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Copyright © 2023 de Hayesha Di Maffei
 
Capa: @ladesigndecapas
Ilustrações: @meryartt
Diagramação: Hayesha Di Maffei
Revisão: Sônia Carvalho
Betagem: Jennifer Fógos e Gabriella llha
 
 
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode
ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma ou por
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ou mecânicos, sem a prévia autorização por escrito do autor, exceto no caso
de breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-
comerciais permitidos pela lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios,
eventos e incidentes são ou os produtos da imaginação do autor ou usados
de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas,
ou eventos reais é mera coincidência.
Neste livro foram utilizadas muitas abreviações como o “tá”, “tô” e
“pra”, de forma que o texto fique o mais caracterizado possível com o estilo
dos personagens.
 

Primeira edição, 2023


https://www.instagram.com/haaydimaffei/
Índice
Sinopse
Nota da Autora
Dedicatória
Playlist
Capítulo 01 – Olivia Jones
Capítulo 02 – Olivia Jones
Capítulo 03 – Ethan Hart
Capítulo 04 – Ethan Hart
Capítulo 05 – Tristan Cox
Capítulo 06 – Olivia Jones
Capítulo 07 – Olivia Jones
Capítulo 08 – Ethan Hart
Capítulo 09 – Tristan Cox
Capítulo 10 – Olivia Jones
Capítulo 11 – Ethan Hart
Capítulo 12 – Olivia Jones
Capítulo 13 – Tristan Cox
Capítulo 14 – Olivia Jones
Capítulo 15 – Ethan Hart
Capítulo 16 – Tristan Cox
Capítulo 17 – Olivia Jones
Capítulo 18 – Ethan Hart
Capítulo 19 – Tristan Cox
Capítulo 20 – Olivia Jones
Capítulo 21 – Ethan Hart
Capítulo 22 – Olivia Jones
Capítulo 23 – Tristan Cox
Capítulo 24 – Tristan Cox
Capítulo 25 – Olivia Jones
Capítulo 26 – Tristan Cox
Epílogo I – Olivia Jones
Epílogo II – Olivia Jones
Ei, você
Agradecimentos
Conheça a Autora
Leia também
 
 
Dizem que coisas ruins vem em trios. E para Olivia Jones isso é real.
Ela perdeu o emprego. Seu apartamento inundou e ela recebeu uma carta do
pai, o governador do estado da Califórnia, Grant Jones.
O que não seria completamente ruim, não fosse pelo fato de que
Olivia não tem contato com a família há anos quando por não aceitar ser
controlada decidiu trilhar o seu próprio caminho.
O que ela não sabe é que os oponentes do seu pai estão determinados
a impedi-lo de aprovar o novo projeto de lei e vão usar todos os meios
possíveis para controlá-lo, inclusive ameaçar a vida de sua única filha.
Agora, sua melhor amiga lhe arranjou um emprego temporário como
secretária no estúdio de tatuagem de Tristan Cox, um deus grego tatuado e
extremamente sedutor e Ethan Hart, o cara com quem ela teve uma noite
incrível meses atrás, é o seu novo guarda-costas.
Coisas ruim vem em trios, mas será que o amor também?
 
Primeiramente, obrigada por ter escolhido Rendida Por Eles para ser a
sua próxima leitura, eu espero que você se divirta ao conhecer Olivia Jones
e suas aventuras.
Mas é preciso lembrar que esse livro é um trisal, ou seja, a mocinha
não vai escolher entre seus interesses amorosos. Os personagens de Rendida
Por Eles são bissexuais e por isso o livro conta com esta temática e cenas de
amor LGBT.
Se esse não é o seu tipo de leitura, tudo bem, pode fechar o livro
agora e ir procurar algo mais apropriado para você.
Mas se você, assim como eu, aprecia o amor em todas as suas formas,
fique bem confortável e se permita se apaixonar por três personagens
incríveis.
Boa leitura!
 
 
 
 
 
 
Esse livro é dedicado à você,
que consome o amor nos livros
como se a sua vida dependesse
disso, que possui altos padrões
para o amor por conta dos seus
namorados literários. Que você,
assim como a Olivia, um dia
encontre o seu conto de fadas e
ele te foda como os seus
mocinhos favoritos. Você
merece.
 
