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Copyright © Rafaela Perver, 2021

Editora Chefe: Waldinéia Oliveira Gomes

Todos os direitos reservados ao Grupo Editorial The Books. É proibida a reprodução de parte ou
totalidade da obra sem a autorização prévia da editora. Todos os personagens desta obra são fictícios e
qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Texto revisado
conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.

The Books Editora


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PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 10. PARTE II
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 16. PARTE II
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 39. PARTE II
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 40. PARTE II
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 42. PARTE II
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
BÔNUS LÍVIA E GAEL
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 50. PARTE II
CAPÍTULO 50. PARTE. III
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 51. PARTE II
EPÍLOGO
PRÓLOGO

SEXTA-FEIRA, DIA 07 DE AGOSTO – DOIS ANOS ANTES


— Para onde vai, Anton?
Encaro a Kiara, arrumando de longe o colarinho da minha camisa
branca. Seus olhos estão marejados. Sua voz nervosa e trêmula, espelha no
interior um semblante triste e cansado. Eu somente respiro fundo e caminho
em sua direção.
— Eu vou sair.
— De novo? Eu já estou cansada disso, você não se importa
comigo? Você não me ama?
— Ei... eu só vou sair para tomar uma cerveja com os meus irmãos e
voltar antes mesmo que você perceba.
Puxo o seu braço, no entanto, ela me empurra.
— Mas eu percebo, eu sinto a sua falta. Você só quer saber dos seus
irmãos. É treino depois da madeireira. É jogos as quintas, é chope aos
sábados na capital. É o que mais? Chifres na minha cabeça? Eu já estou
cansada. Eu vou ficar maluca. — Ela começa a chorar. — Eu só queria ser
feliz, me casar, ter uma família linda, um marido presente, amoroso. Ter o
que eu não estou tendo!
— Kia... — Desta vez, ela não me afasta, quando eu agarro devagar
a sua cintura, alisando os seus cabelos dourados. — Não coloque coisas na
cabeça. Somos felizes.
— Não minta. Como somos felizes? Como, se não deseja nem um
bebê? Nem sequer passar períodos livres com a mulher que “escolheu” se
casar... — Ela sussurra decepcionada no meu peito.
Eu, então, levanto o seu queixo dócil, observando os olhos mais
belos que eu já conheci, e limpo as suas bochechas molhadas.
— Eu prometo mudar por você. Só não me cobre filhos outra vez,
estamos bem assim.
— Você sabe que não estamos bem. Daqui três semanas,
comemoramos a terceira renovação dos nossos votos e vai ser a mesma coisa;
não pensam em crianças? Em filhos lindos, correndo pela casa?
Eu solto a Kiara, passando nervoso a mão pelo rosto.
— Chega, Kiara! Chega dessa merda de novo! Eu não vou te dar
filhos! Eu não quero! — Estresso-me e esbravejo alto.
— EU ESTOU CANSADA DE FICAR SOZINHA, DE SER
TRAÍDA POR VOCÊ! DE NÃO TER AMOR! AFAGO! E SE EU NÃO
POSSO SER AMADA, TER O MEU MARIDO COMPLETAMENTE AO
MEU LADO, EU QUERO UM FILHO! ME DEIXA SER MÃE?! ME
PERMITA AMAR ALGO NOSSO?
Chuto a porra da escrivaninha e seguro a Kiara com força pelos
braços, sacudindo-a.
— INFERNO! VOCÊ QUER A PORRA DESSE FILHO? VOCÊ
QUER UM FILHO PARA ME DEIXAR EM PAZ? EU VOU ENTÃO TE
DAR ESSA MERDA DE UMA VEZ!
CAPÍTULO 1

ANTON DEXTER

Eu estou de frente para o reflexo de um homem que hoje resta só a


carcaça podre de um covarde sem escrúpulos, sem compaixão, e que mereceu
todas as consequências possíveis deixadas por ela. Eu errei e estou pagando
por esses erros. A face é de orgulho, de angústia, e somente a Kiara pode me
arrancar dessa prisão. Eu preciso encontrar a minha esposa.
— Deveria já ter superado ela, Anton. — Encaro a imagem da minha
mãe pelo espelho. Ela para bem atrás do meu ombro e aperta o meu braço. —
É um Dexter! — Ela nos observa. — Seja forte e esqueça aquela víbora.
Existe milhares de moças lindas aos teus pés.
— O que faz fora da capital, Lorenza? — Eu sou direto ao inclinar o
pescoço e perguntar de forma desprezível, cortando-a.
Ela, então, tira as mãos de mim e suspira o habitual ar de
superioridade.
— É óbvio. Eu vim para morar na fazenda. Aquele apartamento se
transformou num mar negro, úmido, gelado e sem vida. Além de eu estar me
sentindo solitária.
— Desde que não se meta nos meus negócios. Nem na decoração da
mansão, fique à vontade!
— Não mexer na decoração da mansão? Como assim? Lógico que
eu vou desinfetar cada canto possível. Já faz dois anos. Você tem que
reconstruir um novo futuro próspero. Ao lado de uma dama, uma milionária
da região.
— Eu já sou milionário. Herdei tudo do meu pai. Se não está
satisfeita com as coisas conforme a Kiara deixou, volte para a capital. Aqui
não é lugar para uma madame de joias e de salto.
— Me respeite, Anton. Eu ainda sou uma Dexter. Seu pai pode não
ter deixado as terras para mim, contudo, me deixou esse sobrenome. E como
a sua mãe, eu possuo o mesmo poder na capital e entre os povinhos sem teto
daquela vila imunda.
— Eu não tenho o dia todo para ficar te suportando! Com licença!
Eu volto a vestir o chapéu e viro as costas, deixando a minha mãe
sozinha no quarto.
— Sr. Anton. — Na sala, ao pisar no último degrau, Felícia, a
governanta vem rápida na minha direção. — Os capatazes; Jesuíta e Ratito
estão no varandão, aguardando-o.
— O que querem?
— Sinto muito, senhor, não falaram. E o café já está posto.
— Obrigado, Felícia. Volto já!
Eu passo a mão na barba, nervoso, e caminho até a porta principal.
Do lado de fora, encontro o Jesuíta e o Ratito conversando em sussurros. Os
dois, ao me verem, pigarreiam e recompõem-se sérios.
— Bom dia, patrão! — Dizem.
— Bom dia. O que querem?
— Viemos trazer uma notícia do seu agrado. Vai gostar. Ouvimos
perto do rio, das fofoqueiras que lavavam roupa. É sobre uma mulher que
chegou na vila ontem de manhã.
Eles se entreolham, adiante, a minha face autoritária.
— Parece ser a patroa.
Meu peito se aperta, o coração acelera. Cerro os punhos, em furor.
— Confirmaram algo com certeza para poderem me procurar?
— Eu e o Ratito fomos conferir a informação no barraco do Aquino,
se era verdade ou não, mas o velho nos ameaçou com uma garrucha. Não
descobrimos nada. Fomos escorraçados.
— Quero que vigiem a fazenda do Padilho esta noite. Se Kiara
voltar, não irá para o barraco do avô. Ela vai para a casa daquele bêbado do
pai.
— Teremos que montar acampamento na cerca, as terras do Padilho
ficam do outro lado do rio, há duas horas.
— Eu não perguntei nada, Jesuíta! Faça o serviço de vocês e não me
voltem sem informações concretas!
— É claro, senhor Dexter! Somos seus homens de confiança!
— Podem se retirar!
Eles pedem licença e retiram-se. Eu permaneço bravo. Ela não devia
ter fugido. Kiara é a minha mulher. Seu lugar é ao meu lado. E se ela voltou e
estiver escondida no casarão do pai, a busco a força. Nem que eu tenha que
matar o Padilho! Eu comprei aquela menina! E caso contrário, ele terá que
me pagar o dobro!
— Seus irmãos vão voltar a morar na fazenda? — Na mesa do café,
a minha mãe questiona, provando do chá. — Eles não entraram mais em
contato.
— Não! Eu não quero saber daqueles drogados me pedindo
dinheiro! Cansei de bancá-los!
— Eles são os seus irmãos, por mais que seja de pais diferentes,
você tem o dever de ajudá-los, de prestar amparo. É rico, tem terras. Doe
metade para ambos.
Eu sou obrigado a rir. A minha mãe é uma madame sem menor
escrúpulo. Teve três filhos e quatro casamentos podres de rico. Eu sou o filho
do último casamento, o abandonado que herdou bens milionários do pai e um
sobrenome que ela tanto se gloria em manter para esnobar-se. Já meus irmãos
não tiveram a mesma “sorte”, eles perderam rios de dinheiro com viagens
internacionais, festas e drogas; viciaram-se em cocaína e heroína. Nossa mãe
não está nem aí para ninguém. Por pouco, não saiu ganhando nesses quatro
casamentos, exceto por Rangel Dexter, o meu falecido pai. Ele não deixou
um tostão sequer para a mercenária e me pediu no leito de morte que eu
honrasse o seu nome e sobrenome de respeito.
— A única coisa que eu vou fazer por eles, se caso me procurarem, é
interná-los! Não dou um real sequer! — Minha mãe fica em silêncio, arqueia
a sobrancelha e não contesta a minha autoridade. — E eu já vou. Tenho que
verificar o plantio dos eucaliptos urofilia. Contratei peões novos. Volto no
almoço. E não ouse maltratar as pessoas desta casa. Felícia ficará de olho na
senhora.
— Eu fui a mulher do dono. Eu ainda tenho a minha autonomia
como mãe. Não me rebaixe por empregados!
Prevejo que será um inferno ter a Lorenza de volta nessa fazenda.
Todavia, tenho problemas maiores na mente para me preocupar. Quero
terminar a verificação dos plantios antes das 13h30. Eu não vou conseguir
esperar os meus capatazes. Preciso saber logo se a Kiara retornou para
Montes Do Sol. Ela desapareceu de uma forma que nem os melhores
detetives do Brasil puderam encontrá-la. Dois anos sem informações. E tudo
graças a sua família a acobertando. Desgraçados!
— Está com a cabeça longe? — Gael, meu melhor amigo e gerente
rural, interroga, estendendo-me um copo de água fria. — Posso adivinhar? É
as fofocas da redondeza?
— O que sabe, Gael?
— Está circulando pela vila que a Kiara voltou.
— Jesuíta e Ratito já me contaram das fofocas.
— É certo, Anton. A informação saiu de dentro do casarão, pelos
próprios empregados do Padilho. Eu sei, porque foi o meu pai quem ouviu de
uma moça lá na venda.
— Como? É verdade?
— Sim!
Minha cara não esconde a vontade de pegar a caminhonete e ir agora
mesmo até aquelas terras. E é o que eu faço ao fechar a porta e ligar o miolo
da ignição.
— Anton, não seja louco! Pensa bem no que você vai fazer! —
Enquanto eu acelerava, Gael veio correndo veloz, apoiado no vidro. — Não
age de cabeça quente! Aquela gente não é confiável!
A poeira vermelha se levanta e ele fica para trás. Eu sou capaz de
matar cada um daquela família cretina! Eles não vão me enganar! Eu não
aceito pagar de trouxa!
Círculo os hectares. E, em uma hora de rua de chão barrenta, eu
chego acelerando na frente do casarão alaranjado de dois andares. Eu pego a
arma e desço como um touro com sangue nos olhos. Três rapazes me
avistam.
— É o Dexter! — Um deles exclama para o outro, correndo até mim.
— Onde está o Padilho?! Onde está o velho bêbado?! Me digam!
— Não é bem-vindo! Não tem permissão de pisar os pés nessas ter...
Eu ergo a arma e eles se calam.
— Não vou perguntar novamente! Chamem ele, ou eu faço estragos!
— Não precisa fugir do controle, eu estou aqui, Dexter.
Ao sair dos fundos, o velho desce os degraus da varanda. Sorridente.
— Quanto tempo não nos vemos, hein? Como vai?
— Eu quero a minha esposa! Eu sei que ela voltou! E não vão
escondê-la desta vez! Ou eu saio daqui com essa mulher, ou eu invado esta
propriedade com meus peões!
— Bom, teremos uma luta e tanto. Pois, na minha casa, você só entra
por cima do meu cadáver!
Furioso, eu mudo de direção e aponto a arma para ele, encarando a
expressão do Padilho.
— Saia do meu caminho, seu bêbado. Ou eu disparo!
— Então seja homem e dispare! Não é o todo poderoso, Dexter?
— O que é isso?! — A mãe de Kiara sai correndo de dentro da casa,
berrando e descendo os degraus. — Parem, pelo amor de Deus! O que faz
aqui, Anton? Abaixe essa droga! Não seja um maluco!
— Eu vim buscar a minha mulher! Eu sei que ela está escondida no
casarão! E eu a levarei!
— Ela não quer te ver!
Em instantes, algo dentro do meu peito salta, explodindo de terror.
Ela está aqui! Eu preciso vê-la! Eu preciso conversar. Eu... ela tem que voltar
a ser a minha esposa!
— Se a Kiara não vir comigo, eu vou embora para retornar com
todos os meus capatazes! Não me importo de destruir a casa de vocês atrás
dela! Nem de botar fogo!
— Por favor, Anton, não faça nada que você possa se arrepender
depois!
Cuspo no chão, com a arma firme na direção do Padilho.
— Sabem do que eu me arrependo? De ter comprado a filha de
vocês e de ela ter me abandonado sem achar que eu não cobraria o meu
dinheiro de volta! Afinal, eu tirei a família dos porcos da merda!
— Não nos culpe por ser um péssimo marido! Quando a vendemos,
ela era só uma menina inocente, virgem de malícias, boba! Não tivemos culpa
de você usá-la, magoá-la! De tratá-la como um objeto! Kiara fugiu, pois
estava cansada do comportamento humilhante da sua mãe e o seu!
— E vocês a acobertaram!
— Já te dissemos milhares de vezes que não sabíamos! — Padilho
grita.
— Jamais deixaria ela aqui, seu verme! Por mim, a imbecil é sua
mulher e o dinheiro é nosso! E ponto final! Não estou nem aí se é bom ou
ruim marido!
— Não diga isso, Padilho. Kiara é a nossa filha. Ela tem que lutar
pela sua felicidade, pela sua liberdade própria. Não quero que siga o caminho
da minha mãe, da sua mãe e nem o meu. Ela não é uma submissa.
— Cala a boca, Judite! Que se dane a felicidade! Eu não avisei que o
Dexter viria atrás dela ou do dinheiro se a imbecil continuasse na nossa
casa?! E não temos mais a quantia!
Eu chuto a terra, quase disparando.
— Que seja, me devolvem ela! Cansei dessa ladainha!
Judite fica trêmula.
— Calma, Anton. Por favor.
— Já fiquei calmo por dois anos! Eu quero a minha mulher agora!
— Eu já te disse que ela não quer te ver.
— Ótimo, então eu voltarei com os meus peões!
— NÃO PISARÁ OS PÉS NA MINHA CASA! — Padilho grita —
OU EU CHAMAREI O DELEGADO DA REGIÃO PARA PRENDÊ-LO!
— Não me desafie, seu bêbado!
— Sai daqui! Meus homens também estão armados!
Furioso, eu olho para as janelas do casarão de dois andares e sinto
que ela está me ouvindo, observando. Eu sei que ela está!
— VOCÊ VAI VOLTAR, KIARA! JAMAIS TE DEIXAREI EM
PAZ! — O tom de voz estridente é para que ela ouça em bom som. —
CHEGA DE FUGIR! CHEGA DE SE ESCONDER!
Judite dá um passo à frente e Padilho ergue a cabeça.
— Sai das minhas terras, eu já mandei!
— Eu vou, mas voltarei caso a minha mulher não apareça na fazenda
até meia noite! Fiquem avisados! E a avisem!
Com o recado dado, eu viro as costas e volto para a caminhonete. Se
ela não aparecer, eu regressarei! E não será sozinho!

KIARA DEXTER

Após ouvir as suas palavras ameaçadoras, eu fecho as cortinas com


força e corro para o quarto chorando. O que eu faço, meu Deus? Me ajude, eu
já estou cansada! Eu me sento em prantos na cama e assim que se passam dez
minutos em que a caminhonete dele some, eu ouço passos ligeiros na escada
de madeira que range. Levanto o rosto, vendo a minha mãe surgir no batente
da porta.
— Kia, ele já se foi. Não chore. — Ela vem até mim.
— Eu não deveria ter voltado, mamãe.
— Foi o certo, você estava passando fome, fugindo como se fosse
uma bandida. E sendo escravizada para sustentar o seu filho. Isso é
inadmissível. Tem que enfrentar aquele homem de uma vez por todas para ser
feliz.
— Eu tenho medo dele... do que o Dexter pode fazer caso descubra
do meu menino. Ele odeia crianças. Ele poderia tirá-lo de mim, para me
ameaçar — eu coloco a mão no rosto e choro. — E eu o mataria! Eu faria
uma loucura!
Mamãe me abraça, em seguida, segura a minha cabeça.
— Você tem que enfrentar aquele homem bruto, entendeu?
— Eu não quero! — Me afasto. — Eu não vou conseguir! Isso é
tudo culpa do papai! Se ele não tivesse me vendido para aquele fazendeiro
bonito, o "Dexter rico", me induzido a crer que o Anton era um príncipe
encantado, cheio de amor, eu jamais, jamais teria me casado! Eu só tinha
dezessete anos! Ele me machucou, feriu os meus sentimentos! Ele e aquela
mãe maldosa! Os dois monstros!
— Se eu também soubesse que sofreria como sofreu, eu nunca teria
permitido o casamento vendido.
— Eu fui tão boba. Ele nunca me amou. Foram três anos de inferno,
desgraças. Eu recordo de tudo. E daquela noite... — Eu coloco a mão na
barriga e encaro a mamãe — inclusive daquela noite!
— É essas lembranças que vão te fazer ser forte, uma guerreira.
Lembre-se das humilhações da dona Lorenza. E de como o Anton te feriu.
Não é hora de se lamentar, seja do seu pai ou do Dexter. Agora você tem um
filho, um bebezinho que não tem culpa de ter vindo ao mundo. Pense nele —
minha mãe aponta para o berço inacabado e sujo, onde o Gieber dorme feito
um anjinho. — Precisa protegê-lo com todas as suas forças.
— Anton voltará... e se ele tirar o meu filho de mim por raiva?
— E o que pensa? Você vai até ele?
— Não sei. Eu tenho que pensar. Estou apavorada.
— Você escutou o que o Anton disse? Sobre estar te esperando na
fazenda até meia noite?
— O-O quê? — Arregalo os olhos.
— Ele retornará com os seus capatazes caso você não apareça na
fazenda até meia noite.
— Esse homem é um monstro! — Eu me levanto, com vontade de
chorar novamente. — O que eu faço, mãe?
— O recomendável era você ir até o posto de polícia da vila e
denunciá-lo pelo que fez. Mas o Delegado é amigo dele.
— Eu queria me vingar, fazer o Dexter sofrer tudo o que eu sofri
naquela mansão e durante esses dois anos fugindo.
— Só que se você for até lá, o Anton te deixará confinada a ele. E eu
não aceito que viva como uma submissa mandada, sem poder de decisão.
Não como eu sou para o seu pai. Eu quero que seja livre.
Mamãe se põe de pé com o seu corpo baixo e um pouco acima do
peso e beija-me de forma demorada na testa.
— Pense bem no que você vai fazer, por favor.
— Eu pensarei... obrigada por me proteger.
— Eu te amo, filha. Meu coração de mãe morreria por você e pelo
meu neto.
Retribuo o seu beijo e ela se retira do quarto.
Sozinha, eu limpo o rosto molhado de lágrimas, solto o ar dos meus
pulmões e vou até o berço do meu menino.
— Eu não vou deixar nada de mau acontecer com você — toco no
seu rostinho delicado, sem evitar o choro. — Ouviu? É a única felicidade que
eu tenho. Ninguém te fará mal.
Eu sinto tanto, mais tanto nojo do Anton, que esses dois anos não
puderam curar nem a ponta das feridas. Só me fez criar mais revolta e mais
raiva. Eu não esquecerei, jamais. Fugi dele na manhã seguinte daquela
atrocidade de noite. Me rasga o peito só em lembrar, eu quase não consegui
chegar no casarão dos meus pais. Minha intimidade ardia, minhas pernas
eram um peso morto. Eu andava descalço no meio da estrada, esperando que,
a qualquer momento, um carro viesse e passasse por cima de mim e da minha
cabeça. Pois a dor teria sido menor. Eu sofri tanto. Eu não queria vê-lo, olhar
nos seus olhos. Não acreditava no que havia feito. Eu não acreditava que ele
pudesse ser tão mal, que não pudesse sentir um pingo de amor. E, meses
depois, descobrir da gravidez foi duas vezes pior e mais doloroso. Eu preferia
a morte a voltar a morar grávida naquela mansão. Eu saí de Montes Do Sol e
sairia de novo se fosse para proteger o meu filho! Ninguém daquela família o
tocará! Nem saberá da sua existência! Eu lutarei até o último fôlego de vida!
Dexter me deu um filho da pior forma que o homem que eu amava
poderia ter me dado e eu não vou esperar a vingança de Deus. Eu só viverei
tranquila depois de ver ele e a sua mãe rastejando de tanto sofrimento! Eu
juro que farei todos eles comerem o pão que o diabo amassou! Os odeio!
Sofrerão toda essa dor que eu sinto!

Eu decidi ficar em casa, presa no quarto, mas meu pai subiu para me
obrigar a ir até a fazenda do Dexter e me "devolver" a ele. Porém, quando eu
disse que não ia, furioso, ele só não me bateu com o cinto porque eu estava
segurando o bebê no colo.
— Se você não vai voltar, continuará nesta casa só por mais um dia!
Eu não quero aquele Dexter vindo nas minhas terras me ameaçar! Resolva os
seus problemas sem mim! Não estou nem aí para você e para essa criança!
Você é propriedade dele! Não restituirei um centavo do dinheiro da venda!
— Por favor, eu não quero voltar. Eu não sou propriedade daquele
homem. Me deixa ficar aqui com o meu filho? É o seu neto, olha o
tamanhinho dele, é só um bebê. Não tenho para onde ir, pai.
— Se conseguiu se virar sozinha por dois anos, ainda grávida e com
um recém-nascido, pode continuar sem a minha ajuda e o meu dinheiro!
Vocês dois são só duas bocas a mais! Procure a cabana caindo aos pedaços
do seu avô! Aquele velho saberá o que fazer com vocês dois!
Eu tento não chorar e apenas assinto com a cabeça.
— Não se preocupe, eu irei hoje mesmo!
— Ótimo! Já comece a organizar suas coisas, antes que eu faça! —
Após esbravejar bruto, ele vira as costas, abandonando-me em lágrimas e
com um aperto no coração.
Coloco o meu menino no berço, pego a única mala com todas as
nossas roupas e começo a reorganizá-la em meio aos prantos desesperado. Eu
quem não quero ficar nem mais um minuto aqui. Achei que o meu pai tivesse
mudado, que ele me aceitaria de volta com o bebê. Contudo, só soube me
tratar mal desde que cheguei. Jogando na minha cara que eu e o meu filho
somos só mais duas bocas para ele alimentar.
— Filha, pelo amor de Deus, não vai embora! — Eu desço os
degraus da escada com a mala e com o Gieber chorando nos braços
— Não se mete, Judite!
— Pare, Padilho! Você está expulsando a sua única filha e o seu
único neto de um ano! Pense, é só uma criança! Kiara precisa da nossa ajuda!
— Se você continuar a me contestar, sua porca velha, eu te bato com
o cinto! E faça esse garoto calar esse berreiro!
Minha mãe chora. Eu balanço a cabeça, encarando-a e ninando o
Gieber.
— Está tudo bem, mamãe, eu me viro.
— Ah, querida, você sabe que por mim ficaria eternamente. Eu não
vou suportar te ver indo embora e levando esse bebê indefeso. Eu amo vocês.
Daria a minha vida pelos dois.
— Eu sei, eu te amo. Mas preciso ir.
— Eu também te amo. Vem, a mãe te leva até a porta.
— Não demore, Judite! Te darei cinco minutos!
Na porta principal, assim que eu saio para fora, a minha mãe me
puxa ligeira para os degraus.
— Venha...
— Mãe?
Ela, então, me para ríspida e afobada.
— Escuta, um peão, filho de uma amiga minha da vila, está te
esperando nos estábulos. Já combinei tudo com eles, com medo de uma hora
ou outra o Padilho te expulsar e não ter para onde ir. O barraco do seu avô
nem telhado tem direito. Não é seguro para ambos.
— Voc...
— Não, Kiara, não temos tempo! Anda, vai logo! Assim que eu tiver
uma oportunidade de visitar vocês, eu irei! E acalme esse menino, tente
escondê-lo!
Ela me dá um beijo materno no rosto, outro no bebê e empurra-me
com a mala para, em seguida, voltar correndo para dentro do casarão. Eu faço
o que ela me mandou, sem olhar para trás. No caminho, eu deixo o Gieber
mais calado e com sono. Acho que ele entendeu que qualquer lugar é melhor
do que a casa do avô.
Quando eu chego ofegante na porta de correr do estábulo, cheia de
mato nos sapatos, eu vejo o tal rapaz me esperando ao lado de um cavalo da
cor marrom. Ele tem uma barba grande e espessa. Sua estrutura não é tão alta,
nem tão forte. É magro.
— Boa tarde, senhorita Kiara — ele vem até mim e sem estender a
mão, o homem de feição séria me cumprimenta. — Sou Francisco.
Assinto, observando-o.
— Sua mãe já deve ter lhe explicado tudo, me dê a mala.
— Para onde vai me levar? — Entrego a mala de mão, enquanto o
rapaz sobe no cavalo.
— Para a casa da minha madrasta. Ela mora sozinha no povoado da
vila, não se preocupe. Quer ajuda com a criança para subir?
— Não! Eu não vou largar o meu filho!
— Tudo bem. Tudo bem. Só coloque este lenço para que não seja
reconhecida. Todos sabem como é a esposa do senhor Dexter.
— Não precisa me lembrar de que um dia eu fui algo daquele
homem. E também, não o chame de senhor.
— Sim, senhora, desculpe-me.
Com a consciência pesada de ter sido grossa com o rapaz, eu pego o
lenço, enrolo na cabeça, só deixando a visão e o nariz para respirar. Então
subo no cavalo com dificuldade, mas sem a ajuda dele.
— Iremos rápidos. Aconselho a moça a se segurar bem.
Atrás das suas costas, eu abraço o meu menino com segurança e vou
assim durante as galopadas velozes conduzidas por Francisco até a vila. Eu
fico nervosa com a proximidade a cada minuto. Ele é rápido.
E em duas horas sem pausa, quando chegamos no povoado, eu já
tive a sorte de reconhecer perto da igreja uma amada pessoa; a dona Maria, a
cozinheira da fazenda Dexter. Ela conversa com algumas senhoras, suas
amigas. Meu desejo todo era de descer, de dar um abraço apertado nela, dizer
que eu dou valor a cada comida gostosa sua, que eu sinto saudades e que ela e
Felícia foram um anjo enviado por Deus durante os meus três anos de
moradia naquela luxuosa mansão. E que Anton, o menino que ela viu crescer,
me machucou tão doloroso... que eu só não consegui me matar porque o meu
filho estava sendo gerado para me dar um segundo motivo de viver.
— Senhorita Kiara, é aqui. — Francisco se refere a uma casinha de
madeira e de tijolos, onde para com o cavalo.
Não sei nem explicar a dor nas minhas ancas.
— Mas está tão perto da vila.
Não está perto, é praticamente na vila.
— Posso dizer que não tem lugar mais seguro. Confie em nós.
A essa altura, eu confio e acredito que ele e a minha mãe não
poderiam ter escolhido lugar melhor para me esconder.
Francisco me apresentou a Rosa, a sua madrasta-mãe, que é uma ex-
cartomante. Ao me receber, ela foi um verdadeiro doce de pessoa. Sua casa é
simples, tem apenas quatro cômodos pequenos. A sala era o seu local de
trabalho, ainda tem coisas bem coloridas e piscantes ao redor – sem falar das
poltronas vermelhas. A cozinha tem uma mesa com duas cadeiras, o quarto
em que eu ficarei com o Gieber só cabe a cama de casal e uma cômoda
quebrada. O que já é muito do que eu queria, esperava e gostaria. Agradeço a
Rosa do fundo do meu coração.

TRÊS DIAS DEPOIS

— A senhora acha que o meu pai está a impedindo, dona Rosa? —


Ao me referir a minha mãe, o meu olhar fica cabisbaixo.
— Não se preocupe, assim que a Judite tiver uma oportunidade de te
visitar, ela virá. Sua mãe não lhe prometeu?
— Sim... só que tem o Anton...
Enquanto falo, Rosa me entrega um prato para eu me servir da
bandeja de arroz doce, de açúcar queimada.
— Ele disse que invadiria o casarão dos meus pais se eu não
aparecesse na fazenda dele até meia noite. E já faz três dias. Eu estou
preocupada. Acho que eu vou até lá.
— É arriscado, Kia. Não posso permitir uma loucura dessa. E se os
capatazes do Dexter te reconhecerem? Não, eu fiz uma promessa a Judite de
que não te deixaria correr nenhum risco.
Eu respiro fundo, mexendo a colher no prato de doce.
— Talvez a minha mãe tenha razão; eu preciso enfrentar aquele
homem para conquistar a minha liberdade em Montes Do Sol. Essa é a minha
cidade natal, é onde eu nasci e fui criada. Não é justo eu ficar fugindo igual
uma criminosa. Não devo nada a ninguém.
Rosa consente.
— Concordo. E o que pensa em fazer? Sabe que não pode se
esconder para sempre.
— É isso, eu não sei o que fazer. Agora tenho um filho. E seria
arriscado revelar a sua existência. Anton é rico, milionário, poderia tirá-lo de
mim. Eu conheço ele, talvez faria isso para não me deixar em paz.
— Se ele não quer te deixar em paz é porque ele te ama, certo?
— Não, errado! Ele não me ama! Ele é um homem ruim! — Eu
brado com raiva. — Ele me feriu, Rosa! Anton me traia, o amor dele foi uma
mentira!
— Ei, meu bem, eu sinto muito, Kiara. Não era a minha intenção te
entristecer ou ofendê-la.
— Está tudo bem, eu quem peço desculpas por ter levantado a voz.
— VÓ, SENHORITA KIARA! — nos assustando, o neto de doze
anos da Rosa aparece repentinamente abrindo a porta da cozinha com toda a
violência e vindo ofegante até nós.
— Que isso, Miguel???
— O-o pai Francisco mandou eu vir urgente dizer que o senhor
Dexter descobriu que a Kiara está aqui! E ele já chegou na vila!
— O... o quê???
Eu coloco a mão na boca.
— Ele disse que o senhor Dexter ofereceu dinheiro ao Padilho, para
ele contar o seu paradeiro. E Padilho vendeu a informação depois de obrigar
a esposa a falar tudo.
— Meu pai fez isso?! Meu Deus, eu tenho que sair daqui, Rosa! Me
ajuda!
— Você não vai conseguir Kia! É melhor se esconder no quarto!
— E o Gieber? — Arregalo os olhos, apavorada.
— Deixe-o dormindo no colchão. Anton não invadirá a casa. E caso
faça, eu chamarei a polícia. Vá, se esconda, menina! — Confirmo. E sem
falar mais nada, eu corro para me esconder; fecho a porta do quarto,
trancando-a e colocando-me atrás dela. Observo de longe o meu pequeno
menino que cochila sem as maldades do mundo. O que eu faço se for o
Anton? E se ele tiver me achado? Não sei se terei força para enfrentá-lo. Eu
não sei!
Em meio ao silêncio do ambiente, não demora e ouço vozes
masculinas vindas da sala. Meu senhor... eu abraço o meu corpo, rezando
para que não seja ele. E se for, que esse homem não invada os quartos. Não
queria vê-lo agora, não queria que ele me encontrasse e nem soubesse da
existência de Gieber. Não assim, sem eu me preparar antes.
Os minutos se passam tortuosos e as vozes somem. Nervosa, eu fico
apreensiva, com o coração prestes a saltar da caixa do peito. Até que um par
de sapatos soa do curto corredor. Em seguida, dois toques são batidos na
madeira da porta, chamando-me baixinho.
— Kiara... minha querida. Sou eu, pode abrir — meu coração, que
acabara de descer garganta abaixo, se alivia em imediato com a voz da dona
Rosa.
Eu abro para ela, tremendo as mãos. Rosa entra no quarto, liga a luz
e encara-me. Sua face é de desespero, de culpa.
— Desculpe-me, Kia. Mas você não pode mais fugir, nem se
esconder. É o Dexter, ele está lá na sala com o delegado. Eles querem falar
com você.
CAPÍTULO 2

Meu mundo desaba.


— Me perdoe, Kia. Por favor.
— T-tudo bem...
— Deixe o Gieber aqui. Se recomponha, não mostre vulnerabilidade
àquele homem. Se ele te machucou e te magoou tanto, não seja fraca. Você
precisa dar a volta por cima, entendeu? — Eu limpo as lágrimas, respirando
em meio ao desespero. — Está pronta?
— Nunca estarei! É difícil, eu não queria vê-lo, eu não queria
encarar seus olhos! Eu não queria nada, só paz!
— Mas é por isso que você precisa lutar pela sua liberdade. Uma
hora ou outra, você teria que enfrentá-lo. Ele trouxe o chefe de polícia. Agora
venha, eu não vou te deixar sozinha.
O mais doloroso é saber que a Rosa tem razão. Por isso, eu engulo
em seco, dou uma última olhada no meu pequeno Gieber, que dorme... e saio
do quarto, acompanhando-a até a sala com as pernas bambas. Meu Deus...
Quando atravessamos o portal de cortina de pedrinhas vermelhas, eu
levanto a cabeça, sentindo uma apunhalada que me dói no mais profundo da
alma e enfrento as suas íris acinzentadas, de olhar bruto e desesperador. Ele
continua o mesmo homem forte, alto, robusto e revestido sempre das suas
jaquetas de penugem animal e as botas pretas. Eu o odeio tanto! O odeio com
toda as minhas forças!
— Kia... — Ele tenta se aproximar, só que o delegado o impede.
— Não, não chegue perto de mim! — Me afasto para trás.
— Dexter, um minuto, não a assuste. Eu preciso conversar com a sua
esposa.
— O senhor está enganado, eu não tenho nada para conversar! Nem
com o senhor, nem com o meu ex-marido!
— Ex-marido? — Seus olhos ficam semicerrados, seu peitoral se
infla, nervoso. — Eu preciso falar com você! Foram dois anos!
— Eu já disse que não tenho coisa alguma para falar com você e
nem com ninguém!
— E vai continuar fugindo? Acabou, Kiara! Chega de se esconder!
Seu lugar é ao meu lado!
— Não! O meu lugar é onde eu quiser estar! E eu nunca mais vou
voltar para aquele inferno de casa! Nem para o seu lado! Eu te detesto!
— Senhorita Dexter, por...
— E não me chame por esse sobrenome! Eu tenho nojo, raiva, ânsia!
Saiam daqui! Vão embora!
— Kia, não faça isso, se acalme. — Rosa segura o meu braço. — A
situação não será resolvida com ignorância. Estamos de frente para uma
autoridade.
— É claro que estamos, todos lambem os pés do "senhor Dexter
rico".
— Chega! Você vai embora comigo agora ou...
— [...] ou o quê, seu cafajeste? — O interrompo. — Diga? Vai me
amarrar aos pés de uma cama? Me acorrentar? Amordaçar a minha boca?
— Eu não vou fazer nada disso! Você sabe que eu não sou desse
jeito!
— Senhorita Kiara, por favor, não vamos levantar o tom das vozes.
Eu quero resolver isso o mais amigável possível. Por isso, pegue as suas
coisas e acompanhe o seu esposo.
— Como podem ser baixos? Está vendo o que eu disse, Rosa? Até as
autoridades lambem o chão desse homem! E eu não vou! Eu não sou
obrigada! Eu não vou voltar para aquele inferno! Já disse!
— Não desafie o poder máximo dessa vila, mulher! — Impedindo o
Anton de falar algo, o delegado mostra as unhas ao se aproximar me
enfrentando de forma rude. — Ou sou eu quem posso prendê-la por desacato!
— Que se dane, me prenda para ver se é macho mesmo! Vai, faça
isso!
Ele abre os dentes amarelos, furioso.
— Kia... não haja desta forma! — Rosa continua a me segurar. —
Pare, você tem noção que não pode ir presa!
— E eu não posso ir para a casa dele! — Aponto para o Anton.
— Senhor delegado... Dexter... me deem um minuto para conversar
a sós com ela na cozinha. Por favor?
— Ótimo. Vá e a convença da melhor escolha. Estaremos aqui lhe
aguardando, senhorita. Kiara.
Rosa me puxa à força até a cozinha.
— Por que está defendendo eles? — Ao pararmos, eu esbravejo
brava contra ela.
— Porque eu quero o seu bem, menina.
— Eu odeio ele! Isso não é querer o meu bem!
— É sim, eu não posso te deixar ir presa. Pelo amor de Deus, se
acalme. Pense no seu filho. Na sua mãe. Não se comporte descontrolada.
Suas palavras me fazem colocar as mãos no rosto, desabando a
chorar. Ela me abraça, acariciando os meus cabelos.
— O que eu faço, dona Rosa? O que eu faço? Que angústia! Que
desespero!
— Não tem escolha. Você precisa revelar o bebê para pedir o
divórcio.
— Não, eu não posso revelá-lo.
— Então aprenda a ter aquele homem na palma das suas mãos, Kia
— ela sussurra, afastando-me para limpar as minhas bochechas.
— Você não conhece ele para estar falando isso! Anton nunca me
amou e poderia maltratar o meu filho! Ele odeia crianças! Ele me traia e vai
continuar pisando nos meus sentimentos!
— Escute, é isso ou ser presa e perder a guarda do seu filho. Aquele
delegado é amigo do Dexter. E você não deve se separar do Gieber. Você não
é mais a menina inocente que me contou ontem, Kiara. É uma mulher
batalhadora, sofredora e que vai sair por cima dessa. Pode não ser hoje,
amanhã ou depois, mas você vai sair dessa. Seja forte, enfrente os monstros
pensando nas pessoas que te amam de verdade. Me prometa pela sua mãe?
Ela gostaria que a sua decisão fosse com o seu filho acima de qualquer
escolha. — Sem respondê-la, eu apenas limpo o rosto. — Kia, diga algo?
— E-eu estou pensando, Rosa.
— De coração, espero que os seus pensamentos sejam o correto.
Sem dizer mais nada, ela pega na minha mão e com calma, pede para
retornarmos a sala, onde eles nos aguardam. Eu concordo.
— Senhorita Kiara, temos uma decisão? — O delegado logo se
direciona, perguntando-me sério antes mesmo de eu parar de andar.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha, encarando a face bruta
de Anton.
— Por uma condição.
— Qual? — Ele retribuiu a visão severa.
— Eu quero um quarto separado!
Ele confirma com a cabeça, sem contestar.
— Sem demoras, senhorita Kiara, poderia pegar as suas coisas?
— Não acabei... t-tem mais uma coisa... — meu coração se exprime.
— O que é, Kiara?!
— Verá... — eu dou uma última olhada assustada para a Rosa. — Eu
já volto...
— Já traga as suas malas.
Sem replicar o Anton, eu viro as costas para eles, indo apavorada até
o cômodo onde o Gieber dorme.
Me doí ter que tomar esta atitude, é uma apunhalada nas minhas
próprias convicções, pois prometi a mim mesma que a família nojenta
"Dexter" não saberia da sua existência, mas sei que só desta forma eu poderia
me vingar deles!
E farei todos comerem lama, direto do chão! Eu juro que farei!
Jogo as coisas de qualquer jeito na mala, fecho-a, cato o meu filho já
acordado no colchão e antes de ir, analiso-o no reflexo do espelho,
observando o seu rostinho inchado.
— Eu vou te proteger nem que isso seja a última coisa que eu faça
em vida, meu filho. A mamãe promete! — O beijo na bochecha, enxugo
meus olhos molhados e saio tomando coragem para atravessar as cortinas
pela terceira vez.
E trêmula, assim que eu atravesso, volto para o meu pior pesadelo
em forma de homem.
Anton vira o semblante, arregala os olhos e demonstra choque,
incredulidade. Ele engole em seco, sem saber como reagir. O delegado fica
boquiaberto.
— A próxima condição é de você não negar nada para o meu filho!
Nem um leite que seja!
— O que é isso? De quem é essa criança, Kiara?!
— É minha, só minha! — O aperto forte nos braços. — Você não
me queria de volta naquele inferno de mansão? Vai ter que suportar o meu
filho!
Bravo, ele cerra os punhos.
— Dexter... — O delegado o encara, esperando o veredito de sua
palavra.
— Vamos!
Olho para a Rosa, palpitando de todos os medos e angústias
possíveis. Ela sorri fraco e nervosa, pega na minha mão, ajuda-me com a
mala e acompanha-me atrás deles. Para a nossa bela sorte, as fofoqueiras de
plantão da vila já estavam paradas do outro lado da rua. Agora todos sabem
que a "mulher fugitiva do Dexter" voltou. E eu odeio tanto esse monstro que
nem consigo me expressar com palavras! Ele me feriu! E ter que revelar o
fruto daquela noite horrível... ah, isso me dói. Eu me sinto humilhada, julgada
como a errada por todos esses curiosos.
— Eu voltarei para te visitar, Rosa! — Esbravejo, demonstrando que
a minha liberdade começará em breve.
Ela chora, beija o topo dos meus cabelos e os do Gieber.
— Já peguei amor por ti, menina. As portas da minha casa sempre
estarão abertas para você e para este garotinho bonito.
— Obrigada, você é maravilhosa.
Triste, retribuí o carinho, respirando fundo e então, virando para ir à
força até a caminhonete estacionada perto do meio fio, com o Anton me
aguardando dentro. Ao entrar no banco de trás, o delegado fecha a porta, joga
a mala na traseira e dá duas batidas na lataria do carro. Eu abraço o Gieber,
assistindo a Rosa e o chefe de polícia ficarem para trás, enquanto o homem
ao volante me leva embora sem um pingo de culpa no coração e talvez... nem
na consciência.
— De quem é essa criança?! — Durante o percurso na estrada de
chão, eu sou surpreendida pelo tom da sua voz bruta.
— É minha, eu já disse!
— Quem é o pai? — Ele não tira o foco do espelho retrovisor.
Meu coração dispara, fico nervosa, trêmula. Sinto vontade de chorar,
de bater na cara dele como eloquente. Isso ainda dói, meu Deus. E cada vez
que eu o encaro, uma agulha perfura mais essas feridas incuráveis.
— Você não tem o direito de me fazer esse tipo de pergunta, Anton!
Você sabe que não tem! Meu caráter não é o mesmo que o seu!
Sem saber mais o que dizer, ele aperta o volante e fica quieto. Eu
fecho os olhos, escondendo as lágrimas que fogem sem eu impedir.
Quando eu chego na fazenda, todas as lembranças infelizes voltam.
Eu quero correr, fugir. Esse lugar nunca foi palco de alegrias, apenas dos
meus pesadelos e traumas. Anton não desce, continua sentado no banco.
— Kia... — ele suspira, buscando palavras.
— Não precisa dizer nada. Eu quitarei o valor do dinheiro que pagou
em troca de mim. E terei a minha liberdade longe de você e dessas terras.
— É minha esposa! — Bravo, é apenas o que ele diz, após abrir a
porta e sair do carro pegando a mala da traseira com ferocidade.
E assim que a coloca nos degraus de concreto, ele volta para abrir a
minha porta. Ao abri-la, eu aperto o meu pequeno bebê com força,
enfrentando-o. Dexter nem olha para o Gieber. É como se fingisse que ele
não existisse. E eu não sei o porquê isso me dói.
— Se para tê-la aqui, eu preciso cumprir o que me pediu na casa
daquela mulher, então que seja!
— Você não tem esse direito!
— Eu sei que eu não tenho direito nenhum! Contudo, a partir de
agora, você não vai mais embora!
CAPÍTULO 3

Eu desço do carro com a frase de Anton fixada no meu


subconsciente: "mas a partir de agora, você não vai mais embora". Me doí
na alma. Pois o que esse homem fez não tem perdão. Jamais serei capaz de
perdoá-lo. É uma ferida aberta, incurável. Não existe remédios ou antídotos.
Não sou a mesma inocente de antes.
Ao pisar nos degraus da escada de concreto, eu continuo abraçada ao
meu pequeno. Anton passa por mim, indo até a porta da mansão com a mala.
Eu respiro fundo, criando forças para não sair correndo. Às vezes, acho que
eu não terei capacidade de me vingar do Dexter. O que ele mais ama nesta
vida? O que destruiria os seus pontos fortes? O que o levaria a se rastejar na
lama de tamanha culpa? O que me aliviaria esta dor?
— Eu preciso conversar com você, Kiara — após abrir a porta e eu
entrar desconfortável na sala rústica da casa, que continua idêntica ao dia em
que eu fugi, Anton para, encarando-me sem traços específicos. Nada de
tristeza ou de arrependimento. Ele me olha indiferente. Também para o
Gieber. E percebo o que "precisa" tanto conversar.
— Diga de uma vez o que você tem para conversar! Quer saber o
quê? O porquê de eu ter fugido?
Ele fica nervoso e o medo dele tocar no assunto daquela noite me
apavora, acelera o meu coração já descompensado. Eu ainda estou frágil. Eu
sinto que não suportarei.
— É sobre essa criança nos seus braços.
— Eu já falei, ele é o meu filho e ponto final!
— As coisas não funcionam simples assim! Quem é o pai? — Seus
músculos se contraem igual na residência de dona Rosa. — Por onde andou?
Eu preciso saber!
— E vai fazer alguma diferença? Você não se importa! Você nunca
se importou comigo e com o meu bem-estar! Eu sempre fui apenas a
mercadoria comprada para assumir o título de "esposa do sr. Dexter". A "srta.
Dexter", a coitadinha pé rapada e iludida, filha do bêbado do Padilho e da
criadora de porcos, submissa dele!
— Não omita, eu te tirei daquela vida escravizada pelo seu pai! Em
nenhum momento, te faltou nada nesta casa! Eu te dei tudo o que poderia dar!
Sabe disso!
— Mas me faltou, Anton! Me faltou tudo! Você mentiu para mim
durante três anos! Você me comprou como a sua esposa porque eu era uma
burra sem educação, nunca tive coisa boa, nunca andei de saltos ou de joias
igual a maldosa da sua mãe! Quando eu vim para cá, morar na sua mansão
luxuosa, nem dois pares de sapatos eu carregava direito! E sabia que eu não
me interessaria pela sua fortuna milionária, pois, diferente das filhas das
madames da redondeza, a "selvagem do mato" aqui só queria amor e ser
feliz! Só que você se fingiu de príncipe dizendo que me daria tudo isso, para,
no final, unicamente me usar, me ferir, me magoar! E eu fui uma idiota! Uma
boba miserável do interior! Eu tenho raiva de você! Eu tenho raiva das suas
traições e das suas mentiras! O odeio!
— Sr. Dexter, eu escutei a voz... — Sem esperar, interrompendo o
Anton de abrir a boca, graças a Deus, Felícia surge do ambiente onde fica a
mesa de estar. E ao me ver, ela arregala imediatamente os olhos, em choque.
— Ki-Kiara?
Eu tento não chorar, mantendo o meu filhinho em segurança no meu
colo. Ela olha para o meu pequeno, em seguida, corre até mim. Eu fico feliz.
É a primeira vez que eu sorrio desde os poucos minutos em que pisei os pés
nesta sala.
— Kia! — Ela me abraça de mal jeito por causa do bebê.
— Saudades, Felícia!
— Meu Deus, é você sim! — Quando ela se afasta, analisa assustada
o Gieber, pegando na sua mãozinha. — E que criança é essa? Olha o
tamanhinho dele. É um menino. É o seu filho e do...
— Por favor...
Tremendo, eu balanço a cabeça para ela, suplicando que não me
questione nada. Aperto o seu pulso e ela estranha, porém, ao virar o
semblante para o Anton, cala-se sobre a existência do Gieber, mesmo ele
falando palavrinhas de bebê altas demais e chamando atenção.
— Aproveitando que apareceu, leve a mala de Kiara até uns dos
maiores aposentos de hóspedes, Felícia! — Anton manda e eu também
aproveito a oportunidade para não ficar nem mais um minuto na presença
dele.
— Eu gostaria de acompanhá-la para o quarto. Não tenho mais nada
para conversar!
— Você ainda não me respondeu, Kiara!
— Eu já disse que não tenho nada para conversar!
Desvio-me de Anton, olho aflita para a Felícia e de cabeça erguida,
começo a andar até a escada de madeira.
— Você não me queria de volta neste inferno? Agora cumpra a sua
palavra de não negar nada para o meu filho! E nem para mim!
Ao concluir as minhas palavras valentes, eu viro as costas e começo
subir os degraus com um aperto de tristeza, não evitando pensar no primeiro
dia em que eu cheguei na mansão.
Eu subi as escadas com o meu vestido de pobre e as sandálias de
mendiga, como a víbora da Lorenza vociferou ao me ver no final dos
corredores. Nunca na vida eu recebi tantos insultos baixos. Eu era e sou pobre
sim. No entanto, jamais me vesti da forma que ela sempre me humilhava.
Quando eu morava com a minha mãe, era ela quem criava as minhas roupas e
até arriscava o serviço de sapateira. Após ser comprada por Anton, aos
dezessete anos de idade, foi então que eu conheci o luxo. Ele me deu de tudo
do bom e do melhor, me levou até na capital para morarmos por quatro meses
e eu virar "madame de saltos". Não nego que me encantava. Eu realmente
criei um lado mais refinado. Só que isso nenhuma vez foi motivo das minhas
origens se perderem.
Anton me comprou no mesmo dia em que o meu pai começou a me
oferecer pelos arredores feito uma vaca pronta para o abate e, ao sermos
apresentados, eu fiquei sem chão, sem cara e sem bochechas diante do porte
daquele belo homem forte, robusto e musculoso. Ele era... e é bonito (hoje sei
que só por fora). Ele se apresentou, me disse o seu nome, o sobrenome e
acrescentou o quanto eu era linda. Eu me encantei. Papai igualmente iludiu a
minha consciência sobre o Anton ser um cavaleiro, rico e solteiro — o que
tanto faz, querendo ou não, eu sabia que seria obrigada a me casar com ele.
Meu pai me bateria até eu esquecer como se andava. Pois a oferta era boa e
tiraria a nossa "família dos porcos" da miséria das dívidas. Ai de mim se não
aceitasse. Eu estava iludida, feliz, sonhadora, apaixonada pelo "sr. Dexter
perfeito". Até que, um ano depois de casados, eu caí em si sobre o verdadeiro
amor dele. Eu era a única que sustentava a nossa relação. Eu era a cega, a
burra que se rastejava para ter um pouco de carinho do próprio esposo. Anton
me via como uma menina sem experiência, pouco suficiente, descobri isso
quando eu senti o primeiro perfume feminino na sua camisa, quando eu achei
preservativos usados no carro, após ele viajar aos finais de semana para a
capital com os seus irmãos festeiros e voltar sem explicações. Mas que se
dane, eu não queria acreditar no óbvio. O amava. Eu poderia aguentar aquilo
só com o meu amor. E se eu tivesse um filho para cuidar, um pequeno fruto
nosso, já que todos os seus "amigos" estavam o cobrando com piadas, não
faria mal. Era o meu sonho ser mãe. Contudo... Anton odiava, detestava me
ver pedindo isso. Brigávamos quase sempre, em meio aos berros, para os
empregados escultarem. Até que ele explodiu e da pior forma possível, me
deu o que eu desejava... sem pensar nas consequências que me rasgariam o
peito o restante da vida.
— Kia, esse menino é filho seu? — Ao entrarmos no quarto, antes
de fechar a porta, ela pergunta apavorada. — É filho do Anton? Foi por isso
que você foi embora? Pois estava grávida do sr. Dexter?
— Não, Felícia, ele é só o meu filho! — Eu me sento na cama,
admirando angustiada o ambiente bem chique e organizado, conforme eu
deixei a dois anos. Parece que nada mudou.
— Anton odeia crianças... você sabe. Eu só estou assustada. Não
consigo entender; você desaparece um dia e depois de dois anos volta com
um bebê.
— Não há o que ser compreendido! Só saiba que o seu patrão é um
monstro e que nada ficará impune! Gieber não tem pai! Ele só tem a mãe que
o gerou!
— Kia, foi por isso que você foi embora?
— Anton sabe desde o início o porquê de eu ter ido embora. Eu não
posso te contar, Felícia. Não me pergunte nada, eu te imploro.
— Tudo bem, doce menina — ela limpa as bochechas molhadas. —
Eu não insistirei. Só fico feliz, muito feliz por ter voltado. Providenciarei
todas as suas coisas para este quarto.
— Eu só quero um berço, fraldas, leite, entre tantos outros
mantimentos que o meu filho necessita. Ele não vai me negar nada.
— Eu estou apavorada, Kia. Anton e essa criança... Os choros dele...
— Felícia observa o Gieber nos meus braços. Ele mexe com o meu cabelo,
balbuciando.
— É isso o que eu não aceito! O que aquele homem tem contra um
serzinho tão inocente como esse? O que aquele monstro tem?
— Não diga isso. Saiba que o patrão ficou maluco te procurando.
Passava noites em claro pela mansão. Ele mudou. Depois que você sumiu, o
Sr. Dexter não foi o mesmo. Até chegou a expulsar os irmãos da fazenda.
Parou de ir para a capital. E ia só para ter informações suas com os detetives.
— Eu não acredito em nada. Você sabe que ele vivia me traindo.
Saindo a noite para tomar chope e aproveitar das mulheradas fáceis. Anton
nunca me amou. Eu sou apenas a esposa necessária dele. E eu vou me vingar!
Eu Juro!

Anton Dexter

Isso não passa! Olhar nos seus olhos foi duas vezes pior! E agora ela
tem aquilo consigo! Não é possível que seja filho meu! Eu não aceito!
Eu me levanto da cadeira do escritório e chuto a mesa, em seguida,
saio da sala.
— Onde a Felícia está? — Pergunto para a nova empregada que
estava cantarolando e limpando o assoalho.
Ao me ver, ela se cala, erguendo-se de mal jeito e encarando-me
nervosa e chocada, com as bochechas evidenciando a vermelhidão.
— E-ela acabou de descer a escada para pegar algo na cozinha,
senhor.
Consinto calado, agradecendo a informação e sigo para a cozinha.
Ao entrar no local de pisos de ladrilhos, encontro a Felícia preparando uma
bandeja de alimento junto da Maria, a cozinheira e a mãe do Gael, meu amigo
de infância. E sem demora, eu não meço as palavras.
— O que a Kiara disse para você, Felícia?
— Senhor Dexter! — Assustadas, elas duas colocam a mão no peito,
virando em minha direção.
— Desculpa, senhor... eu... eu não entendi?
— Kiara disse por onde esteve e de quem é aquela criança?
— K-Kia não disse — Felícia gagueja, desviando dos olhos pávidos
de Maria. — Ela só falou que o senhor sabia o motivo dela ter ido embora.
E eu sei! E mesmo tendo Kiara aqui perto de mim... isso não passa!
Essa droga de prisão continua!
— Mais nada? Só isso?
— Sim, senhor... só isso.
— Então, a partir de hoje, eu quero que você me conte tudo o que
conversarem a este respeito! Também você, Maria! Quero que as duas
descubra por onde ela andou! Entenderam?
— Por onde "ela" andou, quem? Do que está falando, Anton?
Minha mãe aparece ao meu lado, sem qualquer aviso e eu continuo
vidrado nas duas senhoras, que apenas concordam quietas com a cabeça.
— E não precisam servir o meu jantar. Com licença!
— Anton, você não...
Eu viro as costas, indo até as escadas ao deixar Lorenza falando
sozinha.
E quando eu chego no corredor do andar de cima, eu paro, tiro o
chapéu, passo a mão pelo rosto e pela barba, tentando controlar os nervos. O
que Kiara relatou a poucas horas é verdade, eu precisava de uma esposa sem
menor interesse em me extorquir. Eu precisava de uma mulher boba e que
fosse literalmente do mato. Pois eu nunca quis me casar, eu só tinha vinte seis
anos, eu gostava de ser solteiro, de ser livre, de apenas me importar com os
estudos. Era o meu pai quem me infernizava o tempo todo sobre a
importância do casamento nos negócios. No "reinado Dexter" das terras e das
nossas madeireiras na capital. Ele sofria de leucemia. E foi num dia antes da
sua dolorosa morte, agonizando na cama do seu quarto, que Rangel Dexter
me fez prometer de joelhos um casamento com uma moça digna, honrada,
modesta, humilde e que fosse o completo oposto da mercenária que ele amou;
a minha mãe. Ele me fez jurar isso em meio às lágrimas, enquanto eu
acariciava a sua cabeça careca das quimioterapias.
Sendo aquela a sua última noite em vida, eu jurei, eu assegurei que
jamais descumpriria a minha promessa de achar a tal noiva que ele desejava
de mim! E Kia é a minha esposa, é dela que meu pai se orgulharia se
estivesse vivo!
Só que... Eu soco a parede, antes de sequer abrir a porta do quarto.
Não das minhas atitudes! Se ele soubesse o desgraçado que eu me tornei!
Rangel não me veria com os mesmos olhos de orgulho! Meu pai diria que os
seus esforços foram em vão! Que as suas mãos machucadas de carpir e
plantar sementes, as queimaduras nas costas, os calos nos pés... tudo o que
sofreu para ter uma vida melhor, o seu único filho não era digno!
Eu o decepcionei. Jamais serei como ele. Jamais terei a sua
compaixão, o seu amor, a sua forma "poeta" de viver rimando as coisas boas
e bonitas.
Eu sou o oposto de um homem bom. Eu sou um animal que talvez
nem Deus tenha clemência do fim!
CAPÍTULO 4

Na manhã seguinte, ansiando por uma conversa séria com a Kiara,


após tomar banho, eu me visto e vou até os seus aposentos. Bato na porta,
aguardando alguma resposta, e quem me abre é a Maria, a cozinheira da
mansão.
— Senhor Dexter? Bom dia.
— Bom dia, Maria. Kiara está ocupada?
— Não, ela só está terminando de se arrumar. Eu vou deixar vocês a
sós, com licença, senhor.
Ao passar por mim, eu pigarreio e entro devagar, avistando a mulher
mais doce que eu pude conhecer na vida. Ela está diferente. Quando a
conheci, suas maçãs do rosto coravam por tudo, por apenas um elogio ou uma
pequena atenção minha. Era inexperiente, inocente, sem malícias, curiosa e
sempre habilidosa e disposta a aprender coisas novas, mas hoje ela mudou.
Agora, olhando nos seus olhos, eu vejo dor, raiva, mágoa, revolta. Ela me
odeia e não posso recriminar esse sentimento.
— O que quer, Anton?
Eu analiso a roupa chique do seu corpo, os saltos — o qual ela
odiava usar até na capital —, o vestido verde, apertando as suas curvas
avantajadas (diferente da sua magreza de alguns anos atrás). Ela está quase
irreconhecível. Kia me olha, colocando os brincos, após soltar os cabelos
loiros, meio cacheados.
— Eu vou perguntar de novo: o que você quer aqui?! — O rompante
na sua voz me deixa nervoso.
— Nosso assunto não acabou.
— Realmente não acabou. Eu preciso de uma máquina de costura.
Essas roupas não estão cabendo mais em mim. Era da época em que eu ainda
mantinha o nosso casamento "feliz", sem comer, sem beber, sofrendo
amargurada pelos finais de semana recebendo chifres!
Seus olhos ficam vermelhos, bravos. Eu respiro fundo, não querendo
discussões.
— Não precisa de máquina de costura, peça para alguém te trazer
roupas novas. Ligue para alguma loja da capital. Eles não te negaram nada.
— E o berço? — Ao ser direta, sem rodeios e sem me encarar, Kiara
passa as mãos pelo vestido justo.
Eu, então, noto o seu olhar direcionado a criança que dorme de
bruços na cama, cercada por travesseiros. Engulo em seco, mordo o maxilar e
não respondo.
— Você prometeu que não negaria nada para o meu filho, nem um
leite sequer! — Ela levanta o rosto, perspicaz.
— Não me disse quem é o pai dessa criança, nem por onde você
andou esses dois anos!
— Pois você não tem esse direito de pergunta! — Ela cospe as
palavras. — Por mim, eu nunca mais olhava na sua cara! É um monstro! Eu
odeio você! E se me quer de volta vivendo na mansão, terá que me suportar
ou me mandar embora! Caso contrário, arrumarei um jeito de te devolver o
dinheiro da compra! E serei livre!
— Eu não quero dinheiro nenhum! Você é minha esposa! E não vai
embora desta casa! Descarte o "serei livre"! Daqui, você não sai! — Desta
vez, furioso, sem a resposta da minha pergunta, eu esbravejo alto e viro bruto
as costas, abandonando-a no quarto.
Ela não vai embora! Eu jamais deixarei!

Kiara Dexter

Sem evitar as lágrimas, eu me sento no colchão com vontade gritar,


berrar!
— Eu te odeio, Dexter! Eu quero que você rasteje de dor, que sofra
em dobro isso aqui apunhalado no meu peito!
Ao dizer estridente, faço o meu pequeno Gieber acordar. Tremendo,
eu me recomponho e aproveito para dar um banho morno nele. Meu menino
só tem seis peças de roupas e fraldas de pano. Anton terá que pagar a sua
promessa. Eu quero dar tudo ao meu filho! Ele não me queria de volta? E eu
voltei! E para me vingar!
— Oi, bom dia, Felícia! — Na sala de estar aberta, eu vou até a mesa
do café e vejo-a organizando vários pães deliciosos na cesta do meio. Está até
parecendo um banquete de tanta coisa gostosa.
— Oi, doce menina. Bom dia para você e para esse pequeno no seu
colo. Está tão bonita — ela me analisa. — Nem parece a mesma pessoa.
— A mesma selvagem do mato sem bom gosto e classe?
— Não, eu não quis dizer, isso. Desculpa se...
— Tudo bem, Felícia — dou de ombros, sendo sincera. — Eu mudei
mesmo. E usar essas roupas chiques, apertadas, os saltos, tudo faz parte da
minha nova pessoa. Eu não sabia antes como era ser uma mulher de verdade,
não gostava de estar dentro de tão pouco tecido, você compreende. Ainda
mais tão apertado e justo.
— Não, Kiara, de forma alguma, isso é ser "mulher de verdade". Ser
mulher vai além de vestir uma roupa chique, justa e que atiça a mente dos
homens. É o caráter, doce menina. É o coração bondoso, a humildade, o amor
pelo próximo. É a sua autonomia, a sua voz séria, o poder de vencer os
preconceitos. Vai muito além.
— Eu continuo tendo amor pelo próximo, humildade e tudo o que
disse. Nada mudou, exceto a minha inocência! Eu fui boba, burra demais.
Isso me fez descobrir da pior forma possível que as pessoas podem ser ruins,
maus, aproveitadoras e tudo de pior!
Felícia balança a cabeça, apenas suspirando calma.
— E a sua essência boa continua, isso não muda. Agora sente-se
para provar do bolo de fubá. Você gosta e Maria preparou com muito
carinho. Só não sei se a dona Lorenza vai aprovar. Ela diz ser comida de
pobre. É capaz de até tacar o prato no chão.
Eu arregalo os olhos, sentando-me dura na cadeira.
— L-Lorenza? Você disse Lorenza Dexter? O que essa bruxa faz
aqui? — Minha mente vai direto ao meu filho, a protegê-lo, a não deixar que
essa infeliz chegue perto dele!
— Perdão por não ter lhe contado ontem. Você tinha acabado de
chegar e os ares estavam estranhos. Igualmente sei como vocês se odeiam.
— Eu não a odeio! A detesto! É uma perua! Uma mege...
— Oras, que coincidência, acho que temos algo em comum, minha
querida nora fugitiva — ao cruzar o portal rústico, Lorenza dá o ar da sua
presença insuportável no momento em que eu e Felícia falávamos "bem" da
mesma. — E olha, ainda volta com um bastardo sem pai nos braços.
— Cala a matraca, sua velha! Não abra essa boca para falar mal do
meu filho!
— Velha é a porcada da sua família, sua interesseira! Voltou a
procurar o meu filho Dexter porque estava mendigando por aí com essa
criança, fruto de adultério!
Eu me levanto pronta para voar sobre ela, mas a Felícia vem rápida
até mim, me segurar.
— Kia, você está com o seu filho. Calma, não dê ouvidos a ela.
— E o que está dizendo, Felícia? Você é apenas uma empregada que
tem o único dever de servir a sua patroa! Anda, organize esta mesa direito!
— Não a trate assim! Você não manda nesta casa, nem nos
empregados!
— Ah, e quem manda, você? Anton não seria capaz de te dar poder
— ela ri, sentando-se com a sua arrogância e "superioridade" de frufruzinha.
— Não depois de aparecer com um pirralho bastardo! Ele vai sumir com
vocês dois! Vai tacá-los na sarjeta do mato, como os selvagens que são!
— Pois saiba que foi o monstro do seu filho que rastejou atrás de
mim! E é ele quem terá que te tacar na sarjeta, sua bruxa arro...
— O que está acontecendo aqui?! — Uma voz brada alta, fazendo-
me calar.
Anton aparece caminhando com a sua estrutura forte, de chapéu e
olhar intimidador.
— Senhor, é a sua mãe — Felícia diz rapidamente.
— Não sou eu! Mande essa sua empregadinha ficar quieta! É a
selvagem da sua "esposa" que está me atacando! Você não deveria ter
aceitado essa adultera de novo!
— Cala a boca, ratazana velha!
— Pare, Kiara! — Ele manda. — E é a última vez que eu quero
ouvir a sua voz durante o café, Lorenza!
— Me respeite, eu já disse que sou a sua...
— Não devo respeito a quem nunca teve respeito por ninguém!
Chega!
Ela fecha a matraca e olha-me furiosa. Eu arqueio a sobrancelha,
satisfeita por vê-la rebaixada. Velha nojenta! Maldosa!
Anton me fita e eu desvio, voltando ao meu assento bem distante
deles. Seguro o Gieber, dando o seu mama na mamadeira nova que ganhei da
Rosa durante os três dias em que fiquei morando na sua casinha acolhedora, e
tomamos o café quietos, exceto pela bruxa da Lorenza que volta a falar. Eu
não suporto esta mulher! Ela é horrível! Ela vivia colocando na minha cabeça
sobre o Dexter não me amar, de ele preferir mulheres mais vividas, mais
experientes e por isso iria me trair, me trocar por uma outra rica, de classe
alta, bonita e que soubesse usar pelo menos um salto refinado. Diferente de
mim, pé rapada, pé sujo, porca, selvagem e com doenças de pobres. É por
isso que a metade da minha vingança será contra ela! A humilharei como
fazia quando eu ainda era uma menina inocente das suas maldades proferidas
em meus ouvidos e cega de amor por Anton, sem capacidade de negar os seus
chifres. Os dois pagarão caro por seus pecados!
Esses anos me deram a visão do que são as verdadeiras pessoas e de
como algumas podem ser piores do que o próprio diabo. Eu passei fome,
roubei, fui escravizada em fazendas, realizando serviços braçais para me
manter até o final da gestação sobre um teto de palha que fosse. E... e por
pouco, eu não fui abusada... de novo — meu coração aperta. Se não fosse por
uma moça desconhecida, aqueles três peões teriam realizado as suas
atrocidades no meu corpo de grávida. Eles eram ruins, sem pena. E eu não
sei, eu não consigo imaginar o que seria de mim. Eu preferia a morte a sofrer
aquilo.
— O que pretende com essa mulher e com essa criança, Dexter? —
Ele ergue a cabeça, sem respondê-la. Não vou mentir que eu adoraria saber o
que ele pretendia. Pois, no meu bebê, ninguém toca! — É muita cara de pau
retornar com um bastar...
— Eu já mandei você ficar quieta! — Anton brada, levantando-se e
estremecendo tudo na mesa. — Se continuar tirando a minha paz, voltará
para a capital!
Lorenza não demonstra susto, pelo contrário, dá um sorriso cínico de
lábios fechados, fingindo que "não está mais aqui quem falou", e levanta-se,
encarando-o.
— Ainda bem que eu já terminei o café. Não irei mais incomodá-
lo(s). Com licença, meu querido Anton... — Ela sussurra para, em seguida,
virar as costas e sair desfilando a sua metidez para longe de nossas vistas.
— Já mandei fazer o que me pediu — de repente, Anton murmura,
ao voltar a se sentar.
— O quê? — Minha voz soa baixa.
— O berço, Kiara. Não era isso que você exigiu? Pronto, você terá!
Eu engulo em seco, não querendo acreditar nas facilidades dos meus
pedidos realizados.
— Ótimo! E chegará quando?
— Sábado, depois de amanhã! — Ele me observa bruto... talvez
surpreendido pela inexistência da sua menininha boba, iludida e medrosa!
Desafiá-lo é um campo de espinhos, o qual o dono odeia que seja
pisado e eu pisarei descalço, pois essa dor nem se compara a nada do que eu
passei.
É a minha vez de sair da sala desfilando a minha "classe", após um
com licença e uma pequena balbuciada alta do meu filho, o qual deve
detestar.
CAPÍTULO 5

Eu saio, vou até a cozinha ficar com as duas pessoas que eu aprendi
a gostar e a amar em menos de vinte quatro horas; Felícia e Maria. Elas são
muito especiais. Nós temos uma relação além de patroa e empregados, somos
amigas. Ao entrar sorrateira no ambiente, descubro um amigo que também
tive outro prazer de conhecer; Gael, filho de Maria.
— Não acredito... — Sussurro perto do arco da porta.
Ao ouvir a minha voz, ele não demora a inclinar o pescoço, arregalar
um pouco dos olhos e quase dar um pulo da cadeira.
— Patroa!
Eu sorrio divertida, indo até eles.
— Kia, desculpa a afobação, minha querida, mas, por favor, eu
poderia segurar o seu filhinho? — Maria pede sem aguentar-se de ansiedade
para fazer a tal pergunta. Gael continua ainda boquiaberto, desta vez,
encarando o bebê.
— Que isso, é claro, Maria.
— Eu também quero depois! — Felícia exclama enquanto eu me
aproximo e passo o pesinho de um ano para outros braços.
— Você teve um filho, Kia? — Gael é sério e direto. Eu fico
incomodada, já imaginando a pergunta sobre quem seria o pai.
— Sim...
— Ele tem cabelo cor castanho-claro. Tirando isso, se parece muito
com você... digo na beleza — após confessar, ele desvia-se de mim,
colocando o seu chapéu marrom.
— Obrigada, Gael.
Eu não esperava por isso, fico corada.
— Se parece em quase tudo. Até os olhinhos claros — Maria brinca
com ele, que sorri todo arteiro.
— Como você está? — Pergunto, sentando-me ao lado do meu
amigo.
— Bem... Por onde andou? Todos nós ficamos preocupados,
desesperados. Até agora não sabíamos o que de fato havia acontecido com
você.
Eu permaneço sã, fingindo que o seu questionamento não me afetou.
Por mais que eu goste da amizade do Gael, eu não confio nele. Anton o
considera como o seu braço direito. O homem de confiança. Eles são amigos-
irmãos. E tudo o que eu disser, eu sei que ele passará para o Dexter.
— Eu não posso respondê-lo. E nem vocês — olho para as duas
senhoras que aguardavam da mesma forma a minha resposta. — Espero que
entendam.
— Tudo bem, doce menina. O que importa é que você voltou e está
conosco — Felícia contorna o clima, voltando as atenções para o Gieber.
— S-Sim...
Eu sinto estar mentindo, pois eu não queria ter voltado. Eu não
queria estar sob o mesmo teto que o Anton. Isso é tão difícil.
— Eu já vou, hoje é dia de corte das árvores. Dexter já deve estar a
caminho da averiguação. Com licença...
Gael sai sem se despedir direito de mim. Não estranho, fico só
chateada. Eu sei que magoei o meu companheiro de cavalgadas — foi como
nos tornamos amigos. Enquanto Anton saia para aproveitar das mulheradas
fáceis da capital no final de semana com os seus irmãos perdidos, Gael fazia
questão de "raptar-me da tristeza" para caminharmos a cavalo, olhar a
natureza. O que nos provocava longas, infinitas conversas sobre tudo e todos.
Mais tarde, eu fico no quarto, deixo o Gieber brincando com um
brinquedinho de madeira que a Maria lhe presenteou e começo a separar
todas as roupas da época em que eu era esquelética por causa do meu marido
que não me amava, que não me dava atenção e que me traia! Hoje percebo
por estas roupas a estrutura do meu corpo bonito e como esses tecidos
chiques me realçam, me deixam diferente, formosa. Eu pareço aquelas
corpulentas dos eventos em que Anton me levava na capital. Elas tinham tudo
o que os homens viam e gostavam. Os saltos eram o equilíbrio perfeito da
"finesse" delas. E por mais que esse estilo não se pareça comigo, é quem eu
quero ser! Eu quero me vingar! Eu quero ser decidida, autoritária e não a
menina inocente do mato! Eu só aquietarei o meu coração depois de estar
livre deste casamento mentiroso e desta dor que me traz pesadelos ao colocar
a cabeça no travesseiro!
Sem vontade de descer, no horário do almoço, eu escolho almoçar
no quarto — o que me fez decidir permanecer o restante do dia presa aqui
também — e só volto a rever os Dexter na manhã seguinte. Tendo o maior
desprazer de rever primeiro a minha "adorável sogra" do diabo.
— Bom dia, queridinha — na sala, eu passo por Lorenza sem sequer
dá atenção para a bruxa. — Uau, quanta elegância. Parece até piada ver uma
selvagem caipira de saltos e tecidos finos.
Eu não aguento e viro-me arrogante!
— Eu não te perguntei nada, cobra!
— Vamos acalmar os ares, felina, não grite, não quero ouvir esse
filho do adultério chorando nos meus ouvidos. Anton poderia ficar louco,
imagina o que ele faria? Ah, não quero nem pensar.
Eu observo o cabelo negro e curto dela, com vontade voar sobre ele.
— Eu acharia ótimo se ele fizesse algo! E não ouse nunca mais se
referir ao meu filho assim! Pois eu seria capaz de cortar o seu pescoço com
um facão!
Lorenza sorri, cruzando as torneadas pernas e divertindo-se.
— Ai, ai, é como vestir um animal selvagem de tecidos caros. Você,
no circo, seria o "show mais aguardado da noite". Não tem um pingo de
classe. Veja a sua forma de falar... é o mais singelo "caipirismo".
Eu engulo em seco, não me deixando rebaixar.
— Bom, você já é uma velha, ao contrário de mim; nova e sem
nenhuma plástica, puxando as banhas de 60 e poucos anos!
Furiosa, ela imediatamente fecha o semblante, descruza as pernas e
levanta-se vindo até mim. Eu não me movo, faço questão de olhar no fundo
dos seus olhos.
— Saiba que você jamais terá paz nesta casa! Não enquanto eu
estiver aqui! Anton te colocará no olha da rua, no meio dos porcos, onde é o
seu lugar, sua imunda!
— Você me faria um grande favor se fizesse isso agora mesmo! Vai
lá, peça para ele me mandar embora! Anda, sua megera!
— É melhor não me desafiar, Kiara, você não ia gostar de me ver
como a sua inimiga. Até o momento, eu estou sendo muito recatada.
— Mas isso não é novidade para ninguém, não se preocupe, já
somos!
Ela me analisa dos pés à cabeça e sem dizer mais um "a", a bruxa
passa por mim, retirando-se maldosa. Eu respiro fundo, abraço o meu
filhinho e igualmente, saio às pressas, indo até a cozinha tomar o café com os
empregados. Prefiro mil vez eles a ficar naquela mesa com o Anton e a sua
mãe.
— Kia, o que faz aqui, doce menina? O café já está organizado lá na
mesa.
Eu dou de ombros, aproximando-me delas e da enorme ilha no meio
do ambiente.
— Eu escolhi ficar com vocês esta manhã.
— O sr. Dexter pode não gostar disso.
— Ele não tem o direito de me questionar em nada! E eu não vou
ficar no mesmo espaço que a maléfica da sua mãe! Quero que aquela mulher
vá embora da mansão o mais rápido possível!
— Se ela continuar importunando os ouvidos do patrão, com certeza,
ele a expulsará. Não vai demorar. Estou até pagando prece.
— Não será nem necessário aguardarmos por isso. Pois eu faço
questão de pedir ao Anton!
— Bom dia! — Nos interrompendo, Gael aparece na porta dos
fundos, vindo até nós com a sua estrutura forte, mas não tão alta.
— Bom dia, filho.
— Bom dia! — Eu e Felícia o cumprimentamos.
Ele me olha menos sério do que ontem e já me alívio por ver que não
está magoado comigo.
— O que faz aqui, Kia?
— Eu vim tomar o café com vocês — digo, sentando-me. — Vem,
nos acompanhe.
— Agradeço, eu já tomei em casa.
— Como assim, meu filho? — Maria coloca mão na cintura,
reprovando-o. — Vem cá, sente-se conosco e não rejeite pelo menos o café
forte de sua mãe. Vai te dar mais força.
Ele sorri convencido e aceita nos acompanhar. Durante o café, muito
ansiosa e inquieta, eu aproveito a oportunidade para pedir ao Gael que me
levasse para caminhar a cavalo com ele, como sempre fazíamos antigamente.
E por incrível que pareça, o meu amigo aceita animado.
— Quer agora de manhã?
— Não sei, você não vai trabalhar?
— Não, eu não tenho muito serviço.
— Pronto, pode deixar essa fofura do Gieber comigo — Felícia
declara rápida, ninando-o no seu colo. — Eu e Maria damos conta do
pequenino patrão.
— Certeza? Não vai incomodar vocês? Esse curiosinho não para
quieto.
— De forma alguma. Não temos nada importante para fazer. Vai lá,
aproveite o passeio, Kia. Você merece desparecer a mente, é o seu momento
de descanso — Maria responde acolhedora.
— E aí, vamos?
— Huum... está bem. Só me deixa subir para trocar de roupa, volto
rápida.
— Ok, não tenha pressa.
Por sorte, já pensando na possibilidade desse passeio (no começo,
sem o meu amigo Gael), eu acordei separando uma calça jeans justa, botas e
procurando um chapéu qualquer. Não via a hora de andar a cavalo. Eu amo
isso de todo o meu coração.
— Posso te fazer uma pergunta? — Enquanto eu aguardava o Gael
montar as nossas celas, ao terminar, ele molha a garganta e caminha até mim
com os belos animais.
— Claro, o que foi?
Ele me encara com a sua face morena e formosa, de uma pessoa
descontraída, porém, agora séria.
— Por que deixou o Anton e voltou assim, depois de dois anos e
com um filho?
Eu arregalo um pouco dos olhos, nervosa com o repentino
questionamento desconfortável.
— E-Eu já disse que não posso responder, Gael. Desculpe-me, eu
não posso.
— Anton te procurou igual um doido... e eu também. Eu te cacei por
Montes Do Sol noite e dia por um mês. No entanto, saiba que eu não parei
porque desanimei ou perdi as esperanças. Só não podia abandonar o meu
amigo. A fazenda precisava de mim.
— Por favor, você não deveria ter feito nada disso.
— Eu fiz e faria de novo. Mesmo não sabendo o que havia
acontecido, senti algo de errado. Anton mudou da água pro vinho. Ele ficou
louco, Kiara. Na madrugada em que foi embora, o Dexter saiu correndo pela
fazenda te gritando. Pegou a caminhonete e voltou só na tarde do outro dia...
sem você. Nem seus pais tinham informações.
Meus olhos ficam vermelhos. Com medo de chorar, eu viro a cabeça
e acaricio o cavalo.
— Vamos, Gael... eu, eu quero fazer esse passeio.
Ele chega perto de mim e entrega-me as rédeas, fitando-me
compadecido.
— Eu toquei no assunto e isso te entristeceu, por quê? Eu almejo
muito saber o que houve. De verdade. Eu sei que o Anton te fez alguma co...
— Chega! Eu não quero ser grossa com você! — Assim que
esbravejo, ele se cala, mudando o semblante para envergonhado. — Vamos.
— Eu me apoio na cela, seguro a crina, as rédeas, coloco o pé no estribo
esquerdo e pegando impulso, subo sozinha no torso do cavalo, sem movê-lo.
Calado, Gal faz o mesmo com o seu. E prontos, saímos cavalgando
devagar, com o clima pesado e sem conversa.
— Onde aprendeu a subir tão rápida? — Ele, então, indaga durante a
nossa andada, quebrando o silêncio com uma pergunta para alimentar o seu
ego.
Eu balanço a cabeça, não evitando o sorriso. Ele também.
— Com você, "professor profissional de equitação".
— Eu sabia. Não era possível ser tão boa.
Rimos.
— Eu estava com saudades disso. De sentir esse vento nos cabelos, a
brisa no rosto. É como se eu estivesse livre... — comento sincera ao meu
próprio interior. — Como eu sempre estivesse... é maravilhoso.
— Mas você está, patroa. E ainda nem sentiu o vento direito. Para
isso, uma corrida até a nova plantação dos eucaliptos, que tal?
— E onde fica essa nova plan...
Sem esperar, o trapaceiro do Gael grita "já" e sai na minha frente
com as suas galopadas velozes.
— Gael!
CAPÍTULO 6

No final do passeio, voltamos ofegantes e com sede aos estábulos.


Não tenho palavras para descrever como é essa emoção de divertimento, não
tenho mesmo. Aproveito para ajudar o Gael a tirar as celas dos cavalos.
— Você ganhou porque é um trapaceiro!
— Não vale, eu disse "já". Você que foi devagar.
— Mentira. Eu quero uma revanche!
— Patroa, patroa, você tem que aprender a perder.
Eu o encaro, semicerrada.
— Tá bom, ok... uma revanche! — Ele ergue as mãos, dando por
"rendido". — Agora me dê isso, vá tomar um copo de água fresca. Eu
termino de cuidar desses garanhões.
— Obrigada pelo passeio, Gael — entrego o restante do serviço para
ele. — Você sabe como eu amo fazer isso. E fico muito feliz por ter a sua
companhia.
— Não agradeça. Sábado ou domingo podemos repetir a dose, indo
desta vez até o rio, como nos velhos tempos. Topa? Terei mais tempo.
— Ah, eu topo com certeza!
— Então fica combinado.
— Ok! Obrigada, de novo!
Com as forças revigoradas, eu me despeço dele e caminho meio que
"feliz" em direção a casa da fazenda, quase saltitante. Quando eu chego não
encontro a Felícia nem o Gieber. Apenas a Maria.
— Maria? Cadê o meu filho?
— Oi, Kia, você não vai acreditar... — Ela se vira da frente do
gigante fogão, enquanto mexia uma panela enorme. O cheirinho tá tão
maravilhoso.
— O quê?! — Já fico preocupada!
— Calma. É que o espertinho do Gieber sujou toda a fralda de pano
e Felícia teve que subir para lavá-la e trocá-lo.
— Sério? Ai que vergonha de dar esse trabalho a Felícia. Ela deve
estar cheia de coisas para fazer e eu aqui, a empatando como uma dondoca.
— Que isso, no momento, só têm a "inspeção" da nova empregada.
Anton que pediu essa semana que contratássemos mais uma além de Sônia.
Felícia virou um tipo de "governanta" da mansão, sabe.
— Sério?
— Sim. E ela ficou muito feliz pela promoção. Menos a dona
Lorenza — Maria faz careta. — Se deixar, aquela mulher quer mandar até
nos peões. Haja sangue de barata.
— Ela é uma bruxa! E eu vou subir, tá? Preciso de um banho para
tirar esse calor. Volto mais tarde para o almoço.
— É claro. Também, com tempo, me conte do passeio a cavalo.
Quero saber.
— Só digo que foi maravilhoso... já volto.
Ela sorri e eu viro as costas, caminhando para o interior da mansão.
Com sorte, não vejo a bruxa da Lorenza na sala.
— Ele deu trabalho? — No quarto, eu encontro a Felícia observando
o meu pequeno arteiro que dorme só de fralda e camisetinha, com as
perninhas gordinhas e gostosas para fora. Mamãe sente vontade de morder só
de olhar essa fofurinha irresistível.
— Oi, Kia... — ela vira a cabeça assim que eu adentro o local, após
fechar a porta. — Esse garotinho fofo não deu trabalho nenhum. Ele é
quietinho... — Ela sussurra para não o acordar.
— Que bom. Obrigada, eu vou tomar um banho.
— Imagina. Só que antes de ir, eu queria te perguntar algo.
— Sim?
— Serei direta — ela passa a mão na saia que vai até o joelho e se
põe de pé. — Por que esse bebê ainda não tem fraldas e nem roupas direito,
Kia? Eu sei que não vai entrar no assunto do motivo de ter ido embora... No
entanto, Anton, como pai, querendo ou não, gostando de criança ou não, ele
tem que dar auxílio a você e ao Gieber. Precisa o quanto antes de roupas,
fraldas, talco. O mínimo do essencial, doce menina.
— E-Eu sei, Felícia, não se preocupe, já estou correndo atrás disso...
— Desculpa, só que é desesperador esse menino não ter quase nada,
sendo você esposa do sr. Dexter e ele o pai do seu filho.
— E-Eu... eu vou tomar banho, já volto, tá...?! — Embananada e
literalmente fugindo da palavra "pai" e de suas responsabilidades paternas, eu
saio às pressas, por pouco, não correndo em direção ao banheiro, engolindo a
raiva e o desejo amargurado por vingança.
O Dexter me dará tudo, não há discussão sobre isso! Ele não vai
negar nada para o meu filho! Eu farei o inferno na vida dele! Anton e
Lorenza terão certeza da nova Kiara Lemos! Eu juro que me vingarei tim-tim
por tim-tim!
Anton Dexter

No meu escritório, para tirar a minha paz, eu encontro a minha mãe


sentada na cadeira rústica atrás da mesa de madeira maciça.
— O que faz aqui?
— Eu quero saber de uma vez o que você fará com aquele bastardo e
com a sua "esposa" adúltera. Eu sei que você não a trouxe à toa. Alguma
coisa você planeja.
— Eu já falei para você não tocar nesse assunto!
— E vai criar o filho de outro, Anton? Precisa tomar uma decisão!
Seja decidido igual ao Rangel, seu pai! Ele com certeza expulsaria essa
mulherzinha da mansão!
— Está enganada sobre mim, em relação ao caráter honrado do meu
pai! Agora me dê licença!
Lorenza se levanta, encarando-me furiosa.
— Você vai perder tudo o que seu pai construiu só por causa de uma
selvagem do mato! Ela vai usar aquele bastardo para te roubar! Não seja
enganado! Sai dessa o quanto antes! Arrume uma mulher de classe, recatada!
Eu fecho os punhos, com o sangue fervendo, pronto para realizar
uma besteira.
— É mais fácil você se fazer de mercenária do que ela! Não me
incomode ou eu posso descobrir o motivo da 'amante do governador' ter
vindo às pressas morar na fazenda do seu filho rico! Some da minha frente!
Ela engole em seco, sem abaixar a cabeça.
— Eu sou a sua mãe, Anton, te carreguei por nove meses! Não deve
me tratar assim! Me respeite!
— Mãe? — Eu sorrio. — "Mãe", eu deveria chamar era às três babás
que me criaram! Você só serviu para parir o terceiro filho e garantir o seu
futuro de madame "Dexter" com o seduzido do meu pai trabalhador! Agora
não me faça te arrastar a força daqui!
— Eu já estou de saída... só que, antes, você sabe que eu estou certa
em relação àquela criança e sobre a Kiara. Mande-a embora antes que seja
tarde demais! — Após soltar o seu veneno, minha mãe finalmente vira as
costas, fechando a porta atrás de si e deixando-me sozinho.
Como um louco, eu bato na mesa, chuto a cadeira e vou até a janela
controlar-me. Droga, eu não posso colocar isso na minha cabeça! Eu não
posso! E se for verdade? Inferno!
Sendo impossível me controlar, desisto e retiro-me do escritório.
Passo pelo pequeno corredor, a sala e subo os compridos degraus, indo até a
última porta do segundo andar. Então, paro, abro a maçaneta e entro sem
pensar duas vezes... Observando o vazio quando a chamo pelo seu nome. Ela
não está no quarto.
Eu fico mais nervoso, aperto os dedos e aproximo-me, sendo
chamado a atenção para a criança que dorme sozinha na cama. Eu engulo em
seco, vendo ele se mexer.
— COMO OUSA?! SAI DE PERTO DO MEU FILHO! — A voz
estridente de Kiara me faz dar dois passos arredio para trás, ao erguer o rosto,
virar o pescoço e observá-la surgir só de toalha, enquanto corre rápida até a
cama. Ela estava secando os cabelos, após sair do banho.
— O que você ia fazer? Vai embora daqui, seu monstro! Nunca mais
ouse chegar perto do meu filho ou eu te mato! Eu juro que te mato!
Kia se senta na cama, pegando-o, protegendo-o e ninando o menino
nos seus braços molhados.
— O que pensa que eu ia fazer?! — Sem evitar a revolta, meu tom
de voz soa grosso e autoritário.
— Você odeia ele! Você ia fazer algo, pois é uma pessoa mau!
De longe, eu noto que a personalidade inocente e frágil de Kiara não
mudou. Na verdade, eu noto que ela continua a mesma doce Kiara. Só que
não comigo.
— Eu nunca te maltratei e você sabe disso. Pelo contrário, eu te dei e
continuo te dando tudo do bom e do melhor. Jamais lhe faltou nada nesta
casa!
— Você sabe que faltou! Você nunca foi o meu marido, nunca foi
fiel! Tudo o que você fez foi me comprar só para me dar o título nobre de
"esposa do sr. Dexter", enquanto me traia escondido com outras mulheres
mais "experientes" e bonitas! E agora que eu não sou mais aquela boba do
mato, a procura de amor, de ser amada, eu sei de tudo isso, da sua verdade,
Anton! Você me enganou, me iludiu, me traiu e me humilhou!
Eu não a respondo.
— E saiba que eu não ficarei aqui para sempre! O que você quer
sustentar é uma farsa! Eu te odeio, te detesto e esse casamento é de fachada,
uma mentira! Você não me merece! Saia daqui! — O brado dela faz a criança
acordar chorando alto.
Irritado, eu passo a mão pelos cabelos e sem querer mais discutir, eu
viro as costas, saindo em passos ligeiros, pronto para explodir com essa
merda que nunca melhora dentro do meu interior. Nada que eu faça por ela
me faz voltar ao normal! Eu não sei como tirar, arrancar isso de mim! Será
preciso mandar finalmente Kiara embora? Eu não sei o que eu vejo nessa
garota, eu só me sinto responsável por ela!
No momento em que eu vou puxar a maçaneta da porta, uma menina
de uniforme preto cai, por pouco, de cara no chão e de joelhos nos meus pés.
E percebo que ela estava ouvindo a nossa conversa. É a mesma empregada de
ontem na sala.
— O que você pensa que estava fazendo?
— S-Senhor... d-desculpe-me. — Ela tenta se levantar, escondendo a
vermelhidão nas bochechas.
— Não vou perguntar pela segunda vez! Responda!
— E-Eu só ia entrar no quarto da srta. Kiara.
— E por que não bateu na porta? — Sou rude.
— Eu não sei, mas... mas volto outra hora.
— Eu não mandei você sair! — Ela ia começar a se mexer, só que,
ao ouvir a minha voz, a menina para, nervosa, desconfortável e olha-me
engolindo em seco. — Se eu te pegar escutando alguma outra conversa minha
pela segunda vez atrás da porta, se considere despedida! Você entendeu?
Ela confirma trêmula com a cabeça. E sem dizer mais nada, eu passo
pela garota, indo para o outro lado onde fica o meu quarto.
CAPÍTULO 7

Às 07h20, após o café da manhã e após resolver alguns assuntos da


gestão da fazenda no meu escritório com o Gael, eu chamo a Kiara para
informá-la do seu berço que acabou de chegar e que está pronto para ser
montado. Ela diz apenas "ótimo" e pigarreia, deixando-me incomodado pela
roupa apertada e indecente que veste.
— Eu tenho mais uma coisa para te pedir.
— O quê?
— Serei direta, eu quero roupas e fraldas para o meu filho!
Furioso por dentro e sem escolha, eu concordo calado.
— Te darei um cheque, o que também será o bastante para você
comprar roupas decentes.
Ruborizada, Kiara olha para si, em seguida, ergue a cabeça. Desde
que chegou eu notei que ela mudou completamente, pois diferente da sua
magreza passada, hoje seu corpo é mais avantajado e de uma mulher adulta.
Ela está irreconhecível.
— Por que a surpresa? Esqueceu que foi você quem comprou estas
roupas apertadas para mim na capital, há três anos? Lembro que me fez vestir
a loja inteirinha para ficar igual aquelas mulheres vulgares dos eventos que
íamos. Só para você não passar vergonha com a "selvagem" da sua esposa!
Eu gostaria de respondê-la sobre a diferença do seu corpo hoje em
dia, comparado a magreza de três anos atrás, mas me calo.
— Algum dos peões montará o berço para você. E segunda lhe
entrego o cheque.
— Hum... e a bruxa sua mãe? — Ela me olha séria. — A odeio e não
quero essa mulher aqui!
— Por mais que Lorenza seja cheia de defeitos e insuportável, eu
não posso abandoná-la. É a minha mãe e no momento, ela só tem a mim!
— Só a você? É uma mentirosa! Ela é toda paparicada na cidade por
ser a dona "Dexter". Até os governadores de Montes do Sol caem matando
pela viúva. E se eu fui trazida à força para cá, eu posso escolher se devo ou
não suportar a bruxa!
— Já...
— Senhor Anton... — me interrompendo, Felícia aparece me
chamando pelo nome antes de eu dar um ponto final no pedido de Kiara.
— Sim? — A encaro já inquieto, fervendo por dentro.
— Tem dois senhores lá no varandão, eles se identificaram como
Eduardo e Zeca. Os dois gostariam de conversar com o senhor. Posso
permitir entrada deles?
— Permita, são produtores rurais.
— Tá, com licença, senhor.
Kiara me olha, arrumando o cabelo de cachos loiros atrás das costas.
— Deixarei você em paz com as suas coisas. Vou esperar o berço do
meu filho lá em cima. Tchau!
Bravo pela ousadia e pelo tamanho atrevimento de Kia desde que
chegou na mansão, eu permaneço com as minhas veias pulsando,
controlando-me para, em nenhum momento, explodir de fúria contra ela. Eu
não quero maltratá-la, jamais!
— Boa tarde, sr. Dexter...
— Boa tarde! — Na sala, eu cumprimento meus futuros inquilinos
(arrendatários).
Como a minha fazenda se expande por vastos hectares inutilizados,
repensei na ideia do contabilista da capital e do meu gerente rural, o Gael,
para fazer o arrendamento de boa parte das terras, alugar uns 20% acerca de
um valor de contrato estipulado. O que será ótimo para o meu capital de
investimentos, visando que, além dos eucaliptos, as madeireiras espalhadas
pelo Brasil e agora o arrendamento, pretendo voltar com a pecuária para fins
econômicos. Mas, em planos futuros, se possível.

Kiara Dexter

— Posso? — Me dando um susto, Gael aparece no batente da porta


do meu quarto, carregando uns quatro pacotes grandes sobre o ombro direito.
— Meu Deus, que susto, Gael! O que faz aqui, homem?
— Desculpa, eu vim trazer a sua encomenda. Com licença...
— E por que está fazendo isso? Você é gerente rural, não peão do
Anton!
Ele sorri, adentrando com o meu berço, pois, por mais que não
gostando, foi isso que o Anton me informou a pouco minutos que seria
entregue e montado no quarto.
— O que está havendo com a senhorita Kiara? Desde que chegou
está mais valente, perspicaz.
— Como assim? Você está notando isso?
— É claro... e onde eu posso colocar a sua encomenda?
— Ali, naquele espaço vago perto da cômoda — aponto o local para
ele, onde coloca os pacotes.
— Voltando a sua valentia, eu realmente sou o gerente rural do
Anton, minha formação é de Agronegócio, não de peão...
— Pois foi o que eu quis dizer — o observo.
Anton e Gael são amigos-irmãos desde a infância. Os dois foram
criados correndo juntos por estas terras. Dona Maria é a cozinheira da
mansão Dexter há mais de trinta e cinco anos e ela teve que suportar as
humilhações em relação a amizade do seu filho e do filho do patrão, odiada
pela Lorenza, a esposa dele, a qual vivia cuspindo seus preconceitos. Maria
conta que essa bruxa chegava a proibir o Anton de andar com o seu menino,
ela dizia que ele era pobre, sujo e que lhe passaria doenças incuráveis pegas
da vila. Só que o "querido Anton" nunca desprezou o Gael e até teve o apoio
do seu pai, Rangel Dexter, a autoridade máxima que fazia a cabra da Lorenza
calar a boca igual a uma submissa. Quando os dois fizeram dezoito anos, o
Rangel, o pai poderoso de Anton, disse que pagaria os estudos de Gael para
ele fazer a faculdade de agropecuária ao lado do seu filho e isso foi tamanha
alegria para ambos. Eles chegaram a morar por quatro anos na capital.
Já eu nunca terminei os meus estudos, parei na sexta série porque o
meu pai achou por bem me tirar da escolinha da vila, onde o Gael também
estudava, porém, não cheguei a conhecê-lo na época. Papai dizia que estudo
não era para filho de pobre, nem para mulher, que meu lugar era na cozinha,
cozinhando, limpando casa e servindo-o ao lado da mamãe. Eu chorava dia e
noite, meu sonho era de ser "contadora de histórias", pois eu amava ler e
contava detalhadamente todos os livros que eu lia escondido do papai, para a
mamãe. Hoje eu sei que essa profissão não existe, Anton quem me falou. Mas
ele também disse que eu poderia ser muitas outras coisas, o que eu quisesse,
bastava eu só pesquisar e descobrir o meu dom para algo. Eu nunca soube
qual era esse meu dom. Talvez sofrer por ser uma mulher filha de pobre?
— Pois bem... — Após colocar tudo no chão, Gael se levanta com a
sua estrutura forte e bem vestida, chamando atenção pela fivela grande no
cinto da calça cowboy. — Agora eu quero chegar ao ponto onde um peão
estava prestes a entregar estes pacotes para você, e que eu impedi ele,
dizendo que eu mesmo levaria para a minha patroa.
— E por que fez isso?
— É que eu queria perguntar se você ia andar a cavalo esta tarde,
como eu disse ontem, só hoje eu teria mais tempo.
— Eu só vou andar se você souber montar isso aí que trouxe.
— E o que eu trouxe?
Eu sorrio da sua cara de desinformado. Não acredito nisso.
— Eu não acredito que você impediu o peão que montaria o meu
berço certinho, para dizer uma coisa dessa.
— Então é um berço? — Sorrateiro, ele olha para o Gieber que está
dormindo quietinho. — Ótimo, eu só preciso de uma chave de fenda e esse
garotão terá o berço mais forte montado por um verdadeiro profissional.
— Duvido que o senhor gerente rural do poderoso "Dexter" — rolo
os olhos — seja capaz desse serviço.
— Mas a senhorita está desafiando a minha masculinidade e
inteligência? Só aguarde alguns minutos, patroa, eu montarei isso em menos
de dez minutos. Já volto!
Eu gargalho. E juro, quando o Gael voltou, ele montou o berço do
Gieber depois de uma hora e meia. Ainda bravo, discutindo comigo que era
necessário cortar a grade, pois ela não estava entrando direito. Adivinha? A
grade só estava ao contrário de onde se colocava o colchão.
— Olha isso, filho, o montador "profissional" do seu berço
conseguiu terminar. Palmas para ele! — Sentada na cama com o pequeno já
muito bem acordado no meu colo, eu pego as suas mãozinhas e bato palmas.
Gael balança a cabeça.
— Isso foi mais fácil do que ordenhar uma vaca.
— E se leva quase duas horas para ser ordenhar uma vaca, Gael?
— Eu não disse uma, eu disse trinta vacas, dona Kiara. Você escutou
errado.
— Meu Deus, além de trapaceiro, como sempre, é mentiroso!
Ele ri e olha para o berço.
— Pronto, agora vai andar a cavalo comigo? Preparei as melhores
selas. E mais cedo, eu dei uma escovada bonita nos cavalos.
— Você tá até escovando cavalos por minha causa? Dá onde está
tirando esse tempo?
— Patroa... se for preciso, eu tiro tempo até para vestir os teus pés
— pisca.
— Pare... — ruborizo.
— Ah, agora sim é a Kiara que eu conheço. Já estava achando
estranho você não ruborizar essas bochechas.
Eu me levando, balançando a cabeça.
— Larga de me deixar sem graça, seu bobo.
— É... — ele pigarreia. — Mudando de assunto, eu não queria te
fazer esta pergunta... — sendo, então, rápido com as palavras, ele questiona:
— Mas por que você não está no quarto principal com o Anton?
Eu tento não o fitar, após a pergunta desconfortável.
— A... a gente brigou.
— É por causa do bebê? Eu sei que não é novidade que o Anton é
um carrasco e que odeia crianças.
— Por favor, Gael, eu peço que não me faça mais perguntas — o
interrompo.
— Me perdoe, só que é impossível, Kiara. Eu queria que
conversasse, sabemos que o Anton te comprou do cretino do Padilho e que
ele nunca valorizou a sua inocência, a doçura, a curiosidade e tantas outras
qualidades lindas, além da sua beleza. Ele não é digno de você.
— Por que está dizendo essas coisas? — Eu olho para ele com os
olhos vermelhos. — Eu não quero que me fale nada. Você é amigo dele,
Gael, vocês dois cresceram juntos como irmãos. Anton te considera como o
seu braço direito.
— O problema é esse? Você acha que eu sou igual ao Anton e os
dois irmãos drogados dele? Por mais que sejamos amigos-irmãos crescidos
juntos, e eu o respeite, desde a morte de Rangel, a gente começou a se afastar.
Ele caiu nos prazeres da capital com os seus irmãos para superar o luto do
pai. E ainda se casou com você para te tratar como uma mera mulher sem
valor. E a pouco tempo, o Dexter se fechou num mundo onde nem eu nem
ninguém era e é capaz de compreendê-lo. Hoje nossa amizade não passa dos
meros negócios da fazenda.
— Ele... hum-hum... — Eu coço a garganta. — Sobre o que você
disse... ele te contou o porquê de ter mudado? — Já cansada de todos dizendo
que aquele homem está diferente, eu resolvo me interessar pelo "porquê".
Pois será que ele se arrependeu do fundo do coração daquilo que me fez?
— Não, não disse... no entanto, além de ter sido pela a sua partida,
creio que tenha acontecido algo entre o Anton e os seus dois irmãos. Eles
saíram daqui escorraçados com as malas jogadas no fim das escadas lá fora e
com dois pares de olhos roxos, gritando aos quatro cantos que algo era culpa
do Dexter e que ele se arrependeria de estar mandando os dois embora feito
cachorros. Eles destruiriam a vida do irmão
— Isso é verdade mesmo?
— Sim.
Eu abro a boca, pasma... abraço o Gieber e penso que talvez o Anton
não carregue um só erro na vida, o qual se arrependa; a barbaridade que me
fez. Mas que ele pode ter outros. E não sei o motivo... só sei que isso me
decepcionou e me entristeceu imensamente.
— Kia... o que estiver acontecendo com você, saiba que eu sou o
oposto do Anton. Que eu me sinto responsável pela irresponsabilidade dele
sobre você e agora sobre o seu filho. E que você é a minha amiga e que eu
não deixarei ninguém lhe fazer mal.
Eu olho para o Gael, sorrindo fraco, porém, no meu interior, muito
feliz e quase chorando por ter alguém que se importe de verdade comigo e
com o meu bebê.
CAPÍTULO 8

Pagando a promessa que eu fiz ao meu amigo de andar a cavalo com


ele esta tarde, após ele montar o meu berço e após o almoço, outra vez, eu
peço um grandíssimo favor a Felícia, de que ela fique com o Gieber por umas
duas horinhas no máximo, enquanto eu realizo o passeio. Ela, sendo muito
amorosa e gentil, aceita, frisando para eu não me preocupar com o horário. O
que tenho certeza que será impossível.
— Não acha bonito? — Ao pararmos perto do rio, Gael aponta para
a cachoeira de cascatas.
Eu sorrio... não escondendo a minha paixão pela vista. O som é
maravilhoso, sinto-me no paraíso.
— Quero trazer o Gieber aqui, para ele ficar todo bobo batendo os
bracinhos e as perninhas dentro da água.
— Não duvido de que ele possa querer sempre voltar com a mamãe
— Gael me olha, sorridente. — Seu garoto é muito bonito, Kiara. Puxou tudo
de você.
— Obrigada — retribuo o seu sorriso.
— Agora vamos, aqui não é seguro — ele solta as rédeas mais
frouxas e pressiona os pés na costela do cavalo, pegando velocidade para
voltarmos para a bonita ponte de madeira que passa quase por cima do rio e
da cachoeira, dando-nos uma vista ainda mais incrível, deslumbrante. Se eu
fosse pintora, não sairia deste lugar. É inspirador.
— Por que você disse que não é seguro? Tem ladrões, gente fazendo
coisa errada por aqui?
— Acho que eu fui muito exagerado. Quis me referir às fofoqueiras
que lavam roupa mais abaixo do rio. Deve imaginar que as notícias chegam
rápidas nas casas da vila e ao redor, nas fazendas dos outros proprietários.
— Eu não ligo, sei que todos já sabem que eu voltei. E que eu sou a
mal falada pela boca deles. Sendo o Anton um burro por ter se casado com a
filha do fazendeiro mais pobre e mais devedor de Montes do Sol.
— Não é por isso, Kia, é pelo seu filho — Gael confessa sem
rodeios e eu reduzo as galopadas, encarando a sua face. — Estão inventando
histórias absurdas sobre o bebê, sobre ser este o motivo de você ter ido
embora... e sobre estar chantageando o Dexter com a criança que pode ser
filho de outro.
— O quê?! — Furiosa, eu exclamo cerrando os punhos.
— Não me leve a mal, mas você deveria saber disso. Não pode
confiar em ninguém desconhecido daquela vila, nem da capital. São um povo
fofoqueiro, curioso e que deseja só te ver derrotado.
Nervosa, eu fico quieta, alimentando ainda mais a minha revolta
pelo Anton. Isso tudo é culpa dele! É ele quem deveria estar sendo falado na
boca desse povo! É ele que é um sem vergonha, adultero! E eu o odeio!
— Gael! — Após descermos do cavalo nos estábulos, Gael e eu
somos surpreendidos pela voz grossa e arrepiante do próprio homem que eu
estava pensando a pouco minutos; Anton.
Ele para ao lado da porta do estábulo, acompanhado de dois
capatazes; Ratito, Jesuíta e mais dois homens negros.
— Sim? — Gael me dá os arreios, deixando-me sozinha para ir na
direção deles cinco.
Anton me observa sério. Eu desvio dos seus olhos, acariciando os
animais.
— Como o combinado, eu quero que mostre os terrenos aos nossos
arrendatários... Ratito e Jesuíta demarcaram as cercas.
— Bom dia, Senhor Gael! — Com respeito, os dois produtores
cumprimentam o gerente e amigo do Dexter.
Sem interesse na conversa deles, aguardo que todos vão embora para
eu atravessar o longo jardim e poder entrar na mansão. Mas, infelizmente, o
Anton não vai embora. Após se despedir dos dois homens negros, ele fica na
porta com a sua estrutura forte e de chamar atenção. Eu respiro fundo, arrumo
o chapéu e tomo coragem para caminhar até a única saída existente.
Ao chegar ele me olha, fitando-me com o seu rosto severo. Eu
continuo a caminhar, no entanto, sou parada pela a sua rouquidão.
— Onde esteve, Kiara?
Eu viro para ele de cabeça erguida.
— Andando a cavalo, por quê? — Ao dizer rude, eu arqueio a
sobrancelha.
— Pois será o seu último passeio!
— Como?
Sem acreditar no que acabou de bradar, eu sorrio, furiosa!
— Você não vai me impedir de nada! Eu gosto de andar a cavalo!
— Pois eu repito: será a última vez e ponto final!
— E eu repito que você não vai me impedir! — Desacreditada na
sua ordem prepotente, eu viro brusca as costas, por pouco, não correndo pelo
gramado.
Por que o Anton gosta de só me fazer sentir mais raiva, ódio, revolta
por ele? Esse homem não tem o direito de mandar em mim, ele não tem!
— Oras, temos um animal em fúria invadindo a casa — no sofá da
sala, tomando uma xícara de chá ao lado de duas visitas, Lorenza murmura
baixo, zombando de mim, quando eu entro pela porta principal parecendo um
touro irritado.
E já nervosa, eu paro no centro, encarando as visitas da ratazana;
uma senhora bem estilo dondoca rica e uma mulher bonita, morena, olhos
claros e olhar de perua metida também.
— Por favor, querida Kiara, não irá se apresentar a esposa e a filha
de um dos fazendeiros mais bem-sucedidos de nossa região? Eles foram os
nossos vizinhos de hectares por quarenta e dois anos — eu não a respondo.
Não perguntei nada! — Bom, perdoem a falta de educação de minha nora. Eu
a apresento — Lorenza se levanta com a sua pose nojenta de madame. —
Esta é a selvagem do meu querido filho Dexter, Kiara 'Lemos' Dexter. Nunca
tiveram a oportunidade de conhecê-la. Mas não as culpo, Dexter não gostava
de expor tamanha falta de classe em sociedade.
— Está enganada, minha "querida" cara sogra! Anton nunca deixou
de me levar em nenhum evento!
— Eu estou um pouco assustada pela a sua recepção, srta. Kiara.
Acho que estamos começando errado com a apresentação de Lorenza. Prazer,
eu sou Diana Castellano Medeiros e esta é a minha filha, Lívia Castellano
Medeiros! — A tal senhora se levanta, vindo em minha direção cheia de
rebolado, após apresentar seus sobrenomes de renome, que não estou nem aí.
— É um prazer conhecer a mulher do senhor Anton Dexter, o homem de
negócios mais poderoso de Monte do Sol — ela estende a mão.
— Prazer! — Aperto forte os seus dedos, sem dar o menor sorriso.
— Olá, srta. Dexter! — A outra mulher morena acena com a cabeça.
— O que fazem aqui? — Eu pergunto.
— Não seja desrespeitosa, Kiara. São as nossas visitas. A filha da
Diana vai morar conosco por algumas semanas. E Diana ficará só por três
dias. Ela e o seu marido são pessoas ocupadas demais na capital. Lívia é uma
dentista muito famosa e está de férias.
Sem acreditar no que eu acabei de ouvir, eu fuzilo a Lorenza,
tentando não me passar como uma selvagem mal-educada. Do jeito que ela
gosta de esfregar na minha cara.
— Anton foi avisado disso?
— Como a mãe e ex-esposa de Rangel Dexter, que meu querido
esposo descanse em paz, eu tenho a liberdade de hospedar quem eu bem
quiser e desejar na casa onde vivi e criei o meu filho.
Ah, mas é o que veremos! Eu não quero ninguém nesta casa! Não
quero a bruxa da Lorenza, quanto mais duas dondocas iguais a ela! Anton
será obrigado a respeitar a minha decisão!
À noite, depois de um banho, eu deixo o Gieber comendo uma
sopinha na cozinha com a Maria e vou atrás do Anton no seu escritório. Eu
não queria olhar para esse homem, enfrentar as suas íris rudes, porém,
tomando coragem, eu dou duas batidas na porta e sem demora, ouço um
"entre" vindo da sua voz máscula.
Eu entro devagar, observando-o sentado atrás da mesa, com alguns
papéis espalhados pela a extensão. Ele para os seus afazeres, olhando-me.
— Não queria lhe incomodar, mas o que eu tenho para te dizer é
muito importante — eu paro, não me intimidando com a sua pose rústica. —
Logo que quer me manter presa nesta casa, eu não vou aceitar a sua mãe!
— E eu já lhe expliquei que, por mais que Lorenza seja cheia de
defeitos, é a minha mãe e eu não posso expulsá-la.
— Só que eu a odeio e não vou aguentar isso. Agora Lorenza tem
"visitas" hospedadas na mansão. Sabe disso?
— Eu sei, Kiara, será apenas por algumas semanas.
— "Você sabe", apenas? Eu não aceito! Eu já odeio essas visitas
dondocas!
Anton passa a mão na barba e levanta-se de forma rude, encarando-
me. Eu o noto nervoso.
— Se era só isso que desejava conversar, nosso assunto já terminou,
preciso trabalhar.
— Eu odeio você! — Então declaro com as palavras engasgadas,
fitando os seus olhos claros. — Onde pretende chegar prendendo eu e o meu
filho neste inferno? Me deixa ser livre, Anton. Me deixa viver longe de você
e da sua mãe?!
Ele bate na mesa.
— Pare de me enfrentar, Kiara, não me faça tomar outras atitudes!
Você não vai embora! Chega dessas discussões!
— Você não me ama, não sente nada por mim, nem pena. E por que
quer continuar me prendendo?
— E o que você planeja? Voltar a morar com o seu pai para ele
continuar te batendo com um cinto? Te tratando pior do que um animal?!
— Eu só quero ficar longe de você! Qualquer lugar longe de você! É
um monstro!
— EU NÃO SOU UM MONSTRO! — Anton brada, dando um
passo na minha direção.
Desesperada, eu me afasto para o canto da janela.
— Eu já estou com tanta porra nas minhas costas! Não ouse nunca
mais dizer isso!
— Não chegue perto de mim! NÃO CHEGA! — Eu grito, só que
ele, no mesmo instante, puxa o meu braço. — NÃO ME TOCA! — Eu me
sacudo angustiada, tentando empurrá-lo a todo custo.
— Tudo o que eu estou te dando não é o suficiente?
— Me solta, seu desgraçado, não toca em mim!
Anton me empurra ainda mais contra a janela, solta a minha cintura,
em seguida, segura a minha cabeça com as suas mãos grossas. Eu choro,
batendo forte no seu peitoral. Ele me pressiona na coluna de madeira,
deixando que eu bata, que eu o soque, enquanto ele olha nos meus olhos com
os seus dedos entranhados no meu cabelo e no meu rosto.
— Me solta! Tire as suas mãos de mim!
— Você nunca teve culpa, Kiara... eu sou o maior responsável por
você.
— Você é só responsável pelas minhas desgraças! Eu te odeio, eu te
detesto! — Paro para poder cuspir nele. — Você sabe o que fez comigo!
Você é horrível! Como ousa colocar as suas mãos em mim?
Seu toque, seu cheiro, seus olhos, eu não posso sentir nada além de
nojo, é isso o que eu tenho que sentir! Eu não desejo mais amá-lo, eu não
desejo mais ter sensações de paixão! Essa dor não se tampa, essas feridas não
se curam com nada! Eu não sou fraca! Amar é se ferir, é sofrer, é ser cego!
Amar é ser vulnerável! E não vou mais amar!
Anton acaricia o meu rosto com o dedo indicador, respirando seu ar
quente perto da minha bochecha.
— Você jamais irá embora... — ele, então, murmura, afastando-se
lento e deixando-me sozinha, suja, como eu sempre fiquei ao seu lado, uma
infeliz. Eu quero correr, eu quero me tacar num rio e lavar o meu corpo agora
mesmo! Eu quero tirar todas essas sensações!
— Você é bárbaro! Só saiba que o meu maior pecado foi ter te
amado! E que eu jamais irei te perdoar, Anton... você ainda vai morrer de
remorso e sofrer tudo o que me fez durante aqueles três anos! Eu juro que
você irá! Nem que seja preciso eu fazer isso! — Ele me olha neutro e não
aceitando que me veja em lágrimas, eu viro as costas e saio às pressas,
desorientada de tamanha fúria e dor!
CAPÍTULO 9

Correndo em meio ao desespero, por pouco, eu não trombo


inesperada com o Gael na saída do hall onde fica o escritório do Anton. Tento
continuar a "fuga" para esconder o meu choro, mas Gael me impede de ir
embora, parando bem na minha frente com a estrutura do seu corpo um
pouco mais alta e forte.
— Kia, o que houve? Por que está chorando? — Ele especula
preocupado, exasperado.
— Não é nada, com licença.
— Como não é nada se você está com os olhos vermelhos e as
bochechas molhadas? Está vindo do escritório do Anton?
— Sim... — Eu fito o Gael, não escondendo mais as minhas
lágrimas tristes.
— Vocês brigaram?
— Desculpe-me, mas... mas eu não quero conversar sobre isso, me
dê...
— Tudo bem, então vamos sair daqui! — Gael declara em instantes,
pronto para sair comigo ao virar-se.
— Não, já está na hora do jantar e eu não vou participar daquela
mesa recheada de gente falsa e maldosa. Eu só preciso ficar ao lado do meu
filho.
— Eu não gosto de te ver assim, ainda mais sabendo que é por conta
de Anton. Tente respirar novos ares, me acompanhe até o jardim, nem que
seja por alguns minutos?
— Gael...
— Por favor?
Eu respiro fundo, coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e
concordo para poder sair o mais rápido possível do local onde o Dexter se
encontra. Eu não desejo que ele me veja derrotada, mexida pelo seu toque,
que eu devo sentir nojo!
— Eu sei que eu não sou a melhor companhia, só que, quero que
saiba que eu sou o melhor para hoje. Não tem muita escolha e sinto muito por
isso.
Perto das rosas, eu tento sorrir amigável, por outro lado "bem" por
ter concordado em acompanhá-lo. Eu gosto bastante da companhia do Gael.
Desde que cheguei casada na mansão, ele, a sua mãe e a Felícia nunca me
fizeram mal nenhum ou comentários desrespeitosos que me humilhassem.
Eles três são pessoas de coração enorme, humildes e bondosas.
— Saiba que eu já me sinto bem melhor. Obrigada pelo convite.
— Que bom, isso me alivia . Quer se sentar ali perto daqueles três
bancos? Está mais claro.
— Sim. Tudo bem.
Ao nos aproximarmos, sentamo-nos e eu me pego observando a
pasta transparente na sua mão.
— Você tinha negócios para resolver com o seu amigo. Pode ir lá,
Gael, eu fico sozinha. Não quero atrapalhá-lo.
— Não se preocupe, não é um assunto tão sério. Eu posso resolver
amanhã cedo ou na segunda-feira com o Anton.
— Ah, sim...
Sem termos mais o que falar (bom, pelo menos eu), olhamo-nos e
ficamos em silêncio. Eu limpo o meu rosto, mais calma e menos desesperada
do que a poucos minutos. O vento da natureza, o ar livre, isso tudo é
revigorante, me sinto normal, com as forças recarregadas.
— Você está chateada pelo Dexter ter lhe falado que não podia mais
andar a cavalo?
— Como sabe?
— Ele me disse ontem, porém, eu sei disso desde a primeira vez que
você me convenceu a te levar. Anton só está querendo te poupar das
fofoqueiras de Montes do Sol. E eu também. No entanto, não pude resistir a
sua animação. Sei o quanto gosta.
— Ele só está querendo poupar o seu sobrenome "poderoso"! E eu
vou continuar fazendo os nossos passeios! Que se dane essas fofoqueiras e
que se dane o Dexter!
Gael balança a cabeça.
— Por enquanto não, Kia.
— Eu não vou aguentar ficar na mansão com a bruxa da Lorenza e
aquelas duas dondocas, as visitas dela. Você será obrigado a rever essa "sua
opinião", pois, caso contrário, eu farei os passeios sozinha. Preciso dar um
pouco de sol ao Gieber, além de que quero levá-lo no rio.
— Eu não posso desrespeitar a decisão do seu marido, Kiara.
— Eu não acredito que está concordando com o Anton... Isso de
"marido" só está no papel! Seu amigo não manda em mim! Ele nunca se
importou com a esposa comprada dele! Ele não está querendo me "poupar"!
Ele quer é poupar o seu sobrenome famoso na cidade, já disse!
— Melhor entrar — Gael se põe de pé, fugindo da conversa. — Eu
igualmente preciso ir para casa.
Furiosa, eu me coloco de pé ao lado dele.
— Você mentiu quando disse que era o oposto do Dexter! Pois está
o obedecendo, o apoiando! Vocês dois são como irmãos! É eu quem estou
sendo uma burra dominada outra vez! Talvez até manipulada!
Gael me encara nervoso, bravo.
— Não diga isso, nenhum de nós somos iguais! E eu nunca te dei
motivos de desconfianças, Kiara! Eu jamais te manipularia! E já lhe
expliquei! Por mais que eu tenha o Anton como o meu irmão e que
confiássemos e confiamos um no outro, isso não significa que eu seja igual a
ele, que eu concorde com ele! Que eu aceite você casada com ele!
Assustada pela primeira vez ver o Gael erguendo a voz, eu fico sem
ação. Ele nota, pois para, se acalma e respira fundo.
— Por favor, não repita de novo o que você disse. Eu nunca mais
quero erguer um tom de voz com você. É a minha patroa, eu te respeito, te
valorizo e prezo pelo seu bem-estar dentro destas terras. E está ficando tarde,
volte para dentro.
— Sinto muito, Gael, eu gosto da sua amizade. Você, a sua mãe e a
Felícia são muito especiais para mim. Não quero ficar brigada com vocês.
— Não estamos brigados, eu, da mesma forma, gosto muito de você,
Kia, é por isso que eu estou aqui, ao seu lado. Não se esqueça disso.
Eu consinto com a cabeça, limpo o meu rosto umedecido e
aproximo-me dele, dando um beijo na sua bochecha recheada pela barba. Ele
segura o meu braço, surpreendido.
— O que fez?
Eu coro, afastando-me completamente envergonhada.
— Desculpa, eu, eu fui desrespeitosa, eu só queria ser carin...
— Calma — ele sorri —, a minha reação em pergunta que foi meio
boba.
Então, sem esperar, ele também retribui outro beijo na minha
bochecha e solta o meu braço.
— Boa noite, patroa! — Gael pega na aba do seu chapéu branco,
despedindo-se cavalheiro.
Surpreendida, eu abro um sorriso acanhado, dando boa noite de
longe para ele que se vai entre a escuridão noturna. Em seguida, eu caio em si
e saio a passos ligeiros da área externa. Entro na mansão torcendo para não
encontrar a Lorenza nem as suas visitas chiques. O que não acontece, graças
a Deus. Eu não estou bem para suportá-las.
Pego o meu filho que papava na cozinha e subo para o quarto sem a
menor fome. Ao contrário de Anton... aquele homem mau deve estar lá
embaixo, compartilhando da mesa do jantar como que se as suas ações não
tivessem causado nenhuma consequência sobre mim. Eu não posso ficar por
baixo, eu não posso ser aquela menina boba, manipulada pelo "amor" e por
ele. Eu sou uma mulher adulta, agora tenho um filho e motivos de ser forte.
Eu não posso mais amá-lo, não posso deixar que ele se aproxime de mim.
Não deixarei que me enfraqueça.

— Céus, minha filha, já está de pé? — Felícia se refere ao entrar na


sala e ver-me sentada no sofá em plena 06h00 da manhã.
Esta noite foi difícil de dormir, os lençóis até saíram da cama de
tanto que eu rolava, pensando demais nas minhas infelicidades.
— Sim, estava sem sono e achei meu crochê perdido nas gavetas.
Resolvi começar um tapete. O que acha? — Eu levanto o pedacinho bem
pequenininho, mas bem feito.
— Vai ficar lindo, Kia. Você tem mãos boas para isso. Além da
inteligência, claro.
— Que isso... obrigada, Felícia.
— Vou ajudar a Maria com o café, doce menina, com licença.
Confirmo, educada, e ela se retira, deixando-me a sós de novo.
Porém, não por muito tempo. Uma das visitas da Lorenza aparece, após
longos segundos de paz e de concentração. É a tal da Lívia, a filha daquela
dondoca de sobrenome "Castellano".
— Olá, srta. Dexter, bom dia.
— Bom dia — digo com o semblante sério.
— Acordou cedo? — Ela se aproxima dentro das suas roupas
chiques e muito, muito justas e indecentes, sentando-se no sofá da lateral
— Sim.
— Vi o sr. Dexter também se levantando às 05h00. Não pude
cumprimentá-lo, porém, ontem, nos vimos no jantar. E até estranhei a falta da
sua presença, srta. Kiara. Ele me disse que estava meio indisposta e foi
dormir cedo.
— É, foi isso mesmo. Tem mais alguma coisa para falar?
Surpresa, a bela mulher morena suspende as sobrancelhas e observa-
me ofendida.
— Só gostaria de conversar mais, quem sabe não nos tornarmos
amigas?
— Desculpa, só que tudo o que liga a Lorenza a outra pessoa não é
minha amiga.
— Ah, entendo que as coisas não sejam tão boas entre você e a sua
sogra. Era assim também com a mãe do meu ex-noivo. A gente se encontrava
e não faltava alfinetadas. Vivíamos brigando alto.
— Hum...
— Não se preocupe, srta. Dexter, eu e a sra. Lorenza não somos
amigas como ela e a minha mãe... "cheias de segredinhos". Sra. Lorenza
apenas me viu crescer e está me recebendo aqui na mansão para eu tomar um
ar fresco longe da cidade. Como eu disse agora pouco, eu tinha um noivo e
terminamos há duas semanas — ela me olha com a feição recaída. — E as
coisas não estão muito fáceis, psicologicamente falando, foi o meu primeiro
namorado e noivo. Eu o amava sem medidas.
Noto que a Lívia sabe usar bem as palavras. É até bonito ouvi-la, sua
voz é calma e suave.
— Sinto muito. Por que vocês terminaram?
— Eu sinto vergonha em dizer o motivo. Isso ainda me abala.
— Tudo bem, eu não quero ser sem educação.
— Não está sendo. Contudo, posso abrir uma exceção e contá-la.
— Não precisa. Se isso te incomoda, não diga.
— Eu digo, preciso desabafar... — Ela se levanta e vem se sentar
quase ao meu lado. — É que meu noivo me traiu e eu o peguei no ato. Foi
assim que nos separamos.
Chocada, eu fico sensibilizada e sem saber o que dizer, além de
sentir muito outra vez.
— Que triste, sinto muito, Lívia. S-Sei como isso é horrível.
— Você sabe?
Ela franze o cenho e eu coro, engolindo em seco.
— N-Não, eu, eu só estou imaginando o seu sofrimento. Já ouvi
outros casos pela vila.
— Ah, sim. É realmente horrível, Kiara. Espero que eu possa superar
um pouco dessa dor aqui na fazenda. Preciso parar de pensar no meu ex-
noivo e no que ele me fez. Foram anos de relacionamento, o amei como
nunca.
— Você vai, é só ter muita força e erguer a cabeça. Acredite em
mim, seu ex não te merecia, pois para fazer essa maldade com uma pessoa tão
bonita como você, não tem um pinguinho de caráter.
— Agradeço as suas belas palavras. Sabia que você era de bom
coração. E igualmente é muito bonita. Você deveria tentar ser modelo.
— Modelo? — Eu estranho o que ela disse. — O que é isso?
— Como assim? Você não conhece essa profissão?
— Isso não é quando fazemos comparação de um negócio que é
igual ao outro? Tipo, esse modelo é igual aquele trem ali?
— Não entendi — ela sorri. — Mas não é o que você está querendo
dizer. Estou me referindo a desfilar...
Lívia me explica direitinho que profissão é essa e eu nego. Que coisa
mais estranha, usar só as peças íntimas (ou roupas desenhadas para a "moda"
— o que ela também teve que me explicar o que era), em seguida, sair
mostrando numa passarela para todo mundo ver.
Interrompendo-nos sobre o assunto, Anton aparece me causando
tremores na espinha. Eu odeio encarar os olhos ríspidos desse homem. Eu
ainda sinto as suas mãos grossas de ontem segurando os meus braços e
lembro de como era no passado, de como era ter o mínimo que fosse da sua
atenção. E que hoje, sinto desprezo e só sentimento de justiça!
— Bom dia, sr. Dexter...
— Bom dia! — Ele a fita, adiante a mim. Desvio-me. — Não
tomaram o café?
— Não, senhor, estamos aguardando a Lorenza e a minha mãe.
E não é só falar na megera que ela aparece nas escadas? Desta vez,
não tem como eu fugir, sou obrigada a me dirigir a mesa e comer com eles
como uma "família" reunida. Depois precisarei dar o leite para o meu bebê e
algumas frutas. Ele gosta muito de morangos. Roubarei das cestas. Por
enquanto, suporto a minha sogra e o seu falatório metido.
CAPÍTULO 10

Mais tarde, eu estendo um pano perto de cinco laranjais verdes da


mansão e sento-me com o meu filho para ele pegar um solzinho e ar fresco.
Curioso, ele fica olhando toda hora para cima, para as frutinhas e
balbuciando, louquinho para alcançá-las.
— Você quer laranjas, filho? Não pode, elas estão verdes — digo
para ele que não entende nada do meu "não" e continua a engatinhar até a
árvore. — Não pode, meu amor... vem cá...
— Minha nossa, mas que chapéu é esse? — De repente, pegando-me
muito, mais muito de surpresa mesmo, o Gael aparece sem aviso, apontando
para o meu chapéu de sol e quase me provocando um ataque do coração.
— Ai, que susto, Gael, seu bobo!
Ele ri.
— Desculpa, é que eu estava passando por aqui e não pude resistir à
tentação de tirar a sua paz.
— Pois pronto, o senhor conseguiu. E o que estava dizendo do meu
chapéu de sol? Ele é bonito.
— Que isso não combina com a Kiara aventureira, que curtia estar
em contato com a natureza, louca para nadar num rio e aprontar coisas que
não se pareciam nada com uma madame de joias, saltos e enjoada igual a
Lorenza.
— Eu não estou parecida com aquela bruxa, eu sou só uma nova
mulher de classe. Essa pessoa que você está dizendo aí é passado, ela era uma
menina inocente do mato. Além de que hoje eu sou mãe. Algumas coisas
mudaram.
— Bom, talvez eu esteja sendo chato. E como anda esse garoto
bonito? Ele gostou do berço? — Gael se agacha, fazendo carinho nos cabelos
castanhos do Gieber e chamando a sua atenção para o seu colar de cruz.
— Meu bebê dormiu igual a um anjinho que nem viu. Mas ele e eu
gostamos. Obrigada por ter feito o serviço. Ficou muito bom.
— Que isso, eu não disse que era um profissional? Não tem nada
nesta vida que eu não saiba dar aula.
— Não é nada, seu metido, você demorou quase duas horas para
parafusar aquelas madeiras. E ainda ficou todo nervosinho porque não estava
conseguindo colocar a grade. Sendo que era só virar ao contrário.
— É que eu fui humilde, dona Kiara, não posso me gabar das minhas
habilidades. Tenho que ser sério.
Eu sorrio, tacando a fralda do bebê nele. Como esse homem é
divertido.
— Vem cá, e o que o senhor está fazendo num domingão tão bonito
desse na fazenda? Achei que fosse visitar o seu pai na venda da vila.
— Eu fui ver ele de manhã. Só que agora eu tenho motivo para ficar
na fazenda nos finais de semana de novo. A patroa voltou — ele sorri
brincalhão e eu ruborizo, discordando.
— Eu não sou tão interessante, você deveria fazer coisas de homem
com os seus amigos; jogar sinuca, cartas, não sei, coisas que homens fazem.
— Acredite, homem só sabe falar de mulheres.
— E você não gosta?
Sem esconder, Gael ri da minha pergunta e eu ruborizo ao entendê-la
por outro lado.
— Meu Deus, não foi isso que eu quis dizer! Sinto muito!
— Calma, eu entendi. No entanto, não é que eu não goste, só estou
cansado daqueles imprestáveis tirando a minha paz. Os alojamentos dos
peões é uma verdadeira zona. Jamais permitiria a sua entrada feminina lá.
— Ainda bem que você tem a sua casa aqui nas terras com a sua
mãe. E aí não precisa compartilhar dessa "zona" com eles, né?
— É, por um lado sim.
— Hum...
Ele fica em silêncio e enquanto eu segurava o Gieber para o arteiro
não sair "escalando" a árvore atrás das suas laranjinhas, eu resolvo fazer uma
pergunta sobre algo que me deixou entristecida ao saber hoje cedo pela
Maria.
— Gael, eu posso te perguntar uma coisa?
— É claro.
— É sobre a filha da Felícia... por que você deixou que ela fosse
embora para a capital? Ester gostava muito de você e era uma moça linda,
alta e encantadora com aqueles cabelos enormes de índia. Ela te amava,
queria uma família cheia de crianças, assim como eu sei que você também
desejava e deseja.
Gael muda o seu estado de humor para pensativo. Ele me fita.
— Eu sei... E não nego que ela era muito linda. Até tivemos um
curto relacionamento de três meses depois que você foi embora.
— Sério? Felícia nem Maria me contaram isso — comento surpresa
pela informação brusca.
— É que brigamos, ela, na verdade, brigou... é algo delicado, não
quero entrar no assunto da razão. Só não deu certo. E como já deve saber,
Ester foi tentar outra vida de doméstica na capital. Foi o melhor para ela.
— Isso é triste, Gael. Não entendo como vocês poderiam ter
terminado assim tão cedo, queria ter visto os dois juntos. Lembro que a Ester
vivia suspirando pelo "Gael dela", correndo atrás das suas pernas toda
apaixonada e sonhadora. Ela chegava a ficar emburrada se te visse
conversando com alguma jovem da vila ou até mesmo da fazenda. Você que
não dava muita chance. E quando deu, isso aconteceu. Fico chateada, parece
os casais dos livros que eu torço para ficarem juntos, mas não ficam.
Incomodado, Gael se levanta.
— Pois é... porém, como eu disse, não deu certo. Não é Ester a
mulher que eu quero.
— Como não? Vocês nasceram um para o outro. Estudaram na
mesma escola e poderiam se casar, ter uma vida mais feliz do que a minha.
Isso eu garanto.
— As coisas não são tão fáceis assim, Kia.
— Eu sei que não... só queria que com você e a Ester fosse.
Gael não responde mais nada, ele permanece sério.
— Perdoe-me por ser sem educação, mas quem seria a pessoa que
você quer? Creio ser esse o motivo de terem terminado? — Dou de ombros,
voltando a me expressar. — Não sou tão burra.
O homem parado na minha frente se demonstra inquieto. Ele fica
estranho e quando vai abrir a boca para responder-me, uma voz arrepiante
surge, vindo até nós com um cavalo enorme e musculoso.
— O que eu falei para você?!
Eu rapidamente me levanto do chão, pego o Gieber no colo e
observo o Anton se aproximar a cavalgadas brutas, chegando a arrancar a
grama.
— Fique longe dela, Gael! — Ao parar agitado, ele me assusta pelo
tom das suas palavras ferozes.
Gael não abaixa a cabeça, enfrenta-o olho a olho.
— Eu, ficar longe dela? Parece que foi você que não entendeu a
nossa conversa ontem!
— Eu entendi muito bem! — Anton desce abrupto do cavalo,
ajeitando seu chapéu negro. — E eu repito que não se meta com a minha
mulher! Seu trabalho na fazenda não gira em torno dela!
Gael me olha fechando os punhos e percebo que a relação de
amizade entre os dois não existe mais. Por que estão brigando por mim?
— Não pode dizer isso, Anton. Eu e o Gael somos amigos.
— Pois não serão mais nada! Venha, Kiara!
Eu permaneço no mesmo lugar. Ele, então, direciona o seu olhar de
fera na minha direção e eu engulo em seco.
— Eu não estou pedindo! Não contesta a minha ordem!
Gael se controla para não abrir a boca e, em choque, trêmula, eu
resolvo evitar uma discussão.
— Depois conversamos, Gael. Desculpa.
Pego o pano amarelo do chão, abraço o meu filho e saio na frente do
Dexter, nervosa pelo comportamento animal dele. Meu Deus, eu ainda estou
sem entender. Minhas mãos tremem.
— Por que tratou o Gael daquela forma? Vocês dois nunca foram
assim! São amigos!
De longe, observo o Gael se retirar para os estábulos e distantes de
onde estávamos, eu resolvo enfrentar o Anton e a sua feição enfurecida.
— Talvez não sejamos mais amigos!
— Por quê? — Faço uma pergunta passiva, enquanto ele para na
árvore perto da área de lazer aberta da mansão, para amarrar o seu cavalo
bonito, o Faísca.
— Porque Gael está passando dos limites com você!
Assustada pela a sua resposta, eu arregalo os olhos.
— O que está pensando, Anton? Gael é uma pessoa boa, um homem
de respeito. Diferente de você! Pois enquanto viajava para a capital com os
seus irmãos no final de semana, era ele quem ficava comigo, me fazendo
companhia em passeios a cavalo e levantando o meu humor depressivo!
— E está se referir ao quê, Kiara? — Anton se vira brusco,
encarando-me nos olhos. — Você é muito inocente, tão inocente que chega a
não reparar nos pequenos detalhes. Não repara nem nas intenções das
pessoas!
— Eu reparo sim! Reparo muito bem! E isso nem é da sua conta!
— Então me diga o motivo de um homem como ele ter lhe dado
tanta atenção gratuita? Por que o Gael me enfrentaria por você? Essa nunca
foi a nossa primeira conversa relacionada a minha esposa!
Chocada ao perceber onde ele pretende chegar, eu nego ligeira com
a cabeça.
— Ele é o seu melhor amigo, Anton! Não ouse inventar mentiras!
— Não, Kiara, eu estou é cercado por traidores! E você, como
mulher, já deveria ter percebido desde o início o que ele quer!
— Eu não acredito no que está insinuando, Gael é respeitosos e de
caráter! E eu não sou qualquer uma! Não sou adúltera como você!
No momento em que eu cuspo as palavras, o Dexter vira o rosto,
respirando fundo e controlando-se. Eu aperto apavorada o meu filho nos
braços, que está inquieto.
— E por que isso também te incomodaria? Por que te faria me
impedir de ver o Gael?
— Porque é a minha esposa. É a minha responsabilidade — ele
declara, mexendo o maxilar já cansado de discutir. — Porque talvez eu não
seja o mesmo... porque... eu não sei.
— Qualquer motivo que seja, agora é tarde, só saiba que você jamais
soube aproveitar a boba da sua esposa que... que te amava. E isso não é
responsabilidade, isso é qualquer outro sentimento, menos responsabilidade.
Talvez seja culpa, consciência pesada pelo que fez e por esse filho que me
deu à força... — Sem mais segurar o nó gigante que se formava na minha
garganta esse tempo todo, eu confesso, tentando não chorar. Pois serei forte.
É eu quem estou farta de tanto sofrer, de ser vulnerável.
Anton se afasta, arregala os olhos para o Gieber, em seguida, para
mim.
— Não é isso, Anton? É isso que estava omitindo o tempo todo.
Gieber é seu filho, você sempre foi o único homem que eu tive na vida, pois é
o meu marido e eu nunca deixei de ser fiel a você. Você sempre foi o único.
Ele fica quieto, paralisado, e não compreendo o motivo de Anton ser
assim, de não falar, de nem tentar se explicar... Ou não a nada que justifique
os seus atos?
Sem um 'a' exprimido pela a sua voz , enxugo o nariz, ergo a cabeça
e com um aperto no coração, eu viro as costas, por pouco, não correndo para
dentro. Eu não vou chorar, eu não vou chorar. O Dexter não merece mais
nenhuma gota das minhas lágrimas. Agora ele tem certeza de que esse
menino tem seu sangue, que o Gieber foi concebido após o seu ato sem amor
naquela noite. E se for remorso, que ele morra disso!
CAPÍTULO 10. PARTE II

Desnorteado, eu me seguro para não correr atrás de Kiara.


Aquele bebê é filho meu, eu... eu não sei o que dizer. Minha vontade
era de desistir, de permitir que ela se vá, mas eu não posso!
Sem controle, após Kiara sumir de vista, eu corro em sua direção.
— Kiara! — Eu invado a sala gritando o seu nome.
E ela nem olha para trás, escalando os degraus com velocidade. Não
me importo com a Lorenza, com a Lívia e nem com a Diana me observando,
eu continuo a seguindo. Subo a escada, indo até o corredor e a porta do seu
quarto, que acabara de bater.
— Kiara! — Abro à força a maçaneta que também, por pouco, não a
trancou.
— SAI DAQUI! — Ela se afasta desesperada. — Não existe mais o
que se dizer. Eu já estou cansada dessas discussões. Chega, Anton, você sabe
que não somos mais marido e mulher. O que eu te peço é só paz, que me
deixe ser livre com o meu filho — ela se aproxima ágil do berço, colocando a
criança dentro e voltando a me fitar com os olhos vermelhos.
— Eu não posso, Kiara!
— Por que não pode? Dê um fim logo nessa tortura!
— Eu só tenho você — eu me aproximo, enquanto ela dá um passo
assustado para trás. — Não é possível que não sinta nada por mim.
— Eu não sinto... n-nada! Não me toca! — Eu a puxo, pressionando-
a no canto da parede e impedindo-a de se mover. Ela tenta desprender-se,
lutar contra a minha força, mas seguro firme as suas mãos. — Me solta! Você
não tem esse direito de se aproximar, de me tocar!
— Eu sou seu marido.
— Não é mais meu marido! E quer saber, eu sinto sim algo por
você! Nojo! Tire as suas mãos de mim, se afasta! — Ela se sacode. E em vez
de soltá-la, eu colo as nossas testas, respirando o seu ar descompensado no
meu rosto.
Kia começa a chorar.
— E-Eu jamais vou te perdoar, você se lembra de tudo naquela
noite, você me machucou, e-entrou em mim à força... sem um pingo de amor!
Sem palavras, eu não consigo soltá-la. Eu não consigo, eu não
posso!
— Me traiu... brincou com os meus sentimentos... — ela sussurra e
tremendo, chega perto da minha barba com os seus lábios macios. — É um
monstro...
Meus músculos se enrijecem, aperto os olhos e controlo a fúria.
— Monstro!
— Eu já te disse para não repetir isso nunca mais! — Largo as suas
mãos e pressiono-a ainda mais forte na parede. Kia tenta me empurrar, sem
ar. — Eu nunca fui! É você e essa criança que estão me enlouquecendo! —
Finalmente, solto-a e afasto-me. — Você e todos estão me enlouquecendo!
Eu tiro o chapéu, taco no chão e saio do seu quarto, veloz, indo para
o outro lado onde fica o meu. Entro como um louco, batendo a porta, em
seguida, dando um chute nela. Começo a quebrar tudo que aparece na minha
frente. Explodo de raiva!
— Eu não sou um monstro, porra! — Empurro o criado mudo,
tacando o abajur contra a estante que era do meu pai e assisto todos os nossos
portas retratos e decorações se estilhaçarem.
Eu não aguento e aproximo-me, pegando outra foto nossa e tacando
no chão com força.
— Já não bastava a desgraça do seu sofrimento? — Eu encosto na
estante, com o coração descompensado, observando-o, sem suportar os olhos
úmidos. — Se você não tivesse descido aquela cova, talvez hoje eu pudesse
ser um homem de verdade, como o senhor!

Kiara Dexter

Tremendo, eu limpo as bochechas, abaixando-me para pegar o seu


chapéu preto do chão. Não evito cheirá-lo, reprimindo-me ao voltar às
lágrimas para o rosto.
O que se passa com o Anton? O que ele tem? Por que ele é bárbaro?
Por que ele não ama? Por que ele omite a verdade dos seus atos? Por que não
me liberta? Eu não sei por quanto tempo mais vou aguentar essas brigas.
Durante a semana (talvez sendo Deus ouvindo as minhas orações de
clemência por paz), ele e eu não nos encontramos nem para murmurar bom
dia. Posso dizer que só nos dirigimos a palavra uma vez, quando ele veio me
entregar um cheque de vinte mil para comprar roupas e "as coisas a mais" que
eu necessitava para o Gieber. Nem acreditei no valor exagerado. Só que não
discuti. Anton já havia prometido esse cheque e sei que o valor nem fez
cócegas no seu bolso.
Para completar, Diana, a amiga dondoca e esnobe da Lorenza foi
embora da fazenda, após os seus três dias de "descanso" — na verdade, foi é
eu quem descansei com a sua partida, graças a Deus. Agora só ficou a sua
filha Lívia, que pelo menos tive a chance de perceber que ela não é nada igual
a Lorenza, nem a sua mãe metida. Estamos passando o dia juntas. Ontem,
liguei numa loja para pedir roupas e hoje eles chegaram da capital arrastando
uns tais de 'arara' para eu escolher no quarto. Lívia se ofereceu para me
aconselhar e me ajudar, já que ela entende de moda e eu não.
— Não acha que está muito curto? — Eu pergunto, depois de me
vestir com a sua quinta peça escolhida e eu me sentir muito desconfortável,
indecente. — Minhas coxas estão evidentes demais. E os seios também.
— Com certeza não. Não disse que gostaria de se parecer com uma
mulher poderosa, igual as dos eventos na cidade? Sem falar que te vi esses
dias com uns vestidos bem justos, meio fora de moda, porém, um tanto igual
a esse no seu corpo.
— Não, não era igual a esse. Eles são justos porque era da época em
que eu me encontrava muito magra e sem corpo. Mas vão até o joelho e não
tem decotes tão vulgares.
Lívia vem até mim, rebolando a sua elegância e o seu vestido preto,
quase igual ao que eu visto, no entanto, mais indecente ainda. Ela segura a
minha cintura, analisando-me pelo espelho e encarando os meus olhos azuis
no reflexo.
— Isso é ser poderosa, srta. Kiara. Como o seu sobrenome de causar
arrepios. E você está deslumbrante, sexy, de enlouquecer qualquer um que te
olhar — ela sorri. — Seu corpo é perfeito. Não esconda essa beleza, essas
pernas torneadas, seja a mulher que condiz com o seu status em Montes do
Sol. A srta. Kiara Dexter!
Reprovando a sua bajulação por conta desse sobrenome que detesto
tanto, eu suspiro, rendendo-me e dando uma chance aos seus conselhos de
moda, pois esta mulher refletida no espelho é quem eu almejo ser desde que
pisei os pés outra vez na mansão Dexter; poderosa e autoritária. E agora
agradeço a Lívia por concretizar este "alguém".
— Adorei que aceitou a minha ajuda. Só aguardo quando o seu
marido Dexter te ver dentro dessas roupas novas, vai enlouquecer, né? Ele é
bem sério e bruto. Admirável.
Eu engulo em seco, apenas consentindo.
— Só acho estranho que vocês estejam em quartos diferentes...
— É... eu preciso descer para esquentar o leite do meu filho, Lívia.
Com licença... — Outra coisa que foi bem difícil de explicar a essa mulher
curiosa, sobre o Gieber e sobre o motivo dela não saber disso a mais tempo
(do filho do Dexter), já que sai tudo nos jornais da cidade.
Eu consigo escapar de Lívia e das suas perguntas, descendo com o
meu pequeno nos braços. Mas logo em baixo, trombo com o Anton entrando
na sala ao lado do Gael. E sendo inevitável deles não terem me visto no meio
da casa, os dois param subitamente o assunto que conversavam, virando a
cabeça para me olhar indiscretos de baixo em cima. Eu coro, não escondendo
as maçãs vermelhas feito um tomate maduro. Anton me fita e Gael tenta
desviar-se, retornando ao que discutiam.
— Precisa que eu o acompanhe na capital? Os arre....
Felizmente, não recebendo atenção nenhuma, eu corro para a
cozinha.
Gael está muito estranho desde domingo, a última vez que
conversamos. E, também desde que Anton insinuou que ele tem segundas
intenções, eu não tiro isso da minha cabeça. Fico até constrangida em pensar.
Não acredito nele. Gael é um homem de respeito e de caráter.
— Oi.
Após preparar o mama do bebê e voltar pelo mesmo caminho em
que vim, eu encontro o Gael na sala. E desta vez, ele está sem o Anton, e
encostado perto de uma coluna.
— Gael? — Observo a sua bonita feição morena, respondendo-o
com estranheza. — Oi.
— Teria um segundo para conversarmos?
— Aconteceu alguma coisa?
— Não... eu só gostaria de falar com você. Poderia?
— Sim, menos aqui. Não quero a bruxa da Lorenza aparecendo com
os seus comentários esnobes.
— Eu também não.
— Tem outra sala reserva ali do lado, me acompanha...
Ao entrarmos na sala, eu posso colocar o Gieber deitado no sofá e
dar a sua mamadeira, que o espertinho segura sozinho.
— O que gostaria de conversar? — Eu me aproximo do Gael,
encarando os seus olhos castanhos.
— Na verdade, eu gostaria de continuar o nosso assunto de domingo.
Pretendo deixar tudo bem esclarecido para você. Não quero esconder mais
nada.
— Deixar esclarecido?
Ele molha os lábios.
— Eu me senti culpado esse tempo todo, Kia, pois infelizmente você
é casada com o meu melhor amigo, o qual nunca te valorizou e te deu amor.
E quando você perguntou qual era a pessoa que eu gostava, eu não sabia e
ainda não sei com te responder.
Em choque, eu arregalo os olhos.
— E quem é?
Gael dá um passo à frente, ficando olho a olho comigo.
— Não irei mais omitir, é por você que eu sou louco, Kiara.
Assustada, eu abro a boca, sem querer acreditar que o Anton dizia a
verdade. E nego sem parar com a cabeça.
— Não, não, Gael! — Eu me afasto dele. — Somos amigos!
— E se eu não quiser ser só isso? E se eu estiver disposto a perder
para no final te ganhar? E se eu estiver disposto a te tornar feliz de verdade?
A te amar como você merece?
Eu continuo a balançar a cabeça, em desespero.
— Não, pelo amor de Deus, olhe o que está dizendo! Para de dizer
essas coisas, somos amigos! Não estrague isso, você é meu amigo!
— Eu estou disposto a enfrentar o Anton por você — Gael volta a se
aproximar com o seu corpo forte. — Eu seria capaz de dizer todas as
verdades que aquele carrasco teimoso deveria ouvir sobre a doce Kia em
minha frente, sobre o meu amor pela mulher mais linda que eu já conheci...
— Ele para, segurando a minha mão. Eu fico trêmula, sem afastá-la. —
Todas as vezes que eu cheguei perto de você, não sabia, nem imaginava
como te confessar isso — ele olha no fundo dos meus olhos. — Dizer que eu
seria capaz de curar todo o seu sofrimento causado pelo meu amigo que saia
todos os finais de semana para te trair sem um pingo de remorso. Eu seria
capaz de qualquer coisa para te ver feliz outra vez. Da mesma forma que
chegou nesta mansão, tão inocente, alegre e cheia de sonhos.
— Gael... pare, por favor — eu observo o meu filho no sofá, sem
evitar as lágrimas. — Eu não esperava isso. Não pode gostar de mim. O-o
Anton e você... — Afasto a minha mão, fitando-o. — São mais do que
amigos, são como irmãos, vocês cresceram juntos. E por mais que hoje eu
não aceite esta realidade infeliz, eu ainda sou casada com ele. O Dexter é meu
marido.
— Eu sei, Kia, é por isso que eu me sinto um desgraçado — Gael
segura o meu queixo com delicadeza. — Eu tentei, eu juro que tentei te tirar
da minha cabeça, das minhas noites em claro, do meu coração. Foi por esta
razão que eu aceitei o relacionamento com a Ester, a filha da Felícia. Só que
eu não tive sucesso, eu não consegui. Nem ela pode arrancar este sentimento
do meu peito. E agora te vendo todos os dias, eu estou ficando mais louco.
— Eu... eu sinto muito, eu não posso te corresponder. Tente
continuar lutando contra isso, você é amigo do Anton.
— Não, não somos como antes. E Anton não é burro, ele sabe há
muito tempo que eu gosto de você, que eu sempre te defendi e que eu nunca
concordei com a forma dele te tratar sem amor, sem respeito e devidos
valores de um marido com a sua esposa. Tivemos milhares de discussões
durante esses anos, até sábado, quando ele deixou claro que eu me afastasse
de você, Kia.
Gael acaricia o meu cabelo, fazendo-me ficar sem ação diante do seu
toque e da sua postura séria.
— Por favor, não me rejeite. Deixe-me lutar por você, pelo seu
filho? Tudo o que eu digo é o mais sincero da minha alma.
Ele aproxima o rosto do meu e pressiona o nariz na minha bochecha,
fazendo-me suspirar ao sentir o calor da sua respiração acelerada. Ele segura
a minha cintura e tudo o que me vem na mente é o toque do Anton, o toque
do único homem que eu tive na vida; das suas mãos grossas subindo ferozes
entre a raiz dos meus cabelos loiros, do seu corpo alto, rígido, bruto e ao
mesmo tempo que me dava segurança pela força, os músculos e um pouco de
carinho ao retribuir prazer. Gael aproxima os lábios dos meus rosados e eu
não evito aceitá-lo, tendo a sensação de não serem conhecidos, lascivos, de
não serem impetuosos, bárbaros, mas de serem dóceis, calmos, lentos,
molhados, que me ama...
— N-Não! — O afasto desesperada. — Não, Gael... pelo amor de
Deus, eu não sou como o Dexter! Eu não sou uma adúltera! Isso foi errado, o
que sente por mim é errado!
— Sinto muito, eu não vou te pedir perdão. Eu não vou desistir tão
fácil. E agora que tomei coragem e te disse toda a verdade, lutarei pelos meus
sentimentos. Te mostrarei que eu sou um homem sincero e de caráter. Anton
não a merece, não suporto mais vê-lo te tratando sem valor. Eu juro que
pretendo ir até o fim por você — Gael ergue a cabeça, aperta o chapéu e
passa ao meu lado, retirando-se da pequena sala de chá e abandonando-me
em choque, trêmula.
Eu enxugo as lágrimas, olho para o Gieber e corro até o meu filho
que tentava descer sozinho do sofá. Pego-o no colo e o abraço, recebendo o
aperto mais reconfortante deste mundo, e não evito levar os dedos até os
lábios, repreendendo-me pelo beijo molhado do Gael.
Meu senhor, eu lembrei do Dexter, do seu toque, do seu beijo... e e-
eu me sinto nojenta, suja. Eu não sou como ele. Dói saber das intenções do
Gael, porém, eu não quero que ele lute por mim. Os seus sentimentos eu não
posso retribuir. Meu coração está uma bagunça, eu não quero saber mais de
amor, eu só desejo justiça!
CAPÍTULO 11

Kiara Dexter

Farta de ficar jogada na cama, apenas me lamentando da vida e


pensando nos problemas dolorosos que vão se acumulando um atrás do outro
(ainda mais agora do Gael e dos seus sentimentos), eu, então, resolvo me
levantar decidida e fazer um "crime" que, com toda a certeza, o Anton odiaria
me pegar cometendo. Mas eu não estou nem aí, é a coisa mais maravilhosa
desse mundo. Sem falar que eu estou morrendo de vontade. Por isso, sem
pensar duas vezes, na calada da noite, eu verifico se o Gieber dormiu (e como
um anjinho), para, em seguida, descer quieta os degraus da escada e ir por
pouco não correndo até o escritório dele. Eu abro a porta sem provocar
barulhos ou ruídos; ligo a luz, dou uma olha no local vazio, na prateleira
repleta de bebidas fortes e sem demora, eu escolho uma garrafa de vinho
suave. Pego-a, coloco embaixo da roupa e saio fugida do escritório, fechando
a porta bem devagar.
Meu Deus amadinho, meu coração parece até que vai saltar da caixa
do peito. Eu suspiro, sorrindo boba. E entre os dedos descalços, meu destino
desta vez é ir até a cozinha pegar um gelo, um copo de vidro e provar da
bebida que tanto amo de coração. E isso até que daria certo... s-se... se uma
voz muito conhecida, autoritária e séria não tivesse me dado um susto
arrepiante.
— Boa noite, Kiara — ele sussurrou bem na hora que eu passava na
sala.
Anton liga a luz do abajur e eu coro as bochechas, pois a minha
camisola não está nada decente e para completar existe "algo" embaixo dela.
— Oi...
Ele está sentado no sofá, com as pernas cruzadas e fazendo nada.
— T-Tá sem sono também? — Pergunto e percebo que fui muito
tonta.
— Acho que eu nem sei o que é isso — Anton se levanta. — O que
foi fazer no meu escritório? Te vi passando agora pouco aqui.
— Eu, eu não fui ao seu escritório...
— Nunca soube mentir direito.
— Bom, se você quer saber... não te interessa! — Eu viro as costas e
por pouco, não saio subindo os degraus da escada, só que o Anton se desloca
ligeiro e com as suas mãos nojentas, consegue me puxar bruto pela cintura.
— Me solta! Me larga!
Desesperada, sacudo-me, impedindo-o de chegar até a garrafa
escondida por baixo da camisola.
— Não ouse, seu desgraçado! Tire as suas mãos de mim!
Ele me prende por trás e alcança o litro por cima das minhas mãos.
Eu, então, paro trêmula, ofegante, com as costas colada ao seu corpo rústico e
forte. Posso sentir a sua respiração, os seus batimentos e a barba bem
próximos do meu pescoço.
— Nem preciso conferir para saber que é um vinho! E você sabe que
não pode beber isso! Tem tolerância baixa ao álcool, Kiara!
— Me Larga, Anton, se afaste... — desta vez, eu peço rouca, com
arrepios que desprezo.
— Antes, me devolva a garrafa!
— Não... eu quero a bebida — tento sair do seu aperto, mas ele não
deixa, sendo mais forte do que eu.
— Um copo e não aguenta nem dar meio passo.
— Como que isso te importasse! Nada que seja relacionado ao meu
bem-estar te interessa! Se eu tenho essa tole... to não sei o quê, não é da sua
conta! — Assim que eu exclamo as ferozes palavras, quase me fazendo
tropeçar nos próprios pés, o Anton me vira pela cintura, conseguindo tirar a
garrafa por baixo da camisola à força.
Ele me solta e eu surto, louca de raiva, com desejo de socá-lo até
virar carne moída!
— Minha vontade era de tacar essa bebida na sua cabeça! Nunca
mais ouse chegar perto de mim, eu já disse! E me devolv... —
Repentinamente, sem esperar, ouvimos um estrondo de algo caindo no chão e
vibrando como se fosse um ferro grande, ou algo muito parecido vindo de
longe.
— Anton... — Eu paro assustada, olhando para todos os cantos junto
com ele. — O que foi isso?
— Não sei...
— Será ladrão?
— Parece que veio da cozinha. Eu preciso conferir.
— Eu não vou ficar sozinha.
Ele não se incomoda em me deixar acompanhá-lo. Não evito com
repudio sentir o seu cheiro de loção amadeirada e admirar os seus ombros
largos enquanto andamos seguidos um do outro.
— O que é?
Ele atravessa a porta sem pensar duas vezes, sem medo de ligar a luz
e entrar no local. Eu também tomo coragem para atravessar e graças a Deus
comprovar que o que caiu foi uma panela de cima dos armários.
— Ainda bem, só foi uma panela — comento, dando de ombros.
O Dexter continua de pé, olhando os cantos misterioso. Ele, então, se
mexe, virando-se para mim e demonstrando raiva, nervoso ao apertar a
garrafa na mão.
— Alguém esteve aqui — ele comenta ainda nervoso e vai até a
porta dos fundos conferir se ela está fechada. — E tenho certeza que essa
pessoa não foi muito longe.
— Se não for um fantasma, ótimo. Tenho medo de serem verdade —
abraço o meu corpo.
Anton demonstra sorrir de lado, porém, controla-se severo, vindo até
mim.
— Já te disse que isso não existe. E se fosse, seria o de menos.
— E por que não seria? Ninguém entrou aqui. E pessoas não
atravessam paredes.
— E fantasmas não derrubam panelas, Kiara. Tem gente de carne e
osso nesta própria casa que não se deve confiar.
— É... você e a sua mãe?
O ar de calma dele some e volta a ser o homem frio e sério de todo o
sempre.
— Eu estou me controlando diante das suas respostas! — Ele se
aproxima forte, pegando dois copos. — Pegue o gelo na geladeira.
Salivando pela cena dele abrindo o vinho, eu vou até o congelador
muito animada.
— Não sei o que você faria sozinha com um vinho de 18% teor
alcoólico — Anton diz, servindo pouquíssimo do líquido para mim.
— Só isso? Antes eu podia beber quase tudo.
— Porque eu escolhia para você os de 7% a 10%. Precisa saber que
as bebidas têm quantidades de álcool que variam. E as mais fortes te levam
até a morte. Ainda mais para alguém com tanta tolerância.
— Hum... — Coloco os cubos de gelo no copo e pego o meu,
levando a boca sedenta de vontade. Sinto que é realmente meio estranho,
diferente do que o Anton escolhia, mas continua bom, muitíssimo bom.
— Se eu fosse fazendeira, com certeza, plantaria muitas uvas. Faria
vinho sem parar. Eu gosto tanto. Acho que por isso prefiro suco dessa fruta.
— Talvez não te desse lucro, não num lugar tão quente como esse.
Ele me observa e eu percebo que também estou observando a sua
bonita feição rústica, como que se revivendo agora, neste exato momento, a
raridade das nossas conversas, onde eu contava todos os meus sonhos,
desejos e ele parava para me ouvir, me ensinar. Só que era raro... tão raro que
eu posso contar nos dedos. Eu desvio dos seus olhos, repassando a mim
mesma todo o histórico de ruindade, a falta de amor e caráter do Dexter.

