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Direitos autorais © 2022 INDIANA MASSARDO Todos os direitos
reservados
 

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer


semelhança com pessoas reais, vivas ou falecidas, é coincidência e não é
intencional por parte da autora.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um


sistema de recuperação, ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a permissão
expressa por escrito da autora/editora.

Design da capa por GB Design Editorial

Revisado e preparado por Mayara Machado

Betado por Mayara Machado

Leitora Crítica Camila Rodrigues dos Santos


(@primaveraliteraria)
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
SINOPSE
ESTRUTURA BRATVA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37

Í
CAPÍTULO 38
EPÍLOGO
PRÓLOGO
AGRADECIMENTOS
APRESENTAÇÃO

O HERDEIRO é o segundo livro da Série FILHOS DA BRATVA, é


uma história independente, mas está incluso no universo de máfia da autora,
alguns dos personagens que aparecem aqui fazem parte de outros livros,
porém não é necessário ter lido os outros livros para entender esta história.
Ivan Petrov, Giulia Marino, Ricardo Moretti e Gian Stewart são do
livro NASCIDO PARA AMAR;
Daniele Corleone e Lucas Costello são do livro NASCIDA PARA
PROTEGER;
Alphonse Corleone e Amélia Corleone são do livro NASCIDO PARA
LIDERAR;
Alícia de Angelis, Gabriel Esposito e Chace King são do livro
MALÍCIA: UM TRISAL MAFIOSO;
Todos estão disponíveis na Amazon e Kindle Unlimited, caso você
queira complementar sua leitura.
O personagem Andrei Petrov já tem sua história contada no primeiro
livro desta série O REJEITADO: UM ENEMIES TO LOVERS.
Essa história começa antes do livro O REJEITADO no ano de 2024.
Este é meu oitavo livro publicado e esse trisal já está sendo requisitado
desde NASCIDO PARA AMAR, esses três personagens são incríveis e me
conquistaram desde o começo, espero de coração que eles consigam te
conquistar também.
Lembrem-se de avaliar esta obra no final da leitura.
SINOPSE

UM TRISAL PODEROSO NA MÁFIA


Dimitri Petrov é o filho mais velho do Pakhan da Bratva. Único
herdeiro e próximo líder da organização, foi isolado do mundo para a sua
proteção, tornando-se um homem solitário, a não ser pelo seu soldado mais
leal.
Serguei Barkov tem como único objetivo fazer parte do grupo de elite
que protege o homem que tem seu coração. Mas isso muda quando uma
mulher desconhecida chega para balançar as estruturas dos dois.
Yekaterina Belova é uma bailarina que está no auge de sua carreira,
uma que ela já não ama mais. Em uma noite de loucuras e prazeres, é
levada para os braços dos dois homens que irão dominar seu corpo, alma e
coração.
O que era para ser só um caso de uma noite, sem nomes, se torna algo
muito maior quando o coração fala mais alto e o envolvimento entre os três
ganha outras proporções.
Dimitri precisa se casar e produzir herdeiros, mas agora seu coração
possui dois donos e, para que seus planos deem certo, ele precisará lutar por
dois amores impossíveis.
Atenção: Este é um livro sobre trisal com uma mulher e dois
homens, todos os personagens são bissexuais e se envolvem
romanticamente. Não é uma história sobre casais, triângulos amorosos
ou mocinhas que precisam escolher entre um ou outro.
NÃO TEM ESCOLHA!
Este é um Romance Dark com temática de máfia e contém
assuntos polêmicos que podem ser sensíveis para alguns leitores. Esta é
uma obra de ficção destinada a maiores de 18 anos. A autora não apoia
e nem tolera esse tipo de comportamento. Não leia se não se sente
confortável com isso.
ALERTA DE GATILHOS: violência extrema, tortura,
morte, depressão, tentativa de suicídio, alcoolismo, processo de
luto, violência médica.
ESTRUTURA BRATVA

A estruturação da organização chamada Bratva, nesta obra, foi


moldada a partir de pesquisas, porém a autora escolheu criar a própria
estrutura para essa organização, sem qualquer comprometimento com a
verdade, então atente-se às seguintes informações.
ORGANIZAÇÃO
A Bratva (usada nesta obra) é uma organização mundial, com sede em
Moscow, na Rússia, e subdividida em braços secundários por todos os
países do mundo.
O líder da Bratva é chamado de Pakhan, mas a organização possui um
Conselho formado por cinco famílias principais: Petrov, Ivanov, Kuznetsov,
Smirnov e Orlov. Cada família é representada por um chefe e as decisões
mais importantes são tomadas pelo Conselho, juntamente com o Pakhan.
Observe que essas posições nem sempre são títulos oficiais, mas são
nomes conhecidos para funções que um indivíduo desempenha.
Pakhan - Também chamado de Boss, é o líder principal da Bratva e
tem o controle de todos os braços secundários por meio do Brigadier,
Obshchak e Sovietinik.
Brigadier – É o chefe dos braços secundários da Bratva, indicado
diretamente pelo Pakhan para manter o controle de uma região específica.
Dois espiões - Vigiam a ação do Brigadier para garantir a lealdade e
para que nenhum se torne muito poderoso. Eles são Sovietinik ("Grupo de
Apoio") e Obshchak ("Grupo de Segurança").
Bratok – É um soldado da Bratva, um cargo genérico para homens
que são enviados em diversas missões e que também podem trabalhar
somente como seguranças ou equipe de apoio.
Espiãs – São as mulheres treinadas na Central como agentes especiais,
elas são enviadas em missões de diversos níveis, mas não crescem na
organização como os homens. Elas são respeitadas pelos soldados e
trabalham como infiltradas durante as missões, ou como equipe de apoio ao
Brigadier.
Na máfia russa, "Vor" é um título honorário, análogo a um homem
feito na máfia ítalo-americana e siciliana. A honra de se tornar um Vor é
concedida apenas quando o recruta mostra consideráveis habilidades de
liderança, habilidade pessoal, intelecto e carisma.
Dedico esse livro a todas as pessoas que já estiveram — ou estão —
no fundo do poço, eu sei como é estar ali e também sei que podemos sair,
você é forte, você importa e procurar ajuda não é uma fraqueza.
 
Depressão é uma doença séria, se estiver passando por um momento
difícil procure um profissional capacitado para te ajudar.
“You is kind. You is smart. You is important.”
("Voce e gentil. Você é inteligente. Você é importante.”)
― Kathryn Stockett, The Help
PRÓLOGO

YEKATERINA
Rússia, 2024
Eu atingi o ápice em minha carreira aos dezenove anos, quando fui
selecionada, entre outras quatro colegas, para ser a bailarina principal na
turnê internacional da peça “O Lago dos Cisnes”.
Sim, essa é a maior conquista na carreira de uma bailarina, ainda mais
em uma escola tão prestigiada quanto a Bolshoi Ballet Academy. É o sonho
de muitas, que venderiam a alma em troca dessa honra, mas não o meu.
É por isso que hoje, aos vinte e quatro anos de idade, estou
comemorando minha última turnê como bailarina principal. Fui selecionada
novamente, mas o aviso de que esse será meu último ano veio
acompanhando a notícia, portanto preciso me esforçar ainda mais e finalizar
minha carreira com chave de ouro. Foi isso o que a diretora disse e precisei
esconder meu sorriso para fingir tristeza.
Saí do ensaio e fui direto para o apartamento que comprei com o
dinheiro suado de tantos anos de trabalho, tomei um banho, soltei meus
cabelos do coque cheio de spray fixador e grampos, sentindo o delicioso
formigamento de alívio no couro cabeludo, lavei duas vezes os fios longos e
castanhos para tirar todo o produto, hidratei e deixei secar naturalmente,
agora os fios caem em ondas nas minhas costas.
Coloquei um vestido longo, preto e cheio de pedrarias, que há muito
tempo não usava, foi um presente que ganhei de um admirador com quem
dividi a cama certa noite.
Na Rússia, homens poderosos adoram foder com as bailarinas depois
das apresentações e pagam muito bem para isso. Eu não me importo,
contanto que o cara saiba o que está fazendo e não seja um escroto, um
dinheiro extra é sempre bem-vindo.
O par de sapatos dourados foram comprados para o último encontro
que tive com minha ex-namorada, terminamos logo em seguida já que
nosso relacionamento não estava dando certo há algum tempo. Ela
trabalhava com finanças e eu vivia viajando em turnê ou ensaiando para as
apresentações, nós praticamente não tínhamos tempo juntas.
Ser bailarina exige todo o meu tempo livre e, quando tenho algumas
horas de descanso, preciso parar e realmente descansar, senão meu corpo
não aguenta a rotina do próximo dia e o maior medo de qualquer dançarina
é ter uma lesão provocada por desatenção devido ao cansaço.
Termino a maquiagem pesada nos olhos, finalizando com um batom
vermelho cereja, calço o sapato, pego meu casaco e chamo um taxi, que não
demora a chegar e me leva até o bar de um hotel de luxo, onde diversos
homens e mulheres aproveitam a noite de sexta-feira para caçar a próxima
conquista.
É exatamente isso que estou fazendo aqui e não tenho vergonha
alguma em admitir, mas uma hora passou e continuo sozinha, dispensei dois
homens que estavam mais bêbados do que o aceitável, até que uma mulher
de pele clara e cabelo preto, preso em um rabo de cavalo firme no topo da
cabeça, usando um vestido vinho muito elegante, que abraça as curvas do
seu corpo malhado, caminha em minha direção.
Eu já havia percebido seu olhar em mim, mas tinha algo de diferente
na forma com que ela esperava para se aproximar e uma familiaridade, que
plantou dúvidas em minha mente.
— Você está seletiva hoje, Yekaterina — a mulher fala com um sorriso
cúmplice no rosto, seus olhos azuis encontram os meus, então ela chama o
garçom e pede mais duas bebidas.
— Como você… — Paro a frase assim que minha memória resolve
voltar a funcionar e a imagem dessa mesma mulher, porém com os cabelos
raspados e mais jovem, aparece em minha mente. — Yelena.
— Estou tão diferente assim? — questiona, dando uma volta completa
para exibir o corpo.
— Acho que é o cabelo e a idade — respondo, dando de ombros. —,
mas você continua maravilhosa.
— Vou considerar a menção a minha idade como um elogio, assim
como o restante da sua frase, porque agora você tem idade suficiente para
me acompanhar até um lugar muito melhor que esse aqui. — Ela pega as
bebidas e me entrega um dos copos com Martini, então vira o outro e faz
uma careta com o gosto. — Eu prefiro vodca.
— E por que não pediu? — implico e viro minha bebida também, mas
para mim o sabor está excelente.
— Porque, no lugar aonde vamos, teremos a melhor vodca que existe.
— Yelena enrosca seu braço no meu e indica a saída, dando-me a opção de
desistir ou acompanhar e, como não tenho nada a perder, escolho a segunda
opção.
Pego meu casaco na chapelaria e a sigo até um carro preto, e muito
luxuoso, que nos espera na entrada do hotel. Uma hora – e muita conversa
sobre o passado – depois o carro para em um portão grande, preto e
luxuoso, aonde dois homens armados checam os passageiros, mas ao
notarem Yelena deixam o carro seguir.
— Só preciso garantir que você não tenha nenhuma arma, ou qualquer
coisa assim, na sua bolsa — Yelena avisa e abro a pequena bolsa preta, que
contém meu celular, cartão de crédito e a chave de casa. — Perfeito, gata,
você pode deixar tudo na entrada junto com o seu casaco, é proibido o uso
de aparelhos eletrônicos.
— Estou começando a desconfiar do lugar para onde me trouxe —
respondo com uma pontada real de medo, mas a ansiedade é maior e eu
amo uma aventura cheia de mistérios.
— É meio que minha festa de despedida, vou viajar por um tempo a
trabalho e alguns amigos estão reunidos lá dentro, mas eu deveria ter
chegado aqui há três horas, então não se assuste se eles já estiverem
alterados — fala com a voz baixa em tom brincalhão, então ela pega uma
caixa que estava no banco da frente. — Ah, eu já falei que é uma festa de
máscaras?
Yelena me entrega uma máscara preta muito bonita, cheia de detalhes
imitando renda e alguns brilhos, ela amarra as fitas de cetim em volta da
minha cabeça, depois tira outra, idêntica a minha, e eu ajudo a prender.
Assim que o carro para e o motorista abre a porta para eu descer,
preciso controlar o som de surpresa que tenta escapar da minha boca com a
visão da mansão mais luxuosa que já vi na vida. É como aquelas que
passam nos documentários sobre a vida de gente muito, muito rica.
Yelena volta a enroscar o braço ao meu e me acompanha até a entrada,
não deixo de perceber a quantidade de seguranças no local, são mais de oito
à vista e, passando a mão por todo o meu corpo, uma mulher me revista
antes de nos deixar passar.
Minha companheira caminha pelos corredores com facilidade, até
chegarmos a uma porta dupla de madeira, aonde já consigo ouvir o som da
música clássica tocada com perfeição por algum pianista.
— Cheguei, meus amores! — Yelena anuncia ao abrir as portas e
várias pessoas erguem o copo na direção dela, mas consigo ver que a festa
já não está mais no ápice pelo nível alcoólico dos convidados, alguns a
chamam para conversar e ela os segue, cumprimentando as pessoas de
forma animada, Yelena me lança um olhar, mas indico o bar e nos
separamos.
O local é tão luxuoso quanto o exterior da mansão e foi decorado com
vários balões nas cores vinho, preto e prata, que combinam com o vestido
de Yelena. As luzes baixas dão um ar místico e me sinto confortável em
andar sozinha até o bar, estou acostumada com festas privadas de pessoas
muito ricas, há muito tempo isso não tem o poder de me intimidar.
Como todos estão usando máscaras não reconheço ninguém, e duvido
que reconheceria, mesmo sem. Peço uma vodca com gelo para o garçom,
que me serve uma dose dupla antes de se afastar e, ao levar a bebida à boca,
confirmo o que Yelena falou: esta é a melhor vodca que já tomei na vida.
Percebo que a música não parou e encaro o homem atrás do piano, só
com um olhar consigo ver que ele não é um simples músico, o loiro olha
para as próprias mãos, concentrado no movimento dos dedos que tocam
uma melodia triste demais para uma festa, porém ninguém está reclamando,
o que indica que ele é respeitado aqui, talvez o dono da mansão.
O terno cinza-escuro é sofisticado e, com certeza, foi feito sob medida
por um alfaiate experiente, abraça cada músculo daqueles braços
maravilhosos e deixa um ar de mistério sobre o que tem por baixo da
camisa social branca, ele usa uma máscara prateada simples e a barba bem
feita contorna o queixo quadrado.
Eu amo música clássica, na verdade, qualquer música que faça as
batidas do meu coração entrarem no ritmo ganha minha apreciação, e essa,
com certeza, surte este efeito.
Admiro o loiro por um tempo, até sentir que alguém está me
observando e nem preciso buscar muito, só viro para encarar um homem de
cabelos pretos e barba cerrada, com uma máscara azul-escura e um terno
simples, que me avalia dos pés à cabeça, mas quando percebe que o peguei
no flagra, sorri de forma tímida e dá de ombros.
É por causa do vermelho que toma conta das suas bochechas que
caminho até ele, mantendo a pose ereta e o copo em minhas mãos, dou um
meio sorriso e ele passa a mão nos cabelos, disfarçando a timidez.
Não falo nada, gosto de esperar que o outro faça o primeiro
movimento quando sinto que a pessoa é tímida, é como um desafio, então
me escoro no bar ao lado dele, tão próximo que nossos braços quase se
encostam, enquanto levo o copo até os lábios e admiro o pianista.
— Você gosta de música clássica? — ele pergunta e controlo um
sorriso.
— Eu amo música — respondo de forma simples, mas ainda sem olhar
diretamente para ele —, e você?
— Não entendo nada sobre música, na verdade, mas essa é legal.
— Para gostar de algo não é preciso entender sobre aquilo, é só prestar
atenção em como aquilo faz você se sentir — explico e só então volto a
olhar para o moreno, que agora tem os olhos fixos no pianista, e vejo algo
diferente na sua expressão, um brilho a mais por trás da máscara. — Pare
por um momento e concentre-se no que está ouvindo, cada nota tocada
forma uma melodia única e intensa, o que você sente com isso?
Ele respira profundamente por um tempo, realmente apreciando a
música como falei e vejo sua expressão confusa mudar ao chegar na
resposta.
— Tristeza, solidão… — Fechando os olhos ele se concentra ainda
mais para decifrar a última palavra. — Controle.
— É assim que sabemos quando um pianista é bom, ele consegue te
fazer sentir muitas coisas ao mesmo tempo e só com uma música, e esse
está se superando. Você o conhece?
— Só de vista — A resposta sai evasiva e logo depois ele desvia o
olhar do piano para me encarar —, e você?
— Só conheço aquela morena, que está agarrada em uma loira neste
exato momento. — Aponto para o outro lado da sala, aonde Yelena
praticamente engole uma loira de vestido vermelho, ela não demorou para
encontrar alguém e isso me faz lembrar de como nos conhecemos, porque
algumas coisas nunca mudam.
— Yelena te deixou sozinha em um lugar que você não conhece
ninguém? — Ele balança a cabeça de um lado para o outro, mas não
consegue esconder o meio sorriso em seu rosto. — Uma péssima amiga.
— Estamos mais para conhecidas — retruco e ele sorri ainda mais, só
então percebo que, acima da barba bem feita, se formam duas malditas
covinhas conforme seus lábios se abrem —, mas eu não vim aqui para ficar
com ela.
— E qual é seu objetivo essa noite, senhorita?
— Ter uma última noite de liberdade e prazer, antes de voltar para
minha rotina. — Sou mais sincera do que ele está acostumado, vejo a
surpresa se formando em seu rosto e posso jurar que, por baixo da máscara
azul, suas sobrancelhas estão erguidas.
Então ele desvia o olhar para o pianista mais uma vez, parece ser algo
inconsciente, como uma resposta para minha sinceridade, e percebo que
talvez minha noite seja ainda melhor do que eu antecipei.
— Você está interessado nele? — pergunto sem fazer rodeios ou
joguinhos, gosto de ser direta com essas coisas e, se o moreno gostar de
homens e não de mulheres, não perco meu tempo flertando.
— Você é bem direta — aponta, mas não respondo e deixo que tome
seu tempo. — Eu não tenho chance com alguém como ele — fala sem
desviar o olhar do pianista, que não parou de tocar por todo este tempo,
transitando lindamente entre uma música e outra. — E também não tenho
chance com alguém como você.
— Não com esse pensamento — respondo quando ele volta a me
encarar, agora com mais intensidade. — Desde o momento que entrei aqui
eu soube que o pianista não era só um músico contratado.
— Posso saber como?
— É uma festa e as pessoas estão animadas, mas a música é lenta e
triste, o que, em qualquer outro lugar, faria com que diversas reclamações
chegassem aos ouvidos do pianista, mas ninguém se atreveu a reclamar.
— Muito bem observado — pontua, chegando mais próximo de mim
para que nossos braços se toquem. — Continue, por favor.
— Percebe como todos se movem ao redor dele, cada pessoa aqui está
se atentando ao mesmo lugar, inclusive você e eu.
— Você está certa, ele é a pessoa mais importante daqui, agora entende
por que não tenho chance?
— Se quiser ser notado por um homem como ele, precisa pensar que
vocês são iguais e não se rebaixar — murmuro baixinho bem próximo de
seu ouvido e ele solta a respiração, balançando a cabeça de um lado para o
outro, negando minha afirmação. — Eu já conheci muitos homens
poderosos e todos eles possuem uma característica em comum, eles sabem
quem são e o poder que controlam, e não gostam de perder tempo com
pessoas que não estão a sua altura.
— E você gosta de pessoas assim?
— Gosto de coloca-los de joelho — comento e ele abre um sorriso
lindo que chega até seus olhos escuros. — O segredo é saber que, não
importa o poder que um homem tenha, ele ainda é um simples ser humano
e, se não temos o dinheiro que eles têm, precisamos encontrar algo em
comum.
— E o que você tem em comum com o pianista, fora a capacidade de
me deixar com medo e encantando ao mesmo tempo?
Quase solto um “Bom garoto” pela confiança com que ele faz a sua
primeira jogada, mas me controlo.
— Não precisa ter medo de mim, eu só mordo se me atacar, ou se pedir
— brinco e molho meus lábios com a língua, o que chama sua atenção para
a minha boca e sei que estou quase lá. — O que eu e você temos em comum
com o loiro poderoso é o tempo limitado neste planeta, e é esse tempo que
pessoas como ele prezam, por isso não o perdem com os que não garantem
que valha a moeda de troca mais preciosa que existe.
— São palavras bem sábias para alguém tão nova quanto você — ele
responde com uma pontada de admiração na voz.
— Maquiagem e cremes caros, mas não sou tão nova quanto pareço e,
com certeza, tenho mais idade que você — pontuo, fazendo-o sorrir e dar de
ombros.
— E o que eu preciso fazer para que você gaste um pouco do seu
tempo comigo? — O moreno faz a sua investida, agora com um pouco mais
de confiança, virando de frente para mim, tão próximo que consigo sentir
seu perfume cítrico, o braço, que antes tocava o meu, é erguido e ele afasta
uma mecha de cabelo do meu rosto com delicadeza, prendendo-a atrás da
minha orelha e me fazendo segurar a respiração com o choque que o toque
de seus dedos na minha pele produz.
— Eu já estou aqui. — Consigo encontrar minha voz e manter a
confiança, vejo sua pose mudar e ele sorri de canto, é fácil fazê-lo sorrir e
eu gosto disso. — Se você quiser, podemos chamar o loiro gostoso, e muito
habilidoso com as mãos, que está nos olhando por cima do piano neste
exato momento, para nos acompanhar.
— Como você sabe que ele está olhando para nós? — ele pergunta, a
confiança vacilando enquanto tenta manter o olhar em mim.
— Porque ele não tirou os olhos de você desde que cheguei aqui.
Com isso nós dois viramos em direção ao piano, que agora não
reproduz mais nenhuma nota, a música clássica fora substituída pelo som
ambiente dos alto-falantes do local e o loiro caminha, com toda a sua altura
e poder, em nossa direção.
DIMITRI
 
Desde que Yelena chegou com uma mulher ao lado, não consegui
parar de olhar em sua direção. Então ela caminhou com confiança até o bar,
não parecia conhecer ninguém, mas mesmo assim não se intimidou e, para a
minha surpresa, pediu uma vodca enquanto avaliava o local.
É claro que percebi o olhar atento de Serguei nela, essa é a primeira
vez que ele participa de uma de nossas festas privadas, o soldado foi
convidado por Yelena, mas chegou com meu irmão, que já tentou de tudo
para leva-lo para a cama, mas não conseguiu.
Serguei é jovem, tem vinte anos de idade e está começando agora a
ganhar visibilidade dentro da organização, mas ele é bonito, tem um sorriso
fácil e que forma covinhas encantadoras em suas bochechas, e é óbvio que
eu já estou de olho no soldado.
Quando a morena misteriosa foi até ele, fiquei atento à interação dos
dois, avaliando a reação do soldado que, segundo as informações que obtive
na Central, já se envolveu com homens e mulheres.
Não que eu seja fofoqueiro nem nada, mas sou bom em reunir
informações sobre pessoas. Eu faço isso com todos os soldados? É obvio
que não, mas quando percebi o interesse de Andrei nele, fiz minhas
pesquisas e, quando meu irmão tentou algo hoje, o soldado não pareceu
corresponder. Andrei se deu por vencido rápido e a última vez que o vi
estava saindo de fininho da festa com Klaus em sua cola.
Para minha felicidade, Serguei correspondeu às investidas da mulher,
que não poupou olhares, gestos, sorrisos e toques. Assistir a dança deles me
deixou mais animado do que deveria, mas essa também é uma noite para
descontrair, por este exato motivo paro de tocar piano e levanto,
caminhando até os dois que olham em minha direção.
Ela é intensa, altiva, exala poder e confiança, mesmo parecendo ser tão
jovem quanto Serguei.
Ele parece estar se controlando para não abaixar a cabeça assim que
me aproximo, o que me deixa aliviado e curioso sobre o que eles estavam
conversando.
— Boa noite — cumprimento os dois e faço sinal para o garçom, que
prontamente me entrega um copo com vodca pura —, estão aproveitando a
festa?
— Não tanto quanto gostaria — a mulher responde e Serguei toma um
gole da sua bebida para esconder a surpresa.
— Como anfitrião, me recuso a ouvir algo assim e não fazer nada para
remediar a situação. Diga-me, o que posso fazer para melhorar sua noite?
— Sem desviar o olhar da mulher, levo a bebida aos lábios e vejo Serguei
me admirando, o interesse óbvio do soldado quase me faz sorrir, quase.
— Acredito que, em algum lugar dessa enorme mansão, tenha um
quarto — ela responde com a voz baixa o suficiente para que ninguém mais
a escute além de nós dois, largando o copo vazio, ela se coloca no espaço
entre Serguei e eu, com as costas escoradas no balcão. A mulher olha
primeiro para ele, depois para mim, então se vira e fala por cima do ombro
—, e que nós possamos usá-lo.
Olho para Serguei e vejo que ele está parado, claramente esperando
pela minha reação, então faço sinal positivo e coloco uma mão nas costas
da mulher, guiando-a para fora da sala com o soldado nos acompanhando de
perto.
Levo os dois até o quarto que geralmente uso para esses encontros, a
cama com lençóis pretos já está pronta para o que irá acontecer, só espero
que eles também estejam. Ligo o som, criando um clima com as luzes
baixas, e coloco as duas mãos na cintura dela, colando suas costas em meu
peito.
— Qual é seu nome? — pergunto beijando o pescoço delicado dela e
assisto sua pele arrepiar quando passo a barba ali.
— Yekaterina — ela responde, pendendo a cabeça para o lado, mas
não pergunta quem somos.
— Um nome lindo, significa pureza — murmuro enquanto beijo sua
pele delicada sentindo o perfume doce que me faz inspirar ainda mais
profundamente, começo a subir minhas mãos pela frente do seu corpo,
acariciando a barriga lisa até chegar nos peitos pequenos. — Você é pura,
Yekaterina?
— Nem um pouco — ela responde. Então estende a mão direita para
Serguei, que se aproxima lentamente, ficando em nossa frente com os olhos
escuros concentrados no local onde estou beijando —, especialmente hoje.
— E o que você pretende fazer conosco? — questiono e beijo seu
rosto, descendo uma mão pela lateral de seu corpo até chegar na fenda
lateral do vestido.
— Tudo o que tivermos vontade, sem restrições, sem amarras, o que
você me diz? — Yekaterina acaricia o rosto de Serguei e se inclina para
beijá-lo, provando os lábios dele com delicadeza. — Porém não estou aqui
para ser dividida — ela anuncia e dá um passo para o lado, me deixando de
frente para Serguei, que me olha com expectativa brilhando em seus olhos
escuros, vejo sua boca, agora com uma leve cor graças ao batom que ela
deixou em seus lábios e, quando ele prende o lábio inferior entre os dentes,
é meu sinal.
— Você quer me beijar, Serguei? — pergunto porque não é meu estilo
forçar soldados, se ele quiser participar tem que ser por vontade própria.
— Sim, porra! — Serguei responde, me surpreendendo ao envolver
minha nuca com uma mão e me puxar para seus lábios, em um beijo
intenso. Sua boca se molda a minha, abrindo-se para que nossas línguas se
encontrem, e tenho a confirmação de que ele não está brincando.
Paro o beijo para atrair a mulher, que vejo ter tirado a máscara preta do
rosto, revelando os olhos azuis contornados com um delineado preto
marcante na parte de cima, os cílios longos a deixam ainda mais poderosa,
assim como as sobrancelhas bem feitas e delineadas.
Roço meus lábios nos dela, provocando-a, testando seu controle já que
a presença de Yekaterina é tão dominante quanto a minha. Ela entra na
minha provocação, passando a língua em meu lábio inferior para depois
mordê-lo, antes de abrir minha boca com a sua e me invadir, com um beijo
sensual que parece ter sido feito especialmente para mim.
Yekaterina desfaz o nó das fitas que prendem minha máscara, tirando-a
do caminho, então ela se afasta tempo o suficiente para me observar com
atenção e, logo atrás de mim, sinto o corpo grande de Serguei, sua mão
agarra minha cintura e eu faço o mesmo com a mulher. É como uma dança
a três, ele começa a beijar meu pescoço enquanto ela volta a tomar a minha
boca, o tecido fino do vestido não esconde os mamilos intumescidos da
mulher que se esfrega contra meu peito.
— Eu quero ver você ajoelhar — sussurra contra meus lábios, como
uma ordem ou um desafio, o que me faz sorrir pelo atrevimento e sinto
Serguei ficar tenso atrás de mim.
— Você quer ficar no controle, Yekaterina? — pergunto, dando um
passo para trás, criando espaço para me abaixar com um joelho no chão e o
outro dobrado, passo as mãos pela fenda do seu vestido e ergo sua perna,
descansando o salto dourado no meu joelho. — Fique à vontade, seremos
seus hoje.
Tiro seu salto, depois faço o mesmo com a outra perna, sem desviar
meus olhos dos dela, a visão é maravilhosa demais para me distrair.
Serguei não perde tempo e contorna Yekaterina, abrindo os botões do
vestido dela, despindo a mulher que nos tem em suas mãos. Assim que o
tecido cai em seus pés, ele oferece a mão para ela sair e ambos admiramos a
deusa em nossa frente.
Yekaterina não está usando nada, nem calcinha e, assim que meu olhar
cai para o meio das suas pernas, vejo um ponto brilhante. Porra, ela tem um
piercing na boceta.
— Vocês vão ficar só olhando, ou vão se juntar a mim? — Yekaterina
provoca, nos dando as costas para caminhar até a cama. Ela deita de costas
nos lençóis pretos de seda, sem tirar os olhos de nós, leva dois dedos à boca
chupando de forma provocativa.
— Não ouse se tocar quando tem dois homens para fazer isso por você
— aviso e ela para a mão no meio do caminho, abrindo ainda mais as
pernas para nos mostrar a boceta deliciosa que já está brilhando com sua
excitação.
Viro para Serguei, que já está tirando a gravata e abrindo os botões da
camisa com ansiedade, então seguro sua mão e ele desvia o olhar da
morena.
— Calma, temos a noite toda — anuncio e termino de abrir os botões
da camisa, empurrando o tecido junto com o paletó de segunda mão que ele
está usando, jogando tudo no chão para encarar o peito firme e musculoso
em minha frente, acaricio cada um dos gominhos em seu abdômen,
descendo as mãos até a calça sem tirar os olhos dele, vejo sua boca
entreabrir quando passo a mão com firmeza pelo seu membro, por cima da
calça consigo senti-lo grande e duro, pronto para o que está por vir.
Ele solta um gemido quando tomo sua boca em um beijo intenso, suas
mãos viajam para o meu terno e deixo que faça o que quiser comigo
enquanto abro sua calça e o ajudo a se livrar do restante de suas roupas,
assim que a cueca preta é tirada, admiro o pau delicioso que pesa em minha
mão, a ponta rosada brilha com o pré-gozo que ele não consegue controlar.
Envolvo seu pau na minha mão e começo a masturba-lo, sentindo seu
corpo todo estremecer com o meu toque, o beijo fica mais intenso conforme
movo minha mão com mais firmeza e ele solta gemidos deliciosos contra
meus lábios. Porra, o soldado está entregue e isso me deixa ainda mais
excitado.
Por isso solto sua boca, sem desviar de seus olhos, me abaixo em sua
frente, seguro seu pau com as duas mãos e, sem pensar duas vezes, passo a
língua pela ponta rosada, sentindo o gosto salgado e delicioso do homem
que geme incontrolavelmente quando levo todo o seu comprimento para
dentro da minha boca, lambendo a extensão do seu pau para depois chupá-
lo com vontade.
Não demora muito antes dele agarrar meus cabelos com mais força e
começar a empurrar seu pau contra minha boca, completamente perdido no
prazer que lhe proporciono, mas Serguei tenta se afastar quando está quase
gozando, o que eu não deixo que aconteça, chupo com ainda mais vontade,
levando-o até o fundo da minha garganta, até que sinto a porra quente e
deliciosa na minha língua.
— Caralho, Dimitri… — Serguei choraminga enquanto goza e meu
pau aperta ainda mais na calça, eu já sabia que ia gostar de tê-lo na minha
cama, mas não poderia imaginar que seria tão bom assim ouvi-lo gemer
meu nome.
Quando lambo todo o seu comprimento, me levanto e planto um beijo
em seus lábios, testando seus limites, mas ele corresponde ao meu beijo,
ainda ofegante do orgasmo e com a porra de um sorriso satisfeito no rosto.
— Esse foi o melhor show que uma mulher como eu poderia pedir —
Yekaterina fala, sua voz embargada de tesão e, quando olho em sua direção,
ela está com a mão na boceta, esfregando calmamente seu clitóris, o lábio
inferior preso entre os dentes e o olhar intenso em nossa direção.
Sorrio com o atrevimento e volto a beijar Serguei, dando mais alguns
segundos para ele se recuperar antes de me afastar.
— Leva essa boca deliciosa até a cama, quero assistir você chupando
nossa mulher — ordeno e Serguei se afasta com a respiração ofegante,
caminha até a cama e ele ajoelha, puxando o corpo de Yekaterina até a
beirada, ela abraça o pescoço dele com as pernas no momento que ele passa
a língua nos lábios dela, se jogando para trás e soltando um gemido
delicioso.
— Chupa com gosto — Yekaterina exige segurando os fios do cabelo
de Serguei com uma mão, ela começa a rebolar assim que ele aumenta a
intensidade, vejo a língua batendo diretamente no clitóris, subindo até o
piercing e voltando.
Caminho pela lateral da cama, tirando minha roupa com calma,
assistindo a tudo, me deliciando com cada gemido que ela solta, cada som
que ele produz ao grunhir contra sua boceta, o olhar concentrado no rosto
da mulher que me olha com expectativa a cada peça de roupa que tiro, até
sobrar somente a cueca.
— Coloca dois dedos dentro dela — ordeno e é o que Serguei faz
enquanto continua lambendo e chupando com vontade, ele começa a entrar
e sair com os dedos até que ela se contorce na cama, arqueando as costas e
vejo a hora exata em que Yekaterina tem o seu primeiro orgasmo, suas
pernas tremem e ela rebola descontroladamente na boca de Serguei, que não
para o que está fazendo até que ela amoleça em sua mão.
Pego o pacote fechado de preservativos da gaveta e o tubo de
lubrificante, deixando tudo em cima da mesa de cabeceira, Serguei se
levanta com Yekaterina em seus braços, deitando-a no centro da cama, ele
traça um caminho de beijos no corpo da mulher, subindo da virilha,
passando pela barriga até chegar aos seios, onde se delicia com cada um,
dando tempo para ela se recuperar do orgasmo, o que não demora muito e
logo ela está olhando em minha direção.
— Está na hora de você participar — avisa e Serguei se afasta quando
ela engatinha em minha direção, o olhar selvagem não sai do meu rosto,
prometendo tudo e entregando ainda mais, ela pega uma das camisinhas e
entrega para Serguei, então envolve o elástico da minha cueca com as duas
mãos e liberta meu pau, sem perder tempo sua língua passa pela cabeça,
umedecendo essa parte, então segura o comprimento com a mão e coloca
tudo na boca, como fiz com Serguei.
— Porra, que boquinha gostosa — elogio e ela tira tudo, lambendo o
comprimento com o olhar no meu, a visão me faz tremer de tesão e preciso
me controlar para não segurar seus cabelos e foder sua boca, mas deixo que
ela tenha o controle, é fodidamente sexy de assistir.
Atrás dela Serguei se posiciona, deslizando o preservativo no pau com
habilidade, ele olha diretamente em meus olhos quando entra nela, tão
devagar que posso sentir como se fosse em mim, ainda mais quando
Yekaterina geme com o meu pau na boca, me levando até o fundo de sua
garganta para depois sair, ela aumenta a intensidade e chupa com mais
força, sua mão acompanha os movimentos e já posso sentir o orgasmo se
formando.
Serguei começa a penetrá-la no mesmo ritmo que ela me chupa, suas
mãos firmes seguram a cintura fina da mulher enquanto fode sua boceta,
mordendo o lábio para controlar os gemidos que eu já não me importo em
soltar.
— Eu quero vocês dois, juntos — Yekaterina anuncia, largando meu
pau para pegar o preservativo e Serguei me olha, confuso, procurando
orientação enquanto ela desliza a camisinha no meu pau com agilidade e se
levanta para beijar a minha boca.
— Tem certeza? — pergunto contra seus lábios, mas ela não responde,
só me beija com mais vontade, descendo a mão até meu pau e me
masturbando para provar que sim, ela quer isso. — Senta na cama, com as
costas escoradas na cabeceira, Serguei.
Tomo o controle e Yekaterina sorri, safada, sabendo que terá o que ela
quer. De costas para Serguei, que a segura pela cintura, ela desce em seu
pau, tomando-o por completo, soltando um gemido delicioso através dos
lábios vermelhos.
— Vem, me fode junto com ele — ela me chama, subindo e descendo
devagar no pau de Serguei enquanto ele beija seu pescoço, reunindo os fios
de cabelo castanho dela com a mão, tirando-os do caminho para que não
grudem em nossos corpos suados.
Subo na cama, sem quebrar o contato visual, admiro a mulher entregue
a nós, uma desconhecida que não parece saber quem somos, o que fazemos
ou a quantidade de sangue que temos em nossas mãos.
Yekaterina se entregou a dois homens com o único pedido de receber
prazer por uma noite e é nisso que me concentro quando fico na frente dela
e levo uma mão para o meio das suas pernas.
— Você já fez isso? — pergunto e provoco seu clitóris inchado
enquanto ela cavalga no pau de Serguei, posso senti-lo contra minha mão,
entrando e saindo dela em um ritmo lento.
— Sim — ela confessa com um sorriso convencido no rosto tão jovem,
mas que de inocente não tem nada.
Pego o lubrificante e lambuzo ainda mais a camisinha e meus dedos,
que são os primeiros a entrar nela, alargando sua boceta, preparando-a para
receber meu pau.
Yekaterina para um segundo, acostumando-se com eles, ela geme e
Serguei beija seu pescoço, olhando sobre os ombros da morena.
— Relaxa para mim, Yekaterina — murmuro e beijo seus lábios, aos
poucos começo a movimentar meus dedos e ela relaxa, abrindo-se para nós.
— Porra, você tem certeza?
— Só continua, eu não vou implorar — ela responde e morde o lábio
inferior, fechando os olhos ao voltar a subir e descer, movendo-se contra
nós, provando que é realmente o que ela quer.
Então me aproximo mais, segurando-a pela cintura, parada na altura
certa para que Serguei continue dentro dela, mas que eu consiga me
posicionar na sua boceta. A ponta do meu pau entra estrangulada nela,
batalhando com o pau de Serguei por espaço, ambos sendo comprimidos
pelas paredes quentes e, muito lentamente, Yekaterina vai se alargando para
nos receber.
Eu consigo senti-lo dentro dela e é bom pra caralho.
— Caralho — Serguei expressa em um gemido e Yekaterina sorri, a
desgraçada sorri quando estamos os dois dentro dela, tenho a visão
privilegiada da sua expressão de dor misturada com prazer e da forma com
que Serguei me olha, tão entregue quanto ela.
Yekaterina passa os braços pelo meu pescoço e me beija, moldando
sua boca na minha em um pedido para continuarmos e é isso que faço,
movendo seu corpo lentamente para cima, depois para baixo e ela geme
contra meus lábios.
— Porra de boceta perfeita do caralho, Yekaterina – Serguei solta entre
gemidos.
–– Você tomando nós dois juntos, é tão gostoso — elogio, porque a
cada palavra minha, sua expressão alivia e sua boceta contrai — Você é tão
linda, tão fodidamente perfeita, Yekaterina.
Ela volta a se mover, mas tomo o controle e dito o ritmo das
investidas, eu não vou demorar a gozar e, pela expressão de Serguei, ele já
está pronto, quando Yekaterina joga a cabeça para trás eu tomo seus peitos
em minha boca, sentindo o gosto do suor nos seus mamilos, fazendo-a
gemer ainda mais descontroladamente enquanto entramos e saímos dela, em
um ritmo lento e delicioso, então sinto sua boceta se contraindo e suas
pernas começando a tremer, volto a esfregar seu clitóris, sentindo o piercing
nos meus dedos, até que ela grita de prazer e sinto o liquido escorrer da sua
boceta, em um squirting potente.
— Porra, eu não vou aguentar muito mais — Serguei avisa.
— Goza comigo — dou a ordem antes de senti-lo estremecer,
mordendo o ombro dela para controlar o gemido enquanto entro mais uma
vez, liberando meu próprio orgasmo em jatos de porra absurdos que
preenchem a camisinha.
Estamos os três suados, ofegantes, entregues em uma névoa de prazer
que eu nunca senti antes, parece diferente, porra, é diferente. Quando saio
dela, seguro o corpo amolecido de Yekaterina e a deito na cama com
cuidado e carinho, plantando um beijo em sua boca que se abre em um
sorriso sincero e satisfeito.
Serguei também sorri, encarando-a com os olhos brilhando enquanto
seu peito sobe e desce, rápido e ofegante, passando os dedos pelo cabelo
dela, acariciando o topo da cabeça da mulher deitada ao seu lado.
Depois disso Serguei e eu nos levantamos para ir até o banheiro
descartar os preservativos, na volta pego três águas do frigobar e Yekaterina
agradece quando sentamos na cama, um em cada lado dela para nos
recuperar.
— Isso foi… — Serguei é o primeiro a falar, mas não completa a frase.
— Foda pra caralho — Yekaterina continua e todos rimos do seu
linguajar.
Serguei passa um braço atrás dela e descansa a mão na minha cabeça,
Yekaterina se escora nele enquanto acaricio seus cabelos, posso ver o olhar
cansado dela e a forma com que Serguei também está relaxado, a música
agora é lenta e calma.
Não leva muito tempo até os dois caírem em um sono profundo
enquanto eu fico acordado, ela rolou para o meu lado e abraçou meu peito,
logo depois Serguei a abraçou por trás, a mão grande cobrindo a dela e, por
impulso, juntei a minha mão na deles, respirando fundo, querendo desligar
a minha mente e dormir como eles, mas sem conseguir.
Andrei irá partir em mais uma missão disfarçado, colocando-se em
perigo novamente por sabe-se lá quanto tempo, enquanto eu continuo aqui,
preso no mesmo lugar, acompanhando tudo de longe. Esses períodos em
que ficamos afastados são angustiantes.
Eu também não consigo dormir com pessoas na minha cama, o certo
seria levantar e deixar os dois aqui, descansando até amanhã de manhã, é o
que sempre faço com minhas fodas ocasionais, mas dessa vez não tenho
coragem de sair daqui, estou tão confortável com eles em meus braços.
Algumas horas depois sinto Yekaterina acordar, o dia ainda não
amanheceu, posso ver pela janela que o céu continua escuro.
— Pode dormir, ainda é cedo — sussurro baixinho, mas ela sorri e
abre os olhos mesmo assim.
— Preciso ir — avisa, se desvencilhando do corpo de Serguei com
tanta calma que ele não acorda, ela passa por cima de mim e levanta, indo
até o banheiro enquanto o homem ao meu lado se aproxima e ocupa o lugar
dela no meu peito.
— Pode ficar aqui, o motorista te leva de manhã — falo assim que ela
sai do banheiro e começa a se vestir.
— Ele sente algo a mais por você — anuncia, desviando da minha
oferta ao falar de Serguei —, também vi como você o olhou, não tem nada
de errado nisso.
— Você realmente não sabe quem somos, não é mesmo?
— Não importa, o amor é o mesmo em todas as pessoas — ela dá de
ombros, recolhendo os saltos do chão, sem calçá-los. — Cuide dele.
— E quem cuidará de você? — pergunto, já sentindo um aperto em
meu peito com a antecipação da despedida.
— Eu sei cuidar de mim mesma — ela responde, mas antes de sair,
caminha em nossa direção e beija o topo da cabeça de Serguei, depois seus
lábios encontram os meus em um beijo calmo, mas que consegue fazer meu
coração acelerar e apertar ao mesmo tempo.
Com isso ela sai, sem olhar para trás, nos deixando sozinhos na mesma
cama que dividimos e que agora parece grande demais para duas pessoas.
CAPÍTULO 1

SERGUEI
 
Eu sempre admirei Dimitri de longe, na Central o Herdeiro é visto
como uma pessoa famosa e eu cresci aqui, aprendi a seguir todas as leis da
organização e, principalmente, ser leal à hierarquia de poder.
“Os Filhos da Bratva”, é como são chamadas as crianças criadas
dentro da organização. No meu caso, depois que meus pais morreram em
um acidente de carro quando eu ainda era um bebê, fui enviado para um
orfanato, mas o local não tinha estrutura para mais uma criança e faltavam
pais adotivos, portanto a Bratva assumiu a responsabilidade.
Eles só aceitam crianças com menos de dois anos de idade, assim
podem moldá-las em soldados e espiãs leais, já que não temos contato com
o restante do mundo até completarmos dezesseis anos e provarmos nossa
lealdade.
Neste momento, um soldado já não tem mais dúvidas sobre seu lugar e
não fará nada contra a organização ou seus líderes e, só então, começamos a
fazer parte de missões fora da Central.
Até os dezesseis anos convivi somente com meus colegas de
alojamento e nossos professores, mas uma vez por mês, na cerimônia de
adoração aos líderes, onde todos os soldados e espiãs da Central eram
reunidos na praça principal para recitar o juramento, eu o via ao lado do
Pakhan, acompanhado por diversos seguranças e sempre em roupas muito
formais e bem alinhadas, com uma expressão tão neutra no rosto que era
impossível decifrar o que ele estava pensando no momento.
Eu contava os dias para a cerimônia, porque era o único momento em
que o Herdeiro aparecia. A cada mês eu o via de forma diferente e,
conforme os anos foram passando, a admiração só aumentou, se
transformando em algo a mais, algo que eu só consegui decifrar quando
completei dezoito anos e tive minha primeira relação com um homem.
A Central não é rígida com essas coisas, somos livres para explorar
nossa sexualidade, com a ressalva de que a Bratva está acima de tudo e de
todos e, é por este motivo, que todos os soldados e espiãs passam pela
cerimônia de esterilização aos dezesseis anos, garantindo que ninguém, nem
mesmo um filho, fique acima da organização.
Eu tive minhas experiências, tanto com outros soldados como com as
espiãs, essas tínhamos que tomar cuidado, já que um de seus treinamentos
era seduzir soldados e fazê-los duvidar da sua lealdade, todos sabiam disso,
mas sexo não precisa ter sentimentos, na verdade quase nunca tem, é só um
ato de prazer.
Bem, era nisso que eu me forçava a acreditar toda vez que ia para
cama com alguém, porque não conseguia me conectar a outra pessoa com
ele aparecendo na minha mente toda vez que gozava.
Eu o contemplei à distância por toda a minha vida, pensando em qual
seria a sensação de estar ao seu lado, porque é óbvio que alguém como ele
jamais olharia com interesse para alguém como eu.
Então decidi transformar essa obsessão em objetivo de vida, já que não
conseguiria tirá-lo da cabeça passei a treinar para me tornar um soldado de
elite.
Fiz todos os treinamentos oferecidos pela organização, inclusive para
piloto de helicóptero, já que esse era o principal meio de transporte do
Herdeiro.
Treinei arduamente, todos os dias, sem descanso ou arrependimentos e,
aos dezenove anos, finalmente meus superiores prestaram atenção em mim.
Fui chamado para fazer parte do grupo de soldados treinados
especialmente para fazer a segurança da Família Petrov. Isso me
proporcionou o primeiro contato direto com Dimitri em uma aula especial
de tiro ao alvo, ele é conhecido como um dos melhores atiradores da
Central e, por isso, ministra algumas aulas especiais, demonstrando suas
habilidades com uma arma.
Foi nesse dia que ele me tocou pela primeira vez, ajustando levemente
meu braço enquanto segurava a arma, o simples toque de seus dedos fez
minha pele queimar e precisei parar de respirar para conseguir me
concentrar no alvo.
Só que ele percebeu e se aproximou ainda mais, murmurando uma
ordem simples, mas que, em sua voz baixa e com a proximidade dos nossos
corpos, me fez estremecer.
— Respira, soldado — Dimitri falou e todas as vozes na minha cabeça
entraram em pânico com o simples uso da palavra “soldado”.
Porra, eu poderia ter me ajoelhado naquele exato momento só para
ouvi-lo mandar que eu levantasse, mas ao invés disso eu respirei fundo,
sentindo seu perfume forte e amadeirado, então apertei o gatilho e errei
todos os tiros.
Quando me virei lá estava ele, com os olhos azuis, quase tão frios
quanto a neve, concentrados em meu rosto. Dimitri não olhou para o alvo,
não me rebaixou por errar os tiros ou me repreendeu, ele me encarou e seu
lábio subiu, minimamente, em um resquício de sorriso, antes de dar meia
volta.
— Continue treinando, soldado — disse e saiu, com seus seguranças
logo atrás.
Eu tinha dezenove anos e ninguém havia feito meu corpo reagir com
tanta intensidade. Foi nesse exato momento que ele roubou meu coração.
Quando Yelena me convidou para a festa particular na mansão Petrov
eu sabia que ele estaria lá e até pensei em recusar, mas ela não me deu
escolhas quando fez aquela cara de cão sem dono e disse que era sua festa
de despedida, já que partiria para uma missão em Boston que poderia durar
meses.
Yelena é uma espiã prestigiada e foi minha instrutora de luta livre, com
três aulas por semana acabamos nos tornando amigos, no começo eu até
tentei algo a mais porque a morena é gostosa, inteligente, tem um humor
ácido maravilhoso e ainda consegue me derrubar no ringue, porém ela
deixou claro que só gostava de mulheres.
Foi por ela que vesti meu único terno, que de luxuoso não tem nada,
comprei em uma loja de departamento na última vez que fui até a cidade,
nesse momento gostaria de ter gastado todo meu dinheiro em algo melhor.
O motorista, enviado para me buscar, me entregou uma máscara azul,
que vesti quando o carro parou na frente da enorme mansão dos Petrov.
Ao entrar fui minuciosamente revistado e confiscaram meu celular, o
que eu já esperava, agora o que realmente me pegou de surpresa foi
encontrar Andrei Petrov no caminho que o segurança me indicou.
O irmão gêmeo do herdeiro tem um sorriso fácil e debochado, ao
contrário de Dimitri, que quase nunca sorri. Eles são idênticos, mas Andrei
tem mais tatuagens pelo corpo e, é claro, a lendária letra ‘A’ em seu
pescoço, que foi uma ordem do Pakhan, onde ambos os filhos receberam
uma tatuagem com a primeira letra do nome, para ninguém os confundir.
— Porra, se eu soubesse que você viria tinha me arrumado melhor —
Andrei anuncia vindo até mim e, colocando uma mão no meu ombro, indica
o caminho. — Pronto para uma noite muito louca?
— Acho que sim — respondo sem confiança alguma e Andrei solta
uma gargalhada. Ele é bonito, está usando um terno todo preto e uma
camisa vermelha combinando com a máscara da mesma cor, o que o deixa
ainda mais charmoso, mas seu toque no meu ombro não tem o mesmo
efeito que o de Dimitri. — Vocês fazem muitas festas assim?
— Só de vez em quando e elas são bem exclusivas, mas Yelena me
avisou que você viria, então aproveite.
Aproveitar?
Como, diabos, vou fazer isso, quando sei que ele estará lá?
Droga, já posso sentir meu rosto esquentar só de pensar em Dimitri.
— Yelena sempre escolhe os mais tímidos para as nossas festinhas,
agora vem, vou colocar um pouco de álcool no seu organismo e logo vai
estar fazendo um strip-tease para nós — ele brinca enquanto abre duas
portas de madeira.
A sala é um bar muito chique, as luzes baixas deixam um clima de
suspense, mas tem bastante gente conversando e rindo, reconheço todos os
homens e quase todas as mulheres, só uma que não lembro ter visto antes.
A única coisa que não combina é a música clássica, parece calma
demais. Enquanto notas tristes ecoam pelo ambiente meu olhar percorre o
local e encontro o responsável por tais melodias, Dimitri está usando um
terno cinza e máscara prateada, seus cabelos loiros foram perfeitamente
penteados para trás e a expressão séria em seu rosto é a mesma de sempre,
seus olhos azuis encaram o piano, concentrados em cada nota.
— Meu irmão está entediado, então resolveu fazer todos se sentirem
da mesma forma, logo ele termina e a música boa começa — Andrei brinca
e me leva até o bar, pedindo duas vodcas para o garçom.
— Você deveria controlar a bebida, partimos amanhã cedo e não quero
ninguém vomitando no avião dos de Angelis. — Vor Klaus se aproxima e
fala diretamente com Andrei, que faz uma careta engraçada antes de se virar
para nosso superior.
— É minha última noite de folga, vê se dá um descanso, Klaus —
Andrei responde e, quando o garçom traz os dois copos, me entrega um e o
outro oferece para Klaus, que aceita com uma expressão contrariada no
rosto. — Vamos, eu quero ganhar de você no beer-pong, mas na melhor
versão possível, com vodca.
— Vai sonhando — Klaus responde, mas caminha em direção a uma
mesa que já está sendo arrumada para o jogo.
— Você vem? — Andrei me convida antes de acompanhar o outro,
mas faço que não com a cabeça e me escoro no balcão. — Se mudar de
ideia é só chegar, prometo que te deixo ganhar a primeira.
Andrei se afasta, mas continua me lançando olhares de longe enquanto
converso com outras pessoas, nada tira aquela sensação de não pertencer ao
local, até Yelena chegar e, junto dela, a mulher mais linda que já vi.
Ela não parece conhecer ninguém, mas não demonstra desconforto por
isso, caminha diretamente até o bar e pede uma vodca, seu olhar passa pelo
ambiente todo até chegar em mim e, só então, percebo estar encarando por
tempo demais, sinto minhas bochechas esquentarem novamente.
Então ela vem até mim e, nesse exato momento, a melhor noite da
minha vida tem início, com a mulher misteriosa que, em poucas palavras,
faz todo o meu mundo virar de cabeça para baixo.
Quando nossos braços se tocam eu sinto aquela eletricidade percorrer
o meu corpo e meu coração acelera, assim como o toque dele faz.
O choque é engolido quando Dimitri vem até nós e, depois disso,
temos uma noite espetacular.
Nunca fodi uma mulher junto a outro homem, mas ao lado dele me
sinto livre, seu toque, seu beijo, tudo o que Dimitri me oferece cria uma
confiança que eu jamais imaginei ter para aproveitar o momento.
Nós dois estamos entregues e ela está no comando, quando Dimitri
ajoelha na frente dela eu seguro a respiração, jamais imaginei que o
Herdeiro ficaria nessa posição, mas ele entregou o controle a ela, deixando-
a livre para definir os limites.
***
Acordo e aquela sensação de que tudo foi um sonho me atinge antes
mesmo que eu tenha coragem de abrir os olhos.
Não quero encontrar a parede cinza do dormitório, ou o colchão de
solteiro que já tem o formato do meu corpo por causa dos anos de uso.
Tento voltar a dormir, quem sabe o sonho continue de onde parou, com ela
em meus braços, a mão dele acariciando meus cabelos e a minha em seu
peito, naquela cama enorme e macia com os lençóis pretos cobrindo nossos
corpos nus.
— Bom dia. — A voz grossa faz meu coração parar por um segundo,
porque poderia reconhecê-la no meio de uma multidão, é a voz dele.
Sinto uma mão grande e quente acariciando minhas costas e volto a
respirar, inalando o perfume dele, sentindo os pelos do seu peito quando
movimento minha mão e o calor do seu corpo colado ao meu.
Ele está aqui, não foi um sonho!
— Desculpa. — Desperto rapidamente e me afasto, sem conseguir
olhar em sua direção, tento sair da cama, mas ele segura meu braço com a
mão antes que eu consiga. — Acabei pegando no sono.
— Tudo bem, não precisa sair correndo. — Sinto o movimento do
colchão quando ele se aproxima e me abraça por trás, seu peito cobrindo
minhas costas e, tirando cada resquício de sanidade que eu ainda tinha,
sinto sua barba roçar em meu pescoço e me fazer arrepiar. — Você prefere
café ou suco?
— O quê? — Meu cérebro acabou de derreter com sua voz deliciosa
sussurrada contra meu ouvido.
Droga, eu não consigo pensar, não consigo agir, que porra é essa que
está acontecendo comigo?
Então ele sorri, o desgraçado sorri, e o som me faz derreter,
especialmente porque vem acompanhado de um beijo delicado no ombro e
uma mão deslizando carinhosamente pelo meu braço.
— Eu vou pedir o café da manhã, gostaria de saber se você prefere
café ou suco — comenta com mais um beijo, dessa vez no meu pescoço,
naquele maldito lugar que faz todo o meu corpo vibrar e, porra, meu pau já
está completamente duro pela ereção matinal, e Dimitri ainda provoca. —
Ou café com leite?
Isso foi uma pergunta séria ou está me oferecendo outra coisa?
Caralho, o que eu faço?
Então me lembro do que Yekaterina falou, que um homem como ele
não perde tempo com alguém que não esteja a sua altura.
— Isso foi uma oferta de café com leite ou um convite para chupar seu
pau? — Reúno toda a coragem que nem eu sabia que tinha nessa única
pergunta e me viro para ver sua reação, por um momento Dimitri me olha
seriamente, como se avaliasse se o que eu falei é de verdade ou se estou
brincando, então abre o maior sorriso que já vi em seu rosto e me beija.
Dimitri está me beijando!
Sua boca se molda a minha com doçura, a língua quente e macia exige
passagem pelos meus lábios e eu dou, porra, eu dou o que ele quiser.
— Eu quero te dar café da manhã, te beijar mais um pouco e, só então,
te foder como queria ter feito ontem — Dimitri anuncia contra meus lábios,
fazendo meu coração acelerar com cada palavra dita, ele pronuncia todas
com tanta certeza que preciso controlar um gemido. — É isso que você
quer?
— Sim, senhor! — respondo sem pensar e ele morde meu lábio
inferior com força, uma mão envolve o cabelo da minha nuca e puxa minha
cabeça para trás, tomando o controle.
— Porra, por mais que eu goste de umas brincadeiras assim, eu não
quero que você me chame de senhor, não agora, eu não quero ser seu
superior ou o Herdeiro, nessa cama nós somos dois homens com desejo um
pelo outro e vamos fazer somente o que estivermos dispostos e nada mais,
entendido?
— Sim.
Dimitri volta a me beijar, dessa vez mais calmo e com delicadeza,
sinto como se ele estivesse estudando minhas reações, quando nos
afastamos seu olhar não sai de mim, da mesma forma que não consigo parar
de encará-lo.
O cabelo loiro ainda está impecavelmente arrumado para o lado, como
se ele não tivesse dormido, vejo as poucas linhas de expressão em sua testa
e nos cantos dos olhos, claro, ele é quatorze anos mais velho que eu e muito
mais experiente.
— Agora vamos tomar café, estou morrendo de fome — avisa se
afastando para pegar o celular, ele digita alguma coisa e levanta, dando-me
a visão de sua bunda grande e deliciosa andando até o banheiro. — Tem
duas pias aqui e uma escova de dentes reserva se quiser usar.
Droga, é claro que quero, meu hálito deve estar um lixo.
Sigo até o banheiro e penso em colocar minha cueca, mas Dimitri não
está usando nada e parece muito confortável, então faço o mesmo e finjo
estar tudo bem em dividir o espaço com ele.
Depois de finalmente conseguir mijar, mesmo de pau duro, escovo os
dentes e tento disfarçar o desconforto quando ele faz o mesmo, mas nossos
olhares se encontram no reflexo do espelho e Dimitri sorri, ele está me
provocando.
— Pode relaxar, você tem o dia livre hoje, não tem? — fala com
tranquilidade, pegando-me de surpresa por saber da agenda de um soldado.
— Sim, como você sabe?
— Eu sei de muitas coisas, Serguei, é o meu trabalho — Dimitri
responde e dá uma piscadinha, em seguida tira dois roupões pretos de um
armário e me entrega um antes de sair para atender a porta, escuto a
movimentação no quarto e espero até ouvir a fechadura novamente, só
então saio do banheiro.
Dimitri está sentado na cama com uma bandeja enorme, cheia de
comida, meu estomago ronca quando sinto o cheiro delicioso do café que
ele serve na xícara branca.
Me junto a ele e aproveito o banquete, no alojamento a comida não é
ruim, mas nada comparado a isso e, com certeza, não tem um homem
gostoso só de roupão do meu lado.
— Eu não ouvi quando ela saiu — comento quando percebo que
estamos em silêncio por tempo demais.
— Yekaterina foi embora antes do dia clarear — Dimitri responde,
desviando o olhar para a porta por um milésimo de segundos.
— Você já a conhecia?
— O nome não me pareceu estranho, descobri o motivo quando
questionei Yelena e ela me enviou uma foto da nossa acompanhante em
roupas de ballet. — Ele pega o celular e me mostra a conversa com Yelena,
vejo a hora no canto das mensagens e percebo que foi muito antes de eu
acordar. — Yekaterina Belova é a dançarina destaque da Escola Bolshoi
Ballet Academy.
CAPÍTULO 2

DIMITRI
 
— Pensando agora, ela realmente tem a confiança que espero de uma
bailarina — Serguei comenta e leva um morango à boca, o que me faz
desviar o olhar da tela do celular para acompanhar o movimento de sua mão
e, quando a porra dos seus lábios se fecham em torno da fruta, a vontade de
beija-lo para provar o sabor de sua boca com o gosto do morango é quase
uma necessidade, mas me controlo. — O que mais descobriu sobre ela?
— Ela mora sozinha em um apartamento no centro de Moscow, faz
parte da academia de ballet desde que tinha quatro anos de idade, sua mãe é
falecida e o pai mora em St. Petersburg. — Leio as informações que reuni
durante a noite, não tem nada de muito importante já que só fiz uma busca
simples pelo celular, mas assim que chegar na Central farei uma pesquisa
mais detalhada.
— Que idade ela tem? — Serguei questiona, fingindo desinteresse.
— Vamos ver se você adivinha — peço e ele sorri, mas pega o celular
da minha mão e olha a foto dela na tela.
— Ela não parecia ter mais de vinte anos, mas disse que era mais velha
do que eu, então vou chutar uns vinte e dois anos.
— Quase, ela tem vinte e quatro, fará vinte e cinco no mês que vem —
respondo e ele ergue as sobrancelhas em surpresa, o que me faz rir de sua
expressão, assisto quando suas bochechas ficam vermelhas. — Podemos
concluir que você gosta de pessoas mais velhas.
— Eu acho que gosto de pessoas experientes e confiantes. — Dá de
ombro, fingindo uma confiança que seu olhar não demonstra.
— Somos atraídos pelas pessoas que tenham as qualidades que
gostaríamos de possuir, você é jovem ainda, um dia terá a confiança que
Yekaterina demonstrou ontem, ela provavelmente já viveu mais do que nós
dois juntos, mesmo com a pouca idade, sua experiência é fruto da vivência.
Uma pontada de inveja surge lá no fundo da minha mente, mas a
reprimo o mais rápido possível, não vale a pena querer o que não posso ter
e essa liberdade para conhecer o mundo é algo impossível no momento.
— A confiança vem com o tempo e isso não tenho como acelerar —
anuncio e deixo a minha xícara de café praticamente vazia na bandeja, pego
a dele também e levo tudo para a mesa no canto do quarto, só então retorno
para a cama sob o olhar atento de Serguei —, mas com a experiência eu
posso te ajudar.
Coloco um joelho no meio das suas pernas e vejo quando o roupão se
abre, revelando a ereção que começa a dar sinais de vida, seguro sua nuca
com a mão firme, aproximo nossos rostos e roço meus lábios nos dele,
provocando-o, mas sem me aprofundar.
— Quer que eu te ensine algumas coisas, soldado? — pergunto de
forma autoritária e provocante, segurando o sorriso que quero abrir quando
ele solta um gemido contra meus lábios.
— Sim, senhor — Serguei responde, entrando no meu jogo com tanta
entrega que meu coração acelera no peito.
Porra, eu amo um homem submisso assim, me faz imaginar as coisas
que posso fazer com ele, as coisas que podemos fazer juntos.
— Porra, Serguei — praticamente rosno antes de beijá-lo e agora não
tem mais nada que possa nos parar.
Seguro seus dois braços acima da cabeça e tiro o cinto do meu roupão,
amarrando seus pulsos sob o olhar atento dele, tiro um dos ganchos que fica
escondido atrás da cabeceira da cama e prendo o cinto ali, limitando seus
movimentos.
— Você gosta de ser contido, soldado? — questiono quando volto para
sua boca e ele solta um gemido delicioso assim que meus dentes prendem
seu lábio inferior, com um pouco mais de força, antes de soltá-lo e sou
agraciado com o meio sorriso lindo que se forma em seu rosto.
— Com você eu tenho certeza que vou gostar.
— Não é assim que funciona, preciso saber seus limites, o que gosta
ou não de fazer na cama e qual é a sua palavra de segurança.
— Só isso?
— Por enquanto, sim — respondo e desço beijando seu pescoço,
assisto sua pele arrepiar e Serguei arqueia as costas na cama, o que me faz
sorrir. — Responde, soldado.
— Não gosto de sentir dor, fora isso, faça o que quiser comigo, senhor.
— E qual será sua palavra de segurança?
Serguei fecha os olhos por um momento antes de abrir aquele sorriso
com covinhas e responder.
— Klubnika.
— Morango? — repito a palavra e ele confirma com a cabeça, abrindo
os olhos, que agora me avaliam com intensidade, então percebo que ele fez
de propósito, o safado comeu aquele morango com tanto gosto só para me
atiçar. — Vamos nos divertir tanto juntos, klubnika, só de pensar em te
foder meu pau já está pingando.
— Faz o que quiser comigo, Dimitri — ele murmura com entrega e
meu nome saindo dos seus lábios faz meu peito apertar e a porra do meu
coração bater mais rápido. — Eu sou seu.
— Sim, você é — sussurro baixinho em seu ouvido, plantando um
beijo delicado no pescoço, para depois morder o mesmo local. Serguei é tão
responsivo, seu corpo reage a mim com intensidade, cada gemido que sai da
sua boca é verdadeiro e embargado em prazer.
Coloco minha outra perna no meio das pernas dele e nossos paus se
tocam enquanto empurro meu quadril para cima, me esfregando nele,
sentindo a fricção das nossas peles queimar com cada investida, mas eu
quero mais, preciso de mais, por isso levo uma mão entre nós e seguro os
dois membros juntos e, assim que começo a nos masturbar, colocando
pressão nos dedos, Serguei arqueia ainda mais as costas e enrosca minha
cintura com suas pernas, forçando as mãos que estão amarradas acima da
sua cabeça.
— Porra de pau gostoso, Serguei, eu não vejo a hora de ter você me
fodendo com ele — anuncio e ele sorri, mas aumento a intensidade dos
movimentos para ouvi-lo gemer —, mas não hoje, porque hoje eu quero
foder esse cu delicioso, vou te fazer lembrar do meu pau dento de você a
semana toda, soldado.
— Sim, me fode, Dimitri — ele implora, o desgraçado implora e eu
quase gozo, bem ali, mas diminuo a velocidade da minha mão e pego o
preservativo e lubrificante da gaveta, desenrolo a camisinha no meu pau e
lambuzo meus dedos com lubrificante, assim que rodeio seu cu,
provocando-o, ele estremece novamente e seu pau pulsa.
— Relaxa, você já fez isso antes? — questiono, só para garantir.
— Sim.
— E você gosta?
— Porra, sim.
— Bom, agora relaxa pra mim, soldado — peço e coloco um dedo no
cu apertado, Serguei estremece por um momento, mas logo relaxa e começo
a entrar e sair, quando sinto que ele está entregue, adiciono outro dedo e ele
me recebe sem reclamar, praticamente rebolando contra minha mão e,
porra, Serguei está pronto.
Levo meu pau para o local onde meus dedos estavam, seguro suas
pernas grossas e malhadas bem abertas, o que me proporciona a visão
privilegiada de seu pau lambuzado de pré-gozo enquanto o meu entra
lentamente.
— Caralho, que delícia, soldado — expresso, controlando a porra de
um gemido que quer sair da minha boca, quando estou completamente
dentro dele, Serguei não tira os olhos do meu rosto, as grandes orbes
castanho-escuros brilham com tanta entrega que uma pontada de medo me
atinge.
Então, quando vejo que ele solta a respiração que estava segurando,
começo a entrar e sair cada vez mais rápido, nossos corpos se chocam
enquanto meu pau é estrangulado pelo cu do soldado.
— Como você gosta de ser fodido? — questiono provocativamente.
— Firme e forte, senhor.
— Geme pra mim, eu quero ouvir você gritar meu nome quando gozar
com o meu pau fundo nesse cu delicioso — expresso com a voz autoritária
que, a cada palavra, faz Serguei se contrair ainda mais. — É a porra de uma
ordem, soldado!
E ele acata, finalmente se soltando, gritando meu nome quando
envolvo seu pau com a mão e começo a masturbá-lo no mesmo ritmo que o
meu fode seu cu, rápido e com força.
Não demora muito até que eu sinta suas pernas estremecerem ao redor
da minha cintura, Serguei se entrega e goza com tanta intensidade em
minha mão, que sua porra escorre pelos meus dedos, a utilizo para
continuar movendo minha mão.
— Caralho, Dimitri — Serguei estremece e solta um gemido rouco
delicioso e é só o que preciso para me entregar, ouvir meu nome saindo
dessa boca deliciosa me faz gozar com tanta intensidade, que me vejo
tomando seus lábios em um beijo possessivo, controlando a porra de um
rosnado, que teima em sair enquanto fodo seu cu até sentir a última gota de
porra sair do meu pau e meu corpo finalmente relaxar.
No mesmo segundo que caio sobre ele, sentindo seu gozo lambuzando
a nós dois, sua respiração tão ofegante e descontrolada quanto a minha,
tenho a certeza que quero mais, que não foi o suficiente, porra, não chegou
nem perto de ser o suficiente.
Desfaço o nó do cinto que prende as mãos de Serguei no gancho e,
assim que está livre, ele me envolve em seu peito com carinho, acariciando
minhas costas, o gesto delicado não parece combinar com a intensidade do
que acabamos de fazer, mas é bom, droga, é muito mais do que bom, e isso
me assusta.
Eu já tive fodas boas, tive algumas até incríveis e inesquecíveis, mas a
de ontem e a de hoje tem algo diferente, algo que não consigo identificar
ainda, mas que me faz temer.
Serguei beija o topo da minha cabeça e posso sentir sua respiração
quente contra meus cabelos, mas não tenho coragem de me levantar ou de
sair dos seus braços, o cansaço de passar a noite toda acordado começa a
cobrar o seu preço e, sem conseguir me controlar, fecho os olhos por um
instante, só um minuto, sentindo o cheiro delicioso dele misturado com
sexo, seu corpo suado embaixo do meu, a forma com que sua mão acaricia
minhas costas constantemente e como me encaixo tão bem no seu peito,
bem demais posso dizer.
Quando vou me entregar ao sono, escuto o toque do meu celular em
cima da mesa, eu poderia ignorar, se não soubesse quem está ligando.
— Papa — atendo rapidamente, meu pai odeia esperar.
“Venha para a Central, temos uma reunião de emergência com o Sheik
Khalifa.”
Com essa ordem ele desliga e preciso respirar fundo para conter a
raiva, eu havia pedido por um dia de folga, um mísero dia para ficar em
casa, obviamente não tinha programado ter companhia, mas isso só me fez
ficar mais animado.
— Infelizmente, terei que ir até a Central — aviso, virando-me para
encarar Serguei sentado na cama.
— Sem problemas, eu vou me trocar e voltar para lá também — ele
responde, levantando-se para seguir até o banheiro, mas em dois passos
estou ao seu lado e seguro seu braço.
— Vamos tomar um banho, depois você pode vir comigo — convido já
que estamos indo para o mesmo lugar, mas ele desvia o olhar do meu. —
Você pode voltar com os seguranças, se preferir — sugiro, dando-lhe uma
opção.
— Eu só não quero criar histórias na Central, sou só um soldado e
você sabe como essas coisas se espalham.
— Está preocupado com o que as pessoas vão pensar se souberem que
dormiu comigo? — questiono sem controlar a decepção nas minhas
palavras.
Ele respira fundo e parece pensar no que responder, seus olhos viajam
entre mim e a porta, então Serguei respira fundo e seus ombros caem.
— Eu não cheguei lá ainda — Serguei volta a olhar para mim, dessa
vez vejo um pouco de medo em sua expressão. — Não estou pronto para
estar ao seu lado, Vor Petrov.
— Dimitri, me chame de Dimitri — peço e desço minha mão para
pegar a dele, envolvendo seus dedos com os meus. — Vou respeitar sua
decisão, mas não se preocupe com o que os outros vão pensar, a vida é curta
demais para isso. — Ergo nossas mãos unidas e planto um beijo delicado
nas juntas dos seus dedos. — Agora, vamos tomar um banho.
CAPÍTULO 3

YEKATERINA
 
Não consigo esquecer aquela noite, de como tive dois homens,
fodidamente gostosos, ao mesmo tempo e só para mim. Honestamente, é
essa lembrança que me dá forças para encarar os ensaios e desviar das
outras bailarinas.
Quem está do lado de fora pode até pensar que tudo é luxo e glamour,
mas isso é o que menos vivenciamos. Na maior parte do tempo estamos
treinando até a exaustão, competindo por vagas em apresentações e
deixando toda nossa vida de lado para trabalhar.
Depois que o motorista particular me trouxe até minha casa, tomei um
banho e dormi, mas acordei com uma entrega especial: uma cesta de café da
manhã, flores e um bilhete.
“Já que não quis ficar para o café da manhã, tomei a liberdade de enviá-lo
até você.
Foi um prazer conhecê-la, senhorita Belova.”
Não tinha assinatura, mas nem precisava. Tenho certeza que foi
enviado pelo loiro que eu ainda não sei o nome, e que vou ficar sem saber.
O outro homem era tímido demais para fazer algo assim, se não me
engano seu nome era Serguei, foi assim que o loiro o chamou. Eles tinham
química, não posso negar, foi a coisa mais fodidamente excitante assistir ao
loiro se ajoelhando para pagar um delicioso boquete ao outro.
Eu não sou inexperiente, já estive na cama com dois homens, mas essa
foi a primeira vez que eles aceitaram participar e não só dividir, acho que é
por isso que não consigo parar de pensar neles.
Essa primeira semana de ensaios é exaustiva, mesmo treinando todos
os dias fora de temporada, agora fica mais intenso e precisamos repassar
toda a nova coreografia, além de nos ajustar aos movimentos, e ainda tenho
que me adaptar ao parceiro novo.
Nathan Durand é francês, tem vinte e dois anos e, mesmo tendo sido
contratado no final do ano passado, já conseguiu o papel principal. Além de
bonito é um ótimo dançarino, o único problema é a inveja dos outros, que
vivem fazendo fofocas sobre ele.
— Bom dia, Nathan. — Cumprimento meu parceiro e ele respira
aliviado ao me ver chegar no estúdio, noto de longe um grupo com três
bailarinos dando risada e apontando para ele, por isso entendo sua reação.
— Bom dia, Kat, pronta para os ensaios?
— Sempre — respondo com um sorriso e isso o faz relaxar um pouco
mais, enrosco meu braço ao dele e seguimos para dentro do estúdio. —
Você deveria aceitar a carona que ofereci, assim chegaríamos juntos.
— É um desvio longo demais para você e está tudo bem, eu já me
acostumei com pessoas assim. — Nathan até consegue fingir que os
comentários maldosos não o afetam, mas eu vejo em seu olhar magoado
que é mentira, e o pior é que sei o motivo disso. — Sou um homem negro,
homossexual e danço ballet, a primeira reação que espero de pessoas como
eles é exatamente essa.
Ser homossexual ou dançar ballet não é o motivo, visto que só Carl e
Leônidas são heteros entre os dançarinos da companhia.
— Pois não deveria ser assim, eles são ridículos — comento baixando
um pouco minha voz ao passarmos pelos corredores luxuosos aonde alguns
coordenadores e professores conversam. — E essa escola não faz nada
sobre isso, é o que mais odeio, eles simplesmente fecham os olhos para
tudo.
— A competitividade é um fator motivador no nosso meio, sabe que é
por isso que eles não fazem nada. Quanto mais desafios temos, mais
precisamos nos esforçar para provar que somos os melhores, e isso é ótimo
para a escola.
— E uma bosta para nossa saúde mental.
— Acha realmente que eles se importam com isso, Kat?
— Não, o que é ainda pior.
Nos separamos na entrada dos vestiários e encontro com Magie
terminando de amarrar suas sapatilhas, o cabelo loiro preso em um coque
perfeito, tão alta quanto eu, pele branca e dona de olhos azuis muito bonitos
que combinam com seu sorriso sincero. Somos amigas desde a infância, já
que praticamente crescemos juntas dentro dessa escola.
— Ei, Kat, você quer ajuda com as sapatilhas? — Magie oferece e
abro meu armário para pegar o novo par que a escola nos forneceu, elas
precisam ser quebradas e moldadas antes de usarmos e o processo leva um
tempo, por isso aceito a ajuda enquanto me troco.
— Obrigada. Como está sua mãe?
— Melhor, o médico disse que ela está respondendo bem à
quimioterapia.
— Ela vai ficar bem, tia Clara é forte e vai vencer mais essa batalha.
— Obrigada, Kat. — Magie me lança um sorriso triste. — E falando
nisso, ela te convidou para jantar lá em casa antes da turnê.
— Só marcar o dia que eu vou sim, pode ser quando ela estiver se
sentindo bem para receber visitas.
— Bom dia, vadias! — Clayr chega animada, ela é a responsável pelas
loucuras em nosso trio, a morena é uma sagitariana completa, se quiser uma
boa festa só precisa falar com ela. — Estavam falando sobre o que antes de
eu chegar?
— Minha mãe convidou vocês para um jantar — Magie responde e
Clayr da pulos de alegria.
— Eu amo jantar na sua casa, a comida é deliciosa. Pode contar
comigo, qualquer dia e qualquer hora, estou com saudades da tia Clara,
estava falando sobre ela com o Matielo esses dias, faz tempo que não a
vemos.
— Pode convidar o Nathan também, Kat — Magie fala e sorrio para
ela, apresentei meu parceiro de dança ao nosso grupo e elas tem recebido
Nathan com muito carinho, é por isso que amo essas duas.
— Vou convidar, sim — confirmo e, depois disso, Magie começa a
contar sobre o seu encontro no final de semana, e é assim que passamos o
tempo até estarmos prontas para mais um dia de ensaios.
A sala de treino é grande e já estava lotada na hora que chegamos.
Nathan fez sinal para nos juntarmos a ele e assim se seguiu mais um dia,
com muitos exercícios de alongamento, aquecimento com movimentos
básicos e alguns saltos.
O coreógrafo chega à tarde e repassa os novos movimentos da
apresentação para mim e Nathan, os dançarinos principais e para nossos
substitutos, Thais e Leônidas, as cobras que nos cercam nesse exato
momento.
O que esses dois não dariam para que algo acontecesse conosco,
podendo assim nos substituir nas apresentações? Basicamente, qualquer
coisa.
A nova coreografia de “O Lago dos Cisnes” está maravilhosa, essa é
uma apresentação clássica, mas que a cada ano ganha uma interpretação
diferente, e neste ano James trouxe algo incrível, emocionante e pesado
para a peça.
— Nós vamos transformar o que já é uma obra de arte em uma obra
prima — James afirma logo depois de explicar cada passo e transição, serão
três meses exaustivos de treinamento para aplicar cada um dos movimentos
com maestria, mas no final ficará lindo.
Eu posso não ser a bailarina apaixonada pelo que faz, porém dou o
meu melhor em cada uma das apresentações, e quando estou no palco, com
uma multidão de pessoas me admirando, me sinto incrível e isso faz com
que todo o esforço valha a pena.
Após repassar todos os movimentos e, com a ajuda da tecnologia,
temos a peça coreografada em um telão com cada um dos passos e
transições para que possamos ensaiar repetidamente, com a pretensão de
chegar o mais próximo possível da perfeição.
Depois disso, encerramos o dia com mais uma hora de exercícios de
alongamento, o que me deixa exausta e pronta para ir para casa.
— Clayr, dá uma carona para o Nathan? Ele mora no caminho da sua
casa — peço para minha amiga assim que saímos do estúdio e vejo meu
parceiro de dança esperando o ônibus. Ainda não é inverno, mas a essa hora
o vento é frio e Nathan não está acostumado.
— Ei, Nathan, vamos comigo e com a Magie, eu te deixo em casa. —
Clayr o chama.
— É no caminho, não precisa se preocupar — falo para ele, já que vejo
a hesitação em seu rosto.
— Tudo bem, obrigado Clayr. — Nathan aceita e me dá um abraço
antes de seguir com minhas amigas até o estacionamento.
Deixei meu carro no estacionamento pago do outro lado da rua,
cheguei tarde hoje e as vagas para os dançarinos já haviam sido ocupadas,
por isso sigo a pé até o local.
— Ei, Kat. — A voz de Leônidas atrás de mim faz todo o meu corpo
gelar, em seguida sinto sua mão segurar meu braço e preciso controlar um
grito. — Calma aí, só quero falar com você.
— Não precisa me segurar para isso. — Olho para meu braço e ele me
solta, mas não desfaz o sorriso provocativo em seu rosto.
— Só quero saber o porquê de você ter votado naquele… naquele
garoto para ser o dançarino principal e não em mim, ano passado nós
brilhamos na turnê.
Só pelo tom condescendente e ameaçador de sua voz eu sei o que ele
queria falar, mas não me deixo abalar, ergo a cabeça para encontrar os olhos
verdes que não escondem sua frustração.
— Sabe que eu só tenho um voto e que a palavra final não é minha, a
decisão por Nathan foi praticamente unânime, Leônidas — respondo com
confiança enquanto alcanço o canivete que tenho guardado no bolso de trás
da calça. — Tenho certeza que ano que vem terá a sua chance, você e Thais
tem um ótimo entrosamento como dupla.
— Eu e você não temos? — fala e dá um passo à frente, invadindo
meu espaço. Ele é muito maior que eu, tem o corpo musculoso e um jeito
confiante e ameaçador que me faz estremecer. — Vamos lá, Kat, você sabe
muito bem o quão entrosados nós podemos ser, tanto nos palcos quanto fora
deles.
— Foi uma vez só, três anos atrás e não vai acontecer de novo — aviso
com a voz firme, segurando firme o canivete atrás das minhas costas. Eu
não confio em homens no geral, muito menos em Leônidas, que faz o tipo
mauricinho, com um ego enorme e que acha que, por ser de família rica,
qualquer garota vai cair aos seus pés.
— Por que não? — questiona, levantando a mão para colocar uma
mecha do meu cabelo atrás da orelha, mas o seu toque me causa repulsa e
preciso me segurar para não enfiar o canivete na mão desse abusado e sair
correndo. — Eu sei que você também quer, Kat, não precisa se fazer de
santa, todos sabem que você não é.
— Não, eu não quero. — Dou um passo para trás, me afastando dele,
mas ainda o encarando com firmeza para que não pense que estou com
medo, mesmo que esteja. Predadores como Leônidas gostam de mulheres
medrosas e é por isso que ele está aqui, nessa rua escura, me intimidando.
— Agora, se me der licença, eu preciso descansar e você deveria fazer o
mesmo, amanhã temos ensaio.
Volto a andar até o estacionamento, mas não dou três passos antes que
ele me segure de novo, dessa vez o aperto em meu braço é mais forte do
que antes, machucando meu pulso, e Leônidas me puxa para encará-lo de
frente, seu rosto a centímetros do meu, posso ver as narinas infladas e o
olhar queimando de ódio.
— Eu ainda vou te fazer mudar de ideia, Kat, e você vai implorar pelo
meu pau. — Ele cospe as palavras, sem esconder a ameaça e, quando penso
em usar o canivete, Leônidas me larga e se afasta. — Sei muito bem como
domesticar uma gatinha arisca como você, marque minhas palavras.
Com isso ele se afasta e seu riso debochado ecoa pelas ruas vazias,
fazendo meu corpo tremer enquanto corro até meu carro apavorada, tranco
a porta assim que me sento no banco do motorista e, só então, solto a
respiração que estava segurando, juntamente com as lágrimas que escorrem
pelo meu rosto sem controle algum.
Eu odeio esse homem, do fundo da minha alma. Leônidas simboliza
tudo o que um abusador é: agressivo, ameaçador, acha que todos devem se
ajoelhar aos seus pés e, principalmente, pensa que tem um pau de ouro e
que todas as mulheres deveriam adorá-lo por isso.
CAPÍTULO 4

SERGUEI
 
Nunca estive tão motivado nos treinamentos quanto estou nessa última
semana, e eu sei o porquê disso: o homem que passou a visitar a área de
treino todos os dias e, como se não bastasse sua presença intimidadora ou
seus seguranças espalhados, Dimitri começou a fazer seus exercícios no
mesmo horário que eu.
Coincidência? Óbvio que sim.
Ele é um gostoso, que gosta de provocar com aquele corpo tatuado, os
músculos bem definidos, aqueles braços fortes e as costas largas, enquanto
derruba seus adversários no ringue e lança olhares sutis em minha direção,
deixando cada célula do meu corpo atenta a sua presença.
Talvez ele só tenha resolvido mudar o horário do seu treinamento, o
Herdeiro tem uma rotina de exercícios diária bem pesada que normalmente
é feita na Central, junto de uma equipe de segurança e professores
especiais.
De vez em quando eles resolvem testar algum soldado e o colocam no
ringue com Dimitri, mas não é algo recorrente, todos aqui tem medo de
machuca-lo e por isso não dão tudo de si.
— Ei, soldado Barkov! — Vor Dubrov, o chefe de segurança especial
de Dimitri me chama e caminho até ele. — Chegou a hora de provar que
seu treinamento está dando resultados, Vor Petrov precisa de um oponente e
você terá a chance de lutar contra o Herdeiro.
Que diabos…
— Sim, senhor. — Bato uma continência sem perder tempo para que
meu superior não pense que estou com medo, tiro a camiseta e visto a luva
de boxe antes de subir no ringue, criando coragem para encarar os olhos
azuis que tem me atormentado por anos.
Dimitri sorri, me provocando com aqueles dentes perfeitos enquanto
ergue as mãos e se coloca em posição defensiva. Ele poderia pelo menos ter
mantido a camiseta, é distração demais ter a visão do seu peito tatuado e
suado.
Tenho vontade de lamber cada gota que escorre pelo abdômen
marcado.
Se concentra, Serguei!
— Vamos lá, soldado, sem medo — Vor Dubrov fala e dá início à luta,
Dimitri me faz despertar quando ataca primeiro e preciso esquivar de um
soco que atingiria em cheio meu rosto, mas ele não para, com uma sucessão
de golpes perfeitos me força a recuar e me manter na defensiva, mas,
quando acerta um chute na lateral da minha coxa, quase perco o equilíbrio.
— Reaja ou eu vou te derrubar em menos de vinte segundos — Dimitri
fala baixinho quando se aproxima para mais uma sequência de golpes, dos
quais eu consigo desviar de quase todos. — Vamos, soldado, é uma ordem.
Caralho, sua voz de comando faz todo o meu corpo vibrar e reajo,
assim como mandou, partindo para o ataque e conseguindo atingi-lo com
dois chutes na perna e um soco na lateral de seu rosto, o que o faz sorrir
ainda mais quando fica na defensiva.
— Desculpa — peço ao ver o sangue escorrendo no canto da sua boca,
mas Dimitri usa esse exato momento para me atacar, acertando meu
estômago com o joelho e começando uma sucessão de golpes que me tiram
o ar.
— Precisa de mais motivação, soldado? — Dimitri sussurra enquanto
me protejo de seus golpes. — Se você me derrubar eu concedo uma reunião
especial no meu escritório. — Ele acerta mais dois socos na lateral do meu
corpo e me puxa pelo pescoço, segurando-me ali enquanto sussurra as
palavras que me fazem reagir. — Em cima da minha mesa.
Isso sim é que eu chamo de motivação. Consigo me desvencilhar dele
e volto na ofensiva, mas agora sem distração alguma, meu foco é certeiro e
nada me fará parar até que consiga derrubá-lo.
Vejo o sorriso convencido no rosto de Dimitri quando aumento o
ritmo, eu posso não ser tão forte quanto ele e nem ter sua experiência, mas
sou treze anos mais jovem e mais veloz.
Deixo que ele me ataque, provocando-o enquanto me esquivo dos seus
golpes, alguns me acertam e quase me fazem cair, porém me mantenho
firme, focado no prêmio.
Depois do que parecem ser horas, percebo que sua respiração fica mais
ofegante e que seus movimentos ficam mais lentos, então parto para cima e
acerto uma sequência de chutes em suas pernas e finalizo com um soco em
seu estômago.
Sei que terminou porque vejo todos seus seguranças com as armas
apontadas em minha direção e Vor Dubrov se coloca entre nós, o olhar
surpreso em seu rosto quase me faz rir, mas sei meu lugar e faço uma
reverência.
— Muito bem, soldado, muito bem. — Dimitri comemora e manda
todos abaixarem as armas, ele está com uma mão na barriga e tenho certeza
que deve sentir os chutes, mas pisca para mim enquanto desce do ringue. —
Vor Dubrov, leve o soldado Barkov até a minha sala daqui a meia hora,
gostaria de ter uma conversa com ele.
— Sim, Vor Petrov. — Dubrov faz uma reverência enquanto Dimitri se
afasta com seus seguranças a tira colo, só quando o grupo já está longe
volta a me olhar e posso jurar que está orgulhoso. — Bom trabalho,
soldado, agora vá tomar um banho e se trocar antes da reunião.
— Sim, senhor. — Bato uma continência e saio apressado do ringue,
indo até os vestiários para tomar um banho rápido e vestir meu uniforme.
Meu coração pula no peito com a expectativa de vê-lo novamente.
Vor Dubrov anda na minha frente e o caminho até o prédio principal é
feito em silêncio, ele é um dos instrutores mais velhos e experientes na
Central, o cabelo e a barba branca, assim como as rugas em seu rosto, não
escondem sua idade, mas o olhar frio e a voz imponente lhe garantem
prestígio e poder.
Por esse motivo ele é recebido com uma pequena reverência pelos
soldados que estão de guarda nos corredores, e não são poucos, entre o
elevador e a sala do Herdeiro vejo mais de dez soldados, uma espiã está na
recepção e outra fica parada ao lado da grande porta preta com o nome dele
estampado em ouro.
— Vor Petrov está a sua espera — A espiã avisa e coloca a mão no
leitor digital ao lado da porta, que se abre para uma sala em que nunca
estive.
Não tem motivos para um soldado de escalão tão baixo quanto o meu
ter estado na sala do Herdeiro antes, então tudo chama minha atenção: as
paredes claras com fotos emolduradas, as quais gostaria de ter mais tempo
para avaliar, o piso que não é preto como o do corredor, mas de mármore
em um tom bege com riscos brancos, vejo um sofá ao meu lado esquerdo,
duas poltronas pretas em frente a uma mesa de madeira escura e uma
grande janela atrás, que deixa o ambiente bem iluminado.
Sentado em uma grande poltrona está o responsável por todas as
minhas fantasias mais pervertidas, aquele que me amarrou na cama,
realizando uma delas.
Dimitri não levanta quando entramos, ele também deve ter tomado um
banho já que seu cabelo está úmido, porém o terno cinza grafite de três
peças está perfeitamente alinhado, sem um vinco sequer no tecido caro.
— Vor Dubrov, gostaria de parabeniza-lo pelo treinamento dos novos
soldados. — Dimitri se dirige a meu superior. — Agora gostaria de ter uma
palavra a sós com o soldado Barkov, ele saberá encontrar o caminho de
volta, então não precisa esperar por ele.
— Sim, Vor Petrov. — Dubrov se retira da sala sem olhar em minha
direção e escuto a tranca da porta ser acionada assim que ele sai.
Estamos sozinhos.
Na sala dele.
Eu estou trancado na sala do Herdeiro, com ele!
Puta que pariu!
Dimitri se inclina para frente apoiando os cotovelos na mesa, seus
dedos se unem logo abaixo do rosto e ele me encara com aqueles olhos
azuis brilhantes em uma expressão séria, porém muito intensa, que faz meu
coração bater ainda mais rápido com a expectativa.
— Como foi sua semana? — Dimitri questiona, pegando-me de
surpresa.
Ele quer saber sobre a minha semana? Isso é uma pegadinha, não é?
O que eu respondo?
“Fiz as mesmas coisas de sempre sem conseguir tirar você da minha
mente, só que dessa vez eu ainda podia senti-lo dentro de mim.”
Não, é atrevimento demais. O que diabos eu respondo?
— Foi produtiva, senhor. — Assim que as palavras saem da minha
boca eu quero pegá-las de volta, mastigar e engolir. Que porra de resposta
foi essa?
Então ele sorri, um sorriso tão lindo e espontâneo que eu só tive o
prazer de presenciar quando estávamos sozinhos.
— Está com medo de mim? — Dimitri questiona de forma provocativa
e se levanta, dando a volta em sua mesa até parar bem na minha frente. Nós
temos praticamente a mesma altura, mesmo que ele seja mais musculoso e
confiante do que eu, ainda assim, nossos olhos estão nivelados. — Pode
relaxar, não quero ser Vor Petrov ou o Herdeiro agora.
Preciso reunir todas as forças do meu corpo para conseguir relaxar
meus ombros, soltar as mãos que estavam unidas atrás das minhas costas
em posição de respeito e, finalmente, respirar fundo.
— Muito melhor. — Dimitri abre um meio sorriso e ergue uma mão,
acariciando a lateral do meu rosto, passando a mão pela barba curta. Em
cada lugar que sua pele encontra a minha, sinto como se pegasse fogo. —
Agora vamos conversar sobre o seu prêmio.
— Prêmio? — questiono confuso, meu cérebro parece ter desligado
por um tempo, já que é impossível pensar em qualquer coisa quando ele me
toca de forma tão carinhosa.
— Você ganhou a luta.
Ah sim, a luta!
— Você me deixou ganhar — contraponho porque é verdade, eu
percebi o momento que ele hesitou no final e abriu espaço para que eu o
acertasse.
— Duvida das suas habilidades?
— Não, sei muito bem do que sou capaz e é por isso que não sou
enganado tão facilmente, tenho certeza que você poderia ter acabado
comigo logo no começo.
Caralho, e essa coragem surgindo do nada?
Eu espero não ficar vermelho. Por favor, que eu não esteja
transparecendo o quão perdido estou nesse momento.
— E por que você acha que eu te deixaria ganhar? — Dimitri se
aproxima ainda mais, sua mão agora viaja até a minha nuca e seus dedos
seguram os fios de cabelo de forma firme, fazendo meu couro cabeludo
arder e a porra do meu pau pulsar, posso sentir o cheiro delicioso do seu
shampoo no ambiente e é inebriante.
— Porque você quer me dar o prêmio. — Sou atrevido e foda-se, não
tenho nada a perder mesmo e, se isso for só uma brincadeira ou um
joguinho qualquer, eu não me importo. Dimitri pode me ter como seu peão,
contanto que eu esteja no tabuleiro.
— Eu quero e você não imagina o quanto — ele responde com a
confiança que eu gostaria de ter, então meu olhar recai para sua boca no
momento em que sua língua umedece aqueles lábios deliciosos e, para
piorar, o maldito provocador sorri ao perceber que estou olhando. — Desde
que você entenda que isso não é uma ordem, que a partir do momento que
eu tomar sua boca, como estou louco para fazer, eu não sou mais seu
superior e você não é mais meu soldado, só vamos fazer o que você quiser,
não quero que…
Foda-se.
Eu já não consigo mais me controlar e o calo com um beijo, daqueles
que sonhei todos os dias desde que senti seu toque pela primeira vez.
Nossas bocas se devoram com voracidade e Dimitri não demora para
corresponder, apertando ainda mais os cabelos da minha nuca, logo sua
outra mão está nas minhas costas e posso sentir seu pau duro contra o meu
quando nossos corpos se unem.
Eu quero me perder na sua boca, no seu toque e na forma com que
domina cada movimento meu sem falar uma única palavra, porque não sei
como, mas meu corpo corresponde as suas investidas de forma natural.
— Eu não estou te obrigando… — Dimitri murmura contra meus
lábios.
— Eu quero, porra, e como eu quero! Não precisa se preocupar. —
Mordo seu lábio inferior e começo a abrir os botões do seu paletó. — Eu
quero meu prêmio, quero qualquer coisa que venha de você, caralho.
Com uma confiança que nunca tive, tomo o controle da situação, ou
melhor, Dimitri me entrega o controle ao se virar de costas para mim.
Assisto enquanto tira o paletó e o colete, afrouxando o nó da gravata e
me olhando sobre o ombro, com uma expressão que me faz estremecer.
— Então me fode, Serguei, eu sou o seu prêmio. — Então Dimitri
coloca uma mão para trás e agarra meu pau com firmeza sobre a calça, sua
mão habilidosa sabe muito bem como me fazer reagir enquanto me acaricia.
Tiro sua mão do meu pau e o faço segurar na mesa, me esfrego em sua
bunda deliciosa enquanto abro sua calça e, assim que libero seu pau e
seguro com firmeza, o desgraçado rebola contra o meu.
Ele realmente vai me deixar fazer isso?
Porra, achei que Dimitri fosse só ativo e não me importo em ser o
passivo, mas tê-lo tão entregue assim é como um maldito sonho do qual eu
me recuso a acordar.
Começo a masturbá-lo e sinto seu corpo reagir a cada investida, os
olhos azuis continuam me encarando com aquela maldita expressão de
prazer, o que me faz praticamente rosnar ao envolver seu pescoço com a
mão livre e colar suas costas em meu peito antes de beijar sua boca,
tomando tudo o que ele me oferece, mas nada parece ser o suficiente, a cada
beijo, cada toque, cada gemido que Dimitri me entrega, eu quero mais.
Porra, eu quero tudo!
Solto seu pau e abaixo sua calça e cueca, o suficiente para ter acesso a
sua bunda firme e redonda, esse homem é o caralho de uma perdição, cada
parte dele parece ter sido moldada pelos deuses.
Dimitri se inclina para frente e abre uma das gavetas em sua mesa,
então me entrega um pacote de camisinha e uma embalagem de lubrificante.
É óbvio que ele estava preparado, o que me faz sorrir ainda mais por
ter a certeza que ele quer isso tanto quanto eu.
Não perco tempo e abro minhas calças, abaixando junto com a cueca
até liberar meu pau, que já está duro feito pedra e pingando por ele.
Desenrolo o preservativo rapidamente e espalho o lubrificante pela
camisinha, depois lambuzo meus dedos e abro sua bunda, tendo a visão
maravilhosa do que me aguarda.
Dimitri continua me olhando sobre o ombro com aquela expressão
safada, então empurro suas costas até que seu peito encoste na mesa, afasto
suas pernas com as minhas, o máximo que é possível já que sua calça está
no caminho e, assim que deslizo um dedo para dentro do seu cu, ele se
contrai e solta um gemido delicioso.
— Porra!— Dimitri joga a cabeça para trás quando o penetro um
pouco mais, então paro sem saber se foi demais.
— Você está bem? — questiono preocupado.
— Só continua, meu cu não é virgem, Serguei, essa não é a minha
primeira vez — Dimitri anuncia e rebola contra meu dedo, provando que
quer mais. Volto a provoca-lo até sentir que está mais relaxado, então
coloco o segundo dedo, alargando ainda mais seu cu delicioso e, porra, meu
pau está aflito para senti-lo. — Me fode logo, caralho.
E é isso que faço, substituo os dedos pelo meu pau e provoco seu cu
entrando aos poucos para que ele se acostume, mas assim que sinto suas
paredes me comprimirem, eu estou fodidamente perdido de prazer.
— Caralho — solto, prendendo a respiração para me controlar, seguro
sua cintura com firmeza enquanto entro e saio devagar, só com a cabeça e a
cada investida vou mais fundo até estar completamente dentro dele.
Isso só pode ser um sonho, porque não é possível que seja verdade.
Meu cérebro está pregando peças em mim e tenho a mais absoluta certeza
que vou acordar na minha cama, com o pau melado na cueca e sozinho.
— Porra, Serguei, me fode com vontade, caralho! — Dimitri
praticamente manda, trazendo-me de volta ao presente e provando que isso
não pode ser um sonho, porque eu nunca imaginaria ele me pedindo algo
assim, ou melhor, ordenando.
— Como quiser, senhor — provoco e começo a foder o seu cu com
força, segurando-o com uma mão pela cintura e agarrando seus cabelos com
a outra, desfazendo o penteado perfeito para puxar os fios macios com
firmeza.
Eu já não consigo mais controlar os sons que saem da minha boca,
muito menos o barulho dos nossos corpos se chocando, sinto uma gota de
suor escorrendo em meu rosto e vejo o tecido branco da camisa social de
Dimitri ficando transparente com seu próprio suor.
É delicioso ter esse homem para mim, tão fodidamente perfeito que sei
que não vou durar muito, por isso largo sua cintura e cuspo na minha mão
antes de envolver seu pau e começar a masturbá-lo no mesmo ritmo das
investidas em seu cu.
Dimitri segura na mesa com mais firmeza, vejo os nós em seus dedos
ficarem brancos com a força exercida na madeira enquanto ele rebola ainda
mais, atirando a bunda para trás, se movimentando contra o meu pau e me
levando aos céus.
Não tenho tempo de avisar, nem de me segurar antes de gozar com
força, enchendo a camisinha de porra, chamando seu nome como um
mantra, porque eu só consigo ver Dimitri, pensar nele, sentir o seu cheiro e
ouvir seus gemidos.
Me forço a continuar com os movimentos até que ele estremeça na
minha frente e goze na minha mão. E, quando joga sua cabeça para trás,
tenho a visão mais linda e perfeita dele enquanto se contorce de prazer.
Prazer que eu lhe dei.
CAPÍTULO 5

DIMITRI
 
Assim que gozo com o pau de Serguei enterrado em mim e sua mão
me masturbando, consigo ter aquela sensação de liberdade, de estar
flutuando para fora do meu corpo, aonde me sinto feliz e completo, por
alguns segundos meu coração acelera e perco o controle da respiração.
Sexo é uma das poucas coisas que me faz esquecer de tudo, que me faz
sentir vivo por alguns segundos, e eu dou qualquer coisa para ter algo além
do vazio que me acompanha constantemente.
A mão de Serguei acariciando minhas costas provoca arrepios por todo
o meu corpo, assim como sua barba curta pinicando a pele sensível do meu
pescoço quando ele planta beijos delicados ali.
— Melhor prêmio que já recebi na vida — sussurra em meu ouvido e
sou atingido por sua voz grossa e pela respiração ofegante, não consigo
controlar um sorriso. Ele é tão contido o tempo todo, mas é só receber uma
ordem que consegue se soltar.
— Que bom que gostou, espero que sirva de motivação para
competições futuras — respondo e me levanto, sinto quando sai de mim e
vai até o banheiro, guardo meu pau na cueca e começo a me vestir.
— Se essa for a recompensa, eu juro que venço todas as lutas daqui
para frente — Serguei comenta ao retornar, já com a calça fechada e a
camisa azul do uniforme presa por dentro.
— Safado, agora vai querer me comer toda vez que ganhar uma luta,
não é assim que funciona — brinco, mas ele faz que não com a cabeça antes
de colocar uma mão na minha nuca e me puxar para um beijo carinhoso,
seus lábios se arrastam sobre os meus com ternura, apreciando cada
movimento como uma dança deliciosamente perigosa.
Um arrepio percorre meu corpo quando me dou conta do quanto gosto
do seu beijo, muito mais do que deveria.
— Não estava falando do sexo — Serguei sussurra contra meus lábios,
deixando-me confuso. — Estava falando sobre o sorriso lindo no seu rosto,
você não faz isso com frequência, então esse é meu maior prêmio.
Não tenho resposta, sua fala me pega completamente desprevenido,
por isso volto a beijá-lo, até conseguir engolir a bola que se forma na minha
garganta.
Não estou acostumado a deixar que enxerguem esse meu lado e isso
aqui é só uma foda. Serguei pode me dar o mesmo que qualquer outra
pessoa, Nada além disso, e ele só pode receber o que outros já tiveram, meu
corpo e alguns orgasmos por um tempo, nada mais.
— Só uma dúvida — Se afasta o suficiente para que eu consiga ver o
olhar preocupado em seu rosto —, sua sala tem proteção acústica, certo?
— Está preocupado que meus soldados tenham ouvido você gritando
meu nome?
— Eu sou um dos soldados — complementa e suas bochechas
assumem um leve tom avermelhado que tenta esconder, mas não consegue.
— Relaxa, ninguém pode ouvir o que acontece aqui dentro, tenho
bloqueadores de sinal e proteção acústica na sala toda — explico e vejo
seus ombros relaxarem quando ele solta a respiração, Serguei é tão fácil de
ler. — Não sei se você sabe, mas, sendo quem sou, lido com assuntos
importantes dentro dessa sala e, claro, é sempre útil ter um local privado.
— Desculpa, eu só fiquei preocupado. — Desvia o olhar e coça a
cabeça, visivelmente desconfortável, por isso planto um beijo em seus
lábios e aponto para a cadeira enquanto vou até o bar e sirvo dois copos
com vodca. — Acho que é melhor eu ir, já tomei muito do seu tempo.
— Na verdade, tem um assunto que gostaria de falar com você agora
que resolvemos a questão da premiação — falo e entrego o copo para ele,
sentando na cadeira ao lado da dele. — Venho acompanhando seu
treinamento durante essa semana e tenho uma proposta.
— Uma proposta? — Repete interessado, mas leva o copo à boca para
controlar a expressão curiosa em seu rosto.
— Recentemente um dos meus seguranças foi morto em um atentado
contra a minha vida, não posso entrar em detalhes, mas agora preciso de
alguém para substituí-lo e acho que você seria perfeito para a posição —
anuncio e assisto Serguei travar, bem na minha frente, com os olhos
arregalados e o copo parado no caminho da boca, o que me faz rir.
— Você… quer que eu faça parte do grupo de elite?
— Sim, você já obteve a licença para pilotar o helicóptero e Gabriel
era meu piloto principal, estou com o substituto no momento, mas preciso
da garantia de que se algo acontecer a ele, outro esteja disponível.
Ele leva um tempo para absorver minhas palavras e não responde na
hora, gostaria muito de saber o que se passa dentro da cabeça de Serguei já
que sua expressão parece uma confusão de sentimentos.
— Eu não sei se estou pronto para isso, quer dizer, no grupo de elite
tem soldados treinando há anos, por que eu?
— Sim, tem soldados melhores que você, que treinam há mais tempo e
possuem mais experiência em campo, e sim, seria melhor que eu escolhesse
um que eu não tivesse fodido. — A última parte o faz me olhar novamente
e aí está, a insegurança em sua expressão, tão clara quanto a neve. — É
isso, você acha que só estou te chamando por causa do que fizemos?
— Não, eu…
— Eu não tenho o costume de me envolver com meus seguranças,
vamos deixar isso bem claro, Serguei.
Sua expressão muda minimamente, mas tenho certeza que está
preocupado.
— Então se eu aceitar entrar para o grupo de elite, nós não vamos
mais… quer dizer, você não vai mais querer… — ele gagueja e não
consegue finalizar a frase.
— Não foi isso que eu disse, e não quero que pense que estou te
chamando só pelo sexo, jamais faria isso. Ser meu segurança, além de
entrar para o grupo de elite, significa colocar a sua vida em risco todos os
dias, entende isso?
— Sim, eu entendo — responde confiante, o que me pega um pouco de
surpresa.
— E até não estar pronto você não vai trabalhar diretamente comigo,
Erikson irá te passar tarefas específicas para um soldado iniciante e, com o
tempo, você subirá dentro do grupo de elite.
— Certo.
— E sobre isso aqui — Me inclino para frente e coloco a mão em sua
perna, para que entenda sobre o que estou falando —, só vai continuar se
ambos quisermos, mas preciso que entenda uma coisa antes de tomar uma
decisão, o que quer que aconteça entre nós será apenas sexo, não posso te
oferecer nada a mais, Serguei.
— Não sou tão ingênuo assim, eu sei qual é o meu lugar e o que
estamos fazendo. — Serguei coloca a mão em cima da minha, inclinando-se
para frente da mesma forma que eu fiz. — Eu aceito.
— Não tome essa decisão de forma impulsiva, antes vamos fazer uma
semana de teste. Erikson irá te acompanhar e explicar todas as suas funções
e, se no final desta semana você ainda estiver confiante da sua decisão,
então eu a aceitarei, seja ela qual for.
Quando Serguei abre a boca para responder, meu telefone toca e vejo o
número da minha secretária no display.
“Vor Petrov, o Pakhan requer sua presença imediatamente em seu
escritório.” – Thiane anuncia. Ela é uma espiã    e assumiu as funções da
minha antiga secretária, que morreu ao ingerir um chá envenenado que era
direcionado a mim.
— Já estou indo — respondo e desligo, Serguei se levanta e arruma a
gola da camisa azul do uniforme, checando se não tem nada fora do lugar,
ele para em frente ao espelho que tenho na parede e arruma os cabelos que
eu baguncei. Caminho até estar com suas costas coladas em meu peito,
envolvo sua cintura com os dois braços e beijo a volta do seu pescoço. —
Pense bem antes de me dar uma resposta, mas independente de qual for, eu
ainda não acabei com você, soldado.
É uma provocação, alta e clara, eu sei como ele reage quando o chamo
de soldado.
Seu olhar encontra o meu no reflexo do espelho e o desgraçado
umedece os lábios com a língua antes de abrir um sorriso safado.
— Sim, senhor.
Caralho, essas palavras saindo dele me faz querer largar tudo, fazê-lo
ajoelhar na minha frente e foder essa boca deliciosamente submissa até me
derramar na sua garganta, mas me controlo, não posso simplesmente
ignorar o Pakhan, ou pior, meu pai.
É por isso que o solto e, assim que Serguei sai, respiro fundo para
aguentar o restante do meu dia, mais algumas horas, mais algumas reuniões,
mais algumas decisões e então estarei em casa, aonde posso voltar a dormir
antes de começar tudo de novo amanhã.
Se meu irmão estivesse aqui ele estaria me dando forças com suas
piadas e deboches para todo o lado, sinto tanta falta dele.
A reunião com meu pai acaba durando mais do que o esperado, ele
vem me repassando mais atribuições a cada dia, me deixando no controle de
casos importantes, sem se envolver no meu processo de tomada de decisões.
Ele sabe que logo irei assumir sua cadeira, mesmo que eu torça para
que meu pai dure cem anos só para não ter essa responsabilidade, Mikhail
não tem o mesmo otimismo.
— As armas serão entregues no Afeganistão em cinco dias, esse é o
tempo que os Estados Unidos tem para retirar suas tropas — aviso minha
decisão sobre a guerra que nós mesmos planejamos e que agora está no fim,
ninguém sairá vencedor já que um país todo foi destruído por anos em um
campo de batalha interminável para que as engrenagens do capitalismo
continuassem rodando.
Guerras significam dinheiro, simples assim. Quanto mais tempo o
conflito armado dura, mais os fabricantes de armamento faturam. E não é só
isso, um país em guerra é uma fonte interminável de produto vivo,
alimentando o tráfico humano, afinal, cada vida importa.
Os homens lutam na guerra e aqueles que não são úteis dessa forma,
são entregues para traficantes de órgãos que encontram compradores para
cada parte útil da pessoa. Mulheres e crianças são vendidas como escravas
ou usadas para transportar drogas.
Cada vida tem uma utilidade e esse é o mundo que meu pai controla e
que, daqui alguns anos, estará em minhas mãos.
— Só mais uma coisa antes de encerrarmos o dia — meu pai avisa
quando vou levantar e não preciso nem olhar para ele para saber do que se
trata. — Já escolheu o substituto para a equipe de elite?
— Sim, soldado Serguei Barkov — anuncio sem rodeios.
— O mesmo que passou a noite com você e a bailarina? — provoca,
mas sua voz não sofre alteração nenhuma, continua firme e fria.
— Sim, alguma objeção quanto a minha escolha? — Entro em seu
jogo, ele está buscando uma reação minha, portanto é isso que farei.
— Sabe que não é uma boa decisão se envolver com seus seguranças.
— Sim, estou ciente, porém o soldado não era meu segurança quando
nos envolvemos — retruco de forma séria e meu pai não responde na hora,
vejo Mikhail respirar fundo e encostar as costas em sua cadeira de couro
preto, assim que seus ombros relaxam e ele abre os olhos novamente, a
expressão séria é substituída por preocupação.
— Nunca me envolvi na sua vida sexual, não me importo com quem
você vai para a cama — anuncia e preciso me controlar para não levantar e
sair nesse momento, porque eu odeio quando esse homem larga a pose de
Pakhan e assume a pose de pai —, mas você terá que casar com uma
mulher, meu filho.
— Eu sei quais são minhas obrigações, pai, mas o que o senhor
espera? Não tenho como sair de casa ou da Central para conhecer alguém, e
sei muito bem que é perigoso demais chamar prostitutas para dentro da
nossa casa — respondo controlando minha voz para não o ofender. —
Serguei é só uma distração, assim como tantos outros antes dele, se precisa
de alguma garantia tem a minha palavra que isso não irá interferir no
trabalho dele, muito menos no meu.
— Tudo bem, vejo que sua decisão foi tomada, se está realmente certo
sobre isso não irei interferir.
— Obrigado pela confiança, agora podemos ir para casa? — Levanto-
me fechando o botão do paletó, mas antes que possa sair meu pai me
chama.
— Dimitri, como você está? — E ali está o real motivo para a sua
preocupação.
Mikhail é o único que sabe o que realmente acontece comigo, ele pode
não ser o melhor pai do mundo, especialmente para o meu irmão, que foi
tratado como um simples soldado a vida toda, mas eu sou o herdeiro, eu
importo para a organização, portanto meu pai precisa garantir que eu esteja
bem.
— Só estou cansado, o dia foi exaustivo. — Não é uma mentira, meu
corpo está exausto devido aos exercícios da manhã, depois teve a luta com
Serguei, que conseguiu realmente me fazer suar e, é claro, a foda no meu
escritório, mas tudo isso não se compara ao quanto minha mente está
exausta.
— Certo, o helicóptero deve estar pronto, pode ir eu vou ficar na casa
secundária hoje — papa avisa.
Ficar na casa secundária significa que ele vai receber companhia e eu
não preciso saber mais do que isso.
Saio do escritório do Pakhan e sigo para o heliponto com minha
equipe de segurança, o helicóptero já está me aguardando quando chegamos
no local e, assim que entro com Erikson, o piloto liga os motores e se
prepara para decolar.
Assim que estamos no ar minha mente projeta o sorriso sincero no
rosto do soldado, não sei o quanto Serguei sabe sobre as obrigações dos
meus seguranças e o risco que correm todos os dias, mas se ele aceitar o
trabalho terá outra visão sobre o meu mundo, uma que nem todos
conseguem suportar.
Sofro ameaças desde o momento em que nasci, já fui envenenado,
esfaqueado, já colocaram remédios na minha bebida, explosivos em
aeronaves, atacaram minha casa e mataram incontáveis seguranças do
grupo de elite, tudo para chegar até o Herdeiro.
Eu sou o futuro da organização mais poderosa do mundo e, para nos
desestabilizar, países e pessoas poderosas fariam qualquer coisa, até enviar
homens bomba para a Central.
A imaginação dessas pessoas é muito fértil quando se trata de criar
formas de matar o Herdeiro. Muito fértil mesmo.
A única coisa que eles não tem conhecimento, que ninguém, além do
meu pai sabe, é que a maior ameaça a minha vida não está lá fora e sim
presa bem no fundo da minha mente, controlando meus sentimentos e
emoções, se alimentando de cada momento feliz, como uma sanguessuga.
Meu maior inimigo, o único que tenho certeza que pode realmente
acabar com a minha vida em um piscar de olhos, porque ele já tentou e
quase conseguiu, sou eu mesmo e o monstro que me assombra desde que
me conheço por gente: a depressão.
Porque não existe um inimigo pior do que aquele que vive dentro de
mim, nublando meus dias, mascarando todo e qualquer momento de
felicidade com pensamentos negativos.
Tem dias que ele está adormecido e consigo ter uma visão mais nítida
da vida, são nesses momentos que, mesmo tendo problemas, posso enxergar
uma fagulha de felicidade, mas na maior parte do tempo o monstro é quem
está no controle.
Me lembrando do quanto estou sozinho, de como minha vida é inútil,
ele bate nas grades da prisão que me cerca, rindo da minha cara por não
poder experimentar o mundo lá fora e tudo fica mais difícil de engolir, os
dias parecem ter horas infinitas e não acabam nunca.
Problemas são como bolas de neve descendo a montanha, aumentando
em tamanho e velocidade a cada metro percorrido, prontas para devastarem
tudo o que estiver em sua frente.
E quando a tristeza é tão insuportável que faz meu peito comprimir de
tanta dor e meus olhos arderem ao ponto de transbordarem em lágrimas
incontroláveis, eu só quero abraçar a escuridão eterna e não sentir nada
além da libertação desse inferno que é a minha vida.
CAPÍTULO 6

SERGUEI
 
Meu primeiro dia com o grupo de elite foi esclarecedor, por assim
dizer. Erikson me explicou quais as principais funções dos segurança do
Herdeiro. O time é misto, soldados e espiãs são separados por função.
Oito homens são responsáveis pela segurança pessoal, eles se dividem
em três turnos e acompanham Dimitri de perto, formam a primeira barreira
de proteção e são suas sombras aonde quer que o Herdeiro esteja.
Erikson também me apresentou ao grupo de inteligência, que se divide
entre a Central e a mansão Petrov.
Eles desenham todo o itinerário das rotas feitas tanto pelo helicóptero
quanto pelos veículos da Família, planejam as visitas, a compra de
mantimentos e até a comunicação entre o grupo de elite, tudo passa por
eles.
Tem também o grupo de vigia, formado por mais de trinta soldados,
que fazem a segurança da mansão Petrov.
Dimitri não mantem uma rotina para não criar um padrão, seu horário
de saída e chegada em casa é sempre diferente, calculado por um programa
estatístico, assim seus inimigos não conseguem se antecipar e, se tiver
algum indício de que a rota possa estar sendo observada, ele não deve ser
movido.
Enquanto Erikson repassa todos os protocolos de segurança, minha
mente só conseguia pensar em uma única coisa: o quão solitária é a vida de
Dimitri.
Ele está literalmente trancado, ou em sua casa ou na Central, mesmo
com todo dinheiro a sua disposição, é proibido de viver no mundo real.
Com tudo o que estou aprendendo, começo a entender o porquê de seu
olhar ser geralmente tão frio e os sorrisos serem escassos.
A música que ele tocou naquela noite era uma melodia tão triste,
afinal, um pássaro não canta feliz preso em uma gaiola, ele grita por
liberdade.
— Toda a comida que for levada até o Herdeiro deve ser verificada
com antecedência, as cozinheiras são de confiança, porém temos duas
espiãs na cozinha e a casa é monitorada a todo tempo — Erikson explica,
apontando para as câmeras na cozinha industrial, percebo que são muitas
para um lugar não tão grande. — Muitos ingredientes são produzido aqui ou
na Central, o que garante uma maior segurança aos alimentos, porém os
produtos industrializados devem ser lidados como armas biológicas, você
fez esse treinamento?
— Sim, senhor.
— Então além de analisar as características físicas, tudo o que vier
fechado, por exemplo as bebidas, deve passar por um teste humano antes de
chegar ao Herdeiro.
— Teste humano? — pergunto confuso.
— Temos pessoas responsáveis por beber uma pequena porção para
garantir que não esteja envenenado. — Ele me leva até uma sala nos fundos
da cozinha, parece um refeitório pequeno, mas também vejo quatro camas
de solteiro e um banheiro aberto. Fechados em uma sala cercada de vidro,
estão dois seguranças armados. — Os provadores são pessoas que traíram a
Bratva e essa é sua punição.
— É uma prisão? — questiono, mas não vejo os detentos.
— Se for para comparar com qualquer prisão, isso aqui é um hotel de
luxo, porém eles não ficam para sempre, há uma rotatividade de
prisioneiros, não queremos que se acostumem ou reúnam informações.
Então um grupo com quatro homens algemados entra por uma porta
lateral, acompanhados de dois guardas armados que os conduzem até as
camas, um a um eles são soltos e os guardas se retiram.
— Os provadores são escolhidos a dedo e devem ter o mesmo peso,
altura e tipo sanguíneo do Herdeiro, é uma garantia maior contra armas
biológicas. Você será alocado para o grupo de segurança pessoal assim que
passar pelo treinamento adequado, portanto deve saber de todas as diretrizes
de cor.
— Sim, senhor.
Erikson termina de me mostrar a mansão Petrov e, no final do dia,
minha mente está explodindo com a quantidade de informações, por sorte,
ele me entregou um aparelho de leitura, sem conexão à internet, com todas
as diretrizes para que eu estude e decore cada uma delas.
— Terminamos por hoje, soldado Barkov — Erikson anuncia assim
que chegamos ao dormitório da equipe.
Cada um tem um quarto, que está mais para uma suíte de hotel, com
uma cozinha pequena, sala de estar, banheiro com hidromassagem e uma
pequena varanda com vista para os jardins laterais da casa.
— Só tenho mais um assunto a tratar com você e preciso exigir que
este fique entre nós. – O olhar preocupado de Erikson me deixa curioso,
assim como o vinco entre suas sobrancelhas e a forma com que trava a
mandíbula, como se estivesse travando uma luta interna sobre o que vai
falar.
— Sim, senhor.
— Não existem segredos entre os membros da equipe de elite, nós
sabemos de tudo o que acontece com Vor Petrov, portanto temos ciência do
seu envolvimento pessoal com o Herdeiro — avisa em tom formal e sinto
todo o sangue esvair do meu corpo. Será que ele vai me dar um sermão? —
O que acontece dentro daquele quarto é mantido no mais absoluto segredo,
assim como todas as outras informações sobre Dimitri, porém preciso te
avisar, na verdade te alertar: Vor Petrov é um homem poderoso e muito
inteligente, mas ele tem momentos de desobediência.
— Ele luta contra as regras?
— Está mais para tentativas de contorná-las e é por isso que,
especialmente você, precisa ficar atento para que ele não acabe te
convencendo a burlar alguma medida de segurança. — Erikson respira
fundo e, quando volta a falar, seu tom de voz fica mais sério. — Vor Petrov
precisa ser protegido a todo custo, algumas vezes até dele mesmo.
Com isso ele sai me deixando sozinho no quarto, repensando em tudo
o que aprendi sobre o homem que admirei por toda uma vida.
A visão do Herdeiro é como a de um ator famoso de Hollywood que
parece ter uma vida incrível e ser uma pessoa perfeita, mas é só quando
paro para pensar no homem por trás da fama, que vejo o quanto não sei
nada sobre ele.
Parece haver uma separação brusca entre a figura do Herdeiro e o
homem Dimitri Petrov e, quanto mais aprendo sobre esse conjunto, mais
entendo a tristeza que encontrei em seu olhar naquela manhã.
Durante o período de experiência, passei muito tempo acompanhando
Dimitri, inclusive fiz o teste com o helicóptero oficial e fui aprovado para
ser um dos pilotos, mas também trabalhei com as outras equipes
O que eu não esperava era a quantidade de ameaças que Dimitri sofria
diariamente.
Depois que Erikson falou sobre todos os protocolos, passei a noite
lendo o máximo que consegui, e tudo me pareceu cauteloso e exagerado
demais, porém, logo no café da manhã do dia seguinte, um dos provadores
foi envenenado ao consumir uma xícara de café.
Os grãos vieram em um novo lote, importados do Brasil, e estavam
envenenados com uma substância desconhecida.
Depois de isolar e enviar o restante do produto para o laboratório da
Central, os cientistas estão analisando cada um dos grãos e tentando rastrear
a substância que foi utilizada para, só então, a equipe de inteligência
conseguir encontrar a fonte e descobrirmos quem foi o responsável por essa
ameaça.
Depois que o ataque foi evitado, Erikson convocou uma reunião e
repassou a ordem, vinda diretamente do Pakhan, para manter o atentado
fora de qualquer arquivo, suas palavras foram enfáticas ao anunciar que
tudo seria mantido em sigilo, inclusive de Dimitri.
Quando a reunião acabou, ele me pediu para esperar e perguntou se eu
tinha alguma dúvida sobre o que havia sido tratado, então questionei o
motivo para que o atentado fosse mantido em segredo e a sua resposta não
sai da minha cabeça.
—Vor Petrov tem preocupações demais em seu dia, sua segurança é a
nossa missão, não tem porque adicionar mais esse peso em suas costas e
sobrecarrega-lo, afinal, este é o nosso trabalho — Erikson explicou
cruzando os braços em frente ao corpo e respirando fundo antes de
continuar —, mas se ele te perguntar algo é porque já sabe, ou só precisa da
confirmação ou está testando sua lealdade, então você deve sempre falar a
verdade.
Não consigo imaginar o peso que Dimitri carrega todos os dias, mas o
admiro mais a cada nova descoberta.
Ele não interferiu em meu período de experiência, eu o via durante
meu turno e ele sempre me cumprimentava, mas não era a mesma coisa de
quando ficávamos sozinhos. Quando eu era seu segurança, ele era o
Herdeiro.
— Soldado Barkov, Vor Dimitri Petrov requer sua presença imediata
em seus aposentos — Erikson anuncia depois de bater na porta do meu
quarto.
Já é noite e acabei de tomar um banho, depois de terminar a sessão de
treinamento de tiro ao alvo.
— Sim, senhor — respondo e coloco o uniforme rapidamente antes de
seguir meu superior até a ala do Herdeiro.
A mansão dos Petrov é dividida em quatro áreas principais: no piso
superior ficam os aposentos do Pakhan e de sua esposa, logo abaixo estão
os quartos de Dimitri, seu irmão Andrei, Giulia Marino, a hóspede dos
Petrov e herdeira da máfia italiana, Ivan Petrov, filho do irmão do Pakhan, e
um quarto de visitas.
No primeiro andar fica a área de convivência da família, com um
espaço de lazer externo, academia e salão de jogos. Já nos fundos ficam a
cozinha e a prisão dos testadores.
Descemos no subsolo onde estão os carros e motos da família e
também várias passagens secretas para uma eventual evacuação.
A área da equipe de segurança e funcionários fica em um prédio
separado da casa principal, temos área de treinamento, academia, stand de
tiro ao alvo, laboratório e uma sala de segurança, onde as imagens de todas
as câmeras da casa são analisadas por um grupo especial de espiãs.
Assim que chegamos em frente ao quarto de Dimitri percebo que não é
o mesmo que usamos naquela primeira noite, é claro que ele não traria dois
desconhecidos para seus aposentos oficiais.
Erikson bate na porta três vezes e escuto um barulho baixo, vejo
quando a luz vermelha do painel ao lado da porta muda para verde e então
Dimitri a abre, fazendo sinal para eu entrar.
Quando ele fecha a porta atrás de mim posso finalmente respirar, então
olho para o que mais parece uma suíte presidencial em um hotel de luxo do
que um quarto.
Com a única exceção do vídeo game instalado na grande TV em frente
para a cama, tudo aqui é de alto padrão e luxuoso.
As paredes são pintadas de cinza-claro e tem artes em preto e branco
penduradas, combinando com o piso de porcelanato preto, os móveis são
poucos e todos brancos.
Ao meu lado direito vejo uma cozinha completa com uma ilha no
centro e duas banquetas altas. Em minha frente está a sala de estar, com
dois sofás enormes de couro branco e a TV, que pega quase toda a parede,
mais a frente tem duas portas de vidro que abrem para uma sacada ampla,
com vista para os jardins frontais.
Próximo à porta vejo um lindo piano branco com detalhes dourados
que faz meu coração saltar no peito ao me lembrar da festa de Yelena, posso
sentir os olhos de Yekaterina em mim novamente, por algum motivo sua
presença foi mais marcante do que eu poderia imaginar.
Do lado esquerdo fica o quarto e, como todo o ambiente é aberto,
tenho a visão da cama enorme com um cobertor preto por cima e
travesseiros brancos, no chão um tapete felpudo azul-escuro é a única coisa
a colorir o ambiente.
— Era o que você imaginava? — A voz de Dimitri me faz pular e
percebo que estou, a sabe-se lá quanto tempo, parado no mesmo lugar
avaliando o local.
— Desculpa, não quis ser intrometido.
— Tudo bem, mas ainda quero saber a resposta. — Ele coloca a mão
nas minhas costas e indica um dos sofás a nossa frente, forço minhas pernas
a obedecerem e me sento, com ele ao meu lado, próximo demais, mas não o
suficiente.
— É muito… é bonito. — Me enrolo com as palavras, já que meu
cérebro parece ter derretido e não consegue pensar em nada além da sua
mão viajando até o meu joelho.
Porra, assim que sinto o peso dos seus dedos meu corpo todo
estremece em antecipação.
— Como foi o tempo de experiência? — questiona de forma séria,
mesmo que sua mão esteja subindo pela minha coxa calmamente, preciso
segurar a respiração para conter uma reação nada profissional.
— Acredito que meus resultados tenham sido satisfatórios.
Finalmente, Serguei!
Uma resposta certa, profissional.
Mantenha-se assim, você é um bom soldado, um bom…
— E já tem uma resposta para me dar? — Dimitri sussurra contra meu
pescoço ao se aproximar ainda mais. Porra, sinto sua respiração quente
contra a minha pele e todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando sua
mão viaja para dentro da minha coxa, subindo cada vez mais até quase tocar
o meu pau. — Ou vou precisar usar de outro método para te convencer a ser
meu segurança?
Caralho, caralho, caralho...
— Senhor… — A porra da minha voz sai baixa demais, como um
gemido, e mordo o lábio para controlar as reações do meu corpo traidor.
— Porra, você não imagina o que faz comigo quando me chama assim
— Ele se afasta o suficiente para que eu possa virar o rosto e encarar seus
olhos azuis, tão intensos e claros quanto uma tempestade de neve. —, mas
ainda prefiro quando me chama de Dimitri.
Então sua boca está na minha e eu derreto, assim como meu cérebro,
que já não consegue pensar em mais nada além dos seus lábios exigindo
atenção.
Sua mão agarra minha nuca, tomando o controle, da mesma forma que
sua língua encontra a minha em uma dança sensual.
Não leva muito tempo para estarmos perdidos um no outro, ele abre
minha calça com agilidade, liberando meu pau que parece saber o que o
aguarda, porque, assim que Dimitri o segura com força e começa a mover
sua mão para cima e para baixo, o desgraçado pulsa e eu jogo a cabeça para
trás, aproveitando cada sensação.
— Seja meu segurança, Serguei. — Dimitri beija meu pescoço
enquanto fala, cada palavra é como a porra de um choque contra minha
pele, viajando diretamente para o meu maldito coração.
— Dimitri…
— Porra, eu quero tanto ter você para mim, todos os dias — sussurra
em meu ouvido enquanto sua mão me masturba com agilidade, essa é a
melhor forma de tortura que já recebi na vida e, por mais que eu queira
gritar ‘sim’, estou me segurando porque é tão bom, tão fodidamente
delicioso. — Eu quero uma resposta, soldado.
Caralho, por que a palavra soldado soa tão diferente quando vem
dele?
E por que diabos isso quase me faz gozar como um maldito
adolescente?
— Sim, porra, é tudo o que mais quero nessa vida — confesso e
seguro os cabelos da sua nuca com firmeza, forçando-o a ficar em minha
frente, porque preciso olhar no fundo de seus olhos neste momento. —
Minha vida, minha lealdade, meu corpo, é tudo seu. Eu juro treinar todos os
dias para ser o melhor segurança e te proteger de qualquer filho da puta que
tentar encostar em você, eu sou a porra do seu soldado, Dimitri.
Vejo o brilho em seus olhos assim que termino de falar e algo diferente
faz o azul ficar ainda mais intenso, em seguida Dimitri está em cima de
mim, livrando-me do restante das roupas, depois das suas e, sem a porra de
uma palavra, estamos entregues mais uma vez.
***
Acordo com notas musicais ecoando pelo quarto, levo um tempo para
reconhecer e me situar novamente, então sento-me na cama, coçando os
olhos com as mãos.
A visão de Dimitri, só de cueca preta, sentado no banco em frente ao
piano começa a entrar em foco.
A melodia parece familiar, acredito que já ouvi antes, e faz meu peito
apertar com cada nota triste que ele toca.
Levanto-me com cuidado, já que todas as luzes estão apagadas, mas a
lua cheia brilhando no céu noturno ilumina o caminho até a sala e, assim
que sento ao seu lado, vejo o semblante preocupado e as olheiras escuras
embaixo dos seus olhos.
— Desculpa, não queria te acordar. — Dimitri para de tocar, mas
seguro sua mão e faço que não com a cabeça, colocando-a de volta no
teclado para que continue.
— É uma música linda, acho que já ouvi antes.
— Estava tocando enquanto você conversava com Yekaterina naquela
noite — ele explica sem hesitação.
— Ah sim, agora sei porque reconheço os sentimentos. — Ele volta a
mover os dedos e a melodia triste ecoa novamente pelo ambiente, dando-me
uma visão mais profunda sobre o homem ao meu lado e é como se, a cada
nota, eu estivesse entrando ainda mais em seu mundo, conhecendo uma
outra parte dele, uma que faz meu peito doer.
— Você pensa nela? — Dimitri questiona baixinho.
— Sim — confesso e respiro fundo, não sei se é isso o que quer ouvir,
ou se realmente posso falar algo assim, afinal ele é meu superior e o homem
com quem acabei de foder até a exaustão, mas alguma coisa, bem no fundo
da minha mente, me diz para não mentir. — Penso nela com mais
frequência do que deveria.
— Eu também. — Ele vira o rosto e, no instante em que nossos olhares
se encontram, vejo a verdade das suas palavras refletidas no brilho do seu
olhar. — Gostaria de vê-la novamente?
Inspiro profundamente, pensando no que responder, mas ele não
parece estar brincando ou me testando, acho que ele quer a verdade.
— Sim — respondo com o máximo de confiança que consigo reunir,
mas no momento que seus lábios se curvam em um sorriso tímido e a
expressão muda de angústia para contentamento, meu coração acelera no
peito.
— Vamos fazer isso acontecer — Dimitri responde e planta um beijo
carinhoso em minha boca, então retorna sua atenção para o piano e a
melodia triste é substituída por algo mais calmo, porém intenso, posso
sentir as notas ditando o ritmo das batidas do meu coração e relaxo,
escorando minha cabeça em seu ombro.
CAPÍTULO 7

YEKATERINA
 
Depois do dia em que Leônidas me cercou comecei a sentir medo de
andar sozinha, ele pode ser um playboy metido a machão, mas eu sei o que
um homem pode fazer quando é rejeitado, especialmente alguém com o ego
do tamanho do dele.
Nos ensaios ele não faz nada além das piadinhas ridículas contra
Nathan, junto do seu grupinho de víboras, mas ainda tenho medo de ficar
sozinha.
Não contei para ninguém o que aconteceu para não preocupar minhas
amigas, mas passei a andar com o spray de pimenta no chaveiro e o
canivete no bolso de trás da calça.
Quando chego e não tem mais lugar para estacionar, tento deixar o
carro na rua e, só em último caso, coloco no estacionamento pago. Hoje foi
um desses dias de azar, com a primeira neve do ano as ruas estão lotadas e
demorei mais do que o normal para chegar.
O coreógrafo nos fez ficar até mais tarde no ensaio porque resolveu
alterar dois movimentos, então já são quase oito horas da noite quando me
despeço de Nathan e atravesso a rua.
Duas quadras me separam do meu carro e a rua está calma a essa hora.
O vento frio é congelante e tenho certeza que a neve não vai demorar a
chegar, então enrolo o cachecol azul no pescoço e fecho meu sobretudo
branco na tentativa de proteger meu corpo do clima. É inútil, eu sei.
Caminho rápido, mas tomando cuidado para não correr e acabar
escorregando em alguma poça de água gelada. Assim que viro a esquina
tenho o primeiro vislumbre de um carro preto andando mais devagar do que
o restante dos outros veículos e meu coração acelera.
Droga, será que é o Leônidas?
Ele tem um carro preto, mas nunca lembro qual é o modelo. Resolvo
alterar a rota e viro para a direita ao invés de ir pela esquerda, o que percebo
ser uma péssima ideia assim que ergo a cabeça e vejo a rua mais estreita e
vazia do que antes.
Com uma mão envolvo o tubo de spray de pimenta que está no bolso
do casaco e com a outra consigo alcançar o canivete no bolso da calça.
Por favor, que não seja ele, por favor, por favor…
Repito o mantra na esperança de que o universo colabore e, assim que
volto a conferir, a rua está vazia e não vejo o carro preto em lugar nenhum.
A sensação de alívio é reconfortante e posso finalmente voltar a
respirar, porém não solto o canivete enquanto retorno ao caminho normal.
Assim que chego no estacionamento encontro meu carro onde deixei
pela manhã e pago pelo tempo a mais que precisei ficar, porém assim que
me aproximo vejo o pneu traseiro no chão.
— Não, não, não! — reclamo e me abaixo para averiguar, passando a
mão pela borracha, mas não encontro nada, então levanto e sinto o cansaço
e frustração me dominando, chuto o pneu com força e começo a reclamar.
— Droga de dia, eu só quero ir para casa, por que diabos você tem que
furar?
— Tudo bem aí, senhorita Belova? — Kiev, o segurança do
estacionamento, pergunta, provavelmente escutou meu pequeno show e
veio conferir.
— Desculpa, Kiev, é só um pneu furado.
— Vou buscar as ferramentas e já te ajudo a trocar — oferece.
— Não adianta, o outro também está furado, estive tão ocupada que
esqueci de trocar o reserva por um novo da última vez — respondo
frustrada e respiro fundo, controlando a raiva que sinto por ser tão
irresponsável. — Vou chamar um carro de aplicativo, amanhã peço para a
mecânica vir buscar, já está na hora de fazer uma vistoria mesmo.
— Sem problemas, se quiser deixar a chave comigo eu posso entregar
para quem vier retirar amanhã de manhã e a senhorita não precisa vir até
aqui. — Oferece e sorrio para ele, Kiev é um senhor de idade, deve ter uns
sessenta anos, cabelo e pele brancos como a neve, sempre gentil e disposto
a ajudar. Deixo meu carro aqui há anos e nunca aconteceu nada.
— Obrigada, Kiev, isso vai me ajudar demais. — Pego o chaveiro e
retiro a chave do carro, entregando para ele.
— Imagina, vou te acompanhar até seu carro chegar.
Voltamos para a frente do estacionamento e pego meu celular para
fazer a chamada, mas, assim que abro o aplicativo, um carro preto para bem
na minha frente e buzina, fazendo-me saltar de susto.
— Ei, Kat, está precisando de uma carona? — A voz debochada de
Leônidas faz minha espinha congelar e, quando ele abaixa ainda mais o
vidro e coloca a cabeça para fora, vejo seu olhar predatório e convencido.
— Vamos, está frio, entra aí.
— Obrigada, mas não precisa, já estou chamando um carro e…
— Vamos, Kat, para de se fazer de difícil. — Leônidas me corta, mais
rude do que antes, o que chama a atenção de Kiev que está a alguns passos
de distância de mim.
— Tudo bem aqui, senhorita? — o segurança pergunta.
— Sim, é só um colega de trabalho — respondo e forço um sorriso
para Kiev, que acena positivamente e da dois passos para trás.
— Só um colega. — Leônidas debocha e solta uma gargalhada alta,
então desce do carro, caminhando ameaçadoramente em minha direção, o
que me deixa em alerta, envolvo o canivete em minha mão e me preparo,
mas quando ele chega muito próximo, seu olhar desvia do meu para algum
lugar atrás de mim.
— Desculpa a demora — uma voz firme, que parece familiar, fala ao
meu lado e, logo depois, sinto uma mão em minhas costas, o que
normalmente me faria pular, mas olho para o lado e reconheço o homem de
cabelos e olhos pretos, que abre um sorriso lindo assim que nossos olhares
se encontram. — Você está pronta?
— Serguei… — murmuro baixinho e ele dá um beijo calmo em meus
lábios, como se fizéssemos isso todos os dias, o que me faz parar de respirar
por um momento.
— Vamos? — Serguei aponta para outro carro preto, atrás do de
Leônidas, e isso me faz lembrar do meu colega inconveniente.
— Claro! — Recupero a compostura e entro no jogo, mesmo ele sendo
um estranho, algo me diz que é melhor confiar nele do que em meu colega.
— Obrigada pela oferta, Leônidas, nos vemos amanhã.
Sinto a mão de Serguei nas minhas costas exercendo um pouco de
pressão e entendo que preciso me mover, por isso forço minhas pernas a
andar, quando nos aproximamos do carro ele passa por mim e abre a porta
da frente para eu entrar, depois Serguei assume o volante.
Só quando o carro se afasta e não sinto mais o olhar ameaçador de
Leônidas é que consigo soltar a respiração, olho para baixo e vejo que
minhas mãos estão fechadas em punhos e tremendo descontroladamente.
— Quem era aquele homem? — Serguei questiona com a voz firme,
tirando uma mão do volante para segurar a minha e, só quando relaxo com
o seu toque, percebo ainda estar segurando o canivete. Claro que ele
também vê e calmamente tira o objeto da minha mão. — Yekaterina, por
que você está segurando um canivete?
— É só uma medida de proteção, meu carro está com o pneu furado e
o reserva também, porque esqueci de trocar da última vez que furou, então
tive que deixar no estacionamento e, quando estava chamando um carro de
aplicativo, Leônidas apareceu e me ofereceu carona, só isso. — Desando a
falar sem nem respirar entre uma palavra e outra.
— Você não respondeu minha outra pergunta — pontua e volta a
segurar a minha mão, agora na tentativa de me fazer parar de tremer. —
Quem era aquele homem?
— Leônidas é um dos bailarinos na Bolshoi Ballet Academy, ele… ele
devia estar passando por ali e me viu parada, então ofereceu carona. —
Minto porque não quero arrumar confusão, Leônidas poderia mesmo só
estar passando. Estou um pouco paranoica desde a nossa última conversa.
— E por que você está com medo do seu colega?
— Eu não estou com medo. — Rebato com mais confiança do que
achei que conseguiria.
— Você está tremendo. — Serguei pontua, desviando o olhar da rua
para me avaliar e vejo a preocupação nos grandes orbes pretos.
— Não sei se você reparou, mas está frio pra caralho lá fora, a droga
do meu carro quebrou e tenho que ligar para a oficina ainda hoje. — Solto
cada palavra cheia de frustração e respiro profundamente antes de
continuar. — Eu só estou cansada.
— Não se preocupe com seu carro, um colega irá cuidar disso pra você
e amanhã ele estará na sua casa — anuncia.
— Que colega?
— Explicarei tudo assim que chegarmos ao nosso destino, até lá pode
me contar como foi a sua semana — ele fala com tanta naturalidade que
realmente não sei se estou sonhando ou se essa é uma realidade paralela.
— Calma, para onde estamos indo? — questiono assim que encontro
as palavras certas, então minha mente é inundada com dúvidas e perguntas
que eu já deveria ter feito, mas estava assustada demais. — Ei, pare o carro!
— Exijo olhando para os lados, mas não consigo identificar aonde estamos,
só a rodovia a nossa frente e as luzes dos carros vindo em nossa direção.
— Desculpa, Yekaterina, mas não posso parar.
— Como não? Eu estou falando para parar nesse exato momento ou…
— Tento abrir a porta, mas está trancada e vejo o sorriso no rosto de
Serguei quando o encaro, sem acreditar no que está acontecendo.
— Eu vim te buscar para um jantar especial, infelizmente a pessoa que
te convidou não aceita ‘não’ como resposta — o desgraçado brinca.
— Serguei, pare o carro agora! Eu não vou a lugar algum com você, eu
nem te conheço. E quem, diabos, mandou você me sequestrar?
— Ele vai explicar tudo quando chegarmos ao nosso destino, não falta
muito, pode ficar tranquila.
— Não me manda ficar tranquila!
— Desculpa — Serguei pede e começa a rir ainda mais e, por algum
motivo ridículo, ver as malditas covinhas fofas em sua bochecha e a forma
com que seu olhar brilha quando encontra o meu, me faz relaxar.
Sim, eu estou doida!
Provavelmente estou descobrindo algum fetiche novo nesse momento,
já li que existem pessoas que pagam para ter a experiência de serem
sequestradas e isso as deixa com tesão.
Eu estou com tesão?
Avalio minhas reações, mas ainda estou assustada demais. Sua mão
continua entrelaçada na minha e percebo que parei de tremer.
— Espero que tenha comida no cativeiro, porque meu dia foi terrível e
estou morrendo de fome — falo e escoro as costas no banco de couro,
arrumando minha postura volto a olhar para frente, sem me deixar distrair
com o homem gostoso ao meu lado, ou com a sua mão na minha.
Chegamos na mesma mansão que Yelena me trouxe, mas agora o carro
faz a volta e para em uma entrada lateral, Serguei sai primeiro e abre a porta
para eu descer.
— Se importa se a revistarmos? — pergunta.
— Não acho que eu tenha escolha, afinal, você está me sequestrando
— respondo brincando e isso o faz sorrir, então faço que não com a cabeça
e ergo os braços.
Serguei primeiro tira meu celular do bolso, depois as chaves com o
spray de pimenta, ele me lança um olhar desconfiado e ergue as
sobrancelhas por um momento, mas logo termina a revista.
Eu deixei a bolsa com minhas roupas na Companhia e só peguei
carteira, chaves e celular mesmo, mas ele não precisa saber disso, ainda
mais quando suas mãos percorrem todo o meu corpo, apalpando levemente
meus braços, cintura, pernas, até ele se ajoelhar em minha frente para
avaliar se não tenho nada nos pés.
Droga! A visão me faz sorrir, eu amo um homem ajoelhado, mas
preciso me controlar.
Coloca essa cabeça no lugar, mulher. Ele não te deu chance para
recusar, então é um sequestro, você não deveria estar tão calma assim!
A voz da razão em minha cabeça grita comigo, mas o que eu posso
fazer? Sair correndo? Por favor, eu não sou burra, tem mais seguranças aqui
dentro do que meus olhos conseguem ver.
— Seja bem-vinda, Yekaterina.
Ergo o olhar para encontrar o dono da voz que acabou de fazer meu
corpo todo arrepiar e vejo o loiro gostoso daquela noite, não sei seu nome,
mas eu reconheceria essa entonação de comando mesmo no meio de uma
multidão.
Ele está usando uma camisa social azul-claro, sem gravata ou o terno
chique daquela noite, só a calça social preta e os sapatos, assim ele parece
mais confortável.
— Então você trabalha para o loiro — acuso Serguei, que está ao meu
lado e sorri com minhas palavras, olho para seu terno todo preto com a
camisa branca e percebo que é igual ao uniforme dos outros seguranças que
estão à vista. — E você, por que mandou me sequestrar? Não sei se você
sabe, mas existe uma coisa chamada telefone, pode usar quando quiser falar
com alguém.
— Eu posso, mas do meu jeito é mais garantido. — O loiro pisca e
desce alguns degraus, estendendo a mão em minha direção como um
convite ao qual eu aceito, mas enrosco meu braço em Serguei para que ele
não saia do meu lado. — Vamos, o jantar está pronto.
Entramos em uma sala de jantar muito luxuosa, Serguei puxa uma
cadeira e o loiro segura minha mão, me ajudando a sentar, os dois estão tão
coordenados em seu cavalheirismo que preciso controlar uma piada.
Serguei senta do outro lado da mesa e o loiro na ponta, já que agora sei
que ele é o dono de tudo, faz sentido. Tudo ao meu redor é brilhante e
bonito, desde os vasos de flores até os talheres. A mesa não é muito grande,
o que nos proporciona mais proximidade e intimidade, e só tem três lugares
preparados.
Já estive em lugares luxuosos, jantei nos melhores restaurantes e
participei de festas privadas de gente muito rica, mas nunca consegui deixar
de reparar no luxo, em cada detalhe que deixa tudo ainda mais exuberante.
— Então, você vai me dizer seu nome ou posso continuar te chamando
de loiro? — questiono enquanto coloco o guardanapo de tecido no meu colo
e pego a taça com vinho que um garçom acabou de servir.
— Você realmente não sabe? — Serguei é quem pergunta e, assim que
o garçom serve as três taças de vinho e se retira, o loiro parece relaxar na
cadeira e seu lábio ergue minimamente.
— Não, ao contrário de alguns, eu não saio pesquisando o endereço de
pessoas que acabei de conhecer — falo de forma acusatória, agora o loiro
não consegue se segurar e sorri, fazendo-me rir junto antes de agradecer. —
Obrigada pelos presentes, não tinha um número de telefone no cartão,
portanto não pude agradecer antes.
— Não precisa agradecer, Yekaterina. — O loiro adverte de forma
gentil. — Me chamo Dimitri Petrov.
O nome não me parece familiar, mas o sobrenome eu já ouvi, claro que
sim, a família Petrov é uma das mais poderosas na Rússia.
— Petrov... por acaso você tem alguma ligação com Mikhail Petrov?
— questiono e ele confirma com a cabeça, do outro lado da mesa vejo
Serguei ficar tenso e erguer as sobrancelhas, ele é mais fácil de ler do que o
loiro, ou melhor, do que Dimitri. — Ele é um dos maiores patrocinadores da
Bolshoi Ballet Academy.
— Sim, meu pai gosta muito de ballet — Dimitri pontua, mas o que
chama minha atenção é a forma com que pontuou a palavra ‘pai’, só então
me lembro das fofocas de que o maior patrocinador da companhia também
gostava de ter bailarinas em sua cama. — Você o conhece pessoalmente?
— Sim, fomos apresentados algumas vezes — respondo sem dar mais
detalhes e assisto os dois homens trocarem um olhar preocupado. Eu já sei
o que eles estão pensando e poderia só negar de uma vez, mas é legal ver o
desespero na expressão deles, deixo mais um minuto de suspense só que
não consigo segurar o riso por muito tempo. — Relaxa, eu não fui para a
cama com seu pai.
— Desculpa, não quis insinuar nada. — Dimitri se enrola, me fazendo
rir ainda mais.
— Não precisa se desculpar, não me ofendeu. Eu já fui para a cama
com muitos homens ricos, aqueles que pagam para ter uma noite com a
bailarina principal, mas quando isso acontece sou eu quem escolhe. —
Deixo bem claro esse ponto, odeio a visão de pureza que alguns homens
cultuam sobre as bailarinas.
CAPÍTULO 8

