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Copyright © 2023 KELLY M.

EDITORA FRUTO PROIBIDO


Esta é uma obra de ficção. Quaisquer nomes, personagens, lugares e eventos são produtos da
imaginação do autor, e qualquer semelhança com eventos, lugares ou pessoas reais, vivas ou
mortas, é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa. São proibidos o
armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios —
tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

REVISÃO:
Lucas Santos
CAPA:
Bruna Silva
DIAGRAMAÇÃO:
Larissa Chagas
lchagasdesign
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Agradecimentos
Dedico este livro a todos os corações quebrados que deixaram de acreditar no amor
e, no fundo, ainda desejam ser amados. Mas tudo bem, porque não importa o quanto você corra,
uma hora ele te pega novamente.
Nova York
15 de março de 2020
19h50 da noite
Eu sou corna.
Nunca pensei que três anos e meio de namoro terminariam comigo com dois galhos na
cabeça. Sempre me achei esperta, e agora estou me sentindo a pessoa mais otária do planeta
Terra. Neste momento, eu oficialmente faço parte do clube dos cornos.
Nunca queremos receber a notícia de que fomos traídos, mas, no meu caso, vi ao vivo e a
cores. E, acreditem, dói pra caralho.
Eu estava saindo do vestiário depois de ter tomado banho para tirar o suor do corpo logo
após um jogo de vôlei em que dei o meu máximo e passava pelo estacionamento da quadra
quando vi meu namorado — agora ex — beijando uma garota. E não foi qualquer beijo, e sim
um daqueles que faz parecer que sua alma vai sair pela boca a qualquer momento.
Isso me encheu de choque, e foi como se algo tivesse rachado dentro do meu peito. Meu
namorado, alguém que está malditamente perto de mim, pegou a minha confiança e os anos que
passamos juntos e pisou em cima, não se importando comigo. Se amor e respeito andam lado a
lado, Kevin nunca sentiu nenhum dos dois.
Não sei se estou exatamente triste, meu relacionamento com Kevin nunca foi dos melhores.
Ele sempre sumia sem dizer para onde ia e agia com uma criança a maior parte do tempo. Não
estávamos mais como antes, vivíamos brigando, e isso resultava em mais de um dos seus
sumiços. Mas eu o amo. Trouxa, eu sei.
Sem contar que nossa vida sexual também tinha ido para o buraco. Tentava não pensar nisso
como um grande obstáculo entre nós, já que um relacionamento não pode ser sustentado por
sexo. Mas, mesmo sabendo que uma hora ou outra nosso namoro chegaria ao fim, uma parte de
mim está terrivelmente magoada.
Agora, o desgraçado está correndo atrás de mim pelo estacionamento, tentando me impedir
com desculpas esfarrapadas, quando eu não sou míope e sei muito bem o que vi. Acreditem,
gostaria muito de ser cega neste exato momento.
— Allyson, amor, espere! — Escuto os gritos dele atrás de mim e, ainda de costas, ergo o
dedo do meio.
— Vá se foder! — Balanço meu dedo no ar e arrumo minha mochila em minhas costas
quando a sinto querer escorregar.
Não devia estar doendo tanto quando eu já sabia que isso chegaria ao fim, então por que
quero chorar agora?
A vontade vem subindo pela minha garganta e rasgando tudo por dentro, fazendo a parte de
trás dos meus olhos queimar como se estivesse em chamas. Combina com a dor que sinto em
meu coração.
— Você não viu o que você acha que viu! — ele diz a famosa e velha frase. Que original!
Paro de andar para me virar para ele e olhá-lo, encarando seu rosto. Analiso o modo como
seu cabelo longo bate um pouco abaixo dos seus olhos de tom castanho-escuro. Meu estúpido
coração salta em meu peito, e apenas ignoro esse sentimento para encará-lo com uma carranca.
Sério isso?
— Você desentupindo a boca daquela garota? Ah, eu vi, sim. — Sorrio sarcasticamente e
nego com a cabeça. — Você quase sugou as tripas dela pela boca.
E nem estou exagerando, Kevin nunca me beijou com tanta vontade como fez com a ruiva
de minutos atrás, e isso me deixa triste por pensar que eu sou o problema na mesma medida em
que me enfureço por ver como ele quebrou minha confiança, algo tão difícil de conquistar, mas
fácil de perder.
— Mas ela foi a única, juro! — Kevin nega com as mãos, e arqueio a sobrancelha esquerda.
Ele dá um sorriso amarelo. — Ok, também te traí com a Natália do curso de gastronomia.
Meu patético coração se apertou ainda mais por ouvir aquilo. Se eu pressionar mais um
pouco, o que mais vou descobrir?
— Você me traiu com mais alguém, seu filho da puta?
Kevin não responde, ele apenas abre e fecha a boca, mas nada sai. Porém, isso já é reposta
suficiente, e meu coração entende o recado.
Allyson, sua burra do caralho. Quando você ficou tão cega assim? Nem te reconheço.
— Mas é você quem eu amo, juro! — Kevin diz e tenta se aproximar de mim.
Dou um passo para trás como se Kevin estivesse contaminado com a pior doença do mundo
e ergo a palma da mão direita, parando-o.
Tomo uma grande lufada de ar e acalmo meus sentimentos conturbados. Preciso ser fria
diante disso. Não posso deixar que ele tenha mais nada de mim, merece apenas o meu desprezo.
— Está tudo acabado, Kevin. Nunca mais fale comigo, nem sequer olhe na minha direção —
aviso e, como se fosse burro, ele tenta se aproximar de novo. Dessa vez, ergo o punho e estreito
os olhos em sua direção. — Se você se aproximar de mim, furo o seu rabo com os galhos que
você pôs na minha cabeça!
Não sei como posso estar levando isso com tanta calma, devido ao meu temperamento fora
do comum. Costumava pensar que, se um dia eu descobrisse que fui traída, faria um escândalo.
Mas, para ser sincera, não sei como reagir ou o que fazer.
Porém, assassinato ainda é uma possibilidade.
— Mas, Ally…
Eu reviro os olhos e começo a andar, deixando-o parado no meio do estacionamento e
sozinho. Escuto Kevin me chamar e me viro para olhá-lo, vendo-o agora correr na minha
direção. Olhando para ele, aperto o passo, pronta para correr se necessário quando trombo contra
algo duro, semelhante a uma parede.
Eu quase vou ao chão e limpo meus olhos quando os sinto ficarem turvos pelas lágrimas que
querem descer. Se for para chorar, vai ser longe das vistas de Kevin.
— Che cazzo! — a pessoa diz, e elevo meu olhar para ela.
Tudo isso para encontrar um cara alto de capacete e camisa preta de mangas longas e gola
alta. Ele está com luvas também, exatamente da mesma cor. A aura misteriosa que o cara exala
pode ser notada de longe, e ficaria intrigada com o fato de ele estar vestido como se fosse
cometer um crime, caso a minha situação não fosse deplorável.
Ele é tão alto que tive que pender o pescoço para trás e olhá-lo. Devia pedir perdão por
esbarrar nele, afinal a culpa foi minha e, perdoe-me se estiver julgando, mas o homem não parece
nada amigável.
Mesmo diante de todos esses fatos, a revolta em meu peito não me deixa ser sensata ou
muito amigável.
— Não olha por onde anda? — pergunto entredentes. Mas, ao escutar minhas próprias
palavras, me culpo. — Desculpa, eu que não…
— Allyson! — Ouço Kevin me chamar.
Sei que o estranho não tem nada a ver com a triste história dos meus chifres. Mas, neste
momento, não estou pensando com clareza. Estou mais focada com a força tremenda que estou
fazendo para não deixar que uma única lágrima escorra, ainda mais na frente de Kevin. Mas
tenho certeza de que o homem vê quando fungo e pisco para afastar as lágrimas.
O cara inclina a cabeça para a esquerda, e sei que ele está me analisando. Ergo ambas as
sobrancelhas como se perguntasse o que de tão diferente ele estava vendo. Mas uma doida com
os olhos marejados deve ser mais do que incomum.
— Olhe para mim, Allyson — Kevin pede quando chega até mim, e reviro os olhos, já
cansada dele. Olho para ele no instante em que tenta pegar meu braço. — Nós precisamos
conversar!
Desvio de sua mão e de qualquer coisa que represente seu toque, porque, mais do que
repulsivo, ele havia se tornado doloroso e… errado.
— Por que, em vez de perder seu tempo comigo, você não vai estudar sobre o corpo humano
para saber onde fica o clitóris? — Arqueio a sobrancelha esquerda e ponho as mãos na cintura.
— Porque até hoje você tem dificuldade de achar o meu.
Não é hora de lavar roupa suja, Allyson, ainda mais na frente de estranhos, tento me
aconselhar. Mas alguém realmente pensa nisso quando está furiosa?
E se eu não puder recuperar minha confiança destruída, por que não posso me vingar assim?
Envergonhando um homem na área em que ele mais se vangloria?
— Allyson! — Kevin me repreende e olha feio para o cara do capacete. Meu nome já está
começando a me irritar quando sai de sua boca.
Sei que Kevin estava com vergonha e, pela primeira vez hoje, consigo sentir um pouco de
satisfação com seu sofrimento. Bem que dizem que mulheres traídas são as piores em vinganças.
Não preciso sujar minhas mãos com Kevin, sua péssima habilidade no sexo já faz isso com
ele mesmo. Não que ele seja ruim, mas bom também não é.
— Estou mentindo? — Sorrio sarcasticamente e olho para o cara de capacete preto, assim
como para o resto de suas roupas, pondo as mãos na cintura. — Que ele fique de exemplo do que
não ser, sim?
O que está fazendo, Allyson? Apenas cale a boca.
Eu não devia falar assim com um estranho. Não eu que sou introvertida ao extremo e não
gosto de conversar com as pessoas por motivos que beiram aos de uma personalidade antissocial,
mas e se eu disser que parece estar valendo a pena apenas por ver meu ex querer me estrangular?
O cara, que parece apenas existir entre mim e Kevin, põe a mão no peito como se
perguntasse “eu?”.
Antes que eu possa responder, é Kevin quem pega meu braço e me puxa para perto de si.
— Chega, Allyson, você perdeu a cabeça? — ele questiona entredentes. — Não é você quem
deveria estar pensando no que deixou de ser para que eu te traísse tantas vezes?
Minhas sobrancelhas se erguem, e meus olhos queimam com mais força diante de suas
palavras. Dou um passo para trás, afetada por uma pergunta que fez o chão debaixo dos meus pés
sumir. Ele… está insinuando que eu não sou o suficiente? Que faltou algo em mim?
Kevin passa as mãos pelo rosto.
— Não quis dizer isso, estou nervoso — ele fala, suspirando. — Venha, amor, vamos
conversar.
Então meu temperamento ganha vida no momento em que ele põe a mão nojenta em meu
pulso. Amor?
O homem do capacete dá um passo à frente para me ajudar, mas estaca no lugar quando
seguro o braço de Kevin, cuja mão sobre mim eu torço, fazendo-o gritar de dor.
Olho para o homem da moto e inclino minha cabeça para o lado enquanto diversas formas
de homicídio passam pela minha cabeça. Quero chorar, sinto muita dor no meu peito, e parece
que meu coração vai parar de bater a qualquer momento. Não sou do tipo de pessoa que faz
drama ou é sentimental, mas neste momento? Sinto minhas ilusões caírem uma por uma.
— Quando faço isso, eu sou louca? — pergunto ao motoqueiro e chuto a perna direita de
Kevin, fazendo-o cair de joelhos aos meus pés. — Eu sou louca? Não, não sou louca. — O cara
nega várias vezes com a cabeça, e afundo minhas unhas no braço de Kevin e o ouço grunhir.
O cara olhou para meu ex-namorado e levantou a cabeça para mim, inclinando-a agora para
o lado direito. Age como se estivesse confuso, mas também não parece querer dar um passo para
ajudar Kevin.
— A-Allyson, meu braço… — Kevin geme de dor, e enrolo meus dedos em seu cabelo e os
puxo com força o suficiente para fazê-lo gritar e me encarar. — Porra, você não pode continuar a
agir assim, já pedi perdão!
Céus, eu quero matá-lo.
— Cale a boca, seu merdinha do caralho! — Puxo a cabeça de Kevin para trás e dou um
soco em seu nariz, um grito de dor escapando de seus lábios.
Solto o braço e os cabelos dele quando uma lágrima escorre por minha bochecha.
Rapidamente a limpo e empurro suas costas, fazendo-o cair deitado para a frente.
Tiro meu cabelo do rosto e olho para o cara que ergueu as mãos para o alto. Arrumo minha
mochila em minhas costas e chuto a bunda de Kevin. Dou uma última olhada no cara que
presenciou toda a cena ridícula antes de sair dali.
Quem vê toda essa atitude pensa que estou apenas furiosa, mas, se você olhar com mais
atenção, verá que as lágrimas em meus olhos não são apenas de raiva, mas também de mágoa.
Não sei se quero continuar a segurá-las.
Passo as mãos por meu cabelo e suspiro pesadamente antes de ir embora. Saio do
estacionamento e pego o primeiro táxi que encontro, dando o endereço da minha casa para o
motorista.
No banco de trás, deixo minha testa descansar na janela do carro. Tinha certeza de que
nunca sofreria por uma traição, talvez por me sentir forte demais, não sei. Mas agora vejo que
não é totalmente verdade. Doeu escutá-lo dizer com quantas mulheres ele me traiu. Merda, foi
uma dor infernal.
Devia ter dado ouvidos aos meus amigos quando disseram que não confiavam nele, mas
decidi ser teimosa e quebrar a cara.
Conheci Kevin no ensino médio quando eu tinha dezoito anos, e namoramos desde então.
Ele foi meu primeiro namorado e, bom, eu gostava de pensar assim, já que o primeiro foi um
casinho de criança sem importância. Agora, eu tinha socado o lindo e estúpido rosto de Kevin
depois de ser presenteada com grandes galhos.
O motorista para em frente ao prédio em que moro, e o pago antes de bater a porta do carro
com um pouco de força demais. Mas foi sem querer.
Estou pronta para pedir desculpas quando o motorista dá partida de maneira brusca,
deixando-me lá. Talvez ele não queira um pedido de desculpas.
Entro no prédio e vou direto para o elevador. Quando entro nele, pego meu celular e bufo ao
ver a hora. Já são oito e catorze da noite. Só quero dormir e esquecer todas as merdas que
aconteceram hoje, fingir que tudo foi um sonho, que até mesmo meu relacionamento com Kevin
nunca existiu. Talvez eu até mesmo pudesse abafar meus chifres com o travesseiro.
Quando o elevador para no quinto andar, saio e ando em direção ao meu apartamento.
Procuro os bolsos da minha calça e franzo o cenho ao ver que minha chave do apartamento com
o chaveiro do Homem de Ferro não está comigo. Abro a minha mochila e procuro em todas os
bolsos possíveis, mas também não acho nada. Ótimo, perdi a chave. Noite feliz, Allyson.
Quando lembro que Tessa sempre guarda uma chave reserva debaixo do tapete, eu me
abaixo e a pego. Tessa é a minha melhor amiga e mora comigo, ambas temos cópias da chave, e
ela sempre deixa uma reserva debaixo do tapete para casos de emergência. E, como ela está
dormindo na casa da namorada hoje, vale o último fato.
Entro no apartamento e ligo a luz da sala, parando ao ver o meu sofá todo rasgado e a
espuma saindo para fora. Respiro fundo.
Se fosse em outra ocasião, teria entrado em colapso e gritado de raiva. Mas apenas assobio,
e uma bola de pelos de cor caramelo corre em minha direção e para aos meus pés. Abaixo-me e o
pego no colo, então vou em direção ao meu quarto a passos lentos.
Jogo-me na cama, encolho meu corpo no colchão e sinto as pequenas lambidas que o filhote
de Golden Retriever espalha por meu rosto.
Aperto meus olhos e tomo uma grande lufada de ar, deixando cair as lágrimas que segurei
com tanta força. Elas rolam por minhas bochechas e chegam a molhar o pelo do cachorrinho em
meus braços. Afasto-o um pouco e encaro seu pequeno focinho.
Encaro os olhinhos pretos antes de grudar minha testa na dele e fechar meus olhos. Aos
poucos, deixo que o sono me leve, fazendo-me esquecer o desastre que foi o dia.
Nova York
2 de Setembro de 2021
Dias atuais
Aqui estou eu, entrando na igreja vestida de branco e ao som de Thinking Out Loud. Olho
para o altar e encontro meu futuro marido vestido com um terno preto e um sorriso no rosto:
Michael B. Jordan.
Estou tão feliz e não posso acreditar no que está acontecendo. Se soubesse que meu destino
era me casar com ele, tinha me jogado na frente do seu carro muito antes. Se esse casamento não
der certo, o que eu acho que é bem provável, vou me jogar na frente do carro do Henry Cavill. O
importante é eu me casar com um dos meus crushes supremos, não importa qual.
Meu pai me deixa no altar, e pego a mão que Michael B. Jordan estende para mim. Ele sorri,
e eu faço o mesmo, vendo que consegui o marido rico e bonito que minha mãe sempre sonhou
para mim. Não que beleza e dinheiro importem, mas, se consegui os dois, só me resta agradecer.
— Allyson Young, você aceita Michael B. Jordan como seu legítimo esposo? — o padre
pergunta para mim.
— Com toda a certeza! — Sorrio para o meu noivo.
— Michael B. Jordan, você aceita Allyson Young como sua legítima esposa? — ele agora
pergunta ao meu futuro marido, e eu o olho.
Pode ser tóxico o que vou dizer agora, mas ele meio que não tem escolha. Na verdade, tem,
sim. Mas apenas dois caminhos: ou sim, ou sim.
— É claro que eu… — ele para de falar.
Franzo o cenho. Será que ele desistiu? Ah, não. Não no meu turno.
— Que você…? — eu o encorajo.
— Que eu… — Ele se vira para mim, me agarra pelos ombros e me chacoalha. — QUERO
QUE VOCÊ ACORDE, VAGABUNDA!
Acordo com um sobressalto e olho para cima, encontrando Tessa em cima de mim e me
encarando com uma carranca.
— Acorde, Allyson! — ela grita, ainda chacoalhando meu corpo.
— Eu já estou acordada! — Empurro-a de cima de mim, e ela cai na minha cama logo ao
lado.
Minha melhor amiga me encara com uma carranca, parecendo estressada.
— Eu devia tê-la deixado passar direto. — Ela se levanta da cama e vai até minha
penteadeira, com o que percebo ser um gloss na sua mão. Tess nega com a cabeça. — Todo dia
essa merda de ter que acordar você. Sono da morte, é isso?
Acho que Tessa não conhece as regras de melhores amigas, ou ela apenas as ignora.
— Não tenho culpa se os meus sonhos com o Michael B. Jordan não me fazem querer
acordar. — Também me levanto da cama e jogo os braços para cima enquanto me espreguiço.
— Não só com Michael B. Jordan. Todo dia você sonha com um cara diferente — Tessa fala
e, pelo espelho, a vejo revirar os olhos. Ela ri e volta a passar o gloss nos lábios. — Uma semana
dessa eu te peguei gemendo o nome do Matthew Daddario.
Não posso mais ter nem privacidade nos meus sonhos?
— Mentira, calúnia e difamação! — defendo-me e ponho a mão no peito.
Sinto algo se esfregar em minhas pernas, e olho para baixo, vendo que Justin entrou no
quarto, ou já estava nele, não é? Sempre acordo tão desnorteada que preciso de, pelo menos, uns
trinta minutos para me reconectar com o mundo.
Mas, bom, eu devia ao menos tê-lo visto entrar, já que Justin é um Golden com um ano de
idade.
Sorrio e me abaixo para fazer um carinho no pelo dele. Mesmo que só tenha essa idade, já
está ficando enorme. Agora que fui demitida, temo não poder arcar com as despesas dele. Mas
sempre posso começar a vender a mobília da casa, tudo pela criança.
— Mentira, é? — Tessa tira o borrado dos lábios e se vira para mim. — Mas entendo,
amiga. Você está assim porque faz tempo que não transa, já deve até ter voltado a ser virgem.
Sorrio falsamente.
— Por que não vai cuidar da vida sexual da sua namorada?
— Eu cuido muito bem, obrigada. E você, cuida da sua? — ela debocha.
Não. A minha foi esquecida em um lugar difícil de encontrar. Talvez em um semelhante a
Nárnia.
Abro a boca para mandá-la se foder, quando o meu celular vibra, e corro até a minha
cômoda para pegá-lo. Eu o desbloqueio e entro no Instagram, vendo que é uma mensagem de
Kevin perguntando quando irei voltar com ele. Céus, por que ele não para?
Engulo em seco.
— Merda, esse idiota não desiste — bufo impacientemente e me sento na cama, encarando a
tela do celular.
— Quem é? — Tessa pergunta, e ergo os olhos, encontrando-a se analisando no espelho.
— É Kevin, desde ontem ele me manda mensagem — digo enquanto a vejo agora fazer um
carinho no pelo do Justin. — Ele fica perguntando a cada cinco minutos quando vamos reatar o
namoro.
— Mas não faz mais de um ano que vocês terminaram? — Ela bota as mãos na cintura,
confusa. Então minha melhor amiga arqueia a sobrancelha. — Allyson, por que ele não está
bloqueado?
Engulo em seco e encolho meus ombros com sua pergunta, em que a desconfiança é
palpável.
— Eu… não consegui bloqueá-lo — suspiro, agarrando o celular contra o meu peito.
Mesmo que o que eu sinta por Kevin não seja tão forte como antes, algo ainda me impede de
cortar totalmente os laços com ele. Seja no amor, seja em outras coisas, não sei encerrar ciclos.
— Sei que ainda gosta dele, mas ele só vai fazê-la sofrer — Tessa diz, aproximando-se de
mim. Ela suspira, pensativa. — Ele é lindo e tem um físico surreal, eu sei. Porém mais surreais
ainda vão ser os seus chifres se voltar com ele.
Franzo minhas sobrancelhas, desacreditada com o que essa garota falou.
— Quando um apoio emocional virou uma humilhação à minha vida amorosa? — Faço uma
careta.
Tessa joga a lace loira para trás e cruza os braços. Minha amiga é uma mulher que mede
exatos 1,59m, sua pele é negra retinha, seu físico é magro com cintura incrivelmente fina, e seus
olhos são pretos e brilhantes. Um piercing de pedrinha está em sua narina esquerda, e argolas
douradas enfeitam suas orelhas, combinando com os gloss em seus lábios carnudos em formato
de coração.
Ela cursa moda na mesma universidade que eu e — como posso dizer? — ela é um talento
raro.
— Porque você só aprende assim — Tess fala, mas em seguida me olha confusa. — E
aquele idiota namora. Ou não?
Dou de ombros, tentando fingir que não me importei com essa informação como uma louca
assim que fiquei sabendo.
— Ele me disse que terminou… — digo e aperto o celular em minha mão quando vejo que
ele mandou mais uma mensagem.
“Vamos conversar, Ally…”
É isso o que a mensagem diz, mas ele não tem a porra do direito de me chamar por esse
nome tão íntimo, ele o perdeu há muito tempo.
— É ele de novo? — Ouço Tessa perguntar, mas não afasto meus olhos da tela do celular.
Engulo o bolo em minha garganta e respiro fundo antes de assentir com a cabeça.
— Vou dar um jeito nisso.
Bloqueio Kevin e jogo meu celular na cama, deixando meu corpo cair para trás nela. Tinha
que ter dado um jeito nisso tudo há muito tempo. Não tive coragem antes, mas tenho que deixar
isso para trás agora. É o melhor a se fazer.
E foda-se esse drama.
O meu celular apita segundos depois, e o pego, vendo que ganhei um seguidor novo.
“Amo a natureza está te seguindo.”
Eu rio incrédula com a cara de pau de Kevin e mostro a tela do celular para Tessa, que
também ri.
— Mas que merda, bloqueie de novo — ela ri mais uma vez enquanto nega com a cabeça.
Faço o que Tessa manda e largo o meu celular na cama, olhando para a minha amiga, que
morde os lábios para não rir da minha desgraça.
— Vai rindo, desgraçada. O carma está aí para se vingar por mim. — Eu jogo um travesseiro
nela, que ri alto ao se desviar.
Levanto-me da cama e vou em direção ao banheiro para tomar banho e me arrumar para ir à
universidade.
— Nós temos vizinhos novos, eles se mudaram hoje. — Escuto Tessa gritar quando entro no
banheiro e deixo a porta entreaberta para escutá-la melhor. — São italianos, falei com os dois
antes de acordá-la.
Vizinhos novos?
— Como eles são? — pergunto ao retirar minha camiseta e agarrar o cós do meu short de
pijama em seguida.
— São simpáticos.
Tiro meu short, reúno o resto das minhas roupas e as coloco no cesto.
— Contanto que não fiquem com o som ligado até tarde da noite, por mim tudo bem —
digo, abrindo o box do banheiro. — Os últimos vizinhos eram terríveis!
— Esses parecem ser diferentes. Depois dê um olá pra eles! — Tessa diz, e eu rio.
Infelizmente, não sou simpática. Não que, se você falar comigo, não vou responder, mas eu,
realmente, não tenho boas habilidades sociais. Não sei manter uma conversa, e é muito difícil
para mim me enturmar. Com meus amigos foi apenas uma bênção de Deus, sou muito grata por
encontrar amigos com os mesmos neurônios que eu.

Os corredores da universidade já estão cheios de alunos que vão desde os mais comuns, até
as líderes de torcida e os jogadores de futebol americano. Graças a Deus — ou não, depende do
ponto de vista —, meus amigos e eu fazemos parte dos alunos comuns, nem tão esquecidos, nem
tão populares, aqueles que não serão memoráveis e, ao mesmo tempo, serão lembrados, mesmo
que por poucos. Para alguns, pode não ter nada de bom em não ser convidada para festas ou em
não saberem o seu nome, mas para mim é incrível e totalmente tranquilizante.
Ando pelo corredor que dá na sala do meu curso. Entro e caminho até uma cadeira, em que
me sento após colocar minha mochila sobre a mesa. Estou nervosa pra caralho, hoje irei receber
a nota do meu teste de biomedicina e, se eu não passar, me mato.
Ok, não farei isso. Tenho muito medo de dar errado.
— Bom dia, pessoal. — Meu professor de biomedicina entra na sala, e rapidamente fico
tensa. Ele coloca a mochila em cima da mesa e a abre. — Antes de começarmos a aula, vou
entregar a nota do teste de vocês.
Ele pega uma pasta vermelha e a abre, tirando de lá um bolo de papel. Senhor, me arrebate
logo.
Ele começa a passar de cadeira em cadeira, entregando os testes, e meu pé já se agita de
ansiedade. Respiro fundo, tentando me acalmar.
Quando ele para na minha frente, coloca o teste em minha mesa e continua a fazer o que está
fazendo. Fecho meus olhos e pego a folha, então respiro profundamente antes de abrir o olho
esquerdo, olhar para a prova e quase ter um AVC.
B-?
Eu estudei tanto pra essa porra, não acredito. Não entra na minha cabeça como posso ter ido
mal. Ok, essa nota pode não ser tão ruim, mas, para mim que estudei, é quase como se… como
se… argh! Não consigo nem processar.
— Nossa, Allyson, seu cabelo está com um brilho incrível! — Escuto a voz de Samantha,
uma garota do mesmo curso que eu, e olho para ela, encontrando-a com o olhar fixo em meus
fios. — O que você passa nele?
Eu olho dela para o meu teste e abro um sorriso falso. Dou risada e um leve tapa na prova,
largando-a na mesa
— Meu amor, nesta cabecinha aqui só se passa uma coisa: pensamento suicida.
A garota me olha chocada e se afasta de mim, voltando a conversar com os próprios amigos.
Olho para a minha prova largada sobre a minha mesa e passo as mãos por meu cabelo solto,
segurando-o com força.
Tudo bem, Allyson, você sempre pode melhorar.
A aula passa rápido e, quando o professor nos libera, arrumo as minhas coisas e guardo em
minha mochila. Ainda estou morrendo de raiva pela minha nota, teria que estudar a noite toda e
ter uma boa noite de sono para recuperá-la no próximo teste.
Alguém poderia achar que é drama, mas esse não é o grande problema aqui, e sim minha
autocobrança. Sempre quero tudo perfeito, mesmo que às vezes eu não consiga e seja impossível.
Caminho em direção ao refeitório da universidade, quando Scott, o capitão do time de
futebol, aparece na minha frente e me surpreende. Quase trombo com ele se não tivesse firmado
meus pés no chão a tempo.
— E aí, gatinha — ele sorri para mim, jogando a bola de futebol para cima —, já decidiu se
quer sair comigo? Eu lhe perguntei isso dois dias atrás.
Encaro os cachos caindo sobre sua testa e os olhos verdes, acompanhados por um sorriso
lindo e um corpo musculoso.
— E eu venho recusando desde então. — Reviro os olhos com um sorriso nos lábios e
começo a andar.
— Adoro como você é difícil, mas, vamos lá, isso beira a maldade… — Ele anda ao meu
lado com um sorriso de orelha a orelha.
Um ponto pela sinceridade.
— Você não faz o meu tipo, Scott. Somos muito diferentes — eu digo, apressando o passo.
— O quê?! — ele pergunta desacreditado, olhando-me como se eu fosse louca. Ele começa a
listar nos dedos: — Sou alto, bonito, meus olhos são verdes, sou capitão do time de futebol
americano e ainda sou rico. Como assim não faço seu tipo?
Eu paro de andar ao escutar tamanha besteira e rio com descrença. Não ouvi o que eu ouvi,
ouvi?
Viro-me para Scott.
— Sabe, Scott, no mundo, existem várias pessoas, e essas mesmas pessoas têm gostos e
interesses diferentes. Fico feliz que tenha todos esses atributos, mas, ainda assim, não estou
interessada — eu digo e saio dali, deixando-o parado no corredor, chocado.
Não sou a pessoa mais sociável do mundo hoje, realmente não estou com cabeça para lidar
com pessoas, ainda mais uma que se sente a última coca do deserto.
Entro no refeitório e passo os olhos pelo local, vendo algumas líderes de torcida dançando
para os alunos. A minha universidade é dividida por seis grupos.
Os populares, que são jogadores de futebol americano, e as líderes de torcida, ambos com
pouco QI, mas dotados de uma simpatia e habilidades sociais notáveis. Os nerds, que ficam mais
excluídos e cuja vida é babar o ovo dos professores. Os góticos, que se sentam na grama da
universidade e ficam dividindo cigarro um da boca do outro, com risco de pegar sapinhos.
Também tem os hippies ativistas, que são tudo da paz e protegem o planeta. Eu já discuti até
com um que me xingou só porque eu arranquei uma folha molhada do meu caderno. Também
tem os marombas crossfiteiros, viciados em academia, e é desse exato grupinho que Kevin
participa. Não me julguem, adoro um ratinho de academia.
Por fim, tem o grupo dos comuns, que é onde meus amigos e eu nos encaixamos. E eu amo
que seja assim, pessoas populares geram muitas intrigas entre elas mesmas, e prefiro me manter
longe dessa parte podre da universidade.
Encontro meus amigos sentados em uma mesa no meio do refeitório e arrumo minha
mochila em minhas costas enquanto ando até eles. Quando me aproximo, jogo minha mochila de
qualquer jeito na mesa, e Adam e Tessa se assustam.
— Que bicho te mordeu? — Adam me olha com as sobrancelhas franzidas.
— Ela deve ter tirado nota baixa — Tessa diz enquanto toma um gole do seu suco.
É incrível como essa cretina me conhece bem.
— Eu quero me matar! — Passo as mãos por meu cabelo, frustrada.
— O que aconteceu? — Adam pergunta, preocupado.
Adam é o meu melhor amigo e é um verdadeiro neném. Sempre prestativo e ama ajudar as
pessoas, nunca nega ajuda a ninguém, até a quem não merece. E um detalhe que não podemos
esquecer é que ele cursa gastronomia. Eu o conheci no primeiro ano do ensino médio, e até hoje
somos melhores amigos.
Com cabelos ondulados e pretos que chegam até seus olhos, ele tem um físico magro e é da
minha altura. É filho de mãe tailandesa e pai franco-canadense, ambos rígidos até demais.
— Eu tirei B- no teste. — Deixo meu corpo escorregar na cadeira e cruzo os braços, olhando
para eles desacreditada.
— Isso não quer dizer que foi uma boa nota? — Meu melhor amigo pende a cabeça para o
lado.
— Para Allyson, não. Você a conhece — Tessa fala e ergue os olhos para mim. — Quando é
o próximo teste?
— Amanhã.
— Eu sei como é difícil, mas não fique com essa raiva toda por isso, Ally. — Adam me dá
um sorriso para me confortar.
— Ela não está com raiva só por isso, não. — Tessa sorri, segurando sua caixinha de suco.
— Tenho certeza de que, além da frustração emocional, também tem a sexual. Allyson não
transa, como vai aliviar o estresse?
— Ah, vá caçar o que fazer. — Sorrio com deboche.
Sei que isso é uma tentativa dela de me fazer esquecer um pouco a tragédia de hoje. E é
melhor assim, meu humor não vai melhorar se eu continuar lembrando.
— Não fale assim com a minha namorada. — A voz de Kathleen atinge meus ouvidos, e
olho para ela, vendo-a vir na nossa direção com uma bandeja em mãos. — Oi, amor.
Ela se curva para depositar um selinho nos lábios de Tessa.
— Oi, neném. — Minha melhor amiga sorri para ela, e aproveito sua distração para pegar
uma batatinha frita da sua bandeja.
— Ew, vai começar a seleção — eu as provoco com uma cara de nojo, colocando a batatinha
na boca.
— Inveja, Allyson? — Kathleen arqueia a sobrancelha esquerda, sorrindo.
— Cale a boca, sua e-girl fedida! — Pego outra batatinha no prato de Tessa e jogo em Kat,
que desvia.
— Eu tomo banho! — Ela balança o punho no ar, e reviro os olhos, sorrindo.
Kathleen é a namorada de Tessa — caso não tenham notado, o que eu duvido —, as duas se
conheceram assim que entraram na faculdade. Praticamente tive que empurrar Tessa para cima
de Kat, porque minha amiga achava que a garota era hétero. Mas, no final, descobrimos que ela é
sua cara-metade.
É um pouco mais alta do que eu, longos cabelos pretos com mechas rosas e pele pálida com
alguns piercings nas orelhas e no lábio inferior. Cursa artes e é uma das melhores desenhistas
que já conheci em toda a minha vida.
— Gente… aquele cara está me encarando de novo… — Adam se remexe em sua cadeira,
indicando com a cabeça a mesa à frente da nossa. — Olhem discretamente…
Minhas amigas e eu viramos rapidamente a cabeça na direção que Adam indicou.
— Discretamente, eu disse… — ele murmura.
— Michael Smith? — Kat franze o cenho e olha para Adam.
— Sim, ele sempre fica me encarando com cara de bravo — Adam diz baixinho, como se
não quisesse que o cara escutasse. — Acho que ele me odeia.
Michael Smith é um cara que não se encaixa em grupo algum da universidade. Nunca o vi
com amigos, ele sempre está sozinho lendo ou escutando música com seus fones de ouvido.
Parece não ter amigos, e eu não consigo entender o porquê. Ele é lindo e forte, encaixa-se
perfeitamente nos padrões que os populares exigem.
— Você fez algo a ele? — Tessa pergunta, entrelaçando a mão com a de Kat e as colocando
em cima da mesa.
— Eu não! — Adam arregala levemente os olhos, olhando para Michael pelo canto dos
olhos. — Nunca nem troquei uma palavra com ele, não entendo por que ele parecer ter raiva de
mim.
— Acho que ele quer te comer — eu brinco, e ele arregala os olhos.
— Mas eu sou hétero! — ele diz e rapidamente nega com a cabeça de maneira desesperada,
olhando para Michael, que apenas arqueia a sobrancelha direita.
Ele não parece estar com raiva, e sim… intrigado.
— Adam, eu estava te procurando!
Eu reviro os olhos quando a voz irritante de Melody se faz presente e olho para ela, vendo-a
parada ao lado de Adam com uma carranca. Bom, tenho que dizer que essa sua expressão já é
permanente.
— Eu estava comendo com as minhas amigas. — Adam sorri para ela, um pouco sem jeito.
Odeio a forma como ele se recolhe perto dela.
— Então, tudo bem deixar sua namorada comer sozinha? — Melody questiona com os
braços cruzados.
— Mas você disse que ia comer com os seus amigos e sabe que não me dou bem com eles
— meu amigo diz calmamente.
Uma calma que eu nunca teria com essa garota.
— Eu não sei por que, meus amigos são superlegais e receptivos. — Melody revira os olhos
e os volta para Adam. — O problema deve estar em você, não tem sentido.
Cerro meus punhos, fazendo menção de me levantar e tentar, calmamente, diminuir a tensão
da briga. Mas Tessa segura discretamente meu braço, e olho para ela, vendo-a negar com a
cabeça.
— Me… me desculpa… — Meu amigo encolhe os ombros, e sinto meu sangue ferver.
Melody ri com deboche.
— Não importa, já estou com raiva. Você sempre faz merda e se arrepende quando já é tarde
— ela diz e se vira, indo embora.
— Mel! — Adam grita o nome dela e pega a própria mochila, pronto para ir atrás dela.
— Deixe-a ir, Adam, você não fez nada! — digo, impaciente.
Por que sempre é ele quem tem que correr atrás? Sei que não devo me meter no
relacionamento dos outros, mas dói ver meu amigo assim.
— Ela é minha namorada, Allyson! — É tudo o que ele diz antes de se virar e ir atrás dela.
Nego com a cabeça e me viro para nossas amigas, que tenho plena certeza de que estão tão
estressadas quanto eu.
— Dá para acreditar?! — Olho para Tessa e Kat, que estão com a raiva estampada nos
rostos.
— Odeio essa garota, ela passa uma vibe muito ruim — Kat diz, olhando para Adam
correndo atrás de Melody.
— Também não gosto dela, mas já avisamos a Adam que ela é tóxica, mas ele não acredita.
Não tem muito o que fazer, essa é a escolha dele. É um adulto — Tessa suspira.
Adam e Melody namoram há um ano. Não entendo como está durando tanto, já que a garota
é uma tóxica desgraçada do caralho. Ela faz questão de menosprezar o meu amigo e tratá-lo mal
na frente de outras pessoas sempre que tem a oportunidade. Sem contar que tudo é sobre ela, e
nunca pergunta se Adam também tem suas vontades. Também é ciumenta além da conta, Adam
não pode chegar perto de nenhuma garota que ela arruma barraco.
Melody já tentou afastar Adam de nós, mas ele bateu o pé e disse que nunca faria isso.
Minha vontade é de colocá-la dentro de um caixote e enviá-la para só Deus sabe onde.
Contudo, mais uma vez, aquilo não é da minha conta e, como Tess disse, Adam é um adulto
que faz as próprias escolhas.

Após passar a noite toda estudando como uma condenada, decido dormir quando já é meia-
noite. Não adianta nada passar a madrugada toda estudando e estar cansada amanhã para fazer a
prova.
Já estou deitada na cama faz uma hora, e não consigo dormir. Tudo culpa do som alto que
vem do apartamento da frente, com certeza os novos vizinhos estão dando uma festa.
Bufo e desço da cama, vendo Justin dormindo nela. Descalça, saio do quarto, vou em
direção ao de Tessa e a encontro deitada na cama com a boca aberta e roncando.
— Tessa… — eu a chacoalho levemente pelo ombro, o que claramente não condiz com a
raiva que estou sentindo. — Tessa, os bastardos dos novos vizinhos estão dando uma festa, e eu
preciso dormir. Você disse que eram diferentes!
Tess bate na minha mão e me dá as costas.
— Me deixe dormir, resolva lá com eles! — Ela cobre a cabeça, e bufo, saindo do quarto
dela.
Não estou nem aí se meu pijama é um conjunto de moletom vermelho com o rosto do
Homem de Ferro bem na região da barriga. Tenho que, ao menos, ir até os queridos vizinhos e
pedir que diminuam um pouco o som.
Passo pela sala e abro a porta do nosso apartamento, passando por ela e indo em direção ao
cabaré logo à frente. Bato à porta duas vezes, e ninguém abre. Bato com mais força, e nada.
Quando vou bater de novo, a porta se abre, e acerto três cascudos na cabeça de um cara,
arregalando os olhos em seguida.
— Ma che diavolo! — O cara massageia a própria testa e me olha, alarmado.
Onde eu me enfio?
— Foi mal aí, cara. — Eu dou um sorriso amarelo. — Você abriu a porta do nada.
Ele é alto e o cabelo tem um corte baixo meio aloirado. Um corte militar, para ser mais
exata. Seu corpo é forte, e os olhos meio acinzentados; ele veste uma regata preta assim como a
sua calça e segura um copo na mão com alguma bebida que parece ser alcoólica.
Além disso, possui inúmeras tatuagens nos braços e no pescoço. Parece ter mais por debaixo
da roupa e aparenta ter uns trinta anos.
Gostosão, está de parabéns.
— Tanto faz… — ele suspira e me olha, sorrindo. — No que posso ajudar, vizinha?
— Eu gostaria, por favor, que você baixasse o som. Só um pouco, preciso dormir bem e está
me incomodando —falo sem rodeios.
Ele ri e nega com a cabeça. Agora, analisando seu rosto, ele parece um pouco embriagado.
— Sinto muito, mas não vai ser possível, vizinha. — Ele sorri. — Meu irmão e eu estamos
dando uma festa, boa noite.
Ele sorri uma última vez e faz menção de fechar a porta. Mas eu a seguro no último instante.
Ele arqueia a sobrancelha.
— Não estou de brincadeira e acho que fui mais do que educada agora. — Sorrio falsamente
para ele, mesmo que esteja falando entredentes. — Então, por favor, moço, abaixe o som, só lhe
peço isso.
— Ninguém vai desligar nada aqui, não, por que você não vem aqui e desliga, docinho? —
um cara pergunta de dentro do apartamento, e arqueio a sobrancelha. — Ou melhor, feche a
porta na cara dessa vadia surda, Pietro.
O cara ri, e escuto as risadas das pessoas dentro do apartamento. Mas, com as sobrancelhas
franzidas, meu vizinho cambaleia um pouco para o lado e encara o interior de seu apartamento.
— Deixe a porta aberta só por um minutinho, eu já venho. — Sorrio, e o meu vizinho me
olha confuso.
Eu volto para o meu apartamento e entro no quatro de Tessa, procurando no guarda-roupa
dela o taco de beisebol que seu pai deixou da última vez que veio aqui. Deixo uma caixinha cair
no chão, e Tessa acorda e se senta na cama quando me vê com o objeto na mão.
— Para onde você vai com isso? — ela pergunta confusa, e saio do quarto sem lhe
responder.
Eu volto para o apartamento do cara e sorrio, vendo que ele ainda está na porta do jeitinho
que eu o mandei ficar.
— Com licença, vizinho… — Eu passo por ele e entro no apartamento.
Paro no meio da sala, e as pessoas olham de mim para o taco de beisebol. O apartamento
está terrivelmente lotado, e quase chega a ser um pouco difícil me locomover pelo local.
Ignorando as pessoas, passeio os olhos pelo local e os fixo no meu alvo: a caixa de som.
Ando até ela e empurro o cara que está na frente dela. Ergo o taco com as duas mãos e o
desço com toda força que eu tenho, acertando-a. Bato tantas vezes na caixa de som que perco a
conta, paro apenas depois que ela para de tocar e já está toda destruída.
Tiro os fios de cabelo do meu rosto que escapam do meu coque e suspiro, passando os olhos
pela festa e encontrando todo mundo me olhando chocado. Só então posso sentir a onda de
arrependimento vindo aos poucos.
Céus, agora sou desempregada, como vou pagar por isso?
Excesso de raiva, algo que afeta algumas pessoas, e por sorte — sinta a ironia — estou entre
essas pessoas.
Tenho dificuldade em manter a calma e, na maioria das vezes, sou muito impulsiva. Lógico
que o arrependimento vem minutos depois, fazendo-me sentir devastada e envergonhada por
ficar brava com algo tão banal.
Para ser mais precisa, e em minha definição, sou uma bomba-relógio prestes a explodir a
qualquer momento, mesmo que eu sempre me contenha.
— Allyson, sua maluca!
Olho para a porta do apartamento do vizinho para encontrar Tessa parada com os cabelos
para o alto, vestindo sua calça de moletom e regata branca de dormir, com as mãos na cabeça e
os olhos escuros arregalados.
— Puta merda, eu ainda estava pagando! — o vizinho que abriu a porta para mim grita
enquanto olha desesperado para a caixa de som destruída.
Céus, o que eu fiz?
Tessa, que a essa altura parece querer se matar de tanta vergonha, entra no apartamento, vai
até o homem e para diante dele.
— Me desculpa por isso, Pietro, mesmo! — ela pede constrangida e vem até mim; seus
olhos raivosos me encaram. — Por que você fez isso, Allyson?
Encolho meus ombros quando sinto olhares em mim.
— Você… você que me mandou vir resolver com eles! — eu me defendo, apontando para
ela com o taco de beisebol.
Porque admitir que estou errada agora apenas vai aumentar a vergonha que estou sentindo.
Mas será que só eu estou errada nessa situação?
— Mas não disse para pegar o taco de beisebol do meu pai e destruir a caixa de som dos
vizinhos! — ela se exalta e aponta para a vítima do meu taco. Ela abaixa a voz para que só eu
escute. — Agora você vai ter que implorar para ele não ir à delegacia, Allyson, porque dinheiro,
no momento, nós não temos!
Merda, ainda tem isso. Realmente estou fodida em tantos níveis.
— Caralho, essa puta destruiu o som! — o mesmo cara que me chamou de vadia minutos
atrás diz enquanto me olha com raiva.
— Cale a porra da boca, caralho! — meu vizinho rosna para ele.
— Você me chamou de quê? — Arqueio a sobrancelha esquerda e aponto o taco na direção
dele.
Tessa agarra meu braço, prevendo que eu poderia fazer uma grande idiotice em meu estado
atual.
— Além de vadia, é surda e burra? — Sorri sarcasticamente.
Controle-se, Ally.
— Burra? Você me chamou de burra? — Solto meu braço do aperto de Tessa e ando até ele.
Rio incrédula, e ele grita quando atinjo seu rosto com o taco. — Você nem me conhece, porra!
Burra? Logo eu que tenho o maior desempenho da minha turma?
O cara cobre o nariz, que começa a sangrar instantaneamente, e ergo o taco para bater nele
mais uma vez quando me puxam para trás.
— Allyson, pelo amor de Deus, você vai ser presa por agressão! — Tessa agarra meus
ombros e me sacode.
— Aquele cara me chamou de vadia, Tess! — eu me defendo.
Ela solta meus ombros e passa as mãos pelo próprio rosto, sua frustração exala de seu corpo.
Tessa para e olha para o tal do Pietro.
— Me desculpa, a minha amiga não… bom, você sabe, ela anda em um momento difícil! —
Ela dá um sorriso amarelo.
Franzo meu cenho.
— Eu não ando, não. — Olho confusa para ela, que pisa no meu pé. Sorrio forçadamente em
meio a uma careta. — É, acho que estou.
Pietro estreita os olhos em minha direção, e a desconfiança brilha neles. Ele respira fundo.
— Tudo bem, não há o que possamos fazer quanto a isso — suspira.
Eu dou um passo à frente e mordo meu lábio com força. Se eu pedir desculpas, perderei a
razão, se ficar quieta, vou parecer uma louca sem controle.
— Ainda acho que a culpa não foi apenas minha, mas eu… — pigarreio — eu vou pagar.
Pietro me encara por alguns segundos antes de negar com a cabeça e agitar a mão, como se
dispensasse o que acabei de falar.
— Não precisa — diz, suspirando mais uma vez.
Ergo minhas sobrancelhas.
— Tem certeza? — Tess é quem pergunta por nós duas.
Pietro assente e abre a boca, pronto para falar mais alguma coisa. Mas antes Tessa agarra
meu braço e me puxa para si, fazendo-me arregalar os olhos por ser pega de surpresa.
— Ótimo, então tudo certo! Espero que você e seu irmão nos desculpem! — Ela junta
nossas mãos e se vira para o nosso apartamento sem esperar a resposta do tal Pietro.
Franzo o cenho e a vejo trancar a porta a chave ao entrarmos. Espera… irmão?
Eu jogo a toalhinha em meu ombro direito e abro a garrafinha de água gelada, cujo conteúdo
viro em minha boca. Minhas aulas da universidade acabaram há horas e, apôs mais um exame,
vim correndo para o treino de vôlei.
Jogo na posição de líbero, sou responsável pelas defesas do meu time. Como sou a menor do
time, com meus 1,65 m, fiquei com essa posição. Até que gosto dela. Sempre me destaco no
time, sempre salvo várias bolas. Por que isso saiu com duplo sentido? Merda de mente da quinta
série.
— Ficamos por sete meses às escondidas antes de ele finalmente criar coragem e terminar
com a namorada. Agora, estamos juntos — uma das garotas do time diz, gabando-se da sua
grande vitória. Um sorriso convencido brinca em seus lábios. — Ele me ama totalmente.
As garotas do time para quem ela diz isso a olham admiradas, e outras com um claro olhar
de julgamento negam com a cabeça. E eu? Não consigo me controlar e solto uma risadinha,
levando a garrafinha de água aos meus lábios.
Talvez assim eu controle meu veneno.
— Do que você está rindo, Allyson? — ela pergunta a mim, o que atrai a atenção das outras
garotas em minha direção.
Tudo bem, meu veneno não pode ser controlado.
Olho na direção de Ruth.
— De você aí se gabando por ter ajudado o namorado de uma garota a pôr chifres nela. —
Dou de ombros e fecho a garrafa enquanto a observo com um sorriso debochado no rosto.
Não acredito que o homem é o maior culpado nessa história. A mulher também se torna tão
errada quanto, não importa se era o namorado quem teria que ter a consideração. Se ela sabe que
ele é comprometido, isso automaticamente a torna uma filha da puta também.
— Mas ele e eu sempre nos amamos e agora estamos juntos, não consegue entender? — Ela
revira os olhos, e um sorriso zombeteiro se abre em seus lábios. — Não tenho culpa se a sem-sal
da namorada dele não era o suficiente.
Ela realmente está se sentindo a fodona por essa conquista de merda? Será que foi assim que
as amantes de Kevin se sentiram?
Que foi? Tenho problemas de superação.
— Às vezes o caminho mais fácil nos atrai mais, não acha? — pergunto casualmente,
secando o suor da minha testa com a toalhinha em meu ombro.
Ruth se levanta e põe as mãos na cintura.
— O que está querendo dizer com isso? Que eu sou fácil? — Ela me olha com raiva e ergue
uma sobrancelha. — Você é uma ridícula, levou chifre do namorado e quer dar lição de moral?
Agora pegou pesado, merda.
— Nunca escondi que fui traída, Ruth. — Sorrio enquanto pego a minha mochila no banco.
— Mas não esqueça, campeã — eu toco minha têmpera com a garrafinha de água e a olho —, se
um cara trai a namorada com você, você com certeza vai ser traída com outra.
Sorrio mais uma vez da cara que ela faz, tentando não mostrar o quão indignada fiquei
quando ela mencionou meus chifres.
Começo a andar para longe dela sem me preocupar com seus resmungos baixos. Olho para a
frente e encontro Karen, a nossa principal atacante e capitã do time, parada próximo a nós,
olhando para Ruth com cara de decepção.
Ando até ela.
— É patético como ela o usa como um troféu — ela diz quando me aproximo, negando com
a cabeça enquanto traga um cigarro.
— Se ela está feliz, deixe. — Dou de ombros, e Karen afasta o cigarro da boca enquanto
arrumo minha mochila em minhas costas. — Já vou indo.
— Certo, treino amanhã na mesma hora — ela diz, e eu assinto, ganhando um sorriso seu.
— Tchau, Allyson.
— Tchau. — Sorrio de volta e lhe dou as costas, indo em direção à saída da quadra.
Não conheço tão bem Karen para falar com precisão, mas ela sempre foi legal comigo.
Nunca a vi destratando ninguém e, pelo que eu saiba, ela está no topo do ranking dos alunos
mais inteligentes da universidade. Mas, por mais incrível que pareça, ela não faz parte do grupo
dos nerds, mas sim dos populares.
Não tem uma única pessoa desta universidade que não conheça Karen, a garota, além de
linda, é inteligente e legal.
Após sair da universidade, pego um táxi, e ele me deixa no prédio do meu apartamento.
Entro nele e vou direto para o elevador. Quando me deixa no meu andar, saio e caminho em
direção ao meu apartamento. Entro e fecho a porta, indo até o meu quarto. Mas antes passo pelo
de Tessa e, graças à porta entreaberta, a vejo ir em direção ao banheiro.
Entro no meu quarto e jogo minha mochila em qualquer canto, tirando meu tênis e a meia.
Vou para o banheiro e tranco a porta, depois tiro minha roupa suada e a coloco no cesto de roupa
suja. Ligo o chuveiro, deixando a água relaxar meu corpo tenso.
Alguns minutos depois, saio do banheiro envolta em uma toalha e visto uma calcinha
branca, um short preto e curto de lycra e uma camisa larga. Solto o meu cabelo e me jogo na
minha cama, vendo Justin fazer o mesmo. Eu o olho e suspiro.
Estou lotada até o pescoço de exercícios da faculdade para fazer e trabalhos para entregar.
Tenho que tomar vergonha na cara agora mesmo e fazer tudo isso antes que eu me ferre muito.
Mas também estou muito frustrada hoje e mereço um descanso. Mereço assistir a meus
casos.
Pego meu celular na minha cômoda e acomodo minha cabeça nos travesseiros; Justin faz o
mesmo, só que em minha barriga. Coloco-os em meu celular, já que meu quarto não tem
televisão e prefiro assistir aos casos na minha cama, e começo a fazer carinho no pelo do meu
cachorro quando a campainha toca.
— Tessa, tem alguém na porta! — eu grito, já que o quarto dela é mais próximo da porta,
vendo Justin erguer as orelhas e pular da cama, correndo para fora.
— Abra você a porta, estou me vestindo! — Escuto Tessa gritar de volta.
Reviro os olhos e, com o meu celular em mãos, saio do meu quarto e caminho em direção à
porta da sala. Não faço a mínima ideia de quem possa ser.
Bufando, coloco a mão na maçaneta e abro a porta, encontrando um cara alto de moletom
preto com capuz que cobre boa parte do seu rosto, apenas a sua boca está à mostra. Céus, ele é
imenso, e uma aura assustadora está irradiando do seu corpo como ondas.
Solto uma risada que beira o nervosismo.
— Desculpa, moço, tem pão velho aqui não… — eu disse, fazendo menção de fechar a porta
o mais rápido possível.
Mas me assusto quando uma mão forte e cheia de veias segura a porta, impedindo-me.
Engulo em seco e ergo lentamente meus olhos para o sujeito.
— Não, não! — uma voz rouca preenche o ar. — Sou eu, o novo vizinho.
— Sou eu… — olhei-o dos pés à cabeça com cautela — Allyson.
Por Tony Stark, e se esse cara estiver mentindo?
— Eu gostaria de me apresentar.
Ele deixa a coluna reta, triplicando ainda mais de tamanho. Pisco e limpo minha garganta
seca.
— M-Moço, pode ser depois? — Coloco as costas da minha mão que segura o celular em
minha cintura. — É que estou fazendo algo muito importante neste momento.
Como se fosse pouco, a mulher do documentário de casos criminais do vídeo começa a falar:
— Então, Lisa abriu a porta e tudo o que encontrou foi um homem estranho, vestido com um
casaco preto de capuz que não permitia ver absolutamente nada em seu rosto… — a ruiva no
vídeo continua, e mal noto meu cachorro se aproximando. — Ela tentou fechar a porta, mas já
era tarde demais. Dois dias depois, o corpo de Lisa foi encontrado totalmente desmembrado.
Pisco. Homem de capuz preto?
Movo lentamente meus olhos para o homem à minha frente e então de volta para o meu
celular enquanto a mulher no vídeo não para de falar. E, por longos segundos, minha atenção é
dividida entre o estranho e o documentário que parece estar falando sobre a minha vida.
Um calafrio passa pelo meu corpo, e mordo o interior da minha bochecha com força. Sem
chances.
— E-Eu tenho que ir ali, até mais, moço… — começo, mas meu corpo não se mexe. Não
consigo fechar a porta.
Um meio-sorriso se abre em seus lábios, e vejo a sombra de uma covinha.
— Eu a assustei? — questiona, e a voz rouca arrepia todo o meu corpo.
Nego com um gesto vacilante.
— Não, eu… eu… — começo e, em seguida, arregalo os olhos ao ver o que Justin começa a
fazer. — Eu não acredito nisso!
Justin se agarrou à perna do cara e agora está sarrando nela sem parar, com notória
determinação em seu movimento de ir e vir. O cara, meu suposto vizinho, apenas paralisou.
— Meu Deus, Justin está sarrando na perna do irmão de Pietro! — Tessa grita, e olho para
ela, encontrando-a com os olhos arregalados e uma toalha na cabeça.
Isso apenas serve para eu acordar para a vida e tirar Justin da perna do homem. Não sei onde
enfiaria minha cara, mas deveria ser em um buraco muito, mas muito fundo, de onde eu nunca
mais precisaria sair novamente.
Apenas gostaria que Deus me arrebatasse agora.
— Justin mau, Justin mau! — Aponto o dedo para o focinho do meu cachorro e paro,
franzindo as sobrancelhas, quando me toco do que Tessa disse. — Espera… irmão de Pietro?
— Piacere — ele diz, atraindo minha atenção para ele. O esquisito abaixa o capuz e revela
um sorriso de lado que revira todo o meu estômago. — Sou Chase Fontana.
Já me senti muitas coisas ao longo da minha vida, corna é uma delas. Mas nunca, em
hipótese alguma, estive sem palavras como agora. Sempre tenho algo a falar, não importa qual
seja a situação.
Mas talvez isso tenha mudado.
Justin tenta morder minha mão direita para que eu o solte, mas não me importo. Como
poderia quando olhos acinzentados me encaram com diversão? Ou então quando seu cabelo
castanho-claro, levemente bagunçado, cai sobre a sua testa? Isso sem falar no piercing na narina
esquerda e nos lábios avermelhados repuxados em um sorrisinho de lado…
Como alguém pode ser tão gostoso?
Ouço Tessa perguntar algo, mas não sei se entendo ao certo.
— Não… ele… Justin não está em época de cio… — murmuro, afrouxando o aperto na
coleira.
Justin aproveita esse vacilo para correr de volta para o cara e agarrar a perna esquerda dele,
mais uma vez sarrando. Meu suposto vizinho chacoalha a perna, tentando afastar meu cachorro,
enquanto seus olhos estão arregalados e sua face expressa pavor.
— Justin, seu tarado! — Tessa grita, correndo até os dois.
Com dificuldade, ela o puxa para longe, e eu, por algum motivo, não consigo esboçar
nenhuma reação além de olhar para o cara à minha frente.
— Justin? Quem põe um nome desses em um cachorro? — ele pergunta com uma carranca,
tirando os pelos do meu filho de seu jeans.
Ok, o encanto acabou.
— É um nome lindo! — eu me exalto, pondo as costas das mãos em minha cintura. —
Quem você pensa que é para falar assim?
Tenho que esticar o pescoço e erguer o queixo para encarar seu rosto. Eu não sou baixa, mas
esse cara é muito alto.
— Seu cachorro tarado que sarrou a minha perna, tenho todo o direito de reclamar do que eu
quiser — ele fala e ergue as mangas do moletom, dando a visão das suas mãos e dos seus braços
tatuados.
Mesmo que seja uma linda distração, a honra de Justin é mais importante.
— Meu cachorro não tem culpa de você ser atraente! — eu solto indignada e arregalo os
olhos ao me dar conta da merda que eu disse.
Meu novo vizinho inclina a cabeça para o lado, entreabrindo os lábios avermelhados que,
com muita dificuldade, estou tentando não olhar.
— Você me acha atraente? — Ele arqueia a sobrancelha, e um sorrisinho surge em seus
lábios.
Ok, faça a sonsa.
— Eu nunca disse isso! — defendo-me.
— Sim, você disse — ele insiste.
— Não disse, não. — Eu nego com a cabeça e me viro para Tessa, que está as mãos na
cintura. — Eu disse, Tessa?
Ela vai ficar do meu lado.
— Meio que pareceu isso.
Eu a encaro, chocada com a garota que deveria ser minha melhor amiga, e ela dá de ombros,
fazendo carinho em Justin.
— Bella come la ricordava — o tal do Chase fala, chamando nossa atenção.
Mas não posso deixar de notar o quanto a voz dele fica atraente quando ele fala esse idioma.
— Eu não entendi, quem é Bella? — pergunto, confusa.
Ele ri e passa a mão esquerda pelo cabelo, atraindo minha atenção para a tatuagem de uma
rosa que ele tem nas costas dela. Ele também tem a mesma tatuagem na mão direita, além de
algumas letras nos dedos.
— Eu falei uma frase em italiano — ele responde, encarando-me agora com as mãos nos
bolsos da calça.
E minhas pernas quase fraquejaram por isso. Mas tenho que manter minha pose, o meu filho
foi moralmente agredido bem diante dos meus olhos e por esse gostoso com vibe assassina aqui.
Olho-o desconfiada.
— Eu acho que você me xingou.
— Não, não xinguei.
— Eu acho que xingou, sim.
— Perchè dovrei farlo? — Ele dá de ombros, sorrindo de canto.
Eu odeio não entender o que ele está dizendo.
— Você acha que ele me xingou? — Indico o tal de Chase com o queixo e olho para Tessa,
que revira os olhos.
Inimiga!
— Pare de ser maluca, Allyson. — Ela se aproxima de mim e olha o cara. — Precisa de
algo, Chase?
De uma massagem nessas costas largas, talvez. Eu me amaldiçoo por ter esses tipos de
pensamentos com um cara que falou mal do nome do meu cachorro
— Não, apenas vim me apresentar à minha outra vizinha, uma vez já que conheço você —
ele diz para Tessa, mas seus olhos estão fixos em mim.
— Eu não o vi no apartamento quando… — ele me corta.
— Quando destruiu o meu som? — Ele ergue a sobrancelha esquerda e sorri de lado,
revelando uma covinha. — Mas eu a vi.
Merda.
— Pietro e eu ainda estávamos pagando pelo som, sabia? — Ele coloca as mãos nos bolsos
do moletom mais uma vez e me olha.
— Não, não sabia — eu digo em minha defesa. — Mas não é totalmente minha culpa, vocês
pediram por aquilo.
Uma risada desacreditada escapa dele.
— Nós só estávamos dando uma festa.
Tenho a plena certeza de que esse cara está fazendo de propósito. É impossível que alguém
seja tão displicente desse jeito e não se importe de incomodar o próximo.
— Altas horas da noite! — vocifero entredentes. — Eu tinha uma aula no dia seguinte!
— Isso não é problema meu, é? — Ele dá de ombros e sorri mais uma vez.
Eu solto uma risada incrédula e amarro meu cabelo em um rabo de cavalo apertado com o
elástico que está em meu pulso esquerdo, pronta para fazê-lo engolir suas malditas palavras,
quando Tessa vai para a minha frente e fica entre nós.
— Quer entrar, Chase? — ela pergunta, tentando apaziguar os ânimos.
— Não, ele não quer! — eu respondo rapidamente, saindo de trás dela.
O que diabos tem de errado com ela?
— Eu não ia, mas agora acho que vou entrar sim… — Ele sorri cinicamente para ela, e me
desespero.
Nem em um milhão de anos, porra!
Se eu deixar esse cara entrar no meu apartamento, estarei me arriscando a cometer um
assassinato e eu não estou disposta a deixar Justin sem mãe.
— Ai, meu Deus, a Anitta? — Eu aponto para trás dele, e ele olha na direção que eu indico
na mesma hora, procurando.
Eu aproveito isso para andar rapidamente até a porta e a fechar na cara dele. Cerro meus
punhos e dou as costas para o cara que está do outro lado, no corredor, com certeza confuso e
surpreso. Sim, espero que esteja mesmo.
Eis o idiota que com apenas cinco minutos de conversa conseguiu me irritar.
Justin arranha a porta, e Tessa ri, desacreditada.
— Qual o seu problema?
Eu me viro para ela, e seu sorriso some quando me vê andando até ela.
— Traidora! — eu grito, avançando na direção dela enquanto dá um passo para trás.
Logo depois, nós estamos correndo pelo apartamento, com ela rindo e eu a ameaçando de
morte.

O dia seguinte chegou, e Tessa, mais uma vez, me acordou para ir à faculdade. Eu tento não
passar do horário, eu juro. Mas a cama parece me amar, e é totalmente mútuo.
Já estamos na faculdade, e estou em meu armário com Tessa e Kat logo ao lado, pegando
meus livros. E pensar que, depois de terminar esse curso, eu ainda estudaria mais um pouco para
me formar em perícia criminal. É meu sonho desde pequena. Eu sempre fui fascinada por crimes
e sempre briguei pelo controle com o meu irmão mais novo quando começava C.S.I na TV.
Mas eu só conseguirei me formar em perícia criminal se tiver ao menos um curso superior,
então biomedicina foi o que mais me interessou.
— O professor do curso de artes recusou o meu desenho, ele disse que não tinha sentimento
o suficiente — Kat apoia o ombro esquerdo no armário ao lado do meu e revira os olhos — e
também que era impróprio.
— O que você desenhou? — pergunto.
Ela afasta o ombro do armário e abre a própria mochila, tirando uma folha de dentro e me
entregando. Eu olho para o desenho e depois para ela, incrédula.
— Você desenhou um pé de maconha? — eu rio, desacreditada.
— Ele disse que era para desenhar algo que nos fizesse viajar com a força do pensamento!
— ela se defende e puxa o desenho da minha mão.
— Não fique assim, amor. — Tessa a abraça por trás e apoia o queixo no ombro direito dela.
— Ele não soube apreciar a beleza da verdinha.
Pressiono meus lábios um no outro, querendo rir.
— Ele que se foda, qualquer coisa eu vendo a minha arte na praia — Kat resmunga enquanto
guarda o desenho na mochila. — Lá está cheio de gente que compra.
— Assim que se fala, neném. — Tessa sorri e beija sua bochecha.
Não sou muito fã de casal feliz. Se eu sou amarga? Talvez.
— Se rolar beijo, eu vomito. — Faço cara de nojo, e Tessa me mostra a língua, enquanto Kat
chuta levemente a minha canela.
Eu sorrio e avisto Adam vindo em nossa direção com um casaco de moletom branco e
grande que quase cobre suas mãos. Seu cabelo liso e um pouco desgrenhado deixa alguns fios
caírem em seus olhos escuros.
Ele para ao nosso lado com as mãos nos bolsos do moletom.
— Está fazendo um calor enorme hoje, por que você está vestido assim? — Eu franzo o
cenho e o olho para ele.
Adam se encolhe um pouco e dá de ombros. Não que ele não possa usar o que quiser, mas,
ainda assim, é estranho.
— Estou um pouco doente, sinto calafrios por todo o corpo. — Ele sorri, acariciando o
braço.
Mas eu conheço Adam, sei quando ele está desconfortável, e este é um desses momentos.
— Tem certeza? — eu pergunto cautelosamente, e ele assente com mais um sorriso, quase
me fazendo achar que é paranoia minha.
Mas, ao olhar para Tessa e Kat, encontro-as tão desconfiadas quanto eu. Talvez
estivéssemos doidas e não seja realmente nada. Porém, duvido muito e já tenho um palpite com
nome e tudo.
M-E-L-O-D-Y.
— Merda, aquele cara está me olhando de novo… — Adam diz, mudando bruscamente de
assunto e atraindo minha atenção para si.
Ele puxa o capuz de seu moletom para cobrir a cabeça e se esconde da vista de todos. Bom,
pelo menos é o que ele acha em sua cabeça.
Eu passo os olhos pelo corredor e encontro Michael Smith olhando para nós enquanto pega
alguns livros em seu armário. Eu disse olhando para nós? Bom, esqueçam isso, seus olhos estão
fixos apenas em Adam, e eu não sei descrever o que se passa em suas íris escuras.
— Ele o olha como um… — Tessa diz, como se procurasse a palavra.
— Um psicopata? — Kat completa rindo.
Eu olho para Adam, já sabendo o que essa mísera palavra faria com ele. Meu amigo tem
medo disso.
— Psicopata? — Adam olha alarmado para nós, negando com a cabeça e as mãos em frente
ao rosto. — Eu não quero ser jogado em um porão e ter minhas pernas quebradas!
Uma coisa sobre Adam que acho que vocês já devem ter notado: sua imaginação é muito
fértil.
Nós rimos, e Tessa solta Kat e arruma a própria mochila nas costas.
— Mas, falando sério, ele o olha como se quisesse falar com você. — Ela olha para Adam.
— Acho que ele quer ser seu amigo.
Adam olha para trás mais uma vez, em direção a Michael, que agora já está andando para
longe de nós com sua mochila nas costas, levando consigo sua altura notória e toda a sua áurea
psicótica.
Mas isso não consegue apagar o quão bonito ele é. Pele negra, alto, musculoso, mas do jeito
certo, e corte de cabelo é baixo. Os olhos são pretos, mas brilhantes e vivos, e brincos de
pedrinhas enfeitam suas orelhas. A áurea misteriosa sempre está ali.
— Nossa, que lindo. — Meu amigo volta a nos olhar e sorri, logo em seguida fechando a
cara. — Mas bem longe de mim.
Nós rimos de novo, e olho na direção para onde Michael está indo, agora vendo a última
pessoa que eu gostaria. Chase Fontana caminha pelo corredor com os olhos fixos em seu celular,
e posso ver algumas pessoas olhando em sua direção, claramente admiradas com o quanto ele é
alto e bonito.
Uma de suas mãos está no bolso de sua calça e descansa lá de maneira relaxada. O moletom
preto faz contraste com sua pele pálida, apenas as mãos tatuadas estão à vista, e algo me diz que
essas tatuagens não são as únicas em seu corpo.
— Quem é aquele? — Kat pergunta.
Eu rapidamente paro de olhar e a vejo esticar o pescoço para ver melhor.
— Ah, é o cara que se mudou junto com o irmão para o apartamento em frente ao meu e o
de Allyson, amor. Eu lhe falei sobre ele — Tessa diz —, seu nome é Chase Fontana.
Eu reviro os olhos ao ouvir o nome dele e dou as costas para a entrada da faculdade,
evitando a fadiga de ter que, sem querer, encarar seu nariz empinado mais uma vez.
— Ele não parece ser daqui — Adam comenta, olhando para trás de mim.
— Ele é italiano — Tessa fala com um sorriso.
Eu sorrio também, mas não é nada mais do que zombaria. Arrumo minha mochila nas costas
e olho para eles, que parecem curiosos em relação ao italiano falsificado.
— Ele é apenas um idiota — murmuro, ainda de costas para ele.
Adam me encara.
— O que eu perdi?
Abro a boca para falar que um dos seus maiores crimes é ter nascido, mas Tessa é mais
rápida.
— Ele foi se apresentar a Allyson, e Justin agarrou a perna dele e começou a… fazer
coisas… — ela diz de maneira sugestiva, e Adam e Kat riem. — Acho que, bom, tenho certeza
de que ele não gostou e acabou falando que o nome do Justin é feio, e Ally não gostou.
Eu solto uma risada incrédula.
— Dá para acreditar nessa ousadia? — pergunto a eles.
Agora todos eles me observam com uma expressão pensativa em seus rostos.
— Meio que realmente é um nome feio… — Adam inclina a cabeça para a esquerda.
— É, amiga, você também não se ajuda. O segundo nome do seu cachorro é Bieber… —
Kat nega com a cabeça.
Abro a boca, chocada com essa traição bem diante dos meus lindos olhos. Justin Bieber é
um nome lindo!
— Como assim não é um nome bonito? — Coloco as mãos na cintura. — Apenas cinco
segundos olhando para aquele cara e vocês já escolheram um lado? Onde está toda a amizade de
que vocês falam?
As palavras escorrem pela minha boca, e eles reviram os olhos.
— Só você acha esse nome bonito, Allyson — Tessa ri e passa um braço pelos ombros da
namorada. — Aliás, ele ter insinuado que o nome do Justin é feio não foi grande coisa para você
ter esse ódio todo por ele.
Eu cruzo meus braços e, se meus olhos pudessem saltar de tanta incredulidade por estar
escutando isso, eles o fariam.
— Eu estava defendendo a honra do meu cachorro! — bato no meu peito e ergo uma
sobrancelha — E não é só por isso que não gosto dele, não viu como aquele italiano da Shopee
fica falando em outro idioma com pose de superior?
Eles riem da minha indignação.
— Faça um curso para xingá-lo à altura — Adam sugere.
— É tudo o que ele merece, não é? Ele é um arrogante! — falo
— O que mais ele é? — Kat pergunta com um sorriso estranho, e ela e Tessa trocam um
olhar suspeito.
Mas eu não ligo muito para isso, porque tenho aqui, em minhas mãos, a oportunidade de
falar mal de alguém de que não gosto.
Limpo a garganta.
— Chase Fontana não passa de um italiano metido que se sente melhor do que os outros. Ele
pensa que é quem para falar mal do nome do meu cachorro? Ele acha que, só porque é gostoso,
além da média e tem um nome e sobrenome de alguém atraente, pode falar isso? Por que ele não
guarda a porra das opiniões dele e enfia no rabo? Isso, ele tem que fazer isso junto com o som
dele que eu quebrei. Ainda por cima, é um inconveniente que dá festas altas horas da noite!
Eu bufo e tomo uma grande lufada de ar após desabafar. Uma risada aliviada escapa de mim,
e meus amigos fazem o mesmo, mas paro quando percebo que não é comigo que eles riem, mas
sim de mim, e algo para logo atrás.
É quando sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem, o resto do meu corpo sentindo inveja
e seguindo o mesmo caminho. Mortificação enche meu peito por quem quer que esteja bem atrás
de mim. E sei muito bem quem é.
— Não sabia que tinha opiniões tão fortes sobre a minha pessoa, Allyson. Mas, afinal, você
me odeia ou me acha atraente? Fiquei confuso.
Meu coração vai parar em meu estômago e fecho os olhos, engolindo toda a minha
vergonha. Ou tentando, pelo menos. Porque parece que é impossível me livrar dela, onde eu
estou, ela vai atrás.
Na minha mente, estou dizendo todos os palavrões que eu conheço neste exato momento.
Por que essas merdas só acontecem comigo? Parece que eu tenho ímã para a vergonha.
Eu abro meus olhos e lentamente me viro na direção de Chase e o vejo com um sorriso de
lado e a covinha na bochecha. Eu já peguei tanto ranço desse sorriso convencido. Talvez, se eu
me concentrar nesse sentimento explosivo, possa ignorar a mortificação em meus ossos.
— Bom dia, Chase. — Sorrio forçadamente.
— Bom dia, Ally. — Ele sorri com a cabeça inclinada para a direita e coloca as mãos nos
bolsos de seu moletom.
A forma como ele pronuncia meu apelido, não meu nome, faz algo dentro de mim se
remexer, e eu tenho certeza de que é raiva por ele ser tão estupidamente bonito e tão idiota.
— Oi, Chase. — Tessa sorri para ele e olha para os nossos amigos. — Este aqui é Adam, e
esta é Kathleen, a minha namorada.
— Prazer, sou Chase Fontana. — Ele acena com a cabeça, com um pequeno sorriso em seus
lábios.
É o sorriso do diabo, não caiam nessa, amigos. Tenho certeza de que era ele seduzindo Eva
no Paraíso.
— Como você fala tão bem inglês? — Kat pergunta, curiosa.
— Minha mãe é italiana, e meu pai americano, então sou fluente nas duas línguas. — Ele dá
de ombros enquanto esboça um pequeno sorriso nos lábios.
— Caramba, que legal! — Adam sorri fascinado, e reviro meus olhos.
Ah, por favor.
— Disse algo, Allyson? — Chase arqueia uma sobrancelha, e engulo em seco por ter
pensado alto demais.
— Eu disse?
— Me diga você. — Ele coloca a mão direita no bolso da calça preta e segura uma das alças
de sua mochila com a esquerda, enquanto mantém os olhos acinzentados fixos em mim.
Por um momento, pude jurar que ele estava vendo todos os meus pecados.
— Não, me diga você que está escutando coisas. — Sorrio. — Você ouve vozes com
frequência?
— Como descobriu? — Ele me olha, confuso.
— Não é difícil de deduzir, sabe? — provoco-o. — Devo me preocupar? A maioria dos
assassinos coloca a culpa nas vozes quando comete seus crimes.
Chase sorri e dá um passo em minha direção, obrigando-me a erguer o rosto para encarar o
seu.
— Ficaria surpresa se eu lhe contasse o que as vozes dizem… — Seu tom se torna baixo, e
os olhos me encaram.
Estreito meu olhar e coloco as mãos na cintura enquanto me recuso a dar um passo para trás
e me tornar ainda menor do que eu realmente estou me sentindo agora.
— Logo adianto que, se tentar me matar, vai ter testemunhas — eu o desafio.
Chase inclina lentamente a cabeça para o lado, e alguns fios rebeldes caem em seus olhos
cinzentos.
— Quem? — Ele arqueia a sobrancelha, e franzo o cenho.
Olho para onde os meus amigos deveriam estar e solto uma risada incrédula quando não os
encontro. Eles foram embora e me deixaram com esse assassino em potencial.
Nem Judas.
— Sem testemunhas — Chase diz, e sua voz está perto demais da minha orelha.
Olho para ele e me distancio três passos dele. Tudo porque meu maldito corpo se arrepiou
dos pés à cabeça, e eu odiei isso de tantas formas…
Pigarreio.
— Mas Deus está vendo! — Eu aponto para o teto, e Chase dá risada, fazendo-me franzir o
cenho. — Do que está rindo?
Seu sorriso se amplia.
— Você é engraçada — diz enquanto me encara, como se estivesse vendo uma atração de
circo.
— Eu sou alguma palhaça? — pergunto, entredentes, cerrando meus punhos. — Além de
ouvir vozes, você também ri sozinho? Porque eu não estou brincando.
Eu quero irritá-lo, mas a única coisa que consigo é fazê-lo jogar a cabeça para trás e dar uma
gargalhada. Uma risada gostosa e grave, daquelas que lhe dá vontade de fazer uma gravação e
passar horas escutando.
Chase para de rir e me encara com um pequeno sorriso nos lábios.
— Come puoi essere così bella? — ele diz em italiano, a voz ficando mais rouca.
Encaro-o com uma mistura de confusão e raiva.
— Você pode falar a porra da minha língua, por favor? — Sorrio falsamente e cruzo os
braços em frente ao peito. — Quem é Bella?
Algo em seus olhos escurece enquanto eles analisam meu rosto por completo.
— Você.
A afirmação veio com tanta força que preciso me agarrar ao meu orgulho para não
desfalecer bem aqui. Tudo bem, posso estar sendo um pouco dramática, mas é que tenho um
fraco por um homem de sorrisinho cafajeste.
— Eu não, eu sou Allyson. — Sorri docemente, fazendo-me de idiota.
Seus lábios se esticaram em um sorriso, e Chase os separa para falar mais alguma coisa. Mas
isso não acontece, pois ele ergue os olhos para algo ou alguém atrás de mim, seu sorriso se fecha
rapidamente e seu semblante se torna sério.
Toda a sua energia brincalhona vai embora também.
— Até mais, Allyson — ele diz e coloca as duas mãos dentro dos bolsos do seu moletom,
afastando-se rapidamente de mim.
De cenho franzido, assisto a ele andar para longe até dobrar um corredor e sumir das minhas
vistas. Tão rápido quanto ele chegou, ele foi embora. Parece estar fugindo de um fantasma.
Que cara maluco.
Eu arrumo minha mochila em minhas costas e começo a andar em direção à sala de aula do
meu curso. Um braço se enrola no meu, e rapidamente viro a cabeça para o lado, encontrando
Karen a me encarar com um sorriso brilhante.
— Temos treino hoje, não se esqueça — ela diz, caminhando comigo.
— Não vou, relaxa. — Eu forço um sorriso com os olhos fixos nos nossos braços unidos.
Sim, eu sou um pouco chata no quesito pessoas com quem eu não tenho intimidade me
tocando de surpresa. Os únicos que eu gosto que façam isso são meus amigos e minha família;
fora eles, fico desconfortável. Na maioria das vezes, não tenho nada contra a pessoa, só não
gosto que me toquem mesmo.
— Seu namorado? — ela pergunta, chamando a minha atenção para o seu rosto.
— Quem?
— Aquele cara que estava com você agora há pouco, Chase Fontana.
Quase rio, na verdade.
— O quê?! Não, não! — Eu nego rapidamente com a cabeça. — Ele é meu novo vizinho.
Como sabe o nome dele?
— As notícias correm rápido, e vamos concordar que ele é lindo. — Ela dá de ombros.
Eu imito seu gesto, e nós paramos em frente à minha sala. Sorrio forçadamente e tiro de
modo discreto o braço de Karen do meu, aproveitando que ela está ocupada mexendo no próprio
celular. Um calor do caralho desse e ela me agarrando!
— Bom, eu vou entrar agora — eu digo, e ela ergue o rosto para me olhar.
— Certo, até o treino! — Ela sorri e guarda o celular no bolso de sua saia jeans, virando-se e
se afastando de mim em seguida.
Observo-a sumir na multidão e entro na sala de aula, quase soltando um xingamento quando
vejo que meu professor já está na sala.

Quando saí da quadra de vôlei, já passava das sete e meia da noite. Meu corpo inteiro está
pingando de suor, e meu short de lycra se agarra às minhas coxas. Eu estou cansada e dolorida e
só quero tomar um banho e dormir. Sabe aqueles dias em que você sente que pode agredir
alguém só por falar com você?
Mas eu não consigo levar a última coisa a sério quando o motorista do táxi em que eu estou
começa a chorar enquanto conta que foi traído pela esposa.
— Por que ela me traiu?! — Ele funga alto, olhando-me pelo espelhinho pendurado no teto
do carro. — Eu sempre dei tudo a ela, e aquela safada me trai daquele jeito!
Arregalo meus olhos.
— Moço, se acal… — ele me corta abruptamente.
— Por que, meu Deus? — ele berra de repente, assustando-me. — É porque eu só tenho 13
centímetros de pau? Foi o que ela disse quando eu vi tudo! Do que importa o tamanho quando
não se falta nada dentro de casa?!
Eu o olho por alguns segundos, meus olhos já lacrimejando de tanta força que eu faço para
não rir. Seria muito ruim se ele me desse uma bicuda e me jogasse para fora do carro. Ele está
tão transtornado que eu não duvido.
— É nos menores frascos que estão os melhores perfumes! — Ele bate no volante.
Agarro o cinto de segurança contra meu peito e engulo em seco, mas empurro o medo de
morrer para baixo e decido tentar melhorar as coisas com algumas palavras de conforto, mesmo
que eu não saiba fazer isso.
— Talvez ela só tenha dito isso porque não quis admitir que não gosta mais de você. Não é
querendo justificar, mas acho que ela o traiu porque deu vontade e porque não o ama mais. Se o
fizesse, não teria enfeitado sua cabeça.
O homem acelera ainda mais o carro, um soluço muito desafinado escapa de sua garganta, o
que me faz duvidar de se ele ouviu as palavras que eu disse agora. Eu, como corna, tenho lugar
de fala para dizer que os chifres mexem com todos os nossos sentidos.
— A vida não tem mais sentido sem ela, eu vou me matar! — ele chora alto e pisa no
acelerador, solavancando meu corpo para trás, afundando-o no banco em que eu estava sentada.
Dessa vez, pude sentir a raiva crescendo em minhas entranhas e subindo.
— Pare de palhaçada, caralho! — Olho-o com raiva, passando as mãos pelos meus cabelos.
— Você é corno, não imortal! E, se quiser morrer, morra sozinho, não precisa me levar junto!
O homem soluça.
— Eu tenho medo de morrer sozinho!
Eu cerro meus dentes.
— Então morra com outro passageiro, não comigo! — eu grito enquanto bato no meu lado
da janela. — Abra essa porra, eu vou descer aqui!
O motorista funga e desacelera o carro aos poucos, parando perto de uma calçada. Eu tiro o
dinheiro da minha mochila e coloco na mão dele, saindo do carro em seguida.
A minha sorte é que eu mandei o motorista parar quando já estava perto do meu
apartamento. Eu já consigo ver o prédio onde moro, não me arrependendo nem um pouco de tê-
lo feito parar. Era isso, ou morrer com aquele doido.
Eu entro no meu prédio e dou um aceno de cabeça para o porteiro, andando em direção ao
elevador. Quando ele chega após alguns segundos, entro e suspiro, deixando meu corpo
descansar contra a parede fria do elevador. Eu só quero a minha cama.
Saio do elevador quando ele para no meu andar e coloco minha mochila na frente do meu
corpo, depois pego a minha chave de dentro dela. Abro a porta e entro no apartamento, em
seguida viro para fechar a porta, quando a empurram levemente, fazendo-me erguer os olhos
para ver quem é.
Esta noite não poderia ficar pior.
— O que você quer? — Eu coloco as mãos na cintura e encaro Kevin.
Seu cabelo está um pouco mais comprido que o normal, e xingo meu estúpido coração por
doer ao me lembrar de como eu costumava passar meus dedos por seus fios.
— Vim falar com você pessoalmente, já que me bloqueou nas redes sociais — ele diz,
colocando as mãos nos bolsos de sua calça.
Seja forte, Ally.
— Se eu o bloqueei nelas, é porque não quero falar com você. — Reviro os olhos. — E pare
de criar perfil falso para falar comigo!
— Por que você é assim, Allyson? — Kevin tenta se aproximar, mas para quando ergo o
punho direito. Ele sorri. — Eu engoli todo o meu orgulho para vir aqui e dizer que aceito voltar
com você.
Uma risada incrédula escapa dos meus lábios, substituindo a dor fina em meu peito.
— Como assim “aceita” voltar comigo? — Franzo o cenho, indignada com sua cara de pau.
— Eu nunca pedi para voltar, nem lembrava que você existia!
Vou continuar a mentir até que seja verdade.
— Não faça assim, Ally, eu sei que você ainda me quer… — Ele sorri, dando um passo à
frente.
Seu tom é carinhoso, o mesmo tom que ele usava quando queria transar logo depois de me
dar um perdido. E eu, burra, caía.
— Vá se foder, Kevin. Já o aconselhei a parar de fumar maconha, agora está aí imaginando
coisas!
Mas o idiota não parece satisfeito quando continua vindo lentamente em minha direção.
— Admita, Ally… — Ele sorri largamente.
Os dentes são ridiculamente brancos, e seu sorriso ainda me faz sentir algo. Bem lá no
fundo, Kevin ainda mexe comigo. E eu odeio isso.
— Foda-se — profiro lentamente e olho para dentro do meu apartamento, vendo meu
cachorro entrando na sala. Eu apontei para Kevin. — Ataque, Justin! Ataque!
Justin rosna alto, e Kevin arregala os olhos, se afasta da minha porta aos poucos e em
seguida corre para longe. E Justin foi atrás.
Eu os vejo sumir pelo corredor e, minutos depois, vou atrás de Justin e o encontro
caminhando de volta com um pedaço de jeans na boca. Quando ele se aproxima, eu me curvo
sob meus tornozelos.
— Isso, amorzinho, isso! — Faço um carinho nas orelhas dele e tiro o jeans de sua boca. —
Mas tire isto da boca, porque veio daquele seboso!
Jogo o jeans no chão e, mesmo o Justin sendo um pouco pesado, o pego no colo e começo a
andar em direção ao meu apartamento, sentindo-o lamber meu rosto.
Eu sorrio, mas paro quando olho para o lado e vejo Chase com os braços cruzados e apoiado
na dobradiça da porta, com uma calça de moletom cinza caindo em seus quadris e sem camisa,
deixando à vista todas as suas inúmeras tatuagens e o corpo sarado, mas sem exagero.
Eu estava certa sobre suas tatuagens, ele tinha bem mais. Um enorme pássaro está
desenhado em seu peito e há uma rosa em seu pescoço. Deus, ele tem tantas que nem consegui
analisar todas.
Meus olhos descem para a entradinha do quadril dele por alguns segundos até que o escuto
pigarrear.
— Gostou, Ally? — ele pergunta, e ergo os olhos, encontrando-o com um sorrisinho de
lado.
Engulo em seco. Merda.
— Da calça? Adorei. — Eu faço a Kátia, e ele arqueia a sobrancelha. — Está aí há muito
tempo?
Espero que ele não tenha visto a minha cena ridícula com Kevin.
— Sim, escutei tudo, inclusive a parte da perseguição nas redes sociais. — Ele desencosta o
ombro esquerdo da dobradiça da porta e coloca as mãos nos bolsos da calça de moletom.
Todo dia uma vergonha diferente.
— Fofoqueiro! — Eu o olho com raiva e viro o rosto, entrando no meu apartamento e
colocando Justin no chão, que late para Chase.
Viro-me para fechar a porta.
— Tem que fazer uma terapia para controlar essa raiva, Ally. — Escuto-o dizer e estreito
meus olhos em sua direção.
— E você tem que parar de espionar a vida dos outros, idiota! — eu digo entredentes e bato
a porta na cara dele.
Eu odeio fofocas normalmente, mas saber que esse cara escutou minha conversa vergonhosa
com Kevin me enche de mortificação e raiva ao mesmo tempo. Não que eu me importe com o
que ele pensa de mim, mas, ainda assim… Eu terei que tomar cuidado para esse fofoqueiro não
saber mais do que deve.
— Ally, é você? — Escuto Tessa perguntar e me viro em sua direção, vendo-a aparecer no
corredor. — Você não sabe quem terminou o namoro porque foi traído…
Arregalo meus olhos e caminho até ela a passos rápidos. Tudo bem que eu possa ter dito que
odeio fofoca, mas apenas quando ficam vigiando a vida das outras pessoas como meu querido
vizinho estava fazendo. Nesse caso, a fofoca é está vindo até mim. Não eu quem fui atrás dela.
Eu abro a porta do quarto de Tessa e a encontro sentada na cama dela, sorrindo para a tela do
celular.
— Quem levou chifres?! — Eu deixo que minha mochila caia e corro até ela, pulando em
sua cama.
— Adivinhe… — Ela sorri e abaixa o celular.
Eu arregalo os olhos e fico de joelhos. Justin também pula na cama e se deita ao meu lado.
— Ai, meu Deus, você?! — Eu cubro a boca, chocada. Rastejo para fora da cama. — Não
acredito, vou perguntar a Kat como ela teve coragem de fazer isso!
Mas, antes que eu colocasse o pé no chão, meu braço é puxado para trás, e logo volto a
sentar. Encaro Tessa, confusa.
— Se eu tivesse levado chifres, eu estaria sorrindo? — Ela solta meu braço e revira os olhos.
— Depende, uma vez eu vi no Google que cada pessoa tem uma reação diferente quando é
traída. — Eu dou de ombros.
— Acredite, Kathleen estaria careca agora — ela ri antes de voltar a olhar para o celular. —
Vai, tente adivinhar de novo!
— Espere… — Eu bato o indicador esquerdo no queixo e arregalo os olhos quando penso na
única pessoa que conheço. — Foi Adam?!
— O quê?! Também não foi Adam, maluca! — Ela me olha incrédula e bufa, sorrindo em
seguida. — Foi Kevin, o seu ex, aquele crossfiteiro.
De repente, toda a agitação que eu estava sentindo some e dá lugar ao desânimo. Murcho
exatamente como uma flor faria.
— Como… Como você descobriu?
Tudo parece se encaixar agora, e não deveria doer assim, não depois de tanto tempo.
— Kat descobriu por acaso e me contou — Tessa diz.
Assinto, compreendendo tudo.
— Ah, então por isso que ele veio atrás de mim… — Sorrio, desacreditada.
Claro, burrice minha pensar que ele realmente estava arrependido quando apenas odeia ficar
sem alguém. Kevin é como uma criança que, ao não ter a atenção de uma pessoa, procura em
outra.
E eu desacredito que ele ser traído tenha doído nele como doeu em mim. No máximo,
machucou seu ego idiota.
— Ele veio atrás de você? — Tessa pergunta, olhando-me com o cenho franzido.
Posso dizer que ela parece cautelosa.
— Sim, disse que aceitava voltar comigo.
— Como, se você nunca pediu para voltar com ele? — Ela franze o cenho, mas bufa logo
após, parecendo desistir de entender. — Você não cogitou voltar, não é, Allyson?
— Não.
— Ally…
Solto a respiração, como se a estivesse prendendo.
— Não pensei em voltar, Tess… — eu digo, encarando o teto do quarto. — Mas eu percebo
que ele ainda mexe comigo. Não tanto como antes, sabe? Mas ainda está ali…
E parece que nunca vai embora. Não é algo que mate, mas é doloroso sentir algo por uma
pessoa com quem você sabe que não tem futuro, por alguém que não vale nada.
— Você sempre teve dificuldade em cortar laços, Ally, por mais durona que você finja ser.
— Tessa pega minha mão e a coloca em seu colo. — Mas por que não tenta se dar uma chance
novamente?
Eu puxo minha mão da dela e me sento com rapidez, encarando-a como se ela tivesse dito a
maior profanação do mundo.
— Para ser traída de novo? Não, obrigada — rio, negando com a cabeça.
— Nem todo mundo é igual, Ally. — Suspira, inclinando a cabeça para a direita.
— Mas não estou aberta a encontrar um diferente neste momento — digo enquanto pego um
de seus travesseiros e coloco em meu colo. — Ter algo sem compromisso? Até que estou
disposta. Mas não vou entregar meu coração tão cedo, Tess.
Tessa assente, mas sei que ela ainda tem muito a falar. Mas, graças a Deus, e como sempre,
ela respeita minha decisão e guarda seu podcast motivacional de duas horas para si.
Estico a mão para acariciar as costas de Justin enquanto ele apoia a cabeça na coxa de Tessa.
— Amanhã de manhã, nós vamos ao mercado. Algumas coisas estão faltando — ela diz,
fazendo carinho nas orelhas de Justin.
Ele afasta a cabeça de sua coxa e gira o corpo, ficando de barriga para cima para que o
carinho seja direcionado para aquela área em específico. Minha amiga sorri, dando o que ele
quer.
— Ah, não, Tessa! — Eu jogo meu corpo para trás mais uma vez. — Não podemos dormir
até tarde? Ou você não pode chamar Kat para ir com você? Estou tão cansada, nunca mais tive
um sono decente.
— Tenho que fazer um trabalho da faculdade à tarde e por que tenho que chamar Kat
quando é você quem mora comigo? — Sinto quando ela belisca minha canela esquerda e bato em
sua mão ao me sentar na cama.
Encaro-a com o cenho franzido, com uma clara confusão presente no meu rosto enquanto
acaricio o local agredido por ela.
— Por que o beliscão? Não me lembro de você ser agressiva assim.
— Isso é por ser preguiçosa e ficar sendo grossa com o vizinho!
Rio sarcasticamente.
— Perdão, mamãe — debocho de braços cruzados. — Mas é ele quem fica me provocando.
É tão difícil ver isso?
Tessa arqueia uma sobrancelha.
— Será que você está tão assim, na defensiva, por que o acha atraente? — provoca.
Abro e fecho a boca algumas vezes, querendo rir da sua pergunta besta e ilógica.
— Claro que não, ele nem faz o meu tipo. — Faço uma careta. — Você sabe que nunca
gostei de homens com tantas tatuagens como ele. Nada contra.
Tessa estreita os olhos em minha direção, algo em sua expressão beira ao deboche, e eu sei
que ela não acredita em mim. Mais de dez anos de amizade, sei o que cada comportamento ou
olhar da minha melhor amiga significa e, neste momento, não gosto nem um pouco do que ela
está me dando.
— Claro, Allyson, continue fingindo. — Ela me dispensa com a mão e pega seu celular. —
Não vou discutir, você é teimosa como uma mula.
Olho-a com raiva e lanço minhas pernas para fora da cama, ficando em pé. Ando até minha
mochila e a jogo em meus ombros, voltando para onde meu cachorro está.
— Venha, Justin Bieber. Sua mãe está sendo maltratada neste ambiente tóxico. — Eu me
inclino sobre a cama e pego Bieber nos meus braços, mesmo que ele seja pesado para diabo.
Olho uma última vez na direção de Tess antes de erguer o queixo, empinar o nariz e virar o
rosto, andando até a porta do quarto. Talvez eu esteja fazendo isso com um pouco de dificuldade
por Justin ser pesado, mas, se eu o soltar, ele vai voltar correndo para a traidora.
Por fim, consigo passar pela porta do quarto de Tessa com tudo, menos com classe.
— Feche a porra da porta, Allyson! — Escuto Tessa gritar e sorrio de maneira travessa.
Ao chegar ao meu quarto, coloco Justin no chão, abro a porta e o vejo entrar por ela e subir
na minha cama. Antes que Tessa venha me bater, fecho a porta do quarto com a chave e jogo
minha mochila em minha cama, depois ando em direção ao banheiro.
Eu retiro minhas roupas de treino e as coloco no cesto, entrando no box depois de amarrar o
meu cabelo no alto da cabeça em um coque. Ligo o chuveiro e vou para debaixo dele, sentindo a
água quente relaxar o meu corpo terrivelmente tenso. Eu estava precisando disso.
Não só pelo treino, mas também para me aliviar do quão tensa a visita de Kevin me deixou.
Eu realmente gostaria de saber o que se passou na cabeça do idiota em achar que eu o aceitaria
de volta só porque ele foi traído e seu namoro chegou ao fim.
Mesmo que eu ainda sinta algo por ele, um defeito meu que eu reconheço de longe é o
orgulho. Kevin não voltou porque está arrependido ou porque me ama, ele voltou porque sabe
que perdeu alguém que gostava dele de verdade. E Kevin é alguém que não sabe ficar sozinho.
Desligo o chuveiro e me enrolo em uma toalha, saindo do banheiro em seguida. Vou em
direção ao meu guarda-roupa e pego uma calça de moletom branca e um top vermelho, os
vestindo. Após passar desodorante, subo na cama e entro debaixo das cobertas com Justin.
Coloco a cabeça por cima do meu braço direito sobre o travesseiro e fecho os olhos, pronta para
dormir.
Mas, como se toda a perturbação fosse pouca, as entradinhas de quadris mais lindas que eu
já vi invadem minha mente e abro os olhos, soltando um grunhido quando me lembro de Chase.
Mesmo que eu o ache um ser totalmente enxerido e eu tenha opiniões nada agradáveis sobre
ele, não tenho como negar o quão lindo ele é. É um desgraçado que sabe que é bonito e fica na
porta de casa daquele jeito. Mas tudo bem, minha mãe me ensinou a resistir às tentações do
satanás.
Eu olho para Justin, que ainda tem os olhos abertos, e acaricio sua cabeça quando o que
Chase disse vem à minha mente.
— Justin, você acha que eu preciso de terapia?
Tessa empurra o carrinho de compras repleto de coisas e me diz quais comidas pegar para o
nosso apartamento. Não que eu não saiba, mas minha melhor amiga sempre age como uma mãe
que lidera nossa casa e sabe o que é melhor, e eu não discordo dela, se tudo estivesse em minhas
mãos, estaríamos perdidas.
Enfio minhas mãos nos bolsos do meu moletom, quando o ar frio do supermercado faz meu
corpo estremecer, combinando com a chuva que cai lá fora como se o céu fosse desabar a
qualquer momento. Se continuasse assim pelo resto do dia, eu estaria mais do que pronta para
passar a tarde debaixo das minhas cobertas.
— Pode pegar três garrafas de suco, Ally? Estamos sem — Tessa fala, apontando para a
vitrine próxima a nós.
Mesmo que eu tenha fingido que meu sono estava pesado, Tessa não descansou até que me
arrancasse da cama e me fizesse tomar um banho e vestir uma roupa decente, trocando meu
pijama nada sexy.
Sempre que ouço alguém dizer que temos livre-arbítrio, sei que é mentira. Ou apenas Tessa
Brown não se importa com o querer do próximo e sou sorteada para arcar com essas
consequências. Bom, mas eu já me acostumei.
— Qual sabor? — pergunto, olhando para ela.
Ela dá de ombros, franzindo os lábios e os torcendo de um lado para o outro, parecendo
pensar em uma resposta para a minha pergunta.
— Qualquer um, menos de morango — Tessa faz uma careta, e assinto, lembrando que ela é
alérgica a essa fruta.
Dá última vez que ela tomou um copo de suco de morango sem saber, não caiu muito bem.
Éramos crianças de dez e onze anos e tínhamos acabado de nos conhecer no parquinho perto de
nossas casas, quando a chamei para comer na minha e, deixando para lá o fato de Tessa ter
ignorado os avisos de seus pais sobre não visitar casas de estranhos, o que era para ser uma
tardezinha legal acabou com ela no hospital.
Caminho a passos moderados até a geladeira e abro a porta, em seguida pego três garrafas de
suco de laranja. Volto para o carrinho e coloco todas dentro dele enquanto Tessa continua a ler a
lista de compras em suas mãos. Pego o carrinho de suas mãos e começo a empurrá-lo para que
fique mais fácil para ela.
Quando entramos na seção de doces, paro o carro e ando na direção de uma prateleira
repleta de jujubas. Eu amo jujubas e poderia ser considerada uma completa viciada nelas. Pego
uma caixinha de tamanho médio e assobio, chamando a atenção de Tessa. Ela nega com a cabeça
quando eu me aproximo.
— Sabe, você é um perigo para uma estudante de moda — Tessa suspira, mas não reclama
quando coloco a caixa de jujubas no carrinho.
— Nem me fale, estou comendo tanta besteira esses dias que até o meu técnico reclamou. —
É a minha vez de suspirar, mas termino com um revirar de olhos. — Algo sobre eu não ficar
acima do peso.
Tessa nega com a cabeça, um leve balançar que mostra que, assim como eu, ela não está
contente com isso.
— Sei como é — diz, voltando a empurrar o carrinho junto comigo. — Você sabe que tenho
um trabalho para fazer onde desfilo com uma roupa que eu criei, né? A roupa já está pronta, mas
imagine o horror que vai ser se não couber em mim daqui a um mês.
Ergo minhas sobrancelhas e paro de andar quando a surpresa e a animação tomam conta de
mim.
— Você já terminou? Deixe-me ver, Tess! — Junto minhas mãos abaixo do queixo.
— Ainda faltam alguns ajustes, Ally. Você sabe que não gosto de mostrar minhas criações
sem que estejam prontas. — Ela encolhe os ombros.
Um bico se forma em meus lábios e bato meus cílios para ela, tentando amolecer seu
coração para que ela faça minhas vontades. Não faço a mínima ideia se isso funcionará, mas
estou disposta a tentar.
— Por favor… — imploro, tentando fazer um olhar de cachorro pidão. Mas as chances de
estar parecendo que estou tendo um derrame são de 100%.
Tessa revira os olhos e sorri.
— Tudo bem, tudo bem… — ela fala, e um sorriso malicioso se estica em seus lábios. —
Mas só se continuar empurrando o carrinho e ir buscar mais algumas coisas enquanto leio a lista.
Estreito meus olhos em sua direção e cruzo meus braços em frente ao peito.
— Você é uma bela de uma aproveitadora, já lhe disseram isso? — pergunto, indignada.
— O mundo é dos mais espertos. — Tessa me manda um beijo antes de me dispensar com a
mão. — Agora vá lá buscar quatro garrafas de leite.
Mordo minha língua para não dizer que não sou empregada dela e que ela não poderia fazer
isso, mas as criações de Tessa são algo pelo qual vale muito a pena engolir cada provocação. E a
desgraçada sabe disso e tira proveito.
Respiro fundo e sorrio falsamente para ela antes de lhe dar as costas. Caminho em direção
onde sei que estará o que Tessa me mandou comprar anteriormente. Como sempre compramos
neste supermercado, conheço-o como a palma da minha mão.
Paro em frente à prateleira repleta de caixas de leite e ergo o queixo quando avisto a marca
que quero no topo. Ficando na ponta do pé, ergo o braço, tentando pegar ao menos alguma caixa,
mas era muito alto. Olho em volta, à procura de algum funcionário que possa me ajudar, mas tem
apenas uma mulher mais baixa do que eu.
Bufo antes de voltar a olhar para o topo da prateleira e ficar novamente sobre a ponta dos
pés. Meus dois dedos chegam a encostar, e sei que não vou conseguir, quando um braço para ao
lado da minha cabeça e uma enorme mão pega uma caixa.
Ela é posta em frente ao meu rosto, e sorrio, pegando-a. Viro-me para ver meu salvador,
com um sorriso de agradecimento no rosto.
— Muito obrigada… — As palavras morrem na minha boca quando reconheço os olhos
cinzentos que estão a me encarar. — Ah, você.
Bem na minha frente está Chase, vestido com um casaco de moletom preto com zíper aberto
até a metade, revelando uma camisa sem mangas por dentro, deixando a tatuagem de rosa em seu
pescoço à mostra. E ela é tão chamativa que chega a ser impossível desviar o olhar.
Finjo olhar para a caixa de leite em minhas mãos e ler algo que está escrito apenas para
terminar de ver o que ele está vestindo: um short também moletom com um tênis esportivo. É
como se ele tivesse vindo da academia ou algo assim.
— Ah, você? — A voz rouca e carregada com um leve sotaque me faz erguer o rosto
novamente apenas para ver como um sorriso debochado estica seus lábios. — Você não tinha
essa expressão antipática no rosto antes de ver quem era. Sua educação é seletiva?
Aperto meus dedos na caixa.
— Não seja por isso. Muito obrigada, vizinho. — Sorrio falsamente antes de virar o rosto e
começar a andar para longe dele. Idiota.
Mas, como alegria de pobre é ilusória, Chase aparece no meu caminho, fazendo-me parar
subitamente e quase trombar em seu corpo. Dou um passo para trás e ergo meu rosto para fitar o
dele.
— Mas que… — Controlo-me para não soltar um palavrão e respiro fundo, pondo uma mão
na cintura. — Está me perseguindo?
— Eu? Não, vizinha. Estou apenas conhecendo a seção. — Ele sorri de lado, revelando a
covinha que tem na bochecha direita.
— Ótimo, então faça isso fora do meu caminho, sim? — pergunto antes de passar por ele
novamente.
— Espere, tenho uma pergunta! — Chase mais uma vez entra na minha frente.
Dessa vez, não tenho a mesma sorte e vou ao encontro do seu corpo, e suas mãos param em
meus ombros, segurando-me no lugar, não sei se por reflexo ou para me afastar, mas é estranho
senti-lo me tocando.
— Qual a porra do seu problema? — rosno, afastando suas mãos dos meus ombros e dando
dois passos para trás.
— Sua boca é sempre tão suja assim? — Chase cruza os braços.
— Ficaria surpreso com o quão baixa eu posso ser — eu digo, apertando minhas mãos em
punhos. Mas ainda mantenho meu falso sorriso.
— Você está sempre de cara fechada. — Ele inclina a cabeça para o lado, parecendo se
divertir com toda a situação. — Sempre de mau-humor, por que não sorri mais?
— Sorrio quando tenho motivos, não vou fazer isso o tempo todo como uma idiota. — Sou
grossa e me desvio de seu corpo.
Nunca fui a favor de falta de educação gratuita, mas esse cara merece a minha quando tudo o
que ele faz é rir de mim ou zombar da minha cara. Não o suporto.
— Deve ficar linda quando sorri.
Suas palavras me fazem parar de andar, e franzo meu cenho, confusa, até que decido voltar à
minha programação normal e bufo uma risada, girando meu corpo para encará-lo.
Chase colocou as mãos na cintura, esbanjando uma postura relaxada a qual eu invejo muito,
porque estou quase pulando em seu pescoço.
— Claro, agora tudo faz sentido. — Olho-o de cima a baixo, e um beicinho se forma em
meus lábios. — Não está criando sentimentos por mim e me seguindo como um stalker, está?
Isso não é nada saudável.
Chase ri, e é tão rouco e grave que faz minha pele se arrepiar. Maldito ar-condicionado.
— Gosto de seu senso de humor, Ally. — Ergue o queixo, e o sorriso nunca deixa sua boca.
— Mas, mesmo que segui-la seja tentador, apenas fui fazer compras, e o destino é tão
surpreendente que a encontrei, acredita?
— Sério? E onde está o seu carrinho? — questiono, olhando ao redor de maneira dramática.
— Com o meu irmão. Você sabe quem é, não? — pergunta, e sinto a provocação em seu
tom.
— Claro, o idiota inconveniente que dá festas altas horas da noite e empata o sono dos
vizinhos que precisam descansar para o dia seguinte. — Arqueio uma sobrancelha e ponho uma
mão na cintura, tocando meu queixo com o indicador. — Ah, você mora com ele, não é? Então
acho que não sei de qual dos dois estou falando.
— Você nunca baixa a guarda, Ally?
— É Allyson.
— Uh, você tem garras — Chase assobia, dando um passo à frente. Ele ri. — E está me
encarando como se quisesse me matar. Respire, sim?
Bufo uma risada incrédula, totalmente desacreditada de como ele é totalmente audacioso e
sem limites.
— Olha, Chase. Não tenho a mínima vontade de saber se você tem ou não algum problema,
tudo o que eu quero é que pare de me provocar, porque não estou brincando. Eu falo sério, deixe-
me em paz! — mando entredentes, sentindo minha respiração acelerar.
— É uma pena que eu não possa fazer isso.
— Por quê?
— Há muito tempo não me sinto curioso como agora.
Franzo tanto as minhas sobrancelhas que posso sentir o enorme vinco que se forma em
minha testa.
— Isso é algum tipo de fetiche esquisito? — indago, cruzando meus braços. — Perseguir
vizinhas indefesas que não o suportam?
— Eu tenho muitos fetiches, Allyson. Mas perseguir mulheres indefesas não é a minha
praia. — Lambe seus lábios, olhando-me dos pés à cabeça de uma forma que não posso
descrever. — Mas você? Não acho que se enquadra nessa categoria.
— Então não nega que está me perseguindo, safado?
— Também não afirmo. — Ergue as mãos em sinal de rendição, o sorrisinho cafajeste ainda
ali.
Eu aperto a caixa com tanta força que não ficaria surpresa se ela estourasse bem aqui. Mas
se o fizesse? Que seja bem na cara do filho da puta na minha frente.
A maneira como ele sorri agora apenas me lembra de idiotas de que não quero me lembrar.
Conheço esse tipo, são todos uns engraçadinhos que se aproveitam da própria beleza, e quando
você vê? Já está pelada!
— Chase, o que houve com o que lhe pedi para pegar?
Olho na direção da voz, vendo um cara tão alto como Chase, porém mais musculoso surgir
atrás dele. O cabelo em um corte baixo e o corpo tatuado, porém não como o de Chase, não o
deixam passar despercebido.
Pietro Fontana.
— Acabei me distraindo — Chase diz, e volto meu olhar para ele, vendo que seus olhos
ainda estão em mim.
Sinto-me subitamente tímida e o olho de cara feia, o que o faz sorrir de lado.
— Essa é a nossa vizinha? — Pietro questiona com a voz grossa, largando o carrinho
próximo a nós e vindo até mim com a mão estendida. — Foi mal por aquela noite, vizinha. Você
estava perfeitamente certa, e eu estupidamente bêbado.
Seu gesto me pega desprevenida, e ergo minhas sobrancelhas, não negando isso. Encaro sua
mão por alguns segundos e então volto para seu rosto.
— Hãn… Tudo bem. Desculpa pelo som também… — Encolho meus ombros e aperto sua
mão.
— Não nos apresentamos corretamente. — Larga minha mão, exibindo um sorriso com
dentes enfileirados e brancos. — Sou Pietro.
— Allyson… — Sorrio minimamente.
Alguém bufa uma risada, e olho para Chase, encontrando-o com o olhar perplexo.
— Então a sua educação realmente é seletiva — ele diz, parecendo impressionado.
— Seu irmão foi decente e pediu desculpas.
— Pensei que ele era um idiota inconveniente que dava festas altas horas da noite e que não
deixava os vizinhos dormirem — Chase despeja, falsamente confuso.
Abro a boca, totalmente em choque por ele ter dito tudo isso, e sinto minhas bochechas
esquentarem quando Pietro me olha e um sorriso se abre em seus lábios.
— Você pensa isso de mim, vizinha? — Pietro põe a mão no peito e me encara.
Pisco, abrindo e fechando a boca sem saber o que dizer. Inferno.
— Tudo bem, Pietro. Ela também me colocou na mesma categoria. — Chase bate no ombro
do irmão.
Tudo é tão teatral que chega a ser cômico. Mas, ainda assim, não penso em rir quando olho
para Chase com os olhos fuzilantes e desejando com todas as forças que eu tivesse raios laser.
— Você é uma peste! — Cerro meus dentes e aperto a caixa.
— Tão arisca… — Chase diz com um tom profundo.
Eu sorrio docemente e dou um passo à frente, erguendo minha mão parar jogar todo o leite
em sua cabeça. Posso ter o pavio curto, mas não sou uma pessoa agressiva. Tenho que estar no
meu limite para pensar em agredir alguém.
— Ally? Por que está demorando tanto? — ouço a voz de Tessa e paro no lugar, vendo-a
empurrar o carrinho até nós com a expressão confusa.
Ali, vejo minha chance de fuga e quase suspiro aliviada por minha melhor amiga ter vindo
ao meu socorro, mesmo que ela não saiba.
— Se me dão licença… — digo aos meus vizinhos, dando-lhes as costas.
— Oi, vizinhos! — Tessa passa por mim e deixa o carrinho para trás.
Entreabro os lábios e me viro em sua direção, vendo-a toda contente indo até Chase e seu
irmão. Você só pode estar brincando, porra.
— Oi, Tessa. Que coincidência — Pietro é quem diz, sorrindo. — Pensei que Allyson
estivesse sozinha.
— Que nada, sempre viemos juntas ao mercado. — Minha amiga sorri, arrumando a
bolsinha rosa no ombro.
Por que está dando tantos detalhes a esses caras?
— Fui o primeiro a encontrar Allyson — Chase diz, colocando as mãos nos bolsos de seu
casaco. Ele sorri. — Nós acabamos entrando em uma conversa, sinto muito.
Arqueio uma sobrancelha em deboche. Uma conversa? Sério?
— Tudo bem, ela se distrai com facilidade — Tess diz, sorrindo para mim enquanto coloco a
caixa de leite no carrinho. — Não é, Ally?
Suspirei e concordei com a cabeça.
— É, sim.
— Você só pegou uma caixa? — ela pergunta, vindo até mim.
Abro a boca para falar, mas Chase me interrompe e o faz primeiro.
— Era muito alto para ela, mas posso pegar mais, se quiser. — Sorri de lado, indo até a
prateleira. — De quantas mais precisa?
— Mais três — Tessa diz.
Chase faz o que ela manda e caminha na minha direção. Eu o ignoro e enfio minhas mãos
nos bolsos do meu moletom, mantendo meus olhos fixos à frente.
O idiota despeja as caixas no carrinho, e posso sentir seu olhar queimar na lateral do meu
rosto.
— Obrigada, Chase! — minha amiga agradece, pegando o carrinho e o levando para ficar ao
lado de Pietro.
Então os dois começam a empurrar ambos, deixando o irritante Fontana para trás junto
comigo. Pelo que parece, Pietro é o irmão legal, Chase é apenas o caçula encapetado em que
todo mundo tem vontade de dar uns cascudos.
Mantendo minha boca fechada para não falar uma grosseria, começo a caminhar logo atrás
da minha amiga a passos lentos, nem um pouco a fim de escutar o que ela e Pietro estão
conversando.
— Ponha um sorriso no rosto, Allyson, assim nem dá para notar que detesta nossa
companhia. — Chase surge ao meu lado, mas mantenho meu foco à frente e fecho a cara.
— Não fale comigo — mando.
— Por quê?
— Não quero falar com você.
— Está falando agora.
Finco meus pés no chão, incrédula com a discussão de criança que acabamos de ter. Mas o
que mais me deixa puta é olhar para ele e encontrar um sorrisinho cínico em seu rosto.
— Volte para a Itália — mando entredentes, cerrando meus punhos.
Ele ergue uma sobrancelha.
— Isso se enquadra em xenofobia, não é? — Chase provoca, fingindo estar confuso.
— Entenda como quiser, apenas não fale comigo, porra! — rosno baixo quando algumas
pessoas passam por nós.
Odeio atenção, e não pode haver testemunhas da nossa briga caso eu queira matá-lo.
A cabeça de Chase pende para a esquerda, e todo o divertimento está estampado em seu
olhar e sorriso, e me odeio por ver como seus lábios estão quando o motivo do riso dele sou eu.
— É como um pinscher raivoso… — diz com divertimento, fechando o zíper do casaco de
moletom.
— Sabe onde você enfia essa comparação? Na porra do olho do seu… — respiro fundo e
contenho minhas palavras.
Não desça tão baixo, Ally. Você não é assim.
A risada gostosa e grave de Chase atinge meus ouvidos, e olho para ele, vendo como a
covinha em sua bochecha fica mais funda. O piercing em seu nariz me chama a atenção
novamente quando ele para de rir.
Ranjo meus dentes e o fuzilo com os olhos.
— Eu te odeio — admito, dando um passo em sua direção.
Chase me olha nos olhos e me encara de cima, com toda a sua altura.
— Peccato, perché ti trovo molto interessante — diz, a voz grave arrepiando os cabelos de
minha nuca.
Mordo a língua quando um belo “vá se foder” quase pula da minha boca, levando junto toda
a minha superioridade.
Mesmo que eu não tenha entendido merda alguma do que ele falou agora, já saquei qual a
dele. Quanto mais ele vir que me irrita, mais vai continuar a me provocar. É como uma criança
descobrindo um novo brinquedo.
Por isso apenas ergo meu rosto e lhe dou as costas, andando para ficar bem do ladinho de
Tessa. Segundos depois, Chase faz o mesmo ao lado do irmão, sempre sorrindo como um
pirralho atentado.
Pelo resto dos minutos que ficamos todos juntos, Tessa e eu compramos nossas coisas e, a
cada segundo, ignoro Chase. Por sorte ou senso da parte dele, Chase não tenta mais puxar
assunto comigo, porém continua com o sorriso cínico nos lábios.
Vez ou outra, Pietro é quem puxa conversa comigo, e eu respondo, sentindo-me mais à
vontade ao lado dele do que do irmão. Talvez seja porque Pietro não age como um idiota cujo
único objetivo de vida parece ser me tirar do sério.
A moça do caixa coloca nossas coisas na escola e, enquanto ela termina de empacotá-las,
noto a caneca branca com um desenho das Tartarugas Ninja que Pietro pôs em cima do balcão.
— Você tem um filho? — Tessa pergunta enquanto pega algumas escolas.
Sorrio internamente por ela perguntar a fofoca que eu também quero saber e pego o resto das
escolas.
— Não, não. Fala isso pela caneca? — Pietro pega o objeto e o ergue em frente ao rosto,
indicando o irmão com a cabeça. — É de Chase.
Ergo minhas sobrancelhas e olho para ele e, pela primeira vez desde que nos conhecemos, o
encontro pasmo e sério. Os olhos cinzas arregalados me dão vontade de rir.
— O quê? Ela não é minha — Chase bufa uma risada.
— Você está com vergonha? — Pietro ri e revira os olhos, voltando a mirá-los em nós. —
Chase coleciona tudo o que é das Tartarugas Ninja. Bom, colecionava. Bem antes de ele vender
tudo. Mas parece que está voltando aos poucos.
Pietro ri e entrega a caneca à moça do caixa. Tessa também ri e entra em mais uma conversa
com ele. Eu me aproximo de Chase e o vejo revirar os olhos.
Uma risada curta escapa de mim, e isso o faz me olhar.
— Own, neném gosta das tartaruguinhas? — Faço beicinho, colocando minhas sacolas no
chão.
— Fico feliz que saiba rir, Ally. Mesmo que seja da desgraçada alheia — ele diz, com uma
provocação na voz sem igual. — Você fica linda sorrindo — atira.
Meu sorriso morre aos poucos, e engulo em seco com o elogio que parece nada menos do
que sincero. Algo nos olhos cinzentos de Chase me fez dar um passo para trás quando sinto
minhas bochechas pegarem fogo.
Mas que…?
— É Allyson. — Ergo o queixo para ele.
Chase se curva para ficar da minha altura — não que eu seja tão baixa — e leva os lábios à
minha orelha, fazendo-me prender a respiração com tanta proximidade
Mas, ainda assim, me vejo incapaz de me afastar.
— Não precisa ficar vermelha, Allyson… — pronuncia meu nome com a voz rouca. Sinto
seu sorriso em minha orelha. — Sei que sou gostoso, mas respire.
Reviro meus olhos e dou um passo para trás, impressionada com o ego incrivelmente alto
desse cara.
— Tão gostoso que meu pau imaginário teve uma ereção — debocho.
— Está flertando comigo? — Chase ergue as sobrancelhas e sorri. — Pensei que fosse mais
discreta, mas tudo bem. Adoro surpresas.
Eu rio, perplexa.
— Sim, você é tão lindo que tudo o que penso é em me jogar nos seus braços — zombo,
levando uma mão ao peito.
— É fofo como você usa o sarcasmo para admitir o que realmente quer fazer — Chase diz,
levando as mãos aos fios castanhos.
— Ou você é um grande de um egocêntrico convencido, ou tem um ego acima da média
para compensar o tamanho do seu pau. — Coloco as mãos na cintura e o olho de cima a baixo.
Chase abre a boca e cobre-a com a mão, enquanto apresenta um semblante chocado.
— Caralho, você é rápida. Já está pedindo para ver meu pau? — Afasta a mão da boca e a
põe no peito.
Arregalo os olhos.
— Esse grande filho da…
— Se quiser, Chase e eu podemos dar uma carona a vocês — ouço a voz de Pietro e olho em
sua direção. — Com tanta sacola assim, vai ser difícil chegar em casa.
O rosto da minha melhor amiga se ilumina. Não, não, não.
— Sério? Nós adoraría… — eu a corto.
— Mas infelizmente temos que recusar — digo rapidamente.
— O quê? Não temos, não! — Tessa nega minha mentira.
— Sim, temos — respondo de volta, pegando minhas sacolas. Encaro-a. — Aquilo lá, está
lembrada?
Tess me olha confusa, a cabeça pende para o lado em um gesto claro de que ela está
buscando em sua memória o que seria “aquilo lá”.
— Ah, Tess. O que seria de você sem mim? — Sorrio docemente antes de olhar para Pietro.
— Muito obrigada pelo convite, mas vamos deixar para a próxima.
— Tudo bem, então. — Ele sorri largamente. — Até mais, vizinhas.
Tess dá tchau quando ele passa por nós, mas para quando Chase continua no lugar,
encarando-me. Franzo minhas sobrancelhas em uma carranca e, também, franzo meus lábios.
— O que é? — questiono-o.
Ele vem até mim e para bem na minha frente, fazendo-me erguer o queixo para encará-lo.
Não sou baixa, mas me sinto um gnomo perto desse cara.
— Não precisa se sentir incomodada comigo, Ally… — diz com um tom grave na sua voz
que a deixa totalmente sensual. Ele se curva um pouco, deixando o rosto a centímetros do meu.
— Eu não mordo… muito. — Sorri, revelando a covinha.
Dessa vez, nego-me a me sentir intimidada e me mantenho com o queixo erguido em
confronto.
— Aproveite e morda a porra da língua para ver se para de falar merda — mando com um
sorriso meigo.
Chase nada diz, apenas se afasta e deixa a coluna ereta, sorrindo de lado de maneira leve.
— Até mais, vizinhas — diz, sorrindo para nós.
Ele me lança um último olhar cínico antes de nos dar as costas, segurando as próprias
sacolas. Chase as carrega com uma facilidade impressionante, como se elas não pesassem nada.
Olho para suas costas e vejo-o sumir por entre as portas de vidro, como fez Pietro, e desejo
que ela seja mágica e o envie para a casa do caralho. Maduro, não é? Eu sei.
— Idiota… — resmungo, reajustando as sacolas em meus pulsos.
— Eu vou matá-la — Tessa grunhe ao meu lado, e lembro que ela está aqui.
— O quê? Por quê? — pergunto, confusa.
Ela ri, parecendo chocada.
— Não se faça de sonsa — Tess revira os olhos —, você negou a carona só porque quis ficar
longe de Chase.
— Está ouvindo a merda que está dizendo? — eu debocho, começando a andar para fora do
supermercado. — Eu acabei de salvá-la, isso sim.
— Acabou de me salvar de quê? — Tessa pergunta com a voz carregada de deboche. — De
me sentar no banco confortável de um carro enquanto meus braços também descansam de
carregar a porra destas sacolas?
Ok, ela tem um ponto. Mas não precisa saber disso.
— Eu a salvei de entrar no carro com dois caras estranhos que você nem mesmo sabe se têm
antecedentes criminais. — Paro de andar e me viro para ela. — Sabe onde estão os pais deles?
Onde eles moravam? Se têm mais irmãos? Se a ficha deles é limpa?
Tessa ergue uma das sacolas e bate no meu quadril com ela.
— Cale a boca antes que eu voe no seu pescoço, vadia! — solta um gritinho, dando-me as
costas, e começa a andar para longe de mim.
Um trovão ressoa no céu, e olho para ele, vendo que, assim que saíssemos do
estacionamento, iríamos enfrentar uma enorme chuva. Segundo as previsões, seria o dia todo de
chuva, e eu começo a repensar o que eu fiz.
Se eu não tivesse negado a carona, a essa altura já estaríamos perto de casa. Mas prefiro
morrer a ter que admitir isso. Caminhar faz bem para as pernas.
Corro com dificuldade até Tess.
— Você me espere, sua ingrata!
Olho-me no espelho e encaro o meu reflexo horrendo, acompanhado por grandes olheiras e
uma expressão cansada. Eu mal preguei o olho, estudando para outro exame, coisa que já era
rotineira. Não sei o que é descanso quando o assunto são as provas da universidade
Reúno meu cabelo em uma mão, decidindo se o amarro ou o deixo solto. Talvez, se eu
escolhesse qual o melhor, eu poderia, junto com minha bermuda legging que vem um pouco
acima do meu joelho e um moletom azul-claro, me dar uma aparência mais descansada. Até
coloquei um gloss incolor nos lábios para não ficar com cara de morta.
Solto meu cabelo e aceno com a cabeça. Vou deixar solto.
Eu ando até a minha mochila e a pego, saindo do quarto logo após. Passo pelo corredor e
vou em direção à cozinha, onde encontro Tessa em pé com o quadril apoiado no balcão e uma
torrada na boca, mexendo no próprio celular.
Ela está vestida com um top branco sem alças, uma jaqueta jeans um pouco grande e uma
saia do mesmo tecido. Sorrio quando noto em sua cabeça os fios loiros que vêm até sua cintura.
Tessa sempre gostou de mudar o cabelo, ela enjoa com facilidade e, além de usar os fios
naturais, também usa laces ruivas, roxas e rosas. A de que eu mais gosto é a loira.
Ela ergue o olhar para mim, parecendo notar minha presença.
— Deveria prender o cabelo, vai combinar mais com a sua roupa. — Ela guarda o celular e
bebe um gole de seu suco.
— Estudantes de moda são sempre tão intrometidos. — Eu reviro meus olhos com um
sorriso e ando até uma cadeira em que me sento, depois coloco minha mochila aos meus pés.
Tess se afasta do balcão e anda lentamente até mim, terminando de mastigar o resto de sua
torrada. Ela para logo atrás da minha cadeira e reúne meu cabelo em suas mãos.
Viro o pescoço para olhá-la.
— Eu a conheço, aposto que ficou horas na frente do espelho pensando se prendia ou não o
cabelo. — Ela sorri sarcasticamente, indicando, com o queixo, meu pulso sobre a mesa. — Me
dê o elástico.
— Você colocou câmeras no meu quarto? — Dou o que ela pediu e a encaro com
incredulidade.
Tess força minha cabeça para ficar ereta, mantendo meus olhos fixos à frente,
especificamente no balcão onde ela estava há um minuto.
— Ah, me poupe, eu a conheço desde os oito anos — zomba, e posso jurar que a vejo
revirar os olhos. Aposto que ela fez isso.
— Mas não deixa de ser estranho, parece que você estava lá no quarto comigo. — Encolho
meus ombros, fingindo estar arrepiada.
Tessa ri e coloca alguns fios da minha franja para a frente, deixando-os cair no meu rosto de
maneira despojada. Então, sinto-a erguer meu cabelo para cima, bem no meio da parte de trás do
meu cabelo e, após dar algumas voltas no elástico, ela o prende.
Pego meu celular em minha mochila e a coloco de volta no lugar, ligando a câmera logo em
seguida para encarar minha imagem. Sorrio ao ver que ela tinha razão e giro a cabeça para o
lado, vendo o rabo de cabelo perfeitamente alinhado.
— Obrigada — agradeço, e ela beija o topo de minha cabeça e se afasta de mim.
Tess dá a volta na mesa e puxa a cadeira à minha frente, depois se senta nela. Em seguida,
estica a mão e pega a jarra de suco, colocando um pouco no copo ao seu lado e se servindo de
mais uma torrada.
— Quero falar com você sobre Adam… — Tessa começa, passando geleia na torrada.
Franzo meu cenho.
— Vocês brigaram? — questiono, e ela nega com a cabeça.
— Só o estou achando muito estranho ultimamente e quero saber se não é coisa da minha
cabeça… — Ela me olha enquanto limpa os cantos da boca. — Ele mal fica com a gente na
universidade, parece que anda nos evitando.
— Também percebeu que ele só está andando com roupas maiores que ele? — Ergo minhas
sobrancelhas, e ela assente rapidamente.
— Meu Deus, sim! — Arregala os olhos pretos. — Então não sou a única.
— Qualquer um veria a mudança que Adam teve nos últimos dias, Tess — eu digo, pegando
uma torrada. — Será que a desgraçada da Melody tem algo a ver com isso? — Olho-a, alarmada.
— Só se ela estivesse batendo nele e o obrigando a se afastar de nós. Mas ela não chegaria a
tanto… — Tessa tenta sorrir, mas arqueio uma sobrancelha. — Chegaria? — Seu sorriso morre.
— Você ainda tem dúvidas? — eu mordo a torrada antes de abandoná-la no meu prato,
perdendo a fome com a possibilidade de tudo isso — Aquela filha da puta é pura radiação,
totalmente abusiva com Adam. E pelo jeito que ele anda distante da gente, ela finalmente está
conseguindo afastar ele de nós.
— Não podemos deixar isso acontecer, Ally. Precisamos afastar Adam dela… — Tess
engole em seco, e há uma preocupação evidente em seu rosto.
Solto um longo suspiro e deixo minhas costas descansarem na cadeira. Tessa sempre foi
como a mãe do nosso pequeno grupo composto por quatro pessoas. Ela também sempre pensou
além, o que não ajuda em nada, já que ela sofre antecipadamente.
Mas, desta vez, minha melhor amiga não está preocupada à toa. É a situação do nosso amigo
que parece se afundar cada vez mais em uma relação tóxica sem sequer estar notando. E Adam
sempre foi como nosso bebê.
— Poderíamos colocá-la dentro de uma caixa e transportá-la para um lugar bem longe, tão
longe quanto o quinto dos infernos. — Sorrio animada, tentando descontrair o clima tenso.
— O quinto dos infernos é logo abaixo de nós, Ally.
— Você me entendeu.
Tessa sorri e revira os olhos, negando com a cabeça enquanto afasta os fios longos e loiros
de seu ombro.
— Você tem que parar de assistir a séries que envolvam traficantes, Allyson — ela me
repreende, mas ainda sorrindo. — E o que mais sugere? Que a matemos? — brinca.
Arqueio minhas sobrancelhas e deixo minha cabeça pender lentamente para o lado, alguns
fios da minha franja cobrem um dos meus olhos. Minha melhor amiga pacifista parece
horrorizada quando arregala os olhos e balança as mãos em frente ao corpo em um gesto
negativo.
— Você não está cogitando essa ideia… — murmura, olhando-me chocada.
— Sabe, não é tão difícil como parece. Só precisamos descobrir como dar fim ao corpo… —
Sorrio como o Coringa.
— Allyson, você ainda está assistindo a casos criminais antes de dormir?
Franzo minhas sobrancelhas.
— Como você sabe?
— Entrei no seu quarto ontem à noite e a encontrei dormindo tranquilamente enquanto uma
mulher detalhava como um cara degolou uma pessoa. — Ela treme o corpo, parecendo estar
arrepiada. — Como consegue pegar no sono vendo aquilo?
— Sei lá, isso me deixa relaxada. — Dou de ombros.
Tessa nega com a cabeça, pegando seu copo de suco e o levando aos lábios.
— Você tem gostos estranhos, minha amiga.
— Você está olhando para uma futura perita criminal, Tess. — Jogo meu rabo de cavalo
para trás em um gesto convencido e sorrio. — Esperava o quê?
— De você? Eu aprendi a não esperar nenhuma normalidade. — Tessa joga um pedaço de
torrada na minha direção.
Inclino meu corpo para o lado e desvio segundos antes de atingir meu rabo de cavalo.
— Por que você está me julgando? — Coloco as mãos na cintura e arqueio uma sobrancelha.
— Eu não a julgo por assistir a vídeos de pessoas remodelando roupas de brechó.
— Ei, o que você tem contra meus vídeos? — Cruza os braços.
— E o que você tem contra os meus? — Imito seu gesto.
Tessa bufa, e sinto alguém descansar o queixo peludo na minha coxa. Olho para baixo e
encontro Justin a bocejar, então acaricio suas orelhas em uma espécie de bom-dia.
— Tudo bem, tudo bem. — Ela me dispensa com a mão e sorri maliciosamente. — Não sou
eu quem irei ter pesadelos à noite.
— Cuidado, Tess. Eu sei que você não dorme descoberta. — Devolvo sua provocação e
sibilo a próxima palavra lentamente: — Nunca.
Minha melhor amiga estreita os olhos em minha direção e os revira, limpando de sua mão os
farelos de sua torrada há muito tempo abandonada. Bem, a minha não está muito diferente.
— Por que não para de gracinhas e pensa em uma solução para afastar nosso amigo daquela
vaca? — ela diz, e abro a boca para responder, mas ela é mais rápida. — Sem que envolva
mortes nisso, não seja doente.
Faço beicinho, fingindo estar decepcionada, enquanto sinto Justin se afastar de mim e ir em
direção à sua tigela de ração já cheia. Obra de Tessa.
— Que pena… — eu brinco, e ela ri.
— Mas estou aberta a negociações sobre mandá-la para longe. — Balança as sobrancelhas,
mas vejo seus ombros murcharem logo após. — Adam nos odiaria, não é?
Como resultado, também sinto meus ombros murcharem.
— Ele é muito legal para sentir raiva, mas não sei se quero enfrentar o olhar de decepção em
seu rosto caso façamos algo com Melody… — suspiro.
Tessa faz uma careta, e o pequeno nariz com um piercing de pedrinha na narina esquerda se
enruga.
— Estamos falando como se fôssemos matar a garota.
— E não vamos?
— Allyson!
— Estou brincando, pelo amor de Deus! — Jogo meus braços para o alto de modo
exasperado.
E realmente estava, mas o fato de Melody ter algo a ver com a abrupta mudança do meu
melhor amigo me cega de raiva, mas também faz meu peito doer por vê-lo passar por isso e não
poder fazer nada, porque foi a escolha dele, como aconteceu comigo um ano atrás. Kevin poderia
não me bater ou tentar me afastar dos meus amigos, mas ele ainda não valia nada, e meus amigos
sabiam disso. Mas eu preferia me manter cega e surda diante disso. Parecia ser melhor do que
encarar a realidade, a realidade de que meu namorado não aguentava ver um rabo de saia.
— Vamos tentar abrir os olhos dele com delicadeza, sabe? É dá vida pessoal dele que
estamos falando… — Tessa une as mãos em cima da mesa e brinca com as enormes unhas.
Assinto de maneira perdida, franzindo meus lábios e os movendo de um lado para o outro.
— Ok, mas só precisaríamos de uma cova vazia e então… — Paro de falar quando Tessa se
levanta abruptamente.
— Você não tem juízo, Allyson! — Ela sorri incrédula e pega a própria mochila, começando
a se afastar de mim e saindo da cozinha.
Levanto-me rapidamente da cadeira e coloco nossos pratos e copos na pia, indo em direção a
Justin e lhe fazendo um carinho entre as sobrancelhas, onde eu sei que ele gosta.
Então, afasto-me dele e pego minha mochila no pé da mesa, depois a jogo em meu ombro
enquanto corro na direção de Tess.
— Calma, estou só brincando!