Anton Dexter

Kia coloca seus cabelos para frente, disfarçando as bochechas


coradas. Eu tento a todo custo não olhar para baixo e analisar a sua camisola
que vai até o meio das coxas, no entanto, meus instintos masculinos me
fazem repetir isso. E é inevitável, ela é linda. Parece que nunca a reparei
antes. Minha vontade era de tocar sua pele, os cabelos, os lábios com
ferocidade. Não sei o que está havendo. Sinto que eu vou perder o controle de
tudo e beijá-la, abraçá-la e prendê-la a mim. Entretanto, um muro de cercas
farpadas me impede.
— Já que não me deixou tomar o tanto que eu queria, vou dormir.
— Não volte a entrar no meu escritório escondida, Kiara — a
advirto.
— Não sei... não é sempre que você vai estar lá, né? — Ela me
enfrenta, cruzando os braços, antes de sair, sinto-a frustrada. — Ouvi que vai
hoje para a capital e não vai ficar me vigiando.
Eu fico calado, indo nervoso até ela, que dá um passo para trás,
arregalando os olhos.
— Não se aproxime de mim!
— Não me desafie ou te levo comigo para a cidade!
— Obrigada, mas isso não vai estragar a sua diversão com as outras
mulheres, seu cafajeste?
Sendo o meu limite da paciência, do controle, eu dou um salto na
Kiara, puxando-a bravo pela cintura e agarrando os seus cabelos loiros e
cacheados desde a raiz. Eu não dou tempo de ela revidar, meu desejo
explode, meu sangue ferve. Jogo a sua cabeça para trás, empurro as suas
costas contra a geladeira e beijo-a de forma devoradora, louco diante da
respiração arfante, do seu perfume, dos meus dedos brutos por pouco não
rasgando o tecido da sua camisola macia. Eu me aproprio dela, da sua boca,
da sua língua, da sua saliva, como se eu necessitasse, precisasse de forças e
essa menina fosse a minha única fonte para se abastecer. Uma fonte proibida,
de águas limpas, a qual eu sujo toda vez que me aproximo e a toco.
Ela é a única coisa que ainda me resta.
CAPÍTULO 12

Ao afastar Kiara dos meus lábios, eu observo a sua ofegância


descompensada, a falta de força nas pernas e o olhar dilatado. Meu peitoral
desce e sobe com desejo, com vontade de tomá-la como minha agora, sem
pensar duas vezes. Eu largo seus cabelos, descendo o dedo pelo seu rosto
quente e acariciando as suas maçãs pigmentadas de sardinhas. Kia suspira,
fitando-me e deixando uma lágrima escorrer. Eu limpo a lágrima, sentindo
algo que não sei definir. Eu só sei que não posso deixá-la jamais ir embora.
— Por favor... solte-me, Anton... — Ela sussurra trêmula, com as
mãos fracas contra o meu peito rígido.
Eu respiro fundo, apertos os olhos, tomo coragem e então a solto,
afastando-me. Kia também se move, e ao se equilibrar com as pernas bambas,
vira rapidamente as costas, dando a volta na ilha e saindo às pressas pelo
portal da cozinha. Eu fico por alguns minutos parado. Até resolver jogar fora
todo o vinho, apagar as luzes e ir me deitar com a mente carregada de
pensamentos.
— Olá, meu filho — na manhã seguinte, enquanto eu começava a
abotoar a camisa, sem ao menos bater na porta, a minha mãe invade o quarto,
chamando-me.
E eu a encaro bravo.
— Espero que seja a última vez que você entra no meu quarto sem
bater na porta!
— Eu sou a sua mãe.
— É a última vez, Lorenza!
— Tá bom, Anton, não precisa levantar a voz e nem ser arrogante
igual o seu pai era — ela balbucia, com ar de vítima. — O que eu vim fazer
aqui é perguntar que história é essa de você ter dado um cheque de vinte mil
para aquela selvagem adúltera comprar roupas e coisas paro o menino
bastardo? Você deveria era expulsá-los!
— E quem lhe disse isso? Anda com informantes pela casa?
— Não, na verdade, são meus ouvidos que ouvem longe demais. E
você deveria prestar atenção, pois essa menina vai roubar tudo o que seu pai
conquistou. Me ouça, Anton! Você está cego por ela!
— Eu estou ouvindo. Acabou? — Termino de abotoar a camisa,
coloco o chapéu e caminho até a minha mãe. — Agora é você que me ouve.
Se continuar se metendo na minha vida, farei a mesma coisa que eu fiz com
os seus dois outros filhos, expulsá-la desta casa com direito a mala jogada
pelas escadas e os empregados te assistindo. Eu sei o que fez na capital. E o
que segura o governador de não vir atrás de você é eu e a minha amizade com
ele. Eu o ajudei a estar naquele cargo, ele tem uma dívida grandiosa comigo!
Por isso, não ouse aprontar nada contra a Kiara, ou perderá a proteção que
veio buscar, Lorenza!
Ela demonstra raiva ao apertar os punhos e não me contestar. E sem
suportá-la mais, eu me retiro a passos duros e caminho até a escada. Porém,
assim que eu viro no corredor, eu sou pego de surpresa por não ver a Lívia e
trombar de frente com o seu corpo, quase a fazendo cair no chão, mas a
segurei de forma ágil pela cintura, evitando o acidente.
— Meu Deus, senhor Dexter... desculpa! — Ela se apoia no meu
pescoço e eu sinto vontade de espirrar ao sentir o cheiro do seu perfume doce
e exagerado.
— Não te vi, sinto muito.
— Tudo bem, fui eu quem estava muito apressada. Eu te
machuquei? Me perdoe, eu sou tão desastrada.
Lívia se afasta, chamando-me atenção para a sua roupa curta e
decotada. Eu a solto e encaro, observando os seus olhos verdes. Ela faz o
mesmo, não apresentando qualquer sinal de envergonhamento ou timidez,
comparada as outras mulheres que se desviam.
— Não. Eu estou bem.
— De verdade, me senti culpada, não... — De repente, escuto um
forte par de saltos atrás das nossas costas. Viro o pescoço, assistindo Kiara
passar por nós dois com a criança no colo, jogando os cabelos loiros e
cacheados para trás, sem sequer nos encarar.
Não evito analisar o seu vestido azul, apertado, vulgar e que deixa
ainda mais evidente as suas curvas alucinantes. Eu engulo em seco, bravo,
nervoso por vê-la assim. Indecente!
— Nossa, será que a srta. Dexter não nos viu? — Lívia me fita. Não
a respondo. — O-O senhor estava descendo?
Após dizer que sim, ela nota que o meu comportamento mudou e
comenta que vai para o café. Eu a acompanho calado para baixo, quando
chego encontro a Kiara sentada a mesa, comendo e dando leite para o
menino.
— Olá, srta. Dexter, bom dia.
— Ah, bom dia, querida Lívia — Kiara sorri de lábios fechados,
cerrando os olhos bem devagar e curvando as sobrancelhas. — Tudo bem?
— Tudo sim. E esse bebezinho lindo? Nossa, parece um boneco, é a
cara do pai, até os olhinhos claros...
Kiara Dexter

O comentário de Lívia faz o Anton olhar para o Gieber, em seguida,


para mim, sem piscar as pálpebras. Eu não deixo que ele me intimide e finjo
que ela não disse um 'a'. Estou explodindo de fúria, raiva contra ele, eu vi o
seu olhar naquele corredor. E eu não vou permitir que me humilhe até aqui,
infelizmente, debaixo do mesmo teto que compartilhamos juntos! Eu quero
bater nele!
Meu Deus... eu quero matar esse homem! O desprezo!
Abraço o meu filho na hora que a Lorenza chega e faço questão de
me levantar e de me retirar para a sala, já que estou satisfeita. Só que antes de
ir, é inevitável um comentário maldoso da bruxa.
— Ainda bem que já está de saída, norinha, ninguém merece uma
criança gritando em plena manhã nos nossos ouvidos. Obrigada.
Eu me controlo para não tacar o pedaço de queijo redondo na testa
dela. Por isso, viro-me, sorrindo como uma frufruzinha.
— Não há de quê, sogrinha. Sei que não deve ser fácil chegar na
velhice e sofrer com problemas nos ouvidos. Me preocupo com os mais
velhos, com licença.
Lorenza me fuzila e sentindo-me uma nova pessoa, mais fria e
furiosa, retiro-me com a minha elegância revestida de roupas novas. Falando
nisso, depois de amanhã, o pequeno do Gieber ganhará roupinhas novas
também, além de brinquedos, fraldas de rico e outras coisas que vão me
trazer para comprar. Já liguei na capital encomendando. Estou muito ansiosa.
Hoje eu gostaria de só visitar os meus pais, de ver como está a
mamãe e aproveitar para visitar o meu vôzinho na casinha humilde dele.
Entretanto, ainda não tomei coragem para ir falar com o Anton. Eu estou com
raiva dele. Eu estou me sentindo fraca depois desta madrugada. Minha mente
não para de pensar no seu toque e naquele beijo feroz. Eu seria capaz de
matá-lo para descontar a minha vulnerabilidade, o repúdio pelo que fez.
Porém, o desejo de ver a minha família é maior do que tudo isso. Eu terei que
ser forte.
— Anton, espere... — Na área, ao vê-lo saindo pela porta principal
da frente, eu o paro rápida, aproximando-me de forma desconfortável.
O Dexter me observa com a sua feição rústica e calada. Tento não
encarar direto os seus olhos.
— Eu queria te pedir uma coisa...
— O quê?
— É que eu gostaria de ver os meus pais e o meu avô. E queria que
deixasse algum peão me levar para visitá-los.
Fito o Anton e vejo que ele continua calado. Ele, então, respira
fundo, olha as horas no bonito relógio de pulso e volta-se sério para mim.
— Não deixarei que peão nenhum te leve. Não confio no bêbado do
seu pai, nem nos capatazes dele. Por isso troque de roupa e retorne em cinco
minutos, eu te levarei.
Fico surpresa, mas não discuto.
— Eu já estou pronta, só preciso pegar a bolsa do meu filho e minh...
— Você vai se trocar, não vai para a vila vestia assim. Está
indecente demais.
Eu fico nervosa e olho para o meu vestido azul, realmente meio
curto e justo.
— Eu não vou trocar nada! Estou do jeito que eu quero e você não
manda em mim!
— Eu mando, pois eu sou o seu marido! E não quero ninguém
daquela cidadezinha falando da minha esposa! Te esperarei na calçada, volte
com essas coxas e esses seios menos decotados! — Arrogante, ele vira as
costas e direciona-se para a enorme camionete luxuosa.
Se ele está incomodado, ótimo, o problema é dele. Eu não vou trocar
a minha roupa, ele é só o meu marido no papel. Não manda mais em mim.
Por isso, quando eu volto com a bolsa grande, com algumas coisas do bebê,
Anton me encontra ainda vestida com o mesmo vestido. Deve ser
surpreendente para ele, pois aquela menininha boba do mato, comprada para
ser a sua esposa que nunca deixa de acatar uma regra por medo e respeito
pela majestade "Dexter", está desacatando sem um pingo de remorso.
Vejo que os seus ombros se enrijecem ao me ver. Ele se controla.
— O que eu falei, Kiara?!
— E vai fazer o que, "sr. Dexter"? Me arrastar a força para eu trocar
de roupa? Não estou nem aí para o que vão dizer de mim naquela vila. Nunca
fui bem falada por eles mesmo.
Anton se cala e simplesmente não discute mais, ele engole a sua
autoridade poderosa e entra no carro. E aliviada, eu abro a porta de trás,
também entrando com o meu menininho.
— Visitaremos apenas o seu avô. Eu tenho outro compromisso para
depois do almoço. E, mais tarde, preciso viajar para a capital — depois de
fechar a porta, ele informa, colocando o cinto.
Eu concordo e vou o percurso quieta, exceto pelo Gieber que resolve
ir falando palavrinhas mais do que o normal. Parece que ele tirou o dia para
conversar sem limites. Para me deixar saltitante, o pequeno está aprendendo
"mama", que é de mamãe, pois estou o ensinando.
Após meia hora de chão de pedras até a vila, Anton entra numa rua
de barro vermelho e encontra sem dificuldades o barracão de madeira e
materiais recicláveis do meu vôzinho Heleno. Meu Deus, faz mais de dois
anos que não o vejo. Ele nem sabe que tem um bisneto.
Saio da camionete, atônita, observando cada detalhe a procura dele.
— Olha, filho, você vai conhecer o seu bisavô... — Converso com o
meu filhinho, não me importando com o homem rude logo atrás, que odeia
crianças e que nunca fez questão de dar atenção a uma. — Acho que ele não
vai acreditar que você existe.
Eu caminho para o interior do terreno com os meus saltos atolando
na terra. Nem sei o porquê de eu ter vindo com estas porcarias apertadas.
— VÔ HELENO! — Eu grito, chamando-o. Sem resposta, volto a
berrar. — VÔ HELENO!
Desta vez, aproximo-me da porta de garrafas verdes e então brusco,
meu vô a abre e aparece segurando uma espingarda nos braços, desconfiado.
— Quem tá aí?
— Vó, é eu, a sua neta, a Kiara!
— K-kiara? — Ele força as vistas. — Meu Deus, céus, é você,
netinha?! — E sem acreditar, ele coloca a arma no chão, vindo rápido até
mim.
Em lágrimas, antes de me abraçar, eu faço o vovô notar que eu
carrego algo a mais nos braços.
— Filha, que... que...
— Seu bisneto!
Posso dizer que esse é o momento mais feliz da minha vida e a da
dele. Vovô chorou igual a uma criança, me abraçou, pegou o Gieber e não
quis mais soltá-lo. Me convidou para um café, no entanto, no momento em
que viu o Anton, não aceitou que ele nem atravessasse a cerca de arame da
sua casa. O vô Heleno o odeia, ele sabe que nunca fui feliz naquela mansão e
sabe que o meu marido me traía. Mamãe e eu contamos.
No fim do café, eu vou embora sem demorar muito, com o
coraçãozinho dolorido por deixar o meu avô de 70 anos nessa tremenda
miséria. A casa está por um trisco de desabar, não tem luz, nem água e nem
encanamento. No carro, eu não falo disso para o Dexter, mesmo com vontade
de pedi-lo ajuda. E quando eu chego na mansão, passo o dia pensativa,
preocupada com o meu avô. Por mim, eu teria trazido ele.
— Oi, Felícia, você sabe se o Anton já chegou?
Mais tarde, eu resolvi esperar o Dexter chegar dos seus
compromissos nas terras da fazenda para ir à sua procura. Só que ainda não vi
esse homem passar pela porta da sala. Será que ele já foi para a capital
enquanto eu tirava um cochilo com o Gieber no quarto?
— Sinto muito, doce menina, ainda não vi o patrão. Tudo bem?
— Ele disse que ia viajar para a capital esta tarde, isso após resolver
alguma coisa na fazenda. E já são 18h50, quase sete horas. Anton não gosta
de pegar estrada à noite.
— Ele não foi viajar, os carros do sr. Dexter estão todos
estacionados lá embaixo. Sem falar que a Lorenza faria questão de reunir os
empregados e esfregar o fato de "estar no poder" da mansão.
— Ela nunca estará, não se preocupe com isso, Felícia. E obrigada
pelas informações.
— Por nada... — Ao se retirar, eu fico parada, olhando para o nada.
Por que o Anton não foi viajar? Já está tarde e sei que ele sempre
prefere pegar estrada bem antes do anoitecer.
Sem evitar e repreendendo-me pelos passos que eu começo a dar em
direção ao corredor principal do andar de cima, eu me aproximo do outro
lado, onde era o meu quarto e o do meu marido "perfeito". Nervosa, um
pouco suada das mãos eu bato na porta. Bato umas três vezes até ter alguma
resposta... e não tenho nenhuma. Eu giro a maçaneta, notando a porta aberta.
E curiosa, tomando coragem, eu entro. Não tem ninguém. Inclino a cabeça e
vejo uma tolha branca suja de algo vermelho sobre a cama. Chego mais perto
do colchão e levo um choque ao observar direito, que é sangue! Eu me movo
para trás, olhando para baixo; tem sangue no chão, sangue no tapete, no
criado mudo, no forro da cama! E apavorada, eu arregalo os olhos.
— Anton!
Ninguém me responde. Eu corro rápida para o hall do quarto,
seguindo em pavor as gotas de sangue. E quando eu paro na porta do
banheiro, observo mais manchas vermelhas na maçaneta redonda. Desta vez,
eu não tenho voz para chamá-lo, eu simplesmente abro a porta sem pensar no
que me veria de pior. Meu Deus!
CAPÍTULO 13

Ele me olha pelo reflexo do espelho, com as mãos estancando seu


ombro esquerdo. Vejo que o seu peitoral nu também está banhado em sangue.
— A-Anton, o-o que isso, meu Deus, você está sangrando!
— O que faz aqui, Kiara?
Como se tudo estivesse normal, ele volta a destampar a ferida para
colocar a toalha molhada que estava sobre a torneira.
— Você está ferido! E tudo no seu quarto está sujo de sangue!
— Droga... — Ele suspira nervoso, colocando a mão na pia e
apertando os olhos. — Foi um tiro de raspão.
— Um tiro? — Fico em choque, apavorada.
— Por favor, Kiara, sem perguntas no momento.
Anton se afasta, passando por mim e indo até os armários do hall
pegar mais toalhas limpas. Vejo-o gemer de dor pelo esforço ao abaixar-se.
Está agonizando!
— Você precisa de ajuda, tem que ir para a vila atrás de um médico!
— Eu esbravejo, seguindo-o enquanto volta para o quarto.
Eu estou aflita, de mãos atadas por vê-lo trocando de pano no ombro
e não saber o que fazer para esse homem não morrer!
— Não, ninguém pode saber disso.
— Está ferido... Jorrando sangue!
— Eu sei... porra! — Anton murmura irritado ao sentar-se na cama e
bramir dolorido. — Tem alguém vigiando a fazenda, tentando me matar. Eu
não sei quem é, levei o tiro quando entregava o cavalo para um dos meus
peões nos estábulos. Eu demorei esta tarde na averiguação do plantio dos
novos eucaliptos com o Gael. E decidi adiar a viagem para amanhã cedo. Iria
assinar o contrato com os novos arrendatários.
— E os empregados não te viram entrando em casa nestas
condições? O Gael não te ajudou? Nem os peões?
— Droga, você está fazendo perguntas demais num momento em
que eu poderia sair quebrando todas essas paredes. O Ratito me ajudou a
subir no quarto.
Fico mais angustiada ao notar que a toalha limpa que ele acabou de
trocar já está suja. Eu me desespero, minhas mãos formigam e eu não suporto
mais ficar parada sem fazer nada. Então respiro controlada e aproximo-me
ágil dele, esquecendo por alguns segundos do seu caráter mal e preocupando-
me apenas com o seu ser humano de carne e osso.
— Deixa-me ver isso, por favor.
Sem discutir, ele afasta o pano e eu visualizo uma ferida do tamanho
de um dedo, aberta e sangrando.
— Está horrível, Anton. Você precisa de um médico, precisa de
pontos! Temos que ligar para alguém da capital, pelo amor de Deus!
— Não, eu não quero ninguém aqui!
— Droga, seu teimoso, você necessita de pontos nesse ferimento —
choro de tamanha angústia e Anton percebe.
— O sangue já está se estancando, Kia, já tive feridas piores do que
essa.
— E era de um tiro de raspão, por acaso? Pelo menos tem que
aceitar um curativo com algodão e fita para colocar aí.
— Não, deixe assim por enquanto — Anton aperta o machucado e
deita-se no colchão, mordendo o maxilar para não gemer. — Amanhã eu
tenho que estar bem para viajar. Não posso adiar meus compromissos.
Eu permaneço quieta, sem paciência para questionar as suas
teimosias.
— Comeu alguma coisa? Parece abatido. Posso falar para Feli...
— Não, obrigado, não precisa de nada. E nem era para você estar
aqui se preocupando.
Eu paro para imaginar se eu realmente não estivesse. Sendo
orgulhoso, poderia morrer deitado nesta cama. Eu conheço o Dexter, ele não
confia em ninguém, odeia ficar doente, porque também odeia depender das
outras pessoas. Esse homem acha que não é um ser humano e de que um dia
não vai carecer da ajuda de próximos.
Ele fecha os olhos. E sem mais o que dizer, eu me retiro para o meu
quarto, porém, com a mente toda hora pensando no Dexter. Mesmo ele não
merecendo.
À noite, eu dou um banho no Gieber, dou o seu jantar e como o meu
na cozinha longe da Lorenza e da Lívia. Mais tarde, eu vou me deitar ainda
pensando nele e em como se encontra. Meu Deus, eu não quero pensar, não
quero, só que o ver com aquele rasgo foi como se eu tivesse levado o tiro.
Às 03h30 da manhã, sem sono, eu me levanto, visto o robe, deixo o
meu filho dormindo quietinho no berço e vou até o motivo da insônia e da
minha preocupação inevitável.
— Anton? — Ao abrir a porta, eu encontro só a luz do abajur acesa e
ele deitado do mesmo jeito que o deixei quando saí. — Anton? — Chamo-o
novamente, aproximando-me da cama.
— O que faz aqui, Kiara?
Eu também me fiz a mesma pergunta...
— Você chamou algum médico? — Questiono sem desejar
discussões.
Ele respira fundo e senta-se dolorido com as costas na cabeceira de
madeira. Percebo que essa não é a cama que dormíamos juntos, onde eu não
tenho boas memórias.
— Está suado, Anton... os seus cabelos estão molhados. Não quer
comer alguma coisa?
— Eu estou bem. Já disse que não deveria estar aqui!
— Larga de ser grosseiro, pois eu realmente não deveria estar aqui.
Você não merecia um tiquinho da minha atenção. Mas eu estou, porque o que
aconteceu foi sério. Agora seja menos orgulhoso e aceite que não está bem e
que precisa da minha ajuda.
O Dexter se cala, virando o rosto e não me respondendo. Eu não me
importo com a sua cara brava e o seu orgulho em aceitar o fato de que precisa
de ajuda. Ligo a luz e arregalo ainda mais os olhos com a situação de suor no
seu peitoral forte. Ele está ensopado.
— Você está com febre! Esse machucado deve estar inflamando!
Eu dou a volta na cama e chego perto, muito perto dele. Meu
coração para. Ele me fita com seus olhos claros e então, eu engulo em seco e
sinto a sua testa fervendo.
— Eu chamarei algum doutor da capital — afasto rápida a mão, com
as bochechas vermelhas. — Não diga que eu não posso. Necessita de socorro.
— Eu já chamei — ele diz e eu fico surpresa pela revelação sem
rodeios. — Não gosto de depender de ninguém. E, também esse cara é um
amigo, sei que ele não contará do episódio do meu ombro vulnerável. Tenho
que descobrir o mais rápido possível o que está acontecendo, porque estão
tentando me matar. Hoje de manhã Ratito me informará se achou algo ou
alguém desconhecido pela fazenda.
— Você desistiu de ir para a capital?
— Não sei. Eu preciso assinar o contrato — ele me analisa sem mais
assunto.
E sem o que fazer pela a sua pessoa a não ser esperar o médico, eu
não demorei muito na presença do Anton. De manhã, às onze horas, quando o
doutor de meia idade chegou, eu estava sentada na sala, confesso que o
aguardando para ver se ia chegar mesmo. No entanto, eu não quis segui-lo,
ou perder tempo o incomodando, pois quem o acompanhava era um dos
capatazes, o Ratito que deveria ser o único a saber do ocorrido ontem.
— Kia, o que está acontecendo? — Felícia estava comigo assim que
os dois passaram na nossa frente. Para ajudar na sorte, Lorenza e Lívia estão
no jardim. — Você viu o homem que o Ratito levou para cima?
Tento não dizer toda a verdade a ela, apenas que devia ser algum
rolo do Anton. Uma hora e meia depois, os dois homens descem,
cumprimentando-nos rápidos com a cabeça e retirando-se para a porta
principal. Eu fico ansiosa para saber o que aconteceu. Será que era algo
grave? O que o médico disse?
— Felícia, você poderia ficar com o Gieber enquanto eu vejo o que
houve?
— Vá Kia, isso está muito estranho...
Passo o bebê para ela, arrumo o meu vestido e subo apressada os
degraus. No último corredor, eu paro na frente da porta do quarto do Anton e
tomando coragem para enfrentá-lo de novo, eu giro a maçaneta e sem
demora, encontro-o de pé, na beirada do colchão, sem camisa e com uma
bola de curativo no ombro esquerdo. Ele me encara, com o seu olhar sério e
face máscula. Eu tento não ficar observando as manchas de sangue seco no
seu abdômen.
— O que o médico disse?
— Nada grave.
— Só isso?
— Não, mais uma coisa, você vai comigo para a capital. Arrume as
suas coisas. Não posso te deixar aqui.
O quê? Eu dou um passo para trás, desacreditada na sua ordem.
— Eu não vou para lugar nenhum com você. Ainda mais para a
cidade.
— Eu não confio em te deixar sozinha.
— Ah, e o "sr. Dexter" acha o quê? Que eu vou fugir? Bem que eu
queria mesmo!
Anton fica quieto, e sem discutir, ele vira as costas, caminhando até
o banheiro.
— Anton, eu não vou viajar! — Exclamo antes de ele fechar a porta,
mas ele me deixa plantada com a minha revolta.
Que raiva! Infernos, que raiva! Ele está muito enganado se acha que
eu vou para a capital! O aguardo por dez minutos, irritada pela demora. E
quando eu estou preste a desistir, o Anton sai do banheiro tomado banho e
enrolado na toalha da cintura para baixo. Eu engulo em seco, ruborizada,
fervendo de vergonha.
— Ainda não foi arrumar as suas coisas?
— V-Você é um grosseiro, eu não vou!
— Eu não quero brigas, Kiara. Você precisa ir, não posso te deixar
aqui sem a minha supervisão. Você querendo ou não, sua inocência te faz
confiar nas pessoas muito fácil. E tem gente tentando me matar. E eles
poderiam te sequestrar, ou não sei o que mais.
— Eu não sou assim... não deveria se importar comigo!
— É a minha esposa, eu me importo com você.
Sem evitar, eu nego com a cabeça.
— Nunca se importou comigo, se importasse não teria me
machucado com fez desde que nos casamos. E eu só saio daqui arrastada
pelos cabelos! — Após as minhas palavras ferozes, eu viro as costas.
— Pelo menos pense na criança... — E no momento em que eu vou
girar a maçaneta, eu paro contra a porta, com o coração reprimido, não
acreditando no que o Dexter disse. — É apenas um dia e uma noite. Não
demorarei. Vamos sair daqui a tarde. Tem que ir, Kia. Não posso de jeito
nenhum te deixar sozinha.
Eu não consinto, nem nego, continuo de costas e saio do quarto com
vontade de desabar em chorar. Vou até o meu filho, o pego de volta e passo
pela cozinha para ir até o jardim de rosas me sentar no sol com ele. Fico
pensando em tudo que estou sentindo. Eu não acredito que o Anton esteja se
importando comigo e agora com o meu filho, após confessá-lo a paternidade
do bebê. Ainda vê-lo banhado em sangue... eu... eu senti que o amava, que
não desejava a sua morte. Só que eu não sei o que fazer, eu só queria ser
feliz, tirar esta dor horrível do meu peito. E ver o Anton só faz aumentar mais
estas feridas. O que ele fez sem amor jamais será curado.
CAPÍTULO 14

Anton Dexter

Enquanto eu colocava o relógio com certa dificuldade ao mexer o


braço devido à dor no ombro, Felícia entrou no quarto para pegar a minha
pequena mala de cima da cama e não evitou fazer uma pergunta curiosa antes
de sair.
— O senhor está bem? Perdoe-me o comentário, mas o seu lado
esquerdo do ombro está muito alto, sr. Dexter — ela me observa.
— Estou, Felícia. Tive um incidente, porém, nada grave. Você sabe
se a Kiara já está pronta?
— Sim, aliás ela já está lá embaixo, o aguardando.
Assinto, agradecido e a espero sair para também poder descer.
Entretanto, em baixo, na sala, eu não encontro a Kiara, como a Felícia havia
me informado. Apenas a minha mãe sentada no sofá, lendo um livro.
— Hum, ainda não foi para a capital?
— Não. Você viu a Kiara?
— Ah, é mesmo, eu vi sim a sua selvagem. Ela estava agora pouco
aqui, dentro de um vestido tão vulgar que nem uma qualquer de bordel usaria.
Ela não gostou muito da minha opinião sobre a sua tamanha indecência como
mulher casada e saiu nem aí. E deve ter ido para a cozinha, ficar no meio dos
empregadinhos da laia dela — minha mãe responde, sorrindo forçado.
Minha feição fica séria, eu, então, viro as costas e vou atrás de Kiara.
Nervoso. O que menos me importa agora é a roupa indecente que ela deve
estar vestindo. Precisamos pegar a estrada antes do anoitecer.
Eu passo pelo portal da cozinha. E assim que eu entro no lugar, eu
paro em súbito, encontrando uma cena que me faz fechar os punhos e dar um
soco instantâneo na porta!
Kiara, que estava nos braços no Gael, se afasta assustada,
empurrando-o e olhando aflita para trás, para mim, que dá o primeiro passo
ligeiro em direção ao filho da puta que beijava a minha mulher!
— EU VOU MATAR VOCÊ!
— Anton!
Eu chego tão puto para acertá-lo um soco que esqueço do meu
ombro ferido e quando eu ergo a porra do braço, sinto um dor infernal me
fincar igual a uma faca afiada, mas acerto o desgraçado traidor. Gael também
vem para cima de mim, quase revidando no meu rosto.
— PARE, GAEL, O ANTON ESTÁ MACHUCADO, PARE! —
Kia grita no meio de nós. — PARE, ANTON, POR FAVOR! PELO AMOR
DE DEUS! — Ela me joga forte para o lado e eu não suporto a dor latejante
que me volta como nos primeiros minutos de ontem, em que levei a merda
daquele tiro de raspão.
Porra, aperto os dedos, juntamente com os olhos.
— Sai, Gael, sai daqui!
— Eu vou matar você, seu desgraçado! — Eu exclamo, encarando-o
louco de raiva, doido para acabar com a sua raça!
— Por favor, sai, vai embora, chega vocês!
O filho da puta me fita, cuspindo e sem dizer nada, como um
covarde, ele foge!
— SEU COVARDE!
— Anton, pare, v-você está sangrando, droga!
Eu me afasto, pressionando meu ombro que volta a sangrar.

Kiara Dexter

Desesperada, apavorada, sem saber o que fazer, eu só vejo a camisa


branca do Anton manchar-se de sangue e ele tentar estancar a lesão reaberta.
— MEU DEUS! — Maria entra na cozinha, o que faz com que o
Dexter se afaste. — Sr. Dexter, o-o senhor está sangrando! — Ela coloca a
mão na boca, abandonando no chão as verduras que colheu na horta. — O
que aconteceu aqui?
— Nada, Maria, com licença... — Ele se retira com cara de dor e de
bravo, deixando-me em lágrimas.
— Kia, o que...
— E-Ele está machucado, Maria, foi ontem. Depois eu te explico...
vou vê-lo.
Ao entrar angustiada na sala, eu o pego subindo os degraus da
escadaria de madeira. A bruxa da Lorenza continua sentada, nos olhando sem
entender nada. Com certeza, ela não notou o Anton sangrando. Eu o sigo,
correndo até o corredor principal. Só que antes de me dar tempo de entrar no
seu quarto, ele fecha a porta abrupto, com força. Sem ação, eu paro, penso
rápida e não desisto.
— Anton... — Abro, revirada de inúmeros sentimentos que não sei
explicar.
E sem me responder, eu observo o Dexter em pé, com a mão na
janela e muito, muito furioso, com as mãos semicerradas.
— Você precisa chamar um...
— Se eu estivesse com a arma, eu teria feito uma loucura contra o
Gael! — Ele brada, olhando-me e então, dando passos na minha direção.
Eu arregalo os olhos e por pouco, não corro para fora, mas ele não
me agarra. Somente fecha a porta com o pé e para na minha frente, fitando-
me. Eu analiso o seu ombro mais alto do que o outro, ensopado de sangue. E
fazendo o que o meu coração manda, eu respiro fundo e toco o seu peitoral.
Ele não me afasta.
— Por que é assim, Anton? Por que é bárbaro? Você sabe o que o
Gael sente por mim, isso não é segredo.
— E você? O que sente por aquele traidor? Por que estava beijando
ele, inferno? — Ele mexe o maxilar, sem tirar as íris enfurecidas das minhas e
apertando mais os punhos.
— Que eu não posso correspondê-lo, que o Gael é só o meu amigo
— respondo calma, sem levantar a voz e sem medo do homem feroz que é.
— E não fui eu quem o beijei.
— E jamais irá correspondê-lo, nem vê-lo, nem mais nada!
— Não entendo você, nunca demonstrou isso por mim... de ficar
enfurecido por outro homem chegar perto, demostrar seu afe...
— É casada, homem nenhum tem que ficar demonstrando coisa
nenhuma por você! Além desses infelizes terem medo de qualquer pessoa
relacionada a minha família! Ainda mais a minha esposa contendo o meu
sobrenome! Agora o Gael não, aquele traidor me enfrenta sem pensar duas
vezes! E sei que o infeliz não vai desistir do que quer!
Não sei explicar, o meu coração acaba de se encher de calor... de um
sentimento inexplicável.
— O Gael expressa de verdade o que sente... Já você é sem amor,
Anton, você... é sem amor. Nunca demonstrou nada sincero, eu não tenho
uma lembrança de você falando das suas dores, das suas angústias, dos seus
problemas. Nada.
Triste, quando eu ia afastar a minha mão que permanecia
vislumbrando dos seus batimentos acelerados do peito, ele abaixou a cabeça,
suspirou fundo, acariciou os meus dedos e após dois minutos de silêncio,
acalmando-se sozinho, ele voltou com os olhos escuros.
— Eu nunca soube o que é isso... o que vivia me cobrando.
— Amor? — Meus olhos ardem, seguro a vontade de chorar.
— Eu nunca soube retribuir o que esperava de mim. Mas eu nunca
quis o seu mal. Quando eu te vi pela primeira vez, te achei um anjo de tão
linda, desejei te dar uma vida melhor, longe daquela miséria e longe do seu
pai que tinha a capacidade de te bater com um cinto. Foi só isso que eu quis,
te proteger, te ajudar, te dar uma vida de luxo. Você merecia se casar, ser a
mulher, a esposa Dexter que o meu pai esperava ao meu lado. Só que eu não
deveria ter feito isso, eu estava fora das minhas noções, era só seis meses de
luto desde que ele havia sido enterrado — Anton contrai os músculos tensos.
— E durante os anos... eu mudei — ele solta a minha mão. — De um dia para
o outro, eu me dei conta que só tinha eu mais ninguém. Perdi tudo.
Aperto as pálpebras, em lágrimas, e abro os olhos sentindo o seu
toque na maçã do meu rosto.
— No entanto, após uma noite de lesões... imperdoáveis, eu mudei
mais ainda. Eu também perdi outro alguém. Eu caí em si. Eu deixei que fosse
embora algo que restava, algo que eu nem me dava conta que tinha e o tempo
todo era meu. E agora que eu tenho de volta, eu não estou disposto a perder
essa chance pela segunda vez. Pois é aí que eu realmente perco tudo... — ele
termina de acariciar o meu queixo, suspira e afasta-se devagar, indo até a
cama se sentar para tirar a camisa e dar atenção ao seu horrível ferimento
encharcado de sangue.
Sem forças para ter o que dizer, com a cabeça fervendo devido as
suas palavras, fortaleço as pernas, limpo as bochechas molhadas e com
calma, vou até o armário pegar uma toalha. Ao voltar, eu o estendo, pensando
apenas na sua situação. Ele pega quieto, em seguida, arranca o curativo,
dando-nos a visão de dois pontos estourados. Anton chega a grunhi.
— Onde tem mais algodão? — Rápida, pergunto baixo, sem olhá-lo.
Ele diz na primeira gaveta do banheiro. E, também me pede o soro
que está junto dos curativos. Eu faço como instruiu, retornando com os
materiais e parando novamente bem na sua frente. Então o surpreendendo
mais, eu sento ao seu lado esquerdo do colchão, erguendo o soro e calada,
distribuindo na ferida inchada do ombro — encaro, desta vez, os olhos do
Dexter e ele faz o mesmo, não demonstrando nenhuma dor. — O líquido sujo
de sangue escorre pelo seu peitoral musculoso e costas. Uso a ponta da sua
camisa para secá-lo em volta do machucado. Porém, no momento em que eu
troco a camisa pelo algodão e apalpo nos pontos estourados, ele geme feroz,
virando a cabeça e pressionando os dedos, o que deixa as veias do seu braço
saltando roxas. Coloco o tal curativo gaze da embalagem, sendo paciente,
delicada e igualmente rápida, e finalizo entregando a toalha para o próprio
terminar de limpar o sangue do seu corpo.
— Toma... — Ele me olha calado e não segura. E por dentro, eu
quero correr, ir embora, contudo, não faço.
Anton, aproximando o seu rosto másculo do meu, me fita lascivo e
exprime o oxigênio sem precisar me tocar com as mãos. Eu sinto tristeza por
ainda ser provocada essas sensações arrepiantes.
Ficamos em silêncio, até ele demonstrar impaciência.
— Não sei controlar o meu impulso diante de você. Eu não sei mais
como agir na sua presença, no seu toque. E eu vou surtar com isso, Kiara —
engulo em seco pela a sua confissão quase colado ao meu nariz.
Fito-o trêmula.
— Eu... eu não acredito em você. Nunca foi sincero. Por que diz
isso?
— Porque é como se me tivesse em mãos... — murmura e avança,
tomando os meus lábios e amolecendo os meus sentidos pelo desejo do beijo
e o roçar da sua barba áspera na medida em que me induz a querer tocá-la.
— Não... — Afasto-me sem brigar e sem ar. — Jamais acreditarei
em suas palavras. E sabe todos os motivos. Nada me fará esquecer o passado.
Me comprou, me usou, me feriu. Não me merece mais. Não sou aquela
menina boba, que perdoava as suas mentiras quando se aproximava e me
dava atenção. Você não sabe o que é amor — meu coração entristece. —
Amor jamais será luxo, roupas caras, maquiagem da classe alta e status de
riqueza. Amor não é visto, não é dito, nem é um objeto comprável. Amor é
um sentimento sentido, é praticado, é compartilhado. E quando se tem amor,
não se machuca os outros que te amam, não trai, não fingi, não mente. Amor
é tranquilidade, não é só sofrimento.
Minha visão embaça e inclino a cabeça, levantando-me para ir
embora.
— Me ensine! — Mas, repentino, Anton segura o meu braço,
puxando-me desesperado, grudando a nossa testa e agarrando os meus
cabelos com os seus dedos grossos. — Me ensine isso... me ajude, eu preciso
de você!
Eu arregalo as íris, tremendo em choque, sem ação.
CAPÍTULO 15

— N-Não, eu não confio em você. E amor não se ensina, aprende-se


— tento afastar-me, ainda em choque, só que ele continua a me segurar com
força. — Largue-me, Anton, por favor.
— Eu vou enlouquecer, Kiara. Eu preciso tirar isso do meu interior.
E você é a única que pode. Por isso me tem em mãos! — Ele me larga,
também pela dor no ombro.
Eu me levanto do colchão, tremendo a cada segundo. Meu Deus, eu
não posso acreditar. O que eu faço? O que eu faço?!
— Então prove, mostre-me que diz a verdade uma vez na vida.
Largue de ser esse... esse homem bruto, sem sentimentos, que age feroz e
louco.
— Eu sou assim! — Ele exclama, fitando-me agora bravo. — Eu me
tornei tudo isso que disse e um miserável sem compaixão! É por isso que eu
não faço a mínima ideia de como agir quando estou com você! É o que me
resta, Kiara! E eu jamais irei te deixar ir embora!
Eu abaixo a cabeça, controlando-me para não chorar e brigarmos.
— É culpa, o que sente. Mas, isso não cura feridas. Fez muito mal
para mim, sendo que eu só queria amor, ter um marido fiel, filhos e uma
família feliz. Sabe disso e eu já estou cansada de repetir, Anton — o encaro.
— E agora, só te perdoarei, só te tirarei da minha mão para libertá-lo da
consciência pesada, após tanto sofrimento, se demonstrar que merece a minha
confiança, que só tem a mim de verdade. Caso contrário, sou eu quem almejo
sair desta prisão ao seu lado. Qualquer lugar para te esquecer e criar o meu
filho em paz.
Anton fica quieto, nervoso, cansado ou sem mais o que dizer. Eu
respiro fundo, recupero as forças e toco no assunto da viagem.
— E é melhor não viajar. Você não está bem, os pontos se abriram.
E eu também não quero ir.
Tomara que ele desista. Não tenho nada para fazer lá na capital com
aqueles metidos puxando meu saco e tratando-me como o centro das atenções
por ser a esposa do milionário Dexter.
— Eu verei o que faço — Anton se levanta com o peitoral nu,
escondendo a cara de dor na sua máscara de homem sério.
Parece que eu sinto a sua decepção por eu não ter lhe dado alguma
resposta. Só que não é tão simples assim, é ele quem tem que demostrar algo
primeiro, é ele quem tem que ser humilde e me provar as suas tais mudanças.
O que sente é tudo culpa, é remorso, consciência pesada. O que busca é
perdão, é como que se de um dia para o outro desejasse que eu o perdoasse e
esquecesse as minhas dores num estalar dos dedos. E eu sei que ele sofre pelo
pai, eu sei que suas palavras foram surpreendentes, que o Anton nunca,
jamais foi de confessar o que sentia para mim e sobre mim. Por isso, talvez a
antiga Kiara se rendesse, o beijasse e diria sim, que o amava e que "ensinaria"
o amor que o próprio mastigou, pisou e jogou fora. Não, não vou sofrer
novamente! Para a nova Kiara o Dexter continua sendo um homem sem
amor, bruto e tão orgulhoso, teimoso, bárbaro, que é por isso que eu não
acredito, duvido e preciso de provas. Meu coração não é mais um brinquedo.
O que resta dele é parte do meu filho. E é por ele que eu lutarei. Seja na
miséria que for, seja onde for, com quem for, eu troco o amor pela paz, o
luxo pela felicidade e a vida por ele.
Retiro-me do quarto do Anton e mais tarde, ao anoitecer, ele não
desce para dar a sua decisão relacionada a viagem e nem para o jantar. A
bruxa da Lorenza até me questionou na mesa o porquê de não termos ido para
a capital, sendo que já estávamos prontos. E eu só respondi que ela deveria
perguntar isso para o seu filho. A megera retribuiu a minha grosseria com a
sua classe de cobra e levantou-se para ir atrás dele. Dei foi é de ombros.
Restaram só eu e a Lívia.
— Maria contou que o Sr. Dexter se machucou e estava sangrando.
Verdade, Kiara? — Ela, de repente, pergunta, olhando-me curiosa, e eu
arregalo os olhos, sem crer no que me questionou. — Não se preocupe, eu
não disse nada disso para a Lorenza.
Eu fiquei surpresa foi pela Maria ter dado essa informação a ela.
Pois, as poucas horas na cozinha, eu expliquei a Felícia e a Maria o que de
fato havia acontecido com o Anton e que não era para as duas contarem para
ninguém.
— Foi só um incidente de trabalho.
— Nossa, sério? Foi onde? É grave? Ele se machucou muito?
Meu olhar a analisa, estranhando tanto interesse e perguntas sobre o
meu ma... No... no Anton.
— Não se preocupe. Eu já o ajudei com o ferimento, ele passa bem
— sorrio fraco, contorcendo-me por ter mudado o semblante e ficado
incomodada. — É melhor eu subir, tomar um banho e tirar felícia do trabalho
de babá. Com licença, Lívia.
— É claro. E boa noite, Srta. Dexter. Espero melhoras para o seu
marido.
Agradeço entre dentes e saio desconfortável da sala de jantar.
Anton Dexter

Ligo para o meu advogado da capital e peço que ele me mande os


documentos do contrato com os arrendatários para eu assinar em casa. Ele
promete que tentará com o cartório. E eu respondo que não quero que ele
tente nada. E sim que preciso e espero esses papéis até amanhã à tarde no
meu escritório para acabar com a tamanha enrolação da minha parte.
Após a ligação e após ter expulsado a minha mãe que chegou
questionando se eu ia para a cidade ou não, eu vou até as bebidas do quarto e
escolho uma cachaça forte, com a intenção de esquecer essa merda de dor no
ombro e os pensamentos infernais que me deixam furiosos. E cada
pensamento tendo Kiara nele! Juro que se eu estivesse com toda a saúde do
meu braço, eu teria ido atrás daquele traidor filho da puta do Gael e socado a
sua cara! Eu teria sido capaz de uma besteira com a arma! Kiara é minha e é
só isso que todo o meu corpo, consciência diz. Eu necessito dela, ela é o que
me resta e eu jamais deixarei que ela se vá nem que outro a me tire!
— Bom dia, Sr. Dexter — de manhã, eu encontro a Felícia e uma
empregada arrumando a mesa do café.
— Bom dia, Felícia. Sabe se a Kiara já acordou? Preciso falar com
ela.
— Sim, ela está no quarto banhando o bebê. Acabei de levá-la um
chá. Disse-me que não conseguiu dormir direito porque estava sentindo muita
dor de cabeça.
— Eu vou vê-la.
Felícia sorri, recompondo-se.
— Tá bom, Sr. Dexter, com licença, não vou atrapalhá-lo mais.
Ela volta aos seus afazeres e eu retorno para a sala, subo os degraus
e vou até o corredor da Kia. Porém, quando eu paro na porta dela, ouço uma
voz feminina atrás de mim. Viro a cabeça e percebo ser a Lívia. Ela vem
caminhando do hall na minha direção.
— Bom dia, sr. Dexter. O senhor está melhor?
Franzo a sobrancelha, estranhando o seu questionamento.
— Desculpa — ela para sem jeito. — É que a Srta. Kiara disse
ontem no jantar que havia se machucado feio.
— Ela disse? — Fico sério.
— Sim, mas também disse que o senhor estava bem.
— Eu estou. Agradeço a sua pergunta.
— Por nada, fiquei preocupada...
A porta da Kiara se abre e ela aparece arrumada, com o menino no
colo e para súbita, arregalando um pouco dos olhos ao nos ver.
— Oi... bom dia, Srta. Dexter.
Kia me fita demorada, em seguida, a Lívia.
— B-Bom dia.
— Não vou mais importuná-los, com licença, vou descer para
aproveitar do sol e da piscina.
Ela vira o corpo dentro de roupas menos indecentes do que a da
Kiara neste momento e eu permaneço parado, impaciente.
— Que cena foi essa?
— Entra no quarto, Kiara. Eu preciso conversar com você.
— Se for sobre a viagem, fala de uma vez. Tenho que...
— Entra no quarto, Kiara!
Ela fecha o semblante, após a minha ordem rude que eu me
arrependi instantâneo de ter esbravejado. Ela se afasta brava com a criança,
virando as costas e entrando. Eu a sigo, tentando não focar na droga das suas
curvas traseiras exprimidas no vestido justo.
— Fala o que você quer?
— Se você não der um jeito de parar de andar com essas roupas
indecentes, eu mesmo as jogarei fora!
— Você não é capaz! — Ela brada, coloca o menino no berço e vem
furiosa até mim, me enfrentar. — Mudou de um dia para o outro? Ontem não
era esse...
— Eu, no momento, estou falando da sua indecência, não do meu
jeito ontem!
— Eu não estou indecente! E por que também não diz isso para a sua
amiguinha Lívia e me deixa em paz?!
— Porque ela não é a minha mulher! — Respondo com a veia do
meu pescoço, pulsando sem paciência. Minha vontade era de arrancar esses
panos com os dedos sem a menor cortesia!
— Não sou! Seu... seu arrogante, tire isso da sua mente! Você me
perdeu! Não me merece! E quer saber, eu estava pensando esta madrugada,
existe outros homens no mundo!
Aperto os olhos e quando eu vejo, puxo rápido a Kiara pela cintura,
pressionando-a bruto no meu corpo. Ela fica sem ação, assustada. Ela olha
para o meu ombro inchado, em seguida, fita-me em choque, arquejante, com
as mãos contra o meu peitoral.
— Você está impossível, eu nunca vou conseguir me controlar com
você me desafiando! Eu não suporto isso! Vou enlouquecer! — Aproximo o
rosto do dela e sinto o seu aroma de flores. Até esqueci o que ia bramar com
essa menina. — E eu não quero ser assim...
Kia se acalma, toca na minha barba, sem o olhar de medo ou a falta
de confiança daquela adolescente de dezessete anos.
— Eu não te compreendo... — sussurra doce. — Sobre as minhas
roupas, há três anos me queria parecendo uma "mulher qualquer" indo ao seu
lado nos eventos. Qual o problema hoje?
Eu fico sem resposta, pois não posso dizer a verdade, além de ter
mudado fisicamente. E ela toca no meu pescoço... descendo para o meu
peitoral. Seu toque feminino faz meus músculos enrijecerem.
— O que sente, Anton? Mostre-me algo, prove que realmente só tem
a mim. Você só mostra ser um carrasco bárbaro, sem sentimentos. Age assim,
me puxando bruto e cheio de ordens.
Olhos os seios do seu decote, adiante as suas íris cor azul, seus
lábios delicados e chego perto do seu ouvido.
— Jamais me senti tão atraído pelo que é meu e não posso tocar.
Não me faça essas perguntas, eu não sei respondê-las.
Ao me afastar, aperto seus quadris e passo pela sua boca, desejando-
a. Ela não se desvia e isso me faz no mesmo instante tomá-la feroz.
Penetrando-a língua. Meu sangue esquenta, meu corpo contrai. E estranho
sua correspondência também desejosa a mim.
— Agora você me deseja como mulher? — Ela questiona sem ar. —
Como as suas amantes?
Engulo em seco, inquieto e nervoso.
— Nunca tive amantes — então, a respondo olho a olho.
— Está ment...
— Eram prostitutas de bordel.
Kia imediatamente fecha a boca. Eu respiro fundo, acariciando os
seus lábios inchados. Ela, então, se distancia, empurrando-me. Eu a solto sem
insistir na vontade contrária.
— De qualquer jeito, era traição. Você não tem a minha confiança,
além de não ser só essa as suas maldades — ela limpa o batom do rosto,
mudando de assunto e voltando ao berço. — Era só isso que você queria?
Discutir sobre as minhas roupas?
— Não brinque comigo, eu não te quero tão indecente assim. E vim
falar da viagem. Como desejava, não iremos mais para a capital. Tentarei
resolver tudo dentro da fazenda.
— Hum... que bom.
Kia pega o menino e vira-se. Eu, instantâneo, observo a criança
contra a luz do sol da janela, notando a cor dos seus pequenos olhos serem
como os meus. Ele me olha com a mão na boca e eu abaixo a cabeça,
erguendo-me e desviando para ela.
— E-Eu vou descer, chamei uma loja de coisas de criança e estão
para chegar. Com licença.
Consinto calado e ela, de mal jeito, passa por mim, caminhando até a
porta. Eu permaneço alguns segundos olhando o berço. Aperto o chapéu e,
em seguida, retiro-me.
CAPÍTULO 16

Kiara Dexter

Após o almoço, a loja de artigos para bebê chega para me mostrar os


enxovais trazidos da capital. E não nego que fiquei tão animada, tão
encantada que comprei quase tudo que a vendedora me mostrava e explicava.
Ela e as suas duas funcionárias saíram daqui com as mãos vazias.
— Nossa, Kiara, isso não vai caber nos armários — Felícia sorri
balançando a cabeça e olhando a imensa pilha em cima da cama, onde o
Gieber se diverte com as suas compras. — Precisamos chamar as empregadas
para ajudar.
— Eu também vou ajudar, chama só a Sônia.
Quando a Sônia chega, fica mais rápido para organizarmos e
terminamos em tempo recorde.
— Oi, srta. Kiara, com licença — Lívia entra no meu quarto,
batendo na porta já aberta. — Desculpe-me incomodá-la. Eu só gostaria de te
chamar para andar a cavalo comigo.
Felícia me olha sem dizer nada. Eu desvio educada para a Lívia, não
querendo sair para passear com ela.
— Oi, eu não vou poder, estou um pouco ocupada.
— Ah, sério? É sábado, achei que poderíamos fazer algo divertido
juntas.
— Se quiser ir, eu fico com o Gieber, será o maior prazer.
— Não sei, Felícia... eu já estou te explorando demais. Ser babá não
é o seu trabalho.
— Meu trabalho é estar com você, sempre te ajudando no que
precisar. Não se preocupe, eu amo ficar com o pequeno Dexter. Ele é
quietinho e uma fofura.
— Ouviu, Kiara. Vamos?
Respiro fundo e convenço a mim mesma que não existe mais
desculpas. Por isso, peço a ela para aguardar e vou até o closet vestir uma
blusa, uma calça e uma bota de couro.
— Obrigada, Felícia. Volto logo.
— Se divirta, doce menina.
Pronta, caminho até a Lívia e descemos andando até os estábulos.
Ela demonstra estar bem animada.
— Nossa, desde que meus pais venderam a fazenda da família que
eu não sei o que é cavalgar.
Sorrio de lábios fechados, tentando igualmente me animar na
companhia dela.
— Olá, srta. Dexter.
Ao chegarmos e após escolhermos os cavalos que o capataz nos
montou, um outro capataz se aproxima sério – é o Jesuíta, homem de
confiança do Anton.
— Oi?
— Perdão, madame, mas o patrão deixou ordens severas para não
permitir que andasse a cavalo, nem saísse das extremidades da mansão.
Eu fito os olhos dele, recordando-me imediatamente do que
aconteceu com o Anton e do seu relato de que existia pessoas tentando matá-
lo. E que eu também corria algum perigo.
— Não se preocupe, Jesuíta, eu acompanho as senhoras.
Surpresos por ouvirmos uma voz grave, viramos a cabeça para o
lado e Gael surge com o seu porte forte, moreno e trajando a sua enorme
fivela na calça azul. Ele para na lateral do capataz.
— Pode se retirar.
— Sinto muito, Gael, nada sobrepõe a ordem deixada pelo nosso
patrão Dexter. E ainda ordens vindas diretas e que custam o meu serviço.
— Não há o que se preocupar, eu já disse.
Jesuíta me fita nervoso.
— Srta. Dexter, espero que compreenda a ordem deixada pelo
patrão. Não posso permiti-la de...
— Tudo bem, o compreendo. Não irei pôr o seu pescoço em risco,
sei que o Anton não é um dos melhores chefes para ter as suas ordens
desobedecidas.
Gael abre a boca, fechando o semblante para mim. Eu não dou
atenção para ele e nem para o seu mal disfarce de desagrado. E me volto a
Lívia.
— Lívia, ficaria à vontade em fazer o passeio apenas com o Gael?
Como ouviu, eu não posso. E não se preocupe, ele é o melhor amigo do
Anton (ou infelizmente era). Você estará em ótimos cuidados, eu garanto.
Lívia olha para o Gael, demorando no seu olhar castanho. Então,
gaga, ela me responde fora da sua habitual confiança nas palavras.
— É-É claro, sem problemas.
— Ótimo!
— Kiara, temos que conver...
— Não temos o que conversar — o corto, realmente sem querer mais
me aproximar dele e magoá-lo com os meus inúmeros não, sobre
corresponder aos seus sentimentos. Não posso permitir outro beijo roubado,
não posso alimentar os seus anseios. — Por favor, acompanhe a Lívia em
segurança. Ela quer muito realizar esse passeio. Com licença — triste, digo a
ele e retiro-me com o Jesuíta.
Quando eu chego em casa, troco novamente a roupa por outra mais
velha e vou para a cozinha ficar com a Felícia, o meu filho e a Maria. Passo o
restante da tarde com elas, fazendo pães doces e um bolo de milho, que, aqui
entre nós, é a minha maior especialidade. Entretida com os nossos assuntos
diversos, antes do anoitecer, Gael retorna sozinho e concluo que o passeio
dele e da Lívia já tinha acabado. Sua mãe oferece uns pedaços das nossas
receitas prontas, só que ele nega, não tirando os olhos de mim.
— Eu queria falar com você, Kia. Por favor. Prometo que serei
rápido.
Desejando é não conversar, eu mesmo assim resolvo ser respeitosa
com ele e aceitar o que tem a dizer.
— O que foi, Gael? — Eu o questiono ao pararmos no corredor que
liga a cozinha a sala de jantar.
— Eu precisava te pedir desculpas por aquele beijo de ontem. Eu
não tinha o direito de roubá-lo, no entanto, não me arrependo.
Eu respiro fundo, colocando a mão na cintura.
— Tem que entender que somos só amigos. Pare com isso, pelo
amor de Deus, está se afastando do Anton por minha causa. Vocês nunca
foram assim, sempre estiveram juntos, resolvendo as coisas da fazenda de
cabeça fria e até rindo brincalhões.
— Eu não me afastei, foi ele quem me trocou pelos seus irmãos
drogados e se enfiou num poço escuro de solidão. Eu não vou mentir que o
Anton é como um irmão. Porém, existe você e eu não vou abrir mão de te
conquistar, Kiara. Deixe-me te fazer feliz, ser o homem que você espera?
— Uau, ser o homem que você espera? — Eu arregalo os olhos para
a voz que surge meio longe de nós. — Meu querido Dexter vai amar saber
disso. — Eu viro apavorada para a Lorenza, que vem andando na nossa
direção. — Quer dizer que a selvagem e o pé rapado são amantes?
— Cala a boca, sua megera!
— Confesso que os dois formam um casalzinho perfeito — ela sorri
de orelha a orelha. — Que alegria, não imaginam como estão me fazendo
feliz neste exato momento. Acho que é uma ótima ocasião para abrir um
champanhe.
— Gael é o meu amigo! Fecha essa boca nojenta!
— Amigos, é? O que eu ouvi agora pouco parecia uma declaração de
um belo bobo apaixonado. E que coisa feia, Gael, meu falecido marido te
pagou um estudo tão caro para se formar na mesma profissão que o Anton. E
agora, além de viver aos pés do meu filho que igualmente te deu uma casa
nas nossas terras poderosas, e um salário gordo, ainda deseja a sua pobre
selvagem do mato? Quanta inveja. Bem que eu avisava a ele. E olha, não
estou indo contra vocês, que isso, eu sou super de acordo com os pombinhos.
Estão decepando o meu problema com uma cajadada só — ela volta a me
olhar e a gargalhar.
— É uma maluca, Lorenza. Deveria procurar é uma clínica para
loucos e se internar!
— Gael, não me desrespeite, pobrezinho. Mas estou tão feliz, que
deixarei passar batido essa. Com licença, aproveitem da mansão enquanto
podem! — Ela vira as costas, rebolando a sua classe de megera, e eu, por
meros segundos, não corro atrás dos seus cabelos, jogo-a no chão e estapeio a
sua cara.
— Kia, calma — Gael me segura.
E eu fico furiosa!
— Olha o problema que está causando a si mesmo? Chega disso,
tente me esquecer e seguir a sua vida, Gael!
— Eu não posso, eu te amo. Fuja comigo? Que se dane tudo e todos.
Não aceito te deixar sofrendo com o An...
— E se eu te trocar por ele sofrerei mais ainda! Por favor, se não for
para ser o meu amigo, deixe-me em paz! Eu já estou cansada!
Desesperada, eu o abandono sozinho e quase corro. Passo pela sala,
subo os degraus e no meu quarto, entro batendo a porta, sem saber o que
fazer. Quando eu cheguei aqui, tudo o que eu mais almejava era ir embora,
não suportava olhar o Dexter e lembrar do que havia me feito sem um pingo
de amor. Mas... mas eu não sei o que quero. Eu não sei o que fazer mais.
Minha vida parece não ter rumo indo embora e nem ficando! Eu o amo, eu o
amo e é uma tortura ainda amá-lo! Eu só queria que ele provasse, que sentisse
o mesmo que eu! Que ele sofresse o meu amor! E saber que sofre só de culpa,
é tão pouco! É nada do que eu passei todos esses anos!
Eu me jogo no tapete do chão, ao lado da cama, chorando de aflição,
ansiedade, desespero, eu busco alívio para a minha alma.
Sem demora, ouço o som da porta se abrindo e coloco a cabeça mais
colada aos joelhos, não querendo ver ninguém e nem que ninguém me veja
sofrendo.
Permaneço quieta, gemendo e sinto uma sombra aproximar-se,
sentar-se devagar no colchão, ao meu lado, com os seus pés pesados.
Chorosa, eu levanto o rosto e chocada, vejo ser o Anton, a pessoa que eu
menos desejava ver e que me visse derrotada. Volto rápida a minha posição
abraçada aos joelhos, virando o rosto para a mesa de canto.
— Kia...
— Sai daqui.
— Não quero discutir.
— Mentira, e-eu sei que a sua "querida" mãe foi cuspir venenos para
você sobre mim e o Gael. Mas é mentira, você sabe que não tenho esse
caráter.
— É por isso que está chorando?
— Quer saber, não, Anton! — Eu me levanto bruta e farta, encaro-o
valente. — Eu estou cansada de sofrer! E cada sofrimento meu, tem você
nele! E chorar me alivia de não fazer uma loucura neste inferno de casa! Não
tem ideia da raiva, do ódio, da revolta que eu estou sentindo e poderia
descontar em você, seu desgraçado! Infeliz sem compaixão! Eu quero te
odiar! Te detestar! Ter todos os piores sentimentos desse mundo!
Anton continua com os seus olhos autoritários sobre mim, por mais
que surpresos, ele não demonstra estar afetado. Enlouquecida, eu passo a mão
no rosto, subindo para o cabelo e aproximo-me dele, parando na sua frente.
— É um monstro! — Eu brado. Ele só me observa. — Reaja, seu
cafajeste, seja o desgraçado, o monstro que você é! Não era esse momento
que me agarraria, me jogaria na cama e entraria em mim, como gostava de
provar a sua brutalidade?!
Ele ergue o pescoço, ainda apenas me olhando. Eu aperto os punhos
e explodindo de tanta, tanta raiva, tanto ódio, eu ergo a mão e por pouco, por
muito pouco não o estapeio com toda a força e o desejo do meu braço! No
entanto, ele me segura na cintura e agarra-me ávido, jogando-me na cama e
subindo sobre o meu corpo.
Eu paraliso, tremendo e chorando de pavor, medo por ele ser capaz
de tudo o que eu disse.
— O que eu te tornei, Kiara? — Ele, então, sussurra
surpreendentemente controlado, fitando-me intenso, olho a olho. — E o que
nos tornamos? Eu durmo pensando no que te fiz, acordo pensando que eu não
te mereço e que deveria te deixar ir. Só que aí eu te vejo na manhã seguinte e
o orgulho, o egoísmo, a dor me impede. Eu vejo aquele menino e isso só me
deixa mais culpado e sem saber como agir. Estou atado. Eu fico louco te
olhando nos olhos, fico louco quando te puxo e sinto o seu cheiro doce de
flores, e louco, puto de raiva por querer desta vez te dar amor e provar que eu
não sou esse monstro. Eu preciso de você e estou assumindo todos os meus
atos para recomeçar...
CAPÍTULO 16. PARTE II

Eu não suporto e choro com as suas palavras. Anton se inclina,


tocando na minha bochecha com o dedo indicador.
— É tudo o que eu mais quero, Kia.... — Ele sussurra com os lábios
próximos dos meus. — Eu preciso te provar isso...
Eu sinto a sua respiração, o seu hálito quente, o seu nariz no meu
rosto. Fecho os olhos e sem pressa, recebo o seu beijo doce, calmo,
moderado..., porém, ao mesmo tempo, faminto, lascivo, que me faz perder as
forças e a capacidade de pensar. O meu coração dispara, os batimentos falam
alto. Então não resisto, abraço os cabelos da sua cabeça e mergulho
desesperada, indo profundo nos estímulos que me tomam até perder o fôlego.
Anton percorre a mão no meu pescoço, fazendo-me arquejar pelos beijos que
o acompanham.
— Anton... — viro o semblante anelo e ele continua descendo,
provocando-me mais arrepios. — Anton... — o chamo pela segunda vez,
tremendo, sem saber o que fazer com essas sensações.
Ele se ergue devagar, encarando-me obscuro e colando a nossa testa.
Minha vista se embaraça em lágrimas.
— E-Eu tenho medo de você... — confesso tão baixo que nem eu
mesma ouço a minha própria voz embargada.
— Não diga isso, Kia. Confia em mim, nem que seja pela última
vez. Eu não sou um monstro, eu não sou só um bruto... eu não sou... — Ele
beija o meu rosto e noto os seus batimentos acelerados, ansiosos. — Eu não
sei o que sinto, eu só sei que não posso te deixar jamais ir. Eu não vou te
deixar ir.
Meu Deus, o que eu faço? Eu amo tanto esse homem que chega a
doer...
Eu me deito para trás, seguindo com dor os instintos do meu
coração, e não digo nada, simplesmente puxo-o para beijá-lo. Anton,
surpreso, pressiona a minha cintura e, também sem dizer mais nada, ele me
penetra a língua, erguendo com os seus dedos robustos a minha perna na
altura do seu quadril. Eu fecho os olhos, agarro-me na sua camisa, sem
chegar perto do seu ombro machucado. Ele me aperta, descendo de novo os
lábios e os dentes no meu pescoço. Noto-o chegar na alça do pequeno vestido
florido, onde morde o tecido, acariciando lentamente a minha coxa exposta.
Abro as íris em hesito e rápido, instantâneo, ele retorna a minha boca,
arregaçando de uma vez só os botões da sua camisa. Ele grunhi de dor ao
forçar os braços para tirá-la. Mas tira, afasta-se e volta, dando-me a visão do
seu abdômen forte. Eu o fito, toco os pelos do seu peito indo até a sua barba
com a minha pequena mão. Anton suspira nervoso.

Anton Dexter

Meu sangue esquenta, seu toque é delicado, me faz desejá-la mais e


mais. Seu aroma não tem comparação a nenhuma outra. Está me
enlouquecendo. Quero chupá-la feroz, quero sugá-la cada centímetro de pele.
Quero esta noite pensar só nela, dar tudo a ela.
O pôr do sol transpassa os montes que cruzam a fazenda,
escurecendo o quarto. E inseguro de nunca mais ter outra oportunidade de
estar aqui, provando que eu não sou um monstro, que eu estou arrependido
dos meus atos e que eu preciso dessa menina, decido que daqui em diante não
pararei por nada. Seguro com calma a sua cabeça, arqueio o corpo e beijo os
seus seios endurecidos por cima do vestido. Kia comprimi as pernas no meu
quadril, mas eu não retorno para conferir a sua feição, se está assustada. No
entanto, seus mamilos eriçados demonstram que a excito.
Eu quero tocá-la, quero sentir o quanto está molhada, só que a razão
é mais forte do que o tesão e eu não terminei de me dedicar o suficiente para
isso. Abaixo ligeiro as alças da sua roupa, não dando tempo de ela pensar em
desistir de mim, pois eu deixo seu colo nu, devorando em seguida cada
mamilo com extremo desejo, usando a outra mão para massageá-la. Ela se
curva de satisfação, correspondendo ao abrir os beiços e gemer. Minha calça
me sufoca, mas que se dane, não pararei de sugá-la enquanto não estiver
pronta. Não estou me dedicando a perdê-la.
— A-Anton... — Kiara me chama e eu a analiso com a boca firme
nos seus seios, lambendo-a, sugando-a, mordendo-a.
Então, ela puxa os meus cabelos, joga a cabeça para trás, grita e eu
tenho a absoluta certeza de estar tendo um orgasmo. Eu me afasto com os
músculos rígidos, tiro os sapatos, a calça, ligo o abajur e volto assim que ela
também retorna os sentidos. Os seus olhos estão vermelhos e vê-la chorando
me enfraquece. Sinto-me mais desgraçado, não ao contrário.
— Anton... — Desta vez, quando me chama, eu me aproximo da sua
testa, nervoso... porra, confesso, com medo. Encaro-a respirando irregular.
Ela chora mais. — O que vai ser de amanhã? O-O que vai ser de mim depois?
Surpreso, eu perco a voz.
— O que vai ser?
— Eu não sei... eu preciso que confie no agora. Feche os olhos e me
permita mudar as coisas.
— Tudo me faz pensar naquela noite... — sussurra cansada, virando
o rosto ao deitar-se, sem me olhar. — Esse homem não é você.
Eu engulo em seco, pego na sua mão, beijo-a e coloco sobre o meu
lado esquerdo do tórax.
— A partir de hoje, eu serei cada vez mais um homem novo! Nem
que isso custe a minha própria vida, eu te prometo!
Ela me olha chorosa e a pouca luz amarela do abajur, realça os seus
cachos loiros repousados no colchão, em contraste com os seus seios rosados,
as sardinhas e a pele bronzeada, deixando-me sem palavras. Kia é a mulher
mais doce que eu já conheci nesta vida e estou assumindo isso desde o dia em
que ela foi embora. Abaixo-me.
— Feche os olhos... — a beijo, descendo os dedos nas alças. Ela
fecha e passo seu vestido por baixo de mim, até as pernas, onde tiro com os
pés, quando regresso deslizando pelas suas coxas quentes, aveludadas e paro
no cós da calcinha, Kia pressiona o meu braço, quase fincando as unhas. —
Não faça, não abra... por favor — tremendo as pálpebras, ela não abre e eu
deslizo para o seu interior, louco ao sentir os seus poucos pelos claros e as
suas entranhas meladas.
Kiara grunhi, contorcendo-se, introduzo-a dois dedos, movendo em
sentido vai e vem, lento, prazeroso. Ela segura os lençóis, perdendo o ar. Eu
não paro de analisar cada mínimo detalhe enquanto a estímulo e sei que
preciso preenchê-la, a sua lubrificação escorre, suas paredes interiores
pulsam, contraindo latejantes. Eu posso sentir tudo isso dentro dela. Eu
mastigo a tamanha vontade, tomo a sua mão na minha e ela me sente tirar o
meu membro enrijecido, pois seus olhos inchados se abrem aflitos e seus
pequenos dedos apertam os meus com força.
Continuo a encará-la nas íris. Uma lágrima a escorre. Coloco o
preservativo, afasto sua roupa íntima, e então recebo uma última olhada antes
de Kia comprimir o pescoço contra a cama e rasgar ardido as minhas costas.
Eu a penetro, indo lento e torturante, mexendo-me de começo vagaroso, para
fazê-la gemer e reagir com tesão na medida em que invisto nos satisfazendo.
Seus seios roçam no meu peitoral, a nossa pele gruda devido ao atrito e tudo
o que eu tenho para poder assisti-la neste exato momento é só a luz do abajur.
Eu não consigo parar de acariciar, tocar cada canto seu, de grunhir
com o seu prazer. Kiara me beija, puxa os meus fios, arqueia a coluna, achata
as coxas e eu tento me controlar ao máximo para não ser um filho da puta
feroz, pois ela está me asfixiado com o clitóris. E eu estou fascinado, maluco
por estar sentindo-a assim.

Ofegantes, ao alcançarmos o limite do ápice juntos, eu permaneço


sobre ela, não querendo assumir a minha dor no ombro. E admiro a sua feição
exausta. Kiara até me fita, só que o cansaço a toma e ela se deita. Eu também
me deito ao seu lado, não evitando puxá-la para sentir o calor da sua pele
quente, o aroma dos seus fios emaranhados sobre o meu peito. Eu preciso
dela, eu preciso aprender a mudar, eu só não sei como fazer isso ainda.
Ela aceita calada ficar sobre mim, tocando no meu abdômen,
enquanto eu fico cheirando os seus cabelos macios.
— Anton... — Kia me chama alguns minutos depois. — P-Por
favor... vai embora — sussurra. — Eu quero ficar sozinha.
— Eu não quero te deixar sozinha.
— Por favor... só me deixa...
Sem saber como contestá-la mais, mesmo querendo é continuar
junto do seu calor, meus atos tatuados no meu subconsciente me impedem, eu
não posso. Sei que o que menos devo fazer é permanecer aqui. Por isso, eu
me convenço a me levantar, vestir a roupa, colocar o chapéu e antes de sair...
a examino enrolada nos lençóis.
— Eu não esqueço as minhas promessas, Kiara. Eu espero que
acredite em mim.
— Não sei como vai fazer o que prometeu, como será esse homem
que merece a minha confiança e a minha dedicação de novo, pois aquela
Kiara adolescente, que comprou como um objeto, não existe mais. Agora ela
tem um filho e é por ele que sua vida continua de pé. E você, não o esqueça
se estiver realmente se transformando. Por favor, sai, Dexter...
Suas palavras diretas me deixam sem armadura e eu me retiro do seu
quarto para passar o restante da noite em claro no meu escritório, pensando
nela, no nosso momento e no sentimento de culpa que continua aqui, dentro
de mim. Porra, eu realmente estou em suas mãos e ainda mais sem saber o
que fazer com aquele menino... o meu filho.
CAPÍTULO 17

Kiara Dexter

Eu me levanto tentando não pensar no Anton e no que aconteceu. Eu


ainda não consigo assumir a mim mesma que fizemos amor, que ele esteve
ontem em cada pedaço do meu corpo e eu... eu senti prazer, delírios, desejos.
Nem na minha primeira vez foi tão carinho e atencioso. Eu quero chorar,
sinto-me enlouquecida com essas sensações. É como se eu tivesse perdoado
aquela noite em que foi um monstro bárbaro. Só que não o perdoei, na
verdade, eu nem sei o que mudou entre a gente.
— Desculpa por ter pego o Gieber tão tarde... — digo a Felícia por
ela ontem ter ficado com ele até as 22h00.
— Tudo bem, Kia, é sempre um prazer cuidar dele.
Eu sorrio, agradecida pelo seu carinho, e vou até a cama provar da
bandeja deliciosa de café que me trouxe.
— Preciso voltar para o serviço de verificar os empregados. Tem
uma menina que está me dando muita dor de cabeça.
— Quem?
— É aquela de cabelos curtos, a Milena. Ela entrou depois da Sônia
e só sabe dar trabalho. Sr. Anton me disse esses dias que até pegou a menina
escutando suas conversas atrás da porta. Além de ser muito desastrada,
curiosa e cheia de perguntas que não a desrespeitam. E se essa semana ela
não parar de quebrar os objetos caríssimos desta mansão, eu a mandarei
embora.
— Nossa, eu não sabia disso. Eu sempre a vejo por aí, mas é tão
quietinha.
— Ah, doce Kiara, é porque não deu trela para a menina abrir a
boca. A proibi de limpar o seu quarto, o do patrão e o escritório. Não
enquanto conseguir me passar alguma confiança.
— Depois eu gostaria de conversar com ela, talvez isso a ajude. Eu
estou tão deslocada, sinto-me distante da mansão. Parece que eu sou uma
hóspede pronta para ir embora a qualquer momento.
— Tudo aqui é seu. É a Srta. Dexter, é a patroa da mansão. E acho,
Kia, que a Lorenza e a visita dela tem que compreender isso também. Elas
estão achando que não existe uma superior acima das madames.
Eu olho para a Felícia, surpresa pelo seu comentário em forma de
desabafo, que realmente é a pura verdade.
— Desculpe-me... — Ela, então, passa a mão na saia que vai até o
joelho e olha-me envergonhada. — Acho que eu não tinha o...
— Não, você tem completa razão. Eu, querendo ou não, sou a esposa
do Dexter e ele me deu todo o poder de controlar a casa. E é isso que eu
investirei daqui em diante, no meu papel acima daquela bruxa.
Mais tarde, eu saio do quarto, passo pela sala e tenho a grande sorte
de dar de cara com a megera, ou melhor, o diabo em vestes vermelhas,
tomando chá com a Lívia. Elas, por incrível que pareça, ficam surpresas por
não me verem jogada na rua. E, também, graças a Deus, por outra sorte,
impedindo imediatamente a bruxa de abrir a boca e cuspir seu veneno contra
mim, Anton aparece vindo da porta principal com o seu chapéu negro e o
olhar penetrante. Ele me fita enquanto anda. E eu desvio, recordando-me da
nossa noite.
— Espero que já tenha arrumado a sua mala, selvagemzinha
adúltera! — A megera não se intimida com ele e cospe o seu veneno.
Eu a encaro, furiosa.
— Para o seu maravilhoso desgosto, não!
— Ouviu isso, An...
— Não estou para discussões, Lorenza! — Sem encará-la, ele passa
nervoso atrás de mim, indo em direção ao seu escritório.
E para me fazer arregalar os olhos logo em seguida, Gael igualmente
aparece.
— Bom dia... — Ele adentra a sala, não olhando para ninguém e
caminhando sério na mesma direção que o Anton.
Eu fico assustada. O que o Gael faz aqui? O que o Dexter pretende
com ele?
— Bom... que boa notícia, parece que eu me enganei com o meu
filho, ele já está dando providência na sua falta de vergonha — ela sorri e eu
não a respondo, dando rápida de costas e indo até corredor do escritório.
Eu me aproximo do hall em formato de abóbada, paro na porta e
nervosa e tento ouvir algo. Mas não ouço nada. Meu Deus, o que eles estão
conversando? Prevejo não ser coisa boa. Eu estou angustiada, aflita. Sinto
medo do Anton e da sua autoridade superior de querer mandar o Gael embora
da fazenda. Ele é um amigo, por mais que eu não corresponda aos seus
sentimentos, eu o amo de outra forma, como uma pessoa que me consolou,
me animou, me fez rir, conversar e esquecer do meu marido. Gael jamais foi
de mal caráter, e ele não tem culpa do seu coração e da sua paixão — mesmo
isso me entristecendo.
Não demora e após alguns minutos, alguém abre abrupto a porta. E é
Gael. Ele sai me olhando estranho. Parece bravo.
— Gael, peço desculpas por on...
— Não, não deve pedir nada. Com licença! — Ele vira e retira-se
rude.
Eu fico parada, plantada, sem entender a sua reação. E o pior,
sentindo-me culpada. Eu, então, não perco tempo e entro no escritório do
Anton. E meio desconfortável, eu o observo sentado na sua cadeira, com a
mão na testa. Ele ergue a cabeça, quieto, encarando-me.
— O que conversou com o Gael? O que fez, Anton?
— Nada.
— Vai mandá-lo embora? — Questiono insegura do seu jeito bruto.
— É o seu amigo, vocês cresceram como irmãos.
— Não, Kia. E quero que isso fique bem esclarecido para você. Gael
é um ótimo profissional como gerente da fazenda e nada mais. O mercado de
trabalho está aberto para ele. O contratariam num piscar dos olhos. Porém, se
ele quiser ainda continuar exercendo a sua profissão aqui, ao meu lado, terá
que ficar longe da minha esposa!
— Foi isso que disse para ele?
Anton se levanta com o seu porte muito alto, de estrutura forte,
fazendo-me calar a boca ao se aproximar sério.
— Sim.
— Eu não queria que se desentendessem, e não queria me afastar
dele, é um ami...
— Não vai ficar perto dele, eu enlouqueceria contra os dois! Eu juro
que faria uma besteira! — Anton esbraveja bravo, parando bem na minha
frente. — Ainda mais perto de um homem vestida assim... — Ele me olha de
baixo em cima, retornando enfurecido para os meus olhos. — Com essas
roupas vulgares! Por que está andando quase nua? Pare de vestir isso.
— Porque sim! Porque eu quero! — Enfrento-o, sabendo que o
mesmo detesta. — E não estou nua, minhas roupas são da moda! E qual o
motivo para implicar tanto com elas? Há três anos não queria me ver vulgar?
— Eu nunca te quis vulgar, só elegante, além de antes não ter esse
corpo de mulher que está na minha frente, me enfeitiçando por cada curva
bonita.
Surpresa, abro a boca, fechando-a para engolir a saliva e segurar as
pernas moles.
— E-Elas, eu... eu te provoco? Eu sou bonita?
— Me enlouquece. E você é linda... — Ele chega perto de mim,
roubando meu oxigênio e eu me afasto cada vez mais amolecida, até bater
contra a beirada da mesa e parar com o coração acelerado. — Não sabia?
— Eu estava insegura. V-Você nunca disse... e nunca me elogiava
pelo corpo. Mas eu sabia que jamais seria o suficiente. Foi o que os seus
irmãos te disseram uma vez lá na sala. Eu ouvi tudo escondido, até você
concordando e rindo. Estava zombando de mim. — Anton abaixa as íris,
retornando com a sua face recaída. — Foi ali que eu me dei conta de estar
sendo traída, de ser feia, de ser insuficiente para o meu próprio esposo.
— Quer saber, eu era um desgraçado, um filho da mãe. Eu... — Ele
me puxa pela cintura, deixando-me tonta. — Eu sinto que eu era. Eu não sou
mais assim. Eu quero te provar isso.
Seu toque me remete a nossa noite, ao prazer que me deu, e perco o
ar.
— Eu expulsei meus irmãos, eu joguei aqueles merdas imprestáveis
que estavam sendo sustentados nas minhas custas, na rua. Eu não sabia o que
fazer mais, quebrei todo esse escritório, o nosso quarto, pensando onde
estaria, o mal que corria sozinha com a sua ingenuidade, o seu jeito inocente
de confiar em todo mundo. Eu fiquei maluco. Cai em si.
Coloco a mão no peitoral largo dele, como sempre gosto de fazer,
sentindo os seus batimentos ansiosos. E sem querer confessar a realidade, eu,
lá no fundo, aceito que a sua maneira bruta, séria, feroz, é quem ele é. E que
por trás disso, tem um homem que talvez esteja criando sentimentos... talvez
esteja mudando? E eu quero aceitar, eu quero acreditar, contudo, a razão pede
que ele demonstre que me ama, que demonstre que não me fará sofrer
novamente.
— E como eu posso acreditar em você? Crer que caiu em si?
Ele se aproxima do meu pescoço, me causando tremores.
— É aí que eu não sei, Kiara, eu juro que não sei. Eu preciso de
você. Preciso que diga o que sentiu ontem à noite quando eu te toquei,
quando eu estive fazendo amor. Eu preciso que diga.
Arregalo os olhos.
— N-Não! — Afasto o rosto, ruborizada, entretanto, ele volta
grudando na minha testa e roubando-me um beijo sem aviso, que toma os
meus lábios, desmoronando o chão e as paredes ao meu redor.
Quando consigo afastá-lo sem fôlego, eu sinto desejo.
— Não tem o direito, Anton. Sou eu quem devo questionar os seus
atos... Por isso... — Meu coração se aperta e de tanto guardar esta pergunta,
sou direta de uma vez. — Responda: por que detestava que eu lhe pedisse
uma família? Por que não queria me dar um filho?
Com medo de ser neste momento que ele surta, como antigamente,
eu aguardo fraca das pernas, no entanto, sem afastar dos seus braços e sem
desviar dos seus olhos.
Anton mexe a goela e solta-me devagar. Ele olha para o lado da
janela e retorna para mim com o semblante surpreendentemente rendido.
— Não odeio crianças. E detestava que me pedisse um filho porque
eu já tinha deixado claro centenas de vezes que eu não queria um. Que eu não
estava pronto.
— Eu só queria amar algo nosso... algo pequeno, que fosse meu e
seu... — Minhas palavras em sussurro embargado o fazem perder a sua
armadura.
— Olha para mim, Kia, eu fui um descontrolado, um desgraçado
com a minha própria esposa. Eu não podia te dar isso, pois me faria me sentir
mais desgraçado — Anton não desvia o olhar vermelho. — Era o sonho do
meu pai. Antes de morrer, a primeira coisa que ele queria era que eu
encontrasse alguém que não fosse como a minha mãe, uma mulher
interesseira, que vivesse por dinheiro. Ele me pediu deitado numa cama,
agonizando e rindo, que eu fosse feliz ao lado de alguém humilde, que eu
amasse, que ele fosse gostar e que eu pudesse lhe dar um neto vindo dela. E
por mais que não fosse ver ele ou ela antes de morrer, que eu pelo menos na
data do seu aniversário levasse a criança para deixar flores na sua lápide. E,
droga, o que eu fiz Kiara? Sabe o que eu senti quando te comprei? Sabe como
eu me senti quando começou a me pedir um filho? Que você não era a mulher
que eu deveria estar casado, que eu não te amava. E que na verdade eu não
sabia nem como era a porra desse amor. — Eu me afasto, quase chorando. —
E quando eu te vi com aquele menino, foi ainda pior do que tudo. Eu não
queria acreditar, eu não queria ter a certeza de que aquela noite eu pude
abusar de você, te machucar só por ter me pedido um filho. Eu saí do quarto
com os pensamentos em você ali, derramada naquela cama, chorando. Eu
bebi para tentar esquecer, enquanto destruía a casa. E na manhã seguinte, eu
voltei, mas você não estava naquela cama, tinha deixado a sua aliança na
mesa e fugido sem nem sequer levar os chinelos. Mesmo assim, eu ainda não
acreditava. Eu me torturava para não acreditar. Eu resolvi te procurar tendo a
certeza de que era mentira. Você não merecia nada daquilo, era doce, uma
menina curiosa e que eu gostava, me sentia seu responsável, você era a minha
esposa. Foram dois anos te procurando. Então, no dia em que eu te achei,
meu Deus, assim que eu te vi, eu precisava explicar alguma coisa. Só que
explicar o quê com o meu modo bruto, rude, orgulhoso? E quando me deu
aquelas condições de voltar? Eu aceitei tudo sem pensar duas vezes... exceto,
até que não disse a última condição. E quando voltou, quando atravessou
aquelas cortinas de pedras, eu tive a prova, a certeza dos meus atos ali, nos
seus braços. Eu estava vendo a minha falta de caráter com você. Não havia,
não há explicação, não há desculpas, não há o que omitir, esconder, mascarar.
Eu fui um desgraçado e eu estou em suas mãos. É essa toda a verdade. É o
que eu tenho para dizer e talvez eu não consiga repetir de novo.
Eu encosto na mesa, sem suportar mais as lágrimas. Anton respira
fundo, chega perto de mim e eu permito o seu toque no meu rosto. Ele beija a
minha testa, acaricia o meu braço e inclina a minha cabeça no seu peito. Sua
ação me deixa mais sensível e com o coração dolorido.
— Eu honrarei a minha promessa. Eu farei isso por você e pelo filho
que te dei. Só preciso que me permita poder fazer as coisas certo. Por mais
que eu tenha esse jeito, esse gênero, que compreenda que eu não quero lhe
assustar e nem lhe afastar. Eu quero tentar por nós, por você que merece os
meus sentimentos como esposo e como o homem que lhe comprou ainda uma
menina. E pelo meu pai.
CAPÍTULO 18

Gael Abner

Pela primeira vez, eu sou rude com a Kiara, viro as costas, querendo
quebrar todas essas paredes no soco, por raiva, ódio pelo Anton. Eu a amo.
Eu não posso desistir depois de ter chegado tão longe com os meus
sentimentos. Merda, eu não posso!
— Gael... oi... — Assim que eu saio na área dos fogões a lenha da
fazenda, uma voz feminina me chama.
E ainda nervoso, descontrolado, eu viro com o olhar fuzilante e vejo
ser a Lívia. Ela molha os lábios e fita-me.
— Desculpa... eu te vi saindo da mansão nervoso e vim...
— Veio levar informações para a Lorenza? Eu sei qual é a sua,
Lívia. A mim, você não engana!
— Não. Eu não vim fazer isso... eu, na verdade... — ela, então
,balança a cabeça e ergue o pescoço, renascendo a sua pose de madame. —
Eu nem sei o porquê de ter vindo atrás de um grosseiro como você.
— Eu não sou grosseiro! Nem um boneco para manipular! Eu sei o
que quer, por isso será tratada assim!
— Humm. E o que eu quero? — Ela arqueia a sobrancelha, em
seguida, olha-me de baixo em cima, analisando-me de forma lenta e obscena,
adiante para com as suas íris no meu rosto.
Eu, então, em surpresa, sem evitar, também admiro os seus seios,
com os bicos duros que quase pulam do vestido extremamente apertado. Eu
mudo o cenho para atônito e a descarada sorri, aproximando-se.
— Até que enfim. Você é muito devagar. Meu Deus, será que todo
caipira do mato só pensa em sentimentos? — Ela para e toca no meu peitoral,
sem um pingo de vergonha, descendo os dedos até a fivela da calça. — Pelo
menos os caipiras são bonitos, fortes e rústicos.
Meu corpo ferve e eu seguro rápido a sua mão, apertando os seus
dedos de unhas grandes e pintadas.
— O que pretende, Lívia?
— O que acha? O tradicional já ouviu falar em sexo? Não precisa de
casamento para acontecer. É natural.
— É uma deslavada!
— Está enganado sobre mim — ela pega a outra mão e circula no
meu pescoço. — Não estou conseguindo me controlar com você. O que tem,
hein, Gael? Alguma coisa em você me atiçou, me deixou pegando fogo. E eu
não consigo controlar mais.
Os músculos do meu ombro se endurecem. Lívia ergue o outro braço
e cola os seus seios no meu corpo. Eu não posso negar que ela é muito
atraente aos olhos e bonita. Meu membro corresponde ao seu toque agradável
nos meus cabelos e aperto o seu quadril, puxando-a para sentir o que
provocou. Lívia abre a boca, sem acreditar.
— Se você tivesse sido feroz assim com a Kiara, ela já estaria
derretida nos seus braços — sussurra.
— O quê?
Ela sorri e eu quase a solto enfurecido.
— Veja, o Sr. Dexter, é selvagem, bruto e todo oponente. E você,
Gael? Não me diga que só sabe falar dos seus sentimentos com a Kiara e não
age fisicamente. Tem que ser assim com ela — Lívia acaricia as minhas mãos
na sua cintura. — Um selvagem, igual ao Dexter e igual eu te provoquei a me
puxar.
Bravo, quando eu estou prestes a empurrar essa mulher
manipuladora, ela chega perto da minha boca, quase me beijando e eu desvio.
— É esse os seus planos, Lívia?
— Não sei do que está falando... — Ela beija a minha barba. — Só
sei que os meus planos é tirar você da minha cabeça e das minhas luxúrias...
se soubesse como estão as minhas noites... e agora... as minhas terminações
apertadas...

Kiara Dexter

Eu me sento na cama, sem tirar a voz grossa e a rouquidão máscula


do Anton, que permanece fixada no meu consciente. Tudo o que ele disse a
poucas horas, eu ainda estou digerindo. E não posso mais me enganar, ele foi
verdadeiro. É toda a verdade que o Dexter de seis anos atrás jamais me diria
cara a cara por conta do orgulho e da sua solidão pelo luto do pai. Além de
não me amar, nem de querer conversar sério comigo porque eu era uma
menina boba. Só que eu mudei, aquela menina comprada para tratá-lo como o
poderoso Sr. Dexter, não existe. Não confio no Anton. Ainda mais por saber
que ele realmente não me amava. Tenho medo, traumas, pesadelos em me
imaginar passando por aquilo tudo outra vez. De sofrer amando sozinha pelos
cantos desta mansão.
E hoje, se Anton estiver mesmo mudando, que ele demonstre em
ações as suas mudanças. Por mais que seja por aquele jeito bruto e feroz dele,
o compreenderei no possível. Caso contrário, não pensarei duas vezes em ir
embora com o meu pequeno Gieber.
— Não vai querer o café da manhã, Kiara? — Maria é quem me
questiona assim que eu entro na cozinha para buscar um copo de suco de
laranja.
— Obrigada, Maria, eu já tomei. Só vim pegar um pouco do suco de
laranja que sobrou.
— Não precisava, minha querida. Pedisse para uma das empregadas.
— Não, tudo bem, eu queria espairecer a mente. Vou voltar para o
quarto. O Gieber está sozinho no berço.
— Tá bom, qualquer coisa que precisar, é só pedir.
Assinto e retiro-me, com a cabeça mergulhada em pensamentos
relacionados ao Anton e a nossa noite. Ele não sai do meu cérebro. Nada
sobre ele sai de mim.
— Lívia! — Então, no momento em que eu estou passando na sala,
encontro a Lívia também andando (ou melhor, quase correndo) para os
degraus da escada. — O que aconteceu com você? — Observo-a surpresa. O
vestido roxo dela está todo sujo de carvão e seus cabelos castanhos meios
desgrenhados.
Ela me encara desconcertada.
— Não, não foi nada... eu só estava perto dos fogões, a lenha de
tijolos... observando a vista lá da área e fui uma tremenda desastrada em
encostar nas bocas deles e limpar em mim.
— Meu Deus, tem que tomar cuidado. Ainda bem que não se
machucou, caso estivesse quente.
— Eu estou bem, mas é melhor eu tomar um banho e jogar esse
vestido fora. Com licença, Kiara.
— Toda...
Ela se retira rápida e em seguida, eu a sigo nos degraus, indo para o
meu quarto ficar com o meu filho e passo quase a tarde toda lendo um livro
de romance que achei na pequena biblioteca da casa. Só desci para almoçar e
agora pouco para jantar. E em nenhum desses momentos, eu vi o Anton.
No dia seguinte, eu acordo com a Felícia dando atenção ao Gieber
que está de pé no berço, mamando a sua mamadeira todo arteiro. Eu me
espreguiço morta de cansaço e de dores pelo corpo.
— Bom dia, Felícia.
— Bom dia. Resolvi não te acordar para dar o mama do pequeno
Dexter. Parecia cansada. E acredito que estava, pois não acordou nem com
esse principezinho balbuciando alto.
Eu realmente estava morta ontem. Eu sorrio agradecida. Felícia já é
mais do que qualquer empregada da mansão, considero-a como uma mãe que
cuida e preocupa-se comigo e agora com o meu filho.
— Obrigada, Felícia. Você é um anjo.
— Não a do quê, doce menina. E antes que eu me esqueça, a pouco
minutos, o Sr. Dexter chegou dos cortes dos eucaliptos e perguntou onde
você estava.
— Ele perguntou? Por quê? — Abro bem os olhos, recordando da
nossa conversa ontem.
— Desculpa, ele não falou. Apenas me questionou e subiu para
tomar um banho. Eu quem quis te contar isso...
— Onde ele estava?
— Sr. Dexter acordou bem cedo, antes do dia amanhecer para
acompanhar os cortes que serão levados para as suas madeireiras.
— Ah, sim.
— E, Kia... eu tenho outra informação para te contar. E acho bom
você já estar sentada e bem acordada, pois é coisa da Lorenza.
Eu ouço "coisa da Lorenza" e imediatamente, sento-me direito na
beirada da cama.
— Não me diga, o que aquela bruxa fez?
— Não é o que ela fez, é o que ela está prestes a fazer neste final de
semana.
— O que é?
Ela chega a cerca de mim.
— Lorenza está planejando uma festa para comemorar o seu
aniversário de sessenta e dois anos. E será aqui na fazenda, lá no jardim perto
dos chafarizes. A poucas horas, ela recebeu uns decoradores de festas lá da
capital. E até o momento em que conversamos, não comunicou nada disso
para o Sr. Dexter.
Sem acreditar, eu me levanto chocada e brava.
— Lorenza está louca! O Anton vai surtar quando souber disso! Ele
sempre deixou claro que odiava e odeia, detesta qualquer evento de
convidados realizado na fazenda.
— Eu estou lhe contando porque pode dizer isso a ele. É seu marido.
E, também, não serei santa, desculpe-me, mas é uma forma de cada vez mais
convencermos o Sr. Anton de mandar a mãe para o seu apartamento na
cidade. Lorenza é uma madame insuportável, vaidosa, metida, que não sabe
tratar ninguém com humildade. Vive de nariz empinado e humilhando a
todos nós.
Quando eu olho para a Felícia, nem me dou conta de estar sorrindo
feito uma criança que acaba de ganhar um pedaço de doce. Com toda a
certeza, contarei ao Dexter. Quero aquela bruxa, megera, chata, velha
insuportável bem longe de mim e do meu filho. Espero que o Anton faça algo
bem severo contra ela.
— Perdão pelo desabafo.
— Não peça, é eu quem tenho que lhe agradecer. Pode levar o
Gieber para comer algo? Vou tomar um banho e me arrumar para dar o
quanto antes essa informação a ele.
— Você vai?
— É claro, Felícia. Te encontro daqui a pouco.
Eu vou rápida para o banheiro, escovo os dentes, tomo um banho,
saio, arrumo-me meio de qualquer jeito e vou descalço mesmo até o quarto
do Anton, sem me importar com os meus 1,60 perto dos 1,90 de altura dele.
— Anton... — Bato duas vezes na porta, chamando-o.
Eu o ouço dizer um entre e meio ansiosa por ficar cara a cara com
ele novamente, eu giro a maçaneta, entrando devagar. Ao vê-lo, desta vez, eu
coro as bochechas. Ele está próximo da cama, só de calça, com o peitoral
forte nu e a falta de curativo chamando atenção para os seus pontos no ombro
esquerdo. Ele me olha e eu molho os lábios.
— O seu ombro melhorou? — Quando eu me dou conta, já perguntei
curiosa e corada, sem tirar os olhos do seu ferimento.
— Não, mas estou cuidando para melhorar.
— Acho que tem que parar de pôr algodão, para a ferida respirar e
curar mais rápido.
— Não daria certo, a camisa ficaria raspando por baixo — ele passa
a mão nos cabelos úmidos após banho e vem até mim, com a sua altura duas
vezes maior, pois eu estou sem os meus saltos. — O que quer, Kiara? —
Anton para na minha frente, analisando o meu rosto e eu fico desconcertada
pelo seu cheiro de colônia e a beleza máscula inegável dele, que sempre me
fez, ou melhor, me fazia admirá-lo por ser meu marido. Agora eu sei a
verdade de que ele nunca quis ser meu. Só que isso não me magoa tanto, não
como antes.
— Eu queria te falar uma coisa sobre a sua mãe.
— O que foi?
— Talvez ficará bravo...
Ah, que ele fique e que, por favor, expulse aquela megera da
mansão!
CAPÍTULO 19

[...]
— Ela está planejando uma festa neste final de semana. É para
festejar o seu aniversário de sessenta e dois anos. E será aqui na fazenda.
Anton fecha o semblante na hora, parece que o que eu disse foi um
crime, o deixou sem crer.
— Ela não faria isso sem me comunicar de jeito nenhum.
— Eu também achei que não, no entanto, agora, vendo que não
sabia, comprovei que sim — eu o observo meio sorrateira, mordendo a boca.
— Você vai fazer o quê?
Ele suspira nervoso, pensando.
— Depois verei o que faço com a Lorenza. Mas ela que não pense
em fazer as coisas sem me comunicar antes, caso ainda queira continuar na
minha casa.
— Você não vai mandá-la embora, Anton? Eu detesto a sua mãe,
você deveria saber a tortura que é conviver com... com aquela bruxa!
— Eu já lhe disse, Kiara, por mais que eu a quisesse morando na
capital, ela é a minha mãe. Eu não posso expulsá-la assim da mansão. Ela
viveu aqui com o meu pai durante trinta anos, continua tendo direitos.
— Dá última vez, você mandou ela embora sem pensar nessas
coisas. Eu não a suporto mais.
Anton chega mais próximo de mim e eu fico ansiosa.
— Não será por muito tempo. Lorenza não suporta viver na fazenda
sem os seus luxos da cidade. Ela voltará para o seu apartamento em breve.
— O-O que está fazendo? — Sussurro gaga, quando ele toca no meu
braço e eu sinto arrepios impossíveis de se esconderem. Até me fez desviar
de toda a nossa conversa importante.
— Só estou tentando me controlar com você nesse vestido — Anton
comenta e eu entendo chocada as suas intenções.
Se fosse há dois anos, ele já teria me jogado naquela cama e feito de
tudo para realizar os seus desejos, mas eu não sei se eu o atraia, ou se era
apenas porque ele sentia vontade.
— Diz isso agora... e não deveria nem dizer.
Ele afasta a mão.
— E o que eu deveria dizer? Se é a verdade?
— Não diga. Ficar sozinha com você não é mais confortável — eu
coro com o coração dolorido ao revelá-lo. Não sei se eu teria outra coragem
de fazer amor, de confiar nele uma segunda vez. Por mais que antes de
dormir e no banho, meu corpo de mulher e minhas vontades me dominam a
suprir os anseios como o Anton ensinava. Só que eu não faço e nunca fiz sem
ele.
— E realmente não é... — Ele murmura estranho.

Anton Dexter

Kiara continua na minha frente dentro do seu vestido decotado e os


pés descalços. Ela é tão pequena, tão menina e ao mesmo tempo, eu não sei,
confesso que é uma mulher fascinante, de corpo e personalidade diferente.
Ela mudou num estalar dos dedos. E estou me achando um imbecil por estar
me comportando como um imbecil. Sinto que tudo o que eu faço a afasta e
me toca essa culpa que parece uma tatuagem marcada.
— Vou descer...
— Me espere lá embaixo, quero te levar para ver uma coisa que
chegou hoje.
— Uma coisa? O que é? — Ela me indaga curiosa.
— Verá. Já estou descendo.
Kiara consente quieta e então, retira-se. Eu termino de colocar o
curativo no ombro, visto uma camisa, o chapéu e também saio do quarto.
— Anton, que atitude é essa? Por que a selvagem e aquele menino
bastardo continuam ainda nesta casa? — Assim que a minha mãe me vê
caminhando das escadas, ela vem até mim, questionar-me furiosa.
— Acho ótimo que eu já tenha lhe encontrado. É eu quem quero
questionar as suas atitudes — fuzilo-a sério, controlando os nervos. — O que
pensa que fará neste final de semana? Que história é essa de festa?
— Não há história nenhuma. É só o meu aniversário que eu quero
comemorar. Não posso?
— Não, não vai! Eu não permiti e nem permitirei! Suas festas são
eventos com milhares de pessoas para esnobar-se! Se quer comemorar algo,
será apenas entre a nossa família e ponto final!
— E que família? Eu e você? — Ela sorri passando a mão no meu
braço. — Eu já ia te contar da festa hoje. Pretendo chamar apenas as minhas
amigas e as suas famílias. Prometo que será menos de cem pessoas.
— Não vai fazer! — Afasto a mão dela.
— É o meu aniversário, Anton. Eu sou a sua mãe e não pode me
negar isso num dia tão especial. Pelo menos pense, filho? Por favor?
Considere?
Ergo a cabeça e vejo a Kiara vindo da sala de estar com os seus
cabelos meio amarrados num coque.
— Diga que pensará?
Eu respiro cansado e já farto de não ter paz.
— Se for realmente menos de cem pessoas, tem a minha permissão
— apenas digo isso e retiro-me até a Kia. — Vamos? — Paro na sua frente e
ela olha para a Lorenza, em seguida, para mim, então consente e acompanha-
me quieta.
— Achei que você fosse fazer algo severo com a sua mãe... —
Descendo as escadas da frente, ela comenta sem me olhar.
— É o aniversário dela e infelizmente, permiti sobre condições.
— Mas não era o que eu esperava...
— Eu já lhe expliquei sobre a Lorenza — eu a seguro calmo nas
costas, fitando a sua face feminina, de traços meigos. — E chega de falar
sobre ela. Vem, eu quero te dar uma coisa.
— Me dar uma coisa? — Ela me segue muito mais curiosa. — Você
disse que ia só me mostrar algo, Anton.
— Sim.
— Então?
— Então que eu vou te mostrar.
Quando paramos no jardim de flores, ela continuou desconfiada e
analisando-me com estranheza.
— Cadê o que ia me mostrar?
— Verá — eu digo e assobio alto, adiante aguardo, olhando-a com
um ar surpreendente de serenidade.
Até que, sem demora, finalmente o capataz aparece com o meu
presente.
— Acho que se você virar um pouco da cabeça agora, já encontrará.
— É o... — Ela, então, inclina o corpo e perde de forma instantânea
a voz, abrindo a boca em choque. — Meu Deus!
O capataz traz até nós o cavalo árabe branco, de raça, que comprei
assim que vi pela foto, sem analisar o preço duas vezes.
Kia me encara chocada, sem entender, mas vejo que está paralisada e
emocionada diante da beleza branca do animal, que brilha sem cerimonias
com a ajuda da luz do sol.
— Ele é seu, Kiara, é um puro-sangue-árabe — o capataz me entrega
os arreios e antes de se retirar, eu o agradeço.
Ela, ainda sem conseguir dizer uma palavra, apenas toca na costela
do animal, acariciando-o a crina até a cabeça.
— Ele é lindo. É o cavalo mais lindo que eu já vi em toda a minha
vida. Por que está me dando? Sei que ele deve ter sido caro. Acho que o mais
caro de todo os seus de raça.
— Não pergunte, preços não me importam. É apaixonada por
hipismo. E como eu estava negociando uns, decidi te dar o mais bonito que
tivesse para ser chamado de seu.
Ela, sem se segurar, sorri para mim cheia de felicidade, tocando cada
vez mais nele. E desvia-se.
— Meu Deus, como você é bonito, garanhão, parece de contos de
fada. Eu já te amo... — Kia conversa com o cavalo, fazendo-me puxar um
sorriso de lado por vê-la feliz e por eu, pelo menos, ter conseguido alegrar o
seu rosto e não a entristecido como tantas vezes eu provoquei com o meu
jeito bruto, desde que voltou para a mansão.
— Quer dar uma volta? — Eu a questiono, também o acariciando.
— Não... eu não estou vestida apropriada, Anton — ela alisa o seu
vestido meio justo e eu a observo até os pés calçados de saltos, ruborizando
as suas bochechas ao voltar lento pelas suas pernas e curvas bonitas. — Não
me olhe assim...
Sério, sem evitar o meu semblante que a intimida, eu desvio sem
respondê-la, apoio-me na cela, coloco o pé no estribo e subo em cima do
dorso do belo animal árabe.
— Não se preocupe, eu te levo, caso aceite o convite — eu equilibro
o cavalo a ficar parado para não empinar, em seguida, digo rouco a Kiara,
estendo-a a mão:
— Não... não mesmo... vamos perto, muito perto um do outro. E está
sendo tão educado, gentil. Não é você. É estranho.
— Lembre-se da minha promessa. Eu estou tentando mudar as
coisas. E aceite isso para darmos uma volta juntos na fazenda?
Ela morde os lábios avermelhados, pensa, olha sem parar para mim e
vencida por seu desejo, sem demora, ela tira os saltos, joga na grama e aceita
a minha ajuda para subir. Levanto-a forte, sentando-a de lateral, bem colada
ao meu tórax, com o seu cheiro doce me fazendo desejar abraçá-la. Kiara me
parece de outro mundo, eu juro que parece, e transtorna-me por estar notando
tanto isso.
— Dexter, não se aproxime com o seu corpo... — Só que ela afasta o
meu rosto pela barba áspera, tentando não ficar muito junta de mim. — Não é
confortável...
Posso jurar que ela está da cor de uma rosa. E eu sorrio de novo,
arrumo-me meio distante — o que com as cavalgadas será impossível de se
manter — e puxo as rédeas, causando o impacto previsível dos seu braço e
cabeça contra o meu peitoral — como afirmei. E saio com certa velocidade,
na intenção de irmos até a caverna do rio.
CAPÍTULO 20

Kiara Dexter

— Por que me trouxe até aqui? — Ao pararmos na gruta da caverna


do rio, observo a água azul transparente, iluminada pelo sol que transpassa o
teto de pedras e eu fico apaixonada.
— Porque eu gosto desse lugar — ele responde muito perto do meu
pescoço, com a mão na minha cintura. — Quer descer? — Sussurra.
— Não posso — aperto os olhos, arrepiada e sentindo os meus
batimentos disparar pela proximidade desse homem bonito, mas sem amor.
— Precisamos voltar para a mansão, eu deixei o meu filho com a Felícia e
não é certo.
Anton fica quieto e eu o fito. Ele faz igual, só que detalhando com o
olhar os traços do meu rosto e os meus lábios. Ficamos assim por alguns
minutos, até eu desabafar:
— Se eu pudesse mudar o destino... — o acaricio na barba.
— E o que faria? — Ele segura mais firme a minha cintura e
aproxima a sua cabeça da minha testa.
— Acho que você sabe o que eu faria.
— Não teria se casado comigo?
— Eu não posso dizer, eu não tive escolha. Você sabe. Meu pai me
negociou sem ao menos me deixar ver se meu marido era um velho de más
intenções ou um rapaz de bom caráter. Por mais que me assustasse, eu não
pude contestar a sua ordem.
Anton toca o polegar no meu queixo, com o seu nariz na minha
bochecha.
— E o que mudaria?
— Eu queria mudar o meu coração, os meus sentimentos, a mim. Só
que não podemos voltar e alterar as coisas como gostaríamos.
— Não podemos — ele me gira com calma, olhando-me nas íris e
outra vez, nos lábios, onde os mordo. — Infelizmente, eu não posso.
Eu fecho as pálpebras e ele me beija, aquecendo o meu coração.
Suspiro fundo, toco nos seus cabelos, desejando que o mundo
parasse e que todo o pesadelo que vivemos durante esses seis anos de
casamento não fosse real, pois o amo e só queria que fossemos um casal sem
feridas que parecessem eternamente sem cura. Eu queria que o Anton
provasse de verdade o seu amor.
Ele perde a vagareza e penetra-me a língua, sugando-me como o
homem bruto, faminto que é. Eu arqueio na sua boca, com a sensações de
desejo fervendo no sangue. E, sem pensar, eu desço a mão pelo seu abdômen
forte, palpitando cada músculo rígido. Anton toca na minha coxa, subindo
entre as minhas pernas e causando-me arrepios e desespero. Eu balanço o
rosto, caio em si e o paro, tentando afastá-lo sem ar.
Eu não posso, eu não posso ser fácil para ele me achar ainda uma
menina comprada para ser um objeto. E eu tinha a certeza de que não ia mais
querer relações. É loucura, eu não quero mais. Eu preciso resistir.
Assim que eu me afasto sem fôlego dele, ele não diz nada, apenas
me encara sério, sem comentar algo sobre o beijo e o calor que sentimos
borbulhar e latejar. Eu desvio, crendo que, se continuarmos nos fitando,
podemos voltar a trocar beijos e agora carícias. Ele me solta, segura os
arreios e sem se comunicar, vira-se, decidindo voltar para a mansão.
— Obrigada, Anton — digo para ele, após me descer do lindo cavalo
que me deu de presente. — Eu não esperava por isso.
— Só peço que não ande com ele sem a minha permissão. No
momento, tem pessoas tentando me matar e você pode ser um dos alvos
também. É a minha esposa, a usariam para me atingir.
— Não entendo como poderia ter pessoas tentando te matar — fico
apavorada só em pensar em alguma tragédia com esse homem. — Já sabe
quem atirou em você?
— Não, eu estou tentando investigar para saber quem é, só que eu e
os capatazes não descobrimos nada até agora.
Observo o Dexter ficar sério e nervoso com esse assunto. O
semblante dele se fecha severo e resolvo não questionar mais.
— Vou entrar... — Eu mordo os lábios, afastando-me. — Até o
almoço, Anton.
Ele não responde, só consente. Cato os meus saltos da grama e com
os pés descalços, eu me retiro mole das pernas, tendo a impressão do Dexter
estar me olhando por trás. Será que está? Tenho dúvidas, insegurança de ele
se sentir atraído ou não por mim. Pois não sei como é possível alguém mudar
de um dia para o outro e se dedicar tanto a pessoa que nunca amou. Não
confio. Não após tantos traumas.
— Você disse para o patrão, Kiara? — Felícia me pergunta curiosa,
assim que eu pego o Gieber do seu colo, na segunda sala de chá.
— Eu disse, mas ele pareceu concordar em deixar a megera fazer a
festa do seu aniversário no jardim. E por um lado, mesmo discordando, eu
sou obrigada a não discutir. Lorenza é a sua mãe e ela morou nesta mansão
por trinta anos. Ela tem todo o "direito".
— Parece que ela nem morava, vivia era na capital com os dois
filhos. Maria conta que o coitadinho do Sr. Rangel Dexter sofria solitário. E o
pequeno do Anton, na maioria das vezes, era cuidado pelas babás, não tinha o
amor, o abraço, o carinho de uma mãe. Era só o pai e mais ninguém.
— Será esse o motivo de ele ser tão fechado, sem sentimentos e
infeliz?
— Creio que foi uma fila de fatores, Kiara. A mãe é um dos
principais. No entanto, o que mudou ele mesmo foi a morte do pai. Eu
comecei a trabalhar nesta casa na época em que o Sr. Rangel descobriu da
leucemia. E lembro-me de só sofrimento atrás de sofrimento. Anton não saia
de perto dele. E, em noites de dores, ele dormia no chão do quarto, ao seu
lado. O levava para a capital, para fazer os seus tratamentos, exames e às
vezes, ficavam por meses lá, internado. Até que o médico disse que não havia
mais o que se fazer. E a pedido do próprio pai, o que restou ao Anton foi
trazê-lo de volta para morrer em casa. Foi de partir o coração. Gael, Maria e
eu achamos que o Dexter enlouqueceria. E que praga, dito e feito. Ele entrou
em depressão, não via mais sentido na vida. Ainda depois disso se casou com
você e deve saber o restante das angústias. Chegou os irmãos exploradores, a
mãe e só mais lágrimas e tristeza.
Meu semblante recai.
— Eu acho que nunca saberia desse passado se você e a Maria não
me contassem. Anton nunca foi de falar histórias sobre o pai e de tudo que
passaram.
Na verdade, ele nunca foi de falar nem dos próprios sentimentos. Por
isso, ouvi-lo se abrindo é inesperado, chocante.
Anton Dexter

Eu volto do trabalho da tarde pensando nos problemas da fazenda e


passo pela minha mãe sem sequer me dirigir a ela. O pedido de fazer uma
festa neste final de semana não me agradou nem um pouco. Mas eu não posso
dizer não, além de só ditar regras para não fazer um evento que saia nos
jornais amanhã. Lorenza sabe que se sair da linha, eu a expulso da mansão e
deixo o governador cobrar o que ela o deve. Quero que continue achando que
eu não sei dos seus planos e dos seus podres na capital.
No andar de cima, antes de ir para o meu quarto, eu paro no meio do
caminho, ouvindo berros de criança vindo do corredor de Kiara. Eu continuo
parado, analisando atento o som. E noto a porta dela entreaberta. Devagar, eu
me aproximo interessado em investigar. E quando eu entro, vejo o menino de
pé no berço, apenas de fralda, chorando e sacudindo a madeira da mobília,
enquanto uma empregada tenta acalmá-lo.
— Sr. Dexter! — Ela encontra o meu olhar, apavorada.
— Cadê a Kiara?
— Senhor, Srta. Kiara foi fazer um remédio para o bebê que está
com febre. E quando ela saiu, ele começou a chorar, a querendo.
Encaro-a, em seguida, o menino que tosse, engasgado no choro. Ele
está suado, seus cabelos estão úmidos e lembro-me do meu pai, de como eu
cuidava dele e resolvia situações como essa.
— Molhe uma toalha de rosto no banheiro e coloque na testa, axila e
nuca dele.
— Sen...
— Anda! — Mando nervoso e ela arregala os olhos, imediatamente
indo rápida até o banheiro.
Minha visão não foge do garoto. É tão pequeno, deixa-me estranho
por vê-lo assim.
A empregada volta com a toalha, colocando nas partes em que eu
mandei. E, em seguida, a Kiara aparece correndo da porta, sem os seus
sapatos. Ela me olha no mesmo instante, assustada, porém, sem tempo de
dizer algo, vai até o menino e pega-o no colo para ninar, a criança até se
acalma.
— Coloque a toalha na nuca e axila dele, Srta. Kiara.
— Por quê?
— Sr. Dexter disse.
Kiara me encara em surpresa, balançando a criança. Eu a fito sem
dizer nada. Ela coloca o pano, repetindo o que a empregada estava fazendo.
— Por favor, Sônia, desça e traga a mamadeira e o remédio que a
Maria está preparando.
— Sim, com licença.
Ela se retira e Kia volta a me olhar.
— Por que disse isso para a Sônia?
— O menino estava chorando de febre.
— E você se importa? — Seus olhos se mantêm sérios aos meus,
desafiando-me. — Ou é só pelo choro "irritante"?
— Eu me importo, é uma criança.
— Pois eu não acredito — ela se afasta, indo até a cama se sentar
com ele no colo. — Ele não significa nada para você. Vive fingindo que o
meu filho não existe. E por mais que eu saiba dos seus motivos, continua o
deixando de lado.
Assisto-a beijar a cabeça dele e limpar a sua pequena testa com a
toalha molhada. Eu tento ficar normal, fora do meu rompante, ou nervosismo
que tensiona os nervos. Chego perto dela, desarmando tudo o que a faria me
ver como um bruto.
— E se significar?
— Ele significa só a sua culpa. É desta forma que vê o filho que me
deu sem amor. Você mesmo confessou.
Ela ergue os olhos tristes, carregados de mágoa, e me aponta mais
culpa.
— E seria tarde para eu ver esse menino de outra forma, sem algum
peso na consciência?
— Eu achava que odiava crianças, que fosse capaz de coisas ruins se
descobrisse que ele existia. E repito, eu sei dos seus motivos depois da sua
confissão, entretanto, não mudou o que fez comigo. E ao contrário do pai, "o
menino" chamado Gieber não tem culpa de nada, é só um bebê inocente. E se
está tentando consertar as coisas, tirar esse peso da consciência, não
impedirei. Dê uma chance para ele e para você. Tudo é possível.
Eu me calo. Olho para ele e engulo a culpa, o orgulho. Por mais que,
no começo, eu quisesse que não fosse nada meu, que, porra, eu quisesse odiá-
lo por medo, eu tinha a certeza de que era o meu filho e as minhas
consequências em carne e osso. E como prometi a Kiara, honrarei a minha
promessa e o filho que lhe dei.
Ele tem os meus olhos e a cor castanha dos meus cabelos, não tem o
loiro cacheado da mãe, nem as suas sardinhas. É fascinante. Tudo nele é tão
pequeno, parece que com um toque é capaz de machucá-lo.
CAPÍTULO 21

Desvio os olhos da criança. E cansado demais para continuar


dialogando com a Kiara, eu somente digo a ela que preciso tomar um banho.
Porém, vejo que abaixou o rosto, supondo que eu estou fugindo do assunto
sobre o menino. Mas não estou. E por isso, antes de me retirar do seu quarto,
eu proponho a ela um jantar no jardim para conversarmos o que desejar, sem
discussões. E em surpresa, ela me fita, pensando de forma demorada e
desconfiada. No final, com um "está bem", ela aceita em sussurro e eu
assinto, pedindo licença.
Às 20h00, eu volto para baixo mais descansado, tomado banho e
arrumado. E fico no escritório fazendo um pouco da gestão financeira da
fazenda. Até a Felícia bater na porta, entrando com a minha permissão.
— A mesa já está pronta, Sr. Dexter. Posso deixar os pratos
servidos? — Ela pergunta, após transferir o jantar como a poucas horas a pedi
na sala.
— Sim, Felícia. E sabe se Kiara está me aguardando?
— Não está. Ela ainda se encontra no quarto.
— Ok, avise-a então que eu já a aguardo lá fora.
— Está bem, com licença.
Ela se retira. Após organizar a minha mesa, eu vou até a estante
escolher um dos melhores vinhos de coleção. Adiante, me dirijo com calma
para o jardim, para esperá-la — o que acontece tempo demais. E inquieto por
odiar esperar qualquer pessoa que seja, meu semblante muda de calmo para
nervoso. Até me levanto da cadeira para ver as estrelas no céu e buscar
tranquilidade.
— Oi...
Ouço Kiara se aproximar com os saltos. Devagar, eu viro o meu
olhar sério a ela, perdendo qualquer nervosismo ou impaciência ao analisá-la
dos pés à cabeça, boquiaberto. Como pode ter ficado com um corpo
irreconhecível?
— T-Tem alguma coisa de errado? Eu não quis me arrumar muito,
logo que daqui a pouco é hora de dormir — ela se olha, gaguejando
envergonhada.
— Está linda, Kiara.
Ela fica sem jeito, coloca uma mecha do cabelo para trás das costas e
analisa-me, só que sem dizer nada.
— Vem, sente-se — aproximo-me, puxando o assento para ela se
sentar.
— Isso é tão estranho, Anton. O seu comportamento... o convite
repentino para jantarmos sozinhos aqui fora...
Quando Kia se senta, a metade do tecido do seu vestido preto se
ergue nas coxas, a deixando à mostra. Sem falar do decote que a espreme. E
eu me controlo para não ser grosseiro pela milésima vez com os trapos
indecentes que anda vestindo. Não posso nem dizer a vontade que eu tenho
de fazer quando a vejo colada nessas porcarias.
— O que foi? — Ela pergunta com o cenho franzido, enquanto eu
me sento calado na sua frente.
— Só gostaria que soubesse que o seu vestido é muito provocante.
Sem mencionar desse rosado nos seus lábios bem desenhados. Irresistível.
Estou tentando me controlar.
Kiara abre a boca, ruboriza, fervendo o rosto de espanto.
— Não diga isso... eu não quero. Está sendo desconfortável.
— Se não deseja comentários como esse, não se vista tão evidente,
pois receberá eles e olhadas cretinas de desconhecidos. E garanto que não
serei bonzinho se ver alguém se dirigindo a minha esposa assim.
— E você se importa de verdade?
— Se eu não me importasse, eu não diria nada a você, Kiara. E
vamos deixar isso de lado, por enquanto.
Eu pego o vinho, fazendo-a brilhar os olhos ao ver que tomará da
sua bebida preferida. Ao tirar a rolha, sirvo-a na taça e ela toma como se
fosse água.
— Eu quero mais — com o seu jeito doce, Kia estende de novo.
E eu tenho que segurar a vontade de puxar um sorriso.
— Não, ainda não jantamos. E é melhor iniciarmos para não esfriar.
Felícia colocou a poucos minutos.
Ela inclina o pescoço, olha para os nossos pratos e eu a ajudo a tirar
as tampas.
— Nossa, que cheiro bom, parece saboroso. Maria caprichou como
sempre.
Eu concordo e sem maiores delongas, jantamos.
— Eu queria aproveitar esse momento de "paz" entre nós para te
pedir uma coisa, Anton... — Kiara limpa a boca com o guardanapo,
quebrando o silêncio que estávamos. — É uma ajuda para socorrer o meu
avô. Eu gostaria de ver ele vivendo numa casa mais digna, não naquela
miséria de partir o coração que você viu.
— Sabe que ele não aceitaria a minha ajuda. Seu avô me odeia.
— Mas, se for por mim, ele aceita. Não suporto pensar que meu pai
o abandonou doente, sendo um senhor de setenta anos. Ele não tem nada
naquele barraco de garrafas. Por favor, me ajude, Anton?
— Se ele aceitar por você, eu não negarei o seu pedido. Posso
contratar uma construtora para fazer a casa.
— Faria isso? — Kia me olha sem palavras, emocionada.
— Sim.
— Obrigada, Anton, obrigada! Eu fico muito feliz! Já é mais do que
eu imaginava!
Pela segunda vez, vê-la alegre com algo vindo de mim, me aquece,
me dá sensações que eu não sei explicar. Me faz me sentir bom.
Após jantarmos, eu noto a Kiara abraçar o próprio corpo, devido a
brisa gelada da noite e chamo-a para terminar o vinho no balanço de banco da
segunda área da casa. Ela concorda e acompanha-me.
— Eu sei que eu já te falei isso, mas é tão estranho o seu
comportamento. Não consigo me acostumar.
— Acho que até eu não me reconheço — respondo, fitando os seus
olhos claros e sentando-me ao seu lado no balanço de almofadas. — Estou
sendo "alguém" depois de tantos anos de só desgraças.
— Sendo alguém?
— Sim.
— Talvez isso seja positivo, né? — Ela me fita, mordendo os beiços
inferiores sem notar.
— É, talvez seja. E chega de beber desse vinho forte — eu me
aproximo, pegando rápido a taça da mão dela. — Já é a quarta servida.
— Não disse que íamos tomar tudo? Anton, devolve — Kia tenta
pegar de volta e nem percebe que chegou muito perto do meu corpo. Tão
perto que me atiça a querê-la esta noite.
— Eu não disse tudo. E não gosto que fique bêbada — toco no seu
braço macio.
E ela, de tanto se esticar para pegar a bebida da minha mão, cai
sobre mim, notando de imediato a aproximação, e arregala as íris, só que é
tarde demais para se desviar. Eu jogo a taça na grama e puxo-a para roubá-la
um beijo que me obriga a enterrar os dedos no seu cabelo e aprofundar a
língua molhada com vontade. A minha menina mulher demora a retribuir. E
quanto retribui, é como um dia a ensinei, também sendo faminta.
Ela grunhi arfante e toca no meu abdômen, apoiando-se com as
coxas nas minhas pernas para não escorregar até o chão. Eu sinto o seu vestir
subir e relutante, afasto-a para não perder o controle como um bruto.
Kia está sem ar. Com certeza, excitada.
— Eu quero te dar prazer — balbucio, erguendo o queixo dela e
apertando a sua cintura com posse. — Eu quero te dar muito prazer.
Ela fecha os olhos, reabrindo sem esconder o mesmo desejo.
Porém... com poréns de insegurança.
— Eu não sei... eu não quero.
— Não quer?
Ela engole em seco, confusa com seus sentimentos.
— E se eu quiser? — pergunta baixinho.
— Então faremos por prazer, aqui, neste balanço.
— A-Aqui?
— Exatamente — eu acaricio a coxa dela, sentindo os seus arrepios
pelo meu toque. — Deixe-me te mostrar?
— Anton... — Kia sussurra trêmula, enquanto eu continuo a subir os
dedos pela a sua pele macia, aveludada, indo até a base da sua calcinha. Ela
não me impede, ansiando por isso. Eu passo o dedão por cima do tecido
úmido, descendo e subindo com muita vagareza nos seus lábios que acabam
de pulsar, fazendo-a suspirar e soltar mais lubrificação. Ela aperta o meu
braço que a estimula. — Eu... eu estou insegura... confusa, entre milhões de
sentimentos.
— Já disse que só quero te dar prazer — a beijo no pescoço,
respirando seu gostoso perfume. — Mas vou mudar os planos. Fique por
cima e controle os seus prazeres, Kiara. É você quem manda.
Eu afasto os dedos e ela fica sem ação, apoiada sobre o meu peitoral,
com a coluna arqueada, a saia do vestido evidenciando a sua bunda e o cabelo
e o decote bem avantajado no meu rosto. Ela está irresistivelmente empinada,
cara a cara comigo.
— Eu sentar em você?
Ela ruboriza e eu temo por desistir, por isso, ajeito as minhas pernas
e bato no meu colo.
— Sente-se.
Kia olha para os lados escuros da noite. Está pensando.
— Não deseja sentir prazer, Kiara? Não vou te machucar. Jamais
será a minha intenção. Tome alguma decisão ou pararei de insistir.
Ela molha a boca seca e resolvendo uma confusão com sigo mesma,
olha-me nervosa e depois de tanta reluta, senta-se sobre o meu volume
latejante na calça. Meu coração chegou a acelerar por vontade vê-la tomando
as rédeas. Só preciso me controlar para não perder o controle como um cão
faminto.
— Eu estou sendo uma louca.
— Não, ainda não te deixei nesse ponto — murmuro e a beijo
devorador, apenas aquecendo os seus sentidos de fêmea.
Ela ergue o pescoço e eu lambo cada pedaço de pele do seu busto, a
mordo no decote do seio e nos mamilos eretos. Pressiono suas coxas e ela
começa a segurar no meu cabelo, com tesão.
Não dizendo mais nada, surpreendendo-me, ela passa a mão por
baixo da minha camisa, sentindo o meu abdômen, em seguida, abre todos os
botões sem se inibir de vergonha. Eu fico admirado pela sua atitude. Kiara se
mexe sobre o meu membro de novo, induzindo-me a beijá-la e a repetir o
movimento que fez. Ela fecha os olhos e volta a se esfregar, gemendo com a
fricção.
— Eu estou surpreso com você.
— Falou para mim tomar conta da situação... e eu quero tentar fazer
isso.
— Ótimo. Então continue — eu aperto a bunda dela, arfando. — Só
pare quando quiser.
CAPÍTULO 22

Kiara Dexter

Presa ao desejo de querer o Anton, meus sentidos disparam pelas


suas palavras e começo a pensar ligeira no que fazer. Eu nunca tomei as
rédeas antes. Estou insegura de me render a ele e de não ter nenhuma
autoridade para resistir. Pois eu quero prazer, eu quero libertar o meu corpo
desse calor que sinto todas as noites antes de dormir. E não nego que o
Dexter me atrai mais do que eu posso controlar.
Ele aperta a minha bunda e toma os meus lábios, enquanto ofego
presa as suas coxas fortes. Eu aliso os seus cabelos, toco na sua barba e desço
novamente pela sua barriga definida, sem coragem de ir até a protuberância
no zíper da calça.
— Está me deixando louco — ele sussurra exasperado, mordiscando
em seguida o meu cangote.
Eu abro mais as pernas e a minha intimidade roça pela terceira vez
nele, com muita vontade de dar o segundo passo. Anton pega os meus dedos,
coloca por cima do seu volume e aguarda eu agir. Eu fecho os olhos,
apertando-o com força. Então abaixo a cabeça, olho para a sua calça e
começo a abrir o cinto, o botão, o zíper... e paro, percorrendo o seu belo
abdômen até o interior da sua cueca... para sentir os seus pelos quentes e a
espessura do seu membro grosso, latejante, que está sufocado de lado na
virilha. O Anton pulsa, ficando mais apertado com o meu toque. E com o
coração ansioso, sabendo o que eu desejo, eu tiro o seu órgão robusto para
fora.
— Kia! Você está muito levada! — Ele percorre as minhas coxas,
enquanto eu fecho os dedos na carne macia do seu órgão duro, que se move
no momento em que eu o elevo para cima e para baixo, expelindo
lubrificação.
Só que o Dexter não suporta mais os meus movimentos, e em
instantes, ele toma os meus fios, sugando a minha língua e encaminhando-se
até a calcinha do meu corpo, onde rasga as alças e joga o restante do tecido
na grama. Eu o abraço, foguenta, sem ar. Pronta para recebê-lo, mas sou
parada.
Ele primeiro tira o preservativo do bolso, abre a embalagem,
revestindo-se até a base. E quando vai distanciar a boca para dizer algo, não é
preciso nem mandar. Eu já me sento sobre a cabeça, dilacerando a minha
intimidade apertada.
— Oh... Anton... — Eu afasto os nossos lábios, jogo a cabeças para
trás, chorando de prazer.
Ele geme, arranca os meus saltos, aperta os meus seios, indo até a
cintura segurá-la forte para me estimular a ir cada vez mais rápido. E eu faço,
virando os olhos e tendo a certeza de que eu vou desmaiar, de que eu estou
vendo estrelas de muita, muita satisfação.
Ohh, meu Deus... mas eu quero mais. E de tanto querer mais, eu
perco o controle. Rebolo com vigor, dançando eroticamente nele. Nossas
fricções me fazem apertá-lo no limite. E por pouco, eu não berro, indo veloz
e sem demora, em menos de minutos, despejando o que estava guardando a
tempos dentro de mim. Anton teve que puxar rápido a minha boca para
abafar o som. E urrando, foi quando também senti que explodiu no seu
orgasmo.
Tonta, eu apoio-me no seu pescoço e posso notar que, com a força
das suas próprias pernas, ele estava segurando o balanço para não nos
balançar e manter-me neutra, cavalgando-o. O Dexter me olha, relaxado e
tirando o membro que se mantém vivo. Ele igualmente retira o preservativo e
"guarda" o órgão, mas ainda sinto não ser o suficiente para nós dois. Eu sei
que não foi.
— Você se tornou uma mulher sem comentários. Me atrai, me faz
querê-la mais do que imagina — ele fala com as mãos na minha coxa,
apertando-me com a brutalidade dos seus braços grandes.
— Nunca... — ofego, cansada e suada. — Nunca foi tão prazeroso
comigo. É novo.
— É tão novo para mim, quanto para você. Eu preciso mudar as
coisas, eu já lhe disse isso, pois não posso te deixar ir. Entendeu? — Anton
respira fundo, aproximando a nossa testa. — Não quebrarei as minhas
promessas.
— Eu tenho medo de acreditar em você, também entenda e saiba
disso. Jamais vou esquecer das suas brutalidades, do que passei durante
nossos seis anos de casados. E mais decepções eu não fico aqui, eu não me
importe se é o "Sr. Dexter", poderoso e rico. Não quero mais sofrer.
Anton mexe a goela, afasta a testa e quase fecha os punhos.
— Não diga que pode ir embora ou eu enlouqueço! É o que me resta
e não perderei mais nada! — Ele está com o olhar de um animal feroz. — Eu
me arrependo, eu quero ser diferente, porra, eu quero aprender esse amor que
tanto me cobrava. Ajude-me a aprender isso, Kia, por você, por uma nova
vida que me tire desse buraco. Eu quero!
Não fujo, com carinho, afago a barba dele, emocionada.
— Não posso te ensinar. O que me pede se aprende sozinho,
sentindo apreço pela pessoa que se gosta. Vem do seu coração, dos seus
sentimentos. Ninguém escolhe amar o outro por amar. O amor que escolhe o
seu destino. Pelo menos isso, eu não aprendi nos livros de romance. E agora
só continue assim, sendo sincero e tentando mudar as coisas comigo e com o
seu filho. Não me decepcione mais.
Ele me analisa neutro a face, pensando. Eu fico quieta.
— Eu vejo aquele menino e é tão pequeno. Tudo nele é menor. Não
tem a sua coloração natural, nem os seus olhos. Há traços, no entanto, tão
poucos. Ele é...
— [...] ele é idêntico a você — dou de ombros, saindo do seu colo
meio incomodada e melada entre as pernas, querendo não chorar pelas suas
palavras sinceras.
Devo assumir que o Anton não é o "monstro" que eu imaginava. E
agora me sinto fraca por não querer mais afastar o Gieber dele, nem me
vingar com todo o ódio que eu sentia quando cheguei nesta mansão. É ao
contrário, eu quero que ele dê atenção ao filho que me deu e quero que seja
recíproco aos meus sentimentos. Como eu disse, que não me decepcione mais
do que conseguiu nesses seis anos.
— Eu vou entrar — declaro, ficando de pé diante dele, que está
silencioso, e pego o resto da minha calcinha, os saltos, as taças e a garrafa de
vinho.
Mas, sem resistir, eu viro o líquido direto do gargalo.
— Kiara! — Anton me repreende severo.
Afasto, sentindo imenso gosto pela bebida. Ele se levanta fechando a
calça e roubando-me ela das mãos.
— Anton!
— Você é mais sensível ao álcool.
— Eu estou me acostumando. E poderia me deixar tomar o restante?
Ele concorda em dividir, só para eu não tomar tudo. Eu provo da
taça, observando a camisa dele aberta, a fivela do cinto despencada de
qualquer jeito e a calça suja do nosso ápice. Ele encontra o meu olhar —
envergonhado —, que o analisava, e terminando primeiro do que eu, puxa-me
a favor do seu peitoral nu, gigante, por pouco, não me engasgando.
— Anton...
— Gostaria de ler os seus pensamentos, para saber o que está
pensando agora.
— Eu... eu em nada. Deveria arrumar as suas vestes melhor. E, por
favor, solte-me. Melhor não ficarmos muito próximos a... a-assim... — Ele
pressiona os meus quadris, fazendo-me suspirar ao me colocar nas pontas dos
dedos, diante do seu enorme tamanho e rosto sério.
— Eu sei que não foi o suficiente para nenhum de nós.
— E se tiver sido? — Mordo os lábios, assistindo os dele se
mexerem inquietos devido a minha mentira.
— Não minta, não foi. E posso te pedir uma última coisa?
— O quê?
— Para o seu bem, não fique usando essas roupas indecentes. É o
limite do tecido. Onde eu te vejo, está puxando as saias curtas, justas e
arrumando os decotes. Até te dou outro cheque se jogar fora essas
indecências. Está me provocando como homem e me deixa muito agitado.
— De vez em quando, eu só abrirei mão dos decotes e dos tamanhos
curtos, já das roupas justas não. E ainda é talvez.
— Talvez? — Anton, antes de me soltar, acaricia o meu rosto e os
meus lábios com delicadeza, fitando-me escuro. — Não inclua esse "talvez"
na frase.
E quando me solta misterioso, me deixa com os batimentos
acelerados.
— Vamos? — Ele, então, me chama para voltarmos todos
bagunçados para dentro.
Ainda bem que não vi nenhuma empregada, nem a Lívia e nem a
megera da Lorenza. Eu estou destruída.
— Boa noite, Kiara — na porta do meu quarto, Anton deseja com a
sua voz rouca, segurando a maçaneta.
— Boa noite, Anton — e eu respondo com a minha tonalidade doce,
desviando a ruborização para ajudá-lo a fechar a porta.
Ao fechá-la, eu acabo com a minha pose de resistência; escoro na
parede, solto o ar que me sufocava, fecho os olhos e só digo a mim mesma
para não pensar no que fizemos naquele balanço. Em nada, ou eu não terei
coragem de me olhar no espelho por uma semana. Não acredito que eu tive
aquele poder, que eu o toquei como uma devassa... E eu gostei! Não, não, por
favor, não pense. Eu preciso continuar forte para não voltar ao passado, onde
o amava como louca e sofria como idiota. O Dexter tem que me respeitar e
provar as suas promessas. Nada será esquecido de um dia para o outro. Não
vai mesmo.
CAPÍTULO 23

Na manhã seguinte, após me levantar, eu noto uma movimentação


de gente do lado de fora da casa, lá no jardim. E quando Felícia aparece na
sala, ela me avisa que é a decoração da festa da Lorenza.
— Eu estou torcendo para que ela faça uma festa enorme, com umas
mil pessoas presentes. E que saia nos jornais e revistas de Montes do Sol. Só
para o Anton mandá-la embora! — Eu esbravejo sentindo raiva daquela
megera e Felícia fica surpresa.
— Nunca esperaria um desejo tão maldoso seu.
— Eu só quero fazer o inferno na vida dessa velha, igual ela fazia
comigo.
— Kiara, isso de vingança não é bom, deixa nas mãos de Deus. Ele
sempre resolve as coisas, por mais que demore, ele sempre exalta os
injustiçados.
— Mas a minha justiça não tem que esperar. E acho que eu já
esperei é tempo demais.
— E pelo Sr. Dexter? O que diz é por ele também ter sido um mal
marido? Pensa em vinganças?
— E-Eu... eu não sei — engulo em seco, brincando com o meu filho
e os seus carrinhos no sofá. — No momento, é complicado a nossa situação.
Tudo pode acontecer. Estamos...
— O que faz aqui, Felícia? Eu não te dei uma ordem a poucos
minutos?
Assim que mal terminávamos de falar da bruxa velha, ela apareceu
nos interrompendo com o seu nariz empinado, ao lado da Lívia, caminhando
até nós com os seus saltos finos e mandando igual cachorro na minha querida
Felícia. Eu imediatamente me coloco de pé, fazendo-a encontrar o meu olhar.
— Como ousa se dirigir assim a Felícia, sua cobra? Tenha mais
respeito!
— Oras, agora a selvagem sabe o que é respeito? E eu não me dirigi
a você, adultera aproveitadora. Vai atrás do seu amante e se coloque no seu
lugar!
— Adúltera é você! E eu estou no meu lugar, no lugar de Srta.
Dexter, onde o meu marido me colocou! E você, querendo ou não, vai ter que
me engolir como a tal, ou mandarei os empregados não acatarem mais
nenhuma ordem sua!
Lorenza arqueia a sobrancelha. Então abre um sorriso para a Lívia,
que está séria, e começa a gargalhar alto.
— Escutou isso, Lívia? Como foi hilário.
— Não é para rir, é para estar bem preocupada! Pois eu farei isso!
— Não fará, ou eu quem posso dificultar a sua boa vidinha nesta
mansão. Pois pense se eu só supor que esse bastardo pode ser filho do Gael?
Imagine o que o Anton faria com o pobrezinho. Ou será que é?
— CALA A SUA BOCA! — Eu arregalo os olhos, gritando.
E no limite da minha fúria, eu não penso e quando eu vejo, eu voo
nela, dando um tapa ardido na sua cara. Lorenza berra, em seguida, afasta-me
forte, mas eu volto enlouquecida e empurro-a contra o sofá, tacando-me sobre
o seu corpo e agarrando os dedos no seu cabelo curto, que sacudo.
— SOCORRO!
— KIARA, POR FAVOR, PARE! — Felícia e Lívia tentam me
puxar desesperadas, mas eu continuo quase arrancando os cabelos falsos
dessa desgraçada.
— POR FAVOR, ALGUÉM NOS AJUDE! — Lívia grita.
— ME SOLTA, SUA SELVAGEM SUJA!
— Kia, pare com isso!
— ME CHAMA DE SELVAGEM SUJA DE NOVO, CRETINA!
Jogo-a no tapete do chão e quando eu vou avançar pela segunda
vez... ouço passos correrem e adiante mãos rígidas surgirem me puxando
ferozes pelo braço e pela cintura, afastando-me arrastada. É o Anton. E tento
me soltar dele, para continuar o meu objetivo de deixá-la careca!
— Porra, vocês duas! Estão loucas? — Ele me segura firme.
— Eu disse que ela era uma selvagem! Ela avançou em mim igual
um bicho do mato!
Lorenza se levanta apavorada. UMA FALSA!
— SUA FALSA! ISSO FOI POUCO PERTO DE TUDO O QUE
VOCÊ JÁ ME FEZ! MERECIA MAIS!
— Eu estou sangrando, Anton! Olha o que essa louca me fez! Olha a
minha boca!
— FOI POUCO! — Grito de novo.
— PARE, KIARA! — Anton solta os seus braços que me
sufocavam. E muito, muito enfurecido, evidencia a rigidez dos músculos ao
me fitar. — Chega! Eu ouvi os gritos escandalosos de vocês lá do escritório!
— Ela ia me matar!
— Chega você também, Lorenza! Não é nenhuma santa! — Ele a
encara. — Eu te avisei que deixasse a Kiara em paz ou te mandaria de volta
para a capital! Agora saí daqui! Felícia e Lívia lhe ajudarão com esse
ferimento!
— Eu sou a mulher que te deu a luz e não uma qualquer! Se não
fizer nada em relação ao comportamento violento dessa menina primitiva,
será um injusto! Ela bateu na sua mãe!
Anton se segura com o sangue quente para não a responder. E ela
então vira as costas, só que antes de ir, no meio do caminho, para com
brutalidade a Felícia.
— E eu não preciso de você, sai da minha frente!
Felícia sai, dando um sorriso de lado. A vaca a fuzila e só Lívia a
segue.
— Com licença, Sr. Dexter e Srta. Kiara — Felícia pede, deixando-
nos a sós.
— O que estava pensando, Kiara? — Anton não demora a me
questionar e olha para o meu vestido rasgado na coxa, ainda muito bravo.
Eu desvio dele, abaixo o restante do tecido curto e inclino-me para
pegar o meu filho que começou a chorar entre as minhas pernas. Quando eu
volto, fico frente a frente de novo com os seus traços bárbaros e rústicos,
revestido com o chapéu de country, que o deixa só mais poderoso.
— Eu falei sobre a sua mãe. Eu não aguento mais essa mulher aqui
me tirando a paz!
— Mas isso não justifica bater nela! É uma senhora de idade!
— Ela me ameaçou e eu não tenho sangue de barata para ficar
ouvindo mais humilhações quieta. Já basta tudo o que eu passei. E eu quero
que ela vá embora!
— Chega, Kiara, se vê-la no seu caminho, desvie. Verei o que faço
para a Lorenza voltar para a capital. Por enquanto, não dê ouvidos a ela.
Entendeu?
— Fará mesmo?
— Sim, só tenha paciência. Ela continua aqui por um motivo sério,
que eu necessito investigar.
— Mais do que eu estou tendo? — Brava, eu dou de ombros,
sentando-me no sofá com o Gieber. — E que motivo é esse?
— Não vem ao caso. Mudando de assunto, eu tenho algo muito
importante para te dizer — o Dexter se aproxima, fazendo-me perder o ar
assim que se senta no outro sofá, olhando para o bebê e para mim.
A nossa noite ontem naquele balanço me vem à mente e eu começo a
sentir calor, arrepios.
— O quê?
— Eu estava no escritório conversando pelo telefone com o meu
advogado, sobre o menino.
— O-O Gieber? — Eu arregalo os olhos, abraçando o meu filho.
— Sim, Kia. E o que eu tenho para lhe dizer é que eu quero assumi-
lo. Eu quero dar o reconhecimento de paternidade.
Eu fico boquiaberta, em choque, tremendo diante dos seus olhos. O
medo, o pavor, tudo me envolve.
— Por que dessa decisão tão rápida? — Sussurro quase sem voz. —
Por quê, Anton?
— Eu fui homem para fazer essa criança da pior forma possível. E
agora também preciso ser para assumi-lo e honrar o meu papel como pai.
Permita-me, Kia? Eu fazendo isso me torna melhor comigo mesmo.
— Você não sabe nem o que é ser pai. Eu sinto que está só tentando
fechar o buraco da culpa no peito e na consciência. É por isso.
Gieber balbucia, querendo sair para engatinhar pela casa.
— Eu estou tentando por vários motivos. E ele é o meu filho, tem o
meu sangue... — O Dexter fala rouco, assistindo os movimentos dele, e o
meu pequeno encontra o seu olhar, sorrindo inocente. — Eu não posso mais
omitir.
Meus olhos lacrimejam e limpo a lágrima que me foge. Então eu
chego mais perto do Anton com o bebê.
— Ele é o seu filho. Mesmo que no começo eu não tenha dito, por
medo de fazer coisas ruins, ele é. É parte sua e minha.
Ele me fita diferente, adiante desvia sério e toca com certo anseio na
coxa gordinha dele. E sem acreditar, meu coração salta instantâneo da caixa
torácica.
Gieber se afasta inquieto e aperta o dedo indicador do Anton com a
mãozinha, balbuciando palavras qualquer. Ele está louco para sair
engatinhando pela casa.
Anton franze o cenho e eu não tiro um só segundo os olhos da sua
feição máscula. Ele me encara de novo, mexendo o maxilar.
— Pegue-o.
Ele permanece sério.
— Não.
— Não?
— Eu vou machucá-lo, Kiara. Olha o tamanho das minhas mãos. Ele
é pequeno.
— Uma chance, Anton. Prove que ele significa algo, demonstre isso.
Você não vai machucá-lo.
Eu determino a mim mesma que quero ver o Dexter segurando o
Gieber. E sem me importar se ele deseja isso ou não, eu levanto o bebê no
seu colo.
— Segure embaixo dos seus braços e erga-o em pé, sem apertar
muito na costela.
Anton parece sem ação. Porém, ele surpreende e sem jeito,
alegrando-me, pega o bebê onde lhe ensinei, erguendo-o cheio de receio.
Seus pezinhos descalços ficam numa só coxa do Dexter.
Noto os seus traços sem palavras. Ele segura o Gieber com as duas
mãos grossas, com insegurança de mexê-lo. E meu menino estranha a face do
pai, até que olha curioso para o seu chapéu e levanta os bracinhos curtos,
tentando alcançá-lo para pegar. Eu me emociono, vendo as minhas estruturas
se abalarem.
Anton está até bobo, sem saber o que fazer com o menininho cheio
de curiosidade que caminha na sua coxa e chega no seu rosto, apoiando-se na
sua barba áspera e falando alto. Ele solta uma mão e o acaricia. No entanto,
logo o Gieber estende os braços, querendo voltar para mim. Eu o pego de
volta, fitando o Anton.
— Ele gosta que você, converse, brinque com ele, só assim para
manter a sua atenção no seu colo — digo e desvio, limpando o rosto que está
úmido.
Eu fiquei admirada pela minha coragem de fazer esse homem pegar
uma criança pela primeira vez na vida. Será que ele sentiu algum amor?
Afeição?
— Se estivéssemos na capital, eu o assumiria hoje mesmo! —
Assustando-me, assim que eu coloquei o Gieber no chão para engatinhar, o
Dexter bradou, puxando o meu queixo e fazendo-me ligar as suas íris
intensas. — Eu nunca disse que eu não queria ser pai. Eu fui um fodido sem
caráter. E agora eu tenho que honrar os meus atos como um homem. Eu não
sou um monstro.
— Não é, Anton. Contudo, só não espere o meu perdão tão cedo —
eu tomo atitude e deixo um demorado beijo na bochecha dele, acalmando-o
pelo seu ato bruto ao me puxar. — Continua longe disso, não importa quantas
relações façamos, desta vez, eu sei separar o amor de prazer. Por mais difícil
que seja, eu sei. E também sei que no momento vocês só sente um deles — o
observo, testando o poder que ele diz tanto que eu tenho sobre a sua pessoa.
— Não merece a minha dedicação. Falta muito para aprender sobre o amor.
Ele fecha a cara e agarra-me pela cintura, sufocando-me por seu
enorme peitoral e ombros largos.
— Então, Kiara, que eu morra tentando saber essa droga de amor!
Mas, de você, eu não desisto! Nem que eu faça uma loucura! — E com posse,
ele toma a minha boca para a sua, tirando a minha alma do corpo.
CAPÍTULO 24

Assim que o Anton proferiu suas palavras de poder, ele me beijou,


tirando-me o fôlego e fazendo-me esquecer do próprio nome. E quando me
soltou, sem dizer mais nada, ele se ergueu, deu-me uma última olhada e
retirou-se em direção ao seu escritório. Eu balancei a cabeça, deixei-me cair
no encosto do sofá e toquei nos meus lábios inchados, ainda como que se
sentindo a sua ferocidade.
E agora no banho, isso me volta a mente, e toco de novo, também
lembrando-me da nossa distância durante esses quatro dias, após o nosso
último beijo faminto na sala e das suas palavras sobre o nosso filho. Estamos
sem nenhum contato um com o outro desde então. E essas sensações
indecentes não deveriam estar me afetando. Eu tenho que ser como a
personagem dos livros que achei na biblioteca essa semana. Ela sempre diz
nos capítulos que as mulheres têm que se dar o valor. Tem que ter atitude,
decisão, ser forte e se impor. E eu quero me tornar essa personagem. Eu
quero tornar esse livro a minha inspiração de andar de cabeça erguida, sem
mostrar que tudo me afeta, mágoa e que eu vivo remoendo as minhas dores
pelas pessoas que nunca nem sentiram uma pitada delas. Isso não é ser uma
mulher de verdade. Eu preciso controlar as minhas emoções de fraqueza e os
sentimentos de menina. E preciso começar esta noite, na festa de aniversário
daquela megera nojenta.
— Como eu estou? — Após Sonia terminar a minha maquiagem, eu
visto o longo vestido vermelho sangue, de seda, justo e bem decotado, e paro
na frente dela e da Felícia, com os saltos pretos.
— Meu Deus! — Felícia coloca a mão na boca, chocada. — Está
uma madame linda, poderosa. Melhor, está a madame mais bonita e poderosa
de Montes do Sol.
— Que exagero, dona Felícia.
— Não é não, Kia.
Sonia sorri, com a idade de trinta, mas face de vinte. Ela quem se
ofereceu para me maquiar, isso depois de entrar no quarto para me entregar
uma água e ver a minha luta para passar um mísero batom direito.
— Felícia tem razão. Sem palavras, Srta. Kiara, está maravilhosa.
Foi uma honra ter aceitado que eu a maquiasse.
— Eu quem agradeço, Sonia. Nem acredito que me ajudou. E, por
favor, me ensine depois tudo isso que você passou na minha cara. Me dê o
nome dessas coisas e comprarei para me ensinar a ficar todo dia assim. Eu
pareço uma outra pessoa. Meus olhos estão chamativos, brilhosos nas
pálpebras. Olha os meus cílios, estão gigantes e o batom vermelho deixou os
meus beiços carnudos. É renovador, eu estou tão feliz e linda.
— Você facilitou toda a mão de obra, doce menina. Sua beleza já é
natural.
— Verdade, Srta. Kiara. E além de linda é muito humilde.
— Obrigada pelo carinho, são dois anjos.
Eu respiro, sorridente de felicidade, e viro para ver o meu reflexo
pelo espelho. O que será que eles também vão achar agora da esposa
selvagem do poderoso Dexter? Quero muito ver aquelas nojentas e metidas
das amigas da Lorenza me humilharem de novo, como antigamente. Hoje eu
posso ter mais classe do que elas todas juntas.
Eu solto os meus cachos loiros dos bobes e isso causa mais elogios
animadores da parte da Felícia e da Sonia. Eu passo o perfume, coloco um
colar de brilhantes, que foi presente do Anton há muito tempo, em seguida,
sinto-me mais do que pronta para descer. Eu estou cheia de confiança e
autoestima.
Despeço-me delas e saio do quarto deixando o meu tesouro mais
valioso do mundo com a Felícia. E já desço sabendo que o Anton me espera
lá na sala. Ele disse mais cedo que me aguardaria sem um pingo de vontade
de ir. Se dependesse dele, nem participaria da festa, só está indo por minha
causa, porque eu disse que não ficaria no meu quarto, que eu iria para me
"divertir" — na verdade, eu estou indo para ver aquele jardim lá fora lotar de
umas mil pessoas, mas, lotando ou não, ainda bem que o Anton vai mandar a
mãe para a capital. Tomara que o quanto antes.
Passo pelo hall aberto e dos degraus eu vejo o Dexter em pé, com as
mãos dentro do bolso da calça social. Ele está tão elegante sem as suas
normais vestes de patrão cowboy. Até colocou um sapato chique e um relógio
brilhante de ouro. Ele, da mesma forma, não demora a me encontrar. E sem
disfarçar, analisa-me de baixo em cima, franzindo o cenho e ficando sem
ação.
Eu ouço uma melodia de fundo, enquanto me aproximo corada dele.
— Acho que o aniversário da sua mãe já começou — murmuro,
incomodada com os seus bonitos olhos que não saem do meu corpo, nem da
minha face maquiada. — O que achou de mim? — Pergunto lutando contra a
vergonha.
Anton me encara muito sério e estranho. Parece nervoso.
— Bonita — ele apenas responde, sem desviar as suas íris intensas.
Eu não acredito. É só isso o que ele tem a dizer? Eu estou me
achando tão linda, incrível. Nunca me senti tão segura da minha própria
aparência na vida. Anton é um insensível. E ele já está conseguindo me fazer
ficar é nervosa.
— Hum... vamos? Quero ver o povo metido da sua mãe — blasfemo
e dou de costa para ele.
— Espera, Kiara! — Só que ele manda, vindo em passos curtos e
apoiando-se nas minhas costas.
Eu até tonteio com o cheiro do seu perfume masculino. Porém, não
demonstro que as suas mãos me aquecem o corpo. Eu tenho que ser igual a
personagem do livro; forte e sem qualquer demonstração de vulnerabilidade.
Ao atravessarmos a porta do jardim, imediatamente os convidados e
até às corujas da noite se viram para nós – o que já não é novidade de
acontecer quando estamos em "público". Ou até, então, era novidade se todos
não estivessem grudados os olhos só em mim, e não no famoso Anton de
sobrenome Dexter.
— Acho que todas essas reações de espanto foram a minha — Anton
sussurra, apertando-me mais junto da sua estrutura forte e cheirosa. — Está a
mulher mais linda desta festa, Kiara.
O-O quê?
Sem conseguir acreditar no seu elogio, eu tento não o encarar para
não notar o meu bobo sorriso de alegria e satisfação.
Começamos a nos movermos em direção a alguma mesa. E as
pessoas continuam a nos observar a cada passo, meio sorrateiras e admiradas.
Até que alguns homens param o Anton para cumprimentá-lo como que se ele
fosse a última maravilha do mundo. Eles me olham, demonstrando relutância
em dizer um simples boa noite, pois o Dexter continua com a mão bruta me
colando ao seu corpo gigante, sem me deixar livre.
— Graças a Deus, podemos nos sentar — comento, sentando-me
com ele na mesa bem de canto para a decoração e as luzes luxuosas. — E que
eu posso respirar sem você me tirar essa maravilhosa proeza.
Ele não diz nada, só me observa sério e sem brincadeiras.
— O que foi? — Resolvo questionar o seu estranho comportamento.
— Acho que se eu começar a falar "o que foi" agirei como um
homem das cavernas.
Surpresa, eu franzo a testa, sem entender o motivo da resposta. E ele,
não é?
— E não é? — O desafio como sempre odeia que façam.
— E é o que acha? — Ele revida a pergunta, cheio de rouquidão e
olhar sedutor.
— Antes você era. Só que agora está diferente, não sei. É um
homem das cavernas moderno.
— Homem das cavernas moderno? — Sem crer, acho que eu estou
vendo o Dexter sorrir. — Tenho certeza que não entendeu a minha resposta.
— E o que você qui...
— Com licença.
Interrompendo-nos, dois garçons nos abordam com duas taças de
vinho, champanhe e o outro com uma bandejinha de salgadinhos. E claro, eu
peguei os salgados e a taça de vinho com brilho nos olhos. Eu amo até o
nome desse líquido com gosto de paraíso.
— Olá, boa noite, Sr. Anton, Srta. Kiara. Posso me sentar com
vocês?
Lívia chega nos cumprimentando e já puxando a cadeira vaga antes
de respondermos. E apenas consentimos. Ela está no extremo da vulgaridade
com o seu vestido curto e decotado até o umbigo.
— Acho que metade da festa desejaria estar no meu lugar, ao lado
dos Dexter.
— Apenas do Anton — replico, odiando bajulações.
— Sinto muito, Srta. Kiara, mas está enganada, todas e
principalmente todos estão falando de você. Está espetacular esta noite. É
uma pena que os fotógrafos estão proibidos de fotografá-los.
— Proibidos, como assim? Por quem?
— Por mim — Anton resmunga. — Eu disse para a Lorenza que não
queria um evento que saísse nas capas dos jornais essa semana. O que já está
tentando fazer.
— Mas eu quero tirar fotos. Me arrumei para isso também.
— Podemos tirar juntas, Srta. Kiara.
— Ela não vai! — Anton esbraveja para a Lívia, o que, em susto, a
faz corar o rosto e ficar sem graça ao afastar devagar os braços da mesa e
olha que ele disse a sua idiota ordem grosseira o mais suave possível.
— Você não manda em mim. É claro que eu vou.
Quando eu ia me levantar, ele segurou na minha coxa, impedindo-
me dar qualquer passo. Lívia nos observa atenta.
— Daqui a pouco, eu permito, Kiara, todos te pararam e eu não
quero elogios de homem nenhum para você.
— Você não pode fa...
— É... não desejo criar nenhuma confusão. Eu vou dar uma volta,
com licença — Lívia se levanta, sem esperar que eu diga alguma coisa. E ela
pareceu incomodada com a fala e o modo bruto do Anton? Ou eu fiquei
doida?
— Por que disse isso? A Lívia saiu daqui estranha. E está agindo
como se eu fosse o seu objeto, uma marionete! Eu sou dona de mim, aquela
menina comprada não existe mais!
— Não me importo com ela, nem com ninguém. E não é o meu
objeto, é a minha esposa, como eu sou o seu marido. Por favor, Kiara, não
quero ficar mais irritado, nem discutir, eu só quero que fique aqui.
— Você antigamente adorava me deixar sozinha para ficar
conversando com os outros, o que tem agora, hein?
— É que antigamente eu era um imbecil. E o que eu tenho agora é
que eu preferia estar arrancando o seu vestido de seda lá no quarto, do que
ficar aqui, me torturando com você linda assim — como se tivesse dito um
"nada", ele toma o seu champanhe e relaxa na cadeira, desviando e
visualizando as pessoas curiosas que não tiram os olhos de nós.
Meu Deus, eu perco o fôlego, meu coração até palpita sem acreditar
em mais elogios da parte dele. Seria a mais sincera verdade? Eu causo isto ao
Anton, de ele me desejar mais do que toda a atenção desta festa?
Depois de sua confissão, eu não fiquei mais tão irritada como antes.
Fiquei é me sentindo provocante para ele, como que se eu quisesse testá-lo
para comprovar as suas palavras. Só que como eu faço realmente isso? É
muito difícil.
Na hora dos parabéns, levantamo-nos forçados para se aproximar da
megera e pelo menos demonstrar alguma "compaixão" existente. Ela
discursou cheia de metidez, agradeceu a presença de todos os seus
convidados ricos e no fim, quando estávamos quase voltando para o nosso
lugar, fomos impedidos por duas mulheres peruas que se aproximaram do
Anton, fingindo que eu não existia.
— Olá, que honra, Sr. Anton. É um prazer conhecê-lo...
As oferecidas se apresentam para o meu marido, esfregando os seus
seios nos olhos dele. Eu resolvo deixá-lo bem a sós, como aprendi no meu
querido livro, e saio quietinha de perto dele, caminhando pronta para voltar e
tacar um jarro de planta no meio da cabeça daquele cafajeste. Que raiva, eu
não vou mostrar que me afetou, não vou! Eu não sou aquela trouxa chorona!
E tem um monte de homens também me olhando, o que significa que eu
posso chamar atenção deles como o Dexter chama das mulheres!
— Desculpa!
Quando eu percebo, no meio do meu pensamento cheio de vingança
e revolta, eu esbarro com um garçom e um outro homem que passavam
simultâneos e provoco, com o braço, a bandeja a cair sobre o pobre moço.
Desespero-me, dilatando as íris ao discernir o grau da situação desastrosa na
sua camisa branca.
— Meu Deus, me perdoe, por favor. Não foi a minha intenção, eu fui
uma desastrada. Eu...
— Tudo bem, senhorita, foi um acidente, isso acontece.
— Desculpa senhores, com licença — o garçom se retira, voltando
ligeiro ao seu trabalho.
— Sinto muito, eu sujei toda a sua camisa de champanhe. Eu não
tinha visto o garçom.
— Não se preocupe, Srta. Dexter — o homem, então, fala, abrindo
um sorriso cavalheiro com os seus dentes brancos, ao erguer os olhos
escuros. — E é um prazer ser o único desse lugar a conseguir me apresentar
sem receio a esposa misteriosa do fazendeiro Anton. — E eu me chamo João.
Perplexa, eu levanto a mão para cumprimentá-lo, admirando-o por
ser alto e bonito.
CAPÍTULO 25

Anton Dexter

Corto a apresentação das duas mulheres oferecidas e saio inquieto


por notar que a Kiara fugiu de vista. Espero que ela não esteja pegando vinho
para tomar sem controle. E ela não está fazendo ideia de como está linda.
Droga, eu queria arrastá-la daqui para nos satisfazer a noite toda. Seus gritos
de prazer seriam ouvidos até pelo horizonte da fazenda.
— Olá, Sr. Dexter, como vai? — Enquanto um senhor me parava
para me cumprimentar, ao virar a cabeça e erguer despretensioso o pescoço,
eu encontrei num piscar dos olhos a Kiara estendendo a mão para um homem
estranho. Eu tive até que olhar duas vezes para ter certeza da cena.
E porra, eu fecho a cara na hora, deixo quem se apresentou para trás
e aproximo-me em passos furiosos, tentando também não fechar os punhos.
— O prazer é meu, João...
— Kiara! — Em segundos, eu me materializo do lado dela,
puxando-a pela cintura, sem encará-la, mas encarando o cara que solta
instantâneo a mão da minha esposa.
Kiara ainda tenta se equilibrar em mim, sendo pega de surpresa.
— Sr. Anton — o cara puxa um sorriso. — É igualmente um prazer
conhecê-lo, assim como a sua bela esposa.
Não o respondo, só consinto sem paciência para novos "amigos".
— E-Eu derramei o champanhe da bandeja do garçom, nele... — Kia
murmura, afastando-me para tentar sair do aperto do meu corpo. O que é em
vão.
— E eu já lhe disse que foi um acidente.
— Mesmo assim, eu sinto muito.
— Se tudo está esclarecido entre vocês, não há mais o que
conversar. Eu e a minha esposa lhe pedimos licença — então eu digo
grosseiro, não querendo papo e viro as costas, levando-a comigo pelos cantos
dos arbustos.
— Anton, o que está pensando? Você está louco? Deixou o homem
lá parado... ele vai ach...
Eu a agarro e viro frente a frente, fazendo essa menina encarar os
meus olhos furiosos.
Porra, ninguém tem que está interessado em falar com a minha
mulher. Esses caras podem notar a sua inocência, o seu jeito de confiar fácil
nas pessoas, para poder planejar algo contra mim e ela. E não confio em
nenhum fazendeiro dessas regiões, quanto mais nos seus filhos que
compareceram ao aniversário da Lorenza!
— Não tem que ficar dando atenção para qualquer um!
— Eu não dei atenção para ninguém! E também não é da sua conta
para quem eu devo dar atenção ou não, seu grosseiro! Me solta, larga do meu
pé e vai atrás das oferecidas que te endeusam, que adoram o "Dexter rico"!
Eu estava muito bem sozinha!
Vejo que tem duas mesas nos observando atentos, devido ao nosso
tom de voz meio alta e controlo-me, sendo o mais calmo possível ao
aproximar a boca da sua orelha. Kiara imediatamente fica sem saída, tendo
tempo de só colocar a mão contra o meu peitoral largo.
— Não teime. Vamos para dentro, não tem mais nada para fazer
aqui.
— Tem sim, a festa só está começando — ela sussurra, desafiando-
me sem medo.
Eu respiro fundo, pressionando-a nos quadris, com os meus
músculos inflados e continuo perto do seu ouvido:
— Kiara... eu juro que se eu não estivesse em suas mãos, eu já tinha
te apanhado no colo, jogado nos meus ombros e te levado por bem ou por
mal daqui!
Kia distância a cabeça, fitando-me sem acreditar.
— Realmente é um bruto.
— Se não teimasse tanto eu não seria.
— Teimando ou não você ainda é. E, por favor, me larga, as pessoas
estão nos olhando. Estamos quase sendo o centro da atenção dessa festa de
novo.
— E te incomoda que eu fique abraçado com você? — Questiono
cansado desse povo fútil e aproximo mais o meu corpo quente do dela.
Kiara cora as maçãs, ficando sem ar.
— Acho que incomoda mais você e as convidadas ricas da sua mãe,
que me acham uma selvagem. Devem agora estar nos vendo e sentindo raiva.
— E isso não é bom? — Eu afago mais firme as suas bonitas curvas.
— Vamos sair daqui? Já deu de perder o meu tempo.
— Está bem, Anton, mas só porque eu quero descansar os meus pés
desses saltos. — Ela, enfim, concorda e eu posso me ver livre desses infelizes
a olhando indiscreto. Damos uma volta, indo em direção a casa. Todavia,
quando vamos atravessar a porta de correr, o meu capataz, o Jesuíta, aparece
me chamando em sussurro.
— Patrão — ele para rápido ao meu lado e eu seguro o braço da Kia,
fazendo-a também cessar os passos.
— O que foi, Jesuíta?
— Eu acabei de ser informado de que oito peões estão terminando
de apagar um foco de incêndio que começou a pouco minutos em um dos seis
armazéns de reserva das madeiras.
— O quê?
Eu sinto na hora o meu coração acelerar de fúria e solto a Kiara para
não a machucar com a vontade de fechar os punhos e socar uma parede.
— Espero que não esteja amenizando suas palavras! Qual foi o grau
desse incêndio?
— 70%. Assim fui informado.
— Que merda. Não deseje que eu igualmente confirme a sua
porcentagem informada. O fogo não apareceu sozinho, por isso, mande
acordar os outros peões que estiverem dormindo, para fazer rondas pela
fazenda. E isso inclui o Gael! Quero que procure o responsável! Qualquer um
que estiver perambulando é suspeito!
— Sim, senhor, volto a comunicá-lo se encontramos algo. Com
licença.
Ele se retira e eu passo a mão na barba, nervoso. Kia se mantém
quieta, fitando-me sem dizer nada e entramos em casa, só achando o vazio da
meia luz e o som de música vindo do jardim.
— Você não vai ver o que aconteceu?
— Não.
— Será que é a pessoa que atirou em você? Ficou muito nervoso.
— Eu desconfio de todos, Kiara. Terei que voltar a conversar com o
meu amigo delegado. O Laerte me ajudará com a investigação.
— Você deveria era contar para o Gael. Ele é o seu braço direito. E
se preocupa.
Ouvi-la falando sobre o Gael me faz ficar só mais irritado com
aquele traíra e eu me aproximo dela, fazendo-a resistir a vontade de se
afastar.
— Não quero mais falar de nada, eu só quero paz para a minha
mente — eu seguro o seu pulso, erguendo sua pequena mão na minha boca
para beijá-la.
Kia morde os lábios inferiores em surpresa, começando a tremer.
— Eu só consigo pensar nesse seu vestido macio, arrancado por
mim.
— Não, não.
Ela puxa brava a mão, distanciando-se.
— Não pense que tem essas liberdades. Nada mudou. Só quer saber
dos seus prazeres carnais.
— Tudo mudou. E não minta que não sente o mesmo desejo! —
Antes dela virar para fugir, eu a puxo por trás, colando suas costas no meu
tórax. — Você me atrai — beijo o seu pescoço, sentindo-a trêmula, afobada.
— Tudo em você me atrai, me provoca.
— Como eu te provoco? — Kia questiona baixo, tocando nas
minhas mãos.
— Neste exato momento, já está fazendo isso — eu respiro fundo e
mostro que estou excitado por ela, faço-a sentir o meu membro duro contra o
seu traseiro.
— A-Anton... — Kia suspira arrepiada, amolecendo as pernas.
— O que eu tenho mais que te provar esta noite para ver que me
atrai?
Ela vira corada, piscando seguidamente.
— Alguém pode entrar aqui na sala e vai nos ver e...
— E você está fugindo de mim!
— Não, eu não estou! — Ela me enfrentar, vociferando suas
palavras raivosas. Eu começo a gostar de vê-la assim, desafiando-me com
coragem, mostrando que é uma mulher forte, única, sem medo do homem que
eu estou tentando tirar de mim.— Você não me causa nenhum medo.
— Então ótimo, isso é tudo o que eu queria ouvir. Vem... — Eu cato
com delicadeza o braço dela e levo-a pelas escadas, sem deixar que reaja pela
insegurança.
No corredor do meu quarto, eu a empurro na parede, roubando um
beijo faminto da sua boca vermelha e sugo sua saliva, a sua língua, tomo
posse da sua respiração em brasas. Kiara arqueja, apertando as minhas costas
e puxando com as unhas o tecido da minha camisa. Com tesão, eu passo a
mão na bunda dela, apalpando a carne gostosa. E quando ela precisa de
fôlego nos pulmões, eu continuo mais feroz, descendo pelo seu pescoço e
segurando com forças os seus cabelos dourados.
— Eu... eu vou desmaiar... — ela confessa, completamente
desesperada. — Anton... Anton... — Kia me faz voltar para cima.
Fito-a, mas eu não digo nada, adiante, abro a porta do quarto e jogo-
nos para dentro, trancando-a na chave. Volto a beijá-la, louco para agir como
um animal com esse vestido fino e justo, empinando as suas curvas. E é o que
eu faço, começando a rasgá-lo por trás, na linha da costura, até o fim. Só que
Kiara arregala os olhos, afasta nossas bocas e tenta me empurrar.
— Dexter, o meu vestido!
— Eu posso te dar outros mil desses — murmuro, colando nossas
testas. — Ficou linda dentro dessa seda vermelha. Me deixou parecendo um
menino querendo muito algo. Você!
— Só que não vai me dar nenhum igual a esse — ela acaricia o meu
peitoral, olhando-me, mesmo com os saltos, tendo que colocar um pouco dos
seus pés na ponta para ficar cara a cara comigo.
Ela me deixa fissurado enquanto sustenta o restante do tecido de alça
na altura dos seios, sem o apoio do sutiã, eu aliso o restante que está nu.
Descendo nos ombros, nas costas, nas alças da calcinha e na sua bunda
formosa, quente.
— Você está me sentindo com tanta delicadeza, com atenção, como
que se eu fosse admirável.
— Está confiando em mim, Kia, depois de ainda não ser o suficiente
as provas das minhas promessas. E você é admirável. É um anjo puro,
inocente. O único responsável por algo, desde que lhe comprou menina, sou
eu.
Ela me fita com os olhos brilhando. E não querendo que ela chore, a
não ser por prazer, eu volto a afagar o seu traseiro e passo o dedo até a base
do ânus. Kia geme.
— Agora me responda se está molhada?
— S-sim... estou.
Com a sua resposta, eu passo a mão por baixo do seu vestido
rasgado, afasto a calcinha que gruda úmida na sua vagina. E só para
comprovar o que é certeza, eu sinto toda a sua lubrificação escorrendo pelos
meus dedos. Ela está muito excitada e acumulada. Porra, que sensação
deliciosa. Acolhi todo o seu líquido.
— Dexter... — Ela se apoia em mim, fechando os olhos.
Eu continuo a acariciar seus lábios macios, de poucos pelos, que
começam a ficar durinhos e a pulsar com meu toque. Então, devagar, dedilho-
a entre as pernas, penetrando gostoso. Ela joga o pescoço para trás, soltando
gemidos altos, e agita os quadris, vibrando. Para enlouquecê-la mais, eu pego
a sua mão e coloco sobre o meu volume latejante na calça social. Sendo
tentador, Kia pressiona enquanto a masturbo – o que faz ela não demorar a
explodir de prazer e eu a ficar mais excitado, com o membro doendo.
Deixo-a gozar com as pernas afastadas, segurando-as, para ficar sem
o consolo de se suprir ao recolhê-las e todo o gozo vai ao chão.
É uma visão espetacular. Eu fico observando o seu rosto angelical,
fissurado por ver tão tarde que essa doce mulher é minha e eu posso dar tudo
de sexo que nunca a proporcionei antes, com sinceridade e luxuria. E céus, eu
preciso dar isso a ela agora!
CAPÍTULO 26

Kiara amolece nos meus braços.


— Eu quero muito você — ela sussurra arfante.
Então se afasta, deixando o restante do vestido rasgado cair no chão
e dando-me a visão de todo o seu corpo seminu. Com o pau latejando, os
meus olhos não saem dos seus seios empinados, de mamilos rosados e duros,
que agora acolhem muito bem a minha mão grossa, até sobra. Eu a pressiono
forte, levando Kia a se segurar em mim para gemer e voltar a perder os
sentidos.
— Você vai ter... — Murmuro, e sem demora a pego feroz pela
cintura, levantando-a do chão. — Eu quero você gemendo para os quatro
cantos dessa fazenda ouvir.
Ela exprime as pernas no meu quadril, sufocando os seios eretos no
meu peitoral e balança a cabeça em negativo.
— Você só pode estar doido se acha que eu vou fazer isso.
— E como vai controlar?
Levo a minha menina até a cama e a coloco sobre o colchão, indo
por cima da sua beleza fascinante. Tudo nela me seduz. O cabelo de cachos
loiros, os olhos azul-acinzentado, as sardinhas. É angelical.
— Eu vou... — Kia se ajeita sem mais vergonha da nudez, como
antigamente. Ainda olha para o meu abdômen e o volume grande na minha
virilha.
Eu paro de joelhos, levantando-me para tirar a camisa e o cinto.
— O seu ombro melhorou?
— Está muito melhor — após também tirar a calça, abaixo-me
obscuro nela, deslizando os dedos pelas suas curvas aveludadas e dando uma
lambida única na sua barriga, até o pescoço.
Ela aperta o travesseiro, choramingando arrepiada. Eu beijo o seu
cangote, a orelha, o ombro, inundando tudo com a minha saliva. A saboreio,
estimulando meu membro por cima da sua calcinha pequena.
— Eu vou ter um ataque do coração a qualquer momento... — Kia
gagueja muito acelerada, empurrando a minha cabeça para poder respirar e eu
fitá-la.
Eu faço, mas, em seguida, a lambo na boca, agora não dando chance
nem para ter fôlego. Sugo o seu oxigênio com um beijo animal, adiante, volto
para baixo, descendo por onde percorri a saliva. E chego na sua peça íntima,
melada de gozo, dando uma mordida no clitóris pulsante. Ela agarra os meus
cabelos em desespero.
— AN... Anton...
— Diga?
— Isso é bom... não para!
Eu sorrio da exclamação do seu pedido e eu começo a arrancar a sua
calcinha, sem rasgá-la, depois realizo a minha obrigação de "comer" a sua
vagina como se eu fosse um leão.
E, porra, se ela disse que ia controlar algum grito de prazer, acaba de
me provar o contrário, tacando a cabeça para trás e chamando-me
repetidamente alto pelo nome, enquanto rebola na minha língua e nos meus
dedos que entra e sai do seu ponto G, metendo sem parar.
Ah, isso aqui que será o meu fim. Eu preciso penetrá-la.
Kiara Dexter

Eu sinto tudo tremer e enlouquecendo, eu berro pelo Anton, solto os


seus cabelos, apoiando-me na cabeceira e chego no meu segundo orgasmo
que devasta a noção de existência. Eu caio sobre a cama, aperto as coxas, mas
não tenho tempo de me recuperar de nada. O Dexter volta faminto, virando-
me para ele e dando-me o gosto do meu próprio sabor na sua boca. Eu
entrelaço rápida as coxas no seu quadril, seguro no seu pescoço e sinto-o tirar
o membro rígido da cueca.
— Você... hummm... — Então separo os nossos lábios do beijo,
interrompendo-me com a sensação de pele com pele no meu clitóris.
— Hannn.
— Eu? — Ele se esfrega de novo, alimentando o tesão de suportar
mais orgasmos. Eu estremeço alto. — Eu hoje vou enlouquecer você, minha
doce mulher.
Como se eu estivesse entrando num mar de águas ferventes...
mergulho-me de prazer, recebendo a sua promessa funda, e fecho os olhos,
desta vez, com gritos e gemidos saindo estridentes, sem controle a cada
estocada.
— Ahh, Kia! — Urrando, sem avisar, o Dexter me toma a força
pelas costas, tirando-me do colchão e jogando contra a parede próxima da
janela da sacada. Ele segura os meus cabelos e investe forte, intenso e feroz.
Eu delírio, recendo-o com eloquência.
A gente até perde o controle. E, no ápice, quando gozamos juntos, eu
abraço de forma estática o seu corpo, vibrando com o seu líquido que me
preenche de jatos fortes, percorrendo minhas pernas moles e melando tudo,
até a cortina da parede.
Anton me segura mais firme, tomando fôlego e volta a me deitar na
cama, ao seu lado. Eu o fito, com o peito descendo e subindo suado, cansado;
igual ao seu.
— A proteção — digo arfante para ele, não querendo pensar em
como reagiria se acontecesse uma situação dessa há dois anos, sem
preservativo. Ele ficaria maluco —, você não vestiu.
— Não — ele acaricia uma mecha do meu cabelo, agindo
incrivelmente calmo e relaxado. — Eu tenho a pílula para você. Só me
responda o que achou?
Eu continuo a encarar os seus olhos sérios, tocando nos pelos do seu
peitoral vigoroso.
— Eu nunca achei que poderia ser ainda melhor. Eu senti você, pele
com pele, todo o seu prazer. Foi único.
Anton fisga um sorriso de lado, erguendo o meu rosto até a sua boca
e meus seios seguem o esfregando.
— É mais gostoso... — sussurra, com a sua barba pinicante na minha
bochecha. — Seus gemidos altos, em gritos já disseram tudo, Kiara.
Eu arrepio-me.
— Por mais que agora eu não tenha um pingo de coragem de descer
lá embaixo, no fundo, eu nem ligo se ouviram ou não. Não me importo com
mais ninguém.
Eu deixo o Anton admirado com as minhas palavras.
— Também não me importo. A raiva, o desgosto que o meu pai
sentia por essas pessoas da classe alta da sociedade era com razão. O
compreendo, mesmo tarde, eu compreendo e quero que todos vão para o
inferno! — Ele declara meio furioso, deitando-se contra o travesseiro.
Eu tento não amolecer o meu bobo coração que grita a cada pulsação
que ele realmente está mudando e que eu o amo. Contudo, desta vez, eu sei
separar o trigo da farinha e o amor de prazer carnal. É cedo para me dedicar.
Ele tem que fazer por merecer.
Calados, ficamos mais um pouco descansando na cama, até o Anton
me pegar de novo no colo e me levar até o chuveiro com ele – nus,
desavergonhados, para tomarmos um banho gelado e com carícias que eu
gosto de sentir pelas suas mãos robustas. Da mesma forma, revisto-me de
coragem para retribuir os seus toques deliciosos. E ele não me impede de
nada, permitindo que o sinta desde os músculos rígidos ao seu órgão duro e
latejante.
Após o banho excitante, enrolo-me no roupão, pego o restante do
meu vestido do tapete, os saltos e analiso-o, que está de pé, com uma toalha
azul enrolada na cintura e a outra branca secando os cabelos.
— Eu vou para o meu quarto.
— Acho que você já está no seu quarto.
Eu dilato as pupilas, sem crer na sua resposta.
— Gostaria que voltasse a ficar aqui, ao meu lado.
— Eu tenho que ficar com o meu filho.
— Se mude com ele! — O Dexter exclama, sem tirar as íris de mim,
aproximando-se a cada passo.
Eu fico sem ação, perco a voz. Ele aceitaria o berço e o Gieber no
quarto? É de duvidar.
— Quero que vocês fiquem aqui comigo.
— Não... — Enquanto eu tento negar, ele para na minha frente e toca
nas maçãs do meu rosto. — Não vou aceitar. Não estamos bem. Só estamos
tendo... sexo... é só isso que estamos tendo. E é bom, eu gosto, e só.
Anton muda o semblante na hora, sem acreditar no que eu disse,
com se eu fosse outra pessoa; fria e sem sentimentos. Ele me solta bravo,
fazendo-me repensar em ficar parada ou correr por causa do seu olhar
fuzilante.
— É a minha esposa, não estamos brincando de amantes! E jamais
diria essa mentira que omitiu!
— Omitindo ou não, Anton. No momento é só isso, sexo. Você sabe
o que eu passei. E já foi um passo enorme eu ter lhe entregado o meu corpo
depois da barbaridade que fez. Pois, querendo ou não, eu confiei em você, eu
deixei que estivesse em mim de novo, mesmo que enquanto eu lutava pela
dor, as feridas, a raiva, o ódio, a vontade de vingança contra você. E
confesso, você me tirou tudo isso da cabeça com demonstrações de prazer,
carinho. Fez amor como nunca antes tentasse. E até agora eu continuo
apostando em suas promessas. De passinho em passinho, eu estou tentando
construir o seu novo caráter. Não é tão fácil.
Minhas palavras o calam, desmontando a sua armadura rude, talvez
pela culpa, e ele puxa a minha cintura, dando-me um beijo na testa.
— Sinto muito se eu fui grosseiro, eu não quero ser mais aquele
Anton imbecil. Eu me afundei numa solidão, sem pensar nas consequências
da realidade.
— Foi pelo seu pai, eu sei que sofreu e sofre até hoje por ele. Mas
não tocarei mais nesse, nem no nosso passado de marido e mulher daqui em
diante. Da mesma forma que está mudando, eu também estou. E é
amadurecer tomar algumas decisões certas, que ainda doem.
— Ao mesmo tempo que me orgulha, sinto-me responsável por
quem eu te tornei. É uma mulher, Kiara, que, no fundo, ainda tem aquela
menina que me enlouquecia pelas curiosidades e pelo jeito doce, bom de ver
o mundo. Eu não te mereço, porém, não aceito que se vá para sempre.
Eu fico emocionada e ele me beija, colando o nosso corpo e
arrancando suspiros dos meus pulmões.
— Você foi um bruto... eu não tenho mais forças — afasto-me do
beijo a caloroso dele, voltando os meus pés descalços para o chão.
— Eu sei, eu suguei quase tudo — O Dexter murmura galanteador
no meu ouvido.
Eu sorrio discreta e ele me abraça com o tórax molhado. Parece que
eu estou num sonho, em que nada disso é real. E que esse homem carinhoso
na minha frente vai desaparecer assim que eu abrir os olhos. Ele é tão bonito,
forte, rústico. É por isso que me seduz, além do amor que felizmente ou
infelizmente vive no meu peito. Torço para que, no final, seja um felizmente
recíproco. Pois essa chance é a última.
CAPÍTULO 27

Anton Dexter

Eu solto a Kiara dos meus braços e a deixo voltar para o seu quarto,
mesmo querendo que ela ficasse aqui, aconchegada ao meu corpo e eu, ao
calor da sua pele macia. Mas a compreendo. Por mais que eu diga que o que
eu fiz no passado, hoje, com sinceridade, eu me arrependa, ela continua com
medo e desconfiada. É como que se vivesse os nossos momentos sabendo
que, no outro dia, eu vou voltar a ser aquela pessoa bárbara de antes. E eu não
vou voltar, eu não posso ser aquele homem desgraçado de novo.
E mesmo que não seja o suficiente, por mais que eu não mereça
nenhum perdão ou misericórdia, eu congelo a terra para provar isso a ela e a
mim próprio. Eu errei e antes de dormir, imagino se eu pudesse voltar na
ocasião em que fui negociá-la com o seu pai. Ela era virgem do corpo aos
pés, digo dos seus gestos, fala, perguntas. Tão curiosa, doce, uma menina de
dezessete anos com um conhecimento tirado dos seus milhares de livros
escondidos no forro do quarto. Lembro-me de que eu fui um total bruto,
grosseiro desde que a trouxe casada para esta mansão. Nunca parei para tratá-
la no tom de sua calma e delicadeza. Acho que só fiz isso depois do tiro
disparado no meu ombro, pois, naquela tarde que me viu ensanguentado, Kia
teve a coragem de se importar com o infeliz que nunca a tratou como
merecia. E não escondo mais que ela realmente é o que me resta, é a minha
estrutura.
Esta noite, vê-la naquele vestido espetacular, com os cachos, o
perfume, tudo tirando o fôlego, me deixou louco, incomodado. Senti ciúmes
pela primeira vez de uma mulher. Eu queria socar a cara de cada homem que
estava a olhando. Ela me desafiou, respondeu, teimou, contudo, nada que me
enlouquecesse ao ponto de eu ser um monstro. Eu só queria a sequestrar dali
e dar prazer a noite toda, sentir cada pedaço do seu corpo feminino. E eu fiz.
E eu continuo a querendo mais do que antes.
— Bom dia!
— Senhor Dexter! Que susto! — Felícia arregala os olhos, entrando
em choque ao me ver, de repente, cruzando o corredor, onde a peguei de
surpresa com uma bandeja vazia. — Meu Deus, meu pobre coração. Bom dia,
senhor. Acordou tão cedo. Hoje é domingo.
— Eu estava muito pensativo para ficar deitado. Só tem eu ainda de
pé?
— Sim. Acredito que, por causa da festa de aniversário, a dona Lívia
e a dona Lorenza vão levantar bem tarde. Ah, mas a Kia já está no banho.
Acabei de levar a mamadeira do bebê e uma água fresca para ela.
— Obrigado. Eu vou descer rápido para os galpões de armazenagem
e daqui a pouco, eu volto para o café. Caso Kiara pergunte, avise-a.
— Sim, senhor.
Felícia consente e eu me retiro, caminhando rumo ao estábulo para
pegar o meu cavalo. E já com as selas prontas, feitas por um peão, eu saio ao
lado do meu capataz, que me acompanha até onde o incêndio aconteceu.
Mas, quando eu chego, a porra da cena que eu encontro é de vinte
cinco mil de prejuízo, em cinzas.
— Não encontramos nenhum suspeito — Gael informa, também
aparecendo com mais dois peões em seus cavalos. — Só que achamos um
galão de gasolina jogado no açude.
— Quem fez isso já está muito longe — eu murmuro. — Essa
pessoa aproveitou a distração da festa para agir.
— Também acredito. O que aconteceu aqui foi um crime, algo
arquitetado para te atingir.
Eu encaro o Gael, calado, ligando o óbvio ao fato da tentativa de me
assassinar na saída dos estábulos. O tiro, o incêndio. Não estão para
brincadeiras. E nem eu.
— Quero que reúna os capatazes amanhã, Ratito. E vasculhe todos
os peões. Qualquer suspeita, me avise.
— Sim, patrão.
— Suspeita dos seus peões?
— Eu suspeito até da minha própria sombra, Gael. E se moram nas
minhas terras e se tem alguém sabotando os meus negócios, vasculharei até
encontrar esse marginal.
Gael se cala. E sem mais o que dizer, após as minhas palavras, eu
aperto o chapéu na cabeça, peço licença e inclino as rédeas do cavalo para
poder me retirar e inspecionar dois campos de eucalipto recém-plantados,
junto do Ratito. Em seguida, retorno a mansão; entro, tomo um banho, visto
outra roupa e desço para o café pronto sobre a mesa.
— Bom dia, Sr. Dexter — Lívia diz ao lado da minha mãe, assim
que eu chego, sentando-me quieto.
E Kia a observa semicerrando o cenho.
— Bom dia.
— Certeza que a minha festa foi um sucesso, estava comentando
com a Lívia.
— Realmente foi, Lorenza — Kiara sorri em linha reta para ela,
sendo ágil na resposta. — E espero que, após o café da manhã, você limpe o
jardim da mansão. Pois os empregados não são os seus escravos. Eles não
farão nada se eu não mandar.
— Não se preocupe, selvagemzinha, eu contratei pessoas para este
serviço. Ao contrário de você, eu tenho o meu próprio dinheiro, não dependo
de ninguém!
Kia abre a boca e antes dela responder, eu entro no meio.
— Chega vocês! Não comecem nenhuma discussão! — O brado
severo da minha voz faz elas se calarem.
Mas a Kiara me olha com o rosto diferente. E da mesma forma,
querendo dar um ponto final nessas brigas pelas manhãs, eu encaro a minha
mãe.
— E eu quero que volte para a capital até sexta, Lorenza! Não é um
pedido! Não ficará mais aqui! Tem o seu apartamento, a sua vida na cidade.
— O... o quê? — Ela, na hora, larga a xícara. — Você sabe que não
pode fazer isso! Eu sou a sua mãe, essa também é a minha casa!
— Essa casa era do meu pai, agora é herança minha. Eu te aceitei até
resolver os seus problemas com o governador. E creio que já tenha resolvido.
Agora chega de tirar a nossa paz. Voltará para a capital até sexta.
— Eu não resolvi nada! E só sairei desta mansão quando eu achar
por bem!
— Então tente me desafiar! — Eu exclamo batendo na mesa. — Seu
rumo será o mesmo que o dos seus dois filhos preferidos! Jogados na
escadaria com os pertences espalhados pelos lados e com direito aos
empregados vendo!
Imediatamente Lorenza se levanta furiosa, encarando-me com raiva.
Ela fecha a mão.
— Você é a imagem escrita e dita do diabo bárbaro do seu pai. E
espero que não seja tarde demais quando se arrepender... Dexter!
— Nem o seu, Lorenza. Eu sei dos seus planos, e a mim você não
tirará nenhum centavo. E quando se for, quero que leve a sua empregada
junto. Sem você, não há mais o serviço de escutar conversas atrás da porta e
passar informações que nunca deixei vazarem.
Parada no mesmo lugar, ela me enfrenta com os olhos esbugalhados
de fúria. E sem mais o que dizer, vira as costas. Lívia igualmente não demora
a soltar o café, levantar-se, pedir licença e segui-la.
— Anton... — Kiara me fita sem crer no que eu fiz. — Ela tinha uma
empregada que...
— Eu lhe explicarei melhor as coisas daqui a pouco, não pergunte
ainda — a interrompo.
Ela consente, aguardando-me terminar de comer. Ao terminar, eu a
faço me seguir até o escritório.
— Sua mãe tinha uma pessoa que escutava as suas conversas
escondidas? — Mal termino de fechar a porta e Kia questiona outra vez, com
o bebê no colo.
— Sim, ela quer dinheiro. Está devendo mais de meio milhão para o
governador de Montes do Sol. Sua intenção, além de buscar a minha
proteção, era de me convencer de lhe dar essa quantia. Mesmo sem dizer, eu
sabia.
— Meu Deus, e por quê? Ela pegou emprestado dele?
— Não. Porque o governador descobriu que a Lorenza o roubou —
eu encosto na beirada da mesa, explicando-a e passando a mão na barba. — E
até o momento, se ele não veio buscar ela e o seu dinheiro, é porque eu não
permiti. Mas agora Lorenza terá que se virar. Eu quero paz para a minha
cabeça, tenho problemas maiores para resolver.
— Ainda estou em choque, como ela pode ser amante e roubar o
próprio governador? E pareceu que não aceitou muito bem a sua ordem. O
que tanto faz — dou de ombros. — É a minha mente que terá tranquilidade
nesta casa.
— Realmente... teremos a casa toda para nós.
Eu relaxo os músculos e olho para o bebê, depois para a Kia.
— E ela, aceitando ou não, vai por bem ou por mal embora.
— Obrigada, Anton. Por mais que seja a sua mãe, ela é uma pessoa
muito má e sem caráter, que merecia só coisas ruins por tanta maldade no
coração.
— Eu sei — murmuro, buscando na minha mente um único
momento em que tive algum afeto de mãe.
E não existe. Assim como ela desprezava o meu pai que a amava
acima dos seus defeitos, ela também me despreza. E que se dane, eu não me
importo. Na verdade, eu não quero me importar com mais ninguém, a não ser
com a Kia e esse pequeno menino, o meu filho. São o que eu tenho, depende
de mim como homem.
— A nova certidão de nascimento chegará quinta — mudo de
assunto, querendo dizer isso a dias para ela. — Gieber Dexter Lemos.
Kiara me fita, engolindo em seco após eu dizer o nome e sobrenome
dele.
— Espero que não seja só um sobrenome e uma confirmação de
paternidade.
— Não será — eu puxo a Kia e acaricio o braço dela, provocando
arrepios no seu corpo ao me levantar, tocar na cabeça do bebê e nas suas
costas. — Pelo menos, um pai que me ensinou muita coisa boa, eu tive. E
será o único histórico que trarei de volta do meu passado; seus
conhecimentos. É uma obrigação dar orgulhos as suas memórias.
Eu respiro fundo e dou um beijo na testa da Kia.
— Você dará, Anton. Estou tendo fé em você — Ela acaricia o meu
braço, encara-me, em seguida, também deixa um beijo no meu rosto. Dando-
me sensações boas, de estar fazendo o certo pela primeira vez nessa droga de
vida tão errada.
CAPÍTULO 28

Kiara Dexter

Quinta-feira, 21h00 da noite.

Com a feliz notícia da partida da bruxa da Lorenza, houve muita


comemoração entre mim, Maria e Felícia. Não conseguimos disfarçar nem
um pouquinho a nossa alegria. Já a megera está explodindo de fúria. Estou
até tentando não esbarrar com ela para não estragar o meu bom humor de
felicidade, já que os seus dias estão contados mesmo. Lívia também disse que
iria para a capital na segunda-feira, pois as suas férias haviam se finalizado há
dias. Agora tem que voltar o quanto antes para o seu trabalho de dentista. Eu
nem liguei. Nunca me senti confortável na sua presença. Nem nunca tivemos
nenhuma amizade.
E falando em idas, a empregada "capataz de informações" da
Lorenza foi expulsa desta casa por mim, hoje. E eu acho que, daqui em
diante, as coisas vão melhorar. Pelo menos, terei paz e tranquilidade sem
ninguém incomodando.
Eu termino de dar um banho morno no meu filho, visto uma
camisetinha de dormir nele, dou o mama e deito-me ao seu lado na cama, só
para ele pegar no sono. Quando pega, coloco-o de volta no berço e vou até os
armários trocar a camisola velha por outra mais justa. E assumo que é para
provocar o Anton... Não sei, eu estou sentindo prazer em deixá-lo bravo por
conta das minhas roupas reveladoras. É como que se ele fosse enlouquecer a
qualquer momento e sair rasgando os meus tecidos linha por linha. E é bom,
igualmente sinto-me desejada, sensual, atraente. Além de parecer uma
vingança, já que o poderoso Dexter não toca mais no meu corpo, a não ser
por minha própria permissão. Ele está me respeitando, tratando-me com
valor. Ouvindo os meus "sim" e os meus "não". Eu estou encantada por isso,
pois acabo tendo dignidade como mulher. Idêntico a personagem do meu
mais novo livro preferido, que se descreve e intitula; poderosa, empoderada e
dona de si. Esses sentimentos são um prazer incontrolável.
— Boa noite.
Parada na sacada de frente para a vista noturna do horizonte, a qual
eu observava pensativa, desvio a atenção recebendo arrepios instantâneos ao
ouvir uma voz rouca atrás de mim. A voz que eu nem precisava virar para
saber de quem pertence. Mas eu viro, só para admirar a beleza máscula deste
homem, de chapéu negro e olhar severo.
— Boa noite — respondo encostada na cerca de madeira.
Anton também encosta na porta e sem disfarçar, ele olha admirado
para as minhas pernas, o meu decote e cessa subindo nas minhas íris.
— Até as suas camisolas estão indecentes, dona Kiara.
— Estão?
— Extremamente. Eu vejo tudo daqui.
Seguro a vontade de sorrir atrevida, sendo séria.
— Já está na hora de dormir. E eu só me vesti confortável.
— Não sei se acredito, você está melhorando nas mentiras.
Anton desencosta da porta e chega perto de mim, percorrendo suas
mãos fortes na minha cintura. Eu aceito o seu toque, que me aquece de baixo
em cima. E não evito os arrepios diante da sua estrutura alta e cheirosa. Ele
acabou de tomar banho.
— Não estava no jantar hoje. Por quê?
— É que eu não queria esbarrar com a sua mãe. Preferi que a Felícia
me trouxesse no quarto — explico, enquanto toco no peitoral dele. — Você
sabe, a gente acabaria discutindo.
Anton acaricia os meus quadris.
— Ela veio agora pouco me avisar de que não ia para a capital. Ela
vai ficar na fazenda da Leonice e do Rogério, os nossos vizinhos de hectares.
— E qual o motivo?
— Leonice é amiga da Lorenza há vinte anos. E ela concordou em
hospedá-la.
— Bom — dou de ombros, sem me importar. — Pelo menos a sua
mãe nos deixará em paz com as nossas vidas. Pois você não tem que ficar
resolvendo os problemas dela de amante.
Ele suspira, tirando a mecha de cabelo que a brisa fresca soprou no
meu rosto.
— Eu também mantive a Lorenza aqui para descobrir algo a mais
entre ela e o governador. Não acredito que seja só pela dívida que esteja
fugindo dele. Lorenza é uma senhora de idade, contudo, não muda o fato de
ela ser uma mercenária que manipula os homens para enriquecê-la e enganar
os outros. É uma mulher ardilosa. E sei que, por mais que meu pai a amasse,
ele só se casou com ela porque estava grávida e eu já tinha nascido para
comprovar o exame de DNA. Porém, mesmo assim, os seus planos de dar o
golpe do baú no Rangel Dexter foi de água abaixo quando ele a fez assinar
um regime de separação total de bens. Uma cartada "inteligente" que ele
planejou achando que a mudaria. O que não aconteceu.
— E por que ela não se separou dele logo em seguida? Creio que
pela índole da Lorenza, era o que a própria faria.
— Eu sinceramente não sei. Só me lembro de que foram trinta anos
juntos, em meio a traições, brigas e Lorenza passando semanas na capital,
abandonando eu e o meu pai nesta mansão. Nem quando eu me tornei adulto
e ele ficou doente, ela se interessou em ser presente nas nossas vidas, em dar
algum apoio. É fria, sem caráter.
Eu observo o Anton, que fecha a face, sem querer demonstrar
mágoas e tristezas guardas da "mãe", meu coração se exprime, dando
completa razão para ele desprezá-la. Uma mãe jamais será aquela que só
coloca o filho no mundo e diz "tchau", "se vira". Aprendi que ser mãe é
deixar seus próprios interesses de lado para assumir as responsabilidades de
uma vida; é parar o mundo para dar amor, cuidar, estar presente e ser parte da
sua pequena criança. Ser mãe é a missão mais linda que Deus dá a nós
mulheres. E fazê-la e desprezar essa dádiva sem um pingo de arrependimento
é também um dos maiores pecados, imperdoáveis para ele.
— Está muito cheirosa, Kiara — mudando de assunto, o Dexter me
pressiona contra o seu corpo e cheira o meu cangote, arrepiando-me. —
Aroma de flores doces... — ele diz, beijando a minha pele e raspando a sua
barba até o meu pescoço. — Irresistível.
— Dexter — eu fico nas pontinhas dos dedos, atraída pela boca dele
e afasto a cabeça para fitá-lo. — Você pode voltar por onde entrou.
— Como? — Ele se distancia, franzindo o cenho.
— É, foi isso que você ouviu — eu tento o empurrar, no entanto, o
homem é muito mais forte e grande, não consigo mover um dedo do seu
corpo. — Volte aos seus aposentos, que eu preciso dormir mais cedo.
Amanhã pretendo visitar o meu avô para convencê-lo da reforma. Por favor,
me dê licença.
— Está me expulsando, srta. Dexter?
— S-Sim — eu gaguejo e balanço a cabeça, ficando mais corajosa
do que antes, após fraquejar. — Sim, eu estou! Vai, se retire daqui!
Anton sorri, ainda sem crer no meu comportamento e não acredito
que ele está subestimando a minha ordem.
— Anton, se retire, eu já falei!
— Ok, Kiara..., no entanto! — Ele me puxa firme pelo tecido curto
da camisola, agarrando os meus cabelos, eu perco o ar com a sua ação brutal.
— Nem pense que amanhã sairá dessas terras se não for comigo. Entendeu?
— É claro que eu iria com você. Quem mais me levaria, não é
mesmo?
— Droga, está muito respondona. E eu gosto e não gosto disso.
— Mas não deveria gostar nem um pouco. Me larga, Dexter — eu
distancio o rosto dele, para não me beijar e eu enfraquecer.
— Está me enlouquecendo.
— Isso é ótimo. Me larga.
— Eu vou... Só que pelo menos me fará pensar em você antes de
dormir... — E sem esperar, ele, sendo rápido, me dá um pequeno aperto no
meio do traseiro e cola seus beiços na minha boca, lambendo os meus lábios
com a língua para, em seguida, beijar-me feito um animal com fome.
— Boa noite, doce Kiara — ele, então, sussurra perto do meu ouvido
e solta-me para se retirar poderoso.
Meu Deus. Eu sinto as minhas pernas derreterem e a minha peça
íntima mostrar sinais de que terei que trocá-la. Ofegante, o observo virar as
costas. E quando fecha a porta eu vou até a cama me sentar para provar da
melhor sensação da minha vida: de provocar o Anton a ficar louco de desejo.
É muito prazeroso e muito vingativo.
Na manhã seguinte, como garantiu brutalmente, o Dexter me leva
bem cedo para conversar com o meu vô Heleno. E eu converso a sós com ele,
travando uma longa batalha para convencê-lo a aceitar a ajuda para reformar
a sua casa. Mas, no fim, graças ao meu bom senhor, intercedendo sem parar,
eu consigo a sua aprovação. Até saio emocionada, imaginando uma vida
melhor para ele, sem sofrimentos de uma triste miséria. Ele terá tudo com
dignidade.
Eu volto para o carro informando a notícia ao Anton, ele apenas
responde que dará as providências daqui em diante. Eu o agradeço animada.
— Anton...
Na fazenda, assim que descemos da caminhonete, eu subo os
degraus da área, observando o Gael caminhar rápido até nós. Ele me fita,
adiante desvia. E meu coração doí por não sermos mais amigos como antes.
— O que foi?
— O delegado está te aguardando no armazém onde aconteceu o
incêndio.
— Tão cedo? Achei que ele viria mais tarde.
Eu resolvo os deixar com os problemas da fazenda e retiro-me quieta
para dentro de casa. E passo pela sala, subo até o meu quarto para colocar
meu bebê dorminhoco no berço, depois troco de roupa e desço rápida para
pegar algo de comer. Porém, quando eu estou passando pela pequena
biblioteca, ouço vozes conversando altas no seu interior. E me aproximo
curiosa, vendo a ratazana da Lorenza pela frecha das portas quase abertas.
— [...] Você está sendo uma incompetente! Seu serviço era simples,
mas tinha que colocar tudo em risco por medo!
— É impossível chegar perto dele, Lorenza — eu ouço a voz da
Lívia e estreito mais os ouvidos. — Eu já disse para descartar esse plano de
sedução. Ele sabe muito bem que eu estou aqui por sua causa. Com certeza,
já ligou os fatos a tempos, só não deixou transparecer. A única burra inocente
dessa história mesmo é a selvagem.
— Eu estou nas mãos do governador, Lívia. Não posso perder tudo
agora.
— Tem que se tranquilizar. Não disse que foi ele quem manipulou o
médico do Rangel para mat...
— Cala a boca, menina! — Lorenza corre para verificar a porta e eu
me escondo, com o coração acelerado. — Os empregados podem ouvir, está
louca?
Eu engulo em seco, tremendo, e volto a escutar ainda pela mísera
frecha que se abriu sem ela perceber.
— Desculpa. Só que ainda não entend...
— O que tem que entender é que o Rangel já estava na beira da
morte com o câncer. A gente só acelerou o processo e ponto final. Esse bobão
trouxa é passado, o meu presente é o Anton e o Gael. Pelo menos um, você
seduziu, mesmo não sendo o mais importante!
— Ele agora acha que pode ter metade desta fazenda.
— Ótimo. Só precisa ter esse homem completamente nas suas mãos.
O tempo é curto, continue fazendo ele acreditar que me traiu e que se importa
com a selvagemzinha do mato. Do restante, até o meu retorno, em breve,
cuido eu. E lembre-se, bico calado. Vamos descer.
Eu ouço passos e desesperada, eu me jogo atrás da coluna da enorme
janela do corredor, em lágrimas, não querendo acreditar no que aquelas duas
cretinas disseram. Meu Deus, o Anton surtaria, enlouqueceria. Eu não
consigo acreditar.
CAPÍTULO 29

Anton Dexter

Eu converso em sigilo com o delegado, informando-o de tudo que


está acontecendo. Ele me garante uma investigação minuciosa, mas com
desconfianças.
— Preciso que seja sincero, Dexter. Tem algo do seu passado que
está retornando?
Eu encaro severo o Laerte.
— Não mesmo. Você sabe quem eu sou nesta cidade e quem o meu
pai era. Como ele, o que eu tenho são inimigos cheios de ganância, que
adorariam me ver morto ou na miséria. Eu só preciso descobrir que é essa
pessoa, para ter paz.
— Se está me dando a sua palavra, confiarei. Só não garanto uma
investigação rápida. Terá que ter paciência.
— Paciência é o inferno que eu não terei. É a minha vida e a da
Kiara que está em risco.
— E o seu filho? — Laerte para nos degraus de entrada,
questionando-me intrometido.
E eu não o afronto grosseiro, pois o respeito por ter sido um grande
amigo para o meu pai. Além de me dar conselhos e se meter na minha vida
sem ao menos eu mandar.
— Eu me importo, é o meu filho.
— Eu acredito que se importa. No entanto, tem algo, Anton, que não
me conta. Quando a sua esposa fugiu, você enlouqueceu, me fez caçá-la em
cada fazenda. Agora que ela voltou, você virou outro homem, deixou muita
coisa no passado. Foi realmente pelo menino?
Incomodado e nervoso, eu não desvio dos seus olhos, eu resolvo ser
sincero.
— É por tudo que envolve aquela menina que eu comprei e destruí a
sua inocência. E o bebê só acrescentou mais pesar.
— Acho certo. Deve se redimir por tudo que fez de errado. É um
bom homem. Eu vejo o seu pai em você. E não só na aparência oponente,
mas no coração. Por isso, explore mais isso, continue descascando a casca de
orgulho e luto por ter o perdido. Não pode viver isolado com as suas dores.
Você orgulha a mim e com toda a certeza a ele — Laerte bate nas minhas
costas. Eu fico calado, sem resposta. — E amanhã à noite, prepare um jantar
que eu virei com a minha esposa e os meus dois filhos para lhe visitar.
— Tem como eu dizer que não?
— Não mesmo, está me devendo essa ocasião. Um ótimo dia,
Dexter.
— Igualmente, Laerte.
Eu retribuo as batidas nas costas, acompanhando-o até a sua
caminhonete, e assim que se vai, eu volto para o serviço na fazenda.
Kiara Dexter

Nervosa, com os batimentos descompensados, eu fico no meu


quarto, desesperada, sem saber o que fazer com o que eu ouvi da nojenta da
Lorenza e da Lívia na biblioteca. Eu não sei se digo ao Anton. E se ele não
acreditar? E se surtar? E se fizer uma loucura?
Eu não posso crer, meu Deus, estou angustiada, em desespero.
Talvez eu devesse era enfrentar aquelas duas falsas para elas revelarem a
verdade para ele. Ainda o Gael está se envolvendo com a Lívia. O plano era
de seduzir o Anton. Tenho certeza que para roubá-lo e até me tirar do
caminho. O que eu faço? Por que a Lívia disse que o Gael já sabia da metade
da fazenda? E o senhor Rangel Dexter? Será que a Lorenza e o governador
tem algo a ver de verdade com o seu falecimento? Meu subconsciente não
quer aceitar!
Eu fico a tarde toda no meu quarto com o Gieber engatinhando com
os seus brinquedos pelo tapete, pensando no que devo fazer. Só que nada me
parece levar a algo certo, que dará justiça pelas barbaridades daquela mulher
horrível.
— Kiara? — Eu levo um susto ao ouvir a voz do Anton, até dou um
pulo da cama ao vê-lo abrir a porta e entrar pedindo licença.
— O-Oi.
— Tudo bem? Felícia me disse que passou o dia todo no quarto.
— É... sim — meio aflita e ansiosa, eu analiso a sua postura alta.
Anton também me observa desconfiado, aproximando-se com as
suas botas marrons, para, quieto, sentar-se na cama.
— Não sei, mas eu não acredito em você. Não é de ficar trancada no
quarto, se estiver acontecendo alguma coisa, me conte, eu não vou discutir.
— Não é nada grave, só fiquei indisposta. Era só isso?
— Não — Anton me olha no fundo dos olhos. — Eu vim te informar
que a nova certidão do bebê chegou. Eu esqueci no escritório. Depois lhe
entrego — Ele se inclina para observar o pequeno no chão, que balbucia com
um ursinho de borracha na boca. Ele morde as suas orelhinhas.
— Tá bom... — Devagar, também me sento ao seu lado, coçando
ansiosa o cabelo perto da nuca.
— Está estranha, Kiara — ele murmura sério, voltando a me fitar
com as suas íris claras.
— Posso te perguntar uma coisa sobre a Lívia?
Ele consente calado.
— Você sabia que ela estava aqui para te seduzir e conseguir o
dinheiro para a sua mãe?
— Da onde tirou isso?
— Era óbvio, só eu que fui burra demais e não cheguei nesse parecer
mais cedo — eu abaixo a cabeça e dou de ombros.
O Dexter, então, segura a minha mão, me dá um beijo nas costas da
palma e ergue o meu queixo com o polegar. Ele não parece nem um tiquinho
surpreso com a pergunta.
— Ficou chateada ao chegar nessa conclusão sozinha? É por isso
que passou o dia todo no quarto?
— Não, eu não fiquei chateada. E eu já te disse o motivo de não ter
descido. Não respondeu o que lhe perguntei.
— Não vou mentir, realmente era óbvio os planos da minha mãe
com a Lívia aqui na fazenda. Mas ela não conseguiu nada, nem chegar perto
de mim.
— E você acha que elas vão deixar por assim? Q-Que a sua mãe vai
embora sem o dinheiro que veio buscar de você?
— O que sabe? — Ele questiona de repente, puxando o meu corpo
para si.
— O-O quê? — Arregalo os olhos. — Você que deveria responder
as minhas perguntas.
— Suas perguntas são uma forma de me arrancar alguma
informação, ou medo de me revelar algo. Pare de omitir o que deseja
conversar e vai direto ao ponto!
Meu Deus, como esse homem pode adivinhar as coisas?
— Não tenho! — Afasto-me angustiada, tentando não gaguejar.
Só que ele continua a me pressionar com as suas mãos grandes. O
meu vestido já está no topo das coxas.
— Anton, vai me deixar nua, me solta!
Ele me solta, porém, no mesmo instante, pega-me rápido pelos
quadris e vira-me deitada na cama, colocando-me na sua lateral para me
roubar um beijo feroz de língua. Não tenho tempo nem de me defender do
ato. Ele é possessivo, com pegada. Seu chapéu cai no colchão pela inclinação
da cabeça que se move enquanto devora a minha boca. Fico fraca, cheia de
prazer. Ofego desejosa, tocando no seu cabelo, na sua barba, descendo para o
pescoço, os ombros, o peitoral, os braços fortes...
— Anton... — Eu arfo, afastando-o após me sugar o fôlego.
Ele me dá dois selinhos, permanecendo sobre o meu rosto.
Respiramos quentes, com o anseio de ir além do beijo.
— O Gieber... — digo ao ouvi-lo balbuciar alto no tapete.
— Ele está brincando com os carrinhos — comenta ao erguer-se
para olhá-lo, em seguida, fita-me com a sua mão direita na polpa da minha
coxa nua. — Vai me negar hoje também?
— Sim, já pode voltar aos seus aposentos.
— E dormir com você?
— Dormir?
— Exatamente, Kia — ele aperta a minha perna, deslizando o seu
nariz na minha bochecha. — No calor do nosso corpo, a noite toda.
Arrepio-me com vontade dele.
— E só vai dormir mesmo?
— Se preferir outras intenções, não será muita tortura para mim.
— Se é para torturar, então eu aceito que só durma.
Ele ri sem ligar, logo voltando a seriedade.
— Sobre o que me questionou agora pouco; caso a minha mãe deixe
por assim mesmo a sua expulsão. Ela não vai, é vingativa. Por isso eu
estipulei o prazo até sexta, que é amanhã. Para não ter tempo de armar algo
contra mim, ou até contra nós dois. Não é confiável.
— Você não tem medo dela?
— Não. Eu não teria motivos para ter medo da minha mãe. Lorenza
só é fútil, seu interesse sempre foi na fortuna deixada pelo meu pai. E eu sei
dos seus planos, os quais nenhum deram certo comigo.
— Não deveria ser tão confiante, no fundo, eu sinto medo, parece
que a qualquer momento coisas ruins vão acontecer conosco. Tem que tomar
cuidado, já levou o tiro, houve o incêndio. O que mais pode acontecer?
— Não deveria pensar nisso. Com a saída da minha mãe, teremos
paz. Principalmente você e o bebê. E eu estou investigando esses crimes ao
lado do delegado Laerte. Tenho certeza de que descobriremos algo.
Anton me dá outro beijo e larga-me calmo, sem estar bruto ou bravo,
descansando as costas na cabeceira. Eu volto a me sentar, adiante levanto-me
com a roupa, o cabelo, tudo bagunçado. E sem parar de pensar na conversa
daquelas duas cretinas.
— Falando no Laerte, ele virá jantar aqui em casa amanhã. E trará
seus filhos, a qual está proibida de se dirigir ao dois oferecidos.
— Como? Nem conheço eles! — Exclamo indo até o Gieber dar a
mamadeira de água ao arteiro, que se "diverte" batendo os carrinhos no chão.
— Mas eles vão estar ansiosos para conhecer a minha esposa.
— E qual o problema? Nunca ligou para isso.
— O problema é que você é bonita demais. Chama a atenção de
qualquer um e eu não gosto.
Com uma sensação de satisfação por dentro, eu dou de ombros,
recordando-me de que, essa semana, eu estampei a capa do jornal de Montes
do Sol. Lorenza quando viu, ficou mordida de raiva. Sai em destaque com o
meu vestido vermelho de seda e com o título de: "Após Anton Dexter
esconder-se por anos em sua mansão ao lado da esposa, Srta. Dexter se
revela a imprensa e a beleza nos dá o motivo de o fazendeiro poderoso sumir
dos eventos da capital". (Mal eles sabiam que eu tinha fugido e de tudo que
eu passei nesses dois anos). No entanto, eu não parei de sorrir lendo a
matéria. Chegaram a falar que os homens não tiravam os olhos de mim e que
o Anton havia ficado enciumado e me puxado para logo sumirmos do
aniversário da bruxa metida (o que de fato aconteceu). No fim, só sei que ele
não gostou nada, nada do jornal de segunda-feira. Mandou Felícia tirar da
mesa e jogar no lixo. Já eu amei, até recortei a capa e guardei na minha
mesinha de canto.
— Realmente não tem nada para me dizer? — Voltando a realidade
das minhas angústias, Anton questiona repentino.
E nervosa, eu nego com a cabeça, com medo de contar o que eu ouvi
da Lívia e da Lorenza hoje na biblioteca. Parece que já o vejo surtando e
fazendo alguma barbaridade.
CAPÍTULO 30

Um pouco desconfortável com a cena do Anton tirando a camisa, eu


desvio dele, ajeitando o Gieber no berço que, após mamar, caiu direto no
sono. Fecho o mosquiteiro e retorno devagar, desta vez, com os olhos desse
homem recaídos em mim.
Acabamos de jantar no quarto, agora tenho que cumprir a minha
palavra de aceitá-lo dormir na mesma cama que eu. Estou até achando que foi
má ideia, pois, quando eu me deito, ele me puxa contra o seu tórax e eu fico
de costas, sentindo o seu peitoral nu e a minha bunda aconchegada onde não
devia. Tento me mexer, mas ele me para, repousando a mão pesada sobre o
meu quadril.
— Não se mexa... — Ele sussurra com os lábios bem perto do meu
ouvido.
Eu arrepio-me, tocando no seu braço de pelos masculinos.
— Eu não vou conseguir dormir com você.
— Está com desejo, Kiara? — Anton continua perto da minha
orelha, desta vez cheirando o meu cabelo e o cangote. — Diga?
— N-Não estou... pare, Anton. É desconcertante.
— Eu não estou fazendo nada — agindo lento, ele me abraça,
aconchegando ainda mais o nosso corpo e eu respiro fundo, sem ação diante
do seu membro enrijecido, que ele aproximou sem um pingo de vergonha das
minhas ancas. — Se continua me rejeitando, é porque eu não posso te
convencer do contrário. Agora tente descansar.
Agindo assim, provocante, como não está quase me convencendo do
contrário? E como dormir se cada pedacinho de mim pede a sua atenção
feroz?
Eu não respondo o Dexter. Sendo firme, eu passo a madrugada ao
seu lado, quieta, fingindo que a minha cabeça não está pensando em
momentos quentes nesta cama com ele. Só que, meu santo, eu penso. E ainda
sem sono, algumas horas depois, eu viro o pescoço e não resisto a passar bem
devagarinho a mão no seu rosto, na sua barba, levando um susto quando, de
repente, esse homem pega no meu braço e beija os meus dedos. Meu coração
até saltita em choque.
— A-Anton? Não dormiu? — Eu gaguejo e sem responder, ele
apenas se inclina no meio do escuro e beija os meus lábios molhados.
Eu fico outra vez em choque, mas suspiro e retribuo o movimento da
sua boca, que acaba de me penetrar a língua, cheio de fome. Ele não é
bonzinho, e eu imediatamente desejo que ele supra a pulsação entre as
minhas coxas, que está melando a calcinha devido aos meus pensamentos
indecentes sobre nós.
— Decida o que quer, Kiara... — Anton recolhe os meus cabelos por
trás e afasta-me com força, resmungando tenso, bem baixinho. — Porque
você sabe o que eu quero.
— Você está me provocando, aproximando seu... sua intimidade.
— É, eu estou. Assim como você está fazendo comigo, ao escolher a
dedo essa camisola transparente.
— Ela é fresca... — com ar de satisfação, digo, me atrevendo muito
perto dos beiços dele, sentindo o calor do seu fôlego.
Ele é tão forte, rústico. É prazeroso vê-lo nervoso por me desejar e
eu não permitir. Eu estou no controle.
— Kiara, Kiara! Que porra! — Anton exclama bravo, puxando-me
mais forte pelo cabelo e desta vez, enconchando com eficiência o seu
membro por baixo da minha camisola. — Tenha um pouco de dó, menina.
Eu arfo, apertando os olhos e as coxas.
— Eu terei... me preencha, Dexter... eu estou molhada por você.

Anton Dexter

Com a resposta ousada da Kiara, eu não penso em mais nada. Subo


ágil para os seus seios duros e os massageio com deleite. Em seguida,
percorro todo o seu corpo macio, parando na bunda redonda, onde pressiono
forte e dou um tapa de leve. Ela geme na hora, esfregando atrevida o traseiro
em mim. Eu não demoro para tirar o pau para fora da calça e passar nela,
entre a bunda e a calcinha que afasto com o dedo, mostrando que eu estou
como pedra, latejando de dor para penetrá-la.
— Por favor... — Ela se contorce, arfando arrepiada.
— Agora é por favor, dona provocante?
— É... por favor, Dexter.
— Eu farei o que almeja... só que antes — eu então roço o pau semi
ejaculado nos lábios do seu clitóris que também escorre tesão. Kia treme,
gemendo. — Sofre um pouco com isso.
Ela enlouquece, finca as unhas na carne do meu braço e esfrega-se.
Aproveito para abrir o preservativo, revestir-me ligeiro e voltar tirando a
minha mão que a masturbava, para agora emergir fundo na sua vagina
pulsante. Kiara quase grita, mas tampo a sua boca, começando a estocar
devagar, até nos dar prazer com força. Chego a segurar os seus cachos, não
tendo um pingo de dó em metê-la.
Kia chora de prazer, fazendo a cama se mover mais forte com os
seus movimentos desesperados. Ao gozarmos, igualmente não dou tempo
dela nem recuperar o fôlego. Eu a jogo por cima de mim, troco a camisinha...
e caramba, antes de eu sequer mandar, a minha menina já senta rebolando e
enlouquecendo-me. Ela toma o controle onde pode, até atingirmos outra vez
o orgasmo.
— Isso... isso foi muito bom — ela cai em cima de mim, grudando
nosso corpo suado, acelerado.
Eu ligo o abajur, ergo a sua cabeça e deposito um beijo na sua boca.
— Surpreendente.
— Eu sei... Estamos sendo um com o outro — ela esconde o sorriso,
acariciando a minha barba com as costas da mão.
Eu também sorrio e abraço-a no calor do meu peito, afagando os
seus fios angelicais. De manhã, acordo ainda com ela assim, nos meus
braços, dormindo com tanta calma que me pego a observando sem me cansar
do tempo. No entanto, eu consigo me desvencilhar dela, vestir a calça e pedir
uma bandeja de café da manhã para a Felícia. Ela não demora a trazer,
entregando-me na porta com um semblante enorme de felicidade. Eu
agradeço e quando volto, encontro Kia coçando os olhos. Ela me fita na
beirada da cama, bocejando.
— Bom dia.
— Bom dia — sussurro, aproximando-me com a bandeja de vidro,
que contém uma rosa vermelha. Eu não pedi, porém, agradeço a Felícia que
deve ter colhido no jardim.
Kia vê a bandeja e surpresa, logo se arruma sentada, tampando a
nudez com o lençol branco.
— Nossa... café na cama?
— Sim. Acho que deve estar faminta. Eu estou.
Coloco no seu colo e sento-me, observando-a, que assim que vê,
pega a rosa, sem acreditar.
— É linda — a cheira. — Obrigada.
— Não deveria agradecer a mim. Mas posso responder um não há de
quê — retribuo seu sorriso com uma piscada. — Agora se alimente, vai te
ajudar a recuperar as forças que roubei.
Kia pega as uvas, começando o café junto comigo.
— Sua mãe ia embora hoje de manhã? — Ela questiona enquanto
esfria a xícara de leite.
— Não sei. Mas acredito que ela não ia nos esperar para se despedir.
— Verdade — dá de ombros. — E a Lívia? Ela disse que voltaria
para a capital também.
— Talvez eu tenha sido grosseiro com ela. Não foi a minha intenção
parecer que a expulsei. Seu pai é um dos melhores clientes paras as minhas
madeireiras.
— Hum... acho que fez o certo. Ela disse que voltaria para o trabalho
mesmo, pois as férias haviam acabado. E o plano dela e da sua mãe não
deram certo... — Kiara fica estranha, pensativa consigo mesma. Então ela
olha para a minha mão e os meus olhos.
— Posso te perguntar uma coisa? — Muda de assunto.
— Sim.
— Você não tirou a sua aliança? — Suas bochechas coram
naturalmente.
— Não, mas você tirou a sua — aponto para o seu dedo e ela afasta a
bandeja do café, desviando de mim.
— Você sabe o porquê que a abandonei — ela volta e me olhar. —
Ficou para você.
Eu engulo em seco, sabendo, contudo, com vontade de enfiar uma
faca no lado esquerdo do meu peito, para sentir de verdade a dor das suas
palavras que me cortam a alma quando toca no passado. Pego a sua mão,
elevo os meus lábios e a beijo sem ter o que dizer. Eu sou o responsável por
toda a sua desgraça e não há perdão.
— Ela não traz recordações boas. Prometo que farei valer outra
aliança para nós. Não significará apenas um casamento sem compaixão. Não
precisa dizer mais nada.
Kia não esconde a lágrima que lhe foge. E eu deposito um beijo
único na sua testa.
— Vou deixar você se arrumar, preciso que organize o jantar para o
delegado esta noite. Eu sei que não gosta dele, entretanto, é um padrinho para
mim. E já estou devendo esta ocasião a ele.
— Tudo bem, pelo menos terei algo para fazer. Já estou cansada de
ser só a "esposa Dexter", uma madame que não faz nada, além de ser
"madame" de uma mansão rústica.
Eu me levanto, pego a camisa, o cinto, os sapatos e visto-me.
— Se você dissesse isso a qualquer outra mulher da alta sociedade,
elas discordariam sem pensar duas vezes.
— Claro, é tudo dondocas metidas! — Exclama, pondo-se de pé nua.
Meus olhos não fogem do seu lindo corpo. Ela nota, tampando-se
veloz.
— E... por favor, me dê licença, você tem muito trabalho na fazenda.
— Podemos adiar as coisas para tomarmos um banho juntos.
— Não podemos, o Gieber já está para acordar.
— Então posso cobrar mais tarde?
— Talvez, eu pensarei se quero isso.
— E se eu trouxesse mais flores? — Sorrio de canto, roubando outro
sorriso tímido dela, que balança a cabeça.
— Não é da sua índole. Seria muito cavalheirismos. E é em troca de
prazer.
— Corrija para prazeres, minha menina. E trarei muitas flores, não
se preocupe — digo, pego a rosa de cima dos lençóis, cheiro o perfume e, em
seguida, chego perto dela, aproximando-a do seu nariz. — Tem seu cheiro —
ela me fita com os olhos azuis, inclinando-se e sentindo com calma o aroma
da flor.
— Então quero que fique com ela para sentir o meu cheiro.
— Não, seria muita maldade — murmuro e não resisto a puxá-la
para um beijo gostoso, com a promessa de continuarmos esse momento de
onde paramos, no chuveiro.
CAPÍTULO 31

Kiara Dexter

Toda saltitante de felicidade, após o Anton sair do quarto, eu faço


todas as minhas necessidades cantarolando. No entanto, logo essa animação
passa quando eu desço as escadas, lembrando-me da conversa que ouvi
escondida da Lorenza e da Lívia. Para aliviar um pouco desse nervosismo, da
preocupação, sou avisada por Felícia que a bruxa já foi embora para a
fazenda dos nossos vizinhos. Exceto a Lívia, que ainda continua na mansão.
Eu preciso agir rápida, fazer algo para aquela ratazana confessar tudo o que
esconde do Anton. E por isso, obstinada, eu peço para a Felícia cuidar do
meu filho e vou atrás do Gael, a primeira pessoa que deve me esclarecer as
coisas. O procuro em todos os cantos da fazenda, e só acho esse homem no
pequeno laticínio, conversando com três peões. Eu o chamo alto da cerca. Ele
me vê, interrompendo sua conversa para vir muito sério até mim.
— O que faz aqui, srta. Dexter?
— Por que está falando assim comigo? Sempre me chamou de Kia.
— É a mulher do meu patrão, devo tratá-la da mesma forma que o
trato — ele responde curto e severo. E já nervosa, resolvo tratá-lo no mesmo
tom.
— Hum. Bom, eu vim aqui porque quero explicações suas, em
relação a sua intimidade com a Lívia, a cúmplice da Lorenza — revelo direta,
erguendo a cabeça com o meu chapéu branco de cowboy.
Gael muda a face na hora. Fica inquieto, estranho.
— Não sei do que está falando.
— Jura que vai mentir para mim? Nunca fez isso. Nunca mentiu,
nunca me decepcionou!
Ele desvia, colocando bravo a mão na cerca.
— Eu sei que vocês têm algo. E ela só está te usando, Gael. Te
iludindo com mentiras. Tudo para atingir o Anton.
Quando digo o nome do Anton, ele volta a me encarar na hora.
— É claro que a sua preocupação seria com o seu marido Dexter! —
Gael se afasta da cerca. — Pelo homem que nunca te valorizou! Que só soube
te ferir, te tratar sem consideração!
— Ele, de alguma forma, está tentando consertar esses erros.
— E acredita nele, depois de tantos anos te massacrando, te
humilhando como mulher?
Afetada, eu engulo em seco.
— Eu hoje sei do meu próprio valor, eu não sou mais aquela
adolescente boba, iludida, medrosa. Por mais que me doa, se ele não estiver
sendo sincero, eu vou embora com o meu filho de cabeça erguida e pela porta
da frente.
— Pois e se não estiver sendo? Ninguém muda da noite para o dia.
Ele está te manipulando.
— Ele não está me manipulando! — Esbravejo nervosa. — E você,
sendo o melhor amigo dele, em nenhum momento, parou para ajudá-lo! Você
o abandonou, deixou que ele se afundasse naquele luto pelo pai!
— Não sabe o que está dizendo, Kia. Não sabe de nada. Eu tentei
muitas vezes ajudá-lo, eu até soquei a cara daquele teimoso, mas ele preferiu
virar as costas e me trocar pelos seus dois irmãos drogados. Eu fiz a minha
parte!
— E foi pouco, eu sinto do fundo do meu coração que você era sim
capaz de socorrê-lo. E também sinto que não se esforçou porque queria a
mim. Queria me conquistar para você. É por isso que me dava tanta atenção,
que deixava ele ir com os irmãos para a capital sem ao menos lutar para que
ficasse ao meu lado.
Como se, de fato, eu tivesse dito a verdade que esconde, Gael perde
as palavras.
— Agora que o luto doloroso está virando conformidade pela perda,
não quer dar um voto de confiança a ele. E por quê? E qual o motivo? O
Anton sempre só teve o pai que o amava e você, o seu melhor amigo. A mãe
nunca foi presente, seus interesses sempre foram pelo dinheiro do Sr. Rangel.
Hoje, após a morte rápida e duvidosa do marido, essa mesma mercenária quer
tirar tudo do próprio filho. E acha que a Lívia estaria aqui por acaso? Lorenza
queria que ela seduzisse o Anton. Todavia, não conseguiu. Então mandou que
ela seduzisse você para algo só que entendo que é para atingir ele, para
conseguir a fortuna do filho. Por favor, Gael, se realmente tem algum
sentimento por seu amigo de infância, não seja usado, não colabore para
aquela cretina. Ela não o ama, ela só quer saber da herança milionária do
Anton.
Eu o observo. Porém, Gael continua calado, nervoso.
— Por favor, pense nisso e o procure. Todo mundo tem direito ao
erro, mas nem todo mundo tem uma segunda chance. Não deixa o orgulho, a
rivalidade falar mais alto. Você continua sendo o amigo e o irmão do Anton.
Ainda sem respostas da parte dele, eu suspiro, com o sentimento de
decepcionada, contudo, de pelo menos estar fazendo o certo. Eu decido ir
embora.
— Por favor... eu já vou... se cuida.
E triste, viro as costas, abraçada ao meu corpo. Ele fica para trás,
sozinho – espero que pensando em tudo que eu disse. Tenho certeza que
reconciliando a amizade do Gael e do Anton, os planos da megera podem
estar longe de se concretizarem. O que for que seja, parece que o primeiro
passo dela é deixar os dois mais rivais.
— Kiara? — Andando na trilha de pedras, que é meio longe da
mansão, ouço a voz grossa do Anton. Ademais cascos de cavalo roçando a
grama da lateral. Eu viro o pescoço, vendo-o diminuir as galopadas. E com
cara de bravo. — O que faz fora de casa? Depois do que anda acontecendo,
sabe que eu não quero você caminhando por aí, ainda mais sozinha na
fazenda.
— Eu... eu só quis espairecer a cabeça — fico perdida, sem
desculpas convincentes para usar.
— Não deveria. Está brincando com os meus avisos?
— Não, Anton, sinto muito — eu respondo pacífica, observando-o
no seu bonito cavalo negro; o Faísca. Ele o deixa imponente, como se fosse o
dono do mundo. "O Dexter".
Anton também me observa, cessando suas perguntas para não
discutir.
— Vem, sobe aqui. Eu te levo até em casa — ele estende a mão.
Sem pensar duas vezes, eu aceito o "convite" para chegar mais
ligeira em casa. Subo por trás com a sua ajuda. Adiante, sem falar nada, ele
puxa as rédeas, pressiona as costelas do animal com os calcanhares da bota,
saindo do lugar com galopadas brutas. Eu me seguro forte nele, até
chegarmos rápidos no jardim.
— Eu acho que poderíamos aproveitar esse momento — Anton
murmura, segurando mais forte as minhas mãos no seu abdômen.
— Aproveitar?
— Sim — ele para o cavalo e ergue os meus dedos, beijando-os.
Eu me arrepio, surpresa pelo ato.
— Espera, eu te ajudo a descer.
Ela me ajuda. Igualmente desce, porém, logo cercando o meu corpo
com os seus braços fortes.
— Anton, os empregados podem nos ver. Tem os jardinei...
— Shiiiu — ele me cala com um selinho. — Não vejo a hora de
cobrar o meu banho — sussurra e mordisca a minha orelha.
— Não há o que se cobrar... — Rendida, eu abraço o pescoço alto
dele. — Terá o banho caso eu permitir.
— Eu deveria ter é sequestrado você para a cachoeira, assim não
teríamos discussão.
Eu sorrio, amolecida das pernas, E aliso a sua barba com carinho.
Ele apoia a mão no cinto da minha calça, olho a olho.
— Você mudou muito. A Kiara de antigamente não teria um pingo
da sua coragem de hoje.
— De afrontar você?
— Eu preferia que não fizesse, mas você me tem em mãos. E eu
estou gostando de te ver assim. É interessante, provocante.
Vejo que diferente de antigamente, ele é sincero em cada palavra,
não demora uma vírgula para responder-me.
— Hum... que bom. Fico orgulhosa por mim. Agora, Sr. Dexter, dá-
me licença que eu tenho que ajudar Maria na cozinha.
— É claro que eu deixo, só que antes...
Após o "antes", ele me rouba um beijo demorado, com posse,
ferocidade e de muito calor. Eu retribuo na mesma intensidade sem pensar
duas vezes, apertando-o para mim, para sentir seus músculos.
Depois de nos soltarmos com dificuldade, outra vez, ele cita do
banho, que, mais tarde, me cobrará. Só que mais tarde, o que eu faço é
trancar o meu quarto, impedindo qualquer entrada dele, e arrumo eu e o meu
filho para aguardar o delegado chegar com a sua esposa e os seus dois filhos.
Lívia igualmente foi convidada mais cedo para participar.
— Uau, senhorita Dexter, está muito bonita — ela me elogia quando
me vê em pé na sala, com o bebê no colo.
— Obrigada, Lívia. Você que está bem chique — tentando ser falsa,
eu sorrio amigável.
Anton também não demora a aparecer nas escadas, dentro de roupas
mais formais. Ele, ao me ver, faz questão de dar a sua analisada indecente,
com os olhos severos. Eu sorrio por dentro, não duvidando de que ele tenha
me procurado para o "banho prometido". E desvio, indo me sentar. Lívia diz
boa noite ao Anton e aguardamos o delegado – que chega em cinco minutos.
— Boa noite.
— Boa noite, Dexter, senhorita...
Quando a Felícia os acompanha para o meio da sala,
cumprimentamo-nos, recepcionando-os. E claro, em exclusivo, o Anton fez
questão de manter a sua cara bruta aos dois filhos bonitos do Laerte. Lívia, da
mesma forma, se apresenta a todos com o seu sobrenome de renome.
— Então esse é o pequeno herdeiro Dexter — o delegado para na
minha frente, toca na mãozinha do bebê, observando o Anton, depois a mim.
— Sinto muito qualquer desentendimento, Srta. Kiara. Espero que possamos
deixar nossas indiferenças no passado. Não quero que me veja como um
homem ruim.
— Está tudo bem, Sr. delegado.
— Por favor, me chame apenas de Laerte.
— Que fofura, Kia, esse menino é a criança mais bonita que já vi —
Fabiana, esposa e mãe dos rapazes, diz, sorrindo para mim e acariciando os
cabelinhos dele. Agradecida, eu a chamo para se sentar no sofá.
Anton faz igual com os homens, oferecendo em seguida uma bebida
especial.
CAPÍTULO 32

Durante a nossa conversa, eu sou interrompida pela Felícia, que


avisa sobre a mesa de jantar já estar pronta. Peço um grande favor para ela
cuidar do meu filho no quarto e levanto-me muito educada, fazendo o convite
para todos se dirigirem aos seus lugares. Até fico orgulhosa de tamanha
formalidade.
Durante o jantar, eu pareço uma estátua ao lado do Anton, recebendo
os olhares dos rapazes — Paolo e Oscar — que não devem passar dos 25
anos. Eles são gêmeos e têm namoradas. Bom, assim o irmão mais brincalhão
disse para a Lívia, que ficou toda sirigaita, sorrindo de orelha a orelha, sem
vergonha do seu vestido curto, justo e decotado. Eu também tenho decote,
porém, o comprimento do meu vestido é até os joelhos. Ele é da cor azul,
igual aos brincos chiques.
— Desculpa a franqueza, mas é muito séria. Espero que não seja
parte do papel de esposa do Dexter — Fabiana diz a mim, com ar divertido.
Eu nego tímida, sorrindo para ela.
— É só o meu jeito.
— Com todo o respeito ao Sr. Dexter, a senhorita é muito bonita —
Paolo, o irmão brincalhão declara de repente, desviando da Lívia e fitando-
me. — É um prazer poder conhecê-la.
— Digo o mesmo — Oscar replica cavalheiro.
Eu agradeço feliz por eles terem se dirigido a mim, já o Anton fecha
a cara de vez para os dois.
— Oscar e Paolo estão de férias na nossa fazenda. Acabaram de
terminar o último ano de Direito — Laerte explica sorridente, orgulhoso dos
rapazes. — E logo temos que organizar o casamento e a chegada de muitos
netos.
— Ah, que sonho, querido. Crianças correndo pela casa.
— Isso está muito longe de acontecer. Quem sabe depois dos trintas?
— Paolo pisca. Eu sorrio.
— Eu também só penso em família depois dos trintas — o outro
irmão concorda.
E com diversos assuntos indo e vindo, jantamos, tomamos vinho e
bom... eu aproveito que o Anton não está me vigiando com a bobeira de ser
protetor, para, discreta, quase esvaziar o litro. O que, no fim, surpreende a
todos que me veem bem-falante.
— Kiara — no entanto, assim que estamos voltando aos sofás, eu
sou parada por ele que me encara muito bravo, tomando a taça da minha mão.
— Chega — ele sussurra.
— Eu não terminei.
— E nem pensar que vai, tudo tem limite.
Sem querer discussão, eu arqueio a sobrancelha, viro as costas e
volto para sala. Encontrando o delegado e a sua família, prontos para irem
embora. Eles dizem estar ficando tarde e antes de irem, fazem-nos o convite
para repetirmos o jantar desta vez na casa deles. Anton e eu os
acompanhamos, dizendo que será um enorme prazer. Lívia também se
despede.
Após fechar a porta, ao voltarmos, ele me analisa em pé, ainda muito
severo, sem nem sequer disfarçar perto da Lívia.
— Boa noite, eu vou subir para o quarto — ela diz e retira-se.
— O que foi? — Então questiono quando estamos sozinhos, sabendo
o motivo do "o que foi" pela sua cara.
— O que foi é que eu queria dar umas palmadas no seu traseiro.
Eu descruzo as pernas e levanto-me sobre o efeito do álcool, indo até
ele, encará-lo.
— Sinto muito se falei demais. Mas os irmãos são adoráveis, e
Fabiana uma graça de mulher. Pelo menos ela não me tratou como as outras
madames que me olham de baixo em cima, me achando uma pé rapada do
mato. Afinal, eu mudei muito — explico, tocando no braço forte dele.
— Irmãos adoráveis, Kiara? — Captando só a parte dos irmãos, ele
me agarra possessivo. — Você realmente merecia umas palmadas, sabia?
— São engraçados, não achou? — Passo meu nariz na ponta do nariz
dele, sem um pingo de medo de ele agir bruto. Eu sei que seu jeito é esse
mesmo.
— Acho que está sob o efeito das inúmeras taças que virou sem
controle, só pode. Nunca agiu assim.
— Um pouco... talvez.
— É? — Ele, de imediato, aperta com força a minha bunda, tirando
suspiros. E sem falar mais nada, eu mesmo avanço e o beijo gostoso de
língua.
— Agora faz jus ao adjetivo selvagem... — murmura em meio ao
beijo.
— Me dê prazer — peço, já sentindo a minha intimidade pulsar. —
Eu deixo que cobre o banho — acaricio o abdômen dele, até parar na fivela
do cinto.
— Que irresistível você — Anton sorri, prendendo meus cachos com
os seus dedos grossos, de jeito bárbaro. — Não me lembro de ter te ensinado
isso, minha menina — ele lambe a minha orelha. — Confesso estar cada dia
mais louco por você. As minhas noites já não estão sendo as mesmas.
Garanto que não estão.
— Isso é muito bom de ouvir, meu esposo Dexter.
— Eu te revelo mais lá em cima no chuveiro.
Ele, sem demora, me puxa por trás e me guia cheio de carícias até o
seu quarto. Dentro, mal ligamos a luz e começamos a tirar as roupas enquanto
nos beijamos ansiosos. Subo no seu colo e sou carregada por ele até o
banheiro, onde debaixo da água praticamos o melhor ato depravado que já
pude experimentar na vida. Anton me deixa livre para fazer o que eu quiser
com o seu membro duro. Eu fico fervendo de vergonha por ser tão
inexperiente. Mas é praticando que se aprende, né? Eu me ajoelho sem olhá-
lo nos olhos, fazendo o que eu sempre quis fazer, porém, o medo, a timidez, a
falta de coragem me impediam. Agora eu faço, levando o Dexter a se
comportar sem controle com o meu toque vai e vem, depois com os meus
lábios que o provam do gosto salgado. Ele grunhe, catando os meus cabelos.
Por pouco, eu não me afogo ao voltar ao controle. E no seu espasmo, ele me
levanta veloz, virando-me e enchendo-me de prazer na bunda.
— Você foi ótima, patroa Dexter — ofega, lambendo as minhas
costas.
— Eu... fui... — Eu gemo com ele também passando o órgão melado
entre as minhas ancas empinadas.
— Ainda pode ficar incrível. Só que é eu quem tenho que te
enlouquecer aqui. Está tomando certo as pílulas que eu te dei?
— Sim... certinho...
— Perfeito, então farei o meu trabalho!
Eu ergo a mão e ele, na hora, me imprensa na parede, fazendo com
que os bicos redondos dos meus seios se exprimam e enrijeçam-se mais com
o encontro dos azulejos frios. Seus dedos se flexionam no meu rego,
acariciando-me os pelos do clitóris. Ele chega a puxar alguns fiozinhos e eu
fico fora de mim, guiada pelos gemidos de tesão.

Na cama, deitados nus apenas com a pouca luz amarela do abajur, eu


me pego olhando de consciência pesada para as cortinas que balançam devido
a brisa da chuva que entra pelas portas abertas da sacada, recordo-me da
conversa daquelas maldosas horríveis, não tendo certeza de que será o melhor
a se fazer para acabar com a vida delas, pois posso acabar é mais com a do
Anton.
— Por que não dorme um pouco? — Anton sussurra, depositando
um beijo nos meus cabelos úmidos.
Com os olhos quase marejados, ergo a cabeça e faço carinho no seu
rosto.
— Eu queria te dizer uma coisa séria.
— Hum?
Eu fico em silêncio.
— O que foi, Kia? — Ele retribui o carinho, soando tão doce e
calmo.
Eu, então, elevo o lençol e meio que me sento. Nervosa.
— Eu estou com medo de você, de como vai reagir.
Sem entender, Anton igualmente se inclina na cabeceira,
observando-me sério.
— Está me deixando preocupado. Diga de uma vez o que te aflige?
— É a sua mãe... ela e a Lívia... elas têm um segredo horrível que
envolve o governador e o seu pai.
— Como? — Ainda sem entender, ele não desvia os olhos dos meus,
que nem piscam.
Eu respiro fundo, tomando forças inimagináveis para não fraquejar.
— Anteontem, depois que chegamos da casa do meu avô, eu deixei
o Gieber dormindo no berço e resolvi descer bem rápido para pegar algo de
comer. Só que quando eu estava indo para as escadas passei pela biblioteca e
peguei a sua mãe e a Lívia conversando escondidas. Elas disseram que o Gael
já estava sabendo que podia ter metade da sua fazenda. E o plano era de
seduzir vocês dois, contudo, Lívia não conseguiu seduzir você, mas fez com
o Gael. E...
— Lorenza só pode estar ficando louca! — Anton logo brada,
interrompendo-me furioso. — Eu sou capaz de fazer o pior com a vida dela!
— Ele me encara, fechando os punhos das mãos robustas. — E o que mais
tem a ver o governador com o meu pai? Eu sei que eles na época nem se
conheciam, e que aquele merda está lá no gabinete por minha causa!
— Ele... — eu engulo a saliva, sentindo espinhos afiados descerem
pela garganta. — O... o governador também faz parte desse plano — e
somente digo isso, quase chorando por ser uma tremenda infeliz medrosa, por
não conseguir berrar para ele que a sua mãe é uma assassina e que ela e o
governador mataram o senhor Rangel Dexter, o seu pai.
Tudo por medo, pois o luto, a perda do pai, a falta de sentimentos,
tudo isso foi o motivo desse homem ter sido um monstro e por ter me
machucado tanto. Meu Deus, eu não quero ver ele como antigamente. Eu não
quero aquele bárbaro sem amor, sofrendo sem um pingo de compaixão e
ferindo-me. Ele está mudando, está amolecendo o coração. É quase um novo
homem; apaixonante, dedicado, carinhoso. E eu amo tanto que chega a doer.
Não posso vê-lo surtando novamente. Eu não sei o que fazer, eu
estou desesperada, minha vontade era de fazer justiça sozinha para acabar
com aquela megera dos infernos.
CAPÍTULO 33

Anton Dexter

Minha mãe está muito enganada se acha que vai conseguir tirar
algum centavo de mim. E que porra de história é essa de que o Gael pode ter
metade da minha fazenda? Um absurdo, um verdadeiro traidor. Eu não me
importo de também escorraçar ele daqui! Investigarei tudo com os meus
capatazes, mandarei vigiá-lo noite e dia!
Eu olho para a Kiara e noto as suas mãos trêmulas, o seu rosto
espantado e assustado.
— Kia, está tudo bem — eu toco na sua bochecha pigmentadas de
sardinhas, tranquilizando-a. — Não ficaria indiferente com você por me
contar apenas agora o que ouviu. Lorenza, seus planos, seus interesses, nada
é novo, é óbvio. Era de se esperar algo sério, armado contra mim. Ela deve o
governador e está desesperada para conseguir o dinheiro. Seja como for isso.
Lívia e sua família são importantes para as minhas madeireiras. Lorenza e a
esposa do Camilo se tornaram uma das mulheres mais poderosas de Montes
do Sol. São duas cobras traiçoeiras. E a filha de Camilo não seria diferente. O
que me surpreende mesmo é esse merda do governador estar no meio do
plano da amante que o deve, para me roubar!
— E o que fará, Anton? Estou atormentada. E o Gael?
— Não se preocupe com isso, daqui em diante é problema meu. Se
tranquilize, por favor — eu a abraço.
Mesmo que, por dentro, eu esteja morrendo de raiva, tento controlar-
me. O que farei é contratar um detetive para, desta vez, revirar todo o passado
e até o presente sujo da Lorenza. Eu não quero que escape uma informação
sequer. A terei em minhas mãos nem que seja rastejando, e o governador que
me aguarde. Os deles estão contados.
Kia volta para o seu quarto em meio ao meu desgosto. Eu fico
sozinho. Passo a madrugada, pensativo, irritado. Se dormi meia hora, foi
muito. Fiquei contando os minutos para o raiar do sol, pulei cedo da cama,
obstinado a fazer tudo o que planejei nesse meio tempo. Ligo para o meu
detetive, meu advogado de décadas, a seguir, desço para reunir dois dos meus
cinco capatazes de confiança.
— O que há senhor? Por que nos reuniu tão cedo?
— Um serviço, Ratito e Jairo.
— As suas ordens, patrão.
— Como se gabam e desfrutam da minha confiança, é um serviço
que deve permanecer entre nós três. Preciso que investiguem e sigam os
passos do nosso gerente rural, sem chamar a sua atenção.
— Gael?! — Ratito franze a testa, surpreendido assim como Jairo.
— Ele é o primeiro que desfruta de sua confiança, patrão. Ele é seu ami...
— Desfrutava há anos passados, até certos acontecimentos. Minha
confiança se quebra com facilidade. Ainda mais por traições. É bom que
saibam que não tolero que saiam da linha.
Os dois assentem calados, com as suas faces barbudas e sérias. Gael
que não pense em me apunhalar pelas costas uma segunda vez; juntando-se a
Lívia e conseguinte a Lorenza. Eu pegarei pesado para destruir todos os que
querem me ver na merda! Se dizem pela vila e pela cidade que eu sou frio,
maldoso e um filho da puta bárbaro, devo honrar os adjetivos. Todos terão
certeza de minha capacidade ruim.
Deixo a ordem aos meus capatazes e volto a trabalhar apenas na
parte da manhã. No restante do final de semana, de sábado para domingo,
convenço Kiara a viajar comigo para a capital, proponho-a uns dias de luxo
no hotel mais caro da cidade, indo ao teatro assistir peças, fazer compras.
Tudo o que ela desejar só para termos momentos mais próximos. Kia aceita
meio contraída e preocupada, pensando no assédio da mídia. Além disso, por
conta do bebê que eles mal sabem da sua existência, somente de boatos sem
autenticidade. Eu digo a ela que não há nada para se esconder, o menino é
meu filho e ponto final. Já estava na hora de assumi-lo publicamente. Ela
permaneceu calada após a minha resposta, consentindo muito estranha. Aliás,
está estranha há dias, comportando-se diferente, como que se pronta para me
dizer algo, mas retrocede insegura. Preferi não a questionar.
No domingo, depois do almoço, viajamos junto com a Lívia,
todavia, em carros separados.
— Na volta, precisaremos daquelas cadeirinhas de bebê — ela
comenta sentada no banco de trás com o menino no colo.
Eu a observo pelo espelho retrovisor interno. Sua face é de cansaço,
sono.
— Quando chegarmos, eu compro a cadeirinha em alguma loja de
criança. Também falta só uma hora até a cidade. Logo chego no hotel e você
descansa.
— Igualmente está cansado, não parou para descansar nem um
pouquinho. Podemos dar uma pausa no próximo posto de gasolina.
— Não, não é seguro. Pode ter alguém nos seguindo. E já estamos
perto.
Ela balança a cabeça, voltando a assistir a vista dos montes verdes
com os olhos quase se fechando. A toda velocidade chego na capital ao
anoitecer.
— Eu pego as bolsas.
— Acho que pode pegar o Gieber... — Pede, descendo do carro e
olhando-me bem dolorida, com o bebê dormindo por horas no seu colo. —
Meus braços estão dormentes...
Eu mexo o maxilar, meio nervoso por ele ser pequeno e eu não saber
pegá-lo correto, mas aceito calado para ajudá-la, deixando que Kia me ensine
a segurá-lo seguro. Quando se afasta, o pequeno fica abraçado a mim, com a
sua cabeça de cabelos cheios no meu peito, protegido com a minha mão
grande nas suas costas e a outra na sua bunda, cheia pela fralda.
Eu fito a Kia. Ela se afasta, abrindo um sorriso fraco, em seguida,
virando-se para pegar as três bolsas do banco de trás. Ela trouxe ainda outras
duas malas, que o concierge acabou de tirar da carroceria da Hilux para
colocar no carrinho do hotel. Dentro do saguão, eu passo rápido na recepção
para confirmar a reserva da suíte principal, antes de, enfim, subirmos.
— Meu Deus, eu não me lembrava de como a vida poderia ser mais
chique — ela fala boquiaberta, após abrir a porta do quarto enorme e soberbo.
— Pai Amado, olha o tamanho desse pé direito...
Eu entro com o bebê, sentindo suas mãozinhas apertar as penugens
da minha jaqueta, enquanto continua a dormir. Kiara fecha a porta,
observando-me cheia de brilho nos olhos.
— Ele vai acordar faminto, dormiu tanto no meu colo que não
mamou. Também preferi não o despertar.
Assisto o carinho dela ao pegá-lo dos meus braços, beijar os seus
cabelos castanhos e ir até a cama deitar o pequeno em volta de travesseiros
que ajeita cuidadosa.
Eu tiro a jaqueta, gostando de ver os dois, frágeis, sendo o que me
restam.
— Estou faminta — ela arranca os saltos médios. — Nem parou para
fazermos um lanche.
— Era arriscado. Já vou pedir o jantar para nós.
— Diga que tem um bebê, eles mandaram sopinha de legumes. E
preciso de leite morno para a mamadeira.
Assim que eu peço o jantar pelo telefone e o que Kia solicitou, as
nossas malas chegam, o que igualmente nos dá tempo de tomar um banho
para comer e cair cansados na cama, com o bebê ao meio, chupando a
mamadeira quase por fim.

Kiara Dexter

Eu acordo primeiro que o Dexter. Vejo-o dormindo com o braço


suspenso no rosto e o Gieber de barriga para cima, pertinho do pai. Meu
coração se amolece, derretido ainda pela cena de ontem, dele o pegando,
abraçado e morrendo de medo de deixar o nosso menininho cair. Será que
está começando a sentir algum amor pelo bebê? Está criando o sentimento de
pai?
Espero que sim. É a coisa mais linda os dois juntinhos.
Desta vez, estando na capital, eu me levanto decidida a arrumar-me
mais chique do que no dia a dia na fazenda. Quero que esses cretinos, essas
madames nojentas babem pela minha mudança. Eu esfregarei a minha classe
de "selvagem" na fuça de todos.
— Bom dia — desejo ao Anton, enquanto coloco os meus brincos
caros.
Ele abre os olhos inchados, virando a cabeça para o bebê já
acordado, que troquei a dez minutos. Adiante me analisa sem resposta. E
quieto, logo se põe de pé para ir até o banheiro da suíte fazer as suas higienes
pessoais e se arrumar.
— Não acha que essa droga de vestido está muito justo e decotado
não? — Enquanto eu dou a mamadeira para o meu menininho, ele pergunta
abrupto, colocando seu chapéu precioso, da cor negra.
— Não, para mim, está perfeito.
— Eu já te avisei sobre usar essas roupas indecentes. E prometeu
que pararia.
— Eu parei de usar muito curto. E é só um decote, Anton.
— É um belo atributo aos olhos masculinos.
Ele guarda a arma na cintura, com seu olhar mal-humorado. Não
acredito que ele vai ficar bravo por causa da minha roupa. Devo me alegrar?
Pelo menos, ele não vai tirar os olhos de quem deve-se olhar, a sua esposa.
— Vai ficar bravo por causa do meu vestido?
— Eu já estou. Mas fazer o que se não posso sair jogando fora esses
tecidos provocantes?
— Não tem o que reclamar, eu estou igual as madames da classe
alta. Do jeito que sonhava em me ver. E meus pobres atributos cresceram, são
para poucas um vestido de gola bonita como essa. Devo me orgulhar. Não
acha?
— Eu acho melhor não te responder, Kiara. Caso contrário, posso te
mostrar o jeito que eu gosto de ver você. E tenha certeza de que não é com os
seus vestidos chiques, nem de roupas íntimas.
Ele analisa as minhas pernas sem um pingo de vergonha, fitando-me
ao erguer-se selvagem, cheio de malícia.
— Você deve estar imaginando isso. Posso responder?
— Não. Nem quero saber o que vai dizer. Está atrevida. Uma
autêntica atrevida-atraente.
— Hum... — Sorrio por dentro. A imaginação dos homens é
limitada, 40% cérebro e os outros 60% sexo. É de natureza, desde os
primórdios. De tanto ler livros, descobri isso ainda com quinze anos.
E revelo que quando nos casamos eu já não pensava tão inocente
como Anton devia imaginar. Eu me crucificava por ser magricela, sem
atributos que ele adoraria a noite. Por isso a maior vergonha da minha vida
foi quando me viu nua pela primeira vez e tirou a minha virgindade. Eu, há
dois meses, havia feito dezessete anos, uma inexperiente total, uma verdade
menina caipira e constrangida. Foi horrível de todas as formas... só de
lembrar ruborizo. Chorei de dor igual uma criança. Anton teve paciência, ele
pensou em mim. E também só poucas vezes naquele primeiro ano de casados.
Depois fui um objeto que ele acionava só quando precisava. Eu nem sabia o
que era ter carinho no sexo, ser pensada em primeiro lugar. Acordar sobre o
peito do seu homem recebendo beijos. Eu fazia e pronto, virava para o outro
lado. Era o trabalho da esposa comprada.
— Vamos?
Mais preocupada com outros assuntos, levanto-me, pego a bolsa, o
meu filho e o acompanho para descermos no elevador e tomar o café da
manhã no restaurante de luxo do hotel.
— Você não veio para a capital para também enfrentar o
governador, né? — Pergunto-o a mesa, bebericando do café. Sem a menor
tranquilidade em pensar nisso.
— Sim — confessa —, mas não precisarei ir até ele. Vamos
encontrá-lo no teatro esta noite, comprei dois bilhetes.
— Anton, e se for verdade, e se ele estiver mesmo armando algo
com a Lorenza para te roubar? Não faça isso, não o enfrente. Eu tenho medo.
— Não há o que temer, Kia. Eu cuidarei disso do meu jeito. E
mudando de assunto, fará compras hoje sem mim. Só terá o meu capataz, que
trouxe a Lívia, te acompanhando como segurança. Vou resolver algumas
questões no cartório com o meu advogado e passarei em dois bancos para
conversar com os gerentes. Tudo bem?
— Tá bom.
— E, por favor, não se dirija a ninguém desconhecido. Não se afaste
do capataz. Não sei se estamos seguros. Me prometa que fará isso?
— Prometo...
Assinto de novo, desviando dele para encontrar os olhos das
mulheres das outras mesas, que olham admiradas para o meu marido, rindo
cheias de gracinhas. Com certeza, até de noite todos saberão que o Dexter
está na cidade com a sua esposa submissa. A chifruda que "aceita" os chifres
"secretos" do fazendeiro mais bonito, desejado e poderoso de Montes do Sol,
sem pestanejar. Que raiva, que vontade...
Meu Deus, não! O que eu estou pensando? Balanço um pouco a
cabeça, repreendendo-me. Eu prometi a mim mesma que não remoeria esse
passado. Desta vez, eu não sou uma idiota, eu mudei e Anton que continue
fazendo por merecer.
Meu único medo é de estar agindo errado em ser uma covarde em
não dizer por completo o que eu ouvi da conversa da Lorenza entre a Lívia.
Só em tentar contar, eu já fraquejo. E sinto do fundo do meu coração que não
posso acabar com a vida daquela megera sozinha. Não carregando esse fardo,
o seu fardo. É ela quem devia colocar a cabeça no travesseiro e sentir o peso
na consciência. Culpa, remorso. Não eu.
CAPÍTULO 34

Anton Dexter

Após deixar a Kiara no shopping sob a segurança do meu capataz, eu


aproveito que a mídia não sabe ainda da minha presença na capital e passo a
segunda-feira toda resolvendo problemas que adiei por conta do tiro no
ombro e dos trabalhos na fazenda. Faço o que eu tenho para fazer sem
descanso; converso com os meus dois advogados, vamos para o cartório
resolver certos documentos que não assinei. Também na prefeitura. No fim
da manhã, almoço com eles num restaurante do centro, onde me despeço para
adiante seguir para um dos dois bancos que necessito resolver mais assuntos
e negócios pendentes com os gerentes.
Só às 18h30 eu consigo voltar para o hotel. E a tempo.
Eu fecho a porta do quarto, adentrando o grande ambiente sala, de
sofás azuis, com uma pequena mesa rústica ao meio. Da cama de casal
luxuosa, eu vejo muitas sacolas de compras, vejo o bebê dormindo e também,
em exclusivo, a Kiara apenas de lingerie branca, colocando com delicadeza
um comprido vestido da cor esmeralda pelas pernas. Céus, que visão, que
maldade, como essa mulher é linda. Noto as suas coxas torneadas, a sua
bunda redonda, as suas costas, os seus cachos loiros caindo sobre os ombros
femininos. E obstinado, com as mãos nos bolsos, não resisto a chegar bem
perto dela, fascinado pelo cheiro de colônia pós banho que seu corpo exala.
Ela nem percebeu a minha presença. Só quando terminou de passar os braços
pelas alças finas do vestido que ela ergueu a cabeça e olhou no espelho,
imediatamente, arregalando os olhos para o meu reflexo, Kia leva rápida a
mão na direção do coração.
— Anton! Que susto! — esbraveja, repreendendo-me ao ser de
verdade pega de surpresa.
Eu continuo com o meu semblante seduzido, aproximando-me
devagar, e atrás das suas costas quase nuas, eu tiro as mãos dos bolsos para
ajudá-la a abotoar os três botões dourados, em formato de rosa. Sinto-a se
arrepiar com o meu toque, sem esperar por esse ato.
— Você demorou muito... — sussurra, fitando-me atraente pelo
espelho. Seu rosto está maquiado, delicado e marcante. Uma mulher poderosa
aos olhos de quem vê-la.
— Resolvi tudo o que eu tinha para resolver na capital em relação a
fazenda, bancos, cartórios, prefeitura etc — eu pego na sua cintura, puxando-
a para mim, para beijar o seu ombro.
Ela ergue a mão esquerda na minha barba, de unhas pintadas.
— O que achou do meu vestido? Do meu cabelo? Da maquiagem?
Das minhas unhas? Aproveitei a tarde num salão Spa do hotel. E fui
paparicada igual uma princesa após entregar a minha identidade Dexter. A
esposa "sortuda" do fazendeiro mais cobiçado de Montes do Sol — rola os
olhos, emburrada com as suas próprias palavras.
Não evito sorrir do jeito da Kia. Ela jamais perderá essa essência
doce, humilde e de menina. Eu fui muito desgraçado por tê-la desprezado por
isso. E mais ainda por ter a seis anos a arrastado para a capital, para, em
menos de alguns meses, obrigá-la a "aprender" a ser "mulher de verdade"; a
se vestir elegante, a não ser uma garota do interior, inocente, ingênua, pobre.
Porra, eu não sei o que eu estava pensando, o que eu estava fazendo com
aquela adolescente. Jamais demonstrei qualquer interesse nos seus
sentimentos, nas suas decisões, ou o que fosse. Era uma criança para mim,
que eu amedrontava e que não me importava. Agora é o que me resta na vida,
é o que eu tenho. E não a nada mais no mundo que preencha esse vazio feito
pelos erros, as cagadas, a não ser ela. E até o bebê repousado nessa cama... o
meu filho, o neto que o meu pai sonhava em ver colorindo a mansão em que
vivíamos infelizes em um mundo preto e branco.
— Está exuberante — confesso, com muita vontade dela e ajo
cretino. — Entretanto, o que mais me interessou foi a sua lingerie branca. Vi
que a sua bunda está dentro de uma calcinha minúscula, rendada, muito
peculiar entre o traseiro. Espero que tenha comprado todas as da loja, vou
adorar rasgá-las no seu corpo.
Kia aperta a minha mão no seu quadril, mordendo os lábios rosados
e ruborescendo.
— Você gostou? Comprei só três conjuntos. Achei que não me
sentiria tão confortável... como estou.
— Pois amanhã voltaremos e compraremos tudo. Quero devorar
você agora mesmo!
— Anton, não, não mesmo. Pare de me provocar, já estamos
atrasados. Vai se arrumar, vista o terno e tire esse chapéu por algumas horas.
— Vou ir, mas louco para voltar. Minha imaginação estará nas suas
peças íntimas e no seu corpo sem elas.
Kia ruboresce mais.
— É, então é bom para você sofrer. Me larga. O espetáculo começa
às 19h50, tem pouco tempo. Por favor.
Eu a solto, virando-a para beijá-la, só que ela se afasta ligeira,
dizendo que eu vou borrar o seu batom. Caramba, assim eu vou é
enlouquecer. Kiara que me aguarde hoje.
Eu tomo banho. Alguns minutos depois, saio enrolado com a toalha
na cintura, pegando a roupa que ela mesmo separou. Visto-me na sua frente,
observando-a cheio de más intenções. Ela desvia, tentando não me dar
credibilidade. Eu penteio os cabelos para trás, passo o perfume e então
vestido a caráter com o terno, os sapatos sociais e o relógio de ouro, estou
pronto. Já a dona Kiara inventa de ainda pôr joias, espirrar o perfume, pegar
uma pequena bolsa que comprou para combinar com os saltos e dar o
ultimato no espelho.
— Vou deixar a bolsa do bebê no carro. Pronto?
— Tenho certeza de que era eu quem devia fazer essa pergunta para
você. Não precisa por tantas coisas para dificultar o meu trabalho de deixá-la
sem nada mais tarde.
— Só se for nos seus sonhos, Sr. Bruto. Gieber dormirá entre nós.
Vamos.
Ela me encara, desviando-se corajosa ao passar na minha frente com
as suas bonitas curvas elegantes e com o bebê bem arrumado no seu colo.
Tenho que admitir, estou adorando vê-la assim, soltando os
cachorros.

No teatro, ao parar a caminhonete na frente do local, é em imediato


que os fotógrafos aparecem cheios de flashes pelo redor.
— Meu Deus... está cheio de fotógrafos e fofoqueiros.
— Não vamos parar. Seremos rápidos.
Ela assente e eu saio arrumando o terno em meio aos escandalosos
que me chamam pelo sobrenome. Entrego a chave para o manobrista, dou a
volta, abro a porta da Kia e estendo a mão para que ela desça em segurança,
abraçada ao bebê.
Dentro do teatro, assim que entramos no pequeno saguão antes da
galeria, é instantâneo as mulheres e os homens nos encontrarem. Algumas
nos admiram sussurrando uma ao ouvido da outra. Em específico para a Kia e
o bebê. Com certeza, amanhã estamparemos a primeira capa do jornal, numa
matéria maliciosa e curiosa. Já os estúpidos brincam com a sorte e admiram a
minha esposa com olhos que podem durar pouco tempo em suas faces.
— Eu estou nervosa. Odeio chamar atenção.
— É, mas felizmente eu trouxe a arma.
— O quê? — Kia franze o cenho sem entender as minhas palavras
murmuradas entre os dentes.
— Vem, nossos lugares ficam na primeira fileira da terceira galeria,
onde o prefeito e governador estarão. Estou ansioso para o reencontro.
— Eu, nem um pouco...
Calado e de cara fechada, eu conduzo Kia ao interior do teatro e aos
nossos lugares, onde realmente encontro quem eu almejava ver. Teodoro que
está sentado na segunda fileira chega a arregalar os olhos, sem acreditar na
minha presença. Será que por eu estar vivo?
— Meu amigo Dexter, que honra! — ele se levanta rápido.
— Dexter? — o prefeito, que está na mesma fileira que eu e a Kia,
questiona escandaloso igual o governador, fazendo todas as pessoas ao nosso
redor nos olharem.
— É um prazer revê-lo, caro amigo. Quanto tempo...
Kiara Dexter

Eu passo a peça toda preocupada com a feição monstruosa do Anton.


É como que se, a qualquer momento, ele fosse virar a cabeça, agarrar o
colarinho da camisa do governador e jogá-lo lá embaixo nos assentos. Pai
amado, eu não quero nem pensar nisso. Ele estava agora pouco conversando
em sussurros com o prefeito durante a apresentação de uma tal Amélia
Tavares. E eu estou ocupando o acento ao lado do Dexter e da esposa do
prefeito que deve nem passar dos 35 anos. Ela mudou de lugar de propósito
com um homem só para me encher a paciência.
— Gosta de ópera? — pergunta-me baixinho.
"Gosto, por isso eu estou tentando assistir, mas você não cala a boca
sua mocreia cheia de plásticas."
— Sim — em vez de responder o que eu pensei, apenas consinto um
"sim" educado.
— Eu também. É um prazer, enfim, conhecê-la Sra. Kiara, pois o
senhor Dexter já conheço de longas datas. Antigamente, quando vinha para a
capital, jantava sempre na nossa casa, era bem recebido. Nunca teve o que
reclamar — sorri.
— Hum... — Eu aperto o meu filho que pegou no sono de novo.
Minha expressão por dentro está em fúria. Sou quem daqui a pouco vai jogar
essazinha lá embaixo nos assentos.
— É uma mulher de sorte. Eu, com toda a certeza, me acharia se
carregasse o sobrenome Dexter e andasse ao lado de um homem tão...
influente.
— Ele também é — murmuro sem olhá-la, vendo o palco e a cantora
de linda voz potente.
— Desculpa a curiosidade, no entanto, como tiveram um herdeiro e
surpreendentemente essa notícia bombástica não saiu no jornal?
— Acho que a nossa amiga Lorenza fez questão da notícia não
vazar. Não acha? — Conversamos em tom médio. — Eu a detesto, ela me
detesta... e um neto vindo de uma selvagem sem classe, sem sobrenome? Que
vergonha... um absurdo. É uma mancha na sua biografia.
Anton pigarreia e eu olho "simpática" para o rosto da lambisgoia que
está surpreendida. Até se calou num sorriso falso, não perguntando mais nada
e prestando atenção no espetáculo.
Quase no finalzinho do show, antes de nos levantar para bater
palmas, o Dexter cochicha algo no ouvido do governador, despede-se do
prefeito, depois se ergue, fita-me e chama-me para sairmos.
— Anton, o que vai fazer? — Pergunto em sussurro, ao erguer-me,
mas ele não responde, aguardando que eu vá na frente, assim como o
governador.
— Tem uma sala vazia aqui do lado, meu amigo Dexter, podemos
conversar lá? — Na saída da galeria? — Ele o indaga.
Anton assente, colocando a mão nas minhas costas para segui-lo.
— Eu não sabia que tinha tido um filho com a sua esposa — ele
comenta ao fechar a porta da sala com assentos vermelhos e uma tela em
branco, caminhando até nós. — É de se surpreender que tal notícia não tenha
saído em nenhuma manchete da cidade. Ele já é enorme. Tem quantos meses?
— Meu filho nem a minha esposa são o nosso assunto neste
momento.
— Sim, sim, realmente não são. Sinto muito a curiosidade.
Ele coloca as mãos nos bolsos.
— O meu assunto envolve Lorenza; a matriarca mal caráter.
— Não pensou isso quando a fez de amante.
— Estava a acobertando, Dexter! — Teodoro o acusa. — Como
posso continuar confiando em alguém que...
— Não ousa! — Anton brada furioso e eu me afasto com o meu
filho. — É eu quem devia estar dizendo isso para você! Um traíra! Você quer
me ver fora do seu caminho por eu ser a maior influência dos partidos! O que
Lorenza te roubou não fez nem cócegas na sua quantia milionária na suíça!
Armou tudo isso para tê-la nas suas mãos, feito marionete! E para quê?
— Está blasfemando, jamais o trairia, jamais armaria nada. Eu sei o
grande homem que o seu pai foi, o legado do seu sobrenome Dexter que
enriqueceu os cofres de Montes do Sol. Por mais que não o tenha conhecido
pessoalmente, teria sido uma honra tê-lo pelo menos apertado a mão. E agora
ter o seu herdeiro ao meu lado? Apoiando o meu governo? Isso é uma
preciosidade para poucos políticos. Eu sou grato a você e sempre serei.
— Eu não acredito em você. É puxa saco por qualquer um que tenha
alto nível na capital e no estado.
Com a declaração abrupta do Anton, o governador fecha a cara,
inconformado e ofendido.
— O que está acontecendo, Anton? Se é sobre a Lorenza, não se
preocupe, eu não tocarei mais nela com você. O que tenhamos, será resolvido
em breve apenas entre nós dois, em particular.
— É o que você e ela têm, em relação a minha fortuna e a minha
influência, que me preocupa. Tome cuidado, Teodoro, eu não brinco com
quem me traí. E ainda mais sem eu saber o motivo de quererem me tirar de
cena.
— Ótimo, pois eu igualmente não brinco. Se tem desconfianças, vai
em frente, não tenho nada a temer. Jamais dei motivos. Meu papel político
não chega aos pés do prefeito de Montes do Sol. Nem faz nenhuma ligação a
você e a sua monótona vida de fazendeiro.
— Oras, chegamos no seu ponto fraco — Anton força um sorriso
irônico. — Diz isso, por mais que eu tenha a voz ativa com 90% do
Ministério da Agricultura e do Abastecimento? Não seja falso. É a agricultura
e a pecuária que move o nosso estado. Neguei me eleger para vereador e a
merda que fosse para te ajudar há três anos. Imagine se, na eleição que vem,
eu não faça isso com o prefeito Aldo, que não chega aos seus pés? Os
monótonos fazendeiros milionários o apoiariam, assim como a população que
trabalha da terra. Seus dias de luxo no gabinete estariam contados.
— É uma ameaça, Dexter? — Ele range os dentes.
— Considere uma opção que não descarto.
Os dois se encaram frente a frente, sem se desviarem, e eu fico
nervosa, trêmula e com raiva desse governador desgraçado. Ele é um
assassino, um fingido, o cúmplice da Lorenza na morte do Sr. Rangel. Já
estou farta de guardar esse segredo. E... Meu Deus! E se eles também
estiverem tentando matar o Anton para tirá-lo do caminho e ajudar a Lorenza
a ficar com a sua fortuna? Isso pode ser um fato. Anton é amigo do prefeito e
Aldo quer se candidatar ao governo. Teodoro tem todos os motivos.
— É uma pena nos desentendermos. Considerava a nossa amizade
um casamento inseparável. Agora os papéis do divórcio podem chegar a
qualquer momento na sua porta.
— Tenha certeza de que chegou há muito tempo. O destinatário
recebeu de raspão em seu estábulo.
O governador assassino franze os olhos e continua a observá-lo
misterioso. Até que sem falar mais nada e sem se despedir, ele vira as costas,
retirando-se em silêncio. Eu fico boquiaberta, sem crer no que o Anton
insinuou.
— Anton, precisamos ir embora! — Eu declaro rápida, com o
coração acelerado, criando coragem para não pensar na sua reação, na sua
dor, no descontrole. Tem que ser esta noite. Ele precisa saber da verdade.
— Algo diz para mim que é realmente ele, Kia! — Exclama
nervoso.
— Ele?
— Sim — Anton vira sério para mim, fitando as minhas pupilas
dilatadas. — O verdadeiro pai do Gael com a minha mãe. É esse o segredo
dos dois.
— C-Como? — Quase tropeço nos meus próprios pés, com as
batidas do peito ainda mais aceleradas.
— É esse o segredo que liga e sempre ligará o político que a Lorenza
fez se aproximar de mim para eu apoiá-lo e acreditar numa amizade
interessada a ambos, onde o colocava no poder de governador e ela ao seu
lado. Mas a relação está saindo de linha. E qual o motivo real?
CAPÍTULO 35

Em choque com a revelação do Anton, eu permaneço petrificada e


com os olhos esbugalhados.
— O quê? Como assim?
— Vamos embora, no hotel, eu te explico. Estou nervoso, sem
paciência para dar qualquer tipo de atenção esta noite. Minha vontade era de
socar a cara do Teodoro. E se eu ver esse traíra de novo isso será inevitável.
Concordo estarrecida e nós retiramos quietos da sala, caminhando
em meio às centenas de pessoas que saem do teatro para irem embora ou
pegar seus carros com os manobristas. Pegamos o nosso ouvindo vozes
incessantes gritando "Dexter, uma foto", "Dexter, uma entrevista". Mas nos
livramos das atenções com rapidez.
— De onde tirou que o Gael é filho do governador e da... meu Deus,
ele pode ser o seu irmão, Anton! — dentro do carro, no momento em que eu
ia questioná-lo, eu caí em si, chegando na conclusão até então.
— É cedo para se dizer sem um exame de DNA.
— Como você descobriu essa história absurda? — pergunto, fitando-
o pelo espelho retrovisor interno. Ele também me fita.
— A aparência dele e do Teodoro é de se desconfiar. Não acha? E
depois do que me contou sobre a minha mãe usar a Lívia para seduzi-lo e
fazê-lo achar que tem metade da fazenda, fez eu criar a hipótese esses dias no
meu escritório.
— E está tranquilo? Gael pode, ou é filho da Lorenza. Seu irmão.
Isso é preocupante, confuso, mal contado. Existe milhares de perguntas sem
respostas.
— Eu sei... merda... só estou tentando manter o controle. Se Lorenza
o abandonou para ser criado pela Maria, isso prova o quanto aquela mulher é
uma verdadeira desgraçada, pior do que um animal de pasto.
— O pior é que ela sempre fez questão de demonstrar que odiava o
Gael. E você mesmo já contou que a sua mãe detestava ver vocês dois juntos.
— Não tem ideia de como ela o chamava. Os dias que voltava da
capital e ficava na mansão era para nos infernizar, para me proibir de andar
com o filho "nojento" da cozinheira. Eu vou investigar para comprovar essas
possibilidades. Se for verdade, nem eu mesmo acreditarei. Não consigo nem
criar a façanha de imaginar.
— E se for filho do seu pai? — Eu sou direta e o observo apertar o
volante ao parar no semáforo.
— Eu tenho a absoluta certeza de que não é. Eu sou três anos mais
velho do que o Gael. Para ela, não assumir o segundo herdeiro Dexter aos
jornais de Montes do Sol, foi porque ele nasceu do fruto de uma traição fora
do casamento. Um adultério. Lorenza pode ter se escondido em outra cidade,
em outra fazenda. Eu não sei, preciso investigar. Por isso, consultarei amanhã
um detetive.
— Eu fico pensando na situação dele, caso a Lorenza seja a sua mãe
biológica. Gael pode enlouquecer de fúria. Imagine ser abandonado?
Descobrir que os pais que lhe criaram a vida inteira não são os de sangue?
— Ou se ele já não sabe — Anton murmura, fechando a cara.
— Vocês cresceram juntos, como irmãos. Não deveria ter tanta
raiva, tantas desconfianças. Ele é o seu braço direito. O seu amigo. Pensa na
dor que...
— Ele nem sequer pensou na minha quando eu perdi o meu pai. Se
afastou, pouco se importou. Ainda me enfrentava dizendo que lutaria por
você. Que lhe tiraria de mim. E agora não me interessa a possível dor daquele
traíra. Se tiver algo para resolver, será com a Lorenza e o governador. A
minha única preocupação é com a minha mulher e o meu filho. O restante
não acrescenta em nada.
Surpreendida com a tamanha frieza do Anton, eu me encolho com o
meu menininho no colo. Como pode pouco se importar?
Também com a declaração de Gieber e eu sermos a sua única
preocupação, começo a me apavorar novamente em imaginar a sua reação
quando eu confessar mais podres da sua mãe. De que ela é uma assassina.
Santo Deus, e se não for o certo? E se ele perder o controle?
Ao chegarmos no hotel, eu sigo quieta, muita nervosa e calada ao
seu lado para o quarto.
— Você quer descer para comer no restaurante? — ele fecha a porta,
indagando-me.
Eu nego indo até a cama depositar o Gieber. Depois volto, molhando
os lábios secos e parando ao lado do grande sofá azul. O Dexter se senta,
observando-me com as pontas dos dedos batendo no encosto dourado.
— O que foi? Ficou estranha com o que lhe revelei.
— É você que está estranho, agindo frio com o que deduziu sobre o
Gael. Ele pode ser o seu irmão. Estou em choque.
— Eu sinto muito, entretanto, só estou sendo sincero. Prometi a mim
mesmo que seria verdadeiro com você. Eu só quero paz, poder deitar na cama
e ter uma noite de sono tranquila. Estou cansado, farto, esgotado.
— Mas isso está longe de acontecer, Anton... — meus olhos quase
lacrimejam, sem palavras para o seu "ser verdadeiro comigo", pois eu não
estou sendo verdadeira com ele. Eu sou uma covarde.
— E por que estaria, Kiara?
— Eu não te disse toda a verdade do que eu ouvi da conversa da
Lorenza e da Lívia na biblioteca...
Ele tira a mão do apoio, mudando sua serenidade para mais fria.
— Você vai surtar, explodir, vai fazer uma loucura — eu tremulo a
voz, rendendo-me as lágrimas.
— Está escondendo algo sério? Diga de uma vez o que não
conseguiu dizer a mim.
— O governador... ele... ele... — O fito. — Meu Deus, eu não vou
conseguir...
Anton então se levanta. Ele para na minha frente. Eu continuo com
as lágrimas escorrendo nas bochechas. Elas embaraçam a minha visão.
— Diga tudo, Kiara. Não me faça perder a confiança com você. Por
favor.
Respiro fundo, criando forças em meio a sua frieza.
— A Lorenza... ela e o governador são uns assassinos. Eles mataram
o seu pai. Ela disse para a Lívia que o Teodoro acelerou a morte dele com a
doença — finalmente sem rodeios, sem pena, sem suportar guardar mais esse
segredo horrível, eu digo de uma vez.
E chorando, afasto-me, vendo instantâneo ele franzir a testa.
— Como? — seus olhos se avermelham, sem crer, sem acreditar no
que eu disse.
— Eu sinto muito, Anton...
Ele passa a mão na barba, no cabelo.
— Ouviu errado. Ela não faria, aquela... aquela desgraçada não faria!
Ele semicerra os punhos, dá um soco no sofá e me faz dar mais
passos assustados para trás. O Dexter vira inconformado o rosto, como que se
pensando em tudo, ligando cada pedacinho da sua vida. Eu posso sentir que
as minhas palavras foram como uma adaga no seu coração.
— Eu seria capaz de matar os dois! Eu seria!
— Anton... — sussurro, mas ele chuta a mesa de centro e o sofá.
Afasto-me de vez, indo até a cama abraçar o meu filho e chorar,
assistindo-o quebrar o quarto em meio a sua fúria, a sua dor. Seus olhos estão
molhados e perdidos, sem saída. Fico encolhida, sem poder fazer nada para
impedi-lo. Ouço cacos se espatifando... Até que ele chuta o que tem para
chutar, para no meio dos vidros e senta-se no sofá, colocando as duas mãos
na cabeça.
Eu seco os olhos, volto o meu bebezinho para a cama e ergo-me,
fazendo o que o meu coração manda ao se aproximar dele. Meus saltos fazem
barulho nos cacos. E tremendo, paro.
— Você ouviu errado — ele me olha, tentando buscar soluções.
— Não foi... eu não te disse antes porque sabia que você surtaria.
Por favor, não faça nenhuma loucura.
Anton desvia de mim, encarando o chão e controlando-se.
— Ele era tudo o que eu tinha. Eu poderia gastar a fortuna que fosse
para garantir só mais uma semana ao seu lado. Eu jamais aproveitei um final
de semana, uma noite com colegas da faculdade na capital. Minha formatura
foi sentado numa poltrona, assistindo filme com ele. E ele nem sequer sabia
que aquela noite eu devia estar num salão de festas, recebendo o meu
diploma agropecuário e curtindo a minha formação profissional ao lado do
Gael.
Eu fecho os olhos, tentando ser forte. O que não consigo. Anton
suspira e expira tremulo de raiva.
— Eu repetiria tudo, cada noite em claro, cada último momento...
menos o dia em que o vi descer aquela cova, nem a primeira madrugada sem
ele na mansão. E se aquela desgraçada é a responsável pela sua morte, a farei
descer num buraco idêntico, ao lado do amante, dos cúmplices, de quem for!
— exclama entre os dentes, então se levanta, pega a sua carteira, a chave e
vira bruto as costas.
Eu me desespero.
— Anton, onde você vai? Por favor, não sai do quarto! Não faça
nada de errado! Por favor, eu te imploro, fique aqui! Por favor, fique aqui!
Não sai!
Como que se também estivesse nervoso comigo, ele para, me dá um
olhar indescritível e continua o seu caminho até a porta, onde a abre e a bate
após sair.
Ah, não. Deus, meu senhor, o que eu fiz? Eu sabia, eu tinha a
absoluta certeza de que ele surtaria, de que ele faria uma loucura. Proteja esse
homem, não deixa ele fazer nenhuma besteira, eu te peço, meu paizinho.
Em prantos, eu me escoro na parede e deixo-me escorregar até o
chão. Anton nunca, jamais tocou nos momentos com o seu pai assim, cheio
de sentimentos. Ele nunca disse o quanto sofreu, nunca demostrou ou sequer
falou na dor. Mesmo que seja fato o seu sofrimento. Estou com o coração
partido. Por mais que tenha feito tantas coisas ruins ao me comprar sem
amor, não desejo mais vingança. Hoje eu estou vendo que a própria vida está
fazendo questão de abri-lo as feridas e açoitar suas costas.
E eu não posso fazer nada neste momento para acalentar a sua fúria,
a não ser orar.
CAPÍTULO 36

Cinco horas depois...

Deitada na cama ao lado do meu filho, eu acordo com a claridade


fritando os olhos. Inclino o tronco do corpo, coço os olhos, olho as cortinas
das janelas de vidro abertas e instantânea, lembro-me de tudo que aconteceu
ontem à noite.
O Anton!
Eu quase salto da cama, ainda vestida com o vestido apertado que fui
ao teatro com ele, e corro até a sala despedaçada em cacos de vidro. E graças
ao bom senhor Deus, para diminuir as batidas frenéticas de desespero do meu
coração e as pernas, eu o vejo jogado no sofá, também com as mesmas
roupas de ontem à noite.
Meu Deus, obrigada! Obrigada!
Meu peito se alivia e seguro a emoção, enquanto aproximo-me,
sentando-me no pequeno espaço que sobrou no sofá perto do seu quadril.
Toco no seu peitoral largo, embrulhando o estômago ao sentir o odor de
bebida alcoólica invadir as narinas. Exatamente como há alguns anos atrás,
quando ele voltava da capital com os irmãos, são inevitáveis essas
lembranças.
— Dexter... — o chamo um pouco trêmula, morrendo de medo de
como vai reagir hoje.
Assisto-o mexer devagar a perna e o braço. Adiante tosse, passa a
mão no rosto, começando a abrir os olhos inchados e vermelhos. Anton me
olha piscando seguidamente. Eu afasto o meu toque do seu peito.
— Onde esteve? Fiquei preocupada — sussurro, aguardando-o se
recompor.
— Esquecendo a merda da minha vida — então murmura rouco,
franzindo as marcantes sobrancelhas sem desviar suas cansadas íris de mim.
— Por favor, eu sei que não é uma boa hora, mas... mas eu precisava
ser sincera com você e dizer um sinto muito por não ter lhe dito tudo de uma
vez antes. Eu fui covarde, eu fiquei com medo mesmo sabendo que a sua
reação seria de fúria, revolta. Isso porque eu me importo com você. Assim
como disse que eu era o que restava na sua vida, você da mesma forma está
sendo para mim. Não quero que seja aquele homem que me machucava, me
humilhava, que sofria sozinho. Não quero que me perca, nem o seu pequeno
filho. Quero que saiba que existem duas pessoas importantes para se apoiar.
— Não estou furioso com você, Kia. Nunca conseguiria — ele
confessa, pegando a minha mão e voltando para o seu peitoral. — Não quero
mais esconder que eu sou um fodido, que choro, que sofro, que a minha
vontade era de me matar. Esgotou o limite. Tudo o que eu fiz depois que o
meu pai morreu foi errar, principalmente com você. Só que não é esse o
caráter que eu recebi daquele homem batalhador. Por isso vingarei tudo o que
passei e o que ele passou, nem que eu mate a Lorenza. Nunca mais a
chamarei de mãe, nem quero que se dirija a ela assim comigo — Anton suga
o nariz, limpando os olhos. — Passei a noite jogado no bar do hotel,
pensando que ele poderia ainda estar aqui ao meu lado. Que aquela desgraça
pode ter interrompido a sua cura, a sua vida, o seu futuro, tudo por causa da
porra de um dinheiro de herança. Ela e o amante vão pagar caro, eu juro que
vão!
Sem ter o que dizer, abaixo a cabeça e limpo as lágrimas. O Dexter
respira profundo, ergue o corpo, puxa a minha cintura e deposita um beijo no
meu ombro nu. Eu abraço os seus braços fortes, ficando assim com ele, em
silêncio, compartilhando calor corporal. Até ouvir o bebê chorar e ter que me
erguer em silêncio.
Anton fica no mesmo lugar. Ele demora para reagir, continua
sentado, pensativo e olhando fixo para a vista da sacada. Eu balanço o cenho
em tristeza e troco o Gieber, aguardando o Dexter finalmente se levantar,
tomar banho, colocar roupas limpas, os sapatos... para lhe fazer um pedido.
— Eu gostaria de tomar um banho para tirar esse vestido. Poderia
ficar com o bebê um pouquinho e dar a sua mamadeira? Está pronta. Ele
segura sem ajuda. Por favor?
Anton me olha, em seguida para o bebê, apenas consentindo.
Aliviada, eu molho os lábios secos, levanto-me, entrego o Gieber nos seus
braços, também a mamadeira e vou rápida para o banheiro fazer as minhas
necessidades.

Anton Dexter

Completamente perdido com o bebê no colo, eu me sento na


poltrona, colocando-o meio que deitado na minha coxa e no meu braço
esquerdo, dando a mamadeira que o menino pega sozinho para mamar.
Eu respiro acelerado, observando o que faz o mesmo comigo
enquanto suga todo o leite. Não consigo desviar do pequeno. Toco nos seus
cabelos castanhos, na sua testa e sinto algo bom em meio a tanto ódio e fúria.
Eu sou o responsável pelo homem que esse menino vai se tornar. Eu sou o
seu pai. É em mim que ele vai se espelhar no futuro, assim como eu me
espelhava e me espelho no meu pai. Gieber pode ter uma família de verdade.
Não como nós — eu e Kia — que nunca tivemos.
— Ele tomou tudo? — Assim que sai do banheiro enrolada numa
toalha branca, Kiara pergunta soltando seus cabelos loiros do coque.
Eu assinto, mantendo o bebê comigo e analiso ela ir até a mala pegar
uma lingerie para vestir por etapas com a ajuda da toalha, sem revelar a sua
nudez. Eu não tiro os olhos entretidos por um segundo dela. Ela nota, logo
desviando corada. Por mais que o meu corpo a deseje, neste momento, a
minha cabeça está borbulhando no que me revelou ontem. Porra. Não consigo
acreditar ainda. Eu preciso ouvir pessoalmente da boca daquela miserável.
Antes de acabar com a sua vida!
— Você vai aonde? — Depois de prontos, viemos do quarto até a
caminhonete, calados. Mas, ao entrar e dar partida, ela me questionou
preocupada no banco de trás.
— Eu vou passar rápido num lugar. Depois tomamos o café —
informo apenas, sem desviar-me do trânsito.
Ela quieta, abraça o bebê, que balbucia batendo as pernas e
brincando com as orelhas de um ursinho cinza.
Eu continuo o percurso. Dirijo até o escritório do meu amigo
detetive, louco para conversar com ele e deixar claro tudo o que eu preciso
para ontem. O que acontece vinte minutos após Isaque me receber, e eu ir
direto ao ponto sem dar ouvidos ao "sente-se". Revelo o que almejo dos seus
serviços.
Ao voltar ao estacionamento do escritório, percebo uma
aconchegante cafeteria bem na frente.
— Tem uma cafeteria aqui na frente, não quer descer para tomar o
café da manhã? Não comemos nada desde ontem — eu abro a porta do carro,
perguntando a Kia com o braço apoiado no teto.
Ela aceita com a cabeça e dou a volta, ajudando-a com a bolsa.
Contudo, antes de irmos, pressiono-a na cintura e bem devagar contra a
lataria do carro. Ela fica encabulada.
— O que foi?
Eu toco nos pezinhos do bebê, fitando-a sério nas belas íris.
— Assim que retornarmos para o hotel eu quero que você ajeite as
coisas e volte para a fazenda com o capataz.
— Como? Como assim? O que está pensando, Anton?
— Não faça perguntas.
— Não, eu não vou te deixar aqui sozinho! — Brava, ela me
enfrenta cara a cara, sem medo, sem medir esforços. — Eu te conheço muito
bem para saber o que vai fazer! Você vai atrás do governador!
— Talvez não me conheça tão bem! — Meu tom de voz soa alto,
nervoso.
— Não me importo com o que vai pensar agora..., mas se eu
soubesse que seria tudo assim, não teria contado nada na capital, nem
concordado com essa viagem com final triste. Por favor, eu estou com medo,
Anton. Por você, por mim, pelo meu... o nosso filho. Parece que tudo vai se
repetir!
Os olhos dela ficam úmidos e amargurado por vê-la machucada,
remoendo a volta do passado, mastigo o meu orgulho imponente.
— Nada vai se repetir — seguro o seu rosto angelical. — Confesso
que eu não estou bem. Neste exato momento, eu poderia sair socando cada
estrutura, cada coluna de concreto que vejo pela frente; para aliviar a minha
raiva, a minha fúria. Infernos, eu estou perdido, pronto... — Eu, então, viro o
rosto, mexendo o maxilar e calando-me ao largá-la alterado.
— Pronto? Pronto para fazer o que eu disse? Pegar a sua arma e ir
atrás do governador, depois da cretina da Lorenza na fazenda? Se está
perdido, não deveria me afastar de você, nem agir querendo fazer justiça com
as próprias mãos. Entendo que a sede de vingança fala mais alto, que você
está inconformado, fora de si. E é por isso que eu quero ajudá-lo de verdade,
estando ao seu lado. Tente aceitar pela primeira vez alguém se importando
com os seus sentimentos dolorosos, com os seus problemas. Continue
compartilhando, Anton. Você não é de ferro, a vida já te provou que sozinho
não é possível sair do buraco. Apenas se afundar mais nele com as dores e o
remorso. Mesmo que tenha um vazio aí no seu peito, a vida continua. Lute
pela justiça certa, que, no final, traga paz e deixe a saudade e as boas
lembranças de quem se foi desse mundo. Aja com sanidade. É só o que te
peço.
As palavras de Kia me fincam uma estaca afiada goela abaixo,
perfurando tudo dentro de mim. Ela vira as costas, erguendo a cabeça para ir
até cafeteria, seja sozinha ou não. E sem me importar com o movimento dos
carros na rua, dos pedestres na calçada, eu a paro novamente pelo braço,
encarando profundamente os seus olhos marejados. Ela não esconde a
revolta, o medo, o desespero. Eu me sinto mais quebrado, mais perdido e
querendo apertá-la forte no meu corpo.
Eu posso perdê-la. Posso estar a um passo de voltar ao zero.
Isso não me dá escolhas.
CAPÍTULO 37

Gael Abner

Uma semana antes...

— Não é bem-vinda, Lívia! — Eu tento bater à porta, só que ela me


impede.
— Por favor, Gael... me ouça, eu vou amanhã embora para a capital
e como deseja, nunca mais verá a minha cara. Por favor.
Eu respiro nervoso, balanço a cabeça e então abro abrupto a porta,
pondo-me na sua frente com a minha altura maior e forte.
— Fala logo o que você quer?
— Não vou falar aqui fora. Deixe-me entrar? Por favor?
— Não!
— Você tem que me ouvir, eu vim disposta a te esclarecer toda a
verdade.
— A verdade? — Eu sorrio puto. — A verdade que eu não sou filho
dos meus pais? O que pretende com esses jogos, Lívia? Por que fica me
usando, porra? Atiçando a minha mente?
— Gael, por favor, deixe-me entrar, eu vou te explicar tudo... — Ela
suplica. — Eu prometo.
Com muita raiva, eu me calo semicerrando os punhos. Molho a
garganta, desvio dos seus olhos verdes e permito que ela passe. Lívia adentra
devagar a sala da minha casa. Eu bato a porta, em seguida, viro, cruzando os
braços.
— Eu quero pedir desculpas pela forma que te disse isso.
— Maria é a minha mãe, seu José do armazém da vila é o meu pai!
Não importa as suas insinuações!
— Sua mãe te confirmou tudo? — Ela pergunta em sussurro, com
calma.
— Não lhe interessa! Você é uma oportunista igual a Lorenza, a sua
cúmplice! Rangel jamais seria o meu pai! Já te repeti isso milhares de vezes!
— Mas a sua mãe teve um romance com ele, Gael. Você sabe. Ela
com certeza te confessou.
— Cala a boca, Lívia! Maria trata de policísticos no ovário desde a
adolescência. Ela nunca pode engravidar. O fato é que eu fui jogado aos pés
do seu quintal, dentro de uma caixa de papelão, abandonado feito um lixo
imundo! Disso, você com certeza deve saber! E Maria e José me acolheram
como o seu filho!
— Não... eu... eu não sabia, Gael.
— Ótimo, agora você já sabe! E eu sei dos planos em atiçar a minha
mente para eu lutar na justiça contra a fazenda do Anton. Sendo que um DNA
desmentiria vocês duas! E eu não me interesso em saber quem são os meus
pais biológicos! Morra com essa informação, você e a Lorenza! Não me
interesso por nada! Não vão me usar!
— O DNA não vai desmentir, você é o irmão dele, você é!
Enfurecido, eu avanço na Lívia, antes de ela se afastar e a sacudo
pelos braços.
— Chega, Lívia! Cala essa boca, mulher! Some da minha frente! —
Eu a jogo no sofá.
— Gael... — ela chora, caindo quase deitada. — É a verdade, eu vou
te contar tudo. Você quer sim saber.
Eu passos as mãos no rosto.
— É uma vadia!
— Não, não diga isso!
— Tentou me manipular a todo custo, no entanto, não conseguiu.
Pelo menos eu te fodi para não perder tanto tempo.
Lívia treme os lábios, ficando vermelha de raiva.
— Eu fui para a cama com você porque eu quis!
— Mas era esse o seu serviço, não?
— Não vai me rebaixar, Gael!
— Te rebaixar? Você já é baixa!
— Para, seu caipira arrogante! — Ela se levanta secando a bochecha
molhada. — Eu estou disposta a contar tudo o que sei, pois eu gosto de
verdade de você. Eu te procurava quase todos os dias porque eu realmente
queria estar na sua cama, na sua presença! Porque o seu toque, o seu jeito, os
nossos momentos, nunca saíram da minha cabeça! É um romântico idiota, um
apaixonado que eu deveria odiar e sim, só fazer o meu serviço de te seduzir e
de te colocar coisas na mente! Agora a patética está aqui, te confessando tudo
o que sabe porque se importa com os seus sentimentos! Porque caiu no
próprio jogo de sedução! — Eu me encosto na mesa, fitando-a e ouvindo-a
irritado. — Pergunte, Gael, eu vou te responder. Não vou embora enquanto
não sair desse martírio. Não quero mais saber da Lorenza, nem da minha mãe
que me convenceu a fazer o que fiz. Eu voltarei para a capital e para a minha
vida de "dondoca", dona de uma clínica de dentista, que, na verdade, me dá
pouca merda de dinheiro, pois o meu pai nunca bancou nada meu, como
gosta de frisar! Agora anda, pergunte a vadia o que quer saber, seu caipira
idiota!
Ela continua a marejar os olhos e a falar autoritária. Eu me
desencosto da mesa, dou três passos duros e paro bem na sua frente, cara a
cara com os seus olhos dilatados. Então bufo e a agarro pelos cabelos negros,
puxando seu pescoço para trás e aproximando seus lábios vermelhos dos
meus. Lívia não se move, continua a me enfrentar olho a olho e com o ar
descompensado. Seu perfume de âmbar impregna as minhas narinas.
— O que sente, Lívia? O que te fez ser capaz de se importar com a
verdade e com os meus tais sentimentos de caipira idiota?
— Não é essa a pergunta que te interessa!
— Não está disposta a responder todas as minhas perguntas? Pois
comece a respondê-las! Isso me interessa um tanto que nem imagina!
— Eu já disse agora pouco. Você sabe!
— Não me dei por satisfeito.
— Se enxerga! Eu não sou a meiga e sentimental da Kiara! Não seja
bobo de achar que eu vou sair dizendo que... dizendo palavras bonitinhas do
coração para quem não merece!
— Está ferrada, Lívia. Se nega por medo, ainda fala da boca para
fora. Porém, seus olhos não mentem que está realmente apaixonada — eu a
aperto mais na cintura e contra o meu corpo, sem soltar os seus cabelos. Ela
perde a compostura, ficando muito mais nervosa.
— E você, Gael? — Questiona, engolindo em seco e encarando-me.
Eu não respondo. Analiso as suas íris verdes, lembrando de quando a
joguei no rio para fazermos amor e elas brilharam como a cor da água, ali,
descobri que eu adorava os seus olhos, depois a sua nudez, as suas curvas, as
suas mãos e o seu jeito dominador. Ela vai contra tudo o que a Kia é para
mim. Lívia me tira da zona de conforto mais de que posso contar.
— Agora não responde também por medo, caipira idiota?
— Você vai embora sem a minha resposta — eu solto os seus
cabelos negros, exceto a sua cintura fina e a nossa aproximação perto demais.
— Assim como nunca saberei a sua.
— Você sabe! Mas que se dane! Faça a outra pergunta que te
interessa realmente para eu finalmente sair da sua frente e nunca mais nos
vermos!
Eu não desvio, antes de perguntar, eu acaricio o seu rosto macio com
o meu nariz, fazendo-a sentir a minha respiração quente. E eu a dela.
— Gael... — ela pressiona os dedos no meu peitoral, com os
batimentos acelerados e os belos olhos brilhando. — Pare...
Eu, então, toco com os beiços no seu lábio inferior, beijando-a doce
e esperando que corresponda com a mesma afeição. E ela logo faz. Lívia
corresponde cheia de apreço, afagando meu pescoço e a barba. Não aguento e
a penetro a língua sagaz. Varro cada canto da sua boca, arrancando suspiros e
arrepios.
— Não... — ela distancia a cabeça, sem ar e de uma forma que
nunca a vi antes; desprotegida, insegura de si mesma. Entretanto, não dura
muito, é de imediato que a sua postura volta a forma autoritária. — Pergunte.
O tirarei do martírio.
Eu a solto por completo, olhando para o vestido preto e chique que
exprime todo o seu corpo para tomar coragem de voltar aos seus verdes
brilhantes.
— Quem são eles?
— Eu só sei quem é ela...
— E quem é ela?
Lívia respira controlada, tentando abrir a boca duas vezes. Até que
abre pela terceira vez.
— É a Lorenza. Ela é a sua mãe biológica.
— Oi? — Eu me afasto.
— É toda a verdade. Lorenza é a sua mãe biológica.
Sorrio, negando.
— É mais um jogo de vocês, Lívia!
— Eu queria que fosse, mas não é. Ela confessou para mim e para a
minha mãe aqui na fazenda. Lorenza é...
— Cala a boca sua... Porra! Sai daqui! Vai embora! — Eu vou até a
porta e a escancaro, dando um chute para mantê-la no canto.
— Gael...
— Some da minha vida! Some daqui! Eu nunca mais quero te ver na
minha frente, sua... vadia!
Lívia abaixa a cabeça, aquietando-se, limpa as bochechas que lhe
escapam lágrimas falsas e começa a andar devagar com as botas de salto. Até
parar ao meu lado no portal da porta, erguer o cenho e tentar tocar no meu
rosto. Eu desvio bruto, sem olhá-la.
— Eu sinto muito, Gael... — sussurra. — Adeus... meu caipira
idiota.
Ela sai com o seu perfume insuportável de âmbar e com toda a força
que me resta, eu bato de novo a porta, tremendo as paredes e avançando na
mesa para socá-la.
CAPÍTULO 38

Kiara Dexter

Terça-feira, 16h30 da tarde...

Na volta para a fazenda, eu vim no banco de trás com o meu filho


sentado na sua nova cadeirinha. Eu fiquei olhando a vista pela janela, das
montanhas verdes e pensando no Anton e na sua escolha.
Eu demorei tanto para cair na real, para me dar o próprio valor que
agora eu não me importo se uma decisão for contra o coração. O meu
coração. Prezo pela paz, pela saúde mental e pelo meu filho. Repetirei isso o
quão necessário for. Desta vez, eu não sou uma criança e nem serei obrigada
a ficar ao lado de um homem que me humilhe, me magoe, me fira, me viole,
destrate e tanto outros pecados dolorosos. E se ele fez essa escolha é porque
também está ciente disso.
Assim que a caminhonete cinza para, eu olho para a fachada rústica
da bela mansão Dexter e suspiro e aspiro meus pulmões mais leve do que o
próprio ar. Estou aliviada por não ter guardado mais nada do Anton. Daqui
para frente, é ele e se for a sua sincera decisão, o...
— MÃE! — Quando eu viro a cabeça, com a mão na maçaneta do
carro, esbravejo em surpresa, interrompendo meus pensamentos para ter
certeza de que estou vendo a minha mãe de pé na varanda, e arregalo os
olhos, abrindo imediatamente a porta para correr até ela. — Não acredito!
— Minha menina! — Eu me aproximo ligeira. Ao chegar, abraço-a
chorando de felicidade. Ela também se emociona, acariciando meu cabelo. —
Que mulher linda você está, querida. Magnífica. Uma verdadeira senhora
Dexter. Que saudade.
— E você está magra, mamãe — afasto-me preocupada, chorosa,
segurando a sua cabeça em terror ao analisar os seus hematomas roxos. —
Meu Deus, o que aconteceu? Por que está ferida? Seus olhos estão roxos! Sua
boca rasgada! Sua testa cortada! Mãe! — Fico mais descrente ao ver que
igualmente lhe faltam três dentes.
— Não se preocupe. Eu...
— Não me preocupar? — Arregalo os olhos, cortando-a indignada.
Ela engole em seco, respira fundo e desvia para o lado.
— Olá, Anton.
— Olá, Judite.
Sinto o toque do Anton no meu braço. Eu o fito nervosa e o vejo
com o nosso menino sonolento no colo.
— Foi o meu pai? — Volto a minha mãe, enfrentando-a revoltada.
— Diga que foi ele! Foi aquele monstro como sempre!
— Kiara... — Anton me segura mais protetor.
— O que aconteceu, Judite?
— Sinto muito por estar aqui sem avisar, Anton. Eu... eu não tinha
para onde ir. Ele... ele... — Ela me encara de novo, coloca as mãos no rosto e
começa a chorar.
— Ele? Ele te feriu como sempre, mamãe! Te machucou! Você
fugiu dele? Isso é ótimo! Não voltará para aquele casarão nunca mais!
— Ele está morto, filha... eu matei o seu pai!
— O...
Eu quase tropeço nos pés do Anton.
— ... o que disse???

Em prantos, encostada na coluna do quarto, eu fico olhando para o


nada, pensando que deveria doer horrível, mas que não está doendo.
— Kia, essa não é uma reação saudável. — O Dexter me cerca a
cintura com as suas mãos, acolhendo-me no seu corpo forte, másculo.
Eu estava tão vidrada em meus pensamentos desesperadores, que
não o vi entrar, fechar a porta, nem andar até mim. Porém, descanso a cabeça
no seu peito, sentindo-me protegida.
— Ele mereceu... — Sussurro com as lágrimas me cegando. — Era
ele ou ela. Ponto final.
— Sua mãe dormiu?
— Sim. Ela voltou a me pedir perdão, depois de repetir sem cessar
que foi ela a responsável.
— E você?
— Eu? — Fito-o.
— Seu choro, sua reação, nada é normal. A lágrima que lhe cai é
fria. Sua mãe acha que você a culpa.
— Não, não a culpo, só não tive outra reação. Por mais que seja meu
pai, eu o odiava. Ele era mau comigo e a mamãe. Ainda sinto os sentimentos
daquela menina que morava com ele. Ela desejava todos os dias a sua morte,
após as surras que dava na própria mulher, na minha mãe! Os abusos, as
humilhações. Não sabe o que passamos. Até me vender, vendeu sem se
importar se o meu "comprador" seria um velho nojento ou não sei o quê. Ele
ainda me expulsou com um bebê de colo, o seu neto. Agora, com a sua morte,
concluo que o odiei a minha vida inteira. Não existe uma lembrança boa.
Nenhuma!
Anton ergue o rosto sombreado pelo seu chapéu de cowboy, agarra
delicado o meu cabelo na nuca e sem dizer nada, ele me abraça forte, tirando
mais lágrimas que eu não esperava. Eu fico colada ao seu coração, molhando-
o a camisa e ouvindo as suas batidas intensas.
— Obrigada, Anton, por não ter ficado lá sozinho na capital, por ter
pensado em mim... em nós. Eu preciso de você agora, eu preciso.
— Kia — ele acaricia as minhas costas, sussurrando —, sou eu
quem preciso de você. Jamais te deixarei ir embora. Nunca. O que significa
que sempre será a minha escolha.
— Obrigada...
— Sou eu quem devo essa palavra...
Ficamos abraçados um ao outro, observando o pôr do sol escurecer o
quarto, enquanto continuo a chorar sem parar com a cabeça no seu peito.

Sexta-feira, 16h da tarde...

— Já foi lhe dito toda a verdade.


— Sim, e acredito. As marcas da agressão são mais do que provas da
sua legítima defesa, Sra. Judite. A perícia confirmou o mesmo.
Eu fico parada no final dos degraus, ouvindo o Anton, a minha mãe,
o vovô e o delegado conversando. Acabo de trocar de roupa. Após a correria
de quarta e quinta para o IML da capital liberar o corpo, conseguimos assinar
alguns papéis aqui na fazenda sem precisar viajar novamente. E igualmente
com a ajuda do delegado, que também impediu maiores investigações depois
de tomar a frente do caso, o papai conseguiu sair ontem por volta das 19h.
Fomos para o cemitério hoje de madrugada. Quando o corpo chegou, eu optei
por não fazer um velório longo, pois até o meio-dia já não estava suportando
ver ele ali sem vida naquele caixão. As lembranças ruins não paravam de me
açoitar a mente.
Na capela, só tinha mamãe, eu, meu filho, vovó, Anton e o padre
Miguel. Afinal, quem mais teve afeto pela família "porcos"? Meu pai fez
todos nessas terras nos olharem com ânsia, nojo, ódio. E nem amigos de
verdade ele teve para chorar a sua morte trágica.
— Nem imagino o que passava ao lado de Padilho. Por isso, não se
preocupe. Compadeço totalmente do seu ato e confesso felicidade por estar
livre. É uma vítima inocente.
Minha mãe suspira, limpando os olhos. Eu não me impressiono com
a declaração fria do delegado.
— Era o meu filho, o qual criei sozinho, e o qual me tacou na sarjeta
sem se importar com um velho doente. A minha única alegria é por ter tido
uma neta e uma nora maravilhosa vinda daquele bêbado. Foi por Deus que
caísse da sacada da janela. Ele estava pronto para fazer o mesmo com você,
Judite. Era só mais um passo e chorávamos a sua partida. Você se defendeu,
o destino que cuidou do restante.
— Por favor, pare, senhor Heleno. Não seja frio e amargurado. Kia
pode nos ouvir e ficar mais triste. Ela já não está falando nada desde que
recebeu a notícia.
— Concordo — Anton se põe de pé.
Eu vejo cansaço e preocupação por outros motivos na sua face. E sei
quais são.
— Se me derem licença, Laerte, queria falar a sós com você. Será
rápido.
Laerte consente, levantando-se. E num movimento involuntário de
pescoço, Anton se inclina, encontrando a minha pessoa parada, ouvindo-os.
Junto dele, o delegado e a minha família me veem.
Eu molho os lábios, voltando a dar passos pequenos até parar perto
do sofá. Laerte acena calado para mim. E antes de se retirarem, eu ganho um
surpreendente beijo na testa do Dexter e um olhar terno, que me derrete mais
o coração.
— Filha... — Minha mãe se ergue nervosa do sofá, após eles se
retirarem. Vovô pega no meu braço, tremulando pelas suas mãos fracas.
— Sinto muito se me ouviu. Se pareci frio. Eu não tive a...
— Tudo bem, vovô... Tudo bem, mamãe.
— Não está, minha querida Kia, não está — ela me abraça forte.
Eu desisto de guardar o que sinto.
— Eu o odiava mãe — finalmente consigo dizer em meio às
lágrimas. — Não entendo como pode viver tanto tempo com aquele homem
ruim. É revoltante — volto a olhá-la.
— Kia, ele era o seu pai — ela acaricia o meu rosto.
— Nunca foi! Ele me odiava, te odiava! Até o próprio pai aquele
monstro odiava! — Afasto-me, pronta para explodir de uma vez. — Nunca te
fiz essas perguntas, mas quero que responda em direito ao meu sofrimento.
Por que nunca fugiu? Por que nunca pensou em ir para a capital nos dar uma
vida feliz? Deixou que papai nos criasse pior do que os seus porcos, mamãe!
Que te torturasse noite e dia e até antes de morrer! Diga o que te levou a ser
tão submissa a ele, a se sentir incapaz de reagir? Eu pensei nisso sem parar,
olhando-o naquele caixão! Agora me responda?
Mamãe arregala os olhos. Vovô se levanta de imediato.
— Kiara, o que está fazendo? É a sua mãe! Essas perguntas são um
absurdo, minha filha! Isso não é momento!
— Deixa, vô Heleno. Continua, Kia. Desabe suas frustrações, seu
luto. Não guarde o que sente, o que pensa.
Eu passo a mão nos cabelos, descontrolada pela dor, pela revolta,
com tudo! Eu queria ter berrado com aquele homem, o enfrentado, batido,
humilhado! Feito o meu pai saber como o detestava! Ele morreu sem eu ter o
enfrentado, sem ver quem eu me tornei hoje!
— Diga, mamãe?
— A resposta você já sabe. Eu fui fraca. Medrosa, covarde. Não tive
a capacidade de fugir.
— Não — eu nego. — Ninguém, nenhuma mulher aguentaria
apanhar como você apanhava para, no fim, dizer que não teve a capacidade
de fugir. Por que não teria a capacidade de fugir? Ele faltou te deixar aleijada.
Até em mim papai levantava a mão. Eu sofria, mãe. Sofria por você, por nós
duas. Hoje estou aliviada. Ele morreu, glórias a Deus! Está livre, assim como
eu estive em meu casamento negociado por aquele homem lá no cemitério.
Ah, olha só! Talvez eu devesse ser grata a ele por isso, por ter sido vendida
igual uma mercadoria descartável! Por ter vivido anos humilhada por um
marido brutal, bárbaro, sem amor, que, no entanto, não me batia, não me
deixava passar fome, sendo torturada!
— Kiara... filha... não diga isso... não seja assim...
— Pare de culpá-la, Kiara, está irreconhecível! — Vovô solta a
mamãe, bravo de um jeito que nunca esteve antes comigo. — Crucifica a sua
mãe depois de Padilho estar morto. Se quer aliviar alguma frustração, revolta,
vai até o cemitério e berre com a lápide daquele patife! Judite já passou por
muita coisa nesta vida para aguentar mais desaforos! Sai daqui, quando
estiver calma, volte, peça perdão a sua mãe e pergunte a ele o que desejar!
— Eu...
— Kiara! — Eu ouço a voz grossa e imponente do Anton bradar o
meu nome.
Eu viro nervosa, tremendo os lábios e o observo ao lado do
delegado. Os dois estão parados. Eles me olham incrédulos. O Dexter com o
mesmo olhar do vovô; de fúria, revolta e advertência contra mim.
Meu Deus, o que eu estou fazendo? Por que eu estou assim? Eu não
deveria. Eu estou sentindo raiva, desespero! Nem eu me reconheço!
CAPÍTULO 39
Eu fico sentada na cama, com os cotovelos sobre as coxas e os dedos
entranhados no casco do cabelo. Tento me acalmar, sentindo vergonha pela
forma que berrei com a minha mãe, mas eu gostaria de saber as respostas. Por
mais que seja tarde, por mais que papai não esteja mais aqui entre nós, eu
queria saber os motivos de ela permitir que ele — estando bêbado ou não —
a surrasse todas as noites daquele jeito, que não fugisse para bem longe, para
nos dar outra vida sem sofrimentos, e para ela mesmo. Pois esses são os
piores traumas que habitam dentro de mim, desde criança. Do meu pai nos
espancando. E agora ele está morto. O homem que me vendeu sem eu poder
contestá-lo por medo. Ah, como eu odeio essas recordações. Eu o odeio e
peço perdão a Deus por não ser capaz de perdoá-lo jamais!
Repentinamente, ouço a porta sendo fechada após alguém abri-la.
Ergo o rosto e Anton está parado de pé. Ele me observa neutro, não mais com
o semblante idêntico ao do vovô, de incredulidade, revolta. Ele suspira,
aproximando-se devagar para chegar bem perto e sentar-se ao meu lado no
colchão.
Eu desvio, abaixo a cabeça, mexendo com as pontas dos dedos
entrelaçados. O Dexter toca no meu braço, impulsionando nossos olhares a se
encontrarem de novo. Ele não fala nada. Nem eu. E demoramos muito tempo
em admirar um ao outro.
— O que há, Kia? — Anton, então, sussurra, erguendo a mão e
acariciando os meus cachos no ombro. — Desde que recebeu a notícia da
morte do seu pai, você se fechou calada. Chorou, no entanto, com o rosto
frio, os olhos longes. Não foi uma reação saudável. E agora, em surto, após
voltar do cemitério, estava berrando para a sua mãe perguntas, onde as
respostas jamais irão aliviar o remorso, o luto, nem mudar o passado. Sua
mãe não tem culpa.
— Eu sei. Mas quero as respostas. Só isso para o meu coração
aceitar de vez. Você compreende? Não consigo explicar, ele era o meu pai, só
que...
— ... só que não tem boas recordações, apenas a revolta, a fúria —
ele completa. — Você queria ter dito tudo o que podia para ele, o enfrentado.
Mas é tarde, se conforme, se acalme. Padilho já pagou pelo que fez a vida
toda com vocês duas. Sua morte não foi indolor.
Meus olhos ardem. Ele limpa as lágrimas salgadas que descem.
— Não queria que estivesse passando por isso. É tantas desgraças,
sofrimentos. Amanhã converse com a sua mãe. Vocês precisam uma da outra.
Devem se apoiar.
Admirada por suas palavras de conforto, choro mais, inclinando-me
e colando a nossa testa.
— Fique comigo esta noite, me dê... — aspiro, apertando os olhos —
me dê amor... — ruboresço.
O Dexter desce seu toque terno para a minha face.
— Não está bem, está frágil.
— Você, da mesma forma, se encontra frágil. Não diz, porém,
demonstra que está nervoso, pronto para ir atrás da Lorenza e... eu nem
imagino, não consigo nem pensar no que você poderia fazer.
— Então não pense. Isso é problema meu e daquela mulher.
— Por favor, deveria conversar com o Gael, o esclarecer sobre esse
assunto. Se aproximem.
— Pare, Kiara, seus pedidos só irão piorar o que eu já estou
sentindo. Detesto que toque no nome dele, que se lembre daquele traidor. Me
enfurece!
Eu me calo, vendo a rigidez do seu orgulho e dos seus traços que se
fecham ignorantes.
— Desculpa, eu não queria te enfurecer — triste, afasto o calor do
meu corpo.
— Não — ele me segura. — Eu ficarei com você esta noite. Tem
razão sobre a forma que eu estou me sentindo. Por isso vamos esquecer o
mundo só por hoje.
— Anton... — sussurro delicada ao ser puxada mais firme pela
cintura.
— Só existirá eu e você.
— Só a gente?
— Sim. Se quer que eu fique, eu fico, Kia.
— Eu quero... eu preciso que reste só nos dois, nada mais.
— Então — ele me pressiona para si —, que reste só nós dois nesta
cama. Eu te dando amor, te tocando, te amando, te enlouquecendo... te
provando tudo o que me resta. Você.
Sem palavras, engulo o choro, arqueando-me para beijá-lo com
vontade, com amor, paixão, afeição, desejo, fome e ardência. Anton parece
provar tudo isso que eu passo no nosso beijo avassalador. Ele pega com
carinho na minha perna, deslizando-a no seu colo e deixando que o vestido
suba enquanto eu me sento sobre as suas coxas fortes.
— Minha menina — diz rouco em meus lábios inchados, com as
mãos me apalpando suavemente o corpo —, jamais, nunca te deixarei ir. Sou
eu quem preciso de você.
— E eu não vou... — Meus olhos umedecem, confiando em sua
sinceridade.
Começo a abrir os botões da sua camisa; um por um, sem a menor
pressa de que este fim de tarde passe. E se passar, temos a noite, a
madrugada, o tempo que a vida nos der para então pararmos e pensar nas
feridas que doem. Agora eu quero ser amada, eu quero aproveitar esta
sensação de tocá-lo os ombros, os braços, o peitoral, o abdômen másculo.
Tudo o que o Anton tem para me oferecer junto do seu coração. Eu não
quero mais sofrer...
Ele me tira o vestido folgado, o sutiã e desliza os dedos robustos
para os meus seios eretos. Com o dedão, ele acaricia os mamilos. Eu gemo
baixinho, pegando na sua nuca e o atiçando a inclinar a boca e consumir-me
com a língua molhada. E ele faz. Anton faz com muita paciência, desejo; ora
chupando, ora mordendo afetuoso. Não resisto a tocá-lo no volume exposto
pela calça. Ouso abrir a fivela do cinto com a outra mão, entretanto, ele me
para, agarra os meus quadris e ergue-me no seu colo para se colocar de pé.
— Não sabe... o quanto... é angelical — ele murmura entre o beijo,
deitando-me perto da cabeceira e dos travesseiros. — Não faz ideia. Com
certeza não faz.
Emocionada, tentando a todo momento não pensar em nada ruim,
apenas em nós dois nos amando. No quanto preciso desse homem agora e
sempre; aquecendo, protegendo, estando ao meu lado. Eu o amo e gostaria de
berrar isso para ele como eu fazia com tanta facilidade antigamente. Só que
não direi antes da sua boca proferir as duas palavras pela primeira vez.

Anton Dexter

Os olhos de Kia brilham marejados. E, em pesar por estar sofrendo,


juro a mim mesmo que a adorarei.
Eu tiro o restante da camisa, da calça, os sapatos e toco-a os pés,
subindo afável nas pernas, nas coxas, nos quadris cercados pelas alças da
calcinha. Sinto cada pedaço da sua pele quente. Beijo a sua barriga, os seios
cálidos, envolvendo-me por cima do seu corpo pequeno. Ela entrelaça as
pernas na minha cintura, da mesma forma, percorrendo as mãos em cada
canto do meu corpo. E que seja dito: seu toque é o meu ponto fraco, a sua
respiração, o seu perfume, a pele, os olhos, a boca, a voz. Kia virou ao todo a
alavanca que me para e me põe de joelhos aos seus pés. Isso não tem mais
discussão. Devo assumir que é a verdade.
Ela geme, contorcendo-se com os dedos que massageio por dentro
da sua calcinha de renda. O clitóris lateja, espirrando fluido do tesão que
cresce sem limites, a não ser pelo orgasmo, o limite que almeja desesperada.
Ela grita entre os urros e as minhas beliscadas.
— Shiiiu... vai acordar o bebê no berço — crepito bem baixo.
Ela assente em ofego, querendo que eu continue, mas, com a
penetração que a preenche e enlouquece os seus sentidos, tirando-a dessa
terra de só sofrimentos. Eu não nego nada a minha menina. Quando me
coloco dentro dela, faço amor lento e gostoso, surpreendendo-me ao cair na
real e descobrir que eu estou dando isso a Kia desde a noite em que lhe pedi
uma chance para provar que eu não era um monstro. Porra, e não sou, nem
nunca mais serei.
— Ah, Anton! — Ela brame de satisfação.
Meu peito se aquece, amando-a e dando com muito vigor.
Demoramos em nos saciar ao limite. Até eu fechar os olhos, ganir e
preenchê-la forte de prazer. Ainda beijo os seus lábios para suprir os gritos de
êxtase. Eu respiro fundo, deitando as costas e puxando-a para descansar sobre
o meu peito. Kia ainda aproveita o orgasmo que lhe resta. Quando abre as
pálpebras, fica mais arfante e fraca.
— Obrigada, Anton... — Seus seios enrijecidos descem e sobem em
compasso com a barriga e as lágrimas de prazer do seu rosto se tornam
tristes, incompreensíveis.
Uma faca corta o meu interior novamente. Eu a abraço forte, não
pensando em nenhum momento soltá-la e de sim, protegê-la enquanto me
existir vida.
Nunca mais passará por nada que o seu pai te provocou, Kia. Nem
comigo, nem com mais ninguém. Eu te prometo.
CAPÍTULO 39. PARTE II

Kiara Dexter

Após me despedir do vovô que voltou para a sua "casa" perto da


vila, eu retorno ao segundo andar, paro na frente da terceira porta do quarto
de hóspedes e dou duas batidas. Aguardando envergonhada. Até que a minha
mãe abre e encontra-me parada na sua frente. Pigarreio.
— Oi, mãe... eu fiquei muito triste e envergonhada pelo que eu te
disse ontem. Queria lhe pedir perdão. Meu comportamento foi errado. Eu agi
sem respeito. Me perdoa?
Mamãe sorri e sem dizer uma palavra, ela, então, avança e abraça-
me forte.
— Está tudo bem, filha. Eu te perdoo. É a minha menininha.
— Desculpe-me. Te amo.
— Também te amo, querida.
Entramos no quarto e sentamos na cama, com os olhos emocionados
e os dedos das mãos entrelaçados. Mamãe não permite que eu fale primeiro,
interrompendo-me assim que eu abro os lábios.
— Não diga. Não vou julgá-la pelas perguntas de ontem. Tinha e
tem razão em revoltar-se. Apenas fui covarde, medrosa, fraca. Eu até tentei
fugir dele três vezes, mas não consegui sucesso em nenhuma. Padilho me
alcançava. Era horrível. Eu sofria nas suas mãos pior do que em qualquer
outra tortura. Foi nessa última tentativa, depois que ele fez tudo de ruim que
podia fazer comigo, que, enquanto eu jazia ensanguentada no chão,
sangrando por todos os lados, que ele jurou que te machucaria se me pegasse
uma quarta vez. Você era só uma princesinha de dois anos — minha mãe
lacrimeja ao recordar. — Foi por isso que eu desisti, pelo nosso bem. Aceitei
que era esse o meu destino, o meu fim. Morrer naquele casarão com o
Padilho. Eu não podia mais colocar a vida da minha menina em risco. Ele já
havia me abortado sete vezes. E você era viva, um ser humano.
— E-Eu sinto muito, mamãe... — Choro.
— Ainda assim fui fraca, filha. Sou eu quem agora devo lhe pedir
perdão. Principalmente por não ter lutado com o seu pai para ele não te
vender. Aquele homem era um bárbaro.
— Não podia fazer nada. Papai nos ameaçava. E entre a decisão de
perder as terras em dívidas ou vender a sua filha a qualquer rico para
continuar tendo um teto, era óbvio a sua escolha. E Deus, como eu chorava
ouvindo-o da sala me negociando com vários homens. Até no final achar
ele...
— Anton Dexter... — Mamãe sussurra apertando os meus dedos.
— Sim, o homem mais bonito que eu já vi em toda a minha vida.
Acho que me apaixonei por ele no mesmo instante em que cruzamos os
nossos olhares. Você se lembra, mãe? — Sorrio triste com as lembranças.
— Lembro-me, Kia. Eu igualmente fiquei feliz e aliviada em
conhecê-lo. Ainda mais incrédula por ser Anton, o herdeiro do recém falecido
Rangel Dexter. O nosso vizinho de rio. Um dos homens mais ricos e
poderosos da cidade. Um rapaz bonito, aperfeiçoado e de olhar intimidador.
— Eu fiquei assombrada quando nos conhecemos. Não compreendia
nada do significado de tanta afobação pelo seu sobrenome.

Flashback - (sete anos atrás)

— Mamãe, eu estou com medo... — Eu choro, enquanto a mamãe


faz mais cachos no meu cabelo.
— Não tenha, querida.
— E se for um velho, um homem fedido, feio? Eu não quero, eu não
quero me casar. Não deixa o papai fazer isso mamãe, não deixa.
— Kia, você não é mais uma criança, já conversamos, sabe o que o
Padilho pode fazer depois conosco. Não envergonhe o seu pai, não seja
malcriada com o homem que pode ser o seu marido. Ele é rico, fazendeiro.
Agora limpe essas lágrimas e vista os sapatos que eu costurei ontem à noite.
Precisamos descer.
Ela termina o meu cabelo, vira as costas e tenta esconder a voz
embargada e os olhos marejados. Triste, eu me levanto, visto os sapatos,
passo a mão para desamassar o vestido lilás, e antes de eu ir sem vontade
própria, mamãe me abraça perto da porta, dando-me um beijo terno na testa.
— Eu estou do seu lado, minha menininha. Não tenha medo, você
fez dezessete anos, já é uma mulher para se casar. Seja obediente, entendeu?
Emburrada, triste, desesperada, entre tudo o que eu sinto de horrível,
eu não respondo a mamãe. Minhas mãos soam, minha garganta fica seca.
Descemos como que indo a um velório. E ao pisar na última tábua que range
dos degraus, eu consigo ver os ombros de um homem sentado perto do papai.
Por baixo do chapéu negro, perto da nuca, eu percebo que seus cabelos são
castanhos. Ele não é velho.
— Padilho, a Kia está pronta.
Papai finalmente nos vê, após a mamãe murmurar infeliz e ele abre
um pequeno sorriso ao se levantar do sofá.
— Por favor, Dexter. A conheça.
Meu peito se aperta, a saliva é engolida com dificuldade, como que
se tivesse espinhos. O homem se põe de pé devagar, virando-se e fazendo-me
tremer mais as pernas fracas. Mamãe parece ter a mesma reação.
— Essa é a nossa filha. Ela fez dezessete anos há um mês.
Ele me fita com o seu olhar acinzentado, com a sua altura grande, o
rosto bonito por baixo do chapéu. Eu coro as bochechas, com vergonha,
assombro. E pressiono a mão da mamãe, querendo correr, ao mesmo tempo
ficar e admirá-lo por ser diferente de todos os peões que eu já vi. Ele é lindo,
bem cuidado, é igual aos homens daquela revista que eu achei no lixo.
— Como eu lhe disse, ela será uma dona de casa aos seus serviços.
Sabe fazer de tudo, inclusive ficar quieta e obedecer quando se manda. Vem,
Judite, traga a Kiara para o Dexter analisá-la de perto.
Mamãe me puxa, arrastando-me a força sem eu querer ir. E
obrigada, eu paro no meio da sala, com a cabeça baixa, com medo, pavor de
olhá-lo.
— Ela sabe ler e escrever, mas acho que não deve ser um probl...
— Eu não estou atrás de uma empregada ou escrava, Padilho. — O
homem, de repente, interrompe o meu pai, estremecendo a todos nós com a
sua voz grossa, poderosa. — Até o momento não me apresentou corretamente
a ela. Nem vice-versa.
Eu ergo o rosto, com a aparência deprimida, marejada. Ele me
encara, desfazendo a sua face séria. Papai está enfurecido com o jeito brusco
do homem.
— Kiara, esse é o Anton, o herdeiro poderoso do recém falecido
Rangel Dexter.
Sem entender a importância de quem ele é, continuo quieta,
observando-o constrangida e humilhada.
— Diga algo, menina!
O homem suspira, demonstrando nervoso com o meu pai.
— Kia, querida, o cumprimente — e antes de ele dizer algo, mamãe
intervém paciente.
Porém, o fazendeiro bonito dá um passo, dilatando as minhas pupilas
em temor.
— Olá, Kiara.
— Oi... — Enfim, eu respondo.
— É um prazer conhecê-la. Gostaria de dizer que você só tem mais
duas semanas nesta prisão.
Olho assustada para os meus pais, que estão boquiabertos.
— Você vai comprá-la, Dexter? — Papai não esconde o deslumbre
de alegria ao esbravejar a pergunta.
O homem apenas me analisa.
— Vou visitá-la mais algumas vezes antes de trazer os papéis do
cartório e o seu cheque, Padilho. E espero que, durante essas duas semanas,
não apareça mais manchas roxas, nem vermelhas nos braços, ou corpo da
minha noiva. Vou tirá-la daqui casada, como no nosso combinado.
Meu coração acelera as batidas. Parece que tudo a minha volta está
desmoronando. Abraço-me, escondendo os hematomas do cinto do papai, e
fermento a esperança em meio ao medo, de ontem ser a última surra dele. O
fazendeiro poderoso deve ser bom... ele não machuca.
[...]
— Eu era tão inocente, boba, menina. Foi preciso um ano e meio
para eu entender que meu príncipe era um sapo bárbaro. E menos mau do que
o meu pai por não bater, nem me torturar fisicamente — eu fito a mamãe. —
Mas eu quero esquecer esse passado. Desta vez, tenho tanto para te falar do
presente e das nossas mudanças como casal.
— E eu vou ouvi-la.
— Só que, do fundo da minha alma, eu quero que saiba que meu
coração não perdoou o papai. E acho que jamais vou perdoá-lo.
— Eu o perdoei acima da dor, da raiva, de tudo que passei ao seu
lado pois Deus ensina que, da mesma forma, seremos perdoados. Padilho,
onde estiver, vai pagar por todos os seus pecados cometidos. Tome tempo,
Kia. Ore sempre a Deus pedindo misericórdia. Um dia, o perdão vem e a dor
é preenchida pelas lembranças — ela beija a minha testa. — E você será feliz,
querida. Você vai sorrir todos os dias.
— Obrigada. Você também será muito feliz, mamãe — eu a abraço
em lágrimas, confortando nossas almas tristes.
"O primeiro a perdoar é o mais forte. E o primeiro a esquecer é o
mais feliz. O segredo do perdão é olhar sem julgamento. Quando dito para o
outro pode ser valoroso, mas quando dito para nós mesmos é a real
libertação." - desconhecido.
CAPÍTULO 40

Com o passar do mês, em meio ao luto, a dor, as angústias, as


aflições, tudo foi se transformando em dois sentimentos: preocupação e
medo. Ando observando o Anton. Ele só fica quieto, pensativo, fazendo
ligações misteriosas e saindo da fazenda sempre para ir até a vila conversar
com o delegado Laerte. Ou o Laerte vem até a fazenda se trancar no seu
escritório. Mamãe está "melhor", sempre na companhia da Maria e da Felícia.
Sem falar que está ninando sem parar o Gieber. Ela não quer mais largar o
neto. É a verdadeira vovó coruja.
— Kia, meu amor. O que foi?
Com a mente distante, volto ao presente com a mamãe me chamando
para a realidade. Encaro-a, suspirando e forçando um sorriso terno ao me
ajeitar na cadeira.
— Você tem que conversar com ele — diz com o bebê balbuciando
palavrinhas no seu colo. — Se estão se dando uma chance e ele mudou, não
pode ter medo. É agora que deve apoiá-lo para não fazer nenhuma besteira.
Minha mãe já sabe de tudo. Contei o que tinha para contar sobre a
Lorenza, o governador, o Gael, o senhor Rangel Dexter e o Anton. Ela quase
sofreu uma queda de pressão súbita ao ficar em fúria e indignada com aquela
bruxa e o governador. Eu pedi segredo. Ainda mais por causa da Maria. Já
que não sabemos como o Gael pode ser filho da Lorenza. E se ele é, como foi
entregue para ela? Também falando em Gael, desde aquela nossa conversa
perto do laticínio que ele não me procurou como pedi, nem apareceu na
mansão. Está distante, muito distante de tudo e de todos. Até da própria mãe.
Ela relatou isso a nós com tristeza, mistério e medo de relatar o "porquê".
Conversei com o Anton há duas semanas e ele disse ter certeza de que o Gael
já sabe que não é filho biológico dela e de José. Pode ser o motivo. Contudo,
não fazemos ideia se igualmente ele sabe que pode ou é filho da Lorenza com
o governador. Talvez ache que seja do Rangel com a mãe. São várias
possibilidades se o próprio for colocar na mesa para pensar e para organizar.
Eu gostaria de ir até ele, só que o Anton desconfiou que eu pudesse fazer isso
e pediu muito nervoso que eu não tomasse partido de nada, que não era para
eu me preocupar pois estava tudo em suas mãos. E claro, com isso, entra o
seu comportamento estranho dos últimos dias.
— Ele está no escritório, vai lá esclarecer o que te inquieta. Devem
ser sinceros.
— Não, não vou atrapalhá-lo. Ele não quer que eu me meta no "seu"
assunto familiar. Quer que eu fique sem preocupação nenhuma, sorrindo
pelos cantos da casa e fingindo que nada está acontecendo, enquanto resolve
tudo em sigilo! — Declaro, chamando a atenção da Maria e dá Felícia.
— Parece que não conhece ele, Kia — Felícia sussurra, mesmo não
estando a par dos segredos.
— É esse o medo, eu o conheço muito bem... — murmuro chateada,
sabendo que nos referimos ao seu jeito solitário. — Vou tomar um pouco de
ar fresco. Vai ficar com o Gieber, mãe? — Levanto-me, perguntando.
— Sim, ele está morrendo de sono. Nem quis mais ficar andando
escorado pela casa. Vou fazê-lo dormir, está cansadinho.
— Está bem, obrigada.
— E, filha, insisto de novo que converse com o seu marido. Ele não
pode ficar isolado. Você mesma já repetiu isso centenas de vezes, mas está
fazendo o contrário e se afastando. Seja forte, pelos dois.
Calada, só balanço a cabeça e retiro-me, tendo que concordar com a
mamãe. Não estou cumprindo o que prometi. Parece que após a morte do
papai eu recai a autoconfiança totalmente. Estou me deixando ser guiada
pelos problemas da vida sem menor esforço para tomar as rédeas.
— Anton? — Depois de tanto pensar, eu bato devagar na porta do
escritório, esperando ansiosa pela sua resposta.
Ao responder um "entre", eu limpo a garganta, giro a maçaneta e o
vejo sentado atrás da mesa maciça. Fecho a porta e viro, recebendo o seu
olhar vazio, de quem estava olhando para o nada e pensando em tudo.
— O que foi?
Eu ajeito o meu vestido apertado, respiro fundo e vou até a sua
lateral, sem fraquejar.
"Coragem Kiara"!
— Kia?
Eu faço esse homem girar a cadeira para de imediato poder me
sentar no seu colo forte. Anton fica surpreso, sem fala, enquanto eu não
desvio das suas íris obscuras. Aperto o seu maxilar e toco na sua barba por
fazer, roubando-o um beijo maravilhosamente quente, que diz "você precisa
de mim, Dexter, e eu de você"! Ele logo arfa, cata os meus cabelos,
intensificando o beijo para tentar tomar o controle da língua. É aí que eu paro
e afasto-me para bem longe da sua boca.
Anton está rígido. Seu olhar de vazio e obscuro se torna mais
maldoso e desejável. Aproximo o decote que desce e sobe por causa do
fôlego desregular. Ele aperta a minha coxa, lutando contra a atenção dos
meus seios e dos meus olhos.
— Kiara, se queria me deixar louco para te foder em cima desta
mesa agora mesmo, você conseguiu! — Esbraveja sério, subindo a mão bruta
entre as minhas coxas.
Aperto-as, impedindo-o de chegar até fim do trajeto.
— Não, não, Dexter. Eu só quero conversar com você.
— Dissesse o que fosse antes de entrar no meu escritório, sentar-se
em cima mim sem falar um "a" e me roubar um beijo faminto.
— Sabe o que eu estou fazendo aqui, né? — Insisto no assunto. —
Está distante, misterioso. E eu estou preocupada.
— Já lhe disse para não se preocupar... — Anton beija o meu decote,
forçando mais feroz a mão entre as minhas coxas.
Arrepio-me, tendo certeza de que eu não vou mais suportar segurá-
las. Sexo se tornou meu pecado devasso... penso noite e dia nisso.
— Por favor, diga o que está fazendo em segredo? Estou ficando
brava com você e com esse "não se preocupa" — com a minha milésima
declaração insistente, ele ergue os olhos indecifráveis. — Continua quebrado
por dentro. Todas as noites se levanta da cama e senta-se na beirada, furioso
pela falta de sono, pelos pensamentos, o desespero, a vontade de justiça que
não te dá paz, nem descanso. Tudo lhe perturba, Anton. E o pior é que eu sei
os motivos. Pois isso da mesma forma me aflige, tira-me o sono.
— Quero poupá-la, Kiara. Deve, no momento, focar em ajudar a sua
mãe com a herança. A situação financeira do seu pai estava boa. Ele investiu
em algumas cabeças de gado e de porcos. Além dos plantios de laranja. É
muita responsabilidade. Tem peões naquelas terras que precisam sobreviver.
— Está mudando de assunto de novo. Isso não é o tema da nossa
conversa.
— Não, não estou — ele continua com a mão entre as minhas
pernas, acariciando-me sem forçar. — Judite assinou todos os papéis, assim
como você. Agora quem vai gerenciar? Como eu disse, Padilho tinha peões.
E esses peões precisam de comida na mesa para alimentar os filhos e a esposa
dona de casa.
— Mas eu não sei nada sobre negócios ou sobre administração —
me rendo ao assunto. — Não tenho estudo. E mamãe nem aprendeu a ler. Ela
só sabe escrever o próprio nome — o observo. — Você pode gerenciar,
Anton.
— Já tenho responsabilidades demais com a minha fazenda e com as
centenas de madeireiras espalhadas pelo Brasil. Porcos, gados e laranjais são
pequenos par...
— ... para você, pois é rico, milionário e é insignificante o único
hectare do meu pai — o interrompo. — Porcos, gados e laranjais não lhe
interessam.
Ele balança a cabeça, repreendendo-me.
— Não e sim. As terras são bem-vindas, estamos falando de um
hectare, de 10 000 000 000 mm² 100 000 000 cm². Que podem me ser útil se
assim a sua mãe e você quiser. Só que o meu plano era outro.
— E qual? Deixar para a gente se virar? Eu teria que morar com a
mamãe no casarão. Abandonar meu papel de esposa Dexter! — Exclamo
irritada pela conversa, por ele estar fugindo do verdadeiro assunto que me
interessa. Não que isso não seja importante, entretanto, não é o que eu quero
discutir no momento.
Eu quase me levanto, só que ele me impede impaciente.
— Não está entendendo droga nenhuma. E também não vou explicar
nada hoje. Depois resolvo isso. Já tenho muitos problemas na mente para me
ocupar.
Sou puxada para ele bem firme e com posse.
— E nunca fale em hipóteses de morar longe de mim — sua mão
bruta retorna mil vezes mais forte no meio das minhas coxas fracas.
— Continua mudando de assunto, mesmo sabendo o que me inte...
int... — Eu perco instantânea a voz.
Anton chega finalmente na calcinha, tocando-me os lábios por cima
do tecido úmido. Gemo desejosa, começando a latejar e pulsar.
— O que tivermos para discutir será em cima desta mesa, Kiara. O
único assunto que me interessa é você e seus gemidos. Eu estou duro por
você.
— Anton... — Ele me faz contorcer o corpo ao então esfregar a
minha mão no seu volume grande. Ele, em seguida, percorre com os outros
dedos ágeis a borda do meu clitóris. — Ohhh... — Até que alisa meus pelos
pubianos e penetra-se, roubando-me a sanidade, a lucidez e tudo o que for
mental.
CAPÍTULO 40. PARTE II

Anton abaixa a alça esquerda do meu vestido, dando de cara com o


sutiã e, no meio do decote, começa a cheirar, beijar, lamber, morder. Ele
também cessa devagar os movimentos dos dedos que me penetravam e me
vibravam dos pés à cabeça. Maravilhosamente.
— Tira o vestido para mim vê-la, Kia?
Seu pedido rouco me estremece. Eu esqueço até do assunto
importante que ele continua a esquivar-se.
— Não merece... — Murmuro, apertando o seu ombro largo, com
muito desejo. — Não merece mesmo...
— Será que eu tenho que suplicar?
— Poderia tentar para vermos — sou atrevida e ainda resisto a soltar
um gemido longo de satisfação.
Ele ergue o rosto, semicerrando os olhos intimidadores e para de vez
com os dedos.
— Quero ver é como você vai sair correndo nua pela casa. Pois vou
esganiçar esse tecido no seu corpo! Linha por linha!
— Não, não vai! — Eu me levanto com metade do sutiã preto a
mostra. Anton não me impede.
Minhas pernas parecem sem osso, estão moles.
— Tira. Eu quero admirar suas curvas.
Envergonhada, mordo o lábio inferior, indo até a frente da mesa.
— Por uma condi...
— Sem condições. Preciso te ver sem esse vestido.
Desapontada, solto um ar de renúncia. Não adianta insistir, o Anton
não vai me revelar o que anda fazendo misterioso. Posso deixar para depois
do sexo. Quem sabe?
— Quer que eu tire, dona Dexter?
— E você vai ficar só me olhando? Não vai tirar também? — Eu
entro, enfim, na sua ambição anela para me ver quase nua.
Anton sorri com a minha indagação.
— Se é o que quer, acho justo. No entanto, você primeiro.
Eu engulo em seco e pego na barra do vestido, erguendo bem
devagar. Depois o deposito no chão para ficar só de lingerie e de saltos.
Anton suspira com vontade. Eu coro, arrumando o meu cabelo. Já fiquei
tantas vezes assim na frente dele, sempre é constrangedor. Só que o seu olhar
recompensa a autoestima. Me dando confiança.
— Agora é a sua vez, Sr. Dexter.
— Claro... — Ele se levanta disposto, caminhando devagar até mim,
sem desviar os olhos desavergonhados. — Mas, com toda a honra, deixarei
para você esse serviço difícil. Sou todo seu.
Arregalo um pouquinho dos olhos.
Meu? Todo meu? Será que eu ouvi direito? Meu pai amado, benditas
bochechas vermelhas. Sinto todo o meu rosto ferver. Ele parece se divertir
com o meu jeito tímido, de se constranger facilmente.
Eu dou um passo travado, fitando-o a alguns centímetros baixos,
comparado a sua enorme altura e toco no seu pescoço. Anton não resiste e
também segura na minha cintura, acariciando-me na alça da calcinha até a
curva da bunda. Suas mãos são grandes e pesadas. Arrepiada, eu começo a
abrir botão por botão da camisa, ansiosa para a visão dos seus músculos.
Quando abro todos os botões, Anton tira a peça de roupa pelos braços,
abrangendo a bela vista que eu almejava.
— Eu gosto de te ver assim... forte — confesso, alisando as mãos no
seu peitoral bonito, de pelos castanhos.
— E eu gosto dos seus olhos. — Ergo as íris após a sua declaração.
— Eles provam o quanto é doce, dedicada, curiosa.
— Humm... só os meus olhos?
— Não mesmo — ele aperta a minha anca de novo por trás,
colocando a mão por dentro da calcinha. Latejo excitada. — Também dos
seus cabelos cacheados — diz ao pé do meu ouvido, cheirando-me.
Minhas forças enfraquecem. Arrepio-me mil vezes.
— Suas sardinhas... seus lábios finos e delicados... as mãos... e o
principal...
— Q-Qual? — Gaguejo.
— Seu toque! — Ele sorri e imediatamente me agarra, erguendo-me
e colocando-me sobre a mesa com as coxas abertas. Não tenho tempo nem de
raciocinar, ou gritar. Apenas me seguro tonta. — Eu sou capaz de resistir a
tudo, exceto ao seu toque!
Não desvio dos olhos dele. O ardor de perfume masculino consome
as minhas narinas, deixando-me mais tonta. E sem dizer algo a respeito das
suas declarações, eu tiro o chapéu marrom da sua cabeça, jogo longe e
percorro com os meus dedos quentes o seu rosto, pescoço, ombro, peitoral,
abdômen... eu vou até o cinto da calça que evidencia o volume.
— O que eu causo quando te toco? — Pergunto em sussurro.
Anton me observa em fissura, subindo as mãos para as minhas
costas e o feixe do sutiã.
— Seu toque me faz esquecer dos problemas, das aflições, da fúria.
Me faz ser bom. Você é o calor das minhas noites frias.
É como se eu tivesse ouvido um poema. E tento não me emocionar,
dando um selinho doce, cheio de ternura nos seus lábios.
— É meu ponto fraco... É tudo o que eu tenho — continua ao
distanciarmos os lábios e abrir o feixe. — Não sei se acredita em mim, mas
eu estou sendo sincero.
— Fico feliz e orgulhosa pelas suas palavras — o ajudo a despir a
minha peça íntima do busto. — Acredito em você.
— Pois bem! — Ele muda o rosto "bom" para um ser bruto,
malicioso e cafajeste. — É só o que eu falarei até aqui! — Em seguida, agarra
com força e brutalidade os meus cabelos desde a nuca, sobressaltando-me.
Eu, instantânea, arqueio o bico do peito. — Pois não farei amor nenhum.
Quero fodê-la com muita sacanagem, enquanto ouço os seus gemidos de
misericórdia. Entendido, senhora Dexter?
— E-E eu vou conseguir andar depois?
Anton sorri, não levando a sério a minha pergunta. Pelo menos me
alivia vê-lo tão animado, safado e sorridente. Não distante e desesperado com
os problemas. E acho que eu realmente tenho a capacidade de ser o calor que
lhe acalma e lhe aquece o coração em noites frias.
— Veremos, minha menina, veremos! — Misterioso, ele avança e
devora a minha boca, sugando toda a minha resistência e umedecendo-me
mais entre as coxas.
É quente, abrasador!
Ele abaixa, inclinando-se nos mamilos; mamando, chupando,
mordendo, explorando os dois com muita dedicação.
— Oh... Anton...
Apoio-me na mesa, entrelaço as pernas no seu quadril e taco o
pescoço para trás, apreciando cada lambida melada... os dentes... a sucção
enquanto vai descendo na barriga... descendo no umbigo... descendo no cós
da calcinha... Até que alguém bate na porta!
— Sr. Dexter?
— Anton!
Empurro-o assustada e ele xinga.
— Caralho, logo agora.
— A porta só está encostada.
— Sr. Anton? Desculpa atrapalhá-lo — ouvimos a voz da Felícia. —
Posso entr...
— Diga, Felícia, eu estou muito ocupado no momento! — Ele
manda nervoso, erguendo-se no meu peito e roçando o seu membro saltado
perto da minha virilha. Eu latejo ao imaginá-lo me penetrando com força.
— Tem um homem te esperando lá na sala. Ele se identificou como
Isaque. Posso recepcioná-lo até o seu escritório?
— Que droga, eu havia me esquecido... — Murmura cheio de tesão.
— Não, Felícia! Diga para ele aguardar na sala, logo eu vou ao seu encontro
para conversarmos.
— Sim, senhor.
— Quem é Isaque?
— Ninguém que nos interessa no momento — Anton me larga e vai
até a porta trancá-la. — Agora teremos que ser rápidos — ele volta, abrindo o
cinto.
Ao parar, beijo-o, não resistindo ao desejo de acariciar o seu órgão
duro por cima da calça. Anton geme frustrado.
— Rápidos, Kiara. Apenas uma foda sem preliminares.
— Mas eu estava gostando tanto daquele jeito lento e torturoso,
seu... — Mordo a boca, pressionando-o mais firme no membro. — Disse que
seria cheio de sacanagem. Muito maldoso.
Ele segura outro palavrão, comprimindo os olhos e a mandíbula.
— Não me toca. Eu estou com tanto tesão, que nem imagina a
capacidade dos meus atos. À noite, volto todo cheio de sacanagem para você.
Não se preocupa.
Ele, com pressa, afasta a minha mão, abre a calça, desce a cueca e
me faz corar as bochechas ao ver o seu pênis grande, ereto, rosado, em
formato cilíndrico e com as veias roxas, dilatadas.
— Se ficar me olhando assim, eu nunca conseguirei te largar.
Sempre com o rostinho de menina inocente. Me deixa perdidamente louco!
— Ele adiante pega nas alças finas da minha calcinha e rasga-as feroz.
Evidenciando meu sexo.
Não sei o que dizer, só arquejo.
— Mais do que pronta...
Após ele também sentir o meu prazer que escorre de tamanha
ansiedade. Eu me jogo meio que apoiada para trás, sabendo o que vai tirar os
meus pés da terra em instantes. Anton massageia o membro, coloca a outra
mão na minha cintura... e eu arrepio-me, fecho os olhos... soltando um
gemido alto e prazeroso. Ele vai fundo... coloca tudo e começa a estocar
lento, várias vezes para me acostumar. Logo sem paciência intensifica mais
forte. Dentro e fora, sem parar. A mesa balança. Meus seios vibram. Ele bufa
com muito tesão, não tendo pena das investidas frenéticas que realmente
cumprem as suas palavras de agora pouco. Fodem! Eu bramo alto, escorrego
o cotovelo, chorando o seu nome como se fosse a única palavra que existisse
no meu vocabulário.
— Porra... — Anton finca os dedos no meu quadril.
— Anton...
— Você está me espremendo, Kiara...
Sinto todo o meu abdômen se contrair, meu clítoris latejar e pulsar, e
sufocar o Anton. Então taco o pescoço para trás, chamo-o entre os berros,
mas os espasmos de gozo dele vem primeiro que os meus, inundando-me e
explodindo-me em gritos. Eu gozo, saindo do próprio corpo e por pouco, não
caindo fraca com todas as sensações dentro de mim.
— Kia! — Anton me puxa nua para ele, tirando o órgão grosso.
Ainda tonta, sorrio ofegante, tentando recuperar as forças. Minhas
coxas grudam suadas nele.
— Eu quero... mais disso... sempre! — Exclamo arfante e provoco o
seu atraente sorriso de lado, acompanhado de um olhar bárbaro, arrepiante.
— Feroz?
— Feroz! — Confirmo e ele me dá um beijo de língua.
Ao se afastar, ele levanta a cueca, a calça, fecha o cinto e puxa a
braguilha.
— Quem é Isaque? — Eu escorrego cansada da mesa, perguntando-
o.
Em silêncio, ele cata o meu vestido, o sutiã e ajuda-me a vestir.
— Um amigo detetive — revela.
— Humm... — Viro de costas para ele fechar o zíper. — Você não
vai me contar o que anda fazendo? O que está armando para a Lorenza e o
governador?
— Não me faça perguntas.
— Está me deixando de lado! — Volto a encará-lo, declarando cara
a cara, enquanto ele abotoa de qualquer jeito a camisa.
— Não estou. Pelo contrário, é a minha prioridade. Por isso, sem
perguntas.
Anton se organiza, termina afastando a mecha de cabelo da testa. E
ao contrário de mim, que está descabelada, destruída, ele nem parece que
acabou de se esforçar num sexo bruto. Está bonito, impecável.
Chateada por seus mistérios, cato os meus saltos, o pedaço da minha
calcinha, limpo a mesa suja de prazer e tento me retirar.
— Kia, espere — porém, ao terminar de fechar os botões, ele pega
no meu antebraço bem na hora que eu abro a porta.
Encaro-o, percebendo como sempre, que, sem os saltos, eu fico do
tamanho de uma anã diante do seu enorme porte.
— Vai dizer para mim não se preocupar? — Fecho a cara. — Nem
perde tempo.
— Não! A noite conversamos! — Então, nervoso, mudando
repentino de ideia, ele me solta.
E sem dizer mais nada, o Dexter se retira rápido do escritório.
Cruzo os braços, besta com a vontade de segui-lo agora mesmo e de
me apresentar ao tal detetive Isaque. Contudo, ainda muito irritada, eu não
faço isso para afrontar o Anton. E passo discreta pelo hall, sem ver direito o
tal detetive devido a estante decorativa, e subo para tomar um banho.
CAPÍTULO 41

Anton Dexter

Eu cumprimento o Isaque com um aperto de mão firme,


desculpando-me pela demora e ademais, peço para conversarmos reservados
no jardim. Espero também a Felícia nos servir o café e um bolo de limão,
para a sós eu ir direto ao assunto que me interessa.
— Então, achou ele?
— Sim. E também consegui as provas que almejava.
Eu coloco a xícara sobre o pires na mesa, descanso o cotovelo no
apoio da cadeira e coço o queixo, observando-o sério.
— É o bastante, Isaque? O que tem a dizer?
— Como ex-advogado, eu lhe digo que é o bastante para complicar a
imagem política dele, abrir um processo e deixar a polícia federal fazer o
restante. Deve igualmente estar pronto para o escândalo na cidade. Essa
notícia estampará jornais, revistas, programas. Tudo. Acredito que até fora do
nosso estado.
— Isso ainda é pouco! Muito pouco perto daquilo que aquele infeliz
de merda merecia!
— É o máximo que pode fazer. Aconselho até a manter os seus
capatazes próximos da mansão. Não saia da fazenda. Teodoro não vai deixar
barato quando descobrir. E sabe do que eu estou falando. Ele quer apagar
você. Tem muitos motivos.
— Mal ele sabe das informações que eu tenho.
— É por isso mesmo, Dexter. Se Teodoro já está agindo malicioso
por motivos políticos, imagine se desconfiar que você sabe sobre ele e a
Lorenza terem acelerado a morte do Sr. Rangel? De ser um "possível"
assassino?
Enfurecido, eu engulo em seco, fechando os punhos.
— Um escândalo a sua candidatura! E aquele porra é um assassino!
— Exatamente! — Isaque assente. — Peço que mantenha o controle.
Precisamos agir na hora certa para colocar os três na cadeia sem correr riscos
trágicos. Querendo ou não, está e é envolvido no alto poder, pois é um dos
homens mais poderosos da cidade. E você tem esposa, um filho. Podem ainda
tentar fazer mal para a sua família, para tentar atacá-lo.
— Da nossa segurança, eu já tomei as devidas providências há muito
tempo. E agirei quando determinar. Estou dando uma chance a você e a sua
equipe de detetives de novo. Entretanto, não aceito demoras. Caso contrário,
eu posso fazer do meu jeito.
— Não tem outro jeito a não ser a justiça do nosso país. É o certo.
Além de não termos tempo para mais nada.
— E sobre a Lorenza? — Encaro-o no rosto magro.
Meu sangue borbulha só em pensar nela.
— Chegamos ao ponto onde não lhe agradará... — Após mastigar
um pedaço de bolo, Isaque limpa a boca com o guardanapo. — O médico
nem sequer tocou no nome dela. Ao ser pressionado pelo meu detetive, disse
que se encontrava apenas com o governador, pois era o seu amigo. Afirmou
várias e várias vezes de que foi o Teodoro quem pagou uma quantia
milionário para ele agir lento e com a garantia do paciente no fim vir a óbito.
Sem chances de cura. Está tudo gravado.
— Um filho da puta! Se eu ver esse médico de novo na minha frente,
eu arranco todos os seus dentes! Quero que me garanta provas também contra
a Lorenza. Entendeu, Isaque? Se aquela mercenária não pagar pelo que fez,
repito que farei do meu jeito!
— Estamos trabalhando nisso. Por favor, não seja extremo, Dexter.
Nossos métodos nunca falham.
— E que métodos? — Nervoso, volto a me servir do café. — Tenho
uma boa curiosidade sobre isso, já que a minha esposa vocês nem a
encontraram!
Isaque ergue a cabeça, sendo cutucado na ferida, intimidado pelo
meu olhar.
— Eu avisei naquela época que poderíamos te decepcionar. Sua
esposa foi parar no interior de outras fazendas. Qualquer fazenda neste vasto
estado de terra. Nunca nem esteve na capital. Tem consciência de que eu não
medi esforços.
— Sabe que eu estou te dando outro voto de confiança, sem chances
de erro — coloco o tornozelo sobre o joelho ao cruzar a perna. — Mas
continue falando do tal método, quero saber.
Ele me olha profissional.
— Temos vários métodos. Só que o que nunca falha é "o mal com
mal". Reviramos a vida da "vítima" do avesso até descobrirmos todos os seus
podres. Ou seja, evidências criminais ou não. Então usamos
essas evidências para obter as provas que o nosso cliente deseja. Adiante, ele
as manda para o seu advogado. Foi o que optamos para com o médico. O
passado dele não é nada limpo. Esse criminoso está em nossas mãos. Eu te
garanto cegamente.
— É o que espero...
Mais tarde, após mais algumas horas de conversa com o Isaque
sobre o nosso plano, ele vai embora. E absorto, eu me pego caminhando
sozinho pelo campo gramado da fazenda. Pensando se eu estou fazendo o
certo. E no fim, chego à conclusão de que só saberei se eu falar com ele e
descobrir o que tanto quer comigo. E talvez eu já saiba.
— Patrão!
No enorme estábulo de madeira de cedro e galvanizado, cinco peões
me cumprimentam. Cumprimento-os de volta com um aceno de cabeça
apenas. E olho para o Gael, que está no canto, dando feno ao seu cavalo.
Aproximo-me dele com muito esforço para controlar o descontentamento.
Meus capatazes não conseguiram descobrir nada comprometedor dele.
— Gael.
— Dexter. — Ao me ver, ele vira sério, encarando-me.
— Estou disposto a te ouvir. O que quer tanto me falar? — E vou
direto ao assunto, cruzando os braços.

Kiara Dexter

Observo pela sacada o sol se pôr atrás dos vales verdes e bonitos. Eu
fecho os olhos e aperto a cartelinha rosa na mão... tentando não chorar de
medo. Até que eu ouço uma voz no interior do quarto, que me faz virar
rapidamente. É a Felícia!
— Kia, o que foi? Sonia disse que você estava desesperada para
conversar comigo.
Eu limpo as bochechas molhadas e vou ligeira até ela. Aproximo-
me, pego na sua mão e puxo-a para se sentar na cama comigo.
— Kia, o que foi minha doce menina? Tudo bem? Quer que eu
chame a sua mãe? Ela está na cozinha conversando com a Maria. — Felícia
se mostra preocupada ao sentar-se.
Eu respiro fundo, coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e
revelo a cartelinha vazia para ela.
— O que...
— Acabou, Felícia — meus olhos lacrimejam. — Eu não tomei
ontem... nem hoje.
Felícia imediatamente arregala os olhos, apertando a minha mão.
— K-Kia, tem certeza disso?
— Sim, eu tenho certeza. Agora, o que eu faço? Meu Deus, eu havia
seguido os dois meses certinho, como o Anton e você falou. Mas eu esqueci
ontem. E agora, quando eu fui pegar para tomar no horário de sempre, eu vi a
cartela vazia e me lembrei. O que eu faço, Felícia? Eu não... eu não posso! Eu
não posso! — Desesperada com a possibilidade, levanto-me rápida, com a
mão entre o casco do cabelo.
— Kiara, se acalma. Amanhã eu peço para um capataz me levar até a
vila e compro mais pílulas para você na farmacinha.
— E vai resolver se eu tiver pulado só dois dias? E nesse período
ter... ter feito — eu ruboresço constrangida —, alguma relação?
Estranha, tremendo as mãos, Felícia também se levanta da cama.
— Deve avisar ao Anton. E amanhã eu compro mais cartelas.
— Não, eu não vou dizer nada. Por favor, seja sincera comigo?
Ela respira fundo, pensativa.
— Eu não sei. Eu sinceramente não entendo desses remédios. Não
faço ideia de que se tomando amanhã a pílula pode evitar a... — ela molha a
garganta —, os dois dias que não tomou certo. Só sei que você deveria ingerir
todos os dias, e no mesmo horário.
Meu coração acelera. Eu não posso ficar grávida. Eu não sinto que
quero ter outro filho. Não depois de tudo que eu passei. Isso não é hora.
— Compre as cartelas, Felícia. Eu tenho certeza de que, se tomar
amanhã, eu posso cortar qualquer possibilidade. Afinal, é para isso que serve
esse remédio, né? E depois eu não esquecerei mais. Juro por tudo que é mais
sagrado.
— Está bem, Kia. Posso pedir para a sua mãe subir? Ela pode te
ajudar.
— Não. Não quero deixá-la mais preocupada. Esses dias andou
muito mal da pressão. Também peço que não comente nada disso com ela.
Será um segredo nosso, tá?
— Tá. Amanhã sairei bem cedinho.
Sem esconder o nervosismo, eu abraço a Felícia. E quando ela se
vai, eu me pego sozinha no quarto, observando o berço de madeira maciça do
meu filho. Ele é rodeado por uma decoração de almofada azul e branca. Sua
cabeceira tem um travesseiro de ursinho. O mosquiteiro é alto, bonito e
ornamentado. Gieber dorme ao centro, após um longo banho gostoso dado
pela vovó e após devorar toda a mamadeira feita pela tia Maria. Fico
olhando-o. Igualmente pensando no quanto eu daria a vida por ele. E em
como foram os dois anos fugindo do Anton por causa da raiva, do ódio, da
dor e do medo de ele saber da existência do filho indesejável, que me deu a
força. Eu pensava em todas as capacidades ruins do Dexter. Mas quando eu
voltei, nada foi como eu esperava. E, nesse último mês, depois de tudo o que
aconteceu de horrível em nossa vidas, o Anton esteve ainda mais presente
com o nosso menino, pegando-o no colo sem eu pedir, dando a mamadeira,
tentando se comunicar com o pequeno que está falando uma ou duas
palavrinhas. Até fez planos de ensinar o Gieber a andar de cavalo quando
estivesse mais firme das pernas. De que compraria um filhote. Eu ri,
discutindo com ele de que só faria isso por cima do meu cadáver, pois não
estava permitido. Ele me puxou possessivo para o seu colo cheiroso, sorrindo
lindamente e retrucando de que, pelo menos aos 6 anos de idade, ele
aprenderia. E que ralar o joelho fazia parte. Claro que eu revirei os olhos,
nem respondendo.
Agora imagine um outro filho? Será que o Anton o receberia de
primeira com esse amor? E se ele, por acaso, já pensou nisso? Estamos tendo
relações todas as semanas, como dois apaixonados famintos, que não podem
ficar um minuto a sós que transam sem parar. Ele mal se importa com a
camisinha, mal faz perguntas sobre as pílulas. Em comparação com aquele
homem bárbaro de dois anos atrás, que jamais dispensaria os preservativos,
Anton parece não se importar com nada.
Não nego estar apavorada. E quem sabe não seja paranoia? Isso, eu
posso estar botando coisas que não tem na cabeça. Minha menstruação já
veio. Eu não estou atrasada. Os dois dias sem a pílula serão resolvidos
amanhã. Afinal o remédio é para isso.
CAPÍTULO 42

[...]

Saímos do estábulo para conversar embaixo de uma árvore. E sem


ser interrompido, no final, Gael se cala após me revelar toda a verdade. Seu
rosto é de amargura, infelicidade, raiva, revolta. Ele não esconde nada. E o
meu silêncio e a minha falta de reação abrupta também não esconde que eu já
sabia há muito tempo dessa revelação, de que talvez ele seja filho da Lorenza
e o meu irmão. Agora, o que resta é descobrir se ele acha que pode ser filho
do meu pai, ou se sabe que pode ser do governador.
— Você sabia? — Gael não move um músculo sequer, perguntando-
me nervoso ao quebrar o silêncio.
— Sim. E foi meio difícil para desvendar. Só consegui porque a
Kiara havia ouvido sem querer os planos da Lorenza e da Lívia na biblioteca,
onde a intenção delas era de seduzir a nós dois. Só que a Lívia confessou que
conseguiu seduzir apenas você. E que você já achava que podia ter metade da
herança deixada pelo meu pai. Eu fui ligando as coisas, compreende?
— Não houve droga de plano nenhum, Anton!
— Não confio em você!
— Que se foda, seu filho da mãe! Eu estou te dizendo tudo o que
sei! O que quer ouvir? Pois eu te digo um vai se ferrar com essa sua herança!
Não quero saber de DNA, nem de nada que prove vínculos nosso! Maria e
seu José me criaram como o seu filho e me deram muito caráter e dignidade!
Gael avermelha os olhos, furioso e pela primeira vez nesses seis
anos algo me incomoda, um sentimento de pena, de, lá no fundo, querer
acreditar nesse infeliz.
— Lívia desde o início nunca conseguiu o que desejava — ele
continua com o tom de voz alto. — Mesmo sendo uma manipuladora, jamais
conseguiu me usar para qualquer plano malicioso da Lorenza. E foda-se se
não acredita! É tudo o que eu tenho para te dizer. Os nossos
desentendimentos não me levariam a insanidade!
— Lívia disse quem poderia ser o seu pai? — Eu vou direto ao ponto
que me interessa e Gael sorri.
— Não se preocupe, Dexter. Eu não sou filho do Rangel. Sei que a
minha mãe e ele tiveram um curto romance de atração. Mas a Maria nunca
pôde ter filhos. Eu fui abandonado na sua porta, pela minha mãe biológica. É
essa a história. Maria me registrou. E eu perdoei os meus pais por terem
escondido isso há trinta e um anos de mim. E também dei um ponto final.
Agora dou um ponto final na possibilidade de achar que eu lhe roubaria, de
que eu seria como a sua mãe mau caráter. Não quero saber de mais verdades.
Só quero continuar juntando dinheiro pelo meu próprio esforço para comprar
as minhas terras e crescer na minha vida pessoal. E sabe perfeitamente que a
única coisa que hoje me segura ainda aqui na fazenda é o salário de gerente
que você paga exorbitado, mais do que o mercado oferece.
Em silêncio, eu quebro o meu orgulho para ser sincero com ele.
— Se continua ainda aqui é porque merece, porque é um ótimo
profissional e tem a minha confiança no trabalho. Quando eu disse para fazer
a escolha há alguns meses, você optou por se distanciar dela e manter o
serviço. E talvez eu tenha entendido.
— Talvez tenha entendido? Não, Anton. O que tenha entendido, não
tem nada a ver. Eu me distanciei da Kia porque eu compreendi a escolha dela,
de que ela ama você e de que tem um filho para criar. Eu decidi respeitá-la e
seguir o meu trabalho focado no meu futuro. Se você mudou e está provando,
acreditar é questão da Kiara e do amadurecimento dos seus traumas. Só peço
que pare de me chamar de traíra, como que se eu tivesse culpa de gostar dela,
de naquela época ter tentado lutar contra você pelo bem estar e a felicidade de
uma adolescente recém saída dos dezesseis anos, e que você comprou como
se fosse um animal, sem se importar com os seus sentimentos. Eu só quis
protegê-la, tornar a merda dos seus dias mais risonhos. Não esperava que me
encantaria por tanta inocência, curiosidade e beleza.
— Sabe que meus rancores vão além disso! — Eu enrijeço, nervoso
por ouvir ele falar do passado e dela.
— Eu sei, contudo, se tivesse se colocado no meu lugar,
compreenderia que eu fiz de tudo para ajudá-lo. Você me afastou. Eu tentei
estar nos momentos dolorosos que passava com o seu pai, porém, fui
mandado a merda. Não me dava ouvidos. Era só você. Mesmo sabendo que
eu estava ali, com o meu ombro amigo para escutá-lo e ajudá-lo. Guardou
tudo para si, na sua mente carregada de dor. Cavou um buraco fundo, sem
permitir que eu ou outro alguém jogasse uma escada para subir. E se está
mesmo mudando, tente parar de ser orgulhoso e dono da razão. Se errou, dê o
primeiro passo de pedir perdão. Principalmente com a Kia, a mãe do seu
filho. Ela é a pessoa que mais sofreu. Que merece ser amada, valorizada e
respeitada.
Eu não explodo, não revido, não faço nada. Controlo a minha raiva,
a culpa, o remorso, assumindo que ele disse o inquestionável. Hoje eu sei o
que eu fiz com o Gael, com a Kia. Eu assumo ser o grande filho da puta dessa
história, não ele. E parece que essa merda de orgulho jamais vai me permitir
confessar nada. Porra, eu só posso calar a boca. Impotente.
Gael percebe que, em nenhuma ocasião, eu estou o interrompendo e
avançando para brigarmos ou discutirmos. Ele suspira cansado, mais do que
surpreso.
— Sempre a nossa conversa leva a ela. Não quero mais saber de
inimizade. O assunto que eu gostaria de tratar era o da Lorenza. E espero que
acredite. Em breve, pretendo ir embora. Será o melhor para termos paz e
seguirmos as nossas vidas. Com licença, Dexter.
Ele vira as costas. Eu permaneço parado. Desvio para a vista dos
coqueiros e dos arbustos distantes, com vontade de xingar sem parar para
aliviar o meu esgotamento infeliz.

— Sr. Anton, boa noite — Felícia deseja, ao me ver atravessando a


sala.
Apenas assinto quieto, subindo para tomar uma longa ducha gelada.
Logo mais, ao sair enrolado com a tolha no quadril, eu encontro a Kia
sentada na cama com uma bandeja de comida ao lado. Ela me olha,
levantando-se.
— Tudo bem? Voltou tão tarde hoje.
— Estou — aproximo-me dela, ergo o seu delicado queixo com o
polegar e dou um beijo doce nos seus lábios rosados. Ela está tão cheirosa.
— Hum... eu trouxe o jantar, é carne assada ao molho madeira, seu
prato preferido, eu quem fiz. Espero que goste.
— Não precisava. Não quero que faça nada por mim.
Ela arqueia um pouco da sobrancelha, tentando esconder a
reprovação.
— Querendo ou não, eu me preocupo com você. E esse prato foi
uma distração na cozinha.
— É eu quem tenho que mover o mundo por você, Kiara... — Com a
minha declaração repentina, ela arregala os olhos, fecha os lábios e se cala.
— Entendeu, minha menina?
Eu me inclino para puxá-la. Ela escorrega nos próprios pés,
afirmando-se no meu peitoral molhado, nu.
— A-Anton...
— Tenho que cumprir a promessa de hoje à tarde. De me dedicar
torturoso ao seu corpo — mordisco a sua orelha, arrepiando-a. — Dos pés ao
último fio de cabelo.
— Não quero mais — Kia afasta a cabeça. — E estou falando muito
sério.
— Algum motivo que me convença?
— Um não já é um bom motivo, não acha?
— Depende. Você me parece bem excitada agora — sussurro,
acariciando a sua bunda por cima do vestido florido.
Surpreendente, Kia abraça o meu pescoço, sorrindo em negação.
— Você nunca se cansa, não é mesmo, Sr. Dexter?
— Só na minha morte, doce esposa... — a faço ficar mais próxima
do volume do meu pau por baixo da toalha.
Kia pressiona o meu peito, arrepiada e abaixando o meu braço que
quase erguia a barra do seu vestido.
— Não, Anton, realmente eu não quero... hoje não... — ela continua
a tentar se desvencilhar.
E vejo algo estranho no seu semblante esquivo. Então paro, por mais
que as suas reações demostrem o contrário. Eu deposito apenas um beijo nos
seus lábios e a solto. Ela suspira fundo, voltando a se sentar na cama.
— Posso indagar o que conversou com o tal Isaque?
— Coisas do trabalho.
— Hum...
Sabendo que ela está brava pelo motivo que eu não lhe conto dos
meus planos, nem o que eu ando fazendo, resolvo não a questionar. Só estou
tentando poupar a Kia de mais preocupações. Já não basta a morte do seu pai.
Não quero que se importe com as minhas noites em claro, nem com a minha
revolta, a dor, a fúria, o que for. Faz muito tempo que eu ando assim. Não é
de hoje que eu não sei o que é dormir tranquilo, sem pesos na consciência.
Mais tarde, a Kia se troca para nos deitarmos. E porra, eu fico
nervoso.
— Tomara que o bebê não acorde esta madrugada, ele está ficando
manhosinho para dormir comigo na cama — ela diz, desligando o abajur do
seu lado da cabeceira.
Não comento nada. Fico só pensando na camisola indecente que está
vestindo.
— O que foi?
Eu aperto maldoso a bunda dela, deixando explicito o meu "o que
foi" e ela se afasta um pouco arfante de mim.
— N-Não quero nada hoje... — suas palavras soam novamente
mentirosas, gaga.
Eu não forço, se não quer, não devo insistir. Todavia, nada me
impede de ficar bravo, planejando torturas com esse traseiro redondo. E
merda, meus pensamentos não me deixam dormir, nem agora a Kiara e seu
propósito de me enfezar pelos segredos que eu não quero contá-la.
CAPÍTULO 42. PARTE II

De manhã, sentado na mesa do café junto da Kiara e da sua mãe, eu


pergunto se as duas estão de acordo em deixar as terras do Padilho sob a
minha direção. Judite concorda. Kia também. Porém, elas querem que o
Heleno more no casarão, para cuidar dos seus pertences, pois Judite revela
que não deseja voltar tão cedo para lá. Sente medo, culpa, dor e inúmeras
coisas ruins. A sacada do quarto principal foi onde o Padilho caiu. Ela
confessa que as imagens horríveis não saem da sua cabeça. Ainda o vê
arrastando-a pelos cabelos até a varanda, enquanto soca o seu rosto. E, em
seguida, num passo de defesa dos socos, ela se abaixa e ele, no impulso da
violência, sem querer, tropeça bêbado nos próprios pés, tromba no vaso de
planta atrás das costas e por fim, despenca da grade de madeira podre. Ele cai
até o térreo, onde bate com a cabeça no concreto e desfalece instantâneo
numa morte encefálica — entre outras diversas fraturas, conforme o laudo.
Kiara se emociona e abraça forte a mãe, pedindo que ela não pense nisso, que
ela não tem culpa, era a vítima.
Eu fico com pena da Judite. Por mim, eu não me importo de ela
morar na mansão. Esta casa é gigante, cheia de cômodos vazios. E ao
contrário da Lorenza, Judite é uma boa pessoa, que pode fazer companhia
para a Kia e para o bebê. E sincero, é o que eu falo para a Kiara, quando
estamos a sós na sala e ela vem perguntar se eu discordo da sua mãe morar
conosco, mas a minha resposta a deixa muito feliz.
— Obrigada, Anton. Não quero que a mamãe volte jamais a morar
no casarão. Eu já tenho lembranças ruins com o papai, imagine ela com
traumas a mais de 25 anos? — Kia respira e aspira triste, colocando seu
cabelo de lado no ombro. — Também não quero mais pensar nisso. — Ela,
que estava em pé, então, se aproxima e senta-se devagar sobre o meu colo,
deixando-me satisfeito por poder acariciar as suas coxas macias. — Chega de
compartilhar das minhas tristezas. Você anda tão quieto, apenas ouvindo. Por
quê?
— Quer saber?
— Humrun.
— Eu estou a cada dia descobrindo que saber ouvir nos faz pensar,
nos faz aprender a escutar os outros, a apreciar o silêncio e a saber a hora
certa de falar. O silêncio era a lição mais importante ensinada pelo meu pai.
Agora compreendo. Aliás, compreendo porque ele vivia tão reservado.
— Ele não gostava de falar muito?
— Não. Falava pouco. Era um poeta, quando não estava focado nos
negócios da fazenda, estava escrevendo poemas, compondo músicas e lendo.
Lembro-me de que se abria a boca numa roda de pessoas, todos se calavam.
Era um livro ambulante de conhecimento. O respeitavam, o adoravam em
Montes do Sol. O sonho deles era de tê-lo como prefeito. Mas meu pai
sempre preferiu a paz do campo, o cheiro de madeira recém cortada, da
grama, do vento nos cabelos ao galopar seu cavalo preferido. Essa fazenda
foi parte do seu coração, por mais que não tivesse a mulher que amava ao seu
lado para compartilhar tudo o que escrevia e sentia.
— Eu não sabia disso, Anton — seus olhos se umedecem. — Fico
muito feliz que você possa me contar coisas boas sobre o seu pai. Ele era um
grande homem. E você, tenho certeza de que pode se considerar um poeta. É
só uma pena que o amor o traiu. Ele merecia viver esse sentimento com
alguém especial, que o merecesse de verdade.
— Acredito que ele merecia uma Kiara — minha resposta faz ela
abrir a boca e eu beijá-la, tomando posse do seu fôlego com a minha língua
que não pede licença.
Beijo-a dominante, faminto. Ela arqueia, não demorando para se
entregar a mim e para a intensidade que a devoro feroz. Acaricio também as
suas pernas macias, encaminhando-me por dentro do vestido, até que penetro
de vez a mão entre as suas coxas, não dando tempo de ela me impedir.
— Vamos resolver um outro assunto importante. Depois de dizer
que não queria sexo, dormiu com aquela camisola fina, sem sutiã, só para me
irritar e me deixar com vontade de dar uns tapas na sua bunda, Kiara? Eu
quase não consegui dormir na mesma cama que você!
— Droga, eu... eu retiro o que eu disse sobre se considerar um poeta.
Sempre se considere um bruto!
— Pois eu sou! — Chego com força na sua calcinha, já sentindo o
seu clitóris pulsar, e toco na borda da deliciosa vagina melada, com pelos que
me salivam a boca a provar numa posição que me deixaria ver todo o seu
traseiro.
— Para. Os empregados podem ver essa porca vergonha. E a minha
mãe e a Felí... — a penetro então dois dedos, calando a sua boca e fazendo-a
fechar os olhos para inclinar a cabeça um pouco para trás e lutar contra o
prazer que eu provoco.
— Sabe... o meu pai sempre dizia que eu era muito sério, suficiente,
abusado, descontrolado, despeitado, perverso e implacável. Um pouco
diferente dele.
— E-E tinha razão! É tudo isso e muito mais... — Geme, tentando
parar os meus dedos. — P-Para, Anton... para...
— Sim. Mas nunca me disse para mudar. Apenas me ensinou a hora
certa de ser esse homem. É por isso que o silêncio era a lição mais
importante. Eu devia deixar o meu caos prepotente/impiedoso me guiar em
momentos oportunos. Todavia, após a sua morte, fiz desse caos impiedoso o
meu caráter — enquanto revelo os meus segredos mais obscuros, Kiara arfa
de tesão. — Hoje, depois de quase sete anos, estou redescobrindo o meu lado
bom. O que significa que o caos começa a viver numa balança, onde eu posso
decidir em que momento pesar para os lados.
— Oh... Anton... — Ela aperta o meu cabelo na nuca, olhando para
os cantos da sala.
E abocanho os seus seios por cima do vestido, mordendo e subindo
para o meio do decote. Não paro de esfregar, nem de meter entre as suas
coxas. Minha língua molha o seu busto.
— Huuummmm... — Choraminga com um brilho de lágrima. Vê-la
segurando os gemidos para não berrar alto me enche de dó.
— Gostaria de ver esse meu lado, minha doce menina? — Eu paro
de masturbá-la na hora em que quase contrai o abdômen e seguro o seu
queixo, observando a sua fraqueza e tensão dos músculos pelo anseio
desesperado do orgasmo.
Kia não consegue nem responder. Ela pressiona as coxas, latejando
de dor e de frustração.
— Você sabe que eu dentro de você é ainda mais gostoso... —
comento no seu cangote, sendo mais maldoso com a minha menina. — Eu
invisto duro, todo empenhado entre as suas pernas para gozarmos, provando
dos seus seios empinados, da sua pele toda.
— Eu quero agora... no quarto...
— Então me responda. Gostaria de ver esse meu lado?
— É... é aquele Dexter? — Gagueja.
— Não, aquele homem não sabia controlar o caos. Hoje eu sei. Ele
era o próprio caos fodido e guiado pela perversidade e o descontrole.
Kia me fita quase recuperada. Eu não desvio o meu olhar de
seriedade.
— Por quê? Não pode existir dois em um?
— Todos temos dois lados. É a divisão entre o bem e o mal. E a
escolha de que momento usar esses dois, principalmente o mal, que pode ser
a sua maior arma. O fato é que, no fim, um ou outro quer escolher qual seguir
entre os dois. Eu não sabia a minha escolha. A natureza, o destino, são eles
quem tem o controle sobre essa balança. Porém, após tantas porradas,
cagadas, eu consigo, eu posso controlar o caos ao meu favor. Eu sei a hora
certa de ser esse homem.
— Mostre-me, eu confiarei em você. Só que antes, permita-me lhe
mostrar primeiro quem eu posso ser? Eu quero você enlouquecendo, Dexter...
eu quero fazer o mesmo que fez comigo aqui.
CAPÍTULO 43

Kiara Dexter

Após a minha proposta, Anton se fecha no seu abismo de


pensamentos.
— Ansioso para ver quem você pode ser... — Então declara em
sussurro, arrepiando-me.
Eu sorrio e levanto-me devagar. Em seguida, ele que me puxa pela
cintura, não permitindo que eu dê mais um passo.
— Mas não aqui.
Como dois amantes guiados pelo tesão, subimos imediatamente para
o quarto. Anton vai me beliscando na bunda sem dó. Ao entrarmos no
interior, ele fecha a porta. E cheio de malícia, agarra com força os meus
cabelos, beijando-me. Eu, boba nem nada, agarro o seu cinto, abro a fivela,
depois o botão e a braguilha da calça.
— Você.... vai fazer... tudo o que eu mandar? — Pergunto entre o
beijo quente.
Ele não responde.
— Senta na cama. — Sem me importar, eu mando muito corajosa,
afastando a nossa boca atraída feito dois imãs.
Ele me solta e faz. Ele se senta no colchão, observando-me com o
cenho bárbaro, muito bonito e faminto, sabendo que o que o enlouquece é a
minha nudez, eu começarei por aí. Estou fazendo a esteira, também a
bicicleta perto da piscina a um mês e meio e meu corpo já está me deixando
muito mais confiante, com a autoestima alta. As coisas estão firmes, inclusive
o bumbum, que Anton confessou numa noite de sexo ser onde o enfeitiça a
morder, beliscar, lamber. Ele falou que era angelical. Fiquei tão feliz que
agora eu faço questão de dormir só de lado, dentro de camisolas indecentes.
A gente está voltando aos poucos a ficar na mesma cama como marido e
mulher. E assumo que eu estou me acostumando. Só que há algo que não nos
deixa ser completos. Eu não sei... parece que falta alguma coisa.
Anton nota que eu estou pensando demais. Eu também. E ajo
instantânea; corto os meus pensamentos, mordo os lábios e início a retirada
do vestido. Ele me assiste sem desviar-se, enquanto deslizo as alças e deixo o
tecido florido cair em volta das minhas pernas. Eu fico só de lingerie lilás na
sua frente. A calcinha é bem encravada, meio horrível de se acostumar, mas
fazer o que se valoriza o bumbum? Eu me sinto muito mais avantajada com
ela.
O Dexter respira fundo, coloca uma mão na coxa e a outra acaricia a
barba, analisando-me dos pés à cabeça. A braguilha da calça dele está aberta,
reparo na sua cueca branca, de cós cinza.
— Gostaria de saber o que está pensando... — comento baixo, com
os polegares na lateral das alças finas da calcinha. Sem tirá-la, apenas
brincando.
Ele está muito calado. Seu olhar é de um maldoso cruel e eu não
desvio dele.
— Eu vou ser muito ruim, Kiara. Ainda bem que não pode ler
pensamentos. Caso contrário, já estaria correndo de mim.
A declaração do Anton quase me enfraquece ao pensar no homem
que ele poderia e pode ser. Tenho certeza de que é a pura barbaridade sem
pudor. Ele realmente sabe ser mau, eu sou a prova viva. Contudo, balanço a
cabeça, renovo a minha coragem, tiro devagar os pés do vestido e aproximo-
me do poderoso Dexter, a qual todas as oferecidas lamberia o chão por ele e
pela sua masculinidade bonita, de causar arrepios. Porém, o Dexter é meu. Eu
sou a esposa dele. E esse homem tem que saber disso todos os dias.
Eu paro na sua frente, sem separar as nossas íris obscuras. Ele não
me toca, no entanto, aparta sua atenção para os meus seios. E dizendo a mim
mesma para não corar de vergonha, para manter-me obstinada, eu me ajoelho,
tocando ansiosa no seu volume. E droga, sinto as minhas bochechas
esquentarem. Anton, então, sorri de lado. De repente, pega no meu cabelo,
erguendo-me um pouco acima do seu membro.
— Eu já estou louco para te tacar nesse tapete e meter meu pau nesse
adorável corpo angelical.
Eu fico chocada e mais corada com o descaramento bruto, mas latejo
entre as coxas, querendo-o. "Eu o pertenço, o amo". E ele?
— Isso é ser bem mau?
— Não, minha menina, é ser um esposo dedicado.
— Acho que eu sou uma péssima esposa, meu marido bruto — eu
introduzo a mão por dentro da cueca dele, primeiramente sentindo os seus
pelos quentes, adiante a protuberância rígida, de pele maleável, que pulsa
contra os meus pequenos dedos quase trêmulos. Está meio inclinado para a
virilha.
— Eu estou num sonho, te vendo putamente atrevida e me
desarmando!
Meu coração quase salta pela boca de tamanho orgulho. Anton larga
os meus cachos, rendendo-se a mim. Eu coloco as ancas por cima dos
tornozelos, descendo a atenção para o seu membro. Molho os lábios secos e o
tiro para a luz da tarde, onde o sol brilha no ambiente, exibindo o pulo atleta
diante dos meus olhos. E faz eu enxergar cada detalhe obsceno, cada veia
roxa, salteada junto do enrijecimento grande. É de se perder a cabeça. Cada
músculo meu fica tenso. Se eu estivesse sem a calcinha meu fluído de
excitação estaria escorrendo até o assoalho, não a ensopando, como se eu
tivesse mijado no tecido. O Dexter parece se controlar. Depois de conduzir
muitas noites de prazer regidas por ele, eu sou segura dos meus próprios atos.
Eu sei fazer isso como ninguém.
Aperto o órgão duro, aproximando-o dos meus lábios... e com sede...
passo a língua em movimentos circulares na pequena cabeça avermelhada,
que expele um líquido salgado.
Anton bufa, apertando os punhos para não voltar a agarrar os meus
cachos loiros com força. Eu paro de observá-lo. Foco em engoli-lo, enquanto
se contorce de prazer na medida em que me movo em sentido vai e vem.
Recordo-me de que, na primeira vez que eu fiz isso, eu faltei vomitar
de nojo. Após tantas experiências, hoje é maravilhosamente bom. Assim
como receber dele. Gosto de sexo, gosto dos banhos nus. Gosto de todas as
sacanagens que o Anton nunca me proporcionou, nem me ensinou a fazer em
seis anos de casados. E eu estou aprendendo rápida. Palavras ditas por ele.
— Porra, Kia! Porra! — Ele geme entre os dentes.
Até que não se controla e agarra de vez os meus cachos,
estimulando-me a enlouquecê-lo ao ápice com ferocidade.
E na medida em que eu estimulo, ele não avisa, quando goza
simplesmente expele na minha boca, afasta a minha mão, segura o pênis e
lambuza a minha cara. Eu não consigo abrir os olhos, e ainda sim, em meio a
vontade de engasgar e tossir, eu engulo o seu prazer.
— Anton... — sussurro e ele me entrega a sua camisa para eu me
limpar.
Fito-o com muita dificuldade para recuperar o ar dos pulmões. Ele
está me observando também ofegante. Parece que eu tive sucesso no meu ato,
mas agora o que eu faço? Por mim, eu me sentava nele, estou latejando por
isso.
— Recuperada, dona Dexter?
Bem limpa, ergo-me de joelhos, evitando prestar atenção no seu
membro meio enrijecido.
— E você, está? — Beijo-o carinhosa na boca, dando o seu sabor.
— Diga o que quer... — Ele fala rouco, descendo a mão para a
minha intimidade inchada, que lateja sem parar.
Eu fecho os olhos, gemendo.
— Eu... eu quero tirar a lingerie, depois ficar nua para te provocar.
— Humm... — Sinto um riso se formar no canto do seu rosto ao
abaixar-se perto da minha orelha direita. É um riso que causa calafrios. Eu
aspiro e respiro, sabendo que a qualquer momento eu posso cair na loucura
com os seus dedos acariciando os lábios do meu clitóris. — Isso me provoca,
no entanto, não chega a me enlouquecer.
— E-E como eu faço isso?
— Arranque a lingerie e se toque sem pudor na minha frente.
Ele tira os dedos e eu me afasto ruborizada.
— Eu não gosto. Eu não consigo sozinha.
— Não minta.
Nervosa, eu mordo o lábio inferior.
— Não, Anton...
— Não?
— Não... — Nego insegura, sem coragem.
— Então ótimo, acabou o seu controle! — Sem esperar, ele me puxa,
pega na minha cintura e joga-me de bruços na cama, de traseiro para cima. Eu
quase grito, ficando de cara contra o colchão.
— Dexter!
Ele, com rapidez, me dá um beliscão de leve na bunda, morde e
estapeia sem machucar.
— O que me enlouquece mesmo é você e esse jeito de menina
inocente. Caramba, eu sou fissurado!
Em meio a minha dificuldade de vê-lo, sinto-o despir ligeiro a calça
e a cueca. Depois ele vem por trás, lambendo-me o traseiro e as costas. Arfo.
Seu órgão duro encoxa na minha perna. Choramingo em imaginá-lo me
penetrando.
— Eu quero que me preencha...
— Não.
Sua voz demonstra o desejo de maldade. Fico aflita. Ele abre o feixe
do sutiã, fazendo-me retirá-lo.
— Empina a bunda, fique sobre os joelhos.
— Anton...
— Eu quero te foder assim, Kiara.
Com tesão, eu fico sem pensar duas vezes. E ele, forte, rasga as duas
alças da calcinha. Em seguida, percorre seus dedos do ânus ao meu clitóris.
Não suporto, os gemidos saem bem alto. Minha lubrificação desce pelas
coxas. Anton se inclina, lambendo-me, sugando e desvairando os meus
sentidos completamente com a língua.
CAPÍTULO 44

Anton Dexter

Eu invisto na Kia de quatro, enlouquecido com a visão da sua bunda


redondinha, empinada. Não paro de apertar enquanto meto e acaricio toda a
parte traseira das coxas. Porra, ela geme sem controle. Meu membro pulsa
cheio de tesão dentro da sua intimidade apertada. Até não suportamos e
gozarmos comigo ainda investido sem parar.
Kiara berra, urra, rebola. Eu dou mais duas investidas fortes,
expelindo o nosso prazer para todos os cantos e cesso os movimentos das
minhas mãos ferozes na sua cintura, dando uma última puxada para ela ficar
sentada contra o meu colo melado.
— An... Anton... você... — Ela tenta falar em meio ao nosso suor e o
ofego.
Eu pressiono os seus seios, beijando-a na nuca com fome do seu
aroma de flores suave.
— Você deixou o meu bumbum dolorido de tanto dar tapas — Kia
finalmente consegue balbuciar a frase inteira.
— Ele me parece normal... — sussurro malicioso, massageando-a
nos mamilos.
— Você mordeu, beliscou, bateu... — Ela arranha a minha coxa com
as unhas.
— Você quer mais?
— Não mesmo.
— Me parece que quer...
— Não quero.
— Humm. — Então torrando de calor, eu a afasto e ponho-me de pé,
com a testa suada e o peito arfante.
Kia vira, olhando-me nu.
— A gente vai tomar banho?
Eu sorrio safado, corando-a naturalmente.
— Depois. Vamos nos sentar no sofá da sacada. Eu estou
cozinhando de calor. Lá é fresco.
— Assim, nus?
— Ninguém vai nos ver.
— Certeza?
— Sim, vem.
— Está bem...
Ela concorda, levantando-se com o seu pequeno tamanho irresistível.
Eu a abraço, esperando que a minha menina leve o lençol para cobrir o corpo.
— Faltou um vinho — ela comenta, sentando-se no sofá redondo,
depois de me sentar primeiro, dizendo da brisa fresca da fazenda.
Ela ergue as pernas do chão para o estofado e abraça o meu peitoral.
— É muito cedo. E acho que eu estou te acostumando muito mal
com vinho depois do sexo. Vai acabar com a minha adega.
Ela sorri com os seus belos lábios rosados, que me provocam a
roubá-la um longo selinho.
— Realmente — se distancia. — Está me acostumando. E não é para
mal. Eu gosto muito, é a única bebida alcoólica que eu tomo com prazer. O
restante que tem no seu escritório poderia ser descartado sem dó no ralo da
pia. Parece xixi de algum bicho de tão ruim. Só de lembrar enjoa.
— Está se referindo as minhas pingas?
— Elas mesmas, tudo péssimas. Não sei como pode pagar caríssimo
por aquilo.
Eu dou uma risada curta, balanço a cabeça, olho para o céu azul e
desvio do presente e da nossa conversa; pensando em como seria se eu
tivesse sido assim atencioso com a Kiara depois que a comprei do Padilho e a
trouxe para morar na mansão com os papéis da união assinados. Eu fui o
verdadeiro caos afundado na merda, dizia palavras que nunca senti na vida
para agradá-la. Outra hora, a amedrontava não querendo vê-la na minha
frente nem pintada de ouro. Pois o remorso surgia como um drogado na
abstinência, tendo crises de desejo. Minhas crises era todo o luto, o encargo
dos meus atos.
— O que pensa? — Ela afaga os pelos do meu peito, arrastando os
bicos dos seios enquanto se ajeita para cobrir a nossa intimidade, o que não
me incomoda.
— Eu estava pensando em como eu era um mentiroso quando eu te
chamava de querida, quando eu dizia que mudaria por você. Às vezes, isso
me vem à cabeça, em comparação com o presente — eu confesso sincero. —
Eu era um mentiroso, Kiara. Hipócrita.
— Você já disse que era um homem cheio de caos, que vivia num
abismo de luto — ela repete, não demonstrando indiferença pela minha
sinceridade ao encarar-me. — Eu sabia que "nunca" mudaria e que seus
"querida" eram falsos. Pois não me olhava nos olhos, não abria a boca e dizia
essas palavras com todo o coração. Já estava virando rotina. Só que é
passado, Anton. Sabe que lembrar é cutucar as nossas quase cicatrizes.
— Mas, às vezes, eu preciso lembrar para jurar a mim mesmo que eu
não serei mais assim, que eu posso ser bom, que eu posso aprender sobre o
amor que tanto me falava. O passado vive intenso no meu cérebro. É a
sequela que eu levarei para o túmulo. É indiscutível, inevitável.
— Também pode levar as coisas boas, não acha? Como as
lembranças do nosso filho; dele no seu colo com o corpinho gordinho, do seu
cheirinho de bebê, das suas mãozinhas e pezinhos pequenininhos aprendendo
a andar. Ou dele já um homem forte, bonito, se inspirando em você.
Kiara toca no meu novo ponto fraco, no Gieber sendo um homem
adulto e em como eu estou me apegando aquele menino... no meu pequeno
filho. Eu quero a cada dia mais ser um pai como o meu pai era para mim. Eu
quero ensinar tudo a ele. E além de ser a minha obrigação, está virando uma
prioridade do dia a dia observá-lo e fazer esses planos.
— Eu olho para aquele menino.... e admiro como ele pode quase não
ter nada de você. São poucos os traços.
— Verdade, ele é uma cópia completa sua. Até os olhos. Mamãe
disse que é um bebê bonito, forte e gigante. E quando homem, vai dar
trabalho com as mulheres — ela revira os olhos, detestando pensar nisso.
Eu começo a rir, sem aguentar o seu jeito.
— Que bom que está rindo, já que vai impedi-lo de ser mulherengo.
— Eu? Isso é impossível, minha menina ciumenta. Ele será um
homem.
— É... vai ser um "Dexter"... Também não quero mais pensar nesse
futuro — Kia aperta o lençol. Ela está realmente emburrada com esse
pensamento. — Meu menino só tem um aninho e quatro meses. Vai demorar
anos. Ele continua um príncipe andando e aprendendo a falar. Tem muito o
que se divertir na sua infância...
Eu a abraço, concordando e sem evitar, sentindo a sua bunda
descoberta. Acaricio essa bela parte do seu corpo feminino, aninhando a
minha mulher mais um pouco em mim, antes de tomarmos um banho
demorado e termos que descer de novo — no chuveiro, também não perco
tempo de transarmos.

Mais tarde, bem perto do entardecer eu recebo uma ligação do


detetive. Felícia quem avisa do telefonema no meu quarto. Eu subo e
certifico-me de estar sozinho no cômodo. Estando, eu atendo o aparelho fixo.
— Boa tarde, Anton.
— Boa tarde, Isaque. Alguma novidade?
— Das piores! — Ele brada. — Não dá mais para esperar. Chegou a
hora de agir. O governador mandou assassinar a Lorenza!
— O quê???

Kiara Dexter

Após a Felícia avisar de uma ligação em espera para o Dexter no


quarto, ele me deixa com o bebê brincando no sofá e sobe calado os degraus.
Mamãe me olha da poltrona, notando o meu nervosismo por esses segredos
que ele não revela.
— Você ainda não conversou com o seu marido?
— Eu conversei. No entanto, não adiantou em nada, ele fica fugindo
do assunto. Não me revela o que se passa. Eu tenho certeza de que ele está
armando algum plano contra a Lorenza e o governador. Meu medo é de ser
algo terrível.
— Anton não fará nada de terrível, filha. O delegado está do lado
dele. Laerte é um homem justo. Todos na vila sabem disso. Ele deve estar o
aconselhando, ou o ajudando a agir na lei, sem o calor do sangue vingativo
por justiça.
— Não sei, mamãe, eu estou pressentindo que vai acontecer alguma
coisa ruim. Meu coração diz isso.
— É porque está pensando de mais, meu amor. Tente se acalmar. Ou
dê uma chance positiva ao Dexter.
Sem responder a mamãe, eu respiro fundo, tentando ser "positiva", o
que não consigo sucesso. E continuo a dar atenção para o Gieber e para os
brinquedos que ele diz estar "brincando", mas fica batendo no chão e
colocando na boca para morder.
Entretida em outro assunto com a minha mãe, imediatamente
paramos de conversar, ouvindo o som de passos duros descendo os degraus
da escada com velocidade. Eu ergo a cabeça, assistindo o Anton vir ligeiro
até mim.
— O que foi, Anton? Tudo bem? — Arrumo o corpo, preocupada.
Ele para nervoso na minha frente, segurando a chave da
caminhonete. Está agitado. Parece com pressa.
— Eu quero que você fique com a sua mãe e que não saia de jeito
nenhum para fora de casa. Vou deixar uns quatro capatazes ao redor da
mansão. Preciso ir.
Antes de ele se retirar precipitado e sem maiores explicações, eu
logo me levanto, não entendendo nada do seu comportamento. E já me
desespero.
— O que houve? Quem te ligou? Para onde você vai? — Seguro o
seu braço. Minha mãe igualmente se põe de pé, aflita.
— Depois eu te explico, eu prometo. Agora só faça o que lhe disse!
— Ele me dá um beijo rápido, olha para o bebê e vira as costas, indo
apressado até a porta principal.
Minha mãe me puxa, impedindo que eu vá atrás dele e ele bate à
porta.
— Kia, minha filha, tenha calma.
Eu abro a boca, sem fala, sem voz. Eu realmente entro em desespero.
Sinto medo, aflição, angústia. O que houve? Quem ligou para o Anton? Por
que ele está saindo correndo em pleno fim de tarde? Eu me sento no sofá, só
pensando em coisas ruins. Meu Deus, o proteja.
CAPÍTULO 45

Anton Dexter

Como um louco, eu pego a caminhonete e saio da fazenda


levantando poeira. Percorro uma hora de estrada de chão sem diminuir a
velocidade e chego na fazenda do Rogério batendo qualquer recorde de
tempo já realizado.
Eu desço rápido do carro, já o vendo na fachada da sua casa luxuosa.
Está anoitecendo. Ele parece aguardar alguém. E, com certeza, não parece ser
eu, pois quando me vê surgindo da direção do pôr do sol, ele arregala os
olhos em surpresa.
— O que faz aqui, Dexter?
— Cadê a Lorenza, Rogério? — Eu chego perto dele.
— O quê?
— Não se finja de desentendido! Aconteceu alguma coisa com ela!
— Não sei como está a par de qualquer acontecimento. Anda tendo
empregados na minha casa que te passam informações?
Observo a sua face séria, de um homem de sessenta e poucos anos, e
perco a paciência, semicerrando os punhos.
— Quer brincar comigo? — Enfrento-o.
— Não mesmo. Eu só quero que se acalme. Já não basta a Leonice e
o seu chororô de desespero, que me desespera mais.
— O que aconteceu?!
— Também não sei! Depois do almoço, por volta de umas 15h00 da
tarde a minha mulher veio correndo da área externa, gritando que ela e a
Lorenza estavam passeando entre as rosas do jardim e que de repente
apareceram dois homens em cima de cavalos e levaram a força a sua mãe.
Comuniquei imediatamente ao delegado Laerte sobre o acontecido. Ele disse
que estava a caminho. E que não era para te avisar antes dele. E de repente
não demora nem três horas e você aparece aqui.
— Que porra! — Eu chuto as pedras, dando razão ao Isaque de que
foi o governador, e de que a essa altura a Lorenza já pode estar morta.
Merda. E por que o Teodoro precisaria matá-la? Eu vou acabar com
a vida daquele infeliz! Vou destruir a sua reputação! Ele vai apodrecer na
cadeia, se antes eu não destroçar a sua cara!
— Eu mandei há duas horas todos os meus peões rodarem a fazenda
de canto a canto. Estou achando que ela foi levada para a floresta perto do
rio.
— E onde tem um cavalo? Me arrume um agora mesmo!
— Está anoitecendo, não sou nem doido de permitir que você saia
daqui. Aguarde o delegado, ele já está a caminho com os policiais. Enquanto
isso vamos entrar, tomar...
— Não está entendo, Rogério! Lorenza não veio à toa para a sua
fazenda. Ela estava fugindo, se escondendo de alguém que pode estar
querendo a sua morte! E agora eles a levaram!
— Eu sei, eu a Leonice já sabemos disso. E, também, por que está se
importando agora, Anton? Lorenza nos ligou há um mês e meio pedindo
abrigo porque estava sendo perseguida por uma pessoa perigosa. E que o seu
filho Dexter havia a expulsado da própria casa onde morou por mais de trinta
anos com o marido, sem se importar com os riscos que estava correndo. Um
ingrato.
Irritado, me seguro para não esmurrar a sua fuça.
— Não me irrite, seu merda!
— Me deve respeito, eu era amigo do seu pai!
— Não seja mentiroso! Você era um invejoso filho da puta, um
frustrado que desejava as piores desgraças ao meu pai! Ainda foi mais um
dos amantes trouxas que a Lorenza seduziu. Também acha que, naquela
época, o meu pai não sabia da traição de vocês dois? Pois eu te revelo que a
sua mulher não passava os finas de semana à toa na nossa mansão. Ela mentia
para você, dizendo que ia ficar uns dias com a Lorenza. Na verdade, ela ia
para transar com o Dexter feito uma louca no cio. Enquanto a Lorenza estava
era viajando para a capital, para dormir com outros amantes poderosos da
política!
Rogério fecha os punhos com força, avermelhando o rosto. Eu sorrio
enfurecido, ao mesmo tempo satisfeito por tacar isso na sua cara de traidor.
Amigo da onça!
— Some da minha frente, seu Dexter imundo! É seu pai cuspindo e
andando!
— Não, não vou sair! Preciso achar a Lorenza viva! Agora me
arrume um cavalo!
— Não seja imbecil! Está anoitecendo! E meus peões já rodaram a
fazenda de ponta a ponta! Espere o Delegado!
Assim que o Rogério termina de latir as suas palavras, surge
repentinamente um camburão da rua de pedras brancas que liga a casa.
Aguardo muito puto e nervoso.
— O que faz aqui, Dexter? — Laerte mal desce do carro e já
questiona, caminhando rápido em nossa direção. Eu nem respondo. Ele para,
balançando a cabeça. — Eu sabia que ficaria sabendo, mas, não em menos de
cinco horas do ocorrido. Boa noite, Rogério, mais alguma informação sobre a
Lorenza?
Ele fala tudo o que já me contou. E ansioso, depois de terminarem o
assunto e depois do Laerte mandar os seus três policiais dar uma ronda, eu o
puxo para conversarmos a sós.
— A essa altura, ela já pode estar morta, Laerte! — Exclamo com o
sangue borbulhando de raiva.
— De uma coisa, eu tenho certeza, o governador não a mataria. E ela
não está mais nesta fazenda. Deve ter sido jogada num carro e levada até ele a
força.
— Não é o que eu e o detetive achamos. Lorenza está nas mãos do
governador, assim como ele está nas mãos dela. Os dois guardam segredos
além do assassinato do meu pai. Acredito que a Lorenza não deva ser mais
confiável para Teodoro. Ele quer fazer queima de arquivo. Tirá-la do seu
caminho para evitar seu nome em manchetes, como um presidiário, com seus
crimes expostos! E a minha mãe não liga para ninguém, ela o entregaria sem
dó!
— Seu detetive ainda está na vila?
— Não, ele voltou ontem para a capital.
— E o que pensa diante disso tudo? Chegou a hora de agir?
— Sim. Antes de vir para cá eu mandei ele fazer o que tinha para
fazer com as provas que incriminavam o governador.
Laerte respira fundo, olha para o campo já escuro da noite e volta a
me encarar.
— Pois agora eu aconselho a não sair de perto da sua família nem
por um minuto que seja. Teodoro não está brincando em serviço. Ele é um
assassino que não mede escrúpulos para se manter no poder. Ele mesmo já
tentou contra a sua vida, é responsável pela morte do seu pai e torço para que
não seja da Lorenza. Ela deve pagar pelo que fez com o Rangel numa prisão.
Eu me calo, concordando puto, sem saída e sem a mínima ideia do
que fazer mais. Talvez seja isso, esperar pela justiça dos homens. Pela lei que
rege o nosso país, enquanto eu fico em casa, protegendo a minha família.
Entretanto, o caos infeliz dentro de mim não aceita isso. Eu sinto raiva, ódio,
vontade de fazer justiça com as próprias mãos! Eu quero tacar uma bala no
meio do peito do Teodoro e ver a minha mãe rastejando na sarjeta feito uma
miserável!
— Vá para a sua fazenda. Não adiantar continuar aqui. Tenho
certeza de que ela foi sequestrada para a cidade. E prometo que se
descobrirmos algo eu te aviso. Rogério está nos ajudando com seus peões. Eu
também deixei outro delegado amigo meu da capital em alerta.
— Preciso da Lorenza viva, Laerte. A morte é pouco perto de tudo
que eu e o meu pai passamos. Ela tem que pagar pelo que fez, ela e aquele
infeliz!
Sem remorso das minhas palavras revoltadas e perdido em
pensamentos angustiantes, Laerte bate nas minhas costas, compreendendo o
meu desejo por vingança. E eu vou embora inquieto, aflito, desta vez,
dirigindo mais devagar do que vim com a cabeça mais cercada de paranoias.
Noto o céu fechado, desenhando raios no céu. Parece que vai chover.
Gael Abner

Arrependido por não ter escutado o conselho do meu pai de passar a


noite de domingo na sua casa, eu enfrento o escuro da estrada de chão, vendo
uma possível tempestade que está chegando. O vento aumenta a cada
instante, levantando pequenos redemoinhos de terra. As pedras batem
embaixo da lataria do carro no decorrer da velocidade que eu dirijo. O farol
alto ilumina só um círculo curto a frente, atrapalhando-me e enxergar com
exatidão.
O rádio falha conforme os trovões surgem no céu. Então, no vasto
vazio cercado por mato e por uma floresta de eucalipto, eu vejo outro jogo de
farol. Diminuo a velocidade, percebendo que o veículo do motorista está
parado. Abro o vidro, aproximando-me com o pé no freio, quando passo
perto, eu reparo que três portas do carro estão abertas, sem ninguém no seu
interior.
O que aconteceu aqui?
Começa a garoar forte. Eu estaciono perto da mata, desligo a chave,
pego uma lanterna grande do porta luvas, a espingarda do lado do passageiro,
em seguida, desço e vou desconfiado até o local para ver se foi algum
acidente.
— OIIIE, TEM ALGUÉM AÍ? — Eu questiono alto, protegendo os
olhos em meio a chuva que se intensifica, ninguém responde.
Eu analiso o carro com a lanterna. Está realmente vazio. Aponto a
espingarda para a floresta de eucalipto, estranhando a situação e caminho
devagar, tentando achar alguém.
— OIIIE, TEM ALGUÉM FERIDO?
Para a minha surpresa, eu ouço um grito abafado. Ergo a lanterna,
adiante dois homens aparecem da floresta, em meio a chuva forte, segurando
uma mulher de vestido vermelho. Eles param bruscos, assustados. A luz
ilumina os três em detalhes. É então que eu reconheço a pessoa de cabelo
curto, que eles seguram pelo braço. Suas pernas estão sujas de lama, cheia de
escoriações. Sua boca está com um pano entre os dentes.
Sem pensar duas vezes, eu ergo mais alto a espingarda, sem permitir
que eles tirem a arma da própria cintura. Mesmo assim, eles fazem. Sem
escolha, eu só sinto o meu dedo puxar o primeiro o gatilho.
CAPÍTULO 46

Kiara Dexter

Tremendo de nervoso, eu vou até a janela da sala ver se noto pela


vidraça algum movimento de farol no meio da chuva. Está trovejando forte.
Os relâmpagos fazem barulhos horríveis. Eu sinto vontade de chorar.
— Kiara, senta um pouco, querida — mamãe pede atenciosa, ao
mesmo tempo preocupada com a minha inquietação. Eu estou andando de um
lado para o outro, no meio das duas enormes janelas que ligam o hall de
entrada.
— Por favor, Sonia, pega outra água com açúcar para a Sra.
Dexter... — Ouço a Felícia pedir em sussurro e viro-me, vendo a Sonia se
retirar para a cozinha.
— Já é quase dez horas e nem sinal do Anton. Eu estou com medo.
O que pode ter acontecido? Por que ele saiu daquele jeito? Às pressas?
Eu volto a me sentar perto do meu filho. Ele dorme enroladinho no
sofá, dentro de uma coberta de ursinho. Felícia quem deu banho nele. E a
poucas horas, fiz o manhoso papar uma sopa de legumes preparada pela
Maria.
— Tenha calma, Kia. Quando ele chegar, ele vai te responder todas
essas perguntas. E acho que não deve ter acontecido nada grave.
Eu abraço o meu corpo, farta de esperar e nada dele aparecer... Até
que instantânea, eu levo um choque ao ouvir a porta principal sendo fechada,
após alguém abri-la e coloco-me de pé num pulo.
— Anton! — Então exclamo aliviada ao finalmente vê-lo caminhar
até o degrau mais alto da sala. Seu cabelo e suas roupas estão úmidas.
— O que aconteceu? Onde você estava? Saiu há quatro horas atrás e
me deixou louca de preocupação esse tempo todo.
Eu vou ansiosa até ele.
— Eu preciso trocar de roupa, depois conversamos no quarto — e
sem "mais", sem se importar com a minha aflição o Dexter sai ágil até a
escada.
Meu sangue imediatamente sobe fervendo pelo corpo. Fecho os
olhos, controlando os nervos.
— Kiara... — mamãe murmura, enquanto eu me movo irritada, indo
até o sofá pegar o meu filho para seguir o Anton. — De um tempo, deixa ele
tomar um banho para esfriar a cabeça. O Dexter pode estar bravo. Ele...
— Não vou brigar, mãe. E eu não tenho medo do meu marido. É ele
quem devia ter da minha raiva, do meu estresse com esse seu comportamento
misterioso!
— Kia, posso levar o jantar para ele?
— Não, Felícia. Vou ver se o poderoso quer primeiro.
Sem esconder a impaciência, eu me retiro de cara fechada. Indo
rápida até o nosso quarto master. E ao abrir a porta, eu o vejo sentado na
cama, sem camisa, sem o chapéu e tirando os sapatos. Ele está calado. Eu me
aproximo quieta, para colocar o bebê perto dos travesseiros.
— Você vai querer jantar, ou comeu por aí? — Minha pergunta não
esconde a irritação na voz.
Eu só queria saber os "porquês". É um crime isso? Ele me trata como
se eu não fosse importante para se gastar saliva!
O Dexter então me encara com o seu olhar intimidador, levanta-se e
vem todo forte até mim. Eu não desvio dos seus olhos, nem descruzo os
braços. Ele não me intimida, não neste momento.
— A gente vai conversar, Kiara.
— Então? Comece, porque está parecendo que você não liga para a
minha preocupação, as minhas perguntas. Está me tratando como há alguns
anos, como se eu fosse aquela menina leiga que você comprou. Por favor,
para de segredos, de se fechar em seus pensamentos perturbados! Eu estou
tentando te ajudar, te compreender, ser a sua amiga! Não só a esposa que
supra necessidades na cama!
Ele respira fundo e quase pega no meu braço, mas eu me afasto.
— Eu fui atrás da Lorenza! — Ele declara nervoso comigo, fazendo-
me desfazer o cenho ao continuar suas palavras. — Meu detetive ligou, pois
foi informado de que ela poderia ter sido assassinada na fazenda do Rogério.
E corri até lá.
— Como assim assassinada?
Anton pega a deixa e vai até o fim, sem permitir que eu o
interrompa. Eu o ouço calada, perplexa. Ele também me conta sobre os seus
planos e das provas que o tal detetive Isaque conseguiu — do médico que
ajudou a matar o Sr. Rangel — e do delegado Laerte, que está o ajudando a
fazer as coisas certas, do lado da "merda" da lei.
— Laerte tem razão... — No fim da sua revelação, eu enfatizo
tremendo. — Se você entregar as provas de que o governador Teodoro foi o
assassino do seu pai, estaremos em risco. Mas teremos que correr esses
riscos. É o certo, você sabe que é.
— É o certo por você e pelo bebê. Porém, a minha vontade era outra
— confessa, irado e frustrado.
Eu me acalmo, chegando bem perto dele.
— Eu sei o que você queria fazer. Só que precisa ter sanidade pela
sua autonomia, pela sua liberdade, pela consciência e pela sua paz. Não só
por mim e pelo seu filho. Assim como o delegado disse, a Lorenza está viva,
eu tenho certeza. E ela e o governador vão pagar caro por tudo o que fizeram
de ruim. Eles sim são maus, sem coração. Horríveis!
Anton agarra a minha cintura e abraça-me farto de tudo. Eu me
aconchego no seu peitoral.
— Essa não é justiça que queima nos meus neurônios. Mas porra, o
que resta é entregar as provas e deixar o caralho da lei agir! — Ele xinga,
com as batidas do coração acereladas.
Eu ergo a cabeça para observá-lo triste, sentindo que esse será outro
motivo para as suas mais insônias. Pois o seu desejo obscuro era de fazer
justiça com as próprias mãos, de afrontar o governador com uma arma. E sei
que se o Anton de antigamente soubesse que o seu pai foi, na verdade,
assassinado, ele não pensaria duas vezes em disparar o gatilho.
Sem querer pensar nisso. Eu o abraço mais forte.

Anton toma banho, janta no quarto, depois desce para ir até o


escritório conversar com o detetive. É ele quem informa, não escondendo que
não está nada bem com os seus pensamentos. Principalmente com a
possibilidade da Lorenza estar morta. Sei que acima de tudo aquela mulher
assassina é a mãe dele. E que o Anton deve sofrer muito por tudo o que ela
fez. Ele conviveu com ela mais do que os seus dois irmãos velhos. Não
consigo nem imaginar o que se passa no mais profundo interior dele.
Decepção? Raiva? Vingança?
Na hora de dormir, eu fico deitada na cama, prestando atenção na
chuva que açoita a porta da sacada sem dó. Não consigo pegar no sono. Fico
torcendo para que o Anton suba e fique comigo no quarto onde tem o berço
do bebê. Não sozinho no principal, onde eu estou voltando devagar com as
minhas coisas.
Para a minha decepção se passa minutos, horas e ele não aparece. Eu
viro para um lado, eu viro para o outro e nada de sono. Sinto-me sozinha,
perdida com os meus medos, inseguranças.
— Por favor, meu Deus, me dá uma noite de paz, me ajude a
dormir... — eu choro, pedindo ao papai do céu sem parar que eu durma.
Acho que ele ouve, pois só no dia seguinte que eu percebo que
desmaiei em meio as minhas lágrimas. Ainda me dou conta de que nem o
Gieber despertou essa madrugada para eu poder me levantar.
Inclino a cabeça, vendo que a cama permanece vazia, entretanto, está
bagunçada. Com a esperança de ele ter ido só ao banheiro, eu ergo o tronco
do corpo, coço os olhos e fico sem crer no que encontro. Meu Deus, que
fofura, isso poderia ser registrado num retrato para durar a vida inteira. Anton
está cochilando na poltrona com o bebê abraçado no seu colo.
Não sei quanto tempo eu gasto observando os dois, porém,
emocionada, eu só paro quando sinto vontade de fazer xixi, vou de mansinho
ao banheiro para realizar as minhas higienes pessoais, incluindo banho.
Quando volto, os dorminhocos ainda estão grudados. Aproximo-me
apaixonada, não resistindo a tocar no rosto dos meus homens bonitos, que eu
amo intensamente.
Amo tanto que chega a machucar o peito.
Enrolada na tolha, eu vou me vestir, assim que o Anton acorda eu
não digo nada, além de desejar bom dia. Ele coloca o bebê, que continua
dormindo, de volta no berço, e espero que ele também se arrume para, enfim,
conversarmos.
— Você vai para a capital?
— Não sei. Eu vou ligar para o delegado e ver se ele tem
informações.
— Hum...
Eu termino de colocar meus brincos e aproximo-me dele, afastando
suas mãos sem paciência para mim mesma terminar de abotoar os botões da
sua camisa social azul. Ao terminar, eu levo um surpreendente puxão pelos
quadris, uma segurada no cabelo e um par de beiços acompanhados de uma
língua hábil na boca. Eu me derreto de prazer diante de tanta ferocidade. É
como que se ele quisesse abastecer as suas forças em mim. O beijo é
correspondido gostoso e intenso. Nossas línguas apreciam a saliva quente um
do outro. Anton aperta a minha bunda, murmurando.
— Que vontade de você... está tão cheirosa... linda...
— Eu também sinto vontade de você... — choramingo em seus
lábios.
Não escondemos o quanto nós desejamos. Só que o Anton luta para
não fazer isso, para não me jogar agora mesmo na cama e arrancar a minha
saia e a blusa sem pena de rasgar os tecidos. Há algo maior que ele precisa
fazer e afastamo-nos carregados de calor, de ofego.
— Eu vou resolver tudo isso e voltar a me dedicar a você. Vamos
viajar pelo mundo, conhecer outros lugares, outras culturas. Prometo.
Eu me emociono.
— Em meio a esse borbulhão de problemas, você consegue pensar
nisso... em nós? Em viajarmos juntos pelo mundo?
— Sim, eu penso, Kia.
— Mas o mundo é tão grande, Anton.
Ele sorri fraco, dando-me um beijo demorado na testa.
— Quando formos, minha menina, vai ver como passa rápido os
dias. Não vai nem querer voltar. Além de que não vamos conhecer o
"mundo" de uma só vez. E também, depois teremos mais oportunidades de
conversar sobre isso. Minha mente está em outro lugar.
Anton me dá mais um beijo demorado. E antes de se retirar, ele toca
nos cabelos médios do arteiro do Gieber, que acordou dentro da sua fralda
cheia e pendurou-se na grade do berço, balbuciando escandaloso.
Derretida pelo meu marido, o homem que só em sonhos eu
imaginaria, eu vou até o meu filho, o pegar muito feliz no colo.
— Você ouviu seu pai, meu amor? Teremos a oportunidade de
conhecer o mundo, de sermos felizes, uma família. E eu oro tanto por isso. É
o que a mamãe sempre pede para a Deus.
CAPÍTULO 47

Anton Dexter

Eu desço os degraus da escada, vendo o delegado sentado no sofá.


Ao também me ver, ele se põe de pé num estalar dos dedos e começa a falar:
— Bom dia, Anton. Achamos um carro esta madrugada na saída da
estrada principal que leva a vila. Tinha dois homens deitados no mato, e
feridos na perna com dois tiros de raspão.
— Eles têm a ver com Lorenza? — Enrijeço os músculos, curvando
as sobrancelhas e temendo pela sua resposta.
— Não sabemos. A perícia foi chamada para investigar o perímetro,
após eles serem levados de ambulância para a Santa Casa. A polícia da
capital fará os interrogatórios que necessitamos.
— E a Lorenza, Laerte? Porra, a cada minuto eu tenho certeza de
que ela está morta. Jogada num matagal, apodrecendo por aí! Aquele infeliz
quer vê-la morta!
— Eu tenho certeza de que ela foi sequestrada. Estamos fazendo de
tudo, Dexter. Além disso, você já mandou seus advogados entregarem as
provas contra o Teodoro?
— Não, os advogados não estão envolvidos ainda. Mas, por análise,
as provas são embasadas. O que eu estou fazendo é aguardando de braços
cruzados, como um inerte covarde!
— Sabe que é o certo. Deve esperar querendo ou não pela justiça.
Ademais, esse escândalo estará estampado nos jornais. E repito que entrará
em guerra com um cretino sem escrúpulos. Sobre a Lorenza, tenha calma,
nossa equipe de policiais não é grande, todavia, estamos nos esforçando
redobrados e sem descanso para ter sucesso nas investigações.
— Eu estou esperando. Isso é a única coisa que eu posso fazer,
esperar pelos outros a porra da minha vingança! Da minha paz!

— Fale a verdade para o Gael. — Enquanto o acompanhava até a


viatura, Laerte parou e virou, encarando-me sério. — Diga tudo sobre ele ser
filho do governador. Também o que a sua mãe e o Teodoro fizeram com o
seu pai. Ele faz parte dessa história. Querendo ou não, vocês são irmãos
uterinos. Por mais que descobriram a pouco tempo essa informação, devem
parar para pensar que desde o início a vida e o destino quiseram unir vocês
dois a crescerem juntos. A serem amigos, a se considerarem irmãos de "outra
mãe", sem incrivelmente saber que tinham o mesmo sangue.
— A escolha dele já foi feita.
— Refiro-me a revelar toda a verdade, Anton, a tirar tudo o que lhe
pesa os ombros, para, enfim, ter um pouco da paz que almeja ao lado da sua
família. Faça isso.
— Você é sempre um intrometido... — murmuro, virando nervoso o
rosto.
— Eu penso no seu bem. Eu te vi crescer, eu fui o melhor amigo do
seu pai. E sei que me escuta, me respeita e me suporta.
Permaneço quieto, aceitando que realmente o suporto, o respeito e o
escuto. E logo adiante, ele se despede, deixando-me ainda mais afundado nos
pensamentos fodidos. Filho da mãe!
— Anton!
O delegado se vai com o carro. E bem na hora que eu vou subir os
quatro degraus da varanda e voltar para dentro, ouço a voz de quem eu e o
Laerte estávamos acabando de falar. Viro-me, observando o Gael vir
correndo até mim.
— Eu... eu preciso falar com você! — Ele chega ofegante,
esbravejando ansioso e nervoso. — É a Lorenza!
— O que tem ela? — Desço novamente os degraus. — Você sabe
alguma coisa?
— Eu a encontrei ontem à noite, sendo sequestrada por dois homens.
Ela...
Sem acreditar, eu chego mais perto, interrompendo-o em meio as
ligações que o meu cérebro faz.
— Você que atirou naqueles dois homens na estrada? Onde está a
Lorenza?! O que aconteceu?!
— Eu salvei ela, porra! Eu estava voltando da casa do meu pai na
vila, em meio àquela chuva forte. E foi quando eu passei na estrada principal
e achei um carro parado ao lado de uma floresta de eucalipto. Sem pensar
duas vezes, eu desci com a lanterna, a espingarda, achando que era algum
acidente grave. Só que não tinha ninguém no veículo. Eu me aproximei da
floresta, gritei chamando por pessoas e então do meio das árvores saiu dois
homens, carregando a Lorenza com um monte de escoriações nos braços, nos
joelhos, em todas as suas duas pernas. Estava molhada.
— Eles fizeram algu...
— Não, não. Lorenza disse que se feriu abrindo a porta para tentar
fugir. Ela pulou com o carro em movimento, rolando pelas pedras barrentas
de chão. Disse ainda que se levantou e correu para a mata, mas eles a
alcançaram. Depois na saída, no meio daquela chuva os caras me
encontraram e eu a eles. Não pude evitar acionar a espingarda. Era a minha
vida ou a deles.
— Caralho, onde ela está, Gael?
— Eu levei a Lorenza para a minha casa, em seguida, chamei a
minha mãe para ter estômago de cuidar dela. Parecia desvairada de fúria. E
com o mesmo nojo esnobe de humilhação — Gael cospe no chão. —
Contudo, ela não disse o porquê de estar sendo sequestrada. E nem fiz mais
questão de continuar perguntando.
Eu penso na conversa com o delegado, com a merda da culpa dos
segredos pesando os neurônios. Inferno, ele tem que saber. Ele realmente faz
parte dessa desgraça provocada pela Lorenza. A maior cretina, assassina que
conheço. E não nego alívio por estar viva, pois deve pagar pelo que fez com
saúde. A saúde que interrompeu o meu pai de lutar para recuperar a dele.
Aquele Dexter jamais desistiria de viver.
— Pois eu vou te falar. A partir de hoje, você vai entender tudo,
Gael. Sem mais segredos ou mistérios. Me acompanhe.
Decidido, eu peço para ele me seguir em casa, até o escritório. Ao
chegarmos, sem enrolar, eu fecho a porta, peço para que ele se sente e
começo, sem permitir que me questione. Compartilho toda a verdade. Gael só
me ouve perplexo, sem fazer perguntas, sem interromper.
As palavras saem automáticas da boca. Por fim, ele curva as costas
com os cotovelos sobre os joelhos.
— Então eis os meus "pais" biológicos... de um dia para a noite, eu
descubro segredos escondidos por mais de anos — ele me fita, passando a
mão no cabelo. Está descrente, revoltado. — Eu não sei se eu vou conseguir
voltar de novo em casa e conseguir olhar na cara daquela mulher. Uma
assassina. E eu não sei o que te dizer, Anton. O Sr. Rangel poderia ter se
curado, poderia ter tido uma chance de estar vivo. Ele talvez pudesse estar
aqui hoje, atrás desta mesa, entre nós. O Dexter foi um grande homem. Eu
sou o que sou graças a ele, a sua bondade e humildade. Não existe coração
igual aquele.
Meu peito se exprime, ainda dolorido de saudade, de raiva, de
justiça.
— Eu sinto muito — ele ergue a cabeça limpando o rosto, que não
esconde a lágrima que lhe escapa ao lembrar, e suspira, tentando evitá-las. —
Sei como não foi fácil, principalmente no velório e no funeral. A cidade
parou, os jornais o citavam. Porém, com tantas pessoas, sentíamos que
estávamos sozinhos, abandonados. Essa fazenda escureceu, as folhas
amarelaram. Um grande homem havia perdido a batalha para onde viveu os
seus últimos dias em guerra.
— E esse homem levou o seu filho junto. Deixou nele o vazio, o
caos, o terror, o desprezo pela vida. O decepcionei. Junto, decepcionei os que
estavam ao meu redor. Machuquei sem sentir compaixão. Cavei mais o
buraco que cai podre. Foi isso, Gael.
Ele balança o cenho, sincero.
— Se estiver realmente arrependido, Deus vai te dar uma nova
chance de se redimir. Não somos perfeitos. Eu não sou, você não é. Todos
estão propensos ao erro. Além de ser aquele ditado, aqui se faz, aqui se paga.
Se está pagando e arrependeu-se, acredite em segundas chances, em
arrependimentos, absolvição. Além de que deve pedir perdão para as pessoas
que decepcionou. E saiba, Anton, que seu caráter é de boa índole, assim
como o de seu pai. Todos o vê em você.
Gael se levanta, recompondo-se diante da minha falta de voz.
— Quero também que saiba que agora, independentemente de
qualquer coisa do passado, eu estou do seu lado. Lorenza não vai sair
impune! Nem o desgraçado desse governador! Eles dois vão pagar muito,
mais muito caro! Eu juro que vão!

Kiara Dexter

Assim que eu cruzo a mesa de estar, eu sou pega muito de surpresa


pelo Anton e pelo Gael que vem conversando do outro lado do corredor do
escritório. O que eles fazem juntos? Eu paro, descrente. Ouvindo sem querer
os dois conversando.
— O que eu faço com ela, Anton?
— É eu quem te faço essa pergunta. Não quero a Lorenza morando
na mansão conosco. Só que eu preciso mantê-la perto de nós, até ter provas
do que te falei.
Eu abro a boca perto do pilar que tem uma estante ornamentada
atrás. Não acreditando no que eu ouvi! E como assim, a Lorenza está com o
Gael?
— Kiara não vai gostar.
— É esse um dos principais motivos. O outro é que eu não consigo
mais conviver com aquela mulher. Porra, eu não sei do que eu seria capaz de
fazer com ela agora na minha frente.
— Mande-a de volta para a fazenda do Rogério.
— É o que eu tenho em mente. Só que antes vai na sua casa e a traga
para a mansão, conforme a mesma deseja. Vou enfrentá-la, por tudo isso a
limpo. E quero você igualmente aqui.
— Não quero mais saber desse assunto. De verdade, Anton.
— Não dá para fugir. Isso é uma guerra pequena perto do que eu vou
enfrentar com aquele merda do Teodoro daqui há uns dias, senão amanhã.
Fico estarrecida pela forma que os dois conversam, como se fossem
amigos de novo, igual antigamente. Mas com a mente agora cheia de
perguntas novas, que preciso urgente de respostas... após o Gael se retirar, eu
me revelo, indo até onde o Anton se encontra. Ele me observa sem demora,
percebendo onde eu estava, sou ligeira.
— Não estava escutando a conversa de vocês. Não porque eu quis.
Entretanto, eu ouvi e estou nervosa, sem entender nada. Que história é essa
da Lorenza estar com o Gael na casa dele?
CAPÍTULO 48

Anton me conta o que conversou com o Gael, sobre ele ter revelado
que estava com a Lorenza em casa e tudo o que aconteceu na estrada, quando
ele a achou com os dois homens que quase a sequestraram. Anton ainda falou
que confessou para o Gael que ele era filho do Teodoro — fiquei muito
aliviada —, depois se calou para pensar em outro assunto. E a partir daí, eu
não perguntei mais nada, deixei-o com os seus pensamentos nervosos e
permaneci quieta com os meus.
Só que mais tarde o clima foi de mais tensão, ficamos esperando
pela Lorenza, para jogar todas as verdades na sua cara. O delegado também
está aqui. Dexter ligou para ele, explicando tudo o que havia acontecido e
Laerte não pensou duas vezes, veio voando com medo dele fazer qualquer
besteira.
Quebrando os meus devaneios, eu me levanto ligeira do sofá, após
ouvir a porta principal ser aberta. Aguardamos e quando a Lorenza surge
caminhando, o meu estômago se embrulha enjoado em olhar para os traços
dessa cretina assassina. Gael e Maria vem devagar atrás dela.
— Oras, uma recepção em família? — A bruxa sorri, não perdendo a
classe, nem a pose metida de madame, mesmo estando toda arranhada, os
cabelos desgrenhados e com o vestido sujo de terra. — Até você, querido
Laerte? Quanto tempo. Como vai a invejosa da Fabiana?
— Parece que andou brincando de pega-pega na lama, Lorenza? —
O delegado indaga maldoso, observando-a sem cara para amigos.
— Hum... dias de derrota, outros de glória. Não é mesmo? — Ela,
então, vira calculista, olhando para mim, para a minha mãe, Felícia e por fim,
nos olhos do Anton e sorri novamente. — Olá, filho, é um prazer revê-lo.
Igualmente a selvagemzinha da sua esposa e as outras insignificantes atrás
dela.
Insignificante, é minha mão na cara dessa nojenta!
— Gostaria de dizer o mesmo, pena que eu não senti nenhuma falta.
Foi um alívio a sua saída da mansão.
— Quanta sinceridade. Sejamos francos, ninguém sentiu a falta de
ninguém. E sejamos francos em relação a esse comité em minha volta...
muito curioso.
— Claro que seremos francos — Anton é sagaz. — Primeiro,
deveria agradecer ao Gael por ele ter salvado a sua pele de não ter parado nas
garras do Teodoro, seu amante. Estaria apodrecendo numa vala.
— Segundo? Vai direto ao ponto. — Ela toca no cabelo Chanel,
enfadonha com a conversa.
Eu pego no braço do Dexter, vendo que ele está puto. Seus punhos
estão semicerrados.
— Segundo que é uma assassina mau caráter!
Lorenza volta a fitá-lo, astuta.
— Hospedou a Lívia aqui na mansão para poder seduzir a mim e o
Gael. Fez ela contar mentiras, de que ele poderia ser o segundo filho do meu
pai. E isso para você tentar manipulá-lo e roubar o meu dinheiro. Mas não
contava que ela de primeira não conseguiria me seduzir. Que ainda no final
revelaria todo o seu plano para o Gael. E que eu descobriria que, na verdade,
ele era o filho do governador com você. Sua máscara caiu!
Ela não desvia da face do Anton. Está séria, em silêncio. Parece que
as revelações dele não a afetou em nada. Felícia é a única que abre a boca,
perplexa.
— E o que mais, Lorenza? Quer que eu diga ou prefere esperar o
jornal de amanhã, para ler na primeira página o seu amante sendo acusado
com provas embasadas de ter contratado um médico para garantir o
retrocesso da doença do meu pai?!
E é nesse ponto que a Lorenza perde a pose, desinquieta e mexe
nervosa o maxilar.
— Peguei você, mamãe assassina? Você e aquele porra impediram
uma possível cura do meu pai! Agora os dois não tem para onde fugir!
Assassinos!
— Nada do que disser existe provas! — Sem um pingo de vergonha,
ou de culpa, ela ergue a cabeça, o enfrentando. — Nada!
Como pode ser dissimulada?
— Até do Gael?! — Anton se controla para não dar um passo em
meio a fúria. Eu tento também não soltar o seu braço, que ele nem deve sentir
que seguro.
Gael nos olha, parece desinteressado em discutir o assunto. Entendo.
Creio que para ele a sua mãe e o seu pai sempre será a Maria e o seu José. E
fico "feliz" por isso não o afetar de forma dramática.
— Já disse, nada do que me acusar, Anton, existirá provas! — Ela
muda a conversa, repetindo feroz o que já foi dito.
— Teodoro não vai limpar a sua barra! Eu deveria era te entregar de
uma vez nas mãos dele! No entanto, eu terei o prazer de ainda ver vocês dois
pagando vivos por tudo o que nos fizeram de mal! E aquele desgraçado vai te
dedurar, Lorenza!
— É? Sinto muito, só que não vai. Assim como ele guarda
pendências minhas, eu o tenho com os seus segredos de política nas mãos. E
repito pela terceira vez, não existe nada para eu temer!
— Você vai ter, sua mau caráter! Você vai ter! Nem que isso seja o
meu objetivo de vida!
— Eu sou a sua mã...
— Cala a boca!
— Anton... — O delegado dá um passo ágil até nos.
— Eu sei que contratou detetives para investigar o meu passado. E é
perda de tempo, não me incriminará. E eu logo, logo estarei bem longe daqui.
E claro, com a fortuna que o bobão do Teodoro me deu esses anos todos.
Assim como todos os meus queridos amantes.
O Anton engole em seco para não dizer mais nada. E muito, muito
puto, ao ponto de cometer uma loucura, ele, então, vira as costas e retira-se
em direção ao corredor do escritório. Laerte e Gael, no mesmo instante, vão
atrás dele. Sobra eu, mamãe, Felícia, Maria e a bruxa assassina.

Anton Dexter

Eu chuto a porta, mas Laerte e Gael aparecem antes de eu batê-la.


— Lorenza não pode ficar impune, Laerte! — Eu brado
descontrolado, virando-me para ir até a mesa. — Ela não pode, inferno! Não
me importo de que seja a minha mãe! A odeio!
— Se não existe provas contra ela, não há o que fazer. Só se o
governador a entregar realmente.
— E se ele ficar em liberdade? — Gael pergunta nervoso como eu.
— Uma guerra. Teodoro não vai deixar barato. Vai tentar destruir o
Dexter de todas as formas. Até mesmo se estiver dentro de uma penitenciária.
Eu e o Anton já conversamos sobre isso. Ele sabe.
Eu me sento na cadeira, com os batimentos acelerados de tamanha
vontade de fazer justiça agora, com os meus punhos e o meu porte de arma
dentro do cofre!
— Não é possível. Isso tem que ter um fim. E se eu disser que fui eu
quem entregou as provas? Posso dizer que tudo é a minha responsabilidade.
Por vingança do governador e da Lorenza serem os meus pais biológicos. E
de toda a história de abandono, e blá, blá. Assim esse energúmeno deixaria o
Anton em paz. E parecia mais convincente para a polícia da capital e o
Teodoro.
Eu fuzilo indignado o Gael.
— Não vai se meter em droga nenhuma! Você não tem nada a ver
com o que eles fizeram com o meu pai! É a minha justiça, a minha guerra!
Tem a sua vida para seguir em frente! Não se preocupe comigo!
— Desta vez, não darei ouvidos a você, conheço o seu gênio há
anos. E, querendo ou não, eu estou no meio dessa merda sim.
— Anton, olha bem... — O delegado se aproxima cismático. — Gael
pode estar certo. Isso não te envolveria tanto. Assim teria um pouco de paz
com a Kiara e o seu filho. Como foi entregue as provas para a polícia?
— Não foi entregue diretamente a eles, nem aos meus advogados.
Isaque, o meu detetive entregou primeiro a imprensa de sua confiança. A
partir daí que virá o escândalo, em seguida as investigações. Vamos deixar a
bosta rolar no ventilador.
— Pois eu posso ser o responsável por todas essas provas entregues!
O cabeça!
— Eu não permito! De qualquer jeito, eu não teria para onde fugir!
— Após a polícia abrir as investigações do caso, todos serão
intimados a depor... — Laerte murmura sozinho, começando a andar
pensativo. — Porra, pensa, Anton! — Ele, então, para abrupto. — O que
disse é verdade, não terá para onde fugir... nem você, nem o Gael, nem
ninguém. Mas você, com certeza, será ouvido por ser o filho do Rangel. E
terá a oportunidade de contar o que sabe e o que viveu esses anos. Kiara,
Lorenza, eu e até os empregados da fazenda também poderão e alguns estarão
envolvidos. Todos os que eram próximos do seu pai. Pensa. Gael será o
cabeça, ele pode ter investigado tudo sozinho e só dito das provas para você.
Vai te livrar um pouco do inferno do Teodoro tentando contra a sua vida e a
da sua família.
— Estão loucos! Completamente loucos!
— Assume que esta é uma loucura onde quem for culpado será pego
no laço? Lorenza estará envolvida, querendo ou não, entre esse monte de
depoimentos contra ela. Com o Gael sendo o respon...
— EU serei o responsável, eu quem contratei o detetive. É a minha
guerra, a minha batalha. Gael apenas vai depor, sem maiores envolvimentos.
Os dois se olham surpresos.
— Isso é um sim para o nosso plano?
— Isso é um talvez. Esse plano vai envolver a Kia, e todo o restante
próximo do meu pai.
— A Kiara será o depoimento principal. Ela quem contará o que
ouviu escondido da Lorenza e da Lívia. Onde foi o começo de tudo.
— Até a Lívia será envolvida?
A gente olha para o Gael, percebendo que ele ficou estranho.
— A polícia chegará nela. Foi uma das aliadas da Lorenza. Outra
pessoa principal, se estiver deveras do nosso lado.
— A Lívia se arrependeu. Ela me revelou tudo antes de voltar para a
capital.
— Como eu disse, todos serão ouvidos e envolvidos, Gael. Agora
devemos correr contra o tempo. Anton tem que ir para a capital junto da
Kiara e de você para serem os primeiros a depor. Ainda, Dexter, deve revelar
que a denúncia, as provas, partiu da sua parte após descobrir pela Kiara que o
seu pai foi praticamente assassinado, que, com sede de justiça, contratou um
detetive para investigar o governador e a sua mãe. Aliás, deve precaver o
Isaque o quanto antes, para ele não ser pego de relance com as mudanças no
plano. Avise-o esta noite. Ele se meterá com a polícia e o trabalho da sua
firma não é muito correto pelo olhar da lei. — Laerte bate na mesa. — E isso
abrirá o inquérito. Em uma semana as investigações.
— Enquanto a vocês? A Lorenza. — Eu questiono martelando na
minha mente "loucura", contudo, estou disposto a qualquer coisa para eles
dois não saírem impunes.
— Todos nós devemos aguardar as intimações. E certeza de que a
Lorenza será intimada rápida. Até na mesma semana do inquérito. A federal
quem tomará conta do caso. O nosso governador é o núcleo criminoso. Do
lado dele, creio que não existe poucos podres. Ter mandado matar o seu pai
pode ser só a ponta do iceberg.
— É isso? — Gael nos observa, disposto a ir até o fim.
— Temos muito ainda o que conversar. Por enquanto, quero que
mande algum capataz levar a Lorenza de volta para a fazendo do Rogério.
Vamos deixar ela com o gostinho de estar ganhando. Mas nada ficará
impune! Preciso de homens meus naquelas terras para não permitir a sua fuga
da cidade.
CAPÍTULO 49

Como o esperado, na manhã seguinte da segunda-feira, a manchete


das provas que o governador arquitetou a morte do meu pai foram destaque
no principal jornal de Montes Do Sol. Com certeza, o murmurinho pela
cidade já deve estar sendo gigante. Também, repensando várias vezes no
plano do Laerte e do Gael, eu conversei ontem com o meu detetive Isaque
pelo telefone. Surpreendendo-me, Isaque concordou com eles, de que era
uma excelente manobra para não permitir que ninguém saísse de vítima, que
estava disposto a ajudar, logo que não havia nada da parte dele para a polícia
"enxerir" e ele se preocupar.
Porra, e sendo o que Deus quiser, eu aceitei. O plano estava feito. O
risco era e é eminente.
Na mesma tarde de segunda, após deixar a Kia por dentro de tudo o
que estávamos planejando, eu, Gael e ela tivemos que viajar num estalar dos
dedos para a capital. Chegamos as 17h40 no hotel. Hospedamo-nos,
"descansamos" e pela noite, quando terminamos de jantar, declarei que era
hora de acabar com a tensão que estava nos matando desde a estrada. Então
fomos para a delegacia sem dar alarme a imprensa.
Na entrada, assim que me apresentei, eu fui em dez minutos levado
para conversar com o delegado. Ele ficou admirado em "finalmente" me
conhecer. Adiante, deixei-o perplexo após começar a minha confissão e
denúncia da notícia no jornal. Não poupei saliva em entregar o Teodoro.
Expliquei tudo desde o início. O delegado repetia que eu devia estar ciente de
que o meu depoimento envolvia uma autoridade política. O que se foda. Só
sei que foi horas de conversa. Eu disse como consegui as provas e da
importância de ouvir a minha esposa e o Gael, que estavam aguardando lá
fora. No final, sem dar ainda qualquer veredito, o delegado pediu para que eu
chamasse a minha mulher. Eu confirmei, pedi licença e fui nervoso até a Kia,
dizer que ele gostaria de ouvi-la a sós e permaneci tenso ao lado do Gael, que
me fazia perguntas. Quando Kiara retornou, ela informou de que agora o
delegado gostaria de ouvi-lo.
— Tudo bem? — Kia se senta trêmula ao meu lado e eu pego na sua
mão, observando-a preocupado. — Como foi?
— Eu disse tudo o que sabia. E o que ouvi aquela noite da Lorenza e
da Lívia. Eu estou com medo, Anton. E se formos perseguidos? E se
acontecer algo com você, com o bebê? Parece que não existe um final feliz.
— Eu vou nos proteger. Principalmente você e o Gieber. Também já
estou farto. Vou fazer um final para nós nem longe de toda essa droga. Eu
prometo.
— Vamos conhecer o mundo? — Ela pergunta baixinho, com a voz
embargada, abraçando-me forte.
Com vontade de fugirmos agora, sem pensar no amanhã, controle-
me e apenas a protejo no meu peito, beijando os seus fios loiros... e confesso
que com medo de um dia perdê-la. Eu seria um nada. Kia é o que me restou
de bom. Talvez seja o "erro" mais certo que eu já cometi na vida. Ela é a
chance que Deus me deu de ser diferente. Eu sei que é, eu sempre soube.
— Sim, minha menina, uma boa parte que conseguirmos desse
mundo... — Afago-a com carinho, contemplando seu calor e o seu perfume de
flores.
No decorrer, em meio a espera, Gael também retorna depois de
conversar com o delegado. E pela última vez, eu sou chamado por ele. Só que
antes de ir, eu peço em silêncio, olho a olho para o Gael fazer companhia
para a Kia. Ele aguarda desconfiado, esperando alguma ameaça, ou um teste
de morte, mas viro bruto as costas.
Se fosse para eu matar ele, eu já tinha feito isso há anos.

Kiara Dexter

Anton se retira e enquanto eu pensava nas perguntas que o delegado


me fez, Gel se sentou ao meu lado, distraindo a minha mente. Eu o observo.
Ele sorri de canto, como que se estivesse tudo bem entre a gente. De que os
meses sem conversar, sem me dar um bom dia, boa tarde, boa noite sequer
fosse alusão da minha mente.
— Oi...
— Tem certeza de que está se dirigindo a mim? Há meses finge que
eu não existo. No entanto, oi, Gael. É um prazer receber a sua atenção.
— Desculpa, Kia... infelizmente você sabe o porquê... — ele coça o
cabelo, retraído e com vergonha. — Eu estou fazendo a minha obrigação por
respeito ao Dexter, e o mais importante, a você, ao seu pequeno filho e ao seu
casamento.
— Eu sei que o Anton te propôs duas escolhas. Também entendo de
que foi o certo. Pois, de qualquer jeito, eu não escolheria ir embora. Por mais
que meu marido no passado fosse cruel, maldoso, algo rebelde era maior
dentro do meu peito, algo que me impedia de ir. Entende?
— Acho que sim...
— A dor estava acima do amor. Contudo, existia o amor. O Dexter
só tem a mim, eu sou a única pessoa que lhe restou depois que o pai morreu.
Quando eu entendi isso, entendi da mesma forma que ele estava disposto às
mudanças, a ser outro homem. E que estava me pedindo socorro em silêncio;
"soluções" para se redimir, para "aprender" sobre o amor. E uma chance de
provar que era bom. Mesmo sem dizer, as suas ações, as frases escapadas, os
olhos, tudo demonstrava isso.
— Ele te ama. Por trás daquela casca dura de músculos e cara feia de
bravo, ele não passa de um medroso sem coragem diante do amor e dos seus
próprios sentimentos. Hoje eu vejo que ele está tentando ser esse outro
homem, por você, pelo filho — Gael me fita sincero. — Eu o julguei na
raiva. Errei, mas desta vez eu quero ajudá-lo a chegar na felicidade. Não é
tarde.
— Não é. Muita coisa já mudou. Inclusive nesses últimos dias entre
vocês dois. Fico muito feliz que devagar estão se acertando. Espero que após
essas coisas tristes voltem a ser melhores amigos. Ter você ao lado dele é
crucial.
Ele sorri fraco.
— Devagar... somos dois orgulhosos. Ele é mais, claro.
— Os dois são iguais. Quase sete anos brigados, um sem força para
se desculpar com o outro.
— Falando em desculpas, eu quero aproveitar a minha coragem para
lhe pedir perdão pelo passado. Pelas minhas investidas e tudo mais. Perdão,
Kia. Sinto-me envergonhado.
— Não tem que pedir perdão, ou sentir vergonha pelos seus
sentimentos intensos. Você não teve culpa de senti-los. Está tudo bem. E
espero que também possamos ser amigos de novo.
— É claro, se o Dexter não tentar arrancar um dos meus olhos ou
dentes quando nos falarmos, somos amigos.
Eu começo a rir. Sim, esse é o Gael que eu conheço. Cheio de graça,
de sinceridade e que em meio a dificuldade tenta fazer o outro sorrir. Ele é
um bom homem. A mulher que se dispor a estar na sua vida jamais ficará
entendida. Aliás...
— Mudando de assunto, posso te fazer uma pergunta curiosa?
— Sim, claro.
— O que teve com a Lívia? — Direta, eu o questiono. Gael franze o
cenho, desviando em instantes de mim. — Desculpa a intromissão. Anton
que comentou comigo que, no final, ela te falou toda a verdade, pois vocês
tiveram alguma coisa forte. Não sei. Foi algo que a fez te confessar os erros.
— Ela se arrependeu e foi embora para a cidade, está focada na sua
clínica de dentista. Não tivemos nada.
— Hum. Mas você acabou de engolir em seco, desviar o olhar e
creio que neste exato momento está olhando para aquela parede ali e
pensando nela.
Ele volta na hora a me encarar sério. Já estando acostumada com o
olhar do Anton mil vezes pior, não me incomodo. Compreendendo que essa é
a forma dele não perder a postura durona e tentar me intimidar.
— Essa mulher é passado, o que tivemos foi por interesse da
Lorenza. Sabe disso, Kiara. Ela era informante dela, uma manipuladora.
Quase usou a todos nos.
— Eu sei, entretanto, parece que a Lívia pode ter se apaixonado por
você. Quando foi embora da mansão estava estranha, cabisbaixa. Ela chegou
até a me dar um abraço e dizer um "sinto muito" bem baixinho. Achei
estranho, não pareceu da índole dela. Só que agora compreendo.
— Hum...
— Não seja chato, talvez devesse dar uma chance. Todos erram.
— Somos totalmente diferentes. Ela é madame metida, mandona,
autoritária. Me enfurece. Não existe chances. Passado fica no passado!
— Então vai fazer o mesmo que fez com a filha da Felícia? Deixar
que se vá, sem se esforçar para ir atrás?
— Nunca senti nada alento pela Ester. Ela era obcecada, grudenta,
ciumenta. Já Lívia é... Droga, Kia, é passado.
— Viu, você gosta daquela mulher bonita. Aproveita que está na
cidade e procura a clínica dela. Não seja teimoso, nem orgulhoso.
Conversem.
— Eu serei! Não existe chances!
Ele se cala, cruzando os braços fortes como que se fosse uma criança
birrenta de trinta anos e com músculos. Eu dou de ombros, revirando os olhos
para ele. Orgulhoso demais. Todavia, se ele não quer revê-la, deve ser porque
aconteceu algo sério. E mesmo que não seja agora, eu torço para que um dia
ele encontre alguém que realmente mereça os seus sentimentos. Gael deve ser
feliz, ter um amor recíproco. Ele é um ser incrível.

Anton voltou, e foi para dizer que estávamos liberados. Eu nem sei
como me controlei para não dar uns pulos de felicidade por poder descansar.
Já são 02h00 da madrugada, só quero uma cama cheirosa e macia.
Ao entrarmos no carro, ele nos revelou que o delegado abriu as
investigações e que todas as provas serão apuradas pelo perito que o juiz
escolher. Ele receberá uma intimação em breve para retornar a cidade. Além
de que todas as pessoas citadas na nossa denúncia, e que estiveram no
convívio do seu pai igualmente serão intimadas na delegacia. Isso quer dizer
que a Lorenza vai receber "a surpresinha" lá na fazenda do Rogério. Eu só
gostaria de ser uma mosquinha para ver a cara da desgraçada assassina nesse
dia.
— Você não quer pedir nada para comer? — Eu pergunto, após o
Anton fechar a porta do nosso quarto e ir até o frigobar pegar uma latinha de
cerveja.
Gael foi para o dele que fica no andar de cima.
— Não, a minha vontade é só de deitar e dormir. Estou quebrado.
— A minha também... — suspiro, sentando-me na cama para tirar os
saltos, as joias, o vestido e aliviada, me deitar de lingerie entre os lençóis
macios.
E que sensação maravilhosa, acho que farei isso sempre. Estou nas
nuvens.
— A gente volta amanhã para a fazenda? Nunca fiquei um dia longe
do meu filho. Já estou sentindo falta dele.
— Não sei. — Anton me observa, enquanto dá pequenos goles na
sua cerveja.
Eu abraço os lençóis e o travesseiro, observando-o do mesmo jeito.
É tão bonito esse homem.
— O que foi? — Pergunto devido ao seu olhar intenso.
— Eu gosto muito de você, Kia... por dentro e por fora.
Principalmente por dentro. É muito linda.
Eu abro a boca, sem palavras. Ele, então, vira toda a latinha, coloca
na mesa e vem até a beirada da cama tirar os sapatos, a roupa e deita-se só de
cueca comigo. Ele me beija fogoso, cheio de pegada, mas o afasto com os
olhos emocionados.
— Eu sinto tanto medo do amanhã, do depois, do futuro — sussurro,
tocando na sua face com extremo apreço, amor, carinho.
— Eu sempre senti, é humano, não é? Todos sentem.
— Digo sobre nós, Anton. Não parece que falta algo? Que estamos
incompletos?
Ele se ajeita e eleva a minha coxa na sua pélvis, acariciando-me
pensativo com a cabeça no travesseiro.
— Você confiou em mim. E o que estiver faltando vem da minha
parte.
— Diga, o que sente de verdade por mim? — Questiono sem
rodeios.
Ele permanece em silêncio, desvia as íris do teto e analisa-me por
alguns segundos, compreendendo a resposta que desejo. Meus olhos
marejados não desviam dos seus.
— Eu sinto que não posso te deixar ir embora pela segunda vez. E
que tudo sempre dependerá de mim, inclusive das ações e demonstrações. —
Ele me puxa para o seu corpo cheiroso. — E é isso... Estou te achando muito
frágil. Melhor tentar dormir. O dia foi cansativo.
— Talvez eu esteja mais sensível... — pensando em sua resposta,
que não foi o que eu queria ouvir, eu me ajeito sonolenta, quase fechando os
olhos. — E tira a mão da minha bunda, por favor.
— Eu adoro a sua bunda — ele sorri do meu murmuro, dando-me
um selinho. — Além de que você dormir assim só de calcinha e sutiã me
enche de calor.
— Toma um banho que passa... boa noite, Sr. Dexter.
Sinto outro sorriso se formar no rosto dele. Satisfeita, não faço
questão de olhá-lo, nem de brigar de novo pela sua mão no meu bumbum, e
durmo aninhada aos seus braços rígidos, sentindo-me protegida.
BÔNUS LÍVIA E GAEL

Gael Abner

Ao levantar e tomar o café do hotel com o Anton e a Kiara, informei


a eles que voltaria para a capital mais cedo. Anton também concordou de ir
embora. Não é seguro ficar aqui, o governador é sujo, pode tentar de novo
algo contra a vida dele e até a da Kia.
Mas, antes de ir, dentro da caminhonete eu pego o cartão que ela me
entregou na fazenda e procuro o tal local pela cidade. Assim que encontro,
paro na frente com a caminhonete, lendo a fachada da clínica (Odonto Sol). E
enrijeço os músculos, controlando-me para não descer e ir atrás dessa mulher.
Droga, ela não sai dos meus piores pensamentos. Eu queria era nunca mais
vê-la, ao mesmo tempo necessito de sentir o seu perfume de âmbar e a sua
voz mandona pela última vez. Para esquecê-la.
E que se dane, desconsiderando a voz que me chama de trouxa, eu
desço. Eu vou devagar até a entrada. Entretanto, ao parar diante da porta de
vidro, eu percebo que a clínica está fechada. Então agradeço. É a vida me
impedindo de fazer merda.
Eu viro as costas, tendo certeza de que não, a porra da vida quer é
me ver humilhado por um rabo de saia metido.
Lívia acaba de atravessar a faixa de pedestre da esquina. Ela está
vindo da panificadora que fica do outro lado da rua. Aproveito para admirar a
sua beleza dentro de um vestido de madame. Percebo que enquanto ela
andava na calçada com os saltos, ao erguer os olhos em direção a porta do
seu estabelecimento, ela se assustou, dando uma parada brusca. Cruzo os
braços, arrependido por ter pensado nas palavras da Kiara. Eu não devia ter
vindo.
Ela volta a caminhar incrédula, andando de cara fechada até mim. E
linda, muito linda, que mulher... exibida.
— Desde quando é permitido caipiras idiotas no meio da sociedade?
— Ao parar, Lívia me encara com os seus belos olhos verdes. Sua voz é a
mesma autoritária, vingativa e fria de sempre.
— Não vi nenhuma placa impedindo caipiras idiotas de entrarem na
cidade.
— Hum. Trágico. Mas isso será uma ótima ideia a algum político.
Farei questão de assinar a petição pedindo a lei contra brutos do mato
andando tranquilamente entre seres normais!
Ela tenta passar brava por mim, com um molho de chaves na mão,
um copo grande de café e a sua bolsa na outra. Porém, não permito, me
pondo alto na sua frente. Lívia então volta a parar e a suspirar fundo.
— O que quer, Gael? Sentiu falta da vadia na sua cama?! —
Esbraveja, demonstrando o quanto adoraria me ver de baixo de um carro,
agonizando com centenas de ferimentos.
Sem saber o que dizer, eu procuro uma boa desculpa e não encontro.
Até que penso na conversa com o delegado ontem.
— Gostaria de te avisar de que receberá uma intimação para dar um
depoimento contra a Lorenza e o governador daqui há algumas semanas.
Lívia engole em seco, arregalando um pouco dos olhos.
— É para isso que está na cidade? Foi na delegacia entregá-la e dizer
que eu era a sua cúmplice?
— Não, não mesmo. É uma longa história, onde você não pode
escapar.
— A única coisa que eu fiz foi tentar seduzir o Dexter e você, Gael.
E eu te disse toda a verdade, não quero mais saber desse assunto. Eu fui
induzida pela minha mãe e pela Lorenza porque elas prometeram que me
ajudariam a sair das dívidas com a clínica, os meus cartões etc. Eu precisava.
— Não se colocou no lugar das outras pessoas, das vítimas dos seus
atos.
— Eu repito, eu precisava do dinheiro ou era rua com a minha
clínica, o meu apartamento, o meu carro financiado e a minha vida de
dondoca. Agora vai embora, você não sabe de nada sobre mim. Além de que
já passou o seu recado desagradável. Adeus!
Ela me enfrenta fria, voltando a tentar passar por mim. Eu permito,
sentindo o seu perfume de âmbar ser carregado pela brisa até as minhas
narinas. Eu adoro esse cheiro, ao mesmo tempo detesto, pois me faz lembrar
sempre dela.
— Eu não vim só por isso... — Assim que ela abre a porta, eu
murmuro inquieto.
Lívia inclina o pescoço, me analisando. Parece lutar contra algo no
seu interior também.
— Acha mesmo que eu sou uma vadia, Gael? Uma interesseira que
se deita com qualquer um?
Eu passo a mão na nuca, vencendo meu orgulho para assumir que
errei.
— Aquele dia eu estava nervoso, descontrolado. Você me disse que
a Lorenza era a minha mãe. Eu agi frustrado, explodi verbalmente com você.
— E agora? Está aqui por quê? Se arrependeu?
— Porra, Lívia, nem eu sei.
Ela para de me analisar, vira o rosto, abre a porta e some para dentro
da clínica. Eu fico parado igual um idiota. Então me movo, seguindo-a igual
uma criança ansiosa, que fez merda. No interior da recepção pequena, eu olho
para os cantos do ambiente chique, de moveis planejados e com assentos
brancos. Até que volto ao presente da situação, quando ela fecha a porta na
chave e caminha lenta, obstinada até mim.
— A verdade é que você é o típico homem que uma madame e
qualquer riquinha adoraria ter na cama. E sabe perfeitamente disso. Eu te
subestimei achando que era um idiota sem atitude, um caipira do mato.
Contudo, é como o Sr. Dexter, causa calafrios. E as mulheres suspiram por
você. É formado, estudado, bonito e tem fama na capital.
— Onde quer chegar?
— Em lugar nenhum. Só estou revisando a armadilha que você me
fez cair, de "bom moço", "controlável".
— Sinto muito se não sou com os seus outros relacionamentos, onde
devia mandar e os cachorros adestrados latiam, sentavam e rodavam para
você.
— Engano seu, eu fui casada e noiva apenas.
Minha testa franze.
— Surpreso? Pois é. Eu fui casada por cinco anos, depois fui noiva
por um ano e no fim traída por ele e uma vadia na minha própria cama. Ainda
perdi um filho na gestação. Muito estresse, tristeza. Pois nessa época também
a clínica e a minha vida financeira começaram a desmoronar. Ou seja, esse
ano, por isso fiz o que fiz. — Lívia se aproxima e coloca a mão no meu peito,
acariciando-me. — Está vendo como você não sabe nada sobre mim? Mas eu
sei tudo sobre você, Gael Abner de Souza. Eu sei porque veio aqui atrás da
vadia... É porque pensa nas nossas noites quentes, nos nossos banhos de rio,
daquela bela foda perto do estábulo. Eu te deixei louco, não deixei?
Confessa?
Meu corpo se impõe enrijecido. Não tenho coragem de desviar dos
seus olhos manipuladores. Eu estou preso a esses verdes.
— É isso o que veio procurar: se satisfazer para finalmente dar um
ponto final em mim. E aceito, eu não tenho mais nada a perder.
Ela toca na minha barba, no meu pescoço, no ombro, no cabelo perto
da nuca. E rápido, a seguro no braço, para não me induzir a arrancar o seu
vestido em menos de dez segundos.
— Perdeu a coragem, caipira? Aproveita o oferecimento. Pode ter
certeza de que são poucos os que conseguem isso.
— Você é vingativa! Maldosa!
— É, eu sou, já que bater em você eu não posso! — Ela cola nosso
corpo, delineando os lábios na minha bochecha e na barba rente. — Quer
pelo menos levar a minha calcinha para não sentir tanta falta do meu cheiro?
Estou molhada entre as pernas. Lá no mato é difícil sentir cheiro tão bom. Vai
consolar suas noites quentes sem mim.
E sendo o limite eu a agarro pela cintura, a pressionando no balcão
de mármore. Lívia arfa as costas com dor e, em surpresa pela minha força
brusca.
— Eu vou levá-la depois de te deixar sem andar por uns bons dias!
— É? Duvido caipira idiota e todo romântico!
— Infernos, você só me faz ficar bravo! — Espremo mais os seus
seios no meu peitoral, agarrando o seu cabelo negro rente a raiz.
— E eu estava com muita saudade disso — murmura com a cabeça
violentamente jogada para trás. — Agora cala a boca e me fode bruto,
caipira! Não tenho o dia todo para você!
Eu bufo e beijo-a com vontade, raiva, ódio, tudo o que me ferve o
sangue. Lívia ainda abaixa o braço atrevido, tocando forte no meu membro
por cima da calça.
— Lívia!
— Você demora a ir ao ponto! Eu falei me fode, não para me beijar!
Irado, a puxo bruto pela cintura. E a levanto imediatamente sobre o
balcão, para arrancar o seu vestido branco. Tiro a camisa, taco no chão junto
da sua roupa, abro o cinto a calça e avanço por baixo do tecido, na vagina
sem pelo nenhum dela. Lívia geme, rebolando sem cerimônias. Admiro o seu
corpo bonito, definido, principalmente os seios avantajados dentro do sutiã.
Eu poderia passar o dia todo me enlouquecendo com eles. São belos.
— Gael... — Ela me puxa possessiva, alisando o meu corpo. —
Meus empregados da clínica já estão para chegar. Me penetra agora, eu
preciso de você me deixando sem andar!
Eu mordo a mandíbula, deixando a boa safadeza subir mais ainda a
cabeça. E quando eu vejo, o desejo dela é uma ordem. Após arrancar a sua
calcinha minúscula, eu coloco a camisinha e pouco se fodendo, meto de uma
vez entre as suas coxas gostosas. Lívia grita, segurando-se forte. Porra.
Então, em instantes computador, telefone, vaso, canetas, grampeador, sua
bolsa, o copo de café, vão tudo sendo empurrados ou destroçados no
porcelanato do chão. Meu nervoso, raiva, tesão, malícia, tudo acumulado por
Lívia começa a ser descontado sem pena.
Mesmo quando eu gozo, recupero-me incrivelmente duro, voltando a
investir com mais fome e sagacidade na sua intimidade inchada.
— Mandona do inferno!
Jogo-a na parede, devoro os seus peitos, boca, pescoço! Estapeio a
sua bunda, puxo os seus cabelos. Ela chora de prazer, chamando-me aos
berros de tudo quanto é nome. Faço essa manipuladora pagar por me
enlouquecer e me induzir a ser um tarado pervertido! É pouco se levantar
amanhã assada! Jamais vai se esquecer de hoje! Nem de mim!
— Bruto, animal! — Grita com as unhas arrancando pele das minhas
costas.
Eu meto mais forte, pirando os seus sentidos, suas palavras,
pensamentos e tudo o que eu lá não sei. Caralho! Ela me enfurece!
— OOOHHHH! — O vazo de planta ao nosso lado cai quebrado
com meu chute para afastá-lo e Lívia me olha de boca aberta, gemendo e
chorando com minhas investidas impiedosas. — Gael! Ahhh! Caipira!
CAPÍTULO 50

Kiara Dexter

— Quatro semanas depois —

Sentindo-me estranha de novo, eu me sento na beirada cama. Olho


para os lados e parece que as paredes estão rodando.
— Acho que eu estou mais ansiosa do que você pelo retorno do
Anton. — Minha mãe vira o corpo, caminhando na minha direção. Ela me
observa. — Kia, tudo bem com você, meu amor?
— Sim, só senti uma leve tontura. Deve ser do café que eu tomei
demais. Maria fez bem docinho.
— Humrum... é, você está tomando muito café e comendo bolos,
tortas, doces, como se eles fossem desaparecer da mesa. — Mamãe murmura
e para desconfiada na minha frente, com os braços cruzados.
Eu me levanto nervosa, "nem ligando" para ela e as suas
insinuações.
— Se você for voltar com aquilo de eu estar engordando, nem
precisa gastar saliva, mãe.
— Se não quer me ouvir é porque está fugindo da verdade. Felícia
tem razão. Seu medo está te deixando cega.
— A verdade que eu preciso de um regime? Nesta parte eu
concordo.
Ela balança a cabeça, repreendendo-me brava. Eu tento não ficar
mais nervosa... realmente eu sinto medo. Só Deus sabe como eu estou
chorando nesses últimos dias. Tenho certeza do que anda acontecendo. Os
sintomas assustadores foram como uma estaca no meu coração.
— Daqui há mais algumas semanas, eu quero ver se você vai
continuar mentindo sobre o seu peso. E para o Dexter. Ele mesmo já deve
estar percebendo. Não está?
Não respondo. Eu apenas abaixo a cabeça.
— Quando ele chegar esta tarde da capital, conte dos sintomas. De
mim e da Felícia, você pode fugir, mais dele e da realidade não.
Minha mãe, então, termina de falar e retira-se séria do quarto, sem
sequer ser carinhosa. Sozinha, eu vou até o espelho me observar com os olhos
marejados.
O que a mamãe não sabe, é que ele nem desconfia. E que eu já
decidi contar a verdade hoje, quando ele chegar da capital. Não estou
suportando ter cada dia mais certeza e ficar guardando esse segredo. Isso doí,
me faz pensar no passado com o Gieber. E também, se ele reagir bruto,
maldoso, me ferir, magoar, é a prova de que não mudou, de que não me ama
e de que não me merece. Será o fim, não continuarei com um casamento
mentiroso. Agora se ele for recíproco e compreensível, sentirei imensa
felicidade. Um peso cheio de medos, terrores, inseguranças sairá dos meus
ombros.
Eu toco na minha barriga, desabando em lágrimas.
Seja o que Deus quiser.
Mais tarde, para a minha surpresa, o Anton chega antes do horário
marcado, às 17:00 da tarde. E com um pequeno buquezinho de rosas
vermelhas. Sim, ele me trouxe flores! Eu fico sem fala, sem ação com o
presente. Já ele me puxa animado pela cintura, enchendo-me de beijos
molhados.
— Eu tenho... boas... notícias.
— É, eu estou vendo — sorrio, segurando o seu queixo para parar de
me beijar. Fico emocionada. — Obrigada pelas flores, nunca fez isso. Elas
são lindas.
— Serei sincero de que infelizmente o Gael tem culpa.
— Como assim?
— Quando estávamos saindo da cidade, paramos numa lanchonete e
tinha uma senhora vendendo rosas por dois reais. Ela nos ofereceu. Eu disse
que não queria, mas o Gael me chamou de um puta carrasco sem um pingo de
romantismo para comprar uma rosa sequer para a minha mulher. Foi um
abuso, eu, então, comprei todas as rosas para esfregar na cara daquele imbecil
e para provar que eu posso ser romântico. Daí montei o buquê.
Eu gargalho, não acreditando, e o beijo com mais vontade.
— Fico feliz, são lindas — pisco, admirando o seu rosto. — Agora,
por que está tão de bem com a vida? Tem a ver com o governador e a
intimação do delgado essa semana?
— Sim, e a Lorenza. Os dois foram indiciados. Teodoro saiu do seu
condomínio essa manhã algemado. Contra provas não há argumentos. O
médico confessou novamente tudo diante do juiz. Já a Lorenza está em
suspeita, graças a Lívia que confirmou as palavras do Gael e as suas. Mas não
sei se ela vai experimentar alguns anos na cela... — Anton bufa, soltando-me.
— Meus dois irmãos estavam lá na delegacia ontem.
— Santiago e Gabriel? Eles voltaram do exterior?
— Sim. E esses bostas me enfrentaram, disseram que não deixariam
a mãe deles irem presa. Que ela era uma senhora, que eu estava louco e que
se acontecesse alguma coisa com a Lorenza, declarariam guerra contra mim.
Eu só não meti um soco na fuça dos dois porque Laerte e Gael me seguraram.
— Você disse para eles do seu pai? Esses idiotas sabem como a
Lorenza é suja?
— Acha que eles estão aí, Kiara? Pouco se importam. Ela é nossa
"mãe". E foda-se. Lorenza pagará de outra forma. Assim como o Teodoro
que só está no começo dos seus escândalos. Muitas testemunhas serão
ouvidas. Agora é a polícia federal que está à frente das investigações. Certeza
de que levantaram mais podres políticos dele.
Eu acaricio a perna do Anton.
— Isso significa que teremos paz?
Ele me fita, elevando o dorso da minha mão para beijá-la
— Sim e não. Todo cuidado é pouco. Estamos no meio do fim.
Porém, isso não significa que eu não terei tempo para me dedicar ao nosso
casamento e ao nosso filho. Antes de vir para casa, eu conversei muito com o
padre Júlio. Ele me disse coisas boas que me fizeram limpar a alma. Ele falou
sobre perdão, amor, fé, paz, família. Me deu a visão de que eu estou no
caminho certo da mudança. Que o importante no momento era você e o
Gieber. O que me restaram e que são os dois motivos para eu continuar.
— Eu fico sem palavras, Anton — meus olhos umedecem. Eu
começo a chorar feliz.
Ele me abraça, beijando meu cabelo.
— Vai ser tudo diferente, Kia. Eu prometo.
— Confio em você.
Ficamos abraçados, até eu lembrar de outra coisa.
— Ah, eu tenho que te falar que a fazenda está sendo invadida por
jornalista. Mas nada preocupante. Os seus capatazes não estão deixando-os
nem atravessarem a porteira.
— Na delegacia e na porta do hotel, também estava chovendo de
jornalistas e de paparazzis para conversarem comigo. Querem mídia sobre o
que anda acontecendo.
— Ainda bem que estamos bem longe de toda essa bagunça da
capital — acaricio-o no peito, respirando o seu cheiro masculino. — E fique
sabendo que o senhor estragou os meus planos de preparar um jantar especial
esta noite para te receber.
— O que eu disse sobre fazer as coisas para mim, dona Dexter? —
Anton toca no meu decote.
— Mas esse jantar era importante para... — desvio dele. — para nós
dois.
— Hum. E que tal subirmos e tomarmos um banho gostoso na
banheira?
Arrepiada, o fogo imediatamente sobe pelo meu corpo.
— Foram seis dias longe de você... Tenho muito o que recompensar.
— Precisa mesmo, mas vai ser a noite — eu me afasto com vontade
de arrancar a roupa, a calça dele e me perder de satisfação.
O Dexter sorri, percebendo o meu calor indecente. De umas semanas
para cá, eu estou sentindo tanto, mais tanto tesão, que é alucinante. Só de
conversamos pelo telefone eu já me estremecia por ele, tendo pensamentos
que nem posso citar.
— Você fez o que eu te mandei, Kiara?
Coro as maçãs do rosto e olho para a sala vazia, a escada, retornando
baixinho para a sua pergunta.
— S-Sim... duas vezes.
Eu minto, na verdade, depois do primeiro estímulo foram quatro
vezes.
— Você gozou?
Eu aperto as coxas com a palavra "gozou", saindo rouca da sua voz
grossa, e assinto, ainda mais corada. Ele, então, me toma com posse pelo
braço, passando a sua língua nos meus lábios. Eu arfo.
— Eu quero saber todos os detalhes desses seus dedos sórdidos.
— Você verá... — eu falo com coragem, provocando-o — à noite.
— Se até lá eu não te pegar de jeito... — Ele murmura e beija-me
forte, conduzindo a nossa boca e as suas mãos a me apalparem com muita
safadeza.
Quando eu consigo me desvencilhar do seu corpo quente e das suas
mãos, eu o convenço a ir tomar banho sozinho. E aproveito esse tempo para
poder contar as novidades do governador e da Lorenza para a minha mãe, a
Felícia e a Maria. Também aproveitei para pedir para a Maria preparar um
jantar muito especial. Depois para a Felícia organizar uma mesa romântica na
enorme sacada do nosso quarto master.
Antes de qualquer coisa, revelarei para ele o que está acontecendo
comigo. Tenho que ser corajosa, enfrentá-lo sem pensar nas possíveis
consequências negativas.
— Toma, fica com ele enquanto eu tomo banho — no quarto, após o
Anton trocar de roupa, eu entrego o bebê para ele. — E desce para a sala, não
quero o senhor aqui.
Ele pega o Gieber no colo, observando-me neutro.
— Devo fingir que daqui a pouco você não vai preparar um jantar,
onde, no fim, nos levará de qualquer forma a todas as posições existentes
nesta cama? Pois eu repito que não é necessário, minha paciência está curta
hoje.
— Você é um estraga prazeres! E não me importo com a sua
paciência! Agora sai daqui, Dexter!
— Bom ser rápida, Kiara, ou eu te surpreendo antes que sequer
pisque.
— Sai ou eu te taco o meu salto!
Anton me desafia com uma cara horrivelmente irresistível. Eu
coloco a mão na cintura, aguardando-o se retirar após eu catar um dos saltos
do chão. Ele, então, vira as costas.
— Essa é a sua mãe, tacaria um sapato na cara do seu pai sem dó....
— Anton sai fazendo o bebê rir e eu a balançar a cabeça, achando graça e
amor pela cena.
Como amos esses dois. Eu olho para a minha barriga. Ou três.
Que realmente seja o que Deus quiser.
CAPÍTULO 50. PARTE II

Às 19h, com tudo pronto na sacada, inclusive eu com o meu vestido


provocante, peço finalmente para a Felícia avisar ao meu marido para subir. E
o aguardo ansiosa. Pai amado, muito ansiosa. Minhas mãos estão suadas e
tremendo aflitas.
Eu preciso ter calma. As coisas se encaminharam lentas até eu
finalmente desabar o que está acontecendo. Vou ser sincera, direta e sem
mistérios. Inclusive com as dúvidas sobre a nossa relação daqui em diante.
— Devo me fingir de surpreso? — Enquanto eu admirava a minha
pessoa pelo reflexo do espelho, sem ouvir a porta ser fechada, eu apenas me
dou conta da presença do Anton quando inclino o pescoço e o vejo em pé, me
observando com o seu chapéu negro no topo da cabeça e os braços cruzados.
Sem falar que essa calça justa caiu muito bem nele. E a camisa azul
deu um ar de mais poder. Chego a ficar com calafrios. Às vezes ele consegue
me intimidar sem menor esforço.
— Em nenhum momento, eu fiz surpresa desta noite.
— Hum... — Ele continua a me observar com os braços cruzados, o
olhar bárbaro de mau sombreado pelo chapéu e a altura gigante perto dos
meus pequenos 1,6 m.
— Eu vesti só para você — declaro corajosa, chegando a dar uma
volta lenta para ele ver cada detalhe do meu vestido caríssimos, da cor azul
turquesa. A minha cor preferida.
Frisando que é decotado na frente e nas costas. E justo, mas não tão
curto nas coxas. Meus cachos loiros esplandecem, realçados pelos mínimos
brilhos dourados do tecido. Estou me sentindo bonita para mim, igualmente
para o Dexter. Ele não desviou os olhos por um momento desde que entrou
neste quarto.
— Eu tenho muita sorte — ele sussurra, caminhando devagar. —
Uma verdadeira boneca de carne e osso. E minha boneca! — Ao parar,
exclama sem me tocar. — É a mulher mais linda, Kiara.
Eu sorrio, tão feliz, bonita e com a certeza de que o Anton sente
amor por mim. Gostaria tanto que ele dissesse que me ama.
— Não está tentando me agradar, né?
— De forma alguma. Tudo em você é encantador, inocente, dócil.
Por mais que você mudou, e por minha culpa, essas mudanças foram boas. Só
lhe tornaram mais incrível, madura, e uma mulher maravilhosa por dentro e
por fora. — Ele é sincero e abraça-me, acariciando a minha cintura.
— Você também está se tornando mais maduro. Fico feliz pelas suas
mudanças.
Eu dou um selinho demorado nele, adiante, afasto-o para não me
beijar de verdade, com sede de mais.
— Agora vem, eu quero te mostrar a mesa da sacada.
Ele entrelaça os dedos nos meus, coloca o chapéu na cama e
acompanha-me para eu mostrar a mesa romântica que a Felícia organizou às
pressas para nós.
— Hum... está deliciosa... — Ele diz e vira-me de costas, prendendo-
me e beijando-me no pescoço.
Rolo os olhos, rindo das suas intenções.
— Se comporte, Sr. Dexter.
— Eu só quero saber de você sem esse vestido e sem as roupas
íntimas. É pedir demais?
— No momento é. Me larga e se senta na cadeira. Vai, mocinho.
Antes de ele fazer o que eu mando, o Anton belisca a minha bunda e
rouba um beijo molhado ao virar-me de volta.
— Como... como é desobediente, meu Deus!
Ele ri, finalmente me largando e indo se sentar na cadeira. Eu, da
mesma forma, vou até o meu lugar, percebendo um vinho ao centro do cooler
de gelo.
— Você quem mandou esse vinho? — Pergunto com a boca cheia de
saliva.
— Sim, eu pedi para a Felícia trazer para nós.
— Hum, que bom.
Descubro os nossos pratos deliciosos para comermos antes de
esfriarem. E durante o nosso jantar sob a luz da lua, Anton é descontraído e
diz coisas engraçadas. Eu fico o olhando, analisando-o, às vezes, passo a mão
na barriga e sorrio. Mas não das suas graças, mas, sim, sentindo alegria por
ter outro bebê. Por mais que eu não saiba ainda a reação dele, eu estou muito
feliz por isso, por gerar outro ser pequeno, vindo de mim. Creio que Deus
está sendo misericordioso. Se estamos juntos nesta linda noite, é porque ele
tem algum propósito conosco, principalmente com o Anton. Nossas vidas,
nossos sentimentos, corações, Deus está curando. O amor, é a palavra-chave
do progresso. E amo o Anton. Eu dei uma segunda chance a ele, e agora
estou o perdoado de todo espírito e alma.
— O que foi, Kia? Está chorando? — Anton afasta o guardanapo do
colo, larga os talheres e pega na minha mão para afagá-la. Ele fica
preocupado.
— Eu preciso te perguntar uma coisa... — Limpo minha garganta
embargada.
Anton me analisa, esperando que eu diga.
— Aquele dia, na capital, eu te disse que falta algo entre nós dois,
que estávamos incompletos. Que... — eu suspiro cansada —, não sei. Falta
algo... — Meus olhos me cegam. — Sabe que falta.
Em silêncio, ele, então, afasta a sua mão da minha.
— Eu não sabia quando ia te passar verdade, sinceridade. Só sei e
sinto que era e é uma grande caminhada para eu ser quem você merece. E
sabemos o que falta. Só que eu não sei se estou pronto, Kia. Não fiz nada
ainda para dar esse passo.
— Mas sou eu quem devo estar pronta. E você fez muito, apenas em
demonstrar que está lutando por mim, pelo Gieber, pelo amor e o perdão... é
muito, é grandioso.
— Eu tenho que continuar fazendo por mais, isso é pouco. Não
posso decepcioná-la, nem a mim.
Ele se levanta estranho. E rápida, eu faço o mesmo, parando
emocionada na frente dele.
— Pois eu te perdoo, Anton — seguro no seu braço. — Eu te perdoo
porque eu te amo e acredito nas suas mudanças. Porque já está fazendo por
onde. Mesmo que tenha ainda uma longa caminhada de luta.
Ele, da mesma forma, pega no meu braço e sem dizer, nada me
aperta num abraço forte. Tão forte que me dói na alma. Ele acaricia os meus
cabelos, as minhas costas. Eu choro.
— Se isso é amor, eu também te amo, Kia. Eu quero te proteger,
cuidar, ser um esposo fiel. Você sempre será o que me restou de bom nessa
minha vida desgraçada. E me perdoe de novo. Eu me arrependo de verdade,
de tudo o que fiz — ele volta a me olhar e percebo os seus olhos vermelhos.
O peso começa a sair dos ombros dele, as palavras o escapam sem
dificuldades. — Te machucar foi como me apunhalar nas costas. Deus viu
como eu enlouqueci, como foi depois as minhas noites de sono com as
lembranças daquele dia, de você chorando, berrando que eu parasse. Até hoje
sinto medo de ser assim novamente. De te ver indo embora, de estar em
algum lugar perdida, sofrendo por minha causa. Isso seria pior do que perder
um membro do corpo. Seria como enterrar o meu pai pela segunda vez.
Eu toco na barba dele, limpando as lágrimas que lhe escorre e ele
não esconde ou tenta evitá-las.
— Pois eu te perdoo de novo. Desejo que sejamos felizes... e que
também aceite ser pai desse outro pequeno aqui dentro.
Guiada por uma força corajosa, eu pego a mão dele e abaixo na
minha barriga. E o encaro, tremendo em meio aos meus turbilhões de
sentimentos e pensamentos.
Ao perceber, ademais, sem acreditar, o Dexter pega a autonomia da
mão, pois ele mesmo toca na minha barriga, olhando-a. Está indiferente,
confuso. Tento não pensar no pior.
— Acho... caramba — surpreendentemente sorri —, vou precisar
comprar um segundo filhote de cavalo — e a sua declaração me faz chorar de
alívio. Eu o abraço, rendendo-me ao amor, ao aperto dos nossos corpo
quentes. — Ou uma menina... — sussurra.
— Obrigada, Anton, por me dar mais motivos de viver. Obrigada!
Não sabe como eu me sinto ouvido isso de você.
— Eu quem devia agradecer. E já estava nos planos.
— Nos planos?
— É, eu gostaria de te ver grávida — Anton volta com a mão na
minha barriga.
Perco a voz com a sua revelação. Ele puxa um riso de lado.
— Eu posso parecer um ogro, só que eu tenho sonhos, dá para notar?
— Q-Que você parece um ogro bruto, que causa calafrios, e é sem
sentimentos? Sim, dá.
Permaneço ainda sem crer na alegria, na felicidade que habita em
mim.
— Pois eu tenho, Kia.
— Seus sonhos teriam relação comigo grávida? Com a barriga
grande? — Entrelaço-me mais firme no seu pescoço.
— É uma curiosidade isso. Já o sonho era com os planos que eu
fazia com o meu pai internado no hospital. Era ali que tínhamos a
oportunidade de abrir o coração. Lembro-me de que eu dizia que essa casa
era gigante, que apenas nós dois solitários era uma merda. Ele, com o seu
jeito, me imprensava na parede, ao mesmo tempo me divertia com a história
de esposa, de crianças correndo perto da escada. E ele, de longe, com o seu
charuto, advertindo-as para nem triscar os pés nos degraus. Tinha que ver
como gargalhávamos. E como eu alimentava isso. Como eu gostaria de ver
essa casa de cabeça pra baixo. Por mim e por ele.
— Acho que a Felícia ficaria louca... — É só o que eu digo
comovida, estimulando então uma longa risada nossa.
Por fim, ficamos nos olhando com brilho nos olhos. Anton afaga os
meus cabelos, eu, o seu braço.
— Estou tão leve. Nunca me senti assim.
— Porque você está amando.
— É, também acho.
— Está mostrando o seu lado sentimental que sofre, que chora e
aceita a mão do próximo. Você assumiu que é humano, cheio de erros,
pecados. E que se arrepender verdadeiramente, Deus dá outro sopro de
esperança. A vida é uma estrada tortuosa, que é sim possível passar em meio
as dificuldades.
Ele suspira.
— Como pode ser um anjo doce, cheia de respostas lindas? — E me
contorna suave, girando-me para ficar de costas para o seu corpo. — Minha
menina mulher.
Anton beija o meu cangote, arrepiando-me.
— Meu poderoso Dexter... bárbaro.
— Seu Dexter não saber se vai conseguir ser bárbaro esta noite —
ele pressiona o meio da minha bunda. — Está grávida, posso mach...
Interrompo-o, colocando o braço por trás da sua calça, para apertar o
seu membro. Cristo, ele bufa tenso.
— Deixa que eu conduzo a nossa noite, querido Dexter.
CAPÍTULO 50. PARTE. III

Anton Dexter

Após as suas palavras, Kiara sorri e me faz segui-la para o quarto.


Porém, na porta do terraço, agarro-a com muito calor. Seduzido pelo seu
perfume, pela sua pele, a sua beleza. Ela não tem noção de como é sexy.
Estou cheio de tesão.
— Anton, controle-se.
— Eu quero você — murmuro, apalpando os seus belos atributos.
— Você vai ter, por favor, sente-se ali naquela poltrona —
arrepiada, ela pede, com a cabeça contra o meu peito e apontando para o
móvel.
Nervoso, solto-a, permitindo que se afaste de mim, e vou até a tal
poltrona me sentar. Eu fico observando-a, que acaba de deixar a luz do
ambiente no médio, em seguida, puxa as cortinas, sem apagar as lâmpadas de
fora.
— Você vai tirar a roupa? — Quando ela retorna, eu pergunto
fazendo a minha menina corar e sorrio. Vê-la envergonhada é a coisa mais
fácil desse mundo. Adoro as suas bochechas vermelhas, pigmentadas de
sardinha.
— Sim, eu vou até o fim.
— Hum, estou ansioso — relaxo, com a maior cara de mentiroso.
Eu queria era pegar a Kia de jeito, rasgar esse seu vestido sensual, as
suas peças íntimas, e sendo no chão, na parede, na cama, onde for,
deliciosamente fodê-la feito um animal do mato.
Só que ela está grávida... Eu olho para a sua barriga, enquanto tira
devagar o vestido, esperando um outro filho meu. Ou se for uma menina?
Cabelos loiros, cacheados, bochechas manchadas e olhos azuis como o céu.
Idêntica a Kia. Isso é bom, né? Ela será linda.
Kiara fica ruborizada, só de calcinha e sutiã. Parece mais acanhada
do que de costume. Eu sei o que ela quer fazer. E para deixá-la um pouco
livre dessa tensão, da timidez, eu me levanto pacífico.
— A-Anton, é para ficar sentado!
Não digo nada. Com o rosto sério, chego perto dela. Afobada, ela se
distancia, colocando a mão no meu peito.
— Calma, eu só vou te deixar quente.
Então, agarro-a carinhoso e pressiono-a forte no clitóris, por cima da
calcinha. Kiara arfa, excitada. Chego a fazer um leve passeio nas bordas dos
seus lábios genitais, acariciando-os, antes de abandoná-la molhada para voltar
ao meu lugar com a calça sufocando o pau.
— Isso foi mais do que deixar quente... — Murmura, demonstrando
o tesão sexual que lhe sobe pelo sangue.
Fita-me, arrancando ansiosa o sutiã para me dar a visão dos seus
seios de mamilos empinados. Ela pega nas alças da calcinha e desce o tecido
rosado lentamente até o chão. Porra, engulo em seco com os punhos fechados
e o membro latejando.
Kiara fica nua. Peladinha. Admiro os seus ralos pelos pubianos, que
adoro puxar para provocá-la dor. São loiros.
— Se toque para mim — peço, louco já com a cena.
E a partir daí, ela respira, fecha os olhos e encaminha as mãos pelo
próprio corpo. Passa pelo pescoço, seios, barriga... Ao parar na vagina,
acaricia o clitóris, soltando um gemido fundo de prazer. Eu estremeço. Ela
começa a esfregar os dedos, indo de lento a cada vez mais forte. Meus olhos
não desviam dos movimentos. Porra, assisto-a se masturbar lindamente de
pernas abertas. Kia está rendida ao prazer. Ela geme. E porra de novo. Até
que pega firme nos peitos, arqueja alto e exprime as coxas, gozando sozinha.
Espero as suas forças voltarem para eu mandá-la vir até mim. Ela
vem, olhando as suas coxas grudentas. Ao parar, em vez de se sentar no meu
colo, Kia dá uma volta na poltrona e agarra com os dedos o meu cabelo. Fico
nervoso, muito nervoso. Meus músculos estão enrijecidos. Preciso foder.
— Kiara, vem sentar aqui!
Ela desce as mãos por trás, pelo meu peitoral, e cato o seu braço,
girando-a para cair sentada no meu colo.
— A brincadeira acabou. — Aperto os seus seios, lambendo-a nas
costas.
Ela se mexe sobre o meu membro inchado, e caralho, é o fim!

Kiara Dexter

Anton me levanta num estalar dos dedos. Vira meu corpo e me faz
cair sobre o apoio da poltrona, de bunda empinada para ele. Meus cabelos
deslizam todos para o meu rosto, tento afastá-los, ao mesmo tempo, me
segurar após sentir uma respiração fervente no bumbum, adiante uma rápida
lambida no meu clitóris até o ânus. Eu choramingo, lutando com o cabelo, a
imaginação e os gemidos. Ainda o Anton me dá um tapa ardido, horrível!
— Ai, inferno! Seu bárbaro!
— Você, xingando? — Posso notar que existe um sorriso na sua face
diabólica. — Não vou aceitar malcriação da minha menina — e ele me dá
outro tapa dolorido no mesmo lugar.
Não sei se gemo pelo tesão, eu de raiva pela dor.
— Droga, isso doí, doí muito. Suas mãos são grandes e gro... — não
termino de falar, não quando, desta vez, sinto o seu pau nu e cru percorrer a
minha vagina.
Que gostoso...
Meu líquido de lubrificação lambuza na hora o estofado. Anton, a
seguir, me toca, explorando meu canal vaginal até a entrada do útero. É
inexplicável, só sei arfar e me segurar para não gozar. Ele aproveita para tirar
toda a roupa. Tento olhá-lo de canto, mas não consigo. E fico ansiosa,
esperando-o que me penetre de jeito bruto, sem dó ou pena.
— Relaxa, serei bonzinho — sua voz não demonstra isso. — Muito
bonzinho...
Ele desce delicado a mão pela minha medula espinhal, chegando nos
meus cabelos da nuca, onde pega os fios com brutalidade e força a cabeça do
seu membro na minha entrada melada, latejante.
Não disse que não demonstra? Céus!
Eu abro a boca, remexida de tudo quanto é sentimento. Ele me
penetra devagar para não machucar. E conforme se introduz, isso o
enlouquece mais do que eu. Seguro-me firme, não me importando mais com
o cabelo na cara, porque o Anton começa a investir o seu comprimento e eu a
pirar no cérebro com a satisfação. Esqueço até o meu próprio nome. Ele
chega a me dar beliscões na bunda.
Grito, berro, arquejo, gemo, entregue a paixão, ao calor, ao tesão!
— Porra, que delícia! — Ele vai fundo, indo e vindo, metendo e
saindo.
E no limite do ápice, preenche-me com seus jatos fortes.
Eu também tenho o meu segundo orgasmo, e quase um mini infarto
com tanto prazer. Ficamos por um tempo inertes, ouvindo apenas a respiração
ofegante um do outro. Sinto a minha barriga sufocada e tento me levantar
dolorida, ele me ajuda.
— Tudo bem? — Anton me puxa para os seus braços musculosos,
fazendo carinho nas minhas costas.
Nosso corpo nu permanece atraídos com a sensação de pele com
pele. Eu mais ainda com o seu membro enconchado no meu estômago. Meus
mamilos igualmente estão no seu peitoral, imprensados.
— Sim, só não foi confortável para a minha barriga.
Preocupado, Anton muda o semblante. E sou ligeira com a outra
resposta.
— Não me machucou, não se preocupe — aliso os seus cabelos,
ficando nas pontas dos dedos, quase colada nos seus lábios. — Porém, vai
precisar ser mais delicado do que consegue — desvios dos seus olhos sérios e
o beijo gostoso.
No decorrer do beijo de língua, ele aperta o meu pobre traseiro
inchado, com certeza vermelho ou roxo. Suspiro.
— Dexter... — Repreendo o seu braço com pelos grossos, bons para
beliscar.
— Não resisto a você, minha menina. Como posso me sentir tão
fissurado? Com certeza amo você. Quero te amarrar em mim, passar o dia, a
noite, a madrugada tocando a nudez do seu corpo. Mas me controlarei, serei
um Dexter rei.
Sorrio da sua declaração. Meu Deus, o que fizeste com o meu
marido carrasco? Isso é a maior prova de milagre. Ele rendido pelo amor é
sensível, engraçado, carinhoso, amoroso. Que seja para sempre assim. O amo
com todas as minhas forças.
— Mas um "rei", senhor fazendeiro Dexter, tem um ego egocêntrico
e metido.
— Pois eu sou um rei da roça — e sem avisar, ele me solta, inclina-
se e pega-me forte no colo. Escapo um grito, seguido de uma risada.
— Anton! — Apoio-me nos seus ombros.
— Não acabou a nossa noite de prazer. Vou ser bem carinhoso com
você na cama, com todo o conforto de bons lençóis de um rei da roça.
— Rei da roça milionário, é?
— Sabe que eu não tenho só esses dotes — ao me colocar na cama,
sem um pingo de vergonha, ele toca no seu membro endurecido. — Salve o
rei, minha rainha!
Não consigo nem pensar, de boca aberta o toco, faminta. Salve o rei!
CAPÍTULO 51

Anton Dexter

Com o decorrer das semanas, estranhamente não aconteceu nada


preocupante. E isso é que me preocupa. Está quieto demais. Teodoro não
pode ter aceitado a sua prisão provisória tão pacífico assim.
— Devo concordar com você — Gael declara, após eu comentar o
que penso dessa “paz” em nossa volta. — Talvez esse cretino esteja só
esperando o julgamento. Ou, na verdade, ele não tenha tanto poder assim
como garante. Afinal, quando você se lasca, é nessas horas que os
"companheiros" taca o foda-se e te abandonam para não colocar o seus na
reta. Ainda mais se tratando de política.
— O julgamento do Teodoro será daqui doze dias. Lorenza a uma
semana foi sentenciada apenas a fazer serviços comunitários por sete meses.
Ela só está esperando ser encaminhada para o juiz da execução penal. E se
ele, aquele filho da puta pegar essa pena, juro que eu não sei do que sou
capaz, Gael! Juro que eu não sei!
— De jeito nenhum, Anton. As provas são claras, ele é um
assassino! O médico confessou tudo para não sofrer na cadeia. Logo que já
tem setenta anos. Tenha um pouco de fé. Tente neste momento manter a
calma e a lógica. Você ouviu o delegado e os advogados dizendo isso no dia
do interrogatório.
— Eu estou tentando. Por mais que não seja o bastante, ver pelo
menos a Lorenza trabalhando por oito horas em qualquer entidade é algo que
devo assistir de perto. Ela vai adorar as suas fotos sem joias, de roupa branca,
cabelo amarrado, unhas sem cor e "Dexter condenada" nas capas dos jornais.
Já Teodoro, que pague em dobro. Quero que apodreça na cadeia, ou morra
doente!
— Agora a sua única preocupação deve ser com a Kiara e vida de
vocês.
— Pretendo viajar depois da condenação do Teodoro. — Eu passo a
mão no meu cavalo de raça, em seguida, ajeito o meu chapéu. — Quero ficar
uns meses longe dessa cidade com ela. E terei que te sobrecarregar de mais
responsabilidades da fazenda e dos negócios.
— Está tudo bem. Sabe que eu dou conta.
— O pior é que eu sei. Tem sempre a minha confiança, Gael.
— A cada dia que se passa, você está mais surpreendente. — Ele
pega as rédeas do seu cavalo e sai caminhando ao meu lado. — É outra
pessoa, Anton. Não querendo tocar no passado, mas, em comparação com o
meu amigo da faculdade, estou vendo aquele rapaz animado de novo. Desta
vez, um homem. E por mais que carrasco e cabeça dura igual pedra, ainda
suportável.
— Não abuse da sorte, seu filho da mãe.
Gael sorri da minha cara.
— Vai dizer que não?
— Você que por mais do sentimentalismo, ainda é suportável.
Gael retruca, adorando me deixar com vontade de arrancar a sua
língua. E confesso que eu estava sentindo falta do seu bom e velho humor.
Ele sempre foi o meu lado racional, descontraído. É outra pessoa que merece
o melhor das minhas mudanças. Fui hipócrita, e ele nunca esteve errado.
Em casa para o almoço, assim que eu volto mais cedo dos cortes de
madeira, eu subo para o quarto e encontro a Kia com milhares de roupas
novas sobre a cama. Ela está num frenesi sem igual com a viagem. E olha que
vamos só daqui três semanas.
— Com licença... V-Vou pegar o seu suco, Sra. Dexter... — Uma
empregada nova que estava ajudando a Kiara, ao me ver no local arregala os
olhos, fica envergonhada e tenta se retirar rápida. Ela não deve passar dos 19
anos.
Kia nota o comportamento fugitivo da menina, que passa por mim
de cabeça baixa.
— Hum, deve ser maravilhoso para o seu ego causar calafrios e
desconforto nas mulheres — séria, ela arqueia a sobrancelha para mim.
Eu fico a observando com o seu vestido extremamente apertado, que
antes era só "apertado". Acho que ela não está se dando conta de que está
mais gostosa do que nunca. Só de olhar para essa bunda quero morder e dar
uns belos tapas. Linda demais. Uma pena não poder levar a arma na mala
para cuidar desse meu tesouro cacheado, de olhos inocentes e curiosos.
— Eu nem reparo.
— Não seja mentiroso. Só em falar "Dexter" que qualquer uma se
'rebaixa' em reverência ao todo poderoso — rola os olhos. — Ridículas,
impertinentes!
Eu chego perto dela.
— E você acha que é só comigo?
— É óbvio.
— Então quer dizer que quando vamos para a capital, os olhares
infelizes dos homens não são para a dona Dexter, a minha esposa?
Ela me encara, sem fala.
— Você que repara isso. Eles não me olham de outro jeito.
— Como a minha menina é inocente, não conhece a mente dos
homens? — Eu a pego pela cintura, respirando o seu delicioso perfume de
flores. — Homem é quase tudo filho da puta malicioso.
— Sendo homem, diz isso tranquilamente? — Ela coloca a mão na
minha, enquanto acaricio a sua barriga saliente.
— Sim, digo com total segurança.
— Hum... e mudando de assunto, você está cheirando a madeira
recém serrada — ela vira de frente para me analisar. — Não disse? Tem pó
de serra no seu chapéu.
— Isso teria algum problema?
— Não mesmo — Kia sorri arteira. — Isso é muito másculo, fico te
imaginando pegando no pesado. Levantando aqueles troncos enormes. Ah, e
sem camisa, todo suado.
Sem me segurar, eu jogo a cabeça para trás, gargalhando gostoso
junto dela.
— Mais a patroa anda muito safada.
— E você gosta.
— É, eu adoro.
Eu a puxo forte pelo quadril, dando um aperto no seu traseiro
delicioso e beijando-a faminto. Não tendo dó de também agarrar os seus
cabelos com força. Porra, só que ela morde a minha língua para descontar a
dor nos fios. E ainda pressiona a minha bunda com as unhas. Sinto o seu
sorriso nos meus lábios.
— Kiara, Kiara — resmungo, excitado para possuí-la.
— Diga, amor... — Sussurra com o rosto perto da minha barba.
E a palavra 'amor' dita pela sua voz doce incrivelmente rouba o
espaço do furor. Meu coração se aquece. Porém, continuo por um segundo de
jogá-la na cama e arrancar o seu vestido com os dentes.
— Você está conseguindo me enlouquecer. Eu saio para o serviço da
fazenda pensando em você e volto ansioso para ficar na sua presença. Me
fascina.
— Veja, você já está na minha presença.
Ela toca no meu peitoral, adiante ameaça abrir os botões da camisa,
focada em com certeza me enlouquecer.
— Estou e vou te foder muito nesta cama. — Desço a mão para a
sua boceta, mas ela me afasta.
— Não queria aqui no quarto. Lembra do que me prometeu esses
dias? Podemos ir até lá hoje à tarde. Só nós dois.
— Não tenho tempo para isso hoje — volto a pressioná-la e Kia me
empurra, negando-se de vez.
— Então eu vou esperar você ter tempo.
Fico bravo.
— Você provoca e acha que eu vou deixar por assim?!
— Vai!
— Vou o cacete, sua malcriada!
Eu a pego de jeito e empurro-a bruto por cima das roupas na cama.
Só que quando vou subir no seu corpo, alguém bate na porta.
E inferno!
Kiara Dexter

Não sei como posso agradecer a Manuela, a nova empregada


contratada por mim e pela Felícia, que me salvou do Dexter e da sua
sagacidade sexual. Anton ficou uma fera selvagem. E vou deixá-lo mais. Meu
foco é enlouquecê-lo de verdade, sem ele estar no comando.
— Bom trabalho — após Anton almoçar, ele se levanta da mesa e eu
digo na santa paz, só para ter certeza de que ele continua frustrado comigo. E
está, eu chego a me arrepiar com os seus olhos poderosos.
Mais tarde, umas três horas, eu deixo o bebê com a mamãe e vou até
o estábulo gigantesco da fazenda. Temos dois estábulos. Um pessoal do
Anton e dos seus garanhões milionários, e o outro comum. São mais de
oitenta empregados, sem contar os dos armazéns de distribuição e dos
caminhões de entrega. No entanto, os cavalos são para uso especial,
principalmente dos assustadores capatazes. Esses homens me causam medo.
— Kiara, o que faz aqui? — Gael me assiste galopar lenta com o
meu belíssimo cavalo árabe. Além dele, outros quatro peões me observam de
longe.
— Estou dando uma passeada.
— Com certeza não vai estar mais. O Dexter vai surtar com você
aqui.
— Onde ele está?
— Do outro lado do açude, no segundo armazém, averiguando um
serviço de carregamento.
— Tão longe?
Eu já vim passando mal por causa do sol e os enjoos da gravidez.
Imagina galopar por mais meia hora seguida? Vou morrer.
— O que queria com ele? Já aviso que está possesso. Ele foi para lá
porque um guindaste quebrou a duas horas com toneladas de madeiras
suspensas no ar. E, ou o guindaste cai arrastando para frente o carro, ou as
madeiras despencam devido ao peso. Ainda não sei se foi consertado.
— Meu Deus. Se o Anton estiver mais possesso do que no dia a dia,
não quero nem ver ele na minha reta.
Gael ri.
— Sábias palavras. Agradeço por estar longe desse problema do
guindaste. O pescoço de certos peões começa a suar na hora de medo do
patrão. A vida se torna um filme.
— Diz isso, mas você é igual a ele. Já te vi dando broncas. É um
patrão muito rigoroso.
Gael abre mais o sorriso.
— Entre mim e o Dexter, pode ter certeza de que os empregados
preferem as minhas broncas e as minhas ordens.
— Eu não preferiria nenhum dos dois. Ainda mais vocês bravos.
— Opa, então acho que você vai preferir subir no cavalo e fugir para
as montanhas — Gael faz sinal com a cabeça e com a testa franzida, eu
inclino as costas, desfazendo o cenho ao ver o Anton galopar em nossa
direção.
Meu santo amado. Eu fujo ou continuo com o meu plano de fazê-lo
ir comigo até a gruta do rio? Bom, se ele não me reprender por estar aqui, no
meio desses homens, o que vai acontecer, sem sombra de dúvidas, o plano
pode dar certo.
CAPÍTULO 51. PARTE II

— O que faz aqui, Kia? Aconteceu alguma coisa? — Em vez de


brigar, por incrível que pareça, ao parar, ele também desce do cavalo e
aproxima-se preocupado comigo.
— Não... eu...eu... — Céus, eu vou dizer o quê? Percebo que ele e
Gael estão esperando uma boa explicação. — Eu... vim falar com você algo
não muito importante. Que não deve se preocupar.
— Bom, acho que eu vou deixar vocês dois a sós.
— Já resolvemos o guindaste — Anton o avisa antes que pudesse
sair. Ele assente e se retira.
Em seguida, meu querido Marido desce os olhos severos para os
meus e eu passo a mão na borda do meu chapéu de cowgirl vermelho. Minhas
bochechas estão da mesma cor. Anton não devia me intimidar depois de tanto
tempo juntos.
— Agora, dona Kiara, tem dez segundos para não me fazer ficar
mais furioso do que estou com a sua pessoa neste pátio.
— Hum, eu vim perguntar se tem um tempinho para mim?
— Mais do que eu te dou e você joga fora?
— Quem disse que eu jogo fora o seu precioso tempo? — Eu viro o
rosto, notando que alguns empregados estão nos olhando. Anton nem pisca,
acho que para manter o controle.
— Você pode sair mais cedo?
— Eu posso sair a hora que eu quiser, mas não vou. Por isso, volte
para casa. Eu não quero você aqui no meio desses filhos da mãe cheios de
hormônios masculinos.
— Isso é uma vingança daquela hora do almoço?
— Não, isso é um cuidado com a sua saúde. Você está pálida, suas
bochechas estão vermelhas. E o sol está fervendo.
— Eu estou bem, vou ainda até o rio me refrescar. Faz meses que eu
não nado naquela paisagem bonita — começo a andar.
— Kiara, eu falei para casa!
— Eu estou em casa, estou dentro das terras do Sr. Dext... —
Brusco, sem me deixar terminar de falar, o Anton me cata selvagem para
dentro de uma das portas do estábulo gigantesco de madeira e pressiona-me
contra uma pilha de feno. Até o meu chapéu cai no chão pela sua ferocidade.
— Você devia agradecer por estar frágil por causa da gravidez, pois
já estaria a uma semana sem andar! — Arrepiada, seguro-me nos seus braços
fortes. — Já fiquei louco o suficiente, quer me ver mais?
— Sim. Onde pode me mostrar isso, Sr. Dexter? — Toco no cabelo
da nuca dele, querendo uma aventura agora mesmo.
Ele trinca os dentes.
— Eu estou pagando o preço com as suas provocações. E você vai se
arrepender por isso!

Anton me leva nervoso para fora, pede para um peão guardar o meu
cavalo no seu estábulo particular perto da mansão e adiante me faz subir nas
costas do seu garanhão, para vir por trás pegando nas rédeas e saindo a
galopes velozes.
— Onde vamos? — Enquanto ele galopava com o calor do sol
batendo na minha cara, eu finalmente fiz a pergunta em voz alta. — Parece
que está indo ao contrário do caminho da gruta.
— Você não vai ver um pingo de água hoje, para aprender a me dar
paz, não a tirar a minha paz!
Ele me pressiona na coxa e puxa de novo as rédeas. Fico calada, com
a cabeça quase no seu peito suado, que cheira a pó de serra. Se assim me
enche de calor, imagina vê-lo tão másculo trabalhando no pesado? Confesso
que a minha intenção era essa no pátio dos peões, ou quem sabe na área de
cortes.
— Que lugar é esse? — Após o Anton entrar numa trilha de grama
seca, ele começa a se aproximar da frente de uma casa de madeira velha, bem
alta. — É uma casa? — O lugar fica próximo do açude.
— Antiga cabana de ferramentas do meu pai.
— Hum... o que pretende?
Sem responder, ele para, desce do cavalo e estende o braço para me
tirar pela cintura. Aceito a "ajuda".
— O que será? — Então resmunga, dando um tapa na minha bunda
por cima da calça jeans, quase me fazendo tropeçar nas suas botas pretas, ao
me arrastar com ele.
— Acha que vai me assustar? Saiba que não vai.
— Eu falei assustar? Vamos foder gostoso!
Fico em choque, arrepiada. Ao chegar na varanda da cabana ele me
coloca ríspido contra a porta úmida. Em seguida, chuta-a, empurra-me para
dentro e com uma pegada só, toma todos os meus cabelos, roubando um beijo
feroz, repleto de tesão.
— Anton! — Ele me captura pelo braço e joga-me desta vez contra
uma mesa podre, descendo o beijo para o meu queixo, ombro, nuca, pescoço.
Lambendo, mordendo, enlouquecendo!
Eu gemo, tentando olhar para o teto de material em vidro. Ele
ilumina todo o local macabro. As plantas trepadeiras estão tomando conta de
quase tudo.
— Seja... bonzinho... — sussurro em delírio.
— É... serei — Ao soltar o meu cabelo, ele se afasta arrancando a
camisa, o chapéu e com um olhar intimidador, cheio de maldade, retorna
abrindo o botão da minha calça, sem me dar trégua para respirar.
Eu entro ligeira na dele; tiro a blusa, avançando para beijá-lo e para
também ser atrevida com os seus músculos inchados. Eu passo a mão, não me
importando com o suor. Toco nos seus pelos do peito, indo pelo abdômen...
até o cós e finalmente no volume duro da calça. Pressiono-o, excitando-me.
— Inferno...
Isso o enfurece. E enfurece muito. Ele joga a minha cabeça para trás,
puxa a alça do sutiã, inclina-se e chupa com força o meu peito. Sinto dor, ao
mesmo tempo imenso prazer pela sua brutalidade. Minha intimidade lateja e
pulsa, minhas pernas tremem. Parece que a qualquer momento a mesa podre
vai se despedaçar conosco e eu cair dura no chão.
— Hmmm... — Anton acaba tirando todo o sutiã e chupando-me
loucamente.
Seguro-me na parede e fecho os olhos, deliciando-me com a sua
boca selvagem nas minhas aréolas dos mamilos. Ele degusta sem deixar faltar
saliva para nenhum dos dois. As suas mãos grossas os apertam, fascinadas,
obstinadas a me deixarem maluca! Pego nos fios do Anton, puxando sem dó!
Ele se afasta do meu peito, coloca os dedos no meu quadril e abaixa a calça
até as botas de saltinho grosso. Eu fico só com a calcinha branca.
Olhamo-nos, ofegantes, fervendo de calor. A testa dele tem gotículas
de suor. Quando a nossa pele se encontra, elas grudam em fornalha. A nossa
boca devora um ao outro. E, meu Deus, eu quase entro em colapso sexual.
Anton me esfrega na vagina, descendo a sua saliva novamente pelo meu
corpo; passa pelo peito, pela barriga, virilha e na calcinha, morde a minha
boceta por cima do tecido encharcado.
— Humm, aahhh! — Gemo, aproximando a sua cara de onde deve
me chupar.
Não me reconheço. A Kia tímida acaba de morrer. Dexter fica de
joelhos, rasga a minha calcinha, eleva as minhas pernas nos seus ombros e
me faz segurar com força na mesa, com as duas mãos. Só que antes dele
iniciar, eu, ansiosa, contraio o meu sexo de propósito no seu nariz,
lambuzando-o. O Dexter bufa como um touro e avança sem pena, para ruir o
chão e as paredes a minha volta. Eu grito, rebolo, querendo cada vez mais da
sua língua. Ele não é bonzinho. Ele chupa, lambe, chupa, lambe e suga com
tanta força que eu não suporto segurar as contrações por mais minutos, eu
gozo, escorregando para o cotovelo do braço. Mas Anton não para, ele me
engole cada vez mais. Eu começo a chorar e gemer, inundada com as sessões
desesperadoras de prazer. Quero apertar, pressionar, as minhas coxas, só que
ele agora introduz dois dedos na vagina. Saindo e voltando, enquanto sua
língua encontra um ponto específico dentro de mim. Eu berro.
— Anton! — Agarro mais forte os seus cabelos, crendo que eu estou
desmaiando. E mesmo assim ele.... ele não para! — Ohhhh! — Então
explodo de novo, chorando sem força. Minha cabeça gira.
E só sinto mãos me apoiarem e tomarem-me segura, antes que eu
pudesse cair. Eu fecho os olhos. Também as minhas pernas. Arquejando sem
ar. Meu sexo pisca, não sei se gozei ou mijei. Foi tão arrebatador.
— Você está mais pálida do que o normal.
Ofegante, abro os olhos. Anton permanece parado de pé,
observando-me atento. Ele sustenta o meu corpo. E pressinto que se soltar eu
vou ao chão com certeza.
— Eu estou bem, continue, eu quero você.
— É o calor, você deve estar com a pressão baixa.
— Por favor, continue.
— Antes de viajarmos, vamos marcar uma consulta na capital.
Felícia disse que você precisa fazer um acompanhamento na gravidez.
— Tá bom... — Eu o abraço no pescoço, mais firme do corpo e
recuperada dos sentidos.
Anton se cala e me beija controlado. Desgostando desse controle,
aliso o seu órgão volumoso, querendo que se alivie selvagem em mim.
— Porra, você está uma leoa! — Ele brada, distanciando-me para,
enfim, abrir a fivela do cinto, abaixar a calça, a cueca e ficar nu com o seu
membro grosso e robusto.
Arquejo, sabendo que, de jeito nenhum, posso tocar... pelo meu bem.
O Dexter enlouqueceria com o toque. Ele, então, me tira da mesa e eu firmo
os pés, ciente de que estou bem.
— Vire-se empinada. — Anton manda e eu viro, empinando a bunda
para ele, que, sem demora, toca no meu traseiro, com posse. Ele tem mais
paixão por esse membro do que eu imaginava.
Anton passa o pau por dentro do meu rego. Arrepio-me, empinando
mais para recebê-lo e começo a crepitar. Já Anton começa a gemer, indo
fundo e delicioso ao me preencher. Não sei nem o que falo. Eu o chamo
confusa com as palavras. Fico pior quando bombardeia dentro de mim. Ele
volta a esquecer o controle. Seu dedo iça todo o meu cabelo, e com a outra
mão, ele arremata a minha cintura, investindo sem dó.
Gemo. Grito. Choro. Ele uiva, geme, bufa e investe.
Dexter ainda prende a minha cabeça de lado no ombro, metendo e
chupando o meu pescoço, nuca, costas... ele só falta me engolir. Só penso que
eu vou desmaiar novamente... e fecho os olhos, deliciando-me e tendo certeza
de que a minha alma já se foi do corpo.

Cansada, fico completamente nua sobre as coxas do Anton. Frente a


frente. Após o último fôlego de orgasmo, ele achou essa cadeira no canto da
parede. Só jogou a camisa para sentar-se e puxou-me. Estamos mais
"descansados". Demos um longo tempo em silêncio.
— Não sei quando é o nosso melhor... — ruboresço — sexo. A cada
dia um se torna meu preferido.
Anton alisa os lados dos meus seios, fitando-me com os seus bonitos
traços másculos. E suado. Até seus cabelos estão úmidos de suor.
— A sua vontade de foder é sem igual. Estou me sentindo culpado
por tremenda safadeza.
— Eu li num livro que é culpa dos hormônios durante a gravidez.
Entretanto, não me lembro disso com o Gieber.
— Hum — ele passa a mão na minha barriga saliente, massageando-
me desde a cintura. Parece pensativo. Tenho certeza de que é com o passado.
— Como fez o parto dele, onde estava, Kia?
Bom, ele realmente estava pensando no passado.
— Eu estava na cidade vizinha. Fui socorrida pela empregada da
fazenda onde trabalhávamos. Ela tinha duas filhas. Fiquei lá por quatro
meses. E as meninas que fizeram o meu parto. Doeu tanto que eu achei que
fosse morrer. Depois de algumas semanas, fui embora, registrei o meu filho e
voltei para Montes Do Sol, para morar num sítio com uma senhorinha que
precisava de cuidados. Ela era sozinha.
Anton suspira e aspira nervoso.
— Não consigo imaginar tudo o que passou... sinceramente não
consigo.
— É passado, Anton. Por que fica relembrando se te afeta?
— Eu quero que me conte o que passou.
— O passado foi difícil e doloroso. Teremos tempo para isso. Não
hoje, não agora. Mas teremos. Eu só quero ficar com você, falar sobre coisas
boas. Parece que estamos conectados, vivendo e sendo um casal. Me faça
sentir mais isso, Anton. Me faça.
— Eu estou fazendo, Kia. Você me tem, eu sou seu. — Ele se ajeita
oponente na cadeira, segura meus cachos e deposita um beijo molhado nos
meus lábios. — Eu tenho certeza de que amo você — sussurra rouco. — Eu
seria capaz de dar a minha vida pela sua. Sempre será a minha menina doce,
que ruboresce fácil e é curiosa.
Sem aguentar, fico emocionada.
— Eu te amo, Dexter. Te amo, amor.
— Amor... — ele sorri, repetindo a minha palavra carinhosa. Desta
vez, beija-me dedicado, mesmo com uma pitada gigante do Dexter bruto ao
agarrar o meu cabelo com força. — Eu gosto muito de te ouvir falando
isso, amor.
EPÍLOGO

Anton Dexter

A duração da nossa paz era de se desconfiar. Após os onze dias


aguardando o julgamento do Teodoro, que seria amanhã, eu acabo de receber
uma ligação do meu advogado avisando de que a audiência será prorrogada
para daqui um mês. Pois há outras investigações em andamento.
— Isso continua sendo uma boa notícia. Onde vê problema?
Teodoro ficará preso até a audiência. Os advogados dele só sabem perder em
argumentos. O juiz negou duas vezes a soltura provisória — Laerte explica,
sentado no sofá da sala, após eu confessar o que me atordoa a mente. — Para
de se preocupar com o que pode ou não acontecer. Viaje, curta um momento
de férias com a sua esposa e o seu filho. Esfrie a cabeça, relaxe.
— Só vou relaxar quando eu ver a justiça sendo feita da forma que
eu desejo.
— Então você precisará de um psiquiatra e de um psicólogo. Nada é
da forma que desejamos. E chega de falar dessas desgraças. Só sabe me falar
sobre isso?
— E vou falar o quê? — Murmuro irritado, mexendo na boa pinga
do copo.
— Sobre a Kia estar grávida? Poderia começar por aí. Você foi
jantar quinta-feira lá em casa com ela e nem teve o bom senso de me contar.
Se Fabiana não me dissesse na hora de dormir, eu nem saberia.
Olho indiferente para ele, virando a minha pinga com uma careta
amarga.
— É o que, menino?
— Não sabemos. A Kia está de um mês e meio. Após a viagem, ela
voltará para o acompanhamento da médica.
— Menino ou menina, eu fico feliz. É mais uma criança para alegrar
a casa. Além de que me sinto orgulhoso do seu comportamento. Desta vez,
está honrando a sua esposa. Está próximo do seu filho, sendo um pai como o
seu pai foi para você.
— Não devia se orgulhar disso. Meu pai sentiria vergonha de eu
estar fazendo mais do que o meu dever e obrigação, afinal, você sabe como a
Kiara se tornou a minha esposa. Consequentemente, como agi diante do
nosso casamento. Hoje ela, meu filho e o que está por vir são tudo o que eu
tenho. São os meus deveres, as minhas alianças. Eu sou o homem da casa.
— Exato... — Laerte sorri, pensativo com as minhas palavras
sinceras. — E estou me sentindo ainda mais orgulhoso. Se eu não tivesse que
dirigir, brindaria com você agora mesmo. Está dando jus ao sobrenome
Dexter.
— Você e o Gael se merecem, que porra de dom de serem
debochados e filhos da mãe. Mas um brinde, seu intrometido — eu ergo o
copo vazio. Ele ergue o seu de suco de goiaba.
— Para de levar as coisas tão a sério. Seja bem mais humorado. Vai
ver como a vida se torna menos difícil.
— Obrigado pelo conselho, vou do caos ao humor.
Com o nosso longo papo sem importância, Laerte fica para o jantar e
a sobremesa. Ao ir embora, enquanto a Judite também se retirava para se
deitar, eu deixei a Kiara sozinha na sala, com a promessa de voltar logo. E fui
até o cofre do escritório pegar a surpresa dela. Amanhã que é o seu
aniversário. Ela faz vinte e três anos, mas eu vou dar hoje o seu presente. São
as nossas novas aliança. Sei que não é bem um presente, porém, é muito
especial. E durante a viagem, eu posso presenteá-la de outras formas, com
objetos femininos.
— O que foi fazer? Você foi buscar vinho na adega?
Eu volto para a minha esposa curiosa. Ela abaixa os olhos
procurando algum sinal de garrafa nas minhas mãos vazias. Lógico que ela
sabe a resposta.
— De jeito nenhum que você pode beber, dona Kiara. Tem uma
longa restrição da sua médica. Está grávida.
— Hum, nem uma tacinha?
— Nem uma gota. Agora vem, vamos para o jardim.
Ela se levanta e pega na minha mão.
— O que você foi fazer então no escritório?
Não respondo, mantenho o silêncio, e apenas a faço caminhar ao
meu lado até o jardim.
— Olha, a lua está cheia — ao chegarmos na área de lazer, ela
aponta para o céu.
Eu observo a lua, analisando a bonita noite clara pelo seu brilho.
— Que linda. Ela está enorme. Acho que daqui há alguns meses eu
posso dizer que estou na fase da lua cheia, né? Ficarei enorme também.
Sorrio, entrelaçando os meus braços por trás da sua cintura, para
pararmos no gramado e ver o céu.
— As nossas coisas já estão todas prontas para depois de amanhã,
Anton — Kia sussurra, se referindo a viagem. — Estou tão ansiosa para
conhecer o México, aquela praia que me mostrou. Não acreditei nas fotos da
revista. Vamos para um paraíso.
— Um dos paraísos. Depois vamos para Europa.
— Vou ser sincera. Por um lado, sinto-me animada, ansiosa, mas,
por outro, com medo. Você falou que vamos de avião. E se esse negócio cai
lá do céu? Não pensa nisso?
— Não tenha medo. Você e Gieber estão seguros. Todos nós.
— Eu sei que estamos. Tenho fé e confio em você.
Eu viro a Kia para mim. Toco nos seus cachos dourados perto do
rosto. Ela amarrou metade do cabelo para trás, deixando só duas mechas
cacheadas na frente. Seu vestido é longo, meio justo e da cor verde água. Está
linda. Seus lábios rosados pelo batom me deixaram com vontade de beijá-la.
E é o que eu faço com ternura. Eu coloco a mão no seu pescoço, a outra
mantenho no seu quadril e beijo-a com todo o sentimento que posso passar.
Sou lento, calmo e ao mesmo tempo faminto e quente.
— Eu amo o seu cheiro.
Permito minutos seguintes que ela respire, já eu respiro o seu
perfume, acompanhado do aroma gostoso dos seus cabelos. Não tem dia que
a Kia não está cheirosa.
— E eu amo o seu.
Ela se entrelaça no meu pescoço, devido ao seu tamanho, quase nas
pontas dos saltos.
— Eu te amo, Dexter.
Sorrio de canto, passando meu nariz no dela.
— E eu amo muito você, minha Kiara. Você é única. Nunca senti
isso por qualquer outra mulher na vida.
Ela se emociona.
— Amanhã é o seu aniversário — declaro em seguida. — Gostaria
de te dar uma coisa hoje. Não é bem um presente, todavia, é muito importante
para nós dois.
Kiara me olha curiosa, com os seus olhos azuis brilhando para saber
o que é. E antes que pudesse perguntar, eu a afasto, pego a caixinha do bolso
e abro.
— Lembra que eu disse que nos daria uma aliança que significasse
algo positivo? Que não carregasse o peso do passado?
Ela fica perplexa e muito emocionada.
— S-Sim... — consente com a cabeça.
— Pois aqui estão elas — eu curvo a perna esquerda, erguendo as
nossas alianças e a sua mão. — Nunca lhe fiz este pedido. Mas agora eu faço
de todo o coração. Você aceita se casar comigo, Kiara Lemos?
Em meio às lágrimas, ela toca no meu cabelo.
— Claro que sim, amor. Eu aceito me casar com você.
Eu sorrio, sentindo o meu coração bater frenético no peito. Então
coloco a aliança no seu dedo. E ela coloca a outra no meu. Ao levantar do
gramado, eu a beijo quase a erguendo do chão. Ela ri, ao mesmo tempo que
chora.
— Obrigada por suas mudanças.
— E obrigado por não desistir de mim.

FIM?

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