem recorrer.
Não quero ser machucada.
Não quero acabar como meus pais.
Olho para a porta vizinha, de dona Martha e penso em pedir
socorro e até abrigo a ela, mas logo escuto seus xingamentos em uma língua
que não conheço, sair da porta da mexicana furiosa e engulo em seco.
Vou me aproximando do apartamento, respirando fundo e tentando
controlar meu coração que bate desenfreado.
Antes de passar pelas portas, aprumo minhas costas e ergo minha
cabeça.
Seja o que tiver de acontecer, vou enfrentar de cabeça erguida.
Pobre e fodida sim, sem dignidade, nunca.
Quem sabe eu até consiga fazer uma proposta a eles?
Assim que entro no meu apartamento, vejo duas sombras
gigantescas sentadas em meu sofá, em frente a televisão ligada.
Só pode ser brincadeira.
Assim que escutam o barulho da porta, um deles se levanta e
acende a luz, fazendo com que eu enxergue perfeitamente seus rostos.
O outro apenas fica sentado no sofá, olhando sobre o ombro e logo
volta a atenção às imagens à frente.
O que se levanta sorri descaradamente e aponta para a porta atrás
de mim, que fecho sem protesto ao ver a arma prateada que brilha em suas
mãos.
— Você é uma boa garota, sabia? — ele questiona, não ouso
responder e me recordo da sua voz das outras vezes que me encontraram.
— É até uma pena o que nos mandaram fazer com você, já que é sempre tão
receptiva.
Ele se aproxima e passa o cano da arma sobre meu rosto,
arrepiando meu corpo de uma maneira desagradável.
As lágrimas batem a porta dos meus olhos mas me mantenho
firme.
— Não completou um mês desde que me ameaçaram. — Minha
voz sai um pouco esganiçada e dou um pigarro. — Ainda tenho tempo.
Os idiotas riem e sinto seu bafo de cigarro bater contra meu rosto,
e faço uma careta incontrolável.
— Mas é claro que já sabemos que não vai poder pagar, essa pose
de patricinha não engana ninguém quando se olha para o estado da sua casa.
— Ele volta a falar enquanto desce a arma pelo meu pescoço, indo em
direção aos meus seios e quando o alcança me lança um sorriso nojento. —
Adoraria descobrir o que tem debaixo desse tecido todo.
— Marcel! — Pela primeira vez, ouço a voz do moreno que
continua sentado, em um tom de alerta. — Não quero ter que te impedir de
alguma coisa outra vez, então pare com as gracinhas e faça o que viemos
fazer aqui.
O homem de feições sisudas e entradas gigantescas na testa bufa
como se o outro tivesse tirado seu brinquedinho.
— Eu quero propor uma coisa. — Falo rápido quando ele volta a
apontar a arma para a minha cabeça.
É sério que me matariam aqui?
Onde qualquer um pode ouvir e entrar para ver o que acontece?
— Não estamos interessados. — Ele sorri sadicamente e destrava a
monstruosidade em suas mãos, levando o dedo ao gatilho.
— É claro que estamos interessados, Marcel. — O moreno de
cabelos cacheados se levanta e vem até nós após desligar a tv. — Desculpe
por isso, senhorita Stewart.
Meu Deus!
É o bonzinho e malvado?
Minha vida parece um filme cada vez mais estranho e de péssima
qualidade.
Ele faz um sinal para que eu dê continuidade e faço minha
proposta, de pagar a eles a quantia que tenho guardada e ir pagando aos
poucos o chefe deles, mesmo que isso aumentasse a dívida, desde que me
deixassem sair com vida disso tudo.
O metido a careca começa a rir, debochando da proposta.
Mas como caralhos minha avó se envolveu com esse tipo de
pessoa?
Estou até começando a duvidar se realmente morreu de causas
naturais.
— Cale a boca, Marcel! — O bandido educado o repreendeu e ele
se zanga. — Aceitamos a proposta. Vamos enviar uma mensagem com as
instruções de como realizar os pagamentos.
Simples assim?
Melhor não questionar, já que quem estava com a arma na cabeça
a poucos segundos era eu.
— Preciso passar meu número ou algo assim? — Pergunto
inocentemente e ele nega antes de olhar feio para seu comparsa que se
demonstrava indignado com sua resposta.
Após uma troca de olhares sinistra entre os dois, o cacheado faz
um movimento sutil com a cabeça, em despedida e segue para fora.
— Quer sair com vida, mas não vai escapar disso.
Não tenho tempo de respirar aliviada quando o que apontava a
arma, para em minha frente e desfere um tapa forte em meu rosto.
Minha cabeça se vira com o impacto do tapa e sinto toda minha
bochecha arder como se estivesse pegando fogo e levo minhas mãos ao
local.
Meu coração dispara frenético de medo e antes que eu pudesse me
recompor do tapa, sinto algo bater com força na minha cabeça antes de cair
de joelhos no chão.
Ouço a porta ser fechada com força, fazendo um estrondo enquanto
levo meus dedos a dor alucinante e sinto algo quente escorrendo do local.
Mesmo com a visão turva, consigo enxergar meus dedos vermelhos
pelo sangue carmim, até tudo começar a girar e escurecer antes de apagar.
O filho da puta me deu uma coronhada na cabeça!
“Quando brigamos, nós brigamos como leões
Mas então, nos amamos e sentimos a verdade
Nós perdemos o juízo em uma cidade de rosas
Nós não vamos tolerar nenhuma regra”
Fire on Fire - Sam Smith
 

Passo por Samantha sem fazer questão de retribuir seu sorriso


falso. A mesma pergunta se estou precisando de um café e sinto um tom
sutil de deboche em sua fala.
Não preciso dirigir a palavra ela, quando seus olhos encontram o
meu antes dela se desculpar e dizer que se eu precisasse de algo era só
chamá-la.
Entro na  minha sala e fecho a porta em um baque estrondoso.
Inferno de dia!
Inferno de semana que mal começou!
Assim que me sento na cadeira confortável, meus ombros relaxam
minimamente e tenho vontade de furar meus olhos quando vejo a bagunça
de papéis que tive de deixar na mesa no dia de ontem, antes de sair às
pressas para resolver uma situação fodida de um dos nossos associados.
O maldito, formado na porra da faculdade de direito, que trabalha
no caralho do escritório mais bem requisitado de LA, foi descoberto
traficando drogas e pretendia usar o escritório como sua fachada.
E o idiota pensou mesmo que passaria ileso e sem ser notado
diante dessa burrice.
Tive que me segurar para não deixar os esfolados dos meus dedos
se abrirem por socar aquele imbecil hoje cedo.
Por conta disso acabei passando o dia todo fora do escritório ontem
e passei toda a manhã provando a porra da minha inocência nisso tudo, e
espero não ter mais dores de cabeça por conta do que aconteceu.
Matthew, um dos meus advogados seniores do ramo empresarial,
ficou responsável por algumas demandas que precisavam ser entregues
ontem, inclusive Alexia também ficou aos seus cuidados.
É claro que mesmo como minha estagiária, ela não trabalharia o
tempo todo comigo nem passaria o dia todo grudada na minha mesa, e sim
auxiliando os outros advogados do meu setor, então não foi uma surpresa eu
receber a notícia de que ela acabou se saindo excelente em tudo que a
encarregaram de fazer ontem.
Desde que demonstrou seu conhecimento jurídico, tanto nas
minhas aulas como aqui, foi impossível não notar como vai se sair bem na
carreira, e não querendo rebaixar o nível dos outros estagiários, noto como
poderíamos facilmente contratá-la como assistente.
Pode até parecer loucura da minha parte, mas confesso que senti
falta da sua presença nesses dias. Mesmo que fosse para termos nossas
discussões ocasionais, que até estavam ficando divertidas.
Ela ainda me irrita e me tira seriamente a paciência, mas agora tem
algo novo e diferente envolvido.
Algo que vai além de toda raiva e todo tesão óbvio.
Não vou negar que a desejo, que estou louco para beijá-la outra vez
e que se me desse a abertura, com certeza não iria desperdiçar a
oportunidade. Negar isso não me levaria a lugar nenhum.
A não ser, é claro, quando se trata de Adrian e Henry, para eles eu
negaria até a morte, apenas para não lhes dar o prazer de saberem que
estavam certos.
Organizo parcialmente tudo que estava fora do lugar e tento me
concentrar no que precisava fazer, mas infelizmente por causa daquela
peste, não consigo.
Nunca uma mulher invadiu tanto os meus pensamentos, como ela
faz.
Não sei o porquê, mas desde que a deixei no seu apartamento na
noite de sábado, por mais que eu tivesse visto o sorriso voltar em seu rosto,
nada me tirou a sensação angustiante do peito.
Fico lembrando do seu semblante magoado e isso dói pra caralho.
Me assusto quando alguém abre a porta e invade a sala sem ao
menos pedir licença e não me surpreendo quando encontro o oompa-
loompa sob seus saltos pretos, vindo em minha direção.
Falando no Diabo.
Meus olhos passam por seu rosto e noto algo de diferente ali, mas
que não consigo analisar mais de perto ou com calma para discernir o que é.
Ela praticamente joga a pasta de material pardo sobre minha mesa
e quando arqueio uma das sobrancelhas para ela, um lado de seus lábios se
erguem em um sorriso maroto, que nem de longe chega a ser os sorrisos
debochados ao qual estou acostumado.
— Esse curativo e esse roxo realçaram seus olhos.
— Isso porque não foi você quem teve de explicar para a polícia o
porque trocou socos com um cara no bar. — a respondo, me lembrando de
quando estava na porcaria da delegacia e me questionaram sobre o que
havia acontecido com meu rosto.
Ela não debocha da situação, apenas abre um sorriso, já o
murchando logo em seguida.
Tem alguma coisa errada com ela.
— Ainda não aprendeu a cumprimentar seus superiores, senhorita
Stewart?
— Boa tarde, Senhor Escroto — Ela se finge de assustada e põe as
mãos sobre os lábios. — Oops, quer dizer, senhor Munhoz.
— O que tem nessa pasta? — Ignoro sua provocação, não
querendo me estressar e em partes, ainda preocupado com seu estado.
Mesmo que não aparente, sinto que tem algo de errado.
— Contrato da empresa de tecnologia que Matthew pediu que eu
verificasse para você ontem. — Ela sorri um pouco mais aberto agora e
pelo pouco que conheço dela, sei que vem alguma gracinha por aí. —
Parece que já estou fazendo o seu trabalho, melhor tomar cuidado antes que
tome seu lugar.
Tento conter um sorriso, mas minha boca se mexe em uma
expressão sutil.
— Ainda é muito estranho te ver sorrindo. — Ela faz uma careta
como se me temesse. — Enfim, não encontrei nenhum erro seguindo as
recomendações que foram me dadas e pelo que pude perceber, todas as
informações estão corretas.
— Obrigado, peste. — repito seus movimentos de alguns minutos
atrás, colocando as mãos sobre os lábios. — Opa, quer dizer, Alexia.
Ela arregala os olhos e enquanto fica em silêncio, provavelmente
em choque por minha brincadeira, passo meus olhos por seu corpo.
Como ela mesma já utilizou as palavras certa vez, é fodidamente
gostosa.
— A gente se odeia, tudo bem? — Sua voz retorna e foco meus
olhos em seu rosto outra vez enquanto aponta o dedo indicador em minha
direção. — O que a-aconteceu no sábado, aquilo não…aquilo não mudou
nada entre a gente.
Ela gagueja e franzo o cenho por conta do repentino nervosismo.
Isso tudo não pode ser apenas vergonha por ter chorado na minha
frente.
Aproveito o breve momento de seu abalo e me levanto, me
aproximando dela, a fazendo mudar de posição, ficando de costas para
minha mesa.
Assim que a mesma percebeu minha aproximação, recuou alguns
passos para trás, batendo na lateral do vidro.
Me aproximo dela até estarmos ocupando quase o mesmo
centímetro e finalmente posso observar seu rosto de perto e seu perfume
cítrico exala em minhas narinas.
Deliciosa.
Noto que seus olhos desviam para meus braços, expostos por conta
da camisa polo e a vejo engolir em seco enquanto se agarra à borda da
mesa.
Sinto uma fisgada no pau, sentindo ele reagir a nossa proximidade
e aos meus pensamentos.
Eu daria quase tudo para fode-la bem aqui.
Levo minhas mãos para seu rosto, traçando os detalhes dele com a
ponta dos dedos.
Ela fecha os olhos e a sinto suspirar quando meus dedos roçam
seus lábios avermelhados por conta de algum tipo de batom sutil. Os levo
até suas pintas que descobri possuir no dia de ontem e não as encontro tão
facilmente.
— Está usando maquiagem hoje? — Minha voz soa mais grave e
rouca pelo desejo.
Ela abre os olhos repentinamente, franzindo o cenho em minha
direção.
Desço uma das mãos pela lateral de seu corpo, desejando me livrar
do tecido macio e delicado do vestido que usa e poder finalmente descobrir
e explorar cada centímetro de sua pele.
Sua respiração descompassa, quando no trajeto até seu quadril,
meu polegar encosta levemente na lateral do seu seio, até chegar em sua
cintura, onde a contorno com meus braços, a trazendo para mais perto.
Sinto seus seios se amassarem em contato com meu corpo e daria
tudo para sentir seus bicos rígidos.
Pressiono meu quadril nela, sabendo que vai sentir a minha ereção
que começa a endurecer cada vez mais com nosso contato, e com o impulso
dos nossos corpos, ela solta da mesa e leva as mãos para os meus ombros, o
apertando da mesma maneira que fazia com o vidro.
Ela abre e fecha a boca diversas vezes, como se estivesse
ensaiando o que dizer e sua voz não a obedecesse.
— Como sabe disso?
— Não estou conseguindo enxergar as pintinhas suaves que você
tem espelhadas nesta região. — Uso o polegar da mão que ainda estava
descansando em sua bochecha, para tocar os lugares das manchinhas
amarronzadas. — Elas são lindas.
Ela sorri brevemente antes de tentar desviar os olhos da minha
boca, mas sem sucesso e faço o mesmo, a observando passar a língua sobre
a boca.
Maldita língua que quase me levou ao inferno apenas com um
beijo da última vez que estávamos juntos assim.
Respiro fundo, me controlando para não puxar seus lábios para
mim e meu corpo todo se arrepia quando ela leva suas mãos para o meu
pescoço e deixa uma carícia na região da minha nuca.
Eu poderia me acostumar com a sensação de tê-la assim todos os
dias.
— Não respondeu, linda. — Torno a falar e ela ergue as
sobrancelhas, divertida. — Porque precisou cobrir o rosto com maquiagem
hoje?
— Ei, esse apelido é novo. — Ela ignora a pergunta e não me passa
despercebido. — Pensei que me odiasse e que eu era uma peste.
Sorrio para ela, me deixando levar pelo momento.
Dou mais uma investida com meu quadril, sentindo minhas bolas
pesarem de desejo e quase perco toda a lucidez quando ouço um gemido
afetado sair da boca de Alexia após meu movimento.
— É claro que te odeio — Aproximo minha boca de sua orelha e
deposito um beijo suave em cima da sua tatuagem, vendo seus pelos se
eriçarem. — Mas não posso mentir quanto a sua beleza, e você é
fodidamente linda, ou sobre a vontade que estou de tomar sua boca para
mim e fazê-la gemer meu nome sobre essa mesa.
— Aiden… — Ela solta em meio a mais um gemido, com a
respiração entrecortada. — Não podemos…e-eu não sinto o mesmo.
Deixo uma mordida no lóbulo da sua orelha e passo a língua em
seu pescoço, como desejei fazer dias atrás, sentindo sua veia pulsar
freneticamente enquanto sinto suas mãos seguraram com força o tecido do
colarinho da minha camiseta.
— O que foi, minha peste? — Volto a olhá-la de frente e pergunto
com meus lábios roçando nos seus. — Quer me pedir alguma coisa?
Ela dá um sorriso antes de mordiscar levemente meu lábio inferior
e sorri de volta.
Não sente o mesmo, estou vendo.
— Me beija. — Ela pede aos sussurros e concedo seu desejo.
Seguro seu lábio inferior entre meus dentes, assim como fez
comigo, mas de maneira mais bruta dessa vez e antes que pudéssemos
aprofundar o beijo, ela solta mais um gemido rouco em minha boca.
Seguro sua mandíbula, posicionando sua cabeça inclinada à minha
e soltando seu lábio, a deixo na expectativa.
— Acho que não consigo mais tirar as mãos e a boca de você,
linda. — Minha voz sai baixa e intensa e a maldita sorri lindamente. — Não
quero mais fingir que não te desejo e sei que vou me foder por isso, então
pare de ser cabeça dura e assume que sente o mesmo.
Antes que ela pudesse dizer algo, tomo seus lábios nos meus, e ela
concede passagem a minha língua rapidamente. Assim que sinto seu gosto,
não consigo deixar de me sentir como se estivesse desesperado por senti-lo
nos últimos dias, e não faço questão de esconder o fato.
Suspiro em um gemido em sua boca, como se estivesse esperando
por isso desde a última vez em que estivemos dessa maneira, o que não
deixa de ser uma verdade.
Não via a hora de sentir seu gosto outra vez.
E não vejo a hora de descobrir qual sabor tem sua boceta.
Exploro sua boca como se nunca o tivesse feito e aproveito a
posição para colocá-la sobre a mesa.
Alexia aproveita a mudança e enlaça meu corpo com uma das
pernas, fazendo com que o tecido maleável de seu vestido subisse até quase
alcançar seu quadril.
Não desperdiço a chance de levar minha mão até sua coxa exposta,
sentindo o calor da sua pele quente, afundo meus dedos ali sentindo sua
maciez e desejando a ter envolta do meu quadril enquanto estivesse a
fodendo.
Meu coração dispara como um louco no peito e sinto como se
minha boca, assim como todo o meu corpo, pudessem entrar em combustão
a qualquer momento, pelo simples contato com sua pele.
Será que nossos beijos sempre serão assim?
Explosivos.
Selvagens.
Espero que sim.
Ela puxa meus lábios entre seus dentes, de forma grotesca dessa
vez, sem delicadeza alguma enquanto suas unhas arranharam sutilmente
minha nuca, deixando uma ardência gostosa.
Em momento algum tiro a mão de sua mandíbula, a prendendo em
mim, desejando que fosse só minha.
Finalizo o beijo puxando seus lábios assim como fez comigo, antes
de levar meus dedos até seus cabelos e enrolar neles os fios curtos, que
começavam a crescer, os puxando com certa pressão para trás enquanto nos
afastamos.
Assim que abro os olhos em busca de ar, encontro uma visão
magnífica.
Alexia sorrindo satisfeita, com os lábios inchados e vermelhos,
com os olhos semicerrados.
Será que eu encontraria a mesma visão após fazê-la gozar fazendo
uso da boca?
Ela abre os olhos e a puxo contra mim outra vez, deixando um
selinho demorado em sua boca enquanto ela sorria.
Seja o que for que essa peste anda me fazendo sentir, só consigo
pensar que é uma sensação maravilhosa a ter dessa forma para mim.
— Sabe — ela começa a dizer enquanto nos mantemos afastados
—, nunca pensei que um dia seria capaz de gozar apenas com um beijo,
mas se continuarmos o que estamos fazendo aqui, pode ser que eu…
Interrompo sua fala quando me assusto ao ver um filete fino de
sangue, deixar a lateral da sua cabeça.
— Alexia, você está sangrando.
Não faço questão de ser brando, imaginando mil cenários possíveis
diante do sangue saindo daquele machucado.
Ela fecha a expressão na mesma hora, como se estivesse se
lembrando de algo e pigarreia enquanto me empurra para trás, fazendo com
que eu me afastasse dela e meu corpo protesta pela distância do seu.
Vejo quando leva dois dedos ao local exato do machucado e
constato que já sabia sobre ele ao encontrá-lo com tamanha precisão.
Desço meus olhos para o seu rosto, e vejo que sua maquiagem saiu
parcialmente do rosto por conta do beijo, e então noto o arroxeado em suas
bochechas, junto de um arranhão sutil no mesmo local.
Mas quem foi o filho da puta que fez isso com a minha peste?
Não tenho tempo de questioná-la antes dela descer da mesa e ir em
disparada para o banheiro comigo em seu encalço.
Ela para em frente ao espelho e desfere alguns xingamentos
enquanto pressiona a toalha que umedeceu na torneira, sobre o ferimento.
Quando nota que o hematoma da sua bochecha também ficou evidente,
solta mais alguns palavrões como a boca suja que é.
— Quem fez isso com você, Alexia?
Seus olhos encontraram os meus através do espelho e ela nega, não
querendo falar sobre o assunto e esperando que eu realmente fosse deixar
aquilo para trás.
Só pode estar louca se vou fingir que não vi aquilo.
— Quem é o filho da puta, que vou ter o prazer de mandar para o
inferno, que fez isso com você, linda? — Me aproximo mais de seu corpo e
ela respira fundo quando levo minhas mãos até a sua cintura. — Foi aquele
cara do bar? Ele voltou?
— Não Aiden, não foi o cara do bar. — ela finalmente responde,
de maneira rude. — Eu tive um acidente na escada do apartamento e acabei
dando com a bochecha no corrimão. E para de me chamar assim.
Ergo a sobrancelha, completamente desacreditado daquilo.
Não por sua mudança de comportamento, já que percebi ser de sua
natureza fingir que não se sente atraída por mim logo após gemer na minha
boca.
— É sério, Aiden. Não tem com o que se preocupar.
— E como explica esse machucado sangrando?
— Depois que bati a bochecha, acabei caindo e bati a cabeça na
lateral do degrau — suspira e desvia o olhar do meu. — Eu não teria o
porque mentir, e você muito menos teria o porquê se preocupar comigo.
Afinal de contas, não temos nada, nem significamos nada um para o outro,
então para de me dar apelidos carinhosos e pare já, de me lançar esse olhar
aflito, como se estivesse disposto a ir para cadeia apenas para fazer justiça
por mim.
Sua expressão se torna irritada, completamente transtornada, mas
noto que algo a preocupa.
— Ouviu todo meu discurso antes de enfiar a porra da língua na
sua boca? — questiono já impaciente com a petulante, que não cede ao que
sente. — Estou cansado de fingir que não te desejo, Alexia, deveria fazer o
mesmo. E não vou cair nessa história de corrimão.
— Acredite no que quiser. — ela dá de ombros. — Aquilo que
acabou de acontecer, precisa parar urgentemente. — se refere ao beijo e sua
voz é dura, como se estivesse tentando dizer mais a si mesma do que para
mim. — Eu só me deixei levar mais uma vez. Não sinto nada por você.
Das duas uma, ou essa mulher vai acabar me fodendo, ou me
fazendo infartar por conta do estresse.
Sorri de lado e ergui uma sobrancelha quando voltou a olhar para o
meu rosto através do espelho.
“Eu tenho partido corações há um bom tempo
E brincando com caras mais velhos
Apenas brinquedos para eu usar
Algo aconteceu pela primeira vez
No pequeno paraíso mais obscuro
Abalada, tonta, eu só preciso de você
Don’t Blame me - Taylor Swift”
 

Sinto seus dedos passarem, mesmo que de forma intensa,


delicadamente por meus braços e o seu hálito se faz presente em meu
pescoço.
Automaticamente sou levada para nosso beijo de minutos atrás.
Não posso mais deixar isso acontecer, ele só vai acabar me
desgraçando e cheguei muito longe para deixar que um homem me
atrapalhe quando estou prestes a conquistar tudo que sempre sonhei.
— Certeza que não sente nada quando te toco desse jeito, linda? —
pergunta fazendo uso do novo apelido, que disparou meu coração e quase
me fez perder o ar na primeira vez que ouvi sair da sua boca.
O desejo que escorre por sua voz rouca é quase palpável e o sinto
deixar uma mordida no lóbulo da minha orelha, o que faz com que um
arrepio passe por todo meu corpo e eu sinta minha boceta se contrair.
A coitada da minha calcinha já está alagada depois daquele beijo.
Eu não tenho salvação.
— Ce-certeza. — me odeio por gaguejar e fazer com que fique
nítido o quanto me afeta.
— Nem mesmo quando faço isso?
Ele passa a deixar beijos por toda a extensão do meu pescoço, e
enlaça a minha cintura com seu braço enquanto leva uma das mãos até
minha mandíbula, inclinando minha cabeça até ele ter acesso a toda área
que explorava com a boca.
Minha respiração volta a se descompassar ao sentir seu aperto e
desejo que descesse os dedos até o meu pescoço.
Tento conter o gemido que sai sutilmente por minha boca, quase
como um pedido.
Ele me pressiona contra sua ereção, fazendo com que eu a sinta
contra minha bunda e eu daria tudo para sentar naquele pau e vê-lo gozar
onde quisesse do meu corpo.
Agarro o mármore frio com uma das mãos, enquanto a outra
segura seu braço em minha cintura.
Nossos olhos se encontram no espelho, quando ele para de beijar
meu pescoço, onde já estava rumando os beijos até o meu busto e sou
virada em sua direção com brutalidade.
Fico pensando como seria foder com esse homem, a julgar por
nosso beijos.
Eu com certeza acabaria assada e sem conseguir sentar por alguns
bons dias, mas ficaria feliz por isso.
Controla esses pensamentos, Alexia!
Não pode ir pra cama com ele.
Nossos olhos se encontram enquanto ele deixa uma carícia leve em
minha bochecha e suas expressões se tornam duras quando ele contorna o
arroxeado que aquele filho da puta deixou em mim.
Ele respira fundo de olhos fechados por alguns segundos e quando
volta a abri-los, seu olhar passa a ser quase perverso ao abrir um sorriso
lascivo.
Por mais que venha acontecendo bastante, ainda é difícil admirar
seu sorriso sem quase perder o fôlego no processo.
É um dos mais lindos que já vi na vida.
E é por esse tipo de pensamento que não posso mais me deixar
levar quando estou com ele. Isso só acabaria comigo.
— Como consegue mentir para si mesma com tanta facilidade? —
pergunta contornando meus lábios ainda inchados com seu polegar e sinto a
necessidade de umedecê-los — Porque eu não acredito nem por um
segundo no que você diz.
E nem deveria, sou uma péssima mentirosa, meu babaca.
Ele aproximou nossos rostos e quase salivo ao pensar que vou ter
seus lábios em contato com os meus outras vez, me odiando por isso.
Mas ele desvia o caminho, fazendo com que eu soltasse um
gemido de frustração.
Sinto um beijo ser depositado atrás da minha orelha, no local exato
da tatuagem, a qual já deve ter descoberto e sua respiração ofegante ali, faz
com que não me contenha e tente esfregar minha pélvis em seu pau duro
dentro das calças.
Que porra de homem gostoso.
Ele se afasta, voltando a ter suas expressões costumeiras, mortal e
fechada.
— Mas já que insiste nisso, só voltarei a te tocar, quando admitir
que me deseja tanto quanto eu, se assumir que não vê a hora de ser fodida
por mim, quando confessar — ele vai se distanciando, andando de costas
até a saída do banheiro. —, vou te foder até que perca a voz de tanto gemer
o meu nome.
— Babaca!
Faço questão de gritar enquanto o observo sair, me deixando à
beira de um colapso por suas palavras.
Por que eu preciso ser tão orgulhosa?
— E por favor, volte ao trabalho. — ele fala mais alto, imagino que
já sentado em sua cadeira.
Não seria mais fácil ceder e ir dar essa boceta negligenciada para
ele, Alexia?
Penso nas coisas confusas que esse escroto me faz sentir, e concluo
que não seria o melhor a se fazer.
Só pioraria tudo e não quero correr certos riscos.
Além de que ele é meu professor e não quero me arriscar ficar sem
a bolsa de estudos.
Deixo o banheiro de cabeça erguida e sigo até a porta sem olhar
para ele, erguendo o dedo médio em sua direção.
Ouço seu bufar e antes de fechar a porta ouço ele pedir que limpe
corretamente o machucado, para não correr o risco de infeccionar.
Babaca.

Nem acredito que finalmente é sexta-feira.


Vou andando pelas ruas do campus, a caminho do Garden Coffee
para me encontrar com Hanna.
Marcamos de nos ver alguns dias atrás e se não fosse por ela ter me
lembrado, teria esquecido quase que completamente.
Sinto a porra do machucado na minha cabeça latejar um pouco,
mesmo usando alguns remédios que fui obrigada a comprar para a
cicatrização.
Ainda não acredito que aquele filho da puta fez isso.
Quando notei que tudo estava se apagando, pensei que seria morta
por causa da porra de uma coronhada.
Ao menos consegui a negociação e agora estou no aguardo da tal
mensagem.
Acordei alguns minutos depois, com a dona Martha estapeando
delicadamente o meu rosto.
A mulher disse que ouviu o estrondo e como estava acordada,
correu para ver se algo tinha acontecido, até se assustar comigo caída e
sangrando no chão.
Podemos não nos gostar, mas ela foi simpática pra caramba ao me
ajudar a limpar o ferimento, e até alguns remédios e pomadas me ofereceu
naqueles primeiros dias.
É claro que depois de ajudar com o curativo, cobrou o aluguel,
então a expulsei do apartamento, mas foi muito gentil da parte dela.
Suspiro pesarosa ao me lembrar de como Aiden notou que eu
estava usando maquiagem no dia seguinte. Queria esconder o roxo que
estava na minha bochecha, mas o babaca percebeu que tinha alguma coisa
errada comigo, e tenho certeza que não acreditou na desculpa do corrimão.
Depois daquela ceninha no banheiro dele, sobre não voltar a me
tocar enquanto eu não admitisse o que supostamente sinto, não o encontrei
mais no escritório e ele me deixou sob os cuidados permanentes de
Matthew.
Não que eu esteja reclamando ou sentindo falta de o perturbar,
nada disso.
Mas na aula de ontem ele também foi extremamente profissional,
não dando atenção para minhas farpas desferidas a ele.
Talvez eu esteja sentindo falta sim, mas só de vê-lo perder a
paciência comigo.
Não de ter sua boca em meu corpo, fazendo meu coração e minha
respiração se acelerarem a cada toque, e me fazer sentir como se fosse
começar a pegar a fogo.
É claro que não.
Assim que entro na lanchonete, encontro Hanna sentada em um
dos cantos, já com sua torta e sua coca-cola inseparáveis sobre a mesa.
Assim que me vê aproximando, se levanta sorrindo e me abraça
rapidamente.
Ela cheira algo parecido com cerejas.
— Como estão indo os ensaios para a peça, minha Julieta? —
questiono após fazer meu pedido a uma das garçonetes que vieram me
atender.
Hanna suspira pesadamente e imagino que as coisas não estejam
indo tão bem desde a última vez que tocamos no assunto em uma das
nossas intermináveis ligações.
Depois que passamos a conversar, nos encontramos algumas vezes
nessas semanas e venho notando que é muito solitária.
Nunca falou sobre sua família ou sobre amigos e venho tentando
me aproximar mais dela, conquistar sua confiança, pois acho que a conexão
que tivemos aquele dia, foi algo diferente, dessas que não acontecem todos
os dias ou com qualquer um.
Sei como é ser deixada de lado e se sentir solitária, entendo o
quanto vale uma amizade sincera e pelo pouco que já conheci dela nesse
meio tempo, adorei passar os momentos ao seu lado.
Ela não é nada do que pensava quando a via por aqui, até cheguei a
comentar com ela sobre isso.
Achei que seria um pouco arrogante diante de toda pompa que
apresenta, mas muito pelo contrário. Apesar de possuir certa elegância no
jeito de falar, vestir e se portar, venho me surpreendendo cada vez mais com
essa amizade que estamos criando e principalmente com sua personalidade,
arriscando até a dizer que nos parecemos em alguns sentidos.
— Eu estava super empolgada, mas trabalhar com a diretora Frank
não está sendo um dos trabalhos mais fáceis, sabe?
Ela suspira, como se estivesse realmente cansada.
— Eu amo atuar, desde que me entendo por gente, é como se fosse
respirar para mim — leva um pedaço da torta a boca e o mastiga antes de
falar. —, mas parece que ultimamente sou uma asmática lutando com a falta
de ar. Aquela megera está me fazendo questionar se realmente mereci tudo
que conquistei até aqui.
— Se precisar que façamos a velha escutar poucas e boas, pode me
chamar que levo Luke e Marco como seguranças. — ela ri e posso senti-la
um pouco mais leve. — Não duvide do seu talento e de toda sua dedicação.
Confesso que te dei um Google depois que nos conhecemos, e tem uma das
carreiras mais bem sucedidas dos atores de espetáculos teatrais lá de Los
Angeles, não pode se diminuir e diminuir suas conquistas por conta do que
uma mulher mal amada fala.
Quando estou com ela, até me esqueço que é famosa.
— Com certeza posso desconsiderar algumas conquistas — ela
sorri como quem escondesse algo e a questiono com um olhar. —, mas você
está certa, sei que sou uma boa atriz apesar de tudo.
— Porque pode desconsiderar algumas conquistas, Hanna Fisher?
— não guardo minha curiosidade e ela faz um movimento com as mãos,
como se pedisse para esquecer esse assunto.
— E então, alguma novidade com o professor gostoso? — muda
repentinamente de assunto e quase engasgo com o próprio vento e meus
olhos se arregalaram enquanto olho ao redor, ouvindo sua risada.
— O que? Como você sabe?
Não me lembro de ter tocado no assunto com ela, ao menos que
tenha feito e acabei esquecendo, e não estou tão velha assim para começar a
caducar.
Ou será que falei? Eu me lembraria de algo assim, a não ser que
estivesse bêbada.
— Bom, se o Luke não tivesse me contado, eu saberia agora que
praticamente se entregou. — sorri de maneira meiga e coloca na boca o
canudo de metal que sempre carrega na bolsa.
Procuro Luke no balcão e quando me nota, sorri abertamente, mas
não faço questão de retribuir o gesto, e apenas aponto o dedo médio em sua
direção.
— Não o culpe, eu estava entediada e desde aquele dia em que
você nos apresentou, acabo vindo atrás dele para não me sentir tão sozinha.
— ela aponta a colher em minha direção. — Estava sedenta por uma fofoca
e ele disse que foi a primeira coisa que lhe veio à mente.
— Sei, ele estava era doido para falar da minha vida com os
estranhos.
Sei que ela e o Luke se aproximaram também, e o mesmo até
contou que ela parecia um pouco solitária quando o revelou que não tinha
muitas amizades e ele se compadeceu, alegando que uma luz como ele,
merecia iluminar a vida das pessoas com sua amizade.
Mas tinha que fazer amizades à custa dos meus segredos?
— Agora que se entregou, me conta tudo sobre ele.
Sorrio enquanto respiro fundo antes de contar a ela os últimos
acontecimentos que envolviam Aiden, pensando até em pedir um conselho.
— Alexia, o que você está esperando para se jogar em cima do pau
desse homem? — Hanna questiona e começo a rir.
— Não quero acabar me envolvendo, além de que ele é meu chefe
e meu professor, isso seria catastrófico demais.
— Lembra o que me falou alguns dias atrás, quando te contei que
não iria tentar aquela audição? — ela se refere aos conselhos que veio me
pedir quando estava desesperada, pensando que talvez não fosse conseguir
o papel que queria. — Temos que aproveitar cada chance que a vida nos
oferece, então porque não está fazendo o mesmo agora?
— Porque não se trata de um emprego ou uma vaga importante,
muito pelo contrário, já que posso até não conseguir concluir os estudos
caso alguém descubra.
Respiro fundo, mexendo meu garfo no prato de cheesecake já
finalizado, pensando se pedia mais um.
— Se trata de sentar em um homem gostoso. — nunca imaginaria
que Hanna fosse tão explícita nas palavras e sorrio ao pensar nisso. — É
quase melhor do que um emprego dependendo do orgasmo que tiver, então
para de ser orgulhosa. Está assim só porque começou odiando o cara, mas
precisa se entregar ao que quer de uma vez.
— Tenho medo.
— A Alexia que conheci esses dias não teria medo. — da um
tapinha no meu braço. — E sobre perder a bolsa de estudos, não tem que
ficar pensando em coisas que sequer podem acontecer. É só vocês serem
discretos, até porque aposto que ele também não iria querer perder o cargo
de professor.
Nisso ela tem razão. Acredito que nada mais importa para Aiden,
do que sua carreira e sua fama profissional.
— Eu concordo com a Hanna. — Luke surge ao nosso lado e
deposita um beijo em minha cabeça.
— Estava ouvindo a conversa dos seus clientes? Vou chamar dona
Mirta para saber disso. — questiono e ele ergue as mãos em rendição,
saindo de perto.
— Eu acho tão linda a amizade e a conexão de vocês dois. —
Hanna sorri admirada. — Queria ter algo parecido.
— Ah, por favor, você acha que eu desperdiçaria meu tempo livre
com alguém que não considero como meu amigo? — sorrio em sua direção
e ela acaricia minhas mãos. — Muito menos te contaria que fiquei com
vontade de dar para meu chefe quando estava em cima da bancada do
banheiro dele.
— Realmente, esse tipo de coisa não se fala para qualquer um e
agora que começou, quero detalhes sobre isso. — assinto enquanto riamos.
— E então, vai admitir que quer ser fodida por ele?
Respiro fundo, pensando seriamente a respeito.
O que poderia dar errado, afinal de contas?
Seriam somente algumas transas para saber se assim esse tesão
todo que sentimos um pelo outro, finalmente desaparecesse.
Talvez ele nem saiba como foder direito, seja péssimo e eu até me
arrependa.
Mas também corro o risco de ser tão bem fodida que não vou
querer largá-lo.
Mas por certos orgasmos, os riscos valem a pena.
“Então o que está tentando fazer comigo?
Não conseguimos parar, somos inimigos
Mas nos damos bem quando estou dentro de você
Você é como uma droga que está me matando
Eu te elimino totalmente
Mas eu fico nas alturas quando estou dentro de você”
Animals - Maroon
 

Desço as escadas já ouvindo a música ecoar pela casa e aposto que


o som está no volume máximo do lado de fora.
Me apresso, sabendo que estou atrasado, pois tive de ir ao
escritório assinar alguns requerimentos emergenciais, e já imaginando como
Clarice e Adrian devem estar putos comigo por conta da demora.
Assim que piso na área externa, minha visão encontra minha
família, incluindo alguns tios e primas que não vejo há séculos, e alguns
jovens pulando na piscina enquanto desfrutam do sol, do som ensurdecedor
e do churrasco.
Detesto quando minha família organiza essas festas, porque a casa
sempre enche, já que sabem dos nossos tradicionais churrascos brasileiros,
onde enchemos a churrasqueira de carne de verdade, não hambúrgueres ou
legumes como a maioria tem costume neste país.
A prova disso é quando encontro meu pai junto a Adrian e Henry,
enfurnados na churrasqueira, quase não dando conta da quantidade de carne
ali.
Me aproximo deles e, como de costume, não faço questão de sorrir
para os convidados, em sua maioria, interesseiros que sequer se preocupam
em saber da nossa existência nos outros dias do ano.
— Eu nunca vou entender onde errei na sua criação para ser tão
mal-educado. — minha mãe se encontra comigo no caminho e puxa minha
orelha, me levando a protestar. — Não poderia tentar ser mais simpático,
pelo menos quando estamos recepcionando a festa de aniversário da sua
sobrinha?
— Não tem nada de errado em não gostar de socializar, mãe. —
contraponho enquanto passo os dedos pela orelha, apostando que ficou
vermelha.
Ela bufa impaciente quando chegamos ao nosso destino.
— Peter, dê um jeito no seu filho.
Meu pai ergue os braços como se não pudesse fazer nada e coloca
um pedaço da carne gordurosa na boca.
Cumprimento todos e Henry reclama da falta de ajuda, já que sou
sempre eu a tomar conta da churrasqueira, mas sequer dou atenção às
reclamações. 
Passei o resto da semana irritado depois do que aconteceu com
Alexia na terça-feira, ignorando ela o máximo que conseguia, mas a peste
não saía da minha cabeça, ainda mais por conta da preocupação que fiquei
depois de ver seus machucados.
Ainda não acredito naquela história de corrimão.
Ignoro os gracejos de Adrian e Henry sobre o meu péssimo humor
essa semana, quando insinuam que preciso transar para dar uma aliviada.
Não nego que com certeza ajudaria, mas somente uma mulher me
vem à cabeça para isso, a mesma cabeça dura que não assume o que sente.
Dou meu primeiro sorriso genuíno do dia quando vejo meus
sobrinhos se abraçarem, pularem juntos na piscina e começarem a
gargalhar, acenando para mim quando notam meu olhar sob eles.
Em seguida vejo Hayley, irmã mais nova de Henry, se juntar a eles
e franzo o cenho para a cena.
— Como conseguiu tirá-la de casa? — questiono a ele que não
entende, então aponto para a mesma.
Ele suspirou pesado enquanto depositava a faca que estava em sua
mão, sobre a mesa.
— Pelo jeito ela e Clarice se reaproximaram por conta da
faculdade, que ela voltou a cursar só agora depois de tudo que aconteceu no
ano passado e não queria fazer desfeita.
Noto sua expressão cansada e tomo nota mental de conversar com
ele em outra hora sobre isso.
No final do ano passado, a família de Henry descobriu que Hayley
tem algo chamado cardiomiopatia hipertrófica[5], quando a mesma sofreu
uma parada cardíaca em uma apresentação de dança e precisou ser operada
com urgência.
Tiveram que introduzir um marca passo em seu coração, se não
corria sério risco de sofrer outra parada, e não resistir dessa vez.
Todos ficaram abalados e deram todo suporte possível, mas ela
acabou entrando em um estado depressivo, já que foi proibida de continuar
sua faculdade de dança e, principalmente, seguir nas suas competições.
A garota teve de deixar um sonho para trás, e todos sofremos com
isso. Me lembro até hoje de sempre que ia até a casa deles, encontrá-la
dando piruetas pelo quintal, ensaiando para alguma apresentação.
Fico feliz em saber que esteja melhor.
— Ei, Henry. — chamo sua atenção enquanto o observo fitar a
irmã se divertindo com um sorriso carinhoso no rosto. — Sabe que se
estiver precisando conversar sobre alguma coisa, estou aqui, não é?
Pergunto mesmo sabendo de sua resposta, já que não importa pelo
que esteja passando, Henry nunca deixa de conversar comigo sobre seus
sentimentos.
— É claro que sei, Aiden. — ele continua sorrindo e deixa uns
tapas nas minhas costas antes de se afastar.
Nunca fui de ter muitos amigos, acredito que por conta do meu
jeito sisudo, mas Henry sempre esteve aqui e sempre nos entendemos da
melhor maneira possível. Nos conhecemos como a palma das nossas mãos.
Sempre estamos aqui um pelo outro.

Depois de perder a conta de quantas vezes me recusei a dançar as


músicas que minha mãe ouvia quando era jovem, junto com ela, meu pai e
meu irmão, finalmente se deram por vencidos e me deixaram um pouco na
minha antes de cantar os parabéns.
Enquanto cantávamos e batíamos palmas para Clarice, onde a mãe
dela e sua família realizaram uma chamada de vídeo, que colocamos para
exibir no telão como uma surpresa para ela, pude notar os olhares tortos que
recebemos daqueles que não estavam acostumados com toda empolgação
de um aniversário tipicamente brasileiro e até me diverti um pouco.
Por mais que tenham cantado o parabéns e, claro, eu tenha
recebido o primeiro pedaço do bolo e ter sido atacado por Adrian e seu
ciúmes, a festa estava longe de acabar o todo o estresse acumulado, somado
ao som alto estava começando a me dar dor cabeça.
Me despedi de todos avisando que ia subir para o quarto tentar
melhorar, antes de parabenizar minha sobrinha e dizer a ela que só receberia
o seu presente na segunda, quando de fato era seu aniversário.
Já faz cerca de quinze minutos que voltei para dentro e estou em
busca do meu celular, que não tenho a mínima ideia de onde deixei antes de
descer sem ele.
Já estava começando a ficar irritado, quando ouço seu toque ao
longe e descobri que de alguma forma, o mesmo foi parar debaixo da cama.
Assim que o pego e vejo o contato de Alexia, que salvei como
“Pequena peste”, brilhar na tela em uma ligação.
Mas o que será que ela pode querer?
Seja o que for, deve ser urgente, já que aposto que não me ligaria
em qualquer situação.
Levo o aparelho até o ouvido, aceitando a chamada, levemente
preocupado com ela.
— Alexia? — sequer a cumprimento, já temendo o pior. — Tudo
bem? Aconteceu alguma coisa?
Ouço um suspiro vindo do outro lado da linha e chamo por seu
nome mais duas vezes antes dela falar alguma coisa.
— Porque você tinha de atender, hein, Senhor Escroto?
— Do que está falando? — meu tom é urgente e a ouço soltar uma
breve risada, que faz com meu coração se acalme um pouco. — Está
bêbada?
— Eu bem queria estar, diante do que vou fazer, mas estou sóbria.
— ela suspira e nada faz sentido. — Pode vir me encontrar no seu
escritório?
— Meu escritório?
— Sim.
— No prédio da D&M? — ela repete a resposta. — Está na minha
sala?
— Sim, e estou te esperando.
— Mas que porra você esta fazendo aí a essa hora, peste? —
ignoro o fato de que provavelmente invadiu minha sala, percebendo seu
habito de invasão.
— Provavelmente fazendo a maior loucura da minha vida, então
não me deixe esperando. — ela fala relaxada e posso imaginar o leve
sorriso que deve estampar no rosto. — Não vai se arrepender, prometo.
— Já estou a caminho.
Escuto sua maldita gargalhada e não consigo não sorrir diante
disso.
O que minha peste está aprontando?
Não consigo imaginar nada que a faça me querer lá, e muito menos
pretendo deixá-la esperando, então apenas coloco a camisa de linho escuro
ao qual eu estava antes de voltar ao quarto, mas quando sinto o cheiro de
fumaça, troco por uma camiseta básica antes de sair em disparada.

Ignorando o fato de ter quebrado no mínimo umas três regras de


trânsito e a multa que peguei, chego ao escritório em quarenta minutos, e
vou lendo as mensagens que Alexia mandou nesse meio tempo enquanto
subo no elevador.
 
Pequena peste:
Não vou dar um chute nas suas bolas quando chegar aqui porque
sei que mora em Garden.
Porra Aiden, acelera esse carro dos infernos.
 
Pequena peste:
Estou ficando entediada e encontrei algumas cápsulas de café na
copa, vai precisar renovar o estoque.
 
Pequena peste:
Porque tem uma máquina de cápsulas aqui, e eu não sabia disso?
Vou fazer um abaixo assinado para que compre regularmente essas
capsulas.
 