— Amorzinho!
A voz melodiosa de Kat é a primeira coisa que Tessa e eu escutamos ao nos aproximarmos
dos nossos armários, encontrando-a fechando o dela.
A garota de franja rosa joga a mochila preta sobre o ombro, corre até a namorada e se joga
em seus braços. Tessa abraça sua cintura e enfia o rosto em seu pescoço. Quando se afastam,
grudam os lábios em um selinho demorado e um sorriso cheio de significados.
Reviro meus olhos, pondo as mãos na cintura.
— Talvez exterminar todos os casais felizes da face da Terra contribuísse para um mundo
melhor — eu resmungo.
As duas pareceram finalmente notar minha presença insignificante, e Kat sorri
venenosamente, passando o braço pela cintura curvilínea de Tessa, que apoiou o antebraço em
seu ombro.
— Inveja, Ally? — Kat provoca.
— Tanta que estou arrancando meus cabelos — debocho com um suspiro dramático.
Seu sorriso venenoso some e é substituído por um largo e verdadeiro, revelando o piercing
de smile que ela tinha. Kat solta Tessa e anda na minha direção com os braços abertos e
receptivos.
Arqueio uma sobrancelha.
— Venha cá, Ally — chama alegremente, e dou um passo para trás.
— Não precisa, valeu… — Sorrio de maneira desajeitada e dou mais um passo para trás,
esbarrando em alguém. Olho para trás e arregalo meus olhos ao ver Tessa. — Como diabos você
veio parar aqui?
— Não vou contar meus segredos, apenas aproveite nosso carinho — minha melhor amiga
diz e olha para a namorada. — Vá, Kat, abrace-a!
No instante seguinte, minhas amigas me prendem em uma gaiola que elas preferem chamar
de abraço, e sou sufocada por um aperto sem igual. Elas riem, e é impossível não rir de volta,
mesmo que eu não seja muito chegada a contato físico, especialmente os carinhosos.
Mas, mesmo que elas saibam disso, não deixam de me abraçar quando podem. Tudo porque
elas também têm conhecimento do quanto eu tenho dificuldade em demonstrar meus
sentimentos.
Acontecia a mesma coisa com Kevin. Eu gostava muito dele, mas eram raras as vezes em
que eu era carinhosa. Talvez fosse por isso que ele me tra… Não, Ally. Não vá lá. Não foi sua
culpa.
Carinhosa ou não, sempre fui uma namorada que estava ali para ele. Minha dificuldade em
demonstrar afeto não influenciou em nada a falta de caráter de Kevin.
— Podem me soltar agora, lindas — eu dou tapinhas nos quadris de ambas — Podem
apostar que aproveitei muito bem o carinho. Juro, até me sinto menos invejosa.
Elas riem e param de me abraçar, afastando-se. Tessa sai de trás de mim e vai para o lado da
namorada, encarando-me com um sorriso nos lábios cobertos por um gloss.
— Você só não gosta de abraços porque não achou a pessoa certa ainda — Kat diz, jogando
a franja rosa para trás.
— Eu não acredito nessa baboseira de “pessoa certa”. — Eu faço uma careta, mas, no fundo,
essa palavra me dá náuseas.
— Parece o meu primo Brandon falando, e hoje em dia ele está namorando e é um completo
idiota apaixonado que não consegue se afastar da namorada. — Tessa sorri, mas também torce o
nariz em uma careta.
Descanso meu ombro em meu armário e cruzo meus braços.
— Nesse caso, ele precisa de um psicólogo — zombo.
— Pode até ser… — Tessa dá de ombros e me olha com ternura. — Mas tudo bem se você
não estiver conseguindo arranjar um namorado, Ally. Eu entendo.
— O quê? — Abro a boca, chocada.
Kat pôs a mão em meu ombro, atraindo minha atenção para si.
— Tudo bem, Ally. Mesmo. — Acena com a cabeça e sorri docemente. — Entendemos que
talvez esteja difícil arrumar alguém e descontar essa frustração sexual de que você sofre. Afinal,
o mundo de hoje está um caos.
Essa vadia está insinuando que não consigo alguém?
Mesmo que eu saiba que é brincadeira delas e que Tessa está apenas me provocando e
zombando dos meus pensamentos cheios de lógica, ainda posso me sentir caindo em seus
joguinhos.
Maldito ego alto.
— Olha aqui, eu posso conseguir quem eu quiser! — digo, indignada, e olho para elas com
as mãos na cintura enquanto sorrio. — E, para provar, eu vou transar com o primeiro cara que
me cumprimentar hoje.
Um pouco extremo, eu sei. Eu não faria isso, mas é meu orgulho em jogo.
— Bom dia, Allyson.
A voz grave e rouca carregada com um sotaque inconfundível faz meu corpo estremecer e
meus pelos se arrepiarem em conjunto. Viro-me lentamente para olhar para trás e encontro olhos
cinzentos e um sorrisinho de lado, revelando uma covinha idiota, enquanto ele vem até nós. Tudo
exatamente do jeitinho que o diabo gosta.
Escuto as meninas rirem e olho para elas, talvez eu tenha feito isso com um pouco de
desespero demais, porém eu tenho que deixar algo claro.
— Não. Com ele, não. Nunca. — Nego com a cabeça, dando ênfase à última palavra.
— Perdi alguma parte? — Chase pergunta assim que par diante de nós, e me mantenho sem
olhar para ele.
— Apenas Ally em processo de negação, porque infelizmente ela sempre cai no próprio ego
— Tessa diz, tentando controlar o riso.
Mas o sorriso que ela me dá não é mais do que sugestivo e cheio de cumplicidade, como se
só ela soubesse como foder a minha vida, ou estivesse gostando do fato de ser Chase a ter me
cumprimentado primeiro.
Não poderia ficar pior.
— Eu estava blefando. — Sorrio docemente, mas carregada de deboche.
— E amarelando também. Diga, Ally — Kat sorri como uma cobra e enrola uma mecha de
cabelo em seu dedo —, tem algo a ver com quem o universo lhe mandou?
Ranjo meus dentes e estreito meus olhos em sua direção, cogitando se Tessa me odiaria
muito se eu matasse sua namorada e jogasse seu corpo em um lugar que nunca encontrarão.
— Volto a repetir: perdi algo? — ouço Chase perguntar e, dessa vez, noto a confusão em seu
tom.
Eu ainda não olhei para ele. Algo dentro de mim quis devolver seu bom-dia, mas a educação
não tem espaço onde o ódio entra. Ou será que tem?
— Esqueça, Chase. Estamos só brincando com Allyson. — Kat balança a mão no ar, como
se dispensasse o assunto, e apoia o cotovelo no ombro de Tessa. — Você tem namorada?
Sinto, mesmo sem querer, minha orelha triplicar de tamanho diante da fofoca que viria neste
instante.
— Não, não tenho — ele diz, e eu sorrio sarcasticamente.
Foi um gesto tão natural que nem mesmo consegui pensar em segurar. Querem a verdade?
Eu nem mesmo me esforcei.
— Insuportável desse jeito, quem aguenta? — eu resmungo baixinho, olhando para meus
tênis brancos com os cadarços perfeitamente amarrados.
— Você não abre a boca para me dar um bom-dia, mas o faz para zombar da minha vida
amorosa, Ally? — Chase atira, e ergo a cabeça para ele, ignorando a intimidade com que ele
disse meu nome.
Por alguma razão, sinto o calor subir por meu pescoço e terminar em minhas bochechas,
queimando-as. Seus olhos claros me encaram com um divertimento notório, e senti-me uma
criança mal-educada.
— Bom dia — digo, desviando meus olhos para minhas amigas.
Ambas não parecem se importar em esconder o sorriso em seus rostos, sorriem como duas
idiotas. Belas amigas.
— Não é tão difícil, vê? — ouço Chase provocar e volto a olhar para ele, que sorriu. — E,
da próxima vez, aprenda a resmungar, ouvi tudo.
— O quê? Eu não resmunguei — nego, tentando juntar minha dignidade.
Os olhos acinzentados de Chase se estreitam em minha direção, e ele torce os lábios
minimamente para o lado. Um gesto quase inexistente, mas que fez a covinha em sua bochecha
dar olá.
Só agora reparei que ele está vestido com um moletom preto e o capuz sobre a cabeça
cobrindo os fios castanhos, antes de ele sorrir. Parece estar se divertindo, bom, porque eu não
estou.
— Sim, resmungou — ele insiste.
— Eu não, está doido? — Faço-me de desentendida mais uma vez.
— Fare lo scemo non funziona con me, gattina. — Ele aperta os olhos, agora me olhando
intensamente.
Aperto as alças de minha mochila e ergo minhas sobrancelhas ao escutá-lo falando em
italiano. O timbre da voz dele muda e, puta merda, eu nunca poderia negar que é muito sexy.
Tem algo no seu olhar e em como seus lábios se mexem.
Limpo minha garganta.
— Fale minha língua — mando, olhando para minhas amigas.
Com os olhos em mim, Kat se inclina na direção de Tessa e sussurra algo em seu ouvido, e
tenho certeza de que foi algo relacionado a mim pelo modo como Tessa me olha, e elas caem na
risada.
Por que diabos não estão mais conversando com Chase?
— Não gosta ou não entende quando falo em italiano? — Chase pergunta, e o encontro com
a sobrancelha arqueada.
— Eu não entendo, mas odeio muito.
O sorriso mais malicioso se abre nos lábios de Chase, como se ele estivesse prestes a fazer
sua maior vigarice neste exato momento.
Ele se aproxima e se curva em minha direção, e é impossível não notar o quão alto ele é.
— Da quello che sto realizzando, odi un sacco di cose. — Ele me olha nos olhos e ergue
meu queixo com o seu indicador direito, e um sorriso de lado se abre em seus lábios. — Gattina.
A fúria sobe por meu corpo e se instala em meu peito, fazendo-me ranger os dentes. Bato em
sua mão e dou um passo na direção do bastardo. Se antes eu tinha dúvida de que ele gostava de
me provocar, agora tenho a certeza.
— Você se diverte sendo um idiota? — cuspo.
— Com toda a certeza.
Olho-o, incrédula.
— Também não tem um pingo de vergonha na cara.
— Isso soa tão entediante, gattina… — Chase suspira dramaticamente, e cerro meus
punhos.
— Você está começando a me irritar — rosno, bem diante de seu rosto.
Estávamos tão perto que pude sentir o cheiro de seu perfume e o quanto ele cheira bem.
— Me mostre o que tem — sussurra, rindo de mim.
— Seu grande filho da… — paro de falar quando meu braço é puxado para trás.
Olho na direção da pessoa e vejo Tess encarando o corredor com as sobrancelhas erguidas.
— Olhe lá, é Adam! — Ela aponta para o nosso amigo andando em nossa direção.
Mas, ao contrário do que imaginávamos, ele não para ao nosso lado. Pelo contrário, ele nem
mesmo nos viu e passou direto, parecendo ter pressa. Adam para diante de seu armário e nos dá
as costas, sem mais nem menos.
Observo seu moletom amarelo maior que seu corpo, principalmente as mangas agarrando
seus pulsos. Adam sempre as ergue até seus cotovelos.
— Acham que ele nos viu? — Tessa é quem pergunta, confusa.
— Se ele tivesse visto, teria parado… — eu digo.
— Vamos até ele. — Kat faz menção de ir até Adam, mas seguro o braço dela e a paro.
— Não, vamos dar um susto nele. — Sorrio e começo a andar nas pontas dos pés em direção
a Adam.
Ele está com a cabeça baixa e de frente para um armário, perfeito para receber um susto.
Eu me preparo para fazer isso quando ele ergue o braço direito e abaixa a manga do
moletom um pouco, revelando arranhões, marcas de unhas e alguns hematomas roxos. Eu franzo
o cenho e pego o pulso direito dele com delicadeza, virando-o para mim.
— O que é isso, Adam? — Olho para o braço dele e, em seguida, para ele, com os olhos
arregalados.
— Eu que pergunto, não precisava me dar esse susto — ele diz e tenta puxar o braço do meu
aperto, quando Tessa, Kat e Chase se aproximam, mas não deixo.
— Me diga que isto aqui é consequência de um sexo bem selvagem. — Eu o olho
atentamente.
Ele abaixa o rosto, e foi necessário apenas isso para eu confirmar as minhas suspeitas. Eu
olho para Tessa e Kat e vejo que elas também já tinham sacado tudo.
— Foi a Melody, não foi? — Tessa pergunta calmante, e solto o braço de Adam.
— Não precisa contar se não quiser, mas estamos preocupadas. — Kat se aproxima dele. —
Foi ela? — ela pergunta, e Adam ergue os olhos para ela.
— Foi — ele confessa baixinho.
— Isso! — Sorrio largamente e faço menção de ir procurar Melody pela universidade,
quando Adam segura a minha mão direita.
— Não, Allyson. — Ele me puxa para perto. — Ela só anda um pouco estressada, depois
passa — ele sorri.
— Uma porra que passa, Adam — eu digo entredentes. — Desta vez ela passou dos limites,
você tem que terminar com ela. — Eu seguro a mão dele.
— Ally tem razão, não vamos mais aceitar que ela o trate desse jeito. — Tessa se aproxima
dele.
— Não mesmo. — Kat nega com a cabeça.
— Ela vai mudar — Adam diz com os olhos perdidos.
Adam…
— Não, não vai.
Chase diz, e olho para ele, lembrando-me da sua presença.
— Primeiro ela começa a tratá-lo mal e a fazê-lo se sentir culpado por coisas que não eram
sua culpa. Depois ela o despreza na frente dos amigos dela e coloca defeitos inexistentes em
você. E depois… — Chase ergue os olhos para ele — e depois ela começa a lhe bater ou a
machucá-lo minimamente, mas ela lhe pede desculpas e diz que não vai fazer mais. Mas aí ela o
machuca de novo, não só fisicamente, mas mentalmente também, até você se tornar dependente
emocional dela.
Chase arruma o capuz sobre a cabeça e volta a colocar as mãos nos bolsos do moletom
preto.
— Termine com ela antes que ela termine com você e o faça chorar por madrugadas inteiras
pensando onde foi que você errou, mesmo não tendo culpa de nada e tendo dado tudo de si no
relacionamento. — Chase dá de ombros e sorri. — Mas é só um conselho.
Em seguida ele acena com a cabeça e se vira, começando a andar para longe de nós como se
não tivesse dito o que disse segundos atrás.
Eu o encaro até ele sumir em um corredor e inclino a cabeça para a direita. Tudo o que
Chase disse foi tão pesado e específico que é totalmente impossível ele ter dito isso apenas
escutando a nossa conversa com Adam. Parece mais que isso. Era como se… como se ele tivesse
passado por tudo isso.
E, mesmo que eu saiba que nada disso é da minha conta, não posso evitar me sentir curiosa.
Cada palavra que saiu da boca dele veio com o peso de uma grande experiência nas costas e, seja
o que for que tenha acontecido com Chase, não quero que aconteça o mesmo com o meu amigo.
Viro-me para Adam.
— Vamos conversar.
A minha mão bate com tanta força na bola que sinto minha palma queimar, e a sensação
irradia por todo o meu braço quando pouso e fixo meus pés no chão. Movo meu olhar para
minhas companheiras de equipe e vejo o momento em que uma delas pula para fazer a defesa,
mas não o suficiente para conseguir.
— Tente pular mais alto, Clary — Karen manda, e olho para ela, encontrando-a com as
mãos na cintura.
Alguém para ao meu lado, e viro o rosto para ver que é Clary. Ela revira seus olhos e imita a
postura de Karen do outro lado da quadra.
— Quando o técnico volta? — ela pergunta com uma carranca.
Não é novidade nenhuma que as meninas da equipe não estão mais aguentando Karen. Acho
que até ela sabe disso, mas parece não se importar.
Puxo meu short preto para baixo e presto atenção à conversa.
— Não sei, quando ele sair do hospital, talvez? Uma fratura na perna não é fácil de sarar. —
Karen sorri debochadamente e me olha. — Tente correr mais rápido também, Allyson. Você está
um pouco lenta, assim não vai conseguir salvar as bolas no dia do jogo.
Arqueio uma sobrancelha.
— Já estou dando tudo de mim… — murmuro, enxugando minha testa coberta de suor.
— Não é o que está parecendo — ela diz, e franzo o cenho.
— O que está querendo dizer com isso? — E coloco as mãos na cintura, um pouco
desacreditada do que ela insinuou. — Que eu estou fazendo corpo mole?
Karen arregala os olhos e coloca a mão no peito.
— Não quis dizer isso, sinto muito. Só quero que nosso time vença… — Ela sorri
envergonhada.
— Não vamos vencer se nos matarmos no treino, Karen. As garotas já estão no limite. —
Indico-as com a cabeça.
Algumas delas estão sentadas no chão, e outras com as mãos apoiadas nos joelhos,
descansando.
— Tem razão, desculpa. — Karen encolhe os ombros.
Passo a língua pelo interior da minha bochecha esquerda e concordo com a cabeça,
— Você ficou com raiva? — Karen me olha com a testa franzida.
— Não. — Sorrio, mas o gesto não alcança meus olhos.
Foi mais como algo para não prolongar o assunto chato e dar fim ao clima tenso. Mas eu não
consigo agir como Karen, toda amigável.
Eu realmente não fiquei com raiva, mas por que estava assim? Embora Karen seja a
definição de alguém legal, eu não sinto a menor vontade de fazer amizade com ela. Não tenho
vontade de fazer amizades com ninguém, na verdade, sempre fui fechada e bastante seletiva. Mas
com Karen é… é diferente.
— Que bom. — Ela sorri largamente e olha para o resto do time. — Sinto muito, meninas.
Vocês podem ir, treino encerrado.
As garotas comemoram, e eu ando em direção aos bancos, pegando uma toalhinha branca.
Enxugo o suor do meu rosto e pego minha garrafinha de água ao lado da minha mochila, depois
a abro e tomo um grande gole.
Meu corpo está dolorido, e minhas articulações queimam com as minhas pernas. Karen me
fez correr pra caralho, mais do que as outras garotas do time. Como vocês viram, segundo ela,
estou um pouco lenta, o que não acho que seja verdade, mas às vezes não conseguimos ver
nossos defeitos, não é?
Jogo a toalhinha no banco e fecho a garrafa de água antes de colocá-la no bolso da minha
mochila e jogar esta por cima do meu ombro. Faço uma careta quando o sinto doer, lembrando
que caí por cima dele minutos atrás quando tentei salvar uma bola.
— Estou indo nessa — anuncio e começo a andar em direção à saída, ouvindo algumas
despedidas.
Estico o pescoço, doida para chegar em casa e descontar minha vontade de matar Melody
em documentários de serial-killers. Nunca fui uma pessoa que pudesse ser considerada paciente,
estou espumando para arrancar o aplique loiro da cabeça dela. Mas prometi a Adam que não faria
nada e vou cumprir.
Afinal, mesmo que eu esteja com raiva, ainda não tenho o direito de bater na garota, e isso é
um problema que Adam tem que resolver sozinho.
Adam contou para nossas amigas e para mim que Melody vinha batendo nele já tinha um
tempo. Na primeira, ela o agrediu, mas não deixou marcas. Pediu desculpas e disse que não faria
mais. Mas aí veio a segunda vez, e ela deixou as unhas em sua pele e, ao contrário do que meu
melhor amigo esperava ansiosamente, não teve um pedido de desculpas como antes.
É impressionante como o amor nos deixa cegos. Podemos ser traídos ou agredidos, mas a
vontade de tentar de novo sempre vai estar ali. Por sorte, nunca sucumbi a ela.
— Ei, Allyson! — Escuto alguém me chamar e olho para trás, vendo Karen correr na minha
direção com sua mochila nas costas.
Franzo minhas sobrancelhas.
— Você tem algum aviso sobre o time? — pergunto quando ela se aproxima.
— Não, não. Só queria saber se podemos ir para casa juntas. — Ela sorri para mim,
começando a andar ao meu lado.
— Mas não moramos perto uma da outra. — Arqueio a sobrancelha, confusa.
— Não tem problema, estou de carro — ela diz enquanto balança uma chave em frente ao
meu rosto. — Eu a deixo em casa.
Lambo meus lábios ressecados e paro de andar, colocando uma mão na cintura.
— Olha, não precisa fazer isso. Não quero lhe dar trabalho. — Sorrio sem jeito e nego com
as mãos.
— Eu faço questão, ainda estou envergonhada por ter sido grossa com você. — A morena
encolhe os ombros.
— Não me senti atacada, Karen. — Franzo o cenho e mantenho meu sorriso forçado. — Se
está querendo se redimir por aquela bobagem, relaxa. Não precisa me levar em casa.
— Mas eu faço questão! — Ela sorri largamente e entrelaça o braço dela ao meu, grudando-
se a mim. — E é bom que assim nos conhecemos melhor.
Atordoada pelo excesso de energia da garota agarrada ao meu braço, não sei o que dizer.
Sempre soube que Karen é como uma bomba de extroversão que esbanja sorrisos por onde passa,
mas, neste momento, ela está me irritando completamente por invadir meu espaço pessoal desse
jeito e por não dar ouvidos às minhas negações.
Abro a boca para dizer que não quero ir com ela, mas Karen olha para a frente e ergue as
sobrancelhas escuras e bem desenhadas em surpresa.
— Que surpresa agradável, senhoritas. — Ouço a voz de Kevin e olho em sua direção,
vendo-o vir até nós.
Reviro os olhos, quase gemendo de irritação. Por Tony Stark, teria como este dia ficar pior?
Eu devo ter sambado no túmulo de alguém para merecer tal castigo.
— O que você quer, Kevin? — Sou ríspida, olhando para ele com falso tédio, apenas
tentando camuflar ou ignorar a dor no meu peito ao vê-lo.
— Você pode ser mais carinhosa comigo? — Ele sorri, pegando minha mão. — Sabe que
estou acostumado com o seu jeitinho, mas vamos lá.
Rapidamente afasto minha mão da dele como se tivesse tomado um choque e faço uma
careta enojada. No geral, odeio que estranhos me toquem, mas Kevin fazer isso me enche de
repulsa.
Ele é tão bonito, por que não poderia ter mais cérebro ou caráter? O que adianta ele ter o
cabelo perfeito com fios caindo em seus olhos e um físico perfeito, mas não ter um pingo de
decência ou consideração em seus ossos?
A paixão é uma coisa burra e engraçada, não é?
— Own, tadinho de você. — Faço beicinho, mas, em seguida, fecho a expressão para uma
mais indiferente. — O que você quer?
Ele suspira, e Karen alivia o aperto em meu braço.
— Tudo bem, tudo bem. — Kevin sorri de lado. — Estava à sua espera, vou levá-la para
casa.
A risada escapa dos meus lábios antes que eu pense em rir.
— Quando você decidiu isso, Kevin? — Irritada, solto meu braço do aperto de Karen e
coloco as mãos na cintura, olhando para o babaca à minha frente.
— Não seja assim, linda. — Ele gira as chaves do carro com uma expressão de cachorro
abandonado.
— Não, não seja assim você. — Olho-o de cima a baixo e cruzo meus braços. — Me deixe
em paz e procure o seu rumo.
Kevin revira os olhos, parecendo começar a perder a atitude relaxada.
— Deixe disso, Ally — ele bufa, as sobrancelhas unidas em uma carranca. — Já basta o seu
cachorro ter me mordido e rasgado a minha calça.
— Você mereceu apenas por ser um pé no saco irritante que não sabe ouvir um não e por
tentar invadir meu apartamento. — Sorrio debochadamente.
— Tudo o que tentei fazer foi reatar nosso namoro.
Abro a boca, chocada com a cara de pau dele.
— Apenas porque você levou chifres! — Aponto para ele.
Ao meu lado, Karen ouve tudo com as sobrancelhas erguidas. Deve estar imaginando
quando um convite para uma carona se transformou em uma briga sobre chifres.
— Como sabe sobre isso? — Kevin une as sobrancelhas e sorri.
— As notícias correm, Kevin. Exatamente como aconteceu quando você fez comigo.
Ele abre a boca para falar, mas a fecha como se tivesse pensado melhor e respira fundo.
— Você vai comigo para casa ou não? — Kevin pergunta, impaciente.
Dessa vez, sou eu quem entrelaça meu braço no de Karen e gruda meu corpo ao dela, como
se a garota fosse um escudo entre mim e Kevin.
— Não, já vou para casa com Karen.
A capitã do meu time, vulgo meu escudo, retira lentamente o braço do meu e dá um passo
para longe de mim.
— Olha, não quero ficar entre briga nenhuma. — Ergue as mãos em sinal de rendição.
— Tudo bem para você ela ir comigo, não é, Karen? — Kevin sorri, o mesmo truque que ele
usava para ter tudo o que queria.
— Ah, não. Tudo bem. — Karen sorri largamente, e ergo minhas sobrancelhas.
— Mas não está tudo bem para mim — digo rudemente.
Kevin dá um passo em minha direção, e dou dois para trás. Não quero ficar perto dele,
Kevin me fez muito mal. Ele ainda faz. Não importa que eu não goste tanto dele como gostava
há um ano, mas ainda não superei sua covardia.
Foi uma dor infernal.
— Pare de ser orgulhosa, Allyson. — Kevin revira os olhos e sorri de lado. — É só uma
carona.
— Que eu não pedi a você.
Karen agarra meu braço, e olho para ela, vendo o sorriso bobo em seu rosto perfeito e cheio
de sardas.
— Ouça o que ele tem a dizer, Ally. As pessoas mudam — ela me diz.
Primeiro Karen invadiu meu espaço pessoal e quase me obrigou a aceitar a carona que ela
ofereceu quando eu disse que não precisava. Agora ela age como se fosse uma psicóloga na
terapia de casal e me dá conselhos quando os chifres não estão na cabeça dela? Karen deveria dar
uma passadinha no dicionário e olhar o significado de livre-arbítrio.
Puxo meu braço do de Karen, quando avisto alguém atrás dela. Chase está indo em direção a
uma BMW preta enquanto gira as chaves do carro nos dedos. Por que ele ainda está na faculdade
uma hora dessas?
Ignoro essa dúvida quando a simples soma invade minha mente. Chase+carona+longe de
Kevin = meu apartamento.
Volto a olhar para Kevin.
— Esqueci que já tinha marcado de ir para casa com outra pessoa — digo, virando-me e
indo em direção a Chase.
Não espero que nenhum deles abra a boca para apertar o passo, querendo desesperadamente
sair dali, de perto de um filho da puta com sérios problemas de caráter e uma garota tão amigável
que chega a ser sufocante.
— Allyson! — Kevin grita atrás de mim.
Eu ranjo meus dentes e corro a uma pequena distância até Chase, vendo-o abrir a porta do
carro. Se entrar na toca do diabo me fizesse ficar longe de outro, eu estaria mais do que disposta
a me arriscar. Afinal, nenhum pode ser pior do que aquele que traiu minha confiança.
— Ei, Chase! — eu o chamo assim que me aproximo.
Meu vizinho vira o rosto para me encarar, e seu semblante se ilumina.
— No que posso… — ele se interrompe, arregalando os olhos quando o empurro para o lado
e entro no carro.
Passo pelo banco do motorista e me sento no banco do passageiro, colocando minha mochila
entre as minhas pernas. Ergo as mãos para afastar os fios da minha franja que caíram em meu
rosto quando Chase pôs a cabeça para dentro do carro.
— Não me lembro de ter dito que poderia entrar, mas faço agora. — Um sorriso debochado
se estica em seus lábios. — Fique à vontade, gattina.
Estreito meus olhos em sua direção quando eles foram para a pessoa vindo até nós. Arregalo
meus olhos.
— Entre, entre! — Agito a mão desesperadamente, chamando-o.
Chase olha para trás e em seguida entra no carro como eu mandei. Ele fecha a porta e trava
as trancas, deixando-me protegida de Kevin lá fora, ou talvez encurralada com ele mesmo aqui
dentro.
Mas, novamente, qualquer coisa é melhor do que ficar com Kevin.
— Dirija, dirija! — Bato no ombro dele quando vejo meu ex-namorado cada vez mais perto.
Chase enfia as chaves no carro e o liga, dando partida de maneira muito habilidosa.
Olho para trás e vejo o carro se afastar de Kevin, deixando-o para trás. Suspiro, aliviada por
não ter que explicar o básico do porquê não queria ir para casa com ele, e relaxo no banco,
abraçando minha mochila contra o meu peito.
Alguém pigarreia ao meu lado, e dirijo meu olhar para a pessoa, encontrando Chase. Engulo
em seco, lembrando-me de que foi na caverna dele que busquei refúgio.
— Você costuma se jogar no carro das pessoas com frequência? — Chase pergunta com um
sorriso repuxando seus lábios.
Seus olhos estão focados na rua; os meus, nele.
— Não costumo pensar com clareza quando estou desesperada. — Sorrio docemente,
encarando-o. — Se eu estivesse em mim, teria preferido me jogar da ponte.
— Muito contraditório da sua parte dizer isso depois de invadir o meu carro! — ele diz,
levando um cigarro aos lábios.
Encaro como a carne avermelhada se fecha sobre o cigarro e aperto meus olhos quando ele
dá uma tragada.
Chase para o carro no sinal e solta a fumaça no lado de fora do carro, deixando que o vento a
leve embora. Ele gira o pescoço para me encarar, arqueia uma sobrancelha e vê que eu já fazia o
mesmo que ele.
— Não prefere tirar uma foto, Ally? — pergunta com um tom sacana, segurando o cigarro
entre os dedos. — Sabe, não me importo. Sou muito fotogênico.
— E humilde também, pelo visto — zombo, revirando os olhos.
— Fico feliz que esteja notando minhas qualidades — Chase fala, novamente dando partida
no carro. Ele sorri de lado, de modo a revelar a covinha. — Mas ainda não acho que seja motivo
para você se jogar em cima de mim desse jeito.
Apertei minha mochila.
— Eu não estava… — grunho com os dentes cerrados, mas calo-me no último instante.
Respiro fundo. — Eu não teria entrado justo no seu carro se não estivesse desesperada para fugir.
Chase me olha rapidamente com a sobrancelha arqueada e então volta o foco para a rua. O
gesto não levou dois segundos.
— De quem estava fugindo? — questiona, dando uma tragada no cigarro.
Franzi meus lábios, não querendo falar de Kevin. Muito menos com esse cara.
— Não é da sua conta.
— É da minha conta no momento em que você invade meu carro sem ser convidada — ele
diz, levando a mão com o cigarro ao peito. — E se você acabar me prejudicando também? Não
pensa no bem-estar do próximo?
Um sorriso doce, mas extremamente falso se abre em meus lábios.
— Não seja por isso, querido vizinho — suspiro dramaticamente e agarro a maçaneta da
porta. — Pare o carro, quero descer.
— Mesmo que você não admita, sou muito legal e vou deixá-la no nosso prédio. — Chase
faz uso do cigarro uma última vez antes de jogá-lo pela janela.
Olho para trás e franzo meu cenho com seu ato.
— Alguns minutos ao seu lado e posso ver como se importa com o planeta. — Não poupo o
sarcasmo em minha voz.
Chase sorri e diminui a velocidade para entrar em uma rua. Sem querer, meus olhos descem
para os seus braços, vendo como as mangas do seu moletom estão erguidas até os cotovelos,
exibindo as tatuagens.
São inúmeras, tanto que é impossível olhar para todas. Mas não posso negar que as rosas
gêmeas que ele tem tatuadas nas costas das mãos chamam mais a atenção.
— Estou mais preocupado comigo — ele ri, um som grave e rouco. — Depois da secada que
você me deu, temo ficar pior do que o Saara.
Desvio meus olhos e os miro para a frente, sentindo minhas bochechas queimarem por ele
ter descoberto meu vacilo. Negue, Allyson. Negue até a morte, esse patife não tem provas e você
pode acusá-lo de delírio.
— Não vai me deixar descer? — Ergo uma sobrancelha, e ele nega com a cabeça.
— Não — diz com simplicidade.
— Sabia que essa merda se enquadra como sequestro? — pergunto entredentes.
Chase sorri.
— Só não tente pular a janela — ele provoca.
Um sorriso malicioso se abre em meus lábios, e retiro meu celular do bolso de minha
mochila e o desbloqueio. Digito o número da polícia e clico em chamar, colocando o aparelho na
orelha.
— Para quem está ligando? — Chase pergunta.
— Não é óbvio? Para a polícia — respondo de maneira simples.
O celular é arrancado da minha orelha inesperadamente, e olho para a única pessoa presente
no carro que poderia ter feito isso.
— Ficou maluca? — Chase pergunta incrédulo, desligando a chamada enquanto presta
atenção às ruas.
Puxo meu celular de sua mão e bato a palma no vidro ao lado da minha cabeça, mostrando a
ele o quão louca eu posso ser.
— Eu quero sair da porra deste… — paro de gritar quando o carro passa em cima de um
quebra-molas e minha cabeça vai ao encontro do teto.
Instantaneamente a agarrei, debruçando meu corpo para a frente quando um gemido
doloroso escapou dos meus lábios. Senti o local latejar, irradiando dor por cada pedacinho do
meu crânio.
— Che cazzo! — Chase grita em italiano, e o carro para de repente.
Eu movo minhas mãos para o topo da minha cabeça, tentando aliviar a dor mesmo que eu
saiba que, neste exato momento, não é possível.
Chase agarra minhas mãos e me vira para ele, erguendo meu rosto para si. Eu gemo de dor
quando ele toca o topo da minha cabeça com a ponta dos dedos e abro a boca para dizer que isso
dó como o inferno quando algo me chama a atenção.
— O que foi que você disse? — pergunto, franzindo minhas sobrancelhas.
— Eu não disse — Chase ignora meu olhar confuso, e seus dedos não abandonam a minha
cabeça nem por um momento.
Fecho um dos olhos em reforço.
— Disse, sim, quando eu bati a cabeça — eu o lembro.
— Che cazzo? — ele pergunta com um sotaque forte.
— Sim, isso mesmo! — digo e olho para baixo, buscando em minha memória. — Onde foi
que eu já ouvi isso antes?
Eu tenho certeza de que já ouvi alguém dizer isso… mas quem?
— Dói muito? — Chase muda de assunto, chamando a minha atenção.
Seus dedos vagam bem no local atingido, e bato em suas mãos, voltando a me sentar ereta.
Eu não escondo a expressão raivosa em meu rosto quando encaro o dele.
— Eu quase tive um traumatismo craniano por sua culpa — acuso, jogando minha mochila
no seu abdômen.
Chase agarra-a e me olha, alarmado.
— Minha? — Ele ergue as sobrancelhas e sorri com sarcasmo. — A culpa é sua de não ter
ficado quieta e de ter gritado como uma gazela dentro do carro. O destino deu um jeito de você
ficar quietinha.
É a minha vez de o olhar, chocada com suas palavras. Tomo minha mochila de suas mãos de
maneira rude, agarrando-a contra o meu peito como uma forma de proteção.
— Uma… uma gazela? — pergunto, incrédula.
— E muito desafinada, por sinal — Chase balança as sobrancelhas desafiadoramente.
Uma risada sarcástica e involuntária desliza dos meus lábios, circulando pela droga do carro,
que me deixará louca se eu não sair dele em cinco segundos.
Estou a um passo de me tornar um dos casos criminais que eu sou tão obcecada em assistir.
E, se eu fosse esse idiota, teria cuidado com uma mulher que sabe como esconder um corpo.
Tudo bem, nenhum crime se mantém no silêncio para sempre, mas eu me esforçaria para que o
desse filho da puta se mantivesse.
— Não fique sem palavras, Ally. Estou brincando. — Chase sorri de maneira cafajeste,
tocando meu queixo com o indicador.
Estapeio sua mão e mostro os dentes a ele.
— Não me chame pelo meu apelido, nós não somos amigos.
Chase estala a língua no céu da boca e suspira dramaticamente.
— Così ombrosa. — Ele mantém o sorriso.
— Corte o papo-furado e me leve para casa agora, porra — mando grosseiramente, depois
me viro para a frente com a intenção de ignorá-lo.
Chase solta uma risada nasal e, pelo canto do olho, também o vejo se virar. Sem fazer mais
nenhuma gracinha, ele maravilhosamente me obedece e liga o carro, dando partida.
Aperto minha mochila com força, não dando importância ao fato de estar amassando-a
contra o meu peito e possivelmente arruinando o material.
Embora esteja literalmente bufando de ódio, não consigo conter o impulso de, pelo canto dos
olhos, observar Chase dirigindo. O cretino continua quieto, passando bem longe do provocador
que estava sendo minutos atrás e, calado como está agora, poderia até dizer que é suportável.
Arregalo levemente os olhos quando percebo o que eu estava pensando e passo minhas mãos
por meu rosto. Desculpa, mãe, por um momento quase esqueci que não devo baixar a guarda
perto do inimigo.
Alguns minutos se passam, e avisto meu prédio logo à frente. Chase estaciona o carro em
uma vaga no estacionamento do edifício, e não penso duas vezes antes de jogar minha mochila
em meu ombro e descer assim que ouço as trancas serem abertas.
— Obrigada. — Sou curta e grossa, afinal ainda tenho educação, mesmo que com Chase seja
mínima.
Bato a porta do carro com talvez um pouco de força demais e caminho a passos rápidos para
longe do estacionamento. Tudo o que eu quero é um pouco de paz. Estou cansada e desejo
apenas tomar um longo banho e retirar a roupa do treino. É pedir muito?
Vou em direção ao elevador e entro nele; Chase faz o mesmo com sua mochila nas costas.
Ele cruza os braços e se apoia nas paredes do elevador. Sinto seu olhar queimar, mas continuo
com o pensamento positivo de que, se eu ignorar, logo passará.
O elevador para no nosso andar, e saio rapidamente dele, ainda sentindo como eu estou
possessa de raiva. Mas melhorarei quando eu estiver na minha cama, dormindo tranquilamente.
— De nada por tê-la trazido para casa, Ally. — Escuto Chase dizer com sarcasmo logo atrás
de mim.
Cerro meus punhos e continuo a ir em direção ao meu apartamento.
— Vá se foder! — Ergo o dedo do meio para ele.
Paro diante da minha porta e vasculho minha mochila em busca das minhas chaves.
— Cuidado ao passar pela porta, andei ouvindo rumores… — Chase diz maliciosamente.
Eu paro e giro meu pescoço como o exorcista. Foi tão violentamente que pude jurar que ouvi
meu pescoço estralar pela força exercida.
Rumores? Esse desgraçado está falando dos meus chifres? Porra, esse é o meu limite.
— Agora eu te mato! — rosno, erguendo minha mochila para jogar nele.
Chase desvia dela como se não fosse nada, e ela vai direto para dentro do apartamento dele,
que já se encontrava aberto. Eu corro na direção do italiano desgraçado, que tomou um susto e
também correu para onde minha mochila estava.
Invado o apartamento e passo os olhos pela sala, não vendo nenhum sinal de Chase. Bufo,
nem um pouco interessada em ficar brincando de pique-esconde. Faço menção de me virar para
ir embora quando ouço a porta ser fechada e meu braço ser agarrado.
Sou lançada contra a porta e me preparo para xingá-lo quando Chase coloca ambos os
braços na porta e ao redor da minha cabeça, prendendo-me. Seu corpo se aproxima do meu, e
ergo lentamente o rosto para olhá-lo, encontrando seus olhos acinzentados a me encarar com
intensidade.
Minhas pernas falham e, nesse momento, desaprendo a respirar. Deus, eu estou tão ferrada.
Meu corpo, totalmente encolhido contra a porta, tenta manter o máximo de distância de
Chase. Ignoro também seu perfume, que parece muito eficaz em me atordoar de muitas maneiras,
e nem uma delas é boa. Bom, pelo menos é no que eu quero acreditar.
Encaro seus olhos cinzentos, tentando não prestar atenção o estranho olhar que ele está me
dando agora e fingindo que a aproximação de nossos corpos não está me afetando. Ergo meu
queixo.
— Não devia atirar coisas nas pessoas, Allyson — Chase diz com a voz baixa e o rosto
próximo do meu. Até demais.
— E você não deveria me irritar — digo entredentes, não perdendo o foco.
A raiva é maior do que qualquer quedinha que eu venha a ter por seu rosto.
— Você é realmente muito raivosa, pensou na terapia que eu disse? — ele pergunta com um
sorriso, e sinto meu sangue ferver.
— Pensou em se foder como eu disse? — Sorrio falsamente.
— Já, mas não tem graça sozinho — Chase inclina a cabeça para o lado, mantendo o sorriso.
A sem-vergonhice de suas palavras me acerta em cheio, e ergo minhas sobrancelhas,
incrédula. Esse cara é tão descarado que até alguém sem filtros como eu fica desconcertado.
Amo piadinhas de duplo sentido, mas eu só faço isso com as pessoas íntimas a mim. Mas
Chase parece totalmente desinibido e altamente extrovertido. Bom, isso segundo o dicionário,
mas, na minha tradução, ele é nada menos do que um safado pervertido.
— Own, tadinho. Talvez você se interesse em comprar um vibrador — debocho, tentando
esconder meu nervosismo.
— Um vibrador não é o que eu gosto, Ally… — ele murmura de maneira rouca, inclinando-
se para mais perto.
Está aí de novo o maldito direito que ele acha que tem de me chamar pelo meu apelido,
aquele pelo qual só meus amigos e familiares me chamam. E Kevin, que perdeu totalmente o
poder de me chamar assim.
Mas ele ainda faz, mesmo que eu odeie.
Ergo meu queixo para o homem à minha frente, arqueando uma sobrancelha para ele.
— E do que é que você gosta, Chase? — pergunto com desdém.
Ele abaixa a cabeça, e engulo em seco quando ele leva a boca até a minha orelha esquerda.
Seu hálito quente acaricia meu pescoço. Sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem e mantenho
meus olhos acima do seu ombro.
— Gosto de uma boceta quente e apertada em torno do meu pau… — ele sussurra com a
voz rouca.
Sinto meu corpo estremecer e minha respiração se acelerar com as palavras de Chase. Eu me
arrepio todinha quando falam putaria no meu ouvido, coisa que não deveria acontecer com ele.
Céus, por que sou tão cachorra assim?
Eu poderia culpar a minha frustração sexual, afinal, é mais do que compreensível. Porém,
sempre fui alguém que segue a lógica no lugar das emoções, e isso não mudaria agora.
Chase se afasta o suficiente para que eu possa encarar seus olhos claros.
— Esqueça qualquer interesse que tiver por mim, italiano. — Sorrio, zombeteira.
Chase faz uma espécie de beicinho.
— Quem disse que estou interessado em você? — Ergue uma sobrancelha castanha, mas não
se afasta.
— Não está? Melhor ainda. — Mantenho meu sorriso e cruzo meus braços entre nossos
corpos. — Prefiro acreditar que estou sob efeito de drogas e alucinando.
— Acredite, deveria se sentir honrada por ter um cara como eu interessada em você. —
Chase analisa meu rosto, e um sorriso cheio de significados se abre em seu rosto. Ele dá de
ombros. — Hipoteticamente falando, é claro.
Suspiro dramaticamente.
— Não me interesso por caras que zombam das pessoas — digo firmemente.
Chase ergue as sobrancelhas.
— Não zombei de você.
Bufo uma risada nasal.
— Ah, não? E que merda foi aquela sobre ter cuidado ao passar pela porta? — Ranjo meus
dentes.
Arqueio uma sobrancelha, minha expressão dizendo: Ah, não?
— Ok, tudo bem. Posso ter feito uma brincadeirinha… — Ele concorda com a cabeça e
encolhe os ombros. — Peço perdão por isso, apenas gosto de vê-la irritada.
Engulo em seco, ignorando seu último comentário para perguntar o que estava me matando
desde que ele fez o comentário sugestivo.
— Como ficou sabendo? — questiono, com medo.
Não que eu me importe com o que qualquer pessoa pense sobre mim, mas não queria
ninguém comentando como fui tristemente traída e blá-blá-blá.
— Ouvi alguma coisa ou outra. — Chase dá de ombros.
— O quê? — Mordo o lábio, algo que sempre faço quando ansiosa.
— Nada que pareça verdade. — Sorri, baixando o tom de voz.
Solto meu lábio e cravo as unhas na madeira da porta. Seus olhos descem para a minha boca,
vagam por meu rosto e tornam a focar minhas íris.
Seu sorriso se aprofunda, e é meio que impossível não encarar suas íris quando parecem tão
fundas. Tão ridiculamente charmosas. Mas também, por mais que deteste Chase, não posso negar
o quão bonito ele é. Porém, toda essa beleza não pode me fazer esquecer o que foi dito: que as
pessoas ainda comentam sobre o ocorrido. E coisas ruins, pelo visto.
— Uh, você está me encarando como se quisesse me devorar — Chase provoca, colocando
uma de suas mãos no peito. — Vamos com calma, sim? Sou tímido e ainda não tivemos nosso
primeiro encontro.
Paro de pensar naquilo e reviro meus olhos.
— Que fofo, você é do tipo romântico? — Bato meus cílios para ele.
— Sim, ainda sou puro e só transo depois do casamento. — Sorrio.
Não seguro o sorriso involuntário que escapa dos meus lábios e mordo meu lábio para parar,
mas é impossível.
— Que legal, essa informação edificou muito a minha vida. — Sorrio.
— Você parece ter gostado muito, está toda arrepiada. — Ele vaga os olhos pelos meus
braços e molha os próprios lábios. — Virgens a excitam, Allyson?
— Ah, não viaja. Só estou com frio — digo e perco a fala quando seus olhos se
escureceram. Pigarreio. — E também… também já viu as minhas roupas? Elas não ajudam
muito.
Ok, talvez eu esteja arrepiada por tê-lo por perto, mas quem iria admitir isso? Eu com
certeza não.
— Sim, já vi. — Chase me olha nos olhos e inclina a cabeça para o lado. — E sei
estremamente bella con loro.
— Fale na minha língua — mando, confusa.
Chase volta a abrir um de seus sorrisos de criança atentada e, nesse momento, sei que,
qualquer que fosse o clima amigável que havíamos criado, ele foi ido para o espaço.
— Você não é um ser humano legal, não é? — suspiro.
— Non se preferisci i cattivi. — Ele pisca.
Cerro minha mandíbula e o empurro para longe de mim, lembrando-me de que o deixei ficar
muito perto e nem havia me dado conta.
Afasto-me de Chase.
— Você não tem jeito. — Nego com a cabeça e pego minha mochila, que estava próxima a
nós. Ando até a porta e lhe lanço um último olhar. — E fique longe de mim, não quero
problemas com você.
Chase coloca as mãos nos bolsos de seu moletom e mordisca o lábio antes de sorrir de
maneira cafajeste.
— Mi dispiace, ma non posso più farlo dopo che mi hai sorriso.
Dessa vez, não digo mais nada, apenas abro sua porta, passo por ela e a fecho.
Tiro a chave do apartamento de dentro da minha mochila e em seguida abro a porta, depois a
fecho. Solto a respiração, que nem sabia que estava segurando, e passo as mãos por meu rosto,
negando com a cabeça.
É incrível como Chase parece com uma criança quando encontra um brinquedo novo, e esse
brinquedo novo é a minha paciência. O idiota sabe que ela é curta.
Com passos cansados, caminho em direção ao meu quarto e vejo Justin Bieber sair dele e
correr na minha direção. Ele pula em cima de mim, coloca as patas no meu quadril e abana o
rabo sem parar.
Ele tem um ano, mas para mim sempre terá dois meses de vida, que era sua idade quando o
ganhei do meu pai.
— Também senti saudades. — Faço carinho em suas orelhas, e ele volta a ficar no chão
sobre as patas.
Ele late, e sorrio, começando a andar em direção ao meu quarto quando lembro que Tessa
dormiria com a namorada hoje.
Abro a porta e entro, atirando a minha mochila. Retiro minha blusa do treino e a deixo cair
no chão, ficando só de top preto. Justin entra no quarto correndo e vem até mim, cheirando
minhas pernas como se estivesse sentindo o cheiro de algo que nunca sentiu antes.
— O que foi? — pergunto, coçando minha cabeça. — Não encostei em nenhum outro
cachorro hoje.
Justin não para de me cheirar, pelo contrário, fica ainda mais insistente ao tocar a ponta dos
meus dedos com o focinho.
E então lembro com quem eu estava há alguns minutos.
— Porém, um chihuahua me agarrou. — Faço uma careta enquanto retiro meu short. Ergo
uma sobrancelha. — Um chihuahua italiano. Acha que conta?
Justin late e lambe meus dedos, ficando mais agitado.
— É o cheiro dele que você está sentindo em mim? — Apanho minha blusa do chão e a levo
ao nariz.
O perfume masculino que só poderia ser de Chase invade meu olfato, e afasto minha blusa,
encarando-a quando também sinto o cheiro de algo parecido como o cigarro.
Mas não é incômodo, longe disso, já que o perfume se sobressai. É malditamente atrativo.
— Está vendo a dor de cabeça que a sua dona está sofrendo? — Olho para Justin e suspiro.
Ele tenta pegar minha blusa, mas a afasto dele, pegando meu short do chão. Ando até o
banheiro e paro diante dele, depois retiro meus tênis.
Entro no banheiro e retiro minha roupa íntima, colocando o resto das roupas no cesto. Ligo o
chuveiro e rapidamente vou para debaixo dele, deixando que a água molhe o meu cabelo e lave
qualquer resquício do perfume de Chase em mim e, principalmente, alivie a tensão em meus
ombros.
Reúno um pouco de água em minhas mãos e molho meu rosto, esfregando meus olhos.
Respiro fundo, quase gemendo, enquanto a água quente massageia meu corpo.
Após tomar banho, visto meu roupão e saio descalça do banheiro. Vou até meu guarda-
roupa e tiro uma calcinha, um short de dormir preto de tecido fino e uma camisa larga vermelha.
Tiro a toalha do meu corpo e visto as roupas, depois estendo a toalha no banheiro.
Quando volto, vejo Justin deitado na minha cama com a cabeça nas próprias patas e me
aproximo dele para lhe fazer um carinho, quando ele desvia da minha mão e me dá as costas.
Franzo meu cenho por seu comportamento incomum.
— O que houve, garoto? — pergunto, e ele late, ainda sem me olhar. Arregalo meus olhos
— Espera aí… não vá me dizer que está com raiva porque você gosta do cheiro de Chase?
Estou indignada, meu próprio cachorro parece gostar do meu irritante vizinho e, como agiu
agora, está se mostrando estar no time dele, coisa que não faz sentido, já que dizem que um
cachorro é leal. Bom, não é isso que está parecendo.
Bufo e subo na cama, entrando debaixo das cobertas. Cruzo meus braços e o encaro.
— Talvez eu o dê para um abrigo… — resmungo.
Justin rosna e pula da cama, deixando-me para trás, totalmente chocada. É o fim dos tempos
mesmo.
— Allyson, não era você quem não gostava de grude? Por que está me abraçando assim? —
Adam pergunta quando eu abraço sua cintura e entrelaço minhas pernas às dele no sofá da minha
sala.
É sábado, e nada melhor do que assistir a um filme com alguns amigos. Eu preciso relaxar
minha mente, já que os estudos são tudo o que está na minha cabeça nesses últimos dias.
Tudo bem, eu meio que estou aqui no meio deles, porque tiveram que usar a força. Não que
eu esteja aqui com meus amigos obrigada, nada disso. Mas eles me tiraram do meu quarto e da
tela do notebook antes que eu tivesse um desgaste mental.
— E não gosto — murmuro, afundando meu rosto no pescoço dele.
— E por que você está abraçada a mim há mais de dez minutos? — ele pergunta, confuso.
Porque você merece muito carinho.
Merece todo o carinho que a desgraçada da sua namorada não lhe proporcionou durante todo
esse tempo. Merece pelo simples fato de ela o ter feito se sentir péssimo quando você, na
verdade, é incrível.
E talvez eu também esteja precisando por não ter superado Kevin flertando com Karen
ontem. Não que tenha sido o fim do mundo, foi mais como um grande incômodo por ver que ele
nunca vai mudar. Voltar com Kevin seria como um suicídio da minha dignidade e, mesmo que
eu não tenha muita depois de todos esses anos com ele, ainda tenho o meu orgulho.
— Você me lembra o Justin — digo, apertando-o ainda mais contra mim.
— Está dizendo que eu pareço um cachorro?! — A voz de Adam soa indignada.
— É fofo como um. — Beijo sua bochecha e ouço minhas amigas rirem.
Afasto um pouco a cabeça e olho para elas, encontrando Tessa com a cabeça no colo de Kat
enquanto esta acaricia seus cabelos loiros, ambas com os olhos vidrados no filme que passa na
TV.
— Vocês estão perdendo o filme — ela diz.
— É Ally que está agarrada a mim como uma macaca! — Adam belisca minha vida
esquerda — Me solte, estou com calor!
— Não, você é meu bebê! — Eu o aperto mais forte, e ele ri e acaricia meu joelho.
Mesmo que Adam diga que está incomodado, sei que é brincadeira. Mais do que ninguém
em nosso círculo de amizade, ele é o mais carinhoso.
— Acho que Allyson está doente… — ouço Kat murmurar.
— Que nada, eu acho que é só carência — Tessa brinca.
Estreito meus olhos em sua direção, ofendida com essa óbvia verdade.
— Então que acabe essa carência com outro, tenho namorada — Adam diz, risonho.
Essas última duas palavras são como repelente e me obrigam a soltá-lo. Sento-me de
maneira repentina e o olho.
— Pensávamos que já tinha terminado com ela.
— Eu vou, mas eu sou fiel. — Ele faz um biquinho.
— Bom garoto. — Sorrio e acaricio a cabeça dele.
Adam segurou a minha mão e mordeu meu indicador, fazendo-me arregalar os olhos.
— Além de rebelde, é canibal… — murmuro, limpando a baba do meu dedo na roupa dele.
Ele apenas ri e abraça uma almofada, ignorando minha careta de nojo.
— O que vocês acham de irmos a uma boate amanhã? — Tessa levanta a cabeça das pernas
de Kat e nos olha, cheia de esperança.
— Seria uma boa, assim a gente leva Adam para ele se distrair. — Kat sorri largamente. —
E Allyson também.
Encolho meus ombros e puxo minhas pernas em direção ao meu peito.
— Eu por quê? — pergunto, mesmo já sabendo a resposta.
Tessa é quem pisca para mim, como se dissesse “Nós a conhecemos, boba”, e eu apenas
sorrio minimamente, lembrando-me de que elas com certeza estranhariam meu excesso de
carinho.
— Ah, não. Eu não gosto muito de boates… — Adam nega com a cabeça e encolhe os
ombros.
— Eu também não gosto, mas vai ser uma boa para você. — Sorrio para ele e enrolo uma
mecha do meu cabelo no dedo. — E, pelo que disseram, para mim também.
— Mas, e se depois que eu terminar com a Mel, ela ficar sabendo que fui à balada? — Ele
ergue as sobrancelhas, apreensivo.
Eu não deveria julgá-lo por pensar assim, foi exatamente o que fiz ao terminar com Kevin.
Mas, mesmo que namorá-lo e dizer para onde eu ia fosse rotina, ela se encerrou. Logo, eu não
devo mais satisfações a ele.
— Ela não tem mais nada a ver com a sua vida — Kat diz, olhando-o atentamente.
— Exato, Melody não tem que opinar em mais nada — Tess completa.
Assenti várias vezes com a cabeça.
— E, se ela não gostar, nós podemos…
Adam me interrompeu.
— Ally? — ele me chama.
— Sim?
— Você iria falar para matá-la e esconder o corpo dela, não iria? — Arqueia uma
sobrancelha.
Coloquei um sorriso inocente em meus lábios, e foi a minha vez de encolher os ombros.
— Talvez? — Solto uma risadinha sem graça.
Adam revirou os olhos.
— Por que você é assim? — ele pergunta, querendo rir.
— É o meu jeitinho… — Eu bato os cílios para ele e coloco uma mecha do meu cabelo atrás
da minha orelha.
Ele e as garotas riem, e o toque inconfundível do meu celular ressoa na sala, fazendo-me
olhar para o meu colo. O nome “Mãe” brilha na tela, e corrijo minha postura no sofá.
— Por que não estou surpresa com o toque do seu celular ser Baby, de Justin Bieber? — Kat
pergunta, sorrindo.
— Eu sou uma belieber fiel — eu me defendo.
— Vocês têm que ver em dias de faxina — Tessa suspira, voltando a deitar a cabeça no colo
de Kat. Ela sorri. — Fico para morrer quando ela repete as mesmas músicas do Justin Bieber.
Pego meu celular e o ergo em frente ao meu rosto, colocando meu indicador em frente aos
meus lábios.
— Silêncio! — eu mando, antes de abrir a chamada de vídeo da minha mãe.
A mulher de cabelos castanhos, cuja cor herdei, aparece na tela olhando para a direita,
provavelmente conversando com meu pai e meu irmão. O papo dos meus amigos cessa, e Adam
se aconchega ao meu lado.
— Estou dizendo para você, Richard. Eu não gostei dessa garota… — minha mãe murmura
para o meu pai, ainda alheia.
— Boa noite! — eu digo com um largo sorriso, ganhando sua atenção.
Minha mãe olha surpresa e também faz menção de sorrir, mas suas sobrancelhas se
franzem.
— De quem é essa perna em cima das suas, Allyson? — ela pergunta, aproximando-se da
tela. Mamãe sorri maliciosamente. — Isso é perna de homem, danadinha?
Eu reviro meus olhos e sorrio.
— É Adam, mãe — digo, virando o celular para mostrá-lo.
Ele sorri largamente e se aproxima mais de mim.
— Oi, tia Sophia! — Adam acena para ela.
— Oi, Adam, meu lindinho! — Minha mãe sorri para ele. — Estou com saudades!
— Eu também, tia! — ele diz.
Eu sorrio debochadamente e volto a tela apenas para mim. Encaro minha mãe com um ar
de zombaria.
— Também estou com saudades da senhora, mãe — digo, sarcástica. Ela me dispensa com
a mão.
— Nós nos falamos quase todos os dias, Allyson. — Minha mãe faz careta. — Onde está
Tessa?
— Aqui, tia Sophia! — Tessa grita, e aponto a câmera do celular para ela.
— Oi, amor! Como você está? — mamãe pergunta, animada.
Sorrio incrédula, vendo como minha mãe parece mais animada em ver meus amigos do que
eu, sua filha. Estou começando a pensar que sou adotada.
— Estou bem, e a senhora? — Tessa sorri para ela.
— Estou bem também — minha mãe diz e arregala os olhos. — Essa é a sua namorada?
Que linda!
— Muito obrigada. — Kat sorri, envergonhada.
Eu imito seu sorriso com um mais zombeteiro ainda e paro de mostrá-las, sentindo meu
ciúme bater à porta. Eu sou um pouco possessiva, não me julguem.
— Mãe, onde está o papai? — pergunto.
Como se já estivesse esperando por isso, meu pai aparece na tela do celular com um sorriso
de orelha a orelha. Seu cabelo preto está um pouco mais grisalho do que dá última vez que nos
vimos, mesmo que ele ainda seja jovem.
— Oi, amor. Estou aqui! — Meu pai coloca as mãos nos ombros da minha mãe, atrás dela
— Estou com saudades.
— Eu também, pai — faço beicinho.
— Espero que minha filhinha esteja se alimentando bem — ele diz.
Eu sorrio e bato meus cílios para ele como a boa filhinha do papai que sou. Minha mãe faz
careta, negando com a cabeça, parecendo indignada.
— Incrível como vocês a mimam. — Ela sorri e revira os olhos. Mas então se inclina um
pouco mais como se tivesse uma fofoca para dizer. — Allyson, você sabia que seu irmão se
assumiu bissexual?
Curvo meus ombros e coço a ponta do meu nariz, e um sorriso amarelo se abre em meus
olhos.
— Eu meio que… já sabia — eu murmuro.
Minha mãe abre e fecha a boca, parecendo chocada. Ela põe a mão no peito.
— E por que não me contou? Eu sou um monstro? Até seu pai soube primeiro do que eu. —
Cruza os braços.
— Não era algo meu para contar, mamãe — suspiro, encarando-a. — E Adrien ficou com
receio de contar para a senhora e receber uma reação ruim. Sabe como ele te ama muito.
Minha mãe franze os lábios e torce o rosto em uma carranca, mostrando o quão chateada
está. Olho para o lado, vendo Justin vir correndo enquanto boceja. Ele acordou do seu sono de
sete horas.
— Mas eu nunca o julgaria ou a você por isso, pelo amor de Deus — ela diz, passando as
mãos no cabelo.
Meu pai coloca as mãos na cabeça dela e beija seus cabelos, um gesto que ele sempre faz
para acalmá-la.
— Nós sabemos, Sophia. Mas ele apenas sentiu medo, porque sua opinião importa muito
para ele — diz, beijando-a mais uma vez. Agora na testa.
Sua carranca se desmancha um pouco, e ela coloca a mão por cima da dele, que está em
seu ombro.
— Se serve de consolo, soube há pouco tempo. — Sorrio.
— Estou tentando dizer o mesmo para ela, mas sua mãe não me escuta — papai bufa.
Minha mãe revira os olhos, e um pequeno sorriso se abre em sua expressão naturalmente
fechada, assim como a minha. Eu sou completamente séria para o mundo, mas uma pessoa
totalmente diferente com quem eu amo, puxei isso da minha mãe e gosto de ser assim. Apavora-
me mostrar meu eu verdadeiro para alguém que não sabe me valorizar, de novo.
— Do que estava reclamando quando atendi à chamada? — pergunto.
Mamãe arregala os olhos, parecendo lembrar que tem algo importante para me dizer.
— Seu irmão está lá no quarto. Ele trouxe uma garota — ela diz, baixando o tom da voz. —
Deve ter dezessete anos como ele, mas a garota é muito estranha.
Meu pai bufa uma risada, e sorrio, ouvindo meus amigos rirem também.
— Por quê? — questiono.
— A garota entrou e nem mesmo nos cumprimentou.
— Talvez ela não tenha nos visto, querida. — Meu pai dá de ombros, coçando a
sobrancelha.
— Estávamos sentados no sofá, e ela olhou para a nossa cara assim que entrou, Richard! —
minha mãe grunhe. — Que tipo de pessoa não cumprimenta os sogros?
Meu pai suspira e nega com a cabeça, reprimindo um sorriso pequeno. É engraçado como
ele é calmaria, e minha mãe um furacão. Essa é a melhor definição para os dois.
Ele pega o celular da mão da minha mãe.
— Depois nos falamos, Ally. Sua mãe e eu temos que ir ao mercado — ele diz.
Eu mando um beijo para ele e me despeço, meus amigos fazem o mesmo. Justin sobe no sofá
ao meu lado e deita a cabeça em minhas coxas, bocejando mais uma vez.
Minha mãe também se despede e, em seguida, a chamada é encerrada. Desligo o celular e o
coloco ao meu lado, olhando para os meus amigos.
— Graças a Deus sua mãe gostou de mim — Kat assobia.
— Eu que agradeço todos os dias por ela gostar de mim — eu digo, e elas riem.
Sorrindo, brinco com as orelhas de Justin, cuja pata está em minha mão para ele colocar o
rosto nela.
Alguém bate na porta, e Tessa se levanta do sofá e anda em direção a ela. Eu volto a minha
atenção para a TV, que continua a passar o filme, que já parece estar no final. Justin se levanta
repentinamente do meu colo e desce do sofá, seu latido soa alto quando ele corre na direção de
Tessa.
Viro-me para ele, confusa.
— Boa noite — a voz rouca inconfundível dele se fez presente na sala, e meu olhar vai
direto para a porta —, vocês têm açúcar?
Chase está parado na minha porta com uma regata branca que revela quase todas as suas
tatuagens e com a mão esquerda no bolso de sua calça de moletom enquanto a direita segura uma
caneca. Seu cabelo está levemente bagunçado, e os lábios repuxados em um sorriso de lado.
Ele fixou seus olhos cinzentos em mim, e estreito os meus em sua direção. Vamos adicionar
também “cara de pau” às características de Chase Fontana.
Por 21 anos, nunca encontrei alguém tão descarado quanto eu, porque, por mais que eu fosse
uma pessoa fechada, não tinha papas na língua ou me impedia de fazer o que eu bem quisesse.
Tudo bem, nem sempre podemos ser tão… nós mesmos. Mas minha mãe me ensinou que eu
deveria apenas sentir vergonha de roubar ou matar e, bom, ela mentiu.
Mas, desde que Chase Fontana se mudou para o apartamento da frente, tenho visto que,
comparada a ele, sou a pessoa mais envergonhada da face da terra. É impossível que alguém seja
tão cara de pau como ele.
Eu não tenho mais dúvidas de que Chase vê minha paciência como um brinquedo jamais
visto, com o qual ele está muito entusiasmado para se divertir e fazer barbaridades. Mas que
pena, eu não estou a fim de dar o que ele quer. Já saquei qual é a desse cara e vou encerrar seus
joguinhos.
— Boa noite, Chase. Temos açúcar, sim. — Tessa pega a xícara que ele estende para ela e
me olha, esticando-a para mim. — Ally, pode ir pegar o açúcar.
Eu gostaria muito, muito mesmo, de agir normalmente e fingir que não escutei Tessa me
chamar. Mas eu, ela, Chase e meus amigos sabem que não sou surda e que prestei atenção à
conversa.
— Eu? — Ainda tento, colocando a mão no peito como se não tivesse entendido.
— Sim, você. Ela falou contigo. — Adam cutuca meu ombro com o indicador.
Mordo a língua para me impedir de xingá-lo ou sequer olhar feio em sua direção. Lá no
fundo, eu ainda tinha esperanças de que tinha ouvido errado.
Olho para Tessa.
— Desculpa, eu me distraí rapidamente com o filme.
Ela sorri, como se reconhecesse minha mentira. Por que ninguém nunca fala de como
melhores amigas podem ser tóxicas e invasivas? É o cúmulo que saibam até quando você está
mentindo.
— Claro, você gosta muito desse filme, não é? — Tess arqueia uma sobrancelha.
— Claro, sabe como amo… — Volto meu olhar para a TV, vendo o filme de romance.
Contenho uma careta ao dizer: — Esse tipo de gênero.
— Você gosta? — ouço Kat questionar, parecendo confusa.
Abro e fecho a boca algumas vezes, limpando minha garganta.
— Claro que sim — eu digo, por fim.
Olhei para Tessa, vendo o sorrisinho em seus lábios. Vagabunda.
Ela sabe que não é verdade, porque sempre deixei claro que preferia filmes de terror a
romances. Não que eu não goste, já vi um ou outro, mas não sei, tenho um fraco por coisas
macabras que irão me fazer ter pesadelos de madrugada.
Mas, por mais difícil de acreditar, durmo como um bebê quando assisto a um filme de terror.
Culpem meu pai, é influência dele.
— Venha, tome a xícara. — Tessa chama, balançando-a no ar.
Muito a contragosto, porém com o rosto inexpressivo, levanto-me do sofá e ando até eles a
passos lentos, querendo demorar o máximo possível.
Chase sorri de lado, parecendo se divertir. Vai rindo, filho da puta.
— Boa noite, Allyson — ele diz, e pude jurar que tinha algo malicioso em seu tom.
— Boa noite… — falo de volta, pegando a xícara da mão de Tessa. Então, pisco meus cílios
de maneira inocente e o encaro. — Diga-me, Chase. Se não me falha a memória, você não foi ao
mercado há poucos dias?
Tessa pigarreia como se estivesse me repreendendo, mas coloco um sorriso doce no rosto e
ignoro quando meu cachorro começa a cheirar Chase.
— Pietro e eu acabamos nos esquecendo de colocar no carrinho — Chase diz e coloca a mão
direita no peito, franzindo as sobrancelhas escuras. — Por que a pergunta? Você negaria uma
xícara de açúcar para um vizinho?
Mantenho meu sorriso.
— Depende, o vizinho em questão é você?
Minha melhor amiga me dá uma cotovelada discreta, e solto uma risadinha enquanto Chase
arqueia uma sobrancelha.
— Estou só brincando — eu rio.
Justin apoia as patas no quadril de Chase, que lhe faz um carinho nas orelhas.
— Que bom saber que você é tão divertida, vizinha. — Ele assente várias vezes com a
cabeça e sorri de lado, revelando a maldita covinha. — Afinal, seria triste se não fosse
brincadeira quando Deus mandou dividir.
— Mas, se não me falha a memória, ele disse isso sobre o pão, não sobre o açúcar — eu
digo e em seguida rio, cobrindo a boca com a mão. — Mas, claro, estou apenas brincando
novamente.
O sorriso de Chase se alarga, e é quase impossível não estreitar os olhos em sua direção.
Mas eu prometi não cair em seus joguinhos novamente.
— Pelo que vejo, caí de paraquedas no apartamento certo — Chase suspira dramaticamente.
— Estou tão contente por ter uma vizinha tão simpática quanto você.
Ranjo meus dentes diante de seu sarcasmo camuflado, tendo a certeza de que meu sorriso
deve ter ficado estranho de tão forçado. Justin continua a pedir carinho a Chase, e nunca me senti
tão traída em minha vida. Bom, já, sim, mas essa traição, com certeza, é a que mais está doendo.
— Sim, Ally é muito simpática e receptiva. — Tessa dá tapinhas em meu ombro, fazendo-
me lembrar que ela está aqui. — E, para mostrar todas essas qualidades, ela vai pegar o seu
açúcar.
Troco um olhar com ela, o meu dizendo “Eu vou?”, e o dela “Vai, sim”.
— Ally parece ser um exemplo a ser seguido, não é mesmo? — Chase sorri largamente.
Ouço meus amigos racharem o bico atrás de mim e olho para a pessoa que deveria honrar o
papel de melhor amiga e ficar ao meu lado, encontrando-a reprimindo um sorriso.
O sorriso que se abre em meus lábios não é nada mais do que robótico e extremamente falso.
— Vou pegar o açúcar — digo, quase como se rosnasse.
Dou mais uma olhada em Chase e em seu sorriso idiota e dou-lhe as costas antes que
passasse nos jornais de Nova York. Não é porque eu disse que não cairia em seus joguinhos que
não poderia matá-lo em minha mente.
E, mesmo que contra a minha vontade, eu ainda posso me lembrar de quando ele me
encurralou em sua porta e começou a me provocar. Seu corpo estava tão perto do meu que fez
minha pele formigar, e o seu maldito perfume ficou ao meu redor por horas, tão forte que até o
meu cachorro reconheceu.
Chase poderia ser um idiota, mas ainda era um dos caras mais lindos que eu já tinha visto
em toda a minha vida, e isso era praticamente uma tortura para uma mulher que não transava a
um ano. Qual é, meus hormônios estão à flor da pele. Talvez eu precise dormir com alguém
urgentemente como Tessa disse, apenas para aliviar meu estresse.
Balanço a cabeça e afasto esse pensamento. Eu não preciso transar e não estou estressada.
Eu pego o pote em que guardamos açúcar e encho a xícara de Chase, resistindo à minha
imaturidade de querer trocar por sal. Vamos lá, Ally, você é uma adulta.
Caminho de volta para a sala e firmo meus pés no chão ao ver a cena ultrajante à minha
frente: Tessa deitada em nosso sofá, em formato de L, com a cabeça nas pernas de Kat, e Adam
abraçado a almofada e assistindo ao filme que já devia estar no final.
Tudo normal até ver Chase sentado no meu lugar, ao lado do meu cachorro. Seus olhos
pousam em mim, e o sorriso de cretino aparece. Limpo a garganta e ando até ele.
— Aqui está seu açúcar, vizinho — eu digo assim que paro ao seu lado, pondo a xícara no
braço do sofá. Eu sorrio forçadamente. — Fico feliz que esteja bem à vontade.
O sorriso dele se alarga.
— Não sabe o quanto — diz e ergue as sobrancelhas. — Agora que me lembrei, você estava
sentada aqui, não era mesmo? Você se importa?
Sim, eu me importava totalmente que ele estava sentado em meu lugar, junto aos meus
amigos e meu cachorro, que parecia estupidamente confortável. Mas, ainda assim, mantive meu
sorriso falso, escolhendo Deus como caminho.
— Claro que não, posso me sentar em outro lugar — digo, quase grunhindo.
— Você pode? — ouço meus amigos perguntarem ao mesmo tempo, parecendo confusos.
Até eles sabem que não estou no meu normal. Mas tenho que continuar a fingir; se alimentar
esse cara com o que ele quer, será pior.
Chase não veio aqui só pedir o açúcar, ele também veio testar minha paciência para ver se
poderia lançá-la para cima e jogá-la como uma bolinha. É isso o que ele veio fazer.
— Claro — eu digo, olhando ao redor.
Infelizmente, o único lugar disponível é ao lado direito de Chase. Pelo visto, a vida está me
testando e morrendo de vontade de que eu gaste meu réu primário. Mas tudo bem, a partir de
agora, não alimentarei ainda mais a minha raiva.
Sento-me ao lado de Chase e coloco as mãos em minhas coxas, fixando meus olhos na TV.
O cheiro do perfume que eu já sabia ser dele me atinge em cheio, mas ignoro.
— Está gostando do apartamento, Chase? — pergunta Tess.
— Sim, meu irmão e eu estamos muito bem acomodados — ele responde.
Puxo minhas pernas na direção do meu peito, ouvindo a conversa.
— Onde está o seu irmão? — Adam pergunta ao meu lado.
— Está no trabalho, ele geralmente sai tarde — Chase diz e, pelo canto do olho, eu o vejo
esticar o braço no encosto do sofá, bem atrás da minha cabeça.
Folgado.
— E você, trabalha? — Kat pergunta.
Por estar olhando para o filme, tudo o que eu posso fazer é apenas ouvir a conversa, sem
muitos detalhes visuais.
— No momento, vou começar a trabalhar em uma oficina — Chase diz.
Por breves segundos, eu o imaginei vestido com um macacão caindo em seus quadris, uma
regata preta adornando sua cintura e o rosto sujo de graxa. Essa era uma visão tão atraente que
nem mesma eu poderia negar.
Balanço a cabeça, afastando esses pensamentos impostos por Satanás. Eu com certeza não
estou em meu juízo perfeito. Não mesmo.
Sinto um corpo grande se inclinar levemente contra a minha lateral e congelo.
— Espero que não esteja fantasiando comigo neste exato momento, Allyson… — Chase
sussurra com a voz rouca para que só eu escute, e sinto os pelos de minha nuca se arrepiarem.
Olho para o lado e me arrependo amargamente por ver o quão perto ele está.
— Fantasiando com como seria legal encharcá-lo de gasolina e lhe tacar fogo? — Sorrio
meiga.
Chase sorri de volta, fazendo-me ver sua covinha.
— Você tem a mente perturbada, meio que acho isso sexy — diz, mordendo de leve o
próprio lábio.
Cravo minhas unhas em minhas coxas, franzindo o cenho com suas palavras. Qual o jogo
dele?
— O que esperar de um pervertido? — debocho, voltando a olhar para o filme.
Mesmo baixa, sua risada chegou ao meu ouvido, e era tão gostosa que me deu vontade de rir
de volta. Algo parecido como quando alguém lhe conta uma piada ruim e você mais ri pela
risada da pessoa que contou do que, de fato, pela piada.
Justin lambe meu queixo, e o puxo para perto.
— Chase, você desenha tão bem — Kat diz, atraindo minha atenção para si. — Arrisco a
dizer que você é o melhor do nosso curso.
— Não é para tanto — Chase ri, mas pareceu envergonhado. — Você também é ótima.
Kat se curva para deixar um beijo nos lábios de Tessa, que sorri quando ela se afasta.
— Isso é porque eu tenho uma musa. — Ela sorri para minha melhor amiga enquanto
acaricia seus cabelos loiros.
— Por favor, né. — Adam ergue a palma da mão e nega com a cabeça. — Vamos respeitar
os pré-solteiros.
Sorrio ao ver Kat beijar Tessa mais uma vez em um claro sinal de provocação a Adam, que
jogou uma almofada nas duas.
Ambas reclamam, e abraço Justin ao sentir Chase se aproximar de mim novamente. Os
lábios macios roçam minha orelha, um gesto tão suave que é quase inexistente. Mas, ainda
assim, estava ali.
— O que acha de ser minha musa, Allyson? — sussurra.
E, como defesa, e algo muito comum visto por aqui, coloco um sorriso zombeteiro em meu
rosto. Eu me permito apenas esse confronto, não posso olhar para ele.
— E destruir seus desenhos? Parece uma boa proposta — eu zombo.
Chase ri, tão perto do meu pescoço que coloco a mão sobre ele quando sinto os pelos da
minha nuca se arrepiarem. Céus, o que tem de errado comigo?
— Sua simpatia é uma graça — ele diz ao se afastar.
Pelo canto do olho, eu o vejo se levantar com a xícara na mão, e Justin se afasta de mim,
descendo do sofá para ficar em pé ao lado de Chase.
Olho para ele.
— Não vai ficar e assistir ao final do filme com a gente, Chase? — Adam pergunta.
— Não, eu tenho que voltar para casa e resolver algumas coisas. — Ele sorri para Adam.
— É uma pena — Tessa diz, sentando-se no sofá. Ela sorri. — Apareça mais vezes,
podemos até marcar algo. Não é, pessoal?
Kathleen e Adam concordam, animados, mas fico calada. Prometi não falar nada? Sim. Mas
não disse nada sobre não protestar silenciosamente.
Olho para cima e encontro Chase a me encarar. Seu olhar diz que ele parecia esperar por
alguma coisa, talvez até mesmo minha resposta à fala de Tessa. O que ele quer que eu diga?
— Ficou calada, Ally. — Ele dá ênfase ao meu nome e coloca a mão no próprio peito. —
Vou pensar que não me quer por perto.
Mordo o interior da minha bochecha quando a palavra “bingo” está na ponta da minha
língua. Mas é como eu disse antes, sou educada e tenho muito controle emocional. Não caio em
joguinhos.
Ele quer que eu seja grossa para dar uma de bom moço.
— Seria uma maravilha ter sua ilustre presença mais uma vez, Chase. — Não consigo
esconder o sarcasmo em minha voz.
Droga, eu definitivamente caí em seus joguinhos.
— Dá para ver em seu olhar. — Chase sorri.
Desvio o olhar e o foco em meus amigos, que tem um sorriso besta e cheio de intenções no
rosto. Justin late, e olho para ele, vendo Chase fazer carinho em suas orelhas enquanto ele abana
o rabo.
Ele parece feliz, isso é claro, mas ultrajante, porque ele aparenta estar mudando de lado.
— Bom, obrigado pelo açúcar, pessoal. — Chase afasta a mão do meu cachorro e ergue a
xícara. — Mas agora tenho que ir, tenham uma boa noite.
— Boa noite! — meus amigos gritam para ele, e mantenho meus olhos na TV, recusando-
me a olhá-lo.
Por sorte, ele não diz mais nada para mim quando, pelo canto do olho, o vejo ir até à porta
do meu apartamento. Segundos depois, eu a ouço ser fechada, evidenciando que ele foi embora.
Deixo meu corpo tenso relaxar, mas, ainda assim, franzo meus lábios.
— Que cara é essa, Ally? — pergunta Kat, e olho para ela.
— Que cara? — Eu me faço de desentendida.
Tessa solta uma risada nasal.
— Nem comece, para algumas coisas você é mais transparente que uma janela de vidro —
ela diz.
Abraço minhas pernas com mais força e mordo meu lábio com força.
— Não gosto desse Chase — eu admito.
— Assim, de graça? — Adam sorri.
Ergo minhas sobrancelhas e olho para ele.
— De graça? Ele me provoca sempre que tem a oportunidade — eu digo com raiva.
Tessa fungou, como se estivesse farejando o ar.
— Estão sentindo esse cheiro? — Ela faz uma careta e tampa o nariz.
— Cheiro de quê? — Franzo o cenho.
Ela sorri de maneira maliciosa.
— De tensão sexual — provoca com um sorriso, e atiro uma almofada nela.
Nossos amigos riem, e nego com a cabeça, vendo a besteira que minha melhor amiga está
dizendo. Algo que não tem cabimento algum nem sequer existe.
Tensão sexual é algo que não há entre mim e Chase, algo que não pode existir.

No dia seguinte, Adam foi para a universidade primeiro que nós. Ele disse que ia aproveitar
o fato de Melody chegar cedo para falar com ela sem tantas pessoas por perto. Algo que não
achei uma boa ideia, porque não sei do que ela é capaz, porém respeitei a decisão dele.
Eu torci para que ele conseguisse terminar com ela, mesmo a amando, e que não houvesse
tanta confusão, porque Adam, assim como eu, odeia atenção.
Sei que odeio Melody, mas passar meus dias na cadeia por agressão física não estava em
meus planos caso ela tocasse em um fio de cabelo dele. Embora aquela cachorra merecesse
apanhar. Mas, caso acontecesse, eu gastaria meu réu primário com gosto e ainda levaria um tufo
de cabelo dela.
Sinto o vento agitar meus cabelos e fecho meus olhos por trás dos óculos de sol,
aproveitando. Tessa e eu estamos indo para a universidade no carro de Kat, e meus cabelos voam
sem parar e, embora a sensação seja boa, ainda não queria meu cabelo desgrenhado.
— Suba o capô desse carro, Kathleen! — eu mando, sentada no banco de trás. Seguro minha
franja para trás. — Está estragando meu cabelo.
— Amarre o cabelo, linda — Kat diz com simplicidade e zombaria, enquanto mantém os
olhos na estrada.
— Não, ele está muito bonito hoje. — Sorrio falsamente e a olho por cima dos meus óculos
escuros.
Kat sorri de volta.
— Então continue comendo cabelo. — Ela dá de ombros, e a olho, chocada.
Era incrível como meus amigos pareciam não me respeitar e, se o faziam, com certeza era
apenas em momentos específicos.
Estreito meus olhos em sua direção antes de olhar pela janela.
— Vocês acham que está tudo bem com Adam? — pergunta Tessa, e olho para ela, vendo-a
sentada no banco ao lado de Kathleen. Ela se vira e olha para mim. — Será que ele conseguiu
terminar com Melody?
Bufo.
— Eu espero que sim, não quero ter que bater na cabeça dele até ele ter amnésia e se
esquecer dela… — suspiro, com minha cabeça apoiada em minha mão de maneira relaxada.
— Você teria coragem de fazer isso? — Kathleen pergunta, alarmada.
Eu sorrio de lado.
— Não, mas costumo pensar que todos nós podemos fazer alguma besteira. — Dou de
ombros.
— Você não é muito confiável, uma vez que dorme assistindo a vídeos de casos criminais
— Tessa atira, sorrindo.
Eu sorrio de volta, enrolando uma mecha do meu cabelo no dedo.
— Eles me ajudam a relaxar.
Ela nega com a cabeça, e Kat murmura algo sobre eu ser estranha e precisar ser estudada.
Mas não me importo, já estou acostumada com elas dizendo coisas assim. Estranho seria se não
dissessem.
Minutos depois, Kathleen estaciona o carro no estacionamento da universidade e aperta um
botão para que o teto do carro subisse e os vidros também. Nós descemos, e Tessa e Kat
entrelaçam as mãos, o que me arranca uma careta.
É algo mais como inveja. Quem mais julga casais amorosos é quem mais gostaria de estar
no lugar deles. E tudo bem, não estava totalmente errado. Mas eu faria o impossível para não me
apaixonar novamente. Pode ser uma medida extrema, mas a primeira vez já foi o suficiente.
Eu arrumo minha mochila em minhas costas, e nós caminhamos em direção à entrada da
universidade. Assim que passamos por ela, nós nos deparamos com uma multidão reunida mais à
frente. Nós nos aproximamos, curiosas sobre o que estaria acontecendo, mas tudo é cessado
quando arregalo meus olhos ao ver Adam e Melody discutindo.
Minhas amigas e eu nos entreolhamos antes de corrermos para mais perto.
— Melody, por favor… — Escuto Adam dizer, os ombros curvados em vergonha. — Não
precisa ser assim.
Melody põe as mãos na cintura.
— Você está terminando comigo e acha que vou aceitar isso de boa? — Ela sorri,
desacreditada. — Eu lhe dei tudo o que eu poderia e você me chuta quando apenas não me quer
mais?
— O seu “tudo” estava me machucando… — Adam a olha com tristeza antes de se
aproximar e pegar na mão dela. — Nós não podemos ter essa conversa aqui, vamos para outro
lugar.
Melody bate na mão dele e lhe arranca um olhar assustado que me deixou apreensiva. Eu
odiava quando agiam de má-fé com meus amigos e principalmente com Adam, que era tão
passivo.
— Quer saber? Quem agora está terminando com você sou eu! — Melody empurra seu
ombro de maneira rude e sorri convencida.
Adam dá alguns passos para trás, e cerro meus punhos. Ele está bem.
— Não aja como se você tivesse sido a melhor namorada do mundo — ele cospe, parecendo
finalmente perder a paciência. — Você foi a pior desgraça que já aconteceu na minha vida.
Olho para minhas amigas e as vejo com o mesmo sorriso orgulhoso que eu tenho nos lábios.
Conhecemos Adam, sabemos o quão difícil estava sendo difícil para ele falar isso.
Principalmente quando essa garota foi seu mundo por um longo tempo.
Porém, nossos sorrisos não duraram muito, já que, no instante seguinte, Melody ergue a mão
direita e atingi o rosto de Adam com ela. Tessa cobre a boca ao meu lado, chocada.
E meu amigo? Ele apenas a encara com a mão na bochecha, o olhar cheio de mágoa e
vergonha.
— Está tudo acabado, seu merda — Melody diz com desprezo e planta as suas mãos em seu
peito, empurrando-o para trás.
Meu amigo se desequilibra e só não cai de bunda no chão graças a um cara de moletom
cinza e capuz que o segura. Eu faço menção de passar pela multidão e avançar em Melody
quando ela se vira e sai andando rapidamente para longe.
Eu sempre tento manter a calma, mas situações assim me fazem pensar se realmente é a
coisa certa a se fazer. Pessoas como a namorada de Adam merecem tudo de ruim, e duvido muito
de que sintam remorso das merdas que fazem.
— Adam! — Kat chama, e ele ergue o rosto para nós, enquanto a mão ainda segura a
bochecha.
O cara que segurou Adam o coloca de pé e permanece ao seu lado, completamente alto e
imóvel. Nós caminhamos até ele.
— Vocês… vocês viram tudo? — meu amigo pergunta, acanhado.
Eu me aproximo dele, lanço meus braços ao redor do seu pescoço e o abraço.
— Sim, e estamos muito orgulhosas! — Sorrio.
— Sim, você foi perfeito! — Kat abraça-o quando eu o solto.
— Incrível! — Tessa faz carinho no cabelo dele.
Adam sorri minimamente, os ombros ainda curvados enquanto as pessoas começam a se
dissipar agora que a cena frustrante já se encerrou. Ele olha para o cara que o segurou.
— Obrigado por me segurar, se não fosse por você, eu teria caído de bunda no chão. —
Adam solta uma risadinha forçada.
Eu olho para a pessoa no exato momento em que ele abaixa o capuz. Meus olhos se
arregalam e meus lábios se separaram.
— De nada. — Michael Smith encara meu amigo.
Eu nunca tinha ouvido a voz de Michael, mas confesso que é de um timbre bonito e rouco,
até mesmo melodioso.
Assim como eu, Tessa e Kat o encararam chocadas, e Adam se engasga com a própria
saliva, começando a tossir alto.
— Você é o… — ele tosse de novo, e bato em suas costas, esfregando-as. Adam engole em
seco. — Você é o cara que fica me encarando.
— Que o fica encarando? — Michael arqueia uma sobrancelha grossa.
Reprimo um sorriso, assistindo à cena.
— Eu disse isso em voz alta? — Adam dá um sorriso amarelo.
— Sim, você disse — Michael responde, ligeiro.
Meu amigo pigarreia.
— Certo, eu disse… — Adam dá um passo para trás, e um sorriso apertado se abre em seus
lábios. — Mas não precisa ficar com raiva, prometo manter distância de você.
— Distância? — Michael franze o cenho. — Do que você está falando?
— Você fica me encarando como se me odiasse. — Adam coça a nuca, envergonhado — Eu
não sei o que eu lhe fiz, mas peço desculpas.
Michael apenas o olha atentamente e faz o que eu nunca o vi fazer na minha vida: abre um
sorriso mínimo, que muda toda a sua expressão fechada, e coça a sobrancelha esquerda.
— Eu não o encaro porque o odeio, Adam — ele diz.
Adam engole em seco.
— E é por que, então? — Meu amigo ergue as sobrancelhas.
Michael dá um passo à frente e se aproxima dele. Mesmo que parecesse que não iria lhe
fazer mal, de certa forma, ainda era intimidante.
— Olhe-se mais no espelho, Adam — ele diz com o rosto sério.
Em seguida, Michael coloca o capuz novamente e sai andando para longe de nós, como se
não tivesse causado um pane no sistema de Adam. Meu amigo mantém as sobrancelhas unidas,
evidenciando o quão confuso está.
Mas apenas ele, porque, depois dessa, até esqueci Melody.
— Eu não entendi, ele me odeia porque eu sou feio? — Adam olha para nós.
Tessa passa o braço ao redor dos seus ombros e lhe dá tapinhas.
— Esqueça, Adam — ela suspira, e nós rimos.
— Você está bem? — Kat pergunta a ele e acaricia sua bochecha machucada.
Adam olha para baixo e então para nós mais uma vez, com o rosto inexpressivo.
— Eu… Eu não sei explicar… — Adam diz, meio perdido. Então, põe a mão no coração. —
Está doendo muito, mas também me sinto mais leve.
Sorrio.
— Talvez você não goste tanto dela como pensava.
— Não, eu gosto dela. Mas acho que saber o quanto ela me faz mal está me ajudando. — Ele
solta o ar.
— Sei que vai ser difícil esquecer isso, mas quem topa ir à boate hoje para espairecer? —
Tessa pergunta, sorrindo largamente.
Por alguma razão desconhecida por mim, eu olho para o lado e vejo Chase andando pelo
corredor com um moletom vinho, uma calça jeans rasgada nos joelhos, um coturno preto e sua
mochila pendurada nas costas. Seus olhos encontram os meus, e ele sorri, fazendo algo na minha
barriga se remexer.
Talvez uma boate também me distraia.
Encaro a minha imagem no espelho pela milésima vez apenas nesta noite e sorrio com o
resultado.
Estou vestida com um cropped preto de renda e decote em formato de coração. Minha saia
está colada ao meu corpo e é de um tecido fino de veludo que se agarra perfeitamente às minhas
curvas. Uma jaqueta jeans preta e um pouco grande e larga para o meu corpo complementa meu
look, dando-me um ar mais discreto.
Meu cabelo, como sempre partido ao meio, cai como uma cascata selvagem em minhas
costas. Meus olhos estão acompanhados por um delineado simples, e meus lábios por um gloss
incolor e sem brilho, apenas os destacando da maneira que eu gosto. Olho para os meus pés e
sorrio ao ver o salto alto preto de uns cinco centímetros.
Graças a Deus, nunca tive problemas com minha aparência e posso admirar o quão linda eu
estou.
Vou até Justin deitado em minha cama e faço carinho em suas orelhas, vendo que ele já está
dormindo. Pego minha bolsa preta e a coloco em meu ombro, saindo do quarto e em seguida
fechando a porta com cuidado. Ando até a sala, e meus amigos viram a cabeça para me olhar
quando o som dos meus saltos se faz presente.
Eles sorriem, e Adam é o primeiro a vir até mim.
— Caralho, que gata! — Ele pega a minha mão e gira meu corpo, fazendo-me dar uma
voltinha.
— Você está muito arrumada para alguém que não queria ir. — Tessa sorri em provocação
ao me olhar dos pés à cabeça.
Eu reviro meus olhos, acostumada com o fato de ela nunca deixar passar nada.
— Não é porque não curto festas que tenho que ir feia. — Sorrio.
Kat se aproxima de mim e funga perto do meu pescoço, e seu rosto se ilumina.
— Ela também está muito cheirosa, parece que tomou banho de perfume. — Ela sorri e
balança as sobrancelhas sugestivamente. — Pretende arrumar alguém esta noite?
Abro a boca, chocada. O que ela quis dizer com eu estar cheirosa? Eu me mantenho assim
todos os dias!
— O que há de errado com vocês? Que rebeldes. — Eu cruzo os braços e arqueio uma
sobrancelha. — Vou ter que vendê-los para o mercado negro?
Adam põe as mãos na cintura e nega com a cabeça como se estivesse decepcionado.
— Ally, você pode parar de assistir a casos criminais ao menos por um tempinho? — ele
pergunta, e eu sorrio.
— Isso é quase como pedir para um viciado sair das drogas. — Olho para ele enquanto
coloco uma mecha atrás da minha orelha. — E você já tem sua resposta.
Ele faz uma careta.
— E ela é um sim? — Ele dá um sorriso fraco.
— Cada um se ilude à sua maneira. — Sorrio docemente.
Adam revira os olhos e passa as mãos pelos fios sedosos de seu cabelo, tirando-os da frente
de seus olhos escuros.
— Está sempre falando sobre nos vender — Tessa comenta e me encara com os olhos
esfumaçados. — Não nos ama?
Sorrio e jogo meu cabelo para trás.
— Amo, mas algumas medidas são necessárias. — Assinto várias vezes com a cabeça.
Kathleen abraça a namorada e me olha com o cenho franzido e os olhos apertados em
desconfiança. Ela me mede de cima a baixo.
— Não sei mais se estou confortável em deixar minha bebê dormir com você… — diz,
beijando a bochecha de Tessa e a apertando mais. — Você é louca.
Pisco meus olhos de maneira inocente para ela e ponho a mão no peito como se eu estivesse
muito ofendida.
— Por que está me olhando como se eu fosse a vilã? — indago, falsamente incrédula. — Eu
até vou vender os três juntos para não sentirem saudades um do outro.
Kat abre a boca, chocada com minhas palavras. Mesmo que ela seja minha amiga há um
ano, ela é do tipo de pessoa que acredita facilmente no que lhe é dito.
— Pare de blefar, Allyson. — Adam beija a minha bochecha e começa a andar em direção à
porta da sala. — Você choraria sentindo nossa falta dois dias depois.
Solto uma risada nasal.
— Pode ser, mas a saudade sumiria assim que eu estivesse nas Maldivas com o dinheiro da
venda de vocês e o garçom entrasse com uma lagosta. — Eu enxugo uma lágrima falsa.
Ele para na porta e vira o pescoço para me olhar, negando com a cabeça. Abraçada a Kat,
Tessa apenas dá um tapinha na minha cabeça e começa a ir aonde está Adam.
— Talvez devêssemos vendê-la primeiro… — ela resmunga em um tom levemente falso.
Sorrio e fico calada, sabendo que, se me vendessem, os compradores só teriam duas opções:
ou me matar, ou me devolver, porque sei muito bem ser insuportável quando quero. E até mesmo
quando não quero.
É um dom que herdei da minha família, e suspeito que tenha vindo da minha mãe.
Meus amigos passam pela porta da sala e, antes que eu faça a mesma coisa, verifico as
vasilhas de Justin para ver se ele tem ração e água o suficiente caso ele acorde e sinta fome.
Em seguida, passo pela porta, tranco-a com a chave e a coloca em minha bolsa enquanto
meus amigos já estão andando mais à frente no corredor. Corro até eles, incomodada com o
barulho irritante que os saltos fazem pelo chão de madeira. E detalhe: eu não corro bonito
estando de salto.
Após pegarmos o elevador, saímos do prédio e vamos em direção ao carro de Kat. Quando
entramos, sento-me no banco de trás junto com Adam e coloco o cinto, lembrando-me do
incidente de dias atrás. Não quero que o carro passe por cima de uma quebra-molas e eu bata
meu crânio no teto do carro como fiz no de Chase.
Falando nele, não o vi mais após nós nos encararmos no corredor da universidade. Nem no
refeitório, nem depois que cheguei em casa. Ele praticamente sumiu da minha vista, o que é bom,
não é? Assim ele não vem com piadinhas.
— Eu nem acredito que vou a uma boate depois de terminar com minha namo… bom,
minha ex-namorada… — Adam bufa ao meu lado e passa as mãos pelo rosto.
— Você não tem que se sentir culpado. — Ponho a mão sobre sua coxa e atraio seu olhar
para mim.
— Terminei com ela hoje de manhã, Allyson…
Estou prestes a falar que Melody com certeza não deve estar tendo o mesmo remorso que ele
neste exato momento. Mas, bom, isso vai do caráter de cada um, e o meu melhor amigo tem um
de ouro.
Tessa vira a cabeça para nos olhar.
— Olha, sabemos que você não deve nem ter tido tempo para processar. Mas também
sabemos que você ia ficar em casa triste e acabar ligando para ela pedindo perdão. — Ela é direta
e o encara atentamente. — Mas você está precisando se distrair, assim como Allyson também
está.
Franzo as sobrancelhas.
— Eu? Por quê?
— Você andou muito pensativa esses últimos dias, sei muito bem que o traste tem algo a ver
com isso — Tessa atira.
Ela me conhece tão bem.
— Kevin voltou a incomodá-la, Ally? — pergunta Kat, sem tirar os olhos da estrada.
E quando foi que ele parou?
— Dias atrás, ele queria me levar para casa, mas Karen estava comigo — começo, olhando
para fora da janela. — Ele flertou com ela na minha frente.
— Você ainda gosta dele, Ally? — pergunta Adam.
Pisco, olhando para minhas mãos agora reunidas em minhas coxas. Gostar de Kevin?
Mesmo depois de ele ter traído a minha confiança e eu ter lutado tanto para não ter uma recaída
durante um ano?
Eu não sei essa resposta, apenas tenho a certeza de que ele ainda mexe comigo, mas não
como antes. Mas me recuso a sofrer por um homem a quem eu tinha de explicar onde fica o
clitóris.
— Não, não gosto — murmuro, suspirando.
Ele assente, desconfiado das minhas palavras ou não, não sei. Mas também não faz mais
perguntas. Muito menos Tessa e Kat.
— Vamos esquecer os problemas apenas por hoje, sim? — Tessa sorri largamente.
— Tudo bem, posso fazer isso — fala Adam, sorrindo de volta.
Mas seu sorriso não alcança seus olhos, e posso dizer que ele está tão incerto quanto eu em
relação a uma boate. Não é um dos nossos lugares favoritos.
Minutos depois, Kat estaciona o carro em uma vaga um pouco afastada da boate, e nós
descemos. Adam me oferece seu braço e sorri para mim, ele com certeza deve estar sentindo
minha falta de ânimo.
Sorrio de volta e pego seu braço e o entrelaço ao meu. Logo à frente, está nosso destino nos
esperando cheio de drogas, bebidas e sexo explícito. Tessa disse que essa boate é de um tio do
amigo do primo dela, o Brandon, mais conhecido por mim como projeto de capeta. Eu ainda me
lembro de quando eu ia almoçar na casa de Tessa, quando éramos pequenas, e ele puxava o meu
cabelo. Eu era dois anos mais velha que ele, mas isso não me impediu de chutar seu saco.
Ele parou de me incomodar desde então, mas eu torço para que não tenha ficado estéril.
Mas, pelo que Tessa disse, hoje em dia ele namora, pelo visto o pau dele está funcionando bem.
Depois de ficarmos uns cinco minutos na fila, pagamos nossas entradas e entramos. Luzes
vermelhas piscam, sendo visíveis mesmo do corredor estreito. Quando finalmente chegamos à
pista, as caixas de som explodem ao som de uma música desconhecida por mim. As pessoas se
movimentam em uma dança lenta e sensual, alguns até se beijando logo na entrada.
— Vamos nos sentar em algum lugar, tem muitas pessoas por aqui — Adam pede, olhando
ao redor.
— Meio que essa é a ideia, não é? — Sorrio, provocando-o.
— Esse tipo de lugar definitivamente não é a minha praia… — Ele faz uma careta quando
vê um homem agarrar o peito de uma mulher que parecia mais do que disposta a deixá-lo apalpá-
la. Adam nos olha. — É permitido transar em público por aqui?
Eu rio e dou tapinhas em seu ombro.
— Entendo sua indignação, meu amigo. Já basta a Kat e Tessa se comendo pelos cantos. —
Eu nego com a cabeça, vendo-as dar um selinho demorado.
As duas se separam e olham para nós com um ar de deboche.
— Vocês são dois solteiros invejosos — Tessa zomba enquanto abraça a cintura da
namorada.
Kat ri e joga para trás sua franja com mechas rosas.
— Arrasou, amor. — Ela sorri.
É a vez de Adam bufar uma risada, com incredulidade em seu olhar. Assim como eu, ele vê
o desrespeito que estamos sofrendo bem diante dos nossos olhos.
Ele me olha com as sobrancelhas erguidas.
— Você ouviu isso, Ally? — ele me pergunta, e assinto.
— Ouvi, mas não vou deixar barato… — Aproximo-me dele e faço um biquinho antes de
segurar seu rosto em minhas mãos. — Venha, gatinho, e me beije.
Adam passa os braços ao redor da minha cintura e me puxa para perto do seu corpo de
maneira dramática.
— Eu dou, linda, assim não ficamos por baixo. — Ele me dá um selinho rápido.
Sorrio.
— Agora pegue na minha bunda… — mando alto por causa da música, sorrindo.
Seus olhos se arregalam como se fossem pular do seu rosto, e é quase cômico se não me
deixasse confusa primeiro.
— Ficou maluca, Allyson? É nojento para caralho! — Ele faz uma careta e solta minha
cintura. Como consequência, eu o solto também.
— Nojento por quê? — Eu cruzo os braços e o olho indignada. — Eu sou feia?!
Adam sorri, e os lábios pequenos revelam os dentes brancos. A música ainda continua a
mesma, e agora as luzes mudaram para uma cor azul-marinho.
— Você é minha melhor amiga, Ally… — Ele toca meu queixo e sorri. — Para mim, você é
como um dragão.
Meus lábios se separam e não faço a mínima ideia se é para xingá-lo ou me defender.
Apenas nego com a cabeça.
— Você é péssimo com mulheres… — eu murmuro e aperto meus olhos em sua direção.
Adam sorri e aperta meu queixo, afastando a mão quando lhe dou um tapa nela. Não que eu
tenha realmente me ofendido, nossa amizade permite brincadeiras desse tipo e eu gosto muito.
— Venham, acho que encontrei um lugar para nos sentarmos — Kat chama e puxa Tessa
consigo.
As duas andam à nossa frente e nos guiam pela pista e, no processo, olho ao redor e vejo as
pessoas dançarem como se não houvesse amanhã. A grande maioria aqui deve trabalhar ou fazer
faculdade, estão apenas se divertindo.
Isso me leva a crer que também estou precisando disso. Talvez Tessa tenha razão, preciso
espairecer. Mas há muito tempo não sei fazer isso. Divertir-se é uma coisa que não faz sentido na
minha rotina, quer dizer, na verdade, faz. Mas é apenas sobre meus amigos ou o vôlei.
Tessa e Kat se sentam em um sofá de formato circular, e Adam e eu fazemos a mesma coisa,
de frente para elas. Uma mesinha de centro está entre nós, pronta para ser preenchida por tudo o
que quisermos comprar.
Passo os olhos pela boate e ainda analiso tudo ao meu redor. É um ambiente confortável,
mesmo com todo o cheiro de sexo ao redor que pode ser farejado a quilômetros.
Movo meu olhar para o bar e congelo ao ver a pessoa que está encostada no balcão,
segurando alguma bebida. Quando eu disse que não sei me divertir, falei a verdade, mas ainda
estava com alguma esperança de ser diferente. Mas agora acho que nem com reza seria possível.
Chase Fontana, não a muitos metros de distância, está de frente para mim com o cotovelo
esquerdo apoiado no balcão e um copo na mão direita, mantendo os olhos acinzentados fixos em
mim. Eu franzo o cenho e o vejo tomar um grande gole de sua bebida como se fosse água.
Uma jaqueta de couro preta e uma camisa que percebo da mesma cor estão cobrindo seu
corpo repleto de tatuagens. Junto com uma calça também preta e um coturno de cor semelhante,
ele parece ter saído de uma série adolescente com vampiros.
De longe, vejo os anéis de prata que adornam seus longos dedos, e o cabelo castanho-claro
cai sobre seus olhos de maneira rebelde.
Eu quero saber como ele consegue deixar o cabelo desarrumado de um jeito bonito, algo que
parece completamente natural e sem esforço. Ele só coloca o dedo na tomada e deixava a
descarga de energia fazer o serviço?
E era só o que estava me faltando, eu fujo dos meus problemas e eles aparecem onde não
deveriam. Porra, Ally, você é uma grande de uma sortuda.
Os olhos dele descem para as minhas pernas cruzadas, e ele inclina a cabeça para a direita,
analisando-me. Eu arqueio a sobrancelha, e ele bebe o resto da bebida, põe o copo no balcão e
coloca as mãos nos bolsos da jaqueta enquanto vem em minha direção.
Com os olhos apertados, eu o acompanho chegar até onde estou a passos lentos. É quase
uma tortura.
— Chase? — Tessa ergue as sobrancelhas, sendo a primeira a vê-lo. Ela sorri. — Poxa, que
legal. Veio espairecer também?
— Sim, vim me distrair um pouco. — Ele sorri de volta, revelando a maldita covinha na
bochecha direita. Então, suspira. — O curso de artes está tomando muito de mim.
— É tudo culpa daquele professor. — Kat cruza os braços e bufa. — Ele sempre pede mil
trabalhos, nunca se importa com a alta carga de tarefas.
Chase assente com a cabeça e concorda com ela. Seus dedos adentram os fios de seu cabelo
e os jogam para trás enquanto ele mantém os olhos fixos em mim, como um maldito stalker.
— Boa noite, Chase. — Sorrio falsamente e engulo o nervosismo diante de seu olhar.
— Boa noite, Ally. — Chase sorri de lado, enquanto os olhos me analisam por completo. Por
que ficou quente do nada? — Uau, você está linda.
— Sim, ela está. Sente-se! — Tessa chama e indica o lugar ao meu lado.
Se eu protestar, estarei sendo infantil, então apenas mordo minha língua.
Chase se senta ao meu lado, e junto minhas pernas o máximo que posso, não querendo que
meu corpo chegue a encostar no dele. Ele me olha, e arqueio uma sobrancelha, questionando
silenciosamente o que ele está olhando.
Ele sorri.
— Você realmente está muito bonita — Chase volta a afirmar.
Eu engulo em seco.
— Obrigada, Chase. — Pisco meus olhos para ele, fingindo inocência. — Mas não precisa
falar com esse espanto, está parecendo que sou feia a maior parte do tempo.
Ele apenas sorri mais largamente, deixando-me nervosa.
— Você acabou de corar? — Chase pergunta, mordiscando o lábio inferior.
Olho para baixo, um pouco entretida por isso. Mas durou apenas alguns segundos antes de
eu voltar a mim. Sim, eu corei, e violentamente, por sinal, o que me leva à minha última arma,
que uso quando me sinto encurralada: meu sarcasmo.
— Ah, sim. Você é tão lindo que me faz hiperventilar com um mísero elogio seu… —
Coloco a mão no peito, soando dramática. — Você me acha bonita, Chase?
Ele se inclina um pouco mais em minha direção.
— Il più bella che abbia mai visto — ele diz enquanto me encara, e sua voz rouca me
arrepia.
Eu não deveria pensar no quão bonita fica sua voz quando fala em italiano, e sim ficar brava
por trazer o maldito idioma que não entendo para nossa conversa.
Limpo a garganta.
— O que você disse? — eu o olho desconfiada.
Chase leva a boca para minha orelha, e seu hálito me faz cócegas. Encaro minhas amigas,
que estão na minha frente, e finalmente me lembro da existência delas e de Adam. O rosto dele
eu não sei, mas o delas tem um sorriso malicioso.
— Eu disse que você é bonita, mas não vá se achar, sim? — Chase sussurra, rindo grave.
Tranco minha mandíbula e cerro meus dentes e meus punhos. Chase Fontana não deve curtir
muito me ver calma, ele parece ter algum tipo de fetiche estranho em ser xingado, não é possível.
Suspiro, tirando dinheiro da minha bolsa e a colocando no colo de Adam.
— Eu vou pegar uma bebida antes que eu saia desta boate dentro de uma viatura de polícia
— digo, ficando de pé.
Eu não olho para Chase quando vou embora, antes apenas murmuro um “volto logo” para os
meus amigos. Mas, ainda assim, posso sentir os olhos do idiota em mim.
Eu passo pelas pessoas dançando, e faço o mínimo possível para não esbarrar nela, mas
meio que é um pouco impossível, a boate parece ter ficado mais cheia quinze minutos depois que
chegamos.
Respiro fundo quando chego ao bar e apoio minhas mãos no balcão, mordendo o interior da
minha bochecha quando sinto a raiva borbulhar.
Eu já estou por aqui com esse Chase, a um passo de gastar meu réu primário com esse
desgraçado, o que seria uma pena. Primeiro, ele aparece na minha casa e diz que o nome do meu
cachorro é feio. Segundo, diz coisas sem sentido e fala em um idioma que eu nem conheço. Ele
poderia estar me chamando de puta que eu nem saberia.
E agora ele fala como se seu elogio fosse me fazer sentir a mulher mais bonita do mundo.
Por favor, esse cara precisa ser estudado.
Peço a bebida mais forte do bar ao barman, que me deu com um sorriso sugestivo nos lábios.
Eu lhe pago, ignorando a malícia em seu olhar, e me viro para a pista de dança assim que The
Take, de Tory Lanez e Chris Brown, começa a tocar. As pessoas se agarram e começam a dançar
como casais, mesmo aqueles que não se conhecem. Olho para os meus amigos e encontro Tessa
e Kat dançando próximo à nossa mesa enquanto Adam continua sentado no sofá. Mas pelo
menos ele parece mais relaxado.
Mas onde está Chase?
Passo meus olhos pela boate e ergo as sobrancelhas quando avisto Chase perto da parede do
banheiro, e ele não está sozinho, e sim com uma garota ruiva agarrada ao seu pescoço. Chase a
beija com fome, e as mãos dele apertam a bunda dela e a puxam para mais perto. Ele abre os
olhos acinzentados, e eles encontram os meus.
Minha respiração se acelera quando Chase separa seus lábios dos da garota, e ele sorri para
mim quando ela mergulha em seu pescoço. Sua mão direita agarra os fios do cabelo ruivo da
nuca da mulher e puxa sua cabeça para trás, para passar a língua pelo pescoço dela, tudo isso sem
parar de me olhar.
Desvio os olhos e, por um momento, me imagino no lugar da garota. Uma burrada enorme,
porque eu gostei.
Eu bebo o conteúdo do meu copo e o coloco no balcão, pronta para me levantar e ir me
sentar perto de Adam, quando Scott, o capitão do time de futebol americano, aparece bem diante
de mim.
O cabelo cacheado com corte curtinho está caindo em seus olhos esverdeados e ajuda seu
sorriso bonito.
— Que prazer vê-la aqui, Allyson. Quer dançar? — ele pergunta, sorrindo enquanto me olha
dos pés à cabeça.
Como sempre, penso em negar suas investidas. Mas, por algum motivo, eu me vejo
reconsiderando. E por que não? Scott é bonito, um dos caras de ouro da nossa universidade, já
que é um grande atleta, e também eu vim para cá para me divertir, não custa nada dançar com
Scott.
— Claro. — Sorrio e pego a mão que Scott estende para mim.
Olho na direção de Chase e o pego me encarando, a garota ainda beija o seu pescoço e as
mãos dele estão na cintura dela. Ele aparenta não querer desgrudar dali tão cedo.
Vou para a pista com Scott e lhe dou as costas, as mãos dele se fixam na pele exposta da
minha cintura graças ao cropped. Ele me puxa para perto no exato momento em que olho para
Chase mais uma vez. Como se estivesse com raiva, o italiano idiota pega a bunda da ruiva com
as duas mãos e a puxa para perto do seu quadril.
Não tinha mais nenhuma sombra do sorriso provocativo de Chase naquele momento, só um
olhar sério. Sorrio com o lábio inferior entre os dentes e levo minha mão direita para trás,
agarrando a nuca de Scott. A música chega ao refrão, e rebolo colada ao seu corpo enquanto o
sinto beijar meu pescoço.
Eu não posso me importar menos com isso quando Chase não tira os olhos de mim e parece
querer me comer viva. Ele não desvia o olhar nem mesmo quando a ruiva adentra sua camisa
com uma das mãos e o beija. É como se ela não estivesse ali.
Ele morde o lábio inferior dela e arqueia uma sobrancelha quando Scott abaixa um pouco a
manga da minha jaqueta e beija meu ombro direito. Sorrio e dou as costas a Chase, passando
meus braços pelo pescoço de Scott. Alguns minutos depois, a música parou, e eu me afastei dele.
Porém, ele parece ter outros planos quando firmou os braços ao redor da minha cintura.
— O que você acha de irmos para um lugar mais reservado? — Scott pergunta, sorrindo.
Sorrio de volta.
— Você é lindo, mas não estou interessada. — Dou tapinhas em seu ombro, e ele me solta.
Scott assente e me encara.
— Tudo bem, gata. — Ele pisca o olho.
Sorrio para ele mais uma vez antes de me virar, indo para longe dele. Procuro meus amigos
com os olhos e os arregalo quando vejo a única pessoa que eu não queria que estivesse aqui de
jeito algum.
Exagerei em pensar que Chase acabaria com a minha noite, Kevin parado a poucos metros
de distância e com os olhos fixos em mim pode fazer mais estrago. Como se lesse meus
pensamentos, ele começa a vir até mim.
Eu olho para trás na intenção de procurar Scott e usá-lo como escudo contra Kevin, mas ele
já está grudado em uma loira com curvas. Eu não estou encontrando os meus amigos e não sei
como vou fugir de Kevin e de toda a sua insistência. Não quero ter que lidar com ele agora e eu
não irei, custe o que custar.
Então, desesperada, corro até Chase e chego nele ainda em tempo de ouvi-lo se despedir da
ruiva. Não lhe dou tempo para se afastar da parede quando entro em sua frente e agarro a jaqueta
dele, girando seu corpo para que minhas costas fiquem grudadas na parede.
— Mas que… — Chase está pronto para xingar quando eu nego com a cabeça.
— É rápido, eu juro! Apenas fique assim… — eu imploro e o puxo para mais perto,
enfiando meu rosto em seu pescoço.
Como se fosse mágica, o cheiro do perfume dele me atinge, e engulo em seco.
As mãos de Chase agarram a minha cintura com possessividade, e prendo a respiração
quando seu corpo se gruda ao meu e sua perna direita vai parar entre as minhas. Nem vento ou
água podem passar entre nós de tanto que estamos colados.
Tentando ignorar isso, fico na ponta dos pés e olho por cima do ombro de Chase,
encontrando Kevin de costas para nós e passando os olhos pelo local, como se me procurasse. Eu
quase sorrio aliviada por ter conseguido despistar Kevin, mas paro quando os dedos de Chase se
afundam em minha cintura e uma respiração quente bate no meu pescoço.
Posso ter fugido de um problema, mas talvez eu tenha entrado em um ainda maior.
Ergo lentamente os meus olhos e, por um momento, me esqueço de como se respira quando
encontro os de Chase fixos em meu rosto, nossas bocas a centímetros e minhas mãos apertando a
jaqueta dele.
Que Deus me ajude.
Eu não me mexo, e muito menos Chase, mas com certeza eu sou a mais petrificada entre nós
dois. Os batimentos do meu coração podem ser ouvidos, o que é bem impossível, mas eu juro
que é o que eu estou escutando no momento.
Há muito tempo não me sinto nervosa e ansiosa desse jeito. Sinto um frio na barriga de
enlouquecer e os pelos do meu corpo arrepiados, deixando-me incapaz de pensar com coerência.
Não, eu estou pensando, mas, ainda assim, não consigo reagir. E como eu poderia?
As mãos de Chase ainda apertam a minha cintura, e eu não estou conseguindo encontrar a
minha própria voz para pedir que ele se afaste.
— Se queria um pouquinho do que aquela ruiva estava recebendo, era só me pedir, Ally…
— ele diz em meu ouvido, e engulo em seco.
Consigo voltar a mim graças à raiva que sempre sinto com suas gracinhas.
— Não é nada disso que você está pensando, não seja convencido — eu consigo dizer
enquanto o encaro de perto.
— Pois eu acho que é exatamente o que eu estou pensando. — Ele sorri de lado, deixando-
me ver a covinha.
É tão funda, tão charmosa e… Ah, merda, Ally. Volte a si.
— Ah, me poupe… — Eu reviro os olhos e solto um risinho sarcástico. Olho para ele. —
Como é que eu iria querer o mesmo que aquela ruiva? Eu estava com pena dela, isso sim.
É a vez de Chase sorrir.
— Ah, é mesmo? — Ele arqueia uma sobrancelha quando eu assinto.
Em seguida, Chase aperta a minha cintura com ainda mais força — se é possível — e me
puxa para ele, com força o suficiente para que eu fique nas pontas dos pés e meu rosto fique
quase colado ao dele. Meus seios estão pressionados contra o seu peitoral forte e, quando seus
olhos descem para os meus lábios, sinto a região entre as minhas pernas formigar.
Minha respiração se acelera, e molho meus lábios quando os sinto ressecados, mesmo com o
gloss ainda neles. Meu Deus, aqui está muito quente.
— E agora? Ainda sente pena dela? — Chase provoca.
— Não fique com essa bola toda, o cara com quem eu estava dançando tem mais pegada do
que você.
Eu não queria estar me sentindo tão afetada, mas eu estou. E nem de longe Scott tem mais
pegada do que Chase, eu apenas quero irritá-lo. Em outras palavras, não passa de um mero blefe.
As mãos de Chase em minha cintura já estão começando a fazer a minha pele queimar, e
algo dentro de mim está implorando para que eu pegue fogo. Puta que pariu, acho que eu
realmente tenho que transar.
— Pode… Pode me soltar, por favor? — eu peço com um pouco de dificuldade, e os olhos
dele descem para a minha boca novamente. Limpo a garganta. — Já consegui o que eu queria.
Ele ergue os olhos para os meus, cheios de algo que não sei o que é.
— E o que você queria? — Seu polegar direito brinca com o cós da minha saia.
Céus, ela já está começando a me incomodar.
— Despistar meu ex — eu digo sem rodeio. Direta e objetiva.
Chase afasta a cabeça e a inclina para trás como se quisesse enxergar melhor meu rosto. A
expressão que ele tem no dele diz que está confuso, mas, ao mesmo tempo, indignado.
— Você me usou para dar um perdido no seu ex? — ele questiona, dando ênfase à última
palavra.
Eu solto sua jaqueta e tento buscar refúgio na parede atrás de mim.
— Acredite, eu também não queria ter feito isso… — digo e sorrio docemente. — Muito
menos com você.
— Ti meriti che il sedere sia scivolato giù per essere così bugiardo — Chase fala e apoia a
mão esquerda na parede para envolver toda a minha cintura com a direita, puxando-me contra os
cumes duros de seu corpo.
Sua perna que está entre as minhas é esmagada por minhas coxas e está tão perto da minha
parte mais íntima que é só questão de ângulo para que eu esfregue meu clitóris em seu jeans. E,
Deus, eu não poderia estar pensando nisso.
Não deveria estar com os mamilos tão duros como agora e tão terrivelmente excitada. Mas é
tão bom ser tocada por um homem forte e bonito e, diga-se de passagem, com uma pegada do
caralho.
Eu vou ser safada se eu disser que estou gostando?
Engulo a saliva em minha boca e ergo o queixo para ele.
— O que você disse? — Forço-me a questionar.
Chase leva a boca para o meu ouvido e fecho meus olhos, cravando minhas unhas nas
palmas da minha mão.
— Descubra — ele sussurra e mordisca o lóbulo da minha orelha, fazendo-me prender a
respiração assim que sinto uma pontada entre as minhas pernas.
Eu aperto os ombros de Chase, não sei se para afastá-lo ou mantê-lo aqui. Mas ele me
encara. Seu olhar desce para os meus lábios, e ele umedece os próprios. Ele abaixa lentamente a
cabeça, e me desespero ao ver o que ele vai fazer. Não, ele não pode me beijar.
— Chase, eu… — gaguejo, colocando uma mão em seu peito para falar a primeira coisa que
vem à mente. — Estou com muito, muito calor. Poderia se afastar?
Um sorriso de canto se estica nos lábios rosados, e Chase faz o que eu mando na mesma
hora. Seu braço solta a minha cintura, e ele lentamente afasta a perna que está entre as minhas,
dando-me uma sensação de vazio que não deveria estar ali.
Ele se afasta, fazendo com que meus seios parem de pressionar seu peitoral, coloca as mãos
nos bolsos de sua jaqueta e me encara como se não acreditasse em nenhuma palavra que saiu da
minha boca.
Bom, e eu também não poderia quando pareceram tão vacilantes e nada firmes. Boa,
Allyson.
— Não precisa mentir para que eu me afaste, Allyson — Chase diz, deixando a cabeça
pender para o lado. — Eu mordo apenas se você pedir. Gosto das dispostas.
Engulo a saliva reunida em minha boca com tanta força que minha garganta dói. Mas a dor
pode ser abafada pelo batuque dentro do meu peito, o som do meu coração batendo chega a me
fazer suar frio, e nem estou brincando.
— Eu não disse que não gostava… Apenas… — pigarreio, brincando com a cutícula do meu
polegar. — Apenas não gosto muito que estranhos fiquem muito perto de mim.
Chase ergue uma sobrancelha e me encara atentamente. Em nenhum momento o sorriso em
seu rosto sumiu. Neste segundo? Ele se amplia.
— Isso é um convite para nos conhecermos melhor? — Seu tom é malicioso.
Solto uma risada nasal e debochada.
— Sua imaginação vai longe.
— Estou apenas brincando. — Chase pisca um olho para mim e volta a me olhar com
atenção. — Por acaso esse seu ex é aquele que não sabe onde fica o clitóris?
Arregalo meus olhos.
— Quem lhe contou isso? — engasgo.
— Fiquei sabendo por aí.
O choque em saber que as pessoas possam estar sabendo da minha vida íntima desse jeito
me deixa perplexa. Ainda mais Chase, como ele, em tão pouco tempo que se mudou, saberia da
minha vida sexual?
E o pior, as pessoas comentam sobre ela? Deus, esse é o meu castigo por ter namorado com
o cachorro do Kevin e ignorar os avisos dos meus amigos e familiares sobre o quanto ele não
prestava? Porque, se for, acho que já estou pagando o suficiente.
Limpo minha garganta, tentando encontrar minha voz depois de toda essa vergonha e, em
seguida, ergo os olhos para ele.
— Agora que já comentei sobre a minha vida sexual… — começo, mordendo meu lábio. —
Você ia… me beijar?
Chase suspende as sobrancelhas, e há curiosidade em seu olhar.
— O que a fez pensar isso?
— Você chegou muito perto de mim, então eu pensei…
Ele ri, e paro de falar para prestar atenção nele.
— Acho que não é apenas a minha imaginação que vai longe — fala com um ar de
provocação.
Eu estreito meus olhos em sua direção, lembrando-me de quem é o babaca com quem estou
conversando e que está diante de mim.
— Perdão se você me agarrou como um pervertido e me deu essa impressão — debocho,
mas pareço mais ter rosnado.
— Não fui eu a agarrá-la primeiro… — Chase rebate, e a voz rouca fica mais baixa. —
Então, responda-me: quem de nós é mais pervertido?
Abro a boca para dizer a coisa mais sensata que uma pessoa poderia dizer quando está
encurralada e sem argumentos. Um belo “vá tomar no cu” fica preso em minha língua quando
uma figura aparece no meu campo de visão, e a reconheço.
Tessa está diante de mim com uma Kat cambaleante, seu braço está envolto no da namorada
como um apoio, e Adam está ao lado delas, caindo de sono. Não preciso dar uma melhor olhada
para saber que se divertiram até demais, sempre era assim. Kat enche a cara mesmo sendo fraca
para bebidas, e Adam rapidamente fica com sono ao ingerir o mínimo de álcool.
Sempre sobra para mim e Tessa cuidarmos dos dois.
— Ally, como vamos voltar para casa? — Tess pergunta com braço direito de Kat ao redor
de seu pescoço. — Nós duas não sabemos dirigir, Kathleen está bêbada. Adam não está tanto,
mas não confio nele neste estado.
Eu bufo e passo as mãos por meus cabelos.
— Merda, por que a Kathleen foi beber sabendo ia dirigir? — resmungo, olhando para
Adam. — E você, quantos anos você tem? Não aguenta um copo de álcool?
— Tenho vinte — Adam murmura, enquanto esfrega os olhos.
Eu até quero ser mãe um dia, mas aí eu olho para os meus amigos e vejo que já sou. Não
tenho muito para onde correr.
O que era para ser uma diversão entre amigos, como sempre, se tornou uma creche em que
Tessa e eu somos as cuidadoras. Não que eu me importe muito, já estou acostumada. Mas eu sei
bem o que vai rolar com Kat e Adam bêbados.
— Eu posso levá-los.
A voz rouca de Chase se faz presente, e olho para ele, vendo-o assistir à cena com atenção e
divertimento no olhar.
Enrijeço a coluna diante de seu convite muito prestativo, até demais.
— Não precisa, obrigada. — Eu forço um sorriso e entrelaço meu braço no de Adam.
Chase dá um passo à frente e esboça um sorriso de canto mínimo em seus lábios. Bom,
quando é que ele não está sorrindo como uma cobra traiçoeira, que é o que ele é?
Ele ergue o punho e ergue minimamente a manga da jaqueta, batendo o dedo no relógio
presente ali.
— Uma e trinta e cinco da manhã, não passa mais táxi por aqui — ele diz com os olhos fixos
em mim. — Estou sem carro, Pietro precisou do meu, já que o dele está na oficina, e apenas me
deixou aqui. Levá-los é algo que vai me beneficiar também.
— Você faria isso, Chase? — Tessa o olha com esperança, e ele assente. — Obrigada, você
é um anjo!
Eu não diria isso se sentisse o que eu senti presa à parede minutos atrás.
— Valeu, Chase! — Adam dá tapinhas no ombro dele e fala com a voz grogue.
Eu reviro os olhos e solto seu braço parar passar o de Kat por meu pescoço, ajudando Tessa
a carregá-la quando ela quase foi ao chão. Mesmo magra e da altura de Tessa, Kat ainda é pesada
para a minha melhor amiga levar sozinha, ainda mais quando ela mal consegue andar.
— Eu quero vomitar… — Kat infla as bochechas, virando o rosto na minha direção.
— Se você vomitar em mim, eu a afogo no seu próprio vômito — eu digo entredentes.
— Vou me certificar de mirar nos seus peitos. — Ela sorri com deboche, mesmo bêbada.
Adam segura a minha bolsa para mim e, com dificuldade, Tessa dá a chave do carro para
Chase. Ele começa a andar para fora da boate, e nós o acompanhamos. Nós andamos em direção
ao carro de Kat e abrimos a porta do banco de trás, colocando a bêbada para dentro. Faço
menção de entrar no carro quando vejo que Adam, Tess e Kat já ocupam o banco de trás.
Só me resta o do passageiro, ao lado de Chase.
Eu abro a porta, entro no carro, me sento e fecho a porta em seguida. Pego minha bolsa, que
Adam estende para mim, e a coloco em meu colo. Chase liga o carro e dá partida, afastando-se
da boate com rapidez. Pelo caminho, Tessa só pede a Deus para que Kat não vomite em seu colo,
já que ela está com a cabeça nas pernas dela. Já Adam… ele já tinha embarcado em um sono
pesado.
Olho para Chase pelo canto do olho e o vejo coçar a sobrancelha com a mão esquerda
enquanto dirige com a direita. A sensação de suas mãos em minha cintura e de seus dentes no
lóbulo de minha orelha ainda está por todo o meu corpo, fazendo-o formigar.
— Me dê um pouco de água quando chegarmos, tudo bem? — Chase pergunta, assustando-
me. Ele pisca. — Você me deve por estar me secando neste exato momento.
Arregalo meus olhos e giro o pescoço na direção dos meus amigos, vendo que nenhum deles
está prestando atenção. Tessa parece mais interessada em fazer com que Kat não vomite.
Volto a olhar para ele.
— Em seus sonhos, talvez isso aconteça.
— Em meus sonhos, coisas piores acontecem. — Chase pisca, e me calo, recusando-me a
continuar essa provocação.
Minutos depois, ele estaciona o carro no estacionamento do nosso prédio, e eu desço. Abro a
porta do banco de trás e acordo Adam, que sai do carro bêbado de sono. Tessa sai do carro com
dificuldade por estar sustentando Kat, e dou a volta para ajudá-la. Coloca minha bolsinha em
meu ombro esquerdo e passo o braço direito de Kat por meu ombro para lhe dar sustentação.
Chase sai do carro de Kat e liga o alarme. Ele dá a chave a Adam e pergunta se não
queremos ajuda com a bêbada em nossos braços. Mas negamos e caminhamos para dentro do
prédio, acostumadas. Chase pede o elevador para nós, e entramos nele quando chega. Ele para no
nosso andar, e vamos em direção ao nosso apartamento.
— Obrigada por nós trazer até em casa, Chase, você é o máximo! — Tessa sorri para ele, e
faço uma careta enquanto Adam tira a chave do apartamento da minha bolsa.
— Não tem de quê, não me custou nada ajudá-los. Também fui ajudado — ele diz, e faço
uma careta enquanto assisto a Adam abrir a porta.
Tão educado e prestativo. Não parece ser o diabo em pessoa quando está a sós comigo. Pior
que nem parece uma máscara de tão perfeita que é sua atuação. Que fingido! Certas pessoas já
nascem com o dom do descaramento em suas veias.
— Valeu mesmo, Chase, tenha uma boa noite. — Escuto Adam dizer enquanto Tessa e eu
entramos com Kat.
Chase fala algo que não entendo e, em seguida, a porta do apartamento é fechada, deixando-
o do lado de fora. Não olhei para trás, afinal não tinha por quê. Murmurei apenas um “obrigada”
grosso.
Tessa e eu vamos em direção ao quarto dela e colocamos Kat jogada na cama, vendo o
cabelo da garota de franja rosa se espalhar nos travesseiros e o nariz repleto de sardas se
contorcer como se estivesse sonhando. Bem, eu também estou sonhando em sufocá-la com algo
por ter dormido enquanto dirigia.
Justin entra no quarto correndo, pula na cama e começa a lamber o rosto de Kat.
— Ai, Tessa. Pare… — ela vira o rosto, ainda dormindo — tem muita gente aqui, depois
você me lambe…
Tessa e eu rimos, e tiro Justin de cima dela, vendo Adam entrar no quarto com um
semblante confuso.
— Ally, eu vou dormir com você? — Adam pergunta enquanto tira o moletom preto,
ficando apenas de regata branca e calça jeans.
Meu melhor amigo é incrivelmente lindo, mas, ainda assim, não consigo não compará-lo ao
Shrek. É engraçado como a relação de melhores amigos funciona, você pode ser amiga do Brad
Pitt, mas ele ainda vai ser o homem mais feio do mundo.
— Você vai dormir comigo e o Justin — eu digo, fazendo carinho na cabeça do meu
cachorro.
— Às vezes eu esqueço que você dorme com ele na sua cama. — Adam faz uma careta e
torce o nariz.
— Minha cama? Não, a cama é do Justin, não é, amor? — Eu me abaixo e seguro o focinho
dele em minhas mãos, e late e abana o rabo.
Adam ri, e olho para Tessa quando ela solta um grunhido, parecendo querer perder a
paciência com a insistência de sair da cama, mesmo bêbada. Minha melhor amiga respira fundo e
coloca um travesseiro debaixo de sua cabeça.
— Cuidado para ela não vomitar na sua cama — eu digo.
Tess nega com a cabeça.
— Relaxa, ela não vai fazer isso.
No mesmo instante, Kat vira para o lado esquerdo e vomita no edredom de seda vermelha da
cama de Tessa, arrancando-me uma careta. O conteúdo que sai de sua garganta chega a atingir
seu braço, e Adam coloca a mão sobre a boca, correndo em direção ao banheiro.
Minha melhor amiga arregala os olhos, perplexa.
— NÃO ACREDITO NISSO, KATHLEEN! — Tess grita e passa as mãos pelo rosto. Ela
bate na bunda da namorada. — Você bebe, e sou eu quem me ferro?!
A cara de Kat afunda no próprio vômito, e isso é demais para mim. Tentando não ter o
mesmo destino de Adam e pôr os bofes para fora diante da cena vergonhosa, eu me retiro do
quarto às pressas e estalo o dedo para que Justin me siga.
Ele vem ao meu lado, obediente, enquanto põe a língua para fora.
Alguns minutos depois, Adam e eu já havíamos tomado banho, e meu amigo vestiu
novamente o moletom que usou na boate e, na parte de baixo, apenas uma cueca boxer azul-
marinho, o que entre a gente é normal, afinal somos como irmãos.
Ele já está dormindo na ponta da cama, e eu na parede com Justin entre nós, porém não
consigo dormir. Não passo nem perto disso. Meus pensamentos ainda estão indo para as mãos de
Chase e em seu rosto estupidamente bonito, mesmo contra a minha própria vontade.
Isso é perigoso, porque, mesmo que eu não simpatize muito com ele, não posso mentir para
mim mesma e fingir que ele não me afeta fisicamente. Ou posso, já que chega uma hora que você
finge tão bem que acaba se tornando verdade. Talvez eu deva começar pensando assim.
Fechando meus olhos, acaricio as orelhas de Justin e suspiro, rezando para que o sono me
leve e eu pare de pensar em quem não devo.
— Nunca mais eu durmo na mesma cama que o Justin — Adam resmunga enquanto olha
para o meu cachorro de soslaio.
Na manhã seguinte, acordo destruída.
Não consegui dormir nem um pouco, por Adam se mexer muito, e tive que acordar no meio
da madrugada, porque ele sem querer atingiu o focinho de Justin com o cotovelo, e este mordeu
a bunda dele. Foi horrível ter que sair do meu sono de trinta minutos para ter que apaziguar a
confusão.
Adam acordou gritando e começou a se lamentar como uma criança enquanto Justin fez o
mesmo, escondendo o focinho atingido com as patas, e eu, como uma pessoa sensata, socorri
primeiro o meu cachorro, depois fui pegar gelo para Adam pôr no traseiro.
Mas, cá entre nós, não perdi o sono só por isso. O desgraçado que mora logo à frente
também foi o responsável, e nem mesmo sei o porquê. Sinto-me uma adolescente fantasiando
com o vizinho bonito, só que o meu é o próprio diabo. Ok, posso estar exagerando, mas chega
perto.
Agora, Tessa, Kat, Adam e eu estamos tomando café para irmos à universidade quando
Adam se mexeu na cadeira e fez uma careta de dor.
— Você deu uma cotovelada nele, qual reação esperava? — Eu arqueio as sobrancelhas e
mordo um pedaço de queijo.
Adam me olha horrorizado, e os seus olhos aumentam três vezes de tamanho.
— Foi enquanto eu estava dormindo, não fiz por mal! — Ele se defende e aponta para Justin
deitado tranquilamente em seu lugar próximo a nós. — E ele cravou os dentes na minha bunda!
— Não deveria ter dormido com a bunda virada para ele, então! — Eu ponho as mãos na
cintura.
Adam aperta os olhos em minha direção, negando com a cabeça como se tivesse desistido de
tentar se defender ou então desistido de mim. As duas opções são válidas.
— Você gosta mais do Justin do que dos seus amigos, não gosta? — questiona.
Eu sorrio e pego meu copo de suco.
— Eu te amo, Adam. Mas você realmente quer uma resposta sincera? — pergunto, dando
um gole na bebida doce.
Antes que ele possa responder, é Tessa quem o faz por ele.
— Escolha a resposta falsa. Não gostei de quando pedi a sincera — ela diz, arrancando-me
um sorriso.
Adam revira os olhos, e um gemido anda pela mesa, atraindo nossa atenção para Kat, que
tem as mãos sobre a cabeça, o rosto contorcido de dor. Mas sei que a única dor que ela possa
estar sentindo é a da humilhação quando o efeito do álcool vai embora e a ressaca chega.
Ela deu bastante trabalho a Tess ontem à noite.
— Eu não estou nada bem… — Ela massageia as próprias têmporas.
— Surpresa seria se estivesse. — Sorrio.
Ela me olha feio e me mostra o dedo do meio antes de soltar mais um gemido de dor e
fechar os olhos fortemente.
— Beba esse copo de suco de laranja que fiz para você. — Tessa coloca um pouco de suco
da jarra para Kat e estende para ela, que pega.
— Obrigada, amor… — Kat dá um sorriso fraco.
— Fique aqui hoje, você não está bem para ir à universidade. — Tess coloca uma mecha de
cabelo da namorada atrás da orelha.
Kat afasta o copo dos lábios e o põe na mesa, segurando-o com as duas mãos. O olhar em
seu rosto me lembra o de uma criança que está sendo cuidada pela mãe.
— Eu estou dormindo aqui já faz dois dias, não os incomoda? — Kat pergunta olhando de
mim para Tessa. — Eu tenho senso.
Adam passa de passar geleia em sua torrada e ergue os olhos para ela de maneira devagar.
— Indireta para mim, Kat? — questiona com a sobrancelha arqueada.
Mesmo nada bem, seu sorriso é debochado.
— Se a carapuça serviu… — diz com sarcasmo.
Ouço Tessa bufar e olho para ela, vendo-a revirar seus olhos escuros com um delineado
bem-feito.
— Parem com isso — ela repreende e sorri para eles. — Nenhum de vocês incomoda, é bom
que assim Allyson e eu não dormimos sozinhas.
Ergo minhas sobrancelhas.
— Nós não dormimos sozinhas, e o Justin?
— Ele é um cachorro, Allyson, não é nem bravo, pelo amor de Deus! — Ela ergue os
braços, exasperada.
Eu me debruço sobre a mesa em sua direção e coloco um pequeno pedaço de pão em sua
boca, ganhando uma careta dela.
— Silêncio, Justin pode escutar! — Ponho meu indicador sobre os lábios e olho para ele.
Felizmente, ele brinca com sua bolinha tranquilo. Adam e Kat riem, e esta o faz sem muitos
movimentos no rosto como se a qualquer momento fosse sentir dor novamente.
— Eu a vi dançando bem… juntinho ontem com o Scott — Adam solta de repente, olhando-
me com malícia.
E essa agora?
— O que eu perdi? — Tessa ergue as sobrancelhas.
Reviro meus olhos e enfio um pedaço de torrada em minha boca, usando-a como escudo
para não prolongar esse assunto nada importante. Por que Adam não poderia ter dormido bem
antes de presenciar a cena?
— Allyson e o capitão do time de futebol americano… — Adam sorri e balança as
sobrancelhas. — Só faltaram transar no meio da pista de dança da boate.
— Ah, mentira! — Tess arregala os olhos e bate no meu ombro, sorrindo largamente. —
Não foi você quem disse que nunca ia ter nada com ele, sua safada!?
— E nem vou — eu rio, incrédula.
Dancei com Scott apenas para provocar alguém que estava fazendo o mesmo comigo. Bom,
isso é o que eu penso, às vezes não é nada do que imaginei e Chase estava só se divertindo. Ando
tão desconfiada de tudo ultimamente que até posso estar vendo coisas.
Mas não. Sei muito bem o que o olhar de Chase continha ontem à noite: a mais pura
provocação e desafio. E só quero saber de onde surgiu a necessidade de fazer o mesmo com ele.
Se eu tivesse ingerido álcool, poderia culpá-lo.
Mas não estou disposta a falar que dancei com Scott apenas porque não quis ficar por baixo.
— E por que vocês estavam transando de roupa? — Adam insiste.
— Nós não estávamos transando de roupa!
— Afinal, estavam ou não? — Kat pergunta com impaciência, e seus olhos sem fecham
enquanto aperta o osso do nariz.
Essa enxaqueca de pós-ressaca não vai embora tão cedo.
— Eu vi quando ela rebolou no pau dele, cara! — Adam passa as mãos pelo rosto, frustrado,
como se ninguém estivesse acreditando em suas palavras.
— Safada! — Tessa e Kat gritam ao mesmo tempo, e arregalo meus olhos.
Bufo uma risada desacreditada e ponho as mãos em meu peito, olhando-as com as
sobrancelhas erguidas, até que limpo minha boca com as costas da mão e arrasto a cadeira para
trás, levantando-me.
— Cansei de ser difamada! — digo, saindo da cozinha ainda em tempo de ouvi-los rir como
um bando de hienas enquanto Justin me segue.
Eu nunca sairia com Scott, não importa o quão gato ele seja ou, pelo que os boatos dizem, o
quão bem ele saiba usar o que tem entre as pernas. Envolver-me com alguém, agora, seja apenas
para sexo, seja para relacionamento, é algo que não está nos meus planos e, se depender de mim,
nem tão cedo.
Eu ando até meu quarto, entro nele e me sento na cama para organizar meus cadernos e
livros.
Eu não sei onde estava com a cabeça quando dancei com Scott enquanto olhava para Chase.
Agora que tudo passou, sinto o arrependimento começando a querer dar as caras.
E eu não gosto de admitir, mas teve algo no toque de Chase que me fez queimar, até mesmo
ansiar por mais. O jeito que ele beijou aquela ruiva me fez sentir inveja. Faz tanto tempo que não
sou tocada, e infelizmente meus dedos não conseguem dar conta do trabalho. Bom, não do jeito
que preciso.
É, deve ser isso.
Não tem nada a ver com o fato de ele ser gostoso e totalmente sentável, ou então com o fato
de ter mãos grandes que dariam um ótimo colar ao redor do meu pescoço e uma carinha que
ficaria perfeita entre as minhas pernas. Não vamos nos esquecer também das tatuagens que me
fariam pecar sem pensar duas vezes, mas, felizmente, sou uma camponesa que não cairá em
tentação.
— Mais tarde a mamãe volta, ok, amor? — Eu faço um carinho nas orelhas de Justin, e ele
se inclina para lamber minha mão.
Eu sorrio e pego a minha mochila, saindo do quarto e deixando a porta aberta para quando
ele quiser sair. Entro na sala e encontro Tessa e Adam à minha espera já com suas mochilas nas
costas, totalmente prontos.
— Onde está Kat? — eu pergunto quando não a vejo.
— Foi dormir no meu quarto porque está com dor de cabeça — Tessa diz enquanto anda até
a porta da sala.
Assinto e sigo o mesmo rumo que ela. Adam corre atrás dela, e eu rio quando, antes de
fechar a porta, vejo o momento em que Justin passa correndo em direção ao quarto de Tessa.
Acho que ele foi ficar com Kat.
Quando fecho a porta, olho para o apartamento de Chase e mordo meu lábio com força
quando me lembro das mãos dele em minha cintura. Nego com a cabeça, para afastar esses
pensamentos que com certeza não são do meu feitio, e engulo em seco. Eu aperto a alça da
minha mochila e dou mais uma olhada para a porta de Chase antes de virar a cara e correr para
entrar no elevador juntos aos meus amigos.

— Examinem bem, pessoal — o professor fala para nós.


Gosto de dizer que, quando você está no período final dos exames da universidade, você não
tem mais dignidade. A linha que separa o orgulho da necessidade é muito fina e, ainda assim,
você acaba cruzando-a muitas vezes.
A universidade faz com que você passe pelas situações mais desesperadoras e vergonhosas
por míseros pontos extras. Bom, sinto em informar que estou disposta a me humilhar o quanto
for. Como agora, por exemplo.
Meus colegas de sala e eu estamos no laboratório da universidade examinando fezes. Isso
mesmo, pessoal, estamos estudando a bosta de alguém.
Uma das coisas que eu mais odeio na biomedicina é examinar merda que sai do cu de
alguém e outros fluídos corporais como catarro, sangue e urina. Mas bosta? É o pior delas.
— Vocês veem alguma coisa de diferente nessas fezes? — O professor olha para nós, e seus
olhos caem sobre mim. — Allyson?
Eu me afasto do microscópio e coloco as minhas mãos enluvadas nos bolsos do meu jaleco
branco, olhando para ele por trás dos óculos de laboratório que eu estou usando.
— Eu não estou conseguindo achar nada neste fluído corporal, apenas vejo que… — meu
nariz se contorce em uma careta — que é enorme.
Os alunos caem na gargalhada, e aperto meu rabo de cavalo quando o sinto ficar frouxo.
Graças a Deus, a pessoa que nos presenteou com tal amostra que estamos analisando não é da
minha turma. Os professores sempre escolhem pessoas anônimas para preservá-las.
— Allyson… — o professor me repreende, mas dá para ver que ele reprime um sorriso.
Encolho meus ombros.
— Desculpa… — Sorrio envergonhada.
Ele nega com a cabeça e se vira para os demais alunos.
— Ok, ok, guardem as suas coisas. — O professor bate palmas. — A aula já acabou, podem
sair.
Os outros alunos e eu andamos até os armários do laboratório, e tiro meu jaleco branco e os
óculos e os guardo. Jogo as luvas brancas na lixeira, pego minha mochila e a jogo em meu
ombro. Sorrio minimamente para o professor antes de sair do laboratório.
Solto meu cabelo do rabo de cavalo, bagunço os meus fios para soltá-los e os vejo cair em
meu rosto. Passo os dedos por minha franja e a jogo para trás com a intenção de deixá-la mais
arrumada. Olho para baixo quando termino e vejo meu cadarço direito desamarrado. Eu bufo e
me abaixo para amarrá-lo, sabendo que isso é consequência de eu não saber dar nós bonitos ou
firmes.
Termino de amarrar meus cadarços e me preparo para me levantar quando coturnos
aparecem no meu campo de visão, bem diante de mim. Ergo os meus olhos lentamente,
encontrando duas bolas cinzentas me encarando acompanhadas de um sorriso de lado e uma
covinha como brinde.
— Você. — Eu reviro os olhos enquanto me levanto.
— Como você é educada, que linda. — Chase coloca a mão tatuada direita sobre o peito. Ele
sorri com sarcasmo. — Bom dia para você também, Ally.
Eu pisco, inocentemente.
— Se meu dia já não estava bom, imagine agora. — Sorrio docemente.
— Com certeza devo ter melhorado o seu dia. Modéstia à parte, já viu como sou um colírio?
— Ele passa a mão pelo cabelo castanho, sorrindo. — Alegro o dia de qualquer um.
Eu o encaro de cima a baixo e vejo o moletom cinza de capuz que ele veste e a calça preta
um pouco larga, mas bem pouco. Acho que esse é o estilo dele.
Mas o que mais me chama atenção são os olhos cinzentos sempre tão fechadinhos, como se
ele vivesse constantemente com sono.
— Grande ego o seu. Estou começando a duvidar se você não tem realmente o pau pequeno.
— Sorrio com desdém.
Chase apenas sorri de lado e fica calado, fazendo-me engolir em seco.
Uma vez, antes de eu começar a namorar Kevin, eu disse que o pau dele era pequeno. Ele
ficou puto e perguntou se eu queria conferir e, como eu sou uma grande safada, disse que sim.
De fato, o pau dele era grande, mas nada tãããooo chocante. Era um pau normal.
— E eu estou começando a duvidar se todo esse falatório sobre o meu pau é porque você
quer conhecê-lo — ri, ladino.
Estreito meus olhos para ele, o ar zombeteiro exala de cada poro do meu corpo. Chase
escolheu um péssimo dia para me irritar, estou estressada para caralho. Não me responsabilizo
por meus atos.
— Você que não venha, estou cheia de problema. — Ponho as mãos na cintura e o encaro
com uma carranca. — Se não, vai sobrar para você.
Mas essa informação parece ser combustível para Chase.
— Por que o mau humor, Ally? — Chase pergunta com a cabeça inclinada para a esquerda.
— Experimente passar uma aula inteira revirando bosta. — Eu reviro os olhos.
Chase ri, e é um som tão gostoso que tenho vontade de ficar escutando. Mas isso não é
possível, porque sua risada morre assim que braços rodeiam minha cintura e um peito duro se
gruda às minhas costas, não deixando nenhum espaço entre nós.
Assim como Chase que tem o cenho franzido, faço o mesmo e me preparo para ver quem é
quando uma boca se cola à minha orelha.
— Bom dia, Allyson — Kevin diz, e posso sentir seu sorriso.
Meu estômago se revira, e tenho vontade de rir. É engraçado como um dos toques que eu
mais amava pôde vir a ser nojento e invasivo, que não importa quantas vezes suas mãos tenham
estado em mim no passado, agora seu toque não passa de um incômodo gritante.
Kevin perdeu tantos direitos.
— Falando em bosta… — resmungo, desdenhando.
Eu tiro as mãos de Kevin de mim e me viro para olhar para ele, vendo-o com uma camisa
que se agarra perfeitamente ao seu corpo musculoso e expõe seu peitoral sem nem precisar
mostrar a pele.
Algo no meu peito se revira, e não sei se é um sentimento ainda vivo ou só ódio e mágoa.
Sim, infelizmente eu sou uma pessoa rancorosa.
— Sugiro que pense duas vezes antes de tocar em mim de novo, Kevin. — Eu cruzo os
braços e ergo meu queixo para parecer indiferente. — Você com certeza não vai gostar de ter as
suas mãos enfiadas na sua garganta.
— Eu sei que você gosta das minhas mãos em você, Ally… — Kevin sorri sugestivamente e
passa as mãos pelo cabelo liso e sedoso.
Solto uma risada nasal e debocho.
— Os anabolizantes já devem estar afetando o seu cérebro. — Nego com a cabeça.
Kevin ignora o que eu digo e mantém seu sorriso.
— Eu a vi na boate ontem, mas aí a perdi de vista e não consegui achá-la mais. — Ele pega
uma mecha do meu cabelo nos dedos.
Algo que ele fazia no passado e eu costumava gostar, porque ele dizia que amava a cor. Mas
agora parece nojento, e não gosto que estranhos me toquem.
— A intenção foi essa. — Eu reviro os olhos e bato na mão dele para afastá-la de mim.
Kevin bufa e cruzo os braços em frente ao peito, e uma carranca se forma em seu rosto
bonito.
— Que saco, Allyson. Até quando você vai ficar me evitando? Eu quero voltar com você,
estou com saudades.
Quantas mentiras.
— Você só quer voltar comigo porque levou chifres, seu corno safado! — rebato de braços
cruzados.
— Como você soube disso?! — Kevin arregala os olhos e nega com a cabeça. — Isso é
mentira, não acredite nisso!
Um ano se passou, e esse filho da puta continua mentiroso. Ele não vai mudar nunca?
— Não é mentira, Kevin. A notícia se espalhou assim como foi comigo. — Sorrio enquanto
passo a língua nos dentes, satisfeita. — É só a vida seguindo seu percurso e o carma agindo.
Kevin descruza os braços.
— Deixe-me levá-la em casa, e a gente conversa melhor sobre a volta do nosso namoro. Por
favor, Ally… — ele sorri, dando um passo em minha direção. — Você não sente a minha falta?
Por muito tempo senti a falta de Kevin, mas agora? Isso é uma pergunta para a qual,
infelizmente, não tenho resposta. Estou confusa com o fato de ele ainda mexer comigo, mas
também me causar repulsa.
— Não vamos voltar, Kevin — eu bufo, passando minhas mãos no rosto quando me sinto
frustrada. — Entende isso de uma vez por todas, caralho!
— E por que não? — Kevin pergunta, sorrindo com sarcasmo. — Você também está solteira
que eu sei.
Jogo meu cabelo por cima do ombro.
— Quem disse?
— Ah, é? E quem você está namorando? — ele questiona, sorrindo.
Porra.
Eu passo os olhos pelo corredor cheio e olho para trás, vendo que Chase ainda está aqui. Ele
está olhando para Kevin e para mim com uma expressão no rosto que não consigo decifrar, mas
sei que não é amigável como de costume.
Guiada pelo desespero, eu o enxergo como uma luz no fim do túnel.
— Estou namorando Chase! — eu agarro o braço direito dele e o puxo para mais perto.
Kevin não está entendendo que eu não quero nada com ele, talvez comigo dizendo que estou
saindo com outra pessoa ele entenda.
Eu sorrio para Chase, que franze o cenho por estar confuso. Por favor, não me desminta,
imploro com o olhar.
— O quê? — Kevin ri, olhando Chase de cima a baixo. — Esse cara nem faz o seu tipo.
Kevin fala das tatuagens, nunca fui alguém que as curtisse. Não por preconceito ou coisa do
tipo, apenas porque não me atraio por homens tatuados.
— Qualquer pessoa que não seja um cachorro traidor faz o meu tipo — eu digo, soltando o
braço de Chase quando sinto a raiva querer dar as caras.
Kevin ergue o queixo.
— Eu não acredito em você. — Ele sorri convencido. — Prove.
Cerro meus punhos e mordo o interior de minha bochecha para controlar a raiva que cresce a
cada segundo. Ele me traiu, que porra da satisfação devo a ele? Por que eu tenho que provar algo
a esse filho da puta?
Braços envolvem a minha cintura por trás, e me paraliso, prendendo a respiração. Ele me
puxa para perto do seu corpo e me faz engolir em seco por sentir minha pele formigar por dentro
da minha roupa. Eu apoio minhas mãos em seus antebraços, mas não sei por quê.
— Ela não precisa provar nada a você — Chase declara a Kevin.
— Eu estou falando com ela — meu ex rebate, fuzilando-o.
— E eu com você — Chase cospe, apoiando o queixo em meu ombro esquerdo. — Pega feio
ser tão insistente assim, cara. Ela já disse que não tem nada para falar com você.
Eu não consigo me mexer. Não acredito que Chase está participando da minha mentira. Mas
não consigo me sentir aliviada por isso, eu me sinto ansiosa.
— Quem você pensa que é? — Kevin dá um passo à frente com impaciência.
— Chase Fontana. — Chase tira o queixo do meu ombro, e posso sentir o sorriso em sua
voz. Céus, por que me sinto fraca?
— Ou seja, ninguém — Kevin diz entredentes.
Recobrando meu foco, decido finalmente agir.
— Errado, ele é o cara com quem eu estou saindo — eu digo e coloco minhas mãos sobre as
de Chase que seguram a minha cintura.
— Por favor, Ally, vamos conversar um pouco… — Kevin diz, esticando a mão na minha
direção.
Chase bate nela antes que ela sequer me toque, e sinto seus braços ao redor da minha cintura
ficarem mais possessivos.
— Eu tenho certeza de que ela deixou bem claro que não quer que você toque nela — Chase
diz com a voz séria, e é um tom que nunca o vi usar antes.
Kevin o olha com raiva, parecendo querer avançar em sua direção, pronto para atacar. Se os
dois brigassem, seria algo muito feio de se ver. Dois caras altos e fortes, é impossível dizer quem
ganharia.
— Kevin! — uma voz chama, e olhamos na direção dela. Eu o reconheço, é um dos amigos
dele. — O professor está chamando-o na sala.
Kevin olha de mim para Chase, não sabendo em qual dos dois fixa suas íris flamejantes de
ódio. E quer saber de uma coisa? Ele pode se explodir.
— Depois falo com você, Allyson — ele avisa, dando um ótimo olhar fuzilante a Chase
antes de se virar e ir embora.
Eu assisto a Kevin sumir pelo corredor, acompanhando cada passo apressado e rígido. Um
suspiro deixa meus lábios, e me sinto fielmente relaxar.
Toda a presença de Kevin me deixa malditamente sufocada.
— Vou começar a cobrar pela minha ajuda, gattina — Chase sussurra em meu ouvido, e dou
um pulo no lugar.
Eu lembro que ele ainda está me agarrando e tiro as mãos dele de minha cintura, afastando-
me e virando-me para olhá-lo. Sua boca contém um sorriso de lado e me deixa ver a sua covinha,
que é charmosa até demais para o meu próprio bem.
Reunindo coragem, vago meu olhar para o dele.
— Quero que saia comigo — eu digo.
— Bom, tenho meus defeitos. Mas onde foi parar o romantismo? — questiona com um
sorriso malicioso.
— O quê? Não assim! — Eu nego com a cabeça e explico.— Quero que finja que estamos
namorando.
Chase inclina a cabeça para trás, cruzando os braços sobre o peito. Ele é um pouco mais
magro que Kevin, mas, ainda assim, o moletom se agarra a seus bíceps.
— Por quê? — Chase questiona com os olhos apertados.
— Preciso manter meu ex-namorado longe de mim — digo, olhando-o. — Vai ser por pouco
tempo, só até que ele esqueça que eu existo.
— E por que você acha que assim vai conseguir afastá-lo?
— Ele parece ter ficado com raiva de nos ver juntos. — Eu dou de ombros, encaro o rosto
dele e mordisco meu lábio. — Por favor, você só precisa fingir que temos algo. Vai ser só
quando ele estiver por perto.
Chase me encara por alguns segundos com os olhos acinzentados, como se estivesse a
analisar a minha proposta. Sua mandíbula tranca, e seus lábios se franzem. É impossível dizer o
que está se passando em sua cabeça agora.
— Você ainda gosta desse cara? — questiona, sendo direto.
Ergo minhas sobrancelhas com sua pergunta inesperada e me vejo pensando em uma
resposta para ela. A verdade é que eu não sei.
— É complicado… — Engulo em seco.
Chase arqueia uma sobrancelha minimamente e me estuda. Algo brilha em suas íris, e seu
olhar se torna mais escuro.
— Certo, eu ajudo — ele finalmente diz e arregalo os olhos.
— Sério? — Sorrio largamente, e ele assente. Estendo minha mão, ainda sem acreditar. —
Temos um acordo, então?
— Temos um acordo. — Chase aperta a minha mão, e seu toque faz minha pele formigar.
Olho para nossas mãos unidas e vejo como a dele engole a minha sem muita dificuldade.
Seus dedos são repletos de anéis e acompanhados por veias grossas.
— Mas com uma condição — ele sorri, largando minha mão.
— O que você quer? — pergunto, cautelosa.
Chase dá dois passos à frente e, quando já estava a uns dez centímetros de mim, ele se
inclina em minha direção e sorri de um jeito que eu odeio. Odeio porque acho bonito. E odeio
porque é um sorriso que você não esquece facilmente.
Chase separa os lábios, e me preparo para a condição provavelmente devassa que vai sair da
sua boca.
— Ser seu amigo.
Tem muitas formas de se devolver um favor. Entre elas, com dinheiro, fazendo algo pela
pessoa, ou então o que você preferir. Não acho que exista uma definição exata para isso e pensei
que a minha conta seria mais alta, eu realmente não estava esperando por isso.
Tenho até que piscar algumas vezes e balançar a cabeça para o que eu escutei agora. É tão
inusitado e diferente que chega a ser cômico, não de um jeito engraçado, mas de um jeito que me
causa nervosismo.
Eu fico encarando Chase como se ele tivesse algum problema, tentando achar, em seu rosto,
a prova de que ele está brincando. Mas, quando não encontro, ergo o queixo e ponho as mãos na
cintura.
— Você quer ser meu amigo? — Eu franzo o cenho.
Chase assente.
— Sim, isso mesmo — ele sorri.
Ele só pode estar brincando com a minha cara, não é possível.
— Tanta coisa para você pedir e você pede para ser meu amigo? — questiono, ainda
incrédula.
— O que achou que eu pediria? — Chase arqueia uma sobrancelha.
Limpo a garganta quando noto seu tom sugestivo, como se estivesse me acusando de algo.
— Dinheiro, talvez? — eu pergunto como se fosse óbvio e dou de ombros. — Ou então que
eu fizesse seus trabalhos da universidade ou me tornasse sua escrava.
Tudo isso teria mais lógica do que ele pedir para ser o meu amiguinho. Nós nem nos damos
bem, é mais fácil se eu matá-lo enforcado e sem direito de defesa.
— Primeiro, não preciso de dinheiro. Como você bem sabe, eu trabalho. Segundo, eu gosto
de fazer meus trabalhos da universidade. Terceiro… — Chase sorri de lado, revelando a covinha
profunda — depende de que tipo de escrava você está falando.
Abro a boca, perplexa com o que ele está insinuando. Sinto minhas bochechas queimarem e,
inferno, não sou alguém que cora com facilidade. Sou toda fechada? Sim.
Mas eu também sou completamente descarada e não gosto nadinha de encontrar alguém
como eu.
— Estou falando sério, seu tarado! — Eu reviro os olhos e cruzo meus braços. — Não
consegue falar uma frase que não seja putaria?
Chase arqueia uma sobrancelha.
— Em que momento eu falei putaria? — pergunta, cínico. — Apenas falei que vai depender
de que tipo de escrava estamos falando. Você que levou para esse lado.
Dou um passo à frente e ponho as mãos na cintura.
— Eu sei muito bem que tipo de escrava você quer. — Sorrio, debochada.
Chase se inclina em minha direção, e me recuso a dar um passo para trás. Se eu o fizer, ele
vai saber que estou afetada.
— Ah, Ally. Sei que fantasia comigo… — sorri, negando com a cabeça enquanto desce o
olhar para a minha boca. — Não precisa ter vergonha se seu fetiche é ser minha escrava sexual.
Eu não julgo nada e, no seu caso, sou mais do que um apoiador.
Meu rosto se retorce em uma careta, aprofundando-se em uma carranca nada bonita. Eu
empurro Chase para longe de mim.
— Você não tem nada melhor para fazer além de ser um pervertido pé no saco? — Cerro
meus dentes e vejo que ele nem mesmo saiu do lugar.
Mas, como se tivesse entendido o que eu quero, Chase dá dois passos para trás, mantendo
uma distância que me permita respirar com mais facilidade.
— Esse pervertido pé no saco acabou de salvá-la de outro pervertido pé no saco — Chase
debocha, inclinando a cabeça para o lado enquanto agarra a alça de mochila.
Abro a boca para responder quando olho para baixo e vejo um pedaço de carteira de cigarro
sair da sua calça jeans. Eu volto meu olhar para ele e vejo que seguiu meus olhos bisbilhoteiros.
Eu arqueio uma sobrancelha e ergo o queixo para ele.
— Se continuar fumando, seus pulmões não vão mais existir antes dos quarenta — digo, e
ele suspende uma sobrancelha.
— Preocupada comigo, gattina? — Chase provoca e sorri em deboche.
Imito seu sorriso.
— Claro, como eu poderia não me preocupar com a saúde do meu adorado vizinho. —
Ponho a mão no peito e bato meus cílios.
Chase bufa uma risada.
— Deveria se preocupar com a própria vida também — sorri, meigo.
Dou-lhe um olhar fuzilante em meio aos sorrisos falsos.
— O que quer dizer com isso? — pergunto entredentes.
— Eu trabalho, e você? — Chase rebate.
Ponho a mão no peito de novo, mas dessa vez não é por deboche, e sim por incredulidade
diante de suas palavras, um gesto nada mais do que verdadeiro.
— Eu? — Sorrio, jogando meu cabelo para o lado. — Eu trabalho com lacre, trabalho
quebrando tabu, com eita atrás de eita, lacre atrás de lacre, fecho atrás de fecho. Eu trabalho
destruindo o patriarcado, quebrando barreiras!
Chase apenas arqueia a sobrancelha esquerda.
— Você é desempregada, não é?
— Sou.
Chase ri e nega com a cabeça. Ele passa as mãos pelos fios castanhos de seu cabelo e os joga
para trás, tirando-os de seu rosto. Pela gola do moletom, vejo a tatuagem de rosa em seu pescoço
querer dar as caras.
— Faz tempo que não trabalha? — pergunta, parecendo genuinamente curioso. Nego com a
cabeça.
— Não, só uns quatro meses. Eu trabalhava em uma lanchonete aqui perto da universidade.
— Eu ponho as mãos na cintura. — Mas fui demitida.
— Por quê?
Encolho meus ombros.
— Eu… eu joguei café quente dentro das calças de um cliente que passou a mão em mim.
Chase franze o cenho.
— Eles a demitiram só por isso? Você apenas se defendeu.
Suspiro.
— É, eu sei disso. Mas, em alguns lugares, o cliente sempre tem razão, e o filha da mãe fez
um escândalo.
Chase assente, enfiando as mãos nos bolsos do moletom.
— Não fez um boletim? — pergunta, e nego com a cabeça.
— Dor de cabeça demais. — Dou de ombros e olho desconfiada, analisando-o de cima a
baixo. — Abra o jogo, o que você quer de verdade para me ajudar?
Chase solta uma risada nasal.
— Abaixe um pouco a guarda, gattina — ele diz com a voz rouca. — Eu realmente quero
ser seu amigo.
— Por quê? Não faz sentido. — Eu ponho as mãos na cintura e franzo o cenho. — Não nos
damos bem.
Não tem a menor lógica ele querer ser meu amigo quando não suportamos estar na presença
um do outro.
— Não, você não se dá bem comigo. Você está brigando sozinha. — Chase dá de ombros e
me encara. — E, bom, eu a acho engraçada.
Sorrio de modo zombeteiro.
— Então por que você não vai a um circo?
— Para que se a minha vizinha me fornece um show completo? — Sorri de um jeito que faz
meu sangue ferver.
É engraçado — para não dizer irritante— o modo como Chase vê em mim algo com o que
brincar. Eu não tenho mais dúvida de que seu passatempo preferido é fazer da minha paciência
um playground.
Isso aquece o meu sangue, porque, mesmo que eu revide, ele parece tranquilo demais para
realmente se importar com as provocações que saem da minha boca, e pretendo colocar um
distanciamento entre nós antes que eu o mate.
— Escute aqui, italiano desgraçado. — Jogo meu cabelo para trás e sorrio com os dentes
cerrados. — Temos que colocar alguns limites.
Chase arqueia uma sobrancelha.
— Que limites? — Tem cautela em sua voz.
— Você só pode me tocar quando Kevin estiver por perto. — Eu ponho as mãos na cintura.
— O mesmo vale para mim. A gente só precisa atuar na frente dele.
— Por quê? — Chase franze o cenho.
Eu sorrio convencida.
— Decepcionado? — provoco.
Chase sorri e dá um passo em minha direção. Pisco, sentindo a saliva se acumular na minha
língua. Eu a engulo, com dificuldade.
— Você não? — ele pergunta e suspira dramaticamente. — Deve ser difícil não poder tocar
em um cara tão bonito como eu quando bem-quiser.
— Malditamente convencido… — Reviro os olhos
— Eu tenho espelho em casa, gattina. — Chase pisca, soando sarcástico.
E cruzo meus braços ao escutar o apelido que sai de sua boca.
— Eu já disse que odeio quando você fala em italiano. — Eu dou um passo à frente e fico
cara a cara com ele. — O que porra significa “gattina”?
Chase abaixa o rosto e ergue o meu queixo com seu indicador direito, fazendo-me erguer as
sobrancelhas com surpresa e ansiedade. Os olhos de Chase descem para meus lábios, e os molho,
sentindo-os secos.
— Gatinha — Chase esclarece, como se fosse a mais profunda devassidão.
Sinto minhas bochechas pegarem fogo e estapeio sua mão, mantendo-a longe.
— Foi até bom eu ter criado esses limites, assim você não vai se aproveitar da situação para
tocar no meu corpinho. — Sorrio com desdém.
— Você que quer se aproveitar de mim, por isso pediu a minha ajuda.
Rio.
— Até parece que eu iria querer tocar em você.
Chase sorri e dá um passo adiante, parando bem na minha frente. Seu indicador mais uma
vez ergue meu queixo, e ele se inclina na minha direção. Prendo a respiração quando ele dá a
entender que vai me beijar. Mas ele apenas analisa meu rosto.
— Questo è quello che vedremo, amore — Chase sussurra, e sua voz rouca arrepia meu
corpo.
Ele para por mim e me deixa imóvel como uma verdadeira estátua sem reação ou
pensamento. Olho para trás e avisto Chase já caminhando para longe de mim como se não
tivesse me afetado levemente com suas palavras e com sua maneira de agir.
Eu odeio quando ele fala em italiano. Mas não só porque eu não entendo nada, mas também
porque acho isso estupidamente atraente e sinto que, de alguma forma, mexe comigo. Eu só
posso ter problemas.

— Venham aqui, tenho que contar algo.


Karen diz, e paro de arremessar para lhe dar uma olhada. Ela passa a mão pelo cabelo
castanho e o retira da frente dos olhos. Eu não sei como ela consegue treinar com o cabelo solto e
alguns fios grudando em seu rosto e não se incomodar.
Mesmo que eu sempre treine de coque ou de rabo de cavalo, sempre prefiro o primeiro. Meu
cabelo fica mais preso e nada gruda no meu corpo suado. Mas, mesmo que Karen treine assim,
fico besta com o fato de ela não ficar descabelada. Está sempre tão impecável.
As garotas do time e eu paramos diante dela, algumas respirando com dificuldade e outras
até se sentaram no chão. Eu apenas apoiei minhas mãos nos joelhos e tentei puxar minha
respiração, sentindo o suor se acumular em minha testa. Karen pega sua garra de água no banco.
— Eu recebi notícias do técnico, ele volta semana que vem — ela diz, levando a garrafa aos
lábios. Parece tão cansada quanto nós.
O treino de hoje rendeu muito e deixou as garotas do time e eu cansadas. Karen continua a
pegar pesado com a gente e tem me feito correr mais do que eu conseguia para salvar as bolas.
Algo sobre eu estar muito lenta ou distraída.
Eu discordo completamente disso, sempre sou centrada com minhas obrigações.
— ISSO! — as garotas do time comemoram, e eu sorrio.
Karen dá um sorriso zombeteiro e afasta a garrafa de água dos lábios para nos encarar, e
ando até o banco para pegar uma toalhinha.
— Fico feliz por terem gostado de serem treinadas por mim — ela debocha e indica com a
cabeça a saída. — O treino acabou, estão liberadas agora.
Jogo a toalhinha com a qual sequei o rosto no banquinho e vou em direção à minha mochila,
depois a jogo por cima do meu ombro direito. Aperto o meu rabo de cavalo e estico as minhas
costas doloridas.
— Vou indo nessa, até mais — eu anuncio, já me virando para ir embora.
Já estou quase tocando a maçaneta da porta quando ouço alguém chamar meu nome.
— Espere aí, Allyson! — Escuto Karen gritar e olho para trás, vendo-a correr até mim com
sua mochila nas costas. Ela sorri quando para diante de mim. — Eu a levo para casa.
Se fosse em outras circunstâncias, eu negaria. Mas realmente estou toda dolorida e não
quero ter que procurar um táxi para me levar para casa, sem contar que algo dentro de mim pensa
que eu estar assim é tudo culpa dela, então meio que é justo ela arcar com isso, não?
— Tudo bem. — Sorrio minimamente.
Karen sorri também, e nós andamos para fora da quadra. Caminhamos pelos corredores da
universidade e saímos dela, Karen anda à minha frente até o estacionamento da universidade, e a
sigo, parando em uma BMW prata. Ela retira a chave da mochila e abre a porta do carro.
Em seguida, ela entra, e a porta do passageiro destrava. Eu a abro e me sento no banco,
fechando a porta em seguida. Coloco minha mochila em minhas pernas e olho para Karen, que
sorri para mim e liga o carro, dando partida para longe da universidade.
Karen ter me oferecido carona realmente foi uma recompensa de Deus. Por tudo o que eu
estou passando esses dias, é de sentir pena, e o treino levou meu lindo corpinho ao limite. E não
sei se meu bolso aguentaria mais um táxi.
Karen solta a respiração, atraindo minha atenção para ela.
— Gostou do treino hoje? — ela pergunta com os olhos na estrada.
— Foi normal. Bem cansativo, como todos os dias. — Dou de ombros e sorrio.
— Desculpa, eu não queria cansar o time. — Ela coloca a mão na minha coxa, o que me faz
olhar para ela. Franzo o cenho com a ação estranha e volto a encará-la, vendo que agora ela sorri.
— Muito menos cansá-la.
Vejo que ela não tira sua mão de mim, e isso está começando a me irritar, pelo fato de eu
odiar ser tocada por estranhos e por Karen estar sendo totalmente invasiva agora, coisa que ela
não era antes. Ultimamente ela parece achar um pretexto para me tocar e ficar perto de mim, sem
contar nessa insistência dela em me trazer para casa de uns tempos para cá.
De maneira discreta, afasto sua mão, mesmo que não tenha nada de discreto nisso.
— Tudo bem, relaxa, você só quer o nosso melhor — digo e aceno com cabeça.
— Que bom que você entende. — Ela sorri, animada. — Agora me diga onde você mora.
Informo a Karen onde fica o prédio onde eu moro e fico o resto da viagem em silêncio, o
que eu agradeci com todas as forças, já que, depois de ela me tocar tão intimamente, senti o
clima ficar estranho. Ok, ela só colocou a mão na minha coxa, nada demais. Mas, ainda assim…
foi de maneira suspeita.
Talvez eu esteja começando a suspeitar que Karen tenha interesse em mim. Ela nunca falou
sobre sua orientação sexual, nunca a vi com um homem ou uma mulher. Então é algo para se
considerar, não? Infelizmente, se for verdade, não poderei retribuir seus sentimentos.
Em alguns minutos, Karen estaciona em frente ao meu prédio e tira o cinto, agarrando minha
mochila para descer.
— Obrigada, Karen — digo, pondo a mão na maçaneta.
— Quer que eu entre com você? — Karen coloca uma mecha do meu cabelo que escapou do
meu rabo de cavalo atrás da minha orelha.
Limpo a garganta e sorrio forçadamente.
— Valeu mesmo, mas não precisa. — Eu mantenho o sorriso e abro a porta, ainda olhando
para ela.
Karen assente com a cabeça e sorri largamente.
— Certo, até mais então. — Ela se inclina e beija a minha bochecha direita.
Eu faço o possível para não mostrar a minha cisma e sorrio falsamente, saindo do carro e
fechando a porta. Eu me viro antes que Karen vá embora e entro rapidamente no prédio sem
olhar para trás. Eu aceno para o porteiro e chamo o elevador. Quando ele chega, entro e deixo
minhas costas descansaram nas paredes de metal.
Fecho meus olhos e estico meu pescoço, sentindo como meu corpo está terrivelmente tenso.
Passo as mãos por meu rosto no instante em que escuto meu celular tocar na minha mochila. Eu
o pego e vejo o número desconhecido que está me ligando.
Franzindo o cenho, atendo.
— Alô?
— Ally! Sou eu, Kevin. — A voz do meu ex ressoa do outro lado, e ergo as sobrancelhas. —
Não desligue!
— Quantos números seus vou ter que bloquear para que você pare de me ligar, Kevin? —
Reviro meus olhos.
Sinto-o respirar fundo, parecendo pedir paciência, quando, na verdade, sou eu quem deveria
estar assim. Que se foda.
— Talvez, se você parar de me bloquear, eu não fique…
Desligo a ligação, interrompendo-o e me recusando a escutá-lo. Infantilidade ou orgulho
demais, pouco me importa. Não sei mais como tratar um cara a quem já dei todas as definições
de que não quero mais contato com ele. Pergunto-me se vou ter que pedir medida protetiva.
O elevador para no meu andar, e eu saio e ando em direção ao meu apartamento. Pego a
chave na minha mochila e destranco a porta, depois entro por ela. Quando a fecho, o breu é a
primeira coisa que eu encontro, o que é estranho, porque a luz sempre está acesa.
— Tess? — chamo-a enquanto acendo a luz.
Justin é o primeiro que eu vejo, ele aparece correndo na minha direção como um
desesperado, latindo. Eu me abaixo e faço um carinho nas orelhas dele, vendo-o abanar o rabo
sem parar. Passo por ele após lhe fazer um carinho e ando até o quarto de Tessa, franzindo o
cenho ao não encontrar ninguém. Nem ela nem Kat.
— Tessa? Kat? — chamo de novo, mas a única coisa que recebo é o silêncio.
Onde elas estão? Ao menos Tessa deveria estar aqui.
Saio do quarto dela e pego meu telefone em minha mochila para ligar para Tessa quando
vejo uma mensagem dela. A mensagem diz que a mãe de Kat tinha ido para a casa dela, que as
duas também foram para lá e que eu não deveria esperá-la, pois ela dormiria por lá mesmo.
Solto uma risada incrédula e abaixo o telefone. Elas me abandonaram.
Ando até meu quarto e entro nele, depois jogo a minha mochila na cama. Justin entra
correndo e esfrega o focinho na minha perna à procura de carinho. Sorrio e brinco com ele por
um tempinho antes de tirar a roupa e tomar banho.
Saio do banheiro enrolada em uma toalha e visto apenas uma calcinha de renda preta e uma
camisa branca e larga que vem até a metade das minhas coxas. Em seguida, pego o meu celular e
peço uma pizza de calabresa.
Minutos depois, o meu celular toca, e o olho, vendo que é uma chamada de Tessa.
— Não vou guardar um pedaço de pizza para você.— eu digo assim que atendo.
Minha melhor amiga faz um som indignado do outro lado.
— O quê? Ficou maluca? — Tessa ri. — Só liguei para saber se você está bem.
Eu sorrio, no mesmo instante em que ouço a companhia tocar, provavelmente o entregador,
e dessa vez até que chegou rápido, geralmente eu sempre espero alguns bons minutos.
— Qual foi, Tess. Fala como se eu fosse uma criança — eu falo, saindo do quarto com o
dinheiro na mão.
— Não me leve a mal, Ally… — A voz dela soa sarcástica do outro lado da linha, e ela ri. —
Mas não é muito confiável deixá-la sozinha em casa desde que você explodiu o micro-ondas.
— Aquilo foi um caso isolado — respondo, caminhando em direção à porta.
— Que quase nos custou uma cozinha inteira.
Abro a porta e vejo o entregador segurando minha pizza com um olhar um pouco
impaciente. Talvez esteja um pouco estressado agora, com certeza com os clientes anteriores.
Penso assim porque não lhe fiz esperar por muito tempo.
— Se ficar com medo de dormir sozinha, chame Chase — Tess provoca enquanto o homem
me dá a pizza.
Eu entrego o dinheiro e agradeço, parando na porta.
— Prefiro dormir agarrada ao capeta. — Reviro os olhos.
— Eu a conheço, Allyson. Eu sei que você tem vontade de dar para Chase.
Uma risada sarcástica escapa dos meus lábios, e nem mesmo fiz questão de segurá-la.
— Até parece — eu zombo e encaro a porta do meu vizinho, vendo-a fechada e sem sinal
dele. — Aposto que esse Chase não deve saber nem onde fica o clitóris.
Fecho a porta com o pé, já que minhas mãos estão ocupadas.
— Porra, Allyson. Qual o seu problema com o clitóris? — Tessa questiona, indignada. —
Não é porque o incompetente do seu ex não sabe onde fica o clitóris que outros caras também
não vão saber.
Ali estava a mania irritante que Tessa tem de tentar me fazer enxergar e entender que as
pessoas não são iguais, que não é porque alguém errou comigo que todos vão, e talvez ela esteja
certa, mas não estou disposta a me arriscar assim de novo.
— Escute aqui, vá dormir, vá! — eu a dispenso, desligando a chamada.
Jogo meu celular no sofá, não querendo mais escutar nada que ela diga, porque sou uma
perfeita covarde que não gosta de ouvir verdades.
Sorrio quando abro a pizza e fecho a cara na mesma hora assim que vislumbro o que tem
dentro. Eu pedi uma pizza de calabresa, e me mandaram uma de queijo e frango, e eu não sou
muito fã de queijo. Sempre que eu o como, minha barriga fica estranha, e o resultado não é muito
legal.
Alguém bate na minha porta, e Justin corre até ela e a arranha para que eu a abra,
provavelmente reconhecendo quem está do lado de fora. Eu coloco a pizza no sofá e ando até a
porta, surpreendendo-me ao ver Chase com uma calça de moletom cinza caindo em seus quadris
e destacando suas entradinhas. Estava sem camisa e com todas as tatuagens à mostra, o cabelo
castanho-claro bagunçado e um sorrisinho de lado.
Por que tão gostoso?
— O que está fazendo aqui? — Eu franzo o cenho, e minha voz sai mais rude do que eu
pretendo.
— Boa noite para você também, Ally. — Ele sorri sarcasticamente e tira o celular do bolso
da calça, depois balança o aparelho. — Vim pegar seu número, já que agora somos parceiros de
atuação.
Engulo com dificuldade quando sinto o cheiro que exala dele. Parece ser de sabonete, então
acho que acabou de tomar banho.
— Você… poderia pegá-lo na universidade amanhã… — eu digo, puxando minha blusa
para baixo quando me lembro de como estou vestida.
Mas parece ter o efeito contrário quando seus olhos deslizam para as minhas pernas. O
movimento dura segundos, mas ainda está ali quando ele volta a olhar para o meu rosto. Dessa
vez, seus olhos estão mais escuros.
— Por que, se você mora logo à minha frente? — Chase sorri, dando de ombros em um
gesto despreocupado. — Então, vai me dar seu número? Combinamos de sermos amigos, não?
Eu abro a boca para dizer que não, quando algo me impede, e eu a fecho, não querendo ser
tão filha da puta e imatura. Chase me ajudaria com Kevin, e a única coisa que ele pediu foi a
minha amizade. Por que não? Não é uma coisa que vai me matar. Acho que eu não preciso ficar
na defensiva com estranhos.
Eu o olho e assinto, um gesto quase inexistente e incerto.
— Você… quer entrar? — pergunto meio sem jeito e pigarreio. — Pedi uma pizza, mas não
veio do sabor que eu gosto. Como apenas o lado que tem frango e não quero estragar. Você…
quer comer comigo?
Chase ergue as dele como se estivesse surpreso com a minha oferta e sorri.
— Claro — ele diz, e abro espaço para que ele entre.
Chase se senta no sofá, e Justin também, e este coloca a cabeça na coxa direita do nosso
vizinho enquanto abana o rabo violentamente. Chase começa a fazer carinho em Justin e, sem
querer, meus olhos descem para o corpo dele, assistindo ao abdômen dele se contrair com uma
risada quando meu cachorro lambe seus dedos.
Eu suspiro e nego com a cabeça, fechando a porta atrás de mim. Talvez não tenha sido uma
boa ideia, levando em conta os meus hormônios.
Eu não sei se sou burra ou apenas estou deixando que as barreiras ao meu redor caiam
lentamente. Falo isso na questão de amizade, não vejo como manter uma boa relação com
alguém que vai me ajudar em um plano pode ser ruim, creio eu que até ajuda.
Mas ver Chase sentado no meu sofá, com as coxas grossas levemente entreabertas, o
abdômen contraído e todas as tatuagens à mostra, me faz ver como isso pode ter um sido um erro
do caralho. Eu não devia ter aberto as minhas portas e deixar Satanás entrar para me tentar, mas
foi exatamente isso que eu fiz.
— “A mais gostosona”? — Chase lê o nome que eu pus no meu contato em seu celular.
Sorrio, dando de ombros.
— Apenas verdades. — Eu mordo o último pedaço da minha pizza e bato as minhas mãos
uma na outra, tirando os farelos.
Comi apenas quatro pedaço de frango, e Chase comeu o resto da pizza. Ele não reclamou em
nenhum momento do sabor, o que foi bom, porque eu realmente não posso comer queijo. Nada
de bom acontece se eu o faço.
— Como você pôs meu contato no seu celular? — Ele arqueia uma sobrancelha.
— “Meu querido vizinho”. — Sorrio docemente e bato meus cílios para ele.
Mas Chase não parece acreditar quando aperta os olhos na minha direção com desconfiança.
— Mostre para mim.
— Por quê? Estou falando a verdade! — eu me defendo, fechando a caixa vazia de pizza.
Chase joga seu celular ao seu lado e gira o corpo de modo a ficar de frente para mim.
— Se é assim, por que não me mostra? Você sabe como está o seu contato no meu celular.
Suspiro dramaticamente e puxo minhas pernas na direção do meu peito, pondo as mãos em
meus joelhos e as apoiando.
— Bom, isso não é problema meu, é? — Eu ergo as sobrancelhas, e ele bufa, deixando o
corpo afundar no sofá.
Já faz meia hora que estamos na sala conversando sobre coisas aleatórias enquanto comemos
pizza. Justin não sai de perto do meu vizinho por nada, nem quando eu o chamo. Chase apenas
acha graça e continua a fazer carinho nele como se fosse o dono do meu cachorro. Sim, fui
abandonada.
Chase até que é uma companhia legal, por mais que ele goste de me provocar, não é nada
extremo, e também é engraçado, coisa que eu não admitiria em voz alta nem tão cedo.
Admitir isso seria: “Oi, eu o destratei por pura implicância, não tinha motivo nenhum”.
Apenas não gosto de caras incrivelmente lindos que dão a entender que vão foder a minha vida.
— Trapaceira do caralho — Chase diz entredentes, negando com a cabeça.
— O mundo não é um lugar justo, não acha? — Sorrio.
— Sua desculpa para não ser recíproca é essa? — Chase questiona, arqueando a
sobrancelha.
Jogo meu cabelo para trás quando sinto alguns fios caírem no meu rosto, o que me
desagrada muito.
— Eu não sei do que está falando, querido vizinho… — Bato os cílios de maneira inocente.
Chase ri e nega com a cabeça, coçando a sobrancelha esquerda como se estivesse
desacreditado com meu cinismo. Mas seu sorriso diminui, e ele ergue uma sobrancelha,
parecendo se lembrar de algo. Ele me encara e inclina sua cabeça para a esquerda.
Sua língua sai e molha seus lábios.
— Por que está me olhando assim? — Forço-me a perguntar pelo fato de seu olhar estar me
comendo viva.
— Como que alguém como você namora um idiota daqueles? — Chase pergunta, de
repente.
Sua pergunta me pega de surpresa, e ergo minhas sobrancelhas de tal maneira que elas quase
tocam o meu cabelo. Engulo a saliva com força e limpo a garganta, abrindo e fechando a boca
algumas vezes.
— Olha, é… — eu solto uma risadinha nervosa. — Em minha defesa, quando começamos a
namorar, eu não fazia ideia de que ele era assim.
— E depois? — ele questiona.
— Já o amava demais. — Dou de ombros e olho para as minhas unhas pintadas de
vermelho. Encolho meus ombros — Você… está me julgando?
Olho para ele e o vejo negar com a cabeça e sorrir.
— Quem tem teto de vidro não joga pedra no dos outros — fala de maneira simples, fazendo
carinho nas orelhas de Justin.
Isso chama a minha atenção, e o olho atentamente.
— Já passou por isso?
Chase assente.
— História antiga…
Contra a minha própria vontade, meus olhos descem para as pernas de Chase e sobem pelo
seu abdômen bem trabalhado, admirando atentamente cada tatuagem. Eu nunca gostei de homem
com muita tatuagem, mas por que em Chase parece tão… bonito?
Era como se lutar contra a beleza dele fosse uma batalha já perdida, como os Vingadores
contra o Thanos antes de o Homem de Ferro se sacrificar por todos usando aquela luva, e a luva
neste caso é essa atração que eu sinto por esse idiota e que nem mesmo posso negar.
— Você ainda gosta dele? — Chase pergunta, surpreendendo-me. Ele passa as mãos pelo
cabelo e o joga para trás. — Não me respondeu quando perguntei mais cedo.
Estreito meus olhos.
— Estou percebendo que não quer prolongar o assunto quando chega até você, então por
que eu deveria? — questiono, afiada.
Chase se espreguiça de maneira desleixada, os músculos se flexionam enquanto ele põe os
braços atrás da cabeça. Rapidamente desvio o olhar, não querendo ser pega.
— O mundo não é um lugar justo, não acha? — ele repete o que eu disse com um sorrisinho
presunçoso.
— Não ouse recitar a magia profunda para mim, feiticeiro. Eu estava lá quando foi escrita.
— Aponto um dedo em sua direção.
Chase sorri para mim e faz um gesto como se estivesse me lançando um feitiço. Eu reviro
meus olhos e reprimo meu próprio sorriso para que ele não fique se achando.
O clima está bom e agradável, o que não é se esperar, já que eu só falto pular em seu
pescoço sempre que tenho a oportunidade. Não vou dizer que me enganei com ele porque ainda é
muito cedo, mas ainda tem a grande possibilidade de eu ter errado. Ela não vai ser descartada.
Subo meus olhos para o rosto dele e o pego encarando minhas pernas unidas ao meu peito,
mais especificamente toda a extensão que está exposta pela falta de short. Minha camisa está
apenas a alguns centímetros abaixo da minha bunda, revelando mais do meu corpo do que eu
poderia julgar ser necessário.
Qualquer pessoa normal puxaria o tecido para baixo e se esconderia. Mas sou orgulhosa
demais para demonstrar que estou com vergonha.
— Gostou, Chase? — pergunto com sarcasmo e o olho atentamente.
Ele ergue os olhos para o meu rosto de maneira lenta.
— Sim. — Ele é direto, e um sorriso se abre em seus lábios rosados. — Assim como você
parece ter gostado de me ver sem camisa.
Como se sentisse a tensão presente na sala, Justin pula do sofá e corre para algum lugar que
não vejo. Como poderia se meus olhos estão presos no cara à minha frente como dois ímãs?
Realmente é impossível.
— Eu não gostei. Quem disse isso? — minto descaradamente, tentando preservar o meu
orgulho.
Mesmo que eu sinta que já não tenha nenhum.
— Sim, você gostou — Chase afirma com a voz rouca enquanto ele se aproxima lentamente.
— Assim como eu gosto das suas belas pernas, Ally.
Levemente excitada, aperto minhas coxas uma na outra, e o movimento não passa
despercebido por Chase, que as encara como se precisasse disso para viver.
— Acha que todo mundo é pervertido assim como você? — debocho e mordisco meu lábio.
— Desejo e atração são duas coisas que todo mundo sente. Então acho que somos todos
pervertidos, não é? — Seus olhos escurecem enquanto ele continua a se aproximar. Engulo em
seco.
Abro a boca para responder, mas me sinto incapaz quando sinto o cheiro do seu sabonete.
Deus, é tão forte e inebriante, como pode um sabonete ter esse cheiro?
Mordo meu lábio com força quando ele para a uma distância considerável, mas o suficiente
para que sua coxa toque meu pé. Sinto-me quente apenas com esse toque, minha respiração está
irregular e não sei se estou conseguindo pensar com clareza agora.
— Você também quer isso, não quer, Ally? — Sua voz sai rouca, e o sorriso sacana está
presente em sua boca. — Parla la verità, gattina.
Esse foi o fim do meu autocontrole.
No momento seguinte, eu não penso em mais nada quando avanço para cima de Chase e
passo minhas pernas por cada lado de sua cintura e monto nele. Seu corpo é rígido e forte
embaixo do meu, fazendo-me ter certeza de que ele está aqui e de que isso realmente está
acontecendo.
— Sim, você quer… — Chase sorri de lado enquanto olha para a minha boca.
Eu agarro sua nuca com as duas mãos e ataco os seus lábios com fome, um ato totalmente
desesperado. O primeiro contato de nossos lábios unidos me arranca um suspiro que não consigo
controlar. A boca de Chase na minha é macia, e suas mãos agarram a minha cintura com
possessividade, mantendo-me no lugar.
Eu adentro sua boca com a minha língua, procurando a dele, que se inclina na minha
direção, mostrando que quer isso tanto quanto eu. Eu não sei onde eu estou com a cabeça, mas
vou deixar para pensar nisso depois de ter sentado em Chase e descontado toda a minha
frustração sexual de um ano.
Eu puxo os cabelos de sua nuca, e ele separa nossos lábios com um barulho.
— Beijo gostoso do caralho! — Chase rosna com a boca roçando a minha, provocando-me.
Eu mordo o lábio dele e o puxo para mim, tentando tomar sua boca mais uma vez, porém ele
me impede quando segura meu pescoço com uma mão e me afasta minimamente.
— O que foi? — pergunto, respirando fundo.
— Se você não colocar um ponto-final agora, vou continuar a tocá-la.
Assinto desesperada.
— Não tenho objeções quanto a isso… — Lambo meus lábios e ganho um sorriso dele.
Chase adentra a minha camisa e agarra as minhas nádegas, massageando a carne com força.
Eu suspiro alto e me pressiono para baixo contra o pau dele, que já começa a endurecer logo
abaixo de mim. Somos eletricidade pura, e eu não me importo de levar um choque se o
formigamento entre as minhas pernas tiver um fim.
Nossos lábios colidem novamente, e gemo na boca de Chase quando sinto algo duro cutucar
a minha entrada. Com a intenção de que o latejar entre as minhas pernas pare, rebolo no pau dele
com vontade e quase gemo por sentir cada centímetro graças à calcinha. Eu consigo senti-lo tão
bem que me pergunto se ele estava de cueca.
A mão direita de Chase agarra o meu cabelo e minha cabeça pende para o lado esquerdo,
dando-lhe acesso ao meu pescoço, por cuja extensão o nariz dele serpenteia, sendo substituído,
em seguida, pela ponta da sua língua, que arrepia o meu corpo. Eu fecho os olhos e ofego,
rebolando com mais força no colo de Chase, que arfa e aperta a minha cintura.
Ele fecha os lábios em um ponto fixo do meu pescoço e o chupa, fazendo-me abrir a boca
por um gemido que nunca sai. Ele suga de maneira lenta e deliciosa, encharcando a minha
calcinha de tal maneira que chega a ser impossível resistir. Minha boceta lateja e, no momento,
eu só quero o pau de Chase dentro de mim, alargando-me e me fodendo sem parar. Não importa
o quão errado isso seja.
— Chase… — eu gemo enquanto me esfrego nele.
Ele sorri e nos vira com habilidade, colocando-me deitada no sofá. Meu cabelo se espalha
pela almofada, e abro as pernas para acomodá-lo entre elas, mas ele apenas se ajoelha à minha
frente e prende os olhos no triângulo entre as minhas pernas coberto pela calcinha de renda preta.
Ele se debruça sobre mim, e o indicador de sua mão direita faz um rastro em minha coxa até
o topo dela. Eu respiro aceleradamente e mordo os lábios, totalmente curiosa e excitada com o
que ele fará depois.
Chase se deita sobre mim, e cruzo minhas pernas ao redor de sua cintura, prendendo-o. Sua
mão direita adentra minha calcinha, e gemo quando os seus dedos passeiam por minhas dobras
encharcadas.
— Cazzo… — Chase grunhe com o rosto pairando a centímetros do meu e circula minha
entrada com o indicador. — Olhe como você está, Allyson. Fui eu que a deixei assim? Hum?
Eu fecho os olhos e arqueio levemente as minhas costas, incapaz de responder. Seus dedos
sobem para o meu clitóris inchado, e suspiro quando ele o belisca suavemente, fazendo-me sentir
uma onda de eletricidade.
Ele gira os dedos, e me contorço, sensível com tudo o que ele está me fazendo sentir:
sensações que há muito tempo eu não sentia, mesmo me tocando. Mas ter outra pessoa fazendo o
trabalho é… maravilhoso.
— O que foi que você disse que eu não sei onde fica, Ally? — Abro os olhos para encontrar
os acinzentados de Chase. Ele castiga meu clitóris com mais força. — Isto aqui?
Merda, ele me escutou ao telefone com Tessa?
Eu arregalo meus olhos e seguro seu pulso quando sinto os pelos do meu corpo se
arrepiarem. Ele movimenta os dedos com mais rapidez, e é impossível não revirar meus olhos
com esse mero gesto. Eu não sinto prazer há tanto tempo.
— Eu… eu nunca disse isso… — Mordo o lábio, cínica.
Chase está me dando prazer tão bem com os dedos que não posso deixar de pensar que ele
faria muito melhor com outra coisa, algo que mora entre suas pernas e que pude sentir tão bem.
— Eu escutei muito bem. — Chase puxa meu lábio para si e gira os dedos no ponto sensível.
Ele sorri como um cafajeste. — “Aposto que esse Chase não deve saber nem onde fica o
clitóris”.
Eu gemo.
— Acho… que você está escutando coisas… — Sorrio com meu lábio inferior entre os
dentes.
Chase segura meus pulsos e os cruza no alto da minha cabeça com sua mão esquerda, mas o
sorriso ainda permanece ali, mesmo que eu estivesse a me contorce como uma cobra debaixo
dele.
E me sentir assim, presa pelos pulsos, me excita. Gosto disso.
— Ah, é? — O sorriso de Chase se torna debochado, e ele retira a mão da minha calcinha.
— Então, talvez se eu parar, refresque a sua memória.
— O quê? Não! — Nego com a cabeça, e ele raspa os dentes no meu queixo — Chase… —
imploro.
— Não sei se você merece, Allyson… — Chase aperta meu seio direito e passa a ponta de
sua língua por meus lábios. — Você merece?
Assinto, parecendo mais desesperada do que o normal.
— Sim, eu mereço… — gemo quando Chase belisca o meu mamilo e tento me esfregar nele
novamente, quando se afasta um pouco. Bufo, irritada. — Eu te odeio!
Chase sorri de lado.
— Você pode me odiar aqui, Allyson… — Ele circula meu mamilo esquerdo, bem onde fica
o coração, depois arrasta o mesmo dedo por minha barriga até adentrar a minha calcinha mais
uma vez. — Mas aqui… — ele me penetra com o indicador, fazendo-me gemer alto pela ação
repentina — aqui você parece me amar.
— Oh, Deus… — Eu fecho os olhos e o sinto arrastar o dedo para dentro e fora de mim.
Engulo a saliva reunida em minha boca, vendo como ela desce rasgando por minha garganta.
— Deus não vai ajudá-la agora, amore. — Sinto Chase sorrir próximo ao meu pescoço, e em
seguida mais um dedo me penetra.
O prazer se acumula na minha barriga, e rebolo nos dedos de Chase, sentindo-os me penetrar
sem parar. Quero mais, não só os dedos dele. Quero seu pau entrando e saindo de dentro mim,
porque sim, porque eu quero e porque preciso.
Chase reforça o aperto em meus pulsos, e sua cabeça mergulha para capturar meu mamilo
por cima da camisa e o prender entre os dentes.
— Chase… — gemo quando os dedos dos meus pés se encolhem e espasmos passam por
meu corpo.
— Você quer gozar, Ally? — Chase curva os dedos dentro de mim, fazendo-me arquear as
costas.
Aceno com a cabeça, e minhas costas se arqueiam enquanto o vai e vem dos dedos de Chase
dentro de mim é desenfreado. O som pode ser escutado por toda a sala, evidenciando o quão
molhada estou.
Tento soltar meus pulsos.
— Me deixe tocá-lo também… — peço e o encaro por baixo dos cílios.
Chase ri, e não há nada mais do que deboche em sua expressão, como uma naja prestes a dar
o bote.
— Pensei que tivesse dito que nunca iria me tocar — ele desdenha.
Meu rosto se retorce em uma careta, mais para uma carranca enfurecida, e o fuzilo com o
olhar. Como alguém pode ser tão filho da puta assim com uma mera mulher em abstinência?
— Olha aqui, seu desgra… — eu me interrompo quando um choramingo escapa dos meus
lábios assim que ele curva os dedos dentro de mim. — Mais forte!
Chase me encara de cima, arrogante.
— Por quê? — Chase arqueia uma sobrancelha, e seu peito se cola aos meus seios eriçados.
Ele sorri sacana. — Quer gozar, Ally?
Eu assinto, e Chase morde o lábio.
— Responda. — Ele me olha nos olhos.
Eu o desafio com o olhar, tentada a perguntar se ele tem algum transtorno de Christian Grey
e pensa que eu sou Anastácia para lhe obedecer.
Chase para de movimentar seus dedos dentro de mim, e me desespero, fazendo que sim com
a cabeça.
— Sim, sim, eu quero gozar! — imploro pateticamente.
Chase sorri de lado, e em seguida seus dedos voltam a me penetrar. Forte e rápido, como
pedi. Ele movimenta o polegar em meu clitóris e morde o meu pescoço, fazendo-me revirar os
olhos. Choramingo e me contraio enquanto aperto os dedos de Chase dentro de mim.
— Merda, perché non ho portato il preservativo — meu vizinho diz raivoso em meu ouvido.
Não me importo em não entender o que ele disse, só em gemer alto quando um espasmo
percorre todo o meu corpo. O prazer se acumula em minha barriga, e os dedos dos meus pés se
encolhem. Meu orgasmo vem rápido, e arqueio as costas ao passo que Chase cobre a minha boca
com a dele, tomando todos os meus gemidos e soltando os meus pulsos.
Ele morde meu lábio e afasta nossos rostos, mas ainda posso sentir sua respiração. Abro os
olhos que nem sabia que tinha fechado e encaro as feições de Chase, esperando minha respiração
se acalmar. Olho para baixo e vejo o grande volume na sua calça, chamando-me a atenção por
ainda estar duro e alarmantemente grande. Desço minha mão direita entre nossos corpos com a
intenção de mudar isso, e Chase agarra o meu pulso antes que eu agarre seu pau.
— Não, não. — Chase nega com a cabeça.
— Mas você ainda está duro. — Franzo o cenho, levemente confusa.
— Eu só queria lhe provar uma coisa, Allyson. — Ele tira a mão de dentro da minha
calcinha e se levanta, ficando em pé ao lado do sofá.
Sento-me, passo as mãos por meu cabelo desgrenhado e o olho enquanto sinto minhas
bochechas ruborizarem de vergonha, o que é irônico.
— O quê? — Eu o olho sem entender.
— Que eu sei muito bem onde fica o clitóris. — Chase sorri revelando a covinha, e o olho,
fuzilando-o.
Mas que arrombadinho!
Meu vizinho ergue os dedos que estavam dentro de mim e os chupa lentamente, dando-me
uma das visões mais devassas que já vi em toda a minha vida.
— Tenha uma boa noite, gattina. — Chase sorri e pisca o olho para mim.
Em seguida, como se não tivesse acabado de me dar um grande orgasmo, ele se vira e abre a
porta, então passa por ela e a fecha, deixando para trás nada mais do que minha vergonha e
levando consigo minha dignidade.
— ARGH! — grito de raiva e jogo uma almofada na porta, desejando que fosse a cabeça de
Chase no lugar.
Meu celular vibra minutos depois e o pego na mesinha do centro onde está a caixa de pizza.
Desbloqueio o celular e grunho de raiva quando vejo que é uma mensagem de Chase. Das duas,
uma: ou ele não tem medo da morte, ou não passa de um cínico descarado.

