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COPYRIGHT © 2023 FERNANDA CARRERA

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desta obra, através de quaisquer meios eletrônicos, mecânicos, fotocópias,
gravações ― tangíveis ou intangíveis ― sem o devido consentimento. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal. Esta obra literária é uma ficção.
Qualquer nome, lugar, personagens e situações são produtos da imaginação
do autor. Qualquer semelhança com pessoas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
Capa: Thaís Alves
Revisão: Priscilla Giacomin, Thais Silva, Tatyane Brito e Tan Wenjun.
Leitura Beta: Dannielly Gonçalves e Priscilla Giacomin.
Leitura crítica: Priscilla Giacomin.
Leitura sensível: Letícia Xavier.
Icons: Flaticon.
Ilustração: Aika Ilustra.

Texto revisado conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


SINOPSE
"Mesmo sabendo que não deveria, eu o queria em minha cama. E, sem
sombra de dúvidas, o teria."
Beatrice, a herdeira caçula dos Fontana, é uma mulher decidida, ousada e
que não tem medo de correr atrás do que quer.
Com 18 anos, decide retornar à Itália, sua terra natal, para se dedicar a
sua paixão pela gastronomia. Aos 20 anos, conhece o amigo de seus irmãos,
Henrique Prado, e de cara se sente fortemente atraída pelo loiro de olhos
azuis e expressão séria.
Dois anos se passam e ela retorna ao Brasil, e o desejo que sentiu por ele
ainda permanece vivo, aflorando seu lado mais travesso.
Beatrice Fontana fará de tudo para tê-lo! Custe o que custar.
Será que Henrique conseguirá cumprir a promessa que fez aos melhores
amigos e resistir às investidas dessa italiana quente?
Evitar a tentação ficará ainda mais difícil para o renomado advogado
quando ela passa a ser sua vizinha, trazendo à tona desejos incontroláveis e
questionamentos perigosos.
AVISOS IMPORTANTES
1. Se você chegou aqui e ainda não leu o primeiro livro da série
(Dante: o início de tudo) e nem o conto de Natal (O último Natal antes do
Início de tudo), te convido a ler para uma melhor compreensão desta e das
próximas histórias, pois os livros são interligados e você vai ficar perdido
no rolê dessa família. Vá lá ler, vá! E não esqueça de avaliar antes de voltar,
mi amore.
2. Foram meses para escrever esse livro, noites sem dormir e dias
deixando meu marido, o tio Dante da vida real, minhas amigas Priscila e
Tereza, minha assessora e revisoras loucas para conseguir finalizá-lo no
tempo em que eu queria. Então, per favore, não pirateie. E se você, ainda
sim escolher baixá-lo de forma ilegal e está aqui lendo isso com um sorriso
de culpado no rosto, desejo que fique com dor de barriga ou que, no
mínimo, solte um pum na frente da pessoa que você for afim. E quando isso
acontecer, porque sei que vai — sim, sou meio vidente — você vai se
lembrar de mim.
3. Brincadeiras à parte, — ou não. Fica esperto! — esse é o meu
trabalho. Respeite-o!
4. Me siga no Instagram para não perder nenhuma novidade.
(@nandaautora)
NOTAS DA AUTORA
Ciao, amore mio.
Fico muito feliz em te encontrar aqui para mais uma aventura dessa
família que tomou meu coração de um jeito arrebatador.
Antes de tudo, vale ressaltar alguns pontos de como tudo funciona por
aqui, no “NandaVerso”.
Todas as histórias são interligadas, amo soltar dicas e spoilers de tudo o
que está por vir, e o mais importante, um “fim” nunca é um fim de verdade.
Bem, quando pensei na história de Beatrice Fontana e Henrique Prado, a
diaba italiana e o “B2 bombadão” — nosso casal coelho, que ao decorrer
da leitura vocês entenderão o porquê de chamá-los assim — queria algo
intenso como a personalidade de ambos.
Diferente do livro um, que apesar do tema abordado, teve um enredo
mais leve, este aqui é arrebatador, com mais drama, mais hots, mais
reviravoltas e com uma mensagem linda sobre o verdadeiro significado de
“lar”.
E como a vida inspira a arte, Beatrice Fontana é inspirada em uma
mulher que eu admiro demais e tenho a honra de chamar de amiga. Ana
Carolina, sua diaba, eu te amo. Obrigada por anos cheios de amor, carinho e
parceria. Ainda que as dificuldades do dia a dia se fizessem presente, você
sempre se lembrou de mim. Obrigada pelas muitas lembranças, a maioria
delas regadas a muitas risadas e broncas de nossas mães quando ainda
éramos jovens e aprontávamos.
No mais, espero que vocês possam perder o fôlego como eu perdi
enquanto escrevia essa história.
Dante e Ana Laura são românticos. Beatrice e Henrique? Ah, querido
leitor, esses dois são intensos.
Grazie, por estar aqui!
Boa leitura, amore mio.
GATILHOS
Contém cenas de sexo explícito, palavras de baixo calão e uso de drogas
lícitas e ilícitas. Além de assuntos sensíveis como: abuso e pressão
psicológica, violência contra criança e crise de ansiedade (colocadas de
forma gráfica), relação familiar tóxica e abandono infantil.
Conheça e respeite os seus limites. Fique bem!
EPÍGRAFE
"Mesmo sabendo que não deveria, eu o queria em minha cama. E, sem
sombra de dúvidas, o teria."
IMPORTANTE
No decorrer da leitura, há frases em outros idiomas, principalmente em
italiano e, ao contrário do que se espera, você não encontrará a tradução em
notas de rodapé e sim logo após as falas.
Mas porque, tia Nanda? Bem, tenho leitores que possuem deficiências
visuais e usam de aplicativos e equipamentos para as suas leituras, e tais
ferramentas não reconhecem as notas de rodapé, o que dificuta a
compreensão da história e dos acontecimentos para esse grupo. Por isso, a
minha decisão de não adicionar as notas, assim como também não adicionei
topos de capítulos preparados em plataformas como Canva e Photoshop,
além de uma simples imagem.
Por fim, vale frisar que nada disso interfere na leitura, apenas um ponto
diferente na questão visual do e-book.
Espero que compreendam e agora sim, bem-vindos à história de Beatrice
Fontana e Henrique Prado.
A todas as pessoas que foram machucadas e feridas pelos "seus".
Que receberam cobranças ao invés de cuidado; raiva ao invés de amor;
julgamentos ao invés de compreensão…
. . . pare,
respire
e lembre-se. . .
. . . você é incrível! Não há nada de errado com você!
“Eu quero ser o rei da sua história. Eu quero saber quem você é. Eu quero

que o seu coração bata por mim. Quero que você cante para mim

suavemente, porque assim eu estarei superando a escuridão. Isso é tudo

que o amor já me ensinou. Ligue e eu vou sair correndo. Todo sem fôlego

agora. Você tem esse poder sobre mim. Tudo que eu venho querendo reside

naqueles olhos. Você tem esse poder sobre mim.”

(Power over me - Dermot Kennedy)


PRÓLOGO
Henrique
Alguns anos atrás

— Vocês estão péssimos! — Carlos falou assim que a porta do


elevador se abriu na cobertura de Dante, uma expressão de puro
divertimento estampada em seu rosto, conforme Matteo e eu adentrávamos
no lugar.
— Fala, “ferrado”! Pensei que trabalharia até mais tarde hoje —
Matteo comentou para, logo em seguida, dar um tapa de leve na nuca do
nosso amigo que soltou um palavrão e rapidamente se levantou para
devolver o golpe. — Cazzo! — Alisou o local do tapa enquanto Carlos
sorriu abertamente, voltando a se sentar de forma relaxada na poltrona.
— Mole!
— Nem parece que você odeia brigas e confusões desse jeito — B1
disse, se livrando do paletó cinza amassado, colocando-o no braço do sofá,
antes de se jogar no estofado macio. Sentei-me ao seu lado, vendo Dante
surgir do corredor.
— É divertido te irritar, “boca suja”. Começa a brincadeira, mas
nunca a aguenta até o fim. Como eu disse, mole! — Deu de ombros e nós
rimos da careta que ele fez.
— Que caras são essas? — Dante questionou sentando-se na poltrona
ao lado da que Carlos está. — Parece que vocês se meteram em uma bela
briga e perderam.
— Para a sua informação, nós ganhamos. Nossos adversários saíram
mais fudidos — deixei claro, passando os dedos pelo meu lábio inferior e
uma gota de sangue manchou a pele do meu indicador.
— O que aconteceu? — Carlos perguntou.
— Os filhos babacas do nosso chefe, Leandro e Daniel! — respondi,
sentindo a raiva ameaçar voltar com força, como quando estávamos no bar
há algumas horas — Depois do trabalho — comecei a contar, tendo a
atenção de todos —, Matteo e eu fomos ao bar próximo à empresa, o que
sempre costumamos fazer depois de um dia de cão naquele inferno. E assim
que entramos no lugar, vimos os filhos da puta tentando agarrar duas
mulheres à força.
— Cazzo! — Dante exclamou seguido de Carlos, que soltou alguns
palavrões.
— O mais revoltante foi que ninguém naquele bar estava se
importando com o que estava acontecendo. Bando de pau no cu do caralho!
— Provavelmente ninguém interveio porque o dono do bar é amigo
do pai deles. Aqueles cretinos! — Matteo vociferou irritado. — Mas duvido
que eles irão esquecer de como apanharam hoje.
— O que aconteceu depois? — Dante indagou.
— Os seguranças do lugar nos separaram e ameaçaram chamar a
polícia, mas a ameaça se dissipou quando falei quem era e que meteria um
processo sem pena no rabo deles. Depois ajudamos as mulheres a fazerem
uma denúncia contra os dois, dando-lhes a certeza de que eu daria o suporte
e segurança que o meu sobrenome poderia dar a elas.
— Fez certo — seu irmão disse.
— Odeio brigas, mas — Carlos pontuou com um dedo em riste,
sorrindo de lado — adoraria ter visto essa. Se algum desgraçado se
aproximasse da minha irmã contra a sua vontade, juro que minha calma e
toda a maturidade que tenho ia para a puta que pariu.
— Penso igual. Se alguém agarrasse Bea à força, cazzo, eu não
pensaria duas vezes em acabar com o filho de la puttana com minhas
próprias mãos — Dante acrescentou.
— Não diga uma coisa dessas. Per Dio! Eu gastaria meu réu primário
por nossa principessa —, Matteo declarou passando a mão em seus cabelos.
— Falando em irmã — Carlos quem falou, ponderando por alguns
segundos antes de continuar — não me lembro de Henrique ter feito o
juramento.
— Que juramento? — indaguei, curioso.
— De não se aproximar de Beatrice com segundas intenções.
— Não quero e nem nunca vou querer pegá-la, porra. Por Deus! Você
enlouqueceu?
— Eles são loucos! — Carlos enfatizou, fazendo um movimento
descontraído com as mãos. — Italianos loucos e ciumentos.
— E você não tem ciúmes de Bianca, "ferrado"? — Matteo
questionou, alçando uma sobrancelha e encarando-o de forma provocativa.
— Tenho ciúmes como qualquer irmão mais velho normal tem, porém
— levantou um dedo para enfatizar seu argumento —, se eu posso transar e
gozar dos prazeres da vida, porque ela também não pode? Ela é maior de
idade. Só vou ficar atento para que nenhum filho da puta se aproveite e
ouse partir o coração da minha Bibi.
— Não tenho essa maturidade toda. Só de pensar em Beatrice com
um cara… Santo Dio! — B1 disse fazendo uma careta e alisando a barriga,
como se estivesse passando mal.
— Compartilho do mesmo sentimento que meu irmão.
— Como eu disse, italianos ciumentos e possessivos do caralho —
Carlos declarou. — Tenho pena do coitado que Bea começar a namorar. O
pobre vai sofrer para conquistar os cunhados.
— Do jeito que Matteo é, vai fazer mais drama do que já faz —
comentei, rindo. — Acho que ele chora por uma semana inteira.
— Aposto dez mil reais que serão dez dias e que Dante vai colocar
um segurança na cola do cara — Carlos acrescentou, já preparando uma
gargalhada.
— Aposto vinte mil reais em choro por trinta dias e segurança na cola
dos dois — falei me levantando para bater minha palma com a dele no ar,
assim que ele diz "fechado" e começamos a rir da cara dos dois patetas
Fontana.
— Muito engraçadinhos, vocês dois — Dante resmungou e seu irmão
revirou os olhos.
— Então, vamos ao juramento — Carlos voltou a insistir no assunto,
aparentemente querendo se divertir às minhas custas. — Se eu que conheço
vocês desde criança precisei fazer, ele também precisa.
— Bem lembrado, "ferrado" — Matteo disse apontando para ele e
virou o tronco logo em seguida para me olhar, levantando seu dedo
mindinho na altura do meu rosto.
— Que porra é essa? — questionei, varrendo meus olhos entre os
rostos dos outros dois homens presentes, que soltam risadas, antes de voltar
a olhar para o idiota que estampa um sorriso de orelha a orelha e apontando
o dedo para mim.
— Juramento de dedinho.
— Não vou fazer caralho nenhum de juramento. Eu nunca nem vi
pessoalmente, a irmã de vocês.
— Então quer dizer que quando a vir, tentará algo, Henrique Prado?
— Carlos provocou.
— Claro que não, porra!
Desde que conheci e passei a conviver com os Fontana, nunca fui
apresentado à herdeira caçula, tendo em vista que quando me tornei amigo
de Matteo e posteriormente de seu irmão e Carlos, Beatrice já tinha viajado
para a Itália a fim de cursar gastronomia. E nas vezes que visitou sua
família, eu estava preso em algum compromisso de trabalho.
Contudo, em todas as fotos e vídeos que vi, era impossível não notar a
beleza de Beatrice Fontana. Ela é realmente linda, mas não havia a menor
possibilidade de tentar algo. Jamais arriscaria minha amizade com os
Fontana, que sempre me trataram como se fosse da família, ou até a minha
própria vida por uma boceta, por mais atraente que a mulher fosse. Não sou
estúpido a esse ponto e sei controlar a porra do meu pau.
— Então faça o juramento — Dante insistiu me tirando de meus
devaneios.
Bufei.
— Bom saber que não confiam em mim.
— É só por… precaução — Carlos disse dando de ombros, se
divertindo com a minha irritação.
— Vou vender vocês dois — apontei para ele e Matteo — na internet.
Seus idiotas do caralho!
— Já tentei. Ninguém quer. — Dante soou divertido.
— Corta o papo furado, porra! — Matteo exclamou. — Vamos, B2,
repita comigo: — começou a falar, ignorando a risada do seu irmão e do
nosso amigo, os olhos focados nos meus, me fazendo alçar a sobrancelha
para aquela seriedade toda só por causa de um juramento de dedinho idiota
— Eu, Henrique Prado, prometo jamais me aproximar de Beatrice Fontana
com intenções que não sejam apenas de amizade.
Suspirei e decidi fazer essa droga de juramento, sabendo que se não o
fizer, o homem à minha frente não me deixará em paz.
Obrigado, Carlos!
Então repeti: — Eu, Henrique Prado, prometo jamais me aproximar de
Beatrice Fontana com intenções que não sejam apenas de amizade.
Foi o que prometi naquela noite a Dante e Matteo, sem imaginar que o
que estava me esperando, anos depois, seria a minha maior tentação.
Tudo ficará ainda mais difícil quando ela passar a morar no
apartamento ao lado do meu. Juramento filho da puta do caralho!
CAPÍTULO 01
Beatrice
Dias atuais
— Bom dia, noiva! — Eu disse ao atender a videochamada de Ana.
Há menos de duas semanas, meu irmão pediu Ana Laura em
casamento, o que foi motivo de festa para toda família.
— Onde está a Bárbara?
— Provavelmente em seu apartamento no décimo quinto sono —
respondi, sorrindo.
Ontem, sábado, nós duas saímos para dançar e só voltamos para casa de
madrugada. Fomos em meu carro, porém tivemos que voltar de táxi no final
da festa, já que bebemos além da conta. O motorista a deixou primeiro e
depois foi minha vez de ficar na casa dos meus pais. Mesmo morando com
eles desde que cheguei da Itália, procuro levar minha vida normalmente
como uma adulta solteira e independente.
Minha mãe é supertranquila e sempre conversou comigo como uma
amiga. Meu pai por outro lado, é ciumento igual aos meus irmãos e já
prevejo uma conversa sobre ter chegado tarde da noite.
Não vejo a hora da reforma do apartamento que comprei terminar, e
enfim ter o meu próprio canto do jeitinho que sempre sonhei. A bronca que
vou levar dos homens da família por ter feito tudo em segredo valerá a
pena.
— Preciso da ajuda de vocês — Ana disse quase sussurrando.
— Porque você está falando tão baixo?
— Porque Dante ainda está dormindo e eu estou no banheiro. Não
quero fazer barulho.
— Você está bem? — perguntei.
— Não, Bea! — Seu rosto logo assumiu uma expressão preocupada,
apavorada para ser mais precisa. — Eu estou surtando.
— O que aconteceu?
— Eu... eu não sei. Quer dizer, eu sei como aconteceu, óbvio, mas não
sei se realmente aconteceu.
— Não entendi nada. Explica direito.
— Eu... eu estou atrasada.
— Hoje é domingo maluca. Não temos trabalho — falei, rindo.
— Não estou falando de trabalho — suspirou. — Estou falando de
menstruação, porra. Estou atrasada.
Sentei na cama, apoiando minhas costas na cabeceira e soltei um gritinho
abafado de animação.
— Não acredito!
Arregalei os olhos, sorrindo de orelha a orelha.
— Eu só fui perceber agora. Estava tão focada nos preparativos do
casamento que... Ai, meu Deus! O que eu faço?
— Calma! Vou tomar um banho e ligar para Bárbara. Estaremos aí em
menos de duas horas. Ok? — Ela anuiu. — Eu levo os testes.
— Que testes?
— De gravidez, maluca.
— E se for coisa da minha cabeça? Pode ser o estresse, por isso ela
ainda não desceu.
— Quanto tempo faz?
— Uns dez dias, eu acho — ponderou por um segundo. — Mês passado,
meu ciclo foi fraco, estranhei, porém não dei muita importância.
— Você vai fazer um teste e vamos ter certeza. Por desencargo de
consciência. Tudo bem?
Ela arfou, relaxando os ombros antes tensos ao dizer: — Tudo. Eu só…
estou me cagando de medo, Bea. Faltam algumas semanas para o
casamento e... Meu Deus!
— Vai dar tudo certo. Calma! — pedi, a fim de conter seu nervosismo, o
que para o caso de estar mesmo grávida, prejudicaria meu sobrinho ou
sobrinha.
Santo Dio! Eu posso estar prestes a ser… tia!
— Merda! — exclamou, levando uma mão à testa.
— O que foi? Qual o problema?
— Os meninos vêm para cá hoje — lembrou.
— Melhor ainda. Dependendo do resultado, você já conta logo.
— Estou ficando com dor de barriga de tão nervosa — choraminga
segurando seu ventre.
Ri da careta que ela fez.
— Relaxa, cunhada. Vai dar certo!
— Amor? — a voz do meu irmão soou ao longe.
— Estou no banheiro. Já vou! — Ana gritou em resposta a Dante. —
Preciso ir. Vou liberar a entrada de vocês, não demorem, por favor.
— Tudo bem. Vai logo, antes que ele desconfie de alguma coisa.
Despedimo-nos e finalizei a ligação, saindo da cama e seguindo para o
banheiro, a fim de fazer minha higiene pessoal. Com uma toalha enrolada
em meu corpo, caminhei até o closet e escolhi uma calça jeans clara com
uma blusa preta simples. Calcei um salto nude, peguei minha bolsa com as
chaves do carro e antes de descer, liguei para Bárbara, avisando que
passaria em sua casa.
Desci as escadas e quando cheguei à cozinha, encontrei meus pais
conversando.
— Que horas você chegou ontem, bambina? — meu pai quis saber.
Revirei os olhos.
— Depois das duas da manhã. — Beijei sua cabeça grisalha e fui até
minha mãe, lhe dando um abraço de lado.
— Bom dia, filha!
— Bom dia, mamma!
— Você saiu com quem ontem?
— Pai, eu não fiz nada de errado. Eu estava com Bárbara — respondi me
servindo com algumas frutas.
— Onde está seu carro? Não vi na garagem.
— Deixei no estacionamento da boate. Acabei bebendo um pouco e
peguei um táxi.
— Vo-você... — meu pai gaguejou e eu franzi o cenho, olhando em sua
direção.
— O quê, pai? Pergunte logo!
— Você beijou alguém? — Seu tom era trêmulo, claramente nervoso.
— Deixe-a, Vincenzo. — Minha mãe tocou em seu braço, tentando
acalmá-lo.
Os homens da família não aceitavam que eu cresci e não era mais aquela
garotinha que corria pela casa querendo saber apenas de brincar com as
minhas bonecas. Agora, eu queria brincar com outras coisas, se é que me
entendem.
— Sim, eu beijei um cara. — Dei de ombros. — Na verdade, dois.
— Per Dio! — esbravejou com as mãos para cima.
— Foram apenas dois beijos, pai, nada demais. Eu não sei para que tanto
alarde por isso.
— Porque você é minha principessa — choramingou, tocando em minha
bochecha.
— Uma principessa che fa sesso. (Uma princesa que transa.) — Sorri
travessa, vendo-o empalidecer.
— Cazzo, Beatrice! — Bateu um punho na mesa.
— O quê? Matteo e Dante sempre fizeram sexo, e nunca foram julgados
ou criticados por isso. Matteo principalmente, que sempre está com uma a
cada dia — falei antes de começar a comer as frutas que estão em meu
prato.
— Amor — minha mãe o chamou. Só ela era capaz de acalmar esse
italiano quando o assunto era ciúmes —, ela não é mais uma criança e sabe
o que está fazendo. O importante é que ela esteja tomando cuidado. Não é,
minha filha?
— Claro. Uso camisinha sempre — afirmei sorrindo.
— Ai, Dio mio! — meu pai falou descansando a cabeça nas mãos.
— Babbo, ti amo! Não se preocupe. — Beijei sua testa e ele esboçou um
sorriso amarelo para mim.
— Meu sonho, bambina, é ver você e Matteo com alguém que ame
vocês, assim como Dante e Ana. Não há nada melhor do que construir uma
família.
— Ok! Isso vai demorar. Um pouco. Muito, na verdade. Mas eu entendi,
papa. — Segurei suas mãos. — Você é o melhor pai do mundo.
Depois do café, pedi um táxi e fui até à boate para buscar meu carro.
Em menos de cinquenta minutos, já estava parada em frente ao prédio de
Bárbara, esperando por ela.
— Vamos! — gritei quando a vi.
— Calma! Minhas pernas estão doendo de ontem — falou abrindo a
porta do passageiro. — Qual o b.o. que nós vamos resolver dessa vez? —
investigou enquanto colocava o cinto.
— Vamos passar em uma farmácia e depois iremos para a cobertura
de Ana.
A olhei por um momento, antes de colocar o carro em movimento.
— Qual a emergência?
— Menstruação atrasada.
— Caramba! — exclamou, colocando as mãos na boca. — Meu Deus,
vamos ser tias! — comemorou animadamente, mas logo parou, se virando
para mim. — Espera, se ela estiver grávida, quem vai ser a madrinha?
— Puta merda! Mas eu tenho prioridade, sou irmã do pai.
— Por isso mesmo que eu tenho que ser a madrinha do bebê —
Cruzou os braços fazendo bico. — Você, tecnicamente, já tem o DNA da
criança. E eu?
Bárbara é a pessoa mais persuasiva que eu conheço. Ela sempre
consegue dobrar Ana e eu. Tenho pena de quando arranjar um namorado,
porque o coitado será seu cachorrinho de estimação.
— Ok! Você venceu, como sempre — falei, soando derrotada,
fazendo-a rir. — Você daria uma ótima advogada, sabia?
— É o dom que eu tenho por ser filha única — disse com o nariz
empinado.
Depois de passar na farmácia e comprar cinco testes de gravidez
diferentes, chegamos ao prédio onde Dante e Ana moram. Estacionei o
carro e caminhamos até o elevador. A porta se abriu na cobertura e ouvimos
risadas vindas da sala. Os três estavam sentados no sofá, vendo algo que
não sei dizer o que é na televisão.
— Chegamos! — anunciei, me aproximando deles.
Meus irmãos nos cumprimentaram com um sorriso, menos Henrique.
Desde a noite do evento da empresa, ele estava distante. Não falava mais
comigo, apenas quando lhe perguntava algo. Nem olhar mais para mim, ele
olhava direito.
— Oi, Henrique. — Acenei em sua direção.
— Oi, Bea. — Ele me olhou rápido com um sorriso fraco no rosto.
Eu amava quando ele me chamava de Bea. Muitas pessoas me
chamavam assim, mas sempre que ouvia meu apelido sair de sua boca com
aquela voz grossa, ficava com uma vontade louca de agarrá-lo.
Cazzo! Quero dar pra esse cara! Quero dar muito!
— O que vocês estão assistindo? — Bárbara questionou.
— Novela — Dante respondeu. — Matteo nos obrigou a ver pelo
menos três episódios.
— Admitam! Vocês estão gostando, caralho! — Meu irmão os
entregou.
— Não é tão ruim — Henrique confessou.
— Mas também, não é tão bom quanto um filme de terror — Dante
pontuou, fazendo nosso irmão revirar os olhos.
— Onde está a minha cunhada?
— Ana está no quarto, hoje ela não está se sentindo bem — soou
preocupado. — Na verdade, passou a semana estranha e eu ia chamar um
médico, porém ela disse que não precisava. Vocês sabem como minha
mulher é teimosa.
— Deve ser porque o dia do casamento de vocês está chegando.
Relaxa! — Matteo o acalmou.
— Não se preocupe, fratello. Vamos falar com ela! — Ele assentiu e
voltou sua atenção para a televisão.
— Não demora, boneca. — Matt cantarolou. Minha amiga bufou e
lhe mostrou o dedo do meio, fazendo-o rir.
Subimos as escadas e entramos no quarto, encontrando Ana sentada
na beira da cama. Ela logo veio correndo até nós assim que apontamos em
seu campo de visão.
— Até que fim! — expôs assustada. — Cadê? Compraram? Meu
Deus, eu nunca fiz um teste na minha vida. Estou passando mal. Ai meu
Deus!
— Calma. Não fique assim, pode fazer mal para nosso sobrinho ou
sobrinha — Bárbara enunciou, se aproximando e tocando em sua barriga.
— Para com isso! Eu posso não estar, sabia? — Ana proferiu, dando
um tapinha em sua mão e fazendo uma careta.
— Olhando melhor para você, cunhada, acho que engordou um
pouquinho, consigo até ver sua barriguinha um pouco mais avantajada —
relatei com um sorrisinho bobo e sonhador no rosto.
— Se eu não estiver, vou me lembrar de suas palavras — ralhou. —
Vamos logo, estou a ponto de explodir de tanta água que eu bebi.
Caminhamos até o banheiro e entramos, fechando a porta.
— Para que tudo isso de teste, Bea?
— Para ter certeza. Você não é a única que nunca fez um desses na
vida, então peguei um de cada marca que tinha na farmácia. — Entreguei a
ela um frasco pequeno. — Mija logo.
Abrimos as embalagens e depois que ela encheu o copo, colocamos
os testes por trinta segundos e os tiramos, deixando-os em cima da pia.
Descartamos o líquido no vaso e o copo na lixeira, e aguardamos.
— Quanto tempo? — minha cunhada indagou, sentando-se no chão.
— Cinco minutos — Bárbara respondeu.
— Ai meu Deus! Como isso aconteceu? Eu tomo remédio... puta
merda!
— Isso é possível. Se tiver que ser, vai ser — declarei.
Os cinco minutos mais demorados da vida se passaram tão devagar,
que mais pareceram cinco horas.
— Já deu tempo. Você quer ver? — investiguei, olhando para Ana
Laura.
— Não! Vejam vocês — disse, ficando pálida devido ao nervosismo.
— Você precisa se acalmar, amiga! — Bárbara pediu enquanto a
segurava pelas mãos e as duas se abaixaram, sentando-se no chão
novamente.
— Vou olhar!
Virei-me e meus olhos se arregalaram quando vi quatro exames com
duas listras e um escrito grávida três mais.
— Cazzo! — gritei.
— O quê? — ambas perguntaram atrás de mim.
— Vamos ser… tias! — anuncie, dando pulinhos de alegria.
— Tias! — Bárbara exclamou ao se levantar, vindo me abraçar.
— Eu... eu... meu Deus. Eu estou... puta merda, eu estou grávida —
Ana sussurrou tocando em sua barriga, com lágrimas começando a escorrer
pelo seu rosto. — Eu vou ser... mãe?
— Sim, cunhada! Na verdade, você já é mãe — disse carinhosamente.
— O que está acontecendo aí dentro? — Dante falou do lado de fora.
— Abram a porra da porta! — Matteo gritou.
— O que eu faço? O que eu faço? — Ana Laura perguntou agitada, se
levantando e indo até o espelho.
— Conte para o meu irmão, tenho certeza de que ele vai amar.
— Vou derrubar a porta se vocês não abrirem!
— Se você fizer isso idiota, vou ligar para a polícia — Bárbara
declarou e ouvi meu irmão gargalhar.
— Já vamos abrir. Só um minuto — avisei.
— Ana, você está bem? — Dante perguntou angustiado. — Meu
amor, fale comigo. Por favor... não me torture mais. Você está estranha há
dias. Fale comigo, amore mio.
Olhei para a minha cunhada, que estava com os olhos marejados e
vermelhos, esperando por uma resposta. Ela suspirou e acenou, indicando
para que eu abrisse a porta. Fiz e assim que Dante a viu, caminhou
apressado até ela, segurando seu rosto entre as mãos.
— O que você tem, amor? Porra, eu estou enlouquecendo. Me fala o
que você tem. Eu estou aqui e voc…
— Estou grávida! — Ana confessou rápido, interrompendo-o.
— O que você disse? — meu irmão perguntou de olhos arregalados.
— Eu acabei de... de fazer alguns testes. — Apontou para a pia do
banheiro, levando as mãos até sua barriga e falou entre lágrimas — Vamos
ter um bebê!
Olhei para Matteo e Henrique, ambos com uma cara de espanto ainda
parados na entrada do banheiro. Bárbara estava ao meu lado emocionada.
Dante permaneceu em silêncio por alguns segundos, até que expôs,
chorando emocionado.
— Cazzo! Diventerò padre! (Eu vou ser pai!)
— Eu sei que falamos que íamos esperar e…
— Amor, tudo bem. Eu estou explodindo de felicidade. — A abraçou
forte. — Ti amo, amore mio! Ti amo! Ti amo! Ti amo!
— Eu vou ser tio, porra! — foi a vez de Matteo gritar, jogando as
mãos para o alto. — Eu vou ser o melhor tio que essa criança vai ter.
— Segundo melhor — Henrique interrompeu.
— Nem fodendo! — meu irmão rebateu.
— Eu já amo tanto vocês duas. — Dante afirmou, beijando com
carinho os lábios de Ana.
— Vocês duas? — Ela cruzou os braços. — Como você sabe que é
uma menina, fratello?
— Eu sei que é — disse confiante, olhando-a nos olhos com devoção.
— Porra, você não tem noção do quanto me faz feliz, mulher? Sou doido
por você.
Sua declaração fez Ana desatar a chorar.
— Eu estou com... com medo, amor — murmurou, segurando em
seus ombros.
— Medo?
— Sim. E se eu não for uma boa mãe? Você sabe que eu sou meio
doida e…
— Meio? — Matteo falou e Henrique deu um tapa em seu braço.
— Você vai ser a melhor mãe do mundo para a nossa filha. E eu vou
estar aqui ao seu lado. Vocês são a minha vida.
— E você a nossa — ela disse, começando a se acalmar. — Não
acredito que isso está acontecendo!
— Nem eu, amor. Pensei que você tomasse remédio.
— E eu tomo. Mas... — Deu de ombros.
— Mas ela tinha que vir — Dante completou, sorrindo de orelha a
orelha — Vou marcar uma consulta amanhã e vamos sair para comprar
câmeras e instalar em toda a cobertura. Iremos precisar de protetores para
tudo que tenha ponta por aqui e vou contratar um segurança e uma
enfermeira vinte e quatro horas para você. Temos que contar para os nossos
pais — falou praticamente sem respirar.
— Ei, calma. Vamos com calma, Dante. — Ele a olhou — Vamos
começar com a consulta. Tudo bem? — Ele assentiu — Depois damos a
notícia para a nossa família.
— Porra, eu te amo! — A beijou.
— Eu te amo mais! — disse, enxugando as bochechas com as mãos.
— Isso pede uma comemoração — Bárbara falou. — Eu pego o
vinho!
— E eu pego você, boneca — Matteo sorri travesso para a minha
amiga encostando-se no batente da porta.
— Cala a boca, idiota! — Passou por ele, empurrando-o pelo ombro,
ou pelo menos tentando. — Vou até à cozinha.
— Vou com você. — Matteo a seguiu e ouço minha amiga bufar.
— Vou deixar vocês dois sozinhos um pouco — falei e Dante e Ana
concordam.
— Descemos já já — meu irmão informou.
— Tomem o tempo que precisarem. — sorri — Parabéns! — Eles
agradeceram e fechei a porta em seguida.
— Vamos? — chamei Henrique que está parado próximo à entrada,
parecendo estar com a mente longe.
Ele nada disse, apenas caminhou, saindo do quarto com uma mão no
bolso e outra tocando em seu queixo, sem nem me olhar.
— Ei, está tudo bem? — Toquei em seu braço e ele parou.
— Sim, Bea! — sua fala saiu segura, porém seu olhar perdido me fez
pensar que algo não estava tão bem assim.
— Olha pra mim — pedi, mas ele não o fez. Com uma mão, segurei
seu rosto e o virei para me olhar. — Fala comigo, Henrique.
Ele suspirou.
— Eu só estava pensando que essa criança vai ter muita sorte por ter
pais que... a amam tanto. — A tristeza que saltou em sua voz foi cortante,
sendo impossível não sentir o aperto que afetou meu peito.
— Tenho certeza disso. — Fiz um carinho em seu rosto — Quer
conversar?
— Não, está tudo bem — Sorriu fraco.
— Estou aqui, ok? — Me aproximei, ficando a um palmo de
distância do seu rosto. — Para o que precisar.
— Bea — chamou meu nome como um aviso.
— O quê? — Levei minhas mãos até seu peito e não desviei, por um
segundo sequer, o meu olhar do seu.
— É melhor... você se afastar.
— Por quê?
— Porque todas as vezes que ficamos sozinhos e tão perto um do
outro, acabamos passando dos limites.
— Foda-se os limites! — segurei seu rosto quando declarei decidida,
olhando em seus olhos — Eu quero você!
Ele engoliu em seco.
— Eu tam... — se interrompeu, soltando um longo suspiro antes de
continuar — Nada pode acontecer entre nós dois, Bea, nada além de
amizade. Entendeu? — Se afastou de mim, indo em direção às escadas, sem
me dar tempo de dizer mais nada.
CAPÍTULO 02
(Bônus)
Dante
— Não acredito que isso está acontecendo — murmurei sem
conseguir tirar meus olhos da barriga de Ana Laura.
Grávida? Minha mulher está… grávida!
— Amor — me chamou, segurando meu rosto com suas pequenas
mãos, me fazendo subir o olhar até suas íris azuis que tanto amo admirar. —
Você está bem? — Seu tom de voz é calmo, mas cheio de preocupação —
De verdade?
Desde que anunciei a criação do Instituto Carlos Ferreira, foram
poucas as noites em que consegui dormir como deveria.
Era inevitável não pensar com ainda mais frequência em meu amigo
que se foi e, apesar das tempestades terem diminuído e me permitido viver
mais, elas ainda existiam, como Júlio falou. Só era difícil lidar com as
lembranças e a saudade que elas traziam, a cada etapa da execução para a
criação do Instituto.
Houveram duas noites nas últimas semanas, que acordei de
madrugada e fui até o closet para ler as cartas de Carlos. Sentado no chão
do cômodo, com a caixa preta à minha frente e pedaços de papel espalhados
por ali, uma tempestade foi se formando e a saudade me inundou com força,
até que o choro chegou.
Chorei baixinho desejando ter mais alguns minutos com meu amigo,
a raiva me abraçando e trazendo toda a minha indignação por não entender
o porquê ele ter partido. Porque alguém como ele se foi?
Nas duas vezes que isso aconteceu, senti os braços da minha mulher
me envolverem em um abraço e como sempre acontecia, a tempestade
dentro de mim diminuía até que nada mais me sufocasse, se transformando
em um simples chuvisco.
"Uma pessoa que perde alguém que ama, jamais voltará a ser quem
era. É como ter no coração uma ferida que nunca irá sarar, a gente só vai
trocando o curativo à medida que o tempo passa." Essas foram as palavras
da psicóloga logo em minha primeira sessão.
Fazer terapia estava me ajudando a continuar dando um passo de
cada vez, a ter sonhos sem me sentir culpado por isso, ainda que houvessem
vezes, como agora, que o medo me atingia.
— Só estou com… medo — confessei, sentindo algumas lágrimas
descerem por minhas bochechas. — Medo de não conseguir me doar cem
por cento para a nossa filha. Como tive medo de não conseguir te amar
como você merece.
— Você acha mesmo que é uma menina, hein? — soltou uma risada
me fazendo rir junto mesmo em meio às lágrimas. Com seus polegares, ela
seca-as sem pressa, analisando meu rosto a cada movimento dos seus dedos
sobre minha pele. — Você é o amor da minha vida, senhor Fontana — meu
coração reage como sempre quando a minha “gnomio” se declarava para
mim, meu peito se expandindo de felicidade. — E tenho certeza de que será
um pai incrível para esse bebê — afirma depositando um beijo na ponta do
meu nariz, como eu sempre faço com ela.
Suspirei me sentindo um pouco mais… leve.
— Sei que você tem lidado com muita coisa e ao mesmo tempo que
o Instituto te conforta, também te faz sentir ainda mais saudade de Carlos.
Amor, você não está sozinho. Nós — tirou as mãos do meu rosto para
repousar sobre as minhas, que ainda permanecem em sua barriga —
estaremos sempre com você.
— Vamos mesmo ter um bebê! — disse, ainda sem acreditar que
vou ser…pai — Eu vou ser pai!
— E eu vou ser mãe. Porra! Eu vou ser mãe! — exclamou,
arregalando seus olhos.
Um sorriso bobo se desmanchou em meus lábios com sua expressão
engraçada, um mix de choque e emoção. Abracei sua cintura e a trago para
mim, colando nossos corpos que parecem se encaixar perfeitamente. Ana
logo retribui, levando suas mãos até meus ombros. E então, nos beijamos
por um momento, um beijo calmo e cheio de amor.
Quando nos afastamos, minhas mãos foram para a sua barriga
novamente, em um claro sinal de proteção.
— Não vejo a hora de senti-la chutar — comentei.
— Vai levar um tempinho para isso acontecer, amor — disse
torcendo o nariz.
Soltei uma risada e beijei sutilmente seus lábios. Ana sorriu de lado
e me analisou por alguns segundos, como se tivesse acabado de ter uma
ideia.
— Algum problema? — procurei saber.
— Não, eu só… tive uma ideia — confessou e eu fiquei em silêncio,
esperando-a falar. — O que você acha de fazer um jantar simples para o
nosso casamento, apenas as nossas famílias e amigos mais próximos?
Um pouco mais de uma semana depois que fiz o pedido a ela,
nossas mães estavam empenhadas com a organização do nosso casamento
que acontecerá em menos de dois meses. A ideia inicial da minha noiva, era
fazer a cerimônia no salão do hotel da minha família, já que Ana sempre
amou o lugar desde a primeira vez que esteve nele, em sua primeira reunião
como assistente da minha mãe.
Curioso com a mudança repentina, indago: — Porque a mudança?
Ela dá de ombros e responde minha pergunta usando um tom baixo,
como se estivesse com receio da minha reação ao ouvir as palavras.
— Pensando agora, acho que é algo que combina mais com a gente
e se seus pais permitirem podemos fazer no jardim da casa em que você
cresceu, onde tivemos a nossa primeira dança juntos e… no lugar onde você
compartilhou muitos momentos felizes com Carlos. Seria como se ele
também estivesse presente em uma ocasião tão importante para nós.
Uma lágrima, dessa vez de felicidade, escorreu pelo meu rosto.
— Acho que acabei de me apaixonar ainda mais por você, se é que
isso é possível. — Ana sorriu, daquele jeito apaixonado, que me faz ser o
homem mais grato por ela ter escolhido ser minha e por ter me aceitado
como seu. Santo Dio, como eu sou louco por essa “gnomio” serelepe!
— Isso é um sim? — Alçou uma sobrancelha.
— Sim, mi amore. — Beijei a ponta do seu nariz. — Obrigado!
— Eu te amo, Dante! — declarou, colando nossas testas sem
quebrar o contato visual.
— Eu te amo mais, Ana Laura.
CAPÍTULO 03
Beatrice
Estávamos todos na cozinha bebendo vinho, esperando Dante e Ana
descerem. Eu estava sentada na ponta da mesa, enquanto Matteo e Bárbara
discutiam por algo.
Henrique estava próximo à pia, de frente para mim e de cabeça baixa,
com seu quadril estreito, coberto por uma calça jeans preta, apoiado no
mármore atrás de si, onde suas mãos estavam fechadas, uma em cada lado
do seu corpo.
Meu olhar dançou por suas mãos, grandes e poderosas, seus braços
fortes expostos, repletos de veias salientes, já que as mangas do suéter de
um tom azul marinho foram puxadas de qualquer jeito até os cotovelos.
Santo Dio! Como ele é sexy!
Além de toda a sua beleza, ainda existia o fato de Henrique ser todo
sério a maior parte do tempo, o que lhe dava um ar sensual de mistério. Era
impossível não notar e não babar feito uma safada tarada que era, cada vez
que ele estava por perto.
Assim como muitos homens por aí, que quando almejam uma mulher
anseiam em marcá-la com porra em sua pele, apenas para saciar seus
instintos mais primitivos, eu também amava a caçada, amava cada
momento até os “finalmente”. A espera a fim de devorar minha presa, me
excitava tanto quanto o sexo. E fazia mais de dois anos que o amigo dos
meus irmãos estava no topo da minha lista de presas, dois anos que eu
alimentava vorazmente esse desejo.
Há dois anos, imaginando as coisas mais sujas e depravadas com ele,
setecentos e trinta dias — e contando — fantasiando com o prazer que
nossos corpos seriam capazes de provocar se Henrique cedesse a esse
desejo.
Não conseguia me lembrar da última vez que estive tão inquieta por
um homem, na eminência de me sentir tão necessitada e excitada. Henrique
Prado despertava o meu lado mais travesso, a ponto de me fazer perder toda
a razão e agir por impulso, sem pensar nas consequências.
Pus-me de pé e caminhei até onde ele estava, apoiando a lateral do
quadril na bancada. Levei a taça até meus lábios, bebendo um pouco do
líquido que ainda restava e admirei o loiro tão perto quanto podia e menos
do que eu queria, por cima da borda de cristal, antes que as palavras
saltassem de meus lábios com uma inocência fingida: — Não estamos
sozinhos, o que significa que podemos... conversar?
Henrique esfregou os olhos com uma mão, passando a língua nos
lábios e respondeu: — Desculpe-me se fui rude, só quero evitar problemas,
Bea.
— Gosto quando me chama de Bea — confessei.
— Muitas pessoas te chamam assim.
— Mas na sua voz é… sexy. Me faz imaginar como o apelido soaria
se estivéssemos fazendo sexo.
Mordi o lábio inferior conforme ele levantava a cabeça para me olhar
nos olhos ao falar, seu tom de voz era baixo e sério, porém com um toque
de cuidado, como se não quisesse ser grosseiro como foi momentos atrás.
— Você é linda e isso eu não posso negar. Você sabe muito bem disso,
mas eu amo a sua família e não quero desapontá-los e nem fazer algo que
possa desrespeitá-los também — ele ponderou por alguns segundos, como
se estivesse buscando forças para pronunciar as palavras seguintes. — Não
vamos rolar, Beatrice. Não… desse jeito.
Mordi o lábio inferior tentando prender o riso com sua tentativa de
homem sério, como se as palavras fossem para lançá-lo à realidade e que a
possibilidade de ficarmos juntos nunca iria acontecer. Nem mesmo ele
acreditava nisso. Nossa química era forte demais.
— Sabe — meneei a cabeça vagarosamente, conforme falava —, eu
não consigo esquecer a forma como você me segurou na entrada da casa
dos meus pais e de todas as palavras que usou quando agarrou meu pescoço
no escritório de Dante. Minha pele formigou por dias por causa do seu
contato brusco. — Fiz uma pausa antes de continuar, observando-o apertar a
mandíbula com força, foi possível ver a veia do seu pescoço pulsando de
forma violenta. Imediatamente senti uma vontade de chupar o local. Engoli
em seco, tendo a certeza de que iria aguar se não o fizesse. — Suas ações
me mostram não somente que me quer, mas como vamos rolar sim, caro
mio. É só questão de… tempo.
Ele puxou a respiração com força, soltando-a em um longo suspiro,
como se estivesse buscando acalmar algo dentro de si, em seguida, passou a
mão nos cabelos loiros, descendo até sua barba grossa, que tinha o mesmo
tom, e meu olhar vagueou por cada movimento, cada célula minha
desejando passar a língua em sua pele.
Depois do que aconteceu na noite em que fui atrás dele no
apartamento do meu irmão, Henrique, assim como Matteo e Dante,
andaram ocupados com a inauguração do Instituto Carlos Ferreira,
juntamente com o fisioterapeuta do meu irmão mais velho, Lucas Alves.
Logo, não tivemos muitos momentos com todos juntos para que eu pudesse
provocar o loiro à minha frente.
Cazzo, como eu amo provocá-lo!
A última vez que nos vimos foi na noite do noivado de Ana e Dante,
onde eu estava tão feliz pela união dos dois, que só conseguia designar toda
atenção à minha amiga e cunhada.
— Esqueça o que falei e fiz naquela noite — declarou com os lábios
levemente apertados. — Eu tinha bebido um pouco de uísque e acabei
falando o que falei por culpa do… por culpa do álcool. — Seu olhar fugiu
do meu, se focando em algum ponto na cozinha à sua frente, como se
estivesse em alerta e alguém pudesse notar o tipo de conversa que estamos
tendo.
Olhei por um segundo além de nós, e vi Matteo e Bárbara ainda em
uma conversa nada acalorada.
Voltei minha atenção para o homem, decidida a continuar
provocando-o.
— Deveria beber uísque mais vezes então — encorajei sarcástica
— Beatrice! — Meu nome saiu da sua boca como um aviso para que
eu tomasse cuidado e não continue indo por esse caminho.
Henrique ainda evitava o meu olhar, mas percebi seu maxilar travado
e seus dedos ainda mais apertados ao redor do mármore da pia.
Terminei minha bebida, deixando a taça sobre a peça, ignorando seu
aviso ao me aproximar ainda mais. Levei minha boca até seus ombros,
soprando de propósito as palavras ali, desejando ver sua pele se arrepiar
com o meu hálito tão próximo.
— Estou pensando que se você já falou tudo aquilo com apenas um
pouco de bebida — meu tom de voz era uma mistura de deboche e tesão —
O que você seria capaz de dizer à uma mulher na cama com uma dose
considerada dela.
Como pensei, a pele do seu pescoço e ombro se alarmou e só então,
notei algumas cicatrizes que nunca havia observado em todas as vezes que
me aproximei dele. Eram cicatrizes pequenas, quase como arranhões
espalhados pela região.
Franzi o cenho ao notar que uma delas, próximo à nuca, tinha
continuidade para as suas costas, como um corte longo e profundo. Meus
dedos coçaram para tocá-lo e dessa vez, não apenas por desejo, mas por
curiosidade também.
Ouvi quando soltou um barulho grave e meus olhos voltaram a
encarar seu perfil, que constava o maxilar ainda mais apertado do que antes.
— O que eu sou capaz de… dizer na cama para uma mulher? — As
palavras salpicaram repletas de deboche, como se eu o tivesse insultado.
Henrique soltou uma risada baixa, daquelas perigosas que são capazes de
tirar o fôlego de qualquer mulher e a forma como seus lábios se curvaram
sutilmente para o lado, me fez pensar o quanto ele pode ser possessivo
durante o sexo, muito possessivo. — Quando tenho uma mulher na cama,
Bea, não são as palavras que saltam da minha boca que tiram-a do eixo,
mas o que eu faço com ela — completou. Seu rosto se inclina para o lado e
seu olhar permanece baixo, vagando por todo meu corpo.
Engoli em seco, sentindo um arrepio atravessar por toda a minha
coluna, causado tão somente por seu tom de voz, unido à sua pequena
vistoria. Propositalmente, apertei minhas coxas e um grunhido baixo
escapou de sua garganta me fazendo sorrir vitoriosa.
E então, como há instantes, Henrique decidiu encerrar o momento,
como se percebesse que ultrapassou os limites que ele mesmo impôs para si
quando o assunto era eu, e se afastou sem olhar para mim, dizendo a meu
irmão e Bárbara que precisava fazer uma ligação.
Na manhã seguinte, acordei cedo não desejando encontrar meus
pais. Eles ainda não sabiam da novidade, então decidi que tomaria café
assim que chegasse ao trabalho.
Ontem, alguns minutos depois de Henrique "precisar fazer uma
ligação importante", Dante e Ana nos comunicaram que decidiram fazer
apenas um jantar íntimo, e não mais um evento no grande salão do hotel de
nossa família.
A ideia atual era fazer a cerimônia no enorme jardim da casa dos
nossos pais.
Assim que compartilharam conosco o motivo de tal escolha, foi
impossível não sentir saudade de Carlos.
Tinha certeza que mamma e babbo não negariam um pedido como
esse, na verdade, acreditava que iriam amar.
Virei à direita e vi os carros de todos já estacionados em frente à
clínica onde Ana fará sua primeira consulta. Havíamos marcado de nos
encontrarmos aqui, depois que fiz questão de ligar para o médico da
família, sem me importar que era domingo, e agendar o primeiro horário
para a minha cunhada.
Nenhum de nós queria perder o grande momento, como os tios
babões que já éramos.
Estacionei o carro e logo desço, acionando o alarme conforme
caminho até a entrada. Quando abro a porta de vidro, vejo todos sentados ao
final do corredor, Matteo ao lado de Bárbara e Henrique de frente para eles.
Me apresento na recepção e a simpática atendente sinaliza para onde todos
aguardam.
— Dante e Ana, onde estão? — perguntei assim que me aproximei.
— O médico os chamou há uns cinco minutos. Ela já está sendo
atendida — Bárbara respondeu.
Anui e sentei-me na cadeira ao lado de Henrique, que se remexeu em
seu assento mostrando um certo desconforto com a proximidade. Mordi o
interior de minhas bochechas, tentando não rir da sua reação.
Ignorei a vontade de provocá-lo que surgia sempre que o via, focando
na porta que minha amiga indicou.
Minutos se passaram até que ouvimos um grito, daqueles que damos
quando acabamos de receber uma boa notícia, mas que não esperávamos ser
possível acontecer.
— Acho que foi a nossa “gnomio” — Matteo comentou, levantando o
indicador direito, seus olhos se abrindo conforme balança a cabeça.
— Será que está tudo bem? — perguntei, apreensiva.
— Espero que sim — Bárbara rogou, apertando as mãos ao peito.
Momentos depois, a porta da sala foi aberta e uma Ana Laura
sorridente com o rosto vermelho surgiu, dando pulinhos animados,
enquanto meu irmão, que parecia ter visto um fantasma, caminhava ao seu
lado.
Em um rompante, nos levantamos.
— Então, está tudo bem? — Matteo inquiriu.
— Sim! — A “gnomio” gritou, jogando os braços para o alto e seu
sorriso agora se mistura com as lágrimas que caíam sem qualquer freio. —
Está tudo muito bem!
— Due… sono due… Per Dio… due… — meu irmão mais velho
começou a sussurrar como se estivesse em um transe, seus olhos, a todo
instante, focados na barriga de sua noiva.
— O que ele disse? — Henrique questionou com o cenho franzido.
— Ele disse dois — falei pausadamente. — São dois. Por Deus,
são… — e quando compreendi o que Dante quis dizer, exclamei alto,
arregalando os olhos para Ana, que acena freneticamente em concordância.
— Cazzo! Due bambini! Sei incinta di due gemelli!
— Santo schifo! Due? Due? — Matteo gritou levando as mãos até a
cabeça. — Nossos pais vão surtar! Cazzo, eu estou surtando! Due! Sono
due!
— Alguém pode traduzir, por favor. Henrique e eu — Bárbara aponta
entre eles dois — estamos perdidos no rolê.
— Eu vou ser tio de gêmeos! Gêmeos, porra! Cazzo!
Com a afirmação de Matteo, eles então compreenderam o motivo da
nossa animação e logo participaram da comemoração.
Abraçamos os novos papais e lentamente, Dante pareceu sair do
transe em que estava, envolvendo a cintura de sua noiva e puxando-a de
lado.
— Não acredito que tem dois bebês aqui — ele falou, tocando a
barriga dela com carinho.
— Pois é e foi você quem os colocou aí dentro. Arrasou, Dantinho!
— Matteo juntou os dedos de uma mão, sacudindo-os no alto, fazendo o
típico movimento italiano. — Dois mini "gnomios" de uma vez só!
— Eu vou ficar do tamanho de uma geladeira — Ana reclamou,
fazendo beicinho.
— Geladeira, não. Está mais para um frigobar, levando em
consideração a sua altura, ou melhor, a falta dela — meu irmão falou, nos
fazendo rir e levando um tapa no ombro da grávida. — Ai! Controle essa
sua "gnomio barriguda", fratello.
— Você mereceu! — Dante afirmou. — E não ligue para ele, amore,
você vai ficar ainda mais linda. — Beijou os lábios da noiva com carinho, a
expressão dela se suavizando quase que imediatamente.
— Se um dos bebês for menino, vocês poderiam colocar o nome dele
de Matteo. Em minha homenagem, obviamente — sugeriu — Eu super
apoio.
— Claro que apoia — Bárbara debochou.
Nossa cunhada revirou os olhos.
— Sem chances, B1.
Ele fez uma expressão de drama exagerada, levando uma mão ao
peito de forma teatral.
— Os bebês estão bem? — procurei saber.
— Sim! Ana está com um pouco mais de três meses e tudo está
perfeitamente normal — meu irmão respondeu. — O médico só pediu para
que ela não fizesse grandes esforços, se alimentasse bem e receitou algumas
vitaminas. Sobre o sexo, ela fez um exame de sangue chamado sexagem
fetal. O resultado sai na sexta-feira e decidimos marcar um jantar em casa
no sábado, com o resto da família para dar as duas notícias.
Assentimos.
— Ele disse que foi um milagre os dois estarem bem depois de tanto
tempo tomando anticoncepcional, ainda que fosse algo comum, não é nada
bom para eles. Mas — Ana acrescentou alisando com amor sua barriga —
nossos filhos estão bem.
Dante beija sua têmpora de forma apaixonada.
— Espera! — ela se sobressaltou.
— Algum problema, “gnomio”? — Matteo indagou.
— Se eu estou com mais de três meses de gestação… — ela
silenciou, tocando em seus dedos como se estivesse fazendo conta. — Puta
merda! Eu engravidei quando estreamos a banheira! — vociferou olhando
para o noivo. — Você me engravidou naquela noite, na porra da banheira!
Dante soltou uma risada e segurou seu rosto, beijando a ponta do seu
nariz e olhando-a com devoção, para logo em seguida sussurrar algo em seu
ouvido que a fez sorrir feito uma boba apaixonada.
— Vou me lembrar de ficar longe de uma, quando eu for fazer sexo!
— declarei cruzando os braços.
Meus irmãos resmungaram em um claro sinal de desgosto pelas
minhas palavras. Pelo canto de olho, vi Henrique apertar seus lábios,
demonstrando também estar incomodado com a minha declaração.
— Vocês precisam entender que eu transo, e muito — provoquei,
dando de ombros e lançando um sorrisinho de lado para o loiro, que me
olhava com intensidade. Um arrepio me atingiu, fazendo minha pele
esquentar imediatamente.
— Mas que cazzo! (caralho) Ainda não são nem dez da manhã e eu já
estou com uma puta indigestão — o Fontana mais dramático falou.
— Preciso ir! — Bárbara se adiantou em dizer, depois de checar as
horas no relógio em seu pulso.
— Nós também! — Apontei para os meus irmãos e cunhada.
Logo nos despedimos, enchendo a barriga de Ana com muitos beijos
e nos dirigimos cada um para os respectivos trabalhos.
Depois que cheguei à empresa, tomei um café da manhã tipicamente
italiano feito pelos subchefes da minha equipe, que estavam bem adiantados
nas tarefas do dia, antes de botar a mão na massa, literalmente.
Meio-dia em ponto, fui até o último andar sendo recepcionada por
uma "gnomio" saltitante, sorrindo de orelha a orelha assim que viu o
carrinho com comida que eu empurrava na sua direção.
Eu estava testando algumas combinações novas de ingredientes para
acrescentar ao cardápio do La Fontana. Estava decidida a criar um prato
que misturasse a culinária italiana e brasileira, algo que fosse inovador. E
Ana sempre demonstrou ser uma amante de comida, especialmente das
sobremesas, ainda que essas não fossem a minha especialidade.
Conforme nós comíamos, uma de frente para a outra, conversamos
sobre sua gravidez e como ela estava se sentindo animada para contar a
novidade aos nossos pais e irmão. Quarenta minutos depois Dante chegou e
já havíamos terminado nossa refeição. O cumprimentei e logo me despedi
indo para o lugar que eu mais amava no prédio. A cozinha.
Às sete da noite, só restava eu no ambiente, pois todos os
funcionários já haviam deixado seus postos às seis em ponto.
Livrei-me das minhas roupas de chefe, deixando-as na sala de
armários que havia ali e passei a mão em minha calça jeans e blusa de
manga enquanto caminhava para fora do cômodo, indo até meu escritório.
Quando adentrei no espaço, meu celular tocou em cima da mesa,
sinalizando uma nova mensagem.
Fui até o aparelho e meus lábios se curvaram em um sorriso cheio de
malícia ao ler a mensagem de Jakov.
Jakov: Está livre hoje, doce Bea? Pensei que podíamos fazer o que
nós fazemos de melhor.
Jakov e eu estudávamos juntos na Itália. Ele era o único intercambista
da turma que foi transferido no último ano da faculdade, o que era
incomum.
Assim que o vi, logo me interessei. Sua pele era bronzeada, cabelo
rebelde em tom de loiro escuro, seus olhos azuis e o sorriso cafajeste foram
o pacote completo para o meu lado safada.
Depois que fomos sorteados pelo professor para formarmos dupla em
uma das provas no final do semestre, saímos para comemorar pelo nosso
trabalho ter sido o ganhador da maior nota. Entre conversas, danças e
bebidas, acabamos transando e desde então passamos a ter uma "amizade
colorida". Não o tinha como um amigo íntimo como Ana, Bárbara e Kyara
são para mim, contudo, nos dávamos bem, a conversa era divertida e o sexo
era incrível.
Há duas semanas, ele me mandou mensagem enquanto estava
almoçando com as meninas, informando que passaria alguns meses em São
Paulo para um curso de confeitaria e que adoraria me ver. Apesar de ter
estranhado sua aparição, já que desde que me mudei para o Brasil ele nunca
havia entrado em contato comigo, acabei aceitando, me lembrando das
inúmeras vezes que me fez gozar.
Bárbara e Ana não se surpreenderam quando contei o tipo de relação
que ele e eu tínhamos, minha cunhada logo disse que era bem a minha cara
ter um P.A., um pau amigo. Gargalhei tão alto quando ouvi o termo, que
juro que todo o prédio onde Dante morava poderia ouvir.
Animada para encontrar meu… P.A., e já sentindo minha boceta ficar
molhada em expectativa, comecei a digitar uma mensagem em resposta.
Beatrice: Vou sem calcinha para não perdermos tempo, caro mio.
Meu celular apitou em segundos.
Jakov: Amo como você é prática, querida! Deixarei sua entrada
liberada na recepção do hotel.
CAPÍTULO 04
Beatrice
Durante o restante da semana, fiquei presa com o trabalho, entre
testes e reuniões com a minha equipe, por esse motivo acabei não
almoçando com meus irmãos, mas tomei o cuidado de sempre enviar algo
especial para Ana e meus sobrinhos. Como resposta, recebia ligações da
minha cunhada chorando e me dizendo o quanto estava feliz com o meu
pequeno gesto. Ao final de cada agradecimento seu, ela xingava os
hormônios por estar tão emotiva.
Se minha cunhada já era engraçada antes, grávida e com os
hormônios à flor da pele, era um verdadeiro show de comédia completo.
Na terça-feira pela manhã, tomei café com meus pais e precisei ouvir
um sermão sobre o quanto é errado chegar depois das dez da noite em casa
em plena segunda-feira. Minha mãe precisou acudir seu marido, quando
respondi sua pergunta de forma sincera ao ser questionada onde eu estava.
“Eu estava fazendo sexo e não se preocupe, usei camisinha como
sempre.” Foi o que respondi.
Apesar de ter achado engraçado a forma como meu pai abanava o
rosto com as mãos, com mamma ao seu lado falando para se acalmar
enquanto apertava os lábios para não rir, era um pouco sufocante esse
cuidado todo comigo. Eu o amava, mas já era uma mulher de vinte e dois
anos, quase vinte e três, que tinha uma vida sexual tão ativa quanto a de
Matteo, que a cada semana tinha uma mulher diferente em sua cama. Não
me parecia justo fingir para os que amava, ser quem eu não era. Uma
bonequinha frágil, intocada, que não sabia a diferença entre o tamanho e a
espessura dos paus dos homens.
Já podia prever o drama que ele e meus irmãos fariam ao saberem que
comprei um apartamento e estava reformando-o sem ter comunicado para
ninguém, além das minhas amigas.
Cazzo, viva a independência!
A cada mensagem, foto, vídeo e ligação que recebia de Hugo, o
supervisor de obras que contratei para ficar responsável por fiscalizar a
reforma do apartamento para mim, meu peito se enchia de expectativa,
desejando estar logo em um lugar com a minha cara e que poderei chamar
de meu. Eu não vejo a hora de finalmente poder me mudar. A bronca que
levarei por ter feito tudo às escondidas, valerá a pena. Ah se valerá!
Quando o sábado enfim chegou, meus pais e eu fomos juntos no
mesmo carro para o prédio onde Dante e Ana moram. Assim que
alcançamos a cobertura, meus olhos foram direto para Henrique, que
conversava com Miguel no canto da sala.
Vi seus ombros largos tensionarem, os dedos que seguravam a taça se
fecharam com força ao redor da peça e sua mandíbula se apertou à medida
que me aproximei.
Eu amava como o seu corpo sempre reagia a mim.
Era ridículo ele lutar tanto para fugir de todo o desejo que sentia.
Cumprimentei o irmão de Ana com um abraço, que ele retribuiu
gentilmente. Virei-me para fazer o mesmo com o loiro, mas Henrique se
antecipou em estender a mão na minha direção, nos mantendo a uma
distância que imagino considerar segura.
Meus lábios se repuxaram em um sorriso de lado quando apertei sua
mão grande que praticamente engoliu a minha.
— Já que todos estão aqui, — dona Luiza, mãe de Ana começou a falar
chamando nossa atenção, fazendo Henrique se afastar de mim bruscamente
— vocês já podem parar com todo esse suspense e contar o motivo para
esse jantar.
— Claro, sogra — Dante disse. — Só deixe-me ligar para os meus tios e
primos na Itália. Ana e eu gostaríamos que eles participassem do momento
também.
Levou alguns minutos para meu irmão pegar seu notebook e deixá-lo em
cima da mesa com a tela virada para ele e sua noiva, mexendo nas teclas
por alguns instantes até que a voz animada de tio Giuseppe soou pelo alto
falante do aparelho.
— Ciao, famiglia!
— Ciao, fratello! Come vanno le cose lì in italia? (Como estão as
coisas aí na Itália?) — Babbo perguntou ao lado de minha cunhada,
acenando para a tela.
— Noi stiamo bene! E per quanto posso verdere sono ancora il
gemello piú bello. (Estamos bem! E pelo que posso ver, eu continuo sendo
o gêmeo mais bonito) — zombou.
— Fababutto! (Canalha) — rebateu. — Como você consegue
aguentar esse velho, Sofia? — perguntou em tom brincalhão.
— Molta preghiera (Muita oração) — respondeu.
— Amore mio! — tio Peppe exclamou incrédulo e o conhecendo, não
preciso vê-lo para saber que está fazendo a sua melhor expressão de drama.
— Podemos começar logo? — Matteo perguntou inquieto depois que
Kyara e Enrico saúdam nossos pais. — Estou a ponto de ter um colapso!
— Paciente como sempre — Bárbara debochou.
— Eu sou paciente sim. Estou até hoje esperando você tomar uma
atitude comigo — disse fazendo uma careta para ela. — Estou aqui dando
sopa e você aí, sendo teimosa.
Minha amiga soltou uma gargalhada falsa, tocando em seu peito com
uma mão de forma teatral antes de responder: — Então essa sopa vai esfriar
de tanto esperar porque isso jamais vai acontecer.
— Você ainda vai morder a língua, boneca! — sorriu de lado.
— Espere deitado! — retrucou de cara amarrada.
— Esses dois — babbo disse, rindo e balançando a cabeça,
reconhecimento passando por seus olhos.
— Bem — Dante começou a falar —, antes de mais nada,
gostaríamos de agradecer a presença de todos aqui. E informar que Ana e
eu decidimos fazer uma cerimônia simples para o nosso casamento, um
jantar, apenas para a família e amigos mais próximos. E se meus pais
permitirem, adoraríamos que fosse no jardim da casa deles, onde cresci e
pude compartilhar bons momentos com… — fez uma pausa tomando um
pouco de fôlego e sua noiva acaricia seu braço, incentivando-o a continuar
— … bons momentos com as pessoas que eu amo.
Nosso pai tocou em seu ombro e assentiu, trocando um breve olhar
com sua esposa.
— Será uma honra, crianças — mamma falou emocionada.
— Obrigada! — Ana agradeceu. — E agora, é com muita alegria que
compartilhamos com vocês que — fez uma pausa dramática antes de
anunciar — estamos “grávidos” de gêmeos!
Silêncio. Meus pais, a mãe e o irmão de Ana, e a nossa família na
Itália ficaram em um completo silêncio, expressões de choque e surpresa
em seus rostos. Esperamos que eles falassem alguma coisa e… silêncio, até
que Matteo gritou animadamente, trazendo-os de volta à realidade.
— Eu vou ser tio, caralho! Eu vou ser tio!
— Isso é verdade, Ana? — Miguel perguntou ainda incrédulo com a
notícia, ao se aproximar da irmã. — Você está grávida de… gêmeos? — Ela
balançou a cabeça em afirmação. — Meu Deus! Eu vou ser tio! Parabéns!
— A abraçou com amor.
— Vamos ser avós! Vamos ser avós! — dona Luíza falou, segurando
os braços de minha mãe, ambas gritando e pulando com animação.
— A família está crescendo. Questo è meraviglioso! (Isso é
maravilhoso!) — a voz grave do meu primo soou.
— Que notícia maravilhosa! Cazzo! — Babbo declarou emocionado
abraçando Dante — Parabéns mio figlio!
— Estou tão… feliz, pappa — balbuciou com os olhos marejados.
— Já sabem qual o sexo dos bebês? — Miguel indagou, acariciando o
rosto da irmã com amor.
Ana foi até o aparador que tinha ao lado do sofá e tirou de uma das
gavetas um envelope.
— Pegamos o resultado ontem, mas… achamos que seria melhor
descobrirmos todos juntos.
— Que sejam dois meninos! Que sejam dois meninos! Por favor, que
sejam dois meninos! — Matteo fala olhando para cima.
— Compartilho do mesmo pensamento, cara — Miguel disse. — Que
sejam dois meninos!
— Vamos, ragazza! Abre logo! — pedi, ansiosa.
Ela sorriu animada e rasgou rapidamente o envelope. Ao tirar o papel,
seus olhos foram se abrindo à medida que eles varriam o conteúdo dele.
— Puta merda! — exclamou.
— O que foi, meu amor? — Dante questionou nervoso ao se
aproximar dela — Está tudo… — suas palavras morrem assim que ele para
atrás da minha cunhada, seu olhar se focando no papel — Col cazzo! (Nem
fudendo!)
— O quê? O que são? — Matteo indagou sacudindo as mãos. — São
“gnomios” como eu havia previsto?
Rimos e Ana revirou os olhos, menos Dante que permaneceu estático,
encarando o papel nas mãos de sua noiva, parecendo a ponto de ter um
colapso.
— Não fale besteira, B1 — ralhou. — E se prepare, viu.
— Me preparar para o quê?
— Para ser tio de duas meninas — comunicou. — Estou esperando
duas meninas! Gêmeas! — gritou, puxando Dante para um abraço. Ele
demora dois segundos para retribuir, mas logo o faz, falando palavras em
seu ouvido, suas mãos alisando com carinho e devoção a cabeça da minha
amiga.
A cena era linda, simplesmente… linda. Meu coração se aqueceu por
vê-los tão felizes. Senti uma lágrima deslizar pela minha bochecha e logo a
sequei, abrindo um sorriso genuíno.
— Duas raggazi! Santo Dio! — tio Peppe exclamou.
— Puta que pariu! — Miguel vociferou.
— Cazzo, estamos fodidos! Porra, estamos muito fodidos! — Matteo
murmurrou.
Os próximos minutos foram regados de gritos entusiasmados e
muitas, muitas lágrimas. Ana e Dante falaram animados com a nossa
família na Itália pela tela do notebook enquanto os demais os rodeavam,
eufóricos de felicidade. Estava rindo de um comentário do meu tio quando
notei que Henrique se afastou um pouco, retornando ao lugar que estava
quando cheguei.
Miguel estava à minha frente e sua altura e seu corpo largo serviram
como parede para que eu pudesse observá-lo com um pouco mais de calma.
Seus olhos azuis observavam a todos, porém seu semblante me
mostrou que sua mente estava distante, vagando por algum lugar nada
agradável, a julgar pela forma como sua mandíbula estava apertada e o
vinco entre as suas sobrancelhas estava intensificado.
Eu já havia notado que sempre que a minha família interagia,
Henrique participava, mas rapidamente se colocava na posição de
observador. Até então, aquilo nunca tinha me incomodado como agora, por
algum motivo, hoje percebi algo diferente em seu olhar, algo que me fez
pensar em ir até ele e abraçá-lo, sem segundas intenções, apenas… abraçá-
lo.
Todavia, quem acabou tomando a atitude foi minha mamma, que
caminhou até onde ele estava, segurando seu rosto com carinho e apertou
suas bochechas do jeito “Beatriz Fontana”, para logo em seguida o abraçar.
Fiquei parada observando a interação deles, até que Matteo tocou em
meu ombro me chamando para bater uma foto. Assenti, segurando em
minhas mãos seu celular, vendo-o se agachar na altura da barriga de Ana e
fazendo uma careta.
Antes de apertar na tela, olhei rapidamente para o loiro que agora
conversava com meus pais, seu semblante estava mais tranquilo e…
estranhamente me senti aliviada por vê-lo assim.
— Beatrice, essa lasanha está divina. — Ana disse com a boca cheia
gemendo em satisfação.
— Está mesmo! Parabéns, cara mia! — Dante declarou.
— Grazie! — respondi feliz em saber que eles gostaram da minha
nova receita.
Estávamos nós três no escritório do meu irmão, depois que avisei Ana
sobre a minha nova massa para lasanha. Ela logo se animou e me convidou
para almoçar com eles. Aceitei, já que não haveriam muitos compromissos
para hoje, mesmo que estivéssemos apenas no meio da semana, as horas
não tinham sido tão turbulentas nos últimos dias.
— Como você está? Tem se sentindo muito enjoada? — perguntei
antes de beber um pouco de suco.
— Sinto enjoos apenas pela manhã, quando acordo. E graças aos céus
não tenho vomitado como se espera de uma grávida, ainda mais de duas
meninas. Rosa disse que eu tenho sorte. — Levou suas mãos até a barriga,
alisando-a. — Mas tenho sentido mais sono que o normal e como você
sabe, estou emotiva ao extremo. Ontem, por exemplo, chorei enquanto
estava assistindo uma matéria na televisão.
— Foi preciso uma caixa de morangos para ela conseguir parar de
chorar — mio fratello comentou, sorrindo.
— Sobre o que era a matéria? — indaguei curiosa.
— Sobre crescimento. E que nós mulheres paramos de crescer aos
dezesseis anos — responde. — Eu tinha esperanças de ainda crescer alguns
centímetros — fez beicinho, dando de ombros. — Vou ser pra sempre a
porra de uma “gnomio”. Isso é tão injusto!
Foi impossível conter a risada que suas palavras me causaram. Joguei
a cabeça para trás, rindo com vontade.
Continuamos comendo e conversando assuntos amenos até que os
preparativos para a inauguração do Instituto Carlos Ferreira se tornaram
tema da conversa, e então decidi perguntar sobre os pais de Carlos.
Pela manhã, enquanto tomava café com mamma e babbo, eles
comentaram que Júlio e Paula estavam felizes com o casamento e a
gravidez, e agradecidos por meu irmão e cunhada terem ido pessoalmente
na casa deles para contar a novidade sobre a chegada das gêmeas.
— Como eles reagiram?
— Eles chegaram no domingo dos Estados Unidos. Acabaram
ficando mais tempo do que o previsto. Pelo que soube, precisavam resolver
algo relacionado aos negócios no país. Na segunda, liguei para eles
perguntando se poderíamos nos encontrar para conversar, prontamente a
resposta foi positiva, seguida por um convite para um jantar em sua casa
naquele dia — meu irmão fez uma pausa, franzindo o cenho, como se
estivesse tentando lembrar de todos os detalhes, antes de continuar, tendo
toda minha atenção. — Eu aceitei e bem, deduzi que o convite se estendia à
Ana também, por isso a levei comigo. Mas assim que eles abriram a porta,
notei que ambos ficaram um pouco… tensos ao vê-la ao meu lado e depois
essa sensação aumentou conforme as horas foram passando.
— Como assim? — questionei confusa.
— Era como se eles quisessem apenas eu ali naquele jantar, como
se… não sei, mas… era como se eles quisessem contar algo apenas para
mim e quando viram que eu não estava sozinho, perderam a coragem.
— Tudo piorou quando contamos sobre as nossas filhas. Houve um
silêncio desconfortável, uma troca de olhares que parecia que eles estavam
se perguntando se deveriam, ou não, falar algo para nós depois da notícia
que soltamos. Foi tudo muito estranho, o tempo todo ficamos com a
sensação de que havia algo a mais que eles gostariam de dizer, Dante e eu
temos clara convicção de que se trata de um assunto importante — Ana
acrescentou.
— Estranho — falei pensativa. — Júlio e Paula sempre foram tão
receptivos conosco, com qualquer pessoa na verdade. Sempre que posso,
desde que me mudei da Itália, vou visitá-los para tomar um café e
conversar. E em todas as vezes eles foram muito agradáveis e gentis, assim
como Ricardo e Bianca.
Os dois assentiram, ainda pensativos.
— Talvez eles estivessem com saudade do filho — sugeri.
— Comecei a achar isso assim que nos despedimos — Ana
comentou. — Porém, Dante ainda acredita que eles estão escondendo algo.
— Caso estejam mesmo escondendo alguma coisa, o que você acha
que pode ser, fratello?
Dante soltou um suspiro cansado.
— Não faço a mínima ideia do que pode ser. A princípio, pensei ser
algum problema financeiro, mas babbo me disse que os negócios dos
Ferreira estão ótimos, inclusive serão construídos mais seis unidades do
supermercado pelo país.
— Talvez seja apenas uma sensação mesmo — disse tocando em seu
ombro. — Não a deixe te perturbar, fratello.
— Bea está certa, meu amor — Ana entrelaçou seus dedos aos dele.
Seu olhar vagueou entre nós duas por alguns segundos até que
finalmente pareceu relaxar desde que o assunto foi levantado. Então,
passamos a conversar sobre a cerimônia de casamento, que aconteceria em
menos de dois meses.
Os rumores pelas dependências da empresa estavam rolando soltos e
eu sabia, ainda que ninguém tivesse a coragem de vir me contar
diretamente, que haviam pessoas — uma minoria —, a maioria mulheres,
que acreditavam piamente que Ana Laura deu o golpe da barriga em meu
irmão.
O nome disso estava claro como o sol em um dia de verão para mim:
inveja.
E diferente de Ana, que escolheu lidar com os boatos e as notícias de
fofocas, os ignorando e tratando a todos com educação, focando em sua
felicidade e no trabalho, eu estava pronta para colocar quem quer que fosse
em seu devido lugar, se falassem alguma inverdade sobre o carácter da
minha cunhada.
Eu podia ter herdado o humor da minha mãe, acolhedor e espontâneo,
mas meu temperamento quando se tratava das pessoas que eu amo, era
como o do meu pai, ainda que muitos o achassem calmo. O sangue quente
típico dos italianos corria por minhas veias mais do que nas de meus
irmãos.
Todavia, duvido muito que alguém ouse fazer tal coisa, as pessoas
sabiam o quanto a minha família abominava esse tipo de atitude. E eu torcia
mesmo para que tudo permanecesse assim, para o bem de todos.
CAPÍTULO 05
(Bônus)
Kyara
Senti alguém apertar levemente meu nariz, me despertando. Abri
vagarosamente os olhos, tentando me acostumar com a luz. Quando
consegui, vi o rosto do meu irmão, Enrico.
Minha mãe se casou com Giuseppe, seu pai, há pouco mais de seis
anos e passamos a morar todos juntos em seu hotel. Peppe, como o
chamamos, fez questão de dar o seu sobrenome, não apenas para mamma,
como também para mim.
— Você dormiu o voo todo, cara mia — disse com um sorriso no
rosto.
— Já chegamos? — perguntei com a voz sonolenta me
espreguiçando.
— Sim! Vamos? — Levantou-se, sinalizando para a porta da aeronave
da nossa família.
— Va bene. — Ficando de pé, sorri para ele antes de seguir pelo
corredor, com meu irmão atrás de mim.
Havíamos acabado de pousar no aeroporto de São Paulo. Ficaremos
na cidade apenas dois dias para o jantar de casamento de Dante e Ana, e
depois retornaremos para a Itália. Nossos pais vieram antes para ajudar na
organização da cerimônia que acontecerá na casa do tio Vincenzo. Ficamos
todos muito animados com a notícia do noivado, unido à da gravidez
gemelar. Extraordinário, depois de tudo o que meu primo passou nos
últimos anos.
Após pegar as nossas malas, caminhamos para fora do aeroporto,
onde encontramos Matteo com um cartaz escrito em italiano "Sejam Bem-
Vindos, Enrico e Kyara".
— Já te falaram que a sua letra é horrível? — meu irmão soltou assim
que nos aproximamos.
— Como se a sua de médico fosse melhor, caralho — disse sorrindo
assim que bateram as palmas em cumprimento. — Ciao, cugina! (Olá,
prima!) — Me abraçou com carinho, depositando um beijo em minha testa.
— Ciao!
Matteo indicou para um ponto e seguimos até estarmos de frente para
o seu carro, que reconheci, graças a paixão de mio fratello por automóveis,
ser um Volvo modelo XC60. Colocamos as nossas malas no porta-malas e
rumamos para dentro do veículo, Enrico ao lado do motorista e eu no banco
de trás.
— Como os noivos estão? — indaguei quando entramos na avenida
movimentada.
— Uma pilha de nervos. Dante está deixando todo mundo doido com
as suas regras de segurança — respondeu e pelo retrovisor o vi revirar os
olhos. — Vocês acreditam que ele transformou o apartamento em uma casa
de reality show? É câmera para tudo que é lado — sorri balançando a
cabeça de um lado para outro. — E Ana está bem, comendo tudo o que vê
pela frente.
Rimos com seu comentário.
Durante todo o caminho, Matteo tentou nos convencer a ficar por
mais tempo, ainda que tenhamos dito que seria impossível por conta dos
nossos trabalhos no hospital. Enrico era formado em medicina e estava se
dedicando à especialização em pediatria enquanto eu era enfermeira
obstétrica. Nossas agendas eram uma verdadeira loucura, a dele mais do
que a minha, e ter conseguido alguns poucos dias de folga, era uma
verdadeira ostentação para nós.
Assim que nos aproximamos da luxuosa mansão dos meus tios, que
apesar de fazer um tempo considerável desde a última vez que estive aqui,
reconheci assim que meu primo entrou em uma das últimas ruas do
condomínio, onde podemos avistar várias pessoas de um lado para o outro,
carregando caixas, arranjos de flores e cadeiras, em torno da propriedade.
— Não seria apenas um simples jantar? — perguntei, olhando o lugar
logo que bati a porta do carro enquanto meu primo e irmão cuidavam das
malas.
— Será um jantar, agora simples, já não tenho tanta certeza disso, não
com dona Beatriz e a mãe da Ana no comando — Matteo respondeu, rindo.
— Onde estão todos? — à medida que nos aproximávamos da porta
de entrada da casa, não sendo recepcionados por ninguém dos nossos,
Enrico perguntou.
— Nossos pais estão no quintal e o restante da família nos quartos se
arrumando. Apenas Dante e o irmão de Ana saíram. Foram atrás da torta de
morango favorita da “gnomio” barriguda — sorrindo e indo em direção à
grande escada branca, Matteo brinca. — Vem, vou levá-los ao quarto de
vocês.
— Ainda não acredito que você deu esse apelido para a sua cunhada.
Ela não pode ser tão baixinha assim, ao menos não me pareceu pelas
chamadas de vídeo — desacreditado em meio ao ar de sorrisos, meu irmão
soltou
— Não só pode, como é! Vocês verão.
Nesse tempo que minha mãe está casada com Peppe, vim ao Brasil
apenas cinco vezes. Duas delas para visitar Dante depois do acidente e
apesar de terem sido poucas vezes, eu já estava habituada ao lugar.
Seguimos através do corredor no segundo andar, onde há seis portas
que, pelo que recordo, são todos quartos de hóspedes e mais a suíte
principal, além dos quartos dos meus primos. Fico em um, mais ao final da
passarela de portas e Enrico ao lado direito do meu.
— Vou me arrumar. Fiquem à vontade — Matteo anunciou entrando
em um quarto um pouco mais à frente.
Abrindo a porta, segui para dentro, dispensando a minha pequena
bagagem sobre a cama e em seguida, caminhei até o guarda-roupa onde
encontrei meu vestido de mangas compridas e sem decote, trazido por
minha mãe, para que eu usasse no jantar.
Depois de tudo o que me aconteceu, preferia roupas mais fechadas,
principalmente em meus ombros e fugia de decotes profundos. Agradeci
que em meu trabalho, eu podia usar blusa por debaixo do meu uniforme.
Sendo assim, escolhi um vestido com gola em um v discreto, na cor
verde-escuro, com uma saia levemente rodada acima dos joelhos. Era um
modelo elegante e leve. Perfeito para a ocasião.
Busquei na mala a minha necessaire e com a peça caminhei até o
banheiro para tomar um banho antes de começar a me arrumar. Decidi fazer
algo simples, uma sombra marrom esfumada nos olhos, um pouco de
corretivo, blush e máscara de cílios. Não era muito de usar batom, por isso
optei apenas por um brilho labial de tom rosado.
Quando já estava calçando meus saltos scarpin nude, ouvi batidas na
porta e ao abri-la, um corpo se chocou ao meu em um abraço.
— Mi sei mancato, cugina — Beatrice disse, me apertando.
— Eu também, cara mia! — consegui falar quando me soltou.
— Sei bellissima, Ky! — Tocou em meus cabelos enquanto me
analisava.
— Grazie! Você está linda! — falei, apontando para o seu vestido
preto tubinho de alças finas.
Beatrice fez um movimento com as mãos e segurou meu braço me
puxando para fora do quarto.
— Vem, vou te apresentar à sua nova prima.
Andamos pelo corredor até pararmos de frente para uma porta,
próximo à escada. Assim que minha prima a abriu, meus olhos aterrissaram
na mulher de olhos azuis e pele bronzeada sentada no sofá bege largo, seus
cabelos caiam sobre seus ombros, pairando ao lado da barriga, já grande,
enquanto devorava uma generosa fatia de torta que supus ser de morango.
Só tinha visto Ana Laura por fotos e videochamadas. Vendo-a
pessoalmente, consegui entender o porquê Matteo a chamava de “gnomio”.
A futura esposa do meu primo era realmente pequena, contudo, uma das
mulheres mais lindas que já vi, mesmo que nesse momento, estivesse com o
rosto cheio de chantilly. Uma graça!
Conforme gemia se deliciando com o doce, notei Dante observando a
cena com admiração. Ao seu lado havia um homem alto que não reconheci.
— Meu Deus, você é viciada mesmo nessa torta! — Beatrice
exclamou e todos no quarto olharam em nossa direção simultaneamente.
Então, nesse momento, senti um arrepio na nuca quando vi o homem
desconhecido de frente, vestindo um terno e gravata na cor azul-marinho.
Dio mio!
Ele era bonito! Na verdade, era lindo! Talvez o homem mais lindo
que eu já vi em toda a minha vida, que não meus primos e irmão. Seu rosto
era másculo, daqueles que pareciam que foram desenhados à mão, sua
barba era rala, seu cabelo estava levemente despenteado e seus lábios eram
marcados, porém o que mais chamou minha atenção foram seus olhos, olhar
para eles me fez lembrar do céu em um dia de verão.
Ele retribuiu minha inspeção e na mesma hora meu corpo foi tomado
por sensações que nunca senti antes. Meu coração acelerou e minhas mãos
suaram, ao ponto de sentir minhas bochechas esquentarem com sua atenção.
— Kyara! — Ana me chamou com a boca cheia de torta,
despertando-me para o ambiente à minha volta. — Você é tão linda!
— Grazie! — Me aproximei dela, passando por entre Dante e o
homem lindo. — Você está muito bella grávida, cara mia! — Sentei-me ao
seu lado no sofá e abracei a mulher responsável por trazer novamente
alegria à vida do meu primo.
— Não estou não! — Fez uma cara engraçada e um pouco de
chantilly acabou escorrendo no canto da sua boca. — Eu estou do tamanho
de uma baleia e ainda nem cheguei aos cinco meses. Elas estão crescendo
muito rápido!
— É normal, afinal são dois bebês aqui dentro — falei
carinhosamente apontando para a barriga coberta por um robe de seda rosa
claro.
— Dois bebês que estão roubando toda a minha comida —
choramingou. — Estou feliz que tenha vindo.
Toquei em sua barriga com carinho.
— Eu também estou feliz por vir! Não perderia por nada
— Amor? — chamou por Dante que logo respondeu.
— Sim?
— Eu a amei! — declarou emocionada, apontando para mim e fui
obrigada a rir dos seus olhinhos lacrimejantes. — Onde está Enrico?
— No quarto — respondi.
— Vou chamá-lo — Beatrice comunicou, indo em direção à porta.
— Vou pegar as suas vitaminas, amore mio. Já volto — Dante avisou,
dando-lhe um beijo na testa antes de ir.
— Deixe-me te apresentar o meu irmão, Ky. Esse é Miguel. Miguel,
essa é Kyara, prima de Dante e irmã de Enrico.
Tentei controlar meu coração conforme virava o rosto para olhá-lo,
perdi o ar quando ouvi sua voz pela primeira vez. Era rouca, baixa, de um
jeito que me fez desejar ouvi-la por horas.
— É um prazer conhecê-la, Kyara! — Estendeu sua mão em minha
direção.
— O prazer é meu! — consegui falar, encarando suas íris que
analisam com curiosidade.
Quando as nossas mãos se encontraram, as mesmas sensações que
senti há segundos me invadiram novamente, só que dessa vez, mais forte.
Puxei minha mão da forma mais sutil que consegui, fugindo do seu
olhar e voltei minha atenção para Ana.
— Vou deixar vocês conversarem — Miguel pigarreou e se despediu
da irmã com um beijo na cabeça.
— Quanto tempo vocês vão ficar? — retornou a conversa quando já
estávamos apenas nós duas no quarto.
— Partiremos amanhã, no fim da tarde.
— Por quê? — Fez bico.
— Enrico ainda está finalizando a especialização e eu consegui apenas
dois dias de folga no trabalho.
— Quando estão pensando em vir de vez para o Brasil?
— Acredito que ano que vem. Estamos aguardando respostas de
alguns hospitais da cidade.
— Tenho certeza de que irão conseguir! — sorri de forma gentil para
mim.
A porta do quarto foi aberta e meu irmão entrou, sendo seguido por
nossa prima.
— Esse é o nerd da família — Bea apresentou. — Essa é a Ana, a
“gnomio” de Dante.
— Porra! Nem eu estando grávida, vocês deixam de me zoar.—
Cruzou os braços.
Enrico se aproximou e lhe cumprimentou com um abraço, cheio de
ternura e cuidado.
— É um prazer conhecê-la!
— Não é possível! — a noiva exclamou.
— O que não é possível? — perguntei curiosa.
— Não é possível que todo mundo dessa família seja lindo —
respondeu, nos fazendo rir.
— Bem, acho melhor eu apressar a Bárbara. Ela está há horas
tentando decidir entre dois vestidos — Beatrice comunicou saindo do
quarto.
— Vou ver se precisam de mim para algo — meu irmão falou e
seguiu nossa prima porta afora.
Dante retornou, trazendo as vitaminas da sua noiva e avisou que iria
se trocar, pois o juiz de paz havia chegado.
Fiz companhia para Ana que estava muito emotiva e com um apetite
daqueles, o que era perfeitamente normal, a julgar pela sua gravidez.
Alguns minutos depois, Beatrice e Bárbara — que usava um lindo
vestido ombro a ombro rosa, levemente brilhoso, indo até os joelhos —
retornaram com maquiador e cabeleireiro que logo começaram a trabalhar
na noiva.
— Você está maravilhosa! — disse à Ana que está parada em frente
ao espelho do quarto.
Ela estava usando um vestido branco midi com mangas largas e um
decote coração. Seu sapato era da mesma cor e seu cabelo estava solto em
grandes ondas caídas até o meio das suas costas.
— Verdade, cunhada! — Beatrice falou ao meu lado soando
emocionada.
— Acho que vou chorar — Bárbara, que fui apresentada mais cedo,
pegou um lencinho da sua bolsa de mão.
— Parem com isso ou vou acabar estragando a maquiagem. Droga!
— Abanando o rosto com as mãos, a noiva tentava conter as lágrimas.
Apertei seus ombros sutilmente a fim de transmitir algum conforto e
tentar ser prestativa, tanto quanto posso neste momento tão especial.
— Precisa de algo mais?
— Não, Ky. — Tocou em minhas mãos. — Obrigada por me fazer
companhia e aguentar meu humor tão instável.
Sorrimos.
— Para mim foi um prazer, mia cara! — Afaguei suas bochechas
com o sorriso ainda estampado em meu rosto. Ela é perfeita para o meu
primo.
— Todos já chegaram? — se recuperou e mais uma vez, aquela
energia que só ela tem, veio à tona ao questionar sobre os convidados.
— Sim! Vamos! Os meninos já estão esperando, e Miguel está
ansioso lá fora — minha prima comunica.
— Tudo bem. — Um longo suspiro foi liberado e Ana se levantou,
acariciando sua barriga. — Vamos, meus morangos! Vamos casar mamãe e
papai. Se comportem, por favor.
Segui na frente até a porta e ao abri-la, encontrei Miguel com as mãos
no bolso da calça. Ele então, levantou o rosto lentamente, até que seus olhos
encontraram os meus, fazendo uma sensação de alerta se espalhar por todo
meu corpo.
— Oi! — murmurei.
— Oi! — Um sorriso lindo se expandiu em seus lábios e por um
momento me perdi em sua beleza.
— Está tudo bem? — indagou diante do meu silêncio.
Balanço a cabeça e engulo em seco, tentando afastar o nervosismo
que até hoje, só ele me fez sentir.
— Sim, está! Ela já vai sair.
— Tudo bem.
— Aqui está — Beatrice disse, parando ao meu lado e apontando para
Ana.
Miguel direcionou sua atenção para a sua irmã e o olhar que os
irmãos trocaram, me trouxe uma sensação de lar, família e cumplicidade.
Me fez lembrar Enrico e tudo o que ele já fez e continua fazendo por mim.
— Você está linda! — suas palavras, assim como o sorriso que a
presenteia, transmitem verdade e muito amor.
— Obrigada! — agradeceu. — Vamos antes que eu chore e fique
igual um panda.
— Será um panda lindo. — Seu irmão soltou tocando seu rosto, para
em seguida depositar um beijo em sua testa.
— Droga de hormônios! — resmungou emocionada.
Saímos do quarto e quando já estávamos todos no andar de baixo, a
noiva e seu irmão esperavam na entrada da cozinha enquanto Beatrice,
Bárbara e eu caminhamos para a área externa da casa, onde pudemos
apreciar uma linda decoração.
O lugar estava repleto de luminárias, que deixavam o ambiente
romântico, como um piquenique no fim da tarde. Havia uma mesa de
mogno grande e larga, no imenso jardim, com velas e arranjos de flores
brancas como centros de mesas de uma ponta a outra. Ao final da grande
madeira retangular, tinham duas cadeiras, uma do lado da outra, que supus
serem para os noivos. Me lembrando daquelas cenas de casamentos
tradicionais que aconteciam, principalmente, na Europa e hoje relembramos
nas grandes produções cinematográficas. Ao lado esquerdo, uma pista de
dança está montada e uma banda tocava um instrumental tranquilo.
Vi toda a nossa família sentada à mesa e tomei meu lugar ao lado do
meu irmão. Beatrice sentou à minha frente, ficando entre Matteo e Bárbara,
acho que para evitar qualquer briga entre eles. Pelo pouco que vi dos dois
juntos, percebi que parecem cão e gato, e discutem por qualquer coisa que
seja.
Assim que o entoar de Kiss Me do Ed. Sheeran invadiu o ambiente,
pausamos toda a conversa e nossos ouvidos atentaram-se para a doce e bela
voz do cantor da banda. Nos erguemos para saudar a entrada da noiva, que
vinha com o irmão para ser entregue a meu primo, que a aguardava no
pequeno altar decorado, junto ao juiz de paz.
Ana caminhou passando por todos nós como em um corredor e seu
irmão a amparava. Meus olhos traidores não deixaram de notar as mãos do
homem mais bonito que já vi, fazendo um carinho sutil na tentativa de
acalmá-la. Vi seus olhos ficarem marejados e um sorriso de pura felicidade
brotou em seu rosto. Suspirei emocionada, me obrigando a deixar a imagem
do moreno de olhos azuis hipnotizantes e observei meu primo com a
expressão igualmente feliz e consumida por emoção e amor.
Os dois chegaram até Dante e Miguel, antes de entregar Ana a ele,
deu um abraço daqueles de homens no noivo, e logo tomou seu lugar. Todos
se sentaram e o juiz de paz iniciou a cerimônia.
Antes de ambos assinarem os papéis e trocarem alianças, Dante pediu
a palavra.
— Gostaria de dizer algo para a minha mulher. — Tocou na barriga
de Ana, que sorriu. — Eu sempre ouvia meu pai dizer que quando viu
minha mãe pela primeira vez, seu coração parou por alguns segundos. Não
conseguia entender ou encontrar sentido em suas palavras, porém quando vi
Ana pela primeira vez, me perdi em seus olhos e por um momento, esqueci
como se respirava. — Seu semblante reluziu ao olhar para ela. — Você
chegou quando eu mais precisei e me mostrou que as melhores coisas da
vida acontecem quando não estamos esperando por elas. Deus me
surpreendeu da melhor forma quando te colocou na minha vida. E eu te
prometo ser melhor a cada dia, te amar e cuidar de você e das nossas filhas
— suspirou e vi algumas lágrimas caírem em suas bochechas. — Eu te amo
com toda minha alma! Eu te amo, Ana!
Senti meu rosto ficar molhado e passei os dedos para secá-lo.
Discretamente, observei os convidados visivelmente emotivos pelas
palavras apaixonadas do noivo
— Eu te amo muito, meu amor! — Ana devolveu já não contendo
mais as lágrimas e abraça Dante lhe dando um beijo carinhoso.
— Caralho, vocês que estão chorando, não eu. — Matteo falou com
uma cara engraçada.
Os noivos assinaram os papéis, trocaram alianças e todos aplaudiram
soltando gritos em comemoração. Só então, o jantar foi servido e não
precisei comentar que tudo estava divinamente maravilhoso.
Sentada à mesa, bebendo vinho, notei Miguel, um pouco mais a
frente, conversando animadamente, com meu tio Vincenzo e acabei
encarando seu perfil por alguns segundos, sentindo meu corpo todo se
acender como nunca o fez.
Depois de um tempo o observando, soltei um longo suspiro, sabendo
que homens como Miguel, jamais olhariam para alguém como eu. Uma
mulher quebrada e com marcas eternas na pele.

Miguel
Houve poucos momentos em minha vida que fiquei intrigado com
algo ou alguém. Nunca fui o tipo de pessoa que deixa a curiosidade ou a
dúvida me corroer. Se uma pergunta surgisse em minha mente, por menor
ou boba que fosse, eu era direto, ia até quem pudesse me dar a resposta que
precisava.
Odeio rodeios, e isso se aplica em todas as áreas da minha vida.
Odeio sentir que estou perdendo tempo, principalmente se não chegarei a
lugar nenhum.
Levei a taça de vinho até à boca, sorvendo a bebida em pequenos
goles, sem tirar meus olhos da mulher que conheci há algumas horas e já
conseguiu fazer muitos questionamentos alcançarem meus pensamentos. A
italiana de aparência doce e gentil, Kyara, a prima do meu cunhado.
Não tinha prestado atenção em sua beleza no dia em que minha irmã e
Dante anunciaram a gravidez, estava absorto demais com a novidade de que
seria tio de duas meninas, o que tirou minha atenção para as pessoas que,
naquele momento, estavam do outro lado da tela do notebook enquanto a
chamada de vídeo durou, antes de o jantar ser servido.
Quando fomos apresentados, há pouco tempo, tentei fazer com que
meu corpo não reagisse à imagem da linda mulher à minha frente.
Nunca fui um homem impulsivo e do tipo que não consegue controlar
o que sente, ainda que sentimentos primitivos como tesão, estivessem em
jogo. Não era do meu perfil agir sem pensar muito bem nas consequências
dos meus atos.
Contudo, por um momento, enquanto a prima de Dante me analisava
de forma curiosa e tímida, conforme estendia sua mão na minha direção,
pensei que conseguiria avançar nela e… abraçá-la.
Incomum? Com toda certeza!
Patético? Talvez.
Mas foi exatamente isso que senti.
Não foi vontade de beijá-la, ainda que sua boca fosse convidativa.
Não foi vontade de tocar sua pele e descobrir se o seu corpo era tão
macio quanto parecia.
Ou de saber se ela poderia ser safada entre quatro paredes por trás de
toda aquela sua timidez escancarada.
Já me envolvi com mulheres assim e devo admitir que elas foram as
mais atrevidas e abertas durante o sexo. Eu mesmo me encaixava nesse
quesito. Quem não me conhecia verdadeiramente, poderia achar que eu era
sombrio ou introvertido, porém bastavam alguns minutos de conversa para
perceberem que era apenas o meu jeito, calmo, sereno e observador de ser.
O oposto da minha irmã.
Por ser um bom observador, — um excelente, na verdade — consegui
captar medo e até pavor em seus olhos enquanto me encarava. Foram eles
que me fizeram desejar perder a razão e agir de modo imprudente pela
primeira vez em vinte e oito anos, como abraçá-la e sussurrar em seu
ouvido que ela estava segura em meus braços, que não precisava ter medo.
Cresci com duas mulheres que, por vezes, tentaram esconder de mim
o que sentiam quando algo estavam perturbando-as e por este motivo, era
plenamente capaz de identificar quando as coisas não iam bem. Sendo eu o
único homem da casa, desenvolvi um instinto superprotetor.
Kyara tinha estampados em suas íris cor de mel, muita dor, vergonha
e medo, como se clamasse, implorando para ser libertada de algo que a
aprisionava há bastante tempo.
No momento que as nossas mãos se tocaram, essas emoções pareciam
jorrar em seus olhos, suas pupilas dilataram como se estivesse sendo
descoberta, ou talvez…sendo vista pela primeira vez daquela forma.
Olhei mais uma vez para a mesa em que ela estava sentada, toda
delicada ao cortar um pedaço de palha italiana antes de levar até à boca, sua
língua saindo para limpar um pouco de chocolate que escorreu por seus
lábios.
Ela era linda, o tipo de mulher que não precisava de muito para ser
sensual, o meu tipo de mulher. Sua timidez me intrigou, despertando meu
lado mais curioso e protetor, mas sua beleza me atraiu como imã.
Kyara sorriu de algo que seu irmão falou e pela postura dele perto
dela, sabia que ele era mais ciumento do que costumava ser com Ana, na
verdade, já notei que os Fontana possuíam um nível alto de proteção
demonstrada através do ciúme, quando o assunto eram as mulheres de sua
vida. Perto deles, o meu lado ciumento era pequeno.
— Será que meu irmão pode conseguir uma fatia de torta de morango
para as suas sobrinhas? — a voz da minha irmã soou ao meu lado, me
fazendo afastar os olhos de Kyara para focá-los nela.
Ana Laura estava com as mãos alisando sua barriga, os olhos pidões
me encarando como costumava fazer quando éramos mais novos e queria
algo, seus lábios faziam um beicinho ridiculamente exagerado.
— Você já não comeu?
Ela bufou e fechou a cara.
— Aquela torta que você e Dante trouxeram era muito pequena.
Estou me alimentando por três. — Sinalizou com os dedos e depois apontou
para a sua barriga. — Tecnicamente três fatias correspondem a uma, então
apenas eu comi. Minhas meninas estão com fome. Você — apontou com o
indicador para o meu peito — não pode negar isso a elas. Que tipo de tio
você é, Miguel? — ralhou, apertando os olhos na minha direção.
Soltei uma risada me divertindo com a cena. Péssima ideia, porque o
rosto da “gnomio” — eu definitivamente amei o apelido que o maluco do
Matteo deu à minha irmã — começou a assumir um tom intenso de
vermelho. Ignorei o som de sua garganta arranhando e deixei minha taça na
mesa à minha frente, onde há minutos estava sentado com os outros caras.
Voltei minha atenção para ela, envolvendo-a em um abraço de lado e
beijei sua têmpora antes de falar.
— Você já era engraçada com raiva, grávida então, fica ainda mais.
Parece que a sua barriga crescendo está te fazendo parecer ainda menor —
brinquei.
Ana deu um tapa em meu peito.
— Vai conseguir ou não a torta, homem?
— Porque não pediu ao seu marido? Tenho certeza de que ele não
negaria.
Minha irmã bufou outra vez.
— Aquele CEO disse que eu não posso exagerar na sobremesa e que
uma fatia é o suficiente. Tenho certeza de que tem mais por aqui, porém
deve ter pedido aos funcionários para esconder. — Cruzou os braços. — Eu
deveria ter pedido ao juiz de paz para colocar uma cláusula no nosso
contrato de casamento de que ele deveria me dar toda torta de morango que
eu quisesse. Eu estou carregando as filhas dele, oras!
— Preciso concordar com o meu cunhado.
Ela me olhou com uma sobrancelha levantada.
— Cunhado, é? Para quem bancava o irmão mais velho ciumento
você aceitou que tem um mais rápido do que pensei.
— Não há muito o que fazer. Ele te engravidou e vocês já estão
casados. — Dei de ombros.
Ana me analisou por alguns segundos antes de dizer: — Você pediu
para o seu amigo delegado investigá-lo, não foi? Por isso está assim, mais
tranquilo que o normal.
Sorri de lado e foi tudo que ela precisou para saber que a sua
declaração estava correta.
— Eu disse que faria.
— Disse, mas pensei que dessa vez não seguiria com a ideia. Você e
essa sua mania de investigar o passado das pessoas. Vou pedir para Alberto
não fazer mais isso pra você. Inclusive, porque ele não veio? — quis saber.
— Está trabalhando em um caso, algo grande — respondi e ela anuiu.
— Então, vai ou não me conseguir a torta? — Juntou suas mãos ao
peito, me olhando novamente com uma expressão pidona. — Sou sua irmã
favorita.
— Você é a minha única irmã. — Beijei sua testa. — E Dante está
certo, você precisa ir com calma. — Revirou os olhos. — Ele faz isso
porque te ama e ama as minhas sobrinhas também.
Ana Laura soltou um suspiro, relaxando seus ombros. Seu olhar
vagou pelo enorme jardim, se prendendo à imagem de seu marido que
conversava do outro lado do salão com o senhor Vincenzo e Júlio, pai de
Carlos, seu melhor amigo que se foi. Minha irmã havia compartilhado
comigo alguns detalhes que não foram para a mídia acerca do acidente na
Itália e me apresentou aos Ferreira, um pouco depois da cerimônia.
Como se estivesse sentindo que estava sendo observado, Dante virou
o rosto e sorriu para Ana com os olhos brilhando para a esposa, não
demorando para pedir licença aos homens e atravessar o jardim vindo na
direção dela.
Depositei um beijo em sua bochecha e avisei que estava indo até a
mesa do buffet. Ela fez um sinal com a mão, ignorando-me por completo,
me fazendo rir.
Dei alguns passos e alguém acabou esbarrando em mim. Por reflexo
segurei a pessoa pelos braços, firmando-a no chão e evitando que caísse.
Levou dois segundos para eu perceber que se tratava de uma mulher.
— Meu Deus! Me desculpe! — pediu, ajeitando seus cabelos, o
cheiro doce de seu perfume me deixou em alerta.
— Você está bem? — procurei saber ainda a segurando.
— Eu quem deveria estar fazendo essa pergunta a você — soltou uma
risada e acabei rindo também, me afastando um pouco para olhá-la melhor.
Ela era alta, cabelos curtos e negros, corpo esbelto e o vestido de seda
com um decote profundo, deixando pouco para a imaginação. Quando
levantou a cabeça para me olhar, notei que seus olhos erm de um verde
intenso. Ela era linda, muito linda!
Estava tão concentrado no casamento e em observar Kyara, que não
havia notado mais ninguém em meio aos poucos convidados.
— Você está bem mesmo? Te machuquei?
— Já disse que eu que deveria perguntar isso. Fui eu que não estava
prestando atenção — seu tom de voz era divertido. — Relaxa, bonitão.
Estou bem.
Soltei uma risada pela forma que me chamou.
— Miguel — me apresentei. — O irmão da noiva.
— Juliana — ela fez uma pausa antes de estender a mão até a minha.
— Amiga do noivo.
Nos cumprimentamos e o silêncio nos tomou. Coloquei minhas mãos
nos bolsos da minha calça e me aproximei dela, perguntando com a voz
baixa e rouca: — Você está acompanhada, meu bem? — Ela apertou seus
lábios pintados de vermelho, suas bochechas assumindo a mesma cor,
porém menos intenso.
Ao invés de me responder, Juliana me fez outra pergunta.
— Aceita beber algo e… conversar um pouco, bonitão?
CAPÍTULO 06
Henrique
Levei a taça de vinho até à boca enquanto observava Dante servir
sua esposa, com uma generosa fatia de sua torta favorita. Foi impossível
não rir da expressão que ela fez quando levou a primeira garfada à boca.
— Se aquela "gnomio" continuar comendo tanta torta de morango,
acho que minhas sobrinhas vão nascer com cara de morango — Matteo
disse ao meu lado rindo, sendo seguido por Miguel e Enrico, que está do
meu lado esquerdo.
— Ela sempre foi viciada nessa torta, desde que aprendeu a falar e
passou a pedir por ela ao invés da mamadeira — Miguel acrescentou.
— Eles formam um belo casal — Enrico comentou. — Molto bello!
(Muito belo!)
A cerimônia de casamento de Dante e Ana foi simples, contudo ainda
sim, foi bonita. Era bom ver que, depois de tudo que meu amigo passou,
estava finalmente se permitindo ser feliz e aquela baixinha, realmente o
fazia feliz, não havia como negar o quanto estavam verdadeiramente
apaixonados.
— E você, hein, Miguel? — B1 cutucou seu braço com o cotovelo. —
Vi você conversando de um jeito bem íntimo com Juliana — sorriu
balançando sua cabeça, movendo suas sobrancelhas de modo sugestivo.
— Ele é sempre assim? — perguntou, olhando entre mim e Enrico.
— Fofoqueiro e metido à cupido casamenteiro? — indaguei. —
Sempre foi, ficou pior depois que passou a assistir novelas mexicanas.
— Você assiste novelas? — Enrico questionou rindo, olhando para o
primo.
— Assisto — confirmou orgulhosamente. — São muito educativas!
Então, você e Juliana, hein?
— Ela é linda e sabe conversar. Trocamos nossos números e, bem…
vamos ver no que vai dar — respondeu direto.
— Juliana é uma ótima pessoa, “princeso”! — Matteo comentou.
— Espera, você me chamou de quê?
— “Princeso” — respondeu simplesmente.
— O certo não seria príncipe? — Miguel sugeriu de forma cínica.
— O certo seria você chamá-lo pelo nome. Porque caralhos está
chamando-o de “princeso”? — questionei incrédulo.
— Porque ele parece aquelas pessoas da realeza e como eu chamo a
irmã dele de “gnomio”, nada mais justo do que chamá-lo de “princeso” ao
invés de príncipe. E, bem… agora que somos um grupo, cada um tem que
ter um apelido — Deu de ombros.
— Somos um grupo?
— Somos, B2. Um grupo de amigos fodas pra caralho — afirmou. —
Eu sou o engraçado bonitão que é muito bem informado e o cupido do
grupo.
— Fofoqueiro e intrometido — fingi uma tosse ao falar, fazendo
nossos amigos rirem e Matteo revirar os olhos.
— Dante é o “CEO certinho”, Miguel é o “princeso” paciente e
Enrico, o médico nerd possessivo.
— Não sou… possessivo.
— Você nunca foi muito bom em dividir, cugino. Quando éramos
crianças, não deixava ninguém pegar seus brinquedos e nem brincar com
polpette.
— Com o quê? — indaguei curioso.
— Com o almôndegas. Era o nome do cachorro que ele ganhou do tio
Peppe — esclareceu.
Enrico ponderou por alguns segundos antes de falar.
— Ok, talvez eu seja um pouco territorialista — admitiu.
— Muito territorialista — Matteo corrigiu e recebeu uma careta do
italiano. Ele o ignorou e voltou a falar. — E você — apontou para mim —,
é o B2 bombadão estressado, inclusive, como seu sócio, ainda que eu não
esteja mais trabalhando no escritório de advocacia, acho que deveria
praticar yoga, vai ajudar a acalmar seus chakras. Soube que eles estão
desalinhados.
Bufei, passando os dedos pela minha barba e apertando meus olhos
para ele.
— Pare de ficar ligando para minha secretária, ela precisa trabalhar e
você também, porra. Simone está ficando uma boca de sacola mesmo —
ralhei. — Inacreditável.
Simone é minha secretária desde que Matteo precisou assumir o setor
jurídico da empresa de sua família. Ela tem quarenta anos, uma ótima
funcionária. Organizada, proativa e inteligente, por isso a contratei, sem me
importar com sua idade.
Todavia, ela possuía um estilo hippie que, às vezes, me irritava.
Sempre dizendo que meus chakras estavam desalinhados devido ao
estresse, trocava meu café puro por chá de camomila antes de cada reunião
importante e sua última proeza foi encher a minha sala de incensos
fedorentos, alegando que o ambiente estava muito carregado de energias
ruins.
Simone era o meu completo oposto, por isso funcionamos bem juntos,
porém ela já estava gastando o meu pavio, que já não era muito grande,
principalmente porque Matteo parecia ter um feitiço que fazia a mulher lhe
obedecer para tudo. Ele sempre a subornava com refeições grátis no La
Fontana e quando eu não respondia às suas mensagens, na maioria das
vezes de propósito, ele ligava para ela e ambos engatavam em uma
conversa pra lá de animada sobre novelas e o meu estresse.
Como eu sei disso? Uma vez, acabei escutando a conversa de ambos
quando ele estava lá na empresa aguardando para almoçarmos juntos. E
claro que B1 acabou chamando Simone para ir. No fim das contas, almocei
ouvindo sobre todo o enredo de uma novela e sobre o quanto os chakras de
Matteo eram ótimos e leves.
— Ela é minha informante — declarou divertidamente.
— Claro — debochei.
— Cazzo, sua irmã colocou mesmo mio cugino na coleira. Olha como
ele está com cara de cachorro pidão só porque ela sorriu pra ele — Enrico
comentou chamando nossa atenção e apontando na direção de Dante e Ana.
— Nunca o vi assim antes, tão agganciata. (fisgado)
— Colocou mesmo — Miguel disse, soltando uma risada.
Enquanto eles conversavam sobre o quanto nosso amigo é cadelinha
da “gnomio”, tentei prestar atenção em suas falas e usei tudo de mim para
não permitir que meus olhos varressem o jardim à procura da caçula
Fontana, Beatrice.
Depois que ela me pegou medindo o quanto estava linda assim que
adentrei o quintal no início da cerimônia, usei todas as minhas forças para
não voltar a olhá-la novamente, focando toda minha atenção nos noivos e
na comida conforme o buffet foi servido. Haviam várias opções de comida,
capazes de saciar a fome da pessoa mais exigente e enjoada, no entanto, só
havia uma coisa que eu queria comer. A irmã caçula dos meus melhores
amigos.
Sempre que Beatrice Fontana estava no lugar, eu me sentia como se
estivesse sufocando, uma luta se iniciava dentro de mim enfurecidamente.
De um lado, a minha fidelidade ao juramento que fiz aos meus
melhores amigos, de outro a atração que eu sentia pela irmã deles desde a
primeira vez que meus olhos repousaram nela há mais de dois anos na
Itália.
E acreditem, eu me esforçava, me esforçava pra caralho para me
manter afastado dela e desse meu desejo.
Porra, como eu a queria!
Já perdi as contas de quantas vezes a imaginei na minha cama, usando
uma daquelas lingeries com cinta liga — caralho, eu tinha um feitiche
nessas peças em especial — sua bunda cheia empinada para mim, enquanto
eu metia meu pau em sua boceta molhada, minha mão alisando sua pele
antes de cortar o ar e atingir seu rabo delicioso com tapas, repetidas vezes,
até que eu tivesse a certeza de que sua pele arderia por dias, cada vez que se
sentasse. Ou ela ajoelhada diante de mim, chupando meu pau até que ele
estivesse todo enterrado no fundo de sua garganta.
Caralho, Beatrice tinha o estilo de mulher que gostava de sexo sujo,
pesado, imoral, de ser tratada como uma puta na cama, ou em qualquer
outro lugar que a safada desejasse.
Eu tentava, meu Deus como eu tentava, não agir como um filho da
puta pervertido que ficava babando e fantasiando as coisas mais imorais
com a irmã caçula dos meus melhores amigos. Até passei a colocar em
prática as técnicas de respiração para me acalmar, que minha secretária
havia me ensinado depois que cheguei ainda mais sem paciência do que o
normal à empresa, após uma audiência com o cretino do advogado da
empresa dos Vilhenas, Adamo Vilhena, o filho mais novo de Marcos
Vilhena, o patriarca no ramo de investimentos que recentemente tinha
deixado seu posto para o seu primogênito assumir, Dionísio Vilhena.
Argh! Como eu detestava aquela família e não via a hora de poder
acabar com a imagem de boa gente que tinham perante a mídia. Eu já
desconfiava que eles não possuíam o nome limpo na praça como
aparentavam, boatos rolavam e tive certeza de que eram verdadeiros quando
Giselle, uma ex-funcionária deles me procurou relatando tudo o que passou
nos seis meses como secretária da presidência. A pobre mulher tremia e
derramava lágrimas sem conseguir parar a cada lembrança sua naquele
lugar. Não pensei duas vezes quando decidi ajudá-la.
Desde então, procurava inspirar e expirar como aprendi, puxando e
soltando o ar contando de um até dez mentalmente para me acalmar e
buscar em algum lugar dentro de mim, o controle e a porra da paciência
que eu necessitava.
Como agora, quando meus olhos teimosos pra porra pousaram na
figura deliciosa da italiana. Seu cabelo longo e negro caindo em ondas
sobre seus ombros, seu corpo voluptuoso, farto, com curvas cheias e
deliciosas, coberto por um vestido preto justo, com alças tão finas, que ao
menor movimento, elas poderiam se romper. Seus lábios estavam pintados
em um tom rosado sutil, contrastando com seus olhos selvagens que
parecem estar ainda mais verdes.
Caralho, como essa mulher é gostosa!
Gostosa e linda pra caralho!
Meu olhar varreu cada detalhe seu, cada centímetro de pele, enquanto
ela conversava com Bárbara e Kyara a algumas mesas de onde eu estava.
Me demorei por alguns segundos nas laterais de sua cintura. Eu amava a
gordurinha que ficava ali, apesar de saber que muitas mulheres a odiavam.
Beatrice a tinha e ela era perfeita para ser apertada durante uma foda.
Simplesmente perfeita.
Estranhamente, como se estivéssemos ligados por algum sentimento
avassalador além do tesão, ela virou o rosto e me pegou no flagra, a forma
como um sorriso cínico se desenrolou por seus lábios, deixou claro que a
diaba sabia que eu estava observando-a.
Pisquei rapidamente para afastar os meus pensamentos acerca dela,
no exato momento em que Matteo tocou em meu ombro.
— O que você acha? — perguntou.
Eu o olhei confuso, forçando uma tosse.
— Desculpe, o que disse?
— Está com a cabeça onde, B2?
Na gostosa da sua irmã.
Forcei mais uma tosse antes de responder.
— Só estou pensando na viagem que vou fazer à Curitiba, para
coletar algumas informações para um processo.
— Caso difícil? — indagou, interessado.
— Vilhenas — respondi simplesmente.
Meu amigo toca o nariz, reconhecimento passando por seu semblante.
— Odeio aqueles filhos da puta! — exclamou.
— Já ouvi falar deles, mas nenhuma das histórias são… agradáveis —
Miguel comentou, torcendo o nariz. — Não sei como aquela empresa ainda
está de pé.
— Estou confiante de que agora eu consiga o feito de derrubá-la —
disse confiante, meus amigos acenam, levantando suas taças. — Então, o
que você havia me perguntado? — procurei saber, curioso, depois de beber
um gole do vinho.
— Quem você acha que será o próximo cadelinha do grupo?
Soltei uma risada com a expressão engraçada que meu amigo fez.
— Aposto em você e na Bárbara — respondi com firmeza. — Muito
ódio gratuito e isso só pode significar uma coisa. Tesão reprimido. E você
não parou de falar na “gostosa que ajudou no meio da rua” — Fiz aspas
com a mão livre — por uma semana. Me perturbou com mensagens e
áudios feito a porra de um adolescente virgem.
— Ela me atrai e eu não faço a menor questão de esconder ou
disfarçar isso. Eu amo desafios e irritar aquela boneca se tornou um hobby.
O jeito que sua pele fica quando está com raiva… porra, a deixa sexy
demais — disse, olhando na direção de onde ela estava, sorrindo de lado. —
Eu amo uma mulher irritada, assim o sexo fica mais… prazeroso. Se eu
tivesse apenas uma noite com Bárbara, tenho certeza de que ela jamais se
esqueceria de mim.
— Eu a conheço há anos e posso afirmar com tranquilidade que você
não faz o tipo dela — Miguel comentou tocando em seu ombro e o fazendo
olhar para ele.
— Eu sou o tipo da maioria das mulheres. Sou irresistível — disse
cheio de si. — Sou bonito, sei conversar, sou engraçado, assisto novelas,
sou romântico, amo fofocar e o melhor, tenho um dragão no meio das
pernas capaz de incendiar qualquer mulher, porra.
— E com um ego de milhões — Enrico acrescentou. — Ainda não
acredito que você chama o seu pau de “dragão”. Per Dio!
— Você dá nomes às suas motos, nerd, por que não posso dar nome
para o meu pau? — questionou, encarando o primo.
Ambos entraram em uma discussão em italiano que Miguel e eu não
entendíamos nada, porém a forma como Matteo exagerava nas feições de
drama e ofensa a cada conjunto de palavras que Enrico falava, nos fez rir
ainda mais com a cena.
— Você está ameaçando o seu primo favorito com um bisturi? — B1
exclamou.
— Quem disse que você é o meu primo favorito? — Enrico provocou,
seu semblante é de puro divertimento.
Rindo da discussão dos dois, levei a taça até à boca e antes que meus
lábios pudessem tocar no cristal, noto, pelo canto de olho, um quadril se
mover para baixo, curioso, desviei o olhar dos meus amigos para encontrar
Beatrice agachando para pegar o guardanapo no chão, seu corpo se
curvando fazendo sua bunda cheia empinar à medida que se inclinava para
baixo.
Caralho! Não consegui afastar meu olhar e nem os pensamentos do
meu pau se enterrando ali, entre os dois montes fartos.
Até que senti algo molhar minha camisa.
— Merda! — vociferei olhando para a mancha enorme de vinho no
tecido branco, agora colado em meu tronco, deixando a taça, já vazia em
cima da mesa próxima. — Mas que porra! — Observei o estrago na peça.
Ouvi meus amigos rirem e levantei meu olhar para lançar uma
carranca.
— Você está no mundo da lua hoje, hein — Matteo falou.
Bufei com raiva.
— Vem, B2! — Ele bateu em meu braço. — Acho que tenho algumas
camisas no meu antigo quarto.
Anuí, ignorando Miguel e Enrico, dando as costas para as suas piadas
e risadas, enquanto rumava para dentro da mansão.
Subi as escadas, seguindo Matteo e assim que estávamos no primeiro
andar da mansão, ele sinalizou que fosse até o seu antigo quarto e eu
concordei, entrando na segunda porta à direita, sabendo que ali encontraria
um banheiro, tendo em vista que frequentava a casa dos Fontana há anos.
Ao entrar no cômodo, não me preocupei em fechar a porta, deixando-
a apenas encostada. Parei de frente para o espelho que ficava acima da pia
larga de mármore branco, olhando por um momento a bagunça que fiz antes
de começar a desabotoar a camisa social, meus olhos focados no trabalho
dos meus dedos. Assim que estava no último botão, escutei a porta sendo
aberta por completo.
— Obrigado por me emprestar uma roupa sua, cara — falei, pensando
ser Matteo, assim que puxei minha blusa de dentro da calça social,
deixando meu peito e abdômen descobertos.
A voz feminina e sensual, cheia de sotaque me fez levantar o olhar
em um sobressalto. Engasguei quando encarei seus olhos através do reflexo
do espelho e precisei engolir, mesmo que com dificuldade, para não grunhir.
— Ciao, caro mio!
Beatrice estava parada no batente da porta, com as mãos na cintura
enquanto me encarava diretamente, aquele sorrisinho safado filho da puta
se desenrolando em seus lábios.
— O que você faz aqui? — soltei, sentindo meus batimentos
dispararem com violência contra a minha caixa torácica, meu peito subindo
e descendo rapidamente.
Ela não respondeu de imediato e isso me fez ficar ainda mais nervoso
conforme seus olhos me analisavam com cuidado.
— Beatrice, o que faz aqui?
A diaba pareceu não se importar com meu tom rude, pelo contrário,
ela soltou uma risada baixa cheia de deboche e então, lentamente, entrou
sem afastar seu olhar do meu. E ao caminhar em minha direção, seu
perfume doce adentrava em minhas narinas, me deixando tenso. Era uma
mistura incrível de baunilha com alguma fragrância floral que nela ficava
incrivelmente delicioso, fazendo-me desejar enterrar o rosto em seu
pescoço e sentir o aroma direto da fonte.
— Bea — murmurei sem conseguir sair do lugar, engolindo em seco
quando ela já estava próxima.
— Vim oferecer ajuda, Henrique. Non preoccuparti, caro (Não se
preocupe, querido) — responde com inocência fingida em sua voz.
Beatrice Fontana é tudo, menos inocente.
Quando finalmente parou atrás de mim, me senti imediatamente
sufocado, meu corpo em um completo estado de alerta, minhas mãos
suavam e meus pulmões lutavam para fazer o seu trabalho, puxando o ar
com força.
— Respire, Henrique — a diaba italiana disse baixo, com seus olhos
me encarando cheios de malícia, o que posso notar pelo espelho. Ela está
ciente de como me afeta. — Apenas — Passou um dedo na minha nuca e
senti quando traço a cicatriz mais grossa ali — respire. — Completou em
um sussurro, seu semblante refletindo curiosidade sobre o que há debaixo
do tecido.
Eu não tinha vergonha das cicatrizes em minhas costas, por mais
grossas e estranhas que elas fossem. Por algum motivo, as mulheres
gostavam delas, e a verdade era que pouco me importava o que elas
poderiam achar, eu as foderia com o pau e não com a porra das minhas
costas. No entanto, só de imaginar Beatrice vendo-as, meu estômago se
retorceu, me mostrando que o pensamento me incomodava, me incomodava
muito.
Com minha mão trêmula pelo impacto de prazer que seu pequeno
toque causou em mim, virei-me depressa, agarrando seu pulso com firmeza,
fazendo-a se sobressaltar pelo movimento brusco.
— O que você vai fazer? — minha voz saiu dura.
A filha da mãe sorriu, sem se importar com meu tom, me encarando
com suas íris verdes por um momento, antes de seu olhar cair sobre a minha
pele descoberta.
— Vou te limpar, caro mio.
— É melhor você sair daqui, Beatrice — bradei, porém vacilei
quando sua mão livre tocou um pouco abaixo do meu pescoço, me
provocando um arrepio.
Seus olhos voltaram a encarar os meus, como se estivesse pedindo
permissão para prosseguir. Bea mordeu o lábio inferior lentamente e quando
o soltou, sua língua começou a percorrer seus lábios sedutoramente,
umedecendo-os e deixando explícito o que ela quis dizer com me limpar.
— Por favor, me deixe limpar você — suplicou.
Foi a primeira vez que Beatrice disse tais palavras direcionadas a mim.
Por favor.
— Por favor — repetiu, fazendo agora um beicinho lindo,
provocando uma vontade louca em mim de chupar seus lábios até deixá-los
inchados.
Por favor.
Essas palavras, ditas por essa mulher, iriam me foder pra caralho.
Algo dentro de mim me dizia que sempre que ela as usasse, eu não
conseguiria negar nenhum pedido seu.
Henrique roube um banco, por favor.
Minha resposta seria: quando e qual, Beatrice?
Fodido, você está fodido, Henrique Prado. Muito fodido! Meu
subconsciente me alertou.
Não respondi que sim, mas devagar, fui diminuindo o aperto dos
meus dedos em torno do seu pulso, abaixando nossas mãos até que a dela
esteja livre. Apoiei meu corpo contra a pia como um sinal claro para que ela
prosseguisse, meus olhos nunca deixando de encarar suas íris cor de
esmeralda.
O que eu estou fazendo? Porra!
Então, a diaba umedeceu os lábios novamente, seus olhos encarando
os meus por alguns segundos antes de descer e analisar meu peitoral, suas
mãos afastando o tecido da minha camisa, raspando a ponta dos seus dedos
contra minha pele, que se arrepia ainda mais contra a dela. O contato foi
sutil, porém tão intenso quanto seu olhar sobre meu corpo.
— Delicioso — murmurou, voltando a me fitar.
Não me atrevi a dizer nada, com medo de que eu voltasse ao meu
estado racional e a afastasse, como eu deveria fazer.
Eu deveria me afastar dela.
Eu deveria sair desse banheiro.
Eu deveria impedi-la de me tocar dessa forma.
Eu deveria, ah porra, como eu deveria!
Mas cada vez que Beatrice se aproximava, eu perdia a razão, o juízo
e… apenas me entregava ao tesão que ela despertava em mim.
Caralho, nunca desejei tanto comer uma mulher antes como eu a
desejava.
— Vou limpar você, Prado — comunicou, piscando e repuxando seus
lábios para o lado.
Prendi a respiração e fechei meus dedos com força no mármore da pia
atrás de mim quando seu rosto ficou na altura do meu peito. Logo, sua
língua lambeu vagarosamente algumas gotas de vinho que haviam ali, sem
pressa, me torturando a cada segundo que se passava, como se estivesse
degustando a bebida e meu sabor misturados.
Foi impossível não imaginar como seria gostoso pra caralho ter sua
língua fazendo tais movimentos na cabeça do meu pau.
Arfei, contraindo a barriga quando a ponta da sua língua circulou meu
mamilo direito e me odiei por não conseguir segurar o gemido rouco que
saiu. Eu tentei, tentei mesmo segurá-lo, mas o filho da puta escapou! O
gemido escapou! Merda!
Olhei para baixo e a vi sorrir contra a minha pele.
— Gosta disso, caro mio? — questionou em um tom baixo e
fodidamente sexy, me fitando por sobre seus cílios. — Gosta? — Tornou a
lamber o mamilo, dessa vez, raspando seus dentes e me fazendo contrair
com o arrepio de prazer que passou pelo meu corpo indo direto para a
cabeça do meu pau.
Excitado e puto pra caralho na mesma medida, apertei meus dentes
semicerrando os olhos para ela, pensando em lhe dar uma resposta, mas
antes que eu abrisse a boca Beatrice levou suas mão até a minha cintura,
uma em cada lado e cravou suas unhas ali sem qualquer delicadeza, me
fazendo gemer com a ardência gostosa que sinto.
Caralho! Eu era completamente viciado nessa merda, amava quando
uma mulher me arranhava, me mordia, puxava meus cabelos nas
preliminares e principalmente na hora do sexo. Isso só me deixava ainda
mais louco de tesão.
— Diaba — falei, encarando seu rosto conforme ela endireitou sua
postura, até que estivesse novamente ereta na minha frente.
Bea sorriu, prendendo seu lábio inferior entre os dentes e
pressionando seu quadril contra o meu, ficando ainda mais perto. O calor do
seu corpo me deixou loucamente necessitado.
Ah, merda!
— Tão duro e grande. — Se esfregou no volume entre as minhas
pernas, me arrancando a porra de mais um gemido torturado, meus olhos
ameaçando se fechar, meu corpo cada vez mais imerso nesse desejo louco e
proibido. — Tão — Ela mordeu meu pescoço, me fazendo gemer
novamente antes de levar sua boca até meu ouvido — fácil para mim. Tão
— Ela chupou meu lóbulo direito — fraco, caro mio.
Abri completamente os olhos, vendo-a sorrir como uma diaba
atentada, conforme se afastava dando passos lentos para trás.
— Você — Ela apontou na minha direção — é tão fácil e fraco para
mim. É ridículo a forma como você tenta fugir, Prado.
Fraco. Eu escutei mesmo essa palavra?
Apertei os dentes com força até que senti meu maxilar doer, mas não
me importei. Encarei seu rosto por um momento, semicerrando meus olhos.
Senti todo o meu corpo ser consumido por raiva quando vi um sorriso
desenhar seus lábios, a porra de um sorriso prepotente, fazendo meu sangue
ferver.
Por mais que uma parte de mim soubesse que eu era exatamente isso
quando se tratava da irmã caçula dos meus melhores amigos, não havia
como admitir ou ficar imparcial a ser chamado dessa forma.
Me forcei a respirar fundo antes de perguntar entredentes, tentando
buscar paciência em algum lugar dentro de mim por, mas foi em vão.
— Você me chamou de quê?
Beatrice não era uma mulher baixinha como Ana e os saltos que
estava usando lhe davam alguns bons centímetros, porém ainda assim, seu
rosto ficava na altura do meu queixo, por isso quando afastei-me da
bancada, ajeitando minha postura, ela precisou inclinar um pouco a cabeça
para trás, para me encarar olho a olho.
— Fra.co. — respondeu pausadamente, cruzando os braços e me
fitando de forma cínica.
— Repete! — Ordenei rudemente, apertando os punhos com força,
dando um passo em sua direção, meus olhos nunca deixam os seus.
Percebi que seu corpo tremeu levemente com meu tom de voz,
contudo ela permaneceu parada, relaxando apenas os braços quando falava
novamente.
— Eu chamei você de fraco, Henrique Prado. Fra.co. Entendeu agora,
caro mio?
Um urro saiu da minha garganta e toda a pouca racionalidade que eu
ainda tinha se esvaiu, ficando apenas raiva e tesão oscilando entre as
minhas células. Então, eu explodi de vez, avançando sobre ela, minha mão
direita se fechando em seu pescoço e a outra entrando em seus cabelos,
puxando os fios com força, inclinando sua cabeça para que seus olhos
estejam na altura dos meus. Suas costas se chocaram com a porta,
fechando-a bruscamente. Aproximei meu rosto, até que nossos narizes se
tocassem, nossas respirações se misturando.
A filha da puta riu e isso me deixou ainda mais puto. Aumentei o
aperto em seu pescoço, privando-a de um pouco de ar e seus olhos
brilharam com luxúria, me mostrando que ela gostou.
Conforme pronunciei as palavras em um tom assustadoramente baixo,
ameaçador, o peito de Beatrice subiu e desceu cada vez mais rápido.
— Você é mesmo uma provocadora, não é? Hum? Acha divertido me
provocar assim, caralho? Na casa dos seus pais com toda a sua família e
nossos amigos no andar de baixo? — inqueri, sem esperar que ela
respondesse. — Veio até aqui apenas para isso, para me provocar, não foi,
porra? Vamos ver se você gosta de ser provocada também.
Encarei seus olhos verdes, suas pupilas dilatadas brilhando de
excitação, por dois segundos antes de abaixar o rosto até seu colo, minha
língua saindo e acariciando sua pele macia e quente. Gostosa!
Fiz menção de invadir seu decote, desejando provocá-la da mesma
forma que fez comigo, ela arfou e logo senti suas unhas se fechando
novamente em minha cintura, me puxando mais para si.
— Henrique — meu nome saiu de sua boca em tom de gemido e isso
só me deixou ainda mais excitado. — Gosta de joias? — sussurrou, me
fazendo afrouxar o aperto em torno do seu pescoço e levantar o rosto para
encarar suas íris. Minha expressão confusa a faz explicar o significado de
suas palavras. — Se você abaixar as alças do meu vestido, verá que tenho
duas, uma em cada mamilo. — Minha respiração ficou presa na garganta
quando a informação chegou aos meus ouvidos, senti uma gota de suor
escorrendo por minhas costas, meu pau tencionando bruscamente dentro da
cueca.
Puta que pariu!
Ela tem… piercings nos mamilos?
Nos… mamilos?
Meu olhar caiu direto para os seus seios, minha mente tentando
formular a imagem dos seus mamilos com as duas joias.
— Caralho! — balbuciei.
— Se você decidir abaixá-las, espero que chupe meus seios, bem
gostoso, caro mio. Há quem diga que a textura é deliciosa na língua.
Eu precisava ver! Eu precisava sentir!
Ignorando a sensação estranha que a última informação me causou,
afrouxei o aperto em seus cabelos, levando a mão até seu decote, me
sentindo completamente entorpecido.
Quando meus dedos seguraram o tecido para empurrá-lo para baixo, a
voz de Matteo seguida de três batidas na porta soaram, me lembrando que
isso era errado de várias maneiras possíveis.
Puta que pariu, o que eu estava fazendo?
CAPÍTULO 07
Beatrice
Trouxe a camisa, B2. Vê se você não a suja também, porra — meu
irmão exclamou antes de bater na porta, fazendo meu corpo reverberar
junto às batidas.
Notei os olhos de Henrique se abrirem a ponto de me fazer achar
que irão se rasgar. Seu olhar oscila entre meu corpo, rosto e suas mãos,
antes de focar finalmente em mim e então, se afasta bruscamente como se
tivesse voltado a si, percebendo o que estava prestes a fazer.
— Não acredito! O que eu estava fazendo? O que… o que eu ia
fazer? — murmurou, passando as mãos freneticamente nos cabelos.
Dei um passo em sua direção, porém ele se afastou como se eu fosse
alguma doença contagiosa, me fazendo revirar os olhos.
Duas batidas soaram, dessa vez mais fortes.
— Henrique? — Matteo o chamou impaciente. — Caiu no vaso ou o
quê, cazzo?
— Desculpa, estava… estava terminando de mijar. Já vou abrir,
cara.
Então, Henrique se aproximou de mim, levando sua mão direita até
minha boca, seu dedo indicador indo para a frente da sua em um sinal claro
para que eu ficasse quieta. Como resposta juntei minhas mãos contra o
peito, acenando levemente.
Henrique me encarou por alguns segundos, claramente duvidando
de que eu fosse cumprir o seu pedido.
Quando mais uma batida soou, ele anuiu, liberando-me do seu
aperto. Abriu a porta, apenas o suficiente para que conseguisse esticar o
braço livre e pegar a peça, fechando-a novamente com rapidez. Levei uma
mão até a boca, abafando uma risada, o que o faz me olhar de cara
amarrada.
— Se ele souber que você está aqui, nós vamos estar fodidos.
Entendeu? — sussurrou.
Apenas acenei com a cabeça, adorando toda a situação.
— Obrigado, né? — Matteo resmungou do outro lado.
— Ah… han… obrigado — ele disse deixando a peça sobre o
mármore da pia e se livrando da blusa manchada rapidamente para vestir a
limpa.
— Espero você lá embaixo, B2. Preciso ficar de olho no meu irmão,
senão aquela "gnomio" vai acabar convencendo-o de que precisa de mais
torta de morango — Mio frattelo anunciou e o homem à minha frente
respirou aliviado. — Dante é fraco demais para aquela mulher — declarou
brincalhão.
Os olhos do loiro encontraram os meus e por um momento, o brilho
de reconhecimento passou por eles. Pisquei para ele sorrindo abertamente.
Fraco. Ele sabia, ainda que não admitisse, que era fraco quando o
assunto era eu. Podia tentar o quanto quisesse, porém não havia como evitar
ou fugir da atração que queimava cada vez que nos encontrávamos.
— Tudo bem — em resposta, deixou as palavras saírem de sua boca
em um rompante quando se afastou de mim. — Desço em alguns minutos
— avisou, esperando alguns segundos até que tivéssemos certeza de que
Matteo se foi.
Encostei na parede, ao lado da porta e cruzei os braços,
aproveitando o momento para apreciar o quanto Henrique Prado era um
pecado de homem. Era a primeira vez que o via dessa forma e cazzo, eu
poderia ficar horas apenas o observando, admirando cada pedacinho dele.
Alto, ombros largos, peitoral malhado, um abdômen definido com as
duas entradas profundas formando um “v” perfeitamente trabalhado e
alguns pelos loiros espalhados ali, formando um caminho que some dentro
da calça social que apertava suas coxas grossas de um jeito delicioso.
Henrique possuía algumas frases tatuadas no lado esquerdo do peito em
letra cursiva, que logo reconheci serem trechos da música Home da
Gabrielle Aplin.
Seus braços eram fortes, cheios de veias e cazzo, suas mãos eram
enormes, a ponto que uma delas quase se fechou em meu pescoço por
completo.
Como amei ser enforcada por ele, desejando estar assim enquanto
seu pau entra e sai de mim, me fodendo gostoso.
Santo Dio, ainda podia sentir minha língua formigando por tê-lo
provado, o gosto de sua pele se misturando às poucas gotas de vinho, me
deixaram loucamente excitada.
Apertei minhas coxas uma na outra, tentando conter a necessidade
avassaladora que tomou meu corpo.
— Quer ajuda? — perguntei quando ele começou a abotoar os
primeiros botões da camisa, sem se preocupar em desafivelar o cinto e abrir
os botões da calça.
— Não! — respondeu rápido, impaciente, sem olhar para mim, seus
olhos focados no trabalho dos seus dedos.
O observei sem dizer mais nada. Quando terminou, segurou a
maçaneta da porta e antes de abri-la, finalmente moveu seus olhos até os
meus, suas íris brilhando em um mix de desejo e confusão. À medida que
me encarava, seu olhar se moveu para baixo, fixando na altura dos meus
seios. Seus lábios se abriram, contudo logo se fecharam.
E então, um passo foi dado na minha direção e por um segundo, a
sensação de que ele iria finalmente ceder ao que claramente sentia por mim
me tomou, meu corpo ficando em estado de alerta, desejando que me
tocasse, me beijasse.
Ele inclinou a cabeça por um segundo, parecendo considerar se
devia avançar ou recuar. Contudo, a sensação logo se esvaiu, quando
Henrique recuou, disparando para fora do banheiro.