DIMITRI
 
Yekaterina é ainda mais interessante do que eu havia imaginado, ela
tem uma presença marcante, é decidida e muito direta, mas também faz
brincadeiras, seu deboche em alguns momentos me lembra do meu irmão,
Andrei, ele iria adorar conhecê-la.
Serguei parece tão impressionado com a mulher quanto eu, mesmo que
ele tenha conversado mais com ela naquela noite, ainda vejo o olhar
admirado cada vez que ela faz algum comentário.
Claro que não passou despercebido o fato de ela estar falando bastante
por se sentir desconfortável com a situação, o que me lembra do meu irmão,
Andrei também fala muito quando está nervoso.
Não sei o que aconteceu quando Serguei foi buscá-la, mas algo me diz
que ela não teve a opção de recusar o jantar.
Depois que terminamos as entradas e o prato principal, Yekaterina
descansou os talheres e segurou sua taça de vinho, ela não comeu muito,
provavelmente por causa da dieta restrita que uma bailarina segue.
— Agora vocês vão me contar o motivo para terem me sequestrado em
uma linda noite fria de sexta-feira? — questiona irônica e Serguei ri.
— Você saiu com tanta pressa, não tivemos tempo para conversar —
Serguei responde levando a própria taça até a boca, ele gosta de vinho,
venho percebendo isso nos últimos dias em que jantamos juntos.
— Eu não estava tão disposta a conversar naquele dia — contrapõe,
provocativa. —, não sei se tenho tempo para o que quer que vocês estejam
pensando.
— Nos dê o prazer da sua companhia por mais um tempo e depois, se
quiser ir para casa, mando meu motorista te levar, mas se decidir ficar, essa
casa possui muitos quartos.
Ela fica séria por um tempo, seu olhar viaja entre Serguei e eu,
avaliando nossas reações enquanto sua mente processa o convite que fiz.
Pensei muito antes de realmente trazê-la até aqui novamente, mas preciso
admitir que não paro de pensar nela e naquela noite.
Yekaterina não faz a menor ideia de quem somos, isso ficou bem claro
quando ela não sabia nem o meu nome, mas ela também não é uma mulher
inocente.
— Se quiser transar pode falar com todas as palavras, não precisa
embelezar a putaria. — Ela é direta novamente. — Por que não comemos a
sobremesa enquanto tenta me convencer a passar a noite?
— Isso soou muito como um desafio — comento e ela prende o lábio
inferior com os dentes em uma expressão divertida e safada ao mesmo
tempo.
— Eu adoro um bom desafio — Serguei complementa, levantando-se e
caminhando até nossa convidada. Nós planejamos esse jantar juntos e, por
isso, ele sabe o que faremos a seguir.
— Não tem sobremesa? — Yekaterina questiona confusa, o biquinho
que ela faz ao olhar para o braço estendido de Serguei em sua direção faz
meu coração acelerar no peito.
— Fique tranquila, pedi para o cozinheiro preparar um bolo de leite
sem lactose, feito especialmente para você. — Ela arregala os olhos, a
pergunta estampada em seu rosto. — Eu fiz minhas pesquisas, Yekaterina.
Dessa vez decidi levá-los para o meu quarto, onde Serguei e eu
organizamos os móveis, colocamos o sofá na parede da TV, virado para o
piano, o que deixou a sala de estar com um espaço livre bem amplo.
— Esse é seu quarto oficial, não é? — Yekaterina pergunta, olhando de
forma avaliativa para cada ambiente. — É muito bonito, de quem são essas
obras?
— Essas são obras do pintor Gerhard Richter — explico apontando
para as quatro pinturas que tenho penduradas nas paredes da sala e em cima
da minha cama — Você gostou?
— São interessantes.
— Pode falar a verdade, Yekaterina — peço já que consigo ler em sua
postura que ela está controlando suas palavras.
— É tudo lindo, mas não sei, acho que falta um pouco de cor. —
Yekaterina aponta para o quadro mais próximo, então ela caminha até ele e
chega muito perto da tela, avaliando cada detalhe com uma expressão
confusa no rosto..
— São artes abstratas. — Defendo os quadros que custaram mais do
que o apartamento que ela mora, cada um deles.
— Eu entendo, são lindas e realmente combinam com o ambiente —
Ela caminha pela sala e então percebe o espaço aberto com o piano branco
do outro lado e seus olhos brilham ao falar. — Você vai tocar para nós hoje?
— Pensei em usar dos meus dotes para convencê-la a ficar —
respondo convencido e dou uma piscadinha para ela. — O que a senhorita
gostaria de ouvir?
Yekaterina pensa por um tempo, caminhando pelo espaço aberto na
sala, o salto de sua bota branca produz o único som no ambiente, atraindo
meu olhar para suas pernas cobertas por uma calça preta muito justa.
O tecido abraça seus músculos definidos e, assim que ela vira de
costas, tenho a visão daquela bunda perfeita, já que seu sobretudo ficou no
andar de baixo.
Ela está usando uma blusa simples de tricô rosa-claro, mas que a deixa
linda, seus cabelos castanhos ondulados caem até a metade das suas costas.
Yekaterina é maravilhosa.
— Alexander Scriabin, Sonata nº 5, Op. 53. — Ela anuncia parando no
meio da sala, sua escolha é claramente um desafio, já que a música é uma
das mais difíceis de serem tocadas no piano.
— Não sou um pianista profissional, mas se é essa a melodia que
gostaria de ouvir, farei o meu melhor. — Caminho até o piano e sento no
banco de couro. — Serguei, sirva um vinho para a nossa convidada.
— Planeja me deixar bêbada? — questiona com a voz calma.
— Só se for de prazer — Serguei responde no meu lugar e vai até a
cozinha para servir duas taças de vinho tinto, depois que entrega uma para
Yekaterina, começo a tocar.
O início é uma composição dramática, com notas fortes e pausadas,
mas, conforme vai avançando, a música fica mais intensa e rápida, a cada
nota posso sentir como se o ambiente estivesse absorvendo os sons que o
piano produz.
Sinto o olhar penetrante de Yekaterina e Seguei em mim, mas estou
concentrado em reproduzir a melodia escolhida por ela, porém não me
contenho quando vejo que começou a se mover, largando a taça de vinho no
chão, próximo da porta de vidro que dá acesso à sacada.
Yekaterina segue o ritmo da música com alguns passos simples e
solitários, ela balança seu corpo de forma livre e encantadora, prendendo
tanto a minha atenção quanto a de Serguei com seus movimentos delicados
e expressivos.
Troco um olhar rápido com Serguei e faço sinal com a cabeça para que
ele se junte a ela, e é exatamente isso que ele faz ao estender uma mão em
sua direção, que aceita o convite e se entrega aos braços do soldado.
Ambos se movimentam com calma, ela percebe que Serguei não é o
melhor dançarino e diminui o ritmo da dança, deixando que ele se acostume
com os passos.
Eles estão colados um ao outro, as mãos de Serguei descansam
possessivamente na curva das costas de Yekaterina enquanto as dela
envolvem seu pescoço, seus rostos estão tão próximos que posso sentir a
tensão daqui.
A obra de Alexander Scriabin é uma composição violenta e erótica, tão
intensa quanto o olhar que Yekaterina e Serguei trocam neste momento.
Enquanto meus dedos dançam pelas teclas do piano, eles se aproximam
cada vez mais e a parte calma da música começa.
Serguei desvia o olhar do dela para encontrar com o meu, como se
precisasse de um comando, aceno com a cabeça e ele não perde tempo,
tomando seus lábios em um beijo intenso, que faz todo o meu corpo vibrar
em resposta.
Yekaterina não demora a corresponder, seus dedos finos e delicados
envolvem os fios de cabelo dele com firmeza e ela toma o controle, sua
boca se delicia com a dele, passando a língua nos lábios macios do homem,
que já está completamente entregue a ela.
A forma com que Serguei se rende a nós é inebriante.
— Você gosta de assistir? — Ela questiona, virando o rosto em minha
direção, oferecendo o pescoço para Serguei, que traça um caminho de
beijos na pele fina do local.
— Sim, continue, por favor — respondo mais alto, para que minha voz
se sobressaia às notas do piano, e ela abre um sorriso safado enquanto ergue
os braços para que Serguei consiga tirar a blusa de tricô, que é jogada em
cima do sofá em seguida.
— Ele quer um show — ela avisa Serguei.
— Então daremos isso a ele — Serguei confirma, agachando-se na
frente dela, suas mãos percorrem o corpo da mulher com adoração, e ela
dança sob seu toque, até chegar na bota, que ele tira com calma, uma por
vez, sem desviar o olhar dela.
Yekaterina abaixa sua calça, inclinando-se de forma provocante para
frente, sem desviar o olhar de Serguei, ficando só de calcinha e sutiã, ambos
de renda na cor branca com detalhes em rosa, que quase desaparece em sua
pele clara.
Ela segura o queixo dele com uma mão e planta um beijo delicado em
seus lábios, depois caminha em minha direção com o olhar feroz
concentrado no meu.
Tenho certeza que estou errando mais notas do que o aceitável, mas ela
não parece se importar, seu corpo se move no ritmo da música, até que
Yekaterina se inclina e coloca os cotovelos no piano de calda, que eu deixei
fechado, descansando o queixo nas mãos, a posição faz com que ela fique
com a bunda empinada na direção de Serguei.
Ele, que já tirou o terno e a gravata, abre os botões da camisa enquanto
caminha até nós, passando pela mulher, Serguei avalia a posição provocante
em que Yekaterina se encontra, mas não a toca, ao invés disso, contorna o
piano e fica atrás de mim.
Sinto sua ereção quando se esfrega em minhas costas de forma
provocante, as mãos grandes do homem trabalham em meus ombros,
massageando os músculos tensos com habilidade.
Meu coração bate cada vez mais rápido enquanto me concentro no
piano, porém não consigo desviar do olhar intenso de Yekaterina em nossa
direção, ela está gostando do que vê, o sorriso em seus lábios não mente.
Meu corpo todo reage ao toque de Serguei e, quando ele se abaixa e
roça sua barba em meu pescoço, beijando a pele sensível abaixo da minha
orelha, minha boca se abre e preciso engolir um pequeno gemido.
— O que você quer que eu faça, senhor? — Serguei questiona
baixinho.
— Faça nossa mulher gozar em cima do piano, quero ouvir seus
gemidos misturados às notas musicais — ordeno e ele sorri contra minha
pele, então volta para Yekaterina, que lambe os lábios em antecipação.
Serguei não perde tempo e se ajoelha atrás dela, de onde estou não
consigo vê-lo, mas o grito de surpresa que escapa dos lábios de Yekaterina,
bem na hora que a música se torna mais intensa e rápida, faz meu pau
pulsar na calça, então a calcinha rasgada dela cai diretamente em meus
ombros.
— Filho da p… — ela começa a xingar, mas um gemido escapa dos
seus lábios no final, e tenho a certeza que ele começou a chupá-la.
Ela continua apoiada no piano, seus seios pequenos roçam na madeira
fria, os mamilos eriçados marcam a renda me fazendo salivar com a
vontade de lambe-los, seus olhos azuis não saem dos meus enquanto
Serguei lambe sua boceta deliciosa.
Ela me entrega cada som do prazer que ele a faz sentir, contorcendo-se
em cima do meu piano, dando-me a porra de um show fodidamente erótico.
— Eu quero ouvir você gritar, Yekaterina — ordeno enquanto meus
dedos viajam pelo teclado ainda mais rápido, mais forte, como se
estivessem lhe dando prazer, e ela geme mais alto, libertando-se de qualquer
trava interna que poderia ter. — Você gosta de ser chupada assim?
— Sim, eu gosto — me responde, contorcendo-se ainda mais, os olhos
praticamente fechados.
— Gosta de ter um homem chupando sua boceta gostosa enquanto
outro assiste? — provoco.
— Sim, mil vezes sim.
— Você quer ser fodida contra esse piano?
— Sim, eu quero, eu quero muito. — Sua voz agora sai estrangulada
de prazer e ela joga os cabelos para o lado, mordendo os lábios, pronta para
gozar.
— Então goza, Yekaterina, encharca bem essa boceta para nós —
ordeno e posso ver o momento que ela alcança o orgasmo, rendendo-se ao
meu comando, suas mãos agarram a borda do piano até que as juntas dos
dedos fiquem brancas com a força que ela o segura. — Você é linda demais.
É um show maravilhoso de assistir, mas já não aguento mais ficar
sentado, por isso paro de tocar o piano e coloco uma música no sistema de
som, enquanto isso Serguei tira o restante da sua roupa e segura Yekaterina
por trás, beijando suas costas com adoração, travando o olhar no meu como
um convite para me juntar a eles.
Paro ao lado deles e seguro o rosto de Serguei, puxando-o para mim,
tomo sua boca e me delicio com o gosto da boceta de Yekaterina misturado
ao dele.
Não existe um doce no mundo que se compare a esse, e não preciso ter
provado todos para saber que este é o meu preferido.
Seus lábios se moldam aos meus e nossas línguas se unem, mordo seu
lábio inferior antes de soltá-lo e atacar a boca da mulher, que se virou e nos
olha ansiosa.
Yekaterina tem gosto de vinho e sua respiração ainda está ofegante por
causa do orgasmo, mas ela me beija com vontade, dominando minha boca,
como sei que precisa fazer.
Sua mão segura minha cintura enquanto a outra acaricia minha barba
por um momento, até que seus dedos descem pelo meu peito e começam a
abrir os botões do terno, depois ela afrouxa o nó da gravata e começa a abrir
minha camisa.
Serguei ajuda na tarefa e não demora muito para os dois tirarem toda a
minha roupa, Yekaterina separa nossas bocas para traçar um caminho de
beijos pelo meu pescoço, desce para meu peito e brinca com os mamilos,
me fazendo arrepiar com as sensações, então Serguei toma minha boca para
ele e acaricia minhas costas, suas mãos grandes e habilidosas descem com
calma até a minha bunda.
Eles me fazem queimar, cada beijo, cada toque, cada respiração contra
a minha pele faz meu pau pulsar e meu mundo todo ruir de prazer. Quando
Yekaterina se ajoelha em minha frente e segura meu pau com uma mão,
preciso travar a mandíbula para controlar um gemido.
Ela é habilidosa, começa a me masturbar apertando só o necessário, até
colocar a língua para fora e lamber o pré-gozo que brilha na ponta do meu
pau, umedecendo com saliva todo o comprimento antes de finalmente
colocá-lo na boca.
Porra, é bom para caralho e preciso me controlar para não segurar sua
cabeça e foder essa boca deliciosa com força, deixo que ela dite o ritmo, me
deliciando com a visão da mulher engolindo meu pau, levando-o até o
fundo da garganta para depois tirá-lo e lamber inteiro.
Ela me faz enlouquecer aos poucos e, quando estou quase gozando,
sua mão envolve e puxa minhas bolas levemente para baixo, a pontada de
dor é o que me faz parar e ela sabe disso, porque a desgraçada ri com o meu
pau na boca.
— Puta que pariu, que boca deliciosa! — Elogio e reúno seus cabelos
em minhas mãos, segurando os fios escuros no topo da sua cabeça para não
atrapalhar, mas sem exercer pressão, deixo-a livre para fazer como quiser.
— Chupa com vontade, eu quero sentir meu pau no fundo da sua garganta.
— Porra, que delícia! — Serguei comenta atrás de mim, ele está
olhando Yekaterina engolir meu pau enquanto seus dedos provocam meu
cu, acariciando o local, mas sem entrar.
— Camisinha e lubrificante — falo para ele indicando o meu quarto,
Serguei já sabe aonde eu guardo os preservativos e não demora para voltar
com tudo. — Chega, eu quero te foder agora, Yekaterina, quero essa boceta
gulosa engolindo meu pau.
— Então vem. — Ela levanta e me beija enquanto desenrolo o
preservativo, que Serguei abriu para mim, no meu pau. Yekaterina envolve
meu pescoço com os braços e eu seguro sua bunda, erguendo-a até que ela
enrole as pernas em minha cintura, coloco-a sentada no piano e, sem
conseguir esperar nem mais um segundo, afundo meu pau de uma vez só
em sua boceta quente e apertada. — Dimitri…
— Caralho…Eu quero vocês dois — gemo contra seu pescoço e
começo a beijá-la com adoração, sentindo o suor da sua pele enquanto entro
e saio da sua boceta. Serguei está atrás de mim esfregando seu pau em
minha bunda, provocando-me. — Me fode, Serguei, é a porra de uma
ordem.
— Como queira, senhor. — Ele espalha o lubrificante com os dedos no
meu cu, entrando e saindo, até que sinto seu pau grande e grosso exigindo
passagem.
Serguei entra em mim com calma, enquanto beija meu pescoço e
segura minha cintura, jogo minha cabeça para trás.
É tudo demais, senti-lo chegar naquele ponto delicioso, enquanto meu
pau está enterrado na boceta de Yekaterina, me faz estremecer de prazer.
— Agora você é todinho nosso — Yekaterina provoca e passa as unhas
pelo meu peito, arranhando a pele sensível. — É bom sentir o pau dele
fundo em você ao mesmo tempo que seu pau está fodendo a minha boceta?
— Sim, porra — respondo e volto a me mover, entrando e saindo dela
enquanto Serguei faz o mesmo comigo, aumentamos o ritmo aos poucos e
logo somos três amantes perdidos no prazer.
Não existe droga nesse mundo que me faça sentir o que esses dois
estão fazendo agora, essa entrega, esse prazer, a porra do meu coração
acelerado no peito, nada me traz tanto o gosto da liberdade quanto estar nos
braços deles.
Forço Yekaterina a deitar no piano e seguro sua cintura com uma mão,
levando a outra até o clitóris inchado que exige atenção, a joia do piercing
brilha adornando sua boceta.
— Dimitri, mais rápido — exige, segurando-se no piano com as costas
arqueadas e os olhos fechados. — Caralho, vocês vão me estragar para a
próxima pessoa que estiver no meio das minhas pernas.
— Ninguém mais vai entrar em você, Yekaterina — falo sem pensar e
ela sorri, mas, só de imaginar qualquer outra pessoa tocando seu corpo, a
raiva flui em minhas veias e meto com mais força, marcando um território
que não é meu enquanto meus gemidos se tornam rosnados. — Você é
nossa agora, entendeu? NOSSA!
— Porra, sim — Serguei complementa atrás de mim e, por algum
motivo, pensar nele tocando em Yekaterina não me deixa puto, e sim
excitado pra caralho. — Nossa bailarina.
— Dimitri, eu vou… — Yekaterina avisa, suas pernas tremem ao lado
da minha cintura e Serguei a segura com mais força.
— Goza pra nós, Yekaterina, goza na porra do meu pau — exijo e ela
se liberta, gemendo de prazer enquanto é tomada por um orgasmo
avassalador. Sua boceta espreme ainda mais meu pau e já não tenho mais
como me segurar e, quando Serguei aumenta a velocidade das investidas em
meu cu, gozo com força na camisinha. — Caralho, soldado.
Jogo a cabeça para trás e sinto os beijos dele em meu pescoço,
flutuando no meu próprio orgasmo, mas é quando Serguei afunda os dentes
em meu ombro que seu pau lateja dentro de mim e ele goza.
A respiração ofegante contra a minha pele combina com a minha e
com a de Yekaterina, que amolece aos poucos em cima do piano com a
porra do sorriso mais lindo do mundo estampado em seu rosto.
— Como eu amo ser bem fodida — ela brinca, arrancando risadas
minhas e de Serguei enquanto nos recompomos.
— Sempre estaremos prontos para servi-la, senhorita — Serguei
responde e se inclina para beijá-la com carinho antes de caminhar até o
banheiro.
— Linda para caralho — sussurro contra sua boca e ela sorri, um tom
rosado toma conta do seu rosto e percebo que ela ficou com vergonha pelo
elogio.
Ergo Yekaterina em meus braços para leva-la até o banheiro onde a
banheira já está preparada e nos esperando, Serguei descarta a camisinha e
ajuda a mulher a entrar, enquanto tiro o preservativo do meu pau,
amarrando a ponta para jogar no lixo e, só depois, me junto a eles.
CAPÍTULO 9

SERGUEI
 
Quando você é um soldado treinado pela Bratva, não espera ter amor
ou se apaixonar, nosso único objetivo de vida é servir fielmente à
organização. Sexo é um momento de alívio e nada mais.
Eu acreditei nisso até a noite da festa de Yelena, mas agora, com
Dimitri e Yekaterina rindo da piada sem graça que ela fez sobre um pintinho
que nasceu sem cu, foi peidar e explodiu, eu tenho a plena certeza de que
estou completamente fodido.
— Achei que você faria uma piada de ballet — Dimitri comenta,
secando uma lágrima no canto do seu olho.
— Por ser bailarina eu só posso falar disso? — Yekaterina não segura
as palavras, nem controla seu tom de voz, ela fala o que pensa e foda-se, eu
amo isso nela. — Bailarinas não fazem piadas, elas estão mais ocupadas
sendo víboras e tentando derrubar umas às outras para conseguirem um
lugar de prestígio.
— Você fez isso? — questiono, ela ergue as sobrancelhas e me encara,
como se pudesse me matar só com aqueles olhos azuis.
— Para falar a verdade, eu nem queria estar no topo, esse é meu último
ano como bailarina principal e, depois disso, posso finalmente descansar.
— Por que não recusou já que não queria dançar? — pergunto.
— Não é que eu não quero dançar, eu só não gosto de ser o centro das
atenções e lidar com a inveja das minhas colegas, sou uma boa bailarina,
mas acho que meu momento já passou, sabe?
— Como assim? — Dimitri questiona, trocando um olhar rápido
comigo, estamos em lados opostos da banheira e Yekaterina está deitada no
meio das pernas dele, com as costas escoradas em seu peito enquanto ele a
abraça e acaricia seu corpo, eu peguei para mim a missão de massagear os
pés da bailarina.
— As turnês são cansativas, eu gosto de viajar e conhecer novos países
e pessoas, mas não temos tempo para isso, chegamos em uma nova cidade,
treinamos, nos apresentamos por alguns dias e depois vamos embora. Nesse
tempo não temos mais do que uma noite de folga para não cansar demais
nosso corpo e aguentar a próxima rodada de apresentações, eu só queria ter
mais tempo, sei lá.
Olho para Dimitri e vejo o exato momento que sua expressão se fecha,
tornando-se triste e pensativo, seus olhos brilham com a dor porque ele,
mais do que ninguém, sabe o que significa querer explorar o mundo e não
poder.
— O que você sente é normal, mas tenho certeza que, no futuro, você
poderá viajar para todos os países que quiser e passará o tempo todo como
uma boa turista: comprando coisas desnecessárias, comendo em lugares
caros demais e rodando pelos pontos turísticos — falo com convicção e ela
sorri, mas eu olho para Dimitri porque cada palavra dita agora valeu para os
dois.
— Não sei sobre a parte de fazer tantas compras assim, você sabe
quanto uma bailarina aposentada ganha? — Yekaterina brinca e seu rosto se
contorce em uma expressão de medo forçado, então ela se vira para Dimitri.
— Tenho certeza que você sabe, não é mesmo?
— Se eu disser que sim, você vai achar que sou um perseguidor de
bailarinas.
— Relaxa, eu já acho isso mesmo. — Ela ri e planta um beijo
carinhoso nos lábios dele antes de voltar a deitar confortavelmente em seu
peito. — Então, o que vocês realmente fazem?
— Como assim? — questiono.
— Eu achei que você era motorista dele, aí depois você disse que era
segurança, mas enquanto a gente fodia você — ela se vira para Dimitri
novamente — o chamou de soldado, então fiquei confusa, vocês são do
exército ou algo assim?
— De certa forma, sim, Serguei é meu segurança pessoal e um soldado
— Dimitri responde com calma.
— E pelo tom enigmático da sua resposta é algo que vocês não podem
falar sobre? — Yekaterina questiona, já sabendo a resposta, essa mulher é
muito esperta.
— Não, temo que essa seja a única resposta que estou autorizado a dar
neste momento — Dimitri força um meio sorriso. — Quando será a
abertura das apresentações?
— Daqui um mês, começamos em Moscow e depois partimos para a
França, Itália, Reino Unido, então embarcamos para uma temporada na
China, Emirados Árabes, Japão e, por último, Estados Unidos e Canadá —
conta e, a cada lugar que ela coloca na lista, Yekaterina parece ficar mais
cansada. — São seis meses de viagem, no fim retornamos para a Rússia e
nos apresentamos nos teatros menores.
— Tenho certeza que você será perfeita — comento e abaixo seu pé
esquerdo para pegar o direito e começar a massageá-lo.
—Obrigada pela confiança, mas acredito que ninguém seja perfeito,
faço o melhor que posso e tem sido suficiente até agora. — Ela dá de
ombros e, quando aperto seus dedos, Yekaterina respira fundo e fecha os
olhos, um pequeno gemido escapa de seus lábios entreabertos. — Droga,
vocês são bons de cama e ainda fazem massagem depois, é fácil demais
para uma garota ficar mal acostumada assim.
— Você merece isso e muito mais — Dimitri murmura contra seu
pescoço e ela inclina a cabeça para o lado, dando-lhe acesso ao local. —
Está cansada?
— Estou acostumada ao cansaço extremo e nós ainda não chegamos
lá.
— Ainda não? — questiono levantando uma sobrancelha.
— Vocês não me sequestraram para foder uma vez e dormir de
conchinha. — Ela puxa lentamente o pé da minha mão e o passa em meu
peito, espalhando a espuma enquanto desce até afundá-lo na água morna,
logo seus dedos alcançam o meu pau e ela sorri ao encontra-lo duro. — Ou
fazem o trabalho completo ou me levem para casa, eu consigo alguém para
terminar o que ambos começaram.
Dimitri e eu estremecemos ao mesmo tempo, posso ver o ódio refletido
em seu olhar, o sentimento é igualmente proporcional ao que está fluindo
em meu subconsciente só de pensar nela com qualquer outro homem além
de nós dois.
É por isso que atacamos ao mesmo tempo, enquanto Dimitri a beija
com intensidade, eu pego os preservativos na gaveta do balcão e a
desgraçada ri alto, feliz por termos caído em sua provocação.
— Você gosta de provocar, não gosta? — Dimitri questiona e leva uma
mão para o meio das pernas dela, consigo ver a forma com que ele a toca,
quando seus dedos abrem os grandes lábios e se afundam na boceta dela, o
piercing brilhando dentro da água. — Vamos te foder tanto, senhorita
Yekaterina, que sua boceta ficará marcada com os nossos paus e você nunca
mais vai pensar em ter outra pessoa no meio das suas pernas.
— Eu sou uma mulher livre e desimpedida, querido, posso foder quem
eu quiser, quando eu quiser, mas aceito o desafio, me façam esquecer
qualquer outra pessoa e lembrar somente de vocês, eu duvido.
Ela não deveria ter dito isso
***
Depois de fazer Yekaterina gozar com o meu pau fundo em sua boceta
enquanto Dimitri a beijava, a levamos até a cama e continuamos lá.
Preciso dizer que a mulher é tão insaciável quanto nós dois. Foram
tantas posições diferentes que no fim já não tínhamos mais ideias, até que
Dimitri trouxe o bolo que havia prometido e finalizamos a noite
aproveitando o doce, rindo das piadas de Yekaterina e conversando sobre a
vida.
Ainda estávamos na cama, com os olhos abertos, quando a noite se
transformou em dia, Dimitri deitado em meu peito e Yekaterina no dele, foi
como se nenhum de nós quisesse fechar os olhos e dormir, só para não
acordar do que mais parecia um sonho de tão perfeito.
— Que horas são? — Yekaterina pergunta sentando-se na cama, ela
ergue os braços acima da cabeça e começa a fazer alguns alongamentos
simples.
— É cedo ainda, linda, volta aqui. — Envolvo sua cintura e a puxo de
volta para nossos braços, Dimitri beija o ombro dela e acaricio os cabelos
compridos.
— Por mim ficava aqui o dia todo, mesmo achando que vocês
cumpriram com a promessa de deixar minha boceta interditada por um
tempo, mas preciso buscar meu carro e ainda tenho ensaio a tarde.
— Seu carro já está na sua casa, deveria mandar na mecânica com
mais frequência — aviso, recebi um relatório preocupante da equipe que
ficou para consertar o carro dela.
— Eu levo uma vez por ano, mas não ando tanto assim. — Ela tenta se
defender fazendo um biquinho que arranca um sorriso lindo de Dimitri.
— O que você vai fazer amanhã à tarde? — ele pergunta para ela.
— Tenho grandes planos para o domingo à tarde.
— Podemos saber quais? — questiono.
— Tenho um encontro — Yekaterina responde e meu corpo todo trava,
olho para Dimitri que tem a mesma expressão incrédula em seu rosto, então
ela começa a gargalhar em nossos braços. — Eu, a vassoura e o pano vamos
faxinar minha casa e, se sobrar tempo, pretendo dormir um pouco.
— Maldita provocadora! — Envolvo sua cintura com mais força e
começo a beijar seu pescoço e raspar minha barba em sua pele, o que a faz
rir ainda mais, até que Dimitri se junta a nós e começa a fazer cócegas nela,
arrancando gargalhadas deliciosas da nossa mulher.
— Você sabe jogar pôquer? — Dimitri pergunta depois que ela
implora para pararmos.
— Sim.
— Amanhã teremos um jogo entre amigos aqui, se eu enviar uma
equipe de limpeza para o seu apartamento, nos daria a honra da sua
companhia? — propõe.
— Se eu falar que não, você vai mandar o soldado me sequestrar
novamente?
— Provavelmente — ele responde controlando um sorriso.
— Eu odeio fazer faxina e só por isso vou aceitar o convite, mas sou
pobre, não venha com apostas altas. — Aceita e se desvencilha dos nossos
braços indo até o banheiro, sem parar de falar no caminho. — E se for strip
pôquer ou qualquer safadeza que vocês estejam pensando, me avisem antes
para eu usar uma lingerie decente. — Yekaterina aparece na porta com uma
escova de dentes na boca e olha diretamente em minha direção. — Ah, e
falando nisso, você me deve uma calcinha de renda branca nova por ter
rasgado a minha ontem.
— Cuidarei disso o mais rápido possível, senhorita — confirmo e ela
estreita os olhos, fingindo desconfiança.
— Já que estou sem calcinha, pode me emprestar uma cueca sua? —
Ela pede para Dimitri, que levanta e vai até o closet ao lado do banheiro,
pega uma cueca branca e entrega a ela, beijando seu rosto no caminho e,
posso jurar, que por alguns segundos Yekaterina fica vermelha com o gesto
inesperado. — Obrigada.
— Pode roubar quantas cuecas quiser — ele responde.
Levanto também e busco as roupas que deixamos jogadas na sala,
Dimitri já colocou uma calça de moletom e camiseta, então coloco suas
roupas no cesto de roupa suja, mas entrego as de Yekaterina e visto as
minhas, já que vou levá-la para casa.
— Só preciso de um momento sozinha. — Fecha a porta do banheiro
enquanto Dimitri e eu vamos para a cozinha, ele começa a passar um café e
eu pego três xícaras.
— O que aconteceu ontem? — pergunta.
— Eu estava seguindo-a de longe até ver um homem se aproximar
com uma atitude suspeita, ele tentou fazê-la entrar em seu carro, mas intervi
na hora.
— Quem era?
— Yekaterina disse que é um dos bailarinos da escola de dança, mas
vou averiguar melhor hoje, ela estava com um canivete na mão e um spray
de pimenta no bolso — conto com a voz mais baixa.
— Me mande o nome completo dele antes de confrontá-lo, não lembro
de ter alguém suspeito entre os bailarinos.
É claro que ele pesquisou a ficha dos colegas de Yekaterina, esse é
Dimitri, sempre preparado para qualquer coisa, sua especialidade é
encontrar informações sobre qualquer pessoa.
— Café! Eu poderia me ajoelhar nesse exato momento só com o cheiro
delicioso da bebida dos deuses. — Yekaterina aparece já vestida e com o
cabelo preso em um coque, ela se senta em um dos bancos altos da ilha da
cozinha.
Abro a geladeira e pego o restante do bolo e algumas frutas para o caso
de ela querer comer algo.
— Eu ia perguntar se você quer suco, mas acho que prefere o café
mesmo — Dimitri comenta e ela sorri.
— Vou aceitar as frutas e, com muita dor em meu coração, passar esse
bolo maravilhoso. — Yekaterina pega banana, maçã e mamão e começa a
cortar alguns pedaços em uma tigela, depois Dimitri coloca aveia, granola e
outras coisas na mesa. — Então, tem só uma coisa que eu não perguntei
ontem, mas estou curiosa.
— Por favor, não se contenha agora — Dimitri brinca.
— Vocês estão namorando? — ela lança a pergunta de uma vez e
prendo a respiração olhando diretamente para Dimitri, que parece mais
calmo do que deveria, enquanto eu posso sentir o surto chegando aos
poucos.
— Ainda não, estamos nos conhecendo e somos exclusivos, no
momento é isso — ele responde, porém a única parte do que ele falou que
meu cérebro conseguiu absorver é o “Ainda não”.
Ainda não?
Ainda…
Isso significa que…
PUTA QUE PARIU, CARALHO, PORRA!
Dimitri está realmente pensando em uma relação séria? Ele… Ele
falou “ainda”, o que significa que tem a porra de uma chance de no futuro
termos algo sério.
— Ele está surtando. — A voz de Yekaterina me acorda e volto a olhar
para ela, percebendo que devo ter ficado calado por um tempo enquanto
minha mente realmente surtou.
— Nós ainda não falamos sobre isso e não temos tempo para conversar
neste momento. — O celular de Dimitri começa a tocar e ele se desculpa
indo até o quarto para atender, eu e Yekaterina ficamos na cozinha, ela
comendo seu café da manhã em silêncio enquanto eu continuo surtando
internamente, tomando o café preto sem nem lembrar de colocar açúcar ou
leite.
Alguns minutos depois Dimitri volta e, só pela expressão preocupada e
triste em seu rosto, sei que foi seu pai quem ligou. Os últimos dias que
passamos juntos me fizeram reconhecer algumas coisas sobre ele e, quando
o Pakhan liga, Dimitri se transforma no Herdeiro.
— Então, meninos, preciso realmente ir agora ou vou chegar atrasada.
— Yekaterina se levanta, mas, antes que ela saia, Dimitri pega uma sacola
de papel na gaveta e um pote de vidro no armário embaixo da pia. Ele
coloca o restante de bolo na embalagem, fechando com uma tampa, para
depois guardar na sacola e entregar a Yekaterina — Obrigada, diga ao seu
cozinheiro que foi o melhor bolo de leite sem lactose que já experimentei na
vida.
— Vou repassar o elogio, Antônio ficará feliz. — Ele a acompanha até
a porta e eu vou logo atrás. — Serguei irá leva-la até sua casa, aqui tem o
meu telefone pessoal, pode me ligar ou mandar mensagem a qualquer hora,
Yekaterina.
— Obrigada por me sequestrar ontem, eu estava precisando de uma
noite dessas. — Agradece e pega o cartão que ele entrega, então fica na
ponta dos pés para colar sua boca na dele em um beijo de despedida, ao
qual ele corresponde com a mesma intensidade. — Nos vemos amanhã,
prepare-se para perder.
Com isso ele a solta e abre a porta para ela, que passa rebolando
seguindo pelo corredor, mas antes que eu saia, Dimitri segura meu braço
com carinho e me beija, da mesma forma que fez com Yekaterina, nossos
lábios se abrem e todo o meu corpo se acende.
— Leve-a para casa e depois me encontre na Central.
— Sim, senhor. — Mordo seu lábio inferior e dou um último beijo em
sua boca antes de sair atrás de Yekaterina.
CAPÍTULO 10

YEKATERINA
 
O problema em transar enlouquecidamente com dois homens por uma
noite toda, e ainda ficar sem dormir depois, é que estou literalmente
acabada.
Eles realmente cumpriram o que prometeram, porque minha boceta
chega a estar latejando, pobre guerreira, fora que ainda consigo sentir suas
mãos em minha pele, só espero que não tenham deixado marcas visíveis.
— Oi, Kat. — Nathan se junta a mim no chão do estúdio para fazer os
alongamentos, mas, quando viro para olhar em sua direção, ele arregala os
olhos por um tempo, claramente reparando nas olheiras que tentei esconder
com maquiagem. — Nossa, o que aconteceu com você?
— Meu carro me deixou na mão então aceitei carona de um conhecido
e depois transei a noite toda com dois homens — discorro sem parar para
respirar, mas mantenho a voz baixa, o que não impede que Clayr e Magie se
virem na mesma hora, com uma expressão confusa no rosto que me faz rir.
— Você o quê? — Magie pergunta.
— Volta um pouco esse filme, porque eu só posso ter entendido errado
ou você acabou de falar que transou com dois homens? — Clayr é quem
parece mais assustada.
— Entendeu certo, mas fala mais baixo que não quero dar assunto para
as víboras fofocarem — advirto olhando para o restante dos nossos colegas,
porém Leônidas está do outro lado da sala com Thais e ambos parecem
absortos em alguma conversa animada enquanto se alongam.
— Aí amiga, conta essa história direito. — Clayr implora e me ajuda a
alongar as costas. — Foi um de cada vez? É aquele cara que você ia
encontrar do Tinder?
— Senhoritas, se já estiverem prontas é melhor começarmos os ensaios
de passos simples individuais. — Madame Faina chama a atenção de todos
para começar, ela é a professora mais velha da academia e a principal
responsável pela apresentação de destaque da turnê.
— Jantar hoje lá em casa e você vai contar tudo o que aconteceu, sem
deixar passar nenhum detalhe — Clayr avisa e seu tom de voz deixa claro
que não é um convite, é uma intimação.
Madame Faina decidiu que este seria o ensaio mais pesado dos últimos
dias, ou eu que não estava em condições físicas para acompanhar.
Não sei como cheguei ao final sem levar um esporro dela, foram só
alguns olhares e, no final, ela me mandou dormir mais porque uma bailarina
não pode parecer com um cadáver.
— Vamos direto para a minha casa, já mandei mensagem para Matielo
e ele foi no mercado comprar os ingredientes para fazer um risoto de
cogumelos — Clayr avisa no vestiário enquanto tomamos banho e trocamos
de roupa.
— Você contou para ele o motivo desse jantar surpresa? — Magie
pergunta.
— Mais o menos, eu disse que a Kat tinha uma história quentíssima
para nos contar e que precisava ser com vinho e com o risoto especial, que
só ele sabe fazer.
— Eu deveria ter dado em cima dele quando tive a chance, mas não,
fui ficar com o amigo enquanto você deu sorte e pegou o homem dos
sonhos de todas nós — provoco, já que estava lá na noite que eles se
conheceram e fiquei com o amigo de Matielo para que Clayr ficasse com
ele.
— Obrigada por isso. — Clayr agradece com aquele sorriso bobo de
pessoa apaixonada.
— Ele deve estar se corroendo de curiosidade, Matielo é o homem
mais fofoqueiro da face da terra — Magie comenta e todas concordamos
enquanto gargalhamos, porque realmente, se eu quiser saber sobre a vida de
alguém é só perguntar para ele que, se ele não souber, vai dar um jeito de
descobrir.
— Olha isso! — Clayr ergue o celular na nossa frente e mostra as
mensagens do namorado.
Matt Amor: E aí, descobriu mais alguma coisa?
Matt Amor: Babe, responde logo, ela falou quem eram os caras?
Matt Amor: Quer sobremesa? Pensei em comprar aquele sorvete
vegano que você ama e fazer um Petit Gateau, o que você acha?
Matt Amor: Que horas vocês vem?
Matt Amor: Amor, eu preciso de mais detalhes.
Matt Amor: Eu sei que você está ensaiando, mas assim que ler essas
mensagens me responde, por favor.
Matt Amor: Eu to ficando ansioso…
Matt Amor: O ensaio acabou já? Cadê vocês?
— Isso porque ele sabia que nós estávamos ensaiando, mas o
descontrolado mandou mensagem da mesma forma. — Clayr balança a
cabeça de um lado para o outro enquanto responde o namorado e começa a
se vestir.
— Eu até acho fofo, mas não aguentaria alguém assim, odeio que me
mandem mil mensagens durante o dia — comento.
— Você não conta, nunca vi alguém tão desapegada assim — Magie
repreende. — Lembra da Mariane, a sua última namorada?
— Claro que sim, ficamos juntas por quase um ano e já sei o que você
vai falar, mas ali não foi culpa minha. — Me defendo. — Ela terminou
comigo porque eu não tinha tempo livre, já que estava em turnê, eu culpo o
ballet por isso.
— Não, amiga, ela terminou com você porque você não demonstrava
interesse nela, não mandava um “bom dia”, ficava irritada quando ela te
ligava, vivia dizendo que não tinha tempo para ela, mas quando era sua
folga você ficava trancada naquele apartamento, fazendo faxina e dormindo
— Magie discorre.
— São as pequenas coisas que fazem a diferença, Kat, e você não
estava realmente apaixonada pela Mariane, se estivesse teria feito tudo o
que não fez, mas não por obrigação, e sim porque teria vontade. — Clayr
joga na minha cara, hoje elas estão afiadas. — Eu não me importo com as
milhões de mensagens do Matt, significa que ele lembrou de mim e, é claro
que ele não briga comigo se não respondo, porque ele entende que estou no
trabalho.
— Acho que vou repensar esse jantar, se é para ficar me dando palestra
sobre meus relacionamentos falhos, prefiro ir para casa e dormir —
repreendo e visto meu sobretudo branco, mas assim que o coloco no corpo
sinto um cheiro delicioso de produto de limpeza e percebo que ele foi
lavado.
Realmente recebi um serviço cinco estrelas na casa dos Petrov, jantar,
música, dança, sexo e ainda lavaram meu casaco que, convenhamos, estava
precisando.
— Para com isso, só estamos tentando abrir seus olhos, afinal, é para
isso que servem as amigas. — Magie pega o meu braço direito e enrosca no
dela, então Clayr faz o mesmo no esquerdo e saímos do vestiário para
encontrar Nathan, que está nos aguardando do lado de fora.
Passar um tempo com meus amigos é sempre maravilhoso, Matt faz o
melhor risoto vegano de cogumelos da história, é o prato favorito da Clayr.
Ela não consome nada de origem animal, até seus cosméticos e roupas
são de marcas que tem consciência ambiental e não trabalham com serviços
escravos.
Por isso, quando nos reunimos para comer, escolhemos restaurantes
que tenham opções veganas ou cozinhamos juntos, eu não sou a melhor
pessoa na cozinha, prefiro comer do que preparar o alimento, mas sei me
virar, já que moro sozinha há um bom tempo.
— Sério agora, você deu para os dois ao mesmo tempo? — Magie é
quem puxa o assunto, já estamos na segunda taça de vinho, sentados no sofá
da sala, enquanto Matt finaliza o risoto.
— Sim, eles são meio que um casal — respondo dando de ombros.
— Um casal gay? Como assim? — Matt questiona lá da cozinha.
— Claro que não! Acho que são bissexuais ou pansexuais, de qualquer
forma, todo mundo pegou todo mundo.
— Como assim, os dois são ativos? — Nathan solta a pergunta e fica
vermelho. Ele é bem contido quando falamos sobre sexo, talvez por ser
novo ou por nunca ter namorado, mas agora parece bem interessado no
assunto.
— Aí, amigo, sexo é mais do que só ativo e passivo, a gente fez o que
tinha vontade, sem amarras ou restrições e, principalmente, sem
julgamentos — explico e sorrio para ele. — Serguei é mais novo do que eu,
ele deve ter uns vinte anos, já Dimitri é mais velho, eu chuto uns trinta e
três, trinta e quatro anos.
— Vagabunda, tem o mucilon e o velho da lancha sem precisar
escolher. — Magie brinca e caímos na gargalhada.
— Qual é o nome completo deles, Kat? — Matt pergunta.
— Do Serguei eu só sei o nome mesmo, e o outro é Dimitri Petrov,
filho do Mikhail Petrov, um dos maiores patrocinadores da Ballet Bolshoi
Academy.
— Puta que pariu! — Clayr e Matt exclamam juntos e me encaram
com os olhos arregalados em descrença. — Você tem certeza, Kat?
— Sim, ele mesmo me contou ontem à noite, eu ainda brinquei um
pouco, deixando-o pensar que já transei com o pai dele, só para ver o
desespero naquele rostinho convencido.
— Amiga, ele não é só o maior patrocinador da nossa academia de
ballet, a Família Petrov é uma das cinco famílias mais ricas e influentes da
Rússia — Clayr anuncia de forma séria, sinto o olhar de todos em mim,
conforme absorvo essa informação.
— Caralho! — Expresso, virando o restante do vinho que sobrou na
minha taça para tentar engolir essa informação. — Eu imaginei que fossem
ricos, a mansão deles é enorme e toda luxuosa, mas nunca pensei em algo
assim.
— Você esteve na mansão Petrov? — Matt larga a panela no fogão e se
junta ao nosso grupo. — Caralho, Kat, sabe o quanto isso é exclusivo?
Ninguém que eu conheça já chegou próximo daquele lugar, na verdade,
aquela região toda é um mistério.
— Como assim, mistério? — Magie pergunta. — Eu já fui lá com meu
pai, a mansão é linda mesmo.
— Nem todo mundo passa pelo pedágio, só veículos autorizados.
Existe uma teoria de que o exército tem uma base operacional secreta
naquela região e, por isso, as famílias mais ricas, com influência no
governo, usam a área como moradia e, já que ninguém de fora consegue
entrar, o local se torna mais seguro e protegido.
A explicação de Matt me faz pensar nas duas vezes que fui até a
mansão. Lembro vagamente de um pedágio, mas o carro passou direto,
talvez porque na primeira vez eu estava com Yelena e depois com Serguei.
— Droga, eu não sabia disso e… — Meu cérebro entra em pane por
um segundo e a vergonha toma conta. — Caralho, eu reclamei do meu
salário!
— Não — eles respondem em coro.
— Sim, puta que pariu que vergonha, eles devem estar rindo da minha
cara até agora.
— Gente rica não se preocupa com isso, Kat. — Magie me tranquiliza.
— Ela tem razão, eles nem devem ter percebido. — Clayr se une a
minha amiga e enche minha taça com mais vinho. — Agora conta a história
toda, como vocês se conheceram?
E assim desando a falar sobre minha breve história com Yelena e como
ela me levou até a mansão Petrov naquele dia.
Minhas amigas sabem que eu gosto de tirar uma noite para fazer
alguma loucura antes de começar os ensaios, meu piercing na boceta foi
fruto de um desses surtos, assim como a minha primeira orgia e a primeira
vez que fui a um clube de sexo com um sugar daddy que encontrei em um
desses sites.
Quando Matt termina o risoto, jantamos e eles continuam com o
interrogatório, arrancando cada detalhe sórdido das duas noites, o que eu
não me importo em fazer, essas pessoas são meus melhores amigos e os
considero minha família aqui em Moscow, já que meu pai mora em San
Petersburgo.
Depois de algumas garrafas de vinho, muita risada e momentos de
descontração, Nathan deu a ideia de assistirmos a um filme, mas eu estava
tão cansada que acabei pegando no sono no sofá mesmo.
Acordei no outro dia com o cheiro de café passado e burburinho de
conversa.
Fui para casa logo depois de comer, por sorte ainda era cedo e tive
tempo de tomar um bom banho e dar uma organizada na minha bagunça
antes da equipe de limpeza que Dimitri enviou bater na minha porta.
Eles são rápidos e eficientes, fizeram uma faxina como há muito tempo
meu apartamento não via.
Desci na lavanderia do prédio para lavar minhas roupas e uma das
moças até se ofereceu para me ajudar, mas eu disse que não precisava,
prefiro ficar sozinha e ouvir música até que a máquina faça o trabalho dela.
Quando eles terminaram o serviço e foram embora, guardei as roupas e
tomei um banho, daqueles especiais mesmo, usando meu melhor sabonete
para ficar cheirosa.
Lavo e seco o cabelo, deixando os fios ondulados caírem soltos em
minhas costas e rezo para que eles não sejam aquelas pessoas que fumam
enquanto jogam pôquer, porque não quero cheiro de fumaça impregnada no
meu cabelo.
Dimitri falou que teriam mais convidados, por isso escolho um
macacão social rosa-claro que tem detalhes em dourado nos botões e
bolsos, aproveito para tirar meu colar e pulseira de ouro do cofre, eles são
heranças da minha avó materna e as melhores peças de valor que possuo.
Faço uma maquiagem leve, porém bonita e marcante nos olhos e,
assim que passo perfume, escuto a campainha tocar.
CAPÍTULO 11

DIMITRI
 
— Senhor, a ameaça foi contida. — Erikson entra em minha sala com
a arma nas mãos e o semblante preocupado. — O helicóptero estará pronto
em vinte minutos para levá-lo para casa.
— Alguma baixa? — questiono, já sentindo a familiar dor em meu
peito, quando vejo Erikson engolir em seco pensando na resposta. Droga,
isso significa que perdemos alguém.
— Uma espiã e dois soldados, que estavam na academia.
— Qual idade? — A ala que foi atacada fica ao lado da escola em que
nossos recrutas treinam.
— 16 anos, senhor. Eles estavam prontos para a cerimônia de
purificação. — Assim que as palavras saem da sua boca, meu coração para
por um momento, sinto minhas pernas amolecerem e preciso me segurar na
mesa para não cair. — Todos para fora, agora! — Erikson ordena e os
soldados saem da minha sala.
— Serguei, ele está bem? — pergunto e, por sorte, minha voz sai
firme.
— Sim, ele foi buscar a senhorita Belova antes do ataque começar.
Último status do soldado Barkov foi há cinco minutos, eles passaram pelo
primeiro ponto de inspeção e seguem para a mansão.
— Droga, eu tinha esquecido. — Me repreendo ao lembrar do jogo de
pôquer que marquei para receber Yekaterina e espairecer um pouco. —
Erikson, ordene que a cerimônia de purificação seja adiada, mande as espiãs
organizarem um enterro digno para amanhã de manhã e confirme minha
presença.
— Os preparativos já estão em andamento. O Pakhan está viajando e
voltará somente na semana que vem, gostaria de avisá-lo sobre o atentado?
— Não, é melhor não o preocupar com algo assim. — Sento em minha
cadeira e esfrego a cabeça com as mãos, tentando aliviar a dor que começo
a sentir. Mais um ataque essa semana, dois homens bomba que conseguiram
entrar infiltrados e chegaram até a academia.
— O helicóptero está pronto, senhor. — Erikson avisa com uma mão
no comunicador de orelha e outra na arma. Ele é mais velho, com os
cabelos e a barba brancos, tem experiência e já salvou minha vida mais
vezes do que tenho noção, já que ele não me conta sobre cada atentado que
é evitado.
— Gostaria que participasse do jogo de hoje, Erikson. — Convido e
vejo sua expressão mudar de preocupação para confusão. — Pode convidar
Victoria, ela gosta de ganhar de todos nós, também preciso da opinião de
vocês sobre um assunto pessoal.
— Estou aqui para o que precisar, senhor — ele confirma, mesmo que
eu já tenha pedido diversas vezes para não me chamar assim, Erikson é
cabeça dura e leva seu trabalho a sério, principalmente o tratamento
profissional que usa com seus recrutas e superiores.
— Eu acho que Ivan está aprontando alguma coisa, ele não quis
retornar para a França e vai ficar uma temporada lá em casa, preciso que
fique de olho em meu primo — ordeno e Erikson ergue as sobrancelhas,
mas confirma com a cabeça e, quando vai falar, ergo a mão indicando que
não terminei. — Também quero saber o que você pensa sobre Yekaterina e
sua avaliação sobre Serguei. Espero sinceridade, Erikson, não quero escutar
o que já li nos relatórios, quero sua opinião pessoal.
— Algo em específico que o senhor espera que eu fique atento?
— A interação entre eles, quero saber se Serguei está sendo sincero ou
se está se envolvendo com Yekaterina só para me agradar.
— Ficarei atento, mas agora precisamos ir, o vento está piorando e o
piloto avisou que temos uma janela curta de tempo para decolar.
Com isso seguimos até o helicóptero e encontramos com Artyom, um
dos meus seguranças que é habilitado para pilotar meu helicóptero pessoal.
A aeronave é o último modelo fabricado pela empresa da Família
Orlov, ela possui o melhor sistema de navegação, piloto automático, espaço
interno para até nove pessoas e paredes blindadas.
O tempo realmente está complicado, mas Artyom consegue pousar no
heliponto de casa e Erikson e eu descemos.
— Seus convidados já estão esperando na sala de jogos, vou deixar
dois soldados na porta e voltarei com a Victoria, avisei sobre o jogo no
caminho e ela está ansiosa — Erikson anuncia quando chegamos ao meu
quarto. — Precisa de mais alguma coisa antes de eu ir?
— Não, nos vemos logo mais.
Assim que fecho a porta e fico sozinho sinto toda a carga emocional
desse dia pesar em meus ombros.
Eu sei que não posso deixar que isso me afete, mas como fingir que
está tudo bem quando sou o responsável pela morte daquelas crianças?
Como esconder a dor excruciante que sinto?
Culpa é a melhor explicação.
Eu só preciso de um bom banho e alguns minutos para engolir toda a
dor que vem se acumulando em meu peito. Mais uma vez, pessoas
inocentes morreram em meu lugar, aquele ataque era para mim, mas mudei
o horário do meu treino de última hora, era para eu estar lá quando os
homens bomba explodiram.
Não sei como vim parar na banheira e só percebo que estou chorando
porque escuto os soluços saindo da minha boca, já não seguro mais nada,
preciso colocar para fora toda essa dor ou eles vão perceber, não
conseguirei esconder meus sentimentos a noite toda e fingir estar bem.
Por isso deixo sair enquanto retiro a roupa molhada, já que entrei ainda
vestido na água morna.
Sinto o calor da água em minha pele como se fosse lava fervendo, a
armadura das roupas já não me protege do mundo exterior e também não
segura a dor interior, me sinto exposto, como um nervo sensível
Quanto tempo mais conseguirei viver assim?
Quantas vidas serão perdidas para que eu continue vivo?
Essa troca não me parece justa, não é justa!
Ninguém deveria morrer em meu lugar, minha vida não vale mais do
que a de qualquer outra pessoa que caminha nessa Terra, sou o responsável
por tantas mortes que nem quando meu tempo acabar será pagamento
suficiente. Afinal, não existem almas suficientes para contentar a sede de
justiça do Diabo.
Podem colocá-lo no lado mau da história, mas Lúcifer nada mais é do
que o mais justo de todos os anjos, acredito que seu lema seja: na terra se
faz e no inferno se paga.
Não existe perdão para os pecadores e nem deve existir, pessoas como
eu, responsáveis por tanto mal nesse mundo, não temos salvação,
simplesmente porque não nos arrependemos.
Ninguém conseguiria fazer o que fazemos, repetidas vezes, se sentisse
algum remorso depois, isso não existe.
Só que aquelas crianças tinham salvação, eles ainda não haviam tirado
nenhuma vida, estavam em fase de treinamento, mesmo crescendo na
Bratva suas almas não haviam sido corrompidas e, se o céu existe, espero
que tenha sido para lá que eles foram.
Pensar assim não alivia em nada a dor excruciante em meu peito, nem
a vontade de acabar com tudo, colocar um ponto final na vida miserável a
qual fui condenado.
Minutos de diferença ao nascer fizeram de mim o Herdeiro e do meu
irmão o Rejeitado. Nossa vida foi definida ali: eu, enjaulado em uma gaiola
de ouro, com todo o poder de decisão em minhas mãos e o futuro da
organização em minhas costas, mas proibido de agir, de experimentar o
mundo que eu mesmo irei controlar algum dia.
Já meu irmão teve uma vida miserável, largado para treinar como um
simples soldado, foi enviado em missões perigosas sem ajuda nenhuma,
sem o amor do nosso pai ou o apoio da organização.
Ele ainda é um simples Bratok, tratado como o mais baixo soldado,
rejeitado pelo próprio pai. Porém, tudo isso lhe deu a oportunidade de
conhecer o mundo, viajar, experimentar a vida com a intensidade que
somente Andrei consegue ter.
Ele é a ação enquanto eu sou a razão. Um soldado e um estrategista, é
isso que somos, opostos complementares em tudo, desde a nossa posição na
organização até a personalidade.
Andrei é extrovertido, brincalhão, debochado, sorridente e sabe como
conquistar as pessoas com palavras, ele gosta de provocar e rir na cara do
perigo, com isso acaba sendo inconsequente, mas ele é a alma mais pura e
amorosa que já conheci, nosso pai tentou quebrá-lo, o proibindo de ter amor
em sua vida, mas Andrei não caiu, ele aceitou mais essa regra e seguiu sua
vida como conseguiu, mesmo que ainda pense que não pode amar, acredito
que chegará o dia que alguém irá fazê-lo lutar contra isso e, quando esse dia
chegar, eu estarei ao seu lado.
Meu irmão é meu melhor amigo, sei de tudo sobre sua vida, ele me
conta cada detalhe do que acontece, tira fotos de todos os lugares que vai e
traz presentes para mim.
Desde criança Andrei me protege, não como um segurança, mas ele
me mantém são e conectado ao mundo exterior.
Andrei foi proibido de amar, eu fui aprisionado e proibido de viver.
O que eu não daria para ter forças e acabar com essa vida! Só que não
consigo, mesmo já tendo tentado algumas vezes, acabo pedindo ajuda como
um maldito covarde, não tenho a porra da coragem para acabar com toda
essa dor.
Lá no fundo da minha mente uma voz grita comigo, aquela que tem a
mesma entonação da voz do meu pai, exigindo que eu não o decepcione,
que eu seja o herdeiro perfeito que ele criou, educou, ensinou e treinou.
Não posso decepcioná-lo, não posso abandonar a organização assim.
Muitas vidas dependem de mim e eu dependo deles.
Outra voz, essa mais fraca e carinhosa, mas tão intensa e poderosa
quanto, me lembra do meu irmão, e é com a imagem do rosto de Andrei,
idêntico ao meu, que me levanto da banheira e respiro fundo, largando o
canivete que só agora percebo estar segurando.
Em que momento o peguei? Não faço ideia, mas sei que cheguei perto,
mais uma vez.
Foi só uma crise, só um momento de dor pelas vidas perdidas, não é
nada demais, você conseguiu evitar e tudo vai ficar bem, eles não vão
perceber… ninguém pode saber!
— Ei, Dimitri, abre essa porta logo! — Escuto uma voz feminina
irromper pelos alto-falantes do meu quarto enquanto caminho até a porta e,
ao abri-la, encontro Giulia Marino com uma expressão de poucos amigos
no rosto. — Por que eu não fui convidada para jogar pôquer?
— Boa noite, uvinha. — Forço um sorriso para ela enquanto termino
de fechar minha camisa preta e vestir o terno. — Não estaremos sozinhos
hoje, é melhor você ficar de fora dessa, quando Andrei voltar podemos
organizar outro jogo e…
— Teu cu que eu vou esperar até aquele debochado voltar — ela
responde com raiva. — Eu quero jogar hoje, já tenho vinte e um anos, você
precisa parar de me tratar como criança.
Penso em recusar seu pedido por um momento, mas acabo
concordando.
— Tudo bem, mas antes quero falar com você. — Faço sinal para ela
entrar e, muito a contragosto, Giulia passa por mim e eu fecho a porta, não
quero que meus seguranças escutem nossa conversa.
— Vai, fala, o que estou proibida de fazer? — ela questiona com a
sobrancelha grossa erguida, os olhos verdes concentrados em mim enquanto
coloca uma mão na cintura e me confronta.
— Nada, só não perca o controle e estaremos bem — respondo e sua
expressão muda para confusão, comprimindo as sobrancelhas e apertando
os olhos.
— O que está acontecendo, Dimitri?
— Faz um tempo que não conversamos, uvinha.
— Sim, a última vez foi na despedida da Yelena e da galera que partiu
em alguma missão sigilosa.
— Naquela noite eu conheci duas pessoas.
— Duas pessoas? Francamente, nunca vou entender como vocês
conseguem fazer essas proezas, uma pessoa só não está bom? — Sorrio
com seu espanto, Giulia é uma mulher forte e afrontosa, mas foi criada em
uma família conservadora e ainda carrega essas ideias consigo.
— Não julgue o que você não conhece, uvinha — repreendo e ela faz
uma careta, contrariada. — Um deles é meu segurança, Serguei Barkov, e a
outra é uma mulher, Yekaterina Belova.
— Yekaterina… esse nome não é estranho, o que ela faz?
— Ela é bailarina na Bolshoi Ballet Academy.
— Ah, eu sei quem é, já assisti várias apresentações dela no teatro com
o padrinho, ela é maravilhosa — Giulia comenta animada e com admiração.
— Serguei é o segurança novo? Acho que já esbarrei nele na cozinha.
— Sim, ele mesmo.
— Andrei vai ficar orgulhoso quando souber que você está seguindo os
passos dele e passando o rodo nos seguranças — Giulia debocha e começa a
rir.
— Então, é sobre isso que preciso falar com você, Andrei não pode
saber — aviso e ela para de rir na mesma hora, encarando-me confusa.
— Por que não? Vocês contam tudo um para o outro.
— Pelo menos por enquanto, ele ainda está em missão e pode ser que
demore um pouco para voltar, mas se ele voltar antes preciso que mantenha
isso em segredo até que eu saiba para onde essa situação toda vai.
Estou pensando sobre o assunto há um tempo já. O que significa nossa
relação?
Sempre que penso em Serguei sinto meu coração acelerado e todo o
meu corpo responde a sua proximidade, também passei a pensar mais nele
durante o dia e ansiar por vê-lo à noite, nós temos passado mais tempo
juntos e, é claro que os sentimentos começaram a surgir, cada vez mais
fortes e intensos.
Com Yekaterina é diferente, porém não tanto, a vejo menos, mas
passei um bom tempo pesquisando sobre ela, vendo-a pelas câmeras de
segurança da academia de dança enquanto praticava os passos da próxima
apresentação.
Tenho acesso a tudo, é claro, e já passei mais tempo assistindo minha
bailarina do que vendo seriados ou filmes. Também reuni todas as
informações da sua vida e das pessoas que estão nela, nada suspeito até o
momento, mas isso tudo me trouxe a sensação de que a conheço muito bem.
Quando eles estão presentes é como se meu mundo ficasse mais calmo,
todos os pensamentos confusos, que normalmente assombram minha mente,
são calados e só consigo me concentrar nela e em Serguei.
Talvez por não termos passado um tempo sozinhos sinta essa conexão
com Yekaterina de forma diferente, porém não é mais fraca, o que sinto
quando penso nela é tão intenso quanto com Serguei, o que deixa tudo ainda
mais difícil e confuso.
— Para onde vai o que, primo? Você está pensando em ter algo sério
com um deles? — Giulia chama minha atenção, tirando-me dos meus
pensamentos.
Sua pergunta me faz parar e realmente pensar na minha situação: eu
poderia escolher entre Serguei e Yekaterina? A resposta é incerta. Se esse
momento chegar, e eu tiver que escolher, o que vai acontecer?
— Nós só estamos curtindo, uvinha, e Andrei vivia dando em cima do
Serguei, não sei como ele vai reagir quando souber que eu fiquei com ele.
— Andrei está muito bem servido com o gostoso do Klaus em sua
cama, não se preocupe com ele — ela responde e eu preciso concordar, mas
ainda prefiro que meu irmão não saiba, pelo menos até que eu consiga
resolver essa situação. — E a mulher? Por que não pode contar sobre ela?
— Ela é o ponto principal, você sabe que terei que casar assim que
assumir como Pakhan e, se meu irmão souber sobre Yekaterina, ele vai
querer se intrometer.
— Isso quer dizer que…
— Não quer dizer nada, uvinha, nós só estamos curtindo. Yekaterina é
uma mulher maravilhosa e livre, mas ela não faz parte da nossa vida, na
verdade ela nem sabe quem somos de verdade — explico para que Giulia
mantenha a boca fechada durante o jogo.
— Ela não sabe que você é o herdeiro da Bratva?
— Não, ela não perguntou nem o meu nome na primeira vez que nos
encontramos — comento e não contenho um sorriso ao lembrar desse fato.
— Se encontrar o Ivan, pode alertá-lo sobre isso, não quero comentários ou
piadinhas sobre a Bratva hoje.
— Tudo bem, eu falo com ele — avisa e respiro mais aliviado por um
momento, até ver seu olhar mudar. Ela volta a colocar as duas mãos na
cintura, então sei que lá vem bomba. — Também não conto nada para o
Andrei, mas tenho uma condição.
— É claro que tem, não seria você se não tivesse — brinco e ela me dá
um tapa fraco no braço.
— Quero participar de todos os jogos e festas que vocês fizerem, pelo
menos até… até que eu tenha que retornar para a Itália. — Giulia engole em
seco as últimas palavras e sei a dor que isso lhe causa. Ela é a única
herdeira de uma das duas Famílias mais poderosas da Sicília, os Marino,
que estão em guerra com os Moretti há anos.
Meu pai é amigo da Família Marino há muitos anos, eu acredito que
ele tenha tido um caso com a mãe da Giulia antes dela morrer, porque
Mikhail não perde tempo com máfias pequenas assim, mas pegou para si a
responsabilidade de cuidar da filha de um mafioso qualquer e mantê-la
segura, até cheguei a cogitar a possibilidade de ele ser o pai dela, por isso,
quando ela veio morar conosco fiz um exame de DNA e descobri que não.
Ainda não sei quais são os planos deles para ela, mas algo me diz que
vai envolver um casamento arranjado e só posso torcer para ser com alguém
que a trate bem, Giulia é uma mulher incrível e merece ser feliz.
— Tudo bem, uvinha, mas se mantenha longe de problemas e não beba
demais.
— Prometo. — Ela aceita e faz uma dancinha ridícula para
comemorar. — Vou me trocar, você está muito bem vestido, não posso
aparecer de moletom ao seu lado.
— Use o que quiser, você está em casa.
Com isso ela vai para o seu quarto no final do corredor e eu sigo para a
sala de jogos, por um lado foi bom que Giulia apareceu, e tive um tempo
para respirar fundo e tirar minha cabeça da escuridão. Agora posso encarar
as próximas horas e fingir felicidade, mesmo que por dentro meu coração
esteja despedaçado.
CAPÍTULO 12

SERGUEI
 
Yekaterina me recebeu com um beijo assim que cheguei em sua casa,
me convidou para entrar e tive um vislumbre do seu apartamento. Vi
algumas fotos dela com o pai, várias de apresentações de ballet, com seus
amigos e algumas sozinha, penduradas na parede ou em porta-retratos.
Seu apartamento é pequeno, mas muito bonito e ajeitado, é bem
iluminado graças as janelas bem dispostas, a cozinha e a sala são
integradas, vejo uma porta que sei ser é a do quarto dela e outra que dá em
um banheiro social e lavanderia, tenho a planta do apartamento gravada em
minha memória.
A decoração é bem colorida, o sofá é verde-escuro e tem uma manta
rosa-claro por cima e almofadas roxas, o tapete da sala é do mesmo tom de
rosa e os móveis são brancos, mas as paredes foram pintadas em tons de
amarelo e, junto das fotos penduradas, tem algumas pinturas muito bonitas
que dão vida ao ambiente.
Kat também possui vários vasos de plantas espalhados pelo local,
alguns pendurados nas prateleiras de livros, outros pelo chão ou em cima
dos balcões, o local definitivamente tem personalidade, da mesma forma
que a dona.
Depois que me apresenta o apartamento, Kat pega seu casaco e
seguimos para a mansão Petrov, mas dessa vez percebo que ela olha muito
mais para o caminho e está distraída durante a pequena viagem, sua perna
balança de nervosismo e, quando seguro sua mão, está fria e suada.
Ela não parece ter a mesma confiança das outras vezes, o que faz todos
os meus alarmes internos despertarem para uma possível ameaça, faço a
revista com muita cautela, atento a cada pequeno detalhe, afinal eu ainda
sou um dos seguranças responsáveis pelo Herdeiro, mas por sorte não
encontro nada.
Entramos na mansão e uma de nossas espiãs a revista novamente, só
para garantir, então vamos direto para a sala de jogos.
— Você está bem, linda? — pergunto mais uma vez e entrego uma taça
de vinho a ela.
— Sim, um pouco nervosa só.
— Posso saber o motivo?
— É besteira minha, desculpa. — Leva a taça até a boca e toma um
grande gole da bebida. — Assim que o álcool fizer efeito ficarei melhor…
droga, não posso beber muito, amanhã o dia começa cedo.
— O que está acontecendo, Yekaterina? — questiono, agora mais sério
e com a voz firme, ela está estranha demais e, se isso representar uma
ameaça, preciso agir antes que algo aconteça.
— Nada, eu já disse.
— Você está nervosa demais e, no meu ramo de trabalho, isso gera
desconfiança.
— Desconfiança? — Ela pensa por um momento, franzindo as
sobrancelhas até que seu rosto se ilumina em compreensão. — Você acha
que sou uma ameaça?
— Eu sou treinado para desconfiar de tudo.
— E de todos, aparentemente — completa, mas então respira fundo e
olha para os lados, confirmando que ainda estamos sozinhos na sala de
jogos, que é a mesma sala onde nos encontramos a primeira vez. — Eu
só… você vai me achar uma boba, mas eu não sabia que ele era tão… quer
dizer, meu amigo me contou sobre a família Petrov.
Meu coração para por um instante.
Será que ela sabe sobre a Bratva?
— Contou o que, exatamente? — questiono tentando manter a calma.
— Que eles são uma das famílias mais ricas da Rússia e eu não sabia,
aparentemente sou a pessoa mais desinformada de Moscow — ela murmura
com a voz tão baixa que preciso me aproximar mais para conseguir
entender. Coloco uma mão na parte de baixo das suas costas e, em um
impulso, planto um beijo carinhoso em seu rosto, sorrindo ao me afastar.
— Ele continua sendo a mesma pessoa, ou o dinheiro mudou a forma
que o vê?
— Claro que não, mas não sei, eu já não me sentia à vontade aqui e
olha que estou acostumada com festas luxuosas e pessoas assim, só que eu
fiz alguns comentários bobos da última vez e…
Ela está com vergonha!
Yekaterina, a mulher confiante que colocou Dimitri de joelhos, sem
nem saber o nome dele, está encabulada bem na minha frente e é a coisa
mais bonita de ver, seu rosto fica ainda mais vermelho quando meu sorriso
se alarga e encaro os olhos azuis, que brilham em confusão.
— Para de rir, é sério. — Ela bate de leve em meu braço, mas a puxo e
envolvo seu corpo no meu, forçando-a a passar as mãos pelas minhas costas
e me abraçar de volta.
— Desculpa, você fica linda com vergonha, mas não precisa se
preocupar, nós percebemos que você estava tensa da última vez, e tem o
fato de eu ter te sequestrado e tudo mais. — Pisco para ela, que não aguenta
e sorri, então volta a esconder o rosto em meu peito e sinto meu coração
bater feito louco assim que beijo o topo da sua cabeça e inspiro o cheiro
doce do seu perfume.
Ela consegue acender todo o meu corpo, da mesma forma que Dimitri
faz, e perceber isso planta um pensamento confuso em minha mente, porque
eu sei que estou apaixonado por ele, tenho certeza disso há tanto tempo que
já virou um traço da minha personalidade, mas o que sinto por Yekaterina é
novo, intenso e confuso.
— Vai ter muita gente hoje? — ela questiona depois de um tempo e se
afasta um pouco para olhar em meu rosto.
— Não sei, é a primeira vez que participo de um jogo de pôquer com
ele, então acho que seremos ambos novidades aqui.
— Fica do meu lado? — ela pede contra meus lábios, a voz baixa e
insegura faz meu coração disparar e só quero beijá-la até que se sinta
confortável, porque se tem alguém que pertença a um lugar luxuoso como
esse, é Yekaterina.
— Não sairei dele, e se quiser ir para casa mais cedo é só me falar, ou
usar algum tipo de código.
— Se eu falar que estou com sono é porque quero ir para casa — avisa
e memorizo o recado.
Vejo Dimitri entrar na sala, o terno e a camisa preta o deixam ainda
mais bonito e, quando nossos olhares se cruzam, percebo que tem algo de
diferente com ele também.
— Serguei, Yekaterina. — Ela solta minha cintura para abraça-lo e
receber um beijo de boas-vindas, logo depois ele faz o mesmo comigo e não
parece forçado, mas mesmo assim noto algo de diferente em sua expressão
e os olhos azuis estão avermelhados, talvez tenha fumado um baseado antes
de descer, Dimitri gosta de fumar a noite, quando está estressado demais. —
Vocês estão lindos.
— Obrigada — ela agradece e eu tento conter o calor que ameaça
deixar todo o meu rosto vermelho por causa de um simples elogio.
— Preparados para o jogo? — questiona e chama o garçom, que traz
um copo com vodca pura para ele.
— Com certeza — Yekaterina responde, a voz mais confiante do que
antes, mesmo que sua mão continue tremendo ao lado do corpo.
Erikson e Victoria chegam e se juntam ao nosso grupo, ela está com
um conjunto social azul-escuro muito bonito. Victoria é a espiã chefe
responsável pela segurança do Herdeiro, seu principal trabalho é com o
pessoal da inteligência, coordenando os horários e ações dos soldados.
— Yekaterina, esses são Erikson e Victoria Vokosh, eles fazem parte
da minha equipe de segurança, mas hoje são meus convidados. — Dimitri
os apresenta e Yekaterina estende a mão, primeiro para Victoria,
cumprimentando-a com um sorriso, e depois para Erikson, que segura sua
mão e beija o topo dos dedos, nessa hora vejo Dimitri fuzilar meu chefe
com o olhar até que ele tira as mãos da nossa garota.
— É um prazer conhecê-la, Yekaterina, nós já assistimos uma
apresentação sua no teatro de Moscow, foi impressionante — Victoria
comenta animada.
— Obrigada pelo elogio, e o prazer é meu — ela responde de forma
cordial e Victoria começa a falar sobre ballet, até que ambas estão
entrosadas no assunto, e percebo que foi por isso que Dimitri convidou
Erikson e sua mulher.
— Tem mais mulheres para me ajudar a limpar esse bando de homens
que pensam serem melhores do que nós! — Giulia Marino chega falando
com um sorriso enorme no rosto e um vestido vermelho longo maravilhoso.
— Essa deve ser Yekaterina, é um prazer conhece-la. Meu padrinho e eu
somos grandes fãs das suas apresentações, sempre impecáveis, não sei
como consegue fazer aqueles saltos maravilhosos e ainda ficar na pontinha
do pé.
— Anos e anos de treino, danço desde os quatro anos de idade, acho
que meu pé está mais acostumado a andar de ponta do que no chão —
Yekaterina responde e Giulia ri da sua brincadeira.
— E você deve ser o famoso Serguei, a gente se esbarrou na cozinha
esses dias, lembra? — Giulia estende a mão em minha direção e, quando
vou apertar, ela tenta esmagar meus dedos, me fuzilando com aqueles olhos
verdes e com um sorriso estranho.
— Sim, senhorita. Peço desculpas novamente, deveria olhar melhor
por onde ando — comento, mas na verdade quem esbarrou em mim foi ela,
e ainda derrubou um copo de suco de uva na minha roupa. Estava com tanta
pressa que não me viu chegar, só que aparentemente ela esqueceu disso.
— Está tudo bem. Dimitri, Ivan ainda não chegou? — Ela olha pela
sala, procurando o outro herdeiro Petrov. Ivan é filho de Anton Petrov, o
irmão mais novo do Pakhan e tio de Dimitri.
— Não, uvinha, você quer uma taça de vinho? — Dimitri oferece,
chamando o garçom, e ela aceita com um sorriso enorme no rosto, mas
caminha até o meu lado para ficar de frente para a porta.
Giulia somente relaxa depois que Ivan chega e, assim que
cumprimenta a todos, seguimos para a mesa.
Nós jogamos pôquer no estilo Texas Hold'em, cada jogador recebe
duas cartas do dealer e a mesa recebe cinco cartas viradas para baixo, a
cada rodada de apostas uma carta é revelada e, no final, os jogadores que
sobraram fazem a sua jogada combinando as cartas da mesa com as da sua
mão.
As apostas são baixas, já que estamos jogando só por diversão, mas as
mulheres parecem realmente quererem derrubar os homens. Ivan ficou
como dealer e não está na jogada, então somos três homens e três mulheres,
só que elas se uniram e nós não.
— E aí, vai correr ou apostar? — Yekaterina desafia Dimitri, temos
duas cartas viradas na mesa, um dez de ouro e um ás de ouro, ela acabou de
dobrar a aposta e as outras mulheres saíram da mesa, deixando-a contra os
homens.
— Eu pago. — Dimitri cobre a aposta dela.
— Eu também. — Erikson continua na jogada.
— Eu corro — aviso, deixando minhas cartas viradas para baixo e
pego uma bala de menta de cima da mesa.
— Menos um! Vamos lá, Yekaterina, continue firme. — Victoria puxa
a torcida.
Ivan revela a terceira carta da mesa, outro dez, só que agora de
espadas. Reparo que Erikson prende o maxilar por um segundo e Yekaterina
engole em seco, mas Dimitri não tem reação nenhuma.
— Eu pago. — Ela coloca as fichas na mesa com o olhar firme.
— Eu corro — Erikson avisa, então a jogada fica entre Yekaterina e
Dimitri.
— Eu pago e dobro a aposta. — Dimitri desafia.
— Tem certeza, loiro? — ela questiona, erguendo as sobrancelhas
enquanto toma um gole de vinho.
— Absoluta. — Dimitri entra na provocação e seu lábio ergue
minimamente.
— Eu cubro sua aposta — ela confirma, colocando as fichas na mesa e
Ivan vira a última carta, um valete de ouro.
— Última rodada, façam suas apostas — Ivan avisa.
— Essa mesa está propícia a um empate — Erikson comenta.
— Eu pago. — Yekaterina coloca suas últimas fichas na mesa, mas a
mão tremendo não passa despercebida de ninguém, especialmente de
Dimitri, que sorri um pouco mais.
— Eu pago e dobro a aposta. E aí, o que você vai fazer agora,
Yekaterina? — provoca, deixando suas cartas de cabeça para baixo na mesa
enquanto olha no fundo dos olhos dela.
— Eu não tenho mais fichas — ela olha para o lado, como se pudesse
encontrar alguma perdida.
— Eu aceito pagamento de outra forma. — Dimitri faz a proposta e
todos começam a rir baixinho, mas o clima é tenso, tem muitas fichas na
mesa e o orgulho de duas pessoas dominantes em jogo.
— Se vale outras coisas, você precisa apostar o mesmo que eu — ela
avisa e devolve as fichas que Dimitri colocou na mesa para dobrar a aposta.
— Se eu ganhar, você será só meu por uma noite toda. — Yekaterina
estende a mão sobre a mesa e aguarda enquanto Dimitri decide, eu não sei
se as outras pessoas entenderam que eles estão apostando a dominância na
cama, mas eu sim.
Tanto Yekaterina quanto Dimitri são muito dominantes, e eu confesso
que adoro, foda-se, sou submisso mesmo, mas tem horas que os dois ficam
em um jogo de poder para fazer o outro ajoelhar, geralmente quem ganha é
ela, mas Yekaterina também sabe quando é bom perder.
— Agora o jogo começou a ficar bom — Giulia comenta e Victória ri
da sua piada, trocando um olhar com o marido.
— Com muito prazer! — Dimitri estende a mão e aperta a dela. —
Damas primeiro.
— Eu mostro o meu depois que você mostrar o seu — ela contrapõe e
todos riem da brincadeira infantil, inclusive Dimitri, que parece ter ficado
um pouco mais confortável nos últimos minutos.
— Tudo bem. — Ele vira suas cartas e mostra uma dama de paus e um
rei de espadas, combinado com o dez, o valete e o ás da mesa, sua jogada
forma um Straight Flush.
— Droga. — Yekaterina solta o ar dos pulmões com uma expressão
triste e Erikson e eu começamos a bater palmas, para comemorar.
— Não precisa ficar triste, eu garanto que você vai aproveitar tanto
quanto eu — Dimitri comenta, orgulhoso.
— Eu tenho certeza disso, especialmente porque eu ganhei! — É bem
nessa hora que ela vira uma dama e um rei de ouro, juntando com o dez, o
valete e o ás, também de ouro. Ela forma um Royal Flush, a mão mais alta
de todas. — Espero que, apesar da idade, seus joelhos estejam bons,
querido.
— Caralho, ela tinha um Royal Flush na mão. — Ivan é quem anuncia
primeiro, enquanto as mulheres gritam em comemoração, rindo da cara de
Dimitri com Yekaterina.
— Essa noite vai ser interessante — comento baixo e recebo um olhar
significativo de Yekaterina e Dimitri. Como só eles estavam jogando, não
sei qual será minha participação no jogo dela, de qualquer forma ficarei
feliz só em observar.
— Ei, o jogo ainda não acabou, guardem esses hormônios para mais
tarde. — Giulia corta nossa troca de olhares e todos riem, enquanto
Yekaterina recolhe o montante de fichas da mesa com um sorriso lindo
demais no rosto, um que eu daria qualquer coisa para ver todos os dias, olho
para Dimitri ao meu lado e a expressão de bobo apaixonado enquanto olha
para Yekaterina reflete meus pensamentos, mas será que é isso mesmo? Ele
está apaixonado por ela?
É claro que está, quem não se apaixonaria por Yekaterina? Dimitri não
consegue esconder seus sentimentos, não de mim, que estou muito atento a
eles.
Eu já vi esse olhar em seu rosto, a primeira vez foi enquanto ele servia
o café para ela e para mim em seu quarto, depois comecei a reparar cada
vez mais, e agora tenho certeza do que estou vendo, porque ele não
consegue mais esconder esse brilho, nem quando estamos rodeados de
outras pessoas.
Me pergunto se ela sente o mesmo por ele, Yekaterina é mais difícil de
ler. Talvez por passar o dia todo — e algumas noites — com Dimitri, eu
consiga entender melhor seus sentimentos, mas espero que ela corresponda
de alguma forma, porque alguém como ele não se entrega a uma paixão tão
facilmente, e Dimitri merece ser feliz, ele merece alguém tão incrível
quanto ela.
A única variável nessa equação sou eu, aonde eu me encaixo nisso
tudo?
Porra, será que estou sobrando?
Caralho, é óbvio que eu estou sobrando!
Eu não acredito que só estou percebendo isso agora! Como posso ter
sido tão estúpido?
— Desculpa. — Me levanto sem conseguir me controlar. — Não estou
me sentindo muito bem, acho que vou encerrar a noite aqui.
— Serguei, o que você está sentindo? — Dimitri levanta e pega minha
mão, mas me desvencilho dele com o maior cuidado que consigo, forço um
sorriso em meu rosto antes de respondê-lo, tentando manter a porra do meu
coração inteiro, porque no momento ele quer quebrar e não posso deixar
isso acontecer agora, não na frente deles.
— Devo ter comido algo que não me fez bem. — Uso a primeira
desculpa que encontro e nem me importo que pensem que estou com
caganeira, é o menor dos meus problemas. — Desculpa, eu só…
Engulo as próximas palavras, junto com as lágrimas que exigem
passagem pelos meus olhos, mas não permito que saiam. Viro e caminho
para fora da sala, controlando meus passos até estar longe o suficiente para
poder correr sem que ninguém me veja, sem que eles me vejam.
 