Solto uma risada incrédula e ergo a mão para jogar o celular no chão de tanta raiva, quando
lembro que não terminei de pagá-lo e ainda faltam duas prestações.
Deixo meu corpo cair para trás e olho a foto de perfil de Chase, desejando que eu tivesse
pensado com coerência. Se eu fosse um homem, com certeza agiria levada pela cabeça de baixo.
— Que cara é essa, Allyson? — Tessa pergunta enquanto caminhamos em direção ao
refeitório da universidade.
Claro que ela iria notar, afinal é minha melhor amiga e consegue me ler com uma facilidade
impressionante. Mas eu também não sei disfarçar quando algo está me incomodando, e isso
reflete totalmente no meu rosto, dando-me uma expressão de desagrado.
E, mesmo que seja difícil de admitir, estou assim pelo que aconteceu ontem na minha casa,
quando gozei deliberadamente nos dedos de Chase e o desgraçado pervertido os lambeu,
deixando-me para trás humilhada e talvez relaxada e satisfeita até demais, diga-se de passagem.
Não consegui dormir e, sempre que fechava os olhos, vinha Chase na minha mente, seu
corpo entre as minhas pernas enquanto eu me contorcia em suas mãos. Céus, esqueci
completamente que ele é um estranho e quase fui tentada a transar com ele. Quem eu quero
enganar? Facilmente teria transado com ele se meu vizinho não tivesse posto um fim nisso tudo.
E o pior de tudo é que o filho da puta percebeu o meu desapontamento por ele ter ido
embora e talvez até use isso contra mim futuramente. Mas, se eu me fizer de sonsa, talvez ele
pare.
— Acho que ela está irritada… — Kat diz ao lado de Tess, de mãos dadas com sua
namorada. Ela sorri, e sei que daí sairá uma provocação. — O que foi, Allyson, você quis dar e
não comeram?
Eu paro de andar, de maneira tão abrupta que Adam quase esbarra em mim, o que não
ocorre apenas porque ele põe as mãos na minha cintura e dá um passo para trás. Ergo as
sobrancelhas e viro o rosto para encarar Kat.
— Do que… do que você ficou sabendo? — Olho para ela com os olhos arregalados.
Uma vez Tessa brincou que colocaria câmeras na nossa casa quando nossas coisas
começaram a sumir de maneira suspeita. Mas, no final, descobrimos que era só Justin as pegando
e escondendo. Ela não chegou a colocar as câmeras, mas me pergunto se ela não fez sem que eu
soubesse.
— Espere aí… — Adam passa por mim para ficar cara a cara comigo, os olhos apertando
em desconfiança. — Então é verdade?
Automaticamente me desespero.
— O quê? Não! — Nego rapidamente com as mãos e dou um sorriso amarelo. — Só… Só
perguntei porque estão inventando muitas coisas sobre mim, sabe? Prefiro ficar por dentro.
Tessa franze o cenho e põe a mão livre na cintura enquanto inclina a cabeça para a esquerda.
— O que estão inventando sobre você? — ela questiona, ficando tensa.
Amo Tessa pelo simples fato de que o que me afeta também é sentido por ela. É a primeira a
me defender se necessário.
Dou de ombros e massageio meu pescoço.
— Não sei, me contaram que ainda ficam falando sobre o fim do nosso relacionamento… —
suspiro, notando que minha mentira para escapar de outra coisa se tornou verdade. — Falam dos
chifres que ele me deu e parece que sabem que ele tinha dificuldade em achar o clitóris.
Adam e Kat bufam uma risada, o primeiro esconde com a boca enquanto a segunda nem
mesmo se dá ao trabalho de fazer isso.
— Não riam! — Cruzo meus braços e reviro meus olhos. — Não é nada legal saber que
falam sobre a sua vida sexual.
Kathleen me encara enquanto apoia a cabeça no ombro de Tess, que ainda está me olhando
com o cenho franzido. Nem preciso de muito para saber que ela está pensando em quem pode ter
me contado isso.
— Olha, tem certeza de que a pessoa não mentiu para você? Nunca ouvi ninguém
comentando sobre você e Kevin — Kat é quem diz.
— Eu também não — Adam fala, cruzando seus braços. — E não acho que é porque somos
seus amigos, as pessoas não têm filtros aqui nem se importam com isso quando querem falar de
alguém.
Aperto as alças da minha mochila, distraída, pensando se estão comentando sobre mim ou
não. Sei que não posso acreditar em tudo o que Chase diz, mas como ele saberia de tudo isso se
chegou há pouco tempo e nunca tínhamos nos visto antes?
Não quero as pessoas falando sobre algo que eu lutei tanto para esquecer e que ainda me
incomoda, mesmo que eu diga que não.
— Quem lhe contou isso? — Tess pergunta, atraindo minha atenção para si.
Abro e fecho a boca, sem saber o que dizer.
— Foi uma pessoa, vocês não conhecem…
Tessa assente, mas nem de longe está convencida. Sei disso.
— Foi a mesma com quem você transou? Pensa que pode mudar de assunto assim? —
Arqueia uma sobrancelha e sorri largamente. — Quem foi o cara, Ally?
Viro meu rosto e finjo não ter escutado a pergunta quando marcho em direção ao refeitório,
deixando os três fofoqueiros para trás.
Seria meu fim se eles descobrissem que beijei Chase e quase transei com ele depois de tanto
ter dito que o odiava. Eu seria zoada até ser uma velhinha que mora em uma casa sozinha e
repleta de cachorros. E o pior é que eu não ia ter nem moral para me defender, ontem eu estava
mais do que disposta a dar a Chase até a senha do meu cartão, caso ele pedisse. É tudo culpa
dele, ele que me seduziu, eu sou apenas uma camponesa!
Escuto Tessa me chamar e aperto o passo, abrindo a porta do refeitório, não perdendo tempo
ao entrar. Olho para trás e avisto meus amigos vindo, todos com um sorriso enquanto negam com
a cabeça. Pego uma bandeja, ando até a lanchonete do refeitório e paro diante do balcão, onde
peço um sanduíche e uma garrafa de suco.
Alguém se aproxima de mim, e olho para Adam, quase o vendo se espremer entre nós.
— O que foi? — pergunto, vendo a mulher colocar meu pedido na bandeja.
— Melody entrou no refeitório… — Adam diz, olhando por cima do meu ombro.
— E daí? Ela não vai te bater — Kat fala, segurando a própria bandeja.
Nosso amigo assente, pensativo.
— Eu sei, é só que me sinto mexido quando a vejo. Tão linda… — ele murmura,
suspirando.
Olho na direção em que ele está olhando e vejo sua ex. Está usando com um vestido rosa, e
um rabo de cavalo firme prende os fios cor de mel. Está indo em direção a uma mesa repleta de
amigos que a recebem com um sorriso no rosto. Ela é linda, pena que não compensa a
personalidade de merda.
— É normal, o término ainda é recente para vocês dois… — Diminuo gradativamente o som
da minha voz quando, antes de se sentar, Melody beija, na boca, um dos amigos de que Adam
mais tinha ciúmes.
Rapidamente olho para ele e vejo como seus olhos estão levemente arregalados ao
presenciarem uma das cenas mais dolorosas do mundo.
Eu já passei por isso: ver meu namorado beijando outra doeu, e não vou deixar que Adam se
afogue na própria amargura.
— Não… é recente apenas para mim… — murmura com os olhos vidrados na ex.
Tessa entra na frente dele e bloqueia seu campo de visão enquanto segura a bandeja contra o
peito.
— Nem tudo é o que parece. — ela fala enquanto dá um sorriso forçado. — Uma vez li que
as pessoas têm maneiras diferentes de superar o término de um namoro, algumas pessoas até
ficam com outras, sabe?
Adam fixa os olhos nela e franze o cenho, totalmente frustrado.
— Olha, sei que ainda gosto dela, mas não precisam me proteger desse jeito. Não mintam
para mim — ele fala, deixando um suspiro cansado escapar de seus lábios. — Também sei que
ela nunca gostou de mim, se gostasse, não me trataria daquele jeito.
Eu assinto várias vezes com a cabeça e vejo Tessa encolher os ombros em sinal de vergonha.
— Desculpa, só não gosto de vê-lo assim por alguém que não vale a pena… — Sorrio
fracamente.
Adam devolve o sorriso e afasta a bandeja do meio de seus corpos para beijar a bochecha
dela.
— Tudo bem, Tess. Sei que só quer me ver bem.
Mas, ainda assim, Adam tem que passar pela dor. Ele tem que sentir agora para não doer
depois. Não pode fazer como eu, que reprimi todos os meus sentimentos ruins por Kevin e fingi
que nunca o conheci, não é assim que funciona.
No final, nem ao menos sei se ainda gosto dele ou se apenas não sei pôr um ponto-final nas
minhas relações.
Kat nos chama para nos sentarmos em uma das mesas, e fazemos o que ela diz, procurando
uma mesa vazia em meio a tantas pessoas sentadas, e parece impossível achar um lugar para se
sentar aqui. Passamos pela mesa com alguns jogadores de futebol americano e líderes de torcida
quando alguém segura o cós da minha calça, impedindo-me de dar mais algum passo.
Olho para baixo e vejo a mão grande, em seguida olho para o dono dela e encontro olhos
pretos que por muito tempo me fizeram suspirar. Mas agora tudo o que quero é furá-los com o
canudo que tem na minha bandeja.
— Pode soltar minha calça, ou vou ter que gritar? — Arqueio uma sobrancelha, tentando me
afastar.
Mas ele parece irredutível.
— Vamos lá, Ally, não seja assim, sente-se aqui, princesa. — Kevin bate no espaço ao lado
dele.
Eu torço meu nariz em uma careta, incrédula.
— Você não vê que não o suporto, Kevin? Prefiro sentar a bunda em um formigueiro a ter
que ficar do seu lado.
Bato na mão dele, afastando-a de mim com desprezo. As pessoas na mesa erguem as
sobrancelhas, surpresas com cena que se desenrola na frente deles.
— Estou cedendo um lugar para se sentar e você me trata assim? — Kevin sorri, pondo a
mão no peito. — Não tem mais lugar no refeitório, você não tem escolha.
Eu solto uma risada sarcástica, temerosa de que ele esteja falando a verdade. Falo sério
quando digo que prefiro me sentar em um formigueiro.
— Quem disse? — Passo os olhos pelo refeitório e ergo as sobrancelhas ao encontrar meu
salva-vidas, voltando minha atenção para Kevin.
Ele cruza os braços.
— E com quem mais você poderia se sentar?
Sorrio enquanto olho para o meu vizinho a alguns metros de mim. Ele está de costas, e só
pude reconhecê-lo pela cor do seu cabelo e a tatuagem na mão esquerda quando ele a ergueu para
levar a garrafinha aos lábios.
Voltei meu olhar para Kevin, e um ar de zombaria encheu minhas feições.
— Com o meu namorado.
— Com quem? — Kevin pergunta, alarmado. Vejo-o franzir o cenho enquanto começo a ir
na direção da mesa de Chase. — Allyson!
Ouço-o me chamar, mas não dou a mínima, continuo andando sem olhar para trás. Posso
sentir meus amigos ao meu lado, e não deram um pio quanto a isso. Eles sabem o quanto Kevin
me aborrece e que posso cuidar dele sozinha.
Ao me aproximar, vejo a mesa de Chase literalmente vazia. Sentados estavam apenas ele
e… espera, Michael? Michael Smith?
Eu me sento praticamente colada a Chase e coloco minha bandeja na mesa, sorrindo
largamente como se não tivesse invadido a mesa de uma pessoa e sentado sem ser convidada.
Chase apenas vira o rosto para me encarar com a sobrancelha grossa, cheia e arqueada.
Olha-me de cima a baixo.
— Claro, Ally, pode se sentar — Chase debocha, sorrindo de maneira exagerada.
Aproximo minha boca de sua orelha, tentando ignorar o cheiro forte do seu perfume.
— Entre no jogo, Kevin está olhando para cá — eu sussurro para que só ele escute e me
afasto.
Chase ergue discretamente os olhos para Kevin e sorri para ele, então seu braço esquerdo
abraça os meus ombros automaticamente. Mesmo sabendo que é um jogo, não posso me impedir
de ficar afetada desse jeito.
Como ele pode agir com tanta naturalidade?
— Podemos nos sentar? — Escuto Tessa perguntar e olho para ela, vendo Kat e Adam ao
seu lado.
Michael assente com a cabeça, e Chase lhe dá um sorriso.
— Claro.
Meus amigos se sentam, Adam ao meu lado e Kat e Tessa juntas, claro que elas não se
desgrudariam. Meu melhor amigo sorri para mim e pega uma batatinha do seu prato, levando-a à
boca.
— Parecia que você estava fugindo do capeta, Ally… — Adam ri de sua própria piada, mas
para assim que seus olhos se fixam em algo.
Sigo seu olhar e vejo que é para Michael que ele olha. Seus olhos se arregalam
minimamente, e Michael ergue a sobrancelha, como se questionasse algo. Mas não dura muito,
porque Adam desvia sua atenção para a própria bandeja.
— Deveríamos nos sentar todos juntos a partir de agora, não acham? — Kat sorri, apoiando
o queixo nas mãos.
Assinto várias vezes, olhando para Kevin por cima do ombro para ver que ele ainda me
encara, e posso jurar que sai fogo de suas narinas.
— Claro, verdade… — murmuro distraída enquanto volto a olhar para eles.
Chase apenas solta uma risada nasal ao meu lado e aperta os braços ao redor dos meus
ombros com mais firmeza, fazendo-me ficar tensa. Mordo meu lábio, um ato para tentar mudar o
foco para dor em vez do formigamento que estou sentindo na pele nua do meu ombro.
É só atuação, Ally, tento lembrar.
— Vocês estão saindo? — Tessa pergunta e, ao olhar para ela, vejo sua sobrancelha
arqueada.
Ele com certeza fará perguntas quando chegarmos em casa.
— Tem razão, agora que notei… — um sorriso malicioso se estica nos lábios de Kat.
Pervertida.
— O quê? Não! — eu me defendo, indignada. Coloco uma mecha de cabelo atrás de minha
orelha e pego minha garrafinha de suco, a qual abro. — Nós não temos nada.
Chase se aproxima e leva sua boca para perto do meu pescoço, então sua boca acaricia meu
lóbulo, trazendo arrepios para o meu corpo.
— Como não, se ainda me lembro de você sentando nos meus dedos?
Eu me engasgo por estar tomando um gole do meu suco e coloco a garrafa na mesa com um
pouco de força demais, atraindo a atenção de algumas pessoas e o espanto dos meus amigos.
Para disfarçar, sorrio falsamente e belisco a coxa esquerda de Chase, ganhando um grunhido de
dor dele.
— Vocês estão saindo ou não? — Adam questiona, confuso.
— Claro que não, é por causa de Kevin… — digo, e eles me olham ainda mais confuso. Eu
apenas suspiro. — Estamos fingindo que namoramos porque Kevin continua a me incomodar.
Eles erguem as sobrancelhas, parecendo entender finalmente. E, ao meu lado, sinto Chase
ficar um pouco tenso, mas talvez seja coisa da minha cabeça.
— Hum, agora faz sentido… — Tessa sorri para mim, mas ainda sinto a desconfiança nela.
Ela me ignora e passa seus olhos de Chase para Michael. — Não sabia que vocês eram amigos.
Eu me toco de que também tenho que comer e abro o meu sanduíche, dando uma grande
mordida e quase gemendo quando o gosto de frango enche o meu paladar.
— Nós nos conhecemos há pouco tempo, no meu primeiro na universidade. Michael elogiou
minhas tatuagens. — Chase dá de ombros e sorri.
Adam se remexe ao meu lado, inquieto.
— Bom, Michael, prazer em conhecê-lo, mas tenho uma pergunta… — Adam diz, incerto, e
mal dá tempo de Michael responder. — Qual sua cor preferida, Michael?
Ele ergue o queixo enquanto as costas descansam na cadeira. Ele é sexy, não dá para negar,
mesmo que lembre os assassinos dos casos a que eu assisto. Sim, ele tem toda essa aura de
psicopata ao redor dele.
— Azul — Michael responde prontamente com o rosto sério.
Ele nunca ri, talvez isso já me tenha feito questionar se não é banguela. Mas claro que é só
uma brincadeira. Adam arregala os olhos minimamente e se aproxima de mim, chamando-me
com a mão para que eu me aproxime.
— Ally, sabe quem mais gosta de azul? — ele pergunta para que só eu escute.
— Quem? — pergunto, igualmente baixo.
— Os psicopatas! — Olha-me com pavor evidente.
Eu sorrio e o olho para Michael, voltando para Adam em menos de alguns segundos.
— Sabe quem mais está de azul? — pergunto.
— Quem?
— Michael.
Adam olha para Michael de cima a baixo, falhando miseravelmente em esconder o seu pavor
diante do cara que sempre o está encarando. Eu rio, sabendo que só porque alguém gosta de azul
não quer dizer que é um psicopata. Depende de outros fatores para chegar a essa conclusão.
Mas gosto de ver o circo pegar fogo.
— Caralho, você está bem? — Kat segura a mão de Adam, olhando-o com preocupação. —
Está tão pálido.
Meu melhor amigo limpa a garganta e assente. Ele tenta passar confiança, mas o gesto é
vacilante.
— Estou bem, não se preocupe… — Sorri para ela e dá uma última olhada em Michael antes
de voltar o foco para sua bandeja.
Michael arruma sua toca cinza sobre a cabeça e olha para o meu amigo com a sobrancelha
arqueada, apoiando seus cotovelos na mesa.
Tento prestar atenção ao que vai acontecer a seguir, mas os dedos de Chase começam a
desenhar círculos imaginários em meu ombro. Ele desce o indicador até meu antebraço e sobe
novamente. Merda.
— Minha presença o incomoda, Adam? — Michael questiona.
— Como assim? É claro que não — meu amigo mente e sorri sem graça.
— Certeza?
— Absoluta! — Adam afirma e morde o próprio sanduíche para não ter que conversar mais,
enchendo as bochechas.
Vejo Michael sorrir minimamente enquanto encara o meu amigo comendo e tiro as minhas
dúvidas assim que noto seus olhos escurecendo. Não é que Michael odeie meu amigo, ele só está
flertando. Ok, seu olhar é marcante e o faz parecer um assassino? Sim, mas ele apenas quer
Adam, e o bobo nem percebeu isso ainda.
Chase pega uma batatinha frita da própria bandeja e a prende entre os dentes, depois se vira
para mim. Arqueio uma sobrancelha e me inclino um pouco para trás.
— O quê?
Chase discretamente indica algo com a cabeça, e eu olho na direção dele e vejo Kevin nos
encarando com uma carranca. Chase se aproxima de mim e balança as sobrancelhas na minha
direção, de modo divertido.
Sinto os olhos dos meus amigos e Michael em nós e respiro fundo, reunindo coragem.
Seguro a nuca de Chase e inclino a cabeça para o lado, mordendo a batatinha e tentando evitar o
contato dos nossos lábios.
Começo a me afastar, mas Chase segura meu queixo e passa a pontinha da sua língua pelo
meu lábio interior, fazendo-me prender a respiração e a região entre as minhas pernas formigar.
Abro meus olhos e vejo-o lamber os lábios da maneira mais erótica que alguém poderia fazer, e
isso não é de Deus.
Chase se afasta, larga meu queixo e me olha.
— Estava sujo. — Ele sorri e se vira de frente, tomando seu suco como se nada tivesse
acontecido.
Olho para os meus amigos e os vejo com os semblantes chocados. Menos Kat, ela sorri
exatamente como uma vagabunda faria.
Olho para Chase, que tirou o braço dos meus ombros, e assisto a ele conversar
despreocupadamente com todos da mesa. Ele age tão normalmente que me sinto uma otária,
porque, depois do que ele fez, sinto que deu um pane no meu sistema.
Eu como apenas metade do meu sanduíche e o coloco no prato, levantando-me em seguida.
— Vou para o treino agora, até mais. — Jogo a minha mochila em meus ombros.
— Boa sorte! — meus amigos dizem em uníssono, e Michael me dá um aceno de cabeça.
Retribuo e olho para Tessa, que limpa algo da bochecha de Kat, arrancando-lhe um sorriso.
— Você leva a minha bandeja também? — pergunto, e ela assente, fazendo-me sorrir. —
Valeu.
Preparo-me para ir andando quando Chase puxa a minha mão direita e me faz virar para ele,
então pressiona minha mão para baixo, e franzo o cenho, curvando-me em sua direção.
— O que é? — Olho-o confusa, meu rosto quase colado ao dele.
Chase apenas solta a minha mão e segura minha nuca, firmando os dedos em meus fios. Em
seguida, seus lábios grudam nos meus em um selinho demorado que, mesmo sendo algo simples,
me faz paralisar. Ele se afasta um pouco, leva a boca à minha orelha esquerda e beija logo
abaixo.
Tenho que manter as pernas firmes para não ir ao chão, o que é imperdoável, porque foi
apenas a porra de um selinho.
— Seu ex ainda estava olhando — ele sussurra com um sorriso.
Poupo meu olhar para Kevin e me forço a me afastar de Chase com um sorriso falso no
rosto, não o deixando ver o estrago que fez.
— Não tente tirar vantagem, porra — digo entredentes e me viro, indo embora.
Eu passo pela porta do refeitório, massageio a minha nuca e a sinto arrepiada, assim como o
resto do meu corpo, que não sabe diferenciar o que é atuação e o que é algo verdadeiro, coisa que
pode vir a se tornar complicado.
Ranjo meus dentes e cerro meus punhos. Chase, seu desgraçado gostoso!

— O treino amanhã é na mesma hora, não se atrasem. — Karen nos olha enquanto joga sua
mochila em seu ombro direito.
Nós assentimos, e ela acena com a cabeça e se vira para ir embora sem nem olhar na minha
cara, o que é incomum, porque de uns tempos para cá ela vir me seguindo já é rotina. Bom, não
que eu sinta falta, só… acho estranho.
Será que ela se tocou de que não vai conseguir nada comigo e ficou com raiva? Ou então
tem que me ignorar para que os próprios sentimentos morram para que ela não sofra mais? Bom,
de qualquer forma, não é algo de que eu tenha culpa. Não posso evitar ser tão bonita.
— Estou louca para que o técnico volte, já não aguento mais Karen — Clary bufa e bebe um
pouco de água de sua garrafinha.
— Nem eu, ela é muito mandona. — Emy revira os olhos, sentada no chão.
O resto das garotas concorda, e não posso deixar de fazê-lo também, mesmo que seja de
maneira silenciosa. Sei que Karen é a capitã do time, mesmo assim não consigo ignorar o tom
arrogante dela quando nos dá ordens. Principalmente quando é uma ordem direcionada a mim.
Mas apenas ignoro por achar que é paranoia minha.
Mesmo que eu seja na minha, ainda arrumo brigas, coisa da qual não me orgulho nem um
pouco.
— Você não acha, Allyson? — Emy me pergunta, e dou de ombros.
— Sei lá, talvez ela só seja perfeccionista demais. — Fecho a minha garrafinha e a coloco
no bolso da minha mochila. — Sem contar que o técnico deixou Karen no comando, ele não faria
isso se não confiasse na liderança dela.
Elas parecem pensar nas minhas palavras e assentem com a cabeça.
— É, talvez você tenha razão. — Clary me olha.
Eu assinto e jogo minha mochila nas costas antes de me levantar.
— Você devia ser a capitã, Allyson — Emy solta de repente, fazendo-me congelar
— Verdade, você é a melhor da equipe! — Clary me fala, e olho ao redor, vendo todas as
outras congelarem.
Bufo uma risada e puxo meu short de lycra para baixo quando o sinto enrolar em minhas
coxas.
— Não sirvo para liderar ninguém, mal sei o que fazer com a minha própria vida — brinco,
tentando desconversar.
Ser capitã não é algo que já passou pela minha cabeça ou encha meus olhos. Acho uma
responsabilidade muito grande e, se falam de Karen, o que falariam de mim ao descobrirem que
sou mais exigente que ela?
— Aposto que seria uma capitã melhor do que Karen — uma garota solta.
Alerta vermelho! Não quero que Karen pense que estou ameaçando sua posição, mas sei que
nenhuma dessas garotas é de confiança e adoram fazer fofoca.
— Bom, vou indo nessa. — Sorrio para elas e lhes dou as costas. — Até amanhã.
— Tchau! — elas gritam, e aceno com a mão sem olhar para trás.
Eu saio da quadra, pedindo que nenhuma fofoca saia dali e que elas não falem com o técnico
para que eu seja capitã. Não quero ter que lidar com um bando de garotas e ser xingada pelas
costas depois.
Passo pelos corredores, andando lentamente até a saída da universidade. Meus músculos
doem tanto que só quero chegar em casa, dormir e acordar só depois de dois dias. Amo ser
aspirante à atleta — que é como me chamo —, mas nunca irei me acostumar com as dores no
corpo. E, por eu ser a líbero, ou salvo a bola, ou morro tentando.
Saio da universidade e paro de andar para massagear minha nuca dolorida, quando ergo
aleatoriamente os olhos para a frente e franzo o cenho ao ver Chase mais à frente conversando
com uma garota que está de costas para mim. Sem conseguir conter a fofoqueira que existe em
mim, eu me escondo atrás de um carro e começo a espioná-los de longe.
Mesmo não estando tão perto deles, posso ver o rosto de Chase com um semblante frio,
nenhum rastro dos sorrisos sarcásticos que ele me dá. Não consigo ver o rosto da garota, mas
estranho o fato de ela estar com a roupa do meu time de vôlei. Ao analisar os cabelos escuros e
ondulados que chegam até as costas, ergo as sobrancelhas. Parece Karen.
A garota muda de posição, ficando de frente para Chase e me dando a visão do seu perfil e
cigarro nos dedos, fazendo-me arregalar os olhos. Porra, é Karen.
Chase se vira para ir embora, mas Karen agarra seu braço, e ele afasta a mão dela com um
pouco de violência, como se o toque queimasse. Ele a olha com frieza e diz algo que não consigo
identificar por estar longe, em seguida vai embora. Karen o olha entrar em seu carro e passa as
mãos pelo cabelo, parecendo frustrada.
Eu assisto a Chase ir embora com o seu carro e olho para Karen, que já começa a ir em
direção ao próprio logo após jogar o cigarro no chão. Ela vai embora, e eu saio de trás do carro
aleatório que foi meu esconderijo diante dessa fofoca, totalmente confusa e curiosa.
Será que eles já se conheciam? O que Chase estava fazendo na faculdade uma hora dessas?
Eles estavam brigando? Abro a boca em choque e ponho a mão no peito. Ai, meu Deus, será que
estavam brigando por mim?
Sorrio largamente e chamo o táxi que passa na hora, entrando nele e dizendo ao motorista
onde fica a minha casa para que eu logo possa descansar.
As mãos de Chase agarram a minha cintura, e seus lábios atacam os meus em um beijo
urgente e cheio do desejo, deixando-me desnorteada. Sua língua invade minha boca e se encontra
com a minha, e gemo com o contato. Agarro os cabelos de sua nuca e o puxo para mais ainda
mais perto, mesmo que não haja mais espaço entre nós. Ainda assim, ele não parece perto o
suficiente.
As mãos dele descem para a minha bunda e a apertam, colando meu quadril ao seu de um
jeito íntimo demais. Agarro o pescoço de Chase e tomo impulso, enroscando minhas pernas em
sua cintura. Chase anda comigo pelo quarto e me coloca deitada na cama, ficando por cima de
mim e obrigando-me a abrir as pernas para acomodá-lo entre elas.
Sua mão esquerda agarra meu seio e o massageia deliciosamente enquanto seus lábios
descem para o meu pescoço, explorando o local sensível.
— Chase… — choramingo quando ele ondula o quadril no meu, simulando uma estocada
que me leva à loucura.
Nós estamos praticamente transando de roupas, e isso não poderia ser mais quente do que é
agora. Céus, estou pegando fogo.
— O que você quer, hum? — Chase pergunta em meu ouvido e arrasta a língua por meu
pescoço antes de cravar os dentes ali. — Vamos, Ally, diga.
— Você… eu quero você — imploro enquanto prendo a cintura dele com minhas pernas e o
puxo para mais perto.
Chase acalma a mordida com uma lambida vagarosa, que me arrepia. Sinto-me uma virgem
que se afeta pelo menor dos toques.
— E o que você quer de mim? — Ele raspa os dentes por meu queixo, e aperto meus dedos
em sua camisa.
Deslizo minha mão direita por entre nossos corpos e agarro o seu pau duro por cima de sua
calça de moletom, sentindo o tesão em meu peito crescer ainda mais por sentir o quão pesado ele
está.
— Eu quero isso aqui. — Eu o massageio, e ele geme em meu ouvido.
Chase sorri com o lábio inferior entre os dentes e solta o meu seio, deslizando por meu corpo
até ficar com a cabeça entre as minhas pernas. Seus lábios encontram a parte interna da minha
coxa e deslizam em direção à minha parte mais íntima, fazendo-me ofegar de ansiedade.
Ele ergue os olhos acinzentados para mim e me dá um sorriso sacana e cheio de promessas
sujas.
— E eu quero isto aqui. — Ele beija minha boceta por cima da calcinha e prende os dedos
no cós dela antes de descê-la por minhas pernas.
Ele joga o tecido em algum lugar que não faço a mínima questão de descobrir e desce os
olhos para a minha intimidade encharcada, erguendo o olhar para mim com um sorriso. Vou ter
um colapso e não vai demorar muito.
— Já está assim, Ally? — Chase ergue a minha camisa larga até a altura da minha barriga e
mordisca a parte interna da minha coxa, fazendo minha entrada se contrair de sensibilidade.
Ele está me deixando louca.
Seu hálito acaricia minhas dobras sensíveis e, em seguida, ele as lambe de baixo para cima,
arrancando-me um gemido surpreso. Ele afasta a boca de mim, e agarro os seus cabelos,
mantendo-o ali e o impedindo de dar mais algum passo.
— Eu quero mais… — choramingo, e ele passa os braços por trás das minhas coxas e me
firma.
Chase deita a cabeça em minha coxa esquerda e me olha, como um cachorro esperando um
comando. Mas sei que a única a ser dominada aqui sou eu, porque neste momento estou em suas
mãos.
— Eu sei o que você está fazendo, Allyson… — Ele lambe a minha coxa.
Engulo em seco.
— O quê? — pergunto confusa e desnorteada. — Como assim?
— Você está… — ele se aproxima da minha entrada, mas para e me olha com os olhos
repentinamente raivosos — SONHANDO COM PUTARIA, SUA SAFADA!
Eu abro os olhos de maneira abrupta e os arregalo quando vejo Tessa logo acima de mim,
encarando-me com um sorriso largo no rosto, repleto de zombaria e diversão.
— AAAHHHH! — Eu a empurro e em seguida me viro e caio da cama. Meu corpo atinge o
chão com um grande barulho, fazendo o som repercutir pelo cômodo.
Eu gemo de dor com o impacto e viro de barriga para cima, sentindo todo o meu corpo
latejar e ficar dolorido de maneira muito rápida. Olho para cima e encontro Tessa me olhando
com os braços cruzados, não parecendo nem um pouco disposta a me ajudar.
Apoio meu corpo nos cotovelos e a olho com uma carranca.
— Isso é jeito de me acordar? — digo enquanto me levanto aos poucos. Eu franzo o cenho.
— E por que caralhos você estava me observando dormir?
— Você estava gemendo que nem os gatos no telhado em época de cio. — Ela põe as mãos
na cintura e arqueia uma sobrancelha. — Inicialmente, pensei que estivesse com dor, mas aí você
começou a implorar de um jeito nada… dolorido.
Eu coço meu nariz e sorrio forçadamente, lembrando-me de que estava sonhando com meu
querido vizinho entre as minhas pernas, coisa que não devia ter acontecido.
— Você está ouvindo coisas, Tess. Você está bem? — Olho-a com falsa preocupação.
Tessa ergue a sobrancelha direita como se soubesse o que eu estou tentando fazer e limpa a
garganta, erguendo o indicador e o abaixando.
— Você… eu quero você! — Tessa afina a voz e repete o que eu disse em sonho, e arregalo
os olhos. — Eu quero mais!
Eu pego um travesseiro da minha cama o mais rápido que posso e o jogo nela, que
infelizmente desvia por pouco, o que é uma pena. Eu a encaro com uma carranca e ponho as
mãos nos meus ouvidos quando sinto a vergonha queimar minhas bochechas.
— Cale a boca!
Tessa para de rir aos poucos e se aproxima de mim com as mãos na cintura, uma verdadeira
gata debochada.
— Tudo bem, vou guardar as minhas brincadeiras para mim mesma… — Ela arqueia uma
sobrancelha bem arqueada, e seu gloss brilha em seus lábios. — Agora abra o jogo, o que está
rolando entre você e Chase?
Eu passo as mãos por meu cabelo e adoto uma postura ereta que eu só faço quando
confrontada ou tensa.
— Do que está falando? Chase só está me ajudando a afastar Kevin e sua insistência, nada
demais. — Dou de ombros.
— Tem certeza de que é só isso? Você sabe que pode ser sincera comigo, não é? — Ela se
aproxima.
Sabendo que é praticamente impossível esconder algo dela, eu bufo e passo os dedos por
minha franja para jogá-la para trás. Engulo em seco e olho para ela com os ombros curvados.
— Ok, a gente se beijou no dia em que você foi dormir na casa de Kat… — confesso
baixinho, brincando com a barra da minha camisa.
Tessa ergue as sobrancelhas, chocada.
— Foi beijo, tipo um beijinho ou… — Ela sorri maliciosa e balança as sobrancelhas
sugestivamente. — Beijo, beijão do tipo de sugar a alma pela boca?
E agora? Como eu explico que Chase usou os dedos em mim com uma velocidade e
habilidade sobrenaturais? Porque o que ele fez em mim não é humanamente possível.
— Elememasturbou… — Eu finjo tossir, desviando meus olhos.
— O quê? Não escutei. — Franze o cenho e se aproxima de mim.
— Elememasturbou. — Coço meu pescoço, vendo Justin entrar no quarto.
Tessa grunhe e atrai meu olhar para si. Eu a encontro revirando os olhos, e ela põe as mãos
na cintura fina.
— Fale direito, Allyson, o que você tem na boca?— Ela me encara, irritada.
É a minha vez de irritar-me e jogar as mãos para cima, em um ato de exasperação.
— Ele me masturbou, ok?! — eu grito, e ela suspende as sobrancelhas, assustada. Mas eu
não paro por aí. — Ele usou os dedos daquela mão enorme dele para brincar com algo de que
nunca deveria sequer ter chegado perto!
Porque essa é a verdade. Mas eu sigo o que é certo? Não! Eu apenas ignoro todas as
bandeiras vermelhas e mergulho de cabeça no que sei que vai dar muito ruim.
Tessa abre a boca em choque e dá alguns passos para trás, apontando para mim. Eu apenas
quero enfiar minha cabeça dentro de um buraco e morrer ali mesmo, sem chance alguma de
sobreviver. Ok, isso saiu um pouco dramático demais.
Vamos dizer que eu apenas não gostaria de ter aberto a boca.
— Vocês… — Tessa começa, fazendo uma pausa dramática — chegaram a transar?
— Não, ele foi embora e me deixou no sofá. — Cruzo os braços, lembrando-me da
humilhação.
Chase saiu pela porta e nem sequer me deixou tocá-lo.
— No… No sofá? — Tessa repete e me olha com raiva, aproximando-se de mim para
agarrar a gola da minha camisa larga. — Eu me sento naquele sofá, Allyson!
— Que moral você tem para falar de mim? — Eu também agarro a camiseta dela. — Já a
peguei quase transando com a Kat naquele sofá!
Tessa apenas me olha por um tempo, sua carranca some ao ouvir minhas palavras mais do
que verdadeiras. Um sorriso se abre em seus lábios, e ela solta uma risadinha e curva os ombros.
— Ah.
É tudo o que ela diz antes de me soltar, e eu a solto também. Sento-me na minha cama para
fazer um carinho em Justin, que subiu na cama, e olho para Tessa, sentindo seu olhar sobre mim.
Ela morde a unha longa e vermelha coberta por uma fina camada de gel, e percebo que está
inquieta.
— Vamos, pergunte. — Reviro meus olhos.
— Você tem certeza de que não rola nada entre vocês? — Tess pergunta na mesma hora,
sentando-se na cama e de frente para mim.
Eu suspiro.
— Sim, o que eu lhe contei agora aconteceu só uma vez — eu digo, olhando para ela. — E
não tem a menor possibilidade de acontecer de novo, relaxa.
— Tem certeza? — Ela ergue as sobrancelhas e sorri maliciosamente. — Porque a tensão
sexual entre vocês quando você pegou a batatinha da boca dele foi enorme, puro tesão contido.
Justin late como se concordasse com ela, e eu sorrio sarcasticamente.
— Você deve estar fumando muita maconha com a Kathleen.
— Haha, palhaça. — Tessa sorri falsamente e me mostra o dedo do meio. — Mas venha cá,
Chase não pediu nada em troca da ajuda dele?
— Sim, pediu para ser meu amigo. — Dou de ombros.
O que, mais uma vez, é suspeito.
— Só isso? — Tessa franze o cenho, e assinto, ganhando um sorriso. — Isso está parecendo
aqueles livros e romances de fake dating em que eles ficam juntos no final. Cuidado para não se
apaixonar pelo Chase, Ally.
— Até parece que eu vou me apaixonar por ele.
Isso não tem nenhum sentido.
— Por que você fala com tanta certeza? — Tessa põe as mãos na cintura. — Chase é lindo e
legal.
— Legal é um exagero.
— Mas o acha lindo?
Até demais para o bem da minha dignidade.
— Sim. — Finjo indiferença.
— Ótimo, esse é o primeiro passo. — Ela sorri. — Depois vocês se apaixonam, casam e tem
filhinhos. Eu quero ser tia!
— Peça ao Adam! — Olho-a, indignada.
— Não foi ele que quase fez um filho no sofá! — Tess provoca.
Em seguida, ela arregala os olhos e começa a correr para fora do quarto quando eu ergo um
travesseiro para jogar nela e fazê-la calar a boca. Tessa passa pela porta no mesmo momento que
eu o arremesso e atinjo sua bunda. Ela ri alto e, logo após, some.
Eu jogo meu corpo para trás, deixando que o colchão macio acaricie minhas costas, e Justin
se aproxima de mim para lamber o meu rosto.
— Viu a audácia, Justin? — Eu o olho incrédula, e ele late, como se me respondesse. Reviro
meus olhos. — Isso mesmo, até parece que eu vou me apaixonar pelo Chase.
Justin se afasta de mim e solta um rosnado, em seguida pula para fora da cama e sai do meu
quarto como se não tivesse acabado de abandonar sua dona. Sento-me, totalmente chocada com a
rebeldia de Justin de rosnar para mim. Parece até que não gostou do que eu disse.
Mas, gostando ou não, é a verdade. Talvez a única coisa que sinta pelo Chase é atração, o
que é compreensível, já que ele é um baita de um gostoso. Eu acabei de ter um sonho erótico
com o meu vizinho, mas isso não significa que quero transar com ele. Não, não tem nada a ver.
Dispensando esses sentimentos, levanto-me da cama e ando em direção ao banheiro para
tomar banho e ir à universidade. Mas, antes que eu consiga fazer isso, meu celular toca em cima
da minha cama, e vou até ele e o pego. O nome do meu irmão mais novo brilha.
— Ally… — ele diz assim que eu atendo e estranho seu tom.
— Para você me ligar do nada e ainda me chamar com esse tom, deve ser sério — eu digo e
suspiro. — Pode dizer, estou ouvindo.
— A mamãe lhe falou algo sobre mim esses dias? — pergunta, cauteloso.
Sorrio.
— Nada por que você deva se sentir mal, ela apenas ficou frustrada por ter sido a última a
saber.
Ele suspira, e tenho a certeza de que deve ter passado as mãos pelos fios longos de seu
cabelo.
— Você sabe que a mamãe é bem… Bom, nunca dá para saber a reação dela — Adrien fala
do outro lado da linha. — Fiquei com medo de ela dizer que não me ama mais ou me ver
diferente.
Eu olho para Justin deitado de lado, tranquilo.
— Mesmo que a mamãe tenha um gênio difícil, ela o ama e me contou que só se sentiu
excluída. Ela continua a vê-lo do mesmo jeito, Adrien.
Meu irmão fica em silêncio por alguns segundos, parecendo pensar no que eu estou dizendo.
Nós sempre fomos como cão e gato, mas é a mim que ele busca quando quer um conselho.
Adrien é como uma criança encapetada que tem o insisto de provocar outra pessoa por zero
motivos.
— Acha que devo falar com ela sobre isso? Ainda não tive coragem — ele diz.
— Se sentir que assim vai se sentir melhor, sim.
Ouço Adrien respirar.
— Tudo bem, eu te mando uma mensagem dizendo como foi — meu irmão fala. —
Obrigado, feia.
Reviro meus olhos, sorrindo.
— Às ordens, fedorento.
Adrien ri e em seguida desliga a chamada, deixando-me livre para que eu finalmente possa
tomar um banho e ir para a minha rotina de estudante que se humilha por notas.
E fico feliz por Adrien ter vindo até mim em um momento em que ele está se descobrindo e
sua cabeça com certeza deve estar uma perfeita confusão. Nunca tive dúvidas quanto à minha
sexualidade, mas gostaria de ter alguém para conversar quando surgiam dúvidas sobre outras
coisas. E, mesmo que meus pais sejam ótimos, nem tudo se conversa com eles.
Assisto à minha colega de equipe bater na bola, fazendo-a voar por alguns bons metros, e
estou quase comendo meus dedos de tanta ansiedade por pensar que Kevin pode cruzar a porta a
qualquer momento. Meu dia praticamente se baseou em fugir dele e de toda a sua insistência.
Mas a questão é: onde está a pessoa que deveria me ajudar com isso?
O dia todo passou, e não vi Chase em lugar nenhum. Ele com certeza veio à universidade, já
que Kat reclamou de um trabalho, mas agradeceu por sua dupla ser Chase. Mas nem ele, nem
Michael foram comer no refeitório, o que me deixa bastante curiosa.
Agora eu estou no meio do treino de vôlei e quase correndo daqui para a minha casa de tanta
exaustão, não só física, mas mental também. Céus, estou tão estressada.
— Sua vez, Allyson — Karen me chama quando agarra a bola que Clary rebateu.
A capitã do meu time é outra que parece não estar em um bom dia e, mesmo que eu nunca
fale isso em voz alta para não haver fofoca, ainda sinto que Karen desconta suas frustrações em
nós.
Clary sentou no banco ao meu lado e me levantei, indo até Karen e parando um pouco longe
dela, o suficiente para que o que vamos fazer agora dê certo.
Eu me posiciono.
— Tente salvar a bola, vou jogá-la para um lado aleatório. — Karen se posiciona. —
Preparada?
Assinto.
— Sim, pode jog…
Paro de falar quando avisto a bola voando na minha direção e bato nela, antes que atinja o
meu rosto e, pela força com a qual ela veio na minha direção, dor seria um eufemismo perto do
que eu sentiria de verdade.
Ergo meus olhos para Karen.
— Desculpa, pensei que já estivesse pronta! — Ela me olha, preocupada.
Eu assisto à bola quicar para longe e ergo minhas sobrancelhas, totalmente chocada
— Você nem esperou que eu terminasse de falar! — Ponho as mãos na cintura.
— Sinto muito mesmo, pensei que você pararia de falar no “sim”. — Karen encolhe os
ombros, envergonhada.
Eu engulo qualquer resposta que esteja na ponta da minha língua porque, se eu estou
estressada, claro que também posso estar sendo exagerada.
Eu assinto, e Karen sorri, pegando a bola que Emy joga para ela.
— Beleza, vamos tentar de novo — ela diz, e eu assinto, posicionando-me de maneira
curvada e com minhas mãos nos joelhos e os olhos atentos. Karen bate na bola — SALVE!
A bola vem com tudo na minha direção, e eu dou alguns passos para trás e a salvo com
habilidade. Karen agarra a bola ainda no ar e a passa de uma mão para a outra, assentindo como
se estivesse satisfeita com meu desempenho.
— Ótimo. — Ela sorri e mais uma vez bate na bola. — De novo!
Dessa vez a bola vai para a minha esquerda, e junto minhas mãos, pronta para salvá-la e dar
a minha vida por ela, se precisar. Teremos um jogo daqui a algumas semanas, e detesto fazer
corpo mole.
— Caralho, que gato.
— Quem é ele?
Escuto algumas das garotas dizerem e olho para onde elas estão olhando, encontrando Chase
parado perto dos bancos com as mãos nos bolsos de sua jaqueta preta e um sorriso. Ele acena
para mim.
Eu arregalo os olhos e me desespero para salvar a bola quando me desequilibro e piso em
falso com meu pé direito. A dor irradia imediatamente por meu tornozelo, e caio no piso da
quadra quando a bola atinge a minha cabeça. A dor do impacto em minhas costas me faz gritar, e
eu encolho minha perna direita quando meu tornozelo começa a latejar.
— Porra, como dói! — eu grito e me sento com dificuldade, agarrando minha canela com
todo o cuidado do mundo.
Escuto alguém gritar meu nome, mas estou ocupada demais me contorcendo como uma
verdadeira lagartixa para ver quem é. Já vi minhas colegas torcerem o tornozelo ou quebrarem a
perna, mas nunca aconteceu comigo.
Chase aparece diante de mim e se ajoelha ao meu lado com uma rapidez impressionante.
— Merda, você está bem? — ele pergunta, parecendo genuinamente preocupado.
— Fora a bolada que chacoalhou meus miolos e a dor alucinante no meu tornozelo, sim,
estou ótima! — Sorrio falsamente, mas gemo quando sinto uma pontada de dor.
Chase ignora meu sarcasmo desnecessário e franze o cenho, encarando meu tornozelo.
— Espere, deixe-me ver… — Ele segura o meu pé com delicadeza, e cravo as unhas no piso
da quadra quando o sinto doer.
O resto do time já se reúne ao nosso redor, e avisto Karen andando calmante até nós, como
se não tivesse pressa. Ela tem a expressão fechada, não me deixando analisar muito. Mas
também não é como se eu estivesse preocupada com isso agora.
— Ela quebrou o pé? — Karen pergunta a Chase quando finalmente chega a nós.
— Eu quebrei?! — arregalo meus olhos, desesperando-me.
Chase coloca o meu pé no chão com cuidado e me olha.
— Eu vou levá-la ao hospital, venha.
Sem dizer mais nada, ele passa o braço direito por detrás dos meus joelhos, e seu esquerdo
faz o mesmo em minhas costas. Em seguida, Chase me ergue, e meu pé machucado balança,
fazendo-me quase arrancar os meus cabelos com a dor. Espero não o ter quebrado,
principalmente tão perto de uma competição.
— Oh, céus, estou vendo tudo escuro! — lamento, passando os braços ao redor pescoço de
Chase.
Meu nariz é agraciado com o cheiro do seu perfume e, por um momento, quase esqueço a
dor. Nossa, como ele está cheiroso.
Clary me dá a minha mochila, e a agarro contra o meu peito.
— Calma, Allyson, você apenas machucou o pé — ouço Karen dizer. — Talvez nem precise
de um médico.
Eu paro de gemer de dor e olho para ela exatamente como alguém possuído faria. Eu arqueio
minha sobrancelha e a encaro de cima a baixo.
Excuse me, bitch?
— Não sei como você lida com alguma torção das suas companheiras de equipe e pouco me
importa. Mas esta aqui… — Chase me indica com o queixo, olhando para ela com uma rispidez
enorme — vai ao hospital.
Em seguida, Chase dá as costas a todas elas e começa a andar em direção à saída, como se
eu não pesasse nada.
Eu seguro minha mochila com a mão esquerda e passo meu braço livre por seu pescoço. Não
direi que é culpa dele eu ter me machucado, mas, se ele não tivesse aparecido e as garotas
comentado o quanto ele é bonito, eu não teria olhado para ele e perdido o foco. Parece que elas
nunca viram um homem bonito. Sim, foi uma autocrítica.
Chase sai comigo da universidade e anda comigo até o estacionamento a passos rápidos. Ele
me coloca com cuidado no chão quando chegamos ao seu carro, e fico em pé com o meu pé
esquerdo, apoiando-me para não cair. Ele abre a porta do passageiro para mim e me ajuda a
entrar, quando eu já estou acomodada no banco, ele dá a volta no carro e entra também.
Chase liga o carro, e coloco meu pé machucado em cima das pernas dele, atraindo seu olhar.
Então, ele me olha.
— O que é isso? — Chase arqueia uma sobrancelha.
— Meu pé está doendo muito, preciso de um apoio… — Eu faço uma careta de dor, batendo
meus cílios para ele.
— Prefiro dizer que você é folgada — Chase diz, indignado.
Ponho uma mão na testa e fecho meus olhos quando sinto que ele vai acabar com a minha
festa e tirar meu pé do seu colo.
— Oh, Deus, será o meu fim? Que luz é essa? — pergunto, fingindo uma recaída.
Espio pela brecha do olho e vejo Chase negar com a cabeça.
— Dio aiutami — ele suspira olhando para teto do carro e em seguida dando partida.
Sinceramente? Nunca pensei que torcer o tornozelo poderia doer tanto. Não está quebrado,
afinal ainda posso mexê-lo e o estou sentindo. Mas ele ainda continua a latejar e, vez ou outra,
Chase dá uma analisada e, mesmo que eu realmente seja folgada, em nenhum momento ele tirou
meu pé do seu colo.
E, também, puxou conversa uma vez ou outra para me manter distraída em relação à dor,
sempre buscando o jeito de me fazer focá-lo, e não o fato de que meu tornozelo estava
começando a ficar inchado e vermelho. Achei uma atitude bonita, se quer saber.
Depois de minutos rodando pela cidade, que pareceram horas torturantes, Chase para o carro
em frente ao hospital e em seguida desce dele e dá a volta, um pouco apressado. Ele abre a porta
do carro para mim, e eu automaticamente estendo meus braços para ele, preparada para ser
levada mais uma vez.
Chase pisca e me olha com o que parece ser confusão em seu olhar cinzento.
— O que foi? — ele questiona, perdido.
— Ué, você não vai me pegar no colo de novo? — Encaro-o, mais confusa ainda.
Chase sorri de lado, soltando uma risada nasal enquanto me dá um olhar cheio do que parece
ser incredulidade. Ele põe as mãos na cintura e inclina a cabeça para o lado.
— Lo farò, ma non sarà così — Chase diz em italiano, e sua voz rouca acaricia os pelos da
minha nuca
Sinto-me dividida entre achar bonito ou ficar com raiva pelo fato de eu não entender nada.
Eu me inclino para fora do carro e puxo a gola da camisa de Chase, fazendo-o se curvar até
nossos rostos estarem colados. Ele arqueia a sobrancelha, e um sorriso repuxa os cantos de seus
lábios como se ele achasse graça.
— Eu já disse para não falar em italiano perto de mim — digo, afiada.
— Mesmo com dor, você não deixa de ser agressiva, não é?
Eu solto a camisa dele e faço menção de sair do carro para mostrar que não preciso da ajuda
dele, mas assim que firmo meus no chão, grito pela dor que irradia pelo meu tornozelo. Pulo no
banco pelo latejar repentino e insuportável, fazendo com que minha cabeça bata no teto do carro.
— Ah, merda! — resmungo, segurando minha cabeça.
Agora, meu tornozelo, minha cabeça e minha mão estão doendo. Tudo porque eu não sei
ficar quieto e tenho essa necessidade idiota de mostrar que tenho orgulho, mas acabei de perder a
minha dignidade diante dessa vergonha.
Chase se curva para a frente e consequentemente sobre mim, e eu apenas o olho por um
olho, já que o outro está fechado.
— Porra, você é como um bebê gigante! — Chase resmunga enquanto me ajuda a descer do
carro.
Eu me apoio com o meu pé saudável, segurando com uma mão em seu ombro, quando ele
passa um braço pela minha cintura. Seu aperto é firme o bastante para que eu não precise fazer
esforço para ficar em pé.
— Isso não teria acontecido se você tivesse me pegado no colo como antes — eu rebato.
A boca de Chase se aproxima da minha orelha esquerda, e seus lábios escovam o arco dela.
Mordo meu lábio, olhando-o de soslaio enquanto espero seu próximo passo.
— Estou começando a desconfiar de que você se machucou apenas para ter minhas mãos em
seu corpo. — Sua voz sai como uma provocação sacana.
Eu sorrio, sarcástica.
— Claro, Chase Fontana é tão gostoso que ser tocado por ele é uma dádiva. — Reviro meus
olhos.
Algo molhado desliza pela parte de trás da minha orelha, um carinho mínimo quase
inexistente. Pelo hálito quente que bate contra meu pescoço, percebo que é a ponta da sua língua.
Meu corpo se arrepia, e engulo em seco.
— Verdade, comprovei esse fato há alguns dias quando você gozou nos meus dedos —
Chase provoca, e sinto seu sorriso contra a minha pele.
O calor sobe por minhas bochechas, e fico chocada com o quão depravado ele consegue ser.
Eu até lhe responderia à altura se, sem querer, eu não tivesse pisado no chão com meu pé
machucado e o feito doer como o inferno. Solto um gemido de dor.
— Sei que deve ter gostado muito, gattina. Mas, ainda assim, não gema em voz alta ao
lembrar, é estranho… — Chase diz, negando com a cabeça.
Olho-o, perplexa.
— Foi de dor, cacete… — eu digo entredentes. — Agora, se puder me fazer esse favor,
leve-me para dentro do hospital.
Com meu braço esquerdo ao redor do seu pescoço e seu braço direito ao redor da minha
cintura, Chase resmunga em italiano e começa a caminhar comigo em direção ao hospital. Nós
chegamos à recepção, e ele me ajuda a ir até uma das cadeiras e me senta nela. Ele se afasta de
mim e vai até a recepcionista ruiva de óculos e um rabo de cabelo bonitinho.
Deixo minhas costas descansarem na cadeira e mordo meu lábio com força, encarando meu
maldito tornozelo. Está mais vermelho e inchado do que antes, mas, ao contrário de minutos
atrás, não estou mais gemendo e consigo me manter quieta, sofrendo em silêncio.
Olho na direção de Chase e o vejo conversar com a mulher. Ele aponta para mim, e a mulher
ergue as sobrancelhas, assentindo. Ele fala com ela por mais alguns segundos, e o vejo sorrir
para então caminhar até mim.
— Você vai ter que esperar um pouco — Chase diz, assim que para diante de mim.
— Tem muita gente na minha frente, né? — pergunto, massageando meu tornozelo.
Olho ao redor, vendo mais algumas pessoas na sala de recepção, a grande maioria de frente
para mim.
— Sim.
Suspiro e faço uma careta de dor.
— Mas não se preocupe, consegui encaixá-la como a terceira, já que seu caso é mais grave.
— Chase fala, fazendo-me olhá-lo.
Franzo o cenho.
— E como conseguiu isso?
Chase coça a sobrancelha e em seguida mexe no piercing de seu nariz.
— Dei um jeito. — É tudo o que ele responde.
Estreito meus olhos em sua direção e o encaro totalmente desconfiada de que jeito foi esse.
Sorrio de lado.
— Você seduziu a recepcionista?
É a vez dele de sorrir.
— Acabei de usar meus dotes para ajudá-la, deveria estar grata — Chase diz, passando as
mãos pelo cabelo enquanto se senta ao meu lado. — Sou tão bonito, tive que usar isso ao meu
favor.
Solto uma risada nasal sarcástica e reviro meus olhos.
— Eu me impressiono com o quão humilde você é — debocho enquanto sinto meu
tornozelo latejar.
Chase enfia as mãos nos bolsos de sua jaqueta e vira o pescoço na minha direção para firmar
os olhos em meu rosto
— “Gratidão”, sabe o que é?
Ergo meu rosto para ele.
— Eu saberia mais se você não tivesse sumido hoje e me deixado a mercê de Kevin —
despejo o que estava entalado na minha garganta.
Sua expressão debochada some e dá espaço para uma compreensiva. Um suspiro deixa seus
lábios, e ele pisca, assentindo com a cabeça. Chase deixa seu corpo descansar na cadeira, e um
sorriso que parece nada mais do que tímido puxa os cantos dos seus lábios.
— Não cumpri com o nosso acordo, não é mesmo?
— O que… aconteceu?
Chase me analisa por alguns segundos, parecendo decidir se me conta ou não o motivo que o
fez sumir pelo resto do dia e me jogar na cova dos leões.
— Talvez não seja só você quem tenha que fugir de um ex maluco. — Dá de ombros,
desviando o olhar com um suspiro.
Ergo minhas sobrancelhas.
— Está dizendo que também está sendo incomodado por alguma ex?
Chase apenas sorri.
— Tudo o que precisa saber é que não vou faltar com minha palavra novamente, não se
preocupe, gattina. — Ele pisca o olho para mim e muda repentinamente de assunto.
Não preciso ser inteligente para saber que Chase não quer falar sobre isso, na verdade, ele
cortou o assunto sem precisar ser ríspido ou grosseiro. E, se ele não quer falar sobre isso, não
serei eu a insistir.
Tenho muitos defeitos, mas nenhum deles é ser invasiva com a vida alheia.
— Eu espero, italiano — digo, olhando-o de cima a baixo.

— O que você vai fazer depois daqui? — A doutora loira sorri para Chase enquanto
higieniza suas mãos.
Já faz exatamente dez minutos que entrei nesta sala, e a mulher deu em cima dele todo esse
tempo. Falo sério, eu nunca presenciei nada assim em toda a minha vida, algo totalmente sem
profissionalismo. Tem uma paciente com dor em cima da cama e tudo o que ela faz é flertar com
alguém que ela acabou de conhecer?
Chase cruza os braços e a encara.
— Vou para casa. Por quê? — questiona, sem muito ânimo.
— Estava pensando de a gente sair, não sei… — Ela se aproxima de Chase, quase
esfregando os peitos imensos na cara dele.
Seu tom é totalmente sugestivo e cheio de malícia. Ela pode não estar sendo tão descarada
assim, mas está sendo totalmente direta e, porra, absolutamente sem profissionalismo.
Eu estou sentada em uma cama, morrendo de dor, com o pé inchado, e ela está dando em
cima do meu acompanhante em vez de me examinar? Eu mereço. Ou então ela merece por ser
tão antiética esse jeito.
— Sinto muito, mas vou ter que recusar — Chase diz, acabando com sua festa.
— Ah, que pena… — murmura, cabisbaixa.
A doutora faz um biquinho com os lábios pintados de vermelho e põe as mãos na cintura,
aparentemente triste porque sua noite não vai acabar com ela transando em seu apartamento
obviamente luxuoso, e eu não a julgo, é realmente desanimador ser rejeitada por um homem
bonito.
Mas, ainda assim, ela deve ser julgada por não estar classificada para ser uma doutora.
A mulher se vira na minha direção, parecendo finalmente notar a minha presença
insignificante e facilmente apagada diante de Chase.
— Bom, vamos cuidar desse seu tornozelo agora — ela fala, colocando suas luvas.
Coloco um sorriso falso em meu rosto.
— Mas, se estiver muito ocupada flertando com ele, posso esperar. Sem problemas — eu
debocho.
Suas bochechas ficam ruborizadas, e ela limpa a garganta, deixando-me notar o quão sem
graça ela ficou, e essa é a intenção, não por ela estar flertando com Chase, mas porque outra
pessoa estaria no meu lugar agora passando pela mesma negligência.
— Você é… a namorada dele? — Ela encolhe os ombros e me olha de cima a baixo.
Olho para Chase e vejo que ele tem a cabeça inclinada para o lado direito e um sorrisinho de
canto, achando graça da situação.
— Parece envergonhada, é por negligenciar um paciente ou por dar em cima de um homem
supostamente comprometido? — cuspo.
A doutora abre a boca, chocada.
— Olha como fala comigo, garota. Tenha mais educação! — ela manda, pondo as mãos na
cintura.
Arqueio uma sobrancelha e respiro fundo, tentando não me deixar levar por isso. Eu tenho
educação, sim, apenas estou indignada com tudo isso.
— Olha, doutora. Para a sua felicidade, não sou a namorada dele. — Sorrio docemente. —
E, se você quiser dar em cima dele, vai ter que ser depois de me examinar, tudo bem? Se isso lhe
agrada, eu até deixo vocês darem uma rapidinha no carro.
O rosto da mulher se ilumina, e Chase ergue as sobrancelhas, afastando-se dela
discretamente e vindo para o meu lado. Ele se curva para sussurrar algo em meu ouvido, longe
dos olhos curiosos da mulher. Ela nos dá as costas para pegar seus utensílios, ficando alheia.
— Você não está me vendendo, está? — Ele sorri para mim, enquanto mantém os braços
cruzados e carrega minha mochila nas próprias costas.
— Por que não? Você meio que é culpado por isso, é feiticeiro ou algo assim?
— Está tentando achar uma desculpa para ter se distraído com a minha visita no seu treino e
ter se machucado?
Eu não consigo acreditar no que esse cara está dizendo. Com alguém pode ser tão cheio de si
assim?
— Claro, continue com essa ilusão. Seu ego precisa — zombo.
Chase apenas sorri de lado e, sempre que ele faz isso e não me rebate, sinto que tem alguma
resposta que pode abalar todos os meus argumentos, e é como se ele ficasse satisfeito com
alguma verdade que ele pensa ser absoluta e verdadeira.
A doutora pigarreia, se vira para nós e se aproxima de mim. Ela segura o meu pé machucado
com delicadeza e começa a examiná-lo com muita atenção, nem parecendo a de segundos atrás.
É, talvez eu a tenha julgado mal.
Eu olho para Chase, que olha para a mulher examinando o meu pé, e suspiro discretamente,
vendo como eu sempre dou um jeito de sair prejudicada, não importa a situação.
— Pelo que vejo, você não quebrou nenhum osso, foi apenas uma torção… — a loira diz,
soltando meu pé na cama com cuidado. — Vou lhe receitar um remédio para dor e enfaixar o seu
pé, tente não fazer movimentos bruscos e fique de repouso por três semanas.
Eu arregalo os olhos, sentindo meu chão sumir com num passe de mágica.
— Três semanas?! — pergunto incrédula, desesperando-se. — Mas eu faço faculdade e jogo
vôlei. Tenho uma competição daqui a um tempo, não posso ficar em casa!
— Se você forçar o pé, vai piorar. Se não quiser ficar de repouso por mais tempo, é melhor
seguir o que eu digo — a loira diz, olhando para Chase vez ou outra.
Eu ignoro esse fato, porque já percebi que não tenho nada a fazer quanto a isso, e assinto a
contragosto, sabendo que também deveria apenas aceitar o que a doutora está dizendo.
Chase dirige o olhar para ela por alguns segundos, e as bochechas dela ficam vermelhas. Ela
pigarreia, e Chase apenas abaixa a cabeça e coça o nariz, tentando conter uma risada. Mais
perigoso do que um homem bonito, só um homem bonito que sabe o efeito que tem.
— Venha, vou enfaixar o seu pé — a loira diz, voltando sua atenção para mim.
Pelos minutos que se passaram, a doutora enfaixou o meu pé e me deu um papel com o
nome de um medicamento. Chase me ajudou a descer da cama e, em seguida, nós saímos da sala
após Chase não aceitar sair com doutora peituda mais uma vez. Nós saímos do hospital, e ele me
levou para o seu carro. Abriu a porta para mim e me ajudou a entrar, depois fechou a porta, deu a
volta no veículo e logo entrou nele.
Mais uma vez, ele não precisava fazer nada disso, mas continua a fazer. Qualquer outra
pessoa apenas ligaria para um amigo meu e me deixaria no hospital, sozinha. Mas Chase me
levou até a médica e, além de fazer questão de ficar lá comigo, agora está me levando para casa.
— Me leve para casa, escravo. — Sorrio e dou tapinhas em seu ombro.
Chase olha para a minha mão em seu ombro e então para mim.
— Você é uma coisinha folgada, não é?
— Acabei de ferrar o meu pé e você vai ser uma péssima pessoa e me tratar assim?
Chase sorri de lado e inclina a cabeça para a esquerda, encarando-me. Eu estranho seu gesto
e aperto meus olhos em sua direção.
— O que foi? — Arqueio a sobrancelha, segurando a minha mochila contra o meu peito.
— Eu gosto de como a palavra “foder” soa bem na sua boca — ele diz com a voz rouca.
— Acho incrível como sua mente gira em torno da quinta série. — Reviro meus olhos.
Queria que a dor em meu pé ainda fosse presente, só assim eu teria algo com o que me
distrair e não me sentiria tão afetada como agora. Em resposta a algumas coisas que ele fala,
sinto vontade de soltar a maior gargalhada, porque, querendo ou não, ele é divertido.
— Você também gosta, não é? — Chase sorri, sacana.
— Dirija logo. — Eu recupero a compostura e olho para a frente.
Escuto Chase rir e, em seguida, o carro é ligado, dando partida para longe do hospital
enquanto eu mordo meu lábio com força, tentando controlar o sorriso que quer surgir.
Eu dou uma analisada no meu pé descalço e reparo no trabalho da doutora, que, mesmo que
me doa admitir, foi muito bem-feito. Pensei que ela só estava no hospital para flertar
descaradamente com os pacientes, apenas porque não consegue resistir a um homem gostoso,
cheio de tatuagens e de quase dois metros de altura. Ok, olhando por esse lado, parece que foi
um desafio difícil mesmo.
Eu me viro de frente para Chase e coloco meu pé enfaixado em suas coxas, vendo-o franzir
o cenho sem tirar os olhos da estrada, e é engraçado como ele não move um músculo para me
afastar.
— Sim, completamente folgada.
Sorrio e dou de ombros, erguendo as sobrancelhas quando uma curiosidade repentina me
atinge.
— Chase, nós somos amigos, não é? — eu pergunto.
Chase sorri de lado.
— Nós somos? — ele pergunta, mantendo os olhos na estrada.
Aperto meus olhos.
— Foi a condição que você impôs, ou vai me dizer que mudou de ideia?
— Apenas me assustei. Baixe a guarda, gattina.
Eu cruzo minhas mãos enquanto abraço minha mochila e o encaro. Passo a língua por meus
lábios ressecados e os umedeço enquanto me preparo.
— Então eu posso lhe fazer uma pergunta? — pergunto com cautela, e ele assente. — Você
tem pais?
— Não, eu nasci de uma flor que nem a Tinker Bell. — Ele sorri sarcasticamente, e reviro
meus olhos.
— Idiota!
Chase ri e me encara quando para o carro diante do sinal vermelho. O sorriso que aparece
em seus lábios faz com que a covinha afunde em suas bochechas, dando-lhe um ar adorável.
— É lógico que eu tenho pais, Allyson — Chase sorri, olhando para ver se o sinal já abriu.
— Mas eles estão mortos.
Engulo em seco, sentindo-me a pior pessoa do mundo por fazer uma pergunta dessas. Tudo
bem, eu não tinha como saber disso, mas, ainda assim, poderia manter minhas dúvidas para mim
mesma.
Curiosidade maldita.
— Mortos de saudades de mim! — Chase sorri largamente.
Inferno, arrombadinho do caralho!
— Você é um palhaço! — eu rosno e fecho a cara.
Ele não parece se afetar com minha ofensa quando dá partida no carro no exato momento em
que o sinal abre.
— Acalme-se, gattina. Onde está seu senso de humor? — pergunta, risonho e, antes que eu
possa responder, ele continua: — Meu pais estão na Itália, não seria bom para a minha mãe vir
morar aqui mais uma vez.
— Mais uma vez? — repito e franzo o cenho.
— Sim, nós já moramos aqui, há um ano. — Seus olhos se mantêm na estrada. — Mas…
tive alguns problemas e tive que ir morar na Itália, minha família foi comigo.
— Mas por que não seria bom para sua mãe vir para cá de novo? — Inclino a cabeça para a
direita.
— Ela tem câncer — Chase diz e, pelo seu tom de voz, pude perceber que agora ele não
estava brincando. — Não é bom para ela se mudar tanto, a saúde dela é frágil. Sem contar que
aqui ela passava por muito estresse.
Reúno minhas mãos em meu colo e brinco com meus polegares.
— Eu… Eu sinto muito. — Eu olho para ele com sinceridade enquanto abraço a minha
mochila.
Chase sorri e nega com a cabeça, como se dispensasse qualquer sentimentalismo. Ele não
está na defensiva como na sala de espera, mas também não quero prolongar esse assunto mais do
que é necessário.
— E você, tem mãe? — ele pergunta, e eu assinto. — Pai?
Assinto mais uma vez e passo a mão por seu cabelo, vendo que está desgrenhado.
— É até bom que tenhamos essas informações um do outro, afinal somos namorados — eu
digo, e Chase vai diminuindo a velocidade quando nos aproximamos do nosso prédio. Ele sorri
como um cafajeste, e limpo a garganta. — Digo, para o resto do mundo.
Vejo Chase revirar os olhos e parar o carro em uma vaga no estacionamento do nosso
prédio. Ele sai e dá a volta, abrindo a porta do passageiro para mim.
Tento não pensar no fato de que ainda tenho que me acostumar que agora nós estamos
namorando, que temos que ficar nos tocando na frente de Kevin e na frente de outras pessoas e
que Chase parece muito feliz em fazer isso, porque não passa de um safado. E talvez eu também
seja uma safada que, no fundo, no fundo… gosta mais ainda.
Ele se curva para ficar da minha altura, desse jeito posso ver, de pertinho, a tatuagem de rosa
que tem em seu pescoço. De todas elas, essa é a que mais me chama a atenção. Não por ser a
mais exposta, mas porque é bonita além da conta.
— Ai me pega com jeitinho… — eu digo quando ele me puxa para fora do carro com um
pouco de força demais.
— Desculpa, pensei que você gostasse do bruto — Chase provoca, e eu o olho.
Por que isso pareceu tão… erótico? Talvez seja porque é.
Eu ignoro isso e agarro minha mochila, andando para dentro do prédio com Chase me
ajudando. Quando entramos, cumprimentamos o porteiro, e ele chama o elevador para nós.
Alguns minutos depois, o elevador para no nosso andar, e Chase mais uma vez me ajuda a
caminhar até o meu apartamento.
Meu vizinho gira a maçaneta, e sorrio quando encontro a porta aberta, e a primeira pessoa
que vejo é Tessa, que está sentada no sofá. Ela me olha e arregala os olhos quando analisa meu
pé enfaixado e Chase me segurando próximo ao seu corpo.
— O que aconteceu com você?! — Tess pergunta, vindo na minha direção quase correndo.
— Nem queira saber… — respondo a contragosto, e Chase me leva até o sofá e me acomoda
no móvel. Eu sorrio para ele. — Obrigada.
— De nada. — Chase sorri de volta e olha para Tessa. — Ela machucou o pé no treino e
torceu o tornozelo.
— Que bom que a levou para o hospital, Chase — Tessa suspira e passa a mão pelo meu
cabelo.
— Allyson teve sorte de não ter quebrado nada, e a doutora passou um medicamento para
diminuir o inchaço e a dor. — Chase põe as mãos nos bolsos do moletom.
Eu tiro o papel da mochila e mostro a Tess, que o pega. Ela suspira e massageia a nuca,
parecendo frustrada.
— O que foi? — pergunto.
— Eu iria comprar para você, mas as farmácias locais já estão fechadas — ela me olha antes
de passar as mãos pelo rosto —, e as que ainda estão abertas ficam muito longe.
Ergo minhas sobrancelhas, mostrando compreensão, e encaro meu tornozelo machucado.
— Não tem problema, Tess. Acho que aguento até amanhã. — Sorrio para ela.
— Não, eu compro para você.
Chase diz, e olho rapidamente para ele, surpresa. Seus olhos cinzentos estão fixos em mim,
olhando-me de uma maneira que não sei explicar. Apenas sei que é forte o bastante para me
deixar envergonhada.
— Você já me levou ao hospital, não precisa fazer tanto — digo, encolhendo os ombros.
— Relaxa, eu já ia à farmácia comprar um analgésico para dor de cabeça. — Chase dá de
ombros, e assinto, vendo-o ir em direção à porta do meu apartamento. — Já volto.
Eu apenas assinto novamente e o vejo ir embora.
Eu penso no fato de ele estar disposto a me ajudar e sorrio. Ser amiga de Chase não estava
sendo nada ruim, pelo contrário, ele se mostrou preocupado e disposto a me ajudar em qualquer
coisa, e o fato de ele ter ido ao hospital comigo foi uma prova disso.
Ele poderia ter ido transar com a doutora loira, mas preferiu me trazer para casa. Mas, ainda
assim, sinto que ele não precisava ter feito tudo isso, podia ter ligado para Tess.
Mas tudo bem, porque agora também tenho um escravo.
— Vou pegar um pouco de gelo para você pôr no tornozelo… — Tessa diz e, na mesma
hora, corre para a cozinha.
Passo os olhos pela sala à procura de Justin e franzo o cenho quando não o vejo em lugar
nenhum. Ele quase sempre vem me receber quando eu chego da universidade.
É quase como um calmamente, ele faz meu corpo relaxar quando estou muito tensa com
todas as merdas que acontecem ao meu redor. Acho que só quem tem cachorro vai entender ao
que me refiro.
— Tess, viu o Justin? — grito para minha melhor amiga.
— Está dormindo! — ela grita de volta.
Mesmo que ela não possa ver, assinto, agora menos preocupada. Preparo-me para deitar no
sofá quando escuto a voz de Pietro. Não é um tom baixo, pelo contrário, é alto o suficiente para
me deixar em alerta.
— Porra, por que você quer saber dele? — Sua voz sai tão alta e brava que me assusto.
Eu me levanto com dificuldade e saio pulando com um pé só até a porta. Olho pelo olho
mágico e encontro uma garota com um moletom grande e cinza, sua cabeça coberta pelo capuz.
Desse jeito eu não poderia ver o rosto dela nem se eu quisesse.
Porém, eu consigo ver o rosto de Pietro. Seus olhos estão fixos na garota, e sua expressão
fria e zangada é o que me surpreende. Eu nunca o tinha visto assim, e não que eu o conheça há
muito tempo, não. Mas, no pouco que eu o vejo, ele sempre está sorrindo.
— Vou repetir só mais essa vez. — Pietro se aproxima da garota e aponta um dedo bem
diante do seu rosto. — Fique longe do meu irmão.
Em seguida, ele se afasta da garota, e a porta é fechada bem na cara dela. Vejo os punhos da
garota se apertarem, evidenciando o quão brava ela está. Então, sem fazer mais nada, ela se vira e
vai embora.
Chocada, viro-me de frente para a minha sala e ponho a mão em meu peito. Eu nunca tinha
visto Pietro tão bravo assim, nem quando eu quebrei o som dele, o coitado ainda estava pagando
e tudo. Mas agora ele só faltou arrancar os cabelos da garota.
De repente, o conselho que Chase deu a Adam sobre se afastar de Melody enquanto ainda
tinha tempo me atingiu. Será que essa garota é a ex de Chase e ela era abusiva com ele? Porra,
agora estou curiosa.
Eu me afasto da porta e começo a pular em um pé só até o sofá, quando me desequilibro e
caio, batendo minha testa no braço do sofá e em seguida indo ao chão. Eu gemo de dor e me
contorço no chão da maneira que eu posso.
— Tess, me ajude!
Hoje faz três semanas que eu estou em casa.
Não fui para a universidade, não treinei vôlei e muito menos fiz movimentos bruscos. Tomei
o medicamento corretamente e amanhã já poderei retomar a minha vida normalmente. Adam e
Kat às vezes vêm para cá e me ajudam com uma coisa ou outra. Mas quem me ajuda toda hora
são Tessa e Chase. Este último vem sendo uma caixinha de surpresa e tanto.
Às vezes ele fica comigo para que Tessa possa ir ao mercado ou fazer qualquer outra coisa
que eu a impeça de fazer. Mesmo eu não sendo uma criança, Tessa insiste que ele fique de olho
em mim, o que Chase faz com muito gosto, já que ele não tira os olhos das minhas pernas nem
por um segundo, e confesso que gosto, alimenta o meu ego ser desejada por um cara tão bonito
como Chase.
Mas também me deixa indignada, porque ele não passa de um pervertido que fica me
influenciando com toda a sua safadeza. Logo eu, uma mera camponesa.
Brincadeiras à parte, Chase parece ter um ímã que me faz não conseguir deixar de olhar para
ele, mesmo quando não quero, e o nosso beijo está na minha cabeça, algo que aconteceu tão do
nada e tão precocemente, mas que encaixou bem para caralho. Sei que foi errado, mas pareceu
tão… certo.
Hoje, Tessa e ele foram para a universidade, e estou largada na minha cama com a cabeça de
Justin em minha barriga, recebendo um carinho nas orelhas. Ele tem os olhos fechados, como se
para aproveitar melhor. Eu coloco o livro que eu estou lendo de lado e o encaro.
— Agora você me quer, não é? — Eu olho para Justin, que abre os olhos ao ouvir meu
resmungo. — Quando Chase está aqui, você caga para mim.
Ele esfrega o focinho na minha barriga, e reviro os olhos, sorrindo para ele com todo o seu
dengo. Aconchego-me melhor na cama para pegar meu livro de volta quando vejo que, sem
querer, eu o fechei. Nem mesmo me lembro em que página estava, e isso me aborrece.
Lady Killers é mais do que notório na capa, combinando com todo o seu esplendor rosa e de
capa dura. Eu amo esse livro e, não importa quantas vezes eu o leia, sempre voltarei para ele
após ler outros.
Eu me mantive longe desse livro por um bom tempo quando descobri que Kevin me traiu.
Não fazia bem para a minha mente ficar perto de algo que contém mulheres assassinas quando se
é traída. Esse livro tem mais de mil maneiras de matar alguém, e meu querido ex estava incluído
em todas elas.
Sério, acreditem quando lhe disserem que a leitura pode influenciar alguém, e não é porque
estou lendo um livro cheio de assassinas em série que eu faria igual, não seria tão idiota assim.
Mas eu também não duvidaria, tendo em vista que fiquei com uma raiva cega e uma dor
alucinante no meu peito. E também sou impulsiva, o que não ajuda em nada.
Respiro fundo, tentando não perder a paciência com pouca coisa, e abro meu livro
novamente, procurando a página em que eu estava há poucos minutos.
Meu celular começa a tocar ao meu lado, e apenas movo os olhos e vejo o nome de Adam
brilhar na tela. Percebo ser uma chamada de vídeo e pego o celular, atendendo à chamada antes
que se prolongue muito.
— Meu dragãozinho! — Adam sorri largamente quando me vê.
— Talvez eu tenha que repensar minhas amizades, são um pouco tóxicas… — suspiro
dramaticamente e nego com a cabeça.
— Essa é a graça das amizades, Ally — ele diz, ainda sorrindo como se não se afetasse por
minha ameaça. — Elas têm todo um bullying permitido em que o outro não se ofende.
Sorrio falsamente, olhando-o com uma inocência fingida.
— Então, talvez eu deva começar um bullying maior do que sua baixa estatura — zombo,
batendo meus cílios em sua direção.
Adam põe a mão no peito e franze o cenho enquanto assobia, fingido sentir dor diante do
que eu disse. Ele balança a cabeça em um gesto negativo e repudia minhas palavras venenosas.
Eles que aguentem, estou cheia delas agora.
— Às vezes esqueço que você é uma insensível que não sabe brincar — Adam diz do outro
lado, suspirando.
— Ou talvez seja você que não saiba aguentar minhas brincadeiras. — Pisco um olho em
sua direção.
Adrian respira fundo e me olha com uma tristeza fingida.
— Vamos desfazer a amizade — ele faz drama, e reviro os olhos com sua inocência.
— Vai sonhando. — Sorrio.
— Tóxica! — Adam acusa.
Sim, talvez eu seja um pouco toxica. Adam é uma amizade que nem em um milhão de anos
quero perder. Eu não consigo confiar em muitas pessoas, sempre tive esse problema. Mas, nos
poucos amigos que tenho, confio o bastante para me jogar de um precipício sabendo que estarão
lá para me segurar.
Quantas pessoas são agraciadas com algo assim? Poucas, não é? E a grande maioria não
sabe apreciar essa sorte, como eu fiz quando estava com Kevin e não lhes dei ouvidos quando
me alertaram do quanto ele não prestava. Infelizmente, tive que quebrar a cara para enxergar a
verdade.
E, quando isso aconteceu, nenhum deles me apontou o dedo e me julgou, pelo contrário,
eles me acolheram. Com certeza viram que a dor em meu peito já era castigo o suficiente,
acompanhado pela confusão que estava na minha cabeça.
— Onde estão Tessa e Kat? — pergunto, vendo pela tela do celular que ele está no corredor
na universidade.
— Estão aqui. — Ele vira a tela, e vejo Tessa e Kat contra os armários.
Minha melhor amiga segura o queixo da namorada e lhe dá um selinho demorado,
arrancando um sorriso de Kat de orelha a orelha. Torço o nariz.
— Não é muito cedo para peripécias? — pergunto alto, e elas se separam, olhando para o
celular de Adam, à procura da origem da voz.
Ambas sorriem com um ar de zombaria.
— Sinto cheiro de inveja? — Kat debocha, pondo as mãos na cintura.
— Você a cheira, e eu a vejo claramente, amor — Tess debocha, ao seu lado.
Eu dou risada, porque elas meio que não estão erradas, e rir em uma situação dessas é
melhor do que fazer cara feia por não gostar da verdade e deixar que toda a minha pose de “sou
melhor sozinha” caia por terra como uma parede de tijolos malfeita.
Sim, vadia, sinto falta de ter com quem trocar beijos ou outras coisas, mas prefiro ficar no
celibato para o resto da minha vida do que deixar que mais um filho da puta me toque. Sim, não
deixarei que o fogo no rabo me consuma.
Kat se afasta dos armários e se aproxima da tela do celular.
— Amanhã você volta, não é?
— Não sei, gostei tanto de ficar em casa esses dias que quebraria meu próprio pé — eu
suspiro.
Por ser obcecada com a universidade e outras coisas, pensei que ficaria maluca em casa.
Mas confesso que gostei, isso me deixou fazer aquilo que eu não tinha tempo de fazer, e também
dormi tudo o que não dormi mês passado em época de provas.
— Até parece que você teria coragem — Kat sorri, mas em seguida para quando arqueio
uma sobrancelha. — Teria?
— É Allyson, você ainda tem dúvidas? — Tessa revira os olhos e abraça Kathleen por trás.
Abro a boca, indignada com a maneira que usam para falar de mim.
— Por que vocês me pintam como uma maluca que tem coragem de fazer qualquer coisa?
Eu nunca quebraria meu próprio pé! — eu me defendo.
Justin esfrega o focinho em minha barriga, e acaricio seu pelo macio.
— Sabe, alguém que tem uma estante repleta de livros macabros cheios de histórias de
terror e assassinos em série não é alguém a ser… questionado — Tess é quem diz isso.
Estreito meus olhos em sua direção, não deixando passar seu tom sugestivo.
— Está atacando de maneira indireta o rei dos livros de terror e suspense, vulgo Stephen
King? — eu acuso.
É verdade, sim, que sou um pouco obcecada demais com livros de Stephen King, ele é o meu
autor preferido. Amo livros de terror e suspense no geral, aqueles também que são de ficção
sobrenatural. O que é assustador para as outras pessoas me ajuda a dormir como um bebê à
noite.
E também amo de coração documentários sobre casos criminais. Não sei dizer, tem algo de
interessante em desvendar crimes e causas de mortes. Sem querer romantizar algo tão sério, é
claro.
Tess revira seus olhos, sorrindo para mim.
— Você quem está dizendo. — Ela dá de ombros e planta um beijo no ombro de Kat.
— Que saco, parem de se agarrar na minha frente. — Adam revira os olhos.
O coitado já deve estar aguentando muito. Três semanas inteiras apenas segurando vela
sozinho. Quando eu estava aí, nós fazíamos isso juntos. Era menos solitário e vergonhoso.
— Silêncio, solteiro! — elas dizem em uníssono, e Adam abre a boca, chocado.
Ele fecha a cara e, por trás dele, vejo Chase e Michael aparecerem. Meio que é impossível
não perceber quando são tão altos. Michael se aproxima de Adam e se curva um pouco para
ficar do seu tamanho. Sua boca fica perto da orelha do meu amigo.
— É Allyson? — ele pergunta, e meu amigo pula no lugar, assustando-se.
— Porra, cão, que susto! — ele diz e arregala os olhos ao ver quem é, sorrindo amarelo.
Segundo Tessa, Chase e Michael se juntaram ao nosso grupo nessas semanas que não estive
presente. Segundo ela, não foi nada forçado, e nossas ideias e brincadeiras batem muito com a
deles. Michael e Adam também se aproximaram muito, mas meu melhor amigo ainda fica com
um pé atrás com ele.
E eu, uma mera telespectadora, sei que Michael quer muito o meu amigo. Sei que é clichê o
que vou dizer agora, mas está óbvio em sua expressão corporal e na maneira que ele olha para
Adam.
— Oi, Michael. — Sorrio para ele, que acena com a cabeça.
— Oi — ele diz.
Ao seu lado, vejo Chase inclinar a cabeça para a esquerda, aparecendo melhor na câmera.
— Oi para você também, Ally — ele provoca, sorrindo de lado — Sempre tão educada.
— É o meu charme. — Bato os cílios para ele.
Chase bate os dele de volta, e um sorriso falso enfeita seus lábios rosados.
— Então eu posso lhe garantir que você não é muito charmosa — ele debocha.
Coço meu olho com meu dedo do meio, mostrando-o para Chase de maneira discreta, e não
que realmente seja, o que estou fazendo já é um clássico passado de gerações. Mas, se alguém
perceber, posso me fazer de sonsa. Afinal, coço meu olho com o dedo que eu quiser.
Adam coloca a cara de volta na tela, afastando-a de Chase e dos demais.
— Dragãozinho, a gente vai ter que ir agora — ele diz. — Essa é nossa última aula, cada
um de nós vai para os seus cursos.
Assinto.
— Certo, vão lá. — Sorrio.
Adam e o resto do pessoal se despedem de mim, e a chamada é finalizada, não me dando
tempo de nem mesmo ver qual a reação de Chase diante do meu gesto.
Pela tela do celular, pude ver a camisa que ele está vestindo. Ele veio aqui antes de ir à
universidade, e quase tive um treco. Está usando uma camisa branca e solta com mangas curtas.
Três botões estão abertos, e tive um vislumbre perfeito da tatuagem de pássaro em seu peito. É
tão bonita, mas perde apenas para a de rosa em seu pescoço.
Nunca pensei que acharia um homem tatuado tão atraente desse jeito, e não que eu tenha
preconceito, afinal também tenho vontade de fazer uma, porém tenho medo. É só que… Chase
não faz meu tipo, o que me deixa sem saber o que é essa atração que sinto quando o vejo.
Faço menção de colocar meu celular na cama e voltar a ler quando recebo uma mensagem.
Olho pela barra da notificação e percebo ser de Chase, então sorrio e desbloqueio o celular.
Ergo minhas sobrancelhas, vendo como seu tom é sugestivo mesmo por mensagem, e
imagino que, se ele estivesse aqui agora, estaria sorrindo de maneira cafajeste, como sempre faz
ao falar alguma safadeza.
E eu não deveria, mas sinto vontade de prolongar essa brincadeira perigosa de provocações.
E é exatamente isso que eu faço.

Sorrio para a tela do celular e mordo a unha do meu polegar, surpresa com a sinceridade de
suas palavras. Chase acabou de confessar que quer bater na minha bunda, e eu não me importaria
se ele o fizesse.
É impossível não imaginar as marcas dos dedos das mãos de Chase na minha bunda, ainda
mais quando suas mãos são enormes. Seus dedos são tão grandes e grossos que iria parecer que
fui espancada. Não sou masoquista nem nunca levei uns tapas, mas por que me parece tão
atrativo agora?
Olho para a tela do celular e começo a digitar.
Reviro meus olhos com a mudança brusca de assunto e decido não continuar. Mas, ainda
assim, faço uma brincadeira.
Sorrio com essa mensagem, notando que o pervertido não deixa passar nada, sempre usando
minhas palavras contra mim mesma. Ele parece esperar o menor dos deslizes.
Preparo-me para digitar uma mensagem sarcástica quando ele é mais rápido. Ergo minhas
sobrancelhas ao ler.
Chase apenas visualiza a minha mensagem e em seguida fica offline. Eu olho a foto que ele
tem de perfil com mais atenção que o necessário, mas a pergunta é: como não poderia?
Ele está segurando o celular, e a foto é na frente de um espelho. Uma jaqueta, a mesma que
ele usou na boate há dias, lhe dá um ar de mistério, algo como um bad boy de algum dark
romance que gosto de ler às vezes. Mas, na verdade, sua personalidade se assemelha à de um
Golden Retriever. Isso, ele me lembra Justin.
Deixo o celular de lado e pego meu livro, agora finalmente voltando a lê-lo como quis desse
o início. Estou apenas na metade do livro, porém teria lido mais se não tivesse me distraído com
a chamada de vídeo de Adam e a troca de mensagens com Chase.
Minutos se passam, até que me canso de ler e meus olhos pesam. Agarro-me a Justin, que já
está dormindo, e tiro um longo cochilo de uma hora, eu acho, até que escuto meu celular tocar.
Abro meus olhos e acordo do que deveria ter sido um sono de mais de quatro horas. Justin
também acorda, e faço carinho na cabeça dele, antes de me sentar na cama e pegar meu celular.
Justin lambe a pele nua da minha barriga graças ao top azul que eu visto, e sorrio. Encaro a
tela do meu celular e franzo o cenho, vendo que é o meu professor de biomedicina.
— Alô? — é a primeira coisa que ele diz quando o atendo.
— Oi. Precisa de algo, professor? — pergunto, acariciando as orelhas de Justin.
— Boa tarde, Allyson. Todo mundo já me entregou o trabalho, menos você — ele diz.
Franzo minhas sobrancelhas.
— Que trabalho? Ninguém me disse nada.
— Não? Pedi que seus colegas de turma a avisassem, aí você poderia me mandar por
mensagem — sua voz sai confusa. — Eles devem ter esquecido.
Ou então não se importaram em me avisar.
— Vou lhe mandar as informações do trabalho por mensagem, ok? — ele pergunta.
— Ok — eu concordo. — Professor, já melhorei do pé, amanhã eu volto para a
universidade, ok?
— Sem pressa, seu amigo já me disse que você está melhor — o professor diz.
— Adam?
Fico feliz que ele tenha contado. Mesmo que minhas faltas de presença sejam justificadas,
sempre tem os professores que pensam que você está fazendo corpo mole.
— Adam? Não, não foi ele — ele diz, confuso. — Foi um cara alto, de cabelos claros e todo
tatuado.
Franzo ainda mais o cenho. Raciocínio um pouco antes de erguer as sobrancelhas e me tocar
de quem ele estava falando. Chase.
— Ele disse mais alguma coisa?
— Não, não. Acredita que pensei que vocês fossem namorados? Ainda bem que o rapaz
negou.
Arregalo meus olhos.
— Ele negou…?
Meu professor concorda do outro lado.
— Sim, assim não tem confusão, não é?
Mordo meu lábio com força, depois o substituo pela minha unha. Por que Chase negou
quando o acordo é dizer para todo mundo que temos algo? Ele se esqueceu?
— Professor, eu estou um pouco ocupada agora. Vou ter que desligar, tudo bem? —
pergunto, apressada.
Eu nem mesmo dou tempo de o homem responder quando desligo na cara dele, um pouco
desesperada. Procuro a conversa de Chase, querendo perguntar o que foi isso. Eu não quero que
Kevin escute da boca dele que não temos nada, seria o fim de todo o meu esforço.
Isso me deixa confusa pra caralho, porque Chase não parece do tipo que esquece nada, ainda
mais algo tão importante assim. Eu digito uma mensagem às pressas.
A resposta veio imediatamente, logo após ele visualizar a minha mensagem. Mas o que me
deixa angustiada é o que ele manda a seguir, fazendo meus olhos triplicarem de tamanho.

Levanto-me da cama com uma velocidade anormal e jogo o celular nela, não me
preocupando em lhe responder. Farei isso pessoalmente. Justin não sai da cama, e eu corro do
meu quarto e ando até a porta da minha sala, abrindo-a e andando até o apartamento de Chase.
Ele não é obrigado a continuar me ajudando, mas o que me deixa puta é sua falta de
comprometimento com a situação. Como se ele pudesse decidir por si mesmo e não me informar
nada. O quão idiota eu seria se dissesse que estou namorando com ele e, por trás, ele dissesse que
não temos nada? Pior do que um chifre é namorar sozinha.
Bato na porta do apartamento, e Pietro é o primeiro que vejo assim que ele a abre,
revelando-se vestido com uma regata preta e uma calça moletom, deixando as tatuagens à
mostra.
— Allyson, precisa de algo? — ele pergunta surpreso e com uma chave nas mãos.
Parece prestes a sair.
— Onde está o seu irmão? — pergunto, passando por ele e entrando no apartamento sem
pedir licença.
Que feio, Ally.
— Está no quarto dele, por quê? — Pietro me olha, confuso.
Eu lhe dou as costas e começo a andar pelo apartamento. Todos os apartamentos desse
prédio têm o mesmo modelo, então eu sei para que lado ficam os quartos.
— Espere, Allyson, Chase está tomando ba… — Pietro para de falar e solta um xingamento.
— Ah, foda-se, eu vou ao supermercado.
É tudo o que escuto antes de a porta da sala bater.
Quando chego ao corredor dos quartos, abro a porta de um, e não encontro ninguém. Viro-
me para o da frente e ponho a mão na maçaneta e abro a porta, entrando no quarto.
Eu me bateria por ser tão mal-educada, mas estou tão cheia de raiva que o único que merece
ouvir algumas verdades neste exato momento é Chase pela falta de consideração. Ele solta essa
bomba assim? Sem nem me dizer o motivo ou me comunicar antes?
Ele vai ver só, vou acabar com a raça de…
— Caralho, o maluco tem três pernas!
Eu arregalo os olhos quando vejo Chase parado no meio do quarto. Pelado, os cabelos
molhados e todas as suas tatuagens visíveis. Sem querer — juro —, meus olhos descem pelo seu
corpo bem trabalhado e se fixam em seu pau, que me assusta pelo tamanho e pela grossura.
Eu ergo os olhos para o rosto de Chase e engulo em seco quando o vejo me encarando com a
sobrancelha arqueada e os cabelos molhados caindo em sua testa.
Céus, será que morri de raiva e fui para o paraíso? Ou esse é o inferno com o mais belo dos
pecados?
A vida é feita de surpresas, mas nenhuma delas tão boa quanto a que está na minha frente
em forma de homem. Não que eu nunca tenha visto um homem pelado, mas não é todo dia que
se vê um aparentemente esculpido a mão.
A bunda empinada e durinha, acompanhada por coxas grossas e torneadas, e uma cintura
fina, mas nem tanto, o suficiente para uma mulher pôr as pernas ao redor de maneira confortável.
Não que eu esteja falando de mim, apenas um exemplo para que vocês entendam o que eu estou
querendo dizer.
E, merda, ainda tem o monstro morando entre as pernas de Chase. Um pau totalmente fora
da média que, se é grande dormindo, imagine a que tamanho não deve chegar quando acordado,
coisa que eu não deveria estar pensando agora, pois vim fechar com a cara dele.
Viro-me imediatamente e fixo meus olhos na porta entreaberta, tentando esquecer a imagem
que vi agora há pouco.
— Pode vestir uma roupa? — eu me forço a perguntar, e minha voz sai em um fio.
Misericórdia, não disseram que a titanoboa estava extinta há séculos?
— Você que entrou no meu quarto sem bater, Allyson. — Escuto Chase dizer com voz
provocativa. — Mas por que você quer que eu vista uma roupa? Não gostou do que viu?
Gostei tanto que quero ficar o resto do dia vendo.
— Eu quero ter uma conversa decente, vai ser estranho com você sem roupa. — Engulo em
seco.
— Apenas continue de costas e diga o que veio me dizer — ele diz, e sinto o sorriso em sua
voz. — Estou muito confortável pelado.
Claro que está, é como os pervertidos sem vergonha na cara ficam. Exatamente desse jeito.
Eu respiro fundo e, mesmo afetada, me forço a falar.
— Por que você disse ao meu professor de biomedicina que não estamos namorando e me
falou por mensagem que era melhor não continuarmos? — pergunto, entredentes.
— Você invadiu o meu quarto só por isso? — Chase pergunta. — Estou começando a achar
que você só queria um pretexto para me ver, Ally.
— Vá se foder, Chase — eu rosno, cerrando meus punhos. — Você disse que iria cumprir
com sua parte do acordo.
— Eu não tenho direito de mudar de ideia, Ally? — Chase questiona. — Somos amigos, não
somos? Então por que não entende o meu lado?
Eu abro minhas mãos, relaxando o meu corpo para pensar com clareza e não fazer besteira.
— Se somos amigos, por que não conversa comigo antes de decidir algo? — rebato.
— Por que eu deveria fazer isso? — Escuto Chase perguntar, sua voz está um pouco mais
próxima.
— Porque não é o certo.
— Quem liga?
— Eu ligo! — explodo, confessando com raiva. — Vim até aqui para lhe dizer qual o
significado de “consideração” e por que você tem que tê-la!
— Caralho, por que levar tudo ao pé da letra, por que não tenta se acalmar? Talvez você
realmente precise de terapia — Chase solta uma risada nasal.
Sinto meu sangue ferver e aperto meus punhos, começando a me virar. Quem ele pensa que
é para dizer que preciso de terapia quando esse filho da puta tem tendências antissociais? Porque
tenho minhas dúvidas de que ele sinta empatia por alguém.
— Por que você não vai se… — perco a falar quando dou de cara com o peito tatuado de
Chase e engulo em seco — … foder…
Ergo lentamente os olhos para o rosto do cara diante de mim e o encontro com os cabelos
molhados, as íris cinzentas fixas em mim e um sorrisinho de lado. Ele está tão malditamente
perto.
Eu dou alguns passos para trás, e minhas costas batem contra a porta, fechando-a. Contenho
a vontade de descer meus olhos e olhar para o pau nu de Chase, infelizmente tenho uma
curiosidade desgraçada. Ele se aproxima lentamente de mim, e abaixo meu olhar para a tatuagem
de pássaro que ele tem no meio do peito.
— Por que não vou me foder? — Chase repete o que eu disse e coloca seus braços na porta e
ao lado da minha cabeça, prendendo-me como uma jaula. Sorri provocativo. — Eu já te disse
que não tem graça sozinho, Allyson.
Estamos tão próximos que eu posso sentir o cheiro de seu sabonete. Prendo minhas unhas à
porta e ergo lentamente os olhos para os dele, prendendo minha respiração. Meu Deus, perto
demais.
— E eu já falei para você comprar um vibrador — respondo com a voz baixa, desdenhando.
O sorriso dele se alarga.
— E eu também já lhe disse do que eu gosto, gattina… — Chase abaixa o rosto até ficar a
centímetros do meu. — Você quer que eu refresque a sua memória?
Ele se aproxima ainda mais de mim, e engulo em seco, com tanta vontade que dói. Nossos
corpos não estão se tocando, mas basta apenas um avanço para a frente para que isso aconteça.
Chase tira a mão direita da porta e a abaixa. Eu sei o que ele quer fazer.
— Não me toque — eu rosno, mas minha voz sai falha e fraca, evidenciando que eu estou
afetada.
— Por que não, Ally? — Sua boca vai para a minha orelha e mordisca meu lóbulo. — Você
não quer que eu a toque como da última vez?
Empurro seu peito e o afasto do meu pescoço para encarar seus olhos e ter um vislumbre do
que ele pretende.
— Pessoas sem palavra não têm o direito de me tocar. — Sorrio falsamente, querendo
avançar em seu pescoço.
Os olhos de Chase se estreitam e me analisam.
— Não quebrei minha palavra.
Eu rio, sarcástica.
— Ah, por favor. Você disse que não queria mais continuar com isso… — eu murmuro, e
ele ergue uma sobrancelha, fazendo um sorriso travesso surgir em seus lábios. É aí que minha
suspeita surge. — Espere… Você mentiu?!
Ele suspira dramaticamente e dá de ombros. Por um momento, até esqueço que ele está nu,
como veio ao mundo.
— De que outra maneira a veria longe dos olhos curiosos da sua amiga? — Chase sorri.
Nego com a cabeça, desacreditada do que eu estou escutando.
— Fez tudo isso para me ver? Tess nem está em casa… — Olho-o como se ele fosse louco.
— Você é burro? Eu poderia apenas colocar alguém no seu lugar.
Chase ergue o queixo, de repente ficando maior do que já é. Ele se inclina ainda mais na
minha direção, fazendo-me sentir pequena como nunca antes.
— Mas você está aqui, é sinal de que ninguém é melhor do que eu — diz. Mas agora seu
rosto está sério.
— Convencido — eu falo lentamente e ergo minhas sobrancelhas. — Convencido e tarado.
Ele arqueia uma sobrancelha, e o sorriso malicioso surge mais uma vez em seu rosto.
— Quem é mais tarado? Eu por estar pelado, ou você por estar lutando para não olhar para o
meu pau?
— Eu não estou fazendo isso!
— Está, sim, e aposto que quer tocá-lo também.
Encolho-me contra a porta, admitindo para mim mesma o quão verdadeira sua acusação é.
Mas ele não precisa saber disso.
— Eu… eu não quero tocar em você — tento falar, com a pouca dignidade que me resta.
Chase me encara como se pudesse ver a mentira saindo da minha boca. Ele é um demônio da
luxúria, esse filho da puta. Aposto que está me seduzindo.
— Pena, porque eu quero tocá-la… — ele admite com a voz rouca.
Meu corpo se arrepia, e cravo ainda mais meus dedos na madeira da porta, tentando não
fraquejar diante dele. Ao menos um de nós está sendo sincero aqui e é forte o bastante para me
deixar assustada.
— Por que quer me tocar? — questiono, fazendo-me de sonsa. Mordo meu lábio inferior. —
Meu ex não está aqui.
— Não, não está… — Chase se aproxima de mim até seus lábios pairarem logo acima dos
meus. Então ele sussurra rente à minha boca. — Mas podemos fingir, Allyson.
— Fin… Fingir? — repito com a voz fraca e fecho os olhos quando seu nariz acaricia meu
pescoço.
— Sim — ele responde, e seu hálito acaricia minha pele. — Nós podemos fingir que seu ex
está logo ali e eu preciso tocá-la para que ele se afaste de você…
Eu vou enlouquecer.
— E por que nós fingiríamos isso? — Respiro com dificuldade.
Chase ergue a minha cabeça e sorri com seu rosto a milímetros do meu.
— Porque eu a desejo, Allyson — Chase confessa, olhando-me nos olhos. — E eu sei que
você também me deseja.
Sim, eu desejo. Inferno, e como eu o desejo.
Quero que ele me toque como da última vez. Quero sua boca, mãos e pau em mim.
— Então não precisa ter sentimento envolvido, não é?— pergunto enquanto fico na ponta
dos pés e passo os braços por seu pescoço.
Chase fica em silêncio, e o sinto ficar rígido por alguns segundos antes de raspar os lábios
nos meus, quase me beijando.
— Sem sentimentos, só amigos com benefícios… — Chase abaixa o braço e envolve a
minha cintura, puxando-me contra ele e o seu pau despido e semiereto. Sua mão agarra os fios da
minha nuca. — Quero fazê-la gemer como da última vez, Ally. Dar a devida atenção que essa
sua boceta merece.
Eu solto um gemido ao escutar as suas palavras e me impulsiono para cima, prendendo
minhas pernas na cintura de Chase. Ele agarra minha bunda com as suas duas mãos e me
pressiona na porta.
— O que me diz, Ally? Uma mão lava a outra, gattina. Sem sentimentos… — Chase
mordisca meu lábio inferior, e seguro seu rosto com minhas duas mãos.
— Sim… — Eu assinto, talvez levemente desesperada.
Chase sorri de lado e, em seguida, nossos lábios se chocam. Sua língua adentra a minha
boca, e solto um gemido com o contato gostoso. Minhas mãos puxam os cabelos da nuca dele, e
suas mãos agarram a carne da minha bunda e me pressionam contra a porta.
Escuto-a ser trancada e em seguida Chase andar até a sua cama comigo agarrada a seu
corpo. Ele cai comigo sobre ela, e abro as pernas para acomodá-lo entre elas. Enlaço o pescoço
de Chase com meus braços, e ele lambe meus lábios, o ato é cheio de urgência e erotismo. Eu
capturo sua língua entre meus dentes e a chupo, fazendo-o suspirar. Seu braço esquerdo está
apoiado ao lado da minha cabeça enquanto sua mão direita está em minha bunda.
Chase geme quando chupo sua língua e ondula seu quadril no meu, contra a minha boceta
mais do que encharcada. É a minha vez de gemer com esse simples contato e de largar sua
língua, e Chase aproveita isso para levá-la até o meu pescoço e lambê-lo. Ele prende os lábios em
um ponto fixo da minha pele e a chupa, arrancando-me um gemido baixinho.
— Cazzo, ti scoperò così forte — ele grunhe contra o meu ouvido.
— Eu não faço ideia do que você disse, mas, se é sobre fazer sacanagem, eu topo! — Sorrio
com meu lábio inferior entre os dentes.
Chase sorri de volta e tira sua mão da minha bunda para segurar a barra do meu top azul.
— Você é tão safada, gattina — ele murmura antes de erguer o meu top, revelando os meus
seios já rígidos. — Tão lindos.
Chase prende um mamilo entre seus dentes e o chupa com força o suficiente para me fazer
arquear as costas. Estou há tanto tempo sem ser tocada assim, de maneira tão íntima.
Eu choramingo, agarrando os ombros dele.
— O que foi, hum? — Chase ergue os olhos para mim, beliscando meu mamilo. — São
sensíveis?
Eu gemo chorosa e me esfrego no pau de Chase, buscando alívio. Ele sorri como se
entendesse o que eu quero e simula uma estocada, fazendo-me ver estrelas. Seus lábios se
fecham em meu outro mamilo, e ele o chupa enquanto sua mão esquerda massageia o que foi
esquecido.
Eu deslizo minha mão por entre os nossos corpos e agarro o pau já duro de Chase, que arfa.
— Eu quero isso aqui… — Mordo meu lábio e passo meu polegar pela cabeça do seu pau.
A textura é quente e cheia de veias. Porra, é um pau e tanto.
— Você é tão apressada, Allyson… — Chase morde o meu queixo e em seguida geme
quando o masturbo lentamente.
— Não foi você quem disse que me faria gemer e daria a devida atenção que eu mereço? —
Eu mordo o lábio dele e o puxo para mim, sorrindo provocativa. — Estou começando a achar
que você não é de nada, Chase…
Em seguida os olhos dele escurecem, e ele escorrega pelo meu corpo, deixando-me surpresa.
Eu tiro o meu top e o jogo em lugar qualquer, meu sorriso aumenta quando vejo o que ele vai
fazer. Chase puxa meu short de dormir junto com a minha calcinha e os joga, dando o mesmo
destino ao meu top. Seu rosto fica a centímetros da minha boceta exposta, e ele ergue os olhos
para mim enquanto passa suas mãos por detrás das minhas coxas.
— Tu provocatore — ele sorri, dando seu último aviso.
Encaro-o, confusa, e em seguida arregalo os olhos quando sua língua me lambe de baixo
para cima. Deixo minha cabeça afundar nos travesseiros e fecho minhas pálpebras quando a
língua de Chase para em meu clitóris. Ele circula a língua por ele várias vezes e em seguida o
chupa, levando-me à beira da loucura.
Meu quadril se ergue violentamente, e Chase o puxa novamente para a cama com firmeza,
mantendo-me no lugar. Sua língua desliza por minha entrada, e ele ergue os olhos para mim,
sorrindo de maneira cruel. É isso o que ele faz antes de me penetrar com sua língua.
Eu solto um gemido estrangulado e agarro os cabelos de Chase com minhas duas mãos,
sentindo-o me foder com sua língua sem parar. Eu rebolo no rosto dele, e suas mãos apertam as
minhas coxas.
— Olhe como você está se abrindo para mim, Ally — Chase diz contra a minha intimidade,
e o calor do seu hálito me faz gemer. Ele sacode meu clitóris com a língua. — Você realmente
parece me amar aqui.
— Oh, céus… — Jogo minha cabeça para trás, apertando seus fios sedosos. — Eu quero
mais!
— Tão ambiciosa, gattina. — Chase sorri com a boca contra as minhas dobras.
Eu pensei que não poderia melhorar, mas aí Chase enfia o seu indicador em mim, e arregalo
os olhos, arqueando as costas. Sua boca e língua voltam a trabalhar em mim, e foi a vez de mais
um dedo de me penetrar. Eu rebolo nos dois e no músculo que Chase tem dentro da boca. Um
espasmo toma conta do meu corpo.
O prazer se acumula no pé da minha barriga, e fecho os olhos.
— Chase, eu vou… — Paro de falar quando ele curva seus dedos dentro de mim, e esse é o
meu limite.
Espero que Chase se afaste como Kevin fazia no exato momento que eu gozava. Apenas por
nojinho. Mas, para a minha surpresa, ele me puxa ainda mais contra a sua boca no momento em
que jogo a cabeça para trás e arqueio as costas, quando o meu orgasmo toma o meu corpo.
Chase não desgruda a boca de mim nem por um segundo. Ele continua a me lamber mesmo
segundos depois de eu ter gozado. Eu abro meus olhos e diminuo o aperto nos cabelos de Chase,
tentando acalmar a minha respiração. Ele ergue os olhos para mim e sorri.
— Eu poderia chupá-la a noite toda, Allyson. — Chase mordisca a minha coxa, bem na
parte interna.
— Fique à vontade. — Sorrio e ofego.
Chase ri e solta as minhas coxas, depois se ajoelha na cama.
— Tenho uma coisa ainda melhor em mente — ele diz e sai da cama, entrando no banheiro.
Chase volta segundos depois com uma camisinha na mão. Ele se ajoelha à minha frente e
sobe seus olhos de minha intimidade para o seu rosto. Ele abre a camisinha e a desliza por seu
pau totalmente duro. Eu me mexo na cama com expectativa e abro ainda mais as minhas pernas
para acomodá-lo entre elas.
Ele sobe pelo meu corpo enquanto faz um rastro com sua língua de meu umbigo até o meio
dos meus seios. Ele chupa um dos meus mamilos, e sua mão esquerda vagueia até o meu
pescoço. Vejo-o deslizar sua mão por entre os nossos corpos e o sinto encaixar seu pau em minha
entrada.
— Receba tudo o que eu lhe ofereço, Allyson. — Sua boca paira sobre a minha, e sua mão
aperta o meu pescoço.
Em seguida, Chase se enfia para dentro de mim em um único gesto, e cravo minhas unhas
nas costas dele, arranhando-o. Seu pau me preenche lentamente e abro a boca para gemer alto
quando Chase me beija.
Sua língua encontra a minha, e ele não me dá tempo para me acostumar com todo o seu
comprimento. Chase me dá uma estocada forte e rápida, fazendo-me gemer em sua boca.
E dói. Dói porque fiquei muito tempo sem fazer sexo, mas também é tão bom. É tão gostoso
tê-lo dentro de mim, indo e vindo. Sinto-o pulsar, grande e grosso. Eu não me lembrava do quão
bom era transar, como pude ficar tanto tempo sem isso?
— Era isto que você queria, não era, Allyson? — Ele lambe meus lábios e mete em mim
com força. — Meu pau a comendo?
— Sim… Sim… — murmuro, enquanto minha perna direita se enrosca em sua cintura. Eu
choramingo: — Chase…
Diante do meu sofrimento, ele apenas solta uma risada cheia de zombaria. Não tenho força
para confrontá-lo, mas, ainda assim, não posso conter meus pensamentos. Filho da puta
desgraçado, me coma calado.
Eu solto um gemido choroso e me arqueio para Chase, buscando por mais. Eu rebolo em seu
pau, e ele solta um gemido gutural com sua boca em meu ouvido, arrepiando meu corpo. Ele
solta o meu pescoço e segura na cabeceira da cama para tomar um melhor impulso. Chase retira
seu pau de mim até que só resta apenas a cabeça e depois volta com tudo, enfiando-se totalmente
até o seu último centímetro, e não eram poucos.
Ele agarra minha bunda com sua mão direita e massageia a minha carne. Eu choramingo e
enterro meu rosto em seu pescoço. Eu chupo a sua pele, sentindo-o entrar e sair de dentro de
mim em um ritmo frenético.
— Sua boceta me acolhe tão bem, Allyson. — Chase lambe os meus lábios, e cravo minhas
unhas em suas costas, ouvindo-o grunhir quando rasgo sua pele.
Céus, que homem da boca suja. Pior que eu.
Escuto a cabeceira da cama bater contra a parede, mas isso não é o suficiente para me
impedir de gritar a coisa mais ilógica do mundo neste momento.
— Mais forte, Chase! — Eu coloco minhas mãos em sua bunda e o puxo para mim.
— Não acho que você aguente… — Ele beija meu queixo, e mordo meu lábio.
— É só por isso mesmo, ou você está cansado? — Eu puxo o lábio dele para mim, raspando
meus dentes em seu queixo. — É isso, Chase? Você está cansadinho?
Chase para de se mover, e olho para seu rosto, encontrando-o com o olhar sério. Ele sai de
dentro de mim, e penso que vai me expulsar do seu quarto por eu ferir seu ego, mas de repente
ele firma suas mãos em minha cintura e me vira de bruços. Ele ergue minha bunda para cima e
empurra meu tronco contra o colchão. É tudo tão rápido que quase não consigo processar.
Ele passa o braço direito por minha cintura e o sinto encaixar seu pau em minha entrada
mais uma vez, pincelando-a de baixo para cima.
— Se, ao terminarmos, você não conseguir andar… — Chase beija a minha espinha
enquanto sua mão está apoiada em minha bunda — lembre-se de que você pediu por isso.
E se enfia em mim com brutalidade.
Eu grito e aperto os lençóis entre os meus dedos, sentindo cada estocada violenta de Chase
dentro de mim.
Eu sei que não deveria estar pensando em Kevin agora, mas ele nunca me deu tanto prazer
como Chase está me dando agora. Ele parece saber os lugares certos nos quais me tocar. Seus
quadris se chocam com os meus em um ritmo frenético, levando-me à loucura. Chase me fode
com rapidez, força e rigidez.
Sinto um tapa forte ser depositado em minha nádega esquerda e, por impulso, gemo
desenterrando minha cabeça dos travesseiros, o que foi a deixa para Chase enrolar meu cabelo
em seu punho e o puxar para trás, obrigando-me a apoiar meus cotovelos no colchão e ficar de
quatro.
Porra, isso está insano.
— Quando acabarmos aqui, eu espero que você ainda sinta o meu pau dentro de você,
Allyson. Por muito, muito tempo — Chase diz, girando os quadris dentro de mim.
Céus…
— Vai ficar esperando — eu o provoco e sorrio com o meu lábio entre os dentes.
Mais um tapa é depositado na minha outra nádega.
E depois outro.
Três.
Quatro.
“Dar uns tapas na sua bunda é a minha maior vontade, Allyson.”
Eu grito e jogo meu quadril para trás, rebolando no pau de Chase que geme roucamente.
Minha bunda arde, mas eu não me importo; eu, na verdade, gosto. O punho em meu cabelo
reforça o aperto, e Chase me estoca com força e rapidez, fazendo a cama balançar.
— Agora você fica calada, não é, Allyson? — Chase pergunta com a voz rouca e acaricia a
carne dolorida da minha bunda. — É isso que eu tenho que fazer para mantê-la calada?
Eu gemo alto e o olho por cima do meu ombro direito.
— Talvez… — Sorrio enquanto passo minha língua por meus dentes. — Mas o seu pau na
minha boca me parece mais atrativo e eficiente.
— Cazzo, ti finirò — ele diz entredentes, agora agarrando a minha cintura com as suas duas
mãos e me dando três estocadas fortes e profundas.
Chase falar em italiano em um momento como esse me excita. Eu fico ainda mais molhada,
e Chase também percebe, já que solta um xingamento e se empurra para dentro de mim com
mais força.
Eu sei que sairei daqui destruída e é exatamente isso que eu quero.
Eu aperto o lençol da cama e sinto minhas pernas fraquejarem, evidenciando um possível
segundo orgasmo.
— Chase, eu vou gozar… — choramingo e me empurro contra ele.
Eu me contraio, apertando Chase dentro de mim, e ele geme. Kevin nunca gemia, ele dizia
que não era coisa de homem. Já Chase não se importa em fazer isso. Então isso que é transar
com um homem de verdade?
Chase passa seu braço esquerdo por minha cintura e me puxa, sentando-me em suas coxas e
me penetrando sem parar. Sua mão esquerda desce para o meio das minhas pernas e massageia
meu clitóris enquanto a sua mão direita solta o meu cabelo e agarra meu seio direito.
Sua língua lambe o meu pescoço, e eu gemo pelos estímulos. São tantos.
— Goza — ele manda em meu ouvido, e eu obedeço.
Meu orgasmo me atinge sem aviso prévio, e me desmancho ao redor de Chase. Minha
cabeça pende para trás e descansa em seu ombro. Ele agora passa seus dois braços por minha
cintura e me pressiona em seu pau, que ainda estoca a minha entrada, agora sensível pelo meu
orgasmo.
Eu choramingo, e Chase me dá mais cinco estocadas antes de gozar e soltar um gemido
rouco, seus braços me apertam e seu rosto se enterra em meu pescoço.
Eu fecho meus olhos para normalizar minha respiração e sinto Chase se retirar de dentro de
mim lentamente. Ele me solta e, mesmo com as pernas bambas, me arrasto e me deito de barriga
para cima. Chase joga o preservativo usado fora e se deita ao meu lado.
— Isso foi… — eu respiro com dificuldade.
— Aham… — ele diz como se soubesse o que eu quero dizer, também respirando com
dificuldade.
Nós estamos suados, e todo o meu corpo dolorido. Minha bunda arde, mas eu não posso
estar mais satisfeita do que isso. Passo minhas mãos por meu cabelo e olho para Chase, vendo o
chupão que eu fiz no pescoço dele.
— Eu o marquei. — Sorrio preguiçosamente e encosto meu indicador no chupão.
— Já viu a sua bunda? — Ele arqueia a sobrancelha esquerda.
Eu viro de lado e estico o meu pescoço para ver as minhas nádegas, encontrando-as
vermelhas e com a marca da enorme mão de Chase. Sorrio.
— E suas costas, você já viu? — Mordo meu lábio, sorrindo.
Chase se senta na cama e olha para as próprias costas por cima do ombro, vendo as marcas
das minhas unhas. Fiz com gosto.
— Já viu seu pescoço, Ally? — Ele sorri de lado.
Eu me levanto da cama e, sem me importar com a minha nudez, ando até o enorme espelho
do quarto de Chase. Eu arregalo os olhos quando a minha imagem aparece e avisto o meu
pescoço cheio de chupões. Eu gosto disso.
Mas tenho treino amanhã, então vamos fingir que odiei essa parte.
— Merda, Chase. Vou voltar para a universidade amanhã, como vou esconder isso?! — Eu
me viro para olhá-lo com raiva.
— E eu tenho que tomar banho de novo, sabe como esses arranhões vão arder? — ele rebate
com um sorriso.
— Você é um canibal! — eu acuso quando pego minha calcinha e meu short no chão,
vestindo-os.
— E você é uma gattina selvagem. — Chase sorri e encosta as costas na cabeceira da cama,
cruzando as mãos atrás de sua cabeça.
Eu estreito meus olhos em sua direção e lhe dou as costas, procurando o meu top.
— Está procurando isto aqui, Allyson? — Viro-me para encontrar Chase segurando o que
tanto procuro.
Eu tampo meus seios com meu braço esquerdo, ando até Chase e paro diante dele, que nem
mesmo está preocupado em se cobrir.
— Obrigada. — Tento pegar meu top, mas Chase estica o braço direito para o lado, não
deixando.
Eu bufo com raiva e me estico para pegar minha roupa, quando sinto uma mão na minha
bunda, e logo estou no colo de Chase com minhas pernas ao redor de sua cintura.
— O que você pensa que… — perco a falar quando Chase tira meu braço dos meus seios e
seus lábios se fecham ao redor do meu mamilo — ah…
Eu cravo minhas unhas em seus ombros e sinto algo cutucar a minha bunda. Meu Deus,
Chase está duro de novo. Que porra é essa, esse cara realmente é humano?
— Você não estava bravinha segundos atrás, Ally? — ele morde o meu mamilo e o puxa
para si.
O desgraçado sabe o efeito que exerce em mim.
Eu abro os meus olhos e puxo meu top da sua mão, levantando-me do seu colo da maneira
que posso. Eu o coloco e passo as mãos por meu cabelo, arrumando-o.
— Não abuse, italiano… — resmungo enquanto arrumo a minha roupa.
Ele apenas sorri, e eu movo meu olhar por seu quarto, vendo um caderno em cima da
cômoda. Quase segue o meu olhar, procurando o que eu estou olhando com tanto interesse.
— O que foi? — ele questiona.
— Aquele é o seu caderno de desenho? Posso ver? — pergunto, com expectativa.
Chase ergue suas sobrancelhas e, cortando todo o meu barato, nega com a cabeça.
— Não mostro meu caderno a ninguém, gattina.
Pisco, um pouco surpresa com isso. Mas, mesmo curiosa, não insisto e apenas assinto,
mostrando que entendi.
— Sem problemas… — Sorrio e indico a porta. — Eu vou indo nessa.
Eu evito descer meus olhos pelo seu corpo e em seguida me viro para ir embora, sentindo
minhas pernas doloridas e meu quadril dando pontadas. Caralho, eu me recuso a deixá-lo saber
que quase me aleijou. Eu sei que estou fora de forma, mas não pensei que fosse tanto.
Eu abro a porta e me preparo para passar por ela.
— Ei, Allyson — Chase chama, e o olho, vendo-o apontar para o próprio pescoço com um
sorriso. — Roxo fica bem em você.
Eu contenho um sorriso e passo pela porta antes de fechá-la. Manco pelo corredor e arregalo
os olhos quando vejo Pietro entrando no apartamento com algumas sacolas nas mãos, que, graças
à transparência, pude ver conterem um saco de ração para gatos e outras coisas de casa. Eu
imediatamente tampo o meu pescoço com as duas mãos.
Seria o fim da picada se Pietro percebesse o que rolou dentro do quarto durante sua
ausência. Porra, seria vergonhoso demais, eu morreria.
— Ah, oi, Allyson. Você ainda está aqui. — Pietro sorri largamente e me olha de cima a
baixo quando vou até ele. — Por que você está andando esquisito?
Porra, porra.
— Esquisito? Como assim? — Dou um sorriso amarelo, fazendo o possível para cobrir o
meu pescoço.
— Sei lá, parece que também lhe deram uma surra. Você está toda vermelha. — Ele me
olha.
Uma surra de piroca.
— Espere aí, meu irmão bateu em você? — Pietro pergunta alarmado.
Sim, e eu amei.
— Não, é que eu estou com alergia… — Sorrio forçadamente e tento forçar as minhas
pernas doloridas a andarem até a porta.
Faço uma careta quando sinto uma pontada em meu quadril e agarro a maçaneta da porta.
— Você tem certeza? — Ele me olha preocupado.
Tadinho, nem imagina que acabei de transar na casa dele.
— Tenho! — Assinto.
Pietro abre a boca para falar, mas eu abro a porta e corro para fora do apartamento antes que
ele pergunte algo novamente.
Eu tento correr até o meu apartamento, mas minhas pernas falham e caio de cara no chão.
Nessa hora passa uma velhinha que é conhecida no prédio por ser fofoqueira, e ela me olha de
cima a baixo com um olhar de julgamento.
— Acabou de dar, não é, safada? — a velha diz com desgosto, e a olho, chocada.
Eu levanto com dificuldade e abro a porta do meu apartamento, entrando nele. Para a minha
sorte, Tessa foi ao cinema com a Kat, ela me disse isso assim que partiu para a universidade, e
que bom que não está aqui, ou então me faria perguntas.
Justin aparece no início do corredor e corre na minha direção. Ele começa a me cheirar e
latir enquanto abana o rabo sem parar. Agitado seria eufemismo para o meu cachorro, ele está
louco.
— Justin, não, não! — Tento afastar o seu focinho da minha perna, mas ele volta. — É o
cheiro de Chase que você está sentindo em mim, é isso?
Justin late alto como se confirmasse as minhas suspeitas, e ando até o meu quarto com ele
me seguindo. Eu entro no meu banheiro e fecho a porta para que Justin não entre. Tiro minha
roupa e a coloco no cesto, depois caminho até o espelho da pia. Meus mamilos estão um pouco
inchados, e meu pescoço totalmente marcado com chupões. Meu corpo está tudo destruído.
Eu passo as mãos por meu pescoço e não consigo conter a onda de satisfação que invade o
meu corpo. Ainda estou puta com as marcas, mas não posso negar que eu gostei. Porra, Chase
me destruiu, e não posso estar mais contente.
Meu quadril solta uma pontada de dor, e caminho devagar até o chuveiro e o ligo, deixando
a água relaxar meus músculos doloridos.
Só espero que eu consiga andar amanhã.
— Por que você está andando como uma pata manca, Allyson? — Tessa pergunta quando
me vê entrando na cozinha com a minha mochila nas costas.
Eu estou com uma blusa preta de gola alta e sem mangas, para que ninguém veja os chupões
que Chase deixou em meu pescoço ontem, uma calça jeans de cor clara rasgada nos joelhos e um
All Star branco. Eu estou mancando mais do que um… um… Porra, não sei. Mas garanto que
estou andando feio. Meu quadril inteiro dói e piora ainda mais quando eu ando.
Mas mesmo tudo isso não foi o suficiente para tirar o enorme sorriso que eu tenho no rosto
agora. Sim, eu me sinto completamente relaxada diante de tudo o que aconteceu comigo, dormi
como um verdadeiro anjo.
— Eu caí da cama. — Sorrio falsamente e me sento na cadeira da mesa, colocando minha
mochila aos meus pés.
Olho para o lado e vejo Justin comer a ração que obviamente Tessa colocou para ele. Meu
bebê está crescendo tão rápido.
— E por que você está com essa blusa de gola alta? — Ela arqueia a sobrancelha,
mastigando um pedaço de queijo. — Está fazendo muito calor.
— Que nada, estou morrendo de frio. — Eu passo as mãos por meus braços, tentando afastar
um falso frio que eu não sinto.
— Sua testa está pingando, Allyson.
Eu ergo as minhas mãos e coço minha cabeça, vendo o vacilo que eu dei. Limpo o suor que
escorre da minha testa e bufo, vendo como minha mentira foi destruída nesse exato momento.
Mas também não tem como negar as reações do meu corpo. Está fazendo um calor do
caralho, parece até que nós estamos na frigideira do capeta, não é possível. O aquecimento global
vai nos engolir, e tudo por culpa nossa.
Mas eu só estou com ainda mais calor por causa dessa blusa de gola alta. Se não fosse ela,
não estaria suando agora. Ou melhor, se não fosse aquela sanguessuga italiana, eu não precisaria
me cobrir toda. Agora eu fico assim, suando como uma porca.
Ainda tem a minha bunda, que está completamente dolorida dos tapas que Chase deu nela. A
marca da mão dele só vai sair no outro dia, nem dormir de barriga para cima eu consegui, já que,
sempre que eu deitava a bunda na cama, ela ardia, ou então o meu quadril doía. Mas sabem o
pior? Eu gostei. Não me arrependo de nada.
Tudo culpa de Cinquenta tons de cinza e sua péssima influência. Agora eu sou assim,
masoquista.
— Allyson, você está muito estranha… — Tessa cruza os braços e me olha desconfiada.
Eu pego uma fatia de pão, passo a manteiga e a levo a boca.
— Você está vendo coisas. Totalmente doida. — Eu faço a sonsa, focando em comer o pão
para não demonstrar que estou nervosa.
— Você está usando uma blusa de gola num calor do caralho desse e eu que sou doida? —
Ela arqueia a sobrancelha.
— Calma aí, emoji da sobrancelha arqueada. — Eu engulo o pão e olho para ela. Pego meu
copo de suco e o encho. — Agora eu não posso mais usar uma blusa de gola alta?
Meu Deus, Hollywood deveria me contratar, ou então alguma emissora de novelas
mexicanas. Eu, com certeza, disputaria com Teresa e Paola Bracho para ver quem é mais
dissimulada.
— Poder, você pode, Allyson. — Tess revira os olhos. — Mas eu a conheço, você não gosta
muito desse tipo de blusa e ainda está andando de um jeito esquisito, parece até que ontem você
se acabou de dar para alguém.
Eu me engasgo com o pão ao escutar isso e arregalo os meus olhos.
Começo a tossir sem parar e massageio meu peito, erguendo as sobrancelhas e lentamente
olhando para baixo. Puta que pariu, essa daí foi certeira, até demais para o meu gosto, por que
essa vagabunda não pode comer calada e parar de criar teoria?
Porra, Tess, eu te amo, mas não sempre.
— Espere aí… — Tessa diz, e a olho, encontrando-a com um semblante desconfiado. —
Você deu para quem, Allyson?
— Pois que parece que eu dei para alguém?! — eu indago, na defensiva. Mas o olhar que
Tessa me dá de quem já sabe a verdade me intimida e faz minhas defesas ruírem. Eu abaixo a
cabeça. — Ok, transei com Chase.
Burra!
— Mentira! — Tessa leva a mão direita à própria boca. Então ela a afasta e sorri largamente.
— Você dormiu com Chase?!
É incrível o fato de eu me entregar mesmo sem querer. Eu sou boa em guardar os segredos
dos outros, mas, quando se trata dos meus, é só ladeira abaixo. Se bem que Chase não é bem um
segredo, eu só não vi necessidade de sair por aí dizendo que nós transamos.
Não foi um grande evento.
— Responda, Allyson! — Tessa bate levemente na mesa, erguendo as sobrancelhas. —
Você dormiu com ele? Transaram? Procriaram? Ele tirou suas teias de aranha?
Mas que merda!
— Acho que você já sabe a reposta para isso. — Reviro meus olhos.
Tessa bate palmas, rindo como uma verdadeira hiena, que é o que ela é. Não tem nada de
legal em ficar rondando a melhor amiga em busca de fofocas, ainda mais da minha vida. Sou
pior que ela, mas isso não vem ao caso agora.
— Caralho, eu sabia que uma hora ou outra isso ia acontecer, estava na cara. — Tess nega
com a cabeça, sorrindo. Ela aponta para o meu pescoço. — Você está com essa blusa porque tem
um chupão no seu pescoço, não é?
Eu assinto. Só pode ser adivinha, essa desgraçada.
— Deixe-me ver! — ela pede.
Penso em dizer que não, mas conheço a melhor amiga que eu tenho, e negar não vai impedi-
la de continuar pedindo.
Eu reviro os olhos e abaixo a gola da minha blusa preta, revelando toda a atrocidade que
Chase fez no meu pescoço. Tessa arregala os olhos e cobre a boca com as mãos.
— Misericórdia, o cara é uma sanguessuga? — Ela encara o meu pescoço e ri. — Tem sete
chupões no seu pescoço, eu não duvido que ele tenha chupado até as suas inseguranças fora.
Eu cubro o meu pescoço de volta e tento lutar contra o sorriso que quer dominar o meu
rosto. Realmente, ele deve ter sugado até o meu estresse, porque me sinto levinha, levinha. O
mundo sempre foi bonito assim?
— Você gostou, não é, safada? — Tessa sorri com malícia.
— Sim, merda, eu gostei pra cacete. — Sorrio e passo as mãos por meu cabelo.
Algo que não contei para vocês sobre ontem. Eu tive um trabalho enorme para desembaraçar
meu cabelo, parecia que os nós não saíam de jeito nenhum, e apenas a tesoura passou pela minha
cabeça. Mas, com jeitinho, consegui desfazer a obra de Chase.
Nota mental: o italiano gosta muito de puxar cabelo.
— Eu sabia, vocês têm muita tensão sexual. — Tessa aponta o dedo na minha cara,
acusando-me. — Você quer dar para Chase desde o dia em que o viu!
Olho-a com indignação, pondo a mão no peito.
— Espere aí, falando assim parece até que eu sou uma ninfomaníaca viciada em sexo! — eu
me defendo.
Logo eu, que sou apenas uma camponesa.
— Me poupe, Allyson. — Tessa me olha com deboche e revira os olhos. — Você topa todo
tipo de safadeza.
Eu a olho chocada, mas não sou capaz de me defender. Ela tem razão. Se parece legal e é
algo novo, por que não tentar? E, assim como eu, percebi que Chase não curte o famoso papai e
mamãe. Porém, ainda tenho que sustentar minha pose.
Ninguém me respeita nesse apartamento nem na minha vida. Todo mundo pensa que eu sou
uma safadona, Tess principalmente, quando tudo o que eu sou é uma pobre mulher chifruda que
por muito tempo ficou sem conhecer os prazeres da vida por puro trauma. Isso é exatamente isso
que eu sou.
— Eu não vou ficar aqui nesta cozinha ouvindo-a me difamar desse jeito! — eu me defendo
e me levanto rapidamente, sentindo meu quadril doer.
— Uma safada dessas… — Tessa sorri com sarcasmo e olha para o meu cachorro. — Não é,
Justin?
Justin para de comer e late uma vez como se confirmasse, deixando-me mais indignada
ainda.
— Seu cachorro traíra, eu vou vendê-lo para o mercado negro! — Eu o olho com raiva e
pego a minha mochila antes de andar para fora da cozinha.
Onde já se viu, difamar a própria dona. Eu vou dá-lo para um abrigo de animais, aí ele vai
aprender a me respeitar. Ninguém acredita na minha pureza, logo eu, uma camponesa. E, só para
reforçar, meu avô era pastor da igreja.
Sinto uma pontada em meu quadril e solto um gemido de dor, segurando no braço do sofá
com minha mão direita e colocando a minha esquerda no meu quadril. Puta merda, Chase acabou
comigo. Literalmente.
Mas que se foda, não me arrependo de nada. Se pudesse, daria de novo. Negar para quê?
Vocês leem os meus pensamentos mesmo.
— Vamos logo. — Tessa passa por mim, mas antes bate na minha bunda.
Eu gemo.
— Meu quadril está doendo, Tessa! — Eu a fuzilo com o olhar.
— Problema seu, ninguém mandou dar que nem uma desesperada. — Ela dá de ombros,
enquanto caminha em direção à porta.
Eu realmente gostaria de que fuzilar pelos olhos não fosse só uma expressão e de que um
tiro atingisse Tessa nesse exato momento. Talvez eu devesse repensar minhas amizades e
procurar pessoas que não duvidem da minha índole.
— Volte aqui, desgraçada! — eu grito e corro atrás dela com dificuldade.
Tessa grita e ri alto, abrindo a porta do apartamento. Ela olha para mim por cima do ombro.
— Me pegue se puder, pata manca! — ela ri e corre porta afora.
Eu abro a boca, totalmente chocada e indignada com a ousadia dela.
— É melhor você correr, vagabunda! — Eu ando até a porta e passo por ela antes de fechá-
la.
Em seguida, começo a correr que nem uma manca atrás de Tessa.

— Allyson, por que você está andando que nem uma pata manca? — Adam pergunta
quando Tessa e eu nos aproximamos dele e de Kat.
Desde que entrei na universidade, as pessoas não param de me encarar com estranheza. Eu
não sei se é porque eu estou andando que nem uma pata ou porque no fundo eles sabem que eu
dei ontem à noite e que, por baixo da gola da minha blusa, estão as provas do meu crime.
Mas eu torço para que seja a primeira opção, porque só tendo pacto para saber as duas
últimas.
— É verdade, você está andando que nem os patos que a minha avó cria — Kat ri enquanto
abraça Tessa.
— Eu não posso mais cair da cama? — Eu cruzo os meus braços e ergo minhas sobrancelhas
à espera de uma resposta.
O pior é que nem posso xingar Chase, eu que pedi por tudo isso quando o provoquei, eu só
não sabia que ele iria me deixar sequelada. Ele entra facilmente para a tropa dos arranca-DIU.
— Sim, você realmente caiu — Tessa ri e cobre a boca, tentando ficar séria.
Eu a fuzilo com os olhos em um mandato silencioso para que ela cale a boca. Ela não é nem
louca de falar sobre Chase ou sobre qualquer coisa que envolva a minha vida sexual. Amo os
meus amigos, mas um defeito que eles têm é de serem indiscretos.
Adam ficaria em choque, e Kat não saberia escolher entre rir alto ou fazer brincadeirinhas de
duplo sentido. Mas essa vaca é tão sem-vergonha!
— Vocês estão estranhas — Adam diz desconfiado, vagando seu olhar de Tess para mim.
— É verdade, vocês estão escondendo algo. — Kat larga Tessa e põe as mãos na cintura,
esperando uma resposta da namorada.
Desesperada, olho para Tessa e a encontro querendo rir. Ela com certeza está morrendo de
vontade de abrir o bico para a namorada, são do tipo que contam tudo uma para a outra. Mas sei
que não vai fazer isso, porque é um segredo meu. Porém ela poderia disfarçar melhor, por favor?
Quem precisa de inimigos?
— Ninguém aqui está escondendo nada, vocês ficaram doidos? — Eu cruzo os braços.
— Está na cara que vocês estão escondendo alguma coisa. — Kat também cruza os braços
dela, me dando um olhar cheio de desconfiança.
— Sim, cheias de segredinhos! — Adam fala, reforçando a acusação.
Eu engulo em seco e sinto o suor frio brotar na minha testa. Eu tenho dois amigos
fofoqueiros me encarando em busca de uma fofoca e outra que não ajuda em nada, só ri da
minha desgraça.
Com certeza amo os meus amigos, mas estou aberta a negociações quanto à venda deles.
Quem dá mais?
— Nós também queremos saber sobre isso.
Olho na direção da voz e vejo Chase e Michael vindo na nossa direção. Este último está com
um moletom branco e um boné preto, e o resto da roupa é completado por uma calça de tecido
fino de cor também preta. Já a roupa de Chase quase me faz ter um ataque do coração e cair
durinha no chão.
Diferente de todos os dias, Chase não está usando um moletom, e sim uma camisa preta de
tecido fino e botões, semelhante à de ontem. Suas mangas estão erguidas até seus cotovelos, e ele
tem três botões abertos. Dá para ver todas as tatuagens que ele tem nos braços e no pescoço,
incluindo uma parte da tatuagem de pássaro que ele tem no meio do peito. Mas não foi só isso
que quase me deu um ataque, e sim o enorme chupão que ele tem no pescoço. O chupão que eu
fiz. O desgraçado nem fez questão de esconder, e tenho certeza de que foi de propósito.
— Oi, gente! — Tessa sorri quando eles se aproximam.
— Caramba, a noite ontem foi boa, hein. — Adam sorri e aponta para o pescoço de Chase.
Nesse exato momento, meu cu tranca, e Tessa solta uma gargalhada escandalosa, chegando
até a imitar um porco. Eu a assassino com os olhos, e ela cobre a boca, tentando se recompor.
Mas talvez seja um pouco tarde demais, já que todo mundo olha para ela.
Nunca mais eu conto nada para Tess, independentemente de eu estar sob tortura ou ameaça
de morte. Prefiro ter que enfrentar tudo isso.
— Bom dia, Allyson. — Chase sorri para mim, e seus olhos descem pelo meu corpo de
maneira descarada.
Limpo a garganta.
— Bom dia, Chase… — Sorrio e olho para seu amigo. — Bom dia, Michael.
— Bom dia. — Ele acena com a cabeça e seus olhos vão para Adam. Sorri minimamente. —
Bom dia, Adam.
— Bom dia… — Meu amigo sorri e enfia as mãos em sua jaqueta jeans.
— Dormiu bem? — Michael pergunta.
— Sim, e você? — Meu amigo ergue os olhos para ele, interessado.
— Sim. — Michael assente com a cabeça, mas não deixa de olhar para o meu amigo.
Adam ergue as sobrancelhas e toca as próprias bochechas, franzindo o cenho em uma
expressão adorável de confusão genuína.
— Tem algo no meu rosto? — Adam pergunta, tateando o próprio rosto. Ele arregala os
olhos. — Eu estou feio?
Michael abaixa a cabeça e solta uma curta risada, encarando-o atentamente. Nem é comigo,
mas fico com vergonha, Michael tem o olhar muito marcante.
— Non staresti male se lo volessi, Adam — Michael diz lentamente.
Nós olhamos com surpresa para ele assim que as palavras em italiano saem da sua boca.
Olho para Chase, desconfiada de que tenha sido mais uma obra dele.
— Ensinou italiano para ele?
— Sim. — Chase sorri e dá de ombros.
— Eu também quero aprender! — Kat bate palminhas, olhando para Chase.
— Quando quiser. — Ele sorri para ela.
Vejo Adam se aproximar de Michael, agora curioso. Pode parecer exagero, mas sua
curiosidade é quase palpável. Adam é extremamente fofo e estupidamente alheio ao que acontece
à sua volta.
E creio que Michael está lutando uma batalha já perdida, pois o meu melhor amigo é hétero.
— O que você disse? — Adam olha, confuso.
— Nada demais, apenas treinando o italiano. — Michael dá de ombros.
Por que algo me diz que esse “nada demais” teve tudo?
— Fica bem mais fácil em italiano, não é? — Chase sorri para Michael, que assente.
E então tudo fica mais claro ao ver com quem Michael aprendeu essas coisas. Chase tem
essa mania de usar o outro idioma para fugir das nossas conversas ou me dar respostas que eu
não entendo e me deixam extremamente curiosas.
E é isso que Michael fez com meu amigo. Chase e sua má influência.
— Com toda a certeza —Michael diz, olhando para Adam, que o encara confuso e, ao
mesmo tempo, desconfiado.
Estou quase chegando nele e abrindo seus olhos para o que está bem diante dele. Adam com
certeza não deve ter notado, ele não é bom em disfarçar nada. Com certeza entraria em colapso.
— Quem fez isso no seu pescoço, Chase? — Tessa pergunta, atraindo minha atenção.
Um sorriso falsamente inocente enfeita seus lábios cobertos pelo gloss.
— Verdade, parece até que estava desesperada… — Kat reforça, e ponho a mão no peito,
ofendida.
Chase dá risada, e o som me faz olhar para ele. Ainda não sei o que sentir ao fato de que ele
está se opondo tanto, mas vergonha, pelo menos, eu consigo identificar. Estou mortificada,
gostaria que um buraco se abrisse no chão e me engolisse.
— É, acho que ela estava… — Chase sorri, os olhos acinzentados fixos em mim.
Eu aperto as mãos em punhos e torço para que ninguém perceba que eu sou a culpada por
tudo. Ergo os olhos para o chupão no pescoço de Chase, e ele nota, levando os dedos da mão
direita para o seu pescoço, e um sorriso de lado e cheio de promessas sujas brota em seus lábios.
Mordo o interior da minha bochecha, descontando o nervosismo ao menos um pouco.
— Chase, será que posso falar com você por um momento? — Sorrio forçadamente e manco
até ele.
— Claro. — Ele sorri e me olha de cima a baixo, com uma falsa preocupação surgindo em
suas feições. — Você está andando esquisito, Allyson. Tudo bem?
Cínico desgraçado, chihuahua italiano!
Eu o olho com raiva e pego o braço dele, então o puxo para longe dos nossos amigos, que,
com exceção de Tess, não podem descobrir o que aconteceu. Já basta minha melhor amiga
fazendo piadinhas, eu não aguentaria com os outros dois seguindo seu exemplo.
Viro em um corredor e, pelos ombros, empurro Chase contra a parede, prendendo-o a ela.
Ele assobia por ser pego de surpresa, mas não parece disposto a me afastar. Bom, eu o faço,
porque, do contrário, temo voltar a lembrar de ontem à noite.
— Por que você está usando essa camisa? — eu questiono, apertando a alça direita da minha
mochila. — Você não deveria esconder isso? Quer que todo mundo descubra?
— Por que eu não posso usar esta camisa, Allyson? — Chase pergunta, e olho para o chupão
no pescoço dele com a sobrancelha arqueada, como se respondesse. Ele passa a mão pelo cabelo
e o bagunça. — Por que o desespero? Posso apenas dizer que estou dormindo com alguém. Sou
um homem adulto, afinal.
Sim, ele é um homem adulto.
— Você deve dormir com muitas pessoas, então — desdenho.
Chase arqueia uma sobrancelha.
— Ciúmes?
Reviro meus olhos, jogando meu cabelo para trás quando uma risada curta, mas sarcástica,
escapa dos meus lábios.
— Não me importo se você dorme com outras pessoas — eu esclareço, aproximando-me
dele. — Mas não quero que descubram que nós dois fizemos isso, quero que seja algo discreto.
Imagine se vissem os chupões debaixo da minha blusa e associassem aos seus. Bela
coincidência, não? — Eu cutuco a tatuagem de pássaro no peito dele. — Tenho certeza de que
colocou essa camisa para me provocar.
Em um movimento rápido, Chase agarra a minha mão e nos gira, colocando-me contra a
parede. É tudo tão repentino que não consigo racionar, só quando ele se aproxima.
— A culpa não é minha se você se sente facilmente provocada por qualquer coisa que eu
faça, gattina. — Chase sorri e segura minha mão contra o seu peito quente.
Sua mão está espalmada na parede ao lado da minha cabeça, e ele está levemente inclinado
na minha direção, perto o suficiente para me deixar afetada, perto o bastante para me deixar
atordoada com seu perfume.
— Você queria me deixar constrangida — eu acuso e agarro sua camisa com a minha mão
livre, erguendo o rosto para confrontá-lo.
— Me poupe, gattina… — Chase revira os olhos com um sorriso sarcástico. — Seria muito
engraçado você ficar constrangida depois de ontem.
Sinto minha respiração acelerar um pouco e uma excitação mínima crescer em mim. Tem
algo nos olhos de Chase que não me faz querer desviar o olhar, e o seu sorriso, embora seja para
me provocar, me deixa totalmente estranha.
— E o que aconteceu ontem à noite, Chase? — Eu acariciei seu peito com os dedos das
minhas mãos, sorrindo. — Eu não me lembro.
Eu também posso provocá-lo.
— Tenho certeza de que você se lembra, Allyson. — Chase arqueia a sobrancelha direita,
sorrindo como um cafajeste. — Mas, se não se lembrar, não tem problema. Os arranhões nas
minhas costas e os chupões no seu pescoço são provas suficientes do que aconteceu entre nós.
Aperto a camisa de Chase entre meus dedos e mordo meu lábio inferior, tentando não me
mostrar afetada com as suas palavras. Mas minhas pernas são duas gelatinas.
— E sabe o que mais, Ally? — Ele tira a mão da parede e a coloca ao redor do meu pescoço.
Estremeço, não estando no meu normal. Em outras circunstâncias, eu estaria preocupada
com as pessoas no corredor, mas graças a Deus não tem muitas neste.
— O quê? — pergunto com a voz levemente falha.
Chase leva a boca para a minha orelha, fazendo-me mordiscar meu lábio.
— Ainda sinto o seu gosto na minha boca — ele diz com a voz rouca rente ao meu ouvido, e
fecho os olhos.
A sorte era que o seu corpo praticamente me cobre, e ninguém pode ver o quão afetada eu
estou por cada palavra pervertida dita.
Chase tem tanto efeito sobre mim que eu me sinto até indignada. Basta apenas um toque ou
então uma palavra para que minha dignidade caia por terra, como se nunca tivesse existido. Mas
eu me recuso a ser a única provocada dessa história.
— Sabe de uma coisa também, Chase? Foi como você disse… — Eu fico nas pontas dos pés
e levo minha boca para a sua orelha, mordiscando o lóbulo macio. — Mesmo depois de ontem,
ainda o sinto dentro de mim…
Chase grunhi e reforça o aperto em meu pescoço.
— Sua gattina travessa. — Ele sorri de lado, e sinto seu polegar acariciar o pulso presente
ali.
— Talvez… — Sorrio.
— Talvez não, tenha certeza disso.
Eu tento lutar contra o sorriso que tenta nascer em meu rosto, mas é impossível. Eu acabo
cedendo.
Não me diga que tudo o que aconteceu ontem mudou a vibe de quase morte que tinha entre
nós. Ok, talvez só eu tivesse isso, mas ainda devia estar aqui.
— Somos amigos, não somos, Ally? — Chase pergunta enquanto me encara.
— Somos.
— Então vamos ao cinema — ele pede, pegando-me de surpresa.
— Cinema? — Ergo as sobrancelhas, e ele assente. — Quando?
— Hoje à noite.
Eu gostaria de dizer que não, não quero ir porque tenho muita coisa para fazer. Mas aí eu
seria uma bela de uma mentirosa, e nós só vamos assistir a um filme, nada demais. Seremos
apenas dois amigos no cinema.
Sorrio.
— Às vinte e uma horas — eu digo, encarando seu rosto e os cabelos que caem em sua testa.
Chase sorri de canto.
— Como quiser, gattina. — Ele se inclina e beija o canto dos meus lábios, fazendo-me
prender a respiração.
Em seguida, ele se afasta e me lança mais um sorriso, e foi como eu já disse: não consigo
desviar os olhos de Chase quando ele sorri desse jeito. É bonito e parece ter vários significados
por trás. Fico com uma imensa vontade de sorrir de volta.
Antes que eu possa retribuir o sorriso, Chase é puxado para trás, e arregalo os olhos quando
vejo que foi Kevin quem o afastou de mim. As mãos dele estão ao redor da gola da camisa do
meu vizinho, que apenas tem a sobrancelha arqueada.
Talvez eu deva ter sido uma péssima pessoa na outra vida, porque, mesmo que eu fuja dos
problemas, eles vêm até mim como se me pertencessem.
Sinto que Kevin deve ser algum carma meu, porque não tem condições um negócio desses.
Por que quem mais trai é quem insiste na relação e se recusa a dar um fim a ela? Porque penso
que, se você teve coragem de trair alguém que deveria respeitar, é porque não está feliz com o
relacionamento. Então, por que não terminar de vez?
Mas não, eles insistem em dar continuidade ao que faz mal a ambos.
E Kevin, por sua vez, se tornou o cretino que nunca pensei que se tornaria. Um ano de
término, ele namorou outras pessoas, mas sempre deu em cima de mim, porém parecia feliz.
Agora foi traído e pensa que eu o aceitaria de volta de braços abertos? Ou devo ter muita cara de
otária, ou ele quem não tem vergonha na cara. Acho que um pouco dos dois.
— O que você pensa que está fazendo, Kevin? — eu pergunto entredentes, andando até ele e
Chase.
O desgraçado está segurando meu vizinho pela gola da camisa, e este segura os pulsos dele,
imóvel. Não parece querer afastar Kevin, pelo contrário. O olhar que ele tem no rosto é
debochado.
— Estou ensinando a esse merda a não encostar no que é dos outros — Kevin vocifera,
fuzilando Chase.
Dele? Deixei de ser de Kevin no instante em que descobri sua traição com meus próprios
olhos, e nada doeu tanto quanto aquilo. Se quer saber, a dor só poderia ser superada se um dos
meus amigos me traísse.
Eu solto uma risada incrédula.
— Já faz um ano, Kevin. Pare, vá viver!— Eu ando até ele e tento empurrá-lo pelo ombro,
mas o desgraçado nem mesmo se mexe. — Solte-o, você não pode fazer isso!
— Não se meta nisso, Allyson. Então você realmente está saindo com este cara? — meu ex
desdenha, encarando Chase de cima a baixo.
Eu me irrito e perco a paciência.
— Isso não lhe interessa, eu o mandei soltá-lo, seu maromba desgraçado! — Dou um soco
no braço esquerdo de Kevin e faço uma careta de dor quando machuco a minha mão. Eu a
acalento contra meu peito. — Pare com isso, você está atraindo a atenção das pessoas!
Minha voz é baixa, tentando não dar mais palco que o necessário às pessoas que passam
pelo corredor da universidade. Algumas param para olhar a cena, e outras apenas passam por nós
e olham com curiosidade.
— Sinto muito interromper o seu show de macho alfa querendo marcar território, mas você
está amassando a minha camisa. — Chase o olha com tédio.
Kevin sorri, debochando.
— Porra, veadinho, que vacilo o meu. Eu até solto sua camisa se a madame implorar —
Kevin debocha dele.
Eu odeio a maneira como Kevin sempre foi preconceituoso. A gente sempre brigava por
isso, mas, burra, sempre continuei com ele.
— Ignorante e movido a músculos? Sim, agora vejo como sua fama procede — Chase
suspira, sorrindo de lado.
Kevin solta um grunhido de raiva e lança seu punho na direção do rosto do meu vizinho.
Quando penso que ele vai sair ferido, a culpa me corrói. Mas Chase agarra o punho de Kevin
com uma mão e o soca no estômago, fazendo-o se curvar e soltar sua camisa. Porém, meu ex-
namorado ainda consegue acertar seu queixo com o cotovelo. Mas, ainda assim, ergo as
sobrancelhas, totalmente impressionada com a agilidade de Chase.
Embora os dois sejam da mesma altura, Kevin tem mais músculos que Chase graças ao
crossfit que ele faz e horas e horas de academia. Então me julguem, mas eu jurei que um soco de
Chase não faria nem cócegas em Kevin.
Meu ex colocou a mão no estômago, tentando se recuperar.
— Merda, eu adoro essa camisa… — Chase resmunga quando vê um pequeno rasgo na
gola.
— Filho da puta! — Kevin rosna, avançando mais uma vez na direção de Chase.
Eu arregalo os olhos e me meto no meio dos dois, ficando entre eles para ao menos tentar
impedir qualquer briga que eles tenham em mente e, a julgar pela postura de Chase, ele está mais
do que disposto a entrar na briga.
— Não dê mais um passo, Kevin! — Eu abro os meus braços, tentando proteger Chase do
brutamontes que é o meu ex.
Já vi Kevin brigar outras vezes e lhes digo: em nenhuma delas terminou bem para o outro
cara. Os músculos de Kevin não estão ali como enfeite.
— Saia, Allyson! — Kevin me empurra para o lado, e perco o equilíbrio, quase indo ao chão
se não fosse a parede, que me ampara.
Vejo quando Chase olha com ódio para Kevin e ergue o punho, preparando para bater nele
de novo. Eu não penso quando agarro os fios do cabelo do meu ex traidor e o puxo para trás. Eu
não sou a favor da violência, mas em certos casos? Às vezes ela é a única solução.
Mas, mesmo que Kevin mereça ser espancado, não vou me rebaixar a esse filho da puta que
pensa que pode mandar na minha vida.
Ele resmunga de dor por eu estar agredindo seu couro cabeludo, e o puxo com toda a força
que consigo, mas o idiota apenas dá um passo para trás. Fico entre ele e Chase mais uma vez,
erguendo o queixo.
— Você tem algum problema de audição? Eu o mandei deixar Chase em paz!
Kevin passa as mãos pelos fios desgrenhados e me olha como se eu tivesse duas cabeças.
— Quando você se tornou tão agressiva assim?! — questiona, franzindo o cenho.
— Quando um certo filho da puta começou a me seguir e perguntar sobre a minha vida
como se tivesse direito! — digo entredentes e aperto minhas mãos em punhos.
Kevin respira fundo, se acalma apenas um pouco e expulsa a raiva cega de minutos atrás.
Ele ainda está tenso, posso ver. Mas ao menos agora não parece querer matar o meu vizinho.
— Podemos conversar em outro lugar? Longe de… — ele diz, olhando para Chase com
desprezo — de estranhos.
Eu dou um passo para trás e sinto Chase logo atrás de mim. Ele passa um braço ao redor da
minha cintura e me mantém. A essa altura, as pessoas já não se encontram vendo mais nada,
todas foram embora por ver que não haveria briga.
— Chase não é nenhum estranho, ele é meu namorado — digo, erguendo meu queixo. — O
único estranho aqui é você, Kevin. Você vem sendo há mais de um ano.
E doeu como o inferno todo esse tempo.
— Ally… — Kevin diz, dando um passo na minha direção.
Desesperada, dou um passo para trás, fugindo do seu toque. Tenho medo de ainda sentir
alguma coisa se ele encostar em mim e, parecendo notar meu desespero, Chase aperta o braço ao
redor de mim e me puxa para o seu corpo.
Sinto-me mal, estar perto de Kevin faz com que eu me sinta mal pra caralho e nem falo por
causa da sua insistência, e sim porque tenho mágoas demais dentro do meu peito que não me
permitem escrever tudo.
Parece que não importa quanto eu fuja, Kevin ainda vai estar ali à minha espera, seja para
mexer com a minha cabeça, seja para mexer com o ódio dentro do meu coração. De algum jeito,
ele tem que estar presente.
— Vá embora, Kevin. Eu não quero vê-lo… — digo, tentando soar firme.
Ele me lança um olhar cheio de mágoa, mas ele seria o maior dos hipócritas se realmente
estiver machucado. Ele não te ama, Allyson. Quem ama não trai.
— Não garanto que eu vá continuar querendo-a por muito tempo, Allyson. Você não está
facilitando para nós dois — Kevin diz, cheio de rispidez amarga.
Sou eu mesma quem não está facilitando? Você tornou isso difícil para nós, Kevin.
É isso o que quero dizer, mas me forço a continuar calada, porque sinto que, se abrir a boca,
vão notar a fraqueza em minha voz, e odeio ser fraca, odeio demonstrar que me importo quando
sou machucada, quando estou machucada.
Kevin me dá as costas, mas antes direciona um olhar a Chase, que poderia congelar um
vulcão inteiro. Assisto a ele ir embora com o coração entalado na garganta, lembrando a mim
mesma de que não devo me importar quando ele tentou jogar a culpa para cima de mim, como
sempre.
Mas não vou ser burra novamente como fiz há um ano. Pelo que comprovei agora, talvez eu
ainda sinta algo por ele. Mas meu orgulho e rancor ainda são maiores, sobressaindo a esse
sentimento idiota que nem deveria mais existir.
Nunca mais vou entregar meu coração como fiz com Kevin. Pouco me importa se nem todo
mundo é igual, eu simplesmente não posso mais.
— Gosto de uma coisa dolorosa, mas realmente está doendo agora, gattina… — ouço Chase
sussurrar em meu ouvido e finalmente saio do transe.
— O quê…? — pergunto perdida, olhando para baixo.
Arregalo meus olhos quando olho para baixo e vejo minhas unhas cravadas no antebraço de
Chase. Rapidamente o solto, e a culpa me invade ao ver as marcas das minhas unhas em sua
pele, não passando de vergões incrivelmente vermelhos. Mas, mais um pouco, eu teria cortado
sua pele.
Afasto-me de Chase e fico de frente para ele.
— Desculpa, eu não percebi o que estava fazendo! — lamento e encolho meus ombros
enquanto seguro seu antebraço.
— Eu notei — Chase diz, risonho.
— Como pode sorrir depois disso? — pergunto, franzindo meu cenho. — Dói muito?
Chase nega com a cabeça, ainda mantendo um sorriso no rosto. Porém, ele agora é mínimo.
— Não doeu, eu estava apenas brincando. Você parecia perdida nos próprios pensamentos
— ele diz, fixando os olhos no meu rosto. — Você está bem?
Solto seu braço com cuidado e limpo a minha garganta. Ele deve ter notado o quão afetada
fiquei com toda essa cena e as palavras ridículas de Kevin. Bom, ridículas? Sim. Mas ainda estão
martelando na minha cabeça.
— Não acha que fiquei triste por causa daquele idiota, não é? Pumff. — Reviro os olhos,
dispensando sua pergunta com a mão. — Já sou acostumada a lidar com Kevin.
Chase arqueia uma sobrancelha e inclina a cabeça para o lado.
— Talvez você ainda goste dele? — questiona, quase de maneira perdida.
A pergunta parece ser mais para ele do que para mim, mas, mesmo assim, eu ainda não
gosto dela. Não gosto porque nem eu mesma tenho resposta para ela.
— Você está sendo um pouco invasivo agora, italiano — digo, soando grossa.
As sobrancelhas de Chase se suspendem, como se surpreso com o meu corte.
— Perdão, não foi minha intenção ser intrometido.
Engulo em seco, sentindo-me culpada por ser tão rude quando ele fez apenas uma simples
pergunta. Pigarreio mais uma vez e dou um passo para trás, apertando a alça da minha mochila.
— Sinto muito… — afirmo, sem graça. — Eu vou indo nessa, minha aula já vai começar.
Eu passo por ele e tento não olhar em seu rosto. Sinto como se estivesse a descontar minhas
frustrações em cima dele. Já fiz muitas perguntas íntimas a Chase, mas, por mais que ele não as
respondesse, sempre cortou o assunto de maneira discreta.
— Às 21 horas em ponto, certo? — Chase pergunta de repente.
Eu estanco no lugar e me viro aos poucos para olhá-lo. Chase parece estar confirmando se
ainda quero sair com ele, e a resposta é bem óbvia, afinal ele não fez nada.
— Não se atrase — eu brinco.
— Eu moro de frente para você, impossível — ele sorri, descontraído.
Passos as mãos por meu cabelo e lhe dou as costas, revirando meus olhos com um sorriso
nos lábios.

Visto minha jaqueta por último e dou uma olhada na minha aparência diante do espelho.
Meu cabelo está amarrado em um rabo de cavalo alto, dando um ar ainda mais casual ao meu
look composto por jeans skinny e um cropped branco.
Minha primeira opção foi ir de vestido, porém está muito frio e prefiro sempre estar
confortável a estar bonita.
Puxo meus fios ainda mais para trás, tendo certeza de que nenhum está fora do lugar. Meu
cabelo tende a ser um pouco rebelde em dias que tenho compromissos, ele parece saber quando
vou sair, e por isso decide não se comportar de propósito, como se tivesse vida própria.
Ouço minha campainha tocar e dou uma última olhada em mim antes de sair do quarto e ir
em direção à porta da sala do meu apartamento. Pelo canto do olho, vejo Justin vir logo ao meu
lado, andando calmamente. Sorrio para ele antes de abrir a porta e dar de cara com o síndico do
prédio. Merda.
Eu até sei por que ele está aqui e, por sua expressão, não está nada contente.
— Senhor Carter… — murmuro, forçando um sorriso.
O homem de meia-idade e uma carranca no rosto põe as mãos atrás das costas e estufa o
peito. Ele age como se fosse dono do prédio, não o encarregado por apenas recolher o dinheiro
do aluguel no final do mês.
Justin late e rosna para ele e volta para dentro do apartamento como se não quisesse ficar
perto dele.
— Bom dia, senhorita Young — diz, sem muita simpatia e de nariz em pé. — Vim
perguntar o que houve com o aluguel deste mês.
Sim, há meses desempregada e gastei todas as minhas economias com coisas da casa ou
ajudei Tessa a pagar os aluguéis passados. Mas agora, depois das últimas compras no
supermercado, ficou muito apertado. E, se Tess não pagou ainda, é porque ela não tem.
— Nunca atrasamos nem um mês sequer, senhor Carter. Peço que tenha um pouquinho mais
de paciência, por favor… — Olho para ele, séria.
O homem ergue as sobrancelhas como se tivesse desacreditado das minhas palavras.
— Allyson, eu não posso fazer isso. Imagine se os outros moradores ficam sabendo —
repreende-me, indignado. — Deveriam se mudar para um local que possam pagar, já que não
estão dando conta deste.
É a minha vez de lhe lançar um olhar desacreditado. Essa eu não vou escutar quieta.
— Me responda, senhor Carter — ergo meu queixo e ponho as mãos na cintura —, também
é sua obrigação se meter na vida dos inquilinos e dizer o que eles podem ou não pagar?
— Não estou fazendo tal coisa, apenas sendo direto — senhor Carter rebate, arrebitando o
nariz. — E não vou mais esperar o pagamento, já se passaram dez dias. Inquilinos não têm
preferências.
Eu arqueio a minha sobrancelha.
— Não? Então pode me explicar por que esperou o pagamento da vizinha do 203? Rachel o
nome, não é?
O senhor Carter se engasga e começa a tossir.
— Eu não sei do que está falando… — Ele tenta se fazer de bobo.
— Sim, você sabe — acuso, cruzando meus braços —, e vou pedir o favor de esperar mais
um pouco se não quiser que eu conte para o prédio inteiro até chegar aos ouvidos do dono.
O homem aperta os olhos na minha direção e me olha claramente irritado. Ele pigarreia.
— Tudo bem, dou mais uma semana.
— Duas semanas.
Ele abre a boca para discordar, porém arqueio a sobrancelha à espera de ele discordar. Mas
sei que não fará isso.
— Duas semanas e nem mais um dia — fala, entredentes.
— Sempre tão compreensivo, senhor Carter. — Sorrio docemente e bato meus cílios para
ele.
Eu não espero para ver se ele vai me responder, apenas fecho a porta na sua cara. Eu respiro
fundo e evito passar as mãos em meu rosto para não borrar minha maquiagem, mesmo que essa
seja minha vontade, mesmo com toda a frustração que sinto neste momento.
Tenho que procurar um trabalho, não posso continuar assim. Mas está tão difícil conseguir
um emprego que pague bem o suficiente para manter uma casa e até eu mesma. E, claro, não
podemos nos esquecer de Justin.
Eu bufo e me afasto da porta para ir até o meu cachorro no sofá quando Tess entra na sala
com os braços cruzados.
— Quem era? — ela pergunta, apoiando-se na parede.
— Senhor Carter… — resmungo, revirando meus fios.
Tess suspira, negando com a cabeça enquanto desgruda os braços e, diferentemente de mim,
esfrega o rosto com vontade, descontando sua frustração.
— Veio cobrar o aluguel, não é? — Tess chuta, certeira.
— Sim, mas consegui mais duas semanas para nós. — Sorrio para ela e me aproximo de
Justin.
Eu faço carinho em suas orelhas grandes.
— Como fez isso? — Ninha melhor amiga ergue as sobrancelhas, surpresa.
— O senhor Carter não é tão rígido quanto parece. — É tudo o que eu digo.
Minha amiga não insiste, ela apenas concorda com um aceno vacilante de cabeça e encara o
chão, perdida em seus próprios pensamentos. Eu não gosto de vê-la assim, porque isso quer dizer
que ele está pensando demais, e uma Tessa que pensa demais resulta em uma Tess ansiosa, e não
quero isso.
— Tess, eu me sinto culpada por você ter pedido seu emprego na lanchonete.
Minha amiga finalmente sai de seu transe, fixando os olhos em mim. Está vestida com um
baby doll rosa-claro e o cabelo agora ruivo, preso em um coque alto.
— Não se sinta, não poderia continuar a trabalhar em um lugar que demitiu minha melhor
amiga por se defender de um assédio.
— Mas pelo menos uma de nós estaria empregada — digo, cabisbaixa.
Tess nega com a cabeça.
— Não me arrependo, Ally, e vamos dar um jeito, não se preocupe — sorri, de modo a me
tranquilizar.
Sorrio de volta para ela no instante em que a porta volta a bater, e Tess e eu olhamos para
ela imediatamente, ambas erguendo as sobrancelhas em suspeita.
Olho para ela e posso ler seus pensamentos com uma facilidade impressionante.
— Acha que ele voltou? — Tess pergunta, franzindo as sobrancelhas.
Eu não respondo, prefiro andar até a porta e espiar pelo olho mágico. Porque, se for esse
velho de empatia seletiva mais uma vez, nem me darei o trabalho de abrir a porta.
Mas, para a minha surpresa, é Adam quem está do outro lado da porta, que também me
enche de confusão pelo horário. Sem dizer nada a Tessa, eu me afasto do olho mágico e giro a
maçaneta, abrindo a porta para o meu melhor amigo.
Seu rosto sério e sem expressão é a primeira coisa que noto assim que ele aparece
perfeitamente no meu campo de visão.
— É Adam? — Tess pergunta, aproximando-se.
Meu amigo irrompe pela porta e entra no apartamento sem esperar um convite. E não que
ele precise, estou apenas querendo enfatizar o quanto ele parece nervoso.
— Aconteceu alguma coisa? — questiono, fechando a porta.
Adam para diante de nós e vaga seu olhar entre mim e Tessa. Ele respira fundo, tentando
puxar sua respiração como se fosse difícil. Suas mãos estão inquietas, vez ou outra se esfregando
no jeans de sua calça, ou então as fechando em punho e as abrindo.
— Eu… acho que fiz merda. Acho não, tenho certeza… — Adam murmura, olhando para
nós com pesar.
Tessa vai até ele.
— Você está nos assustando, fale o que aconteceu — ela pede, parando ao seu lado.
Adam engole em seco e passa as mãos pelo cabelo, puxando-os para trás. Todo o seu
silêncio e toda a sua inquietação já estão começando a me deixar nervosa também.
— Adam… — começo, mas ele me corta.
— Transei com a Melody.
Meus olhos quase dobram de tamanho, e Tessa não fica atrás. Ela abre e fecha a boca sem
saber o que dizer, mas, ao contrário do que eu pensei, não é um grande choque. Adam a ama, e a
filha da puta sempre soube muito bem manipulá-lo.
Não estou dizendo que ela o forçou a transar com ela, mas ela sempre teve meu melhor
amigo na palma de sua mão.
— Bem, isso é… — Tess é quem quebra o silêncio, limpando a garganta. — Como
aconteceu?
Meu amigo bufa e se joga no sofá ao lado de Justin, que está dormindo, alheio a tudo isso.
— Ela me ligou, falando que queria me ver.
— Pensei que ela estivesse bloqueada — lembro, mas não como acusação.
Eu realmente pensei que ela estivesse bloqueada.
— E estava, mas não aguentei e a desbloqueei dias atrás… — Adam admite, quase
arrancando seus cabelos.
Eu suspiro e também vou até ele, parando logo à sua frente de braços cruzados.
— E então, como foi? — pergunto.
Meu melhor amigo nega com a cabeça.
— Melody disse que queria me ver e, chegando lá, começou a dizer coisas como se me
amasse de novo. Eu acabei cedendo porque ainda gosto dela… — Adam começa, encarando o
centrinho no meio da sala de maneira perdida. — Mas, no fim, ela me fez sentir como um lixo.
Do nada começou a dizer que só ligou para mim porque não tinha ninguém melhor.
Cerro meus punhos e ouço sua conversa enquanto sinto o ódio sumir por meu corpo.
— Eu me senti tão… substituível e idiota por cair na dela mais uma vez — ele continua,
deixando o corpo afundar um pouco mais no sofá.
Tessa se inclina na direção dele e segura seu rosto entre as pequenas mãos.
— Escute aqui, você é mais do que suficiente, me ouviu? Se aquela filha da puta não
percebe isso, ótimo. Assim não o priva de alguém que realmente o ama e o respeita — ela diz,
acariciando as bochechas dele.
Eu me sento ao seu lado e busco sua mão. Adam me olha, seu rosto apresenta uma careta
triste.
— Melody deve ter um problema consigo mesma, talvez veja em você algo que ela nunca
vai ter, que é essa luz e o fato de todos gostarem de você. — Sorrio para ele.
Adam retribui meu sorriso e faz um carinho nas costas da minha mão, e seu rosto se torna
mais suave. Foi apenas um pouco, mas está melhor que antes.
— Obrigado por me escutarem e me desculpem por correr para cá.
Nego com a cabeça, mas é Tess quem fala por mim.
— Somos suas amigas, sempre estaremos aqui. — Ela sorri para ele.
Eu concordo, acenando fraco.
— Quer dormir aqui? Você odeia dormir sozinho quando está triste — eu digo a ele.
Adam assente rapidamente.
— Eu quero — ele confessa, enquanto me encara de cima a baixo. — Vai sair?
Finalmente me lembro de que ia ao cinema com Chase. Fiquei tão fissurada nos problemas
dos meus amigos que acabei me esquecendo.
— Eu meio que perdi o ânimo, e você parece precisar de mim agora — eu digo e sorrio. —
Bom, vocês. Você não é único que está triste e que precisa de mim.
Essa foi uma indireta para Tessa. Mas, comprovando minhas suspeitas, ela apenas sorri fraco
e não me provoca. Está assim desde a tarde, e isso me deixa inquieta. Quando Tess está calada
demais, é porque algo está martelando em sua cabeça, e não gosto nada disso.
Eu gostaria, e muito, de sair com Chase. Mas meus amigos parecem precisar de mim nesse
momento, e quero estar aqui como eles sempre fazem comigo quando não estou bem.
Levanto-me do sofá e ando até a porta com a intenção de dizer ao meu vizinho que
infelizmente não vou poder ir com ele. Só espero que ele não fique com raiva ou algo assim.
Limpo minhas mãos sujas de graxa na flanelinha também nem um pouco limpa enquanto
encaro o meu trabalho. Olho para a mulher loira de longos cabelos, vendo que ela me encara com
os olhos grandes, como se esperasse algo. Mas não parece muito preocupada em saber do carro
quando seus olhos não saíram de mim.
Seguro a flanelinha e deixo minhas mãos caírem ao lado do meu corpo. Estico o pescoço
tenso, sentindo como o resto do meu corpo está exatamente igual. Mas paro e começo a falar
com a mulher.
— Dei uma olhada no carro e está tudo bem com o motor, tem certeza de que o problema
não está em outro lugar? Eu também não achei nada — eu explico, encarando-a atentamente.
— Tem certeza? Procure direito, por favor — a loira diz, parecendo animada. Em nenhum
momento seus olhos se afastam de mim. — Eu posso esperar.
— Não precisa, o seu carro não tem nenhum defeito. Deve ser apenas impressão — declaro,
jogando a flanelinha em uma cadeira velha da oficina.
De dez clientes que entram aqui, três são mulheres que dizem que seus carros ou motos têm
defeito e sempre são teimosas quando eu nego isso, parece que elas têm ânsia de gastar dinheiro
quando estou lhes fazendo o favor de não inventar um problema fantasma.
— Você não é daqui, é? Percebi que tem sotaque… — a mulher diz, aproximando-se de
mim.
Olho ao redor, vendo os outros mecânicos que trabalham comigo babando por ela ao mesmo
tempo que riem de mim.
E, claro, a loira passa bem longe de ser feia: pernas bem torneadas e longas, bunda grande e
seios empinados e grandes, quase sendo esfregados no meu rosto graças ao decote imenso que
ela tem, revelando o vale entre eles.
A boca carnuda e bem desenhada está coberta por um batom vermelho bonito e o cabelo em
tons vivos de loiro que combinam com sua pele. Mas, ainda assim, ela não faz o meu tipo.
Toda a sua áurea sexy é impactante, porém não para mim. Não tenho frescura com mulher,
mas ando tendo minha atenção retida a apenas uma durante todo este mês — quase dois — que
estive aqui, e não diria que estou apaixonado em tão pouco tempo, mas direi que interessado é
um eufemismo em comparação ao que sinto em relação à minha vizinha.
O cabelo castanho-claro que chega um pouco abaixo dos seios, em conjunto com um belo
par de pernas tonificadas, seios médios e bunda apenas levemente empinada. Sim, totalmente o
oposto da loira à minha frente que parece estar disposta a fazer tudo o que eu quero sem nem
pestanejar.
E, se fosse há meses, eu aceitaria suas investidas com prazer e, ao sair do trabalho, a foderia
dentro do meu carro. Mas, como eu disse, ultimamente loiras não estão na minha mira. Minha
vizinha sem juízo está.
— Sou italiano, porém moro aqui há muito tempo — respondo, enfiando minhas mãos nos
bolsos do meu macacão azul.
A regata cinza já está suja de graxa mesmo, então não me importo em sujar o resto da roupa.
Meu trabalho meio que pede por isso.
— Você quer sair para beber alguma coisa mais tarde? — a loira bonita pergunta,
mordiscando o lábio inferior. — Eu me chamo Courteney, e você?
Aí está o que a grande maioria vem fazer aqui na oficina. Não pensem que estou sendo
machista ou algo do tipo, apenas é chato e extremamente irritante ficar me dedicando horas,
tentando achar um problema em algo que não está quebrado, tirando as vezes em que algo
realmente pode estar quebrado, apenas para que no final alguma delas me chame para sair. Evito
atender mulheres na maioria das vezes, mas algumas deles exigem ser atendidas por mim, como
essa fez agora, e não que eu esteja me vangloriando por isso, na verdade, acho estressante e sem-
noção.
Coço minha sobrancelha, e um pequeno suspiro escapa dos meus lábios.
— Olha, sinto muito. Mas eu tenho namorada — digo a mentira que muitas vezes funciona.
Esse é um clássico que nunca me canso de usar.
Courteney ergue as sobrancelhas antes de seus ombros se curvarem e um biquinho enfeitar
seus grandes lábios. Ela agora parece desanimada.
— Ah, tudo bem, então… — a loira sorri.
Ela tira da bolsa em seu ombro, o valor acordado do conserto do carro. Mas, como nada foi
quebrado, apenas cobro menos, pela vistoria.
A mulher entra no carro e em seguida dá ré, saindo da oficina com uma cara diferente da que
entrou. Ela surgiu aqui como se tivesse ganhado na loteria e em seguida saiu como se estivesse
em um enterro.
Vejo meu patrão vir até mim, também limpando suas mãos da sujeira do motor que ele está
consertando. Ele, sim, trabalha nesta oficina e não precisa reter a atenção em veículos que não
têm sequer um arranhão na pintura. O homem de meia-idade sorri para mim enquanto balança
suas sobrancelhas.
— O quê acha de se tornar nosso garoto propaganda, Chase? — ele pergunta, parecendo não
estar brincando.
— Não levo jeito para essas coisas — respondo, indo em direção à gaveta para pegar um
pano limpo a fim de limpar meu rosto sujo de graxa.
— Como não, garoto? — senhor Elias questiona, alarmado enquanto vem na minha direção.
— Olhe quantas clientes estamos tendo. Você movimentou esta oficina!
Sorrio, achando graça do seu exagero.
— Nenhuma delas realmente precisa de conserto, senhor.
O homem me dispensa com as mãos, tratando-me como se eu não fosse nada além de
alguém falando besteira.
— Bobagem, elas estão pagando do mesmo jeito!
Solto uma risada baixa enquanto coloco a flanelinha de rosto dentro do cesto de roupa suja
próximo a mim. Pego meu celular no bolso da minha jaqueta e encaro meu reflexo, vendo se
ainda estou sujo.
— É, mas me sinto inútil revisando carros perfeitos enquanto meus colegas trabalham de
verdade — admito e guardo meu celular depois de ver as horas.
Meu chefe se aproxima de mim e faz um gesto para que eu me aproxime também. Tenho
que me abaixar um pouco, já que ele bate nos meus ombros.
Ele põe a mão ao redor da boca, como se fosse me contar uma fofoca.
— Bem, garoto, não é sua culpa que eles sejam feios — sussurra no meu ouvido.
Solto mais uma risada com sei comentário, mas paro quando meus colegas olham para nós
de maneira desconfiada, com os olhos estreitos em nossa direção.
Limpo a garganta e me afasto do homem, indo em direção à minha mochila largada em um
banco no canto afastada da oficina. Eu a pego e a jogo por cima do ombro, pronto para ir embora
agora que vi que já deu a minha hora. Na verdade, ainda se passaram vinte e cinco minutos do
horário em que largo.
Ando até meu chefe, já que ele está no caminho em direção à saída.
— Vou pensar nisso, senhor Elias. — Sorrio, parando ao seu lado. — Agora vou indo, tudo
bem?
— Por isso gosto de você, garoto, é um visionário! — Ele sorri largamente e bate em meu
ombro. Ele me dispensa com a mão. — Agora vá!
Eu assinto e aceno para os meus colegas com a cabeça, e eles fazem o mesmo. Então ando
em direção à saída, antes que meu chefe me pare mais uma vez, lembrando-me do quanto eu
pareço com ele quando mais novo e de como as mulheres gostam de um homem sujo de graxa.
Segundo ele, isso as faz ver que é trabalhador. Já é rotina senhor Elias me parar apenas para dizer
isso.
Ando em direção ao meu carro estacionado em uma vaga perto da oficina, retiro a chave de
dentro da mochila e destravo as portas.
Quando entro, jogo a mochila no banco do passageiro e ligo o carro, não perdendo tempo
em dar partida para longe. Estou cansado, além da universidade, o trabalho também puxa muito
de mim. Embora eu analise carros em perfeito estado por puro capricho de algumas clientes,
também limpo a oficina e faço a revisão de quais peças estão faltando.
Tudo o que quero agora é chegar em casa, tomar um longo banho e comer alguma coisa
gostosa.
Vejo o sinal vermelho e paro o carro, aproveitando isso para puxar minha carteira de cigarro
do bolso do meu macacão e pegar um, também pegando o isqueiro no porta-luvas. Dou uma
longa tragada, acumulando fumaça em minha boca antes de jogá-la para fora do carro. Acho que
já é o terceiro no dia todo.
Não posso fumar dentro da universidade nem na oficina, porque é perigoso, já que estamos
em constante aproximação com gasolina e outras coisas. Mas eu já estava ansioso por isso há
muito tempo.
É um vicio que não me agrada, porque veio de uma pessoa que levei anos para superar e
destruiu meu psicológico a ponto de eu precisar de terapia. Ela me ensinou a fumar, e foi difícil
perder o vício depois que terminamos. Eu ainda precisava de alguma coisa que me lembrasse
dela, mesmo que os espinhos que ela deixou no meu coração já fossem o suficiente.
Mas não sinto vontade de parar, mesmo que eu não a ame mais, aprendi a gostar de fumar.
O sinal abre e volto a dirigir pelas ruas de Nova York. Não se passam muitos minutos, e
logo avisto meu prédio, estaciono meu carro em uma das vagas e jogo o cigarro, no qual piso ao
sair. Sou rápido em subir e pegar o elevador, indo em direção ao meu apartamento. Pego a chave
na minha mochila, abro a porta e dou de cara com Pietro apenas de cueca.
— Cazzo, às vezes eu penso que você esquece que não mora sozinho. — Reviro meus olhos
enquanto fecho a porta.
Dias atrás eu cheguei em casa e ele estava dormindo no sofá pelado.
— Na verdade, eu sempre me lembro, mas não me importo. — Sorri falsamente, jogando-se
no sofá.
— Não sabe como é doloroso ter essa visão do inferno quando chego em casa — debocho,
mas sendo verdadeiro.
Pietro pega o controle da TV e me dá um olhar indiferente, mostrando que o que eu estou
dizendo entra por um ouvido e sai pelo outro.
— Essa visão aqui é capaz de molhar calcinhas, você não deve saber o que é isso — ele
rebate, ligando a televisão.
Meus dedos melados do gozo de Allyson invadem minha mente e sorrio, guardando a
resposta para mim. Não preciso provar a Pietro que sei satisfazer uma mulher, minha vizinha já
está aí para isso.
Ontem ela cancelou nosso compromisso, alegando que não poderia ir porque aconteceu um
imprevisto com seus amigos. Mesmo ficando frustrado, não fiquei com raiva. Eu consigo ver e
entender que seus amigos vêm acima de qualquer pessoa e o quanto ela é dedicada às suas
amizades.
Mas, ainda assim, queria ter tido esse tempo para conhecê-la melhor.
— Nossas vizinhas o acham um poço de educação, acho que ficariam chocadas ao descobrir
o porco tarado que você é — digo, andando até ele.
Algo pula no sofá e me assustaria, se não lembrasse que minha gata, Lady, tem esse
costume. Contenho a vontade de pegar a persa em meus braços para não sujar seu pelo branco,
dei banho nela ontem, e apenas me contenho em sorrir para ela quando mia para mim.
— Allyson e Tessa? Gosto delas, não acho que vão acreditar em você — Pietro fala, tirando
os olhos da TV para me encarar. — Principalmente Allyson, ela parece odiá-lo.
Sorrio de canto.
— Isso não é mais uma verdade.
As sobrancelhas do meu irmão se erguem.
— Está pegando Allyson? — pergunta, genuinamente curioso.
Por eu estar perto do sofá, Lady se esfrega na minha perna em busca de carinho, e a deixo
fazer isso, já que essa parte do meu macacão não está suja
— Isso não é da sua conta — atiro, sorrindo.
Pietro fica calado por alguns segundos e, a julgar como seus olhos estão inquietos, parece
incerto se me conta ou não alguma coisa. Sei de como ele reage a cada coisa, faz vinte e três anos
que eu o conheço, e ele é quatro anos mais velho do que eu. Porém, sempre fomos bem
próximos.
— O que foi? — questiono, e ele suspira.
— Já que tocamos nesse assunto sobre pegar alguém, tenho algo para dizer. Algo que talvez
você odeie… — começa, olhando-me com cautela.
— Diga logo, Pietro — mando, impaciente e ansioso. Odeio suspense.
— Sua ex-namorada veio aqui há algumas semanas. Não disse nada para não preocupá-lo,
mas parece decidida a voltar com você.
Meus punhos se cerram ao ouvir isso, e aperto a alça da minha mochila com força, tendo a
certeza de que os nós dos meus dedos estão brancos.
Eu sei que ela aparentemente decidiu me querer de volta, mas não sabia que ela teria a
coragem de aparecer no meu apartamento. E o mais intrigante: como ela sabe onde eu moro?
Não faz sentido. Mas o que mais me deixa puto é ela pensar que tem algum direito de voltar para
a minha vida quando deixou meu coração em frangalhos.
— Ela disse isso? — questiono, sentindo minha mandíbula tensa.
— Ela falou que sentia sua falta e me pediu seu número novo — Pietro grunhe, tão irritado
quanto eu. — Não me aguentei e a expulsei daqui. Sinto nojo só de olhar para ela.
Eu também. Ainda mais depois que me dei conta do que ela fazia comigo e julguei ser
normal algum dia.
— Tome cuidado com ela, Chase. O último estrago que ela fez não deixou dúvidas de que
ele é uma filha da puta — Pietro diz.
— Eu não vou voltar com ela, Pietro. Não se preocupe — afirmo, tenso.
Meu irmão assente e desliga a TV, levantando-se apenas de cueca boxer preta. Não que eu
esteja analisando o corpo desse tarado, mas Pietro tem tantas tatuagens quanto eu, a diferença é
que as suas são de um estilo diferente.
— Tudo bem, depois ligue para a nossa madre e a tranquilize. Depois que sua ex veio aqui,
ela ligou perguntando se estava tudo bem — ele fala, esticando os braços para se espreguiçar. —
Agora fique aí, passando a noite desenhando como um adulto estranho que não transa enquanto
eu vou sair e fazer exatamente isso.
Eu apenas ergo a sobrancelha, recordando de que transo, sim, e muito bem. Mas não vou
rebater esse retardado que pensa com a cabeça do pau.
Pietro vai para seu quarto e faço o mesmo, vendo Lady vir ao meu encalço. Fecho a porta e
vou para o banheiro, onde retiro minha roupa e a coloco no cesto de roupa suja. Ligo o chuveiro
e fecho meus olhos, pensando em aproveitar meu banho quando me lembro do que Pietro disse.
Ela veio aqui. A filha da puta teve a coragem de vir até aqui.
Ela é como um fantasma que se nega a ser esquecido ou ignorado e, por mais que eu tenha a
certeza de que não a amo, ela não parecer satisfeita com isso. Mas, bom, ela pode ir para o
inferno, se assim desejar, não tenho mais nada a ver com ela.
Depois de tirar toda a graxa do meu corpo e lavar meu cabelo, saio do banheiro com uma
toalha ao redor da cintura e uso uma menor para secar meus fios molhados. Visto uma calça de
moletom, dispensando a cueca, e uma camisa, já que eu estou em casa.
Eu finalmente pego Lady no colo quando a vejo esperar por mim na cama e vou para a
cozinha. Faço um lanche reforçado e em seguida vou para a sala e ligo a TV para assistir a The
Walking Dead, minha série preferida. Lady me faz companhia enquanto trago mais um cigarro e
acaricio seu pelo.
Minutos depois, ouço a companhia tocar. Não deve ser Pietro, já que ele tem a chave. Então
isso me deixa em dúvida sobre ser quem eu não quero ver nem pintada de ouro.
Levanto-me do sofá e vou em direção à porta a passos lentos. Espio pelo olho mágico para
ter a certeza de que não vou ter nenhuma surpresa desagradável e, na verdade, tenho a melhor
delas.
Abro a porta e me deparo com Allyson vestida com uma calça de moletom rosa-clara e uma
regata branca, graças a Deus com um sutiã por baixo. Seu cabelo está preso em um coque frouxo,
e alguns fios escapam de maneira charmosa. Gostosa pra caralho.
— A que devo a honra da sua visita? — brinco, encostando meu ombro na porta.
Não sei se Allyson está ciente de quando seus olhos descem para o meu corpo, porém ela
rapidamente se recupera.
— Eu me senti mal por ter desmarcado com você em cima da hora, tinha planos de conhecê-
lo melhor para nosso plano fluir bem. — Allyson encolhe os ombros e enfia as mãos nos bolsos
de sua calça. — Então vim aqui para fazermos isso agora se estiver desocupado. Posso entrar?
Eu abro espaço para ela, mas não o suficiente, pois, quando ela atravessa a porta, seus
ombros tocam meu peito nu, e ela me lança um olhar por baixo dos cílios. Eu reprimo a vontade
de agarrar seu queixo e atacar seus lábios bem desenhados.
Ainda com as mãos nos bolsos, Ally para no meio da minha sala, inquieta como se não
soubesse o que fazer agora. Sorrio e fecho a porta com uma mão, já que a outra segura um
cigarro.
Olho para o sofá e vejo que Lady sumiu. Provavelmente foi dormir no meu quarto, já que
odeia visitas.
— Sente-se aqui — mandei, indo até ela.
— Como? — pergunto com os olhos levemente arregalados.
Sorrio, sento-me no mesmo lugar de minutos atrás e entreabro minhas pernas.
— No sofá, Allyson. Para onde foi sua imaginação? — Arqueio uma sobrancelha.
Allyson pigarreia antes de se sentar ao meu lado e um pouco distante, apoiando suas mãos
em suas pernas cobertas. Mal consigo encará-las sem lembrar que estavam ao redor da minha
cintura dias atrás.
Porra, tenho que controlar esses pensamentos se não quiser ter uma ereção como um tarado
do caralho.
— Pervertido — Allyson resmunga, revirando seus olhos.
— Sinto em informar que sofremos do mesmo problema, gattina — rebato, sorrindo de
canto.
— Chega de enrolação, vim aqui com um propósito! — Ally se vira para ficar de frente para
mim, e faço o mesmo. Seus olhos descem por meu tronco e vejo sua garganta engolir em seco.
— Pode vestir uma camisa?
— Acho que tive um déjà-vu. — Meu sorriso se torna sacana.
— Não consegue ter uma conversa sem levar para o lado sexual? — Allyson questiona,
desacreditada.
Eu mordisco meu lábio antes de levar a ele meu cigarro quase esquecido e dar uma longa
tragada. Solto a fumaça lentamente.
— Foi muito bom para eu não comentar.
Vejo Allyson entreabrir seus lábios e o rubor subir por seu colo, atingindo suas bochechas.
Ela prende o próprio lábio entre o dente e, se continuar me encarando com esse olhar de “quero
pica”, as coisas não vão terminar bem.
Mas, assim como eu, ela sente que não pode controlar a tensão que nos ronda. Um gemido
se faz presente na sala, e não preciso olhar para a tevê para saber que vem dela. Com certeza uma
cena que inclui zumbis.
Allyson olha imediatamente para a televisão, seus olhos se arregalam e ela fica branca. Fica
paralisada enquanto encara os zumbis ao redor dos personagens, até que um acaba pegando um
personagem qualquer e mordendo seu pescoço.
— Allyson? — eu a chamo, mas não obtenho resposta.
Seu lábio inferior treme, e lágrimas se acumulam em seus olhos com toda a cena na tevê. Ela
parece estar com dificuldade de respirar. Eu apago o cigarro com o chinelo logo abaixo dos meus
pés, me aproximo e seguro seu rosto entre as minhas mãos, forçando-a a me encarar.
— Ei, ei! — Dou um tapinha em seu rosto. — Allyson, o que foi?
Vejo-a puxar o ar e movo os olhos para os meus.
Então sai dos seus lábios a coisa mais irônica que já ouvi em toda a minha vida. Alguém que
ama ouvir sobre casos criminais e não se assusta com os detalhes mais mórbidos agora entreabre
os lábios rosados e admite:
— E-eu… eu tenho fobia de zumbis… — diz com a voz trêmula.
Minha primeira reação é soltar um xingamento, pegar o controle e desligar a tevê. Continuo
obrigando-a a me encarar, vendo como sua respiração se controla aos poucos.
Uma lágrima solitária escorrega por sua bochecha, e sou rápido em enxugá-la. Allyson
agarra meus pulsos com força, mas não para afastar minhas mãos, apenas como… uma âncora
que está trazendo-a de volta.
— Shhh… — sussurro, enquanto acaricio suas bochechas.
Aos poucos, sua respiração se estabiliza, e o aperto de suas unhas nos meus pulsos diminui.
Com certeza ficarão as marcas, mas não me importo com isso neste momento.
Allyson fecha os olhos e puxa o ar uma última vez antes de me deixar ver suas íris avelãs
novamente.
— Obrigada… — ela agradece e engole em seco.
— Confesso que é um medo nunca visto por mim — brinco, descendo meu polegar para seu
queixo.
— Na verdade, não é só um medo… — Allyson sussurra, pigarreando. — Tenho
kinemortofobia. Para simplificar, fobia de zumbis.
Assinto, agora escovando seu lábio inferior com o meu polegar, distraído.
— Como desenvolveu?
— Eu tinha dez anos quando vi A noite dos mortos-vivos, e nada nunca me deu tanto medo.
Juro, não conseguia tirar os olhos… — Allyson fala. — Desde então, passei a ter medo de que
minha avó se levantasse do quarto ao lado e viesse me morder sem a dentadura. Parecia que isso
ia acontecer a qualquer momento.
No instante seguinte, a sala ficou em um completo silêncio, e Deus é prova do quanto tentei
me manter sério diante do que eu acabei de escutar. Mas uma risada explode de mim, e eu solto
Allyson para cobrir a minha boca.
— Você… você está rindo da minha desgraça? — questionou, olhando-me incrédula.
— Desculpa, gattina, não deu para levar essa última parte a sério — defendo-me, enquanto
estico a mão para tocá-la de novo.
Allyson bate na minha mão e a afasta.
— Saia daqui, você fica rindo dos meus traumas! — resmunga, parecendo querer voar no
meu pescoço.
— O que eu posso fazer se é engraçado? — eu pergunto com divertimento. Mas, então,
sorrio para ela e dou um tapinha em sua coxa. — Mas, se serve de calmante, você tem medo de
uma coisa que não existe nem nunca vai existir.
Allyson arregala os olhos.
— Você sabe?! — ela ergue as sobrancelhas e me segura pelos ombros. — E se o governo
estiver escondendo os zumbis na Área 51? Já pensou?!
— Sua mente não para, não é? — Sorrio de lado, e ela revira os olhos e me solta.
— Depois não diga que eu não avisei — resmunga.
Acho engraçado como ela é teimosa e nunca dá o braço a torcer. Mas, como realmente é um
medo dela, ela não vai acreditar facilmente em minhas palavras.
Allyson ergue os olhos para mim e, inquieta, brinca com os dedos em seu colo. Ela morde o
lábio, uma mania que identifiquei nela sempre que parece absorta, mas que também testa ao
máximo o meu controle para não verificar como seria meu pau entre seus lábios.
Merda, alguns minutos ao lado dela e me sinto um ninfomaníaco. O pior de tudo é que
minha consciência não pesa.
— Chase, posso lhe fazer uma pergunta? — ela pergunta, e eu assinto, sem tirar os olhos
dela. — Você… também está tendo problemas com alguma ex?
Sinto meu corpo ficar rígido.
— Por quê? — pergunto ao invés de lhe dar uma resposta.
Allyson brinca com os dedos mais uma vez, e noto que está nervosa.
— Sem querer, ouvi Pietro expulsando uma garota daqui. Ele parecia com muita raiva e
mandou que ela ficasse longe de você… — fala timidamente.
Pietro. Como sempre, nada discreto. Sua boca pode ser facilmente confundida com um
megafone, mas estou feliz que tenha me defendido.
— Namoramos uma vez, mas ela não é importante — respondo.
— Foi há muito tempo? — ela continua a perguntar.
— Por que você quer saber disso? — Franzo o cenho defensivamente.
Qual a necessidade dela de querer saber de algo que houve há muito tempo?
— Não sei, acho que é porque você sabe mais sobre mim do que eu sei de você? — ela atira,
como se estivesse preso na sua garganta. Mas então suspira. — Mas não precisa falar se não
quiser. Não quero me meter na sua vida.
Talvez eu me arrependa do que farei agora, mas não sei se é a frustração em seu olhar, ou o
fato de ela estar certa, que faz com que eu me abra.
— Faz um ano e alguns meses — murmuro de modo indiferente.
— Chase… — ela me chama, e olho para ela. — Você deu um conselho ao Adam sobre
terminar com a ex dele antes que os abusos piorassem. A sua ex era abusiva com você?
Merda, Allyson.
Vou me arrepender de novo.
— Não precisa respon…
— Sim.
Admito em voz alta e a vejo erguer as sobrancelhas bem desenhadas. Passo a mão por meu
cabelo e quero fumar outro cigarro neste exato momento.
— Eu a amava, mas, ao que parece, não era tão recíproco assim — eu continuo enquanto
suspiro. — Demorei a perceber que ela me afastar dos meus amigos, me bater, mexer nas minhas
conversas sem permissão e me deixar sair apenas com ela não eram atos de alguém que ama.
Allyson fica em silêncio, mas não dura muito.
— Você quem terminou com ela? — pergunta cautelosamente.
— Não, ela quem terminou comigo. — Sorrio, brincando com o anel em meu indicador. —
Disse que eu não era o suficiente para ela e que perdeu dois anos da vida comigo. Disse que não
aguentava a minha carência, sendo que ela quem fez isso comigo quando botou na minha cabeça
que só ela iria me amar, mais ninguém.
É engraçado como, de maneira bem trabalhada, uma pessoa consegue fazer estrago na mente
de outra.
— Eu era totalmente dependente emocionalmente, eu fazia tudo por ela. — Coço minha
sobrancelha. — Mas aí ela disse que não me amava e simplesmente terminou comigo. Eu só
queria que ela tivesse dito isso antes de eu olhar para os lados e não encontrar mais nenhum
amigo.
Nesse dia, foi como sentir um gostinho do inferno antes de perceber que não era o fim do
mundo e eu poderia superar.
— Chase, eu… eu sinto muito… — Allyson lamenta, parecendo envergonhada por insistir.
Mas eu contei porque eu quis.
— Não se preocupe, gattina, agora já está tudo bem. — Sorrio para ela e dou de ombros. —
Por isso que aconselhei Adam a terminar, não gostaria de ver uma pessoa passar noites em claro
chorando enquanto se perguntava onde errou. Sei como é a sensação e não desejo para ninguém.
Por causa dela eu fui embora de Nova York e voltei para a Itália.
— Deve ter sido muito difícil… — murmura.
— E foi, mas certas coisas são livramentos.
Em certos momentos, pensamos que o mundo pode acabar quando aquilo que nos faz mal
vai embora. Eu me senti assim quando ela terminou comigo. Mas, com o tempo, vi que o ciclo
vicioso que havíamos criado tinha se rompido sem direito a remendos. E tudo bem, porque eu
não queria na época, mas hoje eu agradeço.
Reviro-me na cama e desenterro a cabeça dos travesseiros quando escuto o toque familiar do
meu celular repercutir por todo o quarto. Abro lentamente os olhos e me xingo mentalmente por
ter colocado Baby como toque do celular. Eu amo essa música, mas esqueci o quão irritante pode
ser.
Estico minha mão para pegar meu celular na cômoda e o trago para mim, franzindo o cenho
quando vejo que é a minha mãe. Estou muito feliz que eles amem a filha a ponto de ligarem para
ela quase sempre. Mas, por favor…
Hoje é sábado, e não tenho universidade, só quero dormir como não posso nos outros dias. E
ainda são sete da manhã, queria ao menos que ligassem às dez e meia.
Atendo à chamada de vídeo e me sento na cama aos poucos.
— Oi, mãe… — eu bocejo enquanto esfrego os meus olhos.
— Caralho, você consegue ser mais feia ainda quando acorda! — Escuto a voz do meu
irmão e afasto minhas mãos do meu rosto.
— Pensei que fosse a mamãe — murmuro, franzindo o cenho
— Não, sou eu. Sei que não me atenderia se ligasse pelo meu número, então liguei pelo da
mãe — Adrien sorri, travesso.
Eu apenas estreito meus olhos em sua direção.
— Primeiramente, feio é você — digo, sorrindo docemente. — E, segundamente, onde
enfiou seu senso para me ligar tão cedo da manhã?
Mesmo que Adrien e eu sejamos irmãos, somos um pouco diferentes. Seu cabelo tem um tom
preto natural e chega até a altura dos seus ombros. Ele também tem alguns piercings no lábio
inferior e na orelha, e seus olhos são de um azul profundo, exatamente da cor dos do nosso pai.
— Você é uma péssima irmã, sabia? — ele debocha com uma careta.
— Apenas diga logo por que me ligou tão cedo.
Ao meu lado, Justin dorme como um anjinho, e acaricio seu pelo sedoso, vendo-o abrir
minimamente os olhos antes de fechá-los novamente.
— A mamãe mandou avisar que nós vamos visitá-la — ele diz.
Arregalo os olhos e me paraliso, virando meu olhar para a tela como uma pessoa sendo
exorcizada faria.
— O quê? Quando? — pergunto com cautela, tentando não soar alarmada.
Não me levem a mal, amo a minha família, mas bem longe de mim.
Brincadeira. Meu apartamento pelo menos se torna um caos quando eles estão aqui, são
pessoas muito animadas que não param nem por um minuto quietas, sempre rindo e gritando, e
gosto disso, mas gosto mais de ficar um pouco sozinha.
Sinto falta deles, mas não estou preparada.
— Acho que na semana que vem. — Vejo-o dar de ombros e então apertar os olhos. — O
que é? Se não quiser nos ver, diga logo.
Estou pronta para afirmar seu sarcasmo quando minha mãe aparece na tela logo atrás de
Adrien, apoiando a mão em seu ombro enquanto se debruça em nossa direção.
— Não quer ver quem? — questiona, franzindo o cenho. Arregalo meus olhos.
— Oi, mamãe! Estou muito feliz que vocês vão vir me visitar! — Sorrio largamente, de
modo um pouco forçado.
Realmente estou, sério. Mas estou passando por uma fase não muito boa: o dinheiro está em
falta, não posso recebê-los como merecem e não posso contar a eles sobre o aluguel porque não
quero preocupá-los.
Já foi difícil sair de casa e mudar de cidade, imagine estar falhando porque não consigo dar
conta da minha vida adulta.
— Mentira dela, mãe! — meu irmão se intromete, com a intenção de foder a minha vida. —
Ela fez cara de bunda quando soube!
Puta por acordar cedo e sem paciência com ele por ficar fazendo isso, eu me irrito.
— Por que você não vai para a casa do caralho, Adrien? — pergunto entredentes. —
Sempre com essa infantilidade, por que você não cresce, porra?
— É tão lindo ver como vocês se amam e se dão bem… — minha mãe debocha, já
acostumada.
Temos vivido em pé de guerra desde que ela pôs esse resto de aborto no mundo e, desde
então, pago todos os meus pecados sendo sua irmã. Posso ter lhe dado um conselho dias atrás,
mas foi apenas uma ocasião rara em que não estamos nos matando.
E, a julgar como ele e nossa mãe estão conversando, ficou claro que se resolveram, e isso é
muito bom. Adrien é muito apegado a ela. Mamãe tem um gênio difícil, mas não desprezaria o
próprio filho pela sexualidade dele.
— Amor, você viu a minha gravata? — Meu pai aparece logo atrás dela e abotoa a sua
camisa social branca.
Adrien me mostra a língua, e não me contenho ao erguer o dedo do meio discretamente.
Sim, eu não faço a mínima ideia de quem é mais infantil aqui.
— Eu coloquei na sua gaveta. — Minha mãe olha confusa para ele.
— Mas eu não achei. Tem certeza de que colocou lá? — meu pai pergunta, igualmente
confuso.
Vejo minha mãe se afastar de Adrien e sumir da tela. Mas não acho que tenha ido longe o
bastante, porque eu ainda a ouço.
— Deixe que eu procuro — ouço-a resmungar.
Tenho plena certeza de que alguns segundos depois ela vai voltar com a gravata na mão,
gravata essa que pegou na gaveta onde ela disse que estava e meu pai não achou. Gostaria de
entender essa mágica que as mães fazem de achar coisas que só elas conseguem achar.
Meu pai se aproxima da tela do celular, e seu rosto se ilumina ao me ver.
— Você está bem, bebê? — ele fala com um tom carinhoso. — Papai vai visitá-la, estou
morrendo de saudades.
Mesmo eu tendo vinte e um anos, meu pai me mima muito, e digo com todas as letras e
orgulho do mundo que sou uma tremenda filhinha de papai. Não tenho vergonha nenhuma disso.
— Está bem, também estou com saudades. — Sorrio para ele, e meu irmão faz uma careta.
Ele finge enfiar o dedo na garganta, como se para vomitar, e o ignoro. Sei que é ciúmes. E
está tudo bem, porque mamãe é com ele como papai é comigo.
— Vou levar um dinheiro para você também — meu pai diz, e ergo as minhas sobrancelhas.
Mesmo sem precisar, nunca neguei o dinheiro que meus pais me dão. Mas, agora que
preciso, por que me sinto receosa em aceitar algo que vai me ajudar?
— Como assim o senhor vai levar dinheiro para ela? — Adrien franze o cenho. — Ontem eu
pedi, e o senhor disse que não tinha!
Eu sorrio convencida, bom, pelo menos é o que eu faço para fingir que não escutei o que o
meu pai disse.
— Aceite que o papai me ama mais. — Eu beijo meu ombro direito, debochando dele.
Adrien revira seus olhos claros e arqueia uma sobrancelha, devolvendo meu deboche com
uma zombaria silenciosa.
Por trás dele, vejo nossa mãe surgir com uma gravata preta nas mãos e uma carranca em
seu rosto, a mesma que ela faz quando diz algo e alguém discorda, como meu pai fez quando
teimou que a gravata não estava na gaveta.
— Se eu tinha certeza, você perguntou… — ela disse entredentes, parando ao seu lado. —
De frente para mim, Richard.
Ela manda e, com um sorriso amarelo, meu pai lhe obedece. Com um ódio que posso sentir
daqui, minha mãe passa a gravata ao redor do seu pescoço e começa arrumá-la, seus os olhos
assassinos estão fixos no rosto do meu pai.
— Bom, vou desligar, porque tenho lição para fazer. Até mais, feia! — Adrien diz, e eu
aceno, surpresa pela ligação ser encerrada cedo dessa vez.
— Tchau… — consigo dizer antes de ele desligar.
Apoio o celular em meu peito e afundo ainda mais a cabeça nos travesseiros, soltando um
gemido de frustração.
Eu ainda estou com sono, mas sei que não vou conseguir dormir. Então apenas resta me
levantar e adiantar tudo o que tenho que tenho para fazer, como trabalhos da universidade e até
mesmo daqui do apartamento.
Quanto à minha família, não posso simplesmente dizer para que não venha. Eu seria uma
filha da puta se fizesse isso e eu ainda tenho educação. A mesma que eles me deram. E, mais
uma vez, quero vê-los, mas gostaria que fosse em outras circunstâncias.
Jogo meu celular na cama e desço dela, saindo do quarto logo em seguida. Quando entro na
cozinha, Tess está lavando a louça de ontem à noite, colocando alguns copos e pratos no
escorredor da pia. Eu coloco as mechas rebeldes do meu cabelo atrás da orelha e vou até ela.
— Por que não me chamou, Tess? — pergunto, pegando um pano de prato para secar a
louça.
Minha melhor amiga me encara e só então vejo que o resto da cozinha também está limpo. O
que é impressionante, porque, pelo horário, não deveria estar assim. Ainda é muito cedo e seria
difícil para limpar sozinha, o que me leva a crer que Tessa acordou mais cedo do que o habitual e
limpou tudo, mas isso só pode ter acontecido por um motivo. Sinto que ela está ansiosa, e a
limpeza é como uma terapia para ela ao mesmo tempo que é um ciclo vicioso. Algo aconteceu.
— Você está bem? — pergunto enquanto seco uma caneca com meus olhos fixos em minha
amiga.
Ela apenas assente, sem me dar muita atenção com um sorriso mínimo nos lábios.
— Sim, por que não estaria? — Tess questiona, mas se mantém focada em limpar o último
item da pia, que é um liquidificador.
Pisco, e um suspiro quase inaudível desliza por meus lábios. Não penso em insistir, porque,
conhecendo Tess, isso só a fará se sentir sufocada e a afastará ainda mais. Só me resta esperar
que ela se sinta confortável para me contar, ou que sinta a necessidade de fazê-lo.
Tess limpa a pia ao encerrar a louça, e sou rápida em secá-la, pensando na ligação da minha
família minutos atrás.
— Meus pais e Adrien visitarão a gente semana que vem, tudo bem para você? — pergunto,
secando alguns últimos talheres restantes e os guardando na gaveta.
Tessa franze o cenho e assente com a cabeça como se não tivesse entendido minha pergunta.
— Claro que sim, amo seus pais. Eles são sempre muito engraçados. — Tess sorri e se
afasta da pia.
Eu não gosto de ver minha amiga assim: calada demais enquanto está inquieta. Ela está
assim há dois dias e tenho assistido à sua inquietude na minha, mas desta vez já não aguento
mais.
— Tem certeza de que está bem, Tess? Sabe que pode conversar comigo, não é? —lembro-
a, indo até ela.
Minha melhor amiga ergue os olhos escuros para o meu rosto, e analiso o piercing em seu
nariz, vendo como a pedrinha brilha. Ela assente, e um sorriso falso surge em seus lábios.
— Eu estou bem, amiga. Só estressada… — diz, tentando me tranquilizar. Então ela vai até
o cesto de lixo perto da pia. — Vou levar o lixo para fora.
Eu sou rápida em jogar o pano de prato em cima da mesa e correr até o cesto, chegando
primeiro que ela. Eu me abaixo e fico da altura dele para retirar o saco lotado e o amarrar.
— Deixe que eu levo, você já fez demais.
Tessa assente, e lhe dou as costas e saio da cozinha. Quero saber o que houve e o motivo por
trás de seus olhos tristes. Mas não quero pressioná-la, porque Tess não lida bem sob pressão e
sempre tende a ficar ainda mais fechada.
Porém, também quero saber se posso ajudar com algo, toda essa distância está me deixando
preocupada. Mas irei aguardar até que ela se sinta melhor e se abra comigo quando não for um
tópico sensível para ela, como sempre faz.
Saio do apartamento com a sacola pequena de lixo e peço o elevador. Instantes depois de eu
já ter jogado o saco na grande lata de lixo do prédio, agradeço a Deus por não estar com as mãos
fedendo. Também saí tão avoada que nem me lembrei de que tinha acabado de acordar e devo
estar toda descabelada.
Chamo o elevador e dou de cara com o senhor Carter, cujas mãos estão nos bolsos de sua
calça de tecido fino, que ele combina com uma camisa polo. Eu entro e solto meu cabelo do
elástico, puxando meus fios para trás e os prendendo em um coque mais uma vez por estar sujo e
feio. Assim que voltar do treino, irei lavar meus cabelos.
Eu me viro na direção do homem.
— Estava indo para o meu apartamento? — pergunto, como quem não quer nada.
— Não estou indo para o seu apartamento, senhorita Allyson. Não tenho sequer motivo para
ir lá — responde o homem de nariz em pé.
— Como não? Sei que o acordo é de duas semanas, mas o senhor perdeu a memória? —
Franzo o cenho, cruzando meus braços.
O senhor Carter me olha como se eu fosse louca e encara o relógio em seu pulso enquanto as
portas do elevador se abrem.
— Quem perdeu a memória foi você, afinal o aluguel foi pago ontem à noite — responde,
sem olhar na minha cara, porque seu relógio caro parece ser mais importante do que eu. — Ou
sua amiga não lhe contou?
Minha confusão apenas aumenta enquanto o vejo sair do elevador.
— Tessa? — pergunto.
— Você mora com outra? — O senhor Carter arqueia uma sobrancelha antes de as portas se
fecharem.
Como Tessa pagaria o aluguel quando ela também não trabalha? Isso não faz o menor
sentido e é claro que tenho certeza de que esse velho grosso se confundiu. Mas… ele falou com
tanta certeza e, mesmo que seja um poço de arrogância, tem a memória boa e nunca erra em seus
serviços.
O único jeito que Tessa teria de pagar nosso aluguel seria pedindo dinheiro a seus pais, e
eles não são exatamente as melhores pessoas do mundo, principalmente depois que Tessa se
assumiu bissexual e trouxe Kathleen para casa.
Mas… ainda é algo para se levar em conta e que vou tirar a limpo neste exato momento.
Quando o elevador para no meu andar, paro no meio do corredor e dou de cara com outra
surpresa. Mas essa pelo menos é boa e extremamente fofa e peluda. Eu caminho até o gato persa
branco que está balançando o rabo felpudo de um lado para o outro enquanto me encara.
— Que coisa mais linda… — murmuro boba enquanto o pego em meus braços.
Ele é um pouco pesado, mas apenas porque parece ser bem-cuidado. Vejo que tem uma
coleira e leio o nome nela, percebendo que, na verdade, se trata dela. É uma gatinha e se chama
Lady.
— Onde estão seus donos, você está perdida? — pergunto, olhando ao redor.
A gata mia e fecha os grandes olhos azuis quando faço carinho em seu queixo. Dou mais
uma olhada ao redor para ter certeza de que o dono não está por perto antes de entrar no meu
apartamento com ela. Será mais fácil achar seu dono com calma, tenho certeza de que, pela
maneira como ela é bem-tratada, também deve ser muito amada.
Fecho a porta, e a primeira imagem que tenho é de Justin correndo em minha direção. Ele
late para a gata em meus braços e apoia as patas pesadas em minhas pernas, tentando cheirar a
bola de pelo que seguro.
A gata autonomamente fica arisca e bate em seu focinho com as garras de fora. Eu sorrio,
porque Justin apenas parece eufórico e curioso por vê-la aqui.
— Onde encontrou esse gato? — A voz da minha amiga me chama a atenção, e olho na
direção dela, vendo que tomou banho.
— É uma gata que estava sozinha no meio do corredor. Eu a trouxe para cá para que
procuremos os donos — digo enquanto ando até o sofá e coloco a gata em cima dele assim que
me lembro do que o senhor Carter me disse.
A estranheza de Tessa desde que o nosso síndico veio cobrar nosso aluguel me faz levar em
consideração a ideia de que ela possa ter pedido dinheiro aos seus pais e, se o fez, aposto que não
foi uma conversa saudável.
— Tess, o senhor Carter disse que você pagou o nosso aluguel — começo, cruzando meus
braços. — Como conseguiu dinheiro?
Suas sobrancelhas se erguem, e sei que ela foi pega de surpresa. Tessa olha para as próprias
unhas e finge estar distraída.
— Eu dei o meu jeito. — É tudo o que ela diz ainda sem me encarar.
Eu suspiro e me aproximo dela ao mesmo tempo em que vejo a gatinha e Justin correndo
pelo apartamento.
— A não ser que você tenha feito um Only Fans, tenho certeza de que não conseguiria
dinheiro tão rápido — falo enquanto a encaro. — Pediu dinheiro aos seus pais?
Tessa ergue os olhos para os meus, pisca e engole em seco. Ganho um aceno de cabeça.
— Pedi, eles depositaram ontem à tarde e paguei o aluguel à noite quando você estava no
apartamento de Chase — ela admite.
— E qual foi a condição que seus pais nada homofóbicos impuseram para que depositassem
o dinheiro? — pergunto, já sabendo.
Tessa encolhe os olhos, parecendo lembrar-se de algo que deu em troca desse maldito
dinheiro. Agradeço que tenha pagado nosso aluguel, mas deve ter custado algo que minha amiga
mais ama no mundo todo, porque é assim que funciona com os pais dela.
— Eu disse que não estava mais com Kathleen — fala, abaixando a cabeça.
Ergo minhas mãos em sinal de exasperação.
— Porra, Tess, tudo o que eles queriam ouvir!
Minha amiga ergue a cabeça.
— O que queria que eu fizesse? Que fôssemos para a rua? — ela explode, vindo até mim. —
Eu fiz o que deveria ser feito e está tudo bem, porque eu menti e nunca vou deixar a Kat.
Eu suspiro.
— É, mas talvez ela fique triste por saber que você a está escondendo dos seus pais — eu
digo, pondo as mãos em seu ombro.
— Foi o único jeito, Ally… — Tess fala, e seus olhos marejam.
Eu a abraço e beijo seu cabelo, já que ela é pouca coisa mais baixa do que eu.
— Eu sei. Mas você lutou demais para sair daquela família tóxica para dar o braço a torcer
de novo — eu digo. — Depois converse com Kat e explique a situação antes que ela saiba por
outra pessoa. Não quero que briguem por besteira.
Tessa assente e enxuga os olhos. Eu pego seu rosto em minhas mãos e a faço olhar para
mim.
— E não precisa se sacrificar assim, você não mora sozinha, e sou sua melhor amiga, ouviu?
— pergunto a ela.
Ela assente, sorrindo. Eu a abraço de novo quando sinto que precisa, até que ouço o som de
algum vidro se quebrando e vejo a gatinha passar correndo por nós, desesperada com Justin, que
vem logo atrás.

O técnico do meu time voltou hoje e minhas colegas não poderiam estar mais felizes, já que
agora não vamos mais escutar ordens de Karen, e confesso que até eu estou contente porque, de
certa forma, nossa capitã já estava começando a ficar insuportável.
Sei que uma boa líder exige o melhor de quem ela lidera, mas Karen já estava passando dos
limites, principalmente comigo. Ainda fico intrigada com sua cisma em pegar mais pesado
comigo quando, na verdade, sou uma das melhores e não preciso de tanto. E não me desce mais
nenhuma desculpa que ela pense em dar de agora em diante.
Se a paciência de Karen é pouca, a minha é quase inexistente.
Eu saí de casa às quinze horas e pedi a Tessa que cuidasse de Justin e da gatinha que
encontrei na porta do nosso apartamento. Após isso, peguei um táxi e vim direto para a quadra da
minha universidade. Agora estou aqui, treinando feito uma condenada enquanto o suor já está
pingando da minha testa como se eu estivesse molhada por água.
Pareço, na verdade, ter tomado um banho de roupa e tudo.
— Venham aqui — o técnico chama, e suspiro, seguindo o resto do time até ele.
Ergo a minha camisa e abano meu pescoço com as mãos, tentando aliviar um pouco do
calor.
— Vocês realmente melhoraram muito enquanto estive fora, ótimo trabalho, Karen. — O
técnico sorri para ela, que retribui. Ele olha para mim com orgulho. — Allyson, você também
melhorou muito, estou impressionado com o fato de você conseguir salvar as bolas com tanta
facilidade.
Eu me pergunto se sua definição de facilidade é diferente da minha. Eu só falto morrer a
cada bola salva e nem estou exagerando. Será que ele não enxerga isso, ou apenas ignora porque
o futuro do time é mais importante?
— O próximo jogo é na semana que vem, se você continuar assim, tem grandes chances de
se tornar o destaque do time. — Ele dá tapinhas em meu ombro.
Esqueço minhas frustrações por apenas um minuto e me permito sentir orgulho de mim
mesma, mesmo que esteja sendo difícil tudo isso.
Um sorriso se abre em meus lábios, e sinto a euforia se instalar em meu peito. Não quero ser
jogadora de vôlei profissional, mas amo jogar e é completamente gratificante escutar uma coisa
dessas. Faz eu sentir que meus esforços estão valendo a pena.
— Obrigada. — Sorrio para ele.
Ele retribui e olha para o resto do time, segurando suas muletas com cuidado para se apoiar
nelas.
— Bom, acho que por hoje é só, já são sete e quinze da noite — ele diz, olhando para o
próprio relógio. — Podem ir.
Escuto os suspiros de alívios do time, caminho até o banco, jogo a minha mochila em meus
ombros e pego a minha garrafinha de água. Seco meu rosto e pescoço com uma toalhinha e a
jogo dentro de um bolso vazio na mochila antes de caminhar em direção à saída da quadra.
Talvez Chase já tivesse chegado do trabalho e aceitasse assistir a um filme comigo, já que
Tessa sairia com Kat. Aconselhei a ela que conversasse com a namorada e fosse sincera com ela
antes de virar um problema real. Não quero ver o meu casal favorito tendo alguma desavença por
falta de comunicação ou mentira.
No lugar de Kat, eu não gostaria de saber que minha namorada praticamente me esconde da
família dela. Sei que foi por uma necessidade, mas é por coisas assim que eles se sentem no
direito de comandar nossa vida, que é o que acontece com Tess. Sua família tem amarras muito
fortes sobre ela para impedi-la de escapar de uma vez.
Caminho pelos corredores e me preparo para passar pela saída da universidade, quando ouço
uma voz conhecida gritar por mim.
— Allyson!
Eu olho para trás e vejo Karen correr na minha direção com sua mochila nas costas e um
sorriso largo no rosto, enquanto seu cabelo longo voa atrás dela, espalhando seus fios escuros.
— Ah, oi, Karen. — Eu aperto o meu rabo de cavalo, querendo fugir daqui. — Precisa de
algo?
— Apenas saber se você quer uma carona. — Ela sorri para mim e dá um passo na minha
direção.
— Não, obrigada. — Sorrio forçadamente e dou um passo para longe dela. — Prefiro pegar
um táxi, não quero incomodar.
Karen avança mais uma vez e me surpreende.
— Ah, vamos! — Karen pega a minha mão direita e alargo mais seu sorriso. — Você não
incomoda.
Por maiores que sejam os sorrisos que Karen expõe, eles nunca alcançam seus olhos.
Parecem automáticos, como se programados para alguma ocasião, ou, não sei, algumas pessoas.
Mas nunca parecem vir do coração.
Eu olho para as nossas mãos unidas e suspiro. Não faço a mínima ideia do que Karen quer
de mim, se está interessada ou tem algum outro motivo por trás, só sei que já me irritou e tenho
que dar um fim nele, porque essa situação me deixa inquieta.
— Karen, olha… — eu começo, e ela me olha. — Qual a sua?
— Não entendi? — Ela franze o cenho, parecendo perdida.
Eu puxo minha mão da dela, surpreendendo-a.
— Você fica me rondando sempre que pode e oferecendo carona como se sua vida
dependesse disso. Sem contar que noto que às vezes cisma comigo — eu atiro de uma vez,
fazendo-a arquear a sobrancelha. Porém, não poupo o sarcasmo na minha voz. — Se eu tenho
algo que você quer, fale, ou então vou pensar que está terrivelmente apaixonada por mim.
Karen fica me olhando com seriedade por alguns segundos e até chego a pensar que
exagerei. Mas, então, ela explode em uma gargalhada sinistra e alta. Não sei por quê, mas o gesto
me irrita, porque não parece inocente.
Na verdade, parece que Karen está debochando de mim.
— Falei algo engraçado?
Ela enxuga uma lágrima e nega com a cabeça enquanto para de rir aos poucos.
— Estou rindo porque está achando que eu me apaixonaria por você, por favor. — Karen
revira os olhos, pondo as mãos na cintura. — Mas, já que foi direta e perguntou, também posso
ser e, sim, você supostamente tem algo que eu quero.
Franzo as sobrancelhas, confusa com o que eu poderia ter que é dela. Nunca peguei nada
emprestado de Karen.
— E o que seria? — questiono, cautelosa.
— Você é como uma ponte que vai facilitar que eu me aproxime dele.
Do que ela está falando? Por que não para de agir como uma doida falando em códigos?
— Pode ir direto ao ponto, Karen? Eu tenho pressa — respondo, ríspida. — Aproximar-se
de quem?
Ela se aproxima um pouco e sorri de orelha a orelha de maneira estranha.
— De Chase.
Mas que…
— Você estava me usando para se aproximar de Chase? — pergunto, um pouco confusa.
Eu nunca notei nenhuma interação entre eles, mas também não é como se eu tivesse colada
com o meu vizinho vinte e quatro horas por dia. Mas, ainda assim, é uma surpresa.
— Na verdade, para me reaproximar. — Ela dá ênfase à última palavra, dando de ombros.
— Eu o quero de volta.
No início dessa conversa, eu estava muito confusa. Mas, mesmo eu sendo lenta, coloquei a
cabeça para trabalhar um pouco e cheguei a uma resposta de que não tenho certeza, porém eu iria
arriscar.
É a única que foi lógica o suficiente para fazer tudo se encaixar, e me sinto até um pouco
maluca por chegar a isso. Mas talvez eu não esteja errada.
— Você é a ex abusiva dele — declaro, olhando-a de cima a baixo.
Karen sorri e bate os cílios para mim de maneira inocente. Ela não nega, e isso é o suficiente
para encará-la com o maior dos desprezos.
— Eu nunca fui abusiva com ele. — Ela passa as mãos pelo cabelo, parecendo indiferente.
— Ele só está confuso, é natural para alguém tão instável quanto ele. Sei que ele me ama muito.
Chase? Instável?
— Amava — eu dou ênfase. — Você fodeu o psicológico dele, acha mesmo que ele
continuaria a amá-la depois de tanto tempo?
Eu não deveria estar comprando uma briga que não é minha, mas agora que eu sei que Karen
é a ex de Chase, a pessoa que estragou a vida dele, tudo que sinto por ela é repulsa.
Ainda mais por ver que ela é parecida com Kevin, que pensa que o amor é infinito, não
importa o quanto você erre com a outra pessoa. Mas acontece que uma hora ele acaba e, alerta de
spoiler, não tem estoque.
— Ele lhe disse que não me amava mais? — Karen arqueia a sobrancelha e a olho, incapaz
de responder a essa pergunta, já que nunca perguntei a Chase. — Foi o que eu pensei.
Ela sorri com superioridade diante do meu silêncio, como se fosse a resposta que ela
procurava. Eu cerro os meus punhos.
— Se você tiver um pouco de caráter, não vai se aproximar dele de novo — eu digo
entredentes.
— Por quê? Vocês estão saindo? — Karen pergunta, jogando o cabelo por cima do ombro.
— Isso deixou de ser da sua conta no dia em que você terminou com ele, não acha? —
Sorrio de lado, pondo as mãos na cintura.
— Nossa, que corajosa. É fofo até, mas aproveite enquanto ele e eu não voltamos, Allyson.
— O sorriso dela agora é largo. Doentio.
Merda, como nunca desconfiei disso, estava bem debaixo do meu nariz esse tempo todo.
— Fique longe dele, Karen — eu mando, quase rosnando.
Não espero por uma resposta quando me viro para ir embora e lhe dou as costas. Não vou
descer ao nível dela e brigar, é exatamente isto que ela quer: arrancar minha paciência.
— Pensei que não brigasse por homem, Allyson — Karen diz, e essas mesmas palavras me
fazem parar de andar.
Eu me viro lentamente para olhá-la e encaro o sorriso cínico e seus olhos cheios de maldade
me analisando de volta. Percebo que, mesmo sorrindo, Karen também está começando a ficar
irritada.
— Chase não é qualquer homem, Karen. — Sorrio para ela. — Ele é meu amigo e, acredite,
eu faço tudo pelos meus amigos, então nem pense em fazer mal a ele, ou eu juro… — dou uma
pausa — que eu vou acabar com você.
Dito isso, dou-lhe as costas de maneira definitiva e não paro de andar para longe dela e de
todos os podres que descobri e a cercam.
Dessa vez, Karen não falou mais nada. Ela deixou que eu caminhasse para fora da
universidade. Caminho pelo estacionamento, chamo o primeiro táxi que vejo e entro nele. Eu
suspiro e fecho meus olhos para processar a bomba jogada em minhas costas, bomba essa que
nem em um milhão de anos eu descobriria por mim mesma.
Karen afastou todas as pessoas de Chase, mas ela está muito enganada se acha que
conseguiria de novo. Dessa vez, Chase não vai ter o problema de olhar para o lado e não
encontrar mais nenhum amigo porque todos foram embora. Eu garanto que farei o possível para
mantê-lo longe de Karen se essa for sua vontade.
Sei que ele pode se defender sozinho, mas ainda estou aqui para ajudá-lo assim como fiz
com Adam.
O táxi me deixa em frente ao meu prédio e pago o motorista, descendo do carro em seguida.
A passos apressados entro no prédio e dessa vez cumprimento o porteiro de meia-idade com um
aceno de cabeça quase inexistente. Estou com tanta raiva que não consigo ser mais simpática que
isso.
A desgraçada da Karen estava apenas me usando para se aproximar de Chase, como não
percebi isso antes? Pior, ela é a ex abusiva sobre a qual ele sempre reluta em falar, a pessoa que o
deixou tão mal por tanto tempo e que destruiu seu psicológico. Eu realmente não devia ter
comprado essa briga, mas não me arrependo. Chase é meu amigo, e eu não deixaria que vaca
nenhuma voltasse a fazer mal algum a ele.
Sempre fui superprotetora com meus amigos, desta vez não será diferente.
Chamo o elevador e entro apoiando minhas costas nas paredes de metal. Arrumo meu rabo
de cavalo e desço meu short do uniforme quando o sinto subir um pouco demais. Assim que o
elevador para no meu andar, saio do elevador e caminho em direção ao meu apartamento,
parando no meio do corredor quando vejo Tessa parada na nossa porta e Chase de frente para ela,
segurando a gatinha que encontrei hoje mais cedo.
Eu me aproximo deles, e Justin sai do apartamento para ficar em pé e apoiar as patas nas
pernas de Chase, tentando brincar com a gata. Mas acontece que essa brincadeira quase destruiu
o meu apartamento por inteiro.
— Agora que você chegou, eu vou indo nessa, estou atrasada! — Tessa se inclina para beijar
a minha bochecha e sorri para nosso vizinho ao se afastar. — Tchau, Chase!
Ela diz antes de sair quase correndo, com seus fios vermelhos balançando no ar com o
processo. Sorrio, desejando que Kathleen entenda o lado dela mesmo que não tenha sido uma das
melhores ideias.
Tessa chama o elevador, e aproveito isso para perguntar a ela:
— Você ainda volta hoje?! — eu grito para ela.
— Nem me espere! — Tess grita de volta, sumindo no elevador quando ele chega.
Eu dou de ombros, gostando de que ela esteja confiante. Olho para Chase, vendo que ele já
me olha com um meio-sorriso, revelando a estúpida covinha que sou péssima em ignorar.
— Do que está sorrindo, italiano? — pergunto, querendo entender.
— De você querendo roubar a minha gata — ele diz enquanto sorri.
Eu aperto meus olhos em sua direção ao ouvi-lo me chamar de ladra bem na minha cara.
Nunca vou entender a ânsia que ele tem pela morte.
— Eu não rou… — calo-me quando absorvo suas palavras. Ergo as sobrancelhas. — A
gatinha é sua?
Chase assente com a cabeça.
— Sim. Linda, não?
— Eu não sabia que era sua, não a vi em sua casa ontem nem quando… — eu me
interrompo ao me tocar do que iria dizer.
Meu vizinho sorri de lado, e não é nada mais do que cafajeste.
— Quando o quê? Pode dizer, Ally — provoca com a voz rouca.
Limpo a minha garganta, sentindo o rubor subir por meu colo.
— De qualquer forma, não tentei roubar sua gata. Ela estava sozinha no meio do corredor, e
eu quis achar o dono — defendo-me e me aproximo dos dois.
Justin se senta sobre as patas traseiras e encara Lady como se ela fosse a coisa mais
fascinante do mundo, diferentemente dela, que o olha como se pudesse fatiar seu focinho com as
próprias unhas.
— Pietro deve ter deixado a porta aberta sem perceber — Chase diz.
Eu passo meus dedos sobre o pelo da gata, que fecha os olhos. Ela se inclina um pouco mais
na direção do meu toque e mia.
Eu olho para Chase, que tem um sorriso nos lábios enquanto encara a cena que se desenrola
na sua frente. Lembro-me de Karen mesmo que eu não queira, e isso faz a raiva querer sair de
novo, mas me contenho. Tenho que me distrair.
— Vai fazer alguma coisa agora? — pergunto, alisando o pelo de Lady.
— Por que, Ally? — Chase inclina a cabeça para a esquerda, sorrindo de lado. — Quer me
convidar para sair?
Eu reviro os olhos, um sorriso brota em meus lábios diante de sua brincadeira. Ele é tão
idiota.
— Não se ache tanto. Apenas estou perguntando se quer entrar e assistir a um filme comigo.
— Afasto minha mão de Lady e arrumo minha mochila em minhas costas.
Chase ergue as sobrancelhas e cobre a minha testa com a mão esquerda. A aproximação faz
com que eu sinta o cheiro do seu sabonete, então noto que a regata branca que ele usa e a calça
moletom acompanhados pelo cabelo úmido evidenciam que ele tomou banho.
Com certeza deve ter chegado da oficina há pouco tempo.
— O que foi? — Franzo o cenho e me inclino para trás.
— Está doente? — ele provoca.
Eu o olho com raiva e bato na mão dele, afastando-o de mim. Deveria virar um palhaço.
— Quer, ou não? — Ponho as mãos na cintura.
Chase sorri.
— Claro que quero, gattina.
— Você já tem uma gata, por que fica me chamando de gatinha?
Chase se aproxima de mim e para quando está a alguns centímetros de distância do meu
corpo. Ele se curva para ficar do meu tamanho e leva a boca para a minha orelha esquerda.
Fecho meus olhos por breves segundos antes de me recompor.
— Não conte para Lady, mas… — Sua voz acaricia a pele de meu pescoço, e posso sentir
seu sorriso. — Acho que você é a minha gattina preferida.
Ele passa por mim e entra no meu apartamento com sua gatinha nos braços, acompanhado
por Justin e me deixando totalmente sem reação para trás. Chase sempre age como se não
dissesse a coisa mais desestabilizante.
Balanço a cabeça e entro no meu apartamento antes de fechar a porta. Chase já está sentado
no sofá e com Lady em seu colo. Justin também está ao seu lado e olha para a gatinha enquanto
abana o rabo sem parar. Ele realmente parece ter gostado dela.
— Eu… eu vou tomar banho, já venho — eu digo enquanto atravesso a sala, sem esperar
uma resposta enquanto ainda sinto meu rosto queimar.
— Tudo bem, vá lá. — Escuto-o dizer antes de dobrar o corredor.
Caminho em direção ao meu quarto, entre nele e jogo a minha mochila em cima da minha
poltrona. Tiro meus tênis e os coloco perto da porta do quarto, marchando para o banheiro.
Fecho a porta e, logo após, tiro a roupa e a coloco no cesto quase vazio.
Vou tomar um banho rápido, mas longo o suficiente para diminuir o calor em meu rosto e no
resto do meu corpo. Eu me sinto quente.
Solto o meu cabelo e ligo o chuveiro, deixando que a água caia por todo o meu corpo. Pego
o xampu e lavo o cabelo, ensaboando o meu corpo com o sabonete líquido. Alguns minutos
depois, retiro o xampu e o sabonete do meu corpo e desligo o chuveiro. Olho ao redor e franzo o
cenho ao ver que a minha toalha não está no banheiro.
Reviro os olhos e bato na minha própria testa. Porra, eu esqueci a toalha.
Vou até a porta do banheiro e a abro, colocando a cabeça para fora, a fim de ver se não está
ao menos no meu quarto. Nada. Eu teria que pedir para o cara sentado no meu sofá, o mesmo que
me fez correr para dentro do banheiro como se estivesse pegando fogo. Vamos lá, Ally.
— Chase! — eu grito por ele, tentando esconder a vergonha antecipada.
Instantes depois, ele bate à porta.
— Sim? — escuto a sua voz.
Eu limpo a garganta.
— P-pode pegar a minha toalha? — eu pergunto. — Deve estar estendida na varanda perto
da cozinha!
Chase não responde nada, e deduzo que ele deve ter ido buscar a toalha e agradeço muito
isso, porque, se ele tivesse me feito falar um pouco mais, acho que eu não conseguiria. Sou sem-
vergonha nível hard, mas também sinto vergonha com facilidade. Espere… acho que deu para
entender.
Metade do meu corpo está para fora do banheiro, e penso que Chase não a encontrou. Mas,
de repente, a porta é aberta e me paraliso. Os olhos de Chase descem para os meus seios e, na
verdade, é a única coisa que ele pode ver, já que a dobradiça esconde a região entre as minhas
pernas.
Chase caminha lentamente com a minha toalha nas mãos e ergue os olhos para o meu rosto
quando fica de frente para mim. Minhas bochechas estão queimando, mas só não é pior do que o
frio na minha barriga diante da situação.
— É essa? — Sua voz é rouca.
Eu deveria cobrir meu corpo, mas para quê? Chase já tinha visto tudo, e eu gosto dos olhos
dele em mim e não conseguiria me mover nem se eu quisesse. Sinto-me incapaz.
Coloco a mecha do meu cabelo molhado atrás da minha orelha.
— É, sim… valeu. — Pego a toalha que Chase estende para mim e olho para ele por baixo
dos cílios.
Seu rosto é sério, não me dando nem um vislumbre do que ele está pensando. Mas seu
queixo está travado. Isso é bom ou é ruim?
— Não vai se cobrir? — Chase pergunta, inexpressivo.
Parece a cena do seu apartamento.
— Eu estou muito confortável assim — digo, erguendo o queixo.
Não sei o que é, mas a maneira como seus olhos escurecem de luxúria me dá mais coragem.
— Não me provoque quando você está pelada na minha frente, Allyson — Chase avisa e se
aproxima de mim até que estejamos a centímetros um do outro.
Deus, que vergonha.
— Por que não, Chase? — Ergo o rosto para encarar seus olhos. — O que você vai fazer?
— Você não quer saber, Allyson. — Ele abaixa o tom de voz, e seu hálito quente acaricia o
meu rosto. — Você fez de propósito, não é? Tudo malditamente calculado — rosna.
Eu sorrio
— Seu ego é enorme.
— Se disser que é para compensar o tamanho do meu pau, vou pensar que quer que eu,
novamente, prove que não é caso — fala enquanto deslizo o dedo por seu peito.
Chase não me para, nem quando, de maneira incerta, dou mais um passo em sua direção.
Agora não resta mais nenhum espaço entre nós.
— E se eu disser que quero?
— Está jogando um jogo perigoso, Allyson.
— Por quê? Não foi você quem propôs uma amizade com benefícios? — Fico nas pontas
dos pés e deslizo meu nariz pelo dele. — A gente não precisa complicar nada. Sem sentimentos,
lembra?
No instante seguinte, as mãos de Chase agarram a minha cintura e, em vez de me puxarem
para fora do banheiro, me empurram para dentro. Deixo a toalha cair, e nós damos alguns passos
para trás antes de minhas costas baterem contra os azulejos da parede. Chase cola os nossos
corpos, e o tecido de sua camisa se atrita com meus seios nus.
Sorrio com o lábio entre os dentes e olho para ele.
— Você adora me provocar, não é, Allyson? — Suas mãos apertam a minha cintura com
mais força, e seus olhos se fixam em minha boca.
Eu a umedeço.
— Talvez. — Deslizo minhas mãos pelos braços dele e agarro sua nuca. — E tenho certeza
de que você gosta muito disso.
— Apenas diversão, não é?
Sorrio rente a seus lábios para sussurrar.
— De mentirinha.
Chase solta um grunhido e, em seguida, seus lábios se chocam contra os meus. Fico nas
pontas dos pés e abro a boca para receber a sua língua, que encontra a minha, e se envolvem em
uma dança lenta e sensual. As mãos de Chase descem para a minha bunda nua e agarram a minha
carne, puxando-me contra o seu quadril.
Solto sua nuca e desço minhas mãos para a barra de sua camisa, tirando-a de seu corpo e a
jogando no piso do banheiro. Chase chupa a minha língua, e arranho o seu peito, o que o faz
apertar a minha bunda com mais força e a me pressionar contra a dureza notável coberta pela
calça de moletom.
Gemo com o contato, e nossas bocas se separam quando a falta de oxigênio se faz presente.
Os lábios de Chase descem para o meu pescoço e chupam a minha pele.
— Perché dovevi essere così caldo e profumato, gattina? — Ele morde o meu pescoço, e
puxo os cabelos de sua nuca.
— Chase, se você for falar sacanagem, peço que fale na minha língua para que eu possa
devolver — eu resmungo enquanto me esfrego nele.
— Pode deixar — ele ri e vai descendo os beijos por meu colo até parar em meus seios.
Chase fecha os lábios ao redor de meu mamilo esquerdo, e grito, jogando a cabeça para trás,
encontrando os azulejos. Seguro sua nuca e mantenho a sua boca em meus seios, não permitindo
que ele se afaste. Ele morde a pequena carne, e sinto uma fisgada entre as minhas pernas. Ela
lateja neste exato momento.
— Chase… — gemo quando ele troca de mamilo.
— Eu adoro estes, Allyson. — Ele arrasta a língua por um mamilo e passar seu polegar no
outro.
Eu mordo meu lábio com força e sinto a umidade crescer na minha parte mais íntima e
sensível, eu estou totalmente excitada.
Chase para de brincar com meus seios e desce os beijos por minha barriga até estar
ajoelhado diante de mim. Seus olhos encaram o triângulo entre as minhas pernas, então ele ergue
o olhar para mim com um meio-sorriso.
Eu nunca agradeci tanto por ter me depilado antes de ir para o treino.
Eu passo a língua por meus lábios secos, e um suspiro sai deles. Chase mordisca a parte
interna da minha coxa e brinca comigo. É torturante. Ele pega a minha perna esquerda e a coloca
em seu ombro, abrindo-me para ele.
Minha respiração falha quando ele desliza a ponta da sua língua por minhas dobras
encharcadas até achar meu clitóris, onde ele fecha os lábios e o chupa. Minha coluna se arqueia e
agarro os cabelos de Chase, gemendo.
Ele agarra minha nádega e segura pela coxa a minha perna que está em seu ombro. Chase
me abre ainda mais, e sua cabeça mergulha, sua língua macia me lambe de cima para baixo por
completo e vagarosamente. Eu grito e tento manter meus pés firmes para não cair, seria um
vexame.
Mas como me manter firme quando Chase me lambe como se eu tivesse o melhor gosto do
mundo?
— Por favor… — peço chorosa quando ele sacode meu clitóris com a língua.
— Você não para de ficar molhada, gattina… — Olho para baixo e o encontro a me encarar.
— Você está tão encharcada.
Fecho os olhos e mordo os lábios com tanta força que sinto o gosto de sangue. A língua de
Chase entra em mim, e não consigo me conter quando começo a rebolar em sua língua,
acompanhando o ritmo dela, que entra e sai de mim lentamente. Preciso de mais.
Solto os cabelos de Chase e levo as mãos dele para os meus seios, e elas acariciam os meus
mamilos duros e doloridos, aumentando ainda mais a minha excitação. Ele gira a língua dentro
de mim, e choramingo alto, soltando meu seio e me segurando no registro do chuveiro. Mas
minha mão escorrega, e acabo ligando-o.
A água cai sobre nós dois, mas nem assim ele afasta a boca de mim. Choramingando
baixinho, assisto à água molhar os cabelos de Chase e todo o seu corpo e calça, e esta se gruda ao
enorme volume que ele tem entre as pernas.
Um espasmo toma conta do meu corpo, e o prazer se reúne no pé da minha barriga.
— Chase, eu vou gozar… — Arqueio violentamente as costas. — Eu só quero gozar com
você dentro de mim!
Chase sorri e mordisca minhas dobras.
— Mas eu quero que você goze na minha boca, Ally. — Chase assopra a minha boceta,
fazendo-me ofegar. — E é assim que você vai gozar.
E enfia a língua dentro de mim mais uma vez, agora dura.
Eu solto um grito estrangulado, e os dedos dos meus pés se encolhem devido ao prazer e ao
meu orgasmo mais do que próximo. Chase me pagaria por isso, ele acha que pode fazer o que
quiser comigo, mas eu vou mostrá-lo que quem manda nessa porra sou eu. Mas, no momento…
estou sendo um pouco hipócrita.
Minha coluna se arqueia com violência quando gozo na boca de Chase, e fecho os olhos
quando a minha visão escurece. Seguro os cabelos dele com força e choramingo quando, mesmo
eu já tenho gozado, Chase continua a me lamber.
Ele tira a minha perna trêmula de seus ombros e se ergue, fazendo um rastro com a língua da
minha parte sensível até o meu pescoço. Ele a arrasta pelo meu queixo, e separo meus lábios para
recebê-la.
— Eu… eu disse que não queria gozar assim! — consigo dizer entre as mordidas que ele
deposita em meus lábios.
Estou trêmula em seus braços, e ele me segura com fome enquanto maltrata minha boca.
Eu escorrego uma mão por entre nossos corpos e agarro a ereção de Chase, sentindo o quão
dura e pesada ela está ao puxar para fora da calça. Isso causa uma reação dentro de mim, e meu
vizinho arfa baixinho quando o masturbo e em seguida geme quando deslizo a cabeça de seu pau
por minhas dobras.
— Allyson — ele pronuncia meu nome com dificuldade.
— Eu quero seu pau dentro de mim, Chase. — Eu beijo o pescoço dele e subo meus lábios
para a sua orelha — Eu quero que você me foda fundo e forte, do jeito que você sabe que eu
gosto.
Ele ofega e aperta a minha bunda, puxando-me para si. Eu quase gemo quando meus
mamilos pressionam o seu peito nu. Em algum momento de que não me lembro, tirei sua camisa.
— Eu não tenho camisinha aqui, Ally. Você tem? — Chase sobe as mãos para a minha
cintura.
Mordo meu lábio e nego com a cabeça. Vivi em celibato por um ano, como ele pode
perguntar isso? Eu quase solto uma gargalhada.
— Você se importa em fazer sem? — ele pergunta, gemendo baixinho quando eu acelero a
minha mão.
— Fazer… fazer sem camisinha? — Ergo minhas sobrancelhas.
— Eu não tenho nenhuma doença — Chase diz, encarando-me cheio de desejo.
— Eu também não, mas a camisinha não é só para prevenir doenças — falo, beijando seu
queixo.
— Eu gozo fora — ele fala, fazendo-me inclinar a cabeça para trás.
Eu só posso estar louca, como posso aceitar isso por causa de um pau? Um muito grande,
por sinal.
— Você goza fora.
Chase assente e desliga o chuveiro.
Ele desce as mãos para as minhas coxas e me ergue, obrigando-me a entrelaçar minhas
pernas em sua cintura a fim de me grudar à parede. Ele ainda está de calça, mas eu apenas
preciso do seu pau de fora.
Agarro a nuca de Chase e beijo seus lábios quando o sinto encaixar seu pau em minha
entrada.
— Espero que você grite muito, gattina — ele sorri, e é seu último aviso antes de entrar em
mim.
Abro a minha boca em um gemido mudo e colo minha testa na dele. Senti-lo diretamente em
mim, sem nenhuma proteção, é inexplicável. Chase está muito quente e pulsando diretamente
dentro de mim.
Céus, como isso é bom. Nunca vou me cansar de falar o quão burra fui de ficar sem isso por
tanto tempo. Sinto-me uma virgem descobrindo o mundo, mesmo já tendo feito sexo inúmeras
vezes. Mas este em questão é maravilhoso.
Jogo minha cabeça para trás e gemo alto. Ouço Chase grunhir.
— Porra, não sabia que a sua boceta poderia ficaria ainda mais gostosa… — Ele sorri com a
boca rente à minha, agarrando a minha bunda e me puxando contra si.
Eu fecho os olhos e não tenho como responder quando ele começa a me foder, rapidamente
e com força, assim como eu pedi instantes atrás. Meus mamilos estão espremidos contra o seu
peito e deslizam por ele quando ele vai e vem dentro de mim.
Cravo minhas unhas em suas costas e o beijo, chupando sua língua e o escutando gemer.
Lanço meu quadril contra o dele e rebolo em seu pau, acompanhando o seu ritmo cadenciado.
— Sim… Sim… — eu gemo quando ele gira o quadril dentro de mim, fazendo-o alcançar
todos os meus pontos. — Assim mesmo, Chase!
Ele geme de forma rouca quando eu contraio a minha entrada e o sugo para dentro de mim.
Ele dá um tapa em minha bunda e me faz arquejar de tesão.
— Cazzo, não faça isso se quiser que eu dure, Allyson! — Chase rosna.
Eu olho para ele com os olhos semicerrados de prazer e noto que tenho efeito sobre ele do
mesmo jeito que ele tem sobre mim.
Encaro seus lábios entreabertos a soltar gemidos roucos e o que parecem ser xingamentos
em italiano. Estou em êxtase, no mais puro prazer que neguei a mim mesma.
— Vamos para a cama, Chase, eu quero montar em você. — Escondo meu rosto em seu
pescoço e chupo a sua pele. Eu quero deixar a minha marca.
Chase não diz nada quando me desgruda da parede, e firmo minhas pernas em sua cintura.
Eu tiro os fios molhados de sua testa e os agarro, rebolando em seu pau enquanto ele anda
comigo para fora do banheiro.
Eu estou parecendo uma gata no cio, mas não ligo. A calça dele já está começando a me
incomodar, e eu o quero totalmente nu, e é assim que ele vai ficar quando eu fizer o que tenho
em mente.
Chase nos leva para a cama e se mantém sobre mim. Provavelmente nós estamos molhando
os lençóis, e eu não poderia me importar menos.
— Chase, eu quero fazer uma coisa com você. — Eu envolvo minha mão em seu pescoço e
agarro suas costas com a outra, enquanto minhas pernas ficam em sua cintura.
— Já não estamos fazendo? — Ele sorri e me estoca com força.
Eu aperto o seu pescoço e me contorço debaixo dele, gemendo alto. Merda, assim eu perco
o foco.
Eu tiro sua calça com meus pés, e ele a joga no chão sem sair de cima de mim, e lhe
agradeço, porque a distância me deixaria louca de frustração neste momento.
— Apenas… — minha voz falha quando ele morde meu queixo. — Apenas se deite na cama
com os ombros contra a cabeceira.
Chase sorri e me olha desconfiado, abaixando a cabeça para me beijar. Recebo a sua língua e
o sinto sair de dentro de mim lentamente, arrancando-me um gemido baixinho.
Assim que já estamos separados, eu o olho e o observo se deitar como eu mandei. Ele
entreabre as pernas e sorri com o lábio inferior entre os dentes quando bate em suas coxas,
chamando-me para me sentar nelas. Eu sorrio e nego com a cabeça, saindo da cama e indo em
direção à gaveta do meu guarda-roupa. Abro-a e retiro a minha gravata do uniforme do meu
antigo colégio, a qual guardo comigo até hoje. Como devem ter notado, tenho um apego a coisas
antigas.
Viro-me para Chase e o pego encarando meu corpo nu, algo que me faz sentir linda e
envergonhada ao menos tempo. Vou até ele e subo na cama, sentando-se em suas coxas.
— Mãos na cabeceira — eu mando quando Chase agarra a minha bunda com as duas mãos.
Ele parece ter dificuldade em não me tocar, e gosto disso, porque sinto o mesmo.
— O que pretende? — Chase sorri e se inclina para devorar os meus seios.
Aperto a gravata com força para não gemer quando ele prende meu mamilo entre os dentes e
o puxa. Sinto uma fisgada em minha entrada e posso ter certeza de que Chase percebeu como
fiquei molhada.
Eu respiro fundo.
— Eu disse mãos na cabeceira, não pode me tocar. — Eu empurro seu peito, fazendo-o colar
as costas na cabeceira.
Chase ri alto, e o olho inocentemente. Isso, vai rindo, desgraçado. Você mal sabe o que o
aguarda.
— Como quiser. — Ele ergue as mãos para o alto, acima da cabeça.
Eu sorrio e me debruço sobre a sua barriga para amarrar as mãos dele com a gravata. Mas,
graças a essa posição, minha bunda fica bem em cima do pau de Chase, e o sinto erguer o quadril
para esfregá-lo em mim. Tento ignorar isso, mas com muita dificuldade consigo finalmente
amarrá-lo fortemente.
Assim que ele já está como eu quero, sorrio travessa e jogo o meu cabelo para o lado, vendo-
o totalmente imobilizado.
— O que tem em mente, Ally? — Chase pergunta, levemente desconfiado.
Debruço-me sobre seu peito e apoio minha mão nele enquanto envolvo seu pescoço com a
outra.
— Eu disse que só queria gozar com você dentro de mim, mas você me ignorou. — Mordo o
queixo dele e esfrego minha bunda em sua ereção.
— E daí? — Chase ergue a sobrancelha esquerda e me provoca.
— E daí que isso não vai ficar assim. — lhe dou um selinho demorado, sentindo seu pau
cutucar a minha entrada.
— E o que você vai fazer? — ele pergunta com a voz arrastada. — Reverter o orgasmo?
Meio impossível.
Eu sorrio diante de sua provocação.
— Você não vai poder me tocar, Chase. — Eu deslizo meus lábios pelos dele. — Eu vou
sentar, cavalgar e quicar em você até eu não querer mais, e você vai apenas observar.
Sorrio rente à sua boca, reforçando o aperto em seu pescoço.
— Deveria ser um castigo? — Ele sorri de modo convencido, e arqueio a sobrancelha.
Solto o seu pescoço, estiro minha língua para fora e lambo o pescoço dele. Chase arfa e se
mexe inquieto quando eu deslizo minha língua por seu peito largo. Eu contorno o mamilo
esquerdo dele, e meu vizinho arqueia as costas. Seu pau está ainda mais duro, e não me contenho
quando me esfrego nele
— Allyson… — Chase geme meu nome quando chupo seu mamilo mais uma vez. Ouvi
dizer que alguns homens são sensíveis aqui.
Ele está tão vulnerável. Tão à minha mercê.
Eu afasto a minha boca dele e me sento sobre sua virilha. Chase respira com um pouco de
dificuldade, e sorrio enquanto levo minha mão direita para trás e agarro seu membro rígido, duro
e pesado.
Eu me ergo um pouco para encaixá-lo em minha entrada.
— Pare com isso, Ally. Você ama as minhas mãos em você, gattina — Chase sorri. — Não
me deixaria amarrado por muito tempo.
Apoio minha mão esquerda em seu peito.
— Dessa vez, quem vai implorar será você, gattino. — E me sento.
Seu pau entra aos poucos em mim, e nós gememos ao mesmo tempo. Chase joga a cabeça
para trás, e eu sorrio, agora espalmando minhas duas mãos em seu abdômen tatuado quando o
sinto me preencher por inteira.
— Me desamarre, Allyson — rosna, ofegante.
Eu o ignoro, fingindo que ele nem mesmo está falando.
Eu gemo quando dou mais três reboladas e contenho a frustração por querer ir mais rápido,
mas não poder. Eu quero torturar Chase, mesmo que nesse processo eu seja torturada também.
Mas está sendo tão difícil.
Desço e subo sobre Chase e jogo meu cabelo para o lado. Chase me olha com raiva, um
aviso silencioso de que acabaria comigo caso se soltasse.
Prendo meu lábio inferior entre os dentes e dou fim à tortura quando não aguento mais.
Acelero as reboladas no pau de Chase, e ele joga a cabeça para trás, gemendo alto e com a voz
rouca. Meu quadril vai e vem sem controle, totalmente focado em apenas rebolar e dar prazer a
nós dois. Subo levemente e quico cinco vezes, gemendo.
Eu agarro meus seios e os estímulo, sentindo os olhos de Chase fixos em mim, queimando
minha pele.
— Sei perso nelle mie mani, Allyson — ele rosna em italiano, e engasgo quando ele ergue o
quadril para me encontrar.
Contraio propositalmente e o sugo para dentro de mim, vendo como ele fica louco.
— Me desamarre, gattina — Chase pede, mas a voz falha.
— Como se pede? — Sorrio enquanto rebolo.
— Por favor… — ele implora.
Sim. Era desse jeito que eu queria.
Eu sorrio e me debruço sobre ele, desatando lentamente o nó da gravata. Pelo jeito que o seu
pau incha dentro de mim, ele não duraria por muito mais tempo, e eu também não.
Assim que o nó se desfaz, Chase desce as mãos e rapidamente se senta na cama. Sua mão
esquerda vai para os cabelos de minha nuca e a sua direita agarra a minha bunda. Nossas bocas
se chocam e meus seios agora estão pressionados em seu peito nu.
— Maledetta — Chase grunhe enquanto estapeia a minha bunda.
Gemo chorosa e rebolo mais rápido, sentindo seu pau entrar e sair graças aos movimentos.
Mais uma vez, Chase desce um tapa em minha bunda ainda mais forte, e jogo a cabeça para trás,
sentindo seus lábios em meus seios.
— Sim… — Arranho suas costas e me arqueio para ele.
Chase nos deita na cama e fica por cima de mim, agarrando a minha nádega esquerda e
envolvendo sua mão direita em meu pescoço. Eu sorrio e entrelaço minhas pernas em sua
cintura, também envolvendo seu pescoço com minha mão. Chase sorri com isso.
Ele larga o meu pescoço antes de pegar as minhas duas mãos e as entrelaçar com as suas, no
alto de minha cabeça. Sua boca toma a minha, e sua língua me acaricia, levando-me à loucura.
Ele volta a se mover dentro de mim, e gemo na boca dele.
Cada estocada de Chase faz o prazer no pé da minha barriga apenas crescer. Ele entra e sai
de mim com tanta rapidez que é quase impossível raciocinar. Nossos gemidos preenchem o
quarto, e mordo seu ombro quando ele move os quadris, de modo a atingir todos os meus pontos.
É muito prazer.
— Chase, eu estou quase lá… — Eu cravo minhas unhas nas costas de suas mãos.
Chase maltrata a pele do meu pescoço e geme com a voz rouca quando eu ergo o quadril
para receber uma de suas estocadas. Esse é o meu limite, e me desmancho ao seu redor, gritando
o nome dele. Chase continua a me foder, pouco se importando por minha entrada estar tão
sensível pelo orgasmo.
Sinto seu o corpo ficar tenso e, mesmo trêmula, levo minha boca para a sua orelha.
— Goza.
E assim faz Chase quando puxa o pau de dentro de mim e se masturba um pouco mais antes
de gozar por toda a minha barriga, seios e coxas. Ele grunhe e crava os dentes no meu pescoço,
descontando seu prazer.
Espero que nossas respirações se acalmem e lentamente desço minhas pernas trêmulas do
quadril de Chase. Meus olhos estão pesados, e meu corpo cansado. Eu tive treino mais cedo e
nem mesmo descansei.
Chase arrasta seus lábios por minha bochecha e cola nossas testas, seu peito indo e voltando,
tão irregular quanto o meu.
— Cazzo — ele sorri.
— Cazzo — repito o que ele diz.
Chase solta as minhas mãos e se afasta de mim, rolando para o lado e se deitando na cama.
Viro-me para ele e apoio minha cabeça em meu braço direito quando sinto o cansaço rastejar por
meu corpo lentamente.
— Está cansada? — ele pergunta.
Eu assinto e sinto meus olhos pesarem.
— Você não? — Sorrio, vendo-o se virar para mim.
— Você acabou comigo. — Chase sorri de lado. — Ainda pergunta?
Eu fecho os olhos, me aconchego no colchão e bocejo.
— Você mereceu… — murmuro baixinho.
O sono já está batendo à porta, e não quero dormir agora. Mas meu corpo está tão cansado e
pede por um descanso, é impossível lutar contra isso e, depois do orgasmo, me sinto leve demais,
voando.
— O que posso fazer para também merecer a sua atenção, Ally? — escuto Chase perguntar e
franzo o cenho, ainda de olhos fechados.
— Mas você já tem a minha atenção… — digo, sonolenta.
Escuto uma risada nasal e em seguida sinto meu cabelo ser afastado do meu rosto.
— Voglio un altro tipo di attenzione — Chase diz em italiano. — Durma, gattina.
Não tenho forças para perguntar o que ele falou em italiano, apenas me entrego ao sono e
deixo que ele me leve para longe.
Desorientada, abro meus olhos quando sinto algo quente e macio em minhas costas. Abaixo
meu olhar e ergo as sobrancelhas assim que vejo um braço tatuado ao redor da minha cintura. Eu
reconhecia muito bem as tatuagens que marcam sua pele. Chase.
Viro um pouco o pescoço para olhar para trás e encontro Chase dormindo profundamente
enquanto me segura contra o seu corpo. Nós estamos cobertos até a cintura, e minha bunda
pressionada em seu quadril. Também percebo que Chase limpou minha barriga e o resto que
ficou sujo depois da bagunça de ontem.
Eu não gosto muito de dormir agarrada com alguém e acho desconfortável. Bom, sinto calor
com facilidade. Mas admito não está tão ruim assim.
Viro-me com cuidado para não acordar Chase e fico de frente para ele, e meu vizinho aperta
o braço em minha cintura instintivamente. Seu rosto está calmo, e seu peito sobe e desce com um
sono pesado. Aposto que ele não ficaria tão tranquilo assim se eu contasse que sei quem é a ex
dele, o que eu não faria.
Eu seria tão sem-noção se o fizesse, porra, eu não sou ninguém para ser tão invasiva assim.
Ainda tenho meu senso e vergonha na cara.
Desço meus olhos para a tatuagem de rosa em seu pescoço, e o seu pomo-de-adão se mexe
com um engolir lento.
— Sugiro que tire uma foto, Ally, com certeza vai durar mais — ele diz de repente,
assustando-me.
Meu Deus, que vexame!
Fecho meus olhos rapidamente com vergonha. Se eu me fingir de morta, ele não vai fazer
mais perguntas. O importante é confiar, porque acredito muito na lei da atração. Vai depender do
que você pensa ou diz.
Sinto lábios roçarem a minha orelha.
— Não adianta fingir que está dormindo, gattina… — Chase mordisca meu lóbulo. — Faz
meia hora que estou acordado, e vi quando você acordou.
Eu mantenho meus olhos e encarno na atriz que tem dentro de mim, pronta para continuar
fingindo que estou dormindo, ou até morta, se for necessário.
— Ally… — Chase pronúncia meu nome com a voz rouca, e posso ouvir seu sorriso. — Eu
sei que você não está dormindo.
Calada e imóvel, é assim que eu fico. Eu não vou dar um pio.
— Ah, então você está dormindo? — ele pergunta. — Vou ter que acordá-la, então.
Contenho a vontade de franzir o cenho por não ter entendido as suas palavras, mas prendo a
respiração quando sinto o deslizar de sua língua pela parte de trás da minha orelha esquerda.
Sua mão direita me segura entre a curva da minha bunda e sua esquerda passa por debaixo
do meu corpo, fazendo o mesmo. Seus lábios descem e acariciam o meu pescoço enquanto sua
perna direita se ergue para ficar entre as minhas. Mordo o lábio quando ele chupa a pele do meu
pescoço.
— Ah! — arfo alto quando ele aperta a minha bunda com as mãos e abro os olhos aos
poucos. — Onde eu estou?
Chase ri contra a pele do meu pescoço e planta um beijo em meu ombro. O toque é íntimo e
carinhoso demais, o que me deixa estranha porque sinto que não tem necessidade. Na verdade,
isso me deixa desconfortável.
Não sei se eu gosto e não sei se quero que ele continue.
— Bom dia, gattina… — Chase ergue o rosto para mim, subindo suas mãos para minha
cintura novamente. — Já pensou em ser atriz?
— Não. — Sorrio, me achando.
Sempre soube que eu tinha talento.
— Ainda bem, porque você ia morrer de fome.
Meu rosto se torna uma carranca, e bato em seu peito, brava. Ele sempre tem que vir com
uma gracinha, senão não é ele.
— Idiota! — digo, fazendo menção de me afastar. — Me solte!
Eu peço, porém ele nega com a cabeça e aperta os dedos ao redor da minha cintura. Seus
olhos descem para os meus lábios como se cogitasse me beijar, e me preparo para negar se for
preciso, por dois motivos.
O primeiro deles: não escovei meus dentes, então o gosto do nosso beijo não seria dos
melhores. Certas coisas não valem a pena os obstáculos, por melhores que sejam.
O segundo motivo: não gosto da maneira como ele estar tão perto faz meu corpo se aquecer,
e o jeito como ele me encara agora mexe com algo dentro de mim.
Ele não precisava ter dormido comigo, e me perdoem se estou sendo babaca, ele devia ter
ido para casa assim que peguei no sono. Desse jeito, ele não me faria sentir coisas estranhas
como agora, não acho que seja assim que ficantes se comportam, por mais amigos que sejam,
não é?
E estar nos braços dele é confortável de uma maneira que não deveria ser. E, pior de tudo,
Chase também pareceu muito à vontade dormindo em minha cama, e ele até retirou os lençóis
molhados enquanto eu dormia. Sei que ele fez isso apenas porque é legal, mas ainda não consigo
achar normal.
Pigarreio e coloco uma mão em seu peito para afastá-lo.
— Melhor a gente se levantar, Tess vai chegar logo. Que horas são? — pergunto, afastando-
me de Chase e o obrigando a me encarar.
Com um lençol ao redor do meu corpo cobrindo minha nudez, eu me sento. Não passa
despercebido por mim como Chase parece ter ficado desapontado com meu afastamento, já que
ele revira os olhos enquanto também se senta.
— Eu também tenho que alimentar Lady, ela deve estar com fome — ele murmura,
levantando nu.
Tento não encarar como sua bundinha pálida e durinha se move enquanto ele anda até sua
calça e cueca e as veste, e ambas parecem um pouco úmidas.
O clima entre nós ficou estranho, sinto isso. Mas não entendo o porquê, estamos agindo
normalmente, o combinado foi sem sentimentos. Dormir de conchinha ou ficar abraçado na cama
depois que acorda incluem isso, não?
Não quero que tenha nenhum mal-entendido entre nós.
— Isso me lembrou de que tenho que alimentar Justin, ele fica estressado quando não come
nas horas certas. — Sorrio, tentando melhorar o clima.
Chase assente com a cabeça, parecendo não saber o que dizer em seguida, o que é novidade,
já que ele sempre parece disposto a me matar de vergonha ou sempre tem algo a dizer.
Quebrando o silêncio constrangedor, o som do meu alarme se faz presente, e não acho que é
surpresa que também é a música Baby. O que fazer quando eu a amo de paixão? E, também, é
uma das mais animadas, beirando o irritante.
— Agradeço por ter acordado antes desse alarme. — Chase faz uma careta, passando os
dedos pelo cabelo.
Ergo minhas sobrancelhas, não deixando que seu tom cheio de desprezo passe despercebido.
— O que você tem contra meu reizinho? — questiono, na defensiva.
Eu me levanto segurando o lençol contra o meu corpo, pronta para o ataque quando assumo
uma postura defensiva. Chase arqueia uma sobrancelha e inclina a cabeça para o lado.
— Não me diga que é fã de Justin Bieber, gattina. — O sorriso que ele tem nos lábios não é
debochado, só… curioso.
— Crime seria se eu não fosse. — Ponho as mãos na cintura.
— Mais uma coisa que eu precise saber que você não contou? — ele pergunta. — Que
péssimo namorado eu sou para não saber que você é belieber? Agora entendo por que seu
cachorro se chama Justin.
Pisco, ignorando o fato de como gosto de quando ele se refere a si mesmo como namorado.
Que legal, foi uma ótima ideia escolher Chase, ele é um ótimo ator e muito dedicado.
Eu passo a mão livre por meu cabelo, sentindo como está desgrenhado, já que, quando tudo
aconteceu, ele estava molhado. Daria um trabalhão para desembaraçar.
— Você sabe que gosto de filmes de terror e casos criminais, além dos nomes dos meus
amigos, minha data de aniversário e minhas comidas preferidas.
Listo tudo sobre o que conversamos ontem na casa dele. Também sei coisas básicas dele,
mas que me ajudarão a sair de futuras perguntas e, principalmente, me ajudarão a fugir de Kevin.
— Só se esqueceu de mencionar que é uma marvete devotada e que seu autor preferido é
Stephen King — Chase fala, pegando-me de surpresa.
— Como sabe disso?
Ele sorri, girando o indicador para sinalizar o quarto.
— Você tem pôsteres da Marvel, e a maioria é sobre Loki e Homem de Ferro, com certeza
são seus preferidos — Chase diz, caminhando pelo meu quarto. — Também tem uma estante
enorme de livros em que a grande maioria é do Stephen King. Sabe, gattina, o que conta são os
detalhes.
Eu estou muito, muito surpresa. Tudo bem que nunca escondi meus gostos, mas ele os falou
com uma vontade notável, não deixando nada para a margem de erro.
— Descobriu isso só por causa de alguns pôsteres e livros? — pergunto, impressionada.
— Bom, não é como se eu tivesse tido muito trabalho. — Sorri convencido enquanto anda
até mim a passos lentos. — Aliás, vi Lady Killers na sua instante. Devo me preocupar com o fato
de estar dormindo com alguma serial killer?
É a minha vez de sorrir, e ergo meu rosto para ele quando Chase se aproxima o suficiente.
— Por quê? Tem medo de que eu o corte com uma faquinha de pão?
Chase põe a mão no peito e suspira.
— Precisa parar com isso, Ally. Sua violência realmente me excita, e essa brincadeira me
deixou curioso — repreende-me, assentindo várias vezes com a cabeça.
Eu rio e bato em seu peito, fazendo-o apenas se mover um pouco. Chase sorri, revelando a
maldita covinha e agarra a minha mão, deixando-a pressionada na sua pele quente enquanto se
aproxima um pouco mais.
O olhar que ele me dá agora me faz lembrar por que eu tenho que ter cuidado com caras
como ele. A maneira como seus olhos escurecem quando descem para a minha boca faz o frio na
minha barriga voltar. Ele não se inclina para me beijar, e eu também não.
Não tem por que fazermos isso sem um motivo real, não é? Não estamos transando nem
nada, então por quê?
Mas então me explica por que diabos meus mamilos estão endurecendo pela maneira como
ele me olha e por que minha respiração está falha. Para me distrair desse furacão de sensações,
lembro-me da única coisa que está na minha mente.
— Chase… o que você disse ontem? Em italiano? — eu pergunto, encarando o rosto dele.
Chase ergue as sobrancelhas, perdendo a luxúria em seus olhos ao menos um pouco
— O quê? — ele pergunta.
— Aquilo que você disse — eu o lembro.
— Sobre o quê?
— Eu não sei, por isso estou perguntando.
— Perguntando sobre o quê?
— O que você disse ontem.
— O que eu disse ontem?
Eu me irrito e empurro seu peito, sentindo toda a tensão que criamos ruir de uma vez. Chase
dá um passo para trás, ainda sorrindo.
— Vai se fazer de doido agora? — aborreço-me.
— Realmente não me lembro, adormeci logo depois de você.
Mesmo não acreditando, assinto e continuo a encarar Chase, que faz o mesmo comigo. A
atmosfera volta a ficar estranha, e juro que me sinto envergonhada, mesmo sem motivos. Talvez
seja por Chase ficar me encarando de forma penetrante e não desviar o olhar nem por um
instante.
Ainda estou coberta pelo lençol e deveria ter entrado no banheiro e tomado um banho para
limpar tudo o que fizemos. Na verdade, deveria ter feito isso ontem, mas o orgasmo foi tão
arrebatador que não consegui manter os olhos abertos.
— Eu… vou tomar banho — digo, sem jeito.
Chase assente e pisca, cortando o contato visual.
— E eu vou para o meu apartamento, já passou da hora — fala, sorrindo enquanto dá alguns
passos para trás.
Um miado quase estridente que chega perto de um grito, se Lady fosse humana, atinge
nossos ouvidos, atraindo nossa atenção para fora do quarto. Chase arregala os olhos e corre
quarto afora, indo em direção ao seu quarto.
Preocupada que a gatinha tenha se machucado, escolho uma camisa larga no meu guarda-
roupa e o primeiro short que encontro, grosso o suficiente para tampar minha falta de calcinha,
jogo o lençol na cama e corro na direção da sala, encontrando Chase parado logo na entrada.
Olho para ele enquanto prendo meu cabelo em um coque e sigo seu olhar, encontrando a
cena mais fofa que já vi. Lady está nos braços de Justin enquanto ele lambe o topo de sua
pequena cabeça com a língua grande. Ela parece zangada enquanto meu cachorro age como
estivesse com um tesouro.
— Que fofo! — Sorrio largamente, antes de arregalar os olhos quando a gatinha arisca tenta
bater no focinho do meu cachorro.
Chase ri e vai até eles, conseguindo arrancar Lady das patas de Justin, que rosna baixinho,
descontente. Meu golden segue os dois quando Chase volta a ficar ao meu lado.
— Acho que podemos dispensar o banho da semana — Chase ri, olhando para Lady
literalmente ensopada.
Acaricio as orelhas de Justin.
— Desculpa por isso, ele parece gostar muito dela.
Ele nega com a cabeça.
— Melhor assim do que eles viverem em pé de guerra.
Eu sorrio.
— Acho que apenas Justin está pedindo paz — rio, vendo que a gatinha ainda parece
zangada.
Ela age como se pudesse se esconder nos braços de Chase quando Justin volta a tentar
cheirá-la.
Eu rio mais uma vez, o que atrai a atenção de Chase até mim, e seus olhos voltam a me
encarar como se eu fosse muito interessante. Não sei se ele faz de propósito ou apenas por seus
olhos serem claros que parecem mais intensos, só sei que me afetam.
Não sou de sentir vergonha com facilidade, mas, neste momento, quero sumir e fingir que
ele não está me encarando desse jeito.
— Você é extremamente desenhável, Allyson — Chase fala de repente, e sua voz adquire
um tom mais rouco.
Engulo discretamente em seco e mordo meu lábio, fingindo que esse comentário não foi
nada demais.
— Cuidado, Chase, vou pensar que tem um caderno cheio de desenhos meus — eu o
provoco.
— Sono tentato di farlo — meu vizinho murmura com voz grave.
Mesmo achando bonito, fico confusa.
— O que disse?
Chase sorri e dá um passo para trás com um sorriso no rosto. A maldita covinha me dá boas-
vindas, e não consigo tirar os olhos dela. No fim das contas, talvez eu também o encare tanto
quanto ele me encara.
Há um clima entre nós, e nossa química na cama é boa. Quem sou eu para reclamar o quanto
ele me observa quando faço o mesmo quando ele não está olhando?
— Vou indo nessa, gattina — ele fala, chegando até a porta.
Eu consinto e vou logo atrás. Chase para na porta como se me esperasse abri-la e eu o faço.
Chase sorri antes de se inclinar na minha direção, e fecho meus olhos, pensando que ele vai me
beijar.
Mas, ao contrário do que no fundo eu acho que quero, seus lábios se demoram no recanto
dos meus, e sua língua faz uma carícia ali. Quando abro meus olhos, os seus estão me encarando
de cima, e quase abro as pernas para dar para ele de novo. Porra, eu sou uma vagabunda.
— Tchau… — ele sussurra.
Antes que eu abra a boca, pelo canto do olho, vejo que mais alguém aparece na porta do meu
apartamento.
— Sugiro que realmente vá embora e tire suas patas da minha princesinha antes que fique
sem elas!
Escuto uma voz dizer — muito familiar por sinal — e em seguida empurro Chase, fazendo-o
se afastar de mim e quase bater as costas contra a dobradiça da porta. Movo meus olhos para o
corredor e encontro as três pessoas que não poderiam estar aqui agora.
— Mãe? Pai? Adrien?
Eu estou totalmente paralisada e olho para a minha família com os olhos arregalados e a
maior expressão de surpresa e espanto que alguém poderia fazer, o que não é para menos porque
não a estava esperando hoje, agora.
Estou começando a acreditar na possibilidade de realmente ter sido alguém horrível na vida
passada e agora estar pagando centavo por centavo.
— Quem é esse cara, Allyson? — meu pai pergunta, dando um passo à frente.
Olho dele para Chase, sem saber o que dizer. Como poderia?
— Papai, q-que surpresa… — Engulo em seco.
— Imagine nós… — Adrien diz, sorrindo como uma cobra.
A vida desse filho da puta é estragar a minha.
Chase limpa a garganta e arruma a postura aos poucos, massageando a própria nuca. Ele
ergue os olhos para a minha família e fixa os olhos em meu pai, que estreita os olhos em sua
direção, com o rosto contorcido em uma carranca.
— O que está olhando, garoto? Você não ia embora? — meu pai pergunta em tom ríspido.
— Papai! — repreendo, sabendo que ele está apenas com o ciúme idiota que um pai tem.
Chase franze o cenho, e seu rosto adota uma expressão confusa, tanta que dá dó.
— Allyson, o que está acontecendo? Eles são seus pais? — Ele me olha, perdido.
— Si… — meu pai me interrompe quando solta uma risada debochada.
Ele cruza os braços, parecendo se esticar para tentar ficar maior do que Chase e, mesmo que
meu pai seja alto, meu vizinho ainda ganha dele por bons dez centímetros.
— O que tem de errado com essa geração que não se importa de conhecer os pais da garota
de quem estava tão próxima? — Meu pai nega com a cabeça.
— Não é o que está pensando, senhor. Não é, Allyson? — Chase sorri sem jeito, olhando
para mim quando não repondo. — Allyson?
Eu não consigo dizer nada, ainda estou totalmente chocada com o fato de eles estarem aqui
na minha casa. Pior, terem me visto com uma proximidade tão duvidosa com Chase, eles
também com certeza presenciaram o beijo que ele me deu.
Minha mãe entra na frente do meu pai e bloqueia qualquer olhar matador que ele esteja
dando ao meu vizinho, que parece fora de órbita.
— Richard, pare de show. Não é nada demais, só estavam se despedindo. — Revira seus
olhos, mirando-os em mim em seguida. — Quem é esse homem, Allyson? Seu namorado?
Eu balanço a cabeça para sair do transe, pondo um sorriso de orelha a orelha no meu rosto
enquanto ando até eles, sentindo minhas pernas bambas no processo.
Sinto como se pudesse desmaiar agora mesmo.
— Mãe, pai! — Eu me aproximo deles com os braços abertos e lhes dou um abraço. — Que
milagre vocês por aqui!
Eu os solto, vendo ambos com as sobrancelhas erguidas.
— Nós viemos tomar uma xícara de café, mas parece que você já tomou chá — meu irmão
diz, rindo alto.
Eu o fuzilo com o olhar, ainda sorrindo falsamente.
— Por que não cala a porra da boca? — rosno.
Adrien sorri maliciosamente, porém Justin chama sua atenção quando late e se aproxima
dele. Meu irmão idiota adentra meu apartamento, provavelmente para ocupar sua energia com
meu cachorro em vez de ferrar com a minha vida.
Meu pai desvia da minha mãe e anda até Chase a passos rápidos e largos, fazendo meu
vizinho erguer as sobrancelhas com sua aproximação repentina e do nada.
— Quem é você, garoto? — meu pai volta a perguntar. — Você realmente é o namorado da
minha princesinha?
Eu arregalo os olhos, corro até eles e me meto no meio dos dois. Coloco as mãos no peito do
meu pai e o empurro para longe com cuidado para que eu não use muita força.
— Pai, calma, ele é meu amigo! — eu digo, tentando manter a calma.
Olho para Chase, tentando pedir com o olhar para que ele não diga nada suspeito. Mas ele
me olha com expressão confusa, talvez tentando entender por que eu não disse que éramos
namorados como deveria ser.
Mas, bom, isso deixaria meu pai ainda mais em cima de nós, eu conheço a peça. Ele é
extremamente ciumento comigo.
Lady mia, fazendo-me lembrar que ela ainda está nos braços de Chase, no meio de toda essa
muvuca.
— Eu não sabia que amigos ficavam do jeito que eu presenciei, Allyson — meu pai diz.
Merda.
— Vamos entrar, pai. Assim conversamos melhor — digo, sorrindo largamente enquanto o
puxo, junto com minha mãe, para dentro do apartamento.
— O cara do gato também — papai literalmente ordena, e olho para Chase, desesperada.
Quero pedir para que ele minta dizendo que tem compromisso, mas, quando dou por mim, o
doido já está fechando a porta e entrando um pouco mais.
Tento não surtar e levo meus pais até o sofá, onde os acomodo. Meu pai olha para Chase,
não desviando o olhar dele enquanto meu vizinho se senta na poltrona da frente com Lady nos
braços. Ao lado de meus pais está Adrien, brincando com meu Justin.
Meu vizinho se levanta do sofá de maneira abrupta e coloca Lady no braço da poltrona
enquanto anda até meus pais.
— Agora que a confusão já passou, deixe que eu me apresente. Sou Chase Fontana — ele
diz, sorrindo enquanto estende a mão para o meu pai —, vizinho e amigo de Allyson.
— Amigos com benefícios, talvez… — Adrien murmura como quem não quer nada.
Olho-o com raiva, não podendo fazer mais do que o torturar na minha cabeça de mil formas.
Eu vou matar essa desgraça.
— Só amigos mesmo? — Meu pai nos olha com desconfiança, ignorando a mão de Chase
enquanto se levanta também.
Por sorte, meu vizinho não se intimida e deixa passar quando seu sorriso se alarga um pouco
mais, revelando a covinha.
— Forse sto cercando di cambiarlo — ele fala em italiano, e sua voz fica rouca.
Meu pai o olha confuso.
— Que língua é essa? — ele pergunta.
— Acho que esse cara o xingou, pai. — Adrien diz, estreitando os olhos na direção de
Chase. Filho da mãe.
Meu pai se aproxima ainda mais de Chase, que não dá um passo para trás e muito menos
parece confuso como mais cedo. Creio eu que ele já está se acostumando e voltou a si. Bom para
ele, porque quero correr em direção a uma ponte.
Chase nega rapidamente com a cabeça, desmentindo meu irmão.
— Não, senhor. Eu sou italiano e às vezes não consigo me conter ao falar em meu idioma,
faço sem perceber — Chase diz, sorrindo. — Mas eu disse que, sim, Allyson e eu somos só
amigos.
Meu pai olha para ele e, com cautela, assente com a cabeça enquanto minha mãe anda em
círculos ao redor de Chase, examinando-o dos pés à cabeça.
Meu pai poderia ser ciumento e tudo mais, porém eu tenho mais medo da opinião da minha
mãe. Os olhos dela brilham ao reconhecerem algo nas costas de Chase, e ela os fixa em mim. Eu
franzo o cenho, confusa com o que ela pode estar olhando até que me lembro dos arranhões que
fiz. Puta merda!
— Não está com frio, Chase? Talvez queira vestir uma camisa. — Mamãe sorri com um ar
malicioso.
Meu vizinho parece notar o que tem na atmosfera e ao que minha mãe se refere, mas
diferente de mim, ele não parece que vai ter uma síncope a qualquer momento.
— Eu já estou indo para casa, apenas vim deixar algo para Allyson e já vou embora — ele
diz, agarrando Lady e a pressionando no seu peito.
— Só por que a gente chegou? Parece até que está fugindo… — Adrien se intromete como
quem não quer nada.
Meu pai se aproxima de Chase, e me preparo para intervir mais uma vez se for necessário,
mas ele apenas para na frente dele.
— Você pode ficar, garoto. Desculpa pelo susto, apenas não gosto de como ficou perto da
minha filha sem nem mesmo ser namorado dela — meu pai diz, pondo as mãos nos bolsos de sua
calça. — Mas realmente coloque uma camisa, minha filha não está acostumada a ficar tão perto
assim de um homem sem camisa.
Respiro fundo e massageio minhas têmporas.
— Pai, não sei se o senhor sabe, mas namorei por três anos e nem mesmo sou virgem —
suspiro, encarando-o — Por que não para de me tratar como uma criança?
Meu pai torce o rosto em indignação, negando com a cabeça.
— Nunca vou perdoar o idiota do Kevin por isso — ele diz.
Reviro meus olhos, vendo que ele nunca vai superar e sempre vai ficar dando uma de doido
quando o assunto é a minha virgindade. Os pais sempre fazem isso, são os que mais sofrem
quando a filha se torna uma mulher.
Mas o meu pai é… dramático além da conta.
Minha mãe vai até ele e dá tapinhas em seu ombro, atraindo sua atenção para ela.
— Para de ser assim, já tivemos essa conversa umas sete vezes — ela fala.
— É, nem tem mais graça a falta de pureza de Allyson — meu irmão diz, e dessa vez não
me contenho e lhe mostro o dedo.
Da próxima vez que ele ligar para mim, chorando sem saber o que fazer para resolver a
própria vida, eu me lembrarei de hoje. Para o azar dele, sou muito rancorosa e paciente, sei que
uma hora minha vingança chegará.
Olho para Chase e imploro com o olhar para que ele dê um jeito de ir para o seu
apartamento. Não o estou expulsando, nada disso. Apenas quero aproveitar minha família agora
que ela está aqui e não vou poder fazer isso com Chase.
Meu vizinho ergue uma sobrancelha e desliza a mão no pelo de Lady enquanto me encara.
Não sei se imaginei coisas, mas tenho a certeza de que o vi revirar os olhos cinzentos.
— Bom, foi um prazer conhecê-los, mas agora eu realmente tenho que ir — Chase diz,
acenando para eles.
O rosto do meu pai se ilumina com isso e, de maneira animada, ele indica a porta com um
sorriso largo.
— Claro, pode ir. Não deixe que a gente o atrapalhe. Se quiser, pode até mesmo mudar de
pré… ai! — ele para de falar quando mamãe dá um tapa em sua cabeça.
Papai segura-a com a mão, olhando para a minha mãe com os ombros curvados.
— Pare com isso, o garoto vai ficar para o almoço! — mamãe fala, encarando-a com uma
carranca.
— Eu vou? — Chase a olha, confuso.
— Ele vai? — pergunto, mais perdida ainda.
Mamãe assente.
— Vai, e não aceito não como resposta.
Chase me lança um olhar, e faço o mesmo, mas desta vez não conseguimos nos comunicar.
O meu o manda inventar uma desculpa, e ele faz totalmente o contrário quando dá mais um de
seus lindos sorrisos à minha mãe e assente com a cabeça.
— Vou em casa vestir uma camisa, já volto — diz, dando-nos as costas e indo embora com
Lady.
Tenho plena certeza de que a minha mãe não comprou essa história de que somos apenas
amigos, se tivesse, não teria convidado Chase para almoçar. Mas, espere aí, não é como se eu
tivesse mentido ou algo do tipo. Nós somos amigos, mas com benefícios. É o que mais tem hoje
em dia, arrisco até a dizer que está na moda.
Porém, meus pais não achariam normal, e tudo bem, porque eu também não achava até dias
atrás. Mas até agora está funcionando melhor do que eu imaginei, e Chase não é um babaca após
a nossa transa. Mas, bom, não é como se eu estivesse pedindo flores, não. Apenas não quero
dormir com alguém que me trate feito merda depois.
Passo as mãos por meu rosto, tentando me preparar psicologicamente para o almoço que
com certeza vai se basear em saber a vida de Chase e indiretas me envolvendo, e todas elas vão
vir do meu pai, sei que ele também não acredita no que eu disse, porque seu ciúme de pai fala
mais alto.
Parece até estou surtando sozinha, porque Chase parece muito tranquilo, de um jeito que em
nenhum momento eu estive. Ele com certeza aceitou almoçar aqui de propósito, o que me leva a
questionar se não estou sendo muito dramática, e talvez isso acabe bem.
— Allyson, venha me ajudar no almoço — minha mãe pede de repente, indo em direção à
cozinha.
— Uma família tão patriarcal em que apenas a mulher tem que ajudar na cozinha, tsc… —
Adrien estrala a língua no céu da boca, negando com a cabeça.
Mamãe cozinha, mas isso quem geralmente faz é o meu pai. Adrien com certeza deve estar
passando algum tempo no Twitter, onde os jovens que não trabalham e são sustentados pelos
pais em tudo resmungam de absolutamente tudo, porque suas vidas são terrivelmente tristes.
— Então por que você não vai? — pergunto, pondo as mãos na cintura.
Adrien arregala os olhos, jogando o cabelo longo para trás.
— Deus me livre! — diz, voltando a fazer carinho nas orelhas de Justin.
Reviro meus olhos, e eles repousam no meu pai no processo. Ele está me encarando sério, e
corro para a cozinha antes que ele comece a fazer perguntas sobre Chase às quais não tenho
resposta.
Minha mãe está pegando algumas panelas debaixo da pia, e coloco algumas mechas de
cabelo atrás da minha orelha quando escapam do rabo de cavalo. Não devo estar muito bonita,
ainda nem mesmo tomei banho, bem lembrando, coisa que tenho que fazer urgentemente.
Principalmente pelo que eu fiz ontem à noite.
— Seja mais discreta da próxima vez, tem sorte de que seu pai não viu os arranhões que
Chase tem nas costas — mamãe diz de supetão, atraindo minha atenção.
— Mãe, com todo respeito, mas vocês quem apareceram do nada. Eu não estava esperando
— defendo-me enquanto pego os temperos quando a vejo pegar o frango no congelador. —
Adrien disse que viriam só semana que vem, o que rolou?
— Adrien é uma peste, eu disse a ele para lhe dizer que viríamos hoje — resmunga,
colocando o frango dentro da panela.
Claro, tem que ser esse resto de aborto ambulante que tem como único propósito fazer o
inferno na minha vida.
— Abandono ainda é uma opção, ele ainda tem dezessete anos. — Sorrio docemente, e ela
revira os olhos, sorrindo.
Ela pega os ingredientes que lhe dou e o sal logo acima da prateleira da pia.
— A propósito, Chase tem um irmão da minha idade? — pergunta, e eu rio, vendo-a
assobiar. — Falo sério, ele é lindo demais.
Eu rio mais uma vez, apoiando meu quadril no balcão ao lado da pia, observando-a cozinhar.
Prefiro falar sobre isso com minha mãe, é bem mais tranquilo do que com o meu pai. Ela
também não acha certo eu dormir com alguém que não seja meu namorado, mas, diferentemente
do papai, ela não se mete na minha vida nem é ciumenta. Bom, apenas um pouco, e com o
Adrien.
— Ele tem um irmão, sim, mas deve ser poucos anos mais velho que ele — respondo com
um sorriso.
Minha mãe termina o frango e lava as mãos sujas de tempero antes de desligar a torneira e
olhar para mim enquanto as seca.
— Já percebi que a amizade de vocês é bem prestativa, mas você tem certeza de que não
passa disso? — pergunta, pegando o elástico do seu pulso para amarrar o cabelo longo e preto.
— Tenho, ele só está me ajudando a afastar Kevin. Ele tem voltado a me perturbar,
mamãe… — resmungo, revirando meus olhos
Vejo as íris da minha mãe inflamarem e, entre nós, tenho certeza de que é a mais aborrecida
com isso tudo. Ela odeia Kevin, e meu pai e Adrien partilham o mesmo sentimento por ele.
Também me disseram que ele não parecia de confiança, mas, assim como não dei ouvidos aos
meus amigos, também não dei a eles.
— Esse filho da puta não cansa? É até bom você ter um homem daqueles do seu lado! —
fala irritada, referindo-se a Chase. Mamãe pega a faca na pia e a aponta para mim. — Se você
quiser, eu posso dar um jeito nisso.
Sorrio, vendo como o ditado é verdadeiro. A fruta nunca cai muito longe do pé,
impressionante.
— Está tudo bem, mamãe. Chase está fazendo um ótimo trabalho — respondo, pegando a
faca da sua mão. — Aliás, por que o convidou para almoçar conosco? Papai não vai deixá-lo em
paz.
Mamãe sorri.
— Não confio nele, mas, diferentemente de Kevin, ele parece ser um pouco mais descente.
Merece uma chance. — Dá de ombros, voltando sua atenção para o almoço.
— Chase é um ótimo amigo.
Mamãe vira lentamente o pescoço para me encarar, sua sobrancelha arqueada aparenta
indignação.
— O cara come você, a ajuda com o idiota do seu ex, não foge dos seus pais, e você ainda
acha que ele quer ser o seu amiguinho? — desdenha, e arregalo os olhos.
— Mamãe!
— Continue a ser cega assim e a não enxergar o que está bem debaixo do seu nariz.
Eu franzo meu cenho com suas palavras, tentando entender o que é que ela está querendo
dizer, que Chase tem um motivo por trás de tudo o que ele está fazendo por mim?
Bom, ele mesmo disse que está fazendo porque quer ser meu amigo e, mesmo que eu ache o
motivo nada profundo, não consigo pensar em nenhum outro.
Bom, na verdade, consigo, sim, e é tão absurdo que quase me faz rir. Talvez minha mãe
esteja querendo dizer que Chase pode estar sentindo algo por mim, e isso está totalmente fora de
cogitação. Somos dois adultos aparentemente traumatizados por seus ex-namorados e que estão
se relacionando sem sentimento.
Não pode haver mais nada além disso, porque eu não estou preparada e porque, de fato, não
tem, e isso já é o suficiente para mim.
— Cinco minutos para o começo da partida — o técnico fala, pondo a cabeça para dentro do
vestiário.
Alguns dias se passaram, e o meu jogo de vôlei finalmente chegou.
Eu estou me aquecendo, sentindo toda a eletricidade e antecipação passarem pelo meu
corpo. Estou tão ansiosa que não consigo parar quieta. É sempre assim quando eu jogo, não
importa quantas vezes eu já tenha feito isso, parece que é sempre a primeira vez. E quero muito,
muito mesmo, ser a jogadora de destaque do time.
— Boa sorte, meninas — Karen fala, atraindo minha atenção para si ainda em tempo de vê-
la amarrar seu cabelo em um rabo de cavalo.
Eu não confio nem um pouco no que ela está desejando agora, não depois de como abri
meus olhos para ela dias atrás. Seus sorrisos doces e largos não me convencem mais, assim como
suas atitudes gentis. É tudo muito fácil agora que sei quem ela é de verdade.
— Vamos lá, vai ser moleza! — Clary bate palmas para nos animar.
O resto do time grita, todas tentando animar a si mesmas e às outras, e acho que funciona, já
que elas gritam e batem palmas, seguindo Clary. Eu realmente espero que o jogo seja bom tanto
para mim quanto para minhas parceiras.
Vínhamos nos matando nessas últimas semanas e não merecemos menos do que o troféu e o
título de vencedoras. Horas de treinos acompanhados de estresse mental, fora as vezes em que
ainda continuei mesmo quando todas já tinham ido embora. Sei que não é como se a equipe
dependesse só de mim, mas eu gosto de dar o meu melhor sempre. Talvez eu seja um pouco
perfeccionista.
Minhas companheiras se levantam, e todas começam a ir em direção à saída do vestiário.
Alongo-me uma última vez antes de apertar meu rabo de cavalo e ajustar minhas joelheiras.
— Allyson? — Ouço Karen me chamar e fico tensa.
Ergo lentamente meus olhos para ela e a vejo parada ao lado da porta com um sorriso no
rosto.
— Vá lá e quebre a perna! — Sorri largamente, erguendo o punho em sinal de força.
Cerro meus dentes, pronta para responder quando ela pisca um olho e sai porta afora.
Respiro fundo, tentando lembrar a mim mesma que não vale a pena cair nas provocações de
Karen. Não em um dia como o de hoje, e em nenhum outro dia.
Tem sido difícil esconder de Chase que eu não sei quem é sua ex-namorada. Vez ou outra,
quando estou com ele e passamos por ela de mãos dadas, ele aperta seus dedos ao redor dos
meus, ignorando-a por completo. Eu sinto que ele fica tenso, talvez seja porque estar perto de
Karen lhe faça mal como acontece comigo quando estou perto de Kevin.
Quando saio do vestiário, olho para as arquibancadas, procurando os meus amigos em meio
a tantas pessoas que seguram cartazes.
Meus olhos param em meus amigos, em Chase e Michael, que… espera, aquele é Pietro? Ele
segura um cartaz escrito “manda ver, vizinha”. Ao me ver, ele balança o imenso papel que está
em suas mãos de maneira animada. Meu pessoal sorri, rindo dele e talvez da expressão que eu
faço.
— Pietro costumava gostar de mim também. Ele sempre fazia o mesmo nos meus jogos —
Karen diz ao meu lado, e não me contenho quando reviro os olhos.
— Você deve ser muito apegada ao passado, Karen. Chega a ser triste — suspiro de maneira
dramática.
Ela sorri, virando seu corpo em minha direção.
— Ficará surpresa quando descobrir que, entre nós, Chase é o único que não sabe o que é
superar — dispara, venenosa.
Eu rio.
— Sim, ele é o único a segui-la como a porra de um stalker.
Karen suspira e acena na direção de Pietro, a animação dele cai por terra quando, enfim, a
nota. Seu sorriso largo murcha, e ele olha para Karen como se pudesse lançá-la até o outro lado
da quadra.
— Bom, aproveite enquanto os tem, Ally — diz com um sorriso venenoso.
Eu a olho da cabeça aos pés, totalmente enojada com a cara de pau dela em ser tão soberba e
narcisista. Eu sei muito bem que essa rivalidade que ela cria entre nós é pelo Chase, está mais do
que claro. Mas Chase é meu amigo, e eu o defenderia com unhas e dentes se fosse necessário.
Não porque nós dormimos juntos, mas não suporto que Karen tenha feito mal a ele e pense que
tem o direito de entrar em sua vida novamente.
Nosso técnico nos chama, e vou até ele, vendo Karen e as meninas fazerem o mesmo. Não
fico ao lado dela, porque sinto que a qualquer momento posso pular em seu pescoço.
— Joguem como vocês estavam jogando no treino — o técnico manda enquanto nos olha
atentamente e balança o punho no ar. — Deem tudo de si e mostrem para o time rival que não
somos brincadeira. Trabalhem em equipe que com certeza vamos ganhar!
Eu quase rio. Trabalho em equipe? É tudo o que Karen e eu não temos, ela deixou isso bem
claro, e vai saber quanto às outras garotas do time se elas também não querem o título de
jogadora de destaque do time. Eu não me importo de perder o título para alguém que realmente é
boa. Afinal, se ganhou, é porque mereceu. Mas por que algo me diz que Karen não deixaria isso
nem um pouco fácil para mim?
Nós nos afastamos do técnico quando o árbitro inicia a partida e, minutos depois,
começamos a jogar. As pessoas na plateia gritam eufóricas e, após uma defesa impecável de
Karen, fizemos ponto, e posso olhar para a plateia. Meus amigos estão eufóricos, e Pietro
balança seu cartaz feito doido. Eu devia estar constrangida, mas acho fofo.
Michael diz algo no ouvido de Chase, e ele assente, seus olhos fixos em mim. Meu vizinho
fez um coração com a mão na minha direção, e reviro os olhos, mas meu sorriso se alarga.
O almoço com meus pais foi tranquilo, coisa que eu não esperava. Meu pai ainda não gostou
de Chase, porém algumas vezes o peguei sorrindo para ele com alguma piadinha que o meu
vizinho disse. Adrien também gostou muito dele, e minha mãe principalmente. Minha coroa tem
um fraco por homens bonitos.
Alguém esbarra em mim, e vou alguns passos para a frente. Viro-me para pedir desculpas
quando vejo que é Karen.
— Fez de propósito? — pergunto, arqueando uma sobrancelha.
Karen me olha com inocência fingida.
— Desculpa, não a vi. — Ela sorri.
Eu me aproximo dela.
— Somos do mesmo time, quer mesmo continuar com essa rivalidade sem sentido aqui, no
jogo? — pergunto, séria.
Essa desgraçada só pode ter a merda de um problema sério na cabeça. Nós estamos no meio
de uma partida importante e ela quer brigar? Porra, qual a dificuldade de manter o foco? Até eu
que não sou tão calma sei a hora certa das coisas.
— Rivalidade? Não sei do que está falando. — Pisca, confusa.
Cadela sonsa.
Engolindo toda a minha raiva, cerro meus punhos e me afasto de Karen assim que o árbitro
apita, evidenciando a retomada do jogo. Karen pega a bola e faz um saque perfeito, iniciando a
partida. Uma jogadora alta do time adversário faz a defesa, e a bola vai direto para o chão antes
que possamos processar. Elas fazem um ponto.
O placar está quinze a catorze, e estamos na frente. A garota que fez um ponto saca a bola na
nossa direção, e uma das garotas do meu time a lança para cima. Outra a lança para Karen, que
rebate, fazendo um ponto certeiro.
— Saia do jogo, Karen! — Escuto Pietro gritar e olho na direção dele, vendo Chase lhe dar
um tapa na cabeça.
Eu sei que Chase fez isso para eu não descobrir que Karen é sua ex, e eu não lhe perguntarei
nada relacionado a isso até que ele sinta confortável para me dizer por si só. Não quero que ele
saiba que já sei a verdade e pense que bisbilhotei a vida dele, coisa que não fiz.
Karen apenas abriu a boca, e eu juntei os pontos, não tenho culpa se eu sou altamente
inteligente, embora também seja burra, como não notei que era Chase quem ela queria esse
tempo todo?
Uma garota do time adversário rebate a bola, tirando-me dos meus pensamentos, e me
preparo para salvá-la quando nenhuma das minhas colegas consegue. Dou alguns passos para
trás, e a bola está vindo para mim quando Karen aparece na minha frente e a salva. Minha bola.
A bola que eu devia salvar, porque é o meu trabalho.
Meu time marca mais um ponto, e ando até Karen, agarrando seu braço e a virando para
mim.
— Vou perguntar só mais essa vez, Karen — digo entredentes, largando seu braço. — Qual
a porra do seu problema? Essa bola era minha!
— Você demorou demais para salvar a bola, iríamos perdê-la. — Ela dá de ombros e sorri.
— Se esforce mais.
Eu demorei demais? A bola estava vindo na minha direção. Ela é cega?
Agarro o braço dela mais uma vez e a viro para mim com tanta força que ela quase
cambaleia.
— Não teste a minha paciência, Karen — eu digo, não camuflando minha raiva. — Se você
quer estragar o jogo porque não aceita que um homem não a quer mais, o problema é seu. Mas
eu juro, se você estragar essa merda… — refiro-me ao jogo — para mim e as outras garotas,
você não perde por esperar.
Karen sorri e massageia o próprio braço quando eu o solto.
— Não tenho medo de você — ela diz.
Solto uma risada nasal.
— Não ligo. — Dou de ombros. — Apenas pare de ser uma cadela infantil e jogue
normalmente, o resto do time não tem culpa da sua falta de amor-próprio.
Karen avança na minha direção, e me recuso a me afastar. Ela fica a centímetros de mim,
seu rosto bonito contorcido em uma carranca. Eu tenho certeza de que as pessoas nas
arquibancadas já notaram a tensão entre mim e Karen, acho até que meus amigos e
principalmente Chase.
Pior, o time adversário. Elas usarão isso contra nós.
— Sério que vocês vão brigar no meio do jogo? — Clary pergunta, parando ao nosso lado.
Eu sou a primeira a dar um passo para longe de Karen, não quero brigar. Dou-lhe as costas e
caminho para a minha posição, voltando a minha atenção para o jogo. Karen faz o mesmo, mas
eu sei que ela está pouco se fodendo para o jogo, porque, na sua cabeça doente, Chase não volta
com ela por minha causa, o que não tem sentido, Chase e eu não temos nada sério além de uma
amizade. Ele poderia sair com outras pessoas, isso não tem nada a ver.
A partida segue, e estamos ganhando com dois pontos de vantagem. Karen não para de
roubar as minhas bolas, e estou tentando manter a calma, mas está impossível. Nós já tínhamos
ganhado dois tempos, e o time adversário um, o último tempo é decisivo para todos nós.
O técnico se aproxima de nós enquanto descansamos, seu rosto está totalmente irritado, e eu
não o julgo, parece até que o jogo é entre mim e Karen.
— Eu não sei o que está acontecendo entre vocês duas, mas acho melhor parar antes que eu
tire as minhas duas melhores jogadoras da partida — ele diz, olhando para mim e para ela.
Vejo Karen assentir e faço o mesmo, levando minha garrafinha de água para a boca.
— Ouviram? — o técnico pergunta firmemente.
— Sim — Karen e eu dizemos juntas.
O último tempo começa, e mais uma vez Karen se mete no meio e rouba a minha bola antes
que eu a salve. Mas essa é a última vez, da próxima ela terá que procurar a própria cabeça depois
que eu a arrancar de seu corpo.
Parece que ela não se importa com os avisos do nosso treinador, e estou tentando não
embarcar na dela, mas isso é tão difícil quanto respirar debaixo d’água.
Uma das garotas do time adversário bate na bola, e dou passos largos para trás, na intenção
de salvá-la. Pelo canto do olho, vejo Karen se meter na minha frente pela milésima vez só nessa
tarde e ranjo meus dentes. Não mais.
Desvio do corpo dela e vou para a sua frente, salvando a bola quando ela chega até mim. A
bola vai para o outro lado, e o time adversário a rebate, dando-me a função de salvá-la mais uma
vez. A bola vai tão longe que é necessário que eu me jogue no chão para resgatá-la.
— Isso aí, esse é o meu dragãozinho! — Escuto a voz de Adam.
— Arrasa, Allyson, mostre quem você é! — Kat grita.
Sorrio, mas, como ainda estou em partida, volto meu foco para o jogo e me concentro.
— Ela não é branquinha sem tempero, ela é… — escuto Tessa e olho para ela quando a bola
sai da quadra, pondo as mãos na cintura com a sobrancelha arqueada. — Ela é muito linda, dá
licença! Dá licença!
Reviro os olhos, ainda em tempo de ver quando Karen faz o ponto da vitória. Karen pode ser
uma desgraçada, mas tenho que admitir que ela joga muito bem, isso não tenho como negar, e
me pego agradecendo por tê-la em nosso time ao menos nesse momento. Sei separar as coisas.
O árbitro apita, dando fim à partida e comunicando nossa vitória. Meu time corre para
abraçar Karen e jogá-la para cima, idolatrando-a por nos dar o ponto decisivo. Eu suspiro e
procuro meus amigos na arquibancada, encontrando-os sorrindo para mim com total orgulho, e
apenas para mim, e talvez esse seja o único reconhecimento de que preciso.
Olho para Chase e o encontro escrevendo algo no cartaz que Pietro segurava. Franzo o
cenho, ao que ele ergue o cartaz para mim, e leio o que está escrito.
“Parabéns, gattina.”
Eu sorrio para ele e reviro os olhos quando Chase, mais uma vez, faz um coração para mim
com suas mãos. Talvez eu não precisasse de merda de um título idiota, apenas o sorriso
orgulhoso dos meus amigos e de Chase deixou meu coração quente e me fez ver que eu também
sou incrível.
Encaro a passagem de avião no assento do sofá ao meu lado, pensando o quanto não pensei
duas vezes antes de comprá-la. Como poderia? A preocupação falou mais alto, e não me
arrependo nenhum pouco.
— Meu bambino, não precisa vir. Vou melhorar, não se preocupe — escuto minha mãe
dizer do outro lado da tela.
O lenço rosa-claro enfeita sua cabeça, combinando com seu tom de pele mais pálido do que
o normal, fazendo contraste com seus olhos, cuja cor herdei e de que tenho muito orgulho.
— Papà me contou que a senhora teve uma recaída, não adianta esconder de mim — falo,
passando os dedos por meu cabelo.
— Seu papà é dramático, você sabe — responde, sorrindo.
Seu sorriso é doce como sempre, mas desta vez não é o suficiente para tirar da minha
cabeça o quanto ela parece cansada e abatida. Mais do que o normal.
— Ele é dramático, ou a senhora negligencia a própria saúde? — Arqueio a sobrancelha e
suspiro. — Sério, mamma, sua saúde não é brincadeira!
Ela revira os olhos claros e sorri como uma criança.
— Perdão, bambino, mas quem é o filho aqui? Não reclame comigo! — Manda, apontando
o dedo na minha direção.
É a minha vez de revirar meus olhos, e também sorrio, vendo que ela nunca vai mudar o
jeito brincalhão, não importa o quão doente esteja, e gosto disso, deixa-me feliz ver que nada
pode mudar a minha mãe.
— Só estou preocupado, sabe que te amo muito — digo.
— Eu sei, mas não precisa ficar tão preocupado. Já disse, não precisa vir… — fala,
arrumando o lenço sobre a cabeça.
— Não adianta, mamma. Já me decidi, embarco amanhã mesmo — digo com firmeza.
Minha mãe torce o rosto em uma careta, e a vejo pôr as mãos na cintura, claramente
irritada.
— Ragazzo ostinato! — diz, impaciente.
Eu sorrio, sentindo-me uma criança pelo tom que ela usa para falar comigo. Mas não
importa se eu for desobediente, irei para a Itália custe o que custar.
Meu pai não me ligou à toa, ele foi muito claro ao dizer que a situação da minha mãe está
cada vez pior. Ele não falou na intenção de que eu fosse até lá, mas simplesmente preciso ir. É a
minha mãe, quero estar ao seu lado caso algo aconteça.
Pietro surge na sala e boceja enquanto veste uma regata vermelha e uma bermuda de
moletom. Seu cabelo está bagunçado, e ele coça os olhos enquanto vem até nós aos poucos.
Logo atrás dele, surge Lady, também bocejando. Ontem à noite ela dormiu com ele.
— Pietro acabou de entrar na sala — digo, voltando minha atenção à minha mãe.
— É alguma mulher interessada em mim? Não ligo de dividir, hein! — Pietro sorri
maliciosamente, parando ao meu lado. Seu sorriso murcha quando dá de cara com quem está do
outro lado da tela. — Mamma?!
Ela pisca, olhando para ele com clara decepção.
— Você não muda, não é? — pergunta, e um sorriso se abre em seus lábios.
Mesmo mortificado, meu irmão pisca um olho para ela.
— Sabe como é, mamma. Eles gostam de mim assim — sorri.
Mamãe ri, negando com a cabeça. Seu sorriso vai morrendo aos poucos, e ela coloca a mão
na nuca antes de guiá-la até sua testa e fechar os olhos claros. Ouço um suspiro deixar seus
lábios, e Pietro chega mais perto da tela.
— A senhora está se sentindo bem? — ele questiona, preocupado.
— Papà está por perto? — pergunto, tão preocupado quanto ele.
Mamãe ri de modo fraco.
— Estou bem, bambinos — ela garante, mas não demonstra muita garantia. — Apenas vou
desligar e dormir um pouco, tudo bem?
Pietro e eu nos entreolhamos, ambos sabendo de onde esse cansaço repentino vem. Porém,
não fizemos nada quando assentimos ao mesmo tempo e olhamos para a tela do aparelho.
— Tudo bem, mamma. Bom descanso — meu irmão diz.
— Ligue se precisar de algo — reforço, sorrindo para ela.
Mamãe se despede de nós e em seguida desliga a chamada de vídeo, deixando-me a sós com
meu irmão. Pietro suspira e se afasta de mim, segurando Lady nos braços, até que ela pula no
sofá e mia.
Jogo meu celular para o lado e puxo meu cabelo para trás em um claro ato de frustração.
— Também comprei uma passagem — Pietro diz de repente, fazendo-me olhar para ele.
— Quando?
— Semana passada. Viajo no mesmo avião que você. Temos que estar juntos nessa fase da
nossa mãe.
Engulo em seco e descanso minhas mãos em cima das minhas coxas.
— Estou com medo de perdê-la, Pietro… — admito em voz baixa.
Pietro pode ser um pervertido que não consegue levar nada a sério, porém ele também pode
ser a pessoa mais madura do mundo quando necessário e, desde que presenciou uma das piores
fazes da minha vida em relação a Karen, me sinto confortável em parecer fraco na frente dele.
Pietro fixa os olhos nos meus, os dele sendo de um tom mais escuro.
— Mamãe vai sair dessa, não seja um bebê chorão — ele brinca.
Mas, no fundo, eu sei que está tão pensativo quanto eu. Sorrio, assentindo com a cabeça
como se o medo de perder minha mãe não estivesse rastejando pouco a pouco pelo meu peito.

