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que o seu coração bata por mim. Quero que você cante para mim
que o amor já me ensinou. Ligue e eu vou sair correndo. Todo sem fôlego
agora. Você tem esse poder sobre mim. Tudo que eu venho querendo reside
Miguel
Houve poucos momentos em minha vida que fiquei intrigado com
algo ou alguém. Nunca fui o tipo de pessoa que deixa a curiosidade ou a
dúvida me corroer. Se uma pergunta surgisse em minha mente, por menor
ou boba que fosse, eu era direto, ia até quem pudesse me dar a resposta que
precisava.
Odeio rodeios, e isso se aplica em todas as áreas da minha vida.
Odeio sentir que estou perdendo tempo, principalmente se não chegarei a
lugar nenhum.
Levei a taça de vinho até à boca, sorvendo a bebida em pequenos
goles, sem tirar meus olhos da mulher que conheci há algumas horas e já
conseguiu fazer muitos questionamentos alcançarem meus pensamentos. A
italiana de aparência doce e gentil, Kyara, a prima do meu cunhado.
Não tinha prestado atenção em sua beleza no dia em que minha irmã e
Dante anunciaram a gravidez, estava absorto demais com a novidade de que
seria tio de duas meninas, o que tirou minha atenção para as pessoas que,
naquele momento, estavam do outro lado da tela do notebook enquanto a
chamada de vídeo durou, antes de o jantar ser servido.
Quando fomos apresentados, há pouco tempo, tentei fazer com que
meu corpo não reagisse à imagem da linda mulher à minha frente.
Nunca fui um homem impulsivo e do tipo que não consegue controlar
o que sente, ainda que sentimentos primitivos como tesão, estivessem em
jogo. Não era do meu perfil agir sem pensar muito bem nas consequências
dos meus atos.
Contudo, por um momento, enquanto a prima de Dante me analisava
de forma curiosa e tímida, conforme estendia sua mão na minha direção,
pensei que conseguiria avançar nela e… abraçá-la.
Incomum? Com toda certeza!
Patético? Talvez.
Mas foi exatamente isso que senti.
Não foi vontade de beijá-la, ainda que sua boca fosse convidativa.
Não foi vontade de tocar sua pele e descobrir se o seu corpo era tão
macio quanto parecia.
Ou de saber se ela poderia ser safada entre quatro paredes por trás de
toda aquela sua timidez escancarada.
Já me envolvi com mulheres assim e devo admitir que elas foram as
mais atrevidas e abertas durante o sexo. Eu mesmo me encaixava nesse
quesito. Quem não me conhecia verdadeiramente, poderia achar que eu era
sombrio ou introvertido, porém bastavam alguns minutos de conversa para
perceberem que era apenas o meu jeito, calmo, sereno e observador de ser.
O oposto da minha irmã.
Por ser um bom observador, — um excelente, na verdade — consegui
captar medo e até pavor em seus olhos enquanto me encarava. Foram eles
que me fizeram desejar perder a razão e agir de modo imprudente pela
primeira vez em vinte e oito anos, como abraçá-la e sussurrar em seu
ouvido que ela estava segura em meus braços, que não precisava ter medo.
Cresci com duas mulheres que, por vezes, tentaram esconder de mim
o que sentiam quando algo estavam perturbando-as e por este motivo, era
plenamente capaz de identificar quando as coisas não iam bem. Sendo eu o
único homem da casa, desenvolvi um instinto superprotetor.
Kyara tinha estampados em suas íris cor de mel, muita dor, vergonha
e medo, como se clamasse, implorando para ser libertada de algo que a
aprisionava há bastante tempo.
No momento que as nossas mãos se tocaram, essas emoções pareciam
jorrar em seus olhos, suas pupilas dilataram como se estivesse sendo
descoberta, ou talvez…sendo vista pela primeira vez daquela forma.
Olhei mais uma vez para a mesa em que ela estava sentada, toda
delicada ao cortar um pedaço de palha italiana antes de levar até à boca, sua
língua saindo para limpar um pouco de chocolate que escorreu por seus
lábios.
Ela era linda, o tipo de mulher que não precisava de muito para ser
sensual, o meu tipo de mulher. Sua timidez me intrigou, despertando meu
lado mais curioso e protetor, mas sua beleza me atraiu como imã.
Kyara sorriu de algo que seu irmão falou e pela postura dele perto
dela, sabia que ele era mais ciumento do que costumava ser com Ana, na
verdade, já notei que os Fontana possuíam um nível alto de proteção
demonstrada através do ciúme, quando o assunto eram as mulheres de sua
vida. Perto deles, o meu lado ciumento era pequeno.
— Será que meu irmão pode conseguir uma fatia de torta de morango
para as suas sobrinhas? — a voz da minha irmã soou ao meu lado, me
fazendo afastar os olhos de Kyara para focá-los nela.
Ana Laura estava com as mãos alisando sua barriga, os olhos pidões
me encarando como costumava fazer quando éramos mais novos e queria
algo, seus lábios faziam um beicinho ridiculamente exagerado.
— Você já não comeu?
Ela bufou e fechou a cara.
— Aquela torta que você e Dante trouxeram era muito pequena.
Estou me alimentando por três. — Sinalizou com os dedos e depois apontou
para a sua barriga. — Tecnicamente três fatias correspondem a uma, então
apenas eu comi. Minhas meninas estão com fome. Você — apontou com o
indicador para o meu peito — não pode negar isso a elas. Que tipo de tio
você é, Miguel? — ralhou, apertando os olhos na minha direção.
Soltei uma risada me divertindo com a cena. Péssima ideia, porque o
rosto da “gnomio” — eu definitivamente amei o apelido que o maluco do
Matteo deu à minha irmã — começou a assumir um tom intenso de
vermelho. Ignorei o som de sua garganta arranhando e deixei minha taça na
mesa à minha frente, onde há minutos estava sentado com os outros caras.
Voltei minha atenção para ela, envolvendo-a em um abraço de lado e
beijei sua têmpora antes de falar.
— Você já era engraçada com raiva, grávida então, fica ainda mais.
Parece que a sua barriga crescendo está te fazendo parecer ainda menor —
brinquei.
Ana deu um tapa em meu peito.
— Vai conseguir ou não a torta, homem?
— Porque não pediu ao seu marido? Tenho certeza de que ele não
negaria.
Minha irmã bufou outra vez.
— Aquele CEO disse que eu não posso exagerar na sobremesa e que
uma fatia é o suficiente. Tenho certeza de que tem mais por aqui, porém
deve ter pedido aos funcionários para esconder. — Cruzou os braços. — Eu
deveria ter pedido ao juiz de paz para colocar uma cláusula no nosso
contrato de casamento de que ele deveria me dar toda torta de morango que
eu quisesse. Eu estou carregando as filhas dele, oras!
— Preciso concordar com o meu cunhado.
Ela me olhou com uma sobrancelha levantada.
— Cunhado, é? Para quem bancava o irmão mais velho ciumento
você aceitou que tem um mais rápido do que pensei.
— Não há muito o que fazer. Ele te engravidou e vocês já estão
casados. — Dei de ombros.
Ana me analisou por alguns segundos antes de dizer: — Você pediu
para o seu amigo delegado investigá-lo, não foi? Por isso está assim, mais
tranquilo que o normal.
Sorri de lado e foi tudo que ela precisou para saber que a sua
declaração estava correta.
— Eu disse que faria.
— Disse, mas pensei que dessa vez não seguiria com a ideia. Você e
essa sua mania de investigar o passado das pessoas. Vou pedir para Alberto
não fazer mais isso pra você. Inclusive, porque ele não veio? — quis saber.
— Está trabalhando em um caso, algo grande — respondi e ela anuiu.
— Então, vai ou não me conseguir a torta? — Juntou suas mãos ao
peito, me olhando novamente com uma expressão pidona. — Sou sua irmã
favorita.
— Você é a minha única irmã. — Beijei sua testa. — E Dante está
certo, você precisa ir com calma. — Revirou os olhos. — Ele faz isso
porque te ama e ama as minhas sobrinhas também.
Ana Laura soltou um suspiro, relaxando seus ombros. Seu olhar
vagou pelo enorme jardim, se prendendo à imagem de seu marido que
conversava do outro lado do salão com o senhor Vincenzo e Júlio, pai de
Carlos, seu melhor amigo que se foi. Minha irmã havia compartilhado
comigo alguns detalhes que não foram para a mídia acerca do acidente na
Itália e me apresentou aos Ferreira, um pouco depois da cerimônia.
Como se estivesse sentindo que estava sendo observado, Dante virou
o rosto e sorriu para Ana com os olhos brilhando para a esposa, não
demorando para pedir licença aos homens e atravessar o jardim vindo na
direção dela.
Depositei um beijo em sua bochecha e avisei que estava indo até a
mesa do buffet. Ela fez um sinal com a mão, ignorando-me por completo,
me fazendo rir.
Dei alguns passos e alguém acabou esbarrando em mim. Por reflexo
segurei a pessoa pelos braços, firmando-a no chão e evitando que caísse.
Levou dois segundos para eu perceber que se tratava de uma mulher.
— Meu Deus! Me desculpe! — pediu, ajeitando seus cabelos, o
cheiro doce de seu perfume me deixou em alerta.
— Você está bem? — procurei saber ainda a segurando.
— Eu quem deveria estar fazendo essa pergunta a você — soltou uma
risada e acabei rindo também, me afastando um pouco para olhá-la melhor.
Ela era alta, cabelos curtos e negros, corpo esbelto e o vestido de seda
com um decote profundo, deixando pouco para a imaginação. Quando
levantou a cabeça para me olhar, notei que seus olhos erm de um verde
intenso. Ela era linda, muito linda!
Estava tão concentrado no casamento e em observar Kyara, que não
havia notado mais ninguém em meio aos poucos convidados.
— Você está bem mesmo? Te machuquei?
— Já disse que eu que deveria perguntar isso. Fui eu que não estava
prestando atenção — seu tom de voz era divertido. — Relaxa, bonitão.
Estou bem.
Soltei uma risada pela forma que me chamou.
— Miguel — me apresentei. — O irmão da noiva.
— Juliana — ela fez uma pausa antes de estender a mão até a minha.
— Amiga do noivo.
Nos cumprimentamos e o silêncio nos tomou. Coloquei minhas mãos
nos bolsos da minha calça e me aproximei dela, perguntando com a voz
baixa e rouca: — Você está acompanhada, meu bem? — Ela apertou seus
lábios pintados de vermelho, suas bochechas assumindo a mesma cor,
porém menos intenso.
Ao invés de me responder, Juliana me fez outra pergunta.
— Aceita beber algo e… conversar um pouco, bonitão?
CAPÍTULO 06
Henrique
Levei a taça de vinho até à boca enquanto observava Dante servir
sua esposa, com uma generosa fatia de sua torta favorita. Foi impossível
não rir da expressão que ela fez quando levou a primeira garfada à boca.
— Se aquela "gnomio" continuar comendo tanta torta de morango,
acho que minhas sobrinhas vão nascer com cara de morango — Matteo
disse ao meu lado rindo, sendo seguido por Miguel e Enrico, que está do
meu lado esquerdo.
— Ela sempre foi viciada nessa torta, desde que aprendeu a falar e
passou a pedir por ela ao invés da mamadeira — Miguel acrescentou.
— Eles formam um belo casal — Enrico comentou. — Molto bello!
(Muito belo!)
A cerimônia de casamento de Dante e Ana foi simples, contudo ainda
sim, foi bonita. Era bom ver que, depois de tudo que meu amigo passou,
estava finalmente se permitindo ser feliz e aquela baixinha, realmente o
fazia feliz, não havia como negar o quanto estavam verdadeiramente
apaixonados.
— E você, hein, Miguel? — B1 cutucou seu braço com o cotovelo. —
Vi você conversando de um jeito bem íntimo com Juliana — sorriu
balançando sua cabeça, movendo suas sobrancelhas de modo sugestivo.
— Ele é sempre assim? — perguntou, olhando entre mim e Enrico.
— Fofoqueiro e metido à cupido casamenteiro? — indaguei. —
Sempre foi, ficou pior depois que passou a assistir novelas mexicanas.
— Você assiste novelas? — Enrico questionou rindo, olhando para o
primo.
— Assisto — confirmou orgulhosamente. — São muito educativas!
Então, você e Juliana, hein?
— Ela é linda e sabe conversar. Trocamos nossos números e, bem…
vamos ver no que vai dar — respondeu direto.
— Juliana é uma ótima pessoa, “princeso”! — Matteo comentou.
— Espera, você me chamou de quê?
— “Princeso” — respondeu simplesmente.
— O certo não seria príncipe? — Miguel sugeriu de forma cínica.
— O certo seria você chamá-lo pelo nome. Porque caralhos está
chamando-o de “princeso”? — questionei incrédulo.
— Porque ele parece aquelas pessoas da realeza e como eu chamo a
irmã dele de “gnomio”, nada mais justo do que chamá-lo de “princeso” ao
invés de príncipe. E, bem… agora que somos um grupo, cada um tem que
ter um apelido — Deu de ombros.
— Somos um grupo?
— Somos, B2. Um grupo de amigos fodas pra caralho — afirmou. —
Eu sou o engraçado bonitão que é muito bem informado e o cupido do
grupo.
— Fofoqueiro e intrometido — fingi uma tosse ao falar, fazendo
nossos amigos rirem e Matteo revirar os olhos.
— Dante é o “CEO certinho”, Miguel é o “princeso” paciente e
Enrico, o médico nerd possessivo.
— Não sou… possessivo.
— Você nunca foi muito bom em dividir, cugino. Quando éramos
crianças, não deixava ninguém pegar seus brinquedos e nem brincar com
polpette.
— Com o quê? — indaguei curioso.
— Com o almôndegas. Era o nome do cachorro que ele ganhou do tio
Peppe — esclareceu.
Enrico ponderou por alguns segundos antes de falar.
— Ok, talvez eu seja um pouco territorialista — admitiu.
— Muito territorialista — Matteo corrigiu e recebeu uma careta do
italiano. Ele o ignorou e voltou a falar. — E você — apontou para mim —,
é o B2 bombadão estressado, inclusive, como seu sócio, ainda que eu não
esteja mais trabalhando no escritório de advocacia, acho que deveria
praticar yoga, vai ajudar a acalmar seus chakras. Soube que eles estão
desalinhados.
Bufei, passando os dedos pela minha barba e apertando meus olhos
para ele.
— Pare de ficar ligando para minha secretária, ela precisa trabalhar e
você também, porra. Simone está ficando uma boca de sacola mesmo —
ralhei. — Inacreditável.
Simone é minha secretária desde que Matteo precisou assumir o setor
jurídico da empresa de sua família. Ela tem quarenta anos, uma ótima
funcionária. Organizada, proativa e inteligente, por isso a contratei, sem me
importar com sua idade.
Todavia, ela possuía um estilo hippie que, às vezes, me irritava.
Sempre dizendo que meus chakras estavam desalinhados devido ao
estresse, trocava meu café puro por chá de camomila antes de cada reunião
importante e sua última proeza foi encher a minha sala de incensos
fedorentos, alegando que o ambiente estava muito carregado de energias
ruins.
Simone era o meu completo oposto, por isso funcionamos bem juntos,
porém ela já estava gastando o meu pavio, que já não era muito grande,
principalmente porque Matteo parecia ter um feitiço que fazia a mulher lhe
obedecer para tudo. Ele sempre a subornava com refeições grátis no La
Fontana e quando eu não respondia às suas mensagens, na maioria das
vezes de propósito, ele ligava para ela e ambos engatavam em uma
conversa pra lá de animada sobre novelas e o meu estresse.
Como eu sei disso? Uma vez, acabei escutando a conversa de ambos
quando ele estava lá na empresa aguardando para almoçarmos juntos. E
claro que B1 acabou chamando Simone para ir. No fim das contas, almocei
ouvindo sobre todo o enredo de uma novela e sobre o quanto os chakras de
Matteo eram ótimos e leves.
— Ela é minha informante — declarou divertidamente.
— Claro — debochei.
— Cazzo, sua irmã colocou mesmo mio cugino na coleira. Olha como
ele está com cara de cachorro pidão só porque ela sorriu pra ele — Enrico
comentou chamando nossa atenção e apontando na direção de Dante e Ana.
— Nunca o vi assim antes, tão agganciata. (fisgado)
— Colocou mesmo — Miguel disse, soltando uma risada.
Enquanto eles conversavam sobre o quanto nosso amigo é cadelinha
da “gnomio”, tentei prestar atenção em suas falas e usei tudo de mim para
não permitir que meus olhos varressem o jardim à procura da caçula
Fontana, Beatrice.
Depois que ela me pegou medindo o quanto estava linda assim que
adentrei o quintal no início da cerimônia, usei todas as minhas forças para
não voltar a olhá-la novamente, focando toda minha atenção nos noivos e
na comida conforme o buffet foi servido. Haviam várias opções de comida,
capazes de saciar a fome da pessoa mais exigente e enjoada, no entanto, só
havia uma coisa que eu queria comer. A irmã caçula dos meus melhores
amigos.
Sempre que Beatrice Fontana estava no lugar, eu me sentia como se
estivesse sufocando, uma luta se iniciava dentro de mim enfurecidamente.
De um lado, a minha fidelidade ao juramento que fiz aos meus
melhores amigos, de outro a atração que eu sentia pela irmã deles desde a
primeira vez que meus olhos repousaram nela há mais de dois anos na
Itália.
E acreditem, eu me esforçava, me esforçava pra caralho para me
manter afastado dela e desse meu desejo.
Porra, como eu a queria!
Já perdi as contas de quantas vezes a imaginei na minha cama, usando
uma daquelas lingeries com cinta liga — caralho, eu tinha um feitiche
nessas peças em especial — sua bunda cheia empinada para mim, enquanto
eu metia meu pau em sua boceta molhada, minha mão alisando sua pele
antes de cortar o ar e atingir seu rabo delicioso com tapas, repetidas vezes,
até que eu tivesse a certeza de que sua pele arderia por dias, cada vez que se
sentasse. Ou ela ajoelhada diante de mim, chupando meu pau até que ele
estivesse todo enterrado no fundo de sua garganta.
Caralho, Beatrice tinha o estilo de mulher que gostava de sexo sujo,
pesado, imoral, de ser tratada como uma puta na cama, ou em qualquer
outro lugar que a safada desejasse.
Eu tentava, meu Deus como eu tentava, não agir como um filho da
puta pervertido que ficava babando e fantasiando as coisas mais imorais
com a irmã caçula dos meus melhores amigos. Até passei a colocar em
prática as técnicas de respiração para me acalmar, que minha secretária
havia me ensinado depois que cheguei ainda mais sem paciência do que o
normal à empresa, após uma audiência com o cretino do advogado da
empresa dos Vilhenas, Adamo Vilhena, o filho mais novo de Marcos
Vilhena, o patriarca no ramo de investimentos que recentemente tinha
deixado seu posto para o seu primogênito assumir, Dionísio Vilhena.
Argh! Como eu detestava aquela família e não via a hora de poder
acabar com a imagem de boa gente que tinham perante a mídia. Eu já
desconfiava que eles não possuíam o nome limpo na praça como
aparentavam, boatos rolavam e tive certeza de que eram verdadeiros quando
Giselle, uma ex-funcionária deles me procurou relatando tudo o que passou
nos seis meses como secretária da presidência. A pobre mulher tremia e
derramava lágrimas sem conseguir parar a cada lembrança sua naquele
lugar. Não pensei duas vezes quando decidi ajudá-la.
Desde então, procurava inspirar e expirar como aprendi, puxando e
soltando o ar contando de um até dez mentalmente para me acalmar e
buscar em algum lugar dentro de mim, o controle e a porra da paciência
que eu necessitava.
Como agora, quando meus olhos teimosos pra porra pousaram na
figura deliciosa da italiana. Seu cabelo longo e negro caindo em ondas
sobre seus ombros, seu corpo voluptuoso, farto, com curvas cheias e
deliciosas, coberto por um vestido preto justo, com alças tão finas, que ao
menor movimento, elas poderiam se romper. Seus lábios estavam pintados
em um tom rosado sutil, contrastando com seus olhos selvagens que
parecem estar ainda mais verdes.
Caralho, como essa mulher é gostosa!
Gostosa e linda pra caralho!
Meu olhar varreu cada detalhe seu, cada centímetro de pele, enquanto
ela conversava com Bárbara e Kyara a algumas mesas de onde eu estava.
Me demorei por alguns segundos nas laterais de sua cintura. Eu amava a
gordurinha que ficava ali, apesar de saber que muitas mulheres a odiavam.
Beatrice a tinha e ela era perfeita para ser apertada durante uma foda.
Simplesmente perfeita.
Estranhamente, como se estivéssemos ligados por algum sentimento
avassalador além do tesão, ela virou o rosto e me pegou no flagra, a forma
como um sorriso cínico se desenrolou por seus lábios, deixou claro que a
diaba sabia que eu estava observando-a.
Pisquei rapidamente para afastar os meus pensamentos acerca dela,
no exato momento em que Matteo tocou em meu ombro.
— O que você acha? — perguntou.
Eu o olhei confuso, forçando uma tosse.
— Desculpe, o que disse?
— Está com a cabeça onde, B2?
Na gostosa da sua irmã.
Forcei mais uma tosse antes de responder.
— Só estou pensando na viagem que vou fazer à Curitiba, para
coletar algumas informações para um processo.
— Caso difícil? — indagou, interessado.
— Vilhenas — respondi simplesmente.
Meu amigo toca o nariz, reconhecimento passando por seu semblante.
— Odeio aqueles filhos da puta! — exclamou.
— Já ouvi falar deles, mas nenhuma das histórias são… agradáveis —
Miguel comentou, torcendo o nariz. — Não sei como aquela empresa ainda
está de pé.
— Estou confiante de que agora eu consiga o feito de derrubá-la —
disse confiante, meus amigos acenam, levantando suas taças. — Então, o
que você havia me perguntado? — procurei saber, curioso, depois de beber
um gole do vinho.
— Quem você acha que será o próximo cadelinha do grupo?
Soltei uma risada com a expressão engraçada que meu amigo fez.
— Aposto em você e na Bárbara — respondi com firmeza. — Muito
ódio gratuito e isso só pode significar uma coisa. Tesão reprimido. E você
não parou de falar na “gostosa que ajudou no meio da rua” — Fiz aspas
com a mão livre — por uma semana. Me perturbou com mensagens e
áudios feito a porra de um adolescente virgem.
— Ela me atrai e eu não faço a menor questão de esconder ou
disfarçar isso. Eu amo desafios e irritar aquela boneca se tornou um hobby.
O jeito que sua pele fica quando está com raiva… porra, a deixa sexy
demais — disse, olhando na direção de onde ela estava, sorrindo de lado. —
Eu amo uma mulher irritada, assim o sexo fica mais… prazeroso. Se eu
tivesse apenas uma noite com Bárbara, tenho certeza de que ela jamais se
esqueceria de mim.
— Eu a conheço há anos e posso afirmar com tranquilidade que você
não faz o tipo dela — Miguel comentou tocando em seu ombro e o fazendo
olhar para ele.
— Eu sou o tipo da maioria das mulheres. Sou irresistível — disse
cheio de si. — Sou bonito, sei conversar, sou engraçado, assisto novelas,
sou romântico, amo fofocar e o melhor, tenho um dragão no meio das
pernas capaz de incendiar qualquer mulher, porra.
— E com um ego de milhões — Enrico acrescentou. — Ainda não
acredito que você chama o seu pau de “dragão”. Per Dio!
— Você dá nomes às suas motos, nerd, por que não posso dar nome
para o meu pau? — questionou, encarando o primo.
Ambos entraram em uma discussão em italiano que Miguel e eu não
entendíamos nada, porém a forma como Matteo exagerava nas feições de
drama e ofensa a cada conjunto de palavras que Enrico falava, nos fez rir
ainda mais com a cena.
— Você está ameaçando o seu primo favorito com um bisturi? — B1
exclamou.
— Quem disse que você é o meu primo favorito? — Enrico provocou,
seu semblante é de puro divertimento.
Rindo da discussão dos dois, levei a taça até à boca e antes que meus
lábios pudessem tocar no cristal, noto, pelo canto de olho, um quadril se
mover para baixo, curioso, desviei o olhar dos meus amigos para encontrar
Beatrice agachando para pegar o guardanapo no chão, seu corpo se
curvando fazendo sua bunda cheia empinar à medida que se inclinava para
baixo.
Caralho! Não consegui afastar meu olhar e nem os pensamentos do
meu pau se enterrando ali, entre os dois montes fartos.
Até que senti algo molhar minha camisa.
— Merda! — vociferei olhando para a mancha enorme de vinho no
tecido branco, agora colado em meu tronco, deixando a taça, já vazia em
cima da mesa próxima. — Mas que porra! — Observei o estrago na peça.
Ouvi meus amigos rirem e levantei meu olhar para lançar uma
carranca.
— Você está no mundo da lua hoje, hein — Matteo falou.
Bufei com raiva.
— Vem, B2! — Ele bateu em meu braço. — Acho que tenho algumas
camisas no meu antigo quarto.
Anuí, ignorando Miguel e Enrico, dando as costas para as suas piadas
e risadas, enquanto rumava para dentro da mansão.
Subi as escadas, seguindo Matteo e assim que estávamos no primeiro
andar da mansão, ele sinalizou que fosse até o seu antigo quarto e eu
concordei, entrando na segunda porta à direita, sabendo que ali encontraria
um banheiro, tendo em vista que frequentava a casa dos Fontana há anos.
Ao entrar no cômodo, não me preocupei em fechar a porta, deixando-
a apenas encostada. Parei de frente para o espelho que ficava acima da pia
larga de mármore branco, olhando por um momento a bagunça que fiz antes
de começar a desabotoar a camisa social, meus olhos focados no trabalho
dos meus dedos. Assim que estava no último botão, escutei a porta sendo
aberta por completo.
— Obrigado por me emprestar uma roupa sua, cara — falei, pensando
ser Matteo, assim que puxei minha blusa de dentro da calça social,
deixando meu peito e abdômen descobertos.
A voz feminina e sensual, cheia de sotaque me fez levantar o olhar
em um sobressalto. Engasguei quando encarei seus olhos através do reflexo
do espelho e precisei engolir, mesmo que com dificuldade, para não grunhir.
— Ciao, caro mio!
Beatrice estava parada no batente da porta, com as mãos na cintura
enquanto me encarava diretamente, aquele sorrisinho safado filho da puta
se desenrolando em seus lábios.
— O que você faz aqui? — soltei, sentindo meus batimentos
dispararem com violência contra a minha caixa torácica, meu peito subindo
e descendo rapidamente.
Ela não respondeu de imediato e isso me fez ficar ainda mais nervoso
conforme seus olhos me analisavam com cuidado.
— Beatrice, o que faz aqui?
A diaba pareceu não se importar com meu tom rude, pelo contrário,
ela soltou uma risada baixa cheia de deboche e então, lentamente, entrou
sem afastar seu olhar do meu. E ao caminhar em minha direção, seu
perfume doce adentrava em minhas narinas, me deixando tenso. Era uma
mistura incrível de baunilha com alguma fragrância floral que nela ficava
incrivelmente delicioso, fazendo-me desejar enterrar o rosto em seu
pescoço e sentir o aroma direto da fonte.
— Bea — murmurei sem conseguir sair do lugar, engolindo em seco
quando ela já estava próxima.
— Vim oferecer ajuda, Henrique. Non preoccuparti, caro (Não se
preocupe, querido) — responde com inocência fingida em sua voz.
Beatrice Fontana é tudo, menos inocente.
Quando finalmente parou atrás de mim, me senti imediatamente
sufocado, meu corpo em um completo estado de alerta, minhas mãos
suavam e meus pulmões lutavam para fazer o seu trabalho, puxando o ar
com força.
— Respire, Henrique — a diaba italiana disse baixo, com seus olhos
me encarando cheios de malícia, o que posso notar pelo espelho. Ela está
ciente de como me afeta. — Apenas — Passou um dedo na minha nuca e
senti quando traço a cicatriz mais grossa ali — respire. — Completou em
um sussurro, seu semblante refletindo curiosidade sobre o que há debaixo
do tecido.
Eu não tinha vergonha das cicatrizes em minhas costas, por mais
grossas e estranhas que elas fossem. Por algum motivo, as mulheres
gostavam delas, e a verdade era que pouco me importava o que elas
poderiam achar, eu as foderia com o pau e não com a porra das minhas
costas. No entanto, só de imaginar Beatrice vendo-as, meu estômago se
retorceu, me mostrando que o pensamento me incomodava, me incomodava
muito.
Com minha mão trêmula pelo impacto de prazer que seu pequeno
toque causou em mim, virei-me depressa, agarrando seu pulso com firmeza,
fazendo-a se sobressaltar pelo movimento brusco.
— O que você vai fazer? — minha voz saiu dura.
A filha da mãe sorriu, sem se importar com meu tom, me encarando
com suas íris verdes por um momento, antes de seu olhar cair sobre a minha
pele descoberta.
— Vou te limpar, caro mio.
— É melhor você sair daqui, Beatrice — bradei, porém vacilei
quando sua mão livre tocou um pouco abaixo do meu pescoço, me
provocando um arrepio.
Seus olhos voltaram a encarar os meus, como se estivesse pedindo
permissão para prosseguir. Bea mordeu o lábio inferior lentamente e quando
o soltou, sua língua começou a percorrer seus lábios sedutoramente,
umedecendo-os e deixando explícito o que ela quis dizer com me limpar.
— Por favor, me deixe limpar você — suplicou.
Foi a primeira vez que Beatrice disse tais palavras direcionadas a mim.
Por favor.
— Por favor — repetiu, fazendo agora um beicinho lindo,
provocando uma vontade louca em mim de chupar seus lábios até deixá-los
inchados.
Por favor.
Essas palavras, ditas por essa mulher, iriam me foder pra caralho.
Algo dentro de mim me dizia que sempre que ela as usasse, eu não
conseguiria negar nenhum pedido seu.
Henrique roube um banco, por favor.
Minha resposta seria: quando e qual, Beatrice?
Fodido, você está fodido, Henrique Prado. Muito fodido! Meu
subconsciente me alertou.
Não respondi que sim, mas devagar, fui diminuindo o aperto dos
meus dedos em torno do seu pulso, abaixando nossas mãos até que a dela
esteja livre. Apoiei meu corpo contra a pia como um sinal claro para que ela
prosseguisse, meus olhos nunca deixando de encarar suas íris cor de
esmeralda.
O que eu estou fazendo? Porra!
Então, a diaba umedeceu os lábios novamente, seus olhos encarando
os meus por alguns segundos antes de descer e analisar meu peitoral, suas
mãos afastando o tecido da minha camisa, raspando a ponta dos seus dedos
contra minha pele, que se arrepia ainda mais contra a dela. O contato foi
sutil, porém tão intenso quanto seu olhar sobre meu corpo.
— Delicioso — murmurou, voltando a me fitar.
Não me atrevi a dizer nada, com medo de que eu voltasse ao meu
estado racional e a afastasse, como eu deveria fazer.
Eu deveria me afastar dela.
Eu deveria sair desse banheiro.
Eu deveria impedi-la de me tocar dessa forma.
Eu deveria, ah porra, como eu deveria!
Mas cada vez que Beatrice se aproximava, eu perdia a razão, o juízo
e… apenas me entregava ao tesão que ela despertava em mim.
Caralho, nunca desejei tanto comer uma mulher antes como eu a
desejava.
— Vou limpar você, Prado — comunicou, piscando e repuxando seus
lábios para o lado.
Prendi a respiração e fechei meus dedos com força no mármore da pia
atrás de mim quando seu rosto ficou na altura do meu peito. Logo, sua
língua lambeu vagarosamente algumas gotas de vinho que haviam ali, sem
pressa, me torturando a cada segundo que se passava, como se estivesse
degustando a bebida e meu sabor misturados.
Foi impossível não imaginar como seria gostoso pra caralho ter sua
língua fazendo tais movimentos na cabeça do meu pau.
Arfei, contraindo a barriga quando a ponta da sua língua circulou meu
mamilo direito e me odiei por não conseguir segurar o gemido rouco que
saiu. Eu tentei, tentei mesmo segurá-lo, mas o filho da puta escapou! O
gemido escapou! Merda!
Olhei para baixo e a vi sorrir contra a minha pele.
— Gosta disso, caro mio? — questionou em um tom baixo e
fodidamente sexy, me fitando por sobre seus cílios. — Gosta? — Tornou a
lamber o mamilo, dessa vez, raspando seus dentes e me fazendo contrair
com o arrepio de prazer que passou pelo meu corpo indo direto para a
cabeça do meu pau.
Excitado e puto pra caralho na mesma medida, apertei meus dentes
semicerrando os olhos para ela, pensando em lhe dar uma resposta, mas
antes que eu abrisse a boca Beatrice levou suas mão até a minha cintura,
uma em cada lado e cravou suas unhas ali sem qualquer delicadeza, me
fazendo gemer com a ardência gostosa que sinto.
Caralho! Eu era completamente viciado nessa merda, amava quando
uma mulher me arranhava, me mordia, puxava meus cabelos nas
preliminares e principalmente na hora do sexo. Isso só me deixava ainda
mais louco de tesão.
— Diaba — falei, encarando seu rosto conforme ela endireitou sua
postura, até que estivesse novamente ereta na minha frente.
Bea sorriu, prendendo seu lábio inferior entre os dentes e
pressionando seu quadril contra o meu, ficando ainda mais perto. O calor do
seu corpo me deixou loucamente necessitado.
Ah, merda!
— Tão duro e grande. — Se esfregou no volume entre as minhas
pernas, me arrancando a porra de mais um gemido torturado, meus olhos
ameaçando se fechar, meu corpo cada vez mais imerso nesse desejo louco e
proibido. — Tão — Ela mordeu meu pescoço, me fazendo gemer
novamente antes de levar sua boca até meu ouvido — fácil para mim. Tão
— Ela chupou meu lóbulo direito — fraco, caro mio.
Abri completamente os olhos, vendo-a sorrir como uma diaba
atentada, conforme se afastava dando passos lentos para trás.
— Você — Ela apontou na minha direção — é tão fácil e fraco para
mim. É ridículo a forma como você tenta fugir, Prado.
Fraco. Eu escutei mesmo essa palavra?
Apertei os dentes com força até que senti meu maxilar doer, mas não
me importei. Encarei seu rosto por um momento, semicerrando meus olhos.
Senti todo o meu corpo ser consumido por raiva quando vi um sorriso
desenhar seus lábios, a porra de um sorriso prepotente, fazendo meu sangue
ferver.
Por mais que uma parte de mim soubesse que eu era exatamente isso
quando se tratava da irmã caçula dos meus melhores amigos, não havia
como admitir ou ficar imparcial a ser chamado dessa forma.
Me forcei a respirar fundo antes de perguntar entredentes, tentando
buscar paciência em algum lugar dentro de mim por, mas foi em vão.
— Você me chamou de quê?
Beatrice não era uma mulher baixinha como Ana e os saltos que
estava usando lhe davam alguns bons centímetros, porém ainda assim, seu
rosto ficava na altura do meu queixo, por isso quando afastei-me da
bancada, ajeitando minha postura, ela precisou inclinar um pouco a cabeça
para trás, para me encarar olho a olho.
— Fra.co. — respondeu pausadamente, cruzando os braços e me
fitando de forma cínica.
— Repete! — Ordenei rudemente, apertando os punhos com força,
dando um passo em sua direção, meus olhos nunca deixam os seus.
Percebi que seu corpo tremeu levemente com meu tom de voz,
contudo ela permaneceu parada, relaxando apenas os braços quando falava
novamente.
— Eu chamei você de fraco, Henrique Prado. Fra.co. Entendeu agora,
caro mio?
Um urro saiu da minha garganta e toda a pouca racionalidade que eu
ainda tinha se esvaiu, ficando apenas raiva e tesão oscilando entre as
minhas células. Então, eu explodi de vez, avançando sobre ela, minha mão
direita se fechando em seu pescoço e a outra entrando em seus cabelos,
puxando os fios com força, inclinando sua cabeça para que seus olhos
estejam na altura dos meus. Suas costas se chocaram com a porta,
fechando-a bruscamente. Aproximei meu rosto, até que nossos narizes se
tocassem, nossas respirações se misturando.
A filha da puta riu e isso me deixou ainda mais puto. Aumentei o
aperto em seu pescoço, privando-a de um pouco de ar e seus olhos
brilharam com luxúria, me mostrando que ela gostou.
Conforme pronunciei as palavras em um tom assustadoramente baixo,
ameaçador, o peito de Beatrice subiu e desceu cada vez mais rápido.
— Você é mesmo uma provocadora, não é? Hum? Acha divertido me
provocar assim, caralho? Na casa dos seus pais com toda a sua família e
nossos amigos no andar de baixo? — inqueri, sem esperar que ela
respondesse. — Veio até aqui apenas para isso, para me provocar, não foi,
porra? Vamos ver se você gosta de ser provocada também.
Encarei seus olhos verdes, suas pupilas dilatadas brilhando de
excitação, por dois segundos antes de abaixar o rosto até seu colo, minha
língua saindo e acariciando sua pele macia e quente. Gostosa!
Fiz menção de invadir seu decote, desejando provocá-la da mesma
forma que fez comigo, ela arfou e logo senti suas unhas se fechando
novamente em minha cintura, me puxando mais para si.
— Henrique — meu nome saiu de sua boca em tom de gemido e isso
só me deixou ainda mais excitado. — Gosta de joias? — sussurrou, me
fazendo afrouxar o aperto em torno do seu pescoço e levantar o rosto para
encarar suas íris. Minha expressão confusa a faz explicar o significado de
suas palavras. — Se você abaixar as alças do meu vestido, verá que tenho
duas, uma em cada mamilo. — Minha respiração ficou presa na garganta
quando a informação chegou aos meus ouvidos, senti uma gota de suor
escorrendo por minhas costas, meu pau tencionando bruscamente dentro da
cueca.
Puta que pariu!
Ela tem… piercings nos mamilos?
Nos… mamilos?
Meu olhar caiu direto para os seus seios, minha mente tentando
formular a imagem dos seus mamilos com as duas joias.
— Caralho! — balbuciei.
— Se você decidir abaixá-las, espero que chupe meus seios, bem
gostoso, caro mio. Há quem diga que a textura é deliciosa na língua.
Eu precisava ver! Eu precisava sentir!
Ignorando a sensação estranha que a última informação me causou,
afrouxei o aperto em seus cabelos, levando a mão até seu decote, me
sentindo completamente entorpecido.
Quando meus dedos seguraram o tecido para empurrá-lo para baixo, a
voz de Matteo seguida de três batidas na porta soaram, me lembrando que
isso era errado de várias maneiras possíveis.
Puta que pariu, o que eu estava fazendo?
CAPÍTULO 07
Beatrice
Trouxe a camisa, B2. Vê se você não a suja também, porra — meu
irmão exclamou antes de bater na porta, fazendo meu corpo reverberar
junto às batidas.
Notei os olhos de Henrique se abrirem a ponto de me fazer achar
que irão se rasgar. Seu olhar oscila entre meu corpo, rosto e suas mãos,
antes de focar finalmente em mim e então, se afasta bruscamente como se
tivesse voltado a si, percebendo o que estava prestes a fazer.
— Não acredito! O que eu estava fazendo? O que… o que eu ia
fazer? — murmurou, passando as mãos freneticamente nos cabelos.
Dei um passo em sua direção, porém ele se afastou como se eu fosse
alguma doença contagiosa, me fazendo revirar os olhos.
Duas batidas soaram, dessa vez mais fortes.
— Henrique? — Matteo o chamou impaciente. — Caiu no vaso ou o
quê, cazzo?
— Desculpa, estava… estava terminando de mijar. Já vou abrir,
cara.
Então, Henrique se aproximou de mim, levando sua mão direita até
minha boca, seu dedo indicador indo para a frente da sua em um sinal claro
para que eu ficasse quieta. Como resposta juntei minhas mãos contra o
peito, acenando levemente.
Henrique me encarou por alguns segundos, claramente duvidando
de que eu fosse cumprir o seu pedido.
Quando mais uma batida soou, ele anuiu, liberando-me do seu
aperto. Abriu a porta, apenas o suficiente para que conseguisse esticar o
braço livre e pegar a peça, fechando-a novamente com rapidez. Levei uma
mão até a boca, abafando uma risada, o que o faz me olhar de cara
amarrada.
— Se ele souber que você está aqui, nós vamos estar fodidos.
Entendeu? — sussurrou.
Apenas acenei com a cabeça, adorando toda a situação.
— Obrigado, né? — Matteo resmungou do outro lado.
— Ah… han… obrigado — ele disse deixando a peça sobre o
mármore da pia e se livrando da blusa manchada rapidamente para vestir a
limpa.
— Espero você lá embaixo, B2. Preciso ficar de olho no meu irmão,
senão aquela "gnomio" vai acabar convencendo-o de que precisa de mais
torta de morango — Mio frattelo anunciou e o homem à minha frente
respirou aliviado. — Dante é fraco demais para aquela mulher — declarou
brincalhão.
Os olhos do loiro encontraram os meus e por um momento, o brilho
de reconhecimento passou por eles. Pisquei para ele sorrindo abertamente.
Fraco. Ele sabia, ainda que não admitisse, que era fraco quando o
assunto era eu. Podia tentar o quanto quisesse, porém não havia como evitar
ou fugir da atração que queimava cada vez que nos encontrávamos.
— Tudo bem — em resposta, deixou as palavras saírem de sua boca
em um rompante quando se afastou de mim. — Desço em alguns minutos
— avisou, esperando alguns segundos até que tivéssemos certeza de que
Matteo se foi.
Encostei na parede, ao lado da porta e cruzei os braços,
aproveitando o momento para apreciar o quanto Henrique Prado era um
pecado de homem. Era a primeira vez que o via dessa forma e cazzo, eu
poderia ficar horas apenas o observando, admirando cada pedacinho dele.
Alto, ombros largos, peitoral malhado, um abdômen definido com as
duas entradas profundas formando um “v” perfeitamente trabalhado e
alguns pelos loiros espalhados ali, formando um caminho que some dentro
da calça social que apertava suas coxas grossas de um jeito delicioso.
Henrique possuía algumas frases tatuadas no lado esquerdo do peito em
letra cursiva, que logo reconheci serem trechos da música Home da
Gabrielle Aplin.
Seus braços eram fortes, cheios de veias e cazzo, suas mãos eram
enormes, a ponto que uma delas quase se fechou em meu pescoço por
completo.
Como amei ser enforcada por ele, desejando estar assim enquanto
seu pau entra e sai de mim, me fodendo gostoso.
Santo Dio, ainda podia sentir minha língua formigando por tê-lo
provado, o gosto de sua pele se misturando às poucas gotas de vinho, me
deixaram loucamente excitada.
Apertei minhas coxas uma na outra, tentando conter a necessidade
avassaladora que tomou meu corpo.
— Quer ajuda? — perguntei quando ele começou a abotoar os
primeiros botões da camisa, sem se preocupar em desafivelar o cinto e abrir
os botões da calça.
— Não! — respondeu rápido, impaciente, sem olhar para mim, seus
olhos focados no trabalho dos seus dedos.
O observei sem dizer mais nada. Quando terminou, segurou a
maçaneta da porta e antes de abri-la, finalmente moveu seus olhos até os
meus, suas íris brilhando em um mix de desejo e confusão. À medida que
me encarava, seu olhar se moveu para baixo, fixando na altura dos meus
seios. Seus lábios se abriram, contudo logo se fecharam.
E então, um passo foi dado na minha direção e por um segundo, a
sensação de que ele iria finalmente ceder ao que claramente sentia por mim
me tomou, meu corpo ficando em estado de alerta, desejando que me
tocasse, me beijasse.
Ele inclinou a cabeça por um segundo, parecendo considerar se
devia avançar ou recuar. Contudo, a sensação logo se esvaiu, quando
Henrique recuou, disparando para fora do banheiro.
Henrique
Alisei meu rosto, apertando os olhos antes de, vagarosamente, abri-
los até que estivessem acostumados com a claridade que adentra pela porta
dupla de vidro da sacada do meu quarto, o frio por conta do ar-
condicionado me faz desejar não levantar da cama e ir trabalhar.
Não seria uma má ideia, levando em consideração que desde que
Matteo deixou a empresa que fundámos juntos, a Prado Advocacia, para
assumir a diretoria jurídica do La Fontana Restaurante, não tirei férias.
Lembrava de como foi difícil para nós dois no início. Matteo
precisava mostrar que era mais do que o seu sobrenome — por isso,
recusava todas as vezes que seu pai oferecia ajuda além do que julgasse ser
necessário e fez questão de colocar apenas o meu sobrenome no escritório
— enquanto eu precisava enfrentar o fato das pessoas acharem que estava
usando-o como trampolim para atingir o sucesso.
No primeiro, ano quebramos muito a cara, mas persistimos e
aprendemos com os nossos erros, e quando pensávamos em desistir, uma
causa grande chegou da forma mais inusitada possível e a ganhamos. Logo,
o caso repercutiu na mídia e nós dois passamos a ficar conhecidos como o
terror dos patrões abusivos.
Eu amava estar no tribunal e ver filhos da puta se foderem como
merecem. Caralho, era uma das melhores sensações que já experimentei na
vida.
Estiquei meu corpo e o senti tenso, da cabeça aos pés.
— Droga! — exclamei irritado.
Quisera eu poder dizer que o cansaço que me tomava, tanto corpo
quanto mente, era apenas por conta das horas analisando processos,
audiências que pareciam não ter fim, clientes ignorantes que achavam que
podiam nos subornar ou o caso dos Vilhenas, que seria um dos mais
complicados da minha carreira em muito tempo. Contudo, eu sabia que eles
não eram os causadores para a tensão que eu vinha sentindo. Eram anos de
experiência e eu sabia lidar muito bem com o trabalho e todo o caos que ele
desencadeia.
Não era o trabalho ou a minha falta de férias em anos. Eu sabia.
Era ela, aquela diaba italiana.
Nos últimos dias, não consegui pregar os olhos por causa de
Beatrice e a porra das joias que disse ter em seus mamilos. Sempre que os
fechava, a imagem dela completamente nua na minha frente, seus seios
cheios e naturais à mostra, se formava e eu perdia a porra do sono e da paz
que já era escassa desde que ela retornou ao Brasil.
Passei o final de semana imerso em culpa pelo acontecido — e o
que estava prestes a acontecer — naquele banheiro, me odiando a cada
segundo por desejar chupar seus seios, sentir a textura dos piercings com a
minha língua enquanto subia seu vestido para meter forte em sua boceta.
Eram esses os pensamentos que rondavam a minha mente naquele
momento, meu juízo indo para a puta que pariu junto ao juramento que fiz,
se não fosse pelo Matteo aparecendo.
Porra, eu teria mesmo fodido a irmã dele no banheiro da casa dos
seus pais, durante o casamento de Dante com todos no andar de baixo?
Caralho, eu teria. Com certeza eu teria e me arrependeria
amargamente por trair a confiança deles. Eu odiava traições e nunca traí
ninguém porque conhecia na pele o que as consequências poderiam fazer
com a vida de alguém.
Fiquei com tanto tesão, que no sábado, assim que fui embora da
casa dos Fontana, liguei para Lisa, uma das poucas mulheres que fodi e
ainda mantinha contato, para uma trepada. Depois do fim do único
relacionamento que tive na vida, passei a ser ainda mais sincero do que
costumava ser com as mulheres com quem me relacionava, seja para sexo
ou algo mais. As pouquíssimas vezes que me permiti conhecer alguém além
da cama, não fluiu muito bem, simplesmente não rolou.
Lisa era do tipo que sabia dividir as coisas muito bem, por isso
nossa relação funcionava. Sem cobranças, apenas… sexo. Nos
relacionamos sexualmente com outras pessoas e houveram algumas poucas
vezes em que chegamos a participar de alguns ménages. Ela gostava de ser
dividida e eu não me opunha a isso de qualquer forma.
Não éramos amigos, porém nos dávamos bem na cama e a
sinceridade sempre foi o ponto chave para isso. Lisa amava sexo, eu amava
sexo. Tínhamos tesão um pelo outro, apenas e tão simples como realmente
era. E a julgar pela forma como ela sorriu para mim depois que a deixei em
sua casa no domingo à noite, adorou nosso tempo juntos, embora para mim,
as seis vezes não foram capazes de saciar toda a minha fome, fome essa que
parecia querer apenas a única mulher que era proibida para mim.
Proibida.
Beatrice Fontana e seus seios grandes com piercings são proibidos
para mim.
Porra, como eu adoraria prender meus dentes em seus mamilos, a
fazendo gritar meu nome!
Inferno!
Respirei fundo, passando a mão no rosto, antes de abaixar o olhar,
vendo meu pau duro, não somente pela famosa ereção matinal. Apenas
pensar nela me deixava assim e eu odiava o meu corpo por responder a um
simples pensamento quando a envolvia. Era simplesmente… ridículo!
Tenho vinte e oito anos e não deveria ser tão difícil controlar meus
desejos, principalmente quando eles são proibidos acerca da irmã caçula
dos meus melhores amigos.
Bufei irritado, batendo os braços no colchão, um em cada lado do
meu corpo e ignorei minha ereção, focando nas minhas muitas
responsabilidades do dia. Talvez mais tarde eu ligue para Lisa ou outra
mulher, a fim de me aliviar de toda essa tensão.
Então, livrei-me das cobertas, saí da cama e caminhei até o banheiro.
Entrei no box e liguei o chuveiro, deixando a água cair sobre minha cabeça,
despertando-me por completo.
Um detalhe sobre mim: eu detestava dormir com roupas. Preferia
dormir sem nada, como vim ao mundo, completamente nu.
Assim que terminei, fui até o closet e abri a gaveta do armário onde
minhas cuecas estão organizadas. Vesti uma azul marinho e optei por um
terno da mesma cor, sem gravata. Ironicamente, odeio essa merda e só uso
quando tenho audiência, e como todos os meus compromissos da semana
serão no escritório não tenho que me preocupar com isso.
Devidamente vestido, peguei meu celular na mesinha ao lado da cama
e rumei para fora do quarto.
Meu apartamento era grande e perto do trabalho. Havia apenas dois
por andar. Morava no último. Ele possuía uma cozinha com ilha em
mármore preto, uma sala de jantar, banheiro social, uma academia bem
equipada, pois assim como já que eu era viciado em trabalho, também sou
na prática de exercícios, principalmente os que me levavam ao limite, como
box, por exemplo, tem um escritório — o cômodo onde passava mais tempo
quando estava em casa —, dois quartos, sendo um a minha suíte.
Ah! E não poderia esquecer da belíssima varanda que dividia com o
apartamento vizinho. Quando a comprei, já possuía uma espécie de portão
baixo que se abre através de um código. Nela, há uma área gourmet
pequena, jardim vertical e uma piscina que nunca usei desde que me mudei.
Nunca tive problemas com os antigos vizinhos por causa da área
compartilhada, ao que se refere a minha privacidade, por isso, ela nunca foi
um problema para mim.
Adentrei na cozinha, e como em todas as manhãs, comecei a preparar
uma vitamina.
Minha despensa não era muito abastecida, na verdade possuía apenas
o que eu julgava ser necessário, já que eu era um fiasco quando o assunto
era cozinhar. No dia a dia sempre comia no trabalho, e quando estava em
casa pedia comida de alguns restaurantes, inclusive do La Fontana.
Não tinha uma governanta como os meus amigos, contudo, contratei
uma empresa que enviava, uma vez por semana, alguém para realizar a
limpeza do lugar, além de lavar e organizar minhas roupas.
Em minha despensa, tinha apenas café, leite, água e frutas... muitas
frutas, haja vista que elas não precisavam ser cozidas para comer. Fora
algumas bebidas, como vinho, vodka e uísque, ainda que eu não me
lembrasse da última vez em que mexi nelas. Não possuía o hábito de
apreciar bebidas alcoólicas, quando o fazia sempre estava na companhia de
um amigo.
Nunca fui forte para o álcool, menos ainda quando se tratava de
uísque. Até hoje não conseguia entender como Ana Laura conseguia beber
essa merda sem entrar em coma alcoólico.
A última vez que tomei um porre com duas doses da bebida de cor
âmbar, foi na casa dos Fontana, quando eles me surpreenderam com uma
festa de aniversário, onde acabei ficando com uma puta ressaca no dia
seguinte.
Assim que terminei meu “café da manhã”, deixei as louças que sujei
na máquina de lavar louças, antes de pegar minha pasta sobre a mesa ao
lado do sofá e as chaves do meu carro, uma Classe X branca.
Sempre gostei de carros grandes, principalmente picapes. Quando
minha vida financeira começou a mudar, foi a primeira coisa que comprei.
Quandi que cheguei na garagem do prédio, fui até o meu veículo,
apertando o alarme antes de entrar.
Estava colocando o cinto quando meu celular apitou, sinalizando uma
nova mensagem. O tirei do bolso e respirei fundo quando vi o nome de
Verônica, minha ex-namorada, na tela.
Nos conhecemos na faculdade, éramos da mesma turma de direito e
logo no primeiro ano, engatamos em um namoro que durou toda a nossa
graduação.
O relacionamento chegou ao fim porque ela dormiu com seu chefe de
estágio na época, por puro interesse, o cara era podre de rico, porém depois
de alguns meses, logo a trocou por outra estudante.
Verônica sempre foi ambiciosa, o que eu achava ser uma qualidade.
Ela sonhava grande e eu a admirava por isso, mas depois do que fez comigo
não pensei duas vezes em dar um ponto-final no que tínhamos.
Abri a mensagem e senti meu corpo ficar tenso ao lê-la.
Verônica: “Preciso da sua ajuda, Henrique. Por favor.”
Respirei fundo, me sentindo cansado dessa merda toda, porém não
conseguia simplesmente ignorá-la. Por isso, rolei o dedo na tela do
aparelho, procurando o contato de Simone. Assim que encontrei, mandei
um áudio avisando que iria me atrasar.
Rumei para encontrar com minha ex, torcendo para que dessa vez, as
coisas não estivessem tão ruins quanto as da última.
Péssimas.
As coisas com Verônica estavam péssimas!
Por esse motivo, acabei demorando mais do que planejei.
Fiz a curva para entrar na garagem do prédio da empresa, o
empreendimento luxuoso, com paredes de vidro espelhadas, cinco andares,
todos muito bem decorados em tons neutros e sofisticados, e claro, com um
restaurante La Fontana no primeiro andar, para atender a todos os
funcionários, surgindo em meu campo de visão.
Estacionei, apertei o alarme e caminhei até o elevador privado que
dá acesso apenas ao último, onde há três salas, uma para as reuniões, a
minha e a de Rafael Rodrigues, meu braço direito no escritório desde que
Matteo parou de advogar nas causas da nossa empresa.
Rafael foi um dos muitos advogados que contratamos depois que
passamos a ganhar visibilidade na mídia com nosso primeiro caso
importante. Ele sempre se destacou dos demais, por ser responsável e
competente em níveis que beiravam o extraordinário, chamando assim
nossa atenção. Em todos esses anos ele nunca perdeu uma causa e assumiu
o lugar do meu amigo com muita maestria. O cara era foda pra caralho e
sabia disso.
A advocacia parecia ser a sua maior paixão. Eu era viciado em
trabalho, não nego, mas desconfiava que Rafael era a porra de um
workaholic.
Ele era mais alto e mais sério do que eu, e quem o via pela primeira
vez, poderia jurar que era um robô. Muitos estagiários tinham medo dele
por sua postura inflexível. Rafael sempre foi discreto e só sei que é
divorciado e pai de uma adolescente de quinze anos, porque todos os
funcionários são submetidos a uma verificação de histórico rigorosa.
Prezamos pela boa imagem e não arriscariamos manchá-la ao colocar
alguém que nossa equipe de investigação e do RH não aprove. Tudo é feito
com discrição até a contratação, e se mantinha assim, ainda que ela não
fosse efetivada.
Não havia uma amizade entre nós a ponto de compartilharmos nossas
vidas pessoais, além das poucas vezes que saímos para ir ao bar comemorar
alguma causa, todavia, a confiança é inegociável para o tipo de relação que
temos.
Assim que a porta do elevador abriu, Simone veio ao meu encontro.
— Bom dia, doutor! — disse, apertando o passo atrás de mim,
conforme dou passadas largas até minha sala.
— Bom dia! — falei simplesmente, abrindo a porta da minha sala e
jogando minha pasta em cima da mesa. — Preciso do relatório do caso
Vilhena e uma xícara de café preto, sem açúcar, por favor — pedi enquanto
tirava meu paletó, deixando-o no encosto da cadeira antes de me sentar,
ligando meu computador logo em seguida.
O barulho de saltos batendo contra o piso de porcelanato me fez
afastar os olhos do monitor e focar nos sapatos da minha assistente. Subi
meu olhar até seu rosto bem cuidado para sua idade e encontro um sorriso
esticando seus lábios cheios, o cabelo cacheado escuro com alguns fios
grisalhos está como de costume, preso em um rabo de cavalo.
Simone me encarava cheia de expectativa, as mãos relaxadas na
lateral de seu corpo. Ela é uma senhora baixinha, não tanto quanto Ana,
mas ainda assim baixinha. Magra, pele negra e olhos castanhos, tão
redondos e expressivos, que às vezes sinto-me vigiado, como se estivesse
em um reality show.
— Algum problema? — perguntei alçando uma sobrancelha e
cruzando os dedos, me inclinando para frente e apoiando os cotovelos sobre
a mesa grande de madeira clara que toma grande parte do espaço.
Minha sala foi toda redecorada depois que Simone insistiu — tendo
como aliado meu amigo Matteo — que a energia não estava fluindo bem
devido a posição dos móveis e os tons escuros.
A mesa, que antes era de mogno e ficava de frente para a enorme
parede de vidro, agora estava na parede de frente para a entrada. Os móveis
pretos foram trocados por móveis com tom de madeira claro, algumas
plantas posicionadas estrategicamente para dar ainda mais leveza à
decoração, segundo minha secretária. Além de algumas velas e incensos
com cheiros estranhos estarem espalhadas pelas estantes, os mesmos que eu
nunca mais acendi desde a primeira e única vez que o fiz assim que a
"redecoração" terminou, depois de falar uma enxurrada de palavrões por
conta do aroma fedorento que tinham.
Como chefe, poderia simplesmente me impor, dizer que não
acreditava nessas bobagens e estava pouco me fodendo para a porra do
fitjui ou para os seus mantras esquisitos que sempre recita. Todavia, desde o
seu primeiro mês de trabalho, não consigo tratá-la como costumo tratar a
maioria dos funcionários da empresa. O cuidado que sempre teve comigo
desde o nosso primeiro contato, me lembrava a forma como dona Beatriz
me tratava, era um cuidado genuíno, verdadeiro. Sem contar que tinha idade
para ser minha mãe. Posso ser estressado, mas sei respeitar pessoas mais
velhas, principalmente as que são gentis e boas para mim.
— São quase onze da manhã e o senhor tem consumido muita
cafeína. Sugiro beber um pouco de chá — claro que sugeriu, ela sempre
sugere alguns de seus chás quando peço café, alegando sempre ter um bom
para quase todas as situações da vida. — Com algumas bolachas, já que o
horário do almoço está perto — sua voz soou calma, cheia de preocupação.
— Ainda prefiro o café. Me mantém ligado e atento a tudo que o
preciso fazer. A senhora sabe disso.
— Sim, eu sei que prefere… café — torce o nariz como sempre faz
quando fala o nome da bebida, como se fosse veneno. — Mas — Ela se
aproximou da mesa, apoiando suas mãos na madeira — muita cafeína pode
deixar os chakras ainda mais desalinhados. Os seus não estão nada bons
hoje. — Seus olhos se apertaram na minha direção e sua mão direita
balançou no ar, como se estivesse verificando algo, provavelmente os meus
chakras.
Jesus.
Usei tudo de mim para não revirar os olhos ou rir pela expressão
engraçada que ela fez enquanto me analisava.
— Meus chakras ainda estão desalinhados? — questionei cruzando os
braços.
— Estão! Chá de camomila vai ajudar. Chá de camomila sempre
ajuda. Sempre ajuda — recitou.
A encarei por dez segundos, seus grandes olhos cheios de expectativa,
sua feição doce e as mãos unidas, na altura do seu peito, me convencendo
desta vez.
Soltei um suspiro e acenei com a cabeça.
— Tudo bem. Aceito o chá e as… bolachas.
A mulher à minha frente sorriu abertamente e acabei sorrindo junto,
vendo-a dar um pulinho animada, me sentindo relaxado pela primeira vez
no dia.
— O relatório do caso Vilhena — começou a falar depois de dois
segundos, ajeitando sua postura — está na segunda gaveta — Apontou para
o lado direita da mesa. — Presumi que o senhor pediria por causa da sua
viagem na quinta-feira. E — Levantou um dedo — seu voo será às 04:00 da
manhã. Imprimi sua passagem e a deixei na primeira gaveta. Sua
hospedagem, como havia me pedido, foi feita no La Fontana Hotel.
Eu disse, eficiente.
A mulher podia ser uma hippie, seguidora do Buda ou sei lá de quem,
porém era eficiente a ponto de sempre estar um passo à frente.
— Obrigado! — agradeci.
— Vou preparar o chá com as bolachas. Seu almoço chegará às 12:30,
como de costume, senhor — comunicou, indo em direção à porta.
Anui.
Assim que Simone saiu, tratei de ligar para o ramal de Rafael,
solicitando sua presença em minha sala. Em cinco minutos, ele já estava
abrindo a porta, depois que respondi "entre" para as suas batidas.
— Me diz que você conseguiu o endereço da ex-governanta do
babaca dos Vilhena? — perguntei, levantando o rosto para vê-lo sentar em
uma das cadeiras que tem em frente à mesa.
— Enviei para o seu e-mail antes de vir até aqui, já prevendo que me
pediria — respondeu em tom confiante.
— Suponho que já tenha estudado um pouco do caso?
— Supôs certo. Durante o final de semana, pude encontrar algumas
brechas no contrato que eles usam com os funcionários da empresa, que
acredito que poderão ser úteis — Eu não disse? A porra de um workaholic.
Enquanto eu estava fodendo para esquecer uma boceta que eu não posso ter,
Rafael estava com o nariz enfiado no trabalho.
Abri a segunda gaveta da minha mesa, tirando de lá a pasta que
Simone havia deixado ali e a jogo em cima da mesa. Puxo da minha pasta
os óculos de grau que uso apenas quando estou trabalhando, antes de falar:
— Mostre-me o que encontrou.
CAPÍTULO 09
Beatrice
Não acredito que enfim o dia da mudança chegou!
No início da semana, logo após falar com meus pais acerca do
assunto, a empresa que contratei para fazer a minha mudança até o meu
novo lar, não levou nem três dias para deixar tudo pronto para mim. A única
coisa que deixei para levar comigo, foram as minhas lingeries. Tenho um
certo apreço por elas e só após guardá-las em uma mala de tamanho grande
que percebi o quanto sou viciada em comprá-las.
Depois de tomar um bom banho, escolhi um look básico e
confortável. Calça jeans escura, uma blusa cinza de alcinhas, tênis
branco e uma jaqueta de couro preta.
Quando fiquei pronta, desci as escadas puxando a mala com um
pouco de dificuldade pelo peso e tamanho, e deixei-a em meu carro antes de
ir até a cozinha para tomar café com meus pais.
Babbo estava de cara fechada como passou todos esses dias cada vez
que eu adentrava no lugar. Beijei o topo de sua cabeça para logo em seguida
fazer o mesmo com mamma, ignorando seus resmungos e engatando em
uma conversa divertida com minha mãe. O senhor Vincenzo logo suspirou
audivelmente e se juntou a nós.
Assim que terminei, despedi-me de ambos, dizendo que os amava e
em breve nos encontraremos na minha nova casa.
Em menos de quarenta minutos, o edifício com mais de quinze
andares com o nome Saint Cross Building em letras grandes e douradas,
surgiu em meu campo de visão. Logo estava adentrando na garagem
subterrânea, depois de me identificar para o porteiro na guarita da entrada,
estacionando momentos depois em minha vaga. Minha vaga, minha vaga!
Saí do carro e avistei o Sr. Caetano caminhando em minha direção,
sorrindo de forma simpática. Ele é o síndico do prédio e nas poucas vezes
que nos vimos durante a obra, sempre se mostrou muito educado e
prestativo.
Caetano era um homem que, pela sua bela aparência, não devia ter
mais do que quarenta e cinco anos. Seus cabelos eram grisalhos, assim
como sua barba cheia. Pelos ombros largos, podia dizer que gostava de se
exercitar. Seus olhos eram de um preto intenso e seu rosto, apesar de ter
algumas rugas, me fez imaginar que fez e ainda faz muito sucesso. Ele se
encaixava bem no perfil suggar daddy.
— Quer ajuda, senhorita Beatrice? — ofereceu quando já estava
perto.
— Se não for te incomodar, eu aceito — respondi, abrindo o porta-
malas, sorrindo de forma gentil.
— Não incomoda. — Pegou minha mala sem qualquer esforço, indo
em direção ao elevador.
Apertei o alarme e o segui. Quando entrei na caixa de aço, usei minha
chave de acesso selecionando o último andar e em poucos minutos já
estávamos no corredor onde havia apenas duas portas, a minha que ficava à
esquerda e a do meu vizinho, à direita.
Ainda não o conheci, na verdade, nunca o vi. Nas poucas vezes que
estive no prédio, tudo estava sempre silencioso, o que me fez pensar que ele
ou ela era alguém extremamente ocupado. Só esperava que fosse uma boa
pessoa, sendo mulher ou homem. Não queria ter um daqueles vizinhos
chatos que podiam me denunciar por talvez — apenas, talvez — fazer uma
festa.
Abri a porta e agradeci ao Sr. Caetano pela ajuda.
— Se precisar de algo, só ligar para a portaria.
— Tudo bem. Novamente obrigada — disse, acenando para ele antes
de fechar a porta.
Abri um sorriso, conforme varri meus olhos pelo lugar, admirando
cada centímetro dele.
Minha casa estava simplesmente… linda! Perfectta!
A primeira coisa que chamou atenção ao entrar, foi a enorme cozinha
muito bem equipada do lado esquerdo, no estilo industrial com uma ilha no
meio. Pedi que tirassem o quarto que seria a academia e a aumentassem. A
parede que a dividia da sala também foi retirada, deixando a área toda
aberta.
Todo o apartamento foi decorado no estilo moderno, em tons de preto,
branco e madeira, com tonalidades sutis de vermelho, minha cor favorita. O
lugar era bem iluminado devido à grande porta dupla de vidro que havia na
sala, dando acesso à sacada compartilhada, com piscina, área gourmet e
uma porta que dava acesso à minha suíte. Mais a frente, havia um corredor
com banheiro social, dois quartos de hóspedes e um de cinema.
Olhei o espaço, completamente entorpecida pela felicidade que estava
sentindo e saí de volta para o corredor, fechando a porta atrás de mim.
Peguei meu celular do bolso traseiro da calça jeans para bater uma
foto e enviar para as meninas, em nosso grupo. Estiquei o braço para o alto,
tomando o cuidado para que apareça a placa com o número do meu
apartamento em cima da porta.
Não acredito que finalmente me mudei!
Analisei a imagem por um momento, não conseguindo parar de sorrir,
antes de apertar "enviar".
Kyara foi a primeira a responder, dizendo que estava feliz por mim e
pedindo para que eu tomasse cuidado com o vizinho da varanda. Havíamos
adicionado-a antes de sua partida. Ela riu ao ver o nome do nosso grupo,
Bonde das Taradas.
Logo, as mensagens de Bárbara e Ana encheram a conversa, variando
entre felicitações como "Ansiosa para conhecer sua casa, amiga"; e
advertências como "Não faça nenhuma besteira se o vizinho for solteiro e
bonito", "Nada de pedir açúcar vestida com poucas roupas."
Sorrindo, olhei para a porta de frente à minha por um momento, antes
de entrar em meu apartamento, animada, ansiosa e curiosa para conhecer
meu novo vizinho, ou vizinha. Que seja homem, solteiro e um puta gostoso!
Henrique
Enrolei a toalha ao redor do quadril e saí do banheiro, indo até o
luxuoso quarto de hotel.
Pousei no aeroporto de Curitiba às seis e meia da manhã e desde
então não parei. Já passava das oito e meia da noite, e eu estava começando
a sentir meu corpo doer com as primeiras pontadas de cansaço do dia
exaustivo que tive chegarem.
Em viagens a trabalho em território nacional, preferia voar de
madrugada e chegar ao meu destino pela manhã bem cedo, assim tinha mais
tempo para fazer tudo o que precisava no lugar.
Serão três dias na cidade, apurando fatos e tentando encontrar mais
informações acerca dos babacas dos Vilhenas. Rafael havia conseguido
alguns contatos que me dariam bons materiais para acabar com os
desgraçados no tribunal.
Ainda que eu fosse o chefe no escritório e algumas das minhas
funções fossem administrativas tomando uma parte considerável do meu
tempo, não abria mão das atividades práticas que meu trabalho implica.
Ir atrás de pistas, investigar e procurar detalhes, era algo que me
mantinha são.
Advogar foi uma das minhas paixões que descobri ainda muito novo,
quando passei a morar com minha prima Stella e seus pais, depois de toda a
merda que aconteceu comigo.
Escolher o curso foi a parte mais fácil da loucura que é o vestibular.
Precisei me dedicar e estudar com todos os — poucos — recursos que tinha
e me esforçar ao máximo para conseguir aprovação na Universidade
Pública ao qual havia me candidatado.
Olhando para onde estou agora, cada esforço que fiz valeu a pena,
ainda que tenham aberto feridas durante o processo.
Estou vestindo minha cueca preta, quando ouvi meu celular apitando
na mesa redonda de vidro que há ali em um canto, sinalizando novas
mensagens, trazendo-me de volta à realidade.
Balancei a cabeça, afastando meus devaneios sobre meu passado
fudido e caminhei na direção do toque, deixando a toalha molhada em cima
de uma cadeira próxima.
Me joguei no sofá ao lado, estiquei meu braço para pegar o aparelho e
sorri quando uma foto do casamento de Dante surgiu na tela, enviada por
Matteo com a legenda “Dia em que a “gnomio” colocou uma coleira no
pescoço do meu irmão”.
Os noivos estão sentados, ambos com as mãos sobre a barriga de Ana
Laura, sorrindo um para o outro como se estivessem em um mundo
particular, enquanto meus amigos e eu estamos ao redor do casal de noivos,
expressões de choro e alegria se misturando pela imagem.
Varri meus olhos pelos rostos e um em especial chamou minha
atenção.
Com meu indicador e polegar, toquei na tela e dei zoom, o rosto de
Beatrice sendo ampliado para mim.
Diferente do que estou acostumado a ver, ela não esboça uma
expressão atrevida em seu belo rosto, mas sim uma que eu jamais tinha
visto ou notado antes.
A forma como seus olhos estão direcionados para seu irmão mais
velho e a cunhada, e seus lábios formando um sorriso genuíno, fizeram algo
dentro de mim borbulhar, algo que eu nunca havia sentido antes. A
sensação era forte, a ponto de fazer meu coração se expandir de um jeito
assustador dentro do peito, desejando que… que ela me olhasse com o
mesmo brilho que encarava o casal apaixonado.
Era mais forte que tesão, mais forte do que tudo que já senti na vida,
como uma… necessidade, algo pedindo para ser explorado, compreendido
e… vivido?
Com as mãos trêmulas, travei o celular, jogando-o de lado, como se
fosse brasa.
Que porra foi essa?
Puxei o ar com força, tombando minha cabeça no encosto do sofá e
fechei meus olhos, procurando controlar a respiração.
Durante os últimos dias, precisei me esforçar para manter minha
mente ocupada e protegida da diaba italiana. Usei tudo de mim para não
fantasiar com seu corpo e com a porra dos piercings em seus seios, que
passaram a me assombrar como fantasmas cada vez que eu fechava os
olhos.
Como agora, quando surge a imagem dela caminhando na minha
direção, vestindo nada além de uma calcinha pequena no tom claro de azul,
presa na porra de uma cinta-liga.
A cor da lingerie era um contraste delicioso com sua personalidade e
olhar de felina. A forma como o tecido cobre sua boceta cheia me faz soltar
um gemido abafado, minha língua saindo para dançar por meus lábios,
como se eu estivesse com fome e o monte entre suas pernas fosse uma
refeição completa e suculenta.
Argh! Essa mulher me deixa louco!
Soltei um urro e apertei meu pau, já duro por cima da cueca, pela
recente fantasia que flutua em minha mente, me sentindo tentado a bater
uma por ela, algo que penso mais do que consigo contar e admitir desde que
a conheci. Mas, nunca o fiz, de fato.
Meu celular voltou a tocar e abri os olhos, pegando-o novamente para
ver mensagens de Matteo reclamando pela milésima vez sobre o fato de eu
não ter conta no Instagram.
Não tenho redes sociais, pois odeio essa merda, assim como detesto
grupos de mensagens, pois não tenho paciência para aguentar e acompanhar
as conversas. Eu já ficava irritado com Matteo, que sempre que podia ou
tinha uma ideia maluca — quase todas, vale ressaltar —, perturbava o
caralho do meu juízo com figurinhas e gifs idiotas.
Todavia, conforme tocava as letras na tela do celular, digitando uma
mensagem para meu amigo, uma ideia maluca surgiu e antes que eu
conseguisse raciocinar direito, decidi seguir com ela.
Era uma ideia imprudente e completamente infantil para alguém da
minha idade, algo que nunca fiz nem mesmo quando era um adolescente
cheio de hormônios, com uma curiosidade insaciável típica da idade.
— Você vai mesmo fazer isso, Henrique? — murmurei para mim
mesmo enquanto o aplicativo ridículo de fotos estava sendo instalado. —
Você não deveria fazer isso, caralho! — bradei depois de alguns segundos,
voltando a tocar na tela com um pouco mais de força, à medida que digito
meu e-mail na aba de criar uma conta no Instagram.
Estou mesmo criando um perfil no Instagram para stalkear a irmã
caçula dos meus melhores amigos?
Quando apertei para prosseguir, depois de escolher
"henriqueprado123" como nome de usuário e digitar uma senha mais
ridícula ainda, percebi que não tinha mais volta.
Eu realmente acabei de criar uma conta para stalkear Beatrice
Fontana.
Mas que merda eu estou fazendo?
Encarei a tela pensando que estava ficando… louco, quando uma
notificação aparece, sinalizando que alguém começou a me seguir. Cliquei
no desenho no topo que agora tem um ponto vermelho e não me surpreendi
quando vi que meu primeiro seguidor era o fofoqueiro do meu amigo.
Matteo sempre foi um especialista quando o assunto era descobrir
algo antes de todo mundo, sua curiosidade e o jeito intrometido eram a
combinação que ele julgava ser perfeita para nossa profissão, diferente de
mim, que sempre preferi usar minha curiosidade de advogado para trilhar
caminhos mais discretos.
Sorrindo, olhando para a foto do seu perfil, onde o mesmo está com
um sorriso largo no rosto, fazendo um sinal de positivo com uma mão,
cliquei no botão azul para segui-lo de volta e logo comecei a receber
mensagens suas, provavelmente exclamando sua surpresa ao ver que
finalmente criei uma conta nessa merda.
Ignorei e antes que eu perdesse a pouca coragem que restava, comecei
a procurar, entre os perfis que meu amigo segue, o nome de sua irmã. Irmã
dele, por Deus, Henrique, ir.mã de.le!
Fiz menção de jogar o celular para longe e desistir de uma vez dessa
ideia absurda, mas quando sua foto apareceu pra mim a curiosidade venceu.
A diaba explodiu na tela assim que entrei em seu perfil e não me
surpreendi em nada ao ver o sinal de verificado assim como do seu irmão,
nem os mais de três milhões de seguidores que ela tem.
Cinco milhões!
Cinco milhões de pessoas viam o que eu estava vendo agora.
Imediatamente, como um sem noção, começo a rolar página abaixo, meus
olhos varrendo cada foto, nervosismo tomando cada célula do meu corpo
como se alguém fosse me pegar no flagra neste exato momento.
Ao contrário da sua personalidade, seu perfil era... discreto, sem fotos
extravagantes ou sensuais. A maioria eram de pratos requintados, que
julguei terem sido feitos por ela, além de algumas com sua família. E isso
estranhamente me deixou aliviado.
Estava chegando ao final da página quando uma foto em especial
chamou minha atenção, uma das poucas em que ela estava sozinha.
Nela, Beatrice aparece em frente à mansão que reconheci se tratar da
que seus pais possuem no litoral, na qual já estive algumas vezes a convite
deles. A italiana está usando um vestido verde de verão, solto com alcinhas
finas, que deixam suas íris de cor esmeralda ainda mais brilhantes. Suas
mãos estão tentando domar os cabelos que são bagunçados pelo vento, um
sorriso natural e espontâneo desenha seus lábios no exato momento em que
a imagem foi tirada.
Imediatamente a sensação que senti minutos atrás voltou a me tomar,
dessa vez ainda mais forte, trazendo junto a ela, a imagem da casa que
comprei há mais de quatro anos.
Foi algo feito por impulso depois de uma longa audiência onde meu
cliente e eu saímos ganhando.
Após seis horas dentro de um tribunal, o mesmo ficou tão feliz e
agradecido pela ajuda — ainda que ele tenha pagado por ela — que me
convidou para jantar em sua casa. Aceitei e entre a sobremesa e o pequeno
tour pelo lugar, comentou comigo que estava colocando o imóvel à venda.
Não consegui conter o meu interesse assim que ouvi a informação e uma
semana depois me encontrava assinando um cheque para a compra.
Franzi o cenho tentando encontrar qual a lógica para tal linha de
raciocínio, a sensação ficando ainda mais forte conforme encarava a foto de
Beatrice. Meu coração acelerou, minhas mãos suaram e me peguei sorrindo
para a tela, como se ela estivesse aqui.
Uma batida na porta soou me trazendo de volta à realidade, onde
estou em um quarto de hotel, sozinho e atolado de documentos para
analisar. Sobressaltei pelo susto, deixando o celular cair ao meu lado.
Dei mais uma olhada na imagem e acabei perdendo um pouco mais
do juízo ao bater print da tela, bloqueando-o logo em seguida.
Pondo-me de pé, peguei uma calça de moletom preta que havia dentro
da minha mala aberta sobre a cama e a vesti.
— Estou indo! — gritei em resposta a mais uma batida que ecoou e
rumei para atender o serviço de quarto que solicitei mais cedo no ramal do
restaurante do hotel, com meu jantar.
Pelo restante da noite foquei no trabalho, lutando contra qualquer
pensamento que envolvesse a mulher que é a minha maior tentação.
Beatrice, a diaba italiana.
CAPÍTULO 10
Beatrice
— Acho melhor você ir com calma, gravidinha — Bárbara falou,
encarando Ana Laura com os olhos arregalados, enquanto nossa "gnomio"
devorava um hambúrguer.