Um sorriso brota em meu rosto enquanto reviro os olhos e
finalmente chego ao meu andar, antes de uma breve parada no andar em que
se encontravam os seguranças.
Assim que entro na minha sala, a encontro na penumbra, apenas
com as luzes de emergências ligadas, permitindo ver com clareza a silhueta
de alguém sentada em minha cadeira.
Acendo alguma das luzes, não todas mas o suficiente para enxergá-
la ali, e seus olhos se contraem com a nova claridade e quase perco o fôlego
quando a vejo.
Alexia está usando um salto preto envernizado e tem os pés um em
cima do outro sobre a minha mesa, como se fosse uma chefona ou algo
assim.
Seu corpo está coberto por um vestido que imagino ser de seda, já
que brilha e exala sua maciez assim que meus olhos o encontram.
O modelo é simples e liso, de alças finas com um decote que deixa
o caminho de seus seios à mostra.
Meus olhos devoram suas pernas naquela mesa e desejo mais que
nunca, passar minha língua em cada centímetro da sua extensão.
Assim que meus olhos chegam em seu rosto, suspiro de tesão com
o sorriso maldito que estampa.
Seus cabelos estão semi presos para trás, dando total visibilidade
ao seu rosto perfeito.
— Feche a porta, Senhor Aiden.
Sua voz sai melodiosa e levemente rouca e meu pau dá sinal de
vida nas calças.
A obedeço sem hesitar e me aproximo dela, que muda sutilmente o
ângulo da cadeira.
Coloco as mãos no encosto do braço e me inclino sobre ela,
sentindo seu aroma cítrico que sempre tem algo a mais, algo dela.
Seu aroma é único.
Não me faço de rogado e aproximo nossos rostos, passando
levemente meus lábios sobre o dela e sentindo sua maciez.
— Boa noite, minha peste.
Ela sorri com a minha fala enquanto leva as mãos até meu busto,
acariciando a região e passo os dedos por sua bochecha, ainda conseguindo
ver o que sobrou do seu hematoma.
— Boa noite, babaca.
Me afasto dela e a mesma se levanta, me dando a visão inteira de
seu corpo sob os saltos.
Nunca vou me cansar de pensar o quanto é gostosa.
— Não quer saber o que vim fazer aqui? — ela questiona enquanto
se afasta e para no meio da sala. — Ou como tive acesso a sua sala?
— Estou aprendendo que, quando se trata de você, invasões são
comuns e perguntas são desnecessárias, já que sempre arruma um jeito de
ocultar a verdade.
Ela balança a cabeça levemente, tornando a sorrir.
— Mas não está curioso para saber o motivo de te chamar aqui?
— Não. — ela ergue as sobrancelhas. — Me prometeu que eu não
iria me arrepender e espero que a multa que levei quando passei do limite
de velocidade permitido, realmente faça a valer a pena.
Ela apenas sorri com seu jeito diabólico de ser e me contento que
estou fodido.
— Eu admito. — ela diz bruscamente e sorrio de lado, já
imaginando do que se trata.
— Admite o que? — me faço de desentendido enquanto ela se
aproxima de mim lentamente.
— Admito que te desejo. — ela chega a minha frente e meus olhos
fitam os seus passarem por meu rosto, parando em minha boca. — Assumo
que não via a hora de ter sua boca na minha outra vez.
Ela leva os braços em torno do meu pescoço e envolvo sua cintura
a colando em mim, sentindo o calor que seu corpo emana, me fazendo
incendiar.
A observo se esticar um pouco para que seu rosto fique de frente e
quase colado ao meu.
Ela solta a respiração e seu hálito bate contra meu rosto.
Sorrio, me controlando para não puxar sua boca para mim,
sentindo falta do seu beijo.
Estou parecendo a porra de um adolescente, louco por um beijo,
mas nunca senti nada parecido com o que sinto quando a estou beijando.
É puro fogo que queima meu corpo e me faz sentir cada vez mais
vivo.
— Confesso que menti sobre não sentir nada por você. —
aproxima a boca da minha orelha direita e deixa uma mordida ali antes de
inspirar meu pescoço e ir em direção ao outro lado.
Antes de chegar na outra orelha, ela deixa um selinho rápido em
meus lábios, com um puta sorriso no rosto.
Quando ela o faz, a trago ainda mais para mim, como se fosse
possível, e sinto meu pau endurecer quando levo uma das mãos até sua
bunda, a apertando por cima do tecido.
— E não vejo a hora de ser fodida por você, nessa sala, onde tudo
começou. — ela sussurra, provocando, próxima ao meu ouvido e, após sua
confissão, abro um sorriso.
Até que enfim, minha peste.
Sem prolongar mais, levo a outra mão em direção a sua bunda e a
impulsiono para que envolva as pernas no meu quadril, o que Alexia faz
dando uma gargalhada gostosa, que acelera meu coração, enquanto se
agarra em meu pescoço.
— Mas precisa saber, que só vamos fazer isso até esse tesão que
sentimos um pelo outro passar. — ela diz depois de se recuperar e me
deixando ansioso pelas maneiras que vou foder com ela. — Depois que esse
fogo todo passar, é cada um na sua, sem ficar lembrando do que aconteceu e
principalmente, vamos seguir nos odiando normalmente.
— Tudo bem, prometo te odiar até o fim dos meus dias, pequena
peste. — digo as palavras em uma promessa, antes de levar minha boca até
a dela. — Agora cale essa boca.
Puxo seus lábios em minha direção, e assim como aconteceu nas
vezes anteriores, ela corresponde ao beijo de maneira selvagem, sugando
meus lábios e passando as unhas em minha nuca.
Sinto meu corpo todo incendiar como sempre acontece quando ela
está colada em mim e vou caminhando em direção ao sofá.
Alexia separa nossas bocas enquanto tenta tirar minha camiseta, o
que consegue após, a contra gosto, eu colocá-la no sofá.
A minha sorte é que esse sofá é enorme, ou não conseguiria fazer
metade das coisas que desejo com essa petulante.
Assim que fico exposto a ela, a mesma me empurra sutilmente para
trás e aprecia a visão, passando os lábios na boca.
Ela sorri levianamente enquanto levanta uma das pernas e coloca a
sola do sapato em meu peitoral. Com o movimento, o vestido sobe até
alcançar seu quadril e sua calcinha fica exposta para mim.
Quase perco o controle e meu pau pulsa nas calças quando meus
olhos encontram sua calcinha vermelha, feita de um tecido quase
transparente.
— Não vejo a hora de descobrir que gosto sua boceta tem. — digo
a ela enquanto mato o desejo de passar as mãos por suas pernas torneadas.
— E por que ainda não está com a boca entre as minhas pernas?
Ela questiona enquanto levanta o dedo indicador e com ele faz um
movimento me chamando.
— Preciso aproveitar o trajeto até ela primeiro, minha peste.
Começo a beijar suas panturrilhas enquanto mantenho os olhos
nela e sinto sua pele se arrepiar em meus lábios.
Sorrio contra ela e deixo uma mordida sutil ali, subindo cada vez
mais. Me ajoelho diante dela enquanto levo sua perna para baixo comigo.
Eu me ajoelho diante da peste e ela ri satisfeita.
— Gosto de homens que se ajoelham.
— Então demonstre sua felicidade enquanto te observo tirar esse
vestido minúsculo do corpo.
Sugiro a ela, que se levanta, fazendo com que eu precise ficar ereto
e a olhar de baixo.
Essa mulher vai foder comigo.
Ela leva as mãos até a barra do vestido, e sem cerimônia alguma, o
retira do corpo, me dando a visão magnífica de tê-la para mim, somente
com uma calcinha e os seus Scarpins.
Se esse não é o paraíso, não sei o que poderia ser.
Seus peitos redondos e na medida certa para caber em minhas
mãos, saltam na minha visão e vejo seus bicos se enrijecerem quando
envolvo minhas mãos em cada uma das suas pernas.
Ela segura em meus ombros e sinto o local queimar com o contato
então deposito um beijo sobre sua boceta, ainda coberta pela calcinha.
Vejo que ameaça tirar os sapatos e não permito que o faça, a
empurrando de volta para o sofá.
— Mas e os… — ela aponta para os pés e não deixo que termine
de falar.
— Quero que fique com eles. — Ainda segurando em suas coxas, a
puxo para a beirada do sofá e ela segura em meu rosto, alisando minha
barba. — Quero que esteja com ele enquanto grita o meu nome.
— Se é assim que deseja.
Sorri e leva a boca até a minha, deixando uma mordida em meu
lábio inferior, fazendo com que eu soltasse um gemido rouco assim que o
soltou.
Levo minha boca até suas coxas e vou fazendo uma trilha de beijos
molhados até a altura da sua boceta.
Passo os dedos por sua extensão e os levo até a borda, puxando sua
calcinha para baixo.
Assim que passo o tecido por seus saltos, guardo o mesmo em meu
bolso, recebendo um olhar questionador de Alexia.
— Vou guardar de recordação, de quando finalmente assumiu que
sou irresistível.
Ela segura firmemente minha mandíbula e leva meu rosto até o
seu.
— Ainda estou esperando o que prometeu. Pretendo sair daqui sem
voz de tanto gritar seu nome.
Ela tenta selar nossos lábios mas sou mais rápido e me afasto do
seu toque, e voltando a agarrar suas coxas, me inclino sobre ela. Antes que
pudesse esperar, passo minha língua por toda extensão da sua boceta,
sentindo suas mãos irem de encontro aos meus cabelos.
— Ainda mais deliciosa do que pensei. — falo enquanto olho para
ela que revira os olhos e me empurra de volta para sua vagina.
Sorrio próximo às suas dobras e volto a lamber toda sua extensão
enquanto apertava suas coxas e meus dedos afundam na sua carne.
Concentro minha língua circulando seu clitóris e a ouço gemer
timidamente dentre os suspiros.
— Quero ouvir meu nome sair da sua boca, Alexia.
Desfiro um tapa em sua coxa esquerda e a mesma geme meu nome
em seguida.
Volto a chupar sua boceta, sentindo sua lubrificação escorrer por
meus lábios.
Enquanto chupo seu clitóris, sentindo seus dedos puxarem os fios
da minha cabeça, ela começa a rebolar na minha boca. Levo alguns dedos
em direção a sua entrada, a acariciando e a fazendo ficar na expectativa.
— Aiden, seu b-babaca… — sua voz sai entrecortada e quase
desesperada. — Não quero torturas hoje.
Sua respiração se acelera cada vez mais e antes que pudesse gozar,
introduzo dois dedos nela e passo a estocar em conjunto com a minha
língua em seus clitóris.
— Aiden… — ela passa a gemer meu nome de forma incontrolável
e não existe melodia melhor. — Aiden eu vou… — ela não consegue
finalizar a frase, mas a julgar por seus gemidos e o aperto nos meus dedos,
imagino o que queira dizer. — Não vou aguentar… Aiden.
— Pode gozar, linda.
Desfiro mais um tapa na lateral de sua coxa, alisando a região em
seguida e ela passa a gemer ainda mais alto.
Como se só estivesse esperando uma confirmação, sinto meus
dedos serem presos pelas paredes da sua boceta e ela passa a se esfregar em
mim enquanto sinto o seu gozo na minha língua.
Ela segura meus cabelos com força e enquanto estou lambendo o
que escorreu por sua entrada, dá uma reboladinha final na minha boca e
sorri com aquilo.
Afasto minha cabeça do meio das suas pernas, e quando olho em
seu rosto, encontro seus olhos fechados e sua boca entreaberta, amortecida
pelo orgasmo.
Eu poderia gozar somente com essa imagem e sinto minhas bolas
pesarem ainda mais.
— Preciso que me foda. — É a primeira coisa que ouço sair da sua
boca após abrir os olhos e ela leva as mãos para o botão da minha calça
enquanto me levanto.
Ela desabotoa as pressas enquanto tiro meus sapatos, e quando
menos espero, puxa o tecido para baixo, levando minha cueca junto dele.
Meu pau já completamente ereto, salta para fora e ela sorri diante
da visão enquanto termino de tirar a calça do meu corpo.
Ela leva as mãos em torno dele e minha respiração se acelera
quando as pressiona nele em um movimento sutil de vai e vem.
— Alexia… — solto em um gemido de alerta quando a mesma
passa a maldita língua por toda minha extensão.
— Sempre ouvi dizer que se Deus fez, é porque cabe. — sorri
divertida em relação ao meu tamanho. — Espero muito que estejam certos
sobre isso.
— A gente faz caber, linda.
Vou em direção a minha carteira em um dos bolsos, para pegar a
camisinha e quando me levanto, vejo Alexia levando as mãos e direção aos
saltos.
— Por que está tirando?
— Pensei que não estivesse falando sério sobre isso.
— Aprende de uma vez por todas, Alexia — ando em direção a
ela, desenrolando o preservativo sobre meu pau e quando chego na mesma a
empurro para que fique deitada sobre o sofá. —, eu sempre falo sério,
principalmente quando se trata de foder com você.
Deixo um beijo rápido em seus lábios.
— E quero que esteja com ele quando eu te comer nesse sofá.
Ela se acomoda e morde o canto do lábio, de uma forma que nunca
a vi fazer, e me deito sobre ela, colocando o peso do meu corpo sobre as
mãos, que levo para cima da sua cabeça.
Envolvo sua mandíbula com uma das mãos, inclinando a cabeça
dela e nos beijamos mais uma vez.
— Seu beijo é viciante, peste. — murmuro durante o beijo. — Está
pronta?
— Como nunca antes, babaca.
Sinto um sorriso se desenhar em seus lábios e sua perna se abre
para me receber.
Separo nossas bocas e a olho nos olhos enquanto posiciono meu
pau sobre sua entrada e introduzo somente a cabeça.
Assim que ela a sente entrando, prende a respiração. Vou entrando
aos poucos para que se acostume com o tamanho, mas não coloco tudo.
Ela geme enquanto morde a porra dos lábios e sinto seu canal
apertado, esmagando meu pau de uma maneira enlouquecedora.
— Porra de boceta apertada, Alexia. — falo afetado, ainda sem
começar a me movimentar.
Ela agarra meus ombros e me puxa para ela, deixando um beijo nos
meus lábios e sentindo a maciez dos seus seios em minha pele.
— Me fode, Aiden Munhoz.
Não a contrario e começo a estocar lentamente e com força, sem
tirar toda minha extensão de dentro dela.
Um gemido rouco deixa seus lábios e ela não desvia os olhos dos
meus por nenhum momento.
Começo a acelerar o ritmo das estocadas, sentindo meu coração
saltar no peito e meu pau ser esmagado a cada vez que entra na sua boceta.
Os gemidos que saem de sua boca me levam ao inferno,
principalmente quando envolve as pernas no meu quadril, fazendo com que
meu pau se afundasse cada vez mais nela.
Sinto o seus saltos batendo nas minhas costas e quase vou a
loucura com a sensação que ele proporciona a cada vez que encosta ali após
eu a estocar.
Suas mãos vão para minhas costas e a sinto arranhar levemente
enquanto ouvimos o barulho dos nossos corpos batendo um contra o outro.
— Aiden…
Ela começa a gemer meu nome quando meu pau se enterra quase
por completo nela, e não diminuo a intensidade ou a velocidade das
estocadas.
Levo minha boca até um de seus seios e puxo seu bico rígido para
mim, preso entre os dentes, passo minha língua na região e o chupo com
vontade, enquanto levo minha mão ao outro, onde se encaixa perfeitamente,
e ela passa a gemer mais alto.
Volto minha mão em torno da sua mandíbula, pressionando um
pouco a região ao separar minha boca dos seu seio e admiro seu rosto se
desmanchando a cada gemido alucinado e a cada estocada que dou.
Ela leva uma das mãos até o meu braço e tenta redirecionar minha
mão, fazendo com que ela descesse até seu pescoço.
— Tem certeza? — pergunto entrecortado por conta da respiração,
sentindo meu orgasmo se aproximar cada vez mais, com uma fisgada em
meu pau.
Ela assente enquanto sorri lascivamente e quase me perco no seu
sorriso.
Pressiono levemente a região da sua garganta, conhecendo o local
exato e a pressão necessária ao envolver minha mão ali, enquanto minhas
bolas batem contra sua bunda.
— Aiden… — Volta a gemer meu nome.
— Não quero mais sair de você, peste. — ouço minha voz rouca
antes de gemer seu nome. — Essa boceta agora é minha, ouviu?
Pergunto e quando ela responde com um gemido alto, sinto meu
pau ser esmagado por sua contração e prevendo que está prestes a gozar,
aumento a velocidade com que metia dentro dela.
Assim que o faço, começo a esporrar ao mesmo tempo em que
Alexia se retorce embaixo de mim, apertando meu braço e gemendo
alucinada e tão alto que aposto que os seguranças do andar debaixo,
escutariam se eu não os tivesse dispensado quando cheguei.
Pressiono seu pescoço levemente uma última vez e sinto as paredes
da sua vagina relaxarem após o orgasmo, ainda ouvindo seus gritos.
Levo minha boca até sua, a agarrando em um beijo faminto e
engolindo todos os seus gemidos e desfiro um último tapa na lateral da sua
bunda.
— Não vejo a hora de te comer de quatro. — revelo com a boca
contra a sua.
— Ela é sua…— sua voz soa rouca em meio ao beijo. — toda sua,
pode fazer o que quiser com ela.
— O que? — pergunto meio perdido e me afasto dela, encostando
nossas testas, voltando a respirar com calma e sentindo meu pau amolecer
aos poucos dentro dela.
— Minha boceta é sua.
Sorrio com a sua resposta.
— É claro que é, linda. — dou um último beijo antes de me afastar.
— Só precisou de uma foda para saber que já estou viciado nela.
Sem pensar, deixo um beijo em sua testa antes de sair de dentro
dela e tirar a camisinha, a amarrando e jogando no canto da sala.
Me sento e passo as mãos pela barba, me assustando quando sinto
os beijos de Alexia nas minhas costas, antes de ser empurrado até encostar
no sofá.
Ela passa as pernas cada uma de um lado do meu corpo e me olha
com aquele sorriso que me faz ficar preocupado com meu coração, que
dispara quando ela os direciona para mim.
Estou muito fodido.
“Onde houver desejo, haverá uma chama
Onde há uma chama, alguém está fadado a se queimar
Mas só porque queima não significa que você vai morrer
Você precisa se levantar e tentar, tentar, tentar
Precisa se levantar e tentar, tentar, tentar
Você precisa se levantar e tentar, tentar, tentar”
Try - P!nk
 

Aprisiono seu rosto em minhas mãos, o trazendo para mim


enquanto ignoro meu coração descompassado no peito, o leve incômodo no
meio das pernas por acabar de ter sido fodida e as coxas levemente ardidas
pelos seus tapas, que adorei receber.
Passo as pontas dos dedos em seu corte do supercílio, notando a
lembrança do arroxeado ainda presente.
Por impulso, dou um beijo naquele local enquanto meus dedos se
emaranhavam no seus cabelos.
Quando me afasto, noto que Aiden se encontra de olhos fechados,
respirando fundo e aproveito o momento para contemplar sua beleza.
Não tem como negar que ele é lindo. Apesar de seus traços rígidos,
existe uma suavidade que contrasta em suas linhas de expressão. Me deixo
levar pelo momento de carência e deposito um beijo em seu nariz reto e
outro em seus lábios.
Eu estava a mais de meses sem sentar em um pau, é compreensível.
Levo minhas mãos até seu peitoral e contorno as linhas da sua
tatuagem.
— O que significa isso? — minha voz sai levemente falhada por
conta dos gemidos.
Não é que o babaca realmente me deixou sem voz depois de tanto
gritar por ele?
Aiden abre os olhos e os direciona para onde meu indicador estava
em seu corpo.
— É o escudo do time de futebol pelo qual torço.
— Posso não ser atualizada nas notícias do mundo futebolístico,
mas acho que nunca vi esse símbolo antes. — franzo o cenho, encarando os
traçados.
— É porque é de um time brasileiro.
— E por que você tem a porra de um time de outro país tatuado no
peito?
Olho para ele surpresa e o mesmo abre aquele sorriso que aos
poucos vem deixando de ser uma raridade.
— Porque é o time pelo qual torço. — ele aponta o óbvio e faço
um gesto amplo com os braços, como se estivesse questionando o porquê
ser de outro país e ele entende. — Minha mãe é brasileira, sou brasileiro de
nascença e aprendi a gostar de futebol com ela, e acabei adotando seu time
também.
— Tem dupla nacionalidade? — pergunto surpresa e ele assente
com um acenar enquanto passo a sentir uma carícia suave ser deixada em
minha cintura quando ele leva as mãos até a região. — Conhece a língua?
— É claro, fui criado no Brasil até quase completar seis anos,
quando meus pais decidiram retornar de forma definitiva para Garden. —
ele diz todo orgulhoso. — Até hoje temos o costume de usar o português
quando estamos em casa, de vez em quando.
— Então as vezes em que balbuciava alguma coisa que eu não
entendia durante as discussões, não eram somente resmungos de um velho
rabugento. — confirmo contente e volto minhas mãos para seu ombro, me
acomodando sobre ele e sinto seu pau em contato com a minha boceta.
Mordo o canto do lábio inferior, já desejando tê-lo metendo em
mim outra vez e me lembrando de como ficou gostoso enquanto descia
aquela mão gigantesca na minha pele.
Ele segura em minha cintura com mais firmeza, roçando o pau em
mim e solto um gemido.
Percebo que estamos conversando tranquilamente e completamente
pelados, como se fosse a coisa mais normal do mundo para nós.
É uma intimidade gostosa.
— Quero ver me chamar de velho assim, quando eu estiver
fazendo você gritar descontroladamente como fiz alguns minutos atrás. —
se aproximou do meu ouvido para falar e depositou uma mordida em meu
pescoço.
Detesto admitir, mas o sexo com ele foi um dos melhores da minha
curta vida. Ainda não sei dizer ao certo o porquê, mas sei que foi diferente
de todos os caras que já passaram por mim antes.
Quando estou em contato com ele, é sempre como se meu corpo
começasse a pegar fogo e quando o senti me penetrar, foi como se eu nunca
fosse me saciar dele.
— Não é porque fode bem, que deixa de ser um velho, Senhor
Escroto.
Sorrio e ele puxa meu lábio entre os seus.
— Por que decidiu ceder? — questiona antes que eu conseguisse
aprofundar o beijo, já sentindo seu pau voltar a endurecer.
— Pensei no que tenho levado como um tipo de mantra a alguns
anos.
— Aquilo sobre não desperdiçar as chances que lhe são ofertadas?
— Exatamente isso. — sorrio de lado enquanto volto a me esfregar
em seu colo e sinto o aperto de sua mão aumentar. — E quando eu teria
outra oportunidade de sentar no gostoso do cara que além de meu chefe,
ainda é meu professor? Não vou precisar nem estudar para as provas finais
que estão chegando.
Digo em tom brincalhão e ele sabe que eu nunca deixaria meu
orgulho de lado apenas por uma nota.
— Aí é que está enganada, peste. — me deixo sorrir diante do
apelido. — Posso te reprovar apenas para tê-la comigo durante o próximo
semestre.
Puxo seus cabelos delicadamente para trás, fazendo com que
inclinasse a cabeça para mim e deixo uma mordida fraca em seu queixo.
— Você não seria louco, babaca. — Ele sorri e sinto suas mãos
subirem da minha cintura em direção aos meus seios. — Não é porque
declaramos uma trégua quando estivermos fodendo um com outro, que
deixamos de nos odiar, se lembre.
— Acho que, implicitamente, acabamos de firmar esse acordo, mas
é melhor deixarmos para falar sobre isso mais tarde, minha peste.
Agarro sua boca em mais um dos nossos beijos enlouquecedores e
aproveito para começar a rebolar em seu pau semi ereto.
Enquanto nos beijamos, sinto suas mãos se encherem com meus
seios, já pesados de desejo e seus polegares vão em direção a minha
auréola, esfregando e apertando os bicos já enrijecidos.
Meu coração se acelera e preciso afastar nossas bocas,
necessitando de fôlego enquanto minha boceta se contrai, desejando engolir
seu pau.
Ele desce os beijos por meu pescoço, e lambe a região, deixando
um rastro de saliva. Sua boca chega aos meus seios, onde abocanha um
deles, dando atenção ao outro com leves beliscões e tapas fracos.
A cada chupada e tapa que sinto em meus bicos, é como se eu os
sentisse diretamente na minha vagina. Seguro em seu ombro e começo a me
esfregar na extensão do seu pau.
— Por favor…me diz que tem mais… camisinhas de onde veio
aquela.
Minha voz sai entrecortada e sinto minha pele pinicar por conta do
contato com sua barba, aumentando ainda mais o tesão.
Ele nega, sem tirar a boca dos meus seios e outro tapa é desferido
no outro.
— Aiden….
Solto um gemido e quase não reconheço o som de súplica que sai
por minha boca.
— Preciso gozar… — mudo de posição em seu colo, fazendo com
que afastasse sua boca de mim e ele me olha severo.
Assim que encaixo minha boceta em sua coxa musculosa, começo
a me esfregar no local, deixando meu clitóris em contato direto com a pele.
Seguro sua cabeça e a direciono para os meus seios outra vez.
— Quero gozar enquanto tenho você chupando meus peitos… —
minha voz sai esganiçada e começo a rebolar, sentindo o atrito em minha
boceta me levar a loucura.
— Então pede direito.
Sua voz é imperativa e meu corpo se arrepia diante daquilo.
— Aiden…. — começo a gemer, e me esfrego
descontroladamente, sentindo meu clitóris ser estimulado. — Me chupa,
agora…por favor.
Ele abre um sorriso ladino e quando menos espero, sinto seus
dentes puxarem levemente meu bico, o que eleva meu prazer. Ele desfere
um tapa na lateral da minha coxa e a ardência também tem seu papel no
orgasmo que sinto chegando.
Ele começa a mamar meu peito enquanto intercala entre mordidas
e alguns tapas no outro.
Começo a gritar descontroladamente assim que sinto o orgasmo e
meu gozo acaba de melar a coxa de Aiden.
Ele me tira da posição em que estava, voltando a colocar minhas
pernas uma de cada lado, e com meu clitóris ainda sensível, ele passa os
dedos por toda minha extensão, fazendo com que eu começasse a tremer em
seu colo, a ponto de precisar segurar em seus braços e apoiar a testa em seu
ombro.
Ele leva os dedos até a boca, os chupando e sentindo meu gosto.
— Não existe nada mais delicioso do que você. — Sua voz é rouca
e torno a fitá-lo quando vem para me beijar e o afasto de mim, fazendo com
que olhasse desconfiado.
— Também preciso saber se você é tão gostoso como venho
imaginando todo esse tempo.
Sorri de lado e ele passou a respirar fundo quando comecei a
passar minhas mãos em seu pau.
Me afastei de seu corpo e fiz movimentos de vai e vem por toda
sua grossa extensão, coberta das veias pulsantes.
Passo os polegares por sua cabeça, espalhando o líquido pré-
ejaculatório ali.
Ele me assistiu descer com cuidado de seu colo e me colocar de
joelhos diante dele, com um sorriso no rosto.
— Gosto de mulheres que se ajoelham para mim. — faz referência
a minha fala de mais cedo.
— Pois espero que enquanto estivermos sob essa trégua, seja
apenas eu a estar nessa posição para você.
— Não tenha dúvidas de que será, minha peste.
Ele leva a mão para os meus cabelos, os agarrando de uma forma
deliciosamente bruta em seus dedos.
Ah, como queria estar com eles maiores, só pra ver os fios
enrolados por seu braço.
Coloco a língua para fora, umedecendo meus lábios antes de
qualquer coisa e já tenho notado como isso o enlouquece.
O observo prender a respiração em expectativa.
— Acabe com o meu tormento, linda.
— Com prazer.
Passo a língua por toda sua extensão e assim que abocanho a
cabeça, seus dedos aumentam a pressão em meus cabelos.
Isso porque nem comecei.
Dou pequenas chupadas apenas em sua cabeça, deixando minha
mão passar por toda sua base antes de colocá-lo na boca, o máximo que
consigo .
Qual será o tamanho desse caralho?
O levo até o limite, sentindo sua glande bater em minha garganta.
Olho para cima, tentando sorrir e encontro Aiden com a respiração
entrecortada.
Começo a suga-lo sem chegar a tirá-lo por completo da boca nos
movimentos que faço e sinto o gosto do seu líquido na minha língua, então
aumento o ritmo, desejando fazê-lo gozar.
— Quero foder sua boca, Alexia. — ouço sua voz grave e tiro seu
pau da boca, voltando a passar a língua por sua extensão. — Será que você
me aguenta?
— Se souber pedir. — sorri sentindo algumas lágrimas em meus
olhos por conta do esforço.
— Me deixa foder sua boca, linda? — questiona inclinando minha
cabeça para ele. — Por favor?
Não o respondo e apenas volto a abocanhá-lo.
Sabendo da minha resposta, Aiden se inclina no sofá e começa a
estocar em minha boca.
Sinto seu pau bater com força na minha garganta, fazendo o melhor
que consigo e levo meus dedos até suas bolas pesadas, fazendo uma
massagem.
Ele continua a meter e ouço sua respiração cada vez mais
acelerada, enquanto meus olhos lacrimejam por conta das estocadas.
Sem sucesso, tento gemer por conta do prazer que sinto quando
fito seu rosto e o vejo fechar os olhos, sentindo o orgasmo chegar.
— Quero gozar nos seus peitos.
Eu apenas assinto como posso e ele retira o pau por completo de
mim, gozando por todo meu colo e passando a cabeça lambuzada nos bicos
dos meus seios.
Sorrio enquanto ele se recosta no sofá, sem deixar de segurar o
meu cabelo no processo.
Passo o indicador na porra que cobre minha pele assim que ele
abre os olhos, e chupo o dedo enquanto ele sorri.
— Ainda mais gostoso do que eu imaginei.
Ele me puxa para cima, sem se importar com o fato de que quando
juntou nossos corpos, seu gozo se espalhou pelo seu peitoral, e leva os
lábios até os meus.
Nossas bocas se encontram e é como se tudo explodisse ao nosso
redor, e fossemos feitos de puro fogo.
Sinto que poderia facilmente não me cansar das sensações que seus
beijos me causam.
Nossos gostos se misturam enquanto nossas línguas batalham em
uma luta selvagem, explorando cada mínimo canto das nossas bocas.
Ele encerra o beijo puxando meus lábios em seus dentes e ofego
quando se levanta comigo em seu colo, me fazendo entrelaçar as pernas ao
seu redor, seguindo em direção ao banheiro antes de retirar os sapatos que
ainda estavam em meus pés.
— Já pode tirar isso. — deixou um beijo suave na minha têmpora,
próximo ao machucado. — Acho que precisamos de um banho, minha
peste.
Onde eu fui me meter, caralho?

Ouço a buzina soar e saio correndo em direção ao carro de Aiden,


mas não sem antes deixar um beijo no rosto de seu Marquês por ter me
liberado mais cedo.
Assim que entro no carro, sou recebida por seu aroma natural, que
não importa a situação, sempre vai se parecer com uma mistura de Tom
Ford, Whisky e suor, por mais que ele não tenha passado na academia ou
posto uma gota sequer de bebida na boca durante o dia.
Sorrimos um para o outro enquanto ele arranca com o carro.
Já se passaram duas semanas desde que transamos pela primeira
vez e as coisas não poderiam estar sendo melhores.
Sempre que conseguimos, acabamos tendo uma foda incrível, seja
no seu banheiro durante meu horário de intervalo, no sofá que usamos
muito ou até mesmo no seu carro, quando as vezes oferece me levar ao bar
depois que saíamos do escritório.
Quando contei aos meus amigos sobre isso, parecia até final de
campeonato, pelo tamanho da gritaria de felicidade com que receberam a
notícia, e Hanna ficou se gabando sobre eu ter seguido seu conselho depois
do nosso encontro.
E tem sido glorioso.
No escritório, continuei sob a responsabilidade de Matthew, mas
tendo que me reportar a Aiden sempre que algo grande acontece nos casos.
Preferimos assim para não levantar tantas suspeitas, já que mesmo sob essa
nova condição, ainda protagonizamos algumas discussões.
Apesar do sexo ótimo, ele ainda segue sendo o babaca de sempre e
eu sigo sendo petulante, como gosta de frisar sempre que pode.
Tinha pedido para o senhor Marquês me liberar mais cedo no dia
de hoje para passar a noite estudando no meu confortável apartamento, na
companhia de Elle Woods e um bom cheesecake, para estar pronta para a
semana de provas que se aproxima, mas quando Aiden mandou mensagem
oferecendo bancar um jantar e depois irmos até um hotel, é claro que não
tinha nem o que pensar.
Posso me preocupar com as provas depois, mas nunca mais vou ter
a chance de me deliciar com um jantar caro, mesmo que o restaurante seja a
quilômetros daqui para não sermos vistos juntos, logo antes de ser bem
comida por meu chefe.
Suspiro e sorrio enquanto admiro a paisagem mudando fora do
carro.
De repente sinto um tapa ser desferido em minha coxa, antes da
mesma ser agarrada por uma mão forte e olho em direção ao homem ao
meu lado.
— Ficou maluco de vez?
— Boa noite para você também, mal educada.
Ele mantém o olhar nas ruas a frente, mas posso ver quando ergue
um sorriso discreto, mantendo a mão na minha coxa.
— Boa noite, babaca.
— Precisa se decidir entre os apelidos, linda. — ele me fita por
alguns segundos antes de voltar a prestar atenção à frente. — Ou eu sou o
babaca ou o escroto.
— Posso usar os dois de acordo com o que se encaixar no
momento.
Ele balança a cabeça e caímos em um silêncio confortável.
Nunca achei que diria isso, mas dar essa trégua foi a melhor coisa
que eu poderia ter feito.
Não deixamos de implicar um com outro, mas também não
vivemos mais naquele pé de guerra horrível, que às vezes até sinto falta.
Ainda discutimos saudavelmente e descontamos toda raiva que
sobra, durante as nossas transas casuais.
Pelo visto todo aquele ódio exagerado, realmente era tesão
acumulado.
Venho até descobrindo algumas coisas nesse pouco tempo, que
apesar de parecermos totalmente opostos, nossos defeitos é o que mais nos
aproximam.
Assim como ele, sou terrivelmente impaciente, e o que nos
diferencia é que sou explosiva demais, enquanto ele sabe ser paciente e
controlar os nervos, coisa que vêm até tentando me ensinar e que preciso
muito aprender se quero ser a melhor na minha futura carreira.
É incrível como as coisas podem mudar em tão pouco tempo.
Só precisou que eu deixasse meu orgulho de lado depois daquela
conversa com Hanna, para estar aqui com meu Louboutin ultrapassado,
dentro de um dos meus melhores vestidos, que coloquei estrategicamente na
intenção de ter Aiden abrindo o zíper em minhas costas mais tarde, a
caminho de um excelente restaurante, com o homem que jurei não sentir
nada além do ódio.
O destino é perverso às vezes.
Estranho quando percebo que estamos pegando o caminho para o
bairro onde Marco mora e julgando que já nos esbarramos nas redondezas,
acredito que seja onde ele mora também.
— Onde estamos indo?
— Esqueci a porcaria da carteira em casa, vamos passar buscar
antes de ir ao restaurante. — ele diz todo sério e me contento em ficar o
admirando um pouco.
Meus olhos percorrem todo seu corpo, desde os braços dentro da
camisa social dobrada, até as calças apertadas.
Suspiro pesadamente, sentindo minha boceta piscar.
Ele aumenta a pressão com que segurava minha coxa ainda por
cima do vestido preto.
— Aposto que deve estar ficando molhada. — ouço sua voz grave.
— Vou ter que fazer algo a respeito?
Ele pergunta já subindo o tecido, para entrar em contato com a
minha pele. O paraliso assim que chega muito próximo da minha calcinha.
— Melhor não, Senhor Escroto. — digo com pesar. — Melhor se
concentrar na direção por agora.
Ele suspira pesaroso, mas não tira a mão do local, apenas desce um
pouco e passa a deixar uma carícia gostosa e firme ali.
Assim que estaciona na garagem da mansão, desce do carro e
quando vê que eu não o acompanho, coloca a cabeça para dentro, através da
janela.
— Por que não veio junto?
— Quer que eu entre na sua casa? — ele assente sem entender
minha pergunta. — Que você mora com toda sua família? — ele confirma
mais uma vez. — Ficou louco, Aiden?
— Eles não estão em casa. — dá a volta no carro e abre a minha
porta, me incentivando a sair. — Saíram para levar as crianças na festa de
um amiguinho. Além de que tenho minha própria ala, não teria como eles te
verem mesmo se estivessem em casa.
Desço do carro ainda desconfiada e entro com ele, quase
paralisando assim que passamos do hall de entrada.
A porra da casa dele poderia ser considerada um bairro inteiro.
Claro que sempre fui acostumada a entrar em casas tão ou mais
luxuosas que essa, mas não deixo de ficar deslumbrada com cada item de
decoração conforme o sigo até a lateral de um dos salões, onde as escadas
enormes se dividem em dois lados.
Ele começa a subir pelo lado esquerdo e me questiona se quero
subir com ele.
Nego de imediato.
Não quero conhecer a casa dele, não quero saber como é o quarto
em que dorme, e até me arrependo de ter cedido tão facilmente em descer
do carro.
Tornaria tudo íntimo demais.
Tudo bem que estamos nos entendendo dentro das nossas
necessidades, mas não passa disso, uma foda casual até onde o tesão nos
levar. Conhecer mais dele, tornariam as coisas mais… pessoais.
Conheço o advogado e professor Aiden Munhoz, não quero
conhecer o Aiden, o verdadeiro Aiden.
Sei que não existe quase nada mais íntimo entre duas pessoas do
que o que viemos fazendo nesses últimos dias, mas conhecer onde ele mora,
onde dorme, saber mais sobre o lar dele, é ultrapassar um limite que não
desejo.
Fizemos um acordo, que seguiríamos com o que quer que estamos
tendo, até que todo esse desejo que sentimos um pelo outro desapareça.
Depois é cada um para o seu lado, sem arrependimentos e sem
visitas ao passado.
Não posso me apegar, não sou de me apegar às pessoas e preciso
fazer todo o possível para que continue assim, sem riscos.
Tento afastar os meus pensamentos sobre isso enquanto analiso a
ampla sala, onde posso observar alguns porta retratos sob um dos móveis.
Vejo Aiden em diversos deles, sempre junto das pessoas que
acredito serem sua família.
Sorrio ao notar que em nenhuma delas ele sorri, sempre o
rabugento da fotografia, contrastando com toda sua família sorridente.
Pelo jeito ele é um babaca mesmo sem a pose profissional.
Meus olhos passam quadro por quadro e sinto uma coisa estranha
esquentar meu peito quando encontro uma sequência de fotos em que ele
está sorrindo.
Um sorriso verdadeiro e largo, que chegou até a dar impressão que
seus olhos estavam fechados por conta das bochechas saltadas.
Em todas elas, ele estava com um bebê diferente no colo e na
última delas, junto de uma jovem e duas crianças, que julgo serem gêmeos
por conta da semelhança.
Sinto meu coração acelerar no peito quando começo a fitar com
calma a felicidade que ele transmite, mesmo através da imagem.
Imagino que sejam seus sobrinhos, e saber que eles o fazem
genuinamente feliz, aquece alguma coisa dentro de mim, deixando uma
sensação gostosa se espalhar por todo meu corpo.
Meu momento é interrompido quando me assusto com as vozes de
uma mulher e uma criança, vindas do lado oposto ao qual Aiden subiu e em
seguida ouço passos descendo do topo da escada.
Não consigo compreender o que conversam e entro em desespero.
Vou até a ponta da escada, pensando se subo ou não, para procurar
por Aiden mas não me parece uma boa ideia, então corro me esconder atrás
de uma das estantes de decorações que tinham ali.
Me agachei, ficando com os olhos fechados e quase caí no
processo.
Quando penso que consegui me esconder de quem quer que seja,
ouço uma voz um tanto estridente soando ao meu lado.
— Eu tô vendo você aí.
Mas que porra!
Abro os olhos e encontro uma garotinha de cabelos castanhos
ondulados e olhos azuis me encarando com um sorriso sapeca no rosto.
O que eu faço agora?
O que se faz com uma criança?
— Oi menininha. — me levanto para a situação não ficar ainda
mais humilhante para mim. — Quem é você?
— Eu que posso perguntar aqui, não acha? — a garotinha é um
mini Aiden, meu Deus. — Você é namorada do tio Aiden?
— O que? É claro que não!
Não percebo que grito, e logo em seguida a voz feminina soou lá
de cima, questionando a garota se havia acontecido algo.
— Não pode contar que estou aqui. — me apresso em desespero
para a menina que me olha sorrindo. — Por favorzinho.
Tento sorrir, juntando as mãos em prece, mas aposto que o que sai
é uma careta e ela responde em um tom alto, que já estava subindo de volta.
Ela me olha enquanto se dirige à escada e posso ver que está se
divertindo com a situação enquanto a agradeço.
— Vou ter uma conversinha com o tio Aiden. — a ouço dizer para
si mesma em um tom baixo antes de desaparecer escada acima.
Assim que ela some de vista, quase simultaneamente, Aiden surge
do outro lado, descendo com pressa e praticamente o puxo pela mão em
direção a saída.
Não consigo nem pensar no que pode acontecer comigo se
descobrem sobre nosso envolvimento.
Mas tenho certeza que perderia minha bolsa e então todos os meus
sonhos de carreira iriam pelo ralo.
É apavorante.
É péssimo pensar isso, mas espero que a mini Aiden saiba guardar
segredos da mãe dela.
“Eu não tenho culpa de estar te amando
De ficar pensando em você toda hora
Não entendo por que deixei acontecer
Isso tudo me apavora”
Me apaixonei pela pessoa errada – Exaltasamba
 

Me assusto quando a porta do passageiro é aberta abruptamente


enquanto eu colocava o cinto de segurança, e olho para Adrian que entra no
carro, já colocando o celular no suporte de impulsão.
— Que porra é essa, Adrian? — preciso perguntar já que o mesmo
ignorava meu olhar enquanto ligava o som do carro.
— Você vai me dar uma carona até o escritório hoje.
Diz com a maior tranquilidade enquanto “Me apaixonei pela
pessoa errada” começava a soar.
Adrian e seu gosto por pagode antigo.
Ele faz um gesto para que eu comece a dirigir logo e quase não
acredito na sua coragem.
Decido ignorá-lo pelo bem da minha sanidade mental e também
porque não querer chegar atrasado nos compromissos.
Tenho um dia cheio, então arranco com o carro da garagem.
Pelo canto de olho posso ver que o idiota me olha com um sorriso
largo no rosto antes de começar a cantar o refrão da musica.
— “ Eu me apaixonei pela pessoa errada…” — balança as mãos
no ar e bate em meu ombro em seguida. — Bora Aiden, canta comigo.
Ele fala ainda em português e respiro fundo, me concentrando no
caminho a frente, mas ele segue cantando e pedindo que eu cante com ele.
— Fala logo o que tá querendo me dizer, Adrian. — diminuo o
volume e tenho a impressão que o sorriso dele aumenta.
— Sabe, nunca nesses seus trinta e sete anos, trouxe uma mulher
em casa. — ele insinua e não entendo o que quer dizer. — Então, fiquei me
perguntando, o quão especial a estagiária, Alexia, se eu estiver certo, se
tornou pra você ao ponto de levá-la até lá.
Desvio totalmente minha atenção enquanto o encarava perplexo
pela informação e ele arregala os olhos, levando as mãos ao volante,
estabilizando o mesmo.
— Cuidado, porra! — ele grita antes de cair na gargalhada e eu
voltar a focar no caminho. — Pelo menos depois dessa reação, tenho
certeza que minha fonte não mentiu.
— Quem é sua fonte?
Mas que caralho!
Não tinha ninguém em casa aquela noite e só a levei para pegar a
porra da carteira.
— Assunto confidencial, e a informação me custou o sorvete mais
caro do mercado, preciso fazer valer a pena.
— Sempre soube que Cecília tinha talento pra ser chantagista.
— Ei! — ele dá um tapa na minha nunca e sorrio de lado. —
Chantagista não, só é uma boa negociadora. São os genes da família e ela
vai assumir minha cadeira no escritório quando eu ficar velho demais.
— Como ela ficou sabendo que Alexia esteve em casa? — olho
para ele por alguns segundos e o mesmo nega com um sorriso nos lábios. —
É melhor dizer ou te deixo na estrada.
— Disse que encontrou uma moça bonita quando desceu para
pegar o ursinho que ficou na cozinha e a tal moça pediu para não contar a
ninguém que estava lá. — aumenta o volume quando uma nova música
começa. — Ela tem certeza de que era sua namorada e depois da sua
reação, também estou achando. Você nem negou que a levou em casa,
Aiden, o coração finalmente foi fisgado?.
Fico em silêncio, pensando no que responder .
É claro que não somos namorados, não chegamos nem perto de ter
algo sério, apesar de eu não ter ficado com mais ninguém depois que a
beijei pela primeira vez.
Alexia vem me causando mais sentimentos confusos nessas
últimas semanas, do que qualquer mulher já tenha me causado a vida toda.
O sexo com ela é de longe o melhor que já tive, e estar na
companhia dela não vem mais me tirando tanto do sério como antes.
Ouso dizer que venho até apreciando seus deboches e petulâncias e
é quase admirável o modo que não demonstra se abalar com nada, ou a
forma com que não abaixa a cabeça para ninguém, ainda mais depois de
tudo que teve de passar sozinha.
Ela é admirável, mas nem em sonhos confessaria isso a ela mais
uma vez.
Venho percebendo que somos parecidos em alguns aspectos, o que
me levou a tentar ajudá-la a controlar seu gênio explosivo.
Tenho certeza que se seguir nesse caminho vai se tornar uma
excelente advogada.
Não sou de fazer confissões desse tipo, mas acredito que a julguei
mal desde o começo e a peste mesmo sem saber, vem me ensinando sobre
esse papo de não desperdiçar as chances que nos são dadas.
Quase esqueço que a primeira vez que me senti atraído por ela, foi
através de uma foto em seu currículo e estava completamente bêbado.
Faz apenas duas semanas que começamos com isso, mas minha
vida já virou de cabeça para baixo por causa dela.
— Não somos namorados e muito menos estou apaixonado. —
suspiro pesadamente antes de continuar com as palavras que dói minha
alma. — Mas você estava certo.
— Eu sempre estou certo, Aiden. — bate no meu ombro e me
controlo para não revirar o olho. — Mas especifique sobre o que eu acertei
dessa vez.
— Toda aquela raiva, com certeza era tesão reprimido. — ele
explode  numa gargalhada e sorrio discretamente, me odiando por confessar
isso a ele. — Mas não estamos juntos, só aproveitando o momento e
concordamos que vamos seguir nisso até que a gente se olhe e não queira
sair fodendo onde quer que estejamos.
— Você a levou até em casa. É claro que estão juntos, só não
admitiram isso ainda e pelo jeito são dois cabeças duras. — ele tira um
Trident de dentro do bolso da calça social e me oferece um, que recuso. —
E não preciso saber da sua vida sexual com a sua aluna.
— Não preciso que me lembre que ela é minha aluna.— entro para
a estrada que nos leva até a Los Angeles. — A levei até em casa porque
esqueci a maldita carteira, e não porque pretendia realmente levá-la.
— Então por que não pediu que ela ficasse no carro te esperando?
— questiona e me calo. — Por que deixou que entrasse?
Prefiro me manter em silêncio e o idiota ao meu lado começa a rir
descontroladamente, dizendo que estou apaixonado.
Não estou apaixonado.
Não sei o que estou sentindo pela peste, mas tenho certeza que não
é paixão, apesar de não saber ao certo qual seria a sensação.
Arrisco dizer que sinto uma necessidade de cuidar dela e a
proteger, principalmente quando me lembro do ocorrido no bar e do corte
em sua cabeça, mas não passa disso, de uma cuidado com a pessoa que
estou me relacionamento sexualmente.
Seria meio desumano eu não me importar nenhum pouco com ela,
considerando nossa situação.
— Não estou apaixonado. — corto sua risada aumentando meu
tom de voz. — Mas também não sei o que estou sentindo. Ela me confunde
pra caralho e não sei o que pensar sobre isso, também não quero mais falar
a respeito. — Confesso.
— Não vou fazer mais acusações, mas quero ser o primeiro a saber
quando finalmente descobrir o que sente por ela. — troca de música,
voltando a que tocou primeiro, como se quisesse me passar um recado. — E
peça para a garota não pedir que uma criança de sete anos esconda as coisas
dos pais, se não vai arranjar problemas com o cunhado que ainda nem
conhece.
Ignoro sua insinuação e sorrio ao tentar imaginar como se
desenrolou a interação entre Cecília e ela.
Alexia não faz o tipo que sabe lidar com uma criança.
— Agora que parei para pensar numa coisa. — olho de relance
para ele, para que prossiga. — Você é bem mais velho que ela não é?
— Não tanto assim.
— Ah qual é, Aiden. — ele debocha. — Vocês devem ter quase
uns vinte anos de diferença, já é quase um idoso perto da garota.
— Sou apenas doze anos mais velho, idiota. — balanço a cabeça,
começando a me ofender com suas provocações. — E isso não vem ao caso.
— É claro que vem. — prossegue. — Precisa entender o que vem
sentindo, antes que ela enjoe de você e arranje um cara mais novo, sabe o
que quero dizer.
— Não, não sei o que está querendo me dizer. — dou corda mesmo
sabendo que vou me arrepender disso depois.
Meu dia não poderia ter começado de maneira pior.
— Logo ela se cansa e procura alguém mais compatível com ela,
tanto em relação à idade, quanto nas ideias e que dê conta dela por mais
tempo. — ele se vira pra mim com um sorriso no rosto. — Quer que eu
deixe explícito o que quis dizer? Posso usar outras palavras.
— Cala a boca, Adrian.
É minha vez de dar um tapa em sua nuca e o palhaço começa a rir.
Sei que está apenas me perturbando mas minha mente vai direto
para aquele moleque loiro, o pequeno Bakers cheio de intimidade pra cima
de Alexia.
Depois que ouvi sua história entendi o porquê de se conheceram e
se tratarem com certo grau de intimidade, mas não gosto da cena que se
criou nos meus pensamentos.
Não sou velho pra ela e muito menos vou ser trocado por um
garoto que mal saiu das fraldas.
Me lembro perfeitamente de quando Alexia disse que sua boceta
era minha e pretendo que continue assim por mais algum tempo.
Ainda sigo convicto dos meus ideais, não quero e nem estou
cogitando um relacionamento, mas preciso tentar entender todo esse
cuidado e essa possessividade que sinto sobre ela, antes que seja tarde
demais para evitar uma catástrofe.
Vou o caminho todo tendo que ouvir o idiota do meu irmão me
dando conselhos fúteis sobre como conquistar uma mulher e como devo
correr atrás de algo que me mantenha ativo sexualmente, para não acabar
sendo descartado.
A semana não poderia ter começado de um jeito melhor?

