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Copyright © 2023 Scarllet J F

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Proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou
eletrônico, incluindo fotocópia e gravação, sem a expressa autorização da autora. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Art. 184 do Código Penal.
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos descritos são produtos da
imaginação do autor, qualquer similaridade com pessoas e fatos reais é mera coincidência.
Texto em conformidade com o segundo acordo ortográfico da Língua Portuguesa.

Revisão:
Daniela Brasil (@leiturasdedanny)
Leitura Crítica:
Camila Rodrigues (@primaveraliteraria)
Capa e Diagramação:
Nathalia Souza Guedelha (@nathcriadesign)

SIX: CUIDADO COM O QUE DESEJA [recurso digital] / Scarllet J F — 1ª Ed. 2023 — Brasil.
Aviso de Gatilhos
Playlist
Epígrafe
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Epílogo
Agradecimentos
Atenção!
Esta obra é um dark romance, nele você encontrará cenas que podem causar gatilhos, se
você se sentir desconfortável com os tópicos a seguir, não prossiga com a leitura:
Assassinato
Tortura
Violência gráfica
Abuso sexual e psicológico
Estupro
Violência doméstica
Sequestro
Crise de pânico
Abandono
Aborto
Leia o QR code acima com a câmera do celular ou clique aqui
“Aquele que faz de si próprio uma besta se livra da dor de ser um homem”
Samuel Johnson
“A todas as mulheres que de dia sonham com o príncipe encantado,
mas à noite, antes de dormir, fantasiam com o lobo mau.”
“Nunca nos libertaremos
Cordeiro para o abate
O que você vai fazer
Quando houver sangue na água.”
Blood // Water - Grandson

Vinte e dois anos atrás


Meu corpo se arrepia e eu tremo quando sinto a água gelada do chão inundando meus pés
conforme caminho. O cheiro de podre misturado com mofo, junto às portas escuras com apenas
uma pequena abertura na parte de cima, me dão calafrios. Por fora, o enorme prédio cinza
manchado pela sujeira parecia muito com uma prisão, sei disso porque fui visitar meu tio em
uma quando ele foi preso há alguns meses. Ele diz que é inocente, e eu acredito nele, é uma pena
que o policial que o levou não pense dessa forma.
Há um homem ao meu lado que fede tanto quanto este lugar. Sua mão está fechada ao
redor do meu braço, segurando-o com força enquanto me arrasta pelo corredor. Não sei o motivo
pelo qual está fazendo isso. Estou caminhando na mesma velocidade que ele e não tentei fugir,
por enquanto.
Mamãe falou que eu deveria me comportar e ficar quieto, eu disse que queria ir embora,
que não queria ficar aqui, até pedi desculpas por quebrar o copo enquanto lavava a louça hoje
mais cedo, expliquei que estava escorregadio e que foi sem querer… mas ela nunca acredita.
Alguns gritos ao meu lado chamam minha atenção, eu espio com o canto dos olhos e vejo
uma porta balançando acompanhada de sons de batidas no metal, me encolho passando os braços
ao redor do meu corpo imaginando o que está acontecendo ali dentro.
Estou com medo, não queria estar, isso é coisa de garotas e eu sou um homem já, é o que
meu tio diz.
Paramos no final do corredor em frente a uma porta igual às demais. O homem ao meu
lado tira uma chave do bolo que ele tem pendurado em seu cinto e abre as duas fechaduras.
— Entre — diz apontando em direção ao quarto escuro e frio.
Olho para ele e balanço a cabeça negando.
— Eu quero minha mãe — deixo escapar.
— Mas ela não te quer e por isso está aqui — fala aumentando o tom de voz parecendo se
divertir com sua fala. — Aquela vadia te vendeu por um punhado de drogas, seja um garoto
bonzinho — abre os lábios em um sorriso e meu estômago se contorce.
Ela não faria isso.
Ela já fez isso uma vez, mas meu tio me buscou logo em seguida.
Só que dessa vez meu tio está preso… e não pode me salvar.
Não consigo controlar o desespero que me atinge junto às lágrimas que enchem meus
olhos quando percebo que ninguém virá me buscar.
Eu estou me comportando, nunca mais fugi de casa ou chorei, não quebrei mais nada a não
ser pelo copo de hoje mais cedo, limpei a casa como ela pediu todos os dias, esfreguei o
banheiro, não reclamei de fome.
— Anda logo — declara me empurrando com um chute nas pernas e com a força do golpe
me desequilibro e caio de joelhos no chão, sentindo as pequenas pedras afundando em minha
pele, e antes que eu tenha chance de correr, a porta se fecha às minhas costas.
Ergo o rosto e meu queixo treme quando escuto o barulho das fechaduras me trancando.
— Quantos anos você tem? — alguém pergunta.
A voz é tão fria que faz com que meus joelhos fiquem fracos de medo, quase me
desequilibrando de novo.
Em um canto mais afastado e escuro, vejo alguém sentado em um beliche encostado na
parede com os cotovelos apoiados na perna e a cabeça baixa, instintivamente dou um passo para
trás me afastando.
— É surdo, caralho? — esbraveja irritado e o tom de voz me faz pular de susto.
— Cinco — respondo sentindo meus olhos encherem de lágrimas, e dessa vez não consigo
controlar quando a primeira escorre pela minha bochecha.
O garoto levanta do beliche e me encara com a testa franzida, parecendo irritado com a
minha chegada. Ele é mais velho do que eu, parece com meu primo de quinze anos na altura,
mas seu corpo é mais forte, muito mais forte.
No seu peito, tem duas letras desenhadas: VI.
Sempre fui um garoto curioso, e por mais que eu esteja com medo, e não queira irritá-lo,
não consigo controlar…
— O que é isso? — pergunto apontando para o seu peito.
Ele abaixa a cabeça olhando o mesmo lugar que apontei e observa por um tempo, depois
ergue o rosto suspirando.
— Six… eu sou o número seis… você vai ganhar uma também…
— Mas eu não quero — balanço a cabeça de um lado para o outro, negando. — Isso dói,
não dói? — indago, ainda me sentindo curioso.
Ele abre um sorriso, um sorriso que me assusta e não consigo controlar a vontade que
surge de me afastar, quero sair correndo, quero voltar para a minha casa.
— Tem coisas que machucam mais — ele pende a cabeça para um lado, me observando.
— Aqui você não tem escolha de nada… — completa enquanto continua me analisando.
— Quando posso ir embora? — finalmente pergunto.
Talvez minha mãe tenha me trazido como punição para alguma coisa, ela disse que se eu
não me comportasse ia me colocar de castigo, queria dizer que entendi, vou ficar quietinho.
— Quem te trouxe? — questiona.
— Minha mãe…
— Que mãe de merda… — ele resmunga soltando uma risada debochada — Como é seu
nome?
— Eliot — sussurro.
— Não gostei, escolha outro — argumenta cruzando os braços no peito.
— Por quê?
— Porque sim, porque mandei, escolha outro.
— Não sei… — gosto do meu nome, o que tem de errado com ele? Mas não quero chateá-
lo.
— Do que você gosta? — questiona, parecendo perder a paciência.
— Gosto das nuvens — admito lembrando-me de quando meu pai me levava ao parque
quando ainda era vivo.
— Cloud — ele murmura parecendo testar a pronúncia do meu nome.
— Cloud — o imito, e até que gosto. — E o seu?
— Rhett — responde.
— Quantos anos você tem Rhett? — crio coragem para perguntar.
— Treze.
Seus cabelos são escuros como o céu a noite, seus olhos são frios e verdes, evito encará-lo
por muito tempo, apesar de ele não ter feito nada, sinto calafrios cada vez que sua voz preenche o
cômodo.
Então muitos gritos ecoam ao nosso redor, eu olho assustado para a porta me afastando.
— O que é isso?
Ele xinga alguns palavrões baixinhos jogando os braços acima da cabeça parecendo se
alongar.
— Cloud — ele diz e eu o olho.
Antes que ele termine de dizer algo, a porta se abre.
— Não saia de perto de mim, entendeu? Se sair, você morre, eu não estou brincando.
Balanço a cabeça concordando.
— Hora do show — fala passando por mim, tomando a minha frente.
Eu não sabia o que aquilo significava, pelo menos não até o mesmo moço que me trouxe
até aqui voltar e nos levar até um pátio coberto por uma cerca do chão até o teto, por todos os
lados.
O cheiro de podre consegue ser ainda mais forte aqui, fazendo com que os meus olhos e o
meu nariz ardam.
Entramos em um corredor escuro e caminhamos juntos até que Rhett para em minha frente
e eu escuto o barulho do trinco sendo passado na porta, me viro e encontro a porta fechada.
Estamos trancados, de novo.
Com medo, eu seguro na mão do garoto que está a minha frente, ele olha por cima do
ombro confuso.
— Não chora, eles gostam.
— Eles quem? — pergunto limpando os olhos.
E antes que ele tenha chance de responder, a cancela que estava abaixada em sua frente se
ergue, seus passos são imponentes, não demonstrando ter medo algum, eu apenas o sigo, como
ele mandou.
— Eles… — Rhett ergue a cabeça olhando para cima, ao redor, homens com roupas
chiques rindo e apontando para as cancelas, que vão se abrindo, uma por uma, de onde muitas
crianças vão saindo, algumas como eu, outras são muito maiores — Querem que briguemos até a
morte. Não me atrapalhe e fique onde eu possa te ver. Se alguém vier para cima de você, lute,
bata, morda, faça qualquer coisa, se mantenha vivo até eu chegar a você.
Uma sirene toca e vejo o garoto tirar um objeto pontiagudo da calça e antes que eu consiga
dizer qualquer coisa, sinto uma dor tão forte no lado esquerdo em meu rosto que tudo fica preto
ao redor, o gosto do sangue enche minha boca, em seguida o ar é sugado dos meus pulmões
quando uma pancada é desferida em meu estômago, levo as duas mãos ao redor da minha barriga
caindo de joelhos no chão, ergo o rosto tentando abrir os olhos, e quando consigo focar vejo um
garoto maior que o Rhett parado em minha frente.
Em seu peito também há uma tatuagem, mas, uma letra diferente, ao contrário do VI do
Rhett, essa é apenas a letra I.
É o número que ele carrega no peito.
Eu me afasto, rastejando pelo chão, olho ao redor, mas não encontro Rhett, considero
gritar, mas duvido que ele conseguiria me escutar com todo o barulho ao redor, o garoto se
aproxima me observando.
Até que eu vejo.
Aquele mesmo objeto que estava nas mãos do Rhett enterrado em seu pescoço.
Arregalo os olhos com a imagem que tenho certeza de que nunca vou esquecer.
Vermelho.
Quente.
Sinto respingar em meu rosto.
Sangue escorre pelo seu pescoço e peito manchando a sua tatuagem, ele entreabre os olhos
levando a mão onde foi atingido parecendo confuso.
Rhett puxa o objeto e depois o empurra para o lado como se ele não pesasse nada.
Ele me olha sorrindo, um sorriso largo, ele gostou daquilo.
Então ele assobia alto e depois grita, parecendo um rugido e todos aplaudem.
Entendi porque ele mandou que eu ficasse ao seu lado, ninguém chegava perto dele, era
ele quem ia atrás.
O que quer que acontecesse aqui, Rhett gostava.
“Dê um passo à frente, veja o demônio em mim.”
The Devil In I - Slipknot

Cada um está em sua devida posição exatamente como treinamos e repassamos o plano
por semanas. Não permito erros, principalmente porque em nossa posição um erro, por mais
insignificante que seja, pode colocar tudo a perder e isso é inadmissível, somos os melhores.
Entrar.
Matar.
Sair.
Falando desse jeito parece ser simples e no início era, mas, com o tempo fomos ficando
cada vez mais conhecidos, os serviços foram aumentando assim como a influência dos alvos
também. Mais segurança… mais dinheiro… uma coisa leva a outra.
Spencer está a 3km de distância nos dando cobertura, posicionado em uma montanha
próxima à casa do traficante de armas - Soarez -, acompanhado do seu fuzil de precisão. E
mesmo que eu não goste de admitir, o cara é o melhor quando se trata de tiro a longa distância.
Sua mira é impecável e limpa. Ex-fuzileiro e atirador de elite, o cara nunca erra um alvo. Se
juntou a nós há alguns anos após perder sua equipe completa em uma missão por falta de apoio
do seu superior. Desde então passa o seu tempo livre matando pessoas por dinheiro. Se parar
para analisar não mudou muita coisa, antes ele matava pessoas ruins e agora continua matando,
só que ganhando mais.
Alec fica de prontidão do lado de fora em um carro parado a algumas quadras, ele é nosso
especialista em armas e qualquer coisa que seja letal a qualquer ser humano. Se precisa de
bombas, armas de última geração, facas, qualquer dispositivo que cause algum dano grande, ele é
o cara.
Em meu campo de visão um pouco mais a frente, eu vejo Wolf. Vestido com seu traje
preto, com duas automáticas no coldre e mais uma semi-automática na mão equipada com
silenciador no cano. Não queremos chamar atenção de ninguém ainda, pelo menos até chegar ao
alvo, precisamos ser discretos. Wolf é um dos poucos caras que confio para entrar junto em uma
missão, nunca acreditei na quantidade, mas sim na qualidade, o cara vale por 15 bons homens.
Ele ergue três dedos indicando a presença de três seguranças no corredor.
Faço sinal de positivo, e rapidamente ele se move atirando no primeiro, me dando
cobertura para passar e acertar o segundo, seguido pelo terceiro. Continuo o caminho pelo
corredor escuro e estranhamente silencioso, observando tudo ao redor até que vejo alguns
corpos pelo chão demonstrando que Spencer já estava se divertindo da sua montanha.
Um segurança sai de trás de uma estátua correndo para cima de mim, e antes que eu o
acerte ele cai morto no chão, só vejo o brilho do laser vermelho.
— O filho da puta fez a limpa… — falo olhando as janelas todas quebradas, Wolf
concorda.
Depois a luz vermelha cai sob meu peito, levanto a mão mostrando o dedo do meio
sabendo que ele está nos observando pela luneta da arma.
— Encontrei o quarto — aviso ao Cloud pela escuta presa no meu colete.
— Nove minutos, Six — Cloud murmura.
O que Cloud não tem de habilidades em campo, ele compensa com sistemas, em suas
mãos um notebook com uma internet rápida é mais letal que uma metralhadora automática. Ele
sempre fica na sede nos dando cobertura.
— Entendido — respondo.
Caminho até a porta, Wolf ergue a mão indicando a contagem.
Eu me abaixo.
Três…
Respiro fundo.
Dois…
Deixo o indicador por cima do gatilho.
Um…
Ele chuta a porta, quebrando a fechadura e se afasta. As luzes estão acesas, a música
tocando no último volume enquanto o alvo está na cama com duas prostitutas com idade para
serem suas filhas.
— Saiam — ordeno e as duas obedecem tropeçando algumas vezes pelo caminho.
O homem me encara com os olhos esbugalhados, suando como um porco, apavorado, e
então vejo o lençol que está cobrindo sua cintura ficar molhado, o filho da puta se mijou. Que
nojo.
Gosto de matar, gosto de ver a vida se esvaindo dos olhos, da sensação do poder que isso
traz, de escolher quem vive e quem morre, de estar no controle. Mas não curto muito a parte da
tortura, me irrita profundamente quando eles imploram, ou quando vomitam e mijam,
principalmente quando respinga em mim.
Isso é mais a área do Wolf, ele adora tudo isso. O cara é meio depravado - não que eu não
seja - mas ele tem um certo fascínio em passar horas e horas no nosso porão escutando gritos
desesperados pela vida, ele tem um arsenal de instrumentos para tortura, inclusive três porcos pra
quem joga o corpo depois que finaliza a brincadeira. Normalmente, quando o serviço exige
alguma informação do alvo, quem fica com a responsabilidade de extrair é ele.
— Por favor, eu pago mais — ele diz implorando.
Sorrio.
Eles sempre dizem isso, e acredito realmente que ele pagaria mais, entretanto…
— Não é pelo dinheiro, — aponto a arma em sua cabeça encostando o cano do silenciador
em sua testa, espero alguns segundos, eu adoro ver o terror nos olhos quando eles sabem que vão
morrer — é pela diversão — admito e disparo.
O furo na testa é pequeno e redondo por onde a bala entra, mas o estrago que faz atrás
quando sai é fascinante! Espalhando miolos pela cabeceira da cama que antes era branca.
Confesso que ficou muito mais atrativa agora nesse tom de vermelho.
— Six, temos companhia — Wolf me chama da porta e antes que eu chegue, escuto
disparos vindo de sua direção.
— Cloud — murmuro.
— Já sei — responde e em seguida The Devil in I estoura em meu fone de ouvido.
Agora sim.
Jogo minha pistola no chão e puxo as duas automáticas da minha perna sem me preocupar
com o silenciador já que o serviço está feito. Finalmente podemos nos divertir. Saio do quarto
disparando para todos os lados.
Vidros quebrados, lascas de madeira voando, quadros rasgados…
Adoro esse caos.
A adrenalina, a sensação de estar vivo, do sangue correndo pelas veias…
Adoro essa parte da música também.
Assobio passando por cima de um corpo caído no chão pisando em sua cabeça.
— Step inside, see the devil in I…[1] — cantarolo balançando a cabeça no ritmo da
música.
Jogo as duas armas no chão e pego minha faca que estava presa em meu coldre na cintura.
Empurro no pescoço de um segurança jogando-o no chão.
— Merda — Wolf resmunga colocando a mão no braço onde um tiro passou de raspão.
— Tá ficando velho — zombo caminhando para a saída e antes que eu chegue até o portão
sinto a navalha raspar pelo meu braço rasgando a minha pele.
Mas que filho da puta.
— Quem é o velho agora? — debocha com a faca no ar pingando sangue.
— Um minuto — Cloud alerta sobre a chegada da polícia no local.
Na volta até o carro não encontramos ninguém, pelo menos não vivo.
— Adoro essa parte — digo levantando as mãos no ar acompanhando a música.
Wolf não diz nada, já está acostumado, afinal são mais de quinze anos trabalhando juntos,
fora os anos que passamos juntos no Fosso.
— Cloud, está concluído — aviso.
Um carro para na frente da casa, Alec abre a porta e nós entramos, me jogo no banco de
trás tirando a touca preta que deixa apenas os meus olhos visíveis, sentindo meu cabelo úmido
de suor passo a mão espalhando os fios.
— Alguém fez a contagem? — Alec pergunta sorrindo de lado enquanto dirige, Spencer
murmura algo pelo radiocomunicador, mas prefiro ignorar os dois. Há uma semana na mesa do
jantar surgiu o assunto de quem é o melhor da equipe, desde então Alec criou um placar com
pontuação para cada homem morto, ele só não compreende que fica meio complicado
contabilizar quando você está usando metralhadoras automáticas.
Ele para por alguns segundos o suficiente apenas para que Spencer entre acompanhado de
sua mochila e sua arma pendurada no ombro.
O carro vira em uma rua e minutos depois estaciona no local de partida onde o jatinho
aguarda, como sempre me sento na última poltrona, pego meu notebook de dentro da minha
mochila e abro, apoiando em cima das minhas pernas.
— Olá, Heart — murmuro ao ver Annelise Parker desfilando pelo quarto de sua residência
em Nova Jersey, completamente despreocupada.
Eu a observo por horas.
Gosto de me sentar na sala de controles e analisar cada movimento seu, cada maldito
passo que ela dá. Fiquei tão obcecado que pedi ao Cloud para instalar o programa em meu
notebook para que eu pudesse ter acesso livre a ela, como agora.
Essa não é minha função, longe disso, minha função é receber as propostas, analisar e
escolher o que é mais rentável, depois, elaborar o plano, fazer uma reunião com o restante da
equipe e colocar o serviço em prática.
Há um mês recebi uma proposta, não era um valor alto nem muito atrativo, confesso que
recebo outras muito melhores. No entanto, quando abri o arquivo e a foto dela escorregou de
dentro da pasta caindo por cima dos meus pés… Ela estava num evento beneficente usando um
vestido longo preto aberto nas costas, o cabelo preso no alto da cabeça me dando uma visão
completa dos ombros, pescoço e lombar. Só em lembrar da visão sinto o meu pau endurecer.
Ela estava ao lado do marido, mas não havia brilho algum em seus olhos.
Retiro a pasta com todas as informações que Cloud encontrou, até as mais escondidas da
minha mochila.
Annelise Parker.
Vinte e nove anos, não se formou em nenhuma faculdade, casou-se aos vinte, mas
conheceu o seu marido - James - quanto tinha dezessete, quando ainda estava cursando o ensino
médio.
Sem filhos.
Sem animais de estimação.
Sem pais… sem parentes… uma legítima dona de casa órfã, a presa perfeita.
A não ser pelo vício em remédios e bebidas alcoólicas.
Obviamente isso não está no relatório, isso venho reparando nas últimas semanas que a
tenho observado.
Nada de interessante, uma vida bem medíocre, eu diria… por outro lado, o imbecil do seu
marido… investigador renomado, trinta e cinco anos, se formou com honras na academia de
polícia.
Acabo soltando uma gargalhada com o que eu me deparo no arquivo, quem vê de fora até
acredita no homem de bem que ele aparenta ser.
Annelise e eu sabemos bem quem ele é, e honra é algo que James não conhece…
Cruzo os braços no peito e fico observando-a dentro da sua própria casa através das
câmeras que Wolf instalou quando eu decidi que aceitaria o serviço. Ninguém compreendeu
minha decisão, para ser sincero, eu também não entendi, sabia que não foi pelo dinheiro, foi por
ela.
São 22h30, ela entra em seu quarto, caminha até a mesa ao lado da sua cama onde ela
apoia uma taça de vinho vazia. Annelise segura as alças do vestido as empurrando para o lado,
eu aproximo a imagem um pouco mais observando a peça deslizar pelo corpo delicado até que
cai se espalhando pelo chão, fico hipnotizado, como se estivesse apreciando um show ao vivo.
Ela molha os lábios passando a língua pela boca carnuda e avermelhada, perdi as contas de
quantas vezes imaginei forçando meu pau até chegar em sua garganta…
Será que ela iria engasgar?
Será que teria lágrimas naqueles grandes olhos lindos enquanto eu me enterrava?
Suas mãos afundam em seus cabelos prendendo-os em um coque no topo da cabeça,
deixando alguns fios soltos pelo rosto.
Arrumo meu pau em uma posição mais confortável, sentindo-o latejar conforme ela
caminha para dentro do banheiro, dando-me uma visão sensacional da sua bunda, que ficaria
ainda mais incrível com a marca da minha mão estampada nela.
Quais sons ela faz quando geme?
— Vou pedir uma garota, quer também? — Spencer questiona se encostando na poltrona
da frente.
Sempre que saímos de um serviço ficamos tão acelerados que é como se tivéssemos
acabado de cheirar três carreiras de pó, dormir é impossível, por isso Spencer sempre se
encarrega de fazer o pedido.
— Sim — concordo sem tirar os olhos da tela.
Bater uma no banheiro não será o suficiente, nunca é.
Não sou um cara seletivo, tendo uma boceta e um rabo onde eu possa me enterrar, está
ótimo.
Não olho para o rosto delas mesmo, eu as coloco de quatro e fodo com força, e é isso.
Pouco me importa se elas sentem prazer ou não, afinal estou pagando, isso já deve ser o
suficiente para elas, não pago barato.
Mas, dessa vez tem algo diferente… penso por alguns segundos.
— Quero uma igual ela. — afirmo apontando em direção à foto jogada ao meu lado na
poltrona vazia onde a pasta com suas informações segue aberta.
Spencer não questiona o meu pedido, apenas concorda e sai mexendo no celular.
“Estou sozinha à meia noite
Tenho tentado com empenho não me meter em confusão, mas
Tenho uma guerra na minha cabeça.”
Ride - Lana Del Rey

Eu costumava gostar do verão, adorava assistir o nascer do sol nas praias, do cheiro
salgado do mar, a sensação de calor queimando na pele. Gostava até simplesmente não gostar
mais, até acordar um dia e decidir que o raio do sol entrando pela janela estava me incomodando
profundamente, me levantar e fechar as cortinas deixando o quarto em completa escuridão,
depois dormir.
Dormir o dia inteiro.
James não estava em casa naquele dia, não esteve no outro, como não está agora, e isso
deveria me incomodar, certo? Mas não incomoda. Não me incomoda quando ele chega em casa
tarde da noite e vai direto para o banheiro, provavelmente para limpar o cheiro das prostitutas
que ele diz não comer. Pelo contrário, eu prefiro estar sozinha.
Não vou mentir, na primeira vez em que descobri, doeu, doeu muito, eu havia acabado de
perder meu pai, minha única família ainda viva. Eu acreditava que tínhamos algo mágico, que
ainda seríamos uma família perfeita e feliz. Claro que ele pediu perdão, disse que estava em um
momento difícil no trabalho, que a corregedoria estava investigando-o injustamente e não queria
trazer mais problemas para dentro de casa. Entendi ele e o perdoei… Como eu não o perdoaria?
Ele me trouxe flores todos os dias, disse que me amava e que tudo ficaria bem, que havia sido
apenas uma vez em um momento de fraqueza, James até chorou pela primeira vez e como última
tentativa, ele deu a cartada final: nós poderíamos começar a tentar ter um bebê.
Finalmente, foi o que pensei.
Íamos começar do zero, esquecer tudo que passou e tudo seria diferente, eu havia errado,
ele também, mas aprendemos com os nossos erros, foi o que ele disse e eu acreditei.
Era isso, perdi meu pai, mas teria um filho, e seria a melhor mãe possível, era aquilo que
eu queria, era o meu sonho.
Vivi o meu sonho, por alguns meses eu o tive comigo, até ele me deixar também.
Por seis meses tive esperança, por seis meses acreditei que tudo finalmente estava se
encaixando, até eu acordar um dia, e não sentir ele se mexer, até eu enxergar tudo vermelho nos
lençóis brancos. Ele se foi, e levou o resto de mim junto.
Me tornei um fantasma de mim mesma, me olhava no espelho e não via ninguém, apenas
um reflexo vazio e triste, uma sombra do que um dia eu fui.
James voltou a me trair, se bem que, acho que ele nunca chegou a parar de verdade…
— Lise? — escuto James me chamar seguido pelo barulho da porta de entrada bater.
— Sim? — me sento na cama e logo ele entra no quarto acendendo a luz.
James nunca foi um cara lindo, ele era engraçado, me fazia rir sempre, eu gostava disso, e
para mim, era mais do que suficiente. Observando-o agora, parado na porta de camiseta social
preta com uma arma escondida na cintura e outra na perna por baixo da calça jeans, os olhos
castanhos, o cabelo louro escuro… não sobrou mais nada que eu goste nele.
— Temos um jantar beneficente hoje, por favor, — ele olha para cima exasperado — só,
se comporte — completa dando um sorriso amarelo.
— Claro — é o que eu respondo.
Levante.
Se arrume.
Sorria.
Acene.
Não beba muito.
Não beba pouco.
Não converse com nenhum homem.
E o principal: Não me envergonhe.
Essas são as palavras que ele irá repetir por toda a noite, e, mesmo que eu faça
absolutamente tudo da forma mais correta, - que ele julga ser correto - ele irá arrumar um
motivo. James sempre arruma um motivo.
Ele desaparece pelo corredor, eu entro no banho, fecho os olhos debaixo do chuveiro por
alguns segundos, e quando retorno ao quarto minha roupa já foi escolhida e está em cima da
cama, nada muito chamativo e nem muito ousado.
De relance, em cima da penteadeira, vejo seu distintivo, um aviso constante de que não há
nada que eu possa fazer, não há para onde fugir, na saúde e na doença… até que a morte nos
separe. Até que minha morte nos separe, essa é a frase correta. Essas foram as suas palavras
quando criei coragem e pedi o divórcio.
— Estou pronta — aviso chegando na sala, onde ele me espera bebendo whisky e um
arrepio sobe pela minha espinha. Eu o odeio, mais ainda quando está bêbado, espero que ele me
deixe em casa e vá atrás de uma das suas garotas.
Ele gira sob os calcanhares e caminha até chegar em minha frente, me olhando dos pés à
cabeça. Um sorriso de lado surge parecendo contente com o que vê.
— Acho que podemos nos divertir um pouco hoje quando chegarmos em casa… — fala
segurando meu queixo com mais força do que o normal.
Respiro fundo.
— Claro — minto forçando um sorriso ao mesmo tempo que um bolo se forma em meu
estômago apenas com a ideia de tê-lo me tocando.
Eu não me divirto, nunca, mas com o tempo aprendi a tornar as coisas mais suportáveis,
percebi que se eu fingir que estou gostando, ele termina mais rápido.
— Vamos — ele diz virando o restante do líquido que ainda tinha em seu copo, depois o
apoia em cima da mesa e me guia até a porta com uma mão possessiva em minha lombar, onde
um carro blindado nos espera parado em frente a nossa casa.
Entramos e eu encosto minha cabeça no vidro observando as ruas e as luzes passando
rapidamente, parecendo flashes.
No início, um pouco depois de nos casarmos, pensei que o carro blindado era necessário
devido a sua profissão, afinal, James era um investigador conhecido e muito renomado, muitas
pessoas podiam tentar contra a sua vida, eu até ficava preocupada.
Ficava.
Mas, com o passar dos anos, entendi que todo o cuidado não era por ser um investigador
bom e por ele colocar pessoas ruins na cadeia, era porque ele estava envolvido em tudo, com
todo tipo de pessoa, que ele era a pessoa ruim.
Era ele quem eu devia temer.
Não saberia dizer em que momento James mudou, ou se ele sempre foi assim e eu estava
deslumbrada demais por um príncipe encantado e não vi.
Quando o conheci através do meu pai, ele era novo na academia de polícia, cheio de vida e
sonhos, James era extremamente ambicioso e se destacava em tudo que fazia, e por algum
motivo meu pai se afeiçoou a ele, assim como eu. Com o tempo, a presença dele em minha casa
se tornou constante, surgiram os olhares, os toques, quando vimos estávamos em um
relacionamento, na minha visão de menina apaixonada, James era o homem perfeito, o herói da
cidade, herói do meu pai, o meu herói… Deus, que grande piada.
O carro estaciona em frente a um prédio antigo extremamente luxuoso assim como em
todos os eventos beneficentes, me pergunto se não seria mais fácil doar todo o dinheiro que será
gasto nessas festas a uma instituição que realmente precise.
James abre a porta e se põe na frente estendendo a mão em minha direção, ajudando-me a
sair do carro, tudo o que acontece a seguir é no automático. Eu sorrio, cumprimento, aceno, rio
das piadas sem graça, até que finalmente, como manda o roteiro, James me leva até nossa mesa,
eu me sento e ele se afasta indo atrás dos abutres para puxar o saco ou sei lá o que ele faz.
Um garçom se aproxima segurando uma bandeja com taças de champagne.
— Não, obrigada — informo notando o seu movimento para me deixar uma bebida, mas,
ignorando completamente o que eu disse, o jovem empurra uma taça em minha direção,
deslizando sob a mesa e quando ele me dá as costas sem dizer uma palavra sequer, percebo o
pequeno bilhete preso debaixo do vidro da taça.
“Eu vejo você.”
Solto o papel instantaneamente como se aquilo fosse me queimar. Confusa, olho ao redor
tentando procurar pelo garçom, mas é tarde demais e ele desapareceu pela multidão.
Olho o bilhete novamente e um arrepio sobe pelo meu corpo, surge na lombar, depois sobe
pela minha espinha até chegar em meu pescoço, e por mais que eu tente e me esforce muito, não
consigo afastar a sensação de estar sendo observada.
Mas…
Talvez o bilhete tenha sido entregue por engano…
Talvez seja para outra pessoa…
E algo acontece, dou risada, simplesmente gargalho da situação.
Aí Annelise, realmente acha que alguém se interessaria por você?
Balanço a cabeça e volto minha atenção ao salão onde as pessoas dançam sob os lustres
luxuosos.
Não que eu tenha problemas com autoestima, mas é só olhar ao redor, centenas de
mulheres lindas e deslumbrantes em seus vestidos de gala, dançando e sorrindo graciosamente,
como se fossem feitas para estar exatamente aqui, sabendo se portar e conversar sobre os mais
variados assuntos. Em contrapartida, tem eu sentada em uma mesa no canto, sozinha e quieta.
Não que eu esteja reclamando, gosto de estar aqui, mesmo assim, se um homem tivesse uma
escolha, certamente não seria eu.
Bebo um gole do champanhe e observo a letra no pequeno bilhete, é um rabisco
interessante… foi escrito a mão com uma caneta preta…
Lembro-me então do meu pai, certa vez ele comentou que os agentes da sua unidade
utilizavam a caligrafia para reconhecer a personalidade dos suspeitos, achei interessante na
época, e até fiquei obcecada pelo assunto por um tempo.
As letras no bilhete são pequenas e não há inclinação para o lado esquerdo nem para o
direito, senão me engano, o tamanho pequeno indica que as pessoas tendem a ser mais
introvertidas. A falta de inclinação aponta uma pessoa que prefere viver à base de lógica em vez
de emoções.
Interessante…
Temos aqui um homem frio e calculista.
Dou risada com a minha descoberta, mas, uma sensação de calor cresce em meu estômago
com essa constatação, por alguma razão criei uma certa expectativa de saber se o dono deste
bilhete realmente é assim…
Balanço a cabeça afastando esses pensamentos.
Estou há tanto tempo afastada de pessoas que acabei de me divertir com um simples
pedaço de papel.
Levo a taça aos lábios novamente esvaziando-a, então solto um suspiro.
Meus olhos percorrem o ambiente enquanto batuco com os dedos na mesa no ritmo da
música, até que vejo alguém.
Sentado no bar casualmente, vestido de terno preto e camisa social da mesma cor, os
primeiros botões estão abertos dando uma visão da sua pele bronzeada.
Ok.
Ele é muito bonito.
Realmente, muito bonito mesmo. Dou ênfase porque, é aquele homem que por onde passa
desperta interesse em qualquer mulher.
Ele está olhando para o copo em sua mão, preso entre seus dedos.
O seu cabelo tem um corte mais baixo, castanho escuro… o seu maxilar é definido e
mesmo de longe consigo ver uma camada fina de barba do mesmo tom do seu cabelo…
Por um instante imagino qual é a cor dos seus olhos, se eles são expressivos…
Seus lábios se curvam em um sorriso, um sorriso debochado, e me pergunto qual a graça,
já que não há ninguém ao seu lado.
Então ele ergue o rosto e seus olhos se prendem nos meus por segundos, segundos esses
que se tornam uma eternidade inteira para mim.
Tudo ao redor desaparece.
O estranho sorri de novo, o mesmo sorriso de antes, mas agora, para mim.
Tento desviar, mas não consigo, é como se algo me deixasse presa nele, ele estreita os
olhos parecendo compreender minha luta interna, como se soubesse…
Balanço a cabeça recuperando a minha sanidade.
Deus, onde eu estava com a cabeça?
Com o canto do olho o vejo levantar, ele arruma as lapelas do terno e caminha decidido
em minha direção.
— Puta que pariu — murmuro.
Me levanto bruscamente retirando-me da mesa, caminhando a passos rápidos e longos
tentando me misturar entre as pessoas. Olho para trás algumas vezes e quando não o vejo mais,
consigo finalmente soltar a respiração me sentindo aliviada.
Então me recordo de uma varanda que costumo usar quando preciso de um tempo, e penso
que é o lugar perfeito para me esconder por enquanto, até que ele encontre outra mulher disposta
na festa e esqueça do meu rosto.
James costuma ser territorialista e extremamente agressivo quando se trata de ciúmes, só
de imaginar em como seria sua reação, estremeço.
Passo pela entrada da varanda sendo recebida por um vento gelado, caminho até o lugar
mais afastado e escuro no canto esquerdo.
Me apoio no parapeito observando os carros que passam pela rua.
O vento bate em meus cabelos, e fecho os olhos inspirando o ar, até que aquela sensação
retorna, de estar sendo observada…
Meu corpo fica tenso e as minhas pernas enfraquecem com a presença de alguém vindo
por trás.
Não é James, sei disso.
E mesmo assim, contra todos os alertas piscando na minha cabeça, não tenho medo.
O desconhecido para atrás do meu corpo, mas não me toca. Ele passa os braços ao meu
redor apoiando as mãos uma de cada lado no parapeito, deixando-me encurralada, como um
bicho.
Meu peito sobe e desce em um ritmo acelerado.
— Olá Heart — diz com a voz rouca muito próximo ao meu ouvido, tão próximo que sinto
o calor do seu hálito em meu pescoço, e mesmo que eu tente, não consigo controlar o arrepio que
sinto.
— Você deve ter me confundido com outra pessoa, — engulo em seco — eu não me
chamo Heart — completo.
Ele ri, uma risada gostosa e me repreendo por ter esse tipo de pensamento.
— Como eu poderia me enganar, — ele afasta uma mão do parapeito e aproxima tocando
o meu braço com a ponta dos dedos, deslizando o indicador lentamente de baixo para cima, até
chegar na minha clavícula — se vim hoje especialmente por você, — sua boca desce até meu
ouvido — Annelise Parker.
“Eu quero usar você e abusar de você
Eu quero saber o que há dentro de você.”
Sweet Dreams - Marilyn Manson

Me surpreendendo completamente, Heart gira o corpo ficando de frente para o meu. Ergue
o queixo, empinando o nariz sem fazer ideia do que eu poderia fazer com ela em segundos, se
quisesse.
Ela é tão pequena e frágil que eu poderia quebrá-la sem esforço algum. Observando daqui,
sei que minha mão fecha em volta do seu pescoço com facilidade, e com um aperto apenas, tudo
estaria acabado.
Pelo menos uma parte do serviço.
— Sou casada — fala como se isso fizesse qualquer diferença para mim, quando ela
finalmente descobrir quem sou, e do que sou capaz, vai rir da sua tentativa ridícula de afronta.
— E onde ele está agora? — pergunto me divertindo com a sua petulância.
Seus olhos curiosos me encaram, duas esferas grandes de um tom de avelã, os lábios
carnudos entreabertos apenas com um brilho suave, destacando o tom vermelho natural da sua
boca.
Eu nunca beijei ninguém antes…
Nunca tive essa necessidade, o desejo de saber qual o sabor…
Mas eu a beijaria…
Forte…
Com certeza faria mais do que apenas beijar.
Imagino seus lábios entre meus dentes, machucando a pele delicada… Qual será o gosto
do seu sangue?
Toco em seu rosto traçando o seu lábio com o polegar sentindo o calor e a maciez.
— Para — ela pede em um sussurro, mas seu corpo me diz o contrário.
Se ela quer que eu pare, por que fechou os olhos então?
Por que não se afasta?
Por que não grita?
Certamente não funcionaria, mas, ela poderia tentar.
Por que seu corpo cede tão facilmente sob os meus toques?
O vestido de seda traiçoeiro ressalta os bicos dos seus seios endurecidos.
— Ainda não — confesso, e curioso para senti-los entre os meus dedos, ergo a mão
capturando o bico rígido entre o indicador e o polegar.
Interessante.
O som estrangulado que escapa dos seus lábios no momento que eu o seguro com um
pouco mais de pressão só faz aumentar o meu desejo por ela. E agora, somente segurá-lo já não é
mais o suficiente, quero ele entre meus dentes, nos meus lábios, quero sugá-lo com força
enquanto ela rebola no meu colo, desesperada.
Ela se agarra em meus braços como se fosse cair a qualquer momento, e eu deixo, deixo
que ela me toque, e curiosamente gosto da sensação que me atinge.
Aproximo o rosto do seu enquanto ela continua de olhos fechados. Sedento por ela, passo
a língua pelos seus lábios lambendo-os, descobrindo finalmente o sabor.
Algo muda e ela se afasta, abruptamente, assustada, se dando conta do que estávamos
fazendo. Heart balança a cabeça de um lado para o outro freneticamente em negação, como se
não acreditasse o quão longe ela se deixou levar.
Isso é apenas o início…
Contra a minha vontade e ignorando todos os meus instintos, me afasto, deixando o
caminho livre para ela se afastar.
Ainda não é o momento.
— Heart… — eu a chamo antes que entre no salão, ela me olha por cima do ombro — Eu
vejo você — completo.
Seus olhos se arregalam de surpresa, quando finalmente se dá conta, ela se vira
rapidamente e sai tropeçando pelo caminho parecendo atordoada, até que desaparece.
Respiro fundo colocando as mãos no bolso da calça, arrumando meu pau de um jeito que
não fique tão visível aos outros.
Pego meu celular do bolso discando o número do Alec.
— Estou saindo — aviso voltando ao salão da festa.
Passo pelas pessoas caminhando direto para a saída, não planejo perder mais nenhum
segundo nesse lugar, tive o bastante por hoje, e quando desço os degraus do prédio observo que o
carro já está me aguardando em frente.
Aos quatro anos matei o rato de estimação da minha irmã mais velha por curiosidade, eu o
esmaguei apenas porque queria ver os olhos explodindo da cabeça do bicho, não foi tão divertido
como pensei que seria.
Na verdade, fiquei bastante decepcionado.
Naquele mesmo ano, atirei em um passarinho com uma arma de pressão que ganhei do
meu avô, fiquei observando enquanto ele agonizava no chão, esse confesso que me satisfez
bastante. Meses depois, quebrei o braço do meu melhor amigo de escola porque ele me irritou
profundamente, eu disse para ele me obedecer e fazer exatamente o que eu havia mandado, o
erro foi completamente dele. Então, fui levado a um psiquiatra pelos meus pais, e foi quando
ouvi falar pela primeira vez na tríade homicida, eu não preenchia todos os pré-requisitos,
entretanto, as coisas não se tornaram mais simples depois disso.
Minha mãe mal encostava em mim e escondia as facas quando ia dormir.
Meu pai mal conseguia me olhar, como se eu fosse uma doença dentro daquela casa, uma
praga que ele não sabia como se livrar.
Minha irmã trocava de rotina todos os dias para não ter que me encarar.
Eu até gostava, assim não precisava ter de fingir gostar deles.
Eu não me sentia bem-vindo ali, nunca me senti, desde que consigo me lembrar.
No início minha mãe até tentava jogar a culpa no meu pai sobre o meu comportamento,
mas, com o tempo, ela aceitou que o problema era comigo.
O psiquiatra dizia que eu não demonstrava empatia e compaixão pelo próximo, o que não
era totalmente verdade. Eu gostava de cachorros e do meu avô. Mas, ele estava certo sobre algo,
eu não me arrependia do que fazia, nunca.
No fim das contas, ninguém nunca chegou a um diagnóstico. Não que fosse fazer alguma
diferença, aquilo não me importava, não me incomodava nem um pouco.
Eu tenho prazer em causar sofrimento nas pessoas, gosto de ter o controle, odeio
profundamente ser surpreendido, seja por algo bom ou ruim, não me importa, gosto de saber de
tudo que se passa ao meu redor.
Mas, em toda minha vida, nunca vi nada como ela, nunca fiquei tão obcecado por algo ou
alguém como me sinto o tempo todo desde que descobri da sua existência.
Eu não faço ideia do que Annelise possui que me prende tanto.
Saber que ela também se sente atraída por mim é apenas um bônus, não fará diferença
alguma em nosso joguinho, sempre tenho tudo que quero, e Heart, por enquanto, é o meu
brinquedo favorito.
— Quando podemos voltar pra casa? — Alec questiona enquanto dirige o carro.
— Logo.
— Afinal, o que pretende com ela?
Sorrio.
— Tudo.

— Rhett, a garota chegou — Spencer avisa da porta.


Não respondo. Tiro a toalha presa ao redor da minha cintura e vou até o guarda-roupa,
visto uma calça de moletom e nem perco meu tempo colocando cueca.
Faz uma hora que cheguei do baile, e não consigo tirar Heart da mente, tenho a sensação
de ainda estar tocando o bico do seu seio, e só de lembrar da textura entre os meus dedos o meu
pau dá sinal de vida, não que ele tenha amolecido desde então.
O seu cheiro, porra, que cheiro gostoso, eu afundaria meu rosto naquele pescoço e passaria
horas por cima dela, enquanto metia meu pau naquela boceta.
Preciso transar.
Preciso foder alguém logo, ou sinto que posso ficar louco a qualquer momento.
Acabei de me masturbar no banho pensando nela, imaginando o que eu estaria fazendo, e
nem isso foi o suficiente, meu pau continua duro e dolorido.
Abro a porta e caminho em direção ao meu quarto reserva, o que uso para foder.
Temos apartamentos em algumas cidades espalhadas por alguns países, mas, nossa sede
principal e onde Cloud normalmente fica é em Bergen, cidade norueguesa. Cloud chama de casa,
eu prefiro me referir a sede. Mas, se isso deixa ele um pouco menos irritante, que seja então,
assim como a porra do cachorro que insistiu em pegar.
Cloud é o mais novo, e por alguma razão que desconheço, decidi pegá-lo como um animal
de estimação anos atrás no Fosso. O protegi sempre que pude, o garoto não duraria nem uma
semana, e agora, ele fica enchendo a porra do meu saco como se fossemos alguma espécie de
família.
Quando chego na porta do quarto reserva onde a mulher me espera, encontro-a nua
sentada na cama, é a mesma que pedi das últimas vezes. Bom. Melhor assim.
Não precisarei explicar de como gosto, e principalmente, que ela não precisa tentar me
agradar.
— Oi Six — ela diz em um tom sensual.
— Fique na mesma posição — ordeno.
Parecendo um pouco decepcionada, ela se levanta e engatinha para cima da cama, ficando
de quatro exatamente como expliquei na última vez.
Tiro minha calça moletom jogando no canto do quarto.
Pego uma camisinha da cômoda e visto no meu pau, me aproximo parando atrás de sua
bunda, seguro sua cintura trazendo-a para mais perto, então ela olha por cima do ombro
mordendo o lábio inferior.
Heart vem a minha cabeça.
Os olhos.
A boca entreaberta enquanto eu a tocava…
— Algo errado? — a garota pergunta parecendo preocupada.
— Não — respondo.
Perdi minha virgindade bem tarde em vista dos outros - claro que ter passado metade da
minha vida no Fosso contribuiu para esse fato - mas eu não tinha os mesmos desejos que os
demais.
Quando jogamos conversa fora sempre comentam sobre as fodas do dia anterior, sobre
como gostam de chupar as mulheres, tocar os seios… nunca senti essa vontade.
Sexo pra mim era um meio de descarregar a energia que não conseguia nas últimas vezes
em que matei alguém, gostava de me enfiar em uma mulher e comê-la forte. O calor da boceta
me apertando, porra! Gostoso pra caralho. Mas escutá-las gemendo, ou somente em olhar para os
seus rostos, já me irritava, e o desejo pelo sexo se transformava em um desejo de meter uma bala
na cabeça delas.
Não sofri nenhum abuso no Fosso, apesar de ter ouvido coisas, ninguém nunca teve
coragem de chegar perto de mim.
Tentaram levar Cloud uma vez, era tarde da noite, eu não conseguia dormir naquele lugar,
então sempre estava em alerta, o segurança achou que eu estava dormindo, erro dele. No instante
que ele virou de costas com Cloud nos braços, enfiei a minha escova de dentes - afiada na ponta -
na sua garganta.
Depois daquele dia, ninguém arriscou chegar perto dele novamente.
Não tenho nenhum trauma que me impeça de fazer sexo, só não tenho necessidade de dar
prazer a ninguém.
No entanto, com Heart… não consigo controlar o desejo que sinto.
A vontade de chupar a sua boceta, sentir o seu gosto na minha língua, fazê-la gozar no
meu pau enquanto ela se esfrega em mim, poder olhar os seus olhos nublados pelo tesão, ser o
causador de cada sensação de prazer em seu corpo.
É, não vai rolar.
— Vista-se, acabamos por hoje — aviso retirando a camisinha sabendo que não vou
conseguir aplacar meu desejo com essa mulher, não é ela quem quero, será apenas uma perda de
tempo.
— Mas Six — ela começa a falar, e sem paciência alguma, retiro a arma da mesma gaveta
que peguei a camisinha agora pouco e aponto para sua cabeça.
— Te dei permissão pra falar, porra? — rosno.
Não vou matá-la, só quero assustá-la o suficiente pra sair correndo do quarto e não me
encher mais o saco.
Ela nega com os olhos cheios de lágrimas, e isso só me irrita ainda mais.
Talvez eu mude de ideia se ela começar a chorar.
— Spencer vai acertar com você, some daqui.
Coço a cabeça com o cano da pistola frustrado pra caramba. E com a porra do pau ainda
duro.
Heart, Heart, Heart…
Saio do quarto amarrando o cordão da calça, vou até a cozinha e abro a geladeira pegando
uma garrafa de água.
— Sabia que ejaculação precoce tem tratamento, né? — Spencer fala.
— É? E como foi para você? — pergunto sentando na cadeira.
Alec joga a cabeça para trás gargalhando enquanto Spencer revira os olhos.
— Mas sério, pensei que tortura fosse coisa do Wolf, o que rolou com a garota? Ela saiu
chorando… — Alec pergunta recuperando o fôlego.
Dou de ombros.
— Apontei a arma pra cabeça dela, acho que pode ter sido isso… — confesso.
— Pra quê? — Spencer questiona confuso.
De todos, Alec e Spencer foram os que tiveram a vida mais próxima da normalidade, com
família feliz, cachorros e toda essa merda. Nosso comportamento - meu e Wolf - às vezes, ainda,
os incomoda. Não que isso vá fazer qualquer diferença.
— Mandei ela sumir, e ela não obedeceu — respondo o óbvio.
— Você é doente — Alec diz balançando a cabeça incrédulo.
Levanto a mão.
— Não foi comprovado — realmente, ninguém chegou a um diagnóstico, sendo assim,
não sou doente, talvez depravado…
— Ok! Foda-se — Spencer faz sinal para Alec calar a boca, depois se vira em minha
direção. — Era a mesma garota das últimas vezes, o que deu errado?
— Ela respirou muito alto — sorrio.
Ele balança a cabeça incrédulo.
— Eu disse — Alec resmunga. — Doente — completa.
— Cadê o Wolf? — indago.
— Sodomizando alguém… — Spencer explica não parecendo se importar.
— E dele ninguém fala nada — falo, bebendo um gole de água.
— Wolf é um caso perdido, é impossível humanizar ele, para você ainda há esperança —
Alec admite.
Agora sou eu quem está gargalhando.
“Não posso continuar vivendo assim
Mas não posso voltar para o caminho de onde vim
Acorrentado a esse medo
De nunca encontrar
Uma maneira de curar minha alma.”
My Heart Is Broken - Evanescence

Não faço ideia de como consegui chegar até aqui e não sei como vou conseguir sair
depois.
Deixei o local tão desesperada que esbarrei em algumas pessoas pelo caminho, todos ao
meu redor se tornaram apenas borrões, e quando finalmente vi o corredor que leva aos banheiros
femininos, pude respirar um pouco melhor.
Assim que entrei, não pensei duas vezes quando vi uma cabine vazia, tranquei a porta e
sentei no vaso sanitário que dei graças a Deus pela tampa já estar fechada me poupando tempo.
Fecho os olhos sentindo minha alma finalmente retornar para o corpo, mas a imagem dele
volta, tão real… tão verdadeira…
A única prova de que aquilo realmente aconteceu, de que não foi algo inventado pela
minha imaginação é a sensação de formigamento que ainda sinto nos meus lábios e no meu seio
onde ele tocou.
Deus! Ele me tocou! E eu deixei!
Onde eu estava com a cabeça quando permiti?
Sei onde estava Annelise, no homem com os olhos mais sérios e lindos que já vi em toda
minha vida, no sorriso mais descarado e cafajeste…
O seu perfume era diferente de tudo que já senti, desconfio que não se tratava de uma
fragrância, mas dele, um cheiro específico seu.
Balanço a cabeça.
Um homem, completamente desconhecido, me tocou e em nenhum momento pensei em
me afastar. Muito pelo contrário, eu estava implorando por dentro para que ele continuasse, que
afastasse o vestido e tocasse a minha pele nua, queria aquilo, necessitava sentir o seu calor.
Passo a mão pelo rosto e respiro fundo.
Ok.
Não foi nada.
Droga.
Ele lambeu meu lábio.
Isso deveria ter sido ruim, correto?
Mas não foi.
Parecia um animal provando e marcando sua presa, mesmo que isso me assustasse, contra
tudo que julgo ser o mais correto, eu queria de novo. Queria poder sentir de novo.
Ele não me beijou, simplesmente deslizou a língua pelos meus lábios e eu pude sentir o
seu gosto, e quase… quase joguei tudo para o ar e me entreguei ali mesmo em uma varanda com
o meu marido a poucos metros, no salão, podendo nos pegar a qualquer momento.
Não posso ficar mais nenhum segundo aqui, e se ele me encontrar de novo?
Pior!
E se ele vier conversar comigo e James ver?
Pego meu celular da bolsa e envio uma mensagem ao meu marido, sei que isso vai me
render uma discussão mais tarde, porém, isso é ainda melhor do que arriscar e colocar o homem
em perigo.
Digito uma mensagem dizendo que estou cansada e que pegarei um táxi, ele visualiza a
mensagem, mas não me responde. Péssimo sinal.
Abro a porta e vou até o espelho, arrumo meu cabelo e deslizo as mãos pelo meu vestido.
Tudo bem, digo a mim mesma, tentando me confortar.
Saio do banheiro e caminho pelo corredor, consigo passar pelas pessoas no salão sem ser
notada, mas, quando chego nas escadas, uma mão me detém, e pela força com que me segura sei
que se trata do meu marido.
— Aonde você vai? — pelo seu tom de voz, sei que está irritado.
— Eu te disse, estou cansada — murmuro na defensiva.
— Cansada do quê? Você não faz nada o dia inteiro além de ficar naquela cama — ele
segura meu braço com um pouco mais de força e abre um sorriso cínico. — Você vai voltar para
aquela festa Annelise, vai sorrir e fazer a porra da sua função, e depois nós vamos voltar para
casa juntos, e vou te relembrar como deve se comportar, entendeu? — meus olhos se enchem e
eu respiro fundo recuperando o controle assentindo — Ótimo meu amor — ele me segura e
aproxima seu rosto do meu, pressionando seus lábios contra minha vontade. Fecho os olhos
sentindo nojo, nojo de mim por permitir que ele me trate dessa forma, nojo dele por ser um porco
desprezível.
E triste, triste por ele me beijar e apagar a única coisa boa que me aconteceu há muito,
muito tempo.
James segura minha cintura de um jeito extremamente possessivo com seus dedos
afundando em minha pele, me machucando. Mas não reclamo. Apenas aceito. Entramos
novamente na festa, e dessa vez ele não me deixa sozinha nem por um segundo sequer, a todo
momento seus olhos estão sobre mim, como um lembrete de que pertenço a ele.
— Anne, que alegria ver você, está tão linda! — Sr. Otto exclama vindo em nossa direção.
Ele me puxa para um abraço e posso sentir o olhar do James queimando em minhas costas.
— É um prazer vê-lo também — respondo sincera.
Otto era o antigo parceiro do meu pai, hoje já está aposentado, mas sempre esteve presente
na minha vida de certa forma, ele me olha parecendo nostálgico, provavelmente lembrando do
mesmo que eu. Era um tempo tão mais fácil.
Os cabelos grisalhos, a barriga cheia, provavelmente das várias cervejas que ele toma,
aquele sorriso carinhoso com os olhos brilhando que aquece meu coração…
— Seu pai ficaria tão orgulhoso da mulher que se tornou… — fala e meu queixo treme
com o peso das suas palavras.
Ah se ele soubesse…
Não, definitivamente meu pai não estaria orgulhoso. Estaria decepcionado com o que fiz
da minha vida. Desde pequena fui criada para ser independente e autossuficiente. Ele foi um pai
incrível e não pude ser nem metade da filha que certamente ele mereceria.
— Ela é incrível mesmo, tenho a melhor esposa — James intervém me puxando para seu
peito, parecendo o esposo mais apaixonado do mundo, e é claro que engana a todos.
Seus lábios pressionam em minha testa e despropositadamente acabo me afastando, foi tão
rápido, tão automático, durou apenas um segundo. Ninguém percebeu, mas ele sim. Seus olhos,
que antes eram apaixonados, agora se tornaram escuros e irritados.
Não.
Não.
Não.
Ele volta a vestir a máscara do homem íntegro e honrado, e eu imploro, rezo baixinho para
que esqueça de todos os meus erros no decorrer da noite e me deixe em paz, apenas por hoje.
Mas isso não acontece.
Quando chegamos no carro, James pede para o motorista aumentar o volume da música e
fechar a divisória que fica ao meio separando o veículo, no momento que vejo o preto subindo
meu desespero cresce junto.
— Sinto muito — sussurro na esperança de que ele tenha um pouco de compaixão.
— Pelo que Annelise? — diz retirando o cinto da calça.
E eu sei o que vem a seguir, James vai me “corrigir”.
Meu queixo treme, minha visão fica nublada quando ele abre o botão da calça, e eu quase
vomito quando noto seu membro duro.
Ele sente satisfação em me machucar, sente prazer em me ver chorando e implorando, é
isso que o deixa com desejo.
— Aqui não — peço tentando me afastar, em um momento de desespero tento abrir a
porta, mas ela já está travada.
Balanço a cabeça sentindo as lágrimas descerem pelo meu rosto.
— Se você tivesse sido mais comportada como eu pedi, eu até seria mais carinhoso,
querida. Mas, você é incorrigível, acha que gosto de ter que fazer isso?
Fecho os olhos quando sinto o impacto da sua mão em meu rosto, queimando minha pele.
— Eu te fiz uma pergunta, Annelise! — grita quando desfere mais um tapa, ergo as mãos
tentando empurrá-lo, mas é inútil, James é maior que eu, e muito mais forte.
Fecho as pernas e isso só o torna ainda mais agressivo, me acertando com um soco no
rosto, deixando-me tonta por alguns segundos com a dor latejante na cabeça.
Ele amarra minhas mãos com o cinto da sua calça prendendo meus braços acima da
cabeça, depois me toca, vai até meu seio apertando com força.
— Não, por favor, não! — choro implorando, tentando empurrá-lo para longe, mas é em
vão.
James abre minhas pernas com o seu joelho, afasta minha calcinha para o lado, e sem um
aviso, empurra seu pau todo.
Fecho os olhos deixando as lágrimas escorrerem.
Ele morde meu pescoço, depois meu ombro, me marcando, deixando um sinal para quem
ousar aparecer, que pertenço a ele, é um lembrete diário para quando eu me olhar no espelho, que
não posso ir contra ele.
Seus movimentos se tornam mais rápidos e agressivos, viro a cabeça para o lado e desisto
de qualquer resistência, ele sempre ganha, James sempre consegue o que quer.
Por um segundo deixo minha mente ir para outro lugar.
Tento afastar a sensação das suas mãos pelo meu corpo, me machucando, dos seus dentes
cravados em minha pele, do seu quadril batendo no meu sem parar.
Nesses momentos penso que a morte é melhor que isso.
Meu pai sempre dizia que quem provocava a própria morte, ia para o inferno, que não
tinha salvação. Mas, se eu já estou nele, o que mais tenho a perder?
James grunhe empurrando uma última vez e não consigo segurar a ânsia que vem junto
quando ele goza. E assim que ele sai de cima de mim, viro para o lado e vomito no chão do
carro, meu estômago se contrai só de sentir o seu líquido escorrendo pela minha perna.
Quero morrer, não posso mais, não consigo, não aguento mais.
Fecho os olhos e me deixo cair na escuridão, talvez, com um pouco de sorte, eu não
acordo amanhã.
“Porque eu estava preso num pedaço do paraíso
Enquanto você queimava no inferno, sem paz para sempre.”
A Little Piece Of Heaven - Avenged Sevenfold