CAPÍTULO 13

DIMITRI
 
— Com licença — peço e sigo Serguei, ele claramente não está bem,
mas acredito que não seja pelo motivo que nos deu.
— Dimitri, espera! Eu posso correr de sapatilha, mas de salto é mais
difícil — Yekaterina me chama e só então percebo que estava correndo.
— Só vou ver como ele está, pode voltar para o jogo.
— Nem pensar, ele deve ter ficado chateado por causa da nossa aposta,
eu vi a expressão confusa em seu rosto, acho que ele pensou que não estava
incluído — ela explica e concordo.
— É melhor eu falar com ele.
— Vamos juntos e não adianta argumentar, agora lidere o caminho
porque, se eu for sozinha, vou me perder nessa casa. — Yekaterina pega
minha mão e me lança um olhar intenso, dando-me a certeza de que ela não
vai desistir.
Como as acomodações da equipe de segurança ficam em uma casa
separada da mansão principal, precisamos atravessar o jardim, então vejo
Erikson e Victoria nos seguindo de longe, é claro que eles não me
deixariam sozinho nem dentro da minha própria casa, mas já estou
acostumado, é Yekaterina quem fica tensa e aperta minha mão.
— Eles estão nos seguindo — ela avisa.
— Sim, é basicamente o trabalho deles, não precisa se preocupar.
— Nossa, eu sabia que você era rico e tudo mais, só não imaginei que
fosse tanto, a ponto de precisar de proteção dentro da própria casa.
— Então é por isso que estava estranha quando chegou? — questiono
e sou recompensado com a visão de Yekaterina envergonhada, suas
bochechas assumem um tom rosado e ela olha para baixo, sem coragem de
me encarar.
— Eu só estava insegura — confessa, pegando-me de surpresa. — Da
outra vez eu fiz vários comentários sobre dinheiro, mas foi brincadeira, e eu
já sabia que você deveria ser rico, afinal olha essa casa. — Ela se vira e
aponta para a mansão, que mesmo à noite exalta luxo e poder.
— Não precisa se preocupar, eu me diverti com cada um dos seus
comentários, acredite.
— Deve ter dado muita risada depois — comenta com a voz baixa.
— Nunca. — Paro em sua frente e coloco uma mão em seu queixo,
erguendo seu rosto com cuidado para fazê-la me olhar nos olhos. — Você é
uma mulher extraordinária, Yekaterina, e seu senso de humor é uma das
coisas que me atrai em você, nunca mude seu jeito por ninguém.
— Então, você está atraído por mim? — comenta, quebrando a
seriedade com um sorriso provocador, e não me seguro, acabo com a
distância entre nós e planto um beijo delicado em seus lábios.
— Você não imagina o quanto — confesso e a beijo mais uma vez. —
Agora precisamos falar com Serguei.
— Sim, e não o culpo, essa situação entre nós é confusa, mas preciso
dizer que é uma das melhores experiências que já tive — ela anuncia e meu
coração acelera ainda mais.
— Também acho, Yekaterina.
— Pode me chamar de Kat, meu nome é grande demais.
— Seu nome é lindo, assim como você — sussurro e beijo sua testa,
pegando sua mão para voltarmos a caminhar.
Os dormitórios da equipe de elite ficam no segundo e terceiro andar e é
claro que eu sei exatamente qual é o dele, escolhi a dedo o melhor local
com vista para a mansão.
Da sacada do meu quarto eu consigo enxergar a sacada dele e, quando
ele não fica comigo, tenho a visão dele sozinho, lendo um livro no sofá,
tomando café ou só assistindo algo na televisão, porém, mesmo estando
separados, é reconfortante.
— Serguei, você está aí? — Yekaterina bate na porta primeiro, sua voz
sai mansa e acolhedora. — Abre a porta, a gente só quer saber como você
está — complementa quando ele não responde.
— Estou bem, é só uma dor de barriga — ele fala do outro lado, mas
sua voz grossa esbanja tristeza e faz meu peito apertar.
— Serguei, abra a porta, por favor — falo com calma, mas sem
esconder a preocupação.
Penso em dar uma ordem, mas acho que esse não é o momento, se ele
está magoado não quero fazer nada que possa deixá-lo mais triste.
Depois de alguns segundos, escutamos passos e o barulho da tranca,
então a porta se abre e ele aparece com os olhos vermelhos de alguém que
claramente estava chorando.
— Serguei… — Yekaterina fala e dá o primeiro passo, envolvendo-o
em um abraço carinhoso, ao qual ele demora para corresponder. —
Desculpa, eu não quis te deixar assim, foi só uma aposta boba.
— Não é por isso, eu só… — ele começa a falar, mas para e faz sinal
para entrarmos, ela vai até a sala e eu a acompanho de perto, mas continuo
olhando para Serguei, que fecha a porta atrás de nós. — O que é isso aqui?
— O quê? — Yekaterina questiona ainda de pé, dando um passo na
direção dele, mas não o abraça, dando-lhe espaço.
— Isso aqui! — Serguei aponta para ela, depois para si mesmo, então
faz o mesmo comigo e com ele. — O que nós somos?
— Três pessoas que estão aproveitando algo incrível — ela responde.
— Então é só sexo para você? Porque para mim não parece — ele
rebate com a voz mais alta e ela dá um passo para trás, Serguei percebe e
para de falar, respirando fundo enquanto passa as mãos pelo cabelo. —
Desculpa, eu não quis me alterar.
— É claro que não é só sexo — ela responde com a voz calma e
controlada —, mas ainda não sei definir o que somos, é tudo novo pra mim
também, Serguei, inclusive esses sentimentos confusos.
— Eu só… não sei, eu sinto que estou sobrando…vocês são perfeitos
juntos e eu… — A dor em sua voz me faz reagir, caminho até ele,
prendendo seu rosto em minhas mãos, forçando-o a me olhar nos olhos
enquanto falo.
— Nunca mais repita essa merda, está me entendendo, nunca mais! —
ordeno com seriedade e ele arregala os olhos, que brilham ainda mais com
as lágrimas que ele já não consegue conter. — Ninguém está sobrando, está
me ouvindo? O que eu sinto por você é tão intenso quanto meus
sentimentos por Yekaterina, e sim, é confuso para caralho, especialmente
porque nunca senti isso antes.
— Dimitri, eu… — Ele tenta me interromper, mas o calo roçando
meus lábios nos dele.
— O que somos não precisa de definição, não me importo com o que o
mundo lá fora impõe, aqui dentro nós fazemos nossas próprias regras,
baseadas no que sentimos, só isso. — Beijo seus lábios mais uma vez antes
de soltá-lo e caminhar até Yekaterina, pego sua mão e coloco em meu
coração, que bate forte em meu peito. — Ele acelera por vocês dois, é por
isso que não posso escolher.
Não completo a frase porque não quero assustá-la, mas gostaria de
falar que não posso escolher entre eles e acredito que jamais conseguirei.
— Tudo é muito recente, eu não vim aqui a procura de um namorado...
ou dois — ela complementa e sorri ao olhar para Serguei —, mas esses
momentos com vocês têm sido muito bem-vindos em minha vida e não
quero parar agora. Em algumas semanas partirei para a turnê e ficarei um
tempo longe, vamos ver o que acontece até lá.
— Você está colocando um prazo de validade em nossa relação? —
pergunto com calma.
— Só estou pontuando um fato e, para ser honesta, não achei que
chegaríamos até aqui.
— Como assim? — Agora é Serguei quem questiona e ela senta no
sofá.
— Eu não sou a melhor pessoa para manter um relacionamento, ou
qualquer coisa do tipo, sou uma bailarina, vivo pelo meu trabalho, só de
estar aqui mais uma noite sei que vou sofrer as consequências amanhã por
não dormir o necessário. — Ela ergue a cabeça e pende para o lado, abrindo
um sorriso para nos tranquilizar. — E por todo o exercício que faremos
depois dessa discussão.
— Não foi minha intenção atrapalhar seus ensaios — digo ao perceber
que estar aqui, mais um dia, pode realmente interferir em sua carreira.
— Está tudo bem, eu conheço meus limites e quero estar aqui, mas
esse é o problema, porque eu quero ver vocês, passar esse tempo juntos e
sentir… sentir esse amontoado de sentimentos que se intensificam cada vez
mais, mas não quero magoá-los e sei que isso vai acontecer.
— Por quê? — Serguei questiona.
— Porque sempre acontece, todos os meus relacionamentos
terminaram por minha causa — ela confessa com dor e preciso me segurar
para não me abaixar e abraça-la, porém algo me diz que ela ainda não
terminou. — Eu nunca senti algo tão forte antes e, saber desse fato, só me
deixa com mais medo ainda de como vou ficar quando acabar.
— Por que você acha que vai acabar? — pergunto e me ajoelho em sua
frente, Serguei senta-se ao lado dela e passa um braço pelas suas costas,
enquanto eu seguro suas mãos nas minhas e ergo seu queixo para me olhar.
— Faça as contas, Dimitri, somos três pessoas e…
— Três pessoas que estão atraídas umas pelo outras, três pessoas que
se completam quando estão juntas e sentem a falta uma das outras quando
não estão, três mentes, três almas e três corações, Kat. — Pontuo e levo
uma mão até seu rosto, tirando uma mecha de cabelo que se desprendeu, e
colocando atrás da sua orelha. — É a primeira vez, em trinta e quatro anos
que eu quero viver algo assim, e eu quero isso com vocês dois, não posso
escolher e não vou.
Me inclino para a frente e tomo os lábios dela com carinho, sentindo o
gosto do vinho misturado com o doce da sua boca, não demora para ela me
acompanhar e se entregar ao beijo que logo se intensifica.
Suas mãos viajam para o meu peito, afrouxando o nó da gravata antes
de começar a abrir os botões da camisa, enquanto sua língua exige
passagem, encontrando a minha no caminho, e ambas se provocam em uma
dança deliciosa.
Do canto do olho vejo Serguei se juntando a nós ao abrir os botões do
macacão rosa que ela está usando, a cor realça seus cabelos escuros e a
deixa ainda mais linda, os detalhes em dourado combinam com suas joias,
dando um toque delicado, mas logo estará fora do seu corpo.
— Eu quero vocês, seja lá o que isso signifique, só sei que quero viver
esses sentimentos que estão me consumindo — ela confessa contra a minha
boca e morde meu lábio inferior, arrancando um gemido meu enquanto
Serguei começa a beijar seu pescoço, abaixando o tecido do macacão aos
poucos.
— Você tem, Kat — confesso e deixo a boca dela para beijá-lo,
compartilhando do gosto da nossa mulher, enquanto ela tira a minha camisa
e começa a abrir minha calça.
— Sim, porra! Eu sou de vocês — Serguei assume, se entregando ao
nosso beijo com devoção, sua barba raspa na minha e ambos gememos
quando nossas línguas se encontram, ele tem gosto de vodca e menta.
Me desvencilho do seu beijo tempo o suficiente para levantar e
terminar de tirar minhas roupas, depois estendo a mão para Kat em um
convite, que ela aceita, levantando-se para deixar o macacão cair a seus pés,
fica só de calcinha e sutiã, ambos cor-de-rosa, e começamos a despir
Serguei, que se levanta e caminha até seu quarto.
— Minha cama não é grande — ele avisa quando chegamos ao
cômodo pequeno, porém bem ajeitado, que só tem uma cama de casal
normal e um guarda-roupas.
— Foda-se, quanto menos espaço, mais próximos ficaremos — Kat
enuncia e empurra Serguei na cama, abaixando suas calças e jogando longe,
depois ela começa a acariciar seu pau por cima do tecido da cueca.
— Porra! — Serguei geme, jogando a cabeça para trás, ele se escora
nos cotovelos e aproveita tudo o que ela tem para lhe dar.
Kat o provoca por um tempo até abaixar a cueca branca e libertar seu
pau, que salta grande e duro, pronto para ela, para nós.
Quando as mãos delicadas de Yekaterina o envolvem e ela ajoelha, seu
olhar encontra o meu e sua língua passa na cabeça do pau dele, espalhando
a saliva, lambendo com gosto e me fazendo delirar, porque posso sentir
como se fosse comigo.
Por isso levo a mão ao meu próprio pau, masturbando-me conforme
ela coloca a ereção de Serguei na boca, levando-o cada vez mais fundo e
soltando, em um boquete delicioso.
— Vem aqui, eu quero te chupar. — Serguei convida, olhando
diretamente para o meu pau com desejo, fazendo-o pulsar em minha mão.
Quando subo na cama e me ajoelho ao seu lado, ele coloca a língua para
fora e lambe a cabeça, já melada com o pré-gozo.
— Puta que pariu, Serguei — solto segurando seus cabelos com uma
mão e acariciando seu queixo com a outra. — Eu quero foder essa boca,
soldado.
— Está esperando o quê? — ele provoca, abrindo ainda mais os lábios
para me levar inteiro dentro da sua garganta e, caralho, eu estou no paraíso
quando meu pau bate no fundo e volta, vejo a entrega em seu olhar e ele
geme, com meu pau na boca, enquanto Yekaterina faz o mesmo com ele.
Não vou durar muito assim, por isso seguro seus cabelos com mais
força e começo a meter na sua boca, testando seus limites, enquanto ela o
chupa com mais vontade. Os sons das investidas, misturados aos meus
gemidos altos e os deles engasgados, me faz estremecer.
Quando sinto que vou gozar eu paro, dando a chance para Serguei
escolher, mas ele volta a me levar mais fundo, a chupar com força, até que
me derramo em sua boca com jatos de porra, que ele toma com gosto até
jogar a cabeça para trás e gemer alto.
— Kat, porra, eu vou gozar — ele avisa e ela o leva até o fundo da
garganta, quase se engasgando com o tamanho do seu pau.
Ela o chupa com vontade, até que Serguei estremece na cama e eu o
beijo, sentindo meu gosto em sua boca e me embebedando com seu
orgasmo.
— É por isso que nenhum de nós consegue escolher — Kat comenta,
subindo na cama para se jogar em nossos braços. — Eu quero os dois, foda-
se!
— Então vem aqui e senta na minha cara, porque eu vou chupar essa
boceta deliciosa até nós nos recuperarmos, e depois vamos foder a noite
toda. — Convido, deitando de costas na cama e Serguei sorri ao meu lado,
mas Kat não perde tempo, subindo até ficar com as pernas uma de cada lado
da minha cabeça, ela ainda está de calcinha e o sorriso safado em seu rosto
me diz que é uma provocação.
Seguro a renda fina com as duas mãos e a rasgo com facilidade,
arrancando um gemido dela.
— Ei! — ela protesta em fingimento.
— Eu comprei várias dessas para você — aviso, porque fiz um estoque
de lingerie para Yekaterina e deixei em meu closet, junto com algumas
roupas e produtos de beleza que ela pode precisar futuramente. — Agora
vem aqui, cobra a aposta que você ganhou e cavalga na minha cara, Kat.
— Acha que vai ser fácil assim? — Ela se abaixa e abro a boca para
recebê-la, sentindo o gosto da sua boceta, que já está escorrendo de tesão,
lambo os lábios, abrindo-a aos poucos, provocando com a língua, mas evito
o clitóris. — Quando eu cobrar a nossa aposta, vou te amarrar na cama,
vendar esses lindos olhos azuis e te usar como eu quiser, não como você
pedir.
Seguro sua bunda com as duas mãos e a atraio para minha boca, mas
Kat não me deixa controlar, ela rebola como quer, segurando-se na
cabeceira da cama. A mulher geme com gosto, jogando os cabelos para trás
enquanto me usa para seu prazer e, porra, eu quero ser usado por ela.
Quando vejo que seus movimentos começam a ficar descontrolados, a
seguro e tomo o controle, dessa vez ela deixa, já que prendo seu clitóris
com os lábios e chupo o local sensível, fazendo-a gritar de prazer até gozar
na minha boca.
Não paro de chupar, mesmo que ela tente se desvencilhar das minhas
mãos, continuo até arrancar tudo dela e sentir suas pernas amolecerem
sobre mim.
— Que visão deliciosa! — Serguei comenta ao nosso lado e a beija,
segurando-a em seus braços quando ela sai de cima de mim, mas só de
olhar para baixo e vê-lo pronto, seu pau tão duro quanto o meu, nós dois
sabemos que não acabou.
Yekaterina se recupera logo e Serguei pega dois preservativos na mesa
de cabeceira, ele abre um com a boca e estendo a mão para pegar o outro,
mas ele não deixa, desliza a camisinha em mim, masturbando-me por um
tempo, sem desviar o olhar safado do meu.
— Dimitri, fica na beirada da cama — Serguei ordena, tomando a
iniciativa. — Senta nele, Kat. — Mais uma ordem e, dessa vez, Kat e eu
trocamos um olhar confuso. — Sim, eu estou mandando nessa porra agora.
— Nosso homem quer comandar — Kat provoca do meu lado,
enquanto deslizo até a beirada da cama, então ela levanta e me beija, antes
de fazer o que ele mandou e sentar com uma perna de cada lado do meu
corpo. — O que você acha?
— Acho que podemos deixar, por hoje, na próxima a gente cobra dele
— respondo e eles riem, fazendo meu peito explodir em sentimentos
diferentes, então Yekaterina ergue sua bunda e posiciona meu pau na
entrada da sua boceta, deslizando-o para dentro aos poucos, me engolindo
até que eu esteja completamente dentro dela. — Porra de boceta gostosa do
caralho, Kat.
— E agora, soldado, o que você quer fazer conosco? — Ela provoca
Serguei, olhando-o sobre o ombro, enquanto ele desliza uma camisinha no
próprio pau e pega um tubo de lubrificante.
— Agora você vai montar nele enquanto eu como esse cu delicioso e
vamos fazê-lo gozar juntos — ele avisa e estremeço com suas palavras,
ainda mais quando sinto seus dedos provocando meu cu, umedecendo com
o lubrificante gelado, enquanto Kat começa a subir e descer no meu pau e a
provocação dupla é quase impossível de aguentar.
— Porra, soldado, só me fode logo então, para de brincar!
Com isso ele coloca um dedo dentro do meu cu, depois outro e outro,
me alargando e me fodendo com calma, antes de substitui-los por seu pau
grande e grosso, que exige passagem e preciso segurar a respiração
enquanto ele entra, Kat diminui os movimentos, deixando que eu me
acostume com os dois, e Serguei segura minhas pernas com firmeza.
— É bom sentir nós dois assim? — ela pergunta se abaixando para me
beijar e acariciando meu rosto.
— Sim, caralho, eu não vou durar nada.
— Não é a quantidade de tempo que importa, mas sim a intensidade do
momento — ela murmura e volta a rebolar no meu pau, Serguei faz o
mesmo, fodendo meu cu e me levando dos céus ao inferno em segundos.
É tudo duplamente intenso e sinto cada célula do meu corpo
estremecer aos sons de três corpos se chocando, as bocas gemendo de
prazer, três pares de mãos percorrendo os corpos suados, apertando a carne
macia, enquanto nos entregamos ao momento e fodemos, nossos
movimentos são tão coordenados que parece que fizemos isso a vida toda.
Serguei segura Yekaterina pela cintura e leva uma mão para o meio das
pernas dela, tocando o piercing brilhante até chegar ao clitóris inchado e,
quando eu acho que não poderia aguentar mais, ela começa a subir e descer
mais rápido no meu pau, enquanto ele massageia seu clitóris, fazendo-a
gozar.
— Caralho, que delícia! — Kat geme alto apertando os próprios peitos.
— Eu quero foder e ser fodido por vocês todos os dias — confesso
sem me controlar.
Yekaterina está entregue, sua boceta me espreme assim que ela goza,
enquanto Serguei aumenta a velocidade dos movimentos até que me entrego
a tudo e me derramo na camisinha, logo depois sinto seu pau latejar no meu
cu e ele me acompanha, gozando até cair com Yekaterina em cima de mim.
Estamos acabados, suados, esgotados, porém o sorriso no rosto deles
me faz sentir um tipo diferente de felicidade, é algo mais intenso e genuíno,
que me faz esquecer o mundo lá fora, quem sou e tudo o que represento,
porque aqui, com eles, sou só Dimitri Petrov.
CAPÍTULO 14

YEKATERINA
 
Acordo com a visão de Serguei dormindo tranquilamente de frente
para mim e, é claro, o peito nu de Dimitri, no qual nós nos acomodamos
confortavelmente, e me recordo da primeira noite que passamos juntos.
— Pode dormir, Kat. — A voz baixa e rouca de Dimitri me faz olhar
para cima e o encontro acordado, os olhos azuis me encaram com carinho,
porém vejo o cansaço estampado em seu rosto.
— Eu preciso ir, você me acompanha até a saída?
— Claro. — Nos desvencilhamos de Serguei, que não acorda nem
quando Dimitri sai debaixo dele e deixa um travesseiro em seu lugar, ao
qual ele abraça e inspira profundamente, sorrindo de leve enquanto dorme,
não me aguento e planto um beijo delicado em sua testa antes de me afastar.
Nos vestimos, tentando não fazer barulho e saímos do quarto dele, do
outro lado da porta vejo dois homens de pé, com as mãos em frente ao
corpo e o olhar frio e concentrado.
— Chamem o motorista para a senhorita Belova — Dimitri ordena e
coloca uma mão na parte inferior das minhas costas, guiando-me pelo
mesmo corredor do qual viemos, agora com os seguranças nos seguindo de
longe. — Gostaria de comer algo antes de ir?
— Eu aceito um café para viagem — peço porque preciso falar com
ele a sós. Ao contrário do que pensei, Dimitri não chama uma empregada
para fazer o café, nós seguimos direto para a cozinha principal da mansão, o
lugar é enorme e mais parece a área de um restaurante. — Posso fazer uma
pergunta?
— Claro — ele responde enquanto pega as coisas para fazer o café,
não me passa despercebido como ele está familiarizado com o local, mas
deixo essa pergunta para uma próxima vez.
— Por que você não dorme?
— Eu durmo — ele se defende com um meio sorriso.
— Quando estão sozinhos, você consegue pegar no sono ao lado dele?
E não estou insegura ou com ciúmes, só preocupada.
— Eu não consigo dormir com outras pessoas em minha cama,
independente de quem seja — confessa e me lança um olhar triste. —
Quando ele fica comigo à noite, eu espero que durma na cama e vou para o
quarto de hóspedes.
— Por que não falou? Tenho certeza que Serguei não se importaria em
sair para você poder dormir em sua cama, eu não me importo, cada um com
suas manias.
— Não é bem uma mania, eu só passei a vida toda sendo protegido,
tendo que olhar por cima do ombro a cada segundo, e eu não tenho coragem
de acordá-lo, ele fica lindo demais dormindo em meus braços, assim como
você.
Seu olhar muda quando fala sobre sua vida e, mesmo ele tentando virar
o rosto e esconder de mim, a tristeza em sua voz é palpável.
Dimitri esconde algo por trás da fachada de homem sob controle e,
seja o que for que esteja no fundo da sua alma, a preocupação em minha
mente me diz que não descansarei até descobrir o que é.
— Eu não sabia que você precisava de tantos seguranças assim, se for
falar a verdade, eu realmente não faço ideia de quem você ou sua família
são — conto e sinto meu rosto esquentar. — Não quis ser grosseira das
últimas vezes, peço até…
— Nunca se desculpe por falar o que pensa e ser espontânea, Kat, é
uma das coisas que eu gosto em você — ele me interrompe e pega um copo
de café descartável com tampa. — Estou acostumado com pessoas que
fazem o que pensam que eu quero que elas façam, alguém como você é
raridade em minha vida.
— Deve ser uma vida solitária — falo sem conter as palavras.
— É sim, mas tem sido um pouco menos desde que vocês dois
entraram nela. — Ele se aproxima e me entrega o copo com café, mas antes
planta um beijo carinhoso em meu rosto e sussurra em meu ouvido. —
Obrigado por estar aqui.
Caralho, eu não tenho nem palavras para explicar a forma que meu
coração explode de felicidade no peito, como cada centímetro da minha
pele arrepia ao sentir o calor da sua voz, ou como, com um simples
agradecimento, meu mundo parece ganhar cor.
E isso é assustador para caralho.
— Eu preciso ir. — Me afasto dele e sigo por onde entramos, logo
sinto que ele me acompanha, mas Dimitri não fala nada, dando-me espaço
para processar meus pensamentos confusos.
O carro já está me esperando em frente à casa e um dos seguranças
entrega meu casaco e celular para Dimitri, que me ajuda a colocá-lo e
depois me puxa para um beijo.
— Quero te ver de novo, Kat, mas não quero te atrapalhar, então vou
deixar essa decisão nas suas mãos, quando estiver com saudades de nós é só
ligar, tudo bem?
— Não prometo nada — brinco, já sabendo que é mentira, porque se
for levar em consideração o fator saudade, eu nem sairia daquela cama. —
Obrigada pelo café. — Roço meus lábios nos dele com carinho e sorrimos
juntos. — Gostei muito de conhecer seus amigos ontem, peça desculpas por
termos saído daquela forma, e entrega um beijo meu para Serguei quando
ele acordar.
— Também gostei de ter você aqui, Kat. — Ele me abraça e sinto a
relutância em me deixar ir, mas depois de alguns segundos ele me solta e
nos separamos.
A viagem de volta é feita em silêncio, o motorista dirigiu com
tranquilidade até a cidade, mas meus pensamentos estavam turbulentos, só
quando chego em casa pego o celular e vejo a chamada perdida do meu pai,
o que me deixa preocupada já que ele quase nunca me liga, então ligo de
volta.
— Pai, o senhor está bem? O que aconteceu? — pergunto assim que
ele atende, depois de chamar quatro vezes.
“Bom dia, minha filha. Está tudo bem, só fiquei com saudades, quando
você vem visitar esse velho aqui?”
— Também estou com saudades, pai, juro que vou tentar ir antes de
partir para a turnê, teremos um final de semana de folga.
“Vou esperar sua visita, e como estão as coisas, filha?”
Ele parece calmo, o que me deixa mais tranquila, provavelmente só
ligou realmente para matar a saudade e confirmar se vou para casa antes da
turnê.
Meu pai e eu não somos tão próximos, por ter me criado sozinho ele
precisou trabalhar o dobro para conseguir pagar todas as contas da casa e
meus estudos, por isso eu passava mais tempo na escola e no ballet do que
em casa, ele também é o motivo para eu não largar a carreira e me esforçar
ao máximo para ser uma bailarina de sucesso
Essa vida corrida nos afastou, porém meu pai sempre foi muito
carinhoso e preocupado comigo, quando estávamos juntos ele fazia questão
de me colocar para dormir toda noite, mesmo quando chegava cansado do
seu segundo emprego como segurança de uma boate e, quando eu já estava
dormindo, ele vinha me dar um beijo de boa noite.
Depois de trocar algumas palavras vejo a hora e reparo que, se não sair
agora, chegarei atrasada para o ensaio.
— Pai, eu preciso ir, mas eu te ligo à noite, pode ser?
“Claro, filha, bom trabalho, o pai te ama.”
— Também te amo, se precisar de alguma coisa me avisa, um beijo.
Com isso desligamos e sinto um aperto de saudade no peito, realmente
faz um tempo que não vejo meu pai, mesmo ele morando perto, a última
vez que fui até lá foi para o aniversário dele, três meses atrás, o tempo passa
rápido demais quando se leva uma vida corrida como a minha.
Arrumo minhas roupas para o ensaio e já posso sentir que será outro
dia cansativo.
Eu não estava errada, o dia foi complicado e só piorou quando uma dor
de cabeça me fez parar o ensaio, eu já estava sentindo dor no corpo e um
pouco de fraqueza, mas achei que era por causa do sexo da noite passada,
porém, assim que a enfermeira mediu minha temperatura e disse que eu
estava com febre e que precisava tirar alguns dias para descansar, confesso
que fiquei aliviada.
Clayr me trouxe para casa e, no caminho, pegamos os remédios na
farmácia, assim que os comprimidos começaram a fazer efeito já senti a
letargia e o sono, muito sono, o que é bem-vindo, já que dormi pouco na
noite passada e minha cama está tão convidativa.
— Kat, a febre parece estar baixando. — Ela mede minha temperatura
com o termômetro que acabei de comprar. — Eu preciso voltar para a
escola, a Magie vem te ver à noite, tudo bem?
— Obrigada, amiga, pode levar a chave reserva e entregar para a
Magie? Eu não sei se vou estar acordada quando ela vier.
— Sim, já peguei aqui, ela vai te trazer comida e ficar com você. —
Clayr me ajuda a deitar e aumenta a temperatura do aquecedor ao ver que
estou tremendo de frio. — Qualquer coisa me liga, mas são só duas horas,
logo ela estará aqui.
— Tudo bem, obrigada Clayr — agradeço enquanto meus olhos se
fecham e sou levada pela escuridão.
***
 
— Quem diabos é você e como entrou aqui? — Uma voz alta me
acorda. — Fica longe de nós, eu tô avisando que sei usar isso aqui.
— Meu nome é Serguei Barkov, sou amigo de Yekaterina, só vim ver
como ela está. — Outra voz, que combina com o nome, me faz virar na
cama com muito esforço, e vejo Magie com uma arma apontada
diretamente para Serguei.
— Magie — chamo minha amiga, mas minha voz sai fraca demais e
fico tonta ao tentar levantar, caindo de volta no travesseiro. — Ele é… ele é
um dos homens…
— Ah, por que não falou logo? — Magie adverte e abaixa a arma. —
Você já deu a chave para ele, sua safada?
A chave, como assim?
Não dei minha chave para Serguei, Magie deve ter deixado a porta
aberta e ele entrou, mas não respondo, por algum motivo meu corpo parece
ainda mais pesado do que antes e minha cabeça está explodindo com as
vozes.
— Pode me ajudar aqui? — peço e Magie pega minha mão, mas logo
Serguei está ao meu lado e passa uma mão pela minha cintura, apoiando
meu braço em seu pescoço, em seguida ele me ergue como se eu não
pesasse nada.
— Para onde? — pergunta me olhando com preocupação.
— Banheiro, é aquela porta ali. — Mostro com a mão livre e ele me
leva até lá, só me solta quando garante que consigo ficar em pé sozinha. —
Posso fazer isso, me dá dois minutos.
— Se precisar é só chamar — avisa e me dá um beijo carinhoso no
rosto.
Esvazio minha bexiga que estava explodindo, depois escovo os dentes
e penteio meu cabelo, que mais parece um ninho de passarinho, quando
percebo que não tem muito o que eu possa fazer para ajeitar minha cara
amassada, saio do banheiro e encontro Serguei arrumando minha cama e
Magie o encarando com a expressão abismada.
— Magie, este é o Serguei. — Apresento o homem de terno e gravata,
que olha para minha amiga e estende a mão em um cumprimento, Magie
demora um pouco, mas logo aperta a mão dele. — E essa é Magie, uma das
minhas melhores amigas.
— É um prazer conhece-la, senhorita — Serguei fala e ela ri da
maneira formal que ele se dirige a ela.
— Todo certinho ele, pode me chamar de Magie — ela brinca e ele
sorri, mostrando as covinhas fofas na bochecha. — Você veio ficar com ela?
— Sim, eu assumo daqui — ele confirma e ela ergue as sobrancelhas
me fazendo sorrir, porém, assim que faço, sinto minha cabeça latejar e fico
tonta, perdendo a força nas pernas. Quase caio, mas sinto mãos grandes e
fortes me segurando. — Você não está bem, é melhor ir ao médico.
— É só uma gripe, dois dias na cama, alguns antitérmicos e muito chá,
então estarei nova em folha — repreendo.
— Boa sorte com essa daí, ela odeia ir ao hospital. Se precisar de algo
me liga, Kat tem meu número, conheço um médico que atende à domicílio,
mas se a febre piorar muito promete levá-la ao hospital a força? — Magie,
essa traidora, faz Serguei jurar, e fuzilo minha amiga com o olhar, ela sabe o
quanto odeio hospitais, e não é uma gripezinha que vai me fazer entrar em
um.
Ela não entende, porque ninguém sabe o que eu passei.
— Eu prometo, obrigado, senh… Magie.
— Cuide dela — Magie pede e se vira para sair, mas antes ela tira a
arma que sempre carrega na bolsa e mostra para Serguei. — Sou de uma
família cheia de policiais, meu pai, meus tios, até meu avô era da polícia, se
algo acontecer a ela… bem, acho que não preciso dizer o que acontecerá
com você.
— Prometo me comportar — ele responde, mas vejo que segura um
sorriso e preciso parabenizá-lo por aguentar a ameaça de Magie sem nem
pestanejar, eu sei que Serguei provavelmente também está armado, mas a
família dela é cheia de policiais, juízes, Magie tem até um tio parlamentar
que pode acabar com a vida de Serguei se ele quiser.
Depois que ela sai e nos deixa sozinhos, tento ir até a cozinha com a
intenção de preparar um chá, mas Serguei toma a frente e puxa a poltrona
da sala para que eu sente próxima da janela enquanto ele prepara a bebida,
vejo umas sacolas em cima da mesa e algo que parece embalagem de
comida.
— Como você sabia que eu estava doente? — questiono.
— Dimitri — responde, como se isso explicasse tudo e, quando
percebe minha expressão confusa, ele continua. — Digamos que ele tem
ficado de olho em você, quando deu entrada na enfermaria Madame Faina o
avisou, e ele me mandou aqui.
— Ele não pôde vir junto? — pergunto sem conseguir me conter,
mesmo sabendo que soo carente pedindo por ele, mas algo dentro de mim
está magoada por Serguei ter vindo sozinho.
— Acho que está na hora de você saber algumas coisas sobre nós,
especialmente sobre Dimitri, ele me deu permissão para te contar, porém
acho que agora não é o momento para termos essa conversa, quando você
melhorar eu prometo que esclareço todas as suas dúvidas.
— Ele deu permissão? Como assim?
Serguei não responde, a água da chaleira começa a ferver e ele desliga
o fogo, joga em uma xícara com um saquinho de chá de camomila, um dos
meus preferidos.
— Quando você estiver melhor a gente conversa, linda. Agora, você
prefere com ou sem açúcar? — Ele me entrega a xícara e assopro o líquido
quente, envolvendo a porcelana em minhas mãos para esquentá-las.
— Assim está ótimo, obrigada.
Então ele tira o terno e a gravata, dobra e coloca em cima da minha
penteadeira, depois volta com as mangas da camisa levantadas e começa a
lavar a louça que deixei na pia há sabe-se lá quantos dias, fazendo-me
arregalar os olhos com a visão de um dos homens mais gostosos e fortes
que já entraram na minha casa, fazendo serviços domésticos, isso só pode
ser um sonho mesmo.
CAPÍTULO 15

SERGUEI
 
— Ela está melhor, só a febre continua inconstante, se não abaixar a
temperatura em uma hora vou chamar o Dr. Renato — aviso Dimitri, que
está me ligando de hora em hora para checar o estado de Yekaterina.
“Se chegar ao ponto de precisar chamar um médico, traga ela para o
Hospital da Central.”
— Acho melhor não, a amiga dela deixou claro que Kat não gosta de
hospitais e, quando mencionei levá-la para testar sua reação, ela arregalou
os olhos e começou a tremer de medo.
“Então traga ela para a minha casa, a enfermaria está vazia e posso
providenciar que uma equipe do hospital venha até aqui.”
— É uma opção, mas não vou forçá-la, ela não é a melhor paciente do
mundo — confesso e escuto a risada baixa de Dimitri do outro lado da
linha.
“Eu queria estar aí.”
— Eu sei, mas ela ficará bem e, se piorar, prometo levá-la até a mansão
e cuidaremos dela juntos.
“Se precisar do helicóptero, Artyom ficará de sobreaviso.”
— Descobriu algo sobre Magie? Eu precisei me segurar para não tirar
a arma do coldre.
“Sim, ela é de uma família de policiais mesmo e tem licença para
porte de armas, inclusive encontrei fotos de campeonatos de tiro que ela
participou, seu pai é o chefe de polícia de Moscow, mas está de licença
devido a complicações na saúde de sua mulher, um caso de câncer
recorrente.”
— Explica a arma e a forma confiante que a apontou para mim —
comento e levanto do sofá para pegar água na cozinha, no caminho passo
pela porta do quarto e vejo que Kat continua dormindo tranquilamente. —
Vou acordá-la para jantar, te mantenho atualizado.
“Obrigado, dê um beijo nela por mim.”
— Com prazer — respondo e desligamos.
Yekaterina tinha tudo o que precisava para fazer uma sopa de legumes,
que já está pronta, mas pedi para Kamil buscar pão e algumas frutas no
mercado.
Arrumo a mesa da cozinha antes de ir até o quarto para acordá-la, dou
um beijo em sua testa, sentindo a pele quente contra meus lábios, o que não
é um bom sinal, afasto as cobertas e vejo que ela ainda está suando e
tremendo. Droga, a febre deve ter piorado.
— Kat, acorda linda, eu preciso medir sua temperatura. — Repito três
vezes até que ela abre os olhos e, quando encontram os meus, se acalmam.
— Eu… acho… que… piorou — avisa com a voz tremendo, sua mão
segurando a minha, que acaricia seu rosto.
Preparo o termômetro e a ajudo a ficar sentada na cama, então coloco o
aparelho embaixo do seu braço, quando apita e vejo 39,7º já não tenho mais
saída, ela precisa de um médico.
— Linda, a febre subiu e…
— Sem hospital… liga… liga para a… a…
— Fica tranquila, Dimitri tem uma enfermaria que é praticamente um
hospital em casa, vamos para lá, tudo bem?
— Não. Sem… hospital!
— Não é um hospital, eu prometo — garanto ao ver o medo em seus
olhos, seja o que for que Kat tenha passado em um hospital, deixou marcas
profundas.
— Tudo bem. — Ela exala pesado e treme ainda mais, provavelmente
pelo medo. — Eu preciso… de um…banho.
— Não dá tempo, Kat — respondo, mas ela é teimosa e levanta rápido
demais, tentando caminhar até o banheiro, e preciso segurá-la para que não
caia. — Precisamos ver o médico, depois…
— Não, olha meu… cabelo!
— Está preocupada com a sua aparência? — questiono ao perceber o
que está acontecendo. — Yekaterina, agora é hora de se preocupar com a
sua saúde e, se vale de alguma coisa, você continua linda.
Ela para no meio do quarto, segurando-se em meus braços, seus olhos
agora possuem um tom avermelhado por causa da febre, mas continuam me
avaliando intensamente, depois de um tempo ela respira fundo e se joga em
meus braços.
— Touca, casaco, pantufa — pede, apontando para o closet.
— Vou pegar, senta na cama. — Levo-a de volta para a cama e vou até
seu closet, pego o que ela pediu e uma muda de roupa a mais, então a ajudo
a se trocar, já que suas roupas estão úmidas de suor.
No caminho para a mansão mando mensagem avisando Dimitri que
estamos indo e que é para ele preparar a enfermaria, mas peço que os
médicos e enfermeiras não estejam de jaleco e que as roupas de cama sejam
trocadas para algo com cor, assim Yekaterina não vai se sentir em um
hospital.
Ele responde que já tomou as providências e que é para levá-la direto
para seu quarto, assim ela se sentirá melhor em um ambiente que já
conhece.
Quando chegamos, Kat está dormindo em meu colo dentro do carro e
Dimitri, que nos espera na entrada da mansão com o olhar preocupado, me
ajuda a levar nossa mulher para dentro.
O médico já estava esperando com as enfermeiras de plantão e avalia a
temperatura dela novamente, colocando um soro para hidratá-la, enquanto
isso as enfermeiras coletam sangue e Kat responde às perguntas como
consegue.
— Alguma chance de a senhorita estar grávida? — o médico pergunta
e Dimitri congela ao meu lado.
— Eu tenho o… o DIU e nós… nós usamos ca…camisinha — ela
responde com o queixo tremendo.
O médico não olha para Dimitri ou para mim, só continua com as
perguntas padrão. Ele é um soldado da Bratva e sabe como agir, no fim ele
responde que provavelmente é um resfriado forte, mas que só saberá depois
de fazer todos os exames.
Cuidamos de Yekaterina por dois dias, sua febre foi persistente e,
durante alguns momentos ela balbuciou palavras desconexas, chamando por
uma tal de Charlotte, mas assim que foi controlada ela começou a melhorar.
Dimitri se recusou a ir até a Central durante esses dias, ele trabalhou
em casa e só saía do quarto para responder alguma chamada confidencial,
qualquer outro assunto, os que poderiam ser resolvidos pelo computador,
ele fazia aqui mesmo.
Também percebi o quão aliviado ele ficou quando o médico disse que
ela não estava grávida, mas que, segundo o exame de ultrassom, seu DIU
estava deslocado e precisava ser trocado o quanto antes.
Nós ainda não contamos para ela que fazemos parte de uma
organização criminosa e, até esse momento chegar e Yekaterina ter todas as
informações sobre nós, especialmente Dimitri, precisamos tomar cuidado.
Eu não ofereço perigo para ela engravidar já que sou estéril, mas
Dimitri é o Herdeiro e não posso nem imaginar o que passou em sua mente
quando o médico levantou essa possibilidade.
— Pode perguntar. — Dimitri parece ler meus pensamentos enquanto
estamos sentados no sofá assistindo a um filme e Yekaterina dorme
tranquilamente na cama dele.
— O que você faria se ela engravidasse?
— Para falar a verdade eu não faço a menor ideia, e espero que isso
não aconteça enquanto não esclarecermos para ela quem realmente somos.
— Ele respira fundo e passa um braço pelo meu pescoço, atraindo-me para
deitar em seu peito. — O que você faria?
— Eu não posso ter filhos, não é uma preocupação para mim.
— Quis dizer se ela engravidasse de um filho meu — explica com
calma e preciso de um tempo para organizar o cenário em minha mente e,
mesmo assim, não consigo saber qual seria minha reação.
— Eu seria só o seu segurança, como serei quando você se casar e
assumir a Bratva. — Lanço a resposta mais lógica que posso pensar, mesmo
que lá dentro, no fundo do meu peito, meu coração tenha rachado só em
dizê-la.
— Serguei, você nunca será só o meu soldado. — Ele ergue meu
queixo com a outra mão e me faz olhar em seu rosto. — O que nós temos é
novo e eu realmente nunca tive algo assim antes, já me envolvi com
soldados e espiãs, mas sempre foi só sexo, só que com você é diferente.
— E com ela? — questiono olhando diretamente para a cama dele.
— Yekaterina é intensa, magnífica, encantadora e eu confesso que
tenho sentimentos por ela, talvez tão fortes quanto os que tenho por você,
mas eu não sei como será meu futuro e você está certo, terei que casar e ter
filhos, essa é uma certeza. — Dimitri respira fundo e olha para o mesmo
lugar que eu.
— Você está pensando nela, não é?
— Sim, eu a quero e você também, mas ainda precisamos abrir o jogo
e contar quem realmente somos e o que fazemos e, se ela decidir continuar,
então quem sabe nosso futuro seja feliz.
Posso sentir a esperança em sua voz, na forma com que seus olhos
brilham com expectativa e refletem o que também passa pela minha mente:
nós três somos perfeitos juntos.
— Você realmente acha que podemos dar certo? Três pessoas em um
relacionamento? — Deixo que minha insegurança transpareça, já não quero
mais esconder o que se passa em minha mente, não dele.
— Acho que precisamos nos conhecer melhor, nós três, e acabar com
os segredos antes de realmente pensar sobre isso — Dimitri responde
categórico —, mas se ela aceitar, não vejo empecilhos, eu serei o Pakhan,
Serguei, posso fazer a porra que eu quiser assim que estiver no poder.
— Acho que nunca pensei dessa forma, mas você está certo, será o
Pakhan, o homem mais poderoso do mundo — confirmo, sentindo meu
peito apertar com aquela mesma insegurança que me acompanha
diariamente. Dimitri será o Pakhan, mas quem sou eu para estar ao seu
lado?
— E você será meu namorado, meu companheiro, meu segurança —
ele avisa segurando meu queixo novamente, sua boca encontra a minha e
começa um beijo intenso, provocando-me com sua língua deliciosa que
exige passagem, porém eu o paro.
— Namorado? — pergunto assim que a droga do meu cérebro
processa o que ele acabou de falar.
Dimitri disse que eu serei seu namorado?
Ele está brincando?
Foi um pedido?
Que porra está acontecendo aqui?
— Quer ser a porra do meu namorado, Serguei? — ele pede.
Sim, ele está me pedindo em namoro… NAMORO!
— Você… eu… namorados? — Minha boca estúpida se embaralha
com as palavras e ele sorri, daquela forma que faz meu mundo todo brilhar
por ser verdadeiro, consigo ver a felicidade alcançando seus olhos e volto a
beijá-lo antes de responder. — Sim, porra, eu já falei que sou seu.
— Agora eu também serei seu, cuide bem do meu coração porque
estou te entregando uma parte importante dele.
Ele confessa e eu sei que a outra parte está guardada para outra pessoa,
alguém que também começou a conquistar uma porção do meu amor, algo
que somente Dimitri havia conseguido até agora.
CAPÍTULO 16

DIMITRI
 
Yekaterina está sob nossos cuidados há cinco dias e já melhorou
bastante, inclusive parece ansiosa para voltar para casa, mesmo eu tendo
falado com Madame Faina sobre a situação complicada dela, Kat não quer
perder mais tempo de ensaio e ficará aqui mais um dia, por pura insistência
do médico.
Esses dias foram maravilhosos, apesar de ela estar doente, Serguei e eu
aproveitamos o máximo para cuidar dela como se fosse nossa e nos
conhecemos um pouco mais nesse tempo.
Kat quis assistir aos filmes preferidos de cada um, então fizemos uma
maratona de ‘Crepúsculo’, porque ela disse que é seu filme de conforto
quando está de TPM ou doente.
Serguei escolheu todos os filmes da saga de ‘De Volta Para o Futuro’,
o que foi uma pequena surpresa, descobrir que o soldado gosta de algo
assim, mais antigo.
Já eu optei por colocar ‘O Poderoso Chefão’, que eles nunca assistiram
e, depois do primeiro, estavam rendidos a essa obra prima.
Descobrimos muitas coisas sobre ela: como ela ama doces, mas não
pode comer por causa da dieta; ela pensa em ter um animal de estimação e
disse que prefere um gatinho e, o principal, Yekaterina sonha em ser mãe.
Isso ela confessou quando perguntei se havia ficado com medo quando
o médico levantou a possibilidade, e ela respondeu que não, que mesmo
achando não ser a hora, ela ficaria feliz com a notícia.
Ela é tudo o que eu deveria procurar em uma mulher e, mesmo assim,
tenho medo por isso, parece perfeito demais para ser verdade.
Nós nos aproximamos durante esses dias, mais do que poderia
imaginar quando sugeri que Serguei a trouxesse para cá, Yekaterina é
encantadora e a forma como ele cuidou dela, com tanto carinho e amor, fez
meu mundo ganhar mais cor.
A maneira que o olhar de Serguei brilha ao encontrar o dela não me
deixa com ciúmes, tenho certeza que o mesmo brilho reflete em meu olhar
quando vejo os dois, mas a única coisa que sinto é liberdade.
É como se juntos estivéssemos em um mundo só nosso, onde Kat pode
contar suas piadas e Serguei vai rir de todas, mesmo as mais absurdas, onde
eles podem dormir comigo e eu consigo fechar os olhos e realmente
aproveitar a escuridão.
Porque sim, eu consegui dormir com eles na minha cama, por algumas
horas peguei no sono com Yekaterina enroscada em meu peito e Serguei
atrás dela, suas mãos descansando em meu abdômen, tocando minha pele,
confortando-me com sua presença, assim como o cheiro do meu shampoo
no cabelo de Kat, me garantindo que ela estava ali.
Quando acordei nem acreditei que já era de manhã e que eles
continuavam na mesma posição, então, por alguns segundos, me permiti
relaxar mais um pouco e rezei, talvez pela primeira vez na vida, para
alguma entidade que aceite pedidos de pessoas como eu, pedi só uma coisa:
seja lá o que isso for, que jamais termine.
— Vou ficar tão mal acostumada com vocês — ela comenta quando
Serguei traz a bandeja de café da manhã que ele preparou para nós, sem ela
saber que essa é uma desculpa para começarmos uma conversa que já não
temos como adiar. — Esse café é uma delícia.
— Que bom que você gostou — Serguei responde o elogio e dá um
beijo no rosto dela, antes de servir uma xícara para ela, outra para mim e, só
então, prepara uma para ele, na qual coloca leite e açúcar, Kat e eu tomamos
puro.
— Nós precisamos conversar com você, Kat — aviso e ela ergue uma
sobrancelha, a expressão curiosa me falando para prosseguir. — Chegou a
hora de você saber quem realmente somos e com o que trabalhamos.
— Nós gostamos de você, linda, e queremos tê-la em nossas vidas,
mas, para que isso aconteça, não podemos esconder a verdade e você
precisa ter todos os fatos antes de decidir se quer continuar a se envolver
conosco — Serguei discorre.
— Eu estou começando a ficar com medo, tenho motivos para isso? —
pergunta e preciso respirar fundo antes de responder.
— Independente de quem somos ou o que fazemos, preciso deixar
claro que nós jamais lhe faríamos mal, Yekaterina, e falo por nós dois. —
Começo a falar, controlando a entonação da minha voz e pego uma das
mãos frias dela, esquentando-a no meio das minhas. — Eu daria minha vida
para protege-la, preciso que entenda isso.
— Agora você está sendo um pouco dramático, vamos lá, vocês são de
algum programa secreto do governo, não são? — Ela teoriza. — Matielo
disse que essa área da cidade é restrita e que tem rumores de haver uma
base do exército por perto, é verdade, não é?
— Em partes, nós somos sim de algo que pode ser considerado um
exército, mas não somos uma organização controlada por nenhum governo,
pelo contrário, nossos negócios estão acima disso — explico, tentando dar o
mínimo de informações possíveis, mas ela continua com uma expressão
confusa no rosto. — Fazemos parte de uma organização que está acima da
lei, Yekaterina, nós controlamos guerras, países, governos, temos as
maiores economias do mundo em nossas mãos.
— Eu não estou entendendo nada, isso não existe.
— Estamos ativos desde a Revolução Russa de 1917, quando a União
Soviética foi criada nossa organização surgiu, nas sombras do governo, e se
espalhou pelo mundo todo, ganhando espaço e conquistando território por
onde nos instalávamos, até chegar ao controle mundial — discorro sobre a
história da Bratva, que é conhecida somente pelos soldados criados na
Central, mas que tem várias versões espalhadas por aí.
— Dimitri, pare de brincadeira, não precisa inventar algo assim, eu
assino o que quer que você peça para assinar, contrato de confidencialidade
e essas coisas, não precisa inventar uma organização secreta para camuflar
uma base do exército — ela adverte, ainda sem acreditar.
— Linda, ele não está mentindo, nós somos da Bratva, eu sou um
soldado e estou em treinamento no grupo de elite para proteger o Herdeiro.
— Serguei entra na conversa. — Dimitri é o filho do nosso líder, o Pakhan,
e único herdeiro da Bratva, quando seu pai se aposentar ele assumirá seu
lugar por direito.
— Bratva? Do que vocês estão falando?
— Yekaterina, nós não estamos brincando, a Bratva é uma organização
poderosa e fora da lei, lidamos com assuntos secretos e temos sangue em
nossas mãos, sangue de criminosos, mas também de pessoas inocentes. —
Isso chama sua atenção e ela tira a mão da minha, afastando seu corpo
inconscientemente de mim. — Você não tem motivos para temer, mas o
restante do mundo sim.
— Vocês… vocês são bandidos? — Agora ela levanta da cama, se
desvencilhando da bandeja de café da manhã que quase cai sobre os
cobertores. — O que… eu não acredito nisso, para de brincadeira, Dimitri!
Seus olhos azuis me encaram e a dor faz meu peito apertar, jamais quis
machucá-la, mas ela precisa saber da verdade, só assim terá como fazer
uma escolha consciente.
— Não somos bandidos, fazemos parte de uma organização que está
acima da lei — Serguei fala e caminho até ficar ao lado dele, mas a cada
passo meu, Yekaterina dá outro para trás, até suas costas estarem apoiadas
na porta do banheiro, ela está com mais medo de mim do que dele.
— O mundo precisa de controle ou as guerras jamais acabariam, nós
sabemos o que acontece quando uma nação se acha superior à outra, quando
episódios como a bomba de Hiroshima acontecem. O mundo é frágil e os
seres humanos são estúpidos demais para terem o conhecimento que
possuem hoje, uma simples bomba nuclear pode destruir o planeta —
explico.
— E você é a melhor pessoa para controlar o mundo? É isso que está
tentando me falar? — ela ataca.
— Não, eu não sou a melhor pessoa, mas nasci para ser, fui treinado e
educado com o único objetivo de me tornar o próximo líder da Bratva —
explico mantendo minha voz calma. — Eu não tenho escolha, Yekaterina,
Serguei não tem escolha, mas você sim, e é por isso que lhe daremos um
tempo para pensar.
— Pensar no que, Dimitri?
— Se você vê um futuro conosco, linda, porque, falando por mim, eu
quero você na minha vida, assim como quero Dimitri nela — Serguei
responde.
— Vocês estão propondo o quê? Um relacionamento a três?
— Sim. — Agora sou eu quem confirma, com confiança e sem precisar
pensar no assunto por mais um segundo.
— Estão loucos, só pode. — Ela joga as mãos para cima e começa a
andar de um lado para o outro. — Eu não consigo manter uma pessoa ao
meu lado, vocês realmente acham que duas será mais fácil?
— É com isso que está preocupada? — Serguei questiona, tão confuso
com as palavras dela quanto eu. — Em não ser uma boa namorada?
— Eu estou surtando, ok? — Ela nos encara com os olhos arregalados
dançando entre ele e eu. — Primeiro vocês vem com essa história de
organização secreta e não sei mais o que, aí depois me lança essa bomba,
que mais pareceu um pedido de namoro do que qualquer outra coisa… eu já
não sei de mais nada. — Yekaterina abre a porta do banheiro, mas antes de
entrar ela fala — Preciso de um banho e de tempo para pensar.
— Tudo bem, linda, a banheira está preparada para você — Serguei
avisa com carinho e ela entra, fechando a porta atrás de si, nos deixando de
pé, admirados e confusos. — O que acabou de acontecer?
— Ela precisa de tempo para absorver tudo, vamos dar isso a ela e
deixá-la sozinha. — Saio do quarto e sigo para a sala, pegando meu paletó
no caminho, e Serguei me segue. — Eu preciso falar com meu pai, ele já me
mandou duas mensagens hoje e não posso mais inventar desculpas.
— Tudo bem, eu fico aqui com ela se não for problema para você.
— Claro que não. — Vou até ele e coloco uma mão em sua cintura,
atraindo seu corpo para perto do meu, até que nossas testas se encostem. —
Cuida da nossa mulher até que eu volte.
— Sabe, eu amo quando você a chama de ‘nossa mulher’ — Serguei
confessa com um sorriso tímido no rosto. — Espero que ela aceite ser
nossa.
— Ela vai aceitar, e você será nosso homem quando Yekaterina tomar
a decisão dela, tudo ficará bem, só precisamos ter paciência e mostrar a ela
quem somos — falo com mais confiança do que realmente tenho.
— Acha mesmo?
— Preciso ter esperanças. — Planto um beijo carinhoso em sua boca.
— Qualquer coisa me liga.
— Sim, senhor.
— Porra, você sabe o que isso faz comigo, soldado.
— Eu sei — o desgraçado confessa, me arrancando um sorriso
enquanto sou forçado a me afastar dele e sair.
Erikson já me aguarda na porta e seguimos de helicóptero até a
Central, onde sou escoltado diretamente até a sala do Pakhan, que fica no
final de um corredor largo e cheio de obras de arte famosas, as quais eu
posso recitar o nome e valor de cada.
— Finalmente! — Papa vira sua cadeira em minha direção e faço sinal
para Erikson sair e fechar a porta, só quando estamos sozinhos que a
expressão do Pakhan é substituída por uma mais tranquila e carinhosa,
aquela que meu pai só direciona a mim. — Como está a sua convidada?
— Yekaterina está melhor, obrigado — respondo sentando na cadeira
em frente a mesa de madeira escura. — Foi só um resfriado.
— O médico tem certeza que ela não está grávida?
— Sim, pai, eu sou cuidadoso — falo sem dar mais detalhes.
— Bom, isso é bom. Não seria nada interessante termos que organizar
um casamento de urgência porque a noiva engravidou antes — ele fala
como brincadeira, rindo da própria piada, a qual tento acompanhar, mas
meu humor não está dos melhores para agradar meu pai hoje. — Ela é uma
boa mulher, meu filho, será uma esposa perfeita para alguém como você.
— Ainda não chegamos lá, papa.
— Mas você contou para ela quem somos? — A pergunta é feita com
tranquilidade, mas eu sei que ele estava se segurando para ter essa conversa
há dias, por isso não me surpreendo.
— Sim, Serguei e eu contamos para ela hoje, antes do senhor me
chamar aqui.
— E como ela recebeu?
— Melhor do que o esperado, mas ela ainda precisa de um tempo para
processar, Yekaterina não cresceu em nosso mundo, ela é só uma bailarina
que vive alheia ao mundo real — explico e é como se cada palavra dita ao
meu pai tivesse um efeito diferente e, ao ouvir minha própria voz, caio na
real sobre o que acabei de fazer com Yekaterina.
— Ela vai aceitar, que mulher recusaria alguém como você?
— Eu não a pedi em casamento, se é isso que o senhor está pensando,
Serguei e eu abrimos o jogo e basicamente pedimos uma chance para provar
que podemos fazê-la feliz — confesso sentindo um peso sair das minhas
costas. — Não faço ideia de qual será a resposta dela.
— Interessante.
— O quê?
— Você nunca se abriu tanto assim com teu velho. — Papa aponta,
pegando-me de surpresa. — Talvez seja porque ela é diferente, assim como
o soldado. Você deveria passar um tempo a sós com ela, pelo que sei, até
agora vocês só se encontraram juntos, certo?
— Sim, por motivos óbvios, eu não posso sair da mansão e Serguei é
meu segurança, não vou pedir para ele me deixar sozinho com ela, ele vai
se sentir excluído e não quero isso.
— Então por que não vai para a casa de campo? Fique um tempo
somente com ela e a deixe saber quem você é, meu filho. Mulheres gostam
dessas coisas, leve uma joia de presente e um chocolate.
Mikhail Petrov é tudo, menos bobo, especialmente quando se trata de
mulheres.
Meu pai já teve mais amantes do que poderia contar, fora as mulheres
que passam só uma noite em sua cama durante suas viagens, porque sim, o
Pakhan pode viajar e conhecer o mundo e esse é meu ponto de esperança,
quando eu assumir o seu lugar poderei sair da prisão que é a minha maldita
vida.
— Não sei, não quero deixar Serguei de fora, não me sinto bem com
isso — advirto pensativo.
— Deixe que ele tenha um dia de folga com ela também, ou você tem
ciúmes deles?
— É claro que não — respondo rapidamente, Serguei é o único que
não me provoca ciúmes ao tocar nela, assim como Yekaterina é a única que
pode estar ao lado dele sem que eu queira cortar o pescoço fora.
— Então é isso, cada um de vocês terá um tempo a sós com ela. —
Meu pai finaliza com um sorriso no rosto, eu não sei porque ele está tão
feliz assim e não me importo, mas por algum motivo suas palavras
realmente fazem sentido.
— Por que o senhor está insistindo tanto nisso?
— Eu só quero que você seja feliz, meu filho — responde com a voz
carinhosa, não sei como ele consegue ser assim comigo, mas rejeitar meu
irmão e acabar com todos os relacionamentos dele. — Agora vamos voltar
ao trabalho, você analisou os dados das últimas mercadorias?
— Sim, 40% de perdas no transporte foi demais, precisamos que os
italianos acabem com essa guerra logo para podermos atravessar os
doadores de órgãos pela Sicília.
— Já estou providenciando isso, não se preocupe, só planeje a melhor
rota possível e eu farei acontecer.
Com isso voltamos ao trabalho, mas lá no fundo a sugestão do meu pai
continua martelando minha mente, fazendo mais sentido cada vez que
penso nisso.
 