Acabo de encerrar uma ligação com um dos meus clientes que vem
dando trabalho para aceitar um acordo envolvendo a posse da sua empresa,
quando ouço dois toques sutis na porta.
Coloco o telefone com tanta força na mesa, que confiro se o
aparelho não quebrou.
Hoje o dia já começou infernal, pois tive que correr até a
universidade assinar alguns papéis e logo em seguida tive que resolver
alguns conflitos internos do escritório.
Pedi a Samantha que não deixasse ninguém entrar depois que
voltei do meu almoço, há cerca de trinta minutos, mas é claro que não iria
respeitar meu pedido e a prova disso são os toques insistentes na porta.
Digo que entre a contragosto, mas preciso conter o sorriso que
tenho vontade de abrir quando uma cabeça sorridente passa pela porta,
junto com seu terninho azul escuro e uma saia mais curta do que eu acharia
necessário para trabalhar.
—  É impressionante como desde a primeira vez que entrei aqui,
sua voz me faz arrepiar toda e ter vontade de pular no seu pescoço,
arrancando suas roupas. — Ela fecha a porta e se aproxima com alguns
papéis. — A diferença é que agora eu posso fazer isso sem parecer uma
louca.
Venho descobrindo que Alexia não possui filtro algum depois que
começa a pegar intimidade. E o mais impressionante, é que tenho gostado
disso.
— Isso são modos de se falar com seu superior? — questiono e ela
dá de ombros. — Então sempre me quis, desde aquele dia infernal?
Analiso os papéis enquanto noto sua aproximação da minha
cadeira.
— Ao menos bati antes de entrar. — ela passa as mãos por meus
ombros em uma caricia, levando os dedos até os meus cabelos. — Podemos
considerar como uma evolução e, sim, confesso que te achei um pedaço de
mal caminho desde aquele dia, mas acabou quando abriu a boca.
Puxa meus cabelos, me fazendo olhar em sua direção antes de
grudar nossas bocas em um beijo.
Subo uma de minhas mãos por sua perna, apertando e arranhando
de leve antes dela se afastar.
— Preciso da assinatura. — aponta para os papéis.
— Estava com vontade de fazer isso desde que te vi no campus
mais cedo. — Beijo sua boca outra vez. — E preciso que passe a usar saias
mais longas. — volto minha atenção para a mesa enquanto ela mexe em
minhas canetas. — Vou intitular uma regra de vestimenta que proíbe o uso
de saias com menos de vinte palmos de comprimento.
— Está muito engraçado pra quem eu ouvi dizer pelos corredores,
que estava espumando de raiva desde que chegou. — coloca os cotovelos
na mesa e me olha. — Por acaso seguiu meu conselho e comeu algum doce
para aliviar a tensão?
— Não sou uma formiga ambulante como você, Alexia.
Após algumas discussões nessas semanas, ela sempre me mandava
comer algum doce para ver se passava meu estresse e tenho minhas
suspeitas de que a mesma seja apaixonada por tudo que envolva açúcar.
— Isso não vem ao caso, mas quero saber porque o tamanho das
minhas saias te incomodam.
— Não me incomodam. — começo a assinar os papéis. — Mas
fico aliviado que te tirei de perto do Jonas, notava como ele olhava para
suas pernas e não gostava nada daquilo.
— Tá ficando maluco de vez, babaca? — seu tom começa a
aumentar e respiro fundo já percebendo que a mesma começa a se irritar. —
Quer dizer que me tirou de lá por puro ciúmes?
— Ciúmes? — também aumentei meu tom de voz com o absurdo
que sai da sua boca. — Eu, com ciúmes de você?
— É o que está parecendo.
— Mas é claro que não! — rio sem graça alguma. — Você é que
deve estar pirando de vez, peste. Só não queria ninguém olhando para as
pernas que agora são minhas.
— Suas?! — ela ri e fecho a cara diante da sua cena. — Me poupe,
Aiden.
— Se a boceta é minha, porque as pernas não podem ser?
Ela me olha chocada e quando ameaço lembrá-la da sua fala, me
silencia com um movimento.
— Não precisa me lembrar, sei bem o que disse aquele dia, mas
você continua sendo muito escroto. — diz ainda em negação. — Sua sorte é
que é realmente muito gostoso e me faz gozar como ninguém.
Apontou o dedo na minha direção e sorriu de lado, me levando a
sorrir também e em seguida ouço a porta começar a ser aberta.
— Mas tenho certeza que essa porra toda, foi puro ciúmes.
Olho para as pessoas que passam pela entrada e observo Adrian
tampar os ouvidos de Cecília ao mesmo tempo que Francie tampa as de
Caio, por conta da boca suja.
Alexia segue meu olhar e toda a cor some de seu rosto ao notar que
temos companhia. Observo como Cecília sorri para ela, que por sua vez
estampa um sorriso nervoso para a família na porta.
— Boa tarde! — Francie é a primeira dizer enquanto o idiota ao
seu lado cai na gargalhada. — Estamos atrapalhando algo?
— Não, podem entrar. — sorrio discretamente, me controlando
para não rir do choque de Alexia.
— Tem certeza? — Francie sorri em direção a minha peste e ela
começa a dar pequenos passos, pronta para sair da sala. — Pode ficar,
voltamos daqui a pouco.
— Voltamos? — Adrian questiona enquanto é puxado pela mulher
para fora da sala, e meus sobrinhos balançam as mãos em aceno, ainda com
os ouvidos tampados. — Claro, er.. vamos na copa dar café pras crianças.
— Desculpe o incômodo, Adrian disse que hoje seria um bom dia
para trazer as crianças depois de Cecília nos perturbar para te ver. —
Francie some de vista e posso ouvir minha sobrinha reclamar que não quer
café, antes de Adrian fechar a porta.
— Alexia? — questiono, notando que a mesma está estática. —
Tudo bem? Sabe que não falei sério sobre o lance das saias e das pernas,
não é?
Em partes era sério, mas é claro que não quis chateá-la com o
assunto e temo ter passado dos limites.
— Claro que sei, você não enlouqueceu ainda. — Respira fundo.
— Era sua família, não era? — confirmo quando se vira para mim. —
Que…l-lindos, são lindos seus sobrinhos, sabe? As crianças são lindas, elas
falam muito?
Começo a rir de seu nervosismo, já entendendo tudo e fico ainda
mais curioso para saber sobre o que conversou com Cecília quando esteve
em casa.
— Já estou sabendo que conversou com Cecília no sábado, Alexia.
— Ela arregalou os olhos. — O que minha terrorista falou que te deixou em
pânico?
— Disse que eu era sua namorada! — quase grita, apavorada e vai
até a mesa pegar os papéis. — Pedi que não contasse que eu estava lá
porque fiquei com medo da merda que isso poderia dar. Se descobrem que
estamos tendo alguma coisa, posso perder minha bolsa e tudo virar uma
confusão. E agora ela sabe que sou daqui do escritório.
Então essa era sua preocupação ao ser descoberta comigo.
Sorrio em compaixão, vendo que realmente ficou nervosa com a
possibilidade de algo assim ocorrer.
— Fica tranquila. — tento acalmá-la, indo até a mesma e passando
uma das mãos nas suas costas e a outra segura firme seu queixo, fazendo
com que olhe para mim. — Cecília é esperta até demais para idade, vou
conversar com ela sobre isso e explicar que entendeu errado.
Ela assente e começa a respirar mais tranquilamente.
Não resisto e deixo um beijo rápido em seus lábios e em seguida
faço o mesmo em sua testa.
Detestei ver como ela ficou abalada com a possibilidade de não
conseguir terminar os estudos por conta do que estamos fazendo.
Porra!
Ela se despede, ainda um pouco abalada, e segue em direção a
saída, sem olhar para atrás.
É egoísta torcer para que não volte atrás no nosso acordo, para que
continue tendo ela para mim, mas não consigo evitar.
Ela está me fodendo.

Saio de dentro da boceta gostosa de Alexia e tiro a camisinha, a


amarrando e em seguida descartando.
Tento normalizar minha respiração enquanto subo minha calça e
fecho o zíper, observando o sorriso letárgico da peste enquanto tenta
recuperar as forças para se levantar da minha mesa.
Hoje ficamos até depois do horário, e acabamos tendo uma foda
fantástica no meu escritório, sem nos importar em quem fosse ouvir ou no
risco de alguém entrar, como vem acontecendo sempre que demos uma
rapidinha aqui.
Ela se apoia nos cotovelos e me olha de cima a baixo.
— Ainda bem que sou inconsequente e não aguentei ficar muito
tempo longe depois que sua sobrinha me flagrou aqui. — Se refere a dois
dias atrás quando, após deixar minha sala, voltou para me dizer que
precisávamos parar com isso.
Não durou muito, já que chegou aqui no dia seguinte, me
agarrando pelo colarinho e me fazendo levá-la ao orgasmo com a minha
língua durante seu intervalo, alegando que estava sob estresse e precisava
de mim para que a acalmasse.
— Ainda não me disse o que conversaram. — ergo uma
sobrancelha em questionamento enquanto admiro ela se levantar e pegar a
calcinha que foi esquecida no chão. — Com a sua sobrinha.
— Ah! Ela veio me chantagear, dizendo que se eu estivesse
namorando, seria obrigado a fazer festa do pijama com brigadeiro para ela,
ao menos três vezes na semana. — ela me olha surpresa e sorrio. —
Expliquei a ela que tinha sido um mal entendido, que você é uma colega do
escritório e tudo foi resolvido.
Ela suspirou em alívio antes de ajustar sua saia no corpo.
— O que seria bri-brigadero? — questiona curiosa e dou risada da
sua pronúncia. — Está rindo porque?
Me aproximo dela e passo os polegares nos seus lábios inchados
quando agarro seu rosto para mim.
— Fica fofa tentando pronunciar a palavra.
Sorrimos um para o outro por um tempo além do comum, e quase
me esqueço do que estávamos falando, preso ao olhar dela.
Ela pigarreia e nos afastamos, um pouco desconcertados.
— E então, o que seria? — vai até o banheiro se ajeitar em frente
ao espelho. — Uma comida brasileira?
— Uma sobremesa, especificamente. — mesmo de longe vejo seus
olhos brilhando quando se vira em minha direção. — O que acha de irmos
até o meu apartamento que tenho aqui em Los Angeles, na sua próxima
folga?
Ela me olha com um olhar de estranhamento e diria até que de
medo e não entendo o porquê.
— Posso fazer minha comida favorita do Brasil e de brinde, te
apresento ao brigadeiro. — vou em direção ao banheiro, desviando das
canetas e pastas que joguei no chão para poder comê-la sobre a mesa. —
Tenho minhas suspeitas de que vai gostar.
A olho pelo espelho e noto sua hesitação em aceitar.
Antes de responder, engole em seco e respira fundo, como se
estivesse tomando coragem para tomar sua decisão.
— Acho que vai ser ótimo.
“Insano, por dentro, o perigo me deixa louco
Não consigo evitar, tenho segredos que não posso dizer
Eu amo o cheiro da gasolina
Eu acendo o fósforo para saborear o calor”
Play With Fire - Sam Tinnesz
 

Olho ao redor, e sinto um arrepio estranho passar por minha


espinha quando enxergo os brutamontes do outro lado, em frente a tal boate
Snake.
Dois dias atrás recebi uma mensagem com o local e o horário da
entrega da primeira parcela, dizendo que se eu não comparecesse, receberia
outra visita dos “seguranças”.
E aqui estou, numa rua escura, em uma noite fria, do outro lado da
cidade.
É impressionante a maneira como coloco minha vida em perigo
constantemente.
Pelo menos agora sei que o nome do agiota não passa de um
apelido acerca do nome da boate que ele provavelmente é dono e usa de
fachada para todo seu dinheiro sujo.
Eles se aproximam e de longe vejo o brilho da arma em sua
cintura. Sinto meu estômago embrulhar e uma pontada no machucado já
cicatrizado em minha cabeça, me lembrando da coronhada.
Filho da puta.
— Trouxe o valor combinado? — o “bonzinho” pergunta assim
que chega perto.
Assinto sem ter coragem de abrir a boca enquanto encaro o sorriso
cínico do calvo.
Estendo o envelope pardo com os três mil dólares, que tirei
recentemente da minha poupança.
Não sou idiota então deixei cerca de uns dois mil na conta, por
precaução.
Espero eles conferirem a quantia e cruzo os braços, com o frio que
faz mesmo com meu sobretudo.
— Tudo certo. — ele guarda e assente em confirmação.
— Continua sendo fácil trabalhar com você, bonitinha. — o
nojento passa o dedo por meu rosto e sinto meu estômago se contrair outra
vez.
Ele recebe uma chamada de atenção do comparsa, e faz uma
expressão desdenhosa, dando as costas.
— Vamos mandar a mensagem de confirmação do Snake junto
com a próxima data e local que vai levar a próxima quantia.
Não tenho tempo de concordar, pois o mesmo balança a cabeça
como um aceno, e também dá as costas.
Assim que eles entram na boate barulhenta e cheia de luzes roxas e
azuis piscando, tento mover minhas pernas que se encontram bambas e
começo a andar com meu coração acelerado no peito e uma ânsia terrível.
Quase corro até o próximo quarteirão, sentindo as lágrimas deixar
meus olhos e assim que o alcanço, apoio as mãos no muro espinhento e
vomito tudo que tinha no estômago.
Eu não vou conseguir fazer isso todo mês. Pode ser que na próxima
eu não sobreviva para contar história.
Além do medo de receber mais uma visita surpresa do nojento que
me deu um tapa no rosto aquele dia.
Esse pesadelo precisa acabar.

— Acho que por hoje é isso, pessoal. — ouço a voz de Aiden um


pouco distante no final da aula, mas começo a guardar dentro da bolsa
minha agenda com as anotações , enquanto ele se despede da turma.
— Tem certeza que não quer passar comer alguma coisa no café?
— Lia volta a insistir no assunto de mais cedo, quando tentou arrancar de
mim o motivo de eu estar tão aérea.
— Claro que tenho, e não se preocupe, vou comer alguma coisa
quando chegar no escritório. — ela ergue uma sobrancelha para mim, em
desaprovação. — Estou falando sério.
— Se mudar de ideia, posso ligar agora para o Luke e já pedir para
ele deixar um cheesecake separado de sobremesa. — ela me tenta com uma
oferta quase irrecusável, mas nego com um sorriso mínimo. — Saiba que
vou arrancar de você o que está escondendo senhorita, Alexia, não adianta
fugir. Eu, Luke e até a Nana estamos planejando arrancar de você o que
vem te perturbando.
Tento sorrir mais largo para não gerar desconfiança, como se fosse
um absurdo o que falasse, mas acho que não funciona e ela deposita um
beijo em meus cabelos.
— Quando estiver pronta para falar, vamos estar aqui. — murmura
antes de me puxar da cadeira e sair da sala. — E pare de fugir de nós.
Estamos ficando com ciúmes do seu Senhor Escroto, já que anda passando
mais tempo com ele do que com a gente.
— Ei, pode me acusar de qualquer coisa, menos de estar trocando
vocês pelo babaca. — me fingi ofendida, mas não posso negar que nesses
últimos dias tenho me encontrado muito mais com Aiden do que com meus
amigos.
Pode parecer estranho, mas quando estou com ele, é como se todos
os meus problemas fugissem de mim, e nunca pensei que uma pessoa,
quanto menos um homem, pudesse me fazer esquecer todas as loucuras nas
quais estou metida.
É como se só eu e ele importássemos quando estamos juntos e
talvez isso envolva a pequena pontada de culpa que venho sentindo quando
estou com meus amigos.
Me sinto tentada a contar sobre a dívida, apesar de não ter coragem
de lhes contar que mais uma vez a vida me fodeu.
Gosto de pensar que acreditam que tudo está seguindo
tranquilamente comigo, sem dar a dor de cabeça da preocupação a eles e me
sentir um fardo.
Quando estou quase passando pela porta da sala, ouço Aiden me
chamando e me viro como um imã ao seu encontro, assim que meus
ouvidos percebem sua voz.
— Acho que está esquecendo uma coisa. — ergo uma sobrancelha
mas não deixo de dar um sorriso lascivo, torcendo pelo duplo sentido da
frase. — Sua caderneta na mesa.
Ele aponta com os olhos enquanto volta a guardar suas coisas e
meus olhos encontram o pequeno caderno de anotações, com capa do
Stitch, que deixei para trás.
— Como eu sei que isso foi uma desculpa pensada, já estou indo
embora daqui. — Lia cochicha no meu ouvido enquanto observamos os
dois últimos alunos deixarem a sala. — Pelo jeito vai comer antes mesmo
de chegar ao escritório.
Ela passa por mim, dando um beijo na minha bochecha e não deixo
de depositar um leve tapa em sua bunda farta. Ela ainda sai gargalhando
antes de fechar a porta atrás de si.
Vou até o lugar em que estava, e antes de colocar o objeto dentro
da minha bolsa, sinto uma respiração pesada e quente atingir meu pescoço,
junto de um beijo atrás da minha orelha.
Sinto meus pelos se arrepiarem, e um calor me tomar
instantaneamente enquanto suas mãos circulam minha cintura e me viram
para ele.
— Não está bem hoje. — ele afirma e bufo em resposta.
Não estou gostando de como ele vem aprendendo a me ler tão
claramente. Isso só pode ser um sinal de que está na hora de nos afastarmos,
apesar de eu não querer.
Meus pensamentos são interrompidos quando sinto mordidas
suaves serem depositadas em meus lábios, antes dele os puxar para si em
um beijo.
— Pare de bufar feito uma criança mimada, peste. — deposita um
selinho antes de se afastar um pouco e pegar o caderno das minhas mãos. —
Agora que te conheço sei bem que esse termo não se aplica a você.
— Posso ser bem mimada quando quero, só para relembrar os
tempos de patricinha. — sorrio enquanto ele analisa a capa em suas mãos,
com um olhar zombeteiro. — O que foi?
— Desenho infantil? — ele volta a me fitar e um sorriso se
desenha em seus lábios. — Preferia que realmente fosse fã de Legalmente
loira, ao invés de desenhos infantis.
Me sinto duplamente atacada, mas nem morta vou revelar a ele que
na verdade sou fã das duas coisas.
Tiro meu celular da bolsa e ele fica sem entender nada, mas logo a
compreensão toma seu rosto quando mostro a foto que deixo como fundo
de plano.
— É pior do que eu pensava. — ele continua encarando a foto do
meu desenho favorito brilhando na tela. — Nem minha sobrinha mais nova
gosta de ter fotos dos desenhos espalhados por aí, mas pelo menos esse é
um dos melhores da Disney.
Meus olhos se iluminam e ergo as sobrancelhas sarcasticamente.
— Já assistiu Lilo e Stitch? — guardo as coisas de volta na bolsa e
de modo automático, passo os braços por seus ombros, o trazendo para mais
perto de mim e fazendo com que voltasse a ter suas mãos em meu corpo.
— Alexia, eu ajudei na criação de três crianças — sinto meu
estômago e meu coração em festa pelo sorriso feliz que me lança após
pronunciar meu nome. —, acho que já assisti todo o catálogo do Disney
Plus e parando para pensar, sua personalidade até que se parece com a do
monstrinho azul.
Dou um tapa de leve em seu ombro e ele sorri se desculpando.
— Então amanhã, depois que eu comer sua tal comida brasileira,
vai assistir meu desenho favorito comigo.
Não sei o que me deu para deixar as palavras saírem.
Porra, Alexia, o que está fazendo?
Me surpreendo ainda mais quando ele confirma o programa, com
um aceno antes de aproximar a boca do meu ouvido.
— Só se você for a minha sobremesa antes. — ele morde meu
lóbulo e volta os lábios para os meus.
— Pensei que isso já estivesse incluso no cardápio.
Sorrimos e antes que eu pudesse esperar, grudamos nossas bocas
em mais um dos beijos explosivos que só ele consegue dar.
Nossas línguas batalham entre si enquanto dou leve puxadas em
seus fios e uma de suas mãos agarram minha mandíbula, tomando o
controle sobre o beijo. Sinto sua outra mão apertar minha bunda e solto um
gemido em sua boca.
Sorrio com a resposta que vem dele, em forma de uma mordida
quase violenta em meu lábio inferior e quando abro os olhos para me
afastar, meu coração dispara de medo e congelo no que estava fazendo,
quando encontro um par de olhos nos observando por uma fresta da porta.
Quando os olhos desconhecidos encontram os meus, posso ver que
se arregalam em susto e quem quer que fosse, sai correndo antes mesmo de
fechar a porta.
O barulho que a madeira faz quando fecha por conta de uma
corrente de ar, faz com que Aiden virasse a cabeça em direção onde meus
olhos ainda estavam estáticos.
Por favor, que seja uma miragem.
— Alguém estava olhando a gente! — quase grito e tento me
afastar do corpo de Aiden, que me impede. — Dá pra me soltar, seu babaca!
Começo a me alterar e ele endurece suas expressões, e entendo o
olhar que me lança, como se dissesse que não adiantaria explodir com ele
pelo que aconteceu.
— Não pode me dar esse olhar de quem sabe que estou sendo
exagerada. — o odeio por entender cada uma das suas expressões, como a
que faz agora que sei que quer dizer que ele está certo. — Alguém viu a
gente e agora eu estou fodida, ou isso ou estou ficando louca e vendo
coisas.
— Mesmo se alguém tiver nos visto, não adianta de nada começar
a gritar comigo e se afastar de mim agora. — ele segura meu rosto com as
duas mãos e não deixa os olhos dos meus. — Respira fundo antes que eu
tenha que te levar a enfermaria.
Vou seguindo seus passos, que me mostra como fazer para
controlar minha respiração e consequentemente meu coração em disparada.
Assim que sinto meus batimentos se desacelerarem, minha
respiração também normaliza e ele assente para mim, como se eu estivesse
de parabéns por ter conseguido me controlar.
— Desculpa. — me impressiono com a facilidade que as palavras
deixam minha boca e tanto eu quanto ele franzimos a testa. — Quer dizer…
obrigada, quis dizer obrigada por me ajudar.
— Não deixa de ser surpreendente também. — ele sorri
brevemente e me desprendo dele, deixando seu olhar.
— Bom que ouviu, pois nunca mais vai ouvir isso sair da minha
boca de novo.
Me afasto mais um pouco e começo a ajeitar minha saia que subiu
um pouco com nosso contato e aproveito para ajeitar a meia calça que estou
usando por conta da manhã fria.
Ergo as sobrancelhas, me lembrando do porquê precisei me afastar
e por um breve momento, quase me esqueci do fato de termos sido pegos.
Ou acho que fomos.
Posso realmente ter me assustado com a porta aberta e imaginei
todo o resto.
É sobre isso que estava pensando mais cedo.
Ele me faz esquecer das coisas que me levam a surtar, em questão
de segundos.
— Não encosta mais em mim dentro dessa sala. — ele volta para
sua mesa enquanto o acompanho.
— Acho que não precisa se preocupar com quem quer tenha visto a
gente, se realmente houve alguém. — o questiono silenciosamente. —
Provavelmente vão pensar que viu errado e dependendo de quem for, pode
até fingir não ter visto, confia em mim, isso não vai dar em nada, este
campus está cheio de jovens fazendo coisas das quais não eram para ser
vista.
— Mas é claro que não vou confiar em você. — começo a ir em
direção a porta. — Se estiver errado, você é o homem de boa reputação da
situação e eu vou ser só uma aluna interesseira que pode perder a bolsa.
O nervosismo volta a me visitar quando lembro do fato de que todo
meu futuro pode estar em risco e tento não me deixar descontrolar.
— Você acha que eu não ficaria com uma reputação terrível caso
descobrissem isso? — ele pergunta sério. — Acredite quando eu digo que
não quero deixar que nada estrague minha carreira, Alexia. Então confie em
mim quando digo que também não ficaria nada feliz se nos descobrissem e
também quando falo que a pessoa não deve ter visto nada demais, pode até
ter pensado que não se passava de dois alunos juntos. Você é quase um
oompa loompa, só deve ter enxergado seus olhos e se souber que sou o
professor, podemos dar uma desculpa de que eu estava te ajudando com
uma dúvida.
Quase volto a perder a paciência quando percebo que está
brincando com minha altura.
— Não gosto do Aiden brincalhão. — digo a ele antes de sair e
fechar a porta com força, vendo o mesmo abrir mais um dos seus sorrisos
matadores em minha direção.
Paro no corredor e olho em volta mas não encontro ninguém. Tudo
vazio e normal para o horário pós aulas.
Talvez toda a loucura da minha vida esteja me deixando louca e me
trazendo alucinações.
Vou rezar para que seja isso.

Olho meio receosa para o prato à minha frente, encarando a


mistura que Aiden preparou no fogão alguns minutos atrás.
Olho em volta do grande apartamento praticamente vazio, numa
tentativa de adiar o momento em que vou colocar a comida na minha boca.
Sorrio para o espaço, porque desde que passei pela porta de
entrada, tudo que eu tinha criado na minha mente caiu por terra.
Quando ele me falou que tinha um apartamento no centro de Los
Angeles, foi impossível não imaginar a melhor cobertura, cheia de luxo e
modernidade.
Mas assim que passei pelo batente, encontrei um loft praticamente
vazio, a não ser pela cozinha bem equipada, uma tela plana gigantesca na
sala, junto de uma cama box enorme.
Enquanto ele me mostrava os dotes culinários na cozinha, eu me
sentei na banqueta do balcão e ouvi sua explicação de que o plano inicial,
era que assim que terminasse a faculdade, se mudaria para esse apartamento
que ganhou do pai, mas não conseguiu ficar longe da família,
principalmente depois que se mudaram para onde moram hoje, onde cada
um tem sua parte privada na mansão.
Foi impossível o sorriso não se desenhar no meu rosto e fiz questão
de disfarçar quando se virou para mim, assim como tentei soterrar as
borboletas que começaram a dançar no meu estômago, por conta da sua fala
e a bela visão que eu tinha dele cozinhando sorridente como nunca vi antes.
— Chega de enrolar, linda. — sua voz grave me traz de volta ao
presente e me lembro do que preciso fazer. — É feijoada, já te expliquei
tudo sobre ela e os ingredientes que temos aqui.
Ele chega mais perto de mim e coloca um pouco de cada coisa que
tem no prato sobre o garfo, o levando em direção a minha boca.
— Eu sei muito bem comer sozinha, não preciso que façam isso
por mim. — o provoco e ele endurece as expressões ainda mais. — Não
vou mentir que estou com medo de comer isso, não porque é quase exótico
para mim, e sim porque foi você quem fez. Vai saber se não estou correndo
risco de morrer por uma intoxicação alimentar.
— Alexia, agora que nos tornamos uma transa casual, eu não teria
motivos para querer sua morte. — Ergue uma sobrancelha e eu me rendo,
abrindo a boca para ele. — Se fosse dois meses atrás, talvez você tivesse
com o que se preocupar.
Não dou atenção a sua fala, pois assim que começo a mastigar e
sinto a mistura de sabores e texturas na minha língua, quase tenho um
orgasmo de tão maravilhosa que a comida está.
Eu não estava preparada pra isso!
É maravilhosa demais!
Arregalo meus olhos em direção a Aiden e começo a estapeá-lo no
ombro enquanto ele também cresce o olhar em mim.
— Eu espero que isso seja um sinal de que a comida está boa. —
ele passa a sorrir quando eu começo a assentir freneticamente.
Tento gesticular para ele o quão perfeito está o que estou comendo
e esquecendo completamente que estou com a boca cheia, quase me
engasgo quando tento falar.
Seu olhar passa a ser de alerta e levemente preocupado quando
começo a tossir com a mão sobre a boca e ele corre pegar um copo de água,
que bebo assim que o tenho em mãos.
Assim que a crise de tosse vai passando, ficando só a ardência na
garganta e nos olhos lacrimejantes, sinto a mão de Aiden passando devagar
em minhas costas e tento acalmar minha respiração.
— Quase que a feijoada te leva a óbito. — ele se senta ao meu lado
outra vez e algo surpreendente acontece.
Aiden começa a rir.
Ele começa a gargalhar de uma maneira que nunca o vi fazer antes
e…
… e o som é lindo.
A risada grave é encantadoramente linda e não consigo deixar de
sorrir ao ver como seus olhos diminuem de tamanho e seu rosto passa a ter
um tom avermelhado, quase parecido com o que estava nas fotos da sua
casa, só que ainda mais bonito e feliz, se possível.
É lindo pra caralho.
Notando meu completo silêncio, concentra os olhos em mim e vai
parando aos poucos, normalizando a respiração e fazendo o som cessar.
— Desculpe, não teve como não rir de você, minha peste. — suas
palavras não param de me surpreender e tento disfarçar a cara de pateta
combinada ao sorriso bobo, com uma tosse leve. — Tudo bem?
Assinto enquanto ele se aproxima e deposita um beijo na minha
testa, deixando uma sensação gostosa se apossar do meu corpo, de uma
forma que nunca havia sentido antes.
Isso é um péssimo sinal.
— Posso concluir que gostou?
— Na verdade, eu adorei. — arqueio as sobrancelhas, sentindo
meu rosto corar por conta dos meus pensamentos e volto a comer como se
nada tivesse acontecido. — Você até que cozinha bem.
O provoco dando um cutucão em sua barriga e ele sorri, também
voltando a comer.

— Sinto muito por estragar seus planos, mas não será hoje que
vamos assistir seu desenho animado, linda.
Ouço a voz de Aiden enquanto saio do banheiro e me encaminho
até a cama onde ele já estava sentado, somente com uma calça de moletom
no corpo.
— Tinha esquecido que hoje tem jogo do Corinthians e você vai
ser obrigada a assistir comigo. — aponta para o símbolo em seu peito e se
levanta para mexer em algo da TV assim que me acomodo nos travesseiros
e ele olha divertido para mim. — Pensei que hoje te veria mais informal.
Olho para minhas roupas, franzindo a testa para o conjunto que
uso.
— Para isso teria que me ver dormindo em minha casa, então sinto
muito, mas nunca vai acontecer.
Sorrio e ouço ele murmurar algo parecido com um “isso é o que
veremos”, mas antes que eu pudesse o rebater, um apito deixa meu celular,
anunciando uma nova mensagem.
Como o aparelho estava ao lado da televisão, peço que Aiden o
traga para mim e não poderia ter escolhido hora pior para isso.
O sorriso que estava em meu rosto, vai morrendo aos poucos
quando o observo ler o que quer que estivesse ali e sua expressão mortal se
fazer presente, como se estivesse prestes a esmurrar o primeiro desavisado
que o perturbasse.
Não senti falta desse Aiden.
— Aiden, o que foi?
Ele aponta o celular para mim.
— Porque um tal de Snake quer te encontrar em um beco sujo de
Garden City, e ainda está mandando você ir sozinha como da última vez,
junto com o pagamento combinado se não quiser receber mais uma visita
dos seguranças dele?
Fodeu
“Então vamos deixar os vizinhos bravos
No lugar que sentimos as lágrimas
No lugar para se perder os medos
Sim, comportamento imprudente
Um lugar que é tão puro, tão sujo, tão bruto
Ficar na cama o dia todo, cama o dia todo, cama o dia todo
Transando e brigando
É nosso paraíso e nossa zona de guerra
É nosso paraíso e nossa zona de guerra”
Pillowtalk - Zayn
 

Sinto meu coração errar uma batida e meu sangue congelar nas
veias.
Como vou conseguir sair dessa agora?
— N-não faço ideia. — quase dou na minha própria cara por
gaguejar. — Deve s-ser algum id-diota querendo, não sei… me dar um
trote.
Minha voz é trêmula e observo Aiden arquear uma das
sobrancelhas, não aceitando minha desculpa esfarrapada.
— Aiden, seu jogo — aponto para a TV quando a tela se acende de
repente, com a imagem de um campo verde. —, vai começar, então é
melhor vir sentar e assistir logo.
Tento mudar de assunto, ainda sentindo meu coração quase
parando no peito e minhas mãos começam a suar de nervoso quando ele
sequer olha para a tela quando abaixa o volume e cruza os braços no peito.
— Não vou cair nessa, Alexia.
Por que eu concordei em vir aqui, mesmo? O que eu tinha na
cabeça quando aceitei? Já não tinha dito a mim mesma que aceitar estar
num local pessoal, torna tudo mais difícil?
Me deixei levar pela emoção do momento, agora estou
completamente fodida.
— Além de você ter salvo o contato, conheço um lugar e uma
pessoa que usa esse mesmo codinome em Garden City e — ele respira
fundo, desfazendo um pouco da carranca, voltando a se sentar no colchão,
ao meu lado. —, por experiência própria, sei que se for a mesma pessoa,
receber uma mensagem dessas não pode trazer nada de bom futuramente.
Respiro fundo, tentando não começar a suar, normalizando meus
batimentos.
Sem perceber, meus olhos ficam longes e meus pensamentos me
levam a pensar que talvez não seja má ideia compartilhar com alguém o que
vem acontecendo.
Está sendo exaustivo guardar essa situação só para mim, e tenho
medo dos meus nervos não aguentarem tanto tempo sem dividir isso com
alguém.
Mas, porra!
Logo o Aiden?
Sinto meus olhos começarem a arder com as lágrimas e minhas
bochechas esquentarem.
Não é possível que eu esteja a um passo de desabar na frente dele,
outra vez.
Sinto seu toque quente e macio na mão que estava sobre meu colo,
e a primeira lágrima solitária cai quando ele entrelaça nossos dedos em um
aperto forte.
Porra, Aiden, o que você está fazendo comigo?
— Ei, pequena peste. — sua voz é suave, como me lembro que foi
quando eu chorei em seu ombro da última vez. — Pode me contar o que
está acontecendo.
Balanço a cabeça numa negativa e sinto falta do calor de sua mão
quando ele a tira do meu alcance.
O calor reconfortante que ele me faz sentir, retorna dobrado
quando sinto seus braços me enlaçando e me levando de encontro ao seu
corpo.
Penso em resistir, mas a sensação de conforto que ele me traz é
tanta, que desisto de lutar contra e me pego me aninhando a ele, repousando
o rosto em seu peito macio e morno por conta do aquecedor interno do loft.
Uma de suas mãos apertam meu corpo enquanto sinto seus dedos
deixando um carinho suave nos meus cabelos.
Respiro fundo, absorvendo seu cheiro único e me deixando sentir
segura ali.
— Sei que não dou motivos para o que vou dizer agora, porque
apesar do nosso… — ele trava por alguns segundos e aproveito a pausa
para enxugar as lágrimas que deixavam meus olhos. — …da nossa
situação, acho que nunca a fiz sentir que pudesse confiar em mim, mas
posso afirmar que pode.
O sinto um pouco tenso, mas acredito que seja por não saber
nomear o que temos.
Não o culpo por isso, pensei que seria apenas algumas fodas
causais até passar o tesão, mas vem sendo mais que isso e prefiro não
pensar muito no assunto agora.
— Estou devendo uns duzentos mil dólares para esse tal de Snake,
porque minha vó morreu e deixou essa dívida para trás e agora estão me
ameaçando por isso.
Ergo meu rosto para ele e vejo quando seus olhar se transforma em
pura ira.
Teremos uma longa noite.
 