Eu mexo no meu armário e pego meus livros e algumas canetas que sempre esqueço dentro
dele. Ao meu lado, Michael está parado mexendo em seu celular.
— Como vão as coisas com Adam? — pergunto a ele, pegando meu caderno de desenho no
meu armário.
Meu amigo suspira e desce o capuz do moletom preto, revelando sua toca cinza e colocando
as mãos nos bolsos. Ele deixa o corpo recostar-se em um dos armários.
— Não vão — ele diz, desanimado.
— Quando você vai falar que gosta dele? — eu coloco meu caderno em minha mochila e a
fecho antes de jogá-la por cima do meu ombro.
— Qual foi, Chase, não é assim — Michael bufa enquanto massageia as próprias têmporas.
— Ele não sabe que sou gay e ele é aparentemente hétero, não quero falar que gosto dele e
acabar com a amizade que estamos construindo.
Coloco as mãos nos bolsos da minha jaqueta preta.
— Faz quanto tempo que você gosta dele mesmo? — pergunto.
Tenho uma memória seletiva.
— Desde que ele entrou na faculdade, acho que há uns dois ou três anos — ele suspira e
solta um grunhido. — Eu gosto dele desde o momento em que o vi, porra. Não consigo tirar os
olhos dele nem por um momento.
Michael é extremamente calado, não sei como ele e eu viramos amigos, foi algo totalmente
novo e natural após ele elogiar as minhas tatuagens. Eu fiquei meio receoso de início, afinal eu
sempre tive vários amigos, embora eu não os tivesse mais. Não queria que fosse mais uma
pessoa saindo da minha vida.
— Se eu fosse você, contava logo. — Eu reviro os olhos.
Michael sorri com sarcasmo.
— Você não tem moral para falar, fofinho — ele debocha. — Você parece um cachorro
quando Allyson está por perto, falta só dar a pata.
Passo as mãos por meu cabelo.
— O meu caso é diferente.
— Você transa com Allyson, já é meio caminho andado. — Michael revira os olhos. —
Agora eu nem posso chegar perto de Adam que ele acha que vou quebrar as pernas dele.
Eu dou risada.
— Claro, você fica encarando o cara como um psicopata — rio da cara dele.
Michael ergue o dedo do meio para mim.
— Vá se foder, Chase — ele manda entredentes. — Eu não consigo falar com ele. Sei lá,
fico travado.
Preparo-me para rir mais uma vez da cara dele, quando uma mão segura meu braço direito, e
me viro para olhar quem é, e meu sorriso some do rosto. Toda a alegria que eu estou sentindo vai
para a puta que pariu quando dou de cara com olhos verdes. Karen.
— Quero falar com você, Chase. — Seu sorriso é meigo, mas sei que meiga é a última coisa
que Karen é.
Puxo meu braço do seu aperto, nem aí para o fato de que ela anda alguns passos para a frente
pela força.
— Não — respondo friamente, olhando-a com indiferença.
Karen joga o cabelo castanho-escuro por cima dos ombros e faz um biquinho. Lembro que,
quando namorávamos, sempre que ela fazia isso, eu me derretia como um idiota. Mas agora não
sinto nada, apenas uma grande necessidade de distância dela.
O que eu achava fofo se tornou repugnante e totalmente desnecessário.
— Por favor, Chase — Karen sorri. — Não seja assim…
— Eu vou indo nessa — Michael diz, fazendo menção de se afastar.
Ele sabe, porque eu mesmo contei tudo a ele, cada detalhe da porra dessa relação que quero
tanto esquecer.
— Não — eu digo, e ele para imediatamente. Olho para Karen. — Não tenho nada para
conversar com você, Karen. Você não consegue entender isso?
Karen passa as mãos pelo cabelo, parecendo frustrada por suas investidas não darem certo.
— Por que não? — ela pergunta, e seu olhar carrega total arrogância. Sorri de lado. — O
que é mais importante? Allyson?
Eu solto uma risada nasal e coloco as mãos nos bolsos de minha jaqueta mais uma vez,
inclinando minha cabeça para o lado.
— Um pouco tarde para sentir ciúmes, não acha?
Seu rosto se transforma em uma carranca.
— É sério que você está saindo com ela? — ela ri, incrédula.
Minha vontade agora é de rir também. Como eu não enxerguei como Karen era de verdade
no tempo em que namorávamos? Como ela se sente superior a todos?
— Mais do que sério. — Dito isso, viro-me para ir embora e não escuto nem um protesto
dela. Ótimo.
Karen de fato ainda me afeta, mas não porque eu ainda a amo, e sim porque ela me lembra
de quando eu estava na merda por culpa dela. Ser dependente de alguém é horrível, e eu não
desejo isso para ninguém, nem para o meu pior inimigo.
Nunca vou me esquecer dos meses que passei tentando juntar os pedaços da porra do meu
coração. Karen não estava lá ao fim do dia, ela tinha me abandonado à própria sorte e, para o seu
azar, consegui achar o caminho para fora do poço.
— Quando você vai falar para Allyson que Karen é a sua ex? — escuto a voz de Michael,
que me tira dos meus pensamentos.
Suspiro.
— Não sei, eu realmente não sei. — Eu acaricio a minha nuca. — Karen é a capitã do time
de vôlei de Ally, e elas têm uma boa relação, não quero ferrar com isso.
Minhas merdas não têm nada a ver com a gattina.
— É melhor você contar, já pensou na merda que ia dar entre elas?
Eu dou risada e reviro os olhos.
— Nem me lembra uma merda dessas, Allyson é muito temperamental — Sorrio,
lembrando-me de Ally.
— Agora que eu percebi que você só gosta das surtadas — Michael ri alto, e dou um tapa na
cabeça dele.
Eu não diria que Ally é surtada, ela não sai batendo em todo mundo sem motivo, e não faz
sentido compará-la a Karen, que de surtada não tem nada, só é má mesmo.
— Falando na sua gattina… — Michael aponta para a porta de uma sala de aula, e vejo
Allyson passar por ela.
Seu cabelo está preso em um rabo de cavalo alto, e ela usa um moletom preto com uma saia
branca estilo colegial. Em seus pés, um All-Star branco, e ela carrega uma mochila em suas
costas. A porra do meu coração dá um salto em meu peito, e respiro fundo. Allyson é tão linda
que eu não tenho palavras para descrevê-la.
— Vou até ela — eu digo, afastando-me de Michael e indo na direção de Ally.
— Tchau para você também — Michael diz com sarcasmo, e ergo o dedo do meio para ele.
Já estou um pouco perto de Ally quando um cara vestido com o uniforme do time de futebol
americano da faculdade a abraça por trás. Em suas costas está escrito “Scott”, e tenho por mim
que deve ser o nome que estará escrito em sua lápide se ele não se afastar dela em cinco
segundos.
Allyson franze o cenho e rapidamente se vira para ver quem é.
Paro em frente a uma sala vazia com a porta aberta e fico observando o que os dois vão
fazer. Allyson fica nas pontas dos pés e leva a boca para o ouvido do cara, causando-me uma
longa onda de ciúmes. Penso que vão se beijar, mas foi como se Ally tivesse dito algo de que o
cara não gostou, já que o rosto dele se torna uma carranca. Ela dá tapinhas nos ombros dele e se
afasta, indo embora.
Vejo-a revirar os olhos e começar a andar na minha direção. Antes que ela me veja, entro na
sala e a espero passar para que eu a puxe para dentro pela mão. Eu a abraço por trás, e Allyson se
debate. Fecho a porta com minha perna.
— Mas que merda, virou bagunça…? — ela para de falar quando se vira e me vê. Seu corpo
relaxa. — Ah, é você.
Puxo-a para mais perto e franzo o cenho.
— Que boca suja, Ally… — eu digo, arqueando a sobrancelha em questionamento. —
Quem era aquele cara?
Allyson aperta os olhos na minha direção e passa os braços por meu pescoço, um sorriso
travesso se abre em seus lábios. Allyson pode não continuar me tocando sem uma certa
necessidade, mas às vezes acho que ela faz sem perceber, como agora.
Ficamos mais próximos no decorrer dos dias que se passaram, cada dia mais ela se abre para
mim. Em todos os sentidos.
— Ciúmes, Chase? — ela me provoca, e solto uma risada nasal.
— Daquele cara? Piada.
— Ah, você está.
— Talvez você tenha o maior ego entre nós dois aqui.
— Não muda o fato de que está com ciúmes, Chase.
Sim, porra. Eu estou morrendo de ciúmes, não imaginam o quanto. Eu não gosto da ideia de
outro cara, a não ser eu, a tocando.
Inclino-me na direção de Allyson, e ela dá alguns passos para trás até que seu quadril esteja
pressionado na mesa dos professores. Nós deixamos nossas mochilas caírem no chão, e ela
segura em minha jaqueta.
— Pare de me provocar — eu digo entredentes, nem um pouco a fim de joguinhos.
Ela sorri de lado e passa o nariz pelo meu queixo, como se estivesse aspirando o meu cheiro.
— Ciúmes não é nada saudável — Allyson diz, provocando-me com a porra de um sorriso
malicioso.
Eu subo minha mão esquerda para a nuca dela e aperto meu outro braço em sua cintura.
— Não estou com ciúmes, Allyson — eu digo, roçando meus lábios nos dela. — Não há por
que ter ciúmes quando sei que ninguém pode fazê-la se sentir como eu faço.
Merda, essa foi uma das minhas maiores mentiras. Eu com certeza sei que faço Ally se sentir
bem, mas, ainda assim, somos apenas amigos coloridos, nós podemos sair com outras pessoas, e
talvez eu esteja com medo de ela estar vendo outro cara que não seja eu.
Merda, estou parecendo um adolescente de dezessete anos com insegurança e totalmente
emocionado.
— Você é muito convencido — ela diz, soltando a minha jaqueta e deixando os braços
caírem ao lado do corpo. Sorri de lado. — Eu posso estar dormindo com outra pessoa, sou uma
mulher adulta, afinal. Não foi você quem disse?
Contenho um grunhido de raiva.
Eu disse aquilo apenas para provocá-la, não estou dormindo com ninguém. Meu pau idiota
não obedece a ninguém que não seja a ela. Mas, porra, a ideia de ela estar transando com outro
me deixa enfurecido.
Seguro a nuca dela com mais força.
— Você deixa que outro a beije, Ally? — pergunto entredentes enquanto a ergo e a coloco
sentada sobre a mesa — Que outro a toque e lhe dê prazer com a boca? Que use o pau em você
assim como eu faço?
Allyson agarra a minha jaqueta novamente.
— Por quê? — Ela ergue o queixo para mim, desafiando-me. — Está bravinho com a
possibilidade, italiano? Isso o deixa puto?
Solto um grunhido e a puxo até que sua bunda esteja na ponta da mesa e sua boceta
pressione a minha virilha. Ela arfa de surpresa, e seguro o seu rabo de cavalo com a minha mão e
aperto meus dedos em seus fios.
— Cale a boca, Allyson — eu mando, apertando a cintura dela, não deixando que nem um
fio de ar fique entre nós.
— Pensei que você gostasse dela bem aberta — ela diz com falsa inocência, um sorriso
sacana em seus lábios.
Tão provocadora e atrevida. Eu sentiria tanta falta disso.
Não perco mais tempo quando aperto seu rabo de cavalo e puxo seu rosto para mim, fazendo
nossos lábios se chocarem. Ela geme em minha boca e passa os braços por meu pescoço,
puxando-me para ainda mais perto. Adentro sua boca com minha língua, e Allyson a recebe e a
chupa com vontade.
Desço minhas mãos para as suas pernas nuas e posso sentir como sua pele está quente em
meus dedos. Agarro sua bunda nua e a puxo ao encontro do meu quadril, arrancando um gemido
baixinho quando nos separamos pela falta de ar.
— Por que você tem que ser tão atrevida, gattina? — pergunto, descendo meus lábios para o
seu pescoço. — E por quê tão cheirosa, caralho?
Allyson prende as pernas em minha cintura e se esfrega em mim, já se entregando sem
rodeios. Eu gosto disso.
— Ah! — ela arfa quando chupo a pele de seu pescoço e aperta as pernas em minha cintura,
trazendo-me para mais perto.
Ally fecha os olhos, e suas mãos adentram minha camisa branca e minha jaqueta, e ela
desliza as unhas por minhas costas. Em seguida, joga a cabeça para trás e me dá acesso livre para
o seu pescoço. Sorrio próximo à sua pele e a mordisco.
— Não quero ninguém a tocando a não ser eu. — Massageio a carne da bunda dela e me
esfrego em sua boceta. — Entendeu?
Pergunto, raspando meus dentes por seu queixo.
Ela abre um sorriso ladino.
— Não, o corpo é meu — ela diz, provocando-me. — Só me toca quem eu permitir.
Eu rosno e dou um tapa forte em sua nádega, fazendo-a gemer chorosa e se esfregar ainda
mais em mim, como uma verdadeira gattina.
Porra, eu vou fodê-la.
— Chase… — Ally geme o meu nome dessa vez, e eu fico louco. Ela enterra o rosto em
meu pescoço. — Alguém vai escutar os sons dos tapas.
Sua respiração bate em minha pele, e sinto meu pau inchar gradativamente, pedindo para
receber atenção. Deslizo minha ereção por sua boceta e gemo com voz rouca. Inferno, eu a quero
tanto.
Tanto que não me importo que nós estejamos dentro de uma sala fechada em que qualquer
pessoa possa entrar e presenciar a cena, e é pensando assim que faço a coisa mais imprudente a
seguir.
Desço o zíper da minha calça e tiro meu pau duro feito pedra para fora. Allyson tira seu
rosto do meu pescoço e arregala os olhos quando sente minha ereção em sua coxa. Ela olha para
baixo e depois para mim.
— Aqui? — ela pergunta com a voz falha. Excitação e medo brilham em seus olhos.
Medo de ser pega. Excitação por ser pega.
— Você não quer? — Beijo seus lábios e toco sua intimidade por cima da calcinha. — Não
me diga que não quer, a sua boceta está pingando.
Allyson morde o lábio com força e joga o quadril contra os meus dedos. Eu sorrio e coloco
sua calcinha para o lado, deslizando meus dedos por seu clitóris, vendo como suas dobras estão
molhadas. Ela geme baixinho e enterra o rosto na curva do meu ombro.
— A camisinha — diz.
— Porra, eu não tenho.
Allyson afasta a cabeça e bate os cílios para mim.
— Eu… Eu tomo anticoncepcional, p-pode entrar sem… — fala, engolindo em seco.
— Eu gozo fora.
Ela assente.
— Isso.
Sentir sua boceta em meus dedos é surreal, Allyson está tão encharcada que está me
deixando louco. Eu só quero me enterrar nela, e é exatamente isso que eu vou fazer.
— Não temos tempo para enrolação, gattina. — Posiciono meu pau em sua entrada, e
Allyson arranha as minhas costas. — Eu vou comê-la aqui nesta mesa, e você vai ficar caladinha
para que ninguém escute, ouviu?
Vejo-a dar um aceno vacilante.
Allyson puxa meu rosto entre suas mãos e me dá um beijo, lambendo e chupando meus
lábios, totalmente entretida. Sinto a minha glande entrar nela, e Ally abre a boca em formato de
“O”.
Levo minha boca para a orelha dela e seguro seu quadril com minhas duas mãos.
— Não grite. — É última coisa que digo antes de me enterrar profundamente nela.
Ela joga a cabeça para trás e morde os lábios carnudos; faz muito esforço para não gritar,
como mandei. Qualquer pessoa poderia abrir a merda da porta e ver o que estamos fazendo, mas
eu seria um mentiroso se dissesse que estou me importando com isso.
Tudo o que eu consigo pensar é em como Allyson é quente e apertada, totalmente receptiva
para mim. É como a porra de um ímã; sentir nossos sexos unidos sem proteção, apenas pele com
pele é incrível.
— Ai… — Allyson solta baixinho, tentando puxar a respiração.
Talvez ela estivesse sentindo um pouco de desconforto, o que é normal, já que não a
preparei, e toda a pena que eu estava sentindo começa a sumir assim que Allyson começa a se
foder em meu pau, mordendo o lábio.
— Olhe só para você, Ally… — Sorrio, dando-lhe uma estocada forte e rápida.
Ela grita baixinho e morde o lábio com mais força, fechando os olhos quando abraça as
minhas costas.
— A… A porta… — Ela joga a cabeça para trás quando puxo meu pau para fora e me
enterro nela com força. — Alguém pode entrar, e seremos expulsos.
Embora ela pareça preocupada, geme baixinho feito louca a cada estocada que eu lhe dou, e
meu pau entra e sai dela em um ritmo frenético.
— Eu sei que você está gostando disso, Ally, você adora a adrenalina… — Sorrio, puxando-
a pela bunda para ainda mais perto de mim.
Sua saia está levantada até a cintura, revelando sua bunda coberta pela calcinha cuja cor nem
me importei em ver. Se alguém entrar, terá apenas a visão de mim de costas e do rosto de
Allyson contorcido de um prazer angustiante, tanto para ela como para mim.
Ela enterra o rosto em meu pescoço e morde a minha pele, rebolando em meu pau para
acompanhar o ritmo das minhas estocadas.
— Oh, porra… — ela geme chorosa quando acelero as minhas estocadas, fazendo o som de
nossos corpos se chocando ecoarem pela sala.
Eu adoro o quanto a boca dela é suja e me deixa totalmente louco quando ela faz isso no
sexo.
— Essa boceta é minha, entendeu, Allyson? — Eu puxo o queixo dela com minha mão
direita e a beijo com brutalidade.
Allyson arqueia suas costas e desliza as unhas pelas minhas por debaixo da camisa,
arranhando-me, mas não a ponto de tirar sangue.
— Nada disso, é minha… — Ela sorri sacana e grita quando desço o tapa em sua nádega.
A sua pele se aquece em minha mão, e ela soluça. Olho para o rosto dela e a encontro com
os olhos cheios de lágrimas não derramadas.
— Não me bata assim, Chase… — ela pede, chorando.
Porra, fiz merda.
— Gattina, me descul…
— Eu fico cheia de tesão. — Sorri com malícia, e a olho com raiva.
Dou-lhe mais cinco tapas na bunda e esfrego a sua pele, que sinto quente como o inferno.
Lágrimas descem pelo rosto de Ally, mas não são de dor, e sim de prazer.
— Safada do caralho — digo entredentes e começo a comê-la com ainda mais força.
A mesa balança embaixo de nós, e ignoro esse fato quando Allyson contrai a boceta ao meu
redor de maneira proposital, sugando meu pau para dentro de si. Meus dedos se firmam em sua
cintura, e ela solta um gemido choroso.
— Eu vou gozar, Chase — Allyson diz, gemendo meu nome com vontade. — Oh, céus! Por
que isso é tão bom…?
Eu sorrio e continuo a fodê-la com meu pau totalmente inchado, já pronto para gozar. O
corpo de Allyson fica rígido, e ela me abraça e geme alto quando goza forte colada a mim. Em
cinco segundos, fico tenso e também gozo dentro dela, segurando-me na mesa para não cair
quando as minhas pernas ameaçam ceder.
O corpo de Allyson treme um pouco, mesmo assim ela tira os cabelos de minha testa, e noto
sua respiração ofegante. Ela desce lentamente suas pernas de minha cintura, mas continua
agarrada às minhas costas. Deslizo meu pau para fora dela e arrumo a sua calcinha de renda no
lugar. Guardo meu membro em minhas calças — mesmo sujo — e a olho, encontrando-a já me
encarando. Eu me limparia no banheiro.
— Você… gozou dentro.
Paraliso, arregalando meus olhos quando vejo o quão verdadeiras são suas palavras.
— Porra, Allyson. É verdade, desculpa. Eu… eu… — tento, sem saber o que dizer.
“Escorreguei e gozei dentro de você, pode me desculpar?”
— Tudo bem, não é como se pudéssemos reverter — ri, e suas bochechas ficam vermelhas.
— Só preciso tomar a pílula.
Eu assinto, querendo provocá-la pelo tom avermelhado em seu rosto bonito.
Passo meus braços pela cintura dela e a puxo para um beijo leve. Ally segura em minha
nuca, correspondendo.
— Eu a machuquei? — pergunto assim que nos separamos.
Allyson nega com a cabeça.
— Foi muito bom. — Ela sorri e me solta.
Penso em sorrir, mas me contenho ao lembrar que preciso dizer algo a ela. Não quero acabar
com o clima entre nós. Não quando é a primeira vez que ficamos tão próximos no sexo como
estamos agora, trocando carícias. Geralmente ela é a primeira a se afastar de mim.
Mas tem que ser dito, eu querendo ou não. Viajo amanhã, não é como se eu tivesse muito
tempo.
— Ally? — eu a chamo.
— Hum?
— Tenho que voltar para a Itália.
De maneira imediata, o seu corpo trava, e ela afasta o rosto do meu pescoço, fixando seus
olhos confusos em mim. Ainda sinto o gosto amargo das palavras que disse segundos atrás.
— Você o quê? — Ally franze o cenho.
Engulo um seco.
— Tenho que voltar para a Itália — repito.
Allyson solta a minha nuca e desce da mesa, parecendo confusa.
— O quê? Por quê? — ela pergunta, olhando-me atentamente. — Para sempre?
Nego com a cabeça e aperto meus braços ao redor dela.
— Não, só por um tempo. — Sorrio. — Minha mãe piorou, Pietro e eu vamos ajudar meu
pai a cuidar dela. Vou amanhã à noite — explico.
Ela olha para baixo e assente com a cabeça, parecendo um pouco pensativa.
— Você… — Ally ergue o rosto para mim — você realmente vai voltar, não é? Sinto muito
pela sua mãe. Espero que ele tenha uma melhora que deixe todos felizes.
Ela diz, brincado com a barra de minha camisa. Sorrio de lado.
— Vou voltar, gattina. Não tenha dúvidas. — Sorrio, dando-lhe um selinho demorado.
— Acho bom, não tenho mais ninguém para xingar de “chihuahua italiano” — ela sorri.
Eu jogo a cabeça para trás e gargalho alto, sentindo a tensão que tinha nos ombros sumir.
Passo meu polegar direito por sua bochecha e a vejo franzir o cenho.
— O que foi? — pergunto.
Ela nega com a cabeça, parecendo um pouco desnorteada.
— Nada — sorrio e assinto, mesmo sabendo que tem algo por trás. — Agora vamos antes
que alguém nos descubra.
Solto-a, e pegamos nossas mochilas e caminhamos para fora da sala após verificarmos se
alguém perceberia.
No outro dia, Ally me levou junto de Pietro ao aeroporto, e Michael, Tessa, Kat e Adam
também nos acompanharam. Não nos beijamos, apenas nos despedimos com um abraço
apertado. Eu não quis soltar Ally, não queria passar tanto tempo longe dela. Mas foi com o
coração apertado e um sorriso no rosto que me despedi dela e dos nossos amigos.
Pietro e eu embarcamos no avião, que logo decolou, deixando-me agarrado à esperança de
voltar após alguns dias.
Espero que o professor saia da sala de aula para que jogue minha mochila em meus ombros
e faça o mesmo. Encontro o corredor lotado de estudantes e caminho em direção à área da
gastronomia, já que hoje os estudantes de gastronomia vão montar uma bancada e mostrar os
pratos que fizeram e, como Adam é um deles, eu não poderia deixar de ir.
Eu só espero que ele não traga peixe cru como no ano passado, tive que comer e dizer que
estava bom. Bom, algumas pessoas gostaram, mas não sou muito fã de comida japonesa. Eu sei,
meus amigos consideram isso um crime.
Mas Adam cozinha excepcionalmente bem, ele sempre o faz quando marcamos um jantar
entre amigos e, graças a ele, tenho a oportunidade de provar comidas tailandesas, Adam faz
questão de conhecermos os pratos de seu país.
Um braço pesado circula meus ombros, e franzo o cenho e viro o rosto para ver quem é,
quase revirando os olhos, ao que meus olhos pousam nos escuros de Kevin.
— O que você quer? — pergunto, tirando seu braço dos meus ombros.
— Nada, gatinha, só acompanhá-la até a exposição de gastronomia — ele diz, e olho para
ele e o vejo sorrir.
“‘Gatinha’ em você não brilha, lindo.”
— Não preciso de companhia, Kevin — digo de maneira indiferente e sem deixar de andar.
— Mas eu quero lhe fazer companhia, gatinha — ele diz, pondo as mãos nos bolsos.
Eu bufo alto e paro de andar, virando-me para ele.
— Para de me chamar de “gatinha”, é ridículo! — Reviro os olhos.
Kevin sorri de lado e dá um passo na minha direção. Não gosto que ele fique tão próximo
assim de mim e muito menos que continue a me tocar. Tenho vivido um inferno nos últimos três
dias desde que Chase viajou para a Itália.
Evito Kevin sempre que posso, mas o infeliz parece ter um radar para descobrir onde eu
estou. Por sorte, nunca estou sozinha, com exceção de agora.
— Mas eu gosto. — Kevin dá de ombros e sorri um pouco mais.
Ranjo meus dentes e ponho as mãos na cintura, tentando me controlar para não pular em
Kevin e arrancar seu longo cabelo com minhas próprias mãos.
— Kevin, quando é que você vai parar de me perseguir? — pergunto, já cansada.
— Quando a gente voltar. — Ele cruza os braços.
Eu quase rio. Merda, Kevin é tão idiota e sonso, ele não entende que eu só aceito ser corna
uma vez? Não, esperem, deixem-me corrigir isso: só aceito ser corna até descobrir as traições.
Isso, melhorou, porque tenho certeza de que não foi só uma vez que Kevin me traiu, ele deixou
isso bem claro quando ficou calado diante da minha pergunta.
O filho da puta encheu a minha cabeça de galho, mas eu sempre olho pelo lado bom.
— Eu vou ter que ir até a delegacia denunciá-lo por assédio sexual? — Ergo meu queixo e
arqueio uma sobrancelha.
Kevin ergue as dele
— Não precisa de tanto, Allyson. Você continua dramática?
Solto uma risada sarcástica e afasto meu cabelo para trás quando minha franja cai em meus
olhos. Esse desgraçado…
— Dramática? Porra, Kevin, já se passou um ano. Um ano! — Eu passo a mão pelo meu
rosto, frustrada. — E você ainda namorou outra pessoa nesse tempo, qual a merda do seu
problema?
— Eu nunca a esqueci, Ally, mesmo namorando. — Kevin me agarra pelos ombros. — Eu
sempre a amei.
Eu quase vomito no chão da universidade com a merda dessa vergonha. Ele acha o quê, que
depois disso eu vou me derreter e aceitá-lo de volta para que me torne ainda mais corna? Tenha
dó.
E só escutar que ele estava com outra enquanto supostamente pensava em mim, e eu sofria
por ele, me enche de raiva. Não foi o suficiente, ele precisava de mais?
É tudo tão de repente que tudo o que processo é Kevin se aproximando e em seguida seus
lábios nos meus. Arregalo meus olhos, e as grandes mãos do meu ex vão para a minha cintura e
me puxam para ele. Sua língua tenta abrir caminho para dentro da minha boca, e é quando eu
finalmente reajo.
Ergo minha mão e a levo ao encontro do seu rosto. O tapa é tão forte que o faz libertar meus
lábios e se soltar, dando alguns passos para trás. Ele me encara, com os olhos pretos arregalados
enquanto leva a mão à própria bochecha.
Eu limpo meus lábios com as costas das mãos e encaro Kevin com todo o ódio que existe
dentro de mim!
— Nunca mais me toque de novo! — vocifero, atraindo a atenção de algumas pessoas.
Kevin olha ao redor, constrangido, o que é irônico, porque eu devia ser a única a me sentir
assim por ser tocada contra a minha própria vontade.
— Pare de gritar, Allyson! Foi apenas um beijo… — murmuro baixo, dando um passo em
minha direção.
— Foi um beijo que eu não queria, porra! Não se aproxime! — rosno quando vejo que ele
continua.
Diante do meu escândalo, Kevin estaca no lugar e olha ao redor antes de seus olhos voltarem
para mim, e eles escurecem, raivosos.
— É por causa daquele italiano de merda que você não quer voltar comigo, não é? — Sua
voz sai ríspida.
Reviro os olhos com tanta força que fico receosa de eles pularem para fora.
— Pode ser, mas o maior motivo é porque eu tenho vergonha na cara e amor-próprio. —
Sorrio com sarcasmo e seguro a alça da minha mochila com força. — E nunca mais pense que
pode me beijar de novo, foi nojento.
Kevin suspira e massageia as próprias têmporas como se estivesse cansado, e eu também
estou. Dele.
— Tudo bem, eu errei. Desculpa — diz, encarando-me com o mesmo olhar que me dava
quando namorávamos. — Deixe-me só acompanhá-la até a exposição de gastronomia.
Mais à frente, Michael está guardando alguns livros em seu armário e já tem jogado sua
mochila nos ombros e fechado seu armário. Vejo nele um modo de escape mais do que rápido e
eficiente.
— Sinto muito, já tenho acompanhante — digo, desviando de seu corpo para ir até o melhor
amigo de Chase. Kevin tenta me parar, mas não lhe dou ouvidos.
Michael já está fazendo menção de ir embora quando seguro o braço dele. Ele se vira para
mim, à procura de quem o está agarrando com tanto afinco assim. Franziu o cenho.
Não tenho muita intimidade com ele, mas, se é tão amigo assim de Chase, com certeza deve
ter a confiança dele, e é um cara legal, apenas é tão na dele quanto eu. Nossas personalidades
meio que se batem.
— O que é isso? — Michael pergunta, vendo nossos braços unidos.
— A sua passagem para o coração de Adam. — Sorrio docemente, esperando que ele
proteste.
Michael ergue as sobrancelhas.
— Nossa, como você adivinhou que eu estava vindo por esse caminho? — ele pergunta.
Eu reviro os olhos e sorrio, vendo como gente apaixonada é óbvia demais. Solto o braço
dele.
— Como você descobriu que eu gosto de Adam? — Michael pergunta e olho para ele.
Dou de ombros.
— Você deixa óbvio demais, só alguém burro para não perceber.
Michael assente e limpa a garganta.
— Você… Você acha que eu tenho chances? — ele pergunta, abaixando seu capuz cinza.
Eu o olho por alguns segundos, pensativa.
— Olha, uma vez, no ensino médio, Adam ficou olhando o nosso professor gatinho por mais
tempo do que o necessário, ele tinha uma bundinha bonita. — Dou de ombros. — Mas não posso
me basear nisso e lhe dizer que o Adam também gosta de homens quando ele claramente nunca
se envolveu com um. Também não seria legal da minha parte, apenas o Adam pode lhe dizer
isso.
Michael me olha e acaricia a nuca, assentindo com a cabeça de um jeito pensativo, como se
estivesse analisando a situação.
— Você não vai ficar me usando para afastar seu ex, não, né? — ele pergunta. — Para isso
você tem Chase.
Chase.
Ele voltou para a Itália, e tenho mantido contato com ele. Sempre nos falamos por
mensagem ou ligação, ele me mantém por dentro da saúde da mãe dele mesmo eu pensando que
não faria isso nem se lembraria de mim.
Confesso que me deu vontade de pedir para que ele ficasse, mas isso seria tão egoísta da
minha parte. Não é como se eu pudesse dizer: “Aí, Chase, esquece a sua mãe e fica por aqui
transando comigo em lugares proibidos”. Isso seria tão nojento da minha parte, que nem em um
milhão de anos eu pediria algo assim. É a mãe dele.
Quando Chase fez um carinho em minha bochecha, eu senti o meu coração dar um pulo no
lugar. Meu peito se apertou e ficou quente, sem contar que algo se mexeu dentro da minha
barriga e me causou alguns calafrios. Eu realmente pensei que fosse infartar, foi uma coisa tão
diferente do habitual.
Aquilo me assustou demais.
E eu não uso Chase para afastar meu ex, agora eu vejo mais como se fosse uma ajuda entre
amigos.
— Não, relaxa — digo, e Michael assente.
Ele e eu nos aproximamos da mesa de Adam, vendo Tessa e Kat ao lado dele. Meu amigo
está de costas para nós, e passo os olhos pela mesa dele, à procura de seu prato.
Ainda tenho um leve medo quando provo a comida de Adam. Não por ser ruim, mas porque
meu paladar de pobre prefere o básico e não está acostumado com o diferente.
— Por favor, me digam que não é peixe cru — eu sussurro para Tessa e Kat ao me
aproximar delas.
Elas riem e negam com a cabeça.
— Ele ainda vai nos dizer o que é, está fazendo o maior suspense — Tessa diz, passando o
braço pelos ombros de Kat. Ela sorri. — Oi, Michael.
— Ah, oi, Michael. — Kat acena para ele, que retribui.
— Oi. — Ele sorri minimamente e acena com a cabeça.
Olho para Adam, vendo-o de costas para nós, e a coluna levemente curvada para a frente,
sobre uma espécie de bancada. Quando ele se vira na nossa direção, está segurando um prato
branco com alguma comida desconhecida por mim. Ele se aproxima da mesa e coloca o prato
sobre ela.
Estico o pescoço para ver o que é.
— Qual prato delicioso é o de hoje? — pergunto, analisando a comida.
— Tom Kha Gai — Adam sorri, pondo as mãos na cintura.
Ele está vestido com um avental amarelo.
— Tom o quê? — Tessa, Kat e eu perguntamos em uníssono.
Adam sorri.
— Sopa de frango com leite de coco — ele diz, apoiando as mãos na mesa.
Franzo o cenho.
— Nunca ouvi falar — eu digo.
— Nem eu — Tessa e Kat dizem juntas.
— É um prato tailandês — Adam diz e pega uma colher, que mergulha na comida. — Então,
quem vai provar primeiro?
Fico olhando da colher para Adam por muito segundos, decidindo se provo ou não. Já basta
o peixe cru que eu comi e vomitei no banheiro porque me deu ânsia. Nada pessoal, eu só não
gostei mesmo. Mas não queria deixar o Adam triste, então, depois de vomitar, voltei para comer
mais quatro vezes.
Tessa e Kat estão mais entretidas em tirar fotos juntas, então fiz menção de dar um passo à
frente, mas Michael o faz primeiro. Ele segura a mão de Adam, que segura a colher e se inclina
sobre a mesa, envolvendo seus lábios nela. Ele acolhe a comida em sua boca, fazendo tudo isso
sem desviar os olhos de Adam, que paralisou no lugar.
Os olhos do meu amigo estão levemente arregalados, e seu peito parou de se mexer. Seu
peito não se move, provavelmente prendeu a respiração.
Michael solta sua mão e se afasta um pouco, lambendo os lábios.
— Muito gostoso, Adam, parabéns. — Michael sorri de maneira fechada com os olhos fixos
no meu amigo.
Adam está com o rosto totalmente vermelho e balança a cabeça, sacudindo a gola de sua
camisa azul.
— Nossa, que calor dos infernos. Realmente está abafado — ele pigarreia, tirando o avental
e o jogando sobre a mesa. — Vou ao banheiro, fiquem comendo.
Fala e se afasta de nós. Vejo-o sumir pela multidão e olho para Michael, que também o olha.
Eu me aproximo dele e ergo o queixo para sua incrível altura, que se assemelha à de Chase.
— Você não perde tempo, hein. — Cutuco o braço dele, atraindo sua atenção para mim.
— Acha que dei muito na cara? — Michael esfrega a nuca.
Nego com a cabeça.
— Não, todo dia ele dá comida na boca de alguém com a pessoa olhando para ele com cara
de tarado. — Assinto várias vezes.
Ele revira os olhos e coloca o capuz.
— Palhaça. — Ele sorri e coloca as mãos nos bolsos do moletom. Ele olha para as meninas e
para mim. — Vou indo nessa, tchau para vocês.
Elas param de tirar foto e acenam para ele, totalmente entretidas no próprio mundinho de
casal feliz. Michael vai embora, e ponho as mãos na cintura.
— Vocês podem parar de se amar na minha frente? Não é nada legal com os solteiros.
— Por que, isso lhe dá gatilho? — Tessa sorri para mim em provocação. — Está com
saudades de Chase?
Abro a boca, sem saber o que dizer. Sim, merda, eu estou com saudades de Chase, e ele
também parece estar com saudades de mim, já que me liga todos os dias, e conversamos por
mensagem sempre que ele ou eu temos tempo.
— Eu acho que ela está, hein — Kat ri. — Só acho.
Ergo o dedo do meio para elas.
— Ah, calem a boca e voltem a namorar. — Reviro os olhos.
Só assim vocês não me fazem pensar merda.

Meu celular toca pela quinta vez, e aperto meus olhos e o ignoro. Ele já está tocando há uns
dez minutos, e eu não estou com um pingo de vontade de ver quem é. Cheguei da universidade
totalmente cansada após o treino de vôlei. Às vezes me questiono se todo esse cansaço vale a
pena.
Meu celular toca de novo, e bufo, abrindo minhas pálpebras na força do ódio. Estendo a mão
para a minha cômoda e pego o aparelho, esfregando meus olhos com a mão livre. Justin late ao
meu lado, e fixo os olhos na tela do celular e os arregalo levemente ao ver quem é. Chase.
Eu bocejo e atendo à chamada de vídeo, vendo meu vizinho parecer na tela com uma regata
branca.
— Boa noi… — Chase para de falar quando me vê, sorrindo de lado. — Levou um choque,
Ally?
Demoro a entender e fico encarando-o com cara de tacho, totalmente confusa até que me
toco e o olho com raiva, passando a mão pelo meu cabelo para tentar dar um jeito. Ele está com
uma metade presa e outra solta.
— Romantismo é algo que exala de você, não é mesmo? — debocho, e ele sorri, piscando o
olho cinzento.
— Eu a acordei? Você estava dormindo? — pergunta, as sobrancelhas erguidas.
Será que, se eu disser que não, tem a possibilidade de ele desligar a chamada para que eu
volte a dormir? Se sim, eu não gostaria disso. Posso estar com muito sono, mas acho que
consigo ficar acordada.
— Não, estou super acordada. — Sorrio.
Justin passa a cabeça por debaixo do meu braço e coloca o focinho na tela, como se
soubesse que eu estou falando com Chase.
— Está com saudades da Lady, Justin? — meu vizinho pergunta, mirando a câmera para a
gata que nem nos dá um mísero olhar. — Ela também está.
Justin late quando a vê e começa a abanar o rabo, aparentemente feliz.
— Desista, Justin, isso é um amor unilateral. — Sorrio enquanto acaricio as orelhas dele.
— Você acha que um amor unilateral não daria certo? — escuto Chase perguntar e olho
para ele.
— Não sei, acho que, se a pessoa de quem você gosta não gosta de você, só lhe basta
desistir. — Dou de ombros. — Geralmente, um amor unilateral só vai servir para deixá-lo com
traumas e fazê-lo perder tempo.
— Mas e se a pessoa estiver tentando conquistar a outra? Acha que vale a pena?
— Por que a pergunta, você está gostando de alguém que não o corresponde? — Arqueio
uma sobrancelha e o vejo dar de ombros.
— Talvez — ele diz, sorrindo de canto. — Mas, caso fosse isso, o que você acha que eu
deveria fazer?
Engulo em seco quando um sentimento estranho se alastra pelo meu peito, e o empurro lá
para dentro.
— Acho que você deveria partir para outra, se a pessoa não o quer, quem perde é ela. — Eu
forço um sorriso.
Chase inclina a cabeça para o lado.
— Ela não me dá bola, não sei mais o que eu faço para conquistá-la — ele suspira. — Eu
acho que ela se faz de doida.
Limpo a garganta, ainda mantendo meu sorriso, que agora é mais forçado do que nunca, e
eu não sei por quê…
— Boa sorte, então — digo.
Chase revira os olhos.
— Sarà così stupido in quella fottuta casa. — Ele passa a mão pelo rosto, parecendo
frustrado.
Eu gostaria de entender o que ele está dizendo, porque parece que está me xingando ou
reclamando comigo.
Antes que eu possa perguntar se ele está com raiva, uma mulher com um lenço branco na
cabeça aparece atrás de Chase.
— Chi è, caro? — a mulher diz, olhando para ele.
Será que é a mãe dele?
Chase olha para trás e se afasta um pouco, batendo no espaço ao lado dele para que a
mulher se sente.
— Sente-se aqui, mãe, quero apresentá-la a uma pessoa — ele diz.
Eu arregalo os olhos e passo a mão por meu cabelo, tentando arrumar o ninho de
passarinho. Merda, realmente parece que levei um choque. Por que ele quer que eu conheça sua
mãe quando pareço tão feia como nunca? Ele não vê que não estou apta para apresentações?
A mulher se senta, e Chase se aproxima dela, focando a câmera no rosto de sua mãe. Meu
Deus, ele se parece com ela.
Eles têm os mesmos olhos cinzentos e a maneira de olhar. Ela é linda, muito linda mesmo.
Seu rosto é um pouco pálido, evidenciando claramente que ela está doente, e o lenço branco
contrasta com sua pele. Mas, mesmo que pareça abatida, ainda é linda.
— Oi! — Ela sorri animada para mim, mostrando um sorriso que Chase herdou dela e em
um inglês impecável. — Então você que é a Allyson. Prazer, sou Beatrice, mãe de Chase.
Passo a mão por meu cabelo mais uma vez, estranhamente nervosa.
— Oi, sou eu, sim. — Assinto. — É um prazer conhecê-la.
— O prazer é meu, já não aguentava mais ouvir falar de você e não a conhecer. — Ela sorri
largamente. — Você é linda, Allyson, como Chase disse.
Eu ergo as sobrancelhas, e meu vizinho pigarreia alto ao seu lado.
— Mamma, non dovevo dirlo — Chase diz em italiano, parecendo bravo.
— Stai zitto, sono emozionato. — Beatrice o olha com raiva e abaixa seu tom de voz. — È la
prima ragazza che mi presenti da quando… sai chi.
Chase revira os olhos com um sorriso nos lábios e fico encarando-os, sem entender coisa
alguma. Será que a mãe dele está perguntando onde ele me conheceu? Será que ela está dizendo
que me detestou?
Eu só quero ser bilíngue.
— Olha que falta de educação a nossa, a gente falando em italiano e a sua amiga sem
entender nada. — Beatrice dá um tapinha na perna de Chase e me olha. — Peço perdão,
querida, é o costume. — Ela sorri para mim, e assinto.
O sorriso dela traz uma paz tão grande, e a voz dela principalmente. Seus olhos são de uma
doçura inimaginável, e posso estar errada, mas ela parece boa.
— Tudo bem. — Sorrio para ela.
— Gostaria de ficar conversando mais um pouco com você, mas tomei alguns remédios
fortes e preciso dormir. — Ela sorri para mim mais uma vez, meiga. — Boa noite, Allyson, foi
um prazer conhecê-la.
— O prazer foi meu, senhora — eu digo, não poupando sinceridade em minha voz.
— Pode me chamar de Beatrice — ela avisa. — Segundo Chase, vocês…
— Mamma! — meu vizinho a interrompe, e ela dá uma risada doce.
Eu a encaro totalmente confusa, sem entender nada. O rosto de Chase se transforma em
uma careta enquanto sua mãe se levanta do sofá, ainda olhando para a tela.
— Boa noite, Allyson. — Ela sorri com gentileza.
— Boa noite. — Dou-lhe o meu melhor sorriso.
Vejo-a beijar a testa de Chase e em seguida se afastar, sumindo da tela do celular. Observo
meu vizinho olhar para o que indica ser sua mãe, e seu rosto é calmo e carrega um sorriso. Ele
parece amar tanto a mãe.
— Sua mãe é linda — eu digo, atraindo a atenção dele para mim.
Chase sorri, revelando a covinha.
— Eu sei, de quem você acha que herdei a minha beleza?
Faço uma careta.
— Você herdou a arrogância dela também? — eu o provoco.
— Não pode negar que sou bonito. — Ele sorri de lado.
— Idiota! — Reviro os olhos, sorrindo.
Cubro a boca para esconder um bocejo, mas não consigo evitar esfregar meus olhos
quando os sinto pesados de sono.
— Está com sono? — Chase pergunta.
Assinto, sorrindo minimamente.
— Um pouco — confesso, sentindo Justin esfregar o focinho na minha barriga.
— Vou deixá-la dormir — Chase diz.
Franzo as sobrancelhas.
— Não quer mais conversar? — pergunto.
— Quero, mas você tem universidade amanhã, melhor ir dormir. — Ele sorri para mim.
Eu assinto mesmo a contragosto. Realmente estou muito cansada e tenho que dormir bem
para apresentar um trabalho amanhã.
— Boa noite, Chase — eu digo enquanto me aconchego nos travesseiros.
Ele sorri preguiçosamente.
— Boa noite, gattina.
Meu coração dá um pulo no mesmo instante que Chase põe fim à ligação. Ele não me
chamou de gattina uma única vez desde que começamos a ligação, só agora, e isso foi o bastante
para me fazer sentir estranha. Sinto meu peito se apertar e o massageio.
Eu tenho que consultar um cardiologista.
Sinto meu corpo ser chacoalhado com brutalidade e abro minhas pálpebras, encontrando
Pietro logo acima de mim. Miro um olhar raivoso para ele e em seguida fecho os olhos
novamente, tapando meu rosto com um travesseiro.
Onde esse filho da puta colocou o senso para me acordar a uma hora dessas? Pelo pouco que
pude ver pela janela, mal amanheceu. Eu estou cansado demais, fui dormir tarde depois de fazer
um trabalho online da universidade, um que rendeu a porra de uma dor de cabeça durante dias.
Faz apenas duas semanas que estou na Itália, mas parece mais. Talvez seja porque, mesmo
sendo italiano, eu não goste muito daqui. A única coisa que me faz viajar para este país é a
minha família.
— Cazzo, Chase! Acorde! — Pietro arranca o travesseiro do meu rosto e o joga ao meu lado.
— Mamma está passando mal!
Assim que escuto isso, imediatamente abro os meus olhos e me sento na cama com uma
velocidade sobrenatural. Ao meu lado, Lady pula, acordando devido à minha ação repentina.
— Como assim “passando mal”? — pergunto ao me levantar da cama.
— Eu não sei, ela acordou suando frio e fraca, mal consegue ficar de pé — Pietro diz,
caminhando comigo para fora do quarto. — O papai a está ajudando a se vestir para irmos ao
hospital. Mas ela não quer ir.
Ela tem que ir. Ela precisa ir.
Eu não entendo por que ela acordou mal, ontem ela foi dormir tão bem após assistirmos a
um filme. Bom, era o que parecia, mas a minha mãe é daquele tipo de pessoa que sente algo, mas
não fala, por medo de incomodar. Já faz cinco anos que ela batalha contra o câncer, e eu sei
muito bem que ela se sente culpada por não conseguir fazer quase nada sozinha, ainda mais
depois de dois meses que seu câncer voltou e ela está tendo que fazer quimioterapia mais uma
vez, e isso comprometeu seus cabelos de novo.
Pietro e eu adentramos o quarto dos nossos pais ainda em tempo de ver nosso pai vestir um
casaco em nossa mãe.
— Eu não preciso ir para o hospital, Anthony — minha mãe diz, olhando para ele. Ela sorri
carinhosamente. — Eu estou bem, é só uma fraqueza.
Tantos anos lutando contra um câncer, e a minha mãe nunca deixou de sorrir. Ela está
sempre sorrindo e nos dando carinho, o que faz meu peito se apertar com o medo de perdê-la a
qualquer momento. Pietro e meu pai também sentem esse mesmo medo, afinal mamãe é nossa
luz e a mulher que nosso pai ama.
Falando no meu pai, eu o vi chorar escondido na cozinha um dia desses. Já era madrugada, e
ele tentou disfarçar quando me viu entrando, e eu fingi que não percebi, meu pai não é do tipo
que demonstra muitos sentimentos, e odiaria que eu dissesse que o vi desabar.
— Não é só uma fraqueza, Beatrice, você sabe disso — meu pai diz, ajoelhando-se até ela,
que está sentada na cama. — Vamos para o hospital.
Ela nega com a cabeça e segura o rosto dele entre as mãos pálidas e pequenas.
— Eu estou dizendo, meu amor — ela sorri —, não precisa.
Pietro se afasta de mim e anda até a nossa mãe. Eu o acompanho.
— Lógico que precisa, mamma, vamos — ele pede, fazendo um carinho na bochecha dela.
— Vai ser rapidinho, e logo, logo a senhora vai estar em casa.
— É verdade, vamos só para ter certeza de que a senhora está bem — eu peço, vendo-a nos
olhar com raiva.
Ela afasta as mãos do rosto do meu pai e bufa alto, revirando seus olhos doces e cansados.
Minha mãe parece tão exausta.
— Vocês são tão chatos, eu estou dizendo que não precisa! — mamãe se exalta.
É a vez de meu pai segurar o rosto dela entre as mãos grandes e encará-la com atenção.
— Vai ser rápido, Beatrice, eu prometo. — Ele acaricia as bochechas dela, e minha mãe
aperta os olhos antes de ele pedir uma última vez. — Por favor.
Mamãe olha dele para nós e suspira alto, revirando os olhos claros ao menos pela décima
vez só esta manhã. Ela está brava, e isso não dá para negar. Mas sua saúde não está em
negociação.
— Tudo bem, mas eu preferia que fosse aqui… — ela diz, levantando-se da cama com a
ajuda do nosso pai.
Franzo meu cenho, confuso com suas palavras, que parecem carregar todo um peso por trás.
— O que a senhora queria que fosse aqui? — Pietro é quem pergunta por todos nós, tão
confuso quanto eu.
Mamãe sorri e coloca as mãos na cintura, olhando para algo atrás dele.
— Querido, pegue o lenço florido que está na cômoda atrás de você — ela fala para Pietro,
que o pega e estende para ela. Ela sorri. — Obrigada.
Mamãe caminha lentamente até o grande espelho e coloca o lenço em sua cabeça,
arrumando-o do jeito que quer. Minha mãe é tão linda que fica bem em qualquer coisa e de
qualquer jeito.
Mesmo com as olheiras profundas, o rosto pálido e o corpo um pouco magro da doença, ela
não deixa de ser linda, e qualquer pessoa que a conheça se encanta com seu jeito meigo e alegre,
e gosto muito de que ela deixe que nada a abale.
— Então, estou bonita? — ela pergunta, virando-se para meu pai, para meu irmão e para
mim.
— A mais linda — nós dizemos em uníssono, e ela ri, arrumando o casaco azul-claro.
— Bajuladores. — Ela nega com a cabeça, e meu pai vai até ela e a faz dar um passo para
trás. — Anthony, eu não sou aleijada, sei andar sozinha.
— Eu só quero ajudá-la, Beatrice — ele suspira, envolvendo a mão dela com a dele.
— Por minha causa, você vai faltar ao trabalho hoje — ela diz enquanto arruma a gravata
dele.
Meu pai envolve a cintura dela com seus braços e a puxa para perto com delicadeza.
— Você é a minha esposa, nada é mais importante do que você. — Meu pai sorri
minimamente e se inclina para beijar a testa dela.
Minha mãe sorri, e consegui capturar algo diferente em seu sorriso. Algo como… tristeza,
não sei. Mas não foi um sorriso comum, ele fez meu peito se apertar e minha mente ficar em
cautela.
— Mas e a gente? — Pietro pergunta com a voz indignada, referindo-se a si e a mim.
Nosso pai revira os olhos, e nossa mãe ri.
— Acho que ele não gosta da gente — eu reforço, enxugando uma lágrima falsa.
— Pirralhos. — Meu pai sorri de maneira fechada.
Meu pai não é lá tão amigável quanto a minha mãe. Ele é fechado, o que faz as pessoas
acharem que ele é frio e muitas vezes arrogante. Sua expressão está sempre séria, e parece que
ele está com raiva, mas quem o conhece sabe perfeitamente que ele é gente boa.
— Vocês adoram implicar com o pai de vocês, não é? — mamãe pergunta.
— A senhora já notou que o pai parece com o Zangado da branca de neve? — Pietro
pergunta com um sorriso, e me engasgo com uma risada.
Meu pai o olha com raiva.
— Eu sou alto, seu adotado — ele resmunga, e Pietro desmancha o sorriso na hora.
— Ado… Adotado? — Meu irmão franze o cenho.
Dou risada.
— Sempre soube que você era adotado, é o mais feio da família — eu o provoco.
— Adotado é você, que foi achado no lixo. — Pietro sorri falsamente.
Eu o olho com raiva e me preparo para mandá-lo se foder quando minha mãe coloca a mão
na testa e dá alguns passos para trás. Ela teria caído se meu pai não tivesse a segurado de maneira
ágil.
— Beatrice, o que foi? — ele pergunta ao sentá-la na cama.
— Fiquei um pouco zonza, Anthony, nada dema… — Minha mãe não consegue terminar a
frase, já que seu corpo cai para o lado, e logo ela está desacordada.
Arregalo os olhos e, sem pensar, Pietro e eu corremos até ela e nosso pai.
— Beatrice! — Meu pai a chacoalha com delicadeza. — Beatrice, acorde!
Nada. Nenhuma reposta além do silêncio torturante e sua falta de consciência.
— Vá pegar o carro, Pietro! — eu mando, ajudando nosso pai a pegar mamma em seus
braços.
Pietro assente com a cabeça e corre sem olhar para trás. Meu pai anda com minha mãe até a
porta do quarto e passa por ela, carregando-a pelo corredor. Eu vou logo atrás, e minha
respiração está acelerada enquanto tento puxar o ar, quase falhando no processo.
— Vou pegar uma camisa — eu digo, entrando em meu quarto no meio do caminho.
Pego a primeira camisa que encontro em meu guarda-roupa e não me dou ao trabalho de
trocar a minha bermuda moletom. Dou uma última olhada em Lady em minha cama antes calçar
um chinelo, pegar meu celular e sair do quarto, deixando a porta aberta para que ela saia quando
quiser.
Desço as escadas e corro para fora de casa, ainda em tempo de ver meu pai colocar minha
mãe dentro do carro com a ajuda de Pietro. Meu irmão entra no banco do motorista; eu, no do
passageiro, e nossos pais no de trás. O rosto do meu pai exala desespero enquanto aperta a minha
mãe contra si, tão pálida como nunca.
Pietro começa a dirigir e, mesmo assim, não posso desviar os olhos da minha mãe
desacordada. Não quero perdê-la justo agora que tem tanta coisa boa acontecendo na minha vida,
e ela conheceu a Allyson. Eu tenho fé de que é só mais uma crise do câncer e ela vai voltar para
casa com a gente. Eu preciso que isso aconteça.
Caso contrário, meu mundo desabará diante dos meus olhos e não poderei fazer nada.

Meu pai, Pietro e eu assistimos ao médico examinar a minha mãe. Ela está deitada na cama
do hospital, vestida com uma roupa do azul-claro apagado. Seu rosto está pálido, e seus olhos,
mesmo abertos, parecem pesados. Assim que chegamos ao hospital, os médicos já lhe aplicam
soro e a entubam.
Meu pai está à flor da pele, ele não quer se afastar da nossa mãe, e muito menos Pietro e eu.
Essa recaída dela nos pegou totalmente desprevenidos, ultimamente ela estava tão bem. Por que
justo agora?
O médico se afasta de minha mãe e se aproxima de nós, dando uma olhada na prancheta que
pegou perto da cama.
— Ela vai precisar ficar internada — ele diz, pondo as mãos nos bolsos de seu jaleco.
Esse mesmo médico é o que cuida da saúde da minha mãe, responsável por sua
quimioterapia. Ele está bem ciente da condição dela, sempre a par de tudo e focado nos mínimos
detalhes.
— Por quê? — Meu pai franze o cenho com os braços cruzados. — Ela estava reagindo bem
aos medicamentos.
— Às vezes o câncer pode ser um pouco imprevisível, os remédios não estão mais fazendo
efeito — o médico suspira.
— Podemos ficar no quarto com ela? — meu irmão é quem pergunta.
O médico disse que apenas um de nós poderia ficar no quarto, meu pai, no caso. Mas ainda
deixou que fôssemos falar um pouco com ela, ficaríamos revezando para ficar com minha mãe.
Por enquanto, só resta a mim e a Pietro esperar a nossa vez.
Nós andamos até minha mãe, que levanta os olhos cinzentos para nós assim que paramos ao
lado dela. Meu pai segura a sua mão.
— Você vai para casa logo. — Ele sorri para ela e acaricia a sua mão.
Minha mãe sorri minimamente por trás da máscara de entubação.
— Não minta para mim, Anthony, seu nariz vai crescer — ela diz com a voz baixa e fraca.
— Papà não está mentindo; logo, logo a senhora vai estar nos dando sermão lá na nossa
casa. — Pietro sorri para ela, mas, no fundo, eu sei que ele está tão preocupado quanto nós.
Eu não estou aguentando de tanta preocupação, meu coração está tão apertado. Eu não quero
perdê-la. Não posso e não quero. Como irei viver sem a mulher que me ajudou a sair do fundo do
poço quando ele apenas ficou mais fundo?
Minha mãe foi como uma salva-vidas, e não sei o que fazer se ela deixar de sê-lo. Estou
sendo muito dependente dela, ou apenas expressando o quanto a amo?
— Você vai para casa, mãe — eu reforço, sorrindo.
Ela me olha.
— Meu Deus, três mentirosos — ela solta uma risadinha falha. — Podem me fazer uma
promessa?
Meu pai, Pietro e eu nos entreolhamos, confusos e, ao mesmo tempo, curiosos com o pedido
repentino dela. Nós assentimos.
— Qualquer coisa, amor — meu pai diz, beijando a mão dela.
— Prometam para mim que, independentemente de eu morrer ou não, vocês sempre vão
estar unidos, como sempre foi quando eu estava viva… — ela diz, e meu coração dói. — Se eu
morrer, nada vai mudar, vocês vão continuar se amando e nunca vão se afastar. Não quero que
ajam como se eu fosse o elo que os une.
Meu irmão prende a respiração ao meu lado, e vejo o lábio inferior do meu pai tremer. Uma
onda de tristeza varre o meu corpo, e me seguro para não chorar. Mas não quero ser fraco em um
momento desses, não quando minha mãe precisa acreditar que vai melhorar. Ela não vai morrer.
Ela não.
Não a mulher que me ajudou a superar Karen e fez tudo por mim. Não a mulher que me deu
a vida e dedicou a dela a cuidar de mim e do meu irmão. Não a mulher que é a minha maior
referência de força e bondade. Não. Eu não estou preparado e, na verdade, acho que eu nunca
vou.
— Vamos, garotos, estou esperando. — A voz dela sai divertida.
— Beatrice… — meu pai diz a contragosto, e ela o olha com carinho. Ele suspira. —
Mesmo que você não vá morrer, eu prometo.
— Pietro? — Ela olha para o meu irmão.
— Eu prometo. — Ele engole em seco.
Eu abaixo a cabeça, tentando não pensar nisso e já sabendo que sou o próximo.
— Chase? — minha mãe chama, e eu a olho com relutância.
Respiro fundo, tentando manter a mim mesmo calmo.
— Eu prometo.
Essas palavras deixam um gosto amargo tão forte em minha boca que engulo em seco,
tentando afastá-lo.
— Bom — ela sorri. — Agora venham aqui.
Nós nos aproximamos, e ela acaricia nossos rostos, com as mãos trêmulas, um por um.
Planto um beijo na mão dela, e meu pai aperta a outra contra o próprio peito, sem conseguir parar
de olhar para ela.
— Nós vamos estar na sala de espera — Pietro fala e se afasta.
Ela acena com a cabeça.
— Amo vocês. — Ela sorri minimamente, e o carinho nunca deixa o seu sorriso.
— Também a amamos — eu a lembro, e minha voz sai mais baixa do que eu pretendo.
Depois disso, não consigo permanecer no quarto de hospital e saio dele, junto com Pietro
logo atrás de mim. Olho para trás vendo minha mãe acariciar o rosto do meu pai, e ele segura a
mão dela contra sua bochecha enquanto a observa com os olhos apaixonados cheios de devoção.
Para mim, mamma é meu porto seguro. Para o meu pai, ela é a sua vida.
Nós andamos até a sala de espera, e me sento, deixando meu corpo tenso relaxar na cadeira.
— Eu vou ao banheiro, já volto — Pietro avisa, e assinto, vendo-o se afastar de mim.
Eu sei que o meu irmão está tão mal e com tanto medo quanto eu. Posso ver no rosto dele, e
o fato de ele dizer que vai ao banheiro é porque ele quer pensar um pouco ou só precisa de um
momento sozinho. Eu o conheço muito bem.
Meu pai também está mal, ele ama a minha mãe. A relação dos dois é linda, e cresci
querendo uma igual para mim. Se ela morrer, meu pai vai ficar tão destruído quanto Pietro e eu,
ou talvez até mais. Eu não gosto de comparar dores, não vale a pena pensar nisso; ela vai
melhorar, tenho certeza.
Passo a mão direita por meu cabelo e o bagunço bem na hora em que meu celular começa a
chamar. Franzo o cenho e me questiono quem poderia ser e tiro o celular do bolso da minha
bermuda, pronto para desligá-lo. Não estou com um pingo de paciência para falar com alguém
agora.
Porém, ergo as sobrancelhas, quando a foto da pessoa aparece na tela, e sorrio, atendendo na
mesma hora.
— Chase, onde você esconderia um corpo? — Allyson pergunta assim que atendo.
Ergo minhas sobrancelhas.
— Que bom dia lindo, Ally. Você não é muito normal, não é? — eu a provoco.
— Sua voz está meio desanimada, tudo bem? — ela pergunta, e arregalo os olhos,
espantado.
Eu mal abri a boca, como ela sabe?
— Chase? — ela me chama. — Você ainda está aí?
— Sim… — respondo, brincando com o cordão da minha bermuda.
— Está tudo bem? — ela pergunta, e sua voz é cautelosa.
Eu suspiro, apoiando a parte de trás da minha cabeça na parede.
— Minha mãe passou mal, estou no hospital com meu pai e Pietro — eu digo. — Ela está
internada por estar muito fraca.
Há um silêncio do outro lado da linha, e sei que ela não desligou, já que eu posso ouvir sua
respiração.
— Ei, ela vai ficar bem, ok? — ela fala com a voz carinhosa. — Pelo que você sempre me
diz, ela parece ser muito forte e vai sair dessa. Mas não vou lhe pedir para não pensar muito
nisso, porque sei que não vai adiantar nada.
— Eu realmente espero que ela fique bem… — Engulo o bolo em minha garganta.
— Ela vai, você vai ver… — Ally me consola. — Se precisar de alguma coisa, pode me
chamar, ok? Eu não sei falar palavras bonitas, mas vou fazer o meu melhor para que você não
fique triste.
Ela diz, e eu sorrio com o seu tom carinhoso. É surpresa para mim, ela não é tão carinhosa.
— Acordou de bom humor hoje, gattina? — eu a provoco. — Não parece ser você falando,
está doente?
Eu a escuto bufar do outro lado da linha.
— Eu só estou tentando distraí-lo, seu italiano falsificado — ela diz com raiva, e eu dou
risada. — Você já tomou café?
Olho a hora em meu celular, vendo que já são 9h43 da manhã.
— Não tive como — suspiro.
— Coma um pouco, mesmo que não esteja com fome — ela pede, e sua voz mais uma vez é
carinhosa.
— Está preocupada comigo, gattina? — Sorrio, pensando nessa possibilidade.
— Eu não vou responder a isso — Allyson diz, e posso jurar que a vi revirar os olhos.
É a cara dela fazer isso, principalmente quando se sente encurralada. É como um ato de
defesa.
— E você? Já tomou café, não é mesmo?— pergunto.
— Já, sim… — ela murmura, e quase suspiro.
Eu estou morrendo de saudades dela, porra, do cheiro dela, do seu jeito, das suas piadas e até
mesmo de quando ela diz que tem fantasias em que me mata. Tudo o que gira em torno dela me
faz sentir saudades e abre um buraco no meu peito.
— Chase?
— Estou aqui.
— Eu preciso desligar agora — ela diz, e faço uma careta. — Mas, se precisar de algo, pode
me ligar, tudo bem? A qualquer hora, eu não me importo.
Sorrio feito um idiota, mais uma vez gostando do quanto ela parece carinhosa hoje. Também
gosto de como nos tornamos ainda mais próximos mesmo longe.
— Vou ligar, gattina.
— Está bem, cuide-se e coma direito.
— Você quem manda — eu digo e escuto sua risadinha antes de a ligação ser finalizada.
Clico em sua foto de perfil e sorrio minimamente para ela. Ainda estou com medo de perder
a minha mãe, mas confesso que Ally acalmou um pouco esse medo idiota que só serve para me
deixar ansioso. Eu quero abraçá-la.
— Rápido, andem! — Olho para a frente quando uma voz grossa grita e vejo o médico da
minha mãe. — Quarto 17!
Quarto 17? É o quarto dá minha…
Arregalo os olhos e pulo da cadeira, vendo o médico e algumas enfermeiras entrarem no
quarto onde minha mãe está internada. Vejo Pietro sair de um corredor e correr para o quarto
dela, logo atrás deles. Seu rosto está confuso como o meu, sem saber o que está acontecendo.
Será que a minha mãe… Não.
Guardo meu celular no bolso da minha bermuda e corro até o quarto, paralisando na porta
com o que vejo. Três enfermeiras tentam segurar meu pai enquanto o médico examina minha
mãe. Ele verifica o pulso dela várias vezes e abre um de seus olhos, mas seu rosto se tornou
triste. O médico tenta reanimá-la no total de sete vezes. Eu contei. Contei porque não respirei
nesse tempo.
Pietro arregala os olhos quando entende o que está acontecendo, e meu pai começa a gritar
quando a máquina de batimentos começa a apitar, sinalizando que a minha mãe está morta.
É tudo em câmera lenta. Meu pai conseguiu chegar até a minha mãe e abraçar seu corpo,
chorando com o rosto em sua barriga, enquanto seu próprio corpo tremia. Pietro passa as mãos
pelo cabelo e parece angustiado quando lágrimas grossas começam a rolar por suas bochechas.
Atordoado, escoro minhas costas na porta e puxo a respiração, tentando acreditar no que está
acontecendo. Mas eu não quero. Não quero acreditar que a minha mãe está morta. Não.
Mas, ao olhar para o rosto pálido dela, a ficha cai completamente. Sua expressão é
totalmente serena, expressão de quem morreu não sentindo dor, de quem já esperava a morte.
“Tudo bem, mas eu preferia que fosse aqui.”
Ela sabia. Minha mãe sentiu que ia morrer hoje, e talvez meu pai e Pietro também já
soubessem, e não quisessem acreditar. Talvez, lá no fundo, eu também já soubesse. Mas às vezes
ignorar o óbvio dói menos do que aceitar a verdade.
Mesmo sabendo que um dia a vida chega ao fim, nós nunca estamos preparados para perder
alguém, e meu coração se encontra destroçado como nunca neste exato momento.
Bato à porta do apartamento de Adam e espero por alguns segundos até que ele a abra. Após
falar com Chase mais cedo, tive treino e estava saindo dele quando Adam me ligou, dizendo que
precisava urgentemente falar comigo. Mesmo cansada, tomei coragem e vim ver o que é tão
importante que ele não pode dizer por telefone. O desespero em sua voz não me deixou outra
alternativa, eu realmente estou preocupada.
Eu estou pronta para bater na porta de novo quando ela é aberta subitamente, revelando um
Adam sem camisa, de calça moletom azul com bolinhas brancas, o cabelo desgrenhado e
algumas olheiras profundas em seus olhos. Ele não foi à universidade hoje, será que está doente?
— Entra! — Ele me puxa pela mão, e arregalo os olhos quando quase caio ao entrar no
apartamento.
— Devagar! — Eu o olho com raiva, vendo-o fechar a porta. — Ficou maluco?
— Não, mas estou ficando… — ele solta um gemido de frustração, passando por mim
enquanto bagunça os cabelos lisos.
Adam anda até o sofá e se joga de barriga para cima, com os olhos fixos no teto e o rosto
contorcido em uma expressão de choro.
Ando até ele.
— Como assim? — pergunto, jogando-me em cima dele. Franzo o cenho, olhando para
baixo. — Espere aí, você está sem cueca?
— Relaxa, o meu pau não sobe para você nem com reza brava. — Adam revira os olhos, e
belisco o mamilo dele de leve. Ele dá um tapa na minha mão. — Ai, seu dragão!
Eu reviro os olhos, saio de cima dele e me sento ao seu lado. Eu aperto meu rabo de cavalo
enquanto decido se pulo em seu pescoço ou o conforto devido à angústia óbvia em sua
expressão.
— Desembuche, por que me chamou aqui? — pergunto enquanto tiro a minha mochila e a
coloco ao meu lado.
Adam imediatamente se senta e me olha com cara de choro, mais uma vez. Eu sei que ele é
uma manteiga derretida, mas por que parece que ele vai surtar a qualquer momento? Ele pode ser
um cara sensível, mas foram poucas as vezes que o vi assim.
— Eu mal consigo dormir, Ally… — ele diz, abraçando os próprios joelhos. — Fico
pensando nisso toda hora.
Eu o olho, confusa.
— Pensando em quê? — pergunto, agora curiosa.
Adam solta os joelhos e se arrasta pelo sofá até estar quase colado a mim. Seus olhos estão
arregalados de desespero, e eu começo a ficar ainda mais preocupada e nervosa por todo esse
suspense. Diferentemente de quando leio meus livros, agora não está me agradando em nada.
Acho que eu só gosto de suspense na ficção.
— Fale logo, Adam. Estou ficando louca!
— Não me pressione, Allyson, minha cabeça está a mil! — Ele agarra os próprios cabelos e
os puxa.
Eu suspiro e cruzo os braços, deixando o meu corpo relaxar no sofá. Minha cabeça está
doendo muito, o treino foi muito pesado. Eu devia estar em casa para tomar um analgésico e
dormir, mas Adam parece precisar de mim, e eu não poderia descascar sabendo disso.
— Eu… eu estou sentindo coisas estranhas por Michael.
Eu arregalo os olhos e viro a cabeça para ele, vendo-o me olhar com seriedade.
— Você está o quê? — Preciso saber se escutei bem.
Adam se acomoda melhor no sofá e coloca as mãos sobre os joelhos, deixando a coluna reta.
— Eu… — ele começa de novo, dessa vez abaixando a cabeça — eu estou sentindo coisas
estranhas por Michael.
Abro um sorriso de coringa e descruzo os meus braços, virando-me de frente para ele.
— Você me explique isso direito — mando, mesmo já desconfiada. — O que é que você
sente?
Adam suspira e, mais uma vez, abraça os próprios joelhos, apoiando o queixo neles. Nesse
momento, ele parece uma criança que não entende os próprios sentimentos ou pensamentos.
— Ele me causa borboletas no estômago e me faz suar frio — Adam começa, enterrando o
rosto nos joelhos enquanto sua voz sai abafada. — Sempre que ele me olha, sinto como se meu
coração fosse sair pela boca. Eu me sinto nervoso perto dele, Allyson.
Meu sorriso se alarga ainda mais, e ergo a cabeça dele, segurando seu rosto entre as minhas
mãos.
— Você está se apaixonando pelo Michael? — pergunto com jeitinho.
Adam arregala os olhos. Se ele não entrou em colapso antes, tenho certeza de que desta vez
ele entra.
— O quê? Não! — Ele pula do sofá e se afasta de mim. — Eu sou hétero, não gay!
Eu não posso culpar Adam pela reação exagerada. Até um tempo atrás, ele achava que só
gostava de mulheres, mas agora está supostamente interessado em um homem. A cabeça dele
está uma verdadeira desordem, tenho certeza disso.
— Adam, não são só gays que gostam de homens — eu digo, puxando-o de volta para o sofá
pela mão. — Você já pensou na possibilidade de ser bi?
Merda, eu não sei como conversar sério com uma pessoa, minha língua sempre coça para
fazer alguma piadinha, ainda mais em momentos como esse, que exigem seriedade, e fico
nervosa. Foi um suplício conversar a sério com Adrien.
— Eu… eu… — Adam gagueja, parecendo atordoado. Sua voz se torna falha. — Ser… bi?
Assinto, afastando alguns fios de cabelo de sua testa.
— Sim, já pensou? — pergunto de novo.
Coloco uma almofada em meu colo e o encaro, esperando a sua resposta. Eu não quero
pressioná-lo, mas é bom que eu abra a mente dele para novas possibilidades. Não sei o que ele
realmente está sentindo, mas é bom não descartar nada.
Em um movimento rápido, Adam se abaixa e enterra o rosto na almofada em meu colo,
deitando-se no sofá. Logo após isso, a sala é preenchida pelo som do choro alto do meu melhor
amigo, e isso me parte o coração. Não gosto de saber que ele não está entendendo a si mesmo
neste exato momento.
— Eu não… não sei, Ally… — ele diz com a voz chorosa e então se vira de barriga para
cima, com seu rosto banhado em lágrimas. — Minha cabeça está muito confusa, eu não sei o que
pensar ou o que fazer, eu não sei. Nunca gostei de um homem antes, só de mulheres, eu não
entendo, Ally. Não entendo o que está acontecendo comigo. Estou ficando louco?
Eu o olhei com desespero, sem saber como reagir. O que eu falo? Eu digo que tudo bem ele
estar confuso? Ou então que estou aqui se ele precisar?
Porra, não tenho jeito para essas coisas.
— Acho que talvez você realmente esteja apaixonado por Michael — solto uma risadinha
nervosa.
Ele me encara por alguns segundos antes de seu rosto se contorcer e ele começar a chorar
mais alto, o que me assusta. Merda, merda!
— O que eu faço, Ally? — Ele se senta e olha para mim enquanto enxuga suas lágrimas. —
E se eu estiver gostando mesmo do Michael? Ele é hétero!
Sem conseguir me conter, solto uma risada estrangulada.
— Hétero não praticante — rio mais alto.
Adam inclina a cabeça para a esquerda, confuso.
— Como assim? — ele funga.
Balanço a mão direita, dispensando sua pergunta. Não cabe a mim dizer algo que não é da
minha conta.
— Nada, nada — digo e seguro as mãos dele. — Olha, você sabe que não sou muito boa
com as palavras, mas o que quero lhe dizer é que não precisa se desesperar. Pense com calma,
não precisa de pressa nem precisa se rotular agora. Tudo bem estar confuso, vá no seu tempo.
Adam assente com calma e se inclina para beijar a minha bochecha esquerda.
— Obrigado por vir me ver, Ally. — Ele me abraça. — Dorme aqui hoje? — pergunta
quando se afasta.
— Por quê? Você quer que eu balance a sua bundinha para você dormir? — Faço um
beicinho, e ele revira os olhos, fazendo-me sorrir. — Eu não trouxe roupas.
— Você usa as minhas, sem problema — ele diz, levantando-as.
— Está bem, mas vá fazer algo para eu comer. Estou morta de fome — digo ao me levantar.
Pego a minha mochila e caminho em direção ao quarto dele.
— Pode pegar qualquer roupa! — eu o escuto gritar.
Eu abro a porta do quarto de Adam, entro e jogo minha mochila ao lado de sua cama. Pego
uma toalha em seu guarda-roupa e caminho para o banheiro, onde tiro a roupa e os tênis,
entrando debaixo do chuveiro, mas não antes de prender meu cabelo em um coque.
A água quente percorre meu corpo, e fecho meus olhos, sentindo meus músculos relaxarem.
Eu estou feliz por Adam, Michael não parecia ser surtado como Melody, mesmo assim eu ainda
fico levemente desconfiada. Sempre fui muito protetora com quem eu amo, não meço esforços
para cuidar deles e acho que isso não vai mudar agora.
Seja homem, seja mulher, fazendo meus amigos felizes, isso já basta. Michael é o melhor
amigo de Chase, então eu acho que posso relaxar quanto a isso. Ou não, não sei. A gente nunca
sabe o que esperar da outra pessoa.
Falando em Chase, meu peito doeu ao ouvir a voz dele tão tristinha quando falou comigo
pelo telefone. Ele é sempre tão provocativo que estranhei rapidamente. Espero do fundo do meu
coração que a mãe dele tenha melhorado, ele parece amá-la muito, e algo dentro de mim não
quer, em hipótese alguma, vê-lo triste.
Além disso, estou morrendo de saudades dele, inferno. Mais do que eu pensei. Eu sabia que
sentiria falta dele, mas não imaginei que seria tanto assim. Sinto falta do cheiro dele, do abraço e
principalmente do seu sorrisinho de lado com a covinha estúpida, e dos olhos também, olhos
esses que o deixam com uma aparência que é puro pecado.
Abro os olhos e os reviro, pegando o sabonete líquido para me lavar. Estou parecendo uma
idiota apaixo… não.
Será que estou me apaixonando por Chase? Porra, eu quebrei a primeira regra do clube das
pistoleiras? Eu me apaixonei por um ficante? Porque, de certa forma, é isso que Chase é, um
ficante. Somos amigos, claro, e isso vem em primeiro lugar. Mas nós nos beijamos e também
transamos quando ele estava aqui, então isso faz dele o meu ficante, e eu a dele. Mas o
pensamento de que eu poderia gostar dele acaba de me deixar inquieta.
Se eu estivesse apaixonada por Chase, eu não me importaria de lhe contar, mas será que ele
também teria interesse em mim para algo a mais além de sexo? Eu sei que Karen foi uma vadia
com ele, mas talvez ele ainda a ame. Ele falou para mim, com todas as letras, que ele a amou
muito. Às vezes esse sentimento pode demorar anos para ir embora, e a negação está incluída.
Sei do que eu estou falando.
Eu não sei o que sentir depois do beijo que Kevin me roubou, mas felicidade com certeza
não está nas suposições. Eu odiei, mais ainda porque foi contra a minha própria vontade. Fiquei
louca para correr para longe dele.
Não devo me precipitar pensando que gosto de Chase. Agora que penso melhor, é só uma
amizade que é mais forte do que eu pensei. Estou apenas com saudades de um amigo.
Lavo o sabão do meu corpo e desligo o chuveiro, saindo do banheiro enrolada em uma
toalha. Procuro uma camisa velha e um short de Adam e os visto buscando meu celular em
minha mochila para falar com Tessa e avisá-la de que eu dormiria na casa de Adam.
Ela apenas visualizou a mensagem, e estou pronta para guardar o celular quando alguém liga
para mim, e a foto de Tessa aparece. Franzo o cenho e atendo.
— Tenho uma coisa para lhe falar — ela vai logo dizendo, assustando-me.
Franzo ainda mais as sobrancelhas.
— Aconteceu algo com Justin? — pergunto, levemente preocupada.
— Ah, não, ele está aqui comigo — ela fala. — Ally, você está sentada?
Eu me sento na cama logo atrás de mim, esperando a bomba que aparentemente vai ser
jogada no meu colo. Eu sinto isso.
— Não estava, mas agora eu estou — digo.
— Ok, ok… — ela diz e começa a falar antes que eu responda. — A mãe de Chase e de
Pietro… morreu.
Olho para a frente, tentando processar o que Tessa me disse. A mãe deles… ela morreu?
— Você tem certeza disso? — pergunto, sentindo a tristeza crescer em meu peito
rapidamente.
— Sim, Pietro acabou de me falar. Ela morreu antes das dez da manhã — eu a ouço suspirar.
— Ele está muito triste, e Chase está arrasado. O pai deles, principalmente, está desolado.
Paro de escutar assim que escuto que meu vizinho está arrasado, e o aperto em meu peito
cresce. Se ela morreu antes das dez da manhã, foi… foi… logo depois que falei com Chase.
— Tessa, preciso fazer uma ligação, obrigada por me contar — eu a agradeço.
— De nada, cuide-se — ela pede e, logo em seguida, a ligação é finalizada.
Procuro o contato de Chase e ligo para ele, desejando que me atenda. Meu Deus, ele deve
estar muito mal. Preciso falar com ele, saber se pelo menos está comendo. Eu disse para ele que a
sua mãe ficaria bem, dei-lhe falsas esperanças.
Ligo mais cinco vezes para Chase, mas ele não atende. As ligações vão direto para a caixa
postal. Decido mandar uma mensagem para ele.

Largo o celular ao meu lado e suspiro, passando as mãos pelo meu cabelo, começando a
ficar inquieta novamente. Caramba, conheci a mãe dele há alguns dias, e hoje ela morreu. Ela
parecia ser tão gentil e bondosa, Chase com certeza deve estar arrasado, eu vi o jeito que ele
olhava para ela quando fizemos a chamada de vídeo. Perder alguém nunca é fácil, muito menos a
mãe. Eu não sei o que faria se perdesse a minha.
Levanto-me e saio do quarto com o celular na mão para jantar, e me resta apenas esperar que
Chase me dê algum sinal de vida.
Dizem que existem três fases do luto: a negação, a raiva e a aceitação.
A negação é aquela em que você se recusa a acreditar que uma pessoa que você amava
morreu. Você se isola e mantém distância até mesmo das pessoas que são mais importantes para
você. Faz exatamente três semanas que a minha mãe morreu, e eu não saio do meu quarto e só
me alimento porque Pietro me enfia a comida goela abaixo, e as várias carteiras de cigarro são
minha companhia junto a Lady, que não sai de perto de mim nem por um momento.
O estágio da raiva é aquele em que você se sente revoltado e começa a questionar: por quê?
Eu não consigo aceitar o fato de que minha mãe morreu, isso simplesmente não entra na
minha cabeça, não importa que seja um fato, já que a nossa casa já evidencia a falta dela, sem
seus sorrisos doces ou carinho. Por que ela? Por que alguém tão bom quanto ela teve que morrer
quando filhos das putas vivem como se merecessem?
Não que eu quisesse que outra pessoa tivesse morrido no lugar dela, não desejo para
ninguém a dor que estou sentindo. Mas eu nunca vou entender o porquê de o mundo ser tão
injusto, e talvez essa seja a intenção, afinal. Não dá para ter resposta para tudo.
E tem a aceitação, o último estágio, ao qual eu ainda não cheguei.
Alguém abre a porta do meu quarto e, encarando Lady, dou mais uma tragada no terceiro
cigarro que fumo só nesta manhã. Parece que não importa quantos eu fume, nunca é o suficiente.
— Chase, venha comer — escuto a voz de Pietro e continuo a fazer carinho no pelo da
minha gata.
— Não estou com fome — eu digo, soprando a fumaça para cima.
Pietro anda pelo meu quarto até parar de frente para mim, no pé da cama.
— Você se tocou que perdeu peso? — Ele põe as mãos na cintura, e ergo os olhos para ele e
o vejo vestido com uma calça jeans preta e uma regata da mesma cor, deixando suas tatuagens
visíveis.
Pietro tem razão.
Minhas roupas estão folgadas em meu corpo, e perdi um pouco dos meus músculos. Não que
eu tivesse muitos, mas tinha o bastante para que meu abdômen fosse trincado, e meus bíceps
marcados, mas não de forma exagerada.
Eu não sinto a mínima vontade de comer. Pietro se esforça para que eu me alimente, mas a
verdade é que não consigo. Cada cômodo desta casa me lembra da minha mãe, principalmente a
cozinha, ela a amava. Estou me comportando como um fraco e estou totalmente ciente disso, não
me orgulho. Nunca aprendi a lidar com as perdas, não sei reagir a elas.
— Relaxa, depois eu desço e como algo — falo, olhando para Lady, que enrosca o rabo na
minha perna.
Eu o ouço suspirar e, em seguida, o cigarro é arrancado dos meus dedos e jogado no chão.
Pietro pisa em cima dele, apagando-o antes mesmo que eu possa processar. Eu me sento, ereto.
— Que merda, Pietro? — indago, fazendo menção de me levantar da cama.
— Ela também era a minha mãe, Chase — Pietro diz, e franzo o cenho, mirando meus olhos
nele.
Minhas pernas já estão para fora quando o ouço dizer isso, e suas palavras me deixam em
alerta, porque não perecem tranquilas. Elas não são.
— O que você está querendo dizer com isso? — questiono, arqueando minha sobrancelha.
— Estou tentando lhe dizer que está doendo em mim o tanto que está doendo em você. —
Ele me olha.
Eu rapidamente me levanto da cama e vou até ele, assustando Lady, que mia alto e pula para
o outro lado da cama.
— Quando eu disse que não estava? — pergunto, parando diante dele.
Pietro cruza os braços quando ficamos cara a cara devido à nossa altura semelhante. Ele não
tem medo de mim nem eu tenho dele, e é como irmãos devem ser, mesmo que ele pareça querer
voar no meu pescoço agora.
— Como você acha que eu me sinto tendo que cuidar de você e do nosso pai? — diz com a
voz cheia de rispidez. — Ele também está mal pra caralho.
— Eu sei disso, Pietro! — falo com impaciência.
Meu irmão ri com sarcasmo.
— Se sabe, por que se afastou da gente? — Ele se aproxima de mim. — Entendo que esteja
mal e que cada um sofre à sua maneira, mas não deveria se afastar de nós em um momento em
que precisamos estar mais unidos e não deveria fumar um cigarro após o outro como se essa
merda fosse fazer sua dor passar. Esse vício ainda vai matá-lo!
Cerro meus punhos e meus dentes diante de sua fala.
— Eu não penso que o cigarro vai fazer a dor passar e muito menos estou me afastando de
você e do nosso pai! — Eu me exalto.
— Sim, você está e sabe disso! — Ele aponta o dedo na minha cara. — Eu também perdi a
minha mãe, porra. Nosso pai perdeu a mulher que ama, ele vai dormir todo dia na cama que
dividiu com ela, você tem noção disso? — esbraveja. — Eu estou esgotado de ficar tomando
conta de você e dele, tenho que ficar lembrando os horários de vocês comerem ou até mesmo de
tomarem banho. Mas quem me consola? Eu também preciso que alguém esteja aqui para mim
em um momento como esse, porra!
Dou dois passos para trás quando suas palavras me atingem com força, como lâminas
cravadas no meu peito, difíceis de tirar.
— Você se lembra de que fizemos uma promessa para a nossa mãe? — Pietro pergunta,
pondo as mãos em meus ombros. — Nós prometemos que não deixaríamos nada nos afastar, mas
é exatamente isso que está acontecendo. Sem contar que a última vez que você saiu do quarto foi
para comprar uma tinta para seu cabelo e a merda de carteiras de cigarro. Além disso, desde que
a mamãe morreu, você não toca no celular para mais nada — Pietro suspira, e franzo o cenho.
— O quê? Não faz tanto tempo assim. — Passo as mãos por meu cabelo e engulo em seco.
Pietro se afasta de mim e põe as mãos na cintura, sorrindo com incredulidade.
— Não? — Ele arqueia uma sobrancelha. — Qual foi a última vez que você falou com os
seus amigos? Ou então com Allyson? Pelo que eu soube, ela tentou entrar em contato com você
várias vezes.
Ao ouvir o nome de Ally, ergo as sobrancelhas e corro em direção ao meu celular, que está
na cômoda.
— Merda, merda! — resmungo quando vejo que o celular está desligado, provavelmente
descarregado.
— Quando falar com Allyson, desça para almoçarmos, o pai e eu estamos à sua espera —
Pietro diz, começando a se afastar.
Olho para ele.
— Pietro! — eu o chamo antes que ele passe pela porta, e ele me olha. Respiro fundo. —
Desculpa, eu não sabia o quanto estava sendo difícil para você. Digo, não prestei atenção.
Estou tomado pela vergonha por ter deixado o meu irmão segurar uma barra tão pesada
como essa, e sozinho. Fiquei tão absorto na minha própria dor que não me preocupei com a dele
e a do meu pai.
— Não quero que se desculpe, você estava tentando fugir da dor. Sei como é insuportável.
— Pietro diz, encarando-me com a mão na porta. — Eu só não quero perdê-lo também. Não de
novo.
Fala, e sei ao que se refere: a quando terminei com Karen e entrei em uma depressão
profunda.
— Você não vai — digo com firmeza.
Ele realmente não vai. Fiz uma promessa para a minha mãe e não a quebrarei. Meu pai e
meu irmão são a única família que me resta, vou fazer tudo por eles, mesmo que eu esteja um
pouco atrasado.
Pietro apenas sorri minimamente e em seguida sai do meu quarto. Volto a minha atenção
para o meu celular e procuro o meu carregador, conectando-os. Aperto o botão e espero meu
telefone ligar.
Merda, faz duas semanas que não converso com Allyson. Três semanas que não escuto a voz
dela ou qualquer coisa do tipo, será que ela está com raiva de mim? Não fiz por mal, como Pietro
disse, não mexo no celular faz três semanas, eu não tinha a mínima vontade de conversar e
espero que Allyson entenda isso. Mas errei em não avisá-la.
Não quero perdê-la, não a amizade dela. Não sei o que vou dizer assim que falar com ela,
não preciso que fique com pena, já bastam os olhares que meu pai, Pietro e eu recebemos no
enterro da minha mãe.
Assim que o celular liga, eu me sento na cama e o desbloqueio, indo no contato de Ally,
arregalando os olhos quando vejo que tenho quinze mensagens de Allyson e trinta e cinco
ligações. Engulo em seco e clico nas mensagens.
[24 DE OUTUBRO]
[25 DE OUTUBRO]

[30 DE OUTUBRO]
Deixo meu corpo cair para trás na cama e me sinto um filho da puta mesmo não tendo feito
por mal, não passou pela minha cabeça que ela gostaria de ficar informada de tudo. Ela com
certeza está preocupada com o meu sumiço, mesmo que a sua última mensagem tenha sido
enviada há uma semana. Mas a sua última ligação foi há apenas dois dias.
Eu vou voltar para Nova York e conversar com Ally. Vou me explicar e torcer para que ela
não fique com raiva e se afaste de mim, não quero perder mais uma pessoa importante na minha
vida. Não Allyson.
Clico no contato dela e ligo para Ally, desejando com todo o meu coração que ela atenda. Se
estiver com raiva, não vai atender; se estiver triste, também não. Mas eu prefiro que ela esteja me
odiando em vez de magoada. Com uma Allyson brava, eu sei lidar; agora, com uma Allyson
triste, não.
Deixo o celular carregando em cima da minha cômoda, pego Lady no colo e a levo para fora
do quarto para irmos almoçar com meu pai e Pietro. Ela deve estar com fome, não sai do meu
lado desde que minha mãe morreu. Apenas come quando Pietro coloca comida para ela.

— Panqueca era a comida preferida dela — meu pai diz, passando a mão direita em seu
rosto, que carrega uma barba por fazer.
Assim que chego à cozinha, faço a primeira coisa que vem à minha mente e, em minha
defesa, não lembrei que panqueca era a comida preferida da minha mãe, simplesmente porque
ela deixou de comer após começar a quimioterapia mais uma vez.
Pietro me olha e limpa a garganta.
— Vou fazer outra coisa — ele diz, pegando o prato do nosso pai.
— Não! — Meu pai segura o pulso dele, parando-o. — Eu não estou reclamando, não
fiquem assim, receosos.
Pietro deixa o prato onde está e apoia os cotovelos na mesa. Ele olha para a própria
panqueca e abre um sorriso ao levar um pedaço à boca.
— Até que não está ruim, dá para mastigar. — Ele me olha com deboche.
— Você está é com inveja dos meus dotes culinários. Tente nascer de novo. — Sorrio com
sarcasmo.
— Isto está horrível — Pietro diz, referindo-se à panqueca.
— Ah, é? — Ergo as sobrancelhas. — Então por que já é a segunda que você come?
Pietro força uma tosse.
— Porque eu sou um cara grande e musculoso, preciso de energia, mesmo que ela seja
difícil de engolir. — Ele dá de ombros.
Eu solto uma risada debochada e apoio meus cotovelos na mesa.
— Dá próxima, eu coloco veneno. Talvez fique com um gosto melhor.
Pietro abre a boca, totalmente indignado com a minha fala. Sorrio vitorioso e, antes que ele
possa dizer alho, um som preenche a cozinha, um que, se já era difícil de escutar, se tornou
inexistente devido aos acontecimentos dos últimos dias: a risada do nosso pai.
Pietro e eu olhamos para ele e o encontramos com os olhos em nós e um sorriso mínimo no
rosto. Os mesmos olhos que nos encaram estão levemente marejados. Eu sei que mal saí do
quarto nessas três semanas, mas tenho certeza de que meu pai não deve ter rido como agora.
— Do que o senhor está rindo? — Pietro pergunta com indignação. — Deveria é ver se
ainda está em tempo de devolver Chase para o lixão. — Ele revira os olhos.
Eu o olho com raiva, e nosso pai ri de novo.
— Eu e a mãe de vocês achamos os dois no lixão. — Ele nos olha com divertimento.
Agora, Pietro e eu estamos indignados. Pietro ter sido achado no lixo eu até entendo, agora
eu? Impossível. É só olhar entre nós dois que verá quem é o preferido.
— Não gostei desse tom — Pietro resmunga, enfiando uma garfada de panqueca na boca. —
Se a mamãe estivesse aqui, ela me defenderia.
— Até parece, ela gostava mais de mim. — Sorrio, convencido.
Pietro e eu parecemos nos tocar do que estamos dizendo e olhamos para o nosso pai, vendo-
o nos encarar com o rosto inexpressivo. Eu engulo em seco e me toco de que talvez ele fique
triste quando mamma é mencionada. Mas o que também percebi é que não doeu tanto quando
falei dela. Pensei que doeria mais, mas, pensando bem, só deixou saudade e nostalgia.
— Não parem de falar sobre a mãe de vocês na minha frente — meu pai fala, tirando-me de
meus pensamentos. — Ela não deve nunca, em hipótese alguma, virar um tabu entre nós.
— Nós pensamos que o senhor ficaria triste — Pietro diz.
Sinto algo se enrolar em minha perna direita e olho para baixo, encontrando Lady.
— Falar sobre a mãe de vocês nunca me deixaria triste. — Nosso pai sorri enquanto passa a
mão por sua barba.
Pietro e eu assentimos, sem sabermos o que dizer. Nós estamos cientes de que a morte da
nossa mãe ainda dói muito em nosso pai, mas não iríamos perguntar, apenas lhe dar conforto.
Eu me abaixo para pegar Lady no colo e a coloco em minhas pernas, mirando meus olhos
em meu pai.
— Pai, eu tenho que voltar para Nova York para resolver umas coisas — eu digo enquanto
acaricio o pelo da minha gata.
— Sem problemas, vai lhe fazer bem ver seus amigos — ele diz, comendo sua panqueca. —
Sem contar que a sua vida está lá. A sua e a de Pietro.
O que não é mentira, já que meus amigos estão lá, e também tem a Ally, de quem estou
morrendo de saudades. Mas aqui, na Itália, também tem o meu pai, que é a minha família.
— Por que o senhor não volta para Nova York com a gente? — Pietro é quem pergunta, e
ergo as sobrancelhas.
— Verdade, venha conosco — reforço.
Vejo nosso pai massagear a própria nuca.
— Não sei, não quero me afastar da mãe de vocês — ele diz com um olhar de incerteza.
— Nós podemos pedir permissão para levá-la para Nova York e enterrá-la por lá — Pietro
diz. — Ela não iria gostar de nos ver separados, pai, volte com a gente — ele chama.
Realmente, nossa mãe não gostaria de nos ver separados e, conhecendo o nosso pai, ele não
conseguiria viver em uma casa cheia de lembranças da mamãe, e sozinho, ainda por cima.
— Eu preciso pensar, depois digo — meu pai suspira enquanto me olha. — Quando você vai
mesmo, Chase?
— Vou ver se consigo comprar uma passagem hoje e voltar para Nova York amanhã — eu
digo, escutando minha gata ronronar.
Meu pai assente várias vezes.
— Tudo bem, vou ficar e resolver a ida da mãe de vocês para Nova York. Caso eu decida ir,
é claro — ele diz.
— Eu fico com o senhor enquanto resolve. — Pietro sorri minimamente.
— Obrigado — nosso pai também sorri. — Você tem que voltar amanhã mesmo, Chase?
Assinto.
— Sim — eu digo. — Tenho um assunto pendente em Nova York, não quero adiá-lo. É um
assunto que não pode ser deixado para depois. Acho que já fiz isso demais…
E realmente fiz. Tenho que voltar para Nova York e resolver qualquer problema que tiver
entre mim e Allyson e mudar qualquer que seja o pensamento enganoso que ela tenha colocado
na própria cabeça sobre eu não ter respondido a ela.
Eu confio no meu pai e no meu irmão para resolver tudo por aqui; por hora, tentarei resolver
a minha vida, ou ao menos aquilo de que eu tenho controle, porque a ferida no meu peito não vai
cicatrizar tão cedo.
Saio do banheiro vestida com uma calça jeans preta um pouco larga e um cropped de cor
vinho decotado e de mangas longas. Sento-me na cama e retiro a toalha do meu cabelo e o
enxugo com ela. Hoje é sábado, e já passa das nove e vinte da manhã, estou acordada desde as
seis porque mal consigo dormir, e vem sendo assim faz um tempo.
Além de ter várias coisas da universidade na cabeça, não consigo parar de pensar em Chase
e de me perguntar se ele está bem. Não falo com ele desde a morte de sua mãe, ele não me
responde, as mensagens nem sequer chegaram a ser entregues e, por um pouco de orgulho, agora
me recuso a ver se foram. Chase também não atendeu as minhas trinta e cinco ligações. Sim,
liguei trinta e cinco vezes para ele.
Depois que não consegui entrar em contato com ele, falei com Pietro, e ele me disse que
Chase estava fisicamente bem, mas não saía do quarto. Eu fiquei ainda mais preocupada, mas
não tentei fazer contato com ele de novo, já que soube que estava bem. Mas vontade não me
faltou, porém eu não queria ficar em cima dele como uma emocionada, não queria sufocá-lo.
Antes de eu conversar com Pietro, admito que fiquei com raiva por Chase não ter falado
comigo e me deixado preocupada. Caramba, foram três semanas sem notícias dele após a perda
da sua mãe, não teve como ficar calma. Contudo, quando conversei com Tessa sobre isso, para
saber se estava sendo egoísta, ela me disse que sim e, de fato, estava, eu não poderia ficar com
raiva de Chase por ele não responder às minhas mensagens, no lugar dele eu também não sentiria
vontade de mexer no celular ou falar com alguém.
Então, eu o estou esperando entrar em contato comigo e me dizer se está bem. Não que ele
me deva alguma explicação, sou apenas amiga dele, ainda assim estou terrivelmente ansiosa.
Não sei se ele está se alimentando bem, se está conseguindo aceitar a morte da mãe ou se precisa
de algo. Sei que, por um momento, fui uma cadela egoísta, mas sou humana e repensei essa
minha atitude de merda. Mas quer saber? Ele ainda deveria ter me dito que não está com cabeça
para conversar.
Passo os dedos por meus fios molhados e embaraçados e olho para trás, encontrando Adam
deitado em minha cama, ainda dormindo. Ele e Kat vieram dormir ontem aqui e assistimos a um
filme e pedimos pizza, Kat agora está dormindo no quarto de Tessa, e duvido muito que vá
acordar agora. Viro-me para a frente e procuro minha escova de cabelo.
— Você já está arrumada? — Olho para trás e vejo Adam se espreguiçando enquanto me
encara.
O cabelo dele está para o alto, uma moradia perfeita para os pássaros. Quero rir.
— Sim, e você deveria estar se arrumando, não foram vocês que pediram para ir comigo? —
pergunto, também me referindo a Tessa e Kat.
— Mas ainda está cedo — Adam murmura, esfregando os olhos.
— São nove e meia da manhã. — Eu reviro os olhos e penteio o meu cabelo com a escova.
Adam arregala os olhos e rapidamente pula da cama, quase pisando em Justin, que está
deitado com o focinho sobre as próprias patas, no processo.
— Eu juro, Adam… — Aponto a escova na direção dele. — Se você tivesse pisado no meu
cachorro, eu o teria feito dar feliz aniversário para Jesus mais cedo.
— Eu não vi que ele estava aí em baixo! — ele diz com o rosto indignado. Então me encara
atentamente. — Aliás, você tem certeza de que quer fazer isso?
Eu me viro de volta para o espelho.
— Sim, tenho certeza — digo, desembaraçando os nós do meu cabelo com os dedos assim
que meus fios estão alinhados. Sorrio. — Eu já sou gostosa, imagine com uma tatuagem.
— Olha a autoestima do dragão — Adam debocha, indo para o meu banheiro.
Antes que ele possa notar ou desviar, miro a escova de cabelo na bunda dele e a atiro nela
um segundo antes de ele entrar no banheiro. Adam grita e se vira para mim com as mãos no
traseiro e os olhos arregalados.
— Está maluca, sua feia?! — ele me olha com raiva.
— Dragão é a sua madrinha, arrombado. — Reviro os olhos, procurando o meu rímel na
minha penteadeira.
— Pior que é mesmo. Ô mulher prejudicadinha de face, viu. — Ele olha para o nada,
pensativo.
Sorrio em deboche.
— Você é um ótimo afilhado, não é? — eu o provoco enquanto passo o rímel.
— Não é como se ela também gostasse de mim! — rebate, jogando a escova de cabelo em
minha bunda, revidando. — Vou me arrumar, espere aí!
Dito isso, ele se vira, vai na direção do banheiro e se tranca lá dentro.
Eu guardo o rímel, apanho a escova e a coloco em minha penteadeira. Abaixo um pouco o
decote do meu cropped e observo o vão entre os meus seios. Dará uma ótima tatuagem.
Eu não sei bem quando essa vontade de fazer uma tatuagem surgiu, mas estou com ela na
cabeça desde o dia em que Chase sumiu. Não consigo não ver um cara tatuado e não me lembrar
dele, chega a ser patético o quanto estou com saudades do meu vizinho. Não vou mentir, fico
triste quando me lembro dele, o que me faz pensar que talvez a hipótese de eu estar apaixonada
por Chase não seja só coisa da minha cabeça. Mas prefiro acreditar que é só carência. É bom
para evitar dor de cabeça.
Mas eu deixarei para descobrir isso quando Chase estiver aqui. Isso se… se ele voltar da
Itália. Olhe para mim sendo dramática de novo.
A porta do meu quarto é aberta.
— Faz quanto tempo que você está acordada? — escuto a voz de Kat e olho para ela,
encontrando-a com Tessa. As duas já estão arrumadas. Ok, isso me surpreendeu. Kat franze o
cenho. — E por que você está vendo seus peitos no espelho?
— Acho que é para ver se cresceram — Tessa ri ao entrar no quarto.
— Silêncio, eu tenho mais do que você. — Sorrio, afastando minha mão do decote por ter
sido pega no flagra.
— Quem está mamando não está reclamando — Tessa diz ao se sentar em minha cama com
um sorriso debochado.
— Amo minha mulher — Kathleen suspira de maneira apaixonada, negando com a cabeça
quando adentra meu quarto.
Eu faço uma careta, fingindo indignação.
— É, o suicídio está logo ali. Quem quer vir comigo? Casais têm direito a ir primeiro.
Elas riem, e Tessa joga um travesseiro em mim. Eu o agarro sorrindo enquanto dou alguns
passos para trás no processo.
— Já decidiu onde vai fazer a sua tatuagem? — Kat pergunta, sentando-se ao lado de Tessa.
Assinto.
— Sim, lá embaixo — minto, tentando me manter séria.
— Hein? — Ela franze o cenho, arregalando seus olhos. Não sei como conseguiu fazer isso,
mas ela fez. — Está maluca? Deve doer pra caralho!
Pior que sim, não fiquei doida.
— Vai tatuar o quê? — Tessa pergunta.
— Uma pimentinha. — Sorrio largamente e jogo o meu cabelo molhado por cima do ombro.
— Você vai tatuar uma pimentinha lá embaixo? — Tessa faz uma careta que beira a
indignação.
— Quem vai tatuar uma pimentinha lá embaixo? — Adam sai do banheiro, enrolado em
uma toalha e os fios molhados.
— Allyson. — Kat aponta para mim.
— Uma vibe bem acompanhante de luxo — Adam sorri, retirando a toalha e ficando só de
cueca preta.
— O que é isso, meu quarto virou praia de nudismo? — Ponho as mãos na cintura enquanto
o vejo vestir uma calça jeans de cor clara.
— Relaxa, as duas se amam demais para repararem em mim, você só tem olhos para outro
cara e meu pau nunca subiria para vocês. Qual é, vocês são tipo… vocês… — ele sorri,
colocando uma camisa azul-escura de mangas compridas.
Abro a boca com indignação. Talvez eu tenha ficado ofendida com o que ele disse. Olhe
para mim, como eu não deixaria alguém excitado?
— Eu me sentiria ofendida… Mas você só disse verdades — Tessa diz, pensativa.
— Eu acho que Ally ficou — Kat ri, percebendo a minha expressão.
Adam sorri e vem na minha direção, abraçando a minha cintura enquanto apoia a bochecha
em meu ombro, encarando-me com os olhos estreitos.
— É não, lindinha, você é um piteuzinho. — Ele me dá um beijo molhado na bochecha.
Eu faço uma careta e limpo se beijo, depois me inclino para longe dele.
— Mantenha a baba dentro da boca — eu o provoco.
Adam sorri e se aproxima novamente.
— Eu a mantenho é na sua bochecha. — Põe a língua para fora e lambe toda a extensão da
minha bochecha.
Eu solto um gritinho, e as meninas riem, e Adam faz o mesmo quando eu o empurro para
longe.
— Que nojo, Adam! — eu digo, limpando a minha bochecha.
— Ihhh, está com nojinho só porque fui eu — Adam sorri, penteando os cabelos com a
minha escova.
— Se fosse Chase, ela não estaria assim — Tessa reforça, rindo.
— Ela o mandaria lamber a outra bochecha também — Kat diz, e Justin late como se
concordasse. — Esperem só ele voltar para vocês verem.
Meu coração afunda imediatamente. Se ele voltar. Não estou muito confiante disso. Não por
drama, mas porque Chase não tem motivos para voltar. Nada o prende aqui.
Eu assisto a Adam calçar seus tênis e limpo a garganta, andando até a porta do meu quarto
após fazer um carinho nas orelhas de Justin.
— Vamos? — eu os chamo, e eles assentem e passam pela porta.
Deixo-a aberta para que Justin saia quando quiser e ando logo atrás dos meus amigos,
pensando no que Kat disse.
“Esperem só ele voltar para vocês verem.”
Eu espero pateticamente que ele volte. Caso contrário, estou pronta para agir como se nada
nunca tivesse acontecido.

— Agora que penso… Será que realmente dói tatuar lá embaixo…? — Kat olha para nós,
baixando seu tom de voz.
Ao nosso lado, está uma mulher ruiva com dezenas de tatuagens por seu corpo pálido. Ela
olha para nós com uma sobrancelha arqueada; é a única cliente presente no lugar além de nós, já
que as outras já foram atendidas.
Faz uma hora que estou esperando, as coisas não saíram como planejado segundo o tatuador
e o cliente mudou de desenho no último instante.
— A pergunta não foi para mim, mas acho que não deva doer tanto. — A moça dá de
ombros.
— Mas você é cheia de tatuagens, impossível não ter uma na perseguida — Kat solta,
indignada.
Mas que… Perseguida?
— Kat, cale a boca, pelo amor de Deus… — Tessa diz, envergonhada.
Kat resmunga e cruza os braços. A moça ruiva olha para ela.
— Eu tenho uma. No ânus, serve? — a mulher pergunta, e escuto Adam se engasgar ao meu
lado com sua latinha de refrigerante.
Eu arregalo os olhos e olho para a mulher como se ela fosse louca. Que porra é essa? Uma
tatuagem no ânus? Ela é maluca?
— Puta que pariu, e não doeu?! — Kat arregala os olhos e cobre a boca com as mãos.
— Doeu, mas não foi tanto. — A ruiva dá de ombros mais uma vez.
— Deve ser fã da diva Anitta — escuto Adam dizer e sorrio.
Essa ruiva só pode ter merda na cabeça por tatuar o ânus. Ok, o corpo é dela e ela pode
tatuar o que quiser, mas, caralho, o ânus? Imaginem a dor. Eu já estou morrendo de medo por
fazer uma tatuagem no vão dos meus seios, imagine no ânus.
— Allyson Young, você é a próxima. — Um cara tatuado sai de trás de uma cortina, usando
óculos e luvas brancas.
Com as pernas bambas, eu me levanto lentamente e ando até ele, mas não sem antes dar uma
olhada em meus amigos e ler os lábios de Kat.
“Força na perseguida.”
Eu reviro os olhos e ergo o dedo do meio para ela, acompanhando o cara até uma espécie de
cama.
— Pode se deitar — o tatuador manda, e eu obedeço.
Quando já estou deitada, estico minhas pernas, coloco minhas mãos sobre a minha barriga e
o encaro. Ele é cheio de piercings e tatuagens e tem lindos olhos castanhos.
— Então, já sabe o que vai tatuar? — ele pergunta, e eu assinto, tirando meu celular do
bolso e procurando a foto que quero.
Eu escolhi uma rosa com uma cobra envolta, não me perguntem o significado, porque nem
eu mesma sei. Só a achei simplesmente linda e me lembrou a… a tatuagem de rosa que Chase
tem no pescoço e na mão.
Porra, Allyson, por um momento, apenas por um momento… pare de pensar nele.
— Humm… — o tatuador diz, olhando para a foto. — É um pouco complexa, mas não vou
demorar a fazer.
Eu lhe entrego o celular.
— Acha que vai doer muito? — pergunto um pouco aflita.
— Toda tatuagem dói, só que algumas mais do que outras — ele sorri, e engulo em seco,
assentindo. — Onde você quer a tatuagem?
— Aqui — digo, apontando para o vão entre os meus seios. — E quero desse tamanho aqui,
ó. — Indico com as mãos.
Ele assente e apoia meu celular para que fique de uma altura boa para que ele possa ver e
fazer igual.
— Ok, ok. — Ele aproxima de mim a agulha. — Foi até melhor que tenha vindo de decote, a
última mulher que tatuou o vão entre os seios teve que tirar a blusa.
Ela vira de costas e prepara suas ferramentas. Vim preparada, mas não é como se eu me
importasse em ficar pelada. Talvez outra mulher ficasse com vergonha, mas eu não. Não tenho
problemas com meu corpo mesmo sabendo que tenho estrias e que não o mais definida possível,
com exceção das minhas pernas, claro.
Minha mãe me educou com o pensamento de que sou linda do meu jeito e não devo deixar
ninguém dizer o contrário.
Fecho os olhos ao sentir o primeiro contato da agulha em minha pele. A dor é fina, e não
consigo evitar me contorcer um pouco pelo incômodo. O tatuador teve que parar duas vezes para
que a dor diminuísse um pouco. Ele me disse que, pelo fato de a região que eu escolhi não ter
muita carne concentrada, doeria mais. Merda, da próxima vez eu iria tatuar a bunda.
Quando enfim acabou, o cara a cobriu com uma espécie de plástico e me ajudou a me sentar
na cama. Quando o fiz, tirei o dinheiro do bolso da calça e o paguei.
— Espero que tenha gostado, volte sempre. — Ele sorri para mim.
— Dói muito, você nunca mais vai me ver. — Sorrio para ele. — Tchau. — Aceno e lhe dou
as costas, ouvindo-o sorrir.
Enquanto ando, olho para baixo para ver a tatuagem debaixo do plástico. Está idêntica à da
foto, o cara realmente fez um bom trabalho.
Passo pela cortina, e meus amigos se levantam quando me veem. Não perco tempo e, assim
como eles, ando em direção à saída e os vejo me acompanhar. Parecem animados, curiosos e,
bom, não os julgo. O que fiz hoje foi uma tremenda loucura.
— Você realmente tatuou a perseguida? — Kat pergunta enquanto caminhamos em direção
ao carro dela. — Deixe a gente ver!
— É, deixe a gente ver! — Tessa reforça, mesmo que eu saiba que elas estão brincando.
Eu as olho com incredulidade. Juro, meus amigos devem ter sérios problemas mentais, não é
normal alguém agir assim. Devo começar a venda online? Ou tem que ser à moda antiga, assim a
polícia não descobre com facilidade? Se for bem planejado, claro.
— O quê? Eu nunca mostraria a vocês! — eu nego. — E parem de se fingir de doidas, eu sei
que estão vendo a tatuagem entre os meus peitos.
— Doeu? — Adam pergunta, tentando enxergar por dentro do meu cropped para saber até
onde a tatuagem vai.
— Muito. — Dou um tapa na testa dele, afastando-o.
Ele me olha com raiva e massageia a própria testa.
Tessa e Kat riem, e nós entramos no carro; a namorada da minha melhor amiga no banco do
motorista, Tessa no do passageiro e Adam e eu atrás.
— Ah, que lindo! — Tessa diz, e olho para ela, encontrando-a com um sorriso no rosto. —
Agora Allyson é tatuada como Chase!
— Verdade, o casal tatuado! — Adam dá risada da própria piada.
— Nós não somos um casal — eu murmuro, afundando meu corpo no assento do carro.
Eles se entreolham e sorriem por algo que só eles entendem. Mas eu peguei no ar, porém
prefiro ignorar.
— Eu acho que Chase vai gostar da tatuagem de Allyson. — Kat sorri enquanto dá partida, e
Adam e Tessa concordam, e todos entram em uma conversa sobre a minha vida.
Eu me desligo, cruzo os braços e olho para fora do carro, sentindo o vento balançar meus
cabelos.
“Eu acho que Chase vai gostar da tatuagem de Ally.”
Suspiro. Não faço a mínima ideia se ele iria gostar, não fiz por ele ou para lhe agradar. Mas
boa parte de mim gostaria que Chase voltasse da Itália amanhã mesmo e visse a tatuagem com
seus próprios olhos e dissesse o que achou. Algo dentro do meu peito quer isso.
Quer o que eu não posso ter e o que eu sei que vai dar errado.
Visto meu short de lycra e pego a blusa do meu uniforme do time de vôlei, caminhando em
direção ao espelho do meu quarto. Analiso a minha tatuagem e passo os dedos de minha mão
pela área avermelhada, mas sem a tocar. Ela parece irritada.
A tatuagem ficou linda, mas a área ao redor dela está levemente dolorida. Ainda não sei
onde eu estava com a cabeça quando a fiz, mas não me arrependo. Talvez os meus pais tivessem
um treco quando a vissem, mas eu estou pouco me fodendo. Minha mãe não vai dar a mínima, já
que ela tem uma na costela esquerda. É uma estrelinha bem pequena, mas ainda tem.
Ontem, quando cheguei em casa, vi que Chase me ligou, e foi como se o mundo tivesse
parado por alguns segundos. Eu retornei a ligação três vezes, mas em nenhuma delas ele atendeu.
Talvez tivesse me ligado por engano ou então não viu as minhas ligações. Mas, quando eu
chegar do treino, me certificarei se ele retornou. Por hora, focarei em mim.
Visto minha camisa e amarro o meu cabelo em um rabo de cavalo no alto de minha cabeça.
Calço os tênis e já vou me levantar da cama quando Justin pula em minhas coxas. Ele fica sobre
as patas traseiras e coloca as da frente em meus ombros, ficando em pé.
— O que foi? — pergunto, abraçando as costas dele.
Justin não faz nada, apenas apoia o focinho em meu ombro direito e abana o rabo de maneira
violenta. Eu sorrio e acaricio suas costas quando ele lambe a minha bochecha direita. Deve estar
com saudades de mim.
— Eu não venho lhe dando muita atenção, não é, bebê? — Pego o focinho dele entre as
minhas mãos quando ele se senta em minhas coxas. — Sou uma péssima dona, não sou?
Ele late, parecendo concordar.
— É para você dizer que não, sarnento — eu digo, e ele rosna, mostrando os dentes para
mim. Eu aponto um dedo em sua direção. — Não os mostre para mim, eu sou sua mãe!
Justin tenta mordê-lo, e arregalo os olhos ao puxá-lo para longe dele.
— Você ia me morder? — Eu o ponho no chão e coloca as mãos na cintura. — Chase você
não morde, não é?
Ao ouvir o nome de Chase, Justin esconde o focinho com suas patas e começa a chorar
baixinho, causando-me uma dor no coração. Eu suspiro e me sento ao lado dele, acariciando suas
orelhas.
Parece irreal, mas meu cachorro realmente parece estar triste.
— Está com saudades de Chase? — pergunto, e ele apoia as patas em minhas coxas, latindo.
— Não fique, Justin; pelo que eu estou vendo, ele não vai voltar tão cedo.
Eu reviro os olhos e acaricio seu pelo.
— Olhe a que ponto eu cheguei… — suspiro, colocando meu nariz ao focinho dele. —
Conversando com você… Como se me entendesse.
Justin lambe meu nariz, e fecho os olhos e sorrio largamente ao sentir cócegas. Ele mais uma
vez lambe meu pescoço e abana o rabo. Fico fazendo carinho nele por alguns minutos, já que
ultimamente não lhe tenho dado atenção.
Minha cabeça anda cheia, e o meu tempo curto, mas eu devia ter ao menos dado um pouco
de carinho a ele. Justin sempre está comigo quando preciso; mesmo que não saiba falar, sempre
me conforta. Ele parece sentir quando estou triste.
— Está com fome? — pergunto quando me afasto dele, e Justin late, como se confirmasse.
— Venha.
Talvez o treino me distraia.

Distraiu porra nenhuma.


Como se já não bastassem as coisas que estão acontecendo na minha vida, ainda tem Karen,
que não cansa de me encher o saco. A garota aproveita qualquer oportunidade para me provocar,
e eu não estou nem brincando. Tive que me controlar para não jogar a minha garrafinha de água
na testa dela quando ela fingiu esbarrar em mim sem querer.
Não acho que meu desentendimento com Karen seja apenas por Chase, agora as coisas
parecem pessoais. Parecem não, são, e tenho certeza de que eu ganhei um problema gigante para
minha vida, mas eu não ligo. Ela não vai chegar nem perto de Chase. Não agora que ele deve
estar tão mal com a morte da mãe, nem depois. Enquanto Chase não me disser para cuidar da
minha própria vida, vou continuar cuidando dele e afastando qualquer pessoa que queira
prejudicar meus outros amigos.
Bom, meu vizinho agora está muito longe. Longe demais para Karen fazer mal a ele e longe
demais para que eu o proteja.
— Fim de treino, venham aqui — o técnico diz, parado perto dos bancos com as mãos na
cintura e um apito ao redor do seu pescoço.
Eu suspiro, apoio as mãos em minha cintura e estico as minhas costas doloridas e tensas.
Massageio o meu pescoço e, com meus pés doendo, caminho lentamente até o técnico e vejo
Karen parada ao lado dele, e ela me encara com um sorrisinho de lado.
Eu a ignoro e foco meu olhar no homem, morrendo de vontade de puxar os cabelos dela.
Comigo não tem essa de rivalidade feminina, se a briga for por homem, nem me envolvo, mas,
caso contrário, seja homem, seja mulher, quem entrar no meu caminho vai morrer, vai arder no
fogo do inferno.
— Estou achando-as muito desligadas e lentas hoje — o técnico diz com as mãos na cintura,
mirando os olhos em mim. — Principalmente você, Allyson.
Eu quase rio. Como ele quer que eu mantenha o foco se a porra da protegida dele me enche a
paciência toda hora?
— Talvez ela esteja com a cabeça cheia, técnico — Karen fala, atraindo a minha atenção
para ela, que sorri. — Ouvi dizer que a mãe do namorado dela morreu, ela deve estar dando
muito apoio a ele neste momento. Pegue leve com ela.
Cerro meus punhos e estreito meus olhos na direção dela. Karen sabe. Ela sabe de alguma
coisa, tenho certeza. Mas como ela descobriu que a mãe de Chase morreu?
Talvez ela estivesse esperando que eu negasse que Chase é meu namorado, mas não vou dar
esse gostinho a ela. Sem contar que não é por isso que estou lenta hoje. É tudo culpa dela, e ela
sabe disso. Sonsa desgraçada.
— Se é assim, sinto muito pela mãe do seu namorado, Allyson — o técnico diz. — Mas vou
pedir que não deixe seus assuntos pessoais interferirem aqui no treino.
Solto uma risada incrédula. Sério isso? Mama meu pau, velho desgraçado. Deixe-me só
dizer à sua mulher que você come uma das funcionárias da universidade. Sim, descobri isso
meses atrás.
— Pode deixar. — Sorrio falsamente.
Ele assente e nos libera, caminhando para fora da quadra como se não tivesse comido o resto
da porra da minha paciência. Eu suspiro, ando até a minha mochila e tiro minha garrafinha de
água do bolso.
Seco meu rosto e pescoço com uma toalha quando sinto uma mão em meu ombro direito.
— Cansada, Ally? — Olho para trás e vejo Karen com um sorrisinho.
Eu bato na mão dela e a afasto do meu ombro, pouco me importando em ser delicada ou
discreta. Eu a ignoro e coloco minha garrafinha no bolso de minha mochila.
— Não é educado ignorar uma pessoa — ela diz enquanto apoio meu pé esquerdo no banco
e arrumo meu cadarço. — Chase não vai voltar da Itália?
— Se ele quisesse que você soubesse, teria lhe falado — digo, arrumando agora o meu outro
cadarço.
Apenas Karen e eu estamos na quadra, não tem mais ninguém. Nenhuma pessoa para
presenciar nossa conversa pouco amigável.
— Eu lhe fiz uma pergunta — Karen diz com voz séria.
— E eu lhe respondi — falo ao me virar para ela com as mãos na cintura. Sorrio. — Se
Chase volta ou não, não é da sua conta.
Sem esperar que ela responda, eu me desvio dela e começo a andar.
— O jeito como você protege Chase… — escuto a voz de Karen. — Você gosta dele, não
gosta? O que é engraçado, já que o relacionamento é de fachada.
Eu estaco no lugar.
Neste momento, eu me sinto incapaz de fazer qualquer movimento, as palavras dela me
atingiram em cheio. Mas, mesmo assim, me forço a virar para olhá-la.
— Não fale do que você não sabe — eu digo entredentes, nem um pouco interessada em
fingir calma.
Karen sorri, cruza os braços e começa a caminhar na minha direção.
— Own, você gosta dele, que bonitinho — ela diz enquanto me ronda. — Mas me responda:
ele não está falando com você, não é? — ela pergunta, sorrindo.
Respiro fundo, sentindo a raiva crescer em mim.
— Não adianta mentir, Allyson, conheço Chase melhor do que ninguém — ela fala, e sua
voz bate em meu pescoço por trás. — Quando a avó por parte de pai dele morreu, ele se isolou
por dois dias. Chase não lida bem com a perda, ele é muito fraco e sensível.
— Cale a porra da boca, ele não é fraco. — Dou um passo à frente e ergo o queixo para
bater de frente com ela.
Chase não é fraco. Se ele não sabe lidar com perdas, isso não faz dele uma pessoa fraca.
Cada um sofre da maneira que achar melhor, eu não preciso ser a pessoa mais sensível do mundo
para saber disso.
Karen apenas sorri.
— Como é a sensação, Allyson… — ela se aproxima de mim — de saber que Chase nunca
vai retribuir seus sentimentos? Que ele nunca vai amá-la de volta e que não foi nos seus braços
que ele procurou consolo quando a mãe dele morreu? — Seu sorriso é maldoso.
Eu seria uma grande mentirosa se dissesse que essas palavras não me feriram; elas doeram e
muito, fizeram meu peito doer, e eu tenho vontade de dar alguns passos para trás. Mas não o
faço, não deixarei que Karen perceba que ela descobriu perfeitamente onde me atingir.
Eu coloco o meu melhor sorriso no rosto.
— E como é a sensação, Karen… — eu começo, e minha voz demonstra uma calma que eu
não sinto — de saber que o cara que você quer sente nojo de você, uma repulsa tão grande que a
única coisa que ele quer de você é distância? Não foi nos meus braços que ele procurou consolo,
mas também não foi nos seus. — Sorrio quando vejo o seu rosto se contorcer em uma carranca.
Essa briga é tão patética quanto ela e está me desgastando.
— Você não sabe onde está se metendo — Karen fala com a voz raivosa.
— Talvez. Mas eu não dou a mínima. — Dou de ombros e a empurro para o lado. — Agora
saia da minha frente que eu tenho mais o que fazer.
Escuto a voz de Karen me mandando parar, mas não lhe obedeço. Continuo a andar para
fora da quadra, longe de Karen e de suas palavras duras e dolorosas. Inferno, elas me
machucaram mais do que eu pensei.
“Você gosta dele, não gosta?”
Eu… Eu gosto…? Estou tão confusa, minha cabeça não para.
Chamo o primeiro táxi que vejo assim que saio da universidade, e ele me deixa no prédio do
meu apartamento. Ando rapidamente até o elevador e o chamo, apoiando minhas costas nele
quando entro.
A porra da minha cabeça está doendo como o inferno, só quero chegar em casa e dormir,
nada mais. Só por hoje eu quero esquecer o vôlei, Karen e… e Chase. Só por hoje, quero dormir
de mente limpa.
Meu telefone toca, e o tiro da minha mochila e vejo que é Tessa.
— Ally? — ela me chama quando atendo.
— Eu? — respondo sem ânimo.
— Aconteceu algo? — ela pergunta com preocupação, e eu suspiro.
— Não, só estou cansada pelos treinos — eu digo com sinceridade. — Nada que eu não
possa resolver. Precisa de algo?
— Não, liguei só para lhe dizer que vou dormir na casa de Kat hoje — ela fala.
— Tudo bem, meio que eu já desconfiava — sorrio.
— Vai ficar bem? — ela pergunta quando o elevador para no meu andar.
Eu saio dele e começo a andar na direção do meu apartamento.
— Vou sim, relaxa — eu digo antes de tirar a chave da minha mochila e a encaixar na
fechadura da porta. — Não é a primeira vez que durmo sozinha.
Como se tivesse escutado que alguém chegou, Justin aparece correndo e começa a pular em
círculos enquanto fecho a porta.
— Está bem, eu te amo — ela diz, e sorrio.
— Também te amo, tchau — eu digo e, em seguida, a ligação é encerrada.
Jogo meu celular no sofá depois de conferir se Chase me ligou ou mandou mensagem, e
nada. Eu me abaixo para fazer um carinho nas orelhas de Justin, que não para de abanar o rabo, e
ele corre até a porta e a arranha enquanto late.
— O que foi? Você quer passear? — pergunto. — Hoje não, Justin. Estou cansada, e já são
oito da noite.
Justin rosna para mim, e eu suspiro, andando para o meu quarto. Estou cansada demais para
brigar com Justin por ele ter rosnado para mim, farei isso em outro momento.
Jogo minha mochila no meu quarto de qualquer jeito e tiro meus tênis, então vou ao
banheiro, me desfaço da roupa e a coloco no cesto de roupa suja. Faço um coque frouxo e ligo o
chuveiro, depois vou para debaixo dele. Quase gemo quando a água quente entra em contato com
a minha pele e fecho meus olhos com força, sentindo meu corpo tenso relaxar.
Quando me lavo corretamente, saio do banheiro enrolada em uma toalha e como está frio,
visto uma camisa azul-cinzenta e um short curto preto de lycra. Arrumo meu coque mais uma
vez e saio do quarto para comer algo. Assim que como, vou para a sala e me deito no sofá, vendo
Justin se deitar ao meu lado. Acaricio seu pelo por alguns segundos e já estou quase agarrando
no sono quando alguém aperta a companhia do meu apartamento.
Eu abro os olhos e bufo, frustrada. Justin parece farejar algo e late alto, em seguida corre
para a porta e a arranha como hoje mais cedo. Eu franzo o cenho, me levanto do sofá e caminho
até a porta. Afasto meu cachorro dela e em seguida a abro, então meu coração erra uma batida.
À minha frente está Chase.
Está vestido com uma calça jeans preta rasgada nos joelhos, uma jaqueta de couro da mesma
cor e, por dentro dela, uma regata branca. Pelo que posso perceber, ele está um pouco mais
magro, mas não foi apenas isso que me chama a atenção. Chase está com os cabelos tingidos de
preto, e eles fazem um contraste perfeito com o cinza de seus olhos.
Ele está bem na minha frente, e isso não é um treinamento.
Assim que a porta se abre, não sei o que fazer ou falar, apenas fico aqui. Observo Allyson
enquanto uma covardia sem tamanho me invade. Ela está tão linda quanto me lembro e, em seus
olhos, há um sentimento que eu não posso distinguir. Eles me encaram com seriedade enquanto
varrem o meu corpo e repousam em meu cabelo, agora preto.
— Oi — eu me forço a falar.
Vejo o peito de Allyson subir e descer, e sua respiração está pesada.
— Oi — ela responde com a voz baixa. Quase não a escutei.
Vendo Justin pular ao meu redor, coloco minhas mãos nos bolsos da minha calça, nervoso.
Cazzo, e se ela me expulsar?
— Eu posso entrar e me sentar? — pergunto, e minha voz demonstra uma calma que eu não
sinto neste momento.
Ela assente e me dá passagem para que eu entre; sinto Justin logo atrás de mim a me cheirar.
Quando me sento no sofá, ele apoia as patas em minhas coxas, e seu rabo se abana de maneira
violenta e ele não para de latir. Eu sorrio e faço um carinho em suas orelhas, matando a saudade
que eu estava dele. Dele e… de sua dona.
Tiro Justin das minhas coxas e ergo lentamente meus olhos para Allyson. O short preto de
lycra se aperta perfeitamente às suas pernas e bunda e, mesmo sem querer, posso notar como
seus mamilos se ressaltam na camisa de tecido fino e mangas longas. Seu cabelo está preso em
um coque alto e frouxo, e os olhos cor de avelã me encaram.
— Você está bem? — pergunto e engulo em seco.
Allyson acena com a cabeça.
— Estou… — ela responde com a voz baixa e cruza os braços por cima dos seios.
Pelo que posso perceber, ela está tão nervosa quanto eu e, de alguma maneira, isso me
conforta, me faz ver que não sou o único afetado por toda essa situação e que não sabe o que
fazer. Porra, sim, isso é tranquilizador.
— E você? — Ally pergunta, tirando-me dos meus pensamentos. — Como está?
Vendo Justin colocar a cabeça em minha perna direita, desvio meu olhar dele para ela. É
quase uma tortura encarar a minha vizinha. Ela continua tão linda.
— Estou bem — eu respondo com meus olhos fixos nela. — Eu quero explicar o porquê de
eu não lhe ter respondido, de não ter retornado as suas ligações.
— Não precisa — Ally diz, cruzando as mãos atrás das costas. Ela está visivelmente
desconfortável.
— Precisa, sim, e eu quero — eu digo, curvo minhas costas para a frente e apoio meus
antebraços nos meus joelhos. — Se, mesmo depois que eu me explicar, você não quiser falar
comigo, eu vou entendê-la. Você deve ter ficado muito preocupada. Mas me expulse daqui
depois que eu lhe falar tudo.
Allyson assente, e a vejo se sentar no braço da poltrona, com seus braços cruzados mais uma
vez abaixo dos seios. Respiro fundo antes de começar a falar.
— Primeiramente, não foi a minha intenção deixá-la preocupada ou sem notícias — eu
começo enquanto brinco com meus anéis. — Eu sei que devia ter respondido ao menos uma
mensagem para que você soubesse que estava bem, mas eu nem mesmo me lembrei de que tenho
um celular nestas últimas semanas. — Engulo em seco. — A morte da minha mãe me abalou
muito, e foi necessário que Pietro me desse um choque de realidade para que eu soubesse que
não era só eu que estava sofrendo. Mas foi a minha mãe que me ajudou a superar meu
relacionamento abusivo. Ela dizia que, se eu não fosse às sessões de terapia, ela não tomaria os
remédios contra o câncer. — Abaixo meu olhar para as minhas mãos.
Eu espero do fundo do meu coração que Allyson não me expulse do apartamento dela.
Quero manter a nossa boa relação assim como era antes de eu voltar para a Itália. Com Karen,
aprendi que as pessoas podem surtar pelos mínimos detalhes. Não estou dizendo que Allyson é
assim, mas eu nunca mais vou fechar os olhos para as possibilidades.
Justin tira a cabeça da minha perna, e eu coço a minha nuca.
— Sinto muito por não lhe ter dado sinal de vida, Allyson. Do fundo do meu coração, não
fiz por mal. — Ergo os olhos para ela e a vejo me encarar sem expressão. Eu suspiro. — Eu não
sei lidar com perdas, já me disseram que sou muito sensível para um homem e totalmente fraco.
Não consigo ser diferente, mesmo que eu não ache que seja verdade.
Assim que termino de falar, Ally anda na minha direção, e espero que me bata, grite na
minha cara ou me expulse da sua casa. Mas ela apenas coloca as mãos em meus ombros e passa
as pernas ao redor das minhas, sentando-se em meu colo.
Vocês podem imaginar o tamanho do meu choque quando ela passa os braços por meu
pescoço e se aconchega. Ainda estou chocado e paralisado quando ela segura meu rosto entre as
mãos pequenas e me olha nos olhos.
— Você não é fraco — ela diz enquanto acaricia as maçãs do meu rosto. Sorri
minimamente. — Ser sensível não faz de você menos homem, e você se isolar quando perde
alguém é só o seu modo de sofrer. Não é certo, mas também não é errado, cada um sofre à sua
maneira.
— Allyson… — começo a falar, mas ela põe o indicador sobre meus lábios e me
interrompe.
— Shhh… deixe-me terminar — Ally pede, colando a testa à minha. — Eu confesso que
fiquei com raiva, mas foi apenas por um momento. Eu corrigi esse meu pensamento egoísta. No
seu lugar, eu também não sentiria vontade de conversar com alguém. Foi a sua mãe que morreu,
Chase. A sua mãe. Você não tem que me pedir desculpas.
Quando ela termina de falar, é como se eu tivesse saído de um transe, e estúpidas lágrimas
piscam em meus olhos. Eu posso os braços pela cintura de Allyson e a envolvo em um aperto
contra mim enquanto enterro meu rosto em seu pescoço.
E então eu não me seguro mais.
— Eu sinto falta dela, Ally… — eu choro, sem conseguir me conter, e minha voz sai
quebrada. — Dói muito…
Allyson acaricia minhas costas com a mão esquerda e segura a minha nuca com a direita,
deixando que eu chore em seu pescoço.
— Eu sei… Eu sei… — ela diz e me aperta com mais força.
— Ela sabia que ia morrer, Ally… Ela sabia… — Sinto meu corpo tremer em um soluço
enquanto lágrimas grossas descem por meu rosto e molham o pescoço dela. — E ela estava tão
calma com isso… Você tinha que ver…
— Ela te amava muito, eu pude perceber. — Allyson tira meu rosto do seu pescoço, o
segura em suas mãos e o ergue para ela, depois se inclina para beijar minas pálpebras. — Tenho
certeza de que ela aproveitou cada segundo com você, seu pai e Pietro. Se quiser chorar, eu não
me importo. Não precisa se preocupar em parecer forte na minha frente.
Eu enterro meu rosto mais uma vez em seu pescoço, e ficamos assim, Ally fazendo um
carinho em minhas costas e cabelo, e eu aspirando o cheiro dela enquanto choro como um idiota.
Até Justin lambe meu braço direito, parecendo me confortar também.
Aos poucos, eu me acalmo e fecho meus olhos, aproveitando o calor do corpo de Allyson
até que ela se afasta um pouco de mim e se inclina para trás.
— Está mais calmo? — ela pergunta com a voz mansa e enxuga as minhas lágrimas.
Eu assinto, e ela sorri, colocando a testa na minha mais uma vez. Desse ângulo, posso
encarar seus olhos sem conseguir fugir. Nem se eu quisesse.
— Eu senti a sua falta — ela sussurra; seu hálito quente acaricia o meu rosto, e sinto a porra
do meu coração parar.
Cazzo…
— Eu também senti a sua… Você não sabe o quanto, gattina… — Acaricio o nariz dela
com o meu, e minha mão esquerda desliza para a bochecha dela.
Allyson se inclina para a frente, e seus lábios se colam aos meus em um selinho demorado.
Abro a boca para aprofundar o beijo, e a língua dela adentra-a, buscando a minha. Ela arfa
quando nossas línguas se conectam e segura meu rosto com as duas mãos, puxando-o para mim.
Minha mão que está em sua bochecha vai para a sua nuca, e a mantenho ali e a trago para a
minha boca.
Allyson se mexe em meu colo quando o beijo se aprofunda e geme baixinho quando se
pressiona para baixo. Interrompo o beijo com um selinho quando ele está esquentando.
— Ally, nós podemos apenas não fazer… nada? — pergunto rente à sua boca e a vejo abrir
lentamente os olhos. Sua respiração está descompassada.
Eu estou morrendo de saudades de Allyson, mas não estou animado o suficiente para fazer
sexo com ela. Ainda não me sinto cem por cento, quero apenas abraçá-la.
— Claro… — Ela sorri minimamente e acaricia as minhas bochechas.
Ergo as sobrancelhas, surpreso.
— Tem certeza? — pergunto, descansando as minhas mãos nas laterais da cintura dela. —
Não vai ficar com raiva porque não quero transar?
Allyson franze o cenho e inclina levemente a cabeça para trás com a sobrancelha arqueada.
— Por que eu ficaria com raiva por você não querer fazer sexo comigo? — ela pergunta,
afastando meu cabelo para trás e o tirando dos meus olhos.
Porque a Karen fazia isso.
Não as estou comparando, mas de fato estou surpreso. Karen sempre ficava com raiva
quando eu não queria transar com ela. Ficava sem falar comigo por dias e me tratava mal, então
eu cedia e atendia às vontades dela, mesmo sem querer, apenas para que nós ficássemos bem.
— Por nada. — Eu nego com a cabeça e sorrio.
Mas Ally não parece acreditar nas minhas palavras quando puxa meu rosto para si.
— Seja lá o que a vagabunda da sua ex tenha lhe dito, você não é obrigado a transar com
uma pessoa se não quiser. Não importa se ela ficar com raiva — ela diz, séria. — Você tem todo
o direito de negar, também tem suas vontades. Você não é um objeto sexual, Chase.
Eu sorrio e lhe dou um selinho demorado. Não sei o que é essa atmosfera entre nós nem o
porquê de tanto carinho. Esperava distância, e recebi carinho. Allyson e eu não estávamos assim
quando fui embora.
— Eu sei, gattina… — eu digo e a vejo assentir.
— Quer dormir aqui hoje? Tessa não está — ela pergunta e põe as mãos em meus ombros.
Meu sorriso se alarga, e assinto.
— Quero — eu digo, e ela sorri ao sair do meu colo.
Quando ela fica de pé, ergue as mangas da blusa até os cotovelos e estende a mão para mim.
Eu encaixo a minha mão na dela e me levanto, começando a andar com ela na direção de seu
quarto com Justin logo atrás de nós.
Aperto a palma de Alysson na minha enquanto ela me puxa pelo caminho; sua palma está
tão quente quanto ela.
Ally abre a porta do quarto, entra e me puxa para fazer o mesmo. Justin também entra, pula
na cama e se deita no final dela. Quando já estamos ao lado dela, Allyson toca os meus ombros e
me olha.
— Posso? — ela pergunta, referindo-se à minha jaqueta.
Eu assinto e a ajudo a tirá-la, então Ally a coloca dentro de seu guarda-roupa e volta para
perto de mim. Ela tira meu cinto e o joga em cima de sua cômoda enquanto tiro meus tênis. Sem
conseguir me conter, eu a puxo pela cintura e a beijo, sentindo-a amolecer em meus braços.
Quando nos separamos, ela se deita na cama, bate no espaço ao lado dela e me chama. Eu
sorrio, ando até ela e me deito também. Puxo Allyson para o meu peito, ela passa o braço
esquerdo por minha barriga e nossas pernas se entrelaçam.
— Você está com sono? — ela pergunta e ergue o queixo para me olhar.
— Não, você está? — pergunto, e ela nega. — Quer conversar até o sono surgir?
Allyson assente.
— Qual sua comida preferida? — ela pergunta enquanto cruza as mãos em meu peito e
apoia o queixo nelas.
Sorrio e me lembro que, no dia em que ela foi para a minha casa, não trocamos essas
informações. Sabemos outras coisas do outro, mas essas, por algum motivo, foram esquecidas, o
que é irônico, porque conheço cada pedacinho do seu corpo e os mínimos detalhes a que fiz
questão de prestar atenção.
— Tiramisu. — Eu acaricio as costas dela.
— O que é isso? — Ally franze o cenho.
— É um doce italiano que leva queijo e café, é meio difícil de explicar, mas é bem gostoso.
— Sorrio quando ela faz uma careta. — Não é ruim, gattina. Mas a sua, qual é?
— Pizza — sorri.
Reviro meus olhos.
— Você é tão americana que chega a ser crime.
— Você está no meu país e é você quem comete xenofobia?
Eu rio ao olhar para o seu rosto e, por um momento, me perco em seus lindos olhos.
— Tem razão, linda. Perdão! — peço de maneira exagerada, e ela sorri amplamente.
Allyson desenha círculos em meu peito, bem onde fica o meu coração, que bate
rapidamente, como tenho certeza de que ela nota.
— Perdoado, italiano — Ally sorri. — Qual sua cor preferida?
— Preto e branco — eu digo, descansando minha mão esquerda na curva de sua bunda
enquanto meu braço direito está atrás da minha cabeça.
— Se você não me contasse, eu nunca desconfiaria. — Ela revira os olhos com um sorriso
sarcástico, e dou um tapa na sua bunda. Ela solta um gritinho e ri.
— Gattina travessa… — Eu lhe dou um selinho. — E a sua?
— Vermelho.
— Humm, quente e sexy.
— Por que o nome da sua gata é Lady? — Ally pergunta, e arqueio a sobrancelha.
— Por que o nome do seu cachorro é Justin? — pergunto de volta, e ela dá de ombros.
— Eu sou fã do Justin Bieber.
Dou de ombros.
— Bem, talvez eu seja fã da Lady Gaga. — Aperto o nariz dela.
Allyson ri e se inclina para me dar um selinho demorado, e fecho os olhos para aproveitá-lo
melhor. Porra, eu realmente gosto do quão diferente e mais aberta fisicamente ela está agora.
Em nenhum momento imaginei que, ao me explicar, terminaríamos em sua cama trocando
carícias como um casal e, por Deus, não estou reclamando.
— Acho que vou dormir, estou um pouco cansada… — ela boceja e deita a bochecha em
meu peito.
Eu sorrio, coloco a mão na cabeça dela e planto um beijo no topo dela enquanto acaricio
seus cabelos.
— Boa noite, gattina — eu sussurro e a aperto contra mim.
— Boa noite, gattino… — Eu a vejo sorrir e ouço sua voz baixa.
Allyson reforça o braço em minha cintura e, minutos depois, a sua respiração fica pesada.
Ela dormiu. Eu sorrio e roço meus lábios na testa dela, fechando os olhos e esperando que o sono
me leve também. Pela primeira vez em dias, acho que posso dormir tranquilo.
Lentamente, abro meus olhos, olho para o lado e estranho ao não ver Chase. Faço menção de
me levantar, mas paro ao sentir o peso que está sobre o meu estômago. Olho para baixo, arregalo
levemente os olhos e ergo as sobrancelhas ao ver Chase entre as minhas pernas e sua cabeça em
minha barriga.
Sua bochecha esquerda pressiona a minha pele, e suas mãos estão apoiadas nas laterais da
minha cintura. Ele está sem camisa também, com todas as suas tatuagens à mostra.
Relaxo meu corpo e ergo a mão para acariciar os fios pretos do cabelo de Chase. Ele está
lindo com essa cor, e eu nem pude dizer isso a ele, já que nós conversamos e, em seguida, ele
chorou. De início, não soube o que fazer, mas me doeu muito vê-lo naquela situação. Então, fiz a
única coisa que poderia fazer: abraçá-lo e deixá-lo chorar em meu pescoço. Às vezes apenas isso
basta.
A gota d’água para mim foi quando ele perguntou se eu não ficaria com raiva dele por não
querer transar comigo. Eu quase ri porque pensei que fosse piada, mas logo coloquei a cabeça
para pensar e me dei conta do porquê da pergunta dele. Karen.
Ela é pior do que eu pensei, tive que engolir toda a minha raiva para que Chase não
percebesse que eu sei muito bem quem é a ex dele. Mas, mesmo sabendo que ela não presta,
nunca pensei que ela fosse capaz de fazer pressão psicológica para que uma pessoa dormisse
com ela. Eu a odeio tanto, não só pelo Chase, mas também por ela ser como é. Ela me dá nojo.
Eu suspiro, olho para baixo e continuo a fazer cafuné no meu vizinho adormecido. Merda, o
quão quebrado aquela desgraçada o deixou?
— Gattina, aproveite que está com a mão na minha cabeça e coce-a para mim — Chase diz
de repente, o que me assusta.
— Ai, que susto! — Ponho a mão no coração, e ele dá risada, apoiando o queixo na minha
barriga para me olhar. Os olhos cinzentos me dão bom-dia, e engulo em seco. — Acordou agora?
— Não, faz uns trinta minutos. — Chase sorri e acaricia as laterais da minha barriga. — Já
até fui em casa escovar os dentes e voltei.
Eu assinto, vendo que realmente tenho um sono pesado.
Eu afasto os cabelos de sua testa e fixo meus olhos em seu nariz, quando sinto falta de algo:
a argolinha que ele tem no nariz, bom, tinha. Agora ele tirou.
— Você tirou o piercing do nariz, não é? — pergunto e o vejo assentir.
— Tirei, preciso trocar — ele fala antes de plantar um beijo no centro do meu abdômen.
Eu não sei como reagir a essas carícias tão íntimas. Mas sei que não quero que parem. São
agradáveis, mas, ao mesmo tempo, fazem meu coração ficar acelerado como se fosse pular do
meu peito.
— Eu… gostava dele. — Passo meu polegar direito por sua bochecha e devolvo o carinho
sem jeito.
Chase abre um sorrisinho de lado, revelando a covinha de que eu gosto e de que talvez, só
talvez… Eu tenha morrido de saudades.
— Gostava, é? — Ele ergue uma sobrancelha, e eu assinto. — Vou voltar com ele.
Eu sorrio e passo meu polegar por sua sobrancelha esquerda, alinhando os fios desgrenhados
dela. Chase fecha os olhos e planta mais um beijo na minha barriga, enquanto acaricia as laterais
da minha cintura.
— Onde está Lady? — pergunto ao me lembrar da gatinha.
— Está no meu apartamento, ela ficou dormindo quando vim vê-la — diz enquanto dedilha
as laterais da minha cintura com as pontas dos dedos.
— Justin sente falta dela — digo ao passar os olhos pelo meu quarto. — Falando em Justin,
onde ele está?
— Ele saiu do quarto minutos depois que eu acordei, deve estar na sala — Chase fala,
erguendo a minha camiseta para que a minha barriga fique exposta.
Ele planta um beijo demorado em meu umbigo e começa a distribuir beijos por toda a
extensão do meu abdômen, o que me arranca uma risada. Eu me sinto extremamente leve quando
estou com Chase, não consigo pensar em mais nada. Gostaria de ficar aqui com ele o resto do
dia, e isso me preocupa. Sentir essas coisas não é normal.
Amo os meus amigos, mas não gostaria de passar um dia inteiro com eles. Céus, o que tem
de errado comigo?
Fico em alerta quando Chase faz menção de tirar a minha camiseta e seguro as mãos dele.
— O que está fazendo? — pergunto, mesmo sabendo, e o vejo sorrir.
— Tirando a sua blusa para você tomar banho? — Chase pergunta como se fosse óbvio. —
Você tem universidade daqui a uma hora, e eu quero tomar banho com você. Não quer, gattina?
Quero, mas você vai ver a minha tatuagem, e de um jeito estúpido, estou com vergonha.
— Você não vai à faculdade hoje? — pergunto, ainda segurando as mãos dele, em alerta.
Chase nega com a cabeça e enterra o rosto em minha barriga.
— Não, eu tenho que desfazer as minhas malas e dar uma arrumada no apartamento para
quando meu pai e Pietro chegarem — ele diz, e sua voz sai abafada.
Ergo as sobrancelhas.
— Seu pai vai vir morar com vocês? — pergunto e sorrio largamente.
— Talvez, Pietro e eu não queremos que ele fique sozinho — Chase fala, e meu sorriso
aumenta ainda mais.
Pelo menos agora não tem o risco de ele voltar para a Itália. Eu não o julgaria se ele o
fizesse; poxa, é o pai dele, a família dele.
— Kevin a incomodou esses dias?
Paraliso diante de sua pergunta e pisco, pega de surpresa. Depois que Kevin me beijou à
força, ele nunca mais tentou algo assim novamente. Mas ele ainda regularmente me provoca e
não pode me ver sozinha.
— Apenas o básico. — Sorrio minimamente.
— Tem certeza? — Os olhos de Chase ficam estreitos, desconfiados.
Nem pensar em dizer o que Kevin fez, Chase pode ir tirar satisfação com ele e tirar a limpo
algo que quero esquecer.
— Sim — minto mais uma vez.
Chase assente, ainda me encarando com um ar de desconfiança.
— Tudo bem, então. Agora tire essa camisa, sim? — Chase diz, de modo a me tirar dos
meus pensamentos.
Nego com a cabeça.
— Não posso.
Chase franze o cenho.
— Está com vergonha, Ally? Sério? — Ele sorri com sarcasmo. — Já vi seus peitos
inúmeras vezes.
Eu mordo meu lábio, repentinamente nervosa.
— Não é vergonha, é que… — Umedeço meus lábios e olho para Chase por baixo dos
cílios.
— É que…? — Chase me encoraja, reunindo mais pano de minha camisa em suas mãos.
Merda, eu estou com vergonha. Eu, Allyson Young, a maior sem-vergonha que vocês
conhecem, está com vergonha de mostrar a porra de uma tatuagem para um cara. Agora vocês
podem dizer que já viram de tudo.
Respiro fundo.
— Eufizumatatuagem — solto de uma vez, virando meu rosto para a esquerda.
— Você o quê? — Chase pergunta, e o olho, vendo seu cenho franzido. — Eu não entendi
nada.
Eu aperto as mãos dele e respiro fundo mais uma vez.
— Eu fiz uma tatuagem — falo calmamente, e Chase fica imóvel entre as minhas pernas.
Seus olhos cinzentos me encaram levemente arregalados, e a boca rosada está aberta. Merda.
— Onde? — é tudo o que ele pergunta.
Solto a mão direita dele e passo meu indicador pelo vão entre os meus seios, mostrando o
local.
— Aqui. — Minha voz sai baixa.
Chase ergue as sobrancelhas.
— Deixe-me ver, Ally — ele pede, e eu nego com a cabeça. — Por favor, hum?
— Eu… Eu estou com vergonha. Porra, que idiota… — confesso, apertando as mãos dele
para que não tire a minha camisa.
— Tenho certeza de que ficou linda, gattina… — Chase sobe mais um pouco, o suficiente
para que nossos quadris se encostem. — Mostre para mim, Ally. Você não vai me deixar curioso,
não é? — ele pergunta e desliza seus lábios por meu pescoço.
Eu ofego baixinho e seguro nos ombros de Chase quando ele arrasta os dentes por minha
pele. Sua mão esquerda adentra a minha blusa e a sobe, acariciando o vão entre os meus seios,
mas surpreendentemente não tocam o local.
— Chase, seu desgraçado… — Fecho meus olhos quando ele morde o lóbulo de minha
orelha esquerda. — Isso é golpe baixo.
— Golpe baixo é você não me mostrar essa tatuagem — Chase diz, e aperto meus lábios um
no outro quando ele fica a centímetros do meu rosto. Não escovei os dentes. — Vamos lá,
gattina, me mostre. Per favore… — A mão que estava por dentro da minha blusa esfrega o meu
mamilo direito.
Chihuahua italiano desgraçado!
Arqueio levemente as costas com o contato e mordo o meu lábio. Eu quero mostrar para ele,
mas estranhamente me sinto incapaz, porque seus olhos me deixam tímida.
Eu seguro a barra da minha blusa e viro meu rosto para a esquerda, erguendo a camisa de
maneira lenta. Eu estou sem sutiã, então Chase veria meus seios nesse processo. Quando o tecido
já está expondo tudo de mim, a mão de Chase se afasta do meu seio e, pelo canto do olho, vejo-o
se ajoelhar rapidamente na cama, ainda entre as minhas pernas.
— Quando você fez essa tatuagem? — eu o escuto perguntar e continuo com o rosto virado
para o lado, mortificada.
— Um dia antes de você chegar — respondo. — Está vendo, não é nada demais.
Faço menção de arrumar a blusa de volta, mas Chase agarra as minhas mãos e me impede.
— Não se atreva a abaixar a porra dessa camisa, Allyson.
Sua voz sai rouca e grave, e olho para ele, encontrando seus olhos mais escuros do que
antes. Engulo em seco quando Chase arrasta o indicador direito do meu umbigo até o vão entre
os meus seios e contorna tatuagem.
— Caralho, Ally… — Chase xinga, abaixando a cabeça para beijar meu colo. — Você ficou
tão linda, combinou tanto com você… — sussurra contra a minha pele, e enfio meus dedos em
seus cabelos.
Sinto as malditas borboletas se remexerem em meu estômago e mordo meu lábio inferior
com mais força quando um sorriso ameaçou se formar em meus lábios.
— Doeu para fazer? — Chase pergunta.
Se doeu? Merda, passei a sessão toda com medo de mijar nas calças.
— Tenho certeza de que doeu, já que a região que você tatuou não tem muita carne
localizada — ele diz antes de plantar um beijo em meu colo novamente.
Meus seios estão totalmente expostos, e não sinto vergonha, é incrível a intimidade que
tenho com Chase.
— Qual foi a tatuagem que você fez que mais doeu? — pergunto, sentindo-o segurar a
minha cintura nua com as duas mãos.
— Esta. — Chase aponta para a tatuagem de rosa em seu pescoço. — Doeu pra caralho.
— Lógico, olhe onde você foi tatuar — digo, esfregando meu polegar na rosa. Encaro seus
olhos. — Você se arrepende?
— Eu só tenho um arrependimento em toda a minha vida, gattina… — Chase diz, sua
cabeça vai para baixo lentamente, e seus lábios me dão um selinho. — E minhas tatuagens não
estão incluídas nele.
Antes que eu possa perguntar que arrependimento é esse, Chase tira a minha blusa, a joga e
me pega nos braços, assustando-me. Ele se levanta da cama comigo e começa a andar em direção
ao banheiro. Meus seios estão pressionados em seu peito, e passo os braços pelo pescoço dele,
aperto minhas pernas em sua cintura e apoio meu queixo em seu ombro.
Eu não me importo de ser grudenta, o que é tudo o que mais odeio. Mas passei tanto tempo
longe de Chase que o que mais quero no momento é matar a saudade. Merda, por que me sinto
assim.
— Chase, espere, eu vou escovar os dentes. — Dou tapinhas nos ombros dele e ergo a
cabeça para olhá-lo.
Chase me põe no chão, e eu me viro de frente para o espelho do banheiro, vendo que meu
cabelo está todo desgrenhado.
— Merda, estou parecendo uma bruxa. — Faço uma careta e procuro a minha escova.
— Relaxa, eu já estou acostumado — Chase fala, e o olho com raiva para ele pelo vidro,
vendo-o sorrir.
— Resposta errada — digo e ponho a pasta de dentes na escova.
Escuto a risada dele e, pelo espelho, vejo Chase desbotoar sua calça. Ele lentamente a tira, e
ela cai aos seus pés, em seguida sua cueca tem o mesmo destino, junto à camisa. Talvez
levemente hipnotizada, levo a escova de dentes à boca e a escovo de maneira lenta, vendo Chase
andar até o chuveiro com a sua bunda redondinha. Ele liga o chuveiro, e a água cai por seu
cabelo preto e seu corpo, molhando-os.
Merda, se eu tivesse um pau, ele com certeza estaria duro agora.
Termino de escovar a boca e enxáguo a espuma antes de guardar a escova. Aproveito que
Chase está de costas para tirar meu short e minha calcinha e os guardo no cesto de roupa suja.
Solto o meu cabelo do coque e ando até ele, vendo suas costas se flexionarem quando ele põe o
cabelo molhado para trás. Olho para a bunda dele e em seguida para a minha, olhando para a dele
de novo. É impressão minha, ou a bunda dele é maior?
Chase se vira devagar, e mudo meu olhar para o rosto dele.
— Vou ter que começar a cobrar pelo tempo que você fica me olhando, Ally — Chase diz e
me encara com um sorrisinho de lado.
— Seu ego é enorme — eu debocho e o olho de cima a baixo.
Chase envolve minha cintura com os braços e me puxa para debaixo do chuveiro,
arrancando-me um grito surpreso. A água molha os meus cabelos e faz com que ele grude em
meu rosto, tapando a minha visão. Eu bufo e dou um tapa no peito de Chase.
— Seu chihuahua italiano! — eu grito e estapeio o peito dele mais uma vez.
Chase ri, tira os fios molhados de meu rosto e os afasta para trás. Eu o olho com raiva, e ele
segura meu queixo com delicadeza, não posso processar mais nada quando ele baixa a cabeça e
toma meus lábios em um beijo. Eu fecho meus olhos e suspiro quando Chase pede passagem
com a língua, passagem essa que eu cedo enquanto passo meus braços por seu pescoço, ficando
nas pontas dos pés para ficar ainda mais próxima dele.
A mão direita que está em meu queixo sobe para a minha nuca, e a esquerda aperta a minha
cintura e pressiona seu peito contra os meus mamilos. Não tem nada de malicioso nesse beijo, é
calmo, lento e… cheio de saudades. Chase me beija com tanto carinho que é impossível não
amolecer em seus braços. Ele se afasta um pouco.
— Não sabe o quanto eu quis fazer isso desde que você acordou — ele sussurra próximo à
minha boca e acaricia a minha nuca.
— Ainda bem que não fez — eu sorrio.
— Por quê?
— Eu seria presa por assassinato. — Seguro os ombros dele. — Estava com um bafo do cão.
Chase ri alto e me vira de costas para si.
— Venha, vou lavar o seu cabelo — ele diz antes de pegar meu xampu numa das prateleiras
do banheiro.
— Voltou doente da Itália? — provoco.
— Quietinha. — Chase sorri e me vira para a frente mais uma vez.
Alguns segundos depois, sinto algo cair em meus cabelos e, em seguida, os dedos de Chase
começam a massagear a minha cabeça para espalhar o xampu. Fecho os olhos e aproveito o
contato, sentindo o exato momento em que ele beija meu ombro.
Meu coração dá um salto em meu peito e engulo em seco quando sinto que minha suposição
talvez esteja mais certa do que pensei.
— Sua vez. — Eu me viro para ele e pego meu xampu na prateleira. Ergo meu queixo. —
Abaixe-se um pouco, você é muito alto.
— Ou você que é muito baixa? — Chase arqueia a sobrancelha enquanto curva os joelhos e
se encosta nos azulejos do banheiro.
Sorrio falsamente e coloco um pouco de espuma na sua boca, fazendo-o arregalar os olhos.
— Calado — resmungo e coloco o xampu em seu cabelo.
Chase limpa a boca e dá um olhar divertido enquanto massageio sua cabeça. Estou tão
concentrada, que tomo um susto quando ele beija meu colo, e sopro a região entre os meus seios.
— Eu amei a sua tatuagem, gattina — ele diz enquanto segura a minha cintura.
Pisco e olho para baixo, encontrando seus olhos a me encarar. Ele parece um cachorrinho
Golden Retriever olhando daqui de cima, exatamente como Justin. Merda. Merda. Meu coração
dá mais um pulo, e eu não preciso de mais nada para ter certeza do que eu suspeitava.
Eu gosto de Chase.
— Por que está me olhando assim, Ally? — Chase pergunta, e paro as minhas mãos em seus
cabelos.
— Eu… Eu gosto… — Engulo em seco e o vejo me olhar confuso. Limpo a garganta. — Eu
gosto do seu cabelo assim, nessa cor.
Merda, Allyson, quando foi que você ficou frouxa?
— Gostou? Eu me sinto estranho.
Eu sorrio, seguro o seu rosto e o sujo com espuma.
— Você ficou lindo. — Eu lhe dou um selinho.
Porra, Allyson, olhe o que você se tornou.
Chase sorri de lado e fica em pé novamente, agarrando-me pela cintura. Ele liga o chuveiro e
me puxa para debaixo junto com ele, e a espuma do xampu cai por nossos corpos.
— Você está doente, Ally? — Ele sorri e tira o cabelo do meu rosto.
— Por quê? — Franzo o cenho.
— Você não é de falar essas coisas. Não que eu esteja reclamando.
Ele tem razão. Acho que talvez eu tenha me perdido no personagem, e isso pode ferrar com
tudo entre nós. Recomponha-se, Ally. Onde você está com a cabeça? Parece até uma
adolescente.
— Eu… eu vou sair primeiro — dou um sorriso amarelo e me afasto dele, enrolando-me na
toalha e correndo para fora do banheiro.
— Está fugindo, Ally? — escuto a voz de Chase sair em tom provocativo e mostro o dedo
para ele, escutando a sua risada rouca.
Eu paro de frente para a cama, ponho a mão em meu coração e o sinto bater como um louco
enquanto meu cabelo molhado pinga no chão. Estou tão fodida, e nem é do jeito que eu gosto.
Gostaria que o aperto no meu coração fosse infarto.
Já faz uns dias que voltei para Nova York, e meu pai e Pietro deveriam ter voltado há dois.
Mas, ao que me contaram, ainda demorariam para vir, porque é um pouco complexo trazer a
minha mãe para cá.
Allyson e eu estamos bem, mas, confesso, estou com medo dela. Ela anda mais carinhosa e,
de vez em quando, me solta alguns elogios também, coisa que ela não faria normalmente.
Admito que amo quando ela me abraça de surpresa e ficamos assim. Não fizemos sexo nenhuma
vez e, embora eu ame transar com ela, amo ainda mais o jeito como estamos nos tratando.
E tem a maldita tatuagem.
Cazzo, vocês devem imaginar o tamanho do meu choque quando vi a tatuagem entre seus
lindos seios. Tive vontade de chupar cada um dos seus mamilos, beijar a sua tatuagem e, embora
eu não tenha feito a primeira coisa, fiz a segunda, mesmo que por cima. A tatuagem combinou
perfeitamente com ela, porra, eu definitivamente fiquei louco quando a vi. Talvez eu realmente
fosse o tarado que Allyson diz que eu sou, porque não tem nada de decente na forma que eu
penso nela.
O ex dela, Kevin, tentou chegar nela várias vezes depois que eu voltei, mas Ally sempre se
jogava em meus braços e, mesmo Kevin indo embora, não se afasta de mim, ela continua
fungando em meu pescoço ou abraçada a mim como uma verdadeira gatinha. E tudo bem,
porque eu sou o maior cachorro de todos.
Karen já chegou a nos ver abraçados, e eu aperto meus braços ao redor de Allyson quando
eu vejo os olhares odiosos que Karen lança a ela. A filha da puta ainda não ficou louca de tentar
fazer mal à minha vizinha. Esta é a única coisa que ela pode fazer, tentar, porque eu não vou
deixar que nada aconteça com ela e sei muito muito bem do que a minha ex-namorada é capaz.
Ela só precisa se lembrar de que não sou o mesmo idiota de antes.
— Chase, coloque a cerveja na mesa, por favor — Tessa manda, apontando para a geladeira.
Eu assinto, ando até a geladeira, a abro e tiro do freezer duas caixas de cerveja. É sexta-feira,
e Kat, Adam, Michael e eu nos reunimos para tomar algumas cervejas no apartamento de
Allyson e Tessa. Apenas Michael e minha querida vizinha não chegaram ainda.
Alguém toca a campainha, e Adam corre para atender a ela. Coloco a cerveja na mesa e
ando rapidamente até a sala, já sabendo que é o meu amigo. Pode ser falta de educação, mas
estou curioso pra caralho para ver como os dois se comportam quando estão sozinhos. Porra, eu
não vou para o céu.
Adam abre a porta e dá alguns passos para trás.
— Boa noite, Michael — diz, cruzando os braços atrás das costas. — Pode entrar.
Meu melhor amigo dá um passo à frente e entra no apartamento vestido com um moletom
branco e uma toca preta, acompanhados por uma calça jeans folgada de cor clara. Ele se
aproxima de Adam e curva as costas para dar um beijo na bochecha dele, que arregala levemente
os olhos.
— Boa noite, Adam. — O safado sorri minimamente, e reviro os olhos.
Michael mal ri, mas noventa e nove por cento dos seus sorrisos são direcionados para Adam.
É um grande babão.
— O pessoal… — Adam pigarreia. — O pessoal está lá na cozinha.
— Pode me levar até lá, pequeno? — Michael inclina a cabeça para a esquerda, e vejo as
orelhas de Adam ficarem vermelhas.
— Não sou pequeno, sou da altura de Allyson — Adam diz e enfia as mãos nos bolsos de
seu moletom.
Um anão, portanto.
— Ou seja, pequeno. Ela não pode ser considerado uma pessoa alta, sabe? — Michael
arqueia a sobrancelha, querendo rir quando Adam o olha com raiva.
— Desculpa aí se nem todos os homens são postes como você. — Adam o olha de cima a
baixo e vira o rosto, se afastando da porta.
Michael solta uma risada silenciosa e começa a seguir Adam, dando um soco fraco no meu
ombro quando passa por mim. Curioso, Justin começa a cheirá-lo e o acompanha até a cozinha, e
ambos somem das minhas vistas.
Eu bufo ao ver que Michael deixou a porta aberta e ando até ela, pronto para fechá-la
quando uma mão pequena me impede e um grito fino se faz presente.
— Cacete! — escuto a voz de Allyson e abro a porta no mesmo instante, arregalando meus
olhos quando vejo os dela cheios de lágrimas. Ela segura a mão direita machucada contra o
próprio peito.
— Allyson, foi mal, você meteu a mão no meio! — Eu puxo a mão dela para mim e a
analiso. — Está doendo muito?
Allyson sorri com deboche.
— Não, eu gritei de prazer. Foi uma delícia essa experiência masoquista… — Ela revira os
olhos, e uma lágrima escorre por sua bochecha direita.
Eu beijo a mão dela e a puxo para dentro do apartamento.
— Desculpa, gattina, não fiz por mal… — digo contra a sua pele e a beijo. — Vou pegar
gelo, ok? — digo antes de fechar a porta.
— Não precisa, já está passando. — Ela faz uma careta de dor quando massageio sua mão.
— Sei que você não fez por mal, desculpa. Só estou um pouco estressada.
Ela me observa levar sua mão aos meus lábios.
— Aconteceu algo? — pergunto.
Allyson suspira e passa os dedos da mão livre por seu rabo de cavalo.
— Nada demais, só um desentendimento com umas das garotas do meu time — ela diz ao
me olhar.
— Certeza? — pergunto, e ela assente. — Se precisar desabafar, estou aqui, ok?
— Eu sei, obrigada… — Ally sorri. — Toda mundo já chegou?
Assinto, unindo nossas mãos.
— Já, faltava apenas você — eu digo.
Ally se aproxima de mim.
— Eu vou tomar banho e volto para ficar com vocês. — Ela fica na ponta dos pés para beijar
minha bochecha.
Eu ergo levemente as sobrancelhas, um pouco surpreso com isso. Ainda não sei processar
quando a Ally faz essas coisas, ela mesmo já me mostrou que não é alguém de demonstrar afeto.
Não que um beijo na bochecha seja algo grande, mas, vindo de Ally, tem que ser estudado.
— Mas hoje não é sábado. — Eu a olho com falsa inocência.
Allyson solta nossas mãos e põe as dela na cintura.
— Vou abrir essa exceção para vocês. — Ela pisca os cílios para mim.
Eu sorrio de lado e me inclino para beijar seus lábios, vendo-a fechar os olhos para esperar o
beijo. Eu paro perto de seu rosto, analiso cada detalhe dele e me perco em seus lábios carnudos.
Tão linda.
Esfrego meu polegar em seu lábio inferior e em seguida lhe dou um selinho demorado. Ally
franze o cenho quando me afasto e abre os olhos.
— Ué, onde está a briga de línguas e as mãos na minha bunda? — Ela cruza os braços,
confusa.
Sorrio internamente, decidindo provocá-la.
— Não acha que está muito assanhada, Allyson?
Ally me olha com uma carranca e me fuzila com os olhos.
— Pare de palhaçada, pare de bobeira… — Ela me olha de cima a baixo, joga a mochila por
cima dos ombros e vira o rosto, então começa a andar para longe de mim. Mas não sem antes de
gritar: — Vê se cresce!
Eu dou risada e a vejo sumir pelo corredor, escutando uma porta ser batida com força.
Possivelmente, a do quarto dela.
Algo se esfrega em minha perna, e olho para baixo e vejo Lady. Abaixo-me um pouco, faço
um carinho nas suas orelhas e a escuto ronronar. Ela lambe meus dedos e esfrega a cabeça na
palma da minha mão, pedindo por mais. Eu sorrio, a pego no colo e ando com ela para a cozinha.
— Allyson chegou — digo, vendo Tessa dar um selinho em Kat e Michael e Adam
conversando.
— Ela foi tomar banho? — Kat pergunta, passando os braços pela cintura da namorada.
Assinto e ponho Lady no chão.
Kat e Tessa voltam a tocar carícias, e olho para Michael e Adam, vendo os dois muito
próximos um do outro. Meu melhor amigo fala algo, e Adam sorri, baixando o rosto. Michael
ergue o rosto dele pelo queixo, e eles ficam se encarando. É impossível não fazer uma careta
diante da cena clichê.
De um lado, um casal se beijando. Do outro, um possível casal de conversinha. Aos meus
pés, Justin lambendo minha gata. Assim não dá, é um sinal para que eu reaja?
Aproveito que eles estão entretidos e saio da cozinha para ir ao corredor dos quartos. Bato
na porta do de Allyson e, quando não tenho resposta, a abro e espio, não encontrando ninguém.
Escuto o som do chuveiro, entro e me sento em sua cama com total descaramento. Vou esperar
até que ela saia do banheiro, não quero ser tocha olímpica na cozinha.
Sem contar que faz um tempinho que eu não fico a sós com Ally. Ela sempre anda ocupada,
e eu também estive com muitos trabalhos atrasados da universidade por culpa das três semanas
que fiquei na Itália. Nós mal temos nos beijado, é sempre um selinho aqui ou outro ali, nunca uns
amassos de verdade, e eu estou com muita, muita saudade de ficar assim com ela e, caralho,
estou com tanto tesão acumulado que minhas bolas estão roxas.
O chuveiro é desligado e, alguns segundos depois, a porta do banheiro é aberta. Ally sai
enrolada em uma toalha e com o cabelo molhado, arregalando os olhos avelã ao me ver em sua
cama.
— Caralho, que susto! — Ela põe a mão no peito e dá alguns passos para trás.
Contra a minha própria vontade, meus olhos descem para as suas pernas nuas e torneadas, e
algumas gotas de água escorrem por elas. Allyson aperta as coxas, o que me faz olhar para o seu
rosto corado pelo banho.
— O que… — Ela limpa a garganta e põe uma mecha de cabelo molhado atrás de sua
orelha. Minha vizinha aperta a toalha contra o peito. — O que você está fazendo aqui?
Eu me levanto da cama e ando lentamente até ela.
— Estou à sua espera, não dá para ficar na cozinha com Michael e Adam flertando e Tessa e
Kat se beijando. Cazzo, minha chama já estava se apagando — eu digo e me aproximo aos
poucos.
Ela entreabre os lábios e passa a língua pelo inferior de maneira distraída. Quero beijá-la.
— Sei como é, eu também odeio casal feliz. — Allyson sorri e ergue as sobrancelhas ao
perceber a minha intenção. — Não se aproxime, ainda estou brava com você.
Eu sorrio de lado e continuo a andar na direção dela até que recue e fique entre mim e a
parede.
— Por que está com raiva de mim, gattina? — pergunto e pondo os braços na parede,
prendendo-a.
— Você ainda pergunta? — Ela me olha com incredulidade e se encolhe quando abaixo o
rosto para ficar próximo dela. — Você me fez acreditar que iria me beijar.
— Mas eu a beijei. — Beijo seu ombro esquerdo e sinto o quanto ela está cheirosa.
Eu a escuto prender a respiração, e meu pau pulsa, começando a endurecer. Cazzo, espere só
até que eu o enfie na sua garganta e a veja engolir a minha porra.
— Eu… eu não queria daquele jeito… — Allyson diz, contorcendo-se um pouco quando
deslizo a ponta dos meus dedos por sua coxa nua. Ela pigarreia. — Mas não interessa, eu não
quero mais.
Sorrio perto do seu ombro, envolvo sua cintura com meu braço e a puxo para mim. Allyson
ofega, e vejo seus dedos se apertarem no nó de sua toalha, segurando-a firmemente contra seu
corpo, como se temesse que o pano caísse. Ela entreabre os lábios e mantém os olhos nos meus.
Sorrio.
— Não minta, linda. É feio. — Sopro seu rosto e seguro sua nuca com minha mão,
segurando-a pelos cabelos molhados. Beijo o canto dos seus lábios. — Como você queria ser
beijada então, hum? Diga-me.
Ela olha para a minha boca e nega com a cabeça, claramente me desafiando.
— Não? Então eu acho que vou ter que descobrir por mim mesmo. — Sorrio de lado e puxo
seu cabelo para trás, de modo a erguer seu rosto para mim. Allyson ofega alto e agarra a minha
regata branca.
Ponho minha língua para fora e lambo os lábios dela, sentindo-a se espremer contra mim.
— É assim que você queria ser beijada? — pergunto, mordo o lábio inferior dela e o puxo
para mim. — Ou… assim?
Chupo seu lábio vagarosamente e a ouço gemer baixinho.
Largo a carne, olho para baixo e a vejo apertar as coxas uma na outra. Sorrio, sabendo
exatamente o que vou encontrar se eu enfiar a mão entre suas pernas.
— Que sujeira, gattina — sussurro perto dos seus lábios, apertando sua cintura. Estou duro
pra caralho. — Ponha a língua para fora.
Com os olhos semicerrados, Ally me olha confusa, mas mesmo assim faz o que mandei. Ela
estende a língua para fora, e solto um grunhido por essa porra parecer tão erótica e pornográfica.
Pressiono-a na parede e capturo sua língua em minha boca, chupando-a. Allyson geme baixinho
e fecha os olhos com força, aproveitando. Meu braço esquerdo solta a cintura dela, e adentro a
sua toalha, agarrando a sua nádega macia. Eu a puxo para mim e esfrego meu pau duro e coberto
em sua barriga.
— É assim que você queria ser beijada, Allyson? — pergunto quando largo sua língua.
Ela abre lentamente os olhos e me desafia com o olhar marcante. Teimosa do caralho.
Movo meus olhos para os seus peitos e vejo que a toalha desceu um pouco, revelando um
mamilo. Olho para seu rosto novamente.
— Não vai dizer, não é, dannazione?— Firmo meus dedos em sua bunda e a vejo negar mais
uma vez. Sorrio e tiro a mão direita de sua nuca para envolver sua cintura. — Pois bem, só abra a
boca para gemer, então.
É meu último aviso antes de eu capturar seu mamilo esquerdo em minha boca.
Allyson solta um gritinho e joga a cabeça para trás quando chupo sua carne sensível.
Arranco a toalha de seu corpo, a jogo no chão e a puxo para mim pela bunda. Ally adentra meu
cabelo com os dedos e me mantém em seu peito, não deixando que eu me afaste. Gananciosa.
Sua tatuagem está perfeitamente linda entre seus seios e me chama a atenção. Eu me
dedicarei a ela mais tarde.
Mordo seu mamilo e o puxo para mim, esfregando a carne com a língua e a estimulando.
Ergo a perna de Allyson até o meu quadril e a abro para mim, então ganho acesso para ondular
meu quadril contra o dela. Graças à minha calça de moletom, posso senti-la perfeitamente, e isso
me faz ficar ainda mais duro.
Solto sua cintura e envolvo seu pescoço com meus dedos direitos, apertando-o. Largo seu
mamilo e arrasto beijos por toda a tatuagem dela, vendo seu peito subir e descer com a respiração
pesada. Esfrego meus lábios no pescoço de Allyson, e ela pende a cabeça para o lado e me dá
ainda mais acesso. Ela geme e choraminga, apenas me dando a certeza de que a sua boceta deve
estar pingando por mim.
Allyson geme quando ondula o quadril no meu e se esfrega.
— Chase, me beije — ela pede chorosa, e sorrio.
Passo meus olhos por seu corpo, subindo para seu rosto novamente.
— Como? — Eu quero que ela diga.
— Apenas do jeito que você sabe que nós gostamos… — Allyson ofega. — Com diversão,
lembra? Sem sentimentos…
Fico tenso, sentindo cada um dos meus músculos se enrijecer. Pela primeira vez na minha
vida, odeio cada palavra que sai da boca de Allyson. Ela e essa maldita mania de falar besteira.
— Mai dire quel cazzo… — rosno antes de tomar seus lábios em um beijo urgente.
Gemo quando ela chupa a minha língua e solto seu pescoço, puxando-a para mim pela
cintura. Allyson se impulsiona para cima, e a seguro pela bunda, sentindo-a prender as pernas ao
redor da minha cintura. Eu a tiro da parede, ando com ela pelo quarto e a coloco na cama comigo
por cima. Ela enfia os dedos em meu cabelo e geme quando simulo uma estocada.
— Chase… — Ally me chama entre o beijo e se esfrega em mim, buscando por mais
contato. Porra, tenho que sentir.
Escorrego minha mão direita por entre nossos corpos e deslizo meus dedos por sua boceta,
sentindo como ela está molhada e escorregadia.
— Isso aqui é por mim, gattina? — pergunto perto de seus lábios, pressionando meu polegar
em seu clitóris. — Questo non è davvero alcun sentimento qui?
Allyson geme e enterra o rosto em meu pescoço.
— Aah… — ela choraminga e se contorce.
Tanto tempo sem tocá-la desse jeito, eu vou ficar louco. Meu pau está duro feito pedra, e eu
só quero me enterrar em Allyson, ir tão fundo nela que ela só vai saber gemer e implorar por
mais.
Ela abre ainda mais as pernas, dando-me acesso livre enquanto tira o rosto do meu pescoço.
— Olhe como você se abre para mim. — Giro meu polegar em seu clitóris e mordo seu
queixo. — É de mim que essa sua boceta precisa, não é?
Allyson adentra a minha regata e arranha as minhas costas, rebolando em minha mão. Eu
estou tão frustrado, não podemos transar, tem pessoas perto de nós, e conheço Allyson, sei que
ela gosta de gritar até que a sua garganta falhe. Além disso, não quero ter que me controlar para
que ela não grite, quero mais é tomar tudo dela e dar tudo de mim também. Sem me conter.
— Chase, eu quero você — ela diz entre gemidos, e sua boca exige a minha como se lesse
meus pensamentos.
Essa situação é tão fodida, eu também a quero muito, ela não sabe o quanto. Mas não
podemos, pelos menos não hoje.
— Não podemos. — Puxo o lábio inferior dela enquanto meus dedos trabalham em seu
clitóris. — Estão nos esperando na cozinha.
Minha mão esquerda aperta um de seus seios e segura um dos mamilos entre os dedos.
— Eu gemo baixinho… — Allyson adentra minha calça moletom e a cueca, agarrando meu
pau e me fazendo arfar. Ela desce e sobe a mão lentamente, torturando-me também. Gemo. — Só
no seu ouvido.
Olho para baixo quando seu polegar esfrega a cabeça do meu pau, espalhando o pré-gozo,
que já é expelido. Sua mão está dentro da minha calça, e a minha em sua boceta, acolhendo-a em
minha palma. É tão perfeito que é como se Allyson tivesse sido feita para mim. E ela foi.
— Tudo o que eu quero neste exato momento é me enterrar tão fundo aqui… — desço meus
dedos para a sua entrada e a circulo — que a única coisa que você vai saber fazer é gritar meu
nome, Allyson. Quero que grite alto o suficiente para perder a voz, mas você não pode fazer isso
com pessoas esperando lá embaixo, e eu não vou conseguir matar a saudade que estou de você
apenas com uma rapidinha.
Arrumo a minha mão em um ângulo a partir do qual meu polegar possa estimular seu clitóris
com perfeição, e Ally geme baixinho contra a tatuagem de rosa em meu pescoço.
— Então, eu vou descer um pouco e você vai abrir as suas lindas pernas para mim para que
eu possa chupá-la. — Tento manter minha voz firme quando ela me masturba mais rápido. —
Você vai ficar caladinha e, se for gemer, ponha a mão na boca. Entendeu, amore?
Ela assente, atordoada.
No instante seguinte, eu me deslizo pelo corpo dela, a faço tirar a mão do meu pau e paro a
centímetros de sua boceta. Allyson abre as pernas como mandei, e lambo os lábios quando a
encontro totalmente encharcada, pronta para ser chupada. Passo meus braços por detrás de suas
coxas, a puxo para mim e a prendo na cama.
Arrasto beijos pelo interior de sua coxa esquerda, e Allyson se contorce levemente. Olho
para cima e ponho a língua para fora, não desviando meu olhar quando a lambo de baixo para
cima lentamente, provando seu gosto. Ela abre a boca e joga a cabeça para trás, tentando fechar
as pernas em um ato impulsivo.
— O que eu disse, gattina? — pergunto, subo minha mão esquerda por sua barriga,
tatuagem e então o pescoço, que agarro.
Allyson põe as pernas em meus ombros, e sorrio, satisfeito. Lambo a sua boceta mais uma
vez antes de cair, literalmente, de boca. Ela arqueia as costas. Sacudo seu clitóris com a minha
língua, e Allyson choraminga, enterrando os dedos em meus cabelos e os puxando, descontando
todo o seu prazer.
Sempre que eu a chupo, ela faz isso e, por mais que eu possa ficar careca, engana-se quem
acha que eu me importo. Eu amo quando ela puxa meu cabelo e se contorce em minha língua.
Ally joga a cabeça para trás, e firmo meus dedos em seu pescoço ao senti-la ficar ainda mais
molhada em minha boca. Então a gattina gosta de ser sufocada? Bom saber.
— Chase… — ela geme baixinho com a voz entrecortada — por que é tão bom?
Eu sorrio perto dela e chupo seu clitóris, vendo seu peito subir e descer e sua tatuagem
brilhar com o suor. A porra dessa tatuagem é o meu fim, não consigo olhar para ela por mais de
cinco minutos e não ficar duro.
Acaricio sua entrada com meus dedos direitos e vejo Ally arquear as costas quando penetro
a pontinha do dedo do meio nela. Então, deslizo o resto tão fundo que ela revira os olhos,
maltratando o lábio inferior para não gemer alto como eu mandei. Mas a coisa toda muda de
figura quando acrescento meu dedo anelar também, e um som estrangulado sai de sua boca.
Nos segundos seguintes, o quarto é preenchido por gemidos à medida que minha boca a
chupa, minha língua sacode seu clitóris e meus dedos a fodem com força e rapidez, sem
nenhuma calma ou cuidado. Os puxões em meu cabelo ficam mais fortes, e a sinto se contrair em
meus dedos, evidenciando que iria gozar. Curvo meus dedos dentro dela, e Allyson choraminga.
— Gattino, eu vou… — ela mesma se interrompe para gemer alto. Nega, atordoada. — Eu
vou…
Solto o pescoço dela, agarro seu seio direito e belisco o bico rígido dele. Allyson rebola em
minha língua e em meus dedos, gemendo cada vez mais alto. Eu devia fazê-la ficar quieta, mas
isso está me excitando pra caralho, tanto que o meu pau está dolorido e latejando de tesão.
Esfrego minha língua em sua boceta, e Allyson grita e arqueia violentamente as costas uma
última vez, jogando a cabeça para trás ao gozar com força. Tiro meus dedos de dentro dela e os
substituo por minha língua, tomando todo o seu gozo em minha boca até a última gota. Ela
afrouxa o aperto em meu cabelo e, após lambê-la uma última vez, desenterro o rosto do meio das
suas pernas para olhá-la.
Alguns fios de cabelo molhado grudam em seu rosto suado, seus olhos estão fechados, e seu
lindo corpo treme com alguns espasmos. Seu lábio inferior está sendo maltratado por seus
dentes, e sua pele brilha graças ao suor. Ela dá um sorriso fraco.
— Amo deixá-la assim, sabia? — Sorrio enquanto tiro suas pernas dos meus ombros e subo,
inclinando-me para ficar perto de seu rosto.
Allyson abre lentamente os olhos.
— Acabada, suada e descabelada? — ela pergunta com a voz falha enquanto segura meu
rosto com as duas mãos.
— Contente, linda e satisfeita — respondo e afasto alguns fios de cabelo de sua testa.
— Chihuahua convencido. — Ally faz uma careta e passa o polegar esquerdo por meu
piercing.
Eu disse que voltaria com ele e voltei.
Sorrio, me inclino para os lábios dela e a beijo, permitindo que sinta o próprio gosto. Cazzo,
eu amo chupar Allyson de um jeito inexplicável. Se ela pedisse, eu a chuparia todo dia, sem
falta, sete dias por semana. Merda, eu realmente sou o tarado que Ally diz que sou.
Ela se afasta um pouco.
— Chase, você vai viajar?
— Não, por quê? — Eu a olho confuso.
— E essa mala aqui? — Allyson segura meu pau por cima da calça e sorri de maneira
safada.
Eu dou risada, mas paro quando ela me massageia lentamente e me arranca um gemido
gutural. Meu pau está doendo de tesão, puta merda.
— Gattina… — eu a chamo quando ela adentra a mão direita em minha calça e cueca e
esfrega o polegar na cabeça do meu pau, espalhando o pré-gozo.
Ela me dá um selinho e puxa meu lábio para si, bombeando sua mão com mais rapidez. Eu
estou com tanto tesão que sei que não vou durar muito tempo.
— Quietinho, amor. — Ally agarra minha nuca com a mão esquerda e esfrega nossos lábios.
Ela puxa meu pau para fora. — Agora é a sua vez.
Gemo alto e enterro meu rosto em seu pescoço cheiroso tentando processar o nome pelo
qual ela me chamou. Amor. Não sei o que está acontecendo com ela, mas quero que me chame
disso mais vezes. Escutá-la me chamar de amor deixou meu coração quente e o fez dar um salto
em meu peito. Eu sou a porra de um idiota apaixonado e emocionado.
Eu seguro as laterais da cintura de Allyson com firmeza e desconto todo o meu prazer
enquanto gemo em seu pescoço de maneira abafada. Ela acaricia a minha nuca enquanto a sua
mão desce e sobe com rapidez, levando-me ao delírio.
— Lo fai così bene… — Mordo-lhe o pescoço ao que ela pressiona os dedos ao redor do
meu pau, e sua mão o masturba sem parar — Allyson…
Fecho os olhos quando um espasmo percorre o meu corpo.
— Goza bem gostoso para mim, amor. — Ally morde minha orelha esquerda e esfrega o
polegar em minha glande inchada.
Eu aperto a cintura dela com força e jogo a cabeça para trás, gemendo rouco quando o prazer
me atinge, e sou tomado por um orgasmo, sujando a mão e barriga de Allyson, e alguns jatos de
porra param em sua tatuagem e em seus seios. Enterro meu rosto em seu pescoço e espero a
minha respiração voltar ao normal. A mão de Ally acariciou minhas costas, e a que me
masturbou se manteve afastada de nós por estar suja.
Desenterro o rosto de sua pele e a olho com um sorriso de lado.
— Acho que alguém vai ter que tomar banho de novo — eu digo, analisando a sujeira que
fiz nela. Sorrio envergonhado. — Desculpa por isso…
Allyson olha para os próprios seios, tatuagem e barriga e vê minha porra neles. Ela sorri e
me dá um selinho demorado.
— Eu não me importo, relaxa. — Ally acaricia meu queixo.
Eu sorrio e encosto nossas testas, e meu olhar se fixa no dela. Ally esfrega nossos narizes
com delicadeza, e sinto que posso morrer apenas com esse toque tão carinhoso. Allyson ainda
vai me matar.
— Se vocês já tiverem terminado de procriar, podem vir para a cozinha? Já são oito horas.
— Escutamos a voz risonha de Tessa do outro lado da porta.
Eu sorrio para Allyson, e ela para mim, e ambos trocamos um olhar cheio de cumplicidade.
— Vá lá, vou tomar mais um banho. — Ela beija a ponta do meu nariz, e eu assinto.
— Antes eu vou me limpar no seu banheiro, tudo bem? — pergunto, e ela acena com a
cabeça.
Após eu me limpar, Allyson entra no banheiro vestida com a toalha, e dou-lhe um último
beijo antes de sair do quarto e ir para a cozinha, encontrando olhares maliciosos. Eu apenas
reviro os olhos e me sento à mesa com um sorriso contente no rosto.
Uns dez minutos depois, Allyson entra na cozinha vestida com um short preto soltinho e
uma regata rosa de alças finas, seus cabelos molhados estão penteados e partidos ao meio. Ela
sorri minimamente para mim, e assisto a ela se sentar na cadeira ao meu lado e pegar uma
cerveja.
— Sobre o que estão falando? — Allyson pergunta ao abrir a garrafa.
Michael está sentado do meu lado direito, e Adam ao lado dele. Tessa e Kat estão sentadas
de frente para nós.
— Umas besteiras. — Tessa abana a mão, dispensando o assunto. Ela sorri maliciosa. —
Seu banho demorou, não é?
Eu coço minha nuca, tentando disfarçar e contornar o que quer que Tessa esteja insinuando.
Se eu só chupei Allyson, e ela não conseguiu ficar calada, imagine se nós tivéssemos fodido. A
situação seria ainda mais constrangedora do que agora.
— Sim, tive que tomar dois banhos — Allyson diz de maneira despreocupada, levando a
cerveja aos lábios.
— Por quê? — Adam pergunta com um sorri malicioso, e vejo Michael erguer a sobrancelha
esquerda para mim, claramente me provocando também.
Eu os ignoro e levo a minha própria garrafa aos lábios para tomar um grande gole.
— Tenho certeza de que vocês escutaram. — Allyson sorri falsamente para ele, e arregalo os
olhos e me engasgo.
Merda, às vezes me esqueço de como Allyson não tem filtro.
— E como não escutar, não é, linda? — Kat debocha com um sorriso.
— Está reclamando do quê? — Ally arqueia a sobrancelha. — Você acha que é fácil dormir
com vocês duas transando no quarto ao lado? Falei, estou leve. — Ela beija o ombro esquerdo.
Kathleen abre a boca, indignada e, bom, no seu lugar eu também estaria.
— Não a escute, amor! — Tessa tapa os ouvidos da namorada.
Michael solta uma risada silenciosa, e Allyson revira os olhos.
— Falsa. — Ela faz uma careta para Tessa, que lhe mostra a língua. Parecem duas crianças,
mesmo que tenham mais de vinte anos.
Dessa vez, sou eu que rio, mas paro quando sinto a mão de Allyson em minha coxa,
descansando de maneira despretensiosa. Olho para o rosto dela e a encontro fazendo careta para
Kat, que lhe mostra o dedo. Ela está tão distraída, que chego a crer que ela pôs a mão em minha
coxa sem notar, um ato com naturalidade.
Eu sorrio e cubro a mão dela com a minha, vendo-a segurá-la. Não. Ela está bem ciente das
próprias ações.
— Sua mão está quente — Allyson sussurra para que só eu escute.
Eu a olho com falsa inocência.
— Desculpa, é que eu estou vivo.
Allyson crava as unhas nas costas da minha mão esquerda, e contenho um grunhido.
— Cale a boca se ainda quiser continuar assim. — Ela sorri falsamente e leva a garrafa aos
lábios.
Aproximo os meus lábios do ouvido dela.
— Você me ama demais, tenho certeza de que não quer me ver morto, gattina — sussurro e,
em seguida, ela se engasga e começa a tossir.
Ally põe a cerveja na mesa e dá socos no próprio peito, tossindo violentamente. Solto nossas
mãos e massageio as costas dela, preocupado com sua reação tão exagerada.
— Calma, respire! — eu mando enquanto afago suas costas.
— Por que ela se engasgou? — Adam franze o cenho e olha para Allyson.
Minha vizinha se recompõe aos poucos, limpando a garganta enquanto massageia o peito em
busca de acalmar a própria respiração e a pequena e silenciosa tosse.
— Está tudo bem… — ela responde, apertando os olhos em minha direção, culpando-me.
Eu recosto minhas costas na mesa e sorrio, vendo que ela está bem. Pisco para ela, que me
ignora, com certeza me provocando.
— Allyson está vermelha também. — Tessa aponta.
— Deve estar envergonhada de amor. — Kat sorri com deboche, e Allyson mostra o dedo
do meio para ela.
Eu a vejo pegar sua cerveja e apoiar a outra mão em minha coxa mais uma vez. Allyson está
tão estranha ultimamente que tenho medo de falar sobre isso e ela voltar a ser como antes. Não
que eu não goste da Ally mais durona, foi por causa disso que me interessei por ela. Mas quero
dizer que também gosto muito da Allyson carinhosa.
— Cuidado, hein. Você é fraca para bebida — ela provoca.
Kat ergue as sobrancelhas.
— Os únicos fracos para bebida aqui são você e o Adam. — Ela sorri falsamente.
Adam a olha com deboche.
— Coitada, ela jura que é verdade — ele suspira, em seguida dá um longo gole em sua
cerveja.
— Ah, é? — Kat sorri. — Quem conseguir beber mais, ganha.
Por que eu acho que isso não vai dar certo?
— Feito! — Allyson e Adam sorriem e aceitam o desafio.
— Uma pergunta, uma pergunta! — Kat sorri bêbada, levantando-se do sofá. — Você é
gay? — ela pergunta a Adam, tentando se equilibrar.
Adam franze o cenho, parecendo pensar.
— Não…? — ele pergunta, parecendo incerto. Ele está tão bêbado quanto ela.
— Está querendo enganar quem? — Kat o empurra pelo ombro e aponta o dedo na cara dele,
rindo. — Boiola!
Adam a encara por alguns segundos e em seguida a abraça, e os dois riem alto. Há uma hora,
Allyson, Adam e Kat fizeram um desafio de quem bebe mais, porém, ao que parece, eles estão
do mesmo jeito: todos bêbados e não falando coisa com coisa.
Allyson está deitada no sofá de barriga para cima e olhando para o teto enquanto ri sozinha.
— Nada disso, pequeno, você já bebeu demais. — Michael toma a garrafa de cerveja da mão
dele quando Adam faz menção de beber mais.
Adam bufa e solta Kat, ficando em pé com dificuldade.
— Pequeno é o seu… — ele soluça. — Pequeno é o seu pau?
Michael sorri minimamente e curva as costas para a frente, apoiando a mão esquerda no
joelho, já que a direita está segurando a cerveja.
— Ah, Adam… — meu melhor amigo suspira com seu rosto a centímetros do de Adam. —
Talvez um dia você queira descobrir que não tem nada de pequeno em mim. — Ele sorri
minimamente.
O rosto de Adam se torna vermelho, e ele abre a boca várias vezes, sem saber o que dizer.
— Você é um menino atrevido! — Adam acusa, apontando para ele.
— Não, não sou. — Michael nega com a cabeça.
— Sim, você é!
Desvio meus olhos deles e os foco em Kat, que começou a girar no meio da sala. Tessa tenta
segurar a namorada quando ela quase derruba um jarro, mas infelizmente não tem sucesso.
— Kat, pare um minuto, você vai se machucar! — Tessa pede, tomando a cerveja da mão
dela.
— Você existe? O mundo existe? Eu existo? E, se existe, por que existe? — Kat olha para o
teto, brisando — Ah, natureza, não é? Sagrada, não é?
Quero rir. Quase não consigo controlar a risada que quer escapar da minha boca e espremo
meus lábios um no outro com mais força, privando-me.
De repente, Allyson se levanta bruscamente e corre de maneira desequilibrada até a caixa de
som ao lado da televisão. Alguns segundos depois, começa a tocar Gasolina, de Daddy Yankee,
e ela começa a remexer os quadris de um lado para o outro, agitando as mãos no alto da cabeça
sem parar. Adam grita e se afasta de Michael, correndo para dançar com ela.
Adam sarra logo atrás de Allyson e a joga um pouco para a frente. Ela não cai por pouco,
mas logo volta a dançar ao lado dele.
— A, ELLA LE GUSTA LA GASOLINA! DAME (MÁS GASOLINA)! — Allyson põe as mãos
nos joelhos e começa a rebolar, e seu cabelo cai em seu rosto. — CÓMO LE ENCANTA LA
GASOLINA! (DAME MÁS GASOLINA)!
Kat também corre para se juntar a Allyson, e Adam e os três ficam dançando na sala como
um bando de loucos. Tessa bufa quando vê Kat tentar abrir o espacate e anda até nós. Se nem ela
que os conhece há mais tempo acha normal, o que dizer de mim e de Michael.
Nunca presenciei tal caos.
— Nunca mais eu os deixo fazer um desafio envolvendo bebida. — Ela olha para eles,
parecendo angustiada.
— É sempre assim quando eles bebem? — Michael pergunta ao ver Adam sarrar Allyson,
que se empina para ele.
Eu sorrio pela cena, mas não sinto nem um pouco de ciúmes dos dois. Sei exatamente como
é a amizade deles.
— Às vezes é pior — Tessa suspira e nega com a cabeça. — Allyson não bebe, mas, quando
o faz, só Jesus na causa.
Eu dou risada, mas paro quando vejo minha querida vizinha começar a andar em direção à
cozinha, tropeçando algumas vezes no processo. Corro até ela e a pego pela cintura, quando ela
quase cai com a testa no chão, e ando com ela até a cozinha, com meu braço firme como aço
enrolado em sua cintura, já que seus próprios pés parecem odiá-la.
— Eu quero água… — Ally pede e passa os braços pelo meu pescoço. — Mas não posso
beber na sua frente, senão pode aparecer a minha cauda de sereia.
Ela ri da própria piada e enterra o rosto no meu peito. Eu sorrio e puxo uma cadeira da mesa,
colocando-a sentada nela como uma criança de castigo.
— Fique aqui, gattina — eu peço, temendo que ela se machuque.
Eu ando até a geladeira, a abro e pego uma garrafa de água gelada. Quando me viro,
encontro Allyson subindo em cima da mesa e arregalo os olhos, correndo até ela com a garrafa
na mão.
Eu não sei se tenho algum pecado para pagar além dos cometidos diariamente, mas, se eu
tiver, tenho certeza de que Allyson está me fazendo pagar por eles neste exato momento.
— Cazzo, o que você está fazendo aí em cima? — questiono ao pôr a garrafa no balcão.
Allyson não responde, apenas aponta para a cadeira que está logo à minha frente.
— Sente-se, vou fazer um striptease pá você! — ela diz de modo embolado enquanto segura
na barra de sua blusa.
Eu arregalo os olhos e nego com a cabeça, desesperado.
— Não, Ally, não precisa! — Balanço as mãos.
Allyson não me dá ouvidos e começar a mexer a bunda para um lado e para o outro em um
ritmo cadenciado. Se fosse em outra situação, uma em que ela não estivesse bêbada, eu a faria
fazer esses mesmos movimentos no meu pau, e esta noite terminaria com ela nua e ofegante em
meus braços após um orgasmo. Mas, porra, ela está bêbada, não dá para pensar nela desse jeito
com ela assim.
Eu quase grito de desespero quando Allyson tira a blusa e penso que seus seios vão ficar
despidos, mas, graças a Deus, ela está com um top preto por dentro. Ela balança a camisa no alto
da cabeça ao som da música.
— Merda, Allyson, você ainda vai me matar! — Eu puxo os meus cabelos enquanto olho
para ela, que apenas sorri travessa.
Dou-lhe as costas e faço menção de ir pegar a garrafa de água no balcão, decidido a fazê-la
descer assim que eu fizer isso.
— Eu quero fazer xixi… — A voz dela sai embolada, e eu paro no meio da cozinha.
Eu me viro para ela lentamente, e um suspiro deixa meus lábios.
— Vem, vou levá-la ao banhei… — Minha voz morre quando vejo o que ela está fazendo.
— Cazzo, Allyson, não pode mijar na mesa!
Corro até ela, desesperado.
Allyson está de cócoras, e seu short e calcinha abaixados até a metade de suas coxas. Ela
está pronta para mijar em cima da mesa quando a puxo para fora dela e a coloco no chão. Puxo
suas roupas para cima com cuidado e me pergunto mentalmente o que fiz para merecer esse
castigo.
Vai ser uma dúvida que nunca vou sanar.
— Você ia mijar na mesa? — Eu a seguro pelos ombros e a chacoalho levemente. Ergo o
dedo em frente ao seu rosto. — Não pode!
Os lábios de Allyson formam um beicinho enorme, e seu rosto se contorce em uma careta de
choro.
— Machista, opressor de bexigas! — Ela cobre o rosto com as mãos e soluça algumas vezes.
— Eu vou cancelar você no Twitter, vou derrubar a sua conta!
Eu rio, totalmente incrédulo com a situação. Descubro seu rosto e o seguro em minhas mãos
antes de puxá-lo para mim, obrigando-a a me encarar para que ao menos assim ela possa focar
alguma coisa que não seja a bebida em sua mente.
— Não quis brigar com você, gattina, mas realmente não pode mijar na mesa. — Olho em
seus olhos marejados. — Ouviu?
Allyson não responde, apenas fica na ponta dos pés, passa os braços por minha cintura e
enterra o rosto no meu pescoço.
— Eu estou com sono, gattino… — Ela esfrega o rosto no meu pescoço e me aperta mais.
Sorrio com o apelido e passo meus braços ao redor dela, apertando-a contra mim.
— Venha, vou levá-la ao banheiro e em seguida vou colocá-la na cama. — Eu a ergo pelas
coxas, fazendo-a entrelaçá-las ao redor da minha cintura.
Nós caminhamos para fora da cozinha, e passo pela sala, vendo a hora em que Tessa corre
atrás de Kat para pegar a garrafa de cerveja das mãos dela e a dança de Adam, que do nada
tropeça, e seu rosto vai direto na virilha de Michael, que está sentado no sofá e arregala os olhos,
chocado. Eu pergunto: qual a probabilidade?
Eu rio alto e aperto meus braços na cintura de Allyson quando a sinto beijar meu pescoço
com carinho. Quando abro a porta do quarto dela, vejo Justin e Lady dormindo na cama, os dois
aconchegados um no outro, contradizendo o modo como minha gata o tratou quando o conheceu.
Talvez não tenha sido apenas eu quem sentiu saudades.
Ando com Allyson agarrada a mim até o banheiro, e abro a porta, depois a ponho no chão.
— Você está sentindo vontade de vomitar? — pergunto a ela e a levo para perto da privada.
— Acho que quero vomitar pela perseguida… — Allyson faz careta, espremendo as coxas
uma na outra. Perseguida? Ah, ok. Entendi.
Eu sorrio e levanto a tampa da privada.
— Isso quer dizer que você está querendo fazer xixi — eu explico, sentindo como se
estivesse falando com uma criança. Eu me viro de frente para a porta e lhe dou privacidade. —
Vá, eu vou esperá-la de costas. Não quero que caia.
Em seguida, Allyson faz suas necessidades e dá descarga.
— Pronto — ela diz, e eu me viro, arregalando os olhos no mesmo instante.
Ela está com o short e a calcinha até a metade de suas coxas e sua intimidade totalmente à
vista.
— Merda, Allyson, arrume essa roupa! — Eu ando até ela e a ajudo a colocar a roupa de
maneira certa.
Logo após auxiliá-la, pego um elástico de cabelo na pia do banheiro e arrumo o cabelo dela
em um rabo de cavalo desajeitado. Não tenho o mínimo de prática com isso, mas pelo menos ela
não vai sentir calor à noite. Depois, mexo na farmacinha e pego uma escova rosa-clara, vendo
uma ainda lacrada do Homem de Ferro. Vou provocá-la depois.
Sorrio e lhe entrego a escova após colocar a pasta de dente nela. Allyson nega com a cabeça
e a entrega a mim, arreganhando os dentes para que eu os escove. Eu sorrio, reviro os olhos e
faço o que ela quer, segurando seu rosto pelo queixo enquanto escovo seus dentes.
Allyson enxágua a boca, então eu a levo para fora do banheiro e a coloco na cama. Ela se
aconchega no colchão, e eu a cubro até o pescoço para que não sinta frio à noite. Minha vizinha
fecha os olhos, parecendo sonolenta, e eu me afasto e ando para fora do quarto. Mas, antes que
eu passe pela porta, braços rodeiam a minha cintura e um rosto se enterra em minhas costas.
Allyson.
— Gattina, você não estava dormin…
— Para onde você vai? — ela pergunta enquanto me aperta. — Vai para longe de mim de
novo?
Eu franzo o cenho, sem saber do que ela está falando.
— Não quero sentir saudades de você de novo, doeu muito… — Allyson esfrega a bochecha
em minhas costas.
Então tudo faz sentindo, e meu coração se aperta ao perceber do que ela está falando.
— Ally, eu não vou embora. Nunca mais. — Eu acaricio as mãos dela, sorrindo feito um
idiota.
Ela me aperta ainda mais, como se duvidasse das minhas palavras e eu fosse sumir a
qualquer momento.
— Se você for embora, eu vou na sua mala — ela diz com a voz sonolenta. — Quando você
estiver dormindo, eu vou estar lá. Quando estiver tomando banho, eu vou estar lá!
Meu sorriso se alarga e viro de frente para ela.
— Fico feliz que tenha todo esse poder de teletransporte. — Beijo sua testa, sabendo que ela
ainda está levemente bêbada.
— Durma comigo — Allyson pede, enterrando o rosto em meu peito.
Eu assinto e sou puxado pela mão até a cama dela. Eu me deito primeiro, e Allyson põe a
cabeça em meu peito e se abraça a mim como um coala. Beijo o topo da cabeça dela e, alguns
minutos depois, escuto sua respiração pesada, evidenciando que ela dormiu.
Ela me abraçar com medo de eu ir embora só reforçou ainda mais o que ela me disse: que
sentiu a minha falta e, não importa quantas vezes ela negue ou ponha a culpa na bebida,
geralmente é graças a ela que tomamos coragem para dizer o que nunca diríamos sóbrios.
Adentro a universidade com Tessa e Kat e amarro o meu cabelo quando sinto minha nuca
pingar de suor. O calor está de matar, e estou vestindo apenas um cropped vermelho de alças
finas e uma calça jeans folgada e rasgada em meus joelhos, com caimento em meus quadris. Meu
coque fica frouxo, e sinto alguns fios do meu cabelo caírem em meu rosto, então os coloco atrás
de minha orelha.
— Merda, parece que estamos na frigideira do Satanás, e ele está fritando a gente no fogo do
inferno — eu bufo e arrumo a alça da minha mochila.
Kat ergue o cabelo com a mão esquerda e abana o pescoço com a direita.
— Cara, nem água para diminuir esse calor — ela fala e se encosta em um armário.
Tessa tira um elástico de cabelo do bolso de sua calça e vai para detrás de Kat, cujo cabelo
prende em um rabo de cavalo no topo de sua cabeça. Algumas mechas rosas escapam, e Kathleen
as joga para trás.
— Prontinho, linda — Tessa sorri.
Kat vira de frente para Tessa e retribui o sorriso, inclinando-se para dar um selinho rápido na
namorada. Eu reviro os olhos e olho para a frente quando percebo que vou virar tocha olímpica
mais uma vez. Olho pelo corredor lotado da universidade e procuro Chase entre os estudantes.
Eu estou morrendo de vergonha de olhar para ele, mesmo que eu tenha ficado bêbada uns
três dias atrás, ainda me nego a acreditar que tentei mijar na minha mesa, não soube onde enfiar a
minha cara quando Chase me contou. Merda, nunca mais eu vou beber na minha vida, não posso
ver uma vergonha que já quero passar.
Sem saber o motivo, olho na direção da entrada do prédio e avisto Adam correndo na nossa
direção. Os cabelos lisos voam, e a mochila balança de um lado para outro. Ele para quando
chega até nós e põe as mãos nos joelhos, puxando o ar com força, claramente tendo dificuldade.
— Nossa, onde é o incêndio? — Tessa pergunta, sorrindo.
— O… O Michael… — Adam diz, tentando controlar a respiração.
Ergo as sobrancelhas.
— Quem tacou fogo nele? — Franzo o cenho, pondo as mãos na cintura.
— Tacaram fogo no Michael?! — Kat arregala os olhos.
Adam faz uma careta e nega com a cabeça, deixando a coluna reta novamente.
— Michael me chamou para sair hoje à noite… — Ele coça a nuca. — Só… só nós dois…
— fala baixo, e suas bochechas ficam vermelhas.
Eu sorrio.
— Uhhh, só vocês dois, é? — Balança as sobrancelhas.
— À noite, é? — Kat sorri com malícia.
— À luz do luar, é? — Tessa sorri também, provocando-o.
— Adam que proteja o ânus, porque Michael está à solta! — Eu dou um tapa na bunda dele,
que empurra meu ombro.
As meninas riem.
— Bando de ridículas! — Adam nos mostra o dedo do meio, antes de colocar as mãos nos
bolsos do moletom. — Talvez ele só queira sair com um amigo…
Kathleen revira os olhos
— Pare de ser sonso, a última coisa que ele quer de você é a sua amizade — ela bufa e se
abana. — O homem vai ter que desenhar que quer o seu coração e a sua bundinha de brinde?
Tessa ri, e mordo meu lábio com força, contendo minha própria risada.
— É verdade. — Minha melhor amiga olha para Adam. — Ele o olha de um jeito diferente e
ri muito com você. Não o vejo fazendo isso com outras pessoas.
Adam passa as mãos pelos cabelos e os bagunça.
— Ah, cara. Eu não sei, é tudo muito confuso… — ele geme de frustração.
É a minha vez de revirar os olhos e o segurar pelos ombros.
— Olha, saia com ele e veja no que dá. — Eu o olho nos olhos, tentando dizer algo decente.
— Se você sentir que está se apaixonando, fale para ele e pergunte se ele sente o mesmo. Se ele
não sentir, você vai ficar bem. A gente está aqui com você. Não é como se isso fosse destruir a
sua vida.
Adam fica me encarando por alguns segundos, analisando meu rosto.
— Às vezes você é bem melosa, já lhe disseram isso? — ele sorri, e belisco o braço dele.
— Ingrato!
As meninas riem, e Adam solta um suspiro longo, mais uma vez passando os dedos pelos
fios lisos de seu cabelo.
— Sabem, eu ainda estou um pouco confuso sobre esse lance de também sentir atração por
homens… — Ele massageia a nuca.
Kat se afasta de Tessa e anda até Adam, o abraçando pelos ombros.
— Olha, já passei pelo que você está passando, e não se force, vá no seu tempo. Não precisa
se rotular agora — ela sorri para ele — e, pelo que eu sei, você também gosta de mulheres, não
é?
Adam ri alto.
— Está brincando? — Ele ergue as sobrancelhas, desacreditado. — Eu amo um belo par de
peitos.
Eu sorrio.
— E quanto a Melody? — pergunto.
Meu amigo pisca e respira fundo. Nesse exato momento, sua ex-namorada passa com as
mãos dadas com um garoto alto, o mesmo que ela beijou no refeitório dias após terminar com
Adam. Ele a encara com o rosto inexpressivo enquanto vê Melody se afastar.
— Melody seguiu a vida dela, mas ainda me manda mensagens querendo me ver. Não sei o
que sinto em relação a ela, mas sei que ainda está aqui. Porém, sei que não a quero mais… —
meu melhor amigo diz, e um sorriso mínimo se abre em seu rosto. — Tenho direito de me
permitir amar de novo, porque nada de bom virá de ficar preso ao passado.
Naquele instante, suas palavras me atingem em cheio, porque me vejo nelas.