CAPÍTULO 17

YEKATERINA
 
Eu preciso da droga do meu celular, como vou saber se eles estão
falando a verdade se não tenho como pesquisar sobre o assunto?
Se bem que, levando em conta tudo o que Dimitri falou, faz sentido
não poder usar celular aqui.
Também a forma que fui revistada na primeira vez que entrei na
mansão com Yelena, só faltou olharem dentro da minha boceta e, pelo olhar
da mulher que passou a mão em mim, ela estava querendo.
Droga, eu preciso de informações!
— Serguei, eu quero o meu celular. — Não abro a porta do banheiro
para falar, eu sei que ele está do outro lado e pode me ouvir.
— Desculpa, linda, celulares são proibidos aqui dentro — ele responde
e o apelido carinhoso que tem usado para mim nos últimos dias me faz
amolecer um pouco, mas só um pouco mesmo.
— Eu quero pesquisar, me traz um computador ou um tablet, sei lá,
Dimitri deve ter algum.
— Você pode me perguntar, te garanto que não vai encontrar
informações confiáveis na internet, nossa organização faz um trabalho
intenso para que ninguém descubra quem realmente somos.
— E como vou saber que você não está mentindo? — Afinal, quero
pesquisar para ter certeza se o que eles me contaram é verdade ou não,
perguntar para ele só trará mais dúvidas.
— Pode confiar em mim, eu não tenho motivos para mentir, nós
decidimos que te contar a verdade seria o melhor caminho e é isso que
estamos fazendo.
— Então entra aqui! — Convido, porque preciso olhar no fundo dos
olhos dele para garantir que não esteja brincando comigo, Serguei é muito
mais transparente do que Dimitri, talvez pela idade ele não controle bem
suas reações.
Depois do que parece tempo demais, Serguei abre a porta e entra no
banheiro, ao me ver afundada na espuma da banheira ele relaxa
visivelmente, mas só por um momento, porque assim que seu olhar recai
sobre meu corpo, levanto o busto e deixo meus peitos a mostra, afinal vou
usar de todas as minhas armas para saber a verdade.
— Droga, não posso ficar atrás da porta?
— Não, eu quero olhar para você — aviso e ele senta na beirada da
banheira, de frente para mim, mantendo seu olhar em meu rosto. — O que
vocês realmente fazem?
— De uma forma simplificada, a Bratva tem controle sobre tudo o que
acontece no mundo.
— Vocês controlam criminosos?
— Também, mas não da forma que está pensando, nossa organização
não lida somente com criminosos, ou melhor dizendo, pessoas fora da lei, já
que nem sempre a lei é algo bom.
Então ele me conta que a Bratva é subdividida em braços, que estão
localizados em diversos pontos estratégicos do mundo, e que cada um
desses pontos tem uma hierarquia, controlando um território específico, mas
todos respondem à Central e ao Pakhan.
Claro que percebo que Serguei não está entrando em detalhes,
provavelmente porque não pode, e ele deixa bem claro que tudo o que está
falando é altamente sigiloso, mas que muitas dessas informações já foram
vazadas, porém são tantas variações que as pessoas não sabem em que
acreditar.
— Eu só posso te contar isso, linda, sou apenas um soldado e, no
momento, estou em treinamento no grupo de elite.
— Que grupo é esse? — questiono curiosa.
— São os soldados e espiãs que fazem a segurança da família do
Pakhan, eu estou treinando para ficar no time responsável pelo Herdeiro —
explica e seus olhos ganham um brilho lindo quando se refere a Dimitri.
— Você o ama muito — enuncio e meu peito se aquece um pouco mais
a cada sorriso que ele não contém.
— Eu… nós ainda não… eu não sei. — Ele se perde nas palavras, mas
o amor está tão óbvio que preciso fazer alguma coisa, por isso me levanto,
pegando-o desprevenido, e me ajoelho ao seu lado, nua e com um pouco de
espuma cobrindo meu corpo, seguro sua mão e olho no fundo dos seus
olhos.
— Sim, Serguei, isso que você está sentindo é amor. Eu posso ver no
brilho do seu olhar, na forma como sorri só de falar o nome dele e, é claro
— Ergo uma mão e coloco em seu peito, sentindo seu coração bater
acelerado —, seu coração não mente, querido.
Nós nos encaramos por um tempo até ele se abaixar, segurando meu
queixo carinhosamente com uma mão, então Serguei roça os lábios nos
meus em um beijo delicado e, mesmo que eu esteja nua em sua frente, seus
lábios não se apressam e eu o acompanho.
— Obrigado, Linda — murmura.
Não respondo, deixo que o beijo acabe e volto a me deitar na banheira,
mas agora meus pensamentos estão confusos, porque eu sei que eles se
amam, é palpável para qualquer um que esteja no mesmo local que eles, e
também tenho certeza que eles sentem algo por mim, mas é difícil controlar
minha mente que insiste em ficar insegura.
— Não posso falar por Dimitri, mas saiba que meus sentimentos por
você são tão intensos quanto por ele. — Serguei se aproxima ao perceber
minha hesitação e pega minha mão molhada, colocando-a de volta em seu
coração. — Ele acelera por vocês dois, com a mesma intensidade.
Sinto as batidas de seu coração contra a minha mão e confirmo suas
palavras, o que me deixa ainda mais confusa.
— Você não me conhece o suficiente para isso, eu entendo os
sentimentos por Dimitri, já que, pelo o que vocês me falaram, passam
grande parte do dia juntos e, tenho certeza que a noite também, mas eu só
estive aqui algumas vezes, não é a mesma coisa.
— Então, linda, não passamos todo o tempo juntos, como estou em
treinamento ainda não sou qualificado para ser o segurança dele, então faço
outros serviços e, só de vez em quando, sou convocado para a equipe
principal — ele explica de forma séria. — Sobre as noites, não é tão
frequente quanto você está pensando, mas se isso está em sua mente deixa a
gente te conhecer, nos dê uma chance. — Ele praticamente implora,
beijando meus dedos sem desviar o olhar do meu. — Eu quero saber tudo
sobre você, cada detalhe do seu dia, o que te faz sorrir e o que te leva às
lágrimas, quero conhecer quem você realmente é quando está relaxada ou
estressada.
— E você acha que eu posso relaxar com dois criminosos em minha
cama? — Provoco para que saiba que não esqueci dessa parte. — Eu quero
um tempo para pensar, Serguei, preciso absorver tudo o que vocês me
contaram antes de tomar qualquer decisão.
— Tudo bem, tome o tempo que precisar, só não nos afaste por
completo, por favor.
Depois disso ele planta um beijo carinhoso em meus lábios, do qual
não me esquivo, e sai do banheiro, deixando-me sozinha com meus
pensamentos confusos.
Eu não sei se acredito neles, mas sei que meu coração quer confiar em
cada palavra.
***
Dimitri voltou para casa à noite e eu já estava pronta para ir embora,
mas antes ele fez o mesmo pedido que Serguei, convencendo-me a dar uma
chance para eles e ter um encontro separado com cada um, segundo ele
precisamos de um tempo sozinhos, assim como ele tem com Serguei.
Combinamos que primeiro Serguei me levará para jantar e teremos um
final de semana para aproveitar juntos. No outro final de semana é a vez de
Dimitri, que se recusou a contar seus planos, só disse para levar roupas de
inverno e o livro que estou lendo.
Como ele sabe que estou lendo algum livro? Isso eu não faço a menor
ideia, mas aceito a proposta, um pouco por curiosidade, o restante por
realmente querer passar um tempo com eles.
Volto aos ensaios completamente recuperada da gripe e vejo Madame
Faina, em seu terninho cinza me esperando, ela que sempre é rígida e não
suporta suas dançarinas ficando doente, vem falar comigo antes de entrar na
sala de dança.
Droga, lá vem sermão.
— Está melhor, Yekaterina? — questiona com calma.
— Sim, Madame Faina, estou completamente recuperada, foi só uma
gripe e peço desculpas por faltar nos ensaios e…
— Não precisa se desculpar, o que importa é que está melhor —
expressa e até sorri, eu nunca vi essa mulher sorrindo, mas aqui está
Madame Faina mostrando seus dentes amarelados de tanto cigarro que
fuma. — Vamos, Nathan precisa de uma parceira boa, Thais tem feito da
vida do garoto um inferno.
Não é possível, Madame Faina está falando comigo como se fossemos
íntimas, que droga é essa? E ela realmente pronunciou a palavra “inferno”
ou foi um delírio meu?
Ela me acompanha até a sala de ensaios aonde os outros bailarinos já
estão se alongando, vejo Leônidas e Thais nos fundos da sala, ambos com
roupa azul-escura, eles tem essa mania de combinar as cores, como se assim
conseguissem provar que são um par perfeito.
Obviamente não funciona, já que Nathan e eu fomos escolhidos quase
por unanimidade como bailarinos principais.
Falando nele, meu companheiro de dança              está com uma meia
calça cinza e um collant preto, assim como os outros bailarinos que não
gostam de chamar atenção durante os ensaios.
— Kat, que bom que você está de volta! — Nathan é o primeiro a,
praticamente, correr até a porta para me receber, seguido de perto por Clayr
e Magie, então ele me abraça forte, E só consigo imaginar o que o pobre
coitado deve ter sofrido com a minha querida substituta.
— Relaxa, eu voltei — respondo com carinho e ele realmente relaxa
em meus braços.
— Está melhor, amiga? — Clayr pergunta.
— Sim, obrigada por tudo — agradeço e ela sorri.
— Que bom que está melhor — Magie fala com a voz baixa. —
Depois vai precisar contar tudo o que aconteceu, você não respondeu nossas
mensagens, eu já estava pensando em mandar meu pai atrás da minha
amiga.
— Desculpa, eu tive que ir até a casa de Dimitri, mas eu liguei
avisando que estava bem e Serguei me garantiu que tinha falado com você.
— Sim, ele falou, mas eu não confio em homem, muito menos em um
que te sequestra — Magie fala a última palavra em um sussurro e eu rio,
porque é verdade, de certa forma.
Então Madame Faina volta a seu estado habitual de professora séria,
com a expressão fechada de quem não sabe sorrir, e os ensaios começam,
mas não consigo tirar os últimos dias da mente, especialmente porque nesse
final de semana terei meu primeiro encontro com Serguei.
***
A semana passou rápido demais e a ansiedade só piorou conforme o
final de semana foi se aproximando, até hoje, um sábado de chuva, daqueles
especiais para curtir a noite assistindo um filme na cama, de pijama,
levantando só para fazer mais pipoca.
Só que esses não são os planos, e esse fato é o que me deixa ainda
mais aflita, hoje é meu encontro com Serguei e, apesar de ele ter dito que
ficaríamos na cidade, não me deu mais detalhes, o que dificulta para
escolher qualquer roupa.
Trocamos mensagens todos os dias no grupo que Dimitri criou, eles
estão realmente se esforçando para me conhecer melhor, tenho que admitir.
Decido usar meu vestido preto, o mesmo que usei quando nos
conhecemos, é o único que tenho que se encaixa em diversas situações de
encontro: se formos em um restaurante chique o vestido é apropriado, mas
se for um lugar mais simples ou até mesmo reservado, bem, é um vestido
preto que me deixa gostosa para caralho, é isso que importa.
Tomo um banho completo e seco meu cabelo, não adianta de nada
alisar, já que está chovendo e o clima úmido vai deixá-lo bagunçado,
portanto passo um creme e deixo que as ondas se transformem em cachos
nas pontas.
Capricho na maquiagem, dando atenção especial aos olhos, com um
delineado marcante e bem escuro, aplico sombra marrom no côncavo e
esfumo bem, colo os cílios postiços que dão um toque a mais ao olhar e, por
último, escolho um batom vermelho cereja para adicionar cor ao visual.
Quando estou terminando de passar perfume escuto o interfone tocar,
olho para o relógio e vejo que são exatamente sete horas da noite.
Meu coração dispara no peito enquanto caminho do banheiro até a
porta de entrada, não sei porque estou tão nervosa assim, não é como se
fosse um primeiro encontro com alguém desconhecido, esse é Serguei, nós
já transamos, trocamos carícias, ele cuidou de mim, riu das minhas piadas e
me tranquilizou quando precisei.
Eu o conheço, não tem motivos para ficar tão ansiosa e aflita assim,
será uma noite linda e só com ele.
Só Serguei e eu.
Abro a porta e tenho certeza que meu coração para de bater por um
milésimo de segundo, antes de acelerar feito doido no peito, com a visão de
Serguei em um terno de luxo preto, como os que Dimitri usa, o colete e a
gravata na mesma cor, mas com detalhes em vermelho e dourado,
combinando com a camisa vermelha que usa por baixo.
Ele está maravilhoso, meu olhar percorre seu corpo e vejo o buque de
rosas vermelhas em suas mãos, então encontro seu rosto e, assim que nos
encaramos, preciso respirar fundo para absorver a forma com que ele me
admira, com um sorriso lindo e os grandes orbes castanho-escuros
brilhantes.
Serguei se aproxima, coloca uma mão em minha cintura e planta um
beijo carinhoso em meu rosto.
— Você está maravilhosa, Kat. — Sua voz sai grossa e ele limpa a
garganta depois de falar, claramente tão transtornado quanto eu, então me
entrega as flores.
— Obrigada! — Pego o buque e saio do transe que me encontro para
dar espaço a ele, que entra no apartamento enquanto eu pego um vaso de
vidro para colocar as flores. — Você está… eu não tenho nem palavras,
Serguei.
— Obrigado, aparentemente o alfaiate dos Petrov é muito habilidoso.
— Ele brinca e sorrimos enquanto a lembrança de Dimitri passa por nossos
pensamentos, tenho certeza que Serguei também está pensando nele e, com
isso, uma sensação de alívio se espalha pelo meu corpo.
Nunca será somente Serguei e eu, porque lá no fundo da nossa mente,
Dimitri sempre estará presente e essa constatação é reconfortante.
CAPÍTULO 18

SERGUEI
 
Yekaterina me olhou de forma diferente, não foi como na noite em que
nos conhecemos, apesar de o vestido ser o mesmo e ela continuar tão linda
e deslumbrante, a forma que nos conectamos agora já não é mais a mesma.
Seus olhos azuis passaram por todo o meu corpo, avaliando e me
fazendo sentir como alguém famoso, meu coração quase saiu pela garganta
quando ela lambeu os lábios e engoliu em seco.
Valeu a pena aceitar a oferta de Dimitri e ter seu alfaiate costurando
um terno especialmente para mim.
Eu preparei algo diferente para esse encontro. Como ela tem ensaio
aos sábados, teremos só hoje à noite, mas amanhã é domingo e passaremos
o dia todo juntos.
— Então, qual é a programação de hoje? — ela questiona depois de
colocar o buque de rosas em um vaso de vidro.
— Você vai saber quando chegarmos lá — respondo e Kat me lança
um olhar contrariado, mas acena com a cabeça e vai até seu quarto.
— Preciso de mais casacos ou um sobretudo está bom?
— Está bom — falo e, quando ela volta, a envolvo em meus braços e
tomo sua boca, beijando-a como quis fazer no segundo que abriu a porta. —
Espero que goste da minha surpresa, linda.
— Tenho certeza que sim — ela murmura contra meus lábios e volta a
me beijar, sua mão viaja até a minha nuca e Kat me segura, tomando o
controle, mordendo meu lábio inferior antes de chupá-lo.
— Porra, é melhor parar, eu já estou ficando duro só com essa
provocação.
— Que bom — ela comenta, colando nossos lábios em um beijo casto
e rápido, depois pega minha mão e saímos juntos do seu apartamento.
Victória nos espera na limusine cinza, o carro é do arsenal pessoal dos
Petrov e foi outro detalhe que Dimitri organizou, juntamente com Weston, o
motorista.
— Boa noite, senhorita Belova! — Victoria cumprimenta e abre a
porta para Kat.
— Boa noite. Pode me chamar de Yekaterina ou de Kat, senhorita
Belova é estranho.
— Como preferir, Yekaterina — Victoria responde e entramos no
carro.
Victoria nos acompanhar foi um pedido de Dimitri, segundo ele, é bom
ter uma espiã com experiência para acompanhar Kat em todos os lugares.
Já que estaremos com o carro dos Petrov, podemos nos tornar um alvo
para os inimigos da família e, se é pela segurança de Yekaterina, não me
oponho a nada.
Chegamos ao teatro ZIL Culture Center, onde a principal atração será
uma comediante americana, mas assim que o carro para em frente ao local,
vejo as sobrancelhas de Yekaterina erguidas.
— Você me trouxe para um teatro?
— Sim, achei que fosse gostar.
— Bem, eu vivo dentro de locais assim, inclusive nos apresentamos
pelo menos cinco vezes ao ano nesse aqui — ela explica e só então percebo
o que ela deve estar pensando.
— Você vai gostar, eu acho — comento sem dar mais detalhes,
deixando-a curiosa.
Kat não responde, mas sorri educadamente para não me deixar
chateado, porém eu acho que ela vai gostar da surpresa.
Quando estava doente, ela pediu para assistir Crepúsculo, mas quando
não estávamos juntos ela viu vários episódios da série dessa artista.
Entramos com Victória nos acompanhando de perto até a nossa mesa,
que fica bem perto do palco, puxo a cadeira para Kat e sento ao seu lado,
logo depois a espiã se afasta e volta com duas taças de vinho, entregando
uma para cada um de nós.
— Você conseguiu me pegar de surpresa, não sei de nenhuma
apresentação acontecendo no momento, então não deve ser ballet ou uma
peça de teatro famosa, estou certa?
— Sim, você não saberia porque é uma apresentação exclusiva. Pode
olhar ao redor, o teatro foi organizado como um pequeno restaurante, logo
teremos uma apresentação especial e depois um jantar — aviso e ela corre o
olhar pelo local, vendo as outras pessoas que estão longe o suficiente para
dar um pouco de privacidade a cada mesa.
— Estou ansiosa, me conta logo quem… — Antes que ela termine a
frase as luzes vão abaixando de intensidade e as pessoas começam a bater
palmas, recebendo a comediante Amy Beth Schumer, que fará seu show. —
Eu não acredito, Serguei, é a Amy!
— Sim, linda — respondo e não contenho o sorriso ao vê-la tão feliz.
Agora tenho certeza que ela amou a surpresa, já que assistiu vários
episódios da série Inside Amy Schumer.
Então Amy cumprimenta o público e todos se levantam para recebe-la
com aplausos, Kat é a primeira e está mais do que animada encarando a
mulher, que começa uma série de histórias muito engraçadas sobre sua vida.
Eu nunca havia assistido um show de Stand-up Comedy, mas já estou
encantado, é diferente de só ouvir algumas piadas, a pessoa cria realmente
uma história com fatos engraçados que leva a plateia a loucura.
Me embebedo com o sorriso fácil de Yekaterina, com a forma que ela
se anima a cada piada e comenta sobre o texto da comediante, estamos
sentados lado a lado e ela fala bastante.
Outro fato que fez meu peito explodir de emoção foi perceber que ela
estava me tocando o tempo todo, nada sexual, mas, assim que terminava de
bater palmas, sua mão procurava a minha ou ela colocava a mão em minha
perna, passamos o show todo nessa troca.
Depois o jantar foi servido e, por fim, levei Yekaterina até os
bastidores para conhecer a artista, ela só faltou pular de alegria quando
Amy tirou uma foto com ela e eu não parei de sorrir, a alegria dela é
contagiante.
Chegamos em seu apartamento era quase meia noite e ela não parou de
comentar sobre o show enquanto subíamos de elevador até seu andar, aonde
Victoria ficará de guarda até amanhã.
— Gostou da noite, linda? — questiono e a seguro em meus braços,
beijando delicadamente a lateral do seu rosto.
— Eu amei, confesso que jamais esperava algo assim de você, mas foi
incrível, Serguei, muito obrigada.
— A ideia foi minha, mas devo os créditos da execução a Dimitri,
então, de certa forma ele esteve conosco. Também pedi para Victoria gravar
o show, assim ele não fica fora das piadas, que tenho certeza, você fará por
muito tempo.
Kat me encara com os olhos brilhantes e me beija, seus lábios macios
se moldam aos meus com perfeição de uma forma deliciosamente intensa e
com gosto de chocolate, já que foi a sobremesa que ela escolheu.
— Obrigada — ela murmura contra meus lábios antes de morder
levemente o inferior, arrancando de mim um gemido baixo e fazendo meu
pau latejar na cueca.
— Faço o que for para te ver feliz, linda.
— Então vem me fazer gozar, Serguei — ela pede assim que a porta do
apartamento fecha atrás de nós dois.
O tesão é tão grande que caminhamos tirando a roupa entre beijos e
carícias, chegamos pelados em seu quarto e a jogo na cama antes de pegar
um preservativo e desenrolar em meu pau, eu sei que não posso ter filhos,
mas ainda não conversamos sobre isso e sei que ela fica mais relaxada
assim.
Kat enrosca suas pernas na minha cintura no mesmo momento que
meu pau entra na sua boceta, que já está encharcada, e ela me puxa até eu
estar completamente dentro dela.
— Me fode, Serguei.
— Não — repreendo e ela para por um momento, encarando-me com
dúvida —, eu vou fazer amor com você, linda.
Nem eu acredito no que falei, mas porra, é a mais pura verdade.
Quando volto a beijá-la é com um sentimento diferente, o qual não espero
que ela corresponda, mas que preciso entregar a ela.
Eu estou apaixonado por Yekaterina!
Traço um caminho de beijos pelo seu corpo, adorando cada parte da
sua pele branca, enquanto meu pau entra e sai da sua boceta quente e
apertada, torturando-me com cada investida, ela segura minhas costas e
recebe tudo o que tenho para dar.
***
Acordo antes dela e preparo um café da manhã especial para levar até
sua cama, quando volto assisto Kat despertar, o rosto amassado de sono e
coçando os olhos inchados, mas o sorriso em seus lábios faz meu peito
vibrar de emoção.
— Bom dia, linda! — Me abaixo para beijar sua boca e ela sorri.
— Me deixa escovar os dentes e dar um jeito na minha cara, devo estar
um monstro.
— Você está ainda mais linda do que ontem, amo ver sua carinha
assim que acorda.
Ela se espreguiça e coloco a bandeja de café em cima da mesinha ao
lado da sua cama, então Kat levanta rapidamente, tentando passar por mim,
mas a seguro por trás e beijo seu pescoço, jogando-me na cama com ela
para fazer cócegas, da forma que sei que a deixa louca, e sou agraciado com
gargalhadas deliciosas da minha mulher.
— Para, Serguei, por favor, eu vou fazer xixi em você — Kat grita
desesperada e eu a solto, mas não sem antes dar um beijo em sua boca. —
Eu realmente preciso ir ao banheiro.
— Vai lá, depois volta aqui para tomar café comigo — falo e ela sorri
ao ver a bandeja recheada de coisas.
No alojamento da Central nós temos um refeitório, mas é claro que
aprendemos a cozinhar e fazer serviços domésticos, afinal, quando saímos
em missão precisamos saber nos virar.
Na mansão Petrov somos livres para escolher se queremos preparar
nosso alimento no quarto ou comer com o restante dos seguranças e espiãs,
cada dormitório possui um cozinha pequena, porém com tudo o que
precisamos.
Em alguns dias eu realmente prefiro ficar sozinho e cozinhar algo para
mim, inclusive no café da manhã, depois da minha corrida matinal gosto de
tomar um bom café, ler um livro e espairecer um pouco antes de começar o
dia.
— Esse café está com um cheirinho tão bom. — Kat volta do banheiro
e se joga ao meu lado na cama, enquanto sirvo uma xícara para ela. —
Depois de tanto exercício ontem a noite, preciso de cafeína urgente.
— Fico feliz em servir, senhorita — respondo e entrego a xícara para
ela, que geme no primeiro gole de café, fechando os olhos ao sentir o sabor
da bebida.
— Delicioso — expressa pegando um pedaço de mamão e banana. —
Então, qual é a programação do dia?
— O que você costuma fazer em um domingo chuvoso?
— Geralmente limpo a casa e depois assisto filmes ou leio um livro, é
a minha folga quando não estamos em turnê.
— Então faremos exatamente isso — confirmo e ela me encara com o
semblante confuso. — Quero passar um tempo com você, não me importo
com o que faremos, contanto que estejamos juntos.
— Você vai me ajudar a limpar o apartamento?
— Sim, sou um homem muito prendado, não sei se percebeu. — Pisco
para ela, que sorri em resposta — Já tenho tudo pronto para preparar nosso
almoço, depois passamos a tarde toda juntos nessa cama, assistindo
qualquer coisa na TV, enquanto roubo alguns beijos seus.
— Não consigo ligar essa versão sua a uma organização criminosa —
ela comenta desviando o olhar do meu. — Não sei, é estranho sabe, ao
mesmo tempo que estou aqui, aproveitando o momento, minha mente volta
a tudo o que vocês me contaram e nada faz sentido.
— As pessoas mais perigosas do mundo não são os bandidos que
passam nos noticiários, e sim os que estão no poder, que tem um estilo de
vida cobiçado por aqueles que não fazem ideia do que acontece por trás da
fachada de felicidade que eles vendem — explico com calma. — Eu não
sou santo e nunca vou mentir sobre isso, faço o que fui criado para fazer:
dar minha vida pela organização.
— Por quê?
— É difícil responder, fui criado assim, depois que meus pais
morreram fui entregue a um orfanato que não tinha espaço para mais uma
criança, então a Bratva me acolheu e me treinou para ser leal à organização,
eles me deram um objetivo de vida.
— E agora, o que mudou?
— Você sabe o que mudou, desde o momento que entreguei meu
coração a Dimitri, passei a ser leal a ele, sua segurança é meu objetivo de
vida e fazê-lo feliz é minha meta. — Ela concorda com a cabeça, mas ainda
não me olha, então coloco a mão em seu queixo e faço com que se vire para
mim. — E agora tenho você.
— Não sou parte da sua organização e nem quero ser, eu gosto de
vocês, tenho sentimentos mais fortes e intensos do que jamais tive por
qualquer outra pessoa, mas… é assustador pensar nisso depois do que me
contaram.
— Você faz parte de nós, linda, e assim como entreguei meu coração a
ele, entrego a você também, dividam e o usem como bem entenderem,
minha vida é de vocês e juro fazer o que for possível para protegê-los.
— Serguei…
— Não estou cobrando nada, só preciso deixar meus sentimentos
claros. — Encaro o fundo dos seus olhos azuis que refletem a confusão
interna com a qual tenho certeza que Yekaterina está lutando, então me
aproximo mais e beijo seus lábios macios, logo ela se entrega e sua boca se
molda a minha, nossas línguas se encontram e sinto o gosto do café
misturado ao dela, é deliciosamente viciante.
Yekaterina não demora a tomar o controle do beijo e montar em mim,
perdida em nós, no momento e em todas as palavras que foram ditas, assim
como as que ela ainda não está pronta para dizer, mas que estão estampadas
em seu olhar.
Nós começamos a manhã com muito sexo, depois ajudei ela a limpar
seu apartamento e terminamos cozinhando juntos o almoço, com Linkin
Park como trilha sonora, e duas pessoas cantando, desafinadas demais,
porém aproveitando o momento.
A tarde curtimos o dia chuvoso, fizemos pipoca e assistimos dois
filmes do Indiana Jones, conversamos bastante, trocamos histórias sobre
nossa infância, Kat me contou como foi crescer em uma escola de ballet
sendo criada por um pai solo, que precisava trabalhar demais para sustentá-
la.
Vi a dor em seus olhos enquanto falava do pai e em como a ausência
dele na infância a afetou, por isso entendi quando ela disse que, quando
tiver filhos, será uma mãe presente, mesmo que precise trabalhar ela prefere
ganhar menos, mas passar mais tempo com seus filhos.
Segundo ela, não adianta ter dinheiro se você não está perto das
pessoas que ama.
Eu concordo plenamente, mas acredito que Dimitri é quem irá se
identificar mais com esse sentimento.
No final do dia meu coração estava apertado por deixá-la, mas depois
de jantarmos juntos uma pizza deliciosa que ela pediu em sua pizzaria
favorita, dei boa noite e voltei para a mansão.
Assim que cheguei, Dimitri já estava me esperando em seu quarto, e
conversamos sobre tudo o que Yekaterina e eu fizemos no final de semana,
fiquei aliviado quando ele me beijou e agradeceu por eu ter feito nossa
mulher feliz.
Toda vez que Dimitri se refere à Yekaterina como nossa mulher, meu
coração explode de emoção.
Foi um final de semana incrível, mas percebi que só seria perfeito se
ele estivesse lá.
CAPÍTULO 19

DIMITRI
 
Aceitei a sugestão do meu pai de levar Yekaterina até nossa casa de
campo, pedi que Erikson organizasse todo o esquema de segurança para que
isso fosse possível e ele não me decepcionou, a única coisa que me deixou
triste foi que Serguei ficou com o time de elite do meu pai durante esse
tempo.
É parte do treinamento mudar de equipe e ele já está acostumado a
trabalhar com eles durante alguns dias, afinal os soldados de elite defendem
a família Petrov, o que inclui meu pai, minha mãe e eu.
Ele disse que, como teve sua chance de passar um tempo a sós com
ela, agora seria a minha vez e ele não queria estar por perto, principalmente
sem poder se juntar a nós, então era melhor dar o espaço necessário.
Assim, Serguei ficou em Moscow enquanto seguíamos de helicóptero
até a fazenda, que fica em um local recluso, próximo de San Petersburg,
mas que ninguém conhece.
A casa de campo é pequena comparada à mansão, é toda de madeira e
possui dois andares para a família, os seguranças e equipe de apoio ficarão
no anexo próximo a casa principal, então Yekaterina e eu teremos o local
todo para nós.
Se não fosse a neve, que começou a cair essa semana, teríamos mais
coisas para fazer aqui, já que o local é praticamente uma fazenda, temos
cavalos e vários outros animais que um casal de caseiros cuida.
Yekaterina disse que sabe andar a cavalo, já que a família de sua amiga
Magie possui uma fazenda próxima de Moscow e ela costumava passar os
verões lá quando era criança, foi assim que aprendeu.
Fiz uma anotação mental para trazê-la novamente no verão, mas se a
neve parar de cair, talvez possamos andar um pouco amanhã, agora
enfrentamos a nevasca de helicóptero para chegar até a casa de campo, não
é o ideal, mas essa aeronave é uma das melhores do mercado e aguenta esse
clima, contanto que não tenha ventos muito fortes.
Yekaterina segurou minha mão a viagem toda e só largou quando o
helicóptero pousou, a equipe de segurança entrou primeiro, fazendo a
vistoria e carregando nossas malas e, só depois de tudo conferido, a levei
para conhecer o lugar.
— Gostou? — questiono quando voltamos para a sala, onde a lareira já
está acesa e com uma pilha de lenha seca ao lado.
— É muito lindo e grande, a casa da Magie não tem nem metade disso
tudo.
— Minha família é grande — comento e ela me olha com curiosidade.
— Sou o filho mais velho, mas por segundos de diferença do meu irmão
gêmeo, Andrei. Nossa mãe não teve mais filhos depois, ela e meu pai
continuam casados, porém é só um arranjo comercial, ela tem um amante
que é praticamente seu marido e meu pai tem suas mulheres por aí.
— Eles só são casados no papel, então?
— Sim, não existe divórcio na Bratva — pontuo e ela ergue as
sobrancelhas em espanto, então pego sua mão novamente e a levo para
sentar no sofá. — Minha família é confusa, mas nós nos amamos. Meu pai
tem um irmão mais novo, Anton, ele é o pai do Ivan, que estava no jogo de
pôquer.
— Sim, eu lembro dele, o que trocava olhares com a Giulia — ela
comenta pegando-me de surpresa.
— Como assim?
— Eles não paravam de se olhar e trocar piadinhas internas, se não tem
algo rolando ali vai ter logo, logo.
Porra, como eu fui tão cego assim? Agora que ela falou tudo faz
sentido, eu vou matar meu primo quando voltar para a Central.
— Bem, ele é meu primo, Giulia é italiana e afilhada do meu pai, ela
foi criada em nossa casa desde que sua mãe morreu, porque na Sicília sua
família está em guerra e é perigoso para ela.
— Gostei muito dela, adoro mulheres fortes e decididas, se está
rolando algo com seu primo tenho certeza que ela o faz ajoelhar —
Yekaterina brinca, mas todo o meu corpo treme involuntariamente e ela
percebe. — O que foi?
— Giulia é como uma irmã para mim, não quero pensar nela com meu
primo — comento e ela solta uma gargalhada. — Então, além disso, eu
tenho meu irmão gêmeo, que você não chegou a conhecer já que ele saiu
em missão junto com Yelena.
— Ele estava na festa?
— Sim, mas estava ocupado na hora que você chegou — respondo e
pisco para ela, que entende o significado. — Andrei e eu somos muito
ligados, porém ele é meu oposto.
— Gêmeos são tão únicos.
— Sim, meu irmão é uma peça, ele é debochado e brincalhão, vocês
são parecidos nesse ponto, mas também é impulsivo. Andrei é a pessoa em
quem mais confio nesse mundo, mesmo que nosso pai o tenha rejeitado e o
trate como um simples soldado, meu irmão é a minha pessoa.
— Você fala dele com muito carinho, vejo que é alguém muito
especial mesmo, gostaria de conhecê-lo quando ele voltar.
— Com certeza, só não pode levar a sério as provocações dele.
— Relaxa, eu sei me defender — ela avisa e eu rio, porque já posso
imaginar esses dois unidos contra mim. — Me conta mais da sua família.
— Minha mãe está viajando com seu amante em mais uma lua de mel,
acho que dessa vez eles foram para o Japão. Ela é feliz com ele, mesmo que
as vezes precise fingir ser a esposa do meu pai, dentro da nossa casa não
tem mentiras, você vai conhecê-la também.
— Espero que ela goste de mim.
— Impossível não gostar. — Beijo seu rosto com delicadeza e afago a
bochecha macia, que assume um tom rosado muito fofo. — Você é incrível,
Yekaterina, não existe uma pessoa nesse mundo que não se apaixone por
você assim que te conhece.
Droga, as palavras saíram sem eu nem mesmo perceber, acabei de
confessar que estou apaixonado por ela, mas, ao contrário do que
imaginava, Yekaterina não levanta ou desvia o olhar, seus grandes orbes
azuis continuam fixos nos meus e ela sorri de forma tímida, se aproximando
ainda mais até que seus lábios encontram os meus.
— Não precisa ficar assim, ainda temos o final de semana todo para
você se declarar — murmura contra meus lábios e eu sorrio ainda mais.
— E quanto tempo vai levar para você admitir seus sentimentos?
— Veremos, querido Dimitri, veremos.
Então começamos a conversar sobre tudo e nada ao mesmo tempo,
deixando que os assuntos se formem espontaneamente.
Rimos juntos, debatemos opiniões contrárias, explanamos planos para
o futuro, não todos, é claro, já que não quero assustá-la, mas saber da
vontade de Yekaterina de ter uma família me deixa ainda mais esperançoso,
ela já havia falado sobre isso antes, mas agora parece ainda mais decidida.
Serguei comentou sobre como ela cresceu sozinha, sem o pai presente,
já que o mesmo precisava trabalhar em dois empregos, fato esse que
constatei ser verdade, inclusive um deles era como segurança de um dos
estabelecimentos da Família Pyotrolov, uma das principais da Bratva.
Obviamente Yekaterina não sabe sobre isso, seu pai a deixou de fora
dos detalhes para protege-la e não serei eu a contar.
Como chegamos de tarde o cozinheiro preparou um lanche para nós,
mas o principal é o jantar.
Erikson avisa que está tudo pronto e eu a levo para a área de festas do
segundo piso, onde temos uma piscina aquecida que fica na sacada fechada
com vidro, logo ao lado foi preparada uma mesa e o jantar servido a luz de
velas.
Pedi especificamente para Erikson espalhar pétalas de rosa na cor rosa-
claro por todo o local, assim como velas e buques das mesmas rosas, que
deixam o ambiente com um clima íntimo e romântico.
— Tudo isso para mim? Você e Serguei vão me deixar muito mal
acostumada assim, já estou avisando. — Ela caminha em minha frente,
lançando-me um olhar provocativo por cima do ombro.
— Falando nele, temos algo para você, eu queria dar quando Serguei
estivesse junto, mas ele insistiu que eu trouxesse e lhe entregasse hoje. —
Tiro a caixa de veludo branco de dentro do meu paletó e abro para
Yekaterina ver o colar que Serguei e eu escolhemos.
— Eu amo presentes! — Ela encara admirada a peça de ouro branco
que possui três pingentes no formato de rosas, incrustado com diamantes e,
é claro, um nano chip com sinal para localização. — Nossa, é maravilhoso,
Dimitri.
— As rosas foram ideia do Serguei, eu só escolhi os diamantes —
aviso e ela sorri, erguendo a mão para tocar o colar. — Vire-se, vou colocá-
lo em você.
Assim ela o faz e tiro a peça da caixinha, colocando-a em cima de uma
mesa lateral, então volto para Yekaterina que ergue seus cabelos, dando-me
acesso ao pescoço fino e delicado.
— É como se ele estivesse aqui, você não acha? — ela questiona assim
que fecho o colar e suas mãos tocam os pingentes delicados.
— Sim, ele sempre está aqui. — Planto um beijo em seu ombro e
passo uma mão pela frente do seu corpo, trazendo-a para mais perto, até que
suas costas encostam em meu peito e sinto seu coração bater contra a minha
mão. — Serguei é parte de nós.
— Sim, ele é — ela concorda, respirando fundo e puxando os cabelos
para o lado oposto de onde meu rosto toca o seu. — É errado desejar que
ele estivesse aqui?
— Não, Kat, porque eu também sinto a falta dele, apesar de estar
amando esse tempo entre nós.
— Confesso que também estou gostando de passar um tempo a sós
com você, acho que foi bom para conhecer o verdadeiro Dimitri, não a
fachada que você carregou das outras vezes.
— Você ainda não conhece tudo sobre mim, Kat, e acredite, você não
quer conhecer.
Com isso ela se vira e segura meu rosto com as duas mãos, prendendo-
me em seu olhar penetrante e na expressão séria que seu rosto assume.
— Eu sei que não, mas eu quero conhecer, mais do que isso, quero
arrancar essa tristeza que você esconde por trás da fachada controlada e fria
— ela anuncia, pegando-me completamente desprevenido. — Eu vejo você,
Dimitri, no jogo de pôquer, na noite que nos conhecemos, nas suas músicas,
eu vejo a dor que você carrega e quero que saiba que não precisa aguentá-la
sozinho, eu estou aqui.
Cubro sua boca com a minha e tento fazê-la esquecer, porque aquela
mesma dor que está sempre comigo, à espreita, escondida no fundo da
minha mente, aquela que eu jurava estar escondendo das pessoas, ela
consegue ver.
Yekaterina precisou de poucos momentos para enxergar o fundo da
minha alma, mas será que ela irá aguentar a visão do monstro que carrego
dentro de mim?
— Agora vamos comer que estou morrendo de fome e, pelo andar da
coisa, o que menos vamos fazer é dormir, então preciso estar bem
alimentada para aguentar uma noite em claro com o famoso Herdeiro da
Bratva. — Ela corta o momento pesado com uma brincadeira, fazendo-me
relaxar antes de dar um último beijo em meus lábios e caminhar até a mesa.
Nós comemos e conversamos por um bom tempo, acompanhados de
uma garrafa de vinho e com o bolo de leite que Kat tanto ama, finalmente
entendi porque meu pai deu essa sugestão: estar sozinho com ela nos
aproxima cada vez mais e já não tenho mais dúvida quanto aos meus
sentimentos.
— Então me fale a verdade — ela pede, limpando a boca com o
guardanapo, avalio a expressão séria em seu rosto e espero ela fazer a
pergunta completa. — O que você espera de nós no futuro?
Respiro fundo uma, duas, três vezes, antes de criar coragem para
responde-la com outra pergunta.
— Tem certeza que quer saber?
— Sim, eu não vou sair correndo, Dimitri, não agora.
Porra, ela fala com tanta convicção que parece que alguns quilos foram
retirados dos meus ombros.
— Meu pai está no final de sua vida como Pakhan, o líder da nossa
organização, e, como filho mais velho e herdeiro, quando meu pai se
aposentar eu assumirei seu lugar.
— Posso apontar uma coisa?
— Claro.
— Todas as vezes que você pronuncia a palavra ‘herdeiro’, ou que fala
sobre isso, seus olhos ficam escuros e posso ver toda a dor por trás deles. —
Ela me avalia com clareza, pontuando, sem erro, o que realmente sinto. —
Você quer ser o Pakhan?
— Eu nunca tive escolha, Kat, na nossa organização o livre arbítrio é
tirado no momento em que nascemos.
— Mas você tem um irmão, talvez ele possa assumir o seu lugar e…
— Não, somente o filho mais velho tem direito a liderança, para
alguém assumir em meu lugar é preciso que eu esteja morto. — Vejo seus
olhos arregalarem com a informação que entreguei sem cuidado a ela, mas é
necessário que Yekaterina saiba da gravidade da situação se vai continuar
em minha vida. — Para assumir meu lugar de direito, o Conselho exige que
eu me case e tenha um filho, para que esse assuma quando a hora chegar, e
assim por diante.
— São ideias tão retrógradas que eu não sei nem o que comentar.
— A Bratva é mais antiga do que muitos governos, Yekaterina, e com
isso vem regras e leis que já não se aplicam na atualidade, porém não posso
mudá-las até estar no poder.
— E você quer?
— Sim, nossas leis de sucessão precisam ser alteradas o quanto antes,
mas para isso todo o Conselho precisa aprovar as alterações, e meu pai já
deixou claro que não fará nada, então somente quando eu estiver no poder
terei influência suficiente para agir sobre isso.
Eu posso não almejar o cargo do Pakhan, mas o usarei para mudar
algumas coisas dentro e fora da organização.
— Vou deixar de lado todas as minhas objeções a quase tudo o que
você falou sobre essa organização carrasca. — Sorrio com a forma que ela
ofende a Bratva sem nem pestanejar. — Aonde você quer chegar com essa
conversa?
— Não vou te pedir em casamento hoje, Yekaterina — aviso para que
ela fique tranquila. — Quando esse dia chegar não estaremos sozinhos. Só
preciso que entenda para aonde nosso relacionamento está indo e, se caso
você ache que é demais para você, ou que meu futuro não condiz com o que
você planeja para si… bem, então terá que tomar uma decisão.
— “Case comigo ou me largue”, é isso que está falando? — ela
desafia.
— Não é um ultimato, eu não faria isso com você, só estou explicando
a minha situação, para que, no futuro, você tenha todas as informações para
tomar a sua decisão.
— Eu não estou pronta para isso agora, Dimitri, e tenho um pedido
para fazer a você em especial.
— Qualquer coisa, Yekaterina, pode me pedir qualquer coisa —
concordo.
— Só faça o pedido quando tiver cem por cento de certeza da minha
resposta, você é bom em ler as pessoas, não me peça em casamento se
pensar que direi não.
Yekaterina prova, mais uma vez, a mulher incrível e desafiadora que é
e, a cada segundo que passa, meu peito inunda em sentimentos, sinto algo
estranho em meu estômago e preciso conter o sorriso largo que tenta
aparecer em meus lábios.
Então me ajoelho na frente dela, pegando suas duas mãos nas minhas,
planto um beijo delicado na junta dos dedos e ergo a cabeça para encarar os
lindos olhos azuis.
— Eu prometo — falo e ela sorri, aliviada, sua mão encontra meu
rosto em um afago delicioso e delicado até que ela me conduz para cima,
pedindo pelo beijo que estou mais do que ansioso para dar.
Seus lábios macios encontram os meus e nos perdemos um no outro,
mas dessa vez é diferente, não estamos lutando para domínio, ao contrário,
tanto Yekaterina quanto eu nos entregamos, de corpo e alma, ao que logo se
transforma em mais que um simples beijo.
Então ela se levanta e faz algo que eu não estava esperando:
Yekaterina desamarra o laço do vestido azul, deixando o tecido cair aos seus
pés e me mostrando que está deliciosamente nua por baixo e, quando dou
um passo em sua direção, ela se joga na piscina aquecida, segurando as
pernas com as mãos, a mulher escolhe uma bomba para espirrar água por
todo o lado, inclusive nas minhas roupas.
Quando emerge, o sorriso orgulhoso em seu rosto ao me ver molhado,
faz meu coração acelerar mais ainda e faço o mesmo que ela, mas
completamente vestido.
Entro na piscina e tomo o seu corpo em meus braços, voltando a beijar
os lábios que agora sorriem contra os meus.
— Você é extraordinária, Yekaterina.
— E você vai me foder bem gostoso nessa água quentinha.
— Pode ter certeza disso — confirmo e levo uma mão para o meio das
suas pernas, massageando o clitóris aos poucos, só para provocá-la.
A água não é o melhor lubrificante e por isso a ergo, deixando-a bem
aberta na beirada da piscina, Yekaterina entende e abraça meu pescoço com
suas pernas.
Essa será uma noite inesquecível.
CAPÍTULO 20

YEKATERINA
 
No momento que os lábios de Dimitri encontram a minha boceta, me
perco no prazer que ele me proporciona e jogo a cabeça para trás,
absorvendo as sensações da sua língua deliciosa passando por meus lábios e
provocando o clitóris inchado.
Toda a conversa que tivemos, com as várias taças de vinho, me deixou
pegando fogo e, ao olhar para baixo, sei que ele também está assim.
Dimitri me chupa com vontade, gemendo contra minha pele a cada
grito que eu solto, chamando por seu nome, pedindo por mais, enquanto ele
domina meu corpo, minha alma e, aos poucos, a droga do meu coração.
O orgasmo não demora a chegar e logo estou com as pernas tremendo
ao redor do seu pescoço, mas ele não para por aí, tirando toda a sua roupa,
Dimitri me leva até os degraus da piscina e sai da água para colocar o
preservativo, logo depois ele volta a me colocar sentada na borda, mas
agora, com os degraus, seu pau fica exatamente na altura da minha boceta e,
com uma investida forte, ele me penetra.
— Porra, Kat, eu amo essa boceta apertada. — Geme contra meu
pescoço, segurando minha bunda com força enquanto eu cravo as unhas em
suas costas. — Vou te foder tanto, a noite toda, se formos cavalgar amanhã,
quero que sinta como se estivesse montando a porra do meu pau.
— Então me fode com força, se ficar brincando seus objetivos não
serão alcançados — provoco, já que percebo que ele está se controlando
para não me machucar, Dimitri tem um pau deliciosamente grande e grosso,
com veias aparentes e uma cabeça rosa deliciosa.
— Se é isso o que você quer — Ele começa a investir com mais força
e mais rápido, me fodendo como eu pedi —, é o que vai ter, meu amor.
Não, calma!
Ele falou…
Não, ele não falou, eu entendi errado.
O pânico dura somente um milésimo de segundo e logo me forço a
absorver o prazer que ele está me dando, devo ter ouvido errado ou Dimitri
falou sem querer, de qualquer forma não é real, não pode ser real.
***
Nós transamos a noite toda e, a cada orgasmo, meu coração batia ainda
mais rápido e algo estranho tomava conta da minha barriga.
As palavras dele não saíam da minha mente e, combinadas com a
forma que estava entregue em meus braços, parecia que Dimitri não havia
falado sem querer.
Como prometido, ele me levou para cavalgar, a neve havia parado de
cair, mas o chão estava branco, assim como a paisagem da fazenda, e eu o
senti dentro de mim o tempo todo.
Droga, esse loiro maldito está marcando espaço em um local que
ninguém nunca chegou e obviamente não estou falando da minha boceta.
Nós almoçamos e depois passamos a tarde assistindo filmes e comendo
pipoca, Dimitri adora os antigos e descobri que existe um nerd por trás do
Herdeiro.
Ele ama qualquer coisa do George Lucas, também é apaixonado por
livros e filmes de ficção científica, seu favorito é ‘O Fim da Infância’, do
Arthur C. Clarke, por isso assistimos um pouco da série e ele me emprestou
seu exemplar do livro, que contém anotações e marcações feitas por ele
enquanto lia.
Eram cinco horas da tarde quando o helicóptero nos deixou na mansão
e vi Serguei esperando no heliponto, a fachada de segurança não me
enganou em nada, ele estava ansioso, pude ver em seu olhar.
Por isso o abracei e dei um beijo rápido em seus lábios quando
entramos e Dimitri fez o mesmo.
Jantamos os três juntos e falamos sobre os encontros e a vida em geral,
depois Serguei me trouxe para casa e aqui estou, deitada sozinha em minha
cama, com todas as luzes apagadas, pronta para dormir, porém não consigo
tirar os dois da cabeça, tudo o que vivi nessas poucas semanas que
passamos juntos tem me transformado, mas o pior é que eu gosto da pessoa
que me torno quando estou com eles.
***
Os ensaios estão cada vez mais intensos e, depois de duas folgas, eu já
não posso mais faltar em nada, tenho certeza que Madame Faina só aceitou
me liberar porque Dimitri interferiu, mas a data da turnê está próxima e
preciso me concentrar nisso.
A única coisa que dificulta essa missão, ou devo dizer, as duas coisas,
são Dimitri e Serguei, que não aceitam ‘não’ como resposta e insistem em
me ver durante a semana.
Serguei vem me buscar no teatro quase todos os dias e me leva para a
mansão, Dimitri prepara o jantar com tudo o que minha dieta exige e
depois, se estou muito cansada, nós dormimos agarradinhos na cama de
Dimitri, quando ainda tenho energia, aí aproveitamos o tempo para outras
coisas.
É como se realmente estivéssemos em um relacionamento e, se for
contar as vezes que dormi em casa nas últimas semanas, estou quase
morando com eles.
— Ei, Kat, posso falar contigo? — Olho para trás e encontro Thais
correndo em minha direção, o ensaio já acabou e minhas amigas foram para
casa, mas eu fiquei para uma sessão de fisioterapia e estou indo pegar meu
carro, já que hoje não irei até a mansão.
— Estou cansada, Thais, pode ser amanhã?
— É rapidinho! — Ela me alcança e abre um sorriso falso. — Eu
percebi que você tem saído no carro dos Petrov com muita frequência.
— Como você sabe de quem é o carro? — questiono surpresa.
— Querida, você não é a única a frequentar aquela mansão ou a casa
de campo, eles já te levaram para o chalé nas montanhas? — Thais fala e
meu mundo todo congela na mesma hora. — Pela expressão em seu rosto
eu acho que não.
— O que você quer com isso, Thais?
— Somos amigas, Kat, e amigas avisam quando a outra está entrando
em uma enrascada.
— Primeiro: não somos amigas, você me odeia e não precisa fingir —
pontuo e ela dá de ombros, ainda com o sorriso convencido de quem
conseguiu o que queria. — Segundo: minha vida pessoal não lhe diz
respeito e…
— Olha lá — ela me corta e aponta para o outro lado do
estacionamento, onde Thiane e Karol estão paradas olhando para a rua,
claramente esperando por alguém.
Então eu vejo o que faz toda a felicidade que eu sentia há pouco tempo
ruir em segundos.
Entrando no estacionamento está o carro dos Petrov, eu o reconheço,
vejo a placa e é o mesmo que Serguei usa para me buscar, mas nem
precisava saber disso para ter certeza de que sou uma grande idiota, assim
que o veículo para em frente as minhas colegas, a porta do motorista se abre
e Serguei desce.
Ele está em seu uniforme usual e olha para os dois lados antes de abrir
a porta de trás para elas, eu me escondo atrás de um pilar bem a tempo e ele
não me vê.
Então elas entram e ele fecha a porta, voltando para o banco do
motorista, dando a partida e seguindo na mesma direção que tantas vezes
fui levada.
Era tudo mentira.
Todos os nossos momentos e todas as nossas conversas.
A droga dos sentimentos que eles falaram ter por mim.
Tudo uma grande e bem elaborada mentira.
— Desculpa ser eu a te mostrar isso, mas quando ouvi as meninas
conversando no vestiário eu sabia que precisava te contar, e você não
acreditaria nas minhas palavras, então é melhor que veja com seus próprios
olhos, os Petrov fazem isso direto, eu mesma já transei com os dois irmãos.
— Thais larga seu veneno, mas eu não fico para escutar, saio sem dizer
nada e sigo até o estacionamento, tentando manter a cabeça erguida e as
lágrimas contidas.
Eles não vão me fazer chorar.
Eles não vão me fazer chorar.
Eles não vão…
É inútil, assim que entro em meu carro a visão embaça e as lágrimas
escorrem incontidas, meu peito aperta e a da porra do meu coração se
quebra em milhões de pedaços.
Era tudo mentira mesmo, é óbvio, estava bom demais para ser verdade.
O pior é que só com a dor percebo a verdade: eu me apaixonei por dois
homens errados, ao mesmo tempo.
Antes de conseguir dar a partida, meu celular toca e vejo o nome do
meu pai na tela, só por isso engulo as lágrimas e respiro fundo, tentando
controlar a dor para que ele não perceba.
— Oi, pai.
“Filha, desculpa te ligar essa hora, mas preciso que venha urgente
para San Petersburg.”
— Como assim, pai, o senhor está bem? — Meu coração volta a bater
rápido no peito com as palavras dele.
“Eu conto tudo quando você chegar, mas o que você precisa saber
agora é que farei uma cirurgia amanhã de manhã, porém o médico não
quer liberar se eu não tiver um acompanhante pelo final de semana, você
pode vir até aqui? Sei que sua rotina de ensaios é complicada, mas…”
— Já estou indo, pai, só vou passar em casa para pegar algumas coisas
e estarei aí o mais rápido possível — aviso, respirando fundo e colocando
minha mente no lugar. Se meu pai está me pedindo algo assim é porque é
urgente, e é por isso que deixo tudo o que estava sentindo em segundo
plano e ligo o carro. — Nos falamos de manhã, pai.
“Se cuida na estrada, minha filha, e obrigado, seu velho tentou fazer
isso sozinho, mas os médicos não deixaram.”
— Não é para agradecer, quando chegar vamos conversar e o senhor
vai me explicar tudo o que está acontecendo.
Ele concorda e desligamos, depois mando mensagem para Madame
Faina e aviso que não estarei nos ensaios do final de semana, que talvez
precise de mais tempo, mas não espero a resposta, só sigo para a minha
casa, reúno o necessário e pego a estrada.
É um inferno dirigir sozinha, ouvindo uma playlist ridícula que
encontrei no Spotify, e parece que, a cada palavra que o Linkin Park grita
nos alto falantes, um pedaço do meu coração estraçalha ainda mais.
Eu não posso quebrar agora, não importa o que aconteça, preciso me
manter firme pelo meu pai.
São quase nove horas de viagem até chegar na casa do meu pai, aonde
eu vivi até os dezesseis anos, depois fui transferida para a escola de ballet
em Moscow e não voltei mais, a não ser para uma ou duas visitas ao ano.
Boris Belov está no auge dos seus sessenta anos, os cabelos castanhos
agora possuem mechas brancas, seu rosto também adquiriu algumas rugas,
e percebo que ele está bem mais magro do que da última vez que o vi.
Meu pai sempre foi musculoso e forte, por trabalhar como segurança
se manteve ativo até o ano passado, quando largou o segundo emprego e
ficou só na empresa de embalagens que trabalha de dia.
— Que saudade, minha filha! — Ele me recebe de braços abertos, me
envolvendo em um abraço apertado e carinhoso, o qual só percebo agora
estar precisando. — Você está ainda mais linda do que eu lembrava.
— E o senhor está escondendo algo de mim, pai — acuso diretamente.
— Vamos entrar, eu passei um café para você, imagino que a viagem
tenha sido cansativa.
— Sim, mas eu quero saber de tudo.
Entramos na pequena cozinha no primeiro andar, aonde ele deixou
uma mesa cheia de comida para o café da manhã, o que faz meu estômago
roncar, e ataco o primeiro prato, servindo-me de uma xícara grande de café,
para me ajudar a ficar acordada depois de passar a noite toda dirigindo.
Depois de comer meu pai finalmente me conta o que está acontecendo:
há cinco meses ele descobriu um câncer de pele, o qual foi retirado em uma
pequena cirurgia, mas voltou em outros lugares e ele precisou fazer
quimioterapia, porém o tumor se espalhou e agora ele precisa de uma
cirurgia mais complicada.
Meu mundo desmorona ainda mais quando ele me conta que a cirurgia
será extensa, mas que eu só preciso ficar com ele no hospital pelo final de
semana, porque na segunda ele conseguiu uma enfermeira particular para
acompanhá-lo.
— O senhor realmente acha que vou largá-lo em um hospital com uma
enfermeira qualquer? — acuso ao perceber seu plano.
— Desculpa, filha, ela não podia começar hoje e o médico disse que é
importante que eu faça a cirurgia o quanto antes.
— Pai, escuta uma coisa, eu não vou te deixar em um hospital e voltar
para Moscow, nunca faria isso com o homem que deu tudo por mim, vou
ficar aqui, ao seu lado, e vamos passar por isso juntos.
— Mas e a sua apresentação? A turnê vai começar logo e…
— Foda-se a turnê, com o perdão da palavra. Você não entende? O
senhor é mais importante do que qualquer coisa, pai, por que não me falou
antes?
— Kat… um pai cuida da filha, não o contrário.
— Não, a família vem em primeiro lugar, você mesmo me ensinou
isso, e somos família, pai, cuidamos um do outro. — Pego sua mão em
cima da mesa e olho no fundo dos seus olhos, tão azuis quanto os meus,
refletindo o mesmo pavor que sinto. — Vou estar ao seu lado e farei de tudo
para que o senhor melhore logo.
— Obrigado, minha filha.
Assim deixamos as lágrimas escorrerem por nossos rostos, externando
todo o medo pelo futuro incerto que nos aguarda. Eu amo meu pai, mais do
que tudo nessa vida, e só o pensamento de o perder faz meu peito apertar.
CAPÍTULO 21

DIMITRI
 
Yekaterina está em San Petersburg com seu pai que, finalmente,
contou sobre o câncer e sua saúde. Venho acompanhando os relatórios
médicos e não são nada animadores.
Ele esperou até o último segundo para chamá-la, já que a cirurgia é de
risco e ele precisa de acompanhante.
A única coisa que não entendo é o porquê de ela não ligar, nem mandar
mensagem para avisar que estaria saindo da cidade, já faz dois dias que ela
vem ignorando minhas ligações.
Pelo menos ela respondeu Serguei ontem, disse que a cirurgia do pai
foi bem, mas que não tem previsão para ter alta do hospital e que não
voltará tão cedo para Moscow.
— Tem alguma coisa errada, Dimitri — Serguei adverte, encarando o
celular a espera de uma nova mensagem. — Yekaterina não demora tanto
assim para responder.
— Ela deve estar preocupada com o pai e ainda está no hospital, pelo
que posso ver nas câmeras de segurança, ela parece aflita.
— Você moveu o pai dela para um quarto melhor? — ele questiona, já
prevendo minha resposta.
— Sim, ele não tem um plano de saúde muito bom, mas já resolvi isso.
— Respiro fundo e me escoro na cadeira. Olhando para a tela do
computador, em cima da mesa do meu escritório, vejo Yekaterina andando
de um lado para o outro no corredor do hospital, ela está aguardando a
visita do médico. — Acho que é melhor você ir até lá, fique junto dela até
essa crise passar e providencie tudo o que o pai dela pode precisar quando
chegar em casa.
Serguei confirma com a cabeça, mas, assim que levanta, o telefone
toca e Thiane, minha secretária, avisa que Erikson está aguardando, então o
mando entrar.
— Senhor Petrov. — Ele bate continência e indico a poltrona, mas seu
olhar me diz que, seja qual for o assunto, ele quer conversar a sós.
— Serguei irá de helicóptero até San Petersburg, mande alguém deixar
tudo preparado — ordeno e ele confirma com a cabeça, mas fica no mesmo
lugar. — Serguei, se prepare para ficar alguns dias lá.
— Sim, senhor. — Ele percebe que minhas palavras foram uma deixa
para sair e bate continência, fechando a porta e nos deixando a sós.
— O que aconteceu, Erikson?
— É sobre Vor Ivan Petrov, senhor.
Droga, eu sabia que essa bomba iria estourar logo.
— O que você descobriu?
— Victória encontrou imagens nas câmeras de segurança da mansão.
— Ele me entrega um pen drive antigo, o que nós só usamos quando não
queremos informações na rede.
Coloco em meu computador e abro o arquivo de vídeo, olhando para a
cozinha da minha casa, aonde meu primo, esse desgraçado, está em uma
discussão acalorada com Giulia.
Logo depois ela se joga em seus braços e toma a boca dele em um
beijo intenso, o qual ele logo interrompe, puxando-a para um armário.
— Maldito, filho da puta, eu sabia que tinha algo de errado, mas não
achei que ele era louco o suficiente para fazer isso. — Massageio as
têmporas, já sentindo a dor de cabeça que isso vai me causar. — Meu pai já
sabe?
— Dione foi avisada. — Ela é a chefe de segurança do meu pai e, é
claro, foi a primeira a saber. — Ele acabou de chamar o senhor Ivan Petrov
para uma reunião.
— Droga! — Levanto e saio da minha sala, seguindo direto para o
escritório do meu pai, não me dou ao trabalho de esperar ser anunciado e,
ao entrar, encontro meu primo aos berros com tio Anton.
— Ela é minha, tá ouvindo? Eu não vou deixar que a levem, Giulia é a
porra da minha mulher, não me importo com as consequências, ela não vai
casar com a droga de um italiano de merda — Ivan grita, cuspindo as
palavras na cara do próprio pai, e preciso intervir ao perceber que ele vai
atacá-lo.
— Ivan! — Seguro sua mão antes que consiga acertar um soco no tio
Anton. Acima de tudo seu pai é um líder do alto escalão, nenhuma agressão
é permitida, nem de seu próprio filho. Ivan pode perder uma mão se isso
acontecer. — Se acalma, droga.
— ME LARGA, FILHO DA PUTA! — Ele tenta lutar contra mim e
quase acerta uma cabeçada no meu nariz, mas sou mais rápido e desvio,
consigo fazer uma chave de braço em seu pescoço, mas ele não para de
lutar.
— Quer morrer? É isso mesmo? — murmuro em seu ouvido e o
arrasto para longe do seu pai, que só olha com desgosto para o filho. —
Agora se acalma e vamos pensar nisso.
— Pensar é o caralho, eu não vou deixar que eles a enviem de volta,
ela é minha, Dimitri, MINHA MULHER!
— Cala essa boca — ordeno mais uma vez ao ver o olhar repreensivo
do meu pai.
— Dimitri, faça ele se acalmar ou vou mandar Dione trazer um
tranquilizante — meu pai avisa e puxo meu primo para fora da sala, eu sou
maior do que ele e mais forte também.
Ivan luta contra mim, mas aos poucos vai relaxando e consigo levá-lo
de volta para minha sala, Erikson está ao meu lado, assim como Thiane e
Artyom, eles tem ordens para me proteger até da minha própria família.
— Agora senta aí. — Empurro meu primo na poltrona em frente a
minha mesa e, quando ele tenta levantar, perco a paciência e acerto dois
socos em sua cara — EU MANDEI SENTAR A PORRA DA SUA
BUNDA NESSA MALDITA CADEIRA!
Ivan finalmente entende que estou falando sério e, mesmo bufando de
raiva, segura o queixo com uma mão e fica sentado na cadeira.
— Agora você vai me contar o que diabos estava pensando quando se
envolveu com a única mulher que eu te avisei para não olhar, você sabia
qual seria o futuro dela.
— Não, eu não vou deixar, eu…
— Vai fazer o quê? Sequestrá-la e ir para onde? Você é um soldado da
Bratva, sabe que se ousar desacatar uma ordem direta do seu superior, será
executado, e Giulia será entregue aos italianos, que podem recusá-la por já
não ser mais intocada — predito tudo o que irá acontecer caso ele faça o
que está pensando em fazer.
— Nós não…
— Nem vem, eu vi o beijo. — Viro a tela do computador e mostro as
imagens da câmera, que agora só apontam para o armário fechado, porém
aumento o som e os gemidos dos dois ecoam pelo ambiente. — E isso aqui
também.
— Droga, Dimitri, você precisa me ajudar, eu não posso… ela não
pode… eles querem casá-la com o inimigo.
— Sim, e isso vai acontecer, a Bratva já decidiu — aviso sem medir as
palavras, ele é a porra de um Vor e precisa controlar seus sentimentos, não é
com esperanças vazias que isso vai acontecer.
— Eu não vou deixar, nem que para isso precise matar aquele
desgraçado.
— Você não vai fazer nada disso — declaro e sento na cadeira em
frente a dele. — Giulia já aceitou seu destino, ela sabe que precisa desse
acordo com a família Moretti para acabar com a guerra na Sicília, todos nós
sabíamos disso, Ivan, inclusive você.
— Eu não queria isso, mas ela… Giulia é uma mulher diferente,
Dimitri, eu nunca encontrei alguém como ela…
— Eu sei, primo, porra, eu sei, mas não posso fazer nada, nem você —
aviso com calma e vejo ele respirar fundo, posso ouvir seu coração quebrar
nesse exato momento. — Acho melhor você voltar para a França, pelo que
meu pai falou, Giulia retorna para a Itália em poucas semanas e…
— Eu não vou a lugar algum, se ela vai para a Itália eu estarei ao seu
lado, não me importo com porra nenhuma, mas minha mulher não será
jogada aos inimigos sozinha — ele me desafia com confiança e sei que nada
mudará sua mente agora. — Me mande junto com ela, me rebaixe a um
guarda-costas particular, eu não me importo, eles não precisam saber.
— Você vai matar o italiano assim que a noite de núpcias chegar, isso
se conseguir aguentar todo esse tempo. — Prevejo e uma comoção fora da
minha sala começa, somos avisados que Giulia está lá fora e mando deixar
que ela entre.
— Ivan — A mulher corre até meu primo assim que vê o sangue
escorrendo de sua boca e ele se levanta para recebe-la em seus braços —, eu
falei para você ficar quieto.
— Não posso deixar que a entreguem assim, amor — ele justifica, mas
Giulia se afasta e, contra todas as expectativas, ergue a mão e acerta um
tapa forte no rosto de Ivan.
— Eu te falei para não interferir, é a droga da minha vida e eu vou ter
que casar com Ricardo Moretti, quer você queira ou não — Giulia expressa
com raiva e confiança, vejo seus olhos verdes marejados de lágrimas, que
ela se recusa a soltar. — Nunca mais, ouve bem o que vou falar, nunca mais
se coloque em perigo assim por minha causa.
— O que você quer que eu faça? Deixe minha mulher nos braços de
um italiano de merda? Sabe o que ele vai fazer com você quando perceber
que não é mais… — Ivan para o que ia falar ao lembrar que não estão mais
sozinhos.
— Ele não vai perceber e não vai fazer porra nenhuma comigo, eu sei
me defender, é por isso que temos aula de luta todos os dias, se eu posso te
derrubar, um italiano de merda não é nada. — Ela bate de frente com Ivan,
mas essa discussão não vai a lugar algum hoje.
— Giulia, volte para casa e fique lá — falo e ela me encara sem
entender — É uma ordem, eu não vou falar de novo.
— Você não manda em…
— Agora, Giulia — a interrompo, perdendo a paciência.
— Não sem ele. — Ela segura a mão de Ivan, fazendo meu sangue
ferver, por que diabos essa mulher precisa ser tão afrontosa assim?
— Uvinha, eu vou resolver isso, mas se vocês forem pegos juntos,
Ivan será executado por traição, você é proibida e ele descumpriu uma
ordem do Pakhan. — Jogo a verdade nua e crua para que ela entenda a
situação em que está e isso faz efeito, Giulia larga a mão de Ivan e
finalmente aceita minhas ordens, com um último olhar para nós ela sai da
sala. — Você vai ficar na Central até que essa merda se resolva.
Vou até o bar e sirvo dois copos de vodca, depois entrego um ao meu
primo, que vira a bebida toda em um gole só, fechando os olhos para
respirar fundo e se acalmar.
— O que você faria se fosse com você? — ele questiona com a voz
embargada pela dor e peço para os seguranças saírem, agora eu vou
conversar com o meu primo, meu amigo, e não com um Vor da Bratva.
— Eu iria com ela, seguiria minha mulher e estaria ao seu lado,
apoiando o que ela precisa fazer para cumprir com seu destino.
— Você deixaria outro homem foder sua mulher e ficaria bem com
isso? — ele desafia.
— Primo, ela não precisa transar com ele, só gerar um herdeiro —
pontuo a cláusula do contrato entre as famílias Marino e Moretti, o qual eu
revisei mais de uma vez, para tentar encontrar uma brecha e essa foi a
única. — Isso pode ser feito por inseminação artificial, é só você manter o
teu pau encapado e pronto.
— Eu não pensei nisso — Ivan confessa.
— É claro que não pensou, achou melhor atacar teu pai e correr o risco
de ser morto — repreendo mais uma vez, mas agora com a voz mais calma.
Não vale a pena chutar cachorro morto e Ivan parece finalmente ter
entendido o recado.
CAPÍTULO 22

SERGUEI
 
Definitivamente tem alguma coisa errada com Yekaterina.
Quando cheguei ao hospital e fui até ela, envolvendo-a em um abraço,
seu corpo ficou tenso e ela logo se desvencilhou de mim, depois fez de tudo
para não me tocar e se manter longe.
Seu pai já saiu da UTI e está no quarto particular, mas ela não parece
aliviada, percebo que anda de um lado para o outro no corredor, olhando
para todos os lados, enquanto seu pai dorme. Quando ele está acordado, ela
fica dentro do quarto dele.
— Você vai me contar o que está acontecendo, linda? — pergunto ao
me sentar ao seu lado.
— Meu pai está com câncer — responde simplesmente.
— Não é só isso, você está diferente comigo. O que aconteceu, Kat?
— Nada, eu não tenho tempo para isso agora, Serguei, não pedi que
viesse, pode voltar para Moscou que eu sei me virar sozinha. — Ela ataca e
posso ouvir a dor em sua voz, o que me dá a certeza de que algo aconteceu
para deixá-la assim.
— Sei que sabe, linda, mas        não vou a lugar algum até você me
contar o que está acontecendo, então é melhor…
— Yekaterina Belova — O médico chega bem nessa hora, nos
interrompendo, e Kat levanta rapidamente, indo até ele —, infelizmente não
tenho boas notícias.
Droga, o médico começa a falar sobre o caso do pai dela, de como o
tipo de câncer que ele tem é agressivo e está se espalhando para outros
órgãos, tendo atingido o pulmão, intestino e o fígado.
Por isso, eles não tem como intervir mais de forma cirúrgica e
precisarão iniciar uma quimioterapia intensiva para conter a formação de
novos tumores e tentar diminuir os existentes.
Yekaterina escuta a tudo calada, anotando em seu celular todas as
observações do médico para o tratamento, enquanto se mantém calma e
concentrada, essa reação não é a que eu imaginava dela, especialmente em
uma situação de estresse como essa.
Eles conversam por um tempo até que o médico entra no quarto para
examinar seu pai e dar a notícia, Kat avisa que vai até a administração e sai.
Obviamente eu a acompanho de longe e percebo que ela não está
seguindo em direção ao elevador e, sim, saindo pelas escadas de
emergência, seus passos ficam cada vez mais rápidos, até que ela começa a
correr.
— Kat, espera — chamo, mas ela não para e preciso acelerar para
alcançá-la assim que ela passa pela saída de emergência.
— Me deixa sozinha por dois minutos, por favor — ela pede, a voz
fraca de quem está segurando o choro.
— Não, eu não vou a lugar algum.
— Por quê?
— Porque eu te amo e não costumo abandonar as pessoas que amo
quando elas mais precisam de mim.
— Por que você me ama? Eu não entendo, sabe. Você fala sobre
sentimentos, sobre amor, como se realmente soubesse o que isso significa.
— Eu sei sobre os meus sentimentos, você reconhece os seus? —
Contraponho e ela arregala os olhos com as minhas palavras.
Yekaterina está magoada com algo e posso sentir que é muito mais que
seu pai, ela está atacando, fazendo o que sempre fez e afastando as pessoas
antes que a machuquem.
— Você também me ama, Kat, mesmo que não consiga dizer essas
palavras, eu consigo ver no seu olhar.
— Ver o que, Serguei? Desejo, tesão, paixão? Você não saberia
diferenciar isso de amor. — Ela dá dois passos em minha direção, ficando
em minha frente como se me desafiasse. — Agora vá embora e nunca mais
volte, eu não quero mais nada com você ou com Dimitri.
— Nada do que você falar vai me fazer mudar de opinião, pode me
atacar, me chamar de nomes, pode até me bater se isso fizer você se sentir
melhor, eu não me importo, estou aqui por você, Yekaterina, por nós.
Kat não responde, ela só me encara por um tempo, depois vira e volta
para o hospital.
Droga, a situação está pior do que eu imaginava, quando começo a
segui-la meu telefone toca e vejo o nome de Dimitri na tela.
“O que está acontecendo? Por que vocês estão brigando?”
É claro que ele está acompanhando tudo pelas câmeras de segurança,
não seria Dimitri se não estivesse.
— Ela disse que não quer mais nada conosco, que não me chamou
aqui. Tem alguma coisa errada, Dimitri. Yekaterina está magoada por algum
motivo e me mandou embora.
“Droga, mas estava tudo bem, nós estávamos bem.”
— Sim, eu acho que ela está assustada por causa do pai e ainda precisa
enfrentar o hospital. Nós ainda não sabemos porque ela tem tanto medo
desse lugar, ela era nova demais quando a mãe morreu e foi em um acidente
de carro, depois não tem mais registros de Yekaterina em hospitais, só em
clinicas particulares para exames de rotina.
“Sim, estou tentando desvendar isso, mas agora o que importa é saber
porque ela está correndo de nós, eu acho que…”
— Dimitri, é perigoso.
“Eu sei, porra, mas se continuar assim vamos perder nossa mulher.”
Perde-la não é uma opção!
Penso por alguns segundos em uma alternativa, mas ele está certo,
Yekaterina não vai me ouvir, eu não tenho o pulso firme e dominância de
Dimitri, e é disso que ela precisa agora, de alguém como ele.
— Quanto tempo falta para a missão de Andrei acabar?
“Acredito que não deva levar mais do que uma semana, mas não
podemos esperar tanto tempo.”
— Só não se coloque em perigo, eu posso levá-la até você e…
“Isso só vai piorar ainda mais a situação, amor.”
Realmente, ele está certo.
E não vou pirar pelo uso da palavra “amor”, porque no momento o que
importa é entender o motivo de Yekaterina estar nos afastando, nossa
mulher é a prioridade.
***
Eu dou espaço para ela e acompanho seus passos pelo celular, Dimitri
me concedeu acesso às câmeras de segurança do hospital, enquanto isso ele
está organizando tudo para nos encontrar.
Kat parece bem quando está no quarto com o pai, mas assim que ele
dorme, ela sai e vai para o bar que fica ao lado do hospital.
Já são dois dias assim, eu a vejo de longe, deixo que saiba que estou
aqui, mas que só vou me aproximar se ela pedir, o que não acontece.
Hoje é mais um desses dias, ela senta sozinha no balcão com um copo
de vodca em sua frente e o olhar perdido.
Então tudo muda e os clientes do bar começam a se dispersar, pagando
as contas e saindo pela porta da frente, são oito horas da noite e isso é
estranho, mas Kat parece não perceber, ela está em sua terceira dose de
vodca no momento e não comeu nada desde o café da manhã.
Quando todos os clientes saem e o barmen larga a toalha e vai para a
cozinha, a porta dos fundos se abre e Erikson entra primeiro, acompanhado
de toda a equipe de segurança de elite, eles checam o local todo a procura
de perigo e, só então, Yekaterina ergue o olhar do copo e encara a
movimentação.
— Vocês só podem estar de brincadeira comigo — ela murmura mais
para si mesma do que para nós, porém consigo ouvi-la, mesmo estando há
alguns metros de distância.
— Coma alguma coisa. — Dimitri entra com uma bandeja contendo
hambúrguer, batata frita e o refrigerante light que ela gosta, então deixa
tudo no balcão do bar, ficando do outro lado. Eu me aproximo deles e sento
no banco ao lado dela. — O que está acontecendo aqui, Yekaterina?
— Eu já falei para o seu garoto de recados que não quero ele aqui, isso
se estende a você também — ela responde magoada, as palavras
pronunciadas demais nos dão a certeza de que ela já está levemente
alcoolizada. — Agora façam o favor de me deixar em paz.
Kat empurra a bandeja de volta para Dimitri e tenta levantar, mas
perde o equilíbrio, caindo diretamente em meus braços.
— Cuidado, linda — falo ao segurá-la com carinho, mas ela logo se
desvencilha dos meus braços e tenta me empurrar, sem forças acaba caindo
sentada no mesmo banco em que estava.
— Me larga e não me chame de linda. — Repreende com os olhos
azuis firmes em mim.
— Yekaterina, o que está acontecendo? — Dimitri questiona
preocupado, trocamos um olhar rápido e sei que agora ele entende a
gravidade da situação.
— Eu achei que gente rica costumava ser mais inteligente, já falei que
não quero vocês aqui, não quero mais nada com vocês, só que me deixem
em paz.
— Você sabe o perigo que ele está correndo por vir até aqui? —
questiono sem pensar e sei que fiz merda quando o olhar magoado dela é
substituído por ódio.
— Eu não chamei ninguém, vieram porque são dois metidos que
acham que sou a mulher de vocês só porque fodemos algumas vezes, vou
contar uma coisa, eu não sou a porra da sua mulher e nunca serei, então
façam um favor a mim e sumam da minha frente — ela ordena, ácida e
pontual, o olhar azul brilhando com as lágrimas contidas.
— Eu não vou a lugar algum até você falar o que está acontecendo —
Dimitri bate de frente.
— Linda, para com isso, você não pode falar que não sente nada, a
gente sabe…
— Você é um iludido mesmo, não entendeu ainda? Ele está brincando
conosco. — Yekaterina aponta para Dimitri, proferindo   cada palavra com
mágoa e isso me dá a certeza de que, seja lá o que a esteja machucando, tem
a ver com Dimitri e comigo. — Para mim já chega, eu não quero mais nada
com vocês e é melhor me deixarem em paz ou chamarei a polícia, e pouco
me importa quem vocês são, a organização ultrassecreta e poderosa que
fazem parte, eu vou a público e falo tudo o que sei se for preciso.
— O que aconteceu para você estar falando essas coisas? — questiono.
— Eu só cai na real, foi isso, além do mais, vocês realmente pensaram
que eu iria me entregar a dois bandidos? Vocês são criminosos, eu andei
pesquisando essa organização, e o que eu achei me deixou com nojo de
mim mesma por ter deixado duas pessoas como vocês me tocarem.
Ela dá um passo para trás, ameaçando virar e me dar as costas, mas
dessa vez eu seguro o seu braço, não aplico força, só a contenho.
— Yekaterina, você não está falando sério — repreendo, tentando
conter a dor em meu peito, que começa a ficar forte demais, a cada palavra
que ela fala.
— Estou falando muito sério, Serguei, e é melhor me largar! Ou vai
provar que tudo o que acabei de dizer é verdade e me sequestrar de novo?
— Agora seu ataque é certeiro e me faz largá-la, porém antes de ir ela olha
para Dimitri, que saiu de trás do balcão e está em sua frente.
— Nós estamos preocupados com você, amor, e não vamos a lugar
algum, não deixaremos nossa mulher…
Ele não termina de falar porque Yekaterina ergue a mão e acerta um
tapa na lateral do rosto de Dimitri, o som me faz parar de respirar e vejo
todos os seguranças prontos para agir, porém Dimitri ergue a mão e os
impede, com um gesto simples que ela não percebe, porque está encarando-
o de forma feroz.
— Eu não sou mulher de ninguém, nesse momento preciso cuidar do
meu pai e de mim mesma. Se está falando a verdade e se importa comigo, o
que eu duvido, então me deixe seguir a minha vida em paz, já tenho
problemas demais para resolver e não pretendo adicionar dois criminosos a
minha lista.
Com isso ela se vira e começa a andar em direção à porta, quando vou
segui-la Dimitri segura meu braço sobre o balcão, fazendo-me parar e olhar
para ele, e o que vejo é a fagulha que precisava para que meu coração
queimasse em meu peito e se transformasse em uma pilha de cinzas.
Ele vai deixá-la ir.
Dimitri não vai fazer nada.
E assim assisto a mulher que amo sair da minha vida, talvez para
sempre, e não posso ir atrás dela.
A cada passo que Yekaterina dá em direção à porta, com seus saltos
produzindo o único som audível no ambiente, meu mundo vai perdendo a
cor e sei que, neste momento, parte de mim ficará com ela para sempre.
CAPÍTULO 23