Controlo a vontade absurda que tenho de sorrir quando o aperto de
Aiden em torno de mim se intensifica, talvez como um instinto de proteção.
Depois de contar tudo que vem acontecendo desde que descobri a
dívida de vovó com esse tal homem, apesar do olhar matador e dos nós dos
dedos esbranquiçados e fechados em punho em certos momentos, Aiden se
mantém surpreendentemente calmo.
Talvez seja isso que ele vem tentando me ensinar todo esse tempo,
sobre aprender a me controlar e não explodir, porque tenho quase certeza de
que ele está possesso da vida, apesar de se manter aparentemente calmo.
— E por que não pensou em ir correndo para uma delegacia,
Alexia? — sua voz se altera um pouco e o olho feio no mesmo momento,
fazendo ele bufar e diminuir o tom. — Desculpe, mas por que não contou a
ninguém e não foi atrás da justiça? Você conhece os rostos deles e isso daria
em prisão na certa.
— Porque além do fato de eu não ter onde cair morta, conhecemos
o sistema Aiden, não é tão fácil assim. — volto a repousar a cabeça no seu
peito. — E pelo que vi, esse cara não é qualquer merda, então na certa deve
ter policiais ao lado dele.
Ele suspira derrotado.
— Não vou conseguir te convencer a denunciá-los? — nego com a
cabeça e ele  murmura algo em sua outra língua. — Então ao menos me
deixe…
— Não vai pagar minhas dívidas, Aiden. — Não deixo que ele
termine o que ia dizer e ele bufa exasperado. — Já estou me resolvendo
com o dinheiro e como disse antes, entrei em um acordo com eles, está tudo
sob controle.
— Alexia, eles são perigosos, já te ameaçaram. — suspira
derrotado. — Me deixe levá-la aos encontros dos pagamentos, pelo menos.
— arqueio uma das sobrancelhas. — Prometo que eles não vão saber da
minha presença, posso imaginar o modo deles de agir.
Sua fala me traz uma lembrança de algo que disse antes disso tudo
começar.
— Como você os conhece? — sinto seu coração acelerar e me
afasto dele para enxergar seu rosto, notando que o mesmo ficou um pouco
pálido. — Está tudo bem?
Ele tenta sorrir mas falha miseravelmente então assente levemente
enquanto me abraça forte e deixa um beijo em minha testa.
Não disfarço o sorriso que deixo escapar com o gesto.
— Está sim, é só que é uma época da minha vida que não gosto de
lembrar.
Ele suspira e penso que deixou o assunto de lado, mas quando
menos espero, ele começa a falar.
— Sempre fui muito orgulhoso. — deixo uma risada sarcástica
escapar e ele dá um tapinha leve no meu braço. — Quando estava perto de
terminar a faculdade, meu pai me ofereceu um cargo no escritório dele,
como associado. Não aceitei.
Franzo a testa, não entendendo onde essa história vai chegar, mas
não o interrompo.
— Não queria que tudo que eu conquistasse a partir dali, fosse
associado ao meu sobrenome e ao nepotismo de ter nascido em uma família
de advogados bem sucedidos e que já tinham sua fama feita. Queria
conquistar tudo por conta própria, ser dono e ter orgulho de ter construído
desde o princípio, meu próprio império, por assim dizer.
— Tão burro. — murmuro sem conseguir deixar de comentar algo
e olho para ele. — Se meu pai estivesse vivo eu iria cobrá-lo de me colocar
de uma vez na equipe jurídica da empresa, não que eu tenha orgulho de
admitir isso.
— E por isso eu sou o melhor. — noto seu tom brincalhão e belisco
seu braço. — Estou brincando, e pensando no que acabei me metendo
depois, tenho que concordar com você.
— Continua, quero saber mais de você e antes que me chame de
curiosa, não seria nada mais justo, já que sabe tudo sobre a minha vida.
— Não estou gostando disso de perceber que tem razão nas coisas
que fala. — ele faz um biquinho e cedi a tentação de deixar um beijo ali, o
que arranca um sorriso de nós dois.
Meu estômago volta a sentir as temidas borboletas, e sinto estarem
detestando esses momentos mais íntimos entre nós.
— Bom, não aceitei qualquer tipo de ajuda vinda dos meus pais, e
quando eu e Henry começamos nossa busca por abrir o escritório, o
dinheiro que eu tinha não era o suficiente para todas as despesas. — fecho
os olhos em pesar, já imaginando onde isso vai chegar. — Fiquei sabendo
de um homem que emprestava quantias muito altas de dinheiro, com um
prazo bom para tudo ser pago, se eu não ligasse para os juros.
Ele para um momento e volto a abrir os olhos, notando que seu
olhar estava distante, como se estivesse revivendo a memória.
Comecei uma carícia suave em seu peitoral, o que fez ele esboçar
um sorriso suave com o qual já me acostumei, que não me surpreende como
antes, mas não deixa de me fazer sentir coisas estranhas.
— Fui atrás dele, que na época estava abrindo sua boate, que hoje
faz muito sucesso, e ele usava o mesmo codinome do cara que te enviou as
mensagens e provavelmente se trata da mesma pessoa, só que muito mais
influente e perigoso do que dez anos atrás. — ele apoia o queixo em minha
cabeça. — Se apresentou para mim como Snake. Me emprestou toda a
quantia de que eu precisava para entrar na sociedade com Henry, mas
diferente do que imaginei na época, que em poucos meses conquistaremos o
mundo e eu já teria o suficiente para pagar tudo que devia, não aconteceu.
“Quando atrasei o primeiro pagamento que havíamos acertado, o
próprio Snake e mais um cara me encurralaram quando eu estava saindo do
pequeno escritório que tínhamos aberto e me deram a maior surra que já
tomei na vida. Prometeram que se eu não o pagasse, receberia mais uma
visita dentro de poucos dias e faria questão de deixar sequelas. Por sorte eu
ainda tinha uma quantia emergencial guardada e consegui pagar antes do
prazo, e graças aos muitos esforços meus e de Henry, considerando que
quase não tínhamos mais vida, começamos a pegar muitos casos e o
escritório foi crescendo. Consegui pagar tudo que eu devia em menos de um
ano depois disso, mas até hoje sinto as dores daquele espancamento.”
Sinto um aperto estranho no peito e apesar das palavras de consolo
se formarem na minha língua, não consigo pronunciá-las.
É surreal mas, gostaria de poder ter o ajudado quando tudo
aconteceu e algo em mim lamenta mais do que devia, por saber pelo que
passou.
— Você é a primeira pessoa pra quem conto essa parte da minha
vida. — ele murmura baixinho, como se tivesse vergonha. — Nem mesmo
Henry sabe de tudo isso. É…estranho.
Assinto, concordando com sua fala, mas prefiro ficar em silêncio
por não saber mais o que falar ou por medo de falar algo que não devo.
Fico feliz que deu tudo certo para que pudesse estar aqui hoje.
— Você precisa denunciá-los, antes que acabe acontecendo alguma
coisa com você, Alexia, e juro que só de lembrar daquele roxo no seu rosto,
meu sangue ferve. — diz no meu ouvido e o calor familiar passa por meu
corpo. — Não me importo que vai conseguir pagar o valor que combinaram
mensalmente, eles podem não cumprir a palavra, mas me importo com a
sua segurança e… — ele para de falar de repente, e sinto meu coração
descompassar quando continua. —, e me preocupo com você, peste.
Ele suspira e eu prendo a respiração.
Ele se preocupa comigo.
Luto contra a sensação boa que me atinge ao saber disso e pisco
rapidamente para afastar a emoção que tomou conta dos meus olhos mais
uma vez.
— Sou loira. — murmuro tão baixinho que temo ele não ter
ouvido, mas assim que o sinto se afastar, sei que ouviu.
— Sei que está mudando de assunto, mas eu realmente não
esperava por isso.
— Esse preto não se passa de tinta, que passo religiosamente todo
mês ou assim que o loiro começa a aparecer na raiz. — ele pega uma
mecha, que noto estar quase voltando ao comprimento anterior ao dia que
fui no salão ajeitar a merda que havia feito.
Preciso cortar de novo. Gostei deles curtos.
— E meu filme favorito realmente é Legalmente Loira, mas não
foi por isso que escolhi cursar Direito.
Ele solta uma risada gostosa e rouca, soltando meu cabelo,
voltando a me abraçar e estranhamente me sinto como se estivesse… em
casa.
— Por que está me contando isso?
— Acabou de dizer que dividiu uma parte da sua vida que ninguém
mais sabia, então achei justo fazer o mesmo. — suspiro e me levanto indo
em direção ao controle da televisão, numa tentativa de afastar a boa
sensação que me fez sentir. — Tudo bem que meus amigos sabem que na
verdade sou loira, mas achei que devia saber também.
Realmente quis lhe contar isso.
Estranho.
— Comecei a pintar depois que meus pais morreram e minha vida
de patricinha acabou, achei que não combinava mais comigo.
Sinto seu olhar em mim quando aumento o volume do seu jogo,
que já acontecia a um tempo. 
— Tenho certeza que fica tão maravilhosa loira, quanto é como
morena.
Sua voz soa ainda mais grave e quando me viro para ele, posso
jurar que seus olhos brilham quando em contato com os meus.
Me odeio por não ter reação diante de um elogio e sinto minhas
bochechas arderem.
— Por que não pega aquela tal de brigadeiro, que já deve estar no
ponto desde a hora que fez, e o comemos enquanto assistimos o que quer
que isso seja?
Pergunto apontando para a TV e ele sorri enquanto se levanta, indo
para a pequena cozinha.
— Então não errei quando te chamei de Elle Woods, hein? — ouço
sua provocação mas o ignoro tentando entender o que se passa na tela
plana.
Obviamente sei como um futebol acontece, mas ainda prefiro o
bom futebol americano, que vez ou outra assistia com meu pai.
Os times que aparecem à minha frente, estão divididos pelas cores
dos uniformes e não sei para qual o homem que se senta ao meu lado torce,
mas fico interessada no time que se veste de verde.
— Tenho certeza que quando experimentar, não vai mais querer
outra coisa. — ele diz enquanto aponta uma colher cheia do doce marrom
em minha direção, que não me deixa pegar quando avanço sedenta. — Seja
boazinha e abre a boca para mim, linda.
Meu corpo quase pega fogo ao ouvir dizer as palavras e as imagino
em outro contexto.
Contraio minhas pernas e suspiro me lembrando o que visto por
baixo das roupas, essa noite.
Abro a boca, aceitando que coloque a colher nela. Raspo todo o
doce dali e..
Puta. Que. Pariu.
Que tipo de perfeição é essa?!
Nunca tinha comido nenhum doce tão delicioso na vida e posso
jurar que é melhor até que o cheesecake de dona Mirta.
Esse homem jogou feitiço na comida de hoje, não é possível que
tudo esteja tão maravilhosamente delicioso.
Se me disserem que vou encontrar comidas tão boas no Brasil, já
sei que vou precisar fazer uma visita ao país assim que for uma advogada
bem sucedida.
— Aiden! — exclamo em um grito e o vejo abrir um sorriso largo
e cheio de dentes, feliz com minha reação. — Essa é a melhor coisa que eu
já comi na minha vida, e não estou brincando!
Não ligo de falar de boca de cheia e tomo a colher da mão dele,
junto da panela e pronta para mais disso.
— Precisa me ensinar a fazer.
— Segredo de estado, e agora será minha arma contra você,
sempre que ameaçar me matar.
Reviro os olhos mas volto a comer mais da oitava maravilha do
mundo que tenho à minha disposição.
— Eu poderia comer baldes disso.
— Estarei à disposição para fornecer, linda.
Ele continua sorrindo e quando me ajeito, ele avança para pegar
um pouco do doce, mas me nego a entregá-lo.
— Preste atenção no seu jogo que eu me viro com isso. — aponto
para frente. — Estou torcendo para o time de verde.
— Ta de brincadeira com a minha cara, Alexia?! — ele soa
indignado e concluo que o time tatuado em seu peito se trata do rival ao
qual escolhi. — É melhor calar essa boca antes que eu te expulse daqui, sua
peste.
Ele cruza os braços com a cara fechada e volto a comer o doce, não
duvidando da sua capacidade de me expulsar, mas não consigo me conter de
soltar uma risadinha quando o time dele sofre um gol logo em seguida.
— Ei!
Reclamo quando ele toma a panela e a colher das minhas mãos.
Aiden desliga a televisão, bufando de raiva e em total descrença de
que seu time perdeu.
Sorrio, mas parte de mim se compadece com a situação.
— Acho que está se esquecendo de uma coisa.
— Não sei o que posso estar esquecendo, mas sei que você é uma
pé frio para mim, pequena peste. — resmunga irritado.
— Posso ser bem quente quando quero, babaca. — aproximo
minha boca de seu ouvido quando vejo que tenho sua atenção. — Se
esqueceu da sua sobremesa?
Dou uma mordida no lóbulo da sua orelha e vejo seus pelos se
arrepiarem antes de me afastar e começar a tirar a blusa, a jogando junto do
terninho que já estava sobre o chão.
— Como eu poderia me esquecer disso? — ele sorri malicioso. —
Eu até merecia algo especial depois dessa perda horrenda que meu coringão
me deu.
Sorrio maliciosamente e monto em seu colo, logo depois de jogar
minha calça para longe e deixo nossos lábios a poucos centímetros, fazendo
com que sua respiração quente se misturasse com a minha.
— O que acha de me comer de quatro hoje, senhor Aiden Munhoz?
As palavras saem de forma lenta e sensual da minha boca e antes
que eu pudesse tomar uma ação, ele gruda nossos lábios, agarrando meus
cabelos entre os dedos.
Vou puxando sua calça de moletom para baixo enquanto me sinto
ser devorada por sua língua e dentes. Tenho de me afastar para concluir a
tarefa, o que ele faz a base de resmungos então já tiro sua cueca junto antes
de voltar a me sentar em seu colo.
Envolvo seu pescoço com meus braços mas ele não permite puxá-
lo até mim, pois gruda as mãos nas minhas cinturas e me afasta, admirando
a lingerie com que eu me encontro.
— Se eu soubesse que estava com isso por debaixo das roupas o
tempo todo, teríamos pulado toda a falação e partido direto para esse
momento.
Não deixo de sorrir, pois seria uma mentira se eu dissesse que não
me importaria se ele não notasse o que eu vesti para hoje.
Um corset vermelho era o destaque no meu corpo, junto da
calcinha minúscula e do sutiã transparente com algumas rosas entalhadas. O
conjunto trazia uma cinta liga discreta, mas nem por isso menos sensual.
Realmente vim esta noite na intenção de ser muito bem fodida pelo
homem que me admira como se eu fosse uma obra prima diante de seus pés.
O calor que eu sentia antes passa a queimar meu corpo, e minha
boceta começa a pulsar, almejando o contato de seu corpo conforme ele me
devora com o olhar.
Já me vesti assim para namorados e até para alguns caras nada
especiais, mas é a primeira vez que além de desejada, eu me sinto
completamente poderosa e incrivelmente bonita no que uso.
— Você está absurdamente linda essa noite, Alexia. — sua voz
grossa se faz presente e seus olhos passam lentamente por todo meu corpo
mais uma vez, antes de repousar nos meus olhos. — Sempre está
maravilhosa, mas dessa vez parece ter algo diferente. Não sei o que é mas
sei que seria um pecado eu deixar de te fazer gozar em todas as posições
possíveis enquanto veste isso.
Sorrimos juntos e ele me puxa para si, passando as mãos pelos
detalhes do que visto e volta a devorar minha boca.
Me perco nele quando seus beijos começam a descer por meu
pescoço e ir em direção aos meus seios e começo a rebolar em seu pau já
completamente ereto quando coloca um dos peitos para fora e passa a sugar
com força.
Solto alguns gemidos e levo as mãos em direção aos diversos
fechos do corset, mas as mãos de Aiden me impedem de abri-los.
— Vou te comer como está, Alexia. — ele fala e depois deixa uma
mordida no meu pescoço antes de trocar nossas posições. — Não vamos
desperdiçar nenhuma peça do que está usando e só vai tirá-las conforme os
orgasmos que tiver.
Ele se coloca atrás de mim e sorrio antes de me abaixar,
posicionando as mãos na outra extremidade do colchão enquanto empino
minha bunda em sua direção, e o ouço colocar a camisinha.
Assim que tudo volta ao silêncio, olho sobre o ombro e noto seu
peito subindo e descendo de forma descontrolada enquanto admira a
posição em que estou.
Ele passa as mãos grandes por minha bunda e deixa um tapa forte
em uma das nádegas, me fazendo gemer com a ardência prazerosa e sorrio
em resposta.
— Estava louco para que chegasse o dia em que te foderia nessa
posição, peste. — sua voz é rouca, carregada de desejo.
Uma de suas mãos sobe a caminho das minhas costas e por onde
seus dedos passam, vai deixando uma trilha de arrepios por minha coluna e
vou arquejando conforme avança.
Ele chega ao destino e enlaça meus cabelos em seu punhos, os
puxando em sua direção ao mesmo tempo em que segura firme em minha
cintura, e sinto seu pau cutucar minha bunda por cima do tecido.
Solto um gemido alto, já sentindo minha boceta encharcar, sedenta
por ser tocada.
Levo uma das minhas mãos para dentro da calcinha e quando toco
no meu clitóris inchado, solto um gemido alto enquanto sinto beijos sendo
depositados atrás da minha orelha e pescoço.
Quando Aiden percebe o que eu estava prestes a fazer, segura meu
pulso e me faz tirar a mão de onde estava, a levando até seu rosto.
Olho por sobre o ombro mais uma vez e quase salivo quando ele
leva meus dedos até sua boca e os chupa como se fosse seu prato favorito.
— Ainda não chegou a hora de se masturbar para mim, linda. —
sorri soltando meu pulso e volto a me apoiar no colchão. — Mas fique
ciente que esse dia vai chegar.
Dou uma rebola em seu pau, fazendo com que sinta como minha
calcinha está úmida e como estou clamando por ele, que sorri mais largo.
— Vai ter que pedir o que quer, Alexia. — reviro os olhos e acho
que chego a bufar antes de sentir mais um tapa ser desferido do outro lado
da minha bunda.
Sempre acabo marcada no final de tudo, como uma lembrança de
que sempre fodemos gostoso.
— Não vai ter o que quer antes de pedir.
Volto a rebolar e somente com esse precário contato, sinto meu
corpo todo clamar por mais.
— Me fode, Aiden. — olho para ele, que ainda segura meus
cabelos e começa a passar os dedos pela borda da calcinha. — Preciso que
me foda, agora.
Antes que eu continuasse a pedir, ele coloca o tecido de lado, ajeita
nossas posições me empurrando para baixo e mete em minha entrada.
Jogo meu peso sobre meus cotovelos e solto um gemido que parece
mais um grito de alívio quando ele começa a estocar com força, me levando
ao delírio.
Ele desfere mais alguns tapas e isso intensifica ainda mais o prazer.
Sinto que poderia começar a pegar fogo a qualquer momento enquanto ouço
o barulho que nossos corpos fazem ao se chocarem.
— Aiden… — começo a gemer seu nome enlouquecidamente,
sentindo o aperto em meus cabelos se intensificar conforme eu começo a
rebolar nele entre uma estocada e outra. — Aiden… mais forte.
Ele solta os meus cabelos e segura minha cintura com as duas
mãos, intensificando ainda mais os movimentos e sinto nossas peles
escorregadias uma contra a outra.
Sinto o orgasmo começar a chegar e quando ouço os gemidos
roucos dele, sei que também está perto. Ele enlaça meu corpo com seus
braços e levo minhas mãos até eles, enterrando minhas curtas unhas em sua
carne, me fazendo levantar o corpo e ficar grudada a ele nos últimos
minutos em que está dentro de mim, antes de gozarmos juntos.
Nos deixamos cair de lado sobre o colchão, ainda abraçados e
completamente ofegantes.
Ele não dá nenhum sinal de querer se afastar, seguimos assim até
nossas respirações se normalizarem e fecho os meus olhos, sentindo meu
corpo desacelerar e esperando minhas forças voltarem.
De repente sinto Aiden sair de mim e o barulho da camisinha
sendo jogada no chão, antes de me virar para ele e encontrar seu sorriso
ladino.
— Acho que já podemos nos livrar disso antes do próximo
orgasmo. — ele diz já se desfazendo da minha calcinha, junto da cinta liga.
— Prometeu ser minha sobremesa e vou fazer questão de te saborear a noite
toda, linda.
Não deixo de sorrir para ele enquanto começa a subir os beijos por
minhas pernas.
Que noite!
“Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso
Algo no modo como você se mexe
Me faz sentir como se não pudesse viver sem você
Isso me leva do começo ao fim
Eu quero que você fique”
Stay - Rihanna feat. Mikky Ekko
 

— Cansei de esperar! Seu irmão não sabe dar bons conselhos. —


franzo as sobrancelhas em direção ao Henry, que invade meu quarto
enquanto eu estava terminando de vestir minha camiseta, para descer jantar.
Ele para na minha frente e cruza os braços sobre o peito, mas logo
desfaz a posição e começa a mexer no cabelo de forma inquieta.
Antes que ele pudesse abrir a boca e começar a falar, a pontada de
culpa por estar escondendo tudo que vem acontecendo com Alexia, bate em
mim com força total.
Eu sequer sei o que estamos tendo e muito menos sei o que estou
sentindo por aquela peste, mas não posso mais manter tudo em segredo do
meu melhor amigo.
Suspiro pesado enquanto ele começa a falar sem parar.
— Está fugindo de mim. — diferente do que pensei que seria, sua
voz soa grave e mais séria que o normal. — Já faz quase um mês que vem
me evitando e estou desconfiado do motivo, e somente por isso ainda não
tinha vindo cobrar explicações. Imagino que esteja me escondendo alguma
coisa importante, e passei esses dias planejando como esconder seu corpo
sem vida caso não me conte logo o que é, mas não aguentei esperar quieto e
fui atrás do Adrian uma semana atrás para ver se ele sabia de algo.
— E o que descobriu? — ele arregala os olhos quando nota que
não nego que o estou evitando, porque não adiantaria mentir a uma altura
dessa.
— Porra! — ele coloca as mãos nos meus ombros e bate neles com
um sorriso largo no rosto. — Agora que não negou que está escondendo
alguma coisa de mim, tenho quase certeza do que é e já nem quero mais te
degolar.
— O que Adrian te disse, Henry?
— Não quis me dizer, mas me falou para esperar que logo você
viria me contar o que quer que seja. — Ele respira fundo, recuperando o
fôlego e deposita um tapa nas minhas costas. — Já podemos marcar a data
do casamento?
É minha vez de arregalar os olhos, e meu coração tropessa no peito
enquanto  tento não sorrir como um idiota com a imagem que se forma em
minha cabeça.
Sem querer, por culpa das suas palavras, visualizo Alexia dentro de
um vestido branco, vindo ao meu encontro e posso jurar que meu peito
começa a doer por conta do infarto iminente.
Mas que porra foi essa?
— Que merda de casamento, Henry?
— Seu e da Alexia. — não me surpreende ele ter acertado sobre o
que se tratava minha fuga de sua presença nas últimas semanas. — Espero
muito que seja sobre isso, porque se não for, não vou te perdoar por ter
cancelado nossas idas à academia esses últimos dias.
— Estamos… — paro de falar por um momento, não sabendo
como rotular nossa situação. —, tendo alguma coisa.
Ele começa a rir descontroladamente e só falta dar pulos de
felicidade com a notícia.
Não me orgulho por ter me mantido mais afastado dele nesses
últimos dias, mas só o fiz porque tenho certeza que não conseguiria me
manter calado sobre os encontros que venho tendo com a pequena peste.
Seria impossível me manter calado diante do homem à minha
frente, que considero quase como um irmão.
— Eu sabia! — ele começa a gritar. — Sabia que não iam aguentar
muito tempo sem acabar se atracando por aí! Estava nítido.
— Se eu pedir que pare de gritar, faria isso? — ele começa a rir
novamente, negando com a cabeça.
Suspiro derrotado e ando em direção ao closet, em busca de um
perfume, mas um sorriso se desenha nos meus lábios.
Não sei o porquê, mas alguma coisa me deixa feliz em ver
aprovação das pessoas por saberem sobre meu envolvimento com Alexia.
Como quando fui buscar ela no bar em que trabalha alguns dias
atrás, e acabei conversando um pouco com seus amigos, que estavam no
local, onde todos demonstraram entusiasmo para o quer que estejamos
tendo.
Não sei o que estou sentindo por ela, mas sei que nunca senti isso
em toda minha vida.
Nunca tive um instinto de proteção tão forte com outra pessoa,
nem mesmo com meus sobrinhos, e só de vê-la chorar, como fez ontem
quando me contou sobre o problema em que está nas mãos, algo em mim se
despedaçava enquanto via as lágrimas deixarem seus olhos e gostaria de
pegar todos os seus problemas para mim.
Odiei vê-la sofrendo daquela forma, e sei que preciso fazer algo a
respeito.
Quando me contou o que aqueles bandidos fizeram, meu sangue
ferveu nas veias e tive que segurar o impulso de me levantar e ir até à boate,
arrebentar a cara do maldito que a deixou roxa.
Algo me dizia que estava mentindo sobre a porra da queda na
escada!
O que me impressionou ainda mais, foi o fato de que não sou
violento e que jogaria minha carreira pro alto sem pensar, ao fazer o que me
deu vontade, e pouco me importava todos os problemas que viriam com
isso, desde que Alexia estivesse em segurança e longe das mãos deles.
Imagino muito bem o que são capazes de fazer, considerando o que
sofri no passado com o chefe desses supostos seguranças, e meu corpo gela
só de pensar o que podem fazer com ela.
— Não estamos tendo nada sério. — digo voltando meus
pensamentos para o presente, ao retornar para o quarto onde Henry ainda
sorria largo e me preparo para admitir que ele estava certo. — Mas tinha
razão sobre todo tesão que sentíamos e sobre não aguentamos lutar contra.
Até que não foi tão ruim admitir isso.
Não sei o porquê, mas me sinto estranhamente chateado ao me
ouvir dizendo que o que temos não pode ser considerado um
relacionamento.
Nunca pensei que me sentiria assim sobre uma mulher algum dia,
mas desde que Alexia invadiu minha vida, venho tendo muitos pensamentos
que sequer passaram perto da minha cabeça antes dela.
— Eu sempre estou certo, Aiden. — ele abre os braços para dar
enfase. — Então, não passa de uma foda causal?
— Exatamente isso. — suspiro enquanto me sento, me preparando
para confessar algo que não tinha confessado nem a mim mesmo. — E o
fato de eu não querer que fiquemos só na casualidade, vem me assustando e
me deixando confuso pra caralho.
Ele franze a testa e pareceu pensativo por um momento, antes de
vir até mim e colocar uma das mãos sobre minha testa.
— O que está fazendo, idiota?
— Vendo se não está com febre ou doente, porque acho que acabei
de te ouvir dizer que talvez esteja querendo ter um relacionamento sério
com uma mulher.
Tiro sua mão de mim com um tapa, e o xingo em português, mas o
maldito entende.
— Não ouse xingar minha mãe. — ele se afasta mas volta a sorrir.
— Está falando sério sobre isso?
— Sim. — respondo de imediato, que até me surpreendo. —
Não…quer dizer, não sei.
— O mundo vai desabar. — ele volta a gargalhar. — Essa é a
primeira vez que te vejo atordoado por causa de uma mulher, Aiden, nem
quando teve sua única paixonite na adolescência ficou tão iditoa assim.
— Eu sei, porra! — pareço desesperado e acho que realmente
estou. — Por isso não sei o que fazer com isso, não sei o que fazer com ela.
— Está apaixonado?
— Adrian fez a mesma afirmação alguns dias atrás e eu estava
convicto de que não. — pauso para respirar fundo antes de continuar. —
Mas sendo bem sincero, hoje eu já não faço ideia da resposta.

Meus olhos seguiram Alexia deixando a sala de aula acompanhada


do pequeno Bakers, e além do meu coração acelerado e da repentina raiva
que sobe por meu corpo, o arrependimento de ter liberado a turma mais
cedo que o normal, me toma por completo.
Porra, só os liberei porque queria alguns minutos com a pequena
peste e ela sai sem olhar para trás e com esse moloque no encalço?
Tento respirar fundo e me acalmar para não acabar fazendo
nenhuma besteira.
Queria que ela ficasse para que pudéssemos conversar, já que tem
uns dias que está evitando o assunto da sua dívida, mas a preocupação com
ela vem tirando meu sono e tudo piora quando ela escapa do assunto sempre
que tento abordá-la.
Não consegui convencê-la a denunciá-los e muito menos aceitou
minha ajuda para pagar o que deve, mesmo eu oferecendo um empréstimo
que, claro, nunca iria cobrar de volta.
Nunca tinha encontrado uma pessoa tão teimosa e orgulhosa
quanto Alexia e isso vem me tirando do sério, já que se trata da segurança
dela, que está pondo em risco não dando o braço a torcer.
Pensei em eu mesmo ir fazer a denúncia, mas não sei nada sobre a
aparência dos homens que a encurralaram e muito menos o modo de agir
deles após todos esses anos, mas não consigo parar de pensar no fato de que
preciso fazer algo para tirá-la dessa situação.
Desisto de tentar me manter sob controle sobre isso e largo todas as
minhas coisas na mesa, saindo em direção ao corredor cheio de jovens, a
procura da baixinha em seus scarpins inseparáveis.
Olho à minha volta mas não encontro ela, muito menos o loiro que
estava junto dela e começo a andar entre os alunos, com meus olhos à sua
procura.
Assim que coloco os pés para fora do prédio, avisto a mesma
sentada em um dos bancos da área externa, sorrindo para o maldito Bakers.
Fico a admirando por um tempo, pensando em como fica linda
quando sorri, e como gostaria de vê-la somente assim, sem as lágrimas que
já deixou escapar na minha frente, mas meu momento de contemplação é
interrompido ao me lembrar das falas de Adrian sobre ela se cansar de
alguém como eu e procurar um homem mais compatível e mais novo para
satisfazê-la.
Meus olhos seguem para o moleque que a está fazendo sorrir desse
jeito e meus sangue ferve sem que eu possa controlar a raiva sem sentido
que toma meu corpo.
Me lembro do fato dele ser mais jovem, até mais novo que ela, e
também de que se conhecem desde que eram crianças, considerando os
negócios de seus pais.
Tento não criar nenhuma teoria sobre o assunto, mas por um
momento me questiono se Alexia estaria cogitando ficar com esse maldito.
Meu coração começa a acelerar no peito conforme vou chegando
mais perto deles e não tento entender o que me leva a fazer o que faço em
seguida, quando vejo Ethan levar as mãos até o rosto dela antes de depositar
um beijo em sua bochecha.
— Alexia, precisamos conversar.
Minha voz soa mais grave do que eu pretendia, mas estou pouco
me fodendo para o que vão pensar, só preciso tirá-la de perto desse idiota.
— Bom dia, professor. — o loiro mostra os dentes sorridentes para
mim e não tento disfarçar minha expressão irada para ele. — Vão conversar
algo sobre a matéria de hoje? Por que se for o caso, acho que preciso
recapitular algumas coisas antes da prova de…
— Assunto confidencial, Bakers. — direciono meu olhar para
Alexia por um segundo, encontrando sua expressão irritada.
Ótimo. Também estou irritado.
— Se restou alguma dúvida sobre a aula, deveria ter usado o tempo
em sala para fazer questionamentos. — volto a focar em seu rosto. —
Agora se puder nos deixar um momento a sós, acho que não vai cair suas
pernas se sair daqui andando sem sua amiga junto.
Não dou tempo para que me responda e viro as costas, voltando
para o prédio.
— Estou te esperando, senhorita Stewart.
Consigo identificar o som dos seus saltos batendo firmes no chão,
e esse é o único indício de que está me seguindo.
Assim que entro na sala, começo a andar de um lado para o outro,
passando as mãos pela barba e bagunçando meus cabelos, em um claro sinal
de nervosismo, talvez até de desespero.
O que foi isso que acabou de fazer, Aiden?
Que porra está fazendo?
Melhor ainda, o que merda essa peste está fazendo comigo?
Ouço a porta bater com força, antes de escutar as voz quase
descontrolada de Alexia as minhas costas.
— Que caralho foi isso que acabou de acontecer, Aiden? — ela
vem até mim e quando sinto suas mãos pequenas em meus ombros, sinto
meu coração começar a desacelerar. — Pode me explicar o que deu em
você?
Ela me força a encará-la e assim que meus olhos pousam em seu
rosto, vejo a merda que fiz, sem ter nem ideia do porque ter feito.
— Voltou a ser o Senhor Escroto por completo ?
— Vocês já tiveram alguma coisa? — não consigo controlar minha
língua e Alexia franze a testa. — Você e o Bakers. Tem ou já tiveram algum
relacionamento?
Ela começa a rir de maneira forçada e consigo notar o quanto está
brava com a situação.
— Você só pode estar brincando comigo, Aiden. — para de rir e
cruza os braços, batendo levemente os pés. — Mesmo se eu tivesse algo
com ele, não te daria o direito de fazer o que fez. Perdeu completamente o
senso e me fez lembrar o quão babaca você é, mas se era isso que queria,
que eu esquecesse o quão bom vem sendo para mim e me lembrasse que
estou lidando com um ogro, conseguiu com honras, Senhor Escroto.
A parte racional do meu cérebro nota quando ela admite que estou
sendo bom para ela e meu coração dá um pulo no peito, mas o lado
irracional me domina por completo no momento.
— Então não está acontecendo nada entre vocês dois? — questiono
sem saber o que estou falando, olhando nos seus olhos desacreditados. —
Não está ficando com mais ninguém no momento, como concordamos entre
nós no começo disso tudo?
— Só prestou atenção nessa parte? Porra, Aiden, o que deu em
você?!— descruza os braços e vai para perto da porta, agindo de uma forma
mais madura do que eu. — Não quero discussões hoje, porque acho que já
passamos dessa fase, mas saiba que você foi um completo escroto, Aiden
Munhoz, e vou ficar esperando um pedido de desculpas por conta dessa
crise patética de ciúmes sem sentido.
Ciúmes?
Perco a fala e antes que eu conseguisse formular qualquer frase, ela
deixa a sala sem olhar para trás, batendo a porta outra vez.
Não posso estar sentindo ciúmes de Alexia, ou posso?
Porra, Aiden, onde você foi se enfiar?

— Mãe? — bato na porta do seu quarto e coloco somente a cabeça


para dentro. — Podemos conversar na sala um pouco?
Ela olha para meu pai e trocam um olhar que não entendo, mas ela
devolve o livro que estava em suas mãos de volta a sua mesinha de
cabeceira, antes de sair da cama e vir até mim.
Descemos as escadas em silêncio, assim que chegamos na sala ela
se senta no sofá e sem perda de tempo, deito minha cabeça em seu colo.
Ela começa um carinho suave nos meus cabelos e me permito
relaxar, tentando deixar para trás a discussão que tive com Alexia mais cedo
e o fato dela ter passado a tarde toda me ignorando e evitando estar no
mesmo local que eu, me lembrando a situação que estávamos antes de
começarmos a nos envolver.
— O que está se passando nessa cabeça, Aiden.
— Não sei. — suspiro pesado antes de continuar. — Espero que a
senhora me ajude a entender, na verdade.
— O que quer entender, filho? — ela começa a falar em portugues
então a sigo.
— Como soube que estava apaixonada pelo meu pai? — ela fica
em silêncio por um tempo e antes que eu pudesse me virar para ela, sinto
meus cabelos sendo puxados em sua direção. — Ai! Mãe, que porra!
Assim que meus olhos encontram seu rosto, penso em ir direto
para o meu quarto com o arrependimento de tê-la chamado para isso.
Seus olhos brilham como se estivesse prestes a chorar e estampa
um sorriso enorme.
— Estou entendendo certo? — ela praticamente grita. — Meu
caçula finalmente se apaixonou sem eu precisar contratar uma noiva para
ele?
— Não disse que estou apaixonado. — solto suas mãos dos meus
cabelos e volto a olhar para frente, ainda deitado em seu colo. — Vai me
responder ou não?
— Ah Aiden, acho que essas coisas são mais fáceis para uns que
para outros. — ela abranda a voz. — Se perguntasse isso ao seu pai, pode
ser que ele te responda que soube que estava apaixonado por mim assim
que nos vimos pela primeira vez e o coração dele não conseguia ficar quieto
no peito.
— Sei como o papai é emocionado, por isso mesmo estou
perguntando pra você, que é mais difícil de lidar e um pouco mais parecida
comigo. — ela me dá um beliscão no braço e murmuro uma reclamação.
— Na verdade, você foi achado numa caçamba de lixo, já que não
se parece nenhum um pouco com nenhum de nós dois. — olho feio para ela
que sorri e deixa um beijo na minha testa. — Mas eu não te amo menos por
isso.
— Te amo também.
— Eu tive uma crise de ciúmes. — fico confuso com sua fala
repentina após algum tempo em silêncio. — Foi assim que percebi que
precisava ter seu pai a qualquer custo e que eu estava apaixonada. Já estava
acostumada com a presença dele após alguns encontros e meu coração
sempre parecia querer explodir no meu peito sempre que eu olhava para ele,
mas o que me fez chegar a conclusão foi quando o vi abraçado com uma
sirigaita. Nunca tinha sentido ciúmes de ninguém antes dele, e fiquei
possessa da vida quando vi as mãos dele em volta da cinturinha tamanho
trinta e seis da mocreia e medo de perdê-lo me dominou. O puxei pelo
colarinho na frente dos colegas dele e o beijei ali mesmo, me declarando
logo em seguida.
— Conheci uma mulher. — murmuro baixo e continuo após um
gritinho vindo da parte dela. — Não sabia o que vinha sentindo por ela, ou
queria acreditar que não sabia, mas sempre que ela está por perto, por mais
que esgote toda minha paciência as vezes, não consigo deixar de pensar no
quão maravilhosa ela é, mesmo quando está ameaçando me matar.
Sorrio sozinho me lembrando de algumas discussões com Alexia e
ouço minha mãe rir com a minha fala.
— Pensei que o sentíamos um pelo outro não se passasse de um
desejo, e que todas essas sensações sumiriam depois de algumas vezes
juntos, mas só tem aumentado e piorado minha situação. — suspiro,
tomando coragem de admitir tudo que venho sentindo em voz alta. —
Sempre que ela está no mesmo ambiente que eu, não consigo deixar meus
olhos longe dela e é como se eu fosse atraído por um ímã até sua presença.
“O sorriso e a gargalhada dela são as melhores coisas que já vi e
ouvi nessa vida e sinto que preciso proteger ela de tudo e todos que queiram
o mal dela. Ela é extraordinária, mãe, e depois que me confessou algumas
coisas, fico ainda mais admirado com toda sua força. Nunca me senti tão
protetor com nenhuma outra mulher antes e não sei o que fazer a respeito
disso. O fato de ver ela com outro homem, tocando no que só eu deveria
tocar, ou de cogitar a ideia que eu poderia facilmente ser trocado, até
mesmo o medo de não ser o suficiente para ela, me deixa enraivecido de um
jeito que nunca me vi antes. Acho que é ciúmes.”
— De ciúmes eu entendo bem, com certeza está com ciúmes filho.
— ela volta a fazer um cafuné em mim e aproxima o rosto bem próximo ao
meu. — Está apaixonado por essa moça, Aiden?
— Eu acho… — as palavras travam na minha garganta, lutando
para sair e sinto meu coração queimar no peito. — Porra, estou! Acho que
isso nunca aconteceu antes e não poderia ter sido com aquela peste, mas tô
apaixonado por ela e não sei o que fazer, mamãe.
— Admitir para si mesmo já foi um grande passo, querido. — ela
beija minha testa. — Eu te disse que o amor chegaria na sua vida de
surpresa, como uma chuva em um dia ensolarado.
Sorrio me lembrando de quando me falou isso e quase deixo
escapar uma risada com a lembrança.
Ela deposita mais um beijo, antes de metralhar perguntas sobre
Alexia, das quais eu faço questão de responder todas com um sorriso no
rosto.
Não esperava que acontecesse, mas também não vou negar que
acabei me apaixonando pela pequena peste.
Alexia realmente invadiu minha vida como uma chuva em um dia
de sol, literalmente, e agora não sei como dizer a ela que preciso que fique
para sempre, porque já não sei se consigo mais viver sem sua presença.
Nunca me vi mais fodido.
“Ao mesmo tempo, quero abraçá-lo
Quero colocar as minhas mãos em volta do seu pescoço
Você é um babaca, mas eu amo você
E você me deixa tão louca que fico me perguntando
Por que ainda estou aqui, ou aonde eu poderia ir?
Você é o único amor que conheci
Mas eu te odeio, te odeio de verdade”
True Love - P!nk!
 

Olho em direção ao homem que não para de me encarar do outro


lado da quadra e imagino mil maneiras diferentes de como acabar com a sua
vida.
Forço meu coração, que passou a bater desenfreado desde que o
viu adentrar os portões do campus, a se aquietar, juntamente do sentimento
estranho de saudade que meu corpo sente de tê-lo por perto.
Enquanto penso de que forma gostaria de degolar seu pescoço pela
vergonha que me fez passar na frente de Ethan dois dias atrás, também sinto
vontade de pular em seu colo e o encher de beijos.
Minha deusa P!nk, nunca esteve tão certa quando cantou “True
Love”.
É quase loucura pensar que sinto falta de seus beijos, da sua mão
em torno do meu corpo e do calor que só ele consegue me proporcionar.
Isso que só fazem apenas dois dias que discutimos por conta de seu
aparente ataque de ciúmes, completamente desnecessário, já que desde que
o beijei pela primeira vez, não consigo pensar em estar nos braços de
qualquer outro cara.
Mas eu é que não vou admitir isso a ele.
Não consigo nem mensurar o tamanho da raiva que ele me fez
sentir por aquela cena, e depois ainda tive que inventar ao intrometido do
Ethan, que eram questões do escritório, e por isso ele estava com aquele
humor terrível.
A verdade é que também fiquei furiosa por ele ter me lembrado
como pode ser escroto, e odiei admitir isso porque acho que uma parte de
mim, está começando a gostar dele de verdade, gostar além do sexo
extraordinário que fazemos juntos.
Uma pequena, espero que bem pequena parte, está confiando nele
e percebendo que sinto coisas que nunca senti com nenhum outro antes.
Devo admitir que enquanto ele perguntava se eu e o Bakers
tínhamos algo, tive que sair correndo da sala para não ser hipócrita e o
agarrar ali mesmo, já que meu estômago revirava de alegria ao notar que
talvez ele pudesse estar com ciúmes.
Não sei o que pensar sobre essa confusão de coisas que estou
sentindo e prefiro não pensar na intensidade com que venho sentindo, por
puro medo de admitir a mim mesma algo que não quero.
Um sorriso discreto surge em meu rosto ao me lembrar de quando,
no mesmo dia mais tarde, pedi que Henry me transferisse de volta para
Jonas e ele o fez, me dizendo que Aiden iria cortar seu pau quando
descobrisse e pude ouvir os dois discutindo um tempo depois quando
precisei pegar alguns papéis em seu escritório.
Aiden pareceu indignado com o fato de eu estar o ignorando, mas
confesso que só o fiz porque estava esperando um pedido desculpas que não
chegou, e mesmo odiando admitir, isso me chateou mais do que deveria.
Nunca fui de exigir desculpas pelas vezes que meus amigos me
deixam furiosa, e sempre que temos alguma discussão, tudo se resolve sem
precisarmos utilizar palavras, e quando se tratava dos meus antigos
namorados, eu resolvia rompendo tudo de uma vez, sem paciência para
reconciliações.
Mas de Aiden eu desejei um pedido e ainda espero uma
reconciliação, porque infelizmente ainda não estou pronta para acabarmos
tudo que temos.
Mesmo não fazendo ideia do que temos.
Porra, isso tá me deixando cada vez mais confusa.
Meu sorriso murcha e suspiro pesado quando os olhos dele se
desviam dos meus.
Não o conheço a muito tempo, mas sei sobre ele o suficiente para
ter certeza do tamanho de seu orgulho, e que também não vou vê-lo se
desculpando tão cedo.
Não quero que as coisas entre nós acabem assim.
Não quando ele vem me fazendo sentir tão bem comigo mesma,
como nenhum outro fez.
Sinto uma cotovelada em minha cintura e olho feio para Lia, que se
encontra eufórica ao meu lado.
— Lia, não estou me sentindo bem. — digo bem próxima ao seu
ouvido, já que por conta do barulho estridente da torcida para os Hedgehog,
fica difícil se comunicar. — Acho que já vou ir pra casa.
Ela me olha chateada e sei que vai me xingar já que havia
prometido marcar presença no jogo de hoje, mas eu não esperava que toda a
equipe docente fosse obrigada a estar aqui também.
Só isso explica o fato de Aiden estar em um jogo onde o astro em
quadra é Ethan e seu time.
— Alexia! — ela me agarra e não consigo me afastar dela. — Você
prometeu que assistiria aos jogos comigo quando os meninos estiverem
jogando em casa.
Aponta para a frente onde se passa o jogo de handebol, que não
consigo entender nem se tentasse muito.
Lia sempre amou marcar presença nos jogos e antes de Mark
aparecer em sua vida, estava sempre agarrada com algum jogador.
— Desmarquei de estar aqui com Mark porque sei que não gosta
dele, e se você for embora, vou ficar sozinha. — ela grita em meus ouvidos
e tenho a sensação que meus tímpanos vão estourar.
— Você desmarcou com ele ou ele mesmo sugeriu que viesse
comigo para não ter que andar juntos em público? — não consigo me conter
ao questioná-la.
Ela se afasta de mim, fechando a expressão e vejo que falei merda.
— Desculpa. — me apresso em dizer e vejo ela arquear as
sobrancelhas.
— Percebeu que desde quando começou a andar com aquele que
não deve ser nomeado — sei que se refere a Aiden, pois foi assim que
passou a chamá-lo quando estamos em algum lugar em público. —, passou
a ser mais tolerante sobre admitir seus erros e a se desculpar?
Solto apenas um suspiro e seguro minha língua.
— Tô falando sério, Alexia. — Ela continua, testando toda minha
paciência. — Percebi que também vem aprendendo a se controlar quando
sente vontade de sair xingando meio mundo. Você pode não querer admitir,
mas os amigos estão aqui para isso então vou ser bem clara com você.
Ela para por um momento, e penso que desistiu de falar, quando
sinto meus ombros serem virados e seus olhos escuros me encaram, com
um sorriso radiante em seu rosto.
— Ele está fazendo muito bem para você, Alexia. — sua fala me
atinge em cheio e sinto algo estranho, como se fosse um abraço
reconfortante no meu peito, e tenho que controlar o instinto de me virar de
volta para Aiden. — Luke estava segurando a língua, dizendo que precisa
enxergar isso sozinha e Hanna concorda com ele, mas eu discordo, então…
Ela respira fundo, recuperando o fôlego e agora noto como sua voz
está rouca, de tanto gritar pelos idiotas que correm com a bola nas mãos as
nossas costas.
— Admite que esses últimos dias tem estado impossível de lidar,
porque brigaram após muito tempo se dando bem e está sentindo saudades
dele. — diz bem perto ao meu ouvido, abaixando o tom dessa vez. — Está
confusa porque nunca se apaixonou de verdade antes e é normal, mas se
não admitir isso para si mesma de uma vez, vão acabar perdendo a chance
de terem algo lindo.
— Para com essa história, Lia. — tento me afastar dela, sentindo
uma falta de ar repentina. — Não sinto nada por ele, e estou ótima assim.
Você, o Luke e até mesmo Nana, precisam parar de tentar colocar isso na
minha cabeça.
Ela finalmente se afasta, suspirando e revirando os olhos.
— Pode negar o quanto quiser, mas uma hora vai perceber o quão
bom ele está sendo pra você. — ela desvia os olhos de mim, e os concentra
em algo as minhas costas. — E algo me diz que é completamente recíproco.
Ela se afasta, e me deixa sozinha, sem entender sua atitude.
Não era ela que queria que eu ficasse até o fim do jogo?
— Podemos conversar em algum lugar mais silencioso, senhorita
Stewart? — a voz que faz meu corpo entrar em combustão soa atrás de
mim, então entendo o porquê de ter me deixado sozinha. — Por favor?
Me viro em sua direção e a vontade de esbofeteá-lo por toda
confusão que vem causando em mim, retorna com força total, junto ao
desejo de o arrastar até a primeira sala vazia e implorar para que me beije.
— Não. — sou direta, temendo deixar escapar algo que não devo.
— Na verdade eu já estava de saída, então com licença.
Cometo o erro estupido de respirar fundo ao passar por ele, e seu
cheiro me atinge, fazendo com que eu apresse meus passos para fora da
quadra fechada.
Não olho para trás enquanto o faço e quase tropeço em algumas
pessoas por conta da aglomeração.
Assim que meus pés encontram os ladrilhos antigos da área
externa, consigo suspirar tranquilamente, sentindo a brisa gelada por conta
das árvores.
Minha paz momentânea é interrompida ao ouvir passos atrás de
mim e mesmo clamando para um milagre, quando me viro, encontro Aiden
se aproximando de mim em passadas curtas, com sua expressão fechada.
Porra, não quero discutir.
— Não quero brigar. — é a primeira coisa que ele fala antes de
colocar uma das mãos em minha cintura.
O calor que seu toque me passa, espalha por todo meu corpo e
sinto meu coração descontrolar, juntamente com a sensação esquisita que
visita meu estômago sempre que o tenho ao meu lado.
Me deixo ser conduzida por ele até um local afastado enquanto sou
tomada por flashes de Luke, de quando me contou o que sentia sobre
Marco, um pouco antes de o pedir em namoro por estar apaixonado.
As sensações parecem ser as mesmas, e sei que são porque já me
apaixonei antes, mas nunca as senti de maneira tão intensa quanto agora,
porque tinha consciência de que não iria me trazer benefícios, sempre foram
passageiras e não durava sequer três semanas.
Mas tudo isso que Aiden me faz sentir quando encosta em mim, ou
até mesmo quando simplesmente está no mesmo ambiente que eu, é
completamente surreal e diferente do que já senti antes.
Meu corpo sempre parece em chamas com ele, e é como se tudo
retornasse ao devido lugar quando me toca.
Não posso ter me apaixonado.
Me recuso a acreditar.
Tento focalizar nos seus lábios se movendo quando ele se coloca
na minha frente após eu me escorar na parede de um dos prédios antigos e
afastados da Garden e respiro fundo, controlando meus batimentos
cardíacos desenfreados.
—... quero conversar sem correr o risco de ser deixado falando
sozinho. — consigo escutar o final de sua frase antes de ele respirar fundo e
olhar em meus olhos.
Não tenho nenhuma reação, mais por conta do choque dos meus
próprios pensamentos, que pela fala dele, mas ele encontra no meu silêncio,
um motivo para continuar.
— Precisamos conversar sobre uma coisa. — ele desvia os olhos e
olha ao redor, nervoso. — Preciso que me escute sobre algo, mas não quero
que seja num lugar onde as pessoas podem ouvir, porque preciso confessar
algo. E também não quero que se assuste, então acho melhor estarmos perto
de um pronto socorro, caso você desmaie ou decida acabar com a minha
vida.
— Não precisamos conversar e você não precisa me confessar
nada. — finalmente consigo falar, mas minha voz sai insegura enquanto o
empurro e vou saindo de perto dele. — Eu não tenho nada para admitir e
também não tenho nada para ouvir de você.
Acabo me enrolando nas minhas palavras, que se embaralham com
meus pensamentos e o deixo para trás antes de fazer algo impensado.
Dessa vez não ouço seus passos atrás de mim e só assim tenho a
certeza de que estou sozinha para poder deixar rolar a lágrima solitária que
estava presa em meu olho todo esse tempo.
Não estou apaixonada.
Não posso estar apaixonada porque simplesmente não posso jogar
todo meu futuro na lama por conta de uma paixão idiota.