Assisto a Chase e Michael caminharem na direção da mesa onde Tessa, Adam, Kat eu
estamos; está na hora de comer, e viemos para o refeitório. Não vi Chase desde que cheguei à
universidade e confesso que me perguntei se ele veio hoje.
Ele está vestido com uma calça jeans preta rasgada nos joelhos e uma camisa branca com
alguns botões abertos, deixando ver a tatuagem de pássaro em seu peito. Seu cabelo preto
levemente bagunçado e a típica cara de sono com os olhos cinzentos apertadinhos me fazem
suspirar. Filho da puta lindo.
— Não vai comer? — pergunto quando ele se senta do meu lado sem bandeja, e Michael
põe a sua própria na mesa.
— Não estou com fome, comi muito no café da manhã. — Chase sorri e pega uma batatinha
do meu prato.
Isso faz sentido?
— Não está com fome, mas come a minha comida? — Faço uma careta.
Chase sorri de lado, revelando a covinha.
— Quem disse que é para mim? — Ele arqueia a sobrancelha e coloca a batatinha em frente
aos meus lábios. — Abra a boca, gattina.
Gattina.
Esse maldito apelido que acaba com todas as minhas estruturas e minha postura de bandida
má. Logo eu, pistoleira raiz, fiel ao bonde das quengas desapegadas.
— Vamos, estou esperando. — Chase esfrega a batatinha em meus lábios.
Quando abro a boca para mordê-la, ele coloca a batatinha entre os dentes e se inclina na
minha direção para que eu a pegue da sua boca. Dou uma olhada nos nossos amigos, e vejo
Tessa e Kat conversando entre elas, Michael e Adam flertando com o olhar, todos alheios às
safadezas de Chase e esse fogo no rabo que ele tem.
Seguro a nuca dele e me inclino para a frente, mordendo um pedaço da batatinha presa em
seus dentes. Chase sorri e mastiga o restinho que ficou.
— Alguém já lhe disse que a sua falta de vergonha na cara é grande? — pergunto.
— Não fui eu que fiz um striptease bêbado em cima da mesa da cozinha. — Chase sorri de
lado e apoia o queixo na mão tatuada.
Sim, ele também me contou que fiz um striptease para ele; mesmo que eu só tenha tirado a
blusa, ainda foi um.
— Está bem, eu já entendi que passo muita vergonha. — Reviro os olhos. — Eu disse ou fiz
mais alguma coisa naquele dia que você não me contou?
Chase me olha nos olhos por alguns segundos e então sorri, enquanto sua mão esquerda
acaricia o meu queixo com carinho.
— Realmente não se lembra? — ele pergunta e põe uma mecha do meu cabelo atrás de
minha orelha.
Nego com a cabeça.
Ele abre a boca para falar algo quando avisto Karen vindo na nossa direção com um sorriso
no rosto e os olhos fixos em Chase. Eu rapidamente fico em alerta com qualquer merda que ela
possa fazer. Ela não vai falar com Chase de jeito nenhum.
Eu me levanto da minha cadeira e me sento no colo de Chase, ponho minhas pernas de lado
e rodeio seu pescoço com meus braços. Karen para no meio do caminho e ergue uma
sobrancelha escura.
— Gattina, não que eu não goste de você no meu colo, mas por que de repente? — Chase
pergunta e passa os braços ao redor da minha cintura.
— Nada demais, deu vontade… — respondo com meus olhos fixos em Karen parada no
meio do refeitório. Ela sorri de canto.
Posso sentir a raiva dela daqui, mas ela que vá para o quinto dos infernos.
Pelo canto do olho, vejo Chase seguir meu olhar, e ele nada diz, a única coisa que sinto são
os seus braços me apertarem ainda mais ao ver Karen. Olho para ele, que para de encarar a ex-
namorada para devolver o meu olhar. Faço um carinho na nuca dele, tentando disfarçar a minha
raiva.
Chase inclina a cabeça para a esquerda.
— Ally, como você…
— Allyson, saia do colo dele agora.
Reviro fortemente os olhos ao reconhecer a voz e olho na direção dela, vendo Kevin parado
à nossa frente com os punhos cerrados e uma cara nada boa.
Às vezes eu acho que, assim como nas séries adolescentes, Karen e Kevin se juntaram para
nos afastar com a ideia de que ficariam com a gente. Estou a um segundo de realmente acreditar
nisso.
— E quem seria você? — Eu o olho de cima a baixo e aperto meus dentes ao lembrar que
ele tentou me beijar à força.
Como se ele tivesse direito, como se eu quisesse, ou pior, como se meu querer não valesse
de nada.
Faz dias que não vejo esse idiota, e ele vem estragar o meu bom humor. Já basta Karen, que
está observando tudo.
— Sei que estamos em uma fase complicada e que até mesmo você pode estar confusa, mas
como você se comporta desse jeito e fica no colo desse cara como uma… — Kevin se cala com
os olhos cheios de desprezo.
— Como “uma” o quê? — Aumento minha voz e me levanto do colo de Chase. — Como
estou me comportando?
Meu ex-namorado respira fundo e olha ao redor quando vê que chamamos um pouco de
atenção.
— Vamos conversar em um lugar mais reservado — ele chama, abaixando a voz.
— Eu não quero, entenda isso, ou vai me levar à força como me beijou da outra vez? —
Arqueio uma sobrancelha, sarcástica. — Se continuar a fazer isso, vou pensar que desenvolveu
um fetiche.
Vejo meus amigos se entreolharem, e seus olhos se fixam em Kevin, tão fulminantes quanto
os meus. Atrás de mim, sinto uma presença se erguer e um braço forte se enrolar em minha
cintura e puxar para o seu peito. Chase.
Kevin o olha e também se ergue ainda mais para parecer mais alto. Eu me sinto pequena
entre eles.
— Por que não tira suas mãos dela? — pergunta, dando um passo em sua direção.
— Eu sou o namorado dela e é você quem me diz o que devo fazer em relação a ela? —
Chase pergunta, e sua voz sai como um rosnado. Mas ele ainda mantém o sarcasmo. — Você
teve sua chance e fez merda, por que não para de ser um pé no saco e começa a agir como um
homem de verdade?
Kevin avança, e Michael e Adam vão para a sua frente e o impedem de chegar até nós. Eu
dou um passo para trás, tentando manter distância. Mas, de algum jeito, Chase me faz não ter
medo.
— Me soltem, porra! Vou mostrar para ele quem é o homem de verdade! — Kevin rosna,
tentando se soltar.
— Segura a onda — Michael manda em tom ameaçador.
— Pare, Kevin. Você não tem direito algum de continuar fazendo isso! — meu melhor
amigo diz.
Michael empurra meu ex para longe, e ele dá alguns passos para trás e ergue seu olhar para o
meu. Ele abre a boca para dizer algo, mas, como se lembrasse de alguma coisa que só ele sabe, a
mantém fechada.
Seus olhos se escurecem de uma maneira que nunca vi, e franzo meu cenho.
— Tudo bem, faça o que quiser. Só não fique muito triste quando isso se encerrar. — Sorri.
Estou pronta para perguntar o que ele quis dizer com isso quando ele nos dá as costas e
começa a andar para longe de nós.
Não gostei das suas palavras carregadas de algo que não sei o que é, mas sinto que não é
bom. Tem toda essa energia ruim em volta e, mesmo que Kevin já tenha ido embora, ela ainda
ficou.
As pessoas param de prestar atenção em nós e voltam aos seus lugares, assim como Adam e
Michael.
— Ok, isso foi… — Tessa assobia.
— Tenso — Kathleen diz o que todos nós estamos pensando.
Chase se afasta de mim, e me sento, deixando um longo suspiro escapar dos meus lábios.
Massageio minha têmpora, tentando não ficar me lembrando do que aconteceu agora, o que é
impossível, já que faz apenas três minutos.
— Ele a beijou a força? Por que não me contou? — Chase pergunta ao meu lado, e olho para
ele.
Está com o cenho franzido, parecendo frustrado.
— Podemos falar sobre isso em outra hora? — pergunto.
Chase assente, mesmo que a contragosto.
— Allyson… — ele sussurra em meu ouvido, e o olho, afetada, quando põe a mão na minha
coxa. — Quanto tempo faz que você sabe?
Ele não precisa ser mais específico, porque eu sei exatamente do que ele está falando.
— Faz um tempinho, mas eu não bisbilhotei sua vida, eu juro — eu digo, com receio de ele
me achar intrometida. — Eu estava saindo do treino quando Karen me disse que o queria de
volta. Então só juntei os pontos, e ela confirmou.
Chase assente e tira a mão da minha coxa.
— Eu não quis falar antes para não estragar a relação que vocês têm no time de vôlei — ele
diz. — Sinto muito…
Eu nego com a cabeça.
— Você não precisa pedir desculpas e também não precisa me contar nada. — Eu sorrio. —
Deve ser difícil para você vê-la todos os dias e não poder lhe dar um soco. Mas deixe que eu dou.
Chase ri e beija o meu pescoço, arrancando-me um sorriso. A mão esquerda dele se encaixa
em minha direita, e olho para baixo, vendo-as unidas. Fixo meus olhos nele, que para mim.
Agora que ele sabe que eu sei que a ex dele é a Karen, tirou um peso das minhas costas. Não
aguentava mais vê-la passar por nós e não poder falar mal dela. Mas tenho certeza de que ela não
vai deixar a minha afronta de hoje barata. Kevin, talvez. Ele é do tipo que late, mas não morde.
Mas, pensando bem, não posso confiar nele.
— Chase?! É você mesmo?
Olho na direção da voz e vejo uma linda garota loira com os cabelos cacheados até a cintura.
Chase ergue as sobrancelhas, parecendo surpreso.
— Erika? — ele pergunta.
— Sou eu! — A tal de Erika sorri largamente e puxa Chase pela mão livre, fazendo-o soltar
a minha e ficar em pé.
Franzo o cenho quando ela se joga nos braços dele e o agarra pelo pescoço, parecendo
animada. Chase a abraça pela cintura, talvez compartilhando da mesma vontade.
Eles se afastam um pouco.
— Caramba, nem acredito que é você — ela diz, ainda com os braços ao redor do pescoço
dele. — Faz tempo que voltou da Itália? — pergunta enquanto sua mão acaricia a nuca de Chase.
Quem caralho é ela?
Chase solta a cintura dela e põe as mãos nos bolsos de sua jaqueta.
— Sim, faz alguns meses. — Ele sorri minimamente e olha para o nosso pessoal na mesa. —
Esses são meus amigos: Michael, Adam, Kat, Tessa e… Allyson.
Amiga? Eu?
Nossos amigos sorriem para ela, mas a única coisa que ela faz é nos olhar de cima a baixo e
sorrir de maneira forçada, nada simpática. A tal de Erika escorrega as mãos pequenas para o
peito de Chase e olha para o rosto dele, agora sorrindo verdadeiramente. Sinto um sentimento
crescer no meu peito e fecho a cara quando percebo que é ciúmes.
Chase se senta, e ela também, na cadeira ao lado dele. Erika se agarra ao seu braço como a
porra de um macaco que não tem outro cipó para se apoiar.
— Você fez alguma tatuagem nova? Amo as suas — ela diz, sorrindo.
Chase assente com a expressão fechada.
— Fiz uma de pássaro no peito — ele diz de maneira despreocupada, parecendo não se
importar com a garota unida ao seu braço.
Eu estou incomodada com isso. Quero fazê-la soltar o braço dele e perguntar a Chase por
que ele não faz nada quanto a isso. Mas não posso, não o namoro, tampouco tenho direito de
fazer isso. Porém, nunca tenho ciúmes à toa, essa garota está claramente dando em cima dele.
— Posso ver? — Erika pergunta, acariciando o peito dele com o indicador direito. Ela ri. —
Estou brincando!
Eu ergo as sobrancelhas, assistindo a isso com incredulidade. Olho para Tessa, e ela está
olhando para mim, claramente ciente de que estou incomodada e morrendo de ciúmes. Contei
para ela que eu gosto de Chase.
“Não surte”, ela me diz com o olhar, e respiro fundo.
Ela abraça a cintura dele, e isso é o meu limite. Não sou brigada a ficar vendo isso. Se não
tenho o direito de intervir, também não tenho a obrigação de assistir a essa palhaçada.
— Estou indo para o treino. — Eu me levanto e jogo minha mochila em meus ombros.
Meus amigos se despedem de mim, e poupo um olhar na direção de Chase, recusando-me a
olhar para ele e a loira. Dou as costas para eles e me afasto da mesa, caminhando para fora do
refeitório a passos rápidos e indo para os corredores vazios.
Merda, estou com tanta raiva, e nem deveria. Mania idiota que o ser humano tem de ter
ciúmes do que não é dele. Mas odiei ter que ver a garota tocando Chase com a maior intimidade.
Será que eles já namoraram? Ou eles eram ficantes? E se eles já tiverem transado? Ou, pior, e se
ainda transam?
Chase e eu nunca tivemos uma conversa sobre sermos exclusivos, eu nunca perguntei a ele
se saía com outras pessoas. Uma mão agarra o meu braço, o que me faz olhar para trás.
— Algum problema? — pergunto, soltando meu braço do seu aperto de maneira discreta.
— Você não se despediu de mim — Chase diz, revelando a covinha ao sorrir.
— Eu falei que estava indo para o treino. — Arrumo minha mochila nas costas, nervosa.
— Você me entendeu — fala enquanto se aproxima de mim.
Dou dois passos para trás.
— Você estava muito ocupado com a sua amiga, não quis interromper. — Sorrio falsamente.
Chase ergue as sobrancelhas.
— Ela é só uma amiga do passado, nunca tivemos nada nem temos agora — ele diz,
aproximando-se de mim novamente.
Reviro os olhos e sorrio com sarcasmo.
— Imagine se tivessem — resmungo, cruzando meus braços.
Porra, não estou fazendo o mínimo de esforço para esconder o meu ciúme idiota. Mas eu sou
assim, sou completamente transparente, é fácil saber o que estou pensando ou sentindo. Nunca
consegui esconder minhas emoções.
— Ciúmes, gattina? — Chase sorri de lado, parado à minha frente, quase colado a mim.
Ergo o queixo para ele.
— Até parece. — Reviro meus olhos e me vira para ir embora. — Agora dá licença que
tenho que ir para o meu treino.
— E o meu beijo? — Chase agarra a minha mão.
Eu me viro para ele mais uma vez e sorrio falsamente.
— Talvez a sua amiga lhe dê — eu digo, puxando minha mão de seu aperto.
— Eu já disse que ela e eu não temos nada.
— Eu não poderia me importar menos — digo e, antes que eu possa me virar para ir embora,
Chase me põe contra os armários e coloca os braços ao meu redor, de modo a me prender.
Não tem ninguém no corredor, e a expressão do rosto de Chase agora é séria, parecendo até
levemente raivosa.
— Pois eu acho que você se importa, sim — Chase diz, baixando o rosto para ficar próximo
do meu.
Ergo o queixo para ele.
— Achou errado, então. — Cravo minhas unhas nos armários, tentando descontar o
turbilhão de sentimentos que estou sentindo.
— Tenho certeza de que não. — Ele fixa os olhos nos meus. — Por que você se importa,
Allyson?
Engulo em seco, e meu peito sobe e desce.
— Eu não me importo — minto.
— Não? — Chase arqueia a sobrancelha, e seus olhos raivosos descem para os meus lábios.
— Então você também não vai se importar se eu levá-la para o meu apartamento e fodê-la, não
é? Também não vai se importar se eu começar a chamá-la de gattina também, não é?
Franzo o cenho quando a simples possibilidade de isso acontecer passa pela minha mente, o
que me causa náuseas.
— Você é um idiota, sabia?
— E você é uma orgulhosa do caralho que fica com raiva por uma coisa que nem é minha
culpa e nega os próprios sentimentos — Chase rebate, e seu corpo está cada vez mais colado ao
meu.
— Você não fez nada quando ela o tocou — eu finalmente admito.
Chase arqueia a sobrancelha.
— E era para eu ter feito? — ele pergunta, desafiando-me. Fico calada, e ele solta um
grunhido. — Nem sequer temos uma relação definida, somos apenas amigos, ou não? Você sabe
me responder por que ficou com ciúmes?
Eu o olho com raiva, e ele devolve o meu olhar na mesma medida. Nossos rostos se mantêm
a centímetros um do outro, e nossos corpos permanecem juntos. Seus olhos descem para a minha
boca, e os meus para a dele, e vejo umedecê-la. Cravo ainda mais as minhas unhas nos armários,
lutando contra a vontade de pular nele e beijá-lo.
Mas Chase parece adivinhar os meus pensamentos, e é ele quem se afasta primeiro, negando
com a cabeça.
— Não — ele diz, passando a mão direita pelo cabelo preto e o bagunçando.
— Não o quê? — pergunto.
— Não quero que você me beije — Chase diz, e sinto algo dentro de mim se quebrar. —
Não quero ficar mais confuso com toda essa merda do que já estou.
Eu me forço a falar o que sinto por ele, mas não consigo. Nada sai, e me xingo mentalmente
por isso. Eu nunca tive facilidade em admitir meus sentimentos, droga, e ele não quer que eu o
beije. Como diabos posso demonstrar?
Eu abaixo o rosto, e Chase suspira. Por baixo dos cílios, eu o vejo se afastar de mim aos
poucos e ergo meus olhos. Ele anda rapidamente para longe de mim e me deixa para trás
enquanto sinto raiva de mim mesma por não ter conseguido dizer o que sinto e por ser uma
orgulhosa do caralho como ele disse.
Mas fui tão quebrada que apenas a possibilidade de entregar meu coração para alguém mais
uma vez me faz entrar em pânico.
Faz cinco minutos que estou encarando a porta do apartamento de Chase. Ainda estou
morrendo de ciúmes e me pergunto se ele está em casa.
Depois que brigamos no corredor, não o vi mais. Tive treino pelo resto do dia, e não
conversamos por mensagem ou ligação. Nada. A briga literalmente nos rendeu um
distanciamento maior do que o normal, mesmo que só faça algumas horas do nosso
desentendimento. Merda, eu nunca briguei com Chase, e se essa porra do meu ciúme idiota
causar gatilho nele?
Tiro a chave do meu apartamento da minha mochila, abro a porta e entro. Tessa está sentada
no sofá com Justin deitado do lado dela, ambos assistindo à televisão.
— Finalmente você chegou — Tessa diz enquanto tranco a porta do apartamento com a
chave.
Eu bufo e ando até ela, jogando minha mochila na poltrona e me sentando no sofá. Faço um
carinho nas orelhas de Justin, e ele lambe a minha mão, o que me faz sorrir minimamente.
— Você está melhor? — Tessa pergunta, e olho para ela. — Eu vi a sua cara naquela hora
no refeitório quando… — ela se interrompe.
— Quando aquela tal de Erika chegou e ficou tocando em Chase? — Eu olho para ela, e a
raiva me consome só de lembrar. — Ela se agarrou a ele como a merda de um carrapato.
— Chase pareceu desconfortável com isso — Tessa diz, virando de frente para mim.
Sorrio com sarcasmo.
— Tão desconfortável que nem deu um chega pra lá nela. — Reviro os olhos.
Não que ele seja obrigado, ele é solteiro. Mas, se ele estava assim tão desconfortável, por
que não afastou a tal de Erika? Sem contar que a garota é linda. Não me senti ameaçada pela
beleza dela, até porque não tenho insegurança quanto à minha aparência. Mas fiquei puta com a
intimidade que eles parecem ter.
— Sabe quando você foi embora? — Tessa pergunta, e eu assinto, vendo-a passar os dedos
por sua pele roxa. — Ela o chamou para sair, e ele disse que não queria, porque já está saindo
com outra pessoa, e depois foi atrás de você.
Eu ergo as sobrancelhas.
— Ele disse isso? — pergunto um pouco desacreditada. Ela assente. — Merda.
— O que foi?
— Quando ele foi atrás de mim, nós brigamos… — eu suspiro e abraço as minhas próprias
pernas. Recosto-me no sofá. — Ele percebeu que eu estava com ciúmes e perguntou se éramos
apenas amigos ou não…
Justin esfrega o focinho nas minhas mãos.
— O que você respondeu?
— Nada. Eu não consegui dizer, você me conhece. — Pressiono meus lábios um no outro.
— Aí ele disse que não queria que eu o beijasse porque não queria ficar mais confuso do que já
estava.
Confesso que isso fez meu peito se apertar e um sentimento de tristeza crescer dentro de
mim. Não quero que ele rejeite os meus toques ou beijos. Quero dar tudo a ele e não estou
falando apenas do meu corpo. Ok, também. Mas estou me referindo aos meus sentimentos.
— E depois? — Tessa pergunta com os olhos levemente arregalados.
— Depois ele foi embora sem dizer nada… — Eu solto minhas pernas, avanço para a frente
e me deito com a cabeça nas pernas dela. — Eu fodi com tudo, Tessa. Devia ter dito que gosto
dele.
— Ally, não fique assim. É normal ter dificuldade de falar sobre os próprios sentimentos —
ela diz enquanto limpa o suor da minha testa.
Eu assinto vagarosamente com a cabeça.
— Mas eu também estava com raiva, você viu como aquela loira não largava dele —
resmungo com raiva e cruzo os braços, olhando para Justin. — Você vai morder as canelas de
Chase, não vai?
Ele late como se concordasse, e eu sorrio para ele, esticando a mão para acariciar suas
orelhas. Bom garoto.
— Olha, vai tomar um banho e esfriar a cabeça — Tessa diz, tirando do meu rosto uma
mecha do meu cabelo que escapou do coque. — Aí depois ligue para Chase e o chame para vir
aqui. Eu me tranco no meu quarto com o Justin para vocês terem privacidade.
Eu me sento e olho para ela.
— Será? — pergunto, meio incerta.
— Confia na mãe. — Tessa faz um sinal de joinha, e eu reviro os olhos, sorrindo.
— Te amo. — Eu me inclino para beijar a bochecha dela.
— Claro que ama. — Ela sorri convencida. — Também te amo, vagabunda.
Eu dou risada e me levanto do sofá para ir ao meu quarto. Pego minha mochila na poltrona,
saio da sala e vejo Justin me seguir até meu quarto, cuja porta abro, e ele entra correndo para
pular em minha cama. Fecho a porta e jogo minha mochila no colchão ao lado de Justin, depois
vou ao banheiro, após tirar meus tênis.
Eu tiro minha roupa do treino e a coloco no cesto de roupa suja, então entro debaixo do
chuveiro e o ligo. A água quente percorre o meu corpo, e fecho os olhos, tentando relaxar meu
corpo e minha mente. Toda essa situação com Chase é uma merda e, pela primeira vez na minha
vida, não quero ficar brigada com alguém. Dessa vez, eu me importo se iremos nos resolver e
não ligo se vou ser eu a dar o primeiro passo.
Sem contar que espero que ele entenda que eu estava com ciúmes, eu não me importei
quando ele ficou no dia que transamos em uma das salas da universidade após ele me ver com
Scott. Eu achei até bom, isso nos rendeu uma maravilhosa transa raivosa. Então, se ele também
gostar de mim, vai estar tudo resolvido. Não é?
Após me lavar devidamente, saio do banheiro enrolada em uma toalha e estou prestes a
procurar uma roupa no guarda-roupa quando meu celular toca dentro da minha mochila. Ando
até ela e a abro, retirando meu celular e vendo que é Michael. Franzo o cenho e o atendo:
— Allyson? — Michael pergunta quando atendo.
— Eu? — digo, estranhando. Ele nunca me ligou. — Olha aqui, não vou negociar a
bundinha de Adam com você.
— O quê? Não, não é isso — ele diz, parecendo indignado.
— Então o que é?
— Eu iria encontrar Chase em uma boate, porque, segundo ele, precisava se distrair. Mas
não pude ir porque estou no hospital com a minha sobrinha de oito anos, ela quebrou o braço —
Michael suspira.
Chase está em uma boate? Será que ele viria para casa se eu dissesse que tenho que
conversar com ele? Ou é melhor eu esperá-lo chegar?
— Olha, sem querer ser grossa, mas… Por que está me dizendo isso?
— A Karen está com ele.
Eu imediatamente paraliso e sinto cada célula do meu corpo ficar em alerta.
— O… O quê? — pergunto, levemente desnorteada.
Eles estão em uma boate? Juntos?
— Não pense besteira, Chase me ligou para saber se eu chegaria rápido e disse que Karen
está tentando conversar com ele — Michael explica, e relaxo. — Ele também me disse que acha
que ela pôs algo na bebida dele, porque foi ao banheiro e, quando voltou e bebeu, se sentiu
estranho. Chase me perguntou se eu poderia buscá-lo, porque está se sentindo meio zonzo. Faz
alguns minutos, acho que antes de a merda que Karen pôs no copo dele realmente fazer efeito.
A raiva sobe pela minha espinha e aperto minha mão livre. Karen, sua vadia desgraçada.
— Em que boate ele está? — pergunto, tentando me manter calma.
Justin fica em pé na minha cama e abana o rabo violentamente.
— Vou lhe mandar o endereço por mensagem — Michael diz. — Olha, sei que vocês estão
brigados, eu não queria lhe pedir para buscá-lo. Mas, se ela realmente tiver posto algo na bebida
dele, não quero que acorde no dia seguinte perdido e arrependido.
Não, Karen não teria a coragem de drogar o Chase e em seguida se aproveitar disso para
transar com ele… Teria?
— Obrigada por me contar isso, Michael. De verdade.
— Não precisa agradecer, eu sei que você se preocupa com ele. Agora vá lá antes que aquela
garota faça algo com ele.
Depois de me despedir de Michael, desligo a chamada e jogo meu celular na cama, visto
uma calça jeans larga e um moletom cinza e prendo meu cabelo em um rabo de cavalo apertado.
Em seguida, calço meus tênis, dou um beijo em Justin, pego meu celular e saio do meu quarto.
Eu não tenho carro, teria que pedir um Uber, mas ele demoraria muito, vou contar com a
sorte de um táxi passando na hora. Olho para o meu celular e vejo que recebo a localização da
boate onde Chase e Karen estão. Passo pela sala, e Tessa, que está no sofá, ergue a cabeça para
mim.
— Para onde você vai? — Ela franze o cenho.
— Eu não posso explicar agora — eu digo enquanto vou na direção da porta.
Tessa corre até mim e vai para a frente da porta.
— Não posso deixá-la sair assim, você está muito pálida — ela fala ao analisar meu rosto.
Minhas mãos estão tremendo também, apenas com a menor possibilidade de Karen fazer
mal a ele. Eu espero, pelo bem dela, que essa desgraçada não tenha feito o que Chase disse a
Michael, ou então vou matá-la.
Após explicar a situação para Tessa, ela calça as chinelas e me olha.
— Eu vou com você, se o Chase estiver chapado como disse, você não vai conseguir trazê-
lo sozinha. Ele é alto e muito pesado — ela diz, e eu assinto.
Após sairmos do prédio, conseguimos encontrar um táxi que estava passando na hora, e lhe
mostrar a localização quando Tessa e eu entramos no carro. Eu peço que ele vá rápido, e minha
melhor amiga pede que eu me acalmasse.
Eu não consigo, se Karen realmente tiver posto algo na bebida de Chase, só Deus sabe para
onde ela pretende levá-lo. Não me importo se estamos brigados, minha prioridade agora é achá-
lo e levá-lo para casa, onde ele vai estar seguro e longe das patas sujas da desgraçada de sua ex
abusiva. Se ele não quiser falar comigo, vou bater na cabeça dele e desmaiá-lo para tirá-lo de lá.
Soluções.
Se Chase estiver sóbrio e ciente de com quem está, não vou me meter nisso. Ele é adulto e
sabe muito bem quem mantém por perto. Vou aceitar isso, mesmo que me doa. Mas ele está
bêbado e possivelmente drogado, não tem o que discutir.
O táxi para em frente a boate, e Tessa pede para que o motorista espere um pouco, já que eu
saio do carro na maior rapidez que consigo. Corro para a entrada da boate, sentindo Tessa logo
atrás de mim. Nós entramos no lugar, e minha melhor amiga encaixa a mão na minha,
possivelmente para que a gente não se perca uma da outra.
— Cacete, este lugar está parecendo um formigueiro — Tessa diz alto, vendo a boate
totalmente lotada. Sua voz sai abafada pelo som. — Vai ser muito difícil achar Chase aqui.
— Não é melhor nos separarmos? — pergunto no ouvido dela e a vejo negar com a cabeça.
— Esta boate está lotada, demoraria muito para nos encontrarmos de novo, vamos procurar
Chase juntas — ela grita por causa do som, e assinto.
Nós começamos a andar pela boate de mãos dadas, e passo meus olhos por cada pessoa
deste lugar. Algumas esbarram em nós no caminho, e eu aperto a mão de Tessa com mais força,
temendo que eu a solte. A música alta faz minha cabeça doer, mas ignoro esse fato, mais
preocupada em achar Chase.
Ainda esteja aqui, por favor.
Olho para a direita, onde fica o bar da boate, e estreito os olhos quando vejo duas pessoas,
um homem de cabelo preto e uma mulher de cabelo castanho-escuro, o braço do cara está ao
redor dos ombros dela e o resto de seu corpo pendendo para a esquerda. O braço esquerdo dela
está ao redor da cintura dele enquanto a mão direita segura o braço ao redor de seus ombros.
Meu peito se aperta e refaço o gesto com a mão de Tessa. Chase.
Largo a mão da minha amiga e corro na direção dos dois, esbarrando em algumas pessoas e
escutando reclamações.
— Para onde você pensa que vai com ele? — Entro na frente deles enquanto vejo Karen
olhar para mim enquanto Tessa para ao meu lado.
Suas sobrancelhas se levantam, e Chase ergue o rosto para mim com os olhos mais fechados
que de costume. Ele está com a mesma roupa da universidade, a única diferença é que agora usa
uma jaqueta.
— Gattina! — Ele dá um sorriso largo e avança na minha direção.
Eu retiro o braço de Karen da cintura de Chase com hostilidade, estendo meus braços para
ele e o vejo me abraçar e seu corpo pesado vir ao encontro do meu. Tessa coloca o braço
esquerdo dele ao redor de seus ombros enquanto faço o mesmo com o direito. Olho para Karen.
— Responda: para onde você pensa que estava levando Chase? — pergunto, vendo seus
olhos me encararem atentamente.
— Essa merda não é da sua conta — Karen responde, pondo as mãos na cintura.
— É da conta dela, sim! Não é? — Chase diz, e sua voz sai embolada.
— Shhh… Fica quieto um minutinho… — eu peço, olhando para ele.
Chase dá um sorriso largo e enterra o rosto em meu cabelo.
— Você é quem manda, gattina… — Sua voz sai abafada contra o meu cabelo.
Volto minha atenção para Karen, vendo que não parece nenhum pouco afetada por eu tê-la
pegado no flagra, levando Chase para só Deus sabe onde.
Foi um milagre eu ter chegado na hora.
— Você não tem vergonha, Karen? — Eu a olho com nojo. — Você precisa drogar uma
pessoa para ela dormir com você?
— Ah, pelo amor. — Karen revira os olhos. — Eu não o droguei, apenas troquei a bebida
por uma mais forte — ela suspira, parecendo entediada.
Desgraçada.
— Você avisou isso a ele, Karen? — pergunto entredentes.
Tessa permanece calada e me ajudando a sustentar Chase enquanto ele fuça em meu cabelo.
— Ela achou que eu não iria notar, mas eu sou esperto, gattina, e ela realmente pôs algo na
minha bebida, eu não fico bêbado rápido… — Chase esfrega o nariz em meu pescoço.
Eu olho para ele, que dá um pequeno sorriso para mim, e em seguida olho para Tessa.
— Você consegue levá-lo para o carro, por favor? — pergunto a ela.
Tessa assente.
— Acho que sim; pelo que estou vendo, ele consegue se manter em pé — ela diz.
Olho para Chase.
— Vá com Tessa, já vou atrás de vocês, tudo bem? — digo a ele e o vejo franzir o cenho.
— Se eu fizer isso, a minha gattina fica feliz? — Chase me olha com a cabeça inclinada
para a esquerda.
Meu coração se aperta ao ouvir isso, e engulo em seco, lutando contra o bolo que se forma
em minha garganta.
— Vou, sim. — Faço um esforço para sorrir para ele.
Chase sorri de volta e só para quando tiro seu braço do meu ombro, e Tessa o puxa para
longe de nós. Chase fica me encarando até se afastar complemente, e suspiro, olhando para
Karen quando finalmente me vejo a sós com ela.
A música para, e esse é o momento perfeito para conversarmos.
— Você não cansa de ser intrometida, não é? — ela pergunta, mantendo as mãos na cintura
delgada.
— Você pretendia dormir com ele, não pretendia? — pergunto enquanto a olho.
— E se sim? — Karen arqueia uma sobrancelha.
Cerro meus dentes.
— Ele está bêbado — eu respondo com incredulidade.
Karen revira os olhos e bufa.
— E? — ela pergunta, sorrindo com deboche. — Não seria a primeira vez que isso acontece
entre nós.
Eu pisco, tentando entender a merda que ela está dizendo. Não, eu tenho que ter entendido
errado.
— O que porra você… — Eu engulo em seco. — Você já dormiu com o Chase enquanto ele
estava bêbado? — pergunto, com medo da resposta.
Karen cruza os braços e me olha com tédio.
— Quanto mimimi. — Ela revira os olhos. — Já, por quê?
Eu me aproximo lentamente dela, tentando esconder o meu choque com sua afirmação.
Como alguém pode ser tão podre desse jeito? Falar tantas merdas sem notar que é errado? Deus,
eu acho que ela nem sequer se importa.
— Isso é estupro!
— Ah, faz favor. Ele é homem. — Karen sorri. — E nós namorávamos, como isso poderia
ser estupro?
— O sim de uma pessoa bêbada é um não. Independentemente do gênero, não importa se ele
é homem, ainda continua sendo estupro — eu digo, de frente a ela. Sinto-me angustiada. — Você
ferrou o psicológico dele, abusou dele de diversas formas e ainda me vem com essa? Não se
importa com os sentimentos de Chase? Isso não pesa na sua consciência?
Essa desgraçada é muito pior do que pensei, só piora. Por que ela fez tanto mal ao Chase?
Ele só queria ser amado por ela da mesma forma que ele a amava, e tudo que essa desgraçada fez
foi quebrá-lo.
— Do que me interessam os sentimentos de Chase quando ele tem um pau grande e fode
bem? — Karen sorri, o que me causa repulsa.
No instante seguinte, minha mão voa no rosto dela.
Não vou mais me segurar, essa foi a gota d’água para mim. Não quero mais me controlar,
quero fazê-la pagar por tudo mau que fez. Eu a odeio, porra. Eu a detesto tanto que é quase
insuportável.
Karen cobre o rosto e arregala os olhos. Não lhe dou tempo para processar nada, parto para
cima dela e lhe dou outro tapa forte, tanto que minha mão chega a arder com o impacto. Agarro
os cabelos dela, que segura meus pulsos, tentando me fazer soltá-los.
— Vou acabar com você! — rosno. — Se gosta tanto de infligir dor, talvez goste ainda mais
de sentir!
Sinto as unhas de Karen arranharem minha bochecha direita, tentando me fazer soltá-la.
Minha pele arde, mas não a solto; pelo contrário, firmo meus dedos em seu cabelo e bato a testa
dela em uma mesa. Nesse momento, vejo as pessoas da boate fazerem uma rodinha ao nosso
redor e começarem a gritar.
— Me solta, sua puta! — Karen grita, e um filete de sangue escorre de seu nariz.
Eu não lhe dou ouvidos, bato o rosto dela na mesa mais uma vez e continuaria a fazer isso se
não fosse pelos seguranças, que aparecem, me agarram e puxam para longe de Karen. Ela tenta
correr na minha direção, mas outro segurança a agarra.
— Eu vou te matar! — ela grita, e seu rosto está vermelho, e seu cabelo desgrenhado.
Suas feições estão inchadas dos meus tapas, e me sinto estranhamente satisfeita.
— Abra a porra do seu olho, Karen. — Eu aponto para ela. — Me larga! — Eu me solto dos
seguranças.
Minha mão está latejando, e a adrenalina corre pelas minhas veias. Merda, nunca bati em
uma mulher, nem mesmo em homens. Mas, se eu pudesse, continuaria a bater em Karen, acho
que a machuquei foi pouco. Ela fez pior com Chase, talvez tenha deixado cicatrizes nele que até
hoje não se curaram.
Saio da boate, corro na direção do táxi e abro a porta para entrar. Sento-me no banco de trás,
vendo Tessa no do passageiro e Chase meio deitado no de trás.
— O que houve com o seu rosto? — Tessa arregala levemente os olhos.
Passo os dedos por minha bochecha esquerda e sinto um líquido: sangue de quando Karen
me arranhou.
— Digamos que acabei de encontrar a minha terapia — respondo enquanto vejo o motorista
dar partida.
— Merda, me diga que foi você quem mais bateu — Tessa fala com um sorriso.
— Acho que quebrei o nariz dela — eu suspiro, olhando para Chase.
Ele põe a cabeça em meu ombro e me abraça de lado, os olhos cinzentos fechados.
— Você está bem? — Tessa pergunta, parando de sorrir para me olhar preocupada.
Chase está bêbado e agarrado a mim, e bati na ex abusiva dele. Eu…
— Eu me sinto adorável.

Após Tessa me ajudar a pôr Chase na cama dele, ela pergunta se eu preciso de algo e então
sai após eu negar. Mas Chase não para quieto e começa a andar pelo quarto, totalmente bêbado.
— Chase, você está fedendo a álcool, vou dar um banho em você — eu digo enquanto ando
atrás dele.
— Eu não quero, gattina — ele diz de maneira embolada, enquanto rodopia.
O bolo de mais cedo ainda está em minha garganta e só piorou após descobrir mais um
podre de Karen. Ela o machucou tanto.
— Você não quer me ver feliz? — pergunto, e ele para de rodar.
Chase se vira para mim e anda na minha direção.
— Se eu tomar banho, você vai sorrir para mim de novo? — ele pergunta, acariciando o meu
queixo.
Engulo em seco, seguro a mão dele e a beijo.
— Sempre vou sorrir para você. — Sorrio para confirmar isso. — Agora vamos para o
banheiro, tudo bem? — Seguro o seu rosto.
Chase faz careta, mas a ignoro e o empurro para o banheiro. Ele tenta protestar, mas apenas
abro a porta e em seguida a fecho quando entramos, para que ele não saia. Dou uma olhada e
vejo que Chase tem uma banheira grande, uma toalha pendurada, uma pia maior que a minha e
abro sua farmácia, vendo que está bem cheia.
— Ally… — Chase resmunga. — Não quero tomar banho, não estou fedendo!
— Está, sim, você cheira a álcool! — Eu digo ao tirar a jaqueta dele e a jogar no chão.
— Por que você está tirando minha roupa, nós vamos transar? — Chase agarra a minha
cintura, e sua boca vai para o meu pescoço, onde espalha beijos desajeitados.
Seguro em seus bíceps.
— O quê? Não! — Franzo o cenho e seguro o rosto dele. — Você está bêbado, não pode.
Seria estupro.
É a vez de Chase franzir o cenho.
— Mas isso não é só com mulher? — Ele inclina a cabeça para a esquerda, parecendo
confuso.
Meu peito se aperta, e acaricio as bochechas dele, tentando controlar as lágrimas que querem
descer.
— Não. Seja homem, seja mulher, dormir com uma pessoa bêbada é errado — falo
calmamente. — Entendeu?
Chase assente e ergue os braços para eu tirar a sua camisa. Jogo-a junto da jaqueta, em
seguida abro o botão da calça dele e deixo que a tire junto com a cueca, ao que seu membro pula
para fora. Levo Chase para a banheira, e ele se senta de costas para mim, dando-me liberdade
para lavar o seu cabelo quando me abaixo.
Espalho o xampu em seus fios, e Chase joga lentamente a cabeça para trás e sorri
amplamente para mim. Tento sorrir de volta, mas não consigo. Vendo Chase agora, bêbado e
totalmente alheio ao que aconteceu na boate, ele parece tão ingênuo e inocente. Faz-me
questionar como Karen conseguiu machucá-lo tanto sem se sentir culpada.
Enxáguo o cabelo dele, ando até a farmácia e a abro para procurar sua escova de dentes.
Coloco pasta sobre ela e, com minha roupa um pouco molhada, vou até ele e me curvo, puxando
o rosto dele para mim.
— Venha, do jeito que está bêbado, não vai conseguir escovar os dentes sozinho — eu digo
enquanto olho para ele. — Abra a boca.
Chase faz o que mando, e tiro os cabelos molhados de sua testa antes de começar a escovar
os seus dentes. Chega até a ser cômico eu escovar a boca de um marmanjo desse tamanho.
Depois, faço Chase enxaguar a boca, e ele me olha e analisa o meu rosto.
— Quer vomitar? — pergunto, e ele nega com a cabeça. — Então o que foi? Por que está me
olhando assim?
Chase estica a mão direita para acariciar meu queixo.
— Você é tão linda… — ele diz, olhando-me hipnotizado.
Eu sorrio e beijo a palma da mão dele.
— Sou, amor? — pergunto, sem conseguir parar de sorrir.
— Não me chame de amor.
— Por que não, você não gosta?
Chase franze as sobrancelhas enquanto acaricia meu lábio inferior.
— O problema é que gosto mais do que deveria.
Sorrio com isso, depois fico de pé e pego a toalha que está pendurada.
— Venha se secar para se deitar na cama.
Chase se levanta, totalmente nu, com as tatuagens à mostra, e sai da banheira, um pouco
mais desperto do que antes graças ao banho. Dou a toalha a ele, que se seca, antes de envolvê-la
na sua cintura e caminhar para fora do banheiro comigo logo atrás dele. Pego-lhe uma regata
branca, uma calça de moletom e uma cueca, mas Chase apenas quer a calça.
Também tiro minha roupa molhada e a coloco no banheiro, depois pego uma camisa branca
de Chase que chega logo abaixo da minha bunda. Viro-me para estender a toalha no banheiro,
mas braços tatuados me agarram por trás, e um rosto se enterra em meu pescoço e o beija.
— Gattina, não quero ficar brigado com você… — Chase sussurra contra o meu pescoço e
me aperta ainda mais. — Eu não gosto. É difícil pra caralho.
Deixo a toalha cair no chão e me viro de frente para ele, abraçando sua cintura e erguendo o
queixo.
— Não estamos brigados, ok? — Eu beijo o seu peito e sinto sua pele quente contra os meus
lábios.
Chase aperta os braços em minha cintura.
— Eu quero um beijo — ele pede, baixando o rosto.
Viro o rosto antes que ele consiga acertar meus lábios, fazendo-o beijar a minha bochecha.
— Você está bêbado, não… não quero fazer isso com você assim. — Nego com a cabeça.
Não quero me sentir como ela, mesmo que eu saiba que sou diferente.
— Mas, Ally… — Chase franze o cenho. — Por favor.
Chase me puxa ainda mais contra seu corpo, e solto a cintura dele, segurando em seus
ombros.
— Só um selinho, tudo bem? — pergunto, e ele sorri, concordando.
Fico na ponta dos pés e seguro o rosto dele entre as minhas mãos, depois lhe dou um selinho
demorado, mas significativo. Chase sorri quando nos afastamos, e retribuo, indicando a cama
com a cabeça.
— Agora suba nela — peço, e Chase me solta e caminha lentamente para sua cama.
Lady sai de baixo da mesma e miou para mim, pulando na cama quando o dono se sentou,
em seguida se deita e fecha os olhos de que eu gosto tanto. Lady se aconchega ao lado dele, e fui
até eles, os cobrindo com o cobertor branco. O peito nu de Chase desce e sobe, e sua respiração é
lenta. Penso que ele dormiu e, por um momento, me sinto triste quando lembro o que Karen me
disse mais cedo.
Quantas pessoas não passam por relacionamentos tóxicos e se submetem a certas coisas
apenas porque amam alguém? Chase foi uma dessas pessoas: ele se deixou ser quebrado apenas
para permanecer perto de quem amava. Eu não sei o que é isso, nem imagino. Por mais que meu
relacionamento com o Kevin fosse uma merda, não chegava a ser abusivo.
Faço menção de me afastar da cama, mas uma mão agarra a minha e me puxa para ela.
Quando dou por mim, estou deitada na cama com Chase abraçando a minha cintura e com o
rosto em meu peito.
— Fique, Allyson — ele pede enquanto me aperta contra si.
Chase me abraça como se eu pudesse ir embora a qualquer momento, e esse pensamento me
arrasa. Eu o abraço de volta e enfio meus dedos em seus cabelos molhados, enterrando meu rosto
neles. Meu lábio inferior treme e, pela primeira vez, desde o início do dia, me permito chorar.
Permito-me chorar por nossa briga mais cedo. Permito-me chorar pelas descobertas podres
que fiz hoje. Permito-me chorar por Chase e por todas as merdas que ele passou. Permito-me
chorar pelo fato de ele estar me abraçando com tanta força que me sinto quebrar por dentro.
As lágrimas grossas descem pelo meu rosto, e não me importo em enxugá-las, porque não
quero soltar Chase. Sua respiração está lenta e pesada, evidenciando que ele dormiu. Beijo o topo
da sua cabeça, acaricio seus cabelos e sinto o sono me levar aos poucos.
Solto um grunhido ao abrir meus olhos e colocar as mãos em minha cabeça, sentindo-a doer.
Olho ao redor e estranho o fato de estar em minha cama e não saber como cheguei até aqui.
Sento-me, olho para o meu corpo e vejo que estou apenas de calça moletom, também não me
lembro de tê-la colocado. Para ser mais resumido, não me lembro de nada que envolva a noite
anterior.
Analiso o quarto, e meus olhos param em um tênis feminino, e meu cenho se franze em
confusão. Flashs de ontem à noite começam a passar pela minha cabeça, e arregalo os olhos
quando a última coisa de que me lembro é Karen me carregando para longe do bar da boate.
Esses tênis são dela? Ela está na minha casa?
Vendo que estou sem cueca, a angústia aperta o meu peito e corro para verificar se Karen
está em meu banheiro. Não, ela não. Não posso ter dormido com Karen, prefiro qualquer
estranha a ela. Sinto a bile em minha garganta e me contenho.
Meu banheiro está vazio, não tem ninguém. Ando para fora do meu quarto e verifico o de
Pietro, vendo que também está vazio. Passo pela sala, e não tem ninguém. Quase suspiro de
alívio, mas escuto um barulho vindo da minha cozinha. Acelero o passo e prendo a respiração
quando a vejo parada em frente ao meu fogão. Allyson.
Confuso, vejo-a soltar um gritinho quando o fogo sobe demais e, pelo cheiro, percebo que
ela está fritando ovos. Seu cabelo castanho-escuro escapa do coque frouxo e cai em suas costas.
Ela está vestida com o que eu percebo ser uma camisa minha que chega logo abaixo de sua
bunda e que deixa suas pernas definidas expostas.
A colher escapa da sua mão e vai ao chão.
— Essa porra ainda cai! — Allyson diz, bufando enquanto se abaixa e apanha a colher.
Ela desliga o fogo e segura a frigideira, então se vira para mim. As sobrancelhas dela se
erguem ao me ver, e ela solta um som assustado e dá alguns passos para trás.
— Que susto! Você acordou… — ela diz enquanto segura a frigideira com uma mão e a
colher com a outra.
Allyson anda até a mesa e põe ambos sobre ela.
— O que… — eu limpo a garganta, meio atordoado e confuso — o que você está fazendo
aqui?
Ela põe as mãos na cintura.
— Sente-se e coma — ela manda, olhando-me. Sinto que, pelo seu tom, não tem espaço para
discordâncias. — Depois lhe conto tudo.
Atordoado, assinto e puxo uma cadeira, em que me sento. Allyson põe um pouco de suco
para mim, anda até o balcão e pega um comprimido que está sobre ele, depois vem até mim e
estende o copo e o analgésico.
— Está com dor de cabeça? — ela pergunta, e eu assinto. — Então tome, vai ajudar.
Eu os pego e os tomo, fazendo o que ela manda sem questionar. Algo me diz que, se é
Allyson que está aqui, não dormi com Karen ou com qualquer outra estranha, o que para mim é
um alívio e tanto.
— Eu não sei cozinhar, mas sei fritar ovos — Allyson diz ao se sentar em uma das cadeiras
e apoiar os cotovelos na mesa. — Então até que está comestível.
Eu olho para ela e vejo seus olhos de cor avelã me encarando de volta. Ela passa os dedos
pelo cabelo e os arruma enquanto a camisa que ela usa se agarra aos seus seios. Ver Allyson
vestida com algo meu é totalmente gratificante.
Começo a comer os ovos com algumas torradas, e os olhos de Allyson não desgrudam de
mim até que eu termine de comer tudo. Passo a mão por meu cabelo e fixo os olhos nela.
A dúvida torturante está me corroendo por dentro e, se eu não perguntar, sinto que vou
enlouquecer.
— Allyson… — eu começo, engolindo em seco. — Nós transamos ontem?
Eu preciso saber.
— Não, você estava bêbado.
Antes que eu possa conter, um suspiro de alívio escapa dos meus lábios, e eu passo as mãos
por meu cabelo. A possibilidade de eu transar com Ally e não me lembrar de nada me assusta. Eu
não lembraria e, ao que se refere a Allyson, quero lembrar de tudo. Nas vezes em que eu dormia
com Karen estando bêbado, acordava sem me lembrar de nada. Mas nunca precisei me lembrar
para saber que ela e eu tínhamos transado, já que eu abria os olhos e me deparava com Karen nua
e agarrada ao meu corpo do mesmo jeito.
Fora os chupões em seu pescoço e as marcas de unhas em minhas costas. Não deixava
espaço para dúvidas.
Meu estômago se revira ao lembrar disso, por isso bufo e me levanto.
— Vou tomar um banho e volto para a gente conversar — eu digo, olhando para ela, que
assente.
Desde a nossa briga, não nos vimos, embora tenha sido só por uma tarde. Só Dio sabe o
quanto quis beijá-la antes de ir embora, mas me contive antes que meu cérebro me iludisse com
teorias impossíveis. Quase dei meia-volta quando vislumbrei a mágoa nos olhos dela ao negar
seu beijo. Mas agora ela está aqui, e tudo indica que desde ontem, e não posso estar mais
aliviado por ser ela aqui e não Karen.
Allyson apenas assente, sem dizer mais nada.
Passo a mão por meu peito e a levo à nuca, massageando-a. Não gosto desse ar de
estranheza entre nós, faz-me sentir como se tudo que fiz para me aproximar dela tivesse sido em
vão. Mas não quero nem vou me afastar de Allyson, nem que para isso eu tenha que voltar aos
antigos hábitos de me entregar primeiro.

Depois de tomar banho e ficar vestido apenas com minha calça de moletom, vou para a sala,
onde Allyson está sentada no sofá, com as pernas cruzadas. Ela me observa enquanto eu me
sento ao lado dela e passo a mão por meu cabelo molhado. Ally pisca e limpa a garganta.
— Você deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui, no seu apartamento… — fala,
virando-se para mim.
Assinto.
— Minhas únicas lembranças são de Karen me carregando para longe do bar — eu digo.
Allyson se levanta do sofá e para à minha frente, a uns bons metros de distância. Quero
abraçar sua cintura e puxá-la para o meu colo.
— Michael me ligou e disse que você contou para ele que suspeitava que Karen tivesse
drogado a sua bebida. Mas ele não podia ir buscá-lo porque estava com a sobrinha no hospital —
ela diz, caminhando de um lado para o outro — Então, ele perguntou se eu poderia te buscar e eu
fui, chegando lá, encontrei Karen tentando te tirar da boate. Depois, eu trouxe você para sua casa,
te dei banho e te coloquei na cama. Fim.
Eu curvo minhas costas para a frente e apoio meus antebraços em meus joelhos.
— Eu não faço ideia de como ela foi parar lá, eu juro — explico, temendo que ela entenda
errado.
— Eu sei disso. — Allyson cruza os braços. — Mas, de qualquer forma, você não precisa
me explicar nada nem me dar satisfações.
— Mas eu quero — digo firmemente. — E eu também não tenho nada com Erika nem nunca
tive.
Allyson morde o lábio inferior e assente de maneira distraída.
— Ela é bem bonita — ela murmura, maltratando o próprio lábio enquanto abaixa a cabeça.
Levanto-me do sofá.
— Não é ela que está em minha cabeça — eu ando lentamente até ela e paro diante de seu
corpo pequeno — e, principalmente, não é ela quem eu quero.
Ally ergue o rosto para mim, e seus braços caem ao lado de seu corpo.
— E quem você quer? — ela pergunta, chegando mais perto.
Estou farto pra caralho de andar pisando em ovos perto dela. Allyson não é Karen, não tem
por que eu ter medo de entregar a porra do meu coração para ela.
— Uma garota de cabelo castanho que joga vôlei, tem um cachorro com nome de gente e
tem um parafuso a menos. — Eu cerro meus punhos, querendo tocá-la. — Uma que mexe
comigo de diferentes formas e não sai da porra da minha cabeça nem por um minuto. É minha
vizinha e me chama de chihuahua italiano. Uma que faz um striptease em cima da mesa da
cozinha estando bêbada e que tem um estranho trauma com o clitóris.
Meu corpo está a centímetros do de Allyson, perto o suficiente para sentir o calor do seu
corpo sem precisar que eu a toque. Ela lambe os lábios, e eu colo meu peito nu a seus seios,
ainda sem tocá-la.
— Não é Erika que tem meu coração na palma da mão — eu sussurro contra o rosto dela —
e não é Erika que me passa confiança o suficiente para eu ser eu mesmo.
A respiração de Allyson se acelera, e seu peito se move contra o meu.
— E o mais importante de tudo… — sorrio de lado — ela não é a minha gattina.
Ela respira fundo.
— Então… toda aquela baboseira de sem sentimentos era mentira? — pergunta.
Eu solto um grunhido e passa as mãos em meus cabelos apenas por me lembrar dessas
malditas palavras.
— Porra, Allyson. Cada vez que eu ou você dizíamos isso, eu sentia como se pudesse ter um
AVC a qualquer momento — rosno, encarando seus olhos. — Eu não a vejo como uma amiga,
nunca vi. Um amigo não faria com você o que o que eu tenho em mente. Cada maldito
pensamento é indecente até mesmo para mim.
Allyson lambe os lábios, mas eu não paro por aí.
— Tudo não passou de um plano para me aproximar de você. Uma doce mentira que
inventei para tê-la por perto… — Suspiro e engulo em seco. — Doce, porque, embora me
torturasse, você ainda me quis. Mas como posso tocá-la sem sentimentos quando cada pedaço
seu foi beijado com a porra da minha alma, gattina? — Ergo minhas mãos para tocá-la, mas não
o faço. — A doce mentira que eu criei se virou contra mim e não me vejo mais como sair dela.
Não quero a verdade se isso significar que não a tocarei mais. Sou miserável o suficiente para
continuar em uma ilusão apenas para tê-la em meus braços.
Allyson ofega, seu peito sobe e desce em uma respiração desenfreada.
— Eu… eu também me sinto assim.
Ergo minhas sobrancelhas.
— O quê?
Ally fica na ponta dos pés e segura meu rosto em suas mãos pequenas, deixando-me ainda
mais confuso com suas palavras e, agora, com esse gesto.
— Eu não sou boa com palavras, então não vou conseguir dizer nada tão bonito quanto o
que você disse agora… — Limpa a garganta. — O que eu estou querendo dizer… é que não
quero mais fingir — ela começa e cerra seus punhos. — Não quero mais fingir que não me
importo ou que não tenho ciúmes. Não quero mais fingir para ter que tocá-lo em público. Mas,
acima de tudo, não quero mais fingir que tenho algo com você, que namoramos.
Ela beija meu queixo, causando a minha morte.
— E, se for errado, me perdoe, mas eu quero ser sua… — Allyson sussurra contra o meu
rosto. — Não para ser mandada ou para ser sua posse, mas quero ser sua porque parece o certo.
Nada nunca fez tanto sentido.
Eufórico com sua confissão, deslizo minha mão por sua cintura e a agarro.
— Você não quer mais fingir? — eu pergunto e a puxo para mim.
Allyson nega com a cabeça.
— Eu quero que tudo seja de verdade, que seja real… — ela acaricia minhas bochechas, os
olhos fixos nos meus — Eu quero ser a sua gattina.
Eu quase solto um grunhido. Cazzo, mal sabe ela que sempre foi minha. Não precisou pedir,
bastou apenas cruzar o meu caminho, e só Dio sabe o quanto eu estou grato e feliz por ela gostar
de mim.
— Então você quer ser minha? — eu a provoco, apertando sua cintura.
— E você vai ser meu. — Ally roça os lábios macios nos meus, devolvendo a provocação.
— Porra, sim. — Eu quase gemo. — Seu, linda.
Meus lábios tomam os de Allyson em um beijo urgente, mas calmo. Ela ofega em minha
boca, e aproveito isso para entrelaçar nossas línguas, quase gemendo ao sentir seu gosto. Elas se
movem em uma dança lenta e sensual, e puxo Ally ainda mais para mim.
Seus dedos adentram o meu cabelo molhado e me puxam para si como resposta. Dou alguns
passos para trás e a levo comigo até que sinto o sofá nas minhas pernas. Sento-me, Allyson
monta em meu colo, e suas pernas definidas circulam as minhas. Ela chupa a minha língua, e
gemo baixo.
— Me diga… — eu consigo dizer entre o beijo, descendo os lábios para o seu queixo. —
Me diga há quanto tempo você me quer.
Minhas mãos adentram a camisa que ela está vestindo e entram em contato com a pele
quente de suas nádegas. Subo as mãos para as costas dela e sinto o quão macia ela é.
— Eu me dei conta de que estava apaixonada por você no dia em que lavei seu cabelo. Um
dia depois que você voltou para mim — Allyson sussurra e beija minha pálpebra esquerda
enquanto segura meu rosto.
Vou para o pescoço dela e planto beijos calmos por lá.
— Aqueles dias longe de você foram uma tortura, gattina… — Deslizo a língua por seu
pescoço, e ela arfa. — Sem poder tocá-la… — agarro a sua bunda por cima da calcinha rendada
—, sem poder beijá-la… — Eu puxo o lábio inferior para mim.
Chupo a carne macia, e Ally fecha os olhos e solta um gemido. O som vai direto para o meu
pau, que endurece logo debaixo dela.
— Sem poder vê-la. — Raspo meus dentes por seu pescoço, e ela agarra meus ombros.
Allyson se inclina para a frente e toma a minha boca em um beijo.
— Não vá embora nunca mais — ela sussurra rente aos meus lábios antes de me beijar de
novo.
Minhas mãos deslizam por suas costas nuas, e Allyson se contorce levemente. Ela está tão
quente. Minha gattina rebola sobre o meu pau, e solto um grunhido, sentindo a boceta dela
perfeitamente bem, graças à sua calcinha e à minha calça de moletom. Ela desliza para a frente e
para trás lentamente enquanto ofega.
Suas mãos deslizam por meu peito, e eu agarro os seios dela com possessividade, prendendo
os bicos entre meus dedos e os maltratando. Eles endurecem na minha mão, e Allyson
choraminga quando os esfrego com meus polegares, enquanto ela passa as unhas por meu peito.
Irritado com esse tanto de pano entre nós, agarro a barra de sua camisa, e ela ergue os braços
e se afasta de mim para eu tirá-la e jogá-la no chão.
Seus seios saltam livremente, e olho para o corpo dela, lambendo meus lábios ao ver como
os mamilos marrons estão rígidos e como a calcinha de renda preta está agarrada perfeitamente à
curva de seus quadris.
— Cazzo, por que tão linda? — Beijo a tatuagem dela, a maldita tatuagem que tira o meu
sono todas as noites.
Firmo meus dedos na cintura dela e a ajudo a rebolar no meu pau, e sua boceta se esfrega em
mim.
— Hoje eu vou me demorar em você, Ally… — Esfrego meus lábios no queixo dela.
Seus dedos seguram meus fios molhados e pende a cabeça para trás, totalmente rendida e
entregue a mim.
— Sim. Vamos fazer isso lento. Sem pressa, gattino. — Ela puxa meu lábio para si.
Allyson fecha os olhos quando eu a pressiono para baixo.
— Você me deixa louco, Allyson.
Ela choraminga, abre os olhos e os fixa nos meus. Os dela são lindos demais, e não há
espaço para outros no meu peito.
— Eu quero você… — Ally geme — aqui e agora. — Ela rebola com mais força, fazendo-
me grunhir.
Deslizo a mão direita pela parte da frente da calcinha dela e comprovo o quanto está
molhada. Meus dedos passeiam por seu clitóris e giram nele, ganhando um gemido alto.
— Così pronto… — Vago meus dedos por sua entrada e a penetro com a ponta do meu
anelar.
Seus lábios se partem, e a testa dela se cola à minha, ambas deslizando uma na outra quando
ela começa a descer e a subir em meu dedo. A mão direita agarra a minha nuca enquanto a
esquerda está espalmada contra meu peito.
— Chase…
Acrescento mais um dedo nela, e Ally joga a cabeça para trás, de modo que seu cabelo roça
a sua bunda e as minhas mãos. Sem dizer nada, ela sai dos meus dedos e colo, ficando em pé à
minha frente. Allyson prende os dedos nas laterais de sua calcinha e, com um sorriso de lado, ela
a desce. O tecido desliza por suas pernas, e meu pau endurece ainda mais com a visão.
Pernas definidas graças ao vôlei, cintura levemente curvilínea e seios empinados com
mamilos marrons e uma tatuagem no vão deles. Ally tem algumas estrias na lateral do quadril e
seios, mas, por Dio, ela não poderia ser mais gostosa. O cabelo castanho cai sobre seus ombros e
barriga. A porra da minha perdição.
Sem sair do sofá, tiro minha calça e a jogo no chão, inclinando-me para a frente e agarrando
a cintura de Allyson para puxá-la para mim. Ela cai com as pernas ao redor das minhas, e quase
gemo ao sentir meu pau diretamente em sua boceta, tão molhada e escorregadia.
Ally segura meu rosto em suas mãos e me beija, rebolando para a frente e para trás,
deslizando seu clitóris por meu comprimento. Quero me enterrar em Allyson, quero me perder
nela, quero me esquecer de tudo e só me lembrar dela, quero que o mundo ao nosso redor suma e
só reste nós dois.
Meu peito se aquece, e a beijo de volta, nossas línguas se acariciando.
— Meu coração foi quebrado e consertado uma vez, Allyson. Levei meses para juntar os
caquinhos dele e tentar deixá-lo como era antes. Porém, acho que nunca volta a ser o que era…
— Seguro o rosto dela em minhas mãos e esfrego os nossos narizes. — Mas, mesmo que ele
esteja aos trapos, ele é seu. Só seu. Então, por favor, cuide bem dele.
Suas íris se enchem de lágrimas, e ela beija cada uma das minhas pálpebras com tanto
carinho que me sinto quebrar. Ela abaixa a cabeça e beija o lado do peito em que meu coração se
localiza, arrastando os lábios por meu pescoço e queixo.
— Eu tenho muitos defeitos, sou explosiva, impulsiva e sou péssima em demostrar meus
sentimentos. Mas eu nunca… — Ela engole em seco e acaricia o meu rosto. — Mas eu nunca
vou machucá-lo. Não intencionalmente. Eu odeio qualquer pessoa que lhe tenha feito mal,
porque você merece tudo de bom.
— Eu quem digo isso, Ally. Tolo é quem a perdeu e sortudo sou eu, porque não vou, em
hipótese alguma, deixar alguém como você escapar.
Vejo uma lágrima descer por seu rosto antes de fechar meus olhos e me entregar ao beijo.
Tão lento e vagaroso. O calor do seu corpo faz o meu esquentar e gritar pelo dela. Chupo a
língua de Allyson, e ela geme, afetando o meu pau já duro feito pedra. Não aguento mais, tenho
que me enterrar nela.
Ainda a beijando, enlaço sua cintura com meu braço esquerdo e a puxo para cima, fazendo-a
se apoiar nos joelhos. Com a mão direita, encaixo meu pau em sua entrada, e Allyson geme em
minha boca quando ponho só a ponta dentro dela. Ally se afasta e cola a testa na minha ao passo
que mantém seus olhos fechados e as sobrancelhas franzidas de prazer.
— Porra… — grunho.
Allyson abre os olhos e fixa-os nos meus. Ela morde o lábio e se movimenta para baixo,
então meu pau entra nela lentamente. Com nossas testas coladas, gememos juntos com a
sensação de estarmos conectados. Ally se agarra à minha nuca, e espero que ela se acostume com
o meu tamanho, já que não a preparei.
Beijo sua testa, suas pálpebras e seu nariz e a vejo puxar a respiração com força. Acaricio
suas costas, e ela me dá um selinho demorado enquanto rebola levemente em meu pau. Eu gemo.
— Tão bom… — Ally sussurra contra minha boca e mordisca meu lábio.
Estar dentro dela é a melhor sensação do mundo, senti-la sem nem um tipo de barreira, seu
interior quente me apertando com força, quase me sufocando. Desço minhas mãos para a sua
bunda e a sinto rebolar lentamente em mim conforme seu quadril se move para a frente e para
trás.
— Per Dio, sei stato creato per il mio cazzo.
Sinto Allyson ficar ainda mais molhada e sorrio próximo ao pescoço dela, levando meus
lábios para o seu ouvido esquerdo.
— Você se excita quando falo em italiano? — Mordisco seu lóbulo e vejo seu corpo se
arrepiar.
Allyson agarra o estofado do sofá ao lado da minha cabeça e fixa os olhos nos meus.
— Não faça perguntas para as quais você já tem respostas. — Ela sorri de lado, em seguida
sua expressão se torna de prazer. — Céus, você está tão fundo.
Gemo ao ouvir isso e subo minha mão direita para o seu seio esquerdo, agarrando-o. Esfrego
o mamilo, e se Allyson contrai, gemendo alto ao rebolar com um pouco mais de força. Vou
deixá-la brincar sozinha mais um pouco.
Sentindo suas reboladas lentas, abaixo a cabeça e capturo seu mamilo em minha boca,
depois o chupo. Mordo-o e o puxo para mim, deliciando-me com os sons desconexos que
Allyson solta.
Solto o mamilo dela.
— Inferno, tão perfeita. — Beijo sua tatuagem e deslizo minha língua por ela.
Allyson puxa meu rosto para si.
— Promete para mim.
— O quê? — pergunto com a voz falha.
— Promete para mim que nunca mais vai embora.
Fecho meus olhos quando ela quica com força. Lentamente, mas com força o suficiente para
acabar comigo.
— Allyson… — Cravo meus dedos na bunda dela e solto um gemido rouco.
— Você vai prometer para mim, não vai? — Ela contrai a buceta propositalmente enquanto
me suga e me aperta. — Não vai?
— Cazzo, sim! Prometo, não vou embora.
Impossível negar algo a ela.
Sua língua encontra a minha, e Allyson gira os quadris enquanto meu pau a fode. Ela se
afasta. Porra, ela tem o meu coração na mão.
— Segure-se em mim — mando.
Ally passa os braços por meu pescoço, e ponho minhas mãos na bunda dela antes de nos
levantar do sofá. Suas pernas se prendem em meu quadril, e começo a andar com ela em meus
braços, ainda dentro dela e sentindo os beijos que deposita em meu pescoço. Passo pelos
corredores e empurro a porta do quarto com o pé para abri-la. Não sei onde Lady está, mas que
continue longe para não presenciar algo assim.
Allyson chupa a pele do meu pescoço, e arfo, sentindo seus lábios subirem para a minha
bochecha. Deito-a na cama, e meu membro desliza para fora dela, fazendo-a choramingar. Eu a
analiso e quase suspiro com a imagem: cabelos castanhos espalhado pelo colchão, corpo suado,
mamilos inchados e respiração falha. Ela está uma verdadeira bagunça. Abaixo a cabeça e beijo
sua tatuagem carinhosamente.
— Você não faz ideia do quanto está linda agora… — digo, acariciando sua pele tatuada
com o meu nariz.
Ela se contorce e afunda os dedos em meu cabelo.
— Eu sou linda a qualquer hora — Allyson diz, e olho para ela, que sorri de modo
brincalhão.
Sorrio de volta e pairo minha boca sobre a dela.
— Ah, você é… — Lambo os lábios dela. — E é minha.
Minha, porra. Ela é a minha garota, a dona do meu coração. Por mais machucado que ele
tenha sido, é dela.
Allyson segura meu rosto entre suas mãos enquanto posiciono meu pau em sua entrada
molhada e esfrego a cabeça nela.
— E você é meu. — Ela me dá um selinho demorado.
Sorrio ao ouvir isso, e meu coração se enche de um sentimento forte.
— Todo seu. — Eu a beijo e entro nela lentamente, vendo-a gemer e fechar os olhos.
Suas pernas se enrolam ao redor da minha cintura e me puxam, ajudando-me a entrar
totalmente nela. Agarro suas mãos e as cruzo com as minhas enquanto as pressiono acima da sua
cabeça. Seus dedos apertam os meus, e ela pende a cabeça para a direita ao passo que mantém as
sobrancelhas unidas em prazer.
Beijo seu queixo e a pele exposta de seu pescoço, sentindo seus seios pressionados ao meu
peito. Eles balançam para cima e para abaixo quando entro e saio dela lentamente, tanto que a
sinto por inteiro. Beijo suas pálpebras.
— Abra os olhos, mia gattina — peço, beijando agora sua outra pálpebra. Giro meus
quadris. — Veja como faço amor com você, Allyson.
Seus olhos avelã se abrem, e posso ver o prazer neles. Ela está tão ofegante que sei que está
perto de gozar, e eu também.
Aumento a força e velocidade das minhas estocadas, e sua boca se abre em um “O” perfeito,
sem que seus olhos se desviem dos meus nem por um momento. Quero que veja, que me observe
fazendo amor com ela, porque é isto que estamos fazendo: amor.
Allyson crava as unhas nas costas das minhas mãos e geme alto. Ela olha para baixo, e faço
o mesmo, vendo meu pau entrar e sair dela. Giro os quadris, e as costas dela se arqueiam
enquanto ergue o quadril para cima, encontrando minhas investidas. É a minha vez de jogar a
cabeça para trás e gemer alto, grave e rouco. Tão bom, porra.
— Chase, não aguento mais… — Allyson me olha com os olhos lacrimejando. — Preciso
gozar.
Liberto as mãos dela, e Ally agarra as minhas costas e me arranha. Agarro suas pernas pelos
joelhos e a abro, deixando-a totalmente aberta enquanto a penetro com força. Suas unhas
deslizam por minhas costas e peito, e meu quarto é preenchido pelos gemidos de Allyson e pelos
meus.
Ela beija meu peito, onde está a tatuagem de pássaro, e em seguida faz o mesmo com a de
rosa em meu pescoço, beijando-a com tanto carinho que me quebra.
— Lindo… — Ally abraça as minhas costas e me puxa para si. — Você é lindo.
Eu sorrio ao ouvir isso e ondulo meu quadril conforme a escuto choramingar e se contorcer.
— Sou, principessa?
Allyson crava as unhas em minha bunda e assente atordoada antes de seu corpo ficar rígido e
alguns espasmos tomarem conta do seu corpo. O aperto de sua boceta se torna sufocante, e ela
joga a cabeça para trás e goza forte.
— Chase! — Allyson grita, o rosto contorcido de puro prazer.
Ela o esconde na curva do meu pescoço, e não sei se é proposital, mas ela se contrai ao meu
redor e me suga para dentro de si. Ally parece estar sensível, já que choraminga coisas
desconexas enquanto continuo a penetrá-la, querendo alcançar meu próprio prazer.
Com mais três estocadas, meu corpo fica tenso, e gozo forte dentro de Allyson, enquanto
minha testa se cola à dela quando tira o rosto do meu ombro. Gemo rouco, e ela segura minhas
bochechas e me beija, engolindo os meus gemidos. O corpo dela ainda treme com os espasmos,
mas o sorriso em seu rosto é o suficiente para mim.
Eu sorrio de volta e solto suas pernas, saindo de cima e de dentro dela e a puxando para mim
quando ponho as costas na cabeceira. Agarro seu queixo e a beijo com carinho.
Sinto-me leve depois de me confessar para ela, como se um peso enorme tivesse saído das
minhas costas. Mas também me sinto feliz depois de saber que não estou apaixonado sozinho.
Allyson se afasta um pouco de mim.
— Não acredito que fiquei com medo de dizer que gosto de alguém que sente o mesmo por
mim… — ela ri, passando o braço por minha cintura e pondo o rosto em meu peito.
— Digo o mesmo. — Sorrio, e nossas pernas se entrelaçam quando a abraço. — Pensei que
você só me visse como um amigo colorido.
— De início, sim, não vou negar. — Ally se pressiona contra mim. — Mas aí comecei a
sentir sua falta com mais frequência, a gostar dos seus carinhos e atenção e, quando vi, já estava
apaixonada.
Meu sorriso se alarga, e enterro meu rosto no cabelo dela.
— Não sei bem quando me apaixonei por você… —sussurro contra seus fios. — Mas eu
sempre quis saber tudo sobre você. Tudo ligado à sua pessoa me interessa, gattina.
Allyson me aperta ainda mais.
— Se não for obcecado por mim, eu nem quero.
— Desse jeito eu vou achar que você quer um fã, não um namorado. Melhor, acho que quer
um dos stalkers assassinos sobre os quais você tanto gosta de ler. — Reviro os olhos e sorrio.
Ally se levanta um pouco e, quando vejo, suas pernas estão ao redor da minha barriga e ela
está montada em mim. Ela sorri.
— Não posso ter os dois?
Ela apoia os braços ao lado da minha cabeça, e firmo minhas mãos ao lado das suas costelas,
então a puxo para poder beijar sua tatuagem.
— Quando o assunto sou eu, você pode ter tudo o que quiser. — Beijo o queixo dela.
Allyson segura meu rosto.
— Sim, porque você é o meu namorado — ela sussurra rente aos meus lábios.
Seguro a cintura dela com a mão esquerda e sua nuca com a direita. Gosto disso pra caralho.
— E você é minha namorada — digo, amando o som dessas palavras.
Allyson sorri tão lindamente que é quase impossível não beijá-la. Meu coração é dela, e ela
pode não saber disso ainda, mas eu sou, realmente, seu maior fã. Gosto do sorriso dela e de ouvi-
la falar, gosto de vê-la jogar e fico feliz quando conquista algo.
E ela também pode não saber, mas me comprovou — embora eu já soubesse disso — que as
merdas todas que passei com Karen não foram minha culpa. Não tem nada de errado comigo, o
problema sempre esteve nela.
Cruzo minhas mãos no peito de Chase e apoio o queixo nelas enquanto olho para ele. Tenho
que me conter para não sorrir como uma idiota a cada cinco segundos. Os olhos dele estão
fechados, e sua mão esquerda está massageando meu couro cabeludo de maneira lenta.
O cobertor está cobrindo as nossas cinturas, e meus seios pressionam a lateral de seu corpo.
Tudo parece tão perfeitamente natural. Pressiono meus lábios um no outro quando memórias de
ontem à noite me atingem e me lembro da surra que dei em Karen. Tenho que contar a Chase,
melhor ele saber por mim do que por outra pessoa.
— Chase… — eu o chamo, olhando para seu rosto e olhos fechados.
— Hum…?
Ponho meu cabelo atrás das minhas orelhas e mordo meu lábio com força, pensando em
como lhe dizer. O clima está tão bom, e se ele achar que sou uma barraqueira que briga por
homem ou que penso que sou dona dele?
Respiro profundamente.
— EubatinaKaren — solto tudo de uma vez.
— Você o quê? — Chase tira o braço direita de trás da cabeça e coloca a mão na curva da
minha bunda.
Eu bufo e me sento na cama, não me incomodando em cobrir meus seios. Meu cabelo se
encarregou disso.
— Eu bati na Karen.
Chase se senta, e suas sobrancelhas estão erguidas.
— Isso foi ontem na boate? — ele pregunta, e eu assinto, fazendo-o sorrir. — Por que bateu
nela?
Fico com raiva só de lembrar.
— Aquela desgraçada ficou dizendo umas coisas sobre você. Não gostei. — Mordo meu
lábio enquanto olho para a cômoda.
— Você acabou com ela, Ally? — Chase pergunta, e olho para ele.
— Talvez eu tenha quebrado o nariz dela…
Chase sorri e me puxa para si.
— Essa é a minha gattina. — Ele fica por cima de mim, e abro as pernas para acomodá-lo
entre elas.
Sorrio e agarro a nuca dele com minhas duas mãos antes de lhe dar um selinho demorado.
Pensar que Chase ficaria com raiva disso foi besteira. Talvez ele tenha gostado mais do que eu
que Karen tenha apanhado.
— Foi ela que fez isso no seu rosto? — Chase passa o polegar no arranhão em minha
bochecha.
Eu me esqueci dele e acho que Chase não mencionou o arranhão para não estragar o
momento de hoje mais cedo.
— Sim, as unhas dela.
— Ela a machucou em mais algum lugar? — Chase pergunta, olhando meus braços, seios e
barriga. Tudo que está à mostra.
Seguro o rosto dele em minhas mãos e entrelaço minhas pernas em sua cintura.
— Ela só fez isso, relaxa. — Afasto seu cabelo da testa e sorrio. — Pode apostar que ela
ficou pior.
Chase apoia os antebraços ao lado da minha cabeça, e seu corpo pesa sobre o meu.
— O que ela disse que a fez bater nela assim, hum? — Ele acaricia minha bochecha com o
nariz.
Uma carranca se forma em meu rosto, e passo meus braços pelo pescoço dele, onde me
escondo.
— Ela disse coisas muito nojentas, não quero lembrar — digo próximo à sua pele, e minha
voz sai abafada.
Chase nos vira e me faz ficar por cima dele, meu rosto ainda em seu pescoço e minhas
pernas ao seu redor. Sua mão direita massageia meu coro cabeludo, e a esquerda está logo abaixo
da minha bunda. Mesmo que ele me peça, não vou falar o que Karen disse. São palavras que,
com toda certeza, machucam, porque eu senti cada uma delas e, embora Chase saiba que ele é
mais do que um pau, não quero dizer mais nada sobre a briga. Não sei como ele ficaria e prefiro
não arriscar.
Afasto-me um pouco dele e o olho.
— Vou beber água, já venho. — Dou-lhe um selinho e faço menção de me afastar, mas ele
me mantém no lugar.
— Me beija direito, não é assim que se faz. — Ele me puxa pela nuca.
Sorrio de lado e envolvo os dedos da minha mão em seu pescoço.
— E como é?
Um tapa forte é depositado em minha bunda, e grito alto pelo susto e pela leve ardência. Nós
ainda estamos nus, e o tapa áspero de sua mão faz minha pele arder. Chase massageia o local
machucado, e mordo o lábio quando sinto seu pau logo debaixo da minha bunda.
— Gattina travessa… — Chase sorri de lado e agarra minhas nádegas com as duas mãos,
depois me pressiona ao seu corpo.
— Não aja como se não gostasse. — Jogo meu cabelo para o lado e espalmo minhas mãos
em seu peito largo e tatuado.
Chase leva a mão direita para os meus seios e acaricia a minha tatuagem, sorrindo.
— Ah, eu adoro — ele diz. — Até hoje você não me disse o porquê de ter feito uma
tatuagem. Vai me dizer?
Olho para a minha tatuagem e depois para ele, tomando uma grande lufada de ar antes de
suspirar.
— Você sabe que ficamos um bom tempo sem mantermos contato, e confesso que fiquei
com medo de você não voltar — rio, sentindo-me patética. — Não sei, talvez lá no fundo eu só
quisesse algo que me lembrasse de você.
Sinto-me envergonhada. Sempre que falo sobre os meus sentimentos, sinto-me uma idiota
emocionada. Foi como eu me senti quando me declarei para o Chase e é como estou me sentindo
agora.
Chase se senta comigo ainda em seu colo, e enrolo o braço direito em minha cintura
enquanto a esquerda segura a minha bochecha. Ele puxa meu rosto para si.
— Realmente sinto muito por ter lhe dado esse medo… — Ele cola a testa na minha e
acaricia meu nariz com o dele. — Mas não teve um dia em que eu não tenha sentido a sua falta.
Pego o rosto dele em minhas mãos e lhe dou beijo. Minha língua adentra a sua boca, e a mão
que está em meu rosto vai para a minha nuca. Nossas línguas se acariciam, e colo meus seios ao
seu peitoral e ofego com o atrito. Minha pele se arrepia quando a mão que está em minha cintura
sobe para as minhas costas e me faz um carinho.
Nós nos afastamos quando a falta de ar se faz presente, e Chase me dá mais um selinho.
— Agora você pode ir beber água… — Ele sorri, e reviro os olhos.
— Chihuahua italiano… — resmungo ao sair do colo dele.
Chase ri e aponta para o guarda-roupa.
— Pode pegar e vestir outra camisa minha e uma cueca nova da última gaveta. A que você
estava usando está na sala. — Ele põe os braços atrás da cabeça de maneira preguiçosa.
Nua, ando até seu guarda-roupa e escolho uma camisa preta e uma cueca boxer azul. Visto-
as e me viro para Chase quando vejo que a camisa dele fica logo abaixo da minha bunda.
— Como se sente? — pergunto.
— Como assim? — Ele franze o cenho.
— Vendo que suas camisas ficam melhores em mim do que em você. — Sorrio.
Chase abre a boca, chocado.
— Venha aqui, dannazione… — Ele faz menção de avançar na minha direção.
Grito e corro para fora do quarto, dando risada. Escuto Chase gritar meu nome, mas
continuo a correr para a cozinha, com medo de ele me alcançar. Abro a geladeira e pego uma
garrafa de água, fazendo o mesmo com um copo depois. Após beber água, guardo a garrafa e
ponho o copo na pia.
Passo as mãos por meu cabelo e o sinto cheio de nós, então faço um coque. Já estou
passando pela sala, quando uma figura no meio dela me chama atenção, e dou ré. Meus olhos se
arregalam quando vejo um homem de costas para mim, vestido com uma camisa preta de botões
e manga longa e calça jeans, segurando com as pontas dos dedos o que eu percebo ser a minha
calcinha. Que porra é essa?
Será que é um pervertido? A porta do apartamento está aberta. Puta merda, e se for um
ladrão tarado? Droga, o Chase está lá no quarto.
Eu pego um jarro que está no centro da sala e caminho nas pontas dos pés até o ladrão,
rezando para que ele não me veja. Quando ele vai fazer menção de olhar para trás, quebro o jarro
na cabeça dele, e o som repercute pela sala.
— Solte a minha calcinha, seu tarado safado! — grito, vendo o homem gritar e ir ao chão.
Afasto-me dele em um pulo para trás e pego um dos cacos de vidro, o qual aponto para ele.
— Fique deitado, não se mexa! — mando, apontando a arma improvisada para ele.
O homem que parece ter uns quarenta e cinco a cinquenta anos me olha atordoado, com as
mãos em sua cabeça enquanto está deitado no chão. Ele tem alguns fios grisalhos e uma barba
bem-feita. Ótimo, é um velho tarado.
— Por que… — o homem me olha — por que você me bateu?
Antes que eu possa responder, Chase aparece vestindo uma cueca boxer vermelha e arregala
os olhos ao ver o homem caído. Sorrio.
— Relaxa, Chase, está tudo sob contro-
— Pai?! — Chase corre até ele e se ajoelha ao lado do homem.
Franzo o cenho.
— Pai? — repito.
— Pai, por que o senhor nunca me ajuda a carregar as malas… — Olho para a porta e vejo
Pietro com uma mochila nas costas e duas malas em cada braço. Os olhos dele se arregalam, e
ele as larga, correndo até o homem. — Pai, o que aconteceu?!
Meu cenho se franze ainda mais, e olho Chase, Pietro e o suposto velho tarado juntos antes
de arregalar meus olhos. Largo o caco de vidro no chão e cubro minha boca com as mãos,
chocada. Merda, é o pai deles!
Chase me olha com incredulidade enquanto ele e Pietro ajudam o pai a se levantar. Vejo os
dois colocarem o homem no sofá e mordo meu lábio com força, sem saber onde enfiar a minha
cara.
Bela maneira de conhecer o sogro, achei tendência.

Com o coração na boca e roendo minhas unhas, vejo o pai de Chase pôr um saco de gelo na
cabeça. Ele está deitado no sofá de barriga para cima enquanto os filhos estão em pé ao lado
dele. Só quero um buraco para enfiar a porra da minha cara, como posso ser assim, meu Deus, é
capaz de o pai de Chase ameaçar deserdá-lo se ele não terminar comigo.
Mas que bosta, hein.
— O senhor está melhor? — Pietro pergunta, olhando para o pai.
— Me ajudem a sentar — o homem pede, e eles o ajudam.
Pietro se senta ao lado dele, e Chase no braço direito da poltrona onde eu estou, agora
vestido com uma bermuda de moletom. Mas me levanto em um pulo e ando até estar de frente
para o homem.
— Eu realmente sinto muito, pensei que fosse um ladrão… — Cerro meus punhos e
mantenho minha cabeça abaixada. — Se eu soubesse que o senhor é pai de Chase, nunca teria
jogado um jarro na sua cabeça.
— Relaxa, gattina, você não tinha como saber. — Escuto Chase dizer.
Mordo meu lábio com força e assinto.
— De qualquer forma, sinto muito mesmo. — Olho para o homem com sinceridade.
O pai de Chase fica apenas me encarando com o rosto sem expressão alguma enquanto
continua a pressionar o saco de gelo na cabeça.
Por favor, diga algo.
— Não é por nada não, mas o que você está fazendo aqui, Ally? — Pietro pergunta, e olho
para ele.
Ergo as sobrancelhas sem saber o que dizer e, quando abro a boca, só sei gaguejar.
— Ela é a minha namorada. — Sinto os braços de Chase me abraçarem por trás. — Por que
ela não estaria aqui?
É a vez de Pietro nos olhar com surpresa.
— Você e a doida que quebra caixa de som? — Ele sorri largamente.
Faço careta quando escuto o apelido, mas ignoro ao invés de mandá-lo tomar no cu. Não
quero piorar ainda mais a minha situação.
— Sim. — Sorrio falsamente.
— Ah, que legal… — Pietro sorri, tirando algo de trás das costas. — Então esta calcinha de
renda preta é sua? — ele pergunta a mim, enquanto minha calcinha permanece pendurada em seu
indicador direito.
Meus olhos quase pulam para fora, e os do meu sogro também, que olha para Pietro como se
ele fosse doente. Chase me solta e avança na direção de Pietro.
— Que merda é essa, Pietro? — ele pergunta entredentes. — Me dá a porra da calcinha da
minha namorada, seu idiota! — Chase puxa o tecido da mão dele e o põe no bolso da bermuda.
Cubro o rosto com as minhas mãos, morta de vergonha. Que vontade avassaladora de pular
de paraquedas, mas sem paraquedas.
— Estava no chão! — Pietro se defende, e descubro o rosto.
— E só por causa disso você pega? — Olho-o com raiva. — Você queria lavar e usar, é
isso?
Pietro abre a boca, parecendo chocado. Chase dá risada enquanto aponta o dedo na cara dele
e o zoa. Mas o que mais me deixa surpresa é a risada do pai deles, que atinge os meus ouvidos.
Começo a roer as minhas unhas de novo e assisto ao homem pôr o saco de gelo em cima da
cabeça.
— Do que o senhor está rindo? — Pietro pergunta.
— Ela me lembra a mãe de vocês — o pai dele diz. — O mesmo brilho no olhar e as
respostas na ponta da língua.
Chase segura a minha mão, e olho para ele, vendo-o sorrir para mim.
— A dona… — Limpo a garganta. — A dona Beatrice parecia ser muito gentil.
— Ela era. — O homem sorri e fica em pé lentamente, então estende a mão para mim. —
Meu nome é Anthony, muito prazer.
Eu solto a de Chase, ando até o meu sogro e seguro a mão dele.
— O prazer é meu. — Sorrio largamente para ele. — E sinto muito pela pancada, de
verdade. — Olho-o envergonhada.
Anthony nega com a cabeça.
— Gostei de ver como você cuidou do apartamento do meu filho — ele ri, e eu faço o
mesmo ao vê-lo soltar a minha mão. — Agora, se me dão licença, vou descansar. Estou um
pouco cansado.
— Certo, bom descanso. — Assinto.
— Obrigada. — Anthony sorri e olha para Pietro. — Venha, traga as malas — ele chama,
afastando-se de nós.
Pietro bufa e pega as malas, olhando com raiva para Chase e para mim enquanto se afasta.
Ele e o pai somem da sala, e eu suspiro, andando até a poltrona e deixando meu corpo cair sobre
ela.
— Isso foi horrível… — gemo de frustração.
— Não foi, linda. — Chase sorri e se ajoelha à minha frente.
— Cara, meu primeiro contato com o seu pai foi comigo quase lhe causando um
traumatismo craniano. Ele deve me detestar.
Chase esfrega as mãos nas laterais das minhas coxas e beija meu joelho esquerdo.
— Ele gostou de você, meu pai só é mais na dele — ele diz enquanto me olha. — Confie em
mim.
Ainda incerta disso, assinto e esfrego as mãos em meu rosto, rezando para que tudo isso seja
um pesadelo e que acorde e conheça o meu sogro como uma pessoa normal faria. Só estou me
esquecendo de que não tem nada de normal na minha vida.
— Está me perguntando se pode voltar ao trabalho depois de mais um mês que não aparece
aqui? — o senhor Elias questiona de braços cruzados.
Sim, depois de um mês, estou aqui diante do meu antigo chefe, pedindo meu emprego de
volta como o grande cara de pau que sou.
Antes de voltar para a Itália, falei que precisaria me ausentar por alguns dias e não sabia ao
certo quando iria voltar ou se isso ia acontecer. Tudo dependia da saúde da minha mãe. Disse ao
meu chefe que, se quisesse, poderia colocar alguém no meu lugar, já que a oficina não poderia
ficar com um funcionário a menos. E dito e feito, o senhor Elias colocou um garoto um pouco
mais novo que eu.
Mesmo que eu já tenha voltado há quase três semanas, não pisei meus pés aqui nem sei
notícias do estabelecimento. O pior é que depois encontrei, junto com as chamadas perdidas de
Allyson, algumas do meu chefe. Eu me esqueci de retorná-las, mas, em minha defesa, estou aqui
agora para encarar a situação como um homem. E também porque eu não gosto de ficar
desempregado, preciso de dinheiro.
— Sim? — Sorrio, tentando descontrair o clima.
O senhor Elias solta a respiração e bufa, dando alguns tapinhas nos meus ombros. Ele abre
um largo sorriso, e uma expressão aliviada se abre em seu rosto.
— Graças a Deus, garoto. Pensei que não voltaria nunca!
Franzo meu cenho.
— Isso quer dizer que tenho meu emprego de volta?
Ele assente, parecendo animado. Então se aproxima como se quisesse sussurrar algo. Ele me
chama com a mão, um gesto para que eu curve meus joelhos.
— Com toda certeza, o novo funcionário tem me dado prejuízo desde que entrou.
— Ele não pode ser tão ruim assim.
O senhor arregala os olhos e dá um passo para o lado, então ergue tanto as sobrancelhas que
elas podem tocar seus cabelos grisalhos.
— Está brincando com a minha cara, rapaz? — ele se enfurece e bate as luvas em meu
braço. — Os carros dos clientes entram com um problema e saem com outro de brinde.
Eu sorrio, enfiando minhas mãos nos bolsos da minha jaqueta.
— Então, acho que fiz uma certa falta, não é? — brinco, e ele assente.
— Com certeza, as mulheres até deixaram de vir também depois que descobriram que você
não trabalhava mais aqui — o senhor Elias diz enquanto nega com a cabeça. Então, ele abre um
largo sorriso. — Mas você está aqui agora, vamos voltar a fazer dinheiro!
— Não diga isso, esta oficina dá lucro graças ao bom trabalho que fazemos aqui — rio,
tentando ser modesto mesmo sabendo que as mulheres só vêm por minha causa.
O senhor Elias pisca e encara meu rosto como se eu tivesse algum tipo de doença ou tivesse
dito a coisa mais ridícula do mundo.
— Garoto, sou visionário, entendeu? Gosto de dinheiro. — Ele esfrega o polegar e o
indicador em frente ao seu rosto. — Se fazemos um bom trabalho nesta oficina, você vem com o
rosto e fazemos um ótimo trabalho juntos. Isso é uma dupla e tanto! Só sendo burro para não
aproveitar.
Eu deveria me sentir desconfortável, a maneira com a qual ele fala é como se estivesse me
usando. Mas não penso assim, eu me divirto com o senhor de meia-idade que pensa que está
fazendo um ótimo trabalho.
— E, bom, como anda sua mãe? Melhorou? — ele pergunta, trazendo-me dos meus
pensamentos.
Um suspiro deixa meus lábios.
— Minha mãe faleceu uma semana depois que fui para a Itália.
O senhor Elias arregala os olhos.
— Sinto muito, garoto! — Ele coloca a mão em meu ombro e o afaga.
Nego com a cabeça.
— Tudo bem. O que pretende fazer com o novo funcionário? — pergunto.
O senhor Elias põe as mãos na cintura.
— Vou esperar completar a semana e então vou demiti-lo. E aí você começa na segunda.
— Sabe que faço faculdade na parte da manhã, não é?
Ele assente.
— Não se preocupe, Chase. Contanto que venha trabalhar de tarde e me tire dessa maré de
azar, está tudo bem! — Sorri largamente.
Eu sorrio para ele e dou graças a Dio que ele me recebeu de volta. Outra pessoa não faria
isso, e sou grato.

Em cima da minha cômoda, está a carteira de cigarro que encaro há mais de dez minutos.
Sim, eu contei, porque parece que são horas. Faz semanas que não fumo, mas confesso que isso
está sendo difícil pra caralho. Talvez eu realmente seja um viciado, no final das contas.
Minha mãe não gostava de Karen por muitos motivos, dentre eles o fato de ela ter me
induzido a fumar. Sou um adulto, fumei porque quis, e ninguém me obrigou. Mas, por mais que
sejamos donos das nossas próprias ações, as pessoas à nossa volta também influenciam nas
nossas atitudes.
E agora cabe a mim cortar pela raiz um hábito que nunca foi meu, mas de que me apropriei
com tanto afinco a fim de me apegar a alguém que nunca me amou e apenas partiu meu coração.
Sinto a cada dia como estou entrando em abstinência, mas vou me segurar.
Encaro o caderno de desenho em meu coloco e ando o lápis pelos nós dos meus dedos,
sentindo-me preso em um bloqueio criativo que já dura dias. Talvez se dê ao fato de eu estar em
uma abstinência por culpa do cigarro, é a única explicação lógica, já que tenho vividos meus
melhores dias desde que Allyson e eu firmamos nosso namoro.
Levanto-me da cama e pego as chaves do carro na cômoda, então saio do quarto e fecho a
porta para que o filho da puta do Pietro não entre. Ele sempre mexe nas minhas coisas quando
não estou em casa. Pega uma camisa ou outra, mesmo que o idiota seja muito mais musculoso do
que eu.
Quando passo pela sala, coloco Lady ao lado do meu pai, e ela pula no colo dele, que me
olha.
— Vai sair? — ele pergunta enquanto acaricia o pelo da minha gata.
Assinto e giro as chaves.
— Sim, meu amigo convidou a mim e ao nosso pessoal para irmos na casa dele. Vamos
aproveitar a piscina.
— Você tem amigos de novo, Chase? — Meu pai sorri, parecendo surpreso.
Eu sorrio também e me sento na poltrona.
— Sim, tenho cinco, contando com Ally. — Eu o olho.
Meu pai acaricia o queixo de Lady e recebe um ronronar em resposta. Ela pode gostar muito
de mim, mas às vezes penso que minha gata não é minha, mas sim do meu pai.
— Fico feliz que enxergue Allyson como amiga além de namorada, filho — meu pai diz, e
posso sentir a emoção em sua voz.
— Como eu não poderia, pai? Allyson é em quem mais confio.
Meu pai me encara por alguns segundos.
— Você parece gostar muito dessa garota.
Esfrego a minha nuca.
— Acho que… — umedeço meus lábios — acho que gostar é pouco em comparação ao que
sinto por ela. Chego a ficar sem ar, é algo que eu nunca senti antes, entende? Sinto que… ela é
minha melhor amiga, pai. — Olho para ele.
Meu pai assente, e Lady ronrona mais uma vez, enrolando sua cauda no braço dele, toda
dengosa.
— Antes de qualquer relacionamento, vem a amizade. Um casal não é casal se eles não são
amigos um do outro.
Sorrio largamente.
— Também tenho um melhor amigo — digo, sentindo-me uma criança contando ao pai
como foi seu primeiro dia de aula. — O nome dele é Michael. É o dono da casa para onde vou
agora. Nós saímos quase sempre.
Por um longo tempo — após meu término com a Karen —, meu único amigo foi Pietro e o
meu primo Kellan. Ele é três anos mais novo que eu e, embora a gente se fale quase sempre, ele
mora em outra cidade, então mal nos vemos ou saímos juntos.
— Allyson não acha ruim? — meu pai questiona.
Eu nego com a cabeça.
— Ela não me priva de nada. — Sorrio, olhando para as minhas chaves. — Não preciso me
esforçar para lhe agradar nem preciso esconder que me incomodei com algo. Também não
preciso fazer nada de que eu não goste. Ela não tenta controlar as minhas amizades, não invade o
meu espaço pessoal e também não me bate.
Eu que bato nela. E gosto tanto de fazer isso.
— Ally sabe de… — meu pai se interrompe, receoso da minha reação.
— De Karen? — pergunto, e ele assente. — Allyson bateu em Karen um dia antes de o
senhor chegar, pai.
Os olhos do meu pai se arregalam.
— Por quê?
— Pelo que Allyson me disse, Karen estava falando coisas ruins sobre mim — explico. —
Minha namorada não gostou e perdeu o controle.
Meu pai não diz nada por poucos segundos antes de começar a rir.
— Pelo que estou vendo, não vou precisar me preocupar com aquela garota tentando se
aproximar de você novamente — ele diz, olhando para Lady.
Sorrio e abaixo a cabeça, percebendo que Ally faria qualquer coisa para impedir que Karen
se aproximasse de mim. Não sou muito de briga, mas confesso que daria tudo para ver Ally
batendo nela mais uma vez. Devia ser humano melhor, eu sei, mas não quero.
— Nunca lhe contei isso, mas… — meu pai começa, e olho para ele — me doía muito vê-lo
se afastar de nós por causa daquela garota. Aos poucos o perdíamos e não sabíamos o que fazer
para impedir isso.
Eu me atento ao que ele tem a dizer.
— E vê-lo assim, finalmente bem, é gratificante, filho. — Meu pai sorri para mim. — Há um
tempo, você mal conseguia mencionar o nome de Karen, hoje em dia você faz isso com uma
facilidade tremenda. Estou muito orgulhoso de você.
Sorrio ao escutar suas palavras.
— Acho que a terapia me ajudou muito, e Allyson me faz bem — digo, olhando-o.
— Você pare de ser molenga, hein!
Olho na direção de Pietro e o vejo parado logo atrás de mim com uma careta. Reviro os
olhos, deixando minhas costas descansarem na poltrona.
— Vá se foder. — Mostro o dedo do meio para ele.
Ele devolve, e meu pai ri, chamando nossa atenção para si.
— Que milagre o senhor estar rindo e não ter sentido dor de cabeça depois de Allyson quase
tê-lo feito ver Jesus — Pietro debocha, olhando para mim.
— Da próxima vez eu a mando quebrar o jarro na sua cabeça, então. — jogo uma almofada
nele.
Lady pula do colo do meu pai e vem para o meu, deitando-se nele e enrolando a cauda
peluda ao redor do meu pulso esquerdo.
— Não é como se eu nunca tivesse sido atingido na cabeça por uma mulher antes — meu
pai diz, batendo nas coxas para tirar o pelo de Lady de sua bermuda.
Pietro franze o cenho e anda até o sofá, então se joga ao lago do meu pai.
— Como assim?
— Não sei se a mãe de vocês lhes contou isso, mas nós nos conhecemos na faculdade.
Éramos de cursos diferentes, mas já estávamos no último ano. Sem contar que ela era italiana.
Por alguma razão, ficava com medo de chegar nela — meu pai começa. — Nunca fui popular, as
pessoas não se aproximavam de mim por minha expressão ser muito fechada, mas também nunca
fiz questão de amizades. O único amigo que eu tinha era o marido da tia de vocês, pai do Kellan.
Mas a mãe de vocês era diferente, ela era sociável, popular, tinha muitos amigos e era também
muito gentil com todos. Fui apaixonado por ela por quase cinco anos — ele ri.
Pietro arregala os olhos, assim como eu.
— Nunca tive coragem de chegar na mãe de vocês, mas sabia tudo sobre ela. Porém logo
iríamos terminar a faculdade, e eu nunca mais a veria. — Passa a mão pelos cabelos grisalhos. —
Um dia, estávamos saindo da faculdade, e vi que um cara a estava seguindo, e ela sozinha
voltando para casa. Aí, para que ela não sofresse nenhum ataque, passei correndo pelo bandido e
a cutuquei, fingindo conhecê-la. A mãe de vocês se assustou e quebrou o guarda-chuva dela na
minha cabeça — ele ri alto, nostálgico.
Pietro e eu damos risada, e nosso pai para de rir para continuar.
— Depois ela se desculpou e disse que pensou que fosse o cara que a estava seguindo. Sim,
ela sabia do cara — ele esclarece. — Depois disso, eu a deixei em casa e, bom, o resto vocês já
sabem.
— Que romântico — Pietro diz.
Eu rio, e o nosso pai se levanta e olha para nós.
— Aproveite a vida com Allyson, filho. Trate de valorizá-la — ele diz para mim e se vira
para Pietro. — Isso vale para você também, Pietro.
— Ah, mas nem estou saindo com ninguém. — Meu irmão dá de ombros.
— Não? — meu pai solta uma risada incrédula. — E o que eram aquelas mulheres o
chamando de cafajeste na porta da minha casa lá na Itália, seu idiota? Uma delas até quebrou a
minha janela com uma pedra!
Pietro dá um sorriso amarelo e, quando vemos, ele já havia corrido da sala. Meu pai o xinga
e corre atrás dele, gritando que Pietro ainda não pagou pela janela.
Apenas ponho Lady no sofá e giro as chaves entre os meus dedos, caminhando em direção à
porta da sala. Quando a abro, dou de cara com a última pessoa que, mesmo sendo irrelevante,
não gostaria de ter visto agora nem em outro momento.
Diante de mim, vestida com um vestido vinho que chega até a metade de suas coxas e
carregando uma bolsa no ombro esquerdo, está Karen. O sorriso que ela tem nos lábios e nos
olhos se torna brilhante assim que me vê, o que faz minha sobrancelha esquerda se arquear.
— Chase… — ela começa, dando um passo em minha direção.
Eu a interrompo quando fecho minha porta antes que meu pai ou Pietro a vejam. Também
dou uma olhada na de Allyson e vejo se no corredor não tem alguém conhecido, então agarro o
braço de Karen e começo a arrastá-la em direção ao elevador.
— O que está fazendo, Chase? Me solte, vamos conversar! — Karen diz, tentando sair do
meu agarramento.
— Você só deve ter comido merda para vir até aqui, Karen! — rosno, chamando o elevador.
— Você não responde às minhas mensagens!
— Talvez isso já seja uma resposta, porra!
Quando o elevador chega, eu a empurro para dentro e também entro, deixando que fiquemos
presos juntos dentro desta merda que parece pequena demais. Respirar o mesmo ar que Karen é
insuportável.
— Entendo que estejamos em uma fase péssima ultimamente, mas não entendo o porquê de
não poder vir aqui — Karen suspira, agarrando a bolsa quando ela ameaça cair. — Já que você
não responde às minhas mensagens, então tive que dar o meu jeito. Precisamos conversar, Chase.
Eu rio, desacreditado e ansioso para que o elevador chegue ao saguão e eu fale ao porteiro
para impedir a passagem de Karen. Tenho certeza de que ela vai tentar a mesma merda mais uma
vez. Ela nunca se dá por vencida.
— Já passou pela sua cabeça que não temos o que conversar, Karen? — cuspo, virando-me
na direção dela. — Nós acabamos. Você acabou comigo. Por que fica insistindo no que é
passado? Você não está um pouco atrasada demais?
Karen se aproxima e agarra meu braço. Olho para suas mãos em minha pele e não sinto nada
mais do que repulsa.
— Eu me arrependi, Chase. Fui impulsiva e não devia ter feito isso… — A manha em sua
voz me deixa enojado.
Puxo meu braço e a faço dar um passo para a frente. Não usei tanta força, mas ainda a
peguei desprevenida.
— Apenas esqueça tudo isso, Karen. Estou vivendo a minha vida agora, por que não faz o
mesmo?
— Porque eu te amo, amo mais do que Allyson poderia amá-lo!
Então é disso que se trata. Karen pode saber esconder seu verdadeiro eu das outras pessoas,
mas não de mim. Conheço cada um dos seus maus sentimentos porque os senti na pele por
longos anos.
— Você não me ama, Karen. Apenas gosta de ter as pessoas aos seus pés e odeia ter que
dividir seus brinquedos. A ideia de que eu já a esqueci a enfurece apenas porque gosta de ser
lembrada, não importam os meios.
Vejo-a apertar as mãos em punhos. Então, afasta-se de mim e pega em sua bolsa uma
carteira de cigarro. Ela pega um e o leva aos lábios, então dá uma longa tragada.
— Ficou brava com a verdade? — Arqueio uma sobrancelha. — Tudo o que eu disse é
verdade, você me vê como uma propriedade e nada mais. Porém, felizmente, deixei de ser seu há
muito tempo, Karen.
— E agora passou a ser de Allyson? Sério? Você desceu tão baixo! Sei que está com ela
apenas para me atingir! — Karen joga sua bolsa no chão, histérica. Ela se aproxima de novo. —
E funcionou, amor. Eu já aprendi a lição, preciso tanto de você…
Reviro meus olhos no instante em que o elevador finalmente para e as portas se abrem. Vejo
ali uma chance de agarrar seu braço e empurrá-la para fora do elevador. Apanho a bolsa do chão
e a jogo em sua direção, vendo que ela quase derrubou o cigarro no chão.
— Dependência não é legal, Karen. Terapia me ajudou, talvez a ajude também — falo,
aproximando-me dos botões. Falaria com o porteiro em outro momento. — E não volte aqui,
chega a ser de uma falta de noção incrível. E fique longe de Allyson, não arrume problemas para
ela — aviso.
Karen arqueia uma sobrancelha, e vejo seus dedos se apertarem em sua bolsa, tanto que os
nós dos seus dedos ficaram brancos.
— Melhor aconselhá-la a olhar para os lados, Chase. Nunca se sabe de onde pode vir.
Essas palavras e as feições raivosas de Karen são a última coisa que ouço e vejo antes de as
portas dos elevadores se fecharem, levando-me para longe de sua presença.
Eu ranjo meus dentes, sabendo que não posso duvidar das palavras de Karen, porque ela
nunca brinca ou blefa. Ela vai lá e faz, mas sempre avisa antes.
Allyson se contorce e traz as pernas ao encontro ao próprio peito e as abraça. Um gemido
baixo, mas ainda audível, deixa seus lábios, e ela abandona o pote de sorvete ao seu lado como
se não estivesse se esbaldando nele minutos atrás.
Eu o pego e o coloco sobre a mesinha de centro próximo a nós, apoiando minha mão em sua
coxa.
— Dói tanto assim? — pergunto, encarando-a.
Allyson ergue os olhos para os meus e arqueia uma sobrancelha.
— É como se uma manada de rinocerontes estivesse pisoteando o meu útero, e de brinde
ainda vem a minha falta de amor-próprio quando eu encaro o espelho, e é como se toda a minha
dignidade tivesse sumido e tudo o que visse fosse o quanto sou horrorosa e mereço a morte.
Ok, isso foi intenso.
Voltamos da casa — para não dizer mansão — de Michael, depois de Allyson reclamar de
uma cólica forte. Ela ainda insistiu para ficarmos lá, mas pude ver em seu rosto o quanto estava
lutando contra a dor, então voltamos para casa.
No meio do caminho, passamos no supermercado, e comprei um pote do sorvete para ela e
alguns pacotinhos de jujubas, ela não sabe que eu sei que ela as ama. E agora estamos assistindo
a Um amor para recordar, o que é incomum vindo de Allyson, já que ela não curte esse tipo de
filme. Mas as mulheres sempre ficam estranhas quando estão nesses dias.
— Não está exagerando, gattina? — brinco, acariciando sua coxa.
O olhar que Allyson me dá poderia me matar.
— Se você tem amor à vida e ao nosso relacionamento, nunca mais repita algo assim de
novo! — rosna.
Engulo em seco e solto uma risada nervosa, firmando minhas mãos em sua cintura para
puxá-la para o meu colo. Com uma carranca, ela leva as mãos aos meus fios e passa um braço ao
redor do meu pescoço. Sorrio com isso.
— Desculpa, linda.
— Me distraia, Chase. Vou ficar louca.
Eu assinto e acaricio suas coxas, sorrindo para ela. Na poltrona próxima a nós está Justin
dormindo tranquilamente com o focinho sobre as patas.
— Quando formos para a sua cidade, você vai me apresentar à sua família como o seu
namorado dessa vez? — pergunto, fazendo um carinho nas costas de Ally.
— É claro que sim, por quê? — ela murmura enquanto mexe no meu cabelo.
— Seu pai vai me matar — suspiro, passando as mãos por meu rosto.
— Meu pai é da paz. — Ally sorri para mim.
Reviro os olhos.
— Acho que ele quer me fazer encontrar a paz, isso sim. Esse é o termo correto.
Cá entre nós, morro de medo daquele homem.
— Não pense nisso. — Ally segura meu rosto nas mãos e me beija.
Eu iria protestar se apenas a união de nossos lábios não fodesse todas as minhas estruturas.
Sua língua envolve a minha, e ela arranha minha nuca, arrepiando o meu corpo. É exatamente
este o efeito que ela tem em mim com apenas um toque: faz meu corpo inteiro esquentar.
Quando a falta de ar se faz presente, eu me afasto um pouco de Allyson e capturo seu lábio
inferior, puxando-o para mim. Minhas mãos já tinham descido para sua bunda por debaixo do
short, e ela está um pouco ofegante acima de mim. Seus seios pressionam meu peito, e as mãos
firmes permanecem firmes nele.
Allyson avança para a frente e toma minha boca em um beijo urgente mais uma vez. Encho
as mãos com a carne de sua bunda macia, e ela ofega em minha boca, apenas aproveito isso para
capturar sua língua em minha boca e a chupar vagarosamente, deleitando-me com seus suspiros,
então movo meus lábios nos de Ally, que crava as unhas em meus ombros, gemendo enquanto se
pressiona para baixo.
Não ficamos a sós nem damos uns amassos desse jeito desde que meu pai chegou. E, depois
que Allyson disse que está menstruada, achei que não iríamos tão cedo. Solto sua língua e
mergulho em seu pescoço.
— Merda de TPM que me deixa com tesão… — Ally murmura, pendendo a cabeça para a
esquerda.
Arrasto minha língua por seu pescoço, beijando e chupando cada parte dele. Levo minha
mão esquerda para debaixo de sua camisa e agarro um seio, depois o aperto entre meus dedos.
Ally dá tapinhas em meus ombros e se afasta um pouco.
— O que foi, gattina, quer parar? — Ergo as sobrancelhas e agarro a cintura dela.
— Quando estou menstruada, meus seios ficam doloridos e sensíveis… — Ela diz, e suas
mãos agarram meus ombros. — E você sabe: não vamos passar de uns amassos até eu sair disso.
Aceno com a cabeça, entendendo.
— Humm… — murmuro, agarrando a barra de sua camisa. — Então ficam sensíveis?
— Essa foi a única parte a que prestou atenção? — Ela soa indignada.
Faço menção de tirar a camisa dela, e Ally ergue os braços, facilitando para mim. Seus
lindos peitos saltam em meu rosto, e fixo meus olhos no vão entre eles, o que me faz lamber
meus lábios. Jogo a camisa ao nosso lado e afasto o cabelo de Allyson de seu pescoço, jogando-o
detrás de suas costas. Inclino-me para a frente e beijo sua tatuagem carinhosamente. Sou louco
por ela.
— Chase, é sério, eles estão dolo… Chase! — Ally arqueja, pega de surpresa.
Eu capturo seu mamilo esquerdo em minha boca e o chupo com força. Largo o bico rígido e
o rodeio com a ponta da língua, meus olhos fixos em Ally enquanto ela fecha os olhos. Esfrego
minha língua no botão, e as pernas de Allyson se apertam ao meu redor.
Mordo o outro mamilo e o puxo para mim, ouvindo-a choramingar alto. Por cima do ombro
dela, vejo Justin nos encarando da poltrona, analisando a dona e como o corpo dela está tenso
sobre o meu. Como se entendesse o que eu quero, ele pula da poltrona e vai embora, correndo
para longe de nós.
Prendo os mamilos de Ally entre meus dedos de cada uma das minhas mãos, e ela joga a
cabeça para trás, arfando, repleta de desejo.
— Não faça isso… — ela ofega, maltratando o próprio lábio.
Puxo o mamilo por entre meus dedos.
— Por quê? — Beijo o seu pescoço. — Qual a sensação?
— Dói, mas é gostoso… — Ally olha para baixo e me vê maltratar seus seios. — Muito
gostoso.
Firmo minhas mãos em sua cintura e a pressiono para baixo, contra o meu pau duro e
dolorido. Merda, só alguns minutos de amassos com Allyson são o suficiente para me deixar
assim. Ela agarra meus cabelos e os puxa quando mordo seu mamilo com mais força,
arrancando-lhe um gemido manhoso.
— Sentir dor também a excita, gattina? — pergunto contra o botãozinho. Tão lindo.
Cada curva do corpo de Allyson é linda, desde as estrias nos seios e bunda até as celulites
que ela tem nas coxas, desde o cabelo castanho até os pés doloridos dos treinos de vôlei. Ela é
perfeita para mim, e o modo como seus seios se encaixam perfeitamente em minhas mãos é uma
das inúmeras provas disso, ou então a maneira como ela chama meu nome em meio aos gemidos,
como agora.
— É uma puta sacanagem o que você está fazendo agora, Chase… — Ally sussurra quando
subo beijos por seu pescoço. — Estou menstruada… vamos parar.
Eu sorrio próximo à pele dela.
— Quantas vezes vou ter que dizer que não dou a mínima? — Chupo o seu lóbulo. — Não é
um pouco de sangue que vai me impedir de botar meus dedos ou pau dentro de você.
Allyson choraminga e ondula o quadril, esfregando a boceta macia em meu pau. Ela busca a
minha boca e me beija, acariciando minha língua com a própria. Minha mão direita vai para
dentro do seu short e, por cima da calcinha, acaricio seu clitóris, então ouço seu gemido.
— Chase… — ela tenta protestar.
— Shhh… Calada… — Capturo seu lábio inferior. — É minha de qualquer forma, não é,
Allyson?
Allyson arqueja e agarra, com as duas mãos, o estofado do sofá ao lado da minha cabeça, e
suas unhas se afundam nela, então Ally joga o quadril contra a minha mão à procura de mais
contato.
— Eu lhe fiz uma pergunta, Allyson. — Agarro o pescoço dela com a mão esquerda e
sussurro rente aos seus lábios. — A sua boceta é ou não é minha? Se não disser, eu vou parar.
Ela enfia o rosto no meu pescoço e sobe beijos por meu queixo, mordendo-o.
— É sua — ela geme, esfregando os lábios na minha pele.
— Não entendi? — digo, pressionando meus dedos em sua boceta com mais força.
Ela arqueja.
— A minha boceta é sua… — Allyson segura meu rosto com as duas mãos e geme
manhosa.
Meu pau fica ainda mais duro, e ergo meus quadris para cima para esfregá-lo em sua bunda.
— Se está menstruada, por que não sinto o absorvente quando a toco? — pergunto de
repente.
Allyson para de se contorcer em cima de mim. Ela inclina a cabeça para trás, e vejo suas
bochechas ficarem vermelhas. Ela bate no meu peito.
— Por que você é tão descarado? Estou usando absorvente interno. — Ally morde o lábio
inferior, olhando para a rosa em meu pescoço. — Meu fluxo não é tão grande, mas prefiro os
internos.
— Tem outra coisa dentro de você além do meu pau, Ally? — Finjo estar com raiva.
— Você está com ciúmes do absorvente? — ela me provoca. — Vai mandar raspar o cabelo
dele?
Eu dou risada e enrolo meus dedos em seu pescoço.
— Talvez não faça isso se você me convencer.
Allyson se inclina sobre mim, e os seus lábios gritam na rosa vermelha no meio do meu
pescoço. São macios e carnudos, e parece mais do que certo eles estarem próximos da minha
pele.
Ela agarra meu pescoço.
— Eu quero chupar você — sussurra rente à minha boca. — Porra, você está tão duro.
Quero senti-lo na minha boca. Quero isso desde a primeira vez que nos beijamos.
Cazzo, sim. Quero sentir a sua boca quente no pau no instante em que ela quebrou meu som.
Alguém normal não devia querer, mas eu quis. Quero seus lábios carnudos babando no meu pau.
Quero enfiá-lo tão fundo na sua garganta que isso a fará tossir e se engasgar. Quero enrolar meus
dedos ao redor dos seus fios e vê-la lacrimejar.
Mas agora, vendo-a pedir isso, não sobra espaço para que isso não aconteça. Não tem como
não deixá-la se ajoelhar diante de mim e fazer o que tanto quer, o que nós queremos.
— Ah, então você quer me chupar? — pergunto, e ela assente com o lábio preso entre os
dentes. — Ajoelhe.
Allyson arqueia a sobrancelha e dá um sorrisinho. Talvez esteja questionando a autoridade
em minha voz, mas ela não fala sobre isso. Pelo contrário, ela me obedece sem nem pestanejar.
Allyson sai do meu colo e se ajoelha lentamente entre as minhas pernas. Minha camisa está
aberta, e o volume no meu calção já é mais que evidente. Entreabro as pernas e vejo Ally levar as
mãos para o cós do meu short enquanto mantém os olhos fixos em mim. Sem esperar mais, ela o
puxa para baixo — até os meus pés —, e o meu pau salta logo à frente de seu rosto. Ela se
aproxima.
Com a mão direita, seguro meu pau pela base.
— É isso aqui que você quer, Ally? — pergunto, esfregando a cabeça em seus lábios
carnudos.
Ela assente com a cabeça.
— Quero ele todo — diz, beijando a minha glande.
Eu sorrio e dou batidinhas em sua bochecha esquerda com o meu pau, sujando-a um pouco.
— Você é uma safada do caralho, sabia? — Ergo o queixo para ela.
Allyson sorri com o lábio entre os dentes e esfrega a bochecha direita em minha coxa.
— E você gosta.
— Cazzo, eu amo.
Ela segura meu pau com a mão direita e me olha enquanto o aproxima de seus lábios, então
estende a língua para fora e lambe lentamente a minha glande. Um choque passa pelo meu corpo,
e arfo com o contato de sua língua macia. Allyson recolhe um pouco do pré-gozo expelido e
lambe os lábios.
Porra, isso é tão fodidamente sexy, a mão pequena em torno do meu pau e os lábios perto
dele, eu poderia gozar só com isso.
Abro os braços e os apoio no estofado do sofá, dando a ela total liberdade para fazer o que
quiser comigo. Allyson envolve a cabeça do meu pau com os lábios e a chupa, fazendo-me
pender a cabeça para trás. A língua macia circula a minha fenda, e depois ela a chupa novamente.
Agarro o estofado do sofá entre os meus dedos quando Allyson abocanha metade da minha
ereção, movendo a cabeça para cima e para baixo enquanto sua mão direita masturba o que a
boca não consegue alcançar. Ela me tira da boca e desce beijos por minha extensão, circulando a
cabeça com o polegar. Solto um gemido alto e fixo meus olhos no teto.
— Porra, você é tão grande… — ela murmura, e seu hálito quente me acaricia.
Olho para ela, sentindo meu ego ir nas alturas com esse comentário.
— Tenho certeza de que você consegue engolir tudo, gattina. — Sorrio de lado.
Ela sorri de maneira safada e em seguida volta a me pôr na boca. Mas dessa vez ela põe mais
da metade, e minhas costas se arqueiam pela ação repentina. Enquanto sua mão me masturba, a
boca carnuda me chupa sem parar, e a cabeça se move para cima e para baixo com rapidez. Ao
vê-la afastar alguns fios de seu cabelo do rosto, sinto meu pau inchar.
Reúno o cabelo delas em minhas mãos e faço um rabo de cavalo com ele, improvisando e
impedindo que a atrapalhe. Com os olhos fixos nos meus, Allyson leva meu pau até a garganta, e
aperto seus fios, soltando um gemido rouco com a sensação. Os mamilos rígidos de seus seios
roçam meus joelhos, e ela geme, e o som repercute por todo o meu membro.
Porra, vou enlouquecer. Apenas a imagem de Allyson agora é o suficiente para acabar
comigo. Nua da cintura para cima, seus seios empinados balançam minimamente enquanto sua
boca desce e sobe. Seus lábios estão inchados, e seus olhos permanecem fixos nos meus, sem se
desviarem um minuto sequer. E Ally está de joelhos, bem diante de mim e entre as minhas
pernas.
— Caralho, você faz isso tão bem — solto um grunhido.
Ela chupa a minha glande com vontade e esfrega a língua nela mesma, os cantos de seus
lábios sujos com meu pré-gozo. É a porra da imagem perfeita.
Ela volta a me levar para a garganta, babando todo o meu pau, então se engasga um pouco e
se afasta, e apenas um fio de saliva a liga ao meu membro. Seus lábios estão completamente
vermelhos, e os olhos semicerrados de prazer.
— Está se divertindo? — pergunto, e ela assente, sorrindo. — Ótimo, porque agora é minha
vez de me divertir. Abra a boca.
Dito isso — e quando meu pau já está em sua boca —, ergo o quadril e a estoco. Allyson
crava as unhas em minha coxa e geme alto, e o som me deixa ainda mais excitado porque
acaricia meu ego saber que ela está gostando tanto quanto eu.
Firmando os dedos em seu cabelo, empurro a boca dela contra o meu pau e a fodo com
força, vendo seus olhos começando a lacrimejar com os movimentos. Allyson parece gostar, já
que começa a acompanhar com tanta vontade que sinto que não vou durar muito tempo.
Sua mão acaricia meus testículos com cuidado, e eu gemo. Ergo meu quadril para cima e a
fodo. Meu pau vai tão fundo em sua garganta que Allyson crava as unhas nas minhas coxas mais
uma vez e fecha os olhos conforme as lágrimas banham suas bochechas.
Com a língua macia totalmente receptiva e a mão acariciando as minhas bolas, Ally se força
ainda mais para baixo, acompanhando o meu ritmo. Gemo com um louco, não me segurando
nem por um momento. A mandíbula dela com certeza dói, e seu couro cabeludo também, já que
estou puxando os seus fios. Mas ela parece gostar, e eu também.
— Allyson, eu vou gozar — anuncio com voz rouca. — Se não quiser que eu goze na sua
boca, bata na minha per… porra!
As palavras morrem em minha boca quando ela chupa a cabeça do meu pau com força,
fixando os olhos avelãs nos meus, totalmente lacrimejados. Um pouco de saliva escorre de
ambos os lados de seus lábios, e ela não pode estar mais perfeita.
Sem que eu consiga mais segurar, gozo em sua boca, e ela fecha os olhos com força
enquanto minha porra a preenche. Caralho, ela engoliu tudo.
Sinto o corpo dela tremer e, aos poucos, solto seu cabelo e espero meu corpo se acalmar do
orgasmo enquanto os espasmos passam por minhas articulações como raios. Respirando com
dificuldade, olho para Ally e a encontro com os olhos fechados e a respiração pesada.
Passo meu polegar direito pelos cantos de seus lábio e queixo e limpo um filete de porra que
escorre dele. Penso em colocar na boca dela, mas ao reparar melhor em sua expressão, ergo as
sobrancelhas.
As bochechas molhadas de lágrimas, os lábios vermelhos e inchados, o corpo trêmulo e a
respiração descompassada. É como se ela tivesse… será? Ergo o meu short e, pelos braços, puxo
Ally com cuidado para o meu colo, passando as pernas dela pelas minhas.
— Gattina… — Ergo o rosto dela pelo queixo, e ela abre os olhos. Enlaço sua cintura com
meu braço. — Você gozou?
Ela espalma as mãos em meu peito nu e assente, mordendo o lábio inferior.
— Sim… — ela sussurra, encostando a testa na curva do meu ombro.
— Só por me chupar?
— Se você soubesse o quanto eu amo fazer boquete, não ficaria surpreso — ela ri próximo
ao meu ombro. — Eu perguntaria se você gostou, mas acho que engoli a resposta.
Dou risada e deixo um selinho em seus lábios macios. Envolvo-a agora com os dois braços e
puxo para mim enquanto Justin irrompe pela sala.
— Merda, será que ele viu o que fizemos? — pergunta.
— Acho que não — digo.
— Espero que ele não tenha visto, mas, se viu… — Ela nega com a cabeça. — Você não viu
nada, tá, Justin? Estava só hidratando o pau do seu pai, estava meio ressecado o bichinho.
Eu sorrio e beijo a bochecha dela.
— Então quer dizer que sou o pai do Justin?
Quando ela me olha, seus olhos estão cheios de lágrimas, e eu arregalo os meus por sua
expressão parecer tão desolada desse jeito. Mas que caralho…?
— Então quer dizer que você nunca considerou o Justin seu filho? — ela soluça alto.
— Ally, não foi isso que eu quis dizer… — Eu puxo o rosto dela para mim.
Lágrimas descem por suas bochechas. O que caralho ela tem?
— Cale a boca, você só queria comer a mãe dele! — Ela cobre o rosto e sai do meu colo,
vestindo sua camisa. — Pensei que você amasse o Justin, você é como um pai para ele!
Sem saber o que dizer, assisto a ela pegar Justin no colo com um pouco de esforço.
— Me desculpa, Justin… — Allyson beija a cabeça dele. — Você não tem culpa de ter uma
mãe gostosa. Amo você, neném.
Ela corre com ele para o corredor de quartos.
Desesperado, eu me levanto do sofá e corro até ela, perguntando-me como fomos de tesão
para choros e como vou acalmar o bebê chorão que é a minha namorada. Talvez alguns casos
criminais duvidosos a façam se sentir melhor. Se isso não ajudar, nada mais ajudará.
Tiro do meu guarda-roupa a última peça que vou levar para a casa dos meus pais e ando até
a pequena mala preta aberta sobre a minha cama. Estou levando apenas o suficiente para passar
dois dias. Não é como se na minha cidade natal tivesse muitos lugares para visitar.
— Acha que a sua família vai se dar bem com a de Chase? — Tessa pergunta, deitada sobre
a minha cama.
A cabeça dela está no colo de Kat, que acaricia seu cabelo, agora natural. Minha melhor
amiga tem cachos finos de cor preta que chegam até a altura de seus ombros.
— Espero que sim, não quero que aconteça o mesmo que aconteceu com a família de Kevin
— suspiro, fechando a mala.
— É verdade, a sua mãe até puxou o cabelo da mãe de Kevin, não é? — Adam ri, enquanto
segura Justin em seu colo.
— Tessa me contou isso — Kathleen diz, e um bocejo deixa seus lábios.
Adam e Kat estão aqui para me ver uma última vez antes do Natal. Eles sempre vêm porque
sabem que nunca deixo de passar essa data com a minha família, assim como eles fazem. Já o
Ano Novo nós passamos todos juntos, e dessa vez Chase estará incluído.
— Por que a sua mãe puxou o cabelo da sua sogra? — Kat pergunta.
Dou de ombros.
— A mãe de Kevin disse que não me achava boa o suficiente para o filho dela. — Reviro os
olhos e caminho para o meu espelho. — Mamãe tentou se conter, mas ela continuou a listar
todos os defeitos que eu supostamente tenho.
Meus amigos riem.
— Claro, até porque o Kevin é o melhor homem do mundo — Tessa debocha.
— Seu pai não disse nada? — Kathleen é quem pergunta.
— Meu pai os expulsou depois disso, acho que ele não gostou de escutar que sua
princesinha não é boa o suficiente. — Passo os dedos por meu cabelo. — E, de verdade, como
alguém pode falar isso para a própria nora?
Na época, fiquei puta com isso, extremamente magoada e quase terminei com Kevin. Mas,
como ele não tinha nada a ver com as merdas que os pais falavam, apenas pedi para ele ir
embora. Naquele dia, devia ter aberto os meus olhos para o quanto éramos diferentes e não
daríamos certo.
Porém, como uma idiota, fechei meus olhos para a verdade, porque a mentira era mais
agradável.
— Pelo visto, Kevin tem a quem puxar — meu melhor amigo ri.
Eu sorrio e passo as mãos por meu vestido vermelho de alcinhas. Está calor, e não quero
ficar mais de três horas em um carro sendo assada, por isso o vestido que mostra uma pequena
parte da minha tatuagem. Só espero que meus pais, em específico um, não me matem.
Viro-me para os meus amigos e abro meus braços enquanto um sorriso largo se abre em meu
rosto.
— Feliz Natal! — Ando até os três e pulo sobre eles.
Meus amigos riem e me abraçam, e Justin faz o favor de lamber todo o meu rosto, não
querendo ficar de fora.
— Feliz Natal! — dizem animadamente.
Fico um pouco abraçada a eles antes de me soltar e me levantar, abanando-me por causa do
calor. Mesmo que ainda seja a véspera, sei que todos vão estar muito ocupados com as próprias
famílias e longe dos celulares assim como eu.
— O que vocês acham de passarmos o Ano Novo na praia? — Kat pergunta, olhando para
nós.
Ergo as sobrancelhas, repentinamente gostando da ideia
— Ah, eu gostei — Adam diz com o rosto colado ao focinho de Justin.
Nós nunca havíamos passado o Ano Novo na praia, e confesso que estou animada com a
ideia. Vou chamar Chase e a família dele para passarem com a gente, afinal passarão sozinhos.
Pensei nisso quando os convidei para passarem o Natal comigo, não teria sentido chamar apenas
meu namorado. E quem sabe até minha família venha.
— Você vai chamar Michael também, Adam? — Tessa olha para ele.
Meu melhor amigo dá de ombros.
— Acho que sim, mas fico meio sem graça. — Ele esfrega a nuca. — Vai que ele quer
passar com a família.
Reviro os olhos e nego com a cabeça enquanto um sorriso brinca em meus lábios.
— Adam, entenda… — Olho para ele. — Aquele homem só falta latir para você e dar a
patinha. Se brincar, ele até o arrasta para passar com a família dele.
As meninas riem, e Adam revira os olhos.
— Vem cá, seus pais não vão pirar quando virem a tatuagem? — ele pergunta, indicando-a
com o queixo.
Tessa levanta a cabeça do colo da namorada e se senta de maneira tão abrupta que pega até
Kat de surpresa.
— Tem razão, eles vão deserdá-la. — Tess nega com a cabeça.
— A decepção da família, meu Deus… — Kat suspira falsamente.
Mostro o dedo do meio para eles e ando até Adam, pegando Justin em meus braços mesmo
que ele seja pesado.
— Minha mãe não vai ligar, ela também tem uma tatuagem. — Sorrio e ponho Justin no
chão. — Mas acho que o meu pai vai ter um AVC quando vir.
— Por que o seu pai é tão protetor com você? — Kat torce o nariz em uma careta.
Dou de ombros.
— Minha mãe me contou uma vez que a minha gravidez foi de risco e que o meu pai mal
dormia… — eu digo, olhando para eles. — Ele nunca me priva de nada, sabe, só é ciumento
como todo pai com a única filha. Vocês têm que ver como ele investiga a vida das pessoas que o
Adrien já namorou. Meu pai beira o nível de obsessão dos casos criminais de que eu tanto gosto.
Tipo, estou falando apenas sobre ser um stalker.
Eles riem, e estou prestes a olhar a hora no meu celular quando alguém bate na porta do meu
quarto. Olho para ela, encontrando o meu namorado parado diante dela. Meu coração dá um
salto, e prendo a respiração.
— Já está pronta? — Chase pergunta enquanto se apoia na dobradiça da porta com os braços
cruzados.
Eu sorrio e ando até a minha mala, pegando-a enquanto olho a hora no meu celular. São
exatamente 15h35 da tarde, leva algumas horinhas até a minha cidade.
— Vamos, assim a gente chega antes que anoiteça. — Ando até ele e chamo Justin com os
dedos.
Chase pega a mala de minha mão, e olho para ele.
— Eu carrego para você. — Ele sorri.
Faço uma careta.
— Você acha que não posso carregar, machista? — brinco, aproximando-me dele e
apoiando minhas mãos em seu peito.
— Não posso ser carinhoso com a minha namorada? — Chase sorri de lado, revelando a
covinha e passando o braço esquerdo ao redor dos meus ombros.
Penso em abrir a boca para responder, mas Chase gruda os lábios nos meus em um selinho, e
fecho meus punhos ao redor do tecido de sua jaqueta preta. Ele captura meu lábio inferior e o
puxa para si, sorrindo após me dar mais um selinho.
Ele leva a boca para a minha orelha.
— Mas talvez eu não consiga ser tão carinhoso vendo a sua tatuagem… — sussurra com a
voz rouca.
Eu dou um tapa no peito dele.
— Italiano safado — digo, falhando em esconder um sorriso.
Chase ri e beija o topo de minha cabeça. Porra, acho que estou apaixonada pra caralho.
— Olha aqui, não somos obrigados a assistir a isso. — Tessa diz, chamando minha atenção
para si.
Viro-me de costas para Chase, e ele abraça a minha cintura e me gruda ao seu corpo, de
modo que minhas costas repousam em seu peito forte.
— Ninguém era obrigado a ver as duas se pegando na piscina de Michael. — Arqueio uma
sobrancelha e reviro meus olhos. — Parecia que vocês estavam sugando a alma uma da outra.
— E por que não fechou os olhos? — Tessa rebate, cheia de deboche.
Solto uma risada incrédula.
— Excuse me, bitch? — Eu a olho de cima a baixo.
Tessa fica em pé e põe as mãos na cintura fina.
— Que foi, vai bater em mim, cachorra homofóbica?
Olho para Chase.
— Vou bater na cara dela. — Aponto para Tessa, e ele aperta o braço ao redor da minha
cintura.
— Encoste na minha mulher para você ver se não arranco o seu aplique. — Kat também
abraça por trás Tessa, que sorri.
— Se você conseguir passar por mim — Chase brinca com ela, e eu sorrio.
Sei me defender sozinha e tenho plena certeza de que Chase também sabe disso, mas algo se
aquece em meu coração ao ter certeza de que, mesmo ele sabendo que não preciso de ajuda em
uma briga, ele me protegeria. Ah, merda, estou tão fodida.
— Taca o pau, doido, ihuuu! — Adam balança os punhos no ar, e Justin late.
Reviro os olhos com um sorriso nos lábios e passo os dedos por meu cabelo.
— Vamos? — Chase pergunta em meu ouvido. — Meu pai e Pietro estão esperando no
carro.
Ainda sorrindo, assinto.
Chamo Justin com os dedos, e ele começa a nos seguir pelo corredor. Eles descem com a
gente até o estacionamento, e o pai de Chase acena para mim, sentado no banco de trás do carro
com Lady em seu colo e ao lado de Pietro, que está dormindo. A cena de eu quebrando o jarro na
cabeça dele passa pela minha mente e, sem saber onde enfiar a cara, aceno para ele. Posso
superar algumas coisas, mas quase ter matado meu sogro não é uma delas.
Mesmo que ele tenha dito que está tudo bem entre nós, não é uma coisa que vou esquecer
com facilidade. Quebrei um jarro na cabeça do pai do meu namorado, porra!
— Feliz Natal! — meus amigos dizem em uníssono, e o pai de Chase sorri.
— Feliz Natal. — Ele acena para eles.
— Feliz Natal. — Chase sorri e vai pôr minha mala em seu porta-malas.
Olho para os meus amigos.
— Por favor, não usem o meu apartamento de motel — imploro, suspirando.
Tessa ri.
— Acha que somos você, sua depravada? — Ela debocha.
— Sabe que sou apenas uma camponesa! — Empurro o ombro esquerdo dela.
— Uma camponesa corrompida! — Kat me provoca.
— Desviada! — Adam compactua.
Jogo meu cabelo por cima do ombro, sentindo Justin cheirar as minhas pernas.
— Isso é inveja porque eu vou para o céu e vocês não?
— Só se for o céu do inferno. — Chase aparece por trás e me abraça.
Eu me solto de seus braços e me viro para ele, encarando seu rosto bonito e indignada com o
fato de ele não estar seguindo o bendito roteiro.
— Eu quero terminar — declaro, dramática.
— Não existe essa opção no nosso namoro, gattina. — Chase me puxa para si. — Você
disse que queria ser minha.
Mordo meu lábio inferior, contendo a vontade de sorrir. Por que me sinto tão boba quando
estou perto dele? Sei que gosto dele, mas não devia ser assim. Estou pondo meus pensamentos
racionais no rabo por tudo o que está acontecendo agora e por Chase.
— Allyson? Dizendo que quer ser de alguém? — Kat pergunta, parecendo alarmada,
atraindo minha atenção.
— Logo ela, feminista e tanque de guerra? — Adam ergue as sobrancelhas, confuso.
— É, acho que tantos casos criminais e dark romances fritaram o cérebro dela. — Tessa põe
as mãos na cintura e nega com a cabeça.
Finjo uma tosse, e Chase ri baixo, chamando minha atenção para si. Eu o olho com raiva.
— Eu te odeio, seu tóxico — digo, agarrando a jaqueta dele.
Chase leva a boca até a minha orelha direita e desliza os lábios macios por ela.
— Você me ama, não minta. — Ele mordisca meu lóbulo.
Quando ele se afasta, olho nos seus olhos cinzentos enquanto o que ele disse ronda minha
cabeça. Sei que foi uma brincadeira, mas é algo a se pegar. Eu amo o Chase? Sou perdidamente
apaixonada por ele, mas eu o amo? Parece-me uma palavra tão forte para nós que estamos há
algumas semanas namorando. O que eu sinto por ele é muito forte e chega a ser agonizante,
mas… não sei.
— Dá para nós irmos, ou está difícil? — Escuto a voz de Pietro e olho para ele, vendo-o
limpar a baba da boca.
— Feche a boca para dormir, seboso. — Faço uma careta.
— Você dorme de olho aberto e eu não digo nada. — Ele sorri falsamente.
Como… como ele sabe disso?
— Contou para ele?! — dirijo-me a Chase.
Ele sorri sem graça, revelando a covinha que neste momento não quero amar.
— Talvez ele tenha me escutado no telefone quando nós estávamos conversando. — Chase
solta um braço de minha cintura para coçar a nuca.
Eu solto um grito de raiva e envolvo as minhas mãos em seu pescoço.
— Eu vou matar você. — Faço um pouco de pressão.
— Não faça isso, gattina… — Chase me puxa pela cintura e raspa os lábios nos meus. —
Assim eu fico duro… — ele sussurra para que só eu escute.
Solto uma risada incrédula e solto o seu pescoço, depois me afasto dele. Deus, por que é
impossível ficar com raiva desse idiota de boca grande?
— Chihuahua no cio — resmungo.
Chase ri e me puxa pela mão.
— Vamos, já está ficando tarde — ele me chama.
Seguro Justin pela coleira e olho para os meus amigos.
— Feliz Natal, se cuidem! — Sorrio para eles.
— Feliz Natal, volte logo! — Eles mandam beijo.
Aceno com a cabeça e ando até o carro, cuja porta do passageiro Chase abre para mim.
Sento-me e ponho Justin em meu colo, depois faço um carinho no seu pescoço enquanto ele
mantém a língua para fora. Aceno para os meus amigos enquanto Chase entra no carro, e eles o
fazem de volta.
Meu namorado liga o carro e dá partida para longe dos nossos amigos. Beijo o topo da
cabeça de Justin e olho para o pai de Chase.
— O senhor não prefere vir para o banco da frente? — pergunto, vendo-o me olhar.
Ele nega com a cabeça e alisa o pelo de Lady, que dorme em seu colo.
— Me chame de Anthony, Ally. — Ele sorri para mim. — E estou confortável aqui, não se
preocupe.
— Aceito ir para o banco da frente, cunhadinha! — Pietro sorri animado.
— Perguntei? — Eu o olho de cima a baixo.
Ele abre a boca, chocado. Não me importo, esse cara se tornou o oposto do que pensei que
ele era. Esperei: um cunhado gentil, civilizado e calado. Ganhei: Pietro.
E pior que gosto do idiota desse jeito.
— Sou o irmão mais velho do seu namorado, me respeite! — Pietro aponta o dedo para
mim.
Reviro os olhos.
— Nem eu o respeito, Pietro — Chase resmunga.
Eu dou risada, e Anthony faz o mesmo, vendo Pietro cruzar os braços tatuados.
— Vocês podem dormir, vai demorar um pouco para chegarmos à minha cidade — digo.
— Sua cidade? — Pietro pergunta, e posso notar a falsa confusão em sua voz. — Você a
comprou?
Antes que eu possa responder, Anthony dá um tapa na cabeça dele, e eu sorrio, sentindo-me
vingada. Pietro fecha a cara e olha para fora da janela, assim como Justin está fazendo. Anthony
fecha os olhos, e concluo que está seguindo o meu conselho de dormir. Olho para Lady, ela
parece um ursinho de pelúcia aproveitando o colo de seu dono.
Enquanto acaricio Justin, sinto a mão direita de Chase em minha coxa esquerda e olho para
ele, vendo-o sorrir para mim antes de voltar os olhos para a estrada. Isso quase me tranquiliza e
me faz esquecer do show da Beyoncé que o meu pai vai dar mais tarde.

Com o cu em uma mão, uso a outra para apertar a campainha da casa dos meus pais e respiro
fundo. Eles sabem que eu trouxe Chase e a família dele, eu lhes disse isso. E eles também sabem
que estou namorando o cara que disse com tanta vontade ser apenas o meu amigo. Mas torço
para meu pai não fazer merda e para a praga do meu irmão não dizer algo.
A porta se abre de repente, e o meu irmão aparece, a franja longa presa para trás com um
elástico de cabelo, alguns fios soltos caindo em seu rosto bem desenhado.
— Que isso, cospobre do Eren? — Faço uma careta.
— Você não supera que eu seja o irmão mais bonito, não é? — O sorriso que se abre em seu
rosto é venenoso, e o dispenso com a mão. — Mãe, pai, chegaram!
Justin entra na casa correndo, e olho para Chase, seu pai e Pietro, vendo ambos com as
expressões em alerta. Parecem não saber o que fazer ao certo e esperam um comando meu para
então fazerem algo.
— Podem entrar — eu chamo, e eles vêm logo atrás de mim.
Nós entramos, e Adrien fecha a porta e para diante de nós. Ele está vestindo uma regata
branca e um short de tecido fino de cor azul-marinho. Parece ser moletom, mas não é. Ergo as
sobrancelhas e vejo como ele parece um pouco mais alto do que da última vez que o vi.
— Esse é o pai de Chase, senhor Anthony. — Aponto para o meu sogro, que colocou Lady
em uma espécie de caixa. — E esse é o irmão de Chase, Pietro. — Aponto agora para o meu
cunhado.
Meu irmão e a família de Chase trocam um aperto de mão, e Adrien sorri de canto quando
aperta a mão de Pietro, ganhando o mesmo sorriso em troca. Desviando o olhar, meu irmão se
vira na direção de Chase e mantém sua atenção só nele.
— Sabia que tinha algo rolando entre vocês desde que quase se comeram na porta do
apartamento de Allyson. — Ele dá tapinhas no ombro de Chase.
Filho da puta.
— Antes do quê? — Anthony franze o cenho, agarrado à caixa de Lady.
Eu nego com a cabeça e dou um sorriso largo e falso em resposta.
— Adrien não fala coisa com coisa, relaxem! — eu digo rapidamente, e ele assente,
parecendo confuso.
Olho para Chase, e ele devolve o meu olhar, tossindo falsamente. Pietro nos olha
desconfiado, e desvio meus olhos quando meu pai e minha mãe aparecem na sala, salvando a
pátria. Ela está com um sorriso nos lábios enquanto ele, com a cara fechada e os braços cruzados
sobre o peito, fixa seus olhos em Chase.
Justin vem logo atrás, e meu irmão o pega pela coleira e vai até o sofá para brincar com ele.
Chase põe a mala no chão, e seguro sua mão, sentindo-a gelada. Meu pai desce os olhos para
as nossas mãos unidas, e sua carranca se intensifica. Respira, coroa.
— Sou o pai de Chase, é um prazer conhecê-los. Meu nome é Anthony. — Meu sogro anda
até meus pais e estende a mão para eles após pôr a caixa de Lady no chão. — Muito obrigado por
nos receber em sua casa. — Ele sorri minimamente.
Minha mãe aperta a mão dele.
— O prazer é nosso, meu nome é Sophia. — Ela sorri para ele e olha para o meu pai, que
parece uma criança fazendo birra.
Minha mãe arqueia a sobrancelha, e meu pai pigarreia.
— Meu nome é Richard. — Ele aperta a mão de Anthony. — É um prazer tê-los em nossa
casa, assim podemos conhecer melhor a família do nosso genro. — Ele olha para Chase e sorri.
Por trás do seu sorriso, tem claramente um “você está fodido, italiano safado”. Chase aperta
a minha mão.
— Ally, de zero a dez, o quanto estou fodido? — ele pergunta em meu ouvido.
Reviro os olhos e olho para ele.
— Pare com isso, meu pai não vai matá-lo. — Aperto a sua mão, tentando tranquilizá-lo.
— Mia cara, você já viu o tamanho do seu pai? — Chase questiona, sarcástico.
— Você já viu o seu tamanho também? — rebato. — Pare de ser frouxo, mesmo se ele
tentar bater em você, eu não deixo.
Chase sorri e leva os lábios para a minha testa, dando-me um beijo carinhoso. Acaricio sua
mão com meu polegar e sorrio para ele quando se afasta.
— Eu sou Pietro, irmão mais velho de Chase. — Pietro se aproxima dos meus pais. —
Prazer em conhecê-los, é uma honra para vocês me terem como membro da família. — Ele sorri,
apertando as mãos de ambos.
Meus pais fazem uma careta, e Anthony dá um tapa na nuca de Pietro. Ele arregala os olhos
cinzentos e massageia a própria nuca, afastando-se dos meus pais, que olham para Chase de
maneira imediata. Meu italiano se afasta de mim e vai até eles, dando para notar suas costas
tensas mesmo com a mochila.
— Senhor e senhora Young, é um prazer revê-los. — Ele beija a mão da minha mãe.
— Eu sabia, a cara de sonsa de Ally não engana ninguém. — Ela sorri, maliciosa.
Suspiro e olho feio para a minha mãe, que devolve com deboche. Sabia que ela não ia deixar
passar, alguma brincadeira tinha que fazer.
— Senhor Richard… — Chase estende a mão para o meu pai.
Meu pai se mantém de braços cruzados até minha mãe lhe dar uma forte cotovelada na
barriga, fazendo-o tomar jeito. Ele aperta a mão de Chase, e meu namorado faz uma careta,
mostrando que o aperto dele não está nada suave.
— Que cara é essa, cunhadinho, está com dor de barriga? — Adrien pergunta, sorrindo.
Qualquer um pode ver o que meu pai está fazendo, e meu irmão idiota é o único a se divertir com
isso.
Suspiro e vou até o meu pai e Chase, separando a mão de ambos.
— Já voltamos. — Sorrio forçadamente, e o pessoal da sala assente, incluindo Chase.
Com as mãos nas costas do meu pai, eu o arrasto até a cozinha e cruzo os braços, imitando
sua postura nada simpática e convidativa. Posso ser uma versão da minha mãe, mas neste
momento estou a cópia dele.
— O senhor pode parar com isso? — pergunto, sem rodeios.
— Com isso o quê?
— De tratar o Chase desse jeito sem ele merecer.
Papai estreita os olhos escuros.
— Você disse para mim que não tinha nada com ele, e olha ele aqui, passando o Natal com a
gente. — Ele vira o rosto, parecendo uma criança. — E agora você fez até uma tatuagem!
Respiro fundo.
— Eu não namorava com ele na época, faz só algumas semanas que estamos juntos, papai
— suspiro, descruzando meus braços. — E, sobre a tatuagem, eu fiz porque eu quis. Chase não
me influenciou em nada.
— Não importa, não confio nele — meu pai diz, irredutível.
Eu suspiro novamente e me aproximo dele.
— Papai, eu gosto dele, e ele também gosta de mim… — Ponho as mãos na cintura. —
Confio muito nele, e o senhor sabe que não faço isso com facilidade. Ele vem sendo incrível todo
esse tempo em que estamos juntos.
Meu pai encosta o quadril no balcão da cozinha, parecendo não querer cooperar.
— Paizinho… — Abraço a cintura dele e ergo o rosto para encará-lo. — Sei que é o
mínimo, mas ele me trata muito bem. Mal posso me queixar de alguma dor que ele faz de tudo
para ela passar. Ele me compra sorvete quando estou de TPM, tem uma ótima relação com os
meus amigos e odeia Kevin.
Meu pai ergue a sobrancelha, e tenho plena certeza de que essa última informação chamou
sua atenção. Ele descruza os braços aos poucos.
— Ele odeia Kevin? — meu pai pergunta, cauteloso.
Eu assinto, contendo um sorriso.
— Nossa, demais… — digo.
Papai pigarreia.
— Ele a trata bem?
— Como uma princesa. — Sorrio. — O senhor não acha que vou deixar um homem me
tratar mal quando o senhor me mimou, não é? — Ergo as sobrancelhas.
Meu pai sorri e aperta meu queixo. Inicialmente, vamos excluir Kevin disso.
— Essa é a minha filhinha. — Ele beija a minha testa.
— Então dê uma chance ao Chase, ele me faz muito feliz — falo. — O senhor vai se
esforçar para conhecê-lo melhor, não vai, paizinho? — Bato meus cílios, e um beicinho se forma
em meus lábios.
Ele me encara por alguns segundos antes de bufar, derrotado.
— Ok, vou me esforçar.
Eu sorrio e fico na ponta dos pés para beijar sua bochecha.
— Obrigada, pai. — Dou-lhe um abraço apertado.
Meu pai me abraça de volta e, sem que ele veja, sorrio no estilo vilã de novela mexicana
quando consegue o que quer. Sentimentalismo sempre funciona com o meu velho.
Após jatarmos e a família de Chase já estar confortável, ele e eu subimos para o meu antigo
quarto, e estou vestindo meu pijama enquanto o espero sair do banho. Como prometido, meu pai
está se esforçando para tratar Chase bem. Mas o que me deixou mais feliz foi o quanto meu pai e
o de Chase parecem ter se dado bem. Após descobrirem que até torcem para o mesmo time,
começaram a falar apenas disso.
Isso é um bom sinal, tendo em vista que ele odeia a família de Kevin. Pedi para os meus pais
e Adrien não ficarem fazendo perguntas sobre a mãe de Chase, já que isso ainda é um assunto
sensível. Eles concordaram e estão fazendo o possível para se sentirem confortáveis durante sua
estadia aqui.
Visto o short do meu baby doll no mesmo segundo em que Chase sai do banheiro com uma
toalha ao redor da cintura. Pulo na minha cama e faço um coque frouxo no topo de minha
cabeça. Chase vira de costas para mim e tira a toalha, deixando sua bunda branquinha e redonda
totalmente à vista. Ele pega uma cueca boxer vermelha.
Mordo meu lábio e o encaro.
— Por que me deu as costas, está com vergonha? — eu o provoco. — Ou foi seu pau que
encolheu com a água gelada do chuveiro?
Chase se vira lentamente para mim, e mordo meu lábio ao ver seu pau, grosso e no tamanho
certo. Ainda me pergunto como esse monstro coube em minha boca. Minha mandíbula ficou
doendo pelo resto do dia e fiquei rouca também. Mas cada segundo valeu a pena, e eu faria de
novo neste exato momento se eu quisesse.
— Isso responde à sua última pergunta? — Chase sorri convencido, vendo-me passar meus
olhos por seu corpo.
O desgraçado aparece ter sido esculpido, e não consigo imaginá-lo sem as tatuagens, parece
que Chase nasceu com elas. Olho para seu rosto e vejo os fios molhados de seu cabelo grudarem
em sua testa.
— Pauzudo convencido — resmungo, entrando debaixo das cobertas.
Escuto a risada gostosa de Chase e viro de lado, dando-lhe as costas. Alguns segundos
depois, sinto-o subir na cama e rastejar para debaixo dos lençóis como eu fiz. Seu corpo se
encaixa perfeitamente ao meu, e ele enlaça a minha cintura com o braço direito, puxando-me
para que minhas costas descansem em seu peito. Posso sentir que ele vestiu uma regata e uma
bermuda moletom.
Ele beija o meu pescoço.
— Cheirosa — ele sussurra em meu ouvido, encaixando-se entre a minha bunda.
Seguro-me para não sorrir, mas é inevitável.
— Meu pai está no quarto, abra seu olho — eu o provoco, sorrindo.
Chase bufa alto.
— Seu pai está me tratando melhor, será que ele está ganhando tempo só para me matar?
Como nos seus casos criminais? — ele pergunta, e eu reviro os olhos.
— Pare de achar que meu pai quer o seu pescoço.
A mão enorme de Chase adentra a blusinha do meu baby doll e alisa a minha barriga,
começando a me fazer um carinho. Com isso, fico feliz que Justin e Lady estejam dormindo com
o meu irmão, ele adora animais.
— Mas ele quer, gattina — Chase suspira.
Viro um pouco o rosto para olhá-lo.
— Não pense muito nisso, ok? — Acaricio o braço dele. — Ele falou que ia se esforçar para
conhecê-lo melhor, eu disse que você me faz feliz.
Chase apoia a cabeça na mão esquerda e sorri.
— Eu a faço feliz, gattina? — Ele beija a ponta do meu nariz, descendo os lábios para os
meus.
— Eu não estaria com você se não fizesse. — Sorrio.
Chase afasta a mão da minha barriga e segura a minha bochecha, acariciando-a.
— Obrigado por não me privar de nada e me deixar ser eu mesmo — ele sussurra, e seu
hálito quente acaricia o meu rosto.
Meu peito se aperta, e engulo o bolo que se forma em minha garganta. Seguro seu rosto em
minhas mãos.
— Nunca, jamais me agradeça pelo mínimo em um relacionamento, ouviu? — Acaricio as
maçãs de seu rosto, e a pequena argola em sua narina esquerda reluz. — Eu nunca o privaria de
nada e, se alguém o fez, não foi certo. E eu gosto de você assim, não mudaria nada. — Dou-lhe
um selinho demorado.
Esfrego nossos narizes e fixo meus olhos nos de Chase, encontrando-o a me encarar com
algo diferente no olhar. Ok, isso me deixou tímida.
— O que foi? — Franzo o cenho, sentindo sua mão descer para a minha barriga.
— Eu… — Chase engole em seco, e algo em mim se revira, ansiando por uma reposta que
não sei qual é. Mas Chase apenas nega com a cabeça e beija a minha testa. — Nada. Vamos
dormir, gattina.
Decepcionada pelo que eu nem sei, assinto e me viro de costas, sentindo-o apertar os braços
ao redor do meu corpo e me puxar para si. Chase encaixa o rosto em minha nuca e entrelaça
nossas pernas, dando-me a sensação de estar protegida. Apenas me aconchego nele e fecho meus
olhos, deixando o sono me levar.
Mas, lá no fundo, bem lá no fundo, eu sei qual a resposta que eu tanto quero ouvir.
Sentado na cama de Ally e totalmente hipnotizado, assisto à minha namorada colocar os
brincos de argola nas orelhas. Ela usa um vestido vermelho de cetim de alcinhas com uma fenda
na perna direita. Ele chega até os seus joelhos, e o vestido se cola perfeitamente em seu busto, a
curva dos seios firmes lhe dando um ar sexy, apenas complementando a tatuagem. Seu cabelo
castanho cai sobre suas costas como cascatas, tendo apenas uma presilha de strass prendendo a
lateral direita dele.
Ela põe uma pulseira dourada e então se olha no espelho, analisando o salto de cor preta e
altura média. Ela está tão linda que me sinto sem palavras.
— Feche a boca, Chase, estou vendo o fundo da sua garganta daqui — Allyson diz enquanto
me olha pelo espelho.
Seus olhos avelãs estão destacados por uma espécie de maquiagem leve, e os lábios
carnudos apenas com um gloss incolor. Fecho a boca e ando até ela, abraçando-a pela cintura.
— Você está linda. — Beijo seu ombro direito enquanto a olho pelo espelho.
Sou a porra de um italiano sortudo.
— Você também está lindo. — Ela sorri para mim, pondo as mãos sobre as minhas, que
estão ao redor de sua cintura.
Estou vestido apenas com uma camisa social branca de botões abertos, expondo uma
pequena parte das tatuagens em meu peito e dando boa visão da rosa em meu pescoço. Meu
cabelo preto — agora desbotado — está controlado, e estou com um relógio dourado e sapatos
sociais.
— Eu sei, minha beleza é inegável — suspiro falsamente.
Ally revira os olhos e se vira para ficar de frente para mim.
— Você é muito convencido.
Sorrio e a aperto contra mim.
— Você mesma disse que sou lindo.
Allyson arqueia uma sobrancelha bem desenhada.
— Quando eu disse isso? — ela pergunta, fazendo-se de desentendida.
Estreito meus olhos em sua direção e aperto a cintura dela com força o suficiente para fazê-
la ficar na ponta dos pés. Mesmo de salto, ainda fico um pouco maior do que ela.
— Você disse isso quando estávamos fazendo amor, gattina… — Beijo a lateral esquerda de
seu queixo. — Quando eu estava indo e vindo dentro de você.
Ela aperta meus ombros, pendendo a cabeça para a direita. Mesmo me desafiando, a safada
não deixa de aproveitar minhas mãos ou lábios sobre sua pele macia.
— Quem disse que estávamos fazendo amor? — provoca, com a voz falha.
Eu sorrio próximo à sua pele cheirosa e adentro a minha mão pela fenda de seu vestido,
subindo lentamente para seu traseiro firme. Cazzo, ela está com um fio dental e, pelo material
que sinto com os meus dedos, desconfio que seja renda.
Allyson ainda vai me matar com essas benditas calcinhas que parecem que seu único
propósito é foder a porra do meu raciocínio de mil e uma maneiras.
— Acredite em mim, Ally… — Deslizo meu nariz por seu pescoço. — O jeito como você se
entregou para mim, as carícias e palavras que trocamos e a forma como nossos corpos se
moviam estavam longe de ser só uma foda, e você sabe disso.
Allyson ofega e agarra os cabelos de minha nuca, pressionando o corpo ao meu em busca de
mais contato. Afetado, aperto a carne de sua bunda com força e levo minha mão direita para os
seus cabelos, puxando-os e tomando seus lábios em um beijo.
Nossas línguas se encontram, e chupo a de Allyson, sentindo seu gloss ao redor da minha
boca e o gosto em meu paladar. Ela ergue a perna direita, e a seguro até a altura do meu quadril,
deixando uma longa extensão de sua pele exposta quando seu vestido se ergue um pouco. Ajusto
meu quadril para que assim eu possa pressionar meu pau em sua boceta, e a mulher em meus
braços geme em minha boca, puxando os fios de minha nuca.
Nós nos separamos quando a falta de ar se faz presente, mas continuamos do mesmo jeito:
suas mãos em minha nuca, a minha na dela e minha mão esquerda erguendo sua perna. Eu me
sinto duro e sei que, se pôr minha mão dentro de sua calcinha, vou encontrá-la encharcada.
— Me diga que você está molhada, gattina — sopro contra seus lábios.
— Por que você não bota a mão aqui dentro e descobre por si mesmo?
Subo minha mão esquerda para a bunda dela e a aperto. Porra.
— Se eu fizer isso, não vou conseguir parar, Ally… — Tiro a mão de sua bunda para apertar
sua cintura. Então a subo para seu pescoço e o envolve. — Vou jogá-la sobre essa cama e comê-
la com tanta força que você vai ficar sem voz de tanto gritar. Vou rasgar esse vestido bonito e
bagunçar os seus cabelos, porque você é o meu vício, e nada no mundo pode conter a vontade
insaciável que tenho de você.
Vejo Allyson engolir seco e assentir de maneira atordoada, o que é a deixa para que eu solte
seu pescoço e abrace a sua cintura mais uma vez. Lambo meus lábios, sentindo o gosto de seu
gloss, e ela escorrega as mãos até o meu peito.
— Você bagunçou a minha roupa e o meu penteado. — Ela me olha, os olhos avelã me
fuzilando.
Eu sorrio de lado.
— Você também bagunçou o meu cabelo, tenho certeza de que não estava parecendo que
levei um choque.
Allyson olha para o meu cabelo e o bagunça mais um pouco, e um sorrisinho travesso se
abre no canto dos seus lábios carnudos.
— Gosto dele assim. — Fica na ponta dos pés e beija a ponta do meu queixo.
Eu sorrio e lhe dou um selinho demorado, então outro e mais outro.
— Se você gosta dele assim, vou deixá-lo do jeito que está.
Allyson ergue as sobrancelhas e agarra os meus ombros, sorrindo maliciosamente.
— Também gosto de você sem roupas.
Aperto meus olhos na direção dela.
— Controle esse seu fogo, gattina, não é você que é camponesa? — rio.
— Às vezes, até uma camponesa pode cair no pecado. — Ela pisca os cílios para mim,
olhando-me com falsa inocência.
Rio de novo e a solto, colocando-a de frente para o espelho. Atrás dela, agarro seu queixo e
a obrigo a encarar o próprio reflexo enquanto me curvo e planto um beijo demorado em seu
ombro.
— Arrume-se de novo, estão esperando a gente lá embaixo. — Dou um leve tapa em sua
bunda.
Allyson resmunga algo que não entendo e começa a arrumar seu vestido e penteado mais
uma vez, e eu apenas faço o mesmo. Allyson retoca a maquiagem, e ergo meus dedos, retirando
o gloss do canto dos meus lábios.
Cheira a morango.

A casa de Allyson está toda enfeitada com declarações de Natal e tudo a que a data
comemorativa tem direito. Enquanto Allyson anda até os próprios pais e os meus que estão
conversando, vejo Lady pular no braço do sofá e miar para mim. Vou até ela e a pego no colo,
beijando a curva de seu pescocinho por cima da coleira. Ela esfrega o pequeno focinho na minha
bochecha, pedindo carinho.
Algo cutuca as minhas pernas, e olho para baixo, vendo Justin. Ele late e apoia as patas
frontais em minha coxa. Sorrio.
— Ciumento que nem a dona, não é? — Faço um carinho nas orelhas dele e o vejo lamber a
minha mão.
Justin é extremamente carinhoso e nunca rosnou para mim, mesmo escutando os gritos da
dona quando nós transamos. Parece que, de algum modo, ele sabe que ela não está em perigo ou
algo assim. Sabe que os pais estão apenas se divertindo. E muito.
Pais. Isso me lembra quando a Ally estava de TPM e chorou porque achou que eu não
gostava do Justin. Tive que dormir agarrado a ela e enchê-la de beijos para que ela me
desculpasse, o que ocorreu só depois que assistimos a um documentário inteiro de um
assassinato. Nunca fiquei tão horrorizado na minha vida, Tessa foi testemunha quando chegou ao
apartamento e viu Allyson roncando no meu peito e o horror estampado em meu rosto.
Pergunto-me como minha namorada, com uma aparência tão angelical, curte ouvir como
pessoas morreram. É algo a ser estudado.
Ponho Lady no chão ao lado de Justin, que começa a cheirá-la, e vou até o pessoal quando
eles começam a andar para o quintal. A mesa está posta lá com bastante comida, fartura
completa. Um amigo de Adrien veio passar o Natal conosco, e eles não se desgrudam desde
então. Vou até Ally, que está conversando com eles.
— Fale a verdade para mim, está rolando algo, não está? — Ela pergunta ao irmão.
O amigo ruivo e de olhos cor de mel de Adrien arregala os olhos e nega com a cabeça.
— Não, não, Adrien e eu somos só amigos! — Ele coça a nuca, parecendo envergonhado.
— Mas amigos também se pegam — minha namorada insiste, sorrindo maliciosa.
Eu a abraço por trás e sorrio para o garoto.
— Feliz Natal — digo.
— F-Feliz Natal. — Ele sorri de volta para mim.
Adrien bufa.
— Pare de empurrar as pessoas para mim, Allyson, mal levei chifres e você já quer que eu
saia com alguém? E o Simon já disse que somos só amigos. — Ele faz uma careta.
Ergo as sobrancelhas.
— Você foi traído? — pergunto, e ele assente. — Ah, então levar chifres está no sangue.
Entendendo minha piada, Allyson belisca meu braço, e solto o ar por entre os dentes,
sentindo meu rosto se contorcer em uma careta.
— Já, já vai estar no seu sangue também — ela me provoca.
Eu lhe dou um abraço apertado e apoio meu queixo em seu ombro direito.
— Você nem pense em me trair.
— Por quê? Vai raspar meu cabelo?
Aproximo meus lábios de sua orelha e deslizo meus lábios pelo lóbulo macio. Posso sentir
seu cheiro doce, e é algo que me deixa louco e aquece meu peito.
— Eu gosto muito de puxar seu cabelo para raspá-lo — sussurro.
Ela ri e vira o rosto para me olhar.
— Que nojo. — Adrien faz uma careta. — Venha, Simon, vamos sair daqui — ele chama,
puxando o amigo para longe de nós.
Allyson e eu rimos, e tenho que admitir que é engraçado ver seu irmão, que sempre a está
provocando, tímido com todas as nossas brincadeiras.
Meus olhos se atraem para algo logo à nossa frente, e vejo meu pai e Pietro, ambos afastados
de todos nós. Aproximo meus lábios da orelha de Allyson.
— Já venho, ok? — digo a ela. — Vou conversar um pouco com o meu pai e o meu irmão.
Ally se vira de frente para mim e beija a minha bochecha.
— Vai lá.
Após nos separarmos, vou em direção à minha família, e Pietro tem o braço ao redor dos
ombros do nosso pai. Fico do lado direito dele e olho para o céu, que é para onde eles estão
olhando.
Suas expressões não deixam espaço para dúvidas sobre o que eles possam estar pensando.
Mais clara que água, a falta da minha mãe em uma data como essa me atinge em cheio, e engulo
em seco com dificuldade.
— Sobre o que estão falando? — pergunto, pondo as mãos nos bolsos de minha calça.
Meu pai vira o rosto, notando minha presença.
— Sobre como a sua mãe teria adorado conhecer a família de Allyson.
Sorrio.
— Um pouco antes de morrer, ela conheceu Ally, as duas fizeram uma chamada de vídeo —
suspiro. — Mamãe a adorou.
Pietro ri.
— A doida que quebra som é uma pessoa legal. E a família dela, então, está nos tratando
muito bem.
Meu pai dá tapinhas em minhas costas.
— É verdade, sua namorada tem um bom coração, filho. — Meu pai sorri para mim. —
Graças a ela, o nosso Natal está sendo ótimo.
— Mas…? — Ergo as sobrancelhas, sabendo que tem muito mais por trás.
— Mas não conseguimos evitar a vontade de ter a mamãe aqui… — Pietro é quem
responde, com a voz cansada.
Uma dor fina se alastra por meu peito, e engulo o bolo de saudade que cresce em minha
garganta.
— Também a quero aqui — admito, mais baixo do que pretendo.
Meu pai passa o braço direito por meus ombros e o esquerdo pelos de Pietro, puxando-nos
para mais perto.
— A mãe de vocês pode não estar mais aqui, mas ela me deixou as duas pessoas que mais
amo nesta vida e que me dão forças para me levantar da cama. — Ele olha para nós com carinho.
— Feliz Natal, meus filhos.
Pietro e eu sorrimos e o abraçamos com a mesma intensidade que ele está usando agora. O
mesmo carinho e força.
— Feliz Natal, papà — meu irmão e eu dizemos juntos
Minha mãe pode não estar mais entre nós, ter morrido e nunca mais voltar. Mas ainda tenho
meu pai e meu irmão e peço a Dio para que não os tire de mim tão cedo. E eu sei que de algum
lugar minha mãe está nos observando com um sorriso no rosto. Nós não quebramos a promessa
que fizemos a ela, ainda estamos unidos, firmes e fortes, e não pretendo deixar que isso acabe.
Nós nos afastamos no exato momento em que uma mão pequena se encaixa na minha, e olho
para o lado, encontrando Allyson sorrindo para mim. Ao seu lado estão seus pais, seu irmão e o
amigo dele.
— Feliz Natal! — A mãe de Allyson abraça meu pai e em seguida meu irmão.
— Feliz Natal! — o pai de Ally diz, apertando as mãos do meu pai e do meu irmão.
— Feliz Natal. — Meu pai sorri.
Quando chega a sua vez de apertar a minha mão livre, ele me dá um aperto firme.
— Feliz Natal, rapaz — ele diz, com a voz firme. — Cuide bem da minha princesa, estou de
olho em você — diz, vendo Allyson agarrada ao meu braço.
— Feliz Natal. — Sorrio para ele e a senhora Young. — Pode deixar, estou cuidando muito
bem dela.
— Natal feliz só se for comigo — Pietro diz, abraçando todo mundo.
Reviro os olhos, e todo mundo ri.
— Feliz Natal! — Adrien e Simon dizem ao mesmo tempo.
— Seu namorado? — meu pai pergunta a Adrien.
— Por que todo mundo está me perguntado isso? — ele bufa alto, indignado.
O pai de Allyson aproxima-se de Simon, com a mesma postura que usou no dia em que nos
conhecemos.
— Quais são suas intenções com o meu filho? Quem são seus pais? Tem ficha criminal?
Fuma maconha? Qual o seu tipo sanguíneo? — ele pergunta sério, parecendo assustador.
As bochechas de Simon ficam da cor de seu cabelo.
— E-eu… Eu… — o garoto gagueja.
Nós rimos, e Allyson aperta minha mão, fazendo-me olhar para ela, que me puxa até
estarmos um pouco afastados de nossas famílias e aproxima o corpo do meu, pondo as mãos em
meu peito.
— Você parecia desanimado, aconteceu algo? — pergunta, parecendo preocupada.
Passo os braços por sua cintura.
— Estou bem, minha família e eu apenas lembramos da minha mãe. — Seguro sua bochecha
esquerda. — Ela amaria a sua família como amou você.
Allyson beija a pequena parte exposta da tatuagem de pássaro em meu peito.
— Tenho certeza de que ela está feliz. — Ela sorri carinhosamente para mim.
Allyson pode dizer quantas vezes quiser que não é boa com as palavras, mas ela sabe
exatamente o que dizer para aquecer o meu coração e, quando não diz nada, basta apenas um
sorriso dela para me fazer esquecer meus problemas.
Dou-lhe um selinho demorado.
— Feliz Natal, gattina… — sussurro rente à sua boca.
Ela passa os braços por meu pescoço e delicadamente esfrega nossos narizes.
— Feliz Natal, gattino — sussurra de volta.
Nós sorrimos um para o outro e em seguida colamos nossos lábios em um beijo calmo e
suave. E com isso tenho a plena certeza de que escolhi a pessoa certa para me apaixonar. Quero
ficar com Ally para sempre ou até o tempo que ela me permitir, mesmo que não seja o suficiente,
eu me contentaria em apenas ser um amigo.
No dia 26 de dezembro, Chase, eu e a família dele voltamos para Nova York. Esse foi o
melhor Natal da minha vida, e não sei como falar isso sem parecer uma idiota sentimental. A
forma como a minha família e a de Chase se deram bem foi incrível. Meu pai quase chorou
quando Anthony foi embora, e nem é brincadeira. Ele até se agarrou a minha mãe e enfiou o
rosto no pescoço dela, que lhe deu tapinhas nas costas enquanto revirava os olhos.
Hoje é sábado, e um parque chegou à cidade, a apenas alguns quilômetros de onde eu moro.
Tessa, Adam, Kat, Michael, Chase e eu marcamos de conhecê-lo, e aqui estamos nós. O parque
está totalmente lotado, e tenho que me segurar para não suspirar pela milésima vez só neste dia
quando uma criança esbarra em mim. Já perdi a conta de quantas já fizeram isso.
— Vamos na roda-gigante! — Adam chama, apontando para o brinquedo enquanto sorri.
Nego com a cabeça.
— Para mim, não rola, vocês sabem que tenho medo de altura — digo, cruzando minha mão
direita com a esquerda de Chase.
Lembro que, quando eu tinha dezesseis anos, fui na roda gigante com Tessa e Adam e acabei
vomitando na mulher que estava na cadeira à nossa frente. Além de ter medo de zumbis, tenho
medo de altura também. Mas nada se compara ao meu medo do primeiro. É bobo, eu sei, mas
nosso cérebro implica com cada besteira.
— Está com medo de vomitar em alguém? — Tessa me provoca com um sorriso, enquanto
mantém o braço direito sobre os ombros de Kat.
— Eu vou vomitar é em você. — Sorrio falsamente para ela.
Tessa me mostra a língua, e eu o dedo do meio, arrancando uma expressão de indignação de
sua namorada, que sempre parece pronta para defender minha melhor amiga.
— Não mostra o dedo para a minha bebê! — Kat fala, cobrindo os olhos da namorada.
Torço meu nariz em uma careta.
— A sua namorada que primeiro mostrou a língua à minha. — Chase me abraça contra seu
corpo.
Sorrio vitoriosa, e Kat debocha, jogando seu cabelo de mechas rosas para trás e depois o
afastando de seus olhos.
— Não consegue se defender sozinha, Ally?
— Chase, me solta aí para eu devolver essa vaca para o pasto! — Dou tapinhas nos braços
dele para que me solte.
Nossos amigos riem e, brincando, Kat tenta me chutar de leve, mas falha, ao que minha
melhor amiga a puxa para longe de mim.
— Aposto em Allyson, e você, Michael? — Adam pergunta, olhando para ele.
— Aposto em Kat — Michael responde com o braço esquerdo ao redor dos ombros de
Adam.
Os dois parecem um casal de namorados, mas, segundo Adam, eles estão indo devagar. Não
sei em que nível eles estão, mas um dia desses Adam me perguntou como se fazia a chuca, e eu
não soube responder. Fiquei sem reação. Ninguém nunca se interessou por ele, e me recuso a dar
meu precioso, ainda mais para Chase, que é enorme.
Arrombada? Sim. Pelos dois buracos? Jamais!
— Vamos fazer assim… — Chase diz ao me soltar. — Vocês vão na roda-gigante, e eu fico
aqui com a Allyson.
O pessoal pensa um pouco antes de assentir logo em seguida.
— Gostei da ideia. — Michael dá de ombros, arrumando seu boné branco.
— É, quem sabe assim ela não vomita em ninguém de novo. — Adam sorri, provocando-
me.
Abro a boca em total choque e indignação, pegando a mão de Chase e puxando-o para longe
deles.
— Vamos sair daqui, Chase. Estão testando meu réu primário! — chamo, empinando o
nariz.
Nossos amigos riem e dizem algo mais, mas me recuso a escutar quando me desligo para
eles. Não vou mais escutar nenhuma humilhação quanto a minha pessoa, já passo por isso todos
os dias. Quando virei amiga deles, não me inscrevi para isso.
Chase passa o braço por meus ombros, e eu passo o meu por sua cintura reta coberta por um
moletom preto de capuz. Posso sentir o cheiro do seu perfume me invadindo e tenho que conter a
vontade de pular nele e enfiar meu rosto em seu pescoço para aspirar melhor.
Chase cruza nossas mãos acima do meu ombro e me encara.
— Está com fome, gattina? — pergunta, e eu assinto.
— Muita.
— Quer uma maçã do amor?
Um sorriso travesso se abre em meus lábios, e arqueio uma sobrancelha.
— Uma maçã do amor, sério? Quando foi que você ficou tão meloso?
Chase me puxa repentinamente pela cintura, e solto um gritinho pelo susto. Seus braços me
envolvem como aço, e rio, passando um braço por seu pescoço enquanto ponho uma mão em seu
peito.
— Se não estivéssemos em público, eu daria um tapa na sua bunda — ele resmunga e beija a
minha bochecha.
— Você só pensa em me bater, machista.
Chase sorri de lado.
— Quem vê até pensa que você não gosta.
Sorrio com meu lábio inferior entre os dentes.
— Nunca disse que não gostava — digo, e Chase sorri largo.
Ele enfia o rosto em meu pescoço e começa a distribuir beijos por ele. Dou risada pelas
cócegas e me contorço um pouco.
— Chase, para! — rio alto, mas ele não cessa as cócegas. — Chihuahua italiano desgraçado,
para!
Ele se afasta de mim com uma risada grave e gostosa de se ouvir e planta um selinho
demorado em meus lábios, fazendo-me inclinar a cabeça para trás.
— Amo quando você me chama assim. — Ele põe uma mecha do meu cabelo atrás da minha
orelha.
Eu reviro os olhos, sorrindo.
— Estou começando a achar que você tem fetiche em ser xingado. — Sobre sua cabeça,
ponho o capuz do moletom que ele está usando, cobrindo seus fios rebeldes.
— Apenas quando é você quem xinga. — Sorri.
Um sorriso involuntário brota em meus lábios e me amaldiçoo por isso. A Allyson de alguns
meses atrás, que não queria entregar seu coração de novo, diria, como uma defesa, que isso é
muita melosidade para um casal. Mas a Allyson de agora, um pouco mais madura e que deixou o
amor entrar novamente, gosta. Gosto de como Chase é carinhoso, gosto de seus toques
insistentes e frases fofas.
Afinal, quem não fica boba quando se apaixona por alguém?
— Chase, vamos passar o Ano Novo na praia? — pergunto, olhando para ele. — Nossos
amigos vão também, você pode chamar o seu pai e Pietro.
Suas mãos acariciam as minhas costas.
— Na praia? — Chase arqueia uma sobrancelha e assinto. — Vamos sim, bella.
Sorrio animada e afasto suas mãos largar de mim, sentindo-o me abraçar com mais força em
resposta. Ergo o queixo para encará-lo.
— Enquanto você compra algo para comermos, vou ao banheiro, ok?
— Não quer que eu a espere do lado de fora?
Nego com a cabeça.
— Eu volto rápido, é logo ali. — Aponto para uma lanchonete e então volto meu olhar para
ele. — Vai para a fila do cachorro-quente enquanto ainda está curta.
Chase assente.
— Certo, cuidado, gattina. — Ele me dá um selinho.
Sorrio e me afasto dele, caminhando lentamente até a lanchonete. Olho para trás antes de
entrar nela, vendo Chase com as mãos nos bolsos do moletom, a atenção na fila. Entro no lugar,
encontrando poucas pessoas sentadas. Na verdade, apenas dois homens e quatro mulheres.
Caminho em direção ao homem do balcão.
— Oi, posso usar o banheiro?
Ele me olha com tédio.
— Pode, é só ir reto e entrar à direita — é tudo o que ele diz.
Contenho uma careta e em seguida começo a ir na direção que ele indicou. Agora eu
entendo o porquê de ninguém entrar nesta lanchonete, o atendimento é péssimo. Não sou a
pessoa mais sociável do mundo, mas até eu fazia melhor quando trabalhava na lanchonete.
Abro a porta do banheiro e deixo que ela se feche sozinha. Entro em uma das quatro cabines
azuis e tranco o fecho da porta, em seguida abro o zíper de minha calça. Desço-a e faço o mesmo
com a calcinha, evitando encostar a minha bunda no vaso imundo. Não estou nem um pouco a
fim de pegar uma bactéria.
Por baixo da porta, vejo quatro pés com botas pretas passarem para as cabines ao lado da
minha e franzo o cenho por parecerem pés de homem. Ignorando isso, eu me seco com um papel
higiênico e o jogo no lixeiro, subindo minha roupa e a arrumando. Saio da cabine e ando até a
pia para lavar as minhas mãos com sabão, enxaguando-as depois.
Enquanto seco minhas mãos com um papel, um grunhido ressoa por todo o banheiro e
minhas costas ficam tensas. Jogo o papel no lixeiro e me viro de frente para as cabines quando
agora escuto um gemido. Não foi um como os quê você solta na hora do sexo, é mais como um
gemido de dor. Mais grunhidos e gemidos ecoam pelo banheiro e lentamente ando até uma das
cabines fechadas.
Ponho uma mecha de cabelo atrás de minha orelha, cautelosa.
— Ah… oi? — começo, pigarreando. — Precisa de ajuda?
Mais um grunhido, e nenhuma resposta.
Agora preocupada com a pessoa que está dentro da cabine, me aproximo da porta e, com as
pontas do dedo, a empurro para que se abra. A madeira range e vejo o que parece ser um homem
de costas para mim. Ele tem poucos fios de cabelo e seu coro cabeludo parece estar ferido já que
tem algumas bolhas de sangue ao redor.
— Você está bem? — Ponho a mão no ombro dele.
O homem lentamente se vira para mim e é como se o meu coração parasse em minha boca.
A frente da camisa totalmente suja de sangue, as mãos no mesmo estado e alguns pedaços do
rosto faltando, como seu nariz. Ele não tem. A boca está rasgada e suja de sangue com os dentes
podres.
Mas que… um zumbi?
Eu grito e puxo minha mão para longe, andando rapidamente para longe dele. Minhas costas
se chocam com algo e olho para trás, encontrando praticamente o mesmo monstro que tem na
cabine. Eu grito ainda mais alto e corro em direção a porta do banheiro, sentindo meu coração
bater como um louco. Giro a maçaneta e meus olhos se arregalam ao que vejo que estou
trancada.
— O quê? Não pode ser! — Chacoalho a maçaneta, sentindo minha voz falhar. — Tem
alguém aí?
Os gemidos e grunhidos ficam mais próximos e olho para trás, vendo agora quatro zumbis
andarem lentamente até mim. Roupas sujas de sangue, cabelos ralos e dentes podres, é tudo que
consigo enxergar. É tudo o que eu mais temo. Bato na porta com mais força, tentando fazer com
que meu cérebro saiba que nada disso é real, que zumbis não existem. Que isso deve ser só
pessoas fantasiadas querendo me dar um susto.
Mas estou tremendo e me sinto gelada.
— Abre a porta! — Jogo meu corpo contra a madeira. — A merda dessa brincadeira não tem
graça!
Uma mão agarra o meu braço e bato nela, afastando-a de mim. Sem saída, corro até a parede
e pressiono meu corpo contra os azulejos frios, querendo manter o máximo de distância dessas
coisas mesmo sabendo que não é possível. Eu grito quando tentam agarrar meu braço mais uma
vez e caio de joelhos quando minhas pernas fraquejam.
Sento-me no chão e junto minhas pernas ao meu peito, levando minhas mãos trêmulas até os
meus ouvidos para tampá-los. Fecho meus olhos com força e alguém puxa meu pé esquerdo, me
fazendo chutar sua mão para longe enquanto grito.
Meu coração não desacelera. Continua pulando em meu peito como se eu estivesse em uma
corrida ou fazendo exercícios físicos, mas tudo o que estou fazendo é sentir medo. Pavor. Pânico.
Meu cérebro não quer processar o fato de que zumbis não existem, ele apenas sente medo. Ele
apenas quer se desligar.
Lágrimas grossas descem por meu rosto e eu não posso evitar me sentir mais patética. Como
uma criança chorando porque um mostro inexistente mora debaixo de sua cama.
— Alguém abre a porta! — grito de maneira estrangulada. — Por favor! Abre a porta! — Eu
peço, praticamente implorando.
Um dos zumbis mais uma vez puxa meu pé direito e eu o puxo de volta, os estapeando de
olhos fechados quando puxam o meu cabelo. De repente, a porta é aberta com um estrondo e
abro meus olhos, olhando para cima e encontrando a última pessoa que eu gostaria de ver, mas
que é como o meu salvador nesse momento. Kevin.
— Allyson! — Ele corre até mim.
Kevin empurra os zumbis para longe e começa a bater neles com uma facilidade absurda.
Ele joga os quatro zumbis no chão e os mesmos abraçam o próprio estômago, contorcendo os
rostos monstruosos em uma careta de dor. Kevin se aproxima de mim e me puxa para cima, me
abraçando. Ainda em pânico, apenas passo meus braços pelo pescoço dele e soluço alto, sem
conseguir parar de chorar.
— Passou, passou… — Kevin alisa meus cabelos, me acalmando como se eu fosse uma
criança — É só maquiagem, Ally…
Eu vomitaria se não estivesse com medo. E eu faria questão de mirar tudo em sua cara se
não sentisse que morreria a qualquer momento. Nesse instante, posso sentir o bater do meu
coração em meus ouvidos.
— Tire as mãos da minha namorada, filho da puta desgraçado.
Olho por cima do ombro de Kevin, vendo Chase parado na porta com as mãos tatuadas
apertadas em punhos. Seu rosto está retorcido em uma carranca e seus olhos cinzentos fuzilam as
costas de Kevin como se pudesse matá-lo desse jeito.
— Chase! — Jogo Kevin para o lado como se ele fosse um saco de bosta.
Ando rápido até meu namorado e pulo em seus braços, passando os meus por seu pescoço.
Enterro meu rosto molhado de lágrimas na curva de seu ombro e ele passa os braços por minha
cintura. Posso sentir seu corpo tenso.
— O que aconteceu, Allyson? — Chase pergunta, massageando a minha nuca. Tem raiva em
sua voz.
— Ela tem fobia de zumbis, não gosta que imitem os sons ou movimentos de um — Kevin
diz, a voz em um tom superior.
Ele fala que como se soubesse tudo sobre mim, esse filho de uma puta.
— Não perguntei a você, porra — Chase rosna, entredentes. Porém, suaviza a voz para falar
comigo. — Ally?
Desenterro o rosto de seu pescoço para poder falar, o encarando nos olhos.
— Esses quatro filhos da puta decidiram que me dar um susto ia ser legal — aponto para os
zumbis falsos enquanto Chase enxuga as minhas lágrimas. — Mas acontece que eu não achei
graça! — Afasto-me um pouco de dele para chutar a bunda de um dos zumbis.
Faço o mesmo com o traseiro do outro e Chase me puxa para trás, os braços ao redor da
minha cintura como aço.
— Só estávamos seguindo ordens! — um dos zumbis grita, ficando em pé assim como o
outro.
— É, não é nada pessoal. — Um outro mais baixo diz.
— Fomos pagos para isso, mas trabalhamos na casa mal-assombrada do parque. — O mais
alto fala.
Eu franzo o cenho e sossego nos braços de Chase.
— Quem pagou vocês? — pergunto sem rodeios.
— Uma mulher bonita de cabelo castanho-escuro. — Um dos zumbis falsos diz.
Minha confusão apenas aumenta e Chase me puxa um pouco para longe dos zumbis e de
Kevin, me levando para fora do banheiro.
— Allyson, isso está com cara de uma pessoa. Karen — ele diz, me segurando pelos
ombros.
Ergo as sobrancelhas.
— Você acha? — pergunto.
— Tenho certeza — Chase suspira.
— E como ela sabe que tenho fobia de zumbi? — Passo as mãos por meus cabelos.
— O Kevin a ajudou, não foi? — ele pergunta, e assinto. — Quais são as chances de ele
saber que você estava no banheiro e aparecer misteriosamente como a porra do seu herói sem
capa?
Kevin contou sobre a minha fobia para Karen.
É óbvio. Eu devia saber que tinha um dedo da ex de Chase nisso, mas eu devia saber ainda
mais, que, mesmo Kevin sendo forte, não tem como ele bater em quatro caras. Se bem que os
zumbis falsos nem tentaram revidar.
— Chase, por que você veio até mim? — pergunto.
— Um cara me disse que a minha namorada estava com problemas no banheiro — ele diz
— Na hora eu não pensei muito em como ele sabia quem era a minha namorada, ele poderia ter
se confundido. Mas eu só vim correndo da fila e encontrei você e o Kevin abraçados.
Isso é exatamente o que eles queriam.
— Chase, de 0 a 10, qual a probabilidade da Karen e do Kevin estarem tramando juntos para
que você visse a mim e a ele abraçados e tivesse a ideia errada? — pergunto, as coisas
começando a fazer sentido na minha cabeça.
— Humm… 100%? — Chase ergue as sobrancelhas.
Ranjo os dentes e aperto as minhas mãos em punhos. Merda, tudo isso parece a porra de um
filme adolescente onde fazem de tudo para separar o casal e conseguem, porque eles não
conversam entre si.
— Kevin, seu desgraçado.
Afasto-me de Chase e ando rapidamente até meu ex-namorado que arregala os olhos e se
esprema em uma parede próxima. Os olhos cheios de pavor.
— Você e a Karen tramaram isso, não foi, filho da puta? — tento dar um soco nele, mas ele
agarra meu pulso.
— Eu não sei de onde você tirou isso, Ally! — ele diz, agarrando agora o meu outro pulso
quando tento socá-lo.
Chase vem por trás de mim e empurra Kevin para longe, fazendo-o me soltar. Meu ex-
namorado bate as costas contra os azulejos do banheiro, fechando os olhos com impacto que a
força do meu namorado com toda a certeza, causou.
— Tira a mão dela, caralho! — ele põe o corpo a frente do meu, ficando entre Kevin e eu.
Olho para os quatro zumbis contra a parede e me aproximo deles com a mão na cintura.
— Esse cara está envolvido, não está? — pergunto e eles ficam em silêncio, olhando um
para a cara do outro. — Não está, porra? — Chuto a canela de um.
Embora eles tenham sido pagos para isso, tem tanta culpa quanto quem tramou. E eu ainda
lembro que um deles puxou o meu cabelo. Inferno, estou muito puta.
Chase me segura pela cintura.
— Se eu fosse vocês, eu responderia — ele diz. — Não vão querer que eu a solte.
Sinto-me como uma cadela agora. Mas com a raiva que sinto subindo pelo meu peito, eu
poderia muito bem matar eles. Começando por Kevin que conseguiu ser o pior dos ex.
— Me responde, caralho! — Tento chutar eles mais uma vez e Chase me puxa para trás.
— Ele está sim! — Um deles finalmente admite. — Foi ele quem ofereceu dinheiro ao dono
da lanchonete para que ele deixasse a gente entrar!
Quando olho para Kevin, vejo que ele está tentando sair do banheiro de fininho. Como se
não tivesse culpa por ter me dado um puta de um gatilho e feito meu coração acelerar como se eu
fosse morrer a qualquer momento.
— Ah, não, você fica. — Chase me solta e vai até ele.
Ele pega Kevin pela gola da camisa e o joga na parede mais uma vez, fazendo-o erguer as
sobrancelhas.
— Me solta, porra! — Kevin manda, também agarrando a gola do moletom de Chase.
— Vou soltá-lo quando você falar a verdade. — Chase diz entredentes. — Foi você e a
Karen que tramaram isso, não foi?
Kevin rosna, revirando os olhos.
— Fomos nós, sim, tá legal? — Kevin grita. — Mas a ideia foi de Karen.
— Mas você estava no plano que tinha tudo para dar errado. E deu. — Reviro os olhos.
Chase solta a camisa de Kevin, e ele o fuzila com os olhos escuros.
— Se querem culpar alguém, culpem a Karen. — diz, arrumando a camisa amassada.
— Faz quanto tempo que vocês estão juntos nessa merda? — pergunto, querendo arrancar os
cabelos dele.
— Há muito tempo. — Kevin suspira, mirando os olhos em mim. Ele dá um passo a frente
— Mas linda, eu juro que é porque eu te amo. Eu sinto sua falta, Ally. Todos os dias…
Antes que eu pule no pescoço dele, Chase dá um soco no rosto de Kevin, que cai contra a
parede. Ele arregala os olhos e os fixa em Chase, a mão sobre o queixo forte.
— Que merda?
— Fica longe da Allyson, você e a Karen não têm limites. — Chase avança na direção de
Kevin, mas agarro o braço dele. Ele ri, desacreditado. — Usar o medo de Ally contra ela, cara,
sério?
Kevin massageia o queixo e me olha, ignorando meu namorado que está fervendo ao meu
lado.
— Allyson, me perdoe — pede.
Agora é a minha vez de soltar uma risada desacreditada.
— Fica longe de mim, Kevin. Eu estou falando sério. Tenho tanta repulsa de você que não
cabe no peito — digo, olhando-o de cima a baixo com desprezo. — E fale para Karen tentar
arrumar outro jeito de Chase terminar comigo. Isso é muito ultrapassado.
Com uma última olhada em Kevin e nos zumbis falsos, puxo Chase para longe do banheiro e
ele entrelaça nossas mãos, agora nos guiando para fora da lanchonete onde lança um olhar feio
para o homem do balcão. Ele nos leva até que estejamos perto da roda gigante onde nossos
amigos com certeza estão, e pega meu rosto entre as mãos.
Mordo meu lábio com força, piscando meus olhos. Posso sentir como meus olhos continuam
úmidos.
— Você está bem, gattina? — Ele passa os polegares pelas maçãs do meu rosto.
— Eu quero ir para casa — eu digo, ainda sentindo o meu coração na boca.
Os tremores em minhas mãos e pernas já pararam, mas ainda sinto a angústia em meu peito.
Eu daria de tudo para não ter fobia de algo tão bobo, mas nosso cérebro não escolhe a que temer.
— Certo, me deixa só ligar para Michael e pedir para ele avisar o pessoal, ok? — Chase
pergunta e eu assinto.
Enquanto ele liga, passo as mãos pelo meu cabelo e solto um grunhido baixo. Eu estou com
tanta raiva, deveria saber que a Karen não iria deixar barato a surra que dei nela. E ela também
estava muito quieta esses últimos dias, agora eu sei que estava tramando algo. Desgraçada filha
da puta. Assim que eu por as minhas mãos nela, vou matá-la.
Visto minha camisa, deixando apenas três botões abertos, meu peito tatuado um pouco
exposto, deixando que uma parte da minha tatuagem esteja à vista. Estou vestindo uma calça
branca de tecido fino, pondo um relógio de ouro apenas para não ficar tão simples. Calço apenas
um tênis também branco, e bagunço levemente os meus cabelos, tentando deixá-lo o mais natural
possível.
Passo perfume e me olho no espelho, satisfeito. Pego o celular para ver a hora, 22:05
estampado na tela. O desbloqueio e mando uma mensagem para avisar Ally que já estou pronto
para irmos. Pego as chaves do meu carro e saio do quarto, indo para a sala onde meu pai está
sentado no sofá assistindo um filme qualquer na televisão, enquanto Lady está em seu colo.
Franzo o cenho por ele não estar arrumado para irmos à praia e ando até ele, tampando sua
visão do filme. Ele me olha.
— Chase, você não é transparente. Pode sair da frente? — meu pai pergunta, a sobrancelha
grossa arqueada.
— Por que o senhor ainda não se arrumou? — pergunto.
— Eu não vou — responde, fazendo carinho no pelo de Lady.
Franzo o cenho.
— O quê? Por quê?
Olho para cima, vendo Pietro vir sorrindo até mim, vestido exatamente como eu. Uma calça
branca de tecido fino, uma camisa da mesma cor, de botões aberta e uma regata por dentro. Ele
dá uma voltinha.
— Estou pronto, noi! — Sorri.
Desvio meus olhos de Pietro e os direciono para o meu pai, ainda esperando a resposta dele.
Ele suspira.
— Filho, você não pode arrastar seu irmão e eu para qualquer lugar que você vá. — Ele
sorri, o rabo de Lady se enrolando ao redor de seu pulso.
— Do que o senhor está falando? — Enrugo a testa, totalmente confuso.
Meu pai põe Lady em cima de uma almofada e se levanta, tirando os pelos dela de sua
roupa.
— Estou dizendo que eu vejo que você vive se esforçando para incluir a mim e a Pietro em
suas diversões — ele diz. — Foi assim no Natal, eu te conheço, filho. Sei que você não queria
que passássemos sozinhos.
Eu o olho como se ele fosse louco e ele ergue as sobrancelhas, claramente achando que tem
razão.
— Falando assim parece até que o Chase faz caridade. — Pietro faz uma careta, coçando a
cabeça.
Suspiro e fixo meus olhos em meu pai.
— Papà, de onde o senhor tirou isso? — Passo a mão direita por meu cabelo, bufando. — Se
eu chamo o senhor e Pietro para saírem comigo, é porque eu quero. Vocês são a minha família,
que sentido faria eu não querer passar datas comemorativas com vocês?
De onde o meu velho tirou isso? Ele fala como se eu me sentisse na obrigação de arrastar ele
e Pietro comigo por aí. Quando, na verdade, só os quero perto de mim.
— Eca. — Olho para Pietro, vendo-o com a mesma careta de merda de antes.
Ergo os dedos do meio para ele no exato momento em que alguém bate na porta. Pietro corre
até ela e a abre, uma Allyson lindamente arrumada aparecendo.
Seu vestido tem um decote discreto em formato de coração, mostrando um pouco da
tatuagem e as mangas estilo cigana, folgadas nos braços e juntas nos pulsos. Tem uma mínima
abertura na barriga ligada por algumas tirinhas e da cintura para baixo, é soltinho, levemente
curto. O cabelo está partido ao meio e ela está sem maquiagem, apenas um gloss incolor. Linda.
E minha.
— Nossa, cunhadinha, até parece gente. — Pietro sorri, olhando-a de cima a baixo.
Sorrio.
— Vai á merda, Pietro! — Ally ergue a mão para bater nele.
Pietro segura seu braço direito, impedindo que ela o agrida.
— Nem tenta, pinscher. — Pietro sorri.
Allyson passa os olhos por minha sala e ergue as sobrancelhas ao ver meu pai. Ela olha dele
para Pietro e em seguida abre um sorriso maligno, parecendo o Coringa.
— Senhor Anthony, Pietro está machucando o meu braço, dói muito. — uma lágrima
escorre pela bochecha dela.
Pietro a olha totalmente chocado e abro um sorriso, assistindo ao show de atriz de
Hollywood que a minha namorada está dando.
— Solta o braço dela, Pietro! — Meu pai aponta um dedo na direção dele. — Você está
machucando-a!
Meu irmão arregala os olhos.
— Mas eu nem estou apertando! — Pietro ergue o braço de Allyson.
— Então por que está doendo tanto? — Allyson pergunta, mais lágrimas descendo por suas
bochechas.
Eu ando até eles e puxo minha namorada para mim, empurrando sua cabeça contra o meu
peito em um gesto de proteção. Pietro larga o braço dela.
— Não fica assim, gattina. — Beijo o topo da cabeça dela, alisando suas costas. — Você
quer ir à delegacia fazer um B.O contra esse machista?
Meu irmão parece ainda mais chocado do que antes. Ele põe as mãos na cintura e nega com
a cabeça, rindo desacreditado.
— Vocês se merecem.
Passo meus braços ao redor de Allyson e ela por minha cintura.
— Pode apostar que sim.
Allyson me solta e vira de frente para o meu pai que tem um sorriso nos lábios. Por estar tão
próximo dela, posso sentir o cheiro doce que exala de seu corpo e cabelos. Ambos os aromas são
diferentes, mas estou intoxicado com todos dois. Nada novo sob o sol.
— Por que o senhor não está arrumado? — ela pergunta, confusa.
Meu pai dá de ombros, sorrindo minimamente.
— Eu não vou.
Allyson se solta de mim e anda rapidamente até ele.
— Como assim o senhor não vai? Por quê? — Põe as mãos na cintura.
Meu pai abre a boca para falar, mas eu o interrompo, sabendo que ele vai inventar alguma
desculpa.
— Ele acha que nós o chamamos por pena — digo, vendo meu pai me olhar com olhos
mortais.
Eu apenas dou de ombros e Allyson ergue as sobrancelhas, virando-se mais uma vez para
ele.
— Não acredito que o senhor acha isso. — Ela nega com a cabeça. — Se o senhor soubesse
como eu dificilmente sinto pena de alguém, não pensaria isso. Chamamos o senhor e Pietro para
irem porque queremos. Vocês são a família do meu namorado, eu… eu quero ficar mais próxima
de vocês… — Ally baixa a cabeça, visivelmente envergonhada.
Eu me seguro para não rir do seu desconforto e olho para o meu pai que tem os olhos nela.
Saber que Allyson quer se aproximar da família, me deixa feliz. Gosto de saber que ela não se
sente indiferente a eles, caso o contrário, nós não daríamos certo.
Meu pai suspira.
— Mas, Allyson…
— Mas nada, o senhor pode ir agora mesmo se arrumar e não aceito não como resposta. —
Ally o interrompe, cruzando os braços.
Meu pai olha de mim para Pietro pedindo ajuda e nós viramos o rosto, fingindo que não é
com a gente. Derrotado, ouço meu pai suspira mais uma vez.
— Ok, vou tomar um banho rápido e me arrumar — ele diz e se vira, indo embora.
— Vou ajudar o senhor, não quero ficar aqui vendo eles se agarrarem. — Pietro vai atrás
dele, mas não sem antes nos lançar um olhar de nojo.
Allyson ergue o dedo do meio para ele e faz um carinho no pelo de Lady, enquanto ela
dorme. Ando até ela e a abraço por trás.
— Onde está Justin? — pergunto, beijando seu ombro nu.
Ela está tão cheirosa que eu poderia enfiar meu rosto no pescoço dela. Allyson se vira para
mim e passa os braços por meu pescoço, brincando com os cabelos de minha nuca. Analiso seu
rosto, vendo as maçãs levemente saltadas de seu rosto e seus lábios carnudos cobertos pelo gloss.
— Ela está dormindo na minha cama — Ally responde, espalmando a mão esquerda em meu
peito enquanto a direita continua em minha nuca.
Inclino-me para beijar seu pescoço e ela pende a cabeça para o lado.
— Você está linda, gattina — sussurro, subindo os beijos para o queixo dela.
A sinto sorrir.
— Já agradeceu hoje por namorar uma grande gostosa?
Sorrio de lado.
— Todos os dias — confesso, deslizando meus lábios por cada parte de seu rosto.
Allyson fecha os olhos e agora espalma as duas mãos em meu peito, como se estivesse
aproveitando o carinho. Contendo a vontade de sorrir, beijo suas pálpebras, queixo, bochechas e
testa, qual demoro meus lábios por lá. Ally beija meu peito e ergue os queixo para mim, abrindo
os olhos avelã. Desço meus olhos para sua boca e ela entreabre os lábios, claramente um convite.
Nossos lábios se encontram e apenas o contato de nossas línguas faz meu corpo incendiar.
Ela me puxa pela nuca e firmo meus dedos em sua cintura, colando meu corpo ao dela. Sem
noção de nada, nós andamos sem rumo até as costas dela baterem na parede, eu a encurralando.
Chupo a língua dela e ela ofega, meu pau dando uma fisgada dentro da minha cueca com sua
reação. Faz quase duas semanas que não transamos e eu não posso estar com mais fome dela do
que agora. Nos separamos quando a falta de ar se faz presente e abro os olhos, encontrando os
dela.
— Eu estou com vontade, Ally… — suspiro contra a boca dela.
Allyson desliza as unhas por minha nuca, mordendo o lábio inferir.
— Eu também. Muita. — Ela beija meu queixo, pressionando-se contra o meu corpo.
Eu não gosto de parecer um tarado viciado em sexo, mas não é minha culpa se ela desperta
esse meu lado. Ao mesmo tempo que quero beijá-la e enchê-la de carinho, também quero fodê-la
e enchê-la com a minha porra. Essa é a minha luta interna quando estou com ela.
Sem conseguir me conter, deslizo minha mão para dentro de seu vestido, mas não antes de
espiar para ver se estamos sozinhos. Ally fica na ponta dos pés e abre levemente as pernas, me
dando passagem. Por cima da calcinha de renda, deslizo meus dedos até a sua entrada,
encontrando o tecido um pouco úmido. Ela geme baixinho e encosta a testa no meu queixo.
— Qual a cor? — pergunto, meu polegar pressionando seu clitóris por cima do tecido.
Allyson afasta a cabeça.
Ela morde o lábio e se encolhe. Como meu corpo é bem maior que o dela, ninguém pode vê-
la ou saber que minha mão está entre as suas pernas.
— Vermelha — ela diz com a voz falha, sabendo ao que estou me referindo. — Renda
vermelha.
Xingo em italiano e retiro minha mão de perto sua calcinha antes que eu faça uma estupidez
na sala do meu apartamento.
Quando olho nos olhos de Ally, vejo que ela quer isso tanto quanto eu. Estou com saudades
dela. Do calor de seu corpo e cheiro. Dos gemidos melódicos e de ter as minhas costas
arranhadas. Agarro o queixo dela e lhe beijo com força.
— Vou levar camisinha — digo quando nos separamos.
— Apoio — Allyson diz ofegante, concordando com a cabeça.
Ignorando o ninfomaníaco que existe em mim, passo meus braços por sua cintura e a puxo
ainda mais contra mim, Allyson apoiando a cabeça em meu peito enquanto abraça a minha
cintura.
— Minha família está esperando a gente na praia — Ally diz, fazendo um carinho em
minhas costas.
— Eles vieram? — franzo o cenho, confuso.
— Sim, eu os convidei. — ela responde, piscando os cílios espessos — Chase, você está
lidando bem com a falta do cigarro?
A encaro, refletindo sobre sua pergunta.
— Tem dias que parece que vou surtar se não fumar, mas até agora, estou lidando bem. Se
ficar difícil, eu te falo, amor.
Ela assente e fico abraçado a ela, sentindo seu coração bater em um ritmo rápido assim
como o meu. Sinto os lábios de Allyson sobre a pouca pele exposta de meu peito.
— Chase?
— Hum?
— Você também está lindo.

— Pensei que vocês não viriam mais. — Sophia revira os olhos quando vê Ally, minha
família e eu indo até ela e o resto do pessoal.
A família de Allyson e nossos amigos já estão todos aqui. A praia está um pouco lotada e até
que o pessoal escolheu um bom lugar para ficar.
— Anthony. — Meu sogro sorri para o meu pai. —, você veio. — Eles trocam um aperto de
mão.
— Sua filha me convenceu na marra. — Meu pai sorri.
— Ela puxou a mãe. — Richard suspira.
Minha sogra dá um tapa em sua nuca e ele a olha com raiva, massageando a área atingida.
Ela arqueia a sobrancelha.
— O que foi, vai bater em mim de volta, machista? — põe as mãos na cintura.
Todo mundo ri e faço o mesmo, vendo que a Ally claramente puxou a mãe.
— Hipócrita. — Richard resmunga.
Sophia revira os olhos e Allyson e eu vamos até os nossos amigos que estão conversando
com Adrien e Pietro. A mão dela está encaixada na minha e vejo alguns homens olhando com
desejo para ela dos pés a cabeça, pouco se fodendo se ela é minha namorada ou não.
— Estou dizendo a vocês, minha mãe me contou que a Ally mijou na cama até os doze anos.
— Adrien diz, balançando a cabeça.
Eu dou risada e aponto para a cara dela, ela larga minha mão e cruza os braços.
— Uma vez eu tentei vender Chase, mas a mulher disse que eu deveria ter vergonha por
tentar vender uma criança tão feia. — Pietro suspira.
Eu imediatamente fecho a cara e é vez de Allyson rir da minha cara.
— Vocês deveriam parar de rir do problema de bexiga da Ally! — Tessa diz, tentando
esconder um sorriso.
— Uma vibe mais mijona. — Kat sorri, abraçada a namorada.
Adam puxa Allyson pela mão, abraçando sua cintura fina com uma falsa carranca em seu
rosto.
— Parem de zoar o meu dragão! — ele diz.
— Eu odeio vocês. — Ela suspira, tirando as chinelas e as colocando onde as dos nossos
amigos e família estão. Faço o mesmo.
Michael põe a mão em meu ombro.
— Então quer dizer que você era mais feio do que agora? — Ele sorri.
— Você está muito atrevido para o meu gosto. — Dou um soco fraco em seu braço.
— Ei, só eu posso fazer bullying com ele. — Pietro diz, dando de ombros. — Mas, sim, o
coitado era uma criança muito feia.
— Vão a merda vocês dois. — Mostro o dedo a eles.
O pessoal ri, e passo meus braços pela cintura de Ally quando uma rajada de vento gelado
passa por nós. A aperto com força e beijo a parte de trás de sua cabeça, sentindo o cheiro de seu
xampu.
— Está com frio, mijona? — pergunto em seu ouvido.
Ela rapidamente se solta dos meus braços e se vira de frente para mim.
— Pelo menos eu era uma criança mijona bonita. — Ally sorri, dando alguns passos para
trás.
Eu aperto meus olhos em sua direção e dou um passo à frente.
— Melhor correr, gattina — aviso.
Vou em sua direção e ela solta um gritinho, correndo para longe de mim. O vento balança
seus cabelos e ela olha para trás, arregalando os olhos quando vê que estou perto de pegá-la.
Meus pés afundam na areia a medida que corro e não consigo parar de sorrir enquanto vou atrás
de Allyson.
Ela entra na água e, quando vai olhar para trás novamente, agarro-a pela cintura, fazendo-a
gritar. Ela ri e andamos mais alguns passos até que a água esteja batendo nos joelhos dela e na
metade da minha canela. Allyson se vira para mim.
— Vamos nos molhar — diz, passando os braços por meu pescoço.
A água está gelada e passo meus braços por sua cintura, suspendendo-a um pouco para que
não fique doente.
— Tenho uma jaqueta no carro, você quer? — pergunto, beijando a bochecha dela.
Ela assente.
— Quero.
— Então vem. — Pego na não dela, puxando-a para fora do mar gelado.
Descalços, nós caminhamos pela areia da praia de mãos dadas e passo meu braço direito ao
redor de seus ombros, sentindo-a um pouco gelada. Embora não vá chover e o céu não esteja
nublado, o vento está totalmente frio, e Allyson tem tendência a ficar resfriada com facilidade.
Nós paramos em frente ao meu carro que está um pouco longe da praia e tiro as chaves do
meu bolso, abrindo a porta. Ponho metade do corpo para dentro, a fim de achar a jaqueta, quando
algo é jogado no banco do motorista. Ergo meus olhos diante do que vejo. Uma calcinha. Uma
calcinha de renda vermelha.
Tiro meu corpo de dentro do carro e quando vou me virar, Allyson me abraça por trás. Suas
mãos sobem para meu peito e ela beija as minhas costas.
— O que está fazendo? — pergunto, vendo-a desabotoar um dos botões da minha camisa.
— Estou com frio.
— O que faz você pensar que tirando a calcinha vai fazer com que seu frio passe? — Sorrio
de lado.
Não tem ninguém ao nosso redor. Só carros e mais carros.
— Não é a calcinha que tirei que vai fazer meu frio passar — Allyson sussurra, mordendo
minhas costas por cima da camisa.
Contorço-me um pouco.
— E quem é?
A resposta vem clara e objetiva:
— Você.
No instante seguinte, eu me viro de frente para ela e pego em sua cintura, puxando-a para
dentro do carro comigo. Após jogar a calcinha dela no banco do passageiro, caio sentado no do
motorista com Allyson em cima de mim e as pernas definidas ao redor das minhas. Nos viro para
a frente e deito um pouco o banco do carro. Allyson fecha a porta e depois nós estamos nos
encarando no escuro do carro, as janelas fechadas.
Sua respiração está acelerada assim como a minha e ligo o ar-condicionado. Eu não pretendo
sair daqui de dentro tão cedo.
Subo minhas mãos pelas pernas de Allyson, meus olhos fixos nela.
— Por quê você tem que ser tão safada e ter tirado a calcinha, Ally? — Massageio as coxas
dela, aos poucos subindo minhas mãos. — Agora eu não vou conseguir me controlar.
Sei muito bem que se subir um pouco mais vou encontrar uma coisa deliciosa.
Allyson empurra meu corpo no banco meio deitado, me deixando do mesmo jeito.
— Quem disse que eu quero que você se controle? — Ela morde o lábio inferior, terminando
de desabotoar minha camisa.
Ao terminar, ela a abre e se inclina sobre mim para beijar a tatuagem de pássaro em meu
peito. Suas unhas deslizam por meu abdômen.
— Você está brincando com fogo, gattina… — Subo minhas mãos para sua bunda nua, as
enchendo com a carne dela.
Allyson sorri, jogando o cabelo para trás.
— Eu adoraria me queimar. — Ela desliza a língua em minha tatuagem, não desviando os
olhos dos meus.
Meu pau começa a endurecer logo abaixo dela e Allyson percebe já que undula levemente o
quadril, esfregando a boceta nua em meu pau. Solto um grunhido e, pela bunda, a ajudo a rebolar
com mais força, imaginando o quanto ela deve estar molhada.
Querendo tirar a prova, adentro seu vestido e deslizo os dedos de minha mão direita por seu
clitóris inchado, lhe arrancando um gemido.
— É aqui que você quer que te esquente? — enfio dois dedos de uma vez dentro dela que
grita, agarrando meus ombros.
Sua cabeça pende para o lado e seu cabelo vai junto, lhe dando um ar sexy. Ela abre a boca
para responder, mas sai apenas um gemido quando eu a penetro com mais força.
— Chase… — Allyson consegue dizer, fechando os olhos bonitos.
Curvo os dedos dentro dela, vendo-a começar a rebolar neles em busca de mais.
— Hum?
A boca dela paira sobre a minha.
— Me come. — Ally chupa meu lábio inferior, apertando meus dedos com sua boceta
quente. — Agora.
Eu quero torturá-la dizendo que ainda não, que ainda vou fazê-la implorar e vou brincar com
ela por mais tempo. Mas nós praticamente fugimos do nosso pessoal, e transar no carro não me
parece muito confortável.
Levo minha mão esquerda para sua nuca e pego os cabelos dela, trazendo seu rosto para
mais perto do meu.
— Escute bem, Ally… — Mando contra seus lábios. — Você vai por meu pau para fora,
pegar uma camisinha no porta-luvas, pô-la em mim e em seguida erguer esse vestido e sentar no
meu pau. — olho para o relógio do carro, vendo quanto falta para 00:00 — Cinco minutos, é
tudo o que temos. Você vai rebolar essa boceta gostosa até nós gozarmos, acha que pode fazer
isso pelo seu homem? — meto meus dedos nela com mais força.
Allyson engole em seco e geme alto quando aumento a velocidades de meus dedos.
— Sim, sim! — Ela choraminga,
Sorrio de lado.
— Ótimo, então faça isso agora. — Eu mando, tirando meus dedos dela e afastando minha
mão.
Com rapidez e habilidade, Allyson abre a minha calça e puxa meu pau para fora, esticando o
braço para pegar a camisinha no porta-luvas. Ela a rasga e a desenrola por todo o meu
comprimento, lambendo os lábios. Minha namorada reúne o vestido com a mão e o ergue, me
dando a visão de sua boceta.
Ela olha para mim enquanto leva a mão para trás e agarra meu pau, direcionando-o para sua
entrada. Gemo quando apenas a glande entra nela e sem conseguir me segurar, agarro sua cintura
e a puxo para baixo, me enterrando totalmente em seu calor apertado.
— Porra! — Nós xingamos ao mesmo tempo.
As mãos de Allyson agarram meus ombros com força enquanto ela respira fundo, os olhos
apertados. Adentro seu vestido e deslizo minhas mãos por sua bunda, agarrando sua cintura. Sua
boceta está pulsando por dentro e sugando meu pau de uma maneira que chega a ser sufocante.
Olho para ela e beijo sua tatuagem.
— Tudo bem? — pergunto, vendo-a assentir. — Ótimo.
Agora temos apenas três minutos.
Eu me impulsiono para dentro dela e Allyson geme, deslizando as unhas por meu abdômen.
Ela começa a rebolar e cada ação de seu quadril faz parecer que ela está me engolindo. Seus
movimentos sincronizam com os meus e ela joga a cabeça para trás, tão louca quanto eu.
— Céus… — Ela geme alto, agarrando os cabelos de minha nuca. — Forte, Chase. Eu quero
forte e rápido — sussurra.
Eu sorrio e agarro a bunda dela, levando meus lábios para seu pescoço cheiroso.
— Pode apostar que não estou pensando em pegar leve. — Mordo o pescoço dela, sentindo-
a sentar-se em mim com mais força.
Meus dedos se enterram na carne de sua bunda quando ela gira o quadril e ergo o meu, lhe
penetrando com força até o talo. Sua boca se abre e aproveito isso para enfiar minha língua,
envolvendo-a em um beijo. Allyson chupa a minha língua e contraí propositalmente, quase me
fazendo gozar.
Lhe dou um tapa forte na bunda e ela relaxa a buceta novamente, sorrindo safada ao que
solta a minha língua. Seus beijos descem para meu queixo e o mordem, suas reboladas nunca
cessando.
Dois minutos.
Allyson sobe um pouco até que só a glande do meu pau esteja nela e contrai a cabeça do
meu pau, rebolando ao mesmo tempo.
— Allyson… — Gemo, pendendo minha cabeça no banco do carro. — Cazzo, eu vou gozar
— murmuro.
Ela chupa o meu pescoço.
— Você mandou eu rebolar até nós gozarmos… — Me lembra, abraçando meu pescoço. —
Eu vou fazer meu homem se sentir bem. — Sorri, mordiscando meu pescoço.
Merda. Mil vezes merda!
Agarro a bunda de Allyson e começo a comê-la com força, o som de nossos corpos se
chocando repercutindo por todo o carro, me deixando com ainda mais tesão.
— Isso, assim! — Ally espalma a mão direita no vidro na janela, acompanhando meu ritmo.
É perfeito como nós encaixamos bem, fomos feitos um para o outro e isso é apenas uma das
provas. Estapeio a bunda de Allyson quatro vezes e ela grita, começando a quicar no meu pau.
Cinquenta segundos.
— Continue assim, gattina, nos faça gozar — murmuro, beijando o pescoço dela.
— Chase, eu estou quase lá… — Ally diz entre gemidos, enchendo o interior carro de sons.
Trinta segundos.
A boceta de Ally me suga e sei que dessa vez não foi de propósito já que seu corpo ficou
tenso e ela choramingou alto, a mão pequena ao redor do meu pescoço. Ela buscou a minha boca
e absorvi seus gemidos, sentindo espasmos tomarem conta do meu corpo.
A cabeça do meu pau incha gradativamente e eu já sei que vou gozar.
Dez segundos.
A língua de Ally dança no céu da minha boca e suas reboladas começam a ficar mais fortes e
rápidas. Seu corpo começa a tremer e ela se afasta um pouco, os olhos fechados. Meu corpo fica
tenso e olho para Allyson, vendo-a abrir os olhos. Lá fora as pessoas estão começando a
contagem regressiva para o Ano Novo e aqui dentro, Allyson e eu, a contagem regressiva para
nosso orgasmo.
Cinco.
Uma estocada.
Quatro.
Uma rebolada.
Três.
Mais uma estocada.
Dois.
Estamos no nosso limite.
Um.
Nós gozamos juntos.
Allyson abre a boca em um gemido mudo enquanto goza ao meu redor e suas costas se
arqueiam, totalmente sensíveis. Meu gozo enche a camisinha e meu corpo relaxa, ainda sentindo
a entrada de Allyson se contrair, pulsando sensivelmente. Ela abre os olhos e desço o vidro da
janela, deixando que os fogos de artifício sem som encham nossas visões.
Olho para ela.
— Feliz ano novo, gattina. — Sorrio para ela, acariciando suas costas.
Allyson sorri.
— Feliz ano novo, amor. — Ela pega meu rosto entre as mãos, me dando um selinho
demorado.
De cenho franzido, analiso a minha barriga em frente ao espelho, vendo como ela está com
uma pequena protuberância arredondada. Fico de lado, estranhando quando vejo que minha
barriga está levemente inchada. Hoje, no café da manhã, botei para fora tudo o que comi por
absolutamente nenhum motivo.
E o mais estranho ainda, é que acordei enjoada pra caralho essa manhã.
Rapidamente, abaixo a camisa larga e passo as mãos por meu cabelo quando um pensamento
desesperador me invade. Não. Não tem a menor possibilidade de ser isso, eu tomei pílula todas
as vezes em que Chase e eu transamos. Ok que não é 100% eficaz, mas também usei camisinha.
Com certeza não deve ser isso. Não pode ser isso.
— TESSA! — Chamo por minha melhor amiga, não escutando resposta. — PORRA,
TESSA, VEM AQUI!
Como se sentisse a minha aflição, Justin late alto e corre para fora do meu quarto. Alguns
segundos depois uma Tessa com os cabelos desarrumados e uma cara de sono aparece. Seus
olhos estão arregalados e ela para no meio do meu quarto, olhando ao redor.
— Quem morreu? — ela pergunta, entrando no meu quarto.
— Eu, porque eu vou me matar! — exclamo, andando de um lado para o outro com as mãos
na cintura.
Tomara que seja só paranoia minha.
— Você está pálida, aconteceu algo sério? — Tessa esfrega os olhos e se senta na minha
cama, Justin fazendo o mesmo.
Eu paro na frente dela e respiro fundo. Tessa vai saber o que fazer, e se não souber, vai
arrumar um jeito. Ela sempre está comigo quando preciso e é a pessoa certa para que eu conte as
minhas suspeitas. Transo com o Chase faz alguns meses, então meio que uma gravidez não seria
uma surpresa, camisinhas estouraram o tempo todo. Mas ainda assim não posso evitar o pânico
que está me consumindo.
Suspiro e ergo a minha camisa, erguendo-a aos poucos. Minha melhor amiga arregala os
olhos.
— Não, caralho, eu tenho namorada! — Tessa cobre os olhos. — Não quero ver seus peitos,
vai mostrar eles ao Chase, o coitado não merece os chifres!
Eu reviro os olhos e faço o careta.
— O quê? Ficou louca, Tessa?! — pergunto, indignada. — Não quero te mostrar meus
peitos e sim, outra coisa. Vai, olha logo.
Ela lentamente tira as mãos dos olhos e franze o cenho ao ver apenas a minha barriga a
mostra.
— Por que eu iria querer ver a sua barriga? — Ela me olha confusa.
Eu bufo.
— Só a analise com atenção — mando, ficando de lado para que ela veja melhor.
Tessa faz o que eu digo e inclina a cabeça para a esquerda.
— Está meio inchada — ela diz com a voz calma. — É o quê? Verme? — Ergue as
sobrancelhas.
Penso em mandar ela tomar no cu, mas, se eu fizer isso, talvez perca o pouco da paciência
que me resta. E talvez eu também surte antes de saber se estou ou não grávida. E não quero me
estressar por nada.
Abaixo a camisa.
— Eu vomitei meu café da manhã — eu digo calmamente.
— E?
— Estou me sentindo um pouco enjoada.
O cenho de Tessa se franze ainda mais.
— O que você está querendo dizer com isso? — Diante do meu silêncio que já é uma
resposta, ela arregala os olhos. — Ah, meu Deus, você não estaria… — Nega com a cabeça.
— Eu não sei… — digo, meu coração batendo como um louco.
Tessa pula da cama e olha para a minha barriga coberta, tapando a boca com as mãos.
— Como isso foi aconteceu? — pergunta, chocada.
Reviro os olhos.
— Você quer mesmo que eu explique? — Debocho, querendo chorar.
Ela dá alguns passos para trás.
— Ai, meu Deus! É de quem, do Chase? — Minha melhor amiga parece alarmada.
Solto uma risada incrédula e passo as mãos por meu cabelo, quase o arrancando.
— Não, desgraçada, se não for de Chase, vai ser de quem? De Pietro? — Ergo as
sobrancelhas, pondo as mãos na cintura. — Você acha que eu saio dando para todo mundo?!
Tessa começa a dar pulinhos, chacoalhando as mãos ao lado do corpo como uma louca
prestes a surtar. Até parece que quem está grávida é ela e não eu.
— Me desculpa, eu estou nervosa! — Olha-me com aflição. Então, solta uma risadinha
nervosa. — Eu vou ser tia!
Nego desesperadamente com a cabeça.
— Não, você não vai! — eu digo com a voz firme. — É só uma suspeita mais do que errada
e impossível! — Começo a andar de um lado para o outro.
Isso tem que ser apenas verme na minha barriga. Nego-me a processar a possibilidade que
talvez tenha um ser humano crescendo dentro de mim. Nesse corpinho lindo que Deus me deu.
Tessa me agarra pelos ombros, me parando.
— Vamos fazer um teste de farmácia! — ela fala, os olhos arregalados.
— Eu juro que se você arregalar ainda mais os olhos, eles vão pular para fora — digo,
temendo que isso aconteça.
Tessa me larga.
— E se você não fizer um teste, vai ficar aí, criando teoria — ela diz. — Vamos fazer, não
custa nada.
Eu quero fazer o teste, não aguento mais as paranoias que a minha cabeça está criando. Se
eu não tirar as minhas dúvidas agora, não terei coragem para tirar depois, apenas esperarei para
ver se a minha barriga cresce ou não. Se brincar, por puro medo, esperaria até o dia do parto,
com a esperança de que seja engano.
— Está bem. — Suspiro.
Tessa põe as mãos na cintura curvilínea.
— Allyson, me responde uma coisa… — Ela começa, me olhando atentamente. — Você
usou camisinha em todas as vezes em que transou com o Chase?
Penso um pouquinho antes de sorrir amarelo para Tessa.
— Talvez eu tenha deixado de usar umas três vezes… — Dou alguns passos para trás,
temendo levar um chute.
Tessa me olha alarmada.
— O quê? Você está maluca?! — Ela passa as mãos pelo cabelo cacheado, agora natural. —
Por que caralhos você não usou proteção? Tomou pílula, pelo menos?
Meu rosto se contorce em uma careta de choro enquanto assinto.
— Eu fui na fé! — Tapo meu rosto, começando a chorar.
— É na fé que nasce a Vitória, caralho!
Bato nas mãos dela.
— Cala a boca, já estou desesperada o suficiente! — Começo a andar de um lado para o
outro pela terceira vez apenas em vinte minutos.
Justin late e paro, olhando para ele. Eu já tenho um filho, não sei se tenho psicológico para
ter outro. De repente, imagens de um bebê com a de Chase surgem em minha mente, ele está
chorando que nem um desesperado, e eu não posso devolvê-lo para a mãe, porque a mãe sou eu!
— Fica aqui, eu vou comprar os testes — Tessa diz, começando a se afastar de mim.
Arregalo os olhos e corro até ela antes que ela chegue até a porta. Agarro-me nela.
— Ah, não, eu não quero ficar sozinha! — Aperto-a com mais força. — Fica aqui comigo!
Tessa bufa alto e se vira para mim.
— Então vou pedir ao Chase para comprar.
Meu desespero apenas aumenta.
— O quê? Não! — Eu a agarro pelos ombros. — Ele vai perguntar para quem é, e eu não
quero contar a ele sem ter a certeza.
Minha amiga suspira e pega meu rosto em suas mãos.
— Está bem, nem eu e nem o Chase. — Alisa as minhas bochechas — Vou pedir para Kat
comprar e trazer aqui, ok?
Tessa sai do meu quarto e pulo em minha cama. Agarro-me a Justin, e ele lambe o meu rosto
e depois se aninha em mim. Enterro meu rosto em seu pelo, tentando acalmar o pânico que
cresce em meu peito devido à conversa com Tessa.
A porta do meu quarto é escancarada e desenterro meu rosto do pelo de Justin para olhar
quem entrou. Franzo o cenho ao ver Adam vir correndo em minha direção. Ele pula ao meu lado.
— É verdade que eu vou ser tio?
Largo Justin e me sento na cama.
— Como você ficou sabendo? — Eu o olho, confusa.
Ele se senta também.
— Eu estava no shopping com a Kat quando a Tessa ligou para ela e pediu o teste de
gravidez. — Ele alisa meu ombro. — Então, é verdade que você se fodeu… digo, que está
grávida?
Eu suspiro e passo as mãos por meu cabelo. Tenho essa mania quando estou nervosa.
— Vou descobrir agora, cadê a Kat? — Olho para ele.
— Aqui.
Olho para a minha porta e vejo ela vindo até nós com uma sacolinha nas mãos, Tessa logo
atrás dela. Levanto-me da cama e pego a sacola quando ela a estende para mim.
— Valeu. — Agradeço.
— Trouxe dois por precaução. — Kat diz e eu assinto. Quando me viro para ir ao banheiro,
ela agarra meu braço. — Você está bem? — pergunta.
Olho para ela antes do meu rosto se contorcer em uma careta de choro e me jogo nos braços
dela.
— Eu não estou preparada para ter uma criança, Kat! — Enterro meu rosto no pescoço dela,
sentindo seus braços me rodearem. — Não quero ser arregaçada, minha perseguida é tão
bonitinha!
— Eu sei, eu sei… — Kat esfrega as minhas costas.
— Sabe? — Tessa pergunta, indignada.
— Segue o roteiro, amor. — Kat diz para minha melhor amiga.
Alguém me tira dos braços de Kat e me toma nos próprios.
— Não fica assim, dragãozinho… — Adam beija o topo da minha cabeça. — Se o Chase for
o cara certo, ele vai gostar da sua perseguida mesmo ela estando feia.
Eu sujo a camisa de Adam de catarro e quando me afasto dele, vejo que ele está fazendo
uma careta de nojo.
Uma mão acaricia meu ombro e olho para o lado, vendo Tess.
— Vai fazer o teste, estaremos à sua espera aqui.
Eu assinto enquanto fungo e começo a ir em direção ao banheiro, trancando a porta ao
entrar. Tiro os testes de gravidez da sacola e a jogo no chão, pondo um dos testes em cima da pia
e andando até o vaso. Desço meu short e calcinha e começo a fazer o que vai me dizer se estou
grávida ou não.
Eu não quero que dê certo, não vou ser hipócrita e dizer que sim. Não me sinto preparada
para criar uma criança, ainda sou jovem e tenho meus sonhos e metas. Quanto ao Chase, também
não sei o que ele vai fazer caso eu esteja grávida.
Ao terminar, olho para o teste em minhas mãos e espero para ver quantas listrinhas irão
aparecer. Uma. Negativo. Duas, positivo. Meu coração quase salta em meu peito ao que vejo
duas listrinhas rosa no teste. Positivo.
Desesperada, jogo o teste no chão e estico meu braço para pegar o outro em cima da pia.
Não. Deve estar quebrado. Tem que ser isso. Faço xixi e fecho meus olhos enquanto ergo a mão
para levantar o teste de gravidez. Respiro fundo e abro lentamente os meus olhos, franzindo o
cenho ao ver agora apenas uma listrinha rosa. Negativo.
Seco-me com o papel higiênico e arrumo as minhas roupas, pegando o teste que joguei no
chão e lavando as minhas mãos. Quando saio do banheiro, meus amigos estão esperando, todos
com as expressões apreensivas. Até Justin está com as orelhas erguidas, totalmente atento.
— E então? — Tessa é quem pergunta primeiro.
Aperto os testes em minha mão, andando até eles, que se levantaram da minha cama.
— Fala logo, nem unha eu tenho mais. — Kat resmunga, mostrando as unhas curtas para
mim.
— Fala antes que eu tenha um ataque de ansiedade. — Adam esfrega as mãos no rosto.
Eu ergo os dois testes de gravidez e Tessa os pega da minha mão, Adam e Kat se
aproximando dela. As sobrancelhas dos três se erguem, alarmados e surpresos.
— Não estou entendendo mais nada. — Tessa coça a cabeça.
— Nem eu. — Kat diz, confusa.
— Afinal, você está grávida ou não? — Adam olha para mim.
Abro os braços, totalmente frustrada e tão confusa quanto eles. Um teste deu positivo e o
outro negativo. Merda, o que isso quer dizer?
— Kat me deu dois testes, e eles atestaram coisas totalmente opostas. — Passo as mãos por
meu rosto, totalmente confusa.
— Então você está meio grávida? — Adam faz uma careta.
— Eu não sei.
Eu jogo meu corpo para trás na cama, pego um travesseiro e o ponho sobre o meu rosto, me
permitindo gritar o mais alto que consigo. Três pessoas se jogam ao meu lado e alguém retira o
travesseiro do meu rosto.
— Ally, você vai ter que ir em um médico — Tessa diz, me olhando.
Nego com a cabeça.
— Tenho medo da resposta.
Kat faz um carinho em meu cabelo.
— Olha, independente do resultado, vamos te ajudar — ela diz e eu a olho. — Se você
estiver grávida, vamos comprar fraldas, pomadas para assadura, mamadeiras e chupeta. Mas se
não estiver, ainda vamos estar do seu lado, seja qual for o resultado. Nós três estamos aqui por
você.
Minha vontade de chorar apenas aumenta e me vejo apenas assentindo. É tudo que consigo.
— Vai dar tudo certo, Ally. — Adam beija a minha testa.
Eu sorrio para eles e permito que lágrimas deslizem por minhas bochechas. Eu os amo, sou
tão grata por tê-los. Ao mesmo tempo que quero matá-los, quero mantê-los perto de mim para
sempre.
— Ally? Gattina? Você está aí…?
Olhamos para a porta do meu quarto e vejo Chase parado com um sorriso no rosto. Quando
ele nota as lágrimas em meus olhos, corre até mim e me puxa da cama, me tomando em seus
braços. Não era para eu estar pensando nisso, mas que clichê do caralho.
— Ally, o que aconteceu? — Chase pega meu rosto em suas mãos, limpando minhas
lágrimas — O que houve, principessa? Alguém te fez mal?
Meus amigos se levantam da cama, e eu olho para Tessa, encontrando-a com um olhar de
“conte para ele”.
— Vamos deixar vocês conversarem — ela diz, puxando Adam e Kat para longe de nós.
A porta é fechada, restando apenas Chase, Justin e eu no quarto. Olho para o meu namorado,
seu semblante com total preocupação. Os olhos cinzentos e apertadinhos me encaram em busca
de uma resposta.
Ponho as mãos nos ombros dele, empurrando-o para a cama.
— Sente-se — peço.
Confuso, Chase faz o que digo, e me afasto dele, tomando coragem para falar. Tessa está
certa, tenho que contar ao Chase. Se eu estiver grávida, o que ainda é um mistério, ele tem direito
de saber, já que é o pai.
— Você está me deixando preocupado.
— Chase, você ainda fuma? — pergunto de repente.
Ele franze o cenho.
— Você sabe que não mais — ele diz. — Mas por que a pergunta?
Rio de nervoso.
— Nada, só por precaução. — Ponho as mãos na cintura, fungando. — Vai que você diz que
vai comprar cigarro e some.
Chase se levanta da cama e vem até mim, agora parecendo impaciente.
— Allyson. — Meu nome sai sério. — O que está acontecendo? — pergunta pausadamente.
Sem saída, eu apenas respiro fundo e coço minha cabeça.
— Talvezeuestejagrávida — digo de uma vez e fecho meus olhos com força.
— Repete, eu não entendi.
Abro meus olhos e suspiro, erguendo o rosto para encará-lo. Vamos lá, Ally. Olho para os
testes de gravidez em cima da minha cômoda.
— Talvez eu esteja grávida.
Chase ergue as sobrancelhas e puro choque passa por seu rosto. Ele dá alguns passos para
trás, seu peito subindo e rescendo com violência.
— O quê? Como isso aconteceu? — pergunto, a voz falha.
Engulo em seco.
— Quer mesmo que eu explique? — Reviro os olhos e pego os testes, os erguendo para que
ele veja. — Fiz dois. Um deu positivo e o outro negativo. Temos que ir ao médico para saber
qual está certo.
Chase encara os testes em minha mão e aponta para eles, a boca aberta e os olhos
arregalados. De repente, seu corpo começou a pender para o lado e arregalo os olhos, jogando os
testes na minha cama e correndo até ele. Chase vai ao chão antes que eu possa segurá-lo e o som
do baque repercute por todo o quarto.
— Chase, acorda! — Ajoelho-me ao lado dele, dando tapinhas em seu rosto. Nada.
Merda, o idiota desmaiou.
Escuto uma voz bem distante me chamar e continuo de olhos fechados. Parece a voz da
Ally. Quando estou quase abrindo os meus olhos, sinto algo pesado bater contra ambas as
minhas bochechas e dou um sobressalto e me sento, abrindo as minhas pálpebras para ter noção
do que aconteceu.
Meus olhos caem direto em uma Allyson com as pernas ao redor da minha cintura, com a
mão direita levantada e o rosto banhado em lágrimas. Ela me bateu.
— Nem pense em morrer, Chase Fontana! — Ally diz, o peito subindo e descendo. —
Prefiro que você vá comprar cigarro e por a polícia atrás de você do que te enterrar.
— Quanto tempo fiquei desmaiado? — Eu engulo em seco.
— Apenas uns trinta segundos.
De repente, as imagens de Allyson segurando dois testes de gravidez me dão um soco e
arregalo os olhos. Ela nota meu choque e suspira, levantando-se do meu colo e ficando de pé.
Atordoado, me levanto do chão e engulo em seco. Meus olhos vagam até a cama e tenho que me
segurar para não desmaiar novamente. Os testes.
Allyson segue o meu olhar e cruza os braços sobre os peitos.
— Fala alguma coisa.
Meu olhar desce para sua barriga coberta com uma camisa azul larga.
— Você está… — Eu me interrompo, com medo de dizer a palavra.
Allyson nega com a cabeça.
— Eu não sei… — Abraça o próprio corpo.
Ando até a cama e me sento ao lado dos testes de gravidez, os encarando ainda sem reação.
— Você disse que um deu positivo e o outro negativo.
Ally assente.
— Sim. — Sua voz sai baixa. — Vou ter que ir em um médico para ter certeza. Você vai
comigo, não é?
Eu não respondo, apenas fico olhando para ela. Imagens de uma mini Allyson correndo pelo
apartamento passam por minha mente, tão brava e estressada como a mãe. Olhos avelãs e
cabelos castanhos, me acordando toda noite e pedindo para dormir com a gente.
Tento esconder o sorriso que quase se forma em meus lábios e me contenho. Foco, Chase!
— Merda, Chase, fala alguma coisa! — Ally passa as mãos pelo cabelo, frustrada. — Esse
teu silêncio está me deixando louca, por que não diz nada?
— Eu… Eu não sei o que dizer… — Bagunço os cabelos da minha nuca, algo crescendo em
meu peito. — Como isso aconteceu?
Allyson revira os olhos.
— Eu ganhei em um sorteio do Instagram. — Sorri com sarcasmo.
Nego com a cabeça, ignorando o deboche dela.
— Não, o que eu quero dizer é que… — Engulo em seco. — Você não estava tomando
pílula?
Grávida. De mim.
— Será que você não sabe que pílula não é 100% eficaz? — Ally põe as mãos na cintura. —
O que foi, Chase? Se eu estiver grávida você vai realmente fingir que não sabe como isso
aconteceu? Vai apagar da sua mente todas as vezes em que transamos sem camisinha?
Eu ergo as sobrancelhas por seu tom de voz parecer tão duro e me toco de que eu posso estar
chocado, mas Allyson possa estar ainda mais. Talvez ela esteja grávida e pensar na possibilidade
de uma vida crescendo dentro de você não é uma coisa fácil. Ainda mais para nós que fomos
pegos de surpresa.
Allyson dá um passo para trás.
— Só falta você me perguntar se o bebê é seu… — Ela abraça o próprio corpo novamente,
baixando o rosto.
Eu ando rapidamente até ela e passo meus braços por sua cintura, puxando-a para mim.
— Ei, eu nunca te perguntaria isso — digo com a voz calma, erguendo o rosto dela para
mim. — Se você estiver grávida, eu tenho plena certeza de que é de mim. Me desculpa, gattina,
fui pego de surpresa.
Beijo a testa dela e Allyson me encara, os olhos avelã fixos em mim. Ela funga.
— Me desculpa também… — Ally apoia as mãos no meu peito. — Eu não sei o que pensar.
Assentindo, ando com Allyson colada ao meu corpo até a cama dela e a deito, ficando por
cima. Olho para os testes de gravidez ao nosso lado e escorrego pelo corpo dela até que meu
rosto fique na altura de sua barriga e eu entre as pernas dela. Ergo sua camisa, vendo a barriga
levemente inchada.
Apoio minhas mãos nas laterais das suas costelas.
— Então quer dizer que exista uma grande possibilidade de você estar grávida? — Olho
para seu rosto e ela assente. — Vamos ter um bebê? — Olho alarmado para a barriga dela.
— Nós não sabemos ainda — Ally diz, a voz baixa.
Beijo o centro da barriga dela.
— E se você estiver? — Olho para ela, não deixando de beijar sua pele.
Eu não consigo conter a excitação em saber que talvez ela esteja grávida de mim. Nunca
passou pela minha cabeça, mas eu não detesto nada a ideia. Pelo contrário, eu gosto. Inferno, eu
gosto muito.
— Ainda somos jovens, Chase. Tenho apenas vinte e um anos e você, vinte e três. — Vejo-a
engolir em seco. — Ainda faltam dois anos para que eu termine o meu curso de Biomedicina. E
você?
Hipnotizado demais com a barriga dela, apenas mantenho meus olhos ali.
— Termino esse ano.
Estou encarando a barriga de Allyson como se pudesse, eu mesmo, descobrir se ela está
grávida ou não. Se ela estiver, daqui a alguns meses sua barriga lisinha e achatada vai estar
redonda e eu não consigo apagar a imagem da minha mente. Ela ficaria tão fofa.
— Chase, vamos ao médico. — Escuto a voz de Allyson me tirando dos meus pensamentos.
Quando finalmente olho para ela, vejo como suas íris demonstram preocupação. Os lábios
carnudos pressionados um no outro, formando uma linha reta e as sobrancelhas abaixadas.
Fiquei tanto tempo preocupado com os meus próprios sentimentos que não passou pela
minha cabeça que Allyson pode estar desesperada. Eu subo um pouco até estar pairando acima
do rosto dela e apoio meu cotovelo esquerdo do lado de sua cabeça enquanto ergo a mão direita
para acariciar seu rosto.
— Vamos — eu digo. — Independente do resultado, eu vou estar com você, ok?
Allyson assente e me inclino para baixo, colando meus lábios aos dela em um selinho
demorado e suave. Ao me afastar, beijo suas pálpebras, sentindo o gosto salgado de suas
lágrimas quando passo a língua por meus lábios secos.
Agora eu não sei se as lágrimas dela são de tristeza, felicidade ou desespero.

Já faz algumas horas que eu estou no hospital com Allyson. Ela fez o exame de sangue e
estamos esperando o resultado já que tem tantas pessoas aqui. E Ally não parece disposta a fingir
que está grávida como da última vez, já que agora tem a chance de ela realmente estar.
Desde que saímos de seu apartamento, ela parece estar preocupada. Mas eu também estou,
não só com o resultado, mas também com a Allyson. Sempre que olho para ela, eu a encontro
com o olhar longe como se estivesse pensando, perdida. Enquanto eu, por dentro, estou feliz com
a possibilidade dela me dar um filho, Allyson parece querer fugir a qualquer momento quando
receber o resultado e não for o que ela espera. E não a culpo.
Ainda somos jovens e ainda falta dois anos para Allyson terminar a faculdade. Após isso, ela
ainda tem que estudar para o concurso público de perícia criminal. Nem sempre as pessoas
passam de primeira, e mesmo que eu não goste de admitir, uma criança nesse momento atrasaria
os planos dela.
Não posso só pensar em mim e na minha vontade de formar uma família com a mulher que
amo.
— Allyson Young? — Uma enfermeira chama e Ally rapidamente fica de pé.
Ela anda até a enfermeira e faço o mesmo quando vejo que ela está segurando um papel nas
mãos. Os resultados do exame de sangue.
— Sou eu — minha namorada diz, a voz baixa.
Ponho-me do seu lado e olho para a enfermeira.
— Esse é o resultado, não é? — pergunto, apenas para ter certeza.
A mulher assente.
— É sim, aqui. — Ela dá o papel a Allyson. — Qualquer dúvida, você e o seu marido
podem me chamar.
Ignorando o fato dela achar que Allyson e eu somos casados, olho para minha namorada e a
vejo encarando o papel atentamente, o peito subindo e descendo em uma respiração rápida.
— Ally?
— Não tenho coragem de abrir.
— Quer que eu abra? — pergunto e ela assente.
Pego o resultado de suas mãos trêmulas e o tomo para mim. Allyson e eu andamos até onde
estávamos sentados e nos acomodamos novamente. Ela se vira para mim e respiro fundo antes de
abrir o papel e começar a lê-lo.
Meus olhos passeiam pelas letras, uma por uma com total atenção para não deixar nada
passar. Em um momento, desvio meu olhar para as mãos de Ally quando elas as aperta em
punho, pressionados em suas próprias coxas. Afetado, volto minha atenção para o teste para
terminar de lê-lo. Algo se afunda em meu peito quando vejo o resultado.
— Negativo.
As sobrancelhas de Allyson se erguem e ela abre e fecha a boca várias vezes.
— Impossível — ela diz, negando com a cabeça.
Pressiono meus lábios em uma linha reta.
— É o que diz o resultado, não eu. — Ergo o papel.
Ela não está grávida. Allyson não vai me dar um filho e eu não vou ser pai.
Allyson toma o teste da minha mão e começa a lê-lo, os olhos o varrendo com rapidez. Ela
olha para a sala de hospital como se procurasse algo e quando acha a enfermeira que nos
entregou o teste, se levanta da cadeira de maneira abrupta e corre até ela. Eu vou logo atrás dela,
confuso.
Quando Allyson chega até a enfermeira que está olhando alguns papéis, a mulher sorri para
ela.
— Posso ajudar? — pergunta.
— Deu negativo — Allyson quase sussurra. — Meu teste de gravidez deu negativo — diz,
agora mais alto.
Eu apenas assisto a tudo, tentando controlar a decepção estúpida que cresce em meu peito.
Tento me dizer que não era para ser, ainda não é a hora. Mas não consigo.
— Ficou triste? — A enfermeira a olha, confusa.
— Eu vomitei o meu café da manhã hoje mais cedo porque fiquei enjoada — Allyson diz e
ergue a blusa. — E minha barriga está um pouco inchada. Por que deu negativo?
A enfermeira se curva até estar próxima a barriga dela e com as mãos cobertas por luvas,
começa a pressionar a área com atenção.
— Bom, pelo que estou vendo, é só prisão de ventre — a enfermeira diz. — Quanto tempo
faz que você não faz cocô?
Allyson franze o cenho, mas ainda assim põe a cabeça para pensar. Ponho as mãos nos
bolsos do meu moletom e abaixo meus olhos.
— Acho que… duas semanas — Ally diz, baixando a blusa.
A enfermeira sorri.
— Foi como eu disse. Vou te receitar um remédio — ela fala e anota algo e entrega para a
Ally, que coloca o papel no bolso. — E sobre vomitar seu café da manhã, ele apenas não deve ter
caído bem, por isso o enjoo.
Allyson assente de maneira atordoada e olha para o papel em suas mãos. Ela lambe os lábios
e olha para mim, eu rapidamente ponho um sorriso mínimo no rosto para que ela não perceba
que fiquei decepcionado. Isso é problema meu.
— Mais alguma coisa? — a mulher pergunta.
Nego com a cabeça.
— Acho que não, obrigado. — Mantenho meu falso sorriso.
A mulher assente e vai embora. Olho para a Ally e limpo a minha garganta.
— Vamos?
Ela apenas assente e entrelaça a mão a minha quando a estendo para ela. Allyson põe o teste
no bolso e nós começamos a caminhar para fora do hospital.
Ela ainda parece estar perdida nos próprios pensamentos, andando de cabeça baixa. Talvez
ela esteja aliviada por não estar grávida enquanto eu me sinto iludido. Criei na minha própria
cabeça cenários em que eu segurava uma bebê em meus braços, e isso não pode ser mais
patético.
Quando chegamos ao estacionamento, abro a porta para que a Ally entre e em seguida dou a
volta no carro, entrando também. Pego as chaves no meu bolso e olho para a minha namorada
quando a frustação me vence.
— Ally, você está bem?
Passam-se alguns segundos antes de ela me encarar de volta.
— Eu não estou grávida.
Você não está.
— Eu sei. — Assinto lentamente.
— Você está feliz? — Allyson pergunta, me olhando nos olhos.
Longe disso.
— Você está feliz? — pergunto de volta.
Ally deixa o corpo descansar no banco do carro e suspira.
— Eu não sei… — Ela passa as mãos por seus fios castanhos. — Chase…?
— Hum? — Mantenho meu sorriso.
Não quero fazê-la se sentir pressionada.
— O que você faria se eu estivesse grávida e… — Ela se interrompe e respira fundo. — E
quisesse abortar?
Aperto minha mão esquerda ao redor do volante ao ponto de as veias nela saltarem.
— Como pai, eu teria total direito de decidir com você o futuro do feto. Afinal, você não fez
o bebê sozinha. Mas o corpo é seu, e mesmo que me doesse como o inferno, eu não poderia pedir
que carregasse uma criança que você não quer. Você não o amaria como eu faria e acho que o
aborto seria a melhor solução.
Eu busco pela mão dela e a entrelaço com a minha.
— E eu não encararia um filho nosso como uma consequência de nossas ações, de não
termos nos protegido. — Acaricio as costas da mão dela. — Consequências geralmente são
vistas como algo ruim e eu não penso que ter um filho com você seria um castigo. Eu quero que
tenhamos um filho no futuro, mas apenas se você concordar. Como eu disse, quero que você o
ame tanto quanto eu farei.
Levo sua mão aos meus lábios e planto um beijo nas costas dela.
— Eu confesso que fiquei desesperada com a possibilidade de estar grávida porque sou
muito nova, mas… — Ela limpa a garganta. — Mas se eu estivesse grávida, eu manteria a
criança. E eu a amaria. Aborto nunca passou pela minha cabeça.
Isso me conforta. Eu não posso obrigá-la a ter um bebê e vê-la abortar um filho nosso me
deixaria triste, mas ainda assim o corpo é dela. E ainda somos muito jovens.
Inclino-me para a frente e, pelo braço e a cintura, a puxo do banco que ela está sentada, para
o meu colo. Allyson fica com os joelhos de cada lado das minhas pernas e passo minhas mãos
por sua cintura, mantendo-a presa a mim.
— Uma menininha igual a você seria uma bênção. — Beijo a bochecha dela.
Allyson segura meus ombros.
— E um menininho não?
Sorrio e adentro sua camiseta para acariciar a barriga dela.
— Vindo de você, um menino ou uma menina seriam uma bênção. — Dou-lhe um selinho,
sentindo como a pele de sua barriga está quente.
— Desculpa por ter te dado um alarme falso.
Nego com a cabeça.
— Tudo bem, pelo menos nós descobrimos que você tem que cagar urgentemente.
Allyson se afasta de mim de maneira abrupta e bate no meu peito.
— Vai tomar no seu cu, Chase! — Ela me olha com raiva.
Eu massageio meu peito com um sorriso no rosto.
— Cazzo, se assim já tem um temperamento forte imagina grávida. — Nego com a cabeça.
— Cazzo é o seu rabo! — Ally diz, tentando sair do meu colo. — Me deixa sair!
Eu sorrio.
— Só se me der um beijo. — Acaricio suas costas nuas.
Ela cruza os braços.
— Não quero.
Eu beijo seu pescoço.
— Quer sim, gattina.
Em um movimento meu de distração, Allyson consegue sair do meu colo e volta para seu
próprio banco. Ela cruza os braços e me olha com raiva.
— Dirige, chihuahua italiano.
Eu sorrio de lado e dou partida no carro, indo em direção ao nosso prédio.
Termino de pentear o meu cabelo e vou em direção ao meu guarda-roupa para pegar um
elástico, voltando para o espelho assim que o faço. Amarro meu cabelo em um rabo de cavalo e
analiso a minha imagem, estou totalmente vestida com o uniforme do meu time de vôlei, os
treinos voltam hoje.
— Ainda me recuso a acreditar que não vou ser tia — Tessa diz, sentada na minha cama
enquanto faz um carinho em Justin.
Desde quando contei a ela que não estou grávida — no caso, três dias atrás— ela ficou triste
dizendo que já estava pensando nas mamadeiras que iria comprar.
— Pois quando eu menstruar esse mês, você acredita. — Sorrio, me virando para ela com as
mãos na cintura.
Tessa, Adam e Kat não fizeram nem questão de esconder a decepção por eu não estar
grávida. Quando eu cheguei em casa, encontrei Adam com um sapato azul de bebê, Tessa com
uma mamadeira vermelha e Kat com um pacote de fraldas. Meu melhor amigo quase chorou
quando descobriu que não vai ser tio.
Mas a única pessoa que não demonstrou se ficou triste ou feliz, foi o Chase. Ele me deu
apoio quando ainda estávamos com dúvida e deixou claro que queria ter filhos comigo no futuro,
mas será que ele ficaria feliz se eu engravidasse agora? Ele não demonstrou decepção ou alegria,
seu rosto ao ler o resultado do teste foi totalmente inexpressivo.
— Então quer dizer que você chorou por bosta? — Tessa pergunta e olho para ela, vendo-a
com uma careta.
Sorrio.
— Sim, a enfermeira disse que era só prisão de ventre. — Abaixo-me para amarrar os
cadarços dos meus tênis.
Escuto o suspiro de Tessa.
— E o Chase? — ela pergunta. — O que ele disse quando você falou que suspeitava de que
estava grávida?
— Ele desmaiou.
— Por quanto tempo?
Dou de ombros.
— Uns trinta segundos. — Ando até ela e Justin e fico de joelhos para fazer carinho no meu
bebê.
— Por que não chamou a gente? — ela pergunta, referindo-se a nossos amigos e a si mesma.
— Porque durou pouco tempo.
— Cara, o Chase apagou por trinta segundos. Isso não é normal. — Tessa ri, deitando-se na
minha cama.
— Relaxa, ele acordou com a tapa que dei na cara dele — eu digo.
Quando me levanto o suficiente para o focinho de Justin ficar próximo a minha barrinha
coberta, ele a cutuca e a cheira. Eu sorrio e aliso seu pelo claro.
— Não tem bebê, Justin — falo.
Justin choraminga e esconde o focinho nas patas, arrancando uma risada de Tessa.
— Acho que ele queria um irmãozinho. — Ela afaga as costas dele.
Eu faço uma careta, me afastando dele.
— Pois vai ficar querendo. — Mostro a língua a Justin.
Ele rosna para mim e pula da cama, correndo para fora do quarto. Abro a boca e ponho a
mão no peito, totalmente chocada com a ousadia dele.
— Pode ir cuidando em parir um irmão para ele. — Tessa ri alto, batendo palmas.
Eu pego um travesseiro e o arremesso, acertando-a no rosto. Ela o segura.
— Vou vender você e esse cachorro na Deep Web!
— E eu vou vender você para um árabe! — Joga o travesseiro de volta.
Eu desvio.
— Eu gostaria muito.
— Vou dizer ao Chase. — Tessa sorri malignamente.
Reviro os olhos e sorrio.
— Do jeito que ele é, bem capaz de pedir para ir no meu lugar e mostrar o pé ao árabe por
cinco milhões. — Balanço os peitos, imitando a dança do ventre.
Tessa ri de novo e em meio a risadas, pego a minha mochila que está em cima da cama.
— Já vai? — ela pergunta e assinto.
— Sim, vou ver se pego um táxi — digo enquanto arrumo a alças da minha mochila.
Chase não pode me levar hoje porque está trabalhando na oficina que me disse logo quando
estávamos nos conhecendo.
Ele me disse que se eu precisasse de algo, poderia ver, mas não quero atrapalhá-lo no
emprego para me levar ao treino, posso fazer isso sozinha. E já são 14h:44min da tarde, Chase só
voltaria do trabalho às 18h:00min.
— Faz algo para nós jantarmos, vou chegar morta fome — eu falo à Tessa e beijo o topo da
cabeça peluda de Justin quando ele volta para o quarto.
— Deixa comigo, vou pedir pizza. — Tessa pisca um olho para mim.
Afasto-me de Justin Bieber e ponho as mãos na cintura.
— Ah, não, Tess! — Nego com a cabeça. — Eu quero comida de verdade.
Minha melhor amiga arqueia uma sobrancelha.
— Pizza é de mentira?
Um suspiro escapa dos meus lábios e nego com a cabeça, cansada do fato de ninguém me
respeitar. Chase também tem dessas brincadeiras que me fazem pular em seu pescoço e
estrangulá-lo.
— Vou me retirar… — resmungo, me dirigindo em direção à porta.
— Também te amo, Ally.
Eu não a respondo, apenas ergo meu nariz e a ignoro enquanto vou embora para longe dela e
de toda essa amizade tóxica.

Karen não veio ao treino.


Nos três anos em que jogo vôlei, Karen nunca havia faltado antes. Ela sempre foi uma capitã
exemplar e cobrava muito quando não dávamos satisfações sobre as nossas ausências. Mas
ninguém sabe dela, e ela não disse por que faltou. E tem um boato de que ela desligou o telefone
na cara do nosso técnico quando ele questionou sua falta.
Mas não sei se é verdade e nem quero descobrir. Nada que envolva a Karen me interessa.
Mas confesso que estou desconfiada do silêncio dela e do quanto ela anda sumida. Desde que ela
me deu aquele susto no banheiro da lanchonete, ela nunca mais deu as caras. Nem mesmo Kevin.
O técnico encerra o treino e recolho minhas coisas, pronta para ir embora, chegar em casa e
tomar um banho. Meu corpo está todo dolorido, parece que pisaram em mim. Quando chegar em
casa vou pedir para Chase fazer uma massagem nas minhas costas, se ele negar, eu faço greve de
sexo.
Pensando nele, tiro meu celular da mochila enquanto ando pelo corredor da universidade
com algumas garotas do meu time a alguns metros de distância de mim. O desbloqueio e mando
uma mensagem para meu namorado.
"Digitando" aparece na tela, mas não tenho tempo de ver a resposta já que uma forte luz
atinge meu rosto e olho na direção dela, arregalando os olhos ao que vejo um carro vindo na
minha direção.
Rapidamente e de qualquer jeito, me jogo para o lado e o carro bate em uma das inúmeras
pilastras do estacionamento. Sinto meu joelho esquerdo arder e meu cotovelo direito latejar, eu
me sinto dolorida, mas pelo menos a mochila nas minhas costas amorteceu um pouco o impacto.
Gemendo de dor, me levanto aos poucos do chão e pego meu celular, conferindo se quebrou.
Felizmente, apenas trincou um pouco a película. Mas o meu joelho e o meu cotovelo não tiveram
a mesma sorte. Com raiva, olho na direção do carro, franzindo o cenho ao vê-la descendo.
Karen.
Ela bate à porta com força e começa a caminhar na minha direção a passos rápidos e
expressão raivosa.
— Desgraçada — eu digo entredentes, enfiando o celular no cós do meu short de treino.
Eu vou matar ela.
— Perdeu a porra do juízo, Karen? — pergunto quando ela se aproxima de mim.
Não tenho resposta. Na verdade tenho, são suas mãos indo direto para o meu cabelo.
— Não era para você ter se salvado, sua vadia! — Karen grita, chacoalhando minha cabeça
de um lado para o outro.
Meu couro cabeludo arde e tento afastar suas mãos do meu rabo de cavalo que a essa altura
já está se desfazendo.
— Me solta, Karen! — Cravo minhas mãos nos pulsos dela, tentando afastá-la de mim.
A desgraçada pegou no meu cabelo, e todo mundo sabe que quando isso acontece, só Deus
para separar a briga.
Mãos erguem minha cabeça e um tapa forte é depositado em meu rosto. Isso vai ficar
inchado. Karen tenta me dar outro tapa, mas seguro o pulso dela.
— Você não vai ficar com ele, ele é meu, você está ouvindo?! — grita, totalmente histérica.
Em um movimento de deslize, o aperto de Karen em meu cabelo diminui e uso isso ao meu
favor para torcer seu pulso e tirar sua mão dos meus fios. Ela geme de dor e a empurro para
longe, forte o suficiente para fazê-la cair de bunda no chão.
— Qual a porra do seu problema?! — grito, arrancando o elástico frouxo do meu cabelo e o
deixando solto de vez. — Você acabou de tentar me atropelar e ainda me bate? Maluca dos
infernos!
Karen se levanta em um grunhido e antes que possa partir novamente para cima de mim, as
garotas do nosso time aparecem correndo e a seguram.
— Me soltem! — Karen se debate. — Eu vou acabar com essa vadia!
— Para o bem dela, é melhor que vocês não a soltem — eu digo entredentes.
— Merda, Karen, para de se debater! — uma das garotas grita.
— Eu vou matar ela! — Karen diz, olhando para mim com ódio. — Ele é meu, só meu!
— Quem é seu? — outra menina pergunta.
O meu italiano.
— O Chase! — Karen para de se debater. — Ele é meu… meu… — ela olha para o chão.
Por um segundo, analiso Karen. Ela está vestida com uma calça moletom cinza e uma
camisa larga preta. Está claramente de pijama e seu cabelo bonito está solto e todo desgrenhado.
Os olhos estão cobertos por olheiras profundos e ela parece estar mais magra.
Ajeito a postura e começo a arrumar o meu cabelo em um coque.
— Chase não é um objeto, Karen. — Eu olho para ela. — Não é um brinquedo que você
consegue apenas fazendo birra.
Ela solta um gritinho e começa a se debater nos braços das garotas outra vez.
— Ele vai voltar para mim! — diz, me olhando com raiva.
Solto uma risadinha.
— Ele prefere dormir com o capeta a voltar para você. — Sorrio de lado, porém só dura um
segundo. — Agora para de brigar por homem, Karen. Não é culpa minha se Chase não te quer, é
consequência das merdas que você fez a ele. O Chase te amou um dia e você o machucou, agora
supere o fato dele estar com uma pessoa que o valoriza de verdade.
Após as minhas palavras, Karen começa a se debater com mais força e uma das garotas olha
para mim.
— Vai embora, Allyson, é melhor! — Ela manda.
A ignorando, dou uma última olhada com indiferença na direção de Karen antes de me virar
e começar a caminhar para longe delas. Meu joelho dói, mas me recuso a deixar Karen saber que
me machucou. Ouvindo os gritos histéricos dela, chamo um táxi que passa bem na hora.
Entro no veículo e olho para Karen pela janela, seus olhos furiosos não desviando dos meus
até que o carro me leve embora. Karen parece estar louca.
Mas eu estaria mentindo se dissesse que me importo.
Adentro a lanchonete e procuro Michael com o olhar, vendo-o sentado na cadeira de uma
das mesas ao redor do lugar. Giro as chaves entre os meus dedos enquanto ando calmamente até
ele.
Após meu chefe me liberar para o almoço, chamei Michael para comer comigo. Disse a ele
que estou precisando conversar com alguém, um amigo. E não tenho nenhum outro tão próximo
a mim como ele. Mesmo que já tenha passado, o lance da falsa gravidez de Ally me afetou. E
mesmo que seja egoísta da minha parte, fiquei triste ao saber que não tem bebê nenhum dentro
dela.
Eu nunca me iludi tanto como nesse dia, achando que a Allyson ia me dar um filho para no
final, descobrir que era bosta. Eu beijei a barriga dela achando que era um bebê, quando, na
verdade, era só merda acumulada.
Quando me aproximo da mesa, puxo uma cadeira e me sento.
— E aí… — Michael sorri, as mãos enfiadas nos bolsos de seu moletom cinza.
— Oi. — Suspiro, pondo as mãos nos bolsos da minha jaqueta, imitando seu gesto.
Eu tomo um banho rápido antes de vir para cá para tirar a graxa do meu corpo. E coloquei
uma roupa que levei na minha mochila, não poderia vir comer com a do meu trabalho toda suja.
— Você disse que estava precisando conversar. — Michael fala, me olhando atentamente.
Eu suspiro e tiro as mãos dos bolsos da minha jaqueta para colocá-las em cima da mesa.
— Envolve a Allyson.
— Vocês terminaram?
Bate na madeira.
— Não, não! — Nego rapidamente com as mãos. — É outra coisa.
Michael franze o cenho.
— Pelo menos não é isso. Mas fala, cara. Não sou adivinha — ele fala, risonho.
Sorrio com sarcasmo.
— Se fosse o Adam aqui, você passaria a noite tentando adivinhar, não é? — provoco-o.
Michael sorri de lado.
— Pode apostar que sim.
Eu reviro os olhos e passo as mãos por meu cabelo, puxando-o para trás. A tinta preta já está
desbotando e tenho que cortar o meu cabelo, ele já está começando a ficar cheio demais.
— Agora vai, fala — diz e olho para ele.
Respiro fundo, deixando minhas costas descansarem na cadeira.
— Há três dias, Ally pensou que estava grávida, ela fez dois testes, um deu positivo e o
outro negativo — digo e ele arregala os olhos. Ergo a palma direita, um sinal para que ele me
deixe continuar. — Então nós fomos no médico e fizemos um daqueles testes de sangue para
tirarmos a dúvida. — Massageio a minha nuca.
— E aí?
— Deu negativo. — Pressiono meus lábios um no outro, formando uma linha reta.
Michael se curva um pouco para apoiar os cotovelos na mesa.
— E você queria que desse positivo, não é? — ele pergunta e eu assinto. — Você disse isso
a Allyson?
Solto uma risada incrédula.
— Não. Já bastou o quanto ela estava desesperada com a mínima possibilidade de estar
grávida. — Passo as mãos por meu rosto. — E eu também não quis pressionar ela, não quero que
ache que tem que me dar um filho só porque eu quero.
— Por que não conversa com ela sobre isso? — Michael cruza as mãos sobre a mesa.
— Não é tão fácil assim. — Reviro os olhos. — No dia em que viajamos para a casa dela, eu
ia dizer que amava ela, mas achei muito cedo e então não disse. E, também, porque fiquei com
medo de ela não sentir o mesmo. — Coço minha sobrancelha direita.
— Hum, continue — Michael murmura, os olhos curiosos.
— Então, como você acha que eu, que nem mesmo disse que a amo, vou dizer que fiquei
triste com o resultado do teste de gravidez porque queria ter um filho com ela? — pergunto,
minhas sobrancelhas arqueadas. — Além do mais, ainda somos novos e falta dois anos para Ally
terminar a faculdade. Ter um filho agora, sem nenhuma estabilidade financeira, seria muita
irresponsabilidade. E porra, estou sendo infantil pra caralho!
— Isso era o que eu ia te dizer agora — Michael diz. — Mas continuando, fala sobre isso
com a Ally. O segredo para um bom relacionamento é o diálogo. — Ele deixa as costas
descansarem na cadeira.
Eu assinto e pego o cardápio para dar uma olhadinha.
— E como vão as coisas com o Adam? — Sorrio malicioso.
— Até agora, tudo bem. — Michael sorri minimamente. — Estamos indo devagar, mas
meio que estamos juntos.
— Devagar, é? — Arqueio uma sobrancelha. — Aposto que você é um tarado, deve ter
assustado o coitado.
— Ah, qual é. — Michael revira os olhos. — Você me conhece. — Ele põe a mão na boca
para esconder o sorriso.
— É por te conhecer que eu digo que essa sua cara de quieto não me engana.
— Ah, vai se foder.
— Você xinga assim na frente de Adam, Michael? — Sorrio.
— Eu xingo assim na frente do teu pai, aquele gostoso. — Michael sorri falsamente.
Meu sorriso se desmancha e o olho, meu olhar mais do que assassino.
— Repete, caralho. — Eu aponto o garfo na direção dele.
— Eu xingo assim na frente do teu pai, aquele gos-
— Boa tarde, já sabem o que vão querer? — Uma atendente aparece do nada, salvando
Michael de uma morte dolorosa.
Abaixo a faca e olho para o meu cardápio, alguns segundos depois dizendo para a moça o
que eu quero. Michael faz o mesmo e quando ela vai embora, jogo o cardápio em cima da mesa e
olho para ele.
— Mas vem cá, os pais do Adam sabem que ele também gosta de homens? — Apoio meus
cotovelos na mesa.
— Não, mas o Adam disse que está preparando o terreno para contar — Michael diz. — Só
espero que eles não o ponham para fora de casa. Sei que o Adam mora sozinho, mas você me
entendeu.
— Tenho certeza de que se isso acontecer, lugar para ele dormir não falta. — Sorrio.
Michael põe a aba do boné para trás.
— Pode apostar que vai ter um quarto para ele na minha casa. — Põe as mãos nos bolsos do
moletom, sorrindo de lado. — O meu, para ser mais exato.
Reviro os olhos com um sorriso nos lábios e volto a minha atenção para a garçonete, vendo-
a vir com nosso pedido em uma bandeja.

Após Michael e eu comermos, nós pagamos a conta e saímos. E são exatamente 13:30 da
tarde e já tenho que voltar. E a noite, quando eu chegar em casa e a Ally ainda não tiver voltado,
vou buscá-la. O treino sempre a deixa cansada e embora ela volte de táxi, ela não vai ter o
conforto que tem no meu carro.
Eu me aproximo de Michael enquanto andamos e ponho a não em seu ombro direito,
fazendo-o olhar para mim.
— Valeu por me escutar. — Afago seu ombro. — Obrigado, amigo, você é um amigo. —
Sorrio.
Michael revira os olhos e mexe o ombro, um sinal claro para que eu o solte.
— Para com essa merda e me solta. — Ele manda quando não o faço.
— Que isso, bambino. — Sorrio malicioso, me aproximando dele. — Eu posso pagar pela
sessão de terapia que você me deu. Se é que me entende — sussurro no ouvido dele.
Michael me dá uma forte cotovelada na barriga e eu me curvo um pouco, grunhindo de dor
enquanto o vejo se afastar.
— Sai fora, caralho. — Ele manda. — Não é porque eu sou gay que vou sair comendo
qualquer porcaria.
Indignado, aponto para ele enquanto faço uma careta. O olhar em meu rosto não é nada mais
do que ofendido.
— Chase? É você?
Ao ouvir meu nome, olho para trás, me virando para a pessoa. O sorriso some rapidamente
do meu rosto e de cenho franzido, analiso a mulher alta e de cabelos longos e escuros que pensei
que nunca mais veria. A mãe de Karen.
— Olá, senhora Backer — cumprimento-a.
— Eu não o vejo desde que a minha filha e você… — Ela se interrompe. — Desde que a
minha filha e você terminaram — diz, segurando uma sacola de compras em cada mão.
Ponho as mãos na cintura, tentando esconder o meu desconforto.
— Como a senhora está?
A mais velha suspira.
— Não muito bem — ela diz. — Ando muito preocupada com a minha filha.
Querendo por um fim nesse assunto e não estando nem um pouco interessado nos problemas
de Karen, eu apenas assinto.
— Espero que dê tudo certo. — Sorrio forçadamente. — Agora tenho que ir, passar bem. —
Viro-me e ponho a mão no ombro de Michael.
— Chase, espere! — Senhora Backer pede, me fazendo parar. — Preciso falar com você, me
dê apenas alguns minutos.
Ainda de costas, suspiro e lentamente me viro para ela.
— Sobre o quê?
Ela olha para Michael e então, para mim.
— A sós, por favor.
Franzo o cenho e estou prestes a dizer não, quando Michael me dá tapinhas no ombro.
— Relaxa, cara, já tenho que ir nessa — ele diz e assinto.
— Certo, até mais — falo.
Michael assente com a cabeça e o assisto andar até seu carro, qual ele entra e em seguida dá
partida, indo embora. Com suspiro longo, volto a minha atenção para a mãe de Karen, me
perguntando o que ela quer falar comigo. Eu não me importo, não quero saber.
— Chase, se você ama a Karen, volte com ela. — Ela pede, o rosto esperançoso.
Quase rio. Quase.
— Por que eu faria isso? — Mantenho-me indiferente.
Ela se abaixa para colocar as sacolas de compras no chão e esfrega as mãos na saia longa.
— Karen anda muito depressiva — a senhora Backer começa. — Não quer comer, não quer
sair do quarto e está mais agressiva também, e meu marido e eu não gostamos de vê-la assim.
Eu cruzo os braços.
— Ainda não entendi por que eu tenho que voltar com ela.
— Ela me contou que sente a sua falta, Chase, ela ama você. — Junta as mãos.
Dessa vez, eu não contenho o mínimo sorriso que surge em meus lábios.
— Não sei se a senhora sabe, mas foi a sua filha que terminou comigo. — Pego as chaves no
bolso da minha calça. — Então me desculpe, senhora Backer, mas não posso ajudar. — Eu me
viro para ir embora.
Isso não é problema meu.
— Como pode ser tão egoísta? — ela pergunta, me fazendo parar de andar e olhar para ela.
— Karen sente a sua falta, deveria ao menos ir vê-la. Soube que ela tentou se suicidar?
Eu volto para perto dela, totalmente incrédulo.
— A senhora me chamou de egoísta? — Eu rio. — Acho que a sua filha não lhe contou que
graças a ela, fiz terapia por um ano — digo.
Ela me olha, confusa.
— Como… por quê?
— Karen foi uma péssima namorada — eu finalmente digo. — Ela me afastou dos meus
amigos, mexia nas minhas coisas sem permissão, me fez ter dependência emocional nela e
acabou com a minha autoestima. Sem contar que me batia também. E isso é só o começo dos
traumas que ela me causou.
Senhora Backer dá um passo para trás.
— Eu… eu não sabia disso — diz, parecendo confusa e atordoada.
— Claro que não sabia, sua filha se encarregou de se fazer de vítima. — Sorrio. — Então me
desculpe se eu não vou voltar com a sua filha ou então, ir visitá-la. O que a senhora chama de
egoísmo, chamo de dignidade e vergonha na cara. Apenas a leve para um psicólogo. Até mais.
Antes de me virar e ir embora, vejo o rosto da mulher se contorcer em puro choque pelas
minhas palavras, mas não lhe dou atenção. Viro-me e começo a me afastar dela, indo em direção
ao meu carro. Entro no veículo e dou partida, dirigindo para longe do restaurante e da mãe da
mulher que me fez tão mal.
Quando voltei para o trabalho, não consegui parar de pensar no que conversei com a mãe de
Karen. Meu chefe até me chamou a atenção e disse que eu estava desligado. Eu apenas me
desculpei e tentei fazer algo certo até o fim do dia.
Quando anoiteceu, ele me liberou e entrei no carro, com a minha roupa do trabalho suja e
comecei a dirigir para a minha casa. Mas o acontecimento de hoje mais cedo ainda não saiu da
minha cabeça.
Eu não me importo se Karen está triste com a minha ausência, ela está apenas sentindo o que
senti quando ela terminou comigo. E isso não me faz egoísta, ou faz?
Não é egoísmo querer distante de quem só te fez mal. Mas admito que me sinto culpado,
mesmo não tendo culpa. Quando chego no meu prédio, estaciono o carro no estacionamento e
quando tiro o cinto, me preparo para descer.
"Soube que ela tentou se suicidar?"
Quando essa frase passa pela minha mente, eu paraliso no banco e minhas sobrancelhas se
erguem. Eu não prestei muita atenção no que a senhora Backer disse, apenas quando ela me
chamou de egoísta. Mas agora, pensando no suposto quase suicídio de Karen, uma empatia
estúpida enche o meu peito e me xingo por ser tão molenga.
Talvez… Talvez se eu terminasse com a Ally por um tempo, isso ajudaria? Karen meio que
está fora de controle desde o momento em que trancou a Allyson no banheiro daquela lanchonete
e lhe deu um susto. E agora, a mãe dela me diz que ela tentou se suicidar. Afastar-me de Ally por
um tempo resolveria isso?
Talvez, se eu conversar com a Ally, podemos chegar a uma solução do problema. Ela tem
enfrentado a raiva de Karen, quando é por minha causa. Ela teve um pequeno ataque de pânico
quando foi presa no banheiro, mas a Karen fez isso com ela apenas para chamar a minha atenção.
E se, de alguma forma, eu estiver fazendo mal a Ally?
Meu celular vibra e o tiro do meu bolso, desbloqueando-o e vendo que é uma mensagem de
Ally.
Esperei que Allyson me respondesse, mas se passou dois minutos e nada. Eu pego minha
mochila, saio do carro e fecho a porta, acionando o alarme. Entro no prédio, cumprimento o
porteiro com um aceno de cabeça, entrando no elevador e saindo quando ele chega no meu
andar.
Vou até o meu apartamento e pego minha chave, ando pela sala e então pelos corredores e
cozinha, sem sinal de alguém. Olhos nos quartos e nada também. Vazios. Pego o celular e mando
uma mensagem para Pietro.
Com um suspiro, largo meu celular no sofá e vou para o meu quarto com a intenção de
tomar banho. Jogo minha mochila no chão e entro no banheiro, tiro a roupa e a coloco no cesto
de roupa suja, entrando debaixo do chuveiro. Esfrego meu corpo com sabonete para a graxa da
oficina sair e passo os dedos pelos fios molhados do meu cabelo.
Ao terminar, saio do banheiro e visto apenas uma calça moletom e cueca. Saio do quarto e
quando chego na sala, olho a hora no meu celular, vendo que a Ally já deve ter chegado. Ando
até a porta e a abro, erguendo as sobrancelhas ao que vejo minha namorada parada de costas para
mim e de frente para a porta do seu apartamento.
— Ally, você chegou — eu digo, minha voz calma. — Vamos conversar.
Ela lentamente se vira para mim e arregalo os olhos ao que vejo o lado direito de seu rosto
vermelho e um pouco inchado. Desço meus olhos por seu corpo, encontrando um arranhão
grande e sangrento em seu joelho direito.
— Sim, Chase. Vamos conversar.
Com os olhos cinzentos arregalados, Chase anda rapidamente até mim e me agarra pelos
ombros, me trazendo com cuidado para perto dele. Seus olhos varrem o meu corpo, a
preocupação mais do que evidente.
— Ally, o que aconteceu? — ele pergunta, passando o polegar por minha bochecha direita
inchada quando pega meu rosto em mãos.
Eu fecho meu olho quando uma dor fina passa por todo o meu rosto e murmuro um "Ai".
Seguro nos pulsos de Chase e olho para ele.
Como digo que foi a ex maluca dele que tentou me atropelar e só não conseguiu porque
consegui desviar a tempo. E ela ainda puxou meu cabelo e me deu um tapa tão forte que ainda
sinto minha bochecha formigando?
Quando abro a boca para falar, Chase nega com a cabeça.
— Depois você explica, agora vou cuidar de você — ele diz, me puxando para seu
apartamento pela cintura.
— Chase, eu posso fazer isso sozinha, relaxa.
Troco o peso para a perna esquerda quando a direita lateja. O machucado em meu joelho
está ardendo. A lateral direita do meu corpo também já que pulei no chão com tanta força que me
deixou dolorida. E para piorar, minha bochecha não para de pinicar.
— Eu cuido para você, Ally, para de ser teimosa.
Chase tenta me puxar para dentro mais uma vez e firmo meus pés no chão.
— Depois eu cuido disso, você disse que precisa conversar comigo.
Vou conversar com Chase sobre o que ele quer e em seguida vai ser a minha vez de
conversar com ele. Nós temos que achar uma solução para a maluca da Karen, quero que ele vá
na delegacia comigo para eu pedir uma medida protetiva contra Karen. Não vou ficar quieta,
apenas esperando o próximo passo dela. Não quero ser pega de surpresa como hoje.
— Não, Allyson. — Chase nega, firmando os dedos em minha cintura. — Primeiro nós
vamos cuidar de você.
— Mas, Chase, eu… Chase!
Protesto quando ele passa o braço esquerdo por detrás das minhas costas com mochila e
tudo, e o direito por meus joelhos, me suspendendo no ar e em seus braços. Passo os meus por
seu pescoço, temendo cair.
— Mas nada, Allyson. — Suas palavras são firmes enquanto adentra o apartamento. —
Cuidados primeiro, conversa depois.
A porta se fecha atrás de nós e com uma carranca, observo Chase andar pelo corredor
enquanto me carrega como se eu não pesasse nada. Ele abre a porta do quarto com um leve chute
e caminha comigo para o banheiro.
— Eu posso andar, sabia? — Olho em seu rosto, vendo-o sorrir de lado.
— Eu sei, mas se eu não fizesse isso, você não me deixaria cuidar de você — Chase diz, me
pondo sentada sobre a pia do banheiro. — Sem contar que assim é mais romântico.
Eu reviro os olhos com um sorriso nos lábios e tiro minha mochila.
— Cadê seu pai e Pietro? — eu pergunto pelo fato de não tê-los visto.
Chase pega a minha mochila e anda até a porta do banheiro, jogando a minha mochila para
que ela fique em sua cama.
— Eles foram ao supermercado — ele fala, olhando para os meus joelhos quando os separo
um do outro. — Isso está muito feio, Ally.
Olho para o meu machucado, fazendo uma careta de dor ao que o sinto arder. Merda, está
doendo pra caralho.
— É só jogar água que melhora. — Sorrio, tentando não fazer uma careta ao que minha
bochecha dói.
Chase sorri com sarcasmo e seus olhos vão para o meu rosto, estudando-o. Suas mãos se
erguem e ele segura as minhas bochechas com delicadeza, analisando o inchaço que Karen fez.
Eu a odeio. Não a odeia porque é a ex do meu namorado, a odeio porque ela é desprezível.
Eu não sou uma santa e tão pouco a melhor pessoa do mundo, mas Karen se supera. Ela é tudo
de odioso que uma pessoa poderia imaginar. Falsa, manipuladora, abusiva, cínica, antipática e
sonsa. As pessoas na faculdade a olham com admiração porque nem imaginam o mal que ela
pode causar.
Ela mantém a pose de boa moça e as pessoas compram essa imagem, embora eu tenha
certeza de que depois de hoje, as meninas do meu time de vôlei vão se questionar se Karen é tão
exemplar assim. Ela parecia tão… louca.
Se eu dissesse que me importo com o quão mal ela pareceu, eu estaria mentindo. Eu não dou
a minha se ela perdeu peso ou está cheia de olheiras. Não é problema meu, eu espero que ela se
foda para lá e me deixe em paz.
Chase vai até a farmácia do banheiro e pega algo que parece ser um vidrinho de spray. Ele o
coloca do meu lado e acaricia o meu queixo.
— Já volto, vou pegar algodão.
Chase sai do banheiro e volto a minha atenção para o meu joelho, vendo o sangue que
escorreu, agora seco. Assopro para que a ardência diminua e Chase volta, segurando um
pacotinho com algodão, soro fisiológico e um vidro de um remédio suspeito pra caralho. Nego
com a cabeça.
Mas mesmo que eu tenha medo do que está vindo a seguir, contenho o medo vindo sob
minha pele e mantenho minhas reclamações para mim mesma.
Faço uma careta quando ele joga mais soro na minha ferida e não dói, mas o machucado está
sensível. Chase enxuga ao redor com um algodão quando escorre por minha canela. Em seguida,
ele coloca um pouco de remédio em um pedaço de algodão e começa a espalhar em meu joelho,
tudo isso depois de limpar o sangue.
Quando ele termina, afasta-se um pouco e me olha. Não questiono o porquê de ele não ter
colocado um curativo, sei que é porque a ferida tem que respirar.
— O que você quer conversar comigo? — pergunto de vez.
Chase fica tenso e me olha por alguns segundos. O vejo engolir em seco. Ele parece pensar
se fala alguma coisa ou não, e isso me deixa estranhamente em alerta.
— Sobre a Karen.
Eu franzo o cenho e cruzo os braços quando ele se afasta mais um pouco. Qualquer sinal de
diversão que Chase tinha em seu rosto sumiu como se nunca tivesse existido.
— Por que falaríamos sobre ela? — pergunto.
— Como machucou o joelho e a bochecha? — pergunta de volta, mudando de assunto.
Franzo ainda mais o cenho com seu gesto suspeito.
— Eu caí. — Minto, no momento não querendo falar sobre isso. — Por quê nós falaríamos
sobre Karen, Chase?
Os olhos cinzentos ficam fixos em mim e arqueio a sobrancelha esquerda, silenciosamente
pedindo para que ele fale de uma vez.
— A mãe de Karen veio falar comigo quando o Michael e eu estávamos voltando de um
restaurante. Meu horário de almoço tinha terminado. — Chase começa.
Assinto.
— Hum. E?
— Ela me falou que Karen está depressiva e sentindo a minha falta. E que se eu ainda a
amo, é para voltar com ela. — Ele continua.
Meu peito se aperta na menor possibilidade de isso acontecer. Mas sei que não vai, Chase
não seria tão burro assim.
— Sim, continue. — Eu peço. — Ainda não entendi o que isso tem a ver com você.
Chase passa a mão por seu peito, seu rosto com uma expressão que não estou gostando nem
um pouco. Ele também está estranho, parece mais inquieto. Seus olhos também não estão se
mantendo em mim, ele os desvia a cada dois segundos.
Chase suspira.
— Karen tentou se matar — Chase diz, ainda sem me olhar.
Passam-se alguns segundos que eu fico encarando-o, tentando processar o que ele acabou de
me dizer. Karen tentou se matar? Após alguns segundos, consigo formar a melhor frase que me
vem à cabeça.
— Que merda, e não conseguiu por quê?
Chase ergue o rosto para mim, os olhos arregalados como se minhas palavras o tivessem
chocado.
— Allyson — ele diz, parecendo incrédulo.
Eu apenas dou de ombros.
— O que foi, Chase? Pensou que eu sentiria pena de Karen após ela fazer tudo aquilo
comigo? Com você? — Ergo as sobrancelhas. — Sinto muito, mas não sou uma boa pessoa.
Chase nega com a cabeça e dá alguns passos para trás, deixando as costas grudarem na
cerâmica do banheiro.
— Você ouviu o que eu acabei de dizer? — pergunta calmamente.
— Já, e ainda estou tentando descobrir o que porra isso tem a ver comigo. — Solto o meu
cabelo do elástico e olho para ele. — E com você, Chase. O que isso te importa?
Chase ergue as sobrancelhas e passa os dedos pelo cabelo, pondo-o para trás.
— Pelos últimos acontecimentos, pelo que a Karen te fez… eu percebi que ela está sem
controle. — Vejo-o engolir em seco, seu olhar no chão. — O que você acha de… apenas
enquanto a Karen se acalma e não tenta fazer nada com você… nós, bem… nós.
Eu rapidamente pulo da pia e controlo uma careta de dor quando o meu joelho protesta. Eu
me aproximo de Chase.
— Nem pense em terminar essa frase — mando, minha voz séria como nunca. — E, se
terminá-la, faça-o olhando na minha cara.
Ele… Ele quer terminar? Por ela? Pelo bem-estar dela?
Chase me olha.
— Ally, é só até… só até esse caos diminuir. — Ele se aproxima de mim. — Só até eu saber
que a Karen não vai tentar nada contra você.
Solto uma risada incrédula, me recusando a acreditar que estou escutando isso.
— Quer saber? — Afasto-me dele. — Vai dormir que amanhã é outro dia. — Viro, pronta
para ir para casa.
Chase agarra meu cotovelo antes que eu chegue à porta e olho para ele.
— Ally, se a gente chegar a um acordo, podemos resolver isso e então.
Eu solto meu cotovelo de seu aperto com toda força que consigo, dando alguns passos para
trás.
— E então o quê? — Ergo as sobrancelhas. — Vai terminar comigo apenas porque a filha da
puta da sua ex está doente da cabeça? Você é psicólogo?
Chase dá alguns passos para trás.
— Não é isso, eu só não quero que ninguém se machuque — ele diz, a voz angustiada. —
Que ela te machuque por minha causa.
Solto uma risada amarga.
— Ela não pode me machucar, mas você pode, não é? — Mantenho meus olhos nele.
Vejo o rosto de Chase vacilar e ele dá dois passos para trás, como se minhas palavras o
tivessem atingido como facas, perfurando o seu peito.
— Eu não quero te machucar, Ally, nunca — Chase diz, engolindo em seco. — Mas você
viu o que a Karen fez. Ela jogou baixo e usou seu medo contra você, e pode fazer muito pior do
que isso. É só por um tempo, gattina…
Antes que eu consiga me controlar, uma perplexa escapa dos meus lábios. Eu quero chorar.
— Merda, eu não acredito que aceitei namorar com um cara que tem uma ex louca e passei
por várias merdas por isso, apenas para no final, ele me trocar por ela. — Nego com a cabeça,
passando as mãos por meu cabelo.
— Allyson, eu não estou te trocando por ela.
— Você está sim! — Eu aponto um dedo na cara dele. — E sabe o pior? Você achou que eu
fosse concordar e sentir pena de Karen, que eu fosse boazinha o suficiente para entender a
situação dela. Mas sabe a real? — sorrio, mesmo sem vontade. — Eu. Estou. Pouco. Me.
Fodendo. Comigo, as coisas funcionam com reciprocidade, não vou ser boa com alguém que é
ruim comigo!
— Porra, Ally, vamos conversar e tentar resolver. Eu não vou voltar com ela! — Chase
caminha na minha direção, mas para quando o fuzilo com o olhar. — Não vamos ficar separados
por muito tempo, mas Karen está fora de controle, tenho medo que ela te machuque.
Eu contenho as lágrimas que querem cair e aperto minhas mãos em punhos, afundando
minhas unhas nas palmas.
— Então vai, seu idiota! — eu grito. — Joga no lixo todas as sessões de terapias que você
fez para superar a Karen e termina comigo para agradar ela! Eu não vou correr atrás de você.
Chase anda até mim e me encurrala na pia, mas sem me tocar.
— Ela tentou se matar, Allyson! — ele parece tão frustrado quanto eu.
Coloco no rosto o meu melhor olhar de indiferença. Porque é isso que eu sinto pela situação
de Karen. Indiferença. Isso me faz uma pessoa ruim?
Ergo meu olhar frio para Chase e digo:
— E quem disse que isso é problema meu?
Chase me olha com os olhos arregalados e abre e fecha a boca várias vezes.
— É uma vida, Allyson! — ele diz, chocado.
Dessa vez, a raiva me consome por completo e decido que não quero mais me segurar.
— E quanto a minha vida? — Espalmando minhas mãos em seu peito largo e nu, eu o
empurro para longe, fazendo suas costas baterem na parede. — E quanto ao fato da filha da puta
da sua ex tentar me matar atropelada e só não conseguiu porque eu consegui desviar, e ainda me
machuquei toda? E. Quanto. A. Porra. Da. Minha. Vida? — Cutuco seu peito com força.
Com lágrimas acumuladas nos olhos, olho para Chase, encontrando-o ainda mais chocado
do que antes.
— Allyson…
Ergo o rosto para confrontá-lo.
— Se quer que esse relacionamento chegue ao fim, então dê, você mesmo, um fim a ele.
Não vou chegar a um acordo com você, se terminarmos, vai ser para sempre. — Minhas mãos
estão fechadas em punhos e pressionadas em seu peito. — Não espere que eu dê o homem que eu
amo de bandeja para uma mulher que só fez mal a ele, apenas porque o idiota é bonzinho demais
para perceber que a porra dos problemas dela não são culpa dele e que tudo não passa de
manipulação!
Estou fazendo tanta força para conter as lágrimas que a minha garganta está doendo. Vejo
Chase prender a respiração.
— O que você disse? — Sua voz soa baixa.
— Que se terminarmos, vai ser para sempre.
Ele nega com a cabeça.
— Depois disso.
Penso um pouco antes do choque passar por mim e me afasto de Chase tão rápido que meu
quadril bate na pia.
"O homem que eu amo"
Merda, Allyson, esse não é o momento de se declarar. Burra, burra. Péssimo momento para
descobrir que ama ele.
— Não interessa o que eu disse. — Minha voz sai mais fraca do que pretendo.
Chase avança na minha direção e seus braços envolvem a minha cintura, me prendendo e me
puxando contra ele.
— Não me toca! — Eu mando entredentes.
Mas eu quero me afundar no calor do seu corpo. Não quero continuar brigando com ele. Não
quero dar fim ao que nós temos.
— Por favor, repete. — Chase pede, colocando sua testa a minha. — Por favor, gattina…
Meu coração se afunda.
— Não me chame disso, você perdeu todo o direito! — Tento empurrá-lo para longe, mas
seus braços são como aço ao redor de mim.
Chase fecha os olhos por longos segundos e então os abre, fixos nos meus.
— Se você não vai repetir, pois bem. Eu o faço. — Ele move a mão direita para a minha
nuca. — Eu te amo, sou louco por você. Eu te amo — sussurra de maneira tão carinhosa que me
sinto quebrar.
A boca de Chase toma a minha em um beijo carinhoso e, morrendo de ódio, esmurro seu
peito para que ele me solte. Mas isso apenas serve como incentivo para Chase me puxar ainda
mais para o calor de seu corpo e, quando sua língua lambe meu lábio inferior, eu me entrego.
Paro de bater em Chase para que ele me solte e passo meus braços por sua nuca, puxando-o
para mim. Sua língua acaricia a minha, e ele me descola da pia e nos move para um lugar que
não sei qual é graças aos meus olhos fechados. Por um momento, esqueço a dor em meu rosto.
Mas, ao sentir a água gelada cair sobre nós, eu me toco de que ele nos levou para debaixo do
chuveiro com roupas e tudo. Minhas costas são postas contra a parede, e meus fios encharcados
se grudam ao meu rosto. As mãos exigentes de Chase adentram a minha camisa e circulam
minha cintura.
Ele agarra a camisa do uniforme do meu time de vôlei, e ergo os braços para ele tirá-la, tudo
isso sem parar de me beijar. Ouço o som da minha camisa molhada cair no chão do banheiro
enquanto puxo o lábio inferior de Chase para mim. Quando a falta de ar se faz presente, desço
meus lábios para o seu pescoço. E essa foi a deixa para um choro compulsivo tomar conta do
meu corpo e eu enterrar o rosto na curva de seu ombro.
— Shhh… — Chase me aperta contra ele e alisa a parte de trás da minha cabeça. — Me
perdoe, me perdoe.
— Você é um idiota — fungo alto e o aperto contra mim.
— Eu sou. — Seus lábios beijam a minha têmpora. — O pior de todos.
A água — agora quente — continua a cair sobre nós, e as lágrimas não param de fugir. Não
consigo me controlar, muita coisa aconteceu hoje.
— Você é burro demais.
— O maior de todos. — Seu braço esquerdo está firme contra a minha cintura enquanto a
mão direta acaricia meu cabelo.
Meu tênis está todo encharcado, e não poderia me importar menos.
— Você também é um chihuahua italiano desgraçado, e eu te odeio — soluço.
Chase beija o topo da minha cabeça.
— Sim, sim. Mil vezes, sim — ele murmura.
Minhas lágrimas cessam um pouco, e eu me afasto de seu ombro.
— Você ia escolhê-la — acuso.
Chase limpa minhas lágrimas com cuidado para que eu não sinta dor.
— Eu não ia. Não pelo motivo que você acha, não amo Karen. — Segura meu rosto em suas
mãos. — Só não queria que alguém se machucasse por minha causa. Mas, mesmo assim, acabei
machucando você. Me perdoe, eu errei, e qualquer empatia que eu estava sentindo por Karen
sumiu quando você disse que ela tentou atropelá-la. — Beija minhas pálpebras uma por uma.
Ele tira o cabelo do meu rosto, e continuo a olhá-lo, agora com menos raiva.
— Mas peço, por favor, que repita o que disse. — Beija meus lábios com carinho. — Eu
preciso escutar, Ally.
Não querendo mais sentir o peso em meu coração, respiro fundo e o olho com raiva.
— Eu te amo — digo entredentes.
Os lábios de Chase se abrem em um sorriso mínimo, e ele me dá um selinho demorado.
— Repita. De novo — ele pede.
Ranjo os dentes.
— Eu te amo, caralho — repito, agora na força do ódio.
Chase ri e me dá vários selinhos.
— Também te amo, Ally. Muito. — Ele me dá um abraço apertado. — Você é a mulher da
minha vida. Me perdoe pela merda que eu ia fazer agora. — Apoia o queixo na minha cabeça.
Eu nada digo, apenas continuo abraçada a ele, mesmo morrendo de vontade de esganá-lo.
Ele desliga o chuveiro quando se afasta de mim e pega uma toalha branca, enrolando-a em
meu corpo. Ele se ajoelha aos meus pés, tira meus tênis e meias e os joga para o lado. Seu olhar
vaga para o meu machucado.
— Me perdoe. — Ele beija minha barriga por cima da toalha. — É minha culpa, me
desculpe.
Seguro em seus ombros.
— Não é sua culpa, agora se levante — mando, e ele o faz. Fungo. — Chega de conversa,
estou com sono.
Chase assente com a cabeça e me suspende pelas coxas com cuidado, fazendo-me cruzar
meus pés em sua bunda coberta pela calça de moletom molhada. Apoio meu queixo em seu
ombro esquerdo, e Chase me carrega para fora como se eu fosse um bebê. Mais do que a
obrigação dele, tem que me mimar mesmo, ainda mais depois do ódio que me fez passar e do
susto que me deu.
Chase me coloca sentada sobre sua cama e vai até seu guarda-roupa após jogar minha
mochila no pé da cama. Ele pega uma camisa vermelha e uma cueca preta, então vem até mim.
Pelos meus ombros, ele me coloca de pé e tira a toalha de mim. Chase leva as mãos para detrás
das minhas costas.
— Posso? — pergunta, referindo-se ao meu sutiã.
Eu assinto, deixando-o tirar meu sutiã preto, que cai no chão, totalmente encharcado. Ele faz
o mesmo com meu short de lycra e tira a calcinha com tudo; não me importei por não estar
totalmente depilada. Em seguida, ele põe sua camisa vermelha em mim e pego a cueca da sua
mão e a visto antes que ele o faça.
Chase põe minha roupa suja no cesto do banheiro e volta com um pente na mão e mais
algodão e remédio. Ele penteia os meus cabelos e mais uma vez cuida dos meus machucados.
Então, vai até o guarda-roupa e retira uma bermuda de moletom. Ele tira a calça e a cueca,
ficando totalmente nu, e veste a peça que pegou.
Chase entra debaixo dos cobertores e bate no espaço ao lado do seu. Com uma carranca no
rosto, subo na cama e faço o mesmo com ele. Viro de costas para seu corpo.
— Ally… — Chase começa.
— Não quero falar com você agora, Chase — digo, magoada. — Apenas me abrace, cale a
boca e durma.
Sinto seu corpo se projetar para detrás do meu, e então seu braço direito me envolve. Com
raiva por ser tão bom, eu me aconchego ainda mais em seu calor.
Amanhã não falarei [ba1]com ele.
Abro os olhos quando sinto um leve peso sobre o meu peito e algo emaranhado às minhas
pernas. Olho para baixo e vejo Ally com a bochecha esquerda espremida contra o meu peito e a
mão espalmada sobre ele. Suas pernas definidas estão entrelaçados às minhas, e sua respiração
está calma.
Seu cabelo está espalhado nos travesseiros e em meu braço direito, que está por trás de sua
nuca. Agora, analisando seu rosto e vendo o quão calma e linda ela está enquanto dorme em
meus braços, pergunto-me como fui capaz de pensar na possibilidade de terminar com ela e
perder tudo isso.
Quero bater minha cabeça na parede até esquecer que quase terminei com ela por Karen. Eu
ia perder a mulher da minha vida, e isso seria a pior merda que eu poderia fazer. Ela me ama.
Porra, quase a perdi.
Allyson se aconchega em meu peito e a vejo suspirar enquanto os olhos avelã se abrem
lentamente. Ela boceja, depois levanta a cabeça do meu peito e dá uma olhada ao redor do meu
quarto, parecendo um pouco atordoada. Então, ela olha para mim e me dá a visão perfeita de seu
rosto. O inchaço em sua bochecha não existe mais, apenas o do seu joelho direito, que está sobre
as minhas pernas.
Os olhos de Allyson se escurecem, pura raiva neles. Tenho vontade de rir por ela estar com
os cabelos desgrenhados, mas me contenho porque sei que quase fodi com tudo.
Ela me solta como se eu estivesse queimando e me dá as costas, afastando-se de mim o
máximo que consegue. Ela agarra o travesseiro que está debaixo de sua cabeça.
— Por que se afastou? — Apoio minha cabeça em minha mão.
Traço um círculo nas costas de Allyson, e ela se afasta do meu toque.
— Você ainda está com raiva de mim? — pergunto, olhando para as costas dela. Ally
permanece em silêncio. — Minha gattina…
Ela bate na minha mão e se remexe na cama, parecendo com raiva.
— Não sou sua gattina.
— E, se não for a minha, vai ser de quem?
— De qualquer pessoa que não me troque pela ex — responde, ainda de costas para mim.
Passo as mãos por meu rosto, pensando no que posso fazer para que ela ao menos me encare
nos olhos. Não gosto de tê-la tão distante de mim. Dói, dói muito.
Aproximo-me lentamente dela e afasto seu cabelo para o lado, dando-me acesso ao seu
pescoço. Planto um beijo demorado ali, então outro e mais outro.
— Me perdoe, Ally… — Abraço a cintura dela e a puxo contra o meu corpo.
— Vou fazer isso, mas não agora. — Sua resposta é simples e clara.
Deslizo meus lábios pela parte de trás de sua orelha e então os desço para sua nuca, minha
mão adentra a camisa que ela está vestindo, e desenho círculos em seu abdômen. Ela o contrai.
— Por favor, linda… — Passeio meu nariz por seu pescoço cheiroso.
Sinto-a estremecer e sei que estou conseguindo afetá-la, mas também sei que ela não vai se
dar por vencida tão facilmente. Mas não quero vencê-la em nada, isso não é um jogo. Apenas
quero que ela pare de me ignorar e de me tratar com tanta frieza. Sei que fiz merda e a
machuquei, mas, porra, sinto sua falta.
— Deus, onde está o meu direito de ficar brava? — Eu a ouço resmungar. — Não me toque,
estou estressada!
Rapidamente faço o que ela pede, mesmo a contragosto. Mas se engana quem acha que me
dei por vencido.
Saindo de trás de Ally, passo por cima do seu corpo e vou para o outro lado da cama,
ficando deitado de frente para ela. Allyson franze o cenho e me dá as costas de novo,
resmungando baixo. Tenho certeza de que ela me xingou de algo.
Bufando alto, puxo Allyson pelo ombro e a faço ficar de barriga para cima. Ela me xinga, e
eu passo as pernas ao redor de sua cintura e a deixo presa abaixo de mim, mas tomando cuidado
com o machucado em seu joelho.
— Não me ignora, amor — peço, apoiando minhas mãos de cada lado do seu rosto.
A camisa que ela está usando sobe um pouco e posso ver como a minha cueca ficou bonita
nela. As pernas grossas a preencheram muito bem, deixando-a como um short curto.
— Estou com raiva de você, Chase. — Ally finalmente move os olhos para o meu rosto. —
E olha que eu tenho os meus motivos. Você sabe que, se eu terminasse com você, estaria no meu
direito, não é? Você praticamente desistiu de mim.
Assinto, sabendo que estou errado.
— O que você achou que eu diria quando você propôs que terminássemos por ela? — Cruza
os braços, sorrindo. — “Ah, Chase, claro que eu concordo com isso. Tadinha da Karen, ela
merece tanta empatia, ela é tão do amor, tão galera”.
Mordo o interior da minha bochecha para não rir do seu tom de voz e expressões, e Allyson
bate na minha coxa.
— Eu não achei a menor graça! — Ela me olha com raiva. — Agora saia de cima de mim,
não quero falar com você.
Sentado sobre suas coxas, eu me curvo e me inclino para o rosto dela, encarando seus olhos
raivosos.
— Se eu lhe mostrar algo e devolver uma coisa que você perdeu há muito tempo, você me
perdoa? — pergunto.
— O quê? Minha virgindade? — debocha.
Antes que eu a encha de palmadas na bunda, afasto-me de Allyson e, instantes depois, volto
com meu caderno de desenho em mãos. Estico-o para ela, e seus olhos antes irritados agora me
encaram com surpresa. Ela abre e fecha a boca várias vezes.
— Você disse que não mostra a ninguém.
Sorrio de canto.
— Você não é ninguém, é Ally. Você é o amor da minha vida.
Alysson pisca, e suas bochechas ficam vermelhas. Pigarreando, ela pega meu caderno em
mãos e o abre. Ao passar a primeira página em branco, minha namorada ergue as sobrancelhas, e
um arfar de surpresa escapa de seus lábios cheios.
— Sou… Sou eu? — pergunta, vendo a mulher deitada na cama, o lençol cobrindo seu
corpo e deixando as costas nuas.
O cabelo está para o lado, assanhado de um jeito sexy. Assinto e a vejo passar para a
próxima página. Ela ergue as sobrancelhas e cobre a boca com a expressão que parece estar cheia
de emoção
— Sou eu de novo! Chase, isso é lindo… — ela fala, maravilhada.
— Você vem sendo a minha musa por tanto tempo… — Sorrio para ela.
Allyson engole em seco, e a vejo passar o desenho dela, indo para o próximo. Suas
sobrancelhas se franzem em confusão, e sei perfeitamente o que ela está vendo.
— Ano passado? Sou eu no ano passado? — questiona, e sei que agora é minha hora de agir.
Afasto-me de novo e ando até a última gaveta das três que tem em meu guarda-roupa. Eu a
vasculho por inteiro até finalmente achar o que estava procurando: o chaveiro do Homem de
Ferro de Allyson.
Escondendo-o atrás das minhas costas, volto para a cama e me sento ao lado dela. Cutuco
sua bochecha com o meu indicador para que ela me olhe. Ally bufa muito a contragosto, mas o
faz. Tiro o chaveiro de trás das minhas costas e o ergo para que ela o veja. As sobrancelhas de
Allyson se erguem.
— Nossa, ele se parece com o chaveiro que perdi — ela diz de maneira casual.
— Não parece, é.
Allyson ri.
— Sem chances, eu perdi o chaveiro há tipo… — Ela ergue os dedos, como se contasse,
sorrindo. — Um ano e alguns meses? Quase dois anos.
Eu respiro fundo e fico de joelhos na cama.
— Talvez, só talvez… eu já a conhecesse há muito tempo e estivesse no momento em que
você perdeu seu chaveiro. — Sorrio.
O sorriso some do rosto de Allyson, e ela se senta na cama de maneira abrupta.
— Você está querendo dizer que já me conhecia esse tempo todo, estava com o meu
chaveiro e não me disse nada?
Esfrego meu queixo, sentindo a minha barba por crescer arranhar o meu peito.
— Tipo isso? — Solto uma risadinha nervosa e a vejo colocar o caderno de desenho de lado.
Allyson respira fundo, e a vejo cerrar seus dentes e seus punhos. Ela joga um travesseiro em
meu rosto.
— Ok, vou embora. Se eu ficar perto de você, posso virar matéria-prima de um
documentário de assassinato.
Afasto o travesseiro e a vejo se levantar da cama e andar em direção à porta enquanto manca
um pouco, pronta para sair. Após jogar o chaveiro na cama, salto dela e corro até a Ally,
abraçando sua cintura antes que ela alcance a maçaneta.
Eu a tiro do chão, e ela se debate.
— Me solte, Chase! — Ela bate nos meus braços e sacode as pernas no ar.
— Eu ia lhe contar, eu juro! — Aperto meus braços nela. — Mas uma coisa foi levando a
outra, nós nos apaixonamos e eu me esqueci de lhe contar!
Allyson se debate com mais força e chuta a parede próxima, lançando-nos para trás. Só não
caio com ela porque consigo firmar meus pés no chão bem a tempo, mantendo o equilíbrio. Ela
solta um gritinho raivoso.
Aproximando meu rosto de sua orelha direita, eu a aperto contra mim.
— Você sabe o que eu estava fazendo no estacionamento naquele dia? — começo. — Eu
tinha ido ver Karen pela última vez logo após ela terminar comigo. Eu ia embora para a Itália
com a minha família, ia me curar das merdas que Karen me fez, porque, se eu continuasse perto
dela, iria sucumbir à minha dependência emocional e a procuraria — digo, e Allyson para de se
debater e firma os pés no chão.
Dou-lhe um abraço apertado, apoio meu queixo em seu ombro e fecho meus olhos.
— Mas, quando estava voltando para pegar a moto de Pietro, você me parou após
esbarrarmos um no outro e começou a falar de clitóris. — Sorrio ao lembrar. — De início, eu
pensei que você fosse apenas uma doida, mas aí, depois, percebi que você apenas queria
envergonhar seu ex-namorado após descobrir que foi traída.
Afrouxo o aperto em sua cintura, agora mais confiante de que ela não vai mais fugir.
— Um ano depois, eu voltei para Nova York, e você não sabe o tamanho do meu choque por
vê-la invadir o meu apartamento e quebrar o meu som. Era você ali, a minha vizinha. — Beijo o
ombro dela. — Era você ali, tão linda quanto eu me lembrava, vestida com um pijama do
Homem de Ferro e carregando um taco de beisebol nas mãos.
— Você se lembrou de como eu estava vestida. — A voz de Allyson sai baixa.
— Como eu poderia esquecer, Ally? — pergunto, puxando-a contra mim. — Acho que
nunca agradeci tanto por você ter quebrado o meu som, mesmo que Pietro e eu ainda
estivéssemos pagando.
Allyson se vira para mim e apoia as mãos em meu peito.
— Você devia ter dito que me conhecia.
— Devia, mas você não vê o que tudo isso significa? — Viro-a e a coloco de costas para a
cama.
— O quê?
Eu dou alguns passos para a frente, a deito na cama e fico por cima dela. Tomando cuidado
com seu machucado, fico entre suas pernas definidas e apoio meus cotovelos ao lado de sua
cabeça.
— Você não acha que o fato de termos nos conhecido em nossos piores momentos e em
seguida termos nos reencontrado é coincidência demais? — Mergulho em seu pescoço. — Isso
era um sinal, tudo isso já estava escrito: eu ter guardado seu chaveiro e em seguida descobrir que
você era a minha nova vizinha.
Allyson se contorce abaixo de mim.
— Eu ainda estou brava com você… — Tenta soar séria, mas, para mim, sua voz tem um
tom manhoso.
— Sim, sou um cretino — concordo, colando meu quadril ao dela, pressionando meu pau
em seu núcleo. — Mas sabe a real? Acho que a vida deixou que eu passasse por tudo aquilo
porque tinha algo maravilhoso reservado para mim no futuro. É você, Ally. Você é a melhor
coisa que já me aconteceu.
Allyson suspira, agarrando meus ombros.
— Você omitiu uma verdade de mim — ela geme baixinho quando ondulo meu quadril.
— Sim, omiti — admito, mordiscando seu lóbulo macio. — Mas não se afaste de mim, Ally.
Isso me quebraria da pior maneira possível, e eu te amo tanto.
Arrasto meus dentes por seu queixo enquanto minhas mãos sobem por suas coxas e as dela
para os meus ombros. Quando dou por mim, Allyson nos vira e fica por cima, me montando,
suas pernas uma de cada lado da minha cintura. Ela também está tomando cuidado com seu
joelho machucado.
— E o que mais? — pergunta enquanto me olha de cima.
Eu me sento na cama com ela em meu colo e agarro sua cintura, movendo meus lábios para
o seu pescoço cheiroso novamente.
— Você é a mulher da minha vida — digo, suspirando quando ela rebola levemente. — É a
minha gattina, e eu sou completamente louco por você. Amo cada parte sua, sem nenhuma
exceção.
Allyson agarra meu rosto nas mãos pequenas e rebola lentamente para a frente e para trás,
arfando.
— Não sei se quero perdoá-lo…
Reforço o aperto de meus dedos em sua cintura.
— Me perdoe, gattina. — Eu a ajudo a rebolar. — Perdoe o seu homem, hum?
Ally rebola com mais força, e suas pernas se apertam ao redor do meu quadril. Gemo grave
e adentro a cueca que ela está usando, e minhas mãos se enchem com a carne de sua bunda.
Allyson esfrega a boceta no meu pau com tanta vontade que o sinto ficar duro logo abaixo dela.
Sua boca carnuda se move para a minha orelha esquerda.
— Você se esqueceu de mencionar outra coisa que eu também sou — sussurra com a voz
sensual enquanto desliza as mãos por meus braços.
— O quê?
— Sou a mulher que vai abandoná-lo de pau duro. — Então mordisca meu lóbulo e sai do
meu colo.
Franzo o cenho com essa audácia e, confuso, assisto a ela andar calmamente até o banheiro e
se trancar nele. Passam-se alguns segundos até que a verdade me atinja e eu me toque de que ela
me deixou na mão.
Chocado, corro até o banheiro e bato na porta.
— Allyson, pare de graça! — resmungo.
— Quem disse que eu sou palhaça? — ela pergunta do outro lado da porta.
Eu gemo de frustração e olho para baixo, vendo a minha barraca armada.
— Você não pode me deixar de pau duro e fazer isso comigo, Allyson. — Encosto minha
testa na porta, sentindo meu pau latejar.
Eu o aperto por cima da bermuda e mordo meu lábio para não gemer quando o sinto doer de
tanto tesão.
— Ontem você foi um babaca comigo e agora também. Nós não vamos terminar, mas
também não vou perdoá-lo assim tão rápido. — Sua voz sai abafada antes de proferir minha
sentença de morte: — Sem sexo até que eu diga o contrário.
Arregalo os olhos em direção à porta, dando alguns passos para trás. Merda, Allyson está
muito puta, logo ela que tem um fogo no rabo gigante vai fazer greve de sexo?
Frustrado, passo as mãos por meu cabelo e espero Allyson sair do banheiro para que eu
possa tomar um banho gelado.

Ally almoçou na minha casa e, como ela declarou, não vamos ter sexo. A louça ficou por
nossa conta e, mesmo a cozinha não sendo pequena, a diaba não perdeu uma oportunidade de
passar entre mim e algum móvel esfregando a bunda em mim enquanto pedia desculpas e, com
falsa inocência, dizia que o espaço era pequeno.
Aperto a campainha da casa de Karen e espero até que alguém abra. Ninguém aparece, então
a aperto mais duas vezes e, quando ponho as mãos nos bolsos de meu moletom preto, a porta se
abre de repente. A mãe de Karen ergue as sobrancelhas, parecendo surpresa.
— Chase. Você veio. — Ela sorri radiante. — Que bom que me escutou, Karen vai amar.
Entre!
Eu não a corrijo, apenas dou um passo à frente e entro na casa. Analiso a decoração, vendo
que nada mudou.
— Onde ela está?
A senhora Backer fecha a porta logo atrás de mim.
— Karen está lá em cima, no quarto dela. — Sorri, apontando para as escadas. — Vá vê-la,
ela vai ficar tão feliz! — Junta as mãos.
Eu tenho minhas dúvidas.
— Obrigado. — Com um aceno de cabeça, subo as escadas.
Subo degrau por degrau, arrumando o capuz do meu moletom preto sobre a minha touca
cinza. Hoje eu darei um fim a toda essa merda com Karen. Fugi demais, dei espaço para que ela
se metesse em minha vida e machucasse Ally. Eu aguentaria se fosse apenas comigo, estava
disposto a engolir. Mas não toque em quem eu amo, porra.
Ando pelo corredor e paro em frente à porta do único quarto que tem nele. Confirmo se a
porta está aberta e, quando vejo que sim, entro e a fecho de chave. Olho para Karen deitada na
cama.
— Merda, mãe, já mandei dar o fora… — Karen ergue a cabeça e arregala os olhos quando
me vê. — Chase! — Levanta-se da cama.
Sorrindo largamente, ela corre na minha direção e passa os braços por minha cintura.
Contenho a vontade de vomitar.
— Você veio! — Ela enterra o rosto em meu peito.
— Claro que sim.
— Por mim? — Karen me olha, e eu assinto. — Sabia que você ainda me amava!.
Quase rio. Mas que merda.
— Sua mãe disse que tentou se matar. — Faço-a me soltar e a guio para a cama, sentando-a
nela.
Sento-me ao lado dela.
— Sim, não quero viver sem você, Chase… — Karen passa os braços por meu pescoço.
Cerro meus punhos, querendo puxar Karen para longe de mim. Seu toque me dá nojo.
— Claro, e por isso quase levou Allyson junto. — Sorrio.
Ela fica tensa, e o aperto de seus braços diminui. Afasta-se e me olha.
— Não sei do que você está falando. — Ela se faz de sonsa.
Tiro seus braços do meu pescoço.
— Já sei de tudo, Karen.
— Seja lá o que a vadia da Allyson tenha dito, é menti…
Eu empurro o corpo de Karen na cama e fico sobre ela, agarrando seu queixo.
— Cale a boca — mando com um rosnado.
Os olhos dela se arregalam.
— Chase, você está me assustando! — Karen agarra os meus ombros. — Aquela vadia está
mentindo!
Eu reforço o aperto em seu queixo, nem forte demais, a ponto de machucá-la, nem fraco
demais, para que ela saiba que não estou para brincadeira.
— A única vadia aqui é você — digo entredentes.
Ela tenta me tirar de cima dela.
— Você não era assim! — Bate no meu peito.
Dou risada.
— Assim como? Difícil de manipular? — Arqueio uma sobrancelha. — Não sou mais o
idiota de antes, Karen.
— É aquela puta que o está estragando, meu Chase nunca faria isso comigo! — Tenta tirar
minha mão de seu queixo.
A raiva toma conta de mim, e aproximo meu rosto do dela.
— Seu uma porra! — Eu a encaro. — Achou que tentaria atropelar Allyson e ficaria por isso
mesmo? — Pressiono-a ainda mais no colchão.
De repente, toda a expressão submissa que Karen tem no rosto muda para uma raivosa, e
suas unhas se fincam em meu pulso direito. Isso, essa é a sua verdadeira face.
— Ela está entre nós, não vou permitir isso! — grita alto.
Eu ranjo os dentes e aproximo minha boca do ouvido dela.
— Escuta aqui, não dou a mínima se você está doente da cabeça, procure um psicólogo.
Pouco me importa se você quer morrer, não é problema meu — digo. — Mas, se tocar em Ally,
acabo com você, Karen. Pode não ser fisicamente, porque, mesmo que eu te odeie, sou um
homem e meus pais me ensinaram a agir como tal. Mas posso destruí-la de outras maneiras.
Karen grita, e sua mão direita voa para o meu rosto e me acerta um tapa. Eu a largo e saio de
cima dela, dando alguns passos para trás.
— Eu te odeio, seu idiota! — Ela se senta na cama.
Eu sorrio, sentindo o local que ela acertou latejar.
— Apenas toque em Allyson de novo e vou dar mais um motivo para que seu ódio aumente.
— Subo meu capuz, que caiu. — Está avisada — eu digo e ando até a porta.
Quando alcanço a maçaneta, Karen começa a gritar, e passo pela porta, encontrando a mãe
dela correndo até mim.
— O que você fez? — pergunta de olhos arregalados, escutando os gritos de Karen.
— Interne a sua filha em um hospício antes que eu a jogue na cadeia por tentativa de
homicídio.
Dito isso, me viro e começo a descer a escadas, querendo ir para o mais longe possível dos
gritos de Karen. Em um momento, ela grita que me ama; em outro, que vai me matar.
Abro a porta da sala e a fecho com força, sentindo o ar fresco me receber. Caminho até meu
carro e entro nele, dando partida para o prédio onde deixei a minha namorada. Mas, no caminho,
começo a rir da situação de Karen. Não porque ela seja engraçada, mas sim pela ironia da vida.
No fim das contas, não era eu quem era dependente de Karen. Mas ela que é de mim.
Paro de pentear o meu cabelo e deixo a escova escorregar por entre os meus dedos quando
escuto as palavras de Chase. Viro-me lentamente para ele e arqueio uma sobrancelha, analisando
seu rosto bonito que parece mais calmo do que realmente deveria.
— Como assim você foi ver Karen? — solto uma risada incrédula. Devo ter escutado errado.
Não tem a mínima possibilidade de ele ter feito isso, não mesmo. Ainda mais sem ao menos
ter me contato antes.
— Fui ter uma conversa com ela, amor — Chase repete, sentando-se em minha cama com as
costas retas.
— Logo depois de termos brigado feio por culpa dela — murmuro, olhando para ele.
Chase abaixa a cabeça, e eu passo as mãos por meu cabelo, tentando conter a vontade que
tenho de apertar o pescoço dele. Depois de ontem, quando ele quase terminou comigo apenas por
medo do que Karen poderia fazer comigo, eu estaria no direito de terminar com ele, não?
Entendo que Chase se sentiu culpado porque ele é bastante empático e fodidamente bom.
Mas me doeu saber que, por um momento, ele quase desistiu de mim por ela. Sei que posso estar
sendo egoísta, mas foi o que senti no momento.
— O que você foi fazer lá? — pergunto calmamente, respirando fundo.
Não quero controlar a vida dele, não sou sua dona para dizer aonde ele pode ou não ir. Mas,
porra, é a casa de Karen. De Karen, caralho, eu quero matá-lo. Se não arranquei o pau dele antes,
agora eu arranco.
Chase fica em pé e anda até mim. Ele faz menção de segurar os meus quadris, mas nego com
a cabeça. Meu querido namorado estaca no lugar.
— Eu precisava, Ally. — Chase põe as mãos nos bolsos do macacão da oficina onde
trabalha.
O desgraçado está um verdadeiro gostoso nessa roupa, tenho que me controlar para não
pedir que ele ponha apenas o pau para fora e me coma assim, vestido desse jeito. Eu ainda estou
fazendo greve, e isso me faria uma taradona, e eu não sou isso. Ok, eu sou, mas para tudo tem
hora.
— Por quê? — Cruzo os braços em meu peito.
— Porque eu percebi que dei brecha para Karen. Brecha para que ela se metesse em nossas
vidas. Embora eu me mantivesse distante dela, nunca lhe dei um chega pra lá definitivo. Nunca
me permiti ficar na presença dela por mais de alguns segundos. — Esfrega a nuca. — Sempre
fugia de Karen como um covarde e, depois de ter dito a ela algumas coisas, me senti leve, Ally.
Foi como se um ciclo da minha vida tivesse, finalmente, se fechado. — Passa os dedos pelos
fios.
O cabelo de Chase está voltando para a cor natural e, embora eu ame o preto, amo ainda
mais o castanho.
Solto um pequeno suspiro e apanho a escova de cabelo do chão.
— O que Karen disse? — pergunto, jogando a escova na minha cômoda.
Deslizo os dedos pelo meu cabelo.
— Nada demais, apenas teve um pequeno surto e me deu um tapa.
Eu paraliso no lugar e arqueio uma sobrancelha. Cerro meus punhos.
— Aquela vagabunda fez o quê? — Chase fecha os olhos como se não fosse para ter dito
isso.
— Ally… — Ele dá um passo na minha direção.
— Me leve até a casa dela agora, vamos enfiá-la em uma caixa e enviá-la para bem longe.
Mas dessa vez com os membros espalhados! — mando, indo procurar meus tênis pelo quarto.
Desgraçada, ela bateu nele. Ninguém bate no meu namorado. Pelo chihuahua, eu dou minha
vida, graças a Deus!
Quando avisto meu All-Star preto perto da porta, ando rapidamente até ele, mas braços
fortes envolvem a minha cintura e me puxam para trás antes que eu o alcance.
— Ally, calma, não doeu! — Chase diz ao pé do meu ouvido, rindo.
— Eu não quero saber, Chase, como ela ousa bater no meu namorado?
Chase me aperta ainda mais.
— Calma, gattina, juro que não foi nada demais. — Ele beija meu ombro nu.
Eu me viro para ele e o olho com raiva.
— Ela o agrediu, como pode não ter sido nada demais? — Bufo alto, espalmando minhas
mãos em seu peito.
Chase sorri de lado e me dá um selinho demorado.
— Não se preocupe com isso, já passou. — Segura meu rosto entre as mãos grandes e
tatuadas.
Seguro nos pulsos dele.
— Chase… — resmungo.
Chase ri e me dá outro selinho, dessa vez mais carinhoso.
— Depois de ontem, ela não vai mais incomodar a gente. — Acaricia as minhas bochechas.
Ainda de cara fechada, decido concordar com Chase e passo meus braços por sua cintura,
apoiando meu queixo em seu peito.
— Você já tem que voltar ao trabalho?
Ele está em horário de almoço, nós comemos juntos e já está na hora de ele voltar.
— Tenho, gattina. — Põe uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Por quê?
— Nada, eu ia pedir para que você fosse comigo ao shopping comprar um presente de
aniversário para o Adrien — respondo. — Mas não dá mais tempo.
Chase aperta o braço direito por minha cintura e me puxa contra si.
— Não tenho como ir com você, Ally. — Ele suspira. — Mas você pode pedir a Pietro, ele
agora tem um carro de novo.
Assinto e arrumo sua regata branca por dentro do seu macacão azul-escuro. Chase está
usando uma corrente de prata ao redor do pescoço, e não consigo parar de achá-lo gostoso.
Quando percebe o meu olhar, Chase enrosca os dedos da mão direita nos cabelos de minha
nuca e os agarra firmemente. Umedeço meus lábios e passo minhas mãos por sua cintura.
— Eu ganho um beijo antes de ir? — Ele arqueia a sobrancelha.
Apenas sorrio, fico na ponta dos pés e o puxo para mim pela nuca. Nossos lábios se unem e
enfio meus dedos em seus cabelos, puxando-os quando Chase envolve minha língua com a dele.
Ela dança no céu da minha boca, e me pressiono contra seu corpo, buscando por mais.
Chase reforça o aperto nos cabelos de minha nuca, e solto um gemido baixinho, sentindo-me
quente. Nós nos separamos quando a falta de ar se faz presente. Mas Chase parece pouco se
importar para isso quando desce para o meu pescoço.
— Quando você vai parar essa greve idiota, Ally? — Ele puxa minha cabeça para trás,
obtendo acesso ao meu pescoço.
Ele o sopra, e os pelos do meu corpo se arrepiam.
— Chase.
Dou as costas a ele para tentar manter meu raciocínio, mas percebo o erro que cometi
quando Chase agarra minha cintura e encaixa o pau na minha bunda. Merda, ele está duro.
— Sinto sua falta, gattina — sussurra enquanto beija meu pescoço e se esfrega em mim.
Ofegando, deixo minha cabeça cair para trás em seu ombro esquerdo e me pressiono contra
seu corpo. Com seu pau grosso encaixado entre as minhas nádegas, rebolo nele e ouço seu
gemido rouco. Chase dá um passo à frente, e eu apoio minhas mãos na parede próxima e me
seguro nela.
O aperto dele em minha cintura é firme e sem perceber, me empino para ele, minhas costas
arqueadas.
— Você é tão cheirosa. — esfrega o nariz em meu pescoço.
Meus mamilos pressionam meu sutiã e os sinto doerem de tesão. Minha calcinha fica
molhada e fecho meus olhos com força, sentindo-o me foder por cima das nossas roupas.
Merda, eu estou de greve, tenho que fazê-lo parar. Se não, para onde caralhos vai a minha
moral?
Eu viro de frente para Chase e ele avança com a intenção de beijar meus lábios.
Desesperada, eu cubro sua boca com a minha mão direita.
— Chase, estamos de greve!
— Não, Ally. Você está de greve — diz, tirando minha mão de sua boca. — E eu. Eu quero
você.
Eu ofego quando ele agarra minha bunda com sua mão direita, esfregando-se em meu
estômago. Socorro, vou sucumbir as tentações do capeta.
Chase beija a palma da minha mão e a leva para baixo, pressionando-a bem em cima de sua
enorme ereção. Olho para baixo e lambo meus lábios, vendo seu pau encher minha palma. O
quero dentro de mim.
— Sente como eu estou duro, gattina… — Ele solta meu pulso, agora agarrando a minha
bunda com as duas mãos.
Mordo meu lábio, ainda olhando para a minha mão em seu pau. O massageio por cima da
roupa, ouvindo o gemido rouco de Chase passear por todo o meu corpo. Sua boca paira sobre a
minha e sinto desejo crescer dentro de mim.
Sorrio.
— Eu quero te chupar — confesso, lambendo seus lábios.
O massageio com mais precisão e as sobrancelhas de Chase se franzem, respirando contra
meus lábios.
— Faça isso, hum? — Chase puxa meu lábio inferior para si, a voz rouca. — Ponha essa
boquinha gostosa ao redor do pau do seu homem.
Meu homem.
O meu ego sempre se inflama quando ele diz que é o meu homem. Meu peito se enche de
orgulho e isso é tão idiota. Não fica assim apenas por ele ser lindo, mas também porque Chase é
incrível por dentro.
Embora eu queira me ajoelhar e chupá-lo até que meu queixo fique doendo, não quero ser
fraca. Eu disse que faria greve e mesmo que isso me torture também, vou manter a minha
palavra.
— Chase, me solta agora.
As mãos de Chase imediatamente caem de minha bunda e ele as apoia na parede, de cada
lado do meu corpo. Com muita dificuldade, tiro minha mão de seu pau, mantendo-a longe.
— Se quiser dar um jeito nisso, vá ao banheiro. — Sorrio.
Chase me olha com raiva e envolve meu pescoço com a mão direita, pairando a boca sobre a
minha. Arregalo meus olhos.
— Faça greve de sexo o quanto quiser, Allyson. — Ele range os dentes. — Mas uma hora
você mesma não vai mais aguentar. E quando isso acontecer, vou te foder com tanta força que só
vou parar quando eu não tiver mais forças nas pernas.
Chase me larga e me dá as costas, indo até o banheiro. Ele fecha a porta com força e me
seguro na parede para que eu não caia quando sinto minhas pernas fraquejarem.
Merda, isso é greve de sexo ou tortura?

Pietro para o carro em uma vaga do enorme estacionamento do shopping e destrava a porta
para que eu saia. Quando ele faz o mesmo, dá a volta no carro e para ao meu lado, começando a
andar comigo.
Chase foi para o trabalho totalmente de mau-humor. Quando ele saiu do banheiro após fazer
o que vocês sabem muito bem, sua cara estava fechada e ele me deu apenas um beijo rápido.
Pietro fez piada sobre isso e Chase quase o fez ver o céu. Eu quis rir por saber que fui eu quem o
deixou assim.
— Só uma perguntinha, Ally… — Pietro diz e olho para ele. — Quantos anos o seu irmão
tem?
— Vai fazer dezoito anos semana que vem — respondo enquanto subimos na escada rolante.
— Por quê?
Pietro apenas dá um sorrisinho de lado e esfrega o queixo forte com a mão tatuada. Ele nega
com a cabeça.
— Nada, nada. — Põe as mãos nos bolsos da calça preta. — Ele também gosta de homens,
não é?
Eu cruzo meus braços enquanto saímos da escada rolante.
— Por que você quer saber disso? — Franzo o cenho, rindo. — Assim eu vou achar que
você está interessado nele.
Meu brilho some a partir do momento em que Pietro apenas arqueia uma sobrancelha grossa
e sorri de lado, um sorriso cheio de malícia.
Arregalo meus olhos.
— Mas que… porra! — Eu paro de andar e o olho com incredulidade. — Que merda é essa,
Pietro?!
— Tenho certeza de que não preciso explicar.
Eu solto uma risada nervosa.
— Se manca, você tem trinta anos, o meu irmão vai fazer dezoito! — Dou um tapa no braço
dele.
Pietro arregala os olhos.
— Quem porra te disse que eu tenho trinta anos?! — pergunta, parecendo indignado.
Dou de ombros.
— Sei lá, a sua cara?
Pietro passa as mãos tatuadas pelo rosto bonito, parecendo querer me esganar.
— Eu tenho vinte e seis! — ele diz, talvez alto até demais.
Cacete, parece ter mais.
— Ainda assim! — digo, indignada. — E desde quando você também gosta de homens?
Pietro sorri com sarcasmo.
— Eu tenho que sair anunciando por aí com uma caixa de som? — ele debocha.
— Não é isso, claro que não precisa sair dizendo por aí. Mas meu irmão ainda vai fazer
dezoito anos; se você se aproximar dele, eu corto o seu pau!
Pietro arqueia uma sobrancelha.
— Você está namorando o meu irmão e não ameacei você!
— Quer comparar?
Eu gosto muito de Pietro, mas sei muito bem do histórico dele. Ele nunca fez questão de
esconder que sai com muitas pessoas, e na real, ele é solteiro. Não tem nada de errado nisso. Mas
não quero que o Adrien se machuque achando que pode ter algo a mais.
— Seu irmão que me quer! — Pietro diz.
— O quê? — Fico confusa.
— Pietro deu em cima de mim no dia em que fomos para a sua casa. — Ele dá de ombros.
Abro a boca, chocada.
— E você fez o quê? — pergunto.
— Mandei-o ir dormir, né — diz como se fosse óbvio. — Seu irmão é menor de idade, não
estou a fim de ir para cadeia, mesmo que ele seja lindo pra porra.
Eu ia perguntar mais, para saber melhor, quando alguém cutuca meu ombro e olho para trás,
encontrando Kevin. O cabelo cortado o deixou bonito, embora ele fique ainda mais com ele
grande. Ranjo os dentes.
— Ally… — Ele começa.
— Some da minha frente. — Eu mando.
Kevin dá um passo na minha direção, mas o corpo grande de Pietro fica entre nós dois,
impedindo que ele dê qualquer passo na minha direção.
— Ela mandou dar o fora. — A voz de Pietro está fria, totalmente diferente do que estava a
segundos atrás.
Kevin pode ser musculoso, mas Pietro também não é nada pequeno. Nem um pouco.
— Eu só quero falar com ela, sem briga — Kevin fala, suspirando logo em seguida.
Eu reviro os olhos e dou um passo para o lado, aparecendo em seu campo de visão.
— Sobre… Sobre o que quer falar? — Arqueio a sobrancelha.
— Fiquei sabendo o que Karen tentou fazer. Na verdade, todo mundo da faculdade. —
Kevin começa. — Embora eu tenha concordado em fazer aquilo com você no banheiro da
lanchonete, não quero ser cúmplice de um homicídio. Ainda mais do seu.
Cruzo meus braços, Pietro ainda em alerta.
— Sei que não quer me ver nem pintando de ouro, mas ainda assim, quero me desculpar. —
Passa a mão na nuca. — Não quero ser um mau exemplo para o meu filho.
Arregalo os olhos.
— Você vai ser pai? — pergunto, chocada.
— Sim. — Ele se encolhe, um sorriso pequeno em seus lábios.
Pietro começa a rir.
— Caralho, você se fodeu! — Aponta para Kevin, rindo mais alto. — Ainda bem que foi
você e não eu!
Kevin revira os olhos e os mira em mim.
— E então? — pergunta.
Embora eu tenha aversão a Kevin, descobri que não o odeio tanto quanto eu pensei. Não é o
mesmo tipo de sentimento desprezível que sinto pela Karen, é um mais leve. Eu suspiro e dou de
ombros.
— Tudo bem… — eu digo.
Kevin sorri e assente.
— Certo… — Põe as mãos nos bolsos de sua bermuda. — Se cuida.
Eu assinto e vejo Kevin se virar e começar a andar para longe de nós, parando ao lado de
uma ruiva de cabelo cacheado. A pequena protuberância em sua barriga me chama a atenção e
não consigo negar o fato de que ela ficou bonita grávida e que o estúpido de Kevin parece estar
com um ar diferente.
Não vou me esquecer do que ele me fez, porém, guardar tanto rancor assim de alguém, não
vai me fazer bem.
— Um dia desses é você. — Escuto Pietro suspirar.
O fuzilo com o olhar.
— Vai se foder! — empurro o ombro dele e começo a andar para longe, escutando sua
risada feia.
Minha mente vai para Kevin e embora eu não morra de amores por ele, fiquei feliz com a
notícia de que ele vai formar uma família. Algo me diz que o bebê não foi planejado, mas na
maioria das vezes, não é um problema.
Após pentear meu cabelo e bagunçá-lo levemente com os dedos para lhe dar um ar natural,
pego Lady Gaga no colo e saio do quarto com ela após pegar a chave do meu carro. Não gosto
quando ela fica sozinha.
Ally e eu, marcamos de encontrar nossos amigos em uma boate. Embora eu ache legal,
admito que prefiro ficar e assistir um filme com ela em seu apartamento já que estaríamos
sozinhos. Quem sabe, até darmos um beijinho aqui e outro ali, e ela desistir dessa greve idiota.
Faz uma semana que estou vivendo no inferno.
A três dias atrás, Allyson e eu estávamos no quarto dela quando ela disse que ia tomar
banho. Até aí tudo bem, mas ela tirou a roupa na minha frente enquanto dançava e rebolava
como a porra de uma stripper. Jogou a calcinha em cima de mim e desfilou até o banheiro
totalmente nua.
E hoje, eu acordei com a Allyson se tocando e chamando meu nome, vestindo nada mais do
que uma das minhas camisas. Foi uma tortura vê-la remexer os quadris sobre a própria mão, os
olhos avelã fixos nos meus. Em um momento, consegui imobilizá-la na cama e tomar o lugar da
sua mão, mas a diaba — mesmo gostando — me mandou parar e eu obedeci.
Durante uma semana, minha não direita tem sido minha única amiga. Já bati tanta punheta
que não sei como não desloquei o pulso. Mas eu estou em tempo de cortar o meu pau fora, e é
tudo culpa de Allyson.
Uma hora ela vai se cansar dessa palhaçada, e quando isso acontecer, eu vou comer Allyson
com tanta força que ela vai ficar em dúvida se meu nome é Chase ou Latrell. Eu vou acabar com
ela.
Ponho Lady sobre o sofá e olho para o meu pai assistindo a um jogo na TV.
— Pai, vou sair com a Ally e nossos amigos, tudo bem?
Ele me olha.
— Que horas você volta?
— Já são 23:41 e nós vamos a uma boate, então não sei. — Dou de ombros. — Mas não me
espere e tranque a porta, estou levando a minha chave.
Meu pai assente e se levanta do sofá enquanto boceja.
— Então eu vou fechar a porta agora, seu irmão já está dormindo — diz e olha para a minha
gata. — Vou pegar Lady e levá-la para o meu quarto.
Eu assinto e vou em direção a porta, sentindo meu pai logo atrás de mim.
— Boa noite, papà — desejo quando passo pela porta.
— Boa noite, divirta-se — ele diz de volta.
Escuto a porta atrás de mim se fechar e ando até o apartamento de Ally. Pego a chave
reserva que ela contou que fica debaixo do tapete e abro a porta, sabendo que ela me deu total
liberdade para entrar quando eu quisesse.
Guardo a chave de volta no tapete e fecho a porta, vendo Justin vir correndo até mim.
Abaixo-me e acaricio suas orelhas, enquanto ele late e abana o rabo.
— Onde está sua dona? — pergunto, vendo-o lamber minha mão.
Sabendo que ele não vai me responder, me levanto e deixo Justin na sala enquanto ando
pelos corredores e vou até o quarto de Allyson. Quando ponho a mão na maçaneta, escuto passos
de salto alto vindo de dentro do quarto como se ela estivesse correndo. Franzo o cenho, abrindo a
porta.
— Ally, você já está pron… — Sinto minhas palavras morrerem quando dou de cara com
Allyson.
Ela está com a bunda virada para mim enquanto mexe em seu guarda-roupa. Desse ângulo, e
já que a saia de seu vestido subiu um pouco, posso ver perfeitamente suas nádegas e pode até
parecer que ela está sem calcinha, mas consigo identificar um pedaço do tecido de renda que ela
está usando. A bunda dela balança para o lado e ranjo os dentes. Ela está fazendo de propósito.
Allyson olha para mim por cima do ombro.
— Ah, Chase, você está aí. — Ela sorri meiga, aprumando a coluna e descendo o vestido.
Quem vê até pensa que não ama foder a minha sanidade.
Eu entro no quarto e fecho a porta, vendo-a vir na minha direção.
— Vim ver se já está pronta, onde está Tessa? — pergunto, tentando não descer os olhos
para as pernas dela.
— Foi mais cedo com a Kat para pegar um bom lugar para nós, parece que hoje a boate vai
estar lotada — responde, passando os braços por minha cintura.
Tento ignorar a maneira como seus seios, cobertos pelo tecido fino do vestido decotado,
pressionam o meu peito.
— Você está linda. — Seguro em seus ombros e a afasto um pouco.
Allyson realmente está linda. Com um vestido de seda vermelho com um caimento entre os
seios sem o sutiã, expondo a sua tatuagem. O vestido é fodidamente curto e expõe toda a
extensão de suas pernas. O cabelo castanho solto em suas costas como cascatas e a maquiagem
leve. Se ela queria me matar, conseguiu.
— Você acha? — Allyson pergunta, acariciando meu pescoço com o nariz.
Eu engulo em seco e a sinto sorrir, me causando uma onda de raiva. Merda, ela faz de
propósito, Allyson é a porra de uma diaba. Se for para o inferno, toma o lugar do capeta.
Eu sorrio de lado e me afasto um pouco dela, segurando em suas mãos. Isso, assim. A essa
distância o meu pau não sobe.
— Você sabe que sim, Ally. — Acaricio suas mãos.
Ela faz menção de se aproximar de mim, mas solto suas mãos e dou três passos para trás,
pegando meu celular do bolso da minha calça.
— Nossa, olha a hora! — Mostro o horário para ela. — Melhor a gente ir nessa, né?
Allyson franze o cenho e põe as mãos na cintura. Eu apenas dou as costas e abro a porta de
seu quarto, começando a andar pelo corredor com ela logo atrás de mim, seus saltos fazendo
barulho.
— Por que você está fugindo de mim? — escuto-a perguntar, a voz parecendo indignada.
— Eu não estou fugindo, estou sobrevivendo!
Estar perto de Allyson nesse vestido é a mesma coisa que tentar sobreviver na selva. Isso é o
satanás me tentando, mas o inimigo vai cair por terra.
Antes que eu consiga chegar à sala, uma mão me vira pelo ombro e me empurra para a
parede do corredor. Ergo os olhos para a Allyson que segura em ambos os cóses da minha calça.
— Eu não entendo porque você precisa sobreviver a mim — diz, ficando na ponta dos pés
para beijar meu queixo.
Seguro os ombros dela.
— Tão linda, nem parece que me deixou de pau duro doze vezes. — Sorrio com sarcasmo.
Allyson sorri e morde o lábio, minha visão caindo para ele.
— Eu quero um beijo… — diz, deslizando as mãos pelos meus braços, parando em meus
bíceps.
A ação causa uma onda de arrepios por mim e passo meus braços pela cintura dela,
trazendo-a para perto.
Allyson agarra a minha nuca e ergue o rosto para mim assim que me inclino para ela. Nossos
lábios se encontram e os dedos de Ally adentram o meu cabelo, um suspiro escapando dela.
Minha língua dança sobre a dela e cravo meus dedos em sua cintura, sentindo a necessidades
crescer dentro de mim.
Em um movimento rápido, coloco Allyson contra a parede e ela ofega em minha boca, não
parando de me beijar. Ela chupa a minha língua e é como se todo o controle que eu tinha,
sumisse. Minhas mãos descem para a sua bunda e a agarro por baixo do vestido curto, sentindo a
maciez de sua pele. Allyson ergue a perna direita e eu a seguro, colocando-a em volta do meu
quadril.
Colo meu quadril com o de Ally e ela geme entre o beijo, afastando-se e pondo a boca no
meu pescoço.
— Chase… — chama-me, deslizando os lábios pelo meu pomo-de-Adão.
— Hum?
— A greve acabou, me fode.
De repente, eu abro os meus olhos e olho para a Allyson, que mantém o lábio inferior entre
os dentes. Eu poderia comer ela aqui mesmo e matar a vontade que tenho dela. Mas eu quero me
vingar, e mesmo que ela esteja excitada, vou ter que me esforçar para dar o troco.
Solto sua bunda e perna e agarro seu queixo.
— Não.
Allyson franze o cenho.
— Eu acho que você não entendeu bem.— Ela sorri.
Acaricio seu queixo.
— Ah, eu entendi muito bem, gattina — digo de maneira calma. — Mas agora sou eu que
não quero foder. — Beijo canto de seus lábios.
Allyson solta uma risada incrédula.
— Piada, né? — ela pergunta e nego com a cabeça. — Ah, qual é. Você passou a semana
toda tentando me fazer dar fim a greve.
Desço minha mão direita para o pescoço dela, envolvendo-o.
— E você passou a semana toda me atiçando e me deixando na mão — digo contra os lábios
dela. — Você sabe o que é ficar de pau duro doze vezes, Allyson? Em apenas sete dias? Tem
noção do quanto dói?
Allyson sorri de maneira safada, claramente gostando de saber que a greve idiota fez efeito.
— Mas agora eu quero cuidar disso para você… — diz com a voz sensual, a mão descendo
até a minha virilha. — Você não vai me negar isso, não é, amor? — Puxa meu lábio inferior,
massageando meu pau por cima da calça jeans.
Eu olho para baixo, vendo sua mão com as unhas grandes pintadas de preto se enchendo
com o meu pau. Fecho meus olhos por alguns para retomar o meu controle quando ela o aperta, e
então os abro novamente, mirando nela.
— Nada disso, Allyson. — Agarro seu pulso, afastando sua mão de mim. — Agora quem
não vai te tocar, sou eu. Pelo menos, não por hoje. Você vai passar o resto da noite excitada, isso
é por me deixar de pau duro quando fomos ao supermercado. — Afasto-me dela.
Allyson abre a boca em choque, os olhos bonitos mostrando toda a sua indignação. Eu sorrio
de lado e começo a andar para longe, fazendo um carinho em Justin que está no sofá.
Eu não tocarei em Allyson pelo resto da noite.

A boate está incrivelmente cheia, assim como a Allyson disse. É a mesma boate em que eu a
encontrei e ela me usou como escudo contra o Kevin. O dia em que pude sentir, pela primeira
vez, o que é ter as minhas mãos nela.
Com minha mão unida a de Ally, eu a arrasto comigo pela boate, e ela apresenta uma
carranca desde que saímos de casa. Quero rir e lhe dar um beijo, mas me mantenho firme porque
ela tem que passar pelo que eu passei. Só eu sei o quanto meu pau sofreu e o estado das minhas
bolas.
Quando avistamos nossos amigos em uma mesa, coloco a mão na cintura de Ally e a guio
até eles. Ela olha com raiva para mim e pisco um olho, vendo-a me dar o dedo do meio. Sufoco
uma risada.
— Caralho, demoraram, hein — Kat diz, as pernas cruzadas.
Sua mão está sobre o joelho de Tessa.
— Foi culpa de Allyson — eu digo, me sentando no sofá de formato oval.
Pela cintura, puxo Allyson para se sentar ao meu lado.
— A bonita sempre demora para se arrumar. — Tessa sorri.
Minha namorada cruza os braços.
— Você sabe como é difícil ficar mais bonita do que eu já sou? — Ela cruza as pernas
definidas, fazendo o vestido subir um pouco.
Para o bem da minha saúde mental, desvio o olhar.
— É, até porque você é um dragãozinho. — Adam pisca os cílios para a Ally.
Michael está com o braço ao redor dos ombros dele, os olhos fixos em um cara que está
olhando para Adam e ele sequer percebe. Seu olhar é afiado e o rosto sério, claramente tentando
fazer o cara ver que Adam não está desacompanhado. Eu reviro os olhos e sorrio. Idiota
possessivo.
— Não me testa a paciência, Adam. — Allyson ergue a palma da mão, respirando fundo.
Eu sorrio, passando o braço por seus ombros. Aproximo minha boca de sua orelha.
— Por que você está de mau-humor, gattina? — Beijo a lateral de seu pescoço.
Allyson me olha com raiva e dessa vez eu dou risada.
— Ih, está bravinha, é? — Adam continua, provocando-a.
Allyson apenas mostra o dedo do meio para ele e olha ao redor da boate, vendo as pessoas
dançarem ao som de uma música agitada.
— Gente, eu também quero dançar — Kat diz se levantando e olha para Tessa. — Você
quer, amor? — pergunta, estendendo a mão para Tessa.
— Quero, linda.
Tessa sorri para ela e pega na mão da namorada, levantando-se do sofá. Tessa passa o braço
pela cintura de Kat e a guia até a pista de dança, ambas conseguindo sumir na multidão.
— Vocês não vão dançar também? — Ally pergunta a Adam e Michael.
Seu melhor amigo faz uma careta, negando com a cabeça.
— Você sabe que não gosto muito — ele diz e olho para o possessivo ao seu lado. — E
você, Michael? Michael?
Michael continua olhando para o cara, um olhar completamente mortal. Ele só para quando
Adam puxa o rosto dele, obrigando-o a encará-lo.
— O quê? — Michael pergunta.
— Eu perguntei se você gosta de dançar — Adam responde. — Para onde você estava
olhando? — Ele olha para trás, procurando.
Michael puxa o rosto dele pelo queixo.
— Nada, estava só pensando. — Sorri minimamente. — Não gosto de dançar, mas não vejo
problema em fazermos.
Adam enruga o nariz e nega mais uma vez com a cabeça.
— A gente fica por aqui mesmo — ele diz, aconchegando-se em Michael.
Eu sorrio e olho para Allyson que está encarando os dois com um sorriso fofo no rosto.
Aproximo meus lábios de seu ouvido, sentindo seu perfume gostoso.
— Quer dançar, Ally? — pergunto.
Allyson olha para mim e sorri.
— Em você? Eu quero.
Eu dou risada e me levanto do sofá.
— Vem, gattina. — Eu a puxo pela mão e firmo as minhas em sua cintura.
Eu amo a forma como as minhas mãos parecem terem sido feitas para cada detalhe do corpo
de Allyson. Parece tão certo tocá-la.
— Marcando território, Chase? — Michael sorri, olhando para as minhas mãos na cintura de
Ally.
— Eu ia dizer que não, mas olha que de marcar território você entende muito bem. — Sorrio
de lado.
Adam o olha confuso, sem saber do que estou falando e Michael lhe dá um selinho para
distraí-lo.
Eu levo Allyson para a pista de dança no exato momento em que começa a tocar Please Me
do Bruno Mars e Cardi B. Passo meus braços por sua cintura e a puxo para perto de mim o
máximo que consigo, não deixando um fio de espaço entre nós. Ally se vira e meu peito
pressiona as suas costas.
Apoio minhas mãos nas laterais de seu quadril e o movimento de um lado para outro no
ritmo da música. Ally joga a cabeça para trás, apoiando-a em meu ombro direito e agarra minha
nuca com a mão esquerda, empinando-se e roçando no meu pau. Aumento o aperto em seu
quadril.
— Eu sei o que você está querendo fazer, Ally. — Sorrio de lado, beijando seu ombro.
O balançar de seus quadris se torna mais intenso.
— E o que eu estou fazendo?
— Você sabe muito bem. — Mordo seu lóbulo. — Mas eu não vou te tocar do jeito que
você quer, gattina… — Mantenho a minha voz firme.
Sinto Allyson pressionar-se ainda mais contra mim e reprimo um gemido rouco ao que meu
pau se encaixa tão bem em sua bunda. E cazzo, ela é tão cheirosa.
— Tudo bem, quem perde é você mesmo — diz com a voz sensual, pondo as mãos sobre as
minhas que estão em seu quadril.
Mordo o pescoço dela e ela ri, segurando em meus braços quando envolvo sua cintura em
um abraço no exato momento em que a música acaba.
— Quer voltar para mesa? — Eu a viro de frente para mim.
Ally assente com a cabeça e pego a sua mão, caminhando com ela até nossa mesa. Mas no
decorrer, vi os olhares desejosos que alguns caras e até mesmo mulheres, davam a ela. Embora
isso me encha de raiva, não posso culpá-los, Allyson é linda de um jeito inexplicável. Além da
confiança que ela passa.
Tessa sorri quando nos aproximamos.
— Eu já ia levar um pacote de camisinha para vocês, o negócio lá estava quente — ela diz e
os outros dão risada.
Allyson revira os olhos com um sorriso e me sento, puxando-a para o meu lado.
— Camisinha para quê? — Kat suspira. — Eu queria ser titia.
— Vai ficar querendo. — Ally sorri falsamente.
— Ainda não acredito que aquilo era bosta acumulada. — Adam faz uma careta.
— Dá próxima vez eu tiro foto e te mando, aí você acredita. — Allyson debocha.
Tessa e Kat riem e Adam mostra o dedo a elas, o rosto vermelho de raiva.
— Fofo. — Michael beija a bochecha dele.
Adam fica ainda mais vermelho, mas dessa vez é de timidez e vergonha. Olho para a Ally,
vendo-a entrar em uma conversa aleatória com Tessa e Kat, as pernas grossas cruzadas. Com o
braço ao redor de Allyson, acaricio seu ombro nu, sentindo a maciez de sua pele contra meus
dedos.
Ela se recosta em mim, procurando mais contato.
— Chase!
Franzo o cenho quando uma voz fina e alegre me chama e olho para a frente, vendo Erika.
Ela está acompanhada de mais duas meninas e três meninos.
Vejo Ally por a mão sobre a coxa nua.
— Ah, oi, Erika. — Sorrio minimamente.
— Que legal te encontrar aqui. — Seu sorriso é largo. — Está sozinho?
Escuto Michael ri da sua pergunta idiota e vejo que até ele notou que Erika está ignorando
sua presença assim como a dos outros. E da minha namorada.
Contenho um suspiro.
— Não, estou com meus amigos… — Indico meu pessoal com o queixo. — E a minha
namorada. — Acaricio o ombro de Ally.
Erika ergue as sobrancelhas.
— Sua namorada? — Ela olha para Ally, não escondendo o julgamento no olhar. — Ah,
lembro dela. — Sua voz é desgostosa.
Allyson sorri de lado.
— É, também me lembro de você.
Os olhos de um dos amigos de Erika descem pelas pernas de Allyson e meu rosto se torna
uma carranca fria. Vejo o filho da puta lamber os lábios, mas tudo isso passa despercebido por
ela.
Um das amigas dela dão um passo em nossa direção. Seus olhos se fixam em Tessa e Kat.
— Olha, sei que o mundo é livre, mas não deveriam ficar assim na frente de outras pessoas.
Deveriam ter mais respeito. — Fala de repente.
Ergo minhas sobrancelhas e Allyson fica tensa. Tess pigarreia, piscando os cílios.
— O… O que disse? — pergunta.
— Sabe, não deveriam se tocar tanto em público. — A garota volta a repetir.
Alysson respira fundo.
— E quem te perguntou, caralho? — rosna.
Os amigos de Erika ficam um pouco assustados e arregalam os olhos, mirando seus olhos na
minha namorada prestes a explodir ao meu lado.
— Se não quer ver, fecha os olhos ou então sai de perto. Ninguém chamou vocês aqui! —
Ally continua.
— Por que está tão brava? Minha amiga apenas deu um conselho! — Erika se defende. Ou
tenta, pelo menos.
Michael suspira.
— Que, além de homofóbico, ninguém aqui pediu — ele fala.
Erika mira seus olhos em mim, piscando os cílios na minha direção como se isso me
comovesse.
— Vai deixar que tratem uma amiga desse jeito?
Reviro os olhos, querendo rir.
— Nunca fomos amigos, na verdade, você era amiga da Karen. E sempre dava em cima de
mim quando ela não estava por perto — cuspo e ela arregala os olhos.
Ponho a mão sobre a coxa de Allyson e o amigo de Erika me olha, encontrando minha
carranca. Eu não quero parecer um idiota possessivo, confio em Ally. Mas o jeito que esse idiota
está secando a minha namorada sem ela nem mesmo saber, está me dando raiva. E talvez um
pouco de ciúmes.
Allyson desce o olhar para a minha mão em sua coxa e então para o cara.
— Não é como se a Karen fosse santa, ela te traiu com o meu ex. — Erika me olha com
superioridade.
Rio.
— Isso não me interessa. — Eu a olho. — Agora saia daqui, não vou aceitar ofensas contra a
minha namorada e os meus amigos novamente — eu declaro.
Erika olha atentamente para nós e dá um passo para trás, revirando os olhos.
— Que se foda, aqui só tem perdedores. — Ela bufa e nos dá as costas, começando a ir para
longe de nós.
Seus amigos a seguem e os assisto sumirem no meio da multidão. Ouço Adam suspirar e
olho para ele, vendo Michael acariciar sua nuca.
— Eu odeio brigas — ele diz.
— Relaxa. — Michael o tranquiliza.
— Merda, vocês viram como eles olharam para Tessa e eu? — Kat pergunta entredentes.
— Calma, linda. — Tessa beija a bochecha dela. — Sei que não deveríamos nos acostumar
com isso, mas você sabe que acontece quase sempre.
— Eu não tenho vergonha de você. — Kat se inclina para lhe dar um selinho.
Tessa sorri contra seus lábios.
— E nem eu de você — ela fala.
Eu sorrio ao ver aquilo e sinto Allyson aproximar a boca do meu ouvido.
— Hum, então quer dizer que você é ciumento? — Ela mordisca meu lóbulo.
Sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem.
— Não é ciúmes, mas ele estava olhando demais. — Olho para ela, nossos narizes quase se
encostando.
— E daí? Não é como se olhar matasse — responde, acariciando meu peito.
Eu firmo meus dedos em suas coxas fartas.
— Mas eu não gostei.
— Isso me parece ciúmes. — Ally beija o canto dos meus lábios.
Eu permaneço imóvel, afinal, eu estou de greve.
— E se for? — pergunto.
Allyson sorri e leva a boca a minha orelha.

— Isso me deixa com muito tesão… — sussurra, beijando meu pescoço.


Mio Dio…
— Eu não vou te tocar do jeito que você quer, Ally, não adianta. — Sorrio, tentando me
manter firme.
Allyson chupa meu lóbulo e fecho meus olhos, sua mão parando a carícia em meu peito.
— Pensando bem, acho que quero prolongar minha greve por mais duas semanas — diz,
afastando-se de mim. — Vou ao banheiro — ela anuncia, começando a andar para longe.
Minha cabeça dá voltas no que ela disse e ranjo os dentes. Prolongar a greve por mais duas
semanas? Porra, ela enlouqueceu? Merda, se ela queria me fazer desistir da minha greve, ela
conseguiu. Mas caralho, ela está fodida em todos os sentidos.
Eu me levanto do sofá e me afasto sem dizer nada ao pessoal, vendo Allyson entrar no
banheiro feminino. Olho envolta para ter certeza que ninguém me vê entrar logo atrás dela.
Quando ela entra em uma das cabines, empeço que ela feche a porta.
— Aqui é o banheiro feminino. — Ally me olha por baixo dos cílios longos.
Eu fecho a porta da cabine atrás de mim e agarro o pescoço de Allyson, colando-a na parede.
Ela ofega e pressiono meu corpo ao dela.
— Você pensa mesmo que vou deixar você prolongar a merda dessa greve? — pergunto
contra seus lábios macios.
Allyson sorri lentamente.
— Você não tem que deixar nada, apenas aceitar. — Ela agarra a minha jaqueta.
Meu olhar desce para sua boca atrevida e Allyson lambe os lábios de maneira provocativa.
— Bom, eu não aceito — digo, meu cotovelo esquerdo ao lado de sua cabeça.
Allyson me puxa ainda mais para seu corpo, os seios pressionados contra meu peito.
— Você disse que não me tocaria.
Eu aperto meus dedos em seu pescoço e Allyson ofega, mandando para o inferno todo o meu
controle.
— Que se foda o que eu disse. — Então tomo seus lábios.
Não tem nada de carinhoso na forma com que beijo Allyson. Eu enfio minha língua em sua
boca e acaricio a dela com ela, soltando seu pescoço e agarrando sua cintura. Ally adentra os
dedos em meu cabelo e o puxa, me correspondendo na mesma intensidade.
Ela chupa a minha língua e escorrego minhas mãos para sua bunda, puxando-a contra o meu
pau. Subo uma mão para um de seus seios e o aperto por cima do tecido fino, arrancando um
gemido de Allyson entre o beijo.
Quando a falta de ar se faz presente, deslizo meus lábios por seu pescoço e adentro minha
mão no decote de seu vestido, puxando um de seus seios para fora. Eu dou um chupão forte no
pescoço de Ally que a faz suspirar e pender a cabeça para a esquerda, me dando mais acesso.
Puxo seu outro seio para fora e me afasto um pouco para observá-la.
Os mamilos marrons estão apontando para mim e totalmente eriçados, pedindo para serem
chupados. A tatuagem no vão de seus seios é chamativa e me curvo para beijá-la. Meus lábios
pressionam o desenho e em seguida deslizo a língua ali, guiando-a até um dos mamilos. Eu tomo
um em minha boca e Allyson geme alto.
Allyson agarra meu cabelo com força quando esfrego um mamilo com o polegar e mordo o
outro com força. Dessa vez, eu não serei gentil.
— Chase… — Allyson choraminga.
— Se vira e põe as mãos na parede. — Eu mando, me afastando de seus seios. — E empina
a bunda também.
Allyson sorri animada e faz o que eu digo. Suas costas estão nuas graças ao modelo do
vestido e afasto seu cabelo para o lado para que não atrapalhe a minha visão.
Assisto Allyson empinar a bunda e agarro a barra de seu vestido. Com apenas um puxão, o
tecido está enrolando em sua cintura e a bunda totalmente exposta, coberta apenas por uma
calcinha fio dental de renda preta. Cazzo, mil vezes Cazzo. Allyson e as porras das suas calcinhas
de renda.
Quando dou por mim, eu caio de joelhos atrás dela e aos seus pés.
— Chase, o que você…
— Calada. — Eu mando, agarrando sua bunda com as duas mãos.
Lambo meus lábios e deslizo minha língua pela sua nádega esquerda, escutando-a suspirar
em surpresa. Allyson se remexe em ansiedade e geme quando mordo o local que antes lambi.
— Merda, você é linda em todos os lugares — digo contra sua nádega. — Eu amo as suas
pernas. — Deslizo minhas mãos por suas coxas.
— Eu não entendo o seu fetiche por elas — Allyson sussurra com a voz fraca quando mordo
agora sua outra nádega.
— Posso apostar que o filho da puta que estava olhando para as suas pernas, entende o meu
fetiche — eu falo entredentes.
Allyson me olha por cima do ombro.
— Ciumento.
A olho com raiva e mordo sua bunda com força, fazendo-a gritar. Ela me xinga de algo e eu
ignoro, puxando sua calcinha para o lado. Allyson se curva um pouco como se lesse a minha
mente e abro lentamente as suas nádegas, me dando a visão de sua buceta e o cu apertado.
Allyson não é rosinha, mas porra, ela não poderia ser menos gostosa.
Sinto meu pau ficar duro com a visão e lambo meus lábios, me aproximando. Deslizo minha
língua por toda sua extensão e Allyson grita em surpresa. Seu gosto preenche a minha boca e
sinto uma fisgada em minha virilha,
— Céus… — Allyson geme alto quando capturo seu clitóris.
Nessa posição, é difícil de chupá-la. Mas porra, essa boceta vale qualquer esforço.
Sacudo seu clitóris com minha língua e as costas de Allyson se arqueiam, ela rebolando
lentamente em meu rosto, buscando mais contato e prazer. Puxo ela ainda mais para a minha
boca e deslizo minha língua para dentro dela, seu gosto sendo como uma explosão em meu
paladar.
Merda, eu poderia viver entre as pernas de Allyson, chupando ou a fodendo, pouco me
importa. Mas amo minha boca sobre ela.
Allyson joga a cabeça para trás e o cabelo castanho roça a minha testa, me dando vontade de
puxá-lo. Sinto a boceta dela contrair minha língua e aperto meu pau por cima do jeans. Que se
foda, eu continuo essa merda em casa.
Eu retiro minha língua de Allyson e me afasto, ficando em pé enquanto abro o botão da
minha calça e desço o zíper, puxando meu pau já duro para fora. Agarro as laterais da calcinha
dela e, com um puxão, a rasgo.
— Merda, Chase! — Allyson diz entredentes. — Essa era a minha calcinha prefe… Chase!
— grita meu nome quando entro nela com apenas uma estocada.
Sua cabeça chuta para trás e mordo seu ombro direito com força, sentindo como ela é quente
ao meu redor. Ela me recebe tão bem, eu fui feito para estar dentro de Allyson, porra, é o meu
lugar preferido.
A parte de trás cabeça dela se encosta em meus ombros e vejo suas unhas deslizarem na
madeira da cabine, o rosto contorcido.
— Está doendo? — pergunto, saindo e entrando novamente, um gemido escapando dos
lábios dela. — Porque se estiver, gattina, eu não vou parar. Vou te comer com muita, muita
força. — Agarro o cabelo dela, puxando sua cabeça para trás.
Estamos conectados, pele com pele, o que torna tudo ainda mais gostoso e intenso.
— Porra, você é tão grande!
Sentindo meu ego inflar com esse elogio, puxo o cabelo de Allyson com força, fazendo-a
arquear a coluna e vir para trás, minha pélvis batendo em sua bunda. Eu estou totalmente
enterrado nela, nem um centímetro fora.
Allyson balança a bunda e se fode no meu pau. Um gemido rouco escapa dos meus lábios e
quase me esqueço do meu propósito aqui, fazer com que ela nunca mais pense em greve
novamente.
Aperto sua cintura, sabendo que mais tarde vai ficar a marca e penetro Ally com mais força,
arrancando um gemido totalmente manhoso dela. Inferno, eu poderia gozar apenas com isso.
Com a sensação de estar totalmente enterrado dentro dela, preenchendo-a. Só eu posso fazer isso
do jeito que ela gosta.
— Chase, devagar! — Ally grita, a voz falha. — A-Assim eu vou…
Eu acerto um tapa forte em sua bunda e a sinto apertar meu pau, me sugando para dentro
dela. Ela gosta disso.
— Vai ser do jeito que eu quiser, Allyson. — Eu puxo sua cabeça para trás, mordendo o
pescoço lisinho. — E eu vou te foder rápido e forte. — Deslizo a língua pela mordida.
Allyson choraminga algo que não consigo entender e subo minha mão livre para um de seus
seios, passando a brincar com o mamilo rígido. Saio de dentro de Ally até que só a cabeça do
meu pau permaneça e em seguida volto com tudo, o barulho da minha pélvis batendo em suas
nádegas repercutindo por todo o banheiro.
— Chase, alguém vai entrar aqui… — Allyson diz, gemendo quando belisco seu mamilo
com força.
— Foda-se, Allyson. Você vem pedindo por isso há muito tempo!
Allyson ofega alto, as pernas separadas enquanto a fodo por trás. Cazzo, tão bom.
— Por favor… — ela implora por algo que nem mesmo ela sabe.
Mas eu sei. Ela quer que eu a faça gozar.
Solto seu cabelo e envolvo seu pescoço com meus dedos, apertando-o com firmeza. Graças a
sua cabeça em meu ombro, posso ver Allyson fechar os olhos e entreabrir os lábios carnudos,
soltando choramingos e súplicas.
Eu desço minha mão em direção a sua boceta e giro meus dedos em seu clitóris, fazendo-a
rebolar em meu pau, recebendo as minhas estocadas. Meus lábios beijam sua nuca e as mãos de
Allyson se enrolam em punho, espremidas na parede. Suas pernas quase falham, mas solto seu
pescoço e agarro sua cintura, mantendo-a firme.
— Chase, eu não vou aguentar mais. São muitos estímulos… — Vira o rosto para me
encarar. — Me faz gozar.
— E se eu não quiser? — Sorrio de lado, metendo nela com mais força.
Ela abre a boca para responder, mas para quando sacudo meus dedos em seu clitóris com
mais força, seu corpo tremendo. Allyson contrai a boceta ao meu redor, me sugando com tanta
força que sufoca meu pau.
— Chase, não para! — Agita o quadril, rebolando ainda mais rápido.
Sinto o pé da minha barriga se contorcer e o prazer se acumular, eu sei que vou gozar. Mas
Allyson vem primeiro.
Os gemidos ficam mais altos e encosto minha testa no ombro dela, gemendo rouco quando
ela não para de contrair. Sem mais palavras, Allyson grita e joga a cabeça para trás enquanto
goza no meu pau, o corpo tremendo e tendo inúmeros espasmos. Eu continuo estocando sua
entrada sensível, escutando os gemidos baixinhos que ela solta.
A cabeça do meu pau incha e é preciso apenas mais uma estocada para que eu goze forte
dentro dela. Tento manter minhas pernas firmes por nós dois e espero nossas respirações se
normalizarem. Com cuidado, puxo Allyson comigo e me sento na tampa do vaso, colocando-a
sentada de lado no meu colo após eu por meu pau para dentro da calça. Vou me limpar em casa.
Ela abraça o meu pescoço e enterra o rosto nele, ainda respirando com dificuldade.
— Ally… — Eu a chamo, abraçando a cintura dela com carinho.
— Hum? — Ela solta contra meu pescoço, o som saindo abafado.
Quando não respondo, ela desenterra o rosto do meu pescoço e me olha. Ergo as
sobrancelhas quando vejo seu pescoço totalmente vermelho e, graças a seu vestido levantado, as
marcas dos meus dedos em seu quadril. Ela também está com uma mordida no ombro e no
pescoço. Aposto que a bunda dela está tão marcada também.
— Eu te machuquei? — Sorrio.
— Pouco, infelizmente. — Ela sorri de volta.
Eu dou risada e lhe dou um selinho demorado, puxando seu decote para cima, cobrindo seus
seios. Arrumo seu vestido e agarro a nuca dela.
— Quer ir para casa? — pergunto.
Ela assente.
— Eu quero, você me destruiu. — Ela sorri. — Acho que vou fazer greve de sexo mais
vezes.
Eu arqueio a sobrancelha.
— Pelo seu bem, é melhor estar brincando.
— Claro — Ally diz com falsa inocência.
Eu rio e lhe dou um beijo carinhoso, vendo que ela não tem mais jeito.
— Eu te amo, gattina. — Esfrego nossos narizes.
— Que lindo, nem parece que estava me arregaçando alguns minutos atrás. — Ally segura
meu rosto nas mãos. — Eu também te amo. — Ela sorri.
Meu sorriso se alarga e colo minha testa na dela, sentindo meu coração quente como nunca.
Eu me sinto tão completo que é quase sufocante e preciso por para fora a todo momento.
Olhando para Allyson aqui, sentada no meu colo enquanto beija a minha testa, nem parece
que eu a estava fodendo como um desesperado. Equilíbrio é tudo.
— Para de andar de um lado para o outro, caralho, eu já estou ficando tonto. — Pietro
manda, me puxando pelo capuz do meu moletom.
Eu paro ao seu lado e passo as mãos por meu cabelo, me sentindo totalmente nervoso e
ansioso. É como se eu não conseguisse controlar a euforia no meu peito. Meu coração não para
de bater forte e olha que ainda nem chegou o momento.
— Me deixa em paz, Pietro, eu estou quase surtando. — Bato em sua mão, fazendo-o soltar
o meu capuz.
— Ficar ansioso agora não vai ajudar em nada, ok? — Michael diz de braços cruzados,
encostado na parede. Ele me mostra o polegar. — Relaxa, cara, vai dar tudo certo. O máximo
que ela pode fazer é dizer não.
Eu o fuzilo com o olhar e Michael sorri, me dando vontade de arrancar o sorrisinho idiota de
seu rosto. Mas apenas respiro fundo e em seguida, solto o ar.
Faz exatamente três anos que Allyson e eu estamos namorando. Embora a gente brigue
algumas vezes por besteira, nesses anos todos nós nunca terminamos. Sem contar que nossas
brigas geralmente são por motivos bestas, o fato de eu comer algo e não ter oferecido a ela, por
exemplo.
Ally já terminou a faculdade e a um ano e atrás fez o concurso público de perícia criminal.
Ela passou de primeiro e hoje em dia tem um trabalho, assim como eu. Eu sou tatuador e tenho
meu próprio estúdio de tatuagens. Foi legal eu ter me formado em artes, isso me deu mais
experiência e conhecimento naquilo que faço. E isso ajuda muito para que meus clientes confiem
em mim.
Hoje eu vou pedir Allyson em casamento, quero fazer dela a minha mulher. Ela já sugeriu
algumas vezes que morássemos juntos, mas eu não quero. O que eu quero mesmo é fazer tudo
certinho, torná-la minha esposa e termos nosso próprio lar.
— Você vai levar ela para jantar, não é? — Pietro pergunta, sentando-se no sofá ao lado do
nosso pai.
— Isso.
— E você já pensou em como vai pedir ela em casamento? — meu pai pergunta.
Eu sorrio.
— Vou pedir para o restaurante por a aliança na comida dela — eu digo.
Já está tudo combinado, Adam, Kat e Tessa também sabem que vou pedir Allyson em
casamento. Ela é a única que não faz ideia.
— Isso não é… meio arriscado? — Meu pai franze o cenho.
— Por que seria? — pergunto.
Meu pai se debruça sobre os joelhos o apoia os cotovelos nos mesmos.
— Bom, e se a Allyson se engasgar?
Eu dou risada e balanço a mão, negando.
— Impossível, a aliança é grande. Ela vai notar na hora.
— Do jeito que a Allyson é cega, ela vai engolir a aliança. — Pietro cruza os braços,
negando com a cabeça.
O olho.
— Ela não é cega quando você está pegando o irmão dela, não é? — Sorrio com deboche.
Pietro ergue as sobrancelhas.
— Eu nunca tive nada com ele. Ainda — defende-se.
E o pior que é verdade. Embora role algo entre o Adrien e Pietro, meu irmão prometeu não
tocar nele até que ele tivesse dezoito anos. Mas assim que Adrien completou essa idade, ele disse
que não ia para a faculdade.
Pode não parecer, mas como Pietro é formado em engenharia civil desde os vinte e cinco
anos, e embora faculdade não garanta emprego, abre muitas portas e facilita o acesso a elas.
Então Pietro disse que só tocaria nele quando Adrien terminasse a faculdade. O que é
mentira, porque semana passada eu descobri que ele foi ver o meu cunhado no apartamento dele.
Ficou até putinho porque tinha uma amiga do Adrien lá, sentada no colo dele.
Dá nem para culpar o garoto, eles nem tem um relacionamento. E mesmo que o Adrien não
tenha nada com a garota, imagina Pietro sentir vergonha do que ainda não é dele. Ainda bem que
eu não sou assim.
— Acho que quando você decidir enfim namorar o Adrien, ele já vai estar em outra —
Michael diz, sentando-se na poltrona.
Michael é outro que agora namora Adam oficialmente. No ano passado, os dois decidiram
que iriam finalmente assumir o Adam para a família dele, após quase dois anos namorando
escondido. No começo foi difícil, os pais de Adam não queriam aceitá-lo, principalmente o pai
dele. Mas após Adam se afastar um pouco deles, e depois de muitas brigas e insistências para
que conhecessem Michael, eles pareceram mais dispostos a conversarem.
Isso ainda está sendo um processo lento, mas pelo menos os pais de Adam parecem aceitar o
Michael um pouco mais. Eles nunca disseram nada para ofender a sexualidade do meu amigo,
mas acredito que não ser aceito pelos sogros pode doer.
— Se isso acontecer, é bola pra frente. — Pietro dá de ombros.
Eu reviro os olhos.
— Mentira, naquele dia que você achou que o Adrien estava saindo com a amiga dele, você
voltou chorando para a casa — eu debocho.
Pietro joga um almofadada na minha direção, qual desvio com facilidade.
— Cala a boca, desgraça, senão a Allyson vai ficar viúva antes de aceitar o pedido de
casamento. — Olha-me com raiva. — Ah, isso se ela aceitar, né? — Ele sorri.
É a minha vez de não poupar o ódio em meu olhar.
— Você não está convidado para o meu casamento.
— Parem de brigar, como é que a conversa mudou totalmente de foco? — meu pai pergunta.
Aponto para Pietro.
— É ele! — eu digo. — Me irrita até no dia do meu noivado.
Escuto a risada debochada de Pietro.
— Isso se tiver noivado, né?
Aperto minhas mãos em punhos e suspiro, passando os dedos por meu cabelo castanho.
Respira, Chase, você não pode ser preso no dia do seu noivado. Mata ele depois e em seguida dá
o pau dele de lembrança para o Adrien. Pensando bem, os dois combinam. Ele é outro que
inferniza a minha vida.
— Eu vou sair daqui antes que eu o faça encontrar Jesus — digo, indo para o meu quarto.
Escuto Pietro imitar o que eu disse e Michael e meu pai riem. Eu apenas ignoro, continuando
meu caminho até o meu quarto.
Vejo Lady deitada sobre o terno que está na cama e a tiro de cima, dando tapinhas no tecido
para tirar alguns pelos que ficaram. Espero que a Ally queira ser a minha esposa e que eu não
esteja sendo muito adiantado.

Quando paro o carro na frente do restaurante, dou a volta no veículo e abro a porta de
Allyson, ajudando-a a sair. Ela põe sua bolsinha no ombro direito e espalmo minha mão
esquerda em suas costas nuas.
— Por que você me trouxe a um restaurante chique? — Ela franze o cenho, me encarando
com os olhos marcados por um delineado simples.
— Não posso trazer a minha namorada a um restaurante chique? — Ergo as minhas
sobrancelhas, passando meus braços por sua cintura.
Ally sorri e estreita os olhos na minha direção, agarrando meus ombros.
— Palhaço — ela diz, sorrindo. — É só que não acho que estou arrumada o suficiente.
Eu a solto e pego em sua mão, fazendo-a dar uma voltinha. Ela está vestida com um vestido
preto de costas nuas e decote discreto. Em seus pés um salto com tiras finas que se agarram aos
seus tornozelos. O cabelo está preso pela lateral direita e ela não poderia estar mais linda.
— Acredite em mim, gattina. — Eu a puxo de volta para perto, beijando seus lábios. —
Você está tão linda que sinto que vou passar raiva por todo mundo te olhar.
Allyson me agarra levemente pela gola da minha camisa social e me puxa para mais perto,
aprofundando o beijo. Quando nos separamos, ela puxa meu lábio inferior para si.
— Lindo — ela sussurra contra meus lábios.
Eu sorrio para ela e beijo a ponta de seu nariz, em seguida me afastando.
— Vem, vamos entrar. — Eu ponho minha mão na dela.
Allyson a aperta e começo a guiá-la para dentro do restaurante, onde uma recepcionista
pergunta nossos nomes e quando digo, ela nos leva em direção a mesa que eu reservei. Como eu
disse, quase todo mundo olhou para Ally. Cada filha da puta presente no ambiente, olhou para a
minha namorada da cabeça aos pés. Foda-se, ela é apenas minha.
Puxo a cadeira para que Ally se sente e com as pernas trêmulas, caminho até a minha cadeira
e me sento nela. Esfrego as palmas suadas de minhas mãos em minha calça e respiro fundo,
rezando para que Allyson não note como eu estou nervoso. Acho que estou fazendo um bom
trabalho.
— Chase, você está estranho… — Ally diz, pondo sua bolsinha na cadeira. — Aconteceu
algo?
Cazzo.
— O quê? Não! — Eu dou risada. — Como foi o emprego, gattina? Alguma cena de crime
digna de filme? — Agarro a mão dela que está sobre a mesa e acaricio.
Allyson suspira.
— A minha equipe e eu fomos analisar a cena de um assassinato, era um cara morto a
facadas — ela diz. — Ele estava inteiro, tirando o fato de que arrancaram o pau dele.
Arregalo os olhos.
— O que mais?
— Aí a gente se dividiu para procurar o pau dele, mas eu fui a sortuda que achou. — Ally
sorri com sarcasmo. — Juro, quando eu peguei aquela coisa na minha mão com as luvas, quase
vomitei. — Ela encolhe os ombros, como se tivesse arrepiada só de lembrar.
Eu aperto meus olhos na direção dela.
— Você pegou em um pau que não era o meu, Allyson? — pergunto com falsa raiva.
Allyson ri e pisca um olho para mim.
— Relaxa, o seu é muito mais bonito. — Manda-me um beijo.
Eu reviro os olhos e sorrio, vendo um garçom vir até nós. Ele sorri tímido para Allyson
enquanto anota o pedido dela e na minha vez, seu sorriso é cúmplice, o cara sabe o que é para
pôr na comida de Ally. Ele vai embora e minha namorada acaricia minha mão.
— E o seu trabalho? — ela me pergunta, apoiando o queixo na mão esquerda.
Eu sorrio.
— Está indo bem, estou ganhando cada vez mais clientes. — Cruzo meus dedos aos dela. —
Só não entendo o porquê de a maioria ser mulher.
Allyson revira os olhos e solta uma risada debochada.
— Por que será, não é, Chase? — ela pergunta, a voz carregada se sarcasmo.
Eu sorrio disso e olho para o garçom trazendo nossa comida. Ela abaixa a bandeja e a põe
sobre a mesa, pondo o prato de Ally na frente dela e o meu. Ele também trouxe o vinho que pedi,
então pisca um olho para mim e vai embora após colocar o vinho em nossas taças.
— Come com cuidado, Ally — digo quando a vejo pegar um garfo e uma faca.
— Não é como se a comida fosse me matar — ela diz, enrolando o macarrão no garfo.
Eu assisto tudo de maneira calma — para não dizer nervosa — e a vejo por a comida na
boca, engolindo perfeitamente. Ótimo, por um momento pensei que ela fosse… Merda!
— Allyson, o que foi?! — Ando até ela, vendo-a ficar roxa.
Ally começa a bater no próprio peito, tossindo como se não houvesse o amanhã. Ela agarra a
garganta com as duas mãos e estira a língua para fora, os olhos bonitos começando a lacrimejar.
Eu vou para detrás dela e a levanto, envolvendo meus braços em sua cintura enquanto os
aperto com força, fazendo um movimento de desengasgo. Os outros clientes parecem
desesperados por verem a Ally engasgada e começam a perguntar se podem ajudar.
Mas não respondo ao que escuto Allyson tossir um pouco mais alto e vejo o espaguete e a
aliança voarem de sua boca e caírem na careca de um homem que está perto de nós. Ele arregala
os olhos e os outros clientes fazem uma careta de nojo com a visão. Ally põe as mãos na mesa e
puxa a respiração com força.
— Quem… porra… pôs aquilo… na minha comida? — ela pergunta com dificuldade,
virando-se para os garçons. — Isso foi uma tentativa de assassinato?!
Eu saio de trás dela e ando até o careca baixinho.
— Com licença… — com uma careta, uso o indicador para mexer no espaguete em sua
cabeça, conseguindo achar a aliança fininha de prata com um pequeno diamante.
Eu sorrio aliviado e a pego, me virando para Allyson.
— Senhora, por favor, se acalme — um homem que parece ser o gerente do restaurantes,
diz. — Era uma aliança, tenha calma.
— Calma?! — Allyson pergunta entredentes. — Tinha uma aliança na minha comida e
quase morri engasgada, como posso ter calma?!
Vou até ela.
— Ally… — Eu a chamo, parando atrás dela.
— Eu vou processar esse restaurante por tentativa de assassinato! — Allyson aponta para o
gerente. — Dessa vez foi uma aliança, da próxima vai ser o quê? Um pedaço de tijolo?
— Ally…
— Onde já se viu, um restaurante chique desses…
— Allyson.
— … deixar uma aliança quase matar uma cliente…
— Fui eu quem mandei pôr a aliança na sua comida, Allyson — eu digo de vez.
Allyson se vira lentamente para mim, parecendo finalmente escutar. Ela pisca, parecendo
não entender as minhas palavras mesmo que tenham chamado sua atenção.
— Como… Como assim? — Ela franze o cenho.
Como resposta, eu me ajoelho sobre um joelho e ergo a aliança em meus dedos. Os olhos de
Allyson se arregalam e ela cobre a boca com as mãos. Escuto o ar de surpresa dos outros
clientes.
Respiro fundo.
— Estamos juntos a três anos e isso é tempo o suficiente para que eu saiba que quero passar
o resto da minha vida ao seu lado. Quero que seja a minha esposa, minha mulher, e se você
quiser, a mãe dos meus filhos. — E mantenho meus olhos nela. — Quero acordar ao seu lado
todas as manhãs, e por mais clichê que isso possa soar, quero ter a honra de ser seu marido. —
Vejo lágrimas se acumularem em seus olhos. — Então mesmo que eu tenha quase te matado
engasgada, quero saber de uma coisa. Allyson Young, você aceita se casar comigo? — pergunto,
um sorriso trêmulo brotando em meus lábios.
Escuto Allyson soluçar.
— Pensei que você nunca fosse pedir, seu chihuahua italiano! — Ela chora, me fazendo
sorrir.
Eu imediatamente fico em pé e pego sua mão direita, pondo a aliança em seu anelar. Allyson
se joga em mim e envolvo meus braços em sua cintura, sentindo-a tomar meus lábios em um
beijo carinhoso em meio as lágrimas. O pessoal do restaurante bate palma e nos afastamos.
— É lógico que eu quero ser a sua esposa! — Allyson diz, seu nariz acariciando o meu. Ela
ri. — E eu também quero ser a mãe dos seus filhos, mesmo que isso me assuste pra caralho!
Eu também rio e lhe dou um selinho demorado, limpando suas lágrimas.
— Você acaba de me fazer o homem mais feliz do mundo… — eu sussurro.
Allyson sorri.
— Ah, é? — Ela morde o próprio lábio, malícia em seus olhos. — Espera só a gente chegar
em casa, então.
Eu arregalo os olhos e me afasto de Allyson, tirando um monte de dinheiro da minha carteira
e o pondo sobre a mesa.
— Muito obrigada pela comida e por me ajudarem, podem ficar com o troco — eu digo,
puxando Allyson enquanto ela põe sua bolsinha no ombro.
— E me desculpem por ter colocado a culpa em vocês! — Allyson grita antes de sairmos do
restaurante.
Nós damos risada enquanto corremos em direção ao meu carro e abro a porta para ela, indo
para a do motorista logo em seguida. Eu dirijo o mais rápido que posso para casa, sabendo que
vou receber um presente de casamento adiantado.
O carro do meu pai para na porta da igreja e, pela janela, a olho.
Faz quatro meses que Chase me pediu em casamento e quase me matou engasgada. Ainda
quero entender como caralhos ele teve a brilhante ideia de colocar a aliança na minha comida. E
o pior é que eu estava com tanta fome que nem mastiguei e fui logo engolindo. Quando senti um
negócio entalar na minha garganta, eu me desesperei completamente, pensando que tinha
chegado a minha hora.
Mas tudo isso apenas para Chase me desengasgar, se ajoelhar a minha frente e me pedir em
casamento. Embora eu tenha passado vergonha, foi um dos melhores dias da minha vida, Chase
tinha me pedido em casamento e dito que queria passar o resto dos dias comigo. Porra, ele deve
me amar muito, quem me aguenta pelo resto da vida?
E hoje, finalmente chegou o dia do meu casamento. E agora, eu vou me casar. Meu pai
desce do carro e dá a volta, abrindo a porta para mim. Ele me oferece a mão e a seguro, saindo
do carro enquanto aperto o buquê de rosas em minha mão direita.
— Você está linda, minha filha. — Papai acaricia minha mão, os olhos se enchendo de
lágrimas.
Eu realmente estou linda. Meu vestido é tomara que caia com um decote de coração com
algumas pedrinhas. Ele se agarra perfeitamente a minha cintura e a calda é de sereia. O véu está
preso a tiara sobre meu coque com minha franja partida ao meio. Minha maquiagem está leve e
bonita, brincos de diamante enfeitando minhas orelhas. Nunca pensei que eu me casaria.
— Não chora, papai. — Sorrio. — Se você chorar, eu choro também, e a Tessa vai me matar
se eu borrar a maquiagem.
— Vou mesmo.
Escuto Tessa e olho para a entrada da igreja, vendo-a vir em nossa direção de mãos dadas
com Kat. Ambas estão vestidas com um vestido salmão, assim como a minha mãe, elas são
minhas damas de honra. E Adam está vestido com um terno da mesma cor, já que eu não tinha
outra pessoa para fazer quatro madrinhas. E pouco me importa, o casamento é meu, ele é o meu
padrinho de honra.
E Chase e eu combinamos de que Michael iria ser nosso padrinho porque ele é rico. Falei, tô
leve.
— Você está linda, Ally. — Kat sorri, cruzando as mãos debaixo do queixo.
Vejo a Aliança brilhar em seu dedo, a mesma aliança de casamento que Tessa também usa.
— Cacete, nunca pensei que eu veria esse dia. — Tessa abana o rosto, afastando as lágrimas.
Eu sorrio, sentindo meus olhos lacrimejarem também.
— Não chora, merda, eu vou chorar também. — É a minha vez de abanar meu rosto.
— Allyson, entra no carro, vou levar você para bem longe — meu pai diz, tentando me pôr
para dentro do carro.
As meninas dão risada e eu afasto a mão do papai do meu braço.
— Pai, deixa disso. — Sorrio. — Ainda vou ser sua princesinha.
Meu pai pega meu rosto nas mãos fortes, espremendo minhas bochechas até que um
beicinho se forme em meus lábios.
— Você amadureceu tanto. — Acaricia minhas bochechas. — Adrien também.
Sinto meu peito se apertar e jogo meus braços ao redor de seu pescoço, abraçando-o. Merda,
Ally, você se tornou uma vadia emotiva demais.
— Melhor entrar agora, Ally, você já demorou demais. — Kat me chama e aceno.
De mãos dadas, ela e Tessa correm de volta para a igreja e agarro o braço do meu pai. Ele
sorri para mim e começa a me levar para dentro.
A música preenche os meus ouvidos e meu noivo é a primeira pessoa que vejo. Chase
vestido com um terno preto, tatuagem adornando suas mãos e pescoço. Ele tirou o piercing que
tanto gosto e seu cabelo está perfeitamente arrumado, fazendo com que minhas mãos cocem para
desarrumá-lo.
O rosto de dele se ilumina com um sorriso e ao chegar mais perto, vejo seus olhos
lacrimejarem. Ele rapidamente passa as mãos pelos olhos, limpando as lágrimas. Meu coração se
aperta e olho para minha família e amigos, vendo Tessa e Kat sorrirem para mim assim como
Adam e Michael. Meu sogro me dá um sorriso cheio de carinho e retribuo, olhando para a minha
mãe em seguida.
Ela está chorando, mas quando percebe que estou olhando, fecha a cara, tentando manter a
pose de durona. Eu rio e olho para meu irmão e Pietro um do lado do outro. Adrien sorri de lado,
e Pietro me dá um sinal de joinha. Justin e Lady estão ao lado deles.
Quando meu pai e eu nos aproximamos do altar, Chase estende a mão para mim e papai a
agarra.
— Cuide bem dela, italiano — meu pai fala, olhando-o sério. — É um aviso.
Reviro os olhos e Chase sorri, fazendo a covinha pela qual sou rendida, aparecer.
— Com a minha própria vida — meu noivo diz, me encarando.
Um sorriso nasce nos meus lábios e me contenho para não o agarrar antes da hora.
— Bom — meu pai diz e beija a minha testa, sorrindo.
Quando ele se afasta e vai para o lado da minha mãe, agarro a mão que Chase estende para
mim e com os olhos fixos nos dele, me ponho ao seu lado. Com um pigarreio do padre, nós nos
afastamos um pouco.
— Estamos reunidos aqui hoje, para celebrar esse casamento entre Chase Fontana e Allyson
Young. Que ambos querem unir suas vidas para sempre, buscando confiança um no outro, amor,
carinho e companheirismo. — O padre começa, olhando para os convidados da igreja.
Sinto alguém agarrar minha mão e olho para Chase, vendo-o sorrir para mim como um
cúmplice. E, mesmo que o padre esteja falando logo a nossa frente, não consigo conter o meu
impulso de admirá-lo.
Eu nunca o vi tão formal assim, e embora ele esteja parecendo um executivo, ainda tem
aquele ar de punk. A única coisa que não combina com as tatuagens de Chase, é o seu sorriso. É
a coisa mais pura e fofa que eu já vi. E mesmo que isso me faça uma melosa nível hard, vê-lo
sorrir me faz feliz. Sua covinha me faz feliz.
— Você é a noiva mais linda que eu já vi — Chase sussurra para que só eu escute.
Eu aperto meus dedos ao redor dos dele.
— Quantas noivas você já viu?
— Nenhuma.
Mordo o interior da minha bochecha, sentindo seu polegar acariciar as costas da minha mão.
— Então como eu posso ser a noiva mais linda que você já viu? — pergunto.
Chase sorri e aperta minha mão com mais força, entrelaçando nossos dedos.
— Eu não preciso ver outras noivas para saber que você é a mais linda delas, Ally. — Sua
voz grave e rouca atinge meus ouvidos.
Uma risada me escapa e rapidamente a controlo. Eu o amo tanto que chega a doer.
Escuto o padre pigarrear e Chase e eu olhamos para ele, encontrando-o com uma carranca.
Mordo o lábio para não rir e pelo canto do olho, vejo Chase fazer o mesmo. O padre suspira após
Chase e eu colocarmos nossas alianças um no outro, meu italiano beijando minha mão.
— Chase Fontana, você aceita Allyson Young como sua legítima e única esposa? — O
padre olha para ele.
E tem que ser a única mesmo, ele não é árabe e nem doido.
— Cazzo, sim, sim! — Chase assente rapidamente, sorrindo.
Ele acabou de xingar na igreja?
O padre se vira para mim.
— Allyson Young, você aceita Chase Fontana como seu legítimo e único esposo? — ele
pergunta.
Eu sorrio.
— Sim!
— Sendo assim, eu vos declaro marido e mulher. — O padre se vira para Chase. — Pode
beijar a noi…
Antes que o padre termine de falar, Chase envolve os braços ao redor de minha cintura e me
puxa para um beijo avassalador, deixando minhas pernas bambas. Sua língua serpenteia para
dentro de minha boca e suspiro quando sua mão vai para a minha nuca
Sinto-me leve e feliz, estando mais certa do que nunca que esse homem é o que eu quero
para o resto da minha vida. Ele acaricia minha bochecha e separa nossos lábios, deslizando seu
nariz pelo meu.
— Nem deixou o padre falar. — Eu sorrio.
— Ele fala demais, Ally. — Chase sorri de volta, me dando um selinho. — Agora você é
oficialmente minha.
— Isso foi bem possessivo. — Eu o provoco.
— Allyson Fontana. — Chase segura meu rosto entre as mãos fortes. — Não, não. Gattina
Fontana.
Antes que eu possa responder, alguém pigarreia e olhamos para o padre, encontrando-o com
uma cara feia. Chase e eu nos afastamos um pouco e nos viramos para os nossos convidados.
— Detestei esse padre — Chase diz para que só eu escute.
— Também, né, você fica me agarrando antes da hora. — Sorrio, descendo a escada do altar
de mãos dadas com ele.
— A mulher é minha, eu beijo a hora que eu quiser — Chase resmunga.
Eu rio e fico na ponta dos pés para beijar a bochecha dele.
— Chihuahua possessivo — sussurro em seu ouvido
Antes que Chase me responda, avistamos minha mãe vindo correndo na minha direção
enquanto segura a barra do vestido. Ela me puxa para seus braços e me aperta.
— Você está tão linda! — minha mãe diz, me abraçando apertado.
— Obrigada, mamãe!
Ela se afasta um pouco de mim. Vira-se para Chase e dá tapinhas no ombro dele.
— Amo ter você como genro. — Ela sorri para ele. — Pelo menos, eu agora tenho um
parente bonito. — Suspira.
Eu abro a boca, chocada.
— Você tem a mim, mamãe. — Escuto a voz de Adrien e olhamos na direção dele, vendo-o
com Pietro.
— Pelo menos você e a sua irmã são bonitos, não nasci para parir filho feio. — Mamãe nega
com a cabeça.
Eu estou prestes a perguntar o porquê de ela ser assim, quando Pietro se aproxima de mim e
me dá um abraço.
— Bem-vinda a família, cunhadinha. — Ele sorri de lado, vestido com um terno preto.
— Agora somos oficialmente uma família. — Sorrio para ele. — Merda, vai ser ainda pior
te aguentar agora. — Suspiro falsamente.
Pietro dirige seu olhar para Chase quando ele me abraça por trás.
— Chase, pede divórcio — ele diz ao meu marido.
— Nem morto — fala, e beija meu ombro nu.
Pietro revira os olhos e Adrien põe as mãos nos bolsos da calça de seu terno marrom-claro.
— Agora é oficial. — Ele me olha. — Você largou a vida de piranha. — Ele sorri, maldoso.
Eu sorrio com deboche e olho dele para Pietro.
— E você também — eu digo. — E de quebra, ainda ganhou uma chave de piro…
— Allyson, ainda estamos na igreja! — Meu pai aparece por trás de mim e para ao meu
lado.
— Foi o Adrien, papai! — Pisco os cílios de maneira inocente.
Meu pai senta o tapa na nuca de Adrien e ele abre a boca, chocado. Pietro ri e beija a nuca
do meu irmão, puxando-o para perto. Eu sorrio por isso e Chase e eu estamos prestes a sair da
igreja quando avisto meu sogro.
Ele dá um passo à frente, um sorriso lindo ilumina seu rosto. Ao ver isso, lembro como
Chase, Pietro e meu sogro devem estar sentindo falta de Dona Beatrice em um momento como
esse. De como eles devem querer vê-la aqui.
— O casamento foi lindo. — Meu sogro sorri, os olhos um pouco lacrimejados. — Você
está linda, Ally.
Eu me desvencilho de Chase e me aproximo de meu sogro para lhe dar um beijo na
bochecha.
— Obrigada, senhor Anthony. — Sorrio para ele.
— Ninguém vai me elogiar também? — Chase pergunta, emburrado.
— Você também está bonito, filho. — Meu sogro ri.
— Sim, o mais lindo da família. — Minha mãe pisca para ele. — Não é não, Richard? —
Ela olha para o meu pai.
— É, né. — Meu pai dá de ombros, tão emburrado quanto Chase.
Eu sorrio e volto para perto de Chase.
— O italiano mais lindo. — Eu beijo o queixo dele.
— Depois de mim, claro. — Pietro passa a mão no cabelo.
— E quem discorda é homofóbico. — Adrien sorri, beijando o ombro do meu cunhado.
Eu faço uma careta e Tessa dá um passo à frente.
— Melhor irmos, ainda tem a festa. — Ela sorri.
— Sim, ficou tão linda. — Kat bate palminhas.
Adam passa as mãos nos cabelos.
— Lógico que ficou, eu ajudei a decorar — diz, sorrindo convencido.
Michael sorri e beija o topo da cabeça dele.
— Você não conseguiu decorar os lugares mais altos, mas não tem problema. — Ele nega
com a cabeça. — É sobre isso e está tudo bem.
Nós rimos e Adam dá uma cotovelada nele, nos fazendo rir mais ainda.
— Vamos embora. — Adam chama de cara fechada.
Meus amigos e família começam a sair da igreja como o resto dos convidados e Chase
entrelaça nossas mãos com as alianças. Eu sorrio e ele beija a minha testa.
— Vamos, gattina. — Ele me chama.
Eu assinto, pronta para sairmos dá igreja e aproveitar mais do meu agora marido pelo resto
do dia. Mal vejo a hora de estar na cama com ele por cima de mim.
— Chase.
Ao escutar uma voz grossa e rouca, olho para trás, franzindo o cenho ao ver um cara alto
com terno preto e uma gravata da mesma cor. O rosto de Chase se ilumina.
— Kellan, você veio. — Chase sorri.
O homem sorri de volta e põe as mãos nos bolsos de suas calças, parando a alguns
centímetros de nós.
— Um pouco atrasado, mas cheguei. — Ele inclina a cabeça para o lado. — Miami não é
nada perto de Nova York.
Chase se afasta de mim e anda até o tal de Kellan, dando-lhe um abraço apertado que é logo
retribuído.
— Cazzo, faz quase cinco que não nos vemos. — Ele ri. — Onde estão o tio e a tia? —
Chase pergunta, voltando para mim.
— Não puderam vir. — Kellan nega com a cabeça. — Não vai me apresentar a sua esposa,
Chase? — O cara direciona os olhos bonitos para mim
— Ally, esse é o meu primo, Kellan Royal. — Chase indica o homem com a cabeça. —
Kellan, essa é a Allyson Fontana, minha esposa. — Ele beija o topo da minha cabeça.
Eu arregalo os olhos.
— Espera, você disse Kellan Royal?! — pergunta alarmada. — O herdeiro do império
Royal, a maior empresa de café da Flórida?
Chase assente e Kellan me olha.
— Prazer em conhecê-la, Allyson. — Os cantos de seus lábios se erguem em um sorriso.
Nossa, eles claramente são primos, a genética da família é maravilhosa. Kellan tem olhos
azuis-claros. Tão claros que parecem cinza. É alto, musculoso, mas não tanto. E seu cabelo é
ondulado de um tom preto. Lindo. Ele tem um ar misterioso e totalmente sombrio. Se eu não
soubesse que é primo de Chase, diria que é um mafioso.
— O prazer é meu. — Sorrio, envergonhada.
Kellan sorri de volta e olha para meu marido.
— Bom, obrigada por me convidarem para o casamento de vocês. — Olha de Chase para
mim. — Mas não posso ficar por mais tempo, tenho alguns assuntos a resolver em Miami.
— Venha nos visitar mais vezes. — Chase sorri, e Kellan assente.
— Foi bom te conhecer, Allyson. — Ele pisca um olho para mim.
Eu aceno de leve com a mão e ele nos dá as costas, caminhando para longe e saindo da
igreja. Sinto Chase abraçar a minha cintura e olho para ele.
— Eu nunca soube que você tem um primo bilionário — eu digo de maneira casual.
— Por que, gattina, você ia preferir ele ao invés de mim? — Chase me provoca, sorrindo.
Eu aperto meus olhos em sua direção e mordo a bochecha dele com força, lhe arrancando
um gritinho nada másculo.
— Ai, Ally, é brincadeira. — Ele ri, me soltando e acariciando sua bochecha. — Mas
mesmo que você o quisesse, nunca teria uma chance. — Volta a me abraçar pela cintura.
— E por que não? Ele chuta pobres? — o provoco.
Chase ri.
— Ele já é apaixonado por outra mulher — responde de maneira simples. — Tipo, desde
que se entende por gente.
Ergo as minhas sobrancelhas.
— Eles estão juntos? — pergunto e Chase nega com a cabeça. — Por que não?
— Ela foi embora de Miami a mais de cinco anos. Ele não sabe onde ela está. — Chase
acaricia a minha bochecha.
A compreensão toma conta de mim e não consigo evitar me sentir mal pelo primo de Chase.
Isso deve ser uma merda, amar uma pessoa e não saber onde ela está.
— Vamos? Estão esperando a gente — ele me chama.
Eu sorrio e dou um selinho em Chase.
— Vamos — respondo, pegando no braço dele.
Chase sorri de volta e nos guia para fora da igreja, onde somos recebidos por salvas de
palmas e gritos nos desejando coisas boas e uma longa vida de casados.
Chase sai do meu lado só depois de morto.
Levanto-me da cama em um sobressalto e corro para o banheiro quando sinto a bile subir
pela minha garganta. Empurro a porta para que ela se abra e me agacho na frente do vaso,
sentindo o vômito sair de mim.
Hoje eu não fui trabalhar, não me sinto disposta. Estou com muito mal-estar, estou tonta e
meu estômago embrulhado. Não consegui tomar café da manhã. Chase quis ficar em casa
comigo, mas não deixei. Alguém tinha que trabalhar, e eu não o deixaria faltar no trabalho por
minha culpa.
Agarro o vaso com força e fecho os olhos quando continuo vomitando. Ao terminar, fecho-a
e dou descarga, me erguendo aos poucos. Lavo minhas mãos e boca na pia e abraçando meu
estômago, saio do banheiro.
Jogo-me na cama e em seguida me sento rapidamente na mesma quando algo me vem à
mente. E se eu estiver… grávida? Pensando bem, minha menstruação está atrasada e faz uma
semana que venho sentindo enjoos. Nunca cheguei a vomitar como agora, mas vontade não
faltou.
Pulo da cama e vou até o espelho, erguendo minha camisa larga para dar uma olhada em
minha barriga. Eu não comi nada que caísse mal, tão pouco estou com febre ou com alguma
virose. E ando cagando normalmente, o que só me resta… a gravidez.
Arregalo os olhos com a menor possibilidade e deixo a camisa voltar ao seu lugar,
abraçando minha barriga. Eu não quero ficar paranoica como a quatro anos atrás. E Chase e eu
também nos protegemos quando fazemos sexo. Claro que uma vez ou outra nós não nos
importamos com a proteção, mas… E se?
Chase e eu estamos casados a um ano e decidimos que eu ia iria tomar anticoncepcional
porque queríamos aproveitar um ao outro antes de termos um filho. E acreditem, nos
aproveitamos muito. Risos.
Vou até a minha cômoda e pego meu celular para ligar para Tessa, meu coração quase
pulando em minha boca. Passam-se alguns segundos até que ela atende no quarto toque.
— Pelo amor de Jesus Cristo, corre aqui agora — eu digo de uma vez.
— O que aconteceu? — Tessa pergunta do outro lado da linha, parecendo preocupada.
Eu engulo em seco, acariciando minha barriga.
— Acho que… — Eu me interrompo e respiro fundo. — Acho que estou grávida.
Passam-se alguns segundos, o completo silêncio do outro lado da linha.
— Tem certeza? — Tessa pergunta. — Você está cagando todo dia?
Escuto a risada escandalosa de Kat do outro lado e reviro os olhos.
— Para sua informação, já caguei hoje — eu debocho. — E manda a arrombada da sua
esposa parar de rir.
— Você me respeita! — Escuto Kat gritar. — Arrombada vai ficar você depois de parir essa
criança. — Ri mais alto.
Eu me jogo na cama e fico de lado, ainda abraçando a minha barriga. Suspiro.
— Gente, é sério… — sussurro. — Eu realmente acho que estou grávida. Não é de hoje que
ando sentindo enjoo e minha menstruação está atrasada — eu digo.
Era para eu estar desesperada com essa possibilidade, mas eu não sinto o mesmo pavor de
quatro anos atrás, quando eu achei que estava grávida. Eu acho que… eu até quero?
— Ok, ok, chegamos aí em vinte minutos com dois testes de gravidez — Tessa diz.
Eu sorrio.
— Tá, eu vou esperar vocês — digo, desligando o telefone logo em seguida.
Jogo meu celular em qualquer lugar da cama e estico minha mão para pegar o travesseiro de
Chase, abraçando-o. Vejo Justin subir na cama e Lady fazer o mesmo. Ambos ficam me
encarando. Devolvo seus olhares.
— Vocês querem um irmãozinho? — pergunto, largando o travesseiro.
Como se tivessem entendido o que eu disse, Justin late alto e começa a abanar o rabo,
parecendo amar a ideia. Já Lady, vira o focinho, sua calda se mexendo lentamente. Eu a pego e a
ponho em cima da minha barriga.
— Não quer? — pergunto, voltando seu focinho para mim.
Lady mia e começa a amassar a minha barriga com as patinhas, como se fosse uma massa de
pão. Justin cutuca minha barriga com o focinho e me sento na cama.
— Merda, parem com isso! — Eu mando, pondo Lady na cama.
Eles só estão reforçando o fato de que eu realmente acho que estou grávida. Mordo meu
lábio e acaricio minha barriga, pensando se Chase vai ficar feliz se eu estiver grávida. Nunca
conversamos a fundo sobre isso, mas eu já disse uma vez que amaria ser mãe dos filhos dele.
Alguns minutos depois, alguém aperta a minha campainha e saio do quarto, correndo em
direção a porta do meu apartamento. A abro e três indivíduos invadem minha sala.
— Olha o que eu trouxe para a mamãe mais feia do mundo! — Adam tira dois sapatinhos
brancos de bebê de dentro de uma caixinha.
Eu franzo o cenho.
— Como você ficou sabendo? — pergunto, fechando a porta.
— Você não ia me contar?! — Adam põe a mão no coração, ofendido.
— O quê? Não! — Eu nego com a cabeça e bufo. — Ah, foda-se. Trouxeram os testes? —
pergunto, olhando para Tessa e Kat.
— Sim, e trouxemos laxante também — Tessa diz, tirando dois testes de dentro de uma
sacola plástica e um vidro de remédio. — Vai que é bosta de novo.
Eu ranjo os dentes e puxo os testes da mão dela.
— Já disse que eu estou cagando!
— Tá bom, mas toma só uma colherzinha do laxante por preocupação. — Tessa me olha.
Eu devolvo seu olhar e abro a boca, totalmente indignada.
— Tessa, eu já disse a você. — Kat bufa. — Ela está grávida! — Aponta para mim.
— E como você pode saber disso? — Franzo o cenho.
— É, como? — Adam cruza os braços.
Kat sorri e joga o cabelo — agora pintado de azul — por cima do ombro, pondo as mãos na
cintura.
— Eu sou sensitiva.
Eu me engasgo, totalmente incrédula.
— Que porra isso tem a ver? — pergunto. — Está chamando meu bebê de demônio?! —
Abraço minha barriga.
Kat revira os olhos.
— Eu estou dizendo que estou sentindo que você está grávida.
Minha confusão fica ainda maior.
— Caramba, amor, até eu estou confusa. — Tessa coça a cabeça.
Adam bufa alto.
— Às vezes você esquece que Kat é conectada com o universo e a natureza. — Ele revira os
olhos.
Kat estreita os olhos em sua direção.
— Não entendi… — Olha-o, desconfiada.
Adam sorri amarelo e vem para detrás de mim, me usando como escudo. Penso em sair da
frente dele, mas meu estômago embrulha e sinto a bile subir pela minha garganta. Aperto meus
dedos nas caixinhas dos testes de gravidez e corro para o meu quarto.
Escutando passos logo atrás de mim, entro correndo em meu quarto e vou direto para o
banheiro, onde me ajoelho a frente do vaso e ponho o que eu nem comi, para fora. O meu cabelo
se desfaz do coque e sinto uma mão reuni-lo para que não caia em meu rosto enquanto vomito.
— Tem certeza de que não comeu nada que te caiu mal? — Escuto Tessa perguntar, vendo
Kat apanhar os testes que pus no chão.
— Acho que não linda, ela está vomitando apenas água — Kat responde por mim.
— Pelo amor de Deus, segura os sapatinhos enquanto seguro o cabelo de Ally — Adam diz,
passando a mão em minha testa, segurando o meu cabelo. — Foram os olhos da cara.
Quando sinto que terminei de vomitar, fecho a tampa do vaso e vejo Kat dar descarga. Tessa
me ajuda a levantar e Adam solta meu cabelo, deixando que eu vá até a pia.
— Já pensou que ela pode não estar grávida e você comprou o sapatinho de emocionado? —
Escuto Tessa perguntar para Adam.
— Ah, mas é melhor que ela esteja, ou eu não respondo por mim. — Pelo espelho, vejo
Adam sorrir inocentemente para mim.
— Você que é iludido e comprou os sapatinhos — digo antes de secar meu rosto e mãos
com uma toalha.
Kat põe a mão na minha barriga e olha para o nada. Ela fica assim por longos segundos
antes de voltar seu olhar para sua esposa e nosso amigo.
— Ela está grávida. — Kat sorri largamente, afastando sua mão.
Eu a olho como se ela fosse louca e me afasto um pouco, vai que é contagioso.
— Merda, não quero me animar e descobrir que é prisão de ventre. — Tessa bufa.
Eu reviro os olhos.
— Vocês nunca vão esquecer isso? — pergunto, indignada.
— Não. — Respondem em uníssono.
Eu bufo alto e pego os testes da mão de Kat, os empurrando para fora do banheiro.
— Vão, vão. — Eu mando. — Vou fazer o teste.
— Ok, estamos te esperando na sala — Kat diz, pegando Lady na minha cama de casal.
Antes que eu feche a porta, vejo Adam pegar Justin e quando finalmente fico sozinha, tiro
um dos testes da caixinha e ando até o vaso. Desço minha roupa e me sento nele, fazendo xixi.
Assim como Tessa disse, também não quero me animar achando que estou grávida e no final
ser um alarme falso de novo. Estou com vinte e cinco anos e a ideia de ser mãe não me assusta
como antes. Eu gostaria muito de ter um filho de Chase, mas não porque talvez ele queira, mas
porque eu quero.
Quando termino, olho para o teste e espero alguns segundos para ver o que acontece. Meus
olhos se arregalam. Duas linhas. Duas fucking linhas!
Pego o outro teste e me forço a fazer xixi novamente. Com o coração na mão, olho para o
teste e sinto minhas mãos trêmulas. Duas linhas. Porra, estou grávida. Eu vou ser mãe, caralho!
Seco-me com um papel higiênico e ergo minhas roupas, saindo do banheiro após pegar o
outro teste. Corro para a sala e meus amigos se levantam do sofá em um sobressalto, os olhos
arregalados enquanto me olham.
— E aí? — Tessa pergunta primeiro.
Eu respiro fundo e dou alguns passos na direção deles. Quando estou perto o suficiente, ergo
os dois testes de gravidez, mostrando o resultado. Seus olhos se arregalam ainda mais e eles
abrem a boca, totalmente chocados enquanto aponta para os testes em minhas mãos.
Kat os pega.
— Sabia, cara! — ela diz, sorrindo. — Não ia ser bosta duas vezes!
Adam me abraça pela cintura e me gira no ar.
— Vou ser tio, porra! — Ele xinga, me pondo no chão. — Nós vamos ser tios! — Olha para
as meninas.
Tessa ri e me olha.
— Estou tão feliz por você, Ally! — Ela me abraça.
Eu sorrio e a abraço de volta. Tessa agarra meus ombros e me afasta dela.
— Espera, você está feliz? — ela pergunta, me encarando.
Eu abraço minha barriga e meu sorriso aumenta. Pareço uma idiota.
— Eu estou em choque, mas… — Mordo meu lábio. — Estou feliz. Muito feliz. — Eu rio.
Meus amigos sorriem e Adam pega a caixinha de sapatinhos de bebê.
— Faz uma surpresa para o Chase, põe um dos testes nessa caixinha, ele vai sacar tudo
quando vir os sapatinhos — ele diz, pondo-a em minhas mãos.
— Chase vai amar. — Minha melhor amiga sorri, me olhando.
Com um pequeno sorriso nos lábios, encaro a caixinha em minhas mãos, sabendo que dentro
estão os sapatinhos do meu lindo futuro. Eu estou grávida de Chase, e espero do fundo do meu
coração que ele fique tão feliz quanto eu. Do contrário, eu o faço comer o teste de gravidez.
Visto uma das cuecas de Chase e um top preto, deixando toda a minha barriga exposta.
Prendo meu cabelo em um coque e estendo a toalha no banheiro, andando até o espelho enorme
do meu quarto.
Eu ainda não processei que tem uma pessoa crescendo dentro de mim. É extremamente
desesperador saber que essa pessoa vai nascer e me chamar de mãe, que vou ter que amamentá-la
e educá-la direitinho.
Escuto a porta do meu apartamento se fechar e fico em alerta.
— Ally, cheguei! — Escuto Chase dizer.
Minhas pernas ficam moles e minhas mãos começam a soar de nervosismo. Sinto que posso
vomitar novamente, mas dessa vez não por causa do bebê, e sim pela ansiedade.
— Estou no quarto! — grito para que ele escute.
Olho para um dos travesseiros da cama, onde coloquei a caixa de sapatinhos e desvio meu
olhar para a porta quando ela se abre, vendo Chase vestido com uma calça jeans rasgada nos
joelhos e uma camisa de botões com alguns deles abertos, expondo suas tatuagens. Ele sorri para
mim.
— Está melhor, gattina? — pergunta, vindo na minha direção.
Seus braços envolvem minha cintura e ele me dá um selinho demorado.
— Sim. — Sorrio, segurando nos ombros dele. — Você voltou mais cedo — digo.
— Quando fui trabalhar você estava se sentindo mal — Chase diz, acariciando minha
bochecha. — Não queria te deixar sozinha por mais tempo.
— Eu estou melhor, eu juro — digo, desabotoando a camisa dele. — Eu até liguei para o
meu trabalho e disse que amanhã eu volto. — Beijo o peito dele após abrir sua camisa.
Chase me puxa contra seu corpo e acaricia minha nuca.
— Já jantou? — ele pergunta.
Nego com a cabeça.
— Não, estava te esperando — eu respondo, colando minha barriga na pele nua de seu
abdômen.
Suas mãos caem nas laterais do meu corpo e as acariciam.
— Ally, você tem que comer — Chase diz, me olhando com o cenho franzido. — Você já
está doente, tem que se alimentar direito.
Aceno com a cabeça.
— Uhum, ainda mais agora, né — digo de maneira despreocupada. — Mas relaxa, depois
que eu tirar licença do meu trabalho, vou me alimentar melhor. — Sorrio.
O cenho de Chase se franze.
— Por que você vai pedir licença? — ele pergunta. — Você não disse que estava melhor,
Allyson? — Olha-me desconfiado.
Vendo que não posso mais adiar, espalmo as mãos nos ombros de Chase e o empurro um
pouco, fazendo-o cair sentado na cama.
— Eu quero lhe dar uma coisa. — Mordo meu lábio, ansiosa.
Um sorriso largo toma conta do rosto de Chase, e ele tira a camisa e a joga no chão.
— Por que não me disse antes, gattina? — pergunta com malícia, batendo nas próprias
coxas. — Pode dar o que você quiser, eu recebo. — Assente várias vezes com a cabeça.
Eu o encaro, incrédula com essa falta de vergonha na cara. Chihuahua italiano tarado.
— Não é nada disso, seu safado. — Faço uma careta, indo até o travesseiro. — Feche os
olhos — peço.
Confuso, Chase faz o que peço, e eu tiro a caixa de sapatinhos de baixo do travesseiro. Volto
para perto dele e a coloco em seu colo. Chase abre os olhos e franze o cenho ao ver a caixinha.
— Abra — peço antes que ele diga algo.
Mesmo me olhando desconfiado, Chase abre a caixinha, sua expressão não demonstrando
nada ao ver os sapatinhos brancos e um dos testes de gravidez. Ele ergue o olhar para mim.
— Não tinha do meu número? — Chase solta uma risada nervosa, referindo-se aos
sapatinhos.
Eu ponho as mãos sobre minha barriga.
— Não são pra você. — Sorrio.
Chase olha para o teste de gravidez e então, para mim.
— Você está… — Ele engole em seco.
— Grávida? — eu pergunto e meu sorriso se alarga. — Sim!
Chase nega com a cabeça.
— Allyson, não brinca com uma coisa dessas. — Ele manda. — Você está cagando
direitinho? — pergunta, me olhando atentamente.
Eu respiro fundo, controlando a minha raiva. Vai se foder, por que todo mundo fica me
perguntando isso?
— Sim, Chase — digo entredentes. — Eu fiz dois testes de gravidez. Todos dois deram
positivo. E faz semanas que ando sentindo enjoos — eu explico.
Os olhos de Chase caem em minhas mãos sobre minha barriga e ele larga a caixinha na
cama, me puxando pela cintura para que seu rosto fique a centímetros do meu estômago.
— Você… você realmente está grávida? — Chase pergunta em um sussurro, os olhos fixos
em minha barriga.
Adentro meus dedos em seu cabelo macio.
— Sim.
De repente, Chase me puxa para seu colo e minhas pernas ficaram ao redor de sua cintura.
Seus lábios se chocam contra os meus enquanto seus braços me apertam fortemente.
— Porra, obrigado, obrigado! — ele diz entre o beijo. — Não estou acreditando, Ally, você
vai me dar um filho!
Eu rio também e seguro seu rosto em minhas mãos.
— Eu também não estou acreditando. — Acaricio seu nariz com o meu.
Os olhos de Chase se fixam em minha barriga e ele me deita na cama em um movimento
rápido, ficando por cima de mim. Ele escorrega pelo meu corpo até ficar com o rosto na altura de
meu estômago e deixa um beijo demorado ali.
— Caralho, Ally, se for bosta de novo, eu juro que me mato com veneno! — diz,
acariciando minha barriga com o nariz.
Eu dou risada e afago seu cabelo.
— Não é, Chase. Eu realmente estou grávida. Você vai ser pai.
Chase ergue o rosto para mim.
— Eu não sei o que dizer, Ally… — diz, o tom de voz maravilhada.
Ele ri e encosta a testa na minha barriga, seus olhos se fechando. É como se pudéssemos
ficar assim a noite toda, sem nos importamos com o resto. É uma sensação de paz tremenda,
ainda mais com Chase deslizando os lábios por minha barriga, me fazendo sentir todo o carinho
e amor que ele deposita nessa ação.
— Amanhã vamos ao médico, ok? — ele pergunta me encarando e eu assinto. — Vou beber
um pouquinho de água, você quer?
Eu nego com a cabeça. Chase assente e se afasta de mim, levantando-se da cama um pouco
pálido demais. Franzo o cenho.
— Espera aí, linda, eu já vol…
Chase não consegue concluir a frase ao que seu corpo tomba para o lado e o baque dele
repercute por todo o nosso quarto, me fazendo arregalar os olhos.
Eu pulo da cama e me ajoelho ao lado dele.
— Chase, acorda! — Eu dou tapinhas em seu rosto.
Quando ele não faz o que peço, passo as mãos por meu rosto e me sento ao lado dele,
irritada. Merda, de novo não.
Sinto um beijo ser depositado em meu ombro e uma mão apertar meu braço direito, me
acordando. Uma enorme barriga se gruda em minhas costas e não preciso nem abrir os olhos
para saber que é Allyson.
— Chase… — Ela me chama, beijando agora a curva do meu pescoço.
— Hum…? — pergunto de maneira arrastada, mantendo meus olhos fechados.
— Estou com fome — Ally diz, apoiando o queixo em meu ombro direito.
Eu me viro para ela ainda de olhos fechados e a trago para perto de mim pela nuca, sua
barriga impedindo uma aproximação maior.
— Que horas são? — pergunto, acariciando sua barriga nua.
Ally está com oito meses e fará nove daqui a três dias. Sua barriga é completamente enorme
e não quisemos saber o sexo do bebê, gostaríamos de descobrir na hora do nascimento.
— São 3:35 da manhã — Allyson diz, passando os braços ao redor da minha cintura. Bem,
da maneira que pode.
Eu gemo de frustração.
— Não faz nem quatro horas que terminamos de transar, Ally — eu digo, bocejando. —
Vamos dormir, sim?
Allyson segura meu rosto, puxando-o pare si. Sou forçado a abrir meus olhos e encará-la.
— Você não reclamou quando estava metendo em mim a três horas atrás. — Ela debocha
com um sorriso.
— Você fala como se eu fosse uma britadeira. — Eu resmungo. — E eu fui carinhoso para
não machucar o nosso bebê. — Beijo o nariz dela.
Ally arqueia uma sobrancelha.
— Chase, você apertou meu pescoço e me pôs em quatro posições diferentes. E eu nem
sabia que era possível porque estou grávida. — Ela zomba.
Eu limpo a garganta e lhe dou um selinho demorado.
— A médica disse que sexo faz bem para o bebê. — Sorrio, esfregando suas costas.
— Ela também disse que não posso passar vontade — Ally diz, erguendo o queixo. — Eu
estou com fome.
Eu a encaro por alguns segundos.
— Tudo bem, vou ver o que tem na cozinha — digo, fazendo menção de soltá-la.
Allyson enrosca a perna direita em minha cintura, me impedindo.
— Eu quero comer melancia com manteiga.
Eu faço uma careta e olho para ela, me questionando se ela se ouviu.
— Perdono? — pergunto, incrédulo. — Ficou doida, mulher?
Com a perna enroscada em minha cintura, ela põe as mãos sobre a enorme barriga.
— Eu estou com muita, muita vontade de comer melancia com manteiga. — Ally sorri. —
Nunca senti tanta vontade de comer algo como agora.
Eu sorrio com sarcasmo.
— Você disse isso quando me pediu para triturar um tijolo no liquidificador para você
comer com ketchup.
Allyson me olha, os olhos me fuzilando.
— E você nem me deixou provar. — Belisca meu estômago.
Eu agarro seu pulso e ergo as sobrancelhas.
— Por que será?
— O bebê vai nascer com cara de tijolo e vai ser sua culpa. — Allyson resmunga.
— Antes isso do que a mãe dele perder os dentes. — Acaricio a barriga dela. — Ou você
acha que eu vou te beijar com você estando banguela?
Allyson abre a boca, parecendo totalmente chocada com o que eu disse. Ela me dá um tapa
leve no peito.
— Ah, então é assim, seu chihuahua italiano?! — ela pergunta. — Você tem que me amar
com ou sem arcada dentária, honre nossos votos de casamento!
Eu dou risada.
— Eu que tenho que honrar nossos votos? — Arqueio uma sobrancelha. — Você que disse
semana passada que, se caso eu amputasse o pau, me pediria o divórcio! — Rebato.
Allyson abre e fecha a boca várias vezes, parecendo não saber o que dizer ou simplesmente
não ter resposta para me rebater. Sua única resposta é seu rosto se acontecendo em uma careta de
choro.
— Por que você é tão mau comigo? — Lágrimas banham seus olhos. — Eu só queria comer
melancia com manteiga! — Ela cobre o rosto com as mãos.
Eu arregalo os olhos e a abraço fortemente contra mim.
— Allyson, por que você está chorando? — pergunto, esfregando suas costas cobertas
apenas por um top rosa-claro.
Ally ergue o queixo para mim, as bochechas gordinhas banhadas de lágrimas.
— Você me chamou de "Allyson"?! — ela pergunta. — Você não me ama mais, é isso? Não
se sente mais atraído por mim?
Eu me engasgo com a saliva, totalmente assustado. A médica disse que a Ally teria essas
oscilações de humor, que é o normal de toda grávida.
— Como você pode dizer isso, gattina? — Seguro o rosto dela em minhas mãos. — Faz
nem quatro horas que nós transamos, como eu não me sinto atraído por você? — Dou a ela um
selinho, sentindo o gosto salgado de suas lágrimas.
Ally se afasta um pouco de mim, sua enorme barriga ainda grudada a minha.
— Como assim "transamos"?! — Ela arregala os olhos. — Antes você dizia que a gente
fodia gostosinho ou que fazíamos amor. — Seu rosto se contorce em uma careta de choro
novamente.
Eu abro e fecho a boca, sem saber o que dizer. Cazzo!
— Eu sei o porquê de você não me deixar comer melancia. — Ela funga alto. — É porque
estou parecendo uma, né?
Desesperado, nego rapidamente com a cabeça, puxando-a para mim. Eu não consigo nem
acreditar que ela realmente está chorando, chega a ser cômico.
— Você é a melancia mais linda e gostosa que eu já tive o prazer de ver e comer.
Ally fica me encarando por alguns segundos antes de sua careta se aprofundar e mais
lágrimas começarem a molhar suas bochechas.
— Não chora, gattina, não chora! — Eu pego, beijando os detalhes de seu rosto. — O que
eu estou querendo dizer é que você está linda assim. E não é porque você está barrigudinha que
não me sinto mais atraído por você. Eu te amo.
— Você promete? — pergunta entre meus lábios, fungando.
Eu sorrio.
— Prometo. — Dou a ela outro selinho. — A gravidez só te deixou ainda mais linda.
— Mas eu estou toda inchada. — Ally abraça minhas costas nuas com um pouco de esforço
graças a barriga enorme.
A barriga de Ally é imensa, acho que nosso bebê vai nascer muito gordinho e saudável.
— Ainda assim, você continua lin… — Paro de falar e arregalo os olhos, os mirando em
Ally — Você sentiu isso?
Allyson que também está com os olhos arregalados nega com a cabeça.
— Não, Chase. — Ela zomba, rindo. — Foi na minha barriga, mas eu não senti.
Eu a ignoro e escorrego pela cama, ficando com o rosto na altura de sua barriga e entre suas
pernas.
— Ele mexeu, não foi? — pergunto.
Ally enxuga as lágrimas e sorri largamente, assentindo.
— Caralho, nunca vou me acostumar com isso. — Ela põe as mãos sobre a barriga e faz uma
careta.
Eu encosto minha bochecha direita em sua barriga e espero alguns segundos antes se sentir o
bebê chutá-la novamente. Arregalo os olhos pela milésima vez só nessa madrugada e olho para
Ally.
— Ele chutou, Ally! — Sorrio largamente, espalmando minhas mãos em sua barriga.
— É, porra, eu senti muito bem. — Ally morde o lábio. — Ele nunca chutou tantas vezes
como agora. — Ela sorri.
Eu planto um beijo demorado em sua barriga, especificamente na região do enorme umbigo.
— Oi, bebê. — Deslizo meu nariz pela pele cheirosa de Ally. — Papà está aqui.
Sinto o bebê chutar de novo, dessa vez sendo em dois lugares ao mesmo tempo como se
tivesse usado os dois pezinhos. Ally solta um gritinho e olho para ela, vendo-a sorrir mesmo com
uma careta de dor.
— Ele está com fome, Chase — ela diz, me encarando. — Vai agora pegar uma melancia
para ele.
Eu faço uma careta, sentindo o bebê se acalmar.
— Você está mandando em mim? — Arqueio uma sobrancelha.
— Achou ruim? — Ally ergue outra, cruzando os braços por cima dos seios fartos cobertos
pelo top rosa-claro.
Eu sorrio amarelo.
— Que isso, principessa. — Beijo o centro de sua barriga. — Um homem mandado é um
homem feliz.
Ally sorri e acaricia meu cabelo.
— Lindo. — Brinca com o lóbulo da minha orelha. — Mas você vai ter que comprar, tá?
Eu arregalo os olhos.
— Hein?
— Você vai ter que comprar, a melancia acabou.
— Comprar gora? — pergunto e ela assente. — Ah, não, Allyson. Uma hora dessas? —
Sento-me na cama.
Allyson cruza as mãos por cima da barriga.
— Por favor, Chase. — Ela pede, a voz manhosa. — Por favorzinho, sim? Você não vai me
deixar ficar na vontade, não é?
Quem não conhece a Ally, facilmente acreditaria nessa carinha de anjo dela. Mas eu, como a
conheço a cinco anos, sei muito bem que não passa de manipulação. E quando eu fizer o que ela
quer, ela vai sorrir feito vilã de novela.
Mas, sei que ela ficar com vontade de comer algo enquanto está grávida, não é bom. Por
isso, suspiro e assinto.
— Tudo bem, vou comprar — eu digo, me preparando para sair da cama.
Ally solta um gritinho empolgada e antes que eu saia da cama, agarra a minha mão.
— Me dá um beijo, você merece. — Ela sorri largamente.
Eu reviro os olhos, mas não consigo conter o pequeno sorriso que nasce em meus lábios.
Ficando entre as pernas de Ally e tomando cuidado com sua barriga, apoio meus cotovelos ao
lado de sua cabeça e me inclino para lhe dar um selinho demorado.
Quando me afasto, Ally está com uma carranca no rosto.
— Assim não, chihuahua. — Ela me puxa pela corrente de prata em meu pescoço.
Sua língua atrevida invade minha boca e fecho meus olhos, encontrando-a com a minha.
Quase gemo ao sentir ela puxar levemente o meu cabelo, tentando me trazer ainda mais perto.
Mas quando sua barriga a impede disso, ela apenas bufa alto quando nos afastamos.
Eu sorrio e desço meus lábios para o seu pescoço, minha mão direita descendo para sua
barriga. Quase nove meses de gravidez e eu ainda não consigo acreditar que vou ser pai. Que tem
uma garotinha ou um garotinho crescendo dentro de Ally. Se antes ela já era linda, agora, então.
— Chase… — sussurra meu nome quando desço beijos por seu colo.
Meus lábios param no começo da tatuagem entre o vão dos seios de Ally e sorrio, lambendo-
a. Allyson reforça o aperto em meus cabelos e não perco tempo quando levanto seu top rosa-
claro, libertando os seios fartos e pesados.
Durantes oito meses, vi o corpo de Ally mudar. Os seios de tamanho médio ficaram grandes
e pesados. Os pés e as coxas grossas ficaram inchados. As bochechas ficaram mais redondinhas,
lhe dando um ar fofo e saudável. A médica disse que era normal de toda gravidez.
Mas, mesmo todas essas mudanças, não foram capazes de me fazer ver a Ally de maneira
diferente. Ela continua a mesma gattina gostosa de oito meses atrás. E o fato dela estar
carregando um filho meu dentro dela, só aumenta ainda mais o tesão que sinto por ela.
— Porra, eu só queria um beijo! — Ally choraminga quando capturo um de seus mamilos
entre meus dentes.
Eu sorrio contra o botãozinho e esfrego a língua ali, agarrando seu outro seio em minha mão.
Está mais redondo e pesado, claramente devido ao leite.
— Merda, Ally, você nunca esteve tão gostosa — digo entredentes antes de chupar seu
mamilo.
Ally arqueia levemente as costas e geme baixinho.
— Chase, estão sensíveis! — Aperta meu cabelo com força. — Isso, chupa mesmo. Depois
que o bebê nascer isso deixa de ser seu.
Ergo meus olhos para ela e largo seu mamilo.
— É ele mamando em um e eu mamando no outro. — Sorrio, mordiscando agora o outro
mamilo.
Ally solta meu cabelo e agarra meus ombros, contorcendo-se logo abaixo de mim.
— Toma vergonha, agora isso é do seu filho!
— Que se foda, mamei seus peitos muito antes dele. — Mordo a carne com um pouquinho
de força.
Ally solta um gemido choroso e me dá tapinhas nos ombros.
— A melancia, a melancia! — ela sussurra, a voz falha. — Por favor, eu estou com fome.
A contragosto, me afasto de seus peitos e volto a arrumar seu top no lugar. Levanto-me da
cama e vejo Ally estender a mão para que eu ajude a se sentar. Quando a ponho sentada, Allyson
pende lentamente para a esquerda, caindo deitada na cama.
Eu rio e volto a deixá-la firme e forte na cama.
— Não ri, você quem fez isso comigo. — Ela belisca levemente a minha barriga.
Eu sorrio e me ajoelho a frente dela, espalmando minhas mãos nas laterais de seu quadril.
— E acredite, eu não poderia estar mais orgulhoso. —Dou a ela um selinho demorado.
Ally sorri e deixo um beijo em sua barriga também, lhe fazendo um carinho.
— Papai já volta, tá? — pergunto, olhando para a barriga da minha esposa.
— Claro, já, já ele te responde. — Ally brinca.
Eu a olho, incrédulo.
— Você não é nada romântica, sabia? — pergunto.
Ally sorri.
— É o meu charme. — Ela me dá um selinho. — Agora vai lá, estou com fome.
Eu assinto e lhe dou outro selinho antes de me levantar e vestir uma camisa preta e ir
procurar uma calça jeans. Procuro a chave do meu carro e calço um tênis, mandando um beijo
para Ally ao sair do quarto.

Quando me dou conta de que é o terceiro mercado qual entro e finalmente acho uma
melancia grande, suspiro de alívio. Nos dois anteriores, as melancias não pareciam nada bonitas
ou de qualidade. E até parece que daria uma dessas a minha esposa grávida.
Pego duas melancias e quando estou perto do caixa sem fila, compro três pacotinhos de
jujuba para Ally. Ela ama, e parece que esse amor duplicou ainda mais na gravidez.
Pago tudo e em seguida saio com duas sacolas grandes e uma pequena, indo em direção ao
meu carro. Quando entro, dou partida e vou direto para meu apartamento, aumentando um pouco
a velocidade. Quando estaciono o carro, subo no elevador e paro no meu andar, meu celular
começa a tocar e o retiro do bolso da calça, vendo que é a Ally.
Encaixo a chave na fechadura da porta e a abro, vendo Justin vir correndo na minha direção,
latindo sem parar.
— Calma, Justin, você vai me fazer quebrar a melancia. — Eu fecho a porta, tomando
cuidado com ele. — Ally, não precisa me ligar, eu já estava por per…
— PORRA, SÓ É PRA SAIR QUANDO O SEU PAI CHEGAR!
Arregalo os olhos quando ouço Allyson gritar e largo as melancias e jujubas no chão,
correndo até o nosso quarto com Justin logo atrás de mim. Quando chego lá, sinto meu coração
querer sair pela boca e o engulo com força.
— Ally… — Eu a chamo, atraindo sua atenção para mim.
Allyson está com as pernas abertas e em pé, uma mão apoiada em nossa cômoda de casal. O
piso em seus pés está totalmente encharcado, Lady observando tudo.
— Chase. — Ela solta um grunhido de dor.
— Pelo amor de Deus, me diz que você mijou no chão e que não é o que eu estou pensando.
— Eu peço, totalmente paralisado.
— A bolsa… — Ela respira com dificuldade e essa é a deixa para que eu ande até ela.
Eu aponto para o guarda-roupa, ajudando-a a se mantém firme.
— Está lá dentro…— respondo, chocado.
Allyson grita, me olhando com raiva.
— A bolsa, Chase! Estourou! — Ela choraminga de dor.
Meus olhos quase saltam para fora e olho para a região entre as suas pernas. Merda, não era
daqui a três dias?
— Está nascendo?! — pergunto em um grito e ela assente. — Tipo, agora?!
Allyson agarra fortemente meus braços.
— Não, antes de ontem. — Ela debocha.
Sinto minha cabeça rodar.
— Ai, caralho, eu acho que eu vou… eu vou… — Puxo a respiração com força.
— Chase Fontana, se você desmaiar enquanto eu estou em trabalho de parto, eu juro que te
enforco com o cordão umbilical do nosso bebê! — Allyson solta um gritinho histérico.
Como se eu precisasse dessa ameaça para voltar a mim, passo o braço de Ally por cima dos
meus ombros e o meu por sua cintura, ajudando-a a andar.
— Calma, gattina, aguenta só mais um pouco. — Eu peço passando com ela pela porta do
apartamento.
— Fala isso para o seu filho que está tentando rasgar a minha vagina de dentro para fora! —
ela diz, segurando a barriga com a mão direita.
Eu suspiro, tentando me manter calmo e olho para a barriga de Ally enquanto caminhamos.
— Por favor, tente preservar a pepequinha da sua mãe por mais vinte minutos!
O bebê não parece ter gostado nadinha de ouvir isso, já que Allyson grita mais alto, entrando
no elevador com a minha ajuda.
— Machista! — Ela soca a parede do elevador. — Opressor mirim!
Escutando os gritos da minha mulher, eu apenas posso torcer para que ela aguente mais um
pouco até chegarmos ao hospital. E, que eu me mantenha acordado até o fim de tudo isso,
mesmo que minha vontade seja de desmaiar.
Mesmo com minhas pernas fracas e bambas de ansiedade, corro ao lado da maca de Ally,
vendo-a esmurrar o objeto enquanto reclama da dor.
— Merda, dói como o inferno! — ela diz, espalmando as mãos em sua imensa barriga.
— Calma, gattina, estou aqui com você! — eu digo, tentando acompanhar os passos dos
médicos e enfermeiros.
— Preparem a sala de parto! — o médico grita para outros enfermeiros quando paramos na
frente de uma sala. — Agora, rápido!
Os enfermeiros que estão ao lado da maca de Allyson começam a levá-la para longe de mim,
mas ela se agarra ao meu braço no último instante.
— Não deixa eles me levarem, Chase, vão me rasgar ao meio! — Ally grita, os olhos
arregalados.
Eu me curvo para ficar da altura de seu rosto e beijo sua testa.
— Nosso bebê vai nascer agora, Ally, você tem que ir! — Acaricio o cabelo dela.
Allyson nega com a cabeça e aperta os dedos ao redor do meu pulso.
— Não quero entrar lá sozinha, Chase! — Puxa-me para mais perto. — Vamos para casa, a
gente faz o parto vendo um tutorial no YouTube! — Assente várias vezes com a cabeça.
Eu encaro minha mulher como se ela fosse louca da cabeça até o momento que lembro que
ela realmente é.
— Allyson, não podemos ter o nosso filho em casa, ok? — Olho nos olhos dela.
Antes que Ally possa responder, ela grita e as enfermeiras que estão perto de nós tentam
levá-la para longe, mas ela agarra meu braço com mais força.
— Chase, vem comigo, por favor! — Ally pede com uma cara chorosa. — Eu estou com
medo…
Eu me curvo em sua direção e colo nossas testas.
— Eu vou entrar com você, tudo bem? — pergunto com carinho.
Allyson engole em seco e assente várias vezes. As enfermeiras começam a levá-la para
longe e mantenho meus olhos nela, vendo-a gemer de dor. Se eu pudesse, eu mesmo daria à luz
no lugar dela para que ela não sentisse dor. Mesmo que eu parisse pelo cu.
Quando vou fazer menção de entrar na sala de parto, uma das enfermarias me param
enquanto as outras somem com a Ally.
— Você precise se higienizar primeiro — ela fala por detrás da máscara.
Eu assinto.
— Claro, onde faço isso?
Antes que ela possa responder, o médico vestindo com uma roupa azul de operação,
máscara, luvas e touca brancas aparece, saindo de dentro da sala de parto.
— Mary, vá ajudar as outras, por favor. — Ele pede a enfermeira.
Ela assente e entra na sala.
— O parto da minha mulher vai ser tranquilo? — pergunto um pouco desesperado, olhando
para ele.
O médico me olha.
— Você que é o pai dos bebês? — ele pregunta, me encarando.
Eu assinto.
— Sim, eu sou marido da mulher na sala de parto e pai dos… — Paro de falar, arregalando
meus olhos. — Espera, bebês?! O médico acena com a cabeça.
— Sim, dos bebês.
Cara engraçado.
— Você não quis dizer "bebê"? No singular? — Ergo a sobrancelha.
O homem nega com a cabeça, o cenho franzido.
— São gêmeos — ele diz, me encarando enquanto me vê arregalar os olhos. — Você não
sabia?
Eu dou alguns passos para trás, deixando meu corpo descansar na parede atrás de mim,
levemente atordoado. Porra, dois? Dois bebês? Eu enfiei dois fuckings bebês dentro da minha
mulher?
Ah, porra, o mini Chase é foda!
— Você não sabia? — o médico pergunta de novo, me tirando dos meus pensamentos.
Nego com a cabeça.
— Não. Nós não queríamos saber o sexo do bebê e nem nada do tipo. Era para ser surpresa
— eu respondo, chocado.
Porra! Todos os palavrões em italiano que existem.
— E não desconfiaram do tamanho da barriga? — o médico pergunta, parecendo incrédulo.
Dou de ombros.
— Não, nunca passou pela nossa cabeça — eu digo com toda a sinceridade. — Achávamos
que o bebê ia ser grande e gordinho.
Agora está explicado o porquê de Ally sentir duas vezes mais sono do que uma grávida
normal. Semana passada eu a levei na lanchonete e ela comeu quatro hambúrgueres enormes. Ela
estava comendo por três, afinal.
— Nem a sua mulher notou? — o homem pergunta.
Eu quase sorrio.
— Doutor, acredite. Conheço o corpo da minha mulher melhor do que ela mesma — eu
digo. — Mas só era para ela dar à luz na semana que vem.
O médico suspira e arruma suas luvas brancas.
— Ao que parece seus filhos querem nascer mais cedo.
— Isso não vai afetar a saúde da minha mulher e nem dos meus filhos, não é? — pergunto,
repentinamente apreensivo.
Ele nega com a cabeça.
— Não se preocupe, não é estava longe deles nascerem. Isso é normal. — Ele me
tranquiliza.
Eu deixo meus ombros tensos relaxarem e passo as mãos por meu cabelo, ainda um pouco
ansioso. Meus Deus, Allyson vai pirar quando souber que são dois, e não um.
— A minha mulher já sabe que são gêmeos? — pergunto.
O médico balança a cabeça negativamente.
— Não, mas as enfermeiras devem estar dando a notícia agora — ele fala. — Tenho certeza
que sua esposa vai amar saber di…
— COMO ASSIM SÃO GÊMEOS, PORRA?
Arregalo os olhos quando escuto a voz de Allyson e o médico faz o mesmo, aparecendo
chocado. Eu tenho que estar lá dentro com a Ally, eu prometi a ela. Minha mulher não é do tipo
que demonstra estar com medo e quando ela o faz, é porque a coisa é séria. E eu quero passar
conforto para Ally
Olho para o médico.
— Onde posso me higienizar?
— Vou pedir para uma enfermeira te levar lá — ele diz. — Você também vai ter que vestir
uma roupa por cima das suas.
Eu assinto várias vezes com a cabeça.
— Claro, claro, qualquer coisa.
Segundos depois, uma enfermeira me ajudou a higienizar minhas mãos e me deu uma roupa
parecida com a do médico, uma máscara branca e uma touca. Logo depois, ela me levou para a
sala de parto e tentei me manter firme com a cena que vi.
Minha gattina com uma roupa de hospital, o cabelo solto com alguns fios grudando em seu
rosto suado. As pernas totalmente abertas para o médico que mandou ela empurrar mais forte.
Allyson o fez com o rosto se contorcendo em uma careta de dor e abriu os olhos, me vendo.
— Chase… — Ela me chama, a voz embargada.
Isso me desperta e eu rapidamente ando até ela, agarrando sua mão direita, a minha
recebendo um forte aperto.
— Estou aqui, gattina, bem aqui. — Eu beijo sua testa suada, removendo alguns fios de
cabelo dela.
— Empurra! — o médico grita.
Allyson o faz e grunhe de dor, chegando a ranger os dentes. Ela respira fundo.
— Eu sinto que vou morrer, Chase! — Ela choraminga, apertando minha mão com mais
força.
— Não fala isso, Ally. Nem de brincadeira! — eu respondo, desesperado com essa
possibilidade.
— Senhor, se eu morrer, faça com que ele nunca mais tenha alguém! — Ally grita, olhando
para o teto do quarto. — Que o pau dele murche toda vez que ele pensar em outra mulher!
Abro a boca por debaixo da máscara, nenhum pouco chocado com ela. Faz muito tempo que
sei que embora pareça, Ally quase nunca brinca quando diz algo assim.
— Pelo amor de Deus, Allyson, deixa de falar besteira e se concentra no parto! — Eu peço,
agoniado.
Allyson aperta a minha mão.
— Para de me apressar, não é você que está parindo dois, escuta bem, dois bebês! — Ela
grunhe de dor, me olhando com raiva.
— Empurra! — O médico manda e Allyson e o faz. — Mais forte!
— Se eu empurrar mais forte, vou parir meus órgãos! — Ela o olha com raiva, apertando a
minha mão.
Suas costas se arqueiam um pouco e tento não surtar quando noto o sangue que está entre
suas pernas, sujando a cama. Sinto-me zonzo.
— Estou vendo a cabeça de um, empurra! — o médico grita, me fazendo arregalar os olhos.
Allyson assente várias vezes com a cabeça e começa a empurrar com mais força, seus gritos
aumentando. Ela reforça seu aperto em minha mão, cravando suas unhas em minha pele. E
mesmo com toda dor, eu deixo que ela o faça, apenas para ela ter onde descontar o que parece
ser insuportável.
— Está saindo! — o médico grita. — Quase lá!
— Vamos, linda, você consegue! — Beijo a mão dela.
O rosto de Allyson se contorce em pura dor, fazendo tanta força que suas bochechas ficam
vermelhas. Estou prestes a mandar ela empurrar novamente, quando um choro estrangulado
preenche a sala e meus olhos deslizam para o médico segurando um bebê em suas mãos.
Nesse instante, é como se o mundo parasse de girar.
— É um menino! — o médico diz, entregando-o para a enfermeira.
Enquanto vejo a enfermeira enrolar meu filho em um pano verde-claro, sinto o aperto de
Ally afrouxar, deixando minha mão respirar.
A enfermeira anda até mim e solto a mão de Allyson, para pegar meu filho nos braços. Ele
tem cabelo castanho-claro, está um pouco sujo de sangue e parou de chorar assim que o pus em
meus braços. Mas toda essa paz durou pouco quando o grito de Allyson cortou a sala.
— Falta mais um, estou vendo a cabeça! — o homem diz. — Empurre de novo, por favor!
Allyson nega com a cabeça.
— Não consigo mais… — ela diz com a voz fraca, parecendo cansada.
Eu me aproximo dela e me abaixo um pouco para que ela veja nosso filho em meus braços.
— Vamos lá, gattina. Você consegue! — Vejo seus olhos admirados enquanto olha nosso
bebê. — Mais um pouco e vamos ter nosso outro filho nos braços.
Allyson respirar fundo e desviando os olhos de nosso filho, volta a gritar e empurrar. Ao
escutar os gritos da mãe, o bebê em meus braços volta a chorar e em seguida, um terceiro choro
preenche a sala. Dessa vez mais fino e melodioso.
— Pelo amor de Deus, me diz que nasceu… — Ally olha para o teto. — Eu não tenho mais
forças. — Ela respira com dificuldade.
Quando o médico ergue nosso bebê nos braços, nada mais do que um pequeno ser
humaninho sujo de sangue e cabelo castanho-escuro, debatendo-se e chorando alto. Eu sorrio
largamente, sentindo algumas lágrimas descerem por meu rosto.
— Nasceu, Ally. Nasceu. — Sentindo o bebê em meus braços agarrar meu indicador, beijo a
testa suada de minha esposa.
A enfermeira enrola meu outro filho em mais um pano verde-claro e anda até Allyson,
entregando-o a ela. O sorriso de minha mulher é largo e uma lágrima desliza por sua bochecha
direita.
— É uma menina — o médico diz.
Allyson ri e me olha, os olhos cheios de lágrimas.
— Eles são lindos, Chase… — Ela soluça alto, tentando acalmar o bebê em seus braços.
— São. — É tudo o que consigo dizer, maravilhado.
— Graças a Deus, se fossem feios eu mandava o médico enfiar eles em mim novamente. —
Ela sorri, passando o polegar na testa da nossa filha.
A olho, horrorizado.
— Você não faria isso. — Nego com a cabeça.
Allyson ri com o que parece ser deboche.
— Eu não pari duas crianças para elas nascerem feias — ela diz.
Eu rio de sua falta de cérebro e me curvo para esfregar nossos narizes, com cuidado para não
machucar nossos filhos. Filhos. Um menino e uma menina. É ainda melhor do que eu pensava.
— Doutor, o menino nasceu primeiro, não foi? — Ally olha para o médico.
— Sim — ele responde.
Eu sorrio, vendo como ele é cabeludinho. Já a menina, tem bem menos. Olho para a Ally,
vendo-a sorrir de nossa filha para nosso filho, um sorriso cheio de amor e admiração.
Eu poderia morrer apenas com essa cena.

— Papà, a Beatrice me chamou de burro de novo!


Bryan, meu filho, diz apontando para a irmã que está sentada do outro lado da mesa.
— E por acaso eu disse alguma mentira? — Beatrice pergunta, erguendo os óculos da ponta
de seu nariz.
Terminando de fritar os ovos, saio de perto do fogão e ando até a mesa, pondo-os no prato
de cada um com uma espátula. Quando termino, olho para os dois e suspiro.
Os gêmeos estão com sete anos agora e brigam como cão e gato. Eles não poderiam ser mais
diferentes e eu não digo só em relação a aparência. Bem, também.
No quesito aparência, Beatrice é a cópia fiel de Allyson, Bryan é a minha. Enquanto Bea é
calma, antissocial e tem um QI anormal para a idade dela, Bryan é barulhento, faz amigos com
facilidade e parece que não usa o cérebro. Ele vive tirando a irmã do sério e Bea o ameaçando de
estrangulamento. Isso, ela puxou da mãe.
— Beatrice, não chame o seu irmão de burro. — Eu mando, pondo a frigideira e a espátula
no fogão.
— Ele fica me irritando! — Ela aponta para ele.
— E daí, você tem que me respeitar! — Bryan se defende.
Beatrice arqueia a sobrancelha, um gesto adulto demais para a idade dela.
— Por quê? Só porque você é homem? — ela pergunta. — Machista! — ela acusa.
— Não, porque sou mais velho que você! — Bryan devolve.
Beatrice sorri.
— Apenas três minutos e cinco segundos.
É a vez de Bryan sorrir enquanto Allyson entra na cozinha.
— Chupa meu pau! — ele diz para Beatrice.
Eu arregalo meus olhos e escuto Allyson engasgar-se com a própria saliva quando para no
meio da cozinha. Ele não disse isso.
— Onde você aprendeu isso? — Ally pergunta, recuperando-se do choque.
Bryan aponta para mim.
— Com o papà — ele responde. — Eu o escutei dizendo isso ontem de madrugada.
Eu engulo em seco e olho para Allyson.
— Eu também ouvi do meu quarto, aí depois escutei a mamãe gritar e o som de tapas —
Beatrice fala, mordendo sua torrada.
— Nossa, e você não ligou para polícia? — Bryan arregala os olhos. — Vai que o papai
estivesse batendo na mamãe!
Abro a boca para me defender quando Bea toma a frente.
— Eu ia, mas a mamãe não pareceu em perigo — ela diz.
Allyson olha para ela.
— Por que você acha isso?
Beatrice dá de ombros.
— Porque a senhora estava assim… — Ela limpa a garganta. — "Mais forte, Chase!"
Desesperada, Allyson corre na direção de Bea e rapidamente tampa sua boca.
— Cale a boca! — Ela manda. — Nem mais um pio!
Eu pigarreio alto e coço minha nuca, totalmente mortificado. Cazzo, por que a Ally tem que
ser tão escandalosa?
— Acho que o papai e ela estavam só brincando. — Bryan dá de ombros. — Mulheres são
muito escandalosas.
Beatrice afasta a mão de Ally de sua boca.
— Você é tão machista — ela diz para o irmão.
— Você que é, sou mulherista! — Ele bate na mesa.
Beatrice revira os olhos e arruma os óculos. Estou pronto para dar bronca nos dois quando
olho a hora na parede da cozinha e ergo as sobrancelhas.
— Olha a hora, já são sete horas — digo, aproximando-me. — Vão, o ônibus já vai pegá-
los, esperem na portaria.
Bryan e Bea assentem com a cabeça e se levantam de suas cadeiras, pegando suas mochilas
que estão nas costas delas. Eles vão até Allyson e a abraçam, ganhando um beijo dela na testa.
Em seguida, eles me abraçam também e correm para fora da cozinha.
Antes que eles sumam de vista, vejo Bryan puxar o enorme cabelo de Beatrice e logo após
ela começar a correr em sua direção. Quando escuto a porta da sala bater, olho para Ally vestida
em uma camisola cor vinho de alcinhas e um pouco curta.
— Está com fome, gattina? — pergunto, vendo-a assistir. — Quer bacon? — Ela assente
novamente.
Dando as costas para Ally, me viro de frente para o fogão e pego o pacote de bacon que eu
já tinha posto em cima da pia. Tiro quatro de dentro e ligo o fogo, começando a fritá-lo.
Concentrado demais no que estou fazendo, quase tomo um susto ao sentir uma boca grudar
em minhas costas e mãos pernas serpentearem ao redor de minha cintura. Sorrio ao ver que é
Allyson.
— Quer mais alguma coisa? — pergunto, sentindo seus lábios no centro de minhas costas.
— Não me canso de vê-lo cozinhar para mim — ela sussurra contra a minha pele. — É tão
sexy, eu já disse isso?
Sorrio.
— Você diz há mais de oito anos.
Ela ri.
— Temos que ser mais discretos, as crianças ouviram a gente — diz, deslizando o nariz por
minhas costas e as unhas por minha barriga.
Eu a contraio.
— “Temos” é muita gente — digo. — Você que é escandalosa.
— Como ser discreta quando você está dentro de mim? — Ouço-a perguntar, sua mão
direita descendo perigosamente para baixo.
— Ally… — tento avisá-la.
— Estou com fome… — ela diz com a voz sensual.
— Já estou terminando.
— Não, Chase… — Ela nega. — Eu estou com fome disso… — Deslizando a mão para
dentro da minha calça moletom, Allyson agarra o meu pau.
Tomo um susto pela ação repentina, mas acabo por soltar um grunhido e ranger os dentes,
apertando os dedos ao redor da espátula.
Porra.
— Ally, nós fizemos isso ontem — eu digo, tentando manter o foco no bacon que já está
quase pronto.
Mas como fazer isso quando a palma quente de Allyson está me massageando de baixo para
cima de maneira tão lenta e gostosa.
— Ally… — Puxo a respiração.
— Antes você aguentava a qualquer hora — ela diz, mordiscando minhas costas. — O que
foi, amor, você está ficando velho?
Arqueio a sobrancelha com seu atrevimento e jogo a espátula na frigideira, desligando o
fogo para que o bacon não queime. Eu viro de frente para a Allyson e tiro sua mão do meu pau,
agarrando-a pela cintura. Pela força, seus seios são esmagados contra meu peito e ela arfa.
— Mesmo depois desse tempo todo, você ainda ama me provocar, não é? — pergunto,
agarrando a nuca dela com minha mão direita.
Allyson sorri com o lábio inferir entre os dentes.
— Ah, amor — ela diz, ficando na ponta dos pés. — Sempre vai ser meu passatempo
preferido. — Passa os braços por meu pescoço.
Sem conseguir me conter, avanço em sua direção e tomo seus lábios em um beijo, ouvindo-a
suspirar em surpresa. Suas mãos vão para meu cabelo e as minhas descem para sua bunda,
puxando-a para mim. Allyson puxa meus fios e geme em minha boca de forma manhosa.
Empurro meu pau em sua barriga, sentindo-o ficar duro apenas com esse beijo. Não. Estou
duro porque Allyson é Allyson.
Ela chupa minha língua e agarro sua calcinha, sentindo o tecido de renda. Enrolo em meus
dedos e em seguida o puxo para cima, enfiando-o entre suas nádegas. Allyson geme, encerrando
o beijo.
— Chase, eu quero você… — ela diz, rente aos meus lábios.
Cazzo.
Eu ando com Ally até a mesa e mesmo sabendo que depois que o tesão passar ela vai
arrancar meu fígado pelo que vou fazer agora.
Derrubo os pratos e copos que estavam em cima da mesa junto com a toalha e a coloco
sentada bem na ponta, me metendo entre suas pernas. Deslizo minhas mãos por suas coxas e
meus lábios por seu pescoço cheiroso, vendo-a pender a cabeça para a esquerda afim de me dar
mais acesso.
— Você sempre quer mais, não é, Ally? — Mordo a curva de seu ombro e sinto-a apertar as
pernas a redor da minha cintura. — Aposto que esperou as crianças saírem só para vir se esfregar
em mim.
Ally choraminga e a vejo empurrar a boceta contra meu pau.
— Sem muita conversa, ok? — Ela morde o lábio inferior. — Apenas me come.
Eu sorrio, descendo as alças de sua camisola.
— Mandona — eu digo antes de me curvar e tomar um mamilo em minha boca.
Ela geme alto e agarro seu outro seio em minha mão, saboreando a sensação. Desde que
Allyson teve nossos filhos, seus seios aumentaram de tamanho, e mesmo que eu gostasse deles
antes, agora eu os amo ainda mais.
— Você sabe que tenho seios sensíveis… — Allyson agarra meus ombros, deixando sua
cabeça cair para trás.
Eu mordo o bico com força e em seguida o esfrego com minha língua, agora trocando de
mamilo.
— Se eu enfiar minha mão em sua calcinha vou encontrá-la molhada? — pergunto,
fechando meus lábios ao redor do biquinho duro.
Com as pernas, Ally me puxa para mais perto de seu quadril, parecendo pedir mais contato.
— Por que não põe a mão aqui dentro e descobre? — ela pergunta, gemendo quando
empurro meu pau nela.
Fazendo o que ela sugere, adentro sua calcinha e deslizo meus dedos em suas dobras,
sentindo como sua boceta está encharcada.
— Ah, porra, Allyson. — Solto um gemido, deslizando meus dedos molhados por seu
clitóris.
Ela sorri de maneira safada e essa foi a deixa para que eu a tirasse de cima da mesa e a
firmasse no chão.
— Chase, o que você vai fa…
Ally mesmo se interrompe quando a viro de costas para mim e empurro seu tronco na mesa,
colocando-o nela e deixando sua bunda empinada. Minha esposa geme quando acaricio sua
bunda, demorando um pouco mais nas estrias que vão até a lateral direita de seu quadril.
Ergo sua camisola e visualizo sua bunda coberta com uma calcinha de renda rosa bebê. Eu
amo as porras dessas calcinhas.
— Afasta as pernas.
Allyson faz o que digo e me olha por cima do ombro, sorrindo.
— Chase, vamos brincar depois, ok?
Eu sorrio e agarro as laterais de sua calcinha, deslizando-a por suas pernas definidas. Em
seguida, pego suas mãos e com a minha esquerda, as cruzo atrás de suas costas, deixando-a
imóvel. Esfrego meu pau coberto em suas dobras e ela geme como uma gata no cio, rebolando.
Sorrio, tirando meu pau para fora.
Circulo a cabeça dele na entrada encharcada de Allyson, pincelando-a lentamente.
— Chase, eu disse para brincar depois. — Allyson solta um grunhido.
Eu sorrio enquanto a penetro apenas até a cabeça e em seguida me retiro.
— Eu posso brincar com o que é meu a hora que eu quiser, Allyson — digo com a voz
rouca, penetrando-a mais uma vez apenas com a cabecinha.
Allyson choraminga e em seguida é a minha vez de gemer quando ela contrai a boceta, me
apertando e sugando para dentro.
— Chase…
Eu reforço meu aperto em seus pulsos.
— Shh… Quietinha. — Eu mando, pegando meu pau pela base. Eu gemo quando penetro
Allyson até o fim, me enfiando completamente nela. — Ah, porra, sim!
Allyson geme e pressiona a testa à mesa, suas paredes internas me apertando. Quente pra
caralho.
Saio de dentro dela e em seguida volto lentamente, me deliciando com a sensação de estar
em seu interior, me recebendo. Eu seguro em seu quadril com uma mão e o aperto, mordendo
meu lábio. Foda-se, pode passar mil anos, mas Allyson ainda vai ser o meu lugar preferido no
mundo todo.
— Sim, sim… — Ally choraminga. — Mais rápido e forte, Chase…
Eu sorrio, tentando me manter controlado. Tentado a meter outro filho nela.
— Me dê um bom motivo para fazer isso.
— Por que eu estou mandando? — ela pergunta com deboche.
— Resposta errada — eu digo, mantendo minhas estocadas lentas.
Allyson rebola no meu pau, me engolindo.
— Tá legal, tá legal! — Ela se desespera. — Eu sou sua, Chase. Me fode do jeito que só
você sabe…
Eu sorrio e me debruço sobre ela para beijar seu ombro nu.
— Aí estão seus modos — eu a provoco.
— Seu chihuahua italiano do caral… Chase! — Sua frase termina em um grito quando lhe
penetro com força.
Sem dar o tempo que ela precisa para processar tudo, eu a penetro mais uma vez, dessa vez
com ainda mais força e rapidez. Allyson geme alto e pressiona sua testa na mesa, seus gemidos
abafados e manhosos. Giro meus quadris, vendo-a arquear as costas enquanto busca mais contato
e rebola em meu pau.
Agarro seu cabelo com minha mão direita e aperto seus pulsos cruzados atrás de suas costas,
vendo-a totalmente rendida a mim. Ah, merda, a quem eu quero enganar. É Allyson que me tem
de joelhos.
Saio de dentro dela até que apenas a glande inchada fique dentro. Em seguida, volto com
tudo, fazendo seu corpo solavancar para a frente, os seios roçando a mesa.
Ela aperta meu pau quando contrai de maneira proposital e solto seu cabelo, lhe dando um
tapa forte na bunda.
— Melhor gozar logo, Allyson, não vou aguentar por mais tempo — eu digo entredentes,
girando o quadril dentro dela.
A resposta de Allyson é nada mais do que um choramingo e, soltando seus pulsos e
agarrando seu quadril com uma mão, deslizo minhas mãos por entre suas pernas para estimular
seu clitóris inchado, sentindo-o pulsar em meus dedos.
— Chase… — Ally suspira quando giro meus dedos.
— Você é minha, Ally — eu digo, beijando seu ombro.
Ally geme mais alto quando acelero meus dedos em seu clitóris dolorido.
— E você é meu… — ela diz com dificuldade, jogando a cabeça para trás.
Sinto meu pau inchar dentro dela e acelero as estocadas.
— Cazzo, só seu, gattina!
Allyson se ergue até que suas costas pressionem meu peito nu e ela leva a mão direita para
trás, agarrando a minha nuca. Ela me beija e mergulha a língua na minha boca, explorando-a
mesmo que já a conheça tão bem. Sinto seu aperto em meu pau se tornar insuportável e espasmos
passarem por seu corpo, Allyson tremendo.
Ela morde o meu lábio com força e isso é a confirmação que eu preciso para saber que ela
está gozando, seu corpo tremendo contra o meu. Ela interrompe o beijo para choramingar
enquanto eu continuo a penetrá-la em busca do meu próprio prazer, pouco me importando se ela
está sensível.
Mais algumas estocadas, mordo o ombro nu de Allyson e gozo dentro dela, minha
respiração acelerada. Descanso minha testa em suas costas, meus braços firmes ao redor de sua
cintura. Saio de dentro dela, pondo meu pau para dentro e a viro para mim, vendo-a com os olhos
fechados.
— Você acabou de acordar e já está com sono? — Sorrio, lhe dando um selinho demorado.
— Humm… — ela murmura, agarrando minha cintura e enfiando o rosto no meu peito.
Eu rio e beijo o topo de sua cabeça, fazendo um carinho em seu cabelo. Ally beija meu peito
bem onde fica meu coração e ergue rosto para mim, me dando um vislumbre dos olhos cor de
avelã mais lindos que eu já vi. Seguro seu rosto em minhas mãos e me inclino em sua direção.
— Eu te amo, gattina — sussurro contra seus lábios.
Ela sorri e me dá um selinho.
— Eu também te amo — diz, esfregando nossos narizes.
Sorrio e acaricio as maçãs de seu rosto, me sentindo totalmente completo como nunca me
senti em toda a minha vida. Tenho a mulher mais incrível do mundo e os filhos mais lindos,
tenho uma vida boa e amigos e familiares incríveis. Não posso querer nada mais, é um ciclo da
minha vida que não quero que chegue ao fim.
Quem diria que uma relação que não poderia incluir sentimentos se tornaria em um furacão
que nunca poderia controlar? E em nenhum momento eu quis fazer isso.
Minha vontade é de agradecer a todo mundo que me ajudou com uma página cada, mas não
caberia em um simples texto.
Então vamos começar agradecendo a Deus por ter me mostrado que tudo acontece no tempo
certo e que eu só preciso confiar nele. Quero agradecer à minha família por ser minha apoiadora
número um e acreditar tanto em mim, em específico minha mãe, Jaqueline, meu tio, Jailson e
minha tia, Jailma. Vocês são os melhores!
Quero agradecer aos meus amigos Jessica Targino, Vinicius Marques, Lavinia Santana e
Kaylane Lima, por não terem me deixado desistir e por sempre estarem na linha de frente
comigo.
Obrigada aos meus leitores por fazerem isso ser possível e por darem uma chance ao que
trago ao mundo.
E, por fim, obrigada a mim mesma por não desistir e continuar firme, mesmo querendo
sumir. Apenas… OBRIGADA, OBRIGADA, OBRIGADA!

[ba1]?

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