— Onde você estava? — Ana questionou assim que me sentei na


cadeira ao seu lado.
— Precisei ir ao banheiro — respondi, sorrindo de forma cínica.
Acenei para que um dos garçons me trouxesse uma taça de vinho
enquanto ela, Bárbara e Kyara me encaravam. Agradeci ao homem que logo
se afastou para servir outras mesas. Bebi o líquido com calma, ainda sobre
os olhares das mulheres que dividem a mesa comigo.
— Eu não contei, mas — Bárbara começou a falar — me arrisco a
dizer que a casa dos seus pais tem mais banheiros que o prédio onde moro.
— E?
— E tenho certeza de que todos eles não estão lotados ao ponto de
você ter demorado tanto — conclui.
— Não demorei tanto assim — comentei, prendendo o riso.
— Demorou, sim, cugina — Kyara acrescentou.
— Não nos enrole, principalmente a mim que estou carregando suas
sobrinhas — Ana declarou, apontando para a barriga. — Você não sabe que
curiosidade não faz bem para uma grávida, ainda mais uma curiosa ao
extremo como eu? Vamos — Bateu em meu braço de leve —, conte-nos
onde estava e o que estava fazendo, apesar de que… já tenho uma boa
noção.
Encarei seus olhos azuis, intrigada.
— Onde você acha que eu estava? — a desafiei.
— A julgar pela forma como Henrique está pálido feito um
fantasma — apontou para a nossa frente. Desviei de seu olhar por um
momento para focar onde Henrique estava e sorri, vendo-o passar a mão no
cabelo freneticamente, falando algo como “Estou bem” para os amigos —,
você estava o provocando.
— Como fez na casa do Dante — Bárbara acrescentou.
— O que ela fez? — Kyara procurou saber, nos encarando com um
semblante de pura confusão.
Eu havia comentado com Ana e Bárbara em um dos nossos
almoços, do dia do lixo como elas chamavam, sobre a festa de caridade da
empresa em que menti dizendo que iria ao banheiro, mas na verdade, fui
atrás de Henrique, no escritório do meu irmão.
Contei a versão resumida para a minha prima, que não se
surpreendeu, sabendo bem como eu sou.
— Você é maluca, Beatrice!
— Fato! — pontuei e elas riram. — E sim, vocês estão certas, eu
estava com Henrique.
— O que você fez dessa vez? — Bárbara perguntou.
— Nada demais. — deu de ombros.
— Sei — Ana disse, incrédula.
— Bem, vocês viram que ele derrubou vinho em sua camisa,
então… — comecei a falar com cautela, ajeitando minha postura. Deixo a
taça à minha frente, sobre a mesa, antes de continuar — digamos que minha
língua ajudou a limpá-lo — sorri maliciosamente.
— Santo Dio, Bea!
— Eu sabia!
— Coitado! — Bárbara falou. — Você é mesmo atacante, hein.
Sorri.
— Sempre fui. Pena que Matteo apareceu e acabou com o clima.
Por pouco eu não descobri como é beijar aquele gostoso — disse olhando
para ele, que agora estava de costas para mim. Todavia, pela forma como
seus ombros tensionam, posso afirmar que sabe que eu estou observando-o.
— Do jeito que vocês se comem com os olhos sempre que estão no
mesmo ambiente, isso não vai demorar muito para acontecer — Ana
afirmou.
— Estou torcendo para isso.
— Acho que vocês vão se apaixonar — minha amiga, viciada em
romances disse.
— Isso está fora de questão — afirmei fazendo um movimento com
a mão. — Não vai acontecer comigo, só estou interessada em sexo.
— É o que todas as mocinhas dos livros que leio dizem —
debochou. — No final estão rendidas pelo mocinho.
— Igual você ficará quando der uma chance ao meu irmão? —
provoquei.
Bárbara bufou.
— Seu irmão me irrita.
— O nome disso é tesão reprimido, amiga — Ana falou, soando
divertida, fazendo-a revirar os olhos e resmungar algo. — E o seu
apartamento, Bea? — indagou, virando o rosto para mim. — Como estão as
coisas para a sua mudança?
— Recebi as chaves há dois dias. Em uma semana pretendo me
mudar. Estou animada!
— Meus primos e tio vão fazer uma cena quando souberem.
Em uma das nossas conversas por mensagens nos últimos dias, havia
comentado com minha prima a respeito do apartamento que comprei e
mandei reformar.
— Sei que vão, porém eles vão sobreviver — dei de ombros.
— É bom que Dante já vai treinando o coração para quando as
nossas meninas estiverem adultas — Ana disse, alisando sua barriga.
— Já decidiram os nomes? — Perguntei.
— Ainda não, mas temos algumas opções. Gostamos dos nomes
mais curtos. Esperamos decidir até o próximo jantar em família, para assim
comunicar a todos.
Anuímos.
— Gostaria que você pudesse ficar um pouco mais, Kyara — a
grávida do grupo pediu, fazendo beicinho.
— Eu também adoraria, cara.
— Seria incrível nós quatro fazendo a noite das garotas na casa
nova.
— Não faltarão oportunidades em um futuro próximo, Bea — sorriu
com doçura.
Pelo resto da noite conversamos sobre a minha nova casa, a
gravidez de Ana e o quanto estávamos animadas para o nascimento das
gêmeas.
Não me aproximei mais de Henrique, contudo pude sentir seu olhar
sobre mim a cada segundo, antes que viesse se despedir, uma hora mais
tarde.
Prendi o riso quando seus olhos se fixaram por um momento em
meus seios, provavelmente imaginando meus mamilos com os piercings, até
que enfim afastou o olhar e estendeu a mão, dando boa noite e rumando
para a entrada da casa com passadas largas e apressadas.
CAPÍTULO 08
Beatrice
— Como você comprou um apartamento, reformou todo o espaço e
nós só estamos sabendo disso agora? — meu pai vociferou.
Estávamos tomando café da tarde, meus pais e eu, depois de nos
despedirmos dos meus tios e primos que tinham voo em algumas horas de
volta para a Itália. Acreditei que essa seria a melhor ocasião para contar a
eles sobre minha mudança, todavia, pela forma como meu pai me olhava
em desaprovação, já não tinha mais tanta certeza.
— Eu ia contar antes, mas a reforma acabou atrasando e ainda que
tivesse recebido as chaves, não era o momento certo — respondi com
calma, molhando o pedaço de pão em minha mão no azeite antes de levá-lo
até à boca.
— Como assim não era o momento certo? — mamma questionou.
— Bem — disse, depois de engolir —, Ana tinha acabado de
descobrir a gravidez e logo depois, veio o casamento… muitas novidades
juntas. — Dei de ombros. — Por isso, estou contando agora.
— Há quanto tempo você está fazendo isso pelas minhas costas? —
Babbo levou uma mão ao peito, exagerando na expressão de drama.
Vincenzo Fontana era calmo e sensato na maior parte do tempo,
muitos até achavam que, por sempre esboçar um semblante sereno, ele não
era o típico italiano ciumento, como tio Peppe e Enrico são. Todavia,
quando o assunto era a sua filha caçula, as coisas mudavam drasticamente
de cenário.
— Santo Dio, pappa. O senhor está exagerando.
— Exagerando — resmungou e mamma revirou os olhos, sorrindo
do drama do marido.
— Não seja dramático. Esse posto pertence a Matteo — brinquei,
porém seu semblante permaneceu fechado. — E se eu tivesse contado que
estava procurando um lugar para morar, o senhor e os meus irmão teriam
feito de tudo para me impedir.
— Não gosta de morar conosco? — dramatizou.
— Babbo — toquei em sua mão sobre a mesa falando com carinho
—, eu amo morar aqui e ter vocês por perto, contudo já tenho vinte e dois
anos, e quero ter um lugar só meu. Meus irmãos começaram a morar
sozinhos com a mesma idade que eu tenho hoje.
— Ela está certa, meu amor — minha mãe interveio a meu favor,
sorrindo carinhosamente para ele. — Ela já é uma adulta e precisa ter um
espaço só dela, assim como Dante e Matteo, mesmo que seja difícil
aceitarmos, enquanto pais — suspirou.
— Hum. — Resmungou cruzando os braços e sustentando a cara
amarrada.
— Então, me diga, querida — mamma começou a falar virando-se
para mim, sorrindo ansiosa — Sua casa, como é?
— É linda! Tem uma cozinha industrial. Já até imaginei nós duas
fazendo receitas deliciosas nela.
— Vou amar cozinhar com a minha filha — expressou
carinhosamente.
— Pedi que aumentassem o quarto e o closet. Ambos ficaram
enormes — acrescentei, lembrando das poucas vezes que fui ao prédio
quando a reforma já chegava ao fim.
— Seu quarto é enorme aqui. — Meu pai lembrou antes de levar uma
uva à boca, torcendo o nariz.
Revirei os olhos, mas acabei sorrindo.
Levantei-me, inclinando o corpo na sua direção e depositei um beijo
em sua bochecha.
— Eu te amo, mas não acabe com a minha animação, caro mio.
Ele soltou um suspiro quando voltei a me sentar.
— Va bene. Va bene. — Segurou meu rosto com uma mão. — Se você
está feliz eu vou ficar feliz também. Só estava acostumado a ter você por
perto depois de anos morando longe. Você cresceu tão rápido, bambina. Mi
manca quando eri una ragazzina che irrompeva nel mio ufficio e correva a
sedersi sulle mie ginocchia, dicendomi che ero il miglior papà del mondo.
(Sinto falta de quando você era uma garotinha que invadia o meu escritório
e corria para sentar no meu colo, dizendo que eu era o melhor pai do
mundo)
— Já faz um tempo que eu cresci, pappa — disse — E agora eu me
sento em outros colos — sorri, bebendo um pouco de café.
— Per Dio! Vuoi che mi venga un infarto, figlia mia? (Por Deus!
Quer que eu tenha um infarto, minha filha?) — exclamou, alisando os
cabelos grisalhos com uma mão e levando a outra para o peito.
Olhei para minha mãe que tentava segurar o riso, balançando a cabeça
de um lado para o outro, enquanto me encarava.
— Você precisa parar de falar essas coisas, Beatrice. Santo Dio,
raggaza! Pietà di tuo padre (Tenha dó do seu pai.) — choramingou.
— Scusi, caro mio.
— Me diga — disse depois de um tempo já mais calmo —, onde fica
o seu apartamento?
— No centro, próximo ao prédio de Dante e Matteo.
— Endereço, cara mia. Preciso saber se o lugar é seguro.
Me olhou cheio de expectativa.
— O lugar é seguro. Tem câmeras por todos os lados, segurança vinte
e quatro horas. Foi muito bem recomendado — falei. — E gostaria de me
instalar primeiro antes da vistoria dos homens da família começar.
— Você vai se mudar e não vai nos contar para onde? — a voz do
meu pai saiu cheia de incredulidade. — Porque tanto mistério?
Soltei um suspiro.
— Será minha primeira… casa. Só quero aproveitar esse momento
sozinha, babbo. Não estou escondendo mais nada, só — Toquei em seu
ombro, fazendo-o olhar em meus olhos — confie em mim. Sei o que estou
fazendo. Tutto bene?
— Quando pretende se mudar? — minha mãe falou diante do silêncio
do meu pai, que me avaliava com os olhos apertados, cheios de
desconfiança.
— Vou ligar para uma empresa de mudança que ficará responsável
por levar minhas coisas e arrumá-las no apartamento. Se tudo estiver em
ordem até o fim da semana, já poderei me mudar no sábado.
— Minha principessa quer mesmo se livrar de nós. Sou mesmo um
péssimo, babbo — choramingou novamente.
Eu ri.
— O senhor não é um péssimo babbo, é o melhor do mundo. Só
quero que entenda que já sou adulta e quero um lugar só meu. Contarei a
todos logo. Só estou pedindo um voto de confiança, assim como você deu
aos meus irmãos quando decidiram sair de casa — relembrei, tocando em
suas mãos unidas.
Ele suspirou, resignado e pela forma como me olhava agora, sei que
consegui ganhar essa discussão.
— Tutto bene, amore mio — disse segurando minhas mãos e levando-
as até os lábios, beijando-as com ternura.
— Podemos fazer o almoço de família na sua nova casa. O que acha,
querida? — minha mãe sugeriu.
— Amei a ideia. Podemos cozinhar juntas — disse animada e ela
anuiu, sorrindo abertamente.
— Una settimana depois de sua mudança. Solo una settimana,
Beatrice (Uma semana. Apenas uma semana) — meu pai falou, levantando
um dedo em riste. — È finché il mio vecchio cuore può sopportare tutto
questo mistero. (É o tempo que meu velho coração aguenta todo esse
mistério)
— Grazie!
Sorrindo, fiquei em pé e puxei os dois para um abraço.
Uma semana.
Tenho uma semana para me preparar para o drama que meus irmãos e
babbo farão por causa da sacada compartilhada que a minha cobertura
possui.
Dio aiutami! (Que Deus me ajude!)

Henrique
Alisei meu rosto, apertando os olhos antes de, vagarosamente, abri-
los até que estivessem acostumados com a claridade que adentra pela porta
dupla de vidro da sacada do meu quarto, o frio por conta do ar-
condicionado me faz desejar não levantar da cama e ir trabalhar.
Não seria uma má ideia, levando em consideração que desde que
Matteo deixou a empresa que fundámos juntos, a Prado Advocacia, para
assumir a diretoria jurídica do La Fontana Restaurante, não tirei férias.
Lembrava de como foi difícil para nós dois no início. Matteo
precisava mostrar que era mais do que o seu sobrenome — por isso,
recusava todas as vezes que seu pai oferecia ajuda além do que julgasse ser
necessário e fez questão de colocar apenas o meu sobrenome no escritório
— enquanto eu precisava enfrentar o fato das pessoas acharem que estava
usando-o como trampolim para atingir o sucesso.
No primeiro, ano quebramos muito a cara, mas persistimos e
aprendemos com os nossos erros, e quando pensávamos em desistir, uma
causa grande chegou da forma mais inusitada possível e a ganhamos. Logo,
o caso repercutiu na mídia e nós dois passamos a ficar conhecidos como o
terror dos patrões abusivos.
Eu amava estar no tribunal e ver filhos da puta se foderem como
merecem. Caralho, era uma das melhores sensações que já experimentei na
vida.
Estiquei meu corpo e o senti tenso, da cabeça aos pés.
— Droga! — exclamei irritado.
Quisera eu poder dizer que o cansaço que me tomava, tanto corpo
quanto mente, era apenas por conta das horas analisando processos,
audiências que pareciam não ter fim, clientes ignorantes que achavam que
podiam nos subornar ou o caso dos Vilhenas, que seria um dos mais
complicados da minha carreira em muito tempo. Contudo, eu sabia que eles
não eram os causadores para a tensão que eu vinha sentindo. Eram anos de
experiência e eu sabia lidar muito bem com o trabalho e todo o caos que ele
desencadeia.
Não era o trabalho ou a minha falta de férias em anos. Eu sabia.
Era ela, aquela diaba italiana.
Nos últimos dias, não consegui pregar os olhos por causa de
Beatrice e a porra das joias que disse ter em seus mamilos. Sempre que os
fechava, a imagem dela completamente nua na minha frente, seus seios
cheios e naturais à mostra, se formava e eu perdia a porra do sono e da paz
que já era escassa desde que ela retornou ao Brasil.
Passei o final de semana imerso em culpa pelo acontecido — e o
que estava prestes a acontecer — naquele banheiro, me odiando a cada
segundo por desejar chupar seus seios, sentir a textura dos piercings com a
minha língua enquanto subia seu vestido para meter forte em sua boceta.
Eram esses os pensamentos que rondavam a minha mente naquele
momento, meu juízo indo para a puta que pariu junto ao juramento que fiz,
se não fosse pelo Matteo aparecendo.
Porra, eu teria mesmo fodido a irmã dele no banheiro da casa dos
seus pais, durante o casamento de Dante com todos no andar de baixo?
Caralho, eu teria. Com certeza eu teria e me arrependeria
amargamente por trair a confiança deles. Eu odiava traições e nunca traí
ninguém porque conhecia na pele o que as consequências poderiam fazer
com a vida de alguém.
Fiquei com tanto tesão, que no sábado, assim que fui embora da
casa dos Fontana, liguei para Lisa, uma das poucas mulheres que fodi e
ainda mantinha contato, para uma trepada. Depois do fim do único
relacionamento que tive na vida, passei a ser ainda mais sincero do que
costumava ser com as mulheres com quem me relacionava, seja para sexo
ou algo mais. As pouquíssimas vezes que me permiti conhecer alguém além
da cama, não fluiu muito bem, simplesmente não rolou.
Lisa era do tipo que sabia dividir as coisas muito bem, por isso
nossa relação funcionava. Sem cobranças, apenas… sexo. Nos
relacionamos sexualmente com outras pessoas e houveram algumas poucas
vezes em que chegamos a participar de alguns ménages. Ela gostava de ser
dividida e eu não me opunha a isso de qualquer forma.
Não éramos amigos, porém nos dávamos bem na cama e a
sinceridade sempre foi o ponto chave para isso. Lisa amava sexo, eu amava
sexo. Tínhamos tesão um pelo outro, apenas e tão simples como realmente
era. E a julgar pela forma como ela sorriu para mim depois que a deixei em
sua casa no domingo à noite, adorou nosso tempo juntos, embora para mim,
as seis vezes não foram capazes de saciar toda a minha fome, fome essa que
parecia querer apenas a única mulher que era proibida para mim.
Proibida.
Beatrice Fontana e seus seios grandes com piercings são proibidos
para mim.
Porra, como eu adoraria prender meus dentes em seus mamilos, a
fazendo gritar meu nome!
Inferno!
Respirei fundo, passando a mão no rosto, antes de abaixar o olhar,
vendo meu pau duro, não somente pela famosa ereção matinal. Apenas
pensar nela me deixava assim e eu odiava o meu corpo por responder a um
simples pensamento quando a envolvia. Era simplesmente… ridículo!
Tenho vinte e oito anos e não deveria ser tão difícil controlar meus
desejos, principalmente quando eles são proibidos acerca da irmã caçula
dos meus melhores amigos.
Bufei irritado, batendo os braços no colchão, um em cada lado do
meu corpo e ignorei minha ereção, focando nas minhas muitas
responsabilidades do dia. Talvez mais tarde eu ligue para Lisa ou outra
mulher, a fim de me aliviar de toda essa tensão.
Então, livrei-me das cobertas, saí da cama e caminhei até o banheiro.
Entrei no box e liguei o chuveiro, deixando a água cair sobre minha cabeça,
despertando-me por completo.
Um detalhe sobre mim: eu detestava dormir com roupas. Preferia
dormir sem nada, como vim ao mundo, completamente nu.
Assim que terminei, fui até o closet e abri a gaveta do armário onde
minhas cuecas estão organizadas. Vesti uma azul marinho e optei por um
terno da mesma cor, sem gravata. Ironicamente, odeio essa merda e só uso
quando tenho audiência, e como todos os meus compromissos da semana
serão no escritório não tenho que me preocupar com isso.
Devidamente vestido, peguei meu celular na mesinha ao lado da cama
e rumei para fora do quarto.
Meu apartamento era grande e perto do trabalho. Havia apenas dois
por andar. Morava no último. Ele possuía uma cozinha com ilha em
mármore preto, uma sala de jantar, banheiro social, uma academia bem
equipada, pois assim como já que eu era viciado em trabalho, também sou
na prática de exercícios, principalmente os que me levavam ao limite, como
box, por exemplo, tem um escritório — o cômodo onde passava mais tempo
quando estava em casa —, dois quartos, sendo um a minha suíte.
Ah! E não poderia esquecer da belíssima varanda que dividia com o
apartamento vizinho. Quando a comprei, já possuía uma espécie de portão
baixo que se abre através de um código. Nela, há uma área gourmet
pequena, jardim vertical e uma piscina que nunca usei desde que me mudei.
Nunca tive problemas com os antigos vizinhos por causa da área
compartilhada, ao que se refere a minha privacidade, por isso, ela nunca foi
um problema para mim.
Adentrei na cozinha, e como em todas as manhãs, comecei a preparar
uma vitamina.
Minha despensa não era muito abastecida, na verdade possuía apenas
o que eu julgava ser necessário, já que eu era um fiasco quando o assunto
era cozinhar. No dia a dia sempre comia no trabalho, e quando estava em
casa pedia comida de alguns restaurantes, inclusive do La Fontana.
Não tinha uma governanta como os meus amigos, contudo, contratei
uma empresa que enviava, uma vez por semana, alguém para realizar a
limpeza do lugar, além de lavar e organizar minhas roupas.
Em minha despensa, tinha apenas café, leite, água e frutas... muitas
frutas, haja vista que elas não precisavam ser cozidas para comer. Fora
algumas bebidas, como vinho, vodka e uísque, ainda que eu não me
lembrasse da última vez em que mexi nelas. Não possuía o hábito de
apreciar bebidas alcoólicas, quando o fazia sempre estava na companhia de
um amigo.
Nunca fui forte para o álcool, menos ainda quando se tratava de
uísque. Até hoje não conseguia entender como Ana Laura conseguia beber
essa merda sem entrar em coma alcoólico.
A última vez que tomei um porre com duas doses da bebida de cor
âmbar, foi na casa dos Fontana, quando eles me surpreenderam com uma
festa de aniversário, onde acabei ficando com uma puta ressaca no dia
seguinte.
Assim que terminei meu “café da manhã”, deixei as louças que sujei
na máquina de lavar louças, antes de pegar minha pasta sobre a mesa ao
lado do sofá e as chaves do meu carro, uma Classe X branca.
Sempre gostei de carros grandes, principalmente picapes. Quando
minha vida financeira começou a mudar, foi a primeira coisa que comprei.
Quandi que cheguei na garagem do prédio, fui até o meu veículo,
apertando o alarme antes de entrar.
Estava colocando o cinto quando meu celular apitou, sinalizando uma
nova mensagem. O tirei do bolso e respirei fundo quando vi o nome de
Verônica, minha ex-namorada, na tela.
Nos conhecemos na faculdade, éramos da mesma turma de direito e
logo no primeiro ano, engatamos em um namoro que durou toda a nossa
graduação.
O relacionamento chegou ao fim porque ela dormiu com seu chefe de
estágio na época, por puro interesse, o cara era podre de rico, porém depois
de alguns meses, logo a trocou por outra estudante.
Verônica sempre foi ambiciosa, o que eu achava ser uma qualidade.
Ela sonhava grande e eu a admirava por isso, mas depois do que fez comigo
não pensei duas vezes em dar um ponto-final no que tínhamos.
Abri a mensagem e senti meu corpo ficar tenso ao lê-la.
Verônica: “Preciso da sua ajuda, Henrique. Por favor.”
Respirei fundo, me sentindo cansado dessa merda toda, porém não
conseguia simplesmente ignorá-la. Por isso, rolei o dedo na tela do
aparelho, procurando o contato de Simone. Assim que encontrei, mandei
um áudio avisando que iria me atrasar.
Rumei para encontrar com minha ex, torcendo para que dessa vez, as
coisas não estivessem tão ruins quanto as da última.

Péssimas.
As coisas com Verônica estavam péssimas!
Por esse motivo, acabei demorando mais do que planejei.
Fiz a curva para entrar na garagem do prédio da empresa, o
empreendimento luxuoso, com paredes de vidro espelhadas, cinco andares,
todos muito bem decorados em tons neutros e sofisticados, e claro, com um
restaurante La Fontana no primeiro andar, para atender a todos os
funcionários, surgindo em meu campo de visão.
Estacionei, apertei o alarme e caminhei até o elevador privado que
dá acesso apenas ao último, onde há três salas, uma para as reuniões, a
minha e a de Rafael Rodrigues, meu braço direito no escritório desde que
Matteo parou de advogar nas causas da nossa empresa.
Rafael foi um dos muitos advogados que contratamos depois que
passamos a ganhar visibilidade na mídia com nosso primeiro caso
importante. Ele sempre se destacou dos demais, por ser responsável e
competente em níveis que beiravam o extraordinário, chamando assim
nossa atenção. Em todos esses anos ele nunca perdeu uma causa e assumiu
o lugar do meu amigo com muita maestria. O cara era foda pra caralho e
sabia disso.
A advocacia parecia ser a sua maior paixão. Eu era viciado em
trabalho, não nego, mas desconfiava que Rafael era a porra de um
workaholic.
Ele era mais alto e mais sério do que eu, e quem o via pela primeira
vez, poderia jurar que era um robô. Muitos estagiários tinham medo dele
por sua postura inflexível. Rafael sempre foi discreto e só sei que é
divorciado e pai de uma adolescente de quinze anos, porque todos os
funcionários são submetidos a uma verificação de histórico rigorosa.
Prezamos pela boa imagem e não arriscariamos manchá-la ao colocar
alguém que nossa equipe de investigação e do RH não aprove. Tudo é feito
com discrição até a contratação, e se mantinha assim, ainda que ela não
fosse efetivada.
Não havia uma amizade entre nós a ponto de compartilharmos nossas
vidas pessoais, além das poucas vezes que saímos para ir ao bar comemorar
alguma causa, todavia, a confiança é inegociável para o tipo de relação que
temos.
Assim que a porta do elevador abriu, Simone veio ao meu encontro.
— Bom dia, doutor! — disse, apertando o passo atrás de mim,
conforme dou passadas largas até minha sala.
— Bom dia! — falei simplesmente, abrindo a porta da minha sala e
jogando minha pasta em cima da mesa. — Preciso do relatório do caso
Vilhena e uma xícara de café preto, sem açúcar, por favor — pedi enquanto
tirava meu paletó, deixando-o no encosto da cadeira antes de me sentar,
ligando meu computador logo em seguida.
O barulho de saltos batendo contra o piso de porcelanato me fez
afastar os olhos do monitor e focar nos sapatos da minha assistente. Subi
meu olhar até seu rosto bem cuidado para sua idade e encontro um sorriso
esticando seus lábios cheios, o cabelo cacheado escuro com alguns fios
grisalhos está como de costume, preso em um rabo de cavalo.
Simone me encarava cheia de expectativa, as mãos relaxadas na
lateral de seu corpo. Ela é uma senhora baixinha, não tanto quanto Ana,
mas ainda assim baixinha. Magra, pele negra e olhos castanhos, tão
redondos e expressivos, que às vezes sinto-me vigiado, como se estivesse
em um reality show.
— Algum problema? — perguntei alçando uma sobrancelha e
cruzando os dedos, me inclinando para frente e apoiando os cotovelos sobre
a mesa grande de madeira clara que toma grande parte do espaço.
Minha sala foi toda redecorada depois que Simone insistiu — tendo
como aliado meu amigo Matteo — que a energia não estava fluindo bem
devido a posição dos móveis e os tons escuros.
A mesa, que antes era de mogno e ficava de frente para a enorme
parede de vidro, agora estava na parede de frente para a entrada. Os móveis
pretos foram trocados por móveis com tom de madeira claro, algumas
plantas posicionadas estrategicamente para dar ainda mais leveza à
decoração, segundo minha secretária. Além de algumas velas e incensos
com cheiros estranhos estarem espalhadas pelas estantes, os mesmos que eu
nunca mais acendi desde a primeira e única vez que o fiz assim que a
"redecoração" terminou, depois de falar uma enxurrada de palavrões por
conta do aroma fedorento que tinham.
Como chefe, poderia simplesmente me impor, dizer que não
acreditava nessas bobagens e estava pouco me fodendo para a porra do
fitjui ou para os seus mantras esquisitos que sempre recita. Todavia, desde o
seu primeiro mês de trabalho, não consigo tratá-la como costumo tratar a
maioria dos funcionários da empresa. O cuidado que sempre teve comigo
desde o nosso primeiro contato, me lembrava a forma como dona Beatriz
me tratava, era um cuidado genuíno, verdadeiro. Sem contar que tinha idade
para ser minha mãe. Posso ser estressado, mas sei respeitar pessoas mais
velhas, principalmente as que são gentis e boas para mim.
— São quase onze da manhã e o senhor tem consumido muita
cafeína. Sugiro beber um pouco de chá — claro que sugeriu, ela sempre
sugere alguns de seus chás quando peço café, alegando sempre ter um bom
para quase todas as situações da vida. — Com algumas bolachas, já que o
horário do almoço está perto — sua voz soou calma, cheia de preocupação.
— Ainda prefiro o café. Me mantém ligado e atento a tudo que o
preciso fazer. A senhora sabe disso.
— Sim, eu sei que prefere… café — torce o nariz como sempre faz
quando fala o nome da bebida, como se fosse veneno. — Mas — Ela se
aproximou da mesa, apoiando suas mãos na madeira — muita cafeína pode
deixar os chakras ainda mais desalinhados. Os seus não estão nada bons
hoje. — Seus olhos se apertaram na minha direção e sua mão direita
balançou no ar, como se estivesse verificando algo, provavelmente os meus
chakras.
Jesus.
Usei tudo de mim para não revirar os olhos ou rir pela expressão
engraçada que ela fez enquanto me analisava.
— Meus chakras ainda estão desalinhados? — questionei cruzando os
braços.
— Estão! Chá de camomila vai ajudar. Chá de camomila sempre
ajuda. Sempre ajuda — recitou.
A encarei por dez segundos, seus grandes olhos cheios de expectativa,
sua feição doce e as mãos unidas, na altura do seu peito, me convencendo
desta vez.
Soltei um suspiro e acenei com a cabeça.
— Tudo bem. Aceito o chá e as… bolachas.
A mulher à minha frente sorriu abertamente e acabei sorrindo junto,
vendo-a dar um pulinho animada, me sentindo relaxado pela primeira vez
no dia.
— O relatório do caso Vilhena — começou a falar depois de dois
segundos, ajeitando sua postura — está na segunda gaveta — Apontou para
o lado direita da mesa. — Presumi que o senhor pediria por causa da sua
viagem na quinta-feira. E — Levantou um dedo — seu voo será às 04:00 da
manhã. Imprimi sua passagem e a deixei na primeira gaveta. Sua
hospedagem, como havia me pedido, foi feita no La Fontana Hotel.
Eu disse, eficiente.
A mulher podia ser uma hippie, seguidora do Buda ou sei lá de quem,
porém era eficiente a ponto de sempre estar um passo à frente.
— Obrigado! — agradeci.
— Vou preparar o chá com as bolachas. Seu almoço chegará às 12:30,
como de costume, senhor — comunicou, indo em direção à porta.
Anui.
Assim que Simone saiu, tratei de ligar para o ramal de Rafael,
solicitando sua presença em minha sala. Em cinco minutos, ele já estava
abrindo a porta, depois que respondi "entre" para as suas batidas.
— Me diz que você conseguiu o endereço da ex-governanta do
babaca dos Vilhena? — perguntei, levantando o rosto para vê-lo sentar em
uma das cadeiras que tem em frente à mesa.
— Enviei para o seu e-mail antes de vir até aqui, já prevendo que me
pediria — respondeu em tom confiante.
— Suponho que já tenha estudado um pouco do caso?
— Supôs certo. Durante o final de semana, pude encontrar algumas
brechas no contrato que eles usam com os funcionários da empresa, que
acredito que poderão ser úteis — Eu não disse? A porra de um workaholic.
Enquanto eu estava fodendo para esquecer uma boceta que eu não posso ter,
Rafael estava com o nariz enfiado no trabalho.
Abri a segunda gaveta da minha mesa, tirando de lá a pasta que
Simone havia deixado ali e a jogo em cima da mesa. Puxo da minha pasta
os óculos de grau que uso apenas quando estou trabalhando, antes de falar:
— Mostre-me o que encontrou.
CAPÍTULO 09
Beatrice
Não acredito que enfim o dia da mudança chegou!
No início da semana, logo após falar com meus pais acerca do
assunto, a empresa que contratei para fazer a minha mudança até o meu
novo lar, não levou nem três dias para deixar tudo pronto para mim. A única
coisa que deixei para levar comigo, foram as minhas lingeries. Tenho um
certo apreço por elas e só após guardá-las em uma mala de tamanho grande
que percebi o quanto sou viciada em comprá-las.
Depois de tomar um bom banho, escolhi um look básico e
confortável. Calça jeans escura, uma blusa cinza de alcinhas, tênis
branco e uma jaqueta de couro preta.
Quando fiquei pronta, desci as escadas puxando a mala com um
pouco de dificuldade pelo peso e tamanho, e deixei-a em meu carro antes de
ir até a cozinha para tomar café com meus pais.
Babbo estava de cara fechada como passou todos esses dias cada vez
que eu adentrava no lugar. Beijei o topo de sua cabeça para logo em seguida
fazer o mesmo com mamma, ignorando seus resmungos e engatando em
uma conversa divertida com minha mãe. O senhor Vincenzo logo suspirou
audivelmente e se juntou a nós.
Assim que terminei, despedi-me de ambos, dizendo que os amava e
em breve nos encontraremos na minha nova casa.
Em menos de quarenta minutos, o edifício com mais de quinze
andares com o nome Saint Cross Building em letras grandes e douradas,
surgiu em meu campo de visão. Logo estava adentrando na garagem
subterrânea, depois de me identificar para o porteiro na guarita da entrada,
estacionando momentos depois em minha vaga. Minha vaga, minha vaga!
Saí do carro e avistei o Sr. Caetano caminhando em minha direção,
sorrindo de forma simpática. Ele é o síndico do prédio e nas poucas vezes
que nos vimos durante a obra, sempre se mostrou muito educado e
prestativo.
Caetano era um homem que, pela sua bela aparência, não devia ter
mais do que quarenta e cinco anos. Seus cabelos eram grisalhos, assim
como sua barba cheia. Pelos ombros largos, podia dizer que gostava de se
exercitar. Seus olhos eram de um preto intenso e seu rosto, apesar de ter
algumas rugas, me fez imaginar que fez e ainda faz muito sucesso. Ele se
encaixava bem no perfil suggar daddy.
— Quer ajuda, senhorita Beatrice? — ofereceu quando já estava
perto.
— Se não for te incomodar, eu aceito — respondi, abrindo o porta-
malas, sorrindo de forma gentil.
— Não incomoda. — Pegou minha mala sem qualquer esforço, indo
em direção ao elevador.
Apertei o alarme e o segui. Quando entrei na caixa de aço, usei minha
chave de acesso selecionando o último andar e em poucos minutos já
estávamos no corredor onde havia apenas duas portas, a minha que ficava à
esquerda e a do meu vizinho, à direita.
Ainda não o conheci, na verdade, nunca o vi. Nas poucas vezes que
estive no prédio, tudo estava sempre silencioso, o que me fez pensar que ele
ou ela era alguém extremamente ocupado. Só esperava que fosse uma boa
pessoa, sendo mulher ou homem. Não queria ter um daqueles vizinhos
chatos que podiam me denunciar por talvez — apenas, talvez — fazer uma
festa.
Abri a porta e agradeci ao Sr. Caetano pela ajuda.
— Se precisar de algo, só ligar para a portaria.
— Tudo bem. Novamente obrigada — disse, acenando para ele antes
de fechar a porta.
Abri um sorriso, conforme varri meus olhos pelo lugar, admirando
cada centímetro dele.
Minha casa estava simplesmente… linda! Perfectta!
A primeira coisa que chamou atenção ao entrar, foi a enorme cozinha
muito bem equipada do lado esquerdo, no estilo industrial com uma ilha no
meio. Pedi que tirassem o quarto que seria a academia e a aumentassem. A
parede que a dividia da sala também foi retirada, deixando a área toda
aberta.
Todo o apartamento foi decorado no estilo moderno, em tons de preto,
branco e madeira, com tonalidades sutis de vermelho, minha cor favorita. O
lugar era bem iluminado devido à grande porta dupla de vidro que havia na
sala, dando acesso à sacada compartilhada, com piscina, área gourmet e
uma porta que dava acesso à minha suíte. Mais a frente, havia um corredor
com banheiro social, dois quartos de hóspedes e um de cinema.
Olhei o espaço, completamente entorpecida pela felicidade que estava
sentindo e saí de volta para o corredor, fechando a porta atrás de mim.
Peguei meu celular do bolso traseiro da calça jeans para bater uma
foto e enviar para as meninas, em nosso grupo. Estiquei o braço para o alto,
tomando o cuidado para que apareça a placa com o número do meu
apartamento em cima da porta.
Não acredito que finalmente me mudei!
Analisei a imagem por um momento, não conseguindo parar de sorrir,
antes de apertar "enviar".
Kyara foi a primeira a responder, dizendo que estava feliz por mim e
pedindo para que eu tomasse cuidado com o vizinho da varanda. Havíamos
adicionado-a antes de sua partida. Ela riu ao ver o nome do nosso grupo,
Bonde das Taradas.
Logo, as mensagens de Bárbara e Ana encheram a conversa, variando
entre felicitações como "Ansiosa para conhecer sua casa, amiga"; e
advertências como "Não faça nenhuma besteira se o vizinho for solteiro e
bonito", "Nada de pedir açúcar vestida com poucas roupas."
Sorrindo, olhei para a porta de frente à minha por um momento, antes
de entrar em meu apartamento, animada, ansiosa e curiosa para conhecer
meu novo vizinho, ou vizinha. Que seja homem, solteiro e um puta gostoso!

Henrique
Enrolei a toalha ao redor do quadril e saí do banheiro, indo até o
luxuoso quarto de hotel.
Pousei no aeroporto de Curitiba às seis e meia da manhã e desde
então não parei. Já passava das oito e meia da noite, e eu estava começando
a sentir meu corpo doer com as primeiras pontadas de cansaço do dia
exaustivo que tive chegarem.
Em viagens a trabalho em território nacional, preferia voar de
madrugada e chegar ao meu destino pela manhã bem cedo, assim tinha mais
tempo para fazer tudo o que precisava no lugar.
Serão três dias na cidade, apurando fatos e tentando encontrar mais
informações acerca dos babacas dos Vilhenas. Rafael havia conseguido
alguns contatos que me dariam bons materiais para acabar com os
desgraçados no tribunal.
Ainda que eu fosse o chefe no escritório e algumas das minhas
funções fossem administrativas tomando uma parte considerável do meu
tempo, não abria mão das atividades práticas que meu trabalho implica.
Ir atrás de pistas, investigar e procurar detalhes, era algo que me
mantinha são.
Advogar foi uma das minhas paixões que descobri ainda muito novo,
quando passei a morar com minha prima Stella e seus pais, depois de toda a
merda que aconteceu comigo.
Escolher o curso foi a parte mais fácil da loucura que é o vestibular.
Precisei me dedicar e estudar com todos os — poucos — recursos que tinha
e me esforçar ao máximo para conseguir aprovação na Universidade
Pública ao qual havia me candidatado.
Olhando para onde estou agora, cada esforço que fiz valeu a pena,
ainda que tenham aberto feridas durante o processo.
Estou vestindo minha cueca preta, quando ouvi meu celular apitando
na mesa redonda de vidro que há ali em um canto, sinalizando novas
mensagens, trazendo-me de volta à realidade.
Balancei a cabeça, afastando meus devaneios sobre meu passado
fudido e caminhei na direção do toque, deixando a toalha molhada em cima
de uma cadeira próxima.
Me joguei no sofá ao lado, estiquei meu braço para pegar o aparelho e
sorri quando uma foto do casamento de Dante surgiu na tela, enviada por
Matteo com a legenda “Dia em que a “gnomio” colocou uma coleira no
pescoço do meu irmão”.
Os noivos estão sentados, ambos com as mãos sobre a barriga de Ana
Laura, sorrindo um para o outro como se estivessem em um mundo
particular, enquanto meus amigos e eu estamos ao redor do casal de noivos,
expressões de choro e alegria se misturando pela imagem.
Varri meus olhos pelos rostos e um em especial chamou minha
atenção.
Com meu indicador e polegar, toquei na tela e dei zoom, o rosto de
Beatrice sendo ampliado para mim.
Diferente do que estou acostumado a ver, ela não esboça uma
expressão atrevida em seu belo rosto, mas sim uma que eu jamais tinha
visto ou notado antes.
A forma como seus olhos estão direcionados para seu irmão mais
velho e a cunhada, e seus lábios formando um sorriso genuíno, fizeram algo
dentro de mim borbulhar, algo que eu nunca havia sentido antes. A
sensação era forte, a ponto de fazer meu coração se expandir de um jeito
assustador dentro do peito, desejando que… que ela me olhasse com o
mesmo brilho que encarava o casal apaixonado.
Era mais forte que tesão, mais forte do que tudo que já senti na vida,
como uma… necessidade, algo pedindo para ser explorado, compreendido
e… vivido?
Com as mãos trêmulas, travei o celular, jogando-o de lado, como se
fosse brasa.
Que porra foi essa?
Puxei o ar com força, tombando minha cabeça no encosto do sofá e
fechei meus olhos, procurando controlar a respiração.
Durante os últimos dias, precisei me esforçar para manter minha
mente ocupada e protegida da diaba italiana. Usei tudo de mim para não
fantasiar com seu corpo e com a porra dos piercings em seus seios, que
passaram a me assombrar como fantasmas cada vez que eu fechava os
olhos.
Como agora, quando surge a imagem dela caminhando na minha
direção, vestindo nada além de uma calcinha pequena no tom claro de azul,
presa na porra de uma cinta-liga.
A cor da lingerie era um contraste delicioso com sua personalidade e
olhar de felina. A forma como o tecido cobre sua boceta cheia me faz soltar
um gemido abafado, minha língua saindo para dançar por meus lábios,
como se eu estivesse com fome e o monte entre suas pernas fosse uma
refeição completa e suculenta.
Argh! Essa mulher me deixa louco!
Soltei um urro e apertei meu pau, já duro por cima da cueca, pela
recente fantasia que flutua em minha mente, me sentindo tentado a bater
uma por ela, algo que penso mais do que consigo contar e admitir desde que
a conheci. Mas, nunca o fiz, de fato.
Meu celular voltou a tocar e abri os olhos, pegando-o novamente para
ver mensagens de Matteo reclamando pela milésima vez sobre o fato de eu
não ter conta no Instagram.
Não tenho redes sociais, pois odeio essa merda, assim como detesto
grupos de mensagens, pois não tenho paciência para aguentar e acompanhar
as conversas. Eu já ficava irritado com Matteo, que sempre que podia ou
tinha uma ideia maluca — quase todas, vale ressaltar —, perturbava o
caralho do meu juízo com figurinhas e gifs idiotas.
Todavia, conforme tocava as letras na tela do celular, digitando uma
mensagem para meu amigo, uma ideia maluca surgiu e antes que eu
conseguisse raciocinar direito, decidi seguir com ela.
Era uma ideia imprudente e completamente infantil para alguém da
minha idade, algo que nunca fiz nem mesmo quando era um adolescente
cheio de hormônios, com uma curiosidade insaciável típica da idade.
— Você vai mesmo fazer isso, Henrique? — murmurei para mim
mesmo enquanto o aplicativo ridículo de fotos estava sendo instalado. —
Você não deveria fazer isso, caralho! — bradei depois de alguns segundos,
voltando a tocar na tela com um pouco mais de força, à medida que digito
meu e-mail na aba de criar uma conta no Instagram.
Estou mesmo criando um perfil no Instagram para stalkear a irmã
caçula dos meus melhores amigos?
Quando apertei para prosseguir, depois de escolher
"henriqueprado123" como nome de usuário e digitar uma senha mais
ridícula ainda, percebi que não tinha mais volta.
Eu realmente acabei de criar uma conta para stalkear Beatrice
Fontana.
Mas que merda eu estou fazendo?
Encarei a tela pensando que estava ficando… louco, quando uma
notificação aparece, sinalizando que alguém começou a me seguir. Cliquei
no desenho no topo que agora tem um ponto vermelho e não me surpreendi
quando vi que meu primeiro seguidor era o fofoqueiro do meu amigo.
Matteo sempre foi um especialista quando o assunto era descobrir
algo antes de todo mundo, sua curiosidade e o jeito intrometido eram a
combinação que ele julgava ser perfeita para nossa profissão, diferente de
mim, que sempre preferi usar minha curiosidade de advogado para trilhar
caminhos mais discretos.
Sorrindo, olhando para a foto do seu perfil, onde o mesmo está com
um sorriso largo no rosto, fazendo um sinal de positivo com uma mão,
cliquei no botão azul para segui-lo de volta e logo comecei a receber
mensagens suas, provavelmente exclamando sua surpresa ao ver que
finalmente criei uma conta nessa merda.
Ignorei e antes que eu perdesse a pouca coragem que restava, comecei
a procurar, entre os perfis que meu amigo segue, o nome de sua irmã. Irmã
dele, por Deus, Henrique, ir.mã de.le!
Fiz menção de jogar o celular para longe e desistir de uma vez dessa
ideia absurda, mas quando sua foto apareceu pra mim a curiosidade venceu.
A diaba explodiu na tela assim que entrei em seu perfil e não me
surpreendi em nada ao ver o sinal de verificado assim como do seu irmão,
nem os mais de três milhões de seguidores que ela tem.
Cinco milhões!
Cinco milhões de pessoas viam o que eu estava vendo agora.
Imediatamente, como um sem noção, começo a rolar página abaixo, meus
olhos varrendo cada foto, nervosismo tomando cada célula do meu corpo
como se alguém fosse me pegar no flagra neste exato momento.
Ao contrário da sua personalidade, seu perfil era... discreto, sem fotos
extravagantes ou sensuais. A maioria eram de pratos requintados, que
julguei terem sido feitos por ela, além de algumas com sua família. E isso
estranhamente me deixou aliviado.
Estava chegando ao final da página quando uma foto em especial
chamou minha atenção, uma das poucas em que ela estava sozinha.
Nela, Beatrice aparece em frente à mansão que reconheci se tratar da
que seus pais possuem no litoral, na qual já estive algumas vezes a convite
deles. A italiana está usando um vestido verde de verão, solto com alcinhas
finas, que deixam suas íris de cor esmeralda ainda mais brilhantes. Suas
mãos estão tentando domar os cabelos que são bagunçados pelo vento, um
sorriso natural e espontâneo desenha seus lábios no exato momento em que
a imagem foi tirada.
Imediatamente a sensação que senti minutos atrás voltou a me tomar,
dessa vez ainda mais forte, trazendo junto a ela, a imagem da casa que
comprei há mais de quatro anos.
Foi algo feito por impulso depois de uma longa audiência onde meu
cliente e eu saímos ganhando.
Após seis horas dentro de um tribunal, o mesmo ficou tão feliz e
agradecido pela ajuda — ainda que ele tenha pagado por ela — que me
convidou para jantar em sua casa. Aceitei e entre a sobremesa e o pequeno
tour pelo lugar, comentou comigo que estava colocando o imóvel à venda.
Não consegui conter o meu interesse assim que ouvi a informação e uma
semana depois me encontrava assinando um cheque para a compra.
Franzi o cenho tentando encontrar qual a lógica para tal linha de
raciocínio, a sensação ficando ainda mais forte conforme encarava a foto de
Beatrice. Meu coração acelerou, minhas mãos suaram e me peguei sorrindo
para a tela, como se ela estivesse aqui.
Uma batida na porta soou me trazendo de volta à realidade, onde
estou em um quarto de hotel, sozinho e atolado de documentos para
analisar. Sobressaltei pelo susto, deixando o celular cair ao meu lado.
Dei mais uma olhada na imagem e acabei perdendo um pouco mais
do juízo ao bater print da tela, bloqueando-o logo em seguida.
Pondo-me de pé, peguei uma calça de moletom preta que havia dentro
da minha mala aberta sobre a cama e a vesti.
— Estou indo! — gritei em resposta a mais uma batida que ecoou e
rumei para atender o serviço de quarto que solicitei mais cedo no ramal do
restaurante do hotel, com meu jantar.
Pelo restante da noite foquei no trabalho, lutando contra qualquer
pensamento que envolvesse a mulher que é a minha maior tentação.
Beatrice, a diaba italiana.
CAPÍTULO 10
Beatrice
— Acho melhor você ir com calma, gravidinha — Bárbara falou,
encarando Ana Laura com os olhos arregalados, enquanto nossa "gnomio"
devorava um hambúrguer.
Era domingo e estávamos em uma lanchonete famosa da cidade.
Escolhi o lugar para o nosso almoço de "dia do lixo", não apenas por ser
perto da cobertura onde Dante morava, sendo assim mais confortável para
Ana Laura, mas porque ela insistiu que estava desejando comer hambúrguer
com batata frita conosco, enquanto Matteo, Miguel e Dante tinham um
tempo só dos homens, traduzindo "mais um momento de Matteo tentando
fazê-los gostarem de novela mexicana".
Quando passei no apartamento para buscá-la, uma pontada de
desapontamento me atingiu ao ser informada que Henrique havia viajado a
trabalho. Eu não o via desde o nosso momento no banheiro na casa dos
meus pais e estava ansiosa para provocá-lo desde então, com ele agora
sabendo sobre as minhas joias nos seios.
Minha cunhada suspirou audivelmente e falou, ainda de boca cheia:
— Minha fome só aumenta. Está cada vez mais difícil não querer devorar
tudo o que vejo pela frente.
— Pelo menos você não tem desejos estranhos. Minha mamma me
contou que quando estava grávida de Matteo, queria comer tijolo com
molho de tomate.
— Está explicado porque seu irmão tem alguns, muitos, parafusos
soltos — Bárbara concluiu me fazendo rir.
— Pensei que não teria desejos estranhos assim, mas — começou
depois de engolir, sua voz ficando mais baixa como se fosse nos contar um
segredo — hoje pela manhã, o controle da televisão pareceu estranho e
assustadoramente suculento, depois que deixei um pouco de chantilly cair
nele, enquanto comia minha torta de morango que meu amado e lindo
marido/chefe me trouxe da minha cafeteria favorita para o café da manhã
— sorri olhando para um ponto distante à sua frente, passando a língua nos
lábios, como se estivesse sentindo o gosto da sobremesa. — Ela estava tão
gostosa. A massa, o recheio e a cobertura, aaah… tudo estava perfeito.
— Você lambeu, não foi? Lambeu o controle porque ficou com
vontade de comê-lo — nossa amiga questionou alçando uma sobrancelha
para ela.
— Bem... — Se mexeu na cadeira — foi mais forte do que eu —
Faz beicinho.
Ri.
— Não acredito que fez isso, ragazza!
— Eu não cheguei a fazer, porque antes que eu conseguisse usar
minha língua para provar o gosto do controle com a cobertura, Dante entrou
no quarto — Seus ombros caíram. — Me senti como uma criminosa que
acabou de ser pega cometendo um crime e quando ele entendeu o que eu
estava prestes a fazer riu, não — Levantou um dedo em riste, segurando
com uma só mão o que restava do hambúrguer —, ele gargalhou de mim, a
mãe das filhas dele. Vocês acreditam? — perguntou incrédula.
— Acreditamos — Bárbara e eu respondemos rápido e ao mesmo
tempo tentando prender o riso. Trocamos olhares por alguns segundos antes
de voltar a atenção para nossa amiga, que parecia visivelmente irritada,
apertando os olhos na nossa direção.
— Os desejos de uma grávida não são mais respeitados como antes
— resmungou com uma careta engraçada, balançando a cabeça de um lado
para o outro, antes de voltar a devorar o sanduíche em suas mãos,
segurando com tamanha força, que seus dedos estavam começando a ficar
sujos de molho.
— E como você e mio fratello estão nessa nova fase? — questionei
depois de um tempo em silêncio, enquanto comíamos nossos respectivos
lanches, pegando uma das poucas batatas fritas que havia no recipiente à
minha frente em cima da mesa, que ainda não tinha sido devorada pela
“gnomio” barriguda.
— Estamos ótimos — disse e fez uma pausa para tomar um pouco
de água, limpando suas mãos com guardanapos antes de continuar. —
Adoraríamos ter seguido o cronograma inicial. Casamento e lua de mel em
Nova York com direito a show da minha Queen B. Mas meus morangos
chegaram e mudaram tudo. — Alisava a barriga com carinho por cima do
vestido florido, soltando um suspiro. — Não vejo a hora de poder ver os
rostinhos das minhas meninas.
— Também estou animada! — Bárbara exclamou sorrindo e
batendo palmas. — Vou ser a tia que apresenta o mundo do bookhot para as
gêmeas. Vai demorar até elas completarem dezoito anos, eu sei, mas… vou
aproveitar o tempo para fazer uma lista com os melhores livros. Apenas os
meus favoritos!
— Dante vai amar saber disso, assim como os outros ciumentos da
família — zombei e acabamos rindo.
— Mas nos diga, como foi sua primeira noite na casa nova? — Ana
quis saber.
Pelos próximos minutos, contei a elas como foram as minhas
primeiras vinte e quatro horas morando sozinha e em um espaço só meu, e o
quanto estava ansiosa para o almoço em família acontecerá em meu
apartamento na semana que vem, rindo das piadas que ambas fazem acerca
dos chiliques que meus irmãos com certeza farão, principalmente pela
sacada compartilhada.
Quando a “gnomio” barriguda se deu por satisfeita depois de mais
uma porção de batata frita e uma taça de sorvete de morango, pagamos a
conta e tiramos uma selfie, enviando para Kyara com a legenda "só faltou
você, princesa", antes de deixarmos o estabelecimento.
— Qual a programação de vocês para o restante do domingo? —
Ana perguntou assim que nos aproximamos da área destinada ao
estacionamento.
— Passarei com meus inúmeros maridos literários — Bárbara disse,
soltando um longo e… apaixonado suspiro.
— Claro que vai — a grávida debochou alisando a barriga, fazendo
nossa amiga revirar os olhos. — E você, Bea?
— Jakov me mandou uma mensagem mais cedo, então… — deixei
as palavras morrerem no ar de forma sugestiva.
— Orgasmos e mais… orgasmos. Entendi — concluiu e eu sorrio de
forma maliciosa, me sentindo ansiosamente excitada para ver meu “pau
amigo”.
— Você… foi… perfeita! — Jakov falou ofegante, caindo no
colchão ao meu lado.
Fazia mais de duas horas que cheguei em seu quarto de hotel e
assim que a porta do elevador se abriu e seus lábios colaram nos meus com
fome, não paramos de transar.
Fechei os olhos por alguns segundos, um sorriso de pura satisfação
desmanchando em meus lábios pelos muitos orgasmos que tive.
Cazzo, como eu amo fazer sexo!
— Eu sei —falei sem fôlego, virando o rosto para olhá-lo.
— Amo como você… não é nada modesta — disse, ainda olhando
para o teto.
— Eu sou confiante e sei que sou boa de cama.
Jakov era realmente de tirar o fôlego, sua pele bronzeada com
algumas tatuagens espalhadas pelo seu peito, braço esquerdo, quadril e
pernas, junto ao sorriso cafajeste, formavam a imagem de homem
perigosamente sexy. O típico badboy loiro que fode como um mafioso
daqueles filmes da Netflix que costumam fazer sucesso com as leitoras de
romances como minha amiga, Bárbara.
Concentrei meu olhar em seu quadril, focando em seu membro semi
ereto ainda coberto pela camisinha cheia de sêmem.
— Se continuar o encarando — virou o rosto para me olhar —, não
vamos conseguir sair dessa cama, Beatrice.
Como em todas as vezes que falou meu nome carregado de sotaque,
um arrepio estranho passou por meu corpo, o tipo de arrepio que sentimos
quando estamos com medo, o que nunca fez sentido algum, tendo em vista
que ele sempre me tratou com respeito e não existe motivos para que me
faça mal.
Costumava associar isso ao fato de Jakov não ser um homem
carinhoso na cama, o que me agrada, confesso. Gosto de sexo duro, sujo,
com direito a tapas, puxões de cabelo, palavras safadas e xingamentos,
mas… sempre tive a sensação de que ele se controla quando está comigo,
como se estivesse tentando conter uma fera que mantém enjaulada dentro
de si.
Sempre fui boa em ler as pessoas, porém sentia que Jakov não era o
tipo que fosse possível decifrar em apenas uma edição de um livro, havia
inúmeras camadas profundas por trás de todo o charme e sorriso safado. E
eu nunca me interessei em folhear e ler suas páginas, gostava da relação
descomplicada que temos e da forma como nos entendíamos na cama.
Muito sexo, algumas conversas e refeições. Nada além disso.
Balancei a cabeça, afastando esses pensamentos.
— O convite é tentador, mas preciso recusar.
— Porque não fica mais um pouco? Ainda está cedo.
— Preciso ir.
— Nunca mais passamos um tempo juntos — reclamou, me fazendo
soltar uma risada. Ele nunca foi dramático e sempre é engraçado a forma
como ele tenta ser, como se quisesse algo a mais. Porém sei que não quer.
— Acabamos de passar um tempo juntos, querido. Um tempo muito
prazeroso, vale ressaltar — Passei meus dedos em seu peito, raspando
minhas unhas levemente contra sua pele.
— Você não está facilitando, ragazza — Se aproximou e abocanhou
meu mamilo esquerdo, prendendo o piercing em seus dentes, antes de
chupá-lo com força, me arrancando um gemido baixo.
— Scusi, caro mio — disse, afastando-o sutilmente. — Mas preciso
realmente ir.
Ele bufou, alisando os cabelos e deixando os fios loiros ainda mais
bagunçados do que antes.
— Você entendeu. Podíamos sair para jantar e depois você me
apresenta sua casa nova — propôs.
Sorri educadamente, depositando um beijo em seus lábios, agora
inchados pelos meus muitos beijos, chupões e mordidas.
— Teremos outras oportunidades, afinal seu tempo aqui no Brasil
está longe de acabar. Certo? — Ele anuiu, um brilho diferente passou em
suas íris. — E já tenho um jantar marcado. — Levantei-me da cama
pegando minha calça jeans e a blusa vermelha do chão, vestindo-as com
calma, sentindo seu olhar sobre mim.
Assim que terminei, mapeei o espaço à minha volta, procurando
minha bolsa. Encontrei-a em cima de uma das poltronas que há ali.
— Tem?
Caminhei até ela, sem olhar para Jakov quando respondi.
— Si. Com uma pessoa incrível, vale ressaltar.
— Que seria…?
Só então, virei-me para vê-lo com as costas apoiados na cabeceira
da cama, o lençol cobrindo parte do seu quadril. Ele cruzou os braços atrás
da cabeça enquanto me encarava de um jeito safado, seus olhos claros ainda
mais brilhantes pelo desejo.
Prendi o lábio inferior entre os dentes, colocando a alça da bolsa no
ombro direito.
— Eu — respondi simplesmente, dando de ombros. — Hoje tenho
um jantar comigo mesma e não troco esse tempo por nada, nem ninguém —
pontuei.
— Nem mesmo por ele? — Sinalizou com o queixo para o meio das
suas pernas, jogando de lado o lençol que cobria seu membro, meus olhos
seguindo seu movimento, vendo seu pau completamente duro, pronto.
Sorri, antes de lançar um beijo ao responder.
— Nem mesmo por ele, caro mio.
CAPÍTULO 11
Beatrice
O cheiro de massa recém-assada preencheu o ambiente assim que
retirei a assadeira do forno, colocando-a sobre o fogão.
Cheguei em casa um tempo depois das horas de sexo com Jakov e
após um banho relaxante de banheira, tratei de cozinhar algo.
Tirei a luva, fechei os olhos e inclinei o tronco para frente,
movimentando uma mão no ar e fazendo o aroma adentrar em minhas
narinas de forma mais intensa.
— Hum, semplicemente perfetto! — exclamei com orgulho, abrindo
um dos armários da cozinha para pegar um recipiente pequeno, despejando
ali um pouco de azeite.
Como uma chefe de cozinha italiana, eu amava trabalhar com
massas, principalmente de pães. São as minhas favoritas. A que fiz hoje
apenas para o meu deleite, é uma de pão caseiro de minha autoria.
Sempre amei a gastronomia. Minhas brincadeiras favoritas de
quando era criança, costumavam ser as que envolviam comidas ou o que eu
julgava serem comestíveis na época.
O pensamento me fez suspirar ao relembrar com certa nostalgia e
muita saudade das incontáveis vezes em que Carlos aceitou brincar comigo,
ainda que ele negasse experimentar o cardápio muito requintado que eu
criava com as pedras e plantas do quintal da casa dos meus pais.
Carlos Ferreira foi um dos seres humanos mais incríveis que eu
conheci. Tinha uma luz própria que era capaz de consumir qualquer escuro
que alguém tivesse dentro de si. Uma pessoa leve e pura de alma, sorriso
fácil e palavras ainda mais.
Ele fazia falta, Dio mio, como fazia. Carlinhos era aquele tipo de
pessoa que se você tivesse a sorte de encontrar em seu caminho, te
modificava para sempre.
Ainda me lembrava da vez em que compartilhei com ele que estava
gostando de um menino da escola. Na época, eu tinha dez anos, Dante e
Matteo fizeram uma cena ao descobrirem que compartilhei algo tão íntimo
com seu amigo e não com um dos dois, meus irmãos. A forma como Carlos
me abraçou e me aconselhou, ainda que eu não tenha compreendido muito
bem o significado delas na ocasião, me fez sentir mais tranquila. Elas nunca
deixaram de estar em minha mente. Nunca.
"Se alguém faz seu coração acelerar e seu corpo ficar quente de
ciúmes, então você está se apaixonando. Se você não sentir nada disso,
pode ficar tranquila. Ainda não chegou a sua senha na fila do amor."
Sorri, sentindo meu coração sorrir com a lembrança.
— Mi manchi, ragazzo. Mi manchi tanto! (Saudade, garoto. Muita
saudade!) — murmurei limpando uma lágrima solitária que escorria por
minha bochecha, tomando fôlego por um momento, antes de começar a
cortar o pão, respirando fundo a cada movimento da faca sobre a massa
assada, buscando acalmar a saudade em meu coração.
Quando terminei, comecei a colocar as fatias espalhadas por uma
bandeja para logo em seguida, pincelar azeite sobre elas, sentindo minha
boca salivar em expectativa.
Estou concentrada quando ouvi um barulho vindo do corredor. O
pequeno som quebrou o silêncio da noite e me fez levantar o rosto para
olhar na direção da porta de entrada.
Será que meus pais contaram aos meus irmãos sobre a minha
mudança e eles tiveram a audácia de descobrir meu novo endereço?
Matteo com toda sua lábia não teria dificuldade em conseguir que o
porteiro do turno da noite, um senhorzinho simpático, liberasse suas
entradas.
Não, eles não fariam isso, conversei com mamma e babbo pela
manhã e eles me asseguraram que estavam respeitando meu pedido. E
quanto a Dante e Matteo, ambos estavam atolados de trabalho com a
inauguração do instituto, quase não os vi durante a semana na empresa.
Outro barulho, só que dessa vez um pouco mais alto.
Talvez… talvez seja meu vizinho? Isso realmente faz mais sentido,
Beatrice.
Movida pela curiosidade, deixei de lado o recipiente com azeite e
tratei de lavar as mãos o mais rápido que conseguia. Quando finalmente
terminei, puxei o guardanapo do suporte preso na parede, secando minhas
mãos de qualquer jeito.
Larguei o tecido sobre a bancada e corri até à porta, na tentativa de
desobrir quem é o proprietário ou proprietária do apartamento ao lado.
Espalmei as mãos na madeira branca, fechando um olho e colocando
o outro no buraco do olho mágico.
Prendi a respiração como se qualquer som pudesse entregar a minha
investigação, porém não consegui ver nada além de um vulto que julgo ser
ombros largos, cobertos por um suéter preto antes que a porta se fechasse.
Bem, parecia ser um homem, um homem alto e forte. Hum, isso é
interessante!
— Que meu vizinho alto e forte seja solteiro — falei, levantando o
rosto para olhar para o alto.
Sorrindo, voltei para a cozinha e me dediquei a passar azeite nas
demais fatias que faltavam. Assim que finalizei, peguei um prato em uma
das prateleiras abertas e me servi. Em seguida, coloquei um pouco de vinho
em uma taça, para curtir minha própria companhia esta noite.
Sempre amei estar rodeada das pessoas que amo, contudo nunca abri
mão de um tempo a sós, comigo mesma.
Conforme caminhava até meu quarto, sentia-me livre por poder
estar à vontade sem ter que me preocupar com as minhas vestimentas. A
calcinha e o sutiã de renda transparentes eram o que sempre julguei
significar "roupas de ficar em casa" para alguém que mora sozinha.
Involuntariamente, mexi meus quadris ao ritmo da música
Expectations da Lauren Jauregui, que entoa em meus pensamentos. Assim
que empurrei a porta do quarto com o pé, já que minhas mãos seguravam o
prato com os pães e a taça de vinho, puxei o ar antes de começar a cantar o
refrão.
— "Wish I had no expectations. I really wish that I could get it
through your head with no confrontation. I really wish we could talk about
it instead. All these tears that i cry while I'm turned to the side. And you're
in the same fucking bed. Wish I had no expectations. But i expect, you
expect, we expect."
(Eu queria não ter expectativas. Eu queria tanto poder entrar na sua
cabeça. Sem confronto. Realmente gostaria que pudéssemos conversar
sobre isso. Todas essas lágrimas que eu choro enquanto estou virada para o
lado. E você na porra da mesma cama. Queria não ter expectativas, mas eu
espero, você espera, nós esperamos.)
Me movendo pelo cômodo, deixei o prato e a taça sobre uma das
mesinhas laterais de cabeceira, para pegar o controle da televisão em cima
da cama e usá-lo como microfone. À medida que cantava mais alto e com
mais animação, dancei pelo quarto, fazendo um show particular para mim
mesma, curtindo minha solitude.

Henrique
Estou mesmo fazendo isso?
Por Deus, eu devia estar com algum problema, porque a quantidade
de coisas absurdas e estranhas que tenho feito nos últimos dias envolvendo
mulheres só aumentava.
Talvez eu tenha contraído algum vírus ou esteja precisando trepar
mais.
Assim que cheguei em meu apartamento, após pegar um táxi no
aeroporto até aqui, vim direto para o meu quarto, deixando minha pequena
mala pelo caminho, desejando tomar um banho e capotar na cama, sem me
importar em comer algo. Estava exausto e precisava apenas descansar.
O plano era simples, no entanto, assim que pus meus pés no quarto,
meu corpo enrijeceu ao ouvir uma voz feminina cantar com sensualidade
uma música em inglês. No começo pensei estar imaginando coisas até que o
volume da cantoria aumentou à medida que a pessoa entoava o refrão da
canção.
Segui o som para saber de onde vinha, o que me trouxe à minha
atual posição.
Estava abrindo a porta de vidro que havia no meu quarto para escutar
melhor essa belíssima voz, mas a verdade era que estava bisbilhotando a
minha nova vizinha.
Concentrei-me em descobrir algo que pudesse me dar pistas sobre a
identidade da nova moradora que dividirá a sacada comigo. Se levar em
conta a voz, certamente se trata de alguém divino.
O antigo morador do apartamento em questão, parecia ser tão
ocupado quanto eu, a ponto que só o via nas poucas vezes que
compartilhamos o espaço no elevador ou no hall de entrada.
Norman Cross era o filho mais velho do dono do prédio, uma
família que possui o hábito de comprar, reformar e vender imóveis, bastante
conhecida nos Estados Unidos. Sei disso pelas pesquisas que fiz acerca dos
proprietários antes de comprar meu apartamento. O edifício Saint Cross
Building era o único que eles possuíam no país. O motivo ninguém sabia,
mas era um dos mais luxuosos da cidade.
Durante os quase dez meses que ele foi meu vizinho, nunca ouvi um
barulho sequer vindo do apartamento, nada além de ruídos abafados que
pudessem ser identificados com clareza. O cara era reservado. Em vista
disso, meu espanto ao conseguir escutar a cantoria da mulher que por algum
motivo, provocava arrepios por todo meu corpo, concentrando toda
sensação de tensão na cabeça do meu pau.
É, definitivamente, eu preciso trepar mais!
No dia seguinte, no trabalho, não conseguia me concentrar como
deveria em minhas tarefas. Precisei redigir três vezes o mesmo contrato
porque não era capaz de parar de pensar na minha nova vizinha, como se
não bastasse ter que fazer um esforço descomunal para não imaginar os
piercings na porra dos peitos da diaba italiana, agora eu estava me deixando
ser perturbado por uma voz. Patético, Henrique! Simplesmente patético.
Até cedi a oferta de Simone quando disse que acender um incenso me
ajudaria, entrando novamente no assunto do quanto meus chackras estavam
desalinhados. Que porra aquilo significava? Eu não estava afim de saber ou
ao menos entender.
O cheiro de mato queimado adentrando minhas narinas provocou em
mim o efeito contrário do que a senhorinha hippie havia dito. Ao invés de
me sentir mais calmo, fiquei mais estressado, sendo consumido pelos meus
próprios pensamentos. Esses sim, estavam uma verdadeira bagunça.
Na noite anterior, depois que a vizinha terminou de cantar, um
silêncio tomou conta do ambiente e eu me senti estranhamente
decepcionado e frustrado, algo dentro de mim desejou ouvi-la por mais
tempo. Sua voz era um misto de delicadeza e sensualidade, que me fez
pensar como seria ter palavras sussurradas por ela ao pé do ouvido.
Esperei a próxima canção vir, por tempo suficiente para perceber que
eu virei um verdadeiro maluco stalker fofoqueiro do caralho. E como se
não bastasse, fiquei escondido entre as cortinas que cobrem a porta de vidro
tentando ter o vislumbre da mulher de voz doce e pecaminosa.
Tinha que concordar que isso era algo que certamente Matteo faria,
jamais eu, mas como não andava sendo o mesmo nos últimos tempos, peço
que não me julguem. Estou sofrendo a influência por andar com B1 durante
todos esses anos.
Dois minutos depois foram o bastante para eu colocar minha cabeça
no lugar, o que não durou muito, levando em consideração que após o
banho, ao me deitar para dormir, fiquei tentado a pegar meu celular e
encarar o print que tirei da foto do perfil do Instagram de Beatrice enquanto
estava em Curitiba.
Resumindo, minha coleção de noites maldormidas havia aumentado
um dígito e como brinde, acabei acordando tarde e me atrasando para ir
trabalhar, perdendo a chance de cruzar com a nova moradora do
apartamento ao lado e saber se sua aparência era tão gostosa quanto sua
voz. Bem, eu torcia para que sim.
Antes mesmo do expediente acabar, me vi saindo da empresa, sob o
olhar curioso da minha secretária à medida que caminhava rumo à saída,
sem conseguir evitar pensar na voz da nova vizinha e na diaba e seus
malditos piercings nos peitos, durante todo o trajeto de volta para casa.
Não existia uma explicação lógica para o fato de eu estar me sentindo
tão afetado por uma voz, sem nem ao menos saber quem era sua dona,
diferente da atração que eu sinto por Beatrice. Até cogitei arrancar algumas
informações sobre a nova moradora com o Sr. Caetano, o síndico do prédio,
porém descartei a ideia sabendo o quanto ele segue e preza pelas regras e
normas de privacidade que temos no edifício. E, não era como se eu nunca
fosse conhecê-la, afinal, as chances de nos esbarrarmos são grandes. Uma
coisa era certa: eu estava ficando louco.
Já no prédio, uma sensação parecida com déjà-vú me tomou assim
que apertei o botão para chamar o elevador, só que ao invés de sentir que já
vivi o momento, era como se o universo quisesse me avisar que algo estava
prestes a acontecer e pela forma como minha pele se arrepiou, deixando-me
gelado, não se tratava de algo bom. Por instinto, virei para olhar o saguão
de entrada, onde o porteiro conversava tranquilamente com uma senhora
que deduzi ser moradora.
O som sinalizando que o elevador havia chegado me fez tornar meu
olhar para frente, meus dedos se fechando com força em volta da alça da
pasta conforme adentrava a caixa de metal. Tratei de apertar o número que
indicava meu andar no painel, talvez com mais força do que o necessário,
desejando fazer a máquina subir o mais depressa possível.
Mal sabia eu que estava prestes a descer, indo direto para o inferno
sem passar por qualquer tribunal na tentativa de buscar clemência, caindo
direto nos braços da diaba.
CAPÍTULO 12
Henrique
— Segura! Por favor! — a voz cheia de sotaque que eu,
infelizmente, conhecia muito bem, gritou, fazendo meu corpo todo tremer
em alerta.
Involuntariamente, estiquei um braço, evitando que a porta do
elevador se fechasse e quando ela se abriu por completo, olhos selvagens e
íris cor de esmeralda se bateram com os meus. Imediatamente, recuei,
quando a surpresa pelo encontro se esvaiu de seu rosto dando lugar à
expressão endemoniada que ela sempre direcionava a mim.
O que essa mulher faz aqui?
O que caralhos Beatrice Fontana faz aqui?
No prédio que eu moro? Caralho!
Eu só posso estar alucinando!
Mil respostas passaram pela minha mente e nenhuma delas me
agradou.
Respira, Henrique!
Por Deus, eu esqueci mesmo como respira?
Pela segunda vez por causa… dela?
— O que faz aqui? — perguntei com os dentes apertados, meu
maxilar doendo com tamanha força que os pressionava.
A porta então se fechou, antes que eu conseguisse fazer meu cérebro
enviar um comando às minhas pernas para correr e sair dali o mais rápido
possível.
A diaba sorriu, cruzando os braços e parando bem à minha frente,
seus lábios se rasgando em um sorriso sexy pra caralho.
Engoli em seco e me vi dando passos para trás até encostar no
espelho que cobre uma das paredes de metal, sentindo-me sufocado, seu
cheiro de baunilha com flores adentrando meu sistema, me fazendo desejar
enterrar meu rosto em seu pescoço e senti-lo direto da fonte.
O cheiro que eu já fantasiei inúmeras vezes sentir em meus lençóis
enquanto meu pau a fodia, seu rabo batendo em minhas bolas a cada
investida…
Segura a onda, Henrique!
Caralho! Segura a onda, porra!
— Poderia te perguntar a mesma coisa, caro mio.
— Você está me seguindo, Beatrice? — indaguei incrédulo, porém,
preciso admitir que havia uma parte em mim que adorava a ideia dela poder
estar mesmo me seguindo, levada pelo desejo que sente por mim.
Bea soltou uma risada, que reverberou pelo meu corpo. Precisei
puxar o ar com força para manter minha postura.
— Não exagere, caro mio — disse fazendo aquele movimento típico
de italianos. — Gosto te provocar você, sinto tesão por você, contudo não
me daria ao trabalho de te seguir. Meu fogo no rabo tem limites. E você, o
que faz aqui?
— Você não respondeu a minha pergunta!
— E você não respondeu a minha!
Ergueu uma sobrancelha, injetando em mim mais uma dose de raiva
e... porra, tesão.
Eu tinha mesmo que me sentir tão afetado por ela?
— Será que nem em casa, eu tenho paz, caralho? — murmurei.
— Non credo! (Não acredito!) Você… mora aqui? — a forma como
seu tom de voz soou, repercutiu direto no meu pau. Para a minha sanidade,
a pouca que sempre restava quando se tratava da diaba, não parecia ser um
bom presságio.
Você está fodido. Meu subconsciente gargalhou bem na porra da
minha cara!
É, filho da puta. Eu sei!
— Você mora mesmo aqui? — perguntou como se não acreditasse,
seu olhar desviou do meu por um momento até o painel do elevador, que
indicava o último andar, antes de voltar a me encarar, dessa vez, suas íris
brilhando tanto quanto o sorrisinho de endemoniada em seus lábios.
Não respondi, porque como o pateta que eu era quando o assunto se
tratava da diaba, me perdi admirando seu rosto, que parecia não conter
nenhum sinal de maquiagem, o que me fez notar, pela primeira vez,
algumas sardas espalhadas em seu nariz empinado.
Beatrice era, sem dúvida, a mulher mais linda e gostosa que eu já vi,
não importava se estava usando um dos vestidos provocantes que
costumava usar, ou jeans, uma blusa e tênis brancos, como agora, ela
conseguia ser sexy e gostosa, porque a sensualidade está nela e não nos
acessórios que colocava em seu corpo. A filha da puta — que tia Beatriz
me perdoe. — era toda quente, e a pior parte era que ela sabia, sabia muito
bem que podia fazer qualquer homem ou mulher se ajoelhar diante dela, se
assim quisesse. Eu mesmo, temia que isso acontecesse algum dia comigo. E
também tinham os malditos piercings que faziam minha imaginação ser
invadida por imagens dos seus peitos com as joias. Se na minha mente a
cena era tentadora, na realidade, deveria ser ainda mais perfeita, de um jeito
sexy e obsceno.
Sem perceber, desci meu olhar para os seios bem marcados na blusa.
— Você está babando, Sr. Prado — zombou, me fazendo voltar a
encarar seus olhos, o que também não ajudou em nada.
É impressão minha ou esse cacete de elevador está mais lento?
Vou me lembrar de fazer uma queixa na próxima reunião de
condomínio.
— Não estou babando.
— Se você quer acreditar nisso para o bem do seu ego, tutto bene.
— Deu de ombros, ficando de costas para mim.
Fechei os olhos com força para não babar no seu rabo e voltei a
perguntar, tentando me manter calmo à medida que respirava e inalava seu
cheiro. Ah, porra, porque tinha que cheirar tão bem? Mulher dos infernos!
— O que faz aqui?
— Não lhe devo satisfações.
— Responda a minha pergunta — falei pausadamente entredentes.
— Você não manda em mim!
— Só responde a porra da minha pergunta! — dessa vez, disse um
pouco mais alto, abrindo os olhos e encontrando os seus em mim enquanto
me olhava por sobre os ombros.
O barulho sinalizando que havíamos chegado no meu andar soou.
Ela então tornou a olhar para frente, caminhando tranquilamente para fora
da caixa de aço assim que a porta se abriu.
— Responde a minha pergunta, Beatrice! — exigi, seguindo-a,
usando tudo de mim para não secar sua bunda à medida que seu quadril
balançava.
Senti meu coração bater ainda mais acelerado quando paramos no
corredor, entre as únicas portas que haviam ali, além da que sinaliza as
escadas ao lado do elevador.
— Surpresa! — exclamou sorrindo, virando-se abruptamente. —
Sou sua nova vizinha!
Suas palavras me roubaram o fôlego e juro que senti meu coração se
comprimir em meu peito. Ele estava parando de bater.
Meu.
Coração.
Parou.
Ele… parou…
Por alguns segundos, enquanto meu cérebro tentava formular a informação,
ele parou.
Não! Eu ouvi errado. Foi isso. Com certeza foi isso!
— O.. o que você disse? — balbuciei, meu olhar oscilando entre
seus olhos e a porta atrás dela.
— Isso que você ouviu. Sou sua nova vizinha! Surpresa!
— Você está… brincando comigo, não está?
Tem que estar.
— Não, caro mio. Se quiser pode ir até à portaria e perguntar para o
síndico — sorriu convencida.
Então… a voz. A maldita voz era dela.
— Como eu não percebi que era você cantando? — Apesar da
pergunta ter sido feita em voz alta, era para mim que ela era.
— Então você me ouviu cantar. Scusi, por isso. Acabei deixando a
porta aberta do meu quarto que dá acesso à varanda, e me empolguei um
pouco. —Deu de ombros.
— Como não percebi que era… você?
— As pessoas sempre comentam que quando falo em inglês ou
espanhol, minha voz muda. — Deu de ombros novamente. — Então, gostou
do show? — questionou, analisando meu rosto.
Permaneci em silêncio, mas a forma como minha pele esquentou, me
deu a certeza de que estava vermelho, e era a resposta que ela queria.
Droga!
— Tenho certeza de que teria gostado ainda mais se pudesse ter visto
ao vivo, principalmente por causa de como eu estava.
— Como você estava? — deixei escapar. Caralho! Segura a onda,
Henrique!
— Eu estava de…
— Não quero saber — a interrompi antes que despejasse mais
combustível para a minha imaginação. — Não acredito que você… vai
morar aqui. Não pode ser.
— Não só pode, como é. E eu não fazia ideia de que você morava
aqui até há poucos minutos, quando notei que estávamos vindo para o
mesmo andar.
— Porque seus irmãos não me falaram nada?
— Porque eles ainda não sabem. Pedi aos meus pais para guardarem
segredo. Além deles, apenas as meninas sabem, já que me ajudaram a
escolher esse lugar.
Merda, mil vezes merda! Mas que cacete!
— Você não pode morar aqui! — declarei trincando os dentes e
apertando meus olhos em sua direção, meu peito subindo e descendo tão
rápido que sinto minhas narinas inflando e tentando acompanhar o ritmo.
— Per favore, poupe-me desse discurso barato de posso ou não
posso. Acho que você já percebeu que eu faço o que eu quiser. Por
exemplo, agora.
— O que tem agora? — Franzi o cenho.
Ela não me respondeu de imediato. Apenas sorriu de lado, feito uma
diaba do caralho e mexeu na bolsa que está em seu ombro, tirando de lá um
molho de chaves. Beatrice piscou para mim, prendendo seu lábio inferior
antes de abrir a porta atrás de si.
— Agora — disse já dentro do apartamento — eu quero te deixar
puto e é o que vou fazer — falou e bateu a porta na minha cara sem me dar
a chance de absorver as palavras.
Porra, estou fodido! Estou muito fodido!
Fodido até a minha décima geração!
Muito FO.DI.DO!