Estou concentrada no filme que se passa à minha frente, enquanto


deveria me concentrar nas anotações que estou passando a limpo, mas eu já
deveria saber que estudar enquanto assisto Legalmente Loira, nunca é uma
boa ideia.
Suspiro e dou uma conferida no pequeno espelho que carrego em
meu estojo, conferindo se todos os sinais do meu choro de algumas horas
atrás desapareceram por completo, e me frusto ao ver como as minhas
pintas ainda se encontram um pouco mais em evidência por conta da
vermelhidão.
Não consegui me controlar e caí no choro assim que passei pela
soleira da porta. Mas agora tudo já está de volta nos trilhos.
Não estou apaixonada e ainda tenho um futuro brilhante à minha
frente.
É só repetir esse pensamento na minha mente que ele se torna
realidade, mesmo não sendo.
E não vou admitir que se trata de uma mentira.
Não estou apaixonada.
Como eu queria um doce agora.
Suspiro pesado e deixo o caderno de lado, voltando a focar na cena
a minha frente, bem quando Elle percebe que não precisa do ex namorado
babaca para ser feliz.
É, mas não podemos esquecer que ela acaba ficando com um
advogado gostoso no final de tudo, junto com uma carreira promissora.
fecho meus olhos quando escuto meu inconsciente me alfinetar,
mas os abro assustada, quando ouço batidas quase violentas na porta.
Levanto e ajeito o moletom no meu corpo, e aperto o laço da calça
também de moletom antes de abri-la.
Me assusto quando encontro Aiden com algumas sacolas nas mãos
e com o olhar aflito.
— Estava chorando?
É a primeira coisa que ouço sair da sua boca.
Droga.
— O que quer aqui e como soube qual meu apartamento? — minha
voz sai rouca.
— Tive uma ajuda da sua amiga. Não vou sair da sua porta até que
me deixe entrar, que ouça meu pedido de desculpas e — ele ergue as
sacolas. —, essa é minha bandeira de paz.
Ergo a sobrancelha para ele.
— Te faço brigadeiro depois que estivermos resolvidos.
Ele jogou baixo. Muito baixo.
Suspiro pesarosa, dando espaço para que ele pudesse entrar.
E lá se vai minha regra de não deixar que qualquer homem com
que eu esteja envolvida, conheça meu espaço pessoal.
 Tudo pelo brigadeiro, é claro.
“Mas você nunca ficará sozinha
Eu estarei com você do crepúsculo ao amanhecer
Eu estarei com você do crepúsculo ao amanhecer
Amor, eu estou bem aqui
Eu vou te apoiar quando as coisas derem errado
Eu estarei com você do crepúsculo ao amanhecer
Eu estarei com você do crepúsculo ao amanhecer
Amor, eu estou bem aqui”
Dusk Till Dawn - Zayn feat. Sai
 

Sorrio discretamente enquanto passo pelo batente, não deixando de


notar a forma descontraída com que Alexia está vestida.
Continua tão linda quanto quando está em seus terninhos.
Respiro fundo ao passar por ela e inalar seu perfume, tentando
controlar as batidas rápidas do meu coração.
Depois de dois dias sendo infernizado por minha mãe e discutindo
com Henry depois dele ter devolvido Alexia aos cuidados de Jonas,
consegui colocar a cabeça no lugar para tomar uma decisão.
Preciso contar a essa petulante que acabei me apaixonando por ela,
sem nem me dar conta e não adianta tentar omitir ou escapar do sentimento,
já que sinto que não vai passar tão cedo.
E alguma coisa me diz que ela sente o mesmo, só não quer admitir.
Ouço a porta ser trancada e um sorriso brota no meu rosto ao
passar os olhos pela casa de Alexia e a enxergo em cada cantinho dali.
Observo a televisão ligada e pelo que me lembre da cena em
questão, já que assisti anos atrás junto de Clarice, vejo que estava assistindo
Legalmente Loira.
Ela passa por mim e pausa o filme, cruzando os braços sobre o
peito, me olhando de cima a baixo.
Sigo seu olhar e entendo o questionamento em seus olhos, já que
saí de casa sem me importar com as roupas que estivesse e por isso acabei
na porta dela usando apenas um pijama de flanela.
— Não tive tempo de me trocar, por isso estou de pijama. — ela
assente, como se agora entendesse o que visto. — Só pensava em como
gostaria de me desculpar com você por ter sido um escroto, então acabei
vindo assim mesmo.
Deixo de lado a parte em que passei os últimos dois dias me
corroendo de vontade de ir até ela onde quer que estivesse, colocá-la em
meus ombros e não soltar até que me ouvisse, mas entendo que precisasse
de um tempo após ignorar minha presença e fugir de mim mais cedo.
Meu coração se partiu quando notei o tom avermelhado e magoado
de seu rosto, mas o sentimento foi logo foi substituído, quando sua
expressão se torna surpresa, provavelmente não acreditando no que acabei
de admitir.
E essa nem a parte que mais vai chocá-la.
— Senti sua falta. — suspiro deixando as palavras que estavam
presas, saírem como uma lufada de ar e ela abre a boca em choque. Vejo
quando seus olhos brilham de uma maneira diferente. — Senti sua falta e
sei que fui um babaca, como você sempre me alertou que fosse, então
espero que me perdoe por ter agido daquela maneira.
— Espera. — ela pede em um murmuro antes de sentar devagar no
sofá. — Você está assumindo que eu sempre estive certa sobre sua índole?
Não contenho um revirar de olhos, pois é claro que ela ia focar
nisso e não no meu pedido desculpas.
— Prestou atenção na parte em que me desculpei por isso? —
questiono calmamente.
Surpreendentemente calmo.
— Vai acontecer alguma catástrofe, em breve. — ela cobre a boca
com as mãos, se levantando e começa a andar. — Ou eu estou alucinando,
acho que a segunda opção é mais realista.
— Alexia, estou tentando conversar sério. — vou até ela depois de
colocar as sacolas com os ingredientes para o brigadeiro sobre a mesa. —
Consegue parar e me escutar, por favor?
Seguro seus ombros e ela paralisa, fitando meus olhos e faço o
mesmo.
Contenho o sorriso ao sentir meu coração inquieto, se acalmando
como mágica ao tocá-la.
Como fui me apaixonar logo pela peste que invadiu minha vida
sem que eu percebesse?
Pensando assim, acho que justamente por isso ela me conquistou.
Não foi algo que eu esperava, não estava pronto para lutar contra, mesmo
tentando.
Ela se afasta alguns passos para trás, mas assente, concordando
com que eu prossiga com o que vim fazer essa noite.
— Sei que fui um completo escroto com você e com o Bakers. —
começo assumindo meus erros. — E confesso que perdi a cabeça daquele
jeito porque não estava entendendo o que estava sentindo ao ver vocês dois
juntos, mas agora que sei do que se trata, tenho plena consciência que não
tive razão.
Suspiro, ensaiando como vou dizer a ela o que preciso, sem que
surte e venha para cima de mim.
— Eu estava com ciúmes. — solto em uma lufada e vejo seus
olhos se arregalarem. — Sei que não justifica minha atitude, mas eu não
sabia como lidar com o sentimento, porque foi a primeira vez que senti algo
como aquilo. — meus ombros caem derrotados. — Quando vi que você
estava sorrindo e que ele podia te dar um beijo na frente de todos sem que
fossem julgados, senti inveja do que ele pode te proporcionar. Lembrei de
quando meu irmão me perturbou sobre você cansar de mim e procurar
alguém mais novo e…— começo a correr com as palavras por conta do
nervosismo em não conseguir me expressar como deveria. — E fiz merda.
Mas a verdade é essa, não suporto a ideia de te ver nos braços de outro
homem, Alexia, porque pode parecer loucura e totalmente inesperado, mas
estou completamente…
Me assusto quando ela avança em mim, colocando suas mãos
delicadas sobre minha boca, me impedindo de falar.
Com essa atitude, meus olhos voltam a focalizar em seu rosto e o
encontro tomado de emoção.
Seus olhos brilham como se estivesse prestes a chorar e vejo um
medo se espalhar por ele.
— Não… — é apenas um murmúrio baixo. — Não continue, por
favor.
Sua voz está trêmula e seguro suas mãos, as afastando do meu
rosto, mas continuo a segura-las.
— Mas Alexia, não posso fugir disso e eu preciso…
— Eu imploro que não diga. — me interrompe de novo e sua voz
aumenta um pouco, parecendo quase desesperada enquanto nega com a
cabeça e uma lágrima solitária escapa de seus olhos.
Sinto sua respiração acelerada se misturar a minha e tenho vontade
de fazer com ela tudo que não pude fazer nos últimos dias.
Porra, como estou com saudade, linda.
Mas olhando seu desespero para que eu não fale, me sinto
angustiado por vê-la assim e então a compreendo.
Entendo que não posso e sequer preciso assumir meus sentimentos
agora.
Se eu estiver certo sobre Alexia sentir o mesmo, minha peste deve
estar assustada com o que sente e ainda não tem coragem de assumir nem a
si mesma, quanto menos a mim.
Ouvir qualquer declaração sair da minha boca nesse momento, só
acabaria estragando tudo que temos e nem de longe é isso que quero.
Não preciso dizer em voz alta, mas posso começar a demonstrar
tudo que sinto em minhas atitudes, para que possa entender que pode
confiar no que sente.
Eu espero até que esteja pronta, minha peste
— Não precisa me dizer o que quer que veio confessar. — ela
limpa as lágrimas. — Não preciso saber de nada, porque se você me contar,
vou ser obrigada a admitir coisas que não estou pronta e isso me deixaria
ainda mais louca do que acho que já estou ficando, então…— ela respirou
fundo, fechando os olhos por um momento. — Só vamos continuar como
estamos, já tem sido maravilhoso assim e não quero que as coisas acabem
mudando por conta da minha teimosia, não agora.
Um sorriso se espalha por meu rosto, porque mesmo não
percebendo, Alexia acabou de confessar que sente algo por mim, apesar de
relutar.
Envolvo seu corpo em um abraço e ela o retribuiu, circulando
minha cintura com seus braços e recostando a cabeça em meu peito.
Deixo um beijo no topo de sua cabeça, respirando fundo seu aroma
único.
Não acredito que fui rendido por esse oompa-loompa.
— Tudo bem, então. — apoio meu queixo onde beijei a alguns
segundos. — Eu tenho aprendido a ser paciente quando se trata de você,
linda, e consigo esperar até que esteja pronta para isso.
— Obrigada. — ouço sua voz abafada mas sinto o alívio nela. —
Eu te desculpo por aquela imbecilidade na frente do Ethan, e pelo menos
sobre isso, posso te tranquilizar.
Ela afasta o rosto de mim para me olhar e quando nota que eu
ainda estou sorrindo, deposita um selinho rápido em meus lábios, também
sorrindo em seguida.
— Pode me tranquilizar sobre o que?
— Sobre sua insegurança. — ela diz em tom provocativo e reviro
os olhos. — Não precisa se preocupar, Aiden. — assume um tom sério. —
Não fiquei com mais ninguém desde que te beijei naquele banheiro e não
pretendo te trocar por nenhum outro. Minha boceta é sua, lembra?
Solta uma risada divertida ao citar sua fala na primeira vez que
transamos.
— Fico feliz em ouvir isso, peste, e também preciso dizer que
nenhuma outra mulher passou por meus pensamentos desde aquele dia. Só
existe você. — preciso segurar minha língua para não continuar com as
declarações e ela suspira. — Podemos entrar em acordo sobre as pernas
serem minhas também, e se possível a boca entrar junto e talvez até sua…
Ela solta uma gargalhada ao notar meu tom brincalhão e preciso
parar para apenas observar esse momento.
Sua risada vem se tornando meu som favorito.
— Meu corpo todo é seu, Senhor Aiden. — ela confessa ainda
sorrindo. — Mas precisa ter paciência até que eu possa estar pronta para te
entregar minhas outras partes.
— Temos todo tempo do mundo, minha peste. — deixo um beijo
em sua boca, sendo sincero. — Então, podemos ao menos definir o que
temos como um relacionamento fixo?
Arqueio uma das sobrancelhas, temendo sua resposta, mas o que
ouço faz com que meu coração de piruetas no peito.
— Não gosto da palavra relacionamento, porque todos os meus
foram um fracasso, mas com certeza o que temos não é mais uma
casualidade, então acho que podemos definir assim.
Tomo seus lábios assim que termina sua fala, e como sempre sou
tomado pela explosão que sinto quando nossas bocas se encontram.
Sugo sua língua de maneira faminta, por conta da falta que sentia e
mentalmente faço uma prece para que eu nunca venha a ficar sem seus
beijos.
— Mas eu ainda te odeio. — murmura entre o beijo.
— Eu também te odeio, peste, até o fim dos meus dias, se lembra?.
— sorrimos durante o beijo.
Não acredito mais nessas palavras, mas posso seguir fingindo.
— Agora que tudo foi resolvido, acho que está me devendo uma
coisa.
Ela se afasta e olha em direção às sacolas na mesa.
— Como quiser, senhorita Stewart.
Ela me guia até a cozinha e me ajuda a preparar o brigadeiro, me
atormentando sobre a quantidade e marca dos ingredientes para que pudesse
aprender a fazer sozinha.
Nem fodendo que vou ensiná-la.
É minha única moeda de troca, não vou entregá-la tão fácil assim.
Acabamos discutindo algumas vezes acerca da última aula que
apliquei para sua turma e sobre meus dotes culinários, quando ela julgava
errado o que eu estava fazendo.
Porra de mulher teimosa.
 

Olho para Alexia, e involuntariamente pego uma mecha de seus


cabelos, cada vez maiores e sorrio ao lembrar quando confessou que na
verdade é loira, e em outro dia também contou que os cortou no dia que nos
conhecemos.
Meu sorriso morre ao me dar conta de que acabei de ser obrigado a
assistir Legalmente loira, seguido de Lilo e Stitch e ela ainda quer me fazer
assistir a mais desenhos.
— Pelo amor de Deus, Alexia, nós já assistimos dois filmes que
você escolheu, nada mais justo do que eu escolher o que vamos assistir
agora.
Tento argumentar com a mulher que agora esconde o controle atrás
das costas, para que eu não o pegasse, como se eu não fosse capaz de tirá-lo
de suas mãos quando eu bem quisesse.
— Você está na minha casa, então minha casa, minhas regras. —
ela diz, começando a se irritar de verdade, fazendo cara feia para mim.
Não quero tentar arrancar de suas mãos de maneira bruta, por
medo de acabar machucando-a, então contrariando todas as minhas ideias,
faço com ela o que jamais fiz em nenhuma outra mulher, a não ser com
minhas sobrinhas e minha mãe.
Lhe concedo meu melhor ataque de cosquinhas.
Me jogo sobre ela e deslizo meus dedos por sua cintura. Quando se
recupera do susto, ela começa a rir, sem conseguir se controlar.
Não paro, mesmo quando ela começa a se contorcer embaixo de
mim e meu subconsciente pede para que eu pare e aprecie o som de sua
gargalhada.
— Aiden! — ela começa a gritar com a respiração entrecortada. —
Seu filho… filho da puta… — sua fala é interrompida por outra crise de
gargalhadas quando alcanço suas axilas ao tentar me empurrar. — Eu vou…
vou te matar seu…seu desgraçado, Aiden!
Ela consegue escapar de mim, saindo por uma brecha e tenta correr
em direção ao que imagino ser seu quarto, mas não consegue chegar sequer
ao corredor, já que corro atrás dela.
Agarro seu corpo por trás e a pego no colo, com ela tentando
escapar.
— Se não parar de se mexer, vai acabar caindo e quebrando
alguma parte do corpo, oompa loompa.
— Ei! — ela para, deixando ser carregada e me desfere um tapa no
ombro. — Eu prefiro quando me chama de linda ou de peste, Senhor
Escroto.
Sorrio com sua fala e caminho com ela de volta ao sofá, a
mantendo no meu colo.
Ela se aconchega no meio das minhas pernas e enquanto segura
meus braços em torno do seu corpo, se recosta em mim.
O calor dos nossos corpos se espalha de maneira reconfortante e
sorrio ao pensar que ela é a primeira mulher com quem passo um tempo
assim.
Descontraído e completamente confortável com sua presença.
Não sei o que ela fez comigo, mas nunca me vi gostando de estar
assim com outras pessoas além da minha família, antes dela.
— O que vamos assistir então? — pergunta mexendo no controle.
Não consigo pensar em nada e ficamos apenas contemplando o
momento. Deixo um beijo em seu pescoço e admiro as iniciais tatuadas ali
perto.
T e C.
Taylor e Cristal.
— Fez em homenagem aos seus pais? — questiono antes de
depositar um beijo ali e observo seus pelos se arrepiarem.
— Logo depois que morreram. — ela assente e posso sentir que
sorri. — Eles não foram os melhores pais que alguém poderia ter, mas eram
tudo que eu conhecia sobre ter uma família.
Suspira pesado e entrelaço nossos dedos, fazendo uma caricia
suave enquanto me apoio em seu ombro.
— Nunca me falou se tem algum familiar.
— Maternos, só sabia da existência da vovó, os paternos morreram
quando eu ainda criança e sei que meu pai tem um irmão que mora em Las
vegas, mas sequer veio ao seu enterro. — ela solta nossas mãos mas passa a
brincar com meus dedos. — Pelo que me lembre, tomou alguns caminhos
errados na vida e a última vez que ouvi falar dele, estava morando lá.
Nunca tive contato com parentes de segundo grau ou coisa assim, então
depois que se foram, sempre estive sozinha.
Ela fala isso com uma tranquilidade que me assusta, já que sempre
fui muito ligado à minha família e não sei o que faria sem eles.
Agora tem a mim, linda.
Reprimo a vontade de dizer em voz alta, por não querer assustá-la,
então apenas deixo mais um beijo em seu pescoço.
— Gosto de te beijar. — ela se vira para mim e toma minha boca
após me ouvir.
Um estrondo do lado de fora faz com que ela se assuste e se afaste,
então me lembro de quando me contou sobre seus cobradores e a forma
como haviam entrado em sua casa.
Olho para sua expressão assustada, que encara a porta.
— Alexia, sei que já conversamos sobre isso, mas não vou parar de
tentar porque temo por sua segurança. — ela volta sua atenção para mim.
— Me deixe te levar até a delegacia?
Ela nega imediatamente e volta a se deitar em meu peito, puxando
meus braços para si.
— Tenho medo do que eles possam fazer caso eu os denuncie, está
fora de cogitação.
— Então me deixe pagar o restante da dívida? — ela nega
novamente, deixando uma carícia suave em meu braço. — Considere como
um empréstimo, vai me pagando aos poucos, mas dessa vez sem correr
risco de vida.
Argumento, o que não passa de uma mentira, porque nunca iria
cobrá-la de volta.
— Esquece isso por favor, Aiden. — ela pede em um murmuro. —
Quando estou com você, eu… — ela começa mas sua voz vai morrendo,
como se tivesse desistido de dizer.
A abraço mais forte e ela retribui, se aconchegando ainda mais em
mim.
Gosto de estar assim com ela.
— É como se todos os meus problemas desaparecessem quando
estou com você, mesmo sabendo que estão me esperando lá fora, mas quero
esquecer completamente da existência deles por enquanto, ao menos por
essa noite. — ela fala tão rápido que quase não compreendo suas palavras.
Um sorriso idiota brota no meu rosto conforme vou processando o
que falou e interpreto sua rapidez ao dizer, como medo de não conseguir
confessar.
Tenho sorrido mais do que antes por causa dessa peste.
Volto a beijá-la acatando seu pedido sobre esquecer seus problemas
ao menos por hoje.
Mas ainda vou fazer algo para ajudar com isso, nem que eu
mesmo precise ir atrás dos malditos que a atacaram.

Alexia abre os olhos lentamente e se espreguiça, me dando o


privilégio de ver seu pijama do Stitch assim que tira as cobertas de cima do
corpo.
Não sei quanto tempo fiquei velando seu sono, observando como
sua respiração calma perdia o ritmo vez ou outra quando murmurava algo
incompreensível.
Depois de mais algumas discussões sobre que filme ver antes de
dormir, ela acabou dormindo no meu colo.
A trouxe para cama, mas assim que a coloquei sobre o colchão,
acordou desesperada, dizendo que não poderia dormir sem seu pijama.
Aproveitei que tinha acordado, para avisá-la que estava indo
embora, já que mesmo quando a chamei para o loft alguns dias atrás, não se
permitiu dormir lá, e imaginei que fosse querer o mesmo.
Caso não acordasse, dormiria no sofá, mas ela se recusou a me
deixar ir embora e pediu que eu dormisse com ela.
Não consegui conter meu sorriso e ela me mandou para o inferno
por isso, mas até as ameaças valeram a pena, já que dormimos em uma
conchinha, que descobri ser mais gostosa do que imaginava, por se tratar da
minha primeira vez.
— Bom dia, linda. — me aproximo, deixando um beijo em sua
boca.
— Aiden, eu nem escovei o dente. — dou de ombros e ela sorri. —
Estou com fome.
— Que bom que disse isso, porque temos planos. — me levanto e
aproveito a claridade da janela sem cortinas, para observar seu quarto. —
Achei que fosse o tipo que detestasse acordar com qualquer luz no rosto.
Passo meus olhos, observando sua bagunça e em completa
insanidade, me pego achando adorável sua desorganização.
Porra, Aiden.
— Odeio acordar cedo, mas gosto de acordar com claridade às
vezes. — ela olha para a janela e faz uma careta. — Mas só esta descoberta
porque não estamos no verão, então o sol não é tão intenso. Quais os
planos?
— Vamos almoçar na minha casa. — ela me olha espantada. —
Minha família não está lá, se essa for a preocupação. A essa hora devem
estar a caminho de Los Angeles para um passeio, como estavam
combinando ontem antes que eu saísse.
Ela murmura em concordância, mas volta a se deitar e a cobrir o
rosto com o cobertor.
— Seu babaca! — grita quando puxo os tecidos para longe dela.
— Não deveria ter dito isso.
Me aproximo e a pego no colo, colocando sobre os ombros e
levando em direção ao banheiro.
— O que acha de um banho?
Ela desfere tapas em minhas costas e deixo uma gargalhada
escapar quando solta elogios sobre minha bunda encoberta pelo pijama.
Estou tão fodido com essa peste.
 

Estaciono o carro na garagem da frente para podermos entrar em


casa e por pura preguiça, acabo o deixando ali mesmo.
Entrelaço nossos dedos assim que deixamos o automóvel e ao
invés de me socar ou me xingar, Alexia sorri satisfeita antes de entrarmos.
Eu posso esperar o tempo que for para ela cair em si sobre o que
sente, mas algo me diz que não vai demorar tanto assim.
Ela começa a tagarelar sobre eu ter atrapalhado a noite de estudos
dela ontem, mas que depois da manhã que tivemos, minha ida até sua casa
finalmente valeu a pena e apesar de nossas mãos unidas, fica atrás de mim
enquanto fala e sirvo como seu guia.
Assim que passamos pelas portas da sala de estar, meus olhos
saltam junto com meu coração, ao encontrar minha familia reunida ali,
todos nos olhando com expectativas e sorridentes, quando sinto Alexia
bater contra minhas costas antes de vir para o meu lado, ainda falando sobre
a foda que tivemos no banho mais cedo.
— … mas sabe, percebi que precisamos transar mais vezes no
chuveiro, já que a experiência foi ótima e o orgasmo foi…
Ouço sua voz diminuir gradualmente quando finalmente olha para
frente.
Minha mãe era a única que sabia sobre minha ida até a casa de
Alexia ontem e caralho, se eu não a amasse, seria capaz de fingir não ser
seu filho a partir de hoje.
— Caralho, Aiden. — Aleixa diz em um tom baixo, mas que
aposto ter sido ouvida por todos, já que Francie e Adrian tapam os ouvidos
das crianças.
Ou já estavam encobertos por conta de suas falas anteriores.
Porra, isso não pode ser real.
“E eu preciso que você saiba que nós estamos caindo muito rápido
Nós estamos caindo como as estrelas
Nós estamos nos apaixonando
E eu não tenho medo de dizer essas palavras
Com você eu estou seguro
Nós estamos caindo como as estrelas
Nós estamos nos apaixonando”
Falling Like the Stars - James Arthur
 

Encaro os olhos espantados sobre nós, e sinto vontade de largar a


mão de Aiden e sair correndo, ou até me esconder em algum canto.
Uma senhora, com fios brancos e que imagino ser mãe de Aiden,
nos olha ainda mais espantada.
Aperto a mão do homem ao meu lado, em um claro sinal de
desespero e imaginando como vou acabar com sua vida sem deixar
nenhuma pista depois de sairmos daqui
Pensei que não teria ninguem em casa, porra.
Sei que depois do dia louco que tivemos ontem, acabamos
definindo o que temos como algo sério, mas não esperava que envolvia
conhecer sua família.
Olho em sua direção, notando que parece tão em pânico quanto eu,
e concluo que também não tinha ideia que a família estaria em casa.
Ele se vira lentamente para mim, e murmura um pedido de
desculpas.
Uma risada alta chama nossa atenção e quando voltamos os olhos à
frente, encontro uma moça, a mesma que esteve no escritório alguns dias
atrás e acredito ser mãe de seus sobrinhos, gargalhando enquanto é seguida
por seu esposo.
Não tenho reação diante do que se passa à minha frente,
principalmente quando todos os familiares de Aiden seguem a mulher e
começam a rir, de nós.
Estão rindo da nossa cara.
Ou melhor, da minha cara.
— Eu já amei ela. — a mulher diz e os outros concordam.
— O bebezão deve estar pagando todos os pecados. — seu irmão
diz e ele o manda calar a boca.
Volto meu olhar rapidamente até Aiden, e noto que esboça um
sorrisinho de lado. Essa família não pode ser normal, isso não pode ser
possível.
As duas crianças me olham curiosas e a menina, a mesma que
vergonhosamente implorei para que não contasse que eu estive ali, algum
tempo atrás, é a primeira a falar diretamente comigo.
— Você é a namorada do tio Aiden, e eu tava certa. — ela sorri
abertamente. — E você mentiu aquele dia, que feio isso, sabia tia?
Eu estou levando uma chamada de atenção de uma criança que
deve ter no máximo uns sete anos.
Isso não pode ser real, meu Deus.
Tento formular alguma frase mas nada sai, principalmente quando
a mulher que acredito ser mãe de Aiden, vem até mim e me puxa para um
abraço apertado.
De primeira não sei bem como reagir, mas me vejo retribuindo seu
abraço em seguida e uma sensação gostosa se espalha rapidamente por meu
corpo.
— Oi, querida. — ela diz ao se afastar, mas sem me largar de vez.
— Desculpe por isso.
Aponta para as pessoas distribuídas na sala e antes que eu pudesse
responder, me assusto quando Aiden envolve minha cintura e me puxa para
si.
— Na verdade, não entendi muito bem.
— É claro que não entendeu. — ele murmura e parece bravo outra
vez. — Ninguém entende minha família, linda, e justamente por isso não
queria que os conhecesse tão cedo.
Assim que todos o ouvem, posso ver os olhos de cada um se
arregalando ao mesmo tempo que um sorriso surge.
— Mãe, não iam para Los Angeles, hoje?
— Sim, filho. — a matriarca recupera a fala e se afasta com as
mãos sobre a boca, em deslumbramento. — Mas acredita que Clarice
acabou se sentindo mal hoje cedo e tivemos que ficar e organizar o almoço
por aqui mesmo?
Algo me diz que isso não é verdade.
— Oi, eu sou a Francie, cunhada do Aiden. — ela também me
abraça e ouço um suspiro pesado ao meu lado. — É um prazer finalmente te
conhecer, esse aí não parava de falar de você.
— Para de ser mentirosa, Francie. — Aiden me puxa novamente
para si. Estou gostando disso. — Está dando um péssimo exemplo aos seus
filhos.
Aos poucos sou apresentada a cada um dos Munhoz, e um sorriso
vai surgindo aos poucos no meu rosto, bem como todo o nervosismo vai se
esvaindo conforme vou percebendo que sou bem-vinda por todos ali.
Entre algumas piadas e provocações trocadas entre Aiden e seu
irmão, principalmente sobre o fato de eu ter um apelido, e sua mãe ter quase
chorando porque acreditava que nunca veria o filho levar alguma mulher
em casa, vou me sentindo cada vez mais confortável naquele caos
particular.
Após Francie me apresentar toda a casa, enquanto a senhora
Mariana e os homens terminavam de organizar o churrasco, finalmente
sentamos na mesa externa para comer.
Meus olhos quase saíram rolando quando me deparei com a
quantidade de comida que tinha sobre o fogão e principalmente com tantos
pedaços de carne sobre a churrasqueira.
Essa família realmente sabe como fazer um bom churrasco.
— Precisamos contar uma coisa.— Francie se levanta juntamente
de Adrian e sorrio ao vê-los se abraçando.
Formam um casal tão lindo.
Sinto a mão morna de Aiden deslizar por cima da minha coxa
encoberta com a meia calça fina em um carinho despretensioso, e um calor
diferente se espalha por meu corpo quando olho ao meu redor e encontro
todos sorridentes.
Acho que deve ser a estranheza de estar almoçando com uma
família de verdade.
Já faz tantos anos que quase não me lembrava da sensação.
Foco meus olhos no homem ao meu lado por um momento, e meu
coração passa a bater descompassado ao notar como se encontra relaxado,
sorrindo para o casal à frente. A expressão de familiaridade que vejo em seu
rosto, é a mesma que encontrei ontem enquanto estávamos deitados no meu
sofá.
Assim como ontem, mesmo tendo ultrapassado todos os meus
limites, me sinto estranhamente confortável com isso.
Sei que me sinto assim por conta de Aiden, que acatou ao meu
pedido sobre não dizer o que vem sentindo, mesmo quando não precisava, e
isso só fez com que o sentimento que vem crescendo em mim, se fizesse
presente e ainda mais forte.
Não consigo acreditar que deixei isso acontecer, mas ainda me
recuso a admitir.
— A verdade é que pedi a Clarice que inventasse essa dor de
estômago hoje, porque estava torcendo para que Aiden chegasse ao menos
até a hora do almoço depois de ter escapado de fininho ontem à noite. — É
Adrian quem diz dessa vez e olha sorrindo para a mulher.
— É uma novidade que gostaríamos de contar a todos de uma vez.
— Francie continua mas antes olha para mim. — A propósito, Alexia, se
não conseguimos deixar claro até agora, espero que o fato de estarmos
revelando isso diante da sua presença, te faça entender que agora faz parte
da nossa família.
Meu sangue gela nas veias ao ouvir isso vindo dela, mas não
consigo conter o sorriso que deixo abrir junto com meu coração que bate
forte.
Porra, Alexia, não precisa ficar emotiva por conta disso.
— Os gêmeos não são mais os caçulas dessa casa!
O casal fala em conjunto, como se o momento já tivesse sido
ensaiado, e uma prova disso é quando as crianças, junto a sua irmã mais
velha, tiraram o sobretudo que estavam no corpo, revelando camisetas com
alguns dizeres.
“Nossa creche acaba de receber mais um membro.”
Após isso uma bagunça generalizada se forma, com os mais novos
pulando no colo de Aiden, implorando para que não fossem esquecidos com
a vinda do bebê, e a mais nova grávida é abraçada pelos sogros sorridentes.
Quase começo a me preocupar com os gêmeos, mas quando foco
minha atenção neles, encontro Aiden equilibrando os dois no colo, agora
em pé, e distribuindo beijos por seus rostinhos sorridentes.
A sensação estranha que sinto sempre que o vejo sorrir, aparece
com força triplicada e fico preocupada com o meu coração, que parece
querer explodir no peito.
É uma das cenas mais lindas que já vi em vida, e nada vai tirar
isso da minha cabeça.
Ele sorri junto aos sobrinhos e quando eles deixam seu colo para
correr para os avós, ele se aproxima da minha cadeira, estendendo a mão e
me ajudando a levantar.
Entrelaçamos nossos dedos, e fico com vergonha por estarem
tremendo por conta da emoção que me tomou ao visualizá-lo com os
sobrinhos.
É loucura, mas pela primeira vez, quase sinto meu útero coçar
dentro de mim.
Aiden seria um pai incrível.
Que merda de pensamentos invasivos!
Caminhamos até o casal e os parabenizamos com mais abraços.
Oh família para gostar de abraçar.
Assim que voltamos a nos sentar, começa um assunto
completamente aleatório e faço uma nota mental de guardar esse momento
como uma das lembranças mais bonitas que já tive.
Ao escutar e até participar da conversa, já que realmente me
incluíam sempre que eu passava a ficar mais quieta, o que mais me
surpreende é que realmente me sinto como Francie falou, parte da família e
estranhamente contente por isso.
— Para quem não queria engravidar nem se fosse a última
esperança de repopular a Terra, ter o terceiro filho é surpreendente, Francie.
— Aiden a provoca e ela dá de ombros.
— Eu realmente sou capaz de realizar milagres, tio. — a mais
velha, Clarice, pelo que me lembre, comenta sorridente. — Bastou ela
assinar aquele contrato e olhar nos meus olhos para saber que crianças são
tudo de bom nessa vida.
— Se é boa com milagre então porque não consegue fazer o tal
Babakers se apaixonar por você, maninha? — o menino fala descontraído,
enquanto come sua comida e mal nota que acabou de revelar o que deve ser
um segredo da irmã.
— Que merda! Deu pra ouvir atrás das portas agora, Caio?! — ela
se assusta.
— Sempre soube! — Adrian começa a gritar enquanto gargalha. —
Nunca caí naquele papo furado de que assistia aos jogos de handebol da
faculdade por interesse no esporte. Sabia que tinha algum homem envolvido
na história!
Tento associar o nome, mas não, não pode ser!
Jogos de handebol da faculdade…
Babakers…
Bakers?
— Não pode estar falando do maldito Ethan Bakers, Clarice. — a
voz de Aiden se faz presente. — Por favor, me diz que é algum outro
marmanjo por quem tem alguma queda, mas não o loiro cheio de gracinhas.
Clarice forma um bico, mas acaba sorrindo de lado com o olhar
longe.
Pobrezinha.
Apesar, que talvez…
Não pode ser, seria muita coincidência.
Todos entram no assunto após Aiden dizer que o conhece e me
assusto quando meu nome é citado como “a amiguinha do loiro.”
Quando percebo que a frase veio de Aiden, o olho furiosa.
— Desculpa, linda. — ele se aproxima e deixa um beijo em minha
têmpora, atraindo a atenção de todos.
— Eu poderia ser capaz de chorar vendo essa cena. — Dona
Mariana diz e realmente vejo algumas lágrimas brotarem em seus olhos.
— Eu também achei que não veria isso antes de morrer. — seu
marido concorda, olhando boquiaberto para nós.
Fico confusa e perdida entre me sentir envergonhada e gostar da
sensação ao mesmo tempo.
— Só está faltando latir, Aiden. — Adrian o provoca e não consigo
deixar de rir. — Se quiser que eu compre a coleira que vai pôr nele, Alexia,
é só informar a cor.
Aiden mostra o dedo ao irmão e ele o xinga.
Não consigo conter a gargalhada quando ambos levam um beliscão
da mãe.
— Sabia que estava te reconhecendo de algum lugar. — ouço
Clarice e volto minha atenção a ela. — É colega dele, Alexia Stewart. Seus
pais eram sócios, certo?
— Sim, está certa. — suspiro e tomo um gole de água para poder
continuar. — Se você gosta dele, deveria se abrir sobre isso e tentar a sorte.
Ela começa a tossir, como se estivesse se engasgando com o
próprio ar, ficando vermelha e sendo ajudada pelo pai.
— Se tiver essa reação na frente dele, acho que preciso te ensinar
umas coisas filha. — Adrian sorri e deixa um beijo no topo de sua cabeça.
O assunto continua e me pego pensando no que ouvi Ethan dizer
quando veio me pertubar antes do jogo no dia de ontem, quando veio falar
sobre o xingamento que levou de Aiden.
Me lembro que disse estar apaixonado por uma certa garota e por
conta disso não queria problemas com a família Munhoz.
Mas é claro que pode ser apenas uma estranha coincidência.
Passo o restante da tarde, mais observando do que participando das
conversas com a família, a não ser no momento em que sua mãe perguntou
como o filho me tratava e fiz questão de deixar claro nossas primeiras
interações.
Mais tarde tive de pedir desculpas por conta dos puxões de orelha
que ele levou, já que a coitada chegou a ficar vermelha, mas com certeza foi
uma cena inesquecível.
Passei o resto do dia com a sensação de tudo parecer certo demais,
de que eu me encaixava ali.
Fazia muito tempo que não me sentia como se estivesse em
família, e sentir isso após esses anos todos, foi reconfortante.
Me trouxe o sentimento de que talvez eu possa admitir o que sinto
sem causar nenhuma catástrofe na minha vida.
Talvez eu possa conquistar tudo que almejo, com algumas
mudanças durante o percurso.
Quem sabe…
— Você está muito apaixonada e logo vou ser o padrinho de vocês
dois!
Uso o pano em meus ombros para bater em Luke, que grita para
que todos os poucos presentes no bar, possam ouvir, depois do meu
desabafo sobre os últimos acontecimentos envolvendo Aiden.
— Ai! — ele desfere um tapa na minha bunda quando me levanto
da cadeira. — Quer desabafar mas não quer ouvir verdades, melzinho?
— Não estou apaixonada por ele.
Talvez eu esteja, mas vou negar até quando der.
— Melhor voltar a trabalhar, já que se nega a enxergar o óbvio,
Alexia. — ele solta sorrindo, e seu sorriso se alarga ainda mais enquanto se
levanta. — Já estou indo embora, espero que seu humor melhore.
O olho desesperada.
— Como assim indo embora? — meu coração entra em desespero
ao pensar em ir embora sozinha. — Meu turno só se encerra daqui uma
hora, Luke!
— Não se preocupe, acho que vai ter uma companhia muito
melhor para voltar para casa essa noite.
Ele aponta as minhas costas e me viro a tempo de ver Aiden
conversando com o senhor Marquês no balcão.
— Um beijo. — Luke se aproxima, deixando um beijo na minha
bochecha. — Não vai jogar seu futuro no lixo por assumir que acabou se
apaixonando mesmo quando não pretendia, Alexia. Às vezes temos que
aceitar que o inevitável acaba acontecendo quando menos esperamos. Mas
pode ter certeza de que está pronta para isso.
Sussurrou em meu ouvido antes de me deixar.
Não tenho tempo para pensar muito no que diz, porque logo sinto
um beijo ser depositado em meu pescoço, junto de braços fortes me
abraçando por trás.
— Conversei com seu chefe e consegui que saia agora, para
podermos comemorar. — sua voz é rouca em meus ouvidos.
Esse homem vai acabar me tirando a sanidade.
— E o que temos para comemorar?
— Seu primeiro caso junto do Jonas. — ele diz e me viro para ele
em desespero. — Ele veio até minha sala hoje, pedir para que você
trabalhasse com ele de maneira ativa no próximo caso, sobre uma
celebridade que está processando os próprios pais.
Ele deixa um beijo rápido em meus lábios mas meu cérebro não
consegue processar a informação.
Porra, vou atuar em um caso.
— Isso sim é motivos para comemorar! — Não consigo conter o
grito que escapou dos meus labios. — Porra, essa é a melhor noticia que eu
poderia recebr nessa vida. Meu primeiro caso.
— Acompanhando Jonas, mas sim, seu primeiro caso, linda.
Não consigo conter a felicidade que invade meu corpo e pulo em
seus braços, agarrando seu pescoço e enrolando minhas pernas em torno do
seu corpo, fazendo com que me segure.
Não acredito que meus sonhos estão começando a se realizar!
— Obrigada. Obrigada. — a cada agradecimento, deposito um
beijo em seu rosto, até ter beijado cada centímetro dele. — Obrigada.
Obrigada. Obrigada.
— Não me agradeça, peste. — ele diz entre uma gargalhada
gostosa. — Não tive nada a ver com isso, o mérito é completamente seu por
estar sendo uma das nossas melhores estagiárias.
Deixo a euforia baixar enquanto fito seus olhos.
Droga, Aiden, porque tinha que me fazer tão bem?
— Eu..eu acho que…— as palavras travam na minha garganta,
mas sinto meu coração se acalmar repentinamente. — Acho que deveríamos
comemorar com tequila.
Apesar de querer dizer a ele o que venho descobrindo sentir,
alguma coisa ainda me impede.
Acho que ainda não é a hora.
Ele abre um sorriso ainda mais largo e vai andando comigo em seu
colo, até sair enquanto aceno para o meu chefe, que me manda beijos.

— Alexia, acho que deveríamos…— ouço a voz mole de Aiden e


me viro para ele, que se encontra apenas de cueca no meu sofá. —
devemos?… Essa palavra está certa?
Não consigo responder, não após tantas doses de tequila então
apenas começo a rir e me jogo em cima dele.
— Não vamos mais beber por hoje. — ele completa a frase após
um tempo estudando a palavra. — Vou acabar fazendo alguma besteira,
sempre faço quando estou bêbado.
— Então somos um casal e tanto…— deixo um beijo em seu
pescoço e monto em seu colo, segurando seu rosto. — Estava muito bêbada
quando te mandei aquele currículo, como aceitou? Estava cheio de erros.
Ele começa a rir sem controle, apertando minha cintura e me
levando para si.
Não faço ideia do que ri, mas a essa altura nada faz sentido,
principalmente quando as paredes começam a girar então também volto a
rir.
— Porra, Alexia…— ele para de rir e parece pensar por um
momento. — Eu aceitei seu currículo horrível porque estava muuuito
bêbado aquele dia e tinha te achado maravilhosa naquela foto.
Nos olhamos sério por alguns segundos, antes de cair na risada
outra vez.
— Não é possível! — grito e seguro seu rosto deixando um beijo
longo em seus lábios.
Algo que não consigo identificar acontece, e sinto uma dor terrível
na cabeça após um estrondo.
O barulho me faz olhar em volta e vejo que caímos do sofá.
— Foi o destino, peste.
Ele diz tranquilamente enquanto tentamos levantar e nos manter
em pé, sem muito sucesso.
Porra, amanhã ainda tenho aula.
Espero não ficar com ressaca.
— Ele foi perverso.
Voltamos a rir quando tropeço na mesinha da sala e caio de bunda
no chão.
É, não tem jeito.
Estou apaixonada por esse homem.
“Se são apenas oito letras
Por que é tão difícil dizer?
Se são apenas oito letras
Por que eu estou em meu próprio caminho?
Por que eu puxo você para perto
E depois te peço por espaço?
Se são apenas oito letras
Por que é tão difícil dizer?”
8 letters - Why don’t We
 

Encosto a cabeça no ombro que Hanna me oferece e pela primeira


vez em muito tempo, choro na frente dos meus amigos.
— Mas o que pode ter de tão ruim nisso, Alexia?  — sua voz chega
aos meus ouvidos e sorrio em meio às lágrimas.
Balanço minha cabeça, não conseguindo por em palavras. Luke
deixa uma carícia em minha perna e deposita um beijo na minha cabeça.
— Porque eu nunca senti isso por ninguém em toda minha vida,
Nana. — tomo fôlego para falar. — Já pensei que tivesse me apaixonado
antes, mas nem de longe se parece com o que sinto por aquele babaca e isso
me dá medo.
— Do que tem medo, melzinho? — Luke pergunta confuso. — Se
estiver preocupada com seu futuro, eu acho que todos os seus planos e
sonhos não estão em risco por ter se apaixonado pelo advogado mais bem
sucedido de Los Angeles. Se for a mulher dele um dia, isso pode até te abrir
mais portas.
Não consigo deixar de rir e eles me acompanham.
— Sinto falta do meu bom e velho nepotismo. — concordo com
ele, mesmo sabendo que não se passa de uma brincadeira. — Tenho medo
porque acho que não sei me manter em um relacionamento. Porque eu
sempre acabo expulsando as pessoas da minha vida quando algo me assusta
e com certeza não quero fazer isso com Aiden.
— Precisa se abrir com ele, querida. — é Hanna quem aconselha.
— Pelo que nos contou o que aconteceu na última vez que ele apareceu na
sua porta, acredito que o sentimento deva ser recíproco e só precisam ter
coragem de se abrir um ao outro.
— Tem certeza que o medo está relacionado ao que sente e não por
ele ser bem mais velho e além de ser seu professor, também ser seu chefe?
— Luke se aconchega mais em mim. — Sei muito bem como a sociedade
pode ser uma merda.
— Não tenho medo do que pensariam sobre a gente, caso viermos
a assumir algo em público um dia. — nego com convicção, porque
realmente não se trata disso. — Mas tenho medo de acabar me entregando
demais e não saber lidar com tudo. Podemos ser sinceros, meu jeito
explosivo sempre acaba estragando tudo de bom que eu conquisto e não
quero perder ele por causa disso.
— Alexia, se o Aiden se apaixonou por você mesmo depois de
tudo que passaram no início dessa relação, não precisa temer que ele se
decepcione com você por conta da sua personalidade. — meu amigo é
gentil nas palavras e sorrio com o gesto. — Caso resolva confessar a ele o
que sente, tem que ter em mente que se for recíproco, ele vai te aceitar do
jeitinho que você é, mesmo que isso implique alguns defeitos. Afinal de
contas, você sempre foi a primeira a ofendê-lo e agora está caída de amores
por ele.
Dou um empurrão suave em seu ombro.
— Eu ainda tenho muito do que reclamar sobre ele. — começo a
dizer, mas não deixo de sorrir quando as lembranças dos nossos momentos
juntos invadem minha mente. — Mas eu não o conhecia direito e acho que
me apaixonar foi quase inevitável. Apesar das expressões fechadas e das
respostas diretas, descobri um Aiden que poucos têm o prazer de conhecer.
Ele é cuidadoso, engraçado, amoroso e tem uma forma diferente de
demonstrar que se importa, além de ser incrível com os que ama.
“As coisas sempre foram difíceis para mim, mas estar com ele é
fácil, ao menos agora, e a presença dele me faz sentir leve, como se não
tivesse preocupações reais. Ele sempre me passa a sensação de que se estou
com ele, vou estar segura não importa onde estivermos, apesar dos
problemas, com ele tudo parece possível. Além de que é ótimo na cozinha,
então me ganhou pelo estômago no fim de tudo."
Assim que percebo que estou divagando com um sorriso idiota nos
lábios, me calo e percebo o silêncio que minha sala fica, antes de ser repleto
pelos gritos histéricos de Hanna e Luke.
— Eu vivi para ver você toda apaixonada desse jeito. — Luke me
puxa para um abraço e quase me sinto ser sufocada por ele. — Eu estava
quase perdendo as esperanças sobre alguém morar nesse coração, do jeito
que sempre repelia e literalmente expulsava os caras da sua vida antes
mesmo de deixá-los te conhecer direito.
— Acho que ela precisava de um que não aceitasse tudo que ela
fala de boca calada. — Hanna faz referência sobre meus antigos casos, que
em um dia acabei contando a ela. — Ainda bem que seguiu meu conselho
sobre ir sentar no gostosão.
Caímos na risada e não consigo controlar minha gargalhada ao me
lembrar de como acabei me enfiando nessa.
Nossas risadas cessam quando ouvimos um estrondo na porta.
Meus olhos seguem para ela de imediato e minha mente corre para
a figura dos cobradores do tal Snake.
Sinto meu coração triplicar seus batimentos, principalmente
quando as batidas não param e Luke precisa ir verificar, porque eu não
tenho reação.
Por favor, não sejam eles, não preciso disso agora.
Solto a respiração, que nem percebi que prendia, quando Lia passa
pela porta como um furacão, mas logo meu alívio desaparece.
Ela decidiu não vir até em casa pois estaria em uma festa e pelo
estado que se encontra, com certeza a noite não acabou bem.
Meu coração se aperta quando vou ao seu encontro e ela me abraça
ainda chorando. A maquiagem do seu rosto se encontra completamente
manchada pelas lágrimas, noto que seu vestido está do avesso e que leva
suas sandálias nas mãos.
— Você tinha razão! — ela sussurra em meu ouvido e fico sem
entender. — Você estava certa sobre o filho da puta do Mark.
— O que ele te fez, Lia? — me afasto dela, para olhar em seu rosto
e isso faz com que volte a chorar ainda mais.
Ouço a porta ser fechada e barulhos na cozinha indicam que
alguém provavelmente está preparando alguma coisa para acalmar Lia.
Sinto Luke abraçar nossos corpos e concluo que Hanna é quem está no
outro cômodo.
— Ele te machucou? — A voz do nosso amigo é carregada de
preocupação. — Te forçou a fazer alguma coisa, Lia?
— Não — ouço os suspiros de alívio tanto meu quanto de Luke e
Nana. — Não me machucou fisicamente, mas vocês tinham razão sobre ele.
— O que ele fez, Lia? — sou imperativa nas palavras, sentindo a
raiva me consumir e também a vontade de ir até onde quer que ele estiver e
esfregar sua cara bonitinha no asfalto.
— Pensando agora, tenho vontade de rir, porque vai parecer uma
dessas coisas que acontecem nas Fanfics que a Emily lê. — se refere a sua
irmã mais nova e solta uma risada carregada de ironia. — Ele brincou
comigo, Alexia. Estava de joguinhos e isso envolvia até a porra de uma
aposta.
Isso é a coisa mais infantil que pode existir, porra.
Sequer sabia que existiam caras assim.
— Ele apostou com os amigos o tempo que levaria para me
arrastar pra cama e por mais quanto tempo ficaria de joguinhos com a
trouxa aqui, antes de me humilhar por ter acreditado nele.
Porra, por isso prefiro me envolver com os mais velhos e não com
os mais novos.
Reprimo a vontade de soltar todos os palavrões humanamente
conhecidos para fora e a aperto mais forte em meus braços, sentindo seu
corpo tremer com a volta do choro.
— Você estava certa. — volta a dizer. — E eu me apaixonei por ele
e não sei mais como recuperar os pedacinhos que ficaram meu coração.
Você estava certa, você estava certa, você estava certa…
Lia não para de sussurrar em meus ouvidos, sua voz se misturando
ao choro e aos soluços provocados por ele.
Meu coração se parte em mil pedaços junto ao seu e deixo as
lágrimas correrem também.
Não queria estar certa sobre isso.

Me encolho debaixo das cobertas assim que volto a deitar na cama


espaçosa de Marco, para onde ele nos chamou depois que chegou para
buscar Luke e viu o estado de Lia.
Hanna foi para casa um pouco depois, enquanto acabamos todos na
cama gigante do quarto de hóspedes da mansão do nosso amigo, onde
sempre paramos quando precisamos confortar uns aos outros.
Passamos em frente a casa de Aiden no caminho e acabei sorrindo
como uma idiota, me lembrando de últimos acontecimentos.
Quem poderia imaginar que eu me apaixonaria pelo babaca?
— Marcamos a data do casamento. — Luke diz quase em um
sussurro, me tirando dos meus pensamentos. — Estava planejando contar
depois que Lia chegasse da festa e estou me sentindo péssimo em contar
agora, mas precisam saber para poderem se organizar já que serão minhas
damas.
Lia se mexe para ficar de frente a Luke.
— Não teria notícia melhor para esse momento. — eles se abraçam
e fico no meio dos dois, me sentindo esmagada. — Vamos ser as melhores
damas de honra, pode apostar. Como acompanhante vou levar meu primo e
se quiser posso ver com o amigo dele para ir com você Alexia, também
precisamos saber a cor que vamos usar e…
— Lia, respira. — seguro em seus ombros quando ela começa a
falar sem parar. — Primeiro precisamos saber quando vai ser.
Olho para Luke, que ri do surto da nossa amiga.
— Daqui a dois meses. — ele controla a risada. — Tema Black and
White, então fiquem a vontade para arrasarem no preto sensual.
— Vai ser incrível, Luke. — Abraço meu amigo e meus olhos se
enchem de emoção, ao me dar conta de que ele vai realizar seu sonho junto
de Marco.
— Queria agradecer a vocês.
Ele diz com a voz embargada e segura nossas mãos.
— Por que?! — sinto um beliscão de Lia. — Ai!
— Por serem minhas melhores amigas. — ele sorri e algumas
lágrimas deixam seus olhos. — Sabem que nunca fui de ter muitos amigos
por conta de todo preconceito que sempre sofri, e tudo só piorou quando me
assumi, mas conhecer vocês mudou minha vida, e sei que eu não estaria
aqui, na casa do meu noivo, que me ama tanto quanto eu o amo, contando a
vocês que finalmente marcamos a data da cerimônia, se eu não tivesse
vocês ao meu lado, me concedendo todo apoio e coragem que precisei para
enfrentar tudo que ia contra essa união.
— Para de chorar, vou acabar ficando com o nariz entupido. —
peço, já sentindo algumas lágrimas inundarem meus olhos.
— Se não fosse vocês me incentivando quando comecei a me
relacionar com o Marco, nada disso estaria sendo possível, então muito
obrigado a vocês, minhas fadas madrinhas, por estar vivendo tudo isso.
Ele nos puxa para um abraço e molho sua camiseta com meu
choro.
Estou muito sensível, deve ser a TPM.
— Nossas fadas madrinhas, baby. — a voz de Marco se faz
presente na porta e ele entra trazendo uma bandeja em mãos, com algumas
xícaras fumegantes. — Chocolate quente com um pouco de whisky, acho
que hoje precisamos.
Sorrimos em resposta enquanto pegamos as xícaras.
— Também preciso agradecer pela amizade de vocês. — Marco
comenta, se aconchegando ao lado de Luke. — Vocês foram uma luz na
minha vida.
Ele se estica para deixar um beijo nas nossas testas e deixa um
selinho no noivo.
— Por que tinha chamado a gente para sua casa? — Lia se volta
para mim. — O que contou a eles?
Nego em resposta.
— Acho que podemos deixar para outra hora, Lia. — tomo um
gole e sinto a bebida descer, esquentando meu corpo.
— Para com isso, Alexia. — Luke toma a frente e abre um sorriso.
— Nada de se sentir culpada por estar feliz enquanto o outro não está em
um bom momento.
— Não estou me sentindo culpada. — me defendo. — Mas acho
que agora não é o momento certo para contar a ela.
— Se você continuar falando, vou voltar a chorar porque eu vou
me sentir culpada por ter estragado a noite de vocês. — Lia toma a palavra
e coloca as mãos no meu ombro. — Conta logo, Alexia.
— Não aguento isso. — Luke se anima quando sorrio como
resposta. — Acontece que não vai precisar chamar o amigo do seu primo
para acompanhar Alexia no casamento, porque nossa amiga está
apaixonada pelo babaca dela e em breve pretende confessar para ele.
Preciso tapar os ouvidos por alguns segundos enquanto Lia grita
histericamente, se igualando a reação de Luke e Nana mais cedo, e quando
ela me agarra em um abraço, se não fosse Marco pegar nossas xícaras,
teríamos derramado a bebida.
— Não acredito nisso! — ela grita em meus ouvidos. —
Finalmente deixou de ser cabeça dura e admitiu o que sente.
— Eu não queria aceitar que acabei caindo nessa cilada, mas
mentir para mim mesma não estava ajudando em nada. — admito quando
me solta. — Só me deixava ainda mais confusa, então não tive outra
escolha a não ser aceitar o sentimento que estava me sufocando.
Solto um suspiro e sorrio com as palmas que Lia da.
Realmente não esperava me apaixonar logo por Aiden, mas essas
últimas semanas ao lado dele me despertou esse sentimento de forma tão
intensa que foi impossível não aceitar.
Quase surtei quando acordei da nossa bebedeira alguns dias atrás e
me lembrei o que tinha confessado a mim mesma, mas diferente do que
pensei, que fugiria dele e de tudo isso, a confissão só tirou um peso das
minhas costas e aumentou a vontade que tenho de ficar colada a ele.
É bom se sentir assim mesmo quando parece que o mundo está
prestes a desabar, e com ele eu me sinto como se eu fosse capaz de segurar
esse peso, mesmo parecendo impossível.
Me apaixonar por ele foi tão surpreendente quanto uma chuva em
um dia ensolarado e eu não vejo a hora de dançar embaixo dela.
Porra, como isso soou brega.
Espero os alunos deixarem minha sala com expressões derrotadas
por conta da prova que foi aplicada, para então apagar as informações que
tinha posto na lousa.
Assim que me volto para minha mesa, é impossível manter a
expressão fechada quando vejo Alexia se aproximar dela.
Meu sorriso se abre espontaneamente, como vem sendo sempre
que estou em sua presença, ainda mais depois dos últimos acontecimentos
onde venho percebendo que está mais carinhosa comigo.
Alguma coisa mudou dentro dela mas ainda estou esperando que
tome partido disso.
Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ela espalma as mãos
sobre a mesa e aponta a cabeça em direção ao loiro que deixa sala com os
olhos no celular.
— Não vou pedir desculpas a ele, Alexia. — fecho o sorriso e
afirmo o que deve ser pela quinta ou sexta vez essa semana. — Não tente
me convencer, ainda mais depois que descobri que minha sobrinha é
apaixonada por esse idiota.
— É uma pena então. — ela se aproxima ainda mais e sussurra em
meu ouvido quando o último aluno nos deixa a sós. — Estava pensando em
retribuir sua gentileza com Ethan — ela alisa a mesa abaixo de nós e passa
o pé coberto pelo salto em minhas pernas por debaixo da mesa. —, bem
aqui e agora.
Meu pau dá sinal de vida assim que ela deixa uma mordida em
meu pescoço.
Porra, peste.
— Bakers! — Grito de dentro da sala mesmo e deixo Alexia para
trás, com um sorriso lascivo nos lábios. — Tem um segundo?
Pergunto assim que o alcanço no corredor.
— Claro, professor Aiden, ou prefere senhor Aiden? — ele se
aproxima cauteloso. — Senhor professor Aiden?
Haja paciência.
— Só queria me desculpar por minha grosseria de alguns dias
atrás. — ele assente e sorri brevemente. — Não estava tendo uma manhã
boa por — tento me lembrar qual desculpa Alexia usou com ele. —, por
alguns problemas no escritório.
— Acho que consigo entender. — ele sorri abertamente dessa vez e
olha para trás quando é chamada por um rapaz de cabelos escuros e feições
fechadas, acredito que seja um companheiro de time, pois já o vi em
quadra. — Dom está me chamando e quando ele aparece desse lado do
campus é sinal de problemas, então acho que estou indo. Pode dizer a
Alexia que aceito suas desculpas.
Não tenho tempo de responder ou de reagir a sua fala pois o
mesmo dá as costas e corre em direção ao colega, que o puxa com força
pela nuca em direção a saída.
Moleque abusado!
Volto para a sala e assim que entro, encontro Alexia sentada na
mesa com as pernas dobradas em uma pose que a deixa sexy pra caralho.
Assim que fecho a porta, tranco para não corrermos riscos e vou
em sua direção, completamente sedento para senti-la.
Graças a Deus entramos em um acordo sobre o uso das camisinhas
depois da nossa última rapidinha no escritório e nunca fiquei tão satisfeito
em ouvir alguém dizer que toma pílulas e que está limpa, já que hoje estou
sem camisinhas na carteira.
Não dou tempo para que solte suas farpas sobre eu ter atendido seu
pedido e tomo sua boca para mim, sugando seu lábio inferior.
Amo seus beijos violentos e é isso que me concede quando morde
meus lábios após sua língua explorar minha boca.
— Preciso te foder, Alexia. — digo entre o beijo. — Aqui e agora.
Me encaixo no meio das suas pernas assim que as abre para mim e
não preciso subir muito sua saia considerando seu tamanho.
Vou descendo meus beijos por seu pescoço e não deixo de
provocá-la, dando algumas mordiadas na região.
— Espero que saiba ser silenciosa, peste. — murmuro entre uma
mordida e outra.
Minhas mãos passam por seu busto e se não estivéssemos na sala
de aula, eu a despiria sem pudor algum, para poder apreciar seu corpo e
beijar cada centímetro dele.
Não me surpreendo ao encontrá-la com as pernas descobertas,
mesmo com o frio que começa a fazer, e aproveito para apertar sua carne
antes de levar meus dedos até o seu centro.
— Tenho uma surpresa para você. — ela diz ofegante e guia minha
mão até o meio de suas pernas de uma vez.
Assim que meus dedos encontram sua boceta molhada, me
surpreendo com a falta de tecido.
— Está sem calcinha, Alexia. — minha voz sai ofegante. — Já
pretendia dar essa boceta gostosa para mim nessa mesa hoje, não é mesmo
peste?
Ela consegue gargalhar, mesmo com a respiração ofegante após eu
a penetrar com dois dedos e os retirar em seguida, apenas para sentir como
estava encharcada.
— Se eu negasse, seria uma mentira, professor Aiden, e depois da
prova que aplicou hoje, sequer merecia isso. — ela puxa meu rosto e volta a
me beijar com tudo de si. — Quero que me foda nessa mesa, venho
sonhando a dias com isso.
— Então acho melhor pararmos com a falação, linda. — digo entre
o beijo e me afasto para a puxar até a beirada.
Ela leva as mãos até o meu cinto, abrindo depressa e com
agilidade, também abre minha calça deixando meu pau ereto em evidência
mesmo através da cueca.
Ela o tira para fora e assim que sinto suas mãos nele, desisto de
esperar mais.
— Sem preliminares hoje, linda. — murmuro antes de nos ajeitar e
a penetrar. — Vou te comer depressa, mas nem por isso menos bruto, então
sem barulho.
Ela se agarra em meus ombros e mesmo através da camisa, sinto
uma mordida nele quando tiro toda minha extensão dela e a penetro com
força outra vez.
Nos inclinamos sobre a mesa e começo a estocá-la sem pausas,
cada vez mais fundo até que me tenha por inteiro dentro dela.
Sinto meu pau ser esmagado por ela e nada se compara a sensação
de sentir seu aperto sem a barreira da camisinha. Ele desliza com facilidade
dentro da sua boceta sedenta e preciso conter a vontade de gemer ou de
desferir um tapa em sua coxa.
Sinto suas pernas se fecharem em meu quadril, me trazendo para
mais perto dela e aumentando ainda mais o ritmo e a força das estocadas.
— Aiden… — Alexia geme em meu ombro e sua voz manhosa me
leva a loucura, me instigando a meter com mais força. — Aiden… Estou
quase gozando.
— Não se esqueça de fazer silêncio, linda. — peço com a voz
entrecortada.
Sinto minhas bolas pesadas e o orgasmo se aproximando.
Aproveito para acelerar ainda mais o ritmo com que a penetrava.
A boceta de Alexia contrai e aperta meu pau dentro dela, sei que
vai gozar quando inclina a cabeça para trás e sinto suas pernas tremerem à
minha volta.
— Pode gozar, linda.
— Aiden… — ela geme alto. — Porra!
Tomo sua boca na minha antes que comece a gritar e engulo todos
os seus gemidos enquanto esporro dentro dela, sentindo nosso gozo escorrer
por entre suas pernas.
Encerramos o beijo por conta da falta de ar e antes de sair dela, não
resisto e deixo um tapa em sua coxa, que ri com a ação.
Assim que saio de dentro dela e me afasto a vejo desabar sobre a
mesa, se deitando com os braços abertos.
— E pensar que morro de medo de sermos pegos aqui desde o dia
que pensei ter visto alguém na porta. — sua respiração ainda é ofegante e
seus olhos estão semicerrados. Fodidamente linda — Melhor orgasmo que
já tive dentro da faculdade.
— E tiveram outros? —  indago curioso, imaginando a cara de
quem vou ter que quebrar e ela ri enquanto se levanta.
— Uma vez e foi péssimo, por isso não fiquei com mais ninguém
desse lugar.
Ela desce da mesa e tira um pacote de lenços umedecidos da bolsa,
me estendendo um pedaço enquanto limpa as pernas.
— Ethan pediu para dizer que aceitou o pedido de desculpas.
Ela começa a rir enquanto vou em direção ao lixo jogar o tecido
sujo e arrumo minha calça.
— Eu tinha dito a ele que faria você pedir desculpas. — Olho em
sua direção, que termina de ajeitar a saia. — Não se preocupe, ele não sabe
sobre a gente, mas ficou preocupado depois daquele dia e eu prometi que
você pediria desculpas pois não tinha a ver com ele.
— Seria bom se ele soubesse que agora é minha. — digo mais alto
do que pretendia e Alexia sorri divertida.
Isso é novidade.
— E você, é meu?
— Achei que já estivesse claro, que sim.
O sorriso não deixa seu rosto enquanto vai até a porta e a destranca
antes de voltar para mim com cautela.
— Aiden, não tinha planejado nada mas acho que preciso te dizer
uma coisa. — ela parece insegura e se aproxima novamente, com os olhos
presos aos meus. — Eu.. e-eu estou…
Dois toques na porta interrompem o que ela começou a dizer e isso
deixa meu coração maluco, quase saltando pela garganta.
Porra, quem ousa interromper justo agora?
— Aiden, precisamos conversar sobre uma…
A voz da reitora falha assim que entra e seus olhos passeiam entre
mim e Alexia.
Porra!
— Ótimo estarem os dois aqui, me poupa tempo. — ela endurece
as expressões e nos analisa por mais um tempo. — Preciso conversar com
vocês na minha sala sobre uma denúncia a respeito de um possível
envolvimento amoroso entre ambos. Me sigam.
Fodeu!
“Eu sou bom até demais em despedidas
(Eu sou bom até demais em despedidas)
Eu sei que você está pensando que eu não tenho coração
Eu sei que você está pensando que eu sou frio”
Too Good at Goodbyes - Sam Smith
 

Passamos pelos corredores do Campus, que se encontram um


pouco vazio por conta do horário e poderia jurar que qualquer um que
chegasse a dois metros de distância, conseguiria ouvir os batimentos do
meu coração.
Vez ou outra olho para o meu lado, em direção a Alexia e me
preocupo com o tom pálido que sua pele se encontra. Preciso resistir a
vontade de abraçá-la e até mesmo de pegar em suas mãos, que tremem
violentamente.
Quem fez essa merda de denúncia?
Será que realmente havia alguém na porta quando Alexia achou ter
visto? Mas por que esperou todo esse tempo para nos denunciar?
Assim que entramos na sala da reitora, a mesma pede que nos
sentamos nas cadeiras frente a sua mesa, enquanto ela se posiciona em seu
lugar.
Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, noto quando Alexia
começa a balançar as pernas em um claro sinal de nervosismo e também
quando respira profundamente algumas vezes, tentando controlar a
respiração, como se faltasse ar.
— Poucos dias atrás chegou até mim uma queixa sobre um
possível envolvimento entre um professor e uma aluna. — ela é firme nas
palavras e divide sua atenção entre mim e a mulher quase desfalecendo ao
meu lado. —  Foi feita de forma anônima mas a pessoa jurou que se tratava
do professor Aiden e da aluna Alexia Stewart, mandando fotos em nosso
email para comprovar os fatos.
Alexia se recosta na cadeira e acredito que reprime a vontade de
vomitar.
Suas pernas passam a se movimentar com ainda mais força e
rapidez e me preocupo com o que pode acontecer se continuar nesse estado
de nervos.
Porra!
Discretamente levo uma das mãos até suas pernas e começo a fazer
uma carícia suave na região, torcendo para que esse contato a ajude a se
acalmar.
Ela respira fundo mais uma vez e vai desacelerando os
movimentos.
— Não queria acreditar no que vi, mas depois de ter encontrado os
dois na sala de aula, sozinhos e após o horário, acho que não preciso de
mais provas. — a reitora continua após nosso silêncio.
Ela respira fundo.
— Acho que somos todos adultos aqui para entender que a situação
não é favorável para nós. — tomo a palavra após o silêncio constrangedor.
— Então acho que o melhor a fazer agora é dizer quais serão as
consequências, sem enrolação. Não sei se percebeu, reitora, mas sua aluna
está prestes a desmaiar aqui.
Ela desvia os olhos de mim para a Alexia e só agora parece notar o
estado da minha peste.
— Pode por favor, acabar logo com isso para que eu possa levá-la
à enfermaria?
Sou direto nas palavras porque o quanto antes acabarmos com isso,
mais rápido posso acalma-lá e fazer alguma coisa para resolver a merda em
que nos encontramos.
Não vou negar tudo que tenho com Alexia. Não vou me sentir
como uma criança que foi pega fazendo besteria, apesar de saber que era
errado desde o início e estou pouco me fodendo se vão me demitir ou me
denunciar para a Ordem dos Advogados.
Minha única preocupação nesse momento é a Alexia, que deve
estar desesperada, pensando mil coisas sobre o que vai ser do seu futuro e
principalmente, como vai ficar a situação de sua bolsa estudantil.
Não sei quais serão as consequências, mas seja o que for, vou fazer
de tudo para que não tirem seu sonho.
— Gostaria muito que negassem, mas mesmo se tentassem, as
fotos são toda a prova que precisamos para refutá-los, então acho que isso
nos poupa tempo. — a reitora suspira e vejo que também não está contente
com a situação.
— Por favor, só não me digam que não estou pelada nas fotos. —
Alexia solta de repente, nos assutando. — Meu coração está a um passo de
parar ou de sair pela minha boca porque estou com medo sobre minha
situação na universidade, mas porra, também preciso saber se vou poder
entrar com um processo por estaraem com fotos inapropriadas do meu
corpo.
— As fotos não são reveladoras a esse ponto, senhorita Stewart, e
acredito que acabou de entregar ainda mais coisas do que pensávamos sobre
o assunto. — Caralho de comportamento explosivo, Alexia. — As fotos
foram tiradas em um bar, acredito que seu local de trabalho a julgar por seu
uniforme. Nelas vocês trocam algumas carícias, beijos e carinhos muito
íntimos, mas nada que exponha seu corpo.
— Porra! — Alexia suspira aliviada. — Acho que falei demais,
então imagino que a consequência deva mudar agora.
Fecho meus olhos e respiro fundo antes de abri-los.
Não deixo de acariciar sua pele, que mesmo aparentando estar
nervosa, se mostra estar mais calma, considerando que a palidez passou e
não reprimo o sorriso que abro quando leva a mão até a minha,
entrelaçando nossos dedos.
Deixo um aperto forte ali, na intenção de mostrar que o que quer
que aconteça, estamos juntos nisso.
— As consequências não serão alteradas porque foi algo acordado
em reunião com o conselho estudantil de Garden University. — A reitoria
volta a falar, tirando uma pasta da gaveta. — Em consideração a você
Aiden, pelos anos que o conheço e pelo voto de confiança que lhe concedi
ao chamar para compor o corpo docente, decidimos não o levar até a Ordem
dos Advogados, caso aceitem nossas sugestões para lidar com isso.
Ela retira os papéis da pasta e estende uma cópia para cada um.
— Considerando que as fotos não tinham coisas muito reveladoras
sobre até onde havia ido seu envolvimento, consideramos  as seguintes
opções. — Ela coloca os óculos para ler, e não faço questão de acompanhar
na leitura. — Caso decidam continuar a se relacionar e também permanecer
tanto como professor, quanto como aluna , é imprescindível que firmam um
acordo de união estável perante o estado, ou que se casem, que seria o ideal.
Caso a optem, possuem um prazo de no máximo de um a dois meses, para a
realização da união. — se dirige a mim.
Ouço Alexia soltar uma exclamação de surpresa e a olho quando
solta minha mão, a tirando de seu colo em seguida.
Ela não esboça reação alguma e continua a encarar o papel em sua
outra mão, mas posso ver quando seus olhos se enchem de lágrimas.
Que merda está pensando em fazer, Alexia?
— O único modo de continuar lecionando aqui enquanto Alexia
conclui os estudos, é esse. — a reitora prossegue. — Caso contrário,
precisará deixar o cargo, a não ser que a senhorita Stewart decida abdicar
dos estudos. Se quiserem continuar juntos sem optar por uma junção
conjugal legalmente aceita, apenas um pode permanecer em Garden
University — ela respira fundo antes de prosseguir. — Mas se por algum
motivo, decidirem se separar e dar por encerrado todo tipo de relação
pessoal que tem, ambos permanecem na universidade desempenhando seus
respectivos papéis sem qualquer contato, porém o contrato que foi firmado
entre a senhorita Stewart e seu escritório, precisará ser finalizado,
juntamente com algumas regalias da bolsa estudantil, como moradia,
alimentação, entre outras coisas.
Ela fala com Alexia agora, que assente calmamente.
— Não queremos cortar sua bolsa, considerando que já está na reta
final do curso, Alexia. — prossegue mais informal. — Então espero que
saiba valorizar nossa decisão em sua escolha final e considerar nosso voto
de boa fé.
Ela se levanta, contornando a mesa.
— Isso seria contra as regras, mas vou deixar vocês a sós por
algum tempo. — chega até a porta. — Preciso da resposta ainda hoje, então
quando tiverem tomado uma decisão, assinem o acordo sobre a mesa antes
de saírem, se eu ainda não tiver retornado.
O baque da porta quase ensurdece meus ouvidos e meu coração
volta a acelerar quando vejo Alexia assinando um dos acordos.
Espero que tenha assinado a opção certa, porque é mais do que
óbvia para mim.
— Tudo acaba aqui. — ela fala antes que eu pudesse ter qualquer
reação. — Sabemos que sempre tivemos nossos objetivos de vida muito
claro, Aiden, e isso foi longe demais.
Aponta para nós dois e sorri fraco.
— Que porra é essa, Alexia?
Me levanto ficando de frente a ela e olhando sobre seu ombro vejo
que assinou a segunda opção, onde diz que ambos permanecemos na
instituição e ela abre mão de alguns benefícios de sua bolsa, bem como se
compromete dar por encerrado o contrato de estágio e não optar por
matérias em que posso lecionar futuramente.
É surreal pensar que fico sem reação diante disso.
Minha vontade é rasgar os papéis que estão sobre a mesa e gritar
em sua cara o quanto estou louco por ela e deixaria meu cargo nesta
porcaria sem pensar duas vezes para que possamos ficar juntos caso sinta o
mesmo que eu.
Até mesmo me ajoelharia e pediria sua mão em casamento se ainda
quisesse continuar dando aulas, mas a única coisa que tenho forças para
fazer, é segurar em seu queixo e levantar seu olhar para mim.
Controlo as lágrimas que querem sair.
Porra, ja nem lembrava quanto tempo fazia que não chorava e
estou prestes a abrir a boca feito um bebezão.
— Por que fez isso, pequena peste? — ela nega e deixa escapar
algumas lágrimas, que limpa rapidamente antes de fechar a expressão. —
Poderíamos tentar dar um jeito, você poderia esperar e…
— Não podemos, Aiden. — ela fala e sinto seu tom ácido em
minha direção. — Não poderíamos ter deixado tudo entre a gente ir tão
longe, mas acabamos nos perdendo no meio do caminho.  Não me
arrependo de nada, principalmente porque me fez sentir coisas que nunca
tinha sentido antes e agradeço por tudo que passamos juntos,
principalmente por ter me ensinado a rever minhas prioridades e meus
sonhos, mas não posso destruir o seu nesse processo.
Ela fala, mas estou tão perdido na dor que sinto em meu peito, que
não compreendo o que diz.
— Agora sei o quanto se esforçou para chegar onde está, e não vou
deixar que jogue tudo para o alto por conta de uma garotinha petulante. —
sorri fraco mais uma vez. — Acho que sei qual seria sua opção e isso
resultaria numa bagunça enorme na sua vida profissional e social, porque
sabemos que seríamos o assunto do momento, então apenas tomei a decisão
mais sensata e também a qual você não perde tudo que conquistou por conta
de uma loucura.
— Então porque sinto como se fosse exatamente isso? — minha
voz sai trêmula. — Porque sinto que ao acabar com o que temos, estou
perdendo tudo?
— Não fala besteiras, Aiden. — ela se aproxima e deixa um beijo
demorado em minha bochecha. — Precisamos fazer o certo, por mais
errado que possa parecer.
Assim que ela começa a se afastar, seguro sua cintura e a puxo para
meus braços. Contorno seu corpo e ela tenta sair de meu abraço, mas aos
poucos vai perdendo as forças e se recosta em mim, contornando minhas
costas.
A aperto como se fosse a última vez, e se ela continuar sendo tão
cabeça dura assim, aposto que é.
Espalho beijos pelo topo de sua cabeça e inspiro seu aroma cítrico.
Como vou sentir falta dessa petulante me atormentando o dia todo.
Por que fez isso com a gente, Alexia?
Por que tinha que ser tão teimosa, porra?
Sei que discutir sobre isso agora não vai melhorar a situação, como
também sei que precisa de tempo para se acalmar.
Cheia das ações impensadas, como pode ser assim?
Ergo seu rosto para mim e tomo sua boca, puxando seus lábios
entre os dentes.
A exploro com a minha língua, desejando ficar nesse beijo para
sempre e ela suspira em meus lábios, antes de se afastar após um selinho.
Ela me dá as costas em direção a saída e caio na cadeira, me
sentindo fora de órbita.
Não posso deixar isso acontecer, porra, preciso fazer alguma coisa,
mas sei que antes de qualquer decisão que a faria entrar em choque, preciso
dar tempo a ela.
A porta se abre novamente e a reitora retorna, voltando ao seu
lugar.
— Decisão correta. — ela diz quando nota a assinatura de Alexia e
me seguro para não mandá-la ir se foder com todo meu respeito. — Lhe dei
um voto de confiança quando o chamei para compor nosso quadro de
professores, Aiden, baseado no aluno que era, no profissional que se tornou
e na carreira promissora que possui, mas não posso deixar de dizer que me
decepcionei.
Sorrio fraco, não acreditando no que estou ouvindo.
Assino o acordo quando ela o empurra para mim.
— Dentro de alguns dias vou estar trazendo minha carta de
demissão.
— Não entendo. — ela olha confusa para os papéis. — Mas
optaram por se manterem na instituição.
— Não, ela optou, eu optei por me demitir. — me levanto em
direção a saída.
— Assim que assinar sua demissão, os boatos sobre isso vão correr
soltos, Aiden. — ela tenta me alertar. — Sua decisão de se afastar só vai
aumentar o assunto,mas caso se mantivesse aqui, poderíamos soltar uma
nota a respeito e conter os comentários.
— As pessoas vão falar de todo jeito, mesmo se optassemos por
ficarmos juntos. — chego a porta e ouço seu suspiro. — Esse assunto não
vai ficar só no Conselho, a fofoca está no DNA das pessoas, então pouco
me importa o que vão falar sobre mim, mas peço que faça o possível para
que não prejudiquem a Aleixa. Por sua antiga consideração a respeito do
meu profissionalismo.
— Está jogando sua carreira no lixo por conta de uma diversão
passageira, Aiden.
— Se fala assim, então devo acreditar que ainda não encontrou o
amor da sua vida. — a fito antes de sair da sala. — Mas felizmente,
encontrei o meu, e agora preciso correr atrás dele.
Que graças ao perverso destino, se trata da mulher mais teimosa
que já tive o prazer de encontrar.
 
Entro em casa completamente sem rumo e sigo direto para o
quarto, me jogando sobre o colchão.
Começo a chorar sem controle, sentindo uma dor que nunca senti
antes de Aiden.
Repasso nossos últimos momentos juntos e tudo que ele vinha me
fazendo sentir. Meu peito arde com a angústia sobre a decisão que tomei
hoje e me arrependo de não ter me declarado com todas as letras antes de
sair por aquela porta.
No momento eu só pensava em sair dali, para não correr o risco de
voltar atrás em minha decisão, e precisei segurar toda emoção que me
tomou ao ver seus olhos emotivos.
Começo a soluçar em meio ao choro de tristeza, não conseguindo
deixar a lembrança da expressão confusa de Aiden para trás e só aumenta
quando penso no que ele queria me confessar alguns dias atrás e não o
deixei por puro medo.
Que burra, Alexia!
A última vez que chorei, sentindo meu coração doer no peito dessa
forma, foi quando me contaram da morte dos meus pais, mas depois que o
momento de fraqueza passou, me reergui e jurei não cometer os mesmos
erros que eles.
Prometi a mim mesma que não importasse o que houvesse, eu faria
de tudo para ter sucesso nos meus sonhos, sem abaixar a cabeça para
ninguém e aproveitar todas as minhas chances.
Fui tão idiota que deixei passar a chance de tentar ser feliz com o
homem que estou apaixonada.
Consegui cumprir parte da antiga promessa com sucesso, até
mesmo hoje, quando ouvi aquelas palavras saírem da minha boca em
direção a Aiden, por mais que meu coração se partisse a ponto de eu pensar
que poderia ouvi-lo rachar e por mais que o aperto no meu peito estivesse
tão sufocante ao ponto de eu precisar buscar pelo ar e o medo me dominava,
eu não abaixei a cabeça.
Entretanto, dessa vez eu o fiz por seus sonhos, e não pelos meus.
Pela primeira vez em anos, deito na minha cama em posição fetal e
deixo minhas lágrimas lavarem toda a angústia que sinto por estar
abdicando de um novo sonho. O sonho que aos poucos foi tomando meu
coração nas últimas semanas, até eu não ter mais escapatória.
O sonho de ter uma vida ao lado de Aiden.
Mesmo não aceitando, acho que tive certeza do que sinto e que o
desejo havia surgido, quando o encontrei com seus sobrinhos no colo, e
agora não vou realizar esse novo sonho.
Pela primeira vez, eu choro por ter me apaixonado, mas
principalmente, por ter eu mesma acabado com todas as chances de ter um
futuro ao lado do homem que amo.
Porra eu o amo?!
Sim, eu o amo.
Há alguns dias confessei a mim mesma que havia me apaixonado,
mas depois de pensar muito sobre isso, a palavra começou a soar errada
diante da intensidade do que eu estava sentindo, mas agora com esse
pensamento, tudo faz sentido.
Hoje eu estava decidida a confessar que mesmo fazendo de tudo,
não consegui não me apaixonar por ele e se fosse recíproco, pedir para que
tentássemos ter um compromisso mais sério.
Só não esperava a porra da bomba que a reitora jogou nas nossas
mãos antes de conseguir dizar a ele tudo que sinto.
Porra, aquele orgasmo foi tão bom e eu estava pronta para me
declarar, mas claro que alguma coisa daria errado, ou nao se trataria da
minha vida.
Sorrio em meio ao choro ao me lembrar da sensação de ter suas
mãos em minha perna, me ajudando a me manter calma quando tudo estava
desabando a nossa frente.
Ainda é surreal como acabei amando o homem que inicialmente
queria matar com as minhas próprias mãos.
Admitir isso para mim mesma, é tão libertador quanto as lágrimas
que estavam presas em todo trajeto até aqui.
Eu o amo como nunca amei antes, e por isso não posso prendê-lo a
mim.
Já conheço Aiden o suficiente para entender que casamento nunca
foi um de seus sonhos, e sua carreira está acima de tudo em sua vida,
ficando para trás apenas quando se trata de sua família, e sei que não me
encaixo em suas prioridades, ao menos, não deveria me encaixar após tudo
que passou para chegar onde está.
Eu nunca deveria ser sua escolha e estar acima de sua profissão e
reputação.
Seguir com nosso relacionamento, só afundaria a imagem perfeita
que Aiden conquistou após esse anos árduos e não posso deixar que isso
aconteça, não depois de saber por tudo que passou para chegar até aqui, não
após ter conhecido o verdadeiro Aiden.
No início tive medo de algo assim acontecer pelo fato do meu
futuro estar em risco, e não deixo de confessar ser um alívio poder
continuar com minha bolsa, pois não sei o que faria caso isso fosse tirada de
mim, mas seria mentira se eu dissesse que só pensei em mim quando a
reitora falava todas aquelas coisas.
Se Luke estivesse aqui, com certeza me diria que fui teimosa ou até
me chamaria de burra por ter feito o que fiz, mas tudo que sinto por Aiden
bateu com força total, e não poderia deixar que o que tivemos, destruísse
sua carreira.
Eu ainda tenho tempo de conquistar tudo que desejo, mas um
escândalo como esse, de um relacionamento envolvendo uma aluna,
acabaria com toda sua reputação.
Acho que agora entendo quando uma vez ouvi dizer que o amor é
generoso.
Porra, como gostaria que não fosse, porque daria de tudo para estar
agarrada ao meu babaca agora, rindo de tudo isso.
Uma mensagem chega em meu celular e quando confiro, vejo que
se trata de mais uma mensagem sobre o próximo pagamento ao agiota.
A vida adulta não me deixa em paz nem mesmo quando estou
triste, porra?!
O soluço vem junto de mais lágrimas, e me agarro a um dos
diversos travesseiros, que jogo longe assim que encosto meu rosto no tecido
e sinto o cheiro de Aiden ali.
É incrível como já sinto sua falta.
Porra!
“Nunca diga que eu simplesmente fui embora
Eu sempre vou querer você
Não posso viver uma mentira
Correndo pela minha vida
Eu sempre vou querer você”
Wrecking ball - Miley Cyrus
 

Passo como um furacão pela mesa de Samantha, que chega a se


assustar com a minha chegada repentina.
Assim que passo pela porta, a fecho com tanta força que com o
estrondo que faz, não me surpreenderia se a tivesse tirado do lugar.
Não tenho nem tempo de me jogar sobre o sofá e colocar as mãos
na cabeça, antes de alguém invadir minha sala.
Assim que ouço o barulho da maçaneta, ergo o olhar para a frente,
esperançoso de que fosse Alexia, mas assim que meus olhos encontram
Henry, bufo de frustração.
— Não vou perder tempo dando boa tarde, nem nada do tipo. —
ele fecha a porta e de canto de olho vejo que se escora na minha mesa. — O
que foi que te deixou assim, Aiden?
— Preciso de motivos?
— Há tempos não te encontrava tão estressado desse jeito, então
precisa. — argumenta. — E depois das últimas revelações acho que o bom
humor tinha ligação com Alexia, então agora só pode se tratar dela também.
— suspira e vem em minha direção quando ergo o rosto. — Broxou?
Sei que está brincando pela risada que solta depois e noto que tenta
obter uma resposta com sua provocação, mas ainda não sei se consigo
dialogar sobre o assunto.
Ele se senta ao meu lado e põe a mão no meu ombro.
— Já vi que não está para brincadeira— suspira. — Seja o que for,
não está sozinho nessa, Aiden. — diminui o tom de voz, ficando sério. —
Para de querer guardar as frustrações para si e me conta logo o que te
deixou assim.
— Estou apaixonado por ela. — apoio os cotovelos nos joelhos,
apoiando meu rosto em minhas mãos, focalizando minha visão à frente.
— Notícia velha. — menospreza a informação. — Sua mãe me
contou no dia seguinte ao que admitiu a ela, e mesmo se não tivesse
contado, já estava na cara.
Mulherzinha fofoqueira.
Aposto que minha família toda deve estar sabendo da nossa
conversa a uma altura dessas.
— É mais do que isso. — deixo as palavras saírem devagar. —
Nunca me senti assim antes. Essa mulher invadiu minha vida de todas as
maneiras possíveis e me fez sentir coisas que nunca senti antes.
— O que está querendo dizer?
— Eu a amo, Henry. — me viro para ele a tempo de encontrar sua
expressão surpresa. — Eu amo a Alexia e não posso viver sem ela comigo.
Parece absurdo dizer isso, mas não consigo mais enxergar uma vida longe
daquela peste.
Externalizo o que venho pensando desde que deixei a sala da
reitora e me sinto aliviado ao dizer.
Passei o caminho todo remoendo isso, junto do sentimento de
saudade que ela deixou desde que soltou aquelas palavras.
Ouvi-las foi como um maldito soco, bem na boca do meu
estomago e desde então, não tenho conseguido enxergar um futuro sem ela.
— Eu acho que entrei em choque. — Henry passa as mãos pelos
cabelos compridos, e cobre a boca em seguida. — Meu Deus, eu não estava
pronto para isso. Como chegou a essa conclusão?
— Desde que ela me deixou na sala da reitora da universidade,
dizendo que tudo que tínhamos estava acabado. — seus olhos se arregalam
ainda mais. — Preciso dela e a quero de volta, já sou velho o suficiente para
saber que ela é a mulher da minha vida.
— E por que ela terminou com você? — ele desvia o olhar,
tentando entender. — Porque para qualquer um que tivesse intimidade o
suficiente com vocês, notava como ela ficava na sua presença e aposto que
deveria sentir o mesmo.
Também aposto que sente, mas é cabeça dura demais para aceitar.
— Houve uma denúncia sobre nosso caso e meu cargo ficou em
risco. — suspiro pesado. — Tínhamos opções de continuar juntos, mas ela
escolheu simplesmente o caminho em que nossa imagem não é afetada e
falou algo sobre não destruir tudo que eu conquistei.
Me levanto e começo a andar de um lado ao outro, passando as
mãos inquietas pelos cabelos e barba, como se isso fosse capaz de acalmar
meus nervos.
— E eu lá quero saber da porra da minha reputação? — solto
exasperado quando Henry me para, segurando meus ombros. — O que foi?
— Ela fez isso porque te ama, idiota.
Lá vem o maldito com essas ideias.
Sei que Alexia sente alguma coisa por mim, porque consigo sentir
isso em seus olhares, mas não chegaria a tanto como o amor.
Ou chegaria?
— Não faz essa cara, Aiden. — o maldito continua. — Porra, está
na cara.
Ele se afasta eufórico, batendo a mão sobre a coxa.
— Ela te deixou porque tem medo que seu envolvimento com uma
aluna possa te prejudicar e levar toda sua carreira e fama pro buraco, porra.
— ele prende os cabelos em um coque com um sorriso enorme no rosto. —
Deve pensar que não conseguiria sair da lama com uma polêmica a uma
altura dessas, e tenho medo que esteja certa. Não quis prejudicar sua
profissão, a mesma que sempre bateu no peito orgulhoso sobre como
conquistou e que se trata de uma das suas maiores prioridades.
— Pode parecer loucura, mas acho que talvez esteja certo.
— Eu sempre estou certo. — ele diz de maneira óbvia. — Estava
certo sobre o envolvimento de vocês e estou outra vez. Dizem que quando
amamos, precisamos deixar ir, talvez na cabeça dela seja exatamente o que
esteja fazendo com você.
— É. — suspiro derrotado ao voltar a me sentar no sofá. — Mas
pela primeira vez, quero ficar.
— Então pela primeira vez na vida, vou ter o privilégio de ver
Aiden Munhoz correndo atrás de uma mulher.
O idiota começa a rir como se fosse a coisa mais engraçada do
mundo e eu só consigo pensar em como Alexia pode ser difícil quando
quer.

Sinto pedaços de alguma coisa atingir meu rosto e me viro em


direção de onde veio, me deparando com quatro pares de olhos culpados.
Adrian joga o pedaço de pão que estava em suas mãos, para o colo
de sua esposa e recebe um tapa da mesma.
— Que merda deu em vocês? — pergunto ao meu irmão e aos seus
filhos, que foram seus cúmplices ao jogar os pedaços de pão em mim. 
Jogo de volta um pedaço em cada um e os gêmeos soltam algumas
risadas enquanto Clarice e Adrian continuam sérios.
— Já faz alguns dias que está um porre de conviver, Aiden. —
Adrian toma a palavra — Passou de cantarolar pagode enquanto tomava
café da manhã, para a porra de um escroto que sequer nos da bom dia.
Ele completa em português para os filhos não compreenderem os
palavrões.
— Estamos preocupados, tio. — é minha princesinha quem diz
dessa vez
— É mesmo, você tá bem estranho e um dia ouvi minha mãe dizer
que deve ser chifre nascendo. — Cecília comenta, entretida com sua fruta e
seu irmão cai na risada.
Mesmo puto com Francie pelas coisas que fala perto da filha,
consigo sorrir minimamente pela primeira vez em dias.
— Sua mãe que deve estar sofrendo com esse mal e fica falando da
vida alheia, terroristinha. — sorrio para ela quando olha em minha direção,
que retribui o sorriso enquanto Francie protesta. — E você precisa parar de
dizer essas coisas quando ela está perto.
Olho para ela, que esconde o sorriso levando a xícara até a boca.
— Eles estão certos, Aiden. — Meu pai parece preocupado ao
dizer. — Não sobre a história de ter sido traído, mas não acha que seria
melhor se abrir conosco dessa vez? Nunca te vimos assim e está nos
preocupando.
— É melhor abrir logo essa boca, filho.
Minha mãe ordena com toda sua falta de sutileza, arrancando risos
de todos.
— Acho que a uma altura dessas, todos já sabem sobre meus
sentimentos pela Alexia.
Não consigo deixar de escapar um sorriso quando todos
concordam, incluindo as crianças.
Ter uma mãe fofoqueira não é fácil.
Passo os minutos seguintes contando toda nossa fodida situação e
sobre o fato de não ter notícias dela desde que tudo aconteceu.
Falar sobre isso com eles e ouvir as palavras de surpresa, mas
também os conselhos, acalentaram um pouco meu coração.
 
 
Decidi não ir para o escritório e desde então passei o dia no meu
quarto, remoendo as palavras de Alexia naquele dia.
Quase não parece que se passaram apenas seis dias que ela me
deixou. A saudade que sinto de tê-la por perto, seja para me dar seus beijos
enlouquecedores, me tirar minha escassa paciência ou rir de alguma coisa
idiota, se faz mais presente que tudo.
Esperei dois dias para ir atrás dela, e desde então tenho ligado
todos os dias no seu celular, além de mandar mensagens perguntando como
está, mas não obtive resposta em nenhuma das vezes.
Assim como já me desliguei da universidade, faltando apenas
algumas assinaturas para ser oficial, ela já fez seu desligamento com o
escritório, tratando tudo diretamente com Henry, e o obriguei a falar comigo
sobre como estava.
Meu coração se partiu ao ouvir de sua boca, que ela parecia
abalada.
Porra Alexia, precisava ser tão teimosa?
Ontem em um momento de desespero, me lembrei que uma vez
contou que trabalhava na Garden Coffee junto a Luke, e fui até lá tentar
contato.
Minha decepção bateu com força quando não a encontrei lá, então
de noite tentei o bar.
Sou um maldito azarado por ter escolhido justo o dia de sua folga e
seu chefe me pediu que não voltasse mais, e senti como se fossem palavras
da minha peste e não dele.
Claro que cogitei ir até sua casa, mas não quero ultrapassar os
limites.
Além de toda saudade que sufoca meu peito, a preocupação
também vem tirando meu sono.
Não me esqueci de sua dívida, e meu maior medo é que algo possa
acontecer com aquela teimosa.
Então, foi pensando nisso que acabei indo atrás do contato da boate
Snake, na intenção de tentar contatar o agiota.
Se não vou tê-la de volta, ao menos vou fazer o que estiver ao meu
alcance para garantir que esteja em segurança, mesmo que isso me coloque
em risco.
Aperto o casaco sobre meu corpo, sentindo o vento frio por conta
do inverno, mas todo meu corpo se acende com a adrenalina assim que
meus olhos avistam dois homens se aproximando de onde estou.
Olho em volta, mas não enxergo muita coisa, considerando o beco
escuro que pediram para os encontrar.
Tento me movimentar para aplacar a ansiedade que me toma
conforme se aproximam e a mala pesada em minhas mãos impede mais
movimentos.
Assim que consegui entrar em contato com a boate, pedi para falar
com o próprio Snake, a respeito de uma dívida e logo me passaram para o
homem.
A voz que encontrei em meus ouvidos, apesar de um pouco mais
gasta, se tratava da mesma de anos atrás, tanto que chegou a arrepriar toda
minha espinha, lembrando da surra que levei por atrasar a porra de um
pagamento.
Conversei sobre a situação de Alexia, alegando ser seu namorodo e
pedi que me encontrassem para que eu pudesse quitar sua dívida.
Alexia não tinha chegado a me falar com exatidão o valor com os
juros e quando o ouvi dizer, me senti aliviado por estar fazendo isso sem
que soubesse.
Nunca que ela ia consegui quitar a porra de mais de duzentos e
cinquenta mil dolares pagando em prestações e aposto que mais pra frente
estipulariam um prazo para tudo ser pago e correria o risco de acabar sendo
morta por esses babacas.
Pedi alguns dias para que pudesse tirar tudo que precisava e
quando finalmente consegui, entrei em contato pelo número que mandaram
por mensagem depois de nos contatarmos.
Sinto os homens cada vez mais próximos e olho por sobre meu
ombro, tentando ver se consigo enxergar daqui o carro de Henry.
Me mandaram vir sozinho, mas nem fodendo que acataria essa
ordem, então liguei para Henry algumas horas atrás, contando toda essa
situação fodida.
Ele não pensou duas vezes antes de me acompanhar, para o caso de
algo acontecer.
Fico pensando em Alexia sozinha nos dias de pagamentos e sinto
vontade de xingá-la por ter sido tão estúpida de não ter contado a ninguém
sobre isso.
Olha o risco que correu, peste!
— Espero que não esteja com gracinhas, playboyzinho.
Ouço a voz de um dos homens e quando ergo meu olhar até eles,
os encontro encapuzados.
— Se estiver armando contra a gente, saiba que esse beco vazio
será a última coisa que vai enxergar em vida. — o outro, que parece ser
mais agressivo, completa.
Até pensei em contatar a polícia, mas isso implicaria envolver o
nome de Alexia, além do fato de que está certa.
Esse tal de Snake é grande por aqui e caras assim sempre tem
algum contato na polícia, então preferi não nos arriscar.
— A única coisa que quero, é pagar a dívida da minha namorada.
— analiso os dois, tentando adivinhar qual dos desgraçados bateu na minha
peste. — Sem problemas para mim ou para ela.
Um deles tira a maleta das minhas mãos e a abre, conferindo
rapidamente os malotes ali dentro e fechando em seguida.
— Vamos contar nota por nota, e se estiver tentando nos enganar,
vai se arrepender de ter nascido. — O que está com a maleta me dá as
costas, mas o outro ainda segue me encarando.
O outro o chama e ele passa mais alguns segundos com os olhos
focados em mim antes de se virar.
Poderia apostar que foi esse babaca que encostou nela.
Meu sangue começa a ferver nas veias ao me lembrar de como
ficou seu rosto, e preciso fechar as mãos em punho, controlando a vontade
de descer-los sobre o homem.
Quando estou prestes a me virar em direção a saída do beco, o
maldito me chama pelo nome.
Não me surpreendo com isso, pois deve ter me reconhecido e por
isso estava encarando.
— Me lembrei agora da sua namorada. — posso sentir a
provocação em sua voz e ver o sorriso que se desenha em seu rosto por
conta da abertura que tem no local de sua balaclava.
— Marcel, não o provoque… — ouço o outro dizer em alerta. —
Não quero dores de cabeça, porra.
— É melhor fazer o que seu colega pede. — digo entredentes
sentindo todo meu sangue se concentrar nos meus ouvidos, juntos com
meus batimentos, que me dão a sensação de surdez por um tempo.
— E vai fazer o quê, idiota?
Ele abre os braços e começa a rir. Preciso me segurar para não
cometer nenhuma estupidez, então decido me afastar.
— Ela sempre foi tão facinho de lidar. — sinto a malícia em sua
voz assim que me viro de costas para ele. — É bonita se me lembro bem e
aquela boca deve fazer loucuras com um homem.
Começo a respirar fundo, tentando controlar minha respiração
descompassada.
Se esse merda continuar a ofender Alexia dessa forma, teremos
problemas.
— E aquele cabelo curtinho dá um charme. — seu colega chama
sua atenção mais uma vez e preciso respirar mais fundo com o que sai da
sua boca em seguida. — E aqueles peitos, porra!
— É melhor calar essa boca. — digo com a respiração
entrecortada, falhando em a manter sob controle.
O maldito ri e me viro de volta para ele, que se encontra mais perto
que antes.
— Eu faria atrocidades com eles. — sussura como se fosse algo
erótico e meu corpo começa a tremer por conta da raiva. — Ah, se eu
tivesse tido a chance de fazer tudo que tinha vontade com aquele corpinho
pequeno… uhum. — ele diz como se estivesse saboreando algo.
Vou acabar matando esse filho da puta.
— Como eu teria gostado de foder com ela. — me aproximo ainda
mais, ficando a menos de dois palmos de distância e o didotia ri. — Ela
teria gostado também, depois de eu ter dado uns bons tapas na cara dela,
como fiz quando estive…
É a frase que me leva ao limite e sequer espero que a termine.
Cometendo talvez o ato mais impensado de toda minha vida, parto
para cima do sujeito, esmurrando sua cara.
O idiota solta uma risada então soco sua boca duas ou três vezes,
até ver o sangue escorrendo por ela.
Volto a socar seu rosto, desejando deixá-lo desfigurado com meus
socos e sorrio ao sentir a ardência tomar conta dos nós dos meus dedos.
Começo a socar outras partes de seu corpo, e apesar de ser maior
que eu, estranho sua reação ao ataque, já que apenas ri, sem tentar se
defender ou desviar dos socos.
Antes que eu pudesse conseguir o derrubar, completamente tomado
pela ira que me fez sentir com suas palavras, ouço seu comparsa gritar para
que pare o que estiver querendo fazer.
Um barulho no final do beco chama minha atenção e essa distração
é tempo o suficiente para o maldito desferir alguns socos em mim.
A dor toma conta do meu rosto e cabeça, e vou cambaleando para
trás. Tento enxergar onde ele está mas não consigo focalizar minha visão,
enxergando apenas um brilho metálico a alguns metros de mim.
Um estrondo se faz presente, junto da freada de um carro e de um
farol que invade o escuro.
Consigo ouvir passos apressados por todo lado e alguém gritar meu
nome antes de uma dor alucinante, como nunca senti antes, atingir meu
ombro e eu cair de costas sobre o chão sujo do beco.
Tento me manter acordado conforme a lucidez vai se esvaindo,
mas a dor é tanta que minha respiração começa a falhar.
A ultima coisa que enxergo antes de apagar por completo, são os
rostos de Henry e Adrian acima de mim e me pergunto que porra meu irmão
faz ali.
Caralho, acho que levei um tiro!
“Se você me desse uma chance
Eu arriscaria
É um tiro no escuro
Mas eu vou conseguir
Saiba com todo o seu coração
Você não pode me envergonhar
Quando estou com você
Não há nenhum lugar em que eu prefira estar
N-não, não, não, não há outro lugar em que eu prefira estar”
Rather Be - Clean Bandit feat. Jess Glynne
 

Enxugo mais uma lágrima que escorre e fecho meus olhos,


respirando fundo por um momento, numa tentativa de voltar e me
concentrar nos papéis à minha frente, espalhados sobre a mesa.
Estou na última semana de provas, mas parece que por mais que eu
tente me concentrar, não consigo parar de pensar em Aiden por um segundo
sequer.
Ter tomado aquela decisão, doeu mais do que eu estava preparada
para enfrentar e não sei o que fazer com a saudade que ficou.
Pelo menos a dor é uma prova de que realmente o amo, já que
tenho certeza que nunca sofri por nenhum homem dessa forma, depois de
ter chutado suas bundas.
E porra, ja chutei muitas nesses vinte e cinco anos.
Volto a abrir os olhos após algum tempo, e tento me concentrar nos
textos cheios das minhas anotações sobre Recursos[6], mas as letras parecem
se embaralhar na minha cabeça.
Penso em ir para o sofá e colocar algum filme, para que eu possa
me distrair enquanto tento estudar, mas ouço batidas sutis na porta.
Dou graças aos céus pelo anjo em forma de pessoa que decidiu me
visitar numa tarde de quarta-feira e assim que abro a porta, me deparo com
Hanna dentro de um sobretudo, que deve valer mais do que todas as minhas
roupas no guarda roupa.
— Bom dia, querida. — ela se aproxima e deixa um beijo em meu
rosto, fazendo com que seu aroma sutil de cereja se faça presente. — Pensei
que tinha dito que voltaria a trabalhar na Garden Coffee.
Ela passa por mim e fecho a porta, a trancando em seguida.
— Vou voltar depois das semanas de provas. — minha voz soa
fraca. — O que está fazendo aqui?
— Passei lá e Luke praticamente me enxotou, dizendo que
precisava vir te distrair um pouco.
Sorrio com o gesto de ambos.
Assim que consegui me recuperar da crise horrenda de choro,
liguei para eles porque precisava desabafar um pouco, mesmo sabendo que
iriam dizer que eu estava errada.
Já se passaram alguns dias e eles ainda tentam me convencer a
voltar atrás, mas não posso mudar minha decisão, então acho que desistiram
e agora estão tentando me animar.
Nunca fiquei tão mal depois de um término.
Depois de encerrar o contrato com a Davidson e Munhoz, onde
descobri que Aiden provavelmente conversou sobre nós com o sócio,
porque tive que lidar com Henry me dizendo que sentia muito sobre tudo,
mas que acreditava que ainda iria ser nosso padrinho de casamento um dia.
Dona Mirta me ofereceu meu antigo emprego de volta, o que
aceitei porque ainda tenho minha dívida a pagar, então segunda-feira volto a
ser garçonete da Garden Coffee.
— Por que não responde minhas mensagens? — Nana me tira dos
devaneios, enquanto tira um embrulho da bolsa. — Estava pensando em
chamar a policia para você.
A resposta para isso, é que Aiden não para de me ligar e de mandar
diversas mensagens. Tive até que pedir ao senhor Marquês que pedisse para
ele parar, caso aparecesse por lá.
Pensei em bloqueá-lo, mas estaria mentindo se dissesse que às
vezes não me pego admirando sua foto de perfil, agora que mudou para
uma de seu rosto após eu o perturbar sobre isso.
Está tão gostoso nela.
— Acho que não vi que tinha mandado. — minto na cara dura e
meus olhos brilham quando vejo o que trouxe. — Cheesecake da dona
Mirta?
Ela assentiu sorrindo e me estendeu a caixinha da lanchonete.
— Eu amo tanto vocês. — a abraço de lado depois de pegar um
garfo na cozinha e praticamente tomar o doce de suas mãos.
Assim que o saboreio, suspiro de felicidade.
Estava precisando disso.
Sinto o gosto do chocolate na minha língua, e imediatamente
minha mente me leva as vezes que Aiden fez o bendito brigadeiro para
mim.
Nada se compara a ele.
E não estou falando do doce, apesar de desejá-lo
Lágrimas começam a sair dos meus olhos de forma involuntária e
meu peito se aperta com a saudade.
Porra de memória afetiva.
Fecho os olhos enquanto mastigo, tentando controlar o choro e
sinto as mãos quentinhas de Hanna passarem por minhas costas.
Abro os olhos e encontro suas íris verdes acinzentadas,
preocupadas.
— Sinto falta de comer brigadeiro. — soluço depois de engolir o
pedaço em minha boca. — E o desgraçado nem me ensinou a fazer.
Ela me guia até o sofá e nos sentamos juntas.
Me encolho contra seu corpo quando me puxa até ela, e tento me
acalmar recebendo seus carinhos.
— Não aguento mais chorar por ele.
— Então por que não vai até ele confessar?
— Já expliquei o porquê… — nego ainda chorando e coloco mais
um pedaço na boca, não desejando mais falar sobre isso. — Acho que sei de
uma coisa que pode melhorar isso.
Não termino de comer e deixo o recipiente com o doce sobre a
mesinha de centro, antes de ir até a cozinha e pegar a tesoura em uma das
gavetas.
Assim que Hanna me vê passar para o banheiro com o objeto em
mãos, me olha assustada e corre em minha direção.
— O que vai fazer, Alexia?
— Meu cabelo cresceu bastante desde a última vez que fui até o
salão cortar. — digo medindo seu comprimento.
Me olho no espelho e me assusto com o tamanho da minha raiz
loira por fazer.
— Caralho, acho que esqueci de pintar os cabelos esse mês que
passou. — passo os dedos pela raiz. — Por que ninguém me avisou?
— Eu nem sabia que você era loira até sua raiz começar a aparecer,
então achei que estivesse tudo bem por você.
— Acho que estava tão distraída com toda confusão na minha vida,
que nem notei, mas tenho certeza que semana passada não estava tão
evidente.
— Quer ir comprar a tinta agora? — Hanna pergunta mexendo nos
meus fios.
— Acho que vou esperar mais alguns dias, estou muito ocupada
com as provas essa semana.
Começo a ajeitar meus cabelos e aproximo a tesoura do mesmo,
desejando cortá-lo na altura dos ombros novamente.
— Vai mesmo fazer isso sozinha? — ela parece preocupada e
quase rio de sua expressão. — Não quer ir ao salão?
— Já fiz isso uma vez antes e caso fique muito horrível vou ao
salão ajeitar. — olho para ela e pisco em sua direção antes de me voltar para
o espelho e cortar os fios pela metade. — Um corte de cabelo sempre
resolve tudo.
É o que sempre espero.

Fecho o casaco até estar completamente segura do vento gelado.


O inverno começou, apesar da estação, o frio daqui não se compara
ao dos outros estados, mas ainda sim vejo a necessidade de me agasalhar
bem quando saio.
E graças aqueles escrotos, estou novamente em um beco sujo,
quase de madrugada.
Não sei porque adiantaram o encontro deste mês e estou com as
pernas bambas de medo, por não ter a quantia combinada dessa vez.
Não podem me culpar, já que decidiram adiantar o pagamento.
Meu coração triplica os batimentos assim que vejo um deles se
aproximar, e estranho o fato de estar sozinho dessa vez.
— Boa noite, senhorita. — assim que ele chega perto o suficiente,
posso ver que se trata do bonzinho e suspiro de alívio.
Por um momento pensei que fosse o calvo nojento e já estava
planejando minha fuga.
— Não tenho a quantia combinada porque pediram para me
encontrar mais cedo dessa vez.
Ainda sim, minha voz sai tremula.
— Não te chamamos para receber nada hoje. — ele vem se
aproximando mais e vou me afastando até chegar à parede as minhas costas.
— Só queríamos dar um aviso.
Minha respiração começa a se descompassar e fecho os olhos
assustada quando ele saca da arma em sua cintura e encosta seu cano na
lateral do meu corpo.
Puta que pariu, não acredito que vou morrer hoje.
Ainda tenho tanta coisa pra fazer, meu Deus.
— Ficamos felizes com o fato de ter conseguido quitar sua dívida,
e agradecer por ter incluído os juros naquela maleta, mas se recebermos
qualquer tipo de denúncia pelo que aconteceu ontem a noite aqui… — ele
diz próximo ao meu rosto e sinto seu hálito quente bater em meu rosto.
Ele não era o bonzinho, porra?
E que merda essa de que quitei a divida?
— …e formos reconhecidos, vamos saber que foi você, pois temos
fontes confiáveis nos departamentos policiais de todas as redondezas. — ele
continua. — Caso isso aconteça, acho melhor começar a rezar e pedir
perdão por seus pecados, porque vai encontrar Jesus mais cedo do que
pensa, e ainda faço questão de arrastar as pessoas que ama junto, nessa
promessa. Foi bom fazer negócios com você, senhorita Stewart.
Não tenho tempo de me defender do que quer que ele esteja me
acusando, porque assim que ele se afasta e ouço seus passos para longe, por
mais que eu queira, não consigo abrir meus olhos.
Como assim minha dívida foi paga?
Que merda aconteceu ontem para ele achar que os denunciaria?
Consigo abrir os olhos após algumas tentativas e me encontro
sozinha outra vez.
Que merda acabou de acontecer?

Deixo o prédio em que tive a ultima prova antes das férias de


inverno começar, e vou andando até a lanchonete, me lembrando que
marquei de me encontrar com Luke hoje, que deve estar querendo me
matar.
Assim que cheguei em casa de madrugada, estava tão assustada
que acabei ligando para ele e as meninas, contando tudo sobre a dívida e
não posso sequer enumerar o tanto de xingamentos que deferiram a mim
por ligação, por não ter dividido isso com ninguém.
Depois que o surto de todos passou, começaram a encher minha
cabeça sobre o pagador, dizendo que está mais do que óbvio que foi Aiden,
já que era o único que sabia.
Não sei o que pensar sobre isso, mas sei que se eu descobrir que de
fato foi ele, vou até sua casa arrancar sua cabeça do lugar, porque cansei de
dizer a ele que não queria que a pagassem por mim.
Depois a teimosa sou eu.
Assim que entro na lanchonete, sou recepcionada pela expressão
furiosa de Luke.
Deus me guarde.
— Bom dia, amigo.
— Vou enfiar esse bom dia pela sua goela até sair pelo seu rabo,
Alexia. — tenho certeza que aprendeu essa expressão com Hanna e assim
que chego perto o suficiente, recebo alguns puxões na orelha.
— Ai! Luke, porra! — ele me solta e passo os dedos por minha
orelha, que deve ter ficado vermelha. — Eu ja pedi desculpas por não ter
contado a vocês.
— Foda-se, Alexia. — ele diz ainda bravo. — Tem noção do risco
que estava correndo?
— Já expliquei o porque não queria dizer.
— E achei todos os motivos muito idiotas. — bate em mim com o
pano que estava em seu ombro. — Podíamos ter te ajudado desde o
começo, e não quero ouvir que era somente sua responsabilidade. Os
amigos estão aqui para isso, não precisava ter lidado com tudo isso sozinha.
— Eu sei. — me sento derrotada. — Me perdoa?
Coloco as mãos sobre o queixo, fazendo uma cara dócil e ele revira
os olhos me dando as costas, antes de retornar com um pedaço de
cheesecake e um sorriso no rosto.
— Já aceitou que seu cavaleiro de armadura brilhante se trata do
Senhor Escroto?
— Não o chame assim. — aponto o garfo em sua direção antes de
pegar um pedaço do doce. — Só eu posso, e se realmente foi ele, já o pode
considerar um homem morto.
— Precisa começar a aceitar ajuda das pessoas que te querem bem,
melzinho. — deixa um beijo em minha cabeça e sinto meu celular tocar no
bolso da calça. — Deve ser ele ligando.
Luke sorri e dou o dedo em sua direção.
Vejo o nome de Aiden brilhar na tela, mas antes de recusar de
imediato como fiz todas as vezes, decido atender para pedir explicações.
Respiro fundo antes de apertar o verde, me concentrando para não
cair no choro assim que ouvir sua voz do outro lado da linha.
Porra, como sinto sua falta.
Assim que levo o telefone ao ouvido, sequer tenho tempo de dizer
alguma coisa, ao ouvir a voz de Francie metralhar informações.
— Alexia, bom dia.
É a primeira coisa que ouço e não tenho tempo de responder.
— É a Francie, cunhada do Aiden. Precisei pegar o celular dele
escondido por conta da teimosia dele, que não queria que ligássemos para
você.
— Tudo bem. — digo um pouco confusa, quando consigo. —
Estou ouvindo.
— Estou desobedecendo seus pedidos, porque achei que fosse
querer saber caso algo acontecesse com ele.
Me levanto da banqueta, sentindo meu coração se acelerar diante
de sua fala.
— Ele foi baleado dois dias atrás, mas já está em casa fazendo
repouso, se quiser passar aqui, tenho certeza que vai ficar feliz apesar de…
Assim que compreendo as palavras que chegam até mim, meus
dedos começam a tremer e minha respiração se descompassa.
Preciso me apoiar no balcão antes que caísse com o choque e vejo
Luke vir em minha direção, dizendo que eu estava pálida.
Mas que merda esse bababaca fez para levar a porra de um tiro?
— Alexia?… Alexia?… merda, ficou mudo…
“Pegue um pedaço do meu coração
E o torne todo seu
Assim, quando estivermos separados
Você nunca estará só
Nunca estará só”
Never be Alone - Shaw Mendes
 

Invado a sala ampla da mansão Munhoz em um rompante após


autorizarem minha entrada, acabo me deparando com vários olhos
preocupados, todos em minha direção e fico sem reação.
Assim que ouvi o que Francie disse, só pensava que precisava vê-
lo, mas agora que estou aqui, não sei o que falar e muito menos o que fazer.
Mariana se aproxima de mim, e como da primeira vez em que
estive aqui, me recebe com um abraço forte.
— Boa tarde, querida.
Ouço dizer antes de se afastar e sinto suas mãos nas minhas costas,
acalmando um pouco meus tremores, que sequer notei que estava.
— Oi.— tento sorrir mas desisto quando quase começo a chorar.
— Onde ele está?
— Está no quarto. — ela aponta em direção às escadas do lado
esquerdo da bifurcação. — Pode subir, é a terceira porta à direita.
— Ele não sabe que liguei para você, mas acho que não vai achar
ruim. — Francie se aproxima e me cumprimenta com um abraço rápido. —
Fico feliz que tenha vindo.
Sorri brevemente em agradecimento a todos, passando os olhos
rapidamente em Adrian e seu pai ao canto, e eles assentem como resposta.
Começo a subir devagar, tentando controlar meu nervosismo
enquanto isso.
Aposto que me ver nesse estado não ajudaria Aiden em nada, então
tomo esse tempo para me acalmar.
Quando chego a metade da escadaria, noto que essa bosta parece
infinita.
Foda-se.
Subo de dois em dois degraus, arriscando levar um tropeção e
foder com o meu pé, pouco me importando se a família de Aiden está vendo
essa humilhação.
Finalmente chego ao corredor e desisto de manter a calmaria.
O homem que eu amo levou a porra de um tiro, não preciso ficar
calma diante disso!
Abro a porta que me indicaram, sem me importar com a educação
de bater antes e invado seu quarto.
Assim que entro, Henry, que estava sentado ao seu lado, se levanta,
tampando minha visão então me aproximo a passos largos.
Assim que consigo enxergar seu rosto, um pouco mais pálido que o
normal, com vários machucados, junto ao peitoral exposto e o curativo no
ombro, não consigo mais conter as lágrimas que estava segurando por todo
o tempo desde a ligação.
Começo a chorar copiosamente e me jogo sobre ele, pouco me
importando com a expressão de surpresa que me lança ou com a presença
de seu amigo.
Me agarro ao seu pescoço, escondendo meu rosto em sua curva,
deixando todas as lágrimas rolarem e molharem sua pele.
Ouço a porta fechar e em seguida sinto os braços de Aiden me
contornando.
Aperto ainda mais meu braços ao seu redor e sinto os seus fazerem
o mesmo em minha cintura, como se também estivesse precisando desse
abraço.
Perco a noção de quantos minutos ficamos ali, aninhados um ao
outro e internamente não consigo parar de agradecer a Deus por isso. Por
ele.
Começo a me afastar depois de um tempo e assim que o faço,
Aiden me puxa de volta para ele.
Passo os braços por seu tronco e ele se mantém agarrado a mim.
Acho que não fui só eu que senti saudade.
— Como soube? — sua voz se faz presente, mais rouca que o
normal, fraca.
— Não vou revelar minha fonte.
— Francie não sabe ficar quieta. — murmura bufando. — Não
queria que se preocupasse.
Ergo os olhos para ele.
— Você levou a porra de um tiro! — meus olhos voltam a se
encher. — Poderia ter morrido e se eu estiver certa sobre como ganhou ele,
eu não iria me perdoar nunca, então claro que eu devia saber.
Levo as mãos até seu rosto, deixando uma carícia ali e aproveito
para admirá-lo.
Ele abre um sorriso discreto.
É claro que foi ele que quitou aquela porra e era sobre isso que os
bandidos estavam falando.
— Não sorri assim pra mim. — volto a chorar. — Não sei o que
faria se tivesse acontecido algo mais grave. Não faz mais isso, por favor.
Volto a esconder meu rosto em seu peito, e sinto seu corpo tremer
antes de ouvir sua risada.
— Consegue ser fofa.
— Estou falando sério, Aiden.
— Perdão, eu sei. — ele suspira enquanto volta a me apertar. —
Precisava te manter em segurança, porra! E foi um tiro superficial, fui
socorrido logo em seguida graças a Henry e meu irmão. Doeu pra caralho,
mas não precisa se preocupar, estou bem.
Apesar das palavras um pouco brutas, sua voz é calma.
Me ergo novamente após suas palavras.
— Então agora posso te xingar sem preocupações. — ele arregalou
os olhos. — Eu te pedi que não fizesse isso e na primeira oportunidade faz
exatamente o contrário, Aiden? Porra! Além do fato de que poderia ter
morrido, seu babaca, eu poderia ter dado conta de arcar com isso.
O empurro levemente, sabendo do seu estado e assim que faz uma
careta de dor, me arrependo do gesto.
— Ai! Caralho, Alexia. — ele reclama, mas em nenhum momento
tira os braços que estão ao meu redor.
— Não tem o direito de ficar bravo aqui. — seguro as lágrimas que
tentam sair. — E ainda teve de arrumar briga com eles? Tinha que ser idiota
a esse ponto? Olha o estado do seu rosto.
— Ei! Ele pediu por isso, acredite. — ele se defende.
— Se já não estivesse todo fodido, eu mesma te arrebentaria, pode
ter certeza.
— Nunca duvidaria disso, peste. — ele sorri. — Pode considerar
como um empréstimo se isso te deixar mais aliviada.
Penso no que Luke me disse mais cedo, sobre ceder ao orgulho e
receber ajuda daqueles que realmente se importam comigo.
Preciso admitir que levaria muito tempo para pagar tudo que estava
devendo ao agiota, sem contar com os juros e o fato de poder ser morta na
primeira complicação que tivesse com eles.
Suspiro derrotada.
Acho que preciso deixar de ser tão orgulhosa.
— Eu deveria fazer isso mesmo, mas como castigo por sua
teimosia, não vou pagar nada. — ele sorri escancarado, aparentemente feliz
com minha resposta. — Merece um desfalque depois de tudo que me fez
passar.
— Não se preocupe. — ele deixa um beijo em meu pescoço e
assim que tiro meus sapatos, me ajeito debaixo das cobertas, junto a ele. —
Posso pensar em uma forma de compensar o que perdi.
E simples assim, com um sorriso de tirar calcinhas e um beijo que
piscou minha boceta, esqueço de tudo que passamos nos últimos dias.
Me aconchego nele, sentindo o aperto que estava morando em meu
peito ir embora com o calor dos nossos corpos grudados.
Fecho os olhos, me aconchegando ainda mais a ele, e enquanto ele
deixa uma cairica gostosa em minhas costas, faço o mesmo em seu pescoço.
Me permito esquecer do mundo por um tempo.
Esqueço de toda situação fodida que estamos, aproveitando o
sentimento gostoso que cresce cada vez mais quando estou com ele.
O sentimento de pertencimento, de casa.
Ele deixa um beijo no topo da minha cabeça e solta uma risada
nasalada.
— Gostei do corte. — murmura e sorrio deixando um beijo em seu
peito. — Está pensando em voltar a ser loira?
Se refere a minha raiz horrenda e deixo uma risada escapar.
— Não nessa vida, ao menos, não de novo ou tão cedo. — suspiro
me sentindo confortável ali. — Acabei esquecendo de pintar depois das
últimas semanas, mas estou pra fazer isso no meu primeiro dia de folga.
— Poxa, pensei que estaria prestes a conhecer Alexia Stewart
versão Elle Woods por completo, mas acho que me precipitei. — ele brinca
e meu riso sai fácil.
— Quem sabe um dia.
Batidas na porta chamam nossa atenção e Henry coloca a cabeça
para dentro.
— Desculpa atrapalhar os pombinhos mas sou a enfermeira da vez
e trouxe os remédios. — ele diz brincalhão entrando com um copo d'água e
alguns comprimidos. — Da próxima vez, vou comprar uma fantasia de
enfermeira. — rio de sua ideia, não duvidando que o faça.
— Vamos torcer para que não haja uma próxima vez, por favor. —
Aiden diz pegando os medicamentos de sua mão.
Após tomar os remédios, Aiden percebe que Henry fica inquieto,
mexendo nos fios compridos e questiona o que o amigo está querendo de
verdade.
— Sei que não é o melhor momento, mas precisamos conversar.
Seu tom é sério e noto que já o conheço o suficiente para saber que
o advogado entrou em ação.
— Tudo bem. — Aiden diz e se vira para mim. — Só para ficar
ciente, contei sobre sua situação ao Henry porque precisava levar alguém
junto comigo naquela noite, mas a versão que todos sabem, inclusive minha
família, exceto por Adrian, que acabou nos seguindo por desconfiar de algo
depois das minhas idas ao banco, é que foi um assalto que deu errado
porque reagi a ele.
Assinto e foco minha atenção no homem que se senta na poltrona
ao nosso lado.
— Isso mesmo. — ele inicia. — O boletim que abrimos, por conta
de toda situação que Aiden chegou ao hospital, foi de que homens
encapuzados o assaltaram. Estava escuro então ele não conseguiu fazer
nada para identificá-los então não podemos fazer nada relacionado a isso,
entretanto...
Sinto Aiden me apertar mais contra ele, e já imagino o que vai
dizer.
—...você já os viu e poderia os reconhecer facilmente, caso se
decida por denunciá-los por tudo que passou. — Meu coração volta a se
acelerar no peito, lembrando das palavras do homem em nosso último
encontro. — Deve ter as mensagens que comprovam os encontros, então
espero que saiba que se optar por denunciá-los, nossos advogados vão estar
ao seu dispor.
Tento controlar as lágrimas e me agarro a Aiden.
— Não posso fazer isso.
Sai como um murmuro e olho para o rosto machucado de Aiden,
focando em seus olhos.
— Eu sinto muito, mas não posso. — respiro fundo. — Um deles
me chamou para conversar ontem e deixou bem claro que possuem contatos
na polícia. Me disse que caso eu decidisse fazer isso, tanto eu quanto os que
eu amo estariam fodidos. Não quero correr esse risco, me perdoem.
— Não tem que se desculpar por isso, linda. — Aiden diz em meu
ouvido antes de assentir para Henry, e parece que conversam através do
olhar.
— Caso mude de ideia, pode contar com a gente, baixinha. —
sorrio com o apelido e ele nos deixa a sós, fechando a porta atrás de si.
— Desde quando vocês têm tanta intimidade assim? — ouço
Aiden dizer e sorrio com seu ciúmes.
— Nunca vou revelar. — olho para ele e meus olhos passeiam
sobre seus ferimentos. — Não precisava ter feito isso por mim, Aiden.
— Precisa entender que eu faria qualquer coisa por você, minha
peste. — sussurra deixando nossos lábios quase colados. — Não me
importaria se essa bala tivesse acertado meu coração, desde que eu tivesse a
certeza que isso te manteria segura.
Sorrio em meio a vontade de chorar e tomo sua boca para mim.
Diferente de todas as vezes que nos beijamos, esse não parece
selvagem e furioso.
É lento, calmo e tem gosto de saudade.
Exploramos um ao outro sem nos importar com o tempo, nos
deliciando de cada segundo enquanto nossas línguas dançam entre si.
Porra, como senti falta do seus beijos.
Me movimento, jogando o cobertor para longe e aproveito para
tirar meu sobretudo.
Sento em seu colo com nossas bocas ainda coladas, colocando uma
perna de cada lado, apoiando meus joelhos no colchão macio.
Puxo seu lábio com meus dentes, arfando em seguida quando sinto
suas mãos apertarem minha cintura.
Começo a rebolar, sentindo seu pau endurecer abaixo de mim e
Aiden solta um gemido rouco em minha boca.
— Não posso me esforçar, linda. — ele murmura entre o beijo.
— Não se preocupe. — começo a descer os beijos para seu
pescoço, o sugando sem me importar com as marcas que ficarão. — Posso
cavalgar em você hoje. Só precisa ficar sentado enquanto seu pau me fode.
— Porra, Alexia. — ele geme quando aperto o volume dentro da
sua calça de moletom.
Me levanto e ele me repreende com um olhar, mas sorrio para ele
enquanto me livro das minhas roupas, em seguida me livrando do restante
das dele.
Volto à mesma posição de antes e Aiden não perde tempo,
atacando um dos meus peitos com a boca enquanto o outro recebia atenção
de sua mão.
Me entrego a sensação de prazer que suas sugadas me causam, e
deixo alguns gemidos escapar, roçando meu clitóris na extensão do seu pau.
— Vou acabar gozando só com isso, de tanta falta que sinto de ter
você. — as palavras saem como um sussurro. — Senti sua falta.
Não entendo o porquê, mas após minhas palavras brandas o clima
muda repentinamente e Aiden ergue o rosto, fitando meus olhos.
Enlaço seu pescoço com um dos braços enquanto minha outra mão
passeia por seus machucados.
Ele passa os braços por minha cintura, me trazendo para mais perto
e juntamos nossas testas.
De repente tudo que sinto por ele toma a frente, e me recordo da
dor que me manter afastada dele causou em mim.
Não consigo controlar as lágrimas que escapam por meus olhos e
sinto os dedos de Aiden as enxugando assim que fecho meus olhos.
— Senti tanto a sua falta. — confesso outra vez em um sussurro,
com nossos lábios quase grudados. — Nunca senti nada parecido com a dor
de ficar longe de você.
— Não precisa nunca mais sentir isso, minha linda. — ele também
sussurra  e parece que somos apenas nós no mundo. — Estou aqui e se
quiser, não precisamos nos separar nunca mais.
— Eu… Aiden, eu…— as palavras travam na minha boca e mais
lágrimas voltam a cair.
— Acho que não precisamos disso. — ele encosta nossos lábios
por alguns segundos.
— E eu te odeio tanto por me fazer sentir.— digo abrindo um
sorriso em seus lábios e ele faz o mesmo.
Em seguida, puxa minha carne entre seus dentes, me tomando em
um beijo ávido.
Ele desce os beijos por meu pescoço, dando algumas mordidas em
meu lóbulo e volto a rebolar em seu colo, sentindo seu pau ereto abaixo de
mim. O seguro firme e me afasto para poder nos encaixar.
Assim que volto a sentar, vou aos poucos, me acostumando com
seu tamanho e não deixo de gemer com o contato.
— Aiden… — arfo quando consigo coloca-lo por inteiro dentro de
mim. — Porra, como é gostoso, babaca.
Ele volta a me beijar enquanto não me movo, soltando alguns
gemidos na minha boca.
Não sei se de dor ou de prazer.
Me afasto e segurando em seu ombro bom, começo a quicar
devagar, sentindo toda sua extensão me rasgar de uma forma deliciosa.
O empurro para que se recoste e aumento meus movimentos,
sentindo o interior da minha boceta apertar cada vez mais seu pau.
Minha respiração se acelera e como tenho noção de que toda sua
família se encontra em algum lugar da casa, tento conter meus gemidos.
Em nenhum momento tiro meus olhos de Aiden, assim como faz
com os seus.
Parece loucura, mas sinto alguma coisa diferente se apossar de
mim.
Ainda consigo sentir todo o calor e toda a selvageria que sinto
quando estamos transando, mas dessa vez tem alguma coisa a mais que
deixa as coisas ainda melhores.
Acho que é a saudade, ou talvez seja o sentimento envolvido.
— Não imagina a saudade que eu estava de ter seu pau metendo
em mim. — deixo escapar junto com gemido e vejo Aiden arfar quando
passo a acelerar os movimentos.
— Pode acreditar que imagino, linda. — sua voz sai afetada
enquanto se ajeita, se deitando e me permitindo ter mais movimentos. —
Minha única frustração é não poder estar te fodendo da maneira que
merece.
Sorrio para ele e diminuo as sentadas para que o contato seja mais
forte e quando dou algumas reboladas o vejo revirar os olhos.
— Como fode gostoso, peste.
Ele passa a mão por meu corpo, apertando cada centímetro dele e
sorrio quando desce um tapa em uma das minhas coxas.
Ele segura forte em minha cintura, me ajudando com os
movimentos, e me estocando com brutalidade.
A cada quicada o sinto até a base e sua glande alcança meu ponto
G, me levando a loucura e não consigo controlar os gemidos que deixo
escapar.
Após desferir mais alguns tapas na mesma região, ele leva as mãos
até minha bunda, as apertando forte e deixa escapar uma careta de dor pelo
esforço.
— Aiden, quero gozar.— digo entre os gemidos. — Meu Deus,
como eu queria poder gemer seu nome para que todos os vizinhos
pudessem escutar.
— Eu estou escutando, linda, isso é tudo que importa.
Ele agarra meu rosto e me puxa para um beijo, abafando os
gemidos altos.
Contraio o interior da minha vagina, prendendo seu pau em meu
interior e ele começa a arfar como um louco, em seguida sinto meu orgasmo
chegar junto ao seu.
Sua ejaculação me preenche e me deixo amolecer, sentindo os
espasmos se espalharem por meu corpo. Caio em seu peito, completamente
suada e exausta.
Vou ficar com uma puta dor nas pernas amanhã.
— Acho que estou sedentária. — respiro fundo e sinto uma
câimbra na minha coxa. — Porra, acho que preciso começar uma academia.
Me afasto dele rapidamente, indo para os pés da cama, tentando
mudar de posição por conta da dor e ele me olha confuso.
— Câimbra. — aponto para minha coxa e ele toma meu pé em suas
mãos, me obrigando a esticar a perna. — Caralho, Aiden!
— Para de escândalo, peste.
Ele começa uma massagem em algumas localizações precisas em
meu pé, e logo sinto a dor passar.
— Estava romântico demais para ser a gente, não é?
Ele sorri com a minha fala e volta a me deitar em seu peito, e passo
uma das pernas acima das suas.
— Foi perfeito, e do jeito que tinha que ser. — ele diz entre um
bocejo, puxando as cobertas para nossos corpos. — Esse remédio me
derruba.
— Pode dormir. — começo um carinho suave em seu rosto e ele
fecha os olhos me puxando ainda mais para si, como se eu pudesse
desaparecer ou fugir.
Tento não pensar na dor que vou sentir quando sair de seu lado e
passo os próximos minutos velando seu sono com um sorriso no rosto
pensando nas possibilidades disso dar certo.
Como eu queria que tudo fosse mais fácil.
“Eu nunca mais me apaixonaria até que a encontrasse
Eu disse que eu nunca me apaixonaria, a menos que seja por você
Eu estava perdido na escuridão, mas então eu a encontrei
Eu te encontrei”
Until I Found You - Stephen Sanchez
 

Começo a andar de um lado ao outro pela sala, ainda sentindo meu


corpo protestar de dor, pois estou desobedecendo todas as recomendações
médicas.
Não que eu já não tivesse feito isso de todas as maneiras possíveis
três dias atrás, quando Alexia esteve aqui.
E pensando na peste, é exatamente por conta dela que estou nesse
estado de nervos.
Não consigo acreditar que depois de tudo que passamos, me deixou
dormindo e foi embora sem dar explicações.
Ela realmente tem o poder de invadir e deixar uma bagunça por
onde passa.
A bagunça mais perfeita, mas ainda sim, uma bagunça.
— Será que dá para você se sentar, por favor? — Adrian chega por
trás, me assustando. — Já não basta todo susto que fez passarmos, se
acontecer alguma coisa na sua recuperação, juro que eu mesmo faço o favor
de te matar.
Olho para ele, que passa por mim e se senta no sofá de maneira
relaxada.
— Não deveria estar no escritório?
— Mamãe pediu que eu ficasse como sua babá hoje, já que teve
que sair para resolver algumas coisas. — ele diz ligando a televisão.
— Não preciso de ninguém me vigiando.
— Considerando que nos últimos dias acabou se metendo numa
roubada com agiotas e levou um tiro — ele diz e finge pensar —, diria que
precisa sim.
Ele começa a passar pelos canais e me lembro de quando acordei
no hospital, sem saber direito o que tinha acontecido.
A primeira coisa que vi depois de conseguir abrir os olhos, foi
Adrian sentado na poltrona ao meu lado, tirando um cochilo e aparentando
ter tido uma péssima noite de sono.
Mais tarde me contou que desconfiou das minhas idas ao banco ao
decorrer da semana e quando saí tarde da noite com a maleta, resolveu me
seguir.
Me contou que estava observando de longe, mas quando viu o
homem sacar a arma, não perdeu tempo em acelerar o carro e iluminar o
beco a tempo de ver os homens fugirem em suas motos.
Me levaram às pressas para o hospital mais próximo, e por sorte o
tiro foi superficial e conseguiram fazer a retirada da bala sem mais
complicações.
Depois de me contar tudo, tive de ouvir um sermão sobre a
aparente merda que eu havia me metido e ouvi-lo dizer que poderia ter me
dado o dinheiro se estivesse precisando, para só depois conseguir contar o
que realmente tinha acontecido.
— Obrigado. — Minha voz sai um pouco baixa e ele me olha
como se não tivesse escutado. — Eu disse, obrigado.
— Ouvi da primeira vez, idiota. — abre um sorriso. — Por que
esta me agradecendo?
— Por sempre cuidar de mim, mesmo quando penso que não
preciso.
Ele se levanta e me agarra em um abraço, dando tapas nas minhas
costas e retribuo gesto.
Imediatamente sinto fisgadas no ombro, e o solto gemendo de dor.
— Vai ser sempre o bebezão. — termina passando as mãos por
meus cabelos. — Vou guardar o segredo de que desmaiou porque não
aguentou a dor de levar um tiro. Achei que fosse mais forte, Aiden
— Fala assim porque não foi em você. — o empurro para mais
longe após sua provocação. — Preciso sair.
Me afasto dele e começo a andar em direção a área externa, para a
garagem.
— Estou aqui justamente para impedir isso, Aiden. — ele corre e
se posiciona na passagem. — Mamãe me mataria se eu deixasse, sem contar
que já vai puxar nossas orelhas porque te ajudei a se livrar daquela tipóia
horrorosa.
— Mamãe vai te agradecer por tê-la desobedecido depois de eu
fizer o que pretendo.
Ao menos, se der certo.
Ele me olha desconfiado, mas se afasta, dando total acesso a saída.
— Tenho certeza que vai correr para aquela desmiolada, e meus
filhos precisam de primos. — sorri quando eu passo por ele. — Só por isso
estou arriscando minha pele e deixando que vá.
Não dou tempo para mais enrolações e disparo para meu carro,
pegando a caixa que comprei alguns dias atrás, antes de toda essa confusão,
a tiro do porta-malas e coloco no banco da frente.
Alexia sempre teve a mania de invasão, então acho que chegou a
hora de receber na mesma moeda.