Jab… Jab… Direto… Cruzado…


Jab… Jab… Direto… Cruzado…
— Por que não larga esse saco e vem brincar comigo? — Spencer grita batendo com uma
luva na outra, posicionado no meio do tatame.
Eu o ignoro e continuo treinando no saco de areia que instalamos no lado esquerdo da
academia, em um lugar mais afastado.
Possuímos uma academia instalada em cada sede que temos espalhadas pelos países, com
aparelhos para musculação e equipamentos de luta. Precisamos estar em forma, afinal, nem
sempre contamos apenas com as armas, vez ou outra acabamos em algum combate corpo a
corpo, é menos eficiente e mais demorado, porém, ainda é a minha preferência. A outra parte é
porque temos que encontrar uma maneira de liberar a energia acumulada, como estou tentando
fazer agora com esse saco de areia. Claro que não está funcionando.
Acordei hoje às 02h da manhã, e não consegui mais dormir, não que o meu sono seja lá
tudo aquilo, normalmente não consigo descansar totalmente, uma parte minha parece nunca
conseguir se desligar 100%. Entretanto, hoje, em especial, me sinto na borda, como se eu
estivesse prestes a explodir.
Levantei e vim direto para a academia sabendo que seria uma péssima companhia para
qualquer um, desde então me encontro em frente a esse saco metendo porrada sem parar. Posso
sentir os meus músculos queimando pelo esforço, suor escorrendo pelo meu corpo e ainda assim
não tive o suficiente.
Vejo uma sombra se aproximando e não preciso me virar para saber que é Wolf que está
vindo.
— Pega — fala, me empurrando uma garrafa de água, balanço a cabeça de um lado para o
outro negando.
Jab… Jab… Direto… Cruzado…
Jab… Jab… Direto… Cruzado…
— O que tem de errado? — questiona com o tom de voz baixo e calmo. Ele me observa
atentamente, com bastante cautela. Wolf sabe que estou por um fio e sabe também que não
consigo manter o controle quando explodo, e isso não acontecia há muito tempo.
Bufo sentindo a tensão crescer sob meus ombros quando paro com os movimentos, pego a
água de sua mão e bebo quase a garrafa inteira em um gole.
— Nada.
— Já a viu hoje? — Wolf questiona se referindo a Heart, e mesmo que ele não converse
muito, percebo que tem me observado, e sabe que ando perdendo mais tempo do que o aceitável
com um alvo. Nós já deveríamos ter finalizado. Agora, era para estarmos em Bergen estudando
uma nova proposta, mas, eu continuo aqui.
— Não — respondo me lembrando de hoje mais cedo. Assim que acordei, a primeira coisa
que fiz foi ligar o notebook, e minha decepção foi instantânea quando a câmera que fica
escondida em seu quarto estava sem sinal. Esperei por um tempo até que retornasse e nada, o
aparelho não voltou. Quase joguei aquela porcaria na parede, foi por muito pouco.
Imediatamente liguei para Cloud e pedi que resolvesse a situação, mas não tive nenhum retorno.
— Rhett — Alec me chama, olho por cima do ombro e percebo que tem algo de errado —
tem uma coisa que Cloud quer que você veja… — diz e vira as costas seguido por Spencer.
Nós nos reunimos ao redor da mesa onde o notebook do Spencer está apoiado sob a mesa,
ele aperta um botão e a frente de uma casa que conheço muito bem aparece.
— Que filho da puta! — Alec rosna ao meu lado quando na filmagem, James desce do
carro com Heart em seus braços, desacordada.
Continuo calado observando, Wolf é o único que não está de olho no notebook, porque
seus olhos estão sobre mim, me analisando, esperando por qualquer reação minha.
É noite, e está escuro, atrapalhando a imagem, e não consigo ver o rosto dela com clareza.
Mas o seu vestido, o vestido que eu a vi usando pela última vez está completamente destruído,
com sangue em algumas partes e não preciso ser um gênio para saber que ele a estuprou, até
perder a consciência.
— Rhett? O que quer fazer? — Spencer questiona ao meu lado.
Respiro fundo, olho em volta.
Alec está quase espumando parecendo um cachorro com raiva, Spencer está vermelho,
pronto para tirar o seu fuzil do armário e meter uma bala na cabeça do desgraçado e Wolf ao meu
lado continua calmo, analítico, como eu costumo ser. Não hoje. Não agora. Não quando ele
tocou em algo que não o pertence.
Eu estava indo buscá-la, um pouco mais cedo do que eu pretendia. Queria ter mais tempo,
queria ter preparado-a para o que estava por vir. Uma vez feito, jamais desfeito. Heart seria
minha para sempre, não permitiria que ela fosse embora, não enquanto eu estivesse vivo, e eu
pretendia viver por muito tempo.
— Peça para o Cloud arrumar o quarto ao lado do meu, e deixar um médico de prontidão.
Alec e Spencer se olham, mas nenhum dos dois questiona meu pedido.
— Vamos que horas? — Alec indaga.
— Agora.
Enquanto Alec dirige o carro, Wolf afia as suas facas. Observo a câmera instalada na sala,
uma vez que a do quarto permanece sem sinal algum. James está com o celular no ouvido há
alguns minutos. Não consigo ver Heart, o que está me incomodando mais do que estou
acostumado.
— Você tá legal? — Wolf questiona.
— Por que não estaria? — indago, confuso.
— Ok — ele responde apenas.
Alec estaciona o carro uma rua antes do destino, eu pego minha pistola prendendo-a no
coldre por baixo do moletom preto, onde duas facas já estão devidamente encaixadas.
— Spencer já está posicionado, tem a mira limpa — Alec avisa.
— Vou sozinho, o Cloud congelará as câmeras até que eu esteja dentro. Quando eu der o
sinal, abrirei a garagem, vocês entram e nós retiramos ela. Entendido?
Ambos concordam.
Por estar de dia, não podemos estacionar o carro na sua rua, seria arriscado demais. Desço
do carro e faço o resto do trajeto até sua casa a pé.
O cara é tão arrogante que não tem nenhum segurança, pensa que é intocável. O seu
motorista do outro lado da rua dorme no carro de onde James saiu de madrugada com Heart no
colo, ele viu, sabia o que estava acontecendo e não fez absolutamente nada para impedir.
— Spencer — digo assim que ele atende o celular.
— Fala.
— Tem a mira limpa do carro? — questiono.
— Positivo.
— Assim que sairmos, quero que meta uma bala na cabeça do motorista, o filho da puta
viu e não fez nada.
— Considere feito.
Desligo o celular guardando-o no bolso.
Entro no cercado e caminho até a porta, retiro a pistola deixando-a na altura da minha
cintura com apenas o cano a mostra e toco a campainha.
James abre a porta, primeiro me olha parecendo confuso, depois seu rosto desce até onde
minha arma segue apontada para o seu peito, um movimento em falso e eu atiro.
Ele me encara. Tentando me reconhecer. Provavelmente se perguntando qual dos seus
inimigos está batendo em sua porta.
— Não, você não me conhece, — sorrio — mas, se lembrará de mim durante todo o tempo
em que estiver no inferno…

Acordo quando ouço alguns barulhos vindo da cozinha. Devagar, sentindo o meu corpo
estremecer, me sento na cama tentando abrir os olhos, mas, tenho sucesso com apenas um deles
enquanto o outro se mantém fechado, como se estivesse colado. Confusa, forço mais uma vez, e
é quando sinto uma fisgada de dor tão forte que me faz ver estrelas, solto um gemido tocando em
meu rosto sentindo-o inchado.
Viro-me procurando por James na cama, mas a encontro vazia com apenas os lençóis
amassados.
Então, lentamente alguns flashes retornam bombardeando minha mente, relembro da noite
passada, das coisas que James fez no carro, e como se já não tivesse tido o suficiente, depois
quando estávamos no quarto.
Apoio os meus pés no chão, e quando tento levantar, firmando minhas pernas, tudo ao
meu redor gira.
Olho para o meu corpo notando que continuo usando o vestido de ontem, agora, rasgado e
com sangue seco em algumas partes, o meio das minhas pernas queima de dor pelas investidas
de ontem e dessa vez, é impossível segurar o choro que escapa da minha garganta.
Estou machucada agora, mas em breve estarei bem, algumas cicatrizes novas para se
juntar com as que eu já possuo.
Mas a minha mente?
A minha alma?
Destruída, não chegaria nem perto de como me sinto. Não posso mais. Eu não aguento
mais.
Ouço passos vindo do corredor e só de imaginar ter de olhar para James, ter de encarar os
seus olhos de novo, o meu corpo congela aterrorizado. Prefiro morrer do que ter de aguentar
aquilo novamente.
Pulo de susto quando ouço o barulho da porta se abrindo e viro pronta para correr, mas,
antes que consiga me esconder no banheiro, o chão some dos meus pés. Em um momento estou
correndo, desesperada, e no outro, braços fortes me seguram no ar como se eu não pesasse nada.
Eu o empurro, me debato, grito, tento chutá-lo, mas é inútil… mesmo sem conseguir
enxergá-lo, eu sinto atrás de mim a parede de músculos pressionando meu corpo, ele é forte
demais, e por esse motivo sei que não é o meu marido, não é James quem está me segurando.
E não tenho certeza se essa descoberta me deixa aliviada, ou, se me sinto ainda mais
aterrorizada.
O meu corpo está exausto, não consigo mais lutar, de qualquer forma, seria em vão
também… então desisto…
Olho para baixo e vejo que a mão ao redor do meu corpo está coberta por uma luva de
couro preta, e no momento que paro de me debater, o seu aperto diminui, como se estivesse com
receio de me ferir.
Esse cheiro.
Eu lembro…
— Você — sussurro tão baixo que não tenho certeza se ele conseguiu me ouvir.
Ele estala a língua, debochado.
— Você demorou para me reconhecer Heart… estou um pouco decepcionado —
completa.
Então ele me gira em seu colo, deixando-me de frente para ele.
Verdes.
Seus olhos são verdes.
Verdes e… vazios.
— Quem é você? — pergunto.
Ele me observa em silêncio.
Então as coisas ficam mais claras gradualmente.
Claro, é alguém que James irritou.
Deus, como sou burra. Ontem ele foi atrás de mim para atingir James.
— Olha, eu não sei o que ele fez, mas… — respiro fundo — juro que não tenho nada a ver
com isso. É dinheiro? Você quer dinheiro?
Tudo que ganhei de herança do meu pai, James colocou em uma conta conjunta, e bem,
não tenho acesso a ela. Eu não tenho dinheiro, mas posso conseguir.
Ele não me responde, e ignorando todos os meus apelos, o desconhecido me carrega até a
sala, e da forma que ele me tem em seu colo, não consigo enxergar nada ao nosso redor, além
dele.
Ele me senta no sofá e se abaixa, ficando na mesma altura que eu, ainda tampando minha
visão do resto do cômodo, depois segura meu queixo examinando meu rosto, ele toca o meu
olho.
— Dói? — questiona com a testa franzida.
Assinto.
Seu maxilar trava e ele solta um suspiro pesado.
Depois seus olhos descem pelo meu corpo, e com vergonha tento me cobrir tampando
meus ombros com as duas mãos.
— Não — rosna afastando minhas mãos. — Se sente tonta ou enjoada?
Continuo em silêncio, confusa demais.
São tantas perguntas.
Quem raios é ele?
Por que ele está aqui?
Por que parece preocupado comigo?
— Heart, — ele respira fundo parecendo irritado — preciso que me diga…
— Só quando me levantei — assente parecendo pensar na minha resposta.
Então ele se põe de pé, e no momento que meus olhos vão até o outro lado da sala, não
consigo conter o grito que escapa da minha boca.
— James — sussurro quando o vejo caído no chão com os braços presos atrás das costas.
Por instinto, me levanto, mas sem saber exatamente o porquê. O homem para ao meu lado
me observando, esperando alguma reação minha.
— Lise — James sussurra quando me vê, parecendo exausto, implorando por ajuda, para
que eu interceda por ele e peça para acabar com isso.
Seu rosto está inchado, sangrando em tantas partes que não sei exatamente onde ele foi
machucado, assim como o seu peito, a camiseta se foi, e agora vejo apenas cortes e mais cortes
marcando a sua pele.
Eu deveria me sentir mal, não deveria?
James é meu marido, estamos juntos há anos.
Mas, não sinto nada.
O que isso diz sobre mim?
Eu não sinto nada.
Olho para o homem ao meu lado quando uma lágrima escorre pela minha bochecha, ele
franze o cenho erguendo a mão, o couro da sua luva desliza em minha pele limpando-a.
Então, em câmera lenta, ele ergue a outra mão com uma pistola apontando para James,
sem tirar os olhos de mim.
Ele espera.
Um segundo.
Dois segundos.
Eu deveria impedir, não deveria?
— Annelise! — James grita e eu pulo assustada, porque essa é a mesma voz que ele usava
quando estava irritado ou chateado comigo, a mesma voz que usava quando levantava a mão
para mim, ou quando me batia, me amarrava… meu queixo treme quando as lágrimas descem
sem controle.
Fecho os olhos e o homem ao meu lado vê isso como uma deixa, então ele atira.
Primeiro sinto o alívio, por nunca mais ter de vê-lo, por nunca mais ter que encarar os seus
olhos em cima de mim. Mas depois, depois vem a culpa, a culpa por me sentir aliviada, ele
morreu… e eu só consigo sentir alívio.
Caio no chão de joelhos, quando um soluço irrompe do meu peito.
— Shiii querida… — Ergo o rosto no momento que ele se abaixa ainda segurando a arma
na mão. Eu deveria sentir medo dele, mas não sinto. Ele matou uma pessoa, e não fiz nada para
impedir. Ele solta a arma no chão, depois passa os braços ao meu redor me puxando para o seu
peito. Eu deveria me afastar, mas não quero. É quando sinto algo penetrando minha pele, seguido
por uma ardência e tudo vai escurecendo ao redor conforme meu corpo cai em seus braços —
acabou. — ele diz, e a última coisa que vejo são os seus olhos.
“Pego nessa loucura, cego demais para ver
Despertou sentimentos animais em mim
Dominou meus sentidos e eu perdi o controle
Eu provarei do seu sangue esta noite.”
Scream - Avenged Sevenfold

— Você acabou de sequestrar uma pessoa mesmo? — Alec questiona se sentando na


poltrona vazia da frente.
Eu realmente não queria ter de conversar com ninguém, e isso já devia ter ficado
subentendido desde que me sentei no último assento do jato com uma mulher desacordada ao
meu lado. Mas, eu deveria saber que isso não é um empecilho para quando Alec quer forçar uma
socialização, acho que o subestimei mais uma vez.
— Não — respondo apenas, sem vontade alguma de jogar conversa fora.
— Como não? Ela estar desacordada e drogada ao seu lado, em uma poltrona de avião a
caminho da Noruega não é sequestro?
Bufo batendo a tampa do meu notebook. Ele me olha arqueando a sobrancelha, e isso é um
aviso de que ele não vai parar de encher o saco até que eu explique o que estou fazendo.
— Bom, vamos lá. No direito penal diz que sequestro é o confinamento ilegal de uma
pessoa contra sua vontade. Que eu me lembre, da última vez que a vi acordada ela estava nos
meus braços por vontade própria, então, estou levando-a para um passeio — afirmo. — Sobre
estar drogada, ela vivia dopada por antidepressivos, nada de novo na sua corrente sanguínea —
explico por fim.
Alec me olha, incrédulo. Ele balança a cabeça de um lado para o outro.
— Certo. E se ela quiser ir embora quando acordar? — questiona.
Simples. Ela não vai.
— Ela não pode ir — admito, ele faz menção de dizer algo, mas o interrompo antes. — E
aí será cárcere privado — pontuo.
— E onde isso é melhor que sequestro?
— Eu não disse o que era pior, ou melhor, sinceramente, não me importo e não faz
diferença nenhuma para mim, só estou te explicando que não a sequestrei.
Olho ao lado, onde ela dorme tranquilamente, agora com novas roupas e mais limpa.
Assim que ela adormeceu nos meus braços depois do tranquilizante que apliquei em seu
corpo, enchi sua banheira de água morna, coloquei seu corpo dentro e a limpei com cuidado.
Queria ter certeza antes de pegar o jato para a sede principal de que não havia nenhum ferimento
grave que necessitasse de pontos ou um cuidado urgente. Mas, conforme eu deslizava a esponja
com água por sua pele e o sangue saia, pude notar que ficaram apenas algumas feridas
superficiais com algumas marcas roxas pelo corpo.
Nunca tive tantos sentimentos, e quando tinha, eram quase imperceptíveis, entretanto,
quando vi algumas cicatrizes antigas espalhadas pela sua pele, não pude conter a raiva que
surgiu. Foi algo totalmente novo para mim.
O cobertor desliza pela sua pele deixando seus ombros à mostra, onde algumas marcas de
mordidas aparecem.
— Foi muito sério? — Alec pergunta apontando.
— Superficial, já cuidei — informo cobrindo-a de novo.
Depois que a sequei, passei pomada por todas as feridas, provavelmente não ficará cicatriz
nenhuma.
— Não entendo como alguém consegue fazer isso com uma pessoa — ele diz parecendo
incomodado. Olho para ele erguendo uma sobrancelha querendo lembrá-lo que nosso trabalho é
assassinar pessoas. — Você entendeu o que eu disse, nós não espancamos mulheres ou
estupramos elas, nem crianças — completa.
Ele tem razão em alguns pontos, não estupramos mulheres. Prefiro me divertir com
alguém do meu tamanho, ou maior, e que de preferência saiba um pouco de luta. Assim torna as
coisas mais interessantes.
James não foi divertido. Ele é fraco. Mas eu já esperava isso de um homem que bate em
mulheres, na primeira oportunidade que tem alguém a altura, corre ou foge.
— Eu já matei crianças — informo, pensativo.
— Foi em circunstâncias diferentes, Rhett, e você era uma criança também.
— Talvez — dou de ombros. — Isso não diminui o que fiz.
— Relaxa, não estou dizendo que você é um cara legal — ele ri. — Só estou dizendo que,
o que fez por ela, foi legal da sua parte…
— Pegar ela para mim?
— Pare de falar como se ela fosse um objeto — ele revira os olhos.
— Mas ela me pertence agora — aviso.
Em minha mochila, tenho os seus novos documentos. Annelise Parker morreu no início
desta manhã em um acidente domiciliar com seu marido. Ambos carbonizados.
Aqui ao meu lado está Heart Daniels. Nascida em vinte de outubro de 1992.
Alec me olha de um jeito curioso.
— O quê? — questiono.
— Nada — diz jogando os braços para cima no ar. — Espero que ela goste de chuva… —
Alec murmura olhando pela janela do jatinho, onde alguns pingos surgem conforme vamos nos
aproximando da pista de pouso.
Bergen é uma cidade na costa sudoeste da Noruega, cercada por montanhas e fiordes,
entre eles o de Sogn, o maior e mais profundo do país. A chuva é constante, se estende
praticamente o ano inteiro. Gosto daqui, de fazer trilhas pelas montanhas, e de morar quase no
meio do nada. Longe de tudo.
Podemos considerar como a sede principal, uma residência projetada com dez quartos
divididos em cinco alas no meio de uma floresta, em uma propriedade fechada e privada, cercada
por vegetação. Os cômodos que usamos em conjunto são somente a cozinha e o centro de
treinamento. Gostamos de privacidade, e isso foi algo inquestionável quando criamos o projeto.
Cada ala possui duas suítes, sala de estar com varanda, dois banheiros e um quarto do pânico no
subsolo.
Uma hora depois estou saindo do carro com Heart nos braços e como eu já imaginava,
Cloud corre em nossa direção, seguido por um cachorro insuportável que lambe tudo que vê pela
frente.
— Quando você disse que ia trazer alguém, eu imaginei que ela fosse sair do carro
andando por livre e espontânea vontade. Rhett! Você tá louco? Não pode simplesmente pegar
alguém e trazer para casa, isso é sequestro.
— Já acabou? — questiono me referindo ao seu surto.
— Ele não sequestrou ela — Alec intervém.
Cloud apenas o olha parecendo irritado e o ignora.
— Rhett, você precisa devolvê-la.
— Cloud, eu deixei você ficar com a porra do cachorro, não me irrite.
Escuto uma risada ao meu lado vindo de Spencer. Eu o olho exasperado e rapidamente ele
cala a boca.
— Você realmente está comparando uma pessoa com um cachorro? — Cloud indaga.
Me calo por alguns segundos procurando pelas diferenças.
Definitivamente, Heart é muito melhor do que um cachorro. E aí me pergunto o porquê
Cloud insistiu nesse animal…
— Meu Deus, você está. Ninguém aqui impedirá isso? — pergunta.
— Tente — rosno segurando-a com mais força no meu peito. — Corto a mão fora de
quem ousar tocá-la — não estou blefando.
Heart me pertence a partir de agora.
Eu tinha um serviço: matar James e a esposa, se não fosse eu, outro assassino teria feito.
Ela poderia estar morta. Agora ela é minha e ninguém vai tirá-la de mim.
Olho ao redor procurando alguém que pense da mesma forma que Cloud, mas,
aparentemente ninguém está ligando, Alec segue mexendo no celular rindo de alguma coisa,
Wolf passa por nós pouco se importando, então, Spencer caminha até Cloud batendo no seu
ombro quando diz:
— Quer mesmo fazer isso? — e sai caminhando com Alec logo atrás.
Cloud deixa os ombros caírem parecendo derrotado, seu cachorro corre até o seu lado e
pula ficando em duas patas apoiando as outras em seu peito, depois lambe seu rosto de baixo
para cima.
— Se Heart fizer isso — abro um sorriso largo — vou gostar. Viu só? Muito melhor que
um cachorro.
Entro na casa segurando-a em meus braços e caminho até a minha ala, encontrando a porta
do seu quarto - ao lado do meu - aberta.
Coloco-a na cama com um cobertor em cima do seu corpo. Dou uma volta no cômodo
conferindo se tudo o que pedi para Cloud providenciar hoje mais cedo está aqui.
Antes de implantar um corpo feminino e explodir sua casa, passei pelo seu quarto e sua
penteadeira tirando fotos dos produtos que ela possuía, depois enviei para o Cloud e pedi que
comprasse todos os itens, não queria que faltasse nada. Sigo até o banheiro e pelo que eu me
lembro, está tudo aqui.
Abro o seu closet encontrando apenas algumas peças de roupas conforme solicitei, afinal,
imagino que ela queira escolher isso depois, e não creio que Cloud realizaria um bom trabalho
nessa parte.
Ainda preciso finalizar os últimos detalhes do serviço, enviar as provas de que foi
concluído, efetuar o pagamento do legista para que ele confirme a identidade dos corpos e a
causa da morte.
Cloud fica parado na porta apenas olhando a mulher na cama.
— Tira esse cachorro daqui — resmungo quando o bicho peludo sobe em cima da cama
com Heart, deitando com a cabeça na perna dela.
Ele apenas revira os olhos.
— O que quer que eu faça?
— Ela deve acordar em uma hora — aviso. — Vou tomar um banho e resolver algumas
coisas, mas volto antes disso. Se ela acordar, me chame imediatamente — completo.
— Sim, senhor — declara entrando no quarto indo direto para uma poltrona ao lado da
cama.
“Levante
Vamos lá
Por que você está assustado?
Você nunca mudará o que aconteceu e passou.”
Stop Crying Your Heart Out - Oasis

Desperto lentamente sentindo meus olhos arderem como se tivesse milhares de grãos de
areia neles, arranhando-os. Então sinto um gosto amargo em minha língua, tento dizer algo, mas
não sai nenhuma palavra, minha boca está seca como se eu não tomasse água há um longo
tempo.
— Não era pra você acordar agora — ouço um resmungo, e antes que eu tenha chance de
perguntar o porquê e qual seria o problema de acordar, escuto a porta bater, gemo de dor,
sentindo minha cabeça latejar com o barulho.
Ainda meio sonolenta, me sento apoiando minhas costas na cabeceira da cama. Olho ao
redor e é quando percebo, definitivamente essa não é minha casa e esse não é o meu quarto.
Mas não sei como me sentir sobre isso.
Levo as duas mãos em frente aos meus olhos sentindo uma dor de cabeça insuportável.
Droga.
— Olá, Heart… — escuto, e instantaneamente meu corpo responde se arrepiando por
completo com o tom da voz rouca e grave. Afasto as mãos do rosto e então eu o vejo. Finalmente
o vejo.
— Não foi um sonho — sussurro me dando conta de que tudo aquilo aconteceu de fato.
James está morto.
O homem desconhecido da festa realmente foi até minha casa e matou James.
— Tem sonhado comigo? — pergunta de um jeito arrogante, ainda encostado na porta
com as mãos no bolso da calça jeans preta.
— Onde ele está? — pergunto, precisando de uma confirmação maior do que apenas as
minhas lembranças, como se ter visto ele no chão e escutado o barulho do tiro não tivesse sido o
suficiente.
Seus olhos me analisam, ele se afasta da porta caminhando em minha direção lentamente.
— Morto — simplesmente diz, sem hesitar, sem um pingo de remorso ou emoção em sua
voz, ou no rosto.
E agora, eu deveria chorar, não é?
Sim, eu deveria, porém, não sinto pela morte de James, e não sei o que isso diz sobre mim.
Certamente, meu pai deve estar se revirando no túmulo pela minha frieza diante disso.
Mas, não consigo sentir nada além de alívio por ter finalmente acabado. Por esse homem ter tido
coragem de fazer o que eu pensava todas às vezes em que James me tocava. Todas as vezes em
que ele esteve em cima de mim, me reivindicando contra a minha vontade. Dizendo que eu não
tinha mais ninguém, ninguém além dele. O seu cheiro, seu olhar, seus toques, é tudo demais, e
preciso me esforçar muito para empurrar isso para bem longe.
— Quem é você? — questiono tentando afastar as lembranças.
— Pode me chamar de Rhett.
— Por quê?
— Seja mais específica… — arqueia a sobrancelha.
— De onde você me conhece? Por que fez aquilo?
— Aquilo o quê? — pergunta como se estivesse me testando, querendo saber como me
sinto.
— Você o matou — afirmo.
Seus lábios se curvam para cima, em um sorriso cruel e arrogante, demonstrando os dentes
perfeitamente brancos e retos, sem nenhum defeito. Assim como todo o seu rosto.
— E você não fez nada para me impedir… — ele caminha pelo quarto indo até uma
cômoda próximo a uma janela.
Não, eu não fiz.
— Sei disso — admito sentindo o peso dessas palavras.
— Eu disse, eu via você Heart.
— Para de me chamar de Heart, pare de me dizer meias frases — respondo e não consigo
esconder ou mascarar o tom de irritação que acompanha minha voz.
Ele me encara, aparentando estar se deleitando com a situação.
Sei que não deveria usar esse tom com o homem que matou meu marido a sangue-frio sem
hesitar. Não o conheço, não faço ideia do porquê fez o que fez, mas, por alguma razão, não tenho
medo dele.
Pelo contrário, uma parte minha, o agradece e se sente em dívida por finalmente ter me
livrado de um monstro, mas, a que preço?
— Seu nome agora é Heart, Heart Daniels — afirma.
— Como é? — balanço a cabeça negando — Não. Meu nome é Annelise, Annelise Parker
— completo.
— Não mais — declara firme, não deixando espaço para um argumento. — Desde hoje de
manhã você se chama Heart — ele olha o relógio em seu pulso, depois ergue o rosto me
encarando. — Heart Daniels — as palavras saem dos seus lábios como uma melodia sensual e
perigosa. — Você não gostou? — indaga com ironia, mas antes que eu responda, ele completa
— É uma pena, mas não vamos trocar.
— Você é louco! — acuso tentando me levantar, mas, no momento que meus pés tocam o
chão, tudo gira ao meu redor e se não fosse por ele e sua rapidez em me segurar, passando os
seus braços ao redor do meu corpo, eu teria caído de cara no chão.
Meu corpo estremece com a aproximação do seu. Sua pele entra em contato com a minha,
e é impossível ignorar o quanto ele é quente, e forte, provavelmente deve passar horas e horas
fazendo exercício físico.
Ergo o rosto e me arrependo no instante em que nossos olhos se cruzam.
Rhett me olha de uma forma como se conseguisse enxergar dentro da minha alma. Tão
intenso que perco o fôlego na mesma proporção que me perco no verde dos seus olhos.
Estamos tão próximos um do outro que o cheiro de menta da sua loção de barba me
invade. Só me dou conta de que estou com as mãos em seus ombros, afundando os dedos em sua
pele, quando ele abre os lábios sorrindo de um jeito convencido, como se soubesse exatamente
para onde meus pensamentos fugiram.
Arrogante.
Limpo a garganta, respiro fundo e me afasto, caminhando para bem longe dele, quase do
outro lado do quarto.
Não por ter medo.
Mas por sentir que minha lucidez desaparece quando ficamos muito próximos.
— Quero ir embora. Quero minha casa — informo.
Seu sorriso desaparece no momento em que as palavras “embora” e “casa” saem da minha
boca.
— Chama aquilo de casa? — a irritação é evidente em seu rosto — Sério? — ele ri, um
riso de escárnio que me incomoda — Quer voltar para um lugar onde você foi estuprada por
anos? — completa.
Meu queixo treme e meus olhos se enchem de água com o tom que ele usou em sua frase,
como se eu pedisse por aquilo, e correspondesse.
— Ele está morto agora, posso fazer o que eu quiser — respondo.
Rhett, estala a língua de um jeito sarcástico. Depois, pega um envelope de cima de um
móvel próximo à janela, então me olha parecendo se divertir com a situação, se aproxima e diz:
— Você também está morta.
— Como é? — pergunto confusa.
Ele joga o envelope em cima da cama.
— O jantar é às 20h.
E sai do quarto me dando as costas.
Olho o envelope não sabendo se realmente quero ter conhecimento do seu conteúdo,
mesmo assim, indo contra o meu medo e sentindo minhas mãos trêmulas, eu o pego. Me sento na
beirada da cama respirando fundo e o abro.
É um jornal.
— Meu Deus — exclamo no momento em que vejo.
Minha casa.
Uma foto da minha casa, - ou o que restou dela - completamente destruída, tudo se
transformou, somente em destroços e cinzas. Então leio finalmente as letras imensas, várias e
várias vezes, sem conseguir acreditar no que está escrito.
James e eu…
Respiro fundo e enxugo as lágrimas que escorrem pelo meu rosto.
A manchete diz que James e eu fomos vítimas de um acidente, um vazamento de gás que
causou uma explosão.
Estou morta.
Mas não é isso que me faz chorar, não, não é isso.
Abaixo da manchete, nas declarações dos vizinhos e familiares, há somente mensagens se
referindo ao James. Sobre o quanto ele era um homem bom, um policial leal e honesto, um
esposo cuidadoso e devoto… em nenhum momento alguém se referiu a mim com carinho,
ninguém ficou triste com a minha partida, ninguém se importou.
Eu era apenas a esposa do James.
Então a ficha cai, James estava certo, eu não tenho ninguém.
Ele me afastou de todos, e quando perdi meu pai, ele foi a única pessoa que me restou.
E agora, que ele finalmente se foi, eu estou sozinha.
“Você nunca vai conhecer o psicopata sentado ao seu lado
Nunca vai conhecer o assassino sentado ao seu lado.”
Heathens - Twenty One Pilots

Heart não apareceu para o jantar, e, no fundo, eu já esperava por esse comportamento.
Óbvio que isso não me deixa menos irritado.
Considerei ir até o seu quarto, entretanto, quando cheguei em sua porta e a escutei
chorando, dei meia volta e fui para a sala beber whisky. Não sei lidar com pessoas.
Principalmente com uma mulher e como se isso já não fosse problema o suficiente, uma mulher
chorando.
Eu poderia fazê-la se sentir melhor, de um jeito totalmente diferente. Eu a foderia. Ela
teria alguns orgasmos, o seu corpo ficaria relaxado e depois dormiria muito melhor. Isso também
facilitaria muito as coisas para mim, minha mão nunca foi o suficiente, e saber que ela está no
quarto ao lado do meu, dormindo sob o mesmo teto, não ajuda muito no meu autocontrole. Não
quando o meu corpo anseia por algo, mas minha mente - devo deixar claro que é uma parte bem
pequena, quase inexistente - sabe que seria totalmente errado tentar nesse momento.
Sento-me na poltrona em frente à lareira e vejo as chamas queimando a madeira.
Heart não tinha amigos, nem família, não vejo o motivo de estar chorando nem de todo o
sofrimento. Pelo ex-marido imagino que não seja, já que ela não demonstrou nenhuma reação
quando eu o tinha sob minha mira, nem quando o matei. E pela casa… olho ao redor observando
os livros espalhados pelas prateleiras da sala, a lareira acesa, a parede de vidro dando uma visão
completa das árvores balançando com o vento e a chuva caindo do lado de fora, essa casa é
muito maior e mais agradável do que a antiga, concluo.
Pessoas são tão confusas e difíceis, estou quase compreendendo a preferência do Cloud
por um cachorro, aquela bola imensa de pelos fica contente com qualquer coisa que ele faça.
Perco a noção de quanto tempo permaneço na sala, quando retorno para o quarto já é tarde
da noite, e não escuto barulho nenhum vindo de onde ela está.
Por instinto, toco a maçaneta tentando abrir a porta, e para aumentar minha irritação
encontro-a trancada. Claro que isso não seria o suficiente para mantê-la longe de mim, primeiro
porque tenho a cópia da chave, segundo, um chute e eu derrubo essa merda. Porém, mesmo eu
não tendo experiência com relações, sei que é um aviso de que ela quer ficar sozinha. O
problema é, até onde estarei disposto a dar essa liberdade.
Não muito, é claro.
Sigo para o meu quarto, pego meu notebook e somente por questão de segurança dela, - e
obsessão minha - abro o aplicativo das câmeras da casa, seleciono o seu quarto e logo a imagem
dela deitada na cama dormindo preenche a tela.

Acordo antes do nascer do sol como de costume, ao lado da cama o notebook continua
ligado com a imagem dela ainda adormecida na tela. Então, percebo que peguei no sono
enquanto a observava. Me levanto, vou até o banheiro, depois visto uma calça moletom e sigo
para cozinha.
— Bom dia — Spencer resmunga sentado na mesa segurando uma xícara de café.
— Bom dia — respondo meio a contragosto.
— Problemas no paraíso? — questiona, e não percebo um tom de deboche e sarcasmo em
sua voz. Permaneço quieto, me sirvo de uma xícara de café e sento-me em sua frente. — Sabe,
— ele murmura e eu ergo os olhos observando-o — vocês não são um casal. Pode foder outra
mulher, se quiser posso ligar e pedir uma, pelo menos melhora esse humor de merda.
Nego balançando a cabeça.
Não resolveria meu problema.
Porque preciso dela. Necessito dela. Outra não resolveria meu problema.
— Não quero — respondo honestamente.
— Sério? — indaga parecendo genuinamente descrente.
— Não fodia por desejo, era necessidade — explico. — Queria me enterrar e gozar, me
sentir aliviado, e uma boceta era melhor do que minha mão, ponto. Não gostava de tocá-las, nem
de ouvi-las. Pelo contrário, me irritava quando faziam.
Seus olhos me analisam, como se eu fosse uma aberração.
Foda-se!
— Mas com ela, — ele limpa a garganta — você a deseja… — completa.
— Sim — confesso. — Tanto quanto matar — admito. É uma comparação bem justa,
sempre tive necessidade de matar, de sentir a respiração diminuir no aperto da minha mão em
volta do pescoço, o corpo amolecendo conforme o brilho se esvai dos olhos. É uma sensação de
euforia, de pertencer, de precisar daquilo como preciso da porra do ar para respirar. Exatamente
como é com Heart. — Não servirá outra — balanço a cabeça negando. — Definitivamente não,
sem chance.
— Você quer machucá-la? — pergunta parecendo preocupado, e isso me irrita
profundamente, ele não deveria se preocupar com ela. Heart me pertence, somente eu devo
pensar nela.
— Não — rosno não gostando do seu tom. — Mas onde há preocupação, há interesse…
Quer me dizer alguma coisa?
— Relaxa, não quero sua garota — ele diz erguendo as mãos na defensiva. — Você
precisa ter paciência, sabe disso, não é?
— Estou tendo, não fui no quarto dela ontem — informo.
Na verdade, eu até fui. Mas estava fechado, e, a meu ver, não ter arrombado a porta foi um
sinal de paciência.
— Não estou falando de horas, estou falando de dias…
Franzo o cenho.
— Quanto tempo? — pergunto.
Ele dá de ombros bebendo um gole do café.
— Sei lá, dias. Semanas, talvez meses…
— Nem fodendo. Posso esperar no máximo uma semana, talvez nem isso — admito.
— Bom dia — Alec entra na cozinha nos interrompendo, ele caminha até a cafeteira, se
serve e caminha até a mesa se sentando ao lado de Spencer. — Tem alguma coisa para comer?
— questiona.
Spencer não diz nada, apenas levanta, pega um prato de vidro com uma tampa, e o
empurra na direção de Alec, que abre um sorriso assim que se dá conta do que há no recipiente.
— Eu amo isso — murmura aproximando o rosto da torta de maçã.
— Já temos um novo alvo? — Spencer questiona mudando de assunto.
— Sim — respondo. — Um traficante de armas.
— Quem? — Alec indaga já devorando um pedaço de torta.
— Alejandro, conhecido como Kobra — respondo.
Ele arregala os olhos, parecendo surpreso.
— Conheço ele, é um cara bastante perigoso hein, tá sempre cercado de seguranças e nem
preciso dizer sobre as armas. Não será fácil chegar até ele — explica.
Sorrio sentindo a expectativa correr pelas minhas veias.
— Então teremos um pouco de diversão — falo cruzando os braços no peito.
— Tá mais para suicídio, mas se quiser chamar de diversão…
— Quem vai morrer? — Wolf questiona quando entra na cozinha.
Alec apenas aponta para mim, Spencer e depois Wolf.
Wolf arqueia a sobrancelha e me olha com curiosidade sobre o assunto.
— Temos um serviço, — aponto com a cabeça para Alec — e ele acha que vamos morrer.
— Finalmente, um pouco de diversão — Wolf resmunga.
Abro os braços.
— Foi o que eu disse — sorrio.
— Spencer? — Alec olha para o amigo, esperando alguma resposta sua.
— Em algum momento todo mundo morre, felizmente ainda não é o meu — fala. — Tô
dentro.
— Ok. Farei umas ligações, precisamos de mais armas.
— Faça isso — ergo os braços acima da cabeça me espreguiçando.
— Quanto tempo temos? — Spencer questiona.
— Um mês — respondo.
— Já tem um plano? — Wolf pergunta sentando ao meu lado na mesa.
— Sim, como Alec disse, não vai ser fácil, mas não é impossível.
“Você não pode ver que você está perdido sem mim?
Eu posso sentir o trovão que está partindo seu coração
Eu posso ver através das cicatrizes dentro de você.”
Cirice - Ghost

Dois dias.
Dois fodidos dias que ela não sai do quarto.
É isso, é até onde minha paciência foi.
Agora chega.
Voltei do treino há duas horas, tomei banho e estou prestes a bater em sua porta quando
minha vontade é de colocar isso no chão e proibi-la de fechar novamente.
— Heart — chamo, me esforçando muito para manter um tom calmo.
Sem respostas, respiro fundo.
— Vou contar até três, se você não abrir essa porta, vou colocá-la abaixo, e acredite
querida, sem portas para você a partir de hoje.
Nada.
Provavelmente pensa que estou blefando.
— Um… — inicio a contagem — Dois…
A porta se abre abruptamente.
— Olá, querida — sorrio cínico.
— O que você quer? — questiona cruzando os braços no peito, e o movimento que ela faz
ressalta os seus seios, então relembro da textura do bico entre meus dedos.
— Você precisa comer — aviso tentando manter o foco.
— Não vou comer nada que venha do homem que me sequestrou — fala com sarcasmo.
— Prefere morrer de fome?
Heart dá de ombros se virando, voltando para dentro do quarto.
Percorro meus olhos pelo seu corpo, observando que está muito melhor desde a última vez
em que a vi. Heart tomou banho, está usando uma das roupas que Cloud comprou, os seus
cabelos estão soltos…
Gostaria de ver suas feridas, se estão melhores, se continuou passando a pomada que
deixei, porém, decido esperar mais um pouco para perguntar.
Ela continua em silêncio me observando.
— A morte em si me dá prazer, cadáveres não — admito. — Então, temos duas opções:
você pode sair desse quarto e comer, ou em algum momento você desmaiará por desnutrição, eu
vou te colocar no soro, te encher de vitaminas, e logo você ficará bem, e aí voltamos para estaca
zero. De novo — friso a última parte, esperando que ela compreenda que não haverá outra
opção.
Heart balança a cabeça parecendo horrorizada com as minhas palavras.
Ela preferia que eu a deixasse morrer?
— Vamos? — pergunto estendendo a mão em um convite para que me acompanhe.
Seu semblante demonstra a confusão que está em sua cabeça, sua batalha interna, se deve
ou não confiar em mim, até que ela revira os olhos se dando por vencida, e sai do quarto
passando por mim, me ignorando.
Rio balançando a cabeça com a sua tentativa de fazer birra.
Vou adorar vê-la me obedecer daqui a uns dias, de preferência ajoelhada com os lábios
afastados e a língua para fora.
Acompanho-a até a sala, onde em cima da mesa de centro estão algumas caixas de comida
espalhadas, imaginei que ela não fosse reagir muito bem se juntando aos demais hoje, então
improvisei uma mesa de jantar por aqui mesmo e pedi comida de um restaurante próximo.
Eu me adianto e puxo uma cadeira, e, a contragosto, ela se senta, soltando um suspiro
quando sente o cheiro da lasanha. E algo dentro de mim se agita, como se eu estivesse sentindo
orgulho por fazer a escolha correta. Observei-a o suficiente para saber qual é a sua comida
favorita.
Heart se serve, mas antes de levar o garfo a boca cessa os movimentos, ela olha para o
prato com receio, parecendo ponderar se come ou não.
— Não tem nada — informo me sentando em uma cadeira mais distante, próximo à
lareira, analisando todos os seus movimentos e reações.
— Como terei certeza? Você me drogou uma vez… — resmunga e me lança um olhar
com raiva.
— Tem razão — admito, então penso por alguns segundos. — Mas, eu tinha um motivo.
Dessa vez não há porque fazer isso — explico.
— Sério? Essa é sua desculpa? Você tinha um motivo?
Estalo a língua e balanço a cabeça de um lado para o outro, então, levanto-me da cadeira e
caminho em sua direção, me juntando a ela na mesa, sentando em sua frente.
— Não é uma desculpa. Desculpas são feitas para quem se arrepende do que faz, e eu não
me arrependo de nada Heart. Nunca peço desculpas. E se está preocupada se coloquei algo,
comeremos juntos — sugiro dando de ombros.
Ela arqueia a sobrancelha, mas não discorda.
— Você primeiro — diz me encarando.
Me sirvo de uma porção sob o seu olhar desconfiado, pego o talher e levo a boca
mastigando lentamente.
Ela estreita os olhos enquanto aguarda mais alguns segundos, provavelmente esperando
que eu caia no chão. Quando não acontece, se dando por vencida, Heart finalmente começa a
comer.
— Nossa! — murmura de olhos fechados enquanto mastiga, e o som de satisfação que ela
faz reflete diretamente no meu pau, imagino ela fazendo esse mesmo barulho enquanto senta em
mim.
Acabei de descobrir que possuo uma nova obsessão. Ver Heart comer. Me estico na
cadeira apoiando as costas e me perco nos sons que ela deixa escapar, na forma como ela leva o
talher aos lábios cheios ao redor do metal, em como ela fecha os olhos, os cílios batendo…
Não compreendo o que Heart possui que me fascina tanto, qualquer coisa que ela faça me
deixa mais curioso. Quero saber absolutamente tudo sobre ela, o que ela pensa, o que sente…
quero ser dono de cada pensamento seu, de cada fonte de desejo. Anseio por cada célula do seu
corpo. Cada respiração… chega a ser… doentio. É, é assim que me sinto o tempo inteiro, doente.
— Pode parar? — Heart diz.
— Seja mais específica — peço, sabendo o quanto ela odeia essa palavra.
— Você me olha como se quisesse me comer — fala. E não posso conter o sorriso que se
forma em meu rosto. Gosto mais dela assim, com a língua afiada, sem receio de dizer o que
pensa, nunca foi minha intenção que ela fosse submissa a mim. Nas semanas em que a observei
de longe, fiquei impressionado com sua beleza e o seu jeito, mas, não me agradava nada vê-la
parecendo sempre como uma sombra do James pelos cantos. Quieta. Acuada. Constantemente na
cama, dormindo. Com certeza essa Heart é muito mais intrigante.
— Mas eu quero — admito vendo o seu rosto ruborizar, não somente as bochechas como
geralmente acontece, dessa vez é o seu rosto por completo que atinge um tom de rosa quase
vermelho, e imagino que sua pele esteja quente. Também percebo outra coisa, mesmo ela
tentando esconder, está lá… o brilho nos seus olhos… o fogo… sei que ela também me deseja,
uma parte ali dentro, já sabe que me pertence.
Tempo. Apenas questão de tempo.
— Eu nã… — ela começa a falar, mas eu a interrompo erguendo a mão no ar.
— Eu não vou te tocar agora… — digo — Você está machucada, e pretendo que seja
gostoso para nós dois.
— É isso? Você quer fazer sexo comigo? — indaga ainda com o rosto rosado, mas, em um
tom bastante atrevido.
— Sim.
Melhor deixar as coisas bem claras desde o início, assim facilita o acordo para nós dois.
— E depois vai me deixar ir embora? — pergunta parecendo esperançosa.
Nego.
— Nunca — afirmo.
Melhor ela se acostumar com isso o quanto antes também.
— E se eu não quiser? — questiona.
Respiro fundo me esticando na cadeira.
Gostaria de pontuar sobre o “e se” na frase, seu subconsciente a entrega, mas, vou deixar
essa passar.
— Sou muitas coisas, mas estuprador definitivamente não é uma delas.
— E eu deveria me sentir bem com isso? — ironia desliza pelas suas palavras.
— Não disse isso para fazer você se sentir bem, só informei que não sou — comento. —
Planejo fazer muitas coisas com você, e em todas você estará mais que disposta.
Heart solta um suspiro alto, depois morde o lábio inferior e vejo seu queixo tremer, espero
que não comece a chorar, gostaria de ficar mais um pouco com ela, e caso ela derrame lágrimas,
terei que sair de perto.
— Você terá tudo que quiser: casa, as melhores roupas…
Ela ri, uma risada sarcástica balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Em troca de você me foder quando quiser? — questiona, e pelo seu tom de voz, não
acho que esteja realmente esperando uma resposta, mas, decido responder mesmo assim.
— É exatamente isso.
— Traduzindo: você quer que eu seja sua prostituta exclusiva? — ela se remexe na cadeira
parecendo incomodada. Então vejo-a pousando as mãos no seu colo, e sei o que está fazendo.
Heart fecha as mãos em punho quando fica ansiosa ou nervosa, afundando as unhas na
pele, vi as marcas nas palmas das suas mãos enquanto limpava suas feridas.
— Não, definitivamente eu não trato as prostitutas assim — admito, sentindo uma irritação
inquietante crescer dentro de mim, somente por saber que ela está se ferindo. — Pare! — digo
entredentes.
— O quê? — questiona parecendo confusa.
— Apoie suas mãos na mesa — peço.
Ela me olha parecendo envergonhada e nega rapidamente.
— Heart. Apoie.As.Mãos.Na.Mesa — repito, pausadamente.
Lentamente ela ergue as mãos, apoiando-as por cima da mesa.
— Abra — rosno.
Engolindo em seco, com os olhos cheios de lágrimas, ela obedece. Assim como eu
imaginava, lá estão as marcas antigas, com algumas novas recém-acrescentadas, com o sangue
surgindo lentamente.
Me levanto, deixando-a sozinha por alguns segundos, vou até o banheiro, pego uma caixa
de primeiros socorros e um cortador de unhas, volto para a sala e a encontro do mesmo jeito que
a deixei, agora com a cabeça baixa e os ombros caídos.
Puxo a cadeira me sentando em sua frente, ela ergue o rosto.
— Me dê — digo.
Heart demora, mas logo estende a mão, apoiando sob a minha.
Mesmo estando com raiva por vê-la se ferindo, não posso ignorar a sensação que explode
em meu corpo no momento que nossas peles se tocam, sua mão é tão pequena e delicada, a sua
pele é macia e fria, o contrário da minha, cheia de calos, áspera.
Afasto os seus dedos deixando-a aberta, então passo algodão limpando as feridas. Uma de
cada vez.
Sempre tive uma predisposição para destruir coisas, quebrá-las, estraçalhar tudo ao meu
redor, por onde passo deixo um pouco de caos, mas, por alguma razão desconhecida, sinto algo
diferente com ela, tenho uma necessidade incontrolável de consertá-la. Quero colar todos os seus
pedaços, e deixá-la inteira. É um jogo perigoso, sei disso. Um terreno desconhecido. E
realmente, não sei se vou piorar as coisas, ou melhorar. Entretanto, isso não importa, porque de
um jeito ou de outro, ela ficará ao meu lado.
— Você é confuso, Rhett — ela sussurra como se estivesse incerta das suas palavras.
— Não tente fazer isso — aviso pegando uma pomada para cicatrização, e aplico
lentamente.
— Isso o quê? — questiona me olhando, atenta a cada movimento meu, com os olhos
curiosos e confusos.
Pego o cortador de unhas, e uma por uma vou cortando, deixando-as extremamente curtas,
assim, quando eu não estiver por perto para impedi-la, ela não poderá mais se ferir.
— Não tente me entender, nem procurar motivos para as minhas ações, eu sou o que sou
— explico.
— E o que você é?
— Quando você estiver pronta, eu mostrarei — informo terminando de cortar as unhas da
outra mão.
— Não vou aceitar isso — fala depois de um tempo em silêncio.
Arqueio uma sobrancelha, então ela completa:
— O acordo, não aceitarei.
— Você não tem escolha — aviso.
— Como é?
— Não deixarei você ir embora Heart, você me pertence agora, e quanto antes você
aceitar, será melhor.
Me levanto caminhando até o bar e me sirvo de um copo de bebida.
— Melhor para quem? Para você não é? Porque até onde vi, o único beneficiado nessa
história é você.
— Tem certeza? Eu não vou te bater e não vou te tocar caso não queira, isso me parece
bem melhor que a vida que você tinha.
Ela balança a cabeça de um lado para o outro.
— Não sou um objeto que você pode usar e depois deixar de canto até sentir vontade de
brincar de novo, eu fui isso por muito tempo, não posso mais, não consigo.
Não posso discordar. De fato. Era exatamente o que eu planejava.
— Por que? Bilhões de pessoas no mundo, porque eu? — pergunta.
Por que não você, Heart?
— Quando eu souber, te conto — respondo por fim.
— Sabe, — ela ri — afinal, você não é diferente dele.
— Tem certeza? Não acho que ele te dava muitas opções.
— Odeio você — fala se virando, pronta para sair da sala.
— Vamos superar isso — respondo.
— Não tenha tanta certeza disso!
— Temos tempo querida, temos todo tempo do mundo — murmuro antes que ela se afaste
por completo.
“Estou cansada de sentir como se eu fosse louca
Estou cansada de dirigir até ver estrelas em meus olhos
É tudo o que eu tenho para me manter sã, baby.”
Ride - Lana Del Rey

Odeio-o de forma intensa, no entanto, pelos motivos errados.