Beatrice
— O que está acontecendo? — Bárbara foi a primeira a falar.
— Você está bem, cugina? — Kyara me observou como se estivesse
procurando por algum machucado. Sorri para a sua preocupação.
Minha cunhada, por outro lado, estava mais preocupada com outra
coisa, aparentemente.
— Alguma receita nova para as minhas filhas e eu
experimentarmos? — perguntou, suas íris brilhando em expectativa.
Essa "gnomio" barriguda era mesmo um evento. O evento do ano.
Assim que bati a porta na cara de Henrique, me joguei no sofá da
sala e tratei de enviar uma mensagem para as meninas solicitando uma
ligação por videochamada.
— Eu estou bem, não aconteceu nada comigo. E não, não tenho
receitas novas, ainda. — Ana Laura fez bico.
— Então qual a emergência? — Ky indagou, seus ombros
relaxando.
— Eu descobri finalmente quem é o meu vizinho. — Fiz uma pausa
dramática. — Adivinhem quem é.
— Sou péssima com jogos de adivinhação — minha prima falou.
— Beyoncé?
Franzi o cenho.
— O quê?
— Seu novo vizinho é a Beyoncé? Se for, vou te visitar todos os dias,
cunhada.
Soltei uma risada vendo a expressão animada no rosto de Ana.
— Não, não é a Beyoncé, cara mia. É melhor que ela.
— Melhor que a Queen B, só se for o… Chris Evans? — sugeriu
brincalhona.
— Ok, isso seria bom. Muito bom, na verdade. Ele é gostoso pra
caralho. Eu o faria de pulapula sem qualquer objeção.
— Per Dio! — Kyara exclamou e vi pela tela que suas bochechas
estavam coradas.
— Claro que faria — minha cunhada zombou revirando os olhos.
— Eu sei quem é o seu novo vizinho — Bárbara disse com certeza.
— Sabe? — Alcei uma sobrancelha.
— A julgar pela sua animação, eu tenho quase cem por cento de
certeza.
— Conta! Conta! Conta! — a grávida do grupo pediu.
— Henrique — disse simplesmente.
— O quê? — Ana e Kyara exclamaram de olhos arregalados.
— Como você sabia? — indaguei curiosa, enquanto encarava
Bárbara.
— Leio livros de romance. Como vocês dizem, sou fanfiqueira de
carteirinha. Clichês são meus gêneros favoritos e bem, a irmã que tem
interesse no melhor amigo dos irmãos mais velhos, é bem clichê. E estava
até demorando para algo assim acontecer. — Deu de ombros.
— Sabe o que é clichê também, amiga? — indaguei, minhas palavras
pingando divertimento e cinismo.
— O quê, Bea?
Um sorriso malicioso se formou em meus lábios.
— Enemies to lovers.
Ana, Kyara e eu, rimos da careta que ela fez.
— Estou arrependida de ter explicado o lance das tropes literárias
para vocês — resmungou.
— Então — minha cunhada falou depois de uns instantes —, quer
dizer que o seu vizinho de varanda é o Henrique? Como você descobriu?
Ele já sabia?
Contei a elas sobre o ocorrido há minutos no elevador, relatando tudo
o que foi dito por nós dois.
— Isso parece as histórias de amor que eu leio — Bárbara suspirou e
eu revirei os olhos.
— Não vamos ter uma história de amor.
— Não corte o meu barato, Beatrice. Deixe-me fanficar um pouco
com sua vida amorosa — ralhou, apontando um dedo para a tela.
Sorri.
— Você o quer tanto quanto ele a quer. E de acordo com os meus
livros, Henrique só foge porque tem medo da reação do Dante e do Matteo.
— Já consigo imaginá-los surtando por causa das gêmeas — Ana
disse, enquanto alisava a barriga grande com a mão livre.
— Italianos ciumentos demais — cantarolei. — E olha só, foi a
primeira vez que Bárbara se referiu ao meu imão pelo nome e não pelo
apelido que deu a ele. Sinto cheiro de lovers vindo aí.
Rimos e ela bufou, fechando a cara.
— E o que você vai fazer agora? — minha prima perguntou.
— O que eu faço de melhor quando o assunto é Henrique Prado.
Provocar.
Nos minutos que se seguiram, contei a elas com riquezas de detalhes
o meu plano para fazer o loiro ceder.
Mesmo sabendo que não deveria, eu o queria em minha cama. E, sem
sombra de dúvidas, o teria.
CAPÍTULO 13
Henrique
— Pela primeira vez, não sou eu quem está atrasado — Stella disse
assim que me sentei na cadeira ao seu lado. — Espero que tenha um bom
motivo para os — faz uma pausa checando o relógio em seu pulso — trinta
minutos de atraso.
Sempre que um de nós retornava de uma viagem de trabalho,
tínhamos o hábito de marcarmos de nos ver, uma forma de estarmos sempre
perto e presente na vida do outro principalmente com as nossas agendas
caóticas, sobretudo a dela.
— Acredite, tenho um bom motivo para isso. Ou melhor — Desaboto
o meu terno e passo a mão em meus cabelos e barba. —, um péssimo
motivo.
— O que aconteceu? — perguntou preocupada. — Você está bem?
Não, eu definitivamente não estou bem.
Depois da merda toda que aconteceu no elevador com Beatrice e da
diaba ter batido a porta na minha cara, mais um dígito foi acrescentado na
minha coleção de noites mal dormidas.
Fiquei por alguns segundos — talvez minutos —, parado no meio do
corredor, ainda absorto acerca da bomba que ela jogou em meu peito.
Vizinhos.
Nós somos vizinhos.
Bufando e tremendo de raiva, entrei em meu apartamento, levando
mais tempo do que o aceitável para conseguir abrir a droga da porta. Assim
que a fechei, me vi indo até à cozinha e abrindo uma garrafa de uísque e
bebendo uma dose de uma só vez, me sentindo levemente embriagado. Tirei
minhas roupas, joguei-as em cima da mesinha de centro e capotei no sofá,
me sentindo esgotado demais para ir até o meu quarto.
Quem eu queria enganar?
A verdade é que eu estava com um puta medo de ir até lá e ouvi-la
cantar. Diferente da noite anterior, agora a voz sensual tinha um rosto e um
corpo ainda mais sensuais. Pertencia a minha maior tentação. Perfeito!
Pela manhã, a dor de cabeça me abraçou e foram preciso dois
comprimidos para suportar os compromissos do dia. Não precisava dizer
que me atrasei para o trabalho e que o único lado bom nisso, foi não
encontrar com a diaba novamente.
Como vou conseguir resistir à Bea estando diariamente a centímetros
de distância de mim?
Como vou parar de desejar seu corpo, de conhecer o sabor dos seus
lábios?
Como vou parar de pensar o quão fodidamente bom deve ser estar
dentro dela e ouvir seus gemidos no meu ouvido?
E, porra, como vai ser quando ela levar um cara para casa, e ele lhe
arrancar os sons de prazer que eu desejo arrancar dela?
Fodido! Fodido! Fodido!
Droga de promessa!
— Estou bem — garanti e seus ombros relaxaram.
— Então, qual o problema?
Antes que eu pudesse responder, o garçom apareceu para anotar os
nossos pedidos. Soltei um suspiro e esperei até que estivéssemos apenas nós
dois para contar a novidade a ela. Assim que ele se afastou, despejei tudo,
desde o nosso momento no banheiro, a noite em que escutei sua voz sem
saber que era ela, até o fatídico instante em que levei uma porta na cara.
Assim que terminei, esperei Stella dizer algo, no entanto, ela não
esboçou nenhum som ou expressão, ficou apenas me encarando como se
tentasse processar tudo o que falei. Então, quando eu estava prestes a
perguntar se tinha me ouvido, sua gargalhada seguida de um tapa no ombro
me fez dar um pequeno sobressalto no lugar. Agora, estou arrependido por
ter contado tudo a ela.
— Não acredito! Vizinhos? — disse entre risos, segurando a barriga.
— Puta merda, é a melhor notícia que já escutei em anos. É… hilário!
Hilário!
Stella acabou atraindo olhares para a nossa mesa, principalmente de
homens, como sempre acontece por onde passamos. Sua pele pálida
contrasta perfeitamente com seu cabelo liso ruivo natural, ressaltando seu
rosto marcante e seus olhos verdes. Minha prima já estava com trinta anos,
porém o tempo só lhe fazia bem. Ficava mais linda a cada dia.
— Não é hilário, Stella. É… perigoso, porra!
Encarei-a e fechei a cara. Ela estava ficando vermelha e
completamente sem fôlego.
— Acabou?
— Me… me desculpe — falou, alisando o rosto. — Mas é hilário que
você esteja fugindo da mulher há meses… E ela simplesmente se muda para
o apartamento ao lado do seu. — Puxou a respiração, se acalmando por fim.
— Então, o que você pretende fazer? Pelo que já me contou, ela é bem
decidida e não vai facilitar.
— Você acha que eu não sei? Ela é maluca!
— Eu já amo essa mulher! — disse, rindo e eu a encarei. —
Desculpe, mas eu preciso te dizer que você está muito ferrado.
— Sério? Não me diga — debochei.
— Porque você não transa logo com ela?
— Você enlouqueceu? Ela é a irmãzinha dos meus melhores amigos e
eu fiz uma promessa a eles de que jamais chegaria perto dela com segundas
intenções.
— Tecnicamente, você já quebrou a promessa. — Franzi o cenho,
confuso e ela logo esclareceu seu ponto. — Você já chegou perto dela, perto
até demais. E nós sabemos que você não tem só segundas intenções, mas
terceiras, quartas, quintas e por aí vai — brincou.
— Você não está me ajudando.
— Veja — Toca em minha mão que está em cima da mesa —, você a
quer e ela obviamente te quer também e já deixou bem claro que é apenas…
tesão. Então, porque não matar o que está te matando?
— Prefiro continuar evitando.
Stella relaxou na cadeira.
— Bem, boa sorte, primo, porque acho que esse seu “autocontrole”
— fez aspas com as mãos — não vai durar muito. — Olho-a de cara feia.
— O quê? Você sabe que eu estou certa.
— Bem que você podia mentir de vez em quando, só para me animar.
— Conhecendo você como eu conheço, tenho certeza de que não é só
isso que está te perturbando.
Soltei um longo suspiro.
— Eles te ligaram, não foi?
Meu silêncio foi a confirmação que ela estava certa.
— Você ainda os ajuda, assim como faz com Verônica.
Não foi uma pergunta.
Stella e seus pais são os únicos que sabem, com riquezas de detalhes,
sobre a minha infância fodida, tendo em vista que foram eles que me
salvaram quando tudo parecia prestes a chegar ao fim. Com certeza, se não
fossem eles, eu não estaria mais aqui.
Nunca contei aos meus amigos, odiava a possibilidade de deles me
olharem com pena e… eu tinha vergonha, vergonha de falar sobre os piores
anos da minha vida. E sim, ela estava certa, eu ainda ajudava meus pais e
Verônica, mesmo depois de tudo o que eles fizeram comigo. Eu ainda os
ajudava e não conseguia deixar de me importar.
— Podemos mudar de assunto? — ofereci bebendo um pouco de
água.
— Não os deixe te manipularem, Henrique. Você é bom demais e eles
sempre se aproveitam disso.
— Stella…
— Eu sei. Eu sei, mas odeio saber que mesmo depois de todo mal que
te fizeram, você ainda se importa com eles e pior, que ainda estão soltos por
aí quando deveriam estar atrás das grades. Eu fico… puta pra caralho!
— Não fique. Eu estou bem — garanti. — Vamos almoçar e você me
conta alguma coisa engraçada que aconteceu em seus plantões.
Isso a fez sorrir e toda raiva foi se dissipando do seu rosto conforme
me contava da mulher que deu entrada na emergência porque colocou
comida dentro da vagina, como parte de um ritual para recuperar o seu ex.
E como sempre, rimos, conversamos e nem vimos o tempo passar até que
seu paiger tocou, sinalizando que ela precisava voltar com urgência para o
hospital.
— Esse Matteo parece ser bem doido — disse, depois que contei o
apelido que meu amigo deu à Ana, conforme andávamos para fora do
restaurante.
— Voc ê não imagina o quanto. Seria legal se você finalmente
pudesse os conhecer.
— Você sabe que minha profissão…
— Eu sei. Eu sei. Mas você precisa sair um pouco.
— Eu saio — defendeu-se.
— Sair para atender algum caso médico, não é a definição de sair ao
qual eu estava me referindo e você sabe disso, Stella.
— Tudo bem. Prometo que estarei presente na próxima oportunidade.
— Espero. — A puxei de lado para um abraço, depositando um beijo
em sua têmpora, quando passamos pela porta.
Nos despedimos, cada um seguindo para o seu respectivo trabalho.
Assim que cheguei em minha sala, encontrei minha mesa cheia de
pastas dos processos que havia pedido à Simone antes de sair para o
almoço. E pelo resto do dia, foquei apenas no trabalho.
— Boa noite, vizinho! — sobressaltei ao ouvir Beatrice assim que
abri a porta dupla da sacada.
O vento frio da noite me saudou, contudo não foi capaz de consumir o
calor em meu corpo provocado pela voz da diaba e o seu perfume que
flutuou até mim.
Por um momento quando cheguei em casa, pensei que estava preso
em um daqueles sonhos bons pra caralho, a ponto de na vida real serem
proibidos. Aqueles sonhos que a gente deseja, mas tem medo de
compartilhá-los.
Mas assim que virei o rosto para encontrar a diaba sorrindo, com seu
corpo coberto por um robe curto de seda branco, enquanto se deliciava com
uma fatia de pizza, vi que eu estava preso em um pesadelo real demais.
Droga!
— Boa noite — falei, fazendo menção de voltar para o quarto
— Me faz companhia — sugeriu. — Acabei fazendo pizza demais
para uma pessoa só
Indicou para a mesa redonda e alta à sua frente.
— Melhor não.
— Não quero que estrague — insistiu.
— Você pode levar para Ana amanhã. Tenho certeza de que ela irá
amar.
— Vamos, Henrique. É só uma pizza.
Virei totalmente o corpo, ficando de frente para ela.
Refleti se o que estava prestes a fazer seria arriscado demais para a
minha sanidade.
Não fique sozinho com essa diaba, porra!
Não será apenas uma pizza, você sabe disso. Meu subconsciente
berrou
— Apenas uma pizza, Henrique! Per Dio, homem! Não vou te atacar.
Eu ri.
— Promete?
Beatrice soltou uma risada daquelas gostosas de se ouvir, que fez seu
corpo balançar na cadeira em que estava sentada. Fiz de tudo para não
descer o meu olhar e babar em suas coxas grossas. Sua pele parecia ser
quente, macia e cheirosa, e lamentei por nunca poder prová-la.
— O que é engraçado? — quis saber, focando em suas sobrancelhas.
Porra, até elas eram lindas e… sexys! Tudo nela era sexy!
— Como um homem do seu tamanho tem medo de uma mulher
inofensiva como eu? — provocou, fazendo um beicinho exagerado. Precisei
engolir a saliva junto a vontade de invadir sua varanda para segurá-la em
meus braços, enquanto passo minha língua em seus lábios.
— Boa noite, Bea.
Isso, caralho!
— Prometo me comportar. — Cruzou dois dedos e os beijou.
Não caia nessa, Henrique.
Ela é a diaba! A diaba, cacete!
Foi a minha vez de soltar uma risada, só que baixa e mais contida que
a dela.
— Ei, eu posso me comportar. Quando eu quero — se defendeu.
— Ao que parece, você nunca quer. Pelo menos, quando se trata de
mim.
— Va bene. Va bene. Apenas coma e eu dou minha palavra de que não
irei me levantar daqui se assim você se sentir protegido, donzela —
debochou. — E juro, essa — disse, levantando a mão que segurava uma
fatia de pizza pela metade — será a melhor pizza que você já comeu na
vida.
— Sem falsa modéstia? — instiguei.
— Sem falsa modéstia, ragazzo. Então, aceita me fazer companhia?
— pediu novamente. — Por favor.
Por favor.
Malditas palavras que me impediam de negar um pedido seu. Droga!
Suspirei, derrotado.
— Tudo bem.
Caralho! Porra, Henrique! Não fode!
Você estava indo tão bem, cacete!
Vai se foder! Você merece mesmo é tomar no meio do seu rabo.
Fui até o parapeito de vidro que dividia o espaço e estiquei o braço
para pegar uma fatia de dentro da caixa que estava aberta sobre a mesa à
sua frente.
— Então, Sr. Prado, é ou não é a melhor pizza que você já comeu? —
indagou, depois que mordi um generoso pedaço e puta merda,
definitivamente, a melhor pizza que eu já comi.
Terminei de mastigar e engolir para dar o meu veredicto.
— É, não posso negar. Parabéns. Está incrível!
Lambi os lábios e dei mais uma mordida, tentando ignorar a forma
como seus olhos cintilaram com o movimento da minha língua.
— Grazie — agradeceu antes de voltar a comer, soltando um gemido
exageradamente sexy pra caralho, acendendo mais uma chama dentro de
mim.
Corre, Henrique! Fica longe dessa mulher!
— Então, como foi seu dia?
Pigarreei, afastando meus olhos dela.
— O que disse?
O canto dos lábios de Beatrice subiram sutilmente, demonstrando que
a diaba sabia o que a sua pequena cena "comendo", me causou.
A filha da mãe fez de propósito.
Claro que fez, idiota!
— Perguntei como foi seu dia.
— Porquê?
— Porque o quê?
— Porque quer saber como foi meu dia, Beatrice?
Ela deu de ombros.
— Eu prometi que me comportaria e estou fazendo isso. Amigos
conversam.
— Não somos… amigos — falei com cuidado, não querendo ser rude.
— Não, mas podemos ser.
A olhei desconfiado.
Ela sorriu parecendo tímida e completamente inofensiva. Apenas,
parecendo.
O que você está fazendo, sua diaba?
— Você quer ser minha amiga? — Assentiu. — O que você está
tramando?
Bea revirou os olhos.
— Cazzo, não estou tramando nada. Só estive pensando que, bem,
você é amigo dos meus irmãos e da família, e agora somos vizinhos.
— É, somos.
— Por isso, acho que a melhor opção para nós é a amizade. Não é o
que sempre disse querer comigo?
Definitivamente, eu não queria apenas amizade com ela, contudo era
tudo o que poderia ter. Era mais seguro, simples e nada complicado. Era o
caminho certo, afinal, Beatrice Fontana é a irmã caçula dos meus melhores
amigos.
— É o que você quer? Mesmo?
— Não é o que eu quero, mas é o que podemos ter. Certo?
Assenti.
— É.
Isso vai dar merda, Henrique Prado. Não cai no papo dessa diaba,
caralho!
— Amigos? — falei, pensativo.
— Isso, amigos. Apenas amigos — enfatizou. — Seja meu amigo,
Henrique, per favore.
Em italiano? Ah, porra! Não fode!
Como negar algo com ela usando tais palavras em seu idioma
natal e me encarando com suas íris verdes como se fosse uma gata
selvagem? Argh, que inferno!
— Amigos — disse, fazendo-a abrir um sorriso de orelha a orelha. —
Amigos — murmurei novamente tentando fazer meu cérebro se acostumar
com a ideia.
— Você verá que eu sou uma ótima amiga, Sr. Prado — a forma
como ela falou não deveria ter feito meu pau se contrair dentro da calça de
moletom.
Você fez o certo, cara. Tentei eu mesmo me aconselhar.
— Então, como foi seu dia? — perguntou novamente.
Me sentindo estranhamente um pouco mais à vontade — apenas um
pouco — com sua presença, apoiei o quadril na parede mais próxima e
cruzei o braço ao respondê-la.
— Cansativo.
— Compartilhamos de um mesmo sentimento. Precisei testar
inúmeras massas para chegar nessa aqui. — Indicou com o queixo para sua
mão.
— Valeu a pena o esforço.
— É, eu sei — sorriu convencida antes de morder outro pedaço de
pizza. — Sempre quis ser advogado? — perguntou de boca cheia.
Pensei por um momento, escolhendo as palavras certas e que não
fossem tão reveladoras acerca do meu passado.
— Digamos que sim. E você, sempre quis ser chefe de cozinha? —
devolvi a pergunta.
Coloquei na boca o pedaço que ainda faltava da fatia em minha mão e
lambi o canto dos lábios que tinham resquícios de molho de tomate para,
em seguida, pegar outra.
Ela pigarreou, me fazendo subir o olhar para o seu rosto.
— Algum problema?
— Nenhum, caro mio. E sim, eu sempre quis ser chefe de cozinha.
Nunca me vi fazendo outra coisa.
Ah, sua diaba. Eu consigo te imaginar fazendo tantas coisas, a
maioria delas ajoelhada diante de mim.
Foi a minha vez de pigarrear. Balancei a cabeça, sentindo uma gota de
suor escorrer pela minha coluna.
— É, eu entendo — consegui dizer.
Nos próximos minutos, um silêncio constrangedor se estabeleceu
entre nós.
Beatrice não tirou os olhos de mim enquanto eu devorava mais duas fatias
de pizza.
Seu olhar era lascivo e me odiei por gostar dele sobre mim.
Otimo jeito de começar uma amizade. Pensando putaria com sua
nova amiga.
— Melhor você entrar — Bea me surpreendeu ao falar e franzi o
cenho. — Eu prometi que não me levantaria, então preciso que entre para
que eu também o faça.
Soltei uma risada.
— Obr igado pela pizza.
— Foi um prazer, amigo — o vento soprou e minha pele se arrepiou
no momento em que ela disse tais palavras, como se houvesse uma ameaça
implícita nelas.
Ignorei e entrei em meu quarto, fechando a porta de vidro e logo
depois, as cortinas, sem conseguir me livrar da sensação de que aceitar ter
uma amizade com Beatrice, não era uma boa ideia.
Mas, era o certo a se fazer.
Certo?
Eu torcia para que sim.
CAPÍTULO 14
Beatrice
— Gostaria de saber o porquê eu soube, por uma mensagem, que
minha irmãzinha comprou um apartamento e se mudou, só esta manhã? —
Matteo exclamou assim que abri a porta.
— Benvenuto, famiglia! (Bem-vindos, família!) — saudei, ignorando
sua cara fechada.
— Também gostaria de saber, cara mia — Dante disse sério ao seu
lado. — Que ideia foi essa de se mudar e não falar para ninguém?
— Contei para os nossos pais e para as meninas.
— Ana, você sabia disso e não me falou? — Dante perguntou.
— O quê? Ela é minha amiga e me pediu segredo, e ao contrário do
boca suja aqui eu sei guardar. E não briga comigo, estou carregando suas
filhas!
— Não sou fofoqueiro!
A porta de frente para a minha se abriu e a voz do vizinho soou como
uma tentação para mim.
— Você é fofoqueiro! — Henrique afirmou, fechando a porta do seu
apartamento e se aproximando.
— Bom dia para você, B2! Obrigado por me avisar que minha irmã
era a sua nova vizinha.
— Descobri no início da semana e, bem, ela me pediu segredo. —
Deu de ombros com as mãos nos bolsos.
Eu não pedi, porém saber que respeitou a minha vontade, me fez
sorrir para o loiro, que estava lindo, usando jeans e blusa branca.
Durante o restante da semana, nos encontramos algumas vezes entre
saídas e chegadas, e por mais que tivesse sido educado sempre que me
cumprimentava, eu sabia que Henrique ainda estava se acostumando com a
nossa suposta amizade. Usei tudo de mim para não rir pela forma como ele
tencionava os ombros como se estivesse ajustando sua armadilha invisível
para se proteger de mim. Eu estava adorando saber que meu plano estava
caminhando como havia planejado. Henrique Prado ia ceder à atração que
sente por mim, mais cedo ou mais tarde. Sou paciente, sei esperar e vou
esperar até que ele implore por uma noite comigo.
— Será que podemos deixar o show de ciúmes para depois? Meus
morangos e eu estamos famintas! E nossa fome vem do ciúme de vocês —
Ana falou, alisando sua barriga. Ela estava linda com um vestido rodado na
cor vermelha com bolinhas brancas, que ressalta sua barriga que parece ter
crescido mais desde a última vez que nos vimos pessoalmente. Parecia um
morango.
— Você está parecendo um morango — extravasei meu pensamento,
cumprimentando-a com um abraço.
— Eu sei! — O sorriso que se formou em seus lábios pelo elogio, me
fez ver todos os seus dentes. — Comprei um desse para as minhas filhas!
Vamos parecer trigêmeas!
— Com certeza terão o mesmo tamanho. — Matteo brincou, levando
um tapa em seu ombro.
— Dante, controle sua "gnomio"!
— Eu adoro esse apelido — Miguel disse, rindo.
— Prefiro "princeso" — Ana provocou.
— Sou ótimo em dar apelidos — Matteo se gabou. — Não é, boneca?
Bárbara revirou os olhos.
— Ok, ok! Vamos! Entrem! — disse, dando passagem para que todos
entrassem.
— Sua casa é muito bonita, minha filha!
— Grazie, mamma! Fiz uma reforma para aproveitar ao máximo o
espaço.
— Ótimo trabalho! — Miguel, o engenheiro falou analisando o lugar.
— Realmente, mi princepessa. Está bela.
— Feliz que gostou, babbo.
— Sigo esperando respostas — meu irmão mais dramático falou,
cruzando os braços e fazendo bico.
Soltei um suspiro.
— Contei hoje, não contei?
— Contei hoje — resmungou, me imitando. — Eu pensei que você
ainda estava pesquisando. Mas aí, estou assistindo Maria do Bairro quando
sou surpreendido por uma mensagem sua, me convidando para um almoço
em família na sua nova casa.
— Odeio novelas mexicanas. Prefiro as turcas — Bárbara comentou.
Matteo, que estava em pé próximo ao sofá, se sentou, levando uma
mão ao peito.
— Como assim você não gosta de novelas mexicanas? São as
melhores! — soou incrédulo.
— Não! As melhores são as turcas.
— Nenhuma delas tem a Talia, boneca.
— Mais tem o gato do Serkan.
— Sou mais eu.
— E eu sou mais ele.
— Estou com fome! — definitivamente, não preciso dizer quem falou
isso.
— Você sempre está com fome, Ana — Miguel disse e todos nós
rimos, menos a grávida.
— Não sei se vocês esqueceram, porém como podem ver — Aponta
para sua barriga grande —, estou grávida e comendo por três, então quando
eu falar que estou com fome, é porque estou com fome, caramba! — Fez
um bico fofo.
Calmamente, Dante passou a mão na barriga da sua esposa e disse
olhando para nós: — Hormônios.
— É, hormônios — minha cunhada resmungou manhosa. — Droga
de hormônios!
— Filha, você está tão engraçada grávida — dona Luíza comentou,
sorrindo com ternura. — Não vejo a hora de ver o rostinho das minhas
netas. Já escolheram os nomes?
— Sim, sogra. Escolhemos. — Mio fratello abraça Ana Laura de
lado, puxando-a com carinho para si. — Gostamos de nomes curtos, então
nossos morangos se chamarão Bella e Nina.
— Bella e Nina, minhas netas! — babbo disse animado, batendo
palmas.
— Lindos nomes — sorri.
— Bella e Nina, que vocês sejam calminhas igual ao pai de vocês.
Per favore! — Matteo falou, olhando e apontando na direção da barriga de
Ana Laura.
— Amém! — Miguel brincou, levando um tapa no ombro de leve de
sua irmã.
— Essa semana, as aulas na academia começam.
— Que aulas, B1? — a "gnomio" quis saber.
— Henrique, Miguel e eu vamos começar a praticar algumas lutas
para protegermos as gêmeas de caras babacas — disse, estufando o peito.
— Vocês sabem que isso vai demorar um pouco, na verdade bastante,
fratello?
— Sim, mas quanto antes começarmos, melhor. — Empertigou-se.
— Doido. — Bárbara apontou, revirando os olhos.
— E quanto aos padrinhos? — questionei.
— Conversamos sobre isso e decidimos que vamos deixar as nossas
meninas escolherem qual caminho elas desejam seguir quando estiverem
prontas para isso. Sabemos que não é algo comum, mas gostaríamos que
fosse assim — Dante anunciou enquanto sua esposa acenava em afirmação.
— Definitivamente, não é algo comum, mio figlio, porém respeitamos
a decisão de vocês enquanto pais — babbo declarou, tocando em seu ombro
e assentindo.
— Bem — bati palmas —, preciso alimentar a "gnomio" barriguda e
seus morangos famintos. Fiquem à vontade. Vou terminar de fazer o
almoço. Mamma — toquei em seu ombro —, me ajuda?
— Claro, querida.
— Vou com vocês — dona Luiza se ofereceu.
Enquanto nós três terminávamos de montar as lasanhas, os demais
ficaram na sala. Risos e conversas preencheram o ambiente, e eu não
conseguia tirar o sorriso do rosto quando nos sentamos à mesa.
Após o almoço, fiz um pequeno tour com todos pelo apartamento,
antes de servir a palha italiana que preparei no dia anterior, como
sobremesa, enquanto sentávamos espalhados na grande sala, todos
animados com o nascimento das gêmeas e a inauguração do Instituto Carlos
Ferreira que acontecerá em algumas semanas.
Estávamos rindo de algo que Matteo falou, quando Ana solta um
palavrão, levando suas mãos até sua barriga.
— Porra!
Tomamos um susto e logo vejo meu irmão atravessar a sala até a
esposa, segurando seu rosto com carinho, os olhos cheios de preocupação.
Rapidamente, toda a nossa família estava ao redor deles.
— O que foi, mi amore?
— Está sentindo dor, minha filha? — dona Luiza indagou
preocupada.
— Você está bem, Ana? — Miguel questiona, ficando ao lado do meu
irmão.
— Me desculpem! Não queria preocupar vocês, mas… Ai! —
exclamou novamente.
Levou dois segundos para eu entender o que estava acontecendo.
Com tranquilidade, coloquei minhas mãos em cima das dela.
— Elas estão se mexendo, não estão, cara? Minhas sobrinhas estão se
mexendo.
Os olhos da minha cunhada se encheram de água, que não demoraram
a escorrer pelo seu rosto. Emoção e amor fazendo suas íris azuis brilharem
refletindo felicidade. Ela acenou em afirmação, sorrindo em meio às
lágrimas.
— Minhas filhas… estão se… mexendo? — Dante perguntou de
olhos arregalados.
— A mãe pode sentir o bebê se mexer a partir do final do quarto mês
de gestação. Ana está com cinco. É o momento certo, fratello — expliquei,
me lembrando das inúmeras vezes em que ajudei Kyara a estudar em troca
de companhia para fazer compras.
— Minhas meninas estão mesmo se mexendo — disse, ainda sem
acreditar.
— Estão, amor. Bastante. — Ana Laura segurou as mãos do marido,
levando-as até que ambas estejam espalmadas na sua barriga. Alguns
segundos depois, a expressão de ambos era um mix de surpresa e
admiração.
— Acho que elas serão serelepes iguais a você, mi amore.
— Ah não, não foi isso que eu pedi! — Matteo resmungou.
Rimos e ansiosamente esperamos a vez para sentir Nina e Bela se
mexerem sobre nossas palmas pela primeira vez.
Às nove em ponto, Dante e Ana foram os primeiros a irem embora.
Um pouco depois foi a vez dos demais, restando por fim apenas Matteo e
Henrique. O loiro parecia não prestar muita atenção no que meu irmão
falava, seu cenho estava franzido e suas mãos pareciam não parar de suar, já
que ele as esfregava meio sem jeito em sua calça.
— Está tudo bem? — procurei saber me aproximando de onde eles
estavam.
— Si, cara mia. Va tutto bene. (Sim, minha querida. Tudo está bem.)
— Me abraçou, beijando minha testa. — Preciso ir agora. Marquei de
encontrar a Isa em um bar próximo.
— Pensei que não estava mais dormindo com a sua secretária —
comentei.
— Nos damos bem — falou dando de ombros.
Ele e Henrique me seguiram até a porta.
— Obrigado pelo almoço, Bea! — meu vizinho gostoso disse assim
que passou pelo batente.
Mordi o lábio inferior.
— Não precisa agradecer. Somos vizinhos e amigos. Não somos? —
Usei o meu melhor tom de inocência.
Vi seu pomo de adão se mover à medida que engolia.
— Sim, somos.
— Fico tão mais aliviado em saber que você tem o B2 por perto.
— Sei me cuidar muito bem sozinha — declarei.
— Sei que sim, mas como seu irmão mais velho…
— Dante é o irmão mais velho — brinquei e ele revirou os olhos.
— Você me entendeu, Bea. — Me puxou para um abraço e eu logo
envolvi meus braços em sua cintura, repousando minha cabeça em seu
peito. Matteo podia ser o irmão mais dramático e ciumento, contudo, seu
coração e lado carinhoso eram da mesma proporção. — Como eu estava
dizendo, ragazza, sou seu fratello e é meu dever assegurar que você esteja
bem. Você sempre será a minha irmãzinha.
— Lo so, fratello. (Eu sei, irmão.)
— Qualquer coisa que precisar, pode me ligar ou — Se afastou para
tocar no ombro do amigo — pode chamar por Henrique. Confio nesse B2
bombadão, como confio nos finais felizes das novelas mexicanas — sorriu
e eu prendi o riso ao notar a expressão do loiro ficar tensa.
— Agradeço a preocupação, mas como eu disse, sei me cuidar. Não
se preocupe, fratello. E não precisa exagerar no drama, não sou mais uma
garotinha.
— Você sempre será a minha garotinha. — Beijou com ternura a
minha testa e foi impossível não sentir meu coração se encher. — Bem,
estou indo. Cuidem-se! — se despediu com o seu habitual sorriso de
maluco, caminhando até a caixa de aço cantarolando uma música em
espanhol. Julgo que seja de alguma das suas novelas.
— Maluco! — disse, rindo.
— Muito — Henrique acrescentou quando meu irmão entrou no
elevador e começou a rebolar. Ele acenou freneticamente conforme a porta
se fechava. — Bem — pigarreou —, é melhor eu entrar. — Apressou-se em
se afastar. — Boa noite, Bea!
Encostei a lateral do corpo contra o batente, passando minha língua
nos lábios e admirando seus ombros largos.
— Boa noite, vizinho!
Antes que ele fechasse a porta do seu apartamento, tive um vislumbre
de um sorriso.
Fase “agir naturalmente” concluída com sucesso.
Fase “amiga” carregando.
CAPÍTULO 15
Henrique
Ela é a irmã dos meus melhores amigos.
Matteo me pediu para cuidar dela.
Somos apenas amigos.
Ela é apenas a minha amiga.
Ela nem é tão cheirosa.
Você odeia baunilha e flores. Odeia!
Os olhos dela não são tão brilhantes assim! É só ilusão.
Você não quer ver aqueles malditos piercings naqueles peitos
grandes!
O corpo dela não é um caminho para o céu e sim para o inferno, e
você não quer ir até lá! Quero… Não, você não quer, caralho!
Esses foram os mantras que escolhi repetir em minha mente sempre
que estava em casa e tinha sorte ou azar — ainda não tinha certeza se era
algo bom ou ruim — de encontrar com a minha vizinha. Há dois dias,
acabei cometendo o erro de falá-los em voz alta quando estava dividindo o
elevador com Celina, uma senhora do sexto andar que sempre me
cumprimentava ao me ver. Todavia, dessa vez, ganhei como saudação uma
expressão de chocada e olhos julgadores assim que a mulher entrou na
caixa de aço.
De acordo com Simone — depois de uma das suas palestras sobre
meditação e toda essa merda, que ela insistiu em me dar sempre que eu
estava irritado —, os mantras podem ser qualquer frase que irão te ajudar a
focar em um determinado assunto, um instrumento de pensamento para
ajudar a focar no que realmente importa e te traz equilíbrio, com o objetivo
de relaxar conforme o repetimos. Mas caralho, essa merda não estava
funcionando, porque quanto mais eu os dizia, mas eu desejava o completo
oposto.
Eu queria mesmo era foder aquela diaba italiana sem parar, enfiar a
porra do meu pau sem pena em sua boceta melada e sedenta enquanto ela
gritava meu nome, pedindo por mais, sussurrando em meu ouvido
obscenidades em italiano a cada estocada, seus seios com a porra dos
piercings balançando em sintonia com meu quadril. Tê-la tão perto todos os
dias, era tentador demais, quase como uma tortura.
Sentindo que precisava relaxar um pouco, aceitei o convite de Matteo
para sairmos para beber com Miguel no bar do seu amigo delegado,
Alberto, depois do nosso treino de sexta-feira na academia, onde treinei até
sentir as juntas dos meus dedos doerem pelos golpes incessantes, levando
meu corpo ao limite. Já passava das dez e meia quando decidi que precisava
ir embora.
Assim que a porta de aço do prédio se abriu no meu andar, dei três
passos para fora do elevador e estanquei no lugar por dois segundos, meus
dedos se fechando em volta da alça da minha bolsa esportiva, antes de
caminhar com pressa até Beatrice, que está sentada no chão mexendo em
sua bolsa, falando algo que não consigo entender.
— Está tudo bem?
Ela se sobressaltou, virando o rosto abruptamente para me olhar por
sobre os ombros.
— Caralho, você… você me assustou. — sua voz está arrastada e
algumas palavras saíram emboladas pelo esforço claro que ela fez para
tentar pronunciá-las de forma correta. — Boa noite, vizinho! — exclamou,
jogando as mãos para o alto e caindo de costas no chão, rindo.
Ela está bêbada?
— Você está bêbada?
— Eu estou? — perguntou para si.
— O quanto você bebeu, Beatrice? — procurei saber.
— Só um pouquinho. — Fez um sinal com seu indicador e polegar.
Senti vontade de rir, mas reprimi, ainda preocupado por tê-la
encontrado assim e pensando em como chegou até aqui. Não era a primeira
vez que a via bêbada, por isso não fiquei surpreso, contudo a preocupação
era a mesma das vezes anteriores.
— E não me chame de Beatrice! — gritou.
— É o seu nome.
— Porém, eu prefiro que você me chame de Bea. — Torceu o nariz
em uma careta estranhamente linda. Ela é toda linda. — Você é tão lindo.
Droga! Porque você tem que ser tão lindo, Sr. Prado? — resmungou
fazendo um bico exagerado.
— Porque você tem que ser tão linda? — deixei escapar enquanto
meu olhar dançava por seu rosto.
— É, eu sou mesmo muito linda e… gostosa — disse alto, seus lábios
se repuxando para o lado de um jeito preguiçoso. — E tenho piercings nos
mamilos!
— Vem, vou te ajudar. — Ignorei seu comentário.
— Eu disse que tenho piercings nos mamilos, cazzo!
— E eu disse que vou te ajudar!
Ignorando sua cara fechada, abri a porta do meu apartamento,
deixando minha pasta e bolsa em um canto na sala para então voltar para o
corredor e ajudar Beatrice. Sem dificuldade, consegui levantá-la,
envolvendo sua cintura com um braço, firmando-a no lugar.
Ela fechou os olhos, encostando sua testa em meu peito.
— Tudo está rodando — murmurou, seus braços subindo por meus
ombros até se fecharem ao redor do meu pescoço. — Hum… Você cheira
bem, amigo. Suor com… com alguma coisa sexy.
Em um impulso, abaixei o rosto na altura do seu ombro e respirei seu
cheiro, e caralho era ainda melhor sentido de perto.
Baunilha e flores!
A droga do melhor perfume do mundo!
— Você acabou de me dar uma… cheirada, Sr. Prado?
— Não. — Me afastei e rapidamente anunciei: — Segure em mim,
vou te carregar.
A tomei em meus braços, entrando em meu apartamento sem pensar
muito bem no que estava fazendo e no porquê estava levando-a para o meu
quarto.
— Para onde estamos indo, ragazzo? — perguntou em um sussurro,
me olhando por um momento antes de fechar os olhos e se alinhar em meu
colo.
— Para o meu quarto.
— Hum…
Ao entrar no cômodo, deitei-a em minha cama com cuidado.
Beatrice se mexeu entre os lençóis como se estivesse procurando a
posição mais confortável, ainda de olhos fechados. Quando finalmente
encontrou, alguns fios de seus cabelos pretos caíram espalhados pelo seu
rosto. Afastei-os, observando os traços de sua beleza, focando nos sinais em
tom castanho-claro em torno da ponta do seu nariz. Subitamente, senti
vontade de beijar cada um, antes de descer minha boca de encontro à sua.
— Preciso tomar banho — murmurou.
Afastei meus dedos da sua pele.
— Acha que consegue fazer isso sozinha?
— Não — choramingou.
— Não se preocupe. Você pode dormir aqui. — Ela acenou em
resposta e se virou, puxando um dos travesseiros para o seu tronco,
abraçando-o. — Já volto — falei, mas pela forma que seus ombros subiam e
desciam lentamente, tenho certeza de que ela não me ouviu.
Saí do quarto e fui até o corredor para pegar sua chave e bolsa. Assim
que o fiz retornei para o quarto, deixando suas coisas em cima da mesinha
de cabeceira. Tirei com cuidado seus tênis brancos, colocando-os no chão e
a observando uma última vez antes de pegar uma muda de roupa em meu
closet e sair.
Acordei na manhã seguinte, ouvindo uma voz soar ao longe. Abri os
olhos, apertando-os até que eles se focassem em algo. Então, levantei um
pouco a cabeça para olhar ao redor. Não estava em meu quarto, mas sim no
de hóspedes. Logo, as lembranças da noite anterior vieram à tona.
Beatrice bêbada no corredor.
Eu cheirando sua pele antes de carregá-la para dentro do meu
apartamento, colocando-a em minha cama.
As inúmeras vezes que fui até ela durante a madrugada, para me
assegurar de que estava bem, sem qualquer risco de se afogar caso a
vontade de vomitar viesse.
A forma sensual como seus longos cabelos pretos ficaram espalhados
pelos meus lençóis brancos.
Seu corpo se movendo cada vez que ela mudava de posição e a pouca
pele de sua barriga que ficava, vez ou outra, exposta a cada movimento que
fazia sua blusa subir.
Esfreguei o rosto, afastando esses pensamentos e me levantei da
cama, indo até o pequeno sofá que havia ali para vestir as peças que peguei
em meu closet antes de deixar meu quarto. Uma calça moletom preta e
camiseta da mesma cor.
Vestido, saí do quarto indo em direção à cozinha. Um cheiro delicioso
de algo que eu não consegui identificar entrou em minhas narinas, a voz da
diaba ficando mais alta conforme caminhava pelo corredor. E então, a
figura de Beatrice surgiu em meu campo de visão.
Ela estava de costas para onde estou, mexendo em algo na bancada da
pia, seus cabelos estavam presos em um coque bagunçado no alto da
cabeça. Bea cantava alguma música em italiano, enquanto seus quadris se
moviam em sintonia com o ritmo da canção.
Era a segunda vez que eu a ouvia cantar e a inquietação que o som
afinado e sensual me provocou foi ainda maior do que na primeira vez,
porque agora eu sabia quem era a dona.
Meu olhar logo foi atraído para sua bunda que está fodidamente
deliciosa dentro da calça jeans apertada.
Eu não posso olhar para essa bunda assim.
— Assim como? — sua voz me assustou e fiquei tenso no mesmo
segundo, me amaldiçoando por ter dito em voz alta. Porra!
— Desculpe, era para ter sido só um pensamento. — Caralho,
Henrique!
— Tutto bene. — Ela se virou, ficando de frente para mim e sorriu,
deixando uma garrafa térmica que eu nem me lembrava que ainda existia
em minha cozinha, em cima da mesa. Só a usei uma única vez quando
tentei fazer café logo que me mudei. Descobri da forma mais desastrosa que
não se pode tirar os olhos do café por um segundo.
Foi então que notei o que havia sobre a mesa que foi utilizada poucas
vezes. Há uma cesta de pães, um prato com frios, um pequeno recipiente
com algo que julgo ser tomates com azeite e um bolo.
— Você preparou tudo isso?
Deu de ombros, assentindo.
— Você não precisava ter feito isso.
— Sim, não precisava. — Puxou uma das cadeiras e se sentou, seus
olhos focados em meu rosto. — Mas já disse que sempre faço o que quero e
eu quis fazer isso por você ter cuidado de mim ontem. Você poderia ter me
deixado largada no corredor ou apenas me ajudado a entrar na minha casa.
Ao invés disso, me trouxe para a sua, porque estava preocupado com o meu
bem-estar. Certo?
E também, te trouxe para cá e te coloquei na minha cama porque
queria ter o seu cheiro em meus lençóis. Poderia ter acrescentado isso, mas
me contive. Ainda não havia perdido completamente o juízo.
Balancei a cabeça.
— Certo.
— Obrigada!
— De nada. — Me acomodei de frente para ela.
— Como sua amiga, preciso dizer que sua despensa é deprimente.
Precisei ir até meu apartamento para pegar os ingredientes para o café.
— Novamente, você não precisava ter preparado tudo isso, mas —
levantei um dedo antes que ela me interrompesse — fico grato por ter feito.
É a primeira vez que vejo essa mesa assim, tão… cheia. Não sou muito bom
em cozinhar e ainda que eu já tenha tentado, nada fica comestível.
Bea soltou uma risada.
— Como chegou aqui naquele estado? — indaguei curioso.
— Bárbara me convidou para um happy hour com algumas pessoas
do seu trabalho. Um drink se transformou em três, quatro, cinco. Depois de
algumas horas, ela me deixou na entrada do prédio. Eu estava me saindo
bem, mas passei tempo demais com a cabeça abaixada enquanto procurava
a minha chave na bolsa que acabei me sentindo um pouco tonta, foi então
que me sentei no chão e bem, você chegou.
Analisei-a por um momento. Seu rosto estava sem um resquício de
maquiagem e fora sua blusa amassada, ela não parecia que havia bebido na
noite anterior.
— Como seu amigo, preciso dizer que é impressionante como você
não fica de ressaca e como parece se lembrar de tudo que aconteceu depois
de uma quantidade considerável de álcool.
— Eu sempre me lembro de tudo que faço, com álcool ou não. Sei o
momento exato que devo parar, para não entrar em coma alcoólico ou algo
do tipo que me faça perder os sentidos. Ontem foi o meu estado de bêbada
alegre e não a bêbada esquecida.
— Então — empertiguei-me —, você se lembra de tudo o que
aconteceu? — quis ter certeza.
— Sim, inclusive — disse, pegando um pedaço de pão e apontando
para mim, antes de enfiá-lo na boca —, já fizeram muitas coisas comigo,
mas ontem foi a primeira vez que recebi uma cheirada, Sr. Prado.
Arregalei os olhos, me sentindo ridiculamente envergonhado.
— Sempre cheira as suas amigas daquele jeito? — provocou, seus
lábios se repuxando de lado.
— Nunca tive… amigas. — Foquei apenas nessa parte, desejando
fugir da “cheirada” e da “já fizeram muitas coisas comigo”.
— Que perfectto! Então eu sou a primeira!
Ri, me servindo um pouco de café.
— Voltando ao assunto da minha bunda…
— Beatrice.
— O quê? Foi você quem começou. E como eu disse antes, você pode
babar na minha bunda sempre que quiser, Henrique — ela falou meu nome
com malícia demais para uma amiga.
Forcei uma tosse, passando uma mão em minha barba.
— Somos amigos. Apenas, amigos — pontuei mais para mim do que
para ela, ao sentir que o clima ficou abruptamente pesado. A tensão, que
sempre pairou sobre nós dois, se estabeleceu rapidamente. — Eu não posso
fazer isso.
— É por isso mesmo que você pode. Estamos protegidos pelo muro
da amizade.
— Muro da… amizade? — Franzi o cenho.
— Si, caro mio.
— Isso parece algo que Matteo falaria — brinquei, tentando me sentir
menos nervoso.
Beatrice riu, enquanto pegava outra fatia de pão.
— Então, o muro da amizade — começou a explicar conforme passa
um pouco de azeite na massa torrada em sua mão — é o que protege uma
amizade de se transformar em algo a mais. De forma resumida, são os
limites que são construídos quando nos tornamos amigos de alguém. E
como já decidimos em comum acordo que somos apenas amigos,
independentemente da atração que sentimos — piscou para mim,
provocando-me um arrepio —, podemos olhar para o corpo um do outro
com certa… admiração, porque sabemos que não vamos ultrapassar os
limites.
— Não vamos! — repeti as palavras no automático.
— Isso, não vamos. — Outra piscadela. Outro maldito arrepio. — Vai
me dizer que nunca aconteceu de você olhar para uma mulher pensando
putaria e ainda assim, decidiu não tentar algo porque sabia que não era certo
ou que simplesmente não ia rolar?
Soltei uma risada anasalada.
— Aconteceu. Apenas uma vez. — Foquei meu olhar em sua
garganta, a pele lisa e tão perfeita.
— Eu não disse?
— Com você — falei. — Você é a primeira e única mulher que não
posso ter.
Vi o exato momento em que o ritmo do seu peito aumentou, subindo e
descendo cada vez mais rápido conforme o silêncio nos abraçava, dessa vez
ele era o tipo de silêncio que antecedia um beijo depravado, daqueles que te
arrasta para uma foda.
Subi meu olhar até seu rosto e o sorriso perverso que a demônia
estampou me fez estremecer por dentro.
Beatrice Fontana tinha um efeito sobre mim que me assustava pra
caralho, deixando difícil, a cada momento que passávamos juntos, manter
os limites da amizade com ela.
— Estou amando saber que sou sua primeira em muitas coisas, caro
mio. E não me surpreende que você tenha tido todas as mulheres que quis
em sua cama. Você é gostoso.
Senti minhas bochechas esquentarem e me odiei por corar diante do
seu elogio.
— Nem todas. — Soltei uma risada sem humor, apertando meus
olhos para ela.
Seu sorriso aumentou. Me remexi na cadeira, prevendo que algo nada
manso estava prestes a sair de sua boca. Beatrice comeu o pão calmamente,
seus olhos fixos nos meus. E sem pressa, cortou uma fatia do bolo,
gemendo ao mordê-lo. Meu pau deu sinal de vida e como um canalha, levei
uma mão até ele e o apertei por baixo da mesa. Engoli com dificuldade
reprimindo um gemido que ameaçou escapar. Eu já estava duro pra cacete,
tão rápido como nunca antes.
Enquanto ela mastigava, tentei me acalmar, porém minha ereção não
cedia.
Até a cena da diaba comendo era erótica pra caralho.
Quando finalmente a filha da mãe engoliu, lambeu os lábios e disse:
— Já que estamos sendo sinceros, preciso confessar que, às vezes, eu babo
não apenas na bunda dos meus amigos.
Senti meu sangue ferver, agora não apenas de tesão, mas também de
raiva.
Eu estava puto e excitado na mesma medida.
Só essa mulher dos infernos era capaz de me deixar assim.
— Você tem muitos… amigos? — perguntei colocando os braços
sobre a mesa, ignorando meu pau.
O que você tem a ver com isso, Henrique?
— Tenho.
— E você tem muitos amigos… homens?
Comecei a cortar uma fatia de pão, fugindo do seu olhar avaliativo
sobre mim.
Henrique… fica quieto, porra!
— Alguns.
— E todos eles estão respeitando essa coisa de muro da amizade? —
A forma como eu tentei soar indiferente foi ridícula. Eu estava ansioso por
sua resposta e fiquei puto pra cacete quando a ouvi.
— Apenas um dos meus amigos fez um buraco no muro. — Apertei
os dentes, semicerrando meus olhos para a diaba. — Mas é como dizem,
não é.
— O que dizem, Beatrice? — perguntei entredentes.
— Para toda regra há uma exceção. Ele é a minha exceção. O que
significa que não há riscos entre nós dois — apontou. — Fique tranquilo,
Henrique. Eu prometi que me comportaria a partir daquela noite e não
pretendo voltar atrás no que disse, eu sou a irmã caçula dos seus melhores
amigos e sou proibida. Não era o que você costumava falar? Então — Deu
de ombros —, entendi muito bem o recado. No que depender de mim, você
terá apenas minha amizade, ainda que minha boceta queira o contrário. E,
bem — Meneou a cabeça —, você como o homem experiente que é, sabe
que o sexo para nós, mulheres, começa na mente, então eu posso
simplesmente imaginar você me fodendo enquanto eu sento no colo de
outro. A imaginação é capaz de quase tudo.
Dito isso, com uma tranquilidade assustadora, Beatrice se levantou,
caminhando em direção ao corredor e sumindo da minha vista. Com os
batimentos cardíacos acelerados e a respiração descompensada, não
consegui me mover um centímetro sequer, muito menos esboçar qualquer
reação ou falar alguma coisa. Minha cabeça estava fervendo, suas palavras
flutuando em minha mente, me deixando em um completo estado de
choque.
Ela tem…
Beatrice tem um…
Um pau amigo?
A.
Porra.
De.
Um.
Pau.
Amigo.
Minutos depois, ela retornou com sua bolsa no ombro e uma das mãos
segurando seu par de tênis brancos que usava na noite passada.
Sorrindo, cheia de sua típica ousadia, a diaba foi em direção à porta,
abrindo-a e antes de fechá-la, me encarou por sobre os ombros ao falar:
— E graças a sua mesa de vidro, pude ter uma boa noção do tamanho
do pau que eu nunca terei dentro de nenhum dos meus orifícios. Grazie por
alimentar um pouco mais a minha imaginação. Aproveite o café, amigo.
E saiu, batendo a porta atrás de si.
CAPÍTULO 16
Henrique
Tomei uma longa respiração antes de retomar os golpes no

saco de boxe. Fazia um pouco mais de quarenta minutos que estava me

exercitando na academia que tenho em meu apartamento. Quando saí do

trabalho mais cedo, enviei uma mensagem para os meus amigos avisando

que não iria treinar com eles, pois precisava analisar alguns contratos.

Recebi um “Tudo bem” de Miguel e um áudio de quase um minuto de

Matteo, falando sobre eu estar me tornando a porra de um workaholic como

Rafael, por levar trabalho para casa em plena sexta-feira à noite. Como

resposta, mandei uma das figurinhas ridículas que ele me obrigou a salvar

no aplicativo de conversa, onde um gnomo esboçava um semblante

tranquilo e uma mão estendida para frente mostrando o dedo do meio.

O maluco tinha uma coleção de figurinhas de gnomo que, segundo

ele, era em homenagem à Ana Laura.


Assim que cheguei, não consegui me concentrar e desisti na primeira

meia hora, saindo do escritório para vir até aqui.

Eu amava praticar boxe, principalmente quando estava tenso ou

preocupado. O exercício fazia meu corpo ir ao limite e a cada onda de dor

que me atingia pelo excesso de esforço, minha mente se esvaziava. Foi na

prática do esporte que eu consegui reprimir e enjaular toda a raiva que

corria em minhas veias desde muito novo.

Contudo, nem isso parecia ser capaz de aliviar a tensão em meu

corpo, as palavras de Beatrice passavam em um loop na minha cabeça

conforme aplicava golpes no saco de boxe. Já fazia uma semana desde

aquela manhã em que eu soube sobre a “amizade colorida” que a diaba

mantinha com um cara — sortudo pra porra, vale frisar —, no entanto, elas

não deixaram de me perturbar nenhum momento sequer desde então e


caralho, isso estava me consumindo.

Trabalhei nos últimos dias em tempo integral para evitar pensar nela e

em assuntos que não me diziam respeito, como sua vida sexual. Mas a

italiana invadia meus pensamentos, como se estivesse zombando da minha

cara, rindo feito a diaba que era.

Fiz uma pausa, sem qualquer dificuldade para manter a respiração

controlada, devido há anos de prática, para checar as horas no relógio

esportivo em meu pulso onde marcava mais de nove horas. Fiquei chocado

por não ter notado o tempo passar.

Desferi mais uma sequênia de golpes rápidos, alternando entre socos

e chutes, antes de dar o treino por encerrado. Bebi a água que restava em

minha garrafa em grandes goles e saí da academia, e indo para o meu

quarto. Tomei um banho e me joguei de costas no colchão, fechando os


olhos e desejando que o sono me dopasse. Meu corpo estremeceu ao ser

pego de surpresa pela voz de timbre sensual que soava através da parede. A

porta que dava acesso à varanda estava aberta, como na outra noite,

fazendo-me ser agraciado com o som agradável.

“They say: All good girls go to heaven. But bad girls bring heaven to

you. It's automatic. It's just what they do. They say: All good girls go to

heaven. But bad girls bring heaven to you.”

(“Eles dizem: Todas as garotas boas vão para o céu, mas as garotas

más trazem o céu até você. É automático. É apenas o que elas fazem. Eles

dizem: Todas as garotas boas vão para o céu, mas as garotas más trazem o

céu até você.”)


Graças a insistência de um professor na faculdade de Direito em me

fazer entender que aprender outros idiomas era fundamental, entendi a

forma como Beatrice cantava a letra, trocando as palavras masculinas por

femininas. Abri os olhos imediatamente para fitar o teto. Soltei uma risada

baixa e não resisti em provocá-la.

— Acho que a letra correta é “They say: all good boys go to heaven.

But bad boys bring heaven to you.” (Todos os garotos bons vão para o céu,

mas os garotos maus trazem o céu até você.)

— Você me assustou — disse com a voz trêmula.

— Me desculpe. Não era minha intenção.

Ouvi sua risada e o som acabou me fazendo rir também.

— Tutto bene, ragazzo — soou com sinceridade. — E sim, você está

certo. Mas estou cantando a minha versão da música. Ainda que você me
chame de diaba, eu poderia te levar ao céu. — Ficou em silêncio por dois

segundos antes de completar: — É, e ao inferno também, caro mio.

— Isso não…

Ela me interrompeu e ouvi o som de palmas.

— Eu sei. Somos amigos. — Seu tom era entediante. — Poupe-me do

discurso que já sei de cor e já entendi perfeitamente.

Senti vontade de levantar da cama e pular a droga da varanda para dar

uma lição nela, porém respirei fundo algumas vezes, procurando pensar

com a cabeça de cima, apenas. A de baixo já estava quase toda

comprometida e rendida à italiana.

— Não vi você nos últimos dias — comentou. — Muito trabalho?

Sim, porque decidi enfiar a cara em processos para não ter que

encontrar com você!


— Sim. Muito… trabalho.

— Matteo pediu para ficar de olho em você.

— Engraçado, ele pediu a mesma coisa para mim.

Rimos.

— O que ele te disse exatamente? — perguntei curioso.

— Disse que você passa mais tempo trabalhando do que se

divertindo. E que antes, quando trabalhavam juntos no escritório, ele

conseguia cuidar de você, mas que agora, era mais complicado.

A informação me fez sorrir.

Eu nunca tive amigos quando era mais novo, sempre evitava me

aproximar das pessoas e não deixava ninguém se aproximar de mim.

Sozinho, eu não precisaria contar sobre minha vida, meu passado.

No entanto, com Matteo foi diferente. Ele me fez rir em menos de


dois minutos quando fomos apresentados no nosso antigo trabalho e a

forma como me tratava, com certa insistência em querer estar por perto, me

fez desejar ter um amigo pela primeira vez.

Ainda assim, nunca consegui compartilhar com ele sobre a minha

infância fodida, ou com qualquer pessoa da sua família, que de certa forma,

passou a ser a minha também. O orgulho falava mais alto e eu odiava

pensar que as pessoas me olhariam com pena por descobrirem toda sujeira

que havia dentro de mim. Era vergonhoso, humilhante e feio.

— Você é mesmo um viciado em trabalho? — Beatrice perguntou

diante do meu silêncio.

Pigarreei, passando a mão em meus cabelos antes de responder.

— Dessa vez aquele "boca suja" não está exagerando.

— Então, acho que vou terei mesmo que ficar de olho em você, Sr.
Prado. — A forma como ela disse fez meu pau querer ganhar vida.

— Não precisa se preocupar com isso.

— Eu sei, mas não ligo. Somos amigos, vizinhos e quero fazer isso.

Eu sempre faço o que quero.

Diaba petulante do caralho!

— Então, qual o plano para hoje? — emendou.

— Nenhum. E você? Algo especial?

Me vi ansioso enquanto esperava sua resposta.

— Bem, eu estava pensando em ligar para o meu “pau amigo”, o

amigo que abriu uma porta na nossa muralha da amizade, que comentei

com você outro dia, para sentar no colo dele como fiz ontem. A propósito,

enquanto ele me comia pensei em você. Quando gozei, mordi com tanta

força meus lábios para não gemer seu nome que acabei o ferindo. Estou
precisando relaxar, sabe.

Mas… mas o quê?

Meu coração parecia que ia parar a qualquer momento de tanta raiva.

Senti o ar me faltar e por alguns segundos, me esqueci de respirar. Apertei

minhas mãos em punho ao lado do corpo com tanta força que senti minhas

unhas machucarem minha pele.

— Henrique? — me chamou, mas eu não fui capaz de dizer nada. Se

passaram dois minutos até que ela me chamou novamente. — Você ainda

está aí?

Permaneci em silêncio, temendo que qualquer som que eu fizesse,

pudesse deixar transparecer o quanto estava puto pra caralho.

— Eu estava brincando.

Alívio.
Uma onda de alívio perpassou pelo meu corpo à medida que meu

cérebro processava a informação.

Brincando? Que porra de brincadeira é essa caralho?

— Henrique?

— Desculpe, acho que é melhor dormirmos. Já está tarde — minha

voz saiu trêmula. Merda!

Ela riu.

Claro que riu.

A minha sugestão foi um claro sinal de que fiquei realmente

incomodado com sua brincadeirinha e a mulher do outro lado da parede

sabia disso.

— Está com sono?

— Não tenho conseguido dormir.


— Trabalho, alguém ou passado?

Franzi o cenho.

— Como?

— Durante o tempo em que morei na Itália — começou a explicar —,

tio Peppe sempre falava que só há três razões para não conseguirmos

dormir. Trabalho, alguém ou passado. Qual desses é o motivo para a sua

falta de sono, Sr. Prado?

Os três, pensei.

Eu estava esgotado do trabalho e sentia que precisava de férias com

urgência.

Eu não conseguia parar de pensar na única mulher que não deveria

desejar.

E estava estressado por não conseguir ignorar as mensagens que


recebia de um passado que me sufocava.

Ao invés de falar tudo isso, escolhi a opção que julguei ser a mais

segura.

— Trabalho, definitivamente — falei com o máximo de convicção

que consegui, porém não foi o suficiente para fazê-la acreditar.

— Tem certeza de que é só o trabalho que está tirando o seu sono,

caro mio?

— Sim!

Droga, respondi rápido demais!

— Somos amigos, não precisa mentir para mim. — Parou por um

momento antes de falar as malditas palavras que me fazem fazer tudo o que

ela quer. Caralho! — Per favore.

Suspirei resignado, sem forças para não ceder ao seu pedido.


Inferno de mulher!

— Os três, Bea. Não tenho conseguido dormir por causa do trabalho,

de uma mulher e do meu passado.

— Porque seu passado te perturba? — questionou com cautela, sua

voz estava calma como eu nunca havia ouvido antes, contudo cheia de

curiosidade.

— Se não se importar, gostaria de não falar sobre isso.

— Tutto bene.

Ficamos em silêncio por um longo tempo, pensei até que ela já tinha

adormecido, mas pela segunda vez esta noite, sua voz me surpreendeu.

Beatrice começou a cantar Home da Gabrielle Aplin. Seu timbre era

doce, suave, completamente diferente de tudo o que eu já ouvi vindo dela, a

letra sendo pronunciada de um jeito fofo devido ao seu sotaque forte.


Ironicamente, eu tatuei parte dessa música no lado esquerdo do meu

peito, bem acima do meu coração. E quando ela começou a entoar as frases

eternizadas em minha pele, levei uma mão ao peito, sentindo meu coração

bater como nunca antes. Acelerado, descompassado, errando todas as

batidas como se estivesse tentando seguir a melodia da voz da mulher do

outro lado da parede.


“With every small disaster
(Com cada pequeno desastre,)

I'll let the waters still take me away to some place real
(eu vou deixar as águas continuarem me levando para algum lugar real.)

Cause they say home is where your heart is set in stone


(Porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado.)

It's where you go when you’re alone


(É onde você vai quando está sozinho.)

It's where you go to rest your bones


(É onde você vai para descansar seus ossos.)

It's not just where you lay your head


(Não é apenas onde você deita sua cabeça.)”

Fechei os olhos, completamente anestesiado, mas ao mesmo tempo


sentindo cada parte do meu corpo envolvido no momento como nunca
estive desde toda dor e raiva que inundaram minha alma.
Entoando com ainda mais vontade, Beatrice canta alto como
se reconhecesse a atmosfera que nos abraçou, apesar da distância.

“So when I'm ready to be bolder


(Então quando eu estiver pronta para ser corajosa)
And my cuts have healed with time
(E meus cortes curarem com o tempo)

Comfort will rest on my shoulde


O conforto irá descansar em meus ombros.)”

E então — quebrando todas as regras que formulei —, a mulher que


fez todos os meus nervos ferverem sempre que se aproximava, me fez
imergir em um sono tranquilo, aumentando um dígito ao meu pequeno
número de noites bem dormidas, me proporcionando de bônus um sonho
que nunca mais tive desde que tudo ruiu.
Um sonho onde o meu eu mais novo possuia um lar.
Um lar feliz.
Verdadeiramente…
Feliz.
CAPÍTULO 17
Beatrice
— Achei! — Ana exclamou, parando em frente a uma vitrine de loja
de roupas infantis.
Bárbara e eu caminhamos até ela, ambas segurando duas sacolas
cheias de roupas de bebê depois de duas horas de passeio pelo shopping.
Era sábado e decidimos sair para procurar roupas para as gêmeas. Minha
cunhada estava determinada a encontrar uma em especial e ao que tudo
indicava, acabou de achar.
Ao pararmos atrás dela, nos entreolhamos e foi impossível não sorrir
para a fantasia minúscula de morango com direito até a chapeuzinho com
um tacho no topo.
— Eu já consigo imaginar minhas meninas assim — deu um gritinho,
espalmando as mãos no vidro, aproximando o rosto para olhar melhor. —
Olha o tamanhinho disso! — começou a murmurar sons indecifráveis como
se estivesse falando com um bebê, fazendo um bico exageradamente
engraçado. — Será que tem o meu tamanho? Ai! — gritou e saiu correndo
para dentro da loja.
Bárbara e eu caímos na gargalhada, seguindo-a.
— Você viu como nossa “gnomio” barriguda correu? Parecia
realmente um gnomo, só que desengonçado e atrapalhado — comentei um
pouco sem fôlego, enquanto minha amiga sacou o celular no bolso da calça.
— A partir de hoje, cada vez que sairmos com ela, vou registrar
esses momentos. Darão boas lembranças para as nossas sobrinhas.
— Tenho certeza de que elas irão amar. Só não deixe Matteo ter
acesso a essa coleção, caso contrário, o bullying que ele fará com Ana
Laura será gigantesco.
Depois de quarenta minutos saímos da loja com mais quatro sacolas.
Ana não havia comprado apenas fantasias de morango para ela e suas filhas,
mas para Dante também.
— Estou com fome — choramingou enquanto Bárbara e eu
retirávamos as sacolas de suas mãos.
— Claro que está, barriguda — brinquei e ela logo repousou suas
palmas na barriga grande.
Assim que chegamos na praça de alimentação, cada uma de nós fez
o pedido em diferentes restaurantes. Quando nos acomodamos em uma
mesa, o celular de Ana tocou.
— Dante disse que me ama, mas que não vai usar a fantasia de
morango — resmungou fazendo bico, ao mesmo tempo que tocava a tela do
seu celular.
Ela havia enviado uma foto para o marido do manequim vestido
com a fantasia.
— Tenho certeza de que ele está falando da boca pra fora. Meu
irmão faz tudo o que você quer.
Seus olhos brilharam.
— É. Meu marido foi uma das melhores coisas que aconteceu
comigo — suspirou apaixonada, digitando por um momento em seu celular
antes de deixá-lo de lado.
— E você foi uma das melhores coisas que aconteceu na vida do
meu fratello. Nunca vou parar de agradecer por isso.
— Eu o amo, Bea.
— Sei que sim. — Anuiu. — Então, como tem andado os seus
desejos? Algum estranho depois do controle? — soltei uma risada.
— Estranho não, mas proibido sim. Semana passada fiquei com uma
puta vontade de comer bolo de Jack Daniel's, minha bebida favorita. Mas,
por motivos mais do que óbvios, não pude — suspirou resignada. —
Imaginem uma torta de morango com Jack Daniel’s como um dos
ingredientes? Hum, deve ser perfeito de tão gostoso.
Lambeu os lábios de forma exagerada.
— É, deve ser bom.
— Como foi sua última consulta? — Bárbara quis saber.
Ana Laura tinha enviado uma mensagem em nosso grupo de
conversas na semana passada, avisando que estava ansiosa para a sua
consulta de pré-natal.
— Fomos ao obstetra e ele me recomendou começar a desacelerar
agora, para que quando estivermos na reta final, eu não fique desgastada
além do que se espera de uma gestação gemelar. Então, trabalharei apenas
esse mês. Rosa me fará companhia.
Anuímos.
— Vou ficar sem suas receitas diárias — choramingou, tocando em
minha mão que descansava sobre a mesa.
— Não se preocupe, cara mia. Mandarei entregar algo especial para
vocês todo dia — garanti, esticando o braço para tocar sua barriga.
— Promete?
Eu ri com sua expressão.
— Lo prometto. (Eu prometo)
Acena satisfeita antes de voltar sua atenção para o balde cheio de
batatas fritas.
— Quando eu for a barriguda da vez, quero receber muitos e muitos
queijos, viu? — Bárbara declarou.
— Se Matteo for o pai, não tenha dúvidas de que você terá um
estoque cheio dos mais variados tipos — brinquei.
Ela revirou os olhos como sempre.
— Ra. Ra. Ra. Muito engraçado — debochou.
— Adoraria que você fosse minha cunhada.
— Obrigada, mas eu passo, prefiro o posto de amiga. Estou bem
feliz onde estou. — Foi a minha vez de revirar os olhos. — Então, como
está a relação com seu vizinho? — perguntou.
Mordi o lábio inferior.
— Tudo saindo de acordo com o planejado. — Pisquei um olho.
— Quais são mesmo as fases do seu plano para fazer Henrique
ceder? Meus morangos me transformaram na Dory — Ana brincou,
acariciando a barriga por cima do vestido florido que usava.
Sorri e levantei um dedo para enumerar cada fase à medida que
falava.
— Fase um: agir naturalmente. Fase dois: amiga. Fase três: limites. E
fase quatro, a minha favorita: foda-se.
— Você é maluca, Bea — Bárbara disse rindo, apontando o garfo
para mim, antes de enfiá-lo no que restava da lasanha de queijo que ela
escolheu para o almoço.
— Sim, muito — Ana concordou de boca cheia. — Pobre Henrique.
Rimos.
— Ainda não acredito que você fingiu estar bêbada no dia em que
saímos. — Bárbara comentou.
— Eu não fingi, eu realmente bebi muito — me defendi. — Eu
apenas exagerei um pouco no papel de bêbada. E ele ficou tão gostoso todo
preocupado. Precisei usar tudo de mim para não beijar aquela boca
deliciosa. Santo Dio! — gemi baixinho. — Falando nele, ontem, aconteceu
algo… estranho.
— Estranho como? — minha cunhada indagou.
Suspirei, relaxando os ombros.
— Estávamos conversando pela parede com as portas dos quartos
abertas e ele disse que não estava com sono, e que o motivo era por causa
do trabalho, já que Matteo e o próprio Henrique me confirmaram que o
loiro é viciado em trabalho. Além de uma mulher, que bem — Dei de
ombros —, imagino que seja eu e o seu passado.
— Passado? — Bárbara perguntou. — O que isso quer dizer?
— Não faço a mínima ideia. Eu até tentei me aprofundar no assunto,
porém ele disse que não queria conversar sobre.
— Será que… — Ana Laura parou de falar, meneou a cabeça como
se estivesse incerta se deveria dizer algo.
— O quê?
— Talvez eu esteja imaginando coisas, não sei.
— Desembucha, “gnomio” — Bárbara exclamou tão curiosa quanto
eu.
Ela suspirou.
— Ok. Dante compartilhou comigo que Carlos odiava brigas e por
isso tinha a mania de escrever cartas quando estava com raiva, já que
acreditava que assim ele não magoava as pessoas e que depois que as
escrevia, as palavras amenizavam os sentimentos ruins e simplesmente
passavam, não tendo a mesma importância de antes.
Assenti.
Descobri essa mania peculiar do meu amigo quando sujei com lama
seu tênis novo enquanto brincávamos na casa dos seus pais. Na hora ele riu
e saiu correndo. Quando retornou, uma hora mais tarde, me entregou uma
carta. Eu era muito nova e não compreendia o que sua ação representava,
mas me lembro perfeitamente das palavras que foram escritas naquele papel
branco, pois ainda o tenho comigo.

“Você só tem sete anos e por isso, vou pegar levar com você. Nunca
pensei que escreveria uma dessas para você, Bea, mas estou fazendo isso
porque estou com muita raiva de você por ter sujado meu tênis novo e
BRANCO, ou pelo menos estava quando comecei a escrever essa carta.
Não gosto de confrontos e gosto menos ainda de brigas. E acredito que
guardar sentimentos ruins dentro da gente nos envenena lentamente por
dentro. Por essa razão, eu escrevo quando algo me chateia. Você me
chateou, porém continuo te amando como uma irmã.
P.S. não suje mais o meu sapato. Deu muito trabalho limpá-lo."

— Nossa, isso é diferente, mas… incrivelmente maduro e de certo


modo, doce. — Bárbara comentou maravilhada.
Meu coração se apertou pela saudade.
— É. Carlos Ferreira era… incrível — falei emocionada. — Mas o
que isso tem a ver com o passado de Henrique?
— Dante possui algumas das cartas que o amigo escreveu e me
permitiu lê-las. E bem — Torceu os lábios —, uma delas falava de uma ex-
namorada de Henrique chamada Verônica.
— Não sabia que ele tinha uma ex-namorada — expus.
E eu realmente não sabia. Não me lembrava de Matteo e Dante
comentarem algo.
— Então, o passado que o perturba é essa tal Verônica? — Bárbara
inquiriu arregalando os olhos para mim. — De acordo com a experiência
que ler livros de romance me deu, uma ex-namorada na história nunca é um
bom sinal.
— Não quero um relacionamento sério com ele, quero apenas sexo,
nada mais. E bem, o ponto não são os meus interesses com ele, que para
mim estão muito bem definidos e claros como a neve — pontuei e minhas
amigas se entreolharam, claramente duvidando das minhas palavras. As
ignorei e continuei. — O ponto é: porque algo no passado dele o perturba
tanto? E caso seja essa Verônica, deve ser algo muito sério, porque a
sensação que eu tive ontem, enquanto conversávamos, não me pareceu ser
algo simples.
— Alguns amores não são para serem vividos. — Bárbara comentou
com seu tom que me dizia que estava com a mente longe, provavelmente
em algum livro de romance.
— O que aconteceu depois?
— Bem, ficamos em silêncio e eu fiz algo ainda mais estranho.
— Como assim? — Isso atraiu a atenção da minha amiga
fanfiqueira de volta para a conversa.
— Eu meio que cantei para ele dormir.
— Você… cantou para ele… dormir? — Ana exclamou.
— Isso é… fofo e romântico — a debochada disse.
— Porque fez isso?
— Não sei, eu só senti vontade e fiz.
Assim que terminei a canção, nenhum som veio do outro lado da
parede o que me fez concluir que ele havia pegado no sono como eu havia
planejado. Babbo sempre cantava para mim quando eu não conseguia
dormir e senti uma vontade súbita de fazer o mesmo com Henrique.
Contudo, eu estava inquieta demais com o que acabara de acontecer para
conseguir pregar os olhos.
Tinha certeza de que ele sabia o motivo de eu ter escolhido aquela
música especificamente. Foi a letra dela que vi tatuada em seu peito, bem
acima do coração, quando estávamos no banheiro na casa dos meus pais no
casamento de Ana e Dante. Cogitei que ela deveria ser importante e por
esse motivo a cantei. Mas nada do que senti estava incluso no plano inicial.
Só quando o relógio marcou duas horas da manhã que eu consegui
dormir, enfim. Mas a curiosidade em entender o que tinha acontecido, ainda
se fazia presente quando acordei esta manhã.
— Vocês estão sentindo isso? — Bárbara indagou farejando o ar.
Imitei seu gesto.
— Sentindo o quê?
— Eu também estou sentindo — Ana se juntou a nossa amiga.

— Per Dio, sejam mais específicas! — disse, ansiosa. — Estou


sentindo cheiro de várias coisas, dentre elas — apontei para a mesa —,
queijo, batata frita, lasanha, pizza e milk shake de morango.
Elas trocaram um breve olhar que me fez franzir o cenho. O que eu
perdi?
— É cheiro de romance — Bárbara falou.
Apertei meus olhos para elas que estavam batendo os cílios de
forma sugestiva.
— Não haverá romance nenhum! — disse convicta. — Apenas
muito sexo quente.
— Aham, sei — falaram em uníssono.
— Parem de fantasiar algo que nunca vai acontecer e tratem de
terminar logo de comer. Preciso da ajuda de vocês para deixar o meu
vizinho/amigo maluco.
— Você sempre o deixa maluco. Precisa ser mais específica — Ana
Laura comentou.
— Preciso de um vestido sexy pra caralho e de uma amiga que
possa ir a uma boate hoje.
— Sem boate para a mamãe aqui.
Olhei para o lado.
— Bárbara? — Fiz a minha melhor expressão de pidona.
— Meu plano para hoje era passar a noite com meu mais novo
namorado literário.
— Per favore? — implorei e vi pelo canto de olho minha cunhada
rindo.
Ela bufou.
— Tudo bem. — Bati palminhas, animada. — Mas quando vocês se
casarem, nada de colocarem o Matteo como o meu par. Quero outro
padrinho.
— Não se preocupe. Definitivamente não haverá casamento algum
entre nós dois.
CAPÍTULO 18
Henrique
— Como as pessoas conseguem fazer isso? — exclamei, puto pra
caralho.
Eu estava tentando fazer ovos mexidos há cerca de dez minutos e
para alguém como eu, sem muita paciência, era mais do que eu poderia
suportar. Já estava na quinta tentativa e ao que parece, dessa vez daria certo.
Continuei mexendo o ovo sem tirar meus olhos da frigideira. Um
sorriso se rasgou em meus lábios quando notei que estava ficando parecido
com o do engomadinho do chefe de cozinha do canal do Youtube.
Segundos depois, desliguei o fogo, orgulhoso de mim mesmo pela
primeira vez por ter conseguido preparar algo, ainda que simples, que fosse
comestível.
Peguei uma quantidade generosa com a colher e soprei algumas
vezes antes de levar até a boca. Assim que mastiguei e senti o gosto, fiz
uma careta.
Eu esqueci da porra do sal!
— Ruim pra cacete! — Joguei a frigideira na pia no exato momento
em que a campainha tocou.
Assim que abri a porta, meus dedos se fecharam com força ao redor
da maçaneta.
— Ciao, vizinho/amigo! — Beatrice me saudou com um sorriso
largo que logo foi diminuindo conforme seu olhar desceu do meu rosto para
o meu peito descoberto.
Eu estava usando apenas uma calça de flanela baixa, a barra da
minha cueca Calvin Klein completamente à mostra. Ela não disfarçou
quando analisava meu corpo, fixando-se na linha em forma de v abaixo do
meu umbigo. Minha pele se arrepiou diante do seu olhar e meus olhos
foram atraídos para a sua boca, seu lábio inferior preso entre os dentes de
um jeito sensual.
— Boa noite, Bea — falei com a voz grave e rouca.
Ela demorou alguns segundos para voltar a me olhar nos olhos, sem
um pingo de vergonha por ter me encarado de forma nada inocente, típico
da diaba.
— Você está suando, mio caro — observou.
— Eu estava cozinhando.
— Cozinhando? — Alçou uma sobrancelha linda.
Ah, como essa diaba é linda!
— Bem, tentando, na verdade. Eu estava tentando fazer ovos
mexidos.
— Deu certo? — perguntou com os olhos brilhando.
— Esqueci do sal. — Dei de ombros e ela riu.
— Você realmente é muito ruim na cozinha.
Posso não saber cozinhar, mas consigo fazer outras coisas muito
mais interessantes na cozinha. Pensei, porém engoli a resposta ousada junto
ao bolo que se formou em minha garganta, com dificuldade.
— Precisa de ajuda para algo? — procurei saber.
— No, caro mio. — Fez um movimento com uma mão e só agora
percebo a sacola de uma loja de grife repousada na dobra de seu cotovelo.
— Passei apenas para te convidar para irmos a uma boate.
— Por quê? — Cruzei os braços contra o peito e seu olhar se
demorou ali antes de que ela enfim, respondesse, não parecendo nem um
pouco incomodada por eu estar ciente de sua vistoria em meu corpo.
— Porque eu disse que ficaria de olho em você e é o que estou
fazendo. — Deu de ombros. — Como uma ótima parceira de festa, vale
ressaltar, estou me certificando que o meu querido amigo e vizinho não
esteja apenas vivendo a vida para trabalhar.
— Não sei se é uma boa ideia.
Definitivamente não era uma boa ideia.
Sair com a única mulher que eu não podia foder para um ambiente
escuro e completamente propício para atividades sexuais, absolutamente
não era uma boa ideia.
— Bárbara irá conosco. Vamos, vai ser legal! — Fez becinho antes
de completar: — Per favore, Henrique.
Será que um dia eu deixarei de ceder tão fáci às suas vontades
quando me pede usando essas malditas palavras?
Inferno!
Ainda hesitante, suspirei e assenti.
— Tudo bem.
Beatrice soltou um gritinho animado e atravessou o corredor,
andando de costas. Sem tirar os olhos de mim, disse: — Esteja pronto às
dez e meia, Sr. Prado.
Pontualmente às dez e meia, eu estava pronto e pela minha falta de
paciência em esperar, decidi chamar minha vizinha. Peguei meu celular, a
chave do carro e fechei a porta do meu apartamento, indo em direção ao
dela. Toquei a campainha e esperei que abrisse. Dois minutos depois voltei
a apertar o botão, me sentindo estranhamente ansioso.
— Deixei aberta para você. Pode entrar! — Bea gritou e eu não me
movi, pensando se seria uma boa ideia.
E se ela estiver tramando algo? E se ela me agarrar?
Por Deus, Henrique. Você é maior e mais forte do que ela.
Beatrice não faria isso. Certo? Estamos protegidos pelo muro da
amizade.
Você realmente acredita nessa merda?
Até que faz sentido.
Faz porra nenhuma!
— É, não faz sentido algum.
Puxei a respiração algumas vezes procurando manter a calma.
Balancei a cabeça, estiquei os ombros e com uma coragem ainda incerta,
girei a maçaneta e abri a porta, passando pelo batente a passos lentos e
curtos conforme observava o espaço.
Quando fechei a porta atrás de mim, ouvi sua voz soar.
— Desculpe pela demora. Estava indecisa sobre qual roupa usar.
— Que seja uma comportada e com bastante tecido — falei
baixinho. — Tudo bem, sem problemas — gritei em resposta.
— Só mais dez minutinhos e já estou pronta.
— Ok!
Os dez minutos se passaram e eu permaneci parado no mesmo lugar,
a alguns centímentros da porta, quando ela surgiu em meu campo de visão.
Olhei para a porta e depois para ela.
Para a porta e depois para ela… Cogitando realmente sair correndo
feito um pateta.
Beatrice estava vestindo a porra de um vestido branco que ia até
metade dos seus tornozelos, todavia, a transparência do tecido deixava
quase nada para a imaginação.
Porra, ela estava praticamente nua!
Apertei meus dedos em punhos com força, tentando não analisar seu
corpo, mas a dor que isso me causou foi insuportável. Então, eu a admirei,
desde os saltos prateados com fivelas em torno dos seus tornozelos e as
unhas pintadas de vermelho à mostra, subindo pelas suas pernas que se
moviam de um jeito lento e sensual, quase como uma tortura para o meu
pau que ganhava vida dentro da calça.
Meu olhar se fixou por um momento no vão entre as suas coxas que
está coberto por um short branco, antes de subir e cravar nos malditos
peitos fartos e naturais, onde os piercings que desejei por semanas ver desde
que soube deles, estavam marcados contra o tecido. Eu quase conseguia
imaginá-los com perfeita nitidez pelo contorno da roupa. Quase e isso
estava me matando.
— Pode me ajudar a fechar o zíper? Não consigo alcançar — disse,
parando de costas para mim de uma maneira quase angelical.
Eu, porém, permaneci imóvel, sentindo minhas bolas doerem
clamando desesperadamente por alívio.
Fechei os olhos por alguns segundos, contando mentalmente de um
até dez e voltei a abri-los.
A diaba virou o rosto para me encarar sobre os ombros com os olhos
ainda mais verdes pela sombra em suas pálpebras e sussurrou as malditas
palavras que eram o meu fim quando se tratava dela, em um tom inocente
fingindo: — Per favore?
Sem dizer nenhuma palavra, segurei o zíper pequeno, e talvez,
apenas talvez eu tenha raspado a ponta dos dedos pela sua pele conforme o
subia. Nós dois estremecemos quase ao mesmo tempo pelo contato.
Engoli em seco e dei dois passos para trás quando o vestido já
estava fechado.
Ah, como eu adoraria foder esse rabo!
Comer esse cuzinho sem pena, apertando sua cintura enquanto meu
pau desliza dentro dele todo melado.
Ah, como eu queria!
Pigarreei e balancei a cabeça no exato momento em que ela se virou,
ficando de frente para mim. Automaticamente meus olhos repousaram em
seus seios.
— Grazie. — Vi de relance seu sorrisinho de lado, ainda sem
conseguir tirar meus olhos das joias. Porra, eram perfeitos demais! —
Como eu estou, Henrique? — perguntou, girando em seu eixo. Minhas
mãos coçaram para dar uns tapas em sua bunda grande.
Engoli em seco, colocando as mãos nos bolsos.
— Você está linda, Bea. Como sempre.
Sorrindo feito a endemoniada que era, se aproximou e passou os
dedos pela gola da minha camisa social enquanto seus olhos me analisavam
de baixo para cima sem vergonha, sem timidez alguma.
— E você, amigo — Seu olhar subiu para encontrar com o meu,
verdes brilhantes tão intensos e eu logo me perdi neles. —, está gostoso,
como sempre. — Deu uma piscadela, se afastando. — Viu, estamos
protegidos pelo muro da amizade. Nada irá acontecer, Sr. Prado. — Outra
piscadela. — Vou pegar apenas minha bolsa e vamos.
Sorrindo feito o capeta, Beatrice seguiu pelo corredor, entrando em
seu quarto e sumindo de minha vista.
A minha vontade era de arrancar o meu cinto da calça e tirar seu
sorriso do rosto na cintada, deixando a pele da sua bunda gostosa toda
marcada.
Olhei para o alto, pedindo forças ao céu.
Eu precisava de ajuda.
Precisava urgentemente de ajuda e só havia uma pessoa que poderia
pedir socorro.
Saquei meu celular do bolso e tratei de digitar uma mensagem para
a minha prima em tempo recorde, apesar das minhas mãos estarem
tremendo e suando.
Henrique: “Lembra que você disse na última vez que nos
encontramos, que aceitaria o próximo convite para sair e se divertir de
verdade?”
Em segundos, sua resposta veio.
Stella: "Sim. Para sua sorte, estou neste momento em casa, curtindo
minha solidão com um pote de sorvete de flocos enorme. Então, se pensa
em me propor um convite, que seja a altura do milagre que é eu não estar
trabalhando."
Acabei sorrindo, prevendo que minha prima que amava me ver
fodido quando o assunto era a diaba, iria adorar o convite.
Henrique: "Beatrice me convidou para ir a uma casa noturna e eu
acabei aceitando. Preciso que vá comigo."
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Henrique: "Acabou?"
Stella: "Não!"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Henrique: "STELLAAAAA!"
Stella: "HAHAHAHAHA"
Stella: "Ok, agora eu acabei."
Stella: "Então, está com medo dela te atacar ou de você atacá-la?"
Revirei os olhos, mas acabei confessando.
Henrique: "Os dois."
Henrique: "Preciso de você, prima."
Stella: "Nunca pensei que um dia seria sua babá."
Henrique: "Nem eu pensei que precisaria de uma por causa de uma
mulher."
Henrique: "Então, você vai, certo?"
Stella: "Vou, bebezão. Não precisa chorar."
Soltei um suspiro aliviado.
Henrique: "Vou te enviar o endereço. Por favor, não demore!"
— Porra, você demorou! — exclamei assim que Stella se
aproximou do bar onde eu estava desde que cheguei.
Ela estava linda, como sempre. O vestido verde em sua pele pálida,
a fazia receber muitos olhares de ambos os sexos. O barman que estava
servindo um casal, quase deixa o copo cair por estar distraído com minha
prima.
— Não demorei, não. — Bateu em meu ombro. — Relaxa e respira.
Você está pálido!
— Não exagere.
Ela sorriu, claramente se divertindo com o meu nervosismo.
— Onde ela está?
— No banheiro.
Respondi no exato momento em que a diaba surgiu em meu campo
de visão.
Havíamos chegado há pouco mais de vinte minutos e durante todo o
tráfego, nunca fiquei tanto no trânsito como hoje. Quase caí para trás
quando Beatrice pediu para que viéssemos em meu carro e só voltei a
relaxar quando parei em frente ao prédio de Bárbara e nossa amiga entrou
no banco de trás. Ambas engataram em uma conversa sobre algum assunto
feminino que eu escolhi não prestar atenção.
Assim que chegamos, viemos direto para o bar. Depois de alguns
minutos de conversas e alguns drinks, elas anunciaram que precisavam ir ao
banheiro.
Tudo estava estranhamente calmo e não havia motivos aparentes —
além da porra dos piercings nos mamilos da filha da mãe que pareciam me
encarar, implorando para serem chupados — para eu me preocupar. E, se
tratando da própria diaba italiana, nunca era um bom sinal. Ou… eu podia
estar ficando louco?
A segunda opção também era válida.
Bea e Bárbara se aproximaram, sorrindo para Stella de forma
simpática. Logo tratei de fazer as apresentações.
— Stella, essa é Bárbara.
Ambas deram as mãos e trocaram cumprimentos educados.
Antes que eu pudesse apresentar Bea, ela me interrompeu,
estendendo sua mão para a ruiva.
— Prazer. Beatrice.
— A diaba que tem feito meu primo enlouquecer?
— Stella! — a repreendi e as três mulheres riram.
— A própria — falou orgulhosa. — Você é a prima ocupada e
médica?
— Isso. — Acenou, chegando mais perto dela. — Preciso dizer que
amei o seu vestido. Acho que vou comprar um da cor vermelha — disse
com sinceridade e um certo divertimento na voz.
— Eu a amei, Henrique.
— Claro que amou — resmunguei, apertando o topo do nariz.
Estava começando a questionar se foi uma boa ideia chamar minha
prima.
— O que gosta de beber, Stella? — Bárbara indagou.
— Qualquer coisa com álcool que me faça ser mais maluca do que
já sou.
— Definitivamente eu gostei muito de você, ragazza.
— Vou pedir algumas tequilas para nós! — Bárbara comunicou
animada se virando para chamar o garçom que estava atendendo um casal,
mas parou imediatamente assim que a viu, se aproximando dela com um
brilho cheio de segundas intenções no rosto.
— Tequilas? — Stella perguntou.
— Si, cara mia. Seu primo está como motorista esta noite. —
Beatrice piscou para mim, tocando em meu ombro.
Soltei uma risada sem qualquer humor.
Era o motorista da vez por livre e espontânea pressão. Mas,
pensando com clareza, talvez seria melhor não ingerir nenhum álcool perto
dela em um lugar tão tentador, com os piercings tentadores.
Bea sorriu e logo foi até Bárbara para ajudá-la com os copos.
Segurei o braço de Stella e a puxei para sussurrar em seu ouvido
devido a música alta.
— Haja o que houver, não me deixe sozinho com ela.
Stella anuiu.
— Pode deixar, primo. Estou aqui para ajudar você.
CAPÍTULO 19
“Chega a madrugada e a noite acaba de começar. A energia está
elevada. As luzes estão apagadas. Há apenas a Lua. O clima está
esquentando. A fumaça vai subindo pela minha mente. Não seja
impaciente.”
(Lento - Lauren Jauregui)

Henrique
Amava Stella, como uma irmã, mas à medida que Beatrice
caminhava sozinha com os olhos vidrados em mim, depois que ela, Bárbara
e minha prima traíra anunciaram que iam ao banheiro, após três doses de
tequila e muita conversa entre elas que mais pareciam amigas há anos e não
somente algumas horas, era impossível sentir qualquer afeição pela ruiva.
"Estou aqui para ajudar você."
Aham, estava vendo!
— Onde Bárbara e Stella estão? — perguntei assim que a diaba
parou ao meu lado, apoiando os braços dobrados sobre o balcão do bar.
Tentei a todo custo não transparecer meu estado de nervosismo por me
encontrar sozinho com ela, porém a forma como minha voz vacilou já me
entregou.
Ela virou o rosto, apoiando o queixo em uma mão, ficando perto
demais.
Engoli em seco, vidrado no movimento dos seus lábios pintados de
vermelho, conforme falava.
— Encontraram pessoas interessantes no caminho de volta.
Apenas acenei e foquei na garrafa que tinha em mãos.
— Então, o que costuma fazer na balada?
Franzi o cenho voltando a encará-la. Meus olhos agora cravados em
suas íris cor de esmeralda.
— O que disse?
— Perguntei o que costuma fazer nesses lugares. — Gesticulou com
a mão livre, sinalizando o ambiente.
Pensei por um momento.
— Beber, dançar, me divertir. — Dei de ombros. — Porque a
pergunta?
— Porque desde que chegamos você está parado no mesmo lugar
feito uma estátua, e tirando a parte que não pode beber por ser o motorista
da noite, não dançou e nem sequer participou das conversas comigo e as
meninas. Você nem ao menos mostrou interesse em alguém.
Eu ri internamente.
Havia apenas uma mulher por quem eu estava interessado e não
conseguia parar de observá-la. Fazia mais de duas horas que estávamos aqui
e meus olhos a seguiram por todos os lados como se estivesse hipnotizado.
Não tinha nada de educado e amigável na forma em que eu olhava para ela.
Ainda que eu tentasse controlar, era impossível não imaginar Beatrice em
meus braços, cobiçando cada pedacinho do seu corpo. E pelo sorrisinho
cínico que ela esboçou, a filha da mãe estava me provocando.
Decidi dar a ela um pouco do seu próprio veneno.
— Você é inteligente e sabe que passei a noite toda demonstrando
interesse em apenas uma pessoa, Bea.
Sem calcular muito, me aproximei dela e só percebi que estava perto
demais quando a porra do aroma de baunilha com flores adentraram em
minhas narinas, me fazendo queimar de um jeito fodidamente bom.
Estremeci, porém não me afastei, permaneci completamente dopado por
uma pequena dose dela.
— Estou apenas tentando manter o nosso muro da amizade sem
qualquer buraco, Beatrice.
Meu olhar varreu seu rosto no exato momento em que luzes neons
passaram por sua pele. A expressão endemoniada que sempre era
direcionada a mim, surgiu. A própria diaba.
Antes que falasse algo, continuei.
— Mas acho que posso provocar uma leve rachadura no muro. O
nosso já está cheio delas provocadas por você, não é? Julgo que também
tenho o direito de aproveitar desse maldito muro da amizade.
Beatrice me encarou confusa, contudo permaneceu em silêncio com
seus olhos brilhando em expectativa.
Levei minha boca até seu ouvido e sussurrei, minha barba roçando
sua pele, sentindo seu hálito quente e acelerado em meu pescoço pelo
contato. Minha superfície logo se arrepiou assim como a dela.
— Seu vestido é quase todo transparente, amiga. Consigo ver o
formato dos seus seios e quase com perfeita nitidez os malditos piercings
em seus mamilos.
Minha voz era baixa, rouca e perigosa. Encharcada do mais
primitivo desejo.
Eu a queria, porra, como a queria. Mas não podia ter, não podia
quebrar o caralho do muro, muito menos escalá-lo. Perder a amizade de sua
família, de seus irmãos não estava em jogo. Ao menos, era o que eu
pensava.
Como sempre acontecia, o pouco juízo que me restava quando me
aproximava dela, surgiu, mas antes que pudesse me afastar e restabelecer os
limites, a maldita foi mais rápida.
Surpreendendo-me, Beatrice apertou seus dedos em meu pescoço e
se impulsionou sobre mim até que minhas costas estivessem coladas ao
balcão do bar, seu corpo pressionando o meu. Arfei e instintivamente,
minhas mãos seguraram sua cintura. Quase gemi quando meus dedos se
fecharam ali.
Cacete! Meu pau cresceu, duro, pronto para mandar o caralho do
juramento para a puta que pariu.
— Beatrice — balbuciei, procurando manter a respiração em um
ritmo que fizesse meu coração desacelerar.
Ela não se moveu e eu reprimi a vontade de deslizar minhas mãos
pelo seu corpo. Beatrice era uma mulher com curvas moldadas pelo próprio
capeta para levar qualquer homem para a porra do inferno e caralho, como
eu queria me perder e queimar nelas.
Não me recordava de desejar tanto uma mulher como a desejo.
A infeliz me olhou por um segundo, lambeu seus lábios para logo
em seguida morder o inferior.
— O que está fazendo? — consegui perguntar diante do seu silêncio
e olhar de felina sobre mim.
Foi a vez dela de sussurrar no meu ouvido.
— Pensei que não ia comentar nada sobre eles, caro mio. Coloquei-
o pensando em você. — Se afastou apenas o suficiente para empinar seus
peitos na minha direção, falando um pouco mais alto diante da música que
começou. — Quer tocar neles?
Engoli em seco no exato momento em que uma voz masculina soou
alta e cheia de sotaque, próxima a nós.
— Recomendo que aceite a oferta da italiana. Você não vai se
arrepender. Experiência própria.
Beatrice e eu viramos o rosto ao mesmo tempo para o desconhecido.
— Jakov? — Bea disse, reconhecendo-o. Estremeci quando ela se
afastou de mim para observá-lo melhor diante da iluminação baixa do lugar.
— O próprio — ele falou, esboçando um sorrisinho
pretenciosamente ridículo, olhando para mim por um momento e depois
para ela. — Que surpresa maravilhosa, minha doce Bea.
Minha? Ela era dele?
Quem é esse cara?
Senti minhas veias arderem pela raiva que já se instalava em meu
sistema fazendo meu sangue ferver quando seus braços seguraram sua
cintura com intimidade, puxando-a para um abraço e a apertando como eu
desejei fazer há segundos. Beatrice retribuiu o abraço alegremente e eu
reprimi a vontade de afastá-la dele bruscamente.
Odiei a forma como o cara me encarou por cima dos ombros de Bea.
Seu olhar era sombrio e beirava o de uma pessoa sob efeito de
entorpecentes. O mais surpreendente, era que definitivamente não parecia
ter usado qualquer droga. Era ele, algo perigoso e doentio nele que me fez
endireitar ainda mais os ombros e dar um passo à frente, em completo
alerta.
— Henrique — falei alto e grave, sem qualquer simpatia. Eles se
asfataram, satisfação passou pelos olhos do filho da puta. Ele sabia, sabia
que sua presença havia me incomodado e o pior, isso estava claramente o
divertindo. Ódio, o que sentia não era mais raiva, e sim, ódio do mais puro e
furioso que um ser humano é capaz de sentir. — Henrique Prado — me
apresentei sem dar abertura para qualquer cumprimento.
— Jakov — disse, sorrindo feito um lunático. — Apenas, Jakov.
Minhas mãos coçaram para tirar o sorriso de psicopata que habita
em seu rosto, no soco.
Permaneci com os olhos sobre ele até Beatrice falar.
— Jakov, esse é Henrique, o melhor amigo dos meus irmãos.
Henrique, esse é Jakov, meu amigo exceção. Lembra que falei sobre ele
para você?
Virei o rosto tão rápido que senti uma pontada de dor em meu
pescoço.
Esse era a porra do amigo colorido dela?
O P.A.? O caralho do pau amigo?
Nem fodendo!
A encarei secamente e a filha da mãe sorriu, fingindo timidez com
os braços para trás, balançando o corpo de um lado para o outro como uma
garota levada.
— Amigo exceção? — o desgraçado sortudo falou. — Espero que
tenha falado apenas coisas boas a meu respeito, querida.
Querida.
Argh! Eu definitivamente detestei esse cara.
— Falei apenas coisas boas de você, não é mesmo, amigo? — Bea
piscou um olho para mim.
Ah, essa diaba ardilosa quer mesmo me foder!
Não respondi e em silêncio, voltei a observar o maldito à minha
frente que continuava sorrindo.
Porra! Senti vontade de estrangulá-lo aqui mesmo, sem me importar
com a multidão espalhada pelo ambiente.
— Quer beber algo? — ela perguntou a ele.
— O mesmo que você, minha doce Bea
Minha doce Bea.
Definitivamente, estava prestes a cometer um assassinato se ele a
chamasse assim mais uma vez.
Ela assentiu e se virou para acenar para o barman, apoiando os
braços no balcão e deixando sua bunda empinada.
— Linda — o filho da puta teve a cara de pau de comentar
encarando-a com malícia.
Triquei os dentes, fechando meus dedos em punho.
— Melhor parar de olhar. — Mesmo com a música alta, meu tom de
voz era ameaçador e se ele tivesse bom senso e amor-próprio pela sua vida,
entenderia que nesse momento a melhor saída seria seguir o meu conselho.
Contudo, o bastardo parecia gostar de perigo porque ele não se importou em
brincar com fogo.
— Não há nada que eu já não tenha visto ou tocado por debaixo
desse vestido. — Deu de ombros. — Gostosa demais e fode como uma
puta.
Caralho, eu ia matá-lo!
Perdendo completamente o controle, avancei nele — que não
parecia nada surpreso com minha atitude, o que só me irritou ainda mais —,
agarrei na gola de sua camisa e sem nenhuma cerimônia, despejei dois
socos em sua boca com toda força. O maldito não se abalou e nem fez
qualquer menção em revidar, pelo contrário, me encarou de baixo para cima
sombriamente, o sorriso presunçoso rasgando vagarosamente em sua boca,
que agora ganhou algumas gotas de sangue.
— É só isso que você tem, advogadozinho de merda? — cuspiu as
palavras junto a uma risadinha de puro deboche.
Gritei um palavrão e o joguei no chão, pronto para acabar de uma vez
por todas com ele. O montei e desferi socos, um atrás do outro sem parar,
cego pelo ódio. A música que o DJ tocava cessou e um burburinho se
formou à nossa volta. Não parei, nem quando senti braços me rodearem e
vozes pedindo para parar.
Meu ataque ao infeliz findou quando fui arrancado à força de cima do
cretino.
— Me soltem, porra! — ordenei, tentando me libertar.
— O que está acontecendo? — Beatrice parou em minha frente, seu
olhar vagando entre nós. Seus olhos pararam em mim por um momento,
analisando meu rosto. Quando não encontrou nenhum machucado, fez o
mesmo com seu amiguinho. Então agachou e tocou o queixo do infeliz. —
Per Dio! O que você fez, Henrique?
— Estou bem, cara mia. Não se preocupe — ele disse, segurando sua
mão para em seguida depositar um beijo no dorso, me lançando um olhar
arrogante.
— Me solte agora, caralho! — gritei puto e logo os homens todos
vestidos de preto, que reconheço serem os seguranças do estabelecimento, o
fazem.
— Cacete! O que perdemos? — Stella perguntou, surgindo em meu
campo de visão com Bárbara a tiracolo. — Você está bem? — questionou,
me observando.
— Sim, estou.
— O que está acontecendo aqui? — Um homem de terno apareceu e
pela forma como olhou para os funcionários da boate, presumi ser o dono
ou gerente da casa noturna.
— Nada, Rodrigo — o infeliz falou, se levantando com Beatrice
ainda ao seu lado. Ao que parece, o bastardo era amigo do proprietário e ele
não parecia nada abalado pelo estrago que fiz em seu rosto. O sorrisinho
doentio ainda estava estampado em seu semblante.
— Saia de perto dele, Beatrice! — ordenei duramente.
Ela me lançou um olhar desafiador, alçando uma sobrancelha e
cruzando seus braços.
— Você não manda em mim! — provocou.
Dei alguns passos em sua direção e segurei seu braço com firmeza,
mas com cuidado suficiente para não machucá-la.
— Não me teste, Beatrice — murmurei. — Vamos embora, agora! —
declarei, encarando suas íris verdes que nesse instante possuíam um tom
mais escuro. Ela estava puta, assim como eu. Ótimo!
— Henrique, fique calmo — ouvi Bárbara pedir, porém permaneci
encarando a diaba.
— Calma aí, cara! — O amiguinho de merda tentou me tocar,
sorrindo de um jeito irritante.
— Não encoste em mim ou eu acabo com a sua raça! — bradei. Ele
ergueu as duas mãos em rendição, ainda com o sorriso presunçoso. Porque
esse cretino continua sorrindo, caralho? — Vamos sair daqui, Beatrice!
Agora, caralho!
— Me solta! — ela gritou, tentando sair do meu aperto.
A olhei nos olhos e o que vi ali fez todo o meu corpo tremer.
Medo.
Seus lindos olhos verdes estavam cheios de medo.
— Me solta, Henrique! Per favore!
Per favore.
As palavras que me enfraqueciam ditas em um tom baixo, quase
como uma súplica, me arrebatam para um lugar em mim que eu odiava.
Então, eu a livrei do meu aperto e Bea logo foi para o lado de Jakov.
Soltei lufadas de ar rapidamente, conforme encarava todos à minha
volta.
Stella era a única que me olhava com carinho, ao invés de assustada.
Ela era a única que me compreendia.
A única que sabia a forma como escolhi viver.
A única pessoa que sabia o que eu fazia comigo mesmo.
Me aproximei dela e pedi que cuidasse de Beatrice, pois não confiava
no maldito homem perto dela. Então, saí a passos largos indo em direção à
porta dos fundos sem olhar para trás.
Eu precisava ficar sozinho.
Eu.
Só.
Tenho.
Que.
Ficar.
Sozinho.
Sozinho.
CAPÍTULO 20
Henrique
Abri a porta dos fundos da boate, sentindo o vento frio da
madrugada me atingir, mas nem mesmo ele foi capaz de aplacar a quentura
do meu corpo.
Fechei os olhos por um momento, tentando controlar minha
respiração, puxando e soltando o ar.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Nunca fui uma pessoa que possui facilidade em expressar o que sente,
principalmente quando os sentimentos são ruins. Sempre tive medo de
machucar as pessoas à minha volta e por esse motivo, eu transformava
emoções negativas em pequenas doses de raiva e as deixava me consumir,
dose após dose.
Desde muito novo, aprendi a importância de ter responsabilidade
emocional e o quanto nossas falas e ações, baseadas em sentimentos
primitivos e momentâneos, podem destruir a vida de quem amamos.
Carlos quando sentia algo ruim, reagia escrevendo e entregando
cartas.
Eu, por outro lado, me envenenava com toda fúria que tinha em mim,
entregando silêncio, sorrisos e às vezes palavrões e piadas, ao invés de
extravasar toda a cólera que perturbava meu interior.
Eu engolia tudo, me embebedava e ficava quieto, queimando sozinho
por dentro.
A dor era tanta que ardia a ponto de me consumir.
Eu me perdia em mim mesmo.
Nublado pela fumaça da fúria que me abraçava.
Uma escuridão que parecia jamais me deixar.
Nunca.
Nunca.
Ela simplesmente não ia embora.
E mesmo que eu a tenha aceitado quando era apenas um garoto, já
estava cansado. Completamente exausto de sentir tanta… raiva.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Claramente, não sou averso à brigas como meu amigo era, não
quando se tratava de defender quem me importo e era exatamente esse o
limite.
Perder o controle para proteger alguém do mal, eu aceitava e não me
importava com mais nada.
Entretanto, perder o controle porque eu era o mal, era intragável para
mim.
Eu detestava ser o motivo da tristeza ou do medo de alguém.
Detestava ser a razão que desencadeava coisas ruins nas pessoas que
gostava.
Detestava ser o causador de olhos apavorados.
Eu gostava de Beatrice e ela me olhou assim.
Com medo, assustada, ainda que eu tenha agido, inicialmente, para
defender a sua honra, contudo eu perdi o controle depois. Passei o limite
que jurei nunca ultrapassar.
Com certeza a cena que causei há minutos, não foi bonita.
Foi feia, assim como o meu interior.
— Henrique! — A voz dela me fez abrir os olhos e encarar o céu
escuro.
— Agora não, Beatrice, me deixe sozinho! — ordenei sem olhar para
trás, mas logo ouvi o som da porta de ferro sendo fechada com força.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Inspira e expira.
Tum. Tum. Tum. Tum.
— Eu já disse que você não manda em mim! — exclamou, cutucando
minhas costas com um dedo. — Que porra deu em você?
— Beatrice, sai daqui — grunhi, virando o rosto para olhá-la por
sobre os ombros. — Sai daqui! Por favor! — falei mais uma vez,
pausadamente.
— Não!
— Por favor, me escuta!
— Não vou a lugar algum! — pontuou.
— Me obedeça, caralho. — Virei o corpo, ficando de frente para ela.
— Já disse que não.
Me aproximei dela, que continuou ali com o queixo erguido, me
encarando com aqueles malditos olhos.
Aqueles olhos. Aquele olhar.
A porra daquele olhar me levaria para o inferno junto a ela.
— O que custa me obedecer?
— Você não é meu pai para que eu te obedeça, então pare de querer
me dar ordens.
Tum. Tum. Tum.
Meu coração batia mais rápido, descompassado, perdendo
completamente o ritmo.
Não era apenas raiva agora.
Era ela. .
A diaba italiana. A mulher vinda das profundezas do inferno só para
me foder.
— Por que fez aquilo?
— Pergunte para o cretino do seu pau amigo.
— Estou perguntando para você, me responda!
Franzi o cenho.
Ok, Beatrice!
Você está puta. Eu estou puto.
Perfeito.
Simplesmente.
Per-fei-to.
Dei dois passos em sua direção.
— Aquele babaca estava te comendo com os olhos feito um
pervertido.
— Per Dio! — Jogou as mãos para o alto, deixando-as cair ao lado do
corpo em seguida. — Quanta hipocrisia. Você fez a mesma coisa que ele
durante a noite toda. Você me olha da mesma forma desde que me
conheceu. Então, seja sincero e assuma que você estava com inveja. Inveja
por ele já ter me fodido.
Não havia como negar.
Eu era um homem vivido e sabia que a razão para ter partido para
cima do infeliz, não foi apenas pelo que ele disse, mas porque eu, de fato,
estava me corroendo de ciúmes e inveja.
Principalmente inveja. Inveja da mais ridícula.
Inveja por ele ter ultrapassado a porra do muro da amizade e eu
seguia sem qualquer intenção de fazer algo, além de uma rachadura.
Você a quer, mas não pode.
Sim, era verdade. Eu queria. Como a queria.
Ela era tudo que eu não deveria querer, mas eu queria.
Queria mergulhar no inferno que ela era, me perder em cada curva do
seu corpo delicioso.
Queria, desesperadamente, enterrar meu pau em sua boceta e meter
sem parar, até que ela estivesse arruinada para todos os outros homens. Da
mesma forma que ela, aparentemente, fez comigo sem nem ao mesmo me
beijar.
Mas que mulher desgraçada do caralho!
— Ele falou de você como se fosse uma qualquer, Beatrice. O que
esperava que eu fizesse? Hã? — questionei. — Somos amigos, não somos,
caralho? Estava defendo a sua honra, droga!
— Não preciso que ninguém defenda a minha honra, eu sei me
defender sozinha.
Suas palmas se chocaram contra meu peito me empurrando, mas eu
não me movi. Segurei seus pulsos e coloquei seus braços para trás,
empurrando-a até que encostasse na parede dos fundos da boate.
— Henrique — balbuciou quando colei minha testa na sua, fazendo
nossas respirações se misturarem no ar.
— Porque você tem que ser tão teimosa, porra? — perguntei
entredentes olhando no fundo dos seus olhos, que agora me encaravam com
intensidade.
Não havia mais medo.
Não havia mais pavor.
Apenas desejo.
Isso, eu prefiro assim.
Prefiro que você me olhe com desejo, diaba.
Ainda que eu não possa tê-la em minha cama.
Deixei toda a raiva fluir e me permiti percorrer aquelas esferas verdes
luminosas.
Me perdendo… nela.
Que poder é esse que seus olhos possuem sobre mim?
Cada vez que os meus encontravam com os seus, era como sofrer uma
colisão, cada pedaço do meu corpo sofrendo com os estilhaços da batida.
— Porque você tem que ser tão — indaguei, enterrando o rosto no
vão convidativo do seu pescoço, aspirando com fome o cheiro de baunilha e
flores que vinha perturbando o meu juízo. Era como nirvana. Caralho,
era… perfeito! — cheirosa, diaba?
— Henrique…
— Tão — disse, passando minha língua em sua pele, subindo até sua
orelha e soprando ar quente ali — deliciosa.
O corpo de Beatrice estremeceu, sua pele se arrepiou e eu perdi
completamente o juízo.
— O que você está fazendo? — ela perguntou completamente sem
fôlego.
Voltei a encarar seus olhos.
— O que você está fazendo comigo, porra?
E lá estava sua expressão de diaba que eu amava e odiava, que fazia
minhas duas cabeças enlouquecerem.
— Quer me beijar?
Olhei por um momento para seus lábios que se desmanchavam em um
sorriso de lado, endiabrado.
— E você, Beatrice, quer ser beijada por mim? — Pressionei meu
peito contra o seu, amando ter seus seios grandes contra mim.
Ela arfou, mas sustentou meu olhar, apesar das pálpebras parecerem
pesadas.
— Pare de responder às minhas perguntas com outras perguntas. Seja
direto pelo menos uma vez comigo. Responde, caralho! Quer me beijar ou
não?
— Eu quero — Raspei meus lábios nos seus e nós dois gememos
baixinho. — Porra, como eu quero foder a sua boca com minha língua, sua
desgraçada dos infernos.
— Você vai me beijar? — sussurrou.
Foda-se!
Foda-se?
É, é isso.
Eu estava mandando a porra do juramento para a puta que pariu.
Eu estava prestes a fazer um buraco imenso no caralho do muro, não
apenas em nossa amizade, mas na minha amizade com seus irmãos também.
Tudo iria mudar.
E… droga, eu estava me odiando por não conseguir abrir mão de
querer tanto isso.
Eu a queria e eu a teria!
Ela era uma diaba.
Ela era tudo o que eu não deveria querer, mas porra, como eu a
queria.
Ela era proibida e eu, um filho da puta que estava obcecado e cansado
demais para continuar resistindo ao pecado.
Eu estava prestes a ir para o inferno e com a porra de um sorriso no
rosto.
Foquei em seus lábios e a infeliz deslizou sua língua por eles, ao
mesmo tempo que sua perna direita subiu até minha cintura me puxando
ainda mais para si. Meu pau se chocou com o meio de suas coxas e mais um
gemido escapou de nossas bocas.
E foi o meu fim.
Ela será o meu fim.
— Foda-se!
Dito isso, colei nossos lábios com brutalidade, soltando seus braços
para segurar seu rosto.
Foi apenas um toque. Um simples toque que nos fez ofegar,
estremecer e alucinar.
Beatrice fincou as unhas em minha cintura e quando sua língua tocou
na minha, e o beijo finalmente havia começado de verdade, era como se a
diaba estivesse me possuindo.
Corpo e alma.
Eu estava mil vezes mais fodido do que pensei!
Enfiei uma mão em seus cabelos e com a outra desci pela lateral de
seu corpo apertando seu seio esquerdo, raspando meu polegar no mamilo.
Gemi quando senti a textura do maldito piercing, afastando nossas bocas.
— Caralho! Você… você tem mesmo joias nos peitos.
Mordi e puxei seu lábio inferior. Ela gemeu gostoso em resposta.
Porra, como ela iria gemer se eu metesse nela?
— Tenho — confirmou sem fôlego. — Sua boca… sua boca vai
experimentá-los dessa vez?
O ditado é claro. Se você já está no inferno, abrace a porra do diabo.
No meu caso, diaba.
— Pede! Pede por favor, Bea. — Lambi seus lábios entreabertos. —
Pede pra eu chupar seus peitos como uma putinha obediente. — Aumentei
o aperto em seus cabelos. — Pede, cachorra!
Seus olhos nublaram de pura luxúria.
— Henrique…
— Pede e eu te dou.
Lambi seu pescoço, antes de morder o lugar abaixo de sua orelha. Ela
gemeu alto e meu pau se contraiu dentro da calça com o som.
— Chupa meus seios, Henrique. Chupe-os, per favore.
Sorrindo vitorioso, desci a mão que segurava seus fios até seu
pescoço, fechando meus dedos ali conforme buscava em seu olhar qualquer
sinal de objeção ao contato, mas o que encontrei foi apenas fogo.
Ela queria. Ela gostava. Então, eu continuei.
Apertei minha mão em seu pescoço, lhe roubando um pouco de ar,
apenas o suficiente para lhe dar prazer.
Bea gemeu e eu não perdi mais tempo.
Com a mão livre, puxei a parte de cima do seu vestido até que seus
seios estivessem à minha mercê e caralho, eles são perfeitos. Grandes,
fartos e os mamilos marrons que estavam pontudos, possuíam piercings na
horizontal, com dois pequenos diamantes azuis nas extremidades.
Os mais lindos que já vi!
Eu precisava senti-los com a minha boca. Porra, como eu precisava.
E foi o que fiz, abocanhei o direito e mamei, sugando-o com força.
Gemi junto a ela quando o metal raspou em minha língua,
pressionando meu quadril em sua entrada. Beatrice começou a rebolar sem
pudor, desesperadamente em busca de alívio.
— Henrique…
Cacete, como eu adorava ouvi-la gemer meu nome.
Prendi meus dentes em seu bico antes de soltá-lo e circular minha
língua nele.
Fiz o mesmo com o esquerdo, dando atenção ao outro com a minha
mão, que o apertava com o indicador e o polegar.
— Eles são perfeitos! — declarei quando me afastei para voltar a
atacar sua boca com ainda mais fome.
Bea chupava minha língua de um jeito tão sensual, que me fez
imaginar como seria gostoso se meu pau recebesse tal atenção.
Aumentei o aperto em seu pescoço, descendo a mão que segurava seu
seio até a curva do seu joelho, abrindo-a ainda mais para mim. Rocei meu
pau em sua boceta e pude sentir sua excitação umedecer nossas roupas. Ela
segurou minha nuca e aprofundou ainda mais o beijo, nos levando a ser
uma confusão de gemidos e línguas.
Filha da puta que beija bem pra caralho!
Quando o ar nos faltou, nossas bocas se afastaram e nossos peitos
subindo e descendo freneticamente.
Descansei minha testa na sua e fechei os olhos, em completo êxtase.
— Beatrice…
— Henrique…
— Não podem…
— Não diz nada, per favore.
Abri os olhos, encontrando os seus ainda mais lindos banhados de
prazer.
Porra, como olhos podiam ser tão deslumbrantes?
— Continua — murmurou, manhosa.
— Bea…
— Só continua. Eu preciso que continue. — Se esfregou mais contra
o meu pau. — Eu estou tão perto — choramingou.
Arfei.
— Caralho, porque você tem que ser tão gostosa?
Segurei seus seios que mal cabiam em minhas mãos e antes que eu
pudesse voltar a mamar neles, senti meu celular vibrar no bolso da calça.
Estremeci quando o som do toque que escolhi para Dante, chegou aos
meus ouvidos.
Por Deus! O que eu estava fazendo?
O que eu fiz?
CAPÍTULO 21
Beatrice
— O que você tanto olha nesse celular, fratello? — perguntei a
Dante.
— Para ele estar com essa cara de cachorro adestrado, com certeza
tem a ver com a “gnomio” barriguda — Matteo comentou de boca cheia.
Havíamos combinado de almoçar juntos no restaurante da empresa.
Seria o primeiro almoço sem a minha cunhada, pois ela parou de trabalhar
por recomendação médica.
— Rosa me enviou uma foto de Ana Laura vestida com a fantasia de
morango que ela comprou — suspirou ainda olhando para a tela do
aparelho. — Mi amore ficou ainda mais linda. Já consigo imaginar minhas
meninas usando as suas. Meus três morangos.
— Você sabe que ela comprou uma dessas para você também, não
sabe? — indaguei reprimindo uma risada.
Meu irmão me olhou de cara feia.
— Eu amo minha esposa. A amo muito, mas não vou usar, de forma
alguma, aquela fantasia — declarou, deixando o celular sobre a mesa.
— Você vai! — Matteo e eu falamos em uníssono.
Dante revirou os olhos.
— Você faz tudo o que aquela baixinha pede, até se transformou na
porra de um cadelinha.
— Quero ver quando for a sua vez de se apaixonar, boca suja.
Aposto que você vai usar uma coleira cor-de-rosa.
— Com glitter e em neon — acrescentei, risonha.
— Preciso confessar que estou ansioso por isso — Matt comentou.
— Sou um ótimo partido. — Estufou o peito confiante.
— Tenho pena da coitada que terá que aguentar os seus dramas —
Dante declarou.
— Eu serei um ótimo marido, caralho!
— Será sim, fratello!
Ri da sua expressão de quem se sentiu ofendido.
— Ainda bem que não tenho planos para me apaixonar, ao menos
não por agora — verbalizei.
— Não toque nesse assunto, porque já consigo sentir as rugas
surgirem — o dramático resmungou, tocando em seu cabelo devidamente
arrumado.
— Na hora certa, irá encontrar o amor, ragazza. E desejo que
demore um pouco, para que possamos preparar nossos corações — Dante
brincou, ao tocar em minha bochecha com carinho.
— Terão tempo de sobra, não se preocupem. Estou bem solteira.
— Isso, definitivamente, não me conforta — Matteo disse.
— Compartilho do mesmo pensamento, fratello.
— Eu amo vocês — Meu olhar vagou entre seus rostos —, mas sou
uma mulher adulta que gosta de sexo, muito, diga-se de passagem.
Soltei uma risada quando meus irmãos resmungaram e alisaram suas
barrigas, como se estivessem com indigestão.
Como amo provocá-los!
— Beatrice, cara mia, agora sou pai. Meu coração não pode sofrer
com fortes emoções assim. Preciso de paz.
— Você se casou com uma "gnomio" serelepe, porra. Paz é a última
coisa que terá ao lado daquela baixinha, Dantinho.
— É, ela é baixinha, mas tão linda — suspirou. — E quando penso
que você esqueceu esse apelido ridículo, você vai e solta-o novamente.
— Você gosta dos meus apelidos. Não faça cu doce, Dantinho.
— Falou o cu amargo — debochei.
— Estamos almoçando. Per Dio! — o irmão certinho exclamou.
Rimos.
— Então, é verdade que você ligou de madrugada para Henrique
pensando que era o número do restaurante vinte e quatro horas, fratello?
Ouvir o nome dele me faz pensar em tudo o que aconteceu no
último final de semana.
Henrique sempre demonstrou não ser uma pessoa muito paciente,
mas nunca o vi transtornado como naquela noite. Parecia estar
completamente fora de si. E ainda que a cena tenha alimentado meu ego —
muito, na verdade —, fiquei assustada pela forma como ele reagiu.
Quando saiu, olhei por um momento para Jakov que estava sendo
amparado pelo dono do lugar que ao que tudo indicava era seu amigo, antes
de largar tudo e ir atrás do loiro emputecido em busca de explicações. Ao
invés de respostas, recebi o melhor beijo da minha vida.
Não deixei de pensar, um dia sequer, em seus toques e na sua boca
em mim.
Henrique me beijou, me lambeu, chupou meus peitos e me deixou
excitada como nunca estive antes.
Cazzo, foi tudo perfeito… até a ligação do meu irmão atrapalhar e
estourar nossa bolha.
Então, Henrique pirou.
Se afastou rapidamente.
Ele não me olhou.
Apenas saiu correndo sem me dar a chance de dizer coisa alguma.
Sem dizer uma palavra sequer.
Eu estava puta!
Se você já foi interrompida e não pôde gozar quando estava perto do
ápice, vai me entender.
É tão frustrante quando o orgasmo não vem. E sim, eu ainda estava
puta por isso.
Ok, não apenas por isso.
Mas era o principal motivo da minha raiva.
Depois que me recompus, Bárbara e Stella surgiram pela porta dos
fundos, questionando se eu estava bem e onde estava Henrique. Fui sincera
quando respondi as duas perguntas, guardando para mim os detalhes
quentes e o trágico fim da nossa noite quando o loiro fugiu de mim sem nos
darmos o prazer que tanto queríamos.
Jakov surgiu logo em seguida em nosso campo de visão com o rosto
inchado, cheio de sangue e hematomas, porém o sorriso de moleque seguia
intacto. Ele não pareceu se importar com o que tinha acontecido e antes que
eu pudesse perguntar o que tinha culminado a ira de Henrique ou oferecer
para levá-lo ao hospital, Jakov checou seu celular, bradando um palavrão e
disse que precisa ir, que seus irmãos o estavam esperando.
Eu nem sabia que ele tinha irmãos!
Se despediu sobre minhas falas de que ele precisava ver um médico
e foi correndo até a esquina. Bárbara, Stella e eu ficamos observando-o,
enquanto um carro preto parou próximo a ele. A porta do passageiro foi
aberta, mas pela distância e pouca iluminação, não conseguimos ver o rosto
do motorista ou se tinha mais alguém no banco traseiro. Meu amigo entrou
no veículo e da mesma forma inesperada que surgiu em minha vida, se foi.
Dias se passaram e não soube de mais nada sobre Jakov, o mesmo
não respondeu nenhuma das minhas mensagens ou ligações, cheguei a
entrar em contato com a recepção do hotel onde ele estava hospedado e fui
informada de que sua estadia, já havia sido encerrada.
Tentei não pensar muito no assunto ou sobre o fato de não ter visto
Henrique desde então. Eu sabia que ele estava fugindo de mim, fazendo o
possível para não me encontrar pelo prédio tendo que lidar com o fato de
que deu uns amassos na única mulher que disse ser proibida para ele.
A briga entre os dois não estampou nenhuma página de fofoca ou
jornal. Com certeza, pela influência e contatos que Henrique tinha, o
mesmo não permitiria que o ocorrido vazasse para a mídia. Agradeci
mentalmente por isso.
Dante soltou uma risada me afastando dos meus pensamentos.
— Sim, liguei para Henrique por engano. Ana estava com desejo e
me acordou aos prantos. Não havia despertado totalmente e quando peguei
o celular, acabei digitando o número dele. Pela voz cansada, parecia que ele
estava ocupado com alguém.
Sim, Dantinho.
Ocupado com a sua irmã e os piercings nos mamilos dela!
Reprimi uma risada.
— Ele está estranho — Matteo divagou.
Fiz a sonsa.
— Porque acha isso? — questionei.
— Ele não apareceu nos treinos durante a semana e as respostas que
me deu foram vagas demais. Meu pressentimento me diz que B2 está
preocupado com algo. Ele até me ligou de volta depois que a chamada foi
para a caixa postal. — Arregalou os olhos acenando a cabeça.
— Ligou? O nosso Henrique ligou para você?
— Qual o problema disso? — Olhei para meus irmãos, confusa.
— Henrique odeia conversar por mensagens, apenas o necessário,
nada além disso. Ligações então, só quando é algo urgente. Ligar porque
perdeu uma ligação de Matteo, é algo muito incomum para ele.
— Não exagere. Meu vizinho deve estar ocupado no trabalho, com
algum caso grande e aí acaba dormindo tarde e acordando cedo — respondi
simplesmente, bebendo um pouco do meu suco logo em seguida.
— Esse B2 bombadão é mesmo um viciado em trabalho — Matteo
bufou. — Preciso falar com Simone.
— A secretária dele? — Dante questionou e ele anuiu.
— Sim, ela é quem me informa quando aquele teimoso passa do
ponto.
— É muito bonita a sua preocupação com ele, caro mio — falei com
sinceridade, tocando em seu ombro. — Mas ele está bem, apenas está
ocupado, tenho certeza disso.

Henrique
Definitivamente eu não estava nada bem e foi uma péssima ideia vir
até a casa da minha prima, a mesma que me abandonou e me deixou à
mercê da diaba, para conversar e pedir conselhos.
— Tome — Stella disse me entregando um pote pequeno de sorvete
de flocos.
— Que porra é essa, Stella? — Apontei para o recipiente.
— Sorvete, ué. — Deu de ombros.
— Eu sei que é sorvete.
— Então pra que perguntou, gênio? — Revirou os olhos.
Bufei.
— Eu estava me referindo ao motivo de você ter me entregado um
pote de sorvete, Stella — esclareci.
— Porque tudo com sorvete de flocos fica mais fácil. Então,
priminho — disse, abrindo uma das várias gavetas próximo à pia e tirando
de lá uma colher, estendendo-a para mim —, tome um pouco e comece a
desabafar. Na ligação de mais cedo, você parecia um pouco agitado.
Apertei os olhos em sua direção, aceitando a colher.
— Como você é cínica, ruiva. Puta que pariu, hein!
Ela soltou uma risada, deixando um pouco de sorvete escorrer no
canto de sua boca.
— Você sabe muito bem o porquê estou agitado e a culpa disso é
sua! — exclamei abrindo o pequeno recipiente em minhas mãos. — Se você
tivesse permanecido ao meu lado naquela noite, eu não teria dado uns
amassos na diaba.
— Fazia tanto tempo que eu não saía para me divertir que acabei me
distraindo com um moreno alto e gostoso.
— Argh! — gemi em desgosto. — Sem detalhes, por favor! — pedi,
torcendo o nariz.
— E pelo jeito que ela estava naquele beco, foram mais do que
simples amassos — provocou. — Minha amiga estava uma verdadeira
bagunça.
— Amiga? — Alcei uma sobrancelha.
— Sim, inclusive, fui adicionada no grupo “Bonde das taradas” —
riu. — Fui recepcionada com um vídeo da Ana Laura dançando Beyoncé.
Gostei dela, na verdade gostei de todas, até de Kyara que é a mais quieta.
— Elas são ótimas.
— São mesmo e eu também amei o apelido que o irmão da Beatrice
deu a Ana. “Gnomio” barriguda. — gargalhou.
— Matteo é maluco como você, prima — comentei, enchendo a
colher de sorvete e levando-a até à boca.
— Gosto de pessoas malucas. São as melhores, na verdade.
— Hum — murmurei de boca cheia.
— Então — começou a falar, se sentando em cima da enorme ilha,
de pernas cruzadas —, sobre o que você precisa conversar?
— Não é óbvio? Eu peguei a irmã dos meus melhores amigos.
Quebrei a porra do juramento do dedinho!
— Juramento do dedinho?
— É. Matteo quem inventou essa merda.
Stella riu.
— Ok, eu nem conheço esse Matteo e já o considero “pakas”.
— Tenho a leve impressão de que vocês vão se dar superbem —
resmunguei.
— Enfim, você e a diaba se pegaram — começou a narrar os fatos.
— Sim.
— E vocês gostaram?
— Eu gostei, sem dúvida nenhuma.
— E agora, pelo que eu conheço de você, está se sentindo culpado,
não por ter pegado a irmã dos seus melhores amigos, mas sim porque você
não se sentiu nem um pouco arrependido por isso. Certo?
Soltei um longo suspiro, colocando o pote de sorvete sobre a peça
de mármore à minha frente.
— Certo.
— Então isso quer dizer que você teria ido até o fim se a ligação de
Dante não tivesse te interrompido?
Esfreguei os olhos e puxei minha barba.
— Sou um amigo cretino, não sou?
— Não, você não é, Henrique. Deixe de drama e coma logo a
Beatrice. Ela quer isso e você também. Simples!
— Não é tão simples assim, Stella. E depois? Se apenas com uns
amassos eu não consegui agir normalmente com eles, o que acontecerá se
ela e eu fizermos sexo? Porra, não quero perdê-los. Eles são minha família.
Desde o meu momento com Bea noites atrás, fugi dela todos os dias,
assim como fiz com seus irmãos.
Dante era mais tranquilo e não insistiu quando comentei que estava
sumido por conta do trabalho, já Matteo era mais intrometido e ainda que
tenha aceitado minhas desculpas por não ter aparecido nos treinos e
recusado seus convites para almoçar, eu sabia que não deixaria para lá tão
facilmente. B1 me conhecia e era um fofoqueiro de primeira.
Tentei focar no trabalho e não pensar no melhor beijo que eu já
experimentei, nos seios mais lindos e suculentos que já chupei, naqueles
malditos piercings e nos gemidos mais gostosos que já arranquei de uma
mulher.
Foi difícil não sucumbir a vontade de bater uma punheta sempre que
a imagem da diaba surgia em minha mente, toda entregue para mim.
Porra, parecia que eu tinha voltado a ser o adolescente punheteiro
que fui!
E ainda tinha o fato de que nem no meu quarto eu estava conseguindo
dormir, porque era só olhar para a parede atrás da cabeceira da cama, que
surgia a vontade de pular a droga do parapeito da varanda que dividimos e
ir até ela para terminarmos de destruir o maldito muro.
Eu estava enlouquecendo porque queria mais.
Queria mais dos seus beijos, dos seus toques, da sua boca.
Queria me intoxicar com seu maldito cheiro e me consumir em seus
olhos.
Eu queria mais do inferno que era Beatrice Fontana.
Stella suspirou e segurou meu rosto, fazendo com que eu olhasse
diretamente em seus olhos. O tom que ela usou comigo, foi suave,
carinhoso e cheio de compreensão.
— Você não vai perdê-los porque se envolveu com Beatrice. Ambos
são adultos e ela te quer tanto quanto você a quer. E se…
— E se…?
— E se vocês se apaixonarem?
Franzi o cenho e senti algo estranho no estômago.
Ela não me daria sorvete estragado, certo?
— Isso não vai acontecer. — afirmei.
— Como você sabe disso? A gente não controla essas coisas.
Minha prima parecia durona, empoderada e que era do tipo que
preferia estar solteira e tinha aversão a relacionamentos. Mas por trás de
toda armadura que ela escolheu vestir depois de tantos babacas que
cruzaram com o seu caminho, eu sabia que ela ansiava por um amor intenso
e que lhe roubasse o fôlego.
Stella Prado era a típica romântica incubada e eu torcia para que o
destino fosse bom com ela e que lhe apresentasse alguém que valorize todas
as suas versões, ainda que nem todas fossem bonitas.
Éramos parecidos.
Ambos teimosos, com uma casca dura e sem muita paciência.
Xingávamos feito dois caminhoneiros.
Contudo, ela conseguia ter mais fé em encontrar o amor.
Ela ainda acreditava em finais felizes.
Eu não conseguia me ver além do presente.
Ela era positiva.
Eu era realista do jeito mais negativo da palavra.
Ela sonhava em ter uma família.
Eu já não sonhava mais com nada além do trabalho.
Ela queria ser o amor da vida de alguém.
Eu queria o amor que nunca poderei receber.
— Porque Beatrice e eu queremos a mesma coisa, ruiva. Sexo! —
respondi após meu breve momento de divagações.
— E se tudo mudar no meio do caminho? — inquiriu.
— Não vai, prima.
— Se acontecer…
— Não vai, eu não vou me apaixonar.
Ignorando as minhas palavras, ela continuou com as suas.
— Se acontecer de você se apaixonar pela diaba italiana, me
promete que não vai transformar tudo em raiva, promete que vai contar para
ela.
— Stella…
— Me promete, Henrique — insistiu, segurando meu rosto com
ainda mais força.
Suspirei, abrindo o sorriso para ela.
— Tudo bem, eu prometo.
Segurei suas mãos e as uni, depositando beijos nelas. Isso fez com
que os machucados nas juntas chamassem sua atenção.
Respirei fundo quando flashs do sorrisinho do cretino surgirem em
minha mente.
Graças a minha influência e meus contatos, a briga não chegou à
mídia, assim nenhuma das partes envolvidas foi exposta. E ao que parece, o
tal Jakov tinha um pouco de bom senso e amor à vida, já que o mesmo não
deu queixa de mim pela surra que lhe dei.
Definitivamente não me arrependo por ter quebrado a cara do infeliz
e torço para que Beatrice nunca mais o veja.
— Quer conversar sobre a briga?
— Não há nada para conversar. O filho da puta falou mal de Bea, eu
defendi sua honra e fim.
— Minha nova amiga não precisa que alguém defenda a honra dela
— comentou. — Mas não estou falando dos socos que você deu no babaca,
e sim da forma como reagiu depois.
Não disse nada. Eu sabia esconder o que sentia, porém sempre fui
um péssimo mentiroso para as pessoas que me conheciam de verdade, uma
ironia para quem escolheu a carreira de advogado. Por esse motivo,
permaneci em silêncio.
Stella me analisou por alguns instantes e quando percebeu que não
conseguiria arrancar nada de mim, desistiu, pelo menos por hora. Ela era
insistente e parando para pensar agora, parecia uma versão feminina de
Matteo.
— Tudo bem. — Bateu as palmas antes de segurar o pote de
sorvete. — Você vai no almoço de domingo na casa dos Fontana? — quis
saber. — As meninas me convidaram.
— Você vai?
— Vou — respondeu com um sorriso animado nos lábios. — E
fique tranquilo. — Piscou um olho para mim. — Dessa vez eu vou te
ajudar. Prometo.
Soltei uma risada incrédula.
— Uhum, sei.
CAPÍTULO 22
Henrique
Sempre acreditei em destino e tenho certeza de que nesse exato
momento ele quer me arrombar pelo cu e sem lubrificante ainda. Puta que
pariu!
Assim que adentramos a enorme cozinha da mansão dos Fontana,
meus olhos foram direto para a caçula da família, que estava em um canto
conversando com Bárbara e Ana Laura. A maldita diaba usava uma blusa
de seda com botões, uma saia justa na altura dos seus joelhos, que deixava
seu rabo ainda mais provocante, todavia meu corpo tremeu quando meu
olhar desceu e se fixou em suas pernas cobertas por uma meia transparente
e preta, daquelas que são presas por cinta-liga.
Meu ponto fraco, no meu ponto fraco.
Caralho!
Eu amava mulheres com curvas e estava louco para me perder nas
de Beatrice.
Minha boca encheu de vontade para passar minha língua em sua pele,
subindo por suas coxas, até sua…
— Fecha a boca, primo! Você está quase babando — Stella
sussurrou ao meu lado depois de me dar uma cotovelada.
Balancei a cabeça forçando uma tosse e ajeitei minha postura.
Ao que parece, hoje ela realmente estava disposta a me ajudar.
— B2! — Matteo exclamou ao me notar. Foi impossível não sorrir
ao ver meu amigo correndo até mim. — Eu estava com saudade, caralho!
— Apertei sua mão em um toque camarada, sendo puxado para um abraço.
— Olha a boca, Matteo Fontana! — Dona Beatriz o corrigiu, dando
um tapa no ombro do filho quando nos afastamos. — Como está, querido?
— perguntou, apertando minhas bochechas como costumava fazer.
— Estou bem.
Antes que pudesse apresentar Stella, a senhora sorridente segurou o
rosto dela.
— Santo Dio, cara mia! Você é realmente tão linda quanto Henrique
disse. Olha esse cabelo ruivo e esses olhos. Belissima. Semplicemente
belissima. — elogiou, apertando as bochechas dela como fez com as minhas
há segundos. — É um prazer finalmente conhecê-la.
— Obrigada. A senhora também é linda pra caralho!
— Outra boca suja para a família? — a mulher de cabelos grisalhos
pontuou, mas sua expressão era de puro divertimento.
— Gostei dela — Matteo falou.
— Claro que gostou, mi figlio — Sr. Vincenzo disse. — Bem-vinda,
cara. Parecemos malucos, mas é só aparência. No fundo somos normais. —
Piscou um olho com uma expressão cômica.
— Obrigada, senhor! — sorriu.
— Deixe-me me apresentar, ruiva. Sou Matteo, o mais bonito da
família.
— E o mais fofoqueiro e intrometido também — Dante acrescentou,
recebendo um dedo do meio do irmão.
— Modos, meu filho — sua mãe ralhou.
— Então, você concorda que eu sou o mais bonito da família? —
Como nada passa batido por ele, aproveitou para provocar.
Na mesma hora, como ímã, meus olhos miram na direção da diaba
que já estava me fitando com aquele maldito olhar que fazia todo o meu
corpo estremecer.
Engoli em seco quando um sorriso rasgou em seus lábios
preguiçosamente e uma piscadela foi direcionada a mim.
Desviei o olhar, voltando a focar em Matteo e Dante que discutiam.
— Eu não disse isso.
— Mas também não negou — sorriu de orelha a orelha.
Bufei, revirando os olhos.
— É um prazer conhecê-lo, Matteo. — Stella apertou sua mão.
— Bem-vinda ao grupo, ruiva! — Ana gritou correndo de um jeito
engraçado até nós, segurando a barriga grande.
— Garota você é serelepe demais para o seu tamanho — falou
enquanto abraçava com carinho a grávida.
— Mais uma para fazer bullying comigo. — Fez uma careta e
cruzou os braços, tendo os do seu marido ao seu redor.
— Prazer, Stella. Sou Dante — sorriu, descansando o queixo no
topo da cabeça da esposa, envolvendo-a em seus braços.
— Como vocês são lindos juntos! — exclamou a ruiva maravilhada.
— Não olhe muito para eles se não você vai ficar com cárie nos
olhos — Matteo cochichou para a minha prima, que caiu na gargalhada,
dando um tapa de leve no ombro do palhaço.
— Olá, Stella. — Bárbara cumprimentou-a com um abraço. —
Como está?
— Melhor agora, conhecendo todos de quem tanto ouvi falar! —
Sorriu encantada. — Amiga, preciso dizer mesmo que me esgane. Hoje,
com a claridade do dia, sou capaz de notá-la melhor e confirmo, você
realmente parece uma boneca!
Ela revirou os olhos.
— Estão ouvindo? — Matteo perguntou em voz alta, olhando em
volta. — Eu sou ótimo com apelidos.
— Claro que é — Miguel debochou. — Sou Miguel, irmão da
“gnomio” serelepe.
— O “princeso”. — Stella fez aspas com as mãos. — Já ouvi tantas
histórias de vocês, que sinto como se já os conhecesse há anos — comentou
risonha.
— Sinta-se parte da família, ragazza — Beatrice declarou, se
aproximando de nós. A envolveu em um abraço e antes de conduzi-la até a
mesa, olhou para mim e proferiu as seguintes palavras, em um tom de voz
calmo que chegou a me assustar, a ponto de fazer todos os meus ossos
tremerem: — Bom ver você, vizinho.
Bem, se ela conseguia agir como se nada tivesse acontecido entre
nós, eu também conseguiria.
Você consegue, Henrique Prado!
Você consegue, porra!

Definitivamente eu não conseguia agir com naturalidade e


tranquilidade como a diaba.
Durante todo o jantar, Beatrice se envolveu em todas as conversas
que eram levantadas de uma forma animada e descontraída, seu olhar se
cruzou com o meu em alguns momentos. Minha prima, Bárbara, Ana Laura
e ela, estavam mais próximas do que imaginei que estariam, já que haviam
se conhecido há pouco tempo, fazendo planos e marcando saídas como
velhas amigas.
Eu, por outro lado, não parava de pensar no quão filho da puta
estava sendo cada vez que Dante e Matteo me perguntavam algo. Fiquei
calado a maior parte do tempo, enchendo meu prato e minha boca com a
comida deliciosa de dona Beatriz.
— Você está estranho — Matteo declarou assim que me aproximei
dele, de Miguel e Dante na área gourmet.
Enquanto os demais ficaram dentro da casa após o jantar, nós quatro
optamos por ficar na área externa.
— Só com a cabeça cheia de trabalho — respondi simplesmente,
ignorando seu olhar avaliativo sobre mim e o sabor amargo da mentira em
minha boca. — Tenho andado muito ocupado nos últimos dias.
— Desse jeito, nossas sobrinhas terão apenas dois seguranças, B2.
— Ainda não acredito que vocês estão levando a sério essa coisa de
serem os seguranças das minhas filhas — Dante comentou incrédulo, mas
sorriu. — Contudo, aprecio e agradeço a intenção. — Anuímos. — E você,
Miguel, como estão as coisas com Juliana? Ela é uma ótima pessoa.
— Sim, de fato. Estamos nos conhecendo e deixando as coisas
fluírem, mas nos damos bem. — Deu de ombros.
— Já sentiu ciúmes dela? — Matteo procurou saber.
— O quê?
— Ciúmes. — Revirou os olhos. — Já sentiu ciúmes da Juliana?
Miguel pensou por um momento antes de responder.
— Não.
— Então posso afirmar que a relação de vocês não vai passar de algo
casual, no máximo, uma amizade.
— Como você pode afirmar isso? — quis saber, visivelmente curioso.
— Melhor você nem querer saber… — Dante disse, porém foi
interrompido pelo irmão.
— Muito bom você ter perguntado isso, “princeso”. — Empertigou os
ombros. — Graças às novelas mexicanas, grazie Dio pela “Televisa”. —
Parou e olhou para o céu antes de continuar. — Eu e meu cérebro genial —
Tocou em sua testa com o indicador — desenvolvemos passos para saber se
você está se apaixonando por alguém.
— Que seriam?
Dante e eu estávamos prendendo o riso ao ver o semblante do maluco
se iluminar quando começou a explicar o assunto.
— Ciúmes, negação e o surto.
— Ok — Miguel falou pausadamente, coçando a cabeça. — O ciúmes
e a negação são óbvios para mim, porém o que seria o surto?
— É quando você se declara para a pessoa. Podendo vir
acompanhado ou não das três palavras mágicas.
— “Eu te amo.” — Miguel concluiu.
— Eu também te amo, “princeso” — o doido disse, tocando o peito
com uma mão e com um sorriso exageradamente emocionado.
Foi impossível não cair na gargalhada com a cena.
— Ai, Matteo! Você é pirado mesmo — comentou.
— Eu estou passando mal. Santo Dio! — Dante declarou sem fôlego
entre risos, segurando a barriga.
— Eu também te amo foi de foder! Porra — expressei, me
esbaldando em risadas.
— O quê?
— Quando eu disse “Eu te amo”, estava dizendo que essas são as três
palavras mágicas às quais você estava se referindo — Miguel explicou
calmamente.
— Aaaaah! — Coçou a cabeça.
— Mas relaxa, cara. Eu te amo! Você é um bom amigo.
— Eu sou um ótimo amigo, o melhor dos amigos! — pontuou,
fazendo aquele movimento típico dos italianos. — Inclusive, vocês
deveriam me valorizar mais.
— Valorizamos você, fratello. — Seu irmão tocou em seu ombro,
puxando-o para um abraço de lado ao falar.
— Principalmente você, seu B2 bombadão — o dramático continuou
e apontou para mim. — O que deu em você nos últimos dias?
Tentei sustentar o sorriso, mas falhei miseravelmente.
Como dizer a ele que não parava de pensar em trepar com sua irmã
feito dois coelhos?
Pigarreei.
— Trabalho, você sabe — desconversei e pela forma como ele me
olhou, sabia que eu não estava sendo totalmente sincero.
— Trabalho — repetiu, apertando os olhos.
— Sim, nada demais. — Dei de ombros e suas palavras me
surpreenderam e me mostraram porque ele não apenas era um ótimo
advogado, mas um fofoqueiro de primeira.
— Posso nunca ter tido um relacionamento sério, porém aprendi com
as novelas mexicanas que quando um homem diz que é “nada demais” é
porque tem mulher no meio.
Eu não disse? Fofoqueiro filho da mãe!
Se Matteo tivesse optado pela carreira de jornalista, ele estaria ainda
mais rico do que já é.
— Cazzo, você está gostando de alguém? — Dante questionou
surpreso.
— Não estou gostando de ninguém — falei rápido demais e é claro
que o Maria Fifi não deixou passar.
— Anda. — Sentou-se ao meu lado. — Desembucha.
Suspirei, meu olhar oscilando entre os meus três amigos.
— É complicado — deixei escapar sem conseguir reter as palavras.
Caralho, Henrique!
— Então descomplica, ué — Matteo disse.
Soltei uma risada sem qualquer humor.
— Não é tão simples.
— Detalhes, meu amigo. Eu gosto e preciso de detalhes sobre você e
essa mulher que tem te deixado assim.
Se você soubesse que é a sua irmã, definitivamente você odiaria
saber os detalhes.
— Podemos mudar de assunto? — pedi, sentindo todo meu corpo
gelar em nervosismo. — Realmente não é nada demais.
— Com certeza é tudo demais. Depois de Verônica, você nunca ficou
assim por mulher nenhuma e nunca mais se envolveu sério com ninguém.
— Qual o problema disso?
— Nenhum, mas eu conheço você. Ainda que diga que prefere sair
por aí comendo e fodendo toda mulher que cruza o seu caminho, você é do
tipo que curte um relacionamento.
— Sou ótimo em ler pessoas — Miguel começou a falar —, e ainda
que tenhamos nos conhecido há pouco tempo, está na cara de que essa
mulher é alguém importante para você. O que está te impedindo?
A porra de um juramento do dedinho que fiz aos italianos presentes.
Engoli em seco.
— Se eu tentar algo — É, eu enlouqueci. Estou mesmo cogitando a
possibilidade de me envolver com aquela diaba? Mulher viciante dos
infernos! —, é apenas por tesão. Não há… sentimentos.
— Então é mais simples ainda — Matteo expôs.
— Tem medo de se apaixonar? — Dante indagou.
— Não há a menor possibilidade de eu me apaixonar por essa mulher.
Definitivamente, se algo rolar será apenas sexo, nada além disso.
— Já sentiu ciúmes dela? — Matt investigou.
Revirei os olhos.
— Não. — Mentiroso!
— Então, meu amigo é só ir atrás do seu alvo. — Deu de ombros. —
Você nunca foi do tipo que pensa demais quando o assunto é uma foda.
Não, porém quando o assunto é uma foda com a irmã caçula dos
meus amigos.
Aí, eu penso até demais.
— Mas, sendo o especialista em romances que sou…
— Quem disse que você é um especialista de romances, fratello?
— Eu mesmo. — Empinou o queixo e nós três rimos. — Como eu
estava dizendo, sendo o especialista que sou — deu ênfase nas palavras.
Dante bufou e revirou os olhos para o irmão. —, ainda acho que não se trata
apenas de sexo.
— Ele tem um ponto — Miguel observou. — Um bom ponto, na
verdade.
— Confiem em mim quando digo que só quero sexo com essa mulher.
— Garanti.
— Então porque você está tão perturbado com isso, se é apenas sexo?
— B1 insistiu.
Caralho, preciso tirar o chapéu.
O filho da mãe era bom!
— Ela é ex de um cliente — improvisei, me sentindo encurralado.
— Não é tão complicado assim, cara — Miguel explicou. — Faz
muito tempo que você o atendeu em um caso?
— Mais de um ano.
— Caralho, B2. Se você a quer e ela também te quer, qual o
problema? — Matteo questionou.
— Eu entendo — Dante disse. — Ele está com receio de ser antiético.
Me senti assim quando conheci Ana Laura e ainda não estava perdidamente
apaixonado por ela — suspirou.
— Agora deita e rola, toto — Matt zombou do irmão que revirou os
olhos.
Rimos.
— Enfim, sexo é simples. Não complica pensando demais. Ela é
solteira e você também, só deixa rolar.
Soltei uma risada pelo nariz.
— Deixar rolar.
— Isso, deixa rolar e não perde a oportunidade quando ela aparecer.
E a oportunidade apareceu uma hora e meia depois.
CAPÍTULO 23
Henrique.
— Novamente, obrigada pelo convite! — Stella agradeceu depois
de abraçar dona Beatriz.
Já passava das nove e meia da noite quando começamos a nos
despedir.
— Não precisa agradecer. Fique à vontade para aparecer sempre que
quiser — a senhora de cabelos grisalhos disse, enganchando seu braço no
de minha prima. — E, aproveitando o fato de você ser uma neurocirurgiã,
gostaria de marcar uma hora em seu consultório.
— Está sentindo dor, mi amore? — Sr. Vincenzo perguntou
preocupado.
— Não é para mim, querido e sim para Matteo. Esse menino não
regula muito bem às vezes e olha que a gestação dele foi a mais tranquila.
Não sei porque ele veio assim — soou reflexiva.
Todos riram.
— Mamma! — exclamou, horrorizado.
— O quê, meu filho? Será apenas uma ressonância nessa sua
cabecinha. — Tocou na testa dele, que rolou os olhos.
— Você vai com Henrique para casa, sorella? — Dante perguntou a
Bea.
Em algum momento do jantar, ela havia comentado que seu carro
estava na oficina naquele final de semana.
— Claro que sim, não é? — Sr. Vincenzo falou, tocando em meu
ombro.
Pelo canto de olho pude ver o sorrisinho de Beatrice.
Engoli em seco, sentindo o suor escorrer pelas minhas costas.
Como negar o pedido do homem que me acolheu como filho?
E era o mais prático e correto a se fazer.
Ela estava sem carro.
Estávamos indo para o mesmo lugar.
Não era como se eu estivesse fazendo algo de errado.
Certo? Certo.
Suspirei internamente.
— Claro — consegui dizer, tentando soar o mais tranquilo possível,
mas estava pirando por dentro. — Você pode vir comigo, Bea. Sem
problemas.
Olhei para ela, que sorriu abertamente.
— Grazie!

Em silêncio, Beatrice e eu caminhamos pelo jardim da mansão,


vendo os veículos de todos sumirem das nossas vistas rumo à saída.
Em silêncio, entramos em meu carro e colocamos o cinto.
E assim, eu desejava ficar durante todo o percurso.
Contudo, logo que entrei na rodovia, a mulher ao meu lado parecia ter
outros planos.
— Vai me evitar até aqui? — questionou, sua voz demonstrando
claramente sua irritação.
— Não estou te evitando — menti na cara dura.
— Para um advogado, você é um péssimo mentiroso, Sr. Prado.
É, eu sei.
Suspirei fazendo a curva para a direita.
Para um sábado à noite, o trânsito estava movimentado.
— Passamos dos limites.
— Passamos. — concordou. — Foi bom e somos adultos para lidar
com isso.
— É, somos.
— Então para de fugir de mim como tem feito nos últimos dias —
ela cuspiu as palavras de um jeito bruto.
Não respondi até parar em um sinal vermelho. Quando o fiz, virei o
rosto para encará-la.
Bea estava com a face levemente corada, principalmente nas
bochechas e na ponta do seu nariz, seus lábios estavam apontados para o
alto sutilmente em um bico tentadoramente fofo e o vão entre as suas
sobrancelhas grossas estava mais marcado. Não consegui conter a risada
que escapou da minha garganta.
— Estou tentando ser madura e você está rindo de mim? —
Incredulidade pingou em suas palavras. — Per Dio! Stronzzo!
— Me desculpe.
— Por rir de mim ou por fugir depois do que aconteceu naquele
beco? — questionou, virando o corpo em minha direção.
Suspirei, alisando minha barba.
— Pelos três — respondi com sinceridade, voltando a olhar para
frente, mas vi quando seu cenho se franziu sem entender o que eu disse.
O sinal ficou verde e logo coloquei o carro em movimento, focando
na estrada à medida que falava.
— Foi um erro rir de você e da sua expressão brava, assim como foi
um erro ter te beijado e agido como um cretino depois disso.
— Então me beijar foi… um erro? — soou como se eu a tivesse
ofendido.
— Pensei que fosse óbvio.
— Inacreditável — bufou e pelo canto do olho, vi sua pele ficar
mais vermelha.
— Eu não queria te ofender, mas você sabe que é proibida para
mim, Beatrice. Sempre foi — tentei manter o meu tom de voz calmo. —
Você é irmã caçu…
— Sou a irmã caçula dos seus melhores amigos — completou
tediosamente, rolando os olhos. — Mas também sou mulher, cazzo! Pare de
fazer um drama por isso, como se fosse um motivo plausível para você não
me foder!
Engoli em seco e apertei com força meus dedos no volante.
— É um motivo plausível, Beatrice. Seus irmãos confiam em mim.
Seus pais confiam em mim. Sua família é importante para mim. Me
envolver com você seria errado de várias maneiras.
Ela bufou.
— E mesmo assim, nos beijamos.
Engoli em seco novamente.
— Sim, nos beijamos, Bea. E… somos amigos, certo?
— Certo — afirmou a contragosto. — Mas você dizer que nosso
beijo foi um erro, isso foi golpe baixo para o meu ego — confessou.
Diminui a velocidade quando o fluxo de carros aumentou e o
engarrafamento se fez presente. Virei o rosto para vê-la olhar pela janela, os
braços ainda cruzados, assim como suas pernas. Foquei nelas por um
momento, sentindo meus dedos formigarem para deslizarem pela meia
preta.
— Foi um erro, porém um erro bom. Muito bom, Bea.
Isso pareceu ter chamado sua atenção, pois logo virou o rosto
lentamente para me encarar.
— Então você admite que gostou, Sr. Pado? — provocou.
Seus lábios se repuxaram para o lado em um sorrisinho
endemoniado filho da puta.
E quando observei o brilho perverso passar pelas suas iris verdes,
percebi que estava fazendo a porra de um teatro que eu cai feito um
patinho.
Diaba desgraçada do caralho!
Semicerrei meus olhos, meu sangue fervendo em minhas veias
conforme a raiva e o tesão se misturavam em meu sistema.
— Eu adorei ter minha boca fodida pela sua língua — disse baixo,
em um tom rouco e delicioso de ouvir, se aproximando. — Passei os
últimos dias pensando em como seria tê-la fodendo minha boceta.
Com a mão direita, ela tocou em minha barba, raspando a unha curta
com certa aspereza.
Senti minha pele arder com o arranhão.
— Você estava fingindo — declarei, minha voz saindo apertada.
— Talvez. — Deu de ombros lentamente. — Você ficou uma
gracinha com cara de culpado, advogado.
Grunhi, fechando meus olhos, buscando manter a calma e o pouco
juízo que me restava quando se trava dessa mulher dos infernos.
— Respire, Henrique — sussurrou e eu congelei ao sentir seu hálito
próximo demais do meu rosto.
Abri os olhos rapidamente.
— Respire — tornou a dizer, deslizando seu dedo da minha barba
até meu pescoço.
Estremeci com o toque sutil, contudo intenso a ponto de deixar meu
pau duro feito aço dentro da calça social.
— Você quer me enlouquecer, sua desgraçada? — murmurei.
— Estou conseguindo? — Investigou ainda que já soubesse a
resposta.
O sorrisinho dissimulado que brotou em seus lábios me fez
perder a cabeça.
Rodeei seu pescoço, apertando meus dedos o suficiente para lhe
roubar um pouco de ar, mas tomando cuidado para não sufocá-la e a puxei
até que nossos narizes estivessem se tocando.
Porém antes que eu pudesse falar, o barulho de buzina soou.
Pelo susto, nos afastamos abruptamente um do outro.
— Droga! — praguejei endireitando-me atrás do volante e tornando
a colocar o carro em movimento.
— Fica calmo, amigo/vizinho — sua voz repleta de deboche chegou
aos meus ouvidos, me fazendo queimar internamente. — Não fizemos
nenhuma outra rachadura no nosso muro.
— Fica quieta! — ordenei rudemente.
Bea soltou uma risada indiferente.
— Você não manda em mim!
— Só cala a porra da boca, Bea! — exigi, apoiando o cotovelo na
janela para em seguida, segurar minha testa na mão enquanto olhava para
frente. — Será que você consegue ficar quieta até chegarmos em casa? —
Quando parei o carro, devido ao trânsito lento, virei o rosto para vê-la me
encarar como se estivesse bolando um plano perigoso.
— Quer silêncio, caro mio? — Alçou uma sobrancelha me
desafiando.
Não respondi, pois o som do seu celular tocou, fazendo-a desviar o
olhar de mim. Beatrice abriu sua bolsa com pressa e ao desbloquear o
aparelho, surpresa tomou conta do seu rosto.
Observei seus dedos tocarem com pressa na tela por um breve
momento até pausarem, como se estivesse esperando por uma resposta,
expectativa reluzindo em seu semblante. Fiquei quieto observando-a com
atenção. O celular tocou novamente e o que quer que ela tenha lido nele, a
deixou alegre. Me peguei curioso, querendo saber o que e quem a tinha
deixado desse jeito.
— Acho que vou ficar por aqui — anunciou de repente olhando para
a rua.
— O quê? — exclamei em choque.
Só então ela olhou para mim.
— Vou ficar aqui. Preciso encontrar uma pessoa.
— Quem? — questionei com os olhos semicerrados para ela.
— Jakov. — A tranquilidade com que Beatrice respondeu, injetou
em mim uma dose grande e extra de ódio.
— Mas nem fodendo que você vai ver aquele cretino! — gritei.
— Per Dio! Quantas vezes vou ter que dizer que você não manda em
mim? Cazzo!
— Você não vai! — vociferei.
— Não que eu precise convencer você de algo, mas preciso vê-lo
depois de tudo que aconteceu.
— Eu já expliquei para você o que aconteceu — resmunguei,
focando no trânsito que agora estava mais fluído. — Ele te desrespeitou e
eu te defendi. Não é tão difícil de entender.
— O que ele disse?
— Porque não perguntou para o seu amiguinho? — zombei antes de
responder. — Mas se quer tanto saber, ele disse que você fode como uma
puta.
— Sou uma mulher muito bem resolvida para me importar com esse
tipo de comentário acerca da minha vida sexual. E bem, ele não mentiu. Eu
realmente fodo como uma puta. E falando nisso, eu preciso de um pau para
me foder nesse momento.
Engasguei sentindo meu corpo todo gelar, começando a suar frio.
— Você.Não.Vai.Foder.Com.Ele. — minha voz saiu
assombrosamente rouca, mas isso não pareceu assustar a mulher ao meu
lado, que continuou a falar sobre suas necessidades.
— Eu sou solteira e tenho minhas vontades. Ele me come gostoso e
me faz gozar enlouquecidamente.
— Cala a boca!
— O quê? Por quê? Somos amigos e amigos falam sobre suas vidas
sexuais. Estou falando da minha para você, amigo.
Tentei focar na paisagem urbana que brilhava à nossa volta,
buscando não formar as cenas sexuais da diaba com o infeliz. Foi quando
uma fachada em tons de madeira e com as letras do condomínio residencial
em prata, chamou a minha atenção.
O sinal fechou e meu peito se apertou com a lembrança de um
futuro que eu almejei ter um dia.
O som da porta se fechando com força me fez sobressaltar de susto.
Meu rosto serpenteou para o lado vendo o banco do carona vazio e
depois para a rua, onde avistei Beatrice andando rumo à avenida, sem olhar
para trás.
— Mas que caralho! — bradei, dando dois socos no volante. —
Essa mulher quer mesmo me enlouquecer!
Puxei o freio de mão, me livrei do cinto e saí do carro, sem me
importar em estar passando por entre os veículos, parecendo um louco.
Dei passadas largas, sentindo todo o meu corpo em combustão à
medida que caminhava na direção da diaba.
— Entra no carro! — vociferei, quando já estava próximo a ela,
segurando seu braço e puxando-a para que fique de frente e perto de mim,
não desejando fazer uma cena no meio da rua e correr o risco de malditos
paparazzis nos flagrarem. Algumas pessoas próximas nos olharam com
curiosidade, porém ignorei focando minha atenção apenas na maldita.
— Não! — disse firme, me olhando com o queixo empinado.
Respirei fundo, mil razões passando pela minha mente em looping
para que eu não tomasse a decisão mais louca da minha vida.
Eu a evitei por meses.
Evitei de todas as formas possíveis deixar o desejo me dominar.
Eu não queria permitir.
Ainda com meus dedos em volta do seu braço, disse, fazendo-a
franzir o cenho: — Foda-se!
— Foda-se?
— É, foda-se! Estou cansado de tentar fugir do inevitável. É um pau
que você quer? É o meu que você terá hoje. Entra no caralho do carro.
Agora!
Ela me encarou e eu sustentei o seu olhar no meu, expulsando
qualquer medo que ameaçou me fazer mudar de ideia.
— O que isso significa, Henrique? — Seus olhos brilharam em
expectativa e cheios de malícia.
Beatrice sabia muito bem o que minhas palavras significavam, porém
ela claramente queria que eu implorasse!
Cacete!
— Significa, sua desgraçada dos infernos, que estou fazendo
exatamente o que você disse que eu faria há meses. Estou implorando por
você. — A encarei, umedecendo meus lábios descaradamente enquanto ela
me olhava em completo choque, como se não acreditasse no que estava por
vir. Levei minha boca até o seu pescoço e mordisquei a pele abaixo da sua
orelha, fazendo-a estremecer e espalmar as mãos contra meu peito. —
Significa que estou implorando para você me deixar meter em sua boceta
do jeito que imaginei por mais de dois anos — sussurrei. Com a mão livre
apertei sua cintura e ela arfou em resposta. — Estou implorando,
desesperadamente, para me deixar te comer bem gostoso. — A puxei para
mim, colando meu corpo no seu e fazendo-a sentir o quão duro eu já estava.
Afastei o rosto apenas o suficiente para que meus olhos encontrassem com
os seus quando perguntei: — Então, vamos fazer a porra de um buraco
imenso no maldito muro da amizade, diaba italiana?
CAPÍTULO 24
“Sem provocações, você já esperou tempo demais. Vai fundo, eu vou
te dar o que você não consegue pegar. Não se segure, você sabe que eu
gosto com força.”
(Skin - Rihanna)

Beatrice
Assim que os portões do luxuoso condomínio abriram, meus olhos
foram até o homem atrás do volante.
— Quem mora aqui? — perguntei curiosa.
— Ninguém.
— Para onde está me levando?
Ele não respondeu, como das duas vezes que questionei desde que
entramos no carro, voltando a ficar em silêncio da mesma forma que estava
desde que implorou por mim no meio da rua, momentos atrás.
Senti todo o meu corpo tremer em expectativa e ansiedade pelo que
estava por vir.
Eu finalmente descobriria como é ser fodida pelo homem que desejo
por mais de dois anos.
Como é ter a boceta chupada por sua boca deliciosa enquanto seus
dedos apertam e brincam com meus mamilos.
Qual é a textura do seu pau contra a minha língua e o quão bom é o
seu gosto quando gozasse fundo em minha garganta.
Ele finalmente seria meu. Todo meu.
Por apenas uma noite, ele seria só meu e eu seria dele.
Henrique parou em frente a uma das casas mais lindas que já vi.
Ela possuía dois andares, toda no estilo provençal com um toque
moderno.
Os detalhes na fachada eram em tons de branco e madeira, e me
fizeram lembrar das casas de campo que costumo ver em filmes norte-
americanos.
— Uau! Esse lugar é… lindo — comentei sem conseguir tirar meus
olhos da propriedade.
— É — foi o que saiu de sua boca antes que tirasse o cinto e abrisse a
porta.
Vi o loiro atravessar a frente do carro e uma nova onda de expectativa
me tomou, me fazendo apertar as coxas em ansiedade.
Isso está mesmo acontecendo!
— De quem é essa casa? — perguntei assim que ele abriu a porta do
passageiro para mim, me deixando surpresa com sua atitude.
— Vamos! — ordenou rudemente, seguindo até a entrada da
propriedade.
Tirei o cinto, impaciente e vociferei, seguindo-o: — Cazzo! Porque
todo esse mistério?
Ele subiu os degraus e quando estava próximo da porta, tirou do bolso
um chaveiro com um pingente na ponta escrito em inglês: “Lar.”
— Não vai me responder? — questionei.
Henrique permaneceu quieto conforme usava uma das chaves para
abrir a porta. Quando o fez, soltei um gritinho ao ser surpreendida por seu
braço, que enlaçou minha cintura, puxando-me para dentro junto a ele.
Minhas costas tocaram na madeira, fechando-a com força, me fazendo arfar
pelo ato brusco e abrupto.
— Henrique… — murmurei, deixando minha bolsa cair aos meus
pés, levando minhas mãos até a gola da sua camisa social branca.
— Quer trepar ou conversar, diaba? — sua voz soou grave, rouca,
baixa e deliciosamente sexy, e seus olhos dançavam entre minha boca e
meus olhos.
Ele pressionou o seu corpo contra o meu, me permitindo sentir seu
pau duro. Deixei um gemido escapar, imaginando o quão maravilhoso será
tê-lo todo enterrado em mim.
Santo Dio!
Pelo volume que roça minha barriga, Henrique era grande e grosso
como eu sempre imaginei.
Prendi seu lábio inferior entre os dentes, chupando-o com pressão em
seguida, fazendo sua testa descansar na minha. Sorri de lado e sussurrei as
seguintes palavras, usando o meu melhor tom travesso: — Para quem fugiu
esse tempo todo, você está muito apressado, Sr. Prado.
— E para quem me atiçou esse tempo todo, você está fazendo um
charminho irritante que definitivamente não combina com você —
devolveu, seus olhos vidrados nos meus.
Eu não era o tipo de pessoa que corava por se sentir tímida. Nunca!
Pelo contrário, eu era quem fazia as pessoas corarem. Contudo, todas
as vezes em que Henrique apreciava meus olhos de um jeito tão intenso,
como agora, eu quase me sentia constrangida a ponto de fazer minhas
bochechas enrubescerem. Quase!
Engoli em seco, expulsando a sensação estranha que ameaçou me
abraçar.
— O que combina comigo? — indaguei.
— Ser tratada como uma puta — respondeu, descendo sua mão até
minha bunda, fechando seus dedos ali com força para, em seguida, alisar o
meio, entre os montes, de baixo para cima. — Você gosta, não gosta,
desgraçada? Gosta de ser tratada como uma putinha na cama?
Mordi meu lábio, empinando meu quadril contra sua mão, apreciando
o carinho.
— Uhum — murmurei.
Ele gemeu me prensando mais contra a porta, seus lábios tocando nos
meus e sua barba arranhando meu queixo conforme falava.
— Como eu adoraria comer esse cu. — Sua mão se fechou no meio
da minha bunda e eu arqueei as costas, adorando a onda de prazer que me
atingiu. — Meter meu pau com força e bem gostoso.
— Você nem comeu minha boceta ainda — balbuciei, fechando os
olhos, completamente entregue. — Acha que consegue dar conta de mim?
Ele soltou uma risada cheia de incredulidade, me fazendo abrir os
olhos para encontrar os seus.
— Ah, Bea, você precisa entender uma coisa sobre mim. Na cama,
quando estou fodendo eu não controlo a fera que vive em mim. Eu
apenas… sigo meus instintos. Nunca fui uma pessoa paciente, mas no
sexo… — um som rouco saiu de sua garganta, quase como um rosnado, me
fazendo estremecer. — Ah, querida, no sexo, eu fodo como um selvagem
faminto e preciso que saiba que uma mulher nunca conseguiu saciar a
minha fome.
— E o que a sua fera interior está esperando para me beijar? Pensei
que ela estivesse com fome.
Ele grunhiu e segurou meu quadril com força, virando-me de costas
em um movimento rápido. Uma mão enroscou meu pescoço, os dedos
grandes pressionando ali apenas o suficiente para me deixar mais excitada.
Henrique era experiente e sabia enforcar do jeito certo para fazer uma
mulher ir à loucura. Todas as vezes em que ele me enforcava, sentia minha
boceta pingar de tesão, como agora.
— Vamos deixar uma coisa bem clara, Beatrice. — Seus lábios
rasparam minha orelha e uma enxurrada de arrepios perpassou pelo meu
corpo com seu hálito contra minha pele. Sua mão livre apertou minha
cintura com força, me fazendo ter certeza de que seus dedos deixarão uma
marca no local. Seu quadril espremeu minha bunda contra a porta e reprimi
a vontade de rebolar. — Hoje você irá me obedecer. Quem manda sou eu,
entendeu?
— Entendido, senhor — debochei, só então rebolando vulgarmente e
sem qualquer pudor contra seu pau, sentindo seu corpo tremer.
— Não me lembro de ter mandado você rebolar esse rabo, safada —
rosnou.
Espalmei minhas mãos contra a madeira da porta, impulsionando
ainda mais meu quadril contra o seu membro. Virei o rosto para admirar seu
olhar lascivo em nossos corpos grudados.
— Então, por que não me mandou parar, senhor?
Ele rosnou, os olhos azuis assumindo um tom escuro, cheio de fogo e
desferiu dois tapas fortes em minha bunda. Minha pele ardeu, porém não
tive tempo para dizer nada pois sua boca colou na minha, sem delicadeza e
carinho. O beijo era rude, desesperado e cheio de fome.
Diferente da primeira vez que nos beijamos, agora era como se
estivéssemos deixando o desejo falar alto, soar livre entre nossos corpos,
sem qualquer receio ou medo.
Éramos apenas nós dois.
Sem proibição.
Sem a amizade dele com meus irmãos.
Sem barreiras.
Sem limites.
Apenas nós e nosso desejo um pelo outro.
Sua língua explorou a minha com avidez por um momento e eu
retribuí. Sua mão se fechou em volta do meu pescoço e logo fui virada de
frente. Henrique me puxou do chão para me carregar no colo, minhas
pernas se prenderam em torno de sua cintura, fazendo minha saia subir.
— Porra — exclamou quando se afastou em busca de fôlego,
repousando sua testa na minha, encarando meus olhos intensamente.
Apertei sua nuca com as duas mãos, tão sem fôlego quanto ele. — Você é
tão gostosa!
Girei meu quadril, fazendo a renda da minha calcinha roçar em seu
pau duro. Nós dois gememos.
— Você só pode ter certeza se sou gostosa mesmo depois de me
provar — provoquei.
— É o que vou fazer — declarou, me colocando no chão para em
seguida dar três passos para trás com os braços cruzados, me comendo com
as íris azuis escuras. — Tira a roupa! — ordenou com um aceno de cabeça.
— Porque você mesmo não vem tirar? — Imitei sua postura de
queixo erguido.
— Eu mando, você obedece. Tira o caralho da roupa, Beatrice!
Soltei uma risada, encarando-o cinicamente.
Eu amava ser mandada durante o sexo. Era obediente sem qualquer
objeção se o meu parceiro fosse me levar a ter orgasmos intensos, contudo,
a fim de provocar o loiro, decidi torturá-lo um pouco.
Com o lábio inferior entre os dentes, sorri como a diaba que sabe que
sou e varri meus olhos pela primeira vez pelo espaço diante da pouca
iluminação da noite que adentrava através da parede de vidro que tem no
lado esquerdo. A sala era quase o dobro do tamanho da minha, porém se
diferenciava com uma decoração clean e rústica, dando ao ambiente um ar
de casa no campo. Os tons sutis de azul, traziam uma sensação estranha de
calmaria em meio ao caos da cidade.
Ela era linda por fora, mas por dentro, era ainda mais.
— Beatrice! — bradou, fazendo meus olhos voltarem para os seus,
parecendo tenso. — Tire a roupa, agora!
Lancei uma piscadela atrevida para ele, empurrando meus cabelos
para trás dos ombros antes de caminhar até o bar que tem no canto da
imensa sala, observando entre as várias garrafas. Senti seu olhar sobre mim
conforme me movia por entre os móveis.
— Quem mora aqui? — perguntei novamente.
— Já disse. Ninguém!
— A quem esse lugar pertence?
Um tempo de silêncio e a resposta finalmente veio.
— A mim.
Estava passando por uma das poltronas brancas, mas parei, virando o
rosto para olhá-lo com o cenho franzido.
— E porque me trouxe para cá?
— Era mais perto — disse simplesmente.
— Eu poderia esperar até chegarmos em nosso prédio. O trânsito não
estava tão ruim assim e — Voltei a andar, passando meus dedos pelo sofá
largo — adoraria chupar seu pau enquanto você tentava focar na estrada.
— Seria… perigoso demais — falou com a voz trêmula.
— Gosto de adrenalina e acho que você não duraria muito.
— Seu boquete é tão perfeito assim?
— Em instantes, você saberá.
— O que está fazendo? Pensei que queria ser fodida. Você estava bem
desesperada por um pau — Henrique disse e pelo seu tom, sabia que ele
estava perdendo o pouco da paciência que possui quando o assunto sou eu.
Soltei uma risada, tirando um dos meus vinhos favoritos de uma das
prateleiras de vidro. Um Dominus Napa Valley, e o abrindo sem qualquer
dificuldade.
— Eu quero ser fodida, caro mio — declarei, pegando uma das taças
e virei em meu eixo para encontrá-lo de braços cruzados sobre o peito largo
e musculoso. Minha boca salivou desejando sentir cada extensão de sua
pele com a língua. — Mas como vamos pular vários encontros e ir direto
para o sexo, sem jantares ou passeios, pensei em algo que é mais apropriado
para a nossa única noite. Afinal, foram mais de dois anos esperando por
isso.
— Não pensei que você fosse do tipo que curte fazer amor —
brincou.
Sorri.
— Eu nunca fiz amor. Eu fodo como uma puta, lembra?
Seus olhos se estreitaram em minha direção e vi o seu maxilar travar
com força, assim como seus ombros.
— Mas, eu ainda sou uma dama e toda mulher gosta de ser tratada
como tal — disse, colocando um pouco de vinho na taça, deixando a garrafa
sobre o balcão do bar. — Dominus Napa Valley. Meu vinho favorito. —
Levei o cristal até a boca sorvendo a bebida em pequenos goles. — Um dos
vinhos com mais prestígio no mundo, com safra plantada em 1838. O seu
equilíbrio de sabores é impecável. É incrível como consigo sentir o sabor do
mirtilo, da amora, do jasmim, do cardamomo, da ameixa e nuances
deliciosas do toque sutil de caramelo e do cedro.
— Porque está dizendo tudo isso? — as palavras saíram apertadas.
Henrique estava chegando ao limite e era exatamente assim que eu o
queria.
Sorri, encarando-o com falsa ingenuidade.
— Estou lhe dando uma aula sobre vinhos, caro mio — respondi,
deixando a taça sobre a mesinha na lateral do sofá. — Mas — Levei minhas
mãos para a gola da minha blusa —, como na faculdade de gastronomia, só
aprendemos de verdade na prática. Então, — Meus dedos começaram a
trabalhar nos botões devagar, sem pressa, desatando um a um —, ao invés
de encontros e jantares, estou te oferecendo para a nossa única noite de
sexo, uma degustação de vinho.
— Beatrice…
— Lembre-se de respirar, querido — falei, notando seus braços
relaxarem nas laterais do seu corpo, suas mãos se fechando em punhos.
O sorriso que rasgou meus lábios conforme eu descia as mangas de
seda por meus ombros, expondo meu sutiã transparente de renda preta, me
fez sentir como a própria diaba que ele sempre disse que sou.
— Malditos piercings — murmurou, fixando seu olhar na altura dos
meus seios.
E sem perder mais tempo, tratei de me livrar da minha saia,
escorrendo o zíper até que ela fosse um embolado de tecido em volta dos
meus pés calçados por scarpins pretos, deixando à mostra minha calcinha
fio-dental presa à cinta-liga.
— Filha da puta gostosa pra caralho! — bradou e vi o exato
momento em que seu pomo de Adão se moveu quando me sentei no enorme
sofá, abrindo minhas pernas, apoiando meus pés na mesinha de centro.
— Toda mulher merece ter alguém ajoelhado aos seus pés para lhe
dar prazer. — Segurei as laterais da minha calcinha, lançando uma
piscadela para ele antes de puxar o tecido com força, rasgando-a.
— Beatrice…
Meu quadril tremeu e senti minha pele arder. Joguei de lado o que
restou da peça e voltei a olhá-lo. Sua expressão era a mais sexy que eu já vi
uma pessoa esboçar conforme encarava o meio das minhas pernas abertas.
Se estivéssemos em um desenho animado, teria baba escorrendo do canto
de sua boca.
Sorri, mais do que satisfeita.
Estiquei um braço na direção da taça e a peguei enquanto minha mão
livre descia para a minha boceta, acariciando meus grandes lábios.
Henrique gemeu com a visão, mas foi o que eu disse e fiz a seguir, que o fez
perder completamente a razão, liberando, enfim, a fera que ele havia dito
que possuía quando o assunto era sexo.
— Hoje eu não serei a única pessoa a se ajoelhar, Henrique Prado. —
Levei o dedo melado com meu próprio líquido até a boca e o chupei,
usando minha língua para lambê-lo como se estivesse lambendo seu pau,
ouvindo-o soltar vários palavrões. — Eu realmente sou gostosa pra caralho.
— Então, apontei para ele com meu indicador e o chamei. — Vem, caro
mio. Vem se ajoelhar e chupar minha boceta. Aceite a degustação que estou
lhe oferecendo, sendo meu corpo, sua taça. Vem, Henrique. Per favore.
CAPÍTULO 25
“Você tem esse poder sobre mim, minha nossa.Tudo o que eu amo
reside naqueles olhos. Você tem esse poder sobre mim, minha nossa. A
única que eu conheço, a única em mente. Você tem esse poder sobre mim.”
(Power over me - Dermont Kennedy)

Henrique
Eu já comi muita mulher, das mais tímidas até as mais ousadas, das
mais submissas até as mais teimosas. Contudo, nenhuma delas foi como a
que está sentada diante de mim com as pernas abertas e a boceta brilhando
pela lubrificação que escorre.
Minha mente ainda vagava pela imagem dela se livrando de suas
roupas, se sentando no sofá e rasgando sua própria calcinha como eu
mesmo planejei fazer.
Ela estava fora dos padrões, além das definições de ousadia.
Beatrice Fontana era única.
Nada do que pensei durante o curto trajeto até aqui, se comparava ao
que ela fez. Fui surpreendido de um jeito irritantemente delicioso por sua
oferta e, ainda que eu odeie sua petulância, não havia como negar. Sua
proposta era tentadoramente irresistível.
Apertei o interruptor próximo à porta, deixando o ambiente mais
claro.
— Eu quero ver cada pedacinho seu e não perder nenhuma
expressão sua enquanto te dou prazer — declarei.
Com os olhos dançando entre seu rosto, seios e boceta, caminhei até
ela como um predador, atravessando a sala a passos largos, não
conseguindo disfarçar minha ansiedade por finalmente estar prestes a
descobrir seu gosto. Minha mão direita desceu até o meu pau, que o
pressionou com força o zíper da calça. Alisei-o por sobre o tecido, tentando
diminuir a dor em minhas bolas.
— Eu espero que esse volume todo não seja propaganda enganosa,
caro mio — a diaba disse cínica, bebendo um pouco do seu vinho de forma
elegante e sensual do jeito que só ela sabe.
— Vou deixar essa bocetinha ardida de tanto meter meu cacete —
disse entredentes quando parei em sua frente, acariciando sua coxa direita.
Sua pele se arrepiou e ela arfou, apertando com força os dedos em volta da
taça até que eles estivessem brancos.
— Henrique — gemeu desesperada quando me aproximei de sua
intimidade, se abrindo ainda mais para mim.
Bea ameaçou se tocar com a mão livre , mas eu a detive segurando
seu pulso com força.
— Quando estou fodendo uma mulher, ela não se toca a menos que
eu mande — anunciei e chupei o mesmo dedo que esteve em sua boceta e
boca momentos atrás. Seus olhos me observavam com satisfação e foi a
minha vez de gemer quando senti a nuance do seu gosto em minha língua.
Caralho!
Era quente. Uma mistura de doce com salgado.
Algo único. Era… irresistível e viciante. Como ela.
Euforia me tomou e cada célula minha, que ainda se mostrava
reticente quanto a seguir com essa loucura se dissipou.
Tudo se dissipou e nada pareceu fora do lugar, estávamos onde
deveríamos estar.
Não havia mais caralho de juramento de dedinho, minha amizade
com seus irmãos, a confiança de sua família em mim e nem mesmo a minha
própria consciência.
Eu podia sentir cada barreira desmoronando pelo inferno que era
Beatrice Fontana.
As labaredas me consumiam, ruindo qualquer pensamento racional.
E eu torcia para que um novo círculo vicioso não estivesse prestes a
começar.
Seria apenas essa vez.
Seríamos um do outro apenas por uma noite.
Uma noite e nada mais.
Uma noite seria suficiente para aplacar o desejo por ela que
queimava em mim?
Eu torcia para que sim!
— Esse será nosso segredo — declarei quando libertei seu dedo e
ajoelhei, olhando em seus malditos olhos verdes que pareciam me puxar
ainda mais para sua órbita.
— Nosso segredinho sujo — acrescentou, estampando seu sorriso
diabólico.
— Apenas uma noite, Beatrice!
Apenas uma noite, Henrique!
Uma.
Noite.
Será só essa noite, Henrique.
Uma.
Única.
Noite.
— Uma noite — repetiu em um sussurro, trazendo sua mão livre até
minha nuca e eu deixei que me puxasse para mais perto de sua boceta. Ela
era cheia e toda lisinha. Meu pau e eu salivamos em expectativa. — Então
faça valer a pena, caro mio. Fode minha boceta com essa boca gostosa,
fode. Per favore.
Fechei os olhos por um segundo, sentindo meu sangue fluir para o
meu pau, deixando-me ainda mais excitado do que antes. Meus músculos
tencionaram e a mão dela se afastou da minha no exato momento em que
abri os olhos. Observei suas íris e deixei que ela visse o animal faminto
emergindo até a superfície, tomando conta de todos os meus sentidos.
Ela viu.
Ela gemeu.
Eu sorri, espelhando seu olhar de demônia.
— Eu vou acabar com você, sua diaba! — rosnei segurando com
força a parte de trás das suas coxas, elevando seu quadril para mim e
deixando sua boceta ainda mais exposta.
— Henrique…
Inalei seu cheiro e de propósito, toquei seu clitóris com a ponta do
meu nariz, fazendo minha barba roçar em sua carne. Ela estremeceu e só
quando soltei o ar, passei minha língua de baixo para cima, em toda sua
extensão, aplicando um pouco de pressão no ponto mais sensível e
arrancando dela um longo e sofrido suspiro.
Repeti o movimento mais cinco vezes, apreciando seu gosto com
calma.
Cuspi, deixando minha saliva escorrer e se misturar com seu líquido
para só então atacar seu montinho de nervos, chupando-o com força.
— Caralho… — gemeu alto.
Subi meu olhar para não perder nenhuma das suas expressões de
prazer, ao mesmo tempo que circulava minha língua em seu clitóris. Seu
lábio inferior estava preso entre os dentes e suas íris focadas em mim.
— Porra, Henrique…. — Remexeu o quadril contra minha boca,
sem parar de gemer.
— Sua voz quando canta é linda, mas quando você geme, caralho…
É perfeita! Minha nova música favorita — disse, voltando a fechar meus
lábios em torno do seu ponto que já estava durinho.
— Pena que você só vai ouvi-la uma vez — seu tom insolente me
fez grunhir.
Libertei uma das suas coxas para roçar meu polegar em sua
abertura, provocando-a.
— Sabia que… aah… Sabia que o vinho é um ótimo estimulante
sexual? Seus efeitos em doses certas, podem ser… hum... afrodisíacos —
recitou e fui surpreendido quando Beatrice aproximou a taça, que ainda
segurava, até seus seios e começou a despejar uma pequena quantidade de
vinho em seu próprio corpo. O líquido pareceu descer em câmera lenta por
entre os seus seios, barriga e umbigo. Assim que as primeiras gotas
chegaram em minha boca, chupei com mais sede, bebendo seu líquido
misturado ao vinho, fazendo do seu corpo, minha taça.
Enfiei em sua boceta dois dedos de uma só vez e mordi
carinhosamente seu clitóris.
Ela gritou e eu não parei, fodendo-a com a boca e os dedos,
meneando meu rosto de um lado para o outro, usando minha barba para lhe
dar ainda mais prazer. Os sons que saíam de sua garganta se multiplicavam
no ar à medida que os segundos passavam.
Senti quando suas paredes me apertaram e acrescentei mais um dedo
ao entra e sai melado.
— Henrique — balbuciou, puxando meus cabelos com força.
Girei meus dedos dentro dela, aplicando mais pressão em minha
língua. Não havia delicadeza em meus movimentos, a devorei como se não
comesse há dias.
Beatrice arqueou as costas quando soltou um palavrão alto,
anunciando seu orgasmo. A cena dela convulsionando, os mamilos com os
piercings entorpecidos, a pele suada e corada, com a boquinha aberta
soltando sons deliciosos à medida que gozava, quase me fez gozar junto.
Tomei todo seu fluído, ainda sentindo o gosto do vinho e quando suas
pernas pararam de tremer, chupei com força seu clitóris antes de me afastar
para lamber meus dedos melados do seu gozo.
Ela sorriu, me olhando com os olhos pesados por um momento e
soltou um longo suspiro.
— Você sabe o quanto foi difícil olhar para você durante esse tempo
todo e não imaginar você assim, pelada toda meladinha? — Dei um tapa em
sua boceta. Ela gemeu e fez menção de fechar as pernas. — Caralho, como
você é gostosa, sua diaba.
Seus lábios se rasgaram em um sorriso preguiçosamente sensual.
— Satisfeita? — Uma sobrancelha minha levantou.
— Nem um pouco.
A mão, que segurava sua coxa, subiu para rodear seu pescoço,
forçando-a a ficar de pé junto comigo. Peguei a taça que ela ainda segurava
e a deixei em cima da mesinha ao lado do sofá.
— Que bom — rosnei próximo do seu rosto.
O sorrisinho dissimulado que ameaçava surgir em seu rosto morreu
quando, em um movimento rápido, a joguei por sobre meus ombros.
— Agora — Desferi um tapa em sua bunda, fazendo-a soltar um grito
pelo susto —, será do meu jeito.
— Henrique.
— Calada! — Outro tapa, dessa vez com mais força. Observei sua
pele atingir um tom lindo de vermelho. — É a minha vez, putinha do
caralho. — Mais dois tapas, que foram seguidos por seus gemidos e uma
mordida minha.
— Você acabou de morder a minha… bunda? — sua voz soava
divertida.
— Você gostou.
— Gostei. Faz de novo — suplicou.
Soltei uma risada baixa, mas não atendi seu pedido.
Em silêncio, segui para a porta que ficava o único quarto mobiliado
da casa. Abri a porta, acendi o interruptor e fechei-a com os pés, jogando
Beatrice no colchão com delicadeza o suficiente para não machucá-la.
Fiquei parado na beirada da cama de braços cruzados, varrendo cada
detalhe das curvas que eu estava prestes a me perder.
— Você está me olhando como se eu fosse quebrar o seu coração,
caro mio. — Engoli em seco, sentindo meu coração errar uma batida. —
Não se preocupe. A única coisa que pretendo quebrar é a sua cama —
brincou, risonha. — Faça alguma coisa. Per Dio! — pediu impaciente
diante do meu silêncio.
— Quem está implorando agora, hein?
Ignorando a maldita sensação que se apossou de mim por suas
palavras, comecei a desabotoar minha camisa, observando suas íris
seguirem cada movimento meu com um brilho intenso de expectativa.
Descartei a peça de lado e tratei de me livrar dos meus sapatos e meias.
Desafivelei o cinto, abrindo a calça e desci o tecido com minha cueca
branca por entre minhas pernas.
— Cazzo! — exclamou, encarando meu pau que pendia para frente.
Sorri convencido, envolvendo meu membro com a mão direita e
usando meu polegar para espalhar o pré-gozo que se acumulou por toda sua
extensão.
— Eu nunca implorei por um pau — disse tirando seus saltos e
ficando apenas com a maldita cinta-liga antes de engatinhar para fora da
cama. — Mas, definitivamente, não me importo em implorar pela perfeição
que é o seu.
Com a mão livre, enfio meus dedos em seus cabelos, puxando-os até
que seu nariz esteja tocando no meu.
— Gostou?
Ela acenou.
— Sem dúvidas, não é uma propaganda enganosa.
— Se pedir por favor como uma putinha obediente, eu deixo você
provar o quanto eu sou gostoso — falei entredentes, vendo sua língua
lamber seus lábios. — Pede, vagabunda. — Aumentei o puxão nos fios
negros, fazendo seu corpo sacudir. — Pede para eu enfiar meu pau todo
nessa sua garganta.
Sorrindo sem mostrar os dentes, a desgraçada raspou os dedos em
meu peito, traçando círculos de leve até chegar em meu umbigo. Estremeci
quando usou suas unhas curtas para acariciar sutilmente a cabeça do meu
membro.
— Me deixa chupar seu pau, Sr. Prado? Tenho certeza de que será o
melhor boquete que você já recebeu.
Grunhi, enfiando minha língua na sua em um beijo bruto, finalizando-
o com um chupão em seu lábio inferior.
— Sua vez de ajoelhar como uma boa putinha e receber surra de pau
nessa boquinha atrevida. Ajoelha!
O comando junto ao meu olhar feroz sobre ela, a fez cair de joelhos
aos meus pés. Sorri com a visão das suas mãos envolvendo meu pau com
ansiedade, acariciando-o antes de circular a ponta com a língua molhada e
quente.
Alisei sua bochecha com meu polegar, ordenando: — Chupa, safada.
Beatrice sorriu cinicamente antes de fechar os lábios na cabeça do
meu pau, sugando com a pressão perfeita para me fazer chegar ao orgasmo
mais rápido do que pensei ser possível.
— Caralho de boquinha gostosa! — exclamei quando ela engoliu
centímetro a centímetro, queimando de tesão.
Segurei seus cabelos com as duas mãos em um rabo de cavalo e me
movi de encontro a ela, que me recebeu sem qualquer protesto, me
engolindo por inteiro, sem tirar os olhos do seu olhar dissimulado conforme
aumentei o ritmo do meu quadril.
— Eu adoro a forma como você está me olhando agora — confessei
enquanto fodia sua boca. — Me faz pensar que você é a minha putinha
obediente. E eu sei, porra como sei que você está fazendo de propósito, sua
diaba desgraçada do caralho.
A filha da puta sorriu com meu pau todo enterrado em sua garganta,
me levando cada vez mais fundo, arrancando gemidos intensos de mim.
Seus olhos brilhando de luxúria, lágrimas escorrendo por seu rosto,
deixando um rastro de rímel nas suas bochechas e seus gemidos sendo
transformados por sons de quase engasgo conforme eu metia sem dó.
O jeito como a sua língua se movia, fizeram minhas pernas tremerem
e soltar palavras desconexas pelo prazer que a diaba estava me
proporcionando.
A porra do melhor boquete do mundo!
Segurei com mais força, movendo sua cabeça para frente e para trás
algumas vezes antes de liberar sua boca.
Ela protestou, fazendo um beicinho lindo e exagerado com os lábios
inchados e vermelhos.
— Você teria engolindo toda a minha porra, não é? — questionei,
segurando seus braços, fazendo- ficar de pé.
— Sou uma putinha obediente, senhor — a desgraçada debochou.
Apertei meus dentes.
— Deita! — ordenei, sinalizando com o queixo na direção da cama.
Sorrindo como um demônio, ela fez o que eu mandei, deitando de
bruços no colchão.
Peguei uma das três camisinhas que sempre carregava na carteira e fui
até Beatrice, abrindo suas pernas para ficar de joelho entre elas. Só então,
percebi o pequeno desenho de um coração em chamas perto do meio de sua
bunda. As linhas finas da tatuagem eram em tom de vermelho e assim como
os piercings nos mamilos, combinavam com sua personalidade
endemoniada.
— Gostei da tatuagem — comentei, passando meu polegar ali.
— Fiz no mesmo dia que coloquei os piercings — disse. — Acho que
combina com o meu fogo no rabo.
— Com certeza combina, diaba.
Desferi dois tapas em sua bunda, um em cada lado, arrancando um
gritinho sexy dela para em seguida, acariciar sua pele, subindo e descendo,
alternando com tapas e mordidas, deixando uma em especial ao redor da
pequena tatuagem.
— Adoraria comer esse cuzinho — falei, passando minha língua em
torno do pequeno buraquinho.
— Precisa merecer. Regra feminina — disse ofegante quando desci
minha língua próximo à sua entrada, voltando a brincar entre os montes
fartos. — Pena que não teremos mais oportunidades para isso. Adoraria
receber seu pau na minha bunda.
— Não. Não teremos! — pontuei, mais para mim do que para ela.
Apenas uma noite, Henrique, e nada mais.
Raspei meus dentes por sua carne e prendi o pedaço de liga que
descia até o interior da sua coxa, puxando-o com força para estalar a peça
em sua pele, que logo ficou ainda mais vermelha do que já estava. Repeti o
movimento, usando uma mão para fazer o mesmo com o outro lado.
— Henrique — falou manhosa, mexendo seu quadril.
Antes de cessar, mordi sua bunda e me afastei para pegar a camisinha
no colchão.
— Empina esse rabo para mim, sua puta! — ordenei, admirando as
marcas que fiz em sua pele enquanto vestia a camisinha.
Ansiosamente, ela o fez, virando o rosto para me olhar por sobre o
ombro, estampando um sorrisinho safado, balançando o quadril.
— Tá feliz, não é, puta dos infernos?
Com uma mão segurei sua cintura e com a outra, a base do meu
membro, roçando a cabeça em sua boceta molhada, abrindo seus lábios e
espalhando sua lubrificação.
Beatrice murmurou algo, empurrando sua bunda para trás em um
claro sinal de que estava mais do que pronta para me receber. Todavia,
continuei brincando por ali, adorando vê-la desesperada.
— Aaah! Henrique… mete esse cacete, vai. Mete logo, caralho —
implorou sem pudor, se abrindo ainda mais para mim feito a cadela que ela
era.
— Faltou as palavras mágicas, querida — debochei, posicionando
meu pau em sua entrada.
— Porra! Por favor.
Sorri e com uma estocada, empurrei meu pau todo dentro dela,
segurando seu quadril contra o meu, absorvendo a sensação fodidamente
maravilhosa de estar enterrado nela. Nunca experimentei algo tão delicioso.
— Caralho, que bocetinha gostosa você tem, Bea!
Ela virou o rosto para mim.
— Você está aguardando o que para acabar comigo? Estou esperando,
caro mio.
Apertei meus olhos, encarando seu semblante endemoniado que
nunca deixou seu rosto e desci minha mão direita até sua nuca, puxando-a
até que suas costas se chocassem com meu peito, circulando sua cintura
com meu braço livre.
— Sempre tão petulante, diaba italiana do caralho — sussurrei em
seu ouvido, mordendo em seguida seu lóbulo.
Ela gemeu, me encarando com as íris verdes brilhando.
— Sempre pensando e falando demais, e fazendo de menos, Sr.
Prado. — Ela impulsionou o quadril para frente, meu pau deslizando por
sua boceta e bateu sua bunda contra minha pélvis. Gemi, reprimindo a
vontade de revirar os olhos. — Quer que eu ensine para a sua fera interior
como foder uma boceta?
Meu sangue ferveu e minha mão coçou para lhe dar um tapa. Mas ao
invés disso, empurrei Beatrice de volta para o colchão e deixei meu corpo
pender sobre o dela. Com uma mão, prendi seus braços acima de sua cabeça
e com a outra, segurei sua cintura, apertando a pele com força.
— Sem pedir para parar, querida — rosnei em seu ouvido e comecei a
estocar, tirando e enfiando meu pau de forma lenta, alargando-a.
— Está com pena, Henrique? — provocou.
Me afastei, saindo de sua boceta para virá-la de frente para mim em
um movimento rápido. Abri suas pernas e voltei a meter sem parar, usando
minhas mãos para segurar seu tronco, movendo-o para cima e para baixo,
seus seios perfeitos seguindo o ritmo que meu quadril ditava.
Perdi o ritmo por um segundo, perdido na visão das joias em seus
mamilos, mas foi o suficiente para a diaba impulsionar seu corpo para
frente, fazendo nossos corpos suados virarem e minhas costas se chocarem
no colchão. Agora ela estava por cima.
A encarei atordoado e antes que eu pudesse protestar, suas mãos
espalmaram em meu peito e ela começou a rebolar, suas paredes me
mastigando à medida que descia sua boceta pelo meu pau.
— Caralho! — exclamei inebriado pelo prazer.
— Pompoarismo, querido — disse aumentando o ritmo, continuando
a apertar em meu eixo.
Puta que pariu!
Sou um filho da puta sortudo pra caralho!
— Foda-se o que seja. Só continua — falei, segurando seus seios,
usando meus polegares para brincar com seus mamilos.
Beatrice sorriu, levando suas mãos até seus cabelos, acariciando-os e
fechando os olhos conforme quicava em meu colo.
Ela parecia uma deusa de tão linda.
Cada detalhe em seu corpo a fazia ser a porra da perfeição.
— Você é tão linda — deixei escapar, encantado por sua beleza.
Ela abriu os olhos e meu coração acelerou no peito quando uma
sensação de pertencimento se apossou em mim, me fazendo acreditar que
tudo o que estávamos fazendo era certo. Que nós éramos certos.
Que porra era essa?
Ela sorriu, não um sorriso safado, mas um que ela nunca havia me
dado.
Esse golpeou cada célula do meu corpo.
Enfiei meu dedo indicador em sua boca, para que ela o chupasse e
logo o fez. Então, inclinei o tronco para cima apenas o suficiente para
enroscar uma mão em torno do seu pescoço, puxando-a para mim. Seu
corpo caiu sobre o meu e nossas bocas colidiram em um beijo desesperado.
Suas unhas arranharam meus ombros e a ardência me deixou mais perto do
ápice.
Levei meu indicador úmido com sua saliva até o seu buraquinho e a
penetrei, entrando e saindo no mesmo ritmo que meu pau em sua boceta.
Apoiei meus pés na cama e impulsionei meu quadril contra o dela. E
como a puta que disse ser, ela me fodeu de volta, empurrando contra as
minhas investidas em busca do seu ápice, que veio quando girei meu dedo
em sua bunda.
— Goza para mim, goza safada — disse, separando nossas bocas.
— Não! — declarou. — Eu vou gozar por mim — sorriu,
aumentando o ritmo.
Então, ela gozou por ela, mas gritando o meu nome, olhando nos
meus olhos.
E porra, ela era realmente perfeita.
Quando seu orgasmo cessou, ela não parou seus movimentos e
segurou meu pescoço da mesma forma que eu segurava o dela.
— Goza para mim, seu desgraçado do caralho. Goza na minha
boceta! — ordenou, apertando meu eixo.
Ela estava me provocando.
Eu estava enlouquecendo.
E pela primeira vez, estava sendo fodido por uma mulher.
Por ela.
Pela diaba italiana.
Por Beatrice Fontana.
E como se ela me controlasse, meu corpo a obedeceu.
Então eu gozei, chamando por ela e mergulhando em uma espiral de
prazer que parecia não ter fim.
Meu corpo relaxou. Meus braços caíram sobre o colchão e parecia
que eu tinha sido despedaçado em milhões de pedacinhos.
— Eu disse que quebraria sua cama.
Sua voz e a risada gostosa foram me puxando de volta para a
realidade.
Porra, por um momento, pensei que tinha morrido de prazer.
— Você realmente fode como uma puta — balbuciei, sentindo-a sair
de cima de mim e deitando ao meu lado. — Você quebrou a minha cama?
— indaguei depois de um momento olhando ao redor, percebendo que o
estrado cedeu e estávamos sobre o colchão no chão.
Caralho! Ela quebrou minha cama, enquanto me fodia? E como não
percebi?
— Quebrei — sua voz transmitia orgulho.
Virei o rosto e meus olhos varreram seu corpo nu e cheio de marcas
feitas por mim.
Então, a ficha caiu.
Estava feito e não tem como voltar atrás.
Eu realmente fodi a irmã caçula dos meus melhores amigos.
E o pior disso tudo?
Eu não estava nem um pouco arrependido.
Eu só queria estar dentro dela. De novo.

Beatrice
— Eu quero mais — falei ainda ofegante, virando o rosto para olhá-
lo, sustentando um sorriso devasso nos lábios.
— Gulosa — disse, depositando um beijo em meus lábios. — Ainda
bem que eu também sou.
Henrique tirou a camisinha, amarrando-a e se levantou para descartá-
la em uma lixeira no canto do quarto. Só então, se aproximou e me carregou
em seu colo, minhas pernas envolvendo sua cintura.
Descansei a testa em seu ombro e com uma das mãos brinco com sua
barba. Um gemido baixo escapou da minha garganta quando suas mãos
apertaram minha bunda com força, provocando uma ardência gostosa pelos
tapas, mordidas e golpes de cinta-liga.
— Está com dor? — indagou, segurando meu queixo e trazendo seu
olhar até o meu depois que adentrou no banheiro, me colocando sentada em
cima da pia grande de mármore, o frio da pedra anestesiando levemente as
marcas em minha carne.
— Sim, mas não forte o suficiente para não aguentar mais.
Segurei em sua cintura e abri minhas pernas, fazendo-o se encaixar
ali.
Arfamos quando nossos sexos se chocaram.
— Eu quero mais. — Beijei seu queixo, raspando minhas unhas em
sua pele, sentindo-a se arrepiar. — Eu quero mais de você, Henrique. —
Trilhei beijos molhados em seu pescoço, descendo até seu peito,
acariciando seus mamilos com minha língua.
Ele estremeceu, passando suas mãos por minhas coxas, subindo e
descendo até minha virilha.
— Me come mais uma vez? — inquiri, voltando a olhá-lo, usando o
meu melhor tom dramático. — Me come pela última vez? Per favore, caro
mio.
Ele grunhiu, segurando meu pescoço do jeito que já percebeu que
gosto e desceu sua boca até a minha, me beijando com calma pela primeira
vez desde que nossos lábios se encostaram. Eu devolvi, seguindo o ritmo
sensual que a sua língua ditava na minha.
Parecia que ele queria fazer durar o máximo de tempo possível e eu
compactuava da mesma necessidade.
Foi o melhor sexo que eu já tive e cazzo, os melhores beijos que já
experimentei.
— Por que você tem que ser tão gostoso? — sussurrei ao afastar
nossas bocas em busca de um pouco de ar, colando minha testa na sua.
Henrique nada diz, apenas me observou como se procurasse uma
resposta para alguma pergunta que está lhe atormentando.
— Está tudo bem? — perguntei preocupada.
Ele soltou um suspiro e segurou meu rosto entre as mãos.
— Vou comer você pela última vez — anunciou e chupou meu lábio
inferior. — Pela última vez você será a minha putinha — frisou com a voz
vacilante.
Ignorei a batida errada que pulsou em meu coração e segurei seu
membro semiereto com uma mão, alisando a pele quente, sentindo-o
crescer entre meus dedos.
— Eu tomo remédio e faço exames — falei, aplicando um pouco mais
de força em seu membro, fazendo-o gemer e suspirar. Suas mãos deslizaram
por meus ombros, pairando sobre meus seios e começou a brincar com os
piercings nos mamilos.
Murmurei um gemido, inclinando-me mais contra seus dedos ágeis.
— Porque está falando isso? — quis saber enquanto distribuía beijos
por meu rosto e pescoço, alternando em mordidas como se quisesse me
punir por algo.
Estremeci.
— Quero que me coma dessa vez sem camisinha.
A frase o fez erguer o rosto me encarando perplexo.
— Nunca um pau entrou em minha boceta sem nada. Seja o meu
primeiro e último? — implorei, me sentindo estranhamente nervosa por
querer entregar a ele uma primeira vez minha.
Levou dois segundos para um sorriso se desmanchar em seus lábios.
— Quer sentir o meu cacete sem nenhuma barreira? — provocou
beliscando e torcendo meus mamilos, gemi alto dessa vez, relaxando
novamente em seus braços.
— Quero — balbuciei.
Então, ele se afastou o suficiente para enfiar dois dedos em minha
boceta. Tombei a cabeça para trás, mexendo meu quadril conforme ele os
tirava e tornava a impulsioná-los em mim, cada vez mais rápido.
— Assim... — gemi. — Não para — implorei. — Por favor, não
para.
— Sua boceta é o meu lugar favorito. — Beijou minha garganta para
logo em seguida fechar a boca em meu seio direito, chupando com força e
usando a língua para brincar com a joia. Henrique mamou em meu seio e
antes de soltá-lo, o sugou com força. — Mas esses peitos com esses
malditos piercings — disse, tirando seus dedos de mim para apertar meus
seios com as duas mãos, mordendo o bico intumescido do esquerdo e me
oferecendo o direto para o meu próprio deleite, me fazendo soltar um
gemido. — São a minha fraqueza.
— Henrique… — o chamei dando uma última lambida em meu bico,
puxando seu pau para mais perto. Ele veio de muito bom grado. — Mete
em mim. — Posicionei-o em minha entrada, fechando minhas pernas em
torno dele. — Mete esse pau gostoso na minha boceta, mete. Vem! Me
come.
— Adoro ver você desesperada para receber surra de pau nessa
bocetinha — falou, segurando minha cintura me firmando no lugar e então,
empurrou seu corpo contra o meu, fazendo seu membro me penetrar de uma
só vez. A ardência se espalhou, porém o prazer foi mais intenso pelo
contato cru.
Era… incrivelmente surreal!
Eu estava no paraíso!
Beatrice, sua sortuda!
Nós dois gememos quando ele começou a se movimentar de forma
frenética, trazendo sua boca até a minha, sua língua fodendo a minha no
mesmo ritmo que seu pau arremetia em mim.
Henrique não se contém, ao contrário de muitos homens que já
transei, ele gemia com gosto, alto, soltando palavrões e obscenidades entre
os gemidos. Era gostoso demais de ouvir.
Soltei um gemido que foi engolido por ele, quando sua mão direita foi
para a parte de trás do meu joelho esquerdo, elevando minha perna e
aumentando nosso prazer com o novo ângulo.
— Henrique… — chiei quando ele se afastou e olhou para baixo,
vendo seu pau entrar e sair da minha boceta. Segui seu olhar e lambi os
lábios apreciando a cena tanto quanto ele.
— Tá gostoso, tá, vagabunda?
— Sim… aaah… não para!
— Quem está te comendo? — perguntou em tom de ordem, sem parar
de se mover dentro de mim. — Diz quem está te fodendo como você nunca
foi fodida? Diz, putinha. Diz de quem é o pau que está metendo gostoso
nessa sua bocetinha? Que está te deixando toda melada, hein?
— Henrique… — balbuciei, vultosa de prazer.
— Isso, diaba! É o meu cacete que está te deixando toda assada.
Ele socou fundo, batendo o quadril sem parar no meu e eu recebi uma
nova onda de júbilo quando sua mão cortou o ar e se chocou em um tapa no
meu rosto. Gemi enlouquecidamente.
— Gosta de apanhar, cachorra?
— Faz de novo — implorei, elevando meu quadril de encontro ao
seu. — Por favor, me bate de novo.
E ele fez, dessa vez aplicando um pouco mais de força.
— Vai sentir falta desse cacete te fodendo?
Não tive forças para responder com palavras, apenas acenei em
afirmativo, sentindo uma onda intensa e múltipla, conforme ele surrava
minha boceta sem parar, meus seios balançando no ritmo em que nossos
quadris se chocavam, causando um turbilhão de sensações em mim. Apertei
seu pau com força quando meu orgasmo me alcançou e ele urrou,
pressionando seus dedos em minha cintura com força.
— Goza, putinha, goza. Goza que eu vou encher essa sua boceta com
a minha porra! Caralho!
E ele gozou junto comigo. Senti seu líquido quente jorrar dentro de
mim deliciosamente, se misturando ao meu enquanto que nossos ápices nos
consumiam.
Quando nossos corpos finalmente se acalmaram, tombei minha
cabeça para frente, descansando a testa em seu ombro e envolvendo-o em
um abraço suado.
Notei seus músculos enrijecerem à medida que a textura das suas
costas se encontravam com meus dedos. Era a primeira vez que explorava o
lugar, minha curiosidade ganhando combustível para descobrir as histórias
por trás de cada cicatriz.
Mas não hoje.
Não agora.
— Valeu a pena esperar — sussurrei inalando seu cheiro misturado ao
sexo, ignorando as mil perguntas que se formavam em minha mente.
Ele suspirou, circulando minha cintura com os braços e me apertando
como se eu fosse fugir.
— Desculpe pela demora — confessou com o tom de voz quase
inaudível que, por um momento me questionei se havia ouvido
corretamente, mas não falei nada. Estava cansada demais e só queria curtir
a sensação preguiçosa e deliciosa pós-sexo.
CAPÍTULO 26
Beatrice
A luz que entrava pela janela iluminava o corpo deitado sobre a
cama — agora quebrada no chão — entre os lençóis. Henrique estava de
bruços e seus braços esticados para o alto abraçavam o travesseiro embaixo
de sua cabeça. A posição me permitia observar suas costas de um ângulo
melhor.
Durante toda a nossa sessão de sexo, ele não ficou um momento
sequer de costas para mim, nem quando tirou a minha meia e me carregou
até o box, ligando o chuveiro em seguida para que tomássemos banho
juntos. Enquanto pegava o recipiente com sabonete líquido, ele não tirou os
olhos dos meus seios e quando comecei a ensaboá-los, foi inevitável não
provocá-lo mais uma vez, prendendo meus piercings entre os dedos e
soltando gemidos.
O que resultou comigo tendo o rosto prensado nos ladrilhos, no
tempo em que enterrava seu pau em minha boceta, me comendo por trás e
me presenteando com mais um orgasmo poderoso. Parecíamos dois coelhos
e se eu não estivesse tão curiosa acerca das suas cicatrizes, o acordaria de
muito bom grado com um boquete, sem me importar com a ardência no
meio das minhas pernas.
Prendi meus cabelos em um coque bagunçado e me aproximei da
beirada da cama, vestindo apenas o roupão que Henrique havia me
entregado depois do nosso banho. Meus olhos trilharam cada detalhe de sua
pele exposta para mim como nunca antes.
Suas costas eram cobertas por finas cicatrizes que possuíam vários
formatos e tamanhos, a maioria delas eram pequenas, contudo quando meu
olhar se focou na marca mais grossa que descia da sua nuca até a parte
baixa da coluna, meu corpo estremeceu com o pensamento de que ele
tivesse sido açoitado cruelmente, repetidas e dolorosas vezes.
Muitas perguntas se passavam na minha cabeça conforme encarava
sua pele, porém uma se destacava.
— Quem fez isso com você?
Só percebi que as palavras foram ditas em voz alta quando seu
corpo mexeu e seu rosto virou na minha direção.
— Buongiorno, caro mio! — saudei, ignorando meu interesse em
saber sobre suas cicatrizes. Por agora. Algo me dizia que ele não se abriria
com tanta facilidade assim.
Seus olhos se abriram para logo em seguida se fecharem por conta
da luz da manhã.
— Que horas são? — perguntou, virando o corpo e ficando de peito
para cima, me dando a visão deliciosa do seu pau em toda a sua glória
graças a famosa ereção matinal.
Ele era tão deliciosamente perfeito.
As veias sobressaltadas em todo o seu comprimento.
A espessura era grossa, possuindo o tamanho ideal para proporcionar
apenas prazer na penetração.
Minha boca se encheu de água para tê-lo jorrando sua porra em
minha garganta.
— Bea, que horas são? — tornou a perguntar com os olhos azuis
abertos.
Prendi o lábio inferior entre os dentes, reprimindo um longo suspiro.
— Passa das dez e meia da manhã — falei simplesmente.
— Caralho! — exclamou, esfregando os olhos e a barba. — Não me
lembro de ter dormido tanto assim há muito tempo.
— Eu te dei um chá bem dado, caro mio — brinquei, levando uma
mão até seu pescoço, onde havia algumas marcas feitas por minhas unhas.
Acariciei sua pele branca, descendo pelos ombros, peitos e raspei sem
delicadeza seu mamilo direito.
Meus olhos acompanharam o exato momento em que seu semblante
mudou de sonolento para excitado.
Eu precisava tê-lo na minha boca.
Precisava e o teria agora!
— Beatrice…
— Você me provou ontem — murmurei, continuando a descer meus
dedos. — Mas eu não provei você. — Sua barriga se contraiu quando meu
polegar circulou seu umbigo. — Isso é… injusto. — Fiz o meu melhor
beicinho.
— Tínhamos um acordo — seu tom de voz era baixo, quase um
sussurro.
— Então, você não quer foder a minha boca, enquanto a enche de
porra, Sr. Prado? — perguntei quando meu polegar tocou a ponta do seu
pau e minha língua umedecia meus lábios.
— Beatrice… — balbuciou, passando as mãos no rosto. — Era só
uma noite. Uma… — Circulei seu membro duro, apertando um ponto
específico que sei que é uma fonte de prazer.
— O que disse? Scusi, não ouvi o que disse. Pode repetir? —
Afastei minha mão do seu corpo apenas para desfazer o nó do robe,
deixando-o deslizar por meus ombros, caindo aos meus pés, e ficando
completamente nua.
— Caralho… — disse, soltando um longo suspiro, e seus olhos me
examinaram com atenção. — Eu machuquei você — comentou, olhando
com preocupação para a minha cintura e pescoço. — Eu machuquei você —
sua voz falhou e ele parecia atormentado.
Abaixei o olhar e toquei as pequenas marcas em tons de roxo e
vermelho em minha pele.
— Está tudo bem — afirmei. — Gosto delas. Serão as minhas
lembranças da nossa noite.
— Me desculpe — tornou a falar.
— Se tem alguém que precisa pedir desculpas sou eu. Quebrei a sua
cama. — ri e ele acabou me acompanhando, olhando o estrago.
— O vendedor disse que era resistente — comentou.
— Eu sou a diaba, lembra? A diaba que fode como uma puta. — O
encarei por alguns segundos antes de me posicionar próximo das suas
pernas.
— O que vai fazer? — indagou quando toquei seus joelhos em um
sinal claro para que ele os afastasse. Seu pomo de Adão mexeu em um
movimento desesperado.
— Você me teve gozando em sua boca. — Desci o rosto, apoiando
as mãos nas laterais do seu corpo para lamber a ponta cheia do seu pau. Ele
suspirou dolorosamente e eu estremeci, sentindo minha boceta ficar
molhada.
— Bea…
Era a primeira vez que ele gemia meu apelido.
O som não deveria ter me deixado tão feliz.
O som definitivamente não deveria ter me feito sentir uma intimidade
além da que estávamos dispostos a ter. Uma intimidade que parecia ir além
do contato carnal.
Podiamos ser amigos, mas esse tipo de intimidade seria impossível
entre nós, certo?
Eu só queria sexo. Ele só queria sexo.
Tão simples quanto dois mais dois são quatro.
Era impossível o resultado ser outro. Impossível!
Nenhum outro elemento poderia entrar nesta equação.
Balancei a cabeça e engoli o bolo que se formou em minha garganta
pela confusão sentimental que ameaçou me abraçar. Foquei em seu pau,
segurando-o firme com minha mão direita, subindo e descendo meus dedos,
espalhando a gota de pré-gozo que escorria da ponta.
— E agora eu também quero ter o seu cacete jorrando porra na
minha boquinha. — Fiz bico, depositando um beijo molhado no músculo
duro e pulsante em minha mão.
Henrique gemeu alto, sua mão esquerda se infiltrando em meu
cabelo, puxando os fios com força.
— Quer chupar meu cacete pela última vez?
— Quero sim, senhor — respondi cinicamente.
Com sua mão livre, ele segurou seu pau, empurrando-o na direção
da minha boca.
— Chupa, safada.
Passei minha língua por todo o comprimento e com minha mão
espalhei toda a saliva, deixando-o muito mais molhado. Levantei o olhar
para vê-lo admirar a cena. Ele acaricia minha bochecha com seus dedos e
ordena: — Chupa!
Lancei um sorriso endemoniado, antes de sugar forte a cabeça,
fazendo-o urrar.
— Caralho! — exclamou quando comecei a engolir seu pau
devagar, centímetro a centímetro, arrancando dele os sons mais sexys que já
ouvi de um homem.
Engoli tudo e comecei a deslizar minha boca por todo o comprimento,
de cima a baixo, apertando a base em sincronia com minha língua.
Henrique aumentou o aperto em meu cabelo, impulsionando seu quadril
contra mim cada vez mais rápido, ditando o ritmo.
— Engole tudo, sua safada! — disse, mordendo os lábios sem deixar
de se mover.
Apertei minhas coxas, gemendo enquanto ele fodia minha boca sem
parar. Podia sentir seu pau descendo pela minha garganta, fazendo algumas
lágrimas molharem meu rosto. E logo senti os primeiros jatos de porra
sendo jorradas. Suas pernas tremeram e sua cabeça tombou para trás,
palavrões e meu nome se misturou aos gemidos deliciosos que brotavam da
sua boca.
Engoli tudo e quando se acalmou, dei uma última chupada antes de
me afastar e subir por seu corpo até que nossas bocas estivessem próximas.
Seus braços rodearam minha cintura, me puxando mais para si.
— Eu vou beijar você — anunciei, segurando seu rosto, e meu olhar
oscilou entre suas íris azuis e sua boca.
— Está pedindo permissão? — indagou, alçando uma sobrancelha e
senti suas mãos apertarem minha bunda.
Estremeci, sentindo minha boceta ardida pulsar.
— Estou lhe dando tempo para recusar.
— Só me beija, Beatrice. Me beija pela última vez.
— Pede por favor — provoquei e seu corpo balançou debaixo do meu
quando ele soltou uma risada. Meu coração errou duas batidas pelo som.
Corações erram batidas assim por causa de uma risada?
— Por favor?
— Por favor, o quê, Sr. Prado?
Suas mãos subiram pelas minhas costas, me provocando arrepios.
Fechei os olhos por um momento, apreciando a sensação.
— Por favor, me beije, Beatrice. — Acariciou minha nuca e seu
polegar pressionou com possessividade minha garganta. — Me beije. —
Seu hálito dançou pelos meus lábios e repousei minha testa na sua,
completamente rendida. — Você pode me beijar pela última vez,
amiga/vizinha?
— Última vez? — As palavras saíram incrédulas.
Definitivamente eu não queria que fosse a última vez e como a
diaba que ele dizia que era, faria de tudo para que não fosse.
— Isso. Apenas uma noite, lembra? — questionou em um sussurro.
— Eu chupei seu pau há poucos minutos e já está de manhã —
debochei, abrindo os olhos, encontrando os seus nos meus lábios,
entretanto, rapidamente se moveram para os meus, como se não resistisse
ao meu olhar.
— Então porque quer me beijar?
— O covarde aqui é você. — Puxei seu lábio inferior entre os dentes,
chupando-os sutilmente.
O aperto em torno do meu pescoço aumentou.
— Eu não sou covarde — grunhiu ofendido.
— Então me prova. — Depositei um selinho em seus lábios, movendo
meus quadris, minha boceta roçando em seu pau que já começava a ficar
duro outra vez. — Me come mais uma vez. — o desafiei, torcendo para que
ele aceitasse e quando eu fui jogada de costas no colchão e minha boca foi
assaltada por sua língua, seu corpo pesando sobre o meu de forma deliciosa,
sorri internamente como a puta safada que sou, tendo a confirmação de que
cedeu ao meu pedido.
— Só mais essa vez — ele sussurrou, trilhando beijos por meu
queixo, pescoço, para em seguida chupar meu mamilo esquerdo.
Arqueei as costas, murmurando completamente excitada: — Isso.
Isso. Só mais essa vez.
Uhum, Henrique. Meu subconsciente debochou, porém logo foi
silenciado quando meu clitóris foi chupado com força.
Depois do sexo pela manhã, tomamos banho e nos trocamos,
vestindo as roupas que usávamos na noite anterior. Henrique permaneceu
em silêncio e a julgar pelo vinco entre suas sobrancelhas que se
intensificava cada vez mais conforme deixávamos a linda casa, ele estava
com a cabeça longe.
Não tinha nada contra silêncios, na verdade os amava tanto quanto
apreciava um bom barulho. Contudo, algo no silêncio de Henrique parecia
gritar mais do que qualquer palavra dita. Por isso, decidi quebrá-lo.
— Então — comecei a falar quando deixamos o condomínio e
entramos na avenida —, qual o mistério com essa casa?
— Já falaram que você é muito curiosa? — perguntou com uma
sobrancelha levantada, sem tirar os olhos da estrada.
Sim, eu era uma pessoa extremamente curiosa e já fui chamada
atenção inúmeras vezes por não saber a hora de parar de perguntar. Meu
babbo sofreu um bocado comigo quando eu era adolescente.
— Sempre fui, não nego. — Dei de ombros. — Por que a comprou?
— Porque as pessoas compram uma casa, Beatrice?
— Para morar, mas você não mora lá — disse o óbvio, o que o fez
rolar os olhos.
— Pessoas com contas bancárias como as nossas compram casas
sem precisar ter um motivo específico. A achei bonita e comprei. Fim da
história.
Ponderei por alguns segundos e decidi não insistir por agora.
— Tudo bem se eu usar o som do seu carro? — questionei, tirando
meu celular da bolsa.
— Fique à vontade.
Liguei o bluetooth do meu aparelho e o conectei ao sistema de som
do carro. Rolei o dedo pela tela, procurando alguma música interessante em
minha playlist.
A ideia era realmente apenas escutar um pouco de música até o
nosso destino, mas quando vi o nome “Surtada” decidi que seria mais uma
das oportunidades que eu não perdia para provocar o loiro ao meu lado.
Meu sorriso cresceu quando as primeiras frases preencheram o
ambiente.

“Safada, como é que tem coragem de falar na minha cara


Que só faz comigo o que tu fez lá em casa?
'Tava lembrando de você em cima de mim
Surtada, tada, tada, tada, tada, tada, tada
Ela é uma diaba.”

O homem atrás do volante, até tentou se manter sério, porém logo


uma risada saiu da sua boca.
— Sério, Bea? — falou quando paramos em um sinal vermelho,
virando o rosto para me olhar.
— O quê? — Dei de ombros fingindo inocência. — Gosto de funk.
— Ok, diaba.
— Gosto desse apelido — comentei quando seus olhos
permaneceram em mim.
Ficamos nos encarando e em um impulso inclinei o corpo em sua
direção, tocando sutilmente meus lábios nos seus. Me afastei apenas o
suficiente para olhar o azul de seus olhos que agora estavam escuros.
— Por que fez isso? — questionou.
— Porque eu quis. — Fui sincera, sorrindo de lado. — Eu sempre
faço o que eu quero.
— Não podemos fazer mais isso. — Engoliu em seco.
— É. — Levei uma mão até seu maxilar, segurando seu queixo. —
Eu tenho boa memória, mas sou teimosa pra caralho. — Pisquei e me
afastei ao mesmo tempo que uma buzina soou ao longe.
Henrique soltou um palavrão e tratou de colocar o carro em
movimento.
Durante o restante do percurso, que durou vinte minutos, não
falamos mais nada, mas pude sentir a tensão que emanava do seu corpo. Ele
estava preocupado, provavelmente tentando absorver tudo que havia
acontecido entre nós.
Guardei minha curiosidade para mim, fazendo um lembrete mental
com todas as perguntas que foram se formando pelos últimos
acontecimentos.
Quando o luxuoso prédio onde moramos surgiu em nosso campo de
visão, uma vontade súbita de prolongar o nosso tempo juntos me atingiu
com força, me fazendo soltar as seguintes palavras:
— Almoça comigo?
Porque eu disse isso?
E, cazzo, porque eu estava com vergonha por chamá-lo para
almoçar?
Era só um almoço entre… amigos, certo? Certo!
Tudo bem que havíamos transado há poucas horas e que seu pau
estava na minha boca há momentos, mas… eu sou Beatrice Fontana e já
tive refeições com caras que transei. Isso é algo perfeitamente normal para
alguém como eu.
E por que eu estava divagando dessa forma por algo tão fácil?
Per Dio, eu já fiz coisas mais descaradas e abusadas.
Porque o fato de fazer um convite para um homem que me comeu
estava fazendo meu estômago revirar?
— Almoçar? — repetiu, parecendo tão surpreso quanto eu com o
convite.
— Sim — minha voz saiu mais fina e alta. Qual é o caralho do meu
problema? Forcei uma tosse e ajeitei a postura. — Não comemos nada
desde ontem e, bem, eu sou ótima na cozinha se você não sabe. — Pisquei
tentando soar divertida.
Eu estou… suando?
Porque eu estou suando? Santo Dio!
Quando o portão da garagem subterrânea do prédio foi aberto,
Henrique adentrou no espaço, indo em direção à sua vaga, seus lábios se
abriram, mas antes que ele pudesse me dar uma resposta, seu celular apitou
no console do carro.
Involuntariamente, quase como um gesto natural para alguém
curiosa como eu, virei o rosto para olhar o nome “Verônica” brilhando na
tela. Sua ex.
Algo dentro de mim se remexeu e senti vontade de jogar o aparelho
pela janela.
Rapidamente ele estacionou, sem se preocupar se fez a balisa de
forma correta e pegou o celular, atendendo-o com certo desespero.
Sua reação não deveria ter me incomodado, contudo incomodou
mais do que eu imaginei. Me incomodou pra caralho.
— Tudo bem. Eu entendo, já estou indo. — Henrique disse e logo
em seguida bloqueou o telefone, virando o tronco para mim. — Preciso
encontrar uma pessoa agora. Sinto muito.
Sabe, eu já levei foras na minha vida, a maioria deles na
adolescência e pelo tempo desde o último, não me lembrava do sabor ser
tão amargo.
Forcei um sorriso compreensivo e dei um soco no incômodo
ridículo que se intensificou dentro de mim.
— Espero que esteja tudo bem — falei com sinceridade, ou…
quase.
Ah, foda-se! Eu estava puta e nem sabia ao certo o motivo.
Espera, eu sabia sim. Acabei de levar um fora!
O quê? Não era só homem que ficava com o ego ferido não, mi
amore.
O meu agora estava com um belo de um machucado neste exato
momento.
— Vai ficar tudo bem — murmurou soltando um longo suspiro.
E simplesmente assim, eu saí do carro me sentindo uma boba
conforme caminhava até o elevador, com mais um milhão de perguntas se
formando em minha mente.
CAPÍTULO 27
Henrique
— “Isso. Feche os olhos e deixe sua mente esvaziar. Isso. Assim.
Você está indo muito bem. Posso sentir o quanto você está relaxado.”
— Relaxado — ri com deboche. — Relaxado de cu é rola, porra! —
falei, fechando a tela do meu notebook e descansei as costas em minha
cadeira, silenciando a mulher simpática e de voz suave que mexia as mãos
contra a câmera.
Faz menos de cinco minutos que decidi seguir o conselho de Simone
e assistir a um vídeo de ASMR. A senhora passou o início da manhã
falando dos benefícios relaxantes desses vídeos depois que cheguei puto de
uma audiência por ter ficado mais de quatro horas ouvindo asneiras de um
empresário babaca de merda quando mostrei as provas da sua postura nada
profissional com suas ex-estagiárias.
Óbvio que ganhei a causa mas, caralho, só de lembrar das suas
palavras alegando que elas quem o provocava por estarem sempre
arrumadas no ambiente de trabalho foi de foder. Minhas clientes precisaram
de um minuto para se recomporem e o juiz, solicitamente, cedeu. Precisei
respirar fundo para não perder a compostura e atravessar a sala a fim de
socar a cara do riquinho de merda até que ele estivesse todo deformado.
A cada cliente mulher que me procurava por posturas impróprias
dos seus superiores, mais eu compreendia o quanto ser mulher era foda.
Quantas guerras elas precisavam lutar todos os dias para provar algo que
não deveriam?
Puxei o ar com força, soltando-o lentamente e tentando fazer toda a
tensão, que os vídeos de ASMR que assisti nos últimos minutos não
conseguiram, esvair. Eu estava pirando e quase pedindo para Simone enfiar
um daqueles seus incensos fedorentos no meu cu para ver se parava de
pensar e desejar Beatrice Fontana.
A noite de sábado foi perfeita, assim como a manhã de domingo.
Cada segundo que passei com ela foi incrível.
E deveria ter feito o meu tesão por ela passar, mas as doses que tive
da diaba em meu sistema, correndo por minhas veias me tornaram na porra
de um viciado.
Eu me sentia como se estivesse em abstinência, desesperado, louco
para sentir o maldito cheiro de baunilha com flores direto dela, para passar
minha língua por sua pele até me deliciar com o gosto da sua boceta toda
molhadinha e quente.
Caralho, ela foi perfeita! Bea era a porra da perfeição!
Além de toda a bagunça que aquela diaba fez em mim, ainda tinha
Verônica e a relação tóxica que ela insistia em manter em sua vida.
Passei o resto do meu domingo com ela, tentando colocar um pouco
de juízo em sua cabeça para que tomasse a decisão certa dessa vez.
Mas… Como eu poderia querer que ela fizesse algo que nem mesmo
eu conseguia fazer? Como esperar que ela saísse da merda que estava a sua
vida, se eu mesmo era um grande hipócrita e escondia de tudo e todos o
passado sujo que ainda me atormentava?
Argh! Eu era mesmo um hipócrita.
Por mais que dissesse a mim mesmo que Verônica e eu éramos
diferentes, a verdade era uma só. Éramos iguais, ainda que ao longo dos
anos tenhamos feito escolhas completamente diferentes.
Éramos iguais porque viemos de uma origem ferrada.
O som de batidas na porta me fez voltar à realidade.
Balancei a cabeça e foquei na imagem à minha frente.
Foi impossível não franzir o cenho ao ver Simone adentrando ao
cômodo segurando uma xícara de chá e um pequeno Buda em cobre.
Antes que eu pedisse por explicações, a senhora falou: — Um chá
de camomila para o senhor — deixou a peça de porcelana em cima da
minha mesa. — E esse rapazinho aqui vai te ajudar com os seus chakras. —
Apontou sorridente para a peça.
Alcei uma sobrancelha.
— Eu sei que parece loucura…
— Sim, parece — disse.
— Mas o meu guia espiritual me disse que esse Buda possui poderes
mágicos para combater o estresse. E bem, o senhor tem andado bem
estressado nos últimos dias.
— O meu trabalho é estressante, Simone — comentei com tédio por
todo aquele assunto.
— Sim, mas sua aura está… perturbada. Eu consigo sentir isso. —
Moveu uma mão no ar. — Os vídeos de ASMR não ajudaram, não foi? —
quis saber, usando seu tom de preocupação, quase maternal.
Soltei um suspiro, tirando meus óculos do rosto e jogando-os sobre
a pilha de papéis em minha mesa.
— Não.
— Ainda está com dor nos ombros e na cabeça, né, senhor?
— Sim, estou — respondi com sinceridade.
— Então, esse Buda vai te ajudar. — Se aproximou, parando ao meu
lado. — De acordo com o meu guia…
— Já disse que precisa parar de acreditar no que esse maluco fala —
chamei sua atenção.
Simone revirou os olhos.
— Ele é uma pessoa muito sábia. Me ajudou no meu relacionamento
com minha família e me mostrou o caminho tranquilo para alcançar a
minha paz interior. — Abaixou a cabeça em sinal de agradecimento.
— Não acho que isso — apontei para aquela coisa — vai me ajudar
a relaxar.
— Tente, senhor — pediu e novamente me olhou com aquela
expressão maternal suplicante.
Dei de ombros, resignado.
— Tudo bem — falei girando minha cadeira para ficar de frente
para ela. — O que devo fazer?
— Bem, quero que olhe para ele e pense em tudo que está roubando
a sua paz.
Fácil.
Beatrice Fontana.
— Pronto.
— Agora repita comigo: Buda, Buda, Buda. Leve esse encosto da
minha mente e entre em mim com toda sua paz.
Fiz uma careta.
— Não quero que nada entre mim — declarei, cruzando os braços.
— É a paz dele, senhor. Ela é grande e quente.
Movi minhas sobrancelhas não gostando nada daquilo.
— Vamos, o senhor precisa se concentrar — insistiu.
Revirei os olhos e decidi fazer logo o que Simone estava propondo,
me livrando assim desse bendito Buda.
— Ok — suspirei, ajeitando a postura e encarei aqueles olhos
repuxados de bronze. — “Buda. Buda. Buda. Leve esse encosto da minha
mente e entre em mim com toda sua paz.”
— Que porra é essa? — a voz de Matteo me fez virar o rosto na
direção da porta para vê-lo parado no batente com Dante e Miguel ao seu
lado.
— Olá, senhores! — Simone os saudou sorridente.
— O que está acontecendo aqui? — o fofoqueiro do grupo quis
saber. Lógico que quis.
— O senhor Henrique estava muito estressado e com os chakras
perturbados, então eu trouxe esse mocinho — elevou as mãos para os meus
amigos, que caminhavam para dentro da sala — para ajudá-lo a se sentir
mais relaxado. Ele estava pedindo para Buda colocar nele toda a sua grande
e quente paz.
Os três idiotas ficaram oscilando o olhar entre mim, minha
secretária e a porra do Buda que tinha um sorriso congelado no rosto, com
os lábios apertados, claramente prendendo o riso, a ponto dos seus rostos
começarem a ficar vermelhos pela força que estavam fazendo para não
soltarem uma gargalhada. Estava fodido!
— Ok, Simone — disse, alisando minha blusa social. — Estou
mesmo me sentindo um pouco mais… relaxado.
— Tem certeza, senhor?
— Sim — menti.
— É relaxante quando a grande e quente paz do Buda entra em nós,
não é?
Ouvi pigarros, porém ignorei os três homens, focando meu olhar na
senhora.
— Sim — forcei uma tosse. — Obrigado pela ajuda.
— Não agradeça a mim, senhor. E sim ao Buda. — Acenou sorrindo,
deixando a estátua sobre minha mesa.
Anui retribuindo o sinal de positivo que ela fez conforme deixava a
sala.
Quando fechou a porta, só então os homens que chamo de amigos
explodiram em gargalhadas. O corpo de Dante se mexia tanto, que por um
momento ele se desequilibrou sobre sua prótese, se sentando em uma das
cadeiras à minha frente logo em seguida, sem cessar seu ataque de riso.
— Os três patetas já acabaram? — questionei, cruzando os braços,
completamente sem paciência.
— Caralho! Nunca ri tanto assim a ponto de sentir minha barriga
doer — Miguel comentou sem fôlego. — Eu realmente amo ser amigo de
vocês!
— Eu te falei, “princeso”. Somos o melhor grupo — Matt disse,
alisando os cabelos e tomando fôlego, se sentando ao lado do irmão.
— Então — Dante ajeitou o terno puxando o ar —, que conversa era
aquela de Buda?
Suspirei, coçando minha barba e tentando controlar o nervosismo.
Era difícil olhar para os meus amigos e não pensar no maldito
juramento que eu quebrei, fodendo com Beatrice. O pior era que eu queria
fazer de novo. E de novo. E de novo.
Eu era mesmo um cretino filho da puta!
— Eu só estava estressado com a audiência de hoje de manhã e ela
estava me ajudando. — Dei de ombros, omitindo a parte em que sua irmã e
a foda que tivemos estava me consumindo.
— Ela e o grande Sidarta — O boca suja pontuou, levantando um
dedo para em seguida, se inclinar sobre a mesa e pegar o objeto em bronze,
abraçando-o como se fosse um bebê.
— Sidarta? — Miguel perguntou.
— É um dos apelidos que o Buda possui. Sidarta significa aquele que
atingiu sua meta — explicou.
— E desde quando você entende dessas coisas? — questionei,
encarando-o.
— Gosto de conversar com Simone. — Deu de ombros. — E ela me
adicionou em um grupo de meditação que seu líder espiritual criou. Tenho
frequentado o lugar sempre que posso ou quando os meus chakras pedem.
Não é só o meu corpo e dragão que precisam de exercícios, minha mente
brilhante também.
— Um italiano metido a brasileiro que curte meditação e fofoca? —
Miguel indagou. — Alguém deveria escrever um livro sobre você.
— Também acho — concordou, estufando o peito. — Com certeza
teriam muitas pessoas querendo saber mais sobre mim. Sou único.
— Definitivamente você é único — debochei. — E precisa ser
estudado. É quase como se não existisse.
Ele se levantou e caminhou até o meu lado, sem soltar a porra do
Buda.
— Porra! — exclamei quando um tapa seu estalou em meu ombro.
— Viu, porra. Eu existo. Ai, caralho! — bradou quando eu revidei,
alisando seu peito.
Miguel e Dante riram.
— Falando nisso, mamma queria o telefone de Stella para agendar
alguns exames para esse maluco. — Apontou para o irmão.
— Não vou fazer exame nenhum! — resmungou. — Pensando bem
— ponderou por um momento —, acho que vou fazer sim. E convidar a
ruiva para sair.
— Vai chamar minha prima para um encontro? — indaguei surpreso.
— Um encontro de amigos, porra. Gosto dela e sinto que dividimos o
mesmo neurônio, sem contar que ela disse, no jantar na casa dos nossos
pais, que gostou da minha teoria dos três estágios, dizendo que sou um
gênio — falou, abrindo um sorriso. — Ela é médica e sabe do que está
falando.
— Definitivamente, vocês dividem o mesmo neurônio — ironizei. —
Então, o que fazem aqui, afinal?
— Também estou feliz em te ver, B2 — Matteo falou, tocando em
meu ombro e sorrindo de orelha a orelha.
Revirei os olhos.
— Noite dos caras. Ideia dele — Miguel disse, apontando para o cara
com o Buda nas mãos. Porque caralhos ele não soltava aquela coisa?
— Em plena segunda-feira?
— Sim! Preciso conversar com meus amigos — suspirou.
— Você está bem? — procurei saber, preocupado. Com o canto de
olho, vi Dante e Miguel prendendo o riso.
— Não como eu queria estar.
— O que aconteceu?
— A Usurpadora aconteceu.
— Hãn? Do que você está falando?
— A Usurpadora é a nova novela mexicana que ele está assistindo —
Miguel esclareceu.
— Espera. Você quer uma “noite dos caras” porque está sofrendo por
causa de uma… novela? — indaguei incrédulo.
Realmente, Matteo Fontana é de outro mundo.
— Não é só uma novela, caralho!
A essa altura, Dante e Miguel já estavam rindo e por mais que eu
achasse tudo aquilo um absurdo, acabei os acompanhando.
Matteo apertou os olhos nos encarando.
— Ok! Ok! — disse, levantando e pegando meu paletó que estava no
encosto da cadeira com uma mão e com a outra, abracei Matteo de lado,
jogando meu braço em seu ombro. — Vamos jantar e você nos fala sobre
essa novela.
— Usurpadora.
— Isso. Isso.
O filho da mãe sorriu.
Caralho, eu amava mesmo esse maluco.
— Mas você paga a conta — provoquei.
— Ninguém vai pagar. Vamos ao La Fontana — sorriu de forma
prepotente.
— Claro que vamos.
— Você vai levar o Buda? — Dante perguntou.
— Claro — afirmou. — O coitado precisa dar uma volta.
— Um dos herdeiros Fontana desfilando por aí com um Buda nas
mãos? — Dante falou, ficando em pé. — A mídia vai à loucura — brincou.
— Droga! — Matteo falou — Eu sabia que precisava ter ido ao salão
antes.
Rimos e deixamos a sala.
E durante todo o restante da noite tentei focar na conversa dos meus
amigos, ignorando o incômodo filho da puta que ameaça emergir pelo que
fiz no final de semana com a herdeira Fontana.
Que ótimo amigo eu sou, hein!
CAPÍTULO 28
Henrique
Ainda sorrindo pelo episódio de mais cedo com a porra do Buda e
do jantar com meus amigos, sai do elevador do prédio no meu andar e meu
corpo entrou em completo estado de alerta ao ver Beatrice parada no
corredor de frente para a porta do seu apartamento murmurando algo
enquanto mexia em sua bolsa que estava pendurada no seu ombro direito.
Me aproximei dela vagarosamente, notando seu rosto vermelho e
quando ouvi um soluço seu, meu corpo tencionou de preocupação. Corri
para alcançá-la mais depressa e segurei seu rosto sem aviso, fazendo-a olhar
para mim.
— Bea?
Engoli em seco quando vi seus olhos avermelhados e algumas
lágrimas em suas bochechas. Seus lábios inchados tremeram como se
estivesse tentando prender o choro, que insistia em querer cair.
— Você está bem? — perguntei, usando um tom calmo e suave,
acariciando sua pele.
O bico se intensificou e eu reprimi a vontade de passar minha língua
ali.
Ela não estava bem.
Definitivamente não era hora para isso.
— Não — Choramingou, batendo os braços nas laterais do seu
corpo. — Eu.. nã-não estou be-bem — contou entre os soluços, apertando
os olhos, o que fez mais lágrimas caírem.
Meu coração se apertou pensando que aquele filho da puta do Jakov
poderia ter feito mal a ela. Eu mataria aquele desgraçado se ele se
aproximasse de Beatrice novamente.
— O que aconteceu? Quem te deixou assim? — procurei saber,
sentindo meu sangue começar a ferver.
Ela ficou em silêncio por um momento antes de responder, a
expressão de choro aumentando.
— Hormônios! — soltou e começou a chorar copiosamente.
Franzi o cenho.
— Hormônios? — repeti pausadamente.
— É! — Fungou. — Cazzo, eu odeio TPM. Que… qu-que mer-
merda!
Soltei um suspiro e então, tudo fez sentido.
Beatrice que sempre foi forte e firme em tudo o que dizia e fazia,
agora bem diante dos meus olhos estava frágil e delicada como nunca havia
visto antes. Derrubada por seu próprio corpo, por… hormônios.
Não percebi que estava rindo até ela falar.
— O que é engraçado, Henrique? — Cruzou os braços e fez bico.
Reprimi a vontade de soltar uma gargalhada.
— Quem diria que a diaba italiana seria derrubada do trono pela
famosa TPM. — comentei.
— Eu sou mulher, porra!
— Eu sei — disse o óbvio. — Agora eu entendi porque está assim.
— Não! — bradou sem conseguir parar de chorar. — Você não
entende! Nenhum homem pode entender! Meus peitos estão doendo e eu
quero transar porque mi-minha boceta está piscando. — Tentei não voltar a
sorrir enquanto ela falava, observando que até uma bagunça, Beatrice
continuava linda. — Mas eu só sei chorar. Nem meu vibrador, eu consigo
usar porque minha boceta está jorrando sangue e tudo dói. Eu estou inchada
e….
Meu sorriso se desfez quando notei seu lábio inferior tremer e seus
olhos encherem de água novamente.
Ali, naquele momento, eu percebi que odiava ver Beatrice chorando e
fiz uma promessa de que faria de tudo que estivesse ao meu alcance para
ver apenas sorrisos estampados em seu lindo rosto.
— Ok, vem cá — falei, interrompendo seu falatório e puxando-a
gentilmente para um abraço que ela aceitou sem protestos ou qualquer
provocação que era seu habitual, fechando os braços em volta da minha
cintura e descansando a testa em meu peito.
O cheiro inebriante de baunilha com flores adentrou em minhas
narinas, provocando uma calmaria estranhamente barulhenta.
— Mi dispiace. Sono un disastro e la mia giornata oggi ha fatto
schifo. Non potevo stare in cucina a lungo e dovevo stare chiusa in ufficio a
risolvere cose che non avevano niente a che fare con ciò che amo, ma che
sono necessarie. E il mio blocco era sparito e…
(Me desculpe. Eu estou uma bagunça e meu dia foi péssimo. Não consegui
ficar na cozinha por muito tempo e precisei ficar trancada no escritório
resolvendo coisas que não tinham nada a ver com o que eu amo, mas que
são necessárias. E para piorar, meu absorvente tinha acabado e…)
— Bea? — chamei, a interrompendo.
— Oi? — Levantou o rosto para me olhar, apoiando o queixo em
meu peito. Notei que minha camisa social branca estava molhada pelas suas
lágrimas.
Ela estava tão… fofa.
Incomumente fofa.
E linda. Beatrice Fontana sempre estava linda!
— Eu não estou entendendo o que você está falando, querida.
Involuntariamente, rocei a ponta do meu nariz no seu.
Ambos arregalamos os olhos sutilmente, surpresos por minha atitude.
Porque fiz isso? E por que eu estava prestes a fazer de novo?
Acariciei minha pele na sua novamente, o que fez Beatrice fechar os
olhos e abrir a boca para sussurrar: — Fica comigo hoje?
Engoli em seco e todos os meus músculos tensionaram com seu
pedido.
Ela sentiu e abriu os olhos para me encarar.
— Como amigo — explicou. — Fica comigo me fazendo
companhia, amigo/vizinho? — O bico de choro ameaçou se formar quando
ela disse: — Por
favor.

E assim, simplesmente como se tivesse poder sobre mim, eu aceitei. E


conforme a ajudava a abrir a porta do seu apartamento, eu me perguntava se
algum dia conseguiria dizer não a ela. Duvido muito.