Era domingo e estávamos em uma lanchonete famosa da cidade.
Escolhi o lugar para o nosso almoço de "dia do lixo", não apenas por ser
perto da cobertura onde Dante morava, sendo assim mais confortável para
Ana Laura, mas porque ela insistiu que estava desejando comer hambúrguer
com batata frita conosco, enquanto Matteo, Miguel e Dante tinham um
tempo só dos homens, traduzindo "mais um momento de Matteo tentando
fazê-los gostarem de novela mexicana".
Quando passei no apartamento para buscá-la, uma pontada de
desapontamento me atingiu ao ser informada que Henrique havia viajado a
trabalho. Eu não o via desde o nosso momento no banheiro na casa dos
meus pais e estava ansiosa para provocá-lo desde então, com ele agora
sabendo sobre as minhas joias nos seios.
Minha cunhada suspirou audivelmente e falou, ainda de boca cheia:
— Minha fome só aumenta. Está cada vez mais difícil não querer devorar
tudo o que vejo pela frente.
— Pelo menos você não tem desejos estranhos. Minha mamma me
contou que quando estava grávida de Matteo, queria comer tijolo com
molho de tomate.
— Está explicado porque seu irmão tem alguns, muitos, parafusos
soltos — Bárbara concluiu me fazendo rir.
— Pensei que não teria desejos estranhos assim, mas — começou
depois de engolir, sua voz ficando mais baixa como se fosse nos contar um
segredo — hoje pela manhã, o controle da televisão pareceu estranho e
assustadoramente suculento, depois que deixei um pouco de chantilly cair
nele, enquanto comia minha torta de morango que meu amado e lindo
marido/chefe me trouxe da minha cafeteria favorita para o café da manhã
— sorri olhando para um ponto distante à sua frente, passando a língua nos
lábios, como se estivesse sentindo o gosto da sobremesa. — Ela estava tão
gostosa. A massa, o recheio e a cobertura, aaah… tudo estava perfeito.
— Você lambeu, não foi? Lambeu o controle porque ficou com
vontade de comê-lo — nossa amiga questionou alçando uma sobrancelha
para ela.
— Bem... — Se mexeu na cadeira — foi mais forte do que eu —
Faz beicinho.
Ri.
— Não acredito que fez isso, ragazza!
— Eu não cheguei a fazer, porque antes que eu conseguisse usar
minha língua para provar o gosto do controle com a cobertura, Dante entrou
no quarto — Seus ombros caíram. — Me senti como uma criminosa que
acabou de ser pega cometendo um crime e quando ele entendeu o que eu
estava prestes a fazer riu, não — Levantou um dedo em riste, segurando
com uma só mão o que restava do hambúrguer —, ele gargalhou de mim, a
mãe das filhas dele. Vocês acreditam? — perguntou incrédula.
— Acreditamos — Bárbara e eu respondemos rápido e ao mesmo
tempo tentando prender o riso. Trocamos olhares por alguns segundos antes
de voltar a atenção para nossa amiga, que parecia visivelmente irritada,
apertando os olhos na nossa direção.
— Os desejos de uma grávida não são mais respeitados como antes
— resmungou com uma careta engraçada, balançando a cabeça de um lado
para o outro, antes de voltar a devorar o sanduíche em suas mãos,
segurando com tamanha força, que seus dedos estavam começando a ficar
sujos de molho.
— E como você e mio fratello estão nessa nova fase? — questionei
depois de um tempo em silêncio, enquanto comíamos nossos respectivos
lanches, pegando uma das poucas batatas fritas que havia no recipiente à
minha frente em cima da mesa, que ainda não tinha sido devorada pela
“gnomio” barriguda.
— Estamos ótimos — disse e fez uma pausa para tomar um pouco
de água, limpando suas mãos com guardanapos antes de continuar. —
Adoraríamos ter seguido o cronograma inicial. Casamento e lua de mel em
Nova York com direito a show da minha Queen B. Mas meus morangos
chegaram e mudaram tudo. — Alisava a barriga com carinho por cima do
vestido florido, soltando um suspiro. — Não vejo a hora de poder ver os
rostinhos das minhas meninas.
— Também estou animada! — Bárbara exclamou sorrindo e
batendo palmas. — Vou ser a tia que apresenta o mundo do bookhot para as
gêmeas. Vai demorar até elas completarem dezoito anos, eu sei, mas… vou
aproveitar o tempo para fazer uma lista com os melhores livros. Apenas os
meus favoritos!
— Dante vai amar saber disso, assim como os outros ciumentos da
família — zombei e acabamos rindo.
— Mas nos diga, como foi sua primeira noite na casa nova? — Ana
quis saber.
Pelos próximos minutos, contei a elas como foram as minhas
primeiras vinte e quatro horas morando sozinha e em um espaço só meu, e o
quanto estava ansiosa para o almoço em família acontecerá em meu
apartamento na semana que vem, rindo das piadas que ambas fazem acerca
dos chiliques que meus irmãos com certeza farão, principalmente pela
sacada compartilhada.
Quando a “gnomio” barriguda se deu por satisfeita depois de mais
uma porção de batata frita e uma taça de sorvete de morango, pagamos a
conta e tiramos uma selfie, enviando para Kyara com a legenda "só faltou
você, princesa", antes de deixarmos o estabelecimento.
— Qual a programação de vocês para o restante do domingo? —
Ana perguntou assim que nos aproximamos da área destinada ao
estacionamento.
— Passarei com meus inúmeros maridos literários — Bárbara disse,
soltando um longo e… apaixonado suspiro.
— Claro que vai — a grávida debochou alisando a barriga, fazendo
nossa amiga revirar os olhos. — E você, Bea?
— Jakov me mandou uma mensagem mais cedo, então… — deixei
as palavras morrerem no ar de forma sugestiva.
— Orgasmos e mais… orgasmos. Entendi — concluiu e eu sorrio de
forma maliciosa, me sentindo ansiosamente excitada para ver meu “pau
amigo”.
— Você… foi… perfeita! — Jakov falou ofegante, caindo no
colchão ao meu lado.
Fazia mais de duas horas que cheguei em seu quarto de hotel e
assim que a porta do elevador se abriu e seus lábios colaram nos meus com
fome, não paramos de transar.
Fechei os olhos por alguns segundos, um sorriso de pura satisfação
desmanchando em meus lábios pelos muitos orgasmos que tive.
Cazzo, como eu amo fazer sexo!
— Eu sei —falei sem fôlego, virando o rosto para olhá-lo.
— Amo como você… não é nada modesta — disse, ainda olhando
para o teto.
— Eu sou confiante e sei que sou boa de cama.
Jakov era realmente de tirar o fôlego, sua pele bronzeada com
algumas tatuagens espalhadas pelo seu peito, braço esquerdo, quadril e
pernas, junto ao sorriso cafajeste, formavam a imagem de homem
perigosamente sexy. O típico badboy loiro que fode como um mafioso
daqueles filmes da Netflix que costumam fazer sucesso com as leitoras de
romances como minha amiga, Bárbara.
Concentrei meu olhar em seu quadril, focando em seu membro semi
ereto ainda coberto pela camisinha cheia de sêmem.
— Se continuar o encarando — virou o rosto para me olhar —, não
vamos conseguir sair dessa cama, Beatrice.
Como em todas as vezes que falou meu nome carregado de sotaque,
um arrepio estranho passou por meu corpo, o tipo de arrepio que sentimos
quando estamos com medo, o que nunca fez sentido algum, tendo em vista
que ele sempre me tratou com respeito e não existe motivos para que me
faça mal.
Costumava associar isso ao fato de Jakov não ser um homem
carinhoso na cama, o que me agrada, confesso. Gosto de sexo duro, sujo,
com direito a tapas, puxões de cabelo, palavras safadas e xingamentos,
mas… sempre tive a sensação de que ele se controla quando está comigo,
como se estivesse tentando conter uma fera que mantém enjaulada dentro
de si.
Sempre fui boa em ler as pessoas, porém sentia que Jakov não era o
tipo que fosse possível decifrar em apenas uma edição de um livro, havia
inúmeras camadas profundas por trás de todo o charme e sorriso safado. E
eu nunca me interessei em folhear e ler suas páginas, gostava da relação
descomplicada que temos e da forma como nos entendíamos na cama.
Muito sexo, algumas conversas e refeições. Nada além disso.
Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos.
— O convite é tentador, mas preciso recusar.
— Porque não fica mais um pouco? Ainda está cedo.
— Preciso ir.
— Nunca mais passamos um tempo juntos — reclamou, me fazendo
soltar uma risada. Ele nunca foi dramático e sempre é engraçado a forma
como ele tenta ser, como se quisesse algo a mais. Porém sei que não quer.
— Acabamos de passar um tempo juntos, querido. Um tempo muito
prazeroso, vale ressaltar — Passei meus dedos em seu peito, raspando
minhas unhas levemente contra sua pele.
— Você não está facilitando, ragazza — Se aproximou e abocanhou
meu mamilo esquerdo, prendendo o piercing em seus dentes, antes de
chupá-lo com força, me arrancando um gemido baixo.
— Scusi, caro mio — disse, afastando-o sutilmente. — Mas preciso
realmente ir.
Ele bufou, alisando os cabelos e deixando os fios loiros ainda mais
bagunçados do que antes.
— Você entendeu. Podíamos sair para jantar e depois você me
apresenta sua casa nova — propôs.
Sorri educadamente, depositando um beijo em seus lábios, agora
inchados pelos meus muitos beijos, chupões e mordidas.
— Teremos outras oportunidades, afinal seu tempo aqui no Brasil
está longe de acabar. Certo? — Ele anuiu, um brilho diferente passou em
suas íris. — E já tenho um jantar marcado. — Levantei-me da cama
pegando minha calça jeans e a blusa vermelha do chão, vestindo-as com
calma, sentindo seu olhar sobre mim.
Assim que terminei, mapeei o espaço à minha volta, procurando
minha bolsa. Encontrei-a em cima de uma das poltronas que há ali.
— Tem?
Caminhei até ela, sem olhar para Jakov quando respondi.
— Si. Com uma pessoa incrível, vale ressaltar.
— Que seria…?
Só então, virei-me para vê-lo com as costas apoiados na cabeceira
da cama, o lençol cobrindo parte do seu quadril. Ele cruzou os braços atrás
da cabeça enquanto me encarava de um jeito safado, seus olhos claros ainda
mais brilhantes pelo desejo.
Prendi o lábio inferior entre os dentes, colocando a alça da bolsa no
ombro direito.
— Eu — respondi simplesmente, dando de ombros. — Hoje tenho
um jantar comigo mesma e não troco esse tempo por nada, nem ninguém —
pontuei.
— Nem mesmo por ele? — Sinalizou com o queixo para o meio das
suas pernas, jogando de lado o lençol que cobria seu membro, meus olhos
seguindo seu movimento, vendo seu pau completamente duro, pronto.
Sorri, antes de lançar um beijo ao responder.
— Nem mesmo por ele, caro mio.
CAPÍTULO 11
Beatrice
O cheiro de massa recém-assada preencheu o ambiente assim que
retirei a assadeira do forno, colocando-a sobre o fogão.
Cheguei em casa um tempo depois das horas de sexo com Jakov e
após um banho relaxante de banheira, tratei de cozinhar algo.
Tirei a luva, fechei os olhos e inclinei o tronco para frente,
movimentando uma mão no ar e fazendo o aroma adentrar em minhas
narinas de forma mais intensa.
— Hum, semplicemente perfetto! — exclamei com orgulho, abrindo
um dos armários da cozinha para pegar um recipiente pequeno, despejando
ali um pouco de azeite.
Como uma chefe de cozinha italiana, eu amava trabalhar com
massas, principalmente de pães. São as minhas favoritas. A que fiz hoje
apenas para o meu deleite, é uma de pão caseiro de minha autoria.
Sempre amei a gastronomia. Minhas brincadeiras favoritas de
quando era criança, costumavam ser as que envolviam comidas ou o que eu
julgava serem comestíveis na época.
O pensamento me fez suspirar ao relembrar com certa nostalgia e
muita saudade das incontáveis vezes em que Carlos aceitou brincar comigo,
ainda que ele negasse experimentar o cardápio muito requintado que eu
criava com as pedras e plantas do quintal da casa dos meus pais.
Carlos Ferreira foi um dos seres humanos mais incríveis que eu
conheci. Tinha uma luz própria que era capaz de consumir qualquer escuro
que alguém tivesse dentro de si. Uma pessoa leve e pura de alma, sorriso
fácil e palavras ainda mais.
Ele fazia falta, Dio mio, como fazia. Carlinhos era aquele tipo de
pessoa que se você tivesse a sorte de encontrar em seu caminho, te
modificava para sempre.
Ainda me lembrava da vez em que compartilhei com ele que estava
gostando de um menino da escola. Na época, eu tinha dez anos, Dante e
Matteo fizeram uma cena ao descobrirem que compartilhei algo tão íntimo
com seu amigo e não com um dos dois, meus irmãos. A forma como Carlos
me abraçou e me aconselhou, ainda que eu não tenha compreendido muito
bem o significado delas na ocasião, me fez sentir mais tranquila. Elas nunca
deixaram de estar em minha mente. Nunca.
"Se alguém faz seu coração acelerar e seu corpo ficar quente de
ciúmes, então você está se apaixonando. Se você não sentir nada disso,
pode ficar tranquila. Ainda não chegou a sua senha na fila do amor."
Sorri, sentindo meu coração sorrir com a lembrança.
— Mi manchi, ragazzo. Mi manchi tanto! (Saudade, garoto. Muita
saudade!) — murmurei limpando uma lágrima solitária que escorria por
minha bochecha, tomando fôlego por um momento, antes de começar a
cortar o pão, respirando fundo a cada movimento da faca sobre a massa
assada, buscando acalmar a saudade em meu coração.
Quando terminei, comecei a colocar as fatias espalhadas por uma
bandeja para logo em seguida, pincelar azeite sobre elas, sentindo minha
boca salivar em expectativa.
Estou concentrada quando ouvi um barulho vindo do corredor. O
pequeno som quebrou o silêncio da noite e me fez levantar o rosto para
olhar na direção da porta de entrada.
Será que meus pais contaram aos meus irmãos sobre a minha
mudança e eles tiveram a audácia de descobrir meu novo endereço?
Matteo com toda sua lábia não teria dificuldade em conseguir que o
porteiro do turno da noite, um senhorzinho simpático, liberasse suas
entradas.
Não, eles não fariam isso, conversei com mamma e babbo pela
manhã e eles me asseguraram que estavam respeitando meu pedido. E
quanto a Dante e Matteo, ambos estavam atolados de trabalho com a
inauguração do instituto, quase não os vi durante a semana na empresa.
Outro barulho, só que dessa vez um pouco mais alto.
Talvez… talvez seja meu vizinho? Isso realmente faz mais sentido,
Beatrice.
Movida pela curiosidade, deixei de lado o recipiente com azeite e
tratei de lavar as mãos o mais rápido que conseguia. Quando finalmente
terminei, puxei o guardanapo do suporte preso na parede, secando minhas
mãos de qualquer jeito.
Larguei o tecido sobre a bancada e corri até à porta, na tentativa de
desobrir quem é o proprietário ou proprietária do apartamento ao lado.
Espalmei as mãos na madeira branca, fechando um olho e colocando
o outro no buraco do olho mágico.
Prendi a respiração como se qualquer som pudesse entregar a minha
investigação, porém não consegui ver nada além de um vulto que julgo ser
ombros largos, cobertos por um suéter preto antes que a porta se fechasse.
Bem, parecia ser um homem, um homem alto e forte. Hum, isso é
interessante!
— Que meu vizinho alto e forte seja solteiro — falei, levantando o
rosto para olhar para o alto.
Sorrindo, voltei para a cozinha e me dediquei a passar azeite nas
demais fatias que faltavam. Assim que finalizei, peguei um prato em uma
das prateleiras abertas e me servi. Em seguida, coloquei um pouco de vinho
em uma taça, para curtir minha própria companhia esta noite.
Sempre amei estar rodeada das pessoas que amo, contudo nunca abri
mão de um tempo a sós, comigo mesma.
Conforme caminhava até meu quarto, sentia-me livre por poder
estar à vontade sem ter que me preocupar com as minhas vestimentas. A
calcinha e o sutiã de renda transparentes eram o que sempre julguei
significar "roupas de ficar em casa" para alguém que mora sozinha.
Involuntariamente, mexi meus quadris ao ritmo da música
Expectations da Lauren Jauregui, que entoa em meus pensamentos. Assim
que empurrei a porta do quarto com o pé, já que minhas mãos seguravam o
prato com os pães e a taça de vinho, puxei o ar antes de começar a cantar o
refrão.
— "Wish I had no expectations. I really wish that I could get it
through your head with no confrontation. I really wish we could talk about
it instead. All these tears that i cry while I'm turned to the side. And you're
in the same fucking bed. Wish I had no expectations. But i expect, you
expect, we expect."
(Eu queria não ter expectativas. Eu queria tanto poder entrar na sua
cabeça. Sem confronto. Realmente gostaria que pudéssemos conversar
sobre isso. Todas essas lágrimas que eu choro enquanto estou virada para o
lado. E você na porra da mesma cama. Queria não ter expectativas, mas eu
espero, você espera, nós esperamos.)
Me movendo pelo cômodo, deixei o prato e a taça sobre uma das
mesinhas laterais de cabeceira, para pegar o controle da televisão em cima
da cama e usá-lo como microfone. À medida que cantava mais alto e com
mais animação, dancei pelo quarto, fazendo um show particular para mim
mesma, curtindo minha solitude.
Henrique
Estou mesmo fazendo isso?
Por Deus, eu devia estar com algum problema, porque a quantidade
de coisas absurdas e estranhas que tenho feito nos últimos dias envolvendo
mulheres só aumentava.
Talvez eu tenha contraído algum vírus ou esteja precisando trepar
mais.
Assim que cheguei em meu apartamento, após pegar um táxi no
aeroporto até aqui, vim direto para o meu quarto, deixando minha pequena
mala pelo caminho, desejando tomar um banho e capotar na cama, sem me
importar em comer algo. Estava exausto e precisava apenas descansar.
O plano era simples, no entanto, assim que pus meus pés no quarto,
meu corpo enrijeceu ao ouvir uma voz feminina cantar com sensualidade
uma música em inglês. No começo pensei estar imaginando coisas até que o
volume da cantoria aumentou à medida que a pessoa entoava o refrão da
canção.
Segui o som para saber de onde vinha, o que me trouxe à minha
atual posição.
Estava abrindo a porta de vidro que havia no meu quarto para escutar
melhor essa belíssima voz, mas a verdade era que estava bisbilhotando a
minha nova vizinha.
Concentrei-me em descobrir algo que pudesse me dar pistas sobre a
identidade da nova moradora que dividirá a sacada comigo. Se levar em
conta a voz, certamente se trata de alguém divino.
O antigo morador do apartamento em questão, parecia ser tão
ocupado quanto eu, a ponto que só o via nas poucas vezes que
compartilhamos o espaço no elevador ou no hall de entrada.
Norman Cross era o filho mais velho do dono do prédio, uma
família que possui o hábito de comprar, reformar e vender imóveis, bastante
conhecida nos Estados Unidos. Sei disso pelas pesquisas que fiz acerca dos
proprietários antes de comprar meu apartamento. O edifício Saint Cross
Building era o único que eles possuíam no país. O motivo ninguém sabia,
mas era um dos mais luxuosos da cidade.
Durante os quase dez meses que ele foi meu vizinho, nunca ouvi um
barulho sequer vindo do apartamento, nada além de ruídos abafados que
pudessem ser identificados com clareza. O cara era reservado. Em vista
disso, meu espanto ao conseguir escutar a cantoria da mulher que por algum
motivo, provocava arrepios por todo meu corpo, concentrando toda
sensação de tensão na cabeça do meu pau.
É, definitivamente, eu preciso trepar mais!
No dia seguinte, no trabalho, não conseguia me concentrar como
deveria em minhas tarefas. Precisei redigir três vezes o mesmo contrato
porque não era capaz de parar de pensar na minha nova vizinha, como se
não bastasse ter que fazer um esforço descomunal para não imaginar os
piercings na porra dos peitos da diaba italiana, agora eu estava me deixando
ser perturbado por uma voz. Patético, Henrique! Simplesmente patético.
Até cedi a oferta de Simone quando disse que acender um incenso me
ajudaria, entrando novamente no assunto do quanto meus chackras estavam
desalinhados. Que porra aquilo significava? Eu não estava afim de saber ou
ao menos entender.
O cheiro de mato queimado adentrando minhas narinas provocou em
mim o efeito contrário do que a senhorinha hippie havia dito. Ao invés de
me sentir mais calmo, fiquei mais estressado, sendo consumido pelos meus
próprios pensamentos. Esses sim, estavam uma verdadeira bagunça.
Na noite anterior, depois que a vizinha terminou de cantar, um
silêncio tomou conta do ambiente e eu me senti estranhamente
decepcionado e frustrado, algo dentro de mim desejou ouvi-la por mais
tempo. Sua voz era um misto de delicadeza e sensualidade, que me fez
pensar como seria ter palavras sussurradas por ela ao pé do ouvido.
Esperei a próxima canção vir, por tempo suficiente para perceber que
eu virei um verdadeiro maluco stalker fofoqueiro do caralho. E como se
não bastasse, fiquei escondido entre as cortinas que cobrem a porta de vidro
tentando ter o vislumbre da mulher de voz doce e pecaminosa.
Tinha que concordar que isso era algo que certamente Matteo faria,
jamais eu, mas como não andava sendo o mesmo nos últimos tempos, peço
que não me julguem. Estou sofrendo a influência por andar com B1 durante
todos esses anos.
Dois minutos depois foram o bastante para eu colocar minha cabeça
no lugar, o que não durou muito, levando em consideração que após o
banho, ao me deitar para dormir, fiquei tentado a pegar meu celular e
encarar o print que tirei da foto do perfil do Instagram de Beatrice enquanto
estava em Curitiba.
Resumindo, minha coleção de noites maldormidas havia aumentado
um dígito e como brinde, acabei acordando tarde e me atrasando para ir
trabalhar, perdendo a chance de cruzar com a nova moradora do
apartamento ao lado e saber se sua aparência era tão gostosa quanto sua
voz. Bem, eu torcia para que sim.
Antes mesmo do expediente acabar, me vi saindo da empresa, sob o
olhar curioso da minha secretária à medida que caminhava rumo à saída,
sem conseguir evitar pensar na voz da nova vizinha e na diaba e seus
malditos piercings nos peitos, durante todo o trajeto de volta para casa.
Não existia uma explicação lógica para o fato de eu estar me sentindo
tão afetado por uma voz, sem nem ao menos saber quem era sua dona,
diferente da atração que eu sinto por Beatrice. Até cogitei arrancar algumas
informações sobre a nova moradora com o Sr. Caetano, o síndico do prédio,
porém descartei a ideia sabendo o quanto ele segue e preza pelas regras e
normas de privacidade que temos no edifício. E, não era como se eu nunca
fosse conhecê-la, afinal, as chances de nos esbarrarmos são grandes. Uma
coisa era certa: eu estava ficando louco.
Já no prédio, uma sensação parecida com déjà-vú me tomou assim
que apertei o botão para chamar o elevador, só que ao invés de sentir que já
vivi o momento, era como se o universo quisesse me avisar que algo estava
prestes a acontecer e pela forma como minha pele se arrepiou, deixando-me
gelado, não se tratava de algo bom. Por instinto, virei para olhar o saguão
de entrada, onde o porteiro conversava tranquilamente com uma senhora
que deduzi ser moradora.
O som sinalizando que o elevador havia chegado me fez tornar meu
olhar para frente, meus dedos se fechando com força em volta da alça da
pasta conforme adentrava a caixa de metal. Tratei de apertar o número que
indicava meu andar no painel, talvez com mais força do que o necessário,
desejando fazer a máquina subir o mais depressa possível.
Mal sabia eu que estava prestes a descer, indo direto para o inferno
sem passar por qualquer tribunal na tentativa de buscar clemência, caindo
direto nos braços da diaba.
CAPÍTULO 12
Henrique
— Segura! Por favor! — a voz cheia de sotaque que eu,
infelizmente, conhecia muito bem, gritou, fazendo meu corpo todo tremer
em alerta.
Involuntariamente, estiquei um braço, evitando que a porta do
elevador se fechasse e quando ela se abriu por completo, olhos selvagens e
íris cor de esmeralda se bateram com os meus. Imediatamente, recuei,
quando a surpresa pelo encontro se esvaiu de seu rosto dando lugar à
expressão endemoniada que ela sempre direcionava a mim.
O que essa mulher faz aqui?
O que caralhos Beatrice Fontana faz aqui?
No prédio que eu moro? Caralho!
Eu só posso estar alucinando!
Mil respostas passaram pela minha mente e nenhuma delas me
agradou.
Respira, Henrique!
Por Deus, eu esqueci mesmo como respira?
Pela segunda vez por causa… dela?
— O que faz aqui? — perguntei com os dentes apertados, meu
maxilar doendo com tamanha força que os pressionava.
A porta então se fechou, antes que eu conseguisse fazer meu cérebro
enviar um comando às minhas pernas para correr e sair dali o mais rápido
possível.
A diaba sorriu, cruzando os braços e parando bem à minha frente,
seus lábios se rasgando em um sorriso sexy pra caralho.
Engoli em seco e me vi dando passos para trás até encostar no
espelho que cobre uma das paredes de metal, sentindo-me sufocado, seu
cheiro de baunilha com flores adentrando meu sistema, me fazendo desejar
enterrar meu rosto em seu pescoço e senti-lo direto da fonte.
O cheiro que eu já fantasiei inúmeras vezes sentir em meus lençóis
enquanto meu pau a fodia, seu rabo batendo em minhas bolas a cada
investida…
Segura a onda, Henrique!
Caralho! Segura a onda, porra!
— Poderia te perguntar a mesma coisa, caro mio.
— Você está me seguindo, Beatrice? — indaguei incrédulo, porém,
preciso admitir que havia uma parte em mim que adorava a ideia dela poder
estar mesmo me seguindo, levada pelo desejo que sente por mim.
Bea soltou uma risada, que reverberou pelo meu corpo. Precisei
puxar o ar com força para manter minha postura.
— Não exagere, caro mio — disse fazendo aquele movimento típico
de italianos. — Gosto te provocar você, sinto tesão por você, contudo não
me daria ao trabalho de te seguir. Meu fogo no rabo tem limites. E você, o
que faz aqui?
— Você não respondeu a minha pergunta!
— E você não respondeu a minha!
Ergueu uma sobrancelha, injetando em mim mais uma dose de raiva
e... porra, tesão.
Eu tinha mesmo que me sentir tão afetado por ela?
— Será que nem em casa, eu tenho paz, caralho? — murmurei.
— Non credo! (Não acredito!) Você… mora aqui? — a forma como
seu tom de voz soou, repercutiu direto no meu pau. Para a minha sanidade,
a pouca que sempre restava quando se tratava da diaba, não parecia ser um
bom presságio.
Você está fodido. Meu subconsciente gargalhou bem na porra da
minha cara!
É, filho da puta. Eu sei!
— Você mora mesmo aqui? — perguntou como se não acreditasse,
seu olhar desviou do meu por um momento até o painel do elevador, que
indicava o último andar, antes de voltar a me encarar, dessa vez, suas íris
brilhando tanto quanto o sorrisinho de endemoniada em seus lábios.
Não respondi, porque como o pateta que eu era quando o assunto se
tratava da diaba, me perdi admirando seu rosto, que parecia não conter
nenhum sinal de maquiagem, o que me fez notar, pela primeira vez,
algumas sardas espalhadas em seu nariz empinado.
Beatrice era, sem dúvida, a mulher mais linda e gostosa que eu já vi,
não importava se estava usando um dos vestidos provocantes que
costumava usar, ou jeans, uma blusa e tênis brancos, como agora, ela
conseguia ser sexy e gostosa, porque a sensualidade está nela e não nos
acessórios que colocava em seu corpo. A filha da puta — que tia Beatriz
me perdoe. — era toda quente, e a pior parte era que ela sabia, sabia muito
bem que podia fazer qualquer homem ou mulher se ajoelhar diante dela, se
assim quisesse. Eu mesmo, temia que isso acontecesse algum dia comigo. E
também tinham os malditos piercings que faziam minha imaginação ser
invadida por imagens dos seus peitos com as joias. Se na minha mente a
cena era tentadora, na realidade, deveria ser ainda mais perfeita, de um jeito
sexy e obsceno.
Sem perceber, desci meu olhar para os seios bem marcados na blusa.
— Você está babando, Sr. Prado — zombou, me fazendo voltar a
encarar seus olhos, o que também não ajudou em nada.
É impressão minha ou esse cacete de elevador está mais lento?
Vou me lembrar de fazer uma queixa na próxima reunião de
condomínio.
— Não estou babando.
— Se você quer acreditar nisso para o bem do seu ego, tutto bene.
— Deu de ombros, ficando de costas para mim.
Fechei os olhos com força para não babar no seu rabo e voltei a
perguntar, tentando me manter calmo à medida que respirava e inalava seu
cheiro. Ah, porra, porque tinha que cheirar tão bem? Mulher dos infernos!
— O que faz aqui?
— Não lhe devo satisfações.
— Responda a minha pergunta — falei pausadamente entredentes.
— Você não manda em mim!
— Só responde a porra da minha pergunta! — dessa vez, disse um
pouco mais alto, abrindo os olhos e encontrando os seus em mim enquanto
me olhava por sobre os ombros.
O barulho sinalizando que havíamos chegado no meu andar soou.
Ela então tornou a olhar para frente, caminhando tranquilamente para fora
da caixa de aço assim que a porta se abriu.
— Responde a minha pergunta, Beatrice! — exigi, seguindo-a,
usando tudo de mim para não secar sua bunda à medida que seu quadril
balançava.
Senti meu coração bater ainda mais acelerado quando paramos no
corredor, entre as únicas portas que haviam ali, além da que sinaliza as
escadas ao lado do elevador.
— Surpresa! — exclamou sorrindo, virando-se abruptamente. —
Sou sua nova vizinha!
Suas palavras me roubaram o fôlego e juro que senti meu coração se
comprimir em meu peito. Ele estava parando de bater.
Meu.
Coração.
Parou.
Ele… parou…
Por alguns segundos, enquanto meu cérebro tentava formular a informação,
ele parou.
Não! Eu ouvi errado. Foi isso. Com certeza foi isso!
— O.. o que você disse? — balbuciei, meu olhar oscilando entre
seus olhos e a porta atrás dela.
— Isso que você ouviu. Sou sua nova vizinha! Surpresa!
— Você está… brincando comigo, não está?
Tem que estar.
— Não, caro mio. Se quiser pode ir até à portaria e perguntar para o
síndico — sorriu convencida.
Então… a voz. A maldita voz era dela.
— Como eu não percebi que era você cantando? — Apesar da
pergunta ter sido feita em voz alta, era para mim que ela era.
— Então você me ouviu cantar. Scusi, por isso. Acabei deixando a
porta aberta do meu quarto que dá acesso à varanda, e me empolguei um
pouco. —Deu de ombros.
— Como não percebi que era… você?
— As pessoas sempre comentam que quando falo em inglês ou
espanhol, minha voz muda. — Deu de ombros novamente. — Então, gostou
do show? — questionou, analisando meu rosto.
Permaneci em silêncio, mas a forma como minha pele esquentou, me
deu a certeza de que estava vermelho, e era a resposta que ela queria.
Droga!
— Tenho certeza de que teria gostado ainda mais se pudesse ter visto
ao vivo, principalmente por causa de como eu estava.
— Como você estava? — deixei escapar. Caralho! Segura a onda,
Henrique!
— Eu estava de…
— Não quero saber — a interrompi antes que despejasse mais
combustível para a minha imaginação. — Não acredito que você… vai
morar aqui. Não pode ser.
— Não só pode, como é. E eu não fazia ideia de que você morava
aqui até há poucos minutos, quando notei que estávamos vindo para o
mesmo andar.
— Porque seus irmãos não me falaram nada?
— Porque eles ainda não sabem. Pedi aos meus pais para guardarem
segredo. Além deles, apenas as meninas sabem, já que me ajudaram a
escolher esse lugar.
Merda, mil vezes merda! Mas que cacete!
— Você não pode morar aqui! — declarei trincando os dentes e
apertando meus olhos em sua direção, meu peito subindo e descendo tão
rápido que sinto minhas narinas inflando e tentando acompanhar o ritmo.
— Per favore, poupe-me desse discurso barato de posso ou não
posso. Acho que você já percebeu que eu faço o que eu quiser. Por
exemplo, agora.
— O que tem agora? — Franzi o cenho.
Ela não me respondeu de imediato. Apenas sorriu de lado, feito uma
diaba do caralho e mexeu na bolsa que está em seu ombro, tirando de lá um
molho de chaves. Beatrice piscou para mim, prendendo seu lábio inferior
antes de abrir a porta atrás de si.
— Agora — disse já dentro do apartamento — eu quero te deixar
puto e é o que vou fazer — falou e bateu a porta na minha cara sem me dar
a chance de absorver as palavras.
Porra, estou fodido! Estou muito fodido!
Fodido até a minha décima geração!
Muito FO.DI.DO!
Beatrice
— O que está acontecendo? — Bárbara foi a primeira a falar.
— Você está bem, cugina? — Kyara me observou como se estivesse
procurando por algum machucado. Sorri para a sua preocupação.
Minha cunhada, por outro lado, estava mais preocupada com outra
coisa, aparentemente.
— Alguma receita nova para as minhas filhas e eu
experimentarmos? — perguntou, suas íris brilhando em expectativa.
Essa "gnomio" barriguda era mesmo um evento. O evento do ano.
Assim que bati a porta na cara de Henrique, me joguei no sofá da
sala e tratei de enviar uma mensagem para as meninas solicitando uma
ligação por videochamada.
— Eu estou bem, não aconteceu nada comigo. E não, não tenho
receitas novas, ainda. — Ana Laura fez bico.
— Então qual a emergência? — Ky indagou, seus ombros
relaxando.
— Eu descobri finalmente quem é o meu vizinho. — Fiz uma pausa
dramática. — Adivinhem quem é.
— Sou péssima com jogos de adivinhação — minha prima falou.
— Beyoncé?
Franzi o cenho.
— O quê?
— Seu novo vizinho é a Beyoncé? Se for, vou te visitar todos os dias,
cunhada.
Soltei uma risada vendo a expressão animada no rosto de Ana.
— Não, não é a Beyoncé, cara mia. É melhor que ela.
— Melhor que a Queen B, só se for o… Chris Evans? — sugeriu
brincalhona.
— Ok, isso seria bom. Muito bom, na verdade. Ele é gostoso pra
caralho. Eu o faria de pulapula sem qualquer objeção.
— Per Dio! — Kyara exclamou e vi pela tela que suas bochechas
estavam coradas.
— Claro que faria — minha cunhada zombou revirando os olhos.
— Eu sei quem é o seu novo vizinho — Bárbara disse com certeza.
— Sabe? — Alcei uma sobrancelha.
— A julgar pela sua animação, eu tenho quase cem por cento de
certeza.
— Conta! Conta! Conta! — a grávida do grupo pediu.
— Henrique — disse simplesmente.
— O quê? — Ana e Kyara exclamaram de olhos arregalados.
— Como você sabia? — indaguei curiosa, enquanto encarava
Bárbara.
— Leio livros de romance. Como vocês dizem, sou fanfiqueira de
carteirinha. Clichês são meus gêneros favoritos e bem, a irmã que tem
interesse no melhor amigo dos irmãos mais velhos, é bem clichê. E estava
até demorando para algo assim acontecer. — Deu de ombros.
— Sabe o que é clichê também, amiga? — indaguei, minhas palavras
pingando divertimento e cinismo.
— O quê, Bea?
Um sorriso malicioso se formou em meus lábios.
— Enemies to lovers.
Ana, Kyara e eu, rimos da careta que ela fez.
— Estou arrependida de ter explicado o lance das tropes literárias
para vocês — resmungou.
— Então — minha cunhada falou depois de uns instantes —, quer
dizer que o seu vizinho de varanda é o Henrique? Como você descobriu?
Ele já sabia?
Contei a elas sobre o ocorrido há minutos no elevador, relatando tudo
o que foi dito por nós dois.
— Isso parece as histórias de amor que eu leio — Bárbara suspirou e
eu revirei os olhos.
— Não vamos ter uma história de amor.
— Não corte o meu barato, Beatrice. Deixe-me fanficar um pouco
com sua vida amorosa — ralhou, apontando um dedo para a tela.
Sorri.
— Você o quer tanto quanto ele a quer. E de acordo com os meus
livros, Henrique só foge porque tem medo da reação do Dante e do Matteo.
— Já consigo imaginá-los surtando por causa das gêmeas — Ana
disse, enquanto alisava a barriga grande com a mão livre.
— Italianos ciumentos demais — cantarolei. — E olha só, foi a
primeira vez que Bárbara se referiu ao meu imão pelo nome e não pelo
apelido que deu a ele. Sinto cheiro de lovers vindo aí.
Rimos e ela bufou, fechando a cara.
— E o que você vai fazer agora? — minha prima perguntou.
— O que eu faço de melhor quando o assunto é Henrique Prado.
Provocar.
Nos minutos que se seguiram, contei a elas com riquezas de detalhes
o meu plano para fazer o loiro ceder.
Mesmo sabendo que não deveria, eu o queria em minha cama. E, sem
sombra de dúvidas, o teria.
CAPÍTULO 13
Henrique
— Pela primeira vez, não sou eu quem está atrasado — Stella disse
assim que me sentei na cadeira ao seu lado. — Espero que tenha um bom
motivo para os — faz uma pausa checando o relógio em seu pulso — trinta
minutos de atraso.
Sempre que um de nós retornava de uma viagem de trabalho,
tínhamos o hábito de marcarmos de nos ver, uma forma de estarmos sempre
perto e presente na vida do outro principalmente com as nossas agendas
caóticas, sobretudo a dela.
— Acredite, tenho um bom motivo para isso. Ou melhor — Desaboto
o meu terno e passo a mão em meus cabelos e barba. —, um péssimo
motivo.
— O que aconteceu? — perguntou preocupada. — Você está bem?
Não, eu definitivamente não estou bem.
Depois da merda toda que aconteceu no elevador com Beatrice e da
diaba ter batido a porta na minha cara, mais um dígito foi acrescentado na
minha coleção de noites mal dormidas.
Fiquei por alguns segundos — talvez minutos —, parado no meio do
corredor, ainda absorto acerca da bomba que ela jogou em meu peito.
Vizinhos.
Nós somos vizinhos.
Bufando e tremendo de raiva, entrei em meu apartamento, levando
mais tempo do que o aceitável para conseguir abrir a droga da porta. Assim
que a fechei, me vi indo até à cozinha e abrindo uma garrafa de uísque e
bebendo uma dose de uma só vez, me sentindo levemente embriagado. Tirei
minhas roupas, joguei-as em cima da mesinha de centro e capotei no sofá,
me sentindo esgotado demais para ir até o meu quarto.
Quem eu queria enganar?
A verdade é que eu estava com um puta medo de ir até lá e ouvi-la
cantar. Diferente da noite anterior, agora a voz sensual tinha um rosto e um
corpo ainda mais sensuais. Pertencia a minha maior tentação. Perfeito!
Pela manhã, a dor de cabeça me abraçou e foram preciso dois
comprimidos para suportar os compromissos do dia. Não precisava dizer
que me atrasei para o trabalho e que o único lado bom nisso, foi não
encontrar com a diaba novamente.
Como vou conseguir resistir à Bea estando diariamente a centímetros
de distância de mim?
Como vou parar de desejar seu corpo, de conhecer o sabor dos seus
lábios?
Como vou parar de pensar o quão fodidamente bom deve ser estar
dentro dela e ouvir seus gemidos no meu ouvido?
E, porra, como vai ser quando ela levar um cara para casa, e ele lhe
arrancar os sons de prazer que eu desejo arrancar dela?
Fodido! Fodido! Fodido!
Droga de promessa!
— Estou bem — garanti e seus ombros relaxaram.
— Então, qual o problema?
Antes que eu pudesse responder, o garçom apareceu para anotar os
nossos pedidos. Soltei um suspiro e esperei até que estivéssemos apenas nós
dois para contar a novidade a ela. Assim que ele se afastou, despejei tudo,
desde o nosso momento no banheiro, a noite em que escutei sua voz sem
saber que era ela, até o fatídico instante em que levei uma porta na cara.
Assim que terminei, esperei Stella dizer algo, no entanto, ela não
esboçou nenhum som ou expressão, ficou apenas me encarando como se
tentasse processar tudo o que falei. Então, quando eu estava prestes a
perguntar se tinha me ouvido, sua gargalhada seguida de um tapa no ombro
me fez dar um pequeno sobressalto no lugar. Agora, estou arrependido por
ter contado tudo a ela.
— Não acredito! Vizinhos? — disse entre risos, segurando a barriga.
— Puta merda, é a melhor notícia que já escutei em anos. É… hilário!
Hilário!
Stella acabou atraindo olhares para a nossa mesa, principalmente de
homens, como sempre acontece por onde passamos. Sua pele pálida
contrasta perfeitamente com seu cabelo liso ruivo natural, ressaltando seu
rosto marcante e seus olhos verdes. Minha prima já estava com trinta anos,
porém o tempo só lhe fazia bem. Ficava mais linda a cada dia.
— Não é hilário, Stella. É… perigoso, porra!
Encarei-a e fechei a cara. Ela estava ficando vermelha e
completamente sem fôlego.
— Acabou?
— Me… me desculpe — falou, alisando o rosto. — Mas é hilário que
você esteja fugindo da mulher há meses… E ela simplesmente se muda para
o apartamento ao lado do seu. — Puxou a respiração, se acalmando por fim.
— Então, o que você pretende fazer? Pelo que já me contou, ela é bem
decidida e não vai facilitar.
— Você acha que eu não sei? Ela é maluca!
— Eu já amo essa mulher! — disse, rindo e eu a encarei. —
Desculpe, mas eu preciso te dizer que você está muito ferrado.
— Sério? Não me diga — debochei.
— Porque você não transa logo com ela?
— Você enlouqueceu? Ela é a irmãzinha dos meus melhores amigos e
eu fiz uma promessa a eles de que jamais chegaria perto dela com segundas
intenções.
— Tecnicamente, você já quebrou a promessa. — Franzi o cenho,
confuso e ela logo esclareceu seu ponto. — Você já chegou perto dela, perto
até demais. E nós sabemos que você não tem só segundas intenções, mas
terceiras, quartas, quintas e por aí vai — brincou.
— Você não está me ajudando.
— Veja — Toca em minha mão que está em cima da mesa —, você a
quer e ela obviamente te quer também e já deixou bem claro que é apenas…
tesão. Então, porque não matar o que está te matando?
— Prefiro continuar evitando.
Stella relaxou na cadeira.
— Bem, boa sorte, primo, porque acho que esse seu “autocontrole”
— fez aspas com as mãos — não vai durar muito. — Olho-a de cara feia.
— O quê? Você sabe que eu estou certa.
— Bem que você podia mentir de vez em quando, só para me animar.
— Conhecendo você como eu conheço, tenho certeza de que não é só
isso que está te perturbando.
Soltei um longo suspiro.
— Eles te ligaram, não foi?
Meu silêncio foi a confirmação que ela estava certa.
— Você ainda os ajuda, assim como faz com Verônica.
Não foi uma pergunta.
Stella e seus pais são os únicos que sabem, com riquezas de detalhes,
sobre a minha infância fodida, tendo em vista que foram eles que me
salvaram quando tudo parecia prestes a chegar ao fim. Com certeza, se não
fossem eles, eu não estaria mais aqui.
Nunca contei aos meus amigos, odiava a possibilidade de deles me
olharem com pena e… eu tinha vergonha, vergonha de falar sobre os piores
anos da minha vida. E sim, ela estava certa, eu ainda ajudava meus pais e
Verônica, mesmo depois de tudo o que eles fizeram comigo. Eu ainda os
ajudava e não conseguia deixar de me importar.
— Podemos mudar de assunto? — ofereci bebendo um pouco de
água.
— Não os deixe te manipularem, Henrique. Você é bom demais e eles
sempre se aproveitam disso.
— Stella…
— Eu sei. Eu sei, mas odeio saber que mesmo depois de todo mal que
te fizeram, você ainda se importa com eles e pior, que ainda estão soltos por
aí quando deveriam estar atrás das grades. Eu fico… puta pra caralho!
— Não fique. Eu estou bem — garanti. — Vamos almoçar e você me
conta alguma coisa engraçada que aconteceu em seus plantões.
Isso a fez sorrir e toda raiva foi se dissipando do seu rosto conforme
me contava da mulher que deu entrada na emergência porque colocou
comida dentro da vagina, como parte de um ritual para recuperar o seu ex.
E como sempre, rimos, conversamos e nem vimos o tempo passar até que
seu paiger tocou, sinalizando que ela precisava voltar com urgência para o
hospital.
— Esse Matteo parece ser bem doido — disse, depois que contei o
apelido que meu amigo deu à Ana, conforme andávamos para fora do
restaurante.
— Voc ê não imagina o quanto. Seria legal se você finalmente
pudesse os conhecer.
— Você sabe que minha profissão…
— Eu sei. Eu sei. Mas você precisa sair um pouco.
— Eu saio — defendeu-se.
— Sair para atender algum caso médico, não é a definição de sair ao
qual eu estava me referindo e você sabe disso, Stella.
— Tudo bem. Prometo que estarei presente na próxima oportunidade.
— Espero. — A puxei de lado para um abraço, depositando um beijo
em sua têmpora, quando passamos pela porta.
Nos despedimos, cada um seguindo para o seu respectivo trabalho.
Assim que cheguei em minha sala, encontrei minha mesa cheia de
pastas dos processos que havia pedido à Simone antes de sair para o
almoço. E pelo resto do dia, foquei apenas no trabalho.
— Boa noite, vizinho! — sobressaltei ao ouvir Beatrice assim que
abri a porta dupla da sacada.
O vento frio da noite me saudou, contudo não foi capaz de consumir o
calor em meu corpo provocado pela voz da diaba e o seu perfume que
flutuou até mim.
Por um momento quando cheguei em casa, pensei que estava preso
em um daqueles sonhos bons pra caralho, a ponto de na vida real serem
proibidos. Aqueles sonhos que a gente deseja, mas tem medo de
compartilhá-los.
Mas assim que virei o rosto para encontrar a diaba sorrindo, com seu
corpo coberto por um robe curto de seda branco, enquanto se deliciava com
uma fatia de pizza, vi que eu estava preso em um pesadelo real demais.
Droga!
— Boa noite — falei, fazendo menção de voltar para o quarto
— Me faz companhia — sugeriu. — Acabei fazendo pizza demais
para uma pessoa só
Indicou para a mesa redonda e alta à sua frente.
— Melhor não.
— Não quero que estrague — insistiu.
— Você pode levar para Ana amanhã. Tenho certeza de que ela irá
amar.
— Vamos, Henrique. É só uma pizza.
Virei totalmente o corpo, ficando de frente para ela.
Refleti se o que estava prestes a fazer seria arriscado demais para a
minha sanidade.
Não fique sozinho com essa diaba, porra!
Não será apenas uma pizza, você sabe disso. Meu subconsciente
berrou
— Apenas uma pizza, Henrique! Per Dio, homem! Não vou te atacar.
Eu ri.
— Promete?
Beatrice soltou uma risada daquelas gostosas de se ouvir, que fez seu
corpo balançar na cadeira em que estava sentada. Fiz de tudo para não
descer o meu olhar e babar em suas coxas grossas. Sua pele parecia ser
quente, macia e cheirosa, e lamentei por nunca poder prová-la.
— O que é engraçado? — quis saber, focando em suas sobrancelhas.
Porra, até elas eram lindas e… sexys! Tudo nela era sexy!
— Como um homem do seu tamanho tem medo de uma mulher
inofensiva como eu? — provocou, fazendo um beicinho exagerado. Precisei
engolir a saliva junto a vontade de invadir sua varanda para segurá-la em
meus braços, enquanto passo minha língua em seus lábios.
— Boa noite, Bea.
Isso, caralho!
— Prometo me comportar. — Cruzou dois dedos e os beijou.
Não caia nessa, Henrique.
Ela é a diaba! A diaba, cacete!
Foi a minha vez de soltar uma risada, só que baixa e mais contida que
a dela.
— Ei, eu posso me comportar. Quando eu quero — se defendeu.
— Ao que parece, você nunca quer. Pelo menos, quando se trata de
mim.
— Va bene. Va bene. Apenas coma e eu dou minha palavra de que não
irei me levantar daqui se assim você se sentir protegido, donzela —
debochou. — E juro, essa — disse, levantando a mão que segurava uma
fatia de pizza pela metade — será a melhor pizza que você já comeu na
vida.
— Sem falsa modéstia? — instiguei.
— Sem falsa modéstia, ragazzo. Então, aceita me fazer companhia?
— pediu novamente. — Por favor.
Por favor.
Malditas palavras que me impediam de negar um pedido seu. Droga!
Suspirei, derrotado.
— Tudo bem.
Caralho! Porra, Henrique! Não fode!
Você estava indo tão bem, cacete!
Vai se foder! Você merece mesmo é tomar no meio do seu rabo.
Fui até o parapeito de vidro que dividia o espaço e estiquei o braço
para pegar uma fatia de dentro da caixa que estava aberta sobre a mesa à
sua frente.
— Então, Sr. Prado, é ou não é a melhor pizza que você já comeu? —
indagou, depois que mordi um generoso pedaço e puta merda,
definitivamente, a melhor pizza que eu já comi.
Terminei de mastigar e engolir para dar o meu veredicto.
— É, não posso negar. Parabéns. Está incrível!
Lambi os lábios e dei mais uma mordida, tentando ignorar a forma
como seus olhos cintilaram com o movimento da minha língua.
— Grazie — agradeceu antes de voltar a comer, soltando um gemido
exageradamente sexy pra caralho, acendendo mais uma chama dentro de
mim.
Corre, Henrique! Fica longe dessa mulher!
— Então, como foi seu dia?
Pigarreei, afastando meus olhos dela.
— O que disse?
O canto dos lábios de Beatrice subiram sutilmente, demonstrando que
a diaba sabia o que a sua pequena cena "comendo", me causou.
A filha da mãe fez de propósito.
Claro que fez, idiota!
— Perguntei como foi seu dia.
— Porquê?
— Porque o quê?
— Porque quer saber como foi meu dia, Beatrice?
Ela deu de ombros.
— Eu prometi que me comportaria e estou fazendo isso. Amigos
conversam.
— Não somos… amigos — falei com cuidado, não querendo ser rude.
— Não, mas podemos ser.
A olhei desconfiado.
Ela sorriu parecendo tímida e completamente inofensiva. Apenas,
parecendo.
O que você está fazendo, sua diaba?
— Você quer ser minha amiga? — Assentiu. — O que você está
tramando?
Bea revirou os olhos.
— Cazzo, não estou tramando nada. Só estive pensando que, bem,
você é amigo dos meus irmãos e da família, e agora somos vizinhos.
— É, somos.
— Por isso, acho que a melhor opção para nós é a amizade. Não é o
que sempre disse querer comigo?
Definitivamente, eu não queria apenas amizade com ela, contudo era
tudo o que poderia ter. Era mais seguro, simples e nada complicado. Era o
caminho certo, afinal, Beatrice Fontana é a irmã caçula dos meus melhores
amigos.
— É o que você quer? Mesmo?
— Não é o que eu quero, mas é o que podemos ter. Certo?
Assenti.
— É.
Isso vai dar merda, Henrique Prado. Não cai no papo dessa diaba,
caralho!
— Amigos? — falei, pensativo.
— Isso, amigos. Apenas amigos — enfatizou. — Seja meu amigo,
Henrique, per favore.
Em italiano? Ah, porra! Não fode!
Como negar algo com ela usando tais palavras em seu idioma
natal e me encarando com suas íris verdes como se fosse uma gata
selvagem? Argh, que inferno!
— Amigos — disse, fazendo-a abrir um sorriso de orelha a orelha. —
Amigos — murmurei novamente tentando fazer meu cérebro se acostumar
com a ideia.
— Você verá que eu sou uma ótima amiga, Sr. Prado — a forma
como ela falou não deveria ter feito meu pau se contrair dentro da calça de
moletom.
Você fez o certo, cara. Tentei eu mesmo me aconselhar.
— Então, como foi seu dia? — perguntou novamente.
Me sentindo estranhamente um pouco mais à vontade — apenas um
pouco — com sua presença, apoiei o quadril na parede mais próxima e
cruzei o braço ao respondê-la.
— Cansativo.
— Compartilhamos de um mesmo sentimento. Precisei testar
inúmeras massas para chegar nessa aqui. — Indicou com o queixo para sua
mão.
— Valeu a pena o esforço.
— É, eu sei — sorriu convencida antes de morder outro pedaço de
pizza. — Sempre quis ser advogado? — perguntou de boca cheia.
Pensei por um momento, escolhendo as palavras certas e que não
fossem tão reveladoras acerca do meu passado.
— Digamos que sim. E você, sempre quis ser chefe de cozinha? —
devolvi a pergunta.
Coloquei na boca o pedaço que ainda faltava da fatia em minha mão e
lambi o canto dos lábios que tinham resquícios de molho de tomate para,
em seguida, pegar outra.
Ela pigarreou, me fazendo subir o olhar para o seu rosto.
— Algum problema?
— Nenhum, caro mio. E sim, eu sempre quis ser chefe de cozinha.
Nunca me vi fazendo outra coisa.
Ah, sua diaba. Eu consigo te imaginar fazendo tantas coisas, a
maioria delas ajoelhada diante de mim.
Foi a minha vez de pigarrear. Balancei a cabeça, sentindo uma gota de
suor escorrer pela minha coluna.
— É, eu entendo — consegui dizer.
Nos próximos minutos, um silêncio constrangedor se estabeleceu
entre nós.
Beatrice não tirou os olhos de mim enquanto eu devorava mais duas fatias
de pizza.
Seu olhar era lascivo e me odiei por gostar dele sobre mim.
Otimo jeito de começar uma amizade. Pensando putaria com sua
nova amiga.
— Melhor você entrar — Bea me surpreendeu ao falar e franzi o
cenho. — Eu prometi que não me levantaria, então preciso que entre para
que eu também o faça.
Soltei uma risada.
— Obr igado pela pizza.
— Foi um prazer, amigo — o vento soprou e minha pele se arrepiou
no momento em que ela disse tais palavras, como se houvesse uma ameaça
implícita nelas.
Ignorei e entrei em meu quarto, fechando a porta de vidro e logo
depois, as cortinas, sem conseguir me livrar da sensação de que aceitar ter
uma amizade com Beatrice, não era uma boa ideia.
Mas, era o certo a se fazer.
Certo?
Eu torcia para que sim.
CAPÍTULO 14
Beatrice
— Gostaria de saber o porquê eu soube, por uma mensagem, que
minha irmãzinha comprou um apartamento e se mudou, só esta manhã? —
Matteo exclamou assim que abri a porta.
— Benvenuto, famiglia! (Bem-vindos, família!) — saudei, ignorando
sua cara fechada.
— Também gostaria de saber, cara mia — Dante disse sério ao seu
lado. — Que ideia foi essa de se mudar e não falar para ninguém?
— Contei para os nossos pais e para as meninas.
— Ana, você sabia disso e não me falou? — Dante perguntou.
— O quê? Ela é minha amiga e me pediu segredo, e ao contrário do
boca suja aqui eu sei guardar. E não briga comigo, estou carregando suas
filhas!
— Não sou fofoqueiro!
A porta de frente para a minha se abriu e a voz do vizinho soou como
uma tentação para mim.
— Você é fofoqueiro! — Henrique afirmou, fechando a porta do seu
apartamento e se aproximando.
— Bom dia para você, B2! Obrigado por me avisar que minha irmã
era a sua nova vizinha.
— Descobri no início da semana e, bem, ela me pediu segredo. —
Deu de ombros com as mãos nos bolsos.
Eu não pedi, porém saber que respeitou a minha vontade, me fez
sorrir para o loiro, que estava lindo, usando jeans e blusa branca.
Durante o restante da semana, nos encontramos algumas vezes entre
saídas e chegadas, e por mais que tivesse sido educado sempre que me
cumprimentava, eu sabia que Henrique ainda estava se acostumando com a
nossa suposta amizade. Usei tudo de mim para não rir pela forma como ele
tencionava os ombros como se estivesse ajustando sua armadilha invisível
para se proteger de mim. Eu estava adorando saber que meu plano estava
caminhando como havia planejado. Henrique Prado ia ceder à atração que
sente por mim, mais cedo ou mais tarde. Sou paciente, sei esperar e vou
esperar até que ele implore por uma noite comigo.
— Será que podemos deixar o show de ciúmes para depois? Meus
morangos e eu estamos famintas! E nossa fome vem do ciúme de vocês —
Ana falou, alisando sua barriga. Ela estava linda com um vestido rodado na
cor vermelha com bolinhas brancas, que ressalta sua barriga que parece ter
crescido mais desde a última vez que nos vimos pessoalmente. Parecia um
morango.
— Você está parecendo um morango — extravasei meu pensamento,
cumprimentando-a com um abraço.
— Eu sei! — O sorriso que se formou em seus lábios pelo elogio, me
fez ver todos os seus dentes. — Comprei um desse para as minhas filhas!
Vamos parecer trigêmeas!
— Com certeza terão o mesmo tamanho. — Matteo brincou, levando
um tapa em seu ombro.
— Dante, controle sua "gnomio"!
— Eu adoro esse apelido — Miguel disse, rindo.
— Prefiro "princeso" — Ana provocou.
— Sou ótimo em dar apelidos — Matteo se gabou. — Não é, boneca?
Bárbara revirou os olhos.
— Ok, ok! Vamos! Entrem! — disse, dando passagem para que todos
entrassem.
— Sua casa é muito bonita, minha filha!
— Grazie, mamma! Fiz uma reforma para aproveitar ao máximo o
espaço.
— Ótimo trabalho! — Miguel, o engenheiro falou analisando o lugar.
— Realmente, mi princepessa. Está bela.
— Feliz que gostou, babbo.
— Sigo esperando respostas — meu irmão mais dramático falou,
cruzando os braços e fazendo bico.
Soltei um suspiro.
— Contei hoje, não contei?
— Contei hoje — resmungou, me imitando. — Eu pensei que você
ainda estava pesquisando. Mas aí, estou assistindo Maria do Bairro quando
sou surpreendido por uma mensagem sua, me convidando para um almoço
em família na sua nova casa.
— Odeio novelas mexicanas. Prefiro as turcas — Bárbara comentou.
Matteo, que estava em pé próximo ao sofá, se sentou, levando uma
mão ao peito.
— Como assim você não gosta de novelas mexicanas? São as
melhores! — soou incrédulo.
— Não! As melhores são as turcas.
— Nenhuma delas tem a Talia, boneca.
— Mais tem o gato do Serkan.
— Sou mais eu.
— E eu sou mais ele.
— Estou com fome! — definitivamente, não preciso dizer quem falou
isso.
— Você sempre está com fome, Ana — Miguel disse e todos nós
rimos, menos a grávida.
— Não sei se vocês esqueceram, porém como podem ver — Aponta
para sua barriga grande —, estou grávida e comendo por três, então quando
eu falar que estou com fome, é porque estou com fome, caramba! — Fez
um bico fofo.
Calmamente, Dante passou a mão na barriga da sua esposa e disse
olhando para nós: — Hormônios.
— É, hormônios — minha cunhada resmungou manhosa. — Droga
de hormônios!
— Filha, você está tão engraçada grávida — dona Luíza comentou,
sorrindo com ternura. — Não vejo a hora de ver o rostinho das minhas
netas. Já escolheram os nomes?
— Sim, sogra. Escolhemos. — Mio fratello abraça Ana Laura de
lado, puxando-a com carinho para si. — Gostamos de nomes curtos, então
nossos morangos se chamarão Bella e Nina.
— Bella e Nina, minhas netas! — babbo disse animado, batendo
palmas.
— Lindos nomes — sorri.
— Bella e Nina, que vocês sejam calminhas igual ao pai de vocês.
Per favore! — Matteo falou, olhando e apontando na direção da barriga de
Ana Laura.
— Amém! — Miguel brincou, levando um tapa no ombro de leve de
sua irmã.
— Essa semana, as aulas na academia começam.
— Que aulas, B1? — a "gnomio" quis saber.
— Henrique, Miguel e eu vamos começar a praticar algumas lutas
para protegermos as gêmeas de caras babacas — disse, estufando o peito.
— Vocês sabem que isso vai demorar um pouco, na verdade bastante,
fratello?
— Sim, mas quanto antes começarmos, melhor. — Empertigou-se.
— Doido. — Bárbara apontou, revirando os olhos.
— E quanto aos padrinhos? — questionei.
— Conversamos sobre isso e decidimos que vamos deixar as nossas
meninas escolherem qual caminho elas desejam seguir quando estiverem
prontas para isso. Sabemos que não é algo comum, mas gostaríamos que
fosse assim — Dante anunciou enquanto sua esposa acenava em afirmação.
— Definitivamente, não é algo comum, mio figlio, porém respeitamos
a decisão de vocês enquanto pais — babbo declarou, tocando em seu ombro
e assentindo.
— Bem — bati palmas —, preciso alimentar a "gnomio" barriguda e
seus morangos famintos. Fiquem à vontade. Vou terminar de fazer o
almoço. Mamma — toquei em seu ombro —, me ajuda?
— Claro, querida.
— Vou com vocês — dona Luiza se ofereceu.
Enquanto nós três terminávamos de montar as lasanhas, os demais
ficaram na sala. Risos e conversas preencheram o ambiente, e eu não
conseguia tirar o sorriso do rosto quando nos sentamos à mesa.
Após o almoço, fiz um pequeno tour com todos pelo apartamento,
antes de servir a palha italiana que preparei no dia anterior, como
sobremesa, enquanto sentávamos espalhados na grande sala, todos
animados com o nascimento das gêmeas e a inauguração do Instituto Carlos
Ferreira que acontecerá em algumas semanas.
Estávamos rindo de algo que Matteo falou, quando Ana solta um
palavrão, levando suas mãos até sua barriga.
— Porra!
Tomamos um susto e logo vejo meu irmão atravessar a sala até a
esposa, segurando seu rosto com carinho, os olhos cheios de preocupação.
Rapidamente, toda a nossa família estava ao redor deles.
— O que foi, mi amore?
— Está sentindo dor, minha filha? — dona Luiza indagou
preocupada.
— Você está bem, Ana? — Miguel questiona, ficando ao lado do meu
irmão.
— Me desculpem! Não queria preocupar vocês, mas… Ai! —
exclamou novamente.
Levou dois segundos para eu entender o que estava acontecendo.
Com tranquilidade, coloquei minhas mãos em cima das dela.
— Elas estão se mexendo, não estão, cara? Minhas sobrinhas estão se
mexendo.
Os olhos da minha cunhada se encheram de água, que não demoraram
a escorrer pelo seu rosto. Emoção e amor fazendo suas íris azuis brilharem
refletindo felicidade. Ela acenou em afirmação, sorrindo em meio às
lágrimas.
— Minhas filhas… estão se… mexendo? — Dante perguntou de
olhos arregalados.
— A mãe pode sentir o bebê se mexer a partir do final do quarto mês
de gestação. Ana está com cinco. É o momento certo, fratello — expliquei,
me lembrando das inúmeras vezes em que ajudei Kyara a estudar em troca
de companhia para fazer compras.
— Minhas meninas estão mesmo se mexendo — disse, ainda sem
acreditar.
— Estão, amor. Bastante. — Ana Laura segurou as mãos do marido,
levando-as até que ambas estejam espalmadas na sua barriga. Alguns
segundos depois, a expressão de ambos era um mix de surpresa e
admiração.
— Acho que elas serão serelepes iguais a você, mi amore.
— Ah não, não foi isso que eu pedi! — Matteo resmungou.
Rimos e ansiosamente esperamos a vez para sentir Nina e Bela se
mexerem sobre nossas palmas pela primeira vez.
Às nove em ponto, Dante e Ana foram os primeiros a irem embora.
Um pouco depois foi a vez dos demais, restando por fim apenas Matteo e
Henrique. O loiro parecia não prestar muita atenção no que meu irmão
falava, seu cenho estava franzido e suas mãos pareciam não parar de suar, já
que ele as esfregava meio sem jeito em sua calça.
— Está tudo bem? — procurei saber me aproximando de onde eles
estavam.
— Si, cara mia. Va tutto bene. (Sim, minha querida. Tudo está bem.)
— Me abraçou, beijando minha testa. — Preciso ir agora. Marquei de
encontrar a Isa em um bar próximo.
— Pensei que não estava mais dormindo com a sua secretária —
comentei.
— Nos damos bem — falou dando de ombros.
Ele e Henrique me seguiram até a porta.
— Obrigado pelo almoço, Bea! — meu vizinho gostoso disse assim
que passou pelo batente.
Mordi o lábio inferior.
— Não precisa agradecer. Somos vizinhos e amigos. Não somos? —
Usei o meu melhor tom de inocência.
Vi seu pomo de adão se mover à medida que engolia.
— Sim, somos.
— Fico tão mais aliviado em saber que você tem o B2 por perto.
— Sei me cuidar muito bem sozinha — declarei.
— Sei que sim, mas como seu irmão mais velho…
— Dante é o irmão mais velho — brinquei e ele revirou os olhos.
— Você me entendeu, Bea. — Me puxou para um abraço e eu logo
envolvi meus braços em sua cintura, repousando minha cabeça em seu
peito. Matteo podia ser o irmão mais dramático e ciumento, contudo, seu
coração e lado carinhoso eram da mesma proporção. — Como eu estava
dizendo, ragazza, sou seu fratello e é meu dever assegurar que você esteja
bem. Você sempre será a minha irmãzinha.
— Lo so, fratello. (Eu sei, irmão.)
— Qualquer coisa que precisar, pode me ligar ou — Se afastou para
tocar no ombro do amigo — pode chamar por Henrique. Confio nesse B2
bombadão, como confio nos finais felizes das novelas mexicanas — sorriu
e eu prendi o riso ao notar a expressão do loiro ficar tensa.
— Agradeço a preocupação, mas como eu disse, sei me cuidar. Não
se preocupe, fratello. E não precisa exagerar no drama, não sou mais uma
garotinha.
— Você sempre será a minha garotinha. — Beijou com ternura a
minha testa e foi impossível não sentir meu coração se encher. — Bem,
estou indo. Cuidem-se! — se despediu com o seu habitual sorriso de
maluco, caminhando até a caixa de aço cantarolando uma música em
espanhol. Julgo que seja de alguma das suas novelas.
— Maluco! — disse, rindo.
— Muito — Henrique acrescentou quando meu irmão entrou no
elevador e começou a rebolar. Ele acenou freneticamente conforme a porta
se fechava. — Bem — pigarreou —, é melhor eu entrar. — Apressou-se em
se afastar. — Boa noite, Bea!
Encostei a lateral do corpo contra o batente, passando minha língua
nos lábios e admirando seus ombros largos.
— Boa noite, vizinho!
Antes que ele fechasse a porta do seu apartamento, tive um vislumbre
de um sorriso.
Fase “agir naturalmente” concluída com sucesso.
Fase “amiga” carregando.
CAPÍTULO 15
Henrique
Ela é a irmã dos meus melhores amigos.
Matteo me pediu para cuidar dela.
Somos apenas amigos.
Ela é apenas a minha amiga.
Ela nem é tão cheirosa.
Você odeia baunilha e flores. Odeia!
Os olhos dela não são tão brilhantes assim! É só ilusão.
Você não quer ver aqueles malditos piercings naqueles peitos
grandes!
O corpo dela não é um caminho para o céu e sim para o inferno, e
você não quer ir até lá! Quero… Não, você não quer, caralho!
Esses foram os mantras que escolhi repetir em minha mente sempre
que estava em casa e tinha sorte ou azar — ainda não tinha certeza se era
algo bom ou ruim — de encontrar com a minha vizinha. Há dois dias,
acabei cometendo o erro de falá-los em voz alta quando estava dividindo o
elevador com Celina, uma senhora do sexto andar que sempre me
cumprimentava ao me ver. Todavia, dessa vez, ganhei como saudação uma
expressão de chocada e olhos julgadores assim que a mulher entrou na
caixa de aço.
De acordo com Simone — depois de uma das suas palestras sobre
meditação e toda essa merda, que ela insistiu em me dar sempre que eu
estava irritado —, os mantras podem ser qualquer frase que irão te ajudar a
focar em um determinado assunto, um instrumento de pensamento para
ajudar a focar no que realmente importa e te traz equilíbrio, com o objetivo
de relaxar conforme o repetimos. Mas caralho, essa merda não estava
funcionando, porque quanto mais eu os dizia, mas eu desejava o completo
oposto.
Eu queria mesmo era foder aquela diaba italiana sem parar, enfiar a
porra do meu pau sem pena em sua boceta melada e sedenta enquanto ela
gritava meu nome, pedindo por mais, sussurrando em meu ouvido
obscenidades em italiano a cada estocada, seus seios com a porra dos
piercings balançando em sintonia com meu quadril. Tê-la tão perto todos os
dias, era tentador demais, quase como uma tortura.
Sentindo que precisava relaxar um pouco, aceitei o convite de Matteo
para sairmos para beber com Miguel no bar do seu amigo delegado,
Alberto, depois do nosso treino de sexta-feira na academia, onde treinei até
sentir as juntas dos meus dedos doerem pelos golpes incessantes, levando
meu corpo ao limite. Já passava das dez e meia quando decidi que precisava
ir embora.
Assim que a porta de aço do prédio se abriu no meu andar, dei três
passos para fora do elevador e estanquei no lugar por dois segundos, meus
dedos se fechando em volta da alça da minha bolsa esportiva, antes de
caminhar com pressa até Beatrice, que está sentada no chão mexendo em
sua bolsa, falando algo que não consigo entender.
— Está tudo bem?
Ela se sobressaltou, virando o rosto abruptamente para me olhar por
sobre os ombros.
— Caralho, você… você me assustou. — sua voz está arrastada e
algumas palavras saíram emboladas pelo esforço claro que ela fez para
tentar pronunciá-las de forma correta. — Boa noite, vizinho! — exclamou,
jogando as mãos para o alto e caindo de costas no chão, rindo.
Ela está bêbada?
— Você está bêbada?
— Eu estou? — perguntou para si.
— O quanto você bebeu, Beatrice? — procurei saber.
— Só um pouquinho. — Fez um sinal com seu indicador e polegar.
Senti vontade de rir, mas reprimi, ainda preocupado por tê-la
encontrado assim e pensando em como chegou até aqui. Não era a primeira
vez que a via bêbada, por isso não fiquei surpreso, contudo a preocupação
era a mesma das vezes anteriores.
— E não me chame de Beatrice! — gritou.
— É o seu nome.
— Porém, eu prefiro que você me chame de Bea. — Torceu o nariz
em uma careta estranhamente linda. Ela é toda linda. — Você é tão lindo.
Droga! Porque você tem que ser tão lindo, Sr. Prado? — resmungou
fazendo um bico exagerado.
— Porque você tem que ser tão linda? — deixei escapar enquanto
meu olhar dançava por seu rosto.
— É, eu sou mesmo muito linda e… gostosa — disse alto, seus lábios
se repuxando para o lado de um jeito preguiçoso. — E tenho piercings nos
mamilos!
— Vem, vou te ajudar. — Ignorei seu comentário.
— Eu disse que tenho piercings nos mamilos, cazzo!
— E eu disse que vou te ajudar!
Ignorando sua cara fechada, abri a porta do meu apartamento,
deixando minha pasta e bolsa em um canto na sala para então voltar para o
corredor e ajudar Beatrice. Sem dificuldade, consegui levantá-la,
envolvendo sua cintura com um braço, firmando-a no lugar.
Ela fechou os olhos, encostando sua testa em meu peito.
— Tudo está rodando — murmurou, seus braços subindo por meus
ombros até se fecharem ao redor do meu pescoço. — Hum… Você cheira
bem, amigo. Suor com… com alguma coisa sexy.
Em um impulso, abaixei o rosto na altura do seu ombro e respirei seu
cheiro, e caralho era ainda melhor sentido de perto.
Baunilha e flores!
A droga do melhor perfume do mundo!
— Você acabou de me dar uma… cheirada, Sr. Prado?
— Não. — Me afastei e rapidamente anunciei: — Segure em mim,
vou te carregar.
A tomei em meus braços, entrando em meu apartamento sem pensar
muito bem no que estava fazendo e no porquê estava levando-a para o meu
quarto.
— Para onde estamos indo, ragazzo? — perguntou em um sussurro,
me olhando por um momento antes de fechar os olhos e se alinhar em meu
colo.
— Para o meu quarto.
— Hum…
Ao entrar no cômodo, deitei-a em minha cama com cuidado.
Beatrice se mexeu entre os lençóis como se estivesse procurando a
posição mais confortável, ainda de olhos fechados. Quando finalmente
encontrou, alguns fios de seus cabelos pretos caíram espalhados pelo seu
rosto. Afastei-os, observando os traços de sua beleza, focando nos sinais em
tom castanho-claro em torno da ponta do seu nariz. Subitamente, senti
vontade de beijar cada um, antes de descer minha boca de encontro à sua.
— Preciso tomar banho — murmurou.
Afastei meus dedos da sua pele.
— Acha que consegue fazer isso sozinha?
— Não — choramingou.
— Não se preocupe. Você pode dormir aqui. — Ela acenou em
resposta e se virou, puxando um dos travesseiros para o seu tronco,
abraçando-o. — Já volto — falei, mas pela forma que seus ombros subiam e
desciam lentamente, tenho certeza de que ela não me ouviu.
Saí do quarto e fui até o corredor para pegar sua chave e bolsa. Assim
que o fiz retornei para o quarto, deixando suas coisas em cima da mesinha
de cabeceira. Tirei com cuidado seus tênis brancos, colocando-os no chão e
a observando uma última vez antes de pegar uma muda de roupa em meu
closet e sair.
Acordei na manhã seguinte, ouvindo uma voz soar ao longe. Abri os
olhos, apertando-os até que eles se focassem em algo. Então, levantei um
pouco a cabeça para olhar ao redor. Não estava em meu quarto, mas sim no
de hóspedes. Logo, as lembranças da noite anterior vieram à tona.
Beatrice bêbada no corredor.
Eu cheirando sua pele antes de carregá-la para dentro do meu
apartamento, colocando-a em minha cama.
As inúmeras vezes que fui até ela durante a madrugada, para me
assegurar de que estava bem, sem qualquer risco de se afogar caso a
vontade de vomitar viesse.
A forma sensual como seus longos cabelos pretos ficaram espalhados
pelos meus lençóis brancos.
Seu corpo se movendo cada vez que ela mudava de posição e a pouca
pele de sua barriga que ficava, vez ou outra, exposta a cada movimento que
fazia sua blusa subir.
Esfreguei o rosto, afastando esses pensamentos e me levantei da
cama, indo até o pequeno sofá que havia ali para vestir as peças que peguei
em meu closet antes de deixar meu quarto. Uma calça moletom preta e
camiseta da mesma cor.
Vestido, saí do quarto indo em direção à cozinha. Um cheiro delicioso
de algo que eu não consegui identificar entrou em minhas narinas, a voz da
diaba ficando mais alta conforme caminhava pelo corredor. E então, a
figura de Beatrice surgiu em meu campo de visão.
Ela estava de costas para onde estou, mexendo em algo na bancada da
pia, seus cabelos estavam presos em um coque bagunçado no alto da
cabeça. Bea cantava alguma música em italiano, enquanto seus quadris se
moviam em sintonia com o ritmo da canção.
Era a segunda vez que eu a ouvia cantar e a inquietação que o som
afinado e sensual me provocou foi ainda maior do que na primeira vez,
porque agora eu sabia quem era a dona.
Meu olhar logo foi atraído para sua bunda que está fodidamente
deliciosa dentro da calça jeans apertada.
Eu não posso olhar para essa bunda assim.
— Assim como? — sua voz me assustou e fiquei tenso no mesmo
segundo, me amaldiçoando por ter dito em voz alta. Porra!
— Desculpe, era para ter sido só um pensamento. — Caralho,
Henrique!
— Tutto bene. — Ela se virou, ficando de frente para mim e sorriu,
deixando uma garrafa térmica que eu nem me lembrava que ainda existia
em minha cozinha, em cima da mesa. Só a usei uma única vez quando
tentei fazer café logo que me mudei. Descobri da forma mais desastrosa que
não se pode tirar os olhos do café por um segundo.
Foi então que notei o que havia sobre a mesa que foi utilizada poucas
vezes. Há uma cesta de pães, um prato com frios, um pequeno recipiente
com algo que julgo ser tomates com azeite e um bolo.
— Você preparou tudo isso?
Deu de ombros, assentindo.
— Você não precisava ter feito isso.
— Sim, não precisava. — Puxou uma das cadeiras e se sentou, seus
olhos focados em meu rosto. — Mas já disse que sempre faço o que quero e
eu quis fazer isso por você ter cuidado de mim ontem. Você poderia ter me
deixado largada no corredor ou apenas me ajudado a entrar na minha casa.
Ao invés disso, me trouxe para a sua, porque estava preocupado com o meu
bem-estar. Certo?
E também, te trouxe para cá e te coloquei na minha cama porque
queria ter o seu cheiro em meus lençóis. Poderia ter acrescentado isso, mas
me contive. Ainda não havia perdido completamente o juízo.
Balancei a cabeça.
— Certo.
— Obrigada!
— De nada. — Me acomodei de frente para ela.
— Como sua amiga, preciso dizer que sua despensa é deprimente.
Precisei ir até meu apartamento para pegar os ingredientes para o café.
— Novamente, você não precisava ter preparado tudo isso, mas —
levantei um dedo antes que ela me interrompesse — fico grato por ter feito.
É a primeira vez que vejo essa mesa assim, tão… cheia. Não sou muito bom
em cozinhar e ainda que eu já tenha tentado, nada fica comestível.
Bea soltou uma risada.
— Como chegou aqui naquele estado? — indaguei curioso.
— Bárbara me convidou para um happy hour com algumas pessoas
do seu trabalho. Um drink se transformou em três, quatro, cinco. Depois de
algumas horas, ela me deixou na entrada do prédio. Eu estava me saindo
bem, mas passei tempo demais com a cabeça abaixada enquanto procurava
a minha chave na bolsa que acabei me sentindo um pouco tonta, foi então
que me sentei no chão e bem, você chegou.
Analisei-a por um momento. Seu rosto estava sem um resquício de
maquiagem e fora sua blusa amassada, ela não parecia que havia bebido na
noite anterior.
— Como seu amigo, preciso dizer que é impressionante como você
não fica de ressaca e como parece se lembrar de tudo que aconteceu depois
de uma quantidade considerável de álcool.
— Eu sempre me lembro de tudo que faço, com álcool ou não. Sei o
momento exato que devo parar, para não entrar em coma alcoólico ou algo
do tipo que me faça perder os sentidos. Ontem foi o meu estado de bêbada
alegre e não a bêbada esquecida.
— Então — empertiguei-me —, você se lembra de tudo o que
aconteceu? — quis ter certeza.
— Sim, inclusive — disse, pegando um pedaço de pão e apontando
para mim, antes de enfiá-lo na boca —, já fizeram muitas coisas comigo,
mas ontem foi a primeira vez que recebi uma cheirada, Sr. Prado.
Arregalei os olhos, me sentindo ridiculamente envergonhado.
— Sempre cheira as suas amigas daquele jeito? — provocou, seus
lábios se repuxando de lado.
— Nunca tive… amigas. — Foquei apenas nessa parte, desejando
fugir da “cheirada” e da “já fizeram muitas coisas comigo”.
— Que perfectto! Então eu sou a primeira!
Ri, me servindo um pouco de café.
— Voltando ao assunto da minha bunda…
— Beatrice.
— O quê? Foi você quem começou. E como eu disse antes, você pode
babar na minha bunda sempre que quiser, Henrique — ela falou meu nome
com malícia demais para uma amiga.
Forcei uma tosse, passando uma mão em minha barba.
— Somos amigos. Apenas, amigos — pontuei mais para mim do que
para ela, ao sentir que o clima ficou abruptamente pesado. A tensão, que
sempre pairou sobre nós dois, se estabeleceu rapidamente. — Eu não posso
fazer isso.
— É por isso mesmo que você pode. Estamos protegidos pelo muro
da amizade.
— Muro da… amizade? — Franzi o cenho.
— Si, caro mio.
— Isso parece algo que Matteo falaria — brinquei, tentando me sentir
menos nervoso.
Beatrice riu, enquanto pegava outra fatia de pão.
— Então, o muro da amizade — começou a explicar conforme passa
um pouco de azeite na massa torrada em sua mão — é o que protege uma
amizade de se transformar em algo a mais. De forma resumida, são os
limites que são construídos quando nos tornamos amigos de alguém. E
como já decidimos em comum acordo que somos apenas amigos,
independentemente da atração que sentimos — piscou para mim,
provocando-me um arrepio —, podemos olhar para o corpo um do outro
com certa… admiração, porque sabemos que não vamos ultrapassar os
limites.
— Não vamos! — repeti as palavras no automático.
— Isso, não vamos. — Outra piscadela. Outro maldito arrepio. — Vai
me dizer que nunca aconteceu de você olhar para uma mulher pensando
putaria e ainda assim, decidiu não tentar algo porque sabia que não era certo
ou que simplesmente não ia rolar?
Soltei uma risada anasalada.
— Aconteceu. Apenas uma vez. — Foquei meu olhar em sua
garganta, a pele lisa e tão perfeita.
— Eu não disse?
— Com você — falei. — Você é a primeira e única mulher que não
posso ter.
Vi o exato momento em que o ritmo do seu peito aumentou, subindo e
descendo cada vez mais rápido conforme o silêncio nos abraçava, dessa vez
ele era o tipo de silêncio que antecedia um beijo depravado, daqueles que te
arrasta para uma foda.
Subi meu olhar até seu rosto e o sorriso perverso que a demônia
estampou me fez estremecer por dentro.
Beatrice Fontana tinha um efeito sobre mim que me assustava pra
caralho, deixando difícil, a cada momento que passávamos juntos, manter
os limites da amizade com ela.
— Estou amando saber que sou sua primeira em muitas coisas, caro
mio. E não me surpreende que você tenha tido todas as mulheres que quis
em sua cama. Você é gostoso.
Senti minhas bochechas esquentarem e me odiei por corar diante do
seu elogio.
— Nem todas. — Soltei uma risada sem humor, apertando meus
olhos para ela.
Seu sorriso aumentou. Me remexi na cadeira, prevendo que algo nada
manso estava prestes a sair de sua boca. Beatrice comeu o pão calmamente,
seus olhos fixos nos meus. E sem pressa, cortou uma fatia do bolo,
gemendo ao mordê-lo. Meu pau deu sinal de vida e como um canalha, levei
uma mão até ele e o apertei por baixo da mesa. Engoli com dificuldade
reprimindo um gemido que ameaçou escapar. Eu já estava duro pra cacete,
tão rápido como nunca antes.
Enquanto ela mastigava, tentei me acalmar, porém minha ereção não
cedia.
Até a cena da diaba comendo era erótica pra caralho.
Quando finalmente a filha da mãe engoliu, lambeu os lábios e disse:
— Já que estamos sendo sinceros, preciso confessar que, às vezes, eu babo
não apenas na bunda dos meus amigos.
Senti meu sangue ferver, agora não apenas de tesão, mas também de
raiva.
Eu estava puto e excitado na mesma medida.
Só essa mulher dos infernos era capaz de me deixar assim.
— Você tem muitos… amigos? — perguntei colocando os braços
sobre a mesa, ignorando meu pau.
O que você tem a ver com isso, Henrique?
— Tenho.
— E você tem muitos amigos… homens?
Comecei a cortar uma fatia de pão, fugindo do seu olhar avaliativo
sobre mim.
Henrique… fica quieto, porra!
— Alguns.
— E todos eles estão respeitando essa coisa de muro da amizade? —
A forma como eu tentei soar indiferente foi ridícula. Eu estava ansioso por
sua resposta e fiquei puto pra cacete quando a ouvi.
— Apenas um dos meus amigos fez um buraco no muro. — Apertei
os dentes, semicerrando meus olhos para a diaba. — Mas é como dizem,
não é.
— O que dizem, Beatrice? — perguntei entredentes.
— Para toda regra há uma exceção. Ele é a minha exceção. O que
significa que não há riscos entre nós dois — apontou. — Fique tranquilo,
Henrique. Eu prometi que me comportaria a partir daquela noite e não
pretendo voltar atrás no que disse, eu sou a irmã caçula dos seus melhores
amigos e sou proibida. Não era o que você costumava falar? Então — Deu
de ombros —, entendi muito bem o recado. No que depender de mim, você
terá apenas minha amizade, ainda que minha boceta queira o contrário. E,
bem — Meneou a cabeça —, você como o homem experiente que é, sabe
que o sexo para nós, mulheres, começa na mente, então eu posso
simplesmente imaginar você me fodendo enquanto eu sento no colo de
outro. A imaginação é capaz de quase tudo.
Dito isso, com uma tranquilidade assustadora, Beatrice se levantou,
caminhando em direção ao corredor e sumindo da minha vista. Com os
batimentos cardíacos acelerados e a respiração descompensada, não
consegui me mover um centímetro sequer, muito menos esboçar qualquer
reação ou falar alguma coisa. Minha cabeça estava fervendo, suas palavras
flutuando em minha mente, me deixando em um completo estado de
choque.
Ela tem…
Beatrice tem um…
Um pau amigo?
A.
Porra.
De.
Um.
Pau.
Amigo.
Minutos depois, ela retornou com sua bolsa no ombro e uma das mãos
segurando seu par de tênis brancos que usava na noite passada.
Sorrindo, cheia de sua típica ousadia, a diaba foi em direção à porta,
abrindo-a e antes de fechá-la, me encarou por sobre os ombros ao falar:
— E graças a sua mesa de vidro, pude ter uma boa noção do tamanho
do pau que eu nunca terei dentro de nenhum dos meus orifícios. Grazie por
alimentar um pouco mais a minha imaginação. Aproveite o café, amigo.
E saiu, batendo a porta atrás de si.
CAPÍTULO 16
Henrique
Tomei uma longa respiração antes de retomar os golpes no
trabalho mais cedo, enviei uma mensagem para os meus amigos avisando
que não iria treinar com eles, pois precisava analisar alguns contratos.
Rafael, por levar trabalho para casa em plena sexta-feira à noite. Como
resposta, mandei uma das figurinhas ridículas que ele me obrigou a salvar
mantinha com um cara — sortudo pra porra, vale frisar —, no entanto, elas
Trabalhei nos últimos dias em tempo integral para evitar pensar nela e
em assuntos que não me diziam respeito, como sua vida sexual. Mas a
esportivo em meu pulso onde marcava mais de nove horas. Fiquei chocado
e chutes, antes de dar o treino por encerrado. Bebi a água que restava em
pego de surpresa pela voz de timbre sensual que soava através da parede. A
porta que dava acesso à varanda estava aberta, como na outra noite,
“They say: All good girls go to heaven. But bad girls bring heaven to
you. It's automatic. It's just what they do. They say: All good girls go to
(“Eles dizem: Todas as garotas boas vão para o céu, mas as garotas
más trazem o céu até você. É automático. É apenas o que elas fazem. Eles
dizem: Todas as garotas boas vão para o céu, mas as garotas más trazem o
femininas. Abri os olhos imediatamente para fitar o teto. Soltei uma risada
— Acho que a letra correta é “They say: all good boys go to heaven.
But bad boys bring heaven to you.” (Todos os garotos bons vão para o céu,
certo. Mas estou cantando a minha versão da música. Ainda que você me
chame de diaba, eu poderia te levar ao céu. — Ficou em silêncio por dois
— Isso não…
uma lição nela, porém respirei fundo algumas vezes, procurando pensar
Sim, porque decidi enfiar a cara em processos para não ter que
Rimos.
forma como me tratava, com certa insistência em querer estar por perto, me
infância fodida, ou com qualquer pessoa da sua família, que de certa forma,
pensar que as pessoas me olhariam com pena por descobrirem toda sujeira
— Então, acho que vou terei mesmo que ficar de olho em você, Sr.
Prado. — A forma como ela disse fez meu pau querer ganhar vida.
— Eu sei, mas não ligo. Somos amigos, vizinhos e quero fazer isso.
amigo que abriu uma porta na nossa muralha da amizade, que comentei
com você outro dia, para sentar no colo dele como fiz ontem. A propósito,
enquanto ele me comia pensei em você. Quando gozei, mordi com tanta
força meus lábios para não gemer seu nome que acabei o ferindo. Estou
precisando relaxar, sabe.
minhas mãos em punho ao lado do corpo com tanta força que senti minhas
passaram dois minutos até que ela me chamou novamente. — Você ainda
está aí?
— Eu estava brincando.
Alívio.
Uma onda de alívio perpassou pelo meu corpo à medida que meu
— Henrique?
Ela riu.
sabia disso.
Franzi o cenho.
— Como?
tio Peppe sempre falava que só há três razões para não conseguirmos
Os três, pensei.
urgência.
desejar.
Ao invés de falar tudo isso, escolhi a opção que julguei ser a mais
segura.
caro mio?
— Sim!
momento antes de falar as malditas palavras que me fazem fazer tudo o que
voz estava calma como eu nunca havia ouvido antes, contudo cheia de
curiosidade.
— Tutto bene.
Ficamos em silêncio por um longo tempo, pensei até que ela já tinha
adormecido, mas pela segunda vez esta noite, sua voz me surpreendeu.
peito, bem acima do meu coração. E quando ela começou a entoar as frases
eternizadas em minha pele, levei uma mão ao peito, sentindo meu coração
I'll let the waters still take me away to some place real
(eu vou deixar as águas continuarem me levando para algum lugar real.)
“Você só tem sete anos e por isso, vou pegar levar com você. Nunca
pensei que escreveria uma dessas para você, Bea, mas estou fazendo isso
porque estou com muita raiva de você por ter sujado meu tênis novo e
BRANCO, ou pelo menos estava quando comecei a escrever essa carta.
Não gosto de confrontos e gosto menos ainda de brigas. E acredito que
guardar sentimentos ruins dentro da gente nos envenena lentamente por
dentro. Por essa razão, eu escrevo quando algo me chateia. Você me
chateou, porém continuo te amando como uma irmã.
P.S. não suje mais o meu sapato. Deu muito trabalho limpá-lo."
Henrique
Amava Stella, como uma irmã, mas à medida que Beatrice
caminhava sozinha com os olhos vidrados em mim, depois que ela, Bárbara
e minha prima traíra anunciaram que iam ao banheiro, após três doses de
tequila e muita conversa entre elas que mais pareciam amigas há anos e não
somente algumas horas, era impossível sentir qualquer afeição pela ruiva.
"Estou aqui para ajudar você."
Aham, estava vendo!
— Onde Bárbara e Stella estão? — perguntei assim que a diaba
parou ao meu lado, apoiando os braços dobrados sobre o balcão do bar.
Tentei a todo custo não transparecer meu estado de nervosismo por me
encontrar sozinho com ela, porém a forma como minha voz vacilou já me
entregou.
Ela virou o rosto, apoiando o queixo em uma mão, ficando perto
demais.
Engoli em seco, vidrado no movimento dos seus lábios pintados de
vermelho, conforme falava.
— Encontraram pessoas interessantes no caminho de volta.
Apenas acenei e foquei na garrafa que tinha em mãos.
— Então, o que costuma fazer na balada?
Franzi o cenho voltando a encará-la. Meus olhos agora cravados em
suas íris cor de esmeralda.
— O que disse?
— Perguntei o que costuma fazer nesses lugares. — Gesticulou com
a mão livre, sinalizando o ambiente.
Pensei por um momento.
— Beber, dançar, me divertir. — Dei de ombros. — Porque a
pergunta?
— Porque desde que chegamos você está parado no mesmo lugar
feito uma estátua, e tirando a parte que não pode beber por ser o motorista
da noite, não dançou e nem sequer participou das conversas comigo e as
meninas. Você nem ao menos mostrou interesse em alguém.
Eu ri internamente.
Havia apenas uma mulher por quem eu estava interessado e não
conseguia parar de observá-la. Fazia mais de duas horas que estávamos aqui
e meus olhos a seguiram por todos os lados como se estivesse hipnotizado.
Não tinha nada de educado e amigável na forma em que eu olhava para ela.
Ainda que eu tentasse controlar, era impossível não imaginar Beatrice em
meus braços, cobiçando cada pedacinho do seu corpo. E pelo sorrisinho
cínico que ela esboçou, a filha da mãe estava me provocando.
Decidi dar a ela um pouco do seu próprio veneno.
— Você é inteligente e sabe que passei a noite toda demonstrando
interesse em apenas uma pessoa, Bea.
Sem calcular muito, me aproximei dela e só percebi que estava perto
demais quando a porra do aroma de baunilha com flores adentraram em
minhas narinas, me fazendo queimar de um jeito fodidamente bom.
Estremeci, porém não me afastei, permaneci completamente dopado por
uma pequena dose dela.
— Estou apenas tentando manter o nosso muro da amizade sem
qualquer buraco, Beatrice.
Meu olhar varreu seu rosto no exato momento em que luzes neons
passaram por sua pele. A expressão endemoniada que sempre era
direcionada a mim, surgiu. A própria diaba.
Antes que falasse algo, continuei.
— Mas acho que posso provocar uma leve rachadura no muro. O
nosso já está cheio delas provocadas por você, não é? Julgo que também
tenho o direito de aproveitar desse maldito muro da amizade.
Beatrice me encarou confusa, contudo permaneceu em silêncio com
seus olhos brilhando em expectativa.
Levei minha boca até seu ouvido e sussurrei, minha barba roçando
sua pele, sentindo seu hálito quente e acelerado em meu pescoço pelo
contato. Minha superfície logo se arrepiou assim como a dela.
— Seu vestido é quase todo transparente, amiga. Consigo ver o
formato dos seus seios e quase com perfeita nitidez os malditos piercings
em seus mamilos.
Minha voz era baixa, rouca e perigosa. Encharcada do mais
primitivo desejo.
Eu a queria, porra, como a queria. Mas não podia ter, não podia
quebrar o caralho do muro, muito menos escalá-lo. Perder a amizade de sua
família, de seus irmãos não estava em jogo. Ao menos, era o que eu
pensava.
Como sempre acontecia, o pouco juízo que me restava quando me
aproximava dela, surgiu, mas antes que pudesse me afastar e restabelecer os
limites, a maldita foi mais rápida.
Surpreendendo-me, Beatrice apertou seus dedos em meu pescoço e
se impulsionou sobre mim até que minhas costas estivessem coladas ao
balcão do bar, seu corpo pressionando o meu. Arfei e instintivamente,
minhas mãos seguraram sua cintura. Quase gemi quando meus dedos se
fecharam ali.
Cacete! Meu pau cresceu, duro, pronto para mandar o caralho do
juramento para a puta que pariu.
— Beatrice — balbuciei, procurando manter a respiração em um
ritmo que fizesse meu coração desacelerar.
Ela não se moveu e eu reprimi a vontade de deslizar minhas mãos
pelo seu corpo. Beatrice era uma mulher com curvas moldadas pelo próprio
capeta para levar qualquer homem para a porra do inferno e caralho, como
eu queria me perder e queimar nelas.
Não me recordava de desejar tanto uma mulher como a desejo.
A infeliz me olhou por um segundo, lambeu seus lábios para logo
em seguida morder o inferior.
— O que está fazendo? — consegui perguntar diante do seu silêncio
e olhar de felina sobre mim.
Foi a vez dela de sussurrar no meu ouvido.
— Pensei que não ia comentar nada sobre eles, caro mio. Coloquei-
o pensando em você. — Se afastou apenas o suficiente para empinar seus
peitos na minha direção, falando um pouco mais alto diante da música que
começou. — Quer tocar neles?
Engoli em seco no exato momento em que uma voz masculina soou
alta e cheia de sotaque, próxima a nós.
— Recomendo que aceite a oferta da italiana. Você não vai se
arrepender. Experiência própria.
Beatrice e eu viramos o rosto ao mesmo tempo para o desconhecido.
— Jakov? — Bea disse, reconhecendo-o. Estremeci quando ela se
afastou de mim para observá-lo melhor diante da iluminação baixa do lugar.
— O próprio — ele falou, esboçando um sorrisinho
pretenciosamente ridículo, olhando para mim por um momento e depois
para ela. — Que surpresa maravilhosa, minha doce Bea.
Minha? Ela era dele?
Quem é esse cara?
Senti minhas veias arderem pela raiva que já se instalava em meu
sistema fazendo meu sangue ferver quando seus braços seguraram sua
cintura com intimidade, puxando-a para um abraço e a apertando como eu
desejei fazer há segundos. Beatrice retribuiu o abraço alegremente e eu
reprimi a vontade de afastá-la dele bruscamente.
Odiei a forma como o cara me encarou por cima dos ombros de Bea.
Seu olhar era sombrio e beirava o de uma pessoa sob efeito de
entorpecentes. O mais surpreendente, era que definitivamente não parecia
ter usado qualquer droga. Era ele, algo perigoso e doentio nele que me fez
endireitar ainda mais os ombros e dar um passo à frente, em completo
alerta.
— Henrique — falei alto e grave, sem qualquer simpatia. Eles se
asfataram, satisfação passou pelos olhos do filho da puta. Ele sabia, sabia
que sua presença havia me incomodado e o pior, isso estava claramente o
divertindo. Ódio, o que sentia não era mais raiva, e sim, ódio do mais puro e
furioso que um ser humano é capaz de sentir. — Henrique Prado — me
apresentei sem dar abertura para qualquer cumprimento.
— Jakov — disse, sorrindo feito um lunático. — Apenas, Jakov.
Minhas mãos coçaram para tirar o sorriso de psicopata que habita
em seu rosto, no soco.
Permaneci com os olhos sobre ele até Beatrice falar.
— Jakov, esse é Henrique, o melhor amigo dos meus irmãos.
Henrique, esse é Jakov, meu amigo exceção. Lembra que falei sobre ele
para você?
Virei o rosto tão rápido que senti uma pontada de dor em meu
pescoço.
Esse era a porra do amigo colorido dela?
O P.A.? O caralho do pau amigo?
Nem fodendo!
A encarei secamente e a filha da mãe sorriu, fingindo timidez com
os braços para trás, balançando o corpo de um lado para o outro como uma
garota levada.
— Amigo exceção? — o desgraçado sortudo falou. — Espero que
tenha falado apenas coisas boas a meu respeito, querida.
Querida.
Argh! Eu definitivamente detestei esse cara.
— Falei apenas coisas boas de você, não é mesmo, amigo? — Bea
piscou um olho para mim.
Ah, essa diaba ardilosa quer mesmo me foder!
Não respondi e em silêncio, voltei a observar o maldito à minha
frente que continuava sorrindo.
Porra! Senti vontade de estrangulá-lo aqui mesmo, sem me importar
com a multidão espalhada pelo ambiente.
— Quer beber algo? — ela perguntou a ele.
— O mesmo que você, minha doce Bea
Minha doce Bea.
Definitivamente, estava prestes a cometer um assassinato se ele a
chamasse assim mais uma vez.
Ela assentiu e se virou para acenar para o barman, apoiando os
braços no balcão e deixando sua bunda empinada.
— Linda — o filho da puta teve a cara de pau de comentar
encarando-a com malícia.
Triquei os dentes, fechando meus dedos em punho.
— Melhor parar de olhar. — Mesmo com a música alta, meu tom de
voz era ameaçador e se ele tivesse bom senso e amor-próprio pela sua vida,
entenderia que nesse momento a melhor saída seria seguir o meu conselho.
Contudo, o bastardo parecia gostar de perigo porque ele não se importou em
brincar com fogo.
— Não há nada que eu já não tenha visto ou tocado por debaixo
desse vestido. — Deu de ombros. — Gostosa demais e fode como uma
puta.
Caralho, eu ia matá-lo!
Perdendo completamente o controle, avancei nele — que não
parecia nada surpreso com minha atitude, o que só me irritou ainda mais —,
agarrei na gola de sua camisa e sem nenhuma cerimônia, despejei dois
socos em sua boca com toda força. O maldito não se abalou e nem fez
qualquer menção em revidar, pelo contrário, me encarou de baixo para cima
sombriamente, o sorriso presunçoso rasgando vagarosamente em sua boca,
que agora ganhou algumas gotas de sangue.
— É só isso que você tem, advogadozinho de merda? — cuspiu as
palavras junto a uma risadinha de puro deboche.
Gritei um palavrão e o joguei no chão, pronto para acabar de uma vez
por todas com ele. O montei e desferi socos, um atrás do outro sem parar,
cego pelo ódio. A música que o DJ tocava cessou e um burburinho se
formou à nossa volta. Não parei, nem quando senti braços me rodearem e
vozes pedindo para parar.
Meu ataque ao infeliz findou quando fui arrancado à força de cima do
cretino.
— Me soltem, porra! — ordenei, tentando me libertar.
— O que está acontecendo? — Beatrice parou em minha frente, seu
olhar vagando entre nós. Seus olhos pararam em mim por um momento,
analisando meu rosto. Quando não encontrou nenhum machucado, fez o
mesmo com seu amiguinho. Então agachou e tocou o queixo do infeliz. —
Per Dio! O que você fez, Henrique?
— Estou bem, cara mia. Não se preocupe — ele disse, segurando sua
mão para em seguida depositar um beijo no dorso, me lançando um olhar
arrogante.
— Me solte agora, caralho! — gritei puto e logo os homens todos
vestidos de preto, que reconheço serem os seguranças do estabelecimento, o
fazem.
— Cacete! O que perdemos? — Stella perguntou, surgindo em meu
campo de visão com Bárbara a tiracolo. — Você está bem? — questionou,
me observando.
— Sim, estou.
— O que está acontecendo aqui? — Um homem de terno apareceu e
pela forma como olhou para os funcionários da boate, presumi ser o dono
ou gerente da casa noturna.
— Nada, Rodrigo — o infeliz falou, se levantando com Beatrice
ainda ao seu lado. Ao que parece, o bastardo era amigo do proprietário e ele
não parecia nada abalado pelo estrago que fiz em seu rosto. O sorrisinho
doentio ainda estava estampado em seu semblante.
— Saia de perto dele, Beatrice! — ordenei duramente.
Ela me lançou um olhar desafiador, alçando uma sobrancelha e
cruzando seus braços.
— Você não manda em mim! — provocou.
Dei alguns passos em sua direção e segurei seu braço com firmeza,
mas com cuidado suficiente para não machucá-la.
— Não me teste, Beatrice — murmurei. — Vamos embora, agora! —
declarei, encarando suas íris verdes que nesse instante possuíam um tom
mais escuro. Ela estava puta, assim como eu. Ótimo!
— Henrique, fique calmo — ouvi Bárbara pedir, porém permaneci
encarando a diaba.
— Calma aí, cara! — O amiguinho de merda tentou me tocar,
sorrindo de um jeito irritante.
— Não encoste em mim ou eu acabo com a sua raça! — bradei. Ele
ergueu as duas mãos em rendição, ainda com o sorriso presunçoso. Porque
esse cretino continua sorrindo, caralho? — Vamos sair daqui, Beatrice!
Agora, caralho!
— Me solta! — ela gritou, tentando sair do meu aperto.
A olhei nos olhos e o que vi ali fez todo o meu corpo tremer.
Medo.
Seus lindos olhos verdes estavam cheios de medo.
— Me solta, Henrique! Per favore!
Per favore.
As palavras que me enfraqueciam ditas em um tom baixo, quase
como uma súplica, me arrebatam para um lugar em mim que eu odiava.
Então, eu a livrei do meu aperto e Bea logo foi para o lado de Jakov.
Soltei lufadas de ar rapidamente, conforme encarava todos à minha
volta.
Stella era a única que me olhava com carinho, ao invés de assustada.
Ela era a única que me compreendia.
A única que sabia a forma como escolhi viver.
A única pessoa que sabia o que eu fazia comigo mesmo.
Me aproximei dela e pedi que cuidasse de Beatrice, pois não confiava
no maldito homem perto dela. Então, saí a passos largos indo em direção à
porta dos fundos sem olhar para trás.
Eu precisava ficar sozinho.
Eu.
Só.
Tenho.
Que.
Ficar.
Sozinho.
Sozinho.
CAPÍTULO 20
Henrique
Abri a porta dos fundos da boate, sentindo o vento frio da
madrugada me atingir, mas nem mesmo ele foi capaz de aplacar a quentura
do meu corpo.
Fechei os olhos por um momento, tentando controlar minha
respiração, puxando e soltando o ar.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Nunca fui uma pessoa que possui facilidade em expressar o que sente,
principalmente quando os sentimentos são ruins. Sempre tive medo de
machucar as pessoas à minha volta e por esse motivo, eu transformava
emoções negativas em pequenas doses de raiva e as deixava me consumir,
dose após dose.
Desde muito novo, aprendi a importância de ter responsabilidade
emocional e o quanto nossas falas e ações, baseadas em sentimentos
primitivos e momentâneos, podem destruir a vida de quem amamos.
Carlos quando sentia algo ruim, reagia escrevendo e entregando
cartas.
Eu, por outro lado, me envenenava com toda fúria que tinha em mim,
entregando silêncio, sorrisos e às vezes palavrões e piadas, ao invés de
extravasar toda a cólera que perturbava meu interior.
Eu engolia tudo, me embebedava e ficava quieto, queimando sozinho
por dentro.
A dor era tanta que ardia a ponto de me consumir.
Eu me perdia em mim mesmo.
Nublado pela fumaça da fúria que me abraçava.
Uma escuridão que parecia jamais me deixar.
Nunca.
Nunca.
Ela simplesmente não ia embora.
E mesmo que eu a tenha aceitado quando era apenas um garoto, já
estava cansado. Completamente exausto de sentir tanta… raiva.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Claramente, não sou averso à brigas como meu amigo era, não
quando se tratava de defender quem me importo e era exatamente esse o
limite.
Perder o controle para proteger alguém do mal, eu aceitava e não me
importava com mais nada.
Entretanto, perder o controle porque eu era o mal, era intragável para
mim.
Eu detestava ser o motivo da tristeza ou do medo de alguém.
Detestava ser a razão que desencadeava coisas ruins nas pessoas que
gostava.
Detestava ser o causador de olhos apavorados.
Eu gostava de Beatrice e ela me olhou assim.
Com medo, assustada, ainda que eu tenha agido, inicialmente, para
defender a sua honra, contudo eu perdi o controle depois. Passei o limite
que jurei nunca ultrapassar.
Com certeza a cena que causei há minutos, não foi bonita.
Foi feia, assim como o meu interior.
— Henrique! — A voz dela me fez abrir os olhos e encarar o céu
escuro.
— Agora não, Beatrice, me deixe sozinho! — ordenei sem olhar para
trás, mas logo ouvi o som da porta de ferro sendo fechada com força.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Tum. Tum. Tum. Tum.
— Eu já disse que você não manda em mim! — exclamou, cutucando
minhas costas com um dedo. — Que porra deu em você?
— Beatrice, sai daqui — grunhi, virando o rosto para olhá-la por
sobre os ombros. — Sai daqui! Por favor! — falei mais uma vez,
pausadamente.
— Não!
— Por favor, me escuta!
— Não vou a lugar algum! — pontuou.
— Me obedeça, caralho. — Virei o corpo, ficando de frente para ela.
— Já disse que não.
Me aproximei dela, que continuou ali com o queixo erguido, me
encarando com aqueles malditos olhos.
Aqueles olhos. Aquele olhar.
A porra daquele olhar me levaria para o inferno junto a ela.
— O que custa me obedecer?
— Você não é meu pai para que eu te obedeça, então pare de querer
me dar ordens.
Tum. Tum. Tum.
Meu coração batia mais rápido, descompassado, perdendo
completamente o ritmo.
Não era apenas raiva agora.
Era ela. .
A diaba italiana. A mulher vinda das profundezas do inferno só para
me foder.
— Por que fez aquilo?
— Pergunte para o cretino do seu pau amigo.
— Estou perguntando para você, me responda!
Franzi o cenho.
Ok, Beatrice!
Você está puta. Eu estou puto.
Perfeito.
Simplesmente.
Per-fei-to.
Dei dois passos em sua direção.
— Aquele babaca estava te comendo com os olhos feito um
pervertido.
— Per Dio! — Jogou as mãos para o alto, deixando-as cair ao lado do
corpo em seguida. — Quanta hipocrisia. Você fez a mesma coisa que ele
durante a noite toda. Você me olha da mesma forma desde que me
conheceu. Então, seja sincero e assuma que você estava com inveja. Inveja
por ele já ter me fodido.
Não havia como negar.
Eu era um homem vivido e sabia que a razão para ter partido para
cima do infeliz, não foi apenas pelo que ele disse, mas porque eu, de fato,
estava me corroendo de ciúmes e inveja.
Principalmente inveja. Inveja da mais ridícula.
Inveja por ele ter ultrapassado a porra do muro da amizade e eu
seguia sem qualquer intenção de fazer algo, além de uma rachadura.
Você a quer, mas não pode.
Sim, era verdade. Eu queria. Como a queria.
Ela era tudo que eu não deveria querer, mas eu queria.
Queria mergulhar no inferno que ela era, me perder em cada curva do
seu corpo delicioso.
Queria, desesperadamente, enterrar meu pau em sua boceta e meter
sem parar, até que ela estivesse arruinada para todos os outros homens. Da
mesma forma que ela, aparentemente, fez comigo sem nem ao mesmo me
beijar.
Mas que mulher desgraçada do caralho!
— Ele falou de você como se fosse uma qualquer, Beatrice. O que
esperava que eu fizesse? Hã? — questionei. — Somos amigos, não somos,
caralho? Estava defendo a sua honra, droga!
— Não preciso que ninguém defenda a minha honra, eu sei me
defender sozinha.
Suas palmas se chocaram contra meu peito me empurrando, mas eu
não me movi. Segurei seus pulsos e coloquei seus braços para trás,
empurrando-a até que encostasse na parede dos fundos da boate.
— Henrique — balbuciou quando colei minha testa na sua, fazendo
nossas respirações se misturarem no ar.
— Porque você tem que ser tão teimosa, porra? — perguntei
entredentes olhando no fundo dos seus olhos, que agora me encaravam com
intensidade.
Não havia mais medo.
Não havia mais pavor.
Apenas desejo.
Isso, eu prefiro assim.
Prefiro que você me olhe com desejo, diaba.
Ainda que eu não possa tê-la em minha cama.
Deixei toda a raiva fluir e me permiti percorrer aquelas esferas verdes
luminosas.
Me perdendo… nela.
Que poder é esse que seus olhos possuem sobre mim?
Cada vez que os meus encontravam com os seus, era como sofrer uma
colisão, cada pedaço do meu corpo sofrendo com os estilhaços da batida.
— Porque você tem que ser tão — indaguei, enterrando o rosto no
vão convidativo do seu pescoço, aspirando com fome o cheiro de baunilha e
flores que vinha perturbando o meu juízo. Era como nirvana. Caralho,
era… perfeito! — cheirosa, diaba?
— Henrique…
— Tão — disse, passando minha língua em sua pele, subindo até sua
orelha e soprando ar quente ali — deliciosa.
O corpo de Beatrice estremeceu, sua pele se arrepiou e eu perdi
completamente o juízo.
— O que você está fazendo? — ela perguntou completamente sem
fôlego.
Voltei a encarar seus olhos.
— O que você está fazendo comigo, porra?
E lá estava sua expressão de diaba que eu amava e odiava, que fazia
minhas duas cabeças enlouquecerem.
— Quer me beijar?
Olhei por um momento para seus lábios que se desmanchavam em um
sorriso de lado, endiabrado.
— E você, Beatrice, quer ser beijada por mim? — Pressionei meu
peito contra o seu, amando ter seus seios grandes contra mim.
Ela arfou, mas sustentou meu olhar, apesar das pálpebras parecerem
pesadas.
— Pare de responder às minhas perguntas com outras perguntas. Seja
direto pelo menos uma vez comigo. Responde, caralho! Quer me beijar ou
não?
— Eu quero — Raspei meus lábios nos seus e nós dois gememos
baixinho. — Porra, como eu quero foder a sua boca com minha língua, sua
desgraçada dos infernos.
— Você vai me beijar? — sussurrou.
Foda-se!
Foda-se?
É, é isso.
Eu estava mandando a porra do juramento para a puta que pariu.
Eu estava prestes a fazer um buraco imenso no caralho do muro, não
apenas em nossa amizade, mas na minha amizade com seus irmãos também.
Tudo iria mudar.
E… droga, eu estava me odiando por não conseguir abrir mão de
querer tanto isso.
Eu a queria e eu a teria!
Ela era uma diaba.
Ela era tudo o que eu não deveria querer, mas porra, como eu a
queria.
Ela era proibida e eu, um filho da puta que estava obcecado e cansado
demais para continuar resistindo ao pecado.
Eu estava prestes a ir para o inferno e com a porra de um sorriso no
rosto.
Foquei em seus lábios e a infeliz deslizou sua língua por eles, ao
mesmo tempo que sua perna direita subiu até minha cintura me puxando
ainda mais para si. Meu pau se chocou com o meio de suas coxas e mais um
gemido escapou de nossas bocas.
E foi o meu fim.
Ela será o meu fim.
— Foda-se!
Dito isso, colei nossos lábios com brutalidade, soltando seus braços
para segurar seu rosto.
Foi apenas um toque. Um simples toque que nos fez ofegar,
estremecer e alucinar.
Beatrice fincou as unhas em minha cintura e quando sua língua tocou
na minha, e o beijo finalmente havia começado de verdade, era como se a
diaba estivesse me possuindo.
Corpo e alma.
Eu estava mil vezes mais fodido do que pensei!
Enfiei uma mão em seus cabelos e com a outra desci pela lateral de
seu corpo apertando seu seio esquerdo, raspando meu polegar no mamilo.
Gemi quando senti a textura do maldito piercing, afastando nossas bocas.
— Caralho! Você… você tem mesmo joias nos peitos.
Mordi e puxei seu lábio inferior. Ela gemeu gostoso em resposta.
Porra, como ela iria gemer se eu metesse nela?
— Tenho — confirmou sem fôlego. — Sua boca… sua boca vai
experimentá-los dessa vez?
O ditado é claro. Se você já está no inferno, abrace a porra do diabo.
No meu caso, diaba.
— Pede! Pede por favor, Bea. — Lambi seus lábios entreabertos. —
Pede pra eu chupar seus peitos como uma putinha obediente. — Aumentei
o aperto em seus cabelos. — Pede, cachorra!
Seus olhos nublaram de pura luxúria.
— Henrique…
— Pede e eu te dou.
Lambi seu pescoço, antes de morder o lugar abaixo de sua orelha. Ela
gemeu alto e meu pau se contraiu dentro da calça com o som.
— Chupa meus seios, Henrique. Chupe-os, per favore.
Sorrindo vitorioso, desci a mão que segurava seus fios até seu
pescoço, fechando meus dedos ali conforme buscava em seu olhar qualquer
sinal de objeção ao contato, mas o que encontrei foi apenas fogo.
Ela queria. Ela gostava. Então, eu continuei.
Apertei minha mão em seu pescoço, lhe roubando um pouco de ar,
apenas o suficiente para lhe dar prazer.
Bea gemeu e eu não perdi mais tempo.
Com a mão livre, puxei a parte de cima do seu vestido até que seus
seios estivessem à minha mercê e caralho, eles são perfeitos. Grandes,
fartos e os mamilos marrons que estavam pontudos, possuíam piercings na
horizontal, com dois pequenos diamantes azuis nas extremidades.
Os mais lindos que já vi!
Eu precisava senti-los com a minha boca. Porra, como eu precisava.
E foi o que fiz, abocanhei o direito e mamei, sugando-o com força.
Gemi junto a ela quando o metal raspou em minha língua,
pressionando meu quadril em sua entrada. Beatrice começou a rebolar sem
pudor, desesperadamente em busca de alívio.
— Henrique…
Cacete, como eu adorava ouvi-la gemer meu nome.
Prendi meus dentes em seu bico antes de soltá-lo e circular minha
língua nele.
Fiz o mesmo com o esquerdo, dando atenção ao outro com a minha
mão, que o apertava com o indicador e o polegar.
— Eles são perfeitos! — declarei quando me afastei para voltar a
atacar sua boca com ainda mais fome.
Bea chupava minha língua de um jeito tão sensual, que me fez
imaginar como seria gostoso se meu pau recebesse tal atenção.
Aumentei o aperto em seu pescoço, descendo a mão que segurava seu
seio até a curva do seu joelho, abrindo-a ainda mais para mim. Rocei meu
pau em sua boceta e pude sentir sua excitação umedecer nossas roupas. Ela
segurou minha nuca e aprofundou ainda mais o beijo, nos levando a ser
uma confusão de gemidos e línguas.
Filha da puta que beija bem pra caralho!
Quando o ar nos faltou, nossas bocas se afastaram e nossos peitos
subindo e descendo freneticamente.
Descansei minha testa na sua e fechei os olhos, em completo êxtase.
— Beatrice…
— Henrique…
— Não podem…
— Não diz nada, per favore.
Abri os olhos, encontrando os seus ainda mais lindos banhados de
prazer.
Porra, como olhos podiam ser tão deslumbrantes?
— Continua — murmurou, manhosa.
— Bea…
— Só continua. Eu preciso que continue. — Se esfregou mais contra
o meu pau. — Eu estou tão perto — choramingou.
Arfei.
— Caralho, porque você tem que ser tão gostosa?
Segurei seus seios que mal cabiam em minhas mãos e antes que eu
pudesse voltar a mamar neles, senti meu celular vibrar no bolso da calça.
Estremeci quando o som do toque que escolhi para Dante, chegou aos
meus ouvidos.
Por Deus! O que eu estava fazendo?
O que eu fiz?
CAPÍTULO 21
Beatrice
— O que você tanto olha nesse celular, fratello? — perguntei a
Dante.
— Para ele estar com essa cara de cachorro adestrado, com certeza
tem a ver com a “gnomio” barriguda — Matteo comentou de boca cheia.
Havíamos combinado de almoçar juntos no restaurante da empresa.
Seria o primeiro almoço sem a minha cunhada, pois ela parou de trabalhar
por recomendação médica.
— Rosa me enviou uma foto de Ana Laura vestida com a fantasia de
morango que ela comprou — suspirou ainda olhando para a tela do
aparelho. — Mi amore ficou ainda mais linda. Já consigo imaginar minhas
meninas usando as suas. Meus três morangos.
— Você sabe que ela comprou uma dessas para você também, não
sabe? — indaguei reprimindo uma risada.
Meu irmão me olhou de cara feia.
— Eu amo minha esposa. A amo muito, mas não vou usar, de forma
alguma, aquela fantasia — declarou, deixando o celular sobre a mesa.
— Você vai! — Matteo e eu falamos em uníssono.
Dante revirou os olhos.
— Você faz tudo o que aquela baixinha pede, até se transformou na
porra de um cadelinha.
— Quero ver quando for a sua vez de se apaixonar, boca suja.
Aposto que você vai usar uma coleira cor-de-rosa.
— Com glitter e em neon — acrescentei, risonha.
— Preciso confessar que estou ansioso por isso — Matt comentou.
— Sou um ótimo partido. — Estufou o peito confiante.
— Tenho pena da coitada que terá que aguentar os seus dramas —
Dante declarou.
— Eu serei um ótimo marido, caralho!
— Será sim, fratello!
Ri da sua expressão de quem se sentiu ofendido.
— Ainda bem que não tenho planos para me apaixonar, ao menos
não por agora — verbalizei.
— Não toque nesse assunto, porque já consigo sentir as rugas
surgirem — o dramático resmungou, tocando em seu cabelo devidamente
arrumado.
— Na hora certa, irá encontrar o amor, ragazza. E desejo que
demore um pouco, para que possamos preparar nossos corações — Dante
brincou, ao tocar em minha bochecha com carinho.
— Terão tempo de sobra, não se preocupem. Estou bem solteira.
— Isso, definitivamente, não me conforta — Matteo disse.
— Compartilho do mesmo pensamento, fratello.
— Eu amo vocês — Meu olhar vagou entre seus rostos —, mas sou
uma mulher adulta que gosta de sexo, muito, diga-se de passagem.
Soltei uma risada quando meus irmãos resmungaram e alisaram suas
barrigas, como se estivessem com indigestão.
Como amo provocá-los!
— Beatrice, cara mia, agora sou pai. Meu coração não pode sofrer
com fortes emoções assim. Preciso de paz.
— Você se casou com uma "gnomio" serelepe, porra. Paz é a última
coisa que terá ao lado daquela baixinha, Dantinho.
— É, ela é baixinha, mas tão linda — suspirou. — E quando penso
que você esqueceu esse apelido ridículo, você vai e solta-o novamente.
— Você gosta dos meus apelidos. Não faça cu doce, Dantinho.
— Falou o cu amargo — debochei.
— Estamos almoçando. Per Dio! — o irmão certinho exclamou.
Rimos.
— Então, é verdade que você ligou de madrugada para Henrique
pensando que era o número do restaurante vinte e quatro horas, fratello?
Ouvir o nome dele me faz pensar em tudo o que aconteceu no
último final de semana.
Henrique sempre demonstrou não ser uma pessoa muito paciente,
mas nunca o vi transtornado como naquela noite. Parecia estar
completamente fora de si. E ainda que a cena tenha alimentado meu ego —
muito, na verdade —, fiquei assustada pela forma como ele reagiu.
Quando saiu, olhei por um momento para Jakov que estava sendo
amparado pelo dono do lugar que ao que tudo indicava era seu amigo, antes
de largar tudo e ir atrás do loiro emputecido em busca de explicações. Ao
invés de respostas, recebi o melhor beijo da minha vida.
Não deixei de pensar, um dia sequer, em seus toques e na sua boca
em mim.
Henrique me beijou, me lambeu, chupou meus peitos e me deixou
excitada como nunca estive antes.
Cazzo, foi tudo perfeito… até a ligação do meu irmão atrapalhar e
estourar nossa bolha.
Então, Henrique pirou.
Se afastou rapidamente.
Ele não me olhou.
Apenas saiu correndo sem me dar a chance de dizer coisa alguma.
Sem dizer uma palavra sequer.
Eu estava puta!
Se você já foi interrompida e não pôde gozar quando estava perto do
ápice, vai me entender.
É tão frustrante quando o orgasmo não vem. E sim, eu ainda estava
puta por isso.
Ok, não apenas por isso.
Mas era o principal motivo da minha raiva.
Depois que me recompus, Bárbara e Stella surgiram pela porta dos
fundos, questionando se eu estava bem e onde estava Henrique. Fui sincera
quando respondi as duas perguntas, guardando para mim os detalhes
quentes e o trágico fim da nossa noite quando o loiro fugiu de mim sem nos
darmos o prazer que tanto queríamos.
Jakov surgiu logo em seguida em nosso campo de visão com o rosto
inchado, cheio de sangue e hematomas, porém o sorriso de moleque seguia
intacto. Ele não pareceu se importar com o que tinha acontecido e antes que
eu pudesse perguntar o que tinha culminado a ira de Henrique ou oferecer
para levá-lo ao hospital, Jakov checou seu celular, bradando um palavrão e
disse que precisa ir, que seus irmãos o estavam esperando.
Eu nem sabia que ele tinha irmãos!
Se despediu sobre minhas falas de que ele precisava ver um médico
e foi correndo até a esquina. Bárbara, Stella e eu ficamos observando-o,
enquanto um carro preto parou próximo a ele. A porta do passageiro foi
aberta, mas pela distância e pouca iluminação, não conseguimos ver o rosto
do motorista ou se tinha mais alguém no banco traseiro. Meu amigo entrou
no veículo e da mesma forma inesperada que surgiu em minha vida, se foi.
Dias se passaram e não soube de mais nada sobre Jakov, o mesmo
não respondeu nenhuma das minhas mensagens ou ligações, cheguei a
entrar em contato com a recepção do hotel onde ele estava hospedado e fui
informada de que sua estadia, já havia sido encerrada.
Tentei não pensar muito no assunto ou sobre o fato de não ter visto
Henrique desde então. Eu sabia que ele estava fugindo de mim, fazendo o
possível para não me encontrar pelo prédio tendo que lidar com o fato de
que deu uns amassos na única mulher que disse ser proibida para ele.
A briga entre os dois não estampou nenhuma página de fofoca ou
jornal. Com certeza, pela influência e contatos que Henrique tinha, o
mesmo não permitiria que o ocorrido vazasse para a mídia. Agradeci
mentalmente por isso.
Dante soltou uma risada me afastando dos meus pensamentos.
— Sim, liguei para Henrique por engano. Ana estava com desejo e
me acordou aos prantos. Não havia despertado totalmente e quando peguei
o celular, acabei digitando o número dele. Pela voz cansada, parecia que ele
estava ocupado com alguém.
Sim, Dantinho.
Ocupado com a sua irmã e os piercings nos mamilos dela!
Reprimi uma risada.
— Ele está estranho — Matteo divagou.
Fiz a sonsa.
— Porque acha isso? — questionei.
— Ele não apareceu nos treinos durante a semana e as respostas que
me deu foram vagas demais. Meu pressentimento me diz que B2 está
preocupado com algo. Ele até me ligou de volta depois que a chamada foi
para a caixa postal. — Arregalou os olhos acenando a cabeça.
— Ligou? O nosso Henrique ligou para você?
— Qual o problema disso? — Olhei para meus irmãos, confusa.
— Henrique odeia conversar por mensagens, apenas o necessário,
nada além disso. Ligações então, só quando é algo urgente. Ligar porque
perdeu uma ligação de Matteo, é algo muito incomum para ele.
— Não exagere. Meu vizinho deve estar ocupado no trabalho, com
algum caso grande e aí acaba dormindo tarde e acordando cedo — respondi
simplesmente, bebendo um pouco do meu suco logo em seguida.
— Esse B2 bombadão é mesmo um viciado em trabalho — Matteo
bufou. — Preciso falar com Simone.
— A secretária dele? — Dante questionou e ele anuiu.
— Sim, ela é quem me informa quando aquele teimoso passa do
ponto.
— É muito bonita a sua preocupação com ele, caro mio — falei com
sinceridade, tocando em seu ombro. — Mas ele está bem, apenas está
ocupado, tenho certeza disso.
Henrique
Definitivamente eu não estava nada bem e foi uma péssima ideia vir
até a casa da minha prima, a mesma que me abandonou e me deixou à
mercê da diaba, para conversar e pedir conselhos.
— Tome — Stella disse me entregando um pote pequeno de sorvete
de flocos.
— Que porra é essa, Stella? — Apontei para o recipiente.
— Sorvete, ué. — Deu de ombros.
— Eu sei que é sorvete.
— Então pra que perguntou, gênio? — Revirou os olhos.
Bufei.
— Eu estava me referindo ao motivo de você ter me entregado um
pote de sorvete, Stella — esclareci.
— Porque tudo com sorvete de flocos fica mais fácil. Então,
priminho — disse, abrindo uma das várias gavetas próximo à pia e tirando
de lá uma colher, estendendo-a para mim —, tome um pouco e comece a
desabafar. Na ligação de mais cedo, você parecia um pouco agitado.
Apertei os olhos em sua direção, aceitando a colher.
— Como você é cínica, ruiva. Puta que pariu, hein!
Ela soltou uma risada, deixando um pouco de sorvete escorrer no
canto de sua boca.
— Você sabe muito bem o porquê estou agitado e a culpa disso é
sua! — exclamei abrindo o pequeno recipiente em minhas mãos. — Se você
tivesse permanecido ao meu lado naquela noite, eu não teria dado uns
amassos na diaba.
— Fazia tanto tempo que eu não saía para me divertir que acabei me
distraindo com um moreno alto e gostoso.
— Argh! — gemi em desgosto. — Sem detalhes, por favor! — pedi,
torcendo o nariz.
— E pelo jeito que ela estava naquele beco, foram mais do que
simples amassos — provocou. — Minha amiga estava uma verdadeira
bagunça.
— Amiga? — Alcei uma sobrancelha.
— Sim, inclusive, fui adicionada no grupo “Bonde das taradas” —
riu. — Fui recepcionada com um vídeo da Ana Laura dançando Beyoncé.
Gostei dela, na verdade gostei de todas, até de Kyara que é a mais quieta.
— Elas são ótimas.
— São mesmo e eu também amei o apelido que o irmão da Beatrice
deu a Ana. “Gnomio” barriguda. — gargalhou.
— Matteo é maluco como você, prima — comentei, enchendo a
colher de sorvete e levando-a até à boca.
— Gosto de pessoas malucas. São as melhores, na verdade.
— Hum — murmurei de boca cheia.
— Então — começou a falar, se sentando em cima da enorme ilha,
de pernas cruzadas —, sobre o que você precisa conversar?
— Não é óbvio? Eu peguei a irmã dos meus melhores amigos.
Quebrei a porra do juramento do dedinho!
— Juramento do dedinho?
— É. Matteo quem inventou essa merda.
Stella riu.
— Ok, eu nem conheço esse Matteo e já o considero “pakas”.
— Tenho a leve impressão de que vocês vão se dar superbem —
resmunguei.
— Enfim, você e a diaba se pegaram — começou a narrar os fatos.
— Sim.
— E vocês gostaram?
— Eu gostei, sem dúvida nenhuma.
— E agora, pelo que eu conheço de você, está se sentindo culpado,
não por ter pegado a irmã dos seus melhores amigos, mas sim porque você
não se sentiu nem um pouco arrependido por isso. Certo?
Soltei um longo suspiro, colocando o pote de sorvete sobre a peça
de mármore à minha frente.
— Certo.
— Então isso quer dizer que você teria ido até o fim se a ligação de
Dante não tivesse te interrompido?
Esfreguei os olhos e puxei minha barba.
— Sou um amigo cretino, não sou?
— Não, você não é, Henrique. Deixe de drama e coma logo a
Beatrice. Ela quer isso e você também. Simples!
— Não é tão simples assim, Stella. E depois? Se apenas com uns
amassos eu não consegui agir normalmente com eles, o que acontecerá se
ela e eu fizermos sexo? Porra, não quero perdê-los. Eles são minha família.
Desde o meu momento com Bea noites atrás, fugi dela todos os dias,
assim como fiz com seus irmãos.
Dante era mais tranquilo e não insistiu quando comentei que estava
sumido por conta do trabalho, já Matteo era mais intrometido e ainda que
tenha aceitado minhas desculpas por não ter aparecido nos treinos e
recusado seus convites para almoçar, eu sabia que não deixaria para lá tão
facilmente. B1 me conhecia e era um fofoqueiro de primeira.
Tentei focar no trabalho e não pensar no melhor beijo que eu já
experimentei, nos seios mais lindos e suculentos que já chupei, naqueles
malditos piercings e nos gemidos mais gostosos que já arranquei de uma
mulher.
Foi difícil não sucumbir a vontade de bater uma punheta sempre que
a imagem da diaba surgia em minha mente, toda entregue para mim.
Porra, parecia que eu tinha voltado a ser o adolescente punheteiro
que fui!
E ainda tinha o fato de que nem no meu quarto eu estava conseguindo
dormir, porque era só olhar para a parede atrás da cabeceira da cama, que
surgia a vontade de pular a droga do parapeito da varanda que dividimos e
ir até ela para terminarmos de destruir o maldito muro.
Eu estava enlouquecendo porque queria mais.
Queria mais dos seus beijos, dos seus toques, da sua boca.
Queria me intoxicar com seu maldito cheiro e me consumir em seus
olhos.
Eu queria mais do inferno que era Beatrice Fontana.
Stella suspirou e segurou meu rosto, fazendo com que eu olhasse
diretamente em seus olhos. O tom que ela usou comigo, foi suave,
carinhoso e cheio de compreensão.
— Você não vai perdê-los porque se envolveu com Beatrice. Ambos
são adultos e ela te quer tanto quanto você a quer. E se…
— E se…?
— E se vocês se apaixonarem?
Franzi o cenho e senti algo estranho no estômago.
Ela não me daria sorvete estragado, certo?
— Isso não vai acontecer. — afirmei.
— Como você sabe disso? A gente não controla essas coisas.
Minha prima parecia durona, empoderada e que era do tipo que
preferia estar solteira e tinha aversão a relacionamentos. Mas por trás de
toda armadura que ela escolheu vestir depois de tantos babacas que
cruzaram com o seu caminho, eu sabia que ela ansiava por um amor intenso
e que lhe roubasse o fôlego.
Stella Prado era a típica romântica incubada e eu torcia para que o
destino fosse bom com ela e que lhe apresentasse alguém que valorize todas
as suas versões, ainda que nem todas fossem bonitas.
Éramos parecidos.
Ambos teimosos, com uma casca dura e sem muita paciência.
Xingávamos feito dois caminhoneiros.
Contudo, ela conseguia ter mais fé em encontrar o amor.
Ela ainda acreditava em finais felizes.
Eu não conseguia me ver além do presente.
Ela era positiva.
Eu era realista do jeito mais negativo da palavra.
Ela sonhava em ter uma família.
Eu já não sonhava mais com nada além do trabalho.
Ela queria ser o amor da vida de alguém.
Eu queria o amor que nunca poderei receber.
— Porque Beatrice e eu queremos a mesma coisa, ruiva. Sexo! —
respondi após meu breve momento de divagações.
— E se tudo mudar no meio do caminho? — inquiriu.
— Não vai, prima.
— Se acontecer…
— Não vai, eu não vou me apaixonar.
Ignorando as minhas palavras, ela continuou com as suas.
— Se acontecer de você se apaixonar pela diaba italiana, me
promete que não vai transformar tudo em raiva, promete que vai contar para
ela.
— Stella…
— Me promete, Henrique — insistiu, segurando meu rosto com
ainda mais força.
Suspirei, abrindo o sorriso para ela.
— Tudo bem, eu prometo.
Segurei suas mãos e as uni, depositando beijos nelas. Isso fez com
que os machucados nas juntas chamassem sua atenção.
Respirei fundo quando flashs do sorrisinho do cretino surgirem em
minha mente.
Graças a minha influência e meus contatos, a briga não chegou à
mídia, assim nenhuma das partes envolvidas foi exposta. E ao que parece, o
tal Jakov tinha um pouco de bom senso e amor à vida, já que o mesmo não
deu queixa de mim pela surra que lhe dei.
Definitivamente não me arrependo por ter quebrado a cara do infeliz
e torço para que Beatrice nunca mais o veja.
— Quer conversar sobre a briga?
— Não há nada para conversar. O filho da puta falou mal de Bea, eu
defendi sua honra e fim.
— Minha nova amiga não precisa que alguém defenda a honra dela
— comentou. — Mas não estou falando dos socos que você deu no babaca,
e sim da forma como reagiu depois.
Não disse nada. Eu sabia esconder o que sentia, porém sempre fui
um péssimo mentiroso para as pessoas que me conheciam de verdade, uma
ironia para quem escolheu a carreira de advogado. Por esse motivo,
permaneci em silêncio.
Stella me analisou por alguns instantes e quando percebeu que não
conseguiria arrancar nada de mim, desistiu, pelo menos por hora. Ela era
insistente e parando para pensar agora, parecia uma versão feminina de
Matteo.
— Tudo bem. — Bateu as palmas antes de segurar o pote de
sorvete. — Você vai no almoço de domingo na casa dos Fontana? — quis
saber. — As meninas me convidaram.
— Você vai?
— Vou — respondeu com um sorriso animado nos lábios. — E
fique tranquilo. — Piscou um olho para mim. — Dessa vez eu vou te
ajudar. Prometo.
Soltei uma risada incrédula.
— Uhum, sei.
CAPÍTULO 22
Henrique
Sempre acreditei em destino e tenho certeza de que nesse exato
momento ele quer me arrombar pelo cu e sem lubrificante ainda. Puta que
pariu!
Assim que adentramos a enorme cozinha da mansão dos Fontana,
meus olhos foram direto para a caçula da família, que estava em um canto
conversando com Bárbara e Ana Laura. A maldita diaba usava uma blusa
de seda com botões, uma saia justa na altura dos seus joelhos, que deixava
seu rabo ainda mais provocante, todavia meu corpo tremeu quando meu
olhar desceu e se fixou em suas pernas cobertas por uma meia transparente
e preta, daquelas que são presas por cinta-liga.
Meu ponto fraco, no meu ponto fraco.
Caralho!
Eu amava mulheres com curvas e estava louco para me perder nas
de Beatrice.
Minha boca encheu de vontade para passar minha língua em sua pele,
subindo por suas coxas, até sua…
— Fecha a boca, primo! Você está quase babando — Stella
sussurrou ao meu lado depois de me dar uma cotovelada.
Balancei a cabeça forçando uma tosse e ajeitei minha postura.
Ao que parece, hoje ela realmente estava disposta a me ajudar.
— B2! — Matteo exclamou ao me notar. Foi impossível não sorrir
ao ver meu amigo correndo até mim. — Eu estava com saudade, caralho!
— Apertei sua mão em um toque camarada, sendo puxado para um abraço.
— Olha a boca, Matteo Fontana! — Dona Beatriz o corrigiu, dando
um tapa no ombro do filho quando nos afastamos. — Como está, querido?
— perguntou, apertando minhas bochechas como costumava fazer.
— Estou bem.
Antes que pudesse apresentar Stella, a senhora sorridente segurou o
rosto dela.
— Santo Dio, cara mia! Você é realmente tão linda quanto Henrique
disse. Olha esse cabelo ruivo e esses olhos. Belissima. Semplicemente
belissima. — elogiou, apertando as bochechas dela como fez com as minhas
há segundos. — É um prazer finalmente conhecê-la.
— Obrigada. A senhora também é linda pra caralho!
— Outra boca suja para a família? — a mulher de cabelos grisalhos
pontuou, mas sua expressão era de puro divertimento.
— Gostei dela — Matteo falou.
— Claro que gostou, mi figlio — Sr. Vincenzo disse. — Bem-vinda,
cara. Parecemos malucos, mas é só aparência. No fundo somos normais. —
Piscou um olho com uma expressão cômica.
— Obrigada, senhor! — sorriu.
— Deixe-me me apresentar, ruiva. Sou Matteo, o mais bonito da
família.
— E o mais fofoqueiro e intrometido também — Dante acrescentou,
recebendo um dedo do meio do irmão.
— Modos, meu filho — sua mãe ralhou.
— Então, você concorda que eu sou o mais bonito da família? —
Como nada passa batido por ele, aproveitou para provocar.
Na mesma hora, como ímã, meus olhos miram na direção da diaba
que já estava me fitando com aquele maldito olhar que fazia todo o meu
corpo estremecer.
Engoli em seco quando um sorriso rasgou em seus lábios
preguiçosamente e uma piscadela foi direcionada a mim.
Desviei o olhar, voltando a focar em Matteo e Dante que discutiam.
— Eu não disse isso.
— Mas também não negou — sorriu de orelha a orelha.
Bufei, revirando os olhos.
— É um prazer conhecê-lo, Matteo. — Stella apertou sua mão.
— Bem-vinda ao grupo, ruiva! — Ana gritou correndo de um jeito
engraçado até nós, segurando a barriga grande.
— Garota você é serelepe demais para o seu tamanho — falou
enquanto abraçava com carinho a grávida.
— Mais uma para fazer bullying comigo. — Fez uma careta e
cruzou os braços, tendo os do seu marido ao seu redor.
— Prazer, Stella. Sou Dante — sorriu, descansando o queixo no
topo da cabeça da esposa, envolvendo-a em seus braços.
— Como vocês são lindos juntos! — exclamou a ruiva maravilhada.
— Não olhe muito para eles se não você vai ficar com cárie nos
olhos — Matteo cochichou para a minha prima, que caiu na gargalhada,
dando um tapa de leve no ombro do palhaço.
— Olá, Stella. — Bárbara cumprimentou-a com um abraço. —
Como está?
— Melhor agora, conhecendo todos de quem tanto ouvi falar! —
Sorriu encantada. — Amiga, preciso dizer mesmo que me esgane. Hoje,
com a claridade do dia, sou capaz de notá-la melhor e confirmo, você
realmente parece uma boneca!
Ela revirou os olhos.
— Estão ouvindo? — Matteo perguntou em voz alta, olhando em
volta. — Eu sou ótimo com apelidos.
— Claro que é — Miguel debochou. — Sou Miguel, irmão da
“gnomio” serelepe.
— O “princeso”. — Stella fez aspas com as mãos. — Já ouvi tantas
histórias de vocês, que sinto como se já os conhecesse há anos — comentou
risonha.
— Sinta-se parte da família, ragazza — Beatrice declarou, se
aproximando de nós. A envolveu em um abraço e antes de conduzi-la até a
mesa, olhou para mim e proferiu as seguintes palavras, em um tom de voz
calmo que chegou a me assustar, a ponto de fazer todos os meus ossos
tremerem: — Bom ver você, vizinho.
Bem, se ela conseguia agir como se nada tivesse acontecido entre
nós, eu também conseguiria.
Você consegue, Henrique Prado!
Você consegue, porra!
Beatrice
Assim que os portões do luxuoso condomínio abriram, meus olhos
foram até o homem atrás do volante.
— Quem mora aqui? — perguntei curiosa.
— Ninguém.
— Para onde está me levando?
Ele não respondeu, como das duas vezes que questionei desde que
entramos no carro, voltando a ficar em silêncio da mesma forma que estava
desde que implorou por mim no meio da rua, momentos atrás.
Senti todo o meu corpo tremer em expectativa e ansiedade pelo que
estava por vir.
Eu finalmente descobriria como é ser fodida pelo homem que desejo
por mais de dois anos.
Como é ter a boceta chupada por sua boca deliciosa enquanto seus
dedos apertam e brincam com meus mamilos.
Qual é a textura do seu pau contra a minha língua e o quão bom é o
seu gosto quando gozasse fundo em minha garganta.
Ele finalmente seria meu. Todo meu.
Por apenas uma noite, ele seria só meu e eu seria dele.
Henrique parou em frente a uma das casas mais lindas que já vi.
Ela possuía dois andares, toda no estilo provençal com um toque
moderno.
Os detalhes na fachada eram em tons de branco e madeira, e me
fizeram lembrar das casas de campo que costumo ver em filmes norte-
americanos.
— Uau! Esse lugar é… lindo — comentei sem conseguir tirar meus
olhos da propriedade.
— É — foi o que saiu de sua boca antes que tirasse o cinto e abrisse a
porta.
Vi o loiro atravessar a frente do carro e uma nova onda de expectativa
me tomou, me fazendo apertar as coxas em ansiedade.
Isso está mesmo acontecendo!
— De quem é essa casa? — perguntei assim que ele abriu a porta do
passageiro para mim, me deixando surpresa com sua atitude.
— Vamos! — ordenou rudemente, seguindo até a entrada da
propriedade.
Tirei o cinto, impaciente e vociferei, seguindo-o: — Cazzo! Porque
todo esse mistério?
Ele subiu os degraus e quando estava próximo da porta, tirou do bolso
um chaveiro com um pingente na ponta escrito em inglês: “Lar.”
— Não vai me responder? — questionei.
Henrique permaneceu quieto conforme usava uma das chaves para
abrir a porta. Quando o fez, soltei um gritinho ao ser surpreendida por seu
braço, que enlaçou minha cintura, puxando-me para dentro junto a ele.
Minhas costas tocaram na madeira, fechando-a com força, me fazendo arfar
pelo ato brusco e abrupto.
— Henrique… — murmurei, deixando minha bolsa cair aos meus
pés, levando minhas mãos até a gola da sua camisa social branca.
— Quer trepar ou conversar, diaba? — sua voz soou grave, rouca,
baixa e deliciosamente sexy, e seus olhos dançavam entre minha boca e
meus olhos.
Ele pressionou o seu corpo contra o meu, me permitindo sentir seu
pau duro. Deixei um gemido escapar, imaginando o quão maravilhoso será
tê-lo todo enterrado em mim.
Santo Dio!
Pelo volume que roça minha barriga, Henrique era grande e grosso
como eu sempre imaginei.
Prendi seu lábio inferior entre os dentes, chupando-o com pressão em
seguida, fazendo sua testa descansar na minha. Sorri de lado e sussurrei as
seguintes palavras, usando o meu melhor tom travesso: — Para quem fugiu
esse tempo todo, você está muito apressado, Sr. Prado.
— E para quem me atiçou esse tempo todo, você está fazendo um
charminho irritante que definitivamente não combina com você —
devolveu, seus olhos vidrados nos meus.
Eu não era o tipo de pessoa que corava por se sentir tímida. Nunca!
Pelo contrário, eu era quem fazia as pessoas corarem. Contudo, todas
as vezes em que Henrique apreciava meus olhos de um jeito tão intenso,
como agora, eu quase me sentia constrangida a ponto de fazer minhas
bochechas enrubescerem. Quase!
Engoli em seco, expulsando a sensação estranha que ameaçou me
abraçar.
— O que combina comigo? — indaguei.
— Ser tratada como uma puta — respondeu, descendo sua mão até
minha bunda, fechando seus dedos ali com força para, em seguida, alisar o
meio, entre os montes, de baixo para cima. — Você gosta, não gosta,
desgraçada? Gosta de ser tratada como uma putinha na cama?
Mordi meu lábio, empinando meu quadril contra sua mão, apreciando
o carinho.
— Uhum — murmurei.
Ele gemeu me prensando mais contra a porta, seus lábios tocando nos
meus e sua barba arranhando meu queixo conforme falava.
— Como eu adoraria comer esse cu. — Sua mão se fechou no meio
da minha bunda e eu arqueei as costas, adorando a onda de prazer que me
atingiu. — Meter meu pau com força e bem gostoso.
— Você nem comeu minha boceta ainda — balbuciei, fechando os
olhos, completamente entregue. — Acha que consegue dar conta de mim?
Ele soltou uma risada cheia de incredulidade, me fazendo abrir os
olhos para encontrar os seus.
— Ah, Bea, você precisa entender uma coisa sobre mim. Na cama,
quando estou fodendo eu não controlo a fera que vive em mim. Eu
apenas… sigo meus instintos. Nunca fui uma pessoa paciente, mas no
sexo… — um som rouco saiu de sua garganta, quase como um rosnado, me
fazendo estremecer. — Ah, querida, no sexo, eu fodo como um selvagem
faminto e preciso que saiba que uma mulher nunca conseguiu saciar a
minha fome.
— E o que a sua fera interior está esperando para me beijar? Pensei
que ela estivesse com fome.
Ele grunhiu e segurou meu quadril com força, virando-me de costas
em um movimento rápido. Uma mão enroscou meu pescoço, os dedos
grandes pressionando ali apenas o suficiente para me deixar mais excitada.
Henrique era experiente e sabia enforcar do jeito certo para fazer uma
mulher ir à loucura. Todas as vezes em que ele me enforcava, sentia minha
boceta pingar de tesão, como agora.
— Vamos deixar uma coisa bem clara, Beatrice. — Seus lábios
rasparam minha orelha e uma enxurrada de arrepios perpassou pelo meu
corpo com seu hálito contra minha pele. Sua mão livre apertou minha
cintura com força, me fazendo ter certeza de que seus dedos deixarão uma
marca no local. Seu quadril espremeu minha bunda contra a porta e reprimi
a vontade de rebolar. — Hoje você irá me obedecer. Quem manda sou eu,
entendeu?
— Entendido, senhor — debochei, só então rebolando vulgarmente e
sem qualquer pudor contra seu pau, sentindo seu corpo tremer.
— Não me lembro de ter mandado você rebolar esse rabo, safada —
rosnou.
Espalmei minhas mãos contra a madeira da porta, impulsionando
ainda mais meu quadril contra o seu membro. Virei o rosto para admirar seu
olhar lascivo em nossos corpos grudados.
— Então, por que não me mandou parar, senhor?
Ele rosnou, os olhos azuis assumindo um tom escuro, cheio de fogo e
desferiu dois tapas fortes em minha bunda. Minha pele ardeu, porém não
tive tempo para dizer nada pois sua boca colou na minha, sem delicadeza e
carinho. O beijo era rude, desesperado e cheio de fome.
Diferente da primeira vez que nos beijamos, agora era como se
estivéssemos deixando o desejo falar alto, soar livre entre nossos corpos,
sem qualquer receio ou medo.
Éramos apenas nós dois.
Sem proibição.
Sem a amizade dele com meus irmãos.
Sem barreiras.
Sem limites.
Apenas nós e nosso desejo um pelo outro.
Sua língua explorou a minha com avidez por um momento e eu
retribuí. Sua mão se fechou em volta do meu pescoço e logo fui virada de
frente. Henrique me puxou do chão para me carregar no colo, minhas
pernas se prenderam em torno de sua cintura, fazendo minha saia subir.
— Porra — exclamou quando se afastou em busca de fôlego,
repousando sua testa na minha, encarando meus olhos intensamente.
Apertei sua nuca com as duas mãos, tão sem fôlego quanto ele. — Você é
tão gostosa!
Girei meu quadril, fazendo a renda da minha calcinha roçar em seu
pau duro. Nós dois gememos.
— Você só pode ter certeza se sou gostosa mesmo depois de me
provar — provoquei.
— É o que vou fazer — declarou, me colocando no chão para em
seguida dar três passos para trás com os braços cruzados, me comendo com
as íris azuis escuras. — Tira a roupa! — ordenou com um aceno de cabeça.
— Porque você mesmo não vem tirar? — Imitei sua postura de
queixo erguido.
— Eu mando, você obedece. Tira o caralho da roupa, Beatrice!
Soltei uma risada, encarando-o cinicamente.
Eu amava ser mandada durante o sexo. Era obediente sem qualquer
objeção se o meu parceiro fosse me levar a ter orgasmos intensos, contudo,
a fim de provocar o loiro, decidi torturá-lo um pouco.
Com o lábio inferior entre os dentes, sorri como a diaba que sabe que
sou e varri meus olhos pela primeira vez pelo espaço diante da pouca
iluminação da noite que adentrava através da parede de vidro que tem no
lado esquerdo. A sala era quase o dobro do tamanho da minha, porém se
diferenciava com uma decoração clean e rústica, dando ao ambiente um ar
de casa no campo. Os tons sutis de azul, traziam uma sensação estranha de
calmaria em meio ao caos da cidade.
Ela era linda por fora, mas por dentro, era ainda mais.
— Beatrice! — bradou, fazendo meus olhos voltarem para os seus,
parecendo tenso. — Tire a roupa, agora!
Lancei uma piscadela atrevida para ele, empurrando meus cabelos
para trás dos ombros antes de caminhar até o bar que tem no canto da
imensa sala, observando entre as várias garrafas. Senti seu olhar sobre mim
conforme me movia por entre os móveis.
— Quem mora aqui? — perguntei novamente.
— Já disse. Ninguém!
— A quem esse lugar pertence?
Um tempo de silêncio e a resposta finalmente veio.
— A mim.
Estava passando por uma das poltronas brancas, mas parei, virando o
rosto para olhá-lo com o cenho franzido.
— E porque me trouxe para cá?
— Era mais perto — disse simplesmente.
— Eu poderia esperar até chegarmos em nosso prédio. O trânsito não
estava tão ruim assim e — Voltei a andar, passando meus dedos pelo sofá
largo — adoraria chupar seu pau enquanto você tentava focar na estrada.
— Seria… perigoso demais — falou com a voz trêmula.
— Gosto de adrenalina e acho que você não duraria muito.
— Seu boquete é tão perfeito assim?
— Em instantes, você saberá.
— O que está fazendo? Pensei que queria ser fodida. Você estava bem
desesperada por um pau — Henrique disse e pelo seu tom, sabia que ele
estava perdendo o pouco da paciência que possui quando o assunto sou eu.
Soltei uma risada, tirando um dos meus vinhos favoritos de uma das
prateleiras de vidro. Um Dominus Napa Valley, e o abrindo sem qualquer
dificuldade.
— Eu quero ser fodida, caro mio — declarei, pegando uma das taças
e virei em meu eixo para encontrá-lo de braços cruzados sobre o peito largo
e musculoso. Minha boca salivou desejando sentir cada extensão de sua
pele com a língua. — Mas como vamos pular vários encontros e ir direto
para o sexo, sem jantares ou passeios, pensei em algo que é mais apropriado
para a nossa única noite. Afinal, foram mais de dois anos esperando por
isso.
— Não pensei que você fosse do tipo que curte fazer amor —
brincou.
Sorri.
— Eu nunca fiz amor. Eu fodo como uma puta, lembra?
Seus olhos se estreitaram em minha direção e vi o seu maxilar travar
com força, assim como seus ombros.
— Mas, eu ainda sou uma dama e toda mulher gosta de ser tratada
como tal — disse, colocando um pouco de vinho na taça, deixando a garrafa
sobre o balcão do bar. — Dominus Napa Valley. Meu vinho favorito. —
Levei o cristal até a boca sorvendo a bebida em pequenos goles. — Um dos
vinhos com mais prestígio no mundo, com safra plantada em 1838. O seu
equilíbrio de sabores é impecável. É incrível como consigo sentir o sabor do
mirtilo, da amora, do jasmim, do cardamomo, da ameixa e nuances
deliciosas do toque sutil de caramelo e do cedro.
— Porque está dizendo tudo isso? — as palavras saíram apertadas.
Henrique estava chegando ao limite e era exatamente assim que eu o
queria.
Sorri, encarando-o com falsa ingenuidade.
— Estou lhe dando uma aula sobre vinhos, caro mio — respondi,
deixando a taça sobre a mesinha na lateral do sofá. — Mas — Levei minhas
mãos para a gola da minha blusa —, como na faculdade de gastronomia, só
aprendemos de verdade na prática. Então, — Meus dedos começaram a
trabalhar nos botões devagar, sem pressa, desatando um a um —, ao invés
de encontros e jantares, estou te oferecendo para a nossa única noite de
sexo, uma degustação de vinho.
— Beatrice…
— Lembre-se de respirar, querido — falei, notando seus braços
relaxarem nas laterais do seu corpo, suas mãos se fechando em punhos.
O sorriso que rasgou meus lábios conforme eu descia as mangas de
seda por meus ombros, expondo meu sutiã transparente de renda preta, me
fez sentir como a própria diaba que ele sempre disse que sou.
— Malditos piercings — murmurou, fixando seu olhar na altura dos
meus seios.
E sem perder mais tempo, tratei de me livrar da minha saia,
escorrendo o zíper até que ela fosse um embolado de tecido em volta dos
meus pés calçados por scarpins pretos, deixando à mostra minha calcinha
fio-dental presa à cinta-liga.
— Filha da puta gostosa pra caralho! — bradou e vi o exato
momento em que seu pomo de Adão se moveu quando me sentei no enorme
sofá, abrindo minhas pernas, apoiando meus pés na mesinha de centro.
— Toda mulher merece ter alguém ajoelhado aos seus pés para lhe
dar prazer. — Segurei as laterais da minha calcinha, lançando uma
piscadela para ele antes de puxar o tecido com força, rasgando-a.
— Beatrice…
Meu quadril tremeu e senti minha pele arder. Joguei de lado o que
restou da peça e voltei a olhá-lo. Sua expressão era a mais sexy que eu já vi
uma pessoa esboçar conforme encarava o meio das minhas pernas abertas.
Se estivéssemos em um desenho animado, teria baba escorrendo do canto
de sua boca.
Sorri, mais do que satisfeita.
Estiquei um braço na direção da taça e a peguei enquanto minha mão
livre descia para a minha boceta, acariciando meus grandes lábios.
Henrique gemeu com a visão, mas foi o que eu disse e fiz a seguir, que o fez
perder completamente a razão, liberando, enfim, a fera que ele havia dito
que possuía quando o assunto era sexo.
— Hoje eu não serei a única pessoa a se ajoelhar, Henrique Prado. —
Levei o dedo melado com meu próprio líquido até a boca e o chupei,
usando minha língua para lambê-lo como se estivesse lambendo seu pau,
ouvindo-o soltar vários palavrões. — Eu realmente sou gostosa pra caralho.
— Então, apontei para ele com meu indicador e o chamei. — Vem, caro
mio. Vem se ajoelhar e chupar minha boceta. Aceite a degustação que estou
lhe oferecendo, sendo meu corpo, sua taça. Vem, Henrique. Per favore.
CAPÍTULO 25
“Você tem esse poder sobre mim, minha nossa.Tudo o que eu amo
reside naqueles olhos. Você tem esse poder sobre mim, minha nossa. A
única que eu conheço, a única em mente. Você tem esse poder sobre mim.”
(Power over me - Dermont Kennedy)
Henrique
Eu já comi muita mulher, das mais tímidas até as mais ousadas, das
mais submissas até as mais teimosas. Contudo, nenhuma delas foi como a
que está sentada diante de mim com as pernas abertas e a boceta brilhando
pela lubrificação que escorre.
Minha mente ainda vagava pela imagem dela se livrando de suas
roupas, se sentando no sofá e rasgando sua própria calcinha como eu
mesmo planejei fazer.
Ela estava fora dos padrões, além das definições de ousadia.
Beatrice Fontana era única.
Nada do que pensei durante o curto trajeto até aqui, se comparava ao
que ela fez. Fui surpreendido de um jeito irritantemente delicioso por sua
oferta e, ainda que eu odeie sua petulância, não havia como negar. Sua
proposta era tentadoramente irresistível.
Apertei o interruptor próximo à porta, deixando o ambiente mais
claro.
— Eu quero ver cada pedacinho seu e não perder nenhuma
expressão sua enquanto te dou prazer — declarei.
Com os olhos dançando entre seu rosto, seios e boceta, caminhei até
ela como um predador, atravessando a sala a passos largos, não
conseguindo disfarçar minha ansiedade por finalmente estar prestes a
descobrir seu gosto. Minha mão direita desceu até o meu pau, que o
pressionou com força o zíper da calça. Alisei-o por sobre o tecido, tentando
diminuir a dor em minhas bolas.
— Eu espero que esse volume todo não seja propaganda enganosa,
caro mio — a diaba disse cínica, bebendo um pouco do seu vinho de forma
elegante e sensual do jeito que só ela sabe.
— Vou deixar essa bocetinha ardida de tanto meter meu cacete —
disse entredentes quando parei em sua frente, acariciando sua coxa direita.
Sua pele se arrepiou e ela arfou, apertando com força os dedos em volta da
taça até que eles estivessem brancos.
— Henrique — gemeu desesperada quando me aproximei de sua
intimidade, se abrindo ainda mais para mim.
Bea ameaçou se tocar com a mão livre , mas eu a detive segurando
seu pulso com força.
— Quando estou fodendo uma mulher, ela não se toca a menos que
eu mande — anunciei e chupei o mesmo dedo que esteve em sua boceta e
boca momentos atrás. Seus olhos me observavam com satisfação e foi a
minha vez de gemer quando senti a nuance do seu gosto em minha língua.
Caralho!
Era quente. Uma mistura de doce com salgado.
Algo único. Era… irresistível e viciante. Como ela.
Euforia me tomou e cada célula minha, que ainda se mostrava
reticente quanto a seguir com essa loucura se dissipou.
Tudo se dissipou e nada pareceu fora do lugar, estávamos onde
deveríamos estar.
Não havia mais caralho de juramento de dedinho, minha amizade
com seus irmãos, a confiança de sua família em mim e nem mesmo a minha
própria consciência.
Eu podia sentir cada barreira desmoronando pelo inferno que era
Beatrice Fontana.
As labaredas me consumiam, ruindo qualquer pensamento racional.
E eu torcia para que um novo círculo vicioso não estivesse prestes a
começar.
Seria apenas essa vez.
Seríamos um do outro apenas por uma noite.
Uma noite e nada mais.
Uma noite seria suficiente para aplacar o desejo por ela que
queimava em mim?
Eu torcia para que sim!
— Esse será nosso segredo — declarei quando libertei seu dedo e
ajoelhei, olhando em seus malditos olhos verdes que pareciam me puxar
ainda mais para sua órbita.
— Nosso segredinho sujo — acrescentou, estampando seu sorriso
diabólico.
— Apenas uma noite, Beatrice!
Apenas uma noite, Henrique!
Uma.
Noite.
Será só essa noite, Henrique.
Uma.
Única.
Noite.
— Uma noite — repetiu em um sussurro, trazendo sua mão livre até
minha nuca e eu deixei que me puxasse para mais perto de sua boceta. Ela
era cheia e toda lisinha. Meu pau e eu salivamos em expectativa. — Então
faça valer a pena, caro mio. Fode minha boceta com essa boca gostosa,
fode. Per favore.
Fechei os olhos por um segundo, sentindo meu sangue fluir para o
meu pau, deixando-me ainda mais excitado do que antes. Meus músculos
tencionaram e a mão dela se afastou da minha no exato momento em que
abri os olhos. Observei suas íris e deixei que ela visse o animal faminto
emergindo até a superfície, tomando conta de todos os meus sentidos.
Ela viu.
Ela gemeu.
Eu sorri, espelhando seu olhar de demônia.
— Eu vou acabar com você, sua diaba! — rosnei segurando com
força a parte de trás das suas coxas, elevando seu quadril para mim e
deixando sua boceta ainda mais exposta.
— Henrique…
Inalei seu cheiro e de propósito, toquei seu clitóris com a ponta do
meu nariz, fazendo minha barba roçar em sua carne. Ela estremeceu e só
quando soltei o ar, passei minha língua de baixo para cima, em toda sua
extensão, aplicando um pouco de pressão no ponto mais sensível e
arrancando dela um longo e sofrido suspiro.
Repeti o movimento mais cinco vezes, apreciando seu gosto com
calma.
Cuspi, deixando minha saliva escorrer e se misturar com seu líquido
para só então atacar seu montinho de nervos, chupando-o com força.
— Caralho… — gemeu alto.
Subi meu olhar para não perder nenhuma das suas expressões de
prazer, ao mesmo tempo que circulava minha língua em seu clitóris. Seu
lábio inferior estava preso entre os dentes e suas íris focadas em mim.
— Porra, Henrique…. — Remexeu o quadril contra minha boca,
sem parar de gemer.
— Sua voz quando canta é linda, mas quando você geme, caralho…
É perfeita! Minha nova música favorita — disse, voltando a fechar meus
lábios em torno do seu ponto que já estava durinho.
— Pena que você só vai ouvi-la uma vez — seu tom insolente me
fez grunhir.
Libertei uma das suas coxas para roçar meu polegar em sua
abertura, provocando-a.
— Sabia que… aah… Sabia que o vinho é um ótimo estimulante
sexual? Seus efeitos em doses certas, podem ser… hum... afrodisíacos —
recitou e fui surpreendido quando Beatrice aproximou a taça, que ainda
segurava, até seus seios e começou a despejar uma pequena quantidade de
vinho em seu próprio corpo. O líquido pareceu descer em câmera lenta por
entre os seus seios, barriga e umbigo. Assim que as primeiras gotas
chegaram em minha boca, chupei com mais sede, bebendo seu líquido
misturado ao vinho, fazendo do seu corpo, minha taça.
Enfiei em sua boceta dois dedos de uma só vez e mordi
carinhosamente seu clitóris.
Ela gritou e eu não parei, fodendo-a com a boca e os dedos,
meneando meu rosto de um lado para o outro, usando minha barba para lhe
dar ainda mais prazer. Os sons que saíam de sua garganta se multiplicavam
no ar à medida que os segundos passavam.
Senti quando suas paredes me apertaram e acrescentei mais um dedo
ao entra e sai melado.
— Henrique — balbuciou, puxando meus cabelos com força.
Girei meus dedos dentro dela, aplicando mais pressão em minha
língua. Não havia delicadeza em meus movimentos, a devorei como se não
comesse há dias.
Beatrice arqueou as costas quando soltou um palavrão alto,
anunciando seu orgasmo. A cena dela convulsionando, os mamilos com os
piercings entorpecidos, a pele suada e corada, com a boquinha aberta
soltando sons deliciosos à medida que gozava, quase me fez gozar junto.
Tomei todo seu fluído, ainda sentindo o gosto do vinho e quando suas
pernas pararam de tremer, chupei com força seu clitóris antes de me afastar
para lamber meus dedos melados do seu gozo.
Ela sorriu, me olhando com os olhos pesados por um momento e
soltou um longo suspiro.
— Você sabe o quanto foi difícil olhar para você durante esse tempo
todo e não imaginar você assim, pelada toda meladinha? — Dei um tapa em
sua boceta. Ela gemeu e fez menção de fechar as pernas. — Caralho, como
você é gostosa, sua diaba.
Seus lábios se rasgaram em um sorriso preguiçosamente sensual.
— Satisfeita? — Uma sobrancelha minha levantou.
— Nem um pouco.
A mão, que segurava sua coxa, subiu para rodear seu pescoço,
forçando-a a ficar de pé junto comigo. Peguei a taça que ela ainda segurava
e a deixei em cima da mesinha ao lado do sofá.
— Que bom — rosnei próximo do seu rosto.
O sorrisinho dissimulado que ameaçava surgir em seu rosto morreu
quando, em um movimento rápido, a joguei por sobre meus ombros.
— Agora — Desferi um tapa em sua bunda, fazendo-a soltar um grito
pelo susto —, será do meu jeito.
— Henrique.
— Calada! — Outro tapa, dessa vez com mais força. Observei sua
pele atingir um tom lindo de vermelho. — É a minha vez, putinha do
caralho. — Mais dois tapas, que foram seguidos por seus gemidos e uma
mordida minha.
— Você acabou de morder a minha… bunda? — sua voz soava
divertida.
— Você gostou.
— Gostei. Faz de novo — suplicou.
Soltei uma risada baixa, mas não atendi seu pedido.
Em silêncio, segui para a porta que ficava o único quarto mobiliado
da casa. Abri a porta, acendi o interruptor e fechei-a com os pés, jogando
Beatrice no colchão com delicadeza o suficiente para não machucá-la.
Fiquei parado na beirada da cama de braços cruzados, varrendo cada
detalhe das curvas que eu estava prestes a me perder.
— Você está me olhando como se eu fosse quebrar o seu coração,
caro mio. — Engoli em seco, sentindo meu coração errar uma batida. —
Não se preocupe. A única coisa que pretendo quebrar é a sua cama —
brincou, risonha. — Faça alguma coisa. Per Dio! — pediu impaciente
diante do meu silêncio.
— Quem está implorando agora, hein?
Ignorando a maldita sensação que se apossou de mim por suas
palavras, comecei a desabotoar minha camisa, observando suas íris
seguirem cada movimento meu com um brilho intenso de expectativa.
Descartei a peça de lado e tratei de me livrar dos meus sapatos e meias.
Desafivelei o cinto, abrindo a calça e desci o tecido com minha cueca
branca por entre minhas pernas.
— Cazzo! — exclamou, encarando meu pau que pendia para frente.
Sorri convencido, envolvendo meu membro com a mão direita e
usando meu polegar para espalhar o pré-gozo que se acumulou por toda sua
extensão.
— Eu nunca implorei por um pau — disse tirando seus saltos e
ficando apenas com a maldita cinta-liga antes de engatinhar para fora da
cama. — Mas, definitivamente, não me importo em implorar pela perfeição
que é o seu.
Com a mão livre, enfio meus dedos em seus cabelos, puxando-os até
que seu nariz esteja tocando no meu.
— Gostou?
Ela acenou.
— Sem dúvidas, não é uma propaganda enganosa.
— Se pedir por favor como uma putinha obediente, eu deixo você
provar o quanto eu sou gostoso — falei entredentes, vendo sua língua
lamber seus lábios. — Pede, vagabunda. — Aumentei o puxão nos fios
negros, fazendo seu corpo sacudir. — Pede para eu enfiar meu pau todo
nessa sua garganta.
Sorrindo sem mostrar os dentes, a desgraçada raspou os dedos em
meu peito, traçando círculos de leve até chegar em meu umbigo. Estremeci
quando usou suas unhas curtas para acariciar sutilmente a cabeça do meu
membro.
— Me deixa chupar seu pau, Sr. Prado? Tenho certeza de que será o
melhor boquete que você já recebeu.
Grunhi, enfiando minha língua na sua em um beijo bruto, finalizando-
o com um chupão em seu lábio inferior.
— Sua vez de ajoelhar como uma boa putinha e receber surra de pau
nessa boquinha atrevida. Ajoelha!
O comando junto ao meu olhar feroz sobre ela, a fez cair de joelhos
aos meus pés. Sorri com a visão das suas mãos envolvendo meu pau com
ansiedade, acariciando-o antes de circular a ponta com a língua molhada e
quente.
Alisei sua bochecha com meu polegar, ordenando: — Chupa, safada.
Beatrice sorriu cinicamente antes de fechar os lábios na cabeça do
meu pau, sugando com a pressão perfeita para me fazer chegar ao orgasmo
mais rápido do que pensei ser possível.
— Caralho de boquinha gostosa! — exclamei quando ela engoliu
centímetro a centímetro, queimando de tesão.
Segurei seus cabelos com as duas mãos em um rabo de cavalo e me
movi de encontro a ela, que me recebeu sem qualquer protesto, me
engolindo por inteiro, sem tirar os olhos do seu olhar dissimulado conforme
aumentei o ritmo do meu quadril.
— Eu adoro a forma como você está me olhando agora — confessei
enquanto fodia sua boca. — Me faz pensar que você é a minha putinha
obediente. E eu sei, porra como sei que você está fazendo de propósito, sua
diaba desgraçada do caralho.
A filha da puta sorriu com meu pau todo enterrado em sua garganta,
me levando cada vez mais fundo, arrancando gemidos intensos de mim.
Seus olhos brilhando de luxúria, lágrimas escorrendo por seu rosto,
deixando um rastro de rímel nas suas bochechas e seus gemidos sendo
transformados por sons de quase engasgo conforme eu metia sem dó.
O jeito como a sua língua se movia, fizeram minhas pernas tremerem
e soltar palavras desconexas pelo prazer que a diaba estava me
proporcionando.
A porra do melhor boquete do mundo!
Segurei com mais força, movendo sua cabeça para frente e para trás
algumas vezes antes de liberar sua boca.
Ela protestou, fazendo um beicinho lindo e exagerado com os lábios
inchados e vermelhos.
— Você teria engolindo toda a minha porra, não é? — questionei,
segurando seus braços, fazendo- ficar de pé.
— Sou uma putinha obediente, senhor — a desgraçada debochou.
Apertei meus dentes.
— Deita! — ordenei, sinalizando com o queixo na direção da cama.
Sorrindo como um demônio, ela fez o que eu mandei, deitando de
bruços no colchão.
Peguei uma das três camisinhas que sempre carregava na carteira e fui
até Beatrice, abrindo suas pernas para ficar de joelho entre elas. Só então,
percebi o pequeno desenho de um coração em chamas perto do meio de sua
bunda. As linhas finas da tatuagem eram em tom de vermelho e assim como
os piercings nos mamilos, combinavam com sua personalidade
endemoniada.
— Gostei da tatuagem — comentei, passando meu polegar ali.
— Fiz no mesmo dia que coloquei os piercings — disse. — Acho que
combina com o meu fogo no rabo.
— Com certeza combina, diaba.
Desferi dois tapas em sua bunda, um em cada lado, arrancando um
gritinho sexy dela para em seguida, acariciar sua pele, subindo e descendo,
alternando com tapas e mordidas, deixando uma em especial ao redor da
pequena tatuagem.
— Adoraria comer esse cuzinho — falei, passando minha língua em
torno do pequeno buraquinho.
— Precisa merecer. Regra feminina — disse ofegante quando desci
minha língua próximo à sua entrada, voltando a brincar entre os montes
fartos. — Pena que não teremos mais oportunidades para isso. Adoraria
receber seu pau na minha bunda.
— Não. Não teremos! — pontuei, mais para mim do que para ela.
Apenas uma noite, Henrique, e nada mais.
Raspei meus dentes por sua carne e prendi o pedaço de liga que
descia até o interior da sua coxa, puxando-o com força para estalar a peça
em sua pele, que logo ficou ainda mais vermelha do que já estava. Repeti o
movimento, usando uma mão para fazer o mesmo com o outro lado.
— Henrique — falou manhosa, mexendo seu quadril.
Antes de cessar, mordi sua bunda e me afastei para pegar a camisinha
no colchão.
— Empina esse rabo para mim, sua puta! — ordenei, admirando as
marcas que fiz em sua pele enquanto vestia a camisinha.
Ansiosamente, ela o fez, virando o rosto para me olhar por sobre o
ombro, estampando um sorrisinho safado, balançando o quadril.
— Tá feliz, não é, puta dos infernos?
Com uma mão segurei sua cintura e com a outra, a base do meu
membro, roçando a cabeça em sua boceta molhada, abrindo seus lábios e
espalhando sua lubrificação.
Beatrice murmurou algo, empurrando sua bunda para trás em um
claro sinal de que estava mais do que pronta para me receber. Todavia,
continuei brincando por ali, adorando vê-la desesperada.
— Aaah! Henrique… mete esse cacete, vai. Mete logo, caralho —
implorou sem pudor, se abrindo ainda mais para mim feito a cadela que ela
era.
— Faltou as palavras mágicas, querida — debochei, posicionando
meu pau em sua entrada.
— Porra! Por favor.
Sorri e com uma estocada, empurrei meu pau todo dentro dela,
segurando seu quadril contra o meu, absorvendo a sensação fodidamente
maravilhosa de estar enterrado nela. Nunca experimentei algo tão delicioso.
— Caralho, que bocetinha gostosa você tem, Bea!
Ela virou o rosto para mim.
— Você está aguardando o que para acabar comigo? Estou esperando,
caro mio.
Apertei meus olhos, encarando seu semblante endemoniado que
nunca deixou seu rosto e desci minha mão direita até sua nuca, puxando-a
até que suas costas se chocassem com meu peito, circulando sua cintura
com meu braço livre.
— Sempre tão petulante, diaba italiana do caralho — sussurrei em
seu ouvido, mordendo em seguida seu lóbulo.
Ela gemeu, me encarando com as íris verdes brilhando.
— Sempre pensando e falando demais, e fazendo de menos, Sr.
Prado. — Ela impulsionou o quadril para frente, meu pau deslizando por
sua boceta e bateu sua bunda contra minha pélvis. Gemi, reprimindo a
vontade de revirar os olhos. — Quer que eu ensine para a sua fera interior
como foder uma boceta?
Meu sangue ferveu e minha mão coçou para lhe dar um tapa. Mas ao
invés disso, empurrei Beatrice de volta para o colchão e deixei meu corpo
pender sobre o dela. Com uma mão, prendi seus braços acima de sua cabeça
e com a outra, segurei sua cintura, apertando a pele com força.
— Sem pedir para parar, querida — rosnei em seu ouvido e comecei a
estocar, tirando e enfiando meu pau de forma lenta, alargando-a.
— Está com pena, Henrique? — provocou.
Me afastei, saindo de sua boceta para virá-la de frente para mim em
um movimento rápido. Abri suas pernas e voltei a meter sem parar, usando
minhas mãos para segurar seu tronco, movendo-o para cima e para baixo,
seus seios perfeitos seguindo o ritmo que meu quadril ditava.
Perdi o ritmo por um segundo, perdido na visão das joias em seus
mamilos, mas foi o suficiente para a diaba impulsionar seu corpo para
frente, fazendo nossos corpos suados virarem e minhas costas se chocarem
no colchão. Agora ela estava por cima.
A encarei atordoado e antes que eu pudesse protestar, suas mãos
espalmaram em meu peito e ela começou a rebolar, suas paredes me
mastigando à medida que descia sua boceta pelo meu pau.
— Caralho! — exclamei inebriado pelo prazer.
— Pompoarismo, querido — disse aumentando o ritmo, continuando
a apertar em meu eixo.
Puta que pariu!
Sou um filho da puta sortudo pra caralho!
— Foda-se o que seja. Só continua — falei, segurando seus seios,
usando meus polegares para brincar com seus mamilos.
Beatrice sorriu, levando suas mãos até seus cabelos, acariciando-os e
fechando os olhos conforme quicava em meu colo.
Ela parecia uma deusa de tão linda.
Cada detalhe em seu corpo a fazia ser a porra da perfeição.
— Você é tão linda — deixei escapar, encantado por sua beleza.
Ela abriu os olhos e meu coração acelerou no peito quando uma
sensação de pertencimento se apossou em mim, me fazendo acreditar que
tudo o que estávamos fazendo era certo. Que nós éramos certos.
Que porra era essa?
Ela sorriu, não um sorriso safado, mas um que ela nunca havia me
dado.
Esse golpeou cada célula do meu corpo.
Enfiei meu dedo indicador em sua boca, para que ela o chupasse e
logo o fez. Então, inclinei o tronco para cima apenas o suficiente para
enroscar uma mão em torno do seu pescoço, puxando-a para mim. Seu
corpo caiu sobre o meu e nossas bocas colidiram em um beijo desesperado.
Suas unhas arranharam meus ombros e a ardência me deixou mais perto do
ápice.
Levei meu indicador úmido com sua saliva até o seu buraquinho e a
penetrei, entrando e saindo no mesmo ritmo que meu pau em sua boceta.
Apoiei meus pés na cama e impulsionei meu quadril contra o dela. E
como a puta que disse ser, ela me fodeu de volta, empurrando contra as
minhas investidas em busca do seu ápice, que veio quando girei meu dedo
em sua bunda.
— Goza para mim, goza safada — disse, separando nossas bocas.
— Não! — declarou. — Eu vou gozar por mim — sorriu,
aumentando o ritmo.
Então, ela gozou por ela, mas gritando o meu nome, olhando nos
meus olhos.
E porra, ela era realmente perfeita.
Quando seu orgasmo cessou, ela não parou seus movimentos e
segurou meu pescoço da mesma forma que eu segurava o dela.
— Goza para mim, seu desgraçado do caralho. Goza na minha
boceta! — ordenou, apertando meu eixo.
Ela estava me provocando.
Eu estava enlouquecendo.
E pela primeira vez, estava sendo fodido por uma mulher.
Por ela.
Pela diaba italiana.
Por Beatrice Fontana.
E como se ela me controlasse, meu corpo a obedeceu.
Então eu gozei, chamando por ela e mergulhando em uma espiral de
prazer que parecia não ter fim.
Meu corpo relaxou. Meus braços caíram sobre o colchão e parecia
que eu tinha sido despedaçado em milhões de pedacinhos.
— Eu disse que quebraria sua cama.
Sua voz e a risada gostosa foram me puxando de volta para a
realidade.
Porra, por um momento, pensei que tinha morrido de prazer.
— Você realmente fode como uma puta — balbuciei, sentindo-a sair
de cima de mim e deitando ao meu lado. — Você quebrou a minha cama?
— indaguei depois de um momento olhando ao redor, percebendo que o
estrado cedeu e estávamos sobre o colchão no chão.
Caralho! Ela quebrou minha cama, enquanto me fodia? E como não
percebi?
— Quebrei — sua voz transmitia orgulho.
Virei o rosto e meus olhos varreram seu corpo nu e cheio de marcas
feitas por mim.
Então, a ficha caiu.
Estava feito e não tem como voltar atrás.
Eu realmente fodi a irmã caçula dos meus melhores amigos.
E o pior disso tudo?
Eu não estava nem um pouco arrependido.
Eu só queria estar dentro dela. De novo.
Beatrice
— Eu quero mais — falei ainda ofegante, virando o rosto para olhá-
lo, sustentando um sorriso devasso nos lábios.
— Gulosa — disse, depositando um beijo em meus lábios. — Ainda
bem que eu também sou.
Henrique tirou a camisinha, amarrando-a e se levantou para descartá-
la em uma lixeira no canto do quarto. Só então, se aproximou e me carregou
em seu colo, minhas pernas envolvendo sua cintura.
Descansei a testa em seu ombro e com uma das mãos brinco com sua
barba. Um gemido baixo escapou da minha garganta quando suas mãos
apertaram minha bunda com força, provocando uma ardência gostosa pelos
tapas, mordidas e golpes de cinta-liga.
— Está com dor? — indagou, segurando meu queixo e trazendo seu
olhar até o meu depois que adentrou no banheiro, me colocando sentada em
cima da pia grande de mármore, o frio da pedra anestesiando levemente as
marcas em minha carne.
— Sim, mas não forte o suficiente para não aguentar mais.
Segurei em sua cintura e abri minhas pernas, fazendo-o se encaixar
ali.
Arfamos quando nossos sexos se chocaram.
— Eu quero mais. — Beijei seu queixo, raspando minhas unhas em
sua pele, sentindo-a se arrepiar. — Eu quero mais de você, Henrique. —
Trilhei beijos molhados em seu pescoço, descendo até seu peito,
acariciando seus mamilos com minha língua.
Ele estremeceu, passando suas mãos por minhas coxas, subindo e
descendo até minha virilha.
— Me come mais uma vez? — inquiri, voltando a olhá-lo, usando o
meu melhor tom dramático. — Me come pela última vez? Per favore, caro
mio.
Ele grunhiu, segurando meu pescoço do jeito que já percebeu que
gosto e desceu sua boca até a minha, me beijando com calma pela primeira
vez desde que nossos lábios se encostaram. Eu devolvi, seguindo o ritmo
sensual que a sua língua ditava na minha.
Parecia que ele queria fazer durar o máximo de tempo possível e eu
compactuava da mesma necessidade.
Foi o melhor sexo que eu já tive e cazzo, os melhores beijos que já
experimentei.
— Por que você tem que ser tão gostoso? — sussurrei ao afastar
nossas bocas em busca de um pouco de ar, colando minha testa na sua.
Henrique nada diz, apenas me observou como se procurasse uma
resposta para alguma pergunta que está lhe atormentando.
— Está tudo bem? — perguntei preocupada.
Ele soltou um suspiro e segurou meu rosto entre as mãos.
— Vou comer você pela última vez — anunciou e chupou meu lábio
inferior. — Pela última vez você será a minha putinha — frisou com a voz
vacilante.
Ignorei a batida errada que pulsou em meu coração e segurei seu
membro semiereto com uma mão, alisando a pele quente, sentindo-o
crescer entre meus dedos.
— Eu tomo remédio e faço exames — falei, aplicando um pouco mais
de força em seu membro, fazendo-o gemer e suspirar. Suas mãos deslizaram
por meus ombros, pairando sobre meus seios e começou a brincar com os
piercings nos mamilos.
Murmurei um gemido, inclinando-me mais contra seus dedos ágeis.
— Porque está falando isso? — quis saber enquanto distribuía beijos
por meu rosto e pescoço, alternando em mordidas como se quisesse me
punir por algo.
Estremeci.
— Quero que me coma dessa vez sem camisinha.
A frase o fez erguer o rosto me encarando perplexo.
— Nunca um pau entrou em minha boceta sem nada. Seja o meu
primeiro e último? — implorei, me sentindo estranhamente nervosa por
querer entregar a ele uma primeira vez minha.
Levou dois segundos para um sorriso se desmanchar em seus lábios.
— Quer sentir o meu cacete sem nenhuma barreira? — provocou
beliscando e torcendo meus mamilos, gemi alto dessa vez, relaxando
novamente em seus braços.
— Quero — balbuciei.
Então, ele se afastou o suficiente para enfiar dois dedos em minha
boceta. Tombei a cabeça para trás, mexendo meu quadril conforme ele os
tirava e tornava a impulsioná-los em mim, cada vez mais rápido.
— Assim... — gemi. — Não para — implorei. — Por favor, não
para.
— Sua boceta é o meu lugar favorito. — Beijou minha garganta para
logo em seguida fechar a boca em meu seio direito, chupando com força e
usando a língua para brincar com a joia. Henrique mamou em meu seio e
antes de soltá-lo, o sugou com força. — Mas esses peitos com esses
malditos piercings — disse, tirando seus dedos de mim para apertar meus
seios com as duas mãos, mordendo o bico intumescido do esquerdo e me
oferecendo o direto para o meu próprio deleite, me fazendo soltar um
gemido. — São a minha fraqueza.
— Henrique… — o chamei dando uma última lambida em meu bico,
puxando seu pau para mais perto. Ele veio de muito bom grado. — Mete
em mim. — Posicionei-o em minha entrada, fechando minhas pernas em
torno dele. — Mete esse pau gostoso na minha boceta, mete. Vem! Me
come.
— Adoro ver você desesperada para receber surra de pau nessa
bocetinha — falou, segurando minha cintura me firmando no lugar e então,
empurrou seu corpo contra o meu, fazendo seu membro me penetrar de uma
só vez. A ardência se espalhou, porém o prazer foi mais intenso pelo
contato cru.
Era… incrivelmente surreal!
Eu estava no paraíso!
Beatrice, sua sortuda!
Nós dois gememos quando ele começou a se movimentar de forma
frenética, trazendo sua boca até a minha, sua língua fodendo a minha no
mesmo ritmo que seu pau arremetia em mim.
Henrique não se contém, ao contrário de muitos homens que já
transei, ele gemia com gosto, alto, soltando palavrões e obscenidades entre
os gemidos. Era gostoso demais de ouvir.
Soltei um gemido que foi engolido por ele, quando sua mão direita foi
para a parte de trás do meu joelho esquerdo, elevando minha perna e
aumentando nosso prazer com o novo ângulo.
— Henrique… — chiei quando ele se afastou e olhou para baixo,
vendo seu pau entrar e sair da minha boceta. Segui seu olhar e lambi os
lábios apreciando a cena tanto quanto ele.
— Tá gostoso, tá, vagabunda?
— Sim… aaah… não para!
— Quem está te comendo? — perguntou em tom de ordem, sem parar
de se mover dentro de mim. — Diz quem está te fodendo como você nunca
foi fodida? Diz, putinha. Diz de quem é o pau que está metendo gostoso
nessa sua bocetinha? Que está te deixando toda melada, hein?
— Henrique… — balbuciei, vultosa de prazer.
— Isso, diaba! É o meu cacete que está te deixando toda assada.
Ele socou fundo, batendo o quadril sem parar no meu e eu recebi uma
nova onda de júbilo quando sua mão cortou o ar e se chocou em um tapa no
meu rosto. Gemi enlouquecidamente.
— Gosta de apanhar, cachorra?
— Faz de novo — implorei, elevando meu quadril de encontro ao
seu. — Por favor, me bate de novo.
E ele fez, dessa vez aplicando um pouco mais de força.
— Vai sentir falta desse cacete te fodendo?
Não tive forças para responder com palavras, apenas acenei em
afirmativo, sentindo uma onda intensa e múltipla, conforme ele surrava
minha boceta sem parar, meus seios balançando no ritmo em que nossos
quadris se chocavam, causando um turbilhão de sensações em mim. Apertei
seu pau com força quando meu orgasmo me alcançou e ele urrou,
pressionando seus dedos em minha cintura com força.
— Goza, putinha, goza. Goza que eu vou encher essa sua boceta com
a minha porra! Caralho!
E ele gozou junto comigo. Senti seu líquido quente jorrar dentro de
mim deliciosamente, se misturando ao meu enquanto que nossos ápices nos
consumiam.
Quando nossos corpos finalmente se acalmaram, tombei minha
cabeça para frente, descansando a testa em seu ombro e envolvendo-o em
um abraço suado.
Notei seus músculos enrijecerem à medida que a textura das suas
costas se encontravam com meus dedos. Era a primeira vez que explorava o
lugar, minha curiosidade ganhando combustível para descobrir as histórias
por trás de cada cicatriz.
Mas não hoje.
Não agora.
— Valeu a pena esperar — sussurrei inalando seu cheiro misturado ao
sexo, ignorando as mil perguntas que se formavam em minha mente.
Ele suspirou, circulando minha cintura com os braços e me apertando
como se eu fosse fugir.
— Desculpe pela demora — confessou com o tom de voz quase
inaudível que, por um momento me questionei se havia ouvido
corretamente, mas não falei nada. Estava cansada demais e só queria curtir
a sensação preguiçosa e deliciosa pós-sexo.
CAPÍTULO 26
Beatrice
A luz que entrava pela janela iluminava o corpo deitado sobre a
cama — agora quebrada no chão — entre os lençóis. Henrique estava de
bruços e seus braços esticados para o alto abraçavam o travesseiro embaixo
de sua cabeça. A posição me permitia observar suas costas de um ângulo
melhor.
Durante toda a nossa sessão de sexo, ele não ficou um momento
sequer de costas para mim, nem quando tirou a minha meia e me carregou
até o box, ligando o chuveiro em seguida para que tomássemos banho
juntos. Enquanto pegava o recipiente com sabonete líquido, ele não tirou os
olhos dos meus seios e quando comecei a ensaboá-los, foi inevitável não
provocá-lo mais uma vez, prendendo meus piercings entre os dedos e
soltando gemidos.
O que resultou comigo tendo o rosto prensado nos ladrilhos, no
tempo em que enterrava seu pau em minha boceta, me comendo por trás e
me presenteando com mais um orgasmo poderoso. Parecíamos dois coelhos
e se eu não estivesse tão curiosa acerca das suas cicatrizes, o acordaria de
muito bom grado com um boquete, sem me importar com a ardência no
meio das minhas pernas.
Prendi meus cabelos em um coque bagunçado e me aproximei da
beirada da cama, vestindo apenas o roupão que Henrique havia me
entregado depois do nosso banho. Meus olhos trilharam cada detalhe de sua
pele exposta para mim como nunca antes.
Suas costas eram cobertas por finas cicatrizes que possuíam vários
formatos e tamanhos, a maioria delas eram pequenas, contudo quando meu
olhar se focou na marca mais grossa que descia da sua nuca até a parte
baixa da coluna, meu corpo estremeceu com o pensamento de que ele
tivesse sido açoitado cruelmente, repetidas e dolorosas vezes.
Muitas perguntas se passavam na minha cabeça conforme encarava
sua pele, porém uma se destacava.
— Quem fez isso com você?
Só percebi que as palavras foram ditas em voz alta quando seu
corpo mexeu e seu rosto virou na minha direção.
— Buongiorno, caro mio! — saudei, ignorando meu interesse em
saber sobre suas cicatrizes. Por agora. Algo me dizia que ele não se abriria
com tanta facilidade assim.
Seus olhos se abriram para logo em seguida se fecharem por conta
da luz da manhã.
— Que horas são? — perguntou, virando o corpo e ficando de peito
para cima, me dando a visão deliciosa do seu pau em toda a sua glória
graças a famosa ereção matinal.
Ele era tão deliciosamente perfeito.
As veias sobressaltadas em todo o seu comprimento.
A espessura era grossa, possuindo o tamanho ideal para proporcionar
apenas prazer na penetração.
Minha boca se encheu de água para tê-lo jorrando sua porra em
minha garganta.
— Bea, que horas são? — tornou a perguntar com os olhos azuis
abertos.
Prendi o lábio inferior entre os dentes, reprimindo um longo suspiro.
— Passa das dez e meia da manhã — falei simplesmente.
— Caralho! — exclamou, esfregando os olhos e a barba. — Não me
lembro de ter dormido tanto assim há muito tempo.
— Eu te dei um chá bem dado, caro mio — brinquei, levando uma
mão até seu pescoço, onde havia algumas marcas feitas por minhas unhas.
Acariciei sua pele branca, descendo pelos ombros, peitos e raspei sem
delicadeza seu mamilo direito.
Meus olhos acompanharam o exato momento em que seu semblante
mudou de sonolento para excitado.
Eu precisava tê-lo na minha boca.
Precisava e o teria agora!
— Beatrice…
— Você me provou ontem — murmurei, continuando a descer meus
dedos. — Mas eu não provei você. — Sua barriga se contraiu quando meu
polegar circulou seu umbigo. — Isso é… injusto. — Fiz o meu melhor
beicinho.
— Tínhamos um acordo — seu tom de voz era baixo, quase um
sussurro.
— Então, você não quer foder a minha boca, enquanto a enche de
porra, Sr. Prado? — perguntei quando meu polegar tocou a ponta do seu
pau e minha língua umedecia meus lábios.
— Beatrice… — balbuciou, passando as mãos no rosto. — Era só
uma noite. Uma… — Circulei seu membro duro, apertando um ponto
específico que sei que é uma fonte de prazer.
— O que disse? Scusi, não ouvi o que disse. Pode repetir? —
Afastei minha mão do seu corpo apenas para desfazer o nó do robe,
deixando-o deslizar por meus ombros, caindo aos meus pés, e ficando
completamente nua.
— Caralho… — disse, soltando um longo suspiro, e seus olhos me
examinaram com atenção. — Eu machuquei você — comentou, olhando
com preocupação para a minha cintura e pescoço. — Eu machuquei você —
sua voz falhou e ele parecia atormentado.
Abaixei o olhar e toquei as pequenas marcas em tons de roxo e
vermelho em minha pele.
— Está tudo bem — afirmei. — Gosto delas. Serão as minhas
lembranças da nossa noite.
— Me desculpe — tornou a falar.
— Se tem alguém que precisa pedir desculpas sou eu. Quebrei a sua
cama. — ri e ele acabou me acompanhando, olhando o estrago.
— O vendedor disse que era resistente — comentou.
— Eu sou a diaba, lembra? A diaba que fode como uma puta. — O
encarei por alguns segundos antes de me posicionar próximo das suas
pernas.
— O que vai fazer? — indagou quando toquei seus joelhos em um
sinal claro para que ele os afastasse. Seu pomo de Adão mexeu em um
movimento desesperado.
— Você me teve gozando em sua boca. — Desci o rosto, apoiando
as mãos nas laterais do seu corpo para lamber a ponta cheia do seu pau. Ele
suspirou dolorosamente e eu estremeci, sentindo minha boceta ficar
molhada.
— Bea…
Era a primeira vez que ele gemia meu apelido.
O som não deveria ter me deixado tão feliz.
O som definitivamente não deveria ter me feito sentir uma intimidade
além da que estávamos dispostos a ter. Uma intimidade que parecia ir além
do contato carnal.
Podiamos ser amigos, mas esse tipo de intimidade seria impossível
entre nós, certo?
Eu só queria sexo. Ele só queria sexo.
Tão simples quanto dois mais dois são quatro.
Era impossível o resultado ser outro. Impossível!
Nenhum outro elemento poderia entrar nesta equação.
Balancei a cabeça e engoli o bolo que se formou em minha garganta
pela confusão sentimental que ameaçou me abraçar. Foquei em seu pau,
segurando-o firme com minha mão direita, subindo e descendo meus dedos,
espalhando a gota de pré-gozo que escorria da ponta.
— E agora eu também quero ter o seu cacete jorrando porra na
minha boquinha. — Fiz bico, depositando um beijo molhado no músculo
duro e pulsante em minha mão.
Henrique gemeu alto, sua mão esquerda se infiltrando em meu
cabelo, puxando os fios com força.
— Quer chupar meu cacete pela última vez?
— Quero sim, senhor — respondi cinicamente.
Com sua mão livre, ele segurou seu pau, empurrando-o na direção
da minha boca.
— Chupa, safada.
Passei minha língua por todo o comprimento e com minha mão
espalhei toda a saliva, deixando-o muito mais molhado. Levantei o olhar
para vê-lo admirar a cena. Ele acaricia minha bochecha com seus dedos e
ordena: — Chupa!
Lancei um sorriso endemoniado, antes de sugar forte a cabeça,
fazendo-o urrar.
— Caralho! — exclamou quando comecei a engolir seu pau
devagar, centímetro a centímetro, arrancando dele os sons mais sexys que já
ouvi de um homem.
Engoli tudo e comecei a deslizar minha boca por todo o comprimento,
de cima a baixo, apertando a base em sincronia com minha língua.
Henrique aumentou o aperto em meu cabelo, impulsionando seu quadril
contra mim cada vez mais rápido, ditando o ritmo.
— Engole tudo, sua safada! — disse, mordendo os lábios sem deixar
de se mover.
Apertei minhas coxas, gemendo enquanto ele fodia minha boca sem
parar. Podia sentir seu pau descendo pela minha garganta, fazendo algumas
lágrimas molharem meu rosto. E logo senti os primeiros jatos de porra
sendo jorradas. Suas pernas tremeram e sua cabeça tombou para trás,
palavrões e meu nome se misturou aos gemidos deliciosos que brotavam da
sua boca.
Engoli tudo e quando se acalmou, dei uma última chupada antes de
me afastar e subir por seu corpo até que nossas bocas estivessem próximas.
Seus braços rodearam minha cintura, me puxando mais para si.
— Eu vou beijar você — anunciei, segurando seu rosto, e meu olhar
oscilou entre suas íris azuis e sua boca.
— Está pedindo permissão? — indagou, alçando uma sobrancelha e
senti suas mãos apertarem minha bunda.
Estremeci, sentindo minha boceta ardida pulsar.
— Estou lhe dando tempo para recusar.
— Só me beija, Beatrice. Me beija pela última vez.
— Pede por favor — provoquei e seu corpo balançou debaixo do meu
quando ele soltou uma risada. Meu coração errou duas batidas pelo som.
Corações erram batidas assim por causa de uma risada?
— Por favor?
— Por favor, o quê, Sr. Prado?
Suas mãos subiram pelas minhas costas, me provocando arrepios.
Fechei os olhos por um momento, apreciando a sensação.
— Por favor, me beije, Beatrice. — Acariciou minha nuca e seu
polegar pressionou com possessividade minha garganta. — Me beije. —
Seu hálito dançou pelos meus lábios e repousei minha testa na sua,
completamente rendida. — Você pode me beijar pela última vez,
amiga/vizinha?
— Última vez? — As palavras saíram incrédulas.
Definitivamente eu não queria que fosse a última vez e como a
diaba que ele dizia que era, faria de tudo para que não fosse.
— Isso. Apenas uma noite, lembra? — questionou em um sussurro.
— Eu chupei seu pau há poucos minutos e já está de manhã —
debochei, abrindo os olhos, encontrando os seus nos meus lábios,
entretanto, rapidamente se moveram para os meus, como se não resistisse
ao meu olhar.
— Então porque quer me beijar?
— O covarde aqui é você. — Puxei seu lábio inferior entre os dentes,
chupando-os sutilmente.
O aperto em torno do meu pescoço aumentou.
— Eu não sou covarde — grunhiu ofendido.
— Então me prova. — Depositei um selinho em seus lábios, movendo
meus quadris, minha boceta roçando em seu pau que já começava a ficar
duro outra vez. — Me come mais uma vez. — o desafiei, torcendo para que
ele aceitasse e quando eu fui jogada de costas no colchão e minha boca foi
assaltada por sua língua, seu corpo pesando sobre o meu de forma deliciosa,
sorri internamente como a puta safada que sou, tendo a confirmação de que
cedeu ao meu pedido.
— Só mais essa vez — ele sussurrou, trilhando beijos por meu
queixo, pescoço, para em seguida chupar meu mamilo esquerdo.
Arqueei as costas, murmurando completamente excitada: — Isso.
Isso. Só mais essa vez.
Uhum, Henrique. Meu subconsciente debochou, porém logo foi
silenciado quando meu clitóris foi chupado com força.
Depois do sexo pela manhã, tomamos banho e nos trocamos,
vestindo as roupas que usávamos na noite anterior. Henrique permaneceu
em silêncio e a julgar pelo vinco entre suas sobrancelhas que se
intensificava cada vez mais conforme deixávamos a linda casa, ele estava
com a cabeça longe.
Não tinha nada contra silêncios, na verdade os amava tanto quanto
apreciava um bom barulho. Contudo, algo no silêncio de Henrique parecia
gritar mais do que qualquer palavra dita. Por isso, decidi quebrá-lo.
— Então — comecei a falar quando deixamos o condomínio e
entramos na avenida —, qual o mistério com essa casa?
— Já falaram que você é muito curiosa? — perguntou com uma
sobrancelha levantada, sem tirar os olhos da estrada.
Sim, eu era uma pessoa extremamente curiosa e já fui chamada
atenção inúmeras vezes por não saber a hora de parar de perguntar. Meu
babbo sofreu um bocado comigo quando eu era adolescente.
— Sempre fui, não nego. — Dei de ombros. — Por que a comprou?
— Porque as pessoas compram uma casa, Beatrice?
— Para morar, mas você não mora lá — disse o óbvio, o que o fez
rolar os olhos.
— Pessoas com contas bancárias como as nossas compram casas
sem precisar ter um motivo específico. A achei bonita e comprei. Fim da
história.
Ponderei por alguns segundos e decidi não insistir por agora.
— Tudo bem se eu usar o som do seu carro? — questionei, tirando
meu celular da bolsa.
— Fique à vontade.
Liguei o bluetooth do meu aparelho e o conectei ao sistema de som
do carro. Rolei o dedo pela tela, procurando alguma música interessante em
minha playlist.
A ideia era realmente apenas escutar um pouco de música até o
nosso destino, mas quando vi o nome “Surtada” decidi que seria mais uma
das oportunidades que eu não perdia para provocar o loiro ao meu lado.
Meu sorriso cresceu quando as primeiras frases preencheram o
ambiente.
Alessa
— Você está linda, criança — a voz do homem que me acolheu
desde que cheguei ao Brasil e era como um pai para mim soou atrás de
mim.
Dei uma última olhada para o meu reflexo, alisando o vestido preto
que Hélio insistiu em alugar em uma loja de trajes finos do bairro, ainda
que eu tivesse dito várias vezes que não era necessário se preocupar com
isso, poderia usar um dos meus, mesmo que nenhum deles fosse o ideal
para tal ocasião.
Quando me virei, ficando de frente para ele, foi impossível não
sorrir com sua imagem. Ele estava sem a muleta velha que costumava usar,
vestindo um terno muito bonito. Seu cabelo grisalho estava todo penteado
para trás e pelo brilho, pude jurar que havia aplicado uma quantidade
exagerada de gel.
Os olhos cor de mel brilharam quando me olhou com carinho à
medida que se aproximava e foi impossível não se emocionar ao vê-lo dar
passos firmes em minha direção. Fazia apenas alguns meses que ele estava
usando uma prótese que, segundo ele, ganhou de uma família onde
trabalhou como jardineiro.
Hélio tinha recebido o convite para a inauguração de um centro para
pessoas com deficiências na cidade. Ele havia perdido uma parte da sua
perna direita em um acidente, mas não gostava muito de falar sobre o
assunto, pois tempo depois do acidente que levou parte de seu corpo, outro
aconteceu, quebrando partes do seu coração. Sua filha e esposa morreram
meses depois, há mais de cinco anos.
Esse foi um dos motivos para ter me acolhido dois anos atrás,
quando me encontrou em um dos abrigos que costumava prestar ajuda.
Ele sentia falta da filha que se foi cedo demais.
E eu sentia falta do pai que nunca tive.
Éramos almas sedentas por amor e cuidado.
E o destino fez o seu trabalho em cruzar os nossos caminhos.
— Você está muito bonito — comentei quando ele parou em minha
frente, segurando minhas mãos com carinho. — E é bom saber que você
está mais adaptado à prótese. Está andando muito bem com ela.
— Obrigado, querida. E eu me sinto mais confiante com ela depois
de tantas aulas de fisioterapia.
— Falando nisso. — Apertei meus olhos o encarando. — Posso
saber porque o senhor tem andado todo misterioso desde que ganhou a
prótese? — indaguei.
Hélio soltou minhas mãos e deu dois passos para longe, os olhos
varrendo todo o meu quarto simples. Ele estava fugindo de mim e das
minhas perguntas, mais uma vez, como tem feito desde que chegou em casa
feliz por ter recebido um cartão do primogênito da família que era seus
antigos patrões, com a promessa de que receberia ajuda do homem, que a
julgar pelo modelo de prótese que deu ao meu amigo, era muito rico.
— Porque não me diz quem é essa família? — insisti.
— Você não os conhece — ele me olhou nos olhos quando disse
isso e soube que não estava mentindo.
— E porque não me conta quem são?
— E isso adiantaria, menina? Você não assiste ou lê jornais, nem
mesmo um celular você tem.
Era verdade.
Desde que fugi da Albânia, meu país natal, optei por não ter nada que
pudesse fazer aquelas pessoas me rastrearem. Não era algo fácil me manter
no anonimato e, estranhamente, as pessoas não confiavam em quem não
possui um telefone ou redes sociais. Em contrapartida, para alguém como
eu, que foi criada e mantida reclusa e excluida da sociedade e de tudo que a
cercava, aprendi desde nova a dar valor para as coisas que realmente
importavam, minha liberdade, era uma delas.
Suspirei, resignada.
— Tudo bem. Confio no senhor — disse, depositando um beijo em
sua testa.
E realmente confiava.
Confiava tanto em Hélio, que era o único que sabia quem eu era e de
onde vim.
Sabia sobre o meu passado e tudo o que ele tirou de mim.
— Criança — falou ao se aproximar, tocando em meu rosto com
carinho —, você ainda insiste em cobrir as suas pitas com essa porcaria de
maquiagem. Você é linda por causa delas.
“Você é linda por causa delas.”
Era o que Carlos sempre me dizia.
Mas eu odiava ter que me olhar no espelho e encará-las, porque isso
me fazia lembrar dele. Do homem que me amou e que me mostrou que eu
era mais do que o meu passado.
— Ele odiaria ver você cobrindo-as — Hélio disse, esboçando um
sorriso fraco.
Reprimi toda a dor da saudade que ameaçou emergir.
— Bem — Bati palmas. — Porque não me conta qual o nome do
instituto que o senhor passará a frequentar?
— Você saberá quando chegarmos — falou cheio de mistérios e
com um tom de… esperança? Talvez.
— Tudo bem.
— Vamos, o táxi já está lá fora esperando.
“— Estou falando para você, meu bem. Meu irmão, Ricardo, é uma
cópia mais nova minha, só que com olhos azuis. Até o jeito teimoso ele
puxou de mim. Quando tivermos um filho, ele será como Rico.
Sorri para o seu tom cheio de orgulho.
— Como você tem tanta certeza de que teremos um filho e não uma
filha? — perguntei e ele continuou a brincar com meus cabelos, seus olhos
seguindo o movimento dos seus dedos em minha cabeça.
— Porque eu quero ser um bom pai e definitivamente não serei um
bom pai se tivermos uma menina.
— Pelo que me lembro, semana passada, você estava me falando
sobre um juramento de dedinho que seus amigos o fizeram fazer,
prometendo não se aproximar da irmã caçula deles e o quanto achava o
ciúmes daqueles “italianos metidos a brasileiros” — fiz sinal de aspas —
ridículo.
— Aquele juramento de dedinho é rídiculo — concordou risonho. —
Por isso, se tivermos uma menina, vou fazê-la assinar um contrato de que
só irá namorar depois dos quarenta.
— Carlos! — exclamei, rindo e dando um tapa de leve em seu peito.
— Eu amo ver você assim — sussurrou, segurando meu rosto. Como
sempre, em todas as vezes que as íris negras brilhantes encontravam as
minhas, precisei usar tudo de mim para sustentar o seu olhar intenso.
Carlos me olhava como se quisesse possuir meu corpo e minha
alma.
E ao mesmo tempo que isso me assustava, me fazia ainda mais
apaixonada por ele.
— Assim como? — provoquei, tentando fazê-lo se sentir tão
desafiado quanto eu.
— Feliz.
— Você me faz feliz — confessei o que não era nenhuma novidade
para ele.
— E eu farei você feliz pelo tempo que tivermos.
— Sempre?
— Sempre, meu bem.”
Henrique
Segura a onda, Henrique.
Segura a onda, Henrique.
Segura a porra da onda, caralho!
Foram as frases que eu repeti na minha mente como um mantra
conforme Beatrice caminhava até onde todos nós estávamos, com o maldito
homem ao seu lado. Eu já o odiava sem nem ao menos conhecer.
Argh! Podia sentir a raiva percorrer pelas minhas veias e meu corpo
todo esquentar com a visão da mão do desgraçado em volta da cintura dela.
— Quem é esse? — foi Matteo quem perguntou com cara de poucos
amigos.
— Não sei, mas não gostei dele — Dante pontuou.
— Nunca concordei tanto com meus bambinos como agora — Sr.
Vincenzo declarou, se aproximando de nós.
Estávamos nós quatro, um ao lado do outro, encarando o cretino e
Beatrice caminhando em nossa direção.
Eu poderia me juntar a eles nos questionamentos e comentários
ciumentos, mas abrir a minha boca no estado em que me encontrava,
definitivamente não seria uma boa ideia.
Por isso, optei assim, pelo silêncio. Todavia, ainda que eu não
estivesse me olhando no espelho, podia afirmar que meu rosto estava
vermelho, vermelho de ódio por puro ciúmes.
Caralho, sai de perto da minha diaba, filho da puta!
Minha?
Que ridículo!
Beatrice Fontana era tudo, menos minha.
— Ciao, famiglia! — saudou com um sorriso no rosto, jogando seus
braços por sobre os ombros do seu pai, que logo a abraçou, sem tirar os
olhos do infeliz. — Mi sei mancato, papà. (Senti sua falta, papai.)
— Anche io, mia cara (Eu também, minha querida) — disse ao se
afastar, segurando o rosto da filha com carinho para logo em seguida
depositar um beijo em sua testa.
— E eu? — Matteo e Dante exclamaram ao mesmo tempo.
Bea revirou os olhos e sorriu, indo até os irmãos.
Enquanto ela os abraçava, encarei o filho da puta que tinha um
sorrisinho prepotente estampado no rosto, olhando a interação dos três.
Apertei os olhos quando os seus cruzaram com os meus e fiquei mais
irritado quando o babaca sustentou o meu olhar mordaz com a mesma
intensidade. Não pretendia quebrar o contato e torcia para que toda a minha
fúria pudesse ser refletida para ele, deixando claro que Beatrice já tinha
alguém.
E o que você é dela, Henrique?
Amigo/vizinho não age como você está agindo agora.
Marcando território como um homem “cadelinha” faria. — Meu
subconsciente zombou.
O sorriso do desgraçado aumentou ao perceber o que eu estava
fazendo.
— Henrique — a voz feminina e cheia de sotaque me atingiu, assim
como o maldito cheiro de baunilha com flores. Meu corpo estremeceu e
tudo pareceu parar, na verdade, tudo parou. Até mesmo meu coração.
Meu olhar voou até os olhos que tinham um poder sobre mim que
me assustava pra caralho e eu deveria fugir deles como o covarde que ela
insistia em dizer que eu era, mas ao invés disso, eu só queria ser consumido
por eles, por ela. Eu queria me perder em sua órbita sem me preocupar com
mais nada. Se eu a tivesse, era o que importava.
— Senti sua falta, amigo/vizinho — a diaba falou, prendendo o
lábio inferior entre os dentes e o sorrisinho endemoniado me provocou
arrepios.
Não consegui me conter e feito um idiota, eu sorri.
Não, você não está entendendo. Eu sorri mesmo.
O tipo de sorriso que a gente só vê em filme.
O tipo de sorriso que quando é dado, a gente sente aquela sensação
estranha de vergonha alheia sempre que o mocinho olha para a mocinha.
O tipo de sorriso que a gente jura nunca dar a ninguém.
Então, é desse tipo de sorriso que eu estou falando.
Consegue imaginar o quão idiota eu pareço agora?
O som de uma risadinha me fez ficar sério e não precisei olhar para
o lado para saber que a minha prima era dona dele.
Forcei uma tosse, endireitei a postura e falei sério: — Também senti
sua falta, Bea. Nosso andar não é o mesmo sem você.
Ok, esqueça o sorriso idiota.
Essa frase, sem sombra de dúvidas, venceu no quesito ridículo.
Puta que me pariu, caralho!
Dei graças a Deus por Matteo, Dante e o Sr. Vincenzo estarem
entretidos encarando o tal homem, nas suas melhores poses de ciumentos. E
aproveitei para me aproximar mais da mulher infernal.
— Quem é o cretino? — questionei em voz baixa e a filha da puta
sorriu, claramente adorando o meu estado.
— Ciúmes? — Arqueou uma sobrancelha.
— Quem é? — repeti entredentes.
— Um amigo. — Deu de ombros.
— Um amigo como eu?
— Ciúmes? — voltou a questionar cinicamente e eu reprimi a
vontade de apertar seu pescoço.
— Responde, porra. O infeliz é um amigo como eu?
Beatrice abriu a boca, mas nenhum som saiu dali, pois fomos
interrompidos por Stella, Bárbara e uma Ana Laura serelepe e toda
saltitante.
— Estamos amando a cena de DR, principalmente a “gnomio” e a
boneca fanfiqueira aqui — Stella disse, sorrindo e olhando ao redor, com
uma amiga de cada lado seu. — Mas será que vocês podem disfarçar um
pouco? Qualquer um que olhar para vocês por cinco segundos consegue
sentir a tensão sexual exalando.
— Isso! Muita tensão! — a grávida enfatizou de olhos arregalados e
sorrindo de orelha a orelha.
— Eles ficam tão lindos juntos! — Bárbara suspirou.
É claro que elas sabem sobre nós.
Diferente de mim, Beatrice não tinha motivos para não compartilhar
sobre o que rolou entre nós com suas amigas.
— Seu primo que está todo estressadinho só porque Mattia veio
comigo. — Revirou os olhos como se eu estivesse agindo como um idiota.
É, eu estava.
Foda-se!
— Você revirou os olhos para mim, Beatrice? — murmurei.
— Está acontecendo! — Bárbara exclamou animada, jogando os
braços para o alto, o que chamou a atenção de todos para nós.
— Está tudo bem? — Dante perguntou, se aproximando e parando
ao lado da esposa.
— Sim, amor. Só estamos conversando sobre… hum… sobre torta
de morango.
— Eu amo torta de morango — o infeliz comentou e foi a minha
vez de rolar os olhos.
Ninguém te perguntou, babaca.
— Deixe-me apresentar meu amigo — Bea falou, segurando no
braço do homem que agora tinha uma taça de vinho nas mãos. — Esse é
Mattia. Um amigo que fiz na época em que eu estava na Itália. Acabei o
encontrando no aeroporto, já que ele veio visitar sua família e o convidei
para me acompanhar esta noite. Mattia, essa é minha família e amigos —
enfatizou a última palavra me lançando o seu típico olhar de diaba.
Apertei meus olhos que encaravam suas íris verdes, que brilhavam
como sempre quando ela fazia algo para me provocar e nada me tirava da
cabeça que a filha da mãe o convidou apenas para me estressar.
E conseguiu.
Durante a próxima hora, o cretino do amigo compartilhou um pouco
sobre a sua família e assim que falou seu sobrenome, Rossi, e disse o nome
dos seus pais, o Sr. Vincenzo abriu um sorriso reconhecedor.
O pai do pau no cu frequentou a mesma universidade italiana que o
patriarca dos Fontana e assim como ele, se apaixonou por uma brasileira. E
daí foi só ladeira abaixo, para mim, no caso. Eu realmente estava
começando a achar que o Universo ou a porra do destino queria me foder.
Por quê, porra?
O tal do Mattia Rossi foi gentil com todos e até engatou em uma
conversa sobre negócios com o Sr.Vincenzo, Dante e Miguel. O infeliz
conquistou até Matteo quando disse que amava novelas mexicanas e que
nada podia superar Maria do Bairro.
Eu estava a ponto de socar a cara dos meus amigos.
Onde estavam os irmãos ciumentos e possessivos? Han?
Depois do lindo discurso de Dante, que fez todos se emocionarem,
principalmente a família de Carlos, meu amigo fez questão de apresentar
Hélio Santana a todos. O senhor logo se despediu após o jantar ser servido,
alegando que precisava encontrar com sua filha e saber se seu neto estava
bem. Dante e Ana Laura compartilharam conosco o breve momento que
tiveram com a moça de sotaque forte, cujo nome é Alessa, e a conversa que
tiveram com Paula logo que ela precisou ir embora.
A mãe de Carlos disse que uma sensação ruim lhe tomou assim que
seus olhos se encontraram com os da mulher e que por um momento,
pressentiu que a mesma pudesse estar correndo perigo. Miguel até sugeriu
pedir ao amigo delegado, Alberto, para investigá-la, mas a senhora Ferreira
negou, alegando que seria demais e que provavelmente seria apenas a carga
emocional que o momento trazia. Dona Beatriz não saiu do lado da amiga
em nenhum momento e quando uma faixa foi cortada por Ricardo, o irmão
mais novo de Carlos, lágrimas tomaram o rosto de todos no salão, inclusive
o meu.
Era oficial.
O Instituto Carlos Ferreira estava oficialmente em funcionamento a
partir de agora.
Durante todo o jantar eu não tirei meus olhos de Beatrice, que
seguia me lançando olhares provocadores cada vez que me pegava
observando-a. E para completar a noite, não bastava apenas estar com
ciúmes de Bea, eu também estava com ciúmes de todos os meus amigos e
família, pois eles paparicavam a porra do Mattia. Até a “gnomio” estava se
divertindo, conversando com ele sobre o quão deliciosa era a torta de
morango.
Ah, caralho! Que feitiço esse doido tinha?
E agora, depois de toda paparicação desnecessária para o pau no cu,
Dante fazia um tour por cada dependência do edifício, apontando com
entusiasmo cada vez que Lucas Alves, seu fisioterapeuta, explicava cada
equipamento e sala pelo caminho.
Era animador ver a felicidade dos futuros frequentadores do
Instituto a cada momento que se passava. Um brilho de esperança refletia
nos olhares cansados. Eles, enfim, teriam todo o suporte necessário de que
precisavam para ter qualidade de vida e eu estava feliz e grato por poder
fazer parte disso.
Neste momento, fomos convidados a entrar em uma grande sala
com proteção acústica e diversos instrumentos para uma pequena palestra.
Segundo a psicóloga que acompanhava o grupo, a música é uma ferramenta
na recuperação de pessoas que passaram por traumas, ajudando-as a
aprenderem a regular suas emoções, tal como se acalmar.
Mattia estava em uma conversa animada com dona Beatriz sobre
como aprendeu a tocar violino tão novo e como a prática o ajudou a ser
mais tranquilo.
— Argh! Tranquilo é meu pau! — murmurei observando todos
entrarem no cômodo.
— Seu pau é tudo menos tranquilo, caro mio — a voz do inferno
sussurrou no meu ouvido.
Estremeci com seu hálito tão perto e minha pele se arrepiou com a
proximidade.
Cruzei os braços e permaneci em silêncio, sem tirar meus olhos das
pessoas à minha frente. Meus amigos foram os primeiros a entrar.
— Estou com saudade — confessou baixinho, me abraçando por
trás.
— O que está fazendo? — perguntei alarmado, virando-me para ver
seus lábios formando um beicinho exagerado. Dei dois passos para trás,
mantendo uma distância segura entre nós.
— Estou abraçando meu amigo/vizinho — respondeu simplesmente.
Cínica da porra!
— Alguém pode nos ver — falei, olhando ao redor e notando que
estávamos a sós no corredor. A porta da sala de música havia sido fechada.
Merda!
— Estamos sozinhos — disse, dando um passo na minha direção.
— Estamos. — Engoli em seco, dando um para trás.
— Você está um tesão com esse terno azul — comentou sorrindo
feito a diaba que era.
Outro passo dela.
— Obrigado — agradeci.
Outro passo meu.
— Está fugindo de mim? — inquiriu levando o indicador até a sua
boca, alisando seu lábio inferior pintado de vermelho.
Outro passo dela.
Mais um passo meu para trás.
— Eu te fiz uma pergunta, caro mio.
Um passo dela.
— E eu te fiz uma quando chegou e até agora você não me
respondeu — falei entre dentes.
Um passo meu.
— Esse Mattia — pronunciei o nome do desgraçado sentindo um
gosto amargo na boca. — É seu amigo como eu sou? — questionei.
Um passo dela.
— E que tipo de amigo você é para mim?
Um passo meu.
— Responda a pergunta, Beatrice! — exigi impaciente.
Um passo dela.
— Você fica uma coisinha de louco com ciúmes e puto, sabia? —
Soltou risonha.
Um passo meu.
— Beatrice, responda.
Um passo dela.
— Vocês homens são tão idiotas, que sentem ciúmes de pessoas e
situações ridículas e sem fundamento algum. Mattia está lá dentro. —
Apontou para atrás de si, os olhos endemoniados e dissimulados fixos em
mim, me fizeram tremer levemente. — E eu estou aqui com o homem, dono
do pau, que eu quero que entre em mim essa noite.
— Porque o trouxe?
Ela revirou os olhos.
— Ele realmente é só um amigo, bobinho. Um amigo muito bonito,
mas é gay. Não curte o que eu tenho entre as pernas, ao contrário do homem
que está diante de mim. — Beatrice esticou um braço e tocou no canto da
minha boca com o dedo que passou por seus lábios anteriormente, sujando
minha pele com batom. — Não quero sujar só seu rosto com o meu batom,
quero o seu pau também.
Um passo dela.
Nenhum passo meu.
Tum. Tum. Tum.
Meu coração estava a mil e a atmosfera entre nós ficou ainda mais
densa, intensa.
Outro passo dela.
Nenhum passo meu.
E então, a diaba entrou em meu espaço pessoal, me inebriando com
sua presença, cheiro e olhar. Eu me sentia como sua presa e caralho, eu
estava doido para ser devorado por ela.
Seu rosto se moveu enquanto seus olhos dançavam por meu rosto.
Engoli em seco no exato momento em que ela tocou o seu nariz no meu,
sem perder o contato visual.
Respirei fundo, fechando os olhos e adorando a forma como todo o
meu corpo formigou em expectativa.
— Indosso mutandine vibranti e siccome non vuoi toccarmi, puoi
darmi piacere senza toccarmi — sua voz soou doce ao falar vagarosamente
cada palavra.
Um arrepio passou pela minha coluna e se alojou na cabeça do meu
pau devido ao som da sua voz em italiano. Foi sexy pra caralho!
Intrigado, abri os olhos e franzi o cenho.
— O que você disse?
Bea sorriu de lado e se afastou o suficiente para colocar a pequena
bolsa brilhante, que estava pendurada na dobra do seu braço, entre nós. A
abriu e tirou de lá, um pequeno controle na cor azul, com alguns botões na
ponta.
— Eu disse que estou com uma calcinha vibratória e já que você não
quer me tocar, pode me dar prazer sem encostar em mim. — Balançou o
objeto no ar. — Você estará no controle. E você gosta de controle, não
gosta, Sr. Prado?
Arregalei os olhos completamente surpreso, meu olhar vagou entre
seus olhos, o controle e a sua boceta coberta pelo vestido azul, sem
acreditar que ela estava usando uma… Porra, uma calcinha vibratória
durante esse tempo todo.
— Caralho! — exclamei baixinho.
— Tenho várias dessas, e como a sua cor favorita é azul… — Deu
de ombros, deixando as palavras no ar.
— Você se atrasou porque…
— Porque passei em casa para pegá-la — esclareceu. — Pegue. —
E como um cachorrinho eu fiz o que ela mandou, peguei o objeto azul e
olhei os botões que existiam ali. — Conversar com você durante essas duas
semanas me deixou muito necessitada. — Lambeu os lábios — Eu preciso
gozar olhando para você.
— Beatrice…
— Per favore — pediu, repousando suas costas na parede próxima,
me olhando de lado. — Por favor, me faça gozar, Henrique.
Fechei meus dedos em volta do aparelho, observando-a.
Os mamilos estavam entorpecidos, marcando o tecido da sua roupa.
Seus olhos refletiam os sentimentos mais safados e primitivos que um
ser humano era capaz de sentir.
Suas bochechas estavam coradas e suas pernas não paravam de se
mexer, indicando que a diaba estava apertando as coxas na tentativa de
buscar algum alívio.
Caralho, uma tentação!
— Não posso fazer isso aqui. Sua família está do outro lado do
corredor — disse olhando para a porta da sala de música que ainda
permanecia fechada.
— Sabe porque as pessoas são frustradas com suas vidas sexuais,
Henrique? — Ela fez uma pausa, mas não esperou por uma resposta minha
e continuou a explicar o seu ponto. — Porque para realizar as fantasias
sexuais que temos, é preciso ter coragem, pois a maioria desses desejos
envolvem lugares e pessoas proibidas. E mesmo sabendo que é errado,
nosso corpo pede, pede muito por elas. Nosso corpo e mente imploram por
adrenalina, e eu estou implorando para você realizar uma fantasia minha.
Aqui e agora! — Sua mão direita subiu e apertou seu seio esquerdo,
fazendo-a arfar e gemer baixinho. Quase gemi com o som e a visão à minha
frente.
Meu Deus! Eu estava mesmo cogitando a ideia de fazê-la gozar com
sua família por perto? Com várias pessoas por perto? Pessoas que estavam
separadas de nós apenas por uma parede à prova de som?
Quem eu quero enganar?
Eu não estava cogitando nada.
Foda-se!
— Caralho! — Soltei, ficando de frente para ela e coloquei o braço
esquerdo dobrado na parede, ao lado de sua cabeça. Seu sorriso aumentou
quando colei meu corpo no seu, fazendo-a sentir o quanto eu estava
dolorosamente duro por ela. Sempre por ela! — Eu te odeio! — falei, me
odiando, e descansei minha testa na sua. — Eu te odeio — murmurei
novamente, raspando meus lábios nos seus. — Eu… te odeio.
— Não, você não me odeia. Só odeia o fato de não conseguir negar
um pedido meu — a desgraçada disse e caralho, ela estava certa.
— Eu vou para o inferno por fazer isso. — Respirei fundo, inalando
seu cheiro como um viciado.
— Você não vai para o inferno, porque está nele desde o momento
que descobriu que eu era sua vizinha.
— Diaba! — bradei baixinho.
— Como o ditado diz, se você já está no inferno abrace o…
Suas palavras foram substituídas por um palavrão em forma de
gemido.
E eu tive a certeza de que ela realmente estava com uma calcinha
vibratória.
Aumentei a velocidade e seus olhos ameaçaram se fechar.
— Olhos abertos, filha da puta — ordenei, passando a ponta do meu
nariz em seu pescoço, queixo e boca. — Olhos abertos como uma putinha
obediente.
— Henrique…
— Você disse que quer gozar olhando para mim, então é exatamente
isso que você terá, vagabunda!
CAPÍTULO 36
Beatrice
Como eu senti falta dele. Muita falta!
Falta do som da sua voz quando me xinga.
Falta dos seus olhos azuis cheios de luxúria quando direcionados a
mim.
Falta do seu cheiro de macho que me deixava inebriada.
Falta dele puto pra caralho pelas minhas provocações.
Aaah, como ele ficava ainda mais gostoso quando estava puto pra
caralho!
Falta de como só ele é capaz de me fazer sentir prazer de um jeito
tão intenso, ainda que não estivesse me tocando, como agora.
Eu não conseguia tirar Henrique da cabeça e minha boceta tarada
também não. A forma como nos entregamos ao momento, a maneira como
nossos corpos reagiram em perfeita sintonia ao outro e cazzo, a forma como
ele me encarava me deixava louca!
Ele parecia querer ver minha alma e assustadoramente, eu queria
que ele visse e possuísse cada pedacinho meu.
Reprimi a vontade de levar as mãos até seus ombros e buscar apoio
quando o vibrador embutido da calcinha estremeceu em cima do meu
clitóris. Entretanto, não me contive nos gemidos, meu olhar indo
brevemente para a porta da sala onde todos estavam.
Aquilo era uma loucura!
A maior que eu já havia cometido.
Todavia, não menti quando disse que era uma das minhas fantasias
sexuais.
E estranhamente, eu queria que Henrique pudesse tornar todas elas
reais.
Eu o queria. Queria que fosse com ele, somente ele!
— Me toca — implorei quando o vibrador girou em meu montinho
de nervos, me deixando tão melada que eu podia sentir minha lubrificação
escorrer pelas minhas coxas.
— Pensei que eu daria as ordens — disse, depositando um selinho
em minha boca e tentei prender seus lábios com meus dentes,
completamente louca de desejo, mas ele foi mais rápido ao se afastar. —
Quieta!
— Henrique…
— Abre minha calça.
— Vai me foder? — questionei ansiosa.
— Quer que eu te foda? — Aumentou a velocidade do vibrador e eu
arfei, tombando minha cabeça para trás ao sentir o meu prazer
intensificando.
— Quero. Eu quero você! Eu quero que me foda! Por favor, me
fode! — implorei sem me importar por estar parecendo desesperada.
Cazzo, eu estava desesperada!
— Então faça o que eu mandei, Beatrice. Abre minha calça, agora!
— ordenou rudemente e eu o fiz, sem retrucar ou reclamar do seu tom.
Minhas mãos tremiam na expectativa de tê-lo dentro de mim
conforme eu abria o cinto, o botão e puxava o zíper para baixo e ele
aumentava a intensidade do estímulo em minha boceta.
— Por favor… — pedi manhosa, soltando gemidos ofegantes.
— A putinha quer pau, hum?
— Quero… per favore…
Sua mão livre apertou minha nuca, seus dedos me provocaram uma
sensação deliciosa e eu quase gozei com o comando que ele soltou.
— Ajoelha e mancha meu pau de batom, cachorra.
Ajoelhei em sua frente e salivei quando puxei seu pau da calça, que
estava duro como aço. Segurei na base e passei minha língua por todo o
comprimento, deixando tudo mais melado. Ele gemeu e eu concentrei meu
olhar no seu, olhando-o do jeito que eu sei que ama e odeia na mesma
medida.
— Chupa! — bradou e eu olhei de relance para a porta onde todos
estavam, sentindo a adrenalina correr pelas minhas veias. E então, eu sorri
feito a diaba que ele adorava antes de sugar com força a cabeça do seu pau
e o engolir devagar, arrancando os sons mais sexys que já ouvi de um
homem.
Com a mão que ainda estava na minha nuca, ele empurrou o quadril
contra minha boca, me fazendo engolir centímentro por centímetro, meus
lábios pintados de vermelho sujando seu membro à medida que eu descia.
Apertei minhas coxas, sentindo as vibrações em minha boceta
intensificarem, enquanto Henrique fodia minha boca sem dó. Eu podia
sentir seu pau descendo pela minha garganta, fazendo algumas lágrimas
molharem meu rosto.
Senti o aperto em meu cabelo aumentar e ele me afastou, me puxando
para cima até que eu estivesse em pé. Meu vizinho atacou minha boca em
um beijo cheio de urgência e saudade. Em seguida se distanciou, me
encarando com o rosto todo manchado, um reflexo claro de como o meu
estava.
Henrique aumentou a intensidade e a velocidade do vibrador em meu
clitóris antes de guardar o objeto em seu bolso. Minhas pernas ficaram
fracas com as ondas de prazer enviadas para o meu corpo e antes que eu
fraquejasse, suas mãos invadiram meu vestido, apertando minha bunda com
força e me puxando do chão. Joguei meus braços por sobre seus ombros e
envolvi sua cintura com minhas pernas. Arfamos quando minha boceta
encontrou com o seu pau.
— Camisinha? — indagou sem fôlego, encostando minhas costas
contra a parede.
— O seu pau foi o último que esteve dentro de mim — garanti.
— E a sua boceta foi a última em que ele entrou.
Sorri, sentindo uma enorme satisfação ao ouvir a informação.
— Anda. Me fode, agora! — pedi, olhando para a porta do outro lado
do corredor, encaixando sua cabeça em minha entrada. — Enfia logo esse
cacete e me come gostoso, Henrique!
Com essas palavras ele deslizou para dentro de mim, soltando vários
palavrões conforme eu o apertava até que estivesse todo enterrado, bem
fundo.
— Que saudade dessa bocetinha — falou, socando sem cerimônia em
um ritmo frenético e enlouquecedor.
Cazzo, como eu amo o sexo com esse homem!
Meu corpo subia e descia, deslizando pela parede à medida que ele
entrava e saia de mim.
Graças à proteção acústica da sala onde todos estavam, nossos
gemidos não podiam ser ouvidos. Eles eram altos, intensos e profundos,
misturados a nossas respirações ofegantes e nossos sexos melados se
chocando.
— Eu… Aaah… Eu estou perto… — avisei com o olhar voltado para
a porta.
— Olhos em mim, filha da puta! — bradou, levando sua mão direita
até meu pescoço e apertando-o daquele jeito que me deixava desequilibrada
de prazer, sem parar ou diminuir o movimento do seu quadril contra o meu.
O encarei e gemi alto quando ele atingiu um ponto específico dentro
de mim me deixando à beira do abismo.
— Henrique… não para… Continua! Hum… — Mordi o lábio
inferior, sentindo meu orgasmo chegando.
— Tá gostoso, putinha? Tá gostoso a surra de pica que essa sua
bocetinha está levando?
— Eu vou… gozar! — anunciei.
— Eu também!
Soltei um gritinho quando ele me levantou e agarrou minha bunda,
me prensando contra a parede e abrindo minhas pernas ainda mais. Finquei
minhas unhas em sua nuca, sentindo seu pau entrar e sair de mim em um
ritmo alucinado.
— Vou encher essa sua bocetinha de porra!
E então, olhando em suas íris azuis, eu gozei com ele, sentindo meu
corpo cair em queda livre a cada espasmo que o orgasmo me fazia dar. Meu
corpo todo tremia à medida que ele jorrava dentro de mim como se não
fosse parar nunca mais e quando Henrique beijou minha boca, parecia que
eu estava no paraíso.
Foi perfeito!
Era sempre perfeito com ele!
O melhor sexo.
O melhor beijo.
Henrique Prado, o melhor homem com quem eu já estive.
— Como isso é possível? — perguntou tão sem fôlego quanto eu.
— O quê?
— Como é possível o sexo só melhorar entre nós?
Soltei uma risada.
— Compartilho do mesmo pensamento. A melhor rapidinha que eu já
tive.
— Nós fizemos mesmo isso? — murmurou descansando a testa em
meu peito.
Apertei seu pau semi ereto dentro de mim e ele arfou.
— É, fizemos.
— O que você acha que Carlos diria sobre o que acabamos de fazer?
— perguntei, arrumando meu cabelo e olhando minhas bochechas coradas
no reflexo do espelho.
Depois do orgasmo maravilhoso que tivemos e de todo o clima
excitante de perigo, Henrique e eu tratamos de sair daquele corredor à
procura de um banheiro para que pudéssemos nos recompor e eliminar a
prova do que acabou de acontecer. Assim que encontramos, entramos e foi
impossível não rir quando vimos nossos reflexos. Uma completa bagunça.
Meu batom vermelho não havia marcado apenas o seu pau, mas todo o seu
rosto também. Parecíamos com palhaços.
Ouvi seu suspiro atrás de mim e me virei, vendo-o devidamente
arrumado. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça quando me respondeu,
encostando na parede.
— Se ele soubesse de nós…
— Existe um nós?
Ele cerrou os olhos.
— Você me entendeu.
— Eu sei. Só amo te provocar — falei, me aproximando e repousei
minhas mãos em seu peito largo, tentando não suspirar como uma idiota
quando seus braços envolveram minha cintura, me puxando para mais
perto, mas falhei, miseravelmente.
— Se ele soubesse de nós, faria chantagem comigo.
Eu ri.
— Isso é bem a cara dele — falei. — Sinto falta dele — comentei
em um sussurro melancólico. — Sinto falta dele todo dia.
— Eu também sinto. Odeio… — Engoliu em seco e pela forma
como seu maxilar travou, notei que Henrique estava se segurando para não
chorar. — Odeio sentir saudade — amitiu com dificuldade.
— Eu também não gosto, acho que ninguém gosta quando não é
possível saciá-la, porém não consigo evitar senti-la sempre que algo no meu
dia me faz lembrar dele e das malditas frases filosóficas que insistia em
dizer. Eu sinto falta até das cartas icônicas que me mandava.
Ele soltou uma risada pelo nariz que fez seu peito subir e descer.
Adorei a sensação do seu coração batendo contra a minha palma.
— Ainda tenho as que ele me mandou — confessou e levou uma
mão até minha bochecha, secando algumas lágrimas que eu nem havia
notado caírem.
— Eu também — disse com o olhar seguindo o movimento dos seus
dedos sobre minha pele. Fechei os olhos, apreciando o carinho. — Senti sua
falta. — As palavras saíram com dificuldade, mas cheias de verdade.
— Eu também senti a sua, Bea — retribuiu, levando suas mãos para
o meu pescoço, segurando-o com possessividade. — Senti sua falta pra
caralho. — Estremeci quando senti sua língua acariciar meus lábios, que
logo se abriram para iniciar um beijo, contudo ele se afastou, me fazendo
abrir os olhos para encontrar com os seus que pareciavam cheios de
confusão e… medo? Henrique estava com medo?
— Me beija — pedi.
— O que estamos fazendo? — questionou sério.
— Estamos prestes a dar uns amassos.
— O que estamos fazendo, Beatrice? — tornou a perguntar e eu
sabia bem ao que ele se referia, mas assim como ele eu não tinha resposta.
Suspirei.
— Não sei.
— Eu também não. — Roçou seu nariz no meu e em seguida,
repousou a testa junto a minha, sem desviar o olhar. — Mas…
— Mas?
Ele não continuou, ao invés disso, fechou seus dedos com um pouco
mais de força em volta do meu pescoço e eu gemi, apreciando a pressão
deliciosa que só ele conseguia me dar.
— Henrique, mas o quê?
— Nada.
— Nada disso, eu sou curiosa! — resmunguei, fazendo bico.
Ele sorriu.
— É, você é.
— Então…?
Levou dois segundos para ele, enfim, falar.
— Eu não sei o que estamos fazendo, mas eu… Eu quero descobrir
o que é.
A forma como sua voz tremeu, demonstrando nervosismo, fez algo
dentro da minha barriga se agitar.
Que cazzo é isso?
— Sei de algo que pode nos ajudar a descobrir o que estamos
fazendo.
— O quê?
— Continuarmos trepando — sorri com malícia.
— O prazer será todo meu — provocou, passando sua língua em
minha boca.
— E o muro? Não vai tentar reconstruí-lo? — sorri, ainda lambendo
levemente minha língua.
— Foda-se o caralho do muro. Eu quero você! — bradou e meu
sorriso morreu quando ele enfiou sua língua na minha boca, iniciando um
beijo deliciosamente bom.
Senti suas mãos em meus ombros e as alças do meu vestido sendo
deslizadas para baixo, meus seios saltaram do tecido.
— Não dei atenção a eles — comentou, se afastando, maravilhado
ao encarar as joias para logo em seguida, massageá-los.
— Aaah!
— Precisamos ir — alertou sem parar de apertar e torcer meus
mamilos.
— Eu… Eu preciso de você. De novo — falei, empinando meus
seios na direção das suas mãos. — Per favore.
— Quando sairmos daqui, eu cuidarei da minha putinha como ela
merece. — Chupou meu lábio inferior, me fazendo gemer.
— Promete? — indaguei manhosa.
— Prometo. — garantiu, afastando suas mãos dos meus mamilos
para arrumar as alças do meu vestido.
— Na minha casa ou na sua? — perguntei ansiosa.
Ele voltou a segurar meu pescoço e com a mão livre, estalou um
tapa em minha bunda. Eu gemi chamando seu nome.
— Ansiosa para levar mais surra de pica nessa bocetinha?
— Uhum — murmurei. — Na minha casa ou na sua?
— Na minha. Preciso sentir seu cheiro nos meus lençóis —
confessou me dando um beijo rápido, porém tão gostoso que me fez apertar
minhas coxas. — Vamos! — falou, depositando um selinho na minha boca.
— Va bene. Va bene.
Demos uma rápida olhada pelo espelho antes de abrirmos a porta do
banheiro e saímos, caminhando um ao lado do outro.
— Onde vocês estavam? — Miguel perguntou assim que dobramos
o corredor, o que fez Henrique e eu pararmos bruscamente.
Vi, pelo canto de olho, o loiro empalidecer e ativei o meu modo
atriz.
— Henrique não estava se sentindo bem e precisou tomar um pouco
de ar. Sentimos muito que perdemos a apresentação musical.
— Tudo bem. Sem problemas. — O olhar avaliativo que nosso
amigo nos lançou, me fez querer arregalar os olhos como se eu tivesse sido
pega no flagra.
Miguel era inteligente e o mais observardor de nós, ele
definitivamente sabia o que estava rolando, porém era educado demais para
comentar algo sem que nós déssemos brecha.
— Você está melhor, B2? — perguntou com uma sobrancelha
levantada e juro que vi seus lábios se puxando levemente para o lado.
— Sim. Estou! — Henrique praticamente gritou. Quase ri da careta
que ele fez.
— Que bom, cara. — Assentiu. — Ana pediu para que eu viesse
atrás de vocês — comunicou. — Dante está prestes a mostrar a área de
refeição e quer a presença de Beatrice, já que ela ficará encarregada do
cardápio junto a nutricionista.
— Tutto bene — disse, me virando para olhar para Henrique que
ainda parecia branco feito papel. — Vamos, amigo? — Pisquei um olho.
Ele forçou uma tosse e passou a mão nos cabelos, evitando olhar
para nosso amigo.
— Claro. Vamos.
CAPÍTULO 37
Aviso: Este capítulo contém cenas de abuso e pressão
psicológica, violência contra criança (colocada de forma gráfica),
relação familiar tóxica e abandono infantil.
Henrique
7 anos de idade
Depois que cantei para Henrique, não demorou muito para que ele
pegasse no sono, dormindo tranquilamente pelo restante da noite. Eu por
outro lado não consegui pregar os olhos. Estava em completo estado de
alerta a cada respiração sua, com um puta medo dele ter outro pesadelo.
Minha mente trabalhou por horas tentando procurar a razão para o
que havia acontecido e quando ele virou de bruços, as cicatrizes em suas
costas pareciam as respostas que eu estava procurando.
Minha intuição disse isso. Não!
Ela gritou bem na minha cara que Henrique escondia algo, algo
triste, feio e doloroso.
Teria ele sofrido maus tratos… infantis?
A pergunta me fez buscar na minha memória qualquer pista de algo
que meus irmãos tenham falado sobre a família de Henrique.
Lembrei que comentaram que os pais do amigo moravam em outro
estado desde quando ele tinha sete anos e que a partir dessa idade, passou a
ficar sob os cuidados dos tios, os pais de Stella, que sempre o trataram não
como um sobrinho, apenas mas como um filho.
Não tinha chegado aos meus ouvidos, relatos de maus tratos ou que
Henrique tivesse uma relação tóxica com os pais.
Ou meus irmãos estavam sendo reservados por um pedido do amigo
que era orgulhoso demais, ou eles realmente não sabiam de nada.
Eu tinha muitas perguntas, poucas respostas, mas apenas a certeza
de que descobriria o que Henrique Prado escondia.
Assim que terminei de montar a mesa com um vasto e rico café da
manhã, caminhei até o quarto de Henrique, vendo-o se sentar com as costas
apoiadas na cabeceira.
— Bom dia — disse timidamente com a voz rouca gostosa enquanto
esfregava os olhos.
O encarei por um momento, admirando seu corpo nu, antes de
caminhar até ele.
Adorei saber que Henrique odeia dormir com roupas.
— Bonugiorno, caro mio — falei quando já estava próxima, me
sentando em seu colo com as duas pernas uma em cada lado do seu quadril
e sorri quando ele apertou minhas coxas assim que seu pau encostou em
minha boceta descoberta. Eu estava usando apenas uma camisa social sua.
— Você fica linda com minha roupa — comentou, seus olhos azuis
ainda estavam um pouco vermelhos pelo choro.
— Eu fico linda até com um saco de batatas — brinquei e meu
coração se expandiu com o som da sua risada, ainda que baixa.
— Tenho certeza de que sim.
Segurei seu rosto entre as mãos e trilhei beijos em sua pele. Meus
lábios tocaram seu queixo, sua barba me provocaram arrepios, até nossas
bocas se chocarem em um selinho demorado.
— Como você está? — perguntei com cautela, sustentando seu olhar
que parecia querer fugir do meu.
— Eu estou bem. Esqueça o que você viu e… ouviu.
— Você lembra?
— Não de tudo, porém o suficiente para não querer conversar a
respeito.
— Eu fiquei com medo — sussurrei, minhas mãos descendo até sua
garganta. Senti a veia ali pulsar contra meu polegar.
— Desculpa.
Franzi o cenho
— Porque está se desculpando?
— Porque eu te assustei.
Seus braços envolveram minha cintura, me puxando para um abraço
em que ele aproveitou para esconder o rosto entre meus seios.
— Eu amo seus seios — murmurou. — E amo o fato de eles terem
piercings. Acho que são meu ponto fraco.
— Henrique? — o chamei, mas ele não me olhou. — Henrique, olhe
para mim — pedi levando minhas mãos até sua nuca, acariciando seus
cabelos.
Ele então levantou o olhar até o meu, apoiando o queixo entre os
meus seios.
— Você me assustou, mas não do jeito que pensa a ponto de me
fazer querer ir embora.
— Obrigado por ficar.
— Obrigada por me deixar ficar, Sr. Prado. — Pisquei um olho para
ele. — Então, vai me contar o que sonhou?
Ele suspirou pesadamente.
— Você não vai esquecer a noite de ontem, não é?
— Não!
— Nem tão pouco deixar de investigar o que me deixou daquele
jeito, ainda que eu peça para não fazer isso, né?
— Nos conhecemos há tempo suficiente para você saber que minha
curiosidade não cessa até ter respostas. — Senti seu corpo ficar tenso
debaixo do meu, e decidi que aquele não era o momento certo para insistir
no assunto. — Mas agora, eu vou cuidar de você.
— Não precisa se preocupar. Eu estou bem.
— Eu sempre faço o que eu quero, bobinho. — Toquei a ponta do
seu nariz com o indicador, o que fez Henrique rolar os olhos. Ele pareceu
mais leve. — Vamos tomar café. — Bati as mãos saindo do seu colo. —
Mas antes, tome um banho e depois de comermos, vamos assistir alguns
filmes. Te espero na cozinha, caro mio — anunciei, caminhando para fora
do quarto sem olhar para trás, rebolando propositalmente.
— Quando vou poder comer esse rabo? — gritou quando eu já
estava do lado de fora do cômodo. Não respondi, apenas continuei andando
com um sorriso nos lábios.
Ao chegar na cozinha, me servi com um pouco de café e belisquei
alguns pedacinhos de queijo que havia deixado espalhados em cima de uma
bandeija.
Quando estava despejando um pouco mais do líquido gostoso e
quente na xícara, Henrique apareceu em meu campo de visão e foi
impossível não babar em sua figura. Ele estava usando apenas uma cueca
box azul marinho e seu cabelo estava molhado, deixando-o, mesmo que
cansado, sexy pra caralho.
— Adoro o fato de você gostar de usar pouca roupa em casa —
comentei.
— Aparentemente, você possui o mesmo gosto — disse risonho.
— Fato! — Dei de ombros. — Sente-se! — Apontei para a cadeira à
minha frente e assim ele o fez. — Espero que goste — falei, pegando um
prato e uma xícara, servindo-o com algumas fatias de pão caseiro, queijo,
azeite e um pouco de café preto sem açúcar, que notei ser o jeito que ele
prefere na última vez que tomamos café da manhã juntos.
— Tudo o que você faz é perfeito — confessou e algo se agitou em
meu estômago. De novo.
Mas que porra?
Ignorei a sensação quando notei suas bochechas ficarem vermelhas e
pela primeira vez eu… corei, porque estava com… vergonha?
Per Dio! O que está acontecendo comigo?
Aparentemente, ele não percebeu.
— Coma! — foi a única coisa que consegui dizer e ele logo começou
a devorar seu café da manhã.
Eu sempre gostei de observar as pessoas comendo a minha comida e
ver como elas reagiam a cada sabor, gosto e textura, todavia, tinha algo em
observar Henrique comer que me deixava hipnotizada a cada movimento
seu.
A cada colherada, seu rosto parecia se iluminar e me mostrava o
quanto ele estava apreciando ser cuidado por mim.
E eu?
Bem, eu estava gostando de cuidar dele, mais do que o aceitável para
o tipo de relação que tínhamos, embora eu não soubesse bem qual era.
Ainda.
CAPÍTULO 39
Beatrice
— Obrigada! — disse assim que a simpática vendedora da Victoria
Secret me entregou três sacolas cheias de lingeries nos mais variados tons
de azul.
Era sexta-feira e eu estava decidida a fazer uma surpresa para
Henrique, usando-as.
Desde a noite em que presenciei seu pesadelo, há duas semanas, não
conseguimos encaixar nossos horários para passarmos um tempo de
qualidade juntos. E quando eu digo de qualidade, me referia a uma noite
trepando enlouquecidamente como dois coelhos.
Houveram algumas rapidinhas durante esses quatorze dias, ora no
meu apartamento, ora no dele, mas a minha tarada interior desejava ter um
sexo como o primeiro que tivemos.
Sem pressa.
Sem ter que dormir cedo por conta dos compromissos do dia
seguinte logo pela manhã.
Sem preocupações do trabalho e a típica correria que nossas
carreiras demandavam.
Eu queria uma noite inteira com ele entrando e saindo de mim, a
ponto de me sentir assada e satisfeita.
Soltei uma risada ao sair da loja com o pensamento e não notei que
uma pessoa vinha em minha direção a tempo de evitar o baque.
— Santo Dio! — exclamei pelo susto do esbarrão, deixando as
sacolas caírem. — Me desculpe! — disse, levantando o rosto para ver a
pessoa que havia se chocado comigo.
Era uma mulher. Uma mulher muito bonita. Os cabelos loiros em
um corte Chanel deixava o contorno do seu rosto bem marcado, ainda mais
acentuado. Os olhos eram uma mistura de verde com azul raro.
— Tudo bem. Não se preocupe — falou, alisando sua roupa e me
ajudando a pegar minhas coisas do chão.
Só quando agradeci por ter me entregado as sacolas, foi que seu
olhar se encontrou com o meu pela primeira vez. Um brilho de
reconhecimento passou por ali e seus lábios, pintados de vermelho, me
ofereceram um sorriso que me pareceu forçadamente simpático.
— Nos conhecemos? — indaguei, tentando me lembrar se a
conhecia e de onde seria.
— Acredito que não, querida, mas eu sei quem você é. Acho que
todo mundo sabe. Herdeira Fontana, certo?
Sorri.
— Sim. Beatrice Fontana.
— Adorei as novas receitas que você adicionou no menu. Ficaram
esplêndidas. Sou frequentadora assídua do restaurante da sua família.
— Fico feliz que tenha gostado e em nome da minha família,
agradecemos a preferência. Como um pedido de desculpas pelo esbarrão,
por favor aceitei um jantar por minha conta no La Fontana — ofereci,
tirando da bolsa, um cartão exclusivo com meu nome que uso apenas em
ocasiões específicas.
— Realmente não precisa se preocupar.
— Eu insisto. — Estendi o cartão a ela, que ponderou por dois
segundos, mas logo o pegou.
— Obrigada!
— Não por isso…
— Verônica. Eu me chamo Verônica.
Seria loucura demais achar, que entre milhões de pessoas pela
cidade, eu esbarrei justamente na ex-namorada do homem que estou
trepando?
Com certeza seria. Seria coincidência demais.
— Prazer, Verônica.
— O prazer foi meu — sorriu, me analisando da cabeça aos pés de
um jeito não tão sutil quanto a etiqueta permite.
Ajeitei minha postura e organizei as sacolas em meus braços,
ignorando seu olhar avaliativo sobre mim que me deixou irritantemente
incomodada e ainda mais curiosa sobre o fato de ela ser ou não a ex de
Henrique.
Odeio rivalidade feminina e acredito que pau nenhum no mundo,
por mais grosso, grande e gostoso que seja, merece que duas mulheres
duelem por ele. Prato disputado demais, a gente deixa para quem está
passando fome.
— Bem, preciso ir — anunciei. — Novamente, sinto muito e espero
que aproveite o jantar. Se quiser levar alguém, fique à vontade. — Toquei
em seu ombro e lhe ofereci um sorriso gentil.
— Com certeza, eu levarei alguém, Beatrice — falou. A forma
como meu nome saiu da sua boca soou como uma ameaça e
definitivamente, eu detestei o quanto o som me irritou, me irritou pra
caralho.
Sustentei o sorriso, não tão gentil, então assenti e passei por ela,
caminhando sem olhar para trás, mas senti seu olhar sobre mim a cada
passo que eu dava, me afastando do seu campo de visão.
Muitas perguntas se formaram na minha mente e uma delas me fez
sentir algo que eu, até então, nunca havia sentido por homem algum.
Ciúmes. Eu estava com ciúmes só de imaginar que a loira poderia
ser a ex de Henrique, e pela forma como ela me olhou e tratou no final de
nossa interação, era como se soubesse do meu envolvimento com ele.
Se isso for verdade, eles ainda mantinham contato.
Eles ainda se… encontravam.
Balancei a cabeça assim que entrei no elevador e apertei o botão que
indicava o andar da garagem, decidida a não dar trela para essas neuras.
CAPÍTULO 40
Beatrice
Uma hora e meia, um banho relaxante de banheira, uma fatia de
pizza e uma taça de vinho depois, entrei no quarto e parei em frente à cama,
observando as várias opções de lingerie que havia deixado espalhadas sobre
o colchão logo que cheguei em casa, pensando em qual delas iria usar para
levar meu vizinho à loucura essa noite.
Assim que cheguei, mandei uma mensagem para Henrique avisando
que eu gostaria de vê-lo, seguido de uma carinha de diaba. Tão rápido
quanto, recebi sua resposta em forma de áudio com ele falando tudo o que
pretendia fazer comigo. Soltei uma risada quando no final, meu vizinho
xingou o aplicativo de mensagem pelo áudio não ter sido enviado assim que
ele terminou de recitar as safadezas. Ele e as redes sociais não eram mesmo
compatíveis.
Estava prestes a tirar o roupão de banho azul que envolvia o meu
corpo quando o som de porta se fechando com força soou, fazendo minhas
mãos pararem na metade do caminho.
Olhei na direção da sacada e por instinto, caminhei até ela, sentindo
meu corpo entrar em estado de alerta. Estou me aproximando do vidro que
estava aberto, coberto apenas pela cortina branca, quando um dos piores
sons que já ouvi na vida, chegou aos meus ouvidos. O som do choro de
Henrique.
Afastei as cortinas com pressa e meu coração se apertou ao vê-lo. Ele
estava de costas para mim, suas mãos apoiadas no parapeito e seus ombros
tremiam a cada soluço que saía de sua garganta.
Desespero me tomou e o pensamento de que ele poderia estar vivendo
algo parecido com a noite em que presenciei seu pesadelo, surgiu.
Então, afastei as cortinas e o mais rápido que consegui, corri em sua
direção. Quando me aproximei do parapeito que separava as nossas
varandas, pulei a superfície, sem me importar com nada.
Ele só percebeu que eu estava ao seu lado quando toquei seu ombro.
Henrique se sobressaltou e virou o rosto abruptamente para mim. O que vi
em seus olhos me provocou um misto de sentimentos, dentre eles raiva,
muita raiva.
— Quem fez isso com você? — questionei, segurando seu rosto
vermelho entre as minhas mãos e lágrimas molharam meus polegares.
— Bea… — balbuciou.
— Me diz quem fez isso com você e eu acabo com o filho da puta
agora! Me diz, Henrique. Me diz quem te deixou assim. Eu quero saber o
nome do cretino que vou ter que acabar.
— Volta para sua casa.
— Não vou te deixar aqui assim, nesse estado.
— Sai daqui, por favor.
— Henrique… — Toquei meus lábios nos seus no mesmo instante em
que ele fechou os olhos, fazendo mais lágrimas descerem pela sua pele.
— Bea… por… por favor — sussurrou, mas seus braços logo
envolveram minha cintura, me puxando para mais perto do seu corpo, que
tremia sutilmente conforme ele chorava baixinho.
— Me diz quem fez isso com você, amore mio.
— Quem é a vagabunda? — uma voz masculina soou atrás de mim.
Henrique se afastou e me puxou para atrás dele, como se quisesse me
proteger de quem quer que fosse.
— Não fale dela assim! — sua voz tremeu ao pronunciar cada palavra
e só então, eu pude olhar quem estava diante de nós.
Um homem e uma mulher.
Ele possui cabelo liso em um loiro médio, ombros largos e maxilar
quadrado.
Já ela, parecia uma versão feminina e mais velha de Henrique, porém
com cabelos grisalhos.
Ambos estavam muito bem vestidos e pelas semelhanças, compreendi
que eram seus pais. E a julgar pelas expressões fechadas que seus rostos
carregavam, eles eram o motivo das lágrimas do meu vizinho.
— Vai brigar conosco, os seus pais, por causa de uma qualquer, meu
filho? — a mulher falou com uma expressão fingida na cara.
— Eu não estou… brigando — declarou pausadamente e o jeito como
ele parecia se controlar, me deixou… assustada. — Mas não fale assim dela.
— Está nos dando ordens? Somos seus pais, moleque! — o homem
bradou.
— Vamos nos acalmar — a senhora pediu. — Viemos ver nosso
menino e não brigar.
— Ver nosso menino para vocês significa pegar mais dinheiro meu
— murmurou.
— Somos seus pais. É sua obrigação nos ajudar enquanto filho.
— Vocês nunca me deram amor de pais — Henrique falou e pelo seu
tom, percebi que outra onda de lágrimas estava prestes a chegar. Toquei em
seus ombros e ele estremeceu, como se tivesse esquecido que eu ainda
estava ali.
Dei alguns passos para o lado, apenas o suficiente para poder olhar
seu rosto melhor.
Ele parecia um filhote acanhado, apavorado e com medo.
Ele não parecia o Henrique que eu estava acostumada.
Ele estava frágil, mais do que na noite em que teve o pesadelo.
— Que porra de amor? Toda vez a mesma ladainha — seu pai e suas
palavras me causaram uma repulsa tão grande, que precisei puxar o ar para
não vomitar. — Você não servia para nada antes, só enchia a porra do nosso
saco quando era criança e agora só serve para nos dar dinheiro. Então, nos
poupe desse seu discurso de filho carente de merda e faça logo o nosso
cheque.
Meu corpo ferveu de ódio.
Eu evitava brigas porque me conhecia, me conhecia muito bem, sabia
o quanto podia ser explosiva e grosseira, mas vendo o homem que admirava
tanto quanto ao meus irmãos, visivelmente mal com o que esses dois
falaram, minha paciência foi para a puta que pariu.
Dei alguns passos até que estivesse na frente de Henrique, como uma
forma de protegê-lo e cuspi as palavras cheias de ódio.
— Se vocês estavam acostumados a falar com ele dessa forma, quero
que saibam que agora o caralho da situação é completamente diferente. Ele
tem a mim e jamais vou deixar que pessoas imundas e egoístas como vocês
que batem no peito para dizer que são pais, mas que não agem como tal, o
tratem dessa forma, ainda mais na minha frente. — Puxei o ar, buscando o
fôlego e não parei. — Seja lá o que vocês quiserem, ele não vai dar.
Henrique não é um banco que vocês podem vir e retirar dinheiro na hora
que bem entenderem. Ele é uma pessoa que tem sentimentos e é o homem
mais incrível que eu já conheci. Então, se vocês quiserem ficar, que seja
para aproveitar a companhia do filho de vocês. Se não, a porta está aberta.
— Quem você pensa que é... — o homem tentou falar, mas o
interrompi.
— Quem eu penso que sou, senhor? Sou uma Fontana. Sou Beatrice
Fontana e aprendi com meus pais, que realmente merecem o título, a tratar
as pessoas como pessoas e não como objetos, como vocês tratam o filho de
vocês.
— Você é herdeira dos… dos Fontana? — a mulher perguntou com os
olhos arregalados, visivelmente surpresa. — Você conhece essa gente,
Henrique? — indagou incrédula.
— Cazzo! Vocês realmente não sabem nada da vida do filho de vocês
— exclamei, exasperada. — Vocês não merecem o filho que tem.
Definitivamente, não o merecem.
— Você vai deixá-la falar assim com a gente? — o homem perguntou.
Virei meu rosto e encontrei um Henrique com os olhos azuis
vermelhos e refletindo pavor. Suas mãos apertavam a calça de moletom
preta e seu olhar estava em seus pés. Seus lábios tremiam e parecia que ele
tinha sido congelado.
Ele parecia um garotinho com medo.
Ele parecia um garotinho que foi negligenciado pelos próprios pais.
E foi nesse momento, que eu compreendi tudo.
Henrique foi uma criança que sofreu maus-tratos.
Uma criança que não foi amada, cuidada e protegida.
Uma criança que foi cruelmente machucada a julgar pelas cicatrizes
que vi em suas costas.
Meu corpo, que antes fervia, agora borbulhava.
Cada célula do meu organismo tremia e eu sentia meus olhos
queimarem.
Ódio. Eu estava sentindo o mais cru e puro ódio.
O tipo de ódio que a gente sente ao saber de casos como o de
Henrique.
O tipo de ódio que cega a gente.
O tipo de ódio que te faz ser uma criminosa, sem se importar com as
consequências.
Eu estava com ódio e mataria para defendê-lo!
Eu.
Mataria!
— Saiam daqui — gritei, dando alguns passos na direção do homem
que arregalou os olhos ao ser confrontado.
— Sua filha da…
— Saiam daqui, agora!
— E se não sairmos…
— Se não saírem, eu vou chamar a polícia! — Me aproximei e vi seus
olhos tremerem com a menção da força policial.
— Antônio — a voz da mulher fraquejou ao chamar pelo marido. —
A polícia, Antônio.
O homem semicerrou os olhos para mim, com o maxilar travado ao
apontar um dedo na minha cara.
— Isso não vai ficar assim, sua fedelha!
Ergui o queixo e estufei o peito ao falar de forma firme.
— Não ouse me ameaçar, seu… seu… monte de lixo! Você não sabe
com quem está falando e se algum de vocês dois ousarem se aproximar de
Henrique — Toquei em meu peito. — Eu acabo com vocês com as minhas
próprias mãos!
— Sua… sua… — Sua postura mudou e por um segundo, pensei que
ele fosse me bater.
— Eu não tenho medo de vocês! — declarei. — Agora, saiam daqui!
Saiam daqui e da vida de Henrique!
— A polícia, Antônio. Vamos embora ou ela vai chamar a polícia — a
mulher disse com uma expressão de medo, segurando nos braços do
marido.
Ele me lançou um olhar ameaçador que não fez nem cosquinha.
Permaneci com minha postura e devolvi a encarada, sem abaixar a
cabeça.
Está para nascer o homem que vai me assustar!
— Antônio? — o chamou novamente e ele pareceu perceber que eu
estava realmente falando sério.
Seus ombros cederam e uma lufada de ar foi puxada, quando ele se
afastou ainda me encarando.
— Saiam! — gritei, apontando na direção da porta. — Agora!
E então, eles se afastaram. Eu os segui até a porta, batendo-a com
força assim que eles passaram por ela.
Tomei fôlego por um momento, encostando minha testa na madeira.
Meu coração batia descompassadamente no peito e minha cabeça doía
pelo estresse.
Eu estava me sentindo esgotada pela enxurrada de pensamentos e
sentimentos que invadiram meu corpo há pouco. Mas nada disso importava,
apenas ele. Apenas Henrique importava.
E então, corri até o quarto. Quando parei na entrada, vi que ele ainda
permanecia na mesma posição.
— Henrique — o chamei, porém ele não moveu um músculo sequer.
— Henrique — tentei novamente, me aproximando dele com cautela.
Quando eu estava no meio do cômodo, seu olhar subiu até o meu e eu senti
um baque ao ver a tristeza refletida nos olhos que eu tanto amava
contemplar, me observando. — Henrique — falei seu nome com pesar e fui
surpreendida quando ele começou a caminhar na minha direção. Imitei o
movimento das suas pernas e nossos corpos se chocaram em um abraço.
Envolvi meus braços em sua nuca e ele em minha cintura,
descansando sua cabeça em meu ombro. Sou novamente acometida pela
surpresa quando ele se abaixou e segurou minhas pernas por trás dos
joelhos, me pegando no colo.
Beijei carinhosamente seus lábios à medida que ele nos levava até a
cama.
Henrique me deitou cuidadosamente sobre o colchão macio e me
puxou, me abraçando por trás. O senti encostar sua cabeça em minhas
costas e no mesmo momento, começou a chorar.
— Amore... — falei, me virando e ficando de frente para ele. — Eu
estou aqui. — Segurei seu rosto em minhas mãos, fazendo-o me olhar nos
olhos.
— Eu pensei que... que depois de anos, eles não... não poderiam me
fazer sofrer. Mas acho... que ainda sou um... um fraco — disse entre
soluços. — Eu sou um fraco… um péssimo filho.
— Você não é fraco, Henrique. Não há problema em chorar quando
algo nos faz sofrer. — Sequei as lágrimas que escorriam pelas suas
bochechas com meus dedos. — Não fique com vergonha de mim. Se quiser
chorar, chore. Eu estou aqui e não vou sair do seu lado — garanti.
Seus lábios se formaram em um bico e ele me analisou por um
momento, antes de me abraçar forte. Seu rosto encostou em meu colo e ele
fez o que eu disse para fazer. Chorou copiosamente.
Chorou sem medo, sem pudor.
Simplesmente… chorou.
Como se desejasse que a sua dor saísse por entre as lágrimas.
E eu esperei, pacientemente, o esperei soltar tudo o que ele precisava.
Hora ou outra, passando minhas mãos por seu cabelo, costas, sentindo
seu corpo tremer à medida que seu choro se intensificava.
Eu simplesmente fiquei ali. Por ele.
Não sei quanto tempo se passou até Henrique se acalmar, seus soluços
foram substituiídos pela sua voz trêmula conforme falava, sem diminuir o
aperto do seu abraço em mim.
— Quando minha mãe engravidou, ela só tinha... Ela só tinha dezoito
anos. Meus pais tentaram me abortar porque obviamente não queriam um
bebê atrapalhando suas vidas. Só desistiram quando minha mãe foi parar no
hospital por ter tomado um remédio que era alérgica, na tentativa de
interromper a gestação. — Fez uma pausa como se buscasse forças para
continuar. — Por algum milagre, eu nasci bem e saudável. Desde então, eu
passava mais tempo sozinho do que com os meus próprios pais. Quando eu
tinha cinco anos de idade, meu pai foi demitido e passou a beber mais do
que costumava e foi então que… que as agressões começaram.
— Henrique…
— Eu não me lembro de todas as vezes, mas me lembro da última
vez. Eu tinha sete anos e estava sozinho em casa sem comer por dois dias.
— Per Dio… — murmurei, chocada com sua confissão.
— E então, quando chegaram, meu pai estava com os olhos
vermelhos como se tivesse bebido por horas. Toda a sua raiva foi
descontada em mim. Em minhas… em minhas….
— Costas — completei, acariciando o local.
Ele levantou o olhar até o meu.
— Isso. — Engoliu em seco. — A maior cicatriz foi feita nesse dia.
No dia que eu não aguentei mais e… desmaiei de tanto… apanhar.
Coloquei minha testa na sua, engolindo uma dor que me causou
enjoo.
— Eu sinto muito — sussurrei.
— Algum vizinho decidiu ligar para a polícia e… meus tios
souberam. Eles moravam em outra cidade e logo foram me ver. Foi um
completo choque quando eles me encontraram no hospital, principalmente
para o meu tio, ao descobrir que o irmão havia feito o que fez com seu
próprio filho. Logo depois meus pais foram presos e quando recebi alta do
hospital, minha guarda ficou com os pais de Stella. Até eu me formar na
faculdade, não recebi notícias deles. Pensei que eles nunca mais voltariam e
na mesma época em que Matteo e eu começamos a montar o escritório,
meus pais entraram em contato.
— Querendo dinheiro.
Henrique acenou em afirmação.
— Eles estavam em outro estado e… eu não consegui negar. Não
consegui negar e desde então, venho enviando uma quantia em dinheiro
para eles. Stella… Stella é a única que sabe e, definitivamente, não
concorda com minha decisão de ajudá-los. Mas… mas… — sua voz
embargou e algumas lágrimas escorreram por suas bochechas. — Mas é
tão… tão di-difícil. Eu sinto tanta… tan-tanta raiva de mim.
Franzi o cenho.
— De você?
— Sim. Meu pai sentia raiva e descontava em mim. Eu sinto raiva e
desconto em mim, como um gás tóxico. Não ouso maltratar alguém, porque
sei como é ser maltratado e não quero que as pessoas me julguem pelo meu
passado. Eu sofri, mas não deixei isso determinar quem eu sou agora. Eu
venci a dor, porém o preço foi alto. — Senti seu coração acelerar quando as
palavras foram saltando de sua boca tão depressa que ele pareceu não
respirar. — O preço foi ser envenenado pela raiva. Eu sinto raiva todos os
dias, Beatrice. Raiva de mim por querer ter tido um lar. Raiva da minha mãe
por não ter me defendido quando eu era espancado e humilhado. Sinto raiva
do Universo por precisar ser defendido do homem que deveria ter sido meu
herói. E sinto raiva dele… muita raiva dele por ter se perdido quando as
dificuldades vieram. Elas foram maiores do que o amor que ele deveria
sentir por mim.
— Por isso você ficou daquele jeito na boate? — questionei com
cautela me lembrando daquela noite.
— Sim. Eu odiei a forma como você me olhou, porque me fez
lembrar da forma como eu olhava para ele.
— Eu não tenho medo de você — eclarei, beijando seus lábios.
— Você me defendeu.
— Defendi — sorri de lado e alisei suas bochechas quando perguntei:
— Porque eles vieram aqui?
Ele soltou um longo suspiro.
— Queriam mais dinheiro e… que eu lhes entregasse a casa.
— Qua casa? A que nós…
— Isso, essa mesma. Eles querem aquela casa por puro capricho.
— Como eles descobriram que você a tem?
— Acabei contando quando quiseram vir me visitar aqui no
apartamento. Eu… Eu a comprei porque… porque…
— Porque você a comprou, Henrique?
Ele suspirou.
— Eu a comprei para a minha criança interior. Ela gosta de sonhar
que terei um final feliz. — Ele torceu o nariz e eu soltei uma risada.
— O B2 é… romântico? — Alcei a sobrancelha e fiquei feliz por ele
ter sorrido. Seus ombros enfim relaxaram um pouco.
— Minha criança interior é. Ela quem acredita no amor.
Senti algo se agitar em meu estômago.
— Obrigada por compartilhar comigo sobre seu passado. — Beijei
seus lábios e a sensação aumentou em minha barriga. Que porra é essa?
Seus braços me apertaram ainda mais contra ele.
— Obrigado por ficar e… por me defender. Você é incrível, Bea.
— É, eu sei. — Dei de ombros e ele sorriu, trazendo sua boca para
perto da minha. — O que vai fazer? — perguntei, sentindo que o beijo que
estava prestes a acontecer, seria diferente de todos os outros que já
trocamos.
— Beijar você — sussurrou contra meus lábios. — Preciso beijar
você.
Engoli com dificuldade.
— Precisa?
— Me beija, Beatrice. Por favor, me beije.
Porque eu estava com as palmas das mãos suando?
Porque meu coração acelerou com o seu pedido?
Porque parecia que tinham borboletas fazendo uma festa em meu
estômago?
Porque eu estava com a sensação de que estava olhando feito uma
boba para o homem à minha frente?
— Henrique…
Foi a única coisa que consegui dizer antes dos seus lábios tomarem
os meus. O beijo começou lento e carinhoso, mas logo ficou quente e
devasso.
Sua mão deslizou pelas minhas costas e invadiu o roupão, apertando
minha bunda com força. Arfei, separando nossas bocas e ele aproveitou
para chupar meu lábio inferior.
— Amor… — O apelido escapou sem que eu conseguisse impedir,
parecendo tão certo. Me senti um pouco culpada por estar pensando em
safadezas depois de tudo o que ele me contou. — Você… você precisa
descansar — falei baixinho, fechando os olhos quando ele começou a trilhar
beijos pelo meu queixo, amando a sensação de sua barba raspando em
minha pele.
— Eu preciso estar dentro de você.
— Henrique, não fala assim. Se não… Se não eu não resisto — disse
manhosa.
— Não resista.
— Estou tentando ser madura e …. aah… — um gemido escapou da
minha garganta quando senti a ponta do seu indicador entrar em minha
bunda. — Henrique… — falei ofegante, sentindo-o enfiar o dedo
lentamente.
Enlacei sua cintura com a minha perna esquerda e empinei o quadril,
rebolando à medida que ele entrava e saia de mim em movimentos lentos.
— Me deixa meter na sua boceta, deixa, Bea? — pediu, mordendo
meu queixo.
— Amor…
— Me deixa encher a sua bocetinha gostosa de porra. Eu preciso
tanto entrar nela. Deixa, meu amor?
Foi a minha vez de implorar.
— Eu quero… Por favor, me come gostoso, Henrique.
Tirando o dedo de mim, ele se afastou e eu gemi em protesto,
fazendo-o sorrir.
— Vem — me chamou, já de pé ao lado da cama.
Atendi ao seu pedido e me levantei, parando em sua frente.
— Tire o roupão — ordenou.
Assenti, apertando minhas coxas em expectativa antes de começar a
tirar a peça, de forma sensual. Henrique fez o mesmo com as suas roupas,
começando pela camiseta branca. Não desviamos nossos olhares um do
corpo do outro à medida que cada peça foi tirada.
Quando meu olhar pegou o seu, algo mudou.
Algo dentro de mim gritou.
Algo que eu não sabia explicar o que era.
Meu corpo foi tomado por uma descarga de energias e sensações que
eu nunca havia sentido antes.
Era forte, voraz e parecia que eu estava prestes a explodir a qualquer
momento.
Quando já estávamos completamente nus, Henrique segurou minha
mão e me conduziu para a varanda. Ele me conhecia o suficiente para saber
que eu não me importaria em fazer sexo na área externa, muito pelo
contrário, isso só me deixava ainda mais excitada.
Soltei um gritinho quando ele me pegou nos braços e sem aviso, nos
jogou dentro da piscina. Quando submergimos, encontrei seu sorriso e seus
olhos brilharam ao me olharem.
— Seu louco — falei risonha, alisando meus cabelos molhados com
uma mão e com a outra, bati em seu ombro.
— É, talvez eu seja. — Se aproximou, me puxando pela cintura. —
Talvez eu seja louco por você — declarou, nos levando para os primeiros
degraus que há na piscina. — Você fica ainda mais linda sob a luz da lua —
continuou, diante do meu silêncio, à sua declaração anterior, beijando meu
pescoço. — Linda. — Meu queixo. — Linda. — E por fim, tomou minha
boca em um beijo possessivo.
Um beijo cheio de promessas e palavras não ditas.
Meu coração, que antes estava acelerado, parecia estar a ponto de
rasgar meu peito.
Agarrei seus braços, buscando por mais, como se eu precisasse dele
para respirar.
Ele interrompeu o beijo apenas para se sentar no degrau e me puxar
para montar em seu colo. Arfamos quando nossos sexos se tocaram.
Ainda sem conseguir dizer uma só palavra, passei meus dedos pelo
seu rosto vermelho pelo choro, depositando beijos em suas bochechas que
possuíam alguns pingos de água.
Henrique me abraçou pela cintura e disse, sua voz era suave e baixa:
— Você é perfeita, Bea.
Olhei em seus olhos e estremeci com todos os sentimentos que vi ali.
O que estava acontecendo entre nós?
O que estava acontecendo comigo?
— Seja minha esta noite? — pediu e eu me vi balançando a cabeça e
assaltando sua boca.
Nossas línguas se encontraram e um arrepio passou pela minha
coluna quando ele me apertou mais ao seu corpo, espremendo meus seios
junto ao seu peito.
Henrique lambeu e chupou da forma que só ele sabia fazer para me
deixar louca com apenas um beijo. Necessitada, comecei a rebolar em seu
pau e antes que eu pudesse impedir ou raciocinar com clareza, me vi
suplicando.
— Me faça sua hoje. Per favore.
Ele então levantou meu quadril, apenas o suficiente para segurar meu
pau, o posicionando-o em minha entrada e lentamente eu desci, soltando
vários gemidos que se misturaram com os seus.
— Deliciosa. — Murmurou quando já estava todo enterrado em mim.
— Gostoso. — Disse apoiando minhas mãos em seus ombros,
subindo e descendo, sentindo todo o seu comprimento sair e entrar em meu
canal.
— Hum… A boceta da minha putinha está tão… aaah… tão
meladinha.
— Ai, Henrique… — gemi quando aumentei o ritmo e ele me seguiu,
impulsionando seu quadril contra o meu.
Tudo à nossa volta pareceu sumir.
Nada mais importava.
Apenas nós dois.
Esse momento.
E a cada segundo que passava, meu coração trazia as respostas que
minha mente havia formulado momentos atrás.
Algo que antes eu não conseguia compreender, mas olhando em seus
olhos, enquanto fodíamos, percebi o que estava bem diante de mim.
Eu estava completamente apaixonada por Henrique.
— Bea... — ele gemeu alto me pressionando para baixo, fazendo meu
clitóris roçar em sua virilha e sua mão direita se fechou em torno do meu
pescoço com posse.
— Henrique, eu... eu... eu t... — fui interrompida por uma enorme
onda de prazer que me atingiu. Forte e selvagem, fazendo nós dois
estremecermos juntos de forma violenta.
Uma lâmpada se acendeu em minha mente, me fazendo entender que
eu não acabei de fazer sexo com Henrique. Na verdade, essa foi a primeira
vez que fiz amor com o homem que eu amava.
Eu o amava.
Cazzo, eu realmente amava Henrique Prado.
CAPÍTULO 41
Henrique
Me mexi no sofá, me sentindo completamente desconfortável.
A mulher à minha frente continuou a me analisar sob as lentes dos
óculos quadrados.
Sua postura não mudou desde que entrei em seu consultório, há
exatos cinco minutos e contando.
— Está nervoso, Henrique? — a mulher de cabelos cacheados e pele
negra perguntou.
— Não! — respondi rápido demais, esfregando as mãos.
Ela sorriu compreensiva, provavelmente acostumada com reações
iguais às minhas.
Depois do episódio com meus pais, Beatrice insistiu para que eu
começasse a fazer terapia e mesmo tentando fugir da diaba, quando ela tirou
a blusa e sentou em meu colo enquanto eu estava assistindo a um jogo de
futebol no último final de semana, esfregando seus peitos fartos e naturais
na minha cara, eu cedi.
Ah, caralho! Como eu cedi. Cedi com a porra de um sorriso no rosto.
Ok. Talvez eu tenha gritado que iria começar a terapia na semana
seguinte.
Argh! Aqueles malditos piercings seriam a minha ruína, a minha
criptonita.
Como negar? Como negar um pedido dela, enquanto ela empurrava
um seio contra a minha boca e roçava a boceta coberta apenas por uma
calcinha azul presa a uma cinta-liga? Como se depois de segundos de
tortura ela ainda usou as palavras mágicas em italiano? “Per favore.”
Não tinha como negar. Por isso, estava aqui, em plena quarta-feira,
sentado na porra de um sofá com formato esquisito enquanto uma mulher
baixinha com olhos grandes analisava cada mínimo movimento meu.
Eu sabia que fazer terapia era essencial para alguém que passou pelo
que eu passei, mas nunca fiz porque meus tios infelizmente não tinham
condição de pagar pelas sessões que a assistente social recomendou na
época, quando a minha guarda foi dada a eles e para conseguir atendimento
na área pelo governo, era ainda mais difícil.
Leila e Maurício fizeram o máximo, diante das suas limitações
financeiras e emocionais, para me criarem. E foi com eles e Stella, que eu
descobri o que é ser amado.
— É perfeitamente normal se sentir nervoso na sua primeira sessão de
terapia. Estranho seria se não ficasse, mas preciso que entenda que para que
eu possa ajudá-lo, você precisa falar comigo. Quanto mais falamos sobre o
que nos incomoda, mais passamos a ter consciência dos fatos e das suas
consequências em nós. É exatamente isso que vamos trabalhar aqui — falou
em um tom suave.
Engoli em seco.
— Entendi.
— Vamos começar com o simples. Tudo bem?
— Tudo bem.
— Primeiro, me diga, porque decidiu fazer terapia?
Tomei fôlego e decidi ser sincero.
— Eu não queria fazer terapia, mas minha… amiga me convenceu de
que seria uma boa ideia.
— Como se chama a sua amiga, Henrique? — perguntou depois de
fazer algumas anotações no caderno que segurava.
— Beatrice.
— Ok. E porque Beatrice acredita que, fazer terapia, é uma boa ideia
para você?
Puxei novamente o ar e o soltei procurando me manter calmo.
— Porque a minha relação com meus pais não é saudável.
— Entendi. E o que seria uma relação saudável entre pais e filhos
para você?
Pensei por um momento e logo a família Fontana surgiu na minha
mente.
— Minha… amiga possui uma família saudável. Seus pais e irmãos
conversam, se respeitam apesar das claras diferenças que possuem. Eles
apoiam as decisões que o outro toma sem humilhá-lo ou desejá-lo o pior.
Eles se aceitam do jeito que são e é nítido a forma como eles se amam.
— E você nunca possuiu esse tipo de relação?
— Não — falei simplesmente, sentindo meus ombros tensionarem.
— Qual foi o tipo de relação que você teve com os seus pais,
Henrique? — questionou, olhando em meus olhos.
Demorei o que pareceu uma eternidade para responder a sua pergunta
e pacientemente, ela esperou.
— Meu pai… me espancou até os sete anos.
— Quem mais sabe disso?
— Beatrice, meus tios que me criaram desde então e a filha deles,
Stella.
— Você consegue me contar o que aconteceu quando tinha sete anos,
Henrique? — indagou com cautela. — Se não conseguir, está tudo bem. Só
quero mostrar para você os seus próprios limites e te fazer entender como
superá-los para que possa se autoconhecer e assim poder viver bem. Você
entende isso, Henrique?
Acenei com a cabeça, apoiando meus cotovelos nos joelhos.
— Entendo.
— Ok. Então, o que aconteceu quando você tinha sete anos de idade?
Fechei os olhos e as cenas logo apareceram em um looping.
— Meus pais tinham me deixado sozinho em… em casa por dois dias
sem comida e quando chegaram, percebi que meu pai havia bebido.
Parei precisando tomar fôlego.
— Seu pai sempre consumiu bebida alcoólica?
Abri os olhos e encontrei o rosto sereno da psicóloga com um leve
sorriso em seus lábios cheios. Me senti um pouco menos… tenso.
— Sim, mas o consumo aumentou quando ele foi demitido. Ele
passou a ficar mais irritado, principalmente comigo. Qualquer coisa que eu
fizesse, o deixava furioso.
— E nesse dia, ele chegou sob efeito de álcool depois de passar mais
de dois dias fora com a sua mãe e bateu em você. Foi isso o que aconteceu,
Henrique?
— Si-sim. — Engoli com dificuldade, sentindo meus olhos arderem.
— Nesse dia ele me bateu tanto que eu acabei desmaiando e foi assim que
meus tios souberam o que acontecia comigo. Meus pais foram presos e não
tive notícias deles até alguns anos atrás. E desde então, eu… eu os ajudo
financeiramente.
— Entendi. — Ela fez algumas anotações e logo seu olhar voltou para
mim. — Precisa de um pouco de água? — ofereceu gentilmente.
— Não. Obrigado.
— Podemos continuar?
— Sim. Podemos.
— Tudo bem se precisar parar por um momento. Vamos no seu ritmo
— anuí e ela me analisou por dois segundos antes de voltar a falar. — E a
sua mãe? Como ela reagia ao que seu pai fazia com você?
— Minha mãe sempre amou meu pai e ainda que houvessem vezes,
mesmo que raras em que eu notava que não aprovava o que ele fazia
comigo, ela nunca me defendeu ou o confrontou. Ela parecia ter medo de
tomar qualquer atitude contrária e acabar perdendo-o.
— E como você se sente em relação aos seus pais depois de tudo
isso?
Mordi os lábios e apertei os olhos, sentindo algumas lágrimas
escorrerem pelo rosto.
— Consegue definir em uma palavra, Henrique? Um sentimento?
— Minha mãe tinha as razões dela e… ela o amava. Eu sei que ela
amava e ama meu pai. Ela só queria ser uma boa esposa e por vezes não
sabia como fazer isso. Meu pai nunca foi um homem fácil, mas ele ficou
mal depois de perder o emprego. Somente ele trabalhava e ter que sustentar
duas bocas não era fácil naquela época — falei rapidamente.
— Vamos tentar de novo. — Acenei. — Eu quero que você me diga
uma palavra, um sentimento que define a forma como você se sente em
relação a tudo o que acabou de me contar. Qual é o sentimento que possui
depois de saber que seus pais faziam isso com você? Apenas um
sentimento, Henrique. Uma palavra.
Passei as mãos pelo rosto, sentindo cada músculo do meu corpo tenso.
— Raiva — sussurrei.
— Me desculpe, mas não consegui ouvir. Poderia repetir, por favor?
— Raiva — falei alto. — Eu sinto raiva dos meus pais por tudo o que
eles fizeram comigo. Raiva da minha mãe por não ter me defendido e mais
raiva ainda do meu pai por ter sido tão ruim para mim, por ter marcado meu
corpo e me deixado lembranças que eu nunca vou conseguir esquecer.
Só percebi que estava de pé, chorando e gritando quando fiquei sem
fôlego. Meu peito subia e descia tão depressa que me causou um pouco de
falta de ar.
Carla, calmamente, se levantou e caminhou até mim.
— Preciso que faça o que eu pedir agora, tudo bem, Henrique? —
Apenas acenei com a cabeça. — Inspire durante cinco segundos, prenda o
ar por três e expire em seis segundos. Você entende o que eu acabei de
falar? — Mais um aceno de cabeça. — Então vamos fazer juntos.
E durante os próximos minutos eu fiz exatamente o que ela pediu.
Puxei o ar.
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco
O prendi, estufando o peito.
Um.
Dois.
Três.
E o soltei.
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Repeti o exercício até sentir meu coração voltar a bater normalmente
e meus pulmões trabalharem em um ritmo que eu não me sentia mais
sufocado.
— Agora, peço que você se sente, por favor.
Voltei a me sentar, passando as mãos no rosto.
— O que você acabou de ter foi uma crise de ansiedade, Henrique.
Você já teve al gum episódio assim alguma vez?
— Apenas quando era criança e alguns dias atrás, depois de um
pesadelo com meus pais — respondi com sinceridade, vendo-a voltar a se
sentar na poltrona cor creme e pegando entre as mãos seu caderno e caneta.
— Consegue me dizer o que provocou o episódio de dias atrás?
— Beatrice ficou duas semanas fora e… eu fiquei com… saudade. —
Senti minhas bochechas esquentarem com a confissão.
— Supor que essa mulher é mais do que uma amiga, seria algo
absurdo?
Acabei soltando uma risada.
— Não. Bea e eu temos algo a mais do que uma amizade comum.
— E pelo seu sorriso, posso ver que ela te faz bem.
— Sim. Ela é incrível e me faz sentir que sou amado. Ela me aceita
do jeito que eu sou e ainda que ela tenha conhecido a parte escura e suja do
meu passado, não fugiu. Beatrice ficou e cuidou de mim.
— Consegue perceber que o fato de ela ter viajado e ficado fora por
duas semanas — Sinalizou com os dedos. — foi um gatilho para que parte
do seu passado tenha vindo à tona?
Pensei por um momento e realmente aquilo fazia sentido.
— E que esse episódio te trouxe aqui.
Franzi o cenho.
— O que a senhora está querendo dizer? Que foi bom eu ter tido um
pesadelo do meu pai me espancando?
— O que eu estou te mostrando, Henrique, é que a gente só consegue
tratar os traumas que sofremos, quando o conhecemos e para que isso
aconteça, a gente precisa parar de fugir deles. Você só está aqui hoje porque
essa mulher presenciou algo que nenhuma outra pessoa viu, além dos seus
tios e prima. Através dela, você está aqui buscando compreender tudo o que
passou, em busca de ter qualidade de vida. E esse caminho não é fácil e
nunca será, porque você terá que enfrentar os seus demônios para poder
conhecer os seus limites. Se autoconhecer é exatamente isso.
Realmente, tudo o que ela falou, fazia sentido.
— Entendo.
— Quando lhe pedi para definir em apenas um sentimento a forma
como você se sentia em relação aos seus pais, você não conseguiu de
imediato falar, ainda que soubesse exatamente qual emoção seria. Você não
conseguiu dizer que sentia e sente raiva, pois crescemos com a ideia de que
pais são seres sublimes e livres de qualquer defeito. Que, enquanto filhos,
devemos aceitar tudo o que vier deles pelo simples fato de terem nos gerado
e não é bem assim. Mãe e pai são seres humanos, de carne e osso, que
cometem erros, possuem falhas, defeitos e sentimentos. Compreende o que
eu estou falando?
— Sim.
Eu realmente estava entendendo o que ela estava me mostrando.
— Qualquer relação é uma via de mão dupla, seja ela de sangue ou
não. Um filho não nasce amando o seu pai apenas pelo fato de ele ser seu
pai. Amor vem através de ações, de respeito. O amor é escolha, é construído
e requer esforço, trabalho e dedicação. Ao invés de conversas, disciplina e
empatia, muitos pais acreditam que educar os filhos com intimidação seja
eficiente. Respeito se adquire por meio de exemplo e infelizmente você não
teve isso.
— Então eu tenho que… odiar os meus pais?
— Não, não estou dizendo isso. Estou te dizendo que você não tem
que se sentir culpado por sentir raiva deles. Sentimentos são reações a tudo
o que recebemos à nossa volta e são espontâneos de acordo com nossas
personalidades.
— Não podem ser controlados — concluí e ela acenou.
— Exatamente, e a chave para se viver bem consigo e em sociedade,
é o que fazemos com aquilo que sentimos. Você sofreu maus-tratos, foi a
vítima e não teve culpa alguma por tudo o que lhe fizeram. É natural que
sinta raiva, mas o ponto que vamos trabalhar na terapia, é o que você
decidirá fazer com esse sentimento e para isso, você precisa se conhecer e
saber os seus limites.
— Preciso contar para… meus amigos?
— Isso também é algo que você irá decidir. O caminho é longo,
porém se estiver disposto a tentar e dar uma chance a você mesmo, poderá
alcançar resultados incríveis. Está disposto a isso?
Com a imagem de um Henrique de sete anos na minha mente,
sorrindo e fazendo um sinal de positivo com uma mão, enquanto a outra
segura o habitual dicionário que sempre costumava levar para todos os
lados, respondi: — Sim, estou disposto.
— Sim, Simone? — disse ao atender o ramal que compartilhava
com a minha secretária.
— Senhor, Beatrice Fontana está aqui e deseja vê-lo — informou.
Imediatamente, afastei meus olhos dos documentos que analisava e
me coloquei de pé.
— Pode deixá-la entrar, Simone — falei, tentando controlar a euforia
em meu tom.
— Como desejar, senhor.
Assim que a ligação foi encerrada, dei a volta na mesa e caminhei em
direção à porta, que não demorou para ser aberta pela mulher mais linda
que meus olhos já viram.
— Sua secretária é engraçada. Ela disse que meus chakras precisam
de um alinhamento urgente — Beatrice disse, rindo, mas seu sorriso se
desfez quando segurei seu rosto e a empurrei para trás com cuidado,
fazendo a porta se fechar atrás dela.
— Caralho, porque você tem que ser tão linda, porra? — exclamei
antes de enfiar minha língua na sua boca, gemendo quando a sua me
lambeu sensualmente.
Bea jogou os braços por sobre meus ombros e seus dedos se
infiltraram em meus cabelos, ditando o ritmo do beijo.
Minhas mãos desceram pelas laterais do seu corpo até a parte de trás
dos seus joelhos e me abaixei o suficiente para tirá-la do chão, que logo
circulou minha cintura com suas pernas.
Caminhei com ela até a minha mesa, sem interromper o beijo. A
coloquei sobre a madeira clara, posicionando meu quadril entre as suas
coxas de mono que meu pau roçasse sua boceta.
— O que está fazendo aqui? — perguntei quando separei nossas
bocas.
— Quer que eu vá embora? — indagou, fazendo beicinho e cruzando
os braços.
— Não, claro que não — me apressei a dizer.
Os lábios da diaba se puxaram para o lado, em seu famoso sorrisinho
de demônia que me enlouquecia.
— Porra, você esta fingindo, não está?
— Estou. — Deu de ombros.
— Nunca vai parar de fazer isso, não é? — Alcei uma sobrancelha.
— Não. Gosto da carinha que você faz. — Ela tocou a ponta do meu
nariz com o dedo indicador.
Trinquei os dentes e levei minha mão direita até seu pescoço,
apertando-o do jeito que ela gostava.
— E eu gosto da carinha de putinha que você faz quando está levando
surra de pau nessa boceta. — Com a mão livre, apertei seu sexo junto a
calcinha fina de renda.
Ela gemeu e segurou meu pulso.
— Teremos a noite toda para treparmos — declarou, me empurrando
para longe, apenas o suficiente para conseguir analisar meu rosto. — Mas
agora, quero saber como foi com a psicóloga. — Cruzou os braços e as
pernas, para o meu azar.
— Não podemos trepar e depois conversar sobre a terapia?
— Não! Primeiro a conversa, depois vamos ao mercado e só então,
trepamos — recitou.
Rolei os olhos.
— Eu disse para você que odeio ir ao mercado — resmunguei.
— Mas eu lembro muito bem de você, Sr. Prado, gritando aos quatro
cantos do seu apartamento que adoraria ir ao mercado comigo, depois de
mamar em meus peitos.
— Você usou seus piercings contra mim para me fazer concordar com
isso e com a terapia — acusei.
— Só usei as armas que eu tenho.
— É. Eles são o meu ponto fraco — declarei, olhando para eles, que
estavam cobertos por uma blusa de seda branca com botões.
Beatrice bateu palma.
— Foco! — pediu e eu subi meu olhar até o seu. — Diga-me, como
foi com a psicóloga?
Soltei um suspiro.
— No início, foi…. difícil falar sobre algo tão perturbador com
alguém que eu não conheço, mas…
— Mas…?
— Mas eu tenho um encontro com Carla toda semana às quartas-
feiras depois do almoço.
O sorriso que ela me lançou, fez meu coração errar uma, duas, três
batidas.
— E como você está se sentindo?
— Estranhamente bem.
— E vai continuar se sentindo assim. — Desceu da mesa e caminhou
até mim, segurando o meu rosto entre as mãos ao passo que eu abraçava sua
cintura. — Você não está sozinho.
Suspirei.
— Obrigado.
— E eu vou garantir que ninguém te machuque mais. Ninguém!
Entendeu? — Acenei, encarando as íris verdes que tanto me perturbavam.
— Eles entraram em contato com você? — quis saber e notei seus ombros
ficando tensos.
— Não — respondi simplesmente.
— Ainda vai continuar ajudando?
— É… difícil dizer agora. Pela primeira vez, em anos, eu estou
cogitando tirá-los da minha vida e isso é novo, essa sensação de que eu não
tenho a obrigação de ajudá-los apenas pelo fato de que me colocaram no
mundo. Sei que parece óbvio demais, é só que… ainda estou absorvendo.
Beatrice sorriu compreensiva, depositando um beijo em meus lábios.
— No seu tempo, mas quero que saiba que estou orgulhosa de você e
vou continuar do seu lado a cada passo a partir de agora. Não precisa mais
lutar sozinho.
Meu coração errou batidas?
Não, ele já estava batendo descompassadamente dentro do peito.
Por ela. Pela diaba. Pela italiana. Por Beatrice Fontana.
— Você vai lutar comigo?
— Vou! Sou faixa-preta! — Ergueu o queixo e eu ri. — Não ria —
ralhou. — Ou eu aumento os itens da lista do mercado! O que não seria má
ideia levando em consideração o quanto a sua despensa é deprimente para
alguém com uma conta bancária como a sua, caro mio.
— Não sou bom na cozinha.
— Isso está mais do que claro e é por isso que você tem a mim agora.
— Eu tenho? — provoquei e fui surpreendido pelo rubor das suas
bochechas. — Você está corada de… vergonha? — perguntei incrédulo.
— Cala a boca! — Ela deu um tapa em meu ombro e fez menção de
se afastar. Não a deixei, puxando-a pela cintura.
— Eu fiz Beatrice Fontana, a diaba italiana, corar de vergonha? —
falei impressionado.
— Se você contar isso para alguém, eu faço greve de boceta! —
declarou.
Reprimi a vontade de rir.
— Então, você admite que corou porque ficou com vergonha?
— Não digo nem sob tortura! — resmungou.
— Nem se eu proibir você de gozar?
Ela riu.
— Eu faço o que eu quero. Você sabe, mas é divertido te ver tentando
ter algum controle sobre o meu prazer.
Desci minhas mãos até sua bunda e a apertei, colando nossos corpos.
— Diaba desgraçada do caralho! — declarei entre dentes, dando-lhe
um tapa.
Ela arfou e mordeu o lábio inferior, me olhando daquele jeito que
meu pau adorava.
— Quanto mais cedo irmos ao mercado, Sr. Prado — disse enquanto
seus dedos acariciavam minha barba —, mais cedo chegamos em casa, mais
cedo eu faço o jantar e mais cedo você poderá comer a sua putinha. A
propósito, fique com os óculos. — Apontou para o meu rosto. — Quero
sentar no seu pau olhando para você com eles.
— Gostou de me ver com eles?
— Sim. Você fica um gostoso desgraçado do caralho!
Seu comentário nos fez rir.
— Agora. — Empinou o seu quadril para trás, fazendo menção de se
afastar. Dessa vez, deixei. — Vamos fazer as compras. O que você deseja
para o jantar?
Senti meus olhos arderem com a simples pergunta que ela me fez, tão
cheia de significados para mim, para alguém que passou pelo o que eu
passei. Bea percebeu e sorriu, acariciando minha bochecha.
— Posso escolher?
Seu sorriso se expandiu.
— Pode. O que você quiser, eu faço!
Pensei por um momento.
— Gosto da lasanha que oferecem no restaurante da sede do La
Fontana. Sempre que vou almoçar com Dante e Matteo, a peço.
— Tutto bene. Aquela receita é tradição da família, eu dei apenas um
toque especial ao molho com um ingrediente secreto.
— Qual ingrediente secreto?
— Para ter a resposta precisa me fazer gozar quatro vezes hoje, Sr.
Prado.
Pisquei para ela. Novamente, ela corou e meu coração se expandiu ao
saber que tenho esse poder sobre ela.
Foi a minha vez de tocar suas bochechas.
— Minha nova cor favorita — murmurei.
Bea torceu o nariz, sem graça, o que fez o tom em sua pele se
intensificar. Ela forçou uma tosse antes de falar e eu não conseguia tirar o
sorriso bobo do rosto.
— E de sobremesa?
— Quero comer o seu cuzinho, amor.
Se eu pegasse meu celular do bolso e tirasse uma foto dela agora,
Beatrice me mataria, certo? Certo!
Mas, caralho, a mulher que tem dominado meus pensamentos desde o
momento que a vi, a mulher que nunca abaixou a guarda, que sempre
rebateu a todas as minhas palavras, está diante de mim com o rosto inteiro
na cor de um tomate, porque eu acabei de falar que queria meter o meu pau
em seu cu.
Porra, o dia de hoje entrou para a lista dos melhores dias da minha
vida!
— Henri-Henrique.
Ok, ela gaguejou por minha causa! Por minha causa.
Por.
Minha.
Causa.
Definitivamente, hoje era o melhor dia da minha vida.
Depositei um beijo em seus lábios entreabertos e sorri, segurando em
sua cintura antes de virá-la em um movimento rápido. Beatrice soltou um
grito e arfou quando esfreguei meu pau duro contra sua bunda.
— Me deixa meter nesse cuzinho, deixa, vagabunda? Não paro de
pensar na minha porra escorrendo entre esse seu rabo — sussurrei,
mordendo o local abaixo de sua orelha.
— Deixo — murmurou, descansando a cabeça em meu ombro e
virando o rosto para me olhar. — Eu deixo você enfiar esse… hum… —
Empinou o quadril de encontro a minha pélvis e prendeu o lábio inferior
entre os dentes — Enfiar esse cacete gostoso no meu cu e enchê-lo de
porra.
— Caralho, eu vou te deixar assada — bradei, passando minha língua
em seu queixo.
— Não tenho dúvidas quanto a isso. — Piscou. — Mas agora, caro
mio, a única coisa que ficará assada esta noite, além da lasanha, é a minha
boceta — sorriu endemoniadamente, empurrando a bunda contra mim e
saindo do meu aperto.
Soltei uma risada. Uma risada de mim mesmo por acreditar que enfim
teria ganhado uma dela.
— Vamos! — Bateu as palmas antes de alisar sua saia preta, blusa e
cabelo. — Já passa das seis e mei da tarde, e temos uma lista de coisas para
comprar. E você — disse, apontando para mim —, trate de ficar menos
feliz. — Depois para o meu pau que estava marcado dentro da calça.
— Sem cuzinho hoje? — indaguei.
— Sem cuzinho, ragazzo!
Bufei e rolei os olhos, tratando de pensar em situações brochantes a
fim de deixar o meu pau triste conforme desligava meu computador e
organizava os papéis que estavam espalhados pela minha mesa.
Assim que terminei, peguei meu paletó da cadeira e o vesti, olhando
para a mulher que não parava quieta no meio da minha sala.
— Está tudo bem? — procurei saber
— Sim, eu só fico muito animada quando vou ao mercado!
Joguei a cabeça para trás, explodindo em uma gargalhada.
— Se rir de mim mais uma vez, vou te algemar na cama e te torturar
com a minha boceta! — ameaçou, apertando os olhos.
Tomei fôlego, procurando me acalmar.
— Tudo bem. — Dei a volta na mesa indo até ela — Vamos?
Assentiu e caminhamos lado a lado para fora do cômodo, dando de
cara com a minha secretária que estava sorrindo de orelha a orelha
segurando alguns…
— Isso são incensos? — perguntei.
— Sim, senhor. São da coleção que o meu guia espiritual me deu
depois de um retiro que fiz há alguns meses. Separei alguns para vocês. —
Esticou os braços.
Olhei de lado para Beatrice que sorriu para a senhora, pegando os
incensos das suas mãos.
— Posso perguntar para que eles servem?
— Acalmar os chakras. Se me permite dizer — começou, se
aproximando e falando baixo como se fosse nos contar um segredo —, os
de vocês dois estão muito agitados, feito brasa no inferno.
Assim como Bea, me contive para não sorrir do comentário da
senhora, que parecia realmente preocupada com os nossos chakras.
— Agradecemos e pode ter certeza de que usaremos. É muito gentil
da sua parte, senhora.
Simone sorriu, parecendo orgulhosa da sua boa ação, despedindo-se e
indo em direção aos elevadores.
— Agora eu entendi o porquê Matteo adora ela — comentou,
guardando os incensos na bolsa que mantinha pendurado no ombro desde
que chegou.
— Você não está pensando em queimar isso, né?
— Claro que estou. Precisamos alinhar nossos chakras, caro mio.
Ri.
— Agora vamos, Sr. Prado. Temos uma despensa para encher! —
disse animada.
Enquanto ela recitava cada item da lista que havia feito à medida que
entramos no elevador e descemos até a garagem, a observei. Beatrice
gesticulava com as mãos e fazia feições engraçadas ao contar a diferença
entre as marcas de produtos que eu não fazia ideia que existiam.
Eu ria em resposta a tudo o que ela falava, como um bobo.
Eu estava completamente hipnotizado por ela, pela companhia dela.
E pensar que Bea desejava cuidar de mim, fazia meu peito ser tomado
por uma sensação nova, que jamais senti antes.
Era como se algo me alertasse que eu finalmente... estava em casa.
_______
CAPÍTULO 42
Henrique
— Eu fico tão feliz por você — Stella exclamou, levando uma mão
ao peito e a outra repousou em meu ombro, me olhando com carinho e
orgulho.
Estávamos no restaurante do hospital em que ela trabalha e aceitei o
seu convite para almoçar. Faz muito tempo que não passamos um tempo só
nós dois.
Desde que cheguei, há quinze minutos, tratei de contar tudo o que
ocorreu nas últimas semanas com riqueza de detalhes — já que a ruiva ama
fofocas, assim como Matteo —, omitindo apenas as partes de putaria entre
Beatrice e eu.
— É. Eu também me sinto mais… feliz — falei.
— A terapia e a diaba estão te fazendo muito bem. Olha só esse
rostinho — disse, apertando minhas bochechas. — Olha essa pele. Caralho!
Eu preciso foder mais.
— Argh, Stella! Eu estou comendo! — Torci o nariz e apontei para o
prato à minha frente antes de pegar o copo com suco.
— Deixa de frescura, porra! — soltou, forçando a voz para que
ficasse grossa ao dar um tapa em minha nuca, me fazendo derramar um
pouco da bebida sobre a mesa.
— Cacete! Olha o que você fez. Pare de andar com o maluco do
Matteo, hein — ralhei, pegando alguns lenços de papel para limpar a sujeira
que minha prima provocou.
— Eu gosto daquele doido — comentou, sorrindo. — Minha galeria
do celular vive cheia de vídeos engraçados com pessoas caindo.
Franzi o cenho.
— O quê?
Balancei a cabeça.
— Nada — respondi no exato momento em que seu celular tocou.
— Atrapalho? — a voz de tio Maurício soou após minha prima tocar
na tela do aparelho, deixando-o apoiado no seu copo já vazio. Acenei ao ver
os rostos dos meus tios pela chamada de vídeo.
— Claro que não, pai. Ainda tenho — ela checou o relógio em seu
pulso — dez minutos de almoço.
— Oi, crianças — tia Leila saudou sorridente.
— Oi, mãe.
— Oi,tia.
— Como vocês estão?
— Eu estou bem — declarei.
— E apaixonado — a ruiva acrescentou.
— Você está apaixonado, Henrique Prado? — sua mãe gritou e olhei
em volta para me certificar de que ninguém ouviu.
Bufei.
— Não estou apaixonado, tia!
— Está sim, porém é lerdo demais pra enxergar que está de quatro
pela diaba.
— Stella! — falei, arregalando os olhos para ela, que possuía uma
expressão cínica.
— Santo Deus! Você está apaixonado por uma… diaba? — tia Leila
indagou de olhos arregalados.
— Uma diaba italiana e cozinheira, mãe.
— Pelo menos, ela sabe cozinhar e assim Henrique não irá passar
fome — meu tio declarou.
— Maurício! — a esposa exclamou, o encarando de cara amarrada,
dando-lhe um tapa no ombro.
— O quê? É verdade. Nosso menino não sabe cozinhar, amor.
— Esquece a comida e foca no fato da mulher que ele ama ser uma
diaba. Uma diaba, Maurício! Precisamos ligar para o padre Guedes,
imediatamente.
— Tia, eu não estou apaixonado por um demônio. — Acho. — É só o
apelido que eu dei a ela. — expliquei, vendo seu rosto suavizar através da
tela.
— Então você está apaixonado por uma mulher? Uma mulher
normal? — quis saber.
— Beatrice Fontana é tudo menos normal. — Stella soltou, rindo sem
se importar com o meu olhar assassino sobre ela.
— Você e a irmã dos seus amigos? — tio Maurício questionou.
— Essa mesma, pai. E a melhor parte é que Dante e Matteo não
sabem que têm um cunhado.
Revirei os olhos.
— Para de inventar coisas, Stella! — pedi.
— Vai dizer que estou mentindo? — Cruzou os braços.
— Você está exagerando!
— Não estou exagerando!
— Está sim!
— Não. Eu não estou!
— Eles cresceram, mas ainda continuam brigando feito irmãos — a
voz da tia Leila nos fez virar o rosto para encarar a tela do celular, onde
meus tios estavam rindo sem parar. — Que saudade de vocês, crianças —
declarou emocionada.
— Também estamos com saudade, mãe. Muita. Não é, cadelinha? —
Stella deu um tapa de leve em meu ombro com um sorriso enorme no rosto.
Bufei para o apelido que ela usou.
— Sim, estamos.
— Se vocês aceitassem morar aqui na cidade, não existiria saudade
— a ruiva resmungou.
E eu concordava com ela.
Meus tios moravam em uma cidade no interior de São Paulo desde
que se casaram e ainda que o plano inicial depois que ambos se
aposentaram da carreira de professores era de virem morar perto de nós,
eles ainda relutam quanto a essa ideia. Odiavam a movimentação da cidade
grande e o quanto Stella e eu nos tornamos conhecidos por nossas
profissões.
Leila e Maurício, apesar de amarem o tradicional caos familiar — no
bom sentido —, sempre preferiram lugares mais tranquilos e com menos
pessoas possíveis.
— Calma! Ainda estamos nos planejando — meu tio disse.
— Já falamos que não precisam se preocupar com despesas, pai.
Henrique e eu ganhamos muito bem. Sabem disso.
— Mas não queremos abusar, crianças. Já basta o fato de vocês
insistirem em comprar essa casa toda chique para nós e ainda mandarem
dinheiro. Leila e eu estamos bem e logo, logo, estaremos aí com vocês.
Stella e eu nos entreolhamos, pois sabíamos que era mais uma das
muitas vezes em que ambos estavam tentando ganhar tempo com promessas
que pra eles nos deixariam mais felizes.
Eu os amava, como eu os amava.
Mesmo com todas as dificuldades que tiveram e ainda tinham,
aceitaram criar um menino cheio de feridas, com amor e carinho.
Tudo o que hoje sou e me tornei, devia a eles.
Assim como eu, Stella soltou um suspiro e anuímos com um sorriso
carinhoso nos lábios.
— Mas nos conte sobre minha nora — minha tia pediu animada. —
Nem acredito que temos uma nora, Maurício!
— Vocês não tem uma nora…
— Ainda — minha prima cantarolou ao meu lado.
— Só estamos nos conhecendo. Ela me faz bem. Eu estou… bem.
— Viram como ele está apaixonado? Pessoas apaixonadas falam
coisas desconexas. Henrique Prado está um verdadeiro cadelinha.
— Você precisa parar de andar com o Matteo pelo bem da minha
pouca paciência — pedi, apertando o topo do nariz. Ela riu e parou
subitamente como se lembrasse de algo, ficando séria ao olhar para mim.
Na mesma hora eu entendi o que ela estava tentando fazer.
Suspirei audivelmente desta vez.
— Preciso contar algo a vocês.
Meus tios me olharam e senti a mão de Stella em meu ombro, que não
saiu dali nem por um segundo conforme eu contava tudo que tinha
acontecido nas últimas semanas, desde a aparição repentina dos meus pais
até a minha ida à terapia por incentivo de Beatrice.
Não foi fácil ver a expressão de tristeza no rosto do meu tio, era
difícil saber que o irmão foi capaz de tantas coisas terríveis contra o próprio
filho.
Assim que terminei, ambos estavam emocionados e não paravam de
repetir o quanto estavam orgulhosos de mim. Era bom, finalmente
conseguir falar de algo tão delicado sobre o meu passado, sem sentir…
raiva.
Ao final da ligação, foi impossível não me emocionar ao ver as
expressões felizes em seus rostos, que logo foram substituídas por um
sorriso malicioso quando tia Leila declarou que esperava conhecer a mulher
que roubou meu coração.
— Preciso ir. Tenho uma cirurgia marcada para daqui a quarenta
minutos. — Stella anunciou checando o relógio em seu pulso.
— Tudo bem. Vamos!
Nos levantamos e rumamos para fora do restaurante. Quando
estávamos passando pela porta, meu celular apitou no bolso.
— Mas nem fodendo! — falei ao ver a mensagem de Matteo.
— O que foi? — minha prima perguntou curiosa.
— Matteo quer que o encontro dos caras seja hoje lá em casa —
respondi.
— Qual o mal disso?
— O mal disso é que a irmã dele disse que tem uma surpresa para
mim esta noite e pelo que conheço da diaba, envolve safadeza — contei.
— Vocês parecem dois coelhos!
— Você está com inveja — brinquei.
— Não vou mentir, não. Estou. E falando em safadezas, Kyara enviou
uma foto dela com o irmão no grupo das meninas e puta que pariu, que
italiano gostoso do caralho! Preciso ser apresentada a esse Enrico.
— Acho que estou com indigestão — disse tocando a barriga e
fazendo cara de nojo.
— Qual é! — Bateu em meu ombro. — Estou na seca e sempre quis
saber como é beijar um italiano. Se eles tem mesmo um fogo insaciável.
Preciso arranjar um pau gringo para entrar em…
— Ok, Stella! Ok, Stella! Eu sei que você possui… necessidades, mas
sem detalhes. Por favor. Sem detalhes! — pedi tapando os ouvidos.
Ela riu, chamando a atenção de alguns funcionários que estavam por
perto.
— Eu te amo, primo — falou, jogando os braços por meus ombros.
Devolvi o abraço e a declaração.
— Também te amo, sua maluca!
— Maluca, mas inteligente e linda pra porra! — Piscou um olho ao
se afastar. — Bem, preciso ir. — Checou mais uma vez o relógio.
Nos despedimos e me dirigi ao estacionamento.
Durante todo o trajeto de volta à empresa e o restante da tarde, não
consegui me concentrar em mais nada, a não ser nas muitas ideias que
passavam pela minha cabeça sobre o que eu queria fazer com o corpo de
Beatrice Fontana.
Às sete da noite em ponto, entrei em meu apartamento, sem me
preocupar em fechar a porta na chave, querendo desesperadamente ver
Beatrice. Não a vi na sala e nem na cozinha onde pensei que ela estaria
como de costume.
Tirei meu paletó e o joguei em cima do sofá para, em seguida,
caminhar até o quarto. Entrei no cômodo que estava iluminado apenas pelos
dois abajures que haviam ao lado da cama.
— Bea? — chamei por ela.
Notei uma das cadeiras, que ficava na sacada, em frente à cama, mas
não entendia o que estava fazendo aqui.
— Tira a roupa — sua voz soou sexy atrás de mim.
Virei e a vi.
Ela estava com sombra preta nos olhos, um batom vermelho muito
sexy em seus lábios, um sobretudo também preto cobrindo seu corpo e em
seus pés, saltos de tiras da mesma cor.
— O que você... — tentei falar, porém fui interrompido.
— Agora! — sua voz saiu firme.
Obedeci completamente rendido a ela, que caminhava até mim e só
agora, percebi que tinha uma algema com pelúcia preta em suas mãos.
Movida pela animação em vê-la, fiz o que ordenou, começando pela
gravata, em seguida, a camisa social, para enfim tirar meus sapatos e meia,
e minha calça junto a cueca. Me despi sem tirar os olhos dela, que me
lançou um olhar intenso. Depois que já estava completamente nu, joguei
minhas roupas de lado.
Beatrice caminhou até mim e ao se aproximar, passou os dedos pelo
meu peito, por um segundo, me provocando um arrepio. Arfei e sua língua
invadiu a minha, nossas bocas dançaram em um ritmo intenso, quase
violento.
— Sente-se na cama e não se mexa — ordenou ao se afastar.
Assenti, sentindo cada célula em meu corpo tremer em expectativa.
Quando encostei minhas costas na cabeceira, notei as algemas nas suas
mão, assim que ela veio para perto.
— O que você vai fazer? — perguntei.
— Não é óbvio? — sorriu ladino, ao segurar meu pulso direito para o
alto, me algemando no ferro da cabeceira, não demorando para fazer o
mesmo com o outro.
Não protestei, muito menos impedi.
Deixei-me ser levado pela onda de luxúria que pairava no quarto.
Eu estava excitado. Ansioso e completamente rendido por ela.
Assim que terminou, me encarou com os malditos olhos verdes de
demônia e disse com uma voz dominadora sexy pra caralho: — Hoje à
noite, faremos o que eu quiser. Apenas o que eu quiser, caro mio.
Senti meu pau endurecer ainda mais quando ela começou a abrir
calmamente o sobretudo, revelando uma fantasia erótica de couro em faixas
que passavam por seus seios e boceta, não cobrindo absolutamente nada do
seu corpo, deixando tudo à mostra, mas de uma forma fodidamente sexy.
— Gostosa! — disse, mordendo o lábio e olhando-a feito um animal.
— Quieto! — bradou, pegando uma caixa vermelha que só agora
notei estar em cima da mesinha de cabeceira, abrindo-a e tirando de dentro
um vibrador na cor azul.
Beatrice sentou-se na cadeira em frente à cama, colocando os pés na
beirada do colchão e ficando de pernas abertas para mim, da mesma forma
que ficou em nossa primeira transa.
— Gosta do que vê? — perguntou, passando os dedos pelas suas
coxas e virilha.
— Sim. Gosto pra caralho do que estou vendo — respondi ofegante.
— Então. — Ela ligou o aparelho, que possuía um som quase
inaudível. — Aprecie o show, Sr. Prado.
Em seguida, Bea logo enfiou o vibrador em sua boceta e pela
facilidade com que entrou, ela já estava molhada, muito molhada. Seu
corpo se remexia cada vez mais à medida que movimentava o objeto em um
entra e sai gostoso de observar, gemidos safados saíam de sua boca.
Comecei a entrar em desespero querendo tocá-la .
— Bea…
— Aaah... — a filha da puta gemeu alto, ignorando meu chamado.
— Caralho, Beatrice!
Ela sorriu, a desgraçada dos infernos sorriu, passando a língua nos
lábios e se divertindo com meu desespero.
Com a mão livre, Bea agarrou seu seio esquerdo, apertando forte o
lugar que eu amava tanto tocar. Seu mamilo ficou mais pontudo conforme
brincava com o piercing ali.
Ela então parou, retirando o vibrador de sua boceta que brilhava com
o líquido da sua lubrificação. Desligou o aparelho e se colocou de pé,
deixando o objeto azul na cadeira para se aproximar, engatinhando por cima
do meu corpo, esfregando seu sexo em minha pele, me lambuzando, me
marcando como seu.
— Você é meu — declarou, olhando em meus olhos. — E eu vou
gozar nessa boquinha. — Desferiu um tapa em meu rosto e caralho, meu
corpo tremeu, minhas bolas doeram e juro que quase gozei quando ela
sentou na minha cara. — Chupa minha boceta bem gostoso, Henrique,
como o putinho que eu sei que você é.
— Filha da p…
Fui interrompido quando ela pressionou seu clitóris bem em cima da
minha boca e não demorei para abrir e fechar em volta do seu montinho de
nervos, chupando com força.
Ela gritou, tombando a cabeça para trás.
E eu sorri, aumentando ainda mais a pressão.
Beatrice passou a rebolar na minha cara como se estivesse rebolando
em meu colo. Sua mão esquerda segurou na cabeceira e a direita apertou
meu cabelo controlando o ritmo.
— Isso safado... assim. Me fode com essa boquinha gostosa do
caralho. — Aceitei o comando da diaba, tornando-me um verdadeiro
animal.
Chupei e mordi usando todo o meu rosto em sua boceta, deixando-a
cada vez mais perto do ápice.
Intensifiquei ainda mais os movimentos e senti seu líquido em minha
língua quando ela gozou falando chamando meu nome. Tomei tudo, não
deixando escapar uma só gota.
Seu corpo deu alguns espasmos até que ela começou a se acalmar,
soltando um longo suspiro de satisfação antes de dizer: — Perfeito! — E
saiu de cima de mim.
Minhas bolas doíam e eu estávamos prestes a explodir a qualquer
momento se ela continuasse me torturando. Sou um homem que amava
dominar e sabia os meus limites e conhecia muito bem meu corpo. Eu
gostava de dar prazer assim como amava receber, e jamais deixei minhas
parceiras na mão. Porém, não sabia se era o fato de estar imobilizado ou se
simplesmente por ser ela, mas estava cada vez mais perto de gozar.
Caralho, eu ia mesmo gozar sem nem ao menos receber um toque no pau?
Eu nunca fui dominado por nenhuma mulher na cama, não desse jeito,
contudo se ela quisesse me dominar mais vezes, eu não reclamaria e
aceitaria de muito bom grado.
Beatrice saiu da cama e tirou um pequeno chicote da caixa que havia
em cima da cabeceira, seus olhos brilharam quando ela sem aviso, bateu
com as tiras de couro contra a pele da minha coxa. Me remexi surpreso.
— Se assustou, foi? — questionou, fazendo bico e me batendo de
novo, dessa vez, na outra coxa.
— Caralho! — bradei tentando me livrar das algemas, inutilmente.
— Me solta, Beatrice! — pedi baixo, procurando me acalmar, no exato
instante em que as vozes das últimas pessoas que eu gostaria de ouvir nesse
momento, chegaram em meus ouvidos.
— Chegamos, B2!
— E trouxemos comida!
— Muita comida, fratello!
— O que eles fazem aqui? — murmurei, sentindo meu corpo começar
a suar frio.
Olhei para Beatrice que estava calma demais para quem acabou de
ouvir a voz do irmão em um momento constrangedor.
— Porque você está sorrindo? Me solta agora, Beatrice! Anda! —
pedi aos sussurros, temendo que meus amigos pudessem nos ouvir.
Com seu famoso sorrisinho endemoniado nos lábios, Beatrice
Fontana caminhou até a porta do quarto, que ainda estava aberta, fechando-
a. Ela então se virou para mim, rodando o chicote no ar enquanto a outra
mão descansava em sua cintura.
Quando falou, meus olhos se abriram em um completo choque, que os
senti doer.
— Agora que a brincadeira vai começar, Henrique.
— Beatrice…
— Lembra como foi gostoso quando fodemos no corredor do
instituto? — indagou, caminhando lentamente em minha direção, rodando o
chicote no ar. — Lembra como a adrenalina só deixou tudo ainda mais
excitante?
— B2! — Matteo gritou e meu corpo inteiro gelou.
— O que eles estão fazendo aqui, porra? — murmurei e não esperava
por nenhuma resposta, mas ela veio.
— Talvez eu tenha…
— O que você fez? — perguntei com os olhos e maxilar cerrados.
— Talvez eu tenha ligado para Matteo dizendo que você me pediu
para avisar que a reunião dos homens seria aqui, no seu apartamento. Acho
que eles te mandaram mensagem avisando, não? — sorriu maliciosamente,
fazendo beicinho e dando de ombros.
— Merda! Você fez de propósito. Porra, Beatrice! Se eles descobrem
que você está aqui e vestida desse jeito, estamos fodidos! Entende isso? —
Tentei me livrar das malditas algemas, mas foi inútil. Cada vez que eu
puxava meus braços, o metal se fechava ainda mais em torno do pulso.
Merda!
— Entendo e isso só me excita ainda mais, Sr. Prado.
Sorrindo, a filha da mãe fez as fitas do chicote cortarem o ar e se
chocarem contra a pele da minha coxa direita. Reprimi a vontade de gritar
pela ardência do choque.
— Caralho!
— Doeu, bebê? — Fez beicinho.
— Se você não me soltar agora…
— Vai fazer o quê, B2 Bombadão? — sorrindo cinicamente, me
desafiou.
Olhei para o alto, vendo a pele em volta dos meus pulsos vermelha.
Tentei me soltar mais uma vez e bufei, voltando a olhá-la.
— Quando você me soltar, eu vou te pegar e você vai se arrepender,
sua diaba!
— Uma ameaça, senhor advogado?
— Um aviso.
— E quem disse que eu vou te soltar? — Arqueou uma sobrancelha.
— Eu poderia te deixar assim pelo restante da noite, ou melhor, abrir a
porta e deixar que seus amigos lhe vejam assim. Do jeito que Matteo é,
zombaria de você por anos.
— Não se atreva!
— Você sabe que eu amo me atrever! — Piscou um olho para em
seguida, bater com o chicote em meu peito que logo ficou marcado pelas
tiras de couro. — Mas não vou desperdiçar a oportunidade de ter tudo isso
dentro de mim. — Apontou para o meu pau.
— Henrique! — a voz de Dante me fez arregalar os olhos.
— Beatrice…
— Cala a boca! — Outra chicotada e eu contraí o abdômen pela
surpresa.
— Porra!
Ela engatinhou por cima de mim, voltando a se sentar de pernas
abertas sobre meu quadril. Segurou meu pau com sua mão livre e o passou
por toda sua carne vermelha e muito molhada, me fazendo soltar um
gemido espremido entre os lábios.
— Sente como eu estou meladinha e pingando por você, caro mio?
Quer mesmo desperdiçar a minha porra? Hum?
— Filha da puta!
Bea então colocou a ponta do meu membro em sua entrada e desceu
lentamente por todo o comprimento. Senti suas paredes mastigando meu
pau. Ela começou pela cabeça, depois escorregou mais um pouco e voltou a
apertá-lo. Repetiu o movimento mais quatro vezes, me causando uma
sensação fodidamente gostosa.
Nossos olhares não se desviaram nem por um segundo, como se
estivéssemos hipnotizados com a sensação crua e maravilhosa de nossos
sexos se encontrando. Meu corpo tremeu debaixo do seu. Quando ela já me
tinha todo enterrado dentro de si, não resisti e mexi o quadril, alucinado
com o quanto a sua boceta estava quente e ensopada.
— Onde você está, caralho? — Matteo gritou.
— Eu não acredito que você está fazendo isso. Eu não acredito que…
Não consegui terminar a frase porque a mulher sobre mim, apoiou as
mãos em meu peito, uma delas ainda segurando o chicote e iniciou um sobe
e desce torturante, me apertando cada vez que me engolia.
Já fiz sexo sem proteção, mas foi apenas na adolescência por volta
dos meus dezoito anos e algumas poucas vezes com a minha ex. Mas
sempre procurava usar camisinha e fazia exames regularmente,
principalmente depois do que aconteceu com Verônica.
No entanto, nenhuma mulher chegava aos pés de Beatrice Fontana.
Ela era a mulher mais foda que eu já conheci, na cama e fora dela.
E estava criando raízes em mim.
— Caralho, Bea! Tira essa algema! Preciso… aah…
— Precisa de quê, amore mio?
— Preciso tocar em você.
— Não!
— Por favor!
— Hum, o meu putinho vai implorar? — provocou sem parar de se
mover em cima de mim, deslizando uma mão até meu pescoço. — Implora!
— ordenou, roubando um pouco de ar quando seus dedos se fecharam em
volta da minha garganta.
— Beatrice…
Batidas impacientes soaram na porta do quarto no exato momento em
que a diaba passou a sentar em mim com mais velocidade, me levando à
loucura.
— Gostosa! — gemi baixinho.
— Isso! Geme baixinho como um putinho obediente — sorrindo feito
o capeta, ela jogou o chicote de lado e desferiu um tapa em meu rosto,
rebolando com ainda mais afinco.
— Você está aí, Henrique? — seu irmão gritou. — Henrique? —
Mais batidas na porta e mais sentadas em meu colo.
Não percebi que havia fechado os olhos até que senti Bea colocando
seus seios sobre o meu peito e sussurrou em meu ouvido.
— Responda mio fratello!
— O quê?
— Responde, caralho!
— Eu preciso tocar em você.
— Se você responder a ele, eu te solto — ofertou e eu acenei,
engolindo com dificuldade o gemido alto que ameaçou sair pela minha
garganta.
— O-oi, Matteo!
— Por que não respondeu? — meu amigo quis saber e eu revirei os
olhos quando a boceta da irmã dele me apertou.
— Porra! — sussurrei e a desgraçada riu. — Eu estava no… banho!
— Sua porta estava aberta, cara — a voz de Miguel chegou aos meus
ouvidos.
— Eu… eu quem deixei.
— Onde está o Henrique? — Dante perguntou.
Porra, eu estava suando pra caralho!
Olhei para Beatrice, que possuía uma expressão divertida e safada.
— Eu vou te matar! — falei determinado a dar o troco.
— Promete que de prazer? — perguntou, voltando a ficar ereta
rebolando feito a puta gostosa que ela era.
— Meu Deus! — gritei sem conseguir evitar.
— Você está bem? — Matteo perguntou.
— Estou! Eu só… — Mordi o lábio inferior. — Eu… já estou indo!
Só vou me… vestir! — A última palavra saiu mais aguda do que planejei.
— Vem logo, porra. Se não, a pizza vai esfriar! — o boca suja
impaciente disse.
— Taaaaaa… aah! — outro grito fino.
— Você está bem mesmo, Henrique? — Dante questionou.
— Me desculpe se eu estou sendo inconveniente, mas você está…
acompanhado? — Miguel, persuasivo como sempre, procurou saber.
— Não! Só estou… estou em uma ligação!
Contei de um até três, torcendo para que eles se afastassem do caralho
da porta. Eu estava perto, porra, muito perto e pela forma como a boca de
Beatrice estava aberta e seus olhos escuro, ela também.
— Tudo bem, cara. Te esperamos na cozinha — Dante falou e eu
nunca agradeci tanto aos céus.
Sem parar de se mover, Beatrice raspou com força suas unhas em
meu peito, me provocando uma ardência gostosa.
— Não se atreva a gozar! Vou te soltar agora — anunciou, esticando
um braço até a caixa aberta sobre a mesinha da cabeceira, tirando de lá um
par de chaves.
Quando ela abriu as malditas algemas, apertei sua cintura e
impulsionei meu corpo, fazendo suas costas se chocarem contra o colchão,
ficando por cima sem sair de dentro dela.
— É agora que eu pago, caro mio? — indagou em um tom petulante.
Não respondi, ao invés disso, fiquei de joelhos na cama e segurei sua
cintura com força, sem tirar meus olhos dos seus. Saí de sua boceta e entrei
em uma estocada firme e dura, indo fundo, fazendo seus seios balançarem.
Ela gemeu a ponto de revirar os olhos, completamente inebriada de
prazer.
Eu repeti o movimento mais uma, duas, três, quatro, cinco vezes,
admirando o quanto a desgraçada ficava magnífica levando surra de pau na
boceta, antes de aumentar o ritmo.
Cada vez mais rápido.
Cada vez mais preciso.
Cada vez mais fundo.
Cada vez mais forte.
Olhei para baixo e precisei me concentrar para não gozar ao ver a
imagem do meu cacete entrando e saindo todo melado de seu canal
alargado por minha grossura.
— Henrique…
— Como a minha putinha é barulhenta — falei desferindo um tapa
em seu rosto. Ela sorriu, soltando os sons que eu tanto amava ouvir,
contudo, precisava que Bea fosse mais silenciosa. — Fica quieta!
— Não tem… não tem como… Ai caralho de cacete gostoso…
Continua! Continua!
Coloquei minha mão em sua boca, calando-a como uma focinheira.
Minha ação pareceu tê-la deixado mais excitada, pois duas estocadas a mais
e Beatrice gozou, me levando logo em seguida, não deixando de diminuir o
ritmo em que eu socava meu pau em sua boceta.
Quando os espasmos diminuíram, cai sobre seu corpo, tocando meus
lábios nos seus e iniciando um beijo sensual. Ficamos assim por alguns
segundos e quando o ar nos faltou, nos afastamos.
— Foi… isso foi…
— É, eu sei — Bea disse ofegante.
Dei um chupão em cada mamilo seu, ouvindo-a arfar baixinho antes
de sair de sua boceta deliciosa.
— Você precisa sair daqui — falei.
— Eu pensei em tudo. — Piscou um olho, pondo-se de pé.
— Claro que pensou. Varanda, imagino?
— Imaginou certo. Me ajuda?
Assenti, vendo-a colocar o sobretudo de mais cedo. Abri a porta dupla
e a carreguei em meus braços, elevando seu corpo até que passasse pelo
parapeito que divide a sacada.
— Nos vemos depois? — perguntou quando tocou os pés no chão do
seu lado da varanda.
Segurei sua nuca e lhe dei um selinho possessivo nos lábios para em
seguida declarar: — Dormimos na sua casa hoje.
CAPÍTULO 43
Henrique
Depois de ajudar Bea, tratei de tomar um banho rápido e escolher
uma camiseta e calça de moletom. Vestido, caminhei com a maior cara de
pau até a sala, encontrando meus amigos sentados no sofá devorando as
pizzas que estavam sobre a mesinha de centro e me sentei na poltrona de
frente para eles.
— Você estava fazendo sexo por telefone, não é? — Matteo indagou,
fazendo Miguel e Dante rirem.
Não, meu amigo.
Eu estava fazendo sexo, um sexo bem real com a sua irmã.
— O quê?
— Você sabe, sexo por telefone. Você fala e ouve umas putarias e
goza. Todo mundo já fez isso pelo menos uma vez na vida e se não fez, vai
fazer.
— Eu não estava fazendo sexo por telefone.
— Então estava batendo uma?
— Cala a boca! — exclamei, jogando uma almofada nele, que a
pegou no ar com uma mão.
— É, ele estava batendo uma — concluiu risonho.
Revirei os olhos.
— Falando sobre as atividades do seu pau…
— Não vamos falar sobre o pau de ninguém, fratello — Dante se
antecipou em falar.
Miguel riu.
— Eu amo ser amigo de vocês — declarou de boca cheia.
— Como eu estava dizendo antes do Dantinho me interromper,
falando sobre as suas atividades sexuais — apontou para mim —, quando é
que vai nos apresentar a mulher por quem está apaixonado?
— Eu não estou apaixonado!
— Na noite de inauguração do instituto, Stella garantiu que você
estava.
— Na verdade, ela disse que ele estava no caminho para isso —
Miguel corrigiu.
— É a mesma coisa, “princeso”. — Rolou os olhos, rindo. — Vou te
fazer algumas perguntas e você me responderá de forma sincera, B2.
— Que perguntas, porra? — questionei cruzando os braços.
— Sobre os estágios.
— Não vou responder nada! — Afirmei.
— Você sabe que ele não vai desistir enquanto você não responder —
Dante falou.
Bufei, encarando um Matteo sorridente que segurava um bloquinho
de notas cor-de-rosa nas mãos.
— O que é isso? — Miguel perguntou apontando para o objeto
brilhante.
— Meu bloquinho de notas — respondeu simplesmente.
— “Fofocas do grupo. Estrelando os três estágios.” — Dante leu as
palavras que estavam na capa que pareciam terem sido pintadas a mão. —
Você tem um bloco de notas sobre nós?
— Sim! — respondeu com um sorriso no rosto.
— Porque você tem isso? — Seu irmão tentou pegar o pequeno
caderno, mas acabou levando um tapa na mão.
— Ninguém pode pegá-lo! Apenas o dono, que sou eu! — Apontou
para o próprio peito. — E eu tenho isso porque gosto de estar bem
informado. Mas vamos direto ao ponto. — Ele folheou algumas páginas e
parou em uma, tirando do bolso, uma caneta da mesma cor.
— Porque rosa? — procurei saber.
— Minha cor favorita.
— Pensei que sua cor favorita fosse verde — Dante falou.
— Era, agora não é mais e isso, não importa. Primeira pergunta.
Puxei a respiração.
— Manda.
— Já sentiu ciúmes dessa mulher?
— Já — falei, me lembrando do babaca cretino do Jakov.
Meu amigo fez algumas anotações.
— É, você está apaixonado — concluiu.
— Concluiu isso com apenas uma simples resposta? — Miguel
indagou.
— Seriam duas perguntas, mas como Henrique já negou estar
apaixonado, isso mostra que ele está em estado de negação.
— Às vezes, eu me pergunto como ele conseguiu se formar na
faculdade de Direito e com louvor — Dante disse.
— Você deveria estar me bajulando até agora depois do que eu fiz por
você, fratello.
— O que você fez? — quis saber curioso.
— Evitei que um vídeo íntimo dele e da “gnomio” se pegando no
elevador da empresa, vazasse. O vídeo foi deletado antes que alguém, além
do segurança, visse.
— Argh! Não quero saber disso — Miguel gemeu em desgosto.
— Foram só uns beijos. Você está exagerando, boca suja.
— Porra, isso é coisa de amador, cara. Não sabe que tem câmeras nos
elevadores? — comentei, pegando um pouco de suco em cima da mesinha
de centro.
— Todo mundo já ficou com alguém em um lugar público alguma
vez, movido pelo tesão, Henrique — Miguel comentou. — Você não? —
Alçou uma sobrancelha.
Pela indireta do meu amigo, o suco acabou descendo pelo lugar
errado. Deixei o copo de lado e fiquei de pé, passando a mão no peito,
enquanto tossia, tentando respirar normalmente.
— Melhor? — Matteo perguntou depois de bater em minhas costas.
Olhei para Miguel, que reprimia um sorriso. É, ele sabia. Sabia sobre
Beatrice e eu, e estava tirando uma com a minha cara.
— Sim. Estou.
— Então — Voltou a se sentar — Quando vamos conhecer a mulher
misteriosa? — o fofoqueiro do grupo indagou.
Engoli em seco.
— Logo, acho — foi a única coisa que consegui pensar e dizer.
— Promete que vai me contar quando vocês surtarem?
— Não vamos surtar!
— Só promete, Henrique — Dante disse.
Suspirei.
— Prometo, B1.
Durante as duas horas seguintes, tentei ao máximo não pensar em
Beatrice e foquei em apenas passar um tempo de qualidade com meus
amigos.
Ao mesmo tempo que eu estava feliz pela relação — ainda sem nome
— que passei a ter com a italiana, uma parte minha ficava me lembrando
que eu estava escondendo algo muito importante de duas das pessoas que
mais se importavam comigo. E isso me causava um fodido incômodo em
meu peito.
Eu sabia, que mais cedo ou mais tarde, eles iriam saber sobre seja lá o
que Bea e eu tínhamos, mas não tomaria nenhuma decisão precipitada sem
antes entender que tipo de relação estávamos construindo.
Em um dado momento, Dante foi ao banheiro e em minutos depois
retornou com a porra do roupão azul que Beatrice esqueceu na outra noite.
— Onde você conseguiu isso? — Quis saber.
Engoli em seco.
— Por quê?
— Estou há dias tentando conseguir um desses. Segundo Ana, é uma
edição limitada da loja de lingerie favorita dela. Apenas cinco pessoas no
mundo todo tem um desse.
— Bem. — Me ajeitei no sofá, tentando ganhar tempo para pensar em
algo — É de… Stella. Ela esqueceu aqui.
— Onde ela conseguiu? — perguntou, jogando o roupão de lado, em
uma poltrona da sala.
— Vou perguntar a ela — respondi, coçando a nuca.
— Como ela está? — B1 indagou.
— Bem e ocupada como sempre por conta da agenda intensa de
trabalho, mas ela ama o que faz.
— Acho que Stella se daria bem com o Enrico — falou pensativo. —
Ele só pensa em Medicina e nada mais.
— A propósito, quando ele e Kyara vem para o Brasil novamente? —
perguntei.
— Daqui a alguns meses. Enrico tem um congresso de medicina —
Dante falou.
Quando ia perguntar algo sobre eles se mudarem de vez para cá, meu
celular tocou, sinalizando novas mensagens. Peguei-o e ao ver a tela, quase
caí para trás.
— Puta merda! — me levantei apressado, protegendo o aparelho para
não deixar que meus amigos vissem o nude que recebi da irmã deles.
Ela estava usando uma lingerie-cinta liga na cor azul claro, uma
calcinha minúscula e um sutiã de renda transparente. Gostosa pra caralho!
— O que foi? — B1 perguntou, preocupado.
— Nada! — Passei minha mão pela testa. — Só um vídeo de... de
terror.
— Deixa eu ver — Dante pediu.
— Não. Envio para você depois. — Ele assentiu.
Voltei minha atenção para a tela do aparelho e vi uma mensagem logo
abaixo da foto: "A cor me fez lembrar de você, gostoso."
Dei uma risada baixa admirando a foto, mas ainda sim, meus amigos
notaram.
— Acho que não tem nada a ver com terror o que está vendo ai —
Dante comentou.
— Definitivamente não — Miguel concordou enquanto Matteo
acenava com a cabeça, sorrindo sem parar.
Bloqueei o celular, guardando-o no bolso antes de encarar meus
amigos ao comentar: — Engraçadinhos.
CAPÍTULO 44
Henrique
Era impressionante o quanto uma boa companhia fazia o tempo
passar mais rápido.
Beatrice e eu havíamos criado uma rotina incrivelmente reconfortante
e quente.
Passamos a dormir quase todas as noites juntos e acordar com ela em
meus braços, era algo que eu já não conseguia mais ficar sem. Sua pele
quente e macia, e seu cheiro doce me despertavam as melhores sensações
que um homem poderia sentir por uma mulher. Ela me fazia querer ser
melhor e eu me sentia cada vez melhor.
A terapia que eu estava indo uma vez por semana, me ajudava a me
conhecer com mais afinco e me fez compreender, finalmente, que eu fui
uma vítima e que não tinha nada de errado comigo, além disso, estava tudo
bem sentir raiva de vez em quando, como Carla sempre frisava em nossas
sessões, era o que eu fazia com o que sentia, que realmente importava.
Ainda não tinha compartilhado com meus amigos sobre o meu
passado e torcia para que um dia, eu conseguisse e como Dante sempre
dizia cada vez que mencionava o instituto em nossas conversas: “Um passo
de cada vez.”
E era exatamente isso que eu estava fazendo.
Um passo de cada vez e eu seguia, com a mulher mais incrível ao
meu lado.
Beatrice Fontana estava cada vez mais enraizada em mim e eu não
conseguia mais me imaginar sem ela.
Bea fazia questão de me incentivar todos os dias e pulou de alegria
quando contei sobre o caso dos Vilhenas, ao qual ganhei. Ela fez questão de
preparar um bolo para comemorarmos e o final da comemoração foi ainda
melhor, quando ela se ajoelhou e lambuzou meu pau com a cobertura de
chocolate, me deixando foder sua garganta até esporrar dentro dela.
Eu sabia que pela forma como a nossa relação — ainda sem nome —
seguia, chegaria o momento em que eu precisaria contar aos meus amigos e
eu torcia para que eles nos aceitassem.
Observei Matteo e Dante se servindo com generosos pedaços da
lasanha que Bea havia feito para o nosso jantar entre amigos, e meu peito se
apertou com a possibilidade de perder suas amizades. Eles eram
importantes para mim, eram a minha família e não conseguia imaginar
seguir meu caminho sem tê-los comigo.
— Parece que não nos reunimos há anos. Estou tão feliz que estamos
todos juntos — Matteo falou, tocando em seu peito e seu rosto carregava
uma expressão dramática.
— É muito bom receber vocês em minha casa — Beatrice disse toda
sorridente.
Meu Deus, como ela ficava ainda linda sorrindo.
— Você fez uma bela reforma nesse lugar — Stella comentou,
observando em volta. — O espaço é maior do que eu me lembrava.
Franzi o cenho.
— Como assim? Você já esteve aqui? — indaguei.
Ela sorriu de um jeito malicioso.
— Peguei seu antigo vizinho — disse simplesmente, dando de
ombros.
— Puta merda! Você ficou com o Norman Cross? — exclamei
completamente surpreso.
— Fiquei. Pensa em um novinho quente que…
— Eu não estou ouvindo! Eu não estou ouvindo! Eu não estou
ouvindo! — falei e todos riram de mim.
— Que vinho é esse? — Bárbara perguntou, levando uma taça com a
bebida à boca.
— Um Dominus Napa Valley. — Beatrice respondeu, me encarando
do outro lado da mesa. — O favorito de Henrique. — Piscou para mim.
— Você tem um vinho favorito? Uma bebida alcoólica favorita? —
Matteo perguntou, alçando uma sobrancelha para mim.
Engoli em seco.
— Sua irmã… hãn… tem me ensinado sobre e… eu gostei desse. —
Forcei uma tosse. — Gostei bastante desse.
Olhei pelo canto de olho e vi as meninas e Miguel prendendo o riso.
— Ai! — Ana Laura reclamou e automaticamente todos se voltaram
para ela, que estava sentada no sofá passando a mão em sua enorme barriga.
— Você está bem? — Miguel questionou preocupado, indo até ela.
Dante logo se levantou e caminhou em sua direção, se sentando ao
seu lado no sofá.
— Ainda com dores, mi amore? — ele perguntou, acariciando os
ombros dela.
— Ela está com dor? — Stella quem indagou.
— Sim. Fomos ao hospital pela manhã e o médico nos disse que são
contrações de treinamento.
— Mas ela ainda nem completou os nove meses, certo? — Matteo
perguntou.
— Está com sete meses e alguns dias. Segundo o obstetra, é normal
sentir essas contrações. A cesárea já está marcada, minhas meninas só
precisam esperar mais um pouco — meu amigo disse com toda sua calma,
beijando a têmpora de Ana. — Você está se sentindo melhor, meu amor?
— Sim — respondeu e sua feição de dor suavizou. — Só preciso ir ao
banheiro. — Todos nós fomos para cima dela para tentar ajudá-la, mas Ana
levantou a mão e logo nos afastamos. — Eu estou bem. Não se preocupem.
— Olhou para o marido. — Você pode ir ao banheiro comigo, amor?
— Claro, querida. Vamos! — disse e a segurou pela cintura,
ajudando-a. Ambos caminharam lado a lado em direção ao banheiro.
Quando já estavam fora do nosso campo de visão, Stella se
aproximou, falando baixinho: — Acho melhor ligarmos para o médico dela.
— Por quê? — Miguel questionou com os olhos arregalados,
visivelmente apavorado.
— Obstetrícia não é a minha especialização, mas o pouco que sei
sobre dores antes dos nove meses, é que podem indicar parto prematuro. É
algo muito arriscado, principalmente em uma gestação de gêmeos como a
de Ana. Há casos onde os bebês e a mãe correm risco de vida.
— Puta que pariu! — B1 exclamou, passando as mãos
freneticamente nos cabelos.
— Fala baixo, idiota. Não queremos deixá-los preocupados —
Bárbara ralhou.
— O que vamos fazer? — Miguel perguntou.
— Acho que devemos... — Beatrice se calou ao ver nossos amigos
retornando.
No minuto em que eles se aproximavam de nós, Ana Laura parou de
andar e fez uma cara de espanto. Seu rosto empalideceu, sua boca se abriu e
seus olhos marejaram.
— Ana, você está bem? — Dante perguntou apavorado.
— Eu não sei... — Tocou em sua barriga com as duas mãos, seu rosto
sendo tomado pelas lágrimas. — Acho que a minha bolsa estourou. — Seu
olhar abaixou e todos nós seguimos seu movimento, vendo uma grand poça
de água no chão ao redor dos seus pés.
— Porra. Caralho! — Matteo gritou, andando de um lado para o
outro com as mãos na cabeça.
— Precisamos ir ao hospital — Stella bradou, pegando sua bolsa que
deixou em cima da mesa. — Agora!
CAPÍTULO 45
(Bônus)
Dante
Medo.
Eu senti medo mais vezes do que gostaria de admitir.
Eu senti medo quando minha tia Aurora faleceu.
Eu senti medo quando sofri o acidente de carro e precisei encarar
minha nova realidade e a família de Carlos.
Senti medo de Ana Laura me rejeitar e de não ser forte o suficiente
para ser tudo o que ela e nossas filhas precisavam.
Momentos que eu pensei que a dor não fosse passar de tão forte que
meu peito doía. Mas conforme empurrava a cadeira de rodas com a minha
esposa sentada nela e com nossos amigos e familiares logo atrás de nós, o
medo veio de uma forma avassaladora, fazendo meu corpo todo tremer.
Medo de perder as minhas filhas.
Medo de perder a mulher que eu amo.
Nunca pensei que amaria tanto alguém como eu sou louco pelas três.
Imaginar minha vida sem elas era como não poder respirar.
Meus morangos são meu ar, meu chão.
Era por elas que eu buscava ser melhor a cada dia, no trabalho, em
meus exercícios, na terapia, até mesmo no instituto quando uma tempestade
forte de saudade me toma.
É nelas que eu pensava antes de dormir e ao acordar.
Como eu ia conseguir seguir em frente, mais uma vez, se elas não
estivessem aqui?
A porta se abriu e vi o obstetra de Ana correr até nós, sinalizando para
que os outros esperassem. Ele me encaminhou para uma sala de espera
separada, levando minha mulher às pressas para a sala de cirurgia.
Enquanto me trocava, colocando a roupa adequada que uma
enfermeira me deu para poder entrar e participar do parto, pedi a Deus para
que tudo ocorresse bem.
No caminho para o hospital, eu não conseguia dizer nada. Só
segurava na mão de Ana enquanto Stella a acalmava com toda a sua
paciência e profissionalismo que só uma excelente médica tem. Beatrice
estava dirigindo e os outros nos seguiam no carro de Henrique.
— Dante Fontana?
— Eu — Pus-me de pé e fui até a enfermeira que há pouco tinha me
entregado as vestimentas.
— O senhor já pode entrar — avisou.
Quando entrei na sala, meus olhos foram direto para o corpo da Ana
deitado em uma maca no meio da sala fria.
— Meu amor! — falei e logo ela virou o rosto para me ver, e quando
os nossos olhares se encontraram, algo dentro de mim se acendeu.
Jogando todo o medo de lado, fui até ela e sentei em um banco
indicado pelo médico. Ele avisou que a cirurgia ia começar, mas me
desliguei de tudo ao meu redor, pensando apenas em minha esposa.
Segurei a mão livre dela, já que a outra estava com soro, e beijei o
dorso, fazendo um carinho em seguida.
— Eu estou com medo — sussurrou com a voz baixa e fraca pela
anestesia.
— Não fique, amore mio. Tudo vai dar certo. Nossas meninas são
fortes. — Beijei sua bochecha. — Você é forte.
— Se alguma coisa acontecer comigo, diga a elas que eu as amei
desde o dia que eu descobri que elas estavam dentro de mim.
— Não fale isso! Você vai ficar bem. — Sequei uma lágrima que
desceu por seu rosto e tentei não chorar pelo desespero que me tomou.
— Dante... Prometa para mim.
— Não! — Colei meu rosto junto ao dela. — Vocês três vão ficar
bem. Eu sei que vão. Vocês são os amores da minha vida, são tudo de mais
valioso que eu tenho. Eu não vou conseguir viver sem você — sussurrei
para que apenas ela escutasse.
— Eu te amo tanto, Dante. Tanto que chega a doer.
— Eu te amo mais, meu amor. Infinitamente mais.
O tempo passou e talvez tenha sido o nervosismo, mas parecia uma
eternidade até que… Até que escutei o barulho mais lindo que já ouvi na
minha vida inteira.
O choro das nossas filhas.
O choro das nossas herdeiras.
Nina e Bella, bem-vindas ao mundo, meus morangos.
CAPÍTULO 46
Henrique
Estávamos todos na sala de espera do hospital. No caminho para cá,
Miguel ligou para a sua mãe e os pais de Dante, que em menos de trinta
minutos, chegaram aqui trazendo todas as coisas que a recém-mamãe, Ana,
e as pequenas, Nina e Bella, precisariam.
A cada segundo que se passava, a ansiedade e o nervosismo de todos
aumentavam. Eu estava sentado ao lado de Miguel e Matteo. O Sr.
Vincenzo e a esposa estavam nas cadeiras à minha frente, com dona Luíza
ao lado deles. Beatrice estava um pouco mais distante conversando com
Stella e Bárbara.
Enquanto esperávamos, foquei meu olhar em Bea. Seu rosto estava
vermelho pela crise de choro que teve, logo depois que Ana e Dante
entraram na sala de cirurgia. E assim que notei mais lágrimas ameaçando
cair por seu lindo rosto, meu corpo foi atraído e fui até ela, abraçando-a
apertado.
Beatrice escondeu seu rosto em meu peito e chorou ainda mais
enquanto eu passava meus dedos por seus cabelos. Ficamos assim por
alguns minutos até que ela e as meninas decidiram ir ao banheiro.
Aguardávamos por notícias a mais de quarenta minutos. A angústia só
crescia até que, finalmente a porta se abriu revelando um Dante sorrindo de
orelha a orelha.
— Minhas filhas nasceram! — gritou, jogando os braços para o alto.
Ele foi abraçado por todos em meio a sorrisos e muitas lágrimas.
Seu rosto estava brilhando de tanta felicidade.
— Quando podemos vê-las? — dona Luíza perguntou.
— Como elas nasceram um pouco antes do tempo, vão precisar ficar
em observação, assim como Ana. Mas o médico disse que nenhuma das três
correm risco de vida. Assim que elas puderem receber visitas, eles avisarão.
— Graças a Dío! — dona Beatriz falou com as mãos para cima.
— E como elas são? — Bea perguntou ao meu lado.
— Tão lindas quanto a minha Ana — respondeu orgulhoso.
O médico logo apareceu e nos dispensou, avisando que as três
estavam proibidas de receber visitas naquela noite, além de Dante, já que
precisavam descansar e evitar grandes esforços.
No dia seguinte, estávamos todos no hospital de novo, aguardando
ansiosamente para ter a oportunidade de ver Ana e as gêmeas, que logo foi
anunciada pelo obstetra, ressaltando apenas que a recém-mamãe não
poderia fazer grandes esforços.
O quarto em que Ana Laura estava era imenso e estava repleto de
bexigas em formato de morangos, com uma plaquinha na porta com a frase:
“Bem-vindas ao mundo, Nina e Bella.”. Assim que ela foi aberta por um
Matteo impaciente, Ana surgiu em nosso campo de visão, sentada em uma
cadeira de rodas, sendo empurrada por Dante. Sua aparência estava
cansada, mas mesmo assim sua felicidade poderia ser vista a quilômetros de
distância.
Momentos depois, uma enfermeira entrou empurrando um carrinho
duplo de maternidade com as gêmeas nele. Dante ajudou sua esposa a se
sentar na cama enquanto a enfermeira entregava os bebês para os novos
papais.
— Porra! Elas puxaram a minha beleza — Matteo falou convencido.
— Com certeza, B1 — Ana disse, revirando os olhos para ele.
— Elas são tão pequenas — Bárbara comentou maravilhada.
— Elas são lindas — Stella falou emocionada, sorrindo para as duas.
Fiquei de longe observando a cena. Todos estavam ao redor da cama
encantados com Nina e Bella. Porém, o que me chamou atenção foi a feição
do meu amigo.
Durante todos esses anos em que nos conhecemos, jamais vi Dante
tão radiante.
Ele olhava para as três como se elas fossem tudo para ele.
Todos que ficavam cinco minutos conversando com ele, já percebiam
o quanto o meu amigo era apaixonado por Ana. E agora as gêmeas
chegaram apenas para aumentar a felicidade dos dois.
Corri meus olhos pelo quarto até Beatrice.
A mulher que dominou meus pensamentos.
Que tem sido o motivo dos meus risos nos últimos meses.
Era com ela que eu me sentia em casa.
Ela era meu lar.
Era para os braços dela que eu queria voltar no final do dia.
É nela que eu queria me enterrar todas as vezes que pensava em sexo.
Ah, o sexo com ela era maravilhoso.
Perfeito! Completamente diferente de tudo o que eu já experimentei
em toda a minha vida.
Olhei para seu corpo e meus olhos pararam em sua barriga. Um
pensamento me tomou tão forte que não consegui evitar imaginar como
seria ter um filho meu gerado por ela.
Como seríamos se estivéssemos casados e construindo a nossa própria
família, assim como Dante e Ana Laura?
Caralho! Eu, definitivamente, seria o cara mais feliz da porra desse
mundo todo.
Senti uma pontada em meu peito com a idaia de não tê-la mais, e por
alguns segundos, fiquei sem chão. Meu estômago se agitou, meu coração
acelerou e como se sentisse o meu olhar nela, Bea virou o rosto para mim,
pegando meu olhar com o seu. Um sorriso emocionado rasgou seus lábios e
foi quando algo dentro de mim vibrou.
Eu amava essa mulher.
Eu amava pra caralho essa diaba italiana que chegou como um
furacão em minha vida, fodendo minha cabeça de várias formas. Eu não sei
quando, mas me apaixonei por Beatrice.
Meus olhos ficaram marejados pela constatação.
Meu corpo tremeu em resposta e tentei controlar minha respiração.
Eu não sabia o que aconteceria quando contasse a ela e à sua família,
mas eu tinha apenas uma certeza.
Éra com Beatrice Fontana que eu desejava passar o resto da minha
vida.
CAPÍTULO 47
Henrique
— Obrigado por aceitar conversar comigo — falei, aceitando o copo
de suco que Miguel me ofereceu.
— Você pareceu um pouco ansioso ao telefone — comentou,
sentando-se na poltrona à minha frente.
Me mexi no sofá.
— Talvez eu esteja com um… problema.
— Como posso ajudar?
— Fodi uma mulher — respondi, bebendo metade do líquido amarelo
e deixando o copo sobre a mesinha.
— E foi ruim?
— Não, pelo contrário foi… perfeito. Todas as vezes são perfeitas.
— Então qual o problema?
— É que agora eu não quero apenas o corpo dela, mas também o
coração — soltei as palavras que vagavam em minha mente nas últimas
semanas desde que descobri os meus sentimentos por Beatrice.
Miguel soltou um longo suspiro, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— É a Bea, não é? — questionou, seu olhar e sua voz eram calmos,
como de costume. Meu amigo parecia ter uma tranquilidade inabalável e
não conseguia imaginá-lo perdendo o controle.
— É, é ela.
Miguel Moraes sempre foi observador demais, por isso não me
surpreendi por ele saber que Beatrice e eu estávamos juntos.
— Isso é bem óbvio para qualquer pessoa que observe vocês dois
com atenção por cinco minutos. O jeito como você a olha como se ela fosse
a única e a mais bela mulher no mundo, é um sinal evidente de que você a
ama.
— Eu a amo — as palavras que pareciam estar presas em minha
garganta desde a descoberta dos meus sentimentos, finalmente se
libertaram. Era a primeira vez que eu admitia em voz alta.
— E eu acredito em você, Henrique. Assim como acredito que ela
também te ama.
Inspirei profundamente.
Esse era um dos meus maiores medos. Que meu sentimento não fosse
recíproco, porque se assim ocorresse, eu estaria fodido pra caralho e
definitivamente não seria de um jeito bom.
— Você acha que ela me ama? — indaguei, sentindo minhas mãos
suarem.
Miguel soltou uma risada pelo nariz.
— Com certeza, cara. Mas, apesar de nunca ter me apaixonado,
compreendo que a soma de dois sentimentos tão fortes como a paixão e o
amor, possam deixar até a pessoa mais segura do mundo, nervosa.
— Duvido que quando for a sua vez, você fique como eu estou —
declarei.
— E como você está, Henrique? — indagou com um sorrisinho de
lado e uma sobrancelha arqueada.
— Vai mesmo me fazer falar, porra?
Meu amigo filho da puta, que tia Luíza me perdoe, deu de ombros e
moveu a cabeça cinicamente.
Suspirei, relaxando no sofá.
— Eu estou feito o caralho de um cadelinha, completamente rendido
e de quatro pela desgraçada da diaba italiana.
— Quem diria que você seria o próximo a se tornar um cadelinha
como meu cunhado — disse, rindo. — Confesso que eu apostava em
Matteo.
— Ainda acha que ele e Bárbara vão se apaixonar? — perguntei. Ele
sempre dizia em nossas reuniões que os nossos amigos eram perfeitos um
para o outro e que era só questão de tempo para eles se envolverem.
— Com certeza! — afirmou. — Minha aposta ainda está de pé.
Ri.
— O que você acha que Matteo falaria se soubesse que você, Dante,
Enrico e eu apostamos em segredo o tempo que ele e a boneca vão levar
para finalmente se pegar?
A aposta foi ideia minha no dia do casamento de Dante e Ana Laura
enquanto Matteo e Bárbara brigavam por uma fatia de bolo.
— Ficaria puto para um caralho! — alegou e rimos. — Mas sobre
você e Beatrice, imagino que tenha me procurado para conversar sobre o
seu receio em contar para Dante e Matteo, certo? — Acenei. — Não vou
dizer que eles vão reagir calmamente e aceitar o relacionamento de vocês
assim, do dia para a noite simplesmente, principalmente depois que soube
do tal do juramento de dedinho que eu fui obrigado a fazer também. Sempre
vi Bea como uma amiga — garantiu. — Contudo, eu acredito que a verdade
e a conversa sempre são os melhores caminhos.
— Estou com um medo do caralho de perder a amizade deles —
soltei, sentindo um gosto amargo na boca ao falar tais palavras.
— Não acredito que seja pra tanto. Talvez Matteo dê uma surtada,
obviamente, mas o que não faz aquele maluco surtar? — Sorriu e eu acabei
sorrindo com o seu comentário. — Eles te conhecem há muito tempo,
Henrique. Conhecem o seu caráter e a sua índole, e ainda que Bea e você
tenham começado em segredo, é compreenssivo porque decidiram seguir
dessa forma. Como irmão, minha maior preocupação era ver Ana com
algum babaca de merda, como os que ela costumava se envolver antes de
Dante. E pelo que conheço dos nossos amigos, sei que eles querem a
mesma coisa para Beatrice.
— Eu realmente espero que eles nos aceitem. A benção deles é
importante para mim, principalmente depois que eu decidi que vou pedi-la
em casamento .
— Parabéns, cara! De verdade, fico muito feliz por vocês.
— Não acha que é cedo demais?
— Você está perguntando para a pessoa errada. Eu sempre fui direto e
ciente de tudo o que quero. Odeio perder tempo e quando eu encontrar a
mulher que vai botar uma coleira nesse pescoço aqui. — Apontou para sua
garganta. — Não vou pensar duas vezes em fazer dela, a minha esposa.
Então, amigo, se é ela que seu coração, corpo e alma querem, pegue-a para
você.
Respira, Henrique.
Respira, Henrique.
Você já enfrentou criminosos da pior espécie e está com medo de uma
senhora que ama dar abraços de urso e apertar bochechas e de um senhor
italiano que sempre te tratou como filho?
Vai dar tudo certo, caralho! Você só precisa lembrar de respirar,
porra!
Respira, criatura.
— Pode entrar, querido — dona Beatriz disse assim que abriu a
porta da sua casa para mim, dando-me passagem. Com as pernas tremendo,
entrei. — Está tudo bem? Quando ligaram da portaria avisando que você
estava aqui, fiquei surpresa.
— Espero não estar incomodando, senhora.
— Você não incomoda, querido. — Fechou a porta e se virou para
me saudar com o seu típico abraço apertado. Retribui. — Diga, o que você
deseja? — perguntou ao se afastar, apertando minhas bochechas.
— Gostaria de conversar com a senhora e o senhor Vincenzo
sobre… algo.
— Algum problema? — indagou preocupada.
— Espero que não. — respondi no exato momento em que o Sr.
Vincenzo se aproximou, depositando um beijo na testa da esposa para em
seguida estender a mão para mim.
— Tudo bem, ragazzo? — procurou saber e por um momento, sob
os olhares avaliativos de duas das pessoas mais importantes da minha vida,
pensei em sair correndo feito um covarde.
— Você está pálido — dona Beatriz falou, segurando meu rosto
entre as mãos calejadas pelo tempo.
— Podemos sentar, por favor? — pedi, suando frio.
Respira, Henrique!
Respira!
— Claro! Vamos para o escritório — o Sr. Vincenzo disse.
Durante o curto trajeto até o cômodo, fiz todas as orações que eu
conhecia, pedindo forças aos céus para conseguir falar tudo o que planejei
durante os últimos dias.
— Então, caro mio, qual o assunto que deseja falar conosco? — ele
perguntou quando já estávamos os três acomodados no sofá que havia ali.
Escorei as costas no canto, observando ambos me olhando com
expectativa.
— Beatrice.
— Minha bambina está bem?
— Sim! Ela está bem. Não se preocupe, senhor.
Eles suspiraram aliviados.
— Mas eu… Eu acho que… Não! Você não acha, Henrique! Você
tem certeza. Isso, eu tenho certeza! Eu tenho absoluta certeza de que estou
apaixonado por Beatrice. Tipo muita certeza mesmo, tão certo quanto eu
amo advogar. Não que eu esteja comparando a minha vida profissional ao
sentimento que sinto pela filha de vocês ou que ela me lembra algum cliente
que eu já tive. Definitivamente não é isso. Quer dizer, é isso sim. Não a
parte do Direito, eu não sei nem porque falei isso. Mas…
— Respira, querido — a senhora falou, se aproximando de mim e
tocou em meu rosto com carinho e só então, soltei o ar que havia prendido
sem saber em que momento o fiz. — Isso, respire.
Fechei os olhos e tomei fôlego. Quando senti minha respiração em
um ritmo normal, abri os olhos encontrando um sorriso gentil direcionado a
mim.
— Melhor? — ela procurou saber, ainda me analisando.
— Sim.
— Que bom, porque agora é a minha vez de surtar — declarou, me
dando um tapa no ombro e sorrindo feito o coringa, da mesma forma que
Matteo costumava sorrir quando ficava animado com algo.
— Ai! — exclamei, alisando o local.
— Eu sabia. — Apontou para mim. — Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia!
Franzi o cenho e meu olhar dançou entre a mulher que não parava
de sorrir, e seu marido, que tentava miseravelmente não rir dela.
— Sabia?
— Claro que sabia. Conheço minha filha como a palma da minha
mão e eu reparava na forma como ela olhava pra você.
— Como ela olhava para mim, senhora?
— Como se quisesse ficar trancada com você em um quarto por
dias! — Mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Amore! — seu marido ralhou, torcendo o nariz.
— O quê? Você acha que nossa bambina e o loiro aqui nunca
fizeram sexo?
— Santo Dio, mulher! Mio cuore! — ele disse, tocando em seu
peito. — Definitivamente, não quero saber esses… detalhes.
— Detalhes! Eu amo detalhes! Me diga, Henrique. — A mulher,
para lá de animada, tocou em minha mão, seus olhos claros brilhavam tanto
quanto luminárias. — Como vocês começaram esse namoro?
— Eu… Bem, eu ainda não a pedi em namoro.
— Não?
— Vim aqui justamente para isso.
— Vincenzo do céu. — Bateu no peito do marido. — Ele veio pedir
a nossa benção para namorar nossa menina.
— Na verdade, senhor e senhora Fontana, eu vim aqui para pedir a
benção de vocês para pedi-la em casamento — anunciei.
Os olhos de ambos se abriram em sintonia com suas bocas.
Esperei ansiosamente por suas palavras, mas recebi um grito da
mulher à minha frente e juro que fiquei surdo de um ouvido.
— Casamento!? — Ela se levantou em um movimento tão rápido
que quase se desequilibrou em seus saltos. Seu marido e eu acabamos
imitando-a, colocando-nos em pé. — Minha menina vai casar? — Juntou as
mãos na altura do peito.
— Eu espero que ela aceite o meu pedido.
— Mas é claro que ela vai aceitar. Cabeça erguida, homem — ela
disse, segurando meu queixo. — Nem acredito que isso está mesmo
acontecendo. — Me puxou para um abraço apertado. — Eu estou tão feliz
pelo coração da minha Bea ter encontrado com o seu. Você já faz parte da
família, querido. — Se afastou para me olhar nos olhos — E é claro que eu
dou a minha benção.
Sorri me sentindo um pouco mais aliviado.
— Obrigado, senhora. É muito importante para mim escutar isso.
— Agora! — Bateu as palmas, caminhando na direção da porta. —
A ocasião pede champanhe. Já volto! — E saiu, saltitando de um jeito que
me fez rir.
— Não quero nem imaginar o que mio amore fará quando for os
nossos netos a se casarem — Sr. Vincenzo comentou, soltando uma risada.
— Então. — Tocou em meu ombro e semicerrou os olhos para mim. —
Quer dizer que você está apaixonado pela minha Beatrice?
Engoli em seco, voltando a ficar nervoso como antes.
— Sim, senhor — declarei com firmeza.
— Está certo disso rapaz?
— Tão certo que — falei, enfiando minha mão no bolso da calça e
tirando de lá uma caixinha de veludo azul — já escolhi o anel. — Abri o
objeto, revelando um anel solitário com um diamante azul na ponta, do
mesmo formato que os piercings que Bea tem nos mamilos.
Sr. Vincenzo suspirou e um sorriso emocionado iluminou seu rosto e
só então eu consegui respirar verdadeiramente aliviado desde o momento
que cheguei aqui.
— Por muito tempo pensei que Beatrice seria a única dos meus três
filhos que não encontraria o amor. Eu a conheço e sei o quanto sua
personalidade forte a fazia acreditar que era impenetrável. Minha ragazza
tem a casca dura e mesmo sendo uma mulher inteligente e confiante, é tão
delicada quanto uma rosa branca.
— Porque está me dizendo isso, senhor?
— Porque eu fico feliz que você seja o homem que veio pedir a mão
dela. Eu confio em você e com certeza você também tem a minha benção.
Em vista disso, Henrique, como pai, peço que, mesmo que Beatrice esteja
com medo por amar você e acabe fazendo algo imprudente, quero que
prometa que não vai desistir dela, que vai lutar por ela com todo o amor que
sente, com todo o amor que eu estou vendo em seus olhos agora.
— Eu prometo, senhor!
Ele assentiu e seus olhos marejaram. O homem que eu sempre
respeitei antes, agora seria o meu sogro e eu desejava ser um pai como ele
no futuro.
— Agora, melhor irmos. Antes que a brasileira com quem me casei
abra todo o nosso estoque de champanhe — disse, sorrindo no exato
momento em que sua esposa retornou com uma garrafa de bebida já aberta.
— Dois já foram, amore mio — falou e nós rimos. — Agora só falta
o nosso “boca suja”.
Beatrice
— Que bom que aceitou meu convite para almoçar — Dante sorriu
para mim puxando uma cadeira para que eu me sentasse à sua frente.
Estávamos no restaurante da empresa, em uma mesa de canto,
afastados de todo o restante do salão.
— Como não aceitar, fratello. Pena que Matteo precisou ir para um
compromisso no outro lado da cidade.
— Marquei com você hoje porque sabia que ele estaria fora.
Franzi o cenho.
— Está tudo bem com Ana e as meninas? — indaguei preocupada.
— Elas estão ótimas. Ana já está se sentindo muito melhor depois que
tirou os pontos da cesária e mamma, rosa e minha sogra têm ajudado com
Nina e Bella — suspirou. — Nem parece que se passaram quase dois meses
— sorri, admirando seu rosto se iluminar ao falar da sua família.
— O que quer falar comigo?
Meu irmão mais velho me olhou como costumava fazer quando eu era
apenas uma garotinha que entrava em seu quarto para bagunçar suas roupas
e era pega no flagra.
— O que eu queria falar com você é algo que eu percebi desde o dia
do nascimento das meninas, mas pela forma que aconteceu acabei deixando
passar. E acho que esse momento chegou.
O olhei desconfiada, sem saber o que pensar. Dante sem dúvidas era o
irmão mais paciente. Ele podia ser ciumento como todos os homens da
família são, porém sempre procurava conversar e entender o lado da outra
pessoa. Eu o admirava por isso.
—Você está me deixando nervosa. Sabe que eu sou extremamente
curiosa. Diga de uma vez por todas. Per Dio!
Com calma, ele me observou. Com calma, ele falou.
— Você e Henrique estão juntos, não estão?
Suspirei, não vendo motivos para negar.
— Como você soube?
— No dia em que Ana teve Nina e Bella.
— Como?
— Na noite em que Miguel, Matteo e eu fomos ao apartamento de
Henrique, em um dado momento, fui ao banheiro e vi um roupão azul, o
mesmo que vi no seu banheiro quando fui com a Ana, antes da bolsa
estourar.
— Cazzo de roupão de edição limitada — falei, rindo.
— Há quanto tempo vocês estão se relacionando, cara?
— Um pouco depois que me mudei.
— Não me diga que na noite da inauguração do instituto, vocês
sumiram porque estavam…
— Sim. Com certeza estávamos fazendo sexo.
Ele rolou os olhos, passou a mão nos cabelos e gemeu em desgosto.
— Carlos definitivamente estaria rindo da minha cara agora —
comentou. — E naquela... noite em que nós três estávamos na casa de
Henrique, você estava com ele no quarto, não estava?
— Culpada. — Levantei a mão com um sorriso brincalhão no rosto.
Meu irmão coçou a nuca, tentando parecer tranquilo.
— Ok! Você... você transa.
— Ovviamente, fratello. — falei, me divertindo com a sua cara de
assustado.
— Tudo bem. — Puxou a respiração. — Você está feliz com essa
relação?
Não preciso pensar na resposta, pois ela veio rapidamente.
— Si. Muito feliz.
Tocando nas minhas mãos em cima da mesa, ele me avaliou antes de
falar.
— Segundo a minha esposa, depois que nos tornamos pais,
adquirimos um sexto sentido em relação aos sentimentos de quem amamos.
— Porque está falando isso?
— Porque estou vendo em seus olhos que algo está te perturbando,
piccola mia. Estou errado?
Soltei um suspiro e falei o que andava me incomodando há semanas.
— Talvez seja coisa da minha cabeça, mas desde o dia do nascimento
das meninas, Henrique tem andado estranho.
— Estranho como?
— Ele está distante. Sempre que pergunto algo ele desconversa e
bem, não gosto de ser chata e nem que invadam a minha privacidade, assim
como ele então, fico quieta e não insisto.
— E porque não conversa sério com ele?
— Eu tenho medo. — Fiz beicinho, segurando o choro que queria
sair.
— Medo? Beatrice Fontana com medo?
Bufei.
— Acredite, é tão inédito para você quanto para mim.
— Quando estamos apaixonados é normal ficar com medo.
Suspirei e pela primeira vez desde que percebi os meus sentimentos
por Henrique, confessei em voz alta.
— É.
— Então você está apaixonada por ele?
— Estou e cazzo, aquela boneca debochada vai zoar com a minha
cara quando souber. Passei os últimos dias dizendo a ela que eu não estava
apaixonada.
— Você estava no estágio de negação — Dante constatou.
— Nosso irmão estava mesmo certo sobre essa coisa de estágios, não
é?
— Estava.
Rimos.
— Mas, não deixe o medo te paralisar, cara mia. Sentir medo
significa um ato de cuidado com o nosso coração, contudo quando esse
medo nos paralisa a ponto de nos impedir de viver momentos incríveis, não
é bom — falou com a voz cheia de carinho. — Posso ter demorado para
notar que a “gnomio” me queria, mas depois que entrei nessa vida de
casado, eu aprendi a observar muita coisa. Não é de hoje que notei um
interesse mútuo entre vocês, porém sempre achei que seria apenas ciúme de
irmão mais velho. Contudo, quando vi o roupão na sua casa, passei a
observar de forma mais atenta vocês dois, principalmente ele. Henrique te
olha como se você fosse a única mulher no mundo, da mesma forma que eu
olho para Ana.
— Sei — falei com desdém.
— Acredite quando eu digo, Henrique tem sentimentos verdadeiros
por você. E talvez ele só esteja confuso, afinal, são anos ouvindo os irmãos
da mulher que ele ama dizendo que é proibido se aproximar da nossa
irmãzinha. Na hora certa, ele vai se abrir para essa relação tão ímpar e rara
que vocês têm. Dê tempo a ele.
— Você acha que ele me ama? — perguntei, sentindo-me uma boba.
— Eu tenho certeza, assim como vejo em seus olhos que você
também o ama. Não é?
Não respondi, apenas balancei a cabeça concordando.
— Não fique pensando em coisas que não existem, Bea. No final tudo
vai dar certo. Eu tenho certeza disso. Não posso negar que quando me dei
conta de que vocês estavam se envolvendo, eu tive um leve surto — falou,
me fazendo rir. — Mas depois fui tomado por uma paz em saber que a
minha irmã estava com alguém como ele. Henrique é meu amigo e é dono
de um caráter inquestionável. Apesar daquela boca suja que ele tem, sei que
jamais faria nada para magoá-la.
Soltei um suspiro, absorvendo todas as palavras que meu irmão disse,
tentando acreditar em cada uma delas. Mas minha intuição dizia que algo
ruim estava prestes a acontecer.
Eu realmente esperava que fosse apenas coisa da minha cabeça.
Beatrice
Boba. Henrique Prado me fez de boba e eu odeio me sentir assim.
Eu odeio!
Saí do seu apartamento reprimindo a vontade de chorar. Não ousaria
fazer isso diante daquela mulher e lhe dar o prazer de me ver desmoronar
perante os seus olhos que possuíam um brilho perigoso e vitorioso.
Mas foi só atravessar o corredor e abrir a porta do meu apartamento,
que me joguei no sofá aos prantos, sentindo meu coração doer como se
Henrique o tivesse apertado com as próprias mãos.
— Como… Como você foi burra, Beatrice! Burra, idiota e boba! —
falei entre soluços, batendo em minha cabeça e me punindo por ter deixado-
o dominar meu corpo, minha alma e cada pensamento meu. Por me permitir
se apaixonar por ele e mergulhar de cabeça em um sentimento tão perigoso
como esse.
Amor.
Eu o amava. Eu amava Henrique Prado com todo o meu ser.
Com cada pedacinho de mim, eu amava cada pedacinho dele.
Eu o amava tanto, que sonhava em ter um futuro ao seu lado com toda
aquela bobagem de casamento, casa e filhos.
Eu o amava a ponto de me sentir segura o suficiente em não ter medo
de ser ferida.
Eu o amava e mesmo o odiando agora, eu só queria o seu abraço, o
seu beijo, os seus toques.
Mesmo o odiando e sabendo que ele não me ama da mesma forma, eu
o queria aqui, agora, em meus braços.
Argh! Como as pessoas sonham em ficar assim, tão vulneráveis?
Como a cura para a dor que dilacera meu coração pode também ser a
causa dela?
Boba. O amor faz isso. O amor fez isso comigo.
Ele acabou de fazer isso comigo.
Me fez de boba. E porra, eu odiava me sentir assim.
Não sei por quanto tempo fico me martirizando, mas a julgar pela
forma como o meu corpo inteiro doía, imagino que fiquei mais tempo do
que o aceitável para alguém tão orgulhosa como eu.
Puxei a respiração com força e me coloquei de pé no exato momento
em que a minha campainha soou.
Ainda um pouco atordoada, não me importei em olhar pelo olho
mágico para saber quem é. Simplesmente agi no automático e assim que
abri a porta, vi a última pessoa que deveria me ver no estado em que eu me
encontrava, parada diante de mim.
— O que aconteceu com você? — Matteo perguntou, segurando meu
rosto entre as mãos. — O que aconteceu com você, Beatrice?
Não consegui reprimir o bico de choro que se formou.
— Nada — murmurei, sentindo algumas lágrimas teimosas caírem.
— Como nada, Beatrice? Olha como você está.
— Não foi nada, fratello. Eu prometo — disse, me livrando do seu
aperto. — Eu estou bem. — Forcei um sorriso.
— Você está tudo, menos bem, sorella. Me diz quem fez isso com
você? — quis saber. Claro que quis.
— Nada, Matteo. Não se preocupe. Já vai passar — afirmei, passando
as mãos no rosto.
— Caralho, eu vou matar quem te deixou desse jeito! — bradou.
— Matteo…
As palavras morreram no caminho quando vi a porta do apartamento
ao lado ser aberta e toda a nossa família e amigos surgir em meu campo de
visão, inclusive ele.
— O que está acontecendo? — Miguel perguntou. — Ouvimos você
gritar. — Tocou no ombro do meu irmão.
— Bea! — Henrique falou ao meu ver e por um segundo amoleci ao
ouvi-lo me chamar assim. — O que aconteceu com você, meu amor? —
indagou, segurando meu rosto entre as mãos, parecendo verdadeiramente
preocupado, o que fez meu coração doer ainda mais.
— Amor? — Matteo perguntou e vi, por cima dos ombros do homem
que eu amava, seu cenho franzir.
— Amor — o dono do meu coração me chamou e eu estremeci
novamente, sentindo meu coração quebrar um pouco mais.
Olhei em seus olhos, os olhos azuis que eu tanto amava admirar
enquanto me observava com fascínio. Tudo não passava de uma mentira.
— Me solta! — sussurrei, sentindo minha voz embargar.
— O quê?
— Me solta, Henrique! Agora! — consegui gritar.
— Caralho, o que está acontecendo? — Matteo questionou, mas não
movi meus olhos do homem por quem eu, infelizmente havia me
apaixonado.
— Amor…
— Não me chama mais assim! — disse entredentes, afastando-me do
seu toque.
— Porque você está agindo assim?
— Você é muito cínico, Sr. Prado — minhas palavras saíram pingadas
de sarcasmo.
— Amor, eu realmente não estou entendendo o que você está falando.
— Porra, será que eu sou o único que está chocado com o fato do B2
estar chamando Bea de amor? — Matteo gritou, batendo as palmas para em
seguida balançar as mãos no alto.
— Sim, você realmente é o único que está chocado com isso —
Bárbara comentou.
— Bea… — Henrique tentou me tocar mais uma vez, porém recuei.
— Eu não quero que você me toque, nunca mais — exclamei.
— Tocar? O que ela quis dizer com tocar?
— Por favor, vamos nos acalmar — Miguel pediu, seu semblante era
o único tranquilo.
— Eu não quero me acalmar! Não tem como eu me acalmar, porque
ela não me deixa chegar perto — gritou sem tirar seus olhos dos meus, sua
pele estava vermelha e seu peito subia e descia rapidamente.
— Vamos nos acalmar, por favor — Dante disse. — O que quer que
tenha acontecido, vocês poderão resolver conversando.
— Não há nada para conversar — afirmei.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Matteo
perguntou.
— Nada demais — respondi, apertando meus olhos e encarando
Henrique. — Não aconteceu nada demais! Nada! — enfatizei a última
palavra.
— Nada… demais? — Dei um passo à frente. — Você está dizendo
que tudo o que aconteceu entre nós dois não foi nada? Que eu não sou nada
para você?
— Eu que não fui nada para você, já que estava se encontrando com a
sua ex! Até decorou todo o apartamento para comemorar porque reatou com
ela.
— Porra! — minhas amigas falaram em uníssono.
— E não adianta me dizer que estou inventando coisas, caro mio. Eu
a vi seminua em sua casa — me aproximei e enunciei cada palavra
calmamente, tocando em seu peito com meu indicador — Então, qualquer
coisa que tínhamos, acabou!
— Entre nós? Tocar…? — Matteo repetiu as palavras e em dois
segundos, seu cérebro pareceu finalmente processar a informação que só
ele, até então, não sabia. — Caralho! Você…. Você fodeu a minha irmã e a
traiu com a desgraçada da Verônica? — Bradou, indo para cima do amigo
tão rápido, que Miguel e Dante não puderam detê-lo. Tudo em seguida
aconteceu em câmera lenta diante dos meus olhos.
Meu irmão estava enfurecido quando segurou a gola da camisa de
Henrique e desferiu um soco em seu rosto. Levei minha mão à boca,
sentindo meu estômago embrulhar. Tentei acalmar minha respiração à
medida que Miguel e Dante seguraram Matteo, afastando-o de Henrique,
que agora tinha um rastro de sangue no canto da boca.
— Porra! Você… Você… Eu não acredito que você fez isso! — mio
fratello exclamou, completamente fora de controle. — Você dormiu com
ela… e… e… porra a traiu? Você a traiu, Henrique? Foi covarde a esse
ponto, porra?
— Eu não a traí, caralho. Eu nunca faria isso com ninguém, muito
menos com ela! — Henrique gritou exasperado. — E não só porque ela é
sua irmã, mas porque ela é a mulher que eu amo! Porra!
Ana Laura, Stella e Bárbara suspiraram audivelmente com a
declaração.
Matteo arregalou tanto os olhos, que as suas sobrancelhas quase
tocaram em seus cabelos.
Dante e Miguel, ainda segurando os braços de B1, sorriram
orgulhosos.
E eu? Eu não consegui esboçar nenhuma reação. Não me movi, não
disse nada, apenas… Apenas o observei virar o rosto lentamente para mim,
seu olhar estava afiado, sério e repleto de mágoa, conforme caminhava até
mim.
— Eu não te traí — falou baixo, como se estivesse lutando contra as
emoções. — Eu nunca faria isso porque eu te amo, Beatrice. Talvez eu
tenha te amado desde a primeira vez que pus meus olhos em você. Eu já fui
traído e sei o quanto isso dói, machuca. Não traí antes quando estava com
Verônica e não é agora que farei. E sim, eu ainda mantinha contato com a
minha ex, mas não pelos motivos que você imagina. Eu a ajudava com os
pais viciados e sabe porque ela veio aqui hoje? Sabe porque ela estava em
meu apartamento seminua? — perguntou, mas não esperou por uma
resposta minha. — Porque há alguns dias eu disse para ela que não
podíamos mais nos ver, ainda que não tivéssemos nenhum tipo de
intimidade sexual desde que eu terminei o nosso namoro, há anos. Mas
como ser humano, arcaria com o tratamento dos pais dela, deixando um dos
meus funcionários responsável por tudo o que envolvesse a clínica a qual
eles estão internados desde então.
— Henrique…
— Ela claramente não aceitou o que eu disse.
— O que você disse? — sussurrei quando ele já estava próximo, sua
respiração dançando em meu rosto.
— Eu disse que estava prestes a pedir a mulher que eu amo em
casamento e que não seria respeitoso mantermos contato, nem mesmo de
amizade.
— Puta que pariu! — ouvi Stela gritar, porém estou tão atônita, que
tudo à minha volta some. Não consigo escutar e nem ver ninguém, apenas
ele.
— Não é óbvio, Beatrice? Não é óbvio que eu fodi com tudo, com a
amizade com meus melhores amigos por sua causa? Porque eu te amo pra
caralho, te amo a ponto de não me importar com mais nada e nem ninguém
a não ser você. — Henrique enfiou a mão no bolso e meus olhos se abriram
ao ver a caixinha azul de camurça. — Sobre a porra da decoração que você
viu, foi pra isso.
Ele abriu o objeto e eu engoli em seco quando vi o anel solitário com
um diamante azul na ponta.
— Henrique… — falei quando ele começou a se afastar, indo em
direção à porta que ainda estava aberta.
Antes de sair, ele se virou, jogou a caixinha sobre os meus pés e
cuspiu as palavras mais duras que eu poderia ouvir da sua boca.
— Você disse que não quebraria o meu coração e acabou de fazer
exatamente isso. Duvidou do meu caráter sem nem ao menos me dar a
chance de explicar. — E assim, deixando toda a sua mágoa se esvair dos
seus olhos, ele se virou e foi embora, e o soar do apito do elevador
confirmou que não foi para a sua casa.
CAPÍTULO 50
(Bônus)
Miguel
— Ele… ele me ama? — Beatrice balbuciou em completo estado
de choque. Ela ainda permanecia parada no mesmo lugar desde que
Henrique saiu.
Olhei em volta e todos pareciam estar da mesma forma, exceto por
mim e Dante. Trocamos um breve olhar e ainda segurando os braços de
Matteo, ele disse: — Vamos soltá-lo. — Assenti, liberando o braço do meu
amigo.
Dante logo foi até à sua irmã que, a essa hora, estava sentada no sofá
aos prantos, segurando a caixinha azul de veludo aberta entre as mãos
trêmulas.
— Principessa? — a chamou, sentando-se ao seu lado e colocando o
braço por sobre os seus ombros. Assim que Beatrice encostou a cabeça no
peito do irmão, seu choro se intensificou e o som pareceu ter feito todos
saírem do estado de choque que estavam.
— Puta que pariu! — Stella foi a primeira a falar. — Henrique… Ele
ia pedi-la em casamento?
— Meu Deus. A mamãe aqui está passada! — Ana Laura disse com
os olhos arregalados.
— Ele ia pedir a nossa Bea em casamento — Bárbara falou
emocionada.
— Meu melhor amigo ia pedir a minha irmã em casamento? —
Matteo gritou. — Cazzo! O nosso B2 Bombadão se apaixonou… Puta
merda! Ele se apaixonou pela nossa italiana e eu… Puta merda duas vezes!
— Puta merda mesmo, B1! — a ruiva ralhou olhando de cara feia
para ele. — Você bateu no meu primo! — acusou.
— Eu estava tentando defender a honra da minha irmã, ruiva.
— Machucando o seu melhor amigo?
— Eu sinto muito, piccola mia! — suspirou, alisando os cabelos. —
Eu não queria machucá-lo… Eu só…
— É, você só estava tentando proteger a honra da sua irmã e eu vou
fazer o mesmo pelo meu primo — anunciou, mas não tivemos tempo para
processar suas palavras, pois fomos surpreendidos pela sua atitude. Stella
deu um passo para trás, pegando impulso e chocou seu punho fechado no
rosto de Matteo, que deu dois passos para trás pelo impacto, e o soco lhe
rendeu um pequeno corte no lábio.
— Cazzo! — ele bradou, tocando na boca.
— Eu ainda te amo, mas admita que mereceu isso e…. Porra! Seu
rosto é feito de cimento, caralho? — a ruiva disse, segurando a mão que
começou a ficar vermelha.
— Belo soco — comentei e levei uma encarada de Matteo. — O quê?
Você sabe que mereceu.
Ele suspirou, resignado.
— É, eu mereci.
— Ele nun-nunca vai me perdoar — a voz de choro de Beatrice soou,
chamando nossa atenção.
Matteo caminhou até ela e se abaixou, tocando com carinho no joelho
da irmã ao falar: — Eu sinto muito, piccola mia. Eu sinto muito de verdade.
— Você não tem culpa, fratello. — Olhou para ele com os olhos
vermelhos e cheios d’água.
— Claro que vai, Bea — Stella disse ainda segurando a mão. — Meu
primo te ama e pelo que entendi, foi tudo um mal-entendido provocado pela
bruaca da Verônica.
— Eu… Eu pensei que ele tivesse me… me fa-fazendo de boba
quando a vi só de… só de calcinha e sutiã.
— Eu vou acabar com essa mulher — Stella bradou.
— Calma aí, Shonda Rhimes ruiva — Matteo disse, virando o rosto
para olhar para ela, que andava de um lado para o outro com o maxilar
apertado e as narinas abertas, como se estivesse puxando e soltando o ar
com força. — Vamos cuidar dessa sua mão e do estrago que você fez no
meu lindo rostinho antes. — Ela anuiu, ainda fazendo um buraco no chão.
— E você, sorella — se voltou para Beatrice, que agora fungava baixinho,
abraçada a Dante, que acariciava os cabelos da irmã —, procure se acalmar.
Tutto bene?
Beatrice assentiu, fazendo bico e recebeu um beijo na testa de B1.
— Me perdoe por não ter percebido antes que algo estava
acontecendo entre vocês. Quando o fizemos prometer, jamais
imaginaríamos que o amor estaria na jogada.
— Diga por você — Dante disse.
— Espera, você sabia sobre eles? — perguntou incrédulo.
— Todo mundo sabia, gênio — Bárbara debochou.
— Todo mundo, menos eu? O mais bem informado? Como isso é
possível?
— Ao que tudo indica, você está perdendo os seus dons, cara —
comentei.
— Caralho, o que foi que eu perdi? — Ele coçou a cabeça.
— Muita coisa — Ana murmurou.
— Precisamos ligar para Henrique — Stella quem sugeriu e eu
assenti, sacando do bolso o meu celular para discar o número dele.
— Nada. Ele não atende — falei depois de tentar três vezes sem
sucesso.
— Stella — Beatrice a chamou. — Me perdoa por…
— Você não precisa pedir perdão para mim, Bea. Eu sei que você não
queria machucar o meu primo e como a orgulhosa que também sou, consigo
entender a forma como você reagiu.
— Eu o amo — sussurrou chorosa. — O amo e nem tive tempo de
dizer isso a ele.
— Eu sei que quando estamos apaixonados, a gente se torna urgente
— Ana Laura falou, se aproximando da amiga. — Mas acredite em mim
quando digo que tudo irá se resolver. — Tocou em sua bochecha com
carinho. — Vocês só precisam se acalmar e dar tempo ao tempo.
— Sei que não é o momento para isso, mas… Esse foi o surto de
vocês, não foi? — Matteo perguntou e surpreendentemente, suas palavras
fizeram Beatrice soltar uma risada fraca, mas ainda sim, era uma risada.
— Acho que sim, fratello.
— Nem acredito que aquele Bombadão será meu cunhado.
— Nosso cunhado, Matteo — Dante o corrigiu. — E você precisa se
desculpar com ele.
Matteo suspirou.
— É, eu sei.
— Você pode tentar ligar de novo para ele, Miguel, enquanto eu
coloco gelo na mão? — Stella perguntou.
— Claro.
— Vem, boca suja. — Ela bateu no ombro dele, que logo se levantou.
— Vamos cuidar dos nossos machucados. — Meu amigo concordou e
ambos foram até a cozinha.
— Tudo vai se resolver, querida — Dante disse a Beatrice, que voltou
a chorar. — Tudo vai ficar bem e vocês serão muito felizes. Eu sei disso.
CAPÍTULO 51
Beatrice
— Por favor, por favor! Atende! — falei, chorando com o telefone
contra a orelha.
Depois de tudo o que aconteceu, Henrique não voltou para o seu
apartamento. Sei disso, porque fiz guarda na sua porta, esperando
ansiosamente por ele a noite toda depois que todos foram embora.
Minha culpa e dor só aumentaram quando meus pais surgiram com as
gêmeas nos braços. Aparentemente, enquanto eu estava chorando por algo
que não era verdade, todos já estavam no apartamento à frente, apenas me
aguardando. Eles me contaram que Henrique havia ido até eles pedir a
benção para o pedido de casamento e com muita alegria, concederam.
Eu realmente fodi com tudo!
Minha família e meus amigos se ofereceram para ficar comigo, mas
eu precisava ficar sozinha.
Precisava pensar na grande burrice que eu cometi ao me deixar levar
pelo orgulho.
Precisava pensar na minha atitude impulsiva em acreditar em algo
antes de conversar com Henrique.
Eu estava me sentindo uma completa idiota filha da puta!
— Cazzo! — gritei, jogando o celular em cima do sofá.
No sofá, abracei as minhas pernas contra o peito e chorei
copiosamente, desejando voltar no tempo. A cada lágrima que caía, era
mais uma gota de dor que aumentava em meu peito. Ainda que eu soubesse
que, em algum momento, ele fosse voltar, essa coisa de amor nos faz ser
imediatistas. Eu tinha urgência em falar com ele.
Não sei quanto tempo se passou até que eu pegasse no sono.
Acordei na manhã seguinte e sem aviso, me senti enjoada. Corri até o
banheiro, colocando tudo o que havia comido no dia interior para fora, o
que era muito pouco. Me senti tonta à medida que os enjoos diminuíram e
acreditava que a causa era a fraqueza, já que não me alimentei direito.
Dei descarga e me levantei, vendo no espelho uma Beatrice pálida,
com os lábios levemente arroxeados e olhos inchados devido ao choro.
Abri uma das gavetas do armário da pia, procurando por algum
remédio de enjoo, mas o que vi ali, despertou uma dúvida em mim.
— Quando foi minha última menstruação? — perguntei, olhando para
o pacote de absorvente.
Corri para o meu quarto, procurando pelo meu celular, onde sempre
deixo anotado os dias de meus ciclos menstruais.
— Caralho! — exclamei, vendo no aparelho que eu estava atrasada
há mais de uma semana.
Em toda a minha vida, desde a minha primeira menstruação, eu nunca
atrasei nem um dia sequer.
Pensei em todas as vezes que fiz sexo com Henrique sem camisinha e
fazendo uma rápida conta, se as minhas desconfianças estiverem certas, eu
engravidei na noite em que fizemos sexo na piscina na sua parte da sacada.
— Não. Não pode ser! — Senti meu rosto molhar conforme andava
de um lado para o outro. — Não agora. Não assim. Não depois de tudo.
Voltei a ligar para ele, mas novamente não obtive resposta.
Deixei meu telefone em cima da cama e retornei ao banheiro. Fiz
minha higiene pessoal, tomei banho e tratei de colocar roupas confortáveis
— uma calça de moletom preta e uma blusa branca —, o tempo todo
pensando se estava ficando louca ou se eu realmente estava grávida.
Estava saindo do banheiro quando o meu celular tocou. Corri o mais
rápido que consegui, pensando que poderia ser Henrique.
— Henrique? — disse ao atender sem olhar para a tela.
— Ele ainda não apareceu? — a voz de Matteo soou preocupada.
— Não — suspirei, reprimindo a vontade de chorar que ameaçou
voltar.
— Droga! E como você está?
Arfei.
— Desolada, Matteo. E você?
— Estou me sentindo um merda e um péssimo amigo — confessou.
— Porém, uma parte de mim está feliz por saber que ele te ama.
— Não tenho mais tanta certeza disso.
— Beatrice insegura é uma novidade.
— É, o amor deixa a gente assim —bufei.
— Quer que eu vá ficar contigo? Não gosto da ideia de te deixar
sozinha. Todos estão muito preocupados com você, sorella.
— Não precisa. Eu tenho que ir até a farmácia.
— O que você tem?
— Não se preocupe! — me antecipei em acalmá-lo. — Vou apenas
comprar um remédio para dor de cabeça. O que eu tinha, já acabou —
menti.
— Posso levar para você.
— Não se incomode. A farmácia é perto e posso ir até lá andando.
Em menos de meia hora, já estarei de volta.
— Tutto bene, mas me avise assim que chegar.
— Va, bene.
— E… — Meu irmão fez uma pausa antes de continuar. — Eu sinto
muito, Bea. Tudo vai ficar bem e se quiserem, eu posso até pagar a lua de
mel de vocês quando casarem.
Ri, porque só Matteo é capaz de fazer qualquer pessoa sorrir em
momentos tão difíceis.
— Eu nem sei se ele ainda me quer, quanto mais se vai casar comigo
depois da burrice que fiz — falei com a voz trêmula.
— Per Dio! Claro que ele ainda quer. Eu nunca vi o meu amigo
daquele jeito por nenhuma mulher. E aquele foi o surto dele.
— Isso realmente funciona, né?
— Claro! Tudo vai ficar bem logo, logo. Você verá.
— Eu espero — disse e me despedi dele.
Antes de conversar com Henrique, eu precisava tirar essa dúvida da
cabeça. Então, saí apressada pela porta da frente do apartamento com o
coração explodindo de agonia e nervosismo.
Como falei para o meu irmão, a farmácia era realmente perto, então
fui andando e em menos de dez minutos, já estava com um teste de gravidez
digital nas mãos. Depois de pagar, perguntei à simpática atendente se eles
tinham banheiro. Ela, educadamente, me guiou para um e tão nervosa como
antes, abri a caixa e fiz o teste.
Os cinco minutos pareciam não passar. Eu estava encostada na parede
de frente para a pia, onde o palito estava. Quando o relógio em meu pulso
apitou, sinalizando que o tempo acabou, meu coração acelerou e tive que
lutar para ficar de pé ao me aproximar da bancada e vi “grávida três mais”
no pequeno monitor.
Segurei o teste em minhas mãos e por instinto, toquei meu ventre.
— Não acredito! — As lágrimas desceram como cachoeiras pelo meu
rosto.
Pensei em Henrique e o que ele faria se estivesse aqui comigo.
Pensei se ele ficaria estranhamente feliz, como eu estou, pela
surpresa.
Pensei se ele me beijaria e prometeria cuidar de nós.
Lavei meu rosto antes de sair e guardei o teste na minha bolsa, onde
havia deixado também a caixinha com o lindo anel de noivado.
Eu precisava conversar com alguém após descobrir que estava
grávida, senão eu corria o risco de surtar.
Saí do banheiro, indo até a rua procur por um táxi, até que braços
fortes me agarraram por trás e antes que eu pudesse gritar por ajuda, um
pano foi pressionado em minha boca.
Tão rápido quanto, meus olhos se fecharam e vi a sombra de alguém
se aproximando de mim, porém tudo estava embaçado e então, a escuridão
me abraçou.
CAPÍTULO 52
Henrique
Eu estava sentado em uma poltrona, segurando uma garrafa de
uísque quase vazia nas mãos. Não me lembrava se era a segunda, muito
menos se era a terceira. Logo que cheguei, vim direto para o bar e peguei a
primeira garrafa que vi pela frente em casa, na tentativa de esquecer tudo o
que aconteceu horas atrás. Mas a dor que estava rasgando meu peito, me
fazia lembrar de que tudo foi real, assim como o amor que sinto por ela,
pelo menos, é real para mim.
Enquanto dirigia para cá, pensei em tudo que eu diria a ela antes de
pedi-la em casamento. Porra, eu tinha ensaiado a semana toda.
Reescrevi mil vezes cada parágrafo da carta que tenho em meu bolso.
Só Deus sabe o quanto foi difícil mantê-la longe e evitá-la durante os
últimos dias.
Olhei para a minha sala cheia de pétalas de rosas e chorei mais uma
vez. Na verdade, não sei se deixei de chorar desde que saí, deixando todo
mundo para trás. Conforme o álcool entrava em meu sistema, perdi a noção
da realidade. Não sei que horas eram, mas olhando pela grande porta de
vidro que dá para a área externa, vejo que já escureceu.
Senti o cansaço bater, como se não dormisse há dias.
Fechei meus olhos e me deitei no encosto da poltrona, jogando minha
cabeça para trás, pensando nela.
Eu não acreditava que Beatrice realmente pensou que eu fosse capaz
de tanto.
Meu peito dói com a dor mais forte que eu já experimentei em toda a
minha droga de vida.
Nem quando fui rejeitado e maltratado pelos meus pais eu me senti
assim.
Acabado. Destruído. Arruinado.
Mesmo com o ódio se fazendo presente, eu não conseguia deixar de
amá-la.
Eu amava Beatrice.
Amava como nunca amei alguém.
Mesmo que ela não me amasse de volta, ainda sim, não seria possível
deixar de amá-la.
A imagem dela me olhando como se eu fosse o ser humano mais
desprezível do planeta veio à minha mente e eu gritei com toda força que
havia em meus pulmões jogando a garrafa, com pouca bebida, na parede
mais próxima. O líquido se alastrou com o choque e vários cacos de vidros
se espalharam pelo chão.
Caí no chão de joelhos, chorando copiosamente.
Tudo parecia ter sido um sonho, o melhor sonho da minha vida e eu
finalmente achei que teria o meu final feliz.
Daria qualquer coisa que ela me pedisse, mesmo que fosse inviável,
tornaria possível.
Faria tudo para fazê-la feliz.
Porque ver seu sorriso, me deixava feliz pra caralho.
Mas agora, sentia como se estivesse morto, sem coração porque até
isso eu dei a ela.
E Bea o quebrou, jogando na minha cara que eu não era nada em sua
vida, um nada para ela.
Tudo na minha vida estava ligado a ela.
Minha cama tinha o seu cheiro, meu banheiro estava repleto de coisas
suas.
Suas roupas já ocupavam algumas gavetas em meu closet.
Até essa casa estava marcada por ela.
Beatrice me deu a minha primeira lembrança nessa casa.
A melhor primeira lembrança que eu já tive na vida.
Não sei quanto tempo fiquei assim, divagando e chorando no chão,
sentindo-me um lixo, deplorável, até que meus olhos finalmente se
fecharam e pude descansar, ao menos um pouco.
Apertei meus olhos com força, fugindo da claridade que os invadiu.
Meu corpo todo doía e senti minha mão direita arder e algo escorrer
por ela.
Quando finalmente consegui abrir meus olhos por completo, depois
de me acostumar com a luz que adentrava em minha sala, foquei no
ferimento que havia em minhas mãos. Um pouco de sangue escorria do
corte onde havia um pedaço de vidro.
Levantei do chão e me sentei no sofá, minha cabeça martelando pela
noite fodida que tive.
Por alguns segundos pensei ter sido tudo um pesadelo, mas assim que
meu celular tocou e vi uma mensagem da minha prima, Stella, sei que tudo
infelizmente aconteceu.
Que eu quebrei a confiança dos meus amigos.
Que eu fodi com a porra da nossa amizade.
Que eu quebrei o juramento que havia feito a eles.
Que Beatrice me olhou com aqueles malditos olhos verdes cheios de
dor e desdenhou do meu amor.
Eu odiava ser olhado daquela maneira.
Eu odiei ser acusado de algo que eu não fiz.
Durante a minha infância eu fui acusado de ser o maior problema dos
meus pais e isso doía.
Toquei na tela para abrir a mensagem e um calafrio passou pelo meu
corpo ao lê-la.
Stella: "É urgente. Me ligue assim que ver essa mensagem,
Henrique."
Conhecendo minha prima como eu a conheço, sei que ela jamais diria
que algo é urgente se não fosse, muito menos usar essa tática para que Bea
pudesse falar comigo.
Selecionei o número dela e apertei para ligar. No segundo toque ela
atendeu.
— Henrique? — falou assustada ao atender. — Onde você está?
— Estou bem. Não se preocupe. — Ajeitei a minha postura.
— Você precisa vir para a casa dos Fontana. O mais rápido possível.
— Eu não quero ver ningu... — não terminei de falar, pois Stella me
interrompeu, me dando a pior notícia da minha vida.
— Sequestraram a Beatrice.
Beatrice
Estava frio, minhas costas e minha cabeça doíam.
Abri os olhos, mas não consegui enxergar nada.
Tudo estava em uma completa escuridão.
Tentei me levantar, porém algo me prendia pelos tornozelos e pelo
barulho que fez quando tentei me mover, supus que eram correntes. Sentei
com um pouco de dificuldade, encostando minhas costas na parede mais
próxima.
Organizei meus pensamentos na tentativa de entender onde estava,
mas a única coisa que me recordei foi do teste de farmácia que fiz. Grávida.
A palavra ecoou em minha mente e como por impulso, toquei em meu
ventre com as duas mãos.
Um pedacinho dele estava dentro de mim.
Um pedacinho do amor da minha vida estava dentro de mim.
Ouvi, ao longe, vozes conversando, contudo não consegui entender o
que falavam. Pensei em gritar, mas minha intuição dizia que era melhor eu
ficar quieta. Já tinha visto alguns programas policiais falando sobre
sequestro e que a melhor forma de evitar a ira dos sequestradores, é ficar
calada.
Eu precisava ficar calma. Por mim e pelo meu bebê.
Puxei o ar algumas vezes tentando desacelerar meus batimentos
cardíacos, porém um barulho me fez estremecer, e meu peito doia conforme
meu coração pulsava dentro da caixa torácica.
Uma luz foi acesa, iluminando todo o ambiente à minha volta e
identifiquei ser um depósito de bar, ou talvez de um restaurante. Era difícil
dizer.
Haviam caixas de bebidas espalhadas por todo lado, alguns produtos
de limpeza em um canto distante e uma cadeira de madeira velha em minha
frente. E foi então que notei que meus pés estavam acorrentados em uma
coluna.
Escutei passos se aproximando e abracei meu corpo como forma de
proteger a mim e ao meu bebê.
— Que bom que acordou. — Um corpo alto surgiu em meio às
sombras e o rosto de Verônica brilhou cheio de ódio, seu olhar era doentio
sobre mim.
Ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo no alto de sua
cabeça e vestia calça e blusa pretas, todavia, a rosa vermelha bordada na
gola me chamou atenção.
Eu já vi esse desenho em algum lugar. Pensei, mas não conseguia me
lembrar de onde.
— Acho melhor você não gritar — avisou, balançando uma arma que
só agora notei em sua mão direita.
— O que quer de mim? — perguntei com minha voz trêmula e me
encostei ainda mais contra a parede fria.
— Quero que devolva o que sempre foi meu! — exigiu, se sentando
na cadeira à minha frente.
— Eu... Eu não estou mais com Henrique, Verônica — disse e uma
pontada de dor em meu peito me fez lembrar do quanto fui uma idiota com
ele.
— Eu sei. — Cruzou os braços, sorrindo feito uma psicopata. — Meu
plano para separá-los acabou saindo melhor do que planejei.
— Por que você está fazendo isso?
— Por quê? Porque antes de você chegar, nada estava no meu
caminho. Nada! Henrique estava sozinho e era só questão de tempo para ele
me perdoar e nós voltarmos a ser aquele casal feliz que costumávamos ser.
Mas aí. — Apontou a arma para mim — Você apareceu e fodeu com tudo!
— Me deixe ir, por favor! — pedi, sentindo minha garganta arder. —
Por favor!
Ela soltou uma gargalhada forçada.
— Você não vai a lugar nenhum! — decretou.
— Ele não me quer mais. Acredite em mim.
— Mas enquanto você estiver viva, ainda será uma pedra no meu
caminho. Você só sai daqui morta, vagabunda. Você e essa criança em seu
ventre.
Arregalei meus olhos e o medo tomou conta de mim.
— Eu vi o teste em sua bolsa. Porra! Era para eu estar esperando um
filho de Henrique e não você. Eu deveria carregar o herdeiro dele.
Suas palavras são a chave para as minhas lágrimas que até então
estavam presas, saírem rolando pelo meu rosto.
— Por favor, Verônica! — supliquei entre soluços. — Por favor!
— Cala a boca! — gritou e eu abracei meus joelhos contra o peito
quando ela se levantou, vindo até mim, agarrando com força meus cabelos
com sua mão esquerda e senti minha cabeça arder com o puxão, me fazendo
levantar o rosto para olhar em seus olhos. — Para de chorar, sua vagabunda.
Você está me irritando. — E então ela desferiu um soco em minha boca
com a mão que segurava a arma.
Choraminguei, sentindo a dor em meu rosto e o gosto de sangue em
minha língua.
Verônica me soltou, fazendo minha cabeça bater contra a parede atrás
de mim.
Fiquei tonta no mesmo segundo e caí no chão.
Minha visão ficou embaçada e eu lutei para não desmaiar.
— Ela é boa! — uma voz masculina e cheia de sotaque soou.
Fechei meus olhos e os apertei forte antes de abri-los.
Vi um homem de costas para mim. Ele era alto, ombros largos,
cabelos levemente ondulados, pele bronzeada e notei que seus braços eram
cheios de tatuagens, onde a blusa branca não cobria.
— É como dizem, uma mulher ferida é capaz de tudo — outra voz
masculina chegou aos meus ouvidos, só que dessa vez, algo no timbre me
fez acreditar que ela era familiar.
— Por favor, me… ajuda — balbuciei.
— Cala a porra da boca! — Verônica gritou, vindo na minha direção.
E quando seu punho se chocou em meu queixo com ainda mais força do
que antes, não resisti mais e apaguei. Tudo era escuridão novamente.
CAPÍTULO 53
Henrique
— O que você disse Stella?
— Sequestraram a Beatrice. — Pude notar o quanto minha prima
estava se controlando para não chorar. — Ela falou com Matteo de manhã,
dizendo que ia até uma farmácia próxima ao prédio, mas não retornou.
Então, ele e Dante foram até o apartamento dela e encontraram um bilhete
deixado debaixo da porta, dizendo que estavam com ela e estamos todos na
casa dos Fontana. Eles estão tentando rastrear o celular da Bea, mas… não
temos nenhuma notícia ainda.
— Porra! Caralho! Estou a caminho — avisei.
Finalizei a chamada e simplesmente saí porta afora. Sem me importar
se estava fedendo a álcool, se não tomei banho ou que minha mão doía.
Nesse momento, o que importava era encontrar Beatrice.
Como assim sequestraram o amor da minha vida?
Tentei manter a calma para conseguir chegar à casa dos pais dela.
Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos, tentando digerir toda
essa loucura.
Deixei meu orgulho ferido de lado e me concentrei nela.
Se alguém ousasse tocar em um único fio de cabelo de Beatrice, eu
mataria o desgraçado com as minhas próprias mãos.
Um pouco mais de quarenta minutos depois, parei em frente à
mansão, me identificando para o segurança que logo liberarou minha
entrada. Estacionei em uma das vagas da garagem sem me importar se tinha
colocado na marca certa da faixa.
Pulei do carro e quase que correndo, cheguei à porta de entrada que
estava destrancada. Ao entrar, vi os pais de Beatrice sentados no sofá, o Sr.
Vincenzo tentava acalmar a esposa que estava aos prantos. Miguel falava
com alguns homens engravatados que mexiam em vários aparelhos
espalhados pela mesa de jantar.
Ana estava descendo as escadas e veio ao meu encontro, me
abraçando.
— Henrique, que bom que veio — disse com os olhos brilhando de
angústia. — Venha, Miguel quer falar com você.
Fomos até seu irmão, que estava com Matteo ao seu lado, e meu
coração parecia a ponto de sair pela boca.
— O que está acontecendo? — perguntei, sentindo uma lágrima cair
em meu rosto. — Alguma pista de quem possa ter feito isso?
— Já solicitamos as imagens das câmeras de segurança das farmácias
próximas, para ver em qual sua esposa esteve. — A palavra dita pelo
homem desconhecido fez meu estômago se agitar de uma forma boa. De
uma forma fodidamente boa.
Olhei para os meus amigos com um semblante confuso no rosto.
— Eu disse que você era o marido da minha irmã — Matteo
esclareceu, seu sorriso brincalhão de sempre, era fraco e pelos olhos
marejados, podia afirmar que ele andou chorando. — Me desculpe pelo
soco.
Suspirei.
— Me desculpe por ter escondido sobre Beatrice e eu.
Ele apenas anuiu e me deu um breve abraço.
Alberto, amigo do Miguel ao qual fomos apresentados em uma das
nossas ida ao bar de sua família, por convite do cunhado de Dante, se
aproximou, me saudando com um aperto de mão.
— Estou no comando do caso. — Assenti. — Dante e Matteo
acreditam que a sua ex-namorada possa estar por trás do sequestro da
senhora Prado.
Senhora Prado.
Beatrice Prado.
Esposa de Henrique Prado.
Porra, eu amei a forma como seu nome com o meu sobrenome soou
em minha mente.
— Posso ver o bilhete que deixaram?
— Claro — disse, estendendo o pedaço de papel na minha direção.
Segurei e o abri, lendo a frase que estava escrita ali.
"Se você não for meu, não será de mais ninguém. V.”
Bufei, sentindo ódio por cada célula minha.
— Eu vou matar, aquela desgraçada! — declarei.
— Preciso lhe fazer algumas perguntas — Alberto comunicou.
Durante os próximos minutos, respondi tudo o que me foi perguntado
com o máximo de detalhes que consegui lembrar. Desde o nosso término há
anos, todas as vezes em que eu a via a fim de ajudá-la com seus pais, até a
sua ida ao meu apartamento. No momento em que terminei, recebi olhares
curiosos dos meus amigos, principalmente Dante e Matteo, que passaram
anos me aconselhando a estabelecer limites com relação à Verônica. Nunca
contei o que ela passava, porque eu sabia que no momento em que o
fizesse, seria inevitável não contar sobre o meu passado.
— Porque o senhor permaneceu a ajudando mesmo após o término?
— Alberto perguntou com todo profissionalismo que sua posição lhe
competia.
Soltei um longo suspiro, me sentindo pronto para falar sobre a minha
infância. E como se o destino quisesse me mandar forças, minha prima,
Stella, surgiu em meu campo de visão com Bárbara ao seu lado. Olhando
para ela, à medida que se aproximava, comecei a falar.
— Eu não queria que Verônica vivesse a mesma coisa que vivi até os
meus sete anos de idade. — Minha garganta ardia conforme eu soltava as
palavras sobre os olhos curiosos dos meus amigos. — Eu fui vítima de
maus-tratos até os sete anos. Meu pai perdeu o emprego e começou a beber
cada vez mais depois disso. Não me lembro quando as sessões de
espancamento começaram, mas sei que elas terminaram quando eu tinha
sete anos. Os pais da minha ex eram viciados em crack e tudo piorou
quando eles saíram dos seus trabalhos, porque foram acusados de furto.
Continuei ajudando Verônica, pois fiquei com medo de que ela pudesse se
tornar uma vítima, assim como eu fui por anos.
Só quando terminei meu relato, percebi que estava chorando ao sentir
lágrimas em minha boca. Meu lado orgulhoso me fez abaixar a cabeça para
fugir dos olhares consternados de todos. Funguei e passei a mão no rosto no
momento em que um corpo pequeno se chocou com o meu em um abraço
apertado. Reconheci de imediato ser Beatriz Fontana.
— Sinto muito, querido — ela disse chorosa, apertando-me ainda
mais, enquanto acariciava minhas costas. Descansei o queixo no topo de sua
cabeça e encontrei os olhos de todos os meus amigos, me surpreendendo ao
não ver pena em nenhum deles.
— Porque não nos contou, cara? — Dante perguntou, se aproximando
e tocando em meu ombro.
— Vergonha — falei baixinho quando sua mãe me libertou, mas
ainda permaneceu perto de mim.
— Não precisa ter vergonha de nós, ragazzo — o Sr. Vincenzo disse
enfático. — Somos família, todos nós. Estamos aqui para você.
— Sempre, B2. — Matteo acenou com os olhos vermelhos.
Conhecendo bem meu amigo, eu sabia que ele ainda se culparia pelo soco
que me deu por um bom tempo. Matteo Fontana era impulsivo, mas tinha
um coração gigante.
— Estou orgulhosa de você, primo — Stella soltou. — Muito
orgulhosa.
— Conte conosco, Henrique — Bárbara acrescentou.
Anui.
— Obrigado! — agradeci e recebi um beijo maternal da Sra. Beatriz.
Nesse momento, meu celular tocou. Assim que o tirei do bolso, vi um
número desconhecido na tela. Apertei o botão de atender e a voz de
Verônica chegou ao meu ouvido, como facas cortantes fazendo minhas
veias ferverem de ódio.
— Oi, amor.
— Onde ela está? — gritei.
— Não vai perguntar o que eu quero?
Suspirei, procurando manter a calma.
— O que você quer? — falei pausadamente, entredentes.
— Eu quero você. Não consegue ver que estou fazendo tudo isso para
que possamos ficar juntos, meu amor?
— Verônica, a Beatrice está bem? — procurei saber, engolindo o nó
que se formou em minha garganta. — Eu preciso saber se ela está bem.
— Porque você está perguntando por ela, se sou eu a mulher certa
para você Henrique? Apenas eu mereço estar ao seu lado — gritou.
— Tudo bem. Tudo bem — falei, recebendo um papel de Alberto
contendo o que devo dizer. — Me diga… meu… meu amor. — Procurei
esconder o nojo em cada palavra. — O que você quer?
A ouvi suspirar do outro lado da linha.
— Quero que me encontre sozinho daqui a uma hora no bar que
costumávamos ir depois da faculdade. E não se atreva a trazer ninguém com
você, muito menos a polícia. Entendeu?
— Sim.
— Promete, amor?
— Eu… Eu prometo.
— Você é inteligente e é melhor não estar mentindo para mim, ou eu
mato essa italianinha de merda junto a esse bastardo que ela carrega em seu
ventre.
Franzi o cenho.
— Do que você está falando, Verônica?
— Você não sabia?
— Sabia do quê?
— A vagabunda está grávida. Ela armou tudo isso para nos
separarmos.
Arregalei os olhos, sentindo todo o meu corpo gelar conforme meu
cérebro processava a informação que eu acabei de receber.
Grávida?
Beatrice está grávida?
Minha diaba italiana está…. grávida?
Meu mundo literalmente parou.
Olhei ao redor para os rostos dos meus amigos e família, todos abriam
e fechavam a boca, mas não consegui ouvir qualquer tipo de som.
Meu coração apertou muito mais do que na noite passada.
Todas as células do meu corpo vibraram.
Meus pulmões lutavam para puxar o ar.
Entrei em transe por pensar que serei... pai?
Porra, eu vou ser pai!
A felicidade que me tomou por saber que a mulher da minha vida está
esperando um filho meu, logo desapareceu ao imaginar o que eles estavam
passando nas mãos dessa maluca. Minha família.
— Vou encontrar com você, mas… por favor não a machuque. Eu…
não quero que… que você seja presa, meu… meu amor — menti, tentando
ganhar tempo.
— Eu sabia que você ainda me amava. Estarei te aguardando, amor.
Assim que finalizei a chamada, tive a sensação de que iria desmaiar a
qualquer momento. Miguel e Matteo perceberam o meu estado e
caminharam até mim, segurando meus braços e guiaram-me para o sofá
mais próximo, me sentando ali.
— Meu filho, por favor, diga que a minha bambina está bem? — Sr.
Vincenzo perguntou.
— Ela... Ela... — Engoli em seco, as palavras me faltaram.
Um bebê? Meu bebê? Nosso bebê?
— Eu vou ser... Eu vou ser… pai — murmurei, ainda anestesiado pela
notícia.
— O quê? — Bárbara, Ana e Stella exclamaram ao mesmo tempo.
— O que você disse? — Dante indagou.
— Eu vou ser pai — falei, dessa vez em alto e bom som.
— Puta que pariu! Nossa Beatrice está… grávida! — Matteo gritou.
— Minha filha… Minha princesa está grávida? — Sr. Vincenzo disse,
levando a mão à boca, abafando o choro.
— Henrique — Miguel me chamou com seu jeito calmo de sempre.
— Diga-nos o que a tal Verônica disse.
— Eu... eu preciso ir — falei, me levantando feito um louco, indo em
direção a porta da frente, mas fui detido pelos meus amigos. — Porra, eu
preciso tira-los de lá. Eu preciso. — Tentei fugir dos braços que me
seguravam com firmeza. — Me soltem!
— Henrique, vamos conversar e decidir qual a melhor opção —
Alberto ditou, vindo até nós.
— Conversar é o caralho! Eu acabei de descobrir que a mulher que
eu amo está esperando um filho meu e que ambos estão correndo perigo, e
você ainda quer conversar? Vá à merda! Eu vou lá! Foda-se!
— Primo, por favor. Você está muito nervoso. Escute o delegado —
Stella falou se aproximando com as duas mãos junto ao peito.
— Eu tenho que salvar a minha família — implorei, sentindo o nó na
minha garganta se desmanchar em lágrimas. — Eu preciso deles.
Quando pensei que ia cair, novamente Miguel me segurou, me
firmando em pé. Eu o abracei forte e como uma criança, chorei
compulsivamente em seus ombros.
— Miguel... — disse entre soluços.
— Eu sei. Eu sei — falou, passando a mão em minhas costas.
— Eu não posso perdê-los. — Minha voz saiu quase um fio em meio
às lágrimas. — Eu não posso.
— Você não vai, amigo.
— Se alguma coisa acontecer com eles, eu... eu vou morrer. Eu não
vou suportar.
— Você precisa ficar calmo, não aja por impulso. Precisamos pensar
em uma forma que não ponha a vida deles em risco.
— Eu dou a minha vida por eles se for preciso. Eu só os quero bem
— choraminguei, apertando mais as costas do meu amigo.
— Eu vou ser avó de novo? — dona Beatriz exclamou, parecendo ter
saído do transe que estava.
Afastei-me um pouco de Miguel para ver olhos emocionados sobre
mim. Dante me abraçou, me dando os parabéns, e Matteo veio logo em
seguida. As meninas me abraçaram e disseram palavras positivas.
O Sr. Vincenzo e a Sra. Beatriz ficaram apenas de longe, me lançando
um sorriso em meio às lágrimas.
— Você precisa me dizer o que ela disse a você — Alberto pediu
sério, olhando em meus olhos.
— Ela disse que quer me encontrar em um antigo bar que
costumávamos ir quando estávamos juntos e ameaçou… machucar a minha
mulher e o meu filho se eu levasse a polícia comigo.
— Certo. — Ele assentiu, indo em direção aos aparelhos que estavam
na mesa da sala. — Quanto tempo ela nos deu?
— Uma hora.
— Esse bar é longe?
— Quinze minutos de carro.
— Então, vamos preparar você.
Conforme dirigia a caminho do bar, não conseguia parar de pensar
que a mulher que eu amo carrega um filho meu em seu ventre.
Um filho meu.
Meu filho.
Porra, eu ia ser pai!
Depois que me acalmei, a equipe de Alberto colocou escutas
espalhadas em meu corpo e me passou instruções sobre como agir assim
que chegar ao local de encontro com Verônica, que ao que tudo indicava,
não estava agindo sozinha. Prometi não fazer nada fora do combinado,
contudo algo dentro de mim gritava em completo desespero.
A verdade era que eu não esperaria nada e nem ninguém para salvar
Bea e o nosso bebê, ainda que isso significasse perder a minha própria vida.
Olhei para a minha mão enfaixada no volante e pensei se a minha
diaba estaria ferida, se estaria com frio, com fome, se nosso bebê estaria
bem. Esses pensamentos fizeram meu corpo estremecer de medo.
Dona Luíza, atenciosamente, fez um curativo no ferimento causado
pelo vidro na noite anterior, enquanto Dante me emprestou duas peças de
roupa que deixava em seu antigo quarto na casa dos pais, uma calça preta e
uma blusa social branca. Todos insistiram para que eu tomasse um banho
para me livrar do cheiro forte de álcool.
Enquanto estava no banho, pensei nela.
No seu cheiro, no seu corpo.
Na boca que era capaz de fazer loucuras em mim.
Eu amava essa mulher pra caralho e eu não sei o que faria se alguma
coisa acontecesse com ela. Provavelmente, vou desejar ter o mesmo fim. Eu
não suportaria viver sem tê-la ao meu lado.
À medida que me aproximava do local, com toda a equipe de Alberto
e nossa família um pouco mais atrás, a agonia em meu peito cresceu.
Apertei forte o volante, tentando buscar dentro de mim a paciência
que eu nunca tive.
Alguns minutos depois, estacionei em uma vaga na frente do bar. Ele
estava do mesmo jeito que eu me lembrava. Tinha uma grande janela de
vidro em toda a parede da frente com apenas uma porta de madeira escura.
Desci do carro e olhei para o veículo onde os meus amigos estavam, a
alguns metros de onde estacionei. Toda a equipe está à paisana para não
levantar suspeitas de que eu não estava sozinho.
Alberto acenou com a cabeça, dando sinal para eu seguir em frente.
Ele me informou que havia um atirador em algum lugar por perto, apenas
esperando o sinal, caso houvesse necessidade. Além de uma ambulância,
que eu pedi a Deus que não precisasse.
Caminhei até a entrada, pedindo a Deus que eles estivessem bem, mas
minhas pernas pararam quando Verônica surgiu no fundo do bar com
Beatrice. Ela estava agarrando-a pelo ombro com sua mão esquerda
enquanto que a outra apontava uma arma na direção da sua cabeça.
Meu coração bateu forte e corri meus olhos pelo corpo da minha
mulher, procurando saber se ela estava bem. Quando cheguei em seu rosto,
vi sua bochecha vermelha e sua boca cortada com um pouco de sangue no
canto.
Apertei minhas mãos em punho ao lado do corpo, procurando manter
a calma.
Os olhos de Bea se encontraram com os meus e pude ver o quanto ela
estava apavorada. Algumas lágrimas caíram pelo seu rosto e como por
instinto, suas mãos estavam em volta da sua barriga.
— Não se aproxime ou eu atiro nela — Verônica anunciou apertando
mais o cano da arma contra a têmpora de Bea.
— Tudo bem. — Levantei as minhas mãos em rendição. — Vou fazer
o que você disser.
— Você veio com alguém?
— Não! Eu fiz como você me pediu. Deixe-a ir, Verônica. É a mim
que você quer. — Dei um passo à frente. — A minha vida pela vida dela.
— Não! — Bea chorou. — Por favor!
Calma, meu amor. Tudo isso vai acabar.
Você e nosso filho ficarão bem.
— Cala a boca! — gritou, apertando mais seu pescoço.
— Por favor. — Dei mais um passo. — Eu estou aqui, como me
pediu.
— Você promete que… que vamos ficar juntos? Eles me disseram
que se eu fizesse tudo certo, você ficaria comigo.
Franzi o cenho.
— De quem você está falando, Verônica?
— Não importa, amor.
Beatrice
— Você precisa de ajuda — Henrique disse, dando mais um passo
em nossa direção.
— Porra, eu fiz tudo isso por você. Porque eu te amo.
— Você não me ama, Verônica. Você ama a ideia de estar comigo
pelo que eu tenho. Isso, definitivamente não é amor.
Mais um passo.
— Henrique, podemos ser felizes juntos. — Sua voz me causou
arrepios.
— Verônica. — Mais um passo. — Olhe para mim. — Outro passo.
— Vamos resolver isso, apenas me entregue a arma.
— Nós vamos? — ela indagou, relaxando um pouco o seu aperto em
mim.
— Vamos. Confie em mim.
— Eu confio, Henrique. — Me atrevi a virar o rosto sutilmente para
vê-la, mas fui detida quando ela puxou meu cabelo com força com a mão
que me segurava. Choraminguei de dor, sentindo minha cabeça rodar. —
Podemos nos livrar dela e seremos felizes como antes. Apenas nós dois.
— Verônica, deixe-a ir.
— Você não vê? — Ela desceu o cano da arma para a minha barriga.
— Um tiro e seríamos felizes para sempre.
— Não! — Chorei, sem tirar minhas mãos do meu ventre, as lágrimas
rolando pelo meu rosto sem parar. — Por favor, meu filho não!
— Não faça isso. Eu vou com você para onde você quiser. Por favor.
Henrique pede se aproximando mais.
— Você ouviu, italiana? — disse em meu ouvido. — Ele me quer. Ele
me quer e não a você.
Não me atrevi a dizer nada, apenas chorei, abraçando meu filho e
pedindo a Deus que isso acabasse e que ele estivesse bem.
— Verônica — Henrique a chamou. — Vamos acabar com isso.
Agora, apenas três passos nos separam.
— Vamos, meu amor — respondeu como uma louca. — Mas antes
— ouvi um barulho de trava se soltar em sua mão —, eles precisam morrer.
— Não! — Henrique gritou, vindo até nós.
Ele me empurrou de lado, me afastando dos braços de Verônica. Eu
caí no chão, zonza, lutando para ficar acordada.
Vi uma fraca imagem de Henrique agarrando firme nas mãos de
Verônica, tentando desarmá-la.
Tudo aconteceu muito rápido, não me dando a chance de formar com
clareza as imagens em minha cabeça. Tentei me arrastar até eles, porém
meu corpo todo estava tomado pelo cansaço. Meu coração era o único que
trabalhava incansavelmente, batendo forte sem parar contra o meu peito.
E então, um disparo foi dado.
Um único disparo.
E eu desmaio, não sabendo quem foi atingido, se foi a louca ou o
amor da minha vida.
CAPÍTULO 54
Henrique
Eu tomaria mil tiros para salvar Beatrice e nosso filho.
Sentiria toda a dor do mundo para poupá-los.
Foi o que pensei ao ver Verônica engatilhar a arma e apontar em
direção ao ventre da minha mulher.
Avancei pouco me fodendo para o que pudesse acontecer comigo.
Tirei Beatrice dos braços de Verônica, empurrando-a de lado, o mais
cuidadoso que consegui.
Agarrei a mão da mulher desvairada, tentando não fazer o cano ficar
em minha direção.
— Você é meu, Henrique! — gritou transtornada.
Quando estava prestes a arrancar a arma de suas mãos, senti o ferro
tremer e um barulho alto de tiro ecoou, e tudo ao meu redor ficou em
silêncio.
Olhei para baixo e notei a blusa preta de Verônica começar a ficar
molhada na altura do seu estômago.
Molhada de sangue. Gotas rolavam por suas pernas, se alastrando
pelo chão e formando uma enorme poça vermelha.
— Henrique — balbuciou fraca antes de cair no chão de olhos
abertos, levando a arma consigo.
Fiquei alguns segundos apenas absorvendo o que acabou de
acontecer, mas quando ouvi gritos e batidas vindo de todo lugar, retornei a
realidade.
Fui até Beatrice, pegando-a no colo. Beijei sua testa, dizendo
baixinho que tudo ia ficar bem e saí correndo até a rua, onde avistei uma
ambulância. Os paramédicos logo vieram até mim, tirando-a dos meus
braços.
— Eu vou com ela — declarei, os seguindo
Notei, um pouco distante, do outro lado da rua, Dante, Miguel e
Matteo se aproximando.
— Como ela está? — Matteo perguntou apreensivo.
— Eu não sei. — Tirei do bolso a chave do meu carro e entreguei a
ele. — Tome, vai no meu carro. Eu vou com ela na ambulância.
— Onde minha menina está? — o Sr. Vincenzo gritou assim que se
aproximou.
Todos estavam aguardando na sala de espera, há mais de quarenta
minutos, esperando os médicos avaliarem Beatrice, exceto por Ana e sua
mãe, que ficaram cuidando das gêmeas.
— Eles estão fazendo alguns procedimentos e pediram para que
aguardássemos — falei, sentindo minha voz embargar.
Miguel se aproximou de mim, passando seu braço por meu ombro,
me puxando para seu peito.
Ele, de longe, é o mais calmo e acredito que por não ter tido uma
figura paterna presente em sua vida, assumiu essa função para Ana. Por
isso, talvez seja tão maduro.
— Acabou, amigo. Acabou — falou, sendo a deixa para as minhas
lágrimas caírem sem parar, como cachoeiras pelo meu rosto.
Eu nunca senti tanto medo em perder alguém.
Nunca em toda minha vida.
Ver Bea naquela situação esmagou meu coração em mil pedacinhos
de várias fodidas formas diferentes.
E mesmo que ela não me quisesse, eu sempre iria amá-la e cuidar do
nosso bebê.
Minutos se passaram e finalmente o médico abriu a porta dupla que
separava as salas de exame de onde nós estávamos.
— Família de Beatrice Fontana?
— Somos nós — Bárbara disse, abraçando Stella.
— Ela vai ficar bem. Teve apenas alguns ferimentos no rosto e na
cabeça, mas nada que possa colocar sua vida em perigo — anunciou.
Alívio. Foi a única coisa que consegui sentir nesse momento. Alívio.
— E meu filho, doutor? — perguntei.
— O bebê está bem. Porém ela irá precisar descansar nas próximas
semanas e vou passar todas as vitaminas que sua esposa precisará tomar até
a consulta com o obstetra.
Esposa. Novamente a palavra.
Ignorei a sensação que me tomou, fazendo meu estômago se agitar e
foquei apenas na informação de que ambos estavam bem.
— Quando podemos vê-la? — dona Beatriz perguntou ansiosamente.
— Agora mesmo, mas tentem não agitá-la. E apenas um de cada vez.
— O médico olhou por um momento para a prancheta que tinha nas mãos
antes de falar. — Na verdade, assim que ela acordou, chamou pelo nome
Henrique.
A sensação se intensificou em meu estômago. Olhei para a sua
família, que sorriam para mim como se concordassem que eu deveria ser o
primeiro a vê-la.
— Vá meu filho — Sr. Vincenzo falou. — Ela precisa te ver tanto
quanto você precisa vê-la. — Assenti, seguindo o médico pelo corredor.
Passamos por algumas portas pelo caminho até que paramos em frente a
uma, onde ele sinalizou para que eu a abrisse. Eu agradeci e antes de entrar,
puxei o ar algumas vezes, tentando me acalmar.
Quando meus olhos a notaram, sentada na cama e ligada a algumas
máquinas e medicações, a vontade de chorar retornou. Enxuguei uma
lágrima teimosa que ousou cair com o dorso da mão, antes que ela visse,
mas era tarde demais.
— Henrique. — Meu nome saiu de sua boca cheia de emoção, porém
não consegui definir quais eram.
Sem conseguir controlar meus desejos, corri até ela, louco para sentir
seu cheiro, sua pele. Louco para sentir ela.
A abracei com cuidado, tentando não machucá-la.
Bea me abraçou de volta e eu descansei minha cabeça em seu
pescoço, beijando cada pedacinho de pele ali.
— Eu... eu pensei que tinha te perdido — confessou entre soluços.
— Me perdoa. Per favore. Me perdoa por eu ter te magoado e…
Afastei-me um pouco para segurar seu rosto com minhas mãos.
— Você precisa descansar agora.
— Não!
— Beatrice.
— Não quero descansar.
— Meu Deus, mesmo em uma cama de hospital você consegue ser
teimosa! Vamos, durma um pouco.
Ela me surpreendeu ao segurar meu rosto, me puxando para perto.
— Eu te amo!
— Ama?
Beatrice revirou os olhos.
— É claro que eu amo, porra. Agora cala a boca e me beija.
Sorrindo, colei minha boca com a sua e como um viciado que sou por
ela, não perdi tempo e tomei tudo dela.
O beijo começou desesperado, como se ambos estivessem precisando
disso.
Como se ele fosse o nosso remédio para tudo o que nos aconteceu.
O cansaço sumiu, tudo à nossa volta não importava mais.
Deixei ela assumir o ritmo, mas logo segurei sua nuca sutilmente e
tomei o controle. Ela chupou minha língua daquele jeito que é capaz de me
levar às nuvens. Mordeu de leve meus lábios e os lambeu logo em seguida.
— Você me ama? — perguntei quando nossas bocas se separaram,
apenas para ter certeza do que eu ouvi.
Ela fez um carinho em minhas bochechas e sorriu.
— Eu te amo, Henrique.
Sorrindo feito um bobo, depositei um beijo casto em seus lábios,
agora inchados.
— Eu também te amo, minha italiana. Você e nosso bebê. — Levei
uma das mãos para o seu ventre.
— Pra sempre nosso, meu amor.
CAPÍTULO 55
Beatrice
Eu estava tão feliz, que seria capaz de sair correndo pelo corredor do
hospital feito uma louca e gritando o quanto amava Henrique. Porém, muito
provavelmente, meus seguranças de plantão não deixariam.
Olhei para o quarto, observando minha família e meus amigos, rindo
e compartilhando da mesma felicidade que eu.
Ontem, eu vi cada um de forma individual, já que o médico pediu que
eu descansasse. Henrique acabou dormindo aqui, deitado ao meu lado e
segurando minha barriga, logo que a enfermeira saiu depois de trocar meu
soro. Dante e Ana trouxeram roupas para ele e para mim.
Hoje pela manhã, todos chegaram bem cedo, não desejando perder
minha primeira ultrassom. O médico disse que ainda estava muito cedo para
sabermos o sexo do bebê, mas que poderíamos ouvir seu coração.
Eu estava eufórica!
— Cadê esse médico? Caralho! — Matteo reclamou, passando a mão
pela sua testa. — Acho que vou infartar se esperar mais um pouco.
— Paciente como sempre — Bárbara falou, revirando os olhos.
— Eu sou paciente sim! Estou até hoje esperando você tomar uma
atitude comigo.
Minha amiga soltou uma gargalhada falsa, tocando em seu peito com
uma mão de forma teatral.
— Melhor esperar deitado. Isso nunca vai acontecer!
— Você ainda vai morder essa sua língua, boneca.
— Esses dois — babbo falou, rindo.
— Como você está se sentindo, meu amor? — Henrique perguntou.
Ele estava ao lado da cama, segurando minhas mãos.
— Estou com fome. Muita fome para falar a verdade.
— Graças aos céus! — Ana declarou, jogando as mãos para o alto. —
Eu te declaro oficialmente como a nova barriguda comilona do grupo.
Todos riem da minha cunhada.
Meu irmão a abraça de lado e beija sua testa, depois e disse: — Se
você quiser, meu amor, podemos resolver isso.
— O quê? — Ela o olhou assustada. — Nossas meninas não tem nem
três meses e você já está pensando em ter mais filhos? Definitivamente não,
Dante.
— Você é a culpada, porque me deu duas filhas lindas.
— Duas filhas lindas que dão muito trabalho, mesmo com a ajuda dos
nossos pais e de Rosa. Vamos com calma.
— Quer que eu pegue algo para você comer, Bea? — Henrique
perguntou.
— Si, amore mio. Quero um bolo de chocolate, suco de laranja, pizza
e um pouco de cookies com chantilly e sorvete. Per favore — respondi e
todos me olharam com os olhos arregalados. — O quê?
— Que desejo mais estranho — Stella comentou.
— Tenho que concordar com a ruivinha aqui — Matteo disse,
apontando para ela.
— O que você quiser meu amor. Já volto — Henrique declarou, me
dando um selinho.
— Eu vou com você — Miguel ofereceu e os dois saíram do quarto.
— Nem acredito que minha menininha está grávida — pappa falou,
se aproximando de mim. — Estou tão feliz que você esteja bem, minha
princesa. — Beijou minha testa.
— Eu também, babbo.
Ficamos conversando por mais alguns minutos, Matteo resmungando
como sempre até que Miguel retornou ao quarto, sozinho.
— Onde está, Henrique? — questionei.
— Ele já está vindo — respondeu, olhando de relance para o restante
da família. Notei que meu irmão mais velho tirou seu celular do bolso,
posicionando-o em sua frente, na minha direção.
— O que você está fazendo, Dante?
— Nada. — Deu de ombros.
— Você está me filmando?
Ele não respondeu.
Franzi o cenho desconfiada e tornei a indagar.
— O que está acontecendo?
— Prometemos que é algo bom — Stella quem disse.
Fiz beicinho porque esse suspense todo estava me deixando nervosa e
eu estou realmente com fome.
Quando estava prestes a protestar, Henrique surgiu, empurrando um
carrinho com tudo que pedi. Porém, vi uma caixa branca no meio dos
pratos. Ele se aproximou de mim e a colocou em meu colo. Um sorriso de
pura expectativa e um pouco de nervosismo também, se desmanchou em
seus lábios.
— O que é isso?
— Um presente. Abra.
O olhei desconfiada, mas concordei, tirando o laço azul que envolvia
a caixa e revelando um tecido branco. Ao pegá-lo, notei ser um body de
bebê, estampando a seguinte frase: "Mamãe, você aceita se casar com o
papai?"
Meus olhos marejaram e os apertei, fazendo algumas lágrimas
escorrerem pelo meu rosto. Olhei para o quarto, observando todos me
lançando olhares emocionados. Quando virei para o lado, Henrique estava
ajoelhado e segurando a caixinha de veludo que estava comigo antes de
toda a confusão.
— Eu ensaiei o que eu iria falar repetidas vezes antes de tudo
acontecer. Até escrevi uma carta para esse momento. Eu jamais imaginei
que eu encontraria alguém como você, que é capaz de me deixar louco, mas
tem o incrível poder de me acalmar também. — Sorri em meio às lágrimas.
— No início, era apenas atração física — disse, segurando minha mão
direita e ouvi resmungos que imaginei serem dos ciumentos de plantão. Não
olhei, permaneci encarando o homem que tinha o meu coração. — No
entanto, quanto mais eu ficava com você, mais algo dentro de mim mudava
e hoje eu sei que o que sinto é amor. Você me deu o presente mais lindo que
eu poderia ganhar, uma família. Eu te amo, minha italiana, te amo com tudo
o que há em mim. Você marcou minha vida, meu coração, minha mente,
minha alma. E eu não quero passar mais nenhum dia da minha vida sem te
chamar de minha esposa. — Ele então, abriu a caixinha de veludo,
revelando o lindo anel de diamante na cor azul. O formato era igual aos
piercings que eu possuía em meus mamilos. — Então, diante das pessoas
que nós mais amamos, eu quero te perguntar se você aceita se casar comigo.
— Ovviamente, amore mio. Sí, si. — Segurei sua mão.
— Cara, isso foi lindo pra caralho — Matteo comentou, limpando
uma lágrima com os dedos.
— Não chora, B1 — Stella disse o abraçando de lado.
Henrique me abraçou rindo e sussurrou ao meu ouvido: — Eu te amo
muito, diaba desgraçada.
Sorrindo, respondi: — E eu te amo, meu putinho. Estou doida pra
sentar no cacete do meu noivo.
— Vem cá, meu genro — meu pai o chamou. — Estou tão feliz por
vocês.
— Obrigado, senhor. — Henrique o abraçou. — Prometo cuidar da
sua filha e do nosso bebê com a minha vida.
— Você já fez isso, filho. Eles não poderiam estar em melhores mãos.
— Meu sonho se realizou — mamma gritou, dando pulinhos — Só
falta o meu boca suja aqui. — Bateu no braço de meu irmão.
— Ai mãe!
Todos os presentes nos abraçaram, nos dando parabéns.
— Pronto! — Dante falou, depois de guardar o celular no bolso. —
Enviei o vídeo do pedido para nossa família na Itália.
— Queria tanto que eles estivessem aqui — reclamei.
— Eles ficaram sabendo do sequestro e nos ligaram assim que viram
a notícia — meu pai comunicou. — Já avisamos que todos estão bem.
— Giuseppe avisou que Enrico virá para um congresso em algumas
semanas — Dante acrescentou.
— Vamos nos casar então nesse período — decretei batendo as
palmas. — E eu quero estar com um vestido sexy e aproveitar que minha
barriga ainda está pequena. — Olhei para Henrique ao meu lado. — Tudo
bem?
— O que você quiser, meu amor. — Beijou o topo da minha cabeça.
— O segundo do grupo a se tornar cadelinha — Matteo disse e todos
nós rimos.
— Vocês já tem um lugar em mente para o casamento, cunhada?
— Tem um lugar que eu acho lindo e é muito especial para nós dois
— sorri de lado maliciosamente e meu agora noivo logo percebeu do que eu
estava falando, porém a porta do quarto foi aberta pelo médico, que tinha
um sorriso simpático estampado em seu rosto.
— Como está a nossa paciente?
— Estou bem. Apenas com muita fome — respondi.
— Acredito em você — disse, olhando para o carrinho farto de
comida. — Vamos fazer o exame para que você e seu bebê possam comer.
Tudo bem? — Assenti, relaxando na cama.
Ele cuidadosamente levantou a bata branca que eu usava até abaixo
dos meus seios, despejando logo em seguida um pouco de gel em minha
barriga. Puxou uma máquina de ultrassom que estava até então no canto do
cômodo e a ligou, começando a espalhar o gel com o aparelho por todo o
meu ventre.
Henrique apertou minhas mãos, demonstrando estar tão ansioso
quanto eu.
Era loucura demais pensar o quanto as nossas vidas mudaram em tão
pouco tempo. Mas eu estava feliz, assustada, mas ainda assim, feliz.
— Prontos papai e mamãe? — o senhor de cabelos grisalhos
perguntou depois de um tempo.
— Sim! — respondemos os dois juntos.
— Esse é o coração do bebê de vocês.
Um som alto e forte soou pelo quarto.
Tum tum, tum tum, tum tum.
— Meu Deus! — meu noivo exclamou.
— Está tão acelerado — falei emocionada. — Nosso bebê está bem,
doutor?
— Sim, não se preocupe. Os batimentos estão normais. Veja — ele
apontou para um ponto pequeno na tela — esse é o bebê de vocês.
— Esse... ponto é o meu sobrinho? — B1 perguntou.
— Sim. Ainda está no tamanho de uma framboesa.
— Hum, framboesa — gemi, lambendo os lábios. — Algumas
framboesas cairiam bem agora.
— Ficou louca? Você vai estar comendo vários bebezinhos — Mat
choramingou.
— Você definitivamente não é normal, Matteo — Stella disse rindo.
— Não mesmo — Ana concordou.
— Até você, cunhada? — ele falou, fingindo estar ofendido.
— Se esqueceu do que você fez na semana passada? Comprou luvas
de box para as suas sobrinhas. Elas são tão pequenas que cabem naquelas
luvas.
— Elas precisam se defender e é o meu dever como tio, ensiná-las.
— Nessa eu tenho que concordar com meu amigo — Miguel falou.
— Falou aquele que só sabe brincar com as meninas de lutinha. Elas
mal sabem se virar de um lado para o outro.
— Já é um começo. A propósito, acho que Bella vai ser a mais durona
das duas. Aquela menininha nos olha como se nós estivéssemos fazendo
algo de errado o tempo todo. Juro que, às vezes, acho que ela vai me bater.
— Ela é só um bebê — Dante disse, rindo.
O médico observou nossa família como se eles fossem de outro
mundo, mas logo voltou a sua atenção para mim.
— Você está de quase oito semanas. A partir da décima sexta semana,
vocês poderão fazer uma ultrassonografia para saberem o sexo do bebê,
caso queiram saber.
Ponderei por um momento e soltei a recente ideia que minha mente
teve.
— Henrique — o chamei.
— Sim?
— Lembra do filme que assistimos onde o casal decidiu esperar até o
momento do parto para saber o sexo? — Ele acenou. — O que acha de
fazermos isso?
— Vou surtar de curiosidade — B1 reclamou.
— Eu também. — concordei — Mas quero ter essa experiência.
Henrique beijou minha testa.
— O que você quiser.
— Que seja um menino, porque precisaremos de reforços com as
gêmeas — meu irmão boca suja disse. — Principalmente com Bella.
— Não seja bobo — Bárbara falou, revirando os olhos.
— Acho que ela puxou a mãe — Matteo cantarolou.
— Ou talvez ao tio, porque com certeza você é o mais louco do grupo
— Ana retrucou, empinando o nariz na direção dele.
— Eu também te amo, Aninha. — Ele foi até ela e a abraçou, nossa
cunhada acabou rindo.
Ouvi Henrique soltar uma risada e falou, olhando para todos.
— Eu os amo.
Suspirei, compartilhando do mesmo sentimento.
— É, eu também.
CAPÍTULO 56
Henrique
Duas semanas depois
Depois que ouvi o coração do nosso bebê, tentei de tudo para
postergar o momento em que minha agora noiva, precisaria narrar às
autoridades tudo o que aconteceu com ela, com riqueza de detalhes, antes e
durante o tempo que passou nas mãos de Verônica.
Alberto foi paciente e imparcial a todos os relatos de Beatrice,
diferente de mim, que sentia como se estivesse prestes a matar alguém
conforme ela narrava os segundos em que ficou, literalmente, acorrentada.
Como o delegado tinha pensado, minha ex não agiu sozinha,
todavia, nenhuma pista, além de uma rosa branca manchada de sangue,
havia sido encontrada no porão do bar, onde Bea estava sendo mantida em
cativeiro.
Eu não fazia ideia de quem poderia tê-la ajudado, já que as únicas
pessoas que eu conhecia da sua família, eram seus pais, que permaneciam
internados na clínica de reabilitação e o círculo de amizade de Verônica
depois que ela terminou seu último relacionamento, era praticamente nulo.
Bea descreveu com o máximo de detalhes o que conseguia lembrar,
como a fisionomia de um homem grande com os braços cobertos por
tatuagem. Eu torcia para que não demorassem muito para encontrarem os
filhos da puta.
Não sabíamos com quem estávamos lidando e do porquê aceitaram
fazer o que fizeram. Por isso, por precaução, Alberto recomendou que toda
a nossa família, principalmente minha futura esposa, passassem a andar
com seguranças e foi o que os caras e eu fizemos, incluindo todos na Itália e
claro, Bárbara e sua família também.
Ainda com a toalha enrolada em meu quadril, depois de um banho
matinal, parado na entrada do quarto por não sei quanto tempo, puxei a
respiração completamente fascinado pelo corpo nu da minha noiva entre os
lençóis brancos. Ela estava deitada de peito para cima, vestindo apenas uma
calcinha pequena na cor azul claro.
Ela era linda!
Tudo nela era perfeito!
Após receber alta, o médico pediu que Beatrice descansasse por
alguns dias e que não fizesse esforço algum. Desde então, temos dormido
em seu apartamento, não tem ido trabalhar e obviamente nós não
trabalhamos na cama, ou seja, nada de sexo!
Claramente, a diaba ficou mil vezes mais agoniada do que eu, mas
sua mãe veio pessoalmente saber se ela estava seguindo a recomendação
médica.
Meu olhar desceu até a sua barriga e sorri ainda sem acreditar que
serei pai.
Eu.
Serei.
Pai.
Não conseguindo mais manter as minhas mãos longe dela, me
aproximei da cama e com a mão direita, acariciei suas bochechas, descendo
pelo pescoço, depois para o meio dos seus seios até sua barriga, espalmando
minha mão em seu ventre, estava ansioso para sentir nosso bebê se mexer.
Em seguida, toque entre as suas pernas, apertando meus dedos em sua
boceta. Bea se remexeu e um sorriso de lado surgiu em seu rosto.
— Amor? — falou manhosa com a voz de sono e lentamente abriu os
olhos.
Meu coração se expandiu com o apelido afetuoso.
Amor.
Caralho! Eu era o amor dela.
Ela me escolheu. Sou um filho da puta sortudo da porra!
— Sim? — Sentei-me no colchão e depositei um beijo em sua testa
no momento em que notei seu olhar indo até meu quadril.
— Chega de descanso — decretou, puxando a toalha e jogando-a de
lado. — E ele concorda comigo. — Apontou para o meu pau, que já estava
duro e necessitado dela.
Soltei uma risada, afastando sua calcinha.
— Saudade dele? — Alcei uma sobrancelha e enfiei dois dedos nela,
que gemeu e rebolou, feito a putinha que era, contra a minha mão.
— Sim. Muita! — balbuciou.
— Quer fazer amor, querida? — perguntei sem parar o trabalho da
minha mão, fazendo círculos dentro dela com meus dedos.
— Não, Henrique — choramingou, apertando seus seios. — Hoje
quero ser fodida como a putinha que eu sou. Me fode gostoso, Sr. Prado.
Sorri satisfeito.
— Ainda bem, por que eu não vou pegar leve com você, cachorra.
— Não pegue leve comigo, mi amore — declarou, sorrindo de forma
lascívia.
Aumentei um pouco a velocidade, sentindo sua boceta quente e
melada se contrair em volta dos meus dedos no exato momento em que a
campainha soou.
— Caralho! — ela exclamou irritada. — Seja quem for, vamos
mandar embora. Eu preciso do seu pau socando minha boceta — declarou,
batendo as mãos fechadas em punho no colchão.
Eu ri.
— Infelizmente — Tirei meus dedos lentamente de dentro dela. —
Não podemos nos livrar das visitas.
Bea fez bico, que logo se desmanchou quando levei meus dedos
melados de sua excitação até a boca, chupando-os de forma sensual.
— Você está me torturando!
— Prometo cuidar de você à noite, amor. — Dei um tapa em sua
boceta, a fazendo gemer. — Vou cuidar da minha putinha como eu sei que
ela gosta.
Beatrice
— Vamos deixar uma coisa bem clara — falei assim que adentrei a
cozinha, olhando para os rostos das minhas amigas que me encaravam
curiosas. — Eu amo vocês — declarei indo até o carrinho duplo onde as
gêmeas dormiam tranquilamente ao lado da mãe. — E amo esses morangos
lindos. — Dei um beijinho na testa de cada uma antes de ajeitar a postura.
— Mas eu estava prestes a levar surra de pau do meu noivo se vocês não
tivessem aparecido.
Elas riram.
— Nós confirmamos ontem o nosso encontro e você precisa ficar de
repouso — Bárbara comentou.
— Eu ia repousar no colo do Henrique!
— Definitivamente isso não seria descanso — Stella comentou. — E
não vamos falar do pau do meu primo. — Torceu o nariz em desgosto. —
Falando nele, onde está?
— Pulou a varanda e foi até o apartamento dele. Ele precisava fazer
algumas ligações.
Anuiu.
— Que tal se falarmos sobre a nossa surpresa? — Ana Laura disse
animada, pulando de um jeito engraçado da banqueta a qual estava sentada
para ir até a cortina da grande parede de vidro da minha sala. Só então vejo
um par de pernas atrás do tecido e quando minha cunhada o puxa não me
contenho em dar um grito de surpresa e felicidade.
— Cugina! — exclamei, correndo até Kyara, que estampa um sorriso
genuinamente feliz. — Não acredito que está aqui! — falei, a abraçando.
— Não sou médica obstétrica, mas como enfermeira com
especialização na área e sua prima, aconselho você a descansar por um
tempo, antes de qualquer tipo de interação sexual com seu noivo — soltou
assim que nos afastamos. Suas bochechas estavam coradas como sempre
ficavam quando falamos sobre sexo.
— Nossa, ela realmente fala como uma princesa. Estou me sentindo
um caminhoneiro de boca suja — Stella falou e todas nós rimos.
— Estou feliz que está aqui, Ky. — Soltei tocando em seu rosto.
— E eu estou feliz em saber que você está bem e claro, por estar aqui
também. Estava com saudade. Fiquei muito preocupada quando soube do
acontecido.
— Não fique. Está tudo bem agora — a tranquilizei. — Vem! Deixe-
me te apresentar a ruiva maluca do grupo.
— Você sabe que isso para mim é um elogio, não é? — a mulher em
questão disse assim que nos sentamos novamente ao redor da ilha, mas
antes, minha prima paparicou Nina e Bella por um momento, dizendo o
quanto são lindas. — Sei que já trocaram muitas mensagens em nosso
grupo, porém vamos à apresentação oficial e pessoalmente. Kyara, esta é
Stella. Stella, essa é Kyara.
— É um prazer conhecê-la, Stella — minha prima disse, sorrindo
docemente.
— Puta que pariu! Você é meiga e ainda mais bonita de perto. —
Tocou no rosto de Ky, que não segurou a risada. — Parece uma princesa de
verdade daquelas de desenhos animados.
— Grazie!
— Se eu não gostasse de piroca e não estivesse afim de sentar na do
seu irmão, eu te pegava, garota.
Gargalhamos.
— Juro que, às vezes, tenho a sensação de que estamos com uma
versão melhorada do B1 — Ana comentou.
— Você está interessada em Enrico?
— Com certeza. — Piscou um olho de forma maliciosa. — Sempre
quis trepar com um italiano e o seu irmão, nossa — levantou as mãos para o
alto —, louvado seja o criador do mundo por ter feito aquele monumento
todo. Um puta italiano gostoso da porra! Minha boceta está até piscando só
de falar nele.
Os olhos de Kyara se arregalaram e seu rosto assumiu um tom intenso
de vermelho.
— Santo Dio! Você é ainda mais direta pessoalmente, ragazza.
— Minha tarada interior é aflorada e ficou ainda mais desde a vez que
você enviou uma foto sua com ele no nosso grupo. Ela está pegando fogo
desde então, princesa — brincou. — Falando nisso, precisamos fazer um
juramento para o nosso grupo das taradas.
— Eu não sou uma… tarada! — minha prima rapidamente disse.
— Toda mulher possui uma tarada interior — Ana Laura afirmou.
— Menos eu.
— Vai nos dizer que nunca ficou sem fôlego ao ver um homem? Que
nunca sentiu vontade de ser fodida por um pau por horas até que estivesse
com a boceta assada? Que nunca quis ficar com os olhos marejados por
estar recebendo surra de cacete na garganta e…
— Stella! — bradei, dando um tapa de leve em seu ombro, temendo
que minha prima tivesse um treco. Sua expressão era de puro espanto.
— O quê? Ninguém aqui é virgem, quanto mais santa. — Deu de
ombros.
— Bem, eu… eu nunca tive… Nunca tive um parceiro para fazer sexo
— Kyara admitiu com timidez.
— Puta que pariu! Você é… virgem? — a ruiva gritou, arregalando
os olhos. Kyara acenou levemente. — Puta que pariu duas vezes!
— Ok! Ela é oficialmente a B3 do grupo — Bárbara brincou.
— Eu teria permanecido virgem até Dante chegar se soubesse que
teria que viver tantas frustrações sexuais — Ana declarou. — O tempo em
que a minha Ana Tarada estaria de celibato teria valido a pena porque
aquele CEO me faz revirar os olhos a cada vez que me chupa.
— Santo Dio! — Ky exclamou de olhos arregalados.
— Vocês estão assustando a coitada — Bárbara ralhou.
— Ela é enfermeira. Sabe dessas coisas. — Stella comentou.
— Sabe dos termos médicos e não os termos de putaria — falei.
— Eu definitivamente já deveria estar acostumada depois de conviver
por dois anos com você, cugina — ri nervosa. — Mas sim, eu sou…
virgem. Nunca tive relação com um homem. — Ela me olhou de lado e eu
sorri carinhosamente, sabendo qual era o motivo para que ela ainda não
tivesse tido nenhuma relação sexual.
— Isso é raro hoje em dia — Stella comentou pensativa. — Mas não
significa que você não tenha uma tarada interior, querida.
— Verdade! — Ana acrescentou. — Nunca sentiu um formigamento
ao ver um homem ou uma mulher que achou interessante?
Kyara arregalou os olhos e meneou a cabeça ao falar.
— Bem, me senti assim uma vez — confessou tímida.
— E o que fez? — Bárbara perguntou curiosa.
— Nada.
— Como assim nada?
— Eu só o vi uma vez e… não acho que eu faça o tipo dele.
— Mulher, você faz o tipo de qualquer um — a ruiva falou, dando um
tapa em seu ombro. — Você é linda, inteligente, meiga, carinhosa. E se esse
cara não viu isso, ele é um cuzão.
Rimos.
— Eu não acho que ele seja um… um… cuzão — sussurrou a última
palavra.
— Ela fica tão linda falando palavrão — Ana apontou sorridente.
— Se o vir novamente ou sentir a periquita piscar por outra pessoa,
me liga que eu te ajudo. Sou ótima flertando, modéstia à parte — a ruiva se
gabou.
— Grazie — Kyara agradeceu, sorrindo para ela.
— Já que estamos falando de homens, o que aconteceu com o seu
amigo, o tal Jakov? — Bárbara indagou.
— Depois do que aconteceu na boate, nunca mais o vi e desde que
comecei a me envolver com Henrique, ele não entrou mais em contato
comigo. No primeiro momento, fiquei preocupada, mas acho que é melhor
assim. Só mantínhamos contato por causa do sexo e definitivamente eu não
tenho interesse algum em ter qualquer relação sexual que não seja com o
meu futuro marido — declarei.
— Que estranho — Ana Laura comentou.
— Nem tanto. Ele sempre foi assim, meio imprevisível. — Dei de
ombros.
— Então — Stella bateu palmas. — Vamos ao juramento antes de
alimentarmos a nova barriguda do grupo, senão meu chefe briga comigo.
Franzi o cenho.
— Chefe?
— Henrique me fez prometer que cuidaria de você — esclareceu.
— Bom saber disso, mais tarde o recompensarei com um chá bem
dado.
— Juramento! Juramento!
Soltei uma risada.
— Juramento, alimentar a barriguda e depois vamos falar sobre os
preparativos para o casamento. Estou animada para conhecer a casa que
vocês tanto falaram — Bárbara comentou
— O lugar é lindo — suspirei.
— Foco barriguda! — Stella fala me fazendo rir. — Eu começo com
o tal juramento.
— Não me lembro de termos pensado em algum — comentei.
— Eu acabei de pensar — disse confiante. — Repitam comigo: eu,
assumo que tenho uma tarada interior que me faz cometer loucuras gostosas
e depravadas.
As meninas e eu nos entreolhamos por um momento.
— O quê? Só falei verdades.
— Você é maluca, Stella — Kyara declarou rindo. — Mas eu já amo
você.
Repetimos o tal juramento, o que deixou a ruiva feliz e seguimos a
ordem do cronograma da nossa reunião, todas enchendo o meu prato com as
comidas que Henrique havia pedido para o café da manhã e falando o quão
animadas estavam para o meu casamento.
A cada minuto que se passava e com as minhas amigas falando sobre
decoração, flores e vestido, toquei meu ventre, me sentindo feliz.
Realizada… Feliz como nunca imaginei que poderia ser um dia.
CAPÍTULO 57
(Bônus)
Enrico
Cheguei à casa dos meus tios, desejando apenas uma boa noite de
sono.
O voo foi longo e fazia mais de vinte e quatro horas que eu não
dormia mais do que trinta minutos seguidos. Tenho feito vários plantões
desejando colocar em prática o aprendizado dos últimos tempos.
Eu amava o meu trabalho, sou completamente apaixonado pela
medicina e o hospital sempre foi o lugar onde passo a maior parte do meu
dia.
Meu tio Vincenzo e minha tia Beatriz me receberam cheios de
sorrisos. Eu amo estar perto deles, ambos são alegres e fazem de tudo para
que você se sinta como se estivesse na sua própria casa.
Kyara veio na frente por ter conseguido folga e queria ajudar nossa
prima e as amigas com os preparativos para o casamento, Sofia e babbo
virão no sábado, pois precisavam resolver algumas pendências do hotel. Eu,
bem, eu decidi vir na quinta, não apenas pelo meu trabalho, mas porque o
congresso que passei quase o ano todo esperando, finalmente chegou. Seria
uma rotina intensa de palestras durante toda a sexta-feira e o sábado. Eu
estava muito animado. Agradeci Beatrice e Henrique por terem marcado o
casamento deles nesse mesmo final de semana, porém no domingo à tarde.
Meus tios me guiaram para dentro de sua mansão, me mostrando um
dos muitos quartos de hóspedes que prepararam para mim.
Depois de tomar um bom banho, desci para o jantar que se deu com
uma conversa animada, cheia de orgulho de Nina e Bella, suas primeiras
netas. No dia do casamento seria a primeira vez que eu as veria
pessoalmente e eu estava realmente ansioso para isso. Amo criança e esse
foi um dos motivos que me fizeram escolher a pediatria como
especialização.
Desejando, enfim, descansar, terminei minha refeição e me despedi
deles, indo para o quarto. Antes de dormir, enviei uma mensagem para a
minha irmã e nossos pais, avisando que cheguei bem.
Assim que deitei na cama, o sono não demorou a me invadir.
Na manhã seguinte, acordei cedo, animado para tudo o que me
aguardava. Depois de um longo banho, escolhi uma blusa branca, calça azul
marinho, um paletó da mesma cor e por fim, uma gravata preta.
Encontrei meus tios na cozinha animados para o casamento da filha
mais nova.
— Bougiorno! — saudei, sentando em uma das cadeiras ao redor da
mesa.
— Bougiorno, querido — minha tia sorriu. — Dormiu bem?
— Sí, tia. Grazie! — Me servi com um pouco de café puro.
— Espero que dessa vez você fique mais tempo.
— Bem que eu queria, mas a senhora sabe como tem sido uma
loucura depois que finalizei minha especialização e comecei outra.
— Per Dio, ragazzo! Você não para mesmo — meu tio disse, me
fazendo rir.
— Tenho uma cirurgia em três dias. Meu voo está marcado para a
madrugada de segunda-feira.
— Nossa, querido, que vida corrida! — exclamou, preocupada. —
Precisa desacelerar um pouco.
— E eu vou, prometo — garanti.
Depois de fazer minha refeição matinal, despedi-me dos meus tios e
fui direto para a garagem. Eles me disponibilizaram um carro durante o
período da minha estadia aqui. Em poucos minutos, cheguei no local do
evento, feliz por ter conseguido uma vaga disponível para estacionar.
Já dentro do edifício, me distraí, procurando o auditório para minha
primeira palestra, quando um corpo se chocou ao meu. Levou exatamente
um segundo para perceber que se tratava de uma mulher.
Por instinto, segurei o braço dela para evitar que caísse no chão e a
puxei para meu peito, segurando firme em sua cintura com o braço livre,
mantendo-a de pé.
Ela arfou quando nossos corpos se chocaram, fazendo algumas
mechas do seu cabelo irem para frente do seu rosto, porém permaneceu
próxima a mim, segurando em meus antebraços.
Ela era uma mulher muito linda.
Seu cabelo é ruivo, grande em ondas, sua pele é pálida, levemente
corada nas bochechas e sua boca é bem desenhada, me atraindo de um jeito
completamente inesperado e seus olhos... Cazzo, são de um azul esverdeado
lindo.
Nossos olhares se encontraram e minha mão, que estava em seu
braço, foi até seu rosto, afastando alguns fios cor de cobre de sua face. Ela
entreabriu a boca e vi sua pupila dilatar enquanto me analisava, um brilho
que julguei ser de reconhecimento passou por suas íris, contudo, minha
mente não conseguiu processar se eu a conhecia e se fosse o caso, de onde.
— Você está bem? — perguntei e ela se assustou como se estivesse
com a mente longe.
— Sim — respondeu, se afastando. — Me desculpe — pediu ao
passar as mãos em seu vestido preto social que por sinal era muito justo, me
dando uma visão perfeita do seu corpo cheio de curvas. E, Santo Dio, que
curvas deliciosas.
— Sem problemas. Eu estava distraído.
— Você tem sotaque — comentou com uma feição pensativa, como
se estivesse tentando adivinhar de onde sou. — Você não é brasileiro — foi
uma afirmação, não uma pergunta.
— Sou italiano, ragazza.
Ela abriu a boca em um perfeito e exagerado "o", quase que forçado e
teatral. Seu olhar varreu o meu corpo da forma mais descarada possível.
Coloquei minhas mãos no bolso da minha calça, tentando ignorar a audácia
do seu olhar intenso sobre mim, mas ela continuou me comendo com o
olhar. Se estivéssemos em algum desenho animado, poderia vê-la babar um
pouco.
— Sabe — começou a falar se aproximando de mim com um sorriso
sínico —, eu sempre quis... — sua fala foi interrompida por alguém que
chegou até ela, tocando em seus ombros.
— Stella, por onde você se meteu? — uma mulher morena de cabelos
cacheados falou. — Você está atrasada para a palestra.
— Já estou indo — a ruiva, que agora sei o nome, respondeu,
revirando os olhos para em seguida, voltar a focar seu olhar em mim. —
Prazer, sou Stella — sorriu abertamente para mim. — Você é solteiro? —
indagou sem qualquer timidez.
Olhei confuso para ela e realmente espantado com seu jeito de ser.
Não estava acostumado com mulheres como ela, que tomavam a iniciativa.
Geralmente, eu quem dava o primeiro passo, sempre.
— Sim, sou solteiro. — Pisquei um olho para ela e sorri ladino,
retribuindo o flerte.
— Ainda bem — declarou e me pegando de surpresa, Stella segurou
meu rosto com as duas mãos e me puxou para si, beijando o canto da minha
boca.
Arregalei os olhos com sua ação, contudo, não a afastei, pelo
contrário, empurrei ainda mais minha boca na direção da sua, notando o
quanto seus lábios eram macios.
O quase beijo durou apenas dois segundos. Sim, eu contei.
— Até mais, italiano gostoso — soltou, se afastando de mim.
Olhei por sobre seus ombros e vi a mulher prendendo o riso com uma
mão na boca. Stella se afastou junto a ela, caminhando na direção oposta à
minha.
— Não vai perguntar o meu nome ou me dar o seu número? —
perguntei um pouco alto para que ela pudesse escutar.
— Não preciso. Sei que vamos nos ver outra vez — respondeu
simplesmente, piscando para mim e virando para me olhar, e depois seguiu
seu caminho, me deixando ali, no meio de um imenso salão completamente
anestesiado.
Permaneci parado no mesmo lugar, não sei por quanto tempo, vendo
o furacão ruivo chamado Stella sumir da minha vista.
Os dois dias do evento de Medicina foram fantásticos. Tive a
oportunidade de conhecer vários nomes importantes e aprender muito com
eles.
No final do primeiro dia, eu tentei achar a ruiva, mas nem sinal dela.
Ao que parece, ela daria apenas uma única palestra pela manhã e nada mais.
Descobri perguntando para um dos médicos presentes, que ela era
neurocirurgiã e uma das boas.
Não conseguia tirá-la da cabeça.
Nunca conheci uma mulher tão ousada e destemida em toda a minha
vida.
Stella, o furacão ruivo, não teve medo e fez o que quis, mesmo em um
lugar lotado e sem ao menos me conhecer. Ela simplesmente fez.
E a forma como ela afirmou que me veria de novo, me deixou
ridiculamente esperançoso para que ela estivesse certa.
No domingo, acordei depois do meio-dia, já que passei a madrugada
toda e parte da manhã, estudando para a cirurgia que irei realizar assim que
retornar para a Itália.
Meus tios foram cedo para a nova casa de Beatrice e Henrique, onde
acontecerá a cerimônia.
Depois de um banho, desci as escadas, segurando minha roupa de
padrinho em meus ombros e fui até a cozinha, comendo um pedaço de pão e
tomando um pouco de café, apenas.
O motorista da família já estava me esperando para me levar até o
local. Em menos de quarenta minutos, cheguei e fiquei surpreso com a
beleza da propriedade. Lembrava muito uma casa de campo, porém bem
mais moderna.
Saí do carro, indo em direção até a entrada, onde fui recepcionado por
Kyara.
— Até que enfim você chegou, fratello — falou ao me abraçar pela
cintura, como sempre fez desde que entrou em minha vida.
Beijei o topo de sua cabeça.
— Scusi pelo atrasado, cara — disse ao me afastar.
— Só faltava você chegar. Henrique está impaciente e jurou que te
daria um soco se você não aparecesse logo — comentou e nós rimos. —
Vem! — Abriu passagem para eu adentrar na residência. — Você pode se
trocar no quarto em que eu estou. Terceira porta à esquerda. — Anuí e subi
as escadas, vendo-a ir em direção à área externa.
Encontrei o quarto e entrei, colocando sobre a cama meu terno.
Fechei a porta e tratei de começar a me trocar. Primeiro, me livrei da calça
jeans preta, substituindo-a pela calça social azul. Em seguida, agarrei minha
blusa verde escuro pelas costas e a puxei para frente, jogando-a em cima da
cama.
Quando estou prestes a colocar minha blusa social branca, a porta foi
aberta.
— Ky, eu estava pensando... — uma mulher falou, mas logo parou ao
perceber que não era minha irmã. — Eu disse que nos veríamos outra vez,
italiano gostoso.
Meu corpo esquentou na mesma hora, cada célula minha vibrou com
o timbre do som sensual. Arfei, levantando o rosto lentamente à medida que
um sorriso preguiçosamente provocante rasgou em meus lábios.
Quando meus olhos se chocaram com os do furacão ruivo, não
consegui reprimir o urro que saiu da minha garganta, quase como um
gemido baixo e ameaçador. Meu olhar varreu seu corpo, que estava coberto
por um vestido azul piscina que possuía um pequeno decote em V, mas que
pelo volume dos seus seios, deixava muito à mostra para a imaginação. A
minha então, já estava pensando em fodê-los com o meu pau.
O que ela faz aqui? Pensei depois que o espanto diminuiu, vendo-a se
aproximar de mim a passos lentos.
— Porque você está aqui? — perguntei curioso e um tanto
desconfiado.
— Bem, eu sou a prima do noivo — respondeu cruzando os braços.
Apertei meus olhos.
— Você sabia quem eu era, não sabia?
— Talvez — cantarolou e seu olhar percorreu meu peito nu, fazendo
com que minha pele se arrepiasse. — Acho que meu pedido se tornou
realidade.
Franzi o cenho, sentindo o clima mudar drasticamente.
— Que pedido?
— O de beijar um italiano.
— Acredito que você já fez isso, Stella — comentei, me referindo ao
beijo roubado que ela me deu dias atrás.
— Aquilo não foi um beijo, querido. — Mordeu o canto do seu lábio
inferior e depois o lambeu de forma sexy, fazendo meu corpo ficar em
alerta. Fiquei hipnotizado com a ponta da sua língua que subia e descia,
umedecendo sua boca cheia.
Stella soltou uma risada e foi até a porta, trancando-a e antes que eu
pudesse protestar, correu até mim, jogando seus braços em meu pescoço e
novamente me roubou um beijo.
Fiquei parado de braços abertos sem me mover pensando em afastá-
la, mas quando senti sua língua lamber meus lábios lentamente, eu decidi
dar a ela o que queria, e a mim também.
Passei os últimos dois dias pensando nela e na sua atitude.
Não podia negar que queria matar minha curiosidade em saber como
é seu gosto.
Saindo do transe, envolvi meus braços em sua cintura e abri minha
boca, invadindo a sua com a minha língua. Stella tateou meu peito
descoberto e soltou um gemido baixinho, sentindo minha pele. E a partir
desse som, o Enrico calmo que não beijava antes de conversar, não existia
mais.
Minhas mãos desceram pelo seu quadril de forma possessiva,
passando pela sua bunda empinada e em um movimento rápido, agarrei a
parte de trás da sua coxa e a levantei do chão.
A ruiva envolveu suas pernas em volta de mim e segurou meu rosto
ao dizer: — Esse sim é um beijo de verdade.
Sorri de lado e andei até a parede mais próxima, encostando suas
costas nela para me dar apoio.
— Você é a primeira ruiva que eu beijo — confessei, arrancando dela
um sorriso que logo foi substituído por um gemido quando ela sentiu o
volume no meio das minhas pernas roçar de leve sua boceta por cima do
vestido. — Você sempre surpreende as pessoas desse jeito? — perguntei,
movimentando sutilmente meu quadril.
— Ah… — arfou, jogando a cabeça levemente para trás antes de me
responder. — Não gosto de passar vontade e sempre vou atrás do que quero.
Passei minha língua por todo seu pescoço, sentindo-a estremecer com
meu toque. Tomei sua boca novamente, a beijando como um predador,
agarrando sua bunda, apertando-a com força, beirando a violência. Em
resposta, Stella chupou minha língua de um jeito delicioso, fazendo meu
corpo ser tomado por puro tesão. Ela se remexeu em meu colo, puxando
meu cabelo mais para si.
Era a primeira vez na minha vida que beijo uma mulher que eu mal
troquei algumas palavras. Contudo, não podia negar que a ruiva realmente
beijava bem. Seu beijo era erótico e sensual, enviando sensações por todo
meu sistema que pararam em meu pau que latejava de desejo como nunca
antes, apenas com um beijo.
Ela me arranhou com suas unhas, traçando um caminho das minhas
costas até meu peito. A ardência do ato me fez invadir seu vestido com
minha mão direita e tocar a pele nua de sua bunda. Desferi um tapa e ela se
assustou, afastando nossas bocas.
— Você me bateu? — indagou ofegante.
— Bati. Você gostou?
— Gostei. Faz de novo, só que dessa vez mais forte.
Sorri, satisfeito com seu pedido, que prontamente foi atendido. Stella
gemeu contra a minha boca sentindo minha palma contra sua bunda.
Quando estava prestes a afastar sua calcinha minúscula, batidas na
porta nos assustaram.
— Enrico?
— Cazzo!
— Primo? — Mais batidas.
— Um segundo — gritei antes de descer com cuidado Stella do meu
colo, colocando-a no chão.
— É o Matteo — disse, ajeitando o vestido. — Vou ao banheiro —
anuniou e saiu, indo na direção do closet e sumindo da minha vista.
Ajeitei minha ereção e caminhei até a porta. Ao abri-la, vi meus
primos já devidamente vestidos como padrinhos.
— Caramba! Você brigou com algum gato? — Matteo perguntou,
apontando para o meu peito. Olhei para baixo e vi marcas vermelhas de
unha — Ou melhor, uma gata. — Mexeu as sobrancelhas de forma
sugestiva.
— Engraçadinho como sempre. — Rolei os olhos.
— Depois falamos sobre as suas aventuras, primo. Viemos aqui para
apressá-lo. O noivo está mais ansioso do que a noiva — brincou.
Ri.
— Tutto bene. Já estou indo.
— Encontramos você na entrada do jardim. — Dante disse e ambos
se afastaram, seguindo para às escadas.
Fechei a porta e ao me virar, encontrei Stella vindo em minha direção.
— Eles já foram — comuniquei, colocando minhas mãos no bolso da
frente de minha calça, olhando para ela.
— E é melhor irmos também. Obrigada pelo beijo. Realmente, os
italianos são quentes como dizem — soltou uma risada antes de passar seus
dedos pelo meu peitoral e sair porta afora, não me dando tempo de falar
nada.
Da mesma forma que me senti chocado no dia do congresso, estava
me sentindo dez mil vezes mais agora. Ela veio, tomou o que queria de mim
e simplesmente foi embora? É só isso?
Não tinha do que reclamar.
Stella era uma mulher muito linda e gostosa pra caralho, e porra, seu
beijo era perfeito. Tão perfeito que chegava a me assustar o quanto que
gostei. Não, eu amei!
E se não fosse ficar tão pouco tempo no Brasil, adoraria conhecer esse
furacão ruivo e lhe ensinar a ser uma boa menina, algo que definitivamente,
Stella não é.
Stella
Aquele italiano gostoso filho da puta beijava melhor do que
eu pensava!
Definitivamente, Enrico foi o melhor beijo que já dei desde que
comecei nessa vida tarada.
Porra! Que pegada foi aquela e aquele tapa?
Puta que pariu! Minha boceta nunca piscou tanto por um homem
antes. Ela estava batendo palmas enlouquecidamente.
Não que eu nunca tivesse levado um tapa no rabo desde que perdi o
meu cabaço, definitivamente, essa não era a questão. Mas os parceiros que
tive pareciam ter receio de serem mais dominadores comigo durante uma
trepada, alguns até alegavam que o meu jeito rebelde era capaz de castrar o
sexo oposto.
Ora, tenha santa paciência! Jeito rebelde é o meu pau!
Soltei uma risada com o pensamento, encostando o corpo na porta
do quarto, tentada a abri-la para ir até os finalmente com o primo da noiva.
Daria até um bom enredo para um romance, tipo os que Bárbara costuma
ler. A madrinha e o padrinho fodendo às escondidas antes da cerimônia.
Definitivamente não era uma má ideia. Sorrindo, segurei a maçaneta
em minhas costas e quando estava prestes a gira-lá, uma voz cheia de
divertimento me fez soltá-la e dar um sobressalto pelo susto.
— O que faz aqui, ruivinha?
— Você me assustou, porra! — falei, alisando o peito. — Caralho,
B1! Meu coração quase saiu pela boca.
— Não exagera. Você é médica e sabe que isso não é possível de
acontecer — ponderou por um segundo. — Ou é?
Rolei os olhos, mas acabei rindo, dando um tapa de leve em seu
braço.
— Só em filme de terror mesmo.
— Verdade! — Deu de ombros. — Então, o que está fazendo aqui?
— Vim ver se Kyara me emprestava alguns brincos — menti.
Meu amigo, esperto como só ele, me analisou com seus olhos azuis
semicerrados, parecendo sentir cheio de mentira no ar.
— Mas você já está usando brincos, Stella. — Apontou com o queixo.
Toquei minhas orelhas, fingindo ter esquecido o fato.
— Ah é! — sorri sem jeito. — Mas queria ver se… se ela tem outro
modelo. Esse aqui é grande demais.
— Você sabe que está usando brincos de pérolas e que elas são
pequenas, não sabe? — Alçou uma sobrancelha, os lábios repuxados para o
lado de um jeito que em qualquer outra pessoa ficaria arrogante, mas nele
era com certeza engraçado.
— Quero menores! — Cruzei os braços e empinei o nariz para o
enxerido do meu amigo. — Desde quando você virou especialista em
brincos, Matteo Fontana?
Ele riu.
— Vai me dizer que você também tem um bloquinho sobre os
acessórios femininos? — procurei saber.
Seu sorriso aumentou de um jeito convencido.
— Tenho um bloquinho para cada assunto que julgo ser importante
para as mulheres.
— A mulher que casar com você terá sorte ou não. Ainda não decidi
sobre isso — brinquei e ele me abraçou de lado, me puxando pelo ombro.
— Kyara não está no quarto e sim Enrico, meu primo.
Incorporei a atriz que habita em mim, levando uma mão à boca, que
se abriu em um perfeito “o”.
— Ah, sim. Ainda bem que eu não entrei, vai que ele estava sem
camisa, não é mesmo? Isso seria muito inapropriado.
— Como se você fosse apropriada, ruiva — zombou. — Ao que me
lembro, a senhorita me mandou mensagem dizendo o quanto seu segurança
era… — Fingiu pensar por um momento. — Qual foi mesmo o termo que
você usou para se referir a ele?
— Gostoso para um caralho!
— Isso!
Revirei os olhos.
— E, por favor, não o agarre, principalmente no meio da rua.
— É estranho saber que estou sendo vigiada, mas ao mesmo tempo, é
muito excitante saber que é um puta tesão que está com os olhos sobre
mim.
Depois do sequestro de Beatrice, por indicação de Alberto, o amigo
delegado de Miguel, passamos a ter seguranças. Eu até tentei protestar,
dizendo que não precisava de um, mas meu primo não abriu brechas para
controversas.
— Que safadinha! — brincou.
— Ei! — Bati em sua barriga ridiculamente dura. — Sou uma dama
fina e recatada. — Fiz um movimento qualquer com as mãos, tentando
imitar o que as misses fazem quando acenam, o que o fez rir. — E quando
você vai me dizer qual o segredo para esse tanquinho, hein?
— Treino e alimentação saudável — respondeu simplesmente. —
Não tem segredo, apenas disciplina.
— Ok! Treino até que vai, agora alimentação saudável não é comigo.
Não há a menor possibilidade de eu abandonar meu sorvete de flocos. E
você está me devendo dez potes do doce.
— Não estou não! — Apertou os lábios, mas sua expressão o
acusava.
— Está sim! Você me fez assistir dois episódios inteiros daquela
novela com a gêmea do mal…
— Usurpadora.
— Isso, essa mesma. Você disse que se eu assistisse com você,
ganharia dez potes de sorvete de flocos. Estou esperando, querido.
— Já participei de um ménage com a filha do dono da empresa do
sorvete que você gosta. Posso conseguir bem mais do que só dez potes,
ragazza — disse, me puxando na direção das escadas e eu deixei que me
guiasse.
— Sabe, vai ser interessante ver uma mulher colocar uma coleira
nesse seu pescoço de puto — brinque e ele soltou uma risada.
— Quando for a minha vez, deixo você escolher a cor da coleira junto
a mulher que roubará o meu coração.
— Promete? — Levantei o dedo mindinho.
— Prometo — afirmou, entrelaçando o seu dedo no meu.
Caminhamos até a parte externa da casa, onde uma grande tenda
branca estava armada na grama, com várias colunas finas de madeira a
sustentando e inúmeras luminárias, deixando o ambiente lindo, como um
fim de tarde na Toscana italiana.
Mesas grandes e redondas do mesmo material estavam espalhadas
pelo jardim, rodeando a pista de dança montada no centro, com piso de
madeira. Do lado oposto à entrada, onde vi Henrique caminhar de braços
dados com meus pais, por um caminho de pétalas de rosas brancas, ao som
de uma música tranquila, havia uma mesa pequena e estreita com duas
cadeiras de frente para ela, ilustrando um pequeno altar para a cerimônia.
— Enrico já chegou? — Beatrice perguntou se aproximando. Ela
estava simplesmente linda.
— Você está linda, Bea — disse pela milésima vez no dia.
— Grazie — sorriu, tocando em minhas mãos e pude notar que as
suas estavam suadas, provavelmente pelo nervosismo.
— Você precisa ficar calma, amiga.
— Eu já disse isso a ela — Ana falou ao lado de Dante.
A noiva suspirou.
— Estou tentando e onde está aquele nerd do meu primo? —
perguntou, olhando na direção de onde Matteo e eu viemos. — Todos os
padrinhos e madrinhas já estão aqui, só falta ele.
— Ele já está vindo, tesoro — Sr. Vincenzo falou, tocando no rosto da
filha com carinho.
— Desculpem o atraso — uma voz masculina, grave e cheia de
sotaque soou atrás de mim, e pela forma como minha Stellinha bateu
palmas, não foi preciso me virar para ver quem era o dono dela.
— Até que enfim — Beatrice resmungou, indo até ele e dando-lhe um
abraço.
— Scusi, cara.
— Está desculpado — sorriu. — Eu estava com saudade.
— Eu também. Fico feliz em saber que você e meu sobrinho estejam
bem.
Beatrice anuiu, alisando a barriga.
— Deixe-me te apresentar a minha amiga, prima do Henrique —
falou e logo me virei para encará-lo, reprimindo a vontade de provocá-lo.
— Stella, esse é meu primo, Enrico, o médico italiano que falei para você.
Enrico, essa é Stella. Os pais dela que levaram meu noivo até o altar.
Educadamente, sorri para ele e disse como se há poucos minutos não
estivéssemos atracados um nos braços do outro: — É um prazer te
conhecer, Enrico.
O italiano me avaliou por um momento e com uma sobrancelha
erguida e um sorrisinho sexy pra caralho, decidiu entrar no meu jogo.
— O prazer é meu, Stella.
Ficamos nos encarando por longos segundos, como se estivéssemos
em um desafio de quem desviaria o olhar primeiro. Até que a cerimonialista
quebrou nossa bolha. E pelo restante da noite ficamos observando um ao
outro e ambos agimos da mesma forma, como dois cínicos.
CAPÍTULO 58
Beatrice
A música que escolhi para a minha entrada, Home da Gabrielle
Aplin, a mesma que o meu futuro marido tinha tatuado em seu peito e que
agora fazia todo sentido para mim, começou a tocar e logo a minha
cerimonialista me chamou para ficar no final da fila com meu pai. Ela
arrumou cada casal de padrinhos em seu devido lugar, todos à minha frente.
— Boneca! — Matteo gritou. — Vamos, que nós somos os primeiros
a entrar.
— Já estou indo, idiota — bufou, dando o braço para meu irmão.
— Lembre-se, andar devagar e no ritmo da música — explicou,
ajeitando sua postura.
Bárbara olhou por sobre os ombros em minha direção e disse algo
como "Só estou fazendo isso, porque te amo."
Sorri, já imaginando que algo poderia acontecer entre esses dois e que
eu iria amar tê-la como cunhada.
Respirei fundo contando de um até dez mentalmente procurando me
acalmar. Eu estava uma pilha de nervos, e acreditava que metade devia ser
pelos hormônios da gravidez e a outra por estar ansiosa para chamar
Henrique de marido.
Per Dio, estava mesmo casando e com um filho na barriga!
Olhei para frente, vendo meu segundo casal de padrinhos, Dante e
Ana, andarem pelo jardim até o local da cerimônia. Logo em seguida, Stella
e Miguel, e por fim, Enrico e Kyara. Reprimi a vontade de rir ao me
lembrar da ruiva tentando me subornar com vibradores para colocá-la como
o par do meu primo. Só não o fiz por Ky, que já notei ficar acanhada perto
de Miguel. Foi assim desde que chegou há algumas semanas, sempre que o
irmão da minha cunhada nos ajudava com algo da cerimônia.
— Agora é a sua vez, senhora — a moça comunicou, me fazendo
agarrar forte meu buquê. — Pode ir — sorriu gentilmente, sinalizando o
caminho.
— Vamos, minha princesa? — babbo perguntou e eu assenti.
Conforme caminhava, tentei controlar minhas pernas que tremiam de
expectativas. A sensação aumentou assim que observei Henrique no final da
tenda, parado ao lado dos nossos amigos e seus tios, que tive o prazer de
conhecer no início da semana. Ambos decidiram ficar hospedados na casa
de Stella.
Henrique estava lindo e definitivamente, a cor azul lhe caía bem.
Seu terno agarrava seus músculos, deixando-o ainda mais gostoso.
Sua barba grossa enfeitando o sorriso encantador que brotou em seu
rosto assim que nossos olhares se encontraram.
Meu estômago se agitou com as malditas borboletas que pareciam dar
piruetas, fazendo meu coração bater cada vez mais forte. Notei meu noivo
limpar seu rosto com o dorso da sua mão, visivelmente emocionado e havia
uma parte minha que também estava consumida pela emoção em vê-lo, a
ponto de pingar. Minha boceta.
Como era possível termos feito sexo durante toda a noite de ontem e
eu ainda o querer ele dentro de mim? Talvez seja por isso que a minha
tarada interior teve a brilhante ideia de surpreendê-lo depois do sim. Era o
momento perfeito e como dois coelhos apaixonados por sexo e adrenalina,
sabia que ele toparia o meu plano safado.
Assim que cheguei ao altar, papai beijou com carinho minha testa e
apertou com firmeza as mãos de Henrique e logo se juntou a minha
mamma.
— Você está ainda mais linda, meu amor — ele disse, me guiando
para sentar no banco acolchocado de madeira que foi colocado ali para nós.
— Grazie, amore mio.
Escolhi um vestido todo rendado, estilo sereia com um decote
moderado, as costas completamente nuas e uma calda generosa.
O juiz de paz não demorou para pegar o microfone e dar início a
cerimônia.
Em um dado momento, ele pediu para que ficássemos de pé, um de
frente para o outro e assim o fizemos. Bárbara se aproximou, pegou meu
buquê e em seguida, me entregou o pedaço de papel com meus votos, as
palavras que passei mais de uma semana tentando escrever.
Segurei o microfone, soltei um longo suspiro e comecei a ler o papel,
tentando conter a ardência em minha garganta causada pelo choro que
queria sair.
— Meus irmãos e eu crescemos vendo diariamente a felicidade que
meus pais compartilhavam por estarem juntos e por muito tempo, eu
imaginei que isso não era para mim. Que eu jamais encontraria o que o meu
irmão e Ana encontraram um no outro. E foi assim durante muito tempo,
até que passamos a nos envolver. — Olhei para Henrique que estava com os
olhos marejados e sorri antes de continuar. — Quando botei meus olhos em
você pela primeira vez eu sabia que queria você. Mas a última coisa que
passou em minha cabeça era que me apaixonaria loucamente pelo melhor
amigo dos meus irmãos. Você me ensinou que mesmo eu sendo
independente, é sempre bom ter alguém com quem possamos contar depois
de um dia cansativo. Me mostrou que a vida pode ser melhor quando
compartilhada com quem amamos e que eu não sou fraca por querer estar
com alguém, mas que sou forte por desejar construir a minha própria
família. — Toquei em minha barriga. — Eu te amo e prometo te amar para
sempre, Sr. Prado.
Antes de passar o microfone para ele, observei o salão, vendo os
rostos emocionados dos meus amigos e familiares. Ana me entregou um
lenço e rapidamente sequei meus olhos, deixando o tecido, agora úmido, em
suas mãos.
Henrique tirou um papel pequeno do bolso do seu paletó e o abriu,
olhando em meus olhos por alguns segundos e começou a falar.
— Bea, quando te vi pela primeira vez, algo dentro de mim me
alertou que eu estaria em perigo ao me aproximar de você — todos riram,
inclusive nós. — Tentei por muito tempo fugir de tudo o que você me
causava por respeito aos meus amigos. Porém, quanto mais eu te via, mais
esse sentimento, que até então era desconhecido, criava raiz dentro de mim.
Foi quando cheguei no meu limite e não pude mais evitar. E então, nesse
momento, você me mostrou o verdadeiro significado de “lar” — suspirou.
— Quando eu já não acreditava que poderia ser amado e cuidado, você me
amou e cuidou de mim, me fez sentir a pessoa mais especial do mundo.
Posso não ser o melhor na cozinha, porém te prometo ser o melhor marido,
melhor companheiro e melhor pai para o nosso bebê. Te prometo cuidar da
nossa família e sempre estar do seu lado em todos os momentos. Eu te amo,
minha italiana. Te amo desesperadamente, com tudo que sou.
Às lágrimas, trocamos nossas alianças e quando o juiz disse "Pode
beijar a noiva", agarrei seu paletó, puxando-o para mim e beijei seus lábios
vorazmente. Gritos e aplausos tomaram o lugar. Meu agora marido me
abraçou pela cintura e me girou tirando-me do chão.
Após a chuva de arroz, o jantar foi servido.
Alguns amigos da família vieram nos cumprimentar, inclusive o pai
de Carlos e nossa amiga, Juliana, os tios de Henrique, os pais de Stella que
vieram de sua cidade apenas para prestigiar o nosso casamento e ambos
ficaram felizes quando ele os chamou para o levar até o altar.
O DJ tocou uma música agitada e alguns convidados foram para a
pista de dança. Vi Enrico e Kyara carregando Bella e Nina no colo,
respectivamente, balançando de um lado para o outro. Sorri com a cena
imaginando que logo seria eu dançando com meu bebê em meus braços.
Algumas horas depois, a cerimonialista avisou no microfone que
havia chegado a hora de jogar o buquê. Levantei-me animada da cadeira,
dei um beijo em meu marido e segui para a frente do palco.
Todas as mulheres solteiras estavam logo atrás de mim. Algumas
mais desesperadas do que outras. Pelo canto de olho, notei Ana Laura
empurrando uma Bárbara de cara amarrada, para se juntar às outras no meio
do salão.
Fiquei de costas e contei de um até três junto ao Dj, jogando o arranjo
de flores o mais alto que consegui. Ouvi gritos animados e me virei para ver
Bárbara completamente em choque com meu buquê nas mãos.
— Eu não quero — declarou assim que cheguei para abraçá-la.
— Quer sim. — Pisquei para Ana e Stella, minhas parceiras nesse
crime.
— A pedido da noiva, o noivo irá jogar a liga que foi especialmente
escolhida para os solteiros de plantão — a voz da cerimonialista anunciou.
Meu irmão, Matteo, passou por nós e olhou para Bárbara, que parecia
estar prestes a ter um ataque cardíaco, e disse, do jeito que imaginei que
faria: — Eu vou pegar a liga para colocar em você, boneca.
Ela arregalou os olhos.
— Que liga é essa, pelo amor de Deus? Que não seja a que eu estou
pensando que é!
Reprimi uma risada.
— Exatamente essa, cara mia. Definitivamente, não é algo tradicional
para os italianos, mas eu sempre gostei da ideia. Nesse caso, o Henrique
não vai tirar de mim. Separei uma especialmente para você com a ajuda das
meninas.
CAPÍTULO 59
(Bônus)
Bárbara
Eu vou matar as minhas amigas!
Era só o que conseguia pensar quando colocaram uma cadeira no
meio do salão para eu me sentar.
Todos estavam animados, inclusive, Matteo que me encarava com um
sorrisinho ridículo nos lábios enquanto balançava a droga da liga branca nos
dedos. Ele praticamente empurrou todos os outros homens para conseguir
pegá-la depois que Henrique a jogou. Fez tudo isso só para me irritar, eu
aposto. Idiota!
Eu até tentei correr, mas fui impedida por Stella, Beatrice, Ana e até
Kyara, que pensei que seria a única a me ajudar nessa situação. Traidora!
Eu, que amava tanto os livros de romance, me vi prestes a viver uma
das cenas mais clichês com um cara que eu odiava pelo simples fato de que
meu corpo sempre reagiu a ele desde a primeira vez que o idiota cruzou o
meu caminho.
Fui apunhalada pelo meu próprio corpo, que já tentei, mas não
conseguia controlar. Droga!
Medo. Eu tinha medo.
Como as mocinhas nos livros que costumo ler.
Matteo me fazia sentir coisas que eu nunca havia sentido antes e isso
me assustava pra caramba. E eu, definitivamente não estava com vontade de
explorar o que quer que fosse isso.
Argh! Eu não sou muito fã de falar palavrão, porém estava a ponto de
gritar vários.
— Vamos! — Bea disse, me puxando pelo braço para me fazer ficar
sentada. — Vai ser divertido — garantiu sorridente.
— Para mim, não — declarei, fechando a cara.
— Alguém filma isso, por favor — Ana pediu e prontamente seu
marido tirou o celular do bolso para filmar minha humilhação pública.
— Depois você me envia — Stella ordenou.
— Para mim também, primo, per favore — Kyara falou timidamente
logo em seguida.
— Vocês são ótimas amigas, hein — resmunguei.
— Garanto que você vai gostar, boneca — Matteo avisou, puxando
seu paletó pelos braços e ficando apenas de blusa social. Como um ritual
para me destruir, ele abriu os dois primeiros botões da sua camisa sem tirar
os olhos dos meus.
— Eu te odeio!
— Não odeia não — rebateu.
— Odeio sim.
Ele veio até mim com aquele andar sexy e usei todo o meu
autocontrole para não apertar minhas coxas uma na outra. Quando seu rosto
se aproximou do meu, estremeci ao sentir seu hálito perto da minha orelha
por causa da sua voz rouca, baixa e provocante.
— Você odeia o fato de não poder controlar seu corpo quando está
perto do meu. Você me deseja, boneca. Portanto, vou dar a você uma
amostra do que a sua mente teimosa está fazendo você perder, cara mia.
Agarrei a cadeira, buscando não cair e nem desmaiar quando a última
música que eu gostaria de ouvir, soou preenchendo o ambiente.
Pony do Ginuwise.
A canção que escolhi quando estávamos na limusine a caminho da
festa da empresa de sua família.
Girl when I freak you out I promise that you won't want to get off
(Garota, quando eu pirar você, eu prometo que não irá querer sair)
Miguel
Pedi licença aos meus amigos e segui para dentro da casa, indo em
direção ao banheiro. Apósfazer minha higiene pessoal, lavei minhas mãos e
quando abri a porta, uma voz doce, mas também sexy, invadiu meus
ouvidos em meio ao barulho do lado externo.
Segui curioso e intrigado com as sensações que o meu corpo sentiu a
cada som que a letra cantada produzia, me surpreendendo ao avistar Kyara,
de costas para mim, na cozinha.
Ela usava um vestido longo rosa claro de mangas compridas, e pelo
que notei durante a cerimônia, ele possui uma pequena fenda no lado
direito. Sim, eu olhei para ela algumas vezes, mais vezes do que o
permitido para pessoas teoricamente, desconhecidas como nós e mesmo que
a vontade de me aproximar tenha surgido, era impossível ultrapassar a
guarda de homens ciumentos que a cercavam. Enrico e Giuseppe Fontana.
Seus ombros balançavam sutilmente junto a sua cabeça, em sintonia
com sua linda voz. Sorri com a cena, sentindo todo o meu corpo se aquecer
à medida que a observava.
Nós nos vimos uma única vez, trocamos poucas palavras, porém algo
nela me faz querer conhecê-la mais. Além de ser dona de uma beleza
delicada e natural, daquelas que não precisa de muito para ser notada,
Kyara me parece ser o tipo de mulher que possui camadas.
Muitas camadas.
Uma mais intensa do que a outra.
E eu queria saber mais sobre ela.
Queria conhecer seus medos, seus hobbies, sua história e adoraria
saber sobre seus desejos.
Talvez tudo isso seja coisa da minha cabeça, mas se tem algo que em
mim é muito forte, é minha intuição. Eu dificilmente erro sobre alguém. É
algo que aprendi a aprimorar sendo o homem da família, ainda muito novo.
— Miguel? — sua voz, carregada de sotaque, soou e puta que pariu,
meu nome na sua boca é convidativo demais, causando-me arrepios na
nuca.
Forcei uma tosse e passei minha mão em meu cabelo, deixando-o
mais bagunçado do que antes.
— Desculpe, não queria assustar você.
— Tutto bene — sorriu tímida, olhando para uma das gavetas à sua
frente.
— Você canta muito bem em português. — Me aproximei, ficando do
outro lado da ilha. — Na verdade, sua voz é linda, Kyara.
— Você lembra do meu nome? — perguntou surpresa.
— Por que não lembraria?
Ela abriu e fechou a boca repetidas vezes, mas nada disse. Foi
possível notar suas bochechas assumirem um tom vivo de vermelho.
Não desejando deixá-la ainda mais envergonhada — mesmo que não
haja motivo algum para isso — dei a volta na ilha, ficando frente a frente
com ela. Kyara é bem menor do que eu, então precisou levantar o seu rosto
para me olhar nos olhos. Estávamos a três passos, ou menos, de distância
um do outro.
— Que música você estava cantando? — questionei, tentando mudar
de assunto.
— Talvez da Carol Biazin. — Sorriu de lado. — Eu gosto da melodia.
— respondeu sem fugir do meu intenso olhar sobre ela, que tentava
arduamente buscar qualquer pista para esse quebra-cabeças chamado Kyara.
— É linda, assim como você.
Admirei que mesmo ela sendo, aparentemente, muito tímida, Kyara
revelou um pouco da sua ousadia retribuindo a forma como eu a encarava
de volta.
Observei seu peito subir e descer à medida que os segundos se
passavam. A esperei falar algo, não desejando que esse momento acabasse.
Era a primeira vez desde que ela chegou no Brasil que ficávamos sozinhos e
eu não deixaria a oportunidade passar.
Ela fechou e abriu os olhos, umedecendo seus lábios e disse por fim:
— Eu preciso ir, Miguel. — E saiu mais uma vez, não me dando a chance
de falar mais nada.
Eu queria conversar e entender o porquê da curiosidade que instalou
em mim desde o primeiro instante que a vi. Algo dentro de mim me dizia
que ela precisava ser protegida.
Talvez a minha intuição tenha que esperar e eu torcia para que não
fosse por muito tempo.
CAPÍTULO 61
Henrique
Eu estava casado!
Tipo, casado mesmo.
E com a porra da mulher mais incrível que já conheci!
Eu realmente casei com a mulher que perturbava meu juízo. Com a
desgraçada da diaba e puta que pariu, eu era mesmo um filho da puta
sortudo pra caralho. E louco, obviamente, mas um louco muito feliz.
Olhei para Beatrice que segurava Nina nos braços, dançando no meio
do salão e sorri, imaginando como será quando nosso bebê nascer.
— Você se tornou mesmo um cadelinha. Já está até babando, cara —
Miguel falou, se sentando ao meu lado na mesa.
Ri.
— Onde você estava?
— Fui ao banheiro e…
— E…
Meu amigo coçou a cabeça antes de responder a minha pergunta.
— Encontrei Kyara na cozinha e tentei puxar conversa, porém a
mulher simplesmente fugiu.
Franzi o cenho.
— Fugiu?
Ele acenou em afirmação.
— Você está interessado nela? — procurei saber.
— Talvez.
— Talvez? Pensei que você era do tipo que sabia o que queria —
brinquei.
Ele soltou uma risada.
— Eu sempre sei o que quero e definitivamente quero conversar com
Kyara. Ela é linda e com certeza faz o meu tipo. — Levantou o rosto,
olhando pelo salão como se estivesse procurando por ela.
— E Juliana?
— Somos apenas amigos coloridos. — Deu de ombros. — Ela é
madura e sabe separar muito bem as coisas. É só sexo para ambas as partes.
— Bea e eu éramos apenas amigos coloridos e olha onde estamos
agora — disse e rimos.
— Posso saber o que é tão engraçado? — Enrico perguntou, se
juntando a nós.
— Mulheres são engraçadas — Miguel respondeu, me olhando de
lado.
— Nem me fale — o italiano bufou, sentando na cadeira de forma
relaxada.
— Ei, soube pelo fofoqueiro do Matteo que você estava todo
arranhado — comentei.
Ele engoliu em seco e juro que vi algumas gotas de suor em suas
têmporas.
— Não foi nada demais. Apenas uma mulher que eu... que eu conheci
durante o congresso. Nada sério. — Pegou uma taça de vinho que foi
entregue por um dos garçons que ali passava e levou-a até à boca.
— Uma mulher selvagem pelo visto — soltei e ele cuspiu a bebida,
quase se engasgando. — Porra! — Bati em suas costas. — Melhor?
— Sí. Grazie! — agradeceu, passando a mão em seu peito.
— Então, qual o papo da mulher gata? — Miguel questionou.
— Realmente, não foi nada demais. Apenas atração física. — Deu de
ombros. — Eu mal a conheço.
— E porque não investe? — Miguel indagou. — Pela forma como
você está, essa mulher parece ter mexido mesmo com você, cara.
Ele suspirou.
— E mexeu mesmo, mas ela mora aqui no Brasil e eu, até segunda
ordem na Itália. Não acredito que relacionamentos à distância dariam certo.
— Bom ponto — concordei. — Quando você viaja de volta?
— Em algumas horas — respondeu. — Tenho uma cirurgia daqui a
três dias. Preciso me preparar.
— E quanto a Kyara? — perguntei, olhando de canto de olho para
Miguel que logo percebeu o que eu estava fazendo. — Beatrice comentou
que ela tem planos de se mudar para o Brasil permanentemente.
— Sim. Está trabalhando e estudando para isso, mesmo meu pai não
concordando com a ideia, decidiu apoiá-la. Acho que até ano que vem,
minha irmã estará se mudando de vez para cá.
— Que maravilha! — exclamei, piscando para meu amigo, que
apenas sorriu de lado de forma discreta.
Nesse momento, notei Beatrice se aproximando de nós e pelo sorriso
endemoniado que a filha da puta estampava, eu sabia que estava planejando
alguma putaria.
— Com licença, rapazes, mas será que eu poderia roubar meu marido
por um momento? — perguntou quando já estava perto, piscando um olho
para mim.
— Todo seu — Miguel disse, levantando sua taça.
— Grazie! — Ela então olhou nos meus olhos. — Sr. Prado? —
Estendeu uma mão e feito um cadelinha que eu era por ela, a peguei
rapidamente, ficando de pé e deixando-me ser puxado pela dona do meu
coração, ao som de risadas e gritos dos meus amigos. Ignorei, concentrado
demais no balanço dos seus quadris.
Em vista disso, não resisti em provocá-la.
Abraçando-a por trás e sussurrei em seu ouvido: — Estou doido para
comer esse seu rabo.
E como sempre, a diaba me surpreendeu com suas palavras.
— Você tem sido um bom menino fazendo sua mulher gozar
enlouquecidamente nas últimas semanas, além de mimá-la, não se opôs a
nenhuma ideia dela acerca da decoração da casa. — Virou o rosto, me
olhando por sobre os ombros. — Então, até acho que está merecendo.
Depositei um beijo em sua nuca, aspirando seu perfume delicioso.
— Vou poder foder esse cuzinho na lua de mel? — indaguei.
Matteo havia anunciado para todo o salão, momentos atrás, uma
viagem para Fernando de Noronha como presente de casamento. Minha
esposa e eu amamos, já que não estava nos nossos planos viajar para fora do
Brasil devido às nossas agendas de trabalho. Serão sete dias curtindo e
aproveitando um dos lugares mais lindos do país.
E mesmo não sendo a nossa vibe, depois que o jantar foi servido,
Simone nos presenteou com um final de semana em um retiro espiritual,
alegando que precisávamos alinhar nossos chakras o quanto antes, pois eles
estavam ainda mais bagunçados. Minha esposa sorriu diante do presente
inusitado, mas aceitou com um sorriso gentil no rosto.
Foi engraçado ver ela e Matteo dançando de um jeito engraçado na
pista de dança, junto a Peppe e Stella, que pareciam dois amigos de longa
data dançando e cantando a cada música agitada.
Simone até tentou puxar Rafael para a festa, mas ele permaneceu
parado, apenas observando o ambiente, e vez ou outra conversava com o
meu agora sogro e Giuseppe, que comentou que ele parecia um robô. Meu
sócio riu discretamente, provavelmente acostumado por já ter que lidar com
uma versão mais nova do homem.
Beatrice se virou, abraçando meu pescoço.
— O que você acha de comer meu cu agora, marido? — Alçou uma
sobrancelha, me olhando com uma expressão demoníaca.
Ela disse mesmo isso?
— Pela sua cara de espanto, você não está acreditando no que eu
acabei de falar, não é?
Minha esposa realmente me conhecia.
— Se você está propondo fazermos sexo anal no andar de cima do
nosso novo lar, enquanto nossas famílias e amigos estão no quintal, sim,
isso me deixou muito surpreso.
— Mas excitado também, não?
— Beatrice…
— E se eu disser que estou usando um plug anal desde o início da
cerimônia? Isso te deixaria excitado a ponto de topar comer meu cu
enquanto todos os nossos amigos e família estão aqui?
Arregalei os olhos e senti meu pau ganhar vida dentro da porra da
cueca. Engoli em seco, procurando mantê-lo quieto, impedindo minha
mente de criar a imagem do rabo da minha esposa com um diamante azul
dentro dele.
— Você estava esse tempo todo… — Parei de falar, sentindo cada
célula minha ferver, e a desgraçada da minha esposa? Bem, a mulher com
quem me casei apenas sorriu, se divertindo com o meu estado. — Você
estava esse tempo todo com a porra de um plug enfiado no rabo, Beatrice?
— Talvez — cantarolou.
Fechei os olhos e respirei fundo, uma, duas, três, quatro vezes.
Quando consegui finalmente me acalmar um pouco e evitar uma cena com
uma ereção, abri os olhos e encontrei os seus sobre mim.
Aqueles malditos olhos verdes.
Aqueles malditos olhos de diaba.
Dissimulados, maliciosos e astutos,que eram capazes de me levar a
cometer loucuras por ela.
Sempre por ela. Tudo por ela. Sempre ela.
Aqueles olhos.
Que desde o primeiro momento que repousaram em mim, me
marcaram como seu.
Ela me marcou com as íris de demônia.
Eu era dela desde aquela viagem à Itália.
Eu sempre fui dela, era só questão de tempo até eu me entregar ao
inferno que Beatrice Fontana sempre foi.
E apenas para afirmar ainda mais a minha sentença de vida, ela disse
com seus lábios formando um bico deliciosamente tentador: — Per favore,
marido. Come meu cu hoje, aqui e agora, na nossa casa.
Tudo à minha volta sumiu.
Todos à minha volta desapareceram.
Tudo em mim só focou nela conforme segurei sua mão que carregava
a aliança que representava que eu era dela, e a arrastei para fora da tenda.
Notei Bea sorrir e acenar para as pessoas que falavam conosco pelo
caminho.
Só quando chegamos à suíte principal, nosso futuro quarto, e fechei a
porta, é que saí do transe.
— Para quem pareceu meio incerto com a ideia no início, você me
arrastou para cá com uma rapidez impressionante, marido.
— Tira o vestido, esposa! — ordenei, começando a me livrar das
minhas roupas de forma impaciente.
Ela alçou uma sobrancelha e cruzou os braços.
— Diz o que vai fazer comigo e eu tiro — provocou.
Puxando a maldita gravata que eu odiava usar, mas aceitei por ela,
falei em um tom baixo e rouco, sem quebrar o contato visual: — Eu vou
socar nesse cuzinho de um jeito delicioso, querida esposa, assim como eu
faço com a sua boceta, que você vai querer dá ele pra mim todo dia — ela
arfou, abrindo a boca em um perfeito “o”.
Livrei-me dos meus sapatos, da camisa e da calça, tirando-a junto a
minha cueca branca. Completamente nu, segurei meu pau, que estava duro
feito rocha, e o apertei, gemendo junto a ela, que me olhava como se eu
fosse o homem mais lindo e delicioso do mundo. E eu sabia que, para ela,
eu realmente era.
— Hoje você descobrirá o quanto fica linda enquanto eu fodo com
força seu rabo — declarei e estiquei o braço, passando meu polegar úmido
pelo meu pré-gozo em seus lábios.
Como a puta que minha linda e gostosa esposa era, sua língua lambeu
minha pele e eu urrei, avançando sobre ela. Segurei seu rosto e invadi sua
boca com minha língua, beijando-a com paixão.
Os próximos minutos foram uma completa bagunça de mãos e toques,
conforme a ajudava a se livrar do vestido.
No momento em que joguei a peça de lado, gemi ao vê-la usando
apenas uma cinta-liga azul, sem calcinha e sem sutiã.
— Você fica tão linda de azul — comentei, acariciando seu mamilo
esquerdo, brincando com o piercing ali.
— É minha nova cor favorita — sussurrou, apreciando o carinho.
— Uma diaba que gosta de azul e não de vermelho?
— É como eles dizem, Sr. Prado. Todas as garotas boas vão para o
céu, mas as garotas más trazem o céu até você.
O trocadilho que Bea fez com a música me obrigou a soltar uma
risada curta.
— Você é meu céu e meu inferno, Sra. Prado.
— Eu sou sua, Henrique. — Segurou em meus ombros, roçando os
lábios nos meus quando sussurrou: — Completamente sua. Corpo, alma e
coração.
— E eu sou inteiramente seu, Beatrice.
— Eu sei, bobinho. — Me deu um selinho, sorrindo convencida.
Prepotente do caralho!
Essa mulher era prepotente pra caralho e porra, eu a amava.
A amava perdidamente e loucamente.
Com meu sangue fervendo, puto e excitado, levei minha mão direita
até seu pescoço e fechei meus dedos em sua garganta, puxando-a até que
estivéssemos no closet. Quando paramos em frente ao espelho, a virei e
ordenei que espalmasse as duas mãos no objeto.
Abri seu rabo cheio e comentei, ao ver a joia brilhante ali: —
Diamente azul como pensei.
— Quero algo maior e mais grosso no lugar dele — murmurou.
Subi meu olhar para encontrar com o seu, cheio de malícia, pelo
reflexo do espelho.
— Quero você com os olhos abertos enquanto eu enterro fundo meu
pau nesse cuzinho — decretei, segurando a joia e ela estremeceu. A girei
três vezes antes de começar a retirá-la, fazendo com que seu corpo
ondulasse a cada centímetro que saia.
— Amor… — disse manhosa, se empinando ainda mais na minha
direção.
Desferi dois tapas e me afastei, apenas para deixar o objeto sexual em
cima da cômoda, abrindo em seguida uma das gavetas ali, onde eu sabia
que encontraria camisinhas e lubrificantes, itens que minha esposa fez
questão de trazer para cá logo que nos mudamos, semanas depois de sua
alta do hospital
— Não ouse fechá-los. Entendeu? — perguntei, quando já estava
atrás dela novamente, olhando em seus olhos através do espelho.
Ela acenou ansiosa.
— Responda, caralho! — bradei, dando um tapa bem em cima da
pequena tatuagem de coração com chamas perto da entrada que eu estava
prestes a me enterrar.
— Entendi — falou ofegante.
Rasguei a embalagem e vesti meu pau com a camisinha. Abri o
lubrificante e despejei uma grande quantidade em sua bunda até que tivesse
certeza de que ela não sentiria nada além de um leve desconforto inicial
com a invasão. Mesmo Bea sendo uma mulher experimente, o início do
sexo anal pode ser desconfortável.
Tentei não pensar que não era o primeiro a estar ali, mas
definitivamente era o último.
Jogando a embalagem do lubrificante de lado, desci minha mão
direita para o meio das suas pernas, começando movimentos circulares em
seu clitóris. Beatrice gemeu, implorou e rebolou, completamente
necessitada, mas só quando enfiei dois dedos em sua boceta, é que
posicionei a cabeça do meu pau na entrada do seu cu.
Urrei e ela gritou quando já estava no fundo, todo enterrado nela.
Com minha mão esquerda, agarrei sua cintura, e ela se empinou mais,
mostrando que estava desesperada para ser fodida.
— Me come, porra! — berrou impaciente, me fuzilando pelo reflexo
e eu ri, deslizando para fora lentamente para em seguida, chocar minha
pélvis com força contra seu rabo. Seu corpo sacudiu e ela gemeu, sorrindo,
parecendo feliz por eu finalmente começar a me mover.
Repeti o movimento mais duas vezes e na última, parei quando Bea
fez menção de fechar seus olhos.
— Não para! — choramingou.
— Olhos abertos, caralho!
Ela voltou a me olhar pelo espelho e então recomecei o movimento
em um entra e sai gostoso, quente e apertado.
— Gostoso? — inquiri, admirando suas expressões de prazer e seus
seios grandes se chocando um com o outro a cada estocada.
— Uhum! — murmurou.
— Veja como você fica linda quando está levando surra de pau no cu,
vagabunda — falei ofegante, sem parar de me mover.
Seu olhar varreu cada detalhe através do espelho, sua testa suada, suas
bochechas vermelhas, seus seios que balançam no mesmo ritmo que meu
quadril.
— A porra da perfeição! — declarei sentindo o orgasmo se
aproximar, socando meus dedos em sua boceta em sincronia com meu pau
em seu rabo.
Agarrei seu cabelo com a mão livre e ela gemeu ainda mais alto
quando aumentei o ritmo.
— Eu estou tão perto — anunciou manhosa e gritou meu nome
quando o orgasmo lhe atingiu e eu continuei em busca do meu próprio
ápice, que não demorou.
— Caralho! — exclamei com a sensação do orgasmo me invadir
forte, como sempre quando se tratava dela.
— Eu te amo! — declarou sem fôlego, nossos corpos ondulando a
cada espasmo de prazer que nos tomava e consumia. Devolvi a declaração,
me sentindo completamente feliz por ser dela.
Henrique
Sabe quando você observa o momento e pensa que está dentro de
um sonho?
Então, eu estava vivendo exatamente isso enquanto observava a
minha linda esposa sentada na poltrona, amamentando nosso filho em seu
quarto.
A personalidade de Vittorio era um perfeito contraste com a nossa.
Enquanto Bea e eu pareciamos dois fenômenos da natureza, nosso
filho era calmaria em meio ao nosso temporal. Mesmo que ainda não
falasse ou tivesse muita noção, ele nos ensinava todos os dias, cada um
deles um pouco mais a sermos melhores.
Desejando ter a cena diante dos meus olhos como lembrança, saquei
meu celular do bolso e tirei uma foto da minha esposa com nosso filho nos
braços. No momento em que toquei na tela, o aparelho captou os sorrisos
das duas pessoas que eu mais amava no mundo.
Soltei uma risada, enquanto admirava o sorriso banguela do meu filho
à medida que encarava sua mãe, parecendo tão maravilhado com tamanha
beleza.
Eu te entendia, filho. Sua mamãe é mesmo linda! Somos dois caras de
sorte.
O som chamou atenção de Bea, que levantou o rosto e me encarou
com aqueles malditos olhos que pareciam cada vez mais brilhantes sempre
que os via.
— Está tudo bem? — procurou saber, soando preocupada.
— Está, meu amor. Só estava admirando a minha família — respondi
com sinceridade, ela sorriu e começou a balançar Vittorio em seus braços.
— Precisa de algo? Qualquer coisa estou aqui — me prontifiquei,
adentrando no cômodo com a decoração toda em tons de azul.
— Você pode colocá-lo no berço?
— Claro!
Deixei o celular em cima de uma cômoda ali e fui até ela, tomando
nosso filho dos seus braços com cuidado para não despertá-lo por completo.
Em seguida, coloquei Vittorio no berço e não demorou até que ele fechasse
os olhinhos que eram tão azuis quanto os meus.
— Ele é o bebê mais tranquilo do mundo — comentei, sorrindo.
— Porque você tem na sua galeria de fotos, um print de uma foto do
meu Instagram, Sr. Prado? — a voz de Beatrice me fez afastar meu olhar do
nosso filho para virar em meu eixo e encontrar a linda mulher com meu
celular na mão, me encarando com uma expressão divertida.
— Você não saía da minha cabeça — confessei o óbvio. — Eu estava
em uma viagem a trabalho e não conseguia parar de pensar em você então,
agindo por impulso, acabei criando um perfil nessa droga de rede social
para…
— Para me stalkear — completou e seus lábios se apertaram,
reprimindo uma risada.
Caminhei até ela, semdeixar de encarar suas íris verdes e quando me
aproximei, puxei-a pela cintura.
— Eu precisava olhar para a diaba que estava fazendo da minha vida
um inferno — falei baixinho, roçando meus lábios nos seus.
— Eu te segui semanas depois e você só foi me seguir de volta depois
que noivamos. Porquê? — perguntou curiosa.
Respirei fundo e senti minhas bochechas esquentarem em
antecipação.
— Porque eu estava… Eu estava puto por você ter viajado e não ter
me falado nada.
Bea me analisou por um momento antes de me abraçar pela nuca,
ainda segurando meu celular e sorriu, daquele jeito que fazia meu coração
se expandir no peito. Porra de mulher linda pra caralho!
— Eu tenho tanta sorte de ter você — soltou, acariciando minha
barba. — Eu me orgulho do homem que você se tornou mesmo depois de
ter passado pelo que passou. Você não desistiu de viver.
— Eu estava sobrevivendo aos dias e só fui vivê-los de verdade
depois de você — disse emocionado, sentindo meus olhos arderem com as
lágrimas que ameaçavam cair por suas palavras.
— Não tire o seu mérito, meu amor. Você está aqui porque você
escolheu ser diferente dos seus pais. Você quebrou o ciclo e se tornou um
homem de caráter. Decidiu continuar arcando com os gastos do tratamento
dos pais de Verônica, mesmo depois de tudo que ela fez. Você é um tesão de
lindo por fora, mas é ainda mais lindo por dentro e eu tenho orgulho de
dizer que eu te amo, que você é a pessoa que o meu coração escolheu para
ser o meu parceiro nessa aventura maluca que se chama vida. Eu te amo,
Henrique Prado. E eu sei que o nosso filho também terá um puta orgulho
por ter você como pai.
Descansei minha testa na sua e deixei as lágrimas rolarem, me
sentindo livre por poder sentir.
— Te prometo ser o melhor marido e o melhor pai que eu puder ser
para o nosso menino — declarei baixinho com a voz embargada.
— E eu prometo estar sempre do seu lado e te entregar sempre a
minha melhor versão.
— Eu te amo, Sra. Prado.
— E eu te amo, Sr. Prado.
E assim, nos beijamos com calma pela primeira vez desde que nossas
bocas se encontraram, absorvendo as palavras de amor e orgulho que ela
disse.
Minha esposa tem me enchido delas desde que cortei todos os laços
com meus pais um pouco antes do casamento. Depois de várias sessões de
terapia, passei a compreender cada vez mais que eu não precisava manter
qualquer contato ou vínculo com pessoas que foram e eram tóxicas comigo,
além da ligação de sangue, que era inevitável.
Não foi fácil ligar para os meus pais e avisar que eu não os ajudaria
mais.
Não foi fácil ouvir do meu pai o quanto eu era um péssimo filho por
estar fazendo aquilo que, segundo ele, era porque eu estava me deixando ser
dominado por Beatrice.
Não foi fácil escutar o choro da minha mãe ao fundo dizendo que
estava magoada comigo por não tê-la chamado para o meu casamento.
Não foi fácil declarar que eu não queria mais saber deles e para que
não tentassem qualquer aproximação comigo ou com a minha esposa e meu
filho.
Não foi fácil
Foi difícil pra caralho.
E no momento em que a ligação finalizou, eu entendi,
verdadeiramente entendi tudo o que eu havia passado e sofrido, então
chorei, chorei copiosamente de tristeza pela criança que durante sete anos
sofreu abusos e maus-tratos dos pais.
Chorei pelo Henrique criança que não aproveitou como deveria a sua
infância.
Chorei por ele não ter sido amado por quem os colocou no mundo.
Chorei por ter passado tanto tempo sobrevivendo com tanta raiva em
meu interior.
Eu só… chorei naquela noite e foi nos braços da minha esposa que eu
encontrei conforto.
Foi nos braços dela que me acalmei, deixando toda a raiva se esvair,
dando lugar a paz de saber que agora eu tinha um lar e uma família.
Dizem que o passado mais cedo ou mais tarde, bate à nossa porta e
que não há como fugir dele. Contudo, eu torcia para que o meu não voltasse
nunca mais e se por alguma razão, ele voltasse, eu estava pronto para lidar
com ele.
Eu serei forte.
Por Beatrice. Por Vittorio.
Por minha família, eu serei forte!
“FIM”
CAPÍTULO 01
(Degustação)
Matteo
— Caralho! — exclamei jogando minha caneta em cima de alguns
papéis que estavam espalhados por cima da minha mesa do escritório da
empresa.
Eu estava há dias tentando elaborar a droga de um contrato que fosse
bom para o nosso futuro possível investidor sem que prejudicasse os
interesses da empresa. Já era quinta-feira e eu precisava finalizar essa porra
hoje mesmo. Nem o mini Buda que sequestrei do escritório de Henrique,
sobre a minha mesa, estava ajudando.
Definitivamente, eu precisava meditar mais. Meus chakras devem
estar todos desalinhados pra uma porra.
Desde que o meu pai sofreu um princípio de AVC, passei a ser o
responsável pelo jurídico da empresa da minha família. E isso já faz mais
de três anos.
Às vezes, a saudade de advogar aparecia.
A adrenalina de usar tudo o que temos para mostrar ao júri que
estamos certo.
O juiz à nossa frente analisando cada palavra e gestos expressos na
cena.
Mas sem dúvidas, a melhor parte é ouvir a leitura da sentença de um
filho da puta que fodeu a vida de alguém.
Eu amava isso.
Esse ambiente e a loucura que é estar em um tribunal.
Descansei na minha cadeira, repousando minha cabeça nela.
Fechei os olhos, pensando em algo que trouxesse paz para a minha
mente.
Nesses últimos dias, a minha família tem sido palco de várias
manchetes. Além da imprensa amar publicar a respeito do relacionamento
dos meus irmãos, agora fazem de tudo para terem uma foto dos Herdeiros
Fontana e isso tem me deixado puto para um cazzo.
Precisei enviar cartas de aviso a vários jornalistas, que muitas vezes
invadiam a privacidade dos meus sobrinhos, na tentativa de preservar a
imagem deles. Preferia que publicassem mentiras a meu respeito do que
qualquer coisa sobre a minha família. Não me importava com o que
falassem de mim.
Foda-se! Apenas não mexa com as pessoas que eu amo.
Ah! Bella, Nina e Vittorio.
Sou louco pelos meus sobrinhos e pensar neles definitivamente era
algo que funciona para me acalmar.
Como pode um ser tão pequeno trazer tanta felicidade para uma
família inteira? Nesse caso, três. Era uma felicidade tripla.
Eu amava passar horas brincando com os pequenos quando visitava
meus irmãos. Fazia questão de sempre levar um presente para cada um.
Sorri, me lembrando da semana passada, quando Ana e Dante ficaram
com raiva por Bella ter falado B1 — com seu jeito de bebê — e não mamãe
ou papai primeiro.
Essa vai puxar o titio.
Abri os olhos e vi a foto dos três em um porta-retrato que comprei.
Nela, eu estava sentado no sofá da casa de Beatrice, segurando as gêmeas
uma em cada braço enquanto Vittorio estava dormindo tranquilamente em
um canguru contra o meu peito.
Batidas na porta soaram, me afastando dos meus pensamentos.
Olhei para cima e vi Isa, minha secretária.
Ela era uma excelente funcionária e uma linda mulher.
Isa tem um corpo cheio de curvas, seios grandes, pele negra e cabelos
cacheados na cor castanho que vão até o meio das suas costas.
Ela é filha de um casal de amigos dos meus pais e desde que deixei o
escritório de advocacia que criei com Henrique, trabalha para mim.
Já transamos algumas vezes — sem a minha mãe saber, é claro, pois
mamma me fez prometer que não me aproximaria da garota —, mas apenas
isso. Eu gostava do fato de ela saber dividir as coisas e não misturar a vida
pessoal com o trabalho.
— Licença — pediu, sorrindo educadamente e acenei para que
entrasse. — Gostaria de saber se o senhor deseja almoçar em sua sala ou no
restaurante da empresa.
— Por favor, peça comida. Vou almoçar em minha sala.
— Tudo bem, senhor. O mesmo de sempre?
— Sim. O mesmo de sempre. — Traduzindo, cacio e pepe, um prato
típico da Itália que além da tradicional pasta italiana, leva queijo e pimenta.
É o que sempre costumo comer quando almoço na empresa, além da
lasanha maravilhosa de Beatrice. Um dos meus pratos favoritos.
Isa anuiu e saiu no exato momento em que o meu celular tocou. O
tirei do bolso do meu paletó que estava pendurado no encosto da cadeira e
um sorriso surgiu em meu rosto ao ver a foto da minha irmã na tela. Aceitei
a videochamada e meus lábios se puxaram ainda mais quando meu sobrinho
loirinho apareceu.
— Como o nosso mini B2 está? — perguntei.
— Oi para você também, fratello. — Bea revirou os olhos, mas sorriu
ao olhar para o filho que dormia em seus braços. — È così bello. (Ele é tão
lindo.)
— Meu sobrinho vai fazer sucesso quando crescer — declarei e os
lábios do pequeno se repuxaram para o lado, como se ele estivesse sorrindo.
— E pelo visto ele concorda comigo.
— Isso vai demorar.
— Ciúmes, sorella?
Deu de ombros.
— Talvez.
— E pensar que você sempre criticou Dante e eu por sermos
ciumentos com você.
— Cala a boca!
Rimos.
— Como você está? — procurei saber.
— Feliz. — Seus olhos brilharam. — E animada para voltar ao
trabalho semana que vem, porém já sentindo saudade por não poder ficar
em tempo integral com meu menino. — Beijou a cabecinha de Vittorio,
acariciando com carinho os fios loiros.
— Nossa mamma está soltando fogos de artifício por ser a babá dos
herdeiros.
— Nem me fale. Ana me disse que sempre que vai deixar as gêmeas
na casa dos nossos pais para poder trabalhar, é recebida com balões em
formato de morango e uma vovó muito sorridente. Até babbo está
empenhado em aprender todas as músicas infantis do momento. E ainda
tem os tios do Henrique e dona Luíza. Eles parecem que entraram em uma
disputa para ver quem dá mais atenção aos netos.
— Avós mais babões não existem — disse. — Mas, porque me ligou?
— Não posso ligar para saber como o meu irmão “Boca suja” está?
— Apertou os olhos.
— Você não gosta de ser interrompida no trabalho e segue a regra
quanto ao trabalho dos outros. Por isso estou estranhando você me ligar.
Ela suspirou.
— Touché, caro mio.
— Do que precisa?
Beatrice ponderou por um momento antes de finalmente falar.
— Eu sei que você não curte ter assistente pessoal como Dante e eu,
porque é desconfiado demais para deixar alguém ter acesso à sua vida dessa
forma e acredita que ter apenas uma secretária é o suficiente. Mas…
— Mas o quê, senhora Prado? — Alcei uma sobracelha.
— Mas eu gostaria que você pensasse na possibilidade de ter uma.
— Fora de cogitação! — afirmei.
— Mas Matteo, uma amiga minha está prestes a ficar sem trabalho.
— Sem mais, piccola mia.
— Ela mora sozinha.
— Não.
— E é orgulhosa demais para aceitar ajuda, seja de quem for.
— Sem chance!
— Ela está precisando, Matteo!
— Podemos oferecer outro cargo na empresa, mas definitivamente eu
não vou deixar uma estranha ter acesso a…
— É a Bárbara!
Agora ela me pegou.
— Nesse caso, posso reconsiderar sua proposta — sorri, apontando
para a tela.
— Claro que pode — debochou.
— O que aconteceu?
— Parece que o dono da empresa onde ela trabalha, amigo do pai
dela, estava metido com coisa errada e atolado em dívidas. Se enrolou ainda
mais fazendo empréstimos e você já imagina o que aconteceu depois daí.
— E por que oferecer a ela um cargo como a minha assistente se ele
nem mesmo está em aberto?
— Meu marido é um viciado em trabalho e eu reconheço quando
alguém está cansado e precisando de ajuda. Henrique tem Rafael e você
precisa de uma assistente, Matteo Fontana!
— Não preciso!
Mentira. Eu precisava. Porra, como eu precisava.
Eu amava o meu trabalho, mas odiava deixar que ele tomasse conta
da maior parte do meu tempo e era exatamente isso que estava acontecendo
nos últimos meses. Eu amava sair para me divertir, ver meus amigos e
minha família e passar um tempo de qualidade comigo mesmo.
— Você é um péssimo mentiroso para um advogado de renome.
Revirei os olhos.
— Conheço aquela boneca debochada o suficiente para saber que ela
definitivamente não aceitaria trabalhar comigo.
— Apenas aceite e deixe todo o resto comigo.
A olhei desconfiado.
— O que você está pensando em fazer, ragazza?
Minha irmã sorriu como se estivesse bolando um crime.
— Venha para o jantar e eu te conto.
SE ARREPENDER
SE FIZER ISSO!
Peço que quando começarem a ler a partir daqui, me imaginem
sentada em uma daquelas cadeiras de rainha de filmes medievais, com
direito a fumaça — e não, ela não tem nada a ver com o meu fogo no cu por
causa da minha tarada interior —, uma iluminação foda e recitando tais
palavras com voz de vilã das novelas que o maluco do Matteo assiste.
Você já deve ter escutado que tudo na vida não são apenas rosas
brancas.
Ninguém é bonzinho em toda sua essência.
“Ah, mas fulano é tão gente boa…”
Não! Vai por mim, ninguém é apenas bonzinho e legal, pelo menos
não o tempo todo.
Somos feitos de vários pedaços e nem todos são bonitos.
O que fazemos com as partes feias? Você sabe. Eu sei.
Até alguns dos meus personagens sabem, porque eles fizeram vocês
acreditarem que são bonzinhos como os mocinhos e mocinhas dos filmes de
comédia romântica que assistimos na sessão da tarde.
Ah querido leitor, meus personagens são tudo, menos 100%
bonzinhos.
Nós escondemos nossos pedaços feios debaixo de máscaras que o
bom senso nos ensinou a ter.
Mas… E se todos esses pedaços viessem à tona?
O que você faria se lesse todos os seus pensamentos e desejos mais
secretos e sombrios em livros que ficam disponíveis para quem quiser?
O que você faria se todos os seus pedaços feios estivessem expostos
até a superfície por meio das palavras?
O que você faria se visse o seu verdadeiro reflexo em toda a sua
essência?
“Você quer conhecer todos os meus monstros?
Acha que você é durão, eu sei que eles vão te deixar maluco.
Encontre-os uma vez e eles te assombrarão para sempre. Não há heróis ou
vilões neste lugar. Apenas sombras que dançam na minha cabeça. Não
deixando nada além de fantasmas em seu rastro. Há partes de mim que não
posso esconder. Eu tentei e tentei um milhão de vezes. Juro por tudo. Bem-
vindo ao meu lado sombrio.”
(Darkside - Neoni)
O capítulo a seguir é um extra apenas para te fazer surtar.
Porquê?
Porque a autora que vive em mim se alimenta de surtos.
Eu preciso deles para continuar escrevendo, então, fique feliz. Você
está ajudando uma pobre e doce autora a continuar com sua carreira.
(P.S.: eu sou um amorzinho. Pode perguntar para as pessoas que
trabalham comigo. É sério, viu?)
Os personagens que aparecerão fazem parte de uma trilogia chamada
“Irmãos Morina” que possui ligação direta com a série da “Família
Fontana” e a dos “Medic’s Club”, livros que foram mencionados no conto
de Natal citado nas notas da autora deste livro em questão. Por isso, é
importante lê-los na ordem.
Mas calma, eles ainda não foram lançados, mas serão.
Spartak, Fatmir e Dardan são os líderes de um grupo perigoso da
Albânia, onde você irá se surpreender com as descobertas em cada história
e enlouquecerá com as emboscadas que eles são capazes de fazer para quem
julgam serem inimigos e participarão de uma guerra onde tudo é permitido.
Fiz você se apaixonar por mocinhos.
Agora, meu novo desafio será te fazer ceder aos anti-heróis do
NandaVerso.
Respire! Beba água!
Pegue um pano para passar para mim, pois vou precisar.
E não solte a minha mão, pois o passeio será incrivelmente
caótico!
Esse é o NandaVerso!
Bem-vindos ao lado sombrio dele!
Bem-vindos ao mundo dos espelhos!
Esteja preparado para ver seu reflexo!
Ele é tão bonito quanto você julga ser?
...
Tem certeza ou você precisará dar uma olhada melhor?
CAPÍTULO EXTRA
Spartak Morina
— O serviço que você tinha que fazer era encontrar Alessa e a porra
daquele bastardo! Como um plano simples como esse, se transformou
comigo e Spartak voando da Albânia até aqui para arrumar a bagunça do
sequestro da caçula dos merdinhas dos Fontana e forjar a morte da ex-
maluca do advogado metido a defensor dos pobres, Fatmir? Como? —
Dardan gritou com nosso irmão, que pareceu não se abalar em nada,
relaxando no sofá do quarto de hotel.
— Não seria a primeira vez que faríamos algo assim. — Deu de
ombros, abrindo os braços e apoiando-os no encosto do móvel. — E, por
favor, querido irmão, em solos brasileiros, eu não sou Fatmir e sim, Jakov
— sorriu de lado, cinicamente.
Cruzei os braços e continuei em silêncio, apenas observando de longe
a interação dos meus irmãos mais novos.
— Será que você pode pelo menos vestir uma cueca, porra? —
Dardan disse soltando um suspiro audível.
Fatmir riu e encarou seu pau que ainda permanecia ereto, decidindo
que seria uma boa ideia se masturbar enquanto conversavamos.
Quando chegamos, há pouco mais de cinco minutos, meu irmão
caçula estava fodendo uma prostituta junto ao seu melhor amigo, Astan, que
parecia não ter muito juízo como ele.
— Que frescura é essa agora, Dardanzinho? Já fodemos muitas
mulheres juntos e você está cansado de ver o meu pau.
— Explicações, Fatmir! Eu preciso de explicações! — exigiu furioso.
O caçula o olhou com tédio, rolando os olhos.
— Astan e eu estávamos seguindo o rastro que vocês nos mandaram e
por precaução, para evitar chamar atenção, decidi voltar a comer a irmã do
alejado. Estava divertido e a foda com ela até que não era ruim. — Deu de
ombros sem parar de se masturbar. — Dava para ser um lanchinho para
alguém como eu.
— Você e Astan tinham que ser discretos, caralho!
— Estávamos sendo discretos, irmãozinho, eu principalmente. Nem
cheguei a queimar nada — defendeu-se.
— Fez pior do que da última vez!
— Você está muito estressado — debochou. — E definitivamente, eu
não fiz pior do que da última vez. Inclusive, faz tempo que não temos uma
boa briga.
— Então, você está me dizendo que não seguiu com o plano porque
estava entediado? — Dardan bradou, apertando os punhos com força,
puxando e soltando o ar audivelmente enquanto encarava Fatmir.
— Também. — Piscou.
— Você não precisava voltar a se envolver com Beatrice Fontana,
porra! Esse plano era apenas para evitar que eles chegassem até nós após o
acidente na Itália, há mais de dois anos. Era só ter seguido as pistas e ter
encontrado Alessa e o moleque.
— Como eu estava dizendo, enquanto seguia as pistas, tive um
imprevisto no caminho.
— Que imprevisto? — fui eu quem perguntei, falando pela primeira
vez desde que a prostituta e Astan saíram para o quarto ao lado, a convite
do amigo do meu irmão.
Fatmir direcionou seu olhar para mim, sem deixar de estampar seu
sorriso cínico, quase como um pisicopata, ainda se masturbando, enquanto
respondia minha pergunta.
— Encontrei com a cadela da caçula dos Fontana em uma festa e
aquele advogadozinho de merda ficou com ciúmes porque fiz um
comentário inofensivo, mas verdadeiro — pontuou, soltando um gemido
baixo quando seu polegar resvalou a ponta do seu pau.
Alcei uma sobrancelha.
— O que você disse?
Seu sorriso e o brilho em seus olhos aumentaram.
— Disse que ela fodia como uma puta — falou simplesmente, dando
de ombros.
— Porque você falou isso? — Dardan exclamou.
— Eu já disse, estava entediado e foi divertido ver a cara de ciúmes
do cretino.
— Fatmir eu juro que vou te… — nosso irmão soltou entredentes,
indo para cima do loiro pelado no sofá, pronto para machucá-lo.
Levantei a mão em um comando que parasse e mesmo a contragosto,
ele obedeceu, soltando uma enxurrada de palavrões em albanês.
— Sabe, de acordo com a vagabunda que eu comi na semana passada,
suco de maracujá é ótimo para os nervos — Fatmir disse, suas palavras
pingando dechoche.
— Meus nervos só vão se acalmar quando eu socar essa sua cara,
caralho.
— O muro de escola está mesmo puto, hein.
— Me chamou de quê?
— Muro de escola.
— Que porra é essa?
Fatmir bufou em um sinal claro de tédio.
— Os brasileiros costumam chamar quem possui muitas tatuagens no
corpo de muro de escola. Ao que parece, os muros das escolas por aqui são
pintados por vândalos. Mas sabe — fez uma expressão pensativa —, eu
acho que são artistas mal-compreendidos.
— Fatmir…
— Sim, esse é o meu nome. — Piscou.
Antes que Dardan desrespeitasse a minha ordem, porque eu sabia que
ele estava no limite, caminhei até o sofá, parando de frente para o caçula,
que rasgou ainda mais os lábios, expandindo seu sorriso.
— Fatmir? — disse em um tom baixo e sério, mas controlado.
— Sim, querido irmão?
— O que aconteceu depois que você provocou Henrique Prado?
— Viu, Dardanzinho. Por isso, ele — falou, apontando para mim com
a mão livre — é o líder dos negócios da família.
— Fatmir? — ele voltou a olhar para mim. — Seja direto e responda
a minha pergunta — pedi.
Ele suspirou.
— Depois que falei apenas os fatos, o cretino veio para cima de mim
e quase doeu os socos que ele me deu, mas a verdade é que só me deixaram
ainda mais motivado a fazer o que eu fiz em seguida.
— O que você fez?
— Astan ligou para os homens que vieram nessa missão conosco para
me pegarem na tal boate e cuidaram dos ferimentos em meu lindo rosto.
Veja, não ficou nenhuma cicatriz sequer. — Elevou o queixo na minha
direção. Não disse nada, apenas aguardei que continuasse de forma fria. —
E bem, como gostamos de vingança, achei que seria interessante dar uma
lição nele.
— Achou que seria interessante — Dardan resmungou atrás de mim.
— Continue, Fatmir — ordenei.
— Voltamos a seguir o rastro da Alessa e do velho que a ajuda desde
que ela fugiu da Albânia, o que nos levou ao prédio vizinho onde Beatrice e
Henrique moram. Como se o universo estivesse a nosso favor, quando
Astan e eu estávamos à espreita, observando o local, vimos a ex-namorada
do advogado sair aos prantos do edifício onde ele residia e notei ser a
oportunidade perfeita para me vingar.
— Então, deixa ver se eu entendi. Você está me dizendo que estava
perto de conseguir finalmente capturar Alessa e seu filho, que estamos há
mais de dois anos procurando, e achou que seria interessante montar o
sequestro de Beatrice Fontana com Verônica para, apenas e somente, se
vingar da surra que levou de Henrique, fugindo totalmente da razão da sua
viagem ao Brasil? É isso que está tentando me dizer, Fatmir? — falei cada
palavra em um tom suave e calmo, quase ameaçador.
— Sim. Foi exatamente isso que aconteceu — respondeu sem
qualquer preocupação ou receio.
Soltei uma risada baixa, levando minha mão direita até meu maxilar,
coçando a barba rala que eu insistia em manter por causa da minha exigente
esposa, Ava, que apreciava quando eu marcava sua pele com ela.
— Ava realmente estava certa quando disse que uma mulher rejeitada
era capaz de qualquer coisa para ter o homem que julga amar. Aquela loira
é maluca e não ficou nem um pouco assustada quando contei que a única
solução para ela ficar com Henrique, era se livrar de Beatrice. Claro que
não íamos deixá-la ferir a italiana ou o bebê.
— Bebê? — Ergui uma sobrancelha.
— Sim. Quando Astan pegou Beatrice, saindo da farmácia, a bolsa
dela acabou caindo no chão e se abrindo, revelando não apenas seus
pertences, mas também um teste de gravidez. Os merdas dos Fontanas estão
cresendo.
— Beatrice Fontana está grávida — repeti, absorvendo a informação.
— Sim, mas está bem. Como você sabe, somos contra machucar
crianças e mulheres, principalmente elas estando grávidas.
— Pelo que eu consegui ver no hospital, enquanto tirava Verônica de
lá, Beatrice tinha um corte no lábio — Dardan comentou.
— Ok. Verônica sabe usar os punhos e foram apenas dois socos, nada
que uns dias não cicatrize.
— Você se divertiu, querido irmão? — indaguei.
— Sim, eu me divertir… — suas palavras cessaram quando o
movimento dos seus dedos em volta do seu pau aumentou, sua mão
deslizou de baixo para cima cada vez mais rápido. O rosto do meu irmão se
contorceu em prazer como um adepto ao exibicionismo que era.
Meus olhos apertaram, fixos nos seus e deixei que se deleitasse com
suas próprias carícias, ignorando os resmungos de Dardan.
Era dessa forma que eu gostava de agir.
Essa era a forma que eu colocava a minha vingança em prática, ainda
que em algumas vezes, as pessoas que eu amava fossem as vítimas da
minha tortura.
Dê à pessoa uma amostra de prazer.
Deixe que ela mergulhe e se embebede nessa pequena dose, como
uma viciada em abstinência. E então, só então, quando ela se sentir
falsamente segura e completamente anestesiada, você ataca. Sem pena. Sem
dó. Sem remorso.
Com a mão, que antes alisava meu maxilar, segurei o pescoço de
Fatmir, fechando meus dedos com força em torno da sua garganta e
forçando-o a se pôr de pé e parar subitamente a sua sessão de masturbação.
Meu irmão, apesar de toda a imprudência e euforia que a sua
impulsividade lhe dá, é bom em prever ataques, exceto os meus. Nunca
ninguém conseguiu tal proeza, a não ser a mulher com quem decidi me
casar. Ava era tão doente por controle quanto eu, e amava perdê-lo quando
o significado disso lhe desse prazer.
Era difícil controlar o sádico que havia em mim até mesmo com as
pessoas que eu amava. Foi difícil entender quem eu era e aceitar que
gostava de coisas que a maioria das pessoas julgava ser errado, quase a
ponto de ser um crime.
Eu amava reter o controle e na hora certa, perdê-lo, deixando a onda
de prazer que vinha após me inundar à medida que inflingia dor. Contudo,
depois de tudo o que a minha família passou e principalmente, depois de
Ava, aprendi a controlar com ainda mais disciplina os meus instintos.
Depois de Ava e dos nossos filhos, eu procurava agir com ainda mais
cautela. Qualquer atitude minha, poderia gerar consequências que
resvalariam neles. E, definitivamente, eu não carregaria tal crime, já
bastavam os que a minhas mãos carregavam para manter a ordem dos
negócios da família.
Sorri de lado, apreciando o rosto do meu irmão começar a ficar
levemente arroxeado e vermelho, devido a falta de ar.
— Spartak… — balbuciou meu nome, levando as mãos até os meus
braços, na tentativa de me afastar. Era inútil, eu sabia, Dardan, que estava
agora rindo atrás de mim, sabia e Fatmir, definitivamente, sabia.
Eu o amava e ele também sabia disso.
Acabaria com qualquer pessoa que ousasse machucá-lo, mas Fatmir
também sabia que eu odiava erros quando o assunto eram os negócios da
família, ainda mais que envolviam Alessa.
Fatmir era uma fera que precisava ser domada.
Fatmir tinha algo dentro de si que se não fosse controlado, perderia o
controle como um dia eu perdi, até o meu doce veneno aparecer, minha
querida Ava.
Fatmir precisava de controle e eu estava tentando ensiná-lo, porém a
cada dia que passava, estava ficando cada vez mais difícil.
Trouxe seu rosto para perto do meu e falei, pausadamente, sentindo
minhas veias serem invadidas por contentamento: — Acho que você não
está mais se divertindo, não é mesmo, irmão?
Sua boca se abriu um pouco mais conforme lutava para tentar
pronunciar as palavras. Afrouxei o aperto em volta da sua garganta,
fazendo-o arfar audivelmente, contudo não afastei meus dedos de seu
pescoço.
— Controle seus instintos. Essa é a primeira regra de um Morina.
— Eu sei — falou com dificuldade, puxando o ar com força.
— Então coloque em prática, querido irmão.
O soltei e ele caiu no sofá, tentando controlar a respiração à medida
que seu peito subia e descia, no exato momento em que meu celular tocou.
Ajeitei a postura e o peguei de dentro do bolso da calça social preta. Sorri
ao ver a foto da minha esposa na tela.
— Olá, minha doce helm (veneno) — falei ao atender a ligação. Meu
sorriso morreu assim que a sua voz aflita chegou aos meus ouvidos.
— Spartak, você precisa vir para cá.
— O que aconteceu? — perguntei e a preocupação em minha voz
chamou a atenção dos meus irmãos, que rapidamente se aproximaram de
mim.
— Eles descobriram o plano — anunciou e, ao longe, ouvi o choro
dos nossos filhos.
— Onde você está?
— Estou levando as crianças para o subsolo com a guarda, sob a
ordem de Besnik. Ele está conosco.
Besnik era uma das poucas pessoas que eu confiava e era o líder da
segurança de minha família.
— Estou a caminho.
— Encontraram Alessa e o menino?
— Tivemos um pequeno — Olhei para Fatmir — imprevisto, mas não
se preocupe com isso agora. Diga a Besnik para me enviar as coordenadas
dos cretinos.
— Eu direi.
— Tome cuidado, helm.
— Você me conhece, Spartak. Eu posso cair, mas cairei atirando
como a Morina que sou. Ninguém ferirá nossos filhos. Ninguém passará por
mim.
Essa era aminha Ava.
O meu doce veneno.
Meu helm.
Disse que a amava em albanes, ouvindo a mesma declaração em
seguida e tão rápido a ligação foi finalizada.
— O que aconteceu? — Fatmir perguntou, massageando o seu
pescoço que agora tinha as marcas dos meus dedos.
— Você estava com saudade de uma boa briga, querido irmão, a
oportunidade perfeita surgiu — declarei.
— Do que você está falando? — Dardan indagou.
— Vamos voltar para a Albânia. Ao que tudo indica, a mansão
Morina está prestes a ser invadida — anunciei.
— Eles descobriram sobre Alessa e Carlos? — o mais novo quis
saber.
— Sim e armaram uma emboscada para a nossa família. Que a guerra
comece.
“FIM”
Entre aspas porque vocês já sabem.