 
 
 
— Precisamos reduzir o nosso quadro de funcionários e, infelizmente,
você é um dos nossos cortes.
Levo um segundo para processar o que Richard Mason está dizendo.
Olho em volta procurando pelas câmeras porque isso só pode ser uma piada
de muito mau gosto. Ele não pode estar me demitindo hoje, no dia em que
eu completo dois anos como funcionária efetiva do escritório.
— Você está falando sério? — minha voz sai mais aguda que o
normal e respiro profundamente para tentar me controlar.
— Como eu disse, não foi uma decisão fácil e eu lamento ter que te
deixar ir, mas... — ele continua como se estivesse seguindo a porcaria de
um roteiro coorporativo,  e todo o meu tempo aqui fosse completamente
irrelevante. Acho que para ele até poderia ser.
Forço um sorriso nos lábios e me levanto, interrompendo o discurso
de Richard e esticando a mão para que ele a aperte.
— Muito obrigada pela oportunidade.
Eu não vou implorar pelo meu emprego, por mais que eu o adore, por
mais que eu tenha finalmente sentido que estava avançando e conquistando
o meu espaço no mercado, aprendendo o que preciso para um dia abrir o
meu próprio escritório de design de interiores. Isso é algo que não podem
tirar de mim, tudo que eu aprendi nos últimos anos. Mas se eles não
valorizam o meu esforço e dedicação então o meu lugar não é aqui e eu não
tenho o costume de ficar onde não reconhecem o meu potencial.
Eu me viro, mantendo a postura altiva e saindo do escritório opulente,
vejo a resignação no rosto de Amelie, a assistente pessoal do homem que
acaba de me demitir. Ela abre um pequeno sorriso enquanto se levanta e me
abraça, murmurando:
— Sinto muito.
— Eu também — admito, me afastando. — Mas está tudo bem. —
Balanço a cabeça e encolho os ombros, como se o acontecido não fosse
nada além de um percalço no meu caminho ao invés da puxada de tapete
que realmente é.
A máscara de indiferença quase cai quando alcanço meu cubículo,
começo a juntar as minhas coisas, recolhendo minhas canetas e post its
coloridos, guardo meu laptop na bolsa e seguro com dedos trêmulos a única
foto que tenho sobre a minha mesa, Brooke e eu na noite de reabertura da
Underworld 2.0, a felicidade no rosto da loira é quase palpável, afinal
pouco tempo depois dessa foto ela ficou noiva dos três homens da sua vida
enquanto eu estava dançando com... Não, território proibido. Repreendo-
me parando o pensamento antes que ele corra solto para um certo macho
loiro de olhos azuis, um corpo musculoso e uma pegada intensa. Olivia, se
controla!
Antes de terminar de guardar todos os meus pertences mando uma
mensagem para Brooke.
Liv: Preciso de um café, tá livre?
Suspiro quando esvazio a última gaveta e me endireito, equilibrando
tudo no cesto de vime que servia de lixeira em meus braços. Richard não
disse se esperava que eu terminasse o expediente, mas o que ele poderia
fazer? Me demitir? Uma risada seca escapa dos meus lábios com o
pensamento.
Sinto os olhares de todos os meus colegas sobre mim enquanto
caminho com passos decididos até o elevador, cada um deles murmura uma
despedida que eu respondo com um sorriso e um aceno de cabeça. Quantos
deles estarão no meu lugar nos próximos dias?
Só quando já estou sentada no meu carro é que me permito relaxar.
Sinto meus ombros caírem com a realidade do que acabou de acontecer. Eu
estou desempregada, pelo menos o aluguel e as contas já estão pagos, tenho
até o final do mês para conseguir me reestabelecer, com as minhas
economias talvez até dois meses. Isso sem precisar mexer na poupança em
que guardo dinheiro para abrir o meu próprio negócio, se precisar devo
conseguir mais uns seis meses.
Meu celular apita e o nome da minha melhor amiga aparece na
notificação. Pego o aparelho sorrindo.
Brooke: Infelizmente estou presa em reuniões
até o fim da tarde. Aconteceu alguma coisa?
Considero a minha resposta por alguns minutos, se contar a verdade