— Não acredito que consegui fazer pipoca — disse orgulhoso,


pegando um punhado da tigela que estava em meu colo para em seguida,
encher a boca.
— Você não fez a pipoca, foi a pipoqueira — Beatrice falou de boca
cheia, sem tirar os olhos da televisão.
Encarei seu perfil e meus olhos desceram até seu pescoço, onde as
marcas, que minhas mãos e boca fizeram, ainda estavam aparentes.
Depois que entramos, sugeri que assistíssemos a um filme e Beatrice
anunciou, entre curtos soluços, que precisava de um banho, pois sua
calcinha estava pesada.
Sorri, vendo-a andar pelo corredor de um jeito desengonçado e logo
adentrar em seu quarto.
Decidi então, me arriscar a fazer pipoca e suspirei aliviado quando
vi uma pipoqueira eletrônica em sua cozinha.
Livrei-me do paletó, dos sapatos e das meias, colocando-os em um
canto da sala. Desabotoei alguns botões da minha blusa e puxei, de
qualquer jeito, as mangas até os cotovelos, começando a vasculhar entre os
armários por manteiga, milho e duas vasilhas.
Quinze minutos depois, quando eu estava colocando um pouco de
manteiga derretida sobre a pipoca já pronta, Beatrice retornou, usando uma
calça moletom na cor azul e uma blusa branca de alças finas.
Conforme ela se aproximava, tentei não focar nos seus seios, os
piercings marcados pelo fino tecido me fazendo salivar, querendo fechar
meus lábios ali. Minha mente traidora me fez mergulhar em um mar de
imagens do nosso sexo quente, desejando revivê-las.
Como agora, onde meu olhar foi atraído para a pele exposta do seu
decote e minha mão formigou para se infiltrar ali para acariciar os seios
mais lindos que já vi e provei.
— O que acha? — sua pergunta me afastou dos pensamentos
safados que se formavam como névoa em minha mente.
Engoli em seco.
— Desculpe, o que disse?
Bea virou o rosto e só então notei que sua mão direita segurava o
controle, apontando-o para frente.
— Perguntei o que você acha de assistirmos a um filme de ação.
— Mulheres quando estão de TPM não preferem ver a filmes de
romance?
— Não eu — declarei, empinando o nariz, que ainda estava
vermelho pelo choro de mais cedo.
— Claro — soltei uma risada, voltando a comer um pouco de
pipoca.
— Então, filme de ação? — questionou, alçando uma sobrancelha.
— O que você quiser, Bea — falei, levando meu olhar até o dela que
me encarava com um brilho diferente. — O quê?
— Nada — disse rápido.
— Toda vez que uma mulher diz que é “nada”, na verdade é tudo —
comentei.
— Isso é bem clichê, Sr. Prado — zombou risonha.
Revirei os olhos, mas acabei rindo.
— Vamos, me diga qual é o problema — insisti, curioso.
— Quem disse que há um problema? — sua voz soou trêmula.
Eu nunca ouvi esse tom de voz nela e pela cor das suas bochechas,
eu podia jurar que Beatrice Fontana estava com… vergonha?
Caralho! Não, definitivamente, minha percepção estava errada.
— E não há? — Alcei uma sobrancelha para ela.
— Não!
— Tem certeza? — insisti.
— Não! — Deixou escapar.
Soltei um suspiro e dobrei uma perna, virando o corpo em sua
direção.
— Vamos, Bea. Me diga o que está te incomodando — pedi com
carinho.
— Você vai rir de mim. — E lá estava sua expressão fofa e o
maldito bico em seus lábios rosados que me faziam querer protegê-la de
tudo, inclusive, de uma parte escura em mim.
— Prometo não rir — garanti.
Ela ponderou por um momento, torcendo seus lábios. E então,
levantou seu olhar e o que saiu da sua boca, fez algo em meu estômago se
agitar.
— Você pode me abraçar enquanto assistimos ao filme?
Eu já conheci várias versões de Beatrice.
A mais atrevida.
A mais safada.
A mais destemida.
A mais corajosa.
A mais alegre.
Mas nenhuma delas se compara à sua versão na TPM.
Porra! Os hormônios a deixavam tentadoramente doce e carinhosa,
e ainda que eu fosse louco pela versão endiabrada, meu subconsciente me
alertou que essa versão… Essa versão em especial ia me foder de maneiras
que nunca nenhuma mulher fez.
— Por favor — disse diante do meu silêncio, os olhos verdes
enchendo de água novamente e o beicinho esticado para o alto
Sorri, deixando o recipiente com a pipoca sobre a mesa de centro e
apoiei o braço no encosto do sofá.
— Vem, querida — a chamei e a forma ansiosa com que ela
engatinhou até mim, fez meu coração se expandir no peito.
— Grazie — sussurrou, envolvendo minha cintura com seus braços,
descansando o rosto em meu peito.
A sensação que me abraçou foi diferente de tudo que eu já
experimentei.
Foi como agitar e acalmar todas as células do meu corpo.
Era confusão, mas também alívio.
Era errado, mas ainda assim, tão certo.
Era assustador, mas tranquilo.
Ignorando todos os alertas da minha mente, a abracei, colando seu
corpo ainda mais no meu.
— Obrigada — murmurou quando comecei a acariciar seus cabelos.
— Por aceitar ficar com você hoje ou por aceitar o abraço?
— Pelos dois, mas, principalmente por não me zoar amanhã pelo
meu estado deplorável.
— Não me lembro de ter dito que não ia — provoquei, o que foi
uma péssima ideia, pois a mulher em meus braços levantou o rosto para me
olhar e o bico de choro estava lá novamente, os olhos se enchendo de água.
— Shiu, estou brincando — me apressei em dizer, segurando seu rosto entre
as mãos.
— Está? — balbuciou.
— Estou — afirmei, não resistindo em roçar a ponta do meu nariz
no seu. — Não vou tirar sarro de você por algo que não pode controlar. Ser
mulher e ter que lidar com hormônios deve ser foda.
— É. — Fungou. — É realmente foda. Cazzo!
Sentindo um vazio estranho, voltei a puxá-la para perto e fiquei feliz
quando ela veio tão ansiosa quanto eu pelo contato.
— Já sabe qual filme quer assistir? — questionei, retomando o
carinho em seus cabelos.
— Sim. Gosto de assistir filmes italianos antigos. Esse, por exemplo
— respondeu, apontando para a televisão à nossa frente —, é sobre uma
mulher que quer encontrar o amor depois de ter passado por tantos outros
tóxicos. No final, ela descobre que está grávida do melhor amigo depois de
uma noite de farra e muito álcool. Minha parte favorita é quando o sexo é
revelado só na hora do parto — comentou.
— Porque é a sua parte favorita? — perguntei, curioso.
— Mesmo sendo curiosa, gosto de surpresas — disse simplesmente,
dando de ombros. — Quando eu for mãe…
— Você quer ser mãe? — soltei surpreso e recebi um tapa em minha
barriga.
Sorri.
— Porque o espanto? Geralmente, quando uma mulher diz o
contrário, que não deseja ter filho, é que as pessoas se assustam.
— Não sei, só… achei que você não pensasse nessas coisas.
— Que coisas? — Levantou o rosto, apoiando o queixo em meu
peito, me observando.
— Coisas românticas.
— Ter filho está longe de ser algo romântico — brincou. — Mas
entendi o seu ponto. E sim, desejo algum dia ter o que Dante e Ana têm.
Não agora, mas… um dia. Quem sabe.
Senti um incômodo no estômago ao imaginar um homem ao lado de
Beatrice, tendo-a como sua e definitivamente, a cena que se formou em
minha mente dela vestida de noiva caminhando até o filho da puta sortudo
que estampava um sorriso vitorioso nos lábios no altar, não me agradou em
nada.
— Eu já assisti duas vezes. — Balancei a cabeça ignorando meus
pensamentos. — Tudo bem se assistirmos?
— O que você quiser, Bea.
Uma hora e meia depois, a pipoca havia acabado, assim como o
filme. A mulher em meus braços chorou como se fosse a primeira vez que
assistia a cada acontecimento, sempre dando sua opinião nas cenas que
julgava ser importantes. E quando os créditos começaram a rolar, Bea, que
antes estava frágil e carente, pareceu despertar de um transe profundo,
voltando à sua postura de mulher independente.
Tentei disfarçar a decepção que me atingiu quando ela se afastou e
caminhou até a porta, agradecendo e me desejando boa noite.
A observei por um momento antes de me levantar e caminhar em
sua direção. Quando me aproximei, beijei sua testa, o que a fez dar um pulo
pelo susto, e me despedi dizendo que se caso precisasse de mim, era só
chamar. Eu estava a uma porta de distância.
Por um momento queria pedir para ficar.
Por um momento eu queria tê-la adormecendo em meus braços e ter
seu cheiro em mim por mais tempo.
Mas reprimi todas essas vontades e aceitei o que estava diante de
mim.
Beatrice estava finalmente aceitando a nossa amizade e eu?
Bem, eu queria mandar essa amizade para a puta que pariu.
CAPÍTULO 29
Beatrice
— Voltei! — Ana Laura informou ao adentrar a cozinha, após ir ao
banheiro pela décima vez, ou seria a décima segunda? Depois da sétima,
perdi a conta.
— Está tudo bem? — Stella perguntou a minha cunhada, ajudando-a
a se sentar em uma das banquetas da sua cozinha.
— Sim. Demorei porque lavei as mãos cinco vezes — respondeu,
acariciando a barriga.
— Porquê? — questionei curiosa.
— Rosa me deu de presente um kit de sabonetes com cheirinho de
morangos e eu amo sentir o cheiro deles. — Deu de ombros, cheirando as
próprias mãos. — Não posso esquecer de perguntar onde foi que ela
compreou na segunda. Vou fazer um estoque deles!
— Você é tarada mesmo por morangos, hein? — Stella disse,
sorridente.
— Muito! — sorriu animada. — Então, Beatrice já soltou algo?
— Não. Ela continua nos torturando — Bárbara revelou, revirando os
olhos como de costume sempre que estava entediada.
Era domingo e estávamos na cobertura de Ana e Dante, para um de
nossos encontros.
Desde que cheguei, há meia hora, elas tentam, ferozmente, arrancar
alguma novidade sobre a minha relação com Henrique, já que desde o jantar
na casa dos meus pais, eu não tinha atualizado sobre o assunto para elas,
nem mesmo respondi as infinitas perguntas sobre a carona que ele me deu.
Até mesmo Kyara parecia interessada, pois me mandava áudios sempre que
seu trabalho no hospital permitia.
Falar sobre o sexo incrível que rolou entre Henrique e eu,
definitivamente, não era algo que me incomodava, ainda mais para as
minhas melhores amigas. Porém, eu sabia que na hora que abrisse a minha
boca, compartilhando com elas tudo o que aconteceu desde o momento em
que deixamos a casa dos meus pais na outra noite, eu também teria que
contar sobre o episódio ridículo que meu próprio corpo me fez passar.
Óbvio que elas surtariam se soubessem que eu agi feito uma tonta
sentimental, movida pelos malditos hormônios da famosa tensão pré-
menstrual.
Eu sempre fui durona, decidida e destemida.
E mesmo sendo a caçula e tendo recebido privilégios da minha
família, principalmente de babbo, que sempre me mimava, eu não me
considerava uma pessoa meiga ou… frágil.
Contudo, tudo mudava drasticamente de cenário quando eu estava na
TPM.
Argh! Chorava por tudo, me sentia estranhamente carente, todo o meu
corpo ficava dolorido, sobretudo minha boceta e ficava com um puta fogo
no rabo.
De Beatrice ousada, eu me transformava, uma vez por mês, em uma
Beatrice que eu odiava.
Odiava a minha versão frágil, me fazia parecer boba. E cazzo, eu
odiava parecer boba.
— Mulher, desembucha ou eu vou parir suas sobrinhas agora mesmo
— Ana Laura disse, apontando um dedo para mim e com os lábios
apertados. Típica postura de mãe.
— Tutto bene — falei. — Já que vocês insistem. — Dei de ombros.
— Com detalhes, por favor — Bárbara pediu, como a boa fanfiqueira
que era.
— Não! Definitivamente sem detalhes. Ele é meu primo e por mais
que eu ame falar de putaria, isso está fora de cogitação — Stella declarou,
torcendo o nariz.
— Como o ditado diz, uma imagem vale mais do que mil palavras. —
Pisquei para elas, abaixando a gola da minha blusa e deixando as marcas
em meu pescoço expostas para as minhas amigas curiosas.
Já faz uma semana e elas ainda permaneciam ali, não tão aparentes,
mas eu ainda conseguia admirá-las sempre que estava no banho, era como
reviver cada segundo daquela noite e manhã incríveis, desejando por mais.
E, bem, com certeza eu faria de tudo para ter mais.
— Puta que pariu! — a “gnomio” barriguda exclamou, levando a
mão à boca.
— Você é a Anastasia Steele da vida real — Bárbara deixou escapar,
se aproximando para ver melhor o meu pescoço.
— Quem ganhou um carro e um motorista foi a baixinha aqui. —
Apontei para a minha cunhada.
— Hum, eu adoraria encontrar um homem que curtisse essas coisas
— Stella declarou, pensativa.
— Coisas do tipo BDSM? — indaguei.
— Sim.
— Você não é do tipo submissa, amiga — Bárbara pontuou e nós
acenamos em concordância.
— Por isso mesmo que eu adoraria encontrar um homem
dominador. Adoraria bancar a submissa levada e fazer o coitado perder a
cabeça — concluiu e todas nós rimos.
— Então, vocês estão juntos? — a fanfiqueira perguntou com os
olhos brilhando e as mãos juntas ao peito. O que minha amiga possui de
deboche, possui de romantismo.
— Não, não estamos juntos. Fizemos sexo e foi incrível pra caralho.
— Sem detalhes! Por favor, sem detalhes! — Stella pediu.
Soltei uma risada.
— Um sexo incrível pra caralho, que eu não pretendo dar detalhes
para vocês, além das marcas que mostrei. — A ruiva suspirou aliviada,
murmurando um “obrigada”. — É apenas isso.
Os ombros de Bárbara cederam e seus lábios se formaram em um
bico, como se eu tivesse acabado de contar a uma criança que papai Noel
não existia.
— Como assim “é apenas isso”? — questionou, apoiando as mãos
na cintura, indignada. — Eu já planejei toda a vida de vocês! Vocês vão se
casar, ter quatro filhos, sendo dois casais de gêmeos, dois meninos e duas
meninas. Vão morar em uma casa linda de dois andares com quintal e
aquelas cercas brancas que a gente vê nos filmes clichês bem água com
açúcar que passam na televisão.
— Ok, cara mia — falei, tocando com carinho em sua bochecha. —
Sinto muito se sua alma de leitora de romances está decepcionada, mas
nada disso vai acontecer.
— Mas vocês formam um lindo casal! — argumentou. — Ele te
olha como se quisesse ser o rei da sua história.
— Não preciso de um rei, amiga. Gosto do meu reinado solo. — Dei
de ombros e uma dúvida foi plantada na minha cabeça por conta do seu
comentário, por isso, perguntei depois de forçar uma tosse.
— Como ele me olha?
Ela ponderou por alguns segundos, seu olhar me analisando.
— Te olha como se você fosse a mulher mais linda do mundo. Da
mesma forma que Dante olha para a “gnomio” barriguda aqui. — Apontou
com o polegar para o lado, onde Ana Laura estava devorando uma vasilha
cheia de salada.
— Porra, vai com calma ai! — Stella disse, rindo.
— O quê? — falou de boca cheia, com um pedaço de alface
pendurado em um dos dentes. — Eu posso comer salada à vontade. — Deu
de ombros, colocando a língua para fora.
— Mas coma devagar, mulher! — repreendeu.
Ana Laura assentiu, mastigando agora em uma velocidade razoável
sob os olhos atentos da médica do grupo.
— E você — apontei para Bárbara, que continuava me observando
atentamente como se estivesse prestes a desvendar um mistério —, pare de
criar histórias nessa sua mente de leitora assídua. Henrique e eu não vamos
ter uma história de amor. Eu não vou me apaixonar por ele!
— Meu primo disse a mesma coisa — comentou.
— Disse? — inquiri.
— Sim. Isso te incomoda? — a ruiva questionou, apertando seus
olhos para mim.
Rolei os olhos.
— Parem de ficar procurando coisas, neste caso, sentimentos onde
não existe.
Minhas amigas se entreolharam.
— Não está mais aqui quem falou. — Bárbara murmurou,
arregalando os olhos e erguendo as mãos em um sinal claro de que não
acreditava em nada do que eu disse.
— E nos diga, nenhuma notícia de Jakov? — Stella perguntou.
— O seu pau amigo? — Ana questionou.
— Sim, nesse caso, ex-pau amigo. Ele sumiu desde a noite da boate
e a última vez que nos falamos foi quando me mandou mensagem pedindo
para que nos encontrássemos.
— E?
— E aí que eu não fui, porque o meu vizinho/amigo estava me
comendo. — Um sorriso de lado rasgou em meus lábios.
— Aquele filho da mãe não contou nada. — Stella bufou, cruzando
os braços. — Se bem que eu tenho andado bem ocupada com alguns casos
bastante complexos. Conseguir um tempinho para ver vocês hoje, ainda que
seja sábado, foi um verdadeiro milagre, assim como sair para almoçar com
Matteo no meio da semana.
— Você saiu para almoçar com Matteo? Tipo um… encontro? —
Bárbara inquiriu com um tom de voz agudo, cheio de incredulidade e algo
que eu podia jurar ser ciúmes.
— Ciúmes, boneca? — provoquei, cutucando as suas costelas, mas
ela revirou os olhos se afastando.
— Por Deus, eu não tenho ciúmes daquele maluco do seu irmão. Só
fiquei sur-surpresa, por vocês terem saído para almoçar. Só isso. Nada
demais.
— Nervosa, boneca? — a “gnomio” acrescentou de boca cheia,
movendo as sobrancelhas de um jeito sugestivo.
— Não estou nervosa!
— Tem certeza, bonequinha? — Stella questionou.
— Absoluta!
— Então, se por um acaso, eu o chamar para um encontro e a noite
terminar com ele na minha cama, você não vai ficar com raiva?
Bárbara apertou os olhos para ela e pude ver sua garganta se
movendo com dificuldade.
— Você sabe — a ruiva continuou, Ana e eu tentávamos prender o
riso a todo custo —, Matteo é um homem lindo pra caralho! Aqueles olhos
azuis e porra, aquelas veias saltadas em seus braços e mãos, fazem uma
mulher solteira e carente imaginar muitas coisas safadas.
— Bárbara ama veias grossas. — Minha cunhada deixou escapar.
— Ana!
— O quê? É a verdade, ué.
— Atrapalho? — Dante disse, entrando no ambiente com algumas
sacolas com a logo do La Fontana em mãos, deixando-as sobre a ilha de
mármore.
— Claro que não! — sua esposa gritou, indo até ele e jogando os
braços sobre seus ombros. — Estávamos com saudade!
— Eu também estava com saudade dos meus amores. — Depositou
um beijo nos lábios dela para em seguida beijar sua barriga por sobre o
vestido rodado que usava.
Foi impossível conter o suspiro bobo que minhas amigas e eu
soltamos com a cena.
— Caralho, vocês são lindos demais juntos! — Stella tocou o peito.
— Grazie, ruiva — meu irmão agradeceu, sorrindo e abraçando Ana
por trás, repousando suas mãos sobre a barriga da grávida e o queixo no
topo da sua cabeça. — Então, do que estavam falando? Se forem assuntos
femininos, posso me retirar para dar privacidade a vocês.
— Estávamos falando do Matteo e o quanto ele é lindo. E que estou
pensando em chamá-lo para sair. O que acha, Dante?
Meu irmão arregalou os olhos com a informação e logo virou-se
para Bárbara, que estava com a pele corada, parecendo que ia explodir. Mas
como sempre, usou o seu deboche para tentar camuflar seus verdadeiros
sentimentos.
— Porque está me olhando? — questionou, cruzando os braços.
— Nada — se apressou em dizer.
— Viu? — Stella falou, apontando para a loira. — Está na cara que
ela está morrendo de ciúmes e quer o nosso “boca suja”, porém é teimosa
demais para admitir. — Jogou um braço por sobre os ombros de Bárbara. —
Eu só o vejo como amigo, um irmão, na verdade, apesar do pouquíssimo
tempo que nos conhecemos. Como vocês. Não precisa ficar com ciúmes,
boneca. Não de mim.
Ela revirou os olhos.
— Eu não estou com ciúmes de ninguém. — Deu de ombros. — E
também não quero nada com ele!
— Tem certeza? — meu irmão inquiriu.
— Dante! Até você?
— Scusi, Bárbara, mas acho que vocês formariam um belo casal —
comentou.
— Não conseguimos ficar dois minutos no mesmo lugar sem
começarmos a brigar. Não há a menor possibilidade de sermos um casal.
Por Deus! Definitivamente, isso não é possível e está fora de cogitação.
— Mas ele te olha como se quisesse ser o rei da sua história,
ragazza — falei cinicamente.
— Não sabia que você era romântica, sorella.
— Não sou, mas estou aprendendo a ser com a minha amiga
fanfiqueira aqui. — Brinquei, indo me juntar a ela e Stella, que continuava
abraçando-a de lado.
Dei uma breve piscadela para a ruiva, que logo entendeu o meu sinal
e começamos o nosso ataque de cosquinhas em Bárbara.
— Parem com isso! — bradou, rindo histericamente e tentando se
livrar das nossas mãos que dançavam por sua barriga. — Parem com isso!
Eu odeio cosquinhas!
— Sabemos disso — disse.
— Eu odeio vocês! — declarou sem fôlego quando paramos,
ajeitando a blusa.
— Odeia nada — Stella apontou.
— Você parecia aquele bichinho verde da internet, se remexendo
toda! — Ana Laura comentou rindo, mas logo parou, abaixando o rosto
para falar com sua barriga. — Bella, querida, pare de chutar assim, minha
filha. Você não mora sozinha, amor.
— Eu posso? — Stella pediu se aproximando com cautela.
— Claro, amiga — disse sorridente, segurando a mão da ruiva que,
por um momento, parecia tremer levemente ao repousar sobre a barriga da
Ana. — Bella e Nina, essa é a sua tia Stella. Ela parece a princesa Valente,
só que de cabelos lisos — concluiu com carinho.
— Nossa! — exclamou maravilhada. — Elas estão… agitadas.
— Meus morangos são serelepes, mas Bella parece ser a mais
parecida comigo. Ela geralmente fica perto do meu umbigo e gosta de fazer
da minha bexiga, seu pula-pula — disse e todos sorrimos. — Nina é mais
quieta e só se mexe quando o pai canta e toca violão. Ela mora no andar de
cima da minha barriga — brincou.
— Sou médica e mesmo que minha área seja a neurologia, a
obstetrícia consegue me impressionar sempre. Gerar uma vida é como
carregar, dentro de si, um milagre.
— Estou animada para ver os rostinhos das minhas meninas.
— Serão lindas como você, mi amore — Dante declarou, beijando a
ponta do nariz da esposa e olhando-a daquele jeito bobo apaixonado.
Observei Stella admirar a cena com uma certa dor no olhar.
Algo me dizia que minha nova amiga era uma romântica sonhadora
por trás de toda loucura, podendo ser até mais do que Bárbara, que vivia
mergulhada em histórias de amor.
— Estou com fome! — Eu realmente não preciso dizer quem falou
isso.
— Novidade — cantarolei.
— Aquela saladinha não deu nem pro cheiro — resmungou, fazendo
bico.
— Bem — Stella falou, batendo palmas —, vamos alimentar essa
mamãe porque ela está produzindo órgãos.
— Trouxe tudo o que pediram — Dante apontou, quando
começamos a mexer nas sacolas que estavam sobre a ilha.
— Até nossas sobremesas? — questionei.
— Si, mia cara. Sorvete de flocos para Stella, bolo de chocolate
para Bárbara, palha italiana para você, e claro, torta de morango para os
meus morangos.
O grito de Ana quase nos deixou surdos quando ela tirou de uma das
sacolas, o recipiente que continha sua sobremesa favorita.
— Eu te amo — declarou, dando a primeira mordida na torta.
Dante sorriu e beijou sua testa.
— Eu te amo mais, mi amore.
— Como meu irmão diria — falei —, estou prestes a ficar com cárie
nos olhos, porra! — imitei a voz de Matteo e todos rimos.
CAPÍTULO 30
Beatrice
— Viu, mamma, eu disse. Tudo está normal com o seu filho mais
bonito — Matteo falou enquanto ela lia o resultado da ressonância que ele
havia feito.
— Estou impressionada — ela apontou.
— Obrigado pela parte que me toca, mãe — Matt resmungou.
— É, amore mio. Está tudo bem com o nosso ragazzo.
— Ainda acho que trocaram o resultado ou a máquina estava com
defeito. — Dante brincou, se servindo com um pouco de vinho. — E eu já
disse que você não é o filho mais bonito. Não insista nisso, B1.
Sorri, observando a interação da minha família.
Era domingo e estávamos reunidos na casa dos nossos pais, apenas
nós cinco, depois de dona Beatriz fazer um drama do quanto estava se
sentindo abandonada pelos filhos.
Definitivamente, Matteo teve a quem puxar no quesito drama.
Bárbara ficou de visitar seus pais, Stella estava de plantão, Ana e
Miguel foram ver dona Luíza e Henrique estava preso com um processo
grande, de acordo com Matteo.
— Olha esse rosto, Dantinho — disse sinalizando sua face, fazendo
expressões exageradas. — Olha toda essa beleza. Per favore, sono il figlio
più bello. (Por favor, eu sou o filho mais bonito) — Apontou para o peito.
Soltei uma risada.
— Porque está rindo, sorella? — questionou, cruzando os braços e
fazendo bico.
— Porque é engraçado a forma como vocês dois tentam provar que
são os filhos mais bonitos quando na verdade, quem herdei todos os genes
da beleza — falei com confiança, dando de ombros. — Ou vão dizer que eu
estou mentindo? — Apertei meus olhos, esperando que concordassem
comigo. Ser a caçula e a única mulher tinha seus privilégios.
E como em todas as vezes em que eu dizia isso desde a época da
adolescência, quando fui capaz de compreender o que era amor-próprio,
meus irmãos mais velhos concordaram comigo, dando-me o posto de filho
mais bonito.
— E como está o trabalho, crianças? — Babbo perguntou depois de
alguns minutos enquanto nos servíamos da lasanha que minha mãe e eu
fizemos.
— Tudo caminhando perfeitamente bem — Dante respondeu. —
Estamos prestes a fechar um contrato com um novo distribuidor de
hortaliças que, segundo Beatrice, oferece um produto com a qualidade
melhor que o anterior.
— Recebi algumas amostras essa semana e fiquei incantata com os
sabores e aromas. Até os tomates pareciam sido plantados em terras
italianas — falei animada. — Nossa famosa receita de molho de tomate
ganhará um sabor todo especial nos pratos que estou criando junto a minha
equipe para o novo cardápio.
— Beatrice irá passar duas semanas na sede do Rio Grande do Sul
para oferecer treinamento aos novos cozinheiros — meu irmão acrescentou.
— Não participará da inauguração do Instituto, filha? — mamma
questionou. — Será daqui duas semanas, certo, Dante?
— Si, mamma.
— Chegarei a tempo de participar. Não se preocupe. — Toquei em
seu ombro. — Não perderia esse momento por nada. — Ela anuiu com um
sorriso, segurando minha mão por um momento antes de voltar sua atenção
para Dante. — E como você está, querido? — Seu tom era suave,
carinhoso, mas cheio de preocupação.
Ele suspirou abrindo um sorriso tímido.
— Não sei ao certo o que estou sentindo. É impossível resumir em
um só sentimento ou emoção. São muitas coisas ao mesmo tempo e a cada
etapa concluída para realização desse projeto, a saudade parece só…
aumentar. Sinto falta de Carlos como se ele tivesse partido recentemente.
— Sei que é difícil, figlio, mas o que está fazendo é algo muito bom
e honroso, com a memória dele e principalmente, por tudo o que ele
representou para nós — meu pai pontuou.
— Eu sei. Espero que ele esteja feliz, onde quer que esteja.
— Ele está. Carlos Ferreira era um bom menino e ainda que sua
partida tenha sido precoce, conseguiu marcar nossas vidas para sempre —
mamma verbalizou o pensamento de todos.
Um sentimento de saudade pareceu se instalar no ar. Ficamos assim
por alguns segundos, absorvendo tudo o que aconteceu nos últimos anos
com a família Ferreira e o quão difícil foi e ainda continuava sendo seguir
sem alguém tão importante em nossas vidas.
Até que pappa resolveu falar após algumas garfadas.
— E você, Matteo, como está no trabalho?
Meu irmão, como só ele conseguia, usou do seu humor
característico para fazer o clima ficar mais leve.
— Perfeito, como sempre. Eu sou bom pra caralho no que faço —
Matteo se gabou e eu acabei rindo da careta que fez.
— A boca, Matteo Fontana! — nossa mãe o repreendeu.
— Scusi, mamma. — Juntou as duas mãos na altura do peito.
— Não sei o porquê ainda insisto em tentar controlar um pouco a
boca suja de vocês — suspirou, tocando na testa. — Isso que dá casar com
um italiano boca suja!
— Amore mio, è qualcosa che non possiamo controllare. È nel
sangue di ogni italiano (Meu amor, é algo que não podemos controlar. Está
no sangue de todo italiano) — Defendeu-se.
— Às vezes eu acho que você usa disso para falar mais palavrões do
que o normal — acusou.
— Talvez — ele cantarolou.
— Vincenzo Fontana! — Exclamou e babbo logo se levantou para
abraçá-la por trás, despejando beijos por seu pescoço e bochecha.
Meus irmãos e eu ficamos admirando a cena, encantados com o
amor que ambos ainda possuíam depois de tanto tempo.
Eu fui criada em um lar onde fomos ensinados a não ter vergonha de
expressarmos o que sentimos por alguém. E por mais que eu tentasse lutar
contra toda essa coisa de amor, era inevitável não pensar quando seria a
minha vez de me apaixonar.
Se eu olharei feito uma boba para a pessoa, assim como Dante
olhava para Ana Laura.
Se meu coração errará batidas só de ouvir as três palavras.
Se minhas mãos suarão ao me aproximar da pessoa.
E se eu comprovarei como é sentir as famosas borboletas
enlouquecendo em meu estômago.
Entre risadas e conversas animadas, nosso jantar se deu.
Meu peito se encheu de gratidão por ter uma família como a minha.
Uma família onde o amor era maior que tudo.
Maior que as diferenças e as escolhas que cada um de nós fazíamos.
Uma família que muitos não tinham a sorte de ter e contar.
Eu sempre os terei, não importava o que acontecesse.
Era bom ter a certeza disso. Era… muito bom.

Logo que cheguei em casa, tratei de tomar um banho relaxante de


banheira com sais de baunilha, um dos meus aromas favoritos. Fiquei cerca
de trinta minutos com o corpo submerso na água e só quando meu celular
tocou, sinalizando uma mensagem de Kyara perguntando como eu estava, é
que saí da grande louça branca.
Com uma toalha presa no peito, saí do banheiro e escolhi uma
camisola de seda e uma calcinha de renda branquinha assim como a
camisola, antes de ir até a mesinha de cabeceira para pegar meu celular
onde eu o havia deixado quando cheguei.
Respondi à minha prima dizendo que tudo estava bem.
Conversamos por mais alguns minutos e assim que nos despedimos,
tratei de terminar de arrumar a mala que havia começado pela manhã.
Quando finalizei, a deixei em um canto do quarto, ao lado da porta
de vidro que dá acesso à sacada. Nesse momento, acabei avistando, por uma
brecha entre as cortinas, meu vizinho gostoso e a forma como ele estava,
me fez abrir um sorriso de pura satisfação.
Henrique estava com o quadril apoiado no parapeito, um braço
cruzado no tórax e o outro, com o cotovelo sobre a balaustrada, sua mão
segurava um livro, que julguei ser de Direito, na altura do rosto que possui
um óculos ali, seus olhos ao invés de acompanharem as letras no papel,
estavam focados na minha direção.
Imediatamente, a imagem dele me olhando por trás das lentes
enquanto enfia seu pau em minha boceta repetidas vezes, se formou em
minha mente e eu torcia para que ela realizasse um dia.
Ele parecia ansioso, os ombros estavam tensos e suas narinas se
moviam rapidamente, sinalizando que o ar estava sendo puxado e soltado
com força.
— Está querendo me ver, Sr. Prado? — sussurrei para mim, sendo
abraçada por uma sensação de puro contentamento.
Era claro que ele desejava me ver e por mais que o meu lado
travesso desejasse provocá-lo, eu realmente precisava dormir, já que meu
voo estava marcado para às cinco da manhã.
Todavia, me permiti admirá-lo por alguns minutos, que foram
suficientes para me deixar molhada.
Apertei as coxas e reprimi um gemido que desejou escapar, antes de
levar a mão direita até minha boceta. Me masturbei e gozei em meus dedos,
almejando ser fodida mais uma vez por Henrique Prado.
Quando deitei a cabeça no travesseiro, me senti ainda mais relaxada
pelo efeito pós-orgasmo e sonhei com meu vizinho/amigo entrando em
mim.
CAPÍTULO 31
Henrique
Simplesmente inacreditável!
Inacreditável!
Mesmo tendo se passado cinco dias, eu ainda conseguia sentir raiva,
muita raiva.
Beatrice viajou há cinco dias e eu descobri isso através de uma
ligação que Stella fez para chamar a minha atenção por não ter contado
sobre minha foda com a diaba.
A desgraçada viajou e não me avisou?
Ela simplesmente ficará fora por duas semanas e não pensou em me
avisar?
Custava ter mandado um e-mail? Ou a porra de uma mensagem
naquele aplicativo irritante que Matteo insiste em usar, me enviando sem
parar figurinhas ridículas?
Custava? Não! Definitivamente, não custava nada a ela.
Até a porra de uma mensagem no meu direct do Instagram serviria, já
que ela havia me seguido há seis dias. E como o idiota com o ego ferido que
era, não retribuí o follow dela.
Foda-se que eu estava agindo como um adolescente imaturo.
Foda-se! Eu estou puto pra caralho e irritado!
Irritado não só com ela, mas comigo também por dar tanta
importância assim para isso.
Eu passei esses malditos cinco dias dizendo para mim que estava
agindo assim porque somos amigos, e se ela teve a decência de avisar às
meninas e até mesmo para a minha prima, que conheceu há pouco tempo,
porque não me avisou?
Ah, mas para foder meu pau com aquela boceta quente e gostosa do
caralho eu servi, já mandar uma mensagem avisando que ia ficar fora por
duas semanas, não dava!
Porra, era de foder!
Cinco dias! Porra!
Cinco malditos dias sem Beatrice e eu já estava com uma puta
saudade da infeliz.
Com tanta saudade, que me peguei fazendo um caminho diferente
depois de sair do trabalho, indo para o lugar onde o meu vício começou.
Me servi com um pouco do maldito vinho que ela usou em seu corpo
naquela noite e eu devo ter ficado louco, porque à medida que o líquido
tocava minha língua e descia pela minha garganta, consegui sentir o gosto
da safada.
Salivei, louco de vontade de chupar sua boceta outra vez, e outra vez,
e… outra vez… Cacete! Eu poderia passar o resto da minha vida com a
boca enterrada no meio daquelas pernas torneadas sentindo o sabor do seu
prazer e admirando como seu lindo rosto de demônia, ganhava ainda mais
beleza com doses de tesão em suas feições.
— Argh! Caralho de mulher viciante da porra! — exclamei, alisando
meus cabelos com a mão livre que, a essa altura, estavam mais do que
despenteados.
Paciência e um pouco de fé.
Isso. Eu só precisava aprender a ser um pouco mais paciente e ter um
pouco de fé.
Paciência para esperar que essa atração passasse.
Eu preciso que ela passe!
Esse caralho tinha que acabar, ainda que a forma como eu a fodi, não
pudesse ser desfeita.
Eu não estava arrependido porque aquela foi, de longe, a melhor
experiência sexual que já vivi, mas estava me odiando por não conseguir
parar de pensar naquela desgraçada, de desejar ser seu mais uma vez, de…
caralho, de sentir saudade dela.
Eu odiava sentir saudade!
Detestava a sensação de dependência que ela nos trazia.
Sentir saudade é dar poder ao outro para que faça o que desejar
conosco.
É se sentir vulnerável e ainda sim, não ligar para isso.
A saudade é tão perigosa quanto a raiva, o ódio.
Saudade dói, machuca, enlouquece, destrói.
Saudade começa com sorrisos e termina com lágrimas.
É um ciclo que nunca tem fim.
Sorrisos.
Lágrimas.
Duas palavras diferentes, mas que estavam ligadas pela falta de
alguém que não estava conosco ou de algo que nunca existiu.
Eu odiava sentir saudade!
Eu odiava sentir falta do que nunca foi meu!
Eu odiava… odiava sentir falta dela!
Senti algo tocar meus pés e só então notei que estava parado em
frente ao que restou da cama depois que Beatrice e eu trepamos nela. Estava
tão absorto em pensamentos que não percebi que subi as escadas e vim
parar aqui.
Terminei de beber o que restava do vinho, deixando a taça vazia sobre
uma cômoda ali e me deitei de bruços na cama que seguia no chão desde
aquela noite, aspirando o cheiro suave que ainda permanecia entre os
lençóis.
O cheiro que se tornou o meu favorito.
Baunilha com flores.
A combinação perfeita para uma mulher mais perfeita ainda.
Não sei quanto tempo fiquei nessa posição e só quando senti meu
celular vibrar no bolso, que girei o corpo, ficando de peito para cima.
Sem muita animação, peguei o aparelho para negar qualquer convite,
mesmo sendo para curtir a noite de sexta-feira. Não estava com clima para
nada.
Todavia, o número que brilhou na tela era desconhecido, então preferi
simplesmente ignorar.
Assim que joguei o celular de lado, ele voltou a tocar.
Bufei e vi o mesmo número e novamente recusei a chamada.
Na terceira vez, soltei um palavrão e decidi atender o filho da puta
que estava me perturbando.
— O que é? — bradei, segurando o celular contra o ouvido.
— Atrapalho? — A voz que sempre soou confiante, pareceu vacilar
diante do meu tom rude. Ela estaria pensando em mim também? Eu torcia
para que sim! Puta merda, eu estava muito fodido mesmo. — Se você
estiver ocupado, posso desligar. Não quero incomodar.
Sorrindo.
Eu estava sorrindo feito um idiota enquanto encarava o teto e só
consegui esboçar uma reação quando o celular ficou mudo para logo em
seguida, sinalizar que ela havia desligado.
Caralho! O que eu fiz?
Ou melhor, o que eu não fiz?
— Como você pode ser tão burro, Henrique Prado? — briguei
comigo enquanto salvava seu número e retornava a ligação.
Minhas mãos suavam e meu coração martelava ferozmente no meu
peito a cada bip.
Depois do que pareceu uma eternidade, Beatrice finalmente atendeu.
— Alô, quem é? — perguntou.
Franzi o cenho, afastando o celular do ouvido para ver se liguei para o
número certo.
Era o certo!
— Sou eu, Henrique. Você me ligou há pouco — esclareci.
Ou a central do ar-condicionado havia quebrado, ou eu estava suando
por estar nervoso.
Definitivamente, preferi acreditar que teria que ligar para o técnico a
fim de verificar o problema inexistente da central de climatização da casa a
confessar para mim que estava nervoso por estar falando com Beatrice.
— Desculpa. Liguei errado — falou simplesmente.
Eu estava mesmo fazendo bico porque estava decepcionado por ela
ter ligado para mim por engano?
— Não sabia que tinha meu número — comentei, tentando me
lembrar do momento em que eu havia dado meu número a ela.
Fez silêncio do outro lado da linha por dois segundos, o que, por um
instante me fez pensar que a ligação tinha sido encerrada novamente,
contudo, logo sua risada soou em meu ouvido e o som reverberou por todo
o meu corpo, se alojando em um lugar diferente no meu coração.
Ele se expandiu. Meu coração se expandiu por causa da risada
gostosa dela.
— Eu estou zoando, ragazzo — falou entre risos. — Adoraria ver sua
cara nesse exato momento.
— Porra, Beatrice! — Rolei os olhos, mas acabei sorrindo.
Então quer dizer que você ligou para falar comigo?
Claro, imbecil. É o seu número, certo? Dã!
— Pedi seu número à Stella — esclareceu e fiz uma nota mental para
comprar uma quantidade generosa de sorvete de flocos para minha prima.
— Porque fez isso? — indaguei, tentando não deixar minha voz
transparecer o quanto estava ansioso por sua resposta.
— Porque queria conversar com você. Estava com saudade —
respondeu sem hesitar e sem imaginar que havia me deixado feliz pra
caralho.
— Você estava com saudade de mim? — falei e me odiei por parecer
um bobo.
— Sim. Porque a surpresa?
— Talvez seja porque você viajou e não me avisou.
Eu não acredito que eu disse isso feito um menino fazendo birra!
Eu não acredito que eu disse isso! Argh!
— Gostaria que eu tivesse te avisado?
— Sim, gostaria.
Foi o vinho, certeza que foi o vinho que me deixou com a língua solta
desse jeito.
Com certeza!
— Você está fazendo birra, Sr. Prado? — seu tom soou cheio de
divertimento. Ok, ao menos um de nós estava se divertindo.
Suspirei.
— Em minha defesa, diaba…
— Eu amo esse apelido.
— Claro que ama.
— Enfim, como você estava dizendo. Em sua defesa…
— Em minha defesa, eu tomei duas taças de vinho e como você bem
sabe, não sou muito forte para bebidas alcoólicas — concluí.
— Então se você não tivesse bebido, não teria falado que está
chateado por eu ter viajado sem avisá-lo?
— Nunca saberemos a resposta — tentei brincar para aliviar toda a
tensão que aplacava minhas células.
— Orgulhoso! — acusou risonha.
— Então, — forcei uma tosse — como está sendo a viagem?
Nos próximos minutos, Beatrice contou tudo que fez durante a sua
estadia no Rio Grande do Sul, não economizando nos detalhes. A forma
como ela falava sobre seu trabalho com entusiasmo e uma paixão que eu
entendia bem, já que sentia o mesmo pelo Direito, me fez sorrir algumas
vezes.
— Ok! Eu já falei muito — disse após me contar que uma das novas
chefes de cozinha que está treinando, passou mal quando a viu, já que a
mulher era uma grande fã da italiana. — Me conte algo interessante que
você fez essa semana.
— Algo interessante?
— Sim, Henrique. Algo interessante e que não envolva seu trabalho.
— Porque não posso falar sobre meu trabalho? Você estava falando
do seu.
— Porque você é viciado em trabalho e eu como uma boa amiga, não
vou alimentar o seu vício, caro mio. Vamos, me conta alguma coisa.
Qualquer coisa que seja minimamente interessante.
— Se não posso falar do meu trabalho e nem dos processos muito
interessantes que fechei essa semana, não há nada que eu possa contar a
você.
— Per Dio! — exclamou indignada. — Não acredito que sua semana
tenha sido monótona e você não tenha feito nada de interessante.
Estou na casa que transamos, porque estou com saudade de estar
dentro de você.
Isso definitivamente te deixaria animada, Bea.
— Está com saudade de estar com o seu pau enterrado na minha
boceta? Sem dúvidas, isso me interessa muito, Henrique — falou com
malícia.
Levei uma mão à testa e me repreendi por ter soltado tais palavras em
voz alta. Caralho!
— E pelo barulho de tapa, imagino que tenha batido na testa, se
odiando por ter compartilhado essa informação comigo.
— Beatrice.
— Me responde uma coisa.
Engoli em seco.
— O quê?
— O que você faria se eu estivesse aí?
Malícia. Sua voz estava encharcada de malícia e meu pau gostou do
som gostoso.
— Não seriamos apenas amigos, Bea?
— Não estou propondo para transarmos novamente. Só quero saber o
que faria comigo se eu estivesse aí. Tem coragem para responder com
sinceridade ou vai agir como um fraco e fugir? — provocou.
Caralho, como eu estava com saudade das suas provocações, sua
diaba!
— Primeiro — comecei a falar, meu tom de voz era baixo, ameaçador
e pude ouvi-la suspirar do outro lado da linha —, eu te beijaria devagar
como eu sei que você não gosta só para te deixar irritada. Segundo, te
prensaria contra a parede, apertando seu pescoço para você não se mexer a
cada tapa que daria em sua bunda. Não pararia até garantir que você
sentisse dor ao sentar por dias. Terceiro — ela arfou e eu apertei meu pau
com a mão livre —, arrancaria suas roupas e chuparia sua boceta,
saboreando seu prazer que intensificaria e escorreria em minha língua. —
Com certa dificuldade, desafivelei o cinto e abri o zíper da minha calça,
liberando meu pau duro para apertá-lo. Não me importei com o gemido que
saiu da minha boca, porque ela replicou o som, tão envolvida quanto eu —
E então, quando estivesse completamente nua, mamaria em seus seios até
que sua pele estivesse marcada. Circularia seus mamilos por um momento
antes de prender seus bicos com os deliciosos piercings entre os dentes —
ela gemeu sem pudor e me perguntei se Bea estaria se tocando como eu
estou agora. — E você gemeria assim, como a puta que você é, safada.
— Henrique… — Meu nome saiu como um gemido e eu tive a
certeza de que estávamos dispostos a ir até o fim. Eu precisava gozar. Eu
precisava gozar por ela. Sempre por ela.
Alisei meu pau, aumentando o ritmo e concentrando mais pressão na
cabeça. Olhei para baixo e vi o pré-gozo escorrer. Com o polegar, espalhei o
líquido por todo o meu comprimento.
— O que mais faria, Henrique? — murmurou. — Me diga, per
favore. Você… ah… Você precisa continuar me dizendo o que faria comigo
se eu estivesse aí. Per favore… não… ah… não para, Henrique. Não para.
Continua, per favore… continua.
Ela estava perto.
— Eu colocaria você montada em meu colo e enfiaria meu cacete em
sua boceta melada e quente, indo fundo, sem dó como você gosta de ser
fodida. Sem barreiras, apenas nossos sexos se fundindo e meteria nessa
boceta sem parar.
Aumentei o trabalho dos meus dedos e senti o orgasmo se aproximar.
Minhas pernas tremeram sobre o colchão e me concentrei na imagem
que se formava pelos sons que ela soltava. Beatrice deitada sobre a cama,
completamente nua e com as pernas abertas, se tocando. Seus dedos
deslizando por sua entrada com facilidade, de tão excitada que estava.
— Você gosta assim não é, cachorra? Você… ah… você gosta assim?
Gosta de ser fodida pelo meu cacete não é? De receber surra de pau nessa
bocetinha. Hum… ah, Bea.
— Não para. Continua… Continua — sua voz vacilou. — Eu amo
ouvir… aah… Eu amo quando você geme assim — confessou.
— Gosta que eu gema te chamando de Bea?
Porra, eu ia mesmo gozar? Sim, eu ia!
— Gosto… aah… Henrique…
E então, eu gozei, ouvindo-a gritar meu nome quando chegou no seu
próprio ápice.
Apertei meus dedos em volta do telefone, conforme gemia alto,
sentindo minha porra jorrar em minha barriga.
— Fizemos uma rachadura no muro — falei sem fôlego, quando as
ondas de prazer começaram a diminuir.
Beatrice demorou um pouco para falar, mas pude ouvir sua respiração
ofegante contra meu ouvido.
— Fizemos uma rachadura no muro — repeti, não acreditando no que
fiz, no que nós fizemos.
— Ah, caro mio. Quando você me parou naquela rua e me ofereceu
seu pau, o muro ruiu. Sinto muito lhe informar, porém ele não existe mais,
Sr. Prado.
— Beatrice.
— E no domingo, eu te vi na sua parte da sacada, encarando a minha
com certa expectativa. Queria me ver, não é?
Silêncio. Não consegui responder nada, porque a verdade era que,
naquele dia, eu estava desesperado para passar um tempo com ela. Depois
da noite anterior que estive em sua casa, não consegui parar de pensar nela,
de desejar estar perto dela e como um bobo fiquei a noite toda esperando
para ter um deslumbre seu.
— Porque não foi falar comigo? — Eu estava mesmo fazendo birra
de novo? Caralho!
— Eu precisava dormir cedo e estava ocupada me masturbando,
olhando para você entre a fresta da cortina. Foi gostoso imaginar os seus
dedos me fodendo, como agora.
Porra, se eu soubesse que ela estava se tocando ali, tão perto de mim,
eu teria pulado o parapeito, invadido seu quarto e a fodido com meu pau.
— Porque está me contando isso?
— Para deixar claro que eu não estou disposta a construir o muro
novamente. Boa sorte tentando fazer isso, sozinho.
E assim, a diaba desligou, me deixando como só ela era capaz de me
deixar.
Puto e excitado pra caralho.
Eu estava muito puto e excitado pra caralho.
CAPÍTULO 32
Henrique
— Dona Beatriz é boa com essas coisas de decoração. Tudo está
lindo e de muito bom gosto — Stella falou ao meu lado.
— Ela realmente possui talento para isso — comentei, observando o
grande salão da sede do Instituto Carlos Ferreira que foi todo decorado para
a sua inauguração. O edifício ocupava todo o quarteirão e possuía sete
andares, todos devidamente projetados pensando na acessibilidade dos
frequentadores e suas necessidades especiais.
O lugar estava repleto de gente, dentre eles sócios dos Fontana,
amigos próximos e futuros pacientes da instituição, pessoas que passaram
pelo mesmo trauma que meu amigo, Dante, passou, mas que infelizmente
não possuem a condição e a rede de apoio que ele teve.
Haviam mesas redondas espalhadas pelo ambiente, que foi todo
decorado em tons suaves de branco e amarelo, cores favoritas de Carlos. Ao
fundo, uma música suave tocava, dando um toque agradável ao evento que
começou há pouco mais de uma hora e nem sinal de Beatrice Fontana.
Depois da fatídica noite em que Bea me ligou, passamos a conversar
todos os dias desde então, ora por ligação, ora por mensagem. E ainda que
as suas habituais provocações sempre se fizessem presentes em nossas
conversas, foi divertido conhecer um pouco mais sobre ela.
Descobri que além de filmes italianos antigos, ela também amava
assistir programas culinários e a coleção de obras cinematográficas dos
Vingadores, seu herói favorito era o Homem de Ferro, mas, segundo ela,
sentaria sem pensar duas vezes no colo do Capitão América. A informação
não me deixou totalmente incomodado, já que logo em seguida, ela disse
que eu me parecia com ele. Uma clara provocação típica da diaba italiana.
Me contou também que odiava filmes de terror, ainda que vez ou
outra, movida pelo seu lado curioso, se arriscasse a assistir quando lia
alguma sinopse. Bea acreditava ser uma pessoa paciente apesar da sua
impulsividade; amava estar rodeada de pessoas como uma boa italiana, mas
não abria mão de passar, pelo menos uma vez na semana, um tempo em sua
própria companhia; sempre teve vontade de ter um cachorro, mas achava
que não teria tempo para cuidar de um animal; não era muito chegada a
doces e amava fazer e comer pão.
Também compartilhou alguns momentos que sofreu bullying na
escola quando mais nova, por ter um corpo fora dos padrões, contudo
alegou que isso só a deixou ainda mais forte e confiante.
Como um idiota que não sabia usar muito bem os aplicativos de
conversa, me vi enviando várias figurinhas que enalteciam o quanto ela era
linda, até uma da Gretchen com a frase “Pai amado, que obra perfeita” e a
de uma mulher de quatro com a palavra “Cadelizei” eu mandei.
Antes que eu pudesse me sentir um completo bobo, sua resposta
veio em um áudio de trinta segundos com ela soltando uma risada e dizendo
que apreciava o fato de eu a achar linda.
Enviei uma mensagem a Matteo agradecendo pelas infinitas
figurinhas que sempre me mandava e insistia para eu salvar, e também
perguntando se havia algum jeito de salvar um áudio recebido. O maluco
logo enviou um vídeo me ensinando a como favoritar não apenas o áudio,
mas qualquer mensagem recebida, seja ela uma música, texto ou vídeo.
Agradeci, ignorando suas perguntas do porquê eu estava interessado em
aprender mais sobre o aplicativo, voltando a focar na conversa com sua
irmã.
Eu era mesmo um grande filho da puta!
E sim, eu favoritei o áudio da sua risada e sempre a escutava antes
de dormir. Era como música para os meus ouvidos e me peguei desejando
ouvir o som pelo resto da minha vida.
Beatrice me encheu de perguntas sobre a minha vida e meus gostos,
e apesar de ter dito coisas como, minha cor favorita ser azul, preferir assistir
jogos e programas de esportes a filmes em geral e não ter uma comida
favorita, fugi de todas que envolviam a minha infância. Ela era esperta e
com certeza a minha atitude não passou despercebida por ela, porém
agradeci por não insistir sempre que eu falava “próxima pergunta” ao seu
questionário.
Todavia, o mesmo não aconteceu quando sua curiosidade foi
direcionada para o motivo de eu ter comprado a casa em que a levei para
treparmos, ainda que eu tivesse falado inúmeras vezes que não havia
nenhum motivo especial para tal compra. Óbvio que a Bea não acreditou e
prometeu que sempre me perguntaria e estava torcendo para que a resposta
não demorasse a sair da minha boca.
— Você está linda, ruiva! — A voz de Matteo chegou aos meus
ouvidos, me tirando dos meus devaneios.
Stella sorriu e logo tratou de abraçar seu novo amigo.
— E você está um gato com esse terno — elegiou, se afastando e
dando um tapa em seu peito.
— Eu sei! — sorriu, confiante todo pomposo. — A vendedora da
loja me disse a mesma coisa depois que saímos do provador, mas afirmou
que eu sou mais gostoso sem nada cobrindo meu corpinho sexy.
Eu revirei os olhos e minha prima soltou uma risada.
— Já dei para um cara no provador — ela comentou e eu torci o
nariz. — O quê?
— Poupe meu estômago de saber sobre as suas trepadas, prima.
— E depois, o ciumento sou eu — Matteo cantarolou enquanto
pegava uma taça de um garçom que passava perto de nós.
— Você por acaso gostaria de saber sobre as trepadas da sua irmã?
— O encarei, com uma sobrancelha levantada.
Ele cuspiu um pouco de vinho e começou a tossir, passando a mão
no peito.
— Mas que cazzo, porra! — balbuciou, tomando fôlego.
— Com certeza ele não quer saber sobre as trepadas de Beatrice —
Stella comentou cinicamente me lançando um olhar divertido e acusatório.
Engoli em seco, colocando uma mão no bolso e tomei um pouco da
minha própria bebida, desejando aliviar a secura pelo desconforto em minha
garganta.
É, definitivamente ele não gostaria de saber sobre as trepadas da
sua irmã.
— Falando nela — forcei uma tosse —, que horas ela chega? —
perguntei, usando toda força que consegui para soar indiferente e vi, pelo
canto de olho, Stella prender o riso para a minha falsa tentativa.
— Pousou há meia hora e disse que precisava passar em casa para
pegar um acessório que disse ser indispensável para hoje — respondeu e eu
anuí.
— Vocês viram minha irmã? — Miguel perguntou, se aproximando
de nós com Bárbara ao seu lado.
— A “gnomio” barriguda está com Dante e a família do Carlos lá na
entrada. — Apontou para atrás de mim. — Eles estão aguardando o senhor
que viu no meio da rua, responsável por ser o gatilho para a ideia do
Instituto — disse, me lembrando do dia em que nos contou sobre o projeto.
— Hélio Santana, certo? — questionei. — O nome dele é Hélio
Santana.
— Isso, esse mesmo. Parece que ele vem acompanhado da filha.
Assenti.
— Adoraria ter conhecido o amigo de vocês — Stella falou,
estampando um sorriso melancólico.
— Ele teria dado em cima de você só para me irritar — falei
reprimindo a vontade de chorar que ameaçou chegar.
— Saudade daquele filho da mãe, — Matteo disse, suspirando.
— É, saudade.
— Com certeza ele ganharia o posto de maior cadelinha do grupo!
— B1 brincou enxugando uma lágrima ao falar do nosso amigo.
— Sim — toquei em seu ombro com a mão livre. — Esse posto
definitivamente seria dele.
CAPÍTULO 33
(Este capítulo é narrado pela personagem que teve um
envolvimento com Carlos Ferreira, amigo de Dante, citado no livro 1
“Dante: o início de tudo” e
no conto “O último Natal antes do início de tudo”. É necessário ler os
dois livros citados anteriormente para uma melhor compreensão da
história.)

Alessa
— Você está linda, criança — a voz do homem que me acolheu
desde que cheguei ao Brasil e era como um pai para mim soou atrás de
mim.
Dei uma última olhada para o meu reflexo, alisando o vestido preto
que Hélio insistiu em alugar em uma loja de trajes finos do bairro, ainda
que eu tivesse dito várias vezes que não era necessário se preocupar com
isso, poderia usar um dos meus, mesmo que nenhum deles fosse o ideal
para tal ocasião.
Quando me virei, ficando de frente para ele, foi impossível não
sorrir com sua imagem. Ele estava sem a muleta velha que costumava usar,
vestindo um terno muito bonito. Seu cabelo grisalho estava todo penteado
para trás e pelo brilho, pude jurar que havia aplicado uma quantidade
exagerada de gel.
Os olhos cor de mel brilharam quando me olhou com carinho à
medida que se aproximava e foi impossível não se emocionar ao vê-lo dar
passos firmes em minha direção. Fazia apenas alguns meses que ele estava
usando uma prótese que, segundo ele, ganhou de uma família onde
trabalhou como jardineiro.
Hélio tinha recebido o convite para a inauguração de um centro para
pessoas com deficiências na cidade. Ele havia perdido uma parte da sua
perna direita em um acidente, mas não gostava muito de falar sobre o
assunto, pois tempo depois do acidente que levou parte de seu corpo, outro
aconteceu, quebrando partes do seu coração. Sua filha e esposa morreram
meses depois, há mais de cinco anos.
Esse foi um dos motivos para ter me acolhido dois anos atrás,
quando me encontrou em um dos abrigos que costumava prestar ajuda.
Ele sentia falta da filha que se foi cedo demais.
E eu sentia falta do pai que nunca tive.
Éramos almas sedentas por amor e cuidado.
E o destino fez o seu trabalho em cruzar os nossos caminhos.
— Você está muito bonito — comentei quando ele parou em minha
frente, segurando minhas mãos com carinho. — E é bom saber que você
está mais adaptado à prótese. Está andando muito bem com ela.
— Obrigado, querida. E eu me sinto mais confiante com ela depois
de tantas aulas de fisioterapia.
— Falando nisso. — Apertei meus olhos o encarando. — Posso
saber porque o senhor tem andado todo misterioso desde que ganhou a
prótese? — indaguei.
Hélio soltou minhas mãos e deu dois passos para longe, os olhos
varrendo todo o meu quarto simples. Ele estava fugindo de mim e das
minhas perguntas, mais uma vez, como tem feito desde que chegou em casa
feliz por ter recebido um cartão do primogênito da família que era seus
antigos patrões, com a promessa de que receberia ajuda do homem, que a
julgar pelo modelo de prótese que deu ao meu amigo, era muito rico.
— Porque não me diz quem é essa família? — insisti.
— Você não os conhece — ele me olhou nos olhos quando disse
isso e soube que não estava mentindo.
— E porque não me conta quem são?
— E isso adiantaria, menina? Você não assiste ou lê jornais, nem
mesmo um celular você tem.
Era verdade.
Desde que fugi da Albânia, meu país natal, optei por não ter nada que
pudesse fazer aquelas pessoas me rastrearem. Não era algo fácil me manter
no anonimato e, estranhamente, as pessoas não confiavam em quem não
possui um telefone ou redes sociais. Em contrapartida, para alguém como
eu, que foi criada e mantida reclusa e excluida da sociedade e de tudo que a
cercava, aprendi desde nova a dar valor para as coisas que realmente
importavam, minha liberdade, era uma delas.
Suspirei, resignada.
— Tudo bem. Confio no senhor — disse, depositando um beijo em
sua testa.
E realmente confiava.
Confiava tanto em Hélio, que era o único que sabia quem eu era e de
onde vim.
Sabia sobre o meu passado e tudo o que ele tirou de mim.
— Criança — falou ao se aproximar, tocando em meu rosto com
carinho —, você ainda insiste em cobrir as suas pitas com essa porcaria de
maquiagem. Você é linda por causa delas.
“Você é linda por causa delas.”
Era o que Carlos sempre me dizia.
Mas eu odiava ter que me olhar no espelho e encará-las, porque isso
me fazia lembrar dele. Do homem que me amou e que me mostrou que eu
era mais do que o meu passado.
— Ele odiaria ver você cobrindo-as — Hélio disse, esboçando um
sorriso fraco.
Reprimi toda a dor da saudade que ameaçou emergir.
— Bem — Bati palmas. — Porque não me conta qual o nome do
instituto que o senhor passará a frequentar?
— Você saberá quando chegarmos — falou cheio de mistérios e
com um tom de… esperança? Talvez.
— Tudo bem.
— Vamos, o táxi já está lá fora esperando.

Alguns minutos depois, o carro parou em uma esquina, onde havia


um prédio de sete andares com luzes brilhantes e todo enfeitado com faixas
nas cores preta e amarela.
— Vou deixar vocês aqui — o homem atrás do volante avisou. —
Há muitos carros na entrada.
— Tudo bem — Hélio concordou entregando algumas notas a ele.
— Aqui está perfeito. Obrigado!
Saímos do carro e iniciamos a caminhada lado a lado até a entrada
do edifício.
— Essa família deve ser muito conhecida, — comentei, observando
a beleza do prédio.
— Sim. Muito — disse simplesmente.
Parei a alguns metros da entrada.
— É melhor eu ir embora, então. O senhor sabe que se alguém bater
uma foto minha e ela cair na mídia… — Arfei. — É perigoso!
— Não se preocupe. — Me acalmou, segurando minha mão. — O
dono exigiu que não houvesse nenhum jornalista na entrada, apenas o
correspondente de um jornal de sua confiança. Ele não queria que a mídia
fizesse estardalhaço e estragasse a essência desse momento.
— Eles possuem tanta influência assim?
— Mais do que a própria palavra influência tem — brincou e rimos.
— Vem, filha. Já estamos atrasados.
Anuí, voltando a andar.
Eu estava tão concentrada em não cair dos saltos, que não reparei
que uma pequena multidão havia se formado diante de nós. Mas foi a voz
infantil que chamou a minha atenção, me fazendo levantar o rosto em
direção ao som.
— Papai! Papai! Papai! A Bibi está me beliscando.
Ricardo… O Rico como o meu Carlos costumava chamar.
O irmão caçula que ele tanto amou e falava com carinho.
Sua aparência me fez congelar no lugar.

“— Estou falando para você, meu bem. Meu irmão, Ricardo, é uma
cópia mais nova minha, só que com olhos azuis. Até o jeito teimoso ele
puxou de mim. Quando tivermos um filho, ele será como Rico.
Sorri para o seu tom cheio de orgulho.
— Como você tem tanta certeza de que teremos um filho e não uma
filha? — perguntei e ele continuou a brincar com meus cabelos, seus olhos
seguindo o movimento dos seus dedos em minha cabeça.
— Porque eu quero ser um bom pai e definitivamente não serei um
bom pai se tivermos uma menina.
— Pelo que me lembro, semana passada, você estava me falando
sobre um juramento de dedinho que seus amigos o fizeram fazer,
prometendo não se aproximar da irmã caçula deles e o quanto achava o
ciúmes daqueles “italianos metidos a brasileiros” — fiz sinal de aspas —
ridículo.
— Aquele juramento de dedinho é rídiculo — concordou risonho. —
Por isso, se tivermos uma menina, vou fazê-la assinar um contrato de que
só irá namorar depois dos quarenta.
— Carlos! — exclamei, rindo e dando um tapa de leve em seu peito.
— Eu amo ver você assim — sussurrou, segurando meu rosto. Como
sempre, em todas as vezes que as íris negras brilhantes encontravam as
minhas, precisei usar tudo de mim para sustentar o seu olhar intenso.
Carlos me olhava como se quisesse possuir meu corpo e minha
alma.
E ao mesmo tempo que isso me assustava, me fazia ainda mais
apaixonada por ele.
— Assim como? — provoquei, tentando fazê-lo se sentir tão
desafiado quanto eu.
— Feliz.
— Você me faz feliz — confessei o que não era nenhuma novidade
para ele.
— E eu farei você feliz pelo tempo que tivermos.
— Sempre?
— Sempre, meu bem.”

E ele fez. Me fez a pessoa mais feliz que eu poderia ser.


Me deu muito mais do que eu pedi e tudo o que eu precisava.
E ele estava certo. Meu amor estava certo.
O menino possui cabelos negros, olhos expressivos e sua pele
bronzeada era do mesmo tom que o do irmão mais velho.
— Essa é Alessa, minha filha — Hélio me apresentou e eu me
perguntei por quanto tempo fiquei divagando em minhas memórias.
— Você está bem, querida? — A mulher que reconheci ser Paula,
mãe do meu Carlos, se aproximou. O sorriso gentil e descontraído era o
mesmo que o dele.
Meus olhos se agitaram entre os rostos à minha frente e as minhas
lembranças, assim como todo o meu corpo.
Meu coração estava a ponto de sair pela boca.
Eles estavam aqui, bem na minha frente.
A família que eu só conhecia por vídeos, fotos e histórias que o meu
Carlos me contava e mostrava.
Todos.
Os Fontana estavam aqui.
Os Ferreiras estavam aqui.
Menos um.
Menos o amor da minha vida.
Menos ele.
Mais de dois anos se passaram e ainda doía. Meu Deus, como doía.
Como a falta dele machucava, todo dia um pouco mais.
A cada segundo do meu dia, a saudade aumentava.
A cada vez que eu fechava os olhos, imagens dos trinta dias mais
incríveis da minha vida passavam em looping e eu desejava que elas fossem
tão reais quanto o amor que eu ainda sentia por ele.
Ele me amou.
Eu o amei.
Nós nos amamos e ele… morreu.
Ele morreu e tudo porque escolheu me amar.
Ainda conseguia me lembrar de cada cena que passou no jornal
sobre o acidente.
Foi na mesma noite que eu descobri que o nosso amor gerou um
fruto.
Naquela noite, eu havia morrido, mas ninguém percebeu, porque não
foi o meu coração que tinha parado de bater.
Foi o dele.
O coração dele parou e nunca mais voltaria a bater por mim.

“Meus olhos permaneceram fixados na televisão, sem conseguir


afastá-los da imagem dele sendo levado para dentro de uma ambulância.
Ali, eu sabia.
Meu Carlos se foi.
E levou meu coração junto ao seu.
Mas deixou outro dentro de mim.
Minhas mãos foram, no automático, para o meu ventre que
carregava agora, um filho do amor da minha vida.
Carlos queria um herdeiro e ele teria um herdeiro.
E eu faria de tudo para protegê-lo.
Ainda que isso significasse privá-lo de estar com os Ferreira e os
Fontana. ”
— Querida? — A voz feminina me tirou do mar triste de
lembranças que eu sempre me perdia.
Pressionei os olhos com força e senti mãos tocando meus ombros. O
toque era delicado, suave e pela descrição que Carlos sempre fazia da mãe,
ela realmente tinha um cheiro de uva estranhamente acolhedor.
Abri os olhos e dei alguns passos para trás, me afastando do contato
que provocou sensações que eu nunca mais havia sentido. Foi então que
notei, pela primeira vez desde que descemos do táxi, a letra em dourado que
estava no topo do prédio com várias cartas ao redor das iniciais do meu
Carlos.
“Instituto Carlos Ferreira - Onde o verbo mais importante é o
‘cuidar’”.
Cartas.
Meu Carlos amava cartas.
Meu Carlos amava escrever cartas quando estava com raiva.
Meu Carlos escrevia muitas cartas para mim, todas de amor e sobre o
futuro que queria ter comigo, mas que, de forma trágica, foi arrancado de
nós.
Não havia solução.
Nunca houve desde a primeira vez que encarei aqueles olhos negros
brilhantes.
O amor liberta, porém o nosso nos aprisionou em um destino triste e
cruel.
Era doloroso saber que meu Carlos não existe mais, que tudo o que
ele foi, se resume a lembranças.
Meu.
Carlos.
Não.
Está.
Mais.
Aqui.
— Eu… eu… — tentei falar, contudo as palavras simplesmente não
saíam.
— Mamãe! — Rico exclamou com a típica paciência para a sua
idade e a palavra me fez sentir um aperto no coração pela mulher que estava
diante de mim.
Eu sou mãe e fiquei com vontade de abraçar a mulher que perdeu
um filho há mais de dois anos.
A mulher que infelizmente não podia saber que tinha um neto.
Um neto que perguntava todos os dias sobre seus avós.
Um neto que sorria cada vez que eu falava sobre seu pai.
Um neto que adoraria ter tios e primos.
Uma família grande, como as duas à minha frente.
Fontana e Ferreira.
Meu filho era um deles, mas não poderia usufruir de nada.
Não poderia usufruir do amor e do carinho que essas pessoas com
certeza dariam se soubessem da sua existência.
Meu filho. Meu Carlinhos. Aquele que tinha orgulho de ter o mesmo
nome que o pai.
E que também sofria todos os dias por sua ausência.
— Filha? — a voz de Hélio me chamou e eu segui o som, virando o
rosto para encontrar suas íris que suplicavam. — Não vá embora — pediu
em um sussurro. — Você está segura com eles — afirmou em outro
sussurro.
Não! Eu não estava segura! Eu nunca estaria!
Abri minha bolsa, fingindo mexer em um celular.
— Alessa, não é? — Uma mulher baixinha e grávida, com um
sorriso lindo e olhos tão azuis quanto os meus, disse, se aproximando. —
Você está se sentindo bem? Podemos entrar para você beber ou comer algo
— ofereceu gentilmente. Dante, o melhor amigo do meu Carlos, estava
sempre ao seu lado, com uma postura de proteção para a mulher que
imaginei ser sua esposa.
Olhei para os lados e vi ao longe um homem de roupa preta nos
observando.
Meu corpo ficou ainda mais tenso, minhas mãos tremiam e meu
coração batia rápido, a ponto de me fazer sentir uma dor no peito.
Os olhos, que me vigiavam, se chocaram com os meus, um sorriso
perigoso se desmanchou em seus lábios e eu soube que eles estavam aqui.
Estavam aqui para me pegar e pegar o meu filho.
A rosa vermelha tatuada em seu pescoço me deu ainda mais certeza
de que eu não estava imaginando coisas.
Eles estão aqui.
Eles me encontraram.
Eu precisava sair daqui!
— Eu… eu… — tomei fôlego, decidida a sair dali e ir atrás do meu
filho. Eu preciso protegê-lo. — Eu preciso ir! A babá acabou de me mandar
mensagem e … — tentei não olhar para Hélio conforme falava. Eu não
estava chateada, sabia que ele pensou e fez tudo isso porque acreditava ser
o melhor para mim e para Carlinhos. Mas eu sei que não é. — A babá ligou
avisando que meu filho está com um pouco de febre. Sinto muito não poder
ficar, mas sou grata por tudo o que fizeram pelo meu pai.
— É uma pena, querida — Paula disse com sinceridade. — Espero
que seu filho fique bem.
— Obrigada, senhora.
— Posso pedir para um carro te levar. — Dante ofereceu
gentilmente.
— Não precisa, senhor. Eu posso pedir um carro.
— Eu insisto — falou sacando o celular do bolso.
Dante Fontana é realmente tudo o que Carlos havia me dito.
Sua aura de bom moço chegava a ser irritante.
Sorri internamente com o pensamento.
Meu amor sempre se referia ao amigo dessa forma.
Ele o amava muito e eu sabia o quão doloroso tinha sido para ele
esconder tudo o que fez um pouco antes da viagem à Itália.
Foi por amor.
Ele mentiu por amor a mim.
E eu mentirei e me sacrificarei por amor ao nosso filho.
— Para onde você vai, criança? — Hélio perguntou baixo, tomando
cuidado para não ser ouvido pelos demais que observavam nossa interação
atentamente.
— Para o lugar de sempre.
— Eles estão aqui, não estão?
— Sim — balbuciei, reprimindo a vontade de chorar.
— Me desculpe. Eu não queria colocar você em perigo. Só achei
que o destino finalmente estivesse te dando uma chance para contar a eles
toda a verdade.
— Eu entendo o que o senhor fez, mas não tenho tempo para
conversar agora — falei aflita.
Eu preciso sair daqui!
— Eu vou com você — ofereceu.
— Não! É perigoso — concluí. — Por favor, depois que o evento
terminar, me encontre e tome cuidado para não ser seguido. Eles não irão
atrás do senhor já que acabaram de me encontrar, mas é melhor prevenir.
— Não se preocupe. Estarei lá — garantiu, beijando minha testa
com carinho.
— Pronto — a voz potente de Dante soou, fazendo nós dois nos
afastarmos. — Arthur está ali. — Apontou para um carro preto enorme,
onde um senhor simpático de terno estava parado.
— Não se preocupe — a grávida tentou me acalmar. — Arthur é de
confiança — garantiu, acenando e sorrindo de um jeito engraçado, e o
pensamento de que ela seria a tia favorita de Carlinhos, surgiu.
— Dei ordens a ele para te levar onde precisar, caso deseje levar seu
filho ao hospital, e não se preocupe com os gastos.
— O senhor não precisava se incomodar.
— Não me chame de senhor, por favor. Apenas Dante.
Assenti, ainda que soubesse que nunca mais o veria.
— Obrigada novamente.
— Não precisa agradecer, querida — Paula disse, me dando mais
um de seus sorrisos gentis, tão parecidos com os que o filho mais velho dela
me dava.
Engoli em seco e me despedi de todos, dando um abraço apertado
em Hélio e dizendo o quanto eu o amava.
Eu sabia que aquela seria a última vez que eu o veria, ao menos por
um bom tempo.
E quando pedi para ele me encontrar no lugar de sempre, era apenas
para que ficasse seguro também.
Durante todo o trajeto até a casa onde Hélio e eu morávamos,
permaneci em silêncio e agradeci aos céus pelo motorista não puxar
conversa comigo. E só quando o carro parou em frente à uma pequena
quitinete e vi meu Carlinhos, pela janela, no colo da nossa vizinha que
cuidava dele esporadicamente, e todo sorridente me olhando pelo vidro, eu
tive a certeza de que estava prestes a fazer a coisa certa mais uma vez.
Por Carlos, por mim e pelo nosso filho.
CAPÍTULO 34
Henrique
Onde você está? Onde caralhos você está?
Cadê você, diaba italiana?
Chequei, a cada minuto, as horas em meu relógio de pulso, tendo a
sensação de que se passaram horas desde a última vez.
Beatrice estava atrasada e eu estava puto.
Que porra era essa de acessório que ela tinha ido pegar em seu
apartamento, que era tão importante a ponto de demorar tanto assim?
Cacete!
Estar com essa mulher era como andar em uma montanha-russa.
Ora subindo, ora descendo.
Espera. Eu… estava com ela?
Estava?
— Sabia que olhar para o relógio em um intervalo curto de tempo
não faz as horas passarem mais rápido, na verdade, isso só deixa a gente
ainda mais ansioso? — Stella disse ao meu lado, todavia, não tirei meus
olhos da entrada.
Onde você está, sua desgraçada?
Com certeza está demorando de propósito só para me deixar com
mais saudade.
Argh! Como eu odeio sentir essa merda!
— Beatrice ainda não chegou — falei impaciente, confessando à
minha prima o porquê da minha ansiedade.
— Eu sei. E primo — ela me chamou, mas não a olhei, — segura a
onda, porra!
— Não dá! — murmurrei.
— Você gosta dela — comentou e pude notar o tom alegre em sua
voz.
Engoli em seco.
— É claro que eu gosto dela. Ela é minha amiga/vizinha e eu… Eu
só estou com saudade — soltei uma meia-verdade.
— Você gosta dela — tornou a dizer e suas palavras me deixaram
ainda mais tenso. — Você gosta de verdade de Beatrice — repetiu, com
ainda mais convicção.
Soltei um suspiro e só então, virei o rosto em sua direção para
encontrar um sorriso genuíno desenhado em seus lábios pintados de
vermelho.
Beatrice fica linda usando batom vermelho.
Bem, ela… ela fica linda de todas as formas, até quando está uma
bagunça por conta da TPM.
— Porque está rindo? — inquiri.
— Porque você está se apaixonando, mas é teimoso demais para
perceber isso. Está tão na cara. — Deu um tapa em meu ombro, rindo um
pouco mais.
Franzi o cenho.
— Não estou apaixonado! — afirmei convicto.
— Eu não disse que está — Levantou um dedo em riste — Mas que
está se apaixonando.
— É a mesma coisa — resmunguei.
— Não! Você ainda não a ama, contudo está no caminho para isso.
Agora o que você sente é paixão.
— Não estou me apaixonando! — novamente enfatizei, deixando
claro que não está acontecendo nada disso que ela pensa.
— Está sim!
— Não, eu não estou!
— Está sim!
— Não estou!
— Está, e só a minha opinião importa! — Cruzou os braços,
empinando o nariz conforme me encarava de forma prepotente e
desafiadora.
Soltei uma risada pela forma como o jeito da minha prima me
lembrava Matteo sempre que ele tinha um ponto. E porra, eu odiava
admitir, mas a ruiva também possuía um ponto, um ponto bom pra caralho.
Estaria eu me… apaixonando por Beatrice Fontana?
Se isso acontecer, eu estaria muito fodido, não apenas até a décima
geração como havia pensado, mas até a vigésima!
Porra, fodido! Fodido! Fodido! Muito fodido! Fodido para vários
caralhos!
— Você está ainda mais adoravelmente irritante depois que passou a
ser amiga de Matteo.
— É, acho que estou mesmo. — Deu de ombros. — Até acredito
que a gente divide o mesmo neurônio.
— Você é a neurocirurgiã aqui, mas de acordo com o meu limitado
conhecimento em Medicina, acho que isso é impossível.
— Como você disse, a neuro aqui, sou eu — pontuou. — E não me
enrole — Fez um movimento com as mãos — Preciso te ouvir falando que
está se apaixonando.
— B2 está se apaixonando? Caralho, como assim? — Matteo
exclamou ao se aproximar de nós, escutando, graças aos céus, apenas parte
da conversa. — E porque caralhos você não me contou sobre isso? Cazzo!
— Adoro quando ele mistura as palavras em português e italiano —
Stella comentou rindo e eu a olhei feio. — O quê? — sussurou, fazendo
uma expressão cínica.
Obrigado, prima!
É bom saber que posso contar com você para me foder!
— É um dos meus charmes. — Piscou. — E como assim meu amigo
está apaixonado e eu não sei quem é a sortuda?
Conhecendo Matteo como conheço, ele não deixaria isso passar até
ter todas as respostas que desejava. Argh!
— Não estou apaixonado — garanti.
— Não está, mas está caminhando para isso.
Eu juro, essa ruiva vai me pagar! Caralho, Stella!
— Não estou, não. Ela está exagerando.
— Não estou exagerando nada — Stella disse, cruzando um braço
na altura da cintura para apoiar o cotovelo bem ali, observando, de forma
despretensiosa, suas unhas pintadas de vermelho. — Você que é uma mula e
não consegue ver o óbvio.
— Quem não consegue ver o óbvio? — Dante questionou parando
ao lado do irmão, com Ana a tiracolo.
— Henrique — minha prima respondeu.
— O que tem ele? — a “gnomio” barriguda investigou alisando, sua
barriga.
— Nosso B2 está apaixonado! — Matteo respondeu com um misto
de orgulho e indignação.
— Você está apaixonado? — Bárbara praticamente berrou ao lado
de Miguel, ambos caminhavam em nossa direção.
— Acho que fiquei surdo — Miguel avisou, apertando um ouvido.
— Você está mesmo apaixonado? — Ana Laura indagou, juntando
as mãos contra o peito e me lançando um olhar emocionado.
— Ainda não, porém é só questão de tempo para estar — a ruiva,
que estava com os dias contados na Terra, respondeu.
Soltei um suspiro.
— Eu não estou apaixonado e nem vou ficar. Stella está exagerando.
— Prefiro acreditar na ruiva — Matteo disse.
Bufei, alisando meu cabelo e a barba, para em seguida, apoiar as
mãos ao redor da cintura.
— E a minha palavra não conta?
— Não! — todos responderam em uníssono.
— É de foder mesmo — resmunguei.
— O alvo sempre é o último a ver a flecha — B1 apontou.
— O alvo?
— Você é o alvo da flecha do amor — ele explicou, imitando um
cupido.
Todos riram, menos eu.
— Não sou um alvo, porque não há caralho de flecha do amor
nenhuma! Eu não estou apaixonado e nem estou no caminho para isso! —
afirmei enfático.
— Ela é médica. Abre a cabeça das pessoas todos os dias, então
sabe do que está falando — Matt apontou para a ruiva, que seguia
bisbilhotando as próprias unhas, claramente fugindo do meu olhar
assassino. — E você está muito irritado, B2. Ainda bem que eu trouxe o
Buda para que a paz grande e quente dele entre em você.
— Você trouxe aquela mini estátua? — Miguel questionou
incrédulo. O coitado sempre se assustava com as peculiaridades que saía da
boca do nosso amigo, eu, por outro lado, já estava mais do que acostumado
a elas.
— Que estátua? — Bárbara perguntou curiosa.
— Uma do Buda que minha assistente me deu para que eu pudesse
meditar, ou ao menos tentar — respondi simplesmente e todos me olharam,
ainda mais curiosos para saber sobre.
— Simone disse que ele está com os chackras desalinhados — B1
contou a todos como se fosse um segredo.
— Ela sempre diz isso e até hoje não sei o significado dessa porra.
— Chakras são centros de energias que absorvem, distribuem e
externalizam energia vital. Usando termos bem informais, chakras
funcionam como filtros para tudo o que nossa mente, corpo e espírito
recebem do mundo à nossa volta — Bárbara explicou como se fosse algo
obviamente tedioso.
— Você entende sobre chakras, boneca? — Matteo perguntou,
visivelmente surpreso.
— Os pais dela adotaram tal filosofia de vida recentemente — Ana
esclareceu.
— Precisamos meditar qualquer dia desses, boneca — meu amigo
sugeriu, lançando uma piscadela para ela, que revirou os olhos. — De
acordo com o meu guia espiritual… — falou, se aproximando dela, mas
Bárbara logo o cortou. E lá vamos nós!
— Pobre criatura. Deve sofrer com alguém como você.
Ele ignorou suas palavras e continuou com as dele.
— Como eu estava dizendo, de acordo com o meu guia espiritual,
meditação em dupla é mais eficiente do que feita sozinha. Mais intenso
ainda, se for feita sem roupa.
— Ele está mesmo propondo a ela para fazerem uma massagem
tântrica? — Miguel sussurrou ao meu lado.
— Era só meditação — o maluco disse — Mas se ela quiser uma
massagem tântrica, estou à disposição.
— Nem meditação, nem massagem, nem nada que envolva você e
eu sozinhos no mesmo lugar — ela bradou, impaciente. A loirinha chegou a
ficar vermelha.
— Você ainda vai implorar para ficar sozinha comigo, ragazza —
previu, ajeitando o terno.
— Continua sonhando, idiota — resmugou, cruzando os braços.
— Já dizia o filósofo moderno, Matteo Fontana…
— Lá vem — Dante disse, rindo.
— Além do amor e da paixão, o ódio está em terceiro lugar como
melhor preliminar para se ter um sexo incrível. Quando quiser gastar esse
ódio todo que sente por mim na cama, estarei esperando.
— Porra, ele é bom! — Stella exclamou ao meu lado. — Vou anotar
essa no meu caderno mental de cantadas. Nossa boneca até corou, olhem
essas bochechas! — Tocou no rosto dela. — Vermelhas feito um tomate!
— É vermelho de ódio! — Bárbara declarou. — Argh! Você me
irrita tanto, seu… seu maluco!
— Na cama, sou ainda mais maluco.
E assim, como em todas as vezes que os dois estavam no mesmo
lugar, começaram a brigar feito cão e gato. Respirei aliviado por não ser
mais o centro da atenção do meu amigo, mas eu sabia que ele não deixaria
as palavras de minha prima para lá.
— Eles são tão lindos brigando! — Ana disse, sorrindo.
— Tudo isso é tesão acumulado — Stella comentou.
— Muito tesão — Miguel acrescentou, coçando o maxilar.
— Grazie, Dio Mio! — Dante falou, fazendo aquele movimento
com as mãos, típico de italianos. — Pensei que Beatrice não chegaria a
tempo da apresentação e do meu discurso.
Ela chegou! Porra, ela finalmente chegou!
— Bea está linda! — Stella falou, estampando um sorriso de lado e
movendo suas sobrancelhas maliciosamente em minha direção.
Virei o rosto tão rápido, que senti uma pontada de dor no pescoço
causada pelo movimento brusco. E todo o meu corpo se acendeu e pareceu
ganhar vida quando meus olhos captaram Beatrice Fontana em toda a sua
beleza usando um vestido de seda azul com alças finas, os cabelos pretos
estavam presos no topo da sua cabeça em um coque bagunçado, deixando
seu pescoço todo à mostra, o que fez meus dedos formigarem de vontade de
se fecharem ali.
Antes que eu pudesse ir até ela, desejando matar a saudade, senti uma
mão apertar meu braço, me impedindo de caminhar até a mulher que tem
dominado meus pensamentos e cada célula em meu sistema.
— Não faça nada que você possa se arrepender depois — minha
prima disse assim que a olhei, me lembrando do que estava em jogo.
Anuí, puxando uma longa respiração na tentativa de manter a calma
diante do lugar e das pessoas à minha volta, antes de voltar a observar
Beatrice.
Ela estava linda e eu estava louco para tocá-la, e se Stella não
tivesse me impedido, seria exatamente isso o que eu teria feito. A tomaria
em meus braços e assaltaria sua boca sem me importar com a presença de
toda sua família.
E então, em meio a divagações do que gostaria de fazer, mas não
podia, toda a calmaria foi para a puta que pariu quando avistei um homem
negro surgir atrás da diaba, que rasgou os lábios quando o cretino segurou
sua cintura e disse algo em seu ouvido.
Mas quem, caralhos, era o infeliz?
CAPÍTULO 35
“A raiva que te dá. Diz que não vai voltar, mas viciou na droga que
é beijar minha boca. Faz sua razão parar. Seu coração gritar. Cê viciou na
droga. Quer beijar minha boca”
(Sem filtro - Iza)

Henrique
Segura a onda, Henrique.
Segura a onda, Henrique.
Segura a porra da onda, caralho!
Foram as frases que eu repeti na minha mente como um mantra
conforme Beatrice caminhava até onde todos nós estávamos, com o maldito
homem ao seu lado. Eu já o odiava sem nem ao menos conhecer.
Argh! Podia sentir a raiva percorrer pelas minhas veias e meu corpo
todo esquentar com a visão da mão do desgraçado em volta da cintura dela.
— Quem é esse? — foi Matteo quem perguntou com cara de poucos
amigos.
— Não sei, mas não gostei dele — Dante pontuou.
— Nunca concordei tanto com meus bambinos como agora — Sr.
Vincenzo declarou, se aproximando de nós.
Estávamos nós quatro, um ao lado do outro, encarando o cretino e
Beatrice caminhando em nossa direção.
Eu poderia me juntar a eles nos questionamentos e comentários
ciumentos, mas abrir a minha boca no estado em que me encontrava,
definitivamente não seria uma boa ideia.
Por isso, optei assim, pelo silêncio. Todavia, ainda que eu não
estivesse me olhando no espelho, podia afirmar que meu rosto estava
vermelho, vermelho de ódio por puro ciúmes.
Caralho, sai de perto da minha diaba, filho da puta!
Minha?
Que ridículo!
Beatrice Fontana era tudo, menos minha.
— Ciao, famiglia! — saudou com um sorriso no rosto, jogando seus
braços por sobre os ombros do seu pai, que logo a abraçou, sem tirar os
olhos do infeliz. — Mi sei mancato, papà. (Senti sua falta, papai.)
— Anche io, mia cara (Eu também, minha querida) — disse ao se
afastar, segurando o rosto da filha com carinho para logo em seguida
depositar um beijo em sua testa.
— E eu? — Matteo e Dante exclamaram ao mesmo tempo.
Bea revirou os olhos e sorriu, indo até os irmãos.
Enquanto ela os abraçava, encarei o filho da puta que tinha um
sorrisinho prepotente estampado no rosto, olhando a interação dos três.
Apertei os olhos quando os seus cruzaram com os meus e fiquei mais
irritado quando o babaca sustentou o meu olhar mordaz com a mesma
intensidade. Não pretendia quebrar o contato e torcia para que toda a minha
fúria pudesse ser refletida para ele, deixando claro que Beatrice já tinha
alguém.
E o que você é dela, Henrique?
Amigo/vizinho não age como você está agindo agora.
Marcando território como um homem “cadelinha” faria. — Meu
subconsciente zombou.
O sorriso do desgraçado aumentou ao perceber o que eu estava
fazendo.
— Henrique — a voz feminina e cheia de sotaque me atingiu, assim
como o maldito cheiro de baunilha com flores. Meu corpo estremeceu e
tudo pareceu parar, na verdade, tudo parou. Até mesmo meu coração.
Meu olhar voou até os olhos que tinham um poder sobre mim que
me assustava pra caralho e eu deveria fugir deles como o covarde que ela
insistia em dizer que eu era, mas ao invés disso, eu só queria ser consumido
por eles, por ela. Eu queria me perder em sua órbita sem me preocupar com
mais nada. Se eu a tivesse, era o que importava.
— Senti sua falta, amigo/vizinho — a diaba falou, prendendo o
lábio inferior entre os dentes e o sorrisinho endemoniado me provocou
arrepios.
Não consegui me conter e feito um idiota, eu sorri.
Não, você não está entendendo. Eu sorri mesmo.
O tipo de sorriso que a gente só vê em filme.
O tipo de sorriso que quando é dado, a gente sente aquela sensação
estranha de vergonha alheia sempre que o mocinho olha para a mocinha.
O tipo de sorriso que a gente jura nunca dar a ninguém.
Então, é desse tipo de sorriso que eu estou falando.
Consegue imaginar o quão idiota eu pareço agora?
O som de uma risadinha me fez ficar sério e não precisei olhar para
o lado para saber que a minha prima era dona dele.
Forcei uma tosse, endireitei a postura e falei sério: — Também senti
sua falta, Bea. Nosso andar não é o mesmo sem você.
Ok, esqueça o sorriso idiota.
Essa frase, sem sombra de dúvidas, venceu no quesito ridículo.
Puta que me pariu, caralho!
Dei graças a Deus por Matteo, Dante e o Sr. Vincenzo estarem
entretidos encarando o tal homem, nas suas melhores poses de ciumentos. E
aproveitei para me aproximar mais da mulher infernal.
— Quem é o cretino? — questionei em voz baixa e a filha da puta
sorriu, claramente adorando o meu estado.
— Ciúmes? — Arqueou uma sobrancelha.
— Quem é? — repeti entredentes.
— Um amigo. — Deu de ombros.
— Um amigo como eu?
— Ciúmes? — voltou a questionar cinicamente e eu reprimi a
vontade de apertar seu pescoço.
— Responde, porra. O infeliz é um amigo como eu?
Beatrice abriu a boca, mas nenhum som saiu dali, pois fomos
interrompidos por Stella, Bárbara e uma Ana Laura serelepe e toda
saltitante.
— Estamos amando a cena de DR, principalmente a “gnomio” e a
boneca fanfiqueira aqui — Stella disse, sorrindo e olhando ao redor, com
uma amiga de cada lado seu. — Mas será que vocês podem disfarçar um
pouco? Qualquer um que olhar para vocês por cinco segundos consegue
sentir a tensão sexual exalando.
— Isso! Muita tensão! — a grávida enfatizou de olhos arregalados e
sorrindo de orelha a orelha.
— Eles ficam tão lindos juntos! — Bárbara suspirou.
É claro que elas sabem sobre nós.
Diferente de mim, Beatrice não tinha motivos para não compartilhar
sobre o que rolou entre nós com suas amigas.
— Seu primo que está todo estressadinho só porque Mattia veio
comigo. — Revirou os olhos como se eu estivesse agindo como um idiota.
É, eu estava.
Foda-se!
— Você revirou os olhos para mim, Beatrice? — murmurei.
— Está acontecendo! — Bárbara exclamou animada, jogando os
braços para o alto, o que chamou a atenção de todos para nós.
— Está tudo bem? — Dante perguntou, se aproximando e parando
ao lado da esposa.
— Sim, amor. Só estamos conversando sobre… hum… sobre torta
de morango.
— Eu amo torta de morango — o infeliz comentou e foi a minha
vez de rolar os olhos.
Ninguém te perguntou, babaca.
— Deixe-me apresentar meu amigo — Bea falou, segurando no
braço do homem que agora tinha uma taça de vinho nas mãos. — Esse é
Mattia. Um amigo que fiz na época em que eu estava na Itália. Acabei o
encontrando no aeroporto, já que ele veio visitar sua família e o convidei
para me acompanhar esta noite. Mattia, essa é minha família e amigos —
enfatizou a última palavra me lançando o seu típico olhar de diaba.
Apertei meus olhos que encaravam suas íris verdes, que brilhavam
como sempre quando ela fazia algo para me provocar e nada me tirava da
cabeça que a filha da mãe o convidou apenas para me estressar.
E conseguiu.
Durante a próxima hora, o cretino do amigo compartilhou um pouco
sobre a sua família e assim que falou seu sobrenome, Rossi, e disse o nome
dos seus pais, o Sr. Vincenzo abriu um sorriso reconhecedor.
O pai do pau no cu frequentou a mesma universidade italiana que o
patriarca dos Fontana e assim como ele, se apaixonou por uma brasileira. E
daí foi só ladeira abaixo, para mim, no caso. Eu realmente estava
começando a achar que o Universo ou a porra do destino queria me foder.
Por quê, porra?
O tal do Mattia Rossi foi gentil com todos e até engatou em uma
conversa sobre negócios com o Sr.Vincenzo, Dante e Miguel. O infeliz
conquistou até Matteo quando disse que amava novelas mexicanas e que
nada podia superar Maria do Bairro.
Eu estava a ponto de socar a cara dos meus amigos.
Onde estavam os irmãos ciumentos e possessivos? Han?
Depois do lindo discurso de Dante, que fez todos se emocionarem,
principalmente a família de Carlos, meu amigo fez questão de apresentar
Hélio Santana a todos. O senhor logo se despediu após o jantar ser servido,
alegando que precisava encontrar com sua filha e saber se seu neto estava
bem. Dante e Ana Laura compartilharam conosco o breve momento que
tiveram com a moça de sotaque forte, cujo nome é Alessa, e a conversa que
tiveram com Paula logo que ela precisou ir embora.
A mãe de Carlos disse que uma sensação ruim lhe tomou assim que
seus olhos se encontraram com os da mulher e que por um momento,
pressentiu que a mesma pudesse estar correndo perigo. Miguel até sugeriu
pedir ao amigo delegado, Alberto, para investigá-la, mas a senhora Ferreira
negou, alegando que seria demais e que provavelmente seria apenas a carga
emocional que o momento trazia. Dona Beatriz não saiu do lado da amiga
em nenhum momento e quando uma faixa foi cortada por Ricardo, o irmão
mais novo de Carlos, lágrimas tomaram o rosto de todos no salão, inclusive
o meu.
Era oficial.
O Instituto Carlos Ferreira estava oficialmente em funcionamento a
partir de agora.
Durante todo o jantar eu não tirei meus olhos de Beatrice, que
seguia me lançando olhares provocadores cada vez que me pegava
observando-a. E para completar a noite, não bastava apenas estar com
ciúmes de Bea, eu também estava com ciúmes de todos os meus amigos e
família, pois eles paparicavam a porra do Mattia. Até a “gnomio” estava se
divertindo, conversando com ele sobre o quão deliciosa era a torta de
morango.
Ah, caralho! Que feitiço esse doido tinha?
E agora, depois de toda paparicação desnecessária para o pau no cu,
Dante fazia um tour por cada dependência do edifício, apontando com
entusiasmo cada vez que Lucas Alves, seu fisioterapeuta, explicava cada
equipamento e sala pelo caminho.
Era animador ver a felicidade dos futuros frequentadores do
Instituto a cada momento que se passava. Um brilho de esperança refletia
nos olhares cansados. Eles, enfim, teriam todo o suporte necessário de que
precisavam para ter qualidade de vida e eu estava feliz e grato por poder
fazer parte disso.
Neste momento, fomos convidados a entrar em uma grande sala
com proteção acústica e diversos instrumentos para uma pequena palestra.
Segundo a psicóloga que acompanhava o grupo, a música é uma ferramenta
na recuperação de pessoas que passaram por traumas, ajudando-as a
aprenderem a regular suas emoções, tal como se acalmar.
Mattia estava em uma conversa animada com dona Beatriz sobre
como aprendeu a tocar violino tão novo e como a prática o ajudou a ser
mais tranquilo.
— Argh! Tranquilo é meu pau! — murmurei observando todos
entrarem no cômodo.
— Seu pau é tudo menos tranquilo, caro mio — a voz do inferno
sussurrou no meu ouvido.
Estremeci com seu hálito tão perto e minha pele se arrepiou com a
proximidade.
Cruzei os braços e permaneci em silêncio, sem tirar meus olhos das
pessoas à minha frente. Meus amigos foram os primeiros a entrar.
— Estou com saudade — confessou baixinho, me abraçando por
trás.
— O que está fazendo? — perguntei alarmado, virando-me para ver
seus lábios formando um beicinho exagerado. Dei dois passos para trás,
mantendo uma distância segura entre nós.
— Estou abraçando meu amigo/vizinho — respondeu simplesmente.
Cínica da porra!
— Alguém pode nos ver — falei, olhando ao redor e notando que
estávamos a sós no corredor. A porta da sala de música havia sido fechada.
Merda!
— Estamos sozinhos — disse, dando um passo na minha direção.
— Estamos. — Engoli em seco, dando um para trás.
— Você está um tesão com esse terno azul — comentou sorrindo
feito a diaba que era.
Outro passo dela.
— Obrigado — agradeci.
Outro passo meu.
— Está fugindo de mim? — inquiriu levando o indicador até a sua
boca, alisando seu lábio inferior pintado de vermelho.
Outro passo dela.
Mais um passo meu para trás.
— Eu te fiz uma pergunta, caro mio.
Um passo dela.
— E eu te fiz uma quando chegou e até agora você não me
respondeu — falei entre dentes.
Um passo meu.
— Esse Mattia — pronunciei o nome do desgraçado sentindo um
gosto amargo na boca. — É seu amigo como eu sou? — questionei.
Um passo dela.
— E que tipo de amigo você é para mim?
Um passo meu.
— Responda a pergunta, Beatrice! — exigi impaciente.
Um passo dela.
— Você fica uma coisinha de louco com ciúmes e puto, sabia? —
Soltou risonha.
Um passo meu.
— Beatrice, responda.
Um passo dela.
— Vocês homens são tão idiotas, que sentem ciúmes de pessoas e
situações ridículas e sem fundamento algum. Mattia está lá dentro. —
Apontou para atrás de si, os olhos endemoniados e dissimulados fixos em
mim, me fizeram tremer levemente. — E eu estou aqui com o homem, dono
do pau, que eu quero que entre em mim essa noite.
— Porque o trouxe?
Ela revirou os olhos.
— Ele realmente é só um amigo, bobinho. Um amigo muito bonito,
mas é gay. Não curte o que eu tenho entre as pernas, ao contrário do homem
que está diante de mim. — Beatrice esticou um braço e tocou no canto da
minha boca com o dedo que passou por seus lábios anteriormente, sujando
minha pele com batom. — Não quero sujar só seu rosto com o meu batom,
quero o seu pau também.
Um passo dela.
Nenhum passo meu.
Tum. Tum. Tum.
Meu coração estava a mil e a atmosfera entre nós ficou ainda mais
densa, intensa.
Outro passo dela.
Nenhum passo meu.
E então, a diaba entrou em meu espaço pessoal, me inebriando com
sua presença, cheiro e olhar. Eu me sentia como sua presa e caralho, eu
estava doido para ser devorado por ela.
Seu rosto se moveu enquanto seus olhos dançavam por meu rosto.
Engoli em seco no exato momento em que ela tocou o seu nariz no meu,
sem perder o contato visual.
Respirei fundo, fechando os olhos e adorando a forma como todo o
meu corpo formigou em expectativa.
— Indosso mutandine vibranti e siccome non vuoi toccarmi, puoi
darmi piacere senza toccarmi — sua voz soou doce ao falar vagarosamente
cada palavra.
Um arrepio passou pela minha coluna e se alojou na cabeça do meu
pau devido ao som da sua voz em italiano. Foi sexy pra caralho!
Intrigado, abri os olhos e franzi o cenho.
— O que você disse?
Bea sorriu de lado e se afastou o suficiente para colocar a pequena
bolsa brilhante, que estava pendurada na dobra do seu braço, entre nós. A
abriu e tirou de lá, um pequeno controle na cor azul, com alguns botões na
ponta.
— Eu disse que estou com uma calcinha vibratória e já que você não
quer me tocar, pode me dar prazer sem encostar em mim. — Balançou o
objeto no ar. — Você estará no controle. E você gosta de controle, não
gosta, Sr. Prado?
Arregalei os olhos completamente surpreso, meu olhar vagou entre
seus olhos, o controle e a sua boceta coberta pelo vestido azul, sem
acreditar que ela estava usando uma… Porra, uma calcinha vibratória
durante esse tempo todo.
— Caralho! — exclamei baixinho.
— Tenho várias dessas, e como a sua cor favorita é azul… — Deu
de ombros, deixando as palavras no ar.
— Você se atrasou porque…
— Porque passei em casa para pegá-la — esclareceu. — Pegue. —
E como um cachorrinho eu fiz o que ela mandou, peguei o objeto azul e
olhei os botões que existiam ali. — Conversar com você durante essas duas
semanas me deixou muito necessitada. — Lambeu os lábios — Eu preciso
gozar olhando para você.
— Beatrice…
— Per favore — pediu, repousando suas costas na parede próxima,
me olhando de lado. — Por favor, me faça gozar, Henrique.
Fechei meus dedos em volta do aparelho, observando-a.
Os mamilos estavam entorpecidos, marcando o tecido da sua roupa.
Seus olhos refletiam os sentimentos mais safados e primitivos que um
ser humano era capaz de sentir.
Suas bochechas estavam coradas e suas pernas não paravam de se
mexer, indicando que a diaba estava apertando as coxas na tentativa de
buscar algum alívio.
Caralho, uma tentação!
— Não posso fazer isso aqui. Sua família está do outro lado do
corredor — disse olhando para a porta da sala de música que ainda
permanecia fechada.
— Sabe porque as pessoas são frustradas com suas vidas sexuais,
Henrique? — Ela fez uma pausa, mas não esperou por uma resposta minha
e continuou a explicar o seu ponto. — Porque para realizar as fantasias
sexuais que temos, é preciso ter coragem, pois a maioria desses desejos
envolvem lugares e pessoas proibidas. E mesmo sabendo que é errado,
nosso corpo pede, pede muito por elas. Nosso corpo e mente imploram por
adrenalina, e eu estou implorando para você realizar uma fantasia minha.
Aqui e agora! — Sua mão direita subiu e apertou seu seio esquerdo,
fazendo-a arfar e gemer baixinho. Quase gemi com o som e a visão à minha
frente.
Meu Deus! Eu estava mesmo cogitando a ideia de fazê-la gozar com
sua família por perto? Com várias pessoas por perto? Pessoas que estavam
separadas de nós apenas por uma parede à prova de som?
Quem eu quero enganar?
Eu não estava cogitando nada.
Foda-se!
— Caralho! — Soltei, ficando de frente para ela e coloquei o braço
esquerdo dobrado na parede, ao lado de sua cabeça. Seu sorriso aumentou
quando colei meu corpo no seu, fazendo-a sentir o quanto eu estava
dolorosamente duro por ela. Sempre por ela! — Eu te odeio! — falei, me
odiando, e descansei minha testa na sua. — Eu te odeio — murmurei
novamente, raspando meus lábios nos seus. — Eu… te odeio.
— Não, você não me odeia. Só odeia o fato de não conseguir negar
um pedido meu — a desgraçada disse e caralho, ela estava certa.
— Eu vou para o inferno por fazer isso. — Respirei fundo, inalando
seu cheiro como um viciado.
— Você não vai para o inferno, porque está nele desde o momento
que descobriu que eu era sua vizinha.
— Diaba! — bradei baixinho.
— Como o ditado diz, se você já está no inferno abrace o…
Suas palavras foram substituídas por um palavrão em forma de
gemido.
E eu tive a certeza de que ela realmente estava com uma calcinha
vibratória.
Aumentei a velocidade e seus olhos ameaçaram se fechar.
— Olhos abertos, filha da puta — ordenei, passando a ponta do meu
nariz em seu pescoço, queixo e boca. — Olhos abertos como uma putinha
obediente.
— Henrique…
— Você disse que quer gozar olhando para mim, então é exatamente
isso que você terá, vagabunda!
CAPÍTULO 36
Beatrice
Como eu senti falta dele. Muita falta!
Falta do som da sua voz quando me xinga.
Falta dos seus olhos azuis cheios de luxúria quando direcionados a
mim.
Falta do seu cheiro de macho que me deixava inebriada.
Falta dele puto pra caralho pelas minhas provocações.
Aaah, como ele ficava ainda mais gostoso quando estava puto pra
caralho!
Falta de como só ele é capaz de me fazer sentir prazer de um jeito
tão intenso, ainda que não estivesse me tocando, como agora.
Eu não conseguia tirar Henrique da cabeça e minha boceta tarada
também não. A forma como nos entregamos ao momento, a maneira como
nossos corpos reagiram em perfeita sintonia ao outro e cazzo, a forma como
ele me encarava me deixava louca!
Ele parecia querer ver minha alma e assustadoramente, eu queria
que ele visse e possuísse cada pedacinho meu.
Reprimi a vontade de levar as mãos até seus ombros e buscar apoio
quando o vibrador embutido da calcinha estremeceu em cima do meu
clitóris. Entretanto, não me contive nos gemidos, meu olhar indo
brevemente para a porta da sala onde todos estavam.
Aquilo era uma loucura!
A maior que eu já havia cometido.
Todavia, não menti quando disse que era uma das minhas fantasias
sexuais.
E estranhamente, eu queria que Henrique pudesse tornar todas elas
reais.
Eu o queria. Queria que fosse com ele, somente ele!
— Me toca — implorei quando o vibrador girou em meu montinho
de nervos, me deixando tão melada que eu podia sentir minha lubrificação
escorrer pelas minhas coxas.
— Pensei que eu daria as ordens — disse, depositando um selinho
em minha boca e tentei prender seus lábios com meus dentes,
completamente louca de desejo, mas ele foi mais rápido ao se afastar. —
Quieta!
— Henrique…
— Abre minha calça.
— Vai me foder? — questionei ansiosa.
— Quer que eu te foda? — Aumentou a velocidade do vibrador e eu
arfei, tombando minha cabeça para trás ao sentir o meu prazer
intensificando.
— Quero. Eu quero você! Eu quero que me foda! Por favor, me
fode! — implorei sem me importar por estar parecendo desesperada.
Cazzo, eu estava desesperada!
— Então faça o que eu mandei, Beatrice. Abre minha calça, agora!
— ordenou rudemente e eu o fiz, sem retrucar ou reclamar do seu tom.
Minhas mãos tremiam na expectativa de tê-lo dentro de mim
conforme eu abria o cinto, o botão e puxava o zíper para baixo e ele
aumentava a intensidade do estímulo em minha boceta.
— Por favor… — pedi manhosa, soltando gemidos ofegantes.
— A putinha quer pau, hum?
— Quero… per favore…
Sua mão livre apertou minha nuca, seus dedos me provocaram uma
sensação deliciosa e eu quase gozei com o comando que ele soltou.
— Ajoelha e mancha meu pau de batom, cachorra.
Ajoelhei em sua frente e salivei quando puxei seu pau da calça, que
estava duro como aço. Segurei na base e passei minha língua por todo o
comprimento, deixando tudo mais melado. Ele gemeu e eu concentrei meu
olhar no seu, olhando-o do jeito que eu sei que ama e odeia na mesma
medida.
— Chupa! — bradou e eu olhei de relance para a porta onde todos
estavam, sentindo a adrenalina correr pelas minhas veias. E então, eu sorri
feito a diaba que ele adorava antes de sugar com força a cabeça do seu pau
e o engolir devagar, arrancando os sons mais sexys que já ouvi de um
homem.
Com a mão que ainda estava na minha nuca, ele empurrou o quadril
contra minha boca, me fazendo engolir centímentro por centímetro, meus
lábios pintados de vermelho sujando seu membro à medida que eu descia.
Apertei minhas coxas, sentindo as vibrações em minha boceta
intensificarem, enquanto Henrique fodia minha boca sem dó. Eu podia
sentir seu pau descendo pela minha garganta, fazendo algumas lágrimas
molharem meu rosto.
Senti o aperto em meu cabelo aumentar e ele me afastou, me puxando
para cima até que eu estivesse em pé. Meu vizinho atacou minha boca em
um beijo cheio de urgência e saudade. Em seguida se distanciou, me
encarando com o rosto todo manchado, um reflexo claro de como o meu
estava.
Henrique aumentou a intensidade e a velocidade do vibrador em meu
clitóris antes de guardar o objeto em seu bolso. Minhas pernas ficaram
fracas com as ondas de prazer enviadas para o meu corpo e antes que eu
fraquejasse, suas mãos invadiram meu vestido, apertando minha bunda com
força e me puxando do chão. Joguei meus braços por sobre seus ombros e
envolvi sua cintura com minhas pernas. Arfamos quando minha boceta
encontrou com o seu pau.
— Camisinha? — indagou sem fôlego, encostando minhas costas
contra a parede.
— O seu pau foi o último que esteve dentro de mim — garanti.
— E a sua boceta foi a última em que ele entrou.
Sorri, sentindo uma enorme satisfação ao ouvir a informação.
— Anda. Me fode, agora! — pedi, olhando para a porta do outro lado
do corredor, encaixando sua cabeça em minha entrada. — Enfia logo esse
cacete e me come gostoso, Henrique!
Com essas palavras ele deslizou para dentro de mim, soltando vários
palavrões conforme eu o apertava até que estivesse todo enterrado, bem
fundo.
— Que saudade dessa bocetinha — falou, socando sem cerimônia em
um ritmo frenético e enlouquecedor.
Cazzo, como eu amo o sexo com esse homem!
Meu corpo subia e descia, deslizando pela parede à medida que ele
entrava e saia de mim.
Graças à proteção acústica da sala onde todos estavam, nossos
gemidos não podiam ser ouvidos. Eles eram altos, intensos e profundos,
misturados a nossas respirações ofegantes e nossos sexos melados se
chocando.
— Eu… Aaah… Eu estou perto… — avisei com o olhar voltado para
a porta.
— Olhos em mim, filha da puta! — bradou, levando sua mão direita
até meu pescoço e apertando-o daquele jeito que me deixava desequilibrada
de prazer, sem parar ou diminuir o movimento do seu quadril contra o meu.
O encarei e gemi alto quando ele atingiu um ponto específico dentro
de mim me deixando à beira do abismo.
— Henrique… não para… Continua! Hum… — Mordi o lábio
inferior, sentindo meu orgasmo chegando.
— Tá gostoso, putinha? Tá gostoso a surra de pica que essa sua
bocetinha está levando?
— Eu vou… gozar! — anunciei.
— Eu também!
Soltei um gritinho quando ele me levantou e agarrou minha bunda,
me prensando contra a parede e abrindo minhas pernas ainda mais. Finquei
minhas unhas em sua nuca, sentindo seu pau entrar e sair de mim em um
ritmo alucinado.
— Vou encher essa sua bocetinha de porra!
E então, olhando em suas íris azuis, eu gozei com ele, sentindo meu
corpo cair em queda livre a cada espasmo que o orgasmo me fazia dar. Meu
corpo todo tremia à medida que ele jorrava dentro de mim como se não
fosse parar nunca mais e quando Henrique beijou minha boca, parecia que
eu estava no paraíso.
Foi perfeito!
Era sempre perfeito com ele!
O melhor sexo.
O melhor beijo.
Henrique Prado, o melhor homem com quem eu já estive.
— Como isso é possível? — perguntou tão sem fôlego quanto eu.
— O quê?
— Como é possível o sexo só melhorar entre nós?
Soltei uma risada.
— Compartilho do mesmo pensamento. A melhor rapidinha que eu já
tive.
— Nós fizemos mesmo isso? — murmurou descansando a testa em
meu peito.
Apertei seu pau semi ereto dentro de mim e ele arfou.
— É, fizemos.

— O que você acha que Carlos diria sobre o que acabamos de fazer?
— perguntei, arrumando meu cabelo e olhando minhas bochechas coradas
no reflexo do espelho.
Depois do orgasmo maravilhoso que tivemos e de todo o clima
excitante de perigo, Henrique e eu tratamos de sair daquele corredor à
procura de um banheiro para que pudéssemos nos recompor e eliminar a
prova do que acabou de acontecer. Assim que encontramos, entramos e foi
impossível não rir quando vimos nossos reflexos. Uma completa bagunça.
Meu batom vermelho não havia marcado apenas o seu pau, mas todo o seu
rosto também. Parecíamos com palhaços.
Ouvi seu suspiro atrás de mim e me virei, vendo-o devidamente
arrumado. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça quando me respondeu,
encostando na parede.
— Se ele soubesse de nós…
— Existe um nós?
Ele cerrou os olhos.
— Você me entendeu.
— Eu sei. Só amo te provocar — falei, me aproximando e repousei
minhas mãos em seu peito largo, tentando não suspirar como uma idiota
quando seus braços envolveram minha cintura, me puxando para mais
perto, mas falhei, miseravelmente.
— Se ele soubesse de nós, faria chantagem comigo.
Eu ri.
— Isso é bem a cara dele — falei. — Sinto falta dele — comentei
em um sussurro melancólico. — Sinto falta dele todo dia.
— Eu também sinto. Odeio… — Engoliu em seco e pela forma
como seu maxilar travou, notei que Henrique estava se segurando para não
chorar. — Odeio sentir saudade — amitiu com dificuldade.
— Eu também não gosto, acho que ninguém gosta quando não é
possível saciá-la, porém não consigo evitar senti-la sempre que algo no meu
dia me faz lembrar dele e das malditas frases filosóficas que insistia em
dizer. Eu sinto falta até das cartas icônicas que me mandava.
Ele soltou uma risada pelo nariz que fez seu peito subir e descer.
Adorei a sensação do seu coração batendo contra a minha palma.
— Ainda tenho as que ele me mandou — confessou e levou uma
mão até minha bochecha, secando algumas lágrimas que eu nem havia
notado caírem.
— Eu também — disse com o olhar seguindo o movimento dos seus
dedos sobre minha pele. Fechei os olhos, apreciando o carinho. — Senti sua
falta. — As palavras saíram com dificuldade, mas cheias de verdade.
— Eu também senti a sua, Bea — retribuiu, levando suas mãos para
o meu pescoço, segurando-o com possessividade. — Senti sua falta pra
caralho. — Estremeci quando senti sua língua acariciar meus lábios, que
logo se abriram para iniciar um beijo, contudo ele se afastou, me fazendo
abrir os olhos para encontrar com os seus que pareciavam cheios de
confusão e… medo? Henrique estava com medo?
— Me beija — pedi.
— O que estamos fazendo? — questionou sério.
— Estamos prestes a dar uns amassos.
— O que estamos fazendo, Beatrice? — tornou a perguntar e eu
sabia bem ao que ele se referia, mas assim como ele eu não tinha resposta.
Suspirei.
— Não sei.
— Eu também não. — Roçou seu nariz no meu e em seguida,
repousou a testa junto a minha, sem desviar o olhar. — Mas…
— Mas?
Ele não continuou, ao invés disso, fechou seus dedos com um pouco
mais de força em volta do meu pescoço e eu gemi, apreciando a pressão
deliciosa que só ele conseguia me dar.
— Henrique, mas o quê?
— Nada.
— Nada disso, eu sou curiosa! — resmunguei, fazendo bico.
Ele sorriu.
— É, você é.
— Então…?
Levou dois segundos para ele, enfim, falar.
— Eu não sei o que estamos fazendo, mas eu… Eu quero descobrir
o que é.
A forma como sua voz tremeu, demonstrando nervosismo, fez algo
dentro da minha barriga se agitar.
Que cazzo é isso?
— Sei de algo que pode nos ajudar a descobrir o que estamos
fazendo.
— O quê?
— Continuarmos trepando — sorri com malícia.
— O prazer será todo meu — provocou, passando sua língua em
minha boca.
— E o muro? Não vai tentar reconstruí-lo? — sorri, ainda lambendo
levemente minha língua.
— Foda-se o caralho do muro. Eu quero você! — bradou e meu
sorriso morreu quando ele enfiou sua língua na minha boca, iniciando um
beijo deliciosamente bom.
Senti suas mãos em meus ombros e as alças do meu vestido sendo
deslizadas para baixo, meus seios saltaram do tecido.
— Não dei atenção a eles — comentou, se afastando, maravilhado
ao encarar as joias para logo em seguida, massageá-los.
— Aaah!
— Precisamos ir — alertou sem parar de apertar e torcer meus
mamilos.
— Eu… Eu preciso de você. De novo — falei, empinando meus
seios na direção das suas mãos. — Per favore.
— Quando sairmos daqui, eu cuidarei da minha putinha como ela
merece. — Chupou meu lábio inferior, me fazendo gemer.
— Promete? — indaguei manhosa.
— Prometo. — garantiu, afastando suas mãos dos meus mamilos
para arrumar as alças do meu vestido.
— Na minha casa ou na sua? — perguntei ansiosa.
Ele voltou a segurar meu pescoço e com a mão livre, estalou um
tapa em minha bunda. Eu gemi chamando seu nome.
— Ansiosa para levar mais surra de pica nessa bocetinha?
— Uhum — murmurei. — Na minha casa ou na sua?
— Na minha. Preciso sentir seu cheiro nos meus lençóis —
confessou me dando um beijo rápido, porém tão gostoso que me fez apertar
minhas coxas. — Vamos! — falou, depositando um selinho na minha boca.
— Va bene. Va bene.
Demos uma rápida olhada pelo espelho antes de abrirmos a porta do
banheiro e saímos, caminhando um ao lado do outro.
— Onde vocês estavam? — Miguel perguntou assim que dobramos
o corredor, o que fez Henrique e eu pararmos bruscamente.
Vi, pelo canto de olho, o loiro empalidecer e ativei o meu modo
atriz.
— Henrique não estava se sentindo bem e precisou tomar um pouco
de ar. Sentimos muito que perdemos a apresentação musical.
— Tudo bem. Sem problemas. — O olhar avaliativo que nosso
amigo nos lançou, me fez querer arregalar os olhos como se eu tivesse sido
pega no flagra.
Miguel era inteligente e o mais observardor de nós, ele
definitivamente sabia o que estava rolando, porém era educado demais para
comentar algo sem que nós déssemos brecha.
— Você está melhor, B2? — perguntou com uma sobrancelha
levantada e juro que vi seus lábios se puxando levemente para o lado.
— Sim. Estou! — Henrique praticamente gritou. Quase ri da careta
que ele fez.
— Que bom, cara. — Assentiu. — Ana pediu para que eu viesse
atrás de vocês — comunicou. — Dante está prestes a mostrar a área de
refeição e quer a presença de Beatrice, já que ela ficará encarregada do
cardápio junto a nutricionista.
— Tutto bene — disse, me virando para olhar para Henrique que
ainda parecia branco feito papel. — Vamos, amigo? — Pisquei um olho.
Ele forçou uma tosse e passou a mão nos cabelos, evitando olhar
para nosso amigo.
— Claro. Vamos.
CAPÍTULO 37
Aviso: Este capítulo contém cenas de abuso e pressão
psicológica, violência contra criança (colocada de forma gráfica),
relação familiar tóxica e abandono infantil.

Henrique
7 anos de idade

“Saudade: um sentimento melancólico devido ao afastamento de


uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou a ausência de experiências
prazerosas já vividas.”
— Será que é possível sentir saudade do que nunca tivemos? —
perguntei, olhando para a parede manchada à minha frente.
Todos diziam, que para a idade que tinha, eu era… como é mesmo a
palavra?
Ah sim! Eloquente, cujo significado era aquele que é expressivo,
persuasivo e convincente.
Talvez eu seja mesmo, já que gasto todo o tempo que tenho, lendo,
principalmente o dicionário que encontrei lá, bem no fundinho do armário.
Aquele que, mesmo caindo aos pedaços, guarda boa parte das coisas
da época em que meu papai trabalhava.
Será que meu papai antes de falar tantas coisas ruins para mim, teria
sido carinhoso e amoroso comigo?
Será que eu já recebi um abraço, um beijinho na bochecha como meus
colegas recebem, ou até que seja só um sorriso dele?
Se for possível, eu sentia saudades de tudo isso que nunca tive.
Passei meus dedinhos pelas folhas finas do tesouro que guarda as
belas palavras da nossa língua e fechei o livro, deixando-o em cima da
mesa. Desejei que ela estivesse cheia de coisas gostosas, como a torta de
chocolate que minha tia Leila fazia todas as vezes que meus pais me
deixavam ir até à sua casa visitar minha prima Stella. Porém, fazia um
tempão que eu não ia lá.
Suspirei, cansado, e senti minha barriguinha doer de tanta fome.
Fazia tanto tempo que não comia nada, que assim que me levantei da
cadeira, me senti meio tonto.
Meus pais saíram e falaram que não iam demorar, mas se um dia tem
vinte e quatro horas, como minha professora disse, dois dias tinham…
Argh! Eu era péssimo em matemática, gostava mais de palavras do
que números.
Então se fosse isso aí, dois dias tinham o dobro de um, o que
significava que meus pais mentiram mais uma vez.
Não sabia dizer se já demoraram o mesmo tanto ou mais das outras
vezes, o que sabia era que minha barriguinha estava doendo tanto que fazia
cada barulhão.
Tentei até rir quando fui beber água mais cedo e ela tremeu soltando
um som esquisito e alto, porém eu estava tão fraco que nem sequer
consegui.
Olhei em volta e lembrei da palavra bonita que aprendi o significado.
Saudade.
A Clarinha da minha sala disse que sente saudades do seu avô e do
carinho que ele dava para ela.
O Paulinho, o único garoto que fala comigo e não faz bullying por eu
não levar lanche na hora do recreio, disse que sentia saudades da praia.
Mas… e eu, do que eu sentia saudades?
Não sei se pode, mas sentia saudades do amor dos meus pais. De ser
recebido com almoço feito pela minha mãe, assim como meus amiguinhos
quando iam para suas casas depois da aula, e de ser cuidado como Stella era
cuidada por meus tios.
Será que tive isso quando era um neném?
Bem, se tive, não me lembrava, já fazia muito tempo também.
Minha prima era uma garota legal e muito feliz.
Ela tem um cabelo laranja e sempre passa coisas que mudam a cor.
Diz Stella que quando se olha no espelho, mesmo com roupas de outras
cores, só vê laranja. Acho isso engraçado, porém ela está sempre sorrindo,
principalmente quando meus tios chegam.
Eu sentia saudade disso.
Sentia saudade de sorrir quando via meus pais.
E… Eu não gosto de sentir saudade.
Saudade me faz sentir falta do que eu nunca tive.
Saudade me faz ficar triste e chorar.
Saudade me faz querer odiar meus pais.
E um filho não pode ter um sentimento tão feio no coração por seus
pais.
É errado e quase um pecado, como minha mãe falou uma vez quando
eu tentei dar um beliscão em papai por ele querer fazer com ela. o mesmo
que faz comigo.
— Que aquele moleque não tenha ido perturbar os vizinhos como da
última vez. — A voz do meu pai me fez dar um pulo da cadeira e ficar de
pé. Preciso me segurar na mesa por causa do movimento rápido que eu fiz.
Mais uma vez, senti tontura e minha barriga doeu.
— Não se preocupe. Eu disse para ele ficar em casa — mamãe disse.
Endireitei minha postura, do jeito que meu pai disse que um homem
de respeito precisa ter, e esperei que eles surgissem na cozinha. Não queria
apanhar hoje.
Prendi a respiração esperando que eles entrassem na cozinha.
— Você não saiu, não foi moleque?
Foi a primeira pergunta que papai fez quando me viu e pelos olhos
vermelhos eu sabia que não era um bom sinal.
Ele havia bebido.
Ele bebia muito desde que foi demitido e por causa da bebida, ele
ficou ainda mais malvado comigo.
Senti todo o meu corpo tremer de medo.
Meu papai odiava que eu demonstrasse medo.
Tomei fôlego e abracei minha cintura na tentativa de parar de tremer.
— Não me bate. Por favor, papai.
— O que você fez, seu merdinha? — gritou, segurando com força em
meu braço.
— Nada. Eu não fiz nada. Eu prometo! — Minha garganta queimou e
senti a dor vir do meu braço quando ele me apertou, marcando minha pele
branca.
Não chore. Não chore, Henrique.
Seja forte. Você é forte.
Forte como um super-herói.
Não chore. Não chore.
— Henrique, não minta para o seu pai! — mamãe exigiu como
sempre. Ela nunca acreditava em mim. Seus olhos azuis, como os meus,
estavam vermelhos também. Os dois beberam.
— Eu juro! — Juntei as mãos contra o peito. — Eu juro que não saí!
Eu juro! Por favor, não me bate, papai! Por favor! Eu fiz tudo certinho! —
implorei, sentindo minhas bochechas molharem.
Eu não conseguia fazer as lágrimas pararem!
Eu não conseguia!
Eu precisva ser forte!
Seja forte, Henrique!
— Você está chorando, seu merdinha do caralho? — perguntou, me
segurando pelos braços. — Você é mesmo um fraco, um monte de merda!
Uma perda de tempo. A pior coisa que eu já fiz — bradou, me jogando em
um canto da cozinha.
Eu gritei e ele se aproximou.
Eu pedi para que ele não me machucasse de novo e ele ainda sim
ignorou meu pedido.
Eu gemi. Ele riu.
Eu implorei. Ele tirou o cinto que prendia sua calça.
Eu chorei desesperadamente. Ele me mandou não gritar.
Era sempre assim.
Ele evitava me olhar nos olhos.
Simplesmente me jogava contra a parede, meu corpinho se chocava
com força no muro de tijolos e eu gritava, protegendo minha cabeça. E
então, eu me encolhia, esperando a primeira onda de dor tocar em minhas
costas através da fivela do cinto.
E ela veio, forte e dilacerante.
Na primeira, um grito meu, rasgando minha garganta pelo caminho.
Alto, como se meus pulmões estivessem queimando.
E, como sempre, eu torcia para que alguém pudesse me escutar.
Eu gritava alto, muito alto, mas ninguém me escutava.
Nunca escutava.
Ninguém me ajudava.
Porque ninguém me escutava?
Acho que meus pais faziam o mesmo com os vizinhos e eles tinham
medo deles assim como eu.
A gente não tem que ter medo dos nossos pais.
Eu odiava sentir medo de quem eu amava.
Mesmo não sendo amado de volta, eu amava mamãe e papai.
Amava meus pais a ponto de sempre perdoá-los.
Não importava o quanto papai me deixava ferido e mamãe não se
importasse em vir cuidar de mim.
E logo, a segunda onda de dor me afogou, mais um grito meu.
Eu estava em prantos, implorando para Deus me ajudar.
Eu sei que Deus é muito ocupado, mas doía tanto que eu precisava
tentar.
Na terceira, eu começava a perder as forças e senti que precisava
deitar contra o chão sujo e gelado.
Na quarta, o choro vinha baixinho igual ao do gatinho que eu
encontrei na rua na semana passada, voltando da escola.
Meu corpo tremia à medida que eu envolvia, com ainda mais força,
meus braços ao redor das minhas pernas, puxando-as contra o peito
Na quinta, eu tinha certeza que estava sangrando.
Eu podia sentir o sangue escorrer em minhas costas.
E diferente das outras vezes, que ele parava por aqui, continuou e a
sexta onda de dor chegou.
E, papai do céu, eu gritei ainda mais alto, com toda a força dos meus
pulmões, quando senti algo ser enterrado em minha pele, próximo à nuca.
— Porra! — Papai bradou furioso.
— Papai… Papai, por favor! Tá doendo! Tá doendo muito! Para! Por
favor! — supliquei em meio às lágrimas que não paravam de descer. —
Mamãe, me ajuda! Mamãe, por favor… me ajuda!
— Para de gritar, Henrique! — mamãe pediu. — Antônio, melhor
você parar! Alguém pode ouvir!
— Eu não vou parar até ele aprender a ser um bom filho.
— Mamãe! Ma-mamãe… por favor. Tá do-doendo muito! — pedi
entre soluços. — Por favor, mamãe… me aju-juda!
— Cala a boca, Henrique. Cala a porra da boca, moleque desgraçado
do caralho! Seu imprestável!
Antes que eu pudesse virar o rosto para olhar para minha mamãe, algo
queimou a minha pele e eu fui arrastado para trás quando senti algo me
puxar pela nuca.
E então, a pior dor do mundo me atingiu.
Senti o ferro descer pelas minhas costas, rasgando minha pele pelo
caminho.
Eu me debati no chão, gritando, chorando, implorando, suplicando
para que meu pai parasse de me machucar.
Ele não parou.
Mamãe não o parou.
Ele continuou até perto do meu bumbum.
E em um movimento de tentar fazer a dor passar, eu vi… Eu vi um
pedaço meu pregado no cinto do homem que deveria me amar.
“Feito em pedaços.”
Era isso que estava escrito ao lado da palavra rasgado no dicionário.
Foi assim que meus pais me deixaram naquela noite.
Rasgado…
Eu fui brutalmente rasgado, feito em vários pedacinhos, literalmente.
E ele não parou com as ondas de dor até que eu tivesse parado de
chorar.
Ele não parou até que eu estivesse em completo silêncio.
Eu parei de chorar na décima onda.
Eu parei de sentir no décimo golpe.
Eu mergulhei na escuridão na décima vez que o cinto se chocou
contra a minha pele em carne viva.
Eu…
Parei…
De…
Sentir…
CAPÍTULO 38
Beatrice
A noite estava bonita, embora o céu não estivesse coberto por
estrelas.
Olhei para o alto e sorri, abraçando meu corpo ainda dolorido pelas
horas de sexo.
Depois que Miguel nos flagrou, nos juntamos aos demais e logo
recebi olhares cheios de malícia das minhas amigas. Claro! Elas sabiam o
motivo do meu sumiço e ainda que tentassem esconder para as pessoas à
nossa volta, os sorrisos que direcionaram a mim, durante o restante do
evento, eram imodestos.
Quando o evento acabou, ainda ficamos conversando um pouco
mais antes de, enfim, irmos embora. O jeito como Henrique me encarava
com desaprovação por dar uma carona a Mattia, só conseguiu me deixar
ainda mais excitada.
Eu já disse que ele fica lindo e gostoso quando está puto pra
caralho?
Durante todo o caminho até à casa da família do meu amigo, fiquei
ouvindo-o falar o quanto eu era sortuda porque estava dando para um
gostoso como o Henrique e do quanto o coitado estava na seca desde o seu
último relacionamento, que chegou ao fim porque o infeliz o traiu. Apesar
de eu não ser tão próxima dele como sou das meninas, Mattia e eu sempre
mantivemos contato desde que voltei para o Brasil após o fim da faculdade.
Nossas conversas sempre me renderam boas risadas.
Depois de nos despedirmos, tentei dirigir com calma até meu prédio
para encontrar com Henrique, mas fui surpreendida ao parar no sinal
vermelho e notar o carro do renomado advogado logo atrás do meu.
Soltei uma risada e senti meu ego ser massageado como nunca fora
antes.
Apenas para provocá-lo, quando o sinal se abriu, ao invés de dobrar
para a direita e entrar na rua onde o edifício onde moramos ficava, dobrei
para a esquerda, vendo pelo retrovisor, o loiro bater com força no volante.
Não demorou muito para que meu celular tocasse e quando o atendi
pelo alto-falante do carro, a voz grave de Henrique preencheu o ambiente,
questionando onde eu estava indo. Não respondi, ao invés disso comecei a
cantar o funk “Surtada” ao longo do caminho.
O resultado da minha provocação não veio quando estávamos
estacionando o carro.
Nem quando caminhávamos até o elevador, muito menos durante o
percurso até o nosso andar. Mas veio quando ele abriu a porta do seu
apartamento e me puxou pelo pescoço, dizendo que eu pagaria caro.
E eu paguei. Paguei com um sorriso no rosto e lágrimas nos olhos
durante horas.
Meu corpo estava exausto, mas a minha tarada interior estava
radiante e saltitante dentro de mim.
Estava repassando cada momento da nossa noite, quando um grito
me arrancou dos meus pensamentos.
Sobressaltei pelo som perturbador e me virei bruscamente para ver
uma das piores cenas que já presenciei em toda a minha vida.
Henrique estava gritando desesperadamente, se debatendo na cama
entre os lençóis. Ele berrava tanto que as veias de sua garganta estavam
aparentes e sua pele vermelha.
— Para! Por favor… Para! — exclamou de olhos fechados.
Por dois segundos, não tive reação.
Por dois segundos, senti medo e pavor.
Era horrível vê-lo dessa forma e nunca imaginei que meu vizinho
pudesse ter sonhos tão intensos a ponto de deixá-lo nesse estado.
— Não! Para, por favor! Tá doendo! Tá doendo muito! Eu sou só…
um… um menino! Para! — gritou a plenos pulmões e dessa vez, lágrimas
desceram por seu rosto que se contorcia em dor.
Dor.
Henrique estava com dor.
Seu choro alto e seu corpo trêmulo foram o suficiente para me fazer
sair do lugar e correr até ele. Ainda que Dante tivesse tido pesadelos depois
do acidente, nada se comparava a cena diante dos meus olhos.
Parecia que ele estava sendo… espancado, dilacerado, rasgado em
vários pedacinhos.
Eu estava com medo.
Apavorada.
E muito assustada.
Meu coração batia forte quando deitei na cama e o abracei por trás,
envolvendo minhas pernas nas suas. Enterrei meu rosto no vão do seu
pescoço e disse, torcendo para que seu sofrimento passasse, seja lá por qual
motivo fosse.
— Eu estou aqui! Eu estou aqui! Você não está sozinho. Você está
seguro comigo. Eu… eu estou aqui!
Repeti as palavras sem parar. Meu corpo tremendo junto ao seu a
cada vez que ele se contorcia em meus braços, chorando copiosamente por
longos minutos que pareciam ser intermináveis.
Meu peito estava doendo por ele.
Minha alma estava doendo pela dele.
E só percebi que estava chorando por ele e com ele, quando senti
lágrimas em meus lábios.
Eu ainda estava apavorada quando ele foi se acalmando e chamou
meu nome com a voz trêmula. Percebi que Henrique havia acordado e só
então, eu consegui respirar novamente.
— Bea…
— Eu estou aqui, amor. — O apelido saiu antes mesmo que eu
pudesse processá-lo, porém não me importei. Nada importava agora, a não
ser ele.
— Não me deixa, Bea. Por… por favor — pediu entre soluços,
segurando meus braços com força junto ao seu peito.
Entrelacei meus dedos nos seus, apertando-os e tentando, de todas
as formas possíveis, mostrar a ele que não estava sozinho, que eu não iria a
lugar algum.
— Eu estou aqui, amore mio. Eu estou aqui — sussurrei em seu
ouvido, alisando sua pele com meu nariz.
Senti seu peito se encher com uma respiração longa e pesada.
— Eu estou aqui! — tornei a repetir.
— Me faça esquecer. Po-por favor, me… me faça esquecer do…
pesadelo.
E eu faria.
Tudo o que ele me pedisse eu faria.
Fechei os olhos e deixei meus instintos falarem por mim.
Em um instante, a única coisa que o faria esquecer as cenas que
acabou de viver no pesadelo, surgiu.
— Você não está sozinho! — falei, depositando um beijo em sua
nuca.
E então, comecei a cantar a música que Henrique tinha tatuado no
peito.
A letra que eu ainda não sabia o porquê era tão especial para ele,
mas a cada verso que eu entoava, torcia para que ela pudesse fazê-lo
esquecer.