Não é por ele ter assassinado o meu marido ou ter me drogado logo em seguida.
Não é por ele ter me sequestrado e me manter em cárcere privado.
Não.
Isso se tornou apenas um detalhe. E é exatamente isso que me incomoda tanto. É o fato
dele ser uma pessoa horrível, e ainda assim eu me sentir confortável em sua presença… Como
posso me sentir segura ao seu lado?
Talvez porque, de certa forma, foi ele quem te salvou…
Pra depois te trancafiar…
Tenho raiva de mim, principalmente do meu corpo, que mesmo eu negando, corresponde a
cada movimento seu. E o pior, anseia pelo seu toque. Desde a primeira vez em que eu o vi.
A maior parte do tempo permaneço trancada no quarto, não por medo do que ele possa
fazer comigo, afinal, uma grande parte minha, está ansiosa por isso, e não posso permitir.
Ele podia ter uma aparência menos atrativa. Acho que isso poderia facilitar a minha vida
num nível inimaginável.
Obviamente não sou tão sortuda assim, Rhett é simplesmente o homem mais lindo que já
vi na vida, tornando os meus esforços em ignorá-lo quase impossíveis.
Desconfiei disso quando eu o vi pela primeira vez no baile beneficente sentado no bar, e
tive a certeza quando ficamos frente a frente, e o pior, é que tenho certeza de que ele não faz
nada para parecer assim. Ele simplesmente é lindo. Ponto.
Me levanto da cama decidida, ficar deitada aqui o dia todo não vai me ajudar em nada,
muito pelo contrário, quanto mais tempo passo pensando sobre, mais corrompida me sinto por
ele.
Saio do quarto e caminho pelo corredor, agora, me permitindo ter um vislumbre com mais
calma da sua casa. As paredes são pintadas em um tom bege claro, não há quadros, nem fotos
espalhadas, é tudo tão neutro. O quarto ao lado do meu - que suponho ser o dele - está com a
porta fechada, eu o ultrapasso rapidamente, imaginando o quanto seria embaraçoso dar de cara
com ele nesse momento.
Continuo caminhando até chegar na sala, e me sinto aliviada por não encontrá-lo. Da
última vez em que estive aqui, não prestei atenção em quase nada ao redor, estava com fome
demais no início para ser curiosa, e depois… Bem, depois Rhett fez uma bagunça na minha
cabeça.
— Uau — deixo escapar encantada com o que eu encontro.
A sala chega a ser surreal de tão incrível.
Todos os móveis têm um estilo rústico, de um marrom escuro envernizado. No lado direito
há uma parede de vidro que inicia no piso do chão e vai até o teto, e acredito que tenha mais de 3
metros de altura. É impossível não sorrir quando olho as árvores no lado de fora, balançando
com o vento.
Um jardim particular.
Me viro observando o outro lado do ambiente, onde uma estante cobre uma parede inteira,
semicerro os olhos notando que os livros são separados por cor e a maioria continua no plástico.
Nunca tive o hábito de ler, mas, confesso que agora surgiu uma curiosidade sobre as obras
que ele possui. O que será que ele gosta de ler? Aposto que é algo sobre assassinatos e tortura e
as diversas formas de esconder um corpo.
Ao lado há uma espécie de bar com várias bebidas dispostas no balcão junto de alguns
copos.
E então a lareira… de frente para uma poltrona preta. É impossível não imaginar ele aqui
sentado, lendo, enquanto bebe o seu whisky, usando uma calça de moletom, sem camisa…
Mas que droga Annelise. Se concentra.
Balanço a cabeça tentando organizar os meus pensamentos e assim mantê-los em uma
linha de raciocínio que me permita ter um pouco de dignidade.
Ao lado da poltrona vejo um livro em cima da mesa, a capa dura escura traz o título “O
Conde de Monte Cristo” em letras brancas, eu abro onde o marca páginas está dividindo um
capítulo, e curiosa passo os olhos pela página, quando leio algo.
“A vida é uma tempestade, meu amigo. Um dia você está tomando sol e no dia seguinte o
mar te lança contra as rochas. O que faz de você um homem é o que você faz quando a
tempestade vem.”
— Olá, Heart — dou um pulo assustada e me viro, encontrando um garoto magro e da
mesma altura que eu, acompanhado de um cachorro. Um labrador imenso.
— Que susto — apoio a mão no coração, sentindo-o quase sair pela boca.
— Perdão, não foi minha intenção — ele murmura, parecendo realmente chateado.
— Não! — sorrio ainda sem jeito, sentindo minha alma retornar ao corpo — A culpa foi
minha, eu vivo no mundo da lua — dou de ombros, por algum motivo, tentando fazê-lo se sentir
melhor.
— Sou o Cloud — diz erguendo a mão no ar, como se estivesse me dando um oi de longe.
— Cloud? — franzo o cenho confusa.
Ele dá de ombros.
— Rhett escolheu — murmura se aproximando.
— Ele te sequestrou também?
Cloud joga a cabeça para trás gargalhando.
— Não — ele balança a cabeça ainda rindo. — Na verdade, eu o venci pelo cansaço.
— Como?
Um vinco se forma entre suas sobrancelhas quando ele vira a cabeça de lado até que diz:
— Ele não me queria aqui, então eu o segui.
— Por quê? — pergunto confusa, será que ele sabe o que esse homem é capaz de fazer?
— Porque, de uma forma distorcida, Rhett é minha família.
— Vocês são irmãos? — questiono mesmo não encontrando semelhança alguma entre os
dois, tanto fisicamente quanto no temperamento.
— Não de sangue, e não por escolha dele também — explica. — E não fale essa palavra
na frente dele, Rhett tem aversão a família — completa.
Ótimo, agora tenho uma nova curiosidade, como se a lista já não fosse extensa o
suficiente.
— Eu ia te convidar para caminhar — diz parecendo um pouco incerto. — Mas você está
lendo — aponta na direção do livro que segue aberto em minhas mãos.
— Ah, não! Eu não estou lendo — respondo colocando o livro no mesmo lugar de onde eu
o peguei.
— Você quer dar uma volta então?
Eu quero?
Não faço ideia de quem ele é. A não ser pela minha intuição que simpatizou de imediato
com ele. Mas, começo a notar que minha intuição não funciona da forma correta, se
considerarmos as minhas últimas interações. Meu ex-marido, e agora Rhett.
— Eu não vou te machucar — avisa parecendo na defensiva.
— E ele? — brinco apontando para o cachorro lambendo entre as pernas.
Então ele sorri parecendo relaxar um pouco.
— Rain gosta de lamber, como você pode notar, mas não passa disso — afirma.
— Rain? — ele apenas concorda com os ombros caídos — Rhett — concluo.
— Isso — concorda como se soubesse exatamente do que estou falando.
Tento não rir da situação, mas é quase impossível, Cloud e Rain. É uma ótima dupla.
— Ele tem um humor bem estranho — admito me aproximando dele.
— Eu não chamaria de humor — fala quando começamos a caminhar, e essa é a primeira
vez que vou finalmente sair de dentro da casa.
— Ele sai dando nome para as pessoas? — questiono observando ao redor, passamos por
um corredor e chegamos em uma enorme sala, mas, decido não fazer mais perguntas por
enquanto, a casa está no final da lista.
— Se você não escolher, sim, ele faz — Cloud diz encostando a palma da sua mão em um
dispositivo na porta, e logo depois, a porta destrava.
— Sério?
— Segurança — informa.
Quem são eles afinal?
— Onde ele está agora? — indago curiosa, mesmo tentando fugir dele, ainda assim fiquei
pensando onde ele estaria, que não tentou me importunar.
— Fora, mas volta amanhã à noite.
Assinto.
Quando finalmente saímos da casa, sou recebida por uma corrente de ar forte fria, passo os
braços ao redor do meu corpo tentando me proteger, então sinto Cloud cobrindo meus ombros
com uma jaqueta, a sua jaqueta.
— Obrigada — agradeço sorrindo, ele apenas dá de ombros fazendo pouco caso.
Finalmente observo ao meu redor e percebo que a residência está cercada por uma floresta,
com diversas árvores e vegetação por toda parte.
Ergo o rosto encontrando o céu cinzento, encoberto pelas nuvens.
— Aqui — Cloud diz apontando para um banco de madeira. — Eu que fiz, acho que cabe
duas pessoas.
Me sento ao seu lado, e ficamos em silêncio por um longo tempo.
Fico me sentindo dividida nesses momentos, porque, nunca me senti tão calma e segura -
desde a morte do meu pai - como me sinto agora, o que é irônico considerando as circunstâncias
em que me encontro.
— Você está melhor? — Cloud pergunta quebrando o silêncio, viro meu rosto o encarando
e noto que ele está realmente preocupado comigo. E eu não sabia que sentia falta dessas palavras,
até escutá-las.
— Você sabe? — volto a encarar a floresta, mas vejo o movimento da sua cabeça
assentindo com o canto do olho.
— Sim… Vi você chegar… — Prendo os lábios. Não gosto de ser uma pessoa que chora
por tudo, mas, ultimamente, está sendo bem difícil controlar as lágrimas quando penso no que
deixei a minha vida se tornar. — E acho que ele ainda sofreu pouco — Cloud completa e pela
primeira vez desde que iniciamos nossa conversa, noto uma alteração no seu tom de voz, agora,
demonstrando irritação.
— Você sabe o que o Rhett fez? — pergunto, querendo saber até onde vai o seu
conhecimento.
— Claro que sim — afirma.
— E você o apoia? — questiono observando seu rosto, diferente dos olhos do Rhett, frios
e vazios, Cloud tem os olhos expressivos e carinhosos.
— Por que não apoiaria? — seu maxilar trava — Acha que James pararia?
— Não — admito.
E mesmo que eu não goste de admitir, uma parte minha, sabia que se o Rhett não tivesse
surgido, não seria James o responsável pela minha morte, seria eu. Eu teria feito. Sabia que não
podia mais viver daquela forma, mas, também sabia que não haveria outra saída.
Até ele chegar.
— Exatamente, não estou dizendo que o Rhett é um herói — ele faz uma careta engraçada
— e acho que essa palavra nem deveria ser mencionada quando se trata dele. — ele ri
balançando a cabeça, como se realmente fosse algo muito engraçado, então continua — Mas
também não acho que ele seja o vilão, da sua história pelo menos.
— Ele me sequestrou — pontuo o óbvio.
— Sobre isso não tenho como defendê-lo.
— Por que se dá ao trabalho de defender as ações dele?
Cloud ergue o rosto olhando para frente, e por alguns segundos eu o vejo ir longe, mesmo
estando ao meu lado. Como se estivesse perdido na própria mente. Sei disso, porque aconteceu
muito comigo.
— Porque ele fez o mesmo por mim — diz por fim.
Queria perguntar como, porém, não tenho coragem, aquele era um assunto que, a meu ver,
parecia ser muito difícil para ele lidar, e não queria fazê-lo relembrar de algo que estivesse
lutando para esquecer, não quando ele estava sendo tão gentil comigo. Não quando eu sabia o
quanto era difícil falar sobre certas coisas. Às vezes, fingir que não aconteceu, é mais fácil do
que lidar com a verdade.
— Onde estamos? — questiono mudando de assunto. Então eu o sinto ficar tenso ao meu
lado, ele prende os lábios. — Cloud, onde nós estamos? — insisto.
Depois de um suspiro longo, fala:
— Bergen, Noruega.
Minha boca se abre em choque.
Estou em outro país.
Rhett me trouxe para outro país.
“Carne está queimando, você pode sentir o cheiro no ar
Porque homens como você têm uma alma tão fácil de roubar.”
Nightmare - Avenged Sevenfold

Me sento na cadeira enquanto observo Wolf caminhar até o homem preso por correntes
em seus pulsos, com os pés suspensos do chão, totalmente exposto. Há uma bacia de água no
chão, onde seus dedos tocam, e um fio de energia preso em cada tornozelo.
O homem grita, implora, e a sua voz está quase desaparecendo do esforço inútil que ele
faz. Nós dois sabemos que Wolf não irá atender às suas súplicas.
Não até que ele nos dê respostas.
Confesso que estou surpreso, pensei que ele não duraria nem quatro horas, mas, superando
as minhas expectativas - e para a alegria do seu algoz - o homem já está há um dia de boca
fechada.
— Eu não sei como você tem paciência pra isso — admito.
No lugar do Wolf, eu já teria metido uma bala em sua cabeça, paciência nunca foi meu
forte, deve ser por isso que meu colega sempre fica com essa parte.
Wolf me olha por cima do ombro abrindo os lábios em um sorriso imenso, demonstrando
o quanto está se divertindo.
— Gosto quando imploram — murmura, então volta a observá-lo, o sangue escorrendo
pelo seu peito, as pálpebras grampeadas, mantendo os seus olhos bem abertos. Alguns
hematomas em suas pernas, as unhas recém-tiradas jogadas no chão.
— O choro — falo cruzando os braços no peito.
— O que tem? — Wolf indaga.
— Me irrita — explico.
Não gosto de choro, é algo que me deixa com os nervos alterados, as lágrimas escorrendo,
a voz esganiçada, os gemidos de sofrimento, só de imaginar sinto meu corpo ficar tenso e a
vontade de fechar minhas mãos ao redor do pescoço e esmagar é incontrolável.
— É só você amordaçar — diz caminhando até sua mesa onde ele pega um maçarico.
— Vai demorar muito ainda? — questiono me sentindo entediado.
— Você disse que eu podia me divertir — rosna.
É, eu disse.
Quando nos conhecemos anos atrás, - ainda no Fosso - eu sabia que ele tinha assuntos
inacabados. Fora toda a raiva acumulada, o cara é fodido da cabeça em um nível muito maior que
o meu, mesmo assim houve respeito mútuo desde o início.
Ele é bom no que faz, seu único problema, é o seu passado.
Wolf quer vingança pelo que fizeram a ele, algo muito antes do Fosso e de toda merda que
passamos lá, não faço ideia do que seja, ainda assim prometi que o ajudaria, mesmo achando
uma grande perda de tempo.
O que passou, passou, foda-se.
Nunca tive o desejo de me vingar de ninguém, por nada.
Há dois dias descobrimos um nome, uma nova pista.
Desde então, Wolf está mantendo-o preso nesta sala tentando tirar qualquer informação
que ele julgue ser útil.
O cara já costuma ser sádico em seu normal, mas, quando se trata do seu assunto, as coisas
tendem a ficar um pouco mais… sangrentas, se é que isso é possível.
— Sei disso — admito arrependido.
Eu poderia estar na sede com a Heart agora, encurralando-a pelos cantos, provocando-a,
testando-a, mas, como prometi que o ajudaria, aqui estou.
Posso ser muitas coisas, mas nunca quebro uma promessa, é por isso que não as faço com
frequência.
— Escolha uma parte.
Me ajeito na cadeira e analiso por alguns segundos.
— Axilas.
Ele dá de ombros.
— Pensei que ia escolher o pau dele.
— É o próximo — sorrio.
Então, o homem começa a se debater e gritar de desespero, os sons sendo abafados pela
mordaça na boca. Wolf aperta o interruptor do objeto e uma chama azul surge no bico do
maçarico. Lentamente ele aproxima das axilas, e logo o cheiro de carne queimada preenche o
lugar, e, quando a pele queimada começa a borbulhar, ele se afasta.
— Desmaiou de novo — digo observando a cabeça caída e os olhos fechados.
— Então vamos acordar a bela adormecida — declara.
Pego um pacote de salgadinhos de cima da mesa e rasgo a embalagem jogando uma
batatinha na boca.
— Essa marca é melhor que a outra — digo observando a marca na embalagem, puxo o
celular do bolso e tiro uma foto enviando para que Cloud providencie.
— Não deixe cair farelos no chão, os ratos têm que focar em apenas uma refeição — Wolf
fala.
— Faz o lance com os ratos ainda? — questiono.
— É minha parte favorita.
Wolf tem alguns ratos de estimação em uma gaiola, e quase sempre que termina com um
alvo, ele os solta para terminar o serviço, posso afirmar que criatividade é um dos seus pontos
fortes.
— Você fala isso de tudo que faz — resmungo.
— Tem razão — ele assente — é porque gosto de tudo.
É um sádico filho da puta tenho que admitir, mas é eficiente.
Alec e Spencer provavelmente estão se afundando em alguma prostituta por aí,
precisávamos deles apenas para capturar o homem sem muito alarde, agora que estão
dispensados não vão perder a oportunidade de foder alguém.
Ao meu lado no notebook em cima da mesa avisto pelas câmeras Cloud jantando com
Heart na cozinha, notei que houve uma aproximação dos dois nos últimos dias, nada que eu
tenha que me preocupar. Acredito que minha ausência de certa forma deixou-a confortável o
suficiente para desbravar a casa, observei-a caminhando pelos corredores, indo até a cozinha
sozinha algumas vezes durante a madrugada, mas, na maior parte do tempo, ela permanece na
sala assistindo televisão.
Escuto um barulho e ergo o rosto a tempo de ver o homem tentar resmungar algo. Wolf
retira a mordaça.
— Eu não sei onde ele está — finalmente diz, cansado, com a voz quase inaudível.
— Então você admite que o conhece… — Wolf fala.
— Ele conhece o ponto fraco de todos, e sabe o meu. Não posso — diz e novamente
começa a chorar.
Bufo.
— Sua filha? — Wolf questiona sorrindo.
O homem arregala os olhos, apavorado.
— Como… — questiona.
— Não importa como sei, importa o que você está disposto a fazer para mantê-la em
segurança — Wolf declara.
— Ele é intocável, nunca vai chegar até ele.
— Talvez eu faça uma visita a sua filha então… — interfiro levantando da cadeira
ajeitando as mangas da camisa — acho que posso me divertir com ela, é gostosa Wolf?
Às vezes, tortura física não é o suficiente, e aí, passamos para o psicológico. Claro que eu
não iria atrás da garota, mas, ele não precisa saber disso.
— Não… — ele tosse algumas vezes até que se recupera puxando a respiração — Eu digo,
se você me prometer que vai tirar minha filha do país.
— Sem chance, você dá o que precisamos, e eu não faço uma visita a sua filha.
Ele nega mais uma vez.
— Pode me matar, não direi nada. A única coisa que importa é ela, sei que não vou sair
vivo, então não tenho mais nada a perder, mas minha filha tem chance.
— Por que quer tirar ela do país? — Wolf pergunta parecendo interessado demais.
— Wolf, sem chance — intervenho.
Mas ele me ignora.
— Porque ela foi prometida a um homem, e eu estava juntando dinheiro para mandá-la pra
longe até você chegar.
— Se se importa tanto com ela, porque prometeu ela a alguém? — meu colega questiona.
— Acha que tive escolha? — ele ri, sangue escorre da sua boca — Ele não pede
permissão, ele toma o que quer, e, ele a viu apenas uma vez, mas foi o suficiente.
— Nossa, que história triste. Estou comovido — coloco a mão no peito, depois começo a
rir. — Brincadeira, estou pouco me fodendo para você e sua filha, — completo, olho para o lado
e continuo — acaba logo com isso, podemos encontrar outra pessoa disposta a falar.
Silêncio.
Semicerro os olhos, desconfiado. Então jogo a cabeça pra trás.
Merda.
Esse fodido não pode estar pensando nisso.
— Não vamos fazer isso — aviso.
Silêncio.
Ele é sempre focado, frio e calculista, mas não acredito que esteja pensando de forma clara
neste momento. Está tão cego pela vingança que nem se dá conta de que o homem pode estar
blefando.
Então me olha, e não preciso que diga absolutamente nada, balanço a cabeça negando.
— De jeito nenhum.
— Eu consigo — me garante com convicção, e sei que mesmo que eu tente, não vou
conseguir persuadi-lo a desistir, tenho controle até um certo ponto.
Porra.
— Certo, consiga as informações necessárias, verei o que posso fazer. Não estou
prometendo nada, — afirmo — cansei dessa merda, estou subindo — aviso me sentindo irritado.
Não julgo Wolf porque nunca senti a necessidade de me vingar de ninguém, nem dos
meus pais quando me jogaram em um hospício e se mandaram para outro país, alegando que
aquele era o lugar ideal para crianças como eu, que lá eu seria cuidado, receberia o tratamento
correto e em breve retornariam para me buscar.
Nunca esperei que voltassem, novamente, não me importava, o hospício e a minha casa
eram quase a mesma coisa. Também não senti necessidade de me vingar dos homens que me
tiraram do hospício somente para me vender ao Fosso, segundo eles, eu era saudável, forte e alto
para minha idade, muito agressivo e inteligente, ia ser um bom cão de briga, não estavam
totalmente errados.
Talvez o sentimento de vingança venha quando você se importa muito com algo e te tiram
isso depois, nunca me importei com nada, então fica um pouco difícil mensurar o que Wolf
sente.
“Vou tirar seu rosto da minha mente.”
Black Out Days - Phantogram

Rhett me trouxe para uma casa em outro país e depois simplesmente desapareceu.
Em um dia, estava me atormentando com toda aquela conversa - que me deixou
perturbada - e no outro evaporou, isso já faz seis dias.
Não estou reclamando, longe disso, é até bom que assim seja, preferia que nem retornasse,
entretanto, isso não me deixa menos curiosa sobre o que ele está fazendo e onde está.
Cloud me contou que além do Rhett e ele, há também mais três homens vivendo nesta
casa, Wolf, Spencer e Alec; é uma espécie de residência com alas separando cada morador, em
conjunto, há a cozinha e uma sala maior. Segundo ele, nada com que eu deva me preocupar,
considerando que o lunático do homem que me mantém presa não irá deixar ninguém se
aproximar. Não tenho certeza se disse isso com intenção de fazer eu me sentir segura, e mesmo
assim, de uma forma deturpada, foi como me senti.
Sento no sofá da sala e ligo a televisão, e as próximas duas horas fico tentando escolher
algo para assistir, pelo menos Rhett tem todos os streamings possíveis e todos os canais
existentes de televisão.
É assim que venho passando as minhas tardes ultimamente, não que seja muito diferente
do que era antes na minha antiga casa, antiga vida…
— Adivinha o que eu trouxe… — escuto uma voz que reconheço vindo do corredor.
Me viro no sofá de barriga para baixo erguendo a cabeça para conseguir ter uma visão sua.
— O que é? — pergunto quando noto uma sacola em sua mão.
Cloud demonstrou ser uma companhia muito agradável, e mesmo nas condições em que
nos conhecemos, consigo me sentir confortável na sua presença, com ele não sinto medo, nem
pânico quando se aproxima, para ser bem sincera, acho que nunca conheci ninguém assim.
— Sorvete. E várias caldas pra colocar por cima.
Sorrio e ele retribui de volta.
— Uh — digo me levantando deixando um pequeno espaço ao meu lado.
— O que está assistindo? — questiona olhando para a televisão.
— Não consegui escolher nada ainda.
— Posso? — indaga apontando em direção ao sofá.
— Claro, trouxe colheres?
Cloud me lança um olhar presunçoso antes de empurrar uma para mim.
Rapidamente ele senta ao meu lado puxando uma parte do cobertor cobrindo suas pernas.
Quando olho de novo, ele já está virando um tubo de calda de caramelo em seu pote e não
fico nem um pouco impressionada quando percebo que sobrou menos que a metade no tubo
quando ele o coloca novamente na mesa.
— Formiga — o acuso levando uma colher cheia de sorvete na boca.
Ele sorri encolhendo os ombros parecendo uma criança quando é pega aprontando.
— Pode escolher — digo me ajeitando no sofá jogando o controle em sua direção.
— Sério?
Apenas concordo, mas não consigo controlar a risada que solto quando ele escolhe um
filme de super-heróis.
— Quê?
— Nada. — balanço a cabeça de um lado para o outro — É só interessante você gostar de
filmes de super-heróis morando com um lunático.
— Você o chamou do quê?
— Lunático — repito.
— Gostaria de vê-lo escutando isso…
— Não tenho medo dele. — confesso honestamente e isso me faz franzir o cenho. Eu
deveria temê-lo — Você tem? — volto a pergunta.
Um vinco se forma entre suas sobrancelhas enquanto ele fica pensativo por um tempo,
depois balança a cabeça negando.
— Não.
Isso me causa um certo alívio, se Cloud não o teme, é porque Rhett nunca o feriu, eu acho.
— Que bom — afirmo voltando a comer mais do meu sorvete.
— Sabe, não consigo imaginar ele assistindo televisão, na verdade, não consigo imaginar
ele fazendo muitas coisas, parece que ele é anormal.
— Rhett?
Assinto.
— Ele não assiste, acha uma perda de tempo, ou ele está lendo, treinando ou enfurnado no
seu escritório arquitetando algum plano.
— Por que ele tem todos esses canais então?
— Ele pediu para assinar tudo que existisse quando você chegou.
— Não sei se fico com raiva ou agradeço.
Ele ri.
— Sabe, ele não é tão horrível assim como você imagina.
— Olha, temos que discordar, ele não fez absolutamente nada para que eu mude a imagem
que tenho dele. Ele quer me tratar como um objeto, usa, deixa de lado e depois volta.
— Três coisas: primeira, você pode pedir qualquer coisa pra ele, menos ir embora, é claro.
Segunda: Ele se importa, Heart, de um jeito incorreto, mas se importa, senão, por que acha que
teria comprado todas as coisas que você gosta? Por que acha que ele se daria ao trabalho?
Terceira: Não houve outra, nunca. Não como você, pelo menos. Sei que é difícil pra você
compreender, e não estou justificando as ações dele. Poxa, qual o problema em te chamar pra
jantar? Um encontro, dois? Mas, na cabeça dele, os fins justificam os meios. Rhett nunca
precisou pedir nada. Sempre tomou tudo que queria. Ele não sabe agir de outra forma.
Me calo, absorvendo suas palavras.
— Vi vocês dois no baile. Sou o cara das câmeras, eu estava de olho caso o James
surgisse… — se explica, então continua — E, sei que você gosta dele. Pelo menos um pouco.
Então, aí vai um conselho, não lute contra. Essa é uma luta que você não vai querer começar. Ele
sempre vence.
Suas palavras penetram em minha mente como navalhas afiadas, uma a uma, alcançando
minha consciência. Mesmo que eu tente ignorá-las e não dar importância, é quase impossível.
Admito que sou um pouco influenciável. Ok. Muito. Mas fico imaginando, o que teria
acontecido, se fosse em outras circunstâncias. Se não houvesse James. Se eu encontrasse Rhett
em um lugar qualquer, no mercado, talvez… Não, definitivamente não consigo imaginar isso.
Sei que, em qualquer outro cenário, eu teria ficado com ele. Sem sombra de dúvida. Mas não
estamos. Essa é a vida real.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
Não.
Não posso.
Não aguentaria mais um James na minha vida.
A verdade é que saí de uma gaiola de ferro, somente para ser aprisionada em outra de
ouro. Só muda a cor, porque ambas têm o mesmo propósito.
— E se eu pedir uma hidromassagem? — desvio do assunto, porque quanto mais penso
sobre, mais perdida me sinto.
— Acho que ele pode providenciar isso.
— Um cinema? Sala de jogos? Qualquer coisa?
Ele assente para todas as opções.
— Interessante — declaro voltando meus olhos para a televisão, mas, sem de fato prestar
atenção alguma no filme, minha cabeça está em outro lugar.
Na porra daqueles olhos verdes.
Malditos.
Após alguns minutos do filme o seu telefone toca nos interrompendo. Rapidamente ele
atende se afastando um pouco e um arrepio sobe pelo meu corpo quando ouço Cloud mencionar
o nome dele. Ainda na ligação, ele apenas assente em alguns momentos, em outros concorda, e
não consigo tirar nenhuma informação importante, pelo menos nenhuma que me ajude a sair
daqui.
Pensei em todas as formas possíveis de fugir desse lugar, mas, em todas as minhas
tentativas imaginárias, eu sempre era pega.
A casa é quase uma muralha, por fora parece não ser nada segura e até inofensiva, mas,
depois que você entra, é quase impossível de sair, pelo menos não sem ser notado ou com os
comandos corretos.
Todos os vidros são reforçados, sei disso porque tentei quebrar alguns nos meus primeiros
dias sozinha, obviamente não consegui realizar nenhum arranhão.
E depois vem a parte mais difícil.
Digamos que eu consiga sair da casa sem ser vista, e minha fuga seja parcialmente um
sucesso, como farei para chegar a um lugar seguro?
Posso confiar nos moradores ao redor?
Tem moradores ao redor?
O quanto terei que andar até encontrar uma cidade?
Não faço ideia de quanto mato tem ao redor dessa casa, não faço ideia de quanto tempo eu
teria que caminhar, e, sendo a sedentária que sou, não aguentaria nem 7 km a pé.
Aprendi algumas coisas com meu pai quando ele ainda era de uma unidade especial de
investigação da polícia. Infelizmente, o correto a se fazer agora, é ganhar confiança do Rhett, e
em algum momento ele vai baixar a guarda, e quando isso acontecer, estarei pronta.
— Vou ter que te deixar — Cloud diz desligando o telefone guardando-o no bolso da
calça.
Apenas assinto, a vontade de perguntar se tem algo de errado surge, mas resolvo guardá-la
para mim.
Ele sai deixando o sorvete para trás, e mesmo que eu não o conheça a tempo o suficiente,
posso julgar que está parecendo preocupado.
“Oh, pai, me perdoe
Por todos os meus pecados
Quando eu encontro seus olhos
O diabo, ele vence.”
BABYDOLL - Ari Abdul

Ouço um barulho alto e acordo em um sobressalto levando a mão ao peito sentindo-o


disparado. Respiro fundo algumas vezes me recuperando do susto. Então, olho em volta e
percebo que já anoiteceu.
O som alto da televisão me acordou, provavelmente.
Sento-me passando as mãos no rosto e depois no cabelo ajeitando os fios.
Me levanto e desligo a televisão.
Acho que posso tomar um banho antes do jantar.
Olho o relógio ao lado, marcando 20h30 e estranho que Cloud ainda não tenha aparecido
para me chamar, normalmente, ele surge às 19h.
Caminho pelo corredor, e diferente de todos os outros dias, dessa vez a porta do seu quarto
está entreaberta.
Será que ele voltou?
Não. Cloud me avisaria. Ele prometeu.
Mas, e se?
Paro em frente a porta e tento escutar algum barulho.
Nada. Que Droga.
Isso é estupidez Annelise. Até mesmo para você.
Curiosa demais para simplesmente deixar de lado, afasto mais um pouco a porta e espio do
lado de dentro, entretanto, o quarto aparentemente está vazio. Até que ouço, um barulho vindo
do banheiro, parecendo o chuveiro ligado.
Imagens dele tomando banho, molhado debaixo do chuveiro bombardeiam minha mente
traiçoeira, e o mesmo calor que senti em minha pele no dia que ele cuidou das minhas feridas nas
mãos, me atinge com força.
Agora, eu deveria me virar e voltar para o meu quarto, tomar o meu banho e encontrar o
Cloud.
Mas, por que estou entrando no quarto errado?
Por que continuo caminhando na direção errada?
O barulho do chuveiro parece ter um efeito hipnotizante sobre meu corpo, quanto mais
perto chego, mais perto preciso estar. Não é uma questão de querer, é uma necessidade que
cresce como uma erva daninha, sem controle algum.
Pare Annelise. Só.pare.
Fecho as mãos em punho, mas minhas unhas não cravam na minha pele, não consigo
puxar minha mente de volta. Não consigo aliviar a pressão que envolve meu peito.
Dê meia volta…
Não.
Tarde demais.
A porta está aberta, então eu o vejo.
Engulo em seco com a imagem.
Sei que fui longe demais e passei de todos os limites, mesmo assim, sabendo totalmente
dos riscos, não consigo correr, não consigo ser indiferente.
A visão me tira o ar por segundos. A água escorre pela sua pele… Há cicatrizes. Muitas
delas espalhadas pelas costas, em seus braços… Mas isso não o torna menos bonito, muito pelo
contrário, só me deixa mais curiosa para saber como ele as conseguiu; para traçá-las com os
meus dedos… uma por uma. E uma parte minha muito sórdida e pervertida fica excitada. Muito
excitada.
Rhett leva as duas mãos até sua cabeça, ele passa ambas pelos fios molhados e
ensaboados, tirando o xampu, a espuma branca escorre pelas costas largas, causando-me arrepios
pelo corpo inteiro.
Observo com desejo como os seus músculos tensionam conforme ele movimenta seus
braços, e apenas observar já não é mais o suficiente, quero tocá-lo, quero o calor da sua pele sob
a palma das minhas mãos.
Então, ele gira, ficando de frente para mim.
Congelo no lugar, como se tivesse nascido raiz nos meus pés e fosse impossível me
mover.
Ele estreita os olhos me encarando, me desafiando a correr, e quando percebe que não vou
a lugar nenhum, um sorriso perverso se abre lentamente em seu rosto. É diabolicamente lindo. E
irresistivelmente tentador.
Se divertindo com a situação, ele deixa a cabeça tombar para um lado, então, corro os
olhos para baixo. Cravo os dentes no lábio inferior para segurar um gemido que quase escapa ao
olhar para o seu pau, as veias ressaltadas brilham ao redor do seu membro grosso; a cabeça
grande e rosada apontando para cima e que por pouco o comprimento não alcança seu umbigo.
Ele não fala absolutamente nada, entretanto, leva uma mão fechando ao redor.
Puxo o ar, cheia de expectativa, com um redemoinho de sentimentos e sensações se
formando no meu estômago, subindo direto para o meu peito.
Olho rapidamente para seu rosto, a tempo de vê-lo mordendo o lábio inferior, revirando os
olhos em seguida, quando movimenta a mão para cima e para baixo; uma vez, duas, devagar.
Depois, passa a palma da mão pela glande soltando um gemido rouco, é quando sinto minha
calcinha, - antes seca - agora completamente encharcada.
— Ergue a blusa — murmura por meio de uma névoa cheia de tesão — deixa eu te ver…
Não respondo, não com palavras ao menos, e, como se ele tivesse algum tipo de poder
sobre mim, querendo escutar mais dos seus gemidos, desejando escutar sua voz carregada de
prazer, seguro a barra da minha blusa, e ergo, sentindo o frio tocando os meus seios, nos bicos já
endurecidos.
— Porra, sim — grunhe.
E agora sinto inveja, eu gostaria de estar mordendo o seu lábio, descobrindo o seu gosto,
tocando-o.
Devo estar ficando louca, e muito doente, porque sinto meu corpo aquecer, como se a
qualquer momento eu pudesse incendiar, aperto uma perna na outra, esfregando, tentando aliviar
um pouco da dor que se formou no centro, que clama por um toque apenas.
Ele apoia uma mão no boxe de vidro, enquanto a outra mão aumenta os movimentos, de
um jeito agressivo, agora, parecendo desesperado. Vejo seu abdômen delineado, totalmente
trincado pelos gomos, se contraindo conforme sua mão aumenta a velocidade, segurando com
tanta força e agressividade.
Sua boca se abre, seu peito sobe e desce rapidamente, seus olhos se estreitam, a água
escorre pelos seus lábios, mas ele não tira os olhos de mim, nem por um segundo.
— Heart — me chama quase em um rosnado com os dentes cerrados, e em seguida, jatos
de gozo saltam do seu pau, escorrendo pela sua mão logo em seguida, conforme ele continua os
movimentos, agora, mais lentos, com menos força.
Ergo o rosto, nos entreolhamos. Ele não ri. Não diz nada. Apenas me encara de volta.
Sério. Como se estivesse tentando me decifrar.
Isso é demais.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, recuperando a sanidade.
— Não — deixo escapar.
— Ah sim. E espero que tenha gostado do show — ele estala a língua parecendo pensativo
— e que fique claro, isso me deu direito a muitas coisas agora — fala.
Então fujo, faço a única coisa que me parece mais sensata no momento. Pego minha blusa
do chão apoiando em frente aos meus seios e corro, parando apenas quando estou no meu quarto
com a porta trancada.
Fecho os olhos, ofegante, com o coração disparado, o peito subindo e descendo
descompassado, a adrenalina correndo pelas minhas veias, então, o inesperado acontece. Eu
sorrio. Coloco a mão na boca tentando abafar o som, sem conseguir acreditar no que fiz. Estou
ficando louca. Essa é a única explicação. Estou passando tanto tempo nessa casa, com ele, que
provavelmente estou absorvendo sua insanidade.
Oh meu Deus.
Engulo em seco, com as imagens invadindo minha mente, como se fosse um filme
passando em um looping.
Me sinto tão quente, tão desejada como nunca me senti antes, a forma com que ele me
olhou, com fome, luxúria, tanto desejo… e pela primeira vez, me senti única.
Molho os lábios, imaginando o que ele faria, se eu deixasse, uma vez apenas, ele iria me
beijar? Seria forte ou calmo?
Gostaria que fosse forte. Rude.
Rhett desperta um lado meu que nem eu conhecia. Um lado carnal, beirando o selvagem.
Fecho os olhos, então, finjo que ele está ali, seus lábios tocam o meu pescoço, então ele
passa a língua pela minha pele, é quente e macia.
Continuo imaginando, o seu cheiro, o calor do seu corpo, suas mãos por toda parte.
Sentindo uma dor no meio das minhas pernas, latejando, clamando por qualquer toque.
Escorrego uma mão até o meu seio, tocando-o, enquanto a outra desce, até que empurro
para dentro do meu short.
Solto um gemido baixinho quando toco o meu clítoris, sentindo escorregadio, fantasiando
com ele, imaginando que são os seus dedos longos e ásperos. Com movimentos circulares sinto
algo crescendo, aperto o bico do meu seio, lembrando em como ele fez no baile, e não demora
muito, cravo os dentes em meu lábio inferior, forte, quando o orgasmo me atinge, arqueio as
costas sentindo um prazer que eu não tinha há anos.
Agora, com a mente mais limpa, a nuvem do orgasmo se dissipando aos poucos, na
mesma proporção que a ficha vai caindo, e a consciência começando a pesar.
Não consigo acreditar no que tive coragem de fazer, e o pior, que permaneci lá até o final,
cada vez que fecho os olhos eu o vejo, nitidamente na minha mente, seu rosto, seus olhos, sua
boca, o som que escapou dos seus lábios quando gozou.
Deitada na cama olhando o teto do quarto, fico pensando quais são as minhas opções
agora, como sigo diante dessa situação.
Tenho duas opções…
A primeira - digamos que já estou colocando-a em prática, e ela não me agrada nenhum
pouco - posso me esconder nesse quarto, e esperar que ele venha atrás de mim para me
confrontar por tê-lo espionado descaradamente no banheiro, ou, tenho uma segunda opção -
totalmente arriscada e impensada, principalmente porque não é como me sinto - posso me vestir,
e ir ao seu encontro como se nada daquilo tivesse importância alguma para mim, como se o seu
showzinho não tivesse me afetado em nada.
Rhett tem a vantagem agora, preciso agir de uma forma que ele não esteja esperando,
preciso desarmá-lo. É isso.
Me levanto, tomo um banho gelado, que não suporto, mas é necessário para aliviar o calor
e desejo que sinto cada vez que fecho os olhos; paro em frente ao meu guarda-roupa, vestidos…
calça… regatas… passo a mão pelas peças tentando imaginar o que seria mais adequado.
Não posso impressioná-lo, de jeito nenhum, e pensando assim, escolho uma calça de
moletom e um casaco que não marca nada as minhas curvas.
Peças íntimas nem perco meu tempo escolhendo, não porque me importo do que ele irá
pensar, afinal, não planejo deixá-lo chegar perto, mas, porque o infeliz comprou apenas lingeries
vermelhas, num tom de sangue, e não preciso mencionar que são todas extremamente
desconfortáveis, a maioria é pra ser apenas sensual e nada confortável.
Me olho no espelho uma última vez, nada sensual, totalmente indesejável.
Perfeito.
“E eu queria isso, queria tanto isso
Mas haviam tantas bandeiras vermelhas.”
Elastic Heart - Sia

Não deu certo.


Sei disso, no momento que chego à sala e o encontro sentado em sua poltrona, seus olhos
percorrem pelo meu corpo, famintos, como se a qualquer momento ele fosse me colocar contra
uma parede e me foder exatamente do jeito que venho fantasiando.
Você ia gostar.
Aquela voz depravada sussurra na minha mente.
Não, não ia.
Mesmo coberta por camadas e mais camadas de roupas, tenho a sensação de que ele está
me despindo de cada uma delas. Ele permanece em silêncio, um silêncio desconfortável,
principalmente porque seu rosto demonstra uma boa parte do que ele está imaginando. Então,
Rhett estreita os olhos, como se soubesse exatamente o que eu estava fazendo a pouco no quarto.
— Cloud esteve aqui? — pergunto disfarçando, tentando minimizar o constrangimento.
Sei que ele não viria me procurar já que o Rhett voltou. Cloud e eu construímos um tipo de
relação, mas sei que a lealdade dele é totalmente do seu amigo.
Rhett manda, Cloud obedece.
— Por que ele viria?
— Porque fazemos as refeições juntos — explico.
— Você quer se juntar a ele? — questiona e um tom de irritação transparece em sua voz.
Eu quero?
Se Rhett está aqui, significa que os outros também voltaram, eu quero vê-los? Quero
mesmo me sentar em uma mesa rodeada de homens que provavelmente são tão assustadores
quanto ele?
É melhor do que permanecer sozinha em sua presença.
— Sim, eu quero — digo em um impulso quando o vejo levantar.
— Tudo bem, — fala — então vamos — completa passando por mim, caminhando pelo
corredor.
Reviro os olhos, mas o sigo em silêncio, ficando com a visão apenas das suas costas.
Vestindo calça jeans preta e uma camiseta simples branca ele anda parecendo sempre em alerta,
cada movimento é extremamente calculado e não tenho certeza se ele consegue relaxar em algum
momento.
Próximo à cozinha, ouço algumas risadas altas, e congelo no caminho começando a me
arrepender, o pânico começando a me dominar. Dou um passo para trás, recuando, sentindo que
me afastei, Rhett também para no meio do caminho, então, se vira arqueando uma sobrancelha
com uma pergunta silenciosa no rosto.
— Não sei se é uma boa ideia — confesso.
— Você quis vir — afirma com desdém.
— Eu sei — bufo.
— Ninguém irá te tocar. Você me pertence e eu não pretendo te dividir com mais
ninguém. Se alguém ousar olhar para você com qualquer demonstração de desejo, eu o mato.
— Simples assim?
— Simples assim.
— E se eu olhar pra alguém com desejo? — ergo o queixo, não sabendo de onde surgiu
essa coragem e ousadia.
Seus lábios se curvam em um sorriso presunçoso. Aquele sorriso diabólico que me faz
questionar tudo, então diz:
— Você não vai.
— Como tem tanta certeza?
— Eu tenho.
Balanço a cabeça tentando limpar meus pensamentos.
— Cloud — diz em um tom mais alto e logo meu amigo, se é que podemos nos denominar
assim, vem em seguida, e no momento que seus olhos recaem sobre mim, ele reconhece o meu
receio.
— Vamos Heart, são todos comportados — a última parte ele disse um pouco mais alto,
provavelmente para que os outros ouçam, e isso faz com que eu me sinta um pouco mais
tranquila.
Cloud estende a mão em minha direção e antes que eu consiga segurá-la, Rhett se
intromete agarrando-a na sua, e não consigo controlar o resmungo de dor que deixo escapar com
a força que ele põe, prendendo-a possessivamente, quase esmagando meus dedos no processo.
Ele me olha parecendo confuso até que diminui a força no aperto, foi pouca coisa, mas o
suficiente para o sangue voltar a circular pela minha mão.
É, ele estava falando sério quando disse que não divide. Isso não deveria fazer eu me
sentir mais segura, então, por que me sinto?
Cloud levanta as mãos parecendo na defensiva e vira as costas voltando para a cozinha.
Rhett me guia, o tempo todo permaneço de cabeça abaixada e quando finalmente chegamos a
mesa fico impressionada com os outros. Definitivamente não são nada como imaginei que
fossem, há apenas dois deles e imagino que um não tenha se juntado ainda. Mas, dos que estão
presentes, ambos parecem amigáveis, assim como Cloud, exceto pelo lunático que sentou ao meu
lado.
— Sou o Alec e você? — um homem com os cabelos louros e uma barba que cobre o seu
queixo e uma parte do maxilar pergunta sentado em minha frente, então ele estende a mão por
cima da mesa sorrindo.
— Annelise — respondo e quando vou erguer minha mão de cima das minhas pernas para
cumprimentá-lo, Rhett me interrompe passando os dedos ao redor do meu pulso, puxando-a de
volta.
— Heart — ele diz. — Você se chama Heart — afirma.
— Vamos ignorá-lo — Alec declara rindo e por um segundo consigo soltar a respiração
que nem sabia que estava prendendo.
Apenas assinto, mas consigo escutar Rhett grunhindo ao meu lado.
Qual o problema dele?
— Esse cara bonito ao meu lado é o Spencer — Alec anuncia e Rhett resmunga de novo,
mas ignoro prestando atenção ao outro homem, que possui a mesma cor de cabelo que seu colega
ao lado, porém seus braços são definidos e grandes com tatuagens ao redor, e ele parece mais
velho.
— Prazer Heart — Spencer diz e Alec revira os olhos.
— Spencer, a Heart entende de armas também — Cloud declara tentando me incluir na
conversa.
Spencer volta seus olhos para mim, parecendo interessado, encolho os ombros me
sentindo desconfortável por ser o centro das atenções.
— Meu pai era policial, e me levava no clube de tiro — falo não dando tanta importância
na esperança de que ele se contente apenas com isso.
— Você sabe atirar? — pergunta.
— Um pouco, minha mira não é lá essas coisas, e faz muito tempo que não pego em uma
arma, então…
Eu costumava ir ao clube de tiro com meu pai e o seu parceiro aos sábados, a primeira vez
que peguei em uma arma eu tinha nove anos, é claro que aquele não era um ambiente seguro
para uma criança, mas meu pai e eu não passávamos muito tempo juntos, então, sempre que ele
podia me carregava junto aonde ia.
— Tenho um SVLK-14S novinho — murmura deixando o nome da arma no ar,
provavelmente vendo se realmente entendo sobre o assunto.
— Um Sumrak, — falo enquanto observo Rhett me servir — 900 metros por segundo, —
continuo — não existe um colete a prova de balas que possa suportar um tiro, é uma boa escolha
— completo.
Ao meu lado, Rhett abre um meio sorriso parecendo orgulhoso e quero me bater por me
sentir alegre por isso.
— Você é boa — Spencer comenta me observando com curiosidade.
Dou de ombros. Meu pai tinha uma certa fascinação por armas, e antes do James, digamos
que eu compartilhava do mesmo hobby que ele.
— Ainda não testei ela, se quiser se juntar a mim amanhã…
— Diga a ela quem conseguiu essa belezinha pra você — Alec fala empurrando o
cotovelo em seu ombro parecendo uma criança empolgada com um novo brinquedo.
— Acho que ela já tem uma ideia, Alec.
Assinto rindo.
— Eu gostaria muito — digo honestamente, entusiasmada, mas logo uma onda de
desânimo me atinge quando lembro que sou uma prisioneira e provavelmente Rhett não vai
deixar, visto que, sou uma espécie de objeto sem direito algum. Que o pertence, como ele gosta
de frisar.
Faz alguns anos que não pego em uma arma, James era totalmente contra, mas ele não está
mais aqui, nunca mais estará, na verdade. Pelo menos isso de bom.
Não pedirei autorização, não vou repetir os mesmos erros que cometi com James. Você
pede uma vez, e isso dá algum tipo de poder a eles, que você não consegue mais recuperar; e
quando se dá conta, está pedindo aprovação até para o que veste.
Não.
Encerrei esse ciclo.
Prefiro não fazer nada, do que ter que me humilhar como fazia.
— Wolf? — Spencer pergunta ao Rhett.
— Volta amanhã — responde apenas.
Será que ele é sempre assim?
Os outros não parecem se incomodar com o mau-humor dele, e ninguém parece
desconfortável, então, devo julgar que esse seja o seu “normal”.
— Então, como pode ver Heart, eu sou o bonito, — Alec diz estufando o peito — Spencer
é o gente boa — continua explicando — Cloud o nerd, Rhett é o cara mal assim como Wolf.
Spencer deve ter percebido o meu desconforto ao escutar como o seu amigo se referiu ao
lunático ao meu lado, e imediatamente, balançou a cabeça negando.
Um telefone toca interrompendo o jantar, em seguida Rhett atende se levantando e
rapidamente já está distante da cozinha.
— Então, o que mais você faz? — Alec questiona.
— Nada, acho que a vida de vocês é bem mais interessante do que a minha — comento
espetando uma batata com o garfo em meu prato.
Rhett deve pensar que eu estava passando fome, pela quantidade de comida que me serviu.
Todos eles continuam me olhando, esperando que eu diga algo mais, solto um suspiro, e dou um
breve resumo da minha vida.
Em alguns momentos do jantar, me questiono e me sinto culpada por estar me sentindo
confortável na presença deles, e em um determinado instante, penso como seria minha opinião
em relação a eles se eu não tivesse sido sequestrada pelo Rhett, provavelmente eu os acharia
incríveis. Na verdade. Eu os acho. E isso me incomoda.
“Toque-me com um beijo, sinta-me em seus lábios
Porque é aqui que eu quero estar
Onde é tão doce e celestial.”
Heavenly - Cigarettes After Sex

Me afasto o suficiente para que ninguém me ouça, sento em uma cadeira que fica em
frente ao corredor, de onde consigo ter a visão perfeita de qualquer um que saia da cozinha.
— Fala — declaro passando a mão pelo rosto tentando me concentrar no que Wolf tem a
dizer e esquecer - por enquanto - o que vi Heart fazendo no quarto pelas câmeras. Porra.
No instante em que ela saiu correndo, me enrolei em uma toalha e abri as câmeras no
notebook.
E lá estava ela, deitada na cama, os olhos fechados, a boca entreaberta, enquanto uma mão
estava em seu seio segurando o bico a outra estava dentro do seu short. Seus joelhos estavam
dobrados, e foi impossível não pensar que poderia ser eu ali. Quase fui até seu quarto, foi por
muito pouco. No momento em que ela arqueou as costas, gozando, foi como se eu conseguisse
escutar o som que saiu pela sua boca. Como se eu conseguisse sentir o cheiro da sua excitação.
Nunca tive que ter tanto autocontrole na minha vida, e caralho, isso está me matando.
— Preciso de mais tempo — Wolf diz afastando conseguindo minha atenção de volta.
— O que aconteceu?
— Nada importante — resmunga irritado com a minha intromissão.
Sei que ele não gosta de dar satisfação, ninguém gosta afinal, mas é necessário.
Wolf não tem escolha, nenhum de nós tem, na verdade, certos assuntos precisam ser
compartilhados, principalmente quando você está tirando uma garota do país para mantê-la
segura.
Garota essa, que está prometida para a porra de um dos maiores traficantes de armas e
drogas, o cara de quem Alec arruma tudo o que precisamos. É praticamente cuspir no prato que
come, não que eu me importe, só não acho que deveríamos pôr em jogo um bom fornecedor por
uma garota.
Irritado com o rumo que as coisas estão tomando, e sentindo que isso não acabará bem,
solto um suspiro frustrado.
— De quanto tempo? — pergunto a contragosto, querendo encerrar logo esse assunto e
voltar para ela.
— Uma semana…
Balanço a cabeça.
— Wolf — começo a falar, mas antes que eu consiga terminar a frase, ele me interrompe.
— Nunca te pedi nada.
O caralho que nunca me pediu nada. Bastardo filho da puta.
— Resolva suas merdas e volte logo — é o que digo, mesmo não concordando.
O combinado era deixar a garota em um lugar seguro, e voltar imediatamente, sem atrasos
nem mais surpresas.
— Precisa de mim para alguma coisa? — indago escutando algumas risadas vindo da
cozinha, o que não me agrada em nada, não gosto da sensação que surge quando outras pessoas a
fazem rir.
— Não.
— Certo, qualquer coisa, me ligue.
Desligo o telefone e o guardo no bolso, deixo a cabeça cair para trás e penso por alguns
segundos enquanto olho para o teto.
Uma semana é o tempo que estou disposto a oferecer, não quero ter que me intrometer nos
seus assuntos, mas isso está indo longe demais, e caso ele não resolva, farei do meu jeito. Wolf
está se afundando e não planejo deixar que isso aconteça.
Ele mantém em segredo uma boa parte da sua vida, e sei que, se tivéssemos envolvido o
resto da equipe, ele já teria conseguido sucesso. Mas, é orgulhoso demais para pedir ajuda.
Volto à cozinha e no instante que piso no ambiente recebo um olhar desconfiado do
Cloud, como se soubesse exatamente com quem eu estava falando e do que se trata, até que um
semblante preocupado toma conta do seu rosto. Balanço a cabeça discretamente, indicando que
esse é um assunto para mais tarde. Ele sabe tanto quanto eu, que não é muita coisa, porém, Alec
e Spencer não fazem ideia de absolutamente nada.
— Tudo bem? — Spencer questiona com a testa franzida.
— Sim — afirmo me sentando novamente.
Minutos depois, Spencer levanta e se despede, não demora muito Cloud repete o mesmo
gesto se afastando enquanto Alec continua mexendo no celular.
Ao meu lado, percebo que Heart parou de comer há algum tempo, e, ainda assim
permanece sentada, como se, inconscientemente, estivesse me aguardando. Querendo ter certeza
da minha teoria, solto os talheres no prato, demonstrando que estou satisfeito; bebo um gole de
água, depois me levanto e assim como eu suspeitava, ela me acompanha se despedindo do Alec
em seguida.
Caminhamos lado a lado sem dizer uma palavra sequer, mas, o tempo inteiro, estou ciente
do calor do seu corpo próximo do meu. O cheiro adocicado de baunilha que exala do seu cabelo
me invade constantemente e minha vontade é de segurá-la pela cintura e afundar meu rosto no
vão do seu pescoço, sentindo o aroma direto da fonte.
Mas, eu não faço, porque mesmo que uma parte dela me queira, ainda percebo o receio,
ainda vejo como seu corpo se retrai quando chego mais perto. Aquela centelha de medo,
continua lá.
Apesar da circunstância de como ela chegou até mim, não desejo ser um lembrete do que
já viveu.
No momento que acontecer, quero que ela esteja totalmente entregue a mim por livre e
espontânea vontade, quero que me deseje tanto que não reste nenhum resquício de dúvida em sua
mente, corpo e alma.
Necessito que ela saiba, que no segundo que me deixar entrar, nunca, jamais haverá outro.
Não que ela tenha muita escolha. Mas, prefiro que pense que tem.
Isso, no entanto, não me impede de provocá-la, é claro. Exatamente como fiz hoje mais
cedo.
Não era exatamente daquela forma que eu imaginava nosso primeiro contato depois de
seis dias fora. Mas, não posso dizer que não me agradou. Na verdade, eu gostei de cada segundo.
— Rhett — ela diz parando na metade do caminho.
Adoro como meu nome soa nos seus lábios, como sua voz doce pronuncia as palavras.
Viro a cabeça, observando-a.
— Eu sinto muito… — ela fecha as mãos em punho denunciando o nervosismo,
rapidamente seguro-as impedindo que afunde as unhas na pele.
— Já disse para não fazer isso — afirmo soando mais irritado do que eu gostaria.
— Não é como se eu conseguisse controlar — retruca revirando os olhos.
Abro sua mão analisando, notando que não há nenhuma cicatriz nova, somente as antigas,
mas, suas unhas estão começando a crescer e muito em breve estarão grandes o suficiente para
voltar a machucá-la.
— Se não se comportar, vou ter de cortá-las novamente — aviso reparando o quão
delicada é sua mão, tão pequena…
— Eu não estava mais fazendo isso, foi só você chegar — informa se afastando um pouco.
— Então teremos de cortá-las sempre, não planejo ficar longe de você. — falo — Mas
então, por que queria se desculpar? — questiono descaradamente, como se não soubesse do que
se trata, quando, na verdade, quero escutar as palavras saindo de sua boca.
— Você sabe — resmunga desviando o olhar.
Estalo a língua balançando a cabeça de um lado para o outro.
— Não, realmente não sei, terá que ser mais específica.
— Quer saber? Eu não ligo, minhas desculpas nem seriam sinceras mesmo — retruca se
virando para sair, mas, eu a impeço segurando seu braço puxando-a de volta, agora, muito mais
próxima do meu corpo.
— Você gostou? — aproximo meu rosto do seu a ponto de sentir a sua respiração em
minha pele.
— Do quê? — Heart empina o nariz quando diz de forma arrogante — Seja mais
específico — devolve minhas palavras.
Sorrio.
— Talvez eu possa refrescar sua memória — informo.
Ela arregala os olhos e sei que sua mente foi para outro lugar pelo tom rosado que sua pele
assume, dou um passo em sua direção, ela rapidamente se afasta. Avanço mais uma vez e
novamente ela recua, até não ter mais para onde correr e suas costas estarem pressionadas na
parede e meu corpo no seu.
Encaixo a mão no vão do seu pescoço, deslizando o polegar pela bochecha.
É insano como posso observá-la por um dia inteiro, e ainda assim não ser o suficiente. Sou
terrivelmente louco pelos seus olhos, principalmente pelo que eles dizem, como agora, cintilando
entre uma mistura de desejo e insegurança.
Heart passa a língua pelo lábio inferior e encaro esse gesto como um convite. Eu nunca
beijei ninguém antes, mas, mal posso esperar para sentir a textura dos seus lábios nos meus, e,
mesmo imaginando todos os sabores possíveis, nada se compara com a realidade.
Aproximo nossas bocas, com a expectativa se alastrando em meu corpo, correndo pelas
minhas veias, passando por todos os meus órgãos, até que, finalmente, pressiono meus lábios nos
seus. E, mesmo não entendendo porra nenhuma, mas necessitado por senti-la, eu empurro minha
língua para dentro da sua boca. Testando. Conhecendo. Sentindo. Como se meu corpo soubesse
exatamente do que precisa mesmo sem nunca ter feito, e no instante que ela retribui, no segundo
que sua língua desliza de encontro a minha, confirmo algo que eu já desconfiava: nunca mais
conseguirei manter distância dela.
Seguro seu rosto entre minhas mãos, impedindo-a de se afastar, mas, isso não parece ser
uma opção para ela agora, porque Heart se agarra na lateral da minha blusa com força, como se
estivesse se segurando em mim, me puxando para si.
Isso, querida, segure-se, venha para mim.
Nossas bocas se encaixam perfeitamente, e quanto mais eu a beijo, mais eu a quero.
Heart morde meu lábio inferior e não consigo controlar o gemido que deixo escapar com o
gesto, e agora, apenas beijá-la já não é mais o suficiente.
Afasto seu rosto do meu, apreciando a visão em minha frente. Os seus lábios estão
vermelhos e inchados, seus olhos continuam fechados, e se existisse perfeição, essa imagem com
certeza seria uma.
Meus lábios deslizam pelo seu queixo, depois pelo maxilar… raspando os dentes em sua
pele delicada. Em seguida, a língua segue o mesmo caminho, adorando cada ruído que ela deixa
escapar, me tornando viciado em qualquer reação que seu corpo demonstra.
E, buscando todo controle que possuo, me afasto.
Ainda não é o momento, isso com certeza foi um grande passo, mas, a partir do instante
em que se der conta do que ocorreu, vai se afastar, e se eu for mais adiante, se eu empurrá-la
mais um pouco, ela irá se corroer pela culpa e voltaremos a estaca zero.
Heart me encara confusa pela minha interrupção.
— Munição para os seus sonhos — explico beijando seus lábios mais uma vez. — Boa
noite querida — digo abrindo a porta do seu quarto observando enquanto ela entra parecendo
aérea.
“Então, pela primeira vez na minha vida, me deixe ter o que quero
Deus sabe que seria a primeira vez.”
Please, Please, Please Let Me Get What I Want - The Smiths

Mesmo que eu tentasse, mesmo que fizesse um esforço enorme, jamais conseguiria
colocar em palavras o que de fato senti quando ele me beijou. Na verdade, não sei se existe
palavra que descreva.
Naquele momento, o mundo já não era mais mundo, eu não era Annelise, e ele não era o
Rhett. Nada mais fazia sentido, tampouco importava, éramos apenas duas pessoas,
completamente distintas, e mesmo assim, nunca nada foi tão real para mim.
Virei de um lado para o outro a noite inteira e dizer que preguei os olhos por duas horas
seguidas é um exagero. De manhã, esperei que viesse me chamar para o café, ou me atormentar
por qualquer que fosse o motivo, mas ele não apareceu. Tentei repetir na minha mente que isso é
bom, mas, como sempre, havia aquela vozinha chata e irritante lá no fundo, sussurrando que
talvez, não tenha gostado do beijo, talvez não tenha sido como ele esperava, afinal, qual seria o
motivo para o afastamento abrupto de ontem senão esse?
Não que eu me importe também… talvez assim, ele até me deixe ir embora.
— Tá pronta? — Spencer questiona chamando minha atenção, ergo os olhos observando-o
levar uma xícara de café aos lábios.
Já era tarde quando eu decidi vir tomar café sozinha, por sorte, encontrei Alec e Spencer
na cozinha, os dois estavam em uma discussão calorosa sobre motos e carros, não compreendi
muita coisa, mas pelo pouco que vi, notei que Alec discorda apenas pelo prazer de irritar o seu
parceiro.
— Sim — respondo, olho ao lado onde os lugares do Cloud e do Rhett permanecem
vazios.
— É quase um clube — Alec murmura observando-me, e notando minha confusão,
continua. — Rhett, Cloud e Wolf — explica. — Às vezes eles se juntam e somem, logo ele volta
— dá de ombros.
Apenas assinto, não sabendo muito o que dizer.
— E vocês formam o outro clube? — questiono notando que os dois quase sempre estão
juntos e possuem o hábito de se comunicar apenas com troca de olhares.
Alec abre um sorriso convencido.
— Sim — concorda, ao mesmo tempo que Spencer balança a cabeça negando, recebendo
um olhar gélido do seu amigo.
Olho para os dois arqueando uma sobrancelha, até que Spencer parecendo vencido, solta
um suspiro alto confirmando.
— Ele costumava ser um lobo solitário, ainda não se adaptou comigo, mas estamos
trabalhando nisso, não é? — Alec explica empurrando o cotovelo no braço do seu amigo ao lado.
Spencer decide ignorá-lo, e por um segundo fico com pena, então Alec volta a irritá-lo no
segundo seguinte e eu compreendo a dinâmica dos dois, enquanto um irrita o outro finge se
incomodar.
— Alec e Spencer são os nomes de vocês mesmo? Ou foi o Rhett que escolheu? —
pergunto.
— Sim, só você e o Cloud ganharam nomes novos — Spencer declara.
— E o Rain — me lembro do cachorro.
— Sim, tem o cachorro — Spencer confirma. — Cloud até tentou escolher o nome, mas
Rhett foi quem decidiu.
— Por quê? — questiono me ajeitando na cadeira.
Talvez Spencer dê as respostas que procuro, já que Cloud é tão leal ao Rhett que se nega a
dizer mais do que meias frases. Não que eu não acredite na lealdade do Spencer, mas, não vejo a
mesma devoção. Ele, parecendo se dar conta do meu intuito, estreita os olhos me analisando,
mas, por algum motivo, decide cooperar.
— As coisas não funcionam normalmente na cabeça dele — explica.
E eu não sei disso?
— O Rhett?! — confirmo de que estamos falando da mesma pessoa.
— Sim, Rhett. Então, não faço ideia, Heart — ele frisa a última parte, deixando bem
evidente o meu novo nome.
— Vocês me parecem normais dentro do possível, porque concordam com ele? — talvez
eu tenha ido um pouco mais longe, entretanto, preciso de respostas.
— Somos normais, viu isso? — Alec murmura.
— Ok. Somente você é normal Spencer — corrijo rindo, Alec leva a mão ao peito
fingindo ter sido atingido.
— Ele te machucou? — Spencer pergunta me olhando.
— Não — balanço a cabeça.
— Ele tocou em você, sem a sua permissão? Sexualmente falando… — indaga me
olhando sério, e agora Alec não está mais brincando. O clima descontraído foi embora, sendo
preenchido por outro sentimento.
Preocupação, talvez?
Não sei dizer.
— Não, ele não fez — mas minhas bochechas ficam vermelhas instantaneamente me
lembrando do que aconteceu de fato, de como eu invadi o seu quarto sem sua permissão e o
observei se tocando.
— Então não temos nenhum problema com ele — Spencer declara.
— Sério?
Ok. Talvez nenhum deles seja totalmente “normal”.
— Heart, — ele respira fundo como se estivesse procurando as palavras certas — vi o que
aquele animal que você chamava de marido fez com você, conheço esse tipo de pessoa, convivi
com eles por muito tempo, ele não te deixaria ir, nunca. Rhett te fez um favor. Acredite em mim.
— Tudo bem, eu não o julgo pela morte do James, no fundo, eu agradeço. — Sussurro a
última parte, porque mesmo sabendo o quanto James era desprezível, é um pouco complicado e
vergonhoso se sentir confortável com a morte de alguém, principalmente quando cresci com um
pai policial que era totalmente contra fazer justiça com as próprias mãos, ele acreditava no
sistema judiciário, ser julgado e condenado da forma que o juiz sentenciasse — Mas ele me
sequestrou — tento argumentar.
— É. Aí não tem como defender ele — Alec intervém.
— Serei sincero Heart, ninguém entende o Rhett, ninguém sabe de onde ele veio, se
nasceu de alguém ou brotou da terra, o que sei é que ele é obcecado, e sinto te dizer que você foi
o alvo dele.
— Já aconteceu antes?
— Desde que conheço ele, não. Nunca.
— Há quanto tempo vocês se conhecem?
— Doze anos.
Ótimo.
— Relaxa coisinha. Tá tudo sob controle, se acontecer algo sério, meu amigo Spencer
arruma tudo.
— Coisinha? — arqueio a sobrancelha.
Ele dá de ombros.
— Ele sempre arruma encrenca e deixa pra eu arrumar — Spencer explica.
— Você realmente acha que eu teria um amigo atirador e não ia tirar algum proveito
disso? Sério?
— Ele tem um ponto — admito.
Então Alec pisca para mim e eu sorrio.