Em um momento de completa loucura, viro a maçaneta, torcendo


para que estivesse aberta e quando consigo abrir a porta, não deixo de
comemorar com um sorriso vitorioso.
Adentro a casa de Alexia e a encontro saindo do quarto, bem
vestida e com uma caixinha em mãos, como se estivesse prestes a sair.
Seus olhos se arregalam e meu coração parece querer explodir
dentro do peito.
Essa com certeza vai ser a maior loucura que já fiz em toda minha
vida.
Fecho a porta atrás de mim e dou alguns passos, colocando a caixa
que estava em mãos, sobre a mesa.
Me aproximo de Alexia que parece estática, e tomo sua cintura em
minhas mãos.
Ela vem para mim facilmente, e o sorriso que me lança me deixa
ainda mais apaixonado, me fazendo ter a certeza do que estou prestes a
fazer.
— O que está fazendo aqui? — questiona e coloca os braços em
volta do meu pescoço.
— Uma coisa muito errada. — me olha confusa. — Alguns dias
atrás me disse que estava fazendo o que era certo, mesmo parecendo errado.
— Eu me lembro.
— Então, o que estou prestes a fazer, pode parecer uma loucura e
soar super errado, mas nada me pareceu tão certo quanto isso.
— Estou esperando, Senhor escroto.
Me provoca e não consigo mais deixar de sorrir diante de suas
palavras.
— Você sempre teve o péssimo hábito de invasão, pequena peste.
— ela me olha questionadora e me sinto à vontade para continuar. — Já
invadiu minha sala, meu banheiro, meu quarto e, de certa forma, invadiu a
minha vida.
Ela sorri e me contenho para não tomar sua boca para mim.
— Era quase certo que hora ou outra, também invadiria o meu
coração, e foi exatamente isso que aconteceu. — ela arfa e vejo lágrimas
brilhando em seus olhos. — Foi a invasão mais bem-vinda de todos os
tempos, que nunca imaginei que pudesse acontecer, mas aconteceu. Acabei
me apaixonando por você como uma chuva em um dia de sol. — As
lágrimas começam a sair de seus olhos, mas não deixa de sorrir. — De
forma totalmente inesperada e surpreendente. Depois de passarmos pelos
meses mais malucos da minha vida, chegamos até aqui, então pode
continuar invadindo o que quiser, minha casa, minha cama, meus
pensamentos, e principalmente, meu coração. Afinal de contas, ele já é seu
para fazer o que bem entender com ele, linda.
Ela me abraça, colocando o rosto na curva do meu pescoço e sinto
suas lágrimas molharem a gola da minha blusa.
Meu peito continua a bater desenfreado e sou tomado pela
felicidade de ter seu corpo de volta ao meu.
— Sei que sou péssimo nas palavras e tenho certeza que se fosse
para brigarmos, eu tiraria de letra, mas espero que entenda que sou
completamente fascinado por você, por sua força, pela sua garra, por sua
voz e até por seu jeitinho explosivo de ser. — Continuo em seu ouvido e
sinto uma risada contra minha pele. — Sou apaixonado por sua risada, por
sua inteligência e por seu péssimo gosto para filmes.— Ela solta uma risada
nasalada. — Nunca pensei em dividir minha vida com outra pessoa e nunca
me frustrei por não ter encontrado o amor, até você aparecer, peste, e nunca
me arrependeria de viver o resto dos meus dias ao seu lado. Sou seu e não
podemos fazer nada quanto a isso, a não ser aceitar.
Afasto seu corpo do meu, a fazendo olhar em meu rosto.
Sorrio para ela, que retribui e fito seus olhos.
— Eu amo você, Alexia Stewart. — sussurro e acaba saindo como
uma prece. — E quero que seja minha esposa.
As lágrimas voltam a banhar seu rosto e diferente do choque que
eu estava pronto para ter de lidar, ela fecha os olhos, respira fundo e se
mantém calma.
— Depois de uma certa idade, nada foi muito fácil para mim. —
ela começa e sorrio, me lembrando de como foi forte para lidar com tudo
que aconteceu em sua vida. — Mas eu aprendi a me reerguer a cada queda,
a aproveitar cada dia e cada oportunidade única. — Volta a abrir os olhos.
— Sempre tive meus planos e objetivos bem traçados, e em nenhum deles
incluía um homem ao meu lado. Até chegar você, de forma tão bruta, mas
necessária para eu me dar conta de que apesar dos nossos embates, sempre
me aceitou como sou.
Não consigo parar de sorrir e tenho vontade de puxá-la para o meu
colo, dando piruetas assim como meu coração parece fazer.
— Assim como tudo em minha vida, nosso início não foi fácil, mas
acho que foi do jeito que deveria ser, caso contrário eu não teria entendido
que apesar de tudo, você vale a pena o risco.  — ela não deixa de sorrir e
devo estar da mesma forma. — Eu sei que não sou fácil de lidar, mas
também sabemos como você pode ser bem difícil na maioria das vezes e
acredito que por isso nos encaixamos tão bem. — solto uma risada. Como
eu amo essa mulher. — Apesar das dificuldades e de toda merda, quando eu
estou com você, é como se tudo desaparecesse e é tão bom.
Ela se aproxima mais e nossas respirações se misturam. Ela deixa
um selinho e meus lábios antes de se afastar outra vez.
— Acho que por isso não queria aceitar, porque nunca me senti
dessa forma antes, como se e eu fosse capaz de enfrentar qualquer coisa
mesmo estando com outra pessoa e que não precisaria mais estar sozinha.
— ela respira fundo. — Por mais que eu quisesse negar, se tornou fácil estar
com você e fiquei com medo do desconhecido. — ela fica na ponta dos pés
e aproxima o rosto do meu outra vez. — Acho que também não sou boa
nessa coisa de se declarar, mas sinto como se tudo fizesse sentido quando
estamos juntos e é por isso que eu te amo.
Não controlo a gargalhada de alegria que escapa da minha boca e
antes que eu pudesse trazer seus lábios para mim, ela se afasta e me estende
a caixinha que estava em suas mãos desde que cheguei.
Assim que a abro, encontro um par de alianças junto de um anel de
noivado com um rubi em cima.
Porra, isso não pode estar acontecendo.
As peças brilham como se fossem novas e sinto meu coração subir
pela garganta.
— Eram dos meus pais. — sussurra também admirando os objetos.
— Eu sumi esses últimos dias, porque estava esperando isso ficar pronto.
— sua voz saiu trêmula. — Fui atrás de polir e de ajustá-la assim que sai da
sua casa, depois de passar um tempo te observando dormir.
Ela segura meu queixo, me fazendo olhá-la.
— Cheguei a conclusão que quero passar o resto da minha vida
dormindo ao seu lado, pouco me fodendo para o que vão pensar sobre isso.
— deixo a caixinha de lado, me lembrando da vez que me disse que ainda
tinha as alianças dos pais guardadas. — Por mais que eu quisesse te deixar
livre de tudo que vem junto comigo, não poderia desperdiçar essa chance, e
acho que você pode lidar com um escândalo em sua carreira.
— Por você, eu seria capaz de me desfazer dela, sem pensar duas
vezes. — a puxo para mim e ela me agarra com uma risada. — E aceito
enfrentar tudo que surgir no nosso caminho, desde que eu tenha você ao
meu lado. — ela assente voltando a se emocionar. — Reaproveitando todo
meu discurso sobre invasão, que tal vir até aqui e invadir minha boca com
essa língua, da forma que só você sabe e consegue fazer, peste.
— Será um prazer, meu babaca.
Ela pula em meu colo, enlaçando minha cintura com suas pernas, e
preciso conter a expressão de dor quando toma minha boca, trazendo a
sensação de que estamos no caminho certo.
— Acho que depois precisamos conversar sobre o risco de deixar a
porta destrancada. — murmuro entre o beijo, caminhando até seu quarto.
— Estava indo até a sua casa te pedir em casamento. — sorrimos
entre o beijo. — Estou mais curiosa com o que tinha naquela caixa que
chegou carregando.
Sinto a dor do meu ombro dobrar e preciso colocá-la de volta ao
chão.
Ela percebe minha expressão de dor e sorri tristemente, passando
as mãos devagar pelo local.
— Não tinha tempo de comprar um anel, mas já tinha te comprado
um presente alguns dias antes da reitora aparecer e estragar tudo. — seus
olhos se iluminam e ela abre um sorriso enorme. — Vou lá buscar para…
Ela sai correndo em disparada antes que eu pudesse concluir e caio
na risada.
O destino não poderia ter me concedido alguém mais sem noção.
— Caralho, Aiden, seu filho da puta! — ouço seus gritos histéricos
e me sento na beira da cama, ouvindo ela correr de volta ao quarto.
Mal posso me preparar para o momento em que pula em meu colo,
me derrubando para trás.
Sou atacado por beijos em todo meu rosto enquanto ela se senta em
cima de mim.
— É um Louboutin novinho em folha! — volta a me beijar. —
Obrigada. Obrigada. Obrigada.
Diz a cada vez que me beija e porra, como é bom.
— Acho que gostou.
— Com certeza. — sorri. — Até que enfim entendeu que todo esse
tempo eu só queria um sugar daddy[7].
A olho sério e ela cai na risada outra vez.
É lindo vê-la assim e não vejo a hora de tê-la dessa forma todos os
dias.
— Eu te amo. — seguro seu rosto e seus olhos se enchem de novo.
— Porra, como eu te amo.
— Eu sei, sou um espécime raro. — brinca antes de deixar um
beijo na ponta do meu nariz. — Eu também te amo, mais do que eu poderia
acreditar que pudesse sentir.
— Viu como conseguimos ser românticos? — questiono antes de
puxar sua boca para mim.
— Se prepare para ouvir isso todos os dias, porque agora que
finalmente tive coragem de falar, acho que não vou parar nunca mais.
— Posso lidar com todo esse amor. — deixo um beijo em sua testa
— Também vou querer ouvir mais vezes. — sorri divertida. —
Não deveria ter sido tão teimosa.
— Concordo, mas então não seria você. — ela da de ombros. —
Adrian quer priminhos para os meus pequenos terroristas.
— Quem sabe daqui uns anos. — ela sorri. — Você já está ficando
com os cabelos brancos, imagine com uma miniatura minha?
— Seria perfeito. — volto a beijá-la. — Eu te amo.
Digo entre o beijo e ela sorri.
— Eu te amo.
Porra, como é bom ouvir isso.
“Não consigo descrever o que estou sentindo
E tudo que sei é que estamos indo para casa
Então, por favor, não me deixe partir
Não me deixe partir
E se for certo
Não me importa quanto tempo demore
Enquanto eu estiver com você, terei um sorriso no rosto
Poupe as suas lágrimas, vai ficar tudo bem”
Here with me - D4VD
 

Meus olhos saltam das órbitas assim que o senhor Peter coloca na
mesa, a travessa com o famoso bolo de cenoura com calda de chocolate,
que minha sogra prometeu fazer especialmente para mim após descobrir
que sou fissurada em doces.
Faz alguns dias desde que tanto eu quanto Aiden nos pedimos em
casamento, e decidiram fazer um jantar em comemoração, para oficializar
meu ingresso na família.
Por um momento admiro como Aiden, seu irmão e mãe estão
vestindo a camiseta do seu time brasileiro, que ainda não consigo
pronunciar o nome, pois após o jantar vamos assistir a uma partida do jogo.
Vou me manter calada sobre a torcida, para não me meter em
problemas como da última vez e não correr o risco de tirarem meu doce de
mim.
Apesar de ser a segunda vez que estou à mesa com eles, é como se
já os conhecesse por toda vida.
Amo essa sensação.
— Prove, querida. — Mariana corta um pedaço, colocando em
minha frente. — Tenho certeza de que vai amar, ainda mais do que o
brigadeiro do Aiden.
— Amor, por que só você não sabe cozinhar nessa família? —
Francie questiona enquanto ajuda a distribuir os pedaços para os demais. —
Aiden conquistou Alexia pelo estômago e você nem isso teve a capacidade
de fazer.
— Mas podemos combinar que tenho atributos melhores que os do
meu irmão, e que te deixam muito mais satisfeita. — Adrian a responde em
um tom malicioso, levando a esposa e sorrir lascivamente, em
concordância.
— Vocês já estão com um filho no forno, então acho melhor se
acalmarem. — Peter chama a atenção do filho, mas com um sorriso nos
lábios.
— Deixe eles, quero muito mais netos enchendo essa casa. — sua
esposa rebate e deixo uma risada escapar. — Vocês também precisam
começar a colocar essa minha ideia em prática.
— Ainda não consigo acreditar que vão casar. — Henry volta a
comentar depois de nos encarar boquiaberto por um bom tempo. — Acho
que vou precisar arrumar alguém, se não vou acabar ficando sozinho.
— Vou ter que parabenizar a mulher que te aturar. — Adrian o
provoca. — Mas por precaução, já vou comprar sua coleira também, porque
se meu irmão conseguiu alguém, é a prova de que milagres existem.
Os dois começam a rir e são acompanhados por todos, inclusive eu.
— Alexia nem se formou ainda, mamãe. — meu noivo ignora as
provocações.
Porra!
Noivo, Aiden é meu noivo.
Levo meu olhar até ele e me deixo perder em seus traços enquanto
discute com a mãe sobre a ideia de darmos netos a ela.
Apesar de ser cheia de decisões impensadas e precipitadas, pedi-lo
em casamento foi a coisa mais sensata e certa que já fiz.
Quando eu estava deitada em seu peito, sentindo sua respiração
tranquila e suave após ter arriscado a própria vida apenas para me manter
segura, o fato de que desejaria dormir com ele todos os dias e sentir a
mesma sensação de pertencimento, não saía dos meus pensamentos.
Cheguei a perder a noção de quanto tempo fiquei ali, apenas o
observando e pensando em tudo que passamos dentro de tão pouco tempo.
Revisitei as conversas com meus amigos e todos os conselhos que
me deram sobre estar desperdiçando a chance de ser feliz com o homem
que amo, por conta de um medo bobo.
É claro que ainda tinha o fato de sua carreira entrar em risco, mas
se eu estivesse certa e Aiden sentisse ao menos metade do que sentia por
ele, acreditei que não se incomodaria com algumas fofocas.
Não posso deixar de esquecer do choque que tive quando me
contou que pediu demissão da universidade após minha saída da sala da
reitora.
Ainda não consigo acreditar no que fez e sinto vontade de esgana-
lo quando lembro, e logo após o beijar.
Sempre prometi a mim mesma nunca desperdiçar as chances que
surgirem em minha vida, e percebi que estava fazendo justamente o
contrário.
Foi como um despertar e de repente entendi todas as vezes que fui
apontada como teimosa pelos meus amigos.
Dou total razão a eles.
Sai dali decidida a me abrir por completo a ele, expor todos os
sentimentos que vinham me rondando desde que ele chegou em minha vida
e por algum motivo, não conseguia tirar o par de alianças acompanhado do
solitário, que estava mofando na minha gaveta.
Porra como me tornei brega.
Não consigo expressar a explosão de felicidade que senti me
dominar quando ele invadiu minha casa, jogando todas aquelas palavras em
cima de mim.
Não poderia ter amado mais.
— Vamos, tia Alexia.
A voz de Cecília me tira dos meus pensamentos, e encontro um
sorriso bobo no rosto de Aiden.
Assim que me viro para a pequena, noto que todos me olhavam
com a mesma expressão.
— Vocês são tão fofinhos. — é Clarice quem diz, com um sorriso
bobo no rosto.
— São mesmo. — O homem de cabelos cumpridos acompanha,
colocando as mãos sobre o queixo. — Sempre estive certo sobre como
acabaria esse envolvimento de vocês.
— Se não calar essa boca, vai sair dessa casa levando um chute na
bunda. — Aiden diz com um sorriso irônico nos lábios.
— É mais fácil sua família o expulsar do que a mim. — o outro
começa a rir. — Me amam muito mais.
— Tia Alexia, precisa comer o bolo da vovó. — A criança volta a
falar, atraindo a atenção e então levo um pedaço à boca.
— Acho que vamos ter de nos mudar para o Brasil depois de casar.
— murmuro voltando a atenção ao homem ao meu lado. — Se todas as
comidas de lá forem maravilhosas assim, precisamos sair correndo desse
país.
Todos caem na risada com meu comentário.
— Mas o meu bolo você só encontra aqui, querida, e nem
experimentou meu pão de queijo ainda. — minha sogra diz divertida. —
Vai ter que aprender a lidar com o fato de que, em breve, vai dividir o
mesmo teto que nós.
— Tenho a impressão de que vou amar.
— Você poderia se mudar já. — Aiden sugere pensativo. — Já
fizemos tudo que os casados fazem e até mais um pouco, o que seria
morarmos juntos? — deixo um tapa em seu ombro bom. — Ai! Não menti
em nada, peste.
— Eu acho uma ótima ideia. — meu sogro aprova, sorrindo em
minha direção.
— Considerem como um teste drive para saber se não vão se matar
depois de alguns dias morando sob o mesmo teto. — Henry comenta.
— Aproveitem enquanto não tem nada assinado, porque eu não
tive essa opção quando assinei aquela porcaria de acordo sem sequer
conhecer a louca da noiva.
É a vez de Francie estapear o marido após sua fala.
— Ai! Francie, que caralho, estou só brincando.
Caio se aproxima do pai e deixa um puxão em sua orelha.
— Falou palavra feia, papai, não pode. — O menino sorri e corre
de volta ao lugar, dando gargalhadas com os irmãos.
— Acho que vai ser excelente.
Aiden aperta minha coxa por debaixo da mesa e sorrimos um para
o outro.
Paguei tanto a língua com esse babaca, o que custa mais isso?

UM MÊS E MEIO DEPOIS


 
Termino de ajeitar a gravata borboleta de Luke e me afasto para
olhá-lo por completo.
— Meu Deus! — coloco as mãos sobre a boca. — Você está tão
lindo.
Não consigo não me emocionar ao ver meu melhor amigo, aquele
que esteve ao meu lado mesmo quando jurei não precisar e principalmente,
que puxa minha orelha sempre que necessário quando me nego a enxergar o
óbvio, prestes a realizar seu sonho.
— Você está prestes a se casar! Isso é loucura. — me jogo nele, o
abraçando. — Não sou de demonstrar isso, mas preciso que saiba que
minha felicidade não está cabendo no peito.
— A surpresa aqui é você estar noiva, melzinho. — me abraça de
volta. — Sei que está feliz.
Me solto dele e encaro seus olhos.
— É incrível estar ao seu lado na realização desse sonho. — deixo
um beijo em sua bochecha. — Espero que vocês sejam muito felizes. Eu te
amo.
— Preciso conversar com seu noivo para tentar descobrir qual é o
segredo.
— De que merda está falando?
— Preciso saber como ele operou esse milagre em você. — reviro
os olhos me afastando e ajeitando meu vestido. — Está muito mais
carinhosa desde que aceitou tudo que sente por ele, esse homem merece um
prêmio.
O admiro em seu terno branco por mais alguns minutos e ele cai na
risada, envergonhado.
— Como você está lindo! — a voz de Lia explode em nossos
ouvidos ao passar pela porta.
Ela vem em nossa direção e enquanto parabeniza nosso amigo, me
coloco em frente ao espelho, observando a tinta do meu cabelo recém
retocado, me lembrando de quando Aiden insistiu que me ajudasse a pintá-
lo e acabou com sua camisa favorita completamente manchada.
Um sorriso involuntário surge em meu rosto quando noto o rubi em
meu anelar e coloco os dedos sobre a tatuagem atrás da orelha, que muitas
vezes chego a esquecer que a tenho.
Acho que minha mãe ficaria feliz em saber que o estou usando,
ainda mais quando descobrisse todo patrimônio do noivo em questão.
Eles eram um pouco tóxicos, mas ainda os amo tanto.
Me sinto ser abraçada por trás e Lia se pendura em meu pescoço.
Ficamos nos admirando através do espelho, em nossos vestidos pretos
muito parecidos e Luke surge atrás de nós, nos capturando para um abraço
triplo.
Noto a alegria da minha amiga, mas não consigo esquecer do dia
em que aquele idiota tirou um pouco de seu brilho.
Espero muito que um dia ele pague por todas as merdas que fez e
que ela encontre alguém que a valorize como merece.
— Não acredito que vou casar meus dois melhores amigos. — ela
sussurra. — Acho que no dia do casamento da Alexia vai haver um dilúvio.
Ainda bem que escolheram se casar após nossa formatura, não sofremos
tudo a toa para morrermos antes de receber aquela diploma.
Não consigo deixar de rir, e o momento me faz lembrar de algo.
Nunca sonhei em me casar e agora que estou a alguns meses de
realizar isso, não consigo deixar de pensar sobre como seria bom ter meu
pai me levando até o altar.
Suspiro fundo e volto a sorrir, olhando meus amigos através do
espelho.
— Tenho um pedido para fazer a vocês. — me olham curiosos. —
Tomei a decisão a alguns dias e não quero ofuscar você nesse dia Luke, mas
acho que o momento pede.
— Para de enrolar e abre logo essa boca, Alexia.
Ele pede com toda sua educação.
— Vocês estiveram comigo em tudo desde que minha antiga vida
ruiu. — começo e minha voz embarga. — São mais especiais pra mim do
que eu poderia expressar, e sei que não sou de afirmar isso, mas amo muito
vocês dois.
Limpo uma das lágrimas que cai.
— Não sei o que teria sido de mim sem a companhia e todo apoio
dos dois e sei que preciso ter os dois ao meu lado quando eu estiver a
caminho de mais uma nova etapa. — vejo os olhos deles brilharem com
lágrimas não derramadas. — Quero que aceitem me levar até o altar. Os
dois.
Suas expressões passam de surpresas a emocionadas e vejo as
lágrimas caírem.
— E vão aceitar, caso contrário nem os convido.
— Pedindo com tanto carinho, por que recusaríamos? — Luke
revira os olhos sorrindo. — É claro que aceito.
Deixa um beijo em meu ombro e de repente Lia me vira em sua
direção, me abraçando forte.
— Não preciso nem responder. — ela diz chorando. — É claro que
sim.
— Achei que não fosse responder.
Acabamos rindo com a fala de Luke, que volta a nos envolver,
antes de ouvirmos batidas na porta e alguém abrir.
— Alexia, a cerimônia vai começar. — Aiden diz com um sorriso
no rosto. — Vamos?
Assinto assim que desfizemos o abraço e vou em direção ao meu
noivo.
Caralho, ainda fico meio zonza quando penso nessa palavra.
“Eu ainda me lembro do momento em que nos conhecemos
O toque que ele plantou
O jardim que ele deixou
Eu acho que a chuva foi só metade daquele efeito
Um tempo depois”
Heaven - Julia Michaels
 

UM TEMPO DEPOIS
 
Respiro fundo, tentando regularizar minha respiração
descompassada e esfrego minhas mãos uma na outra para aplacar o
nervosismo.
Me viro em direção ao espelho gigante que tenho em nosso quarto,
conferindo se cada mínimo detalhe está em seu devido lugar.
Admiro um pouco o vestido vermelho tomara que caia. Passo os
dedos pelo decote em coração, que valorizam meus seios e ajeito a fenda do
lado esquerdo, que vai até mais da metade das minhas coxas.
O tecido é todo repleto de brilho e os scarpins preto envernizados,
dão o toque final em meus pés.
Passo os dedos entre meus fios curtos e escuros, deixando-os solto
para que eu me sinta confortável com o capelo[8] sobre a cabeça.
Quase não consigo acreditar que chegou o dia da minha formatura.
Tanta coisa aconteceu nesse último ano, que pensei que não
chegaria viva para realizar esse sonho.
Mas aqui estou eu, me preparando para colar grau, onde fui
escolhida para prestar os agradecimentos aos convidados após ter concluído
os estudos como uma das alunas destaque do curso.
Que merda passou pela cabeça da minha turma ao me escolher
entre os melhores, para algo assim?
Sobressalto quando a porta se abre e Aiden entra em nosso quarto a
passos rápidos.
Nosso quarto.
Ainda é difícil acreditar que alguém me ama o suficiente para
morar comigo e me aceitar com toda minha loucura e bagunça.
Não vou mentir e dizer que tudo seguiu as mil maravilhas depois
dos pedidos de casamento, porque vez ou outra ainda protagonizamos
algumas discussões.
Até porque eu ainda continuo a mesma teimosa de sempre e Aiden
ainda segue sendo um pouco babaca quando quer.
Mas sempre acabamos resolvendo de forma rápida, pois
geralmente são discussões por motivos idiotas.
Como da última vez em que decidi ajudá-lo na cozinha e acabamos
brigando porque aparentemente eu sou um desastre nela, apesar de querer
comandá-la e levamos alguns xingos de sua mãe pela bagunça que fizemos.
Não tenho culpa de ter um instinto de líder, está no meu sangue,
porra!
— Sempre acreditei que fosse ser a causa do meu infarto precoce.
— ele me abraça por trás e não consigo deixar de pensar o quanto está
gostoso em suas roupas sociais escuras. — Está tão maravilhosa que estou
pensando em não te deixar sair desse quarto hoje.
Ele deixa um beijo em meu pescoço, me trazendo a sensação de
que meu corpo começou a entrar em chamas.
Nunca me canso disso.
— Sou capaz de te deixar amarrado sob os pés da cama. — digo
com um sorriso nos lábios. — Não me matei naquela universidade para
perder minha festa de formatura.
Ele deposita outro beijo no mesmo local e estendo minha mão
esquerda a frente, admirando o anel que um dia foi da minha mãe, sentindo
uma pontada de saudade.
— Tenho certeza que eles estariam muito orgulhosos de tudo que
tem conquistado. — A voz dele é suave em meus ouvidos.
Sorrio com suas palavras e suspiro, afastando os pensamentos
melancólicos.
Me viro em sua direção e deixo um beijo suave em sua boca.
— Tenho uma novidade.
— É sobre aquela entrevista que marcaram depois de enviarmos os
currículos caindo de bêbados um mês atrás?
Não consigo deixar de rir enquanto confirmo, me lembrando do dia
em que resolvemos nos embebedar antes de enviar os emails que definiriam
minha vida profissional após a conclusão da faculdade.
— Só espero que não tenha ocorrido nada parecido com nosso
primeiro encontro. — ele fecha a expressão. — Só pode existir um chefe
babaca e gostoso na sua vida, minha peste.
— Pode ter certeza que não foi nada parecido com aquilo. —
respiro fundo, controlando minha risada. — Consegui o emprego.
Ele arregala os olhos ao mesmo tempo que escancara um sorriso e
me levanta do chão, rodopiando comigo em seus braços.
— Me põe no chão, porra! — grito assustada. — Se esse vestido
estragar eu faço questão de arrancar seus rins, Aiden!
— Nunca duvidei de você. — me coloca de volta no chão e não
deixo de dar um empurrão em seus ombros. — Sempre soube que tem
potencial para tudo que deseja. É uma das advogadas mais incríveis que
conheço.
Agradeço seus elogios com um beijo rápido e o abraço, me
aconchegando em seu peito, sentindo o calor gostoso que pertencer ali me
proporciona.
— Não consigo acreditar que estou realizando todos os planos dos
quais sempre sonhei. — suspiro e ele me aperta contra si. — É surreal
pensar que agora vou fazer parte da equipe jurídica da empresa que um dia
teve o meu nome.
— Espero que não te coloquem para trabalhar com aquele idiota.
— se refere a Ethan solto uma gargalhada.
— Ciúmes a uma hora dessas, senhor Aiden?— questiono sorrindo
em seu peito. — Pensei que com o anel em meu dedo, já tivesse ficado
claro o suficiente de que já sou sua.
— Não me canso de ouvir isso. — ele suspira e rio de sua reação.
— Mas ainda assim não confio nele. — ele diz e posso apostar que está
carrancudo. — Ainda mais depois de descobrir que minha sobrinha caiu nos
encantos estúpidos dele.
— Caiu mais do que você poderia imaginar. — sussurro a última
parte e me assusto quando ele levanta meu rosto em sua direção. — O que
foi?
— Que história é essa?
— Não sei do que está falando. — tento me soltar de seu abraço
mas me impede.
Trocamos um olhar intenso e quando sinto suas mãos descerem
para minhas pernas, preciso me controlar para não pular em seu colo e
aceitar sua ideia de nos trancar no quarto.
— Estamos atrasados, acho melhor irmos.
Ele me puxa para um beijo e por sorte ainda não tinha passado o
batom.
Nossas línguas duelam e como em todos os beijos, me sinto ser
incendiada por ele.
Ele interrompe, ofegante e segura minha mandíbula, fitando minha
boca.
— Acho melhor sairmos daqui, antes que eu te jogue naquela cama
e te foda até estar rouca demais para qualquer discurso. — deposita um
beijo em minha testa. — Espero que a cerimônia não demore tanto.
— Se servir como incentivo. — aproximo meus lábios perto de sua
orelha e sorrio ao ver seus pelos se eriçarem. — Tive que descartar o uso da
calcinha com esse vestido.
Deixo um beijo no local arrepiado e me afasto indo em direção a
porta.
— Acabou de foder comigo, peste!
Me apresso em sair do quarto quando ouço seus passos atrás de
mim e quando chego na ponta da escada, olho para baixo e me deparo com
toda a família de Aiden, agora também minha, todos vestidos de maneira
elegante e prontos para prestigiarem minha conquista, até mesmo o bebê
nos braços de Adrian está vestido para a ocasião.
Os gêmeos correm em minha direção, cada um me abraçando de
um lado.
— Está pronta, tia? — Cecília questiona e sinto Aiden se
aproximar.
Ele carrega Caio, que pula em seu colo e a garotinha prende minha
mão na sua. Meu noivo se põe ao meu lado e descemos as escadas de mãos
dadas.
— Como nunca estive antes.
Sou tão sortuda.

— Quero começar pedindo perdão por qualquer merda que possa


sair da minha boca essa noite. — apesar de todo nervosismo, minha voz não
sai trêmula como imaginei. — Eu não faço ideia do porquê me escolheram
como oradora nesse dia tão importante e realmente não sei o que estou
fazendo.
Ouço um coro de risada e foco minha atenção nas pessoas
importantes da plateia.
Assim como Aiden e Luke, toda a família Munhoz não conseguem
tirar o sorriso orgulhoso do rosto.
Depois me volto para Lia, e sorrio para ela, que já está cedendo às
lágrimas.
— Apesar de não ter muito contato com todas as pessoas da minha
turma, posso ter certeza que um sentimento nos predomina na noite de hoje.
— Continuo com a voz agora embargada. — O sentimento de dever
cumprido e de orgulho por termos conseguido chegar até aqui. Não importa
por quantas loucuras e problemas tivemos de passar, e só cada um sabe o
quão forte precisou ser para não desistir no meio do caminho dessa jornada
maluca, mas apesar de todos os fatores, muitas vezes contra a nossa vitória,
persistimos e conseguimos chegar até aqui.
“Muitos podem não entender o porquê de tanta comoção por conta
de um simples pedaço de papel, mas somente nós formandos temos a noção
de seu verdadeiro valor e de como ele pode ser transformador.
Sobrevivemos a noites sem dormir por conta de provas e trabalhos infinitos,
dias de estresse e ansiedade, depositamos nosso suor, lágrimas e prioridades
em busca de conseguir realizar o sonho de estarmos aqui hoje. Sem contar
com todo o medo e insegurança que nos apossava quando pensávamos que
não conseguiríamos realizá-lo. Muitos de nós sequer acreditava que
chegaria ao dia de hoje com vida, mas aqui estamos.”
Preciso parar e respirar fundo, me lembrando de tudo que tive que
encarar para chegar até aqui.
— Quero deixar um agradecimento especial a todas as pessoas que
nos ajudaram nessa jornada, que nos estenderam a mão apesar de todo
nosso orgulho, mesmo quando acreditamos não precisar de ninguém. —
sorrio em direção aos meus amigos e deixo as lágrimas caírem. — Somos
gratos a todos que acreditaram em nosso potencial, que sempre confiaram
que conseguiríamos vencer todos os obstáculos, mesmo quando nós
mesmos não acreditamos. Nós conseguimos. Somos os formandos do curso
de Direito do ano de dois mil e vinte e três, e os novos advogados dessa
sociedade. O mundo nos espera, e essa conquista é só o nosso começo.
Parabéns formandos!
Tiro meu chapéu, o jogando pra cima e ouço meus, agora colegas
de profissão, se levantarem aos gritos e fazerem o mesmo com os seus,
alucinados em comemoração.
Não seguro as lágrimas e corro em direção a plateia onde me
agarro aos braços de Lia, mesmo com nossas becas dificultando o abraço.
De repente sinto mais braços se juntarem a nós e sei que se trata de
Luke quando tenta nos levantar e ouço sua voz nos parabenizando.
— Conseguimos! — Lia grita em nossos ouvidos.
É. Conseguimos.
“Querida, querida, por favor, nunca, nunca se sinta
Como se fosse menos do que perfeita pra caralho
Querida, querida, por favor, se você já, já se sentiu
Como um nada, você é perfeita pra caralho pra mim”
F**kin’ Perfect - P!ink
 

Tento atravessar o mar de pessoas para finalmente chegar a minha


noiva e poder parabenizá-la como merece.
Um ano atrás eu sequer cogitava a ideia de ter uma namorada e
agora me vejo aqui, completamente rendido a uma peste que invadiu tudo
que tinha para ser invadido em minha vida até se tornar minha noiva.
Não me arrependo de nenhuma das decisões que tomei nos últimos
meses, mesmo após toda a polêmica que envolveu meu nome na imprensa
por anunciar um noivado com uma mulher, que além de ser doze anos mais
nova que eu, também foi minha aluna por um período.
Nada poderia me fazer mais feliz do que me casar com Alexia, e
desejo realizar todos os meus futuros planos ao lado dela.
Não consegui conter algumas lágrimas, que escaparam diante do
discurso emocionado dela, e o sentimento de orgulho por tudo que passou
para chegar aqui sem desistir, explode em meu peito.
Assim que consigo me aproximar, a pego nos braços e não sinto
vontade de soltá-la nunca mais.
— Meus parabéns, linda. — deixo um beijo longo em sua boca
antes de nos afastarmos. — Estou muito orgulhoso de você.
Ela sorri, deixando mais algumas lágrimas escaparem e beijo sua
testa.
— Para quem não sabia mais o que era chorar, me tornei uma
chorona patética.
— Continua linda.
— Não para de elogiar sua mulher um segundo sequer, Aiden,
realmente virou um cachorrinho. — ouço a voz de Henry nas minhas costas
e nos viramos em sua direção.
Hanna solta de sua mão, que estavam entrelaçadas e abraça a
amiga. Seus olhos estão vermelhos por conta da emoção e vejo Henry
revirar os olhos em direção da ruiva.
— Essa sabe ser boa atriz. — meu amigo cochicha para mim,
enquanto sua noiva parabeniza Alexia.
— Eu ouvi isso, seu idiota — diz furiosa e solta minha noiva, que é
abraçada por meu amigo em seguida.
— Ainda estou esperando que aceite aquela minha proposta,
baixinha. — ele diz brincalhão, mesmo sabendo que Alexia se recusa a
trabalhar no mesmo ambiente que eu.
— Vamos deixar eles cumprimentarem o restante do pessoal.
Hanna o puxou pelo colarinho e Henry reclama da dor que sentiu
com o gesto.
Alexia junta nossos dedos e observamos nossos amigos se
afastarem entre xingamentos e alguns tapas e empurrões trocados.
— Essa história de noivado falso não vai acabar bem. — falo
desacreditado da ideia idiota que os dois tiveram após serem apontados
como possível casal na nossa festa de noivado, algumas semanas atrás. —
Ou vão acabar se matando ou a mídia vai descobrir que não se passa de um
relacionamento inventado e a carreira dos dois vai estar no lixo.
— Para de ser tão negativo. — Alexia me puxa para um abraço. —
Talvez tudo acabe bem, olha só para gente, ninguém imaginaria que daria
certo.
— Mas não estávamos fingindo estar em um relacionamento.
— Sua sobrinha me contou que nas histórias que ela lê, isso
sempre acaba com um final feliz.
Ela sorri.
— Não me fale de Clarice. — me lembro de sua fala mais cedo. —
Pensa que não sei que estão escondendo algo de mim, relacionado aquele
moleque.
Alexia revira os olhos e se aproxima do meu ouvido.
— Esqueceu que estou sem calcinha, bem aqui na sua frente? —
deixa uma mordida em meu lóbulo e sinto meu pau se atiçar na calça. —
Ainda bem que já fizemos todas as fotos antes do discurso final. Que tal
encerrarmos a comemoração mais cedo?
— Acho que não vão se importar de festejarem sem nossa
presença, não é? — questiono agarrando sua mão e a levando em direção a
saída do salão lotado. — Sequer vão sentir falta de uma das convidadas de
honra com tanta comida e bebida que estão servindo.
Saímos correndo em direção ao estacionamento e vejo Alexia se
desfazendo de sua beca, a deixando para trás.
Assim que entramos no carro não consigo segurar o desejo de tê-la
para mim e não espero que tire sua peça de roupa, a puxando para o meu
colo.
— Consegui contatar aquele colega que mora no Brasil. — digo de
maneira rápida antes que me esquecesse. — Disse que estou pensando em
passar nossa lua de mel por lá e ele nos chamou para nos encontrarmos em
um jantar.
— Desde que tenha muita comida boa, estou dentro.
Ela sorri e toma minha boca para si, puxando meus lábios entre os
seus.
— Porra, Alexia, não vou conseguir esperar muito hoje. — digo
em sua boca conforme a ajudo a se desfazer do meu paletó.
— Não espere.
Ela desce os beijos para o meu pescoço e tento encontrar o zíper ou
alguma forma de tirar seu vestido do corpo.
Ela começa a rebolar em meu colo, já abrindo minha calça e
tirando meu pau semi ereto de dentro da cueca.
Ela passa a mão por sua extensão e concentra os movimentos em
minha glande.
Minha respiração se acelera com os movimentos e me frustro por
não conseguir achar um jeito de tirar o tecido do seu corpo.
— Como se tira essa maldita coisa? — perguntou entre dentes
antes dela voltar a me beijar.
Deslizo minhas mãos para suas pernas, que se encontram uma de
cada lado do meu corpo e antes de prosseguir, afasto o banco para trás, o
deixando inclinado.
Volto a apertar a pele macia de suas coxas, que consigo acessar
graças a fenda enorme que tem em sua lateral e meu controle é perdido
quando meus dedos alcançam sua boceta.
— Como está molhada, peste. — começo a distribuir beijos por seu
pescoço.
Estimulo seu clitóris inchado com meu polegar e introduzo dois
dedos em sua entrada. Alexia geme e rebola em meus dedos, aumentando
os movimentos de suas mãos em meu pau.
Envolvo sua cintura com o outro braço e a puxo para mais perto,
na intenção de sentir sua boceta em mim, mas o vestido impede o contato.
— Que porra de vestido. — murmuro frustrado enquanto Alexia
desacelera os movimentos, se perdendo em seus gemidos.
— Mais forte Aiden…— geme ao se aproximar do meu ouvido,
rebolando com mais forças em meus dedos.
Os tiro de dentro dela e ela me olha frustrada.
— Vai ter que me desculpar por isso.
Ela não tem tempo de questionar, pois no segundo seguinte estou
rasgando a lateral do seu vestido, aproveitando da fenda para fazer o
serviço.
Faço um pouco mais de força quando chega na região do decote, e
o vejo cair de seu corpo, completamente aberto ao meio.
— Estou com tanto tesão agora que vou ignorar o fato de que não
vou ter nada para vestir quando sair desse carro ou o fato de que estragou
essa preciosidade. — Ela se movimenta para tirar o restante do vestido de
seu corpo, e o joga para o banco de trás, ficando completamente pelada,
apenas com seus saltos.
Passo as mãos por toda a extensão de seu corpo, me deliciando
com a visão de tela nua sobre mim.
Os vidros do carro começam a embaçar e a puxo de volta para
perto de mim, voltando a explorar seu pescoço com a minha boca.
Ela começa a abrir os botões da minha camisa e não consigo
esperar mais para penetrá-la.
— Preciso de você, linda. — aviso antes de envolver sua cintura e
posicioná-la em cima do meu pau.
Ela o segura e senta devagar, voltando a gemer com nosso contato.
— Porra, como isso é gostoso. — ela diz em um gemido quando
levo uma das mãos até seus cabelos e agarro seus fios curtos, inclinando sua
cabeça.
Ela começa a rebolar devagar sem me tirar de dentro dela e me
perco quando seu interior começa a me apertar com os movimentos
ritmados.
— Isso é a porra da perfeição. — minha voz sai entrecortada. —
Não existe nada melhor do que foder você, peste.
Aperto seus quadris depois de deixar um tapa em sua coxa macia
após sentir uma mordida em meu ombro e ajudo a se movimentar quando
começa a quicar em meu pau.
A essa altura os vidros estão todos embaçados por completo e o
único som que ouvimos é o de nossos corpos batendo um contra o outro,
minha respiração ofegante e seus gemidos manhosos.
— Aiden… — ela geme alto. — Se formos pegos podemos ser
presos, que loucura é essa?
— Essa loucura somos nós, Alexia.
Deixo um beijo em seu pescoço e começo a movimentar meu
quadril, a estocando forte.
Nossos movimentos se aceleram e entramos em um ritmo perfeito
e único, completamente suados e tomados pelo prazer.
Sinto meu pau ser apertado por suas paredes e quando Alexia para
com os movimentos, agarrando meus ombros nas mãos, sinto suas pernas
tremerem com o orgasmo que chega.
Tomo sua boca, abafando seus gemidos altos e continuo estocando
até gozar alguns segundos depois.
Ela não se mexe, mantendo meu pau dentro de sua boceta e recosta
a cabeça em meu ombro, tentando recuperar o fôlego após deixar um beijo
na cicatriz que o tiro me deixou. Aproveito para deixar uma carícia em suas
costas nuas e suadas enquanto também me recupero.
— Se existe comemoração melhor que essa, eu desconheço. —
sussurra. — Acho melhor irmos antes que algo dê muito errado.
Passo os dedos em volta de seu rosto, a fazendo olhar para mim.
Me perco em seu olhar, quase não acreditando em tudo que
passamos a significar um para o outro dentro de tão pouco tempo.
Nunca imaginei que a garota petulante que invadiu minha sala,
completamente molhada e pronta para provar seu valor a qualquer custo,
viria a se tornar o amor da minha vida, e que transformaria tudo por onde
passasse.
— Você é a mulher da minha vida. — ela sorri. — Eu te amo,
minha pequena peste.
— E você é o meu sonho realizado, que eu sequer sabia que
existia. — deixo um beijo em sua testa. — Eu te amo, meu Senhor Escroto.
Voltamos a nos beijar e sorrimos em meio ao beijo.
Que porra de dia incrível.
 
TRÊS ANOS DEPOIS
 
Calço meu salto e vou para a frente do espelho, ajeitando meus
cabelos, agora loiros e compridos, admirando minha imagem.
Caralho nem parece que esse corpinho maravilhoso já é o corpo
de uma mãe.
A porta se abre e sorrio quando Aiden passa por ela, todo
sorridente e com as mãos sujas, do que imagino ser carvão.
— A churrasqueira já foi acesa, linda. — antes de entrar no
banheiro ele passa por mim e deixa um beijo no topo da minha cabeça.
Espero que saia do banheiro com as mãos limpas e as entrelaço nas
minhas, pronta para descer e receber os convidados.
Sorrimos um para o outro antes de deixarmos nosso quarto para
trás.
— Dá pra acreditar que nossos pestinhas já estão fazendo um ano?
— ele pergunta pensativo enquanto atravessamos o corredor e entramos no
quarto destinado aos gêmeos.
— Acho que nunca vou conseguir me acostumar com o fato de que
somos pais. — Abrimos as portas e os encontramos dormindo em seus
berços. — Um ano desde que tive minha boceta rasgada por esses anjinhos.
Aiden não consegue controlar o riso que deixa escapar.
— Tenho traumas com esse dia até hoje. — ele coloca as mãos
sobre o estômago e começo a rir também.
Me lembro até de hoje quando nosso médico o questionou se
queria assistir o parto e ele vomitou tudo que tinha no estômago,
desmaiando em seguida quando presenciou o nascimento de Elle.
Depois de todo ocorrido, senti pena dos médicos, que além de
terem que lidar com meus ataques histéricos, tiverem que cuidar do homem
desmaiado que não acordava por nada.
Sinto sua mão tapar minha boca quando minha risada ameaça
acordar nossos pestinhas, assim como Aiden os apelidou pois disse que
puxaram completamente o meu gênio.
— Acho melhor deixar esses dois dormindo mais um pouco, — ele
sussurra. — Rafael ainda estava um pouco manhoso hoje cedo por conta da
vacina.
Concordo com um acenar enquanto posiciono a babá eletrônica em
um ângulo melhor e deixamos o quarto, indo em direção as escadas.
— Todos já chegaram? — me refiro aos nossos amigos. — Acabei
perdendo a hora, presa aqueles contratos que o senhor Bakers pediu que eu
revisse de última hora.
Se passaram três anos desde que me formei e continuo fazendo
parte do jurídico da Bakers, atualmente como uma de suas advogadas mais
bem pagas e de mais confiança.
Apesar de alguns problemas corriqueiros, minha vida não poderia
estar melhor.
Sou casada com um homem gostoso e que amo demais, sou mãe de
duas crianças incríveis, meus amigos seguem conquistando e realizando
todos os seus desejos e minha família é a melhor que eu poderia ter.
Tudo está incrível.
— Sim, exceto por Lia, que teve o voo atrasado e Rodrigo e
Bárbara, que não conseguiram vir após todos os últimos problemas em que
ele se envolveu.
Ele se refere aos amigos que fizemos nas nossas viagens para o
Brasil.
Desde que tivemos lá em nossa lua de mel, não conseguimos
passar muito tempo sem visitar. Acabamos nos aproximando do grupo de
amigos do seu antigo colega, e toda vez que estamos visitando Porto das
Palmeiras, acabamos nos reunindo.
São pessoas especiais demais e os chamamos para celebrar o
primeiro ano de vida dos nossos pequenos, e pelo visto quase todos
conseguiram comparecer.
Paramos na porta que leva a área externa e sorrio ao ver todos os
que amo, unidos em comemoração a vida dos seres que me fizeram a
mulher mais feliz do mundo.
Os adultos brincam e soltam algumas risadas enquanto bebem e
comem, esperando a carne, enquanto todas as crianças, junto a Clarice e
Ethan, brincam na piscina.
— Nunca pensei que teria isso um dia. — murmuro emocionada e
Aiden escuta.
— O que, linda?
— Uma família com quem posso dividir os momentos bons.
Ele não diz nada, apenas me puxa para um abraço e deixa um beijo
suave em meus lábios.
A sensação que me faz sentir com seus abraços nunca mudam, me
fazendo sentir pertencente a ele.
— Apesar de no início ter sido perverso, o destino foi generoso
com a gente. — ele diz. — Eu te amo.
— Eu também te amo.
Sorrimos juntos e caminhamos em direção aos nossos convidados.
Nunca pensei que me veria construindo minha própria família, e
hoje não consigo me imaginar viver sem eles.
Conquistei tudo que sonhava antes de conhecer Aiden, mas o
maior de todos foi um sonho que eu sequer sabia que existia antes dele se
tornar parte da minha vida.
Venho me sentindo cada vez mais realizada quanto a isso.
Não esperava que um dia chuvoso e infernal, pudesse transformar
minha vida de forma tão maluca e incrível assim.
E porra, sou muito grata por aquela noite de bebedeira em que
enviei os currículos mais vergonhosos da minha vida, mas também sei que
tudo só aconteceu graças a esse perverso destino, que decidiu nos provar
que poderiamos ter muito mais do que nossas ambições desejavam.
Obrigada por tudo, Destino.
 

FIM
 
Agradeço primeiramente a Deus, por ter me permitido chegar até
aqui, na conclusão de mais um livro, rumo a um novo sonho.
Não poderia deixar de agradecer a minha mãe e irmã, que seguem
sendo meus maiores pilares em cada passo que dou.
Em seguida agradeço a todas as minhas betas maravilhosas, Luana,
Marcielle, Lina, Duda, Bárbara, Maria, Regiane, Amanda e Pe, que
embarcaram comigo nessa loucura, suportando todos os surtos e me
ajudando a chegar até aqui. Vocês foram incríveis nessa jornada, e devo
muito a vocês por todo apoio e ajuda na criação dessa história. Amo vocês.
Nana, meu xuxu, já não sei nem mais como te agradecer por tanto.
Muito obrigada por permanecer ao meu lado desde o início, acreditando no
meu potencial. Você segue fazendo um trabalho impecável e sou
eternamente grata por sua parceria e principalmente por sua amizade. Te
amo.
Também não poderia deixar de agradecer a minha surtadinha. Lu,
não canso de falar como você é importante para mim, sou muito grata por
sua chegada repentina na minha vida, por cada surto, desabafos e sonhos
compartilhados. Espero que possamos crescer cada vez mais juntas. Te
amo.
E claro que nunca me esqueceria da minha Barbie! A primeira
leitora que surtou comigo e que se tornou um presente que o lançamento de
ESB me trouxe. De leitora, passou não somente a ser uma de minhas betas,
como também uma amiga incrível. Agradeço por todo apoio, conselhos e
principalmente por suportar meus surtos, você foi essencial para PD. Sou
grata demais por ter te conhecido. Te amo, neném.
Sempre gosto de agradecer aos personagens por me concederem a
honra de levar suas histórias ao mundo, e com Alexia e Aiden não seria
diferente. Esse casal me cativou por completo, sou eternamente grata a eles,
em especial a Alexia, que assim como fez com Aiden, invadiu minha mente
aos berros, e não sossegou até que eu começasse a pôr em palavras os seus
sentimentos e sua história um tanto caótica, foi uma honra fazer parte de
seu destino.
Por último e não menos importante, agradeço a você leitor, que
chegou até aqui, espero que continue acompanhando os futuros
lançamentos e desejo que tenham se envolvido com a leitura e se
apaixonado pela história de Aiden e Alexia tanto quanto eu. Espero que eles
tenham te proporcionado o respiro necessário para o que vem aí, pois Tabita
e Charlie nos aguardam.
Até breve.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
[1]
Banco considerado o mais seguro do mundo, localizado na Alemanha.
[2]
É uma divindade grega por meio da qual a justiça é definida, no sentido moral, como o sentimento
da verdade, da equidade e da humanidade, colocado acima das paixões humanas.
[3]
Vestimenta de magistrado.
[4]
Elle Woods é a protagonista do romance Legalmente Loira.
[5]
Doença cardíaca de origem genética
[6]
Instrumento processual para impugnação ou revisão de decisões judiciais.
[7]
Um homem mais velho e rico que sustenta uma namorada jovem.
[8]
Chapéu usado pelos universitários na cerimônia de colação de grau.

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