““Because they say home is where your heart is set in stone.


(Porque eles dizem que lar é onde seu coração está gravado em
pedra)

It's where you go when you're alone.


(É onde você vai quando está sozinho)

It's where you go to rest your bones.


(É onde você vai para descansar seus ossos)

It's not just where you lay your head.


(Não é apenas onde você deita sua cabeça)

It's not just where you make your bed.


(Não é apenas onde você arruma sua cama.)

As long as we're together, does it matter where we go? Home.


(Contanto que estejamos juntos, importa pra onde vamos? Lar.)”

Depois que cantei para Henrique, não demorou muito para que ele
pegasse no sono, dormindo tranquilamente pelo restante da noite. Eu por
outro lado não consegui pregar os olhos. Estava em completo estado de
alerta a cada respiração sua, com um puta medo dele ter outro pesadelo.
Minha mente trabalhou por horas tentando procurar a razão para o
que havia acontecido e quando ele virou de bruços, as cicatrizes em suas
costas pareciam as respostas que eu estava procurando.
Minha intuição disse isso. Não!
Ela gritou bem na minha cara que Henrique escondia algo, algo
triste, feio e doloroso.
Teria ele sofrido maus tratos… infantis?
A pergunta me fez buscar na minha memória qualquer pista de algo
que meus irmãos tenham falado sobre a família de Henrique.
Lembrei que comentaram que os pais do amigo moravam em outro
estado desde quando ele tinha sete anos e que a partir dessa idade, passou a
ficar sob os cuidados dos tios, os pais de Stella, que sempre o trataram não
como um sobrinho, apenas mas como um filho.
Não tinha chegado aos meus ouvidos, relatos de maus tratos ou que
Henrique tivesse uma relação tóxica com os pais.
Ou meus irmãos estavam sendo reservados por um pedido do amigo
que era orgulhoso demais, ou eles realmente não sabiam de nada.
Eu tinha muitas perguntas, poucas respostas, mas apenas a certeza
de que descobriria o que Henrique Prado escondia.
Assim que terminei de montar a mesa com um vasto e rico café da
manhã, caminhei até o quarto de Henrique, vendo-o se sentar com as costas
apoiadas na cabeceira.
— Bom dia — disse timidamente com a voz rouca gostosa enquanto
esfregava os olhos.
O encarei por um momento, admirando seu corpo nu, antes de
caminhar até ele.
Adorei saber que Henrique odeia dormir com roupas.
— Bonugiorno, caro mio — falei quando já estava próxima, me
sentando em seu colo com as duas pernas uma em cada lado do seu quadril
e sorri quando ele apertou minhas coxas assim que seu pau encostou em
minha boceta descoberta. Eu estava usando apenas uma camisa social sua.
— Você fica linda com minha roupa — comentou, seus olhos azuis
ainda estavam um pouco vermelhos pelo choro.
— Eu fico linda até com um saco de batatas — brinquei e meu
coração se expandiu com o som da sua risada, ainda que baixa.
— Tenho certeza de que sim.
Segurei seu rosto entre as mãos e trilhei beijos em sua pele. Meus
lábios tocaram seu queixo, sua barba me provocaram arrepios, até nossas
bocas se chocarem em um selinho demorado.
— Como você está? — perguntei com cautela, sustentando seu olhar
que parecia querer fugir do meu.
— Eu estou bem. Esqueça o que você viu e… ouviu.
— Você lembra?
— Não de tudo, porém o suficiente para não querer conversar a
respeito.
— Eu fiquei com medo — sussurrei, minhas mãos descendo até sua
garganta. Senti a veia ali pulsar contra meu polegar.
— Desculpa.
Franzi o cenho
— Porque está se desculpando?
— Porque eu te assustei.
Seus braços envolveram minha cintura, me puxando para um abraço
em que ele aproveitou para esconder o rosto entre meus seios.
— Eu amo seus seios — murmurou. — E amo o fato de eles terem
piercings. Acho que são meu ponto fraco.
— Henrique? — o chamei, mas ele não me olhou. — Henrique, olhe
para mim — pedi levando minhas mãos até sua nuca, acariciando seus
cabelos.
Ele então levantou o olhar até o meu, apoiando o queixo entre os
meus seios.
— Você me assustou, mas não do jeito que pensa a ponto de me
fazer querer ir embora.
— Obrigado por ficar.
— Obrigada por me deixar ficar, Sr. Prado. — Pisquei um olho para
ele. — Então, vai me contar o que sonhou?
Ele suspirou pesadamente.
— Você não vai esquecer a noite de ontem, não é?
— Não!
— Nem tão pouco deixar de investigar o que me deixou daquele
jeito, ainda que eu peça para não fazer isso, né?
— Nos conhecemos há tempo suficiente para você saber que minha
curiosidade não cessa até ter respostas. — Senti seu corpo ficar tenso
debaixo do meu, e decidi que aquele não era o momento certo para insistir
no assunto. — Mas agora, eu vou cuidar de você.
— Não precisa se preocupar. Eu estou bem.
— Eu sempre faço o que eu quero, bobinho. — Toquei a ponta do
seu nariz com o indicador, o que fez Henrique rolar os olhos. Ele pareceu
mais leve. — Vamos tomar café. — Bati as mãos saindo do seu colo. —
Mas antes, tome um banho e depois de comermos, vamos assistir alguns
filmes. Te espero na cozinha, caro mio — anunciei, caminhando para fora
do quarto sem olhar para trás, rebolando propositalmente.
— Quando vou poder comer esse rabo? — gritou quando eu já
estava do lado de fora do cômodo. Não respondi, apenas continuei andando
com um sorriso nos lábios.
Ao chegar na cozinha, me servi com um pouco de café e belisquei
alguns pedacinhos de queijo que havia deixado espalhados em cima de uma
bandeija.
Quando estava despejando um pouco mais do líquido gostoso e
quente na xícara, Henrique apareceu em meu campo de visão e foi
impossível não babar em sua figura. Ele estava usando apenas uma cueca
box azul marinho e seu cabelo estava molhado, deixando-o, mesmo que
cansado, sexy pra caralho.
— Adoro o fato de você gostar de usar pouca roupa em casa —
comentei.
— Aparentemente, você possui o mesmo gosto — disse risonho.
— Fato! — Dei de ombros. — Sente-se! — Apontei para a cadeira à
minha frente e assim ele o fez. — Espero que goste — falei, pegando um
prato e uma xícara, servindo-o com algumas fatias de pão caseiro, queijo,
azeite e um pouco de café preto sem açúcar, que notei ser o jeito que ele
prefere na última vez que tomamos café da manhã juntos.
— Tudo o que você faz é perfeito — confessou e algo se agitou em
meu estômago. De novo.
Mas que porra?
Ignorei a sensação quando notei suas bochechas ficarem vermelhas e
pela primeira vez eu… corei, porque estava com… vergonha?
Per Dio! O que está acontecendo comigo?
Aparentemente, ele não percebeu.
— Coma! — foi a única coisa que consegui dizer e ele logo começou
a devorar seu café da manhã.
Eu sempre gostei de observar as pessoas comendo a minha comida e
ver como elas reagiam a cada sabor, gosto e textura, todavia, tinha algo em
observar Henrique comer que me deixava hipnotizada a cada movimento
seu.
A cada colherada, seu rosto parecia se iluminar e me mostrava o
quanto ele estava apreciando ser cuidado por mim.
E eu?
Bem, eu estava gostando de cuidar dele, mais do que o aceitável para
o tipo de relação que tínhamos, embora eu não soubesse bem qual era.
Ainda.
CAPÍTULO 39
Beatrice
— Obrigada! — disse assim que a simpática vendedora da Victoria
Secret me entregou três sacolas cheias de lingeries nos mais variados tons
de azul.
Era sexta-feira e eu estava decidida a fazer uma surpresa para
Henrique, usando-as.
Desde a noite em que presenciei seu pesadelo, há duas semanas, não
conseguimos encaixar nossos horários para passarmos um tempo de
qualidade juntos. E quando eu digo de qualidade, me referia a uma noite
trepando enlouquecidamente como dois coelhos.
Houveram algumas rapidinhas durante esses quatorze dias, ora no
meu apartamento, ora no dele, mas a minha tarada interior desejava ter um
sexo como o primeiro que tivemos.
Sem pressa.
Sem ter que dormir cedo por conta dos compromissos do dia
seguinte logo pela manhã.
Sem preocupações do trabalho e a típica correria que nossas
carreiras demandavam.
Eu queria uma noite inteira com ele entrando e saindo de mim, a
ponto de me sentir assada e satisfeita.
Soltei uma risada ao sair da loja com o pensamento e não notei que
uma pessoa vinha em minha direção a tempo de evitar o baque.
— Santo Dio! — exclamei pelo susto do esbarrão, deixando as
sacolas caírem. — Me desculpe! — disse, levantando o rosto para ver a
pessoa que havia se chocado comigo.
Era uma mulher. Uma mulher muito bonita. Os cabelos loiros em
um corte Chanel deixava o contorno do seu rosto bem marcado, ainda mais
acentuado. Os olhos eram uma mistura de verde com azul raro.
— Tudo bem. Não se preocupe — falou, alisando sua roupa e me
ajudando a pegar minhas coisas do chão.
Só quando agradeci por ter me entregado as sacolas, foi que seu
olhar se encontrou com o meu pela primeira vez. Um brilho de
reconhecimento passou por ali e seus lábios, pintados de vermelho, me
ofereceram um sorriso que me pareceu forçadamente simpático.
— Nos conhecemos? — indaguei, tentando me lembrar se a
conhecia e de onde seria.
— Acredito que não, querida, mas eu sei quem você é. Acho que
todo mundo sabe. Herdeira Fontana, certo?
Sorri.
— Sim. Beatrice Fontana.
— Adorei as novas receitas que você adicionou no menu. Ficaram
esplêndidas. Sou frequentadora assídua do restaurante da sua família.
— Fico feliz que tenha gostado e em nome da minha família,
agradecemos a preferência. Como um pedido de desculpas pelo esbarrão,
por favor aceitei um jantar por minha conta no La Fontana — ofereci,
tirando da bolsa, um cartão exclusivo com meu nome que uso apenas em
ocasiões específicas.
— Realmente não precisa se preocupar.
— Eu insisto. — Estendi o cartão a ela, que ponderou por dois
segundos, mas logo o pegou.
— Obrigada!
— Não por isso…
— Verônica. Eu me chamo Verônica.
Seria loucura demais achar, que entre milhões de pessoas pela
cidade, eu esbarrei justamente na ex-namorada do homem que estou
trepando?
Com certeza seria. Seria coincidência demais.
— Prazer, Verônica.
— O prazer foi meu — sorriu, me analisando da cabeça aos pés de
um jeito não tão sutil quanto a etiqueta permite.
Ajeitei minha postura e organizei as sacolas em meus braços,
ignorando seu olhar avaliativo sobre mim que me deixou irritantemente
incomodada e ainda mais curiosa sobre o fato de ela ser ou não a ex de
Henrique.
Odeio rivalidade feminina e acredito que pau nenhum no mundo,
por mais grosso, grande e gostoso que seja, merece que duas mulheres
duelem por ele. Prato disputado demais, a gente deixa para quem está
passando fome.
— Bem, preciso ir — anunciei. — Novamente, sinto muito e espero
que aproveite o jantar. Se quiser levar alguém, fique à vontade. — Toquei
em seu ombro e lhe ofereci um sorriso gentil.
— Com certeza, eu levarei alguém, Beatrice — falou. A forma
como meu nome saiu da sua boca soou como uma ameaça e
definitivamente, eu detestei o quanto o som me irritou, me irritou pra
caralho.
Sustentei o sorriso, não tão gentil, então assenti e passei por ela,
caminhando sem olhar para trás, mas senti seu olhar sobre mim a cada
passo que eu dava, me afastando do seu campo de visão.
Muitas perguntas se formaram na minha mente e uma delas me fez
sentir algo que eu, até então, nunca havia sentido por homem algum.
Ciúmes. Eu estava com ciúmes só de imaginar que a loira poderia
ser a ex de Henrique, e pela forma como ela me olhou e tratou no final de
nossa interação, era como se soubesse do meu envolvimento com ele.
Se isso for verdade, eles ainda mantinham contato.
Eles ainda se… encontravam.
Balancei a cabeça assim que entrei no elevador e apertei o botão que
indicava o andar da garagem, decidida a não dar trela para essas neuras.
CAPÍTULO 40
Beatrice
Uma hora e meia, um banho relaxante de banheira, uma fatia de
pizza e uma taça de vinho depois, entrei no quarto e parei em frente à cama,
observando as várias opções de lingerie que havia deixado espalhadas sobre
o colchão logo que cheguei em casa, pensando em qual delas iria usar para
levar meu vizinho à loucura essa noite.
Assim que cheguei, mandei uma mensagem para Henrique avisando
que eu gostaria de vê-lo, seguido de uma carinha de diaba. Tão rápido
quanto, recebi sua resposta em forma de áudio com ele falando tudo o que
pretendia fazer comigo. Soltei uma risada quando no final, meu vizinho
xingou o aplicativo de mensagem pelo áudio não ter sido enviado assim que
ele terminou de recitar as safadezas. Ele e as redes sociais não eram mesmo
compatíveis.
Estava prestes a tirar o roupão de banho azul que envolvia o meu
corpo quando o som de porta se fechando com força soou, fazendo minhas
mãos pararem na metade do caminho.
Olhei na direção da sacada e por instinto, caminhei até ela, sentindo
meu corpo entrar em estado de alerta. Estou me aproximando do vidro que
estava aberto, coberto apenas pela cortina branca, quando um dos piores
sons que já ouvi na vida, chegou aos meus ouvidos. O som do choro de
Henrique.
Afastei as cortinas com pressa e meu coração se apertou ao vê-lo. Ele
estava de costas para mim, suas mãos apoiadas no parapeito e seus ombros
tremiam a cada soluço que saía de sua garganta.
Desespero me tomou e o pensamento de que ele poderia estar vivendo
algo parecido com a noite em que presenciei seu pesadelo, surgiu.
Então, afastei as cortinas e o mais rápido que consegui, corri em sua
direção. Quando me aproximei do parapeito que separava as nossas
varandas, pulei a superfície, sem me importar com nada.
Ele só percebeu que eu estava ao seu lado quando toquei seu ombro.
Henrique se sobressaltou e virou o rosto abruptamente para mim. O que vi
em seus olhos me provocou um misto de sentimentos, dentre eles raiva,
muita raiva.
— Quem fez isso com você? — questionei, segurando seu rosto
vermelho entre as minhas mãos e lágrimas molharam meus polegares.
— Bea… — balbuciou.
— Me diz quem fez isso com você e eu acabo com o filho da puta
agora! Me diz, Henrique. Me diz quem te deixou assim. Eu quero saber o
nome do cretino que vou ter que acabar.
— Volta para sua casa.
— Não vou te deixar aqui assim, nesse estado.
— Sai daqui, por favor.
— Henrique… — Toquei meus lábios nos seus no mesmo instante em
que ele fechou os olhos, fazendo mais lágrimas descerem pela sua pele.
— Bea… por… por favor — sussurrou, mas seus braços logo
envolveram minha cintura, me puxando para mais perto do seu corpo, que
tremia sutilmente conforme ele chorava baixinho.
— Me diz quem fez isso com você, amore mio.
— Quem é a vagabunda? — uma voz masculina soou atrás de mim.
Henrique se afastou e me puxou para atrás dele, como se quisesse me
proteger de quem quer que fosse.
— Não fale dela assim! — sua voz tremeu ao pronunciar cada palavra
e só então, eu pude olhar quem estava diante de nós.
Um homem e uma mulher.
Ele possui cabelo liso em um loiro médio, ombros largos e maxilar
quadrado.
Já ela, parecia uma versão feminina e mais velha de Henrique, porém
com cabelos grisalhos.
Ambos estavam muito bem vestidos e pelas semelhanças, compreendi
que eram seus pais. E a julgar pelas expressões fechadas que seus rostos
carregavam, eles eram o motivo das lágrimas do meu vizinho.
— Vai brigar conosco, os seus pais, por causa de uma qualquer, meu
filho? — a mulher falou com uma expressão fingida na cara.
— Eu não estou… brigando — declarou pausadamente e o jeito como
ele parecia se controlar, me deixou… assustada. — Mas não fale assim dela.
— Está nos dando ordens? Somos seus pais, moleque! — o homem
bradou.
— Vamos nos acalmar — a senhora pediu. — Viemos ver nosso
menino e não brigar.
— Ver nosso menino para vocês significa pegar mais dinheiro meu
— murmurou.
— Somos seus pais. É sua obrigação nos ajudar enquanto filho.
— Vocês nunca me deram amor de pais — Henrique falou e pelo seu
tom, percebi que outra onda de lágrimas estava prestes a chegar. Toquei em
seus ombros e ele estremeceu, como se tivesse esquecido que eu ainda
estava ali.
Dei alguns passos para o lado, apenas o suficiente para poder olhar
seu rosto melhor.
Ele parecia um filhote acanhado, apavorado e com medo.
Ele não parecia o Henrique que eu estava acostumada.
Ele estava frágil, mais do que na noite em que teve o pesadelo.
— Que porra de amor? Toda vez a mesma ladainha — seu pai e suas
palavras me causaram uma repulsa tão grande, que precisei puxar o ar para
não vomitar. — Você não servia para nada antes, só enchia a porra do nosso
saco quando era criança e agora só serve para nos dar dinheiro. Então, nos
poupe desse seu discurso de filho carente de merda e faça logo o nosso
cheque.
Meu corpo ferveu de ódio.
Eu evitava brigas porque me conhecia, me conhecia muito bem, sabia
o quanto podia ser explosiva e grosseira, mas vendo o homem que admirava
tanto quanto ao meus irmãos, visivelmente mal com o que esses dois
falaram, minha paciência foi para a puta que pariu.
Dei alguns passos até que estivesse na frente de Henrique, como uma
forma de protegê-lo e cuspi as palavras cheias de ódio.
— Se vocês estavam acostumados a falar com ele dessa forma, quero
que saibam que agora o caralho da situação é completamente diferente. Ele
tem a mim e jamais vou deixar que pessoas imundas e egoístas como vocês
que batem no peito para dizer que são pais, mas que não agem como tal, o
tratem dessa forma, ainda mais na minha frente. — Puxei o ar, buscando o
fôlego e não parei. — Seja lá o que vocês quiserem, ele não vai dar.
Henrique não é um banco que vocês podem vir e retirar dinheiro na hora
que bem entenderem. Ele é uma pessoa que tem sentimentos e é o homem
mais incrível que eu já conheci. Então, se vocês quiserem ficar, que seja
para aproveitar a companhia do filho de vocês. Se não, a porta está aberta.
— Quem você pensa que é... — o homem tentou falar, mas o
interrompi.
— Quem eu penso que sou, senhor? Sou uma Fontana. Sou Beatrice
Fontana e aprendi com meus pais, que realmente merecem o título, a tratar
as pessoas como pessoas e não como objetos, como vocês tratam o filho de
vocês.
— Você é herdeira dos… dos Fontana? — a mulher perguntou com os
olhos arregalados, visivelmente surpresa. — Você conhece essa gente,
Henrique? — indagou incrédula.
— Cazzo! Vocês realmente não sabem nada da vida do filho de vocês
— exclamei, exasperada. — Vocês não merecem o filho que tem.
Definitivamente, não o merecem.
— Você vai deixá-la falar assim com a gente? — o homem perguntou.
Virei meu rosto e encontrei um Henrique com os olhos azuis
vermelhos e refletindo pavor. Suas mãos apertavam a calça de moletom
preta e seu olhar estava em seus pés. Seus lábios tremiam e parecia que ele
tinha sido congelado.
Ele parecia um garotinho com medo.
Ele parecia um garotinho que foi negligenciado pelos próprios pais.
E foi nesse momento, que eu compreendi tudo.
Henrique foi uma criança que sofreu maus-tratos.
Uma criança que não foi amada, cuidada e protegida.
Uma criança que foi cruelmente machucada a julgar pelas cicatrizes
que vi em suas costas.
Meu corpo, que antes fervia, agora borbulhava.
Cada célula do meu organismo tremia e eu sentia meus olhos
queimarem.
Ódio. Eu estava sentindo o mais cru e puro ódio.
O tipo de ódio que a gente sente ao saber de casos como o de
Henrique.
O tipo de ódio que cega a gente.
O tipo de ódio que te faz ser uma criminosa, sem se importar com as
consequências.
Eu estava com ódio e mataria para defendê-lo!
Eu.
Mataria!
— Saiam daqui — gritei, dando alguns passos na direção do homem
que arregalou os olhos ao ser confrontado.
— Sua filha da…
— Saiam daqui, agora!
— E se não sairmos…
— Se não saírem, eu vou chamar a polícia! — Me aproximei e vi seus
olhos tremerem com a menção da força policial.
— Antônio — a voz da mulher fraquejou ao chamar pelo marido. —
A polícia, Antônio.
O homem semicerrou os olhos para mim, com o maxilar travado ao
apontar um dedo na minha cara.
— Isso não vai ficar assim, sua fedelha!
Ergui o queixo e estufei o peito ao falar de forma firme.
— Não ouse me ameaçar, seu… seu… monte de lixo! Você não sabe
com quem está falando e se algum de vocês dois ousarem se aproximar de
Henrique — Toquei em meu peito. — Eu acabo com vocês com as minhas
próprias mãos!
— Sua… sua… — Sua postura mudou e por um segundo, pensei que
ele fosse me bater.
— Eu não tenho medo de vocês! — declarei. — Agora, saiam daqui!
Saiam daqui e da vida de Henrique!
— A polícia, Antônio. Vamos embora ou ela vai chamar a polícia — a
mulher disse com uma expressão de medo, segurando nos braços do
marido.
Ele me lançou um olhar ameaçador que não fez nem cosquinha.
Permaneci com minha postura e devolvi a encarada, sem abaixar a
cabeça.
Está para nascer o homem que vai me assustar!
— Antônio? — o chamou novamente e ele pareceu perceber que eu
estava realmente falando sério.
Seus ombros cederam e uma lufada de ar foi puxada, quando ele se
afastou ainda me encarando.
— Saiam! — gritei, apontando na direção da porta. — Agora!
E então, eles se afastaram. Eu os segui até a porta, batendo-a com
força assim que eles passaram por ela.
Tomei fôlego por um momento, encostando minha testa na madeira.
Meu coração batia descompassadamente no peito e minha cabeça doía
pelo estresse.
Eu estava me sentindo esgotada pela enxurrada de pensamentos e
sentimentos que invadiram meu corpo há pouco. Mas nada disso importava,
apenas ele. Apenas Henrique importava.
E então, corri até o quarto. Quando parei na entrada, vi que ele ainda
permanecia na mesma posição.
— Henrique — o chamei, porém ele não moveu um músculo sequer.
— Henrique — tentei novamente, me aproximando dele com cautela.
Quando eu estava no meio do cômodo, seu olhar subiu até o meu e eu senti
um baque ao ver a tristeza refletida nos olhos que eu tanto amava
contemplar, me observando. — Henrique — falei seu nome com pesar e fui
surpreendida quando ele começou a caminhar na minha direção. Imitei o
movimento das suas pernas e nossos corpos se chocaram em um abraço.
Envolvi meus braços em sua nuca e ele em minha cintura,
descansando sua cabeça em meu ombro. Sou novamente acometida pela
surpresa quando ele se abaixou e segurou minhas pernas por trás dos
joelhos, me pegando no colo.
Beijei carinhosamente seus lábios à medida que ele nos levava até a
cama.
Henrique me deitou cuidadosamente sobre o colchão macio e me
puxou, me abraçando por trás. O senti encostar sua cabeça em minhas
costas e no mesmo momento, começou a chorar.
— Amore... — falei, me virando e ficando de frente para ele. — Eu
estou aqui. — Segurei seu rosto em minhas mãos, fazendo-o me olhar nos
olhos.
— Eu pensei que... que depois de anos, eles não... não poderiam me
fazer sofrer. Mas acho... que ainda sou um... um fraco — disse entre
soluços. — Eu sou um fraco… um péssimo filho.
— Você não é fraco, Henrique. Não há problema em chorar quando
algo nos faz sofrer. — Sequei as lágrimas que escorriam pelas suas
bochechas com meus dedos. — Não fique com vergonha de mim. Se quiser
chorar, chore. Eu estou aqui e não vou sair do seu lado — garanti.
Seus lábios se formaram em um bico e ele me analisou por um
momento, antes de me abraçar forte. Seu rosto encostou em meu colo e ele
fez o que eu disse para fazer. Chorou copiosamente.
Chorou sem medo, sem pudor.
Simplesmente… chorou.
Como se desejasse que a sua dor saísse por entre as lágrimas.
E eu esperei, pacientemente, o esperei soltar tudo o que ele precisava.
Hora ou outra, passando minhas mãos por seu cabelo, costas, sentindo
seu corpo tremer à medida que seu choro se intensificava.
Eu simplesmente fiquei ali. Por ele.
Não sei quanto tempo se passou até Henrique se acalmar, seus soluços
foram substituiídos pela sua voz trêmula conforme falava, sem diminuir o
aperto do seu abraço em mim.
— Quando minha mãe engravidou, ela só tinha... Ela só tinha dezoito
anos. Meus pais tentaram me abortar porque obviamente não queriam um
bebê atrapalhando suas vidas. Só desistiram quando minha mãe foi parar no
hospital por ter tomado um remédio que era alérgica, na tentativa de
interromper a gestação. — Fez uma pausa como se buscasse forças para
continuar. — Por algum milagre, eu nasci bem e saudável. Desde então, eu
passava mais tempo sozinho do que com os meus próprios pais. Quando eu
tinha cinco anos de idade, meu pai foi demitido e passou a beber mais do
que costumava e foi então que… que as agressões começaram.
— Henrique…
— Eu não me lembro de todas as vezes, mas me lembro da última
vez. Eu tinha sete anos e estava sozinho em casa sem comer por dois dias.
— Per Dio… — murmurei, chocada com sua confissão.
— E então, quando chegaram, meu pai estava com os olhos
vermelhos como se tivesse bebido por horas. Toda a sua raiva foi
descontada em mim. Em minhas… em minhas….
— Costas — completei, acariciando o local.
Ele levantou o olhar até o meu.
— Isso. — Engoliu em seco. — A maior cicatriz foi feita nesse dia.
No dia que eu não aguentei mais e… desmaiei de tanto… apanhar.
Coloquei minha testa na sua, engolindo uma dor que me causou
enjoo.
— Eu sinto muito — sussurrei.
— Algum vizinho decidiu ligar para a polícia e… meus tios
souberam. Eles moravam em outra cidade e logo foram me ver. Foi um
completo choque quando eles me encontraram no hospital, principalmente
para o meu tio, ao descobrir que o irmão havia feito o que fez com seu
próprio filho. Logo depois meus pais foram presos e quando recebi alta do
hospital, minha guarda ficou com os pais de Stella. Até eu me formar na
faculdade, não recebi notícias deles. Pensei que eles nunca mais voltariam e
na mesma época em que Matteo e eu começamos a montar o escritório,
meus pais entraram em contato.
— Querendo dinheiro.
Henrique acenou em afirmação.
— Eles estavam em outro estado e… eu não consegui negar. Não
consegui negar e desde então, venho enviando uma quantia em dinheiro
para eles. Stella… Stella é a única que sabe e, definitivamente, não
concorda com minha decisão de ajudá-los. Mas… mas… — sua voz
embargou e algumas lágrimas escorreram por suas bochechas. — Mas é
tão… tão di-difícil. Eu sinto tanta… tan-tanta raiva de mim.
Franzi o cenho.
— De você?
— Sim. Meu pai sentia raiva e descontava em mim. Eu sinto raiva e
desconto em mim, como um gás tóxico. Não ouso maltratar alguém, porque
sei como é ser maltratado e não quero que as pessoas me julguem pelo meu
passado. Eu sofri, mas não deixei isso determinar quem eu sou agora. Eu
venci a dor, porém o preço foi alto. — Senti seu coração acelerar quando as
palavras foram saltando de sua boca tão depressa que ele pareceu não
respirar. — O preço foi ser envenenado pela raiva. Eu sinto raiva todos os
dias, Beatrice. Raiva de mim por querer ter tido um lar. Raiva da minha mãe
por não ter me defendido quando eu era espancado e humilhado. Sinto raiva
do Universo por precisar ser defendido do homem que deveria ter sido meu
herói. E sinto raiva dele… muita raiva dele por ter se perdido quando as
dificuldades vieram. Elas foram maiores do que o amor que ele deveria
sentir por mim.
— Por isso você ficou daquele jeito na boate? — questionei com
cautela me lembrando daquela noite.
— Sim. Eu odiei a forma como você me olhou, porque me fez
lembrar da forma como eu olhava para ele.
— Eu não tenho medo de você — eclarei, beijando seus lábios.
— Você me defendeu.
— Defendi — sorri de lado e alisei suas bochechas quando perguntei:
— Porque eles vieram aqui?
Ele soltou um longo suspiro.
— Queriam mais dinheiro e… que eu lhes entregasse a casa.
— Qua casa? A que nós…
— Isso, essa mesma. Eles querem aquela casa por puro capricho.
— Como eles descobriram que você a tem?
— Acabei contando quando quiseram vir me visitar aqui no
apartamento. Eu… Eu a comprei porque… porque…
— Porque você a comprou, Henrique?
Ele suspirou.
— Eu a comprei para a minha criança interior. Ela gosta de sonhar
que terei um final feliz. — Ele torceu o nariz e eu soltei uma risada.
— O B2 é… romântico? — Alcei a sobrancelha e fiquei feliz por ele
ter sorrido. Seus ombros enfim relaxaram um pouco.
— Minha criança interior é. Ela quem acredita no amor.
Senti algo se agitar em meu estômago.
— Obrigada por compartilhar comigo sobre seu passado. — Beijei
seus lábios e a sensação aumentou em minha barriga. Que porra é essa?
Seus braços me apertaram ainda mais contra ele.
— Obrigado por ficar e… por me defender. Você é incrível, Bea.
— É, eu sei. — Dei de ombros e ele sorriu, trazendo sua boca para
perto da minha. — O que vai fazer? — perguntei, sentindo que o beijo que
estava prestes a acontecer, seria diferente de todos os outros que já
trocamos.
— Beijar você — sussurrou contra meus lábios. — Preciso beijar
você.
Engoli com dificuldade.
— Precisa?
— Me beija, Beatrice. Por favor, me beije.
Porque eu estava com as palmas das mãos suando?
Porque meu coração acelerou com o seu pedido?
Porque parecia que tinham borboletas fazendo uma festa em meu
estômago?
Porque eu estava com a sensação de que estava olhando feito uma
boba para o homem à minha frente?
— Henrique…
Foi a única coisa que consegui dizer antes dos seus lábios tomarem
os meus. O beijo começou lento e carinhoso, mas logo ficou quente e
devasso.
Sua mão deslizou pelas minhas costas e invadiu o roupão, apertando
minha bunda com força. Arfei, separando nossas bocas e ele aproveitou
para chupar meu lábio inferior.
— Amor… — O apelido escapou sem que eu conseguisse impedir,
parecendo tão certo. Me senti um pouco culpada por estar pensando em
safadezas depois de tudo o que ele me contou. — Você… você precisa
descansar — falei baixinho, fechando os olhos quando ele começou a trilhar
beijos pelo meu queixo, amando a sensação de sua barba raspando em
minha pele.
— Eu preciso estar dentro de você.
— Henrique, não fala assim. Se não… Se não eu não resisto — disse
manhosa.
— Não resista.
— Estou tentando ser madura e …. aah… — um gemido escapou da
minha garganta quando senti a ponta do seu indicador entrar em minha
bunda. — Henrique… — falei ofegante, sentindo-o enfiar o dedo
lentamente.
Enlacei sua cintura com a minha perna esquerda e empinei o quadril,
rebolando à medida que ele entrava e saia de mim em movimentos lentos.
— Me deixa meter na sua boceta, deixa, Bea? — pediu, mordendo
meu queixo.
— Amor…
— Me deixa encher a sua bocetinha gostosa de porra. Eu preciso
tanto entrar nela. Deixa, meu amor?
Foi a minha vez de implorar.
— Eu quero… Por favor, me come gostoso, Henrique.
Tirando o dedo de mim, ele se afastou e eu gemi em protesto,
fazendo-o sorrir.
— Vem — me chamou, já de pé ao lado da cama.
Atendi ao seu pedido e me levantei, parando em sua frente.
— Tire o roupão — ordenou.
Assenti, apertando minhas coxas em expectativa antes de começar a
tirar a peça, de forma sensual. Henrique fez o mesmo com as suas roupas,
começando pela camiseta branca. Não desviamos nossos olhares um do
corpo do outro à medida que cada peça foi tirada.
Quando meu olhar pegou o seu, algo mudou.
Algo dentro de mim gritou.
Algo que eu não sabia explicar o que era.
Meu corpo foi tomado por uma descarga de energias e sensações que
eu nunca havia sentido antes.
Era forte, voraz e parecia que eu estava prestes a explodir a qualquer
momento.
Quando já estávamos completamente nus, Henrique segurou minha
mão e me conduziu para a varanda. Ele me conhecia o suficiente para saber
que eu não me importaria em fazer sexo na área externa, muito pelo
contrário, isso só me deixava ainda mais excitada.
Soltei um gritinho quando ele me pegou nos braços e sem aviso, nos
jogou dentro da piscina. Quando submergimos, encontrei seu sorriso e seus
olhos brilharam ao me olharem.
— Seu louco — falei risonha, alisando meus cabelos molhados com
uma mão e com a outra, bati em seu ombro.
— É, talvez eu seja. — Se aproximou, me puxando pela cintura. —
Talvez eu seja louco por você — declarou, nos levando para os primeiros
degraus que há na piscina. — Você fica ainda mais linda sob a luz da lua —
continuou, diante do meu silêncio, à sua declaração anterior, beijando meu
pescoço. — Linda. — Meu queixo. — Linda. — E por fim, tomou minha
boca em um beijo possessivo.
Um beijo cheio de promessas e palavras não ditas.
Meu coração, que antes estava acelerado, parecia estar a ponto de
rasgar meu peito.
Agarrei seus braços, buscando por mais, como se eu precisasse dele
para respirar.
Ele interrompeu o beijo apenas para se sentar no degrau e me puxar
para montar em seu colo. Arfamos quando nossos sexos se tocaram.
Ainda sem conseguir dizer uma só palavra, passei meus dedos pelo
seu rosto vermelho pelo choro, depositando beijos em suas bochechas que
possuíam alguns pingos de água.
Henrique me abraçou pela cintura e disse, sua voz era suave e baixa:
— Você é perfeita, Bea.
Olhei em seus olhos e estremeci com todos os sentimentos que vi ali.
O que estava acontecendo entre nós?
O que estava acontecendo comigo?
— Seja minha esta noite? — pediu e eu me vi balançando a cabeça e
assaltando sua boca.
Nossas línguas se encontraram e um arrepio passou pela minha
coluna quando ele me apertou mais ao seu corpo, espremendo meus seios
junto ao seu peito.
Henrique lambeu e chupou da forma que só ele sabia fazer para me
deixar louca com apenas um beijo. Necessitada, comecei a rebolar em seu
pau e antes que eu pudesse impedir ou raciocinar com clareza, me vi
suplicando.
— Me faça sua hoje. Per favore.
Ele então levantou meu quadril, apenas o suficiente para segurar meu
pau, o posicionando-o em minha entrada e lentamente eu desci, soltando
vários gemidos que se misturaram com os seus.
— Deliciosa. — Murmurou quando já estava todo enterrado em mim.
— Gostoso. — Disse apoiando minhas mãos em seus ombros,
subindo e descendo, sentindo todo o seu comprimento sair e entrar em meu
canal.
— Hum… A boceta da minha putinha está tão… aaah… tão
meladinha.
— Ai, Henrique… — gemi quando aumentei o ritmo e ele me seguiu,
impulsionando seu quadril contra o meu.
Tudo à nossa volta pareceu sumir.
Nada mais importava.
Apenas nós dois.
Esse momento.
E a cada segundo que passava, meu coração trazia as respostas que
minha mente havia formulado momentos atrás.
Algo que antes eu não conseguia compreender, mas olhando em seus
olhos, enquanto fodíamos, percebi o que estava bem diante de mim.
Eu estava completamente apaixonada por Henrique.
— Bea... — ele gemeu alto me pressionando para baixo, fazendo meu
clitóris roçar em sua virilha e sua mão direita se fechou em torno do meu
pescoço com posse.
— Henrique, eu... eu... eu t... — fui interrompida por uma enorme
onda de prazer que me atingiu. Forte e selvagem, fazendo nós dois
estremecermos juntos de forma violenta.
Uma lâmpada se acendeu em minha mente, me fazendo entender que
eu não acabei de fazer sexo com Henrique. Na verdade, essa foi a primeira
vez que fiz amor com o homem que eu amava.
Eu o amava.
Cazzo, eu realmente amava Henrique Prado.
CAPÍTULO 41
Henrique
Me mexi no sofá, me sentindo completamente desconfortável.
A mulher à minha frente continuou a me analisar sob as lentes dos
óculos quadrados.
Sua postura não mudou desde que entrei em seu consultório, há
exatos cinco minutos e contando.
— Está nervoso, Henrique? — a mulher de cabelos cacheados e pele
negra perguntou.
— Não! — respondi rápido demais, esfregando as mãos.
Ela sorriu compreensiva, provavelmente acostumada com reações
iguais às minhas.
Depois do episódio com meus pais, Beatrice insistiu para que eu
começasse a fazer terapia e mesmo tentando fugir da diaba, quando ela tirou
a blusa e sentou em meu colo enquanto eu estava assistindo a um jogo de
futebol no último final de semana, esfregando seus peitos fartos e naturais
na minha cara, eu cedi.
Ah, caralho! Como eu cedi. Cedi com a porra de um sorriso no rosto.
Ok. Talvez eu tenha gritado que iria começar a terapia na semana
seguinte.
Argh! Aqueles malditos piercings seriam a minha ruína, a minha
criptonita.
Como negar? Como negar um pedido dela, enquanto ela empurrava
um seio contra a minha boca e roçava a boceta coberta apenas por uma
calcinha azul presa a uma cinta-liga? Como se depois de segundos de
tortura ela ainda usou as palavras mágicas em italiano? “Per favore.”
Não tinha como negar. Por isso, estava aqui, em plena quarta-feira,
sentado na porra de um sofá com formato esquisito enquanto uma mulher
baixinha com olhos grandes analisava cada mínimo movimento meu.
Eu sabia que fazer terapia era essencial para alguém que passou pelo
que eu passei, mas nunca fiz porque meus tios infelizmente não tinham
condição de pagar pelas sessões que a assistente social recomendou na
época, quando a minha guarda foi dada a eles e para conseguir atendimento
na área pelo governo, era ainda mais difícil.
Leila e Maurício fizeram o máximo, diante das suas limitações
financeiras e emocionais, para me criarem. E foi com eles e Stella, que eu
descobri o que é ser amado.
— É perfeitamente normal se sentir nervoso na sua primeira sessão de
terapia. Estranho seria se não ficasse, mas preciso que entenda que para que
eu possa ajudá-lo, você precisa falar comigo. Quanto mais falamos sobre o
que nos incomoda, mais passamos a ter consciência dos fatos e das suas
consequências em nós. É exatamente isso que vamos trabalhar aqui — falou
em um tom suave.
Engoli em seco.
— Entendi.
— Vamos começar com o simples. Tudo bem?
— Tudo bem.
— Primeiro, me diga, porque decidiu fazer terapia?
Tomei fôlego e decidi ser sincero.
— Eu não queria fazer terapia, mas minha… amiga me convenceu de
que seria uma boa ideia.
— Como se chama a sua amiga, Henrique? — perguntou depois de
fazer algumas anotações no caderno que segurava.
— Beatrice.
— Ok. E porque Beatrice acredita que, fazer terapia, é uma boa ideia
para você?
Puxei novamente o ar e o soltei procurando me manter calmo.
— Porque a minha relação com meus pais não é saudável.
— Entendi. E o que seria uma relação saudável entre pais e filhos
para você?
Pensei por um momento e logo a família Fontana surgiu na minha
mente.
— Minha… amiga possui uma família saudável. Seus pais e irmãos
conversam, se respeitam apesar das claras diferenças que possuem. Eles
apoiam as decisões que o outro toma sem humilhá-lo ou desejá-lo o pior.
Eles se aceitam do jeito que são e é nítido a forma como eles se amam.
— E você nunca possuiu esse tipo de relação?
— Não — falei simplesmente, sentindo meus ombros tensionarem.
— Qual foi o tipo de relação que você teve com os seus pais,
Henrique? — questionou, olhando em meus olhos.
Demorei o que pareceu uma eternidade para responder a sua pergunta
e pacientemente, ela esperou.
— Meu pai… me espancou até os sete anos.
— Quem mais sabe disso?
— Beatrice, meus tios que me criaram desde então e a filha deles,
Stella.
— Você consegue me contar o que aconteceu quando tinha sete anos,
Henrique? — indagou com cautela. — Se não conseguir, está tudo bem. Só
quero mostrar para você os seus próprios limites e te fazer entender como
superá-los para que possa se autoconhecer e assim poder viver bem. Você
entende isso, Henrique?
Acenei com a cabeça, apoiando meus cotovelos nos joelhos.
— Entendo.
— Ok. Então, o que aconteceu quando você tinha sete anos de idade?
Fechei os olhos e as cenas logo apareceram em um looping.
— Meus pais tinham me deixado sozinho em… em casa por dois dias
sem comida e quando chegaram, percebi que meu pai havia bebido.
Parei precisando tomar fôlego.
— Seu pai sempre consumiu bebida alcoólica?
Abri os olhos e encontrei o rosto sereno da psicóloga com um leve
sorriso em seus lábios cheios. Me senti um pouco menos… tenso.
— Sim, mas o consumo aumentou quando ele foi demitido. Ele
passou a ficar mais irritado, principalmente comigo. Qualquer coisa que eu
fizesse, o deixava furioso.
— E nesse dia, ele chegou sob efeito de álcool depois de passar mais
de dois dias fora com a sua mãe e bateu em você. Foi isso o que aconteceu,
Henrique?
— Si-sim. — Engoli com dificuldade, sentindo meus olhos arderem.
— Nesse dia ele me bateu tanto que eu acabei desmaiando e foi assim que
meus tios souberam o que acontecia comigo. Meus pais foram presos e não
tive notícias deles até alguns anos atrás. E desde então, eu… eu os ajudo
financeiramente.
— Entendi. — Ela fez algumas anotações e logo seu olhar voltou para
mim. — Precisa de um pouco de água? — ofereceu gentilmente.
— Não. Obrigado.
— Podemos continuar?
— Sim. Podemos.
— Tudo bem se precisar parar por um momento. Vamos no seu ritmo
— anuí e ela me analisou por dois segundos antes de voltar a falar. — E a
sua mãe? Como ela reagia ao que seu pai fazia com você?
— Minha mãe sempre amou meu pai e ainda que houvessem vezes,
mesmo que raras em que eu notava que não aprovava o que ele fazia
comigo, ela nunca me defendeu ou o confrontou. Ela parecia ter medo de
tomar qualquer atitude contrária e acabar perdendo-o.
— E como você se sente em relação aos seus pais depois de tudo
isso?
Mordi os lábios e apertei os olhos, sentindo algumas lágrimas
escorrerem pelo rosto.
— Consegue definir em uma palavra, Henrique? Um sentimento?
— Minha mãe tinha as razões dela e… ela o amava. Eu sei que ela
amava e ama meu pai. Ela só queria ser uma boa esposa e por vezes não
sabia como fazer isso. Meu pai nunca foi um homem fácil, mas ele ficou
mal depois de perder o emprego. Somente ele trabalhava e ter que sustentar
duas bocas não era fácil naquela época — falei rapidamente.
— Vamos tentar de novo. — Acenei. — Eu quero que você me diga
uma palavra, um sentimento que define a forma como você se sente em
relação a tudo o que acabou de me contar. Qual é o sentimento que possui
depois de saber que seus pais faziam isso com você? Apenas um
sentimento, Henrique. Uma palavra.
Passei as mãos pelo rosto, sentindo cada músculo do meu corpo tenso.
— Raiva — sussurrei.
— Me desculpe, mas não consegui ouvir. Poderia repetir, por favor?
— Raiva — falei alto. — Eu sinto raiva dos meus pais por tudo o que
eles fizeram comigo. Raiva da minha mãe por não ter me defendido e mais
raiva ainda do meu pai por ter sido tão ruim para mim, por ter marcado meu
corpo e me deixado lembranças que eu nunca vou conseguir esquecer.
Só percebi que estava de pé, chorando e gritando quando fiquei sem
fôlego. Meu peito subia e descia tão depressa que me causou um pouco de
falta de ar.
Carla, calmamente, se levantou e caminhou até mim.
— Preciso que faça o que eu pedir agora, tudo bem, Henrique? —
Apenas acenei com a cabeça. — Inspire durante cinco segundos, prenda o
ar por três e expire em seis segundos. Você entende o que eu acabei de
falar? — Mais um aceno de cabeça. — Então vamos fazer juntos.
E durante os próximos minutos eu fiz exatamente o que ela pediu.
Puxei o ar.
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco
O prendi, estufando o peito.
Um.
Dois.
Três.
E o soltei.
Um.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Repeti o exercício até sentir meu coração voltar a bater normalmente
e meus pulmões trabalharem em um ritmo que eu não me sentia mais
sufocado.
— Agora, peço que você se sente, por favor.
Voltei a me sentar, passando as mãos no rosto.
— O que você acabou de ter foi uma crise de ansiedade, Henrique.
Você já teve al gum episódio assim alguma vez?
— Apenas quando era criança e alguns dias atrás, depois de um
pesadelo com meus pais — respondi com sinceridade, vendo-a voltar a se
sentar na poltrona cor creme e pegando entre as mãos seu caderno e caneta.
— Consegue me dizer o que provocou o episódio de dias atrás?
— Beatrice ficou duas semanas fora e… eu fiquei com… saudade. —
Senti minhas bochechas esquentarem com a confissão.
— Supor que essa mulher é mais do que uma amiga, seria algo
absurdo?
Acabei soltando uma risada.
— Não. Bea e eu temos algo a mais do que uma amizade comum.
— E pelo seu sorriso, posso ver que ela te faz bem.
— Sim. Ela é incrível e me faz sentir que sou amado. Ela me aceita
do jeito que eu sou e ainda que ela tenha conhecido a parte escura e suja do
meu passado, não fugiu. Beatrice ficou e cuidou de mim.
— Consegue perceber que o fato de ela ter viajado e ficado fora por
duas semanas — Sinalizou com os dedos. — foi um gatilho para que parte
do seu passado tenha vindo à tona?
Pensei por um momento e realmente aquilo fazia sentido.
— E que esse episódio te trouxe aqui.
Franzi o cenho.
— O que a senhora está querendo dizer? Que foi bom eu ter tido um
pesadelo do meu pai me espancando?
— O que eu estou te mostrando, Henrique, é que a gente só consegue
tratar os traumas que sofremos, quando o conhecemos e para que isso
aconteça, a gente precisa parar de fugir deles. Você só está aqui hoje porque
essa mulher presenciou algo que nenhuma outra pessoa viu, além dos seus
tios e prima. Através dela, você está aqui buscando compreender tudo o que
passou, em busca de ter qualidade de vida. E esse caminho não é fácil e
nunca será, porque você terá que enfrentar os seus demônios para poder
conhecer os seus limites. Se autoconhecer é exatamente isso.
Realmente, tudo o que ela falou, fazia sentido.
— Entendo.
— Quando lhe pedi para definir em apenas um sentimento a forma
como você se sentia em relação aos seus pais, você não conseguiu de
imediato falar, ainda que soubesse exatamente qual emoção seria. Você não
conseguiu dizer que sentia e sente raiva, pois crescemos com a ideia de que
pais são seres sublimes e livres de qualquer defeito. Que, enquanto filhos,
devemos aceitar tudo o que vier deles pelo simples fato de terem nos gerado
e não é bem assim. Mãe e pai são seres humanos, de carne e osso, que
cometem erros, possuem falhas, defeitos e sentimentos. Compreende o que
eu estou falando?
— Sim.
Eu realmente estava entendendo o que ela estava me mostrando.
— Qualquer relação é uma via de mão dupla, seja ela de sangue ou
não. Um filho não nasce amando o seu pai apenas pelo fato de ele ser seu
pai. Amor vem através de ações, de respeito. O amor é escolha, é construído
e requer esforço, trabalho e dedicação. Ao invés de conversas, disciplina e
empatia, muitos pais acreditam que educar os filhos com intimidação seja
eficiente. Respeito se adquire por meio de exemplo e infelizmente você não
teve isso.
— Então eu tenho que… odiar os meus pais?
— Não, não estou dizendo isso. Estou te dizendo que você não tem
que se sentir culpado por sentir raiva deles. Sentimentos são reações a tudo
o que recebemos à nossa volta e são espontâneos de acordo com nossas
personalidades.
— Não podem ser controlados — concluí e ela acenou.
— Exatamente, e a chave para se viver bem consigo e em sociedade,
é o que fazemos com aquilo que sentimos. Você sofreu maus-tratos, foi a
vítima e não teve culpa alguma por tudo o que lhe fizeram. É natural que
sinta raiva, mas o ponto que vamos trabalhar na terapia, é o que você
decidirá fazer com esse sentimento e para isso, você precisa se conhecer e
saber os seus limites.
— Preciso contar para… meus amigos?
— Isso também é algo que você irá decidir. O caminho é longo,
porém se estiver disposto a tentar e dar uma chance a você mesmo, poderá
alcançar resultados incríveis. Está disposto a isso?
Com a imagem de um Henrique de sete anos na minha mente,
sorrindo e fazendo um sinal de positivo com uma mão, enquanto a outra
segura o habitual dicionário que sempre costumava levar para todos os
lados, respondi: — Sim, estou disposto.
— Sim, Simone? — disse ao atender o ramal que compartilhava
com a minha secretária.
— Senhor, Beatrice Fontana está aqui e deseja vê-lo — informou.
Imediatamente, afastei meus olhos dos documentos que analisava e
me coloquei de pé.
— Pode deixá-la entrar, Simone — falei, tentando controlar a euforia
em meu tom.
— Como desejar, senhor.
Assim que a ligação foi encerrada, dei a volta na mesa e caminhei em
direção à porta, que não demorou para ser aberta pela mulher mais linda
que meus olhos já viram.
— Sua secretária é engraçada. Ela disse que meus chakras precisam
de um alinhamento urgente — Beatrice disse, rindo, mas seu sorriso se
desfez quando segurei seu rosto e a empurrei para trás com cuidado,
fazendo a porta se fechar atrás dela.
— Caralho, porque você tem que ser tão linda, porra? — exclamei
antes de enfiar minha língua na sua boca, gemendo quando a sua me
lambeu sensualmente.
Bea jogou os braços por sobre meus ombros e seus dedos se
infiltraram em meus cabelos, ditando o ritmo do beijo.
Minhas mãos desceram pelas laterais do seu corpo até a parte de trás
dos seus joelhos e me abaixei o suficiente para tirá-la do chão, que logo
circulou minha cintura com suas pernas.
Caminhei com ela até a minha mesa, sem interromper o beijo. A
coloquei sobre a madeira clara, posicionando meu quadril entre as suas
coxas de mono que meu pau roçasse sua boceta.
— O que está fazendo aqui? — perguntei quando separei nossas
bocas.
— Quer que eu vá embora? — indagou, fazendo beicinho e cruzando
os braços.
— Não, claro que não — me apressei a dizer.
Os lábios da diaba se puxaram para o lado, em seu famoso sorrisinho
de demônia que me enlouquecia.
— Porra, você esta fingindo, não está?
— Estou. — Deu de ombros.
— Nunca vai parar de fazer isso, não é? — Alcei uma sobrancelha.
— Não. Gosto da carinha que você faz. — Ela tocou a ponta do meu
nariz com o dedo indicador.
Trinquei os dentes e levei minha mão direita até seu pescoço,
apertando-o do jeito que ela gostava.
— E eu gosto da carinha de putinha que você faz quando está levando
surra de pau nessa boceta. — Com a mão livre, apertei seu sexo junto a
calcinha fina de renda.
Ela gemeu e segurou meu pulso.
— Teremos a noite toda para treparmos — declarou, me empurrando
para longe, apenas o suficiente para conseguir analisar meu rosto. — Mas
agora, quero saber como foi com a psicóloga. — Cruzou os braços e as
pernas, para o meu azar.
— Não podemos trepar e depois conversar sobre a terapia?
— Não! Primeiro a conversa, depois vamos ao mercado e só então,
trepamos — recitou.
Rolei os olhos.
— Eu disse para você que odeio ir ao mercado — resmunguei.
— Mas eu lembro muito bem de você, Sr. Prado, gritando aos quatro
cantos do seu apartamento que adoraria ir ao mercado comigo, depois de
mamar em meus peitos.
— Você usou seus piercings contra mim para me fazer concordar com
isso e com a terapia — acusei.
— Só usei as armas que eu tenho.
— É. Eles são o meu ponto fraco — declarei, olhando para eles, que
estavam cobertos por uma blusa de seda branca com botões.
Beatrice bateu palma.
— Foco! — pediu e eu subi meu olhar até o seu. — Diga-me, como
foi com a psicóloga?
Soltei um suspiro.
— No início, foi…. difícil falar sobre algo tão perturbador com
alguém que eu não conheço, mas…
— Mas…?
— Mas eu tenho um encontro com Carla toda semana às quartas-
feiras depois do almoço.
O sorriso que ela me lançou, fez meu coração errar uma, duas, três
batidas.
— E como você está se sentindo?
— Estranhamente bem.
— E vai continuar se sentindo assim. — Desceu da mesa e caminhou
até mim, segurando o meu rosto entre as mãos ao passo que eu abraçava sua
cintura. — Você não está sozinho.
Suspirei.
— Obrigado.
— E eu vou garantir que ninguém te machuque mais. Ninguém!
Entendeu? — Acenei, encarando as íris verdes que tanto me perturbavam.
— Eles entraram em contato com você? — quis saber e notei seus ombros
ficando tensos.
— Não — respondi simplesmente.
— Ainda vai continuar ajudando?
— É… difícil dizer agora. Pela primeira vez, em anos, eu estou
cogitando tirá-los da minha vida e isso é novo, essa sensação de que eu não
tenho a obrigação de ajudá-los apenas pelo fato de que me colocaram no
mundo. Sei que parece óbvio demais, é só que… ainda estou absorvendo.
Beatrice sorriu compreensiva, depositando um beijo em meus lábios.
— No seu tempo, mas quero que saiba que estou orgulhosa de você e
vou continuar do seu lado a cada passo a partir de agora. Não precisa mais
lutar sozinho.
Meu coração errou batidas?
Não, ele já estava batendo descompassadamente dentro do peito.
Por ela. Pela diaba. Pela italiana. Por Beatrice Fontana.
— Você vai lutar comigo?
— Vou! Sou faixa-preta! — Ergueu o queixo e eu ri. — Não ria —
ralhou. — Ou eu aumento os itens da lista do mercado! O que não seria má
ideia levando em consideração o quanto a sua despensa é deprimente para
alguém com uma conta bancária como a sua, caro mio.
— Não sou bom na cozinha.
— Isso está mais do que claro e é por isso que você tem a mim agora.
— Eu tenho? — provoquei e fui surpreendido pelo rubor das suas
bochechas. — Você está corada de… vergonha? — perguntei incrédulo.
— Cala a boca! — Ela deu um tapa em meu ombro e fez menção de
se afastar. Não a deixei, puxando-a pela cintura.
— Eu fiz Beatrice Fontana, a diaba italiana, corar de vergonha? —
falei impressionado.
— Se você contar isso para alguém, eu faço greve de boceta! —
declarou.
Reprimi a vontade de rir.
— Então, você admite que corou porque ficou com vergonha?
— Não digo nem sob tortura! — resmungou.
— Nem se eu proibir você de gozar?
Ela riu.
— Eu faço o que eu quero. Você sabe, mas é divertido te ver tentando
ter algum controle sobre o meu prazer.
Desci minhas mãos até sua bunda e a apertei, colando nossos corpos.
— Diaba desgraçada do caralho! — declarei entre dentes, dando-lhe
um tapa.
Ela arfou e mordeu o lábio inferior, me olhando daquele jeito que
meu pau adorava.
— Quanto mais cedo irmos ao mercado, Sr. Prado — disse enquanto
seus dedos acariciavam minha barba —, mais cedo chegamos em casa, mais
cedo eu faço o jantar e mais cedo você poderá comer a sua putinha. A
propósito, fique com os óculos. — Apontou para o meu rosto. — Quero
sentar no seu pau olhando para você com eles.
— Gostou de me ver com eles?
— Sim. Você fica um gostoso desgraçado do caralho!
Seu comentário nos fez rir.
— Agora. — Empinou o seu quadril para trás, fazendo menção de se
afastar. Dessa vez, deixei. — Vamos fazer as compras. O que você deseja
para o jantar?
Senti meus olhos arderem com a simples pergunta que ela me fez, tão
cheia de significados para mim, para alguém que passou pelo o que eu
passei. Bea percebeu e sorriu, acariciando minha bochecha.
— Posso escolher?
Seu sorriso se expandiu.
— Pode. O que você quiser, eu faço!
Pensei por um momento.
— Gosto da lasanha que oferecem no restaurante da sede do La
Fontana. Sempre que vou almoçar com Dante e Matteo, a peço.
— Tutto bene. Aquela receita é tradição da família, eu dei apenas um
toque especial ao molho com um ingrediente secreto.
— Qual ingrediente secreto?
— Para ter a resposta precisa me fazer gozar quatro vezes hoje, Sr.
Prado.
Pisquei para ela. Novamente, ela corou e meu coração se expandiu ao
saber que tenho esse poder sobre ela.
Foi a minha vez de tocar suas bochechas.
— Minha nova cor favorita — murmurei.
Bea torceu o nariz, sem graça, o que fez o tom em sua pele se
intensificar. Ela forçou uma tosse antes de falar e eu não conseguia tirar o
sorriso bobo do rosto.
— E de sobremesa?
— Quero comer o seu cuzinho, amor.
Se eu pegasse meu celular do bolso e tirasse uma foto dela agora,
Beatrice me mataria, certo? Certo!
Mas, caralho, a mulher que tem dominado meus pensamentos desde o
momento que a vi, a mulher que nunca abaixou a guarda, que sempre
rebateu a todas as minhas palavras, está diante de mim com o rosto inteiro
na cor de um tomate, porque eu acabei de falar que queria meter o meu pau
em seu cu.
Porra, o dia de hoje entrou para a lista dos melhores dias da minha
vida!
— Henri-Henrique.
Ok, ela gaguejou por minha causa! Por minha causa.
Por.
Minha.
Causa.
Definitivamente, hoje era o melhor dia da minha vida.
Depositei um beijo em seus lábios entreabertos e sorri, segurando em
sua cintura antes de virá-la em um movimento rápido. Beatrice soltou um
grito e arfou quando esfreguei meu pau duro contra sua bunda.
— Me deixa meter nesse cuzinho, deixa, vagabunda? Não paro de
pensar na minha porra escorrendo entre esse seu rabo — sussurrei,
mordendo o local abaixo de sua orelha.
— Deixo — murmurou, descansando a cabeça em meu ombro e
virando o rosto para me olhar. — Eu deixo você enfiar esse… hum… —
Empinou o quadril de encontro a minha pélvis e prendeu o lábio inferior
entre os dentes — Enfiar esse cacete gostoso no meu cu e enchê-lo de
porra.
— Caralho, eu vou te deixar assada — bradei, passando minha língua
em seu queixo.
— Não tenho dúvidas quanto a isso. — Piscou. — Mas agora, caro
mio, a única coisa que ficará assada esta noite, além da lasanha, é a minha
boceta — sorriu endemoniadamente, empurrando a bunda contra mim e
saindo do meu aperto.
Soltei uma risada. Uma risada de mim mesmo por acreditar que enfim
teria ganhado uma dela.
— Vamos! — Bateu as palmas antes de alisar sua saia preta, blusa e
cabelo. — Já passa das seis e mei da tarde, e temos uma lista de coisas para
comprar. E você — disse, apontando para mim —, trate de ficar menos
feliz. — Depois para o meu pau que estava marcado dentro da calça.
— Sem cuzinho hoje? — indaguei.
— Sem cuzinho, ragazzo!
Bufei e rolei os olhos, tratando de pensar em situações brochantes a
fim de deixar o meu pau triste conforme desligava meu computador e
organizava os papéis que estavam espalhados pela minha mesa.
Assim que terminei, peguei meu paletó da cadeira e o vesti, olhando
para a mulher que não parava quieta no meio da minha sala.
— Está tudo bem? — procurei saber
— Sim, eu só fico muito animada quando vou ao mercado!
Joguei a cabeça para trás, explodindo em uma gargalhada.
— Se rir de mim mais uma vez, vou te algemar na cama e te torturar
com a minha boceta! — ameaçou, apertando os olhos.
Tomei fôlego, procurando me acalmar.
— Tudo bem. — Dei a volta na mesa indo até ela — Vamos?
Assentiu e caminhamos lado a lado para fora do cômodo, dando de
cara com a minha secretária que estava sorrindo de orelha a orelha
segurando alguns…
— Isso são incensos? — perguntei.
— Sim, senhor. São da coleção que o meu guia espiritual me deu
depois de um retiro que fiz há alguns meses. Separei alguns para vocês. —
Esticou os braços.
Olhei de lado para Beatrice que sorriu para a senhora, pegando os
incensos das suas mãos.
— Posso perguntar para que eles servem?
— Acalmar os chakras. Se me permite dizer — começou, se
aproximando e falando baixo como se fosse nos contar um segredo —, os
de vocês dois estão muito agitados, feito brasa no inferno.
Assim como Bea, me contive para não sorrir do comentário da
senhora, que parecia realmente preocupada com os nossos chakras.
— Agradecemos e pode ter certeza de que usaremos. É muito gentil
da sua parte, senhora.
Simone sorriu, parecendo orgulhosa da sua boa ação, despedindo-se e
indo em direção aos elevadores.
— Agora eu entendi o porquê Matteo adora ela — comentou,
guardando os incensos na bolsa que mantinha pendurado no ombro desde
que chegou.
— Você não está pensando em queimar isso, né?
— Claro que estou. Precisamos alinhar nossos chakras, caro mio.
Ri.
— Agora vamos, Sr. Prado. Temos uma despensa para encher! —
disse animada.
Enquanto ela recitava cada item da lista que havia feito à medida que
entramos no elevador e descemos até a garagem, a observei. Beatrice
gesticulava com as mãos e fazia feições engraçadas ao contar a diferença
entre as marcas de produtos que eu não fazia ideia que existiam.
Eu ria em resposta a tudo o que ela falava, como um bobo.
Eu estava completamente hipnotizado por ela, pela companhia dela.
E pensar que Bea desejava cuidar de mim, fazia meu peito ser tomado
por uma sensação nova, que jamais senti antes.
Era como se algo me alertasse que eu finalmente... estava em casa.

_______
CAPÍTULO 42
Henrique
— Eu fico tão feliz por você — Stella exclamou, levando uma mão
ao peito e a outra repousou em meu ombro, me olhando com carinho e
orgulho.
Estávamos no restaurante do hospital em que ela trabalha e aceitei o
seu convite para almoçar. Faz muito tempo que não passamos um tempo só
nós dois.
Desde que cheguei, há quinze minutos, tratei de contar tudo o que
ocorreu nas últimas semanas com riqueza de detalhes — já que a ruiva ama
fofocas, assim como Matteo —, omitindo apenas as partes de putaria entre
Beatrice e eu.
— É. Eu também me sinto mais… feliz — falei.
— A terapia e a diaba estão te fazendo muito bem. Olha só esse
rostinho — disse, apertando minhas bochechas. — Olha essa pele. Caralho!
Eu preciso foder mais.
— Argh, Stella! Eu estou comendo! — Torci o nariz e apontei para o
prato à minha frente antes de pegar o copo com suco.
— Deixa de frescura, porra! — soltou, forçando a voz para que
ficasse grossa ao dar um tapa em minha nuca, me fazendo derramar um
pouco da bebida sobre a mesa.
— Cacete! Olha o que você fez. Pare de andar com o maluco do
Matteo, hein — ralhei, pegando alguns lenços de papel para limpar a sujeira
que minha prima provocou.
— Eu gosto daquele doido — comentou, sorrindo. — Minha galeria
do celular vive cheia de vídeos engraçados com pessoas caindo.
Franzi o cenho.
— O quê?
Balancei a cabeça.
— Nada — respondi no exato momento em que seu celular tocou.
— Atrapalho? — a voz de tio Maurício soou após minha prima tocar
na tela do aparelho, deixando-o apoiado no seu copo já vazio. Acenei ao ver
os rostos dos meus tios pela chamada de vídeo.
— Claro que não, pai. Ainda tenho — ela checou o relógio em seu
pulso — dez minutos de almoço.
— Oi, crianças — tia Leila saudou sorridente.
— Oi, mãe.
— Oi,tia.
— Como vocês estão?
— Eu estou bem — declarei.
— E apaixonado — a ruiva acrescentou.
— Você está apaixonado, Henrique Prado? — sua mãe gritou e olhei
em volta para me certificar de que ninguém ouviu.
Bufei.
— Não estou apaixonado, tia!
— Está sim, porém é lerdo demais pra enxergar que está de quatro
pela diaba.
— Stella! — falei, arregalando os olhos para ela, que possuía uma
expressão cínica.
— Santo Deus! Você está apaixonado por uma… diaba? — tia Leila
indagou de olhos arregalados.
— Uma diaba italiana e cozinheira, mãe.
— Pelo menos, ela sabe cozinhar e assim Henrique não irá passar
fome — meu tio declarou.
— Maurício! — a esposa exclamou, o encarando de cara amarrada,
dando-lhe um tapa no ombro.
— O quê? É verdade. Nosso menino não sabe cozinhar, amor.
— Esquece a comida e foca no fato da mulher que ele ama ser uma
diaba. Uma diaba, Maurício! Precisamos ligar para o padre Guedes,
imediatamente.
— Tia, eu não estou apaixonado por um demônio. — Acho. — É só o
apelido que eu dei a ela. — expliquei, vendo seu rosto suavizar através da
tela.
— Então você está apaixonado por uma mulher? Uma mulher
normal? — quis saber.
— Beatrice Fontana é tudo menos normal. — Stella soltou, rindo sem
se importar com o meu olhar assassino sobre ela.
— Você e a irmã dos seus amigos? — tio Maurício questionou.
— Essa mesma, pai. E a melhor parte é que Dante e Matteo não
sabem que têm um cunhado.
Revirei os olhos.
— Para de inventar coisas, Stella! — pedi.
— Vai dizer que estou mentindo? — Cruzou os braços.
— Você está exagerando!
— Não estou exagerando!
— Está sim!
— Não. Eu não estou!
— Eles cresceram, mas ainda continuam brigando feito irmãos — a
voz da tia Leila nos fez virar o rosto para encarar a tela do celular, onde
meus tios estavam rindo sem parar. — Que saudade de vocês, crianças —
declarou emocionada.
— Também estamos com saudade, mãe. Muita. Não é, cadelinha? —
Stella deu um tapa de leve em meu ombro com um sorriso enorme no rosto.
Bufei para o apelido que ela usou.
— Sim, estamos.
— Se vocês aceitassem morar aqui na cidade, não existiria saudade
— a ruiva resmungou.
E eu concordava com ela.
Meus tios moravam em uma cidade no interior de São Paulo desde
que se casaram e ainda que o plano inicial depois que ambos se
aposentaram da carreira de professores era de virem morar perto de nós,
eles ainda relutam quanto a essa ideia. Odiavam a movimentação da cidade
grande e o quanto Stella e eu nos tornamos conhecidos por nossas
profissões.
Leila e Maurício, apesar de amarem o tradicional caos familiar — no
bom sentido —, sempre preferiram lugares mais tranquilos e com menos
pessoas possíveis.
— Calma! Ainda estamos nos planejando — meu tio disse.
— Já falamos que não precisam se preocupar com despesas, pai.
Henrique e eu ganhamos muito bem. Sabem disso.
— Mas não queremos abusar, crianças. Já basta o fato de vocês
insistirem em comprar essa casa toda chique para nós e ainda mandarem
dinheiro. Leila e eu estamos bem e logo, logo, estaremos aí com vocês.
Stella e eu nos entreolhamos, pois sabíamos que era mais uma das
muitas vezes em que ambos estavam tentando ganhar tempo com promessas
que pra eles nos deixariam mais felizes.
Eu os amava, como eu os amava.
Mesmo com todas as dificuldades que tiveram e ainda tinham,
aceitaram criar um menino cheio de feridas, com amor e carinho.
Tudo o que hoje sou e me tornei, devia a eles.
Assim como eu, Stella soltou um suspiro e anuímos com um sorriso
carinhoso nos lábios.
— Mas nos conte sobre minha nora — minha tia pediu animada. —
Nem acredito que temos uma nora, Maurício!
— Vocês não tem uma nora…
— Ainda — minha prima cantarolou ao meu lado.
— Só estamos nos conhecendo. Ela me faz bem. Eu estou… bem.
— Viram como ele está apaixonado? Pessoas apaixonadas falam
coisas desconexas. Henrique Prado está um verdadeiro cadelinha.
— Você precisa parar de andar com o Matteo pelo bem da minha
pouca paciência — pedi, apertando o topo do nariz. Ela riu e parou
subitamente como se lembrasse de algo, ficando séria ao olhar para mim.
Na mesma hora eu entendi o que ela estava tentando fazer.
Suspirei audivelmente desta vez.
— Preciso contar algo a vocês.
Meus tios me olharam e senti a mão de Stella em meu ombro, que não
saiu dali nem por um segundo conforme eu contava tudo que tinha
acontecido nas últimas semanas, desde a aparição repentina dos meus pais
até a minha ida à terapia por incentivo de Beatrice.
Não foi fácil ver a expressão de tristeza no rosto do meu tio, era
difícil saber que o irmão foi capaz de tantas coisas terríveis contra o próprio
filho.
Assim que terminei, ambos estavam emocionados e não paravam de
repetir o quanto estavam orgulhosos de mim. Era bom, finalmente
conseguir falar de algo tão delicado sobre o meu passado, sem sentir…
raiva.
Ao final da ligação, foi impossível não me emocionar ao ver as
expressões felizes em seus rostos, que logo foram substituídas por um
sorriso malicioso quando tia Leila declarou que esperava conhecer a mulher
que roubou meu coração.
— Preciso ir. Tenho uma cirurgia marcada para daqui a quarenta
minutos. — Stella anunciou checando o relógio em seu pulso.
— Tudo bem. Vamos!
Nos levantamos e rumamos para fora do restaurante. Quando
estávamos passando pela porta, meu celular apitou no bolso.
— Mas nem fodendo! — falei ao ver a mensagem de Matteo.
— O que foi? — minha prima perguntou curiosa.
— Matteo quer que o encontro dos caras seja hoje lá em casa —
respondi.
— Qual o mal disso?
— O mal disso é que a irmã dele disse que tem uma surpresa para
mim esta noite e pelo que conheço da diaba, envolve safadeza — contei.
— Vocês parecem dois coelhos!
— Você está com inveja — brinquei.
— Não vou mentir, não. Estou. E falando em safadezas, Kyara enviou
uma foto dela com o irmão no grupo das meninas e puta que pariu, que
italiano gostoso do caralho! Preciso ser apresentada a esse Enrico.
— Acho que estou com indigestão — disse tocando a barriga e
fazendo cara de nojo.
— Qual é! — Bateu em meu ombro. — Estou na seca e sempre quis
saber como é beijar um italiano. Se eles tem mesmo um fogo insaciável.
Preciso arranjar um pau gringo para entrar em…
— Ok, Stella! Ok, Stella! Eu sei que você possui… necessidades, mas
sem detalhes. Por favor. Sem detalhes! — pedi tapando os ouvidos.
Ela riu, chamando a atenção de alguns funcionários que estavam por
perto.
— Eu te amo, primo — falou, jogando os braços por meus ombros.
Devolvi o abraço e a declaração.
— Também te amo, sua maluca!
— Maluca, mas inteligente e linda pra porra! — Piscou um olho ao
se afastar. — Bem, preciso ir. — Checou mais uma vez o relógio.
Nos despedimos e me dirigi ao estacionamento.
Durante todo o trajeto de volta à empresa e o restante da tarde, não
consegui me concentrar em mais nada, a não ser nas muitas ideias que
passavam pela minha cabeça sobre o que eu queria fazer com o corpo de
Beatrice Fontana.
Às sete da noite em ponto, entrei em meu apartamento, sem me
preocupar em fechar a porta na chave, querendo desesperadamente ver
Beatrice. Não a vi na sala e nem na cozinha onde pensei que ela estaria
como de costume.
Tirei meu paletó e o joguei em cima do sofá para, em seguida,
caminhar até o quarto. Entrei no cômodo que estava iluminado apenas pelos
dois abajures que haviam ao lado da cama.
— Bea? — chamei por ela.
Notei uma das cadeiras, que ficava na sacada, em frente à cama, mas
não entendia o que estava fazendo aqui.
— Tira a roupa — sua voz soou sexy atrás de mim.
Virei e a vi.
Ela estava com sombra preta nos olhos, um batom vermelho muito
sexy em seus lábios, um sobretudo também preto cobrindo seu corpo e em
seus pés, saltos de tiras da mesma cor.
— O que você... — tentei falar, porém fui interrompido.
— Agora! — sua voz saiu firme.
Obedeci completamente rendido a ela, que caminhava até mim e só
agora, percebi que tinha uma algema com pelúcia preta em suas mãos.
Movida pela animação em vê-la, fiz o que ordenou, começando pela
gravata, em seguida, a camisa social, para enfim tirar meus sapatos e meia,
e minha calça junto a cueca. Me despi sem tirar os olhos dela, que me
lançou um olhar intenso. Depois que já estava completamente nu, joguei
minhas roupas de lado.
Beatrice caminhou até mim e ao se aproximar, passou os dedos pelo
meu peito, por um segundo, me provocando um arrepio. Arfei e sua língua
invadiu a minha, nossas bocas dançaram em um ritmo intenso, quase
violento.
— Sente-se na cama e não se mexa — ordenou ao se afastar.
Assenti, sentindo cada célula em meu corpo tremer em expectativa.
Quando encostei minhas costas na cabeceira, notei as algemas nas suas
mão, assim que ela veio para perto.
— O que você vai fazer? — perguntei.
— Não é óbvio? — sorriu ladino, ao segurar meu pulso direito para o
alto, me algemando no ferro da cabeceira, não demorando para fazer o
mesmo com o outro.
Não protestei, muito menos impedi.
Deixei-me ser levado pela onda de luxúria que pairava no quarto.
Eu estava excitado. Ansioso e completamente rendido por ela.
Assim que terminou, me encarou com os malditos olhos verdes de
demônia e disse com uma voz dominadora sexy pra caralho: — Hoje à
noite, faremos o que eu quiser. Apenas o que eu quiser, caro mio.
Senti meu pau endurecer ainda mais quando ela começou a abrir
calmamente o sobretudo, revelando uma fantasia erótica de couro em faixas
que passavam por seus seios e boceta, não cobrindo absolutamente nada do
seu corpo, deixando tudo à mostra, mas de uma forma fodidamente sexy.
— Gostosa! — disse, mordendo o lábio e olhando-a feito um animal.
— Quieto! — bradou, pegando uma caixa vermelha que só agora
notei estar em cima da mesinha de cabeceira, abrindo-a e tirando de dentro
um vibrador na cor azul.
Beatrice sentou-se na cadeira em frente à cama, colocando os pés na
beirada do colchão e ficando de pernas abertas para mim, da mesma forma
que ficou em nossa primeira transa.
— Gosta do que vê? — perguntou, passando os dedos pelas suas
coxas e virilha.
— Sim. Gosto pra caralho do que estou vendo — respondi ofegante.
— Então. — Ela ligou o aparelho, que possuía um som quase
inaudível. — Aprecie o show, Sr. Prado.
Em seguida, Bea logo enfiou o vibrador em sua boceta e pela
facilidade com que entrou, ela já estava molhada, muito molhada. Seu
corpo se remexia cada vez mais à medida que movimentava o objeto em um
entra e sai gostoso de observar, gemidos safados saíam de sua boca.
Comecei a entrar em desespero querendo tocá-la .
— Bea…
— Aaah... — a filha da puta gemeu alto, ignorando meu chamado.
— Caralho, Beatrice!
Ela sorriu, a desgraçada dos infernos sorriu, passando a língua nos
lábios e se divertindo com meu desespero.
Com a mão livre, Bea agarrou seu seio esquerdo, apertando forte o
lugar que eu amava tanto tocar. Seu mamilo ficou mais pontudo conforme
brincava com o piercing ali.
Ela então parou, retirando o vibrador de sua boceta que brilhava com
o líquido da sua lubrificação. Desligou o aparelho e se colocou de pé,
deixando o objeto azul na cadeira para se aproximar, engatinhando por cima
do meu corpo, esfregando seu sexo em minha pele, me lambuzando, me
marcando como seu.
— Você é meu — declarou, olhando em meus olhos. — E eu vou
gozar nessa boquinha. — Desferiu um tapa em meu rosto e caralho, meu
corpo tremeu, minhas bolas doeram e juro que quase gozei quando ela
sentou na minha cara. — Chupa minha boceta bem gostoso, Henrique,
como o putinho que eu sei que você é.
— Filha da p…
Fui interrompido quando ela pressionou seu clitóris bem em cima da
minha boca e não demorei para abrir e fechar em volta do seu montinho de
nervos, chupando com força.
Ela gritou, tombando a cabeça para trás.
E eu sorri, aumentando ainda mais a pressão.
Beatrice passou a rebolar na minha cara como se estivesse rebolando
em meu colo. Sua mão esquerda segurou na cabeceira e a direita apertou
meu cabelo controlando o ritmo.
— Isso safado... assim. Me fode com essa boquinha gostosa do
caralho. — Aceitei o comando da diaba, tornando-me um verdadeiro
animal.
Chupei e mordi usando todo o meu rosto em sua boceta, deixando-a
cada vez mais perto do ápice.
Intensifiquei ainda mais os movimentos e senti seu líquido em minha
língua quando ela gozou falando chamando meu nome. Tomei tudo, não
deixando escapar uma só gota.
Seu corpo deu alguns espasmos até que ela começou a se acalmar,
soltando um longo suspiro de satisfação antes de dizer: — Perfeito! — E
saiu de cima de mim.
Minhas bolas doíam e eu estávamos prestes a explodir a qualquer
momento se ela continuasse me torturando. Sou um homem que amava
dominar e sabia os meus limites e conhecia muito bem meu corpo. Eu
gostava de dar prazer assim como amava receber, e jamais deixei minhas
parceiras na mão. Porém, não sabia se era o fato de estar imobilizado ou se
simplesmente por ser ela, mas estava cada vez mais perto de gozar.
Caralho, eu ia mesmo gozar sem nem ao menos receber um toque no pau?
Eu nunca fui dominado por nenhuma mulher na cama, não desse jeito,
contudo se ela quisesse me dominar mais vezes, eu não reclamaria e
aceitaria de muito bom grado.
Beatrice saiu da cama e tirou um pequeno chicote da caixa que havia
em cima da cabeceira, seus olhos brilharam quando ela sem aviso, bateu
com as tiras de couro contra a pele da minha coxa. Me remexi surpreso.
— Se assustou, foi? — questionou, fazendo bico e me batendo de
novo, dessa vez, na outra coxa.
— Caralho! — bradei tentando me livrar das algemas, inutilmente.
— Me solta, Beatrice! — pedi baixo, procurando me acalmar, no exato
instante em que as vozes das últimas pessoas que eu gostaria de ouvir nesse
momento, chegaram em meus ouvidos.
— Chegamos, B2!
— E trouxemos comida!
— Muita comida, fratello!
— O que eles fazem aqui? — murmurei, sentindo meu corpo começar
a suar frio.
Olhei para Beatrice que estava calma demais para quem acabou de
ouvir a voz do irmão em um momento constrangedor.
— Porque você está sorrindo? Me solta agora, Beatrice! Anda! —
pedi aos sussurros, temendo que meus amigos pudessem nos ouvir.
Com seu famoso sorrisinho endemoniado nos lábios, Beatrice
Fontana caminhou até a porta do quarto, que ainda estava aberta, fechando-
a. Ela então se virou para mim, rodando o chicote no ar enquanto a outra
mão descansava em sua cintura.
Quando falou, meus olhos se abriram em um completo choque, que os
senti doer.
— Agora que a brincadeira vai começar, Henrique.
— Beatrice…
— Lembra como foi gostoso quando fodemos no corredor do
instituto? — indagou, caminhando lentamente em minha direção, rodando o
chicote no ar. — Lembra como a adrenalina só deixou tudo ainda mais
excitante?
— B2! — Matteo gritou e meu corpo inteiro gelou.
— O que eles estão fazendo aqui, porra? — murmurei e não esperava
por nenhuma resposta, mas ela veio.
— Talvez eu tenha…
— O que você fez? — perguntei com os olhos e maxilar cerrados.
— Talvez eu tenha ligado para Matteo dizendo que você me pediu
para avisar que a reunião dos homens seria aqui, no seu apartamento. Acho
que eles te mandaram mensagem avisando, não? — sorriu maliciosamente,
fazendo beicinho e dando de ombros.
— Merda! Você fez de propósito. Porra, Beatrice! Se eles descobrem
que você está aqui e vestida desse jeito, estamos fodidos! Entende isso? —
Tentei me livrar das malditas algemas, mas foi inútil. Cada vez que eu
puxava meus braços, o metal se fechava ainda mais em torno do pulso.
Merda!
— Entendo e isso só me excita ainda mais, Sr. Prado.
Sorrindo, a filha da mãe fez as fitas do chicote cortarem o ar e se
chocarem contra a pele da minha coxa direita. Reprimi a vontade de gritar
pela ardência do choque.
— Caralho!
— Doeu, bebê? — Fez beicinho.
— Se você não me soltar agora…
— Vai fazer o quê, B2 Bombadão? — sorrindo cinicamente, me
desafiou.
Olhei para o alto, vendo a pele em volta dos meus pulsos vermelha.
Tentei me soltar mais uma vez e bufei, voltando a olhá-la.
— Quando você me soltar, eu vou te pegar e você vai se arrepender,
sua diaba!
— Uma ameaça, senhor advogado?
— Um aviso.
— E quem disse que eu vou te soltar? — Arqueou uma sobrancelha.
— Eu poderia te deixar assim pelo restante da noite, ou melhor, abrir a
porta e deixar que seus amigos lhe vejam assim. Do jeito que Matteo é,
zombaria de você por anos.
— Não se atreva!
— Você sabe que eu amo me atrever! — Piscou um olho para em
seguida, bater com o chicote em meu peito que logo ficou marcado pelas
tiras de couro. — Mas não vou desperdiçar a oportunidade de ter tudo isso
dentro de mim. — Apontou para o meu pau.
— Henrique! — a voz de Dante me fez arregalar os olhos.
— Beatrice…
— Cala a boca! — Outra chicotada e eu contraí o abdômen pela
surpresa.
— Porra!
Ela engatinhou por cima de mim, voltando a se sentar de pernas
abertas sobre meu quadril. Segurou meu pau com sua mão livre e o passou
por toda sua carne vermelha e muito molhada, me fazendo soltar um
gemido espremido entre os lábios.
— Sente como eu estou meladinha e pingando por você, caro mio?
Quer mesmo desperdiçar a minha porra? Hum?
— Filha da puta!
Bea então colocou a ponta do meu membro em sua entrada e desceu
lentamente por todo o comprimento. Senti suas paredes mastigando meu
pau. Ela começou pela cabeça, depois escorregou mais um pouco e voltou a
apertá-lo. Repetiu o movimento mais quatro vezes, me causando uma
sensação fodidamente gostosa.
Nossos olhares não se desviaram nem por um segundo, como se
estivéssemos hipnotizados com a sensação crua e maravilhosa de nossos
sexos se encontrando. Meu corpo tremeu debaixo do seu. Quando ela já me
tinha todo enterrado dentro de si, não resisti e mexi o quadril, alucinado
com o quanto a sua boceta estava quente e ensopada.
— Onde você está, caralho? — Matteo gritou.
— Eu não acredito que você está fazendo isso. Eu não acredito que…
Não consegui terminar a frase porque a mulher sobre mim, apoiou as
mãos em meu peito, uma delas ainda segurando o chicote e iniciou um sobe
e desce torturante, me apertando cada vez que me engolia.
Já fiz sexo sem proteção, mas foi apenas na adolescência por volta
dos meus dezoito anos e algumas poucas vezes com a minha ex. Mas
sempre procurava usar camisinha e fazia exames regularmente,
principalmente depois do que aconteceu com Verônica.
No entanto, nenhuma mulher chegava aos pés de Beatrice Fontana.
Ela era a mulher mais foda que eu já conheci, na cama e fora dela.
E estava criando raízes em mim.
— Caralho, Bea! Tira essa algema! Preciso… aah…
— Precisa de quê, amore mio?
— Preciso tocar em você.
— Não!
— Por favor!
— Hum, o meu putinho vai implorar? — provocou sem parar de se
mover em cima de mim, deslizando uma mão até meu pescoço. — Implora!
— ordenou, roubando um pouco de ar quando seus dedos se fecharam em
volta da minha garganta.
— Beatrice…
Batidas impacientes soaram na porta do quarto no exato momento em
que a diaba passou a sentar em mim com mais velocidade, me levando à
loucura.
— Gostosa! — gemi baixinho.
— Isso! Geme baixinho como um putinho obediente — sorrindo feito
o capeta, ela jogou o chicote de lado e desferiu um tapa em meu rosto,
rebolando com ainda mais afinco.
— Você está aí, Henrique? — seu irmão gritou. — Henrique? —
Mais batidas na porta e mais sentadas em meu colo.
Não percebi que havia fechado os olhos até que senti Bea colocando
seus seios sobre o meu peito e sussurrou em meu ouvido.
— Responda mio fratello!
— O quê?
— Responde, caralho!
— Eu preciso tocar em você.
— Se você responder a ele, eu te solto — ofertou e eu acenei,
engolindo com dificuldade o gemido alto que ameaçou sair pela minha
garganta.
— O-oi, Matteo!
— Por que não respondeu? — meu amigo quis saber e eu revirei os
olhos quando a boceta da irmã dele me apertou.
— Porra! — sussurrei e a desgraçada riu. — Eu estava no… banho!
— Sua porta estava aberta, cara — a voz de Miguel chegou aos meus
ouvidos.
— Eu… eu quem deixei.
— Onde está o Henrique? — Dante perguntou.
Porra, eu estava suando pra caralho!
Olhei para Beatrice, que possuía uma expressão divertida e safada.
— Eu vou te matar! — falei determinado a dar o troco.
— Promete que de prazer? — perguntou, voltando a ficar ereta
rebolando feito a puta gostosa que ela era.
— Meu Deus! — gritei sem conseguir evitar.
— Você está bem? — Matteo perguntou.
— Estou! Eu só… — Mordi o lábio inferior. — Eu… já estou indo!
Só vou me… vestir! — A última palavra saiu mais aguda do que planejei.
— Vem logo, porra. Se não, a pizza vai esfriar! — o boca suja
impaciente disse.
— Taaaaaa… aah! — outro grito fino.
— Você está bem mesmo, Henrique? — Dante questionou.
— Me desculpe se eu estou sendo inconveniente, mas você está…
acompanhado? — Miguel, persuasivo como sempre, procurou saber.
— Não! Só estou… estou em uma ligação!
Contei de um até três, torcendo para que eles se afastassem do caralho
da porta. Eu estava perto, porra, muito perto e pela forma como a boca de
Beatrice estava aberta e seus olhos escuro, ela também.
— Tudo bem, cara. Te esperamos na cozinha — Dante falou e eu
nunca agradeci tanto aos céus.
Sem parar de se mover, Beatrice raspou com força suas unhas em
meu peito, me provocando uma ardência gostosa.
— Não se atreva a gozar! Vou te soltar agora — anunciou, esticando
um braço até a caixa aberta sobre a mesinha da cabeceira, tirando de lá um
par de chaves.
Quando ela abriu as malditas algemas, apertei sua cintura e
impulsionei meu corpo, fazendo suas costas se chocarem contra o colchão,
ficando por cima sem sair de dentro dela.
— É agora que eu pago, caro mio? — indagou em um tom petulante.
Não respondi, ao invés disso, fiquei de joelhos na cama e segurei sua
cintura com força, sem tirar meus olhos dos seus. Saí de sua boceta e entrei
em uma estocada firme e dura, indo fundo, fazendo seus seios balançarem.
Ela gemeu a ponto de revirar os olhos, completamente inebriada de
prazer.
Eu repeti o movimento mais uma, duas, três, quatro, cinco vezes,
admirando o quanto a desgraçada ficava magnífica levando surra de pau na
boceta, antes de aumentar o ritmo.
Cada vez mais rápido.
Cada vez mais preciso.
Cada vez mais fundo.
Cada vez mais forte.
Olhei para baixo e precisei me concentrar para não gozar ao ver a
imagem do meu cacete entrando e saindo todo melado de seu canal
alargado por minha grossura.
— Henrique…
— Como a minha putinha é barulhenta — falei desferindo um tapa
em seu rosto. Ela sorriu, soltando os sons que eu tanto amava ouvir,
contudo, precisava que Bea fosse mais silenciosa. — Fica quieta!
— Não tem… não tem como… Ai caralho de cacete gostoso…
Continua! Continua!
Coloquei minha mão em sua boca, calando-a como uma focinheira.
Minha ação pareceu tê-la deixado mais excitada, pois duas estocadas a mais
e Beatrice gozou, me levando logo em seguida, não deixando de diminuir o
ritmo em que eu socava meu pau em sua boceta.
Quando os espasmos diminuíram, cai sobre seu corpo, tocando meus
lábios nos seus e iniciando um beijo sensual. Ficamos assim por alguns
segundos e quando o ar nos faltou, nos afastamos.
— Foi… isso foi…
— É, eu sei — Bea disse ofegante.
Dei um chupão em cada mamilo seu, ouvindo-a arfar baixinho antes
de sair de sua boceta deliciosa.
— Você precisa sair daqui — falei.
— Eu pensei em tudo. — Piscou um olho, pondo-se de pé.
— Claro que pensou. Varanda, imagino?
— Imaginou certo. Me ajuda?
Assenti, vendo-a colocar o sobretudo de mais cedo. Abri a porta dupla
e a carreguei em meus braços, elevando seu corpo até que passasse pelo
parapeito que divide a sacada.
— Nos vemos depois? — perguntou quando tocou os pés no chão do
seu lado da varanda.
Segurei sua nuca e lhe dei um selinho possessivo nos lábios para em
seguida declarar: — Dormimos na sua casa hoje.
CAPÍTULO 43
Henrique
Depois de ajudar Bea, tratei de tomar um banho rápido e escolher
uma camiseta e calça de moletom. Vestido, caminhei com a maior cara de
pau até a sala, encontrando meus amigos sentados no sofá devorando as
pizzas que estavam sobre a mesinha de centro e me sentei na poltrona de
frente para eles.
— Você estava fazendo sexo por telefone, não é? — Matteo indagou,
fazendo Miguel e Dante rirem.
Não, meu amigo.
Eu estava fazendo sexo, um sexo bem real com a sua irmã.
— O quê?
— Você sabe, sexo por telefone. Você fala e ouve umas putarias e
goza. Todo mundo já fez isso pelo menos uma vez na vida e se não fez, vai
fazer.
— Eu não estava fazendo sexo por telefone.
— Então estava batendo uma?
— Cala a boca! — exclamei, jogando uma almofada nele, que a
pegou no ar com uma mão.
— É, ele estava batendo uma — concluiu risonho.
Revirei os olhos.
— Falando sobre as atividades do seu pau…
— Não vamos falar sobre o pau de ninguém, fratello — Dante se
antecipou em falar.
Miguel riu.
— Eu amo ser amigo de vocês — declarou de boca cheia.
— Como eu estava dizendo antes do Dantinho me interromper,
falando sobre as suas atividades sexuais — apontou para mim —, quando é
que vai nos apresentar a mulher por quem está apaixonado?
— Eu não estou apaixonado!
— Na noite de inauguração do instituto, Stella garantiu que você
estava.
— Na verdade, ela disse que ele estava no caminho para isso —
Miguel corrigiu.
— É a mesma coisa, “princeso”. — Rolou os olhos, rindo. — Vou te
fazer algumas perguntas e você me responderá de forma sincera, B2.
— Que perguntas, porra? — questionei cruzando os braços.
— Sobre os estágios.
— Não vou responder nada! — Afirmei.
— Você sabe que ele não vai desistir enquanto você não responder —
Dante falou.
Bufei, encarando um Matteo sorridente que segurava um bloquinho
de notas cor-de-rosa nas mãos.
— O que é isso? — Miguel perguntou apontando para o objeto
brilhante.
— Meu bloquinho de notas — respondeu simplesmente.
— “Fofocas do grupo. Estrelando os três estágios.” — Dante leu as
palavras que estavam na capa que pareciam terem sido pintadas a mão. —
Você tem um bloco de notas sobre nós?
— Sim! — respondeu com um sorriso no rosto.
— Porque você tem isso? — Seu irmão tentou pegar o pequeno
caderno, mas acabou levando um tapa na mão.
— Ninguém pode pegá-lo! Apenas o dono, que sou eu! — Apontou
para o próprio peito. — E eu tenho isso porque gosto de estar bem
informado. Mas vamos direto ao ponto. — Ele folheou algumas páginas e
parou em uma, tirando do bolso, uma caneta da mesma cor.
— Porque rosa? — procurei saber.
— Minha cor favorita.
— Pensei que sua cor favorita fosse verde — Dante falou.
— Era, agora não é mais e isso, não importa. Primeira pergunta.
Puxei a respiração.
— Manda.
— Já sentiu ciúmes dessa mulher?
— Já — falei, me lembrando do babaca cretino do Jakov.
Meu amigo fez algumas anotações.
— É, você está apaixonado — concluiu.
— Concluiu isso com apenas uma simples resposta? — Miguel
indagou.
— Seriam duas perguntas, mas como Henrique já negou estar
apaixonado, isso mostra que ele está em estado de negação.
— Às vezes, eu me pergunto como ele conseguiu se formar na
faculdade de Direito e com louvor — Dante disse.
— Você deveria estar me bajulando até agora depois do que eu fiz por
você, fratello.
— O que você fez? — quis saber curioso.
— Evitei que um vídeo íntimo dele e da “gnomio” se pegando no
elevador da empresa, vazasse. O vídeo foi deletado antes que alguém, além
do segurança, visse.
— Argh! Não quero saber disso — Miguel gemeu em desgosto.
— Foram só uns beijos. Você está exagerando, boca suja.
— Porra, isso é coisa de amador, cara. Não sabe que tem câmeras nos
elevadores? — comentei, pegando um pouco de suco em cima da mesinha
de centro.
— Todo mundo já ficou com alguém em um lugar público alguma
vez, movido pelo tesão, Henrique — Miguel comentou. — Você não? —
Alçou uma sobrancelha.
Pela indireta do meu amigo, o suco acabou descendo pelo lugar
errado. Deixei o copo de lado e fiquei de pé, passando a mão no peito,
enquanto tossia, tentando respirar normalmente.
— Melhor? — Matteo perguntou depois de bater em minhas costas.
Olhei para Miguel, que reprimia um sorriso. É, ele sabia. Sabia sobre
Beatrice e eu, e estava tirando uma com a minha cara.
— Sim. Estou.
— Então — Voltou a se sentar — Quando vamos conhecer a mulher
misteriosa? — o fofoqueiro do grupo indagou.
Engoli em seco.
— Logo, acho — foi a única coisa que consegui pensar e dizer.
— Promete que vai me contar quando vocês surtarem?
— Não vamos surtar!
— Só promete, Henrique — Dante disse.
Suspirei.
— Prometo, B1.
Durante as duas horas seguintes, tentei ao máximo não pensar em
Beatrice e foquei em apenas passar um tempo de qualidade com meus
amigos.
Ao mesmo tempo que eu estava feliz pela relação — ainda sem nome
— que passei a ter com a italiana, uma parte minha ficava me lembrando
que eu estava escondendo algo muito importante de duas das pessoas que
mais se importavam comigo. E isso me causava um fodido incômodo em
meu peito.
Eu sabia, que mais cedo ou mais tarde, eles iriam saber sobre seja lá o
que Bea e eu tínhamos, mas não tomaria nenhuma decisão precipitada sem
antes entender que tipo de relação estávamos construindo.
Em um dado momento, Dante foi ao banheiro e em minutos depois
retornou com a porra do roupão azul que Beatrice esqueceu na outra noite.
— Onde você conseguiu isso? — Quis saber.
Engoli em seco.
— Por quê?
— Estou há dias tentando conseguir um desses. Segundo Ana, é uma
edição limitada da loja de lingerie favorita dela. Apenas cinco pessoas no
mundo todo tem um desse.
— Bem. — Me ajeitei no sofá, tentando ganhar tempo para pensar em
algo — É de… Stella. Ela esqueceu aqui.
— Onde ela conseguiu? — perguntou, jogando o roupão de lado, em
uma poltrona da sala.
— Vou perguntar a ela — respondi, coçando a nuca.
— Como ela está? — B1 indagou.
— Bem e ocupada como sempre por conta da agenda intensa de
trabalho, mas ela ama o que faz.
— Acho que Stella se daria bem com o Enrico — falou pensativo. —
Ele só pensa em Medicina e nada mais.
— A propósito, quando ele e Kyara vem para o Brasil novamente? —
perguntei.
— Daqui a alguns meses. Enrico tem um congresso de medicina —
Dante falou.
Quando ia perguntar algo sobre eles se mudarem de vez para cá, meu
celular tocou, sinalizando novas mensagens. Peguei-o e ao ver a tela, quase
caí para trás.
— Puta merda! — me levantei apressado, protegendo o aparelho para
não deixar que meus amigos vissem o nude que recebi da irmã deles.
Ela estava usando uma lingerie-cinta liga na cor azul claro, uma
calcinha minúscula e um sutiã de renda transparente. Gostosa pra caralho!
— O que foi? — B1 perguntou, preocupado.
— Nada! — Passei minha mão pela testa. — Só um vídeo de... de
terror.
— Deixa eu ver — Dante pediu.
— Não. Envio para você depois. — Ele assentiu.
Voltei minha atenção para a tela do aparelho e vi uma mensagem logo
abaixo da foto: "A cor me fez lembrar de você, gostoso."
Dei uma risada baixa admirando a foto, mas ainda sim, meus amigos
notaram.
— Acho que não tem nada a ver com terror o que está vendo ai —
Dante comentou.
— Definitivamente não — Miguel concordou enquanto Matteo
acenava com a cabeça, sorrindo sem parar.
Bloqueei o celular, guardando-o no bolso antes de encarar meus
amigos ao comentar: — Engraçadinhos.
CAPÍTULO 44
Henrique
Era impressionante o quanto uma boa companhia fazia o tempo
passar mais rápido.
Beatrice e eu havíamos criado uma rotina incrivelmente reconfortante
e quente.
Passamos a dormir quase todas as noites juntos e acordar com ela em
meus braços, era algo que eu já não conseguia mais ficar sem. Sua pele
quente e macia, e seu cheiro doce me despertavam as melhores sensações
que um homem poderia sentir por uma mulher. Ela me fazia querer ser
melhor e eu me sentia cada vez melhor.
A terapia que eu estava indo uma vez por semana, me ajudava a me
conhecer com mais afinco e me fez compreender, finalmente, que eu fui
uma vítima e que não tinha nada de errado comigo, além disso, estava tudo
bem sentir raiva de vez em quando, como Carla sempre frisava em nossas
sessões, era o que eu fazia com o que sentia, que realmente importava.
Ainda não tinha compartilhado com meus amigos sobre o meu
passado e torcia para que um dia, eu conseguisse e como Dante sempre
dizia cada vez que mencionava o instituto em nossas conversas: “Um passo
de cada vez.”
E era exatamente isso que eu estava fazendo.
Um passo de cada vez e eu seguia, com a mulher mais incrível ao
meu lado.
Beatrice Fontana estava cada vez mais enraizada em mim e eu não
conseguia mais me imaginar sem ela.
Bea fazia questão de me incentivar todos os dias e pulou de alegria
quando contei sobre o caso dos Vilhenas, ao qual ganhei. Ela fez questão de
preparar um bolo para comemorarmos e o final da comemoração foi ainda
melhor, quando ela se ajoelhou e lambuzou meu pau com a cobertura de
chocolate, me deixando foder sua garganta até esporrar dentro dela.
Eu sabia que pela forma como a nossa relação — ainda sem nome —
seguia, chegaria o momento em que eu precisaria contar aos meus amigos e
eu torcia para que eles nos aceitassem.
Observei Matteo e Dante se servindo com generosos pedaços da
lasanha que Bea havia feito para o nosso jantar entre amigos, e meu peito se
apertou com a possibilidade de perder suas amizades. Eles eram
importantes para mim, eram a minha família e não conseguia imaginar
seguir meu caminho sem tê-los comigo.
— Parece que não nos reunimos há anos. Estou tão feliz que estamos
todos juntos — Matteo falou, tocando em seu peito e seu rosto carregava
uma expressão dramática.
— É muito bom receber vocês em minha casa — Beatrice disse toda
sorridente.
Meu Deus, como ela ficava ainda linda sorrindo.
— Você fez uma bela reforma nesse lugar — Stella comentou,
observando em volta. — O espaço é maior do que eu me lembrava.
Franzi o cenho.
— Como assim? Você já esteve aqui? — indaguei.
Ela sorriu de um jeito malicioso.
— Peguei seu antigo vizinho — disse simplesmente, dando de
ombros.
— Puta merda! Você ficou com o Norman Cross? — exclamei
completamente surpreso.
— Fiquei. Pensa em um novinho quente que…
— Eu não estou ouvindo! Eu não estou ouvindo! Eu não estou
ouvindo! — falei e todos riram de mim.
— Que vinho é esse? — Bárbara perguntou, levando uma taça com a
bebida à boca.
— Um Dominus Napa Valley. — Beatrice respondeu, me encarando
do outro lado da mesa. — O favorito de Henrique. — Piscou para mim.
— Você tem um vinho favorito? Uma bebida alcoólica favorita? —
Matteo perguntou, alçando uma sobrancelha para mim.
Engoli em seco.
— Sua irmã… hãn… tem me ensinado sobre e… eu gostei desse. —
Forcei uma tosse. — Gostei bastante desse.
Olhei pelo canto de olho e vi as meninas e Miguel prendendo o riso.
— Ai! — Ana Laura reclamou e automaticamente todos se voltaram
para ela, que estava sentada no sofá passando a mão em sua enorme barriga.
— Você está bem? — Miguel questionou preocupado, indo até ela.
Dante logo se levantou e caminhou em sua direção, se sentando ao
seu lado no sofá.
— Ainda com dores, mi amore? — ele perguntou, acariciando os
ombros dela.
— Ela está com dor? — Stella quem indagou.
— Sim. Fomos ao hospital pela manhã e o médico nos disse que são
contrações de treinamento.
— Mas ela ainda nem completou os nove meses, certo? — Matteo
perguntou.
— Está com sete meses e alguns dias. Segundo o obstetra, é normal
sentir essas contrações. A cesárea já está marcada, minhas meninas só
precisam esperar mais um pouco — meu amigo disse com toda sua calma,
beijando a têmpora de Ana. — Você está se sentindo melhor, meu amor?
— Sim — respondeu e sua feição de dor suavizou. — Só preciso ir ao
banheiro. — Todos nós fomos para cima dela para tentar ajudá-la, mas Ana
levantou a mão e logo nos afastamos. — Eu estou bem. Não se preocupem.
— Olhou para o marido. — Você pode ir ao banheiro comigo, amor?
— Claro, querida. Vamos! — disse e a segurou pela cintura,
ajudando-a. Ambos caminharam lado a lado em direção ao banheiro.
Quando já estavam fora do nosso campo de visão, Stella se
aproximou, falando baixinho: — Acho melhor ligarmos para o médico dela.
— Por quê? — Miguel questionou com os olhos arregalados,
visivelmente apavorado.
— Obstetrícia não é a minha especialização, mas o pouco que sei
sobre dores antes dos nove meses, é que podem indicar parto prematuro. É
algo muito arriscado, principalmente em uma gestação de gêmeos como a
de Ana. Há casos onde os bebês e a mãe correm risco de vida.
— Puta que pariu! — B1 exclamou, passando as mãos
freneticamente nos cabelos.
— Fala baixo, idiota. Não queremos deixá-los preocupados —
Bárbara ralhou.
— O que vamos fazer? — Miguel perguntou.
— Acho que devemos... — Beatrice se calou ao ver nossos amigos
retornando.
No minuto em que eles se aproximavam de nós, Ana Laura parou de
andar e fez uma cara de espanto. Seu rosto empalideceu, sua boca se abriu e
seus olhos marejaram.
— Ana, você está bem? — Dante perguntou apavorado.
— Eu não sei... — Tocou em sua barriga com as duas mãos, seu rosto
sendo tomado pelas lágrimas. — Acho que a minha bolsa estourou. — Seu
olhar abaixou e todos nós seguimos seu movimento, vendo uma grand poça
de água no chão ao redor dos seus pés.
— Porra. Caralho! — Matteo gritou, andando de um lado para o
outro com as mãos na cabeça.
— Precisamos ir ao hospital — Stella bradou, pegando sua bolsa que
deixou em cima da mesa. — Agora!
CAPÍTULO 45
(Bônus)
Dante
Medo.
Eu senti medo mais vezes do que gostaria de admitir.
Eu senti medo quando minha tia Aurora faleceu.
Eu senti medo quando sofri o acidente de carro e precisei encarar
minha nova realidade e a família de Carlos.
Senti medo de Ana Laura me rejeitar e de não ser forte o suficiente
para ser tudo o que ela e nossas filhas precisavam.
Momentos que eu pensei que a dor não fosse passar de tão forte que
meu peito doía. Mas conforme empurrava a cadeira de rodas com a minha
esposa sentada nela e com nossos amigos e familiares logo atrás de nós, o
medo veio de uma forma avassaladora, fazendo meu corpo todo tremer.
Medo de perder as minhas filhas.
Medo de perder a mulher que eu amo.
Nunca pensei que amaria tanto alguém como eu sou louco pelas três.
Imaginar minha vida sem elas era como não poder respirar.
Meus morangos são meu ar, meu chão.
Era por elas que eu buscava ser melhor a cada dia, no trabalho, em
meus exercícios, na terapia, até mesmo no instituto quando uma tempestade
forte de saudade me toma.
É nelas que eu pensava antes de dormir e ao acordar.
Como eu ia conseguir seguir em frente, mais uma vez, se elas não
estivessem aqui?
A porta se abriu e vi o obstetra de Ana correr até nós, sinalizando para
que os outros esperassem. Ele me encaminhou para uma sala de espera
separada, levando minha mulher às pressas para a sala de cirurgia.
Enquanto me trocava, colocando a roupa adequada que uma
enfermeira me deu para poder entrar e participar do parto, pedi a Deus para
que tudo ocorresse bem.
No caminho para o hospital, eu não conseguia dizer nada. Só
segurava na mão de Ana enquanto Stella a acalmava com toda a sua
paciência e profissionalismo que só uma excelente médica tem. Beatrice
estava dirigindo e os outros nos seguiam no carro de Henrique.
— Dante Fontana?
— Eu — Pus-me de pé e fui até a enfermeira que há pouco tinha me
entregado as vestimentas.
— O senhor já pode entrar — avisou.
Quando entrei na sala, meus olhos foram direto para o corpo da Ana
deitado em uma maca no meio da sala fria.
— Meu amor! — falei e logo ela virou o rosto para me ver, e quando
os nossos olhares se encontraram, algo dentro de mim se acendeu.
Jogando todo o medo de lado, fui até ela e sentei em um banco
indicado pelo médico. Ele avisou que a cirurgia ia começar, mas me
desliguei de tudo ao meu redor, pensando apenas em minha esposa.
Segurei a mão livre dela, já que a outra estava com soro, e beijei o
dorso, fazendo um carinho em seguida.
— Eu estou com medo — sussurrou com a voz baixa e fraca pela
anestesia.
— Não fique, amore mio. Tudo vai dar certo. Nossas meninas são
fortes. — Beijei sua bochecha. — Você é forte.
— Se alguma coisa acontecer comigo, diga a elas que eu as amei
desde o dia que eu descobri que elas estavam dentro de mim.
— Não fale isso! Você vai ficar bem. — Sequei uma lágrima que
desceu por seu rosto e tentei não chorar pelo desespero que me tomou.
— Dante... Prometa para mim.
— Não! — Colei meu rosto junto ao dela. — Vocês três vão ficar
bem. Eu sei que vão. Vocês são os amores da minha vida, são tudo de mais
valioso que eu tenho. Eu não vou conseguir viver sem você — sussurrei
para que apenas ela escutasse.
— Eu te amo tanto, Dante. Tanto que chega a doer.
— Eu te amo mais, meu amor. Infinitamente mais.
O tempo passou e talvez tenha sido o nervosismo, mas parecia uma
eternidade até que… Até que escutei o barulho mais lindo que já ouvi na
minha vida inteira.
O choro das nossas filhas.
O choro das nossas herdeiras.
Nina e Bella, bem-vindas ao mundo, meus morangos.
CAPÍTULO 46
Henrique
Estávamos todos na sala de espera do hospital. No caminho para cá,
Miguel ligou para a sua mãe e os pais de Dante, que em menos de trinta
minutos, chegaram aqui trazendo todas as coisas que a recém-mamãe, Ana,
e as pequenas, Nina e Bella, precisariam.
A cada segundo que se passava, a ansiedade e o nervosismo de todos
aumentavam. Eu estava sentado ao lado de Miguel e Matteo. O Sr.
Vincenzo e a esposa estavam nas cadeiras à minha frente, com dona Luíza
ao lado deles. Beatrice estava um pouco mais distante conversando com
Stella e Bárbara.
Enquanto esperávamos, foquei meu olhar em Bea. Seu rosto estava
vermelho pela crise de choro que teve, logo depois que Ana e Dante
entraram na sala de cirurgia. E assim que notei mais lágrimas ameaçando
cair por seu lindo rosto, meu corpo foi atraído e fui até ela, abraçando-a
apertado.
Beatrice escondeu seu rosto em meu peito e chorou ainda mais
enquanto eu passava meus dedos por seus cabelos. Ficamos assim por
alguns minutos até que ela e as meninas decidiram ir ao banheiro.
Aguardávamos por notícias a mais de quarenta minutos. A angústia só
crescia até que, finalmente a porta se abriu revelando um Dante sorrindo de
orelha a orelha.
— Minhas filhas nasceram! — gritou, jogando os braços para o alto.
Ele foi abraçado por todos em meio a sorrisos e muitas lágrimas.
Seu rosto estava brilhando de tanta felicidade.
— Quando podemos vê-las? — dona Luíza perguntou.
— Como elas nasceram um pouco antes do tempo, vão precisar ficar
em observação, assim como Ana. Mas o médico disse que nenhuma das três
correm risco de vida. Assim que elas puderem receber visitas, eles avisarão.
— Graças a Dío! — dona Beatriz falou com as mãos para cima.
— E como elas são? — Bea perguntou ao meu lado.
— Tão lindas quanto a minha Ana — respondeu orgulhoso.
O médico logo apareceu e nos dispensou, avisando que as três
estavam proibidas de receber visitas naquela noite, além de Dante, já que
precisavam descansar e evitar grandes esforços.
No dia seguinte, estávamos todos no hospital de novo, aguardando
ansiosamente para ter a oportunidade de ver Ana e as gêmeas, que logo foi
anunciada pelo obstetra, ressaltando apenas que a recém-mamãe não
poderia fazer grandes esforços.
O quarto em que Ana Laura estava era imenso e estava repleto de
bexigas em formato de morangos, com uma plaquinha na porta com a frase:
“Bem-vindas ao mundo, Nina e Bella.”. Assim que ela foi aberta por um
Matteo impaciente, Ana surgiu em nosso campo de visão, sentada em uma
cadeira de rodas, sendo empurrada por Dante. Sua aparência estava
cansada, mas mesmo assim sua felicidade poderia ser vista a quilômetros de
distância.
Momentos depois, uma enfermeira entrou empurrando um carrinho
duplo de maternidade com as gêmeas nele. Dante ajudou sua esposa a se
sentar na cama enquanto a enfermeira entregava os bebês para os novos
papais.
— Porra! Elas puxaram a minha beleza — Matteo falou convencido.
— Com certeza, B1 — Ana disse, revirando os olhos para ele.
— Elas são tão pequenas — Bárbara comentou maravilhada.
— Elas são lindas — Stella falou emocionada, sorrindo para as duas.
Fiquei de longe observando a cena. Todos estavam ao redor da cama
encantados com Nina e Bella. Porém, o que me chamou atenção foi a feição
do meu amigo.
Durante todos esses anos em que nos conhecemos, jamais vi Dante
tão radiante.
Ele olhava para as três como se elas fossem tudo para ele.
Todos que ficavam cinco minutos conversando com ele, já percebiam
o quanto o meu amigo era apaixonado por Ana. E agora as gêmeas
chegaram apenas para aumentar a felicidade dos dois.
Corri meus olhos pelo quarto até Beatrice.
A mulher que dominou meus pensamentos.
Que tem sido o motivo dos meus risos nos últimos meses.
Era com ela que eu me sentia em casa.
Ela era meu lar.
Era para os braços dela que eu queria voltar no final do dia.
É nela que eu queria me enterrar todas as vezes que pensava em sexo.
Ah, o sexo com ela era maravilhoso.
Perfeito! Completamente diferente de tudo o que eu já experimentei
em toda a minha vida.
Olhei para seu corpo e meus olhos pararam em sua barriga. Um
pensamento me tomou tão forte que não consegui evitar imaginar como
seria ter um filho meu gerado por ela.
Como seríamos se estivéssemos casados e construindo a nossa própria
família, assim como Dante e Ana Laura?
Caralho! Eu, definitivamente, seria o cara mais feliz da porra desse
mundo todo.
Senti uma pontada em meu peito com a idaia de não tê-la mais, e por
alguns segundos, fiquei sem chão. Meu estômago se agitou, meu coração
acelerou e como se sentisse o meu olhar nela, Bea virou o rosto para mim,
pegando meu olhar com o seu. Um sorriso emocionado rasgou seus lábios e
foi quando algo dentro de mim vibrou.
Eu amava essa mulher.
Eu amava pra caralho essa diaba italiana que chegou como um
furacão em minha vida, fodendo minha cabeça de várias formas. Eu não sei
quando, mas me apaixonei por Beatrice.
Meus olhos ficaram marejados pela constatação.
Meu corpo tremeu em resposta e tentei controlar minha respiração.
Eu não sabia o que aconteceria quando contasse a ela e à sua família,
mas eu tinha apenas uma certeza.
Éra com Beatrice Fontana que eu desejava passar o resto da minha
vida.
CAPÍTULO 47
Henrique
— Obrigado por aceitar conversar comigo — falei, aceitando o copo
de suco que Miguel me ofereceu.
— Você pareceu um pouco ansioso ao telefone — comentou,
sentando-se na poltrona à minha frente.
Me mexi no sofá.
— Talvez eu esteja com um… problema.
— Como posso ajudar?
— Fodi uma mulher — respondi, bebendo metade do líquido amarelo
e deixando o copo sobre a mesinha.
— E foi ruim?
— Não, pelo contrário foi… perfeito. Todas as vezes são perfeitas.
— Então qual o problema?
— É que agora eu não quero apenas o corpo dela, mas também o
coração — soltei as palavras que vagavam em minha mente nas últimas
semanas desde que descobri os meus sentimentos por Beatrice.
Miguel soltou um longo suspiro, apoiando os cotovelos nos joelhos.
— É a Bea, não é? — questionou, seu olhar e sua voz eram calmos,
como de costume. Meu amigo parecia ter uma tranquilidade inabalável e
não conseguia imaginá-lo perdendo o controle.
— É, é ela.
Miguel Moraes sempre foi observador demais, por isso não me
surpreendi por ele saber que Beatrice e eu estávamos juntos.
— Isso é bem óbvio para qualquer pessoa que observe vocês dois
com atenção por cinco minutos. O jeito como você a olha como se ela fosse
a única e a mais bela mulher no mundo, é um sinal evidente de que você a
ama.
— Eu a amo — as palavras que pareciam estar presas em minha
garganta desde a descoberta dos meus sentimentos, finalmente se
libertaram. Era a primeira vez que eu admitia em voz alta.
— E eu acredito em você, Henrique. Assim como acredito que ela
também te ama.
Inspirei profundamente.
Esse era um dos meus maiores medos. Que meu sentimento não fosse
recíproco, porque se assim ocorresse, eu estaria fodido pra caralho e
definitivamente não seria de um jeito bom.
— Você acha que ela me ama? — indaguei, sentindo minhas mãos
suarem.
Miguel soltou uma risada pelo nariz.
— Com certeza, cara. Mas, apesar de nunca ter me apaixonado,
compreendo que a soma de dois sentimentos tão fortes como a paixão e o
amor, possam deixar até a pessoa mais segura do mundo, nervosa.
— Duvido que quando for a sua vez, você fique como eu estou —
declarei.
— E como você está, Henrique? — indagou com um sorrisinho de
lado e uma sobrancelha arqueada.
— Vai mesmo me fazer falar, porra?
Meu amigo filho da puta, que tia Luíza me perdoe, deu de ombros e
moveu a cabeça cinicamente.
Suspirei, relaxando no sofá.
— Eu estou feito o caralho de um cadelinha, completamente rendido
e de quatro pela desgraçada da diaba italiana.
— Quem diria que você seria o próximo a se tornar um cadelinha
como meu cunhado — disse, rindo. — Confesso que eu apostava em
Matteo.
— Ainda acha que ele e Bárbara vão se apaixonar? — perguntei. Ele
sempre dizia em nossas reuniões que os nossos amigos eram perfeitos um
para o outro e que era só questão de tempo para eles se envolverem.
— Com certeza! — afirmou. — Minha aposta ainda está de pé.
Ri.
— O que você acha que Matteo falaria se soubesse que você, Dante,
Enrico e eu apostamos em segredo o tempo que ele e a boneca vão levar
para finalmente se pegar?
A aposta foi ideia minha no dia do casamento de Dante e Ana Laura
enquanto Matteo e Bárbara brigavam por uma fatia de bolo.
— Ficaria puto para um caralho! — alegou e rimos. — Mas sobre
você e Beatrice, imagino que tenha me procurado para conversar sobre o
seu receio em contar para Dante e Matteo, certo? — Acenei. — Não vou
dizer que eles vão reagir calmamente e aceitar o relacionamento de vocês
assim, do dia para a noite simplesmente, principalmente depois que soube
do tal do juramento de dedinho que eu fui obrigado a fazer também. Sempre
vi Bea como uma amiga — garantiu. — Contudo, eu acredito que a verdade
e a conversa sempre são os melhores caminhos.
— Estou com um medo do caralho de perder a amizade deles —
soltei, sentindo um gosto amargo na boca ao falar tais palavras.
— Não acredito que seja pra tanto. Talvez Matteo dê uma surtada,
obviamente, mas o que não faz aquele maluco surtar? — Sorriu e eu acabei
sorrindo com o seu comentário. — Eles te conhecem há muito tempo,
Henrique. Conhecem o seu caráter e a sua índole, e ainda que Bea e você
tenham começado em segredo, é compreenssivo porque decidiram seguir
dessa forma. Como irmão, minha maior preocupação era ver Ana com
algum babaca de merda, como os que ela costumava se envolver antes de
Dante. E pelo que conheço dos nossos amigos, sei que eles querem a
mesma coisa para Beatrice.
— Eu realmente espero que eles nos aceitem. A benção deles é
importante para mim, principalmente depois que eu decidi que vou pedi-la
em casamento .
— Parabéns, cara! De verdade, fico muito feliz por vocês.
— Não acha que é cedo demais?
— Você está perguntando para a pessoa errada. Eu sempre fui direto e
ciente de tudo o que quero. Odeio perder tempo e quando eu encontrar a
mulher que vai botar uma coleira nesse pescoço aqui. — Apontou para sua
garganta. — Não vou pensar duas vezes em fazer dela, a minha esposa.
Então, amigo, se é ela que seu coração, corpo e alma querem, pegue-a para
você.

Respira, Henrique.
Respira, Henrique.
Você já enfrentou criminosos da pior espécie e está com medo de uma
senhora que ama dar abraços de urso e apertar bochechas e de um senhor
italiano que sempre te tratou como filho?
Vai dar tudo certo, caralho! Você só precisa lembrar de respirar,
porra!
Respira, criatura.
— Pode entrar, querido — dona Beatriz disse assim que abriu a
porta da sua casa para mim, dando-me passagem. Com as pernas tremendo,
entrei. — Está tudo bem? Quando ligaram da portaria avisando que você
estava aqui, fiquei surpresa.
— Espero não estar incomodando, senhora.
— Você não incomoda, querido. — Fechou a porta e se virou para
me saudar com o seu típico abraço apertado. Retribui. — Diga, o que você
deseja? — perguntou ao se afastar, apertando minhas bochechas.
— Gostaria de conversar com a senhora e o senhor Vincenzo
sobre… algo.
— Algum problema? — indagou preocupada.
— Espero que não. — respondi no exato momento em que o Sr.
Vincenzo se aproximou, depositando um beijo na testa da esposa para em
seguida estender a mão para mim.
— Tudo bem, ragazzo? — procurou saber e por um momento, sob
os olhares avaliativos de duas das pessoas mais importantes da minha vida,
pensei em sair correndo feito um covarde.
— Você está pálido — dona Beatriz falou, segurando meu rosto
entre as mãos calejadas pelo tempo.
— Podemos sentar, por favor? — pedi, suando frio.
Respira, Henrique!
Respira!
— Claro! Vamos para o escritório — o Sr. Vincenzo disse.
Durante o curto trajeto até o cômodo, fiz todas as orações que eu
conhecia, pedindo forças aos céus para conseguir falar tudo o que planejei
durante os últimos dias.
— Então, caro mio, qual o assunto que deseja falar conosco? — ele
perguntou quando já estávamos os três acomodados no sofá que havia ali.
Escorei as costas no canto, observando ambos me olhando com
expectativa.
— Beatrice.
— Minha bambina está bem?
— Sim! Ela está bem. Não se preocupe, senhor.
Eles suspiraram aliviados.
— Mas eu… Eu acho que… Não! Você não acha, Henrique! Você
tem certeza. Isso, eu tenho certeza! Eu tenho absoluta certeza de que estou
apaixonado por Beatrice. Tipo muita certeza mesmo, tão certo quanto eu
amo advogar. Não que eu esteja comparando a minha vida profissional ao
sentimento que sinto pela filha de vocês ou que ela me lembra algum cliente
que eu já tive. Definitivamente não é isso. Quer dizer, é isso sim. Não a
parte do Direito, eu não sei nem porque falei isso. Mas…
— Respira, querido — a senhora falou, se aproximando de mim e
tocou em meu rosto com carinho e só então, soltei o ar que havia prendido
sem saber em que momento o fiz. — Isso, respire.
Fechei os olhos e tomei fôlego. Quando senti minha respiração em
um ritmo normal, abri os olhos encontrando um sorriso gentil direcionado a
mim.
— Melhor? — ela procurou saber, ainda me analisando.
— Sim.
— Que bom, porque agora é a minha vez de surtar — declarou, me
dando um tapa no ombro e sorrindo feito o coringa, da mesma forma que
Matteo costumava sorrir quando ficava animado com algo.
— Ai! — exclamei, alisando o local.
— Eu sabia. — Apontou para mim. — Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia!
Franzi o cenho e meu olhar dançou entre a mulher que não parava
de sorrir, e seu marido, que tentava miseravelmente não rir dela.
— Sabia?
— Claro que sabia. Conheço minha filha como a palma da minha
mão e eu reparava na forma como ela olhava pra você.
— Como ela olhava para mim, senhora?
— Como se quisesse ficar trancada com você em um quarto por
dias! — Mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva.
— Amore! — seu marido ralhou, torcendo o nariz.
— O quê? Você acha que nossa bambina e o loiro aqui nunca
fizeram sexo?
— Santo Dio, mulher! Mio cuore! — ele disse, tocando em seu
peito. — Definitivamente, não quero saber esses… detalhes.
— Detalhes! Eu amo detalhes! Me diga, Henrique. — A mulher,
para lá de animada, tocou em minha mão, seus olhos claros brilhavam tanto
quanto luminárias. — Como vocês começaram esse namoro?
— Eu… Bem, eu ainda não a pedi em namoro.
— Não?
— Vim aqui justamente para isso.
— Vincenzo do céu. — Bateu no peito do marido. — Ele veio pedir
a nossa benção para namorar nossa menina.
— Na verdade, senhor e senhora Fontana, eu vim aqui para pedir a
benção de vocês para pedi-la em casamento — anunciei.
Os olhos de ambos se abriram em sintonia com suas bocas.
Esperei ansiosamente por suas palavras, mas recebi um grito da
mulher à minha frente e juro que fiquei surdo de um ouvido.
— Casamento!? — Ela se levantou em um movimento tão rápido
que quase se desequilibrou em seus saltos. Seu marido e eu acabamos
imitando-a, colocando-nos em pé. — Minha menina vai casar? — Juntou as
mãos na altura do peito.
— Eu espero que ela aceite o meu pedido.
— Mas é claro que ela vai aceitar. Cabeça erguida, homem — ela
disse, segurando meu queixo. — Nem acredito que isso está mesmo
acontecendo. — Me puxou para um abraço apertado. — Eu estou tão feliz
pelo coração da minha Bea ter encontrado com o seu. Você já faz parte da
família, querido. — Se afastou para me olhar nos olhos — E é claro que eu
dou a minha benção.
Sorri me sentindo um pouco mais aliviado.
— Obrigado, senhora. É muito importante para mim escutar isso.
— Agora! — Bateu as palmas, caminhando na direção da porta. —
A ocasião pede champanhe. Já volto! — E saiu, saltitando de um jeito que
me fez rir.
— Não quero nem imaginar o que mio amore fará quando for os
nossos netos a se casarem — Sr. Vincenzo comentou, soltando uma risada.
— Então. — Tocou em meu ombro e semicerrou os olhos para mim. —
Quer dizer que você está apaixonado pela minha Beatrice?
Engoli em seco, voltando a ficar nervoso como antes.
— Sim, senhor — declarei com firmeza.
— Está certo disso rapaz?
— Tão certo que — falei, enfiando minha mão no bolso da calça e
tirando de lá uma caixinha de veludo azul — já escolhi o anel. — Abri o
objeto, revelando um anel solitário com um diamante azul na ponta, do
mesmo formato que os piercings que Bea tem nos mamilos.
Sr. Vincenzo suspirou e um sorriso emocionado iluminou seu rosto e
só então eu consegui respirar verdadeiramente aliviado desde o momento
que cheguei aqui.
— Por muito tempo pensei que Beatrice seria a única dos meus três
filhos que não encontraria o amor. Eu a conheço e sei o quanto sua
personalidade forte a fazia acreditar que era impenetrável. Minha ragazza
tem a casca dura e mesmo sendo uma mulher inteligente e confiante, é tão
delicada quanto uma rosa branca.
— Porque está me dizendo isso, senhor?
— Porque eu fico feliz que você seja o homem que veio pedir a mão
dela. Eu confio em você e com certeza você também tem a minha benção.
Em vista disso, Henrique, como pai, peço que, mesmo que Beatrice esteja
com medo por amar você e acabe fazendo algo imprudente, quero que
prometa que não vai desistir dela, que vai lutar por ela com todo o amor que
sente, com todo o amor que eu estou vendo em seus olhos agora.
— Eu prometo, senhor!
Ele assentiu e seus olhos marejaram. O homem que eu sempre
respeitei antes, agora seria o meu sogro e eu desejava ser um pai como ele
no futuro.
— Agora, melhor irmos. Antes que a brasileira com quem me casei
abra todo o nosso estoque de champanhe — disse, sorrindo no exato
momento em que sua esposa retornou com uma garrafa de bebida já aberta.
— Dois já foram, amore mio — falou e nós rimos. — Agora só falta
o nosso “boca suja”.

Beatrice
— Que bom que aceitou meu convite para almoçar — Dante sorriu
para mim puxando uma cadeira para que eu me sentasse à sua frente.
Estávamos no restaurante da empresa, em uma mesa de canto,
afastados de todo o restante do salão.
— Como não aceitar, fratello. Pena que Matteo precisou ir para um
compromisso no outro lado da cidade.
— Marquei com você hoje porque sabia que ele estaria fora.
Franzi o cenho.
— Está tudo bem com Ana e as meninas? — indaguei preocupada.
— Elas estão ótimas. Ana já está se sentindo muito melhor depois que
tirou os pontos da cesária e mamma, rosa e minha sogra têm ajudado com
Nina e Bella — suspirou. — Nem parece que se passaram quase dois meses
— sorri, admirando seu rosto se iluminar ao falar da sua família.
— O que quer falar comigo?
Meu irmão mais velho me olhou como costumava fazer quando eu era
apenas uma garotinha que entrava em seu quarto para bagunçar suas roupas
e era pega no flagra.
— O que eu queria falar com você é algo que eu percebi desde o dia
do nascimento das meninas, mas pela forma que aconteceu acabei deixando
passar. E acho que esse momento chegou.
O olhei desconfiada, sem saber o que pensar. Dante sem dúvidas era o
irmão mais paciente. Ele podia ser ciumento como todos os homens da
família são, porém sempre procurava conversar e entender o lado da outra
pessoa. Eu o admirava por isso.
—Você está me deixando nervosa. Sabe que eu sou extremamente
curiosa. Diga de uma vez por todas. Per Dio!
Com calma, ele me observou. Com calma, ele falou.
— Você e Henrique estão juntos, não estão?
Suspirei, não vendo motivos para negar.
— Como você soube?
— No dia em que Ana teve Nina e Bella.
— Como?
— Na noite em que Miguel, Matteo e eu fomos ao apartamento de
Henrique, em um dado momento, fui ao banheiro e vi um roupão azul, o
mesmo que vi no seu banheiro quando fui com a Ana, antes da bolsa
estourar.
— Cazzo de roupão de edição limitada — falei, rindo.
— Há quanto tempo vocês estão se relacionando, cara?
— Um pouco depois que me mudei.
— Não me diga que na noite da inauguração do instituto, vocês
sumiram porque estavam…
— Sim. Com certeza estávamos fazendo sexo.
Ele rolou os olhos, passou a mão nos cabelos e gemeu em desgosto.
— Carlos definitivamente estaria rindo da minha cara agora —
comentou. — E naquela... noite em que nós três estávamos na casa de
Henrique, você estava com ele no quarto, não estava?
— Culpada. — Levantei a mão com um sorriso brincalhão no rosto.
Meu irmão coçou a nuca, tentando parecer tranquilo.
— Ok! Você... você transa.
— Ovviamente, fratello. — falei, me divertindo com a sua cara de
assustado.
— Tudo bem. — Puxou a respiração. — Você está feliz com essa
relação?
Não preciso pensar na resposta, pois ela veio rapidamente.
— Si. Muito feliz.
Tocando nas minhas mãos em cima da mesa, ele me avaliou antes de
falar.
— Segundo a minha esposa, depois que nos tornamos pais,
adquirimos um sexto sentido em relação aos sentimentos de quem amamos.
— Porque está falando isso?
— Porque estou vendo em seus olhos que algo está te perturbando,
piccola mia. Estou errado?
Soltei um suspiro e falei o que andava me incomodando há semanas.
— Talvez seja coisa da minha cabeça, mas desde o dia do nascimento
das meninas, Henrique tem andado estranho.
— Estranho como?
— Ele está distante. Sempre que pergunto algo ele desconversa e
bem, não gosto de ser chata e nem que invadam a minha privacidade, assim
como ele então, fico quieta e não insisto.
— E porque não conversa sério com ele?
— Eu tenho medo. — Fiz beicinho, segurando o choro que queria
sair.
— Medo? Beatrice Fontana com medo?
Bufei.
— Acredite, é tão inédito para você quanto para mim.
— Quando estamos apaixonados é normal ficar com medo.
Suspirei e pela primeira vez desde que percebi os meus sentimentos
por Henrique, confessei em voz alta.
— É.
— Então você está apaixonada por ele?
— Estou e cazzo, aquela boneca debochada vai zoar com a minha
cara quando souber. Passei os últimos dias dizendo a ela que eu não estava
apaixonada.
— Você estava no estágio de negação — Dante constatou.
— Nosso irmão estava mesmo certo sobre essa coisa de estágios, não
é?
— Estava.
Rimos.
— Mas, não deixe o medo te paralisar, cara mia. Sentir medo
significa um ato de cuidado com o nosso coração, contudo quando esse
medo nos paralisa a ponto de nos impedir de viver momentos incríveis, não
é bom — falou com a voz cheia de carinho. — Posso ter demorado para
notar que a “gnomio” me queria, mas depois que entrei nessa vida de
casado, eu aprendi a observar muita coisa. Não é de hoje que notei um
interesse mútuo entre vocês, porém sempre achei que seria apenas ciúme de
irmão mais velho. Contudo, quando vi o roupão na sua casa, passei a
observar de forma mais atenta vocês dois, principalmente ele. Henrique te
olha como se você fosse a única mulher no mundo, da mesma forma que eu
olho para Ana.
— Sei — falei com desdém.
— Acredite quando eu digo, Henrique tem sentimentos verdadeiros
por você. E talvez ele só esteja confuso, afinal, são anos ouvindo os irmãos
da mulher que ele ama dizendo que é proibido se aproximar da nossa
irmãzinha. Na hora certa, ele vai se abrir para essa relação tão ímpar e rara
que vocês têm. Dê tempo a ele.
— Você acha que ele me ama? — perguntei, sentindo-me uma boba.
— Eu tenho certeza, assim como vejo em seus olhos que você
também o ama. Não é?
Não respondi, apenas balancei a cabeça concordando.
— Não fique pensando em coisas que não existem, Bea. No final tudo
vai dar certo. Eu tenho certeza disso. Não posso negar que quando me dei
conta de que vocês estavam se envolvendo, eu tive um leve surto — falou,
me fazendo rir. — Mas depois fui tomado por uma paz em saber que a
minha irmã estava com alguém como ele. Henrique é meu amigo e é dono
de um caráter inquestionável. Apesar daquela boca suja que ele tem, sei que
jamais faria nada para magoá-la.
Soltei um suspiro, absorvendo todas as palavras que meu irmão disse,
tentando acreditar em cada uma delas. Mas minha intuição dizia que algo
ruim estava prestes a acontecer.
Eu realmente esperava que fosse apenas coisa da minha cabeça.

Uma semana se passou desde a minha conversa com Dante e eu


ainda estava uma pilha de nervos. Não consegui me concentrar em nada
durante todo o tempo, pensando no que pudesse estar deixando Henrique
tão misterioso repentinamente.
Durante os últimos dias, até em sua casa, ele ficou. Não aceitou
nenhum convite meu para dormir em meu apartamento, assim como sempre
inventava uma desculpa para que eu não dormisse no seu. Não houveram
rapidinhas, muito menos beijos quentes e a minha tarada interior estava
enlouquecendo assim como eu. E o maldito incômodo, de que algo estava
errado, só estava aumentando.
Já passava das sete da noite quando cheguei em casa decidida a
colocar as cartas na mesa. Havia enviado uma mensagem a ele avisando que
desejava conversar antes dos nossos amigos e família chegarem para o
nosso primeiro encontro com Ana depois que as gêmeas nasceram.
Não estava mais aguentando o meu coração se consumindo em
dúvidas. Seja lá o que fosse, eu precisava saber o que estava acontecendo,
mesmo que me doesse. Não era covarde e nem nunca serei.
CAPÍTULO 48
(Bônus)
Verônica
Olhando para o senhor simpático à minha frente ao telefone, apertei
com força os meus dedos em volta da alça da minha bolsa sobre o meu
ombro direito, sentindo o nervosismo me tomar.
Não conseguia me lembrar quanto tempo fazia que Henrique e eu
não nos falávamos, porém não esqueci nenhum segundo da nossa última
conversa, porque foi naquele mesmo dia que ele me contou sobre a maldita
italiana que queria roubá-lo de mim.
Henrique e eu tínhamos uma história, uma história de anos e, ainda
que eu tivesse cometido erros pelo caminho, era especial.
Nossa história não era convencional, mas era única.
Eu sabia que ainda me amava, que ainda me queria. Eu podia ver o
cuidado que sempre tinha comigo em todas as vezes que precisei de ajuda
com os meus pais por conta do vício de ambos com as drogas.
Henrique sempre esteve lá para e por mim.
Ele nunca negou um pedido de ajuda meu, até se ofereceu para
pagar o tratamento dos meus pais na melhor clínica do país.
Ele nunca disse não, até a maldita italiana aparecer.
Eu sabia que, durante esses anos desde que ele terminou comigo,
Henrique tinha casos, contudo não passavam disso. Casos.
Casos que duravam uma noite, uma semana, um ou dois meses, mas
nada além disso.
Ele sempre voltava para mim, porque sabia que estávamos
predestinados a ficar juntos.
Ele sabia. Eu sabia e aquela mulherzinha precisava saber.
— Senhorita — o porteiro do prédio de Henrique me chamou assim
que finalizou a ligação —, o senhor Prado liberou sua entrada.
— Obrigada.
— Os elevadores estão ali. — Apontou para a minha direita. —
Último andar.
Assenti e sorri gentilmente em agradecimento, indo na direção
indicada. Com as mãos suando, apertei o botão que sinalizava o último
andar e em momentos a porta foi aberta, revelando um corredor. Meus
olhos foram atraídos para o loiro que estava de braços cruzados e com as
costas apoiadas no batente.
— O que faz aqui? — perguntou à medida que eu me aproximava.
Seu semblante estava sério e ele não parecia tão feliz pela minha visita
surpresa.
— Atrapalho?
Seu olhar foi de mim até o apartamento ao lado, se demorando ali por
dois segundos antes de voltar a me encarar.
— Estou esperando alguns amigos.
— Gostaria de conversar com você.
— Está precisando de algo?
— Não. Tudo que você deixou é o suficiente para meus pais ficarem
bem. Obrigada pela ajuda.
— Sabe que me preocupo com você e desejo que seja feliz.
— Eu sei e sou grata por isso. Por você sempre ser tão bom comigo.
— Usei o meu melhor tom meigo em cada palavra, forçando um sorriso
tímido, que eu torcia para que ele acreditasse.
— Então, porque veio até aqui?
— Podemos conversar? — Fiz um beicinho exagerado e o encarei
com os olhos mais pidões que conseguia fazer. — Por favor? — insisti,
torcendo para que ele cedesse.
O loiro suspirou e ponderou por alguns segundos.
— Tudo bem. Entre. — Abriu passagem para mim e eu adentrei no
apartamento.
— Está esperando alguém? — questionei, olhando o espaço que foi
todo decorado em tons de branco e azul, com arranjos e um jogo de louças
da mesma cor. — Lindo lustre. — Apontei para o objeto todo feito com
pedras de diamante.
— Tenho um… jantar importante em alguns minutos. — Após fechar
a porta e se virar de frente para mim, avisou de forma direta. — Não tenho
muito tempo.
— Deve ser muito mais que importante, já que você nunca foi muito
ligado à decoração. Na verdade, você detestava tudo o que julgasse
exagerado demais — comentei, rindo. — Lembra quando fomos a um
restaurante japonês cinco estrelas e você se estressou a cada sushi que
tentava segurar e levar à boca com o hashi? E quando…
— Verônica! — meu nome saiu de sua boca demonstrando sua
impaciência no som forte e alto o suficiente para me fazer estremecer no
lugar.
— Porque está usando esse tom comigo? — Abracei minha cintura
com os braços.
— Me desculpe — falou, se aproximando. — Eu só estou com um
tempo apertado.
— Tudo bem.
— Diga-me o que deseja.
— Terminar a última conversa que tivemos.
Ele franziu o cenho.
— O que você quer dizer com isso?
— Você poderia me servir um pouco de água, por favor? — indaguei
tentando ganhar tempo para pensar em todos os argumentos a fim de
convencê-lo de que eu sou a mulher certa para ele.
Você é meu, Henrique.
E sempre será só meu.
— Um momento — ele disse indo até a cozinha.
Aproveitei para deixar a minha bolsa no sofá e andando de um lado
para o outro tive a ideia perfeita para conquistar meu homem.
— Mas que porra é essa? — exclamou de olhos arregalados assim
que me viu sem o vestido.
— Gostou? Comprei pensando em você, amor — disse, sorrindo
caminhando até ele e passando as mãos por sobre a renda da minha lingerie
que pouco cobria meu corpo. — Lembra como você gostava de ser
surpreendido por mim depois das aulas? — Toquei seu peito, acariciando-o
por cima da blusa de botões branca. — Lembra como o nosso sexo era
bom?
— Verônica — bradou, afastando-se de mim abruptamente, o que fez
com que o copo em sua mão caísse no chão, se quebrando em vários
pedacinhos. — Porra — exclamou, olhando para a sua blusa toda molhada
pela água.
— Me desculpe, amor — pedi indo até ele e segurando seu rosto.
Henrique franziu o cenho e pareceu confuso por dois segundos, mas
logo fechou seus dedos em volta dos meus pulsos me afastando com certeza
frieza.
— Henrique?
— Vou trocar de roupa e pegar algo para limpar essa bagunça. E você
— Apontou para mim com a expressão fechada. — Vista-se. Agora! —
ordenou, saindo da minha vista.
Bufei, sentindo meu ódio por aquela mulherzinha aumentar.
Beatrice Fontana era uma pedra no meu caminho e queria roubar
Henrique de mim.
Ela fez uma lavagem em sua cabeça e por isso ele não conseguia ver
que eu era a mulher certa para ele. Eu sei que ele ainda me amava. Eu sei
que ainda me queria, que ainda me desejava.
Sou despertada dos meus pensamentos quando vejo a porta da frente
sendo aberta e a desgraçada surgindo em meu campo de visão.
— Henrique a porta estava aberta e… — suas palavras morreram no
momento em que me viu. — Vo-você?
Fingindo surpresa, assim como ela, sorri.
— Beatrice Fontana? — Levei uma mão ao peito. — Que honra vê-la
duas vezes em tão pouco tempo.
— Eu… Eu…
— Você está bem? — perguntei, caminhando até ela e dando gritos
internos quando a filha da puta varreu meu corpo seminu.
— Eu… Eu…
— Querida, você está pálida — comentei, tocando em seu rosto.
— Onde está o Henrique?
— Meu namorado está no banho.
— Você e… Você e Henrique são… namorados? Ele não me disse
que tinha uma… namorada.
— Bem, eu era a namorada, depois fui a ex e recentemente voltamos,
você sabe. — Bati em seu ombro em um sinal de cumplicidade feminina. —
Quando os homens amam, eles não conseguem ficar longe.
— Voltaram? — Seus olhos se arregalaram ainda mais e meu sorriso
aumentou.
— Sim. E olha a surpresa que ele preparou para mim. — Indiquei o
apartamento todo decorado em tons de azul e branco.
E como se o destino estivesse me mostrando que essa mulher
precisava sair das nossas vidas, Henrique apareceu ao longe, pela porta de
vidro que ligava a sacada do seu quarto à entrada da sala, vestindo apenas
uma calça social preta aberta.
— Vocês estavam…
Não deixei que completasse.
— Estávamos. — Pisquei para ela. — Na verdade, estávamos prestes
a começar o segundo round. Você sabe, homens grandes como ele são
insaciáveis — soltei uma risada. — E a propósito, obrigada pelo jantar de
graça. Naquela noite, eu fui a sobremesa para o loiro ali.
Como se não suportasse mais, a ordinária piscou algumas vezes como
se quisesse afastar as lágrimas que já formavam em seus olhos.
— Com licença. Eu…Eu preciso ir.
E assim, a filha da puta abriu a porta e saiu, e eu torcia para que fosse
para sempre.
Só havia espaço para uma senhora Prado e essa mulher era eu.
CAPÍTULO 49
Henrique
Cheguei em casa do trabalho mais cedo do que de costume, tentando
conter o nervosismo que se apossou de mim desde o momento em que abri
os olhos pela manhã e recepcionei a equipe de decoração que contratei para
arrumar todo o meu apartamento para o grande momento.
O momento em que eu pediria Beatrice Fontana em casamento.
Só Deus sabe o quanto foi difícil fugir da italiana curiosa que não
parava de me fazer perguntas. Como ela ficava linda enquanto tentava
arrancar alguma informação sobre o fato de eu estar estranho. Tão linda
que, por vezes, me senti tentado a me ajoelhar e pedi-la em casamento ali
mesmo. Contudo, me contive, pois queria que fosse especial. Eu queria que
fosse romântico e inesquecível. Ela merecia isso.
E, definitivamente, ter a visita repentina da sua ex alguns minutos
antes do horário marcado com todos, não estava na minha definição de
perfeição, muito pelo contrário.
Há algumas semanas, fui até a casa onde Verônica morava com os
pais, determinado a conversar sobre o tipo de relação que tínhamos. Eu
estava decidido a deixar o passado para trás e a não me encontrar mais com
ela, ainda que todas as vezes que nos vimos após o nosso término, fosse
única e exclusivamente para ajudá-la. Eu sabia que não tinha obrigação
nenhuma, porém não conseguia simplesmente ignorar.
Assim que terminamos, os pais de Verônica sofreram uma recaída e
desde então não conseguiram ficar limpos por mais do que um mês. Na
maioria das vezes em que ela me ligava, era porque os pais estavam
desacordados no meio da cozinha por horas.
Eu fazia o que estava ao meu alcance, mas eles precisavam ceder. E
foi um alívio para mim quando eles aceitaram o tratamento depois de muita
conversa e com a ajuda da equipe da melhor clínica para dependentes
químicos, conseguimos interná-los. Ambos estavam mais magros do que na
última vez que eu os vi.
Deixei um funcionário meu responsável por fiscalizar todos os gastos
com a clínica, para evitar ter contato com Verônica. Não seria respeitoso
para com o tipo de relação que eu estava prestes a começar com Beatrice.
Da mesma forma que ter o contato de ex-casos meus também, por isso
exclui um por um dos números e neguei o pedido de Lisa para nos
encontrarmos, avisando que não estava mais solteiro. Como pensei, ela foi
madura e me desejou felicidades.
Contudo, enquanto eu retornava para a sala, depois de trocar de roupa
e limpar a bagunça que sua atitude me causou, pensei em como ser mais
claro com a minha ex.
— Eu falei para você se vestir, Verônica! — falei firme, pegando seu
vestido de cima do sofá. — Vista-se, agora! — ordenei novamente,
entregando a peça a ela.
Ela bufou, mas pegou a roupa e tratou de fazer o que mandei.
— Antes você gostava quando eu te surpreendia — reclamou,
vestindo-se.
— Você disse certo. Antes. Nunca dei a entender que você poderia
fazer algo assim após o nosso término.
— Eu pensei que…
— Seja lá o que você tenha pensado — a cortei —, está errado. Eu
não estou interessado.
— Mas você sempre me ajudou quando eu precisava.
— Eu ajudava e ajudo porque não sou insensível a ponto de ignorar a
situação dos seus pais. E como deixei claro para você quando eles foram
internados, garanto que financeiramente continuarei ajudando, mas
fisicamente não vamos mais nos encontrar.
— Henrique, somos perfeitos um para o outro — suplicou com a voz
melosa, que me fez sentir um certo nojo. — Eu quero você —
choramingou, se aproximando.
— Mas eu não te quero! — fui categórico.
— Eu não consigo aceitar que por causa daquela vagabunda
maldita…
Não deixei que ela terminasse, cortando-a novamente.
— Não ouse falar de Beatrice dessa forma!
— E porque eu deveria me importar com ela? — questionou, batendo
as duas mãos em meu peito.
— Porque eu me importo com ela. — Apontei para o meu peito. —
Não ouse falar dela, pensar nela e muito menos chegar perto dela, Verônica
— declarei.
— Você se importava comigo antes dela aparecer.
— Verônica, entenda, não vamos voltar ou ter qualquer tipo de
relação. Eu não te amo.
— Não! — bradou, balançando a cabeça de um lado para o outro. —
Você está enganado.
— Eu nunca estive tão certo em toda a minha vida. Tão certo que
pretendo oficializar a minha relação com Beatrice.
— Você… você vai pedi-la em… casamento? — sua voz vacilou.
— Não que isso seja da sua conta, mas sim. Eu vou.
— Não, não, não... Você não pode fazer isso comigo! — gritou,
batendo em meu peito repetidas vezes.
— Já chega! — Segurei seus braços, fazendo-a olhar em meus olhos.
— Você precisa parar com isso. Sua atitude não é nem um pouco normal.
— O que não é normal, é você continuar fugindo do que nós sentimos
um pelo outro.
— Meu Deus! Você está ao menos me ouvindo?
— Claro que estou, amor — falou e a forma como ela sorriu me fez
sentir calafrios.
— Verônica, preste atenção quando eu digo que nada, absolutamente
nada vai acontecer entre nós dois. Você entendeu? — Ela ficou em silêncio
e algo em seu olhar me assustou. — Mesmo se Beatrice não existisse, eu
jamais voltaria a ter qualquer tipo de relacionamento amoroso com você.
Assim que as palavras saíram da minha boca, ficamos em silêncio,
um total e completo silêncio. Vi seus olhos balançarem de um lado para o
outro, como se sua mente tentasse processar cada palavra que eu disse.
Nunca a vi dessa forma durante todos esses anos.
— Verônica, você me escutou? — verifiquei.
— Eu preciso de você — choramingou.
— Não, você precisa e quer o meu dinheiro não a mim. — A soltei,
indo até a porta. — Por favor, peço que saia da minha casa.
— Por favor, me escuta! Imagina como seria bom viver os planos que
fizemos quando éramos jovens.
— Isso é passado! — suspirei, tentando controlar a raiva.
— Mas pode ser o nosso futuro, amor. — Caminhou novamente até
mim. — Lembra quando costumávamos dizer que conheceríamos o mundo
juntos? Lembra?
— Verônica, você não me parece bem.
— É claro que não estou, Henrique. Não estou bem faz anos. Eu estou
sofrendo, porque eu te amo. Entende? — Tocou em meu rosto. — Eu te
amo, amor.
— Mas eu já disse que não te amo.
— Eu sei que você está confuso porque aquela mulher apareceu e te
enfeitiçou, mas eu prometo que se você me der uma chance, eu vou te
recompensar pelo resto da minha vida.
— Por favor. Saia.da.minha.casa — falei pausadamente, abrindo a
porta e olhei diretamente em seus olhos, torcendo para que ela visse a
verdade que estava por trás de cada palavra.
Ficamos nos encarando por três segundos e eu notei em seu olhar algo
que me deixou apavorado. Ela finalmente pareceu ter caído na real, pois
passou por mim indo até o elevador sem olhar para trás. Fechei a porta e
procurei me acalmar.
A noite não começou como eu planejei, mas espero que termine
melhor. Com Beatrice em meus braços.

Beatrice
Boba. Henrique Prado me fez de boba e eu odeio me sentir assim.
Eu odeio!
Saí do seu apartamento reprimindo a vontade de chorar. Não ousaria
fazer isso diante daquela mulher e lhe dar o prazer de me ver desmoronar
perante os seus olhos que possuíam um brilho perigoso e vitorioso.
Mas foi só atravessar o corredor e abrir a porta do meu apartamento,
que me joguei no sofá aos prantos, sentindo meu coração doer como se
Henrique o tivesse apertado com as próprias mãos.
— Como… Como você foi burra, Beatrice! Burra, idiota e boba! —
falei entre soluços, batendo em minha cabeça e me punindo por ter deixado-
o dominar meu corpo, minha alma e cada pensamento meu. Por me permitir
se apaixonar por ele e mergulhar de cabeça em um sentimento tão perigoso
como esse.
Amor.
Eu o amava. Eu amava Henrique Prado com todo o meu ser.
Com cada pedacinho de mim, eu amava cada pedacinho dele.
Eu o amava tanto, que sonhava em ter um futuro ao seu lado com toda
aquela bobagem de casamento, casa e filhos.
Eu o amava a ponto de me sentir segura o suficiente em não ter medo
de ser ferida.
Eu o amava e mesmo o odiando agora, eu só queria o seu abraço, o
seu beijo, os seus toques.
Mesmo o odiando e sabendo que ele não me ama da mesma forma, eu
o queria aqui, agora, em meus braços.
Argh! Como as pessoas sonham em ficar assim, tão vulneráveis?
Como a cura para a dor que dilacera meu coração pode também ser a
causa dela?
Boba. O amor faz isso. O amor fez isso comigo.
Ele acabou de fazer isso comigo.
Me fez de boba. E porra, eu odiava me sentir assim.
Não sei por quanto tempo fico me martirizando, mas a julgar pela
forma como o meu corpo inteiro doía, imagino que fiquei mais tempo do
que o aceitável para alguém tão orgulhosa como eu.
Puxei a respiração com força e me coloquei de pé no exato momento
em que a minha campainha soou.
Ainda um pouco atordoada, não me importei em olhar pelo olho
mágico para saber quem é. Simplesmente agi no automático e assim que
abri a porta, vi a última pessoa que deveria me ver no estado em que eu me
encontrava, parada diante de mim.
— O que aconteceu com você? — Matteo perguntou, segurando meu
rosto entre as mãos. — O que aconteceu com você, Beatrice?
Não consegui reprimir o bico de choro que se formou.
— Nada — murmurei, sentindo algumas lágrimas teimosas caírem.
— Como nada, Beatrice? Olha como você está.
— Não foi nada, fratello. Eu prometo — disse, me livrando do seu
aperto. — Eu estou bem. — Forcei um sorriso.
— Você está tudo, menos bem, sorella. Me diz quem fez isso com
você? — quis saber. Claro que quis.
— Nada, Matteo. Não se preocupe. Já vai passar — afirmei, passando
as mãos no rosto.
— Caralho, eu vou matar quem te deixou desse jeito! — bradou.
— Matteo…
As palavras morreram no caminho quando vi a porta do apartamento
ao lado ser aberta e toda a nossa família e amigos surgir em meu campo de
visão, inclusive ele.
— O que está acontecendo? — Miguel perguntou. — Ouvimos você
gritar. — Tocou no ombro do meu irmão.
— Bea! — Henrique falou ao meu ver e por um segundo amoleci ao
ouvi-lo me chamar assim. — O que aconteceu com você, meu amor? —
indagou, segurando meu rosto entre as mãos, parecendo verdadeiramente
preocupado, o que fez meu coração doer ainda mais.
— Amor? — Matteo perguntou e vi, por cima dos ombros do homem
que eu amava, seu cenho franzir.
— Amor — o dono do meu coração me chamou e eu estremeci
novamente, sentindo meu coração quebrar um pouco mais.
Olhei em seus olhos, os olhos azuis que eu tanto amava admirar
enquanto me observava com fascínio. Tudo não passava de uma mentira.
— Me solta! — sussurrei, sentindo minha voz embargar.
— O quê?
— Me solta, Henrique! Agora! — consegui gritar.
— Caralho, o que está acontecendo? — Matteo questionou, mas não
movi meus olhos do homem por quem eu, infelizmente havia me
apaixonado.
— Amor…
— Não me chama mais assim! — disse entredentes, afastando-me do
seu toque.
— Porque você está agindo assim?
— Você é muito cínico, Sr. Prado — minhas palavras saíram pingadas
de sarcasmo.
— Amor, eu realmente não estou entendendo o que você está falando.
— Porra, será que eu sou o único que está chocado com o fato do B2
estar chamando Bea de amor? — Matteo gritou, batendo as palmas para em
seguida balançar as mãos no alto.
— Sim, você realmente é o único que está chocado com isso —
Bárbara comentou.
— Bea… — Henrique tentou me tocar mais uma vez, porém recuei.
— Eu não quero que você me toque, nunca mais — exclamei.
— Tocar? O que ela quis dizer com tocar?
— Por favor, vamos nos acalmar — Miguel pediu, seu semblante era
o único tranquilo.
— Eu não quero me acalmar! Não tem como eu me acalmar, porque
ela não me deixa chegar perto — gritou sem tirar seus olhos dos meus, sua
pele estava vermelha e seu peito subia e descia rapidamente.
— Vamos nos acalmar, por favor — Dante disse. — O que quer que
tenha acontecido, vocês poderão resolver conversando.
— Não há nada para conversar — afirmei.
— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Matteo
perguntou.
— Nada demais — respondi, apertando meus olhos e encarando
Henrique. — Não aconteceu nada demais! Nada! — enfatizei a última
palavra.
— Nada… demais? — Dei um passo à frente. — Você está dizendo
que tudo o que aconteceu entre nós dois não foi nada? Que eu não sou nada
para você?
— Eu que não fui nada para você, já que estava se encontrando com a
sua ex! Até decorou todo o apartamento para comemorar porque reatou com
ela.
— Porra! — minhas amigas falaram em uníssono.
— E não adianta me dizer que estou inventando coisas, caro mio. Eu
a vi seminua em sua casa — me aproximei e enunciei cada palavra
calmamente, tocando em seu peito com meu indicador — Então, qualquer
coisa que tínhamos, acabou!
— Entre nós? Tocar…? — Matteo repetiu as palavras e em dois
segundos, seu cérebro pareceu finalmente processar a informação que só
ele, até então, não sabia. — Caralho! Você…. Você fodeu a minha irmã e a
traiu com a desgraçada da Verônica? — Bradou, indo para cima do amigo
tão rápido, que Miguel e Dante não puderam detê-lo. Tudo em seguida
aconteceu em câmera lenta diante dos meus olhos.
Meu irmão estava enfurecido quando segurou a gola da camisa de
Henrique e desferiu um soco em seu rosto. Levei minha mão à boca,
sentindo meu estômago embrulhar. Tentei acalmar minha respiração à
medida que Miguel e Dante seguraram Matteo, afastando-o de Henrique,
que agora tinha um rastro de sangue no canto da boca.
— Porra! Você… Você… Eu não acredito que você fez isso! — mio
fratello exclamou, completamente fora de controle. — Você dormiu com
ela… e… e… porra a traiu? Você a traiu, Henrique? Foi covarde a esse
ponto, porra?
— Eu não a traí, caralho. Eu nunca faria isso com ninguém, muito
menos com ela! — Henrique gritou exasperado. — E não só porque ela é
sua irmã, mas porque ela é a mulher que eu amo! Porra!
Ana Laura, Stella e Bárbara suspiraram audivelmente com a
declaração.
Matteo arregalou tanto os olhos, que as suas sobrancelhas quase
tocaram em seus cabelos.
Dante e Miguel, ainda segurando os braços de B1, sorriram
orgulhosos.
E eu? Eu não consegui esboçar nenhuma reação. Não me movi, não
disse nada, apenas… Apenas o observei virar o rosto lentamente para mim,
seu olhar estava afiado, sério e repleto de mágoa, conforme caminhava até
mim.
— Eu não te traí — falou baixo, como se estivesse lutando contra as
emoções. — Eu nunca faria isso porque eu te amo, Beatrice. Talvez eu
tenha te amado desde a primeira vez que pus meus olhos em você. Eu já fui
traído e sei o quanto isso dói, machuca. Não traí antes quando estava com
Verônica e não é agora que farei. E sim, eu ainda mantinha contato com a
minha ex, mas não pelos motivos que você imagina. Eu a ajudava com os
pais viciados e sabe porque ela veio aqui hoje? Sabe porque ela estava em
meu apartamento seminua? — perguntou, mas não esperou por uma
resposta minha. — Porque há alguns dias eu disse para ela que não
podíamos mais nos ver, ainda que não tivéssemos nenhum tipo de
intimidade sexual desde que eu terminei o nosso namoro, há anos. Mas
como ser humano, arcaria com o tratamento dos pais dela, deixando um dos
meus funcionários responsável por tudo o que envolvesse a clínica a qual
eles estão internados desde então.
— Henrique…
— Ela claramente não aceitou o que eu disse.
— O que você disse? — sussurrei quando ele já estava próximo, sua
respiração dançando em meu rosto.
— Eu disse que estava prestes a pedir a mulher que eu amo em
casamento e que não seria respeitoso mantermos contato, nem mesmo de
amizade.
— Puta que pariu! — ouvi Stela gritar, porém estou tão atônita, que
tudo à minha volta some. Não consigo escutar e nem ver ninguém, apenas
ele.
— Não é óbvio, Beatrice? Não é óbvio que eu fodi com tudo, com a
amizade com meus melhores amigos por sua causa? Porque eu te amo pra
caralho, te amo a ponto de não me importar com mais nada e nem ninguém
a não ser você. — Henrique enfiou a mão no bolso e meus olhos se abriram
ao ver a caixinha azul de camurça. — Sobre a porra da decoração que você
viu, foi pra isso.
Ele abriu o objeto e eu engoli em seco quando vi o anel solitário com
um diamante azul na ponta.
— Henrique… — falei quando ele começou a se afastar, indo em
direção à porta que ainda estava aberta.
Antes de sair, ele se virou, jogou a caixinha sobre os meus pés e
cuspiu as palavras mais duras que eu poderia ouvir da sua boca.
— Você disse que não quebraria o meu coração e acabou de fazer
exatamente isso. Duvidou do meu caráter sem nem ao menos me dar a
chance de explicar. — E assim, deixando toda a sua mágoa se esvair dos
seus olhos, ele se virou e foi embora, e o soar do apito do elevador
confirmou que não foi para a sua casa.
CAPÍTULO 50
(Bônus)
Miguel
— Ele… ele me ama? — Beatrice balbuciou em completo estado
de choque. Ela ainda permanecia parada no mesmo lugar desde que
Henrique saiu.
Olhei em volta e todos pareciam estar da mesma forma, exceto por
mim e Dante. Trocamos um breve olhar e ainda segurando os braços de
Matteo, ele disse: — Vamos soltá-lo. — Assenti, liberando o braço do meu
amigo.
Dante logo foi até à sua irmã que, a essa hora, estava sentada no sofá
aos prantos, segurando a caixinha azul de veludo aberta entre as mãos
trêmulas.
— Principessa? — a chamou, sentando-se ao seu lado e colocando o
braço por sobre os seus ombros. Assim que Beatrice encostou a cabeça no
peito do irmão, seu choro se intensificou e o som pareceu ter feito todos
saírem do estado de choque que estavam.
— Puta que pariu! — Stella foi a primeira a falar. — Henrique… Ele
ia pedi-la em casamento?
— Meu Deus. A mamãe aqui está passada! — Ana Laura disse com
os olhos arregalados.
— Ele ia pedir a nossa Bea em casamento — Bárbara falou
emocionada.
— Meu melhor amigo ia pedir a minha irmã em casamento? —
Matteo gritou. — Cazzo! O nosso B2 Bombadão se apaixonou… Puta
merda! Ele se apaixonou pela nossa italiana e eu… Puta merda duas vezes!
— Puta merda mesmo, B1! — a ruiva ralhou olhando de cara feia
para ele. — Você bateu no meu primo! — acusou.
— Eu estava tentando defender a honra da minha irmã, ruiva.
— Machucando o seu melhor amigo?
— Eu sinto muito, piccola mia! — suspirou, alisando os cabelos. —
Eu não queria machucá-lo… Eu só…
— É, você só estava tentando proteger a honra da sua irmã e eu vou
fazer o mesmo pelo meu primo — anunciou, mas não tivemos tempo para
processar suas palavras, pois fomos surpreendidos pela sua atitude. Stella
deu um passo para trás, pegando impulso e chocou seu punho fechado no
rosto de Matteo, que deu dois passos para trás pelo impacto, e o soco lhe
rendeu um pequeno corte no lábio.
— Cazzo! — ele bradou, tocando na boca.
— Eu ainda te amo, mas admita que mereceu isso e…. Porra! Seu
rosto é feito de cimento, caralho? — a ruiva disse, segurando a mão que
começou a ficar vermelha.
— Belo soco — comentei e levei uma encarada de Matteo. — O quê?
Você sabe que mereceu.
Ele suspirou, resignado.
— É, eu mereci.
— Ele nun-nunca vai me perdoar — a voz de choro de Beatrice soou,
chamando nossa atenção.
Matteo caminhou até ela e se abaixou, tocando com carinho no joelho
da irmã ao falar: — Eu sinto muito, piccola mia. Eu sinto muito de verdade.
— Você não tem culpa, fratello. — Olhou para ele com os olhos
vermelhos e cheios d’água.
— Claro que vai, Bea — Stella disse ainda segurando a mão. — Meu
primo te ama e pelo que entendi, foi tudo um mal-entendido provocado pela
bruaca da Verônica.
— Eu… Eu pensei que ele tivesse me… me fa-fazendo de boba
quando a vi só de… só de calcinha e sutiã.
— Eu vou acabar com essa mulher — Stella bradou.
— Calma aí, Shonda Rhimes ruiva — Matteo disse, virando o rosto
para olhar para ela, que andava de um lado para o outro com o maxilar
apertado e as narinas abertas, como se estivesse puxando e soltando o ar
com força. — Vamos cuidar dessa sua mão e do estrago que você fez no
meu lindo rostinho antes. — Ela anuiu, ainda fazendo um buraco no chão.
— E você, sorella — se voltou para Beatrice, que agora fungava baixinho,
abraçada a Dante, que acariciava os cabelos da irmã —, procure se acalmar.
Tutto bene?
Beatrice assentiu, fazendo bico e recebeu um beijo na testa de B1.
— Me perdoe por não ter percebido antes que algo estava
acontecendo entre vocês. Quando o fizemos prometer, jamais
imaginaríamos que o amor estaria na jogada.
— Diga por você — Dante disse.
— Espera, você sabia sobre eles? — perguntou incrédulo.
— Todo mundo sabia, gênio — Bárbara debochou.
— Todo mundo, menos eu? O mais bem informado? Como isso é
possível?
— Ao que tudo indica, você está perdendo os seus dons, cara —
comentei.
— Caralho, o que foi que eu perdi? — Ele coçou a cabeça.
— Muita coisa — Ana murmurou.
— Precisamos ligar para Henrique — Stella quem sugeriu e eu
assenti, sacando do bolso o meu celular para discar o número dele.
— Nada. Ele não atende — falei depois de tentar três vezes sem
sucesso.
— Stella — Beatrice a chamou. — Me perdoa por…
— Você não precisa pedir perdão para mim, Bea. Eu sei que você não
queria machucar o meu primo e como a orgulhosa que também sou, consigo
entender a forma como você reagiu.
— Eu o amo — sussurrou chorosa. — O amo e nem tive tempo de
dizer isso a ele.
— Eu sei que quando estamos apaixonados, a gente se torna urgente
— Ana Laura falou, se aproximando da amiga. — Mas acredite em mim
quando digo que tudo irá se resolver. — Tocou em sua bochecha com
carinho. — Vocês só precisam se acalmar e dar tempo ao tempo.
— Sei que não é o momento para isso, mas… Esse foi o surto de
vocês, não foi? — Matteo perguntou e surpreendentemente, suas palavras
fizeram Beatrice soltar uma risada fraca, mas ainda sim, era uma risada.
— Acho que sim, fratello.
— Nem acredito que aquele Bombadão será meu cunhado.
— Nosso cunhado, Matteo — Dante o corrigiu. — E você precisa se
desculpar com ele.
Matteo suspirou.
— É, eu sei.
— Você pode tentar ligar de novo para ele, Miguel, enquanto eu
coloco gelo na mão? — Stella perguntou.
— Claro.
— Vem, boca suja. — Ela bateu no ombro dele, que logo se levantou.
— Vamos cuidar dos nossos machucados. — Meu amigo concordou e
ambos foram até a cozinha.
— Tudo vai se resolver, querida — Dante disse a Beatrice, que voltou
a chorar. — Tudo vai ficar bem e vocês serão muito felizes. Eu sei disso.
CAPÍTULO 51
Beatrice
— Por favor, por favor! Atende! — falei, chorando com o telefone
contra a orelha.
Depois de tudo o que aconteceu, Henrique não voltou para o seu
apartamento. Sei disso, porque fiz guarda na sua porta, esperando
ansiosamente por ele a noite toda depois que todos foram embora.
Minha culpa e dor só aumentaram quando meus pais surgiram com as
gêmeas nos braços. Aparentemente, enquanto eu estava chorando por algo
que não era verdade, todos já estavam no apartamento à frente, apenas me
aguardando. Eles me contaram que Henrique havia ido até eles pedir a
benção para o pedido de casamento e com muita alegria, concederam.
Eu realmente fodi com tudo!
Minha família e meus amigos se ofereceram para ficar comigo, mas
eu precisava ficar sozinha.
Precisava pensar na grande burrice que eu cometi ao me deixar levar
pelo orgulho.
Precisava pensar na minha atitude impulsiva em acreditar em algo
antes de conversar com Henrique.
Eu estava me sentindo uma completa idiota filha da puta!
— Cazzo! — gritei, jogando o celular em cima do sofá.
No sofá, abracei as minhas pernas contra o peito e chorei
copiosamente, desejando voltar no tempo. A cada lágrima que caía, era
mais uma gota de dor que aumentava em meu peito. Ainda que eu soubesse
que, em algum momento, ele fosse voltar, essa coisa de amor nos faz ser
imediatistas. Eu tinha urgência em falar com ele.
Não sei quanto tempo se passou até que eu pegasse no sono.
Acordei na manhã seguinte e sem aviso, me senti enjoada. Corri até o
banheiro, colocando tudo o que havia comido no dia interior para fora, o
que era muito pouco. Me senti tonta à medida que os enjoos diminuíram e
acreditava que a causa era a fraqueza, já que não me alimentei direito.
Dei descarga e me levantei, vendo no espelho uma Beatrice pálida,
com os lábios levemente arroxeados e olhos inchados devido ao choro.
Abri uma das gavetas do armário da pia, procurando por algum
remédio de enjoo, mas o que vi ali, despertou uma dúvida em mim.
— Quando foi minha última menstruação? — perguntei, olhando para
o pacote de absorvente.
Corri para o meu quarto, procurando pelo meu celular, onde sempre
deixo anotado os dias de meus ciclos menstruais.
— Caralho! — exclamei, vendo no aparelho que eu estava atrasada
há mais de uma semana.
Em toda a minha vida, desde a minha primeira menstruação, eu nunca
atrasei nem um dia sequer.
Pensei em todas as vezes que fiz sexo com Henrique sem camisinha e
fazendo uma rápida conta, se as minhas desconfianças estiverem certas, eu
engravidei na noite em que fizemos sexo na piscina na sua parte da sacada.
— Não. Não pode ser! — Senti meu rosto molhar conforme andava
de um lado para o outro. — Não agora. Não assim. Não depois de tudo.
Voltei a ligar para ele, mas novamente não obtive resposta.
Deixei meu telefone em cima da cama e retornei ao banheiro. Fiz
minha higiene pessoal, tomei banho e tratei de colocar roupas confortáveis
— uma calça de moletom preta e uma blusa branca —, o tempo todo
pensando se estava ficando louca ou se eu realmente estava grávida.
Estava saindo do banheiro quando o meu celular tocou. Corri o mais
rápido que consegui, pensando que poderia ser Henrique.
— Henrique? — disse ao atender sem olhar para a tela.
— Ele ainda não apareceu? — a voz de Matteo soou preocupada.
— Não — suspirei, reprimindo a vontade de chorar que ameaçou
voltar.
— Droga! E como você está?
Arfei.
— Desolada, Matteo. E você?
— Estou me sentindo um merda e um péssimo amigo — confessou.
— Porém, uma parte de mim está feliz por saber que ele te ama.
— Não tenho mais tanta certeza disso.
— Beatrice insegura é uma novidade.
— É, o amor deixa a gente assim —bufei.
— Quer que eu vá ficar contigo? Não gosto da ideia de te deixar
sozinha. Todos estão muito preocupados com você, sorella.
— Não precisa. Eu tenho que ir até a farmácia.
— O que você tem?
— Não se preocupe! — me antecipei em acalmá-lo. — Vou apenas
comprar um remédio para dor de cabeça. O que eu tinha, já acabou —
menti.
— Posso levar para você.
— Não se incomode. A farmácia é perto e posso ir até lá andando.
Em menos de meia hora, já estarei de volta.
— Tutto bene, mas me avise assim que chegar.
— Va, bene.
— E… — Meu irmão fez uma pausa antes de continuar. — Eu sinto
muito, Bea. Tudo vai ficar bem e se quiserem, eu posso até pagar a lua de
mel de vocês quando casarem.
Ri, porque só Matteo é capaz de fazer qualquer pessoa sorrir em
momentos tão difíceis.
— Eu nem sei se ele ainda me quer, quanto mais se vai casar comigo
depois da burrice que fiz — falei com a voz trêmula.
— Per Dio! Claro que ele ainda quer. Eu nunca vi o meu amigo
daquele jeito por nenhuma mulher. E aquele foi o surto dele.
— Isso realmente funciona, né?
— Claro! Tudo vai ficar bem logo, logo. Você verá.
— Eu espero — disse e me despedi dele.
Antes de conversar com Henrique, eu precisava tirar essa dúvida da
cabeça. Então, saí apressada pela porta da frente do apartamento com o
coração explodindo de agonia e nervosismo.
Como falei para o meu irmão, a farmácia era realmente perto, então
fui andando e em menos de dez minutos, já estava com um teste de gravidez
digital nas mãos. Depois de pagar, perguntei à simpática atendente se eles
tinham banheiro. Ela, educadamente, me guiou para um e tão nervosa como
antes, abri a caixa e fiz o teste.
Os cinco minutos pareciam não passar. Eu estava encostada na parede
de frente para a pia, onde o palito estava. Quando o relógio em meu pulso
apitou, sinalizando que o tempo acabou, meu coração acelerou e tive que
lutar para ficar de pé ao me aproximar da bancada e vi “grávida três mais”
no pequeno monitor.
Segurei o teste em minhas mãos e por instinto, toquei meu ventre.
— Não acredito! — As lágrimas desceram como cachoeiras pelo meu
rosto.
Pensei em Henrique e o que ele faria se estivesse aqui comigo.
Pensei se ele ficaria estranhamente feliz, como eu estou, pela
surpresa.
Pensei se ele me beijaria e prometeria cuidar de nós.
Lavei meu rosto antes de sair e guardei o teste na minha bolsa, onde
havia deixado também a caixinha com o lindo anel de noivado.
Eu precisava conversar com alguém após descobrir que estava
grávida, senão eu corria o risco de surtar.
Saí do banheiro, indo até a rua procur por um táxi, até que braços
fortes me agarraram por trás e antes que eu pudesse gritar por ajuda, um
pano foi pressionado em minha boca.
Tão rápido quanto, meus olhos se fecharam e vi a sombra de alguém
se aproximando de mim, porém tudo estava embaçado e então, a escuridão
me abraçou.
CAPÍTULO 52
Henrique
Eu estava sentado em uma poltrona, segurando uma garrafa de
uísque quase vazia nas mãos. Não me lembrava se era a segunda, muito
menos se era a terceira. Logo que cheguei, vim direto para o bar e peguei a
primeira garrafa que vi pela frente em casa, na tentativa de esquecer tudo o
que aconteceu horas atrás. Mas a dor que estava rasgando meu peito, me
fazia lembrar de que tudo foi real, assim como o amor que sinto por ela,
pelo menos, é real para mim.
Enquanto dirigia para cá, pensei em tudo que eu diria a ela antes de
pedi-la em casamento. Porra, eu tinha ensaiado a semana toda.
Reescrevi mil vezes cada parágrafo da carta que tenho em meu bolso.
Só Deus sabe o quanto foi difícil mantê-la longe e evitá-la durante os
últimos dias.
Olhei para a minha sala cheia de pétalas de rosas e chorei mais uma
vez. Na verdade, não sei se deixei de chorar desde que saí, deixando todo
mundo para trás. Conforme o álcool entrava em meu sistema, perdi a noção
da realidade. Não sei que horas eram, mas olhando pela grande porta de
vidro que dá para a área externa, vejo que já escureceu.
Senti o cansaço bater, como se não dormisse há dias.
Fechei meus olhos e me deitei no encosto da poltrona, jogando minha
cabeça para trás, pensando nela.
Eu não acreditava que Beatrice realmente pensou que eu fosse capaz
de tanto.
Meu peito dói com a dor mais forte que eu já experimentei em toda a
minha droga de vida.
Nem quando fui rejeitado e maltratado pelos meus pais eu me senti
assim.
Acabado. Destruído. Arruinado.
Mesmo com o ódio se fazendo presente, eu não conseguia deixar de
amá-la.
Eu amava Beatrice.
Amava como nunca amei alguém.
Mesmo que ela não me amasse de volta, ainda sim, não seria possível
deixar de amá-la.
A imagem dela me olhando como se eu fosse o ser humano mais
desprezível do planeta veio à minha mente e eu gritei com toda força que
havia em meus pulmões jogando a garrafa, com pouca bebida, na parede
mais próxima. O líquido se alastrou com o choque e vários cacos de vidros
se espalharam pelo chão.
Caí no chão de joelhos, chorando copiosamente.
Tudo parecia ter sido um sonho, o melhor sonho da minha vida e eu
finalmente achei que teria o meu final feliz.
Daria qualquer coisa que ela me pedisse, mesmo que fosse inviável,
tornaria possível.
Faria tudo para fazê-la feliz.
Porque ver seu sorriso, me deixava feliz pra caralho.
Mas agora, sentia como se estivesse morto, sem coração porque até
isso eu dei a ela.
E Bea o quebrou, jogando na minha cara que eu não era nada em sua
vida, um nada para ela.
Tudo na minha vida estava ligado a ela.
Minha cama tinha o seu cheiro, meu banheiro estava repleto de coisas
suas.
Suas roupas já ocupavam algumas gavetas em meu closet.
Até essa casa estava marcada por ela.
Beatrice me deu a minha primeira lembrança nessa casa.
A melhor primeira lembrança que eu já tive na vida.
Não sei quanto tempo fiquei assim, divagando e chorando no chão,
sentindo-me um lixo, deplorável, até que meus olhos finalmente se
fecharam e pude descansar, ao menos um pouco.
Apertei meus olhos com força, fugindo da claridade que os invadiu.
Meu corpo todo doía e senti minha mão direita arder e algo escorrer
por ela.
Quando finalmente consegui abrir meus olhos por completo, depois
de me acostumar com a luz que adentrava em minha sala, foquei no
ferimento que havia em minhas mãos. Um pouco de sangue escorria do
corte onde havia um pedaço de vidro.
Levantei do chão e me sentei no sofá, minha cabeça martelando pela
noite fodida que tive.
Por alguns segundos pensei ter sido tudo um pesadelo, mas assim que
meu celular tocou e vi uma mensagem da minha prima, Stella, sei que tudo
infelizmente aconteceu.
Que eu quebrei a confiança dos meus amigos.
Que eu fodi com a porra da nossa amizade.
Que eu quebrei o juramento que havia feito a eles.
Que Beatrice me olhou com aqueles malditos olhos verdes cheios de
dor e desdenhou do meu amor.
Eu odiava ser olhado daquela maneira.
Eu odiei ser acusado de algo que eu não fiz.
Durante a minha infância eu fui acusado de ser o maior problema dos
meus pais e isso doía.
Toquei na tela para abrir a mensagem e um calafrio passou pelo meu
corpo ao lê-la.
Stella: "É urgente. Me ligue assim que ver essa mensagem,
Henrique."
Conhecendo minha prima como eu a conheço, sei que ela jamais diria
que algo é urgente se não fosse, muito menos usar essa tática para que Bea
pudesse falar comigo.
Selecionei o número dela e apertei para ligar. No segundo toque ela
atendeu.
— Henrique? — falou assustada ao atender. — Onde você está?
— Estou bem. Não se preocupe. — Ajeitei a minha postura.
— Você precisa vir para a casa dos Fontana. O mais rápido possível.
— Eu não quero ver ningu... — não terminei de falar, pois Stella me
interrompeu, me dando a pior notícia da minha vida.
— Sequestraram a Beatrice.

Beatrice
Estava frio, minhas costas e minha cabeça doíam.
Abri os olhos, mas não consegui enxergar nada.
Tudo estava em uma completa escuridão.
Tentei me levantar, porém algo me prendia pelos tornozelos e pelo
barulho que fez quando tentei me mover, supus que eram correntes. Sentei
com um pouco de dificuldade, encostando minhas costas na parede mais
próxima.
Organizei meus pensamentos na tentativa de entender onde estava,
mas a única coisa que me recordei foi do teste de farmácia que fiz. Grávida.
A palavra ecoou em minha mente e como por impulso, toquei em meu
ventre com as duas mãos.
Um pedacinho dele estava dentro de mim.
Um pedacinho do amor da minha vida estava dentro de mim.
Ouvi, ao longe, vozes conversando, contudo não consegui entender o
que falavam. Pensei em gritar, mas minha intuição dizia que era melhor eu
ficar quieta. Já tinha visto alguns programas policiais falando sobre
sequestro e que a melhor forma de evitar a ira dos sequestradores, é ficar
calada.
Eu precisava ficar calma. Por mim e pelo meu bebê.
Puxei o ar algumas vezes tentando desacelerar meus batimentos
cardíacos, porém um barulho me fez estremecer, e meu peito doia conforme
meu coração pulsava dentro da caixa torácica.
Uma luz foi acesa, iluminando todo o ambiente à minha volta e
identifiquei ser um depósito de bar, ou talvez de um restaurante. Era difícil
dizer.
Haviam caixas de bebidas espalhadas por todo lado, alguns produtos
de limpeza em um canto distante e uma cadeira de madeira velha em minha
frente. E foi então que notei que meus pés estavam acorrentados em uma
coluna.
Escutei passos se aproximando e abracei meu corpo como forma de
proteger a mim e ao meu bebê.
— Que bom que acordou. — Um corpo alto surgiu em meio às
sombras e o rosto de Verônica brilhou cheio de ódio, seu olhar era doentio
sobre mim.
Ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo no alto de sua
cabeça e vestia calça e blusa pretas, todavia, a rosa vermelha bordada na
gola me chamou atenção.
Eu já vi esse desenho em algum lugar. Pensei, mas não conseguia me
lembrar de onde.
— Acho melhor você não gritar — avisou, balançando uma arma que
só agora notei em sua mão direita.
— O que quer de mim? — perguntei com minha voz trêmula e me
encostei ainda mais contra a parede fria.
— Quero que devolva o que sempre foi meu! — exigiu, se sentando
na cadeira à minha frente.
— Eu... Eu não estou mais com Henrique, Verônica — disse e uma
pontada de dor em meu peito me fez lembrar do quanto fui uma idiota com
ele.
— Eu sei. — Cruzou os braços, sorrindo feito uma psicopata. — Meu
plano para separá-los acabou saindo melhor do que planejei.
— Por que você está fazendo isso?
— Por quê? Porque antes de você chegar, nada estava no meu
caminho. Nada! Henrique estava sozinho e era só questão de tempo para ele
me perdoar e nós voltarmos a ser aquele casal feliz que costumávamos ser.
Mas aí. — Apontou a arma para mim — Você apareceu e fodeu com tudo!
— Me deixe ir, por favor! — pedi, sentindo minha garganta arder. —
Por favor!
Ela soltou uma gargalhada forçada.
— Você não vai a lugar nenhum! — decretou.
— Ele não me quer mais. Acredite em mim.
— Mas enquanto você estiver viva, ainda será uma pedra no meu
caminho. Você só sai daqui morta, vagabunda. Você e essa criança em seu
ventre.
Arregalei meus olhos e o medo tomou conta de mim.
— Eu vi o teste em sua bolsa. Porra! Era para eu estar esperando um
filho de Henrique e não você. Eu deveria carregar o herdeiro dele.
Suas palavras são a chave para as minhas lágrimas que até então
estavam presas, saírem rolando pelo meu rosto.
— Por favor, Verônica! — supliquei entre soluços. — Por favor!
— Cala a boca! — gritou e eu abracei meus joelhos contra o peito
quando ela se levantou, vindo até mim, agarrando com força meus cabelos
com sua mão esquerda e senti minha cabeça arder com o puxão, me fazendo
levantar o rosto para olhar em seus olhos. — Para de chorar, sua vagabunda.
Você está me irritando. — E então ela desferiu um soco em minha boca
com a mão que segurava a arma.
Choraminguei, sentindo a dor em meu rosto e o gosto de sangue em
minha língua.
Verônica me soltou, fazendo minha cabeça bater contra a parede atrás
de mim.
Fiquei tonta no mesmo segundo e caí no chão.
Minha visão ficou embaçada e eu lutei para não desmaiar.
— Ela é boa! — uma voz masculina e cheia de sotaque soou.
Fechei meus olhos e os apertei forte antes de abri-los.
Vi um homem de costas para mim. Ele era alto, ombros largos,
cabelos levemente ondulados, pele bronzeada e notei que seus braços eram
cheios de tatuagens, onde a blusa branca não cobria.
— É como dizem, uma mulher ferida é capaz de tudo — outra voz
masculina chegou aos meus ouvidos, só que dessa vez, algo no timbre me
fez acreditar que ela era familiar.
— Por favor, me… ajuda — balbuciei.
— Cala a porra da boca! — Verônica gritou, vindo na minha direção.
E quando seu punho se chocou em meu queixo com ainda mais força do
que antes, não resisti mais e apaguei. Tudo era escuridão novamente.
CAPÍTULO 53
Henrique
— O que você disse Stella?
— Sequestraram a Beatrice. — Pude notar o quanto minha prima
estava se controlando para não chorar. — Ela falou com Matteo de manhã,
dizendo que ia até uma farmácia próxima ao prédio, mas não retornou.
Então, ele e Dante foram até o apartamento dela e encontraram um bilhete
deixado debaixo da porta, dizendo que estavam com ela e estamos todos na
casa dos Fontana. Eles estão tentando rastrear o celular da Bea, mas… não
temos nenhuma notícia ainda.
— Porra! Caralho! Estou a caminho — avisei.
Finalizei a chamada e simplesmente saí porta afora. Sem me importar
se estava fedendo a álcool, se não tomei banho ou que minha mão doía.
Nesse momento, o que importava era encontrar Beatrice.
Como assim sequestraram o amor da minha vida?
Tentei manter a calma para conseguir chegar à casa dos pais dela.
Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos, tentando digerir toda
essa loucura.
Deixei meu orgulho ferido de lado e me concentrei nela.
Se alguém ousasse tocar em um único fio de cabelo de Beatrice, eu
mataria o desgraçado com as minhas próprias mãos.
Um pouco mais de quarenta minutos depois, parei em frente à
mansão, me identificando para o segurança que logo liberarou minha
entrada. Estacionei em uma das vagas da garagem sem me importar se tinha
colocado na marca certa da faixa.
Pulei do carro e quase que correndo, cheguei à porta de entrada que
estava destrancada. Ao entrar, vi os pais de Beatrice sentados no sofá, o Sr.
Vincenzo tentava acalmar a esposa que estava aos prantos. Miguel falava
com alguns homens engravatados que mexiam em vários aparelhos
espalhados pela mesa de jantar.
Ana estava descendo as escadas e veio ao meu encontro, me
abraçando.
— Henrique, que bom que veio — disse com os olhos brilhando de
angústia. — Venha, Miguel quer falar com você.
Fomos até seu irmão, que estava com Matteo ao seu lado, e meu
coração parecia a ponto de sair pela boca.
— O que está acontecendo? — perguntei, sentindo uma lágrima cair
em meu rosto. — Alguma pista de quem possa ter feito isso?
— Já solicitamos as imagens das câmeras de segurança das farmácias
próximas, para ver em qual sua esposa esteve. — A palavra dita pelo
homem desconhecido fez meu estômago se agitar de uma forma boa. De
uma forma fodidamente boa.
Olhei para os meus amigos com um semblante confuso no rosto.
— Eu disse que você era o marido da minha irmã — Matteo
esclareceu, seu sorriso brincalhão de sempre, era fraco e pelos olhos
marejados, podia afirmar que ele andou chorando. — Me desculpe pelo
soco.
Suspirei.
— Me desculpe por ter escondido sobre Beatrice e eu.
Ele apenas anuiu e me deu um breve abraço.
Alberto, amigo do Miguel ao qual fomos apresentados em uma das
nossas ida ao bar de sua família, por convite do cunhado de Dante, se
aproximou, me saudando com um aperto de mão.
— Estou no comando do caso. — Assenti. — Dante e Matteo
acreditam que a sua ex-namorada possa estar por trás do sequestro da
senhora Prado.
Senhora Prado.
Beatrice Prado.
Esposa de Henrique Prado.
Porra, eu amei a forma como seu nome com o meu sobrenome soou
em minha mente.
— Posso ver o bilhete que deixaram?
— Claro — disse, estendendo o pedaço de papel na minha direção.
Segurei e o abri, lendo a frase que estava escrita ali.

"Se você não for meu, não será de mais ninguém. V.”
Bufei, sentindo ódio por cada célula minha.
— Eu vou matar, aquela desgraçada! — declarei.
— Preciso lhe fazer algumas perguntas — Alberto comunicou.
Durante os próximos minutos, respondi tudo o que me foi perguntado
com o máximo de detalhes que consegui lembrar. Desde o nosso término há
anos, todas as vezes em que eu a via a fim de ajudá-la com seus pais, até a
sua ida ao meu apartamento. No momento em que terminei, recebi olhares
curiosos dos meus amigos, principalmente Dante e Matteo, que passaram
anos me aconselhando a estabelecer limites com relação à Verônica. Nunca
contei o que ela passava, porque eu sabia que no momento em que o
fizesse, seria inevitável não contar sobre o meu passado.
— Porque o senhor permaneceu a ajudando mesmo após o término?
— Alberto perguntou com todo profissionalismo que sua posição lhe
competia.
Soltei um longo suspiro, me sentindo pronto para falar sobre a minha
infância. E como se o destino quisesse me mandar forças, minha prima,
Stella, surgiu em meu campo de visão com Bárbara ao seu lado. Olhando
para ela, à medida que se aproximava, comecei a falar.
— Eu não queria que Verônica vivesse a mesma coisa que vivi até os
meus sete anos de idade. — Minha garganta ardia conforme eu soltava as
palavras sobre os olhos curiosos dos meus amigos. — Eu fui vítima de
maus-tratos até os sete anos. Meu pai perdeu o emprego e começou a beber
cada vez mais depois disso. Não me lembro quando as sessões de
espancamento começaram, mas sei que elas terminaram quando eu tinha
sete anos. Os pais da minha ex eram viciados em crack e tudo piorou
quando eles saíram dos seus trabalhos, porque foram acusados de furto.
Continuei ajudando Verônica, pois fiquei com medo de que ela pudesse se
tornar uma vítima, assim como eu fui por anos.
Só quando terminei meu relato, percebi que estava chorando ao sentir
lágrimas em minha boca. Meu lado orgulhoso me fez abaixar a cabeça para
fugir dos olhares consternados de todos. Funguei e passei a mão no rosto no
momento em que um corpo pequeno se chocou com o meu em um abraço
apertado. Reconheci de imediato ser Beatriz Fontana.
— Sinto muito, querido — ela disse chorosa, apertando-me ainda
mais, enquanto acariciava minhas costas. Descansei o queixo no topo de sua
cabeça e encontrei os olhos de todos os meus amigos, me surpreendendo ao
não ver pena em nenhum deles.
— Porque não nos contou, cara? — Dante perguntou, se aproximando
e tocando em meu ombro.
— Vergonha — falei baixinho quando sua mãe me libertou, mas
ainda permaneceu perto de mim.
— Não precisa ter vergonha de nós, ragazzo — o Sr. Vincenzo disse
enfático. — Somos família, todos nós. Estamos aqui para você.
— Sempre, B2. — Matteo acenou com os olhos vermelhos.
Conhecendo bem meu amigo, eu sabia que ele ainda se culparia pelo soco
que me deu por um bom tempo. Matteo Fontana era impulsivo, mas tinha
um coração gigante.
— Estou orgulhosa de você, primo — Stella soltou. — Muito
orgulhosa.
— Conte conosco, Henrique — Bárbara acrescentou.
Anui.
— Obrigado! — agradeci e recebi um beijo maternal da Sra. Beatriz.
Nesse momento, meu celular tocou. Assim que o tirei do bolso, vi um
número desconhecido na tela. Apertei o botão de atender e a voz de
Verônica chegou ao meu ouvido, como facas cortantes fazendo minhas
veias ferverem de ódio.
— Oi, amor.
— Onde ela está? — gritei.
— Não vai perguntar o que eu quero?
Suspirei, procurando manter a calma.
— O que você quer? — falei pausadamente, entredentes.
— Eu quero você. Não consegue ver que estou fazendo tudo isso para
que possamos ficar juntos, meu amor?
— Verônica, a Beatrice está bem? — procurei saber, engolindo o nó
que se formou em minha garganta. — Eu preciso saber se ela está bem.
— Porque você está perguntando por ela, se sou eu a mulher certa
para você Henrique? Apenas eu mereço estar ao seu lado — gritou.
— Tudo bem. Tudo bem — falei, recebendo um papel de Alberto
contendo o que devo dizer. — Me diga… meu… meu amor. — Procurei
esconder o nojo em cada palavra. — O que você quer?
A ouvi suspirar do outro lado da linha.
— Quero que me encontre sozinho daqui a uma hora no bar que
costumávamos ir depois da faculdade. E não se atreva a trazer ninguém com
você, muito menos a polícia. Entendeu?
— Sim.
— Promete, amor?
— Eu… Eu prometo.
— Você é inteligente e é melhor não estar mentindo para mim, ou eu
mato essa italianinha de merda junto a esse bastardo que ela carrega em seu
ventre.
Franzi o cenho.
— Do que você está falando, Verônica?
— Você não sabia?
— Sabia do quê?
— A vagabunda está grávida. Ela armou tudo isso para nos
separarmos.
Arregalei os olhos, sentindo todo o meu corpo gelar conforme meu
cérebro processava a informação que eu acabei de receber.
Grávida?
Beatrice está grávida?
Minha diaba italiana está…. grávida?
Meu mundo literalmente parou.
Olhei ao redor para os rostos dos meus amigos e família, todos abriam
e fechavam a boca, mas não consegui ouvir qualquer tipo de som.
Meu coração apertou muito mais do que na noite passada.
Todas as células do meu corpo vibraram.
Meus pulmões lutavam para puxar o ar.
Entrei em transe por pensar que serei... pai?
Porra, eu vou ser pai!
A felicidade que me tomou por saber que a mulher da minha vida está
esperando um filho meu, logo desapareceu ao imaginar o que eles estavam
passando nas mãos dessa maluca. Minha família.
— Vou encontrar com você, mas… por favor não a machuque. Eu…
não quero que… que você seja presa, meu… meu amor — menti, tentando
ganhar tempo.
— Eu sabia que você ainda me amava. Estarei te aguardando, amor.
Assim que finalizei a chamada, tive a sensação de que iria desmaiar a
qualquer momento. Miguel e Matteo perceberam o meu estado e
caminharam até mim, segurando meus braços e guiaram-me para o sofá
mais próximo, me sentando ali.
— Meu filho, por favor, diga que a minha bambina está bem? — Sr.
Vincenzo perguntou.
— Ela... Ela... — Engoli em seco, as palavras me faltaram.
Um bebê? Meu bebê? Nosso bebê?
— Eu vou ser... Eu vou ser… pai — murmurei, ainda anestesiado pela
notícia.
— O quê? — Bárbara, Ana e Stella exclamaram ao mesmo tempo.
— O que você disse? — Dante indagou.
— Eu vou ser pai — falei, dessa vez em alto e bom som.
— Puta que pariu! Nossa Beatrice está… grávida! — Matteo gritou.
— Minha filha… Minha princesa está grávida? — Sr. Vincenzo disse,
levando a mão à boca, abafando o choro.
— Henrique — Miguel me chamou com seu jeito calmo de sempre.
— Diga-nos o que a tal Verônica disse.
— Eu... eu preciso ir — falei, me levantando feito um louco, indo em
direção a porta da frente, mas fui detido pelos meus amigos. — Porra, eu
preciso tira-los de lá. Eu preciso. — Tentei fugir dos braços que me
seguravam com firmeza. — Me soltem!
— Henrique, vamos conversar e decidir qual a melhor opção —
Alberto ditou, vindo até nós.
— Conversar é o caralho! Eu acabei de descobrir que a mulher que
eu amo está esperando um filho meu e que ambos estão correndo perigo, e
você ainda quer conversar? Vá à merda! Eu vou lá! Foda-se!
— Primo, por favor. Você está muito nervoso. Escute o delegado —
Stella falou se aproximando com as duas mãos junto ao peito.
— Eu tenho que salvar a minha família — implorei, sentindo o nó na
minha garganta se desmanchar em lágrimas. — Eu preciso deles.
Quando pensei que ia cair, novamente Miguel me segurou, me
firmando em pé. Eu o abracei forte e como uma criança, chorei
compulsivamente em seus ombros.
— Miguel... — disse entre soluços.
— Eu sei. Eu sei — falou, passando a mão em minhas costas.
— Eu não posso perdê-los. — Minha voz saiu quase um fio em meio
às lágrimas. — Eu não posso.
— Você não vai, amigo.
— Se alguma coisa acontecer com eles, eu... eu vou morrer. Eu não
vou suportar.
— Você precisa ficar calmo, não aja por impulso. Precisamos pensar
em uma forma que não ponha a vida deles em risco.
— Eu dou a minha vida por eles se for preciso. Eu só os quero bem
— choraminguei, apertando mais as costas do meu amigo.
— Eu vou ser avó de novo? — dona Beatriz exclamou, parecendo ter
saído do transe que estava.
Afastei-me um pouco de Miguel para ver olhos emocionados sobre
mim. Dante me abraçou, me dando os parabéns, e Matteo veio logo em
seguida. As meninas me abraçaram e disseram palavras positivas.
O Sr. Vincenzo e a Sra. Beatriz ficaram apenas de longe, me lançando
um sorriso em meio às lágrimas.
— Você precisa me dizer o que ela disse a você — Alberto pediu
sério, olhando em meus olhos.
— Ela disse que quer me encontrar em um antigo bar que
costumávamos ir quando estávamos juntos e ameaçou… machucar a minha
mulher e o meu filho se eu levasse a polícia comigo.
— Certo. — Ele assentiu, indo em direção aos aparelhos que estavam
na mesa da sala. — Quanto tempo ela nos deu?
— Uma hora.
— Esse bar é longe?
— Quinze minutos de carro.
— Então, vamos preparar você.
Conforme dirigia a caminho do bar, não conseguia parar de pensar
que a mulher que eu amo carrega um filho meu em seu ventre.
Um filho meu.
Meu filho.
Porra, eu ia ser pai!
Depois que me acalmei, a equipe de Alberto colocou escutas
espalhadas em meu corpo e me passou instruções sobre como agir assim
que chegar ao local de encontro com Verônica, que ao que tudo indicava,
não estava agindo sozinha. Prometi não fazer nada fora do combinado,
contudo algo dentro de mim gritava em completo desespero.
A verdade era que eu não esperaria nada e nem ninguém para salvar
Bea e o nosso bebê, ainda que isso significasse perder a minha própria vida.
Olhei para a minha mão enfaixada no volante e pensei se a minha
diaba estaria ferida, se estaria com frio, com fome, se nosso bebê estaria
bem. Esses pensamentos fizeram meu corpo estremecer de medo.
Dona Luíza, atenciosamente, fez um curativo no ferimento causado
pelo vidro na noite anterior, enquanto Dante me emprestou duas peças de
roupa que deixava em seu antigo quarto na casa dos pais, uma calça preta e
uma blusa social branca. Todos insistiram para que eu tomasse um banho
para me livrar do cheiro forte de álcool.
Enquanto estava no banho, pensei nela.
No seu cheiro, no seu corpo.
Na boca que era capaz de fazer loucuras em mim.
Eu amava essa mulher pra caralho e eu não sei o que faria se alguma
coisa acontecesse com ela. Provavelmente, vou desejar ter o mesmo fim. Eu
não suportaria viver sem tê-la ao meu lado.
À medida que me aproximava do local, com toda a equipe de Alberto
e nossa família um pouco mais atrás, a agonia em meu peito cresceu.
Apertei forte o volante, tentando buscar dentro de mim a paciência
que eu nunca tive.
Alguns minutos depois, estacionei em uma vaga na frente do bar. Ele
estava do mesmo jeito que eu me lembrava. Tinha uma grande janela de
vidro em toda a parede da frente com apenas uma porta de madeira escura.
Desci do carro e olhei para o veículo onde os meus amigos estavam, a
alguns metros de onde estacionei. Toda a equipe está à paisana para não
levantar suspeitas de que eu não estava sozinho.
Alberto acenou com a cabeça, dando sinal para eu seguir em frente.
Ele me informou que havia um atirador em algum lugar por perto, apenas
esperando o sinal, caso houvesse necessidade. Além de uma ambulância,
que eu pedi a Deus que não precisasse.
Caminhei até a entrada, pedindo a Deus que eles estivessem bem, mas
minhas pernas pararam quando Verônica surgiu no fundo do bar com
Beatrice. Ela estava agarrando-a pelo ombro com sua mão esquerda
enquanto que a outra apontava uma arma na direção da sua cabeça.
Meu coração bateu forte e corri meus olhos pelo corpo da minha
mulher, procurando saber se ela estava bem. Quando cheguei em seu rosto,
vi sua bochecha vermelha e sua boca cortada com um pouco de sangue no
canto.
Apertei minhas mãos em punho ao lado do corpo, procurando manter
a calma.
Os olhos de Bea se encontraram com os meus e pude ver o quanto ela
estava apavorada. Algumas lágrimas caíram pelo seu rosto e como por
instinto, suas mãos estavam em volta da sua barriga.
— Não se aproxime ou eu atiro nela — Verônica anunciou apertando
mais o cano da arma contra a têmpora de Bea.
— Tudo bem. — Levantei as minhas mãos em rendição. — Vou fazer
o que você disser.
— Você veio com alguém?
— Não! Eu fiz como você me pediu. Deixe-a ir, Verônica. É a mim
que você quer. — Dei um passo à frente. — A minha vida pela vida dela.
— Não! — Bea chorou. — Por favor!
Calma, meu amor. Tudo isso vai acabar.
Você e nosso filho ficarão bem.
— Cala a boca! — gritou, apertando mais seu pescoço.
— Por favor. — Dei mais um passo. — Eu estou aqui, como me
pediu.
— Você promete que… que vamos ficar juntos? Eles me disseram
que se eu fizesse tudo certo, você ficaria comigo.
Franzi o cenho.
— De quem você está falando, Verônica?
— Não importa, amor.

Beatrice
— Você precisa de ajuda — Henrique disse, dando mais um passo
em nossa direção.
— Porra, eu fiz tudo isso por você. Porque eu te amo.
— Você não me ama, Verônica. Você ama a ideia de estar comigo
pelo que eu tenho. Isso, definitivamente não é amor.
Mais um passo.
— Henrique, podemos ser felizes juntos. — Sua voz me causou
arrepios.
— Verônica. — Mais um passo. — Olhe para mim. — Outro passo.
— Vamos resolver isso, apenas me entregue a arma.
— Nós vamos? — ela indagou, relaxando um pouco o seu aperto em
mim.
— Vamos. Confie em mim.
— Eu confio, Henrique. — Me atrevi a virar o rosto sutilmente para
vê-la, mas fui detida quando ela puxou meu cabelo com força com a mão
que me segurava. Choraminguei de dor, sentindo minha cabeça rodar. —
Podemos nos livrar dela e seremos felizes como antes. Apenas nós dois.
— Verônica, deixe-a ir.
— Você não vê? — Ela desceu o cano da arma para a minha barriga.
— Um tiro e seríamos felizes para sempre.
— Não! — Chorei, sem tirar minhas mãos do meu ventre, as lágrimas
rolando pelo meu rosto sem parar. — Por favor, meu filho não!
— Não faça isso. Eu vou com você para onde você quiser. Por favor.
Henrique pede se aproximando mais.
— Você ouviu, italiana? — disse em meu ouvido. — Ele me quer. Ele
me quer e não a você.
Não me atrevi a dizer nada, apenas chorei, abraçando meu filho e
pedindo a Deus que isso acabasse e que ele estivesse bem.
— Verônica — Henrique a chamou. — Vamos acabar com isso.
Agora, apenas três passos nos separam.
— Vamos, meu amor — respondeu como uma louca. — Mas antes
— ouvi um barulho de trava se soltar em sua mão —, eles precisam morrer.
— Não! — Henrique gritou, vindo até nós.
Ele me empurrou de lado, me afastando dos braços de Verônica. Eu
caí no chão, zonza, lutando para ficar acordada.
Vi uma fraca imagem de Henrique agarrando firme nas mãos de
Verônica, tentando desarmá-la.
Tudo aconteceu muito rápido, não me dando a chance de formar com
clareza as imagens em minha cabeça. Tentei me arrastar até eles, porém
meu corpo todo estava tomado pelo cansaço. Meu coração era o único que
trabalhava incansavelmente, batendo forte sem parar contra o meu peito.
E então, um disparo foi dado.
Um único disparo.
E eu desmaio, não sabendo quem foi atingido, se foi a louca ou o
amor da minha vida.
CAPÍTULO 54
Henrique
Eu tomaria mil tiros para salvar Beatrice e nosso filho.
Sentiria toda a dor do mundo para poupá-los.
Foi o que pensei ao ver Verônica engatilhar a arma e apontar em
direção ao ventre da minha mulher.
Avancei pouco me fodendo para o que pudesse acontecer comigo.
Tirei Beatrice dos braços de Verônica, empurrando-a de lado, o mais
cuidadoso que consegui.
Agarrei a mão da mulher desvairada, tentando não fazer o cano ficar
em minha direção.
— Você é meu, Henrique! — gritou transtornada.
Quando estava prestes a arrancar a arma de suas mãos, senti o ferro
tremer e um barulho alto de tiro ecoou, e tudo ao meu redor ficou em
silêncio.
Olhei para baixo e notei a blusa preta de Verônica começar a ficar
molhada na altura do seu estômago.
Molhada de sangue. Gotas rolavam por suas pernas, se alastrando
pelo chão e formando uma enorme poça vermelha.
— Henrique — balbuciou fraca antes de cair no chão de olhos
abertos, levando a arma consigo.
Fiquei alguns segundos apenas absorvendo o que acabou de
acontecer, mas quando ouvi gritos e batidas vindo de todo lugar, retornei a
realidade.
Fui até Beatrice, pegando-a no colo. Beijei sua testa, dizendo
baixinho que tudo ia ficar bem e saí correndo até a rua, onde avistei uma
ambulância. Os paramédicos logo vieram até mim, tirando-a dos meus
braços.
— Eu vou com ela — declarei, os seguindo
Notei, um pouco distante, do outro lado da rua, Dante, Miguel e
Matteo se aproximando.
— Como ela está? — Matteo perguntou apreensivo.
— Eu não sei. — Tirei do bolso a chave do meu carro e entreguei a
ele. — Tome, vai no meu carro. Eu vou com ela na ambulância.
— Onde minha menina está? — o Sr. Vincenzo gritou assim que se
aproximou.
Todos estavam aguardando na sala de espera, há mais de quarenta
minutos, esperando os médicos avaliarem Beatrice, exceto por Ana e sua
mãe, que ficaram cuidando das gêmeas.
— Eles estão fazendo alguns procedimentos e pediram para que
aguardássemos — falei, sentindo minha voz embargar.
Miguel se aproximou de mim, passando seu braço por meu ombro,
me puxando para seu peito.
Ele, de longe, é o mais calmo e acredito que por não ter tido uma
figura paterna presente em sua vida, assumiu essa função para Ana. Por
isso, talvez seja tão maduro.
— Acabou, amigo. Acabou — falou, sendo a deixa para as minhas
lágrimas caírem sem parar, como cachoeiras pelo meu rosto.
Eu nunca senti tanto medo em perder alguém.
Nunca em toda minha vida.
Ver Bea naquela situação esmagou meu coração em mil pedacinhos
de várias fodidas formas diferentes.
E mesmo que ela não me quisesse, eu sempre iria amá-la e cuidar do
nosso bebê.
Minutos se passaram e finalmente o médico abriu a porta dupla que
separava as salas de exame de onde nós estávamos.
— Família de Beatrice Fontana?
— Somos nós — Bárbara disse, abraçando Stella.
— Ela vai ficar bem. Teve apenas alguns ferimentos no rosto e na
cabeça, mas nada que possa colocar sua vida em perigo — anunciou.
Alívio. Foi a única coisa que consegui sentir nesse momento. Alívio.
— E meu filho, doutor? — perguntei.
— O bebê está bem. Porém ela irá precisar descansar nas próximas
semanas e vou passar todas as vitaminas que sua esposa precisará tomar até
a consulta com o obstetra.
Esposa. Novamente a palavra.
Ignorei a sensação que me tomou, fazendo meu estômago se agitar e
foquei apenas na informação de que ambos estavam bem.
— Quando podemos vê-la? — dona Beatriz perguntou ansiosamente.
— Agora mesmo, mas tentem não agitá-la. E apenas um de cada vez.
— O médico olhou por um momento para a prancheta que tinha nas mãos
antes de falar. — Na verdade, assim que ela acordou, chamou pelo nome
Henrique.
A sensação se intensificou em meu estômago. Olhei para a sua
família, que sorriam para mim como se concordassem que eu deveria ser o
primeiro a vê-la.
— Vá meu filho — Sr. Vincenzo falou. — Ela precisa te ver tanto
quanto você precisa vê-la. — Assenti, seguindo o médico pelo corredor.
Passamos por algumas portas pelo caminho até que paramos em frente a
uma, onde ele sinalizou para que eu a abrisse. Eu agradeci e antes de entrar,
puxei o ar algumas vezes, tentando me acalmar.
Quando meus olhos a notaram, sentada na cama e ligada a algumas
máquinas e medicações, a vontade de chorar retornou. Enxuguei uma
lágrima teimosa que ousou cair com o dorso da mão, antes que ela visse,
mas era tarde demais.
— Henrique. — Meu nome saiu de sua boca cheia de emoção, porém
não consegui definir quais eram.
Sem conseguir controlar meus desejos, corri até ela, louco para sentir
seu cheiro, sua pele. Louco para sentir ela.
A abracei com cuidado, tentando não machucá-la.
Bea me abraçou de volta e eu descansei minha cabeça em seu
pescoço, beijando cada pedacinho de pele ali.
— Eu... eu pensei que tinha te perdido — confessou entre soluços.
— Me perdoa. Per favore. Me perdoa por eu ter te magoado e…
Afastei-me um pouco para segurar seu rosto com minhas mãos.
— Você precisa descansar agora.
— Não!
— Beatrice.
— Não quero descansar.
— Meu Deus, mesmo em uma cama de hospital você consegue ser
teimosa! Vamos, durma um pouco.
Ela me surpreendeu ao segurar meu rosto, me puxando para perto.
— Eu te amo!
— Ama?
Beatrice revirou os olhos.
— É claro que eu amo, porra. Agora cala a boca e me beija.
Sorrindo, colei minha boca com a sua e como um viciado que sou por
ela, não perdi tempo e tomei tudo dela.
O beijo começou desesperado, como se ambos estivessem precisando
disso.
Como se ele fosse o nosso remédio para tudo o que nos aconteceu.
O cansaço sumiu, tudo à nossa volta não importava mais.
Deixei ela assumir o ritmo, mas logo segurei sua nuca sutilmente e
tomei o controle. Ela chupou minha língua daquele jeito que é capaz de me
levar às nuvens. Mordeu de leve meus lábios e os lambeu logo em seguida.
— Você me ama? — perguntei quando nossas bocas se separaram,
apenas para ter certeza do que eu ouvi.
Ela fez um carinho em minhas bochechas e sorriu.
— Eu te amo, Henrique.
Sorrindo feito um bobo, depositei um beijo casto em seus lábios,
agora inchados.
— Eu também te amo, minha italiana. Você e nosso bebê. — Levei
uma das mãos para o seu ventre.
— Pra sempre nosso, meu amor.
CAPÍTULO 55
Beatrice
Eu estava tão feliz, que seria capaz de sair correndo pelo corredor do
hospital feito uma louca e gritando o quanto amava Henrique. Porém, muito
provavelmente, meus seguranças de plantão não deixariam.
Olhei para o quarto, observando minha família e meus amigos, rindo
e compartilhando da mesma felicidade que eu.
Ontem, eu vi cada um de forma individual, já que o médico pediu que
eu descansasse. Henrique acabou dormindo aqui, deitado ao meu lado e
segurando minha barriga, logo que a enfermeira saiu depois de trocar meu
soro. Dante e Ana trouxeram roupas para ele e para mim.
Hoje pela manhã, todos chegaram bem cedo, não desejando perder
minha primeira ultrassom. O médico disse que ainda estava muito cedo para
sabermos o sexo do bebê, mas que poderíamos ouvir seu coração.
Eu estava eufórica!
— Cadê esse médico? Caralho! — Matteo reclamou, passando a mão
pela sua testa. — Acho que vou infartar se esperar mais um pouco.
— Paciente como sempre — Bárbara falou, revirando os olhos.
— Eu sou paciente sim! Estou até hoje esperando você tomar uma
atitude comigo.
Minha amiga soltou uma gargalhada falsa, tocando em seu peito com
uma mão de forma teatral.
— Melhor esperar deitado. Isso nunca vai acontecer!
— Você ainda vai morder essa sua língua, boneca.
— Esses dois — babbo falou, rindo.
— Como você está se sentindo, meu amor? — Henrique perguntou.
Ele estava ao lado da cama, segurando minhas mãos.
— Estou com fome. Muita fome para falar a verdade.
— Graças aos céus! — Ana declarou, jogando as mãos para o alto. —
Eu te declaro oficialmente como a nova barriguda comilona do grupo.
Todos riem da minha cunhada.
Meu irmão a abraça de lado e beija sua testa, depois e disse: — Se
você quiser, meu amor, podemos resolver isso.
— O quê? — Ela o olhou assustada. — Nossas meninas não tem nem
três meses e você já está pensando em ter mais filhos? Definitivamente não,
Dante.
— Você é a culpada, porque me deu duas filhas lindas.
— Duas filhas lindas que dão muito trabalho, mesmo com a ajuda dos
nossos pais e de Rosa. Vamos com calma.
— Quer que eu pegue algo para você comer, Bea? — Henrique
perguntou.
— Si, amore mio. Quero um bolo de chocolate, suco de laranja, pizza
e um pouco de cookies com chantilly e sorvete. Per favore — respondi e
todos me olharam com os olhos arregalados. — O quê?
— Que desejo mais estranho — Stella comentou.
— Tenho que concordar com a ruivinha aqui — Matteo disse,
apontando para ela.
— O que você quiser meu amor. Já volto — Henrique declarou, me
dando um selinho.
— Eu vou com você — Miguel ofereceu e os dois saíram do quarto.
— Nem acredito que minha menininha está grávida — pappa falou,
se aproximando de mim. — Estou tão feliz que você esteja bem, minha
princesa. — Beijou minha testa.
— Eu também, babbo.
Ficamos conversando por mais alguns minutos, Matteo resmungando
como sempre até que Miguel retornou ao quarto, sozinho.
— Onde está, Henrique? — questionei.
— Ele já está vindo — respondeu, olhando de relance para o restante
da família. Notei que meu irmão mais velho tirou seu celular do bolso,
posicionando-o em sua frente, na minha direção.
— O que você está fazendo, Dante?
— Nada. — Deu de ombros.
— Você está me filmando?
Ele não respondeu.
Franzi o cenho desconfiada e tornei a indagar.
— O que está acontecendo?
— Prometemos que é algo bom — Stella quem disse.
Fiz beicinho porque esse suspense todo estava me deixando nervosa e
eu estou realmente com fome.
Quando estava prestes a protestar, Henrique surgiu, empurrando um
carrinho com tudo que pedi. Porém, vi uma caixa branca no meio dos
pratos. Ele se aproximou de mim e a colocou em meu colo. Um sorriso de
pura expectativa e um pouco de nervosismo também, se desmanchou em
seus lábios.
— O que é isso?
— Um presente. Abra.
O olhei desconfiada, mas concordei, tirando o laço azul que envolvia
a caixa e revelando um tecido branco. Ao pegá-lo, notei ser um body de
bebê, estampando a seguinte frase: "Mamãe, você aceita se casar com o
papai?"
Meus olhos marejaram e os apertei, fazendo algumas lágrimas
escorrerem pelo meu rosto. Olhei para o quarto, observando todos me
lançando olhares emocionados. Quando virei para o lado, Henrique estava
ajoelhado e segurando a caixinha de veludo que estava comigo antes de
toda a confusão.
— Eu ensaiei o que eu iria falar repetidas vezes antes de tudo
acontecer. Até escrevi uma carta para esse momento. Eu jamais imaginei
que eu encontraria alguém como você, que é capaz de me deixar louco, mas
tem o incrível poder de me acalmar também. — Sorri em meio às lágrimas.
— No início, era apenas atração física — disse, segurando minha mão
direita e ouvi resmungos que imaginei serem dos ciumentos de plantão. Não
olhei, permaneci encarando o homem que tinha o meu coração. — No
entanto, quanto mais eu ficava com você, mais algo dentro de mim mudava
e hoje eu sei que o que sinto é amor. Você me deu o presente mais lindo que
eu poderia ganhar, uma família. Eu te amo, minha italiana, te amo com tudo
o que há em mim. Você marcou minha vida, meu coração, minha mente,
minha alma. E eu não quero passar mais nenhum dia da minha vida sem te
chamar de minha esposa. — Ele então, abriu a caixinha de veludo,
revelando o lindo anel de diamante na cor azul. O formato era igual aos
piercings que eu possuía em meus mamilos. — Então, diante das pessoas
que nós mais amamos, eu quero te perguntar se você aceita se casar comigo.
— Ovviamente, amore mio. Sí, si. — Segurei sua mão.
— Cara, isso foi lindo pra caralho — Matteo comentou, limpando
uma lágrima com os dedos.
— Não chora, B1 — Stella disse o abraçando de lado.
Henrique me abraçou rindo e sussurrou ao meu ouvido: — Eu te amo
muito, diaba desgraçada.
Sorrindo, respondi: — E eu te amo, meu putinho. Estou doida pra
sentar no cacete do meu noivo.
— Vem cá, meu genro — meu pai o chamou. — Estou tão feliz por
vocês.
— Obrigado, senhor. — Henrique o abraçou. — Prometo cuidar da
sua filha e do nosso bebê com a minha vida.
— Você já fez isso, filho. Eles não poderiam estar em melhores mãos.
— Meu sonho se realizou — mamma gritou, dando pulinhos — Só
falta o meu boca suja aqui. — Bateu no braço de meu irmão.
— Ai mãe!
Todos os presentes nos abraçaram, nos dando parabéns.
— Pronto! — Dante falou, depois de guardar o celular no bolso. —
Enviei o vídeo do pedido para nossa família na Itália.
— Queria tanto que eles estivessem aqui — reclamei.
— Eles ficaram sabendo do sequestro e nos ligaram assim que viram
a notícia — meu pai comunicou. — Já avisamos que todos estão bem.
— Giuseppe avisou que Enrico virá para um congresso em algumas
semanas — Dante acrescentou.
— Vamos nos casar então nesse período — decretei batendo as
palmas. — E eu quero estar com um vestido sexy e aproveitar que minha
barriga ainda está pequena. — Olhei para Henrique ao meu lado. — Tudo
bem?
— O que você quiser, meu amor. — Beijou o topo da minha cabeça.
— O segundo do grupo a se tornar cadelinha — Matteo disse e todos
nós rimos.
— Vocês já tem um lugar em mente para o casamento, cunhada?
— Tem um lugar que eu acho lindo e é muito especial para nós dois
— sorri de lado maliciosamente e meu agora noivo logo percebeu do que eu
estava falando, porém a porta do quarto foi aberta pelo médico, que tinha
um sorriso simpático estampado em seu rosto.
— Como está a nossa paciente?
— Estou bem. Apenas com muita fome — respondi.
— Acredito em você — disse, olhando para o carrinho farto de
comida. — Vamos fazer o exame para que você e seu bebê possam comer.
Tudo bem? — Assenti, relaxando na cama.
Ele cuidadosamente levantou a bata branca que eu usava até abaixo
dos meus seios, despejando logo em seguida um pouco de gel em minha
barriga. Puxou uma máquina de ultrassom que estava até então no canto do
cômodo e a ligou, começando a espalhar o gel com o aparelho por todo o
meu ventre.
Henrique apertou minhas mãos, demonstrando estar tão ansioso
quanto eu.
Era loucura demais pensar o quanto as nossas vidas mudaram em tão
pouco tempo. Mas eu estava feliz, assustada, mas ainda assim, feliz.
— Prontos papai e mamãe? — o senhor de cabelos grisalhos
perguntou depois de um tempo.
— Sim! — respondemos os dois juntos.
— Esse é o coração do bebê de vocês.
Um som alto e forte soou pelo quarto.
Tum tum, tum tum, tum tum.
— Meu Deus! — meu noivo exclamou.
— Está tão acelerado — falei emocionada. — Nosso bebê está bem,
doutor?
— Sim, não se preocupe. Os batimentos estão normais. Veja — ele
apontou para um ponto pequeno na tela — esse é o bebê de vocês.
— Esse... ponto é o meu sobrinho? — B1 perguntou.
— Sim. Ainda está no tamanho de uma framboesa.
— Hum, framboesa — gemi, lambendo os lábios. — Algumas
framboesas cairiam bem agora.
— Ficou louca? Você vai estar comendo vários bebezinhos — Mat
choramingou.
— Você definitivamente não é normal, Matteo — Stella disse rindo.
— Não mesmo — Ana concordou.
— Até você, cunhada? — ele falou, fingindo estar ofendido.
— Se esqueceu do que você fez na semana passada? Comprou luvas
de box para as suas sobrinhas. Elas são tão pequenas que cabem naquelas
luvas.
— Elas precisam se defender e é o meu dever como tio, ensiná-las.
— Nessa eu tenho que concordar com meu amigo — Miguel falou.
— Falou aquele que só sabe brincar com as meninas de lutinha. Elas
mal sabem se virar de um lado para o outro.
— Já é um começo. A propósito, acho que Bella vai ser a mais durona
das duas. Aquela menininha nos olha como se nós estivéssemos fazendo
algo de errado o tempo todo. Juro que, às vezes, acho que ela vai me bater.
— Ela é só um bebê — Dante disse, rindo.
O médico observou nossa família como se eles fossem de outro
mundo, mas logo voltou a sua atenção para mim.
— Você está de quase oito semanas. A partir da décima sexta semana,
vocês poderão fazer uma ultrassonografia para saberem o sexo do bebê,
caso queiram saber.
Ponderei por um momento e soltei a recente ideia que minha mente
teve.
— Henrique — o chamei.
— Sim?
— Lembra do filme que assistimos onde o casal decidiu esperar até o
momento do parto para saber o sexo? — Ele acenou. — O que acha de
fazermos isso?
— Vou surtar de curiosidade — B1 reclamou.
— Eu também. — concordei — Mas quero ter essa experiência.
Henrique beijou minha testa.
— O que você quiser.
— Que seja um menino, porque precisaremos de reforços com as
gêmeas — meu irmão boca suja disse. — Principalmente com Bella.
— Não seja bobo — Bárbara falou, revirando os olhos.
— Acho que ela puxou a mãe — Matteo cantarolou.
— Ou talvez ao tio, porque com certeza você é o mais louco do grupo
— Ana retrucou, empinando o nariz na direção dele.
— Eu também te amo, Aninha. — Ele foi até ela e a abraçou, nossa
cunhada acabou rindo.
Ouvi Henrique soltar uma risada e falou, olhando para todos.
— Eu os amo.
Suspirei, compartilhando do mesmo sentimento.
— É, eu também.
CAPÍTULO 56
Henrique
Duas semanas depois
Depois que ouvi o coração do nosso bebê, tentei de tudo para
postergar o momento em que minha agora noiva, precisaria narrar às
autoridades tudo o que aconteceu com ela, com riqueza de detalhes, antes e
durante o tempo que passou nas mãos de Verônica.
Alberto foi paciente e imparcial a todos os relatos de Beatrice,
diferente de mim, que sentia como se estivesse prestes a matar alguém
conforme ela narrava os segundos em que ficou, literalmente, acorrentada.
Como o delegado tinha pensado, minha ex não agiu sozinha,
todavia, nenhuma pista, além de uma rosa branca manchada de sangue,
havia sido encontrada no porão do bar, onde Bea estava sendo mantida em
cativeiro.
Eu não fazia ideia de quem poderia tê-la ajudado, já que as únicas
pessoas que eu conhecia da sua família, eram seus pais, que permaneciam
internados na clínica de reabilitação e o círculo de amizade de Verônica
depois que ela terminou seu último relacionamento, era praticamente nulo.
Bea descreveu com o máximo de detalhes o que conseguia lembrar,
como a fisionomia de um homem grande com os braços cobertos por
tatuagem. Eu torcia para que não demorassem muito para encontrarem os
filhos da puta.
Não sabíamos com quem estávamos lidando e do porquê aceitaram
fazer o que fizeram. Por isso, por precaução, Alberto recomendou que toda
a nossa família, principalmente minha futura esposa, passassem a andar
com seguranças e foi o que os caras e eu fizemos, incluindo todos na Itália e
claro, Bárbara e sua família também.
Ainda com a toalha enrolada em meu quadril, depois de um banho
matinal, parado na entrada do quarto por não sei quanto tempo, puxei a
respiração completamente fascinado pelo corpo nu da minha noiva entre os
lençóis brancos. Ela estava deitada de peito para cima, vestindo apenas uma
calcinha pequena na cor azul claro.
Ela era linda!
Tudo nela era perfeito!
Após receber alta, o médico pediu que Beatrice descansasse por
alguns dias e que não fizesse esforço algum. Desde então, temos dormido
em seu apartamento, não tem ido trabalhar e obviamente nós não
trabalhamos na cama, ou seja, nada de sexo!
Claramente, a diaba ficou mil vezes mais agoniada do que eu, mas
sua mãe veio pessoalmente saber se ela estava seguindo a recomendação
médica.
Meu olhar desceu até a sua barriga e sorri ainda sem acreditar que
serei pai.
Eu.
Serei.
Pai.
Não conseguindo mais manter as minhas mãos longe dela, me
aproximei da cama e com a mão direita, acariciei suas bochechas, descendo
pelo pescoço, depois para o meio dos seus seios até sua barriga, espalmando
minha mão em seu ventre, estava ansioso para sentir nosso bebê se mexer.
Em seguida, toque entre as suas pernas, apertando meus dedos em sua
boceta. Bea se remexeu e um sorriso de lado surgiu em seu rosto.
— Amor? — falou manhosa com a voz de sono e lentamente abriu os
olhos.
Meu coração se expandiu com o apelido afetuoso.
Amor.
Caralho! Eu era o amor dela.
Ela me escolheu. Sou um filho da puta sortudo da porra!
— Sim? — Sentei-me no colchão e depositei um beijo em sua testa
no momento em que notei seu olhar indo até meu quadril.
— Chega de descanso — decretou, puxando a toalha e jogando-a de
lado. — E ele concorda comigo. — Apontou para o meu pau, que já estava
duro e necessitado dela.
Soltei uma risada, afastando sua calcinha.
— Saudade dele? — Alcei uma sobrancelha e enfiei dois dedos nela,
que gemeu e rebolou, feito a putinha que era, contra a minha mão.
— Sim. Muita! — balbuciou.
— Quer fazer amor, querida? — perguntei sem parar o trabalho da
minha mão, fazendo círculos dentro dela com meus dedos.
— Não, Henrique — choramingou, apertando seus seios. — Hoje
quero ser fodida como a putinha que eu sou. Me fode gostoso, Sr. Prado.
Sorri satisfeito.
— Ainda bem, por que eu não vou pegar leve com você, cachorra.
— Não pegue leve comigo, mi amore — declarou, sorrindo de forma
lascívia.
Aumentei um pouco a velocidade, sentindo sua boceta quente e
melada se contrair em volta dos meus dedos no exato momento em que a
campainha soou.
— Caralho! — ela exclamou irritada. — Seja quem for, vamos
mandar embora. Eu preciso do seu pau socando minha boceta — declarou,
batendo as mãos fechadas em punho no colchão.
Eu ri.
— Infelizmente — Tirei meus dedos lentamente de dentro dela. —
Não podemos nos livrar das visitas.
Bea fez bico, que logo se desmanchou quando levei meus dedos
melados de sua excitação até a boca, chupando-os de forma sensual.
— Você está me torturando!
— Prometo cuidar de você à noite, amor. — Dei um tapa em sua
boceta, a fazendo gemer. — Vou cuidar da minha putinha como eu sei que
ela gosta.

Beatrice
— Vamos deixar uma coisa bem clara — falei assim que adentrei a
cozinha, olhando para os rostos das minhas amigas que me encaravam
curiosas. — Eu amo vocês — declarei indo até o carrinho duplo onde as
gêmeas dormiam tranquilamente ao lado da mãe. — E amo esses morangos
lindos. — Dei um beijinho na testa de cada uma antes de ajeitar a postura.
— Mas eu estava prestes a levar surra de pau do meu noivo se vocês não
tivessem aparecido.
Elas riram.
— Nós confirmamos ontem o nosso encontro e você precisa ficar de
repouso — Bárbara comentou.
— Eu ia repousar no colo do Henrique!
— Definitivamente isso não seria descanso — Stella comentou. — E
não vamos falar do pau do meu primo. — Torceu o nariz em desgosto. —
Falando nele, onde está?
— Pulou a varanda e foi até o apartamento dele. Ele precisava fazer
algumas ligações.
Anuiu.
— Que tal se falarmos sobre a nossa surpresa? — Ana Laura disse
animada, pulando de um jeito engraçado da banqueta a qual estava sentada
para ir até a cortina da grande parede de vidro da minha sala. Só então vejo
um par de pernas atrás do tecido e quando minha cunhada o puxa não me
contenho em dar um grito de surpresa e felicidade.
— Cugina! — exclamei, correndo até Kyara, que estampa um sorriso
genuinamente feliz. — Não acredito que está aqui! — falei, a abraçando.
— Não sou médica obstétrica, mas como enfermeira com
especialização na área e sua prima, aconselho você a descansar por um
tempo, antes de qualquer tipo de interação sexual com seu noivo — soltou
assim que nos afastamos. Suas bochechas estavam coradas como sempre
ficavam quando falamos sobre sexo.
— Nossa, ela realmente fala como uma princesa. Estou me sentindo
um caminhoneiro de boca suja — Stella falou e todas nós rimos.
— Estou feliz que está aqui, Ky. — Soltei tocando em seu rosto.
— E eu estou feliz em saber que você está bem e claro, por estar aqui
também. Estava com saudade. Fiquei muito preocupada quando soube do
acontecido.
— Não fique. Está tudo bem agora — a tranquilizei. — Vem! Deixe-
me te apresentar a ruiva maluca do grupo.
— Você sabe que isso para mim é um elogio, não é? — a mulher em
questão disse assim que nos sentamos novamente ao redor da ilha, mas
antes, minha prima paparicou Nina e Bella por um momento, dizendo o
quanto são lindas. — Sei que já trocaram muitas mensagens em nosso
grupo, porém vamos à apresentação oficial e pessoalmente. Kyara, esta é
Stella. Stella, essa é Kyara.
— É um prazer conhecê-la, Stella — minha prima disse, sorrindo
docemente.
— Puta que pariu! Você é meiga e ainda mais bonita de perto. —
Tocou no rosto de Ky, que não segurou a risada. — Parece uma princesa de
verdade daquelas de desenhos animados.
— Grazie!
— Se eu não gostasse de piroca e não estivesse afim de sentar na do
seu irmão, eu te pegava, garota.
Gargalhamos.
— Juro que, às vezes, tenho a sensação de que estamos com uma
versão melhorada do B1 — Ana comentou.
— Você está interessada em Enrico?
— Com certeza. — Piscou um olho de forma maliciosa. — Sempre
quis trepar com um italiano e o seu irmão, nossa — levantou as mãos para o
alto —, louvado seja o criador do mundo por ter feito aquele monumento
todo. Um puta italiano gostoso da porra! Minha boceta está até piscando só
de falar nele.
Os olhos de Kyara se arregalaram e seu rosto assumiu um tom intenso
de vermelho.
— Santo Dio! Você é ainda mais direta pessoalmente, ragazza.
— Minha tarada interior é aflorada e ficou ainda mais desde a vez que
você enviou uma foto sua com ele no nosso grupo. Ela está pegando fogo
desde então, princesa — brincou. — Falando nisso, precisamos fazer um
juramento para o nosso grupo das taradas.
— Eu não sou uma… tarada! — minha prima rapidamente disse.
— Toda mulher possui uma tarada interior — Ana Laura afirmou.
— Menos eu.
— Vai nos dizer que nunca ficou sem fôlego ao ver um homem? Que
nunca sentiu vontade de ser fodida por um pau por horas até que estivesse
com a boceta assada? Que nunca quis ficar com os olhos marejados por
estar recebendo surra de cacete na garganta e…
— Stella! — bradei, dando um tapa de leve em seu ombro, temendo
que minha prima tivesse um treco. Sua expressão era de puro espanto.
— O quê? Ninguém aqui é virgem, quanto mais santa. — Deu de
ombros.
— Bem, eu… eu nunca tive… Nunca tive um parceiro para fazer sexo
— Kyara admitiu com timidez.
— Puta que pariu! Você é… virgem? — a ruiva gritou, arregalando
os olhos. Kyara acenou levemente. — Puta que pariu duas vezes!
— Ok! Ela é oficialmente a B3 do grupo — Bárbara brincou.
— Eu teria permanecido virgem até Dante chegar se soubesse que
teria que viver tantas frustrações sexuais — Ana declarou. — O tempo em
que a minha Ana Tarada estaria de celibato teria valido a pena porque
aquele CEO me faz revirar os olhos a cada vez que me chupa.
— Santo Dio! — Ky exclamou de olhos arregalados.
— Vocês estão assustando a coitada — Bárbara ralhou.
— Ela é enfermeira. Sabe dessas coisas. — Stella comentou.
— Sabe dos termos médicos e não os termos de putaria — falei.
— Eu definitivamente já deveria estar acostumada depois de conviver
por dois anos com você, cugina — ri nervosa. — Mas sim, eu sou…
virgem. Nunca tive relação com um homem. — Ela me olhou de lado e eu
sorri carinhosamente, sabendo qual era o motivo para que ela ainda não
tivesse tido nenhuma relação sexual.
— Isso é raro hoje em dia — Stella comentou pensativa. — Mas não
significa que você não tenha uma tarada interior, querida.
— Verdade! — Ana acrescentou. — Nunca sentiu um formigamento
ao ver um homem ou uma mulher que achou interessante?
Kyara arregalou os olhos e meneou a cabeça ao falar.
— Bem, me senti assim uma vez — confessou tímida.
— E o que fez? — Bárbara perguntou curiosa.
— Nada.
— Como assim nada?
— Eu só o vi uma vez e… não acho que eu faça o tipo dele.
— Mulher, você faz o tipo de qualquer um — a ruiva falou, dando um
tapa em seu ombro. — Você é linda, inteligente, meiga, carinhosa. E se esse
cara não viu isso, ele é um cuzão.
Rimos.
— Eu não acho que ele seja um… um… cuzão — sussurrou a última
palavra.
— Ela fica tão linda falando palavrão — Ana apontou sorridente.
— Se o vir novamente ou sentir a periquita piscar por outra pessoa,
me liga que eu te ajudo. Sou ótima flertando, modéstia à parte — a ruiva se
gabou.
— Grazie — Kyara agradeceu, sorrindo para ela.
— Já que estamos falando de homens, o que aconteceu com o seu
amigo, o tal Jakov? — Bárbara indagou.
— Depois do que aconteceu na boate, nunca mais o vi e desde que
comecei a me envolver com Henrique, ele não entrou mais em contato
comigo. No primeiro momento, fiquei preocupada, mas acho que é melhor
assim. Só mantínhamos contato por causa do sexo e definitivamente eu não
tenho interesse algum em ter qualquer relação sexual que não seja com o
meu futuro marido — declarei.
— Que estranho — Ana Laura comentou.
— Nem tanto. Ele sempre foi assim, meio imprevisível. — Dei de
ombros.
— Então — Stella bateu palmas. — Vamos ao juramento antes de
alimentarmos a nova barriguda do grupo, senão meu chefe briga comigo.
Franzi o cenho.
— Chefe?
— Henrique me fez prometer que cuidaria de você — esclareceu.
— Bom saber disso, mais tarde o recompensarei com um chá bem
dado.
— Juramento! Juramento!
Soltei uma risada.
— Juramento, alimentar a barriguda e depois vamos falar sobre os
preparativos para o casamento. Estou animada para conhecer a casa que
vocês tanto falaram — Bárbara comentou
— O lugar é lindo — suspirei.
— Foco barriguda! — Stella fala me fazendo rir. — Eu começo com
o tal juramento.
— Não me lembro de termos pensado em algum — comentei.
— Eu acabei de pensar — disse confiante. — Repitam comigo: eu,
assumo que tenho uma tarada interior que me faz cometer loucuras gostosas
e depravadas.
As meninas e eu nos entreolhamos por um momento.
— O quê? Só falei verdades.
— Você é maluca, Stella — Kyara declarou rindo. — Mas eu já amo
você.
Repetimos o tal juramento, o que deixou a ruiva feliz e seguimos a
ordem do cronograma da nossa reunião, todas enchendo o meu prato com as
comidas que Henrique havia pedido para o café da manhã e falando o quão
animadas estavam para o meu casamento.
A cada minuto que se passava e com as minhas amigas falando sobre
decoração, flores e vestido, toquei meu ventre, me sentindo feliz.
Realizada… Feliz como nunca imaginei que poderia ser um dia.
CAPÍTULO 57
(Bônus)
Enrico
Cheguei à casa dos meus tios, desejando apenas uma boa noite de
sono.
O voo foi longo e fazia mais de vinte e quatro horas que eu não
dormia mais do que trinta minutos seguidos. Tenho feito vários plantões
desejando colocar em prática o aprendizado dos últimos tempos.
Eu amava o meu trabalho, sou completamente apaixonado pela
medicina e o hospital sempre foi o lugar onde passo a maior parte do meu
dia.
Meu tio Vincenzo e minha tia Beatriz me receberam cheios de
sorrisos. Eu amo estar perto deles, ambos são alegres e fazem de tudo para
que você se sinta como se estivesse na sua própria casa.
Kyara veio na frente por ter conseguido folga e queria ajudar nossa
prima e as amigas com os preparativos para o casamento, Sofia e babbo
virão no sábado, pois precisavam resolver algumas pendências do hotel. Eu,
bem, eu decidi vir na quinta, não apenas pelo meu trabalho, mas porque o
congresso que passei quase o ano todo esperando, finalmente chegou. Seria
uma rotina intensa de palestras durante toda a sexta-feira e o sábado. Eu
estava muito animado. Agradeci Beatrice e Henrique por terem marcado o
casamento deles nesse mesmo final de semana, porém no domingo à tarde.
Meus tios me guiaram para dentro de sua mansão, me mostrando um
dos muitos quartos de hóspedes que prepararam para mim.
Depois de tomar um bom banho, desci para o jantar que se deu com
uma conversa animada, cheia de orgulho de Nina e Bella, suas primeiras
netas. No dia do casamento seria a primeira vez que eu as veria
pessoalmente e eu estava realmente ansioso para isso. Amo criança e esse
foi um dos motivos que me fizeram escolher a pediatria como
especialização.
Desejando, enfim, descansar, terminei minha refeição e me despedi
deles, indo para o quarto. Antes de dormir, enviei uma mensagem para a
minha irmã e nossos pais, avisando que cheguei bem.
Assim que deitei na cama, o sono não demorou a me invadir.
Na manhã seguinte, acordei cedo, animado para tudo o que me
aguardava. Depois de um longo banho, escolhi uma blusa branca, calça azul
marinho, um paletó da mesma cor e por fim, uma gravata preta.
Encontrei meus tios na cozinha animados para o casamento da filha
mais nova.
— Bougiorno! — saudei, sentando em uma das cadeiras ao redor da
mesa.
— Bougiorno, querido — minha tia sorriu. — Dormiu bem?
— Sí, tia. Grazie! — Me servi com um pouco de café puro.
— Espero que dessa vez você fique mais tempo.
— Bem que eu queria, mas a senhora sabe como tem sido uma
loucura depois que finalizei minha especialização e comecei outra.
— Per Dio, ragazzo! Você não para mesmo — meu tio disse, me
fazendo rir.
— Tenho uma cirurgia em três dias. Meu voo está marcado para a
madrugada de segunda-feira.
— Nossa, querido, que vida corrida! — exclamou, preocupada. —
Precisa desacelerar um pouco.
— E eu vou, prometo — garanti.
Depois de fazer minha refeição matinal, despedi-me dos meus tios e
fui direto para a garagem. Eles me disponibilizaram um carro durante o
período da minha estadia aqui. Em poucos minutos, cheguei no local do
evento, feliz por ter conseguido uma vaga disponível para estacionar.
Já dentro do edifício, me distraí, procurando o auditório para minha
primeira palestra, quando um corpo se chocou ao meu. Levou exatamente
um segundo para perceber que se tratava de uma mulher.
Por instinto, segurei o braço dela para evitar que caísse no chão e a
puxei para meu peito, segurando firme em sua cintura com o braço livre,
mantendo-a de pé.
Ela arfou quando nossos corpos se chocaram, fazendo algumas
mechas do seu cabelo irem para frente do seu rosto, porém permaneceu
próxima a mim, segurando em meus antebraços.
Ela era uma mulher muito linda.
Seu cabelo é ruivo, grande em ondas, sua pele é pálida, levemente
corada nas bochechas e sua boca é bem desenhada, me atraindo de um jeito
completamente inesperado e seus olhos... Cazzo, são de um azul esverdeado
lindo.
Nossos olhares se encontraram e minha mão, que estava em seu
braço, foi até seu rosto, afastando alguns fios cor de cobre de sua face. Ela
entreabriu a boca e vi sua pupila dilatar enquanto me analisava, um brilho
que julguei ser de reconhecimento passou por suas íris, contudo, minha
mente não conseguiu processar se eu a conhecia e se fosse o caso, de onde.
— Você está bem? — perguntei e ela se assustou como se estivesse
com a mente longe.
— Sim — respondeu, se afastando. — Me desculpe — pediu ao
passar as mãos em seu vestido preto social que por sinal era muito justo, me
dando uma visão perfeita do seu corpo cheio de curvas. E, Santo Dio, que
curvas deliciosas.
— Sem problemas. Eu estava distraído.
— Você tem sotaque — comentou com uma feição pensativa, como
se estivesse tentando adivinhar de onde sou. — Você não é brasileiro — foi
uma afirmação, não uma pergunta.
— Sou italiano, ragazza.
Ela abriu a boca em um perfeito e exagerado "o", quase que forçado e
teatral. Seu olhar varreu o meu corpo da forma mais descarada possível.
Coloquei minhas mãos no bolso da minha calça, tentando ignorar a audácia
do seu olhar intenso sobre mim, mas ela continuou me comendo com o
olhar. Se estivéssemos em algum desenho animado, poderia vê-la babar um
pouco.
— Sabe — começou a falar se aproximando de mim com um sorriso
sínico —, eu sempre quis... — sua fala foi interrompida por alguém que
chegou até ela, tocando em seus ombros.
— Stella, por onde você se meteu? — uma mulher morena de cabelos
cacheados falou. — Você está atrasada para a palestra.
— Já estou indo — a ruiva, que agora sei o nome, respondeu,
revirando os olhos para em seguida, voltar a focar seu olhar em mim. —
Prazer, sou Stella — sorriu abertamente para mim. — Você é solteiro? —
indagou sem qualquer timidez.
Olhei confuso para ela e realmente espantado com seu jeito de ser.
Não estava acostumado com mulheres como ela, que tomavam a iniciativa.
Geralmente, eu quem dava o primeiro passo, sempre.
— Sim, sou solteiro. — Pisquei um olho para ela e sorri ladino,
retribuindo o flerte.
— Ainda bem — declarou e me pegando de surpresa, Stella segurou
meu rosto com as duas mãos e me puxou para si, beijando o canto da minha
boca.
Arregalei os olhos com sua ação, contudo, não a afastei, pelo
contrário, empurrei ainda mais minha boca na direção da sua, notando o
quanto seus lábios eram macios.
O quase beijo durou apenas dois segundos. Sim, eu contei.
— Até mais, italiano gostoso — soltou, se afastando de mim.
Olhei por sobre seus ombros e vi a mulher prendendo o riso com uma
mão na boca. Stella se afastou junto a ela, caminhando na direção oposta à
minha.
— Não vai perguntar o meu nome ou me dar o seu número? —
perguntei um pouco alto para que ela pudesse escutar.
— Não preciso. Sei que vamos nos ver outra vez — respondeu
simplesmente, piscando para mim e virando para me olhar, e depois seguiu
seu caminho, me deixando ali, no meio de um imenso salão completamente
anestesiado.
Permaneci parado no mesmo lugar, não sei por quanto tempo, vendo
o furacão ruivo chamado Stella sumir da minha vista.
Os dois dias do evento de Medicina foram fantásticos. Tive a
oportunidade de conhecer vários nomes importantes e aprender muito com
eles.
No final do primeiro dia, eu tentei achar a ruiva, mas nem sinal dela.
Ao que parece, ela daria apenas uma única palestra pela manhã e nada mais.
Descobri perguntando para um dos médicos presentes, que ela era
neurocirurgiã e uma das boas.
Não conseguia tirá-la da cabeça.
Nunca conheci uma mulher tão ousada e destemida em toda a minha
vida.
Stella, o furacão ruivo, não teve medo e fez o que quis, mesmo em um
lugar lotado e sem ao menos me conhecer. Ela simplesmente fez.
E a forma como ela afirmou que me veria de novo, me deixou
ridiculamente esperançoso para que ela estivesse certa.
No domingo, acordei depois do meio-dia, já que passei a madrugada
toda e parte da manhã, estudando para a cirurgia que irei realizar assim que
retornar para a Itália.
Meus tios foram cedo para a nova casa de Beatrice e Henrique, onde
acontecerá a cerimônia.
Depois de um banho, desci as escadas, segurando minha roupa de
padrinho em meus ombros e fui até a cozinha, comendo um pedaço de pão e
tomando um pouco de café, apenas.
O motorista da família já estava me esperando para me levar até o
local. Em menos de quarenta minutos, cheguei e fiquei surpreso com a
beleza da propriedade. Lembrava muito uma casa de campo, porém bem
mais moderna.
Saí do carro, indo em direção até a entrada, onde fui recepcionado por
Kyara.
— Até que enfim você chegou, fratello — falou ao me abraçar pela
cintura, como sempre fez desde que entrou em minha vida.
Beijei o topo de sua cabeça.
— Scusi pelo atrasado, cara — disse ao me afastar.
— Só faltava você chegar. Henrique está impaciente e jurou que te
daria um soco se você não aparecesse logo — comentou e nós rimos. —
Vem! — Abriu passagem para eu adentrar na residência. — Você pode se
trocar no quarto em que eu estou. Terceira porta à esquerda. — Anuí e subi
as escadas, vendo-a ir em direção à área externa.
Encontrei o quarto e entrei, colocando sobre a cama meu terno.
Fechei a porta e tratei de começar a me trocar. Primeiro, me livrei da calça
jeans preta, substituindo-a pela calça social azul. Em seguida, agarrei minha
blusa verde escuro pelas costas e a puxei para frente, jogando-a em cima da
cama.
Quando estou prestes a colocar minha blusa social branca, a porta foi
aberta.
— Ky, eu estava pensando... — uma mulher falou, mas logo parou ao
perceber que não era minha irmã. — Eu disse que nos veríamos outra vez,
italiano gostoso.
Meu corpo esquentou na mesma hora, cada célula minha vibrou com
o timbre do som sensual. Arfei, levantando o rosto lentamente à medida que
um sorriso preguiçosamente provocante rasgou em meus lábios.
Quando meus olhos se chocaram com os do furacão ruivo, não
consegui reprimir o urro que saiu da minha garganta, quase como um
gemido baixo e ameaçador. Meu olhar varreu seu corpo, que estava coberto
por um vestido azul piscina que possuía um pequeno decote em V, mas que
pelo volume dos seus seios, deixava muito à mostra para a imaginação. A
minha então, já estava pensando em fodê-los com o meu pau.
O que ela faz aqui? Pensei depois que o espanto diminuiu, vendo-a se
aproximar de mim a passos lentos.
— Porque você está aqui? — perguntei curioso e um tanto
desconfiado.
— Bem, eu sou a prima do noivo — respondeu cruzando os braços.
Apertei meus olhos.
— Você sabia quem eu era, não sabia?
— Talvez — cantarolou e seu olhar percorreu meu peito nu, fazendo
com que minha pele se arrepiasse. — Acho que meu pedido se tornou
realidade.
Franzi o cenho, sentindo o clima mudar drasticamente.
— Que pedido?
— O de beijar um italiano.
— Acredito que você já fez isso, Stella — comentei, me referindo ao
beijo roubado que ela me deu dias atrás.
— Aquilo não foi um beijo, querido. — Mordeu o canto do seu lábio
inferior e depois o lambeu de forma sexy, fazendo meu corpo ficar em
alerta. Fiquei hipnotizado com a ponta da sua língua que subia e descia,
umedecendo sua boca cheia.
Stella soltou uma risada e foi até a porta, trancando-a e antes que eu
pudesse protestar, correu até mim, jogando seus braços em meu pescoço e
novamente me roubou um beijo.
Fiquei parado de braços abertos sem me mover pensando em afastá-
la, mas quando senti sua língua lamber meus lábios lentamente, eu decidi
dar a ela o que queria, e a mim também.
Passei os últimos dois dias pensando nela e na sua atitude.
Não podia negar que queria matar minha curiosidade em saber como
é seu gosto.
Saindo do transe, envolvi meus braços em sua cintura e abri minha
boca, invadindo a sua com a minha língua. Stella tateou meu peito
descoberto e soltou um gemido baixinho, sentindo minha pele. E a partir
desse som, o Enrico calmo que não beijava antes de conversar, não existia
mais.
Minhas mãos desceram pelo seu quadril de forma possessiva,
passando pela sua bunda empinada e em um movimento rápido, agarrei a
parte de trás da sua coxa e a levantei do chão.
A ruiva envolveu suas pernas em volta de mim e segurou meu rosto
ao dizer: — Esse sim é um beijo de verdade.
Sorri de lado e andei até a parede mais próxima, encostando suas
costas nela para me dar apoio.
— Você é a primeira ruiva que eu beijo — confessei, arrancando dela
um sorriso que logo foi substituído por um gemido quando ela sentiu o
volume no meio das minhas pernas roçar de leve sua boceta por cima do
vestido. — Você sempre surpreende as pessoas desse jeito? — perguntei,
movimentando sutilmente meu quadril.
— Ah… — arfou, jogando a cabeça levemente para trás antes de me
responder. — Não gosto de passar vontade e sempre vou atrás do que quero.
Passei minha língua por todo seu pescoço, sentindo-a estremecer com
meu toque. Tomei sua boca novamente, a beijando como um predador,
agarrando sua bunda, apertando-a com força, beirando a violência. Em
resposta, Stella chupou minha língua de um jeito delicioso, fazendo meu
corpo ser tomado por puro tesão. Ela se remexeu em meu colo, puxando
meu cabelo mais para si.
Era a primeira vez na minha vida que beijo uma mulher que eu mal
troquei algumas palavras. Contudo, não podia negar que a ruiva realmente
beijava bem. Seu beijo era erótico e sensual, enviando sensações por todo
meu sistema que pararam em meu pau que latejava de desejo como nunca
antes, apenas com um beijo.
Ela me arranhou com suas unhas, traçando um caminho das minhas
costas até meu peito. A ardência do ato me fez invadir seu vestido com
minha mão direita e tocar a pele nua de sua bunda. Desferi um tapa e ela se
assustou, afastando nossas bocas.
— Você me bateu? — indagou ofegante.
— Bati. Você gostou?
— Gostei. Faz de novo, só que dessa vez mais forte.
Sorri, satisfeito com seu pedido, que prontamente foi atendido. Stella
gemeu contra a minha boca sentindo minha palma contra sua bunda.
Quando estava prestes a afastar sua calcinha minúscula, batidas na
porta nos assustaram.
— Enrico?
— Cazzo!
— Primo? — Mais batidas.
— Um segundo — gritei antes de descer com cuidado Stella do meu
colo, colocando-a no chão.
— É o Matteo — disse, ajeitando o vestido. — Vou ao banheiro —
anuniou e saiu, indo na direção do closet e sumindo da minha vista.
Ajeitei minha ereção e caminhei até a porta. Ao abri-la, vi meus
primos já devidamente vestidos como padrinhos.
— Caramba! Você brigou com algum gato? — Matteo perguntou,
apontando para o meu peito. Olhei para baixo e vi marcas vermelhas de
unha — Ou melhor, uma gata. — Mexeu as sobrancelhas de forma
sugestiva.
— Engraçadinho como sempre. — Rolei os olhos.
— Depois falamos sobre as suas aventuras, primo. Viemos aqui para
apressá-lo. O noivo está mais ansioso do que a noiva — brincou.
Ri.
— Tutto bene. Já estou indo.
— Encontramos você na entrada do jardim. — Dante disse e ambos
se afastaram, seguindo para às escadas.
Fechei a porta e ao me virar, encontrei Stella vindo em minha direção.
— Eles já foram — comuniquei, colocando minhas mãos no bolso da
frente de minha calça, olhando para ela.
— E é melhor irmos também. Obrigada pelo beijo. Realmente, os
italianos são quentes como dizem — soltou uma risada antes de passar seus
dedos pelo meu peitoral e sair porta afora, não me dando tempo de falar
nada.
Da mesma forma que me senti chocado no dia do congresso, estava
me sentindo dez mil vezes mais agora. Ela veio, tomou o que queria de mim
e simplesmente foi embora? É só isso?
Não tinha do que reclamar.
Stella era uma mulher muito linda e gostosa pra caralho, e porra, seu
beijo era perfeito. Tão perfeito que chegava a me assustar o quanto que
gostei. Não, eu amei!
E se não fosse ficar tão pouco tempo no Brasil, adoraria conhecer esse
furacão ruivo e lhe ensinar a ser uma boa menina, algo que definitivamente,
Stella não é.

Stella
Aquele italiano gostoso filho da puta beijava melhor do que
eu pensava!
Definitivamente, Enrico foi o melhor beijo que já dei desde que
comecei nessa vida tarada.
Porra! Que pegada foi aquela e aquele tapa?
Puta que pariu! Minha boceta nunca piscou tanto por um homem
antes. Ela estava batendo palmas enlouquecidamente.
Não que eu nunca tivesse levado um tapa no rabo desde que perdi o
meu cabaço, definitivamente, essa não era a questão. Mas os parceiros que
tive pareciam ter receio de serem mais dominadores comigo durante uma
trepada, alguns até alegavam que o meu jeito rebelde era capaz de castrar o
sexo oposto.
Ora, tenha santa paciência! Jeito rebelde é o meu pau!
Soltei uma risada com o pensamento, encostando o corpo na porta
do quarto, tentada a abri-la para ir até os finalmente com o primo da noiva.
Daria até um bom enredo para um romance, tipo os que Bárbara costuma
ler. A madrinha e o padrinho fodendo às escondidas antes da cerimônia.
Definitivamente não era uma má ideia. Sorrindo, segurei a maçaneta
em minhas costas e quando estava prestes a gira-lá, uma voz cheia de
divertimento me fez soltá-la e dar um sobressalto pelo susto.
— O que faz aqui, ruivinha?
— Você me assustou, porra! — falei, alisando o peito. — Caralho,
B1! Meu coração quase saiu pela boca.
— Não exagera. Você é médica e sabe que isso não é possível de
acontecer — ponderou por um segundo. — Ou é?
Rolei os olhos, mas acabei rindo, dando um tapa de leve em seu
braço.
— Só em filme de terror mesmo.
— Verdade! — Deu de ombros. — Então, o que está fazendo aqui?
— Vim ver se Kyara me emprestava alguns brincos — menti.
Meu amigo, esperto como só ele, me analisou com seus olhos azuis
semicerrados, parecendo sentir cheio de mentira no ar.
— Mas você já está usando brincos, Stella. — Apontou com o queixo.
Toquei minhas orelhas, fingindo ter esquecido o fato.
— Ah é! — sorri sem jeito. — Mas queria ver se… se ela tem outro
modelo. Esse aqui é grande demais.
— Você sabe que está usando brincos de pérolas e que elas são
pequenas, não sabe? — Alçou uma sobrancelha, os lábios repuxados para o
lado de um jeito que em qualquer outra pessoa ficaria arrogante, mas nele
era com certeza engraçado.
— Quero menores! — Cruzei os braços e empinei o nariz para o
enxerido do meu amigo. — Desde quando você virou especialista em
brincos, Matteo Fontana?
Ele riu.
— Vai me dizer que você também tem um bloquinho sobre os
acessórios femininos? — procurei saber.
Seu sorriso aumentou de um jeito convencido.
— Tenho um bloquinho para cada assunto que julgo ser importante
para as mulheres.
— A mulher que casar com você terá sorte ou não. Ainda não decidi
sobre isso — brinquei e ele me abraçou de lado, me puxando pelo ombro.
— Kyara não está no quarto e sim Enrico, meu primo.
Incorporei a atriz que habita em mim, levando uma mão à boca, que
se abriu em um perfeito “o”.
— Ah, sim. Ainda bem que eu não entrei, vai que ele estava sem
camisa, não é mesmo? Isso seria muito inapropriado.
— Como se você fosse apropriada, ruiva — zombou. — Ao que me
lembro, a senhorita me mandou mensagem dizendo o quanto seu segurança
era… — Fingiu pensar por um momento. — Qual foi mesmo o termo que
você usou para se referir a ele?
— Gostoso para um caralho!
— Isso!
Revirei os olhos.
— E, por favor, não o agarre, principalmente no meio da rua.
— É estranho saber que estou sendo vigiada, mas ao mesmo tempo, é
muito excitante saber que é um puta tesão que está com os olhos sobre
mim.
Depois do sequestro de Beatrice, por indicação de Alberto, o amigo
delegado de Miguel, passamos a ter seguranças. Eu até tentei protestar,
dizendo que não precisava de um, mas meu primo não abriu brechas para
controversas.
— Que safadinha! — brincou.
— Ei! — Bati em sua barriga ridiculamente dura. — Sou uma dama
fina e recatada. — Fiz um movimento qualquer com as mãos, tentando
imitar o que as misses fazem quando acenam, o que o fez rir. — E quando
você vai me dizer qual o segredo para esse tanquinho, hein?
— Treino e alimentação saudável — respondeu simplesmente. —
Não tem segredo, apenas disciplina.
— Ok! Treino até que vai, agora alimentação saudável não é comigo.
Não há a menor possibilidade de eu abandonar meu sorvete de flocos. E
você está me devendo dez potes do doce.
— Não estou não! — Apertou os lábios, mas sua expressão o
acusava.
— Está sim! Você me fez assistir dois episódios inteiros daquela
novela com a gêmea do mal…
— Usurpadora.
— Isso, essa mesma. Você disse que se eu assistisse com você,
ganharia dez potes de sorvete de flocos. Estou esperando, querido.
— Já participei de um ménage com a filha do dono da empresa do
sorvete que você gosta. Posso conseguir bem mais do que só dez potes,
ragazza — disse, me puxando na direção das escadas e eu deixei que me
guiasse.
— Sabe, vai ser interessante ver uma mulher colocar uma coleira
nesse seu pescoço de puto — brinque e ele soltou uma risada.
— Quando for a minha vez, deixo você escolher a cor da coleira junto
a mulher que roubará o meu coração.
— Promete? — Levantei o dedo mindinho.
— Prometo — afirmou, entrelaçando o seu dedo no meu.
Caminhamos até a parte externa da casa, onde uma grande tenda
branca estava armada na grama, com várias colunas finas de madeira a
sustentando e inúmeras luminárias, deixando o ambiente lindo, como um
fim de tarde na Toscana italiana.
Mesas grandes e redondas do mesmo material estavam espalhadas
pelo jardim, rodeando a pista de dança montada no centro, com piso de
madeira. Do lado oposto à entrada, onde vi Henrique caminhar de braços
dados com meus pais, por um caminho de pétalas de rosas brancas, ao som
de uma música tranquila, havia uma mesa pequena e estreita com duas
cadeiras de frente para ela, ilustrando um pequeno altar para a cerimônia.
— Enrico já chegou? — Beatrice perguntou se aproximando. Ela
estava simplesmente linda.
— Você está linda, Bea — disse pela milésima vez no dia.
— Grazie — sorriu, tocando em minhas mãos e pude notar que as
suas estavam suadas, provavelmente pelo nervosismo.
— Você precisa ficar calma, amiga.
— Eu já disse isso a ela — Ana falou ao lado de Dante.
A noiva suspirou.
— Estou tentando e onde está aquele nerd do meu primo? —
perguntou, olhando na direção de onde Matteo e eu viemos. — Todos os
padrinhos e madrinhas já estão aqui, só falta ele.
— Ele já está vindo, tesoro — Sr. Vincenzo falou, tocando no rosto da
filha com carinho.
— Desculpem o atraso — uma voz masculina, grave e cheia de
sotaque soou atrás de mim, e pela forma como minha Stellinha bateu
palmas, não foi preciso me virar para ver quem era o dono dela.
— Até que enfim — Beatrice resmungou, indo até ele e dando-lhe um
abraço.
— Scusi, cara.
— Está desculpado — sorriu. — Eu estava com saudade.
— Eu também. Fico feliz em saber que você e meu sobrinho estejam
bem.
Beatrice anuiu, alisando a barriga.
— Deixe-me te apresentar a minha amiga, prima do Henrique —
falou e logo me virei para encará-lo, reprimindo a vontade de provocá-lo.
— Stella, esse é meu primo, Enrico, o médico italiano que falei para você.
Enrico, essa é Stella. Os pais dela que levaram meu noivo até o altar.
Educadamente, sorri para ele e disse como se há poucos minutos não
estivéssemos atracados um nos braços do outro: — É um prazer te
conhecer, Enrico.
O italiano me avaliou por um momento e com uma sobrancelha
erguida e um sorrisinho sexy pra caralho, decidiu entrar no meu jogo.
— O prazer é meu, Stella.
Ficamos nos encarando por longos segundos, como se estivéssemos
em um desafio de quem desviaria o olhar primeiro. Até que a cerimonialista
quebrou nossa bolha. E pelo restante da noite ficamos observando um ao
outro e ambos agimos da mesma forma, como dois cínicos.
CAPÍTULO 58
Beatrice
A música que escolhi para a minha entrada, Home da Gabrielle
Aplin, a mesma que o meu futuro marido tinha tatuado em seu peito e que
agora fazia todo sentido para mim, começou a tocar e logo a minha
cerimonialista me chamou para ficar no final da fila com meu pai. Ela
arrumou cada casal de padrinhos em seu devido lugar, todos à minha frente.
— Boneca! — Matteo gritou. — Vamos, que nós somos os primeiros
a entrar.
— Já estou indo, idiota — bufou, dando o braço para meu irmão.
— Lembre-se, andar devagar e no ritmo da música — explicou,
ajeitando sua postura.
Bárbara olhou por sobre os ombros em minha direção e disse algo
como "Só estou fazendo isso, porque te amo."
Sorri, já imaginando que algo poderia acontecer entre esses dois e que
eu iria amar tê-la como cunhada.
Respirei fundo contando de um até dez mentalmente procurando me
acalmar. Eu estava uma pilha de nervos, e acreditava que metade devia ser
pelos hormônios da gravidez e a outra por estar ansiosa para chamar
Henrique de marido.
Per Dio, estava mesmo casando e com um filho na barriga!
Olhei para frente, vendo meu segundo casal de padrinhos, Dante e
Ana, andarem pelo jardim até o local da cerimônia. Logo em seguida, Stella
e Miguel, e por fim, Enrico e Kyara. Reprimi a vontade de rir ao me
lembrar da ruiva tentando me subornar com vibradores para colocá-la como
o par do meu primo. Só não o fiz por Ky, que já notei ficar acanhada perto
de Miguel. Foi assim desde que chegou há algumas semanas, sempre que o
irmão da minha cunhada nos ajudava com algo da cerimônia.
— Agora é a sua vez, senhora — a moça comunicou, me fazendo
agarrar forte meu buquê. — Pode ir — sorriu gentilmente, sinalizando o
caminho.
— Vamos, minha princesa? — babbo perguntou e eu assenti.
Conforme caminhava, tentei controlar minhas pernas que tremiam de
expectativas. A sensação aumentou assim que observei Henrique no final da
tenda, parado ao lado dos nossos amigos e seus tios, que tive o prazer de
conhecer no início da semana. Ambos decidiram ficar hospedados na casa
de Stella.
Henrique estava lindo e definitivamente, a cor azul lhe caía bem.
Seu terno agarrava seus músculos, deixando-o ainda mais gostoso.
Sua barba grossa enfeitando o sorriso encantador que brotou em seu
rosto assim que nossos olhares se encontraram.
Meu estômago se agitou com as malditas borboletas que pareciam dar
piruetas, fazendo meu coração bater cada vez mais forte. Notei meu noivo
limpar seu rosto com o dorso da sua mão, visivelmente emocionado e havia
uma parte minha que também estava consumida pela emoção em vê-lo, a
ponto de pingar. Minha boceta.
Como era possível termos feito sexo durante toda a noite de ontem e
eu ainda o querer ele dentro de mim? Talvez seja por isso que a minha
tarada interior teve a brilhante ideia de surpreendê-lo depois do sim. Era o
momento perfeito e como dois coelhos apaixonados por sexo e adrenalina,
sabia que ele toparia o meu plano safado.
Assim que cheguei ao altar, papai beijou com carinho minha testa e
apertou com firmeza as mãos de Henrique e logo se juntou a minha
mamma.
— Você está ainda mais linda, meu amor — ele disse, me guiando
para sentar no banco acolchocado de madeira que foi colocado ali para nós.
— Grazie, amore mio.
Escolhi um vestido todo rendado, estilo sereia com um decote
moderado, as costas completamente nuas e uma calda generosa.
O juiz de paz não demorou para pegar o microfone e dar início a
cerimônia.
Em um dado momento, ele pediu para que ficássemos de pé, um de
frente para o outro e assim o fizemos. Bárbara se aproximou, pegou meu
buquê e em seguida, me entregou o pedaço de papel com meus votos, as
palavras que passei mais de uma semana tentando escrever.
Segurei o microfone, soltei um longo suspiro e comecei a ler o papel,
tentando conter a ardência em minha garganta causada pelo choro que
queria sair.
— Meus irmãos e eu crescemos vendo diariamente a felicidade que
meus pais compartilhavam por estarem juntos e por muito tempo, eu
imaginei que isso não era para mim. Que eu jamais encontraria o que o meu
irmão e Ana encontraram um no outro. E foi assim durante muito tempo,
até que passamos a nos envolver. — Olhei para Henrique que estava com os
olhos marejados e sorri antes de continuar. — Quando botei meus olhos em
você pela primeira vez eu sabia que queria você. Mas a última coisa que
passou em minha cabeça era que me apaixonaria loucamente pelo melhor
amigo dos meus irmãos. Você me ensinou que mesmo eu sendo
independente, é sempre bom ter alguém com quem possamos contar depois
de um dia cansativo. Me mostrou que a vida pode ser melhor quando
compartilhada com quem amamos e que eu não sou fraca por querer estar
com alguém, mas que sou forte por desejar construir a minha própria
família. — Toquei em minha barriga. — Eu te amo e prometo te amar para
sempre, Sr. Prado.
Antes de passar o microfone para ele, observei o salão, vendo os
rostos emocionados dos meus amigos e familiares. Ana me entregou um
lenço e rapidamente sequei meus olhos, deixando o tecido, agora úmido, em
suas mãos.
Henrique tirou um papel pequeno do bolso do seu paletó e o abriu,
olhando em meus olhos por alguns segundos e começou a falar.
— Bea, quando te vi pela primeira vez, algo dentro de mim me
alertou que eu estaria em perigo ao me aproximar de você — todos riram,
inclusive nós. — Tentei por muito tempo fugir de tudo o que você me
causava por respeito aos meus amigos. Porém, quanto mais eu te via, mais
esse sentimento, que até então era desconhecido, criava raiz dentro de mim.
Foi quando cheguei no meu limite e não pude mais evitar. E então, nesse
momento, você me mostrou o verdadeiro significado de “lar” — suspirou.
— Quando eu já não acreditava que poderia ser amado e cuidado, você me
amou e cuidou de mim, me fez sentir a pessoa mais especial do mundo.
Posso não ser o melhor na cozinha, porém te prometo ser o melhor marido,
melhor companheiro e melhor pai para o nosso bebê. Te prometo cuidar da
nossa família e sempre estar do seu lado em todos os momentos. Eu te amo,
minha italiana. Te amo desesperadamente, com tudo que sou.
Às lágrimas, trocamos nossas alianças e quando o juiz disse "Pode
beijar a noiva", agarrei seu paletó, puxando-o para mim e beijei seus lábios
vorazmente. Gritos e aplausos tomaram o lugar. Meu agora marido me
abraçou pela cintura e me girou tirando-me do chão.
Após a chuva de arroz, o jantar foi servido.
Alguns amigos da família vieram nos cumprimentar, inclusive o pai
de Carlos e nossa amiga, Juliana, os tios de Henrique, os pais de Stella que
vieram de sua cidade apenas para prestigiar o nosso casamento e ambos
ficaram felizes quando ele os chamou para o levar até o altar.
O DJ tocou uma música agitada e alguns convidados foram para a
pista de dança. Vi Enrico e Kyara carregando Bella e Nina no colo,
respectivamente, balançando de um lado para o outro. Sorri com a cena
imaginando que logo seria eu dançando com meu bebê em meus braços.
Algumas horas depois, a cerimonialista avisou no microfone que
havia chegado a hora de jogar o buquê. Levantei-me animada da cadeira,
dei um beijo em meu marido e segui para a frente do palco.
Todas as mulheres solteiras estavam logo atrás de mim. Algumas
mais desesperadas do que outras. Pelo canto de olho, notei Ana Laura
empurrando uma Bárbara de cara amarrada, para se juntar às outras no meio
do salão.
Fiquei de costas e contei de um até três junto ao Dj, jogando o arranjo
de flores o mais alto que consegui. Ouvi gritos animados e me virei para ver
Bárbara completamente em choque com meu buquê nas mãos.
— Eu não quero — declarou assim que cheguei para abraçá-la.
— Quer sim. — Pisquei para Ana e Stella, minhas parceiras nesse
crime.
— A pedido da noiva, o noivo irá jogar a liga que foi especialmente
escolhida para os solteiros de plantão — a voz da cerimonialista anunciou.
Meu irmão, Matteo, passou por nós e olhou para Bárbara, que parecia
estar prestes a ter um ataque cardíaco, e disse, do jeito que imaginei que
faria: — Eu vou pegar a liga para colocar em você, boneca.
Ela arregalou os olhos.
— Que liga é essa, pelo amor de Deus? Que não seja a que eu estou
pensando que é!
Reprimi uma risada.
— Exatamente essa, cara mia. Definitivamente, não é algo tradicional
para os italianos, mas eu sempre gostei da ideia. Nesse caso, o Henrique
não vai tirar de mim. Separei uma especialmente para você com a ajuda das
meninas.
CAPÍTULO 59
(Bônus)

Bárbara
Eu vou matar as minhas amigas!
Era só o que conseguia pensar quando colocaram uma cadeira no
meio do salão para eu me sentar.
Todos estavam animados, inclusive, Matteo que me encarava com um
sorrisinho ridículo nos lábios enquanto balançava a droga da liga branca nos
dedos. Ele praticamente empurrou todos os outros homens para conseguir
pegá-la depois que Henrique a jogou. Fez tudo isso só para me irritar, eu
aposto. Idiota!
Eu até tentei correr, mas fui impedida por Stella, Beatrice, Ana e até
Kyara, que pensei que seria a única a me ajudar nessa situação. Traidora!
Eu, que amava tanto os livros de romance, me vi prestes a viver uma
das cenas mais clichês com um cara que eu odiava pelo simples fato de que
meu corpo sempre reagiu a ele desde a primeira vez que o idiota cruzou o
meu caminho.
Fui apunhalada pelo meu próprio corpo, que já tentei, mas não
conseguia controlar. Droga!
Medo. Eu tinha medo.
Como as mocinhas nos livros que costumo ler.
Matteo me fazia sentir coisas que eu nunca havia sentido antes e isso
me assustava pra caramba. E eu, definitivamente não estava com vontade de
explorar o que quer que fosse isso.
Argh! Eu não sou muito fã de falar palavrão, porém estava a ponto de
gritar vários.
— Vamos! — Bea disse, me puxando pelo braço para me fazer ficar
sentada. — Vai ser divertido — garantiu sorridente.
— Para mim, não — declarei, fechando a cara.
— Alguém filma isso, por favor — Ana pediu e prontamente seu
marido tirou o celular do bolso para filmar minha humilhação pública.
— Depois você me envia — Stella ordenou.
— Para mim também, primo, per favore — Kyara falou timidamente
logo em seguida.
— Vocês são ótimas amigas, hein — resmunguei.
— Garanto que você vai gostar, boneca — Matteo avisou, puxando
seu paletó pelos braços e ficando apenas de blusa social. Como um ritual
para me destruir, ele abriu os dois primeiros botões da sua camisa sem tirar
os olhos dos meus.
— Eu te odeio!
— Não odeia não — rebateu.
— Odeio sim.
Ele veio até mim com aquele andar sexy e usei todo o meu
autocontrole para não apertar minhas coxas uma na outra. Quando seu rosto
se aproximou do meu, estremeci ao sentir seu hálito perto da minha orelha
por causa da sua voz rouca, baixa e provocante.
— Você odeia o fato de não poder controlar seu corpo quando está
perto do meu. Você me deseja, boneca. Portanto, vou dar a você uma
amostra do que a sua mente teimosa está fazendo você perder, cara mia.
Agarrei a cadeira, buscando não cair e nem desmaiar quando a última
música que eu gostaria de ouvir, soou preenchendo o ambiente.
Pony do Ginuwise.
A canção que escolhi quando estávamos na limusine a caminho da
festa da empresa de sua família.

“I'm just a bachelor. I'm looking for a partner.


(Eu sou apenas um solteiro. Procurando por uma parceira)

Someone who knows how to ride, without even falling off.


(Alguém que saiba montar, sem nem mesmo cair)
Gotta be compatible, takes me to my limits
(Tem que ser compatível, me levar ao limites)

Girl when I freak you out I promise that you won't want to get off
(Garota, quando eu pirar você, eu prometo que não irá querer sair)

Arregalei os olhos ao ver Matteo rebolando na minha frente.


Minha garganta secou e tentei engolir, buscando levar minha atenção
para qualquer coisa, a fim de focar em um ponto distante, porém foi
impossível, como se meu corpo fosse atraído como um imã a ele.
Minha mente fanfiqueira traidora logo imaginou como seria estar na
cama com esse homem conforme ele se movia de um jeito irritantemente
sexy. Droga! O idiota era bonito, rico, tinha veias grossas nos braços — eu
amo veias grossas — e ainda por cima sabia dançar?
Matteo parecia estar se divertindo ao arrancar gritos e palmas do
salão.

If you're horny, let's do it. Ride it, my pony.


(Se estiver excitada, vamos fazer. Monte no meu pônei)

My saddle's waiting. Come and jump on it.


(Minha sela está esperando. Venha e pule nela.)

If you're horny, let's do it


(Se está excitada, vamos fazer.)
E então, ele segurou meu pé e sem tirar os olhos dos meus avisou:
— Basta dizer para eu parar e assim o farei, boneca. Você está no controle.
Engoli em seco e não o impedi, deixando que subisse a liga pela
minha panturrilha, raspando seus dedos sutilmente em minha pele. À
medida que subia, senti meus pulmões tentando puxar o ar.
Bárbara, se controle. Por favor!
Seu toque agiu como brasa em mim, senti como se meu corpo
estivesse queimando quando as mãos de Matteo resvalaram um carinho em
minha pele. Agradeci mentalmente por meu vestido ser longo e sem fenda
alguma.
— Sente isso, Bárbara? — ele perguntou, apertando levemente o
interior da minha coxa.
— Não — balbuciei.
— Teimosa — falou em tom sexy levando seu dedo indicador
próximo a minha virilha.
— Merda! — xxclamei baixinho, me odiando por abrir as coxas e
desejando que ele me tocasse bem ali, mesmo que estivéssemos na frente de
tanta gente.
Matteo sorriu convencido, se afastando de mim, mas antes depositou
um beijo em minha testa e murmurou, colando nossas bochechas: — Pode
respirar agora, amore.
Soltei a respiração que não lembrava de ter prendido e voltei a
realidade quando minhas amigas se aproximaram de mim.
— Você está pálida, amiga — Beatrice disse segurando o riso.
— Que engraçada vocês. — Ajeitei minha postura, tentando me
recompor.
— E aé? — Ana perguntou, pulando feito a “gnomio” serelepe que
era.
— E aí, o quê, maluca?
— Como foi?
— Você e o salão inteiro viram como foi.
— Queremos saber o que aconteceu debaixo do vestido — Bea falou,
piscando para mim.
— Com certeza, um tsunami aconteceu — Stella brincou.
Engoli em seco, tentando controlar meu coração e só então me
levantei.
— Não aconteceu nada demais. — Dei de ombros.
— Uhum, sei — a ruiva resmungou, apertando os olhos para mim.
— Vocês são péssimas amigas, sabiam?
— Você nos ama — Ana disse risonha.
— Nesse momento, estou odiando vocês.
Elas riram ainda mais.
— Preciso tomar minhas vitaminas — Beatrice soltou, alisando a
barriga.
— Posso pegá-las para você, cugina — Kyara ofereceu. — Diga-me
onde estão.
— No armário da cozinha, próximo à ilha.
— Tutto bene. Eu já volto.
CAPÍTULO 60
(Bônus)

Miguel
Pedi licença aos meus amigos e segui para dentro da casa, indo em
direção ao banheiro. Apósfazer minha higiene pessoal, lavei minhas mãos e
quando abri a porta, uma voz doce, mas também sexy, invadiu meus
ouvidos em meio ao barulho do lado externo.
Segui curioso e intrigado com as sensações que o meu corpo sentiu a
cada som que a letra cantada produzia, me surpreendendo ao avistar Kyara,
de costas para mim, na cozinha.
Ela usava um vestido longo rosa claro de mangas compridas, e pelo
que notei durante a cerimônia, ele possui uma pequena fenda no lado
direito. Sim, eu olhei para ela algumas vezes, mais vezes do que o
permitido para pessoas teoricamente, desconhecidas como nós e mesmo que
a vontade de me aproximar tenha surgido, era impossível ultrapassar a
guarda de homens ciumentos que a cercavam. Enrico e Giuseppe Fontana.
Seus ombros balançavam sutilmente junto a sua cabeça, em sintonia
com sua linda voz. Sorri com a cena, sentindo todo o meu corpo se aquecer
à medida que a observava.
Nós nos vimos uma única vez, trocamos poucas palavras, porém algo
nela me faz querer conhecê-la mais. Além de ser dona de uma beleza
delicada e natural, daquelas que não precisa de muito para ser notada,
Kyara me parece ser o tipo de mulher que possui camadas.
Muitas camadas.
Uma mais intensa do que a outra.
E eu queria saber mais sobre ela.
Queria conhecer seus medos, seus hobbies, sua história e adoraria
saber sobre seus desejos.
Talvez tudo isso seja coisa da minha cabeça, mas se tem algo que em
mim é muito forte, é minha intuição. Eu dificilmente erro sobre alguém. É
algo que aprendi a aprimorar sendo o homem da família, ainda muito novo.
— Miguel? — sua voz, carregada de sotaque, soou e puta que pariu,
meu nome na sua boca é convidativo demais, causando-me arrepios na
nuca.
Forcei uma tosse e passei minha mão em meu cabelo, deixando-o
mais bagunçado do que antes.
— Desculpe, não queria assustar você.
— Tutto bene — sorriu tímida, olhando para uma das gavetas à sua
frente.
— Você canta muito bem em português. — Me aproximei, ficando do
outro lado da ilha. — Na verdade, sua voz é linda, Kyara.
— Você lembra do meu nome? — perguntou surpresa.
— Por que não lembraria?
Ela abriu e fechou a boca repetidas vezes, mas nada disse. Foi
possível notar suas bochechas assumirem um tom vivo de vermelho.
Não desejando deixá-la ainda mais envergonhada — mesmo que não
haja motivo algum para isso — dei a volta na ilha, ficando frente a frente
com ela. Kyara é bem menor do que eu, então precisou levantar o seu rosto
para me olhar nos olhos. Estávamos a três passos, ou menos, de distância
um do outro.
— Que música você estava cantando? — questionei, tentando mudar
de assunto.
— Talvez da Carol Biazin. — Sorriu de lado. — Eu gosto da melodia.
— respondeu sem fugir do meu intenso olhar sobre ela, que tentava
arduamente buscar qualquer pista para esse quebra-cabeças chamado Kyara.
— É linda, assim como você.
Admirei que mesmo ela sendo, aparentemente, muito tímida, Kyara
revelou um pouco da sua ousadia retribuindo a forma como eu a encarava
de volta.
Observei seu peito subir e descer à medida que os segundos se
passavam. A esperei falar algo, não desejando que esse momento acabasse.
Era a primeira vez desde que ela chegou no Brasil que ficávamos sozinhos e
eu não deixaria a oportunidade passar.
Ela fechou e abriu os olhos, umedecendo seus lábios e disse por fim:
— Eu preciso ir, Miguel. — E saiu mais uma vez, não me dando a chance
de falar mais nada.
Eu queria conversar e entender o porquê da curiosidade que instalou
em mim desde o primeiro instante que a vi. Algo dentro de mim me dizia
que ela precisava ser protegida.
Talvez a minha intuição tenha que esperar e eu torcia para que não
fosse por muito tempo.
CAPÍTULO 61
Henrique
Eu estava casado!
Tipo, casado mesmo.
E com a porra da mulher mais incrível que já conheci!
Eu realmente casei com a mulher que perturbava meu juízo. Com a
desgraçada da diaba e puta que pariu, eu era mesmo um filho da puta
sortudo pra caralho. E louco, obviamente, mas um louco muito feliz.
Olhei para Beatrice que segurava Nina nos braços, dançando no meio
do salão e sorri, imaginando como será quando nosso bebê nascer.
— Você se tornou mesmo um cadelinha. Já está até babando, cara —
Miguel falou, se sentando ao meu lado na mesa.
Ri.
— Onde você estava?
— Fui ao banheiro e…
— E…
Meu amigo coçou a cabeça antes de responder a minha pergunta.
— Encontrei Kyara na cozinha e tentei puxar conversa, porém a
mulher simplesmente fugiu.
Franzi o cenho.
— Fugiu?
Ele acenou em afirmação.
— Você está interessado nela? — procurei saber.
— Talvez.
— Talvez? Pensei que você era do tipo que sabia o que queria —
brinquei.
Ele soltou uma risada.
— Eu sempre sei o que quero e definitivamente quero conversar com
Kyara. Ela é linda e com certeza faz o meu tipo. — Levantou o rosto,
olhando pelo salão como se estivesse procurando por ela.
— E Juliana?
— Somos apenas amigos coloridos. — Deu de ombros. — Ela é
madura e sabe separar muito bem as coisas. É só sexo para ambas as partes.
— Bea e eu éramos apenas amigos coloridos e olha onde estamos
agora — disse e rimos.
— Posso saber o que é tão engraçado? — Enrico perguntou, se
juntando a nós.
— Mulheres são engraçadas — Miguel respondeu, me olhando de
lado.
— Nem me fale — o italiano bufou, sentando na cadeira de forma
relaxada.
— Ei, soube pelo fofoqueiro do Matteo que você estava todo
arranhado — comentei.
Ele engoliu em seco e juro que vi algumas gotas de suor em suas
têmporas.
— Não foi nada demais. Apenas uma mulher que eu... que eu conheci
durante o congresso. Nada sério. — Pegou uma taça de vinho que foi
entregue por um dos garçons que ali passava e levou-a até à boca.
— Uma mulher selvagem pelo visto — soltei e ele cuspiu a bebida,
quase se engasgando. — Porra! — Bati em suas costas. — Melhor?
— Sí. Grazie! — agradeceu, passando a mão em seu peito.
— Então, qual o papo da mulher gata? — Miguel questionou.
— Realmente, não foi nada demais. Apenas atração física. — Deu de
ombros. — Eu mal a conheço.
— E porque não investe? — Miguel indagou. — Pela forma como
você está, essa mulher parece ter mexido mesmo com você, cara.
Ele suspirou.
— E mexeu mesmo, mas ela mora aqui no Brasil e eu, até segunda
ordem na Itália. Não acredito que relacionamentos à distância dariam certo.
— Bom ponto — concordei. — Quando você viaja de volta?
— Em algumas horas — respondeu. — Tenho uma cirurgia daqui a
três dias. Preciso me preparar.
— E quanto a Kyara? — perguntei, olhando de canto de olho para
Miguel que logo percebeu o que eu estava fazendo. — Beatrice comentou
que ela tem planos de se mudar para o Brasil permanentemente.
— Sim. Está trabalhando e estudando para isso, mesmo meu pai não
concordando com a ideia, decidiu apoiá-la. Acho que até ano que vem,
minha irmã estará se mudando de vez para cá.
— Que maravilha! — exclamei, piscando para meu amigo, que
apenas sorriu de lado de forma discreta.
Nesse momento, notei Beatrice se aproximando de nós e pelo sorriso
endemoniado que a filha da puta estampava, eu sabia que estava planejando
alguma putaria.
— Com licença, rapazes, mas será que eu poderia roubar meu marido
por um momento? — perguntou quando já estava perto, piscando um olho
para mim.
— Todo seu — Miguel disse, levantando sua taça.
— Grazie! — Ela então olhou nos meus olhos. — Sr. Prado? —
Estendeu uma mão e feito um cadelinha que eu era por ela, a peguei
rapidamente, ficando de pé e deixando-me ser puxado pela dona do meu
coração, ao som de risadas e gritos dos meus amigos. Ignorei, concentrado
demais no balanço dos seus quadris.
Em vista disso, não resisti em provocá-la.
Abraçando-a por trás e sussurrei em seu ouvido: — Estou doido para
comer esse seu rabo.
E como sempre, a diaba me surpreendeu com suas palavras.
— Você tem sido um bom menino fazendo sua mulher gozar
enlouquecidamente nas últimas semanas, além de mimá-la, não se opôs a
nenhuma ideia dela acerca da decoração da casa. — Virou o rosto, me
olhando por sobre os ombros. — Então, até acho que está merecendo.
Depositei um beijo em sua nuca, aspirando seu perfume delicioso.
— Vou poder foder esse cuzinho na lua de mel? — indaguei.
Matteo havia anunciado para todo o salão, momentos atrás, uma
viagem para Fernando de Noronha como presente de casamento. Minha
esposa e eu amamos, já que não estava nos nossos planos viajar para fora do
Brasil devido às nossas agendas de trabalho. Serão sete dias curtindo e
aproveitando um dos lugares mais lindos do país.
E mesmo não sendo a nossa vibe, depois que o jantar foi servido,
Simone nos presenteou com um final de semana em um retiro espiritual,
alegando que precisávamos alinhar nossos chakras o quanto antes, pois eles
estavam ainda mais bagunçados. Minha esposa sorriu diante do presente
inusitado, mas aceitou com um sorriso gentil no rosto.
Foi engraçado ver ela e Matteo dançando de um jeito engraçado na
pista de dança, junto a Peppe e Stella, que pareciam dois amigos de longa
data dançando e cantando a cada música agitada.
Simone até tentou puxar Rafael para a festa, mas ele permaneceu
parado, apenas observando o ambiente, e vez ou outra conversava com o
meu agora sogro e Giuseppe, que comentou que ele parecia um robô. Meu
sócio riu discretamente, provavelmente acostumado por já ter que lidar com
uma versão mais nova do homem.
Beatrice se virou, abraçando meu pescoço.
— O que você acha de comer meu cu agora, marido? — Alçou uma
sobrancelha, me olhando com uma expressão demoníaca.
Ela disse mesmo isso?
— Pela sua cara de espanto, você não está acreditando no que eu
acabei de falar, não é?
Minha esposa realmente me conhecia.
— Se você está propondo fazermos sexo anal no andar de cima do
nosso novo lar, enquanto nossas famílias e amigos estão no quintal, sim,
isso me deixou muito surpreso.
— Mas excitado também, não?
— Beatrice…
— E se eu disser que estou usando um plug anal desde o início da
cerimônia? Isso te deixaria excitado a ponto de topar comer meu cu
enquanto todos os nossos amigos e família estão aqui?
Arregalei os olhos e senti meu pau ganhar vida dentro da porra da
cueca. Engoli em seco, procurando mantê-lo quieto, impedindo minha
mente de criar a imagem do rabo da minha esposa com um diamante azul
dentro dele.
— Você estava esse tempo todo… — Parei de falar, sentindo cada
célula minha ferver, e a desgraçada da minha esposa? Bem, a mulher com
quem me casei apenas sorriu, se divertindo com o meu estado. — Você
estava esse tempo todo com a porra de um plug enfiado no rabo, Beatrice?
— Talvez — cantarolou.
Fechei os olhos e respirei fundo, uma, duas, três, quatro vezes.
Quando consegui finalmente me acalmar um pouco e evitar uma cena com
uma ereção, abri os olhos e encontrei os seus sobre mim.
Aqueles malditos olhos verdes.
Aqueles malditos olhos de diaba.
Dissimulados, maliciosos e astutos,que eram capazes de me levar a
cometer loucuras por ela.
Sempre por ela. Tudo por ela. Sempre ela.
Aqueles olhos.
Que desde o primeiro momento que repousaram em mim, me
marcaram como seu.
Ela me marcou com as íris de demônia.
Eu era dela desde aquela viagem à Itália.
Eu sempre fui dela, era só questão de tempo até eu me entregar ao
inferno que Beatrice Fontana sempre foi.
E apenas para afirmar ainda mais a minha sentença de vida, ela disse
com seus lábios formando um bico deliciosamente tentador: — Per favore,
marido. Come meu cu hoje, aqui e agora, na nossa casa.
Tudo à minha volta sumiu.
Todos à minha volta desapareceram.
Tudo em mim só focou nela conforme segurei sua mão que carregava
a aliança que representava que eu era dela, e a arrastei para fora da tenda.
Notei Bea sorrir e acenar para as pessoas que falavam conosco pelo
caminho.
Só quando chegamos à suíte principal, nosso futuro quarto, e fechei a
porta, é que saí do transe.
— Para quem pareceu meio incerto com a ideia no início, você me
arrastou para cá com uma rapidez impressionante, marido.
— Tira o vestido, esposa! — ordenei, começando a me livrar das
minhas roupas de forma impaciente.
Ela alçou uma sobrancelha e cruzou os braços.
— Diz o que vai fazer comigo e eu tiro — provocou.
Puxando a maldita gravata que eu odiava usar, mas aceitei por ela,
falei em um tom baixo e rouco, sem quebrar o contato visual: — Eu vou
socar nesse cuzinho de um jeito delicioso, querida esposa, assim como eu
faço com a sua boceta, que você vai querer dá ele pra mim todo dia — ela
arfou, abrindo a boca em um perfeito “o”.
Livrei-me dos meus sapatos, da camisa e da calça, tirando-a junto a
minha cueca branca. Completamente nu, segurei meu pau, que estava duro
feito rocha, e o apertei, gemendo junto a ela, que me olhava como se eu
fosse o homem mais lindo e delicioso do mundo. E eu sabia que, para ela,
eu realmente era.
— Hoje você descobrirá o quanto fica linda enquanto eu fodo com
força seu rabo — declarei e estiquei o braço, passando meu polegar úmido
pelo meu pré-gozo em seus lábios.
Como a puta que minha linda e gostosa esposa era, sua língua lambeu
minha pele e eu urrei, avançando sobre ela. Segurei seu rosto e invadi sua
boca com minha língua, beijando-a com paixão.
Os próximos minutos foram uma completa bagunça de mãos e toques,
conforme a ajudava a se livrar do vestido.
No momento em que joguei a peça de lado, gemi ao vê-la usando
apenas uma cinta-liga azul, sem calcinha e sem sutiã.
— Você fica tão linda de azul — comentei, acariciando seu mamilo
esquerdo, brincando com o piercing ali.
— É minha nova cor favorita — sussurrou, apreciando o carinho.
— Uma diaba que gosta de azul e não de vermelho?
— É como eles dizem, Sr. Prado. Todas as garotas boas vão para o
céu, mas as garotas más trazem o céu até você.
O trocadilho que Bea fez com a música me obrigou a soltar uma
risada curta.
— Você é meu céu e meu inferno, Sra. Prado.
— Eu sou sua, Henrique. — Segurou em meus ombros, roçando os
lábios nos meus quando sussurrou: — Completamente sua. Corpo, alma e
coração.
— E eu sou inteiramente seu, Beatrice.
— Eu sei, bobinho. — Me deu um selinho, sorrindo convencida.
Prepotente do caralho!
Essa mulher era prepotente pra caralho e porra, eu a amava.
A amava perdidamente e loucamente.
Com meu sangue fervendo, puto e excitado, levei minha mão direita
até seu pescoço e fechei meus dedos em sua garganta, puxando-a até que
estivéssemos no closet. Quando paramos em frente ao espelho, a virei e
ordenei que espalmasse as duas mãos no objeto.
Abri seu rabo cheio e comentei, ao ver a joia brilhante ali: —
Diamente azul como pensei.
— Quero algo maior e mais grosso no lugar dele — murmurou.
Subi meu olhar para encontrar com o seu, cheio de malícia, pelo
reflexo do espelho.
— Quero você com os olhos abertos enquanto eu enterro fundo meu
pau nesse cuzinho — decretei, segurando a joia e ela estremeceu. A girei
três vezes antes de começar a retirá-la, fazendo com que seu corpo
ondulasse a cada centímetro que saia.
— Amor… — disse manhosa, se empinando ainda mais na minha
direção.
Desferi dois tapas e me afastei, apenas para deixar o objeto sexual em
cima da cômoda, abrindo em seguida uma das gavetas ali, onde eu sabia
que encontraria camisinhas e lubrificantes, itens que minha esposa fez
questão de trazer para cá logo que nos mudamos, semanas depois de sua
alta do hospital
— Não ouse fechá-los. Entendeu? — perguntei, quando já estava
atrás dela novamente, olhando em seus olhos através do espelho.
Ela acenou ansiosa.
— Responda, caralho! — bradei, dando um tapa bem em cima da
pequena tatuagem de coração com chamas perto da entrada que eu estava
prestes a me enterrar.
— Entendi — falou ofegante.
Rasguei a embalagem e vesti meu pau com a camisinha. Abri o
lubrificante e despejei uma grande quantidade em sua bunda até que tivesse
certeza de que ela não sentiria nada além de um leve desconforto inicial
com a invasão. Mesmo Bea sendo uma mulher experimente, o início do
sexo anal pode ser desconfortável.
Tentei não pensar que não era o primeiro a estar ali, mas
definitivamente era o último.
Jogando a embalagem do lubrificante de lado, desci minha mão
direita para o meio das suas pernas, começando movimentos circulares em
seu clitóris. Beatrice gemeu, implorou e rebolou, completamente
necessitada, mas só quando enfiei dois dedos em sua boceta, é que
posicionei a cabeça do meu pau na entrada do seu cu.
Urrei e ela gritou quando já estava no fundo, todo enterrado nela.
Com minha mão esquerda, agarrei sua cintura, e ela se empinou mais,
mostrando que estava desesperada para ser fodida.
— Me come, porra! — berrou impaciente, me fuzilando pelo reflexo
e eu ri, deslizando para fora lentamente para em seguida, chocar minha
pélvis com força contra seu rabo. Seu corpo sacudiu e ela gemeu, sorrindo,
parecendo feliz por eu finalmente começar a me mover.
Repeti o movimento mais duas vezes e na última, parei quando Bea
fez menção de fechar seus olhos.
— Não para! — choramingou.
— Olhos abertos, caralho!
Ela voltou a me olhar pelo espelho e então recomecei o movimento
em um entra e sai gostoso, quente e apertado.
— Gostoso? — inquiri, admirando suas expressões de prazer e seus
seios grandes se chocando um com o outro a cada estocada.
— Uhum! — murmurou.
— Veja como você fica linda quando está levando surra de pau no cu,
vagabunda — falei ofegante, sem parar de me mover.
Seu olhar varreu cada detalhe através do espelho, sua testa suada, suas
bochechas vermelhas, seus seios que balançam no mesmo ritmo que meu
quadril.
— A porra da perfeição! — declarei sentindo o orgasmo se
aproximar, socando meus dedos em sua boceta em sincronia com meu pau
em seu rabo.
Agarrei seu cabelo com a mão livre e ela gemeu ainda mais alto
quando aumentei o ritmo.
— Eu estou tão perto — anunciou manhosa e gritou meu nome
quando o orgasmo lhe atingiu e eu continuei em busca do meu próprio
ápice, que não demorou.
— Caralho! — exclamei com a sensação do orgasmo me invadir
forte, como sempre quando se tratava dela.
— Eu te amo! — declarou sem fôlego, nossos corpos ondulando a
cada espasmo de prazer que nos tomava e consumia. Devolvi a declaração,
me sentindo completamente feliz por ser dela.

— “Y a mucha honra, María la del Barrio soy. La que señito


a…
A voz de Matteo fez Beatrice e eu pararmos no topo da escada,
avistando-o no início da mesma, prestes a subir os degraus.
Depois do sexo anal maravilhoso que tivemos, tomamos um banho e
demos uma rapidinha no chuveiro antes de nos vestirmos e decidirmos que
já estávamos ausentes o suficiente da nossa festa de casamento. Agradeci
pela música que o DJ tocava estar alta o suficiente para abafar nossos
gemidos.
Beijei os ombros da minha esposa e ela sorriu, virando o rosto para
me olharde lado. Ainda estávamos envolvidos na névoa de prazer e paixão
de minutos atrás.
— Estou contando os segundos para a nossa lua de mel — falei,
colocando meus lábios sutilmente nos seus.
— Ela começou há quarenta minutos — Beatrice disse, sorrindo.
— Ah, porra! E eu pensando que minha irmã estava passando mal
por conta da gravidez, quando na verdade… Argh! Vou ter pesadelos pelo
resto da minha vida! — meu amigo exclamou emtom de desgosto, nos
tirando de nossa bolha.
— Eu estou bem — minha esposa garantiuao irmão que nos olhava
com uma expressão engraçada.
— Ela está mais do que bem — declarei, apertando sua cintura e a
fazendo soltar uma risada maliciosa.
— Eu te amo, cara, mas tenta manter as mãos longe da minha irmã
desse jeito quando estivermos todos juntos — B1 pediu e voltamos nossa
atenção para ele, que cruzou os braços nos olhando em completa
desaprovação.
— Ele já meteu um filho em mim, fratello. Não seja dramático. Acha
que Henrique fez isso com a ajuda de mágica?
— Bem, eu realmente usei uma varinha mágica — soltei, adorando
torturar meu amigo.
— Uma varinha mágica grande e grossa, vale frisar — Bea entrou na
brincadeira junto comigo.
— Porra! Caralho! Calem a boca! Calem a boca! — bradou, tapando
os ouvidos e virando ascostas para nós, indo na direção contrária. Minha
esposa e eu caímos na gargalhada quando ouvimos suas palavras antes de
sair porta afora para a área externa: — Eu odeio ter meu melhor amigo
como cunhado. Vou precisar andar com o mini Buda a partir de hoje para
manter a calma.
EPÍLOGO 1
Beatrice
Meses depois
— Matteo, não acredito que você nos convidou para sua casa para
vermos a novela — resmunguei, cruzando meus braços.
— Eu disse que era uma má ideia — Bárbara falou.
— Vocês ainda nem assistiram e já estão reclamando. Assistam pelo
menos um episódio e prometo que valerá a pena.
— Estou morrendo de fome — declarei.
— Sente-se um pouco, Bea — meu marido disse.
— Tutto bene. — Me sentei no sofá, alisando minha barriga de nove
meses.
— Vou pegar algo para você — Henrique comunicou, beijando meus
lábios antes de ir à cozinha.
Estávamos todos na casa de Matteo para o almoço que sempre
fazemos pelo menos uma vez no mês. Ele estava animado demais e assim
que chegamos, descobrimos o porquê.
— Essa é considerada a melhor novela dos últimos tempos. E é
impossível não amá-la — soltou, pegando o controle da televisão.
— Alguém viu o resultado da ressonância que ele fez? — Miguel
perguntou.
— Eu vi. — Stella respondeu. — Nosso B1 é normal.
— Será que não trocaram os resultados? — Bárbara indagou.
— Rá. Rá. Rá. Como meus amigos são engraçados — Matteo
debochou no momento em que meu marido retornou segurando um prato
com uma fatia de tiramisù.
Abri um sorriso de orelha a orelha quando peguei o garfo e parti um
pedaço do doce, levando até à minha boca. Soltei um gemido de satisfação
quando senti o gosto do mascarpone envolvido no café em minha língua.
— Tão linda a nossa barriguda esfomeada — Ana Laura falou, me
fazendo levantar o rosto para eles, que me encaravam como se eu fosse uma
obra de arte em exposição.
— Não vejo a hora desse bebê nascer. Esses meses eu estive a ponto
de ter um infarto. Tomara que seja um menino. Vai ser foda! — Matteo
declarou. — Vou ensinar uns golpes de boxe para ele, é claro.
— Coitado dos seus filhos, que terão um pai maluco igual a você —
Bárbara falou.
— Eu vou ser um puta pai — sorriu orgulhoso. — E falando nisso,
precisamos criar um grupo de conversa com todos nós.
— O que isso tem a ver com paternidade? — Miguel questionou.
— Não tem, “princeso”. — Deu de ombros, sacando o celular do
bolso.
— Você é uma figura, cara.
— Eu sei — meu irmão sorriu orgulhoso enquanto digitava algo. —
Vou adicionar a Kyara e aquele nerd dominador.
— O primo de vocês é dominador? — Stella alçou uma sobrancelha,
bastante interessada no assunto. As meninas e eu nos entreolhamos,
reprimindo sorrisos.
— Bastante. Ele é o mais ciumento e territorialista de todos nós.
Odeia dividir e ama mandar. Quando éramos crianças, Enrico adorava dar
ordens para mim e Dante — comentou risonho.
— Hum, interessante — a ruiva soltou maliciosa.
— Stella! — meu marido a repreendeu.
— O quê? De todos aqui, você é o único que não tem moral nenhuma
para falar algo.
— Fato! — falei e Henrique revirou os olhos.
— Que porra de nome é esse, fratello? E porque a foto de perfil é de
um Buda? — Dante perguntou, encarando seu celular.
— Qual o nome do grupo? — indaguei curiosa, tentando pegar minha
bolsa, mas sendo impedida por minha gigante barriga.
— “B1 e seus gatinhos” — Miguel respondeu.
— B2! — Matteo ralhou, olhando para o amigo de cara feia.
— Odeio grupos de conversa. Você sabe.
— É proibido sair do grupo! — Matteo decretou à medida que
digitava com certa brutalidade. — Pronto. Adicionado novamente… Você
não leu a nova regra do grupo, porra! É proibido sair!
— Primeiro, que eu nem queria estar no grupo.
— Adicionado de novo! — riu com desdém. — Eu posso fazer isso o
dia inteiro, B2! — provocou.
Henrique revirou os olhos.
— E porque a foto do grupo é o caralho do Buda? — quis saber.
— Porque o nosso grupo possui herdeiros e precisamos ficar calmos.
— Meu irmão juntou as mãos em um movimento zen.
Foi impossível não gargalhar da sua expressão.
— Você ainda tem aquela estátua que Simone havia me dado? —
Henrique questionou.
— Pode apostar que sim. Está lá no meu quarto. Nada melhor do que
começar o dia meditando.
Balancei a cabeça, rindo, prestes a cortar outro pedaço do doce
quando senti uma dor no pé da minha barriga, e logo meu vestido ficou
molhado, assim como o sofá do meu irmão.
— Cazzo! — exclamei.
— Você está bem, meu amor? — Henrique perguntou visivelmente
nervoso.
— A bolsa!
— Que bolsa?
— Porra! — Stella gritou, percebendo o que eu quis dizer. Ela então
se levantou e veio até mim. — O bebê vai nascer! A bolsa dela estourou!
— Puta merda! — Matteo disse, jogando as mãos para o alto. —
Esses bebês Fontana gostam de nos surpreender.
— Precisamos ir para o hospital. Agora! — Dante bradou, tirando a
chave do seu carro do bolso da calça.
— Henrique? — Miguel o chamou.
Olhei para meu marido que estava com os olhos arregalados, mais
pálido do que um fantasma.
— Henrique? — nosso amigo o chamou novamente, mas ele não
reagiu.
Toquei em seu braço.
— Amore? — Virou o rosto para olhar fixamente em meus olhos. —
Nosso bebê já está a caminho. Precisamos de você.
Falar isso trouxe meu marido de volta à realidade mais rápido do que
eu imaginei. Henrique se levantou feito um foguete, tirou o prato do meu
colo, me ajudou a levantar e declarou aos nossos amigos: — Liguem para
os meus sogros, vou levá-la para a maternidade. A bolsa dela e do bebê já
estão no nosso carro.
— Estão? — questionei surpresa.
— Sim, Bea. Sempre que saímos eu as coloco no carro.
— Coloca? — falei emocionada com sua atitude.
— Sim, meu amor. — Depositou um beijo em minha testa, cheio de
carinho. — Agora vamos conhecer nosso bebê.
— Eu não consigo mais — falei, balançando a cabeça de um lado
para o outro, suada e completamente cansada.
Fazia seis horas que entrei em trabalho de parte. Eu estava deitada
com as minhas pernas dobradas e abertas sobre a cama de hospital.
Henrique estava ao meu lado, beijando minha cabeça e segurando minha
mão.
— Você precisa empurrar mais um pouco, Beatrice — o médico
pediu.
— Eu não consigo. Estou... estou muito cansada.
— Meu amor — Henrique me chamou. — Você consegue. É a porra
da mulher mais forte desse mundo.
— Henrique... — Comecei a chorar, sentindo mais uma contração
chegando.
— Agora Beatrice! Empurre! — o obstetra ordenou.
— Eu... Eu…
— Vamos, minha diaba. Estou aqui com você. Falta pouco para
conhecermos o nosso bebê — meu marido disse, olhando em meus olhos.
Soltei um suspiro e anuí, gritando e empurrando com toda força que
consegui por segundos, mas que parecia uma eternidade. Até que um choro
alto e forte ecoou pela sala do hospital.
— Parabéns! É um menino.
— Caralho! Eu tenho um filho! — Henrique gritou, sorrindo e
chorando sem parar. — Temos um menino, meu amor. Um menino! O
nosso menino!
Descansei a cabeça na cama enquanto meu marido cortava o cordão
umbilical. O doutor entregou nosso filho para ele, que veio até mim e o
colocou em meu colo. O abracei com cuidado, não acreditando que, enfim,
ele nasceu.
Eu sou mãe? Cazzo, eu sou mãe!
— Ele é lindo. Ele é a sua cara, amore mio — falei entre soluços,
encantada com o meu bebê que possuía o cabelo loirinho igual ao pai.
— Como eu estou feliz, Bea. — Passou os dedos com cuidado no
pequeno corpo do nosso filho, que parou de chorar com o carinho do pai. —
Eu amo vocês.
— Eu também amo vocês.
— Vocês já tem um nome? — a enfermeira perguntou, quebrando
nossa bolha.
— Sim.
Olhei para o meu marido que anuiu, me incentivando a falar o nome
que havíamos escolhido alguns meses atrás caso o nosso bebê fosse um
menino. Foquei meu olhar em nosso pacotinho de amor quando falei: —
Vittorio. Nosso herdeiro se chama Vittorio.
EPÍLOGO 2
Beatrice
Três meses depois
— Você está fazendo errado — chamei sua atenção, me
aproximando.
Era domingo e meu marido gostoso decidiu que gostaria de me ajudar
a fazer o almoço. Dei a ele a tarefa mais fácil: cortar os temperos. Mas
agora, vendo vários pedaços de cebola e alho espalhados pela ilha da
cozinha, pensei que talvez fosse melhor ter o deixado apenas como
espectador ou velando o sono de nosso filho.
— Você não me disse em qual tamanho queria, então eu cortei a
cebola em vários tamanhos diferentes — disse, apontando para o seu
trabalho.
Caminhei até ele, sorrindo, empurrando-o sutilmente com meu
quadril para o lado e segurei a faca, começando a fazer o que ele deveria ter
feito.
— O certo é assim, caro mio — falei enquanto cortava.
Henrique tirou o avental que usava, deixando-o em cima de uma das
banquetas, para lavar as mãos e secá-las com um guardanapo limpo que
tirou de uma das gavetas da cozinha. Em seguida, se aproximou de mim a
ponto de sentir seu peitoral tocar minhas costas.
— Você tinha mesmo que ficar sem camisa para cozinhar? Isso é
tortura. Cazzo! — disse, sentindo meus pelos se arrepiarem com a
proximidade.
Meu marido soltou uma risada baixa e sexy, daquelas roucas que
sempre me deixava molhada. Ele então, apertou os meus ombros e
depositou beijos leves pelo meu pescoço. Inclinei minha cabeça, lhe dando
mais acesso.
— Eu amo seu cheiro — confessou contra a minha pele.
— Henrique, não me atice se não vai terminar o trabalho.
— Não pare o seu trabalho, chefe. — Tocou na mão que eu segurava
a faca. — Continue, meu amor.
— Henrique…
— Mandei você continuar! — bradou e eu gemi feito a puta que era,
fazendo o que ordenou e voltando a cortar os temperos, lutando para não
fechar os olhos e aproveitar o momento.
Senti sua mão apertar minha cintura enquanto a outra foi até as
minhas coxas invadindo minha calcinha e arfei quando seus dedos
apertaram meu clitóris.
— Abra as pernas! — ordenou, sussurrando em meu ouvido e eu
obedeci. — Gostosa! — Massageou meu ponto, aplicando a pressão
perfeita e me fazendo morder os lábios de tesão.
Involuntariamente, comecei a rebolar, fazendo minha bunda roçar em
seu pau. A mão que estava em minha cintura subiu, liberando meu seio
esquerdo e ele não perdeu tempo em brincar com meu mamilo, agora sem a
joia devido à amamentação.
— Estou contando os dias para você voltar a usar as joias que eu tanto
amo. — declarou.
— Isso… vai demorar… um pouco, caro mio — disse, sentindo o
prazer aumentar quando dois dos seus dedos me invadiram, meus gemidos
ficando ainda mais alto. — Eu preciso... — choraminguei manhosa, fazendo
menção de me virar, mas fui detida quando ele me prensou contra o
mármore da ilha.
— Ainda não! — grunhiu.
E antes que eu pudesse protestar ou insistir, senti algo gelado se
chocar com força contra a minha bunda, me fazendo soltar um grito pelo
susto.
— Com o que você me bateu? — quis saber
— Encontrei outra função para essa colher de pau. — Outro golpe,
dessa vez mais forte e eu gemi, adorando a ardência em minha pele. —
Fique quieta como a putinha obediente que é, e eu farei você gozar bem
gostoso no meu cacete. Entendeu?
Mordi o lábio inferior e acenei em concordância.
— Eu não ouvi sua resposta, vagabunda! — Mais um golpe, me
deixando ainda mais molhada em seus braços. — Entendeu?
— Sim — murmurei, virando o rosto para olhar em seus olhos que
brilhavam de luxúria. — Eu entendi, Sr. Prado — sorri cinicamente, o que
pareceu deixar meu marido enfurecido e a diaba tarada que habitava em
mim, definitivamente adorava vê-lo dessa forma.
— Quer mesmo me provocar, vagabunda? — inquiriu, mas não tive
tempo de responder, pois Henrique girou os dedos dentro de mim e desferiu
mais dois tapas com a colher em cada lado da minha bunda, deixando
minha pele deliciosamente ardida. Gemi e gritei como uma puta louca de
tesão. — Como a minha putinha é escandalosa — disse, tirando os dedos da
minha boceta e me fazendo resmungar.
— Por favor… — implorei, virando o rosto para olhá-lo.
— Acho que a minha cachorra precisa de uma focinheira para ficar
quietinha.
Ele então, deixou a colher de lado e enfiou sua mão dentro da calça,
liberando seu pau em toda a sua glória e pegou o guardanapo que havia
colocado na bancada para secar as mãos.
— O que vai fazer?
Henrique sorriu de um jeito que fez meu clitóris ficar ainda mais
necessitado por atenção. Ele não me respondeu, apenas passou, colocou o
pano na direção da minha boca e ordenou: — Morde! — E eu o fiz,
abocanhando com força o tecido e meu corpo ficou cada vez mais quente.
— Segure na bancada e se empine para mim, cachorra! — ordenou,
massageando seu membro.
A visão de Henrique se tocando fez minha cabeça girar e eu acato seu
comando, porra como eu obedeci.
Sorrindo, ele levantou a sua blusa branca de botão que eu vestia,
afastou a calcinha para o lado e posicionou seu pau em minha entrada, me
fazendo estremecer em expectativa.
— Meladinha de tesão — falou, metendo em minha boceta
lentamente e arfando a cada centímetro que entrava mais e mais.
— Uhum — murmurei quando o senti me preencher por completo.
— Agora — disse, segurando as pontas do guardanapo que eu mordia
atrás de minha cabeça e puxou o suficiente para sussurrar no meu ouvido
—, o único barulho que eu quero ouvir é o som das nossas respirações e do
meu cacete metendo em você.
E assim, apertando minha cintura com a mão livre, ele me fodeu,
entrando e saindo de mim com ainda mais força a cada segundo. Minha
bunda se chocava com sua pélvis com violência, suas estocadas eram
brutas, rápidas e certeiras, me fazendo entrar em um looping de prazer que
eu desejava jamais sair.
Apertei os dentes com força quando senti o orgasmo se aproximar, o
que não passou despercebido por ele, pelo meu marido, pelo homem que eu
amava e que conhecia cada reação do meu corpo ao seu toque.
Henrique me empurrou até que meu peito tocasse o mármore frio e
segurou as duas pontas do tecido em volta da minha boca, usando-o para se
impulsionar ainda mais contra mim, nos levando ao looping infinito de
prazer.
Nossos corpos foram os únicos que falavam, ecoando no ar os sons
que cada célula nossa sentiu ao ser atingida pelo orgasmo. Quando ele
finalmente diminuiu o ritmo, o que pareceu ter sido uma eternidade
deliciosa, Henrique soltou o guardanapo, envolveu seus braços em volta da
minha cintura e me puxou para descansar em seu peito e eu pude sentir seu
coração bater contra as minhas costas, tão acelerado quanto o meu.
Mesmo depois de Vittorio e a correria que nossa vida se tornou,
continuávamos com o apetite sexual de dois coelhos.
— Eu te amo — falei, sorrindo preguiçosamente.
Seus lábios se abriram, mas o som do choro do nosso filho
interrompeu qualquer declaração que ele estava prestes a fazer.
Sorrimos em sintonia e olhando nos seus olhos, eu tive a certeza de
que meu coração não poderia ter escolhido pessoa melhor para pertencer.

Henrique
Sabe quando você observa o momento e pensa que está dentro de
um sonho?
Então, eu estava vivendo exatamente isso enquanto observava a
minha linda esposa sentada na poltrona, amamentando nosso filho em seu
quarto.
A personalidade de Vittorio era um perfeito contraste com a nossa.
Enquanto Bea e eu pareciamos dois fenômenos da natureza, nosso
filho era calmaria em meio ao nosso temporal. Mesmo que ainda não
falasse ou tivesse muita noção, ele nos ensinava todos os dias, cada um
deles um pouco mais a sermos melhores.
Desejando ter a cena diante dos meus olhos como lembrança, saquei
meu celular do bolso e tirei uma foto da minha esposa com nosso filho nos
braços. No momento em que toquei na tela, o aparelho captou os sorrisos
das duas pessoas que eu mais amava no mundo.
Soltei uma risada, enquanto admirava o sorriso banguela do meu filho
à medida que encarava sua mãe, parecendo tão maravilhado com tamanha
beleza.
Eu te entendia, filho. Sua mamãe é mesmo linda! Somos dois caras de
sorte.
O som chamou atenção de Bea, que levantou o rosto e me encarou
com aqueles malditos olhos que pareciam cada vez mais brilhantes sempre
que os via.
— Está tudo bem? — procurou saber, soando preocupada.
— Está, meu amor. Só estava admirando a minha família — respondi
com sinceridade, ela sorriu e começou a balançar Vittorio em seus braços.
— Precisa de algo? Qualquer coisa estou aqui — me prontifiquei,
adentrando no cômodo com a decoração toda em tons de azul.
— Você pode colocá-lo no berço?
— Claro!
Deixei o celular em cima de uma cômoda ali e fui até ela, tomando
nosso filho dos seus braços com cuidado para não despertá-lo por completo.
Em seguida, coloquei Vittorio no berço e não demorou até que ele fechasse
os olhinhos que eram tão azuis quanto os meus.
— Ele é o bebê mais tranquilo do mundo — comentei, sorrindo.
— Porque você tem na sua galeria de fotos, um print de uma foto do
meu Instagram, Sr. Prado? — a voz de Beatrice me fez afastar meu olhar do
nosso filho para virar em meu eixo e encontrar a linda mulher com meu
celular na mão, me encarando com uma expressão divertida.
— Você não saía da minha cabeça — confessei o óbvio. — Eu estava
em uma viagem a trabalho e não conseguia parar de pensar em você então,
agindo por impulso, acabei criando um perfil nessa droga de rede social
para…
— Para me stalkear — completou e seus lábios se apertaram,
reprimindo uma risada.
Caminhei até ela, semdeixar de encarar suas íris verdes e quando me
aproximei, puxei-a pela cintura.
— Eu precisava olhar para a diaba que estava fazendo da minha vida
um inferno — falei baixinho, roçando meus lábios nos seus.
— Eu te segui semanas depois e você só foi me seguir de volta depois
que noivamos. Porquê? — perguntou curiosa.
Respirei fundo e senti minhas bochechas esquentarem em
antecipação.
— Porque eu estava… Eu estava puto por você ter viajado e não ter
me falado nada.
Bea me analisou por um momento antes de me abraçar pela nuca,
ainda segurando meu celular e sorriu, daquele jeito que fazia meu coração
se expandir no peito. Porra de mulher linda pra caralho!
— Eu tenho tanta sorte de ter você — soltou, acariciando minha
barba. — Eu me orgulho do homem que você se tornou mesmo depois de
ter passado pelo que passou. Você não desistiu de viver.
— Eu estava sobrevivendo aos dias e só fui vivê-los de verdade
depois de você — disse emocionado, sentindo meus olhos arderem com as
lágrimas que ameaçavam cair por suas palavras.
— Não tire o seu mérito, meu amor. Você está aqui porque você
escolheu ser diferente dos seus pais. Você quebrou o ciclo e se tornou um
homem de caráter. Decidiu continuar arcando com os gastos do tratamento
dos pais de Verônica, mesmo depois de tudo que ela fez. Você é um tesão de
lindo por fora, mas é ainda mais lindo por dentro e eu tenho orgulho de
dizer que eu te amo, que você é a pessoa que o meu coração escolheu para
ser o meu parceiro nessa aventura maluca que se chama vida. Eu te amo,
Henrique Prado. E eu sei que o nosso filho também terá um puta orgulho
por ter você como pai.
Descansei minha testa na sua e deixei as lágrimas rolarem, me
sentindo livre por poder sentir.
— Te prometo ser o melhor marido e o melhor pai que eu puder ser
para o nosso menino — declarei baixinho com a voz embargada.
— E eu prometo estar sempre do seu lado e te entregar sempre a
minha melhor versão.
— Eu te amo, Sra. Prado.
— E eu te amo, Sr. Prado.
E assim, nos beijamos com calma pela primeira vez desde que nossas
bocas se encontraram, absorvendo as palavras de amor e orgulho que ela
disse.
Minha esposa tem me enchido delas desde que cortei todos os laços
com meus pais um pouco antes do casamento. Depois de várias sessões de
terapia, passei a compreender cada vez mais que eu não precisava manter
qualquer contato ou vínculo com pessoas que foram e eram tóxicas comigo,
além da ligação de sangue, que era inevitável.
Não foi fácil ligar para os meus pais e avisar que eu não os ajudaria
mais.
Não foi fácil ouvir do meu pai o quanto eu era um péssimo filho por
estar fazendo aquilo que, segundo ele, era porque eu estava me deixando ser
dominado por Beatrice.
Não foi fácil escutar o choro da minha mãe ao fundo dizendo que
estava magoada comigo por não tê-la chamado para o meu casamento.
Não foi fácil declarar que eu não queria mais saber deles e para que
não tentassem qualquer aproximação comigo ou com a minha esposa e meu
filho.
Não foi fácil
Foi difícil pra caralho.
E no momento em que a ligação finalizou, eu entendi,
verdadeiramente entendi tudo o que eu havia passado e sofrido, então
chorei, chorei copiosamente de tristeza pela criança que durante sete anos
sofreu abusos e maus-tratos dos pais.
Chorei pelo Henrique criança que não aproveitou como deveria a sua
infância.
Chorei por ele não ter sido amado por quem os colocou no mundo.
Chorei por ter passado tanto tempo sobrevivendo com tanta raiva em
meu interior.
Eu só… chorei naquela noite e foi nos braços da minha esposa que eu
encontrei conforto.
Foi nos braços dela que me acalmei, deixando toda a raiva se esvair,
dando lugar a paz de saber que agora eu tinha um lar e uma família.
Dizem que o passado mais cedo ou mais tarde, bate à nossa porta e
que não há como fugir dele. Contudo, eu torcia para que o meu não voltasse
nunca mais e se por alguma razão, ele voltasse, eu estava pronto para lidar
com ele.
Eu serei forte.
Por Beatrice. Por Vittorio.
Por minha família, eu serei forte!

“FIM”
CAPÍTULO 01
(Degustação)
Matteo
— Caralho! — exclamei jogando minha caneta em cima de alguns
papéis que estavam espalhados por cima da minha mesa do escritório da
empresa.
Eu estava há dias tentando elaborar a droga de um contrato que fosse
bom para o nosso futuro possível investidor sem que prejudicasse os
interesses da empresa. Já era quinta-feira e eu precisava finalizar essa porra
hoje mesmo. Nem o mini Buda que sequestrei do escritório de Henrique,
sobre a minha mesa, estava ajudando.
Definitivamente, eu precisava meditar mais. Meus chakras devem
estar todos desalinhados pra uma porra.
Desde que o meu pai sofreu um princípio de AVC, passei a ser o
responsável pelo jurídico da empresa da minha família. E isso já faz mais
de três anos.
Às vezes, a saudade de advogar aparecia.
A adrenalina de usar tudo o que temos para mostrar ao júri que
estamos certo.
O juiz à nossa frente analisando cada palavra e gestos expressos na
cena.
Mas sem dúvidas, a melhor parte é ouvir a leitura da sentença de um
filho da puta que fodeu a vida de alguém.
Eu amava isso.
Esse ambiente e a loucura que é estar em um tribunal.
Descansei na minha cadeira, repousando minha cabeça nela.
Fechei os olhos, pensando em algo que trouxesse paz para a minha
mente.
Nesses últimos dias, a minha família tem sido palco de várias
manchetes. Além da imprensa amar publicar a respeito do relacionamento
dos meus irmãos, agora fazem de tudo para terem uma foto dos Herdeiros
Fontana e isso tem me deixado puto para um cazzo.
Precisei enviar cartas de aviso a vários jornalistas, que muitas vezes
invadiam a privacidade dos meus sobrinhos, na tentativa de preservar a
imagem deles. Preferia que publicassem mentiras a meu respeito do que
qualquer coisa sobre a minha família. Não me importava com o que
falassem de mim.
Foda-se! Apenas não mexa com as pessoas que eu amo.
Ah! Bella, Nina e Vittorio.
Sou louco pelos meus sobrinhos e pensar neles definitivamente era
algo que funciona para me acalmar.
Como pode um ser tão pequeno trazer tanta felicidade para uma
família inteira? Nesse caso, três. Era uma felicidade tripla.
Eu amava passar horas brincando com os pequenos quando visitava
meus irmãos. Fazia questão de sempre levar um presente para cada um.
Sorri, me lembrando da semana passada, quando Ana e Dante ficaram
com raiva por Bella ter falado B1 — com seu jeito de bebê — e não mamãe
ou papai primeiro.
Essa vai puxar o titio.
Abri os olhos e vi a foto dos três em um porta-retrato que comprei.
Nela, eu estava sentado no sofá da casa de Beatrice, segurando as gêmeas
uma em cada braço enquanto Vittorio estava dormindo tranquilamente em
um canguru contra o meu peito.
Batidas na porta soaram, me afastando dos meus pensamentos.
Olhei para cima e vi Isa, minha secretária.
Ela era uma excelente funcionária e uma linda mulher.
Isa tem um corpo cheio de curvas, seios grandes, pele negra e cabelos
cacheados na cor castanho que vão até o meio das suas costas.
Ela é filha de um casal de amigos dos meus pais e desde que deixei o
escritório de advocacia que criei com Henrique, trabalha para mim.
Já transamos algumas vezes — sem a minha mãe saber, é claro, pois
mamma me fez prometer que não me aproximaria da garota —, mas apenas
isso. Eu gostava do fato de ela saber dividir as coisas e não misturar a vida
pessoal com o trabalho.
— Licença — pediu, sorrindo educadamente e acenei para que
entrasse. — Gostaria de saber se o senhor deseja almoçar em sua sala ou no
restaurante da empresa.
— Por favor, peça comida. Vou almoçar em minha sala.
— Tudo bem, senhor. O mesmo de sempre?
— Sim. O mesmo de sempre. — Traduzindo, cacio e pepe, um prato
típico da Itália que além da tradicional pasta italiana, leva queijo e pimenta.
É o que sempre costumo comer quando almoço na empresa, além da
lasanha maravilhosa de Beatrice. Um dos meus pratos favoritos.
Isa anuiu e saiu no exato momento em que o meu celular tocou. O
tirei do bolso do meu paletó que estava pendurado no encosto da cadeira e
um sorriso surgiu em meu rosto ao ver a foto da minha irmã na tela. Aceitei
a videochamada e meus lábios se puxaram ainda mais quando meu sobrinho
loirinho apareceu.
— Como o nosso mini B2 está? — perguntei.
— Oi para você também, fratello. — Bea revirou os olhos, mas sorriu
ao olhar para o filho que dormia em seus braços. — È così bello. (Ele é tão
lindo.)
— Meu sobrinho vai fazer sucesso quando crescer — declarei e os
lábios do pequeno se repuxaram para o lado, como se ele estivesse sorrindo.
— E pelo visto ele concorda comigo.
— Isso vai demorar.
— Ciúmes, sorella?
Deu de ombros.
— Talvez.
— E pensar que você sempre criticou Dante e eu por sermos
ciumentos com você.
— Cala a boca!
Rimos.
— Como você está? — procurei saber.
— Feliz. — Seus olhos brilharam. — E animada para voltar ao
trabalho semana que vem, porém já sentindo saudade por não poder ficar
em tempo integral com meu menino. — Beijou a cabecinha de Vittorio,
acariciando com carinho os fios loiros.
— Nossa mamma está soltando fogos de artifício por ser a babá dos
herdeiros.
— Nem me fale. Ana me disse que sempre que vai deixar as gêmeas
na casa dos nossos pais para poder trabalhar, é recebida com balões em
formato de morango e uma vovó muito sorridente. Até babbo está
empenhado em aprender todas as músicas infantis do momento. E ainda
tem os tios do Henrique e dona Luíza. Eles parecem que entraram em uma
disputa para ver quem dá mais atenção aos netos.
— Avós mais babões não existem — disse. — Mas, porque me ligou?
— Não posso ligar para saber como o meu irmão “Boca suja” está?
— Apertou os olhos.
— Você não gosta de ser interrompida no trabalho e segue a regra
quanto ao trabalho dos outros. Por isso estou estranhando você me ligar.
Ela suspirou.
— Touché, caro mio.
— Do que precisa?
Beatrice ponderou por um momento antes de finalmente falar.
— Eu sei que você não curte ter assistente pessoal como Dante e eu,
porque é desconfiado demais para deixar alguém ter acesso à sua vida dessa
forma e acredita que ter apenas uma secretária é o suficiente. Mas…
— Mas o quê, senhora Prado? — Alcei uma sobracelha.
— Mas eu gostaria que você pensasse na possibilidade de ter uma.
— Fora de cogitação! — afirmei.
— Mas Matteo, uma amiga minha está prestes a ficar sem trabalho.
— Sem mais, piccola mia.
— Ela mora sozinha.
— Não.
— E é orgulhosa demais para aceitar ajuda, seja de quem for.
— Sem chance!
— Ela está precisando, Matteo!
— Podemos oferecer outro cargo na empresa, mas definitivamente eu
não vou deixar uma estranha ter acesso a…
— É a Bárbara!
Agora ela me pegou.
— Nesse caso, posso reconsiderar sua proposta — sorri, apontando
para a tela.
— Claro que pode — debochou.
— O que aconteceu?
— Parece que o dono da empresa onde ela trabalha, amigo do pai
dela, estava metido com coisa errada e atolado em dívidas. Se enrolou ainda
mais fazendo empréstimos e você já imagina o que aconteceu depois daí.
— E por que oferecer a ela um cargo como a minha assistente se ele
nem mesmo está em aberto?
— Meu marido é um viciado em trabalho e eu reconheço quando
alguém está cansado e precisando de ajuda. Henrique tem Rafael e você
precisa de uma assistente, Matteo Fontana!
— Não preciso!
Mentira. Eu precisava. Porra, como eu precisava.
Eu amava o meu trabalho, mas odiava deixar que ele tomasse conta
da maior parte do meu tempo e era exatamente isso que estava acontecendo
nos últimos meses. Eu amava sair para me divertir, ver meus amigos e
minha família e passar um tempo de qualidade comigo mesmo.
— Você é um péssimo mentiroso para um advogado de renome.
Revirei os olhos.
— Conheço aquela boneca debochada o suficiente para saber que ela
definitivamente não aceitaria trabalhar comigo.
— Apenas aceite e deixe todo o resto comigo.
A olhei desconfiado.
— O que você está pensando em fazer, ragazza?
Minha irmã sorriu como se estivesse bolando um crime.
— Venha para o jantar e eu te conto.

Livro 3 da série Família Fontana


Segundo semestre de 2023. Aguarde!
AINDA
NÃO
ACABOU!
LEIA COM ATENÇÃO E

NÃO OUSE PULAR!

VAI POR MIM, VOCÊ IRÁ

SE ARREPENDER

SE FIZER ISSO!
Peço que quando começarem a ler a partir daqui, me imaginem
sentada em uma daquelas cadeiras de rainha de filmes medievais, com
direito a fumaça — e não, ela não tem nada a ver com o meu fogo no cu por
causa da minha tarada interior —, uma iluminação foda e recitando tais
palavras com voz de vilã das novelas que o maluco do Matteo assiste.
Você já deve ter escutado que tudo na vida não são apenas rosas
brancas.
Ninguém é bonzinho em toda sua essência.
“Ah, mas fulano é tão gente boa…”
Não! Vai por mim, ninguém é apenas bonzinho e legal, pelo menos
não o tempo todo.
Somos feitos de vários pedaços e nem todos são bonitos.
O que fazemos com as partes feias? Você sabe. Eu sei.
Até alguns dos meus personagens sabem, porque eles fizeram vocês
acreditarem que são bonzinhos como os mocinhos e mocinhas dos filmes de
comédia romântica que assistimos na sessão da tarde.
Ah querido leitor, meus personagens são tudo, menos 100%
bonzinhos.
Nós escondemos nossos pedaços feios debaixo de máscaras que o
bom senso nos ensinou a ter.
Mas… E se todos esses pedaços viessem à tona?
O que você faria se lesse todos os seus pensamentos e desejos mais
secretos e sombrios em livros que ficam disponíveis para quem quiser?
O que você faria se todos os seus pedaços feios estivessem expostos
até a superfície por meio das palavras?
O que você faria se visse o seu verdadeiro reflexo em toda a sua
essência?
“Você quer conhecer todos os meus monstros?
Acha que você é durão, eu sei que eles vão te deixar maluco.
Encontre-os uma vez e eles te assombrarão para sempre. Não há heróis ou
vilões neste lugar. Apenas sombras que dançam na minha cabeça. Não
deixando nada além de fantasmas em seu rastro. Há partes de mim que não
posso esconder. Eu tentei e tentei um milhão de vezes. Juro por tudo. Bem-
vindo ao meu lado sombrio.”
(Darkside - Neoni)
O capítulo a seguir é um extra apenas para te fazer surtar.
Porquê?
Porque a autora que vive em mim se alimenta de surtos.
Eu preciso deles para continuar escrevendo, então, fique feliz. Você
está ajudando uma pobre e doce autora a continuar com sua carreira.
(P.S.: eu sou um amorzinho. Pode perguntar para as pessoas que
trabalham comigo. É sério, viu?)
Os personagens que aparecerão fazem parte de uma trilogia chamada
“Irmãos Morina” que possui ligação direta com a série da “Família
Fontana” e a dos “Medic’s Club”, livros que foram mencionados no conto
de Natal citado nas notas da autora deste livro em questão. Por isso, é
importante lê-los na ordem.
Mas calma, eles ainda não foram lançados, mas serão.
Spartak, Fatmir e Dardan são os líderes de um grupo perigoso da
Albânia, onde você irá se surpreender com as descobertas em cada história
e enlouquecerá com as emboscadas que eles são capazes de fazer para quem
julgam serem inimigos e participarão de uma guerra onde tudo é permitido.
Fiz você se apaixonar por mocinhos.
Agora, meu novo desafio será te fazer ceder aos anti-heróis do
NandaVerso.
Respire! Beba água!
Pegue um pano para passar para mim, pois vou precisar.
E não solte a minha mão, pois o passeio será incrivelmente
caótico!
Esse é o NandaVerso!
Bem-vindos ao lado sombrio dele!
Bem-vindos ao mundo dos espelhos!
Esteja preparado para ver seu reflexo!
Ele é tão bonito quanto você julga ser?
...
Tem certeza ou você precisará dar uma olhada melhor?
CAPÍTULO EXTRA
Spartak Morina
— O serviço que você tinha que fazer era encontrar Alessa e a porra
daquele bastardo! Como um plano simples como esse, se transformou
comigo e Spartak voando da Albânia até aqui para arrumar a bagunça do
sequestro da caçula dos merdinhas dos Fontana e forjar a morte da ex-
maluca do advogado metido a defensor dos pobres, Fatmir? Como? —
Dardan gritou com nosso irmão, que pareceu não se abalar em nada,
relaxando no sofá do quarto de hotel.
— Não seria a primeira vez que faríamos algo assim. — Deu de
ombros, abrindo os braços e apoiando-os no encosto do móvel. — E, por
favor, querido irmão, em solos brasileiros, eu não sou Fatmir e sim, Jakov
— sorriu de lado, cinicamente.
Cruzei os braços e continuei em silêncio, apenas observando de longe
a interação dos meus irmãos mais novos.
— Será que você pode pelo menos vestir uma cueca, porra? —
Dardan disse soltando um suspiro audível.
Fatmir riu e encarou seu pau que ainda permanecia ereto, decidindo
que seria uma boa ideia se masturbar enquanto conversavamos.
Quando chegamos, há pouco mais de cinco minutos, meu irmão
caçula estava fodendo uma prostituta junto ao seu melhor amigo, Astan, que
parecia não ter muito juízo como ele.
— Que frescura é essa agora, Dardanzinho? Já fodemos muitas
mulheres juntos e você está cansado de ver o meu pau.
— Explicações, Fatmir! Eu preciso de explicações! — exigiu furioso.
O caçula o olhou com tédio, rolando os olhos.
— Astan e eu estávamos seguindo o rastro que vocês nos mandaram e
por precaução, para evitar chamar atenção, decidi voltar a comer a irmã do
alejado. Estava divertido e a foda com ela até que não era ruim. — Deu de
ombros sem parar de se masturbar. — Dava para ser um lanchinho para
alguém como eu.
— Você e Astan tinham que ser discretos, caralho!
— Estávamos sendo discretos, irmãozinho, eu principalmente. Nem
cheguei a queimar nada — defendeu-se.
— Fez pior do que da última vez!
— Você está muito estressado — debochou. — E definitivamente, eu
não fiz pior do que da última vez. Inclusive, faz tempo que não temos uma
boa briga.
— Então, você está me dizendo que não seguiu com o plano porque
estava entediado? — Dardan bradou, apertando os punhos com força,
puxando e soltando o ar audivelmente enquanto encarava Fatmir.
— Também. — Piscou.
— Você não precisava voltar a se envolver com Beatrice Fontana,
porra! Esse plano era apenas para evitar que eles chegassem até nós após o
acidente na Itália, há mais de dois anos. Era só ter seguido as pistas e ter
encontrado Alessa e o moleque.
— Como eu estava dizendo, enquanto seguia as pistas, tive um
imprevisto no caminho.
— Que imprevisto? — fui eu quem perguntei, falando pela primeira
vez desde que a prostituta e Astan saíram para o quarto ao lado, a convite
do amigo do meu irmão.
Fatmir direcionou seu olhar para mim, sem deixar de estampar seu
sorriso cínico, quase como um pisicopata, ainda se masturbando, enquanto
respondia minha pergunta.
— Encontrei com a cadela da caçula dos Fontana em uma festa e
aquele advogadozinho de merda ficou com ciúmes porque fiz um
comentário inofensivo, mas verdadeiro — pontuou, soltando um gemido
baixo quando seu polegar resvalou a ponta do seu pau.
Alcei uma sobrancelha.
— O que você disse?
Seu sorriso e o brilho em seus olhos aumentaram.
— Disse que ela fodia como uma puta — falou simplesmente, dando
de ombros.
— Porque você falou isso? — Dardan exclamou.
— Eu já disse, estava entediado e foi divertido ver a cara de ciúmes
do cretino.
— Fatmir eu juro que vou te… — nosso irmão soltou entredentes,
indo para cima do loiro pelado no sofá, pronto para machucá-lo.
Levantei a mão em um comando que parasse e mesmo a contragosto,
ele obedeceu, soltando uma enxurrada de palavrões em albanês.
— Sabe, de acordo com a vagabunda que eu comi na semana passada,
suco de maracujá é ótimo para os nervos — Fatmir disse, suas palavras
pingando dechoche.
— Meus nervos só vão se acalmar quando eu socar essa sua cara,
caralho.
— O muro de escola está mesmo puto, hein.
— Me chamou de quê?
— Muro de escola.
— Que porra é essa?
Fatmir bufou em um sinal claro de tédio.
— Os brasileiros costumam chamar quem possui muitas tatuagens no
corpo de muro de escola. Ao que parece, os muros das escolas por aqui são
pintados por vândalos. Mas sabe — fez uma expressão pensativa —, eu
acho que são artistas mal-compreendidos.
— Fatmir…
— Sim, esse é o meu nome. — Piscou.
Antes que Dardan desrespeitasse a minha ordem, porque eu sabia que
ele estava no limite, caminhei até o sofá, parando de frente para o caçula,
que rasgou ainda mais os lábios, expandindo seu sorriso.
— Fatmir? — disse em um tom baixo e sério, mas controlado.
— Sim, querido irmão?
— O que aconteceu depois que você provocou Henrique Prado?
— Viu, Dardanzinho. Por isso, ele — falou, apontando para mim com
a mão livre — é o líder dos negócios da família.
— Fatmir? — ele voltou a olhar para mim. — Seja direto e responda
a minha pergunta — pedi.
Ele suspirou.
— Depois que falei apenas os fatos, o cretino veio para cima de mim
e quase doeu os socos que ele me deu, mas a verdade é que só me deixaram
ainda mais motivado a fazer o que eu fiz em seguida.
— O que você fez?
— Astan ligou para os homens que vieram nessa missão conosco para
me pegarem na tal boate e cuidaram dos ferimentos em meu lindo rosto.
Veja, não ficou nenhuma cicatriz sequer. — Elevou o queixo na minha
direção. Não disse nada, apenas aguardei que continuasse de forma fria. —
E bem, como gostamos de vingança, achei que seria interessante dar uma
lição nele.
— Achou que seria interessante — Dardan resmungou atrás de mim.
— Continue, Fatmir — ordenei.
— Voltamos a seguir o rastro da Alessa e do velho que a ajuda desde
que ela fugiu da Albânia, o que nos levou ao prédio vizinho onde Beatrice e
Henrique moram. Como se o universo estivesse a nosso favor, quando
Astan e eu estávamos à espreita, observando o local, vimos a ex-namorada
do advogado sair aos prantos do edifício onde ele residia e notei ser a
oportunidade perfeita para me vingar.
— Então, deixa ver se eu entendi. Você está me dizendo que estava
perto de conseguir finalmente capturar Alessa e seu filho, que estamos há
mais de dois anos procurando, e achou que seria interessante montar o
sequestro de Beatrice Fontana com Verônica para, apenas e somente, se
vingar da surra que levou de Henrique, fugindo totalmente da razão da sua
viagem ao Brasil? É isso que está tentando me dizer, Fatmir? — falei cada
palavra em um tom suave e calmo, quase ameaçador.
— Sim. Foi exatamente isso que aconteceu — respondeu sem
qualquer preocupação ou receio.
Soltei uma risada baixa, levando minha mão direita até meu maxilar,
coçando a barba rala que eu insistia em manter por causa da minha exigente
esposa, Ava, que apreciava quando eu marcava sua pele com ela.
— Ava realmente estava certa quando disse que uma mulher rejeitada
era capaz de qualquer coisa para ter o homem que julga amar. Aquela loira
é maluca e não ficou nem um pouco assustada quando contei que a única
solução para ela ficar com Henrique, era se livrar de Beatrice. Claro que
não íamos deixá-la ferir a italiana ou o bebê.
— Bebê? — Ergui uma sobrancelha.
— Sim. Quando Astan pegou Beatrice, saindo da farmácia, a bolsa
dela acabou caindo no chão e se abrindo, revelando não apenas seus
pertences, mas também um teste de gravidez. Os merdas dos Fontanas estão
cresendo.
— Beatrice Fontana está grávida — repeti, absorvendo a informação.
— Sim, mas está bem. Como você sabe, somos contra machucar
crianças e mulheres, principalmente elas estando grávidas.
— Pelo que eu consegui ver no hospital, enquanto tirava Verônica de
lá, Beatrice tinha um corte no lábio — Dardan comentou.
— Ok. Verônica sabe usar os punhos e foram apenas dois socos, nada
que uns dias não cicatrize.
— Você se divertiu, querido irmão? — indaguei.
— Sim, eu me divertir… — suas palavras cessaram quando o
movimento dos seus dedos em volta do seu pau aumentou, sua mão
deslizou de baixo para cima cada vez mais rápido. O rosto do meu irmão se
contorceu em prazer como um adepto ao exibicionismo que era.
Meus olhos apertaram, fixos nos seus e deixei que se deleitasse com
suas próprias carícias, ignorando os resmungos de Dardan.
Era dessa forma que eu gostava de agir.
Essa era a forma que eu colocava a minha vingança em prática, ainda
que em algumas vezes, as pessoas que eu amava fossem as vítimas da
minha tortura.
Dê à pessoa uma amostra de prazer.
Deixe que ela mergulhe e se embebede nessa pequena dose, como
uma viciada em abstinência. E então, só então, quando ela se sentir
falsamente segura e completamente anestesiada, você ataca. Sem pena. Sem
dó. Sem remorso.
Com a mão, que antes alisava meu maxilar, segurei o pescoço de
Fatmir, fechando meus dedos com força em torno da sua garganta e
forçando-o a se pôr de pé e parar subitamente a sua sessão de masturbação.
Meu irmão, apesar de toda a imprudência e euforia que a sua
impulsividade lhe dá, é bom em prever ataques, exceto os meus. Nunca
ninguém conseguiu tal proeza, a não ser a mulher com quem decidi me
casar. Ava era tão doente por controle quanto eu, e amava perdê-lo quando
o significado disso lhe desse prazer.
Era difícil controlar o sádico que havia em mim até mesmo com as
pessoas que eu amava. Foi difícil entender quem eu era e aceitar que
gostava de coisas que a maioria das pessoas julgava ser errado, quase a
ponto de ser um crime.
Eu amava reter o controle e na hora certa, perdê-lo, deixando a onda
de prazer que vinha após me inundar à medida que inflingia dor. Contudo,
depois de tudo o que a minha família passou e principalmente, depois de
Ava, aprendi a controlar com ainda mais disciplina os meus instintos.
Depois de Ava e dos nossos filhos, eu procurava agir com ainda mais
cautela. Qualquer atitude minha, poderia gerar consequências que
resvalariam neles. E, definitivamente, eu não carregaria tal crime, já
bastavam os que a minhas mãos carregavam para manter a ordem dos
negócios da família.
Sorri de lado, apreciando o rosto do meu irmão começar a ficar
levemente arroxeado e vermelho, devido a falta de ar.
— Spartak… — balbuciou meu nome, levando as mãos até os meus
braços, na tentativa de me afastar. Era inútil, eu sabia, Dardan, que estava
agora rindo atrás de mim, sabia e Fatmir, definitivamente, sabia.
Eu o amava e ele também sabia disso.
Acabaria com qualquer pessoa que ousasse machucá-lo, mas Fatmir
também sabia que eu odiava erros quando o assunto eram os negócios da
família, ainda mais que envolviam Alessa.
Fatmir era uma fera que precisava ser domada.
Fatmir tinha algo dentro de si que se não fosse controlado, perderia o
controle como um dia eu perdi, até o meu doce veneno aparecer, minha
querida Ava.
Fatmir precisava de controle e eu estava tentando ensiná-lo, porém a
cada dia que passava, estava ficando cada vez mais difícil.
Trouxe seu rosto para perto do meu e falei, pausadamente, sentindo
minhas veias serem invadidas por contentamento: — Acho que você não
está mais se divertindo, não é mesmo, irmão?
Sua boca se abriu um pouco mais conforme lutava para tentar
pronunciar as palavras. Afrouxei o aperto em volta da sua garganta,
fazendo-o arfar audivelmente, contudo não afastei meus dedos de seu
pescoço.
— Controle seus instintos. Essa é a primeira regra de um Morina.
— Eu sei — falou com dificuldade, puxando o ar com força.
— Então coloque em prática, querido irmão.
O soltei e ele caiu no sofá, tentando controlar a respiração à medida
que seu peito subia e descia, no exato momento em que meu celular tocou.
Ajeitei a postura e o peguei de dentro do bolso da calça social preta. Sorri
ao ver a foto da minha esposa na tela.
— Olá, minha doce helm (veneno) — falei ao atender a ligação. Meu
sorriso morreu assim que a sua voz aflita chegou aos meus ouvidos.
— Spartak, você precisa vir para cá.
— O que aconteceu? — perguntei e a preocupação em minha voz
chamou a atenção dos meus irmãos, que rapidamente se aproximaram de
mim.
— Eles descobriram o plano — anunciou e, ao longe, ouvi o choro
dos nossos filhos.
— Onde você está?
— Estou levando as crianças para o subsolo com a guarda, sob a
ordem de Besnik. Ele está conosco.
Besnik era uma das poucas pessoas que eu confiava e era o líder da
segurança de minha família.
— Estou a caminho.
— Encontraram Alessa e o menino?
— Tivemos um pequeno — Olhei para Fatmir — imprevisto, mas não
se preocupe com isso agora. Diga a Besnik para me enviar as coordenadas
dos cretinos.
— Eu direi.
— Tome cuidado, helm.
— Você me conhece, Spartak. Eu posso cair, mas cairei atirando
como a Morina que sou. Ninguém ferirá nossos filhos. Ninguém passará por
mim.
Essa era aminha Ava.
O meu doce veneno.
Meu helm.
Disse que a amava em albanes, ouvindo a mesma declaração em
seguida e tão rápido a ligação foi finalizada.
— O que aconteceu? — Fatmir perguntou, massageando o seu
pescoço que agora tinha as marcas dos meus dedos.
— Você estava com saudade de uma boa briga, querido irmão, a
oportunidade perfeita surgiu — declarei.
— Do que você está falando? — Dardan indagou.
— Vamos voltar para a Albânia. Ao que tudo indica, a mansão
Morina está prestes a ser invadida — anunciei.
— Eles descobriram sobre Alessa e Carlos? — o mais novo quis
saber.
— Sim e armaram uma emboscada para a nossa família. Que a guerra
comece.
“FIM”
Entre aspas porque vocês já sabem.

Nos vemos em breve.

E lembrem-se: podemos ser os mocinhos, mas também os vilões.

Depende apenas de quem esteja narrando a história.


AGRADECIMENTOS
A Deus em primeiro lugar sempre. Sem ele, nada disso seria
possível;
A mim mesma, que mesmo com as diversidades e todo o caos que
me assolou, não desisti de colocar mais uma história no mundo;
Ao meu marido, meu Dante, meu amor, meu melhor amigo, meu
parceiro dessa louca aventura que se chama vida. A pessoa que me aguenta
surtar todos os dias por causa do meu trabalho, que sorri cada vez que me
pega falando sozinha, a primeira pessoa que acreditou em mim. Você é foda
pra caralho e uma das escolhas mais certas que já fiz. Eu te amo pra um
cazzo, amor. Obrigada por ser você;
À Tereza Fontana, que foi a primeira amizade verdadeira que fiz no
meio literário. Que torce por mim a cada conquista alcançada. Que sempre
tem uma palavra de conforto e dois tapas para me dar cada vez que eu faço
besteira ou quando meu lado pessimista surge. Que sempre me defende
quando eu só sei chorar. Que me atualiza das fofocas quando estou ocupada
demais escrevendo. Obrigada por tudo, amiga, eu te amo demais, cu.;
À Priscilla, minha Pri que odeia calor, que já foi além de amiga,
revisora e leitora crítica, minha mãe, minha psicóloga, minha advogada.
Obrigada por aceitar trabalhar comigo. Obrigada pelas palavras de orgulho,
você não sabe a importância que tem na minha vida. Obrigada pelo carinho
e amizade. Te amo e espero que possamos estar juntas em breve, afinal, as
fotinhos e vídeos que tem me enviado tem deixado meu marido pra lá de
animado;
À minha assessora, Livi, que chegou de fininho e já fez tanto por
mim e pelos meus livros. Obrigada pela paciência e animação a cada ideia
maluca que eu tenho. Você foi o meu copo de água em meio ao deserto. Te
amo, pitica brava e apenas para o caso de você ter se esquecido: você é
gigante e capaz de fazer qualquer coisa;
À minha mãe e ao Renato, que entendem o meu sumiço quando
estou imersa na escrita, mas torcem e vibram a cada passo dado e conquista
alcançada Vocês são tudo e um pouco mais pra mim. É bom demais saber
que tenho o apoio de vocês;
À minha avó, meu potinho de amor. Obrigada pelos risos e orações.
Elas me ajudam a continuar;
À minha irmã e cunhado, meu casal caderninho da vida real, que
sempre topam as minhas loucuras. Obrigada por serem meus amigos e o
meu suporte quando mais precisei. Jamais vou me esquecer do cuidado que
tiveram comigo e com meu marido durante os piores dias da minha vida;
Às minhas revisoras, capista e ilustradora. Vocês são de outro
mundo, porque só assim para explicar a paciência que tiveram comigo ao
longo do processo. Eu deixei vocês doidas, mas olha só onde Beatrice
chegou. Vocês fazem parte disso tanto quanto eu;
Aos meus leitores, que me enchem de mensagens de incentivo todos
os dias. Que continuam me amando mesmo eu os fazendo chorar, surtar e
sofrer. Obrigada por me darem uma profissão. Nunca vou deixar de
agradecer por acreditarem tanto no meu trabalho.
Às minhas parceiras incríveis, minhas joias que fizeram uma
verdadeira festa nas redes sociais a cada material de divulgação. Que me
acolheram e me mostraram que eu não precisava ter ficado com tanto medo
na minha primeira parceria. Obrigada pelo carinho e esforço, meus amores.
Vocês são maravilhosas.
Amo todos vocês, imensuravelmente.
Com amor e surtos,
Fernanda Carrera ou
simplesmente tia Nanda.
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É muito importante para mim.
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