— Esse aqui é o meu paraíso particular — Spencer declara quando paramos em frente a
uma porta segurando a maçaneta. — Preparada? — questiona.
— Manda ver — respondo sentindo a ansiedade percorrer pelo meu corpo.
Então abre a porta, e não vejo absolutamente nada, tudo está escuro, mas, rapidamente,
leva a mão ao lado seguido pelo barulho de um interruptor e as luzes se acendem. É quando a
mágica acontece.
— Nossa — murmuro impressionada com a imensidão do lugar.
As paredes são de um tom de cinza-escuro, e há apenas três divisões no estande de tiro. Ao
redor vejo leds e notando minha curiosidade, Spencer aperta um botão e logo o vermelho brilha
pela sala inteira, aperta mais um botão e em seguida os alvos estão circulando por todos os lados.
— Eles se mexem… — murmuro para mim mesma — Claro que sim.
— Treinava com eles parados? — questiona caminhando para dentro da sala.
— Sim, no máximo se mexiam para frente e para trás, para os lados não, nunca.
— Um alvo nunca fica parado — afirma e eu concordo.
Spencer se afasta, e eu continuo observando ao redor. Nunca estive em um estande de tiros
desse porte, é tudo tão limpo, organizado e sofisticado. É nítido o investimento alto que ele fez
na sala e nos equipamentos.
— Pronta? — volta com duas pistolas em mãos, me entregando uma e permanecendo com
a outra — Vamos começar com essa, porque faz tempo que você não treina, e amanhã podemos
ir lá pra fora testar ao ar livre com uma arma de verdade.
Assinto analisando a arma em minha mão, sentindo o frio do metal sobre minha pele.
Tiro o pente conferindo a munição, depois o empurro de volta adorando o barulho que ela
faz quando encaixa, confiro a trava, engatilho e aponto para o alvo.
Puxo o ar e solto lentamente, mirando na testa do desenho de papel.
Disparo uma, duas, três vezes.
— Você nem piscou — Spencer murmura parecendo orgulhoso ao meu lado, me
arrancando um sorriso envergonhado. — Vamos ver — ele aperta um botão e logo o alvo de
papel está em nossa frente. — Bom, muito bom. — declara.
Um dos tiros foi certeiro no meio da testa, os outros dois ficaram um pouco mais distantes,
entretanto, ainda na cabeça do alvo.
— Sua vez — digo apontando para os outros alvos.
Muito convencido, ele puxa a sua arma do coldre - que eu não o vi colocando na cintura -,
e como um raio de luz, mira e atira, descarregando o pente da pistola. Tão rápido que por um
segundo parece que não aconteceu, não sei nem se chegou a respirar.
— Exibido — declaro quando ele traz os alvos, e todos os seis possuem uma bala na testa.
Encolhe os ombros.
— Forças armadas — explica parecendo divagar por um segundo.
Os comandos que ele usou, como pegou a arma, a falta de respiração enquanto atirou e a
rapidez com que fez…
— Você era um sniper — concluo.
— Sim, eu era.
Me lembro de alguns homens que faziam o mesmo no estande onde meu pai me levava,
mas, eles eram da swat. Eram a elite dos atiradores.
— Por quê? — questiono ainda mais confusa — Por que está aqui?
— Acho que você mais do que ninguém sabe, que nem tudo é o que parece. Tudo é muito
sujo Heart, e acredite, Rhett foi a pessoa mais sincera e verdadeira que conheci. Não gosto que
me enganem ou que mintam pra mim, e foi o que mais fizeram.
Concordo.
— Mais uma? — pergunta parecendo querer mudar o rumo da conversa, ele empurra um
pente de munição em minha direção e aperta o botão, segundos depois novos alvos voltam a
circular pela sala. Sem demora. Spencer mira e volta a atirar.
“Segurar você em meus braços
Eu só queria segurar
Você em meus braços.”
Starlight - Muse

Me aproximo do estande de tiros, e em vez de anunciar a minha chegada, resolvo me


encostar em uma parede na parte de trás, desejando apenas observá-la mais um pouco. Gosto dos
seus movimentos, do quanto eles são delicados, ou como ela afunda os dentes no lábio inferior
quando está concentrada, em como suspira quando está pensando em algo.
Spencer nota a minha aproximação antes mesmo que eu chegue na porta, e, no instante
que entro na sala, ele apenas ergue o queixo em um cumprimento silencioso, e logo se afasta,
saindo, me deixando sozinho com ela, que continua alheia a minha presença.
Não dormi na noite passada.
Não consegui permanecer em meu quarto nem um segundo sequer depois daquele beijo.
Nunca senti nada parecido, em minha cabeça havia um turbilhão de pensamentos, perguntas sem
respostas, questionamentos do porquê me senti tão afetado por algo tão simples. Passei a
madrugada inteira treinando sozinho, já que Wolf não estava presente para me ajudar a colocar a
adrenalina para fora. Tive que me virar com o que tinha, no caso, quatro sacos de areia.
Me peguei diversas vezes indo até a porta do seu quarto, em três delas cheguei a tocar na
maçaneta, mas, consegui desistir a tempo.
Agora, após tomar pelo menos quatro banhos gelados, descartar algumas propostas, e
iniciar uma nova pesquisa de campo para a próxima missão, me sinto um pouco mais no
controle. O suficiente ao menos para me aproximar.
Por alguma razão - e para minha tortura -, hoje, ela resolveu abandonar as roupas largas e
está usando calça jeans azul-escuro com uma regata preta, ambas extremamente coladas no seu
corpo, delineando cada curva que possui.
O seu cabelo também está diferente e não me recordo de já ter visto amarrado desse jeito.
Porra, eu gostei, pra caralho.
Os fios estão todos puxados para trás, presos por um elástico no topo da cabeça, mas, um
pedaço dele continua solto. E isso é munição o suficiente para que minha mente obcecada
vagueie para bem longe, em um lugar onde ela está de joelhos, enquanto minha mão está
enrolada em seu cabelo ditando os seus movimentos.
Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos, focando no que está aqui e agora.
Heart está posicionada na terceira cabine, suas pernas estão afastadas uma da outra na
largura dos ombros em linha reta, os joelhos permanecem um pouco flexionados dando suporte à
sua base, enquanto seus braços estão esticados à frente segurando a pistola, mirando no alvo.
É uma boa posição, mas, tenho certeza de que poderia melhorar uma coisa ou outra.
Um misto de orgulho e excitação toma conta do meu corpo quando ela efetua os disparos,
e mesmo não vendo o alvo de perto, apenas pela sua postura e respiração, sei que acertou.
Ela é boa, muito boa, não há como negar o talento.
Me afasto e caminho em sua direção, chego por trás e seguro sua cintura com as duas
mãos, pressionando meu peito em suas costas. No início, seu corpo fica tenso quando sua bunda
encosta em mim, sentindo o quão duro estou, mas, deslizo meus dedos por dentro da sua regata
tocando sua pele, roçando meu polegar em movimentos circulares na sua lombar e logo ela
relaxa sob o meu toque, e isso me agrada muito.
Estamos tendo um avanço afinal.
— Rhett — murmura parecendo um cumprimento.
— Olá querida — digo beijando seu ombro com os lábios entreabertos, deixando que ela
sinta o calor do meu hálito em sua pele, e, instantaneamente, os pelos dos seus braços arrepiam,
mostrando que não sou o único afetado aqui.
Com meu joelho afasto sua perna esquerda mais para frente abrindo um pouco mais a sua
base. Heart não diz absolutamente nada, apenas deixa que eu a conduza. Deslizo minha mão da
sua lombar até o meio das suas costas, inclinando-a levemente para frente, enquanto espalmo a
outra em sua barriga por dentro da sua regata, saciando um pouco do meu desejo em sentir sua
pele contra a minha.
— Flexione os cotovelos — peço próximo do seu ouvido.
Vejo-a fechar os olhos por alguns segundos.
— Assim? — sussurra em um fio de voz.
Tão delicada. Tão deliciosa. Tão minha.
— Isso — murmuro. — Agora, puxa o ar… — ordeno e ela obedece, enquanto seu peito
infla devagar — Solta devagar…
Um fio do seu cabelo se desprende escorregando pela sua testa, eu o seguro entre os dedos
e afasto de volta prendendo-o atrás da sua orelha.
— Atire — ordeno, e segundos depois, ela descarrega o pente nos alvos sem piscar
nenhuma vez. — Muito bom — admito.
Me afasto e aperto o botão ao lado, trazendo os alvos para mais perto, e quando ela vê que
acertou quase todos abre um grande sorriso.
— Aprendeu com seu pai? — pergunto.
— Sim, quando eu era pequena — explica puxando a regata para baixo, parecendo
nervosa, então me olha. — E você, como aprendeu? — questiona.
— Aprendi quando já era um homem, eu costumava usar as mãos antes.
Ela arregala os olhos e dou de ombros.
— Posso te fazer algumas perguntas? — indaga encostando a cintura na lateral do estande,
mantendo um pouco de distância de mim.
Assinto trocando o pente da pistola.
— Com uma condição — falo mirando no alvo, ela arqueia uma sobrancelha esperando
que eu continue, então digo: — que você possa lidar com a verdade.
— Acho que posso fazer isso.
— Então, tudo bem. Pode começar o interrogatório.
— Você é canhoto! — ela murmura enquanto me observa.
— Isso não foi uma pergunta — aviso rindo e logo ela sorri também, pela primeira vez
Heart ri de algo que digo, sem deboche, sarcasmo, nada. Foi de um jeito leve e tão normal.
Definitivamente normal não é uma palavra que costumo usar na minha vida.
Troco a pistola de mão, passando da esquerda para a direita, e sem esperar, efetuo mais
três disparos.
— Ambidestro — corrijo.
— Vocês são todos tão exibidos — murmura revirando os olhos, mas, ainda com um
sorriso de lado no rosto.
— Tá me comparando com alguém? — estreito os olhos.
— Egocêntrico também… — continua murmurando.
— Não concordo — argumento.
— Ah não? — questiona cruzando os braços.
Troco o pente da pistola mais uma vez, e entrego em suas mãos, ela, sem me afastar, se
posiciona em minha frente, com o corpo muito próximo ao meu.
— Não, não me importo com os outros, só não quero mais ninguém na sua mente —
explico segurando em sua cintura.
— Desde quando você mata pessoas? — indaga, tentando mudar de assunto.
— Desde os meus sete anos.
— Como aconteceu? — continua perguntando sem demonstrar nenhuma emoção na voz,
não encontrei pena, julgamento, absolutamente nada.
— Foi no hospital psiquiátrico, não era bem um hospital, na verdade, não sei nem se
aquilo tinha licença, mas, estávamos no refeitório, um garoto mais velho surtou e eu estava no
campo de visão dele. Hora e local errado.
— Quem te colocou lá afinal?
— Meus pais — respondo.
— Você mata pessoas boas?
— Ninguém é inteiramente bom Heart, mas, acho que compreendi sua dúvida. Já matei
pessoas inocentes, agora, não mais.
Ela apenas assente parecendo pensar como se houvesse engrenagens em sua cabeça,
permanecendo alguns segundos em silêncio, ponderando as minhas respostas, e, mesmo não
sabendo inteiramente o que se passa na sua mente, de alguma forma sei para onde isso está indo.
— Não faça isso, não vá por esse caminho — aviso me afastando.
— Que caminho? — questiona girando o corpo, ficando de frente para mim.
— Não sou um herói, te tirei daquela vida por motivos totalmente egoístas e quanto mais
cedo você aceitar isso, menor será a decepção. Eu não hesitaria em matar alguém se fosse preciso
Heart, sendo inocente ou não — dou de ombros.
— Nunca disse que você era um herói, não coloque palavras na minha boca — responde
bufando.
Abro um sorriso.
Gostaria de colocar outra coisa.
— Você é nojento — me acusa descrente, como se soubesse para onde meus pensamentos
foram.
— Egocêntrico, nojento, qual foi a outra palavra que você usou?
— Lunático — informa.
— Isso! Essa mesmo. A lista de adjetivos só aumenta — sorrio observando-a apertar as
mãos em punho com o rosto vermelho. — Você fica uma delícia irritada, sabia? — confesso.
— Onde você foi hoje de manhã? — indaga ignorando completamente o meu comentário.
— Por que? Sentiu minha falta? — provoco-a.
— Não, — ela ri de um jeito sarcástico — pra sentir falta de alguém você precisa se
importar com ela Rhett, o que claramente não é o meu caso — completa erguendo o queixo.
— Que bom que não precisamos nos importar um com o outro pra foder, não é mesmo? —
questiono.
— Você só pensa nisso?
— Depende… — me aproximo um pouco, engatando os dedos na alça da sua calça jeans.
— Do que? — pergunta com os olhos presos nos meus lábios.
— Se você estiver na equação… — puxo sua cintura — O tempo todo — afirmo.
E, sem esperar nem mais um segundo, desejando e ansiando por isso desde o momento
que me afastei ontem, eu a beijo.
Heart corresponde envolvendo os braços em volta do meu pescoço, impulsionando seu
peito de encontro ao meu. Ela abre os lábios, e lentamente empurro minha língua deslizando pela
sua, sentindo a maciez e o calor. Mordo o seu lábio inferior exatamente como fez comigo ontem,
e a sensação é muito gostosa, principalmente pelo gemido de prazer que deixa escapar logo em
seguida.
Mas, dessa vez, não sou eu quem quebra o contato e se afasta, observo seus olhos,
lentamente se abrindo, parecendo tão perdida quanto eu.
— Rhett — abre os lábios, pronta para dizer algo, mas, eu a interrompo.
— Quer sair? — questiono, sentindo que está prestes a se afastar e não desejando uma
distância, não agora. Gostei desse momento, gostei de conversar e de permanecer na sua
presença.
Um vinco se forma entre suas sobrancelhas parecendo confusa.
— Onde? — pergunta.
— Vamos dar uma volta.
“Você consegue me ouvir dizendo teu nome eternamente?
Você consegue me ver desejando-te eternamente?
Você me deixaria tocar tua alma eternamente?”
Life Eternal - Ghost

Fico me perguntando o que ele quis dizer com “vamos dar uma volta”.
Rhett não me parece um homem que sai por aí passeando pelas ruas e só em imaginar isso
acontecendo já me faz rir. E mesmo assim - não tendo ideia do que ele planeja fazer comigo e
com um pouco de receio - me visto com uma roupa mais confortável e sigo ao seu encontro.
Quando finalmente chego na porta principal, onde eu o encontro parado enquanto mexe no
celular, todas as minhas preocupações desaparecem, como sempre acontece. Não, ele não forçou
nada, nem me obrigou a coisa nenhuma desde que cheguei, pelo contrário, Rhett me tratou até
que “bem” diante das circunstâncias e pelo que ele aparenta ser. Mas, até quando? Até onde irá à
sua paciência?
Todo mundo é bom, até simplesmente não ser mais.
Aproveitando que minha presença ainda não foi notada, me permito analisá-lo por um
tempo, Rhett está vestindo somente preto – como quase sempre acontece –, uma calça jeans com
uma blusa de manga comprida, que estão repuxadas na altura do antebraço deixando um pouco
de pele à mostra.
Droga.
Há algo nele, como se… houvesse uma essência ao seu redor, algo tão animalesco e
totalmente carnal, me puxando o tempo todo para mais perto, e, quando isso acontece, não
consigo raciocinar corretamente.
Mesmo de cabeça baixa, consigo perceber os seus lábios se abrindo, então, balança a
cabeça e ergue os olhos, com aquele maldito sorriso convencido no rosto.
Pega no flagra.
— Sabe… Você pode me olhar sempre que quiser, não precisa ficar disfarçando —
encolhe os ombros fingindo modéstia e continua. — Se desejar me tocar também… — completa
deixando a última palavra no ar, e posso imaginar todos os pensamentos que rondam a sua
mente.
— Passo — respondo parando ao seu lado sendo invadida pelo seu perfume.
Cresci escutando meu pai afirmar que eu me fascinava demais por coisas perigosas,
sempre ria e brincava com o assunto, mas agora, começo a acreditar nas suas palavras. Porque
Rhett é perigoso. Perigoso demais. E quanto mais tempo passo com ele, mais fascinada me sinto.
— Pronta? — pergunta com a voz rouca estendendo a mão, e, contra todos os sinais de
alerta piscando na minha cabeça, eu a seguro.
Assim como Cloud fez no dia em que fomos caminhar, Rhett pressiona a mão no sensor e
logo a porta destrava.
— Não tá chovendo — comento observando o chão seco e olhando para o céu, onde o sol
ameaça surgir entre as nuvens.
— Você não gosta de chuva? — indaga ainda segurando minha mão, me guiando até um
SUV preto estacionado em frente a casa, como se fossemos um casal normal e estivéssemos indo
passear.
— Não faz muita diferença, — murmuro e seus olhos me encaram — não é como se eu
saísse muito por aí… — explico.
Ele apenas assente compreendendo, então abre a porta do carro, e se afasta somente depois
que estou no banco do carona, dando a volta no veículo sentando ao meu lado.
— No ano, chove cerca de 240 dias por aqui… — informa passando o cinto de segurança.
— Você gosta de chuva? — questiono, afinal, qual seria o outro motivo para escolher um
lugar desses no mundo inteiro?
— Sim — confirma minha suspeita.
Rhett liga o som do carro, e logo uma melodia suave inicia despertando minha
curiosidade, devo ter deixado transparecer minha confusão, porque em seguida ele pergunta:
— O que esperava?
— Sei lá, algo bem satânico — admito apreciando a música.
— Gosto também, — ri de um jeito muito relaxado, algo totalmente inédito, então ele dá
de ombros — mas só em alguns momentos, não é sempre — completa.
— Entendi — respondo. — Que música é essa?
— Life Eternal do Ghost.
Apenas assinto observando-o ligar o carro.
— Aonde estamos indo? — questiono.
— Sabe o que é um Fiorde? — indaga e eu nego logo em seguida — Quer a parte técnica
ou resumida?
— Resumida.
— Certo, basicamente é uma faixa de mar que passa entre montanhas íngremes e rochosas.
— Parece bonito — murmuro.
— É interessante — diz.
É impossível não ficar encantada com a paisagem do lado de fora do carro, apoio a cabeça
no banco e fico observando pela janela, noto que quase não há carros nas ruas, e a presença de
árvores é constante, quase sempre vejo um rio passando também.
— Estamos longe? — pergunto depois de algum tempo.
— Uma hora mais ou menos.
Permanecemos em silêncio o restante do trajeto, entretanto, sinto os seus olhares
constantemente em minha direção, ao contrário de mim, que evito ao máximo qualquer contato
visual.
E assim como ele informou. Uma hora depois, finalmente nós chegamos.
O tempo todo Rhett segura minha mão possessivamente, e não sei se é por medo que eu
saia correndo, ou porque… sei lá… quer ficar perto?
A segunda opção parece ser irreal demais, quer dizer, ele deixou claro o que esperava de
mim, mas, era sexo. Não, passeios como dois namorados apaixonados. Então, ficarei com a
primeira opção.
Caminhamos por um tempo lado a lado, até finalmente chegarmos ao destino, e posso
dizer que, com toda certeza, nada me preparou para o que estou olhando.
— Meu Deus — exclamo encantada, e com o canto do olho eu o vejo sorrindo.
Tem alguma coisa errada com ele hoje, mais errado do que o habitual. Tem que haver.
— Quando neva fica ainda mais interessante — diz, levando-me até uma pedra no alto de
uma montanha, segurando minha mão me ajudando a subir.
Sério? Ele está no lugar mais lindo que eu já vi em toda a minha vida e usa a palavra
interessante?
— Fale que é bonito — me viro encarando seu rosto.
Ele apenas nega balançando a cabeça.
— Vamos lá, admite que é bonito — insisto.
— Não uso essa palavra.
— Por quê? — questiono.
— Porque não.
— Você é tão… Argh — reviro os olhos resmungando.
— Vamos, qual é a próxima palavra que você tem pra mim?
— Não. Cansei de você. — Dito isso, solto do seu aperto nada gentil e me afasto. Passo
por ele, decidida a ignorá-lo por um tempo, sentando sobre uma rocha.
Então observo a imensidão das montanhas, e assim como ele me disse, o mar passando
pelo meio, cortando. É tão perfeito, me sinto tão minúscula aqui de cima, não há nada ao redor
além da natureza. Puxo o ar inspirando o vento fresco.
Minutos depois, sinto a presença dele ao meu lado, ergo o rosto e o encontro em pé me
observando, onde ele permanece.
É difícil me manter sã dessa forma, com ele me encarando o tempo todo, com sua
presença ao meu redor.
— Qual o nome desse lugar? — pergunto.
— Hardangerfjord [2] — murmura em um sotaque diferente.
— Você vem aqui com frequência? — volto a encarar a paisagem.
— Gosto de escalar — confessa e parecendo finalmente se render, senta ao meu lado
encostando seu braço no meu.
Como ele pode ser tão quente?
Escuto alguns sons vindo do mesmo caminho de onde viemos, e, logo, dois homens
surgem com roupas de trilha. Ambos estão rindo alheios a nós dois, acho que são um casal pelas
mãos unidas.
— Não tente nenhuma gracinha, — escuto Rhett sussurrar ao meu lado — jamais vou
machucar você, mas, não me importo em meter uma bala na cabeça de outras pessoas —
completa.
E aí está ele. O verdadeiro Rhett. O homem que não se importa com nada além de si
mesmo.
— Com licença? — escuto um dos homens chamar e automaticamente meu corpo congela.
— Sim? — Rhett diz com uma voz completamente diferente.
Meu Deus, que homem cínico.
— Se importa de tirar uma foto nossa? — pede.
— Claro. — Rhett levanta e pega o celular, em seguida vira em direção aos dois homens
que fazem uma pose.
Depois de algumas fotos tiradas, o homem volta para pegar o celular, seus olhos caem
sobre mim e eu sorrio tentando soar normal e simpática. Rhett passa o braço por minha cintura
me puxando para o seu peito, e quem observa a cena de fora até pensa que é uma forma
protetora, mas, nós dois sabemos que não é bem assim, então ele beija minha têmpora.
E o prêmio do homem mais carinhoso e romântico do mundo vai para… rufem os
tambores. Rhett, o lunático assassino!
— Casados?
— Sim — Rhett concorda e eu gostaria de rir agora, mas, me controlo.
— Vocês formam um casal lindo — afirma.
— Obrigada — agradeço sorrindo.
— Sou louco por ela, — Rhett me olha com uma intensidade — a conheci no meu
trabalho, e assim que coloquei os olhos, eu sabia… sabia que seria minha.
Um calafrio sobe pelo meu corpo com o seu tom de voz, agora um pouco mais parecido
com o homem que acredito conhecer, o homem que matou meu ex marido, me sequestrou,
dopou, e trancou em uma casa.
O homem que quer fazer sexo comigo, e me usar como um objeto.
E eu quero.
Deus como eu quero. Inferno.
— Que romântico — escuto alguém falando, e então minha mente volta ao presente.
— Sim! Ele é um amor — digo passando a mão no seu rosto e ele estreita os olhos.
— Estamos indo, aproveitem — meu falso marido diz com aquela mesma voz mansa e
fingida.
E assim nós nos afastamos, até que finalmente chegamos no carro. Rhett não diz nada o
caminho inteiro enquanto estamos voltando, o tempo todo fica focado na estrada, não sei se é
porque está escuro e começou a chover, ou porque não quer conversar, de qualquer forma,
também não estou muito afim de bater papo.
Me sinto confusa com tudo que aconteceu hoje. É isso, são essas ocasiões de normalidade
que me levam a questionar, que fazem com que eu me sinta confortável e até segura ao seu lado,
até que algo acontece, e tudo volta, quem ele realmente é, e do que é capaz.
O problema de se passar tempo demais em um mundo que não te pertence, é que em um
certo momento, aquilo acaba se tornando a sua realidade, e quando se dá conta, está tão
envolvida e tão enterrada, que não sabe onde começa e onde termina.
Rhett está me enterrando, cada dia que passo ao seu lado ele joga mais um pouco de terra
na minha cova.
Mas, acho que no fim, é exatamente isso o que ele deseja.
Um dia não existirá mais Annelise, porque, quanto mais tempo fico ao seu lado, mais me
reconheço como Heart.
“Você diz
Eu sou louco
Eu digo
Você está com medo
Eu fico mais forte na dor.”
Love The Way You Hate Me - Like A Storm

Viro a garrafa de whisky, derramando o líquido até a metade do copo, e retorno para o
sofá. Essa é a terceira vez que repito os mesmos movimentos.
Me sento enquanto observo a chuva cair. Em alguns momentos a sala se ilumina com o
clarão dos relâmpagos. Gosto disso, da forma como as árvores se movimentam quando o vento
bate nas folhas, de como a chuva cai… posso dizer que me considero um apreciador de
tempestades, e foi exatamente por esse motivo que instalei uma parede de vidro e decidi morar
no meio de uma floresta.
Acredito que já deva passar das 03h e ainda não estou cansado, pra ser sincero, não sinto
um pingo de sono. Mesmo após horas de treino, de ficar socando aquela porra de saco, ainda é
como se meu corpo continuasse ligado na potência máxima.
E eu sei exatamente de quem é a culpa disso. Nunca tive um sono perfeito, mas, desde que
ela chegou, as coisas não se tornaram mais fáceis.
Heart chegou bagunçando tudo… feito uma tempestade. Sorrio com a comparação, a qual
é muito justa.
Sinto uma pontada de dor em minha mão quando ergo o copo e vejo o sangue seco por
cima dos nós dos dedos. Não foi uma ideia muito inteligente bater naquele saco de areia sem as
faixas para proteger a pele, admito. Mas, minha cabeça estava cheia, e eu precisava de um pouco
mais de adrenalina, o suficiente ao menos para desviar o foco dos meus pensamentos, alguma
distração da Heart, o que eu sabia, que só a dor poderia me fornecer.
Em qualquer outro dia, eu teria lutado com Wolf, ele com suas facas e eu com as minhas
adagas, mas, na falta dele, tive que improvisar.
Abro e fecho a mão esquerda algumas vezes testando a coordenação, e a dor aumenta um
pouco, mas concluo ser superficial, nada sério ou com que deva me preocupar.
— Consigo escutar seus pensamentos daqui, — o motivo da minha insônia e dos meus
problemas murmura — poderia pensar um pouco mais baixo? Está atrapalhando meu sono… —
Heart declara encostada no batente da porta, me olhando com curiosidade.
Ela está vestindo uma camisola preta de seda com rendas na barra e puta que pariu, muito
gostosa. O tecido sobe um pouco quando ela cruza os braços, e percorro os olhos pelas coxas,
depois a cintura até chegar em seu rosto.
— E no que estou pensando exatamente? — questiono interessado na sua aproximação
repentina.
— Em cachorrinhos fofos — ela dá de ombros caminhando em direção ao sofá onde estou
sentado.
— Estavam vivos? — é claro que eu não mataria um animal, mas gosto de provocá-la.
— Você é uma pessoa horrível — afirma balançando a cabeça de um lado para o outro,
mas vejo o sorriso de canto que escapa dos seus lábios. E eu gosto dele.
— É o que estou tentando te mostrar — murmuro bebendo mais um gole.
— Está fazendo um ótimo trabalho, Rhett, não precisa se esforçar tanto — afirma. —
Posso? — pergunta sentando ao meu lado olhando em direção ao copo.
E mesmo sabendo que ela não irá gostar, dou de ombros e entrego em sua mão, e assim
como eu já sabia, Heart bebe um gole e logo em seguida tosse franzindo o nariz em desgosto.
— Vinho? — pergunto e mais do que rápido, ela assente parecendo desesperada, o que me
arranca uma risada.
Me levanto e caminho até o bar onde abro uma garrafa de vinho e encho uma taça, ciente o
tempo todo do seu olhar sobre minhas costas, observando atenta a cada passo que dou, volto até
o sofá e lhe entrego.
— Meu favorito — murmura depois de beber um gole.
— É por isso que ele está no meu bar, ou realmente acredita que bebo vinho tinto? —
questiono, me juntando a ela.
— Sério? — pergunta, parecendo realmente impressionada, e entendo o seu espanto,
também não faço ideia do porquê comprei tudo que ela gosta, desde os produtos de higiene
pessoal aos iogurtes estranhos, que não encontro na Noruega e preciso comprar em outro país
para trazer quando viajamos.
Assinto voltando a beber o whisky.
— O que mais sabe sobre mim?
— Seja mais específica — peço e logo escuto os xingamentos do meu lado.
— Se você disser essa palavra mais uma vez, juro que volto para o meu quarto e não falo
mais com você por pelo menos uma semana, Rhett.
Porra. Como gosto de irritá-la. E não passou despercebido que ela se referiu ao quarto
como dela.
— Sei coisas superficiais apenas, não acho que você fazia nada do que gostava, sempre
estava dormindo, bebendo ou tomando remédios — declaro.
— Não me acha uma alcoólatra ou viciada? — murmura baixinho, como se tivesse receio
da resposta.
Aposto que é o que aquele imbecil dizia.
Nego.
— Você dorme muito bem aqui sem os remédios, e essa é a primeira vez que bebe desde
que chegou, mesmo tendo o bar inteiro à sua disposição. O problema não era com você e sabe
disso — afirmo.
— Eu ia perguntar como me conhece tanto, mas, não sei se quero descobrir de verdade —
Heart fica em silêncio por um momento até que completa. — De qualquer forma, muito
observador da sua parte, Rhett.
Sorrio.
— Você não faz ideia — deixo a cabeça cair para trás, e inclino um pouco para o lado,
olhando para o seu rosto.
— Sabe, eu tenho sono leve… escuto a porta do seu quarto abrindo e fechando, você não
dorme?
Arqueio a sobrancelha, e logo ela continua.
— Ouço quando você chega, é sempre bem tarde… e sei quando sai também,
normalmente muito cedo… — explica.
— Muito observadora — devolvo suas palavras, e gosto do som da risada que ela solta
logo em seguida.
— Talvez… — comenta encolhendo os ombros.
Heart solta a taça vazia em cima da mesa, depois mexe em seu cabelo, e o movimento faz
com que o perfume de baunilha chegue até mim.
Todo mundo tem um limite, até as pessoas mais controladas possuem o seu, pode ser um
momento, um segundo, que seja, esse foi o meu. Fiquei longe e mantive distância todas às vezes
que senti vontade de fodê-la. Me afastei, até hoje, até agora.
Apoio o copo na mesa ao lado da sua taça, então me viro em sua direção e em um
movimento rápido, seguro-a pela cintura puxando-a para o meu colo.
No início seu corpo fica tenso, mas gradualmente ela relaxa, deixando uma perna de cada
lado das minhas coxas. Mantenho meus braços em volta da sua cintura, impedindo-a de se
afastar, entretanto, não acho que faria mesmo que pudesse.
Ela quer isso tanto quanto eu.
— Assim está melhor… — declaro sentindo a maciez do seu corpo sobre o meu, o calor
da sua pele, e ainda sem reação, Heart continua calada, então decido continuar o assunto de antes
— Durmo apenas o suficiente — completo afastando uma mecha do seu cabelo que caiu na
frente do rosto.
— Você não jantou… — Heart comenta pousando suas mãos por cima do meu abdômen,
e é insano, mas um simples toque seu desencadeia uma sucessão de sentidos que me deixam no
extremo… É sempre dessa forma estar com ela, no limite, na borda, feito uma bomba relógio.
Não, não me juntei a eles no jantar de hoje.
Porque não queria ficar perto de você. Porque sinto que perderei o controle a qualquer
momento. Porque preciso tocar em você. Porque somente os seus beijos já não são o
suficiente…
Cada respiração, olhar, barulho, qualquer coisa que ela faça, é o suficiente para me
atormentar por semanas. Antes, acreditava que ficava dessa forma porque não a tinha perto de
mim, e agora, que finalmente ela está aqui, que eu a tenho, tudo se intensificou, como se isso
fosse possível.
— É difícil ficar perto de você, Heart, — afirmo — difícil pra caralho… — confesso
quase em um sussurro tocando na lateral da sua cintura, subindo lentamente em uma tortura
alucinante.
— Por quê? — me pergunta com a voz tão afetada quanto a minha, e é impossível não
sorrir de lado com seu questionamento.
— Quero fazer coisas com você… quero te tocar o tempo todo… te beijar… — murmuro
deslizando meu polegar para dentro da sua camisola, chegando muito perto do seu seio e
instantaneamente os bicos se projetam através do tecido fino. Necessitados de atenção, e no
mesmo instante minha boca se enche d’água, ansiosa para prová-los.
Sei que ela está mais que ciente do meu pau duro debaixo da sua boceta, porque a única
coisa que os separa é minha calça de moletom e sua calcinha que é minúscula. Certifiquei-me de
que fossem assim. Cloud escolheu as roupas, mas, eu escolhi todas as peças íntimas, cada
caralho de peça, e em cada vez que me toquei era sempre pensando nela, usando-as.
Somente ela.
Tímida, Heart mexe a cintura lentamente como se tivesse testando os movimentos,
conhecendo, me desbravando, seus dentes cravam no lábio inferior quando meu membro roça no
seu clitóris.
— Você quer… — beijo seu queixo — Sabe que sim… — provoco-a deslizando minha
mão por dentro da sua camisola, capturando o bico rígido, segurando, apertando entre meus
dedos.
Caralho.
Heart arfa deixando a cabeça cair sobre meu ombro como se procurasse por uma âncora.
Aproveito seu movimento e beijo seu pescoço, passo a língua pelo seu ombro, cravo os dentes
perto da sua veia jugular, gosto de saber que ela está sob o meu domínio, mesmo que eu nunca
tenha coragem de machucá-la, ainda assim, aprecio saber que posso.
Encaixo a mão no vão do seu pescoço e a puxo para mim.
Seus lábios entreabrem em um convite silencioso e mais que rápido deslizo a língua,
provando. Afundo os dentes me deliciando com a maciez, seguido pelo gosto do sangue que
surge, me afasto e vejo um filete vermelho escorrendo de uma ferida recém-aberta, por mim,
passo a língua de novo, limpando-a, sentindo o seu gosto…
— Deliciosa — murmuro afundando os dedos em seu cabelo, segurando com força,
aprofundando o beijo, ditando o ritmo. Lentamente, ela vai se deixando levar, sem o receio e a
vergonha, suas unhas fincam em meus ombros machucando minha pele e caralho, eu gosto, a
ideia de ter a sua marca em mim me enche de tesão.
— Diga — passo o braço ao redor da sua cintura, empurrando minha pélvis em sua
direção, esfregando sua boceta no meu pau.
Abocanho um seio em minha boca, chupando o bico rígido, mordo e o solto.
— Diga Heart, — rosno segurando seu cabelo em minha mão, trazendo seu rosto para
mim, quase tocando nossos lábios — fala que me quer, tanto quanto quero você.
— Sim Rhett. Por favor… — geme se esfregando — Preciso…
— Isso, safada, se esfrega, mostra o que você quer — mordo seu queixo, chupo seus
lábios.
Sem paciência, seguro o tecido do decote da sua camisola rasgando a pequena peça.
— Eu gostava dessa — murmura manhosa.
— Querida, eu compro a porra da loja inteira pra você, se quiser — digo fechando as
mãos ao redor dos seus seios, juntando-os. Passo a língua, chupo o bico rígido, sugo, e repito os
mesmos movimentos no outro, enquanto ela me encara, hipnotizada… com tanto desejo
transbordando que não consigo me segurar nem mais um segundo.
— De joelhos — ordeno.
Heart sai do meu colo ficando em pé, depois sem hesitar se ajoelha em minha frente,
deslizo a mão pelo seu rosto delicado…
Perfeita!
Isso!
Essa é a palavra certa.
Heart é a personificação da perfeição.
Nunca usei a palavra bonita e linda na minha vida, e ela chegou arrebatando logo a
perfeição.
— Abre a boca. — rosno e ela obedece, contorno o desenho dos seus lábios com meu
polegar, empurro-o em sua boca, sentindo sua língua deslizar por ele — Chupa. Quero que faça
exatamente como fará em breve com o meu pau.
Enquanto ela fecha os lábios ao redor, puxo meu pau para fora da calça, duro, latejando de
desejo. Passo a mão pela glande onde ele acumula o pré-gozo, melado de tesão, espalho o líquido
pelo comprimento, fecho a mão ao redor enquanto a observo de joelhos.
Vejo a intensidade no seu olhar, como me encara enquanto me masturbo, ela deseja me
tocar também.
— O que você quer? — deslizando a mão para cima e para baixo, questiono, mesmo
sabendo a resposta, quero escutar da sua boca.
— Quero te chupar — sussurra erguendo os olhos mordendo o lábio.
— Vai me levar até a garganta, querida? Consegue? — ela anui — Vai mostrar o quanto
me quer?
— Sim, por favor, Rhett.
— Porra! — rosno descobrindo que ouvi-la implorar é minha mais nova devoção — Vou
gozar nessa boquinha gostosa, e você vai engolir tudo, entendeu?
Ela concorda, e um sorriso safado surge.
— Lambe — ordeno segurando meu pau na frente do seu rosto, e ela faz.
Caralho, como faz.
— Agora me chupa — Heart não faz com receio, não, pelo contrário, faz como se fosse a
porra do seu doce favorito e estivesse há muito, muito tempo sem. — Boa garota — rosno com
os dentes cerrados. — Agora me leve até o fundo.
Ela fecha os lábios ao redor, e me engole o máximo que consegue, me empurrando ao
limite, fico dividido entre a vontade de fechar os olhos e aproveitar o calor da sua boca, e a
necessidade de observá-la.
— Caralho! — praguejo sentindo meu pau encostar na sua garganta, enquanto ela me
encara com os olhos cheios de lágrimas, seguro em seu pescoço, começando a ditar o ritmo dos
movimentos. — Isso, assim… — gemo enrolando seu cabelo em volta da minha mão,
empurrando mais fundo, até escutar o som dela se engasgando. Mas não se afasta, nem desiste,
muito pelo contrário, ela volta a me engolir com maestria — Relaxa a garganta, quero foder a sua
boca — rosno sentindo meus músculos ficarem tensos.
Empurro meus quadris em sua boca, enquanto seguro seu rosto com as duas mãos, e
mesmo querendo socar no fundo, e com força, não quero machucá-la, ainda não, então tento ser
o mais delicado que consigo. Não é muita coisa, mas, já é algo.
— Minha putinha, — murmuro rouco — desse jeito, vou gozar nessa boca, e você não vai
deixar nem uma gota escapar, entendeu? — digo entredentes, sentindo minhas bolas contraindo
com o orgasmo se aproximando. Até que meu pau pulsa, jorrando em sua garganta, e assim
como mandei, Heart engole tudo, me sugando com força, lambendo até a última gota.
Me afasto com a respiração alterada.
— Abre a boca — mando e prontamente ela obedece. Não vejo nenhum vestígio da minha
porra em sua língua. Seus olhos estão vermelhos, lágrimas molham a bochecha rosada e uma
sensação estranha preenche meu peito junto com uma promessa silenciosa.
Nunca ninguém vai chegar perto de você, nem te tirar de mim.
— Boa garota — pego-a no colo e caminho até o bar, onde eu a sento em cima do balcão.
— Agora é a minha vez — declaro abrindo suas pernas.
Seguro a lateral da sua calcinha e rasgo o tecido.
— Sabe há quanto tempo quero sentir sua boceta na minha boca? Quantas noites eu dormi
imaginando o seu gosto?
Ela nega balançando a cabeça de um lado para o outro enquanto seu peito sobe e desce em
um ritmo acelerado.
— Me mostra — murmura.
Observo-a aberta, entregue, os pequenos lábios rosados brilhando, molhados de excitação.
Deslizo o indicador sentindo-a completamente melada.
Para mim.
— Gostou de me chupar Heart? — questiono beijando o seu joelho.
— Sim — confessa.
— Foi por isso que ficou desse jeito? Encharcada? — deslizo a língua pela parte interna da
coxa e seus olhos se fecham.
— Porra — arfa quando empurro dois dedos na sua entrada, sentindo-a me sugar.
— Você é uma safada, sabia disso?
Ela concorda mordendo o lábio, como se estivesse tentando conter os gemidos, e
insatisfeito empurro mais um dedo na sua boceta.
— Agora, continue sendo uma boa garota pra mim, e geme bem alto, grite, quero que
todos ouçam a quem você pertence, e o único que vai te fazer gozar a partir de hoje. Entendeu?
Sem esperar uma resposta, deslizo a língua pela sua boceta, lambendo cada pedaço, até
chegar no seu clitóris, quando ela finalmente grita.
Isso! Porra!
Puxo os dedos da sua entrada somente para enfiá-los novamente, com mais força, sentindo
suas paredes me esmagarem e é impossível não imaginar meu pau todo enterrado.
Chupo seu clitóris e Heart ergue o quadril em direção ao meu rosto, se contorcendo.
Deslizo a língua pressionando aquele ponto que pulsa, então os seus gemidos se tornam
dolorosos, suas mãos vão de encontro a minha cabeça, enterrando os dedos nos meus cabelos, me
segurando.
Encharcada, ela escorre pela minha mão até o meu braço, quando um grito estrangulado
escapa da sua garganta e seu corpo convulsiona enquanto sua boceta estrangula os meus dedos.
Continuo chupando, lambendo tudo, cada fluido que seu corpo me dá, eu tomo.
Heart consegue ser ainda mais gostosa do que imaginei, seu cheiro, seu gosto, é tudo tão
viciante, eu poderia passar horas chupando essa boceta, e tenho certeza de que não seria o
bastante, nunca imaginei que dar prazer a ela, seria ainda melhor do que receber.
Me levanto ainda não satisfeito, na verdade, agora ainda mais duro que antes.
— Você fodeu com minha cabeça Heart, agora vou foder com o seu corpo. — aviso
segurando seu queixo, então puxo-a para mim, deixando seu rosto a centímetros do meu —
Quero seus olhos em mim o tempo todo enquanto eu te como — e sem esperar por uma resposta,
me enterro por completo nela.
Ela joga a cabeça pra trás, passo o braço em volta da sua cintura, pressionando meu peito
no seu, sentindo seus mamilos duros se esfregando na minha pele.
— Eu disse pra me olhar, porra! — digo segurando na parte de trás do seu pescoço com a
outra mão mantendo-a no lugar.
— Rhett — choraminga me abraçando, grudando a testa na minha, travando as pernas em
volta do meu quadril.
Então seus lábios me beijam, e eu retribuo, nossos gostos se misturando.
Suas mãos deslizam pelo meu corpo, costas, braços, pescoço, enquanto empurro cada vez
mais forte e rápido. Sua boceta é tão quente, gostosa… Caralho, tão molhada, perfeita.
— Geme pra mim, geme feito a vagabunda que você é — rosno sentindo-a estrangular
meu pau a cada investida. — Isso gostosa, assim — grunho.
Eu a fodo como um animal que esteve enjaulado por muito tempo, sei disso, porque
permaneci assim, mas a minha fome é dela, somente dela. Nunca senti isso, esse prazer, a
satisfação de escutar os gemidos.
Seus dentes se enterram em meu ombro, depois ela beija meu pescoço, passando as mãos
pelas minhas costas, braços, afundando as unhas na minha carne, enquanto geme sem reservas.
— Minha — rosno me afastando, colocando sua perna por cima do meu ombro,
aumentando a velocidade, sentindo meu pau inchar.
Seus gemidos se tornam gritos, o barulho dos nossos corpos se chocando um no outro
preenchem a sala. Gemo com a boca colada na sua, e não existe mais nada no mundo, por mim,
podia tudo se explodir, desde que eu pudesse ficar aqui com ela.
Obcecado não seria a palavra correta.
Louco.
Sim, sou louco por ela.
Doente. Quero beijá-la, tocá-la, possuí-la, foder até que seus sentidos desapareçam, e que
não exista mais nada, nem ninguém na sua mente.
Até que eu seja o único, assim como ela é pra mim. Única.
— Por favor — implora, uma última vez antes de afundar o rosto em meu pescoço se
garrando ao meu corpo, fincando as unhas na minha pele, e porra, isso é a minha ruína.
Você selou o seu destino querida, quando sinto-a ficar ainda mais molhada, gozando no
meu pau enquanto grita meu nome alto pra caralho.
E é com esse pensamento que gozo, empurrando até o fundo, reivindicando-a como
minha. Pra sempre.
Continuo dentro dela por um tempo, enquanto recupero a respiração.
— Acho que morri — diz ofegante e sinto o seu sorriso se abrindo em meu pescoço.
— Não diga isso, seria um pouco difícil entrar no céu pra te buscar — falo passando a
mão pelas suas costas.
— Você me buscaria no céu?
— Eu iria até o inferno se fosse preciso Heart, não menospreze minha obsessão.
Acordo com o corpo dolorido e, apesar de nunca ter passado pela situação de um
caminhão passar por cima de mim, imagino que essa deva ser a sensação.
Ao meu lado a cama está vazia, sem sinal dele ou de que esteve.
Minha última lembrança é de nós dois no sofá da sala, antes de eu pegar no sono em cima
do seu peito enquanto afundava o rosto no vão do seu pescoço, tento repassar o que aconteceu
depois, mas não consigo. Me recordo apenas do calor dos seus braços ao redor do meu corpo, do
seu cheiro, a sensação de conforto e proteção.
Me levanto e sigo para o banheiro e pelo reflexo no espelho noto algumas marcas deixadas
por ele, pelas suas mãos, sua boca… Aguardo por alguma sensação de arrependimento, vergonha
ou qualquer outra coisa, mas nada disso ocorre, a não ser a vontade incontrolável de repetir tudo,
junto com um fogo que cresce sem freio algum, somente em imaginar o calor das suas mãos
sobre minha pele.
Tomo banho tentando não dar tanta importância para o que aconteceu, mesmo sendo quase
impossível, depois visto uma roupa e saio do quarto, ao lado, encontro a sua porta fechada,
seguro a maçaneta e tento abri-la, mas está trancada.
Então, eu preciso manter a minha porta aberta? Mas isso não é válido para ele?
Hipócrita.
Mal-humorada, caminho em direção à cozinha e antes mesmo de chegar ao cômodo,
consigo escutar a risada nada discreta do Alec.
No momento que entro, meus olhos procuram por ele, é automático, não consigo ser
indiferente, mesmo que eu tente. Mas Rhett também não está aqui, e creio que não consigo
disfarçar a decepção no meu rosto. Me sento ao lado do Cloud com um desconforto surgindo no
estômago.
Não é como se eu estivesse perdidamente apaixonada por ele depois do que fizemos.
Qual é? Eu fui atrás. Não sou tão ingênua assim também.
Em partes, sabia o que podia acontecer, e mesmo assim quis aquilo, por outro lado,
também, não esperava esse comportamento frio.
Se bem que… o que eu deveria esperar de um homem como ele, afinal?
Não muita coisa.
— Cadê o Spencer? — questiono ao Alec, sentado em minha frente no lugar que
normalmente é de escolha do seu amigo.
— Saiu com o Rhett — afirma, emburrado, provavelmente por não ir junto.
Assinto compreendendo.
— Te deixaram para trás?
— Sim. Consegue acreditar nisso? — afirma balançando a cabeça de um lado para o outro
indignado.
Nego rindo, porque às vezes ele parece ter dez anos.
— E você? — empurro o ombro de Cloud com o meu, e ganhando a sua atenção,
pergunto: — Vai fazer o que hoje?
— O que você quer fazer?
— Quais são as nossas opções? — indago como se realmente tivesse muitas.
Cloud olha para cima, como se estivesse analisando, mas quem diz é Alec:
— Pizza de pepperoni e torta de nozes.
— Você come o tempo todo — Cloud o acusa, o que não deixa de ser uma verdade,
sempre que o vejo ele está com algo nas mãos, geralmente doces, e para ser mais exata: tortas.
— Preciso manter meu corpo sempre abastecido — declara se ajeitando na cadeira em
uma posição relaxada.
— Por quê? — intervenho, mas, me arrependo de ter feito a pergunta assim que vejo seus
lábios se abrindo em um sorriso descarado.
— Queimo muita caloria, se é que vocês me entendem.
— Desnecessário, — balanço a cabeça de um lado para o outro — mas concordo sobre a
pizza — completo.
— Podemos jogar pôquer também, o que acham? — sugere dando de ombros.
— Eu não sei jogar — admito.
— É fácil, eu te ensino — Cloud se oferece, mas Alec intervém.
— Se eu fosse você, não ia na dele, ele é horrível.
— Ela só precisa saber as regras, e eu não sou tão ruim assim — se defende arremessando
um pedaço de pão no peito do amigo.
Seria legal fazer algo diferente de assistir televisão e ler. Não que eu não goste, é só um
pouco entediante, já que são as únicas coisas que faço desde que cheguei. E quando estou com
Cloud, Spencer ou Alec, tudo se torna tão mais leve, divertido e engraçado, é bom ter amigos, ao
menos é assim que eu os considero. Porém, me recordo de algo importante, pôquer é um jogo
que envolve dinheiro nas apostas em cada rodada, não sei muito sobre, mas disso eu lembro.
— Eu não tenho dinheiro, — ergo a mão chamando a atenção — mas fico feliz em ver
vocês jogando — confesso.
— Pega do Rhett — Alec declara como se fosse algo tão insignificante e banal.
— Não posso.
— Por que não? Não é como se ele te desse opção de ir atrás do seu próprio dinheiro.
Então, sendo assim, ele é obrigado a te fornecer. Cloud pode resolver isso, — seus olhos agora
vão direto para o meu amigo — não é?
— Posso, e quem cuida da conta do Rhett sou eu, além disso, ele disse que eu poderia te
dar tudo que precisasse, e você precisa — Cloud sorri, convencido. — Vamos jogar?
— Tá, mas estamos falando de quanto?
— Iniciamos com cinquenta na mesa — Alec informa.
— Ah, então tá bom — murmuro pegando um copo de suco.
Afinal, não é muito dinheiro.
— Mil. Cinquenta mil — Cloud corrige.
Meus olhos quase saltam e o suco que eu estava bebendo a pouco volta pelas minhas vias
aéreas quando me engasgo com o líquido, sinto meu rosto inteiro arder com o esforço para
respirar, então, quando consigo parar de tossir, questiono:
— Cinquenta mil dólares? Vocês vão jogar por diversão, apostando cinquenta mil dólares?
— a última parte sai quase em um grito.
— Sim — Alec assente, novamente com aquele tom insignificante.
Isso é loucura.
— Se eu perder, tem chance de o Rhett querer me matar?
Cloud gargalha ao meu lado, o que me faz rir também, porque, só me dou conta do que
disse depois. Em qualquer outra mesa de café da manhã, isso seria uma piada, porém, não aqui e
muito menos se tratando dele.
— É sério — empurro o seu ombro.
— Acredite, isso não vai fazer nem cócegas na conta dele, e se você não disser, ele nem
vai notar.
— Mas não é grande coisa, — Alec diz — já jogamos com muito mais.
— Ignora ele Heart, Alec é milionário desde que nasceu, provavelmente tomava banho em
uma banheira de ouro.
— Era de prata, mas tudo bem — murmura sorrindo de lado.
Quando vou argumentar que isso é errado, e enumerar os porquês de não poder aceitar,
penso um pouco sobre o que Alec disse, e não demora muito para que eu perceba que tem razão.
Estou aqui somente porque ele me forçou, então, não vejo problema em usufruir do seu dinheiro.
E isso também é por ter me deixado na cama sozinha e ter saído sem dizer uma palavra
sequer, - nem um mísero tchau - como se eu não fosse nada, me tratando como um objeto. O que
mais me incomoda nisso, é que eu sabia que seria assim. Então me sinto burra em dose dupla.
Imbecil.
— Ok. Vamos jogar — concordo.
Duas horas depois, Cloud segue firme e forte na sua missão de me ensinar as regras
básicas do jogo. Estamos na ala do Alec sentados ao redor da sua mesa de pôquer que fica
posicionada no meio da sua sala.
— Que carta é essa? — ele pergunta virando um Ás na mesa.
Olho para o seu rosto, esperançoso que finalmente eu tenha entendido ao menos os nomes
das cartas, o que de fato aconteceu, consegui pegar uma boa parte do que ele disse, mas, decido
brincar só mais um pouco e ver até onde vai sua paciência.
— Um A.
Alec se joga na cadeira soltando um suspiro dramático, enquanto Cloud respira fundo,
depois massageia a têmpora de olhos fechados.
— Tudo bem. Vamos de novo.
— Ah não, não, não — Alec murmura exageradamente.
— Brincadeira, gente, sei que é um Ás.
— Por um segundo fiquei preocupado — Cloud diz passando as duas mãos no rosto. —
Tá vamos lá. Recapitulando, o que é um Full House?
Me estico na cadeira sentando com a postura ereta.
— Três cartas do mesmo valor, e duas outras cartas diferentes de mesmo valor.
Ele concorda, abrindo um pequeno sorriso.
— E um Flush?
— Cinco cartas do mesmo naipe — afirmo.
— E? — arqueia uma sobrancelha.
— Não precisam estar na ordem numérica?! — sussurro hesitante.
— Isso foi uma pergunta ou resposta?
— Depende… — mordo o lábio — Eu acertei?
— Sim.
— Então foi uma resposta — sorrio.
Balançando a cabeça de um lado para o outro, mas rindo, ele continua:
— Muito bem. E qual a melhor mão?
— Royal Flush.
— Que é?
Droga.
Olho em direção do Alec, que agora está com uma mão no rosto, fazendo um tipo de
barreira na boca, enquanto movimenta os lábios sem emitir som algum, entretanto, não consigo
compreender. Até que ele ergue a carta do Ás disfarçadamente e lembro-me.
— Sequência de Ás, Rei, Dama, Valete e Dez do mesmo naipe.
Então Cloud se vira, olhando em direção do Alec que agora está encarando o teto
enquanto brinca com uma ficha passando entre os dedos.
— Acho que ela está pronta.
— Então bora jogar.
Cada um se posiciona ao redor da mesa, um afastado do outro.
— Vamos lá, coisinha, vou entregar duas cartas para cada um, depois, colocarei cinco
cartas na mesa e virarei apenas três delas. Após ver as cartas, você pode passar a vez, cobrir a
aposta do coleguinha ou aumentar. Sacou?
— Saquei.
Então ele entrega as cartas para o Cloud, depois para mim e por último separa duas em sua
frente, após isso, assim como ele falou, empurra mais cinco cartas no centro da mesa, virando
apenas três delas.
Em minhas mãos, possuo um três de copas e um cinco de paus. Solto um suspiro
desanimado. Que droga.
É mentira o que dizem… Azar no amor, sorte no jogo. Meu azar aparentemente não se
concentra apenas na vida amorosa, mas no jogo também.
— Tá ruim aí Heart? — Alec pergunta olhando por cima das cartas com um sorriso
presunçoso, ao mesmo tempo que Cloud não demonstra nenhuma reação enquanto observa seu
jogo em mãos.
— Talvez sim ou não, talvez eu esteja só… como se fala Cloud?
— Blefando — murmura sem tirar os olhos das suas cartas.
— Isso! Posso estar blefando — encolho os ombros fingindo estar despreocupada.
— Ok então, vai apostar, cobrir…
Olho ao meu lado, um amontoado de fichas que somam cinquenta mil dólares.
— Eu aumento.
Sorrio.
O dinheiro não é meu mesmo.
“Sua mamãe lhe disse que você não deveria falar com estranhos
Olhe no espelho e me diga se você acha que sua vida está em perigo, yeah
Sem mais lágrimas.”
No More Tears - Ozzy Osbourne

Não fico doente com frequência. É quase impossível e a última vez foi há cerca de três
anos. Quando isso ocorre, permaneço no quarto até que passe, e sei quando está próximo pelos
sintomas que antecedem: dor de cabeça, sensação de boca quente e um tipo de cansaço que não
tenho em um dia normal. E, é exatamente como estou me sentindo, como se minha cabeça
pudesse explodir a qualquer momento.
Spencer e eu terminamos de fazer o reconhecimento do próximo alvo, agora, finalmente
posso fazer os ajustes finais do plano, e entrar em ação no momento que Wolf retornar das suas
férias.
Mais essa ainda.
Mas, antes de voltar para a sede principal, tenho apenas mais um trabalho.
Pego meu celular e disco o número do Oliver.
Não costumo fazer serviços que envolvam pessoas que conheço ou tenha algum tipo de
contato, se torna arriscado demais, quanto menos informação eu souber do contratante, menos
chances terei de ser descoberto. Mesmo que seja um excelente plano e calculando todas as
variáveis, sempre haverá risco.
Mas foi Oliver quem me deu o primeiro abrigo depois do Fosso, eu tinha dezenove anos
na época e além do Wolf, tinha o Cloud, com apenas doze anos. Ele viu potencial em mim, e me
chamou para trabalhar para ele em troca de comida e um lugar para morar. No início eram coisas
simples, mas com o tempo foram ficando mais perigosas e complexas.
— Do que precisa? — questiono assim que ele atende.
— Tem um homem vendendo na minha área, quero que dê um aviso.
— Um aviso apenas?
— Sim.
— Aguardo mais informações.
Desligo o celular e entro no carro, segundos depois recebo todos os dados por mensagem.
— Vamos fazer uma parada — aviso ao Spencer que está sentado no banco do motorista.
— Onde? — Viro o celular mostrando o endereço, e logo ele põe o carro em movimento.
— O que vamos fazer?
— Oliver ligou, disse que estão vendendo na área dele, quer mandar um aviso apenas.
Ele assente, em seguida vira a direita, e minutos depois estamos estacionando o carro em
frente a uma boate, provavelmente um estabelecimento de fachada para a venda de drogas.
Retiro as minhas armas deixando-as guardadas no carro, sabendo que serei revistado na
entrada, Spencer faz o mesmo ao meu lado, então descemos do veículo e antes mesmo de chegar
a portaria somos abordados por dois seguranças, ambos grandes, mas consigo perceber o quão
inaptos são. Duvido que consigam dar um soco rápido o suficiente antes de serem desarmados.
— Boa noite — um deles diz, ele me olha dos pés à cabeça, analisando, enquanto o outro
observa Spencer.
— Seu chefe — informo sentindo a dor de cabeça aumentar consideravelmente,
contribuindo para a minha falta de paciência. Quero voltar logo para a sede, é estranho sair já
querendo retornar e me lembrar de como deixei Heart na cama de madrugada não facilita as
coisas para mim. Porra. Tive que passar o dia inteiro me esforçando para manter meus
pensamentos longe dela, lembranças da noite passada iam e vinham com a mesma facilidade.
— Seu nome.
— Six — digo, apenas algumas pessoas sabem meu nome verdadeiro.
O segurança se afasta, mas o vejo puxando um rádio-comunicador e pela minha visão
periférica observo Spencer ao meu lado de braços cruzados enquanto encara o homem à sua
frente.
— Pode liberar — avisa, e em seguida faz um sinal para acompanhá-lo.
Conforme andamos, analiso a quantidade de seguranças que há no local, as saídas
disponíveis, o tipo de armamento que estão usando.
Nada muito profissional, concluo.
Amadores.
Viramos em um corredor escuro, sem janelas, sem mais saídas, apenas uma porta ao final,
e assim que chegamos ele a abre.
Olho para o Spencer que apenas anui parando ao lado da porta assim como o segurança.
O homem está sentado em uma cadeira atrás de uma mesa grande, em sua mão há um
copo de whisky.
— Bem-vindo — diz fazendo um sinal para o assento vazio em sua frente, me sento e faço
uma breve análise do local e dele, provavelmente 1.80 de altura, uns 90kg. — A que devo a
honra? — questiona.
— Temos um amigo em comum — digo apoiando as mãos nos braços da cadeira.
— Oliver?
Assinto.
— Deixa eu adivinhar, — sorri se recostando — ele quer que eu saia de Las Vegas?
Assinto de novo. Não sou muito de conversar, normalmente atiro antes e pergunto depois.
Ok. Eu nunca pergunto nada. Não me interessa o que eles têm a dizer, porque no final, não fará
diferença alguma.
— E aí mandou o cachorrinho dele pra resolver isso? Achei que tivesse parado de
trabalhar pra ele… mas vejo que não, você continua fazendo o trabalho sujo.
Então se levanta, e caminha devagar parando atrás da cadeira onde estou sentado, e eu
sinto pegando algo do seu paletó, provavelmente uma arma, porque, duvido que seja homem o
suficiente para enfrentar alguém usando as mãos.
— Sabe, pelas histórias que ouvi de você, achei que fosse mais esperto, realmente tem que
ser muito burro para vir até a minha área, desarmado, e apenas com um homem para me
ameaçar.
— Você tem cinco segundos para afastar essa arma, e sentar na sua cadeira — digo.
— Senão o quê?
— Cinco. Quatro. Três. Dois. Um.
Rápido, me levanto girando o corpo, seguro o pulso direito onde a pistola está e empurro
sua mão para cima, afastando a mira de mim; e antes que ele tenha chance de disparar e alertar o
seu segurança que está na porta, giro a arma para baixo quando ouço um estalo do seu dedo
quebrado. Não permitindo que ele grite, com a outra mão envolvo seu pescoço firmemente.
— Oliver é benevolente, eu nem tanto — sorrio — e nem sempre o trabalho é sujo, e para
te provar isso, não vou derramar nenhuma gota de sangue.
Com o polegar posicionado próximo a sua traqueia, e os outros dedos ao redor do seu
pescoço, aperto, mais forte a cada segundo conforme sinto os seus batimentos cardíacos
diminuírem lentamente, pouco a pouco enquanto ele se debate desesperado por ar.
Suas pupilas estreitam no mesmo momento em que sua pele vai ficando em um tom
azulado, sua boca se abre em uma tentativa inútil de puxar o ar, as mãos vão até os meus braços
na tentativa ridícula de se soltar, até que seu corpo começa a convulsionar, e aos poucos vai
perdendo a consciência. Normalmente o processo completo dura cerca de cinco minutos, às
vezes mais, dependendo do peso do alvo e o tamanho do pescoço. Ocasionalmente gosto de me
demorar, depende do meu humor, hoje, por exemplo, com essa dor de cabeça do caralho, não
estou muito empolgado.
Quando tenho certeza absoluta de que ele está morto, solto-o no chão e pego sua arma,
confiro a quantidade de balas que ela possui e abro a porta.
Antes que o segurança tenha oportunidade, o ataco com um golpe no estômago próximo
ao seu diafragma tirando o seu fôlego, deixando-o de joelhos no chão, Spencer mais que rápido
segura sua cabeça entre as mãos e com um golpe ouço o estalar, quebrando o pescoço.
— O que aconteceu? — indaga jogando o homem no chão pegando a sua pistola.
— Quero voltar pra sede e ele estava demorando demais pra concordar em sair da cidade.
— Dá próxima, deixa que eu entro.
Dou de ombros.
— Tanto faz, direita ou esquerda? — pergunto.
— Esquerda.
— No três — aviso quando chegamos no final do corredor, perto da entrada.
Caminhamos lado a lado, mas, antes de sair, um homem nos aborda, e eu vejo o momento
que outro segurança puxa sua arma, e então o caos está formado, pessoas correndo, gritos, vidros
quebrando. Atiro na testa do primeiro que se aproxima, depois no segundo que veio pelo meu
lado direito enquanto Spencer limpa o lado esquerdo.
— Limpo — ele diz.
Atiro no último.
— Vamos — digo.
Chegamos no carro e logo ouvimos o barulho das sirenes, rápido, entramos no veículo e
segundos depois, em uma rodovia movimentada, sem sinal de nenhuma viatura da polícia.
— Pra onde?
— Jato, vamos para a sede principal.
Escolho por não permanecer na sede de Nevada porque quero chegar e ir direto ao
encontro dela, de onde eu não queria ter saído de madrugada.

Spencer estaciona o carro na garagem, eu saio, me dirijo direto para a minha ala a fim de
procurá-la. Porém, quando chego e olho todos os cômodos e não a encontro, sinto um incômodo
surgir.
Pego meu celular do bolso e olho nas câmeras, não a encontrando em nenhum lugar,
então, disco o número do Cloud.
— Onde ela está? — questiono no momento que ele atende.
— Estamos na ala do Alec, jogando pôquer.
Não respondo. Apenas encerro a ligação e sigo para o mesmo lugar.
Quando entro, já posso ouvir as risadas altas dos três e novamente, a irritação por vê-la
sorrindo com outras pessoas, me consome, ela ergue o rosto por trás das cartas.
Porra.
Agora eu gostaria de segurar o seu rosto entre as minhas mãos e beijá-la, afundar os dedos
em sua pele até que não exista distância nenhuma entre nossos corpos; prensá-la contra a parede
e me afundar na sua boceta. Caralho, preciso sentir o seu cheiro, o seu gosto, escutar os seus
gemidos enquanto eu a como forte, da mesma forma que fiz ontem. Não parei de pensar nisso
nem um segundo desde que saí. Estou aqui finalmente, e não posso tocá-la, porque ela está a
metros de distância atrás do caralho de uma mesa de pôquer, no meio de dois filhos da puta que
não tem apreço pela vida.
A raiva corre pelas minhas veias se misturando com o desejo, um brigando com o outro
para ver quem se sobrepõe.
— Vamos — digo colocando as duas mãos no bolso da calça tentando disfarçar o meu pau
que incha somente em vê-la.
Ela enruga a testa.
— Não vou agora, estamos no meio de uma partida.
Resposta errada.
— Agora.
— Não — afirma erguendo o queixo que eu gostaria muito de segurar para afundar meus
dentes nessa boca abusada.
— Rhett — Cloud murmura intervindo, tentando contornar a situação.
— Fica fora disso — aviso-o e volto a olhar para ela. — Vamos, não vou falar de novo
Heart.
— E se eu não for? Vai fazer o quê? Me carregar?
Dou de ombros.
— Se for necessário, já fiz isso uma vez, não será problema fazer de novo — afirmo.
Então Alec se levanta e caminha, parando ao lado da sua cadeira.
— Qual é Rhett, assim que terminar ela vai — intercede.
— Como é? — pergunto dando um passo em direção aos dois com os punhos cerrados —
Está realmente me dizendo o que devo fazer? — solto uma risada sarcástica.
Não gosto disso. Spencer e Alec estão me tirando do sério. Talvez eu tenha que lembrá-los
a quem ela pertence, e quem manda aqui.
— Tá tudo bem. Depois eu volto — Heart se ergue jogando as cartas na mesa.
Não vai voltar porra nenhuma.
— Nem uma palavra — aponto para os dois que continuam me encarando enquanto Heart
passa por mim feito um furacão.
Meu pequeno tornado.
Giro o corpo e a sigo, o caminho inteiro ela anda em minha frente, me deixando com uma
visão perfeita da sua bunda. Porra. Ela fica tão gostosa quando está irritada. E assim que
passamos pelo corredor, e entramos em nossa ala, explode:
— Qual é a porra do seu problema? — seu rosto assume um tom de vermelho, e suas mãos
estão ao lado do seu corpo e sei que se suas unhas estivessem compridas, já estaria abrindo novas
feridas.
— Cheguei e você não estava.
— Mesmo?
— Sim.
— Você não pode tá falando isso sério.
— Acha que estou brincando? Eu poderia ter ficado em Nevada se quisesse. Mas eu voltei.
Porque preciso passar o resto do dia metendo em você, caso contrário, não consigo me
concentrar em mais nada.
— Que tivesse ficado lá. Você me deixa aqui sozinha sem nada para fazer e some, e
quando eu finalmente encontro algo e estou me divertindo, aparece para estragar tudo — a última
palavra sai com a voz embargada e consigo sentir a minha irritação surgindo lentamente da
mesma forma que o tesão vai desaparecendo.
Não chore.
— Acabou? — questiono.
— Eu não sou sua propriedade — grita.
De novo isso. Julguei que tivéssemos tido um avanço ontem.
— Sim, você é, e achei que tivesse deixado bem claro o que espero de você — afirmo
sentindo minha cabeça voltar a latejar.
Seu queixo treme, os olhos se enchem d'água quando a primeira lágrima cai, escorrendo
pela bochecha.
Ótimo.
— Não chora, porra! — explodo gritando, sentindo uma dor insuportável atingir minha
cabeça, nesse momento ela se afasta, assustada, logo em seguida, mais lágrimas escorrem e isso
é o suficiente. Me viro deixando-a sozinha no corredor, chorando.
“Há coisas sobre as quais quero conversar, mas é melhor eu esquecer
Mas se você me abraçar sem me machucar
Você será o primeiro a fazer isso.”
Cinnamon Girl - Lana Del Rey

No primeiro dia, não saí do quarto para absolutamente nada. Não comi. Não assisti
televisão. Não fui à sala. Não vi ninguém. Permaneci o tempo todo na cama, me levantei apenas
para tomar banho. Uma boa parte do tempo passei olhando para o teto, e na outra, observando
através da janela a chuva que caía. No segundo dia, minha raiva havia diminuído um pouco,
provavelmente por culpa da fome que eu estava sentindo, então, criei coragem para sair quando
já era madrugada, assim teria menos chances de encontrá-lo.
Hoje, no terceiro dia, ainda não me sinto pronta o suficiente para confrontá-lo. Não se
resume apenas a raiva que sinto pelo que ele falou, porque, uma parte de mim, sabia que era isso
que ele queria, e com a raiva sei lidar, mas infelizmente não é somente isso. Quando ele gritou
comigo, foi como ter sido teletransportada para uma época onde aquilo era normal, algo que
fazia parte dos meus dias, e doeu. Doeu muito ter aquele sentimento de novo. O medo. A
vulnerabilidade, em alguma parte da minha mente, eu sabia que não iria me machucar, sentia
isso, ele não fez nenhum movimento brusco, não me tocou, não moveu nenhum passo em minha
direção, mas o grito, o grito… pelo visto tem o mesmo efeito sobre mim.
Balanço a cabeça decidida a encarar a situação, então criando coragem saio do quarto sem
olhar para a porta ao lado, andando direto para o corredor a caminho da cozinha.
— Olá — cumprimento me sentindo desconfortável quando entro e encontro todos
sentados ao redor da mesa. Todos. Menos ele.
— Você tá péssima — Alec murmura com o cenho franzido.
— Nossa, obrigada — sento em uma cadeira em frente ao Spencer, que logo pergunta:
— O que aconteceu?
— Nada.
— Como assim nada? Vocês sumiram por três dias.
— Vocês? — balanço a cabeça de um lado para o outro — Não, eu estive sozinha no meu
quarto. Ele não apareceu ainda? — pergunto, confusa.
— Achamos que estivessem juntos todos esses dias em algum ritual macabro de
reconciliação, sei lá — Alec fala.
Nego balançando a cabeça.
— Tem certeza de que ele não apareceu? Nenhum dos dias?
Spencer assente.
Olhamos juntos em direção ao Cloud, que segue calado perdido em seu sanduíche, e
sentindo três pares de olhos sobre ele, ergue o rosto confuso.
— Quê? — pergunta com um vinco entre a sobrancelha.
— Onde o Rhett está? — indago.
— Doente.
— Ah, faz sentido — Spencer murmura servindo uma xícara de café.
— Não se preocupe coisinha, em dois dias ele aparece — Alec resmunga voltando a
comer.
Ambos agem como se aquilo fosse algo natural.
— Como assim? Onde ele foi?
— Quando o Rhett fica doente, simplesmente se isola e só volta quando está bem de novo
— Cloud explica. — Não é tão ruim quanto parece.
Assinto.
Certo.
Isso não tem absolutamente nada a ver comigo.
Não vou me intrometer.
Ele é um adulto e sabe o que deve fazer.
Olho para a mesa farta de comida, pães, tortas, ovos mexidos, suco…
Será que ele está comendo?
De novo, não importa.
Oh merda.
— E vão deixá-lo sozinho? — questiono indignada.
Por que sou assim? Por que não posso simplesmente deixar de lado?
Alec solta uma gargalhada debochada quando, então, fala:
— Acha mesmo que um de nós entrará no quarto dele sem permissão?
Dou de ombros.
— Vocês podem não entrar, mas eu sim, tem alguma chave reserva?
Todos negam.
Isso já deveria ser motivo o suficiente para me fazer desistir, mas, parece que hoje acordei
inspirada a me meter em problemas.
Penso por alguns segundos.
— Como se arromba uma porta? — pergunto.
Como resposta, ganho apenas pares de olhos arregalados me encarando como se eu
estivesse prestes a cometer um crime, o que é bem contraditório vindo especialmente deles.
— Você não vai fazer isso — Spencer intervém com o semblante sério.
— Posso lidar com ele, não se preocupe — argumento. — Alguém está disposto a me
ajudar? — completo deixando claro que desistir não é uma opção.
— Oh céus, ela consegue ser ainda mais louca. Tudo faz sentido agora — Alec murmura.
— Então?
Um brilho surge nos seus olhos, um ar meio travesso, de quem gosta de ver o circo pegar
fogo.
— Ajudo, mas… — Alec levanta o indicador em minha direção — Não pode dizer a ele.
— Por mim tudo bem, negócio fechado.
— A propósito, você me deve vinte mil — sorri cínico.
Me levanto e vou até a geladeira, pego um pote de iogurte e me sento novamente, encho a
colher e levo a boca.
— Rhett te deve — o corrijo, depois sorrio, sabendo que ele nunca irá cobrá-lo.
— Como pode gostar disso? É nojento — Cloud resmunga me olhando.
— Claro que não, é gostoso. Prova — empurro o pote em sua direção, mas ele nega.
— Acredite só você gosta disso.
— Então por que a geladeira está cheia se ninguém gosta?
— Porque você gosta — Alec informa, e diante do meu silêncio, ele completa: — Rhett
traz sempre, porque sabe que você gosta.
— Hum — digo apenas, não sabendo o que sentir em relação a isso, não consigo
compreendê-lo, em um momento é atencioso e me trata bem, mas no outro, é um verdadeiro
imbecil, deixando claro que: “você me pertence”. A última parte eu consegui escutar com a voz
dele na minha cabeça.
Depois de três horas, Alec finalmente consegue abrir a porta e tudo que ele precisou foi de
apenas um arame, alicate e um par de horas praguejando. Porém, assim que a maçaneta girou, ele
desapareceu, foi como se tivéssemos acabado de abrir uma tumba milenar e fosse sair uma
assombração a qualquer momento, e correr fosse a sua única opção para continuar vivo.
Abro a porta e encontro o quarto em completa escuridão, só consigo ter o vislumbre de
uma silhueta debaixo do cobertor. As janelas estão fechadas e as cortinas não deixam entrar
nenhuma fresta de luz.
Respiro fundo, sabendo que isso é um erro, mas não conseguindo simplesmente ir para o
quarto ao lado, sabendo que ele está aqui doente.
Balanço a cabeça e sigo até a cama, seguro o cobertor e quando o afasto, Rhett envolve
meu pulso com seus dedos, e agora consigo compreender o desespero do Alec, realmente parece
uma assombração, não para mim, felizmente.
Ele gira o corpo ficando de barriga pra cima, e no segundo que abre os olhos e me vê, o
reconhecimento transparece, e seu aperto diminui gradualmente.
Como ele consegue continuar lindo, mesmo doente?
— Vá embora — rosna irritado e é impossível não revirar os olhos com seu mau-humor.
— O que você tem? — questiono usando o mesmo tom de voz que o seu.
Ele me ignora e vira de lado colocando novamente o cobertor por cima da cabeça. Bufo e
puxo de volta sob um grunhido baixo. Toco em sua testa sentindo-a quente, quente demais.
— Você está com febre — informo.
— Só preciso dormir um pouco mais — murmura sonolento.
Claro, porque três dias não foram o suficiente.
Ignorando os seus protestos, sigo até o seu banheiro e ligo a água enchendo a banheira,
depois, volto até o seu guarda-roupa pegando uma calça e blusa mais leve, separo também um
jogo de lençóis limpos, porque provavelmente os que estão na cama devem estar molhados de
suor devido à febre.
Aproveito para abrir as cortinas e a janela, deixando entrar um pouco de sol e vento
fresco, nesse momento a sinfonia de xingamentos aumenta consideravelmente, e não consigo
segurar a risada quando ouço ele me chamar de maldita.
— Quem diria, um assassino cruel e sádico derrubado por um resfriado… — volto para o
seu lado — Levanta.
— Não — rosna.
— Rhett, juro que se você não levantar eu vou…
— Vai o quê? — indaga arqueando a sobrancelha.
Droga, é errado desejar uma pessoa doente e de cama?
— Vai para o banho.
— Já disse que só preciso dormir, Heart, — fecha os olhos — me deixa.
— Você vai dormir, depois que tomar banho e comer — falo, e continuo sendo ignorada,
suspiro tentando pensar em outra maneira de convencê-lo, agir da mesma forma talvez não tenha
um efeito positivo, e se eu… — Por favor Rhett — peço da forma mais doce que consigo.
Então, finalmente ele abre os olhos, desconfiado.
Não consigo controlar o sorriso imenso que deixo escapar quando ele coloca os pés para
fora da cama.
— Consegue tomar banho sozinho?
— Não ouse ir ao banheiro enquanto eu estiver lá desse jeito — diz entredentes.
— Qual o problema? Posso te ajudar… — argumento.
— Não é assim que planejo estar pela primeira vez em uma banheira com você.
Reviro os olhos, e até penso em argumentar dizendo que não tenho planos de entrar em
uma banheira com ele em momento algum, mas, ignoro seu comentário.
— Deixa de ser idiota, sei que foi você que me deu banho enquanto eu estava
desacordada.
— É diferente.
— Não, não é. Mas, não vou discutir, tome um banho e eu já volto.
— Não gosto de você mandona — resmunga passando pela porta do banheiro.
— Você vai superar — grito.
Troco os lençóis da cama e depois vou até a cozinha pegar um prato de sopa que fiz
enquanto Alec iniciava seu processo árduo de arrombamento.
— Olha, você está viva — Cloud murmura quando me encontra na cozinha. — O que é
isso? — questiona olhando por cima do meu ombro.
— Sopa.
— Não gosto de sopa, mas, isso parece estar bom — continua observando com
curiosidade.
— Claro que sim, prova — pego uma colher da gaveta afundando no caldo.
— Não sei — murmura desconfiado.
— Anda logo — digo erguendo-a na sua direção, meio com cara de nojo, ele abre a boca,
provando.
Seus olhos se arregalam, surpresos.
— Porra. Isso está ótimo.
— Falei, eu fiz bastante, pode comer.
— Fez sopa? Pra ele? — indaga arqueando a sobrancelha, querendo provar algo.
— Sim — digo despejando uma concha de sopa no prato. — Ele tá doente — explico.
Cloud concorda com os olhos semicerrados e um sorriso se abre.
— Quando eu estiver doente, vai fazer sopa pra mim também?
Sorrio.
— Se você for mais fácil do que ele, sim — afirmo abrindo a geladeira e servindo um
copo de suco de laranja.
— Sou bonzinho, você sabe.
— Mas não me ajudou a arrombar a porta — resmungo colocando todos os itens em cima
da bandeja.
— Em minha defesa, eu o conheço, e se fosse qualquer outra pessoa além de você
entrando naquele quarto, provavelmente não sairia inteiro dessa casa.
— Ele é só uma pessoa, não é o bicho-papão; rabugento e inconveniente na maioria das
vezes, mas ainda é uma pessoa — encolho os ombros. — Avisa o Spencer e o Alec que tem
sopa, e se eu gritar, não precisa me socorrer, provavelmente vou estar brigando com ele.
Entro no quarto, e fico surpresa quando noto que as cortinas continuam abertas assim
como a janela, e ele já está deitado com o cobertor por cima da cabeça, de novo.
— Senta — peço e penso que vai se negar, resmungar, e terei que passar os próximos
minutos tentando convencê-lo. Entretanto, por mais incrível que pareça, e para o meu espanto,
ele se senta, e engulo em seco quando noto que está sem camiseta. Tentando parecer indiferente,
coloco a bandeja em cima do seu colo e digo em um tom neutro — Agora come.
Ele me olha, com a testa franzida como se tivesse um milhão de perguntas na cabeça.
— Está bom — encorajo-o. — Cloud também não queria, mas depois que provou, amou.
Então, rosna baixinho.
— Você fez para mim, por que ele tinha que provar?
— Eu ofereci.
— Por quê?
Solto um suspiro que sai mais alto do que imaginei, então, digo:
— Só come Rhett. Não vamos entrar em mais uma discussão.
Resmungando, ele segura a colher e prova.
— Isso tá muito bom, mesmo.
Sorrio, e depois me recrimino mentalmente por ficar feliz em agradá-lo. Ele é um idiota.
Preciso ficar repetindo isso em minha cabeça o tempo todo, principalmente quando me olha com
aqueles olhos verdes.
— Depois que você comer tudo, pode tomar o suco e esse remédio aqui junto — aviso e
me viro pronta para ir embora, afinal, fiz o que tinha de fazer, ele me cuidou quando precisei e eu
estou apenas devolvendo a generosidade. É isso. E, além disso, continuo com raiva.
— Heart — me chama, no mesmo tom que ele usou enquanto estávamos no sofá depois de
transar por horas, é um tom diferente, confortável que me aquece mais do que eu gostaria e
deveria.
— Sim? — olho por cima do ombro.
— Onde você vai? — questiona.
Deus, sou uma verdadeira fraude. Porque não posso ser ruim e má, e simplesmente mandar
ele para algum lugar e deixá-lo sozinho? Por que ele tem que fazer essa voz?
— Para o meu quarto.
— Fique.
Não.
Volte para o seu quarto.
Isso era o que eu tinha na cabeça, mas, me pego fazendo o contrário. Vou até a porta e a
fecho, e quando me viro, vejo que ele já afastou o cobertor ao seu lado, abrindo espaço para mim
na cama.
Rhett aperta em um dos botões que possui ao lado e logo uma parede de madeira se abre
onde uma televisão surge, depois ele joga o controle remoto em minha direção.
— Pode escolher — diz.
Resolvo deixar rolar e não ir contra, ele está doente, não se briga com pessoas enfermas,
então, coloco uma série aleatória na televisão, e finjo prestar atenção, já que é quase impossível
ficar ao seu lado e simplesmente fingir que não possui um super efeito sobre mim.
Então percebo o quanto ele está doente. Sem piadas, sem sarcasmo. Quando acho que está
tudo silencioso demais, me viro para conferir sua temperatura e o encontro dormindo. Foi assim
praticamente o dia inteiro, Rhett só acordou para tomar os remédios e comer quando tive que me
esforçar muito.
Em alguns momentos me peguei implorando baixinho para que ficasse bom logo, até o
deixaria me atormentar o quanto quisesse, por um tempo.
Das três versões que presenciei, com certeza, eu prefiro a que ele está bem o suficiente
para me importunar.
Desligo a televisão notando que já está bastante tarde e preciso voltar para o meu quarto.
Afasto o cobertor e deslizo as pernas para fora da cama, mas, antes que eu toque o chão, seus
braços envolvem minha cintura de uma forma possessiva, me puxando para o seu peito,
prendendo meu corpo ao seu.
— Rhett — tento me afastar, mas pelo som que deixa escapar, sei que será inútil, ele está
dormindo.
E, quando me dou conta, estou me aconchegando em seus braços, ele afunda o rosto em
meu pescoço e solto um gemido de prazer quando sinto sua barba roçando em minha pele.
Imbecil, eu o odeio tanto.
Eu tô puto. Tão puto que eu podia matar o primeiro que surgisse na minha frente agora,
apenas com as mãos, e eu já tenho em quem centralizar o meu ódio.
Cloud.
O filho da puta do Cloud.
Salvei a bunda desse moleque mais vezes do que me lembro, e em troca, como ele
retribui? Esse desgraçado me tirou da cama. Me tirou dela. Heart estava nos meus braços, sua
bunda estava se esfregando no meu pau, eu finalmente me sentia melhor, depois de todo cuidado
que ela teve comigo nos três dias que passaram, quando eu ia agradecer da forma correta, Cloud
me ligou, não uma, mas cinco vezes, sem parar.
Entro na sua ala, e como sempre, aquele maldito cachorro corre em minha direção. Ignoro-
o, mas o bastardo acha que estou brincando, cerro os dentes passando pelo corredor indo direto à
sala de controles.
— O que caralho é tão importante que não podia esperar até amanhã? — explodo no
momento que abro a porta.
Cloud gira a cadeira, no segundo que vejo seu rosto sei que tem algo muito errado, e eu
não gosto da sensação que me atinge, imediatamente meu corpo fica em estado de alerta. A foto
de uma criança na tela do computador chama minha atenção, é uma menina com os cabelos
escuros e franja, os olhos são grandes, as bochechas rosadas, parece ter dois ou três anos. Tudo
faz menos sentido ainda.
— Quem é? — pergunto chegando um pouco mais perto, ao olhar com mais atenção,
consigo ler o nome da criança no arquivo ao lado da imagem.
Lauren.
— Essa é a Heart bebê — diz.
— Como? — indago confuso.
— Essa criança é a Heart.
— Você não está fazendo muito sentido, Heart era Annelise…
Ele nega.
— Explica.
— Sempre quando finalizamos um serviço, eu continuo checando o banco de dados da
polícia por meses, em alguns casos, anos, por questão de segurança. Você sabe como funciona.
Assinto.
Sim, foi um acordo nosso, é uma garantia de que não somos suspeitos de nada e não
estamos em nenhum radar.
— Continua — peço sentindo aquela inquietação se agitar.
— Meu sistema notificou hoje uma mudança nos arquivos da Heart, no fim, ela não era
Annelise Parker como pensávamos.
Me recosto na mesa atrás de mim.
— Tem certeza disso? — mesmo sabendo que isso seria impossível, Cloud não me traria
uma informação desse porte se não tivesse confirmado antes, mas, preciso disso, preciso escutar.
— Confirmei, mais de trinta vezes.
Respiro fundo.
— O que mais você sabe…
Cloud suspira parecendo desanimado, então encolhe os ombros e continua:
— Não muito Rhett, apenas que ela foi incluída em um programa de testemunhas com a
mãe quando tinha três anos.
— Preciso de mais, Cloud.
— Sinto muito, só descobri isso até agora, quem escondeu essa informação, fez muito
bem…
As perguntas não param de girar na minha mente, por que alguém entraria em um
programa de testemunhas?
O que eu não vi?
A resposta é muito simples.
Fugir.
Fugir de algo muito ruim.
Mas quem?
— Então, provavelmente o policial não é o pai dela… — murmuro para mim mesmo.
— Não — confirma minha suspeita.
— Ele estava a protegendo, por que criaria como uma filha alguém que não possui um
laço? Por que se arriscaria tanto?
Merda.
— O alvo — digo e Cloud arregala os olhos, percebendo para onde minha linha de
pensamento está indo.
— Não era o James, não é? — conclui meu raciocínio.
— Não Cloud. Não era — confirmo. — Alguém a encontrou…
— Então, — reconhecimento transparece no seu rosto — se você tivesse negado a
proposta…
— Ela estaria morta, outra pessoa teria feito — dizer isso em voz alta, me incomoda,
porra, muito mais que isso.
— Merda — Cloud xinga. — Mas ela tá segura agora, não está? Por via das dúvidas, ela
está morta — completa.
— Isso muda tudo Cloud.
Não me preocupei muito com o suposto corpo da Heart porque a princípio ela não era o
alvo, então, quem solicitou o serviço ia querer a confirmação do James, e não tinha dúvidas que
o corpo naquele necrotério era dele, mas o dela, merda.
— O que você quer que eu faça? — questiona.
— Preciso de mais informações, preciso saber tudo sobre ela, e principalmente quem
solicitou o serviço — ele assente girando a cadeira, voltando para frente da tela.
— E quando você souber…
Sorrio.
— Nós o matamos.
Quando estou saindo da sala, escuto Cloud me chamar e me viro.
— Promete que não vai deixar ninguém levá-la?
— Eu prometo.
Saio da sala colocando o telefone no ouvido, e no segundo toque, Wolf me atende.
— Fala — ele diz.
— Preciso que volte — informo passando pela porta da ala, caminhando direto para o meu
escritório.
— Quando? — questiona após um segundo.
— Agora.
Perco a noção de quanto tempo permaneço sentado observando a janela, mas com a cabeça
em outro lugar, pensando em todas as opções possíveis e em todas as possibilidades imagináveis.
Me sinto no escuro, sem saber os meus próximos passos, e isso me deixa nervoso, ansioso,
com uma sensação de impotência que me leva a loucura. Tenho necessidade de estar sempre à
frente. E caralho, é impossível fazer isso se não faço ideia de quem ela era.
Eu poderia cobrar alguns favores, e sei que em minutos eu saberia tudo sobre quem ela era
e porque estava onde estava. O problema, é que não tenho certeza se alguém realmente sabe que
ela não está morta, e se eu desenterrar isso, levantará suspeitas, e certamente um alvo bem no
meio das suas costas.
“Promessas são ditas
Para serem quebradas
Os sentimentos são intensos
As palavras são insignificantes.”
Enjoy The Silence - Depeche Mode

No corredor, pronta para ir à caça do Cloud e atormentá-lo pelas próximas cinco horas,
vejo Alec parado em frente à porta principal parecendo uma estátua olhando o celular. É quando
uma ideia surge na minha cabeça, e, devagar, caminho passo por passo em sua direção, na
expectativa de assustá-lo. Ainda me lembro do pulo que dei na cozinha de madrugada esses dias
quando ele fez o mesmo comigo.
Porém, não sou tão boa quanto ele pelo jeito, já que Alec se vira sorrindo antes que eu
tenha sucesso.
— Vai ter que ralar muito para conseguir me assustar, coisinha — diz piscando de um
jeito charmoso.
— Vai aonde? — questiono notando sua roupa diferente da habitual bermuda e regata,
hoje vestindo uma blusa muito parecida com a que o Rhett costuma usar, preta de mangas
compridas, e uma calça estilo militar, porém, da mesma cor que a outra peça de roupa e coturnos.
— Treinar com o Spencer — diz revirando os olhos.
Balanço a cabeça compreendendo e instantaneamente meus ombros caem em desânimo,
sabendo que não possuo essa liberdade de ir e vir quando e onde eu quiser. Nunca tive, desde o
meu casamento com James, e pelo rumo que as coisas estão tomando, não terei tão cedo.
Ouço passos atrás de mim, chamando minha atenção, olho por cima do ombro e vejo
Spencer se aproximar, usando as mesmas roupas que seu amigo, os dois trocam alguns olhares,
até que Alec pergunta:
— Tá pronta para ir junto?
E é impossível não deixar um sorriso imenso surgir no meu rosto.
— Sim — afirmo.
— Então vamos — Spencer passa em nossa frente destravando a porta.
Caminhamos juntos até a sua caminhonete, Alec abre a porta de trás para mim e depois
entra sentando no banco da frente ao lado do motorista.
Quanto mais tempo passo ao lado deles, mais percebo os gostos extravagantes, a
caminhonete é imensa que quase não consegui subir de tão alta.
— Sabe que ele vai enlouquecer quando não te encontrar, não é? — Spencer pergunta
passando o cinto de segurança em frente ao peito, entretanto, não noto nenhuma preocupação no
seu tom de voz, para ser franca, até parece que está se divertindo com a situação.
— E quando não enlouquece? — murmuro lembrando do seu último surto.
— Você não tem nem um pouco de medo dele? — Alec questiona.
— Não — respondo honestamente.
Em nossa última discussão, não foi ele que me deixou com medo, foi o que ele me fez
lembrar. Senti apenas raiva, principalmente por me tratar como um objeto, algo que ele possa
controlar.
Mas não há medo.
Claro que eu não deveria brincar com fogo, muito menos cutucar uma onça com vara
curta, a verdade é que precisava de ar, necessitava de uma distância dele.
Quando acordei hoje, olhei para o lado da cama e vi que estava vazia de novo, então fui
tomada por uma onda de frustração que não pude controlar, simplesmente me tomou de um jeito,
e, me senti tão apavorada e decepcionada ao mesmo tempo. Com ele. Comigo.
E só então me dei conta, de que se cheguei ao ponto de ficar chateada por ele ter me
deixado sozinha na cama de novo, foi porque criei expectativas sobre algo que não existe e
nunca existirá.
Primeiro: Ele me sequestrou…
Segundo: Rhett é um lunático que muito provavelmente não sabe sentir nada além de
prazer momentâneo, e sou atualmente, o objeto de desejo.
Terceiro: Isso é uma grande loucura.
Principalmente ontem, enquanto dormia nos seus braços, senti algo diferente, algo que não
tinha nada a ver com desejo e luxúria.
Tenho a impressão de que estou me perdendo. O tempo todo.
Desde que cheguei, posso contar nos dedos as vezes em que realmente tentei pensar em
alguma forma de fugir. Honesta e vergonhosamente, gosto de estar aqui, de um jeito deturpado,
me sinto segura, a vontade, gosto da companhia do Cloud, de treinar com Spencer e alfinetar o
Alec. Acho que fiquei tanto tempo sem um “lar”, que me apeguei rápido demais ao pouco que
me foi “oferecido”.
Em alguns momentos penso que estou deixando de ser quem era, mas aí vem aquele
questionamento, algum dia eu soube?
Balanço a cabeça tentando afastar os meus pensamentos, é cansativo, parece que estou em
uma constante luta interna comigo mesma, entre Annelise e Heart.
O que me assusta, é gostar demais de ser a Heart, de estar com ele. E ansiar demais pela
sua presença.
— Essa banda é sensacional — Alec murmura quando Enjoy The Silence do Depeche
Mode estoura nos altos falantes do veículo enquanto Spencer dirige, se afastando cada vez mais
da casa, porém, pegando o caminho oposto que Rhett usou quando fomos ao fiorde.
— Gosto dessa banda também, já escutou Secret Service? — pergunto tentando afastar
qualquer pensamento dele, eu queria sair para espairecer, então preciso pelo menos me esforçar.
— Não conheço, é bom?
— É perfeito, meu pai adorava — me lembro de escutar essa música, e de ouvir as suas
histórias na polícia, de como conheceu minha mãe e das loucuras que viveram juntos. Eu sempre
quis ter um amor como o deles, que atravessasse o tempo, que fosse eterno.
Pensar nisso me deixa um pouco triste, meu pai não se casou depois que ela se foi, nem
tentou conhecer outra pessoa, mesmo com minha insistência. Sempre deixou claro que o amor da
vida dele havia ido, e que um dia iria encontrá-la e ele não queria ter de se explicar que houve
outra. Não me lembro dela. Nada. Todas as minhas recordações são apenas com meu pai.
— Me diz uma — Alec pede com o celular em mãos.
— L. A. Goodbye — e mais que rápido, ele coloca a música, e uma onda de nostalgia me
atinge.
— Eu gostei, a batida é legal — murmura balançando a cabeça no mesmo ritmo dos
ombros. — Tem um bom gosto musical Heart, acho que podemos ser amigos.
— Sério? — indago — Só agora?
— Não me leve a mal, coisinha, mas julgo o gosto musical das pessoas. Veja o Spencer,
não tem um, por isso somos amigos, posso colocar a música que eu quiser sempre.
— Na verdade, eu tenho sim um gosto musical, mas você se apossou do rádio — Spencer
intervém.
— Como eu disse Heart, ele não tem.
Sorrio e em seguida um solavanco chama minha atenção para o que há fora da janela e
então vejo um penhasco enquanto o carro faz uma curva acentuada, subindo um morro imenso.
Olho para baixo e consigo ver apenas um amontoado de folhas verdes.
É lindo, e muito assustador. Se o Spencer faz uma curva em falso, estamos mortos.
Mas, pela maneira que dirige, acho impossível que isso aconteça. Ele está com o seu vidro
aberto, um braço apoiado na janela enquanto faz as curvas com apenas uma mão, assobiando,
totalmente relaxado.
— Posso testar o seu fuzil hoje? — pergunto tentando me distrair.
— Pode — concorda sem hesitar.
— Por que ela pode e eu não? — Alec questiona parecendo genuinamente ofendido agora.
— Sua mira é uma merda.
Fico quieta, apenas observando os dois.
— Você precisa esquecer aquilo — argumenta.
— Aquilo o quê? — me meto na conversa curiosa demais para deixar para lá.
— Ele atirou no meu carro em vez do alvo e detalhe: os dois estavam a km de distância
um do outro.
— Foi uma vez — tenta contornar a situação, mas sem sucesso algum, já que Spencer lhe
lança um olhar furioso, então ele completa — Ok. Foram três vezes.
Sorrio, e dessa vez decido que ficar calada é a melhor opção.
Cerca de vinte minutos depois o carro estaciona e nós descemos, então vejo uma placa
sinalizando que se trata de uma propriedade particular, olho em direção a Alec.
— É tudo nosso — diz abrindo um sorriso de canto.
Sempre me esqueço da quantidade de dinheiro absurda que ambos devem possuir.
Spencer vai até a parte de trás da caminhonete abrindo a porta da caçamba, então ele
começa a descarregar os equipamentos com a ajuda do Alec; e me sinto um pouco deslocada no
início, porque os dois parecem ter algum tipo de comunicação não verbal, mesmo assim, ambos
sempre tentam me incluir nos assuntos, como se eu fizesse parte.
— Vamos, cuidado onde pisa — Spencer declara se colocando em minha frente, guiando o
caminho por dentro da floresta enquanto Alec vai atrás de mim cantarolando.
É então que algo me ocorre.
— Eu não vou matar animal nenhum — informo.
Alec gargalha atrás de mim, então, eu me viro e dou um soco no seu ombro.
— Ai porra! — resmunga — Ela tem a mão mais pesada do que a do Cloud. Credo.
— Nós não vamos matar nada, temos placas de metais espalhadas em árvores aleatórias.
Eles são o alvo.
— Ótimo — concordo me sentindo aliviada.
Uma hora depois, alguns acertos e vários erros, estou com o rifle novo do Spencer em
mãos, a bandoleira em volta do meu pescoço, apoiada em uma barricada improvisada de sacos de
areia mirando no alvo.
— Você é boa. De verdade. Não estou falando apenas para te agradar, só precisa de mais
treinos — diz pegando o rifle, então ele o apoia na mesma posição que eu estava, mira. —
Precisa controlar a respiração — completa e dispara.
— Qual é o seu recorde? — indago, me referindo a maior distância que ele já atirou.
Então um sorriso muito presunçoso surge em seu rosto.
— Três mil e duzentos metros.
Abro a boca em choque.
Sei que o recorde mundial até então conhecido é de três mil e quinhentos e quarenta
metros com a morte confirmada, e o Spencer não está longe.
— Quero aprender — afirmo.
Isso era algo que eu sempre quis fazer, mas que deixei de lado e se tenho a chance de
aprender com um dos melhores - porque, sim, Spencer sem sombra de dúvidas é - vou
aproveitar.
— Você vai. Não é fácil, e envolve muita coisa além da mira. Mas você tem talento, o que
já é um começo.
Escutamos um barulho no meio das árvores, do mesmo caminho que viemos, então
Spencer me empurra para trás das suas costas, enquanto saca uma pistola do coldre do seu
tornozelo. Sabemos que não é o Alec, porque bem, ele não faz o menor esforço pra passar
despercebido. Nunca.
Até que Rhett surge.
O maxilar tenso, os olhos semicerrados, as mãos enfiadas no bolso da calça como se
estivesse tentando manter o controle.
De novo não.
Spencer não relaxa a postura por completo, ele apenas abaixa a arma, mas continua em
minha frente, me protegendo da ira do seu parceiro. Fico feliz pela sua preocupação, porém, não
quero criar uma desavença entre eles e é por esse motivo que me afasto na intenção de chegar até
Rhett, entretanto, Spencer segura meu pulso me impedindo, confusa, olho seu rosto e vejo a
apreensão estampada.
— Vocês não vão acreditar no que achei — Alec surge segurando um punhado de mirtilos
nas mãos - como eu disse, sabe como chegar em algum lugar - então ele nota ambos se
encarando. — Oh oh — deixa escapar.
Aproveito a deixa e me afasto completamente, caminhando rápido em direção ao Rhett
acabando com a distância entre nós. Paro em sua frente e toco seu abdômen com as palmas das
mãos abertas, na tentativa de desviar a sua atenção para mim, o que funciona, porque sinto-o
relaxar instantaneamente até que finalmente me olha.
— Oi — digo engolindo em seco, lembrando que essa é a primeira vez que nos falamos
depois da discussão.
— Você sumiu — diz apenas, em um tom áspero.
— Não, não sumi. Vim treinar com o Spencer e o Alec — explico.
— Te procurei, e não achei, de novo — afirma, o peito subindo e descendo,
descompassado ainda com o maxilar saltado, demonstrando irritação.
Respiro fundo.
— Sim, da mesma forma que você sumiu naquele dia e hoje de novo — digo, soando mais
irritada do que eu gostaria.
Um vinco se forma no meio das suas sobrancelhas.
Ele me encara, como se estivesse montando um quebra cabeça de mil peças na mente.
— Tive que resolver algumas coisas, hoje e naquele dia — se explica, o que me deixa
confusa.
Não era o que eu esperava ouvir dele, realmente, pensei que diria: você me pertence ou
não te devo satisfação, se lembre do seu lugar, algo do tipo.
Então ergue a mão, e por instinto pressiono os olhos, fechando-os com força, como se
estivesse me preparando para algo. Não sei porque fiz isso, sei que ele não me bateria, pelo
menos nunca demonstrou nada, mas… não sei. Eu só fechei os olhos, foi tão automático. Escuto-
o grunhir, depois sinto o calor do seu toque em meu rosto, na minha bochecha.
Abro os olhos encarando suas íris esverdeadas.
— Pensou que eu ia te machucar? — indaga com a voz rouca e baixa.
Nego.
— Foi instinto, desculpe — murmuro.
— Nunca peça desculpas. Isso é coisa de pessoas fracas Heart. Nós não falamos isso.
Nunca.
Assinto, tentando não dar mais importância do que o necessário quando escuto a palavra
nós saindo da sua boca, como se realmente fosse real.
— Você está melhor? — pergunto.
— Sim.
— E? — arqueio uma sobrancelha e confusão estampa o seu rosto — Não vai agradecer?
— completo.
— Pelo quê?
— Eu cuidei de você. Esse é o momento de dizer: obrigado Heart.
— Heart? — seus lábios se abrem em um sorriso convencido que me deixa desnorteada
por alguns segundos, até que percebo, não me referi a Annelise, e sim Heart.
“Oh, será que você não enxerga
Que você pertence a mim?.”
Every Breath You Take - The Police

Faz alguns minutos que estamos caminhando pela floresta.


Rhett não disse absolutamente nada, ele apenas pegou em minha mão e me puxou.
Não estou falando de uma forma figurativa, foi exatamente isso que aconteceu. Tive
tempo apenas de me despedir do Alec e do Spencer com um gesto de tchau de longe, mas
acredito que foi o bastante.
Agora, estou sentindo minhas pernas queimando pelo esforço, e eu não queria ser estraga
prazer, mas, Rhett é muito mais alto do que eu. Sendo assim, suas pernas são mais compridas e o
tamanho da sua passada é desproporcional à minha, ou seja, um passo dele equivale a quase três
dos meus e pela sua velocidade, acredito que não tenha se dado conta desse detalhe.
— Olha só, não querendo interromper o momento, mas sou uma pessoa sedentária, Rhett.
Então, tenho duas opções: diminuímos a velocidade ou não haverá mais pernas para mim até
chegar ao destino.
De repente, ele para e eu quase dou de cara com suas costas largas. Depois se vira e seus
olhos percorrem todo o meu corpo, examinando-me, e sem aviso prévio, me pega no colo,
jogando em cima de seu ombro, como um verdadeiro homem das cavernas.
Por que não estou surpresa?
— Você é louco!!! — acuso conforme ele caminha parecendo não fazer esforço algum.
— Não foi comprovado — se defende.
— Matou o médico antes do laudo?
— Quase isso.
Então solto uma gargalhada, e assim que me dou conta, arregalo os olhos.
Deus, eu realmente estou rindo disso? Ele pode ter falado na brincadeira, como pode ter
sido sincero, não tem como saber…
— É sério! Consigo caminhar, só precisamos ir mais devagar, pode me soltar — imploro
me debatendo.
— Não.
— Rhett — insisto.
— Continua sendo não e irá permanecer assim.
Reviro os olhos me dando por vencida, ele quer me carregar?
Foda-se!
Avisei e disse que não precisava.
Então que carregue…
Só tem um problema.
A mão dele está posicionada na parte de trás da minha coxa, muito perto da minha bunda.
Respiro fundo… a sua mão é grande, com veias salientes, os dedos são… longos… e é
impossível não lembrar da sensação que ela causa no meu corpo, e na forma que ele me segura…
toca…
Fico pensando, e se… ele escorregasse mais um pouco para cima e alguns milímetros para
o lado…
Seria perfeito.
Puta merda, posso sentir meu interior se revirando quando um formigamento se concentra
no meio das minhas pernas, em um ponto bastante específico.
Imagens de nós dois na última vez, sua voz autoritária, como me pegava…
— Falta muito? — pergunto tentando mudar o foco dos meus pensamentos.
Que floresta linda, penso. Procurando manter minha mente presa no que tem ao redor.
— Algum problema? — ele pergunta com a voz rouca, agindo como a porra do
combustível em algo que já está em chamas.
Sim. Sua mão está longe da minha boceta, estou excitada e preciso que resolva.
Às vezes eu o odeio tanto.
— Não, só curiosidade mesmo… — mas que bela mentirosa.
Ele estala a língua não parecendo muito convencido com minha resposta, mas por sorte se
cala, o que é um grande milagre.
Até que inicia movimentos circulares com o indicador na minha perna, como se estivesse
fazendo carinho.
É algo tão inocente, tão banal e despretensioso que talvez ele nem tenha percebido o que
está fazendo, mas eu?
Fico implorando em minha mente, que vá um pouco mais para o lado, com esses mesmos
movimentos.
Escuto um barulho de água corrente, e minutos depois, finalmente para de caminhar, mas,
ao invés de simplesmente me colocar no chão. Rhett escorrega meu corpo pelo seu, pela parede
de músculos duros e quentes, o cheiro dele me invade, torturando-me.
Lentamente suas mãos deslizam pelas minhas coxas… depois pela bunda, se demorando
um pouco mais na cintura, até chegar muito perto dos meus seios.
Toque.
Me toque.
Então sinto o seu pau, duro, roçando em minha barriga e não consigo controlar o gemido
baixo que escapa da minha boca só em imaginá-lo me fodendo.
Ele sorri, aquele sorriso convencido e horrível de tão lindo que fica no seu rosto, então se
afasta me deixando tonta e confusa.
— Sabe nadar? — pergunta segurando a barra da sua blusa, e rapidamente puxa jogando-a
no chão, me dando uma visão perfeita do seu abdômen.
Sede.
Sinto que estou morrendo de sede, mas definitivamente não é de água.
— Sei — me limito a dizer, não querendo demonstrar o quanto me sinto afetada, mas
desconfio que saiba, e quando tira a calça, ficando apenas de cueca box, todas as minhas reservas
vão para o espaço.
Rhett caminha até uma pedra, exalando sensualidade e poder, então salta de cabeça
mergulhando, ficando submerso por alguns segundos, até que retorna a superfície com a água
escorrendo pelo rosto. Algumas gotas pingam dos fios do seu cabelo, e como se já não fosse
tortura o suficiente, ele passa a mão daquele jeito sensual, arrumando.
— Nota dois para o seu mergulho — minto segurando a barra da blusa, um vento gelado
bate entre as árvores e mesmo assim não é o suficiente para apagar meu fogo. Tiro minha calça e
fico apenas de calcinha e sutiã. Caminho até a mesma pedra que ele saltou a pouco, e mergulho
de cabeça também.
Está congelando, mas a sensação é incrível, no momento que minha pele encosta na água,
meu coração acelera, me sinto tão cheia de energia e… feliz. Incrivelmente feliz.
Volto à superfície e o encontro me observando com um sorriso satisfeito no rosto.
— Teria sido um dez se estivesse pelada — afirma nadando até mim.
— Você teria sido um três se estivesse sem nada — devolvo suas palavras.
— Um três? — arqueia a sobrancelha e dou de ombros fazendo pouco caso.
Suas mãos seguram em minha cintura, e instantaneamente envolvo minhas pernas ao redor
do seu quadril apoiando meus braços em seus ombros.
O movimento é tão natural. Tão certo.
Não trocamos mais nenhuma palavra.
Apenas um olhar é o bastante.
Rhett me quer. Eu o quero.
Dizer que me beija seria pouco para o que ele faz.
Rhett me reivindica de todas as formas possíveis quando me toca.
Enquanto seus lábios me tomam com fome de um jeito selvagem, suas mãos percorrem
pelo meu corpo inteiro, eu o sinto em cada pedacinho, a cada investida da sua língua, é como
uma parte minha se entrelaçando com a sua.
— Você é tão gostosa — murmura beijando meu maxilar.
Levando uma mão até as minhas costas, desabotoa meu sutiã e sem um aviso ou pedido, o
tira, arremessando a peça na água.
Mas não me envergonho, pelo contrário, me sinto livre. Fecho os olhos quando eu o
abraço e meus mamilos roçam no seu peito nu. Beijo seu ombro, passo a língua pelo seu
pescoço, desesperada para sentir a sua pele, é impressionante que a água está terrivelmente
gelada, mas ele está queimando.
Seus lábios vão até meu ombro enquanto sigo com os olhos fechados perdida nas
sensações que ele desperta em mim. Sua língua lambe minha pele, da clavícula até chegar a
orelha, onde ele mordisca no lóbulo me arrancando um gemido. Então esfrego a bochecha na
sua, sentindo a barba raspar a minha pele.
— Faça de novo — rosna e eu repito o movimento, e um grunhido ressoa baixo. — Tem
noção do quanto gosto de sentir você?
Nego apenas para provocar, gosto de ouvir tudo que sai da sua boca, principalmente
quando diz o que causo nele.
— De sentir sua pele na minha? Seu toque? Seus beijos? — murmura.
Arqueio as costas esfregando meus seios no seu peito.
— Porra! Qualquer coisa que você faça Heart, — com força ele segura minha bunda com
as duas mãos, empurrando o quadril contra o meu, esfregando o seu pau em mim — sou a porra
de um obcecado por você, sente isso? É pra você. Somente você.
Isso deveria ser um alerta para mim, e eu deveria estar correndo dele, assustada e com
medo, mas tem o efeito contrário no meu corpo. Eu o quero. Quero sentar nele, me esfregar,
ouvi-lo dizer coisas sujas enquanto me fode com tanta força que eu não consiga mais andar no
outro dia.
Quero ser a mulher suja e baixa com ele, quero poder fazer tudo que quiser.
— Então seja Rhett, seja o que quiser, só… — respiro fundo quando seus olhos me olham,
tão intensos — Pegue o que quiser… — digo finalmente.
— Cuidado com o que deseja Heart, não vai sobrar mais nada — diz rouco.
Dolorida de desejo, sentindo que posso entrar em colapso se não o tiver dentro de mim em
breve, levo minha mão até o meio dos nossos corpos enquanto ele me observa atento, com os
olhos turvos, mordo o lábio inferior quando abaixo sua cueca e sem um aviso, o toco.
— Talvez eu não tenha muito… — tento fechar a mão ao redor do seu membro, mas é
impossível. Rhett é grande e grosso, e só de imaginar a cabeça rosada brilhando enquanto escorre
o pré-gozo pela glande, minha boca se enche d’água para lamber cada gota.
— Ah querida… — sorri de lado, então aumento os movimentos masturbando-o com
força, enquanto sinto seu corpo ficar tenso sob meu toque — Você tem tudo — rosna.
Então ele tira minha mão bruscamente, depois afasta minha calcinha para o lado e
segurando seu pau, se enterra completamente em mim. Gememos com a sensação. Rhett me
preenche com violência, e eu adoro.
— Tão gostoso — murmuro sem conseguir segurar as palavras, elas simplesmente saem.
— Você gosta, não é? — pergunta afastando o quadril — Gosta quando eu te fodo com
força.
— Sim — afirmo mordendo o lábio, ele empurra de novo, e sinto minhas paredes se
contraindo ao redor do seu pau, sentindo-o me alargar.
— Você é perfeita pra mim Heart — afirma entredentes, passo meus braços em volta do
seu pescoço. — Penso em você a todo instante, não consigo mais dormir e nem comer direito,
me imagino te fodendo em todos os lugares o tempo todo.
— Então me fode, daquele jeito, Rhett — beijo seu maxilar, mordo seu queixo, passo a
língua pela sua pele, tão gostoso. — Por favor — peço provocando.
Em um rosnado, caminha para fora da água sem tirar o pau de dentro de mim.
Decidido e parecendo irritado, seu corpo fica completamente tenso. Duro, os músculos
saltando da pele, ele me senta em cima de uma pedra. Me atrevo a olhar os seus olhos, e o que
vejo só faz com que minha boceta escorra de excitação, Rhett se afasta e depois empurra com
tanta força, agora, sem a água para diminuir o impacto, eu vejo estrelas.
— Você gosta de me provocar, não é?
— Sim! — grito quando ele bate o quadril sem parar, tão rápido e fundo.
Seus lábios estão por toda parte, minha boca, orelha, pescoço, intercalando entre mordidas
e lambidas, seus dentes arranham minha pele.
— Toque seus peitos, — ordena, engulo em seco, e mesmo sem nunca ter feito isso, levo
as duas mãos até os bicos rígidos e os toco, para ele, por ele — com mais força, faça exatamente
como eu faria — diz com a voz rouca carregada de tesão, e eu faço.
— Isso é tão… — não consigo terminar as palavras, mordo o lábio inferior sentindo algo
crescer, cada vez mais.
— Seus peitos são tão lindos, tão gostosos, preciso deles na minha boca Heart, me dê o
que me pertence — grunhe aumentando o ritmo das estocadas.
E sem demora arqueio as costas erguendo meus peitos, enquanto seguro sua cabeça
guiando diretamente para o bico rígido que implora por atenção.
Grito no momento que o sinto abocanhando com fome, em seguida uma pontada de dor
me atinge quando seus dentes cravam na carne, mas, assim que ele o chupa, tocando com a
língua quente na ferida, só há prazer.
Me perco nas sensações da sua língua deslizando pelo bico, depois suga com força, tanta
força que dói, mas aí ele volta a lamber de novo e o prazer sempre se sobressai.
Rhett me chupa com tanta vontade, com tanto desejo…
— Isso! — gemo sentindo meu orgasmo se aproximar, então ele passa para o outro seio,
repetindo os movimentos.
— Se toque, quero ver você tocando sua boceta enquanto eu te como — ordena.
Levo meus dedos até o meu clítoris, enquanto me observa com os olhos semicerrados,
jogo a cabeça para trás quando faço pressão em cima do ponto latejante.
— Caralho! Porra! — ruge quando aperto seu pau em minha boceta.
— Quero gozar — murmuro abrindo os olhos sentindo meu orgasmo tão perto.
— Goza, quero meu pau escorrendo — diz rangendo os dentes, aumento os movimentos
dos meus dedos, sentindo meu clitóris inchar.
É tudo demais.
Tão insano e intenso, que explodo, sentindo todo o meu corpo se contorcer com o impacto
do orgasmo que me atinge.
Rhett me segura com força aumentando as investidas, rugindo no meu ouvido como um
animal.
Então ele geme alto e tão gostoso que preciso me afastar apenas para admirá-lo.
— Encher essa boceta de porra é a minha coisa favorita — diz abrindo os olhos. — Quero
você escorrendo pelas pernas enquanto caminha, quero que todos saibam, você é minha Heart,
me pertence.
Então se abaixa, colocando a cabeça no meio das minhas pernas, sua língua lambe meu
clitóris sensível, e tento fechá-las, mas ele me impede segurando meus joelhos abertos.
— A porra da visão perfeita. — diz, então sinto seu dedo em outro lugar, e meu corpo
endurece — Gosta? — pergunta.
Nego.
Não tive nenhuma experiência boa. Só consigo me lembrar da dor.
— Confia em mim? — murmura com a boca tão perto do meu clitóris, então ele lambe de
novo, e seu dedo volta a circular aquele buraco, mas a curiosidade me enche de desejo, porque,
tudo que ele faz, é bom, é gostoso.
— Sim — digo em um sussurro.
— Bom — então ele me beija, chupa meu lábio inferior, e sinto o meu gosto misturado
com o seu na sua língua que desliza pela minha.
— Apoie as mãos e empina esse rabo pra mim — fala girando meu corpo.
Então obedeço com um turbilhão de sentimentos no peito: medo, ansiedade… fecho os
olhos quando o terror das lembranças surge na minha mente.
— Shii querida… — diz beijando minha coluna — Não vou comer esse rabo hoje, mas
vou tocá-lo enquanto fodo essa boceta.
Sinto seu corpo vindo por cima do meu quando beija meu ombro, seu pau pesado apoiado
em cima da minha bunda, duro, tão quente.
Fecho os olhos quando toca o bico do meu seio segurando entre os dedos, enquanto a sua
outra mão desliza pela minha boceta, empurro o corpo para trás, me esfregando nele.
Ele ri. Tão sexy. Tão gostoso.
— O que a minha putinha quer? Hein? — questiona afastando a mão do meu clitóris, para
então, sentir ele esfregando o seu pau na minha entrada.
— Quero que me pegue assim — rebolo.
— E o que mais? — ele coloca a ponta apenas e depois tira, provocando.
— Faça o que quiser, só me fode logo, me deixe escorrendo e exausta.
Escuto um xingamento, que me arranca um sorriso por conseguir provocá-lo, mesmo que
eu pague por isso, vai ser com gosto.
Rhett entra com força, e nessa posição eu o sinto por completo, o seu quadril encosta em
minha bunda, então ele sai e volta, ainda mais forte, enquanto afunda os dedos em minha cintura.
— Diga que é minha Heart — rosna. — Porra! — ruge batendo com mais força — Diga
caralho!
— Sim — admito.
— Sim o quê? — insiste.
— Sou sua, só sua.
— Boa garota — rosna, então uma mão se solta da minha cintura, ele leva os dedos até
minha boca. — Chupa, deixa bem molhado pra eu enfiar nesse rabo gostoso.
Rhett empurra três dedos na minha boca, passo a língua, chupo, faço exatamente como
ordenou, deixando-os encharcados. Então os afasta, e logo sinto um dedo na minha outra entrada,
circulando, brincando, devagar. Aguardo pelo desconforto, mas não vem, há só uma ansiedade
que cresce, cheia de expectativa, querendo que empurre mais fundo, talvez coloque mais um,
dois, três…
— Mais — peço deixando qualquer pudor ou vergonha de lado.
Ele me puxa, colando seu peito nas minhas costas.
— Toca sua boceta, vou afundar meus dedos nesse cu — rosna chupando a pontinha da
minha orelha, depois passa a língua.
Levo minha mão no meio das minhas pernas, sentindo meus fluidos escorrendo entre as
coxas, e quando eu me toco, minhas pernas cedem, mas ele me segura, firme no lugar.
Empurra um dedo, e eu rebolo, com um prazer diferente enquanto seu pau me preenche
junto. Aumento os movimentos no meu clitóris quando ele coloca mais um, e então uma pontada
de dor surge, mas não é uma dor ruim, é gostoso.
Ouço-o gemer sem parar no meu ouvido enquanto beija meu ombro. Fecho os olhos
deixando minha cabeça cair para trás, me apoiando completamente nele. O seu cheiro, nosso
cheiro, me invade.
— Não aguento mais, preciso… — não consigo completar a frase, tenho a sensação de
que vou cair a qualquer momento, mas estou buscando por algo, precisando gozar mais uma vez,
necessitando senti-lo mais um pouco dentro de mim, não querendo que isso acabe.
Como resposta, empurra o terceiro dedo assim como ele prometeu.
E a partir daí tudo se torna um borrão.
Ele aumenta os movimentos me fodendo com força, seu pau incha dentro de mim, meu
corpo fica tenso, para então finalmente tudo se quebrar em milhares de pedaços. É assim que me
sinto.
Meu interior se contorce, sinto minha boceta o esmagar quando ele goza, me enchendo
dele.
— Oh! Porra! — rosna segurando meu corpo com força, me apertando, me abraçando.
Rhett mete mais uma, duas, três vezes até que, na quarta vez, ele permanece imóvel,
parado, no fundo. Sinto o seu membro pulsando dentro de mim.
— Minha — rosna, ofegante.
Não respondo, algumas coisas ficam subentendidas, sem necessidade de acrescentar nada.
Eu sou dele.
E sinceramente, eu não me importo com isso.
Não mais.
“Mamãe, acabei de matar um homem
Coloquei uma arma na cabeça dele
Puxei meu gatilho, agora ele está morto.”
Bohemian Rhapsody - Queen

Era pouco depois das 16h quando Wolf me ligou e disse ter algo que podia auxiliar no que
eu precisava. Não pensei duas vezes. Queria ficar com ela, me enrolar em seu corpo e
permanecer assim por longas horas, principalmente agora que finalmente as coisas pareciam se
ajeitar. Mas antes, precisava cuidar da sua segurança.
Heart estava dormindo quando a deixei em casa, na verdade, ela pegou no sono em meu
colo no caminho quando estávamos saindo da floresta. Eu a fodi feito um animal de todos os
jeitos possíveis, e ainda não tinha o suficiente. Não me sentia saciado.
Bohemian Rhapsody do Queen toca no som do carro enquanto faço uma curva fechada
entrando em uma rua deserta, sem iluminação alguma, e à medida que me aproximo do local que
Wolf passou, mais curioso me sinto.
De longe, no final da estrada vejo um prédio que parece abandonado.
Abaixo um pouco o volume do som e pego minha Glock de dentro do porta luvas
apoiando-a em cima da minha perna enquanto entro no estacionamento. Vejo um SUV
estacionado e pela placa reconheço ser o carro do Wolf, paro o veículo ao seu lado e aguardo.
Finalmente ele desce do carro me fazendo um sinal. Então, abro a porta e encaixo a arma
no coldre da minha cintura.
— Por que caralho me chamou aqui?
— Desde quando fala desse jeito?
— A partir do momento que descobri ter um alvo nas costas da minha mulher — admito.
— Sua mulher? — arqueia a sobrancelha.
Foda-se! Sim!
Heart é minha.
Para o inferno quem ousar dizer que não.
— Quer me dizer alguma coisa? — indago me aproximando.
Ele sorri erguendo as duas mãos no ar.
— Nada — declara.
— Ótimo. Agora, fala. O que tem aqui?
— Ele — murmura no momento que uma Lamborghini vermelha surge do mesmo lugar
de onde vim agora a pouco.
— Quem é?
— Alguém que pode te ajudar — declara apenas.
— Eu conheço? — pergunto.
— Não sei, já ouviu falar dos irmãos Kravtsov?
Nego.
— Então, não os conhece.
— Não confio em ninguém de fora — admito insatisfeito com a situação.
Wolf bufa ao meu lado parecendo tão descontente quanto eu.
— Tem uma ideia melhor? — questiona se virando para mim — Cloud não vai conseguir
as informações que precisamos, não estou dizendo que ele não é bom, só tem coisas que não
estão ao alcance dele.
Sei disso. Não gosto de admitir, mas é um fato. Não posso me dar ao luxo de sentar e
esperar que as informações simplesmente caiam do céu. Não quando a segurança dela está em
jogo, e é somente por ela, que aceito ajuda de um estranho.
— Ok — concordo a contragosto.
O carro estaciona e duas portas se abrem, a do motorista de onde uma ruiva jovem desce e
a do carona de onde um homem não muito mais velho salta.
Os dois se entreolham, ele fala algo e ri logo em seguida, mas ela não o acompanha, pelo
contrário, continua com o semblante sério, não parecendo muito feliz.
Bem-vinda ao clube.
— Olá, senhores — o homem ruivo diz ao parar em nossa frente.
Apenas ergo a cabeça um pouco em um cumprimento silencioso. Deixando que Wolf guie
a conversa.
— Sou o Maxim, e essa é minha irmã Evellin. Ela não morde, — então ele olha para a
garota ao lado, e sorri — muito — completa parecendo se divertir, enquanto ela permanece
imóvel sem demonstrar nenhuma reação, nem um piscar de olhos sequer.
Evellin me analisa, exatamente como estou fazendo com ela.
Sua posição me diz que está pronta para uma briga, sua base é forte, e aposto que gosta de
facas, julgando pelas duas na perna.
Ela não confia em mim.
Ótimo. Porque não confio nela.
— Esse é o Six — Wolf toma a iniciativa, me apresentando.
Maxim sorri, em um falso gesto de confraternização, mas observo o seu corpo, a posição
das suas pernas, sua base de luta é exatamente igual a da irmã, os dois, na verdade, são iguais, a
única diferença é que ele sabe esconder melhor o jogo, ao contrário dela, que não faz esforço
algum.
— Ouvi muitas coisas sobre você, — ele murmura me olhando com curiosidade — a
Darkfall é bastante famosa.
— Não faço ideia do que você tá falando — respondo.
— Parece que se referem a nós como Darkfall — Wolf explica.
Assinto pouco me lixando para uma porra de nome.
— Então, porque vai me ajudar? — questiono.
— Direto. Gosto de você Six, — então ele tomba a cabeça de lado — ou devo dizer, Rhett
Daniels.
Mas que porra?
Ninguém sabe o meu nome, ou, ninguém sabia.
Cerro os punhos e a mulher coloca a mão na arma imediatamente.
Sorrio.
— Sabe usar isso? — pergunto.
Evellin estreita os olhos, e quando penso que dirá algo, Maxim põe a mão no seu braço, e
instantaneamente seu rosto relaxa, como se ele tivesse algum tipo de controle sobre ela.
— Sei sobre todo mundo, qualquer coisa que imaginar. É o meu trabalho, — ele dá de
ombros — não me leve a mal, eu não teria vindo até aqui se soubesse algo de você que não eu
gostasse.
Wolf ri ao meu lado.
— O que é tão engraçado? — pergunto querendo enfiar minha adaga no seu ombro.
— Alguém gosta de você — debocha.
— Cala a boca — digo. — O que você quer? — volto a pergunta para Maxim.
— Por hora, nada além da sua amizade. Digamos que gosto de pessoas como você me
devendo algum favor — ele olha o relógio em seu pulso. — Preciso ir, tenho um compromisso
daqui a pouco e meu piloto odeia esperar. Assim que eu tiver os antigos documentos da sua —
ele sorri de novo parecendo muito convencido — esposa, eu te envio.
Preciso de um bom motivo para não matar esse infeliz aqui.
Heart.
Heart.
Heart.
Heart.
Heart.
Se ele pode me ajudar a descobrir quem está atrás dela, acho que posso conviver com isso.
Maxim é o primeiro a se virar e caminhar em direção ao carro, Evellin continua nos
encarando, e somente após ouvir o barulho da porta do seu irmão batendo, ela gira nos
calcanhares e se afasta.
Sem dizer absolutamente nenhuma palavra.
— Ela é gostosa — Wolf diz observando-a caminhar.
Não.
Ela não é.
Sorrio, não por concordar, mas porque essa é a primeira vez que escuto essa palavra e
finalmente tenho um parâmetro. Antes, sempre quando se referiam a alguém dessa forma, não
compreendia o sentimento. Agora… Heart surge na minha mente instantaneamente.
— Não confio neles, a mulher é uma fodida psicótica — compartilho os meus
pensamentos.
— Você também é — Wolf afirma.
Assinto.
— É exatamente por isso que não confio nela, sei do que sou capaz.
— Bom. Acho que se você não tocar no irmão, ela não vai se tornar um problema.
— Não prometo nada — aviso.

Estaciono o carro e entro em casa, encontrando tudo escuro e silencioso demais.


Pelas câmeras vi que ela saiu do quarto apenas uma vez para o jantar, depois disso voltou
para a cama e é onde permanece desde então. Tem alguma coisa errada. Sei disso. Sinto isso.
Ainda não está tarde o suficiente para já estar dormindo, normalmente nesse horário ela
está conversando com o Cloud ou assistindo televisão na sala.
Mesmo desconfiado, decido tomar um banho primeiro, visto uma cueca box e sigo ao seu
encontro, a fim de buscá-la.
Dormir com ela uma vez foi o suficiente para me tornar um viciado. Não há nada que vá
me impedir de tê-la em meus braços de novo, todos os dias a partir de hoje.
Toco a maçaneta e sinto meu sangue ferver quando descubro que está trancada.
— Heart — rosno com meu peito subindo e descendo.
— Vá embora! — grita.
— Abre a porta — falo pausadamente sentindo meus músculos ficarem tensos com a
distância que ela impôs.
— Não!
Respiro fundo.
— Vou arrombar essa merda, abre agora! — digo entredentes.
— Foda-se, faça o que quiser, eu não vou abrir.
Vou até meu quarto, pego meu celular e confiro nas câmeras o quão distante ela está da
porta, e em que parte exata está do quarto, não querendo machucá-la, mas Heart está sentada na
cama.
Solto o celular e, sem um aviso, chuto a porta quebrando a fechadura, fazendo com que
estilhaços de madeira voem.
Nos entreolhamos por segundos, e o que vejo em seus olhos só me deixa ainda mais
confuso, Heart está brava, não, ela está furiosa, e não faço ideia do problema.
Ótimo.
— Vá embora — resmunga virando na cama colocando o cobertor por cima da cabeça
como se isso realmente fosse me manter longe.
— Não. E isso me parece como um déjà-vu — digo caminhando, parando ao lado da
cama, seguro o cobertor e o puxo afastando do seu rosto.
— Se divertiu? — ela pergunta, e eu franzo o cenho, confuso.
— Como?
— Com as prostitutas, Rhett, se divertiu? — a última parte sai aos berros.
Mas que porra?
Que merda ela tá falando?
— Querida — respiro fundo, não compreendendo nada do que está saindo da sua boca.
— Querida o caralho, Rhett, se não sair desse quarto agora, eu juro que vou te matar.
É impossível não sorrir com sua ameaça.
— Gostaria de ver você tentando, — murmuro sentindo meu pau endurecer, imaginando-a
montando em cima de mim, irritada — vestindo esse pijama mesmo…
— Você nunca mais vai tocar em mim, entendeu? Nunca mais. Cansei, não sou seu objeto
para usar e deixar de canto quando bem entender, não sou descartável.
Meu sorriso desaparece no mesmo segundo.
Descartável?
Porra, ela é a única constante na minha vida.
— Nunca disse que você é descartável, de onde você tirou que eu estava com prostitutas,
Heart? — nunca existiu ninguém além dela, e nunca vai existir, se antes eu já não me importava
com mulheres, agora, muito menos.
— Ouvi Spencer e Alec escolhendo mulheres como se fossem mercadorias. Alec disse que
ia pedir a que você sempre escolhe, a sua favorita — seus olhos se enchem de lágrimas, que ela
luta bravamente para não deixar cair.
Pela primeira vez, não sinto a repulsa e a irritação que sempre me acompanha quando
alguém chora. Pelo contrário, um gosto amargo me atinge seguido por um desconforto.
— Eu não estava com ninguém — digo surpreso como meu corpo reage a ela, sabia que
tinha algo totalmente diferente, mas não sabia até onde ia, e a cada nova descoberta me sinto
totalmente intrigado.
— Não acredito em você. Todos vocês mentem, sabe quantas vezes já ouvi isso? — a voz
embarga — Só, vá embora.
Ela balança a cabeça quando a primeira lágrima escorre pela bochecha, e estranhamente
ergo minha mão para enxugá-la, mas antes que eu tenha sucesso, Heart se afasta, e isso me deixa
transtornado.
— Não ouse se afastar de mim — rosno segurando seu queixo com força.
— Ah claro, tá certo, você quer me foder como a puta que sou, não é? Afinal, foi pra isso
que me trouxe aqui. Foi pra isso que matou o James. Vocês dois não são muito diferentes, quer
saber de uma coisa? Ele também não me batia no começo.
— Eu não sou aquele verme.
— Tanto faz — ela dá de ombros. — Só pegue o que você quer logo, e depois vá embora.
— dito isso, ela afasta o cobertor e se deita de barriga para cima, virando o rosto para o lado,
enquanto as lágrimas continuam escorrendo.
Ela acha que vou fodê-la assim?
Com raiva pra caralho, eu a pego no colo, e vejo-a prendendo os lábios um no outro,
cerrando os olhos com força. Caminho em direção ao meu quarto, e quando entramos escuto um
soluço baixinho escapar do fundo da sua garganta, coloco-a na cama e ela permanece na mesma
posição.
Fecho a porta, passando a chave para que não tente fugir no meio da noite. Então, apago a
luz e dou a volta na cama, me enfiando debaixo das cobertas. Puxo sua cintura, encaixando sua
bunda no meu pau, que amoleceu no instante que vi as lágrimas em seus olhos. Nem que eu
tentasse conseguiria foder nessa situação, passo meu braço em volta do seu corpo e respiro fundo
afundando o rosto em seu pescoço.
Finalmente.
Matarei Spencer e o Alec amanhã antes que o dia clareie.
— Além de ser obcecado por você, não faço ideia do que sinto, mas, sei que não gosto de
vê-la triste, e descobri recentemente que odeio mais ainda quando você chora. Não sou ele,
Heart, e nunca serei. Não minto, nunca. Às vezes omito algumas coisas, mas o que quiser saber,
pergunte e eu direi. Basta apenas fazer as perguntas certas.
Silêncio. Seu corpo relaxa um pouco.
— Não mente? Nunca? — questiona com a voz fraca.
— Não — admito afastando seu cabelo do pescoço, roçando a barba em sua pele, apenas
para senti-la.
— Como me encontrou?
— Recebi uma proposta, você e James — não é uma mentira.
— Ia me matar? — pressiono meus lábios em seu ombro, me deliciando com o perfume
que seu corpo possui.
— Não matamos mulheres, eu só não ia aceitar o serviço.
— Então, outra pessoa faria — conclui.
— Sim — empurro minha mão para dentro da sua blusa, espalmando sua barriga.
— Por que aceitou o serviço?
— Fiquei obcecado desde que bati meus olhos em você.
— Matou James porque ele era um homem ruim? — pergunta.
— Não — respondo sincero.
— Por que então?
A resposta é bem simples e vem muito fácil.
— Porque ele tinha algo que me pertencia.
É verdade.
Mesmo que ela estivesse casada com o homem mais honrado e íntegro do mundo, ele
podia ser o papa, eu o teria matado da mesma forma.
— Eu — ela diz, mas não é uma pergunta.
— Sim.
Heart fica em silêncio por um tempo, eu roço o polegar pela sua pele em movimentos
circulares.
— Esteve com alguém desde que eu cheguei? — sussurra como se temesse a resposta.
— Não estive com ninguém desde que te encontrei no baile. Eu tentei. Mas não consegui.
— Por quê?
— Ela não era você.
— Vai pegar o que quer hoje? — pergunta, e compreendo o que ela quis insinuar com
isso.
— Já peguei, e está bem aqui — admito.
— Vai estar aqui quando eu acordar amanhã?
Sorrio.
Por que ela fica tão irritada quando eu me levanto primeiro?
— Vou.
Não havia amanhecido ainda quando Rhett me acordou e me arrependi imensamente de ter
perguntado se ainda estaria comigo quando eu despertasse, é claro que ele ia achar uma lacuna,
devia ter previsto. Obviamente o expulsei do quarto e voltei a dormir.
Quem, em sã consciência, acorda às 04h para treinar?
Rhett, Spencer e Wolf.
Agora, que já tomei meia xícara de café e comi uma fatia de torta, me sinto um pouco
mais digna.
— Como eles conseguem? — pergunto.
— Minha cabeça vai explodir, eu juro, falem mais baixo — Alec resmunga parecendo
derrotado do outro lado.
— A ressaca é sua, controle ela — Cloud retruca com o humor não muito diferente.
Não recebemos uma resposta, pelo menos não verbal. Alec geme parecendo estar com dor,
então apoia os braços em cima da mesa e deita a cabeça.
— Uma xícara de café ajudaria — sugiro, mas, observando que ele não tem a intenção de
fazer nenhum movimento pelas próximas horas, me levanto e vou até a cafeteira, sirvo uma
xícara e volto. Dou uma batidinha de leve no seu ombro chamando atenção e assim que seus
olhos me encontram e percebe finalmente o que estou segurando, um sorriso largo se abre.
— Coisinha, você é demais — afirma pegando a xícara das minhas mãos bebendo um
gole. — Sinto meu corpo se recompondo conforme a cafeína entra no meu sistema — completa
exageradamente.
— Então, o que vamos fazer depois? — pergunto.
— Pera lá, — intervém — ainda não estou completamente regenerado, me dê mais duas
horas.
Reviro os olhos, e me volto para o Cloud.
Sorrio.
Mas, rapidamente, ele balança a cabeça de um lado para o outro.
— Sinto muito Heart, mas tenho um serviço hoje.
— Você disse isso ontem.
— Porque eu estava trabalhando também… — explica, parecendo realmente chateado por
não poder me acompanhar.
Os dois são os únicos que passam algum tempo comigo de verdade. Cloud me leva para
caminhar com o Rain quando não está chovendo e Alec… ele não faz muita coisa, mas é
divertido, então é melhor do que nada.
— Pode me emprestar o Rain então?
— Por que você precisa de outro cachorro? — Alec ressuscita.
— Outro? — pergunto confusa.
— Acho que ele continua bêbado — Cloud conclui e eu concordo balançando a cabeça.
— O seu pastor alemão sanguinário — explica, fazendo menos sentido ainda.
— Que pastor alemão? — Spencer questiona quando entra na cozinha, e pela roupa
despojada e confortável, mais os cabelos molhados, julgo que acabou o treino.
— Que forma mais desagradável de se referir ao Rhett, Cloud, francamente — Alec diz,
debochando.
— Pelo humor dele hoje, a comparação é bem justa — Spencer declara se sentando.
— O que aconteceu? — pergunto curiosa.
— Acho que você sabe…
Nego.
— Acusou ele de algo ontem…
Abro a boca em choque.
— Sim, eu fiz — admito me lembrando.
Merda.
A sensação de culpa me atinge em cheio. A verdade é que senti tanta raiva que não parei
para pensar nas consequências que minhas palavras poderiam trazer para o Spencer e o Alec.
Na hora, tudo fez tanto sentido, porque quando acordei, eu estava sozinha na cama, Rhett
havia sumido de novo, então escutei a conversa… sobre ter uma favorita, e foi como receber um
soco no estômago. Primeiro, porque senti-me usada, suja, e muito estúpida quando deixei
acontecer. Segundo, porque me importei demais com aquilo, doeu imaginá-lo fazendo com outra
mulher, as mesmas coisas que acabara de fazer comigo.
Foi como reviver um filme.
Ele entrou no quarto… tarde da noite… de banho tomado e cabelo molhado… exatamente
como alguém faz quando quer esconder os vestígios.
Exatamente como James fazia.
Respiro fundo.
— Sinto muito, não sabia que ia sobrar para você — falo honestamente.
Então ele dá de ombros, e diz:
— Não se preocupe, sei lidar com o seu temperamento.
Apenas assinto, ainda me sentindo mal.
— Rhett é bizarro — Alec murmura pensativo, então, segundos depois ele ergue o rosto e
me encara como se uma lâmpada tivesse acabado de acender acima de sua cabeça e uma ideia
genial surgisse. — Ele já te beijou, Heart?
Ao meu lado, Cloud se engasga com um pedaço de torrada, e tosse com a mão na
garganta, desesperado, tentando puxar o ar, quando finalmente consegue, lhe entrego um copo de
água.
Spencer se junta ao Alec, parando o que estava fazendo para me observar, esperando por
uma resposta, então apenas assinto.
Não satisfeito, ele continua.
— Na boca? De língua?
Arregalo os olhos com a pergunta. Abro a boca, depois fecho, como um peixe fora d’água,
mas, eu realmente não faço ideia de como isso é relevante, ou no que ele tem a ver.
Não é nada explícito, eu sei, mas ainda assim é íntimo.
— Sim.
Então cruza os braços igual o seu amigo ao lado, ambos com curiosidade estampada no
rosto.
— Agora é você que tá ficando bizarro, — afirmo, então volto meus olhos para Spencer
— e você também — acuso.

Tentei evitá-lo de todas as maneiras, e consegui falhar em todas as tentativas. No fundo,


sabia que era adiar o inevitável, em algum momento íamos ficar a sós. O problema é que eu não
sabia como me comportar ao seu lado. Não tinha ideia de como deveria encará-lo. Aquilo que
aconteceu na noite passada, ultrapassou alguns limites, ao menos para mim. Eu senti algo, e não
foi nada sexual.
Afinal, o que somos?
O que eu sou?
Já passei da fase da negação, afirmar que não existe nada, e que não me sinto afetada seria
muita tolice da minha parte. Se não fosse assim, por que a ideia de me deitar com ele todas as
noites me agradava tanto? Por que eu ansiava por isso?
Paro em frente ao corredor que leva para a academia, e daqui, consigo escutar a música
tocando. Dou um passo para frente, então respiro fundo, e recuo três passos logo em seguida.
Que se dane!
Entro e assim como no estande de tiros, fico impressionada em como tudo é impecável e
imenso, os equipamentos, as luzes. Faz sentido, pelo tanto de horas que eles passam aqui dentro.
Meus olhos vão direto para o meio da sala, onde dois homens estão em cima de um tatame
vermelho. Ambos se movimentam muito rápido, em uma luta muito semelhante, não que eu
tenha um conhecimento muito amplo sobre, mas, o suficiente para saber que os dois fazem muito
isso, a ponto de conhecer o golpe um do outro antecipando os ataques.
Rhett está com duas adagas, enquanto o outro, que acredito que seja o Wolf – ainda não o
conheci pessoalmente – está segurando duas facas.
Me apoio na parede ao lado, não fico tão visível, mas consigo assisti-los.
Curiosa e impressionada com a agilidade dos dois, absorvo um pouco da imagem à minha
frente. Ambos possuem mais cicatrizes pelo corpo do que consigo enxergar, e é impossível não
pensar em como as conseguiram. Mas, quando Wolf se vira me dando uma visão ampla das suas
costas, o meu corpo congela e um calafrio desce pela minha espinha. O meu estômago se revira e
os meus olhos se enchem de água com as marcas. É como se ele tivesse sido dilacerado várias e
várias vezes nos mesmos lugares, criando camadas de cicatrizes.
Deus.
Rhett sente minha presença.
Ele gira a cabeça exatamente para onde estou, nos entreolhamos por uma fração de
segundos, entretanto, é o suficiente para perceber que tem algo de errado, Wolf aproveita esse
momento para atacá-lo de surpresa, cortando seu braço esquerdo.
Levo a mão a boca em choque, e é ainda pior quando percebo a quantidade de sangue que
escorre pela sua pele e não demonstra absolutamente nenhuma reação.
Então Wolf gira nos calcanhares, e me olha.
Engulo em seco.
Não, olhar não é o bastante. Ele encara de uma forma estranha, que me deixa
desconfortável ao ponto de eu me encolher, e apesar de apresentarem características semelhantes,
como o olhar frio e a postura rígida, Rhett não me intimida tanto…
Desvio a atenção para o homem que caminha em minha direção parando em minha frente.
E aquele receio volta.
— O que foi? — pergunta estreitando os olhos, desconfiado.
— Nada — minto.
— Não acredito em você.
— Você está sangrando — tento desviar o rumo da conversa.
— Não é nada.
— Eu não diria isso — falo honestamente, então seguro seu braço e puxo para mais perto,
prestando mais atenção na ferida. — Acho que precisa de pontos, — digo observando o quão
profundo foi o corte, então uma onda de irritação me atinge — você não deveria deixar ele te
machucar assim.
Ergo o rosto e o encontro sorrindo de lado, suspiro.
— Qual é a graça?
— Você. É uma delícia quando fica irritada.
Reviro os olhos, mas, não consigo segurar o sorriso, então prendo os lábios em uma
tentativa de disfarçar, mas é claro que nem isso ele me permite, e segurando meu queixo, Rhett
aproxima seu rosto do meu, pressionando sua boca na minha.
Como isso pode ser tão gostoso?
Sua língua me invade lentamente, deslizando, saboreando, e me perco nas sensações que
um simples beijo tem o poder de causar. Não, qualquer beijo. É o dele.
Devagar, nos afastamos, e odeio quando me olha desse jeito, como se pudesse enxergar
todos os meus pensamentos e desvendar os meus segredos.
Em um movimento rápido, suas mãos vão até minha cintura me puxando para o seu colo,
envolvo minhas pernas ao redor do seu quadril me acomodando em seus braços.
— Vou sair em três horas — murmura traçando os meus lábios com o polegar.
E essa é a primeira vez que eu não quero me afastar, que não quero que ele vá, a primeira
vez que sinto meu peito se apertar com a sua partida.
— Volta quando?
— Não tenho certeza, em quatro dias talvez.
Molho os lábios, e sabendo que vou sentir a sua falta, pergunto:
— Quanto tempo ainda tenho com você? — e uma simples pergunta faz meu coração
quase sair pela boca, com receio do que ele possa entender, de que talvez eu esteja cobrando
algo, ou me apegando demais.
Porém, afastando todas as minhas inseguranças, um sorriso se abre em seu rosto, depois
ele beija meu queixo, meu maxilar, morde meu pescoço.
— Duas horas e cinquenta e nove minutos.
“Toda vez que fecho os olhos
É como um paraíso sombrio
Ninguém se compara a você”.
Dark Paradise - Lana Del Rey

Sempre tive o sono leve, qualquer barulho - por menor que fosse - era o suficiente para me
despertar. E, é assim que acordo, escutando a porta do quarto dele bater.
Meu coração dobra os batimentos cardíacos na mesma proporção que um frio na barriga
surge. Uma sensação de euforia misturada com receio me atinge. Euforia por sentir a sua falta,
admitir isso foi difícil, tentei me enganar, fingindo ser apenas o sexo, mas, senti saudade do
cheiro, dos braços em volta do meu corpo, a voz grave e rouca, o sorriso convencido… não,
essas coisas não são nada sexuais. E me sinto receosa, porque não faço ideia de como ele irá
reagir.
Mesmo assim, com toda a insegurança, não consigo me manter na cama, então eu me
levanto e sigo para o seu quarto, porém, o encontro vazio, olho no banheiro e nada, nenhum
sinal. Sigo para a sala e quando chego, finalmente eu o vejo.
Depois de dois dias.
Que pareceram uma eternidade.
Nos entreolhamos, seu semblante é sério, seus olhos estão frios e distantes, seu maxilar
está marcado, algo que notei, que só acontece quando está zangado. Desço os olhos e observo o
peito nu, depois a barriga definida por oito gomos, perfeitos. Vestindo apenas uma calça preta e
coturnos, com um coldre preso em volta da cintura onde duas adagas estão acomodadas.
Respingos de um tom vermelho cobrem uma boa parte do seu antebraço e mãos. Sangue,
concluo.
Ele desvia os olhos dos meus, então caminha até o bar, lentamente, me dando a visão das
costas largas e marcadas pelos seus músculos.
Sem dizer uma palavra, pega a garrafa de whisky, enche o copo e depois vira, bebendo o
líquido em apenas um gole.
Engulo em seco, não sabendo o que esperar, se devo dizer algo ou me manter em silêncio
e esperar que ele tome a iniciativa. Nunca o vi assim, nem quando atirou em James. Me sinto
completamente no escuro.
— Esse sangue é seu? — questiono, preocupada com ele.
Me encara, seus olhos se estreitam, tentando me ler, e com apenas um meneio de cabeça,
ele nega.
Assinto aliviada, e relaxo os ombros soltando uma lufada de ar que eu não sabia que
estava preso.
Diga algo, qualquer coisa.
Faço menção de me aproximar, mas, assim que dou um passo em sua direção, ele me
interrompe erguendo a mão no ar.
— Não. Não se aproxime — seu tom de voz é frio, quase cortante e um arrepio sobe pelo
meu corpo inteiro.
— Por quê?
Rhett tomba a cabeça de lado, então estala a língua.
— Porque não vou conseguir me controlar e não serei gentil, Heart. Então, volte para o seu
quarto, e amanhã nos falamos.
Mordo o lábio compreendendo, mas isso não diminui o desejo por ele. Uma parte minha,
está gritando na minha mente. Pedindo por isso. Desejando ver o seu pior. Foram dois dias
fantasiando e ansiando por ele. Por essa razão, eu me pego caminhando em sua direção, mesmo
depois do seu aviso. Ao chegar em sua frente, um sorriso maligno surge em seus lábios, tão
perigoso quanto letal, mas hipnotizante.
Ele leva uma mão atrás da minha nuca, enroscando-a nos fios do meu cabelo, segurando
com força enquanto a outra mão encaixa em minha cintura, afundando os dedos.
— Eu aguento — digo espalmando a lateral da sua barriga. — Faça o que quiser —
imploro perdendo completamente o juízo.
Em segundos, Rhett elimina a distância entre nós, esmagando meus lábios nos seus, com
violência e pressa, me dando um beijo feroz, com raiva, selvagem. Sua língua invade minha
boca, deslizando por todos os cantos e eu gemo enfim sentindo o seu gosto.
Deus, como eu senti a sua falta.
Agora, suas mãos estão por toda parte, assim como as minhas, deslizando, apertando,
tocando com urgência, desesperados um pelo outro. Seus dentes cravam em meu lábio inferior,
tão forte que resmungo ao sentir uma pontada de dor, seguido pelo sabor metálico de sangue, o
meu sangue, que rapidamente ele suga com vontade.
— Tão gostosa — murmura, voltando a me beijar.
Passando apenas um braço ao redor da minha cintura, ele me ergue e eu o envolvo com
minhas pernas. Beijo seu maxilar, sua bochecha, chupo a ponta da sua orelha, afundo meus
dedos em seu cabelo. Ele puxa minha cabeça para trás, abrindo passagem para o meu pescoço,
então sua língua quente e macia me lambe, do ombro até minha orelha, provando minha pele.
Depois ele morde minha garganta, meu queixo, e finalmente volta a me beijar.
— Preciso de você.
— Peça do jeito certo, e eu te dou — diz entre o beijo.
Sorrio, e ele sorri de volta.
— Me fode Rhett — mordo o lábio. — Por favor…
Sem afastar os olhos dos meus, ele leva a mão entre nós e abre sua calça, e de forma ágil
afasta minha calcinha para o lado e em um movimento se afunda em mim.
Arfo jogando a cabeça para trás.
— Caralho, que boceta encharcada, porra! — diz entredentes — Sentiu minha falta Heart?
— pergunta enfiando seu pau lentamente, em uma tortura alucinante — Me imaginou te fodendo
esses dias? Hein?
— Sim, porra, sim — aperto minhas pernas em volta da sua cintura, querendo mais,
implorando por mais.
— Se tocou enquanto eu estava fora?
Assinto, seguro seu rosto entre as mãos, chupo seu lábio inferior.
— Todas as noites — admito cravando as unhas em seus ombros.
Rosnando, Rhett aumenta os movimentos, que se tornam rápidos e fortes, metendo com
intensidade.
O som dos nossos corpos se chocando preenche a sala, assim como os seus gemidos
roucos no meu ouvido, me deixando alucinada com um tesão que jamais senti. Rhett se afasta
quase por completo, apenas para meter de novo até o fundo, com força, que eu o sinto por
completo me preenchendo.
— Gostosa… — rosna fincando os dentes na minha pele — Gosta quando eu te fodo igual
uma vagabunda?
— Sim, sim — grito sentindo meu interior se contorcer, muito perto do orgasmo. —
Quero gozar, me faz gozar… — imploro.
Então ele caminha até o canto da sala, me solta no chão abruptamente e gira meu corpo,
deixando-me de quatro. Apoio as mãos na parede, quando sinto um tapa em minha bunda, ele
segura meu cabelo com força, se aproxima do meu ouvido e diz:
— Então geme, — seu pau invade minha boceta, me arrancando um grito alto, porque
desse jeito ele se afunda por inteiro — geme pra mim sua puta.
Os seus gemidos se tornam desesperados e sinto o seu dedo circulando o meu ânus,
segundos depois ele empurra por completo, arde, mas estou tão desesperada pra gozar que não
reclamo, pelo contrário, empurro minha bunda em sua direção, pedindo por mais, e ele me dá,
um tapa mais forte que os outros.
— Eu te avisei Heart, — grunhe desferindo mais uma palmada, com ainda mais força, me
arrancado um grito, então ele me puxa pelo cabelo grudando o peito em minhas costas parando
com a boca a milímetros do meu ouvido — te dei a chance de sair, mas você não quis, sabe por
quê?
— Porque sou a sua puta — respondo. — Só sua — gemo rebolando no seu pau.
— Hoje vou te foder por completo, não vai ter um lugar sem minha porra escorrendo e
amanhã, a cada passo que der e cada movimento que fizer, vai se lembrar de mim.
Suas palavras sujas, o seu pau entrando e saindo, a mão segurando com força o meu
cabelo, é o suficiente. Eu gozo, gritando, murmurando, descontrolada, minha boceta se contrai e
meu clitóris pulsa com a força do orgasmo.
— Caralho, porra, vou gozar — avisa rosnando, e segundos depois ele faz, gemendo rouco
no meu ouvido.
Uma mão escorrega até meu seio, ele segura o bico duro entre os dedos e o aperta com
força. Como nunca havia feito antes, primeiro sinto a dor, depois o prazer quando ele esfrega.
Rhett se distancia um pouco, e substitui o seu pau pelos seus dedos, empurrando, depois os
tira, trazendo seu esperma junto, esfregando por toda minha boceta, se demorando mais no meu
clitóris ainda sensível ao toque.
— Rhett — choramingo tentando fechar as pernas.
— Quieta — ordena.
— Por favor — imploro.
Então ele se afasta e caminha até a mesa. Enche o copo de whisky mais uma vez, tira o
coldre, o apoiando ao lado do sofá onde ele se senta com as pernas abertas; parecendo relaxado
enquanto me observa.
— Aqui — diz batendo com a palma da mão na perna, e eu vou parando em sua frente.
A mão envolve o pau, deslizando para cima e para baixo, sem romper o contato visual,
então ele morde o lábio e eu esfrego uma perna na outra sentindo minha boceta piscar ansiosa de
novo por ele. Rhett segura na base do seu membro o deixando reto.
— Chupa.
Por que gosto quando ele me trata assim? Quando ele manda em mim, desperta algo, um
desejo descontrolado.
Me ajoelho em sua frente, salivando por sentir o seu gosto, e sem demora, passo a língua
da base até a cabeça rosada, chupo apenas ao redor da glande.
Rhett joga a cabeça para trás, depois solta o copo ao lado, e empurra a pélvis em direção
ao meu rosto.
— Caralho, que porra de boca gostosa.
Relaxo a garganta e o levo até o fundo, sentindo meus olhos se encherem d’água com a
invasão.
— Isso, assim — geme segurando meu cabelo, ditando os movimentos, cada vez mais
rápido, até que ele segura minha cabeça com as duas mãos e empurra. Fodendo a minha boca,
não como da última vez, agora mais agressivo. Ergo o rosto, o vendo revirar os olhos, então me
olha, mordendo o lábio, diminuindo os movimentos.
— Traz essa boceta para cá.
Subo em seu colo, apoiando um joelho de cada lado das suas coxas grossas, ele leva a mão
ao meio das minhas pernas, empurrando três dedos. Sua boca se fecha ao redor do meu seio,
sugando com força, depois sua língua circula o bico rígido me fazendo gritar enquanto rebolo em
sua mão.
— Tão molhada, você está escorrendo pelo meu braço.
Rhett puxa a mão e leva os dedos na boca e chupa.
— Deliciosa — murmura.
Tomo a iniciativa e seguro seu membro duro, encaixando a cabeça na minha boceta. Fecho
os olhos sentindo-o me preencher pouco a pouco conforme sento, me deliciando com a sensação
de estar no controle.
— Tão gostoso — gemo quando finalmente o tenho completamente enterrado.
Abro os olhos, e o vejo me encarando, os olhos intensos, o peito subindo e descendo
devagar.
— Rebola — pede segurando minha cintura guiando meus movimentos.
Envolvo meus braços em seu pescoço, esfregando meus seios em seu peito, quando sinto
os seus dedos invadindo meu ânus.
— Relaxa… — e há algo nessa palavra, quando ele diz, que meu corpo obedece
instantaneamente.
Continuo rebolando, sentindo meu clitóris se esfregar em sua pélvis, criando um atrito
gostoso, me deixando na borda. Mas, meu corpo congela quando sinto algo gelado tomar o lugar
dos seus dedos.
— Rhett — murmuro com medo, deixando minha cabeça cair no vão do seu pescoço.
— Shiii, você disse que eu podia fazer o que eu quisesse, tarde demais para mudar de ideia
— seus lábios resvalam pelo meu ombro e é tão gostoso, que gradualmente relaxo no mesmo
ritmo que o objeto entra, pouco a pouco, me alargando. Arde, e é um pouco desconfortável, mas
não há dor, não, de verdade.
Minha boceta aperta seu pau conforme meu orgasmo se aproxima, aumento os
movimentos, e com isso, o objeto entra cada vez mais.
— Mais, — murmuro nublada pelo tesão — quero mais, quero você.
— Pede com jeitinho… — diz desferindo um tapa na minha bunda, forte, me arrancando
um gemido.
— Por favor.
— Gosto de você assim, domada, me obedecendo — sorri, então segura minha cintura me
erguendo, substituindo seja lá o que tinha em meu ânus pelo seu pau, encaixando devagar. —
Vou encher de porra esse cuzinho, e você vai gostar tanto… que implorará sempre pelo meu pau.
Fecho os olhos, e lentamente ele entra. Agora, ardendo mais que antes, porque seu
membro é muito mais grosso e grande que o objeto, mesmo assim, a sensação de tê-lo em todas
as partes do meu corpo é surreal, a dor se torna insignificante em relação ao prazer.
Encosto minha testa na sua e afundo as unhas na sua pele quando ele entra por completo,
se enterrando em mim grunhindo com os dentes cerrados.
— Geme… — sussurro quase sem fôlego — Gosto de te ouvir, gosto quando você geme
— confesso encostando os lábios em sua bochecha, sentindo seu suor na minha boca.
Sua mão envolve meu pescoço, e seus lábios me tomam, beijamos no ritmo em que ele me
penetra e eu rebolo, afasto a mão do meio das minhas pernas, segurando sua cabeça.
Os seus gemidos se tornam altos, e eu sei que ele está perto, me afasto para ver o seu
rosto, suas mãos seguram os meus seios enquanto esfrega o polegar pelo bico.
— Porra — rosna e me esfrego mais uma vez quando sinto o orgasmo me atingir, gozo
sem fechar os olhos, observando-o se perder ao mesmo tempo que eu. Sentindo o seu pau
pulsando, se derramando dentro de mim.
Respiro com dificuldade, então sorrio, engolindo em seco.
— Você disse que ia deixar porra escorrendo por todos os meus buracos, — seguro seu
queixo com a mão e chupo seu lábio inferior — mas, minha garganta tá seca — provoco-o.
Um sorriso brota no seu rosto, então me puxa e me beija de novo e de novo.
"Nada vai te machucar, meu bem
Enquanto você estiver comigo, você vai ficar bem."
Nothing's Gonna Hurt You Baby - Cigarettes After Sex

— Onde você as conseguiu? — Heart questiona passando os dedos pelo meu braço, e sei
que se refere às cicatrizes espalhadas.
— Em várias lutas.
— Quantos anos você tinha?
— A maioria foi quando eu era criança, depois que aprendi a me defender diminuíram.
Então, ela desliza a mão até minha barriga e com o indicador inicia movimentos circulares
em um gesto de carinho que me agrada. Gosto de ser tocado por ela.
Deitados no sofá, suas pernas estão por cima da minha cintura descontraída, enquanto seu
rosto recosta sobre meu peito, me contemplando com o aroma do seu cabelo, que, volta e meia,
eu inspiro.
— Pode me contar? Sobre a sua infância? Você disse que esteve em um hospital
psiquiátrico… e depois?
Suspiro.
— Não.
— Por quê? — pergunta, e pelo seu tom de voz, demonstra ter ficado chateada.
— Você tentará justificar os meus atos com base no que vivi. Não quero isso. Sou o que
sou. Ponto.
Heart é o tipo de pessoa que sempre procura uma explicação para o comportamento de
alguém, sempre tenta ver o que é melhor, quando não tem.
Pessoas são filhas da puta porque são.
Simples assim.
— Eu não faria isso — argumenta, e apesar de não estar vendo o seu rosto, sei que está
com a testa franzida e, provavelmente, um biquinho se formou em seus lábios.
— Será? — pergunto espalmando a coxa que está por cima de mim, enquanto o outro
braço envolve sua cintura, mantendo-a presa.
— Não me leve a mal, sei que existem casos isolados, e que sim, as circunstâncias podem
moldar algumas pessoas, acredito nisso. Mesmo assim, acho que não justifica você continuar
fazendo coisas erradas quando tem a opção de mudar. Não sou estúpida. Só queria saber mais de
você, vamos lá… estou em desvantagem aqui.
— Por que pensa que está em desvantagem? — pergunto.
Se ela soubesse até onde estou disposto a ir e o quão insano me sinto em relação a nós,
jamais voltaria a repetir essas palavras.
Tudo que tinha para dar de errado hoje, deu.
O plano inteiro foi por água abaixo.
Explodi.
Fiquei fora de controle.
Quando cheguei na sede, me senti pilhado, e meu objetivo era beber um copo de whisky
antes de ir para a academia e gastar toda a energia, até esgotar.
No entanto, quando a vi parada, me olhando, tudo pareceu tão pequeno e insignificante.
De início minha vontade foi de fodê-la com força, mas, sabia que não podia, não queria
assustá-la, nem a machucar, e por isso mandei que se afastasse.
E como sempre, é claro que ela não me obedeceu.
O único momento em que ela faz o que mando, é quando estamos trepando, fora isso, ela
tem o prazer de me enfrentar, e porra, quem eu quero enganar? Eu gosto disso.
— Você sabe tudo sobre mim, e eu não sei nada sobre você — resmunga.
Solto um suspiro, então, falo:
— Passei a maior parte da minha infância e adolescência em um lugar chamado de Fosso.
Na época eu não compreendia qual era o verdadeiro intuito daquilo, se era uma espécie de prisão
ou reformatório, ou se foi feito para a diversão de pessoas ricas com gostos peculiares. Eu só
sabia que precisava matar os meus adversários se quisesse continuar vivo.
Lembro da minha primeira luta, aos seis anos. Não fazia ideia de como funcionava, havia
alguns garotos mais velhos do que eu, mais experientes, mais fortes… então aprendi a me virar
do jeito que podia, me esgueirava sempre com as costas viradas para a parede, onde não tinha
chance de ninguém chegar por trás; e esperava que todos se matassem, poupando minha energia
para os que sobravam na gaiola. Até que peguei o gosto, parei de me esconder, deixei de ser a
caça e virei o caçador, gostava daquilo, queria ver o sangue, sentir o poder de escolher quem
vivia e quem morria.
Mas essa parte, prefiro não compartilhar.
— E o Cloud?
— Digamos que… éramos colegas de quarto.
— Como ele sobreviveu?
— Quando havia alguma luta, sempre soava uma sirene avisando, depois, passavam
abrindo porta por porta, e jogavam a maioria das crianças no mesmo lugar, que chamavam de
gaiola, porque realmente parecia com uma, havia grades do chão até o teto, cobrindo tudo. Então,
eu ensinei Cloud a ficar encostado em uma parede atrás de mim, ninguém sobrevivia a tempo de
chegar até ele. Era isso.
— Você o mantinha vivo… — murmura mais para si do que para mim.
— Tá fazendo de novo — repreendo.
— Não tô. Juro. Só afirmei que você o mantinha vivo. Relaxa, ainda o considero uma
pessoa horrível e um monstro muito, muito mal — ela ri, então aperto sua cintura forte,
arrancando um gemido de dor.
— E Wolf? — questiona.
— Éramos considerados os campeões, ninguém coloca os melhores para lutar um contra o
outro. Isso não é bom para os negócios quando um precisa sair morto.
— O Fosso ainda existe?
— Esse específico não, mas há outros espalhados pelo mundo. É uma rede de tráfico
humano, algo bem grande, maior do que a polícia consegue controlar. Fecha uma, abre duas.
Entende?
— Sim, e como você saiu daquilo para uma equipe de mercenários?
— Com o tempo notei que não havia adultos, apenas crianças e adolescentes, naquele
momento, soube que alguma coisa ia ser feita muito em breve. Então procurei a única pessoa que
poderia de fato me ajudar e não ser apenas um peso.
— Wolf — ela murmura.
— Sim — concordo. — Saímos no momento certo, porque seis meses depois, o lugar foi
dizimado, um verdadeiro banho de sangue — completo.
— Por quê?
— Queima de arquivo. A polícia estava perto demais.
— E depois?
— Quando o lugar fechou, entramos para uma gangue de tráfico de drogas e agiotas.
Wolf e eu não tínhamos nenhum problema em fazer as cobranças nem de sujar as mãos. Até que
um dia, me ofereceram muito dinheiro pra matar um traficante rival, o cara era grande. Acho que
nem eles acreditavam que conseguiríamos, era como uma missão suicida. Mas Wolf e eu
passamos pelo inferno, aquilo não era nada. Quando você dorme todos os dias por anos
esperando o pior, não há mais muita coisa que te assuste. Finalizamos o serviço, e descobrimos
que podíamos ganhar muito mais.
— Empreendedor, quem diria — ela ri.
— Um verdadeiro homem de negócios — debocho.
— Spencer e Alec?
— Quando os conheci, já eram uma dupla. Muito barulhenta, e você sabe por culpa de
quem.
— Alec.
— Sim — confirmo. Então, não sabendo o motivo, pergunto: — E você? O que queria?
Heart solta um suspiro, triste.
— Uma família… uma casa grande, várias crianças correndo pela sala. Almoço de
domingo com sol e piscina, essas coisas. Cresci apenas com o meu pai, ele era maravilhoso, mas
sempre senti falta de ter irmãos, primos, avós… — ela faz uma pausa — Era o meu sonho, ter
minha própria família.
Me pergunto, como seria sua reação se soubesse que sua vida inteira foi uma mentira, que
seu pai, na verdade, era um policial que a estava protegendo. Mas, se depender de mim, ela
nunca saberá. Heart tem uma lembrança boa, não quero estragar isso.
— O que aconteceu?
— Você sabe, James aconteceu.
Sim. Também sei que, quando ela sofreu um aborto, James autorizou uma laqueadura que
não era necessária.
— Você não pode ter filhos? — questiono, na intenção de saber até onde ela tem
conhecimento.
Em um gesto ela concorda.
Quero dizer que sinto muito, mas se fizesse, estaria mentindo. Nunca quis ter filhos.
— Rhett — me chama depois de alguns minutos em silêncio.
— Hum?
— O que você enfiou em mim? Antes… você sabe… — pergunta gaguejando um pouco.
É interessante que, quando estamos transando, ela se solta e fala todas as palavras sem
vergonha alguma, mas, em momentos como esse, sai quase em um sussurro.
— O cabo da minha adaga — respondo com um sorriso largo, lembrando.
Ela ergue o rosto se afastando do meu peito, com os olhos arregalados.
— Você é louco?
— Já falamos sobre esse assunto. E, além disso, sempre que eu segurar ela, lembrarei de
você, se tornou a minha favorita.
— Traduzindo: sempre que matar alguém, vai lembrar de mim.
— Não vi por esse lado, você tornou as coisas muito melhores agora.
Um barulho chama minha atenção, vindo dela, mais específico: da sua barriga.
— Está com fome? — pergunto.
— Uhum.
— Não jantou?
— Não… Cloud estava ocupado, e não queria comer sozinha.
— Então vamos comer.
— Vai comigo? — indaga com os olhos brilhando cheios de expectativa.
— Claro.

Heart está sentada em cima da bancada de mármore que há no meio da cozinha. Sua
camisola preta está repuxada para cima, expondo suas coxas por conta das pernas que estão
abertas, onde eu me acomodei no meio.
Já foram três sanduíches, dois copos cheios de suco de laranja e agora, enquanto come
uma fatia de torta de morango, seus olhos reviram-se de prazer.
— Não vai comer?
Nego.
— Não sente fome? — um vinco surge entre suas sobrancelhas — Você come tão
pouco…
— Quem anda observando quem agora? — sorrio, levando o polegar no canto da sua boca,
limpando um pouco do recheio de morango que escapou. Ela encolhe os ombros, então continuo.
— Às vezes, mas como apenas a quantidade que o meu corpo precisa — admito.
— Por quê?
Porque passei doze anos preso em um lugar onde apenas uma porção por dia era o
suficiente, então meu estômago se acostumou com pouco. Mas não acho que essa seja a melhor
resposta, então digo:
— Só não sinto fome.
Ela assente, e volta a ficar entretida com a sua torta.
— Mas sério, isso tá incrível, quer provar? — questiona empurrando o garfo para a minha
boca. Me aproximo mais um pouco, e o afasto para o lado. Então, seguro seu queixo e a beijo.
Apreciando o sabor do morango nos seus lábios, empurro a língua resvalando na sua, depois
sentindo o céu da sua boca, por fim, antes de me afastar, chupo seu lábio inferior.
— Tem razão, — falo, quase sem fôlego — está incrível.
E não estou falando da torta.
Sua boca é hipnotizante, é impossível olhá-la e não sentir uma vontade incontrolável de
beijar, então ela a abre como se fosse dizer algo, mas depois fecha, desistindo, então enruga a
testa…
— Diga, o que quer que tenha pra dizer, eu quero escutar — admito.
— Ee-…
Arqueio uma sobrancelha quando ela para no meio de uma palavra.
Molha os lábios e solta o prato ao lado, então apoia as duas mãos em cima da perna.
— Senti sua falta — resmunga baixinho.
Seguro seu queixo e o ergo, trazendo para perto de mim.
Estalo a língua, e sem seguida ela revira os olhos.
— Pode repetir, um pouco mais alto?
— Não vou fazer isso. Você escutou muito bem, tem uma audição supersônica.
Tombo a cabeça para o lado.
— Se sentir falta é se afastar já querendo voltar, então sim, — balanço a cabeça — eu
também senti sua falta Heart.
É a verdade.
No segundo seguinte a minha partida. Não parei de pensar nela nem por um segundo, e em
como eu queria voltar logo para o seu lado.
E dessa vez quem inicia o beijo é ela, segurando meu rosto entre as mãos.
— Porra. — murmuro entre o beijo — Isso é tão bom Heart, — confesso esfregando meu
lábio no seu — tão gostoso.
Pouso minhas mãos na sua bunda, uma de cada lado, afundando meus dedos na sua pele,
trazendo-a para mim, esfregando meu pau duro na sua boceta, e logo ela arqueia as costas,
soltando um gemido baixo.
Escorrego uma mão até sua cintura, depois pela barriga, e desço, finalmente chegando ao
meu destino, no meio das suas pernas. Deslizo os meus dedos encontrando-a encharcada,
pressionando o seu clitóris, pulsando de tesão…
Caralho.
— Rhett, — se afasta, com os olhos nublados e a respiração irregular — e se alguém
chegar?
Afundo minha outra mão no vão do seu pescoço e trago seu rosto para o meu, nossas
bocas a centímetros de distância quando digo:
— Então, acho bom você gemer bem alto, como um aviso para qualquer um que se
aproximar.
“Sem alardes e sem surpresas.”
No Surprises - Radiohead

Acordo com seu corpo grudado ao meu, meu braço em volta da sua cintura e peito colado
nas suas costas enquanto sua bunda está encaixada no meu pau. Afundo meu rosto em seu
pescoço inspirando o seu aroma entre os fios dos seus cabelos. Nunca imaginei que dormir com
alguém seria tão bom. Na verdade, dormir com ela.
— Que horas são? — pergunta, sonolenta.
— Quatro — respondo segurando-a com mais força.
Então ela gira o corpo ficando de frente para mim e me olha com um vinco entre as
sobrancelhas.
— Por que acorda tão cedo? — resmunga.
Sorrio com o seu tom cheio de indignação.
— Preciso apenas de algumas horas de sono — explico afastando uma mecha de cabelo
que caiu sobre seu rosto, empurrando-a para atrás da sua orelha.
— Pouca comida, poucas horas de sono, o que mais?
Pouso uma mão em sua cintura, apertando com força, arqueio a sobrancelha, e logo ela
revira os olhos.
— Muitas horas de sexo — digo.
— Ah, mas me conte uma novidade, Rhett.
Rindo, ela espalma as mãos no meu peito e me empurra, deixando-me de costas na cama, e
rápido sobe em meu colo apoiado uma perna em cada lado.
— Não vou deixar você levantar até que o meu sono passe — informa.
Não vejo como isso pode ser uma coisa ruim. Principalmente, considerando que ela está
nua.
— Cárcere privado? — pergunto roçando os dedos ao lado do seu seio.
— O jogo virou — declara rindo baixinho.
— Bom, não sei se isso realmente é válido, uma vez que não tenho o menor desejo pela
minha liberdade.
Puxo-a pelo pescoço para mim, beijando-a.
Tenho questões a serem resolvidas, mas não possuo a menor intenção de fazê-lo.
Ela ri, e se afasta.
— Ótimo, mas você precisa ficar quietinho pra eu poder dormir — murmura.
— Está me mandando calar a boca?
Nada além do silêncio como resposta, até que, sorrateiramente, como a safada que é, sua
mão desliza do meu peito para o abdômen, e continua descendo…
Meu pau que parece ter vida própria e pensa com a própria cabeça, está latejando desde
que acordei e senti sua bunda se esfregando.
— Eu estava, mas, lembrei do quanto gosto quando você fala coisas… — Heart passa o
dedo pela glande, e solta um gemido gostoso quando o sente molhado na ponta — Posso pegar o
que eu quero? — sussurra.
Não foi um pedido de verdade, já que ela não dá tempo o suficiente para uma resposta.
— Porra! — rosno com os dentes cerrados quando sua mão fecha em volta do meu pau —
Sim… — completo empurrando os quadris em sua direção.
Heart parece ter acordado com planos bem específicos. Ela desce, me colocando inteiro na
boca.
Por fim, ela não voltou a dormir, e eu não saí do quarto.
Pulamos o café da manhã e só aparecemos na cozinha na hora do almoço.
Estava tudo perfeito, até o imbecil do Spencer a chamar para ir treinar com o Alec junto -
de novo - ao ar livre, algo que se tornou rotineiro. Heart virou um tipo de aprendiz, ela é boa, eu
tenho de concordar.

Me sento na cadeira ao lado do Cloud enquanto ele segue focado no computador,


empenhado em me ignorar pelas próximas horas.
Às vezes, ele ainda parece ter seis anos.
— Sabe, em algum momento vai ter que falar comigo — digo apoiando os pés em cima da
mesa.
Ele continua olhando para a tela, sem piscar, mas sei que está irritado e louco para me
mandar tirar os pés da sua preciosa mesa.
Talvez eu tenha ficado um pouco irritado por ficar longe da Heart e passei dos limites no
seu treinamento. Mas ele está vivo e com todas as partes do corpo em seu devido lugar, então
acho que é um sinal positivo.
— Seu telefone tá tocando — resmunga.
Me aproximo e vejo o nome do Wolf piscando na tela, pego aparelho e deslizo o polegar
aceitando a chamada.
— Cadê ela? — pergunta, e todo o meu corpo entra em estado de alerta com o seu tom de
voz.
— Foi treinar com o Spencer.
Tudo fica em silêncio.
— Você precisa buscá-la. — ele faz uma pausa — Agora.
Afasto o aparelho por um segundo, tempo o suficiente apenas para pedir que Cloud ligue
para o Spencer imediatamente e o mande voltar.
— O que você sabe? — pergunto já correndo até a porta principal, então pressiono a
palma da mão no sensor destravando-a — Quem está atrás dela?
— Meu tio — é quase um sussurro, como se, nem ele acreditasse.
Me jogo no banco do carro e tiro a pistola do porta-luvas conferindo a quantidade de balas,
empurro o pente escutando o barulho de encaixe e ligo o carro.
— Por quê? — questiono saindo derrapando da propriedade — Wolf, por que seu tio está
atrás dela? — insisto, sentindo meu sangue antes fervendo, agora congelando.
Conheço o seu tio.
É a porra do sádico que ia no Fosso apenas para torturá-lo ano após ano.
É o responsável pelas suas cicatrizes nas costas, e é o objeto de vingança do Wolf.
O filha da puta que nunca conseguimos pegar, sempre que chegamos perto, ele arruma um
jeito de escapar. Às vezes, tenho a impressão de que está jogando com Wolf, deixando pistas
para que chegue perto o bastante, mas nunca o suficiente.
— Ela é a minha irmã.
A informação chega como uma pancada. Um soco na boca do estômago. Demoro alguns
segundos para absorver a informação, e quando acontece, o cenário só piora.
— Heart é uma Orlov? — pergunto quando as peças do quebra-cabeça começam a se
encaixar na minha mente, e sabendo ao que me refiro, ele cospe as palavras quando diz:
— Sim. Ela é.
Isso muda absolutamente TUDO.
Heart não é apenas a falecida irmã do Wolf, as coisas são muito mais complicadas que
isso, ela faz parte da família que comanda a maior rede de tráfico humano, que comanda as
centenas de Fossos que estão espalhados pelo mundo.
Não.
Não.
Não.
— É tarde demais — digo sentindo o ar ser sugado dos meus pulmões quando vejo a
caminhonete do Spencer abandonada no meio da estrada com as portas escancaradas.
O resto acontece em câmera lenta.
— Estou chegando — Wolf murmura, mas sua voz já está distante quando deixo o
telefone cair.
Então sentir medo é isso?
É a sensação de ter o seu peito esmagado?
Como se o seu coração tivesse sido arrancado?
Paro o carro, e ignoro todas as minhas regras.
Em outra ocasião, eu aguardaria por reforço no veículo.
Observaria uma possível armadilha.
Teria vestido o meu colete a prova de balas antes de sair.
Mas não hoje.
Não agora.
Não confiro nada.
Só me pego caminhando, devagar, contando os passos até o carro, implorando, então vejo
sangue no chão, e quanto mais perto me aproximo, mais desesperado me sinto.
Esteja viva querida.
Por favor, esteja viva Heart.
Como posso me sentir sufocando se não há nada em volta do meu pescoço?
Como posso sentir uma faca sendo cravada no meu peito, se não há mais ninguém além
de mim aqui?
Soube no momento em que ela saiu pela porta que era um erro, e ainda assim a deixei ir,
porque ela estava feliz, havia um sorriso genuíno no seu rosto, e mesmo que eu pudesse, não
queria tirar aquilo dela.
Mas era o que eu devia ter feito.
— Não! — grito deixando a arma cair no chão, encontrando o banco de trás vazio — Só
há sangue. Só há sangue. Não esteja morta querida, não esteja morta Heart. Por favor.
“Porque quando você está comigo
Eu sou livre, sou despreocupado, eu acredito
Acima de todos os outros, nós voaremos
Isto traz lágrimas aos meus olhos
Meu sacrifício.”
My Sacrifice - Creed

Eu tento abrir os olhos, mas minhas pálpebras estão pesadas e não me obedecem, me sinto
tão longe, como se minha alma não estivesse conectada ao meu corpo. Um gosto amargo invade
minha boca quando tento engolir.
Rhett me drogou de novo?
Por que ele faria isso?
Devagar, minha consciência vai voltando, e tudo gira ao meu redor, deixando-me tonta e
confusa ao mesmo tempo, em que me sinto enjoada. Só então me dou conta que teria sido melhor
se tivesse permanecido inconsciente.
Estou deitada no chão frio e úmido. Minha calça está molhada, colada em meu corpo.
Minha blusa, rasgada em algumas partes, e há algo gelado, preso nos meus pulsos e tornozelos.
Tento me movimentar, mas o som de correntes batendo invade minha cabeça, causando uma dor
insuportável.
Não foi o Rhett.
— Heart — alguém me chama, mas parece tão distante. — Heart? — insiste a mesma
voz.
Ergo o rosto com dificuldade.
— Hey coisinha, você está bem?
Coisinha…
Coisinha…
Coisinha…
Alec!
Finalmente reconheço a voz, e nunca fiquei tão feliz e tão triste ao mesmo tempo, por ver
alguém.
Não.
Não.
Não.
Levo a minha mão em frente a boca, na tentativa falha de abafar um grito quando vejo o
estado do seu corpo. Meus olhos ficam nublados e lágrimas imediatamente escorrem pelas
minhas bochechas, sem controle.
Os braços estão esticados acima da cabeça, também presos por correntes ao redor dos seus
pulsos, que suspendem o seu corpo, deixando somente as pontas dos dedos encostados no chão…
Vestindo apenas cueca, vejo sangue, tanto sangue… escorrendo pela sua pele, onde há
hematomas espalhados nas coxas, barriga, peito…
— O que fizeram com você? — pergunto em um fio de voz, e tento me levantar e ir em
sua direção.
Preciso tirá-lo… Preciso chegar até ele… Alec precisa de ajuda…
Mas as correntes me impedem.
— Olha pra mim — balanço a cabeça de um lado para o outro, negando, não quero ver ele
assim nesse estado… Não aguento… — Heart, olha pra mim — pede, e sentindo meu peito ser
esmagado, obedeço. — Nós vamos sair dessa, tá legal? — não acredito no que diz, mas assinto
mesmo assim. — Você sabe, seu pastor alemão sanguinário não vai te deixar ir facilmente…
Rhett.
Deus. Eu o quero tanto agora, tanto, tanto…
Meu queixo estremece e mesmo que eu tente, não consigo parar de chorar.
Não há janelas ao redor, e nenhuma ventilação, apenas uma porta de ferro grande com
uma pequena abertura na parte superior.
Puxo o ar, mas não vem, sinto o meu peito apertar. Não há janelas. Estamos trancados.
As paredes estão mofadas e, em alguns pontos, é possível notar a presença de água,
escorrendo.
E não há janelas.
Deus, pra onde foi o ar?
Preciso respirar…
Preciso respirar…
— Fala comigo — Alec pede. — Heart, fala comigo.
Balanço a cabeça.
Não consigo.
Levo a mão no pescoço, sentindo minha garganta se fechar pouco a pouco.
— Coisinha, olha pra mim.
Nego de novo.
— Vamos, você me deve vinte mil dólares, lembra? Deixa de ser caloteira.
Uma risada em meio às lágrimas escapa, quando uma lufada de ar sai pela minha boca, e
volto finalmente a respirar.
— Isso… Devagar, puxa e solta devagar… — escuto ele murmurar e faço exatamente
como ele diz.
Esse é o Alec, o meu amigo, quem sempre me faz rir, o cara que deixa todo mundo feliz,
essa é a função dele, e mesmo aqui, ele continua cumprindo o seu papel. Enquanto estou me
afundando.
— Rhett te deve — o corrijo. — Estou com medo Alec — confesso.
Ele assente em compreensão.
— Tudo bem, é normal, mas você é forte, lembra? — ele ri, mas o seu sorriso não chega
aos olhos, não como sempre acontece — É uma atiradora de elite agora, consegue aguentar isso.
Sabe que sim.
Quero dizer que não, não sou forte. Não sem o Rhett. Foi ele quem me salvou. Sei que eu
nunca teria conseguido sair daquilo, daquele casamento com James.
Mas não posso demonstrar, não quero que ele tenha mais uma preocupação.
Passo a mão pelo rosto, limpando as lágrimas e respiro fundo.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Fomos emboscados no caminho.
— Oh meu Deus, cadê o Spencer?
Tudo volta na minha mente… Estávamos indo treinar.
Alec estava sentado no banco da frente ouvindo Depeche Mode… Enjoy The Silence de
novo, enquanto eu estava no banco de trás como de costume.
Estávamos empolgados, tínhamos finalmente convencido Spencer a deixar o Alec atirar
com o seu fuzil. Foi quando aconteceu… Um carro invadiu a pista batendo na lateral da
caminhonete.
Tudo girou.
A música continuava tocando… E acabou.
Depois disso, tudo ficou escuro e imagino que tenha desmaiado, porque não me lembro de
mais nada.
Pulo no lugar quando escuto alguém mexendo na fechadura na porta.
— Olha pra mim — Alec diz, e eu olho, assustada, ele puxa o ar e solta, como se tentasse
manter a calma. Por mim. Ele olha para a porta, conferindo, e depois me olha de novo, quando
diz: — Responda tudo o que te perguntarem, ok?
Concordo.
— Não deixem que te machuque. Se quiserem saber onde é a sede principal, ou sobre
qualquer um de nós, você fala. Não proteja ninguém além de si. Entendeu? Me promete Heart.
Balanço a cabeça assentindo.
Mas era mentira, eu jamais colocaria qualquer um deles em perigo.
A porta abre. Ouço passos ao meu lado, mas não quero olhar, não quero ver o que tem ali,
porque se eu ver, tudo vai se tornar real.
— Vejo que acordou — fala, e faz uma pausa. — Confesso que estava ansioso para te
conhecer pessoalmente, Lauren — então ele segura o meu queixo e ergue o meu rosto em sua
direção, forçando-me a encará-lo. — Você é a cara da sua mãe, e me lembra muito do seu irmão
— um sorriso nojento surge, com dentes amarelos.
Lauren?
Irmão?
— Prefiro o seu irmão, mas acho que nós dois podemos nos divertir um pouco — fala
sugestivamente, e quando percebo ao que está se referindo, meu corpo inteiro estremece. — E
então, — se aproxima e tento me afastar, mas ainda estou tonta e fraca — enviarei uma gravação
de lembrança, em nome dos velhos tempos. Ele vai adorar ver você gritando e implorando para
eu terminar logo. Assim como a namoradinha dele fez.
— Tire as mãos dela, seu filho da puta — Alec berra se debatendo.
O velho me solta apenas para virar em direção ao meu amigo, que tenta a todo custo se
soltar das correntes.
Não faça isso Alec.
— Ah, havia esquecido de você. Joguem ele na gaiola, veremos quanto tempo dura.
— Não! — grito, desesperada — Não… não… — imploro de joelhos.
Dois homens armados entram na sala e caminham em direção a Alec.
— Por favor, não — choro, grito, imploro, sentindo minha garganta apertar, não quero
perdê-lo, não posso. — Por favor… por favor…
No segundo que soltam as correntes do seu pulso, Alec desfere um soco no rosto de um
deles, mas logo o outro homem o atinge na barriga, o derrubando de joelhos no chão.
Ele me olha, respirando com dificuldade.
— Alec… — sussurro tentando chegar mais perto.
Não posso perdê-lo.
— Por favor…
— Tá tudo bem, coisinha — diz com um sorriso fraco no rosto. — Seja forte, ele vai
chegar.
Mas eu não quero ser forte, não quero.
Quero voltar pra Noruega.
Quero voltar pra casa.
A minha casa. Finalmente tenho casa. E eu a quero de volta.
Minha visão é tampada, ergo os olhos e vejo o velho sorrindo.
— Vocês são bem apegados…
Não respondo.
E pela primeira vez, sinto raiva.
Não uma raiva comum.
Não é a mesma raiva que eu sentia do James, não, é algo grande, inexplicável, e se eu
pudesse rasgaria a garganta dele com minhas próprias mãos.
— Se o machucar, — trinco os dentes — juro que eu mato você.
— Seu irmão disse o mesmo, e adivinha? Aqui estou eu. Vivo. Mas admiro a sua coragem
Lauren. Agora vamos conversar — diz, puxando uma cadeira em minha frente, sentando-se logo
em seguida. — Sabe quem é Wolf? — pergunta.
Não respondo.
Ele puxa um charuto de dentro do seu paletó e o acende, então traga algumas vezes
soltando a fumaça depois, e repete os movimentos várias e várias vezes. Enquanto eu só consigo
pensar onde podem ter levado o Alec.
— Acho que já está bom — murmura para si mesmo, enquanto olha o tom alaranjado da
brasa e antes que eu tenha chance, sua mão envolve meu pulso me segurando com força e o que
sinto a seguir é somente dor.
Queima tanto.
Arde.
Meus gritos preenchem a pequena sala, tento puxar o meu braço de volta, desesperada,
mas é inútil, porque quanto mais puxo, mais fundo ele empurra a ponta.
Depois de segundos que pareceram uma eternidade, finalmente ele se afasta. Então
observa a marca arredondada em carne viva, parecendo satisfeito com o resultado, eu diria que
até orgulhoso.
— Ah, você o apagou. Agora vou ter que acender de novo — fala realmente chateado, e
logo volta a acendê-lo.
Respiro fundo, ainda sentindo latejar com a sensação do fogo queimando minha pele.
— Vamos começar de novo. Sabe quem é Wolf?
— Vai.para.o.inferno — sussurro tentando recuperar o fôlego.
Ele respira fundo, me observando, balança a cabeça de um lado para o outro.
— Sabe que ele é o seu irmão, Lauren?
Vacilo.
Foi rápido. Durou dois segundos, nem isso talvez, mas ele viu.
Sorri, sabendo que conseguiu algo.
— Surpresa?
— Não. Porque é mentira. Nunca vi Wolf na minha vida, não tenho irmão, meu pai não
teve outros filhos além de mim.
— Seu pai? Fala do policial? — não respondo, então ele continua — Sei sobre tudo.
Inclusive, que você estava em um programa de testemunhas, e o homem que chama de pai, era o
policial responsável pela sua segurança.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
Não. É mentira.
— Não acredito em você — declaro, então uma sirene ressoa chamando minha atenção, e
eu olho em direção à porta.
— Sabe onde está Lauren?
Dou de ombros, fingindo não me importar, quando, na verdade, estou desesperada,
preocupada com Alec, com o que estão fazendo com ele. Mas não quero demonstrar fraqueza,
não para ele, porque é disso que se alimenta, do medo… Da dor…
— Rússia. Em um lugar onde o seu marido já esteve. Devo chamá-lo de Six ou Rhett? —
meu coração para ao ouvir o seu nome, depois volta a bater devagar — Já ganhei muito dinheiro
com ele. Adorava matar crianças. Sabia disso? Sabia que ele gostava? Que sentia prazer em
enforcá-las, enquanto imploravam por misericórdia?
Ele se estica na cadeira, enquanto me esforço para me manter neutra.
— Você se importa, — conclui sozinho — porque foi criada por um policial e gosta de
crianças. Me pergunto como se casou com um homem que mata por puro prazer. Ou acha que ele
era obrigado? Algumas vezes, sim, outras não. Às vezes… Six entrava porque queria. Precisava
daquilo — ele sorri. — Disso você não sabe, não é?
— Sim. Eu sei disso — é mentira, mas ele não precisa saber, então completo: — E espero
que faça ainda pior com você — isso é verdade.
“Venha se juntar aos corvos
Venha voar com a escuridão
Nós te daremos liberdade
Da armadilha humana.”
Come Join The Murder - The White Buffalo

— Como ele está? — Cloud pergunta preocupado, assim que entro na sala.
Me jogo no sofá e deixo a cabeça cair para trás, enquanto observo o teto, pensando.
— Ele destruiu a sua sala inteira — respiro fundo. — Tive que contê-lo — admito
sentindo meu ombro latejar.
Aquele filho da puta me pegou de jeito.
— Você o drogou? — me acusa incrédulo.
Sim, eu fiz.
Nunca o vi daquela forma. Rhett perdeu completamente o controle e quebrou tudo. Na
cabeça dele, ela está morta, era o que ele repetia o tempo inteiro. Mesmo eu reforçando que não
tem como ter certeza. Que ainda há uma chance, mesmo que pequena, é uma chance.
Não posso nem o julgar, porque repito as mesmas palavras na minha cabeça a vida inteira,
todos os dias e não passa, nunca alivia.
Aquela merda que dizem sobre o tempo curar tudo?
Besteira.
Tempo não cura nada. Só serve pra te fazer se sentir ainda pior, e mais impotente, te
lembrando todos os dias o quanto foi fraco. Burro é quem acredita nessa merda.
Não melhora. Não alivia. Nunca.
— Não gosto disso mais que você, ele estava fora de controle, não tive outra opção —
explico. — Ele podia se machucar… — completo.
E precisamos dele inteiro para o que está por vir.
Então concorda, se dando conta da gravidade da situação. Conhecemos o Rhett
praticamente a vida inteira. Cloud ainda mais do que eu. E nunca o vimos dessa forma. Passamos
por bastante coisa juntos, mas ele nunca perdeu o controle, sempre foi o mais lúcido e pé no
chão.
Quando o vi pela primeira vez, - foi logo que cheguei no Fosso - só consegui pensar em
uma palavra para resumi-lo: insano. Six, - como era chamado - não tinha medo de morrer. Ele
entrava na gaiola assobiando, como se aquilo fosse um hobby. E eu, que acreditava em sua
loucura, com o passar do tempo fui me tornando igual. Pouco a pouco me reconheci ali.
O Fosso, se não te mata, te transforma.
— E o Spencer?
— Dopado também, mas ficará bem, o tiro pegou de raspão no braço e o médico já cuidou
de tudo.
Assente, então, ergue o rosto e me olha com apreensão.
— O que faremos agora?
Não quero demonstrar nenhuma preocupação. Cloud não consegue lidar com isso, esse é o
principal motivo de sempre ficar atrás de um computador, e do Rhett sempre bancar o escudo na
frente do garoto.
— Liguei para o Maxim, ele está vindo, trazendo três equipes com ele.
— Eles são bons? — questiona esperançoso.
— Preciso de uma bebida — me levanto e vou até a cozinha, pego um copo, encho o
recipiente de whisky e, em apenas um gole, bebo tudo.
Cloud às vezes parece o seu cachorro seguindo as pessoas pelos lugares, exatamente da
maneira que está fazendo agora.
Como Rhett aguenta?
Respiro fundo enquanto ele me olha com expectativa.
— Não tanto quanto Rhett e o Spencer, mas vão ter que servir.
Dizer que não temos escolha não ajuda em nada, a verdade é que, quanto mais tempo Alec
e... - Heart? Lauren? Sei lá - passarem lá, maior será o estrago.
O fato é: temos que tirá-los de lá o quanto antes.
Morrer não é o pior, Deus sabe o quanto desejei e implorei por isso.
Encho o copo mais uma vez e o viro, sentindo o líquido descer queimando na garganta.
Lauren…
Imagens de uma garotinha invadem minha cabeça.
Não sei como me sentir em relação a isso.
A última vez que vi Lauren, ela tinha dois anos e meio e era apenas um bebê, o mais lindo
e doce que eu já tinha conhecido.
Não tivemos a mesma mãe, mas isso não diminuiu o meu encanto pela garotinha.
Agora, Heart?
Heart mal olha em minha direção, ela tem medo de mim, e não a culpo. Quando eu
costumava pegá-la no colo, eu também era outra pessoa. Isso por si só já explica muita coisa.
Porém, mesmo não tendo afeição alguma por ela agora, não tem como não lembrar da menininha
de nariz empinado que puxava os meus cabelos. Que eu corria atrás sempre que ela se enfiava
nas moitas do casarão, e saía com o vestido cheio de mato.
Ele não pode quebrá-la. Não posso deixar.
É como uma novela se repetindo.
Mas, dessa vez, não vou falhar, não com ela.
— O que faremos com o Rhett? — Cloud pergunta, chamando minha atenção de volta.
Isso é uma boa pergunta.
— Não faço ideia — confesso. — Mas preciso que ele coloque a porra da cabeça no lugar
e volte a ser aquele babaca desalmado, pelo menos até recuperá-los.
— Quanto tempo até que acorde?
— Três horas, no máximo.
— Acho que posso lidar com ele, eu consigo — Cloud diz, então, me viro, estreito os
olhos.
— Tem certeza? — aponto na direção do meu ombro — Porque isso aqui está doendo pra
caralho.
Porra. Como dói. Aquele filho da puta sabe bater.
No segundo em que cheguei à sede, ouvi os barulhos vindo da sua ala. Corri, mas já era
tarde e tudo estava no chão… livros… estante… as bebidas… todas quebradas, vidros partidos.
— Ele não vai me machucar — Cloud afirma com convicção.
— Como tem tanta certeza?
— Porque Rhett me prometeu que manteria ela em segurança, e ele nunca quebra uma
promessa, tá na hora de lembrá-lo.
Estreito os olhos. Respiro fundo.
— Por mim tudo bem — dou de ombros.
Um silêncio confortável se instala, mas, - como eu já devia saber - não dura por muito
tempo.
— Acha… que… eles estão vivos? — pergunta em um sussurro, como se sentisse culpa
por cogitar o pior, e eu quase não ouço a última palavra.
— Eu saberia se estivessem mortos — respondo apenas.
Vladimir não perderia a oportunidade de se vangloriar.
Nada me tira da cabeça que o filho da puta sabia de tudo desde o princípio.
É sempre tudo um jogo doentio.
Ele tinha conhecimento de que eu estava com Rhett, seria perfeito que minha irmã fosse
morta por mim, e descobrisse depois, quando fosse tarde demais.
Ele só não contava com a obsessão do Six.
— Acho que alguém chegou — murmura olhando seu relógio no pulso.
— Provavelmente Maxim — informo.
Cloud assente e desaparece, voltando minutos depois acompanhado dos irmãos Kravtsov.
— Sinto muito pela sua irmã e seu amigo — Maxim diz estendendo a mão em minha
direção, e consigo sentir a sinceridade em suas palavras, enquanto a ruiva ao seu lado se mantém
séria.
Minha irmã.
É estranho ouvir isso de novo, depois de tantos anos.
— Obrigado — respondo segurando sua mão de volta, correspondendo o cumprimento.
— Acho que temos uma ideia de onde ela pode estar…
Franzo o cenho, desconfiado.
— Como conseguiu tão rápido?
— Não estou afirmando nada. Pode ser um palpite falso, mas só teremos certeza quando
chegar lá.
— Um tiro no escuro. É isso que está propondo? — passo a mão pela cabeça.
Merda.
— Você decide — diz encolhendo os ombros.
Arriscado demais. Todo segundo é importante, e se for o lugar errado? E se eu chegar
tarde demais?
Mas a informação pode estar correta, assim como quando Maxim descobriu que Heart é
minha irmã.
— Onde? — pergunto.
— Norilsk.
Não.
Vladimir realmente teria coragem de levá-la para debaixo do nariz do nosso pai?
Claro que sim. Ele não faz ideia de que ela está viva, e mesmo se visse, não a
reconheceria. Eu não reconheci.
— Filho da puta — xingo fechando os olhos.
— É familiar para você?
Merda.
Balanço a cabeça de um lado para o outro passando as duas mãos no rosto. Levaram os
dois para o Fosso.
— Acho que ele conhece — Maxim murmura para a irmã ao lado.
— Aquilo é impenetrável — informo. — É o Fosso comandado por ele.
E pela primeira vez Evellin ri. Não é um sorriso angelical e doce como a maioria das
garotas possui. É algo cruel. Sádico. O oposto que seu rosto delicado demonstra. E se fosse
qualquer outra pessoa que não eu aqui, ficaria apavorada.
— Não para nós — declara animada.
— Viu? A Evill ficou animada, isso raramente acontece — Maxim murmura sorrindo para
a irmã.
— Deus, você arrumou uma versão feminina do Rhett — Cloud sussurra ao meu lado.
— Quando? — questiono ignorando o comentário — Eles não podem continuar lá.
— Estamos prontos, e vocês?
— Wolf — Cloud me chama e eu reviro os olhos, perdendo a paciência.
— Agora não — respondo.
— Não acho bom segui-la, ela tem tendências suicidas.
— Rhett também tinha e você o seguiu mesmo assim — o lembro.
Cloud abre a boca, mas fecha, sem resposta, então pergunto:
— Você vai chamar ele, ou quer que eu vá?
— Eu vou — responde.
— Não será necessário, estou pronto — Rhett diz, parado no corredor. — Spencer está
vindo. Quando vamos decolar?
“Eu te encontrarei;
Eu curarei as ruínas deixadas dentro de você
Porque eu ainda estou aqui, respirando agora…”
Through The Trees - Low Shoulder

Vladimir - como ele disse que se chama - saiu há um tempo, e não faço ideia se foram
apenas alguns segundos ou minutos… poderiam ser até horas, e eu ainda não saberia.
Ele me disse muitas coisas: Wolf é meu irmão, meu pai é o responsável pelo Fosso e ele é
meu tio.
Queria continuar acreditando que é tudo mentira. Mas, no momento, não sei de mais nada.
Não sei no que, ou em quem acreditar. A única certeza que tenho é que Alec e eu precisamos sair
daqui. Continuo sentada no mesmo lugar e na mesma posição desde que o levaram. Incapaz de
pensar em outra coisa senão no que estão fazendo com ele.
Olho para o meu braço apoiado em cima da minha perna e conto:
Uma.
Duas.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Sete.
Oito.
Oito queimaduras… por nove perguntas não respondidas.
Todas elas sobre Wolf. Lembro das marcas no seu corpo quando o vi lutando, e mesmo
que eu tente, é impossível não imaginar quantas delas foram feitas por Vladimir.
Então, abro a mão virando a palma para cima, observo as cicatrizes antigas e noto que
minhas unhas estão começando a crescer. Provavelmente Rhett as cortaria muito em breve.
Ele com certeza ficaria muito furioso se visse meu braço agora, as novas marcas…
Gostaria de vê-lo irritado de novo.
Ao menos uma última vez.
Seu maxilar marcado.
Seus olhos escurecendo ou o seu sorriso. Pode ser até o debochado, ou o arrogante, gosto
deles também.
Na verdade, acredito que não haja nenhuma parte dele que eu não goste. Mesmo Vladimir
dizendo todas as coisas ruins que fez, e de como gostava daquilo, ainda assim, eu só conseguia
sentir a sua falta, e pensar em como gostaria de estar com ele.
Minha garganta arde e não sei se é por falta de água ou pelos gritos que deixei escapar
enquanto ele afundava a brasa no meu braço.
Me esforço para respirar fundo e me ajeito quando um barulho chama minha atenção,
então a porta se abre, de novo.
Vladimir entra, agora, segurando uma coleira na mão direita, e uma corrente de ferro na
esquerda.
— Admito que você é durona — declara parando em minha frente com aquele olhar
nojento.
— Pra onde você o levou? — pergunto.
— Você e seu irmão tem o mesmo problema, a mesma fraqueza, sempre pensando nos
outros. Foi assim que eu o quebrei. Ele tinha um ponto fraco. E você, pequena Lauren, também
tem.
Odeio quando ele me chama assim.
Seus lábios se curvam em um sorriso.
— Está preocupada?
Continuo com o mesmo semblante, mas por dentro, sim, estou com medo, apavorada, na
verdade.
— Acha que ele não dá conta?
Alec não sabe lutar como Rhett ou Wolf, nem atirar como Spencer, e, mesmo se soubesse,
duvido muito que teria coragem de matar uma criança.
Ele não é um assassino.
— Já que está tão preocupada. Vamos até lá então… O que acha? — pergunta erguendo a
coleira no ar, balançando.
Eu não deveria.
Posso ver no seu rosto que é uma armadilha, mesmo assim… aceito.
— Sim — sussurro.
Satisfeito, se aproxima, e eu olho para o lado quando o vejo trazendo a coleira para ser
presa ao meu pescoço, logo em seguida sinto suas mãos em volta, tocando a minha pele e preciso
de muito controle para não o empurrar para longe.
Mas se isso significa que posso ir até Alec, eu aceito, sem questionamentos.
Só tenho que ter certeza de que ele está vivo.
Assim que confere se está bem preso, conecta uma corrente de ferro à argola pendurada
em frente a coleira, então puxa a corrente, e me levanto, compreendendo o que ele quer.
— Vamos fazer um tour — diz enquanto passamos pela porta, até chegarmos a um
corredor comprido e largo. — Bem-vinda ao Fosso.
Caminhamos e percebo a quantidade de portas escuras com apenas uma pequena abertura
no meio, algumas delas abertas e outras não.
É impossível não imaginar Cloud aqui, pequeno, assustado e indefeso. Até mesmo Rhett,
por mais lunático que fosse, nenhuma criança deveria passar por isso.
E Wolf…
Balanço cabeça afastando o rumo dos meus pensamentos.
Não quero pensar no Wolf. Não agora.
O chão está cheio de poças d’água e algumas pedras pontudas arranham a sola dos meus
pés, mas não sinto dor, porque as dores das queimaduras no meu braço conseguem se sobrepor a
qualquer outra. As feridas abertas ardem a cada movimento que faço, e ao redor delas, a pele
pulsa, mas, continuo andando, e quanto mais perto chegamos, mais os gritos se tornam altos.
Descemos alguns degraus de uma escada, e preciso tampar meus olhos quando as luzes
ofuscam minha visão. O barulho se torna insuportável e demoro alguns segundos para
compreender, mas quando acontece, vejo exatamente o que Rhett disse: uma gaiola.
Uma espécie de arena cercada por arames, com holofotes ao redor focando no meio, no
chão, que é escuro. Sangue das pessoas que morreram ali. O cheiro é tão forte que meus olhos e
nariz ardem.
— Você se acostuma com o tempo — escuto-o murmurar em minha frente.
Não percebi que havia parado de caminhar até que sinto um solavanco me puxando pelo
pescoço e tropeço, caindo de joelhos no chão.
Merda.
— Levante — puxa a corrente como se eu fosse um animal, e com dificuldade, eu
obedeço. — Olha, é a vez do seu amigo — diz e meus olhos vão para a arena.
Gradualmente as cancelas vão se abrindo, uma a uma.
E quanto mais pessoas saem, mais desesperada eu fico.
Não. Não.
A sirene toca.
Não. Não.
E tudo vira um caos.
Não são crianças como Rhett havia falado, são pessoas.
Adultos.
Altos e fortes.
São assassinos.
— Por favor, para — peço.
Ele me ignora.
Volto meus olhos para a arena, dividida entre assistir aquele banho de sangue ou fechar os
olhos.
Mas preciso saber se Alec está bem.
Preciso encontrá-lo.
Então, vou passando meus olhos, pessoa por pessoa em pé, lutando.
Um por um. Morto por morto, no chão.
Procurando uma cabeleira cor de areia, até que o vejo, e suspiro aliviada, mas não dura
muito, porque um homem com o dobro do seu tamanho está indo em sua direção.
Meu coração para, não sinto o meu corpo.
Desespero não é a palavra correta, não chega nem perto do que sinto, Alec consegue
desviar do primeiro golpe, mas no segundo… no segundo ele já está no chão.
Não consigo falar, não consigo me mexer.
Tudo está em câmera lenta enquanto o homem encontra-se em cima dele…
As mãos em volta do seu pescoço agora.
Alec tentando afastá-lo…
— O que você quer? — me viro para o homem ao meu lado, com a visão nublada,
— Estaria disposta a fazer qualquer coisa por ele? — arqueia uma sobrancelha.
Sinto como se estivesse prestes a fazer um pacto com o diabo.
Arrisco olhar mais uma vez para a arena, mesmo que consiga derrotar esse cara agora, há
muito mais.
Foda-se!
Sim.
Jamais me perdoaria se algo acontecesse com Alec, sabendo que eu poderia de alguma
forma ter evitado. Não posso simplesmente ficar aqui e vê-lo morrer.
Antes, eu não tinha ninguém, não sabia qual era a sensação de ter amigos, uma família,
então, lembro de todos eles, Cloud, Spencer, Alec, Rhett… e não preciso de mais nada, eu faria
qualquer coisa por eles.
— Sim, — admito com a voz embargada — se tirar ele de lá — respiro fundo, limpando
as lágrimas que escorreram pelo rosto — faço qualquer coisa, só tire ele de lá — imploro.
Ele me olha.
Vladimir diz algo para um homem ao seu lado, e segundos depois, a sirene toca e um a
um, todos voltam para as cancelas.
É possível se sentir aliviada, e angustiada na mesma proporção?
Porque é dessa forma que me sinto. Alívio é o que define quando vejo Alec sendo
arrastado para fora da gaiola, mas, assim que o homem ao meu lado me olha, sei que agora,
tenho que cumprir a minha parte no acordo.
— Levem ele para a minha sala, nós vamos jogar agora.
Annelise Parker havia morrido há muito tempo, eu só esperava que a Heart… que Heart
Daniels fosse forte o suficiente para aguentar o que estivesse por vir.

Esteja viva.
Entro no avião.
Aguente firme.
Me sento na poltrona.
Me espere querida.
Respiro fundo.
Estou chegando Heart.
Tão perto.
Só aguente.
De um lado, uma parte minha está morta… desde o momento em que não a encontrei. A
outra que sobrou, é apenas ódio e raiva.
Nunca senti tantas emoções como agora.
Dor.
Medo.
Angústia.
Culpa.
Mas, em meio a todo caos, de uma coisa tenho certeza, algo que ambas as partes
concordam. Quero todos os responsáveis, direta e indiretamente, mortos. Irei caçá-los, um por
um, família, amigos, todos. Quero que vivenciem exatamente o que ela estiver passando, tudo
que fizerem com ela, eu farei ainda pior com cada um deles.
— Rhett? — ergo os olhos e vejo Spencer sentado no banco da frente.
Olhando dessa forma, ninguém diria que algumas horas atrás levou um tiro de raspão.
— Vamos trazer ela de volta — afirma.
Assinto, não porque acredito nele, mas porque não existe outra opção.
Não irei parar até que eu a encontre.
Até que ela esteja segura, nos meus braços, de onde nunca deveria ter saído.
— Quero que assuma a missão — digo.
Sua cabeça tomba levemente para o lado, os seus olhos se estreitam, desconfiados.
— Do que você está falando?
— Qual parte não entendeu?
— Por que quer que eu assuma?
— Porque a segurança de mais ninguém me importa — dou de ombros — nem mesmo a
minha, se eu tiver que deixar alguém para trás, deixarei sem pensar. Estou indo atrás dela. Heart
é a minha prioridade.
Em todas as missões, sempre penso na segurança de cada um. Rotas de fuga. Plano B, C e
o caralho que tiver de fazer para que ninguém saia ferido ou alguma outra merda.
Mas agora? Não ligo.
Simplesmente não consigo pensar em nada que não a envolva, e se eu precisar sacrificar
alguém para tê-la de volta, será uma morte mais que bem-vinda.
Fico revivendo nossa última conversa e a sua risada está presa na minha mente, a cada
sorriso que surge nas minhas lembranças é como se uma faca fosse cravada no meu peito.
— Certo — ele assente finalmente compreendendo. — Só… não faça nenhuma merda.
— Não prometo nada — aviso.
— Você está bem? — questiona.
Não. Nem um pouco.
Na maior parte do tempo, sinto que estou me afundando, e quanto mais nado para chegar a
superfície, mais profundo entro.
— Não consigo pensar, — admito olhando para a pequena janela ao lado — não sei nem
como consigo respirar.
— Você a ama…
Nego.
Eu não a amo, sei disso. Porque em tudo que li e vi, o amor é bonito e bondoso, e eu não
sou nenhuma dessas coisas. O que sinto é feio e egoísta. Feio porque beira a insanidade, e
egoísta, porque jamais a deixarei ir embora.
Eu pertenço a ela, e ela pertence a mim.
Simples assim.
“Luzes, câmera, ação.”
Put Me In a Movie - Lana Del Rey

— Até onde você iria para salvar alguém, pequena Lauren? — Vladimir pergunta
enquanto me observa apenas de calcinha e sutiã parada no meio da sala, essa foi a sua primeira
ordem assim que chegamos. No início, hesitei, mas só até ele me lembrar que podia enviar Alec
para a gaiola a qualquer momento. Então tirei minha blusa e calça, jogando ambas ao lado.
Além dele, há mais dois homens na sala. Um ao seu lado parado segurando uma arma,
enquanto me olha como se eu fosse um prato de comida - Sasha é o seu nome, ao menos foi
assim que escutei Vladimir se referir a ele. O outro, está atrás de mim e não consigo ver o que
está fazendo, mas sinto os seus movimentos o tempo todo, me deixando nervosa.
A pergunta fica martelando em minha mente.
Até onde eu iria?
Abro a boca, mas fecho sem saber ao certo o que responder.
Existe resposta certa?
Não. Claro que não.
— Te fiz uma pergunta… — arqueia uma sobrancelha — até onde iria? — questiona,
impaciente.
— Não sei — respondo honestamente.
Na verdade, eu sei.
Não é até onde eu iria, mas sim, por quem…
A porta da sala é aberta nos interrompendo, e Alec surge, acompanhado de um terceiro
homem, que o segura pelo braço. Ele ergue o rosto devagar, e me encara, seus olhos percorrem
pelo meu corpo, analisando cada parte… provavelmente se certificando de que não estou ferida,
até que pousam em meu braço, e noto que o seu maxilar trava quando percebe as marcas de
queimadura.
— Entre — Vladimir faz um sinal com a mão, e logo Alec é empurrado até estar ao meu
lado.
Não há mais sangue, apenas os hematomas no rosto e em seu abdômen, principalmente
próximo do seu estômago.
Por que o limparam?
— O que você fez? — ouço-o murmurar chamando minha atenção, e pelo seu tom de voz,
sei que está furioso, mas não me importo, não mesmo.
Não vou deixá-lo morrer.
Rhett e Spencer estão atrás de nós, sei disso, só preciso ganhar mais tempo.
Espero que eles cheguem logo.
— O certo — respondo apenas colocando os braços em frente ao corpo, cruzando as mãos,
sentindo-me desconfortável.
— A sua amiga demonstra grande admiração por você… — Vladimir comenta, com um
tom debochado que não é despercebido.
Posso sentir a raiva irradiando de Alec ao meu lado, é quase palpável.
Ele pode me odiar o quanto quiser, contanto que esteja vivo e inteiro.
— Vamos lá, você disse que faria qualquer coisa pelo seu amigo, quero saber até onde está
disposta a ir por ele…
Engulo em seco, ergo o rosto e respiro fundo.
— Sim, — admito — foi o que eu disse.
— E? — insiste.
— Faço qualquer coisa — respondo, logo em seguida escuto uma sucessão de palavrões
ao meu lado.
— E você, gosta da pequena Lauren? — Vladimir desvia os olhos de mim.
— Não — Alec responde secamente.
— E da Heart? — arqueia uma sobrancelha — Gosta da Heart? — completa estreitando os
olhos, parecendo ansioso.
Segundos passam, apenas o silêncio como resposta.
— Acho que não é recíproco, Lauren — me olha com falso pesar, então ele faz um sinal e
diz: — Pode fazer.
Fazer o quê?
Antes que eu possa perceber como ou de onde vem, uma dor insuportável atinge minha
lombar, tão intensa que me deixa de joelhos no chão, com as mãos apoiadas a frente, impedindo
que eu caia completamente.
— PARA!!! — Alec grita parecendo desesperado, e acredito que até tenta impedir pela
movimentação ao redor, mas tudo fica confuso, há somente a dor agora — PORRA! O que você
quer? — berra mais alto.
Fecho os olhos, rangendo os dentes, me esforçando para aguentar, mas é inútil, porque no
momento em que ele afunda mais o que quer que seja na minha pele, um grito explode da minha
garganta.
— Que responda a minha pergunta, gosta da pequena Lauren?
É algo ainda mais quente do que a brasa do charuto, posso sentir o objeto colando, como
se estivesse derretendo-a. Cravo minhas unhas no chão, e sinto as lágrimas descendo pelo rosto.
— Sim — ele sussurra, em seguida, não sinto mais o objeto pressionado em minha pele.
Respira.
Vamos Heart…
Respira…
Olho por cima do ombro e vejo um ferro longo com a ponta em formato de V se afastando.
Ele me marcou.
— E até onde está disposto a ir por ela? — Vladimir continua, tento me levantar, mas caio
novamente, sentindo as minhas pernas fracas e a dor se espalhando.
— Qualquer coisa… — Alec declara.
Ergo o resto e o vejo me olhar. Tão triste, de um jeito que nunca vi antes.
“Me perdoa” é o que ele diz apenas com o movimento dos lábios e consigo escutar o
barulho do meu coração se partindo em milhões de pedaços.
Ele realmente acha que tem culpa disso?
Suas mãos tocam em meus ombros e gentilmente os segura, me ajudando a levantar.
— Sabe o que é um voyeur, Lauren? — Vladimir questiona e apenas com um movimento
da cabeça nego, incapaz de conseguir dizer algo — E você Alec?
Diante do silêncio do meu amigo, um sorriso se estende lentamente, seguido de um brilho
perverso nos olhos, como se tivesse feito a maior descoberta. Em outra pessoa, aquele brilho me
deixaria curiosa, mas vindo dele, me enoja.
— Ninguém vai tocar nela — Alec rosna passando os braços ao redor do meu corpo,
puxando-me para o seu peito de forma protetora.
— Quem disse que algum de nós vai tocá-la?
Alec fica rígido, me deixando confusa.
— Acho que agora você está começando a me compreender…
— Do que ele tá falando Alec? — questiono erguendo o rosto, encontrando-o pálido.
— Não — fala alterado me ignorando. — Não — repete balançando a cabeça de um lado
para o outro.
Dessa vez, se não fosse pelos braços dele, eu já estaria caída no chão de novo. A mesma
dor, a mesma intensidade, porém, agora na parte de trás da minha coxa.
— Você está sofrendo assim porque ele não quer jogar, pequena Lauren… — escuto de
longe em meio aos meus gritos.
Fecho os olhos com força, trinco os dentes e quando me dou conta, estou afundando
minhas unhas nos braços do Alec, o ferro se afasta, me dando um instante de alívio, mas, logo
ele escolhe outro lugar, e grito novamente.
Por favor.
Para.
Por favor.
— EU FAÇO! — Alec grita — Só pare! PORRA! Eu faço… qualquer coisa.
Não escuto mais nada. Só consigo focar na dor pulsando nas minhas costas e coxas. Sei
que estão falando, porque sinto o peito do Alec vibrar em meu ouvido, mas estou tão cansada,
tão exausta.
E se eu dormisse só um pouco?
Ou fechasse os olhos por alguns segundos, apenas?
Talvez ninguém note.
De repente, meu queixo é levantado com delicadeza, abro os olhos e vejo Alec me
encarando.
Ele parece tão… qual é a palavra? Não é triste…
Angústia.
Isso.
Ele parece angustiado.
— Sinto tanto coisinha, tanto… — então, se afasta poucos centímetros — me perdoa… —
dito isso, seus lábios estão nos meus.
Congelo.
Meu corpo inteiro fica tenso.
Tento me afastar, mas ele me segura com mais força.
— Você não está fazendo isso com vontade — ouço Vladimir gritar e novamente o ferro
quente é pressionado na minha panturrilha, e a dor fica em segundo plano quando me dou conta
do que ele quer. Em choque, afasto meu rosto com as minhas últimas forças o empurrando.
— Ele quer? — questiono sem coragem de completar a frase.
Alec assente com o olhar ferido.
Nego.
— Não. Não posso — balanço a cabeça de um lado para o outro, o desespero me
consumindo. — Não, nós somos amigos.
Não. Não.
Meus olhos nublam, e lágrimas escorrem pelo meu rosto.
Não quero.
Alec é meu amigo.
— Quer que Alec volte para a gaiola? — Vladimir questiona, chamando minha atenção.
Me viro o encarando. Eu o odeio. Tanto.
Nego.
— Você disse que faria qualquer coisa — sorri cínico.
O ar é sugado dos meus pulmões. Meu sangue parece ter congelado.
— Isso é doentio — murmuro.
— Eu disse que gosto de jogar, — os cantos dos seus lábios se curvam em um sorriso
perverso — se negue e Alec volta para a gaiola. Ele se nega e você sofre as consequências. As
regras são bem básicas, na verdade. E sempre posso pedir a Sasha para assumir — e o homem ao
seu lado pisca para mim colocando a mão por cima da calça evidenciando o volume. Náusea me
atinge imediatamente.
— Não vou permitir — Alec grunhe me puxando de novo para os seus braços.
Queria que fosse possível. Que ele realmente conseguisse me proteger, que apenas os seus
braços fossem o suficiente. E são, mas não do jeito que eu queria. Olho ao redor.
Estamos presos em uma sala pequena com a porta trancada, e mesmo que consigamos sair,
há dezenas de seguranças.
Quatro homens agora nos observam.
Nem que Alec fosse como Rhett ele conseguiria impedir.
— Não é você quem decide — Vladimir diz.
— Heart, olha pra mim — ergo o rosto e meu queixo treme, então ele enxuga as lágrimas
passando os polegares nas minhas bochechas. — Você não precisa fazer absolutamente nada.
Ele tem razão, não preciso, e não quero.
Mas então, olho para o lado e vejo o homem me encarando.
Até onde você iria para salvar uma vida?
— Faça — solto a palavra em um sussurro tão baixo, que nem mesmo eu acredito no que
disse.
— Como? — pavor toma o seu rosto.
Meu queixo treme seguido por um soluço que irrompe.
Balanço a cabeça de um lado para o outro sem conseguir falar.
— É o único jeito — sussurro em meio ao choro.
Então, fecho os olhos e me lembro dele.
Rhett.
E meu coração se afunda no peito.
— Tudo bem, Alec, faça o que tiver que fazer.
— Não posso Heart, eu nã…
Olho para o lado e vejo Sasha abrindo os lábios em um sorriso, e Alec acompanha meu
raciocínio assentindo.
Dou de ombros. Cansada. Exausta.
Quando isso vai parar?
Quando vão parar de me controlar, de me usar.
— Se não for você, será ele — respiro fundo e o meu peito aperta. — Acaba logo com isso
Alec, — antes, os seus olhos tinham um brilho, e hoje, sei que talvez eu nunca mais os encontre,
não há mais esperança em seu rosto — por favor — imploro, chorando baixinho.
— Feche os olhos — ele diz — e finja que sou ele.
Concordo, mesmo sabendo que isso seria impossível.
Ninguém nunca se compararia a ele. Pensar nisso só me traz algo… Rhett nunca me
perdoará. Nem eu me perdoarei. Talvez assim ele me deixe ir embora… justamente quando eu
não quero mais ir. Mas eu já deveria ter me acostumado, nada bom fica por tempo suficiente em
minha vida.
— Perdão, coisinha — suas mãos seguram em minha cintura e apesar de tentar, não
consigo controlar os tremores que meu corpo produz.
— Tire o sutiã dela, queremos ver o que ela tem — Vladimir murmura com a voz
carregada de tesão e quase vomito.
Alec fica tenso.
— Será do meu jeito e no meu tempo — fala apenas, e continua lentamente me tocando, e
compreendo a sua intenção.
Ele toca em uma parte do meu corpo e espera meu tremor diminuir, para somente então ir
à próxima. Alec está esperando que eu me acostume com o seu toque. Pensar nisso só aumenta
minha vontade de chorar, porque sei que, nunca mais seremos os mesmos, não perdi somente o
Rhett, perdi o meu amigo.
— Quer que eu te fale o que vou fazer?
Nego.
— Só faça — murmuro.
Fecho os olhos e me forço a ir para outro lugar.
Rhett.
Para quando acordei em seus braços.
Na sua primeira risada.
Em seu jeito de olhar.
No verde dos seus olhos.
A cada toque do Alec em meu corpo, é uma parte que sinto ficando suja, um pontinho que
se apaga dentro de mim.
Suas mãos vão atrás das minhas costas, abrindo o meu sutiã, depois os toca com as mãos
trêmulas, frias e não ouço mais nada ao redor.
Mas sei que Vladimir continua falando e dando ordens.
Estremeço sobre o toque da sua língua.
Prendo os lábios quando Alec fecha os dele ao redor do meu seio.
Quero chorar, gritar, pedir que ele pare.
Mas não posso.
Perco completamente a noção do tempo.
Isso é tão errado.
Tão injusto.
Ele me gira, e sinto algo nas minhas mãos, uma parede, eu acho. Não tenho certeza, mas
também não tenho coragem de abrir os olhos e conferir. Até que afasta minhas pernas e segura
em minha cintura com as duas mãos, e eu travo, quando lentamente ele me invade.
Quero pedir para que ele pare, implorar que se afaste.
— Até onde você iria para salvar alguém, pequena Lauren?
— Até onde você iria para salvar alguém, pequena Lauren?
E então eu me odeio.
Porque, quando James me forçava a algo, eu ainda lutava, podia lutar.
Mas agora?
Eu deixo.
Eu permito.
“Para mim você era minha vida
Para mim você era minha companheira de alma
Agora você está tão longe.”
Second Heartbeat - Avenged Sevenfold

— Tem alguma coisa errada — Wolf declara enquanto observa o complexo pelas câmeras,
e eu concordo.
Tudo está parado e quieto demais.
Não há muitos guardas do lado de fora, e, - segundo o que Wolf havia dito - esse deveria
ser um dos Fossos mais impenetráveis.
— Uma armadilha? — Maxim intervém — Acha que estão nos esperando?
— Talvez… — Wolf murmura — é provável que sim.
Me afasto e observo as três equipes se organizando. Cerca de vinte homens, todos quase
prontos para sair.
— Não vou desistir, — aviso — se for necessário entro sozinho, mas não sairei daqui sem
ela.
Voltar sem a Heart não é uma opção para mim.
Wolf apoia duas metralhadoras em cima da mesa e me encara tão decidido quanto eu.
— Vou com você — afirma.
Encostado na mesa com os braços cruzados, Maxim me observa com curiosidade, depois
seus olhos vão até Evellin - sua irmã - do outro lado da sala, enquanto ela veste um colete a
prova de balas.
— Ninguém vai desistir — afirma. — Mas, — seus olhos se estreitam em minha direção
agora — você me deve um favor, e se, um dia eu precisar, você vai largar tudo e irá me ajudar.
— Ok — respondo.
Se pudesse, entraria sozinho e a resgataria, entretanto, não posso me dar ao luxo e colocar
a sua segurança em risco, e a contragosto, aceito a porra da condição.
Spencer se aproxima segurando um notebook nas mãos, depois o apoia na mesa com um
mapa aberto na tela.
— Qual é o plano? — questiono.
— Não há muitas opções, — murmura — vamos jogar com o que temos a nosso favor.
— Que seria? — Maxim arqueia uma sobrancelha.
— Vamos libertar quem está preso lá dentro e deixar que cuidem dos guardas enquanto
cuidamos do que realmente nos interessa.
Eu cruzo os braços, imaginando todas as situações possíveis.
— Vamos explodir — Evellin declara se aproximando. Spencer a observa e ela continua.
— Temos explosivos suficiente para colocar uma cidade inteira no chão — sorri parecendo
orgulhosa, então encolhe os ombros e prossegue — mas, acho que em três pontos é o suficiente.
Vai causar a distração que você precisa. Entramos, atiramos nas portas e liberamos todo mundo.
O plano não é de todo ruim, para ser franco, até que é bom. O único problema é que aquilo
se tornará um caos completo no segundo em que as bombas explodirem, e não me agrada nem
um pouco imaginar Heart no meio do olho do furacão. Caralho. Só de pensar, meu sangue ferve.
No entanto… é o jeito mais rápido, para o pouco tempo que temos.
— Vai funcionar — Spencer concorda depois de um tempo em silêncio. — Maxim fica
com a primeira equipe do lado de fora aguardando. Rhett e Wolf vão com a segunda. Evellin e eu
ficamos com a terceira — seus olhos focam em mim. — Apenas relembrando: Isso não é uma
guerra. Vamos entrar, localizar, resgatar e sair. Não sabemos quanto tempo teremos até o reforço
deles chegar. Entendido? Rhett?
Concordo até certo ponto.
Para mim, é uma guerra e se tornou pessoal no momento que a levaram. Mesmo que eu
não consiga minha vingança agora, irei atrás, até não sobrar ninguém em pé.
Por hora, resgatá-la é o suficiente.

A adrenalina corre pelas minhas veias feito fogo. A ansiedade me consome de dentro para
fora, deixando-me mais agitado do que o normal e aceitável para mim. Estive em muitas missões
e em mais confrontos do que posso enumerar, entretanto, jamais em um resgate, nunca para
salvar alguém, alguém com quem me importo, que… se tornou exatamente tudo para mim.
O vento gelado entra pela abertura dos olhos da balaclava, e me pergunto se ela está
aquecida, se Heart está passando frio. Rússia não é um lugar quente, Norilski menos ainda e a
fina camada de neve sob meus coturnos confirma isso. Porém, Wolf me garantiu que o Fosso é
aquecido, afinal ninguém quer os prisioneiros morrendo de hipotermia, o que é irônico,
considerando que os jogam em uma gaiola para morrer logo em seguida.
Olho para Wolf ao meu lado e um pouco mais atrás alguns homens, todos parados vestidos
com suas roupas táticas, fortemente armados, apenas aguardando um sinal.
— Como ela é? — Wolf indaga.
— Quem?
— Heart.
Penso por alguns segundos.
— Perfeita — a palavra sai tão facilmente, tão natural, que me impressiona, mas ela é,
definitivamente é.
Ele ri, como se eu tivesse dito algo engraçado e balança a cabeça de um lado para o outro.
— Qual a graça? — questiono.
— Nada — declara na defensiva. — Só é engraçado escutar isso saindo da sua boca —
concordo balançando a cabeça, realmente, ele tem um ponto. — Ela tem medo? De mim?
— Isso importa? — pergunto confuso com o rumo da conversa.
— Ela é minha irmã — afirma como se isso fosse motivo o suficiente para qualquer coisa.
Solto um suspiro.
— Olha só… deixemos algumas coisas claras aqui sobre essa história de família. “Ah,
encontrei minha irmã morta”, legal pra você. Mas ela continua sendo minha. Então, nada vai
mudar. Entendeu? Mantenha distância.
Eu não estou disposto a dividi-la com ninguém, e isso não está aberto a negociações.
— Tudo pronto — ouço Spencer dizer pelo ponto de comunicação em meu ouvido.
E antes que Wolf tenha chance de responder, escutamos o barulho das bombas explodindo.
Uma.
Duas.
Três.
— VAMOS. VAMOS. VAMOS. — grito.
Corro através da abertura que a explosão causou, pisando em alguns destroços no trajeto.
Conforme a fumaça se desfaz e a poeira abaixa, tenho um vislumbre do lugar, exatamente como
eu me lembro.
O cheiro de mofo e podre, paredes escuras cobertas por uma fina camada de musgo em
alguns pontos, poças espalhadas pelo chão, e as portas com apenas uma abertura na parte de
cima.
Em pouco tempo, tudo se torna uma confusão, homens correndo de um lado e guardas
tentando controlá-los do outro. Uso isso para me infiltrar entre a multidão, caminhando pelos
corredores, parando de porta em porta, algumas já estão abertas, outras, acerto as fechaduras,
abrindo-as.
Nada.
Próxima.
Nada.
Porra.
Continuo minha busca até que encontro um dos guardas, ele ergue a arma e antes que
tenha a oportunidade atiro em sua perna, derrubando-o de joelhos.
— Onde ela está? — questiono encostando o cano da metralhadora em sua testa.
Impossível que uma mulher tenha entrado nesse fim de mundo e não tenha virado o
assunto principal entre os guardas, ainda lembro das conversas entre eles enquanto me
escoltavam até a gaiola. Sempre mulher.
Seus olhos me analisam com cautela, depois ao redor, provavelmente procurando alguma
saída ou algum guarda.
— Não tem para onde ir. Onde. Ela. Está? — berro perdendo o controle por um segundo.
— Lado direito na quinta porta — responde baixando os olhos para o chão, e antes que
diga mais alguma coisa, ou tenha a chance para pedir por misericórdia, pressiono o gatilho e ele
cai morto em uma poça de seu próprio sangue, com os miolos espalhados.
— Spencer — chamo pelo rádio comunicador.
— Sim — responde imediatamente.
Respiro fundo.
— Está do seu lado, quinta porta.
— A caminho.
O tempo para e tudo ao meu redor se torna insignificante. Não existem mais pessoas
correndo. O som dos tiros é abafado pelo barulho da minha respiração e das palavras que venho
repetindo na minha cabeça desde que ela foi levada, como um mantra, implorando para que a
porra do universo conspire a favor, mesmo que eu nunca tenha acreditado nisso, afinal é o que o
desespero faz com um homem.
Esteja viva.
Esteja viva.
Esteja viva.
Esteja viva.
Porque, francamente, se ela não estiver, não vejo mais outro motivo para eu estar. Não
consigo me lembrar de nenhum momento da minha vida antes dela. Desde que chegou, Heart
tomou cada parte de mim para si, e não quero de volta. Imaginar um mundo em que ela não
esteja é pior que a morte, é a maior tortura que alguém pode me submeter.
— Encontrei ela, Rhett.
E o meu mundo voltou a girar.
Olho para Wolf ao meu lado, que com apenas um leve aceno de cabeça meu, sabe,
compreende, e sem dizermos palavra alguma, seguimos para o mesmo lugar.
Eu chego no corredor e vejo a porta entreaberta, minha respiração diminui, empurro a
metralhadora para trás sendo sustentada apenas pela bandoleira. Seguro na barra da balaclava e a
puxo para cima, destampando meu rosto.
Entro na sala e então a vejo.
De costas… os pés-descalços… usando apenas as roupas debaixo.
Devagar, como se sentisse minha presença, ela se vira.
E de novo, como sempre acontece quando eu a vejo, meu coração bate fora do ritmo.
Heart. Minha Heart.
Nos entreolhamos por segundos e é o bastante para que eu saiba e veja que ela está prestes
a desabar e então corro em sua direção, a tempo apenas de segurá-la em meus braços, de onde ela
nunca deveria ter saído e nunca sairá.
Finalmente.
— Acabou querida — pressiono meus lábios no topo da sua cabeça e fecho os olhos. —
Acabou. Juro que acabou — beijo sua cabeça, seu rosto, seguro-a com mais força contra meu
peito, desesperado para senti-la.
É real.
É real.
— Não me toque, — sussurra com a voz frágil — por favor… — choraminga tentando se
distanciar de mim.
— Por quê? — confuso, eu me afasto o suficiente apenas para encarar o seu rosto, que
somente agora percebo que está banhado por lágrimas, ela tenta desviar os olhos dos meus, mas
não permito. — Heart — insisto, então seu queixo estremece e não faço ideia de como, mas eu
sei. Sei que fizeram mais do que as marcas no seu corpo demonstram…
Vermelho.
É a primeira cor que vejo.
Sangue.
Nunca senti tanto desejo em matar alguém como tenho agora.
Não…
Matar não seria o suficiente. Quero torturar. Quebrar. Arrancar. Estraçalhar. Destruir.
Fecho os olhos por alguns segundos.
— Não me importo, entendeu? — forço-a a me encarar — Nada do que aconteceu aqui vai
mudar o que nós temos.
Seguro seu rosto entre as minhas mãos e pressiono meus lábios no seu, pouco me fodendo
para quem está aqui e irá presenciar.
Não ligo para absolutamente nada.
Minha Heart.
— Senti sua falta querida. Porra. Como senti… — passo os braços em volta do seu
pescoço e puxo-a para o meu peito, abraçando-a com mais força. É então que escuto um soluço
sofrido seguido pelos seus ombros tremendo.
A sua dor é a minha dor agora.
Meus olhos vão até o outro lado da sala, onde um homem está ajoelhado sob a mira de
metralhadoras em sua cabeça.
Abaixo meus lábios até a altura do seu ouvido e pergunto sentindo a raiva se apoderar do
meu corpo em um nível desconhecido.
— Vladimir?
— Foi embora — responde baixinho.
Certo.
— Quem mais tocou em você? — questiono esforçando-me para controlar o tom de voz.
Devagar, ela se afasta e seus olhos cruzam com os meus, então ela gira o corpo, mas, sem
se afastar dos meus braços.
— Sasha, — afirma — foi ele — completa apontando o dedo para o filho da puta
ajoelhado.
— Tragam o fuzil — peço e encontro os olhos do Wolf, cruéis. — E abaixem as calças
dele — completo.
Olho para Heart.
— Quer sair? — pergunto passando a mão pelo seu rosto, limpando as lágrimas da sua
bochecha.
Ela ergue os olhos… e me sinto fascinado com a visão, como algo tão pequeno e delicado
me tem nas mãos desse jeito?
— Não. Quero assistir.
Aí está a semelhança dos dois.
Wolf e Heart.
Ambos têm o mesmo olhar quando se trata de vingança.
Sorrio.
— Tudo para você, querida — beijo sua testa e me afasto, pego o fuzil que alguém me
estende e caminho até o filho da puta.
O homem me olha apavorado, os olhos esbugalhados enquanto o despem.
— Quanto tempo nós temos?
— Três minutos — Spencer informa para a minha total decepção.
— É o suficiente.
Paro atrás e piso em suas costas empurrando-o seu corpo até ele ficar com um lado do
rosto colado no chão, depois, posiciono o cano do fuzil em seu rabo e soco tudo de uma vez
apenas, observando o sangue escorrer quase que instantaneamente.
Quanto mais alto ele grita, mais realizado me sinto.
Ele se debate tentando se soltar, então, escorrego meu pé até estar com a sola do coturno
em sua cabeça, esfregando em seu rosto, mantendo-o imóvel no chão, onde é o seu lugar.
— Sabe Wolf, confesso que, agora, consigo compreender a sua apreciação pela tortura —
mexo o fuzil empurrando um pouco mais, vendo até onde ele vai e os gritos se intensificam. —
Esse choro e esses gritos, são quase música para os meus ouvidos — termino de atolar o cano
inteiro e me afasto. Seguro na parte de trás da gola da camiseta do filho da puta, agora
arrombado também e trago-o para trás, deixando-o apoiado apenas pelo fuzil no chão e os dois
joelhos, formando quase um tripé.
Impressionante.
Queria ter mais tempo, queria fazê-lo sofrer muito mais do que isso.
Um movimento ao meu lado chama a minha atenção, viro o rosto e observo Heart ir até
Spencer, sem dizer nenhuma palavra. Ela pega a Glock do coldre, engatilha e anda até o homem
empalado.
— Abra a boca.
Caralho. Que mulher.
O homem nega, então ela atira em seu braço, propositalmente para pegar de raspão.
— Abra a porra da boca — manda de novo e agora ele obedece.
Ela empurra o cano da Glock quase inteiro, fazendo-o engasgar e babar no processo, e sem
hesitar, puxa o gatilho.
Então, ela vira a cabeça olhando Wolf e pergunta:
— É verdade? Você é meu irmão?
— Sim.
Seus olhos encontram os meus.
— Me leve para casa.
“Mas depois de tudo que já passamos
Depois de todo esse tempo, vou voltar pra casa, pra você.”
Gunslinger - Avenged Sevenfold

Quando chegamos no jato, Heart apenas entrou, tomou banho, vestiu uma roupa minha - já
que a sua estava completamente destruída -, se deitou na poltrona ao meu lado e assim
permaneceu a viagem inteira, até pousarmos na Noruega. Ela não disse absolutamente nenhuma
palavra. O tempo todo permaneceu olhando pela janela, como se estivesse observando a
paisagem. Porém, a conheço o suficiente para saber que seus pensamentos estavam muito longe
dali.
Em alguns momentos perguntei se ela gostaria de tomar algum remédio, mas recusou com
um leve aceno de cabeça. Novamente sem dizer uma palavra sequer.
No carro, a única diferença em seu comportamento foi que, logo que entramos, ela me
pediu para colocar uma música e Life Eternal do Ghost veio preenchendo o silêncio o caminho
inteiro até a sede principal, já que, sempre que a música acabava, Heart pedia para repetir.
Nunca me senti tão impotente como agora.
Não sei o que fazer ou como agir.
Eu a vejo apática e não faço ideia de como consertar isso, de como puxá-la de volta para
mim. Para nós.
Estaciono o carro e mais que rápido, Heart abre a porta e desce do veículo, eu apenas a
sigo em silêncio, observando-a de longe, ainda procurando uma forma de me aproximar.
Pedi ao Cloud mais cedo que aguardasse até que ela estivesse disposta a conversar, então,
não encontramos ninguém pelo caminho até a nossa ala, já que Spencer e Wolf estão com Alec
em outro carro.
— O que aconteceu aqui? — Heart questiona quando para em frente a sala, encontrando-a
completamente destruída.
— Você não estava em casa — respondo apenas.
É a realidade.
Possuo uma necessidade no meu sistema: ela.
E quando preciso dela, eu simplesmente… preciso.
Não existe uma explicação plausível, é só necessidade.
Parece simples falando dessa forma, mas não é, não há nada que consiga aplacar esse
sentimento dentro de mim. Porque não existe nada que se compare a ela.
Heart analisa o cômodo de novo, agora, com mais atenção, depois se vira e diz:
— Pode fazer uma coisa por mim? — seu tom de voz é baixo, parecendo incerta.
— Qualquer coisa — respondo sem hesitar.
— Me faça esquecer… — pede — de tudo…
Com apenas dois longos passos acabo com a distância entre nós. Eu seguro seu rosto entre
as minhas mãos e esmago os seus lábios nos meus.
E é incrível.
Surreal.
Inexplicável.
Suas mãos grudam na barra da minha blusa puxando-a para cima, e eu facilito as coisas
me afastando apenas alguns segundos, já que logo ela me puxa de volta.
Então, abre a minha calça… desesperada… se atrapalhando no percurso, seguro em sua
cintura, puxando-a para o meu colo, caminhando com ela em meus braços até que chegamos em
meu quarto, não, meu não. Não mais. Nosso quarto.
Eu a deito na cama com delicadeza, ciente das marcas em suas costas, e ela resmunga um
pouco, então eu me afasto, preocupado, com receio de machucá-la ainda mais.
— Não para — me implora com a visão nublada. — Por favor, não para Rhett. Não seja
carinhoso. Só… — ela fecha os olhos respirando fundo e depois os abre — me pegue de volta
para você. Me tire de lá… me faça esquecer de tudo.
— Você sempre foi minha… — murmuro baixando minha calça junto com a cueca —
Abra as pernas para mim Heart — ordeno.
Alívio é o que descreve o que o seu rosto demonstra no momento que pronuncio as
palavras.
Não me importa o que ela precisa, eu sempre darei.
E, sem esperar mais um segundo, cubro seu corpo com o meu. Ela envolve minha cintura
com as pernas, passando os braços pelo meu pescoço, quase esmagando-o no processo, e, com
um movimento apenas, me enterro dentro dela, arrancando um gemido de prazer de nós dois.
Fecho minha mão ao redor da sua garganta e aproximo meus lábios dos seus.
— Diga meu nome — peço entredentes, sentindo-a cada vez mais molhada ao meu redor.
— Rhett — murmura ofegante.
— Mais alto, PORRA! — empurro com mais força.
Então ela grita enquanto eu a fodo, me afastando e voltando sem interrupções, sem
delicadeza, escutando o barulho que os nossos corpos fazem com o impacto.
— RHETT — finalmente grita.
Capturo o seu mamilo entre meus lábios, sugando com força, sentindo-os duros em minha
língua e logo passo para o outro, repetindo os mesmos movimentos.
Ela grita.
Geme.
Arranha minhas costas.
Se esfrega.
Me aproximo do seu ouvido, chupo sua orelha, beijo seu ombro, mordo seu pescoço
deixando minha marca ali.
— A quem você pertence? — questiono, me colocando de joelhos.
Ergo seu quadril, segurando-a com ambas as mãos, deixando-a completamente aberta para
mim.
— Você, — sussurra de olhos fechados — pertenço a você.
— Então abra os olhos, e veja quem está te fodendo — ordeno e ela obedece, mordendo o
lábio inferior.
Afundo meus dedos em sua cintura, vendo sua pele ao redor da boceta ficar vermelha
devido às minhas investidas.
Então, um grito desesperado escapa da sua garganta enquanto meu pau é esmagado pelo
orgasmo que a atinge. Meto mais uma, duas, e na terceira vez é o suficiente para me derramar
dentro dela. Meu pau pulsa enquanto encho a sua boceta de porra, que com força suga cada gota
conforme seus gemidos aumentam.
Meu corpo cai sobre o dela e afundo meu rosto em seu pescoço quando uma sensação de
conforto preenche meu peito.
O medo e o desespero finalmente se dissipando, sendo tomado por uma onda de alívio e…
felicidade?
Não sei.
Mas, isso tudo é por causa dela. Disso tenho certeza.
Heart Daniels se tornou a minha vida, o ar que respiro.
— Você me buscou — diz após alguns minutos de silêncio, com a voz embargada, e me
afasto para observá-la.
— Não havia outra opção — admito encostando a testa na sua.
— Não? — questiona com os olhos se enchendo de lágrimas.
Sorrio.
Ela não faz ideia.
— A única barreira que me afastaria de você seria a morte, mas, ainda assim, eu
encontraria uma maneira de contornar essa situação — encaixo a palma da mão no seu rosto,
deslizando o polegar pela sua bochecha. — Você é minha desde o primeiro dia que pus meus
olhos em você. Não existe NADA no mundo que me faça ficar longe, Heart.
Ela fecha os olhos, e seu rosto se contorce como se estivesse sentindo dor, então balança a
cabeça de um lado para o outro.
— Querida? — beijo seus lábios.
— Você me odiaria se soubesse… o que eu… f-fiz…
— Então me explique.
— Não posso… — duas lágrimas escorrem, uma de cada lado, e eu passo a língua
capturando ambas. Uma de cada vez.
— Por quê?
— Você ficaria com raiva de mim, e eu tenho medo… porque — seu queixo estremece
como se estivesse se esforçando para não chorar — acho que te amo… — confessa e ri, mas não
um riso feliz, é um riso doloroso — só de imaginar te perder, dói tanto Rhett… tanto, mas sei
que vai me odiar, então, não sei… não sei o que fazer…
Escutar isso saindo da sua boca faz algo dentro de mim crescer em um nível que… não
consigo explicar, mas é algo bom, não… é incrível. Porra. Muito mais que apenas incrível.
Heart me ama…
— Você me ama? — pergunto querendo confirmar o que escutei.
— De tudo o que eu disse, só prestou atenção nisso? Nessa parte?
— Foda-se o resto. Você me ama? É verdade? É o que sente? — insisto.
— Claro que sim — responde como se fosse algo óbvio.
— Então que todo o resto vá para o inferno — declaro. — Olha para mim Heart. Não ligo
pra nada que tenha acontecido lá… — sua testa gruda na minha — Não me conte então. Prometo
que nunca vou te perguntar, e jamais vou te julgar se algum dia se sentir pronta para me dizer,
pode ser daqui a dois meses, um ano, vinte anos… que seja. Tanto faz. E caso não queira, tudo
bem também. Porque eu sei que nada que você diga mudará o que sinto.
— Vinte anos é muito tempo… — murmura fungando com os olhos vermelhos e a ponta
do nariz do mesmo tom.
— Ainda acho pouco — admito roçando meus lábios na sua bochecha.
— E o que você sente?
— Não querendo desmerecer o seu amor por mim — ela revira os olhos e eu sorrio —
mas, posso te garantir que é algo muito mais complexo do que amar. Se eu te disser que te amo,
estaria mentindo, querida. Porque, por mais confuso que pareça, amor parece tão simples e
pequeno perto do que sinto por você.
— Você é obcecado por mim — me acusa.
— Também — confesso. — Entre outras coisas… — beijo seu queixo, depois pressiono
nossos lábios. — Se importa? Que eu seja louco e obcecado por você?
— Admite que é louco agora?
— Por você. Sou completa e irrefutavelmente louco.
— Então não me importo.
Ela sorri, então seu rosto fica triste de novo.
— Me sinto cansada, Rhett, não aguento mais.
— Então vou te reerguer todos os dias para o resto das nossas vidas. Não vou te perder.
— É muito tempo para uma promessa.
— Não para nós. Prometo a você, Heart Daniels, passarei o resto de nossas vidas te
reerguendo sempre que precisar. Porque você faz parte de mim. Perder você, seria o mesmo que
me perder. Como eu disse antes, não posso dizer que eu te amo, e não faço ideia do que é isso,
mas, o que posso te dizer é que, a primeira vez que te vi, foi a primeira vez que senti meu
coração bater fora do ritmo aceitável para mim. Por isso que eu te chamo de Heart, você é meu
coração fora do peito. E o que resta dele aqui — seguro sua mão apoiando-a em meu peito — é
seu e sempre será.
Mais algumas lágrimas escorrem, e eu beijo cada uma delas.
— São de tristeza? — pergunto.
Ela nega balançando a cabeça, então respira fundo, recuperando o fôlego.
— Então, é daí que vem meu nome?
— Sim.
— De onde você tirou o Daniels?
— Do meu…
— Como assim? — um vinco se forma entre suas sobrancelhas.
— Heart Daniels… — mordo seu maxilar — Rhett Daniels.
Ela abre a boca surpresa e não diz nada por alguns segundos, enquanto aproveito e beijo
seu rosto inteiro.
— Nós? V-você…
— Sim. Somos o senhor e a senhora Daniels perante a sociedade. Você é minha esposa.
— Desde quando? — indaga.
— Sempre.
— Você é louco — me acusa, mas, não há vestígios de aborrecimento ou decepção.
— Por você — a corrijo.
Então, com as duas mãos, ela segura meu rosto e me encara.
— Promete para mim que isso vai ser para sempre.
— Prometo a você, seremos para sempre.
Seus olhos se fecham, absorvendo as palavras, então murmura:
— Eu me sinto quebrada…
— Ninguém é inteiro.
Ela abre os olhos.
— Tem razão… ninguém é. Rhett Daniels?
— Sim, Heart Daniels?
— Eu realmente amo você.
Sorrio.
— E eu sou realmente obcecado por você.
“Perdida, mas agora me encontrei
Eu posso ver que já fui cega uma vez
Eu estava tão confusa quanto uma criancinha
Tentei pegar o que podia, com medo de não conseguir encontrar
Todas as respostas que preciso.”
Born To Die - Lana Del Rey

Eu tenho um irmão.
Wolf é meu irmão.
E eu sei que ele sofreu mais coisas do que posso ou tenho coragem de imaginar.
Meu pai, na verdade, não era meu pai e não faço ideia de quem era minha mãe.
Eles realmente foram apaixonados?
Aquela história de amor, foi real?
Alguma coisa na minha vida foi?
Não sei se realmente quero saber, ficar na ignorância não me parece ser uma opção tão
ruim assim agora.
Eu me olho no espelho, e vejo marcas de queimaduras pelo corpo, e é impressionante que
eu não sinta dor em nenhuma delas.
Nojo sim.
Culpa também.
Uma sempre acompanha a outra.
Mesmo Rhett me garantindo que jamais me julgaria, é um pouco difícil de acreditar que
ele manteria sua promessa quando ele não sabe realmente o que aconteceu lá.
O que eu fiz… com… Alec.
Alec.
Eu não o vi desde então.
Quando acabou… quando Vladimir julgou que já tinha visto o bastante, o levou da sala
me deixando sozinha e eu não o olhei, não consegui, não tive coragem de encará-lo… depois de
tudo, e me arrependo tanto.
Descobri depois pelo Spencer que ele está bem - o que foi um alívio - mas que… ele não
queria ver e falar com ninguém e… acho que ele me odeia, eu não o julgo.
Eu também me odeio.
“Até onde você iria para salvar alguém, pequena Lauren?”
Fecho os olhos tentando afastar as lembranças.
“Até onde você iria para salvar alguém, pequena Lauren?”
Não. Não. Não.
— Heart? — ouço alguém me chamar, mas não consigo responder nem abrir os olhos,
como se eu ainda estivesse presa naquela sala.
Balanço a cabeça de um lado para o outro, desesperada, sentindo minha garganta se fechar
pouco a pouco e quanto mais eu tento puxar o ar, mas falta ele faz.
Quero respirar e não consigo…
Quero gritar e nada sai…
“Até onde você iria para salvar alguém, pequena Lauren?”
De novo não.
Por favor.
De novo não.
— HEART? — a voz insiste, mas está tão longe. Tão inalcançável. Quero chegar até ela,
quero me agarrar, mas não sou capaz.
“Perdão coisinha”...
Seus lábios estão em mim de novo.
Não. Não. Não.
Não consigo respirar.
Não consigo respirar.
“Coloque-a de joelhos”...
— NÃO ME TOQUE — grito ao sentir uma mão em meu rosto.
“Abra a boca pequena Lauren, queremos ver o que sabe fazer”...
— Por favor, não me toque — tento me afastar, mas é um esforço inútil e logo os seus
braços estão em volta do meu corpo contra a minha vontade.
Não quero.
Não.
De novo não.
— N-ão me toque — eu imploro, então o chão desaparece dos meus pés, estou em seu
colo agora e um soluço escapa da minha garganta na mesma intensidade que uma dor esmaga
meu peito, me sufocando de dentro pra fora.
Ouço o barulho da água escorrendo cada vez mais perto, e em seguida sou imersa nela, e
está tão gelada que me forço a puxar o ar e finalmente consigo respirar.
— Acabou querida — escuto uma voz tão carinhosa, tão calma…
Eu quero ir pra ela.
Mas não consigo.
Ainda não.
— Abra os olhos para mim… — pede e eu nego — estou aqui… — lábios pressionam
minha testa, seus dedos afastam meus cabelos — sou eu… sou só eu…
Então quebro me agarrando a ele, e choro. Por mim. Por Alec. Por Wolf…
Meu corpo estremece a cada soluço que deixo escapar e quanto mais lágrimas escorrem,
mais forte ele me prende em seus braços.
— Sinto muito Rhett, sinto tanto, me perdoa. Eu não queria, eu juro.
Agora, mais consciente, sei que estou sentada em seu colo, minha bochecha está encostada
em seu peito sobre sua blusa molhada, os seus braços continuam em volta do meu corpo, me
embalando em um ritmo lento, como se eu fosse uma criança pequena. E eu me sinto assim.
Pequena.
— Já passou, acabou querida.
Balanço a cabeça.
— Abra os olhos, olha para mim…
— Não posso — murmuro.
— Sou eu… me deixa ver os seus olhos…
Então eu obedeço, ergo o rosto e encontro duas esferas verdes.
Ele abre um sorriso.
— Viu? Sou eu — pressiona os lábios nos meus com tanto carinho e eu fecho os olhos
aproveitando.
Me deito de novo em seu peito, me concentrando no barulho do seu coração, e no
movimento dos seus dedos em minha pele, até que, tudo fica escuro e calmo, finalmente calmo.
Pareceu pouco tempo, mas, quando abro os olhos novamente, já estou deitada na cama, vestindo
roupas secas e com um cobertor por cima do meu corpo, enquanto ele está ao meu lado me
encarando com intensidade, um vinco no meio da testa demonstrando sua preocupação.
— Oi — murmuro me sentindo envergonhada.
Seus dedos traçam meu rosto enquanto ele me observa com cuidado.
— Não se culpe e nunca mais me peça perdão. Por nada. Entendeu?
Abro a boca pronta para argumentar, mas, ele arqueia uma sobrancelha me desafiando a
dizer algo.
— Tá bom — sussurro.
— Bom.
Seus lábios pressionam meu ombro em um beijo. Solto um suspiro pesado e apoio minha
cabeça em seu peito, implorando pela segurança que só encontro quando estou em seus braços e
como se ele adivinhasse para onde meus pensamentos estão indo, ele diz:
— Acabou…
Sim.
Agora acabou.
— Até quando? — deixo escapar minha insegurança.
— Olha pra mim, — pede e ergo o rosto encarando-o — falhei uma vez com você e
prometo que não vai se repetir. Vou te manter em segurança.
— Ele sabia… que vocês estavam indo, ele deixou que eu fosse com vocês, ele… e-le…
— respiro fundo — Vladimir disse que da próxima vez que me encontrasse, nossa família estaria
reunida de novo. Acho que se referia a Wolf e eu. E se ele fizer algo com você? — só de pensar
em perdê-lo para sempre, uma dor insuportável atravessa meu peito e instantaneamente meus
olhos se enchem d’água e diante do meu sofrimento o idiota sorri.
Rhett simplesmente abre um sorriso imenso, enquanto estou quase chorando apenas com a
hipótese de perdê-lo, o imbecil sorri…
— Por que você está sorrindo? — questiono.
— Você tem medo de me perder, isso me agrada.
Balanço a cabeça de um lado para o outro.
— Sinceramente, às vezes eu não compreendo como eu me apaixonei por você. Ainda é
um mistério para mim.
— Sou muito bonito.
Ah não.
Então, estou rindo, rindo entre lágrimas e ele sorri junto.
— Mais ou menos, bem mais ou menos Rhett — minto.
— Você está rindo, — diz me abraçando — melhorou?
— Sim. — confesso.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas um perdido no outro, enquanto sinto o
seu cheiro, que tem um efeito muito parecido com os calmantes que eu costumava tomar.
— Antes, eu não fazia ideia de quem você era Heart, na verdade, sabia o mesmo que você.
Cloud descobriu sobre o programa de proteção a testemunhas um tempo depois, mas era só isso
que sabíamos. Nada além. Quando eu soube da verdade, de quem você era filha… — ele faz uma
pausa e a força dos seus braços ao meu redor aumenta — era tarde demais — completa. — Mas
agora que sei, estou pronto, e antes que qualquer um chegue a você, ele estará morto.

— Quer beber alguma coisa? — Wolf questiona caminhando pela sua sala, indo até um
frigobar de onde tira uma cerveja, então ele me olha, aguardando minha resposta e rapidamente
balanço a cabeça negando.
— Sua casa é bem legal — elogio em uma tentativa bem ridícula de deixar o clima um
pouco menos constrangedor.
— Obrigado — diz após beber um gole bastante longo da cerveja e acho que não sou a
única desconfortável com a situação.
— Isso é muito estranho — admito.
— Pra caralho — concorda e depois ri. — A última vez que eu te vi, você jogou uma
pedra em mim porque não queria sair do parque.
Sorrio.
— E eu que pensava ser uma criança tranquila.
— Não. Definitivamente você não era.
Ficamos em silêncio por um tempo, e me pergunto o que Wolf tinha em mente quando
pediu para Rhett me avisar que gostaria de conversar. Não que eu não quisesse, só achei que ele
fosse manter distância, como estava fazendo desde que cheguei.
— O que aconteceu? — pergunto me sentando no braço do sofá.
Ele olha para cima e solta um suspiro pesado, como se lembrar fosse difícil e me sinto mal
por estar forçando algo que o machuque.
— Se não quiser falar sobre, tudo bem — intervenho.
— Nós morávamos na Rússia, até que meu avô ordenou que meu pai fosse para Nova
York resolver alguns problemas. Alguns meses depois, ele conheceu a sua mãe em um dos
negócios da família.
— Quando fala em negócios, se refere?
— Uma prostituta — explica.
— Certo — murmuro.
— Era bem jovem na época e eu era muito pequeno quando ela veio morar em nossa casa.
Acho que… eu devia ter uns quatro ou cinco anos — Wolf bebe mais um gole de cerveja.
— Quantos anos você acha que ela tinha? — pergunto.
— No máximo dezenove — responde, e diante do meu silêncio, continua. — Lembro que
fiquei feliz por ter alguém pra brincar, — um sorriso surge no seu rosto — ela era uma pessoa
bondosa Heart, embora não sentisse o mesmo pelo meu pai e estivesse ali por obrigação, amava
você e se empenhava em me proteger o máximo que podia.
— Te proteger do quê? — pergunto e somente depois que as palavras saem da minha boca
me dou conta de que passei dos limites e tento contornar a situação — Me desculpa Wolf…
— Tudo bem — interrompe. — Meu pai tinha um certo apreço por surras sem motivos e
Vladimir, bom, você já o conheceu.
Instintivamente meus olhos vão até o meu braço, onde as queimaduras estão à mostra, um
pouco melhores, mas ainda ali, como um lembrete constante. Fecho os olhos, e é impossível não
imaginar uma garota de dezenove anos e uma criança pequena numa casa com dois monstros.
— Um pouco depois do seu aniversário de três anos, ela ficou diferente, distante,
pensativa… Lembro dela conversando o tempo todo com o novo segurança. Até que um dia, ela
disse que você tinha que ir ao médico, eu estranhei porque você estava bem aparentemente,
então, algumas horas depois veio a notícia. De que foram emboscados e vocês duas haviam
morrido.
— Isso é tão louco… Como ela… como conseguiu?
— Aí que vem a parte interessante, quando descobri sobre você, eu vi a foto do seu pai, o
policial que esteve ao seu lado esses anos todos, é o mesmo homem que fazia a segurança da
nossa casa. Um pouco mais novo, é claro, mas a mesma pessoa.
— Meu pai?
— O próprio. Meu palpite é: seu pai estava infiltrado e se apaixonou pela sua mãe e aí
tirou ela e você daquele inferno.
E te deixou.
Qualquer empatia que eu sentia por ela no início, se foi no momento em que me dou conta
de que ela deixou Wolf para trás, com dois monstros. Uma criança pequena. Indefesa.
Como meu pai pôde?
O homem que eu conhecia jamais faria isso.
Mas ele fez.
— Sinto muito — digo.
— Pelo que?
— Ela te deixou.
— Eu não era responsabilidade dela.
— Qualquer um se torna responsável por uma criança quando ela está em perigo.
— Só existem duas pessoas culpadas nessa história.
— Vladimir e…? Como é o nome dele?
Me recuso a chamá-lo de pai.
— Igor.
— Onde ele está agora?
— Voltou para Rússia e assumiu o poder logo que meu avô faleceu.
Seus olhos vão até meu braço observando as queimaduras.
— Rhett está cuidando disso? — pergunta em um tom muito autoritário.
— Sim senhor.
Ele estreita os olhos e eu sorrio.
— Ele te trata bem? Te forçou alguma coisa?
— Rhett é um bom garoto — brinco e logo ele ri.
— Você está bem? — questiona.
— Não.
— Você nunca esquecerá o que aconteceu, não completamente pelo menos. Mas… o que
se pode fazer, é diminuir o poder que isso tem sobre você. Se tornando mais forte, ficando
calejada. Com o tempo os sonhos se tornam uma pequena parte sua, assim como as lembranças.
É isso que acontece. Você precisa aprender a conviver com elas. É o jeito mais fácil.
— De alguma forma, sinto que fui responsável pelo que aconteceu — ele me olha.
— Então você está deixando ele vencer. É exatamente isso que ele quer, que a culpa te
corroa de dentro para fora, até não sobrar mais nada. Vai deixá-lo ganhar?
Nego.
— Siga em frente. É difícil? É. Mas não é impossível. Você precisa tentar com vontade, e
parar de se culpar. Heart, existe um culpado apenas, e eu juro a você, vou fazê-lo pagar.
— Preciso voltar, antes que o Rhett destrua o resto da casa.
— Tem certeza que é isso que você deseja? Ficar com ele? Porque se você me disser que
quer ir embora. Dou um jeito. Uma palavra e estará livre em qualquer lugar com dinheiro
suficiente para viver o resto da sua vida plenamente.
— Eu o amo — confesso e um vinco se forma entre as suas sobrancelhas. — Rhett… não
me pergunte como, ou quando, só sei que eu o amo. E talvez isso me torne ainda mais louca do
que ele, mas, não quero ir embora. Quero ficar com ele. E com você também.
Wolf se aproxima, caminhando a passos lentos, até que para em minha frente.
— Se ele te irritar, me avise imediatamente, posso dar um jeito nele sempre que precisar.
É impossível não sorrir.
— Agradeço a sua preocupação, mas, eu sei lidar com ele — respondo.
— Tenho certeza que sim. Afinal, é minha irmã.
"Oh, quando você estiver totalmente sozinha
Eu vou encontrar você
Quando você estiver se sentindo triste
Eu vou estar lá também."
Apocalypse - Cigarettes After Sex

Short deveria ser proibido nessa casa.


Não.
Deveria ser proibido Heart usar short para treinar. Porque, porra, gosto pra caralho quando
ela usa dentro da nossa ala, principalmente quando ele é bem curto, e eu só preciso colocar para
o lado…
Se Wolf não fosse seu irmão, jamais deixaria que ele chegasse tão perto.
Sorte dele, e azar o meu.
Tenho um tesão fora do normal quando ela usa o cabelo desse jeito, segundo ela, se
chama: rabo de cavalo.
— Como é ter um cunhado? — Cloud pergunta e antes que ele tenha tempo de se
defender, soco seu estômago, e ele cai no chão com as mãos em volta da barriga.
O combinado era: eu treinaria Cloud, como sempre acontece, e Wolf ajudaria Heart. Claro
que não foi minha decisão. Mas, reparando nela agora, faz sentido a escolha, eu jamais
conseguiria me concentrar em algo além dela naquela porra de roupa.
Quem quero enganar?
Não consigo me concentrar no meu próprio treino.
Inferno de mulher gostosa.
— Como é? Não ouvi… pode repetir? — pergunto ao Cloud.
Ele geme de dor, se virando de um lado para o outro, chamando atenção dela, que corre
em sua direção.
— Vai sobreviver — aviso antes que ela diga algo.
Heart revira os olhos e se agacha no chão, e a porra do short sobe mais um pouco.
Caralho.
Meus olhos captam o exato momento que uma gota de suor escorre entre os seus seios,
fazendo o exato caminho que minha língua gostaria de trilhar.
Nunca tive inveja de nada, até hoje.
E agora, possuo inveja da porra do suor da minha mulher.
Meu pau lateja na cueca, e o volume do short começa a ficar visível.
Porra.
Não está nos meus planos deixar Wolf e Cloud presenciarem uma ereção no meio de um
treino, então, me viro deixando-os para trás e sigo para o banheiro. Entro debaixo de uma ducha
e jogo uma água no corpo, penso em bater uma e aliviar a tensão, mas, isso seria injusto com
Heart, afinal, tudo que é meu, é dela.
Isso inclui toda porra que sai do meu corpo.
Assim que saio pela porta da cabine da ducha, vejo-a parada me observando com os olhos
semicerrados. Então ela ergue o queixo.
— O que estava fazendo ali?
Sorrio.
Me aproximo lentamente, como um predador.
Seguro seu queixo, beijo seus lábios, empurrando minha língua dentro da sua boca.
Deslizando por todos os cantos que encontro, então, giro seu corpo, deixando-a de costas para
mim.
— Oi querida — digo em seu ouvido sentindo os pelos do seu braço se arrepiarem, ela
fecha os olhos e esfrega a bunda em mim feito a cachorra que é.
Então eu a empurro de joelhos no chão.
— Já que você causou isso, considero bem justo que você dê um jeito…
Seus olhos brilham cheios de desejo.
Heart lambe o lábio inferior e como a boa filha da puta que é, abre a boca e põe a língua
para fora.
Tão gostosa.
— Caralho — passo a cabeça melada pela sua bochecha, depois traço os seus lábios e
finalmente empurro na sua boca. — Que boca gostosa — reviro os olhos gemendo com o calor.
Seguro seu rosto entre as mãos e fodo sua boca com força, empurrando meu pau até o
fundo, sentindo a sua garganta na ponta. Seus olhos ficam marejados, e uma ou outra lágrima
escorre. Ela engasga, mas não para e nem pede para que eu diminua, pelo contrário, seus olhos
me dizem que quer mais.
Ela sempre quer mais.
Não demoro muito e gozo com força, liberando minha porra em sua garganta, um pouco
vaza pelo canto da boca indo direto para o queixo, eu me afasto e com o polegar, capturo o que
escapou empurrando de volta para seus lábios.
Ela chupa com gosto, da mesma forma que faz com a porra do iogurte que ela gosta.
— Boa garota — deixo-a de pé e beijo seus lábios sentindo o meu gosto nela, minha porra
continua impregnada na sua língua.
Suas mãos trilham o meu corpo, meus braços, pescoço, costas, suas unhas arranhando
minha pele, me arrancando gemidos.
Heart arqueia as costas, esfregando o peito no meu, rapidamente tiro seu top, liberando
seus seios. Caio de boca, chupando o bico rígido, tão duro, tão gostoso em minha língua. Fecho
minhas mãos ao redor, enfiando meu rosto no vão, depois passo a língua por toda a região,
lambendo cada pedacinho.
Em um movimento, eu a giro, deixando-a de costas para mim, pressionando sua bochecha
na parede. Abaixo seu short deixando sua calcinha no lugar. Descobri recentemente que gosto da
visão da sua calcinha minúscula para o lado enquanto meu pau se enterra na sua boceta.
Desfiro um tapa estalado na sua bunda, e logo a marca da mão surge.
— Isso! — geme rebolando.
— Quer mais? — pergunto esfregando meu pau na sua boceta, melando toda a cabeça com
a sua umidade.
— Sim, mais forte, me deixa toda vermelha… — pede, e sem demora, desfiro mais alguns
tapas, e logo sua bunda está completamente vermelha, uma marca por cima da outra.
Caralho. A visão perfeita.
— Tô me sentindo bonzinho hoje… — me ajoelho ficando na altura da sua bunda,
empurro dois dedos na sua boceta, encontrando-a mais que pronta. Fico louco em como ela fica
encharcada sempre que chupa meu pau. Passo a língua da sua boceta até o seu cuzinho que pisca
de excitação — quer ser fodida onde? — questiono.
Heart olha por cima do ombro, um sorriso safado surge, depois ela morde o lábio inferior.
— Poxa… — faz uma cara de santa, que nós dois sabemos que não é — tenho que
escolher? Não pode foder os dois?
Heart é meu mundo, e eu giro em torno dela.
— Filha da puta — xingo mordendo sua bunda, arrancando um grito que preenche o
ambiente inteiro.
Música para os meus ouvidos e um estímulo para o meu pau.
Abro sua bunda me dando uma visão perfeita da sua boceta, vermelha, brilhando de tesão,
os lábios todos melados, lambo cada pedacinho.
Pressiono a língua no seu clitóris, me demorando um pouco mais nesse ponto, circulando,
devorando, deslizando, saboreando o seu gosto, depois empurro em sua entrada, enquanto
estimulo seu cu com meu indicador, ela grita, rebola…
Me levanto, com a boca toda molhada, e passo a língua ao redor.
Porra de mulher gostosa.
Enrolo minha mão em seu cabelo e seguro com força, ela geme e esse reconheço, sei que é
de dor.
Esfrego a cabeça do meu pau na sua entrada, melando-o todo, e depois empurro, com um
movimento me enterro completamente na sua boceta.
Sem dar chance para ela se acostumar, maceto sua boceta sem parar, o barulho dos nossos
corpos se chocando preenche o ambiente, a cada estocada minha, ela se impulsiona para trás, me
encontrando no meio do caminho.
— Tão molhada… — gemo — porra Heart, que boceta gostosa.
Ela faz algum caralho de movimento com a boceta que meu pau é sugado e quase gozo só
com o movimento.
— Porra, faz de novo — peço segurando com força sua cintura.
— Assim? — pergunta melosa, apertando com mais força agora.
Jogo a cabeça para trás gemendo.
— Quero gozar Rhett — geme.
Aumento os movimentos, levo minha mão empurrando por dentro da calcinha,
pressionando seu clitóris, sentindo-o inchado nos meus dedos, e de tão molhada que ela está,
deslizam com facilidade em movimentos circulares.
Levo a outra mão no seu seio pressionando o bico com força.
— Goza safada, deixa meu pau todo molhado, pronto para entrar nesse rabo gostoso —
rosno em seu ouvido já sentindo a pressão nas minhas bolas, um aviso que tô quase esporrando
também.
E ela faz de novo, sua boceta me suga e sem demorar eu gozo.
Gemendo alto pra caralho, pouco me fodendo com quem ouvirá. Heart gosta, e eu dou
exatamente o que ela quer. E logo sinto meu pau encharcado, e sua boceta contrai enquanto ela
rebola e geme alto, no mesmo nível que eu.
Giro seu corpo e beijo seus lábios, depois pego-a no colo e vou até um banco que temos no
vestiário.
— Vira de costas para mim — peço e ela ri.
— Por quê? — pergunta.
Então, observo-a parada em minha frente, o seu corpo lindo, seu rosto, os cabelos, porra,
seus seios…
— Mudança de planos, vem aqui com esses peitos, e coloca na minha boca.
Rápido, ela senta no meu colo, e eu os chupo.
— Tão gostoso… — geme esfregando os lábios na minha glande, suas mãos vão até meu
cabelo afundando os dedos nos fios, até que sinto suas unhas cravando no meu couro cabeludo
— assim… — geme empurrando o seio na minha boca, que sugo com força — morde… — pede
manhosa.
— O que você quiser — respondo trincando os dentes, observando ela revirar os olhos. —
É assim que a minha vagabunda gosta? — questiono.
Ela assente, enquanto rebola no meu pau, duro para caralho, e acho que eu poderia gozar
apenas assim, com seus peitos em minha boca e sua boceta roçando.
— Agora vira de costas, e senta no meu pau — ordeno, e sem demora ela se vira, mas,
quando ela vai encaixar na sua boceta, eu seguro sua cintura, interrompendo o movimento.
— Não querida, quero seu rabo.
Empurro os dedos na sua boceta, trazendo a porra que ainda escorria ali para o seu cu,
espalhando por toda região, deixando-o lubrificado.
— Tá pronto, é só sentar — aviso.
— Eu devo agradecer? — pergunta, abusada.
— Não, só deve sentar.
Ela geme em resposta, eu encaixo a cabeça na sua abertura, e já o sinto apertado pra
caralho.
Devagar, Heart desce, e porra… é a visão perfeita.
Seu corpo…
Sua cintura…
Sua bunda…
Totalmente minha.
Enquanto ela sobe e desce no meu pau, eu levo uma mão na sua boceta e a outra no seu
seio, estimulando todas as partes do seu corpo enquanto tenho a visão do meu pau enterrado,
entrando e saindo no seu rabo.
— Quero mais forte — pede.
Bato na sua bunda.
— Fica de quatro pra mim — ordeno.
Ela levanta se afastando e rapidamente espalma as mãos na parede, envolvo minha mão
em seu cabelo segurando-o.
— O que você é minha? — questiono chupando o lóbulo da sua orelha.
— Sua puta — sussurra.
— Isso… — esfrego meu membro na sua bunda — E o que uma boa puta faz?
— Ela geme.
— Como? — rosno entredentes no limite.
— Bem alto.
Sorrio, chupo seu pescoço, lambo seu ombro…
— Isso gostosa, então geme pra mim, geme como a boa puta que você é.
Enterro meu pau no seu rabo, dessa vez sem lentidão, sem delicadeza.
— Foi isso que pediu? — ofego.
— Sim — grita.
Levo uma mão até o seu rosto, segurando seu queixo, empurro o meu polegar entre seus
lábios.
— Chupa sua vagabunda.
Ela obedece, chupando como se fosse o meu pau ali, circulando com a língua.
— Caralho que cu gostoso… — rosno metendo sem parar — se toca pra mim, enfia os
dedos nessa boceta, como se fosse eu.
Vejo sua mão escorregando até o meio das suas pernas, e não demora para que ela comece
a gemer cada vez mais alto, os movimentos ficando descontrolados, demonstrando que está tão
perto quanto eu.
— Me enche de porra, Rhett, me deixa escorrendo, — diz em tom de súplica — goza
comigo. Por favor.
E é o meu fim ou o começo…
Ela sabe como me levar, porque, no fim, somos iguais, ela me completa, e eu a completo.
Encho-a de porra, e é como se eu nem tivesse acabado de gozar, é isso que ela faz comigo,
me deixa louco, insano, fora de controle.
Mas é por ela.
Somente por ela.
E sempre, por ela.
Heart Daniels.
A minha Heart.
“Mas estou te segurando
Mais perto do que nunca
Porque você é meu paraíso.”
A Drop In The Ocean - Ron Pope

Um mês depois
Me aproximo do stand de tiros, e de longe consigo ter a visão do Spencer de costas
enquanto limpa uma pistola, sentindo minha presença, ele olha por cima do ombro. Seu
semblante é sério e ultimamente não tenho o visto sorrindo, nem fazendo piadas, na verdade, a
casa se tornou mais silenciosa, e sei qual motivo, e antes que eu pare ao seu lado - assim como
em todos os outros dias - ele declara:
— A resposta ainda é a mesma — respiro fundo sentindo um bolo se formar em minha
garganta, então, me recosto em um pilar ao seu lado tentando conter as lágrimas que se inundam
meus olhos. — Heart… entendo que você sinta falta dele, acredite, eu também, o tempo todo.
Mas ele pediu um tempo e nós precisamos respeitar.
Sei disso.
Sei também que é egoísmo da minha parte tentar forçar uma aproximação, porém, não
consigo apenas deixar de lado, não quando penso nele todos os dias, e me culpo… como eu me
culpo. Por não ter falado com ele. Por não ter dito que não era sua culpa. Por não ter olhado nos
seus olhos antes de o levarem.
— E se ele não voltar? E se… — balanço a cabeça de um lado para o outro não querendo
pensar dessa forma.
Não.
Ele não pode fazer isso.
— Alec vai voltar — me garante. — Conheço ele.
— Precisamos dar um tempo — repito as mesmas palavras que Spencer vem me dizendo
desde que Alec foi embora há dois meses e meio.
Abro a boca, mas fecho, desistindo de dizer alguma coisa.
— Ele não te odeia — fala — e ele não te culpa de nada — completa, mas eu discordo.
— Então por que ele não está aqui? Por que ele não volta?
Spencer também não sabe.
— Ao menos ele está bem? — questiono.
— Pelo pouco que nos falamos, sim.
No fundo, sei que Alec não está bem. Porque eu também não estou, não completamente.
Agora, compreendo o que Wolf disse, e ele está certo, nunca esquecerei totalmente, tem
dias que é mais fácil enquanto outros são mais difíceis, preciso aprender a lidar com os meus
fantasmas, é o que tenho feito.
Às vezes eu ainda acordo no meio da madrugada. Completamente suada, gritando com
toda a força, implorando e lutando contra tudo o que está ao meu redor, inclusive com Rhett,
que, pacientemente, liga o abajur ao lado da cama e, com a voz baixa e rouca, repete as mesmas
palavras:
Sou eu.
Estou aqui.
Abra os olhos.
Olha pra mim.
Exatamente como aconteceu hoje de madrugada.
Não demora muito para eu recuperar a lucidez e me dar conta de que foi mais um dos
meus pesadelos. Então repito mentalmente: Não estou no Fosso. Vladimir não está ao meu lado e
Alec não está em perigo.
No início me sentia envergonhada, e quase sempre como um estorvo, afinal, ele sempre é
o alvo dos meus ataques, suas canelas e saco que o digam, são geralmente as primeiras a serem
atingidas pelos meus chutes e ele nunca me tratou mal por isso, ou foi grosseiro.
Rhett não deixou que esse sentimento me consumisse, não… porque sempre que acontece,
ele me abraça forte até que passe. Somente depois que ele tem certeza de que estou melhor, se
levanta, vai até a cozinha, pega um pacote de salgadinhos pra ele, um iogurte pra mim e duas
garrafas de água. Quando retorna, permanece ao meu lado em silêncio, até que eu esteja pronta
para conversar de novo.
— Agora, pare de se afundar em autodepreciação, e me ajuda com essas pistolas, elas não
vão se limpar sozinhas — Spencer diz empurrando meu ombro com o seu.
Reviro os olhos e acabo abrindo um sorriso, então, pego uma pistola e faço os mesmos
passos que ele me ensinou.
Duas horas depois, tudo limpo e organizado, volto para a nossa ala.
— Rhett? — eu o chamo, e diante do silêncio, imagino que esteja com Wolf e Cloud na
sala de controles.
Ele não saiu mais em missão nenhuma desde que voltei, e eu agradeço por isso, não acho
que consigo ficar sozinha ainda.
Tomo um banho, visto uma roupa confortável e decido deitar no sofá enquanto assisto
televisão até que ele chegue.

— Hum — gemo sentindo lábios no meu rosto, depois uma barba raspando em meu
pescoço, e abro um sorriso quando o seu cheiro me invade, ainda de olhos fechados, passo os
braços em volta dele, puxando-o para mim.
— Já te disse o quanto você fica linda dormindo? — murmura sugando meu lábio inferior.
— Você usou a palavra com “L”…
— Usei? — pergunta cheio de sarcasmo.
Abusado.
— Usou, sim, seu cínico, — o acuso, abro os olhos e o encontro sorrindo — e não pode
mais retirar.
— Eu não faria isso — fala.
Seguro seu rosto entre minhas mãos e o puxo mais uma vez, capturando seus lábios nos
meus, abro minhas pernas e rápido ele se acomoda no meio, vindo por cima de mim.
Nunca é o suficiente. Pode passar dias, semanas, meses e é sempre a mesma reação
quando eu o toco.
Gemo quando sinto seu membro duro na minha entrada, ele ri entre o beijo sabendo o que
quero, e após me dar um selinho demorado, se afasta.
— Tenho algo pra você. Sente-se.
Curiosa, obedeço.
Ele puxa uma maleta prata de metal apoiando-a em seu colo, abrindo-a logo em seguida.
— Uau — falo de boca aberta. — É linda — passo os dedos por cima, sentindo o metal
gelado, ergo os olhos. — Posso? — pergunto.
— Claro. É sua.
A pistola é pequena, preta e encaixa perfeitamente na minha mão.
— Perfeita — digo encantada. — Tão leve — confesso sentindo o peso, então, puxo o
pente, depois encaixo de volta e seguro como se fosse atirar, testando os movimentos.
— Quero que você use-a o tempo todo. Deixe ela sempre armada e com você. Wolf está
providenciando um coldre.
— Algum problema? — pergunto preocupada.
— Não, nenhum — responde levando os dedos em meu queixo, trilhando até meu lábio.
— Só quero que você esteja sempre pronta para se defender.
— Atiro primeiro, e você pergunta depois — repito o que ele sempre diz quando estamos
treinando juntos, o que se tornou um hábito.
— Essa é a minha garota — me beija e de novo, quando está começando a esquentar o
clima, ele se afasta.
— Não acabei ainda — informa rindo da minha irritação bastante visível.
— Tem que ser algo muito bom Rhett, porque eu tenho uma arma e não tenho medo de
usá-la — aviso estreitando os olhos em uma ameaça.
Ele ri, mas não diz nada, tirando algo do bolso.
Demoro alguns minutos para assimilar do que se trata, uma parte minha quer acreditar no
que estou pensando, mas a outra, a parte racional, diz para não criar expectativas quando ele
pousa uma caixinha pequena de veludo em minha frente.
Eu o olho.
Ah meu Deus!
Então, ele a abre, e dentro há duas alianças.
Engulo em seco sentindo meu coração bater num ritmo assustador de tão acelerado, e
tenho certeza, que se eu tivesse predisposição a alguma doença cardíaca, teria um ataque agora
mesmo.
Não consigo dizer nada.
Rhett retira de dentro da caixa a aliança um pouco mais fina que a outra, onde um
diamante solitário está cravado em cima, ele pega minha mão, que só agora noto que está
tremendo em um nível fora do aceitável e lentamente empurra no meu dedo anelar enquanto diz:
— Eu, Rhett Daniels, aceito você, Heart Daniels, como minha legítima esposa e prometo
ser louco por você e te respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, por todos os dias da minha vida, mesmo que a morte nos separe.
Pisco várias e várias vezes, tentando enxergar com mais clareza já que as lágrimas estão
nublando tudo. Ele as limpa com o polegar.
— Se você não gosta que eu chore, porque me faz chorar? — falo fungando sentindo uma
felicidade absurda.
— Sua vez, querida — diz me entregando a caixinha.
Respiro fundo, passando a mão pelo rosto.
Seguro sua mão e repito os seus movimentos.
— Eu, Heart Daniels, — sorrio feito uma boba em meio as lágrimas que não param nem
um segundo de cair — aceito você, Rhett Daniels, como meu legítimo esposo e prometo te
deixar louco sempre — ele ri jogando a cabeça para trás no processo, e eu quero beijá-lo agora,
mas continuo —, te respeitar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, por todos os dias da minha vida, e não se atreva a morrer.
Meu queixo estremece.
— Acho que eu já posso beijar a minha esposa então — declara e agora, sim, ele me beija,
sem reservas, sem cuidado.
Rhett me toma, porque sou dele, e ele é meu.
Suas mãos grandes percorrem por cada parte do meu corpo, estão pela minha cintura,
braços, costas, pescoço… tudo.
— Eu te amo tanto, mas tanto — digo subindo no seu colo, esfregando minha bochecha na
sua até que um barulho no corredor chama nossa atenção, ambos viramos e encontramos Cloud
com as mãos apoiadas no joelho, recuperando o fôlego.
— O que foi? — pergunto sentindo meu sangue antes fervendo, agora congelando.
— Alec.
— O que ele tem?
— Alec teve uma overdose.
Sempre tenho dificuldade nos agradecimentos. Porque, é um pouco difícil colocar em
palavras o quanto você é grata por ter alguém na sua vida, mas, farei o meu melhor.
Já deixo aqui claro, que, esse livro não teria sido lançado sem duas pessoas mais que
especiais ao meu lado. Que me apoiaram e foram meu suporte em cada capítulo, em cada vez que
pensei em desistir, ou tentei me sabotar. Obrigada Daniela Brasil (@leiturasdedanny) e Tais
Oliveira (@taislendooque), vocês foram mais que incríveis e eu não tenho palavras que sejam o
suficiente para agradecer. Amo vocês ♥
Um agradecimento especial também para uma dupla do caralho que me ajudou demais.
Aguentou meus surtos, e me apoiou do início ao fim, minha design, Nath (@ nathcriadesign)
responsável por todas as obras de artes do meu IG e desse livro todinho e a autora Angel
(@autoraangel), dona dos melhores vídeos possíveis e de uma criatividade incrível que já me
arrumou as fotos de todos os próximos livros hahaha Obrigada ♥
As minhas betas, todas putinhas, mas completamente minhas, Leticia (@autora_lilithh),
Maya (@autoramayaa), Bea (@livro_squeeuamei) e Amanda (@amandaoliveiraescritora) vocês
foram essenciais em cada parte desse livro. Obrigada meus amores ♥
E agora, para as minhas leitoras…
Sério. Vocês são sensacionais demais, sabiam? Obrigada por chegarem até aqui comigo.
Espero que tenham gostado da aventura e que tenham se apaixonado pelo Rhett assim como eu.
Não esqueçam de avaliar o livro e ir surtar na minha DM do Instagram. Eu amo vocês ♥
Não se esqueça de avaliar com as estrelinhas, pois é muito importante para que eu continue
trazendo mais histórias para vocês. Se puder, também escreva uma avaliação
pequenininha, não vai demorar nem dois minutos e vai fazer toda a diferença para o meu
trabalho.

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[1]
Trecho da música The Devil In I - Slipknot
[2]
Fiorde na Noruega

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