ela vai cancelar seus compromissos, mas não é uma emergência, se ela
souber agora ou em algumas horas ainda continuarei desempregada.
Liv: Nada de importante, B. Nos vemos depois.
Dirijo pelas ruas de San Jose tentando criar um plano de ação, a
primeira coisa que preciso fazer obviamente, é atualizar o meu currículo e
enviá-lo para o maior número de vagas possíveis. A segunda, compras são
uma ótima forma de curar uma desilusão.
— Seria uma pena se você fosse desempregada, não é mesmo, Olivia?
— censuro-me em voz alta. — Mas foi pra isso que criaram o cartão de
crédito — decreto.
Dou de ombros, tenho certeza de que em pouco tempo estarei
trabalhando novamente e um par de sapatos novos não serão um problema.
Eu espero.
Decido que o melhor plano de ação é tirar o resto do dia para ficar na
fossa pelos recentes acontecimentos, terminar de ler o romance do mês do
meu clube do livro — Sociedade dos Viradores de Páginas — que eu
comecei no fim de semana e o trabalho estava me impedindo de terminar.
Victoria Thompson é garantia de risadas e eu preciso disso hoje; ainda mais
agora que a protagonista está prestes a descobrir que seu namorado é um
príncipe, literalmente. E sorvete, muito sorvete.
Amanhã começo a me candidatar as vagas. Preciso atualizar minha
lista de metas, penso com pesar, lembrando do caderno de capa azul-escura
em que eu idealizei a minha vida e os passos necessários para alcançá-la.
Estaciono meu carro em frente ao pequeno prédio de quatro andares
que eu aprendi a chamar de lar. Vejo o Sr. Vergara atrás do balcão servindo
uma cliente da padaria enquanto sua esposa repõe os croissants de chocolate
na estufa. Ela acena para mim assim que me vê e eu a cumprimento pela
vidraça.
Subo os lances de escada que me levam para o meu estúdio no último
andar da pequena construção. Estou procurando a chave na minha bolsa
quando noto meu reflexo em uma poça no chão de madeira. Meus olhos
buscam a origem da água no teto, mas não consigo identificar a goteira.
Sinto um arrepio percorrer minha coluna ao perceber que água está
vindo de dentro da minha casa. Meu coração começa a bater mais forte no
meu peito e erro a fechadura umas sete vezes antes de finalmente conseguir
enfiar a chave e destravar a porta.
Encaro o meu estúdio de plano aberto com a mobília clara com um
misto de angústia e pesar, tudo está molhado, água cobre todo o chão e de
onde estou não consigo localizar sua origem. Será que deixei alguma
torneira aberta?
O tapete felpudo que tenho no meio da minha sala já está escuro com
a quantidade de água que absorveu, mas isso não foi suficiente para que a
água fosse contida.
Sinto um aperto no peito ao olhar para a estante perto da janela. Um
soluço irrompe da minha garganta e eu nem me importo com a água que
molha meus sapatos e destrói aos poucos o cômodo que se tornou o meu
refúgio enquanto encaro os meus livros. Todos os que estavam na última
prateleira estão destruídos.
Meu primeiro impulso é correr para eles, tentar salvar o que for
possível, mas assim que o choque inicial se dissipa a racionalidade toma seu
lugar. Lembro-me das minhas aulas de infraestrutura que tive na faculdade
e sei que o mais importante é fechar o registro de água que abastece o meu
apartamento para conter o máximo de danos possível, mas a probabilidade
de atingir o apartamento da Dona Ana que mora no terceiro andar é muito
grande. Que merda!
— Eu volto pra buscar vocês — falo para os meus livros, girando
meu corpo e descendo as escadas correndo.
Como o estúdio é alugado o único que tem acesso aos registros é o Sr.
Vergara, meu senhorio, por isso corro para a padaria e assusto uma
senhorinha que quase derruba o saco de pães quando eu entro quase
tropeçando no estabelecimento.
— Água... o registro... tudo alagado... — Não consigo formar a frase,
meu coração parece que vai explodir para fora do peito e minha respiração