YEKATERINA
Casa dos Corleone, New York
3 ANOS DEPOIS
 
Posso sentir o olhar deles em mim e é como se minha pele queimasse
enquanto danço.
Não sei se estou acompanhando a música, nem consigo raciocinar
direito quais são os passos que preciso executar, só sei que eles estão aqui,
assistindo a uma apresentação que eu não deveria ter aceitado fazer.
Eu não danço há três anos, depois que meu pai fez a primeira cirurgia
o câncer ficou mais agressivo e se espalhou.
Foram dois anos de tratamentos alternativos, idas e vindas ao hospital,
então ele desistiu e decidiu parar com tudo até seu último dia.
Meu pai foi um guerreiro e respeitei sua decisão, não doeu menos
acompanhar sua morte, mas foi melhor do que assistir todo o sofrimento
que ele passava com os tratamentos que não adiantaram de nada.
Eu vendi tudo o que nós tínhamos para pagar as contas hospitalares,
meu seguro cobriu uma parte e quando descobri que os Petrov estavam
pagando o restante, cancelei tudo e cobri os gastos eu mesma, não aceitei
nem um centavo deles.
Só que, depois de um tempo, o dinheiro da venda do meu apartamento
acabou, meu carro não pagou nem metade da quarta cirurgia que meu pai
precisou fazer e tive que hipotecar a casa em que cresci, tudo isso foi
acumulando enquanto eu estava trabalhando como professora de ballet na
academia em San Petersburg.
Resumindo uma história longa demais, estou com uma dívida
milionária com o banco, perdi a casa do meu pai e o que ganho como
professora quase não paga meus custos com aluguel e alimentação.
Foi só por este motivo que aceitei quando Amélia Corleone veio
procurar alguém para uma apresentação especial.
Ela não queria uma criança e as bailarinas da Bolshoi Ballet Academy
já tinham uma apresentação marcada para essa noite, então Diana, a
pianista, me indicou.
É claro que eu treino todos os dias, como professora preciso
demonstrar muitos passos e ensaio com meus alunos, mas já não danço
profissionalmente, e a apresentação simples que montei não tem nenhum
salto complexo, é linda e simples, eu só não consigo me concentrar em
nada, nem no dinheiro que vou receber — que não é pouco — por uma
simples apresentação particular.
Diana aceitou pelo dinheiro também, ela é a pianista reserva e está
noiva, com o que vamos receber aqui ela poderá comprar o vestido de que
tanto deseja e ainda pagar uma boa parte da cerimônia.
Enquanto eu talvez consiga quitar uma pequena porcentagem da minha
dívida, pelo menos o gerente parou com as taxas de juros acumulativas
quando renegociei a dívida e combinamos parcelas mensais, as quais eu
quase sempre consigo pagar fazendo bico a noite em um bar.
Termino a apresentação com um salto perfeito e preciso me segurar
para não olhar diretamente para os dois homens que tanto infernizam meus
dias e noites, ao invés disso, sorrio para Amélia Corleone, que me aplaude
de pé junto com seus convidados e me entrega um buque de flores brancas.
— Faço questão que vocês se juntem a nós para o jantar, teremos um
tempo até lá e você pode ir se trocar se desejar. — Amélia convida e penso
em recusar, mas Diana aceita antes que eu possa falar algo e preciso engolir
em seco para conseguir fingir um sorriso e concordar com a cabeça. —
Perfeito, Maria vai acompanhá-las até o quarto de hóspedes.
Quando chegamos na mansão ela veio nos receber pessoalmente, para
uma mulher rica e poderosa assim, Amélia é bem humilde e se dirige a seus
funcionários pelo nome, sempre com um sorriso sincero no rosto e o olhar
carinhoso.
Somos levadas até o mesmo quarto que usamos para nos trocar antes,
Diana tira o conjunto social preto que colocou para a apresentação e coloca
um vestido longo azul, ela é uma mulher muito bonita, loira, de olhos
verdes e a pele branca, tem um sorriso sincero e um humor ácido, que não
combina com seus traços delicados.
Eu decido ficar com o coque, porque não tenho tempo para lavar e
secar os cabelos, então tomo um banho rápido e escolho um vestido social
preto que trouxe comigo, passo uma base, faço uma maquiagem leve nos
olhos e pinto meus lábios com um batom rosado.
Aproveito que o quarto tem um bar e, antes de sair, me sirvo de uma
dose de vodca para tentar tirar a imagem dos olhos azuis me encarando da
plateia, tão intensos e admirados quanto os castanhos ao seu lado.
Eles não esperavam me encontrar, tenho certeza disso, Dimitri pode
conseguir esconder seus sentimentos muito bem, mas Serguei é transparente
como água.
— Kat, maneira na bebida, esse povo rico não serve um jantar
abundante e você não comeu nada o dia todo — Diana aconselha, ela é
minha colega de quarto durante a turnê e vem fazendo comentários assim a
viagem toda, já não aguento mais.
— Eu conheço o meu limite, agora vamos, como você mesma disse, eu
não comi nada o dia todo e estou morrendo de fome. — Viro a dose de
vodca de uma vez, tomo um gole do refrigerante que abri para tirar o cheiro
de álcool da boca e saio pela porta, sem conferir se ela está me seguindo.
Quando descemos tenho a chance de realmente reparar nas pessoas
que estão aqui, o primeiro que me cumprimenta é Mikhail Petrov e, pela
postura dos outros homens na sala, tenho a certeza de que esse é o homem
mais importante aqui.
Ele é cordial e sorridente, vejo alguns traços de Dimitri em seu pai,
mas não muito.
O outro homem se chama Nikolai e nos apresenta a seu filho, Alexei,
ambos nos agradecem pela apresentação e depois Amélia nos leva até seu
marido, Alphonse Corleone, não sei como alguém pode ser tão gostoso
assim, mas o homem parece um deus grego, ele é grande, está com um
terno azul-escuro que abraça o corpo musculoso.
Depois ambos nos apresentam a sua filha, Daniele Corleone e ao
marido dela, Lucas Costello. Não entendo porque eles tem o sobrenome
diferente, mas não me atrevo a perguntar.
A mulher é linda e tem os olhos azuis como o do pai e Lucas também é
um homem muito forte e encantador, mas o que me faz estremecer é a força
na voz e no olhar de Daniele, se Mikhail não estivesse na sala, ela seria a
pessoa mais poderosa aqui.
Então chega a vez dele, Amélia nos leva até o local onde Dimitri e
Serguei conversam com um homem que, obviamente, é o irmão gêmeo
dele, porque eles realmente são idênticos, o que muda é a tatuagem no
pescoço, um tem um “A” marcado e Dimitri, um “D”.
Nunca entendi o motivo dessa tatuagem, mas, ao ver seu irmão, penso
ser a letra do nome deles, talvez seja uma brincadeira interna ou algo assim.
Tomo um gole do Martini que foi entregue a mim quando voltamos, eu
não sou muito fã dessa bebida em especial, mas quando uma pessoa como
Amélia te entrega uma bebida qualquer, você aceita sem contestar.
No momento até agradeço, já que o álcool me ajuda a manter a
coragem para encarar essa noite.
Andrei nos cumprimenta com um abraço e um beijo, seu sorriso fácil e
a forma brincalhona com que fala só confirma o que Dimitri me falou: eles
são opostos em personalidade.
Depois chega a hora deles, Dimitri pega a minha mão e seu toque faz
todo o meu corpo acender, eu posso sentir cada nervo, cada célula reativar
em meu organismo assim que ele se abaixa e beija o topo da minha mão.
É rápido demais, casto demais, mas o momento parece durar horas,
quando seu olhar encontra o meu, a intensidade nos grandes orbes azuis me
faz arrepiar, e pior, eu posso ver a dor em meu peito refletida na sua
expressão, mas para quem está de fora, nada disso acontece.
Dimitri me cumprimenta formalmente, mas não dá a entender que nos
conhecemos e, quando ele faz o mesmo com Diana, sinto como se nosso
momento não tivesse sido especial, mas sei que foi para ninguém perceber
que nos conhecemos.
Serguei faz o mesmo que Dimitri, que o apresenta como seu namorado
antes do homem pegar minha mão e beijá-la, assim como o toque da outra
boca, a dele me faz sentir viva, e preciso tomar mais um gole do Martini
para engolir o bolo que se forma em minha garganta.
Durante o jantar, Amélia mantém a conversa social comigo e Diana,
perguntando sobre as apresentações e nosso roteiro, ela é uma ótima anfitriã
e tudo corre bem, até que Serguei resolve se juntar a nós.
— Foi uma dança muito linda, Yekaterina — ele comenta de forma
cordial.
A voz parece diferente da última vez que nos falamos, está mais
grossa. Ele também já não é mais o mesmo, além do corpo, que obviamente
ficou mais volumoso no terno de luxo que está vestindo, seu olhar está mais
duro e contido.
— Obrigada — agradeço antes de engolir o nó que se forma em minha
garganta com um gole de vinho e finalmente começo a sentir o familiar
amortecimento devido ao álcool.
— Você irá se apresentar novamente antes de partir para a China? —
Amélia questiona.
— Não, na verdade eu não participo das apresentações, só em último
caso, sou professora na academia e acompanho os alunos durante a turnê —
informo, mantendo minha voz calma e tentando conter a droga do meu
coração, que resolve acelerar bem agora, quando Dimitri me lança um olhar
de canto, antes de voltar a conversar com o marido de Amélia.
— Eu não sabia, desculpa — Amélia expressa.
— Imagina, foi um prazer, e espero ter atendido suas expectativas, já
não sou mais a bailarina principal, mas ainda posso dançar, eu acho... —
Brinco e ela sorri, assim como Diana, que limpa a boca e começa a falar
sobre a música, entrando em um monólogo muito bem-vindo que tira a
atenção de mim.
— Eu amo piano, Dimitri costumava tocar — Serguei comenta e olha
para o namorado do outro lado da mesa, eles continuam juntos e, por algum
motivo, isso me deixa feliz e triste ao mesmo tempo.
Não que eu esperasse que fossem se separar quando os mandei embora
da minha vida, na verdade, quando os chutei para longe depois de ser traída
e magoada por eles, mas uma voz lá no fundo da minha mente, aquela
maldita voz que só pensa nela mesma, está gritando que eles não estão
felizes sem mim, que só continuam juntos porque Serguei é o segurança de
Dimitri, o que os obriga a conviver.
Só que eu sei que não é verdade, o amor dos dois é palpável, enquanto
me assistiam estavam de mãos dadas, conectados como uma unidade, toda
vez que se olham posso sentir o quanto se adoram e isso dói, mais do que eu
deveria admitir, e muito mais do que deveria doer depois de todo esse
tempo.
Já não sei mais quantas taças de vinho eu tomei e, por algum motivo,
parece que tem algo a mais acontecendo aqui, só que eu já não me importo
e, assim que saímos da mesa, Amélia nos leva até outra sala e posso
finalmente respirar sem sentir a pressão do olhar deles em mim.
— Você está bem, querida? — ela me pergunta e só então percebo que
estou segurando seu braço.
— Desculpa, devo ter me desequilibrado nos saltos. — Sorrio para ela
e tento me recompor, mas o mundo parece estar girando. Droga, subestimei
o poder do vinho em me deixar letárgica. — Acho melhor a gente ir, você
chama um taxi? — peço para Diana, que me olha preocupada.
— Vocês podem ficar aqui essa noite e amanhã mandarei o motorista
levá-las, não é seguro sair a essa hora. — Amélia convida e quero negar,
porém só de pensar que tem uma cama confortável bem acima da minha
cabeça e que não precisarei me segurar por duas horas até chegar ao hotel,
já mudo de ideia e concordo.
Acordo com a cabeça explodindo, a luz que entra pela janela me faz
manter os olhos fechados e virar para o outro lado, tentando controlar as
pontadas em meu cérebro.
Droga, acho que realmente exagerei, eu não costumo beber tanto
vinho, geralmente vou na vodca, que me deixa anestesiada com poucas
doses e não é tão palatável a ponto de descer como água.
Sinto um gosto azedo em minha boca ao tentar engolir e, quando
levanto a mão, sinto algo pegajoso no travesseiro, abro os olhos e respiro
fundo, o cheiro me atinge junto com a visão do vômito em minha frente.
Por sorte eu durmo de lado, já que Diana deve ter ficado no outro
quarto.
Levanto com dificuldade, sentindo todo o mundo girar e preciso de um
tempo para conseguir firmar minhas pernas, então retiro o lençol e a fronha
e levo até o banheiro, penso em lavar, mas sei que nada vai tirar a mancha
de vinho, então embolo o lençol e deixo em um canto.
Ah, também quem se importa, essa gente rica tem empregadas que são
pagas para manter a boca bem fechada e, com sorte, assim que sair daqui
nunca mais encontrarei Amélia Corleone por aí.
Pego o meu celular e vejo que ainda são sete horas da manhã, então
tomo um bom banho quente, o que ajuda a dissipar a névoa da ressaca, só
não tira a dor de cabeça, mas essa já estou acostumada.
Assim que chegar ao hotel preparo uma dose de vodca com banana e
chocolate, uma ressaca se cura bebendo.
Amélia manda seu motorista nos levar e agradece a apresentação, nos
entrega as flores que havíamos deixado no andar de baixo e uma caixinha
com algum presente dentro, mas só abro quando chegamos ao quarto e
encontro um colar de ouro branco, com um pingente de bailarina.
Eu não vou usar, sei disso, porque o único colar que adorna meu
pescoço há três anos é o de rosas que eu ganhei deles, não consegui me
desfazer ou tirar do meu pescoço, é leve e bonito, mas sem chamar muita
atenção, então combina com qualquer roupa.
Nesse tempo eu tentei me enganar e disse que só continuava usando
para não correr o risco de perdê-lo, mas não adianta, depois de ver os dois
homens que mantiveram a droga do meu coração em cárcere privado por
todos esses anos, eu já não consigo mais me enganar.
Uso o colar todos os dias para manter viva a lembrança dos momentos
felizes que tive.
Eles foram os primeiros a entrarem em meu coração, e também os
únicos a destruí-lo. Dois homens a quem me entreguei, de corpo e alma,
carregam o amor que nunca quis entregar, mas que sempre foi deles.
CAPÍTULO 24

DIMITRI
 
Yekaterina não está bem, isso é um fato. Venho acompanhando sua
vida desde que ela nos mandou embora, mas quando tentei interferir e
ajudá-la, a mulher recusou tudo, então precisei ser mais esperto e agir por
trás dos panos.
Enquanto seu pai lutava contra o câncer, fiz com que todos os melhores
médicos e testes clínicos ficassem disponíveis para ele, mesmo sem ela
saber, tudo o que poderia ser feito para salvá-lo foi disponibilizado, mas não
adiantou.
Quando ela vendeu seu carro e apartamento eu comprei acima do valor
de mercado, sem ela saber, é claro, e tudo continua em seu nome para
quando ela decidir voltar à Moscow.
Fiz com que o banco renegociasse sua dívida e paguei todos os juros
que estavam atrasados, o que ela não sabe é que já não tem mais
pendências, já que depois disso eu paguei tudo e o dinheiro que ela deposita
todos os meses cai em uma conta nas Maldivas em seu nome.
Serguei e eu acompanhamos cada um dos seus passos pelo rastreador
em seu colar, que ela não tirou em momento algum durante esses três anos,
e que vi em seu pescoço na noite do jantar na mansão Corleone.
Ela não nos esqueceu, assim como nós dois mantivemos os
sentimentos por ela vivos, da nossa forma, jamais conseguiríamos apagá-la
de nossas mentes e muito menos de nossos corações.
Agora que tudo se resolveu em New York e meu irmão será o novo
Brigadier na cidade, Serguei e eu estamos retornando à Rússia para
organizar a cerimônia de troca de comando, a qual Andrei irá assassinar o
traidor e assumir o cargo que é seu por direito.
— Você reparou no quanto ela está magra? — Serguei questiona,
sentando na poltrona de frente para mim. Deveríamos estar dormindo, a
viagem será longa e as luzes do avião já foram desligadas, mas nós não
conseguimos fechar os olhos desde que a reencontramos.
— Sim, Yekaterina não está bem, acho que é hora de interferir de
forma mais ativa — respondo, a visão da mulher que tanto amo não sai da
minha mente. Apesar de continuar maravilhosa, Yekaterina parece ter
perdido muito peso, seus ossos estavam saltados nas roupas, o rosto mais
fino do que deve ser saudável fez meu peito apertar. — Vou trazê-la de volta
para Moscow, já falei com Madame Faina e ela garantiu que Yekaterina terá
um lugar como professora na sede da escola.
— Estou preocupado com ela, amor.
— Eu também, mas agora que tudo se ajeitou com Andrei, podemos
voltar e colocar nosso plano em prática, acredito que tenha algo a mais por
trás da aparência de Yekaterina, a quantidade que ela bebeu durante o jantar
também me preocupou.
— Você percebeu — Serguei expressa com tristeza. — Achei que ela
ia parar depois da segunda taça de vinho, mas ela continuou e vi Amélia
ajudando-a a subir para um dos quartos.
— Sim, eu sugeri que elas ficassem na mansão, já que poderiam ser
pegas no meio do fogo cruzado ao tentar retornar para a cidade.
A primeira coisa que faço, assim que chegamos na Rússia, é convocar
uma reunião de emergência com meu pai.
Andrei ficou nos Estados Unidos para ajudar com o transporte médico
de Alexei, mas logo eles estarão aqui e preciso acertar alguns assuntos com
o Pakhan.
— Eu sabia que você conseguiria encontrar o traidor, meu filho —
Papa fala assim que entro em sua sala, mas dessa vez o sorriso em seu rosto
não me motiva, muito menos a bebida que ele serve e me entrega.
— Eu não fiz nada, foi Andrei quem colocou a própria vida em risco e
conseguiu provas, sem ele não teríamos como garantir o resultado de hoje
— repreendo e vejo o olhar contrariado do meu pai, seu sorriso sumindo
aos poucos enquanto ele entende o que acabei de falar. — Ele terá os
créditos, papa. No julgamento Andrei se tornará um Vor e assumirá o cargo
de Brigadier em New York.
— Ele não está pronto, ainda…
— Não! — Largo o copo e encaro meu pai, o Pakhan, finalmente
tomando coragem para falar o que já deveria ter dito há muito tempo. — Já
chega, dessa vez eu não vou deixar você tirar o que é dele por direito.
Andrei provou, mais uma vez, sua dedicação e lealdade a essa organização
e ele vai receber a recompensa que o senhor daria se fosse qualquer outra
pessoa no lugar dele.
— Andrei é meu filho e eu ainda sou o Pakhan, é melhor lembrar disso
antes de erguer a voz para mim novamente.
— Então aja como um pai, pela primeira vez na sua vida não rejeite
meu irmão, não o trate diferente de mim — expresso, tentando manter a voz
controlada, mas já sinto meu sangue ferver só pela forma fria que meu pai
me olha, como se eu estivesse falando algo absurdo. — Nunca vou entender
porque o odeia tanto, quando Andrei o venera, ele é o melhor de nós dois,
sempre fez tudo o que lhe foi ordenado, colocando a organização e a vida
dos outros acima da própria felicidade, sem ganhar nada como recompensa,
nem mesmo o amor do próprio pai.
— Você acha que não amo meu filho? — Mikhail finalmente reage e se
levanta, batendo as duas mãos na mesa enquanto se inclina para frente e me
encara, seus olhos se estreitam e o sorriso some do rosto. — Andrei é meu
sangue e eu o amo tanto quanto amo você, mas não posso mudar o mundo
em que vivemos, eu só tenho um herdeiro e precisei tomar decisões difíceis
para garantir que você ficasse seguro até assumir o meu lugar.
— Sim, um único herdeiro da Bratva, mas dois filhos. Posso entender
suas decisões como Pakhan, mas nunca vou perdoá-lo pela forma que agiu
como pai — desabafo toda a mágoa que estava acumulada em meu peito.
— Quando se tornar pai talvez entenda que o que eu fiz foi o melhor
para vocês dois.
— Eu nunca vou entender como um pai rebaixa o próprio filho,
recusando-se a amá-lo e proibindo que ele seja amado por qualquer outra
pessoa.
— Como ousa falar algo assim? — Rebate com mágoa. — Eu nunca
me intrometi na vida pessoal de vocês, nem quando começaram a se
envolver com homens, ou quando você assumiu um relacionamento com
um soldado.
— E quando o senhor matou o primeiro amor do meu irmão? Quando
disse que ele não poderia amar por que precisaria ser fiel à organização, que
o amor divide a lealdade de um soldado? Andrei nunca mais se entregou a
alguém depois daquilo e, toda vez que chegou perto, o senhor deu um jeito
de lembrá-lo do que acontece com quem o ama.
— O primeiro amor de Andrei era um traidor que estava usando o meu
filho para se aproximar de você — discorre com a voz firme e confiante. —
Nosso serviço de inteligência encontrou as provas dos planos dele e
conseguimos intervir antes que uma tragédia acontecesse, eu estava
protegendo vocês.
— O quê? — Essa informação me pega de surpresa.
— Não proibi Andrei de amar, só precisava que ele entendesse que até
o amor é algo perigoso em nosso mundo, seu irmão tem um coração bom
demais e se deixa levar pelos sentimentos, quando isso se tornou um perigo
para você, fiz o que precisava fazer para ensiná-lo uma lição e garantir que
meu herdeiro ficasse a salvo.
— E agora, qual será a lição que o senhor vai ensinar ao meu irmão?
— questiono, já sabendo o que vou ouvir a seguir.
— Andrei voltará para a Central e darei o cargo a Maxuel, que será o
próximo Brigadier…
— NÃO! — grito com toda a força que consigo, indo contra todos os
meus instintos que me dizem para abaixar a cabeça e aceitar. — Dessa vez
eu não vou deixar que faça isso, Andrei merece o cargo e ninguém vai tirar
isso dele.
— Está indo contra uma ordem minha? — questiona com raiva e
mágoa na voz.
— Sim, e se for preciso convocarei uma reunião com todos os
membros do Conselho e colocarei em votação — ameaço, segundo nossas
leis algumas decisões podem ser votadas pelo Conselho, quando há conflito
de interesses — O senhor é o Pakhan, mas os membros também tem voz
nessa decisão.
— Como se atreve… meu próprio filho… — Meu pai começa a
gaguejar, vejo seu corpo tremendo quando se joga em sua cadeira —
você… não tem…
— Papa, o senhor está bem? — questiono e dou a volta na mesa, mas
assim que vejo seu lábio puxado para o lado de uma forma não natural, já é
tarde demais e ele começa a se contorcer na minha frente. — DROGA,
PRECISO DE UM MÉDICO, URGENTE! — grito no telefone do
escritório enquanto seguro meu pai firme para que não se machuque.
Serguei fica comigo enquanto os médicos trabalham no caso do meu
pai, ele teve um ataque vascular cerebral, nós o trouxemos ao hospital o
mais rápido possível, mas nada tira da minha cabeça que foi minha culpa,
eu não deveria ter me alterado, levantado a voz para meu próprio pai, o que
eu estava pensando?
— Não, você não vai se culpar por isso. — Serguei pega minha mão,
ele não saiu do meu lado desde que viemos para o hospital e é claro que
percebeu que eu estou começando a surtar. — Essas coisas acontecem, o
Pakhan tem uma idade avançada, você ouviu o que o médico falou, que ele
não deveria beber porque estava tomando remédios para a pressão, mas
Mikhail é cabeça dura e…
— Chega. — Corto seu discurso e aperto sua mão — Eu sei disso, mas
não consigo dispersar aquela voz que grita dentro da minha cabeça, eu só
preciso de tempo, amor, só isso.
— Tudo bem, estarei ao seu lado para o que precisar.
— Pode conseguir um café para mim?
— Claro, volto logo. — Ele me dá um beijo carinhoso no rosto antes
de levantar e sair.
Só preciso ficar sozinho um tempo, colocar a cabeça no lugar e pensar
em como vou dar essa notícia para meu irmão, ele e nosso pai nunca foram
próximos, e a culpa é toda do papa, mesmo assim sei que Andrei o ama e o
venera, se não fosse isso ele não aceitaria a forma que é tratado.
— Vor Petrov — Victoria se aproxima e faz uma reverência,
aguardando meu sinal, então respiro fundo e me levanto para falar com ela.
—, o Conselho exige sua presença o quanto antes em uma reunião
extraordinária, eles já sabem sobre o estado de saúde do Pakhan.
— Obrigado — agradeço e, mesmo querendo ficar aqui, próximo a
meu pai, sei qual é o meu dever e preciso assumir minhas
responsabilidades, afinal, a partir de hoje, Dimitri Petrov dá lugar ao
herdeiro do Pakhan. — Victória, preciso que alguém avise Janine, ela tem
entrada irrestrita no hospital e, se quiser, pode ficar com meu pai.
— Sim, senhor.
Sigo de volta para o meu escritório, onde os líderes das famílias
principais já me aguardam, entre eles estão Sasha Kuznetsov, Vasily
Smirnov e Pyotr Orlov, juntos decidiremos os próximos passos a serem
seguidos para a sucessão da quinta família, os Ivanov, e também a troca de
comando do Pakhan.
Quase cinco horas depois tomamos a decisão de que, assim que Andrei
terminar com o traidor, Alexei Ivanov assumirá como líder da sua família e
depois, com o voto de todos os membros do Conselho, eu assumirei como
chefe da família Petrov e o próximo Pakhan da Bratva.
CAPÍTULO 25

SERGUEI
 
Dimitri é o novo Pakhan da Bratva.
Mikhail Petrov acabou ficando com sequelas devido ao AVC e Dimitri
assumiu seu lugar de direito, a hora para a qual ele foi treinado a vida toda
chegou, mas meu amor não está bem com isso.
Vejo a forma que seus ombros estão sempre contraídos e tensos, os
olhos, que antes eram de um azul brilhante, agora parecem se apagar
conforme os dias passam, mas o pior é que ele se fechou para todos,
inclusive para mim.
É por isso que preciso tomar uma atitude e falar com a única pessoa
que tem chances de chegar até Dimitri nesse momento.
— Vor Andrei Petrov. — Bato na porta do quarto do meu cunhado, em
um braço seguro Natasha, a gatinha amarela que tenta subir pelo meu
paletó, enquanto chamo por ele, que deveria estar cuidando dela agora, mas
esqueceu de buscá-la em nosso quarto. — Andrei, eu sei que você está aí —
falo mais alto e, depois de alguns segundos, as travas da porta fazem
barulho e ela abre.
— Oi, cunhadinho, estou um pouco ocupado no momento. — Andrei
coloca só a cabeça na fresta da porta, escondendo o corpo que imagino estar
pelado, então escuto risadinhas dentro do quarto e já sei o que está
acontecendo.
— Preciso falar com você, é urgente, me encontre em quinze minutos
na biblioteca, por favor — exijo sem sorrir, para que saiba que é sério e isso
faz efeito. Andrei franze as sobrancelhas e finalmente acena com a cabeça,
então entrego a gata para ele. — Essa é a sua filha, a partir de agora Natasha
fica com vocês, ela já arranhou todo o nosso sofá.
— Nat meu amor, o papai esqueceu de buscar você. — Anna passa por
Andrei com um roupão vermelho e pega a gatinha, acolhendo-a em seus
braços. — Desculpa, Serguei, ficamos um pouco… ocupados.
Não respondo, só relaxo um pouco meu rosto e aceno com a cabeça,
Andrei avisa que me encontrará lá em pouco tempo e volto para nosso
quarto, sou recebido por Batman, o gatinho preto mais mimado desse
mundo todo, que se esfrega em minhas pernas pedindo comida.
— Você só quer saber de comida, seu interesseiro, só estava esperando
sua irmã sair para acordar, não é mesmo? — falo e ele mia de volta,
claramente confirmando o que falei, por isso vou até a cozinha e sirvo um
prato do sachê de salmão preferido dele. — Papai já volta, preciso resolver
umas coisinhas, vou deixar a TV ligada para você.
Sim, meu gato é mimado, e ele merece. Andrei resgatou dois gatinhos
em New York, um preto e uma amarela, ele ficou com a Natasha e nos deu o
Batman, Dimitri e eu o assumimos como nosso filho.
Foda-se o que as pessoas falam sobre pai de pet, é o que somos e
ponto.
— Ei, cunhadinho — Andrei me chama da porta do quarto, já que tem
acesso ao lugar. O folgado foi entrando sem ser convidado. — Podemos
conversar aqui? A biblioteca está ocupada.
— Tudo bem, quer um café? — Ofereço e ele aceita, então começo a
preparar a bebida enquanto falo. — Dimitri não está bem, Andrei.
— Ele vai se ajustar, meu irmão nasceu para isso.
— Não, você não entende, já faz um tempo que venho notando algo de
estranho nele e, para falar a verdade, acho que era algo que já estava ali
quando nos conhecemos — explico.
— Ele vai ficar bem, Serguei — Andrei fala e sorri, daquele jeito
debochado dele que me irrita quando o assunto é delicado assim.
— Pode, por favor, levar essa merda a sério? — Explodo e fecho a
máquina de café com força, isso chama sua atenção. — Dimitri foi
diagnosticado com depressão severa tem quase três anos.
— Não, eu saberia se meu irmão…
— Não, Andrei, você não saberia porque ele não contou para ninguém,
nem para o próprio pai.
— Como assim? — ele questiona, agora com o semblante preocupado,
que o deixa um pouco mais parecido com Dimitri.
— Lembra da festa de despedida que fizeram quando vocês foram para
Boston com os de Angelis?
— Claro, foi ali que você conheceu meu irmão, não foi?
— Sim e não, naquela noite tivemos nossa primeira… bem, ele me
notou, só que nós não estávamos sozinhos.
— Cunhado, eu não preciso de detalhes das putarias que você e meu
irmão fazem. — Andrei não se aguenta e brinca, mas eu o olho de forma
séria, até ele finalmente parar de sorrir, cruzar os braços respirando fundo e
garantindo que vai me ouvir. — Desculpa.
— Naquela noite conhecemos uma mulher que, em pouco tempo, se
tornou alguém especial para nós dois.
— A bailarina dos Corleone.
É claro que ele percebeu, Andrei pode ser brincalhão, debochado e
levar as coisas na brincadeira, mas é astuto demais e muito perceptivo para
deixar passar a forma com que Dimitri e eu olhamos para Yekaterina,
porque não conseguimos nos conter quando ela apareceu, depois de três
longos anos sem vê-la pessoalmente, foi um choque.
— Sim, Yekaterina Belova.
Então conto tudo o que aconteceu entre nós durante o tempo que ele
estava longe, porque Dimitri me fez prometer que não falaria nada para seu
irmão, mas eu preciso da ajuda de Andrei e ele precisa saber da história
toda para isso.
— Quando eu voltei da missão com Yelena morta no avião, percebi
que Dimitri estava mudado, mas achei que fosse pela perda da nossa
companheira, ela era uma espiã de elite, infiltrada dentro da organização
para testar a lealdade dos soldados — Andrei confessa, pegando-me de
surpresa.
Sempre achei que Yelena fosse uma espiã normal, com o diferencial de
ser amiga do Herdeiro, mas saber que ela era uma espiã do grupo de elite
faz muito sentido, afinal, ninguém conseguiria colocar um soldado qualquer
dentro de uma festa particular de Dimitri, muito menos uma pessoa de fora
como Yekaterina.
— Sim, você está ligando os pontos — Andrei fala e o café fica
pronto, sirvo uma caneca para ele e outra para mim. — Ela era mais do que
uma simples espiã, ela era nossa melhor amiga de infância, Yelena esteve
conosco a vida toda e foi educada na Central para proteger Dimitri e, assim
como eu, ela sempre o amou como um irmão.
— Mas ela não era tão velha assim…
— Ela tinha dois anos a menos do que nós, você não imagina o poder
da plástica e maquiagem, querido cunhadinho. Yelena precisava parecer
jovem e frágil para fazer seu trabalho. — Ele toma um gole do café e depois
ergue o olhar para encontrar o meu. — Sempre soube que ela era especial,
mas vendo agora, foi Yelena quem trouxe a Anna para mim, foi ela quem te
colocou no caminho do meu irmão e, pelo que você me contou, Yelena foi a
responsável por encontrar Yekaterina e trazê-la até aqui, sabe como elas se
conheceram?
— Sim, Dimitri questionou Yelena, que não deu muitos detalhes, mas
disse que foi em alguma praia, elas tiveram algo e depois ficaram amigas,
mas Yekaterina estava em turnê e Yelena em uma missão.
— Yelena encontra uma bailarina russa, fode ela, se torna amiga dela e
depois apresenta para meu irmão? — Andrei discorre desconfiado. — Tem
mais coisa nessa história, vocês nunca perguntaram para Yekaterina?
— Não, mas o que importa é que Yelena confiava nela e, com
Yekaterina em nossa vida, tudo estava perfeito, mas assim que ela saiu e nos
afastou, Dimitri piorou.
— Como assim?
— Percebeu que ele não toca mais piano?
— Achei que era só em público, mas nem o do quarto?
— Não, eu tive que mandar trocar todos os cabos dele porque estavam
enferrujando. Ele não consegue, já o peguei sentado no banco em frente ao
piano, ele não me viu, mas eu vi suas mãos tremendo enquanto ele tentava
erguê-las, e o olhar triste em seu rosto… Andrei, isso está acontecendo cada
vez mais.
— Não pode, Dimitri não se entregaria assim só por causa de uma
mulher.
— Claro que não, ele sente falta dela, mas sabe que Yekaterina
precisava de espaço e foi isso o que fizemos, mas Dimitri sente tudo,
Andrei, ele vive triste por cada vida perdida na organização, por todas as
decisões que precisa tomar durante o dia e os efeitos delas, ele está
quebrado por dentro e temo o que possa tentar fazer agora que se tornou
Pakhan.
— Você está insinuando que meu irmão pode tentar tirar a própria
vida? — Andrei coloca em palavras o que eu não tenho coragem de dizer.
— Ele já tentou, Andrei, mais de uma vez — confesso e o vejo
arregalar os olhos em surpresa.
— Não, é mentira.
— Seu pai sabia sobre as primeiras tentativas, foram antes de eu estar
na vida dele, mas depois ele tentou de novo mais três vezes, a última…
bem... — Sinto meu coração quebrar no peito ao lembrar da cena. — Ele
não pediu ajuda e… e eu quase não cheguei a tempo.
A memória de Dimitri na banheira, um canivete ensanguentado no
chão e o pulso aberto, pingando sangue, é o cenário dos meus pesadelos
constantes.
Ele me pediu para ir até a Central buscar alguns papéis, disse que
ficaria em casa, mas eu estranhei, ele não estava muito bem e seu olhar
parecia mais triste do que o normal, mas era uma ordem e eu tive que
cumprir.
Por sorte usei o helicóptero e não o carro como ele ordenou, então
quando voltei o encontrei daquela forma, ele cobriu a cicatriz com uma
tatuagem depois, mas nada conseguirá tirar da minha memória o dia que
quase perdi o amor da minha vida.
— Depois disso eu o fiz buscar ajuda — conto e Andrei franze as
sobrancelhas sem entender. — Consegui o número da psicóloga de Daniele
Corleone, uma mulher chamada Luana Masseria. Claro que tudo é
confidencial, especialmente por ser online, precisei de meses para
convencê-lo a tentar, mas depois das primeiras consultas Dimitri reagiu um
pouco e, quando Luana aconselhou que procurássemos um psiquiatra,
porque o caso dele era grave demais para tratar somente com terapia, ele
aceitou.
— Os comprimidos que ele está tomando são para isso, então?
— Sim, Dimitri não quer que ninguém saiba, nem seus pais sabem —
aviso, mas Andrei conviveu muito conosco em New York e é óbvio que
percebeu quando Dimitri tomou as pílulas. — Só que estou preocupado,
Andrei, ele perdeu peso, não quer comer direito, não tem treinado com a
mesma constância, eu não quero… não vou deixar…
— Ei, calma. — Ele levanta e caminha ao redor da mesa, até ficar ao
meu lado, Andrei me abraça e só então sinto uma lágrima, que tanto tentei
conter, escorrer pelo meu rosto. — Eu não vou deixar que nada aconteça ao
meu irmão, está ouvindo? Vou protegê-lo até dele mesmo.
— Eu acho que ele precisa de férias, agora que é o Pakhan, Dimitri
tem permissão para sair da mansão, mas ele não quer, prefere lidar com
tudo online ou que as pessoas venham até ele.
— Se é de férias que meu irmão precisa, é isso que vamos dar a ele, o
que acha de organizar uma viagem de lua de mel para vocês dois? Eu
conheço uma certa ilha no meio do mar, sem nada nem ninguém por
quilômetros e quilômetros e…
— É perigoso demais, enquanto Dimitri não estiver casado e com
herdeiros, ainda não podemos nos arriscar assim — repreendo e me afasto
dele, agradecendo o conforto. — Pensei na casa de campo.
— É uma alternativa legal, estamos no verão e o lugar fica ainda mais
bonito com o lago descongelado — Andrei comenta e só posso imaginar, vi
algumas fotos que Dimitri me mostrou, mas nunca fomos lá.
— Só tem uma coisa que preciso e Dimitri não pode saber.
— Conta aí, cunhadinho, seja o que for eu prometo que será feito.
Então conto todo o meu plano para Andrei, que ri de algumas partes,
mas promete me ajudar e garante que ficará aqui até voltarmos, afinal,
precisamos de alguém para cuidar da Central enquanto o Pakhan está longe,
e ele e Alexei serão os porta-vozes oficiais.
CAPÍTULO 26

YEKATERINA
 
Nada é tão ruim que não possa piorar.
Esse vem se tornando o lema da minha vida nos últimos anos e, só se
confirma ainda mais, quando Madame Faina me manda um aviso dizendo
que serei transferida para a sede da academia de ballet em Moscow.
Eu estava bem trabalhando em San Petersburg, longe de tudo o que
me lembrava do passado e o mais distante possível deles, mas ela não
pediu, muito menos me deu chance para recusar, ela avisou que eu estou
sendo transferida, e é isso.
Por sorte receberei um aumento no salário e talvez não precise
trabalhar por fora para pagar o empréstimo, porque os horários na academia
de Moscow são mais longos, por ser um lugar maior e ter mais turmas,
especialmente de meninas entre doze e quinze anos, que são as que eu
ensino.
Eu tentei conseguir emprego em outros lugares, especialmente outras
escolas de dança, mas não consegui e nunca soube exatamente o motivo,
porque Clayr foi aceita para dar aulas em New York com muita facilidade.
Magie largou a carreira de ballet logo depois que sua mãe faleceu,
quase na mesma época que meu pai, então ela foi trabalhar com marketing
digital, viajando pelo mundo.
Nathan é o único que continua dançando, depois da sua primeira turnê
como bailarino principal, a qual ele teve que fazer com Thais, já que eu saí
de última hora.
Sua carreira estourou e ele vem sendo cada vez mais ovacionado pela
postura e perfeição com que executa cada um dos movimentos, dos mais
simples aos mais complexos.
É por saber que ele estará em Moscow que não estou pirando ao
empacotar minhas coisas e voltar para a cidade que deixei para trás, por
sorte consegui o contato da pessoa que comprou meu apartamento e ele está
para alugar.
A mulher foi incrivelmente educada e disse que tudo está como no dia
em que saí, porque ela tentou revender, mas não conseguiu, então manteve
fechado.
Achei estranho porque fica em uma região muito bem avaliada, em que
o mercado está em alta, mas no fim foi o melhor para mim, posso ser um
pouco egoísta e sinto que tenho esse direito depois de tudo pelo que passei.
Quero minha casa, ou devo dizer, o lugar em que me senti bem por um
tempo.
— Eu soube que uma certa gostosa estaria de volta na cidade. —
Nathan me cumprimenta na porta da escola, o sorriso largo e sincero faz
meu peito apertar, o que só piora quando ele me abraça e me entrega um
buquê com flores do campo. — Bem-vinda de volta, minha rainha.
— Para com isso, sou uma mera professora, rei aqui é você. Como
andam as preparações para a turnê?
— Tranquilas, Carla é uma ótima bailarina e formamos uma boa dupla,
claro que ninguém se compara a você. — Ele pega minha mão e
caminhamos juntos pelo corredor.
— Eu vi os vídeos de vocês juntos, são como uma unidade — comento
e ele sorri daquele jeito envergonhado que tem quando o elogiam. — E
estou feliz pela sua apresentação solo, quero assistir de camarote.
— Pode apostar que vai. — Chegamos aos vestiários e ele me abraça
novamente. — Madame Faina está te esperando, mas vamos sair para jantar
depois, Magie está na cidade e Clayr vai nos acompanhar por vídeo
chamada.
— Sim, Magie me avisou.
— Combinado, bom primeiro dia, professora.
— Bons ensaios, bailarino.
Entro no escritório de Madame Faina receosa, da última vez que nos
falamos pessoalmente eu estava transtornada por causa do meu pai e não
quis aceitar sua ajuda.
Ela chegou a propor que eu tirasse um tempo do ballet, mas que depois
voltasse para me apresentar no próximo ano, só que eu não queria mais ser
bailarina, nunca fiz por mim, sempre foi pelo esforço de meu pai.
Me pareceu desrespeitoso falar para ele que eu já não era mais a garota
de quatro anos que gostava de rodopiar por aí e que, para adultos, o ballet
era muito diferente, então segui com isso e transformei em carreira.
Uma que eu nunca quis e, por isso, assim que acabou, quando
finalmente tomei a decisão de que não me apresentaria mais, me senti
aliviada.
— Yekaterina, seja bem-vinda — Madame Faina cumprimenta.
Ela está sentada atrás da sua mesa de vidro, usando um conjunto social
grafite, uma camisa rosa-claro combinando com o lenço da mesma cor
amarrado em seu pescoço.
— Obrigada, Madame Faina — agradeço e sento na cadeira de couro
bege.
Passo o olhar pelo ambiente, que já conheço muito bem por ter
passado a vida toda nessa escola, tenho cada canto desse prédio marcado
em minha mente e as paredes brancas com quadros de bailarinas dessa sala
nunca saíram da minha memória.
— Estamos felizes que você esteja de volta, também fui instruída a
agradecer, em nome da Bolshoi Ballet Academy, pela apresentação
impecável em New York.
Ela não me dá tempo de agradecer, Madame Faina odeia que falemos
mais do que um “obrigada” em uma conversa, ela diz que as mulheres
foram ensinadas a serem gratas o tempo todo, como se o mundo estivesse
fazendo um favor a cada segundo que respiramos.
Então ela começa a discorrer sobre minhas novas obrigações, as
turmas que serei responsável e os horários, nada diferente do que eu já
havia recebido por e-mail, a reunião dura menos de uma hora e depois vou
para a sala dos professores me trocar.
O dia poderia ser bem tranquilo, só que estamos falamos da minha
vida, a droga da minha maldita vida, e é óbvio que eu o encontraria aqui.
— Senhoras e senhores, eu só posso estar sonhando, Yekaterina
Belova está de volta aos palcos. — A voz provocativa de Leônidas faz meu
estômago embrulhar. Eu sabia que ele estaria aqui, afinal é o professor de
algumas turmas, só não queria cruzar com ele justo no meu primeiro dia. —
O que é isso, Kat, não vai dar um abraço em um velho amigo?
Olho para ele com a minha melhor expressão de “vai se foder”, porque
não quero dizer as palavras, nós estamos sozinhos na sala, porém se alguém
entrar agora eu posso ter problemas, mas Leônidas não é um homem que se
acovarda com um olhar, o sorriso macabro em seu rosto é a última coisa que
vejo antes dele me empurrar contra o armário e colocar uma mão de cada
lado do meu rosto.
— Não adianta fazer cara feia, doçura, eu adoro um desafio e, agora
que você está de volta, podemos recomeçar de onde paramos da última vez.
— Com você me ameaçando, é isso? — desafio, mas sinto a dor na
parte de trás da minha cabeça, bem no lugar que bati na madeira do
armário.
— Para de drama, sei muito bem que você gosta de se envolver com
gente perigosa e, Kat, eu posso ser muito, muito perigoso.
Não consigo mais aguentar isso e não penso antes de erguer meu
joelho com força e acertar o meio das pernas de Leônidas, que finalmente
abaixa os braços e se contorce no chão com as mãos segurando o pau e o
rosto fechado em uma expressão de dor.
— Fica longe de mim, está ouvindo? Mais uma brincadeirinha dessas e
eu te denuncio por assédio.
— Sua vagabunda… — ele consegue falar, mas não deixo que me
ofenda mais, pego minhas coisas e sigo até o vestiário feminino, tranco a
porta e, só então, deixo que o medo tome conta do meu corpo.
Escorrego com as costas na porta até sentar no chão e sinto as lágrimas
molhando meu rosto, já que não consigo mais segurá-las.
Leônidas e eu tivemos uma noite de sexo, depois que insistiu por
meses, me mandando flores, sendo gentil, chamando para jantar, ele foi um
príncipe até me comer, mas depois que transamos, o desgraçado mostrou
sua real face e não queria mais me deixar em paz.
O sexo com ele não foi ruim, mas eu deixei claro que era só isso e
pronto, ele não quis aceitar que alguém não ficaria viciado em seu pau de
quatorze centímetros, quando duro.
Só foi razoavelmente bom porque eu sei o que fazer para me dar prazer
enquanto transo, se dependesse dele seria uma decepção completa.
Só a lembrança me faz estremecer.
Tiro o pequeno frasco com vodca, que guardo dentro da minha mala, e
tomo um gole para aliviar a tremedeira que começa a tomar conta das
minhas mãos, o segundo gole é para esquecer o que aconteceu e o terceiro,
para conseguir levantar.
Eu jurei para mim mesma que não iria beber antes ou durante o
expediente, mas ninguém pode me culpar por precisar de uma ajuda,
especialmente depois do que acabei de passar.
Então, depois de alguns minutos, levanto e escovo bem os dentes,
como a banana que deixei para o lanche, o que ajuda com o cheiro de álcool
em meu hálito, só então troca de roupa e me preparo para meu primeiro dia
de trabalho.
Termino o dia exausta, mas até que não foi ruim. Minhas turmas são
boas e as alunas estavam tranquilas hoje.
É difícil lidar com meninas com idade de doze a quinze anos, mas eu
confesso que amo, tentei pegar as turmas de crianças menores, mas não
tinha vaga.
Uma das coisas mais incríveis como professora é poder conviver com
as crianças, eles tem uma energia imensa e estão sempre ansiosos, correndo
de um lado para o outro, essa é a parte que eu mais gosto do trabalho,
aquela que me faz imaginar o dia em que terei meus filhos correndo assim.
Depois do trabalho vou com Nathan para o restaurante, afinal ainda
estou sem carro e uso o transporte público para trabalhar, então ele me
ofereceu carona.
Faz quase um ano que não vejo minha amiga, a última vez foi no
funeral do meu pai, ela segurou minha mão da mesma forma que segurei a
dela quando sua mãe faleceu, duas pessoas quebradas tentando dar força
uma a outra.
— É tão bom te ver, Kat. — Magie me puxa para um abraço apertado.
— Ah, amiga, você nem sabe a saudade que sinto de você, de todos
vocês — falo quando saio dos braços dela e Nathan coloca uma mão em
meu ombro, confortando-me enquanto Clayr aparece na tela do celular em
cima da mesa.
“Eu também queria estar aí, vou para o natal, então se preparem.”
— Vamos fazer amigo secreto — provoco e ela faz uma careta, Clayr
odeia amigo secreto e bem por isso todo ano organizamos um, mesmo
online, como foi nos últimos três anos.
“Eu também quero brincar, tias”
Matielo aparece com Gus, o bebê mais gordo e fofo desse mundo, em
seu colo. Ele e Clayr tiveram seu primeiro filho faz três meses.
Então começam os gritinhos de “Own”, seguidos de “coisa mais fofa
dos padrinhos”, que Nathan, Magie e eu soltamos, já que todos somos
padrinhos dessa criança, porque Clayr se recusou a escolher só dois.
Dali para frente sentamos para jantar e conversar, colocando os últimos
acontecimentos em dia, mesmo que nunca paramos de nos falar, encontrar
os amigos pessoalmente é diferente.
Não conto o que aconteceu com Leônidas, não vale a pena preocupa-
los por nada, ele não vai realmente me atacar.
Uma pessoa como ele gosta de impor sua “soberania”, colocando
medo nas outras pessoas, Leônidas se acha especial e melhor que os outros,
portanto, em sua cabeça ridiculamente grande, ele pensa que todos são
inferiores e devem fazer tudo o que ele quer, mas não tem a coragem real
para atacar alguém, ele só fala mesmo.
CAPÍTULO 27

DIMITRI
 
Gostaria de poder pular o dia de hoje, só deitar na cama, abraçado no
meu namorado, e dormir o dia todo até amanhã. Só que sei que quando
acordar terei os mesmos problemas, as mesmas cobranças e a reunião que
me aguarda não vai acontecer sem mim.
Eu cumpri com meu destino e assumi o lugar do meu pai como Pakhan
da Bratva, foi uma cerimônia esplendorosa, como deve ser em uma situação
dessas.
Quando criança costumava imaginar como seria esse dia, meu pai
mostrava fotos da sua cerimônia e eu criava o cenário em minha mente.
Hoje, com trinta e sete anos de idade, me sinto tão preparado quanto o
menino de dez anos que ouvia as histórias do pai e sonhava em ser ele.
Só que já faz muito tempo que aquele menino ingênuo não existe mais
e, mesmo que eu tenha amadurecido e me tornado alguém capaz de liderar,
não me sinto pronto.
— Dimitri, papa quer falar com você antes da reunião com o Conselho
— Andrei avisa da porta do meu quarto, ele está vestindo o uniforme, uma
camisa azul-claro com o terno azul-marinho e os emblemas de suas
conquistas, que ele finalmente tem o direito de usar, agora que foi
condecorado como Vor e vai assumir o cargo de Brigadier da Bratva em
New York.
— Já estou indo — aviso e pego o meu próprio paletó, tem o mesmo
corte e dimensões que meu irmão usa, afinal foi feito pelo mesmo alfaiate e
somos muito parecidos, mas o meu é todo branco com a camisa preta por
baixo e uma gravata azul, os seguranças do grupo de elite usam o terno todo
preto e os soldados não usam terno, somente a camisa azul com a gravata
mais escura.
Estamos oficialmente em uma semana de tomada de decisões e, por
esse motivo, todos os dias tenho reuniões importantes, que sugam cada
resquício da minha sanidade, quando preciso decidir sobre questões de vida
ou morte.
É minha responsabilidade escolher quem vai ganhar uma guerra, ou
qual cidade será atacada para que o tráfico humano continue existindo.
Também está em minhas mãos pensar sobre o futuro das nações e
quais delas irão dominar ou serão dominadas pelos próximos anos.
Tudo isso está em meus ombros, o que me torna a pessoa mais
poderosa desse mundo, o maior monstro, aquele que muitos tem como um
deus, já que tenho o poder de decidir quem vive e quem morre, quais países
prosperarão e quais cairão na pobreza.
Eu controlo os governos, as organizações criminosas, as ONGs e todo
e qualquer sistema operacional desse mundo.
Eu sou o monstro por trás dos monstros.
E só eu sei o peso que isso tem.
— D-Dimitri, meu… filho — papa fala gaguejando assim que entro na
biblioteca, ele tem passado muito tempo aqui, na companhia de sua mulher,
Janine, e os livros que tanto ama. — Você está… preparado?
— Não sei — confesso e sento na poltrona ao seu lado, ele não
consegue caminhar, já que teve metade do seu corpo paralisado por causa
do AVC, então precisa de ajuda para tudo, e está andando de cadeira de
rodas no momento, é uma elétrica e de última geração que ele está
aprendendo a controlar com a mão esquerda.
— Vai se… sair… bem — ele avisa e, por algum motivo, essas
palavras me deixam um pouco mais confiante, então papa me entrega uma
carta fechada, em cima do envelope está escrito “Abrir sozinho”. — Não…
consigo falar… direito.
Ele quer dizer que, mesmo não conseguindo falar com palavras,
consegue digitar e, por isso, escreveu o que gostaria que eu ouvisse agora.
— Eu te… amo, meu filho — confessa com um sorriso triste e torto,
não posso imaginar o que meu pai está passando agora, afinal, para um
homem como ele, acostumado a ter o controle sobre tudo e todos, ficar
confinado dentro do seu próprio corpo deve ser uma tortura.
— Também te amo, papa. — Em um gesto impensável, vou até ele e o
abraço, e ele me abraça de volta, algo que nunca fez depois que cresci, mas
que percebo estar precisando e não sabia. — O senhor precisa dizer isso
para Andrei, ele o ama e sei que o sentimento é recíproco, agora que sou o
Pakhan, os deveres do meu irmão comigo foram finalizados, ele é um
Brigadier leal à Bratva e a mim, chega de guardar esses sentimentos para si.
— Eu vou… eu… vou falar. — Ele se atrapalha com as palavras, mas,
assim que me afasto, tenho a sensação de que algo mudou em seu olhar e
sei que ele fará isso, porque apesar de tudo, papa nos ama da sua forma, ele
só achou que precisava escolher entre nós dois, e esse foi o seu erro.
Depois da conversa com meu pai, sigo para a Central, minha agenda
está lotada, mas a primeira reunião é a mais importante, com todos os
membros do Conselho principal, os herdeiros de cada família tem voz em
algumas decisões importantes, uma delas é exatamente sobre a minha vida.
— Senhores, vamos começar — proponho ao entrar na sala de
reuniões — Gostaria de iniciar agradecendo a presença de todos aqui, é um
momento complicado para a organização e precisamos que todos estejam
juntos nessa nova fase
— Nós confiamos na sua habilidade de liderar, Vor Petrov — Pyotr
Orlov comenta e os outros concordam com a cabeça. — O motivo dessa
reunião é mais delicado.
— O AVC do seu pai pegou a todos de surpresa, inclusive você, mas
agora o relógio está correndo e precisamos que tome algumas decisões —
Vasilu Smirnov informa, ele é o mais velho entre todos presentes, já que
ainda não se aposentou para seu filho assumir o lugar no Conselho. — Você
já tem um plano para garantir um herdeiro?
Sim, um herdeiro, porque é só isso o que importa, ele não perguntou
sobre uma esposa ou se eu tenho alguém em minha vida, porque isso eles já
sabem, o que está em jogo aqui é a linha de sucessão.
— Como já foi dito hoje, minha ascensão como Pakhan foi repentina
e, como todos aqui já tem conhecimento, eu não tenho uma esposa, portanto
a resposta para sua dúvida é indefinida — justifico e eles concordam com a
cabeça, menos Vasily, que levanta uma sobrancelha claramente descontente
com minha fala.
— Precisa resolver isso logo, não temos como manter as reuniões em
sigilo se o Pakhan não puder viajar por ainda não ter um herdeiro — Vasily
contesta e é um ótimo apontamento, um que eu já esperava.
— Devo relembrar a regra de sucessão, eu tenho dois anos para fechar
o contrato de casamento e cinco para gerar herdeiros, faz duas semanas que
assumi como Pakhan, dentre todas as minhas responsabilidades nesse
momento, procurar uma mulher é a menor delas, mas podem ter certeza,
que cumprirei cada uma das minhas obrigações, só que será no meu tempo
e com a pessoa que eu escolher — discurso sem medo algum do que eles
possam falar, eu aceitei esses termos e vou cumprir com eles, mas não será
por pressão do Conselho.
Eles só estão trazendo isso à tona nesse momento para me intimidar,
em especial os membros mais antigos, porque sabem que, até que eu não
tenha uma esposa e filhos, a linha de sucessão ainda não está garantida e
minha vida continua em perigo.
Um Pakhan com herdeiro não está livre de ameaças, mas o herdeiro é
sempre o alvo principal, nossos imigos querem acabar com a linha de
sucessão e criar um conflito interno, já que, se eu morrer, Alexei assumiria
como Pakhan, porém minha família seria desligada do Conselho, já que
Andrei não pode ser meu sucessor e sobrariam somente quatro famílias.
Ter um número par de pessoas em um Conselho faz com que qualquer
votação tenha a chance de acabar em empate e, com isso, o Pakhan teria o
direito de desempate, o que daria mais poder a uma pessoa do que as outras,
e geraria conflitos internos.
É por isso que a linhagem de sucessão do Pakhan precisa ser
assegurada, nossas leis são rígidas e devem ser cumpridas para garantir o
futuro da organização.
— Nós entendemos — Alexei concorda, ele é o membro mais novo,
mas está do meu lado, assim como Sacha Kuznetsov.
— Agora que resolvemos isso, podemos partir para o que realmente
importa? Preciso de uma decisão para saber quantas armas serão fabricadas
e enviadas para o Afeganistão, minhas fábricas aguardam um número
oficial e não tenho como esperar. — Sacha muda de assunto e quase o
agradeço por isso, mas decido prosseguir com a reunião que se volta aos
tópicos mais importantes.
No final do dia chego em casa morto de cansaço, Serguei me ajuda a
tirar a roupa e deito na água morna da banheira, minha cabeça está
latejando de dor enquanto tento relaxar e respirar fundo, mas meu cérebro
não para, continuo pensando nas diversas decisões que tomei hoje e nas
milhares que tenho pela frente.
Todos os dias serão assim, impossivelmente pesados. Até quando
posso lidar com isso?
— Amor, lembra que a consulta com Luana é em uma hora — Serguei
avisa da porta do banheiro. — Vou preparar algo para você comer antes,
peixe ou frango?
— Não estou com fome…
— Não importa, vai comer igual, eu vi que você mal tocou no almoço
e deixou o bolo que coloquei em sua mesa de tarde intocado, vou te fazer
comer o jantar nem que precise te dar na boca.
— Prefiro ter outra coisa na minha boca. — Brinco tentando forçar um
sorriso que não sai como eu queria.
— Espertinho, não vai colar. — Serguei vem até mim e me dá um
beijo rápido demais — Estou preocupado com você.
— Eu sei, vai passar — Respiro fundo, absorvendo minhas próprias
palavras como um mantra, quem sabe eu acredite nisso. Depois de alguns
segundos consigo fingir um sorriso melhor e relaxar meus ombros —
Prepara o jantar para o teu homem, prometo comer tudo se tiver sobremesa
depois. — Pisco para ele, que não se aguenta e abre um dos seus sorrisos
mais lindos, daqueles que deixam as covinhas pronunciadas.
— Você não tem jeito mesmo.
Serguei sai do banheiro, mas deixa a porta aberta, depois do dia que
precisou arromba-la   e me encontrou sangrando nessa mesma banheira, ele
tirou todas as trancas internas, só temos a do quarto do pânico e da rota de
fuga, o restante meu namorado arrancou tudo.
Entendo sua preocupação, aquele dia eu estava muito mal, nada mais
fazia sentido, tive que escolher entre dois pontos de bombardeio e ambos
tinham escolas perto, infelizmente o atingido teve um grande número de
baixas e aquilo me pegou.
Eu não sou cego para as consequências do que a Bratva faz,
especialmente quando as ações são ordenadas por mim mesmo, sinto cada
uma das vidas que foram tiradas precocemente, mas não tenho escolha,
queria que as guerras terminassem, mas, para isso acontecer, os humanos
deveriam ser extintos.
É melhor não pensar nisso agora, já tenho problemas suficientes na
minha cabeça para me martirizar com os que eu não posso resolver. Nesse
momento o assunto mais urgente é encontrar uma esposa, só que o
problema é que eu não quero qualquer mulher, meu coração e meu corpo só
vão aceitar Yekaterina.
Só ela tem o que é preciso para entrar nessa conosco, já que
entregamos nossos corações no mesmo dia em que assumimos amá-la.
Agora precisamos reconquistar nossa mulher e fazê-la enxergar que
ainda nos ama, porque eu tive certeza que ela jamais nos esqueceu quando
vi o colar que dei de presente a ela pendurado em seu pescoço no jantar dos
Corleone e em como sua mão o acariciava constantemente.
Se nós não conseguimos parar de pensar nela, tenho certeza que
Yekaterina ainda guarda seu amor e, de uma forma ou de outra, vamos fazê-
la reconhecer que somos perfeitos juntos, mas antes precisamos descobrir o
que aconteceu três anos atrás.
CAPÍTULO 28

YEKATERINA
 
Meus dias na academia são produtivos, aprendi a gostar do que faço e,
finalmente, encontrei algo que me motiva a levantar da cama.
A principal razão para isso é a turma nova que Madame Faina me
repassou, são crianças de quatro a seis anos, tanto meninas quanto meninos,
que estão começando a dançar agora.
Eles são os responsáveis pelo meu dia brilhar, cada criança é única e
especial, tem as mais tímidas que só estão lá porque os pais precisam de
duas horas de descanso, e ballet é uma ótima atividade para drenar a energia
acumulada dos pequenos, tem aqueles motivados, que os pais perceberam
que gostam de dançar e trouxeram para que comecem realmente a aprender
alguns passos, esses são os que eu consigo me identificar mais.
Alguns deles realmente gostam de praticar, outros perdem o gosto pela
dança e acabam só fazendo bagunça.
E tem o terceiro tipo, que são aquelas que vieram por obrigação,
geralmente meninas de famílias ricas, essas vem com as babás e são as mais
complicadas de lidar, porque batem de frente com tudo o que preciso
ensinar e me desafiam a cada dia.
Elas não querem estar ali e, mesmo com a pouca idade, já sabem que
não tem escolha, isso é doloroso de assistir. Tirar a liberdade de uma pessoa
nessa idade não molda um adulto responsável, mas sim um adolescente
rebelde, que precisa lutar contra as pessoas que deveriam protegê-lo para
ser quem são.
Assistir enquanto essas meninas são forçadas a dançar e não poder
fazer nada contra isso faz meu peito doer, então eu tento deixá-las à
vontade, claro que a aula tem uma metodologia a ser seguida, mas nos
momentos de descontração todos podem realmente se libertar e aproveitar
um tempo livre.
Já as turmas mais avançadas são preparadas para apresentações e os
ensaios não seguem a mesma metodologia, preciso ser mais rígida e exigir
mais das dançarinas.
São dias produtivos, mas que me esgotam, quando chego sozinha em
meu apartamento, já não tenho forças para nada e acabo dormindo enquanto
assisto algum documentário criminal.
Antigamente eu preferia um show de comédia, mas depois… bem,
agora a única coisa que realmente consigo ver são esses documentários e
mesmo isso me faz lembrar deles.
Será que Dimitri e Serguei são assassinos cruéis e sem empatia como
os psicopatas que assisto?
Depois que pesquisei sobre a tal da Bratva e não encontrei muita coisa
confiável, decidi parar de encher minha mente com isso, afinal eu os mandei
embora, eu os afastei e tirei ambos da minha vida, do que adianta remoer o
passado assim?
Não adianta de nada, mas faço porque não consigo tirá-los da minha
mente, mesmo tendo sido traída, esses desgraçados continuam rondando
meus pensamentos.
QUE ÓDIO!
E não é como se eu não tivesse tentado sair com outras pessoas, eu
tentei de verdade, afinal, dor de amor se cura com orgasmos, mas os
homens e mulheres que passaram pela minha cama nesse tempo foram uma
decepção, e ninguém chegou nem perto de me fazer sentir algo a mais.
Eles me deixavam em chamas, se me concentrar bem ainda posso
sentir suas mãos percorrendo meu corpo, as de Dimitri eram grandes e
macias, mas seu toque era firme e possessivo.
Já Serguei, tinha as mãos calejadas e seu toque sempre foi mais
inseguro, ele tateava minha pele como se estivesse aprendendo o caminho
para o paraíso.
Chega, não posso lembrar deles assim!
Fui só mais uma entre tantas bailarinas que devem ter passado pela
cama daqueles dois, talvez tenha sido a única iludida, mas foi somente isso
que me fez ser especial mesmo.
Afasto os pensamentos enquanto abro a garrafa de vodca que comprei
no mercado, sirvo um copo e viro a primeira dose em um gole só, sentindo
a queimação já familiar descer pela minha garganta e atingir o estômago
vazio, logo o álcool começa a fazer efeito, dispersando a imagem deles da
minha mente.
Abro a embalagem de macarrão instantâneo e coloco a chaleira com
água para esquentar, depois pico alguns legumes e tempero enquanto a água
ferve, espero alguns minutos até a massa cozinhar e vou comendo a salada
nesse tempo.
Entre uma garfada dos vegetais e um gole de vodca, percebo que ainda
estou de pé, escorada na pia, com as luzes do apartamento desligadas e só a
luz da lua iluminando o local.
A solidão é minha única companhia, bem, ela e a bebida que não me
deixa desistir.
Depois do primeiro dia consegui me controlar e não tomei nada
durante o expediente, mesmo que Leônidas não tenha parado de me
provocar, suas brincadeiras de mal gosto só pioraram nos últimos dias.
O maldito vem colocando bilhetes no meu armário, sem assinatura, é
óbvio, mas sei que são dele porque geralmente está escrito algo sexual.
Seus olhares em minha direção também me deixam desconfortável,
mas ergo a cabeça e faço meu trabalho, fingindo que esse desgraçado não
existe, porque é a única coisa que posso realmente fazer e não quero criar
problemas, faz pouco tempo que voltei.
Termino de comer a salada e o macarrão instantâneo fica pronto, então
pego um bowl mais fundo, uma colher e um garfo, seguro o copo e a garrafa
com a outra mão e levo tudo para o meu quarto.
Deito na cama enquanto ligo a TV e finalizo meu dia com um jantar
nada elaborado, a vodca e mais uma história sobre um serial killer que
matou muita gente, da pior forma possível, antes de ser preso.
***
Hoje o dia está complicado, duas alunas se machucaram durante o
ensaio e as crianças estavam realmente agitadas, deve ser o calor do verão
que faz com que elas tenham ainda mais energia para correr por aí.
Como se não bastasse isso, ainda fui repreendida por uma mãe que não
está contente com a forma que ensino sua filha, acredita que eu não tenho
dado atenção especial à menina que, segundo ela, é um prodígio do ballet.
Todos os pais pensam que seus filhos são especiais, mas só alguns
enchem o meu saco com isso, e essa mulher é uma das insuportáveis.
Minhas energias foram drenadas, mas pelo menos Leônidas resolveu
me deixar em paz. Eu pouco o vi durante as aulas, geralmente ele está na
sala ao lado da minha, então acabo o encontrando pelos corredores, mas
hoje suas últimas aulas foram canceladas.
— Ei, Kat. — Nathan me chama quando estou saindo da sala dos
professores para encontrá-lo nos vestiários, ele tem me dado carona quase
todos os dias. — Linda, estou sentindo um pouco de dor na minha perna e
Madame Faina marcou fisioterapia para mim, você quer esperar?
— Tudo bem, eu vou de ônibus, estou morta de cansaço — respondo e
abro um sorriso para que saiba que estou tranquila.
— Tem certeza? Não demora mais do que uma hora, você sabe como
é. — Inclina a cabeça para o lado e ergue as sobrancelhas.
Eu até poderia esperar, lembro bem como são as sessões de
fisioterapia, mas estou realmente cansada hoje.
— Está tudo bem, preciso passar no mercado mesmo, vai lá cuidar
dessas pernas preciosas, e muito gostosas, a gente se fala amanhã.
Nos despedimos com um abraço apertado e sigo para a saída lateral
que leva ao ponto de ônibus.
A noite está quente, o que é um alívio aos climas frios da Rússia, mas
finalmente o verão chegou e, assim que chego na porta de saída lateral,
sinto o vento quente em minha pele, posso até respirar melhor, dentro da
academia o ar condicionado mantém a temperatura constantemente amena.
— Sentiu saudades, Kat? — A voz debochada de Leônidas me atinge
assim que coloco os pés para fora, mas não tenho tempo para responder.
Assim que viro em sua direção sinto uma dor muito forte na parte de
trás da minha cabeça e as luzes dos postes começam a se apagar, enquanto
perco a consciência lentamente, sentindo minhas pernas falharem e o chão
se aproximar rápido demais.
CAPÍTULO 29

SERGUEI
 
— Você está pronto? — questiono Dimitri, que parece inquieto
sentado no banco de trás do carro.
— Claro que tá! — Andrei é quem responde, ele está do meu lado, no
banco do passageiro, enquanto eu dirijo o carro alugado que pegamos para
passar despercebidos na cidade.
Claro que Erikson e Victoria estão nos acompanhando com uma
equipe de segurança, mas de forma discreta já que, depois que Dimitri
assumiu como Pakhan, as ameaças a sua vida se tornaram mais agressivas e
frequentes.
— Não vejo a hora de reencontrar minha cunhadinha, eu teria dado
mais atenção a ela no jantar dos Corleone se alguém tivesse me contado
sobre a bailarina. — Andrei provoca e consegue fazer com que Dimitri
sorria levemente. — Vamos lá, irmão, relaxa aí, ela não vai resistir ao
charme de um Petrov em seu terno mais caro, que dirá dois!
— Cala a boca — Dimitri pede, mas isso só faz Andrei o provocar
ainda mais.
— E claro que não posso esquecer do meu querido cunhadinho, que
está muito gostoso nesse terno todo preto, deveria usar roupas de luxo mais
vezes, Serguei.
— Irmão, eu não vou falar de novo, cala a porra da boca ou eu mando
parar o carro e te deixo no meio da estrada.
— Você não vai fazer isso, não adianta ameaçar — Andrei corrige e eu
rio, porque esses dois juntos vivem de picuinha, mas o amor entre os irmãos
Petrov é maior do que qualquer coisa.
— Madame Faina acabou de avisar que Yekaterina finalizou seu turno.
Estamos chegando? — Dimitri questiona, olhando para a tela do celular.
— Sim, a escola fica logo aqui na frente — aviso, mas ao virar a
esquina vejo Kat saindo pela porta lateral do prédio, só que não é isso que
faz meu coração parar de bater, mas sim o homem com um cano de metal
na mão que, assim que ela coloca os pés para fora, a acerta na cabeça e
assisto Yekaterina cair no chão, desacordada.
— Mas que porra é essa? — Andrei manifesta quando eu acelero o
carro o máximo que consigo e isso chama a atenção de Dimitri, vejo pelo
retrovisor o momento que ele entende o que está acontecendo e sua
expressão muda de apreensão para ódio mortal.
— Ele não fez isso! — Andrei comenta desacreditado, enquanto paro o
carro, cantando pneu, bem ao lado do homem que tenta carregar Yekaterina.
— Surpresa, filho da puta!
— LARGA ELA! — Dimitri grita logo atrás.
Andrei é o primeiro a descer, seguido de perto pelo irmão, que não se
importa com sua segurança e sai sem antes saber se o perímetro está seguro,
ambos os irmãos estão com as armas apontadas para o agressor, que os
encara sem entender nada.
— FILHO DA PUTA, NINGUÉM ENCOSTA NA NOSSA
MULHER! — grito assim que aponto a arma para ele.
— O que está… — O homem não consegue falar mais nada, acerto um
tiro em seu joelho, o que o faz cair para a frente, mas como ele ainda está
com Yekaterina em seus braços, Andrei se joga e consegue segurá-la antes
que ela caia no chão e bata a cabeça.
Assim que o desgraçado a solta, me aproximo e, só então, reconheço
Leônidas, o ex dançarino que fazia par com Kat quando a conhecemos, e
agora é professor na academia.
— Preciso falar que você mexeu com a mulher errada — Andrei
comenta em um tom divertido, erguendo o corpo de Yekaterina e a levando
para o carro, deixando-nos com o desgraçado que terá seu fim pelas nossas
mãos.
— Ninguém encosta na nossa mulher — Dimitri avisa e caminha até
Leônidas, mas em um ímpeto de coragem o homem coloca a mão atrás das
costas e tira uma arma, antes que ele possa apontar acerto outro tiro, dessa
vez no ombro do braço que segura a arma, o que o faz cair para trás,
gritando de dor.
— Vamos levá-lo para o carro — aviso e logo dois veículos de apoio
chegam atrás de nós.
Erikson, Victoria e outros seguranças saem, cercando Dimitri e
levando-o de volta para o SUV preto, enquanto eu e Artyom nos
encarregamos de erguer Leônidas e colocá-lo no porta malas.
— Quando acabarmos com ele, esse filho da puta vai desejar nunca ter
nascido — prevejo e Artyom concorda com a cabeça enquanto amarra
Leônidas, que não para de gritar, então dou uma coronhada em sua cabeça,
fazendo-o finalmente calar a boca.
— De volta para a Central — Erikson ordena, ele ainda está no
controle das operações na Rússia, mesmo que eu tenha ficado como chefe
de segurança quando viajamos para New York.
— Eu quero esse desgraçado na minha sala de tortura na Central.
Erikson, amarre-o lá e o mantenha acordado, convoque os soldados para
uma pequena demonstração — Dimitri anuncia, pegando-nos de surpresa.
— Tem certeza, irmão? Eu posso fazer isso, faz um tempo que não
brinco com minhas baterias, elas vão enferrujar. — Andrei se oferece, mas
Dimitri faz que não com a cabeça e é só o que precisamos para saber que
nada o fará mudar de ideia.
Logo mais os soldados terão a maior demonstração de poder do nosso
líder e verão do que ele é capaz.
Muitos Pakhan não sujam suas mãos com o serviço pesado, já que seu
lugar é nas salas de reunião, tomando decisões importantes, mas entendo a
necessidade de Dimitri em torturar Leônidas, eu mesmo quero ter um
gostinho do sofrimento do desgraçado que encostou na nossa mulher, ele
estava sequestrando ela, sabe-se lá o que aconteceria se não tivéssemos
chegado a tempo.
— Como ela está? — questiono ao dar a partida no carro, Kat está
deitada com a cabeça no colo de Dimitri, que a avalia com cuidado.
— Desacordada, vá direto para o hospital — Dimitri ordena. —
Andrei, avise a equipe médica para nos esperar na porta.
— Sim, já estou mandando mensagem, ela vai ficar bem, irmão.
— Sim, ela vai e esse desgraçado vai pagar caro pelo que fez e o que
pensou em fazer com ela — falo com ódio para que Dimitri saiba que ele
não está sozinho, eu darei o palco para que faça seu show, porque essa será
a primeira vez que o verei em uma tortura, mas também quero participar. —
Vou estar ao seu lado, amor.
— Com certeza, não espero menos, assim que garantirmos que
Yekaterina ficará bem, vamos lidar com ele juntos — Dimitri anuncia em
uma troca de olhares pelo retrovisor, vejo seu sorriso mais perverso, aquele
que ele só usa quando vai realmente gostar de algo que não deveria.
Chegamos ao hospital da Central e os médicos levam Kat para uma
bateria de exames, deixando-nos na sala de espera por quase duas horas até
que, finalmente, um deles retorna para dizer que ela não tem nenhum sinal
de lesão cerebral, mas ainda está desacordada, provavelmente por causa da
pancada e da quantidade de álcool que foi encontrada em seu organismo.
Yekaterina estava bêbada.
— Ela deve ficar em observação por quarenta e oito horas, repetiremos
os exames assim que acordar, vocês gostariam de vê-la? — o médico
pergunta e nós aceitamos.
Dimitri vai na frente até o quarto indicado, mas quando chegamos ele
trava na porta ao olhar para nossa mulher desacordada, sua pele branca
agora tem uma tonalidade mais pálida do que o normal e, tenho certeza, que
está mais magra do que a última vez que a vi, os ossos das mãos e braços
estão aparentes.
Manchas escuras contornam a área dos olhos, seus lábios sem cor e o
cabelo mal cuidado mostram o quanto ela precisa de ajuda, por isso passo
por ele e vou até a cama.
Pego uma das mãos de Yekaterina, seus dedos tão frágeis e delicados
parecem que vão quebrar na minha, me corta o coração vê-la assim.
— Doutor, a paciente tem muito medo de hospital, se ela acordar logo
deverá ter alguém aqui e…
— Ela provavelmente só acordará amanhã, mas temos enfermeiras
vinte e quatro horas.
— Eu fico aqui, irmão, vocês precisam resolver logo isso, depois
pensem em como vão lidar com ela quando acordar — Andrei oferece e
Dimitri leva um tempo pensando, mas aceita e finalmente caminha até a
cama de Yekaterina, ele passa os dedos pelo cabelo dela e se abaixa para
beijar a testa da nossa mulher.
— Vai ficar tudo bem, estamos aqui agora, amor, faremos o que for
necessário para tê-la de volta — Dimitri murmura próximo do ouvido dela.
Faço o mesmo e beijo a testa dela, então levo seus dedos à boca e
planto um beijo ali também, antes de me virar e sair.
Yekaterina ficará bem, tem uma equipe toda cuidando dela, Dimitri e
eu precisamos aproveitar enquanto ela dorme para lidar com o Leônidas.
— Nos avise quando ela acordar — falo para Andrei, que concorda
com a cabeça e senta na poltrona ao lado da cama.
— Irmão, ela tem pavor de hospital, se ela acordar e nós ainda não
tivermos retornado, cuide dela e não deixe que ela se machuque — Dimitri
pede com preocupação na voz.
— Prometo cuidar dela como se fosse a Anna, tem a minha palavra. —
Andrei jura de forma séria e isso faz Dimitri relaxar um pouco. — Manda
alguém gravar o show para mim, cunhadinho.
— Pode deixar.
Seguimos direto para o subsolo onde uma das arenas de luta foi
remodelada para receber o maior número de soldados possível.
No centro da sala está uma banheira grande com água e gelo, uma
bancada com todos os materiais que Dimitri exigiu se encontra ao lado de
uma mesa de ferro comprida, aonde Leônidas foi preso com os braços
amarrados acima da cabeça e esticados até o limite por um cabo de aço,
suas pernas estão presas nas outras extremidades, também esticadas e
separadas.
Ele está pronto para o que Dimitri fará, esse será um show que todos
vão querer assistir.
CAPÍTULO 30

DIMITRI
 
Entro na sala que foi preparada para a tortura já sentindo a adrenalina
do momento fluir por meu corpo, porém meu coração bate tranquilo no
peito.
Ao contrário de máfias pequenas, aonde os líderes mostram poder com
agressividade, nós não precisamos disso aqui na Central, os braços menores
da Bratva são diferentes, porém o Pakhan geralmente não se envolve com
essas coisas.
Obviamente eu aprendi todas as técnicas de tortura e criei um estilo
próprio, mesmo que só o tenha usado poucas vezes durante o treinamento,
eu o controlo com maestria.
Ao contrário de Andrei, que é experiente em torturar e tem gosto por
esses momentos, eu não gosto de provocar dor em outras pessoas, mas
nesse caso em específico vou gostar, tenho certeza disso.
No momento em que esse desgraçado pensou em machucar minha
mulher, ele teve seu destino selado e seu fim programado, que será na
minha mesa. É por isso que estou tranquilo enquanto ando até minha
vítima.
Não me dei ao trabalho de tirar o paletó ou trocar de roupa, esses serão
incinerados de qualquer forma, quero que meus soldados e minhas espiãs
assistam como o novo Pakhan age com quem encosta no que é dele.
— Leônidas Kiev está aqui hoje porque atacou a minha mulher —
anuncio sem precisar erguer muito a voz, já que todos estão em silêncio e
minhas palavras ecoam sem barreiras pela sala fechada. — Que esse show
sirva de exemplo, ninguém encosta um dedo em Yekaterina Belova!
— Sim, senhor — os soldados e espiãs respondem em uníssono
batendo continência.
— Vocês foram criados para entender que o amor é uma fraqueza,
dividindo a lealdade de um soldado, forçando-o a escolher entre quem
amam e a organização — expresso, conforme ando pela sala e começo a
abrir a maleta com meus equipamentos, colocando as luvas especiais para
lidar com baixas temperaturas. — Para soldados fracos isso realmente é
uma preocupação, mas se um amor é capaz de te fazer duvidar da sua
lealdade, isso significa que ela nunca existiu em primeiro lugar. Vocês são
soldados fracos?
— Não, senhor.
— Exatamente! Soldados fortes e leais não precisam se preocupar com
a própria lealdade, eles podem amar outra pessoa e, mesmo assim, colocar a
organização em primeiro lugar.
— Sim, senhor.
— É isso o que vocês vão presenciar aqui, seu líder defendendo a
mulher que ama junto com seu soldado mais leal — aponto para Serguei,
que caminha em minha direção com o rosto erguido e a postura firme, ele já
é respeitado por todos na Central como um Vor e aceito como meu
namorado. — Eu tenho o dever de casar e gerar um herdeiro para a Bratva,
Yekaterina Belova é a mulher que escolhemos, e é por isso que vocês vão
protegê-la com suas vidas.
— Sim, senhor — eles respondem mais alto.
— Vão garantir que a nossa mulher esteja segura.
— Sim, senhor.
— Vão jurar lealdade à organização, defendendo a única mulher que
dará vida ao próximo herdeiro.
— Nós juramos, senhor! — Com esse juramento eles batem a última
continência e a carnificina pode começar.
O fogo e o gelo são elementos opostos, mas, apesar de serem
diferentes, produzem resultados semelhantes quando usados como armas e
ambos podem te queimar.
Leônidas escolhe esse momento para acordar e começa a se debater na
mesa, mas ele está bem contido e amordaçado, os únicos sons que saem da
sua boca são gemidos de dor quando ele tenta se soltar, só que as correntes
se espicham ainda mais com o movimento.
Nos tempos medievais as piores técnicas de tortura foram criadas e,
entre elas, estava o cavalete da morte, aonde os pulsos da vítima são
amarrados em uma extremidade e os tornozelos na outra e, com o tempo, as
roletas que controlam os cabos vão girando e esticando os membros da
vítima, até que os mesmos se deslocam e são separados do corpo.
Não é o que acontecerá aqui hoje, mas Leônidas foi contido da mesma
forma e, ao se mover, só coloca mais pressão nas suas articulações,
causando muita dor.
— Vamos começar o show — anuncio.
Não será uma tortura padrão, porque a vítima não terá o direito de falar
como em um interrogatório, ele foi pego em flagrante ao tentar sequestrar
nossa mulher e não existe justificativa alguma para o que esse desgraçado
pensou em fazer, portanto a primeira coisa que quero é tirar sua habilidade
de fala.
— Serguei, a língua — aviso e ele já sabe o que vamos fazer, então
pega a pinça e tira a mordaça de Leônidas, que começa a gritar de desespero
assim que sua boca está livre, mas não vai durar muito. Seguro o rosto do
homem e Serguei abre sua boca, prendendo a língua com a pinça. — Isso
aqui é para que você não consiga dialogar com o Diabo quando o encontrar
no inferno.
Pego a faca, que está mergulhada em dióxido de carbono solidificado,
também conhecido como gelo seco, garantindo uma temperatura de -78ºC.
Quando a lâmina congelada passa pela língua macia do filho da puta,
que continua tentando gritar e se debater, a carne é cortada e queimada ao
mesmo tempo, controlando a perda de sangue para que ele não se afogue
com o próprio sangue.
Depois disso deixamos ele se debater e sentir a dor por alguns
segundos, então Serguei pega um alicate e corta dois dedos do pé de
Leônidas, que não aguenta a dor e desmaia logo depois.
— Droga, eu odeio torturar fracotes — Serguei reclama e eu sorrio, ele
está com tanta sede de sangue quanto eu.
— Vamos aproveitar e colocá-lo na banheira, isso vai acordá-lo.
É o que fazemos e a banheira preparada com muito gelo e água faz o
efeito esperado, em minutos Leônidas está acordado, tremendo de frio
enquanto tenta se debater, mas nós amarramos suas mãos nas costas e os
pés juntos.
O frio intenso começa a fazer efeito e finalmente seus lábios mudam
para a mesma cor que estavam os de Yekaterina, ele começa a ficar branco
com o tempo e seu queixo não para de bater.
— Chega, de volta para a mesa — ordeno e dois soldados retiram
Leônidas da banheira e o colocam na mesa, vejo os dedos dos pés em um
tom azulado e as mãos já ficando roxas, um dos soldados corta sua cueca,
que era a única vestimenta dele, e deixa o pau congelado à mostra.
— Vor Barkov, temos novas informações — o soldado anuncia para
Serguei, que dá permissão para ele falar. — Encontramos duas mulheres no
porão da casa dele, foram mantidas como prisioneiras, abusadas e
espancadas, uma está em estado grave no hospital.
— Filho da puta! — Serguei pragueja olhando para nossa vítima com
ódio, o mesmo que sinto ao pensar em como alguém pode fazer algo assim,
o que é irônico visto que somos mafiosos e estamos torturando o
desgraçado até a morte.
A diferença é que Leônidas não é inocente como as mulheres em sua
casa, não estamos nos aproveitando dele ou fazendo isso porque gostamos,
tudo o que acontecer aqui é consequência de seus próprios atos, chamo de
reparação histórica ou justiça divina.
— Então você gosta de prender mulheres indefesas e abusar delas? —
questiono sem esperar resposta e pego a bacia de gelo seco com as luvas
especiais. — Vamos ver como você consegue fazer isso sem seus pés.
Despejo o conteúdo diretamente nos pés molhados do desgraçado, que
imediatamente congelam, e ele grita até não ter mais forças para aguentar a
dor e desmaiar novamente, mas eu não paro até que os dois membros
estejam completamente congelados.
Suas mãos são as próximas, assim que ele acorda, e depois cortamos o
pau desse inútil, que já não aguenta mais ficar acordado, por isso o médico
aplica uma dose de adrenalina para podermos continuar.
Uma queimadura de gelo é tão mortal quanto a produzida pelo fogo,
mesmo que não pareça, é silenciosa no começo, mas vai congelando os
tecidos, nervos, músculos, matando as células aos poucos, coagulando o
sangue até que aquela parte que, antes estava viva, morra lentamente e,
quando descongela, libera toxinas no organismo da pessoa que vai sendo
envenenada pelo próprio corpo.
Hoje não temos esse tempo porque Leônidas não é uma pessoa
treinada para aguentar a tortura, apesar de ele se achar especial e forte, está
gritando feito um covarde o tempo todo, mas eu ainda não dei a cartada
final que o levará ao inferno com a consciência pesada.
— Sabe quem está aqui hoje? — Viro seu rosto para o lado e aponto
para o local aonde seu pai e sua mãe estão sentados, chorando desolados
pelo filho enquanto os soldados os seguram, e isso faz Leônidas arregalar os
olhos, finalmente vergonha e remorso aparecem em seu semblante. —
Agora eles sabem tudo o que você fez, as atrocidades que o filhinho perfeito
deles cometeu e vão viver com as imagens da sua morte até que ambos o
acompanhem nessa jornada.
Pela próxima hora Serguei e eu usamos os mais diversos métodos para
arrancar os gritos de desespero de Leônidas, até que ele não acorda mais e
dou o golpe final, jogando gelo seco em sua cabeça, fazendo-o se afogar até
a morte.
Não falo nada ao tirar as luvas e sair da sala acompanhado de Serguei e
uma salva de palmas do público que nos acompanhou até o fim.
***
Yekaterina finalmente está acordada, depois de quase vinte horas sem
abrir os olhos nossa mulher recuperou a consciência e, é claro, começou a
reclamar e lutar contra as enfermeiras e médicos.
Serguei e eu ficamos com ela o tempo todo depois da tortura e
tentamos acalmá-la, mas assim que nos aproximamos ela começou a se
debater e tentar fugir de nós, o olhar magoado em seu rosto foi a única coisa
que precisamos para nos afastar e deixar que as enfermeiras a ajudassem.
Conforme as horas foram passando ela ficou mais inquieta e pedindo
para ir embora, suas mãos tremiam e ela continuava procurando por alguma
coisa, exigindo que alguém lhe entregasse seus pertences e, quando Serguei
olhou dentro de sua bolsa e encontrou o frasco com vodca, entendemos o
que ela realmente queria.
Quando ela começou a suar e chamar pelo pai, o médico avisou que
Yekaterina estava passando pelo processo de desintoxicação alcoólica e
entrando em abstinência, por isso resolvemos agir solicitar ajuda
profissional.
— Ela ficará internada até conseguir se livrar de todas as toxinas em
seu corpo e, depois disso, a levaremos para a casa de campo até que esteja
recuperada — aviso Serguei, Erikson e Victória, para que preparem tudo
para a nossa partida.
— A senhorita Belova ficará bem. — Victória me tranquiliza com sua
voz calma, estamos no escritório que pertencia ao meu pai e que agora é
meu, eu mandei reformar tudo e trocar todos os móveis pelos meus, pintar
as paredes com cores claras e lavar tudo, já que cada parte desse lugar fedia
a cigarro.
— Obrigado — agradeço seu carinho e ela assente com a cabeça, então
Erikson apresenta o plano de segurança para a nossa partida e Serguei e eu
complementamos algumas partes importantes, até que tudo esteja
perfeitamente organizado para a nossa partida.
Quando Erikson e Victoria nos deixam a sós posso finalmente relaxar
na cadeira e Serguei me acompanha.
Sentando em meu colo, ele passa um braço atrás da minha cabeça e
começa a acariciar meu rosto com a outra mão.
— Ela vai ficar bem, vamos garantir isso — informa e dá um beijo
carinhoso em minha boca. — E vamos reconquistar nossa mulher, nem que
para isso precisemos nos trancar naquela cabana por um mês todo.
— Andrei vai me matar se precisar passar todo esse tempo aqui —
prevejo e Serguei sorri.
— Seu irmão garantiu que fica até um ano se precisar, ele faz qualquer
coisa para te ver feliz e, agora que a Anna está ao seu lado, Andrei já tem
um lar, não importa aonde estejam, contanto que fiquem juntos eles estarão
bem.
Ficamos um tempo abraçados, ter Serguei comigo é sempre
reconfortante, só ele consegue acalmar meus monstros e me dar um
momento de paz e tranquilidade para colocar minha mente no lugar.
— Eu te amo, você sabe disso, não sabe? — murmuro contra seus
lábios.
— Eu sei, também te amo, Dimitri — ele confessa e me beija,
entregando-se a mim como só ele faz. Meu homem, meu soldado, a porra
do meu amor é o homem mais incrível desse mundo. — Nós vamos
recuperar a parte dos nossos corações que ficou com Yekaterina, você vai
ver.
— Espero que sim, porque eu acabei de anunciar que ela é nossa
mulher para toda a Bratva, agora não tem mais volta.
CAPÍTULO 31

YEKATERINA
 
Acordo mais uma noite com as mãos e os pés contidos na cama do
hospital, mas dessa vez meu corpo está grogue e não consigo ver meu pai
em lugar algum, para onde ele foi? Ele não saiu daqui durante os últimos...
há quanto tempo estou aqui?
Então as imagens do hospital inundam minha mente e todos meus
piores pesadelos voltam à tona, é como se estivesse revivendo o pior
momento da minha vida.
Meu coração acelera no peito e começo a hiperventilar por um tempo
até que consigo me acalmar.
Abro e fecho os olhos algumas vezes até me acostumar com a
claridade, sinto minha boca seca e a cabeça latejando. Droga de ressaca, eu
preciso de uma dose de qualquer coisa para combater os efeitos.
— Por favor, só uma dose, só… — chamo, mas ninguém responde, até
que sinto uma mão quente segurar a minha e viro-me para o lado,
encontrando o olhar preocupado de Serguei. — Você… o que…
As palavras parecem enroladas na minha boca e, quando saem, não
fazem sentido.
— Calma, linda, você está passando pela desintoxicação, está tudo
bem, logo vai passar — ele avisa e então me lembro de Leônidas, depois
tudo ficou escuro e acordei no hospital, gritando de medo, lembro de sentir
como se as paredes estivessem cada vez mais próximas, me comprimindo,
me esmagando nessa maldita cama de hospital.
— Eu quero… quero ir para casa.
— Ainda não, você vai ficar aqui só mais alguns dias, depois vamos
cuidar de você. — Ele acaricia meu rosto com a mão, tirando os cabelos
grudados da minha testa suada. — Você vai ficar bem, amor, eu juro.
— Eu não sou seu amor, agora me tira daqui! — Minha voz finalmente
sai mais forte, mas começo a tossir assim que termino de falar e Serguei me
oferece um copo com água, sou obrigada a aceitar ajuda para tomar e, com
muito esforço engulo o líquido que desce gelado pela minha garganta.
Ele não me deixa sozinha, nem sai do quarto quando eu mando,
Serguei fica comigo    o dia todo, mesmo eu não querendo ele fica ali
falando palavras carinhosas contra todos os insultos que consigo pensar em
jogar nele, mas quando fico agitada demais por não conseguir aguentar estar
sóbria em um hospital, o médico volta e coloca algo em meu soro, que
imagino ser um tranquilizante porque não demoro a dormir depois disso.
Foram sete dias de luta e descontrole até que finalmente me forcei a
parar e respirar, percebendo que não adiantava brigar com eles ou ameaça-
los, nada do que eu faça funciona, então me fecho para todos e resolvo ficar
calada, mesmo que dentro da minha mente todos os pensamentos sejam
uma confusão, por fora visto a máscara calma e fria que já usei antes.
— Kat, você quer sobremesa? — Dimitri oferece, mas, assim como as
outras vezes que ele falou comigo hoje, não respondo, só olho para o
mesmo ponto de sujeira que encontro na parede ao qual estou encarando
fixamente a manhã toda. — Uma hora você vai ter que responder.
“Me obrigue”, é o que penso, mas não falo, tenho conversas longas
em minha mente   para passar o tempo, já que me recuso a falar com eles.
— Vou pedir um bolo de leite para você, com sorvete fica uma delícia
— ele avisa.
“Foda-se você e seu bolo de leite perfeito.”, controlo um sorriso com
o pensamento, mas o desgraçado percebe.
— Para de mandar eu me foder mentalmente, Yekaterina, e fala
comigo — ordena sentando na cama ao meu lado, desde que parei de me
debater eles tiraram as contenções, mas os dois seguranças na porta são o
suficiente para que eu não tente fugir.
Estou no hospital da organização que eles fazem parte, tenho certeza
que, mesmo conseguindo passar por eles, não encontraria uma saída daqui.
Ainda mais nesse roupão ridículo.
— Amanhã nós vamos te levar para a casa de campo — Dimitri
anuncia, pegando-me desprevenida e, por isso, viro meu rosto em sua
direção. — Sim, e não adianta contestar, vamos passar um tempo lá até que
você resolva nos contar o que aconteceu três anos atrás.
— Eu não vou a lugar algum com vocês — contraponho cruzando os
braços em frente ao meu corpo, mas Dimitri sorri e percebo sua jogada.
— Viu só, já estamos fazendo progresso — ele comenta e olha para a
porta, aonde Serguei está escorado, também expondo aquele sorriso com as
covinhas que me amolece, mas volto a me calar.
— Linda, fala com a gente, por favor — Serguei caminha até nós,
fechando a porta atrás de si.
— Eu quero ir para casa, não gosto de hospitais — aviso novamente.
— Por quê? — Dimitri pergunta.
— Não te interessa.
— Interessa sim, e você vai nos contar quando estiver pronta, não
precisa ser agora, temos todo o tempo do mundo, não é mesmo, Serguei?
— Todo o tempo do mundo — Serguei repete e entrega um copo de
café para Dimitri e outro com achocolatado para mim, eles cortaram até a
cafeína da minha dieta.
Eles realmente não me deixam ir e também não saem do meu lado, no
dia seguinte sou levada até a mansão Petrov e de lá Dimitri e Serguei me
conduzem até o helicóptero, e só então percebo que os desgraçados estão
me sequestrando, de novo.
Assim que entro na parte de trás, Dimitri me faz sentar no banco
próximo à janela, a aeronave é maior que as normais e muito mais luxuosa,
o banco de couro bege-claro é muito confortável e tem detalhes em
dourado, ouso dizer que podem ser de ouro.
Assim que estou sentada ele se inclina em minha frente, seu corpo
próximo demais do meu, tão próximo que posso sentir o cheiro delicioso da
colônia masculina que está usando.
Dimitri coloca uma das mãos ao lado do meu rosto e, quando penso
que vai me tocar, ele puxa calmamente o cinto de segurança, prendendo as
duas pontas no fecho, apertando ao máximo, até que eu esteja colada no
banco.
— Agora você está segura — ele fala em meu ouvido, ainda sem me
tocar, mas o calor da sua voz faz a droga do meu corpo todo responder e
arrepiar.
Por que eu ainda respondo assim a ele?
Por que diabos não posso simplesmente esquecer como seu toque é
macio?
Por que não consigo parar de pensar nessa boca e no que ele sabe
fazer com ela?
Reage, Kat, pare com isso, você não precisa deles, eles te traíram e
não terão outra chance com você, ainda mais depois do que fizeram, eles te
traíram!
Serguei pilota a aeronave conduzindo Dimitri, Erikson, Victória e eu
até a mesma casa de campo que vim da outra vez, vejo pela janela que no
verão o lugar fica ainda mais bonito, do lado de fora os cavalos correm
livremente e, por algum motivo, meu peito se enche de sentimentos e
preciso engolir uma lágrima que ousa tentar sair.
O que antes era tudo branco da neve, agora assume as cores mais
variadas com diversas árvores e flores colorindo a paisagem, a casa de
madeira é ainda mais bonita e convidativa.
Assim que pousamos vejo que já tem vários carros estacionados
próximo do heliponto e muitos homens de preto espalhados pelo local, tento
memorizar exatamente aonde eles estão, na busca de uma brecha que eu
possa usar para escapar, afinal, eles podem pensar que ficarei quieta aqui,
mas estão enganados.
Erikson e Victória descem primeiro e garantem que tudo está seguro,
depois Dimitri e Serguei me levam até a casa e ao quarto principal, sei qual
é porque é o mesmo que ficamos da última vez, mas vejo só as minhas
malas próximas à cama.
— Não precisa se preocupar, não vamos te forçar a nada, Yekaterina
— Dimitri fala e eu bufo em resposta. — Nada além de estar aqui — ele
complementa e eu sorrio, mas eles não veem porque estou de costas para os
dois, de braços cruzados e olhando para a varanda espaçosa que fica em
frente a minha cama.
— Estaremos no quarto ao lado, se precisar de algo é só chamar e o
jantar será servido em três horas, linda — Serguei avisa e escuto passos se
aproximando, mas logo eles param e respiro aliviada. — Esperamos você lá
embaixo.
“Espere sentado”, respondo mentalmente, então eles saem e me
deixam finalmente sozinha. Aproveito para vasculhar o quarto, da última
vez lembro de ter um frigobar próximo da cama, eu o encontro, porém só
tem água, suco e bebidas sem álcool.
Droga! Como vou aguentar esses dois sóbria?
Eu sei que tenho um problema com bebida, não precisava de um
médico para jogar na minha cara, mas eu não sei como viver a vida sem
isso, não consigo suportar esse peso sozinha.
Estou há dias sem tomar nada, desde que Leônidas me acertou um
golpe na cabeça que, segundo Dimitri e Serguei, foi para me sequestrar e
conseguir me levar para sua casa, aonde ele mantinha outras duas mulheres
presas.
No primeiro momento não acreditei, mas eles me mostraram fotos e
reconheci as imagens da família de Leônidas na parede, o desgraçado era
um psicopata, eu sempre soube que tinha algo de errado com ele, mas
jamais poderia imaginar algo assim.
Dimitri garantiu que ele não será mais uma ameaça e, honestamente,
fiquei aliviada, espero que ele esteja preso em algum lugar sujo por aí e viva
o resto da sua vida na sarjeta.
Desço para jantar quando o sol se põe no horizonte, na esperança de
que terá pelo menos um copo de vinho, mas não, eles fizeram suco. Serguei
tem a coragem de me entregar em uma taça ainda, como se debochasse da
minha cara, e ambos tomam a mesma coisa, nada de álcool, então.
Eles conversam e tentam me fazer falar, mas me mantenho séria, como
até sentir que estou cheia e me levanto, lavo meu prato e a taça de suco,
depois subo para o meu quarto sem dizer uma palavra, mas escuto dois
homens falando “Boa noite, amor” em minha direção e a porra do meu
coração acelera, como o idiota que é, quase me fazendo correr até chegar
em meu quarto e poder derramar as lágrimas que mantive presas por tanto
tempo.
Só que eu não sou uma garotinha chorona, bem, eu estou chorando,
mas ao mesmo tempo também estou trocando de roupa e guardando a faca
que roubei do jantar na mala de mão, que contém algumas coisas que eles
trouxeram para mim.
Visto uma calça jeans, as botas de couro que encontro na mala, uma
camiseta e um moletom confortável, a noite fica frio na mata. Amarro meu
cabelo em um rabo de cavalo alto e estou pronta, então espero até ouvir a
porta bater no corredor, indicando que Serguei e Dimitri estão em seu
quarto.
Eles não estão dormindo no mesmo quarto, o que é muito estranho já
que percebi que eles são bem ligados e provavelmente estão juntos desde
que os deixei, agora devem pensar que eu ficaria com ciúmes se eles
dormissem juntos e eu sozinha.
EU NÃO ME IMPORTO!
Grito dentro da minha cabeça, espantando a verdade que quer falar
mais alto, porque não, eu não ficaria com ciúmes, mas sim com inveja
porque sei que, lá no fundo, iria querer estar lá.
NÃO, VOCÊ NÃO QUER!
Não, eu não quero, é isso aí, o que eu quero é fugir daqui e voltar para
a minha vida miserável, encontrar um bar qualquer e afogar esses
sentimentos em uma garrafa de vodca, amanhã tudo estará melhor, a dor de
cabeça não vai me deixar pensar neles e é disso que eu preciso.
Olho para fora e vejo homens patrulhando o perímetro, espero por
horas a fio, mas eles não dão descanso e, quando percebo que não vão sair,
desisto da fuga por hoje.
Continuamos nessa rotina por três dias, eu saio do quarto para comer,
depois vou até os estábulos e passo um tempo com os cavalos, sondando a
propriedade a procura do melhor local para fugir, depois leio meu livro,
janto e subo para o quarto.
Nesse tempo todo Dimitri e Serguei tentam falar comigo, mas eu não
respondo, preciso me segurar ao máximo, mas não falo uma palavra com
eles.
Espero ansiosamente mais duas noites, vigiando a janela até encontrar
uma brecha, até que finalmente não escuto mais passos ou movimentos de
pessoas, só os sons de animais lá fora, o que me deixa com um pouco de
medo, porém nenhum animal selvagem é tão perigoso quanto os homens
que me trouxeram aqui, disso eu tenho certeza.
Abro a porta com o maior cuidado possível e, segurando as botas nas
mãos junto com a mala, caminho só de meia pelo piso de madeira, atenta a
cada movimento, mas não vejo guardas dentro da casa e sigo até a porta
lateral que está destrancada.
Olho para os dois lados e concluo que não tem ninguém e essa é minha
chance, então calço as botas e começo a correr em direção à mata, a cada
passo sinto meu coração sair pela boca, preciso chegar até as árvores e lá
estarei segura.
A visão da floresta se aproximando me faz apressar ainda mais o passo
e, quando estou chegando próximo das árvores altas, uma mão me segura
com firmeza e sou parada a força.
— Yekaterina, volta aqui! — A voz inconfundível de Dimitri me irrita
e tento me desvencilhar da sua mão, mas ele me puxa para seus braços e
sinto seu peito em minhas costas quando sua outra mão envolve meu corpo.
— Para com isso!
— ME SOLTA, SEU DESGRAÇADO, EU QUERO IR EMBORA,
ME DEIXA EM PAZ.
— Não, você não vai a lugar algum — ele murmura calmo contra o
meu ouvido, sua voz novamente próxima demais. — Eu te amo, Serguei te
ama, e nós não deixaremos nossa…
— Não termine essa frase, eu não sou sua, nunca fui, não precisa me
enganar mais.
— Do que está falando? Você não acredita que te amamos?
— Eu e mais quantas, Dimitri? — questiono e isso faz ele me soltar,
virando-me para olhar no fundo dos seus olhos, enquanto jogo as verdades
em sua cara, mas o que encontro é uma expressão confusa no homem que
geralmente é tão controlado. — Eu vi quando Serguei foi buscar minhas
colegas no teatro, Thais me falou que já ficou com os dois irmãos Petrov,
inclusive acho que falta você me levar para uma tal de casa nas montanhas,
segundo ela é lindo lá.
Um movimento atrás de Dimitri chama minha atenção e vejo Serguei
correndo até nós, o semblante preocupado é o que preciso para reativar a
raiva em meu peito e ter forças para continuar.
— Não adianta mentir, eu sei da verdade, vi com meus próprios olhos
quando Serguei buscou Thiane e Karol no mesmo carro que vocês usavam
para me buscar, com a mesma roupa e tudo, eu fui só mais uma e já me
conformei com isso, então por que não me deixam em paz?
— Serguei, sobre o que ela está falando? — Dimitri questiona olhando
para trás.
Serguei parece confuso por um momento, então seus olhos se
arregalam em entendimento.
— Eu estava a serviço do seu pai, Mikhail foi quem me mandou
buscar as bailarinas e levar até a casa secundária, aonde ele e seu tio Anton
estavam esperando, eu as deixei lá — Serguei explica.
— Meu tio… Yekaterina, acredito que sua colega tenha falado sobre
meu pai e meu tio. — Dimitri explica sério.
— Não… ela disse irmãos, ela disse… — balbucio sem realmente
entender, será que todo esse tempo que eu os odiei pensando que haviam
me traído, que eu era só mais uma, mas foi tudo uma confusão?
— Yekaterina, nós nunca tivemos outra mulher além de você, meu pai
e meu tio costumavam ter relações com as bailarinas, é por isso que você as
viu entrando em um dos nossos carros — Dimitri explica calmamente. —
Vamos entrar, é perigoso ficar aqui fora essa hora da noite.
— Não, eu… — tento contestar, mas já não sei mais o que pensar,
minha cabeça está confusa demais no momento.
— Linda, por favor, nós podemos conversar sobre isso lá dentro, vem
com a gente — Serguei chama oferecendo a mão, mas eu passo por ele sem
aceitar e caminho em direção a casa com os dois logo atrás de mim.
Será que tudo foi um grande mal-entendido?
CAPÍTULO 32

SERGUEI
 
Agora entendo porque ela ficou tão magoada daquela vez, qualquer um
ficaria se tivesse visto a cena que Yekaterina descreveu, é um sentimento
normal, porém não passou de um mal entendido, se ela tivesse dito algo,
logo teríamos resolvido tudo.
— Por que você não falou nada naquela época, Yekaterina? — Dimitri
questiona, visivelmente magoado.
— Porque eu vi com meus próprios olhos, não tinha como ser mentira,
eu vi... — Ela se defende, ainda confusa com tudo o que descobriu, Kat
segura a bolsa firmemente contra o peito enquanto entra na casa.
Dimitri me avisou que ela tentaria fugir e, é óbvio que foi exatamente
isso o que ela fez, Yekaterina não é uma mulher que ficaria tranquilamente
presa em uma casa de campo sem tentar escapar, ela é uma guerreira, como
já provou incontáveis vezes.
— Eu entendo que você ficou confusa, mas achei que tínhamos uma
relação forte o suficiente para que nos desse a chance de nos explicarmos —
Dimitri continua. Ele está magoado, posso ouvir na sua voz.
— Dimitri, Yekaterina tem razão, se fosse qualquer um de nós em seu
lugar faríamos o mesmo, e nossa relação na época estava só começando —
contraponho com calma.
Antes de conhecer Janine, Mikhail costumava fazer festas particulares
na companhia de Anton, e ambos contratavam bailarinas ou prostitutas, que
eram levadas até eles.
— Não preciso que me defenda, agora sei que deveria ter falado com
vocês antes de afastá-los como fiz, mas eu tinha certeza que… eu estava
confusa com tudo o que aconteceu e naquela mesma noite meu pai me
ligou, em poucas horas meu mundo desabou e fiz o que achei necessário —
ela declara, seu olhar triste viaja entre nós dois, antes de desviar para a
porta de vidro quando se vira, escondendo-se de nós.
— Nós entendemos, linda. — Caminho até ela ficando próximo o
suficiente para que perceba que estou aqui, mas sem encostar nela, mesmo
que o que eu mais queira agora seja puxá-la para meus braços e acolher
seus demônios, lutando com cada um para que minha mulher não sinta a
dor que vejo estampada em seu rosto — Estamos aqui agora, vamos colocar
as cartas na mesa.
— Vocês devem pensar que sou uma idiota agora, não é mesmo? Uma
boba que caiu nas mentiras da Thaís, ela provavelmente achou que eu
estava indo para a cama com seu pai ou seu tio — ela explica e vejo uma
lágrima escorrer pelo seu rosto quando ela volta a nos olhar, a mágoa
substituída por vergonha é o que me faz deixar a cautela de lado e envolve-
la em meus braços.
— Nós nunca deixamos de te amar, por todos esses anos, você ficou
com uma parte nossa para si, uma parte que não recuperamos até agora —
Dimitri explana enquanto caminha até nós e acaricia o rosto molhado de
Yekaterina, que já não controla mais as lágrimas enquanto se segura com
força em minha camisa. — Nós te amamos, Yekaterina, só você nos
completa.
— Não, vocês se amam e… e não posso me intrometer no que vocês
criaram nesse tempo, eu sei agora que errei em deixá-los ir, mas aconteceu
— ela comenta com a voz chorosa e, a cada palavra, meu coração aperta
mais no peito e eu a seguro mais apertado.
— Nós nos amamos e construímos uma relação durante esse tempo,
mas você sempre esteve lá, no fundo das nossas mentes. Pensamos em você
todos os dias, falamos sobre você, sua presença esteve marcada em cada
momento que passamos juntos. Você, Yekaterina, foi a parte que faltava
para sermos felizes — Dimitri explica e beija o topo da cabeça dela, se
aproximando ainda mais, ele coloca uma mão nas costas de Yekaterina e a
outra na minha cintura, atraindo-nos para um abraço a três com nossa
mulher protegida no meio.
— Sem você não existe nós — anuncio e ela levanta o rosto,
encarando-me com os olhos brilhantes das lágrimas, a boca entreaberta é
um convite ao qual não tenho forças para recusar, aproximo meu rosto do
dela e, no momento que nossos lábios finalmente se tocam, é como se todo
o meu mundo voltasse a ganhar cor e meu coração acelera ainda mais.
Um beijo perfeito com o qual sonhei todos os dias desses três anos é o
que me faz voltar a viver por completo, nossos lábios se moldam um ao
outro com familiaridade, como se não estivéssemos ficado um dia sequer
separados, sua boca se abre e a língua quente e macia exige passagem até
encontrar a minha, intensificando o beijo e arrancando um gemido abafado
meu.
Então Yekaterina se afasta lentamente, deixando-me querendo mais até
ver que ela envolve o pescoço de Dimitri e faz o mesmo com ele, tomando
sua boca da mesma forma que fez com a minha e, agora sim, tudo está
perfeito, o nosso amor está de volta em nossos braços, seu beijo me faz
sorrir enquanto procuro o pescoço dela e inspiro o aroma inebriante que
somente ela tem.
— Sentimos tanto sua falta, linda — sussurro contra a pele delicada do
seu pescoço e assisto ela arrepiar.
— Sentimos falta dos seus beijos — Dimitri fala prendendo o lábio
inferior dela com seus dentes, fazendo-a soltar um som baixo que mais
parece um ronronar.
— Dos seus gemidos — murmuro e dessa vez ela realmente geme,
então volta a me encarar e Dimitri toma a bolsa dela, jogando para longe de
nós.
Yekaterina me olha por um tempo e, por um momento, vejo a
hesitação passando em sua expressão, porém ela balança a cabeça e ergue
os braços, dando a permissão que precisamos.
Dimitri segura a barra do moletom que ela usa e puxa para cima, junto
com a camiseta, deixando-a de sutiã enquanto eu passo minhas mãos pela
lateral do seu corpo com calma e carinho, tomando meu tempo.
— Senti tanta falta da forma que a sua pele arrepia com meu toque —
anuncio e Yekaterina sorri envergonhada. — Você é única.
— É perfeita — Dimitri tira a camiseta e cola seu peito nas costas dela,
beijando seu ombro, ele faz o mesmo que eu e suas mãos viajam pelo corpo
da nossa mulher, que envolve meu pescoço e me beija. — Seja nossa
novamente, Kat.
— Se entregue, linda — murmuro contra seus lábios e ela dá um
pequeno aceno com a cabeça, concordando, mas sem conseguir dizer as
palavras.
Nós a despimos e, a cada peça de roupa que tiramos dela, a admiramos
com carinho e amor, ela continua sendo a pessoa mais linda desse mundo e
sei que Dimitri pensa o mesmo, seus olhos azuis brilham ao constatar que
não é um sonho, ela está aqui, no meio de nós dois, entregando-se ao que
sempre esteve destinado a acontecer.
Antes de tirar a calça, Dimitri se afasta e corre até o andar superior
enquanto eu coloco Yekaterina deitada no tapete da sala, completamente
nua, como a porra de uma deusa, ela segura meu pescoço e conduz minha
boca para baixo, indicando o que quer, me dominando com o toque gentil
do qual eu senti falta.
Porra, eu senti falta pra caralho de ser dominado por ela.
Traço uma linha de beijos pela sua clavícula, descendo até os peitos
pequenos, lambo e provoco o mamilo direito, enquanto minha mão aperta o
esquerdo, arrancando sons deliciosos dela, que arqueia as costas pedindo
por mais.
Sua boceta molhada se esfrega na minha perna a procura de alívio, mas
eu a torturo por um tempo até que ela empurra minha cabeça com mais
força e eu sorrio contra sua pele.
— Eu vou te chupar, linda, quero aproveitar cada milímetro do seu
corpo, preciso matar a saudade de você, do seu cheiro, do toque da sua pele,
do sabor da sua boceta, eu quero tudo — murmuro enquanto desço e ela se
abre para mim, totalmente entregue. Vejo a pele rosada brilhando com a
umidade de sua excitação e a visão faz meu pau pulsar na calça. — Porra,
eu senti muita falta de chupar a sua boceta.
— E está esperando o quê? — ela fala toda impaciente, da forma que
me lembro dela, o que me faz sorrir enquanto aproximo meus lábios dos
dela e planto um beijo, arrancando um gemido delicioso dela.
— Porra, soldado, chupa nossa mulher — Dimitri ordena assim que
retorna e eu obedeço com gosto, passando a língua por toda a sua boceta
deliciosa.
Vejo o piercing, que brilha acima do clitóris, e logo começo a provocá-
la mais rapidamente, alternando entre lambidas e chupadas, sinto Kat se
contorcer embaixo de mim e a seguro com firmeza, então me concentro no
clitóris inchado, fazendo movimentos rápidos com a língua até que ela se
entrega ao primeiro orgasmo e goza na minha boca.
O sabor de Yekaterina é viciante e deliciosamente inconfundível, eu
quero mais, quero arrancar dela todos os orgasmos possíveis, mas logo
Dimitri está ao meu lado, ansioso e exigindo participar.
Ele toma a minha boca em um beijo possessivo e compartilhamos do
sabor dela até que ele tira as calças, liberando seu pau grande e grosso que
já está duro, a cabeça rosada pinga de excitação e eu salivo para chupá-lo,
mas não é isso que ele quer agora, não é o que ele precisa, por isso pego a
camisinha que ele trouxe e encapo seu pau, dando lugar para ele ficar no
meio das pernas da nossa mulher.
— Hoje você será nossa novamente, Kat — ele anuncia e se abaixa
para beijá-la, então Yekaterina envolve sua cintura com as pernas e conduz
seu pau para sua boceta — Me puxa para dentro de você. — Com um
movimento rápido, Dimitri a penetra com força, como ela exige, arrancando
um gemido alto e estrangulado de prazer da nossa mulher enquanto ele a
fode no tapete, prensando seu corpo no chão com investidas rápidas e
firmes, eles se beijam e fazem amor.
Eu assisto admirado enquanto as duas pessoas que eu amo voltam a se
conectar e meu coração parece grudar as rachaduras que antes existiam.
A cada investida de Dimitri uma parte que faltava em meu peito se
completa, a cada gemido de prazer que Yekaterina solta meu peito bate mais
rápido, com mais força e vitalidade.
— Eu quero meus dois homens — Yekaterina anuncia e nós
concordamos, porque somos dela, tudo o que ela quiser de nós ela terá.
Dimitri sai de dentro dela tempo o suficiente para deitar de costas no
tapete e colocá-la montada em seu pau, então visto uma camisinha e me
ajoelho atrás dela, beijando seu pescoço até alcançar a boca deliciosamente
doce e carnuda de Yekaterina, que começa a cavalgar no pau do nosso
homem, esfregando a bunda gostosa no meu pau e me provocando.
— Vem logo — ela murmura contra meus lábios e eu já não aguento
mais, abro sua bunda e a provoco com meu pau por um tempo, mas
Yekaterina está pronta, não preciso de muito para preparar seu cu, até que
meu pau entra e ela se contrai ao redor dele, parando de se mover por um
tempo até se acostumar com o tamanho e, quando ela relaxa, eu entro mais
e mais até estar totalmente dentro dela.
— Porra — Dimitri esbraveja e posso sentir seu pau pulsando, as
paredes finas que nos separam são deliciosamente provocantes. — Você é
magnífica, Yekaterina.
— Perfeita para caralho — sussurro em seu ouvido e ela começa a se
mover, tomando nós dois ao mesmo tempo, suas unhas cravam com força
no peito tatuado de Dimitri e ela joga a cabeça para trás, absorvendo as
sensações da dupla penetração enquanto nós nos movemos com calma.
Logo estamos perdidos nela, sentindo nossa mulher entre nós, e isso
era tudo o que faltava para finalmente estarmos completos.
Enquanto fazemos amor com calma, são quatro mãos viajando pelo
corpo que tanto fez falta nos últimos três anos, absorvemos cada gemido
dela, cada nome que sai dos seus lábios sem ela querer, cada gota de suor
que Yekaterina produz é o suficiente para nos levar a loucura.
Fodemos até ela estremecer em meus braços, gozando com força e nos
apertando, levando-nos à loucura enquanto entramos e saímos dela, até que
gozamos quase ao mesmo tempo, comigo e Dimitri marcando-a novamente
como nossa.
Nós precisamos dela e ela sabe que faz parte de nós.
Yekaterina é a porra da nossa mulher e, a partir de agora, não existe
nada que nos faça deixá-la ir.
CAPÍTULO 33

YEKATERINA
 
O que foi que eu fiz?
Por que me deixei levar daquela forma?
Como fui cair nos braços deles e me entregar a tentação mais de uma
vez?
Droga!
Meu coração parece que vai sair pela boca quando acordo no meio dos
dois, com Serguei cobrindo minhas costas e Dimitri me acolhendo em seu
peito e, por um milésimo de segundo, penso que tudo não passou de um
pesadelo: a doença do meu pai, os anos de desespero e luta, tudo o que
passei até aqui, só a droga de um maldito pesadelo, mas não preciso de
muito tempo para saber que foi real.
— Bom dia, meu amor. — A voz rouca de Dimitri me faz estremecer,
é claro que ele está acordado e planta um beijo carinhoso no topo da minha
cabeça, me fazendo relaxar, antes de cair na real.
— Eu não deveria ter feito isso, nós…
— Linda, não surta agora, fica aqui mais um pouco e depois a gente te
faz um café delicioso, então conversamos — Serguei murmura nas minhas
costas com uma voz de sono gostosa demais, então me abraça mais
firmemente contra seu peito e respiro fundo novamente, sentindo o cheiro
dos meus homens.
Não, eles não são meus.
Me desvencilho dos braços que me seguram e saio da cama sem olhar
para eles, caminho rapidamente até o banheiro e percebo que não lembro
como chegamos ao meu quarto, eu devia estar apagada depois das três
rodadas de sexo na sala.
Tomo um banho quente, mas não consigo tirar as imagens de ontem da
minha mente, ainda posso sentir suas mãos em meu corpo e a forma com
que tudo parecia estar completo em seus braços.
Fora que minha boceta está latejando só de lembrar dos incontáveis
orgasmos que tive ontem. Ninguém nunca chegou perto do que eles
conseguem me fazer sentir.
Quando saio do banheiro enrolada na toalha, vejo Dimitri sentado na
cama, ele está com uma calça preta, com símbolos do Batman em amarelo,
e uma camiseta preta, daquele jeitinho que eu só o vi quando fiquei doente e
passei alguns dias com eles na mansão.
Assim ele não parece o homem poderoso que é, mas o olhar não muda,
a forma com que me encara é a mesma de sempre.
— Precisamos conversar — ele fala apontando para as duas cadeiras
na varanda, o dia acabou de amanhecer então o sol ainda não está quente
demais e sim perfeitamente morno para me aquecer.
— Posso me trocar antes? — questiono e ele sorri.
— Claro, vou buscar um café. — Dimitri levanta e vem até mim, ele é
grande e muito musculoso, tão alto que preciso erguer o rosto para olhar em
seus olhos, mas sua postura não é intimidadora Ele se aproxima com calma
e me dá um beijo carinhoso nos lábios. — Volto logo, amor.
Amor...
Amor...
Amor…
Droga, meu coração bate ainda mais rápido no peito enquanto ele se
afasta e eu fico plantada como uma boba, olhando aquela bunda redonda e
deliciosa balançar até sumir de vista.
— Acorda, mulher, lembre-se de quem ele é e o que ele faz. — Me
corrijo e vou até a mala maior de roupas que eles compraram para mim, sei
disso porque não reconheço uma peça sequer das que estão aqui dentro,
então escolho uma bermuda jeans e uma camiseta azul-claro que está no
final da pilha de roupas, quero ficar confortável para a conversa que me
aguarda.
Dimitri retorna com uma bandeja de café da manhã, dentro vejo duas
xícaras, um bule e alguns pães e frutas, ele coloca tudo em cima da mesa da
varanda e puxa a cadeira para eu sentar, depois se acomoda ao meu lado e
beberica seu café.
— Aonde Serguei está? — questiono, tomando um gole da bebida
quente que desce acordando todas as células do meu corpo.
— Com a equipe de segurança, pedi para falar com você a sós —
explica com calma.
— Você ainda o protege — declaro e ele dá um meio sorriso. — Vocês
não mudaram nada mesmo.
— Nisso você está enganada, Yekaterina — ele repreende e ergo as
sobrancelhas, esperando que fale mais. — Muita coisa mudou nesses três
anos. Assim como você, nós já não somos mais os mesmos.
— Sinto como se estivéssemos continuando de onde paramos, parece
que esses três anos foram só um maldito pesadelo — confesso.
— Infelizmente não, meu amor.
— Não me chama de amor, por favor, eu não consigo pensar direito
quando você faz isso. — As palavras saem antes que eu possa contê-las e
sinto meu rosto queimar quando o vejo sorrir ainda mais.
— Tudo bem — ele concorda.
— Sobre o que você quer conversar?
— Sobre seu problema com a bebida — fala de forma direta e sem
enrolação, pegando-me completamente desprevenida.
— Não tenho um problema com bebida, ela me ajuda a suportar os
dias e…
— Não, Yekaterina, você tem um problema sim, e assumir isso é o
primeiro passo.
— Você não sabe nada sobre mim, sobre o que passei nesses últimos
três anos, então não venha com julgamentos, eu fiz o que precisei para
suportar a minha vida — repreendo aumentando o tom de voz.
— Está muito enganada se pensa que não sei o que você passou, acha
mesmo que eu não mantive um olhar em você? — Dimitri desafia e eu não
respondo. — Acompanhei todo o tratamento do seu pai, os dias e noites
solitários que você passou naquele maldito hospital, as várias vezes em que
chorou no banheiro no final do corredor.
— Como você…
— Tenho acesso a qualquer aparelho eletrônico e sistema de
monitoramento do mundo, eu acompanhei seus passos por três anos,
Yekaterina, a vi sofrer de longe sem poder fazer nada e, quando tentei, você
recusou minha ajuda.
— Não preciso do seu dinheiro, eu consigo me virar sozinha — me
defendo.
— Vendendo tudo o que tinha? Trabalhando em dois empregos ao
mesmo tempo? Se afogando em uma garrafa de bebida para sobreviver e
pagar uma dívida que não precisava ter?
— Claro que precisava, como acha que eu pagaria pelo tratamento do
meu pai? Nem todos nasceram em berço de ouro.
— Exatamente, e é por ter nascido com tanto dinheiro e poder que eu
poderia ter ajudado, era só você deixar, mas você preferiu correr e recusar
ajuda, de que adiantou? — Sua pergunta me faz estremecer, eu aguentei
tudo sozinha nesses três anos, mas paguei com a minha alma o custo dessa
força. —  Agora sua dívida com o banco está quitada, o apartamento e o
carro voltam para o seu nome e sua conta está vinculada a minha.
— Como…
— Fui eu quem comprou seu apartamento, mantive-o como você o
deixou, assim como o carro e a casa do seu pai, o banco de Moscow
pertence à família de um aliado, o gerente está em nossa folha de
pagamento e, se você quiser, eu compro a escola de ballet e dou ela a você.
Ainda não entendeu, Yekaterina? Eu farei qualquer coisa para vê-la feliz
novamente.
— Eu não quero nada seu. — Levanto e deixo a xícara na mesa antes
de sair do quarto e descer as escadas, posso sentir que ele está logo atrás de
mim, mas Dimitri não me segura, nem quando saio da casa e sigo em
direção aos estábulos.
Encontro Erikson de guarda e ele me acompanha, só então olho para
trás e não vejo mais Dimitri, finalmente posso respirar aliviada.
— Erikson, pode me ajudar com a cela? — peço e ele concorda.
— A senhorita tem experiência com cavalos?
— Sim, só preciso de ajuda com a cela, é pesada demais — respondo e
ele concorda, me ajudando a prender os arreios no cavalo preto da primeira
baia que, segundo ele, é o mais manso. — Obrigada.
Subo no cavalo com certa dificuldade, mas sem cair. Magie ficaria
orgulhosa.
Vejo o olhar preocupado de Erikson e sei o que ele está pensando, mas
não vou fugir, já entendi que é impossível, só preciso me afastar deles e
passar um tempo sozinha.
O cavalo é facilmente controlado e caminha tranquilamente pela
propriedade, passamos pela orla de um rio que fica ao lado da casa e depois
por alguns jardins muito lindos e bem cuidados, que imagino ser da caseira
que mora aqui.
O sol brilha cada vez mais forte no céu, mas não me importo com o
calor, só preciso de uma distração.
Fico sozinha por um bom tempo, pensando em tudo o que eles
disseram, em tudo o que vivemos, e é tão confuso que não consigo colocar
minha mente no lugar.
Eu deveria esquecer deles, tirá-los da minha vida, arrancar o que sinto
pelos dois do meu coração, mas quanto mais penso nisso, mais eles se
infiltram em minha mente e mais difícil fica de resistir.
— Está mais calma? — Dimitri aparece em um cavalo branco, como
um maldito príncipe de conto de fadas, ele trocou o pijama por uma calça
jeans, botina e uma camisa xadrez azul que o deixa no estilo cowboy
gostoso, droga de homem perfeito. — Podemos conversar?
— Eu já disse tudo o que tinha para falar — respondo mais ríspida do
que pretendia.
— Mas eu não.
— O que você quer comigo? Sério, Dimitri, é uma esposa que
carregue seus filhos e herdeiros? Porque se for isso, existem várias por aí
que ficariam mais do que felizes em cumprir esse papel e vocês estariam
livres para serem um casal — desabafo uma das minhas maiores
inseguranças, sem conseguir segurar mais as palavras. — Não entendo por
que eu?
— Porque você enxergou meu maior monstro sem nem estar
procurando por ele, você, Yekaterina, foi a primeira que viu minha
depressão e se preocupou comigo — ele confessa, pegando-me de surpresa.
— Tive períodos difíceis e já tentei tirar minha vida, mais de uma vez.
— Você tentou se matar?
— Sim, no fim eu sempre desistia e chamava meu pai antes de
realmente fazer algo, mas… bem, ele nunca levou isso a sério e disse que ia
passar, mas não passou, só piorou com o tempo até que…
— Até que ele realmente tentou — Serguei anuncia caminhando em
nossa direção, ele passa pelo cavalo de Dimitri e acaricia o animal, olhando
no fundo de seus olhos com uma expressão dolorosa. — Eu queria ter visto
antes, queria ter feito mais…
— Não é sobre você, amor, eu não estava bem e não conseguia pensar
em pedir ajuda, na verdade não achei que eu merecia ser ajudado, afinal,
alguém como eu, responsável por tanta maldade nesse mundo, não merece
compaixão — Dimitri anuncia e sinto meu peito apertar com cada uma de
suas palavras.
— Mas você procurou ajuda, não foi? — questiono, minha voz
falhando aos poucos enquanto penso em tudo o que ele passou e eu não
estive lá, não estive ao seu lado.
— Sim, hoje faço terapia e tomo medicamentos que me ajudam a
controlar a escuridão quando ela tenta me dominar, ainda tenho dias ruins,
mas os bons tem sido mais constantes — Dimitri conta e me sinto mais
aliviada.
— Eu deveria ter falado algo aquela vez, eu deveria… — lamento sem
coragem de olhar para eles, envergonhada demais por não ter tirado a
história a limpo quando pude e acreditado na Thais, quando deveria ter
falado com eles.
— Não se sinta culpada, Yekaterina, depressão é uma doença e eu
estou tratando dela como tal, não era sua obrigação, assim como de Serguei,
cuidar de mim é uma tarefa minha e eu estou fazendo o possível para
cumpri-la — Dimitri expressa com calma e ergo o olhar para encontrá-lo
sorrindo. — Claro que fica mais fácil com meus amores ao meu lado, mas o
único responsável pela minha saúde mental sou eu.
Ele está falando sério e sei que é verdade, mas o sentimento de culpa
continua martelando na minha cabeça, até que ouvimos um som alto de
sirenes vindo da casa principal.
Serguei troca um olhar preocupado com Dimitri e ambos me encaram.
— Linda, posso pegar uma carona com você? — Serguei pergunta e
concordo, então ele sobe atrás de mim e toma as rédeas do cavalo, correndo
de volta para a propriedade com Dimitri ao nosso lado.
CAPÍTULO 34

DIMITRI
 
Quando todos os alertas da propriedade começam a soar eu sei que
estamos em perigo, por isso corro de volta para a casa principal e, com um
olhar, vejo Serguei tão preocupado quanto eu estou, enquanto cavalga com
Yekaterina.
A casa de campo não é tão segura quanto a mansão ou a Central, mas
temos sistemas de sobreaviso e, como já estávamos recebendo mais
ameaças do que o normal, a equipe foi triplicada para essa viagem.
— Erikson, qual é o status? — questiono ao descer do cavalo e
encontrar meu chefe de segurança com o tablet em mãos.
— Duas aeronaves desconhecidas acabaram de entrar em nossos
radares, estamos monitorando as estradas e tem veículos suspeitos vindo em
nossa direção, além dos sensores de calor que captaram movimentação
suspeita a dez quilômetros daqui.
— Temos que evacuar imediatamente — aviso.
— Sim, mas você não pode seguir no helicóptero oficial, é um alvo
fácil demais — Erikson contrapõe.
— Eu o levarei na aeronave de apoio, mas precisamos de uma isca no
helicóptero oficial para desviar a atenção deles — Serguei anuncia ao meu
lado, ele está de mãos dadas com Yekaterina, que parece confusa com toda
a situação.
— Já alertamos o exército e teremos apoio aéreo em pouco tempo, é
melhor seguir para a cabana nas montanhas — Erikson sugere.
— Não, se eles descobriram sobre esse lugar devem saber da cabana,
precisamos de um local desconhecido, as casas de apoio também estão fora
de cogitação — digo ficando preocupado a cada segundo que passa.
— Meu tio tem uma cabana próxima do lago Ladoga, faz muitos anos
que não vou lá, mas lembro de uma clareira que pode servir para pousar o
helicóptero, nós estamos próximos de San Petersburg, certo? — Yekaterina
questiona.
— Sim, um pouco ao norte da sua cidade natal — respondo e pego o
tablet de Erikson, abro o mapa e entrego a ela. — Consegue mostrar o local
exato?
— Preciso de um tempinho, mas fica nessa região aqui — ela aponta
para leste de onde estamos e é só o que precisamos por enquanto.
— Continue procurando enquanto saímos daqui — Serguei nos
interrompe bem na hora que um zumbido alto corta o céu e a primeira
aeronave chega até nós.
— Droga, são caças americanos — Erikson pragueja e todos
começamos a correr até a lateral da casa, aonde os três helicópteros já estão
nos aguardando, nós viemos em um deles e os seguranças e grupo de elite
seguiu nos outros dois, além de uma equipe extra que veio nos carros de
apoio. — Vamos, precisamos tirá-lo daqui o quanto antes.
O helicóptero secundário é uma aeronave especial de guerra, não tem o
conforto da outra, mas é mais segura e preparada para manobras evasivas.
Ajudo Yekaterina a entrar primeiro e prendo seu cinto de segurança,
depois coloco os abafadores e dou um beijo casto em seus lábios, ela está
assustada, mas não contesta nossas ordens, fazendo tudo o que falamos
enquanto procura o local exato da cabana do seu tio.
Serguei assume os controles do helicóptero e Victória vai como sua
copiloto. Erikson, Artyom, Thiane e Gustav, são os soldados selecionados
para virem conosco, as outras duas aeronaves tem a mesma quantidade de
pessoas e já estão ligadas.
Meu helicóptero oficial é o primeiro a partir e já é seguido por um dos
caças americanos, o segundo fica à espreita e, assim que nossas duas
aeronaves levantam juntas, ele nos persegue.
— Dimitri, senta quieto aí. — Erikson indica o acento ao lado de
Yekaterina, que é o local mais protegido dentro da aeronave aberta. — Eles
não podem ver você — avisa e, só por isso, faço o que manda e sento ao
lado da minha mulher, coloco os fones de ouvido e ligo o comunicador.
— Vai ficar tudo bem, amor — falo e ela me olha com medo, porém
focada em sua tarefa.
— Encontrei, fica aqui e, se essas imagens são atuais, a clareira ainda
está lá. — Ela me entrega o tablet e envio a localização exata para o sistema
de Serguei na aeronave, o local não fica longe daqui, mas precisaremos
despistar os caças para não sermos seguidos e, de lá, podemos escapar via
terrestre.
— O exército está chegando… droga, eles abateram a aeronave
principal e estão vindo atrás de nós — Erikson anuncia e prepara a
metralhadora, o movimento faz Yekaterina pular no banco e pego sua mão,
beijando o topo para acalmá-la.
— Fecha os olhos, amor, vai ficar tudo bem, eu garanto — falo, mas
ela não consegue desviar a atenção da arma e, quando Erikson começa a
atirar, Yekaterina solta um grito assustador, seguro seu rosto e faço com que
olhe firme em meus olhos. — Amor, olha para mim, só para mim, vai ficar
tudo bem, não vou deixar que nada aconteça a você.
A tranquilizo e, quando seus olhos encontram os meus, ela para de
gritar, mas vejo as lágrimas se formando e sinto suas mãos tremerem
enquanto as seguro, continuo falando palavras carinhosas para ela, sem
desviar o olhar e tirando sua atenção do caos que nos cerca.
Para falar a verdade eu agradeço essa distração, meu coração bate
acelerado no peito enquanto todos se colocam em perigo, mais uma vez,
para me proteger e eu não posso fazer nada.
Serguei usa diversas manobras evasivas, mas sinto o solavanco da
aeronave quando um tiro nos atinge e todos os alertas internos começam a
apitar, as luzes vermelhas são inconfundíveis e Yekaterina se assusta
novamente.
— Fecha os olhos, amor, por favor, só abre quando eu falar. — Tiro
meu cinto de segurança e me aproximo mais dela, envolvendo sua cabeça
em meu peito cubro seu corpo com o meu e ela se segura com força em
minha camisa, escondendo-se do mundo em meus braços, como deve ser, e
eu a protegerei, custe o que custar.
— Vai ficar tudo bem, linda — Serguei fala no comunicador e ela
aperta ainda mais minha camisa. — Eu amo vocês e vou tirá-los dessa, é
uma promessa.
Então somos atingidos novamente, dessa vez o tiro do caça acerta a
porta aberta, aonde Erikson está atirando com a metralhadora, e só vejo que
ele foi atingido quando os tiros param e Victoria olha para trás, eu não
preciso ver o corpo do meu chefe de segurança no chão para saber que ele
está morto, só a dor no olhar da sua mulher é suficiente.
Artyom assume o controle da arma e Thiane o ajuda a recarregar, então
Victoria sai do copiloto e vem até nós, ela abre o compartimento de armas e
me entrega uma pistola, uma metralhadora e munição, faço o melhor para
colocar tudo em meu corpo sem me afastar de Yekaterina, depois Victoria
alcança um compartimento no assoalho e tira uma bazuca com míssil
teleguiado de lá.
— Victória, não, essa arma não é feita para ser usada dentro da
aeronave — Artyom avisa.
— É nossa única chance antes dos caças de apoio chegarem — ela
responde e prepara a arma, com um computador portátil Victória espera até
que o caça esteja vindo em nossa direção e trava a mira. — Abram a porta
lateral e saiam todos de perto. Serguei, você é o novo chefe de Segurança,
proteja nosso líder e tire-o daqui a salvo.
— Sim, senhora — Serguei responde.
Artyom e Thiane fazem o que ela diz, mas o homem não sai de perto e
a ajuda a segurar a bazuca, que parece mais pesada do que o normal, eles
trocam um olhar significativo antes de se ajoelhar e se preparar para atirar.
— O Pakhan acima de tudo, a Bratva acima de todos — recitam o
lema oficial dos soldados e espiãs e eu cubro o corpo de Yekaterina quando
a explosão da bazuca faz toda a aeronave balançar, mas logo Serguei
consegue recuperar os controles e, só então me viro para ver se o tiro
acertou ao alvo.
— Aeronave abatida — Serguei avisa, mas sua voz faz meu coração
quebrar novamente e, só então, percebo que Artyom e Victória não estão
mais dentro da aeronave.
Droga, droga, droga, droga…
Eles se sacrificaram por mim, pela organização, mais duas vidas foram
perdidas para garantir que eu saia vivo.
— Dimitri, coloca a merda do cinto de volta — Serguei ordena,
tirando-me da minha dor enquanto pilota. — Thiane, fecha as duas portas,
os caças de apoio estão perseguindo a última aeronave, mas precisamos sair
logo daqui, eles tem um exército terrestre chegando.
— Sim, senhor — Thiane responde e faz o que Serguei ordena.
Seguimos por um tempo sem problemas, mas quando estamos
chegando à aeronave dá um solavanco inesperado e Serguei aciona todas as
travas que consegue, porém parece um problema sério no motor.
Seguro Yekaterina com mais força, mas uma troca de olhares com
Serguei avisa que o problema é mais sério do que eu imagino, então tiro o
cinto de segurança e levanto para pegar o paraquedas.
— Nós precisamos pular — Serguei avisa e concordo, vendo os
controles e alertas da aeronave sei que logo o motor principal irá parar de
funcionar.
— Eu ficarei no controle, sigo assim que vocês tiverem pulado —
Thiane avisa e Serguei aceita.
— Você já pulou de paraquedas, linda? — ele questiona Yekaterina
que faz que não com a cabeça, assustada demais para responder. — Então
vem comigo, eu vou te amarrar em meu corpo e preciso que você feche os
olhos e se segure firme, tudo bem?
— Eu não quero… eu não… estou com medo — ela confessa, mas
aceita minha ajuda para se levantar.
— Vai ficar tudo bem, amor, Serguei é o melhor paraquedista daqui.
— E você? — ela questiona, preocupada.
— Estarei logo atrás de vocês, também sou um bom paraquedista, não
se preocupe comigo, tudo bem? — respondo, mas, antes de aceitar, ela me
abraça e beija minha boca com carinho enquanto Serguei veste o
paraquedas e os equipamentos de segurança.
Depois eu ajudo Kat a colocar os cintos e a prendo com firmeza ao
corpo de Serguei, só então ele me ajuda a prender o meu paraquedas e abre
a porta.
No instante que o vento nos atinge, Yekaterina grita desesperada e
Serguei a envolve com carinho, sussurrando algo em seu ouvido que a
acalma momentaneamente, ela se vira e o beija como consegue e ele me
olha, com aqueles grandes orbes castanho-escuros que fazem meu peito
apertar.
Meus dois amores estão em perigo por minha causa e vão pular de um
helicóptero prestes a explodir, não consigo fazer meu coração se acalmar
pensando no que pode acontecer e Serguei percebe.
— Vamos ficar bem, agora vai — ele indica a borda da aeronave.
— Vocês primeiro — falo, mas ele faz que não com a cabeça, meu
soldado mais leal precisa garantir que eu farei a coisa certa e não ficarei
para trás.
— Eu te amo, Dimitri — Serguei anuncia e me beija com vontade,
seus lábios tomando os meus como se fosse a última coisa que faremos
nessa vida e, só então, percebo que ele me colocou na borda da aeronave,
quando suas mãos atingem meu peito e sinto o empurrão, sei que ele fez o
que deveria, porque eu não tenho certeza se conseguiria pularia sozinho.
Em queda livre e ainda de costas para o chão vejo o momento que eles
pulam logo atrás e Serguei abre os braços de Yekaterina, conduzindo-a com
maestria, me viro e encaro o chão que se aproxima cada vez mais rápido.
Já fiz diversos treinamentos de salto, mas por algum motivo o
pensamento de finalmente terminar com tudo não se dispersa da minha
mente, até a imagem do rosto de Yekaterina e Serguei invadir meus
pensamentos.
Abro o paraquedas, quase no limite de segurança, olho para cima e
vejo que Serguei já abriu o deles e os conduz até a orla do rio, que é o lugar
mais seguro para pousarmos, já que estamos cercados de mata por todo o
lado.
Quando estou chegando próximo ao chão escuto uma explosão e vejo,
do canto do olho, os destroços do helicóptero ao longe, procuro pelos céus
algum ponto que indique que Thiane conseguiu sair, mas não a vejo em
lugar algum.
Será que mais uma pessoa deu a vida por mim?
 
CAPÍTULO 35

SERGUEI
 
Droga, acabamos caindo longe demais do local marcado e acredito que
tenhamos que caminhar por alguns quilômetros até chegar lá.
Assim que coloco os pés no chão e garanto que Kat está bem, tiro o
paraquedas e pego a mochila com equipamentos, procuro sinal no celular,
mas nem nosso aparelho especial consegue se conectar a uma rede aqui.
— Ei, linda, você lembra se nessa cabana tinha alguma antena ou sinal
de celular? — questiono Yekaterina enquanto andamos até o local aonde
Dimitri caiu.
— Sim, meu tio passava semanas lá, eu mesma fui poucas vezes
porque meu pai trabalhava muito, mas tinha TV e sinal de celular sim — ela
responde e fico mais aliviado. — Será que estamos muito longe?
— Segundo a localização que você me passou estamos há
aproximadamente vinte e cinco quilômetros de distância — respondo e ela
faz uma careta, olhando para as botinas em seus pés e o shorts jeans que ela
estava usando para cavalgar. — Relaxa, linda, você tem dois homens para te
carregar se ficar cansada.
— Ei, você trouxe os cantis de água? — Dimitri chama nossa atenção,
ele está na beirada do rio e caminhamos até lá.
— Sim, tenho dois no kit de sobrevivência que peguei na aeronave. —
Tiro da mochila as duas garrafas térmicas e entrego para ele, que enche de
água fresca do rio antes de me devolver.
Andamos por mais de uma hora quando percebo que Yekaterina já está
cansada, ela diminuiu o passo há algum tempo e vem se segurando mais nas
árvores, o que eu já avisei para não fazer, porque é perigoso ter algum bicho
venenoso, mas ela é cabeça dura.
— Linda, sobe nas minhas costas, eu te carrego até você descansar —
peço, mas ela sorri e faz que não com a cabeça, dando mais dois passos até
que para de forma abrupta e se joga no chão, gritando de dor, olho para sua
perna e vejo dois furinhos na panturrilha, imediatamente procuro pelo local
e encontro a cobra que a picou.
— Yekaterina! — Dimitri logo está ao lado dela, enquanto eu dou um
golpe com a faca no animal e consigo cortar sua cabeça fora.
— Droga, é uma Víbora-de-Ussuri — anuncio e olho para a cobra,
guardando a cabeça ensanguentada em um saco de lixo. Dimitri me encara
por alguns segundos, pensando o mesmo que eu: precisamos levá-la a um
hospital o mais rápido possível. — Consegue carrega-la?
— Sim — ele fala já levantando Yekaterina, que grita devido a dor da
picada. — Amor, precisamos que você fique calma e não se agite.
— Que caralho de calma — ela responde entre as lágrimas. — Eu fui
picada por uma maldita cobra, eu vou morrer nessa floresta, Dimitri, como
pode me pedir para ficar calma?
— Linda, vou tirar o máximo de veneno que eu conseguir — falo e me
aproximo da ferida, mas tenho que segurar firme sua perna quando ela tenta
se desvencilhar do meu aperto, então chupo e cuspo fora o que consigo da
ferida, até só ter o gosto de sangue em minha boca.
— Serguei, para, por favor, está doendo demais... — ela implora.
— Já terminei, mas agora precisamos correr até encontrar um lugar
com sinal — aviso e Dimitri concorda, então nos dividimos para carregar
Yekaterina. Ela é leve, mas caminhar por muito tempo se torna exaustivo
demais.
Chegamos à cabana quando o dia está anoitecendo, mas o estado de
Yekaterina começou a piorar e ela está tremendo de frio, mesmo eu tendo
colocado um casaco térmico nela.
Dimitri está acendendo a lareira enquanto eu agilizo o resgate, mas
tem alguma coisa de errado porque não consigo sinal com a antena portátil.
— Amor, eu vou subir no telhado e ver o que está nos impedindo de
obter sinal, já volto — aviso.
— Se cuida — ele pede e me lança um olhar significativo.
— Sempre.
Encontro uma escada na lateral da casa e ferramentas guardadas em
um baú próximo do gerador de energia, que por sorte está funcionando
direito, e ainda tem um pouco de combustível caso tenhamos que esperar
um tempo aqui, mas Yekaterina precisa urgentemente de um médico.
Assim que subo no telhado vejo o que está impedindo que a antena
funcione: um galho caiu bem em cima e entortou uma parte, droga, vai
demorar para consertar.
Quando finalmente consigo arrumar a antena e encontrar sinal, escuto
Dimitri me chamando e meu coração para de bater por um momento.
— Amor, ela não está bem, precisamos de água — ele pede e desço
rapidamente, pego as garrafas térmicas e vou correndo até o lago, que fica a
alguns metros da cabana, quando volto vejo Yekaterina tremendo de frio no
sofá, mesmo o local estando quente e Dimitri tendo encontrado um cobertor
para ela.
— Consertei a antena, envia o sinal para a equipe de resgate, preciso
diminuir a temperatura dela — aviso e começo a tirar as cobertas, me livro
da minha camiseta e umedeço com água do rio, então coloco nas suas
axilas, pego um pano que Dimitri estava usando e molho também,
colocando atrás dos seus joelhos, e espero que ajude.
— Andrei está vindo, mas vai levar uma hora ainda, precisamos
abaixar a febre dela — Dimitri avisa e tenho uma ideia.
— Vamos levá-la até o lago, a água não está fria e vai ajudar, já que
não temos uma banheira aqui.
— Nã…não quero… frio… estou com… frio — Kat bate o queixo
enquanto tenta tirar as toalhas que coloquei, mas eu a seguro.
— Você está com febre, amor, logo o médico vai chegar, mas até te
levarmos ao hospital precisamos baixar sua temperatura — Dimitri fala e
beija o rosto dela de forma carinhosa.
— Não… hospital… não… eu não quero. — Ela chora nas últimas
palavras, seus olhos se abrem e posso ver a dor neles, o que me faz
imaginar, mais uma vez, qual é o motivo desse trauma.
— Por quê? — questiono.
— Charlotte — ela murmura baixinho. — Charlotte... — repete e
fecha os olhos, então suas mãos envolvem a barriga e todo o sangue do meu
corpo congela.
— Dimitri, me ajuda a levá-la para o rio, ela… — falo, mas ele é mais
rápido e já está com ela nos braços, provavelmente chegou a mesma
conclusão que eu, e logo estamos na água com Yekaterina tremendo, porém
com o tempo sinto sua temperatura diminuir ao meu toque e ela se
aconchega nos braços de Dimitri.
— Yekaterina — ele chama e ela abre os olhos, concentrando-se no
rosto dele quando abre um meio sorriso ao reconhecê-lo, mas posso ver o
quanto ela está cansada. — Vai ficar tudo bem, amor, nós estamos aqui e
vamos cuidar de você.
— Você não pode dormir ainda, linda, aguenta firme, a ajuda já está
vindo — repito como um mantra, rezando para que eles cheguem logo.
O veneno da Víbora-de-Ussuri pode ser letal se ficar por muitas horas
no organismo, já faz cinco horas que ela foi picada, mas eu agi rápido e tirei
a maior parte antes que ele se espalhasse, porém ela precisa repor fluídos
logo.
Assim que a temperatura dela abaixa mais um pouco, a levamos de
volta para dentro, a noite fica cada vez mais fria, mas por sorte a ajuda
chega e o primeiro helicóptero pousa na clareira próxima à cabana, com
Andrei a frente de uma equipe de médicos, que agem logo para estabilizar
Yekaterina.
Chegamos ao hospital e ela começa a se debater, lutando contra as
amarras da maca e com os paramédicos, que avisam que a febre piorou,
enquanto ela volta a chamar por Charlotte.
— Doutor, faça um exame de gravidez — Dimitri ordena com a voz
baixa para o médico encarregado, que confirma e a leva para o quarto.
— É melhor esperarem aqui, vamos estabilizar a paciente e logo vocês
poderão entrar — o médico avisa.
— Nem fodendo — falo, mas Dimitri segura minha mão e faz que não
com a cabeça.
— Eles precisam de espaço para trabalhar — adverte de forma séria, o
que me tranquiliza um pouco.
Algumas horas depois os médicos nos deixam entrar no quarto,
Yekaterina já está medicada e com a febre controlada, porém ela parece
muito abatida e cansada, então a deixamos dormir e guardamos seu sono.
Dimitri e eu sentamos cada um em uma poltrona ao lado da cama dela
e assistimos aliviados nossa mulher dormir, ela vai ficar bem.
No dia seguinte, o médico retorna com o resultado dos exames e pede
para falar com ela a sós, mas para a nossa surpresa, Yekaterina nos pede
para ficar e segura nossa mão, eu posso ver no olhar de Dimitri que esse
gesto é tão significativo para ele quanto para mim.
— Seus exames retornaram e os resultados são positivos, por sorte a
cobra que a picou era um filhote e não tinha muito veneno, a senhorita deve
ficar em observação por alguns dias até que seu organismo elimine todas as
toxinas, mas depois estará liberada — o médico anuncia.
Eu quero perguntar sobre o exame de gravidez, mas não na frente dela,
se ela não nos contou é porque tem algum motivo.
— Obrigado, doutor — Dimitri agradece e o médico se retira. — Você
vai ficar bem, amor, são só alguns dias no hospital.
— Eu não posso ir para a sua casa? Não quero ficar aqui… eu… — ela
pede com a voz embargada de lágrimas.
— Linda, por que você tem pavor de hospitais? — pergunto sem
conseguir me conter.
— Acho que está na hora de vocês saberem a verdade — ela anuncia e
ergue as mãos, pedindo para que cada um de nós pegue uma, e então ela
volta a falar. — Quando eu tinha dezoito anos, ainda não era a bailarina
principal, mas aquele foi o primeiro ano que eu podia aproveitar as festas
junto com as outras dançarinas e, em uma dessas acabei transando com um
homem desconhecido, a camisinha estourou e, mesmo tendo tomado a
pílula do dia seguinte, alguns meses depois descobri estar grávida.
Essa notícia nos pega de surpresa, não é possível que Yekaterina tenha
um filho que nós não saibamos, mas antes que eu possa perguntar ela volta
a falar.
— Eu estava de cinco meses, entrando no sexto, e a barriga já
começava a aparecer, mas eu a escondia com roupas apertadas, sabia que
não seria por muito tempo e já estava pronta para largar a carreira de
bailarina pelo meu bebê, porém um dia comecei a sentir dores fortes e
agudas e fui ao hospital, o médico que me atendeu era um cavalo e me
julgou no momento que entrei na sala.
Ela para nesse momento, fechando os olhos para respirar fundo, e vejo
uma lágrima escorrer por seu rosto, mas Yekaterina logo continua.
— Aos dezoito anos eu tinha a aparência de uma menina de quinze e o
médico não olhou minha idade, só viu que eu estava grávida e sozinha,
então ele começou um sermão sobre gravidez na adolescência e como eu
estava jogando minha vida fora, isso tudo enquanto eu gritava de dor na
maca do hospital — ela explica e nesse momento sua voz começa a falhar.
— Ele aplicou alguns medicamentos em meu soro que induziram o parto
precoce e disse, o tempo todo, que era melhor tirar logo do que tentar
salvar, até hoje não sei o que realmente aconteceu, ninguém me falou nada
na época, e no meu prontuário médico só constava que era uma gravidez de
risco e houveram complicações durante um procedimento.
— Ele induziu o parto sem o seu consentimento? — Dimitri questiona
tão abismado com isso quanto eu.
— Sim, e enquanto eu gritava desesperada para salvarem meu bebê,
ele me mandava calar a boca. As enfermeiras não fizeram nada e foram
coniventes com o médico, acho até que concordaram com o que ele estava
fazendo, eu não tive escolhas e, quando acabou, ele me deu algo que me fez
dormir por muitas horas. Quando acordei estava sozinha em um quarto
particular, um que eu sabia que meu seguro não cobria porque eu não havia
dado meu nome certo na recepção, somente meus dados.
Agora ela começa a chorar realmente e não aguento mais, me abaixo e
beijo seu rosto, tentando secar as lágrimas que escorrem pela pele delicada
da minha mulher, não entendo como alguém pode fazer algo assim,
especialmente um médico que deveria ser treinado para salvar vidas.
— O hospital encobriu o caso e me deu uma quantia de dinheiro como
indenização, eu não lembro de ter assinado nada, mas quando acordei todos
os papéis tinham meu nome real e, logo depois, um bando de advogados
apareceu em meu quarto para falar que, basicamente, eu não tinha direito de
reclamar porque menti meu nome. Eu era jovem e havia acabado de perder
meu bebê, então aceitei e fui embora assim que me recuperei, mas a dor
continuou lá e eu sonhava todos os dias com ela. Uma enfermeira me disse,
antes de eu ir embora, que era uma menina.
“Eu pedi para vê-la, mas eles disseram que os restos mortais haviam
sido descartados, como se minha filha fosse lixo, um simples amontoado de
células mortas, e aquilo me quebrou, por meses sonhava com ela, em como
sua vida poderia ter sido, eu a via crescendo e correndo por aí e não
conseguia tirar essas imagens da minha cabeça.”
“Sempre sonhei em ser mãe e, quando esse sonho foi tirado de mim,
foi como se uma parte da minha alma tivesse morrido junto com a minha
filha.”
“Madame Faina foi quem percebeu que tinha algo de errado comigo e
me mandou para uma consulta com a psicóloga da academia, eu demorei
para contar o que havia acontecido por medo dela ser obrigada a falar para
alguém, mas Dianna me garantiu que nossas conversas eram sigilosas e, só
então, contei tudo. Ela me acolheu como mais ninguém havia feito e
perguntou se eu me sentiria melhor dando um nome a minha filha, foi então
que pensei em Charlotte.”
— É um lindo nome, amor — Dimitri fala e se abaixa para dar um
beijo carinhoso na testa da nossa mulher.
— Depois ela me deu a ideia de fazer um pequeno enterro, mesmo sem
ter o corpinho da minha filha, algo como uma cerimônia para dizer adeus,
eu não contei nada a ninguém, nem ao meu pai ou as minhas amigas, então
Dianna foi comigo até uma praça mais afastada da cidade, compramos
flores e eu mandei fazer uma pequena cruz com o nome da Charlotte, essa
despedida me ajudou muito e a dor foi diminuindo aos poucos.
Agora tudo realmente faz sentido e só percebo que estou chorando
quando as lágrimas escorrem pelo meu rosto ao me abaixar.
— Eu sinto muito que tudo isso tenha acontecido com você, linda,
sinto muito mesmo — falo em seu ouvido.
— Nós estamos aqui agora, amor, e jamais deixaremos que algo assim
aconteça com você de novo — Dimitri anuncia e sua voz falha com a
emoção, mas ele consegue controlar as lágrimas. — Nós te amamos,
Yekaterina, e, se você aceitar, prometemos te fazer feliz.
— Prometemos cuidar de você e dar nossa vida pela sua —
complemento e estendo minha mão livre sobre a de Yekaterina, então
Dimitri a segura e estamos os três conectados.
— Prometemos te amar cada vez mais, a cada dia que passar... — ele
fala com carinho e olhamos para Yekaterina, que respira fundo para tentar
se acalmar. — Yekaterina Belova, você aceita ter seus dois homens, te
amando, te protegendo e fazendo de tudo para te ver feliz?
— Aceita, linda? — pergunto quando ela demora para responder.
— Sim, eu… eu aceito — Kat finalmente fala as palavras que Dimitri
e eu sonhamos em ouvir e, com isso, nos faz os homens mais felizes do
mundo.
— A partir de agora ninguém poderá nos separar, você é nossa mulher,
Yekaterina, e nós somos seus homens. — Dimitri anuncia.
— Meus homens, meus amantes, meus protetores, vocês são os amores
da minha — ela anuncia e nos abaixamos para beijá-la e selar para sempre
nosso futuro. — Eu amo vocês.
CAPÍTULO 36

DIMITRI
2 meses depois
 
— Eu vou sentar na sua cara, Dimitri — Yekaterina avisa e me seguro
com mais força na corda que ela usou para amarrar minhas mãos na cama.
— Vou cavalgar essa boca deliciosa enquanto Serguei senta no seu pau, mas
você não vai gozar.
— Como diabos… — reclamo.
— Eu disse para não falar nadinha, amor. — Ela coloca um dedo na
minha boca e eu não aguento mais e sorrio. — Você perdeu uma aposta
alguns anos atrás, lembra?
— Vividamente.
— E hoje eu estou cobrando ela — Kat anuncia e sobe com uma perna
de cada lado em meu peito, o piercing em sua boceta brilha e me faz salivar,
ela é gostosa demais, seus peitos nus balançam deliciosamente enquanto ela
se esfrega em mim. — E uma das minhas ordens é que você não vai gozar.
— Que maldade, linda. — Serguei brinca enquanto masturba meu pau,
preparando-me para recebê-lo.
— Somente bons garotos vão gozar hoje, resta saber se você é um bom
garoto, amor. — Ela se abaixa e beija meus lábios delicadamente, só para
morder o inferior logo depois, arrancando um gemido meu. — Vai se
comportar?
— Não. — respondo para provocá-la e ela morde mais forte meu lábio
inferior.
— Viu, lindo, ele não merece um orgasmo — Kat anuncia e Serguei e
eu rimos dela, tão dominante e poderosa, essa mulher nos conduz como
uma rainha. — Agora, abre essa boquinha deliciosa e me chupa com
vontade, eu mereço gozar.
Assim que ela sobe pelo meu corpo e sua boceta encosta na minha
boca, eu quero segurá-la e chupar como tenho vontade, mas Yekaterina
mostra quem está no comando e se afasta assim que puxo demais as cordas,
ela não fez um ótimo trabalho com os nós, mas Serguei percebeu e a
ajudou, e o soldado sabe muito bem como amarrar suas vítimas.
— Linda, vira pra mim, eu quero ver você — Serguei pede e ela faz,
ficando de frente para ele enquanto eu a chupo, sinto as mãos firmes dele no
meu pau, desenrolando o preservativo, então a cama se mexe quando ele
sobe em cima de mim e, logo depois, esfrega aquela bunda gostosa no meu
pau melado de lubrificante.
— Porra… — resmungo contra a boceta de Yekaterina quando Serguei
coloca a pontinha do meu pau em seu cu, provocando-me ao entrar e sair,
alargando-se para me receber.
— Nem mais uma palavra, amor. — Kat senta com mais vontade e se
esfrega na minha boca, espalhando sua umidade pela minha cara, enquanto
me esforço para acompanhar seus movimentos, Serguei senta com tudo no
meu pau e, caralho, é fodidamente gostoso ter os dois assim. — Vamos
foder nosso Pakhan com força, até ele implorar para gozar.
— Você é malvada, linda — Serguei fala e eu quero concordar, mas
fico calado.
Porra, essa mulher me leva a loucura quando age assim, toda mandona
e no controle.
Eu estou na droga do paraíso, mas não posso me animar, Serguei
realmente me fode com força, sentando no meu pau, me tomando por
inteiro, para depois subir até a pontinha e sentar de novo, o desgraçado está
com o treino de pernas em dia.
A primeira a gozar é Yekaterina, sinto quando seus movimentos se
tornam desconexos e ela geme mais alto, chamando meu nome enquanto
Serguei a segura, e eu chupo sua boceta deliciosa, lambendo-a inteira, tomo
cada gota do seu prazer até que ela cai para o lado, tremendo e com o
sorriso mais lindo do mundo em seu rosto.
— Eu amo essa boca — Kat anuncia antes de se levantar e me beijar,
então ela faz o mesmo com Serguei. — Será que ele merece gozar?
— Porra, linda, se decide, eu tô quase — Serguei avisa e ela sorri.
— Senta devagar que eu já volto. — Kat sai da minha linha de visão e
Serguei diminui a intensidade dos movimentos, me olhando como se
pedisse desculpas, então ele se abaixa e me beija, tomando minha boca com
amor, sua barba roça na minha e me provoca arrepios deliciosos. — Eu amo
assistir meus homens fazendo amor, mas agora tenho um presentinho para
você.
Ela mostra um plug anal preto com controle e, só a visão do brinquedo,
me faz estremecer.
— Posso colocar isso em você, amor? — ela me pergunta e faço que
sim com a cabeça, já que ela disse para eu não falar. — Bom garoto.
Serguei sorri contra meus lábios, mas não sai de cima de mim
enquanto Kat passa lubrificante no plug e depois enfia calmamente no meu
cu, provocando-me um pouco antes de realmente introduzi-lo.
— Agora sim, Serguei, fode nosso homem com força, eu quero assistir
vocês dois gozarem — ela ordena e ele faz, o soldado volta a sentar no meu
pau enquanto Yekaterina caminha até a poltrona vermelha ao lado da cama,
vejo ela abrir as pernas e pegar outro dos nossos brinquedinhos, o sugador,
então ela o leva até seu clitóris e começa a se masturbar enquanto Serguei e
eu fodemos na cama.
— Porra, linda, eu não aguento quando você faz isso — Serguei
reclama em cima de mim.
— E eu ainda nem comecei a brincar, agora, mais rápido, Serguei, eu
quero ouvir Dimitri implorar pelo orgasmo — a maldita mulher ordena e,
logo depois, aciona o botão no controle que faz o plug enfiado em meu cu
começar a vibrar e eu já estou no limite.
Preciso pensar em tudo o que existe de pior no mundo para me segurar,
mas a visão dela se masturbando ao nosso lado, gemendo de prazer, assim
como Serguei sentando no meu pau com tanta vontade, me faz estremecer e
me contorcer na cama.
— Linda, eu acho que… — ele avisa, mas não dá nem tempo de
terminar a frase, sinto a porra quente do soldado se espalhar em meu peito
enquanto ele estremece em cima de mim, mas continua rebolando e,
Yekaterina aumenta a intensidade do plug e do seu próprio sugador.
Eu quero gritar, quero realmente implorar para gozar, mas ela percebe
meu descontrole e sorri quando meu olhar encontra o dela, essa mulher é
uma safada e vejo que está quase gozando, sentir o plug vibrar e escutar o
sugador em seu clitóris fazendo o mesmo som é como estar mais
conectados ainda e, quando ela goza na poltrona, se contorcendo, eu já não
tenho mais controle nenhum.
— Porra, amor — murmuro e ela sorri, devassa.
— Pode gozar — dá a porra da ordem que me faz derramar jatos de
porra na camisinha, meu pau ainda está fundo no cu de Serguei, enquanto
ele recupera o folego em cima de mim e continua rebolando calmamente,
suas paredes me apertam de uma forma deliciosa e o plug atinge aquele
ponto especifico no meu cu que prolonga ainda mais a intensidade do
orgasmo.
É fodidamente delicioso.
E só melhora quando meus dois amores me desamarram e deitam em
meus braços, os corpos suados e as respirações ofegantes, que combinam
com a minha e deixam meu mundo completo e feliz.
Nós somos perfeitos juntos e é isso que me dá forças para seguir cada
dia, com Yekaterina e Serguei ao meu lado, minha vida finalmente tem um
propósito maior do que somente liderar a maior organização criminosa do
mundo, agora eu tenho meus dois amores para cuidar, amar e proteger.
 
 
CAPÍTULO 37

YEKATERINA
1 ano depois
 
Para algumas mulheres o dia do seu casamento é o mais importante de
suas vidas, é o marco aonde uma história de amor será confirmada, em
frente aos amigos e familiares. Hoje deveria ser esse dia para mim.
Meus amigos Clayr, Magie e Nathan, junto com minha cunhada Anna,
são minhas madrinhas e padrinhos de casamento, é óbvio, e estavam aqui
até agora, mas quando a mulher que me vestiu colocou o véu, não suportei
mais as lágrimas e eles tentaram me acalmar, mas nada ajudou.
— Ei, linda, o que está acontecendo? Por que você está chorando
assim? — Serguei entra na sala da noiva, ele veste um terno preto, que foi
feito especialmente para esse dia, os detalhes em branco e dourado
combinam com o meu vestido, assim como a pequena flor cor de rosa no
bolso do terno que é igual as do meu buquê.
— Eu não quero fazer isso. — Choro colocando as mãos em frente ao
meu rosto para que ele não veja a bagunça que fiz na maquiagem perfeita.
— Não posso escolher um de vocês, eu quero os dois, Serguei, quero você e
Dimitri naquele altar.
— Calma, linda, nós vamos estar lá, eu prometo. — Ele segura minhas
mãos e me faz olhar no fundo dos seus olhos. — Dimitri está no altar te
esperando e eu vim te buscar para te levar até ele.
— E depois eu vou casar só com ele — anuncio e volto a soluçar, as
lágrimas escorrem pelo meu rosto como rios de tristeza, enquanto meu
coração se quebra em pedacinhos.
— Amor, olha pra mim. — Serguei coloca uma mão em meu queixo
quando tento desviar o olhar. — Esse casamento não é para nós, é para a
organização, é por Dimitri, nosso homem precisa que estejamos lá por ele
nesse momento.
— Eu sei, mas não entendo porque não pode ser nós dois, porque tem
que ser só eu?
— São as regras da Bratva, ele precisa se casar com uma mulher, com
você, Yekaterina, é o dever de Dimitri, você entende?
— Sim. — Respiro fundo, tentando me acalmar.
— Além disso, ele te ama muito, você é a única mulher que pode subir
naquele altar e casar com o Pakhan. — Serguei limpa uma lágrima que
escorre pelo meu rosto. — E eu estarei lá, posso não ser o noivo, meu amor,
mas estarei ao lado dele enquanto vocês se casam e, quando tudo acabar,
teremos toda a nossa vida pela frente, e essa, Yekaterina, será para nós três.
— Mas… — Ele não me deixa terminar e beija minha boca com
carinho, calando minha tristeza enquanto nossos lábios se moldam de uma
forma tão familiar que faz meu coração se recompor um pouco.
— Eu te amo, minha linda — Serguei confessa e suas palavras me dão
forças para erguer o rosto, secar as lágrimas e respirar fundo.
— Também te amo — respondo com um beijo rápido em seus lábios.
Chamo a maquiadora de volta e, por um milagre, ela consegue
consertar a bagunça que eu fiz.
Então Serguei me entrega um buquê de flores e oferece seu braço para
que eu me segure. Respiramos fundo uma última vez antes de sair do quarto
e caminhar em direção ao altar, em uma das maiores igrejas de Moscow,
aonde meu casamento foi planejado com mais luxo do que eu jamais vi na
vida.
Só de olhar para todos os detalhes em ouro puro meu coração acelera e
fico nervosa, mas então lembro do que Serguei disse: “Esse casamento é
para ele, não para nós.”, e isso me dá forças para andar lentamente pelo
tapete vermelho, com a marcha nupcial tocando pela orquestra, enquanto
avanço um passo de cada vez em direção a um dos amores da minha vida,
sendo conduzida pelo outro.
Serguei não solta meu braço até chegarmos no altar e Dimitri – em um
terno todo branco que o deixa parecendo um anjo, mas daqueles de filme
que são musculosos e gostosos – encontra o meu olhar e ele sorri, descendo
os degraus do altar para me receber, retirando minhas mãos das de Serguei.
— Obrigado, amor — Dimitri fala para Serguei quando ele entrega
minha mão ao nosso homem, então, pegando a todos de surpresa, ele dá um
beijo rápido na boca do soldado antes de sorrir e voltar a olhar para mim.
— Eu te amo — Serguei sussurra em meu ouvido e beija meu rosto
antes de subir os degraus e se colocar em seu lugar ao lado dos padrinhos,
Andrei, Alexei, Sasha, Vasily e Pyotr, que são os membros do Conselho da
Bratva, como eles me explicaram.
— Pronta? — Dimitri pergunta, apertando minha mão, e eu levo um
segundo para perceber que estou parada aos pés do altar.
— Sempre — respondo com mais coragem do que sinto, deixando a
ansiedade de lado assim que ele beija minha mão com o anel de noivado, e
sinto os lábios quentes e macios que tanto amo tocarem minha pele
sensível.
Olho rapidamente para minhas madrinhas que estão de vestido
vermelho, menos Nathan, que veste um terno preto com detalhes em
dourado, igual ao de Serguei e dos outros padrinhos, mas ele está do meu
lado da celebração. Todos sorriem emocionados em minha direção,
deixando-me um pouco mais calma com a sua presença.
— Você está magnífica, meu amor — Dimitri fala com a voz baixa
quando ficamos de frente um para o outro.
Eu escolhi um vestido de calda longa e com a renda bordada, seguindo
uma linha mais conservadora, optei por um modelo mais fechado em cima,
mas que abraça minhas curvas, moldando-se ao meu corpo de uma forma
natural.
Enquanto o padre começa a celebração, meu olhar não sai deles e
Dimitri segura minha mão enquanto Serguei nos observa, mas não vejo
mágoa ou tristeza em seu olhar e isso me mantém calma durante todo o
casamento.
Fazer um dos meus homens sofrer era o que eu mais temia no dia de
hoje, mas agora entendo que não importa quem esteja nessa celebração, nós
somos três almas unidas para uma vida toda de amor, cumplicidade e
felicidade, e ninguém no mundo tem o poder de nos separar.
A festa de casamento é tão luxuosa quanto a celebração e foi
organizada na mansão Petrov, os convidados seguem em direção a nossa
casa de carro, mas Dimitri, Serguei e eu iremos de helicóptero e, mesmo
que a viagem não seja longa, eu tenho algo planejado para meu marido.
Dimitri me ajuda a entrar na aeronave com o vestido longo e, só
quando estamos sentados com o cinto de segurança, Serguei dá a partida,
alçando voo pelos céus da Rússia.
— Serguei — chamo pelo comunicador e ele olha pelo retrovisor. —
Quero que você enrole por 30 minutos essa viagem.
— Linda, eu acho melhor seguirmos direto, são só dez minutos até a
propriedade e… Yekaterina, coloque o cinto de volta! — Serguei adverte
quando tiro o cinto e abro o longo zíper lateral do meu vestido.
Eu posso ter escolhido um modelo luxuoso e conservador, mas ordenei
que fosse fácil de tirar e de colocar, por isso, além dos botões nas costas, a
costureira implementou um zíper na lateral, então é fácil sair do vestido e
ficar só de lingerie.
— Eu sempre quis fazer amor nesse helicóptero, sabia? — comento,
montando em Dimitri, com uma perna de cada lado, e começo a abrir a sua
calça.
— Amor, é perigoso — ele tenta me fazer desistir, com pouca vontade
preciso pontuar, mas eu sinto suas mãos na minha bunda, acariciando minha
pele e me fazendo suspirar.
— É por isso que eu quero — respondo e, quando seu pau sai da
cueca, já duro e pingando para mim, tenho a certeza que ele também quer e
não me seguro. Dimitri coloca minha calcinha para o lado enquanto monto
em seu pau, me abaixando de uma vez só, fazendo-o entrar completamente
dentro de mim.
— Porra, vocês são uns pervertidos — Serguei reclama.
— Para de olhar e coloca a aeronave no piloto automático, o dia está
lindo, não tem vento e nenhum perigo. — Dimitri ordena e eu sorrio ao
ouvir o longo suspiro de Serguei, que logo começa a mexer em alguns
botões enquanto eu subo e desço lentamente no pau de Dimitri.
Logo nosso homem está atrás de mim, beijando minhas costas
enquanto abre a própria calça e veste um preservativo.
— Sua safada, vou foder esse cu delicioso para ver se você aprende a
se comportar — Serguei avisa e, com um puxão forte, rasga minha calcinha
delicada, tirando-a do caminho antes de começar a provocar a entrada do
meu cu.
— É para ser uma ameaça, amor? — Dimitri questiona sorrindo
enquanto eu gemo nos braços dele. — Sabe que nossa mulher vai levar isso
como um desafio.
— Porra, eu sei — Serguei responde e troca os dedos pelo pau,
fazendo-me parar de me mover enquanto ele entra aos poucos dentro de
mim. — Caralho, linda…
Assim que seu pau está fundo no meu cu, volto a me mover
lentamente, absorvendo as sensações de ter meus dois homens, meus dois
amores, me fodendo no dia do nosso casamento, dentro do helicóptero
enquanto sobrevoamos por Moscow.
Dimitri toma o controle quando minhas pernas começam a tremer e
sinto o orgasmo se aproximar cada vez mais, então ele e Serguei me fodem
da forma que sabem que eu gosto, entrando fundo enquanto eu sou só
sensações, gemendo e gritando por eles, chamando seus nomes e me
entregando ao meu primeiro orgasmo como uma mulher casada.
CAPÍTULO 38

DIMITRI
New York
4 ANOS DEPOIS.
 
Ver meu irmão feliz traz uma sensação de alívio muito grande, ainda
mais depois de tudo o que ele passou para conquistar sua mulher e fazê-la
aceitar se casar com ele.
Anna é perfeita para Andrei, tem uma alma de guerreira e jamais o
deixará, disso eu tenho certeza, o amor dos dois é puro e verdadeiro.
A celebração foi simples, mas muito linda e, com todas as pessoas que
importam para meu irmão reunidas em um mesmo ambiente, é claro que a
festa estava garantida.
Daniele Corleone agora é a Capo da Família Genovesse, se tornando a
primeira mulher a assumir a liderança da máfia italiana e garantindo a paz
em New York, ela e Andrei se tornaram algo como amigos, pelo que ele me
contou, e agora vejo a forma calma que ela olha para os soldados da Bratva.
Do outro lado da festa está a Família de Angelis, que veio de Boston
para acompanhar o casamento e, entre eles estão Alícia de Angelis, irmã
mais nova do Don de Angelis e Executora da Família, Gabriel Esposito, o
Executor, e Chace King, um garoto que não tem nada a ver com a máfia,
mas que conquistou o coração dos outros dois e agora são um trisal.
Da Sicília, o Capo Ricardo Moretti e seu marido Gian, também estão
presentes, junto de Giulia e Ivan.
A vida na máfia está diferente e, por onde olho, vejo que finalmente as
coisas mudaram e evoluíram com os anos, o amor está sendo aceito em
todas as suas formas, e este é o mundo que eu quero para os meus filhos, e
que estou construindo arduamente.
— Amor, Kat está nos chamando, ela disse que tem uma surpresa. —
Serguei coloca uma mão na base das minhas costas e trocamos um olhar
desconfiado, desde que chegamos nos Estados Unidos, Yekaterina está
estranha, mais ansiosa que o normal e parece esconder algo de nós.
— Vamos ver o que nossa mulher está aprontando — respondo e
seguimos até uma tenda que foi montada em um local afastado da
celebração, onde ninguém pode nos ver.
Yekaterina nos espera de pé, com o vestido rosa-claro que abraça suas
lindas curvas e tem um decote nos seios que a deixa ainda mais gostosa,
local esse que notei estar diferente, parecem maiores e mais cheios.
Ela está com o cabelo preso em um coque bagunçado, com várias
tranças pequenas que dão um aspecto delicado e profissional ao penteado, a
maquiagem é marcante, especialmente nos olhos, o que faz o azul brilhar
mais ainda.
— Oi, linda, o que você está fazendo aqui sozinha? — Serguei
questiona e beija a boca da nossa mulher primeiro, segurando uma de suas
mãos antes de me dar espaço para fazer o mesmo.
— Eu nunca estou sozinha — Kat responde, apontando com a cabeça
para os seguranças do lado de fora, e ela está certa.
— Desculpa, amor, mas estamos fora de casa e precisamos de
segurança extra — advirto e ela sorri, concordando.
A questão de segurança foi uma dificuldade no começo, mas
Yekaterina acabou se acostumando, ainda mais quando Serguei organizou
um time composto majoritariamente por mulheres para ela.
— Fechem os olhos — ela ordena e Serguei e eu trocamos um olhar
antes de acatar a ordem, como dois bons soldados da nossa rainha.
Então escuto o barulho de Yekaterina caminhando pela grama, logo
depois sons do que parece papel amassado, mas não identifico mais nada, e
assim que escuto ela voltar a ficar em nossa frente, meu coração dispara de
ansiedade.
— Você vai matar nosso velho do coração, linda — Serguei brinca e
dou um soco em seu braço, mesmo de olhos fechados sei aonde ele está.
— Vou mostrar o velho quando voltarmos para o hotel, quero ver você
continuar com essa provocação quando estiver amarrado na cama —
ameaço e ele ri, fazendo meu peito esquentar, e aquela sensação de
borboletas no estômago toma conta do meu corpo, eu nunca as perdi, em
oito anos, desde que eles entraram na minha vida, é essa sensação que me
dá forças para continuar.
— Estendam as mãos — Kat ordena, sem comentar sobre nossa
brincadeira, o que é estranho para ela, mas faço o que ela manda e logo
tenho algo estranho em minhas mãos. — Podem abrir os olhos.
Assim que encaro o pacote de papel vermelho que ela colocou em
minha mão, eu já sei o que sairá de dentro e, quando abro a tampa, encontro
um sapatinho de bebê na cor azul, mas não é só isso, logo ao lado está outro
sapatinho, dessa vez na cor rosa.
— Você… — balbucio sem conseguir terminar a pergunta.
— Nós… nós vamos ter um filho? — Serguei tem mais coragem do
que eu.
— Um não, dois — ela responde e acaricia a barriga quase inexistente,
mas que sabendo da notícia eu consigo perceber estar maior, essa safada
vem evitando transar tem três semanas e por isso não percebemos sua
barriga, claro que achei estranho, mas ela soltou comentários sobre não
estar se sentindo muito bem. Eu sabia que ela tinha ido ao médico, achei
que fosse uma gripe ou algo do tipo. — Queria que fosse surpresa, mas não
aguentei quando descobri e já pedi para a médica ver o sexo.
— De quantos… — começo a pergunta e novamente meu cérebro
resolve parar de funcionar, milhões de pensamentos inundam minha mente.
Ela começou a se vestir com roupas mais soltas tem algum tempo,
lembro de Serguei ter comentado sobre isso comigo, mas não somos loucos
de falar para uma mulher o que ela pode ou não vestir, então só aceitamos
que Kat simplesmente resolveu mudar, mas agora entendo que ela estava
escondendo a barriga de nós.
— Estou entrando no quinto mês de gestação, ainda não é certeza, mas
a médica disse que é um menino e uma menina — ela anuncia e dá um
passo à frente, segurando a minha mão para depois pegar a de Serguei. —
Parabéns, meus amores, vocês serão papais.
PORRA, EU VOU SER PAI!
Levo um segundo para assimilar a notícia antes de tomar a boca da
nossa mulher em um beijo desesperado, assim que nossos lábios se moldam
um no outro, não me aguento e procuro tirar tudo dela, como se pudesse
agradecê-la por toda a felicidade que ela acabou de me proporcionar só com
suas palavras.
— Eu te amo, Yekaterina — anuncio contra seus lábios e, só então, me
ajoelho em sua frente e desço minhas mãos pela lateral do seu corpo até
estar de frente para sua barriga. — Nossos filhos, prometo amá-los
incondicionalmente — falo antes de beijar a barriga dela.
— Porra, linda, eu… eu nem sei… — Serguei começa a balbuciar as
palavras com a voz de choro e, quando me levanto, vejo que seus olhos
estão marejados de lágrimas, mas ele continua parado, no mesmo lugar de
antes, olhando para nós.
— Vem aqui, amor. — Kat o convida e assim ele faz, se aproximando
lentamente para ela poder jogar seus braços no pescoço dele e beijá-lo com
carinho. — São nossos filhos, nossos bebês com quem tanto sonhamos por
todos esses anos, eles estão aqui.
— Nossos filhos… — ele repete e só então percebo que Serguei está
inseguro.
— Sim, nossos filhos, Serguei, eles foram feitos com o amor de três
pessoas e serão criados por dois pais e uma mãe. — Tento tranquilizá-lo.
— Eu vou ser pai?
— Sim, amor — Kat responde.
— Porra, eu vou ser pai! — agora ele fala com mais força e
entusiasmo, seus grandes olhos castanhos brilhando com a notícia, tão
lindo, ainda mais com o sorriso sincero que Serguei abre, aquele que vai até
seus olhos e nos dá a visão das covinhas fofas em sua bochecha.
E com isso começamos a comemorar, nós estamos tentando engravidar
há quase três anos e finalmente está acontecendo, vamos ser pais.
***
3 meses depois
 
Yekaterina está enorme, sua barriga cresceu muito nos últimos meses e
ela está no final da gestação, o que para gêmeos pode ser a qualquer dia, é
por isso que convoquei uma reunião com todos os membros do Conselho.
Finalmente o membro mais velho entre nós se aposentou, Vasily
Smirnov deixou o lugar para seu único filho e herdeiro Mikhail Smirnov.
Ele ganhou o mesmo nome do meu pai como um presente para o Pakhan,
afinal nossas famílias sempre foram bem unidas.
Antes de morrer, meu pai se exilou da comunidade e preferiu passar
seus últimos meses com sua mulher, Janine, em nossa casa nas montanhas.
Mikhail Petrov sofreu outro AVC enquanto dormia e foi isso que o matou.
A única coisa que me deixou mais tranquilo foi que meu pai e meu
irmão se aproximaram um pouco, Andrei vinha todos os meses nos visitar e
passava um dia com nosso pai, não sei sobre o que eles falavam, mas esses
momentos foram importantíssimos para que meu irmão tivesse um pouco
do amor do nosso pai.
Com essa troca, os membros estão mais abertos a ideias diferentes, e é
por isso que o momento que tanto esperei finalmente chegou.
— Boa tarde, companheiros — cumprimento entrando na sala de
reuniões aonde Alexei Ivanov, Sasha Kuznetsov, Pyotr Orlov e Mikhail
estão me aguardando. — Convoquei essa reunião para debatermos algumas
mudanças em nosso código de herança e vou direto ao assunto, como vocês
sabem, minha mulher está grávida de gêmeos, uma menina e um menino.
— Nós sabemos e estamos felizes por você — Pyotr comenta com um
aceno positivo de cabeça.
— Obrigado — agradeço antes de continuar. — Hoje nossas leis não
permitem que tenhamos uma herdeira mulher, ou que nossas filhas tenham
qualquer direito a entrar para a Bratva, se assim elas quiserem, e é sobre
isso que quero debater.
— Você quer garantir que, se a sua filha nascer primeiro, ela tenha os
mesmos direitos e deveres do irmão? — Mikhail questiona.
— Não, se minha filha nascer primeiro, ela será a minha herdeira,
assumindo oficialmente como Pakhan quando a hora chegar — anuncio
com firmeza e olho nos olhos de cada um deles, mas o que encontro não é
hesitação ou raiva, muito pelo contrário, todos estão calmos.
— Como pai de menina, eu sou a favor, porém gostaria de adicionar
que a minha herdeira também tenha direito a assumir a minha cadeira no
Conselho — Pyotr avisa, pegando-me de surpresa, dentre todos aqui ele é o
mais conservador, mas só tem uma filha e sua esposa teve que tirar o útero
há dois anos devido a um câncer, o que faz da menina sua única herdeira.
— Eu concordo — Alexei anuncia.
— Vocês realmente acham que mulheres estão preparadas para assumir
a liderança da Bratva? — Mikhail questiona de forma séria.
— Sim, inclusive acredito que elas sejam ainda mais aptas do que nós,
homens, mas isso não vem ao caso, estamos debatendo igualdade de
direitos e deveres — respondo controlando minha voz para não me alterar.
— Eu sou a favor, os tempos mudaram e não vejo motivos para haver
essa distinção — Sacha Kuznetsov anuncia, então só falta Mikhail.
Ele tem dois filhos e sua mulher está grávida do terceiro, todos
homens, como Vasily gostava de jogar em nossa cara, como se isso
garantisse um troféu ao seu filho.
— Você esperou até o último minuto para trazer esse assunto à tona
porque sabia que precisaríamos de uma votação unânime para fazer
qualquer alteração na lei de sucessão, e que isso tem que acontecer antes
das crianças terem nascido — Mikhail comenta e concordo com a cabeça.
— Vamos lá, Mikhail, pare de enrolar e fale logo o que você quer para
aprovarmos essas mudanças — Alexei provoca nosso companheiro.
— Quero acabar com a lei que impossibilita casamentos entre nossos
herdeiros — anuncia com confiança. — Não faz sentido proibir a união
entre nossas famílias.
— Não, essa lei foi criada para que nenhuma das famílias principais
fique mais forte que as outras — Sasha se pronuncia. — Se dois herdeiros
casarem as famílias serão unidas e terão mais peso dentro do Conselho.
— Por isso tenho uma proposta, acabamos com a lei, mas com a
condição de que, caso haja a união entre dois herdeiros, esses precisarão
escolher qual dos dois ficará no Conselho e qual irá renunciar — Mikhail
discorre e seu plano faz sentido. — Com isso, precisamos mudar a lei de
purificação dos filhos das famílias principais, já que se um deles renunciar
ao cargo, o segundo irmão terá direito a assumir em seu lugar.
— Mas aí você está dando chances para que os herdeiros renunciem —
Alexei contrapõe.
— Não, podemos colocar como cláusula que somente com o
casamento com outro herdeiro é que pode haver a renúncia de um deles,
mesmo assim esse continuará sendo um membro da Bratva — Mikhail
explica, ele pensou muito sobre isso, tenho certeza.
Depois de um tempo debatendo os prós e contras, chegamos a um
veredicto e aprovamos todas as mudanças no código de sucessão da Bratva.
EPÍLOGO

SERGUEI
7 ANOS DEPOIS
 
A vida tem sido uma aventura, claro que não poderia ser diferente com
meus dois amores e nossos filhos, todo dia é uma montanha russa de
emoções.
Yekaterina está sóbria há quase dez anos e continua dando aulas na
academia de ballet, porém somente algumas vezes por semana e para as
turmas que ela escolhe, afinal ela é a mulher do Pakhan, tudo o que Kat
quer, nós damos um jeito de conseguir.
Dimitri está melhor a cada dia, ele ainda tem seus altos e baixos, é
claro, e a depressão continua rondando sua vida, porém seus olhos brilham
mais de felicidade do que são ofuscados pelos monstros.
Ele voltou a tocar piano depois que nossa mulher retornou ás nossas
vidas.
E eu assumi como chefe do grupo de elite que faz toda a segurança da
Família Petrov e hoje sou quem eu sempre sonhei em ser: o protetor dos
meus amores.
— Yelena, pega leve com o seu irmão — escuto Kat gritar do outro
lado do gramado, com Batman dormindo tranquilamente em seu colo,
enquanto Dimitri estende uma toalha gigante, vermelha com listras brancas,
para o nosso piquenique semanal. — YELENA, EU NÃO VOU FALAR
DE NOVO.
— Princesa, cuidado — Dimitri adverte.
— Eu não sou princesa, sou uma guerreira — Yelena retruca.
Nossa filha carrega o nome da mulher que nos uniu e tem um
temperamento incrivelmente desafiador, ela é uma mistura de Yekaterina
com Yelena, toda decidida e intensa.
Ela é mais alta que o irmão e tem os cabelos loiros de Dimitri, mas que
caem cacheados até as suas costas, iguais aos de Yekaterina.
Já Adrian nasceu com os cabelos claros, mas eles foram escurecendo e
agora nosso menino tem os mesmos fios castanhos da mãe, já os olhos dos
dois são azuis, iguais aos de Yekaterina e Dimitri.
Eles são a combinação perfeita das duas pessoas que amo e são tão
filhos deles quanto meus.
— Adrian, não deixe sua irmã te derrubar assim — advirto ao me
aproximar dos nossos filhos, que brincam de luta no gramado.
Eles são pequenos demais para realmente começarem o treinamento,
mas, como filhos do Pakhan, já fazem aulas de luta para criança e ambos
quiseram fazer ballet como a mãe.
— Eu tô tentando, pai — Adrian me responde e meu peito aquece,
assim como todas as vezes que eles me chamam de pai, é um sentimento
diferente e incrivelmente assustador saber que sou responsável por dois
seres vivos, mesmo que meu trabalho seja esse, com eles é diferente.
Yelena é mais forte que Adrian e ela sabe disso, então a pestinha
conseguiu derrubar o irmão e está dando uma chave de braço nele, que tenta
de tudo para se desvencilhar, mas não consegue e bate a mão no chão.
— Eu ganhei — Yelena comemora, soltando o irmão, mas logo depois
o ajuda a levantar e o abraça. — Desculpa, irmão, a gente pode treinar mais
amanhã, eu te ensino como sair da chave de braço.
— Eu sei como — ele responde e abraça a irmã de volta. — Só que
você é mais forte.
— E você mais inteligente, a gente se completa — ela contrapõe e abre
aquele sorriso lindo que me lembra de Yekaterina, então Yelena beija o
rosto do irmão antes de soltá-lo e correr até o local do piquenique. — Mãe,
eu tô morrendo de fome.
— Morrendo é? Pobre da minha menina, está vendo isso, Dimitri, não
estamos alimentando essa criança direito — Yekaterina brinca e Yelena faz
uma careta engraçada. — Mamãe entende, também estou com fome.
— Pobrezinha, vem aqui com o papai que eu trouxe sanduiches. —
Dimitri tira duas embalagens e entrega uma para Yelena e outra para
Yekaterina, que já estava com a mão estendida, assim como a filha. — Faz
duas horas que almoçamos, suas draguinhas — ele brinca e elas soltam
gargalhadas.
Assisto a cena e, antes de caminhar até eles, sinto uma mão pequena
puxando a minha, olho para o lado e encontro Adrian, que não ouvi se
aproximar, e está fazendo sinal para eu me abaixar.
— Pai, você me ensina como sair da chave de braço? — ele sussurra
em meu ouvido quando me ajoelho e fico da sua altura, sua voz baixa e fina
de criança faz meu coração acelerar.
— É claro, meu amor.
— Mas sem ela, eu quero aprender sozinho e ganhar dela da próxima
vez.
— Nós podemos ter aulas sozinhos, mas lembre-se que ganhar não é o
objetivo — confirmo e o pego no colo, ele está grande, mas é o único que
ainda aceita o gesto, Yelena diz que é grande demais para isso.
— Claro que é, lutamos para vencer nossos inimigos — ele retruca
confuso.
— Não, nós lutamos para nos proteger e cuidar das pessoas que
amamos. — Olho para onde Dimitri está sentado, ao lado de Yekaterina, e
ambos tem um sorriso tranquilo no rosto, mesmo de onde estou consigo ver
seus olhos brilhando de felicidade enquanto Yelena faz a narrativa de todos
os movimentos que usou para derrubar o irmão, eles escutam tudo e sorriem
para nossa filha. — Eles são nosso bem mais precioso, meu filho.
— O papai, a mamãe, a Yelena e você, eu prometo proteger a todos,
para sempre — ele responde, sério demais para uma criança de sete anos.
— Até quando Yelena for Pakhan, eu vou cuidar dela, papai, eu prometo.
Essas últimas palavras ele sussurra em meu ouvido, como uma
confissão, e eu tenho certeza absoluta que é o que ele fará, afinal eles
podem brigar quantas vezes for, mas Yelena e Adrian são uma unidade.
— Obrigado, meu filho — agradeço e só então sigo para encontrar
nossa família e aproveitar o dia de folga com eles, os amores da minha vida.
FIM.
Fique agora com o primeiro capítulo do livro O REJEITADO: UM
ENEMIES TO LOVERS.
 
PRÓLOGO

ANDREI
12 anos
 
— Você precisa completar o treinamento hoje, irmão — Dimitri fala
baixinho em minha frente. — Papa não vai te dar outra chance.
— Eu não consigo — confesso enquanto seco uma lágrima que escorre
em meu rosto —, não consigo fazer isso.
Ele segura minhas mãos com força e ajoelha na minha frente, encaro
seu rosto e é como olhar para mim mesmo em um espelho, afinal, somos
gêmeos idênticos, temos os mesmos olhos cinzas, o mesmo cabelo claro, a
mesma altura e até o mesmo peso.
Eu queria que nossa personalidade fosse idêntica também, mas
infelizmente as semelhanças estão só na aparência. Dimitri é tudo o que eu
queria ser, o que precisava ser para agradar ao Papa e, talvez por isso, ele
seja o preferido.
Meu irmão é calmo, consegue demonstrar frieza, é um estrategista nato
e segue todas as ordens do Papa sem contestar, ele tira as maiores notas,
tem o melhor desempenho nos treinos e, principalmente, não demonstra
sentimentos quando não deve.
Eu queria ser como ele, muito mesmo, mas não consigo.
— É só apertar o gatilho e em menos de um segundo estará acabado,
não precisa ficar assim. — Como sempre, Dimitri não entende o que estou
sentindo, e sei que para ele seja algo simples mesmo, um tiro e pronto, mas
não consigo tirar uma vida com tanta facilidade. — Vamos, temos meia
hora só.
— Não posso, não estou pronto.
— Está sim, vem. — Ele se levanta e me ajuda a ficar em pé, olho para
o nosso quarto e para as roupas, que foram escolhidas especialmente para
essa ocasião e estão separadas em cima da cama, o que me deixa ainda mais
nervoso. — Vou estar ao seu lado, prometo irmão.
— Dimitri, eu não consigo. — Solto suas mãos e mostro o quanto
estou tremendo. — Eu vou falhar de novo e dessa vez o Papa não terá
piedade.
Meu irmão passou pela sua prova na semana passada e, como tudo o
que Dimitri faz é perfeito, esta etapa do treinamento não foi diferente. Ele
executou um traidor em frente ao Papa, sem hesitar, sem tremer, sem nem
ao menos desviar o olhar e, quando chegou minha vez, eu estava tão
nervoso que acabei desmaiando antes mesmo de pegar na arma. Papa ficou
muito bravo, mas como não acordei por um tempo, ele achou que talvez eu
estivesse realmente doente e acabei ficando uma semana em repouso.
— Eu não consigo — aviso e sinto meu choro se intensificar. Seguro a
mão de Dimitri com firmeza e olho bem no fundo dos seus olhos,
contemplando meu irmão, que é a pessoa mais próxima que tenho, talvez o
único que me entende, mesmo sendo a parte oposta da minha personalidade,
faço um pedido. — Troca de lugar comigo.
— O que?
— Só por hoje — praticamente imploro. Como não havia pensado
nisso antes? — Por favor, irmão, por favor.
Dimitri não solta a minha mão e seu olhar está concentrado em meu
rosto, tenho certeza que ele examina minha reação, avaliando se essa é uma
brincadeira minha ou se realmente estou falando sério.
— Papa não vai acreditar, ele vai desconfiar.
— Não vai, a gente já fez isso antes lembra? Quando você fez a prova
de física para mim — debato, já cheio de esperanças. — O Papa que nos
levou até a Central naquele dia, ele não desconfiou de nada, até sorriu para
mim antes de eu sair do carro, achando que era você.
— Mas foi por pouco tempo, hoje nós vamos passar o dia todo no
acampamento, acho que não consigo fingir ser você por tanto tempo. —
Dimitri ergue as sobrancelhas, arrancando um sorriso meu. — Viu, você
sorri para qualquer coisa, irmão, não consigo te imitar assim.
— A gente destroca depois da execução — proponho, me
aproximando mais dele e encostando minha testa na sua, unindo nossas
mãos entre nós. — Por favor, irmão, só por hoje e eu prometo que será a
última vez que te peço algo assim.
Dimitri respira fundo mantendo os olhos fechados por um tempo, não
consigo ver qual a sua reação, mas sinto sua respiração ficando só um
pouco mais rápida e, então, ele aperta minha mão antes de se afastar.
— Eu faço isso por você — avisa e, com estas palavras, sinto que
posso voltar a respirar, é como se alguém tivesse tirado um peso enorme das
minhas costas. Alguém não, meu irmão. — A execução será a primeira
tarefa da manhã e depois disso precisaremos encontrar uma desculpa para ir
até o banheiro. A única peça de roupa diferente são as nossas camisetas,
então não será difícil de trocar.
É claro que ele já está formulando um plano perfeito, a mente de
Dimitri trabalha em uma velocidade espantosa e a rapidez com que
consegue pensar na melhor estratégia é admirável.
— Sim, vai ser fácil, irmão. — Agora que as lágrimas pararam de
escorrer, me animo e seco o rosto. — Depois eu farei o que você quiser por
uma semana inteira — anuncio, caminhando em direção a sua cama para
começar a me trocar. — Não, melhor ainda, um mês todo. Pode pedir o que
quiser, eu vou limpar nosso quarto sozinho, e… — Paro de andar para
pensar, mas não consigo lembrar de algo que Dimitri tenha que fazer, mas
que não goste.
— Tudo bem, irmão — fala enquanto coloca a roupa que foi separada
para mim. — Não preciso que faça nada por mim, só se mantenha calado
hoje, controle suas palavras, olhares, reações…
— Sentimentos — complemento arrancando um meio sorriso dele. —
Serei um Dimitri bem comportado, prometo não manchar sua imagem.
Nos trocamos rapidamente e seguimos para a entrada da mansão,
enquanto caminhamos preciso me lembrar de andar um passo à frente do
meu irmão, Dimitri é o gêmeo mais velho então ele sempre está na minha
frente, sempre.
É estranho me colocar em seus sapatos, mas assim que encontro o
rosto do Papa nos aguardando no carro vejo aquela expressão de orgulho
em seu olhar. Porque na hora que Papa olha para mim, pensando que sou
Dimitri, seus olhos transparecem aprovação e preciso segurar o sorriso que
quer se formar em meus lábios e lembrar de manter meu olhar firme no
dele.
Só depois que entramos no carro, eu me sento ao lado de Papa, que ele
olha para o outro banco da limusine onde Dimitri, fingindo ser eu, está
sentado e então eu vejo sua expressão murchar para o tão familiar
descontentamento. Meu irmão mantém o olhar firme no chão e vejo que
está balançando a perna, assim como eu faria.
— Espero não ter nenhum imprevisto hoje, Andrei — A voz rígida do
Papa é dirigida a ele e, como um mestre em imitação, Dimitri força um
sorriso e preciso me segurar para não acompanhar.
— Hoje eu tô bem, Papa — confirma sem o tom formal nas palavras,
ele realmente parece comigo.
— Assim espero — Papa diz em tom de ameaça.
Seguimos calados até a Central da Bratva, que fica a meia hora da
nossa mansão em Moscou, é lá que a elite dos soldados é treinada e que,
assim que completam 15 anos, passam a chamar de lar por um tempo.
Assim que o carro para em frente ao prédio principal da Central, meu
coração acelera com o nervosismo, espero que dê certo porque ainda não
estou preparado para isso. Sei que chegará o dia em que terei que matar
alguém e, assim que essa provação passar, Dimitri e eu começaremos os
treinamentos em técnicas de tortura e as coisas só tendem a piorar.
Papa desce primeiro e manda um soldado nos acompanhar enquanto
ele resolve alguns problemas com o chefe administrativo, mas ao invés de
seguir para o estande de tiro ao alvo, o soldado nos guia para a mata ao lado
da construção.
A trilha é estreita e cercada por árvores, mas não fico ansioso por
muito tempo, pois logo chegamos a uma clareira onde outros dois soldados
estão de pé ao lado de uma mesa com vários tipos de armas. Preciso
controlar minha respiração para não demonstrar surpresa, afinal a prova de
Dimitri foi interna.
— Prepare sua arma. — O soldado que nos acompanha indica a mesa
e, por um segundo, preciso me lembrar que não é comigo que ele está
falando. — O Pakhan chegará logo.
Dimitri passa por mim e escolhe a pistola 9mm por saber que seria
minha escolha, já que é a minha favorita. Ele confere o carregador e, assim
que está preparado, fica ao lado dos soldados.
Não sei o que fazer enquanto aguardo, se estivéssemos no estande de
tiros interno, que é o lugar onde treinamos a vida toda, eu saberia
exatamente onde ficar, mas aqui fora é diferente. Por sorte não preciso
decidir, já que escutamos os sons de passos nas folhagens das árvores pelo
caminho de onde viemos e meu pai aparece com Anton Petrov e seu filho.
Ivan Petrov é três anos mais novo do que nós e está começando agora
seu treinamento com armas de fogo, talvez seja por isso que eles o
trouxeram. Papa caminha em minha direção e tio Anton me cumprimenta,
levo um segundo para perceber que ele pensa que sou Dimitri e preciso me
segurar para não me curvar de volta.
— Vamos logo com isso, temos coisas mais importantes para fazer
depois — Papa ordena e tira dois charutos do bolso, entregando um para
Anton, ambos acendem enquanto uma mulher, praticamente nua, é arrastada
pelos cabelos, até ser amarrada em uma árvore do outro lado da clareira.
— Uma mulher, Mikhail? — tio Anton comenta, sua voz parece
animada e quero olhar para ele, mas sei que meu irmão não seria curioso
assim, por isso me mantenho calado e imóvel ao lado do Papa. — Pesado
até para você.
— Um traidor não tem gênero, Anton — Papa responde soltando a
fumaça fedida do seu charuto. — Você, mais do que ninguém, deveria saber
disso.
— Espero que o garoto não desmaie novamente — Anton comenta e
então se abaixa, falando diretamente com Ivan. — Preste bem atenção,
porque daqui um tempo será a sua vez.
— Sim, Papa — Ivan responde e seus olhos claros estão firmes em
Dimitri.
Meu irmão se coloca na marcação feita no chão enquanto os soldados
terminam de amarrar a mulher, ela está inconsciente e reparo nas marcas
roxas em sua pele clara, nos cabelos muito compridos e escuros que caem
pelo seu corpo, sujos e cheios de folhas. Ela está usando somente um
vestido cinza todo rasgado que não cobre quase nada.
Os soldados terminam de amarrá-la e um deles joga um balde com
água nela, fazendo que acorde com o susto, ela começa a tremer e não sei se
é de medo ou se por causa do frio. De onde estou não consigo enxergar a
cor dos seus olhos, mas vejo a expressão de pavor assim que ela percebe
onde está. Um grito de dor e desespero se desprende da sua garganta e a
mulher começa a falar em francês, não entendo suas palavras, já que faz
pouco tempo que começamos a estudar essa língua, mas reconheço o
dialeto.
— Mate-a logo e termine com isso — Papa ordena impaciente e seus
olhos não saem do meu irmão.
— Sim, Papa — Dimitri responde em um tom mais baixo, parecendo
menos confiante que o normal, fingindo ser eu.
Tudo acontece muito rápido, meu irmão tira a trava de segurança da
arma e ergue o braço, leva menos de três segundos para mirar, então o som
de tiro irrompe pelo ambiente e os gritos chorosos da mulher são calados.
Ele foi perfeito, meu irmão conseguiu!
Preciso respirar fundo para controlar um sorriso, meu coração martela
forte no peito e aquela sensação de alívio toma conta. Dimitri, ainda em seu
papel, caminha até a mesa de armas, desmonta a pistola, tirando o cartucho
e deixa tudo em cima da mesa, então vira-se e encara nosso pai.
Eu só queria poder correr e abraça-lo, meu irmão é incrível pra
caralho. Ele fez isso por mim, porra!
Entre um passo e outro, o olhar de Dimitri vacila e ele para, me
encarando, sua expressão muda de calma para pavor no mesmo segundo
que sinto o toque gelado do aço em minha cabeça, praticamente paro de
respirar e o alívio de antes é substituído pelo medo.
— Achei que você fosse mais inteligente do que isso, Dimitri — meu
pai repreende, a voz baixa e fria direcionada para meu irmão. Droga, ele
sabe, fomos descobertos. — Crianças estúpidas.
— Não, Papa. — Dimitri ergue a mão e encara nosso pai. — Foi
minha ideia, ele não estava se sentindo bem.
— Mentira — Papa corrige em sua voz baixa, provocando arrepios por
todo o meu corpo.
Ele vai atirar, meu pai vai me matar.
— Fui eu… — confesso apavorado e todos me olham. — Eu…eu...
não consigo, Papa. Eu não consigo tirar uma vida, eu…
Minha visão embaça assim que as lágrimas escorrem pelo meu rosto e
eu sei que estou muito ferrado, homens não podem chorar, Papa sempre fala
que precisamos esconder nossos sentimentos, Dimitri faz isso todos os dias,
mas eu não consigo.
— Se não estava pronto, era só falar — adverte e escuto quando
respira fundo, no instante seguinte não sinto mais a arma em minha cabeça
e Dimitri parece aliviado. — Vocês ainda não entendem a complexidade da
nossa organização e quem somos neste mundo, afinal são crianças e levam
tudo como brincadeira.
— Desculpa, Papa — peço e abaixo a cabeça, sentindo a tão familiar
vergonha por ter decepcionado meu pai.
— Dimitri, venha aqui — Papa chama e meu irmão caminha até ficar
ao meu lado. — Quero deixar algo muito claro e preciso que os dois
escutem com atenção.
— Sim, Papa — respondemos ao mesmo tempo. Eu seco as lágrimas
com a manga do casaco antes de olhar para cima e ver o rosto sério do
nosso pai.
— Dimitri, você será o líder da nossa organização, meu herdeiro e
substituto, o próximo Petrov a governar a Bratva, entende isso?
— Sim, Papa — Dimitri responde com a voz firme e a expressão fria.
— Um líder jamais troca de lugar com um soldado, jamais. Os
soldados estão aqui para nos proteger, eles dão a vida por nós, por tudo o
que simbolizamos nesta organização e Andrei é isso: um soldado.
— Mas… — Ouvir meu irmão responder nosso pai sem ter sido
perguntado é algo que me faz olhar para o lado e, pela primeira vez,
encontrar seu rosto moldado em uma expressão confusa.
— Pode perguntar — Papa confirma.
— Se eu morrer é Andrei que ficará no meu lugar — meu irmão
afirma, e suas palavras parecem lógicas, mas nunca pensei sobre isso. Será
que eu assumiria o lugar dele assim?
— Não — Papa responde em tom sério. — Andrei jamais será o
Pakhan, caso algo aconteça a você é a Família Ivanov quem assume o
poder. Seu irmão não tem direito a nada, ele será seu soldado e irá te
proteger com a própria vida. A única missão dele é garantir que você,
Dimitri, assuma o poder.
Com estas palavras Papa respira fundo e olha para nosso tio que
acompanha tudo calado, do canto do olho vejo a expressão pensativa de
Dimitri, mas não tenho coragem de olhar diretamente para ele.
— Andrei, quero que entenda isso de uma vez por todas, você jamais
assumirá o lugar do seu irmão.
— Sim, Papa.
— Se Dimitri morrer não existe lugar para você neste mundo, seu
único objetivo nesta vida é proteger o seu irmão e servir a Bratva. Fará tudo
o que for ordenado e dará a sua vida pela nossa organização, está
entendendo?
— Sim, Papa.
— Dimitri é o único herdeiro, você será para sempre somente um
soldado.
— Sim, Papa. — As palavras saem doloridas da minha boca, porque
eu sei que é verdade, sei que eu não deveria ter sonhos, Papa está me
colocando em meu lugar.
— Agora prestem bem atenção ao que eu vou falar — Papa se dirige a
nós dois e sua expressão severa volta a assumir o controle. — Andrei, você
ficará aqui no centro de treinamento até estar pronto para sua iniciação.
— Sim, Papa — respondo por costume, não conseguindo falar nada
além disso.
— Mas antes disso quero os dois na minha sala — Papa anuncia e
começa a andar. — Vou garantir que este episódio não se repita.
Quatro horas depois Dimitri e eu estamos recebendo nossa primeira
tatuagem, mas ao invés de ser algum dos símbolos de pertencimento à
Bratva, estamos sendo marcados para que não possamos trocar de lugar
novamente.
Meu irmão, sentado na cadeira ao meu lado, não tira os olhos dos meus
enquanto o tatuador faz o seu trabalho gravando para sempre a letra “D” em
seu pescoço. Ele não chora, não demonstra nem mesmo sentir dor, só
respira fundo e aperta a mão na cadeira toda vez que a máquina encosta em
sua pele.
Eu permaneço sentado, olhando para meu irmão enquanto uma
tatuadora trabalha no meu pescoço, não vi o que ela ia desenhar antes, mas
acredito que seja o “A” do meu nome.
A partir de hoje ninguém confundirá os gêmeos Petrov.
ESPERO QUE TENHA GOSTADO DA LEITURA DE O
HERDEIRO: UM TRISAL MMF.
O próximo livro lançado pela autora será um conto de natal de
MALÍCIA.
O livro do Alexei Ivanov e a segunda geração (Yelena e Adrian) desta
máfia estão programados para 2023.
Siga a autora nas redes sociais abaixo para mais informações.
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Sobre outros livros da autora que estão combinados no mesmo
universo de máfia:
SÉRIE CAMINHOS DE UM CAMPO:
Livro 1: NASCIDA PARA PROTEGER (Daniele Corleone e Lucas
Costello)
Livro 2: NASCIDO PARA LIDERAR (Alphonse Corleone e Amélia
Bianchi)
Livro 3: NASCIDO PARA AMAR (Ricardo Moretti e Gian Carlo
Stewart, Giulia e Ivan)
Spin-off: A PSICÓLOGA DA MÁFIA (Luana e Yuri)
LIVRO ÚNICO DA MÁFIA DE BOSTON
MALÍCIA: UM TRISAL MAFIOSO (Alícia, Gabriel e Chace)
AGRADECIMENTOS

Quero agradecer do fundo do coração aos meus amigos que me apoiam


a continuar escrevendo, sem julgamentos, e sempre com uma palavra de
carinho.
À minha mãe, que me incentivou a ler e que comprou Harry Potter
para uma menina que acabou se apaixonando pelos livros por causa daquele
mundo encantado. Obrigada, mãe, sei que se estivesse viva estaria
comemorando comigo e com orgulho de mais esta conquista.
Quero deixar um agradecimento amplo e especial a todas as autoras
que conversam comigo, trocam experiências e publicam suas histórias, ler
livros nacionais é o que me dá força e confiança para publicar.
Às bookstan maravilhosas que me apoiam e às parceiras lindas que
foram incríveis neste lançamento: @uma_simples_camponesa,
@leiturasda_angel, @umaquarianalendo, @kiimovidaalivros,
@literamaduu, @cantinholovebook, @nokindledabia,
@amor_em_cada_pagina, @mundo.literario.da.ale, @fefeviterbo,
@mundoliterario15, @ray_divulgacoes, @yasbooksiveread,
@clau.repaginando, @lendo.somaisum, @espoir_litteraire, @autora_naty,
@mirach_book, @leiturasdalari_, @nini.literaria,
@ebookslivroseimaginacao, @Anny_booksread, @biblioteca_dajuju,
@danuba_books, @forksreadz, @surtosdella, @tfls.thais.
Agora às minhas MAFIOSAS, que estão no grupo do whats e surtam
comigo todos os dias esperando por cada lançamento, vocês não têm ideia
do quanto são importantes na minha vida e de como me motivam a
continuar.
A beta e revisora mais incrível e surtada que já tive, May obrigada por
fazer do livro do Dimitri uma experiência única, por abraçar cada um dos
personagens e surtar comigo em cada plot.
A leitora crítica mais fofa, obrigada por essa parceria Camis
(@primaveraliterária) foi incrível trabalhar com você.
E agora quero agradecer a você, que deu uma chance ao meu livro e se
aventurou nesta nova leitura, obrigada de coração.
 
MALÍCIA: UM TRISAL MAFIOSO

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O Executor, a Princesinha da máfia e o Outsider virgem irão se
envolver e formar um trisal inesperado.
Gabriel Esposito é o executor na Família de Angelis, que encontrou o
amor da sua vida na irmã mais nova do Don, Alícia de Angelis, uma
patricinha mimada que sabe usar uma arma tão bem quanto um cartão de
crédito. Dona da boate Malícia e também executora, forma uma unidade
indestrutível com o homem mais velho e traumatizado que mudou sua vida
inteira.
Ela exigiu seu amor, ele entregou o seu mundo todo. Ele a treinou e
ensinou tudo o que ela precisava saber para andar ao seu lado. Nada é capaz
de abalá-los, até que um garoto atrai a atenção do casal.
Chace King é tímido, inocente e virgem e, para cuidar da mãe doente,
pegou dinheiro com a máfia. Como pagamento da sua dívida, aceitou
trabalhar como garçom e stripper na Malícia, sem saber onde estava se
metendo quando atraiu a atenção de pessoas de quem deveria manter
distância.
O que poderia ter terminado em tragédia resultou em um acordo
inusitado com uma mulher perigosa e o seu namorado. E, por mais que eles
tentem negar, a atração inicial vai se tornar algo mais complexo, e os três
precisarão lidar com os novos sentimentos.
Atenção: Este é um livro sobre trisal com uma mulher e dois
homens, todos os personagens são bissexuais e se envolvem
romanticamente. Não é uma história sobre casais, triângulos amorosos
ou mocinhas que precisam escolher entre um ou outro.
NÃO TEM ESCOLHA!
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Em um mundo dominado por homens, uma mulher jamais pode
comandar. 
Daniele Corleone é a única filha do Capo mais poderoso de New
York, Alphonse Corleone — o líder da Família Genovese —, mas por
nascer mulher não tem direito a herdar o cargo do pai.
Apresentada aos terrores dessa vida cedo demais, com dez anos de
idade matou um monstro para defender sua mãe. Sua vida muda
completamente quando seu pai lhe dá uma escolha: seguir os passos de
todas as mulheres em seu mundo, tornando-se esposa do futuro Capo, ou
entrar para a máfia e arriscar tudo em um caminho jamais seguido, para ser
a próxima liderança da Família.
Lucas Costello é o filho do Consigliere e tem uma nova missão:
treinar e proteger uma menina de dez anos de idade. O que no começo pode
parecer algo simples se torna a missão mais importante da sua vida, já que o
seu futuro e o dela estão conectados. 
Se ela fracassar, ele não terá mais lugar naquele mundo.
É SOBRE AMOR.
SOBRE PROTEGER QUEM SE AMA.
É SOBRE SER FORTE QUANDO TODOS ACREDITAM QUE SE
É FRACO.
NASCIDO PARA LIDERAR

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É SOBRE AMOR,
É SOBRE FAMÍLIA,
É SOBRE TORNAR-SE UM LÍDER EM UM JOGO ONDE AS
APOSTAS SÃO DE VIDA OU MORTE.
ALPHONSE CORLEONE é o único filho de Don Corleone, chefe
da Família Genovese e o homem mais temido e poderoso de New York. Ele
aprendeu cedo que é só mais um peão no tabuleiro de seu pai. Será
moldado, manipulado e usado em um jogo de poder perigoso.
AMÉLIA BIANCHI foi criada para ser a mulher perfeita, sua prisão
particular tirou dela o poder de escolha, em uma tentativa de moldá-la como
uma boneca, a casca bonita por fora e vazia por dentro. Ela terá que lutar
contra tudo o que foi ensinada para encontrar a própria voz e libertar-se das
grades douradas em que viveu a vida toda.
Um contrato de casamento, feito desde o dia em que eles nasceram,
garantirá a união entre duas famílias e o controle da cidade de New York
pela Família Genovese.
Ele precisará ser forte e lutar pelo poder para proteger o amor da sua
vida, mesmo que para isso precise se tornar um monstro ainda pior que seu
próprio pai.
Neste jogo não existe a possibilidade de fracasso, as apostas são
altas e no final, somente um rei pode continuar de pé.
Aviso: Nascido para liderar, livro 2 da série Caminhos de um Capo,
é um volume único e pode ser lido separadamente. Como a história se passa
antes do livro 1, Nascida para Proteger, você pode escolher a ordem de
leitura, mas ambos estão interligados.
NASCIDO PARA AMAR

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RICARDO MORETTI é o único filho do Capo e aceitou o acordo
que unificará a máfia na Sicília e acabará com uma guerra de gerações:
casar-se com a herdeira da Família rival.
O que ninguém sabe é que seu coração pertence a outra pessoa.
GIAN CARLO STEWART perdeu a mãe quando criança e foi
criado pela família Moretti, ele tem a mesma idade de Ricardo e cresceram
juntos, formando uma linda amizade. Gian foi treinado para assumir o cargo
de Consigliere quando seu amigo se tornar Capo.
Quando adolescentes, foram enviados ao colégio interno para fugir
da guerra, lá descobriram um sentimento ainda maior entre eles, e da
amizade nasceu o amor.
Eles estão juntos desde os quinze anos e precisaram esconder sua
relação por todo esse tempo, sabem que seu amor é proibido — ainda mais
dentro da máfia —, mas quem pode controlar o coração?
Para garantir a paz, vão sacrificar sua própria felicidade e tentarão
esconder seu relacionamento, porém até quando isso será possível?
É SOBRE AMOR E AMIZADE
É SOBRE A FAMÍLIA QUE ESCOLHEMOS
É SOBRE APOIAR E ESTAR AO LADO DE QUEM SE AMA
Aviso: Nascido para Amar, livro 3 da série Caminhos de um Capo, é
um volume único e pode ser lido separadamente.
A PSICÓLOGA DA MÁFIA

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LUANA MASSERIA é a filha do chefe de segurança da Família
Genovese, a máfia que comanda New York. Ela é uma psicóloga respeitada
na cidade. O que ninguém sabe é que ela é a psicóloga da filha do Capo,
Daniele Corleone.
Depois de perder os pais em um curto espaço de tempo, sem família,
com apenas uma amiga e nenhum relacionamento amoroso, a mulher se vê
triste e solitária na cidade de pedra.
YURI SAITO é um psicopata e tem plena consciência desse fato.
Dono de um ego enorme e um senso de moral deturpado, o homem estava
entediado em sua vida de luxo e riqueza.
Até que aparece a oportunidade para entrar em um novo jogo, algo
diferente de tudo o que ele já fez e que trará um novo propósito para sua
vida: se infiltrar na rotina de uma psicóloga e vigiá-la sem que ela saiba.
Será que ele conseguirá esconder sua verdadeira face diante de uma
profissional qualificada?
Ela é a presa perfeita, mas ele não é o único predador nessa caçada.
Um thriller psicológico com a máfia de plano de fundo, personagens
complexos e envolventes, um mistério a ser desvendado e um
relacionamento explosivo.
Você vai entrar na mente de um psicopata e entender seu
envolvimento com a psicóloga de forma única e arrepiante.
A PSICÓLOGA DA MÁFIA é um spin-off da série Caminhos de
um Capo, que pode ser lido de forma independente, porém os personagens
que aparecem aqui fazem parte de um mesmo universo.
 
Indiana Massardo é uma libriana romântica, leitora voraz de romances
e tem 28 anos. Formada em Engenharia Civil, não segue a profissão, é
artista há mais de 5 anos. Trabalhando com arte realista em aquarela no
perfil oficial @indymassardo, agora também segue na carreira de escritora
no perfil @autoraindymassardo.
Atualmente vive sozinha com seus gatos e cachorros, sonha em ter
uma estabilidade financeira para poder viver mais tranquilamente.
Este é seu oitavo livro publicado e está muito orgulhosa do mundo que
criou e dos personagens fortes que nasceram disso.
Promete muitos lançamentos dentro deste universo, especialmente com
personagens femininas fortes e muito clichê invertido.
 
Table of Contents
APRESENTAÇÃO
SINOPSE
ESTRUTURA BRATVA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
EPÍLOGO
PRÓLOGO
AGRADECIMENTOS

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