sai descoordenada, acho que nunca desci escadas tão rápido antes e o pilates
que eu faço duas vezes por semana não pode ser considerado suficiente para
me dar condicionamento físico.
— Senhorita Olivia, você está bem? — a Sra. Mayara Vergara
pergunta, tocando o meu ombro gentilmente.
Aceno com a cabeça e levanto uma das mãos pedindo que espere
enquanto tento recuperar fôlego o suficiente para falar.
— Tem algum vazamento no meu apartamento — digo em voz baixa,
me aproximando do balcão. — Precisa fechar o registro.
— Oh, não — lamenta a Sra. Vergara cobrindo a boca com a mão, de
seu lugar ao meu lado enquanto o marido segue para a cozinha e o que eu
imagino ser o armazém da padaria.
— Eu acabei de chegar do trabalho e quando subi já estava tudo
coberto por água — informo assim que o Sr. Aurélio Vergara retorna menos
de um minuto depois.
— Sabe a origem do vazamento? — pergunta e eu balanço a cabeça
em negação. — Vou ligar para a seguradora e ver o que podemos fazer, mas
até que os reparos sejam feitos acredito que eles irão te realocar, querida —
ele adiciona, me olhando com um misto de aflição e preocupação antes de
tirar o celular do bolso e se afastar de nós.
Em algum lugar no meu subconsciente, eu sabia que isso iria
acontecer, que eu precisaria me mudar, pelo menos temporariamente, mas
assim que ele afirma em voz alta se torna real. Sinto meus olhos arderem e
pisco para espantar as lágrimas, a ideia de perder a minha casa que eu não
apenas mobiliei e decorei cada canto para refletir a minha personalidade,
mas tornei o meu refúgio do mundo, meu lar, algo que eu nunca tive, não
como agora é um golpe mais dilacerante do que a recente perda do meu
emprego.
Meu olhar desvia para o teto como se eu pudesse ver além da
construção até o céu. Mercúrio deve estar retrógrado ou qualquer outro
planeta que tenha tirado o dia para destruir a minha vida. Não consigo
encontrar outra explicação para tanta merda acontecer no mesmo dia.
— Temos algumas caixas lá no fundo — a Sra. Vergara diz. — Pode
pegar quantas forem necessárias.
— Muito obrigada, Sra. Vergara, tenho certeza de que vou precisar —
respondo com um sorriso triste minha mente voltando aos meus livros.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem. — Meneio a cabeça e suspiro
profundamente, ajeitando os ombros e abrindo um sorriso.
— Vai sim — falo com mais convicção do que sinto, mas isso não é o
fim do mundo, só preciso parar e me organizar. Meu apartamento será
reparado e será uma oportunidade de recriá-lo. Uma onda de adrenalina
surge com esse pensamento e mal vejo a hora de abrir meu Pinterest e
começar a ver as centenas de milhares de ideias e mesclá-las deixando-as
com a minha cara. — Melhor eu começar a empacotar as coisas antes que
fique muito tarde.
— Vou pegar umas caixas pra você — ela diz, dando um tapinha
reconfortante no meu ombro antes de seguir para a cozinha.
O senhor Aurélio retorna e noto seus ombros caídos, nem posso
imaginar o quanto isso vai lhe custar.
— Eles vão mandar a equipe o quanto antes, não conseguem dar uma
estimativa de quanto tempo vai levar o reparo, vai depender da extensão dos
danos, e afirmaram que o apartamento precisará ser desocupado, mas não se
preocupe eles vão providenciar um lugar para você ficar — ele acrescenta.
— Se a infiltração tiver passado para o andar debaixo a Dona Ana também
será realocada.
— Sinto muito, Seu Aurélio.
— Não é sua culpa — ele dispensa meu comentário com um
movimento da mão. — É desse prédio velho que gosta de me dar dores de
cabeça agora que os meus filhos saíram de casa. O trabalhador não tem um
dia de paz, sabe? — Ele ri. — Mas é pra isso que serve o seguro, eles irão
dar um jeito e logo estará tudo de volta ao normal.
— Aqui está, minha querida — Dona Mayara diz empurrando várias
caixas de papelão e um rolo de fita nos meus braços.
— Muito obrigada. — Sorrio para o casal. — Bom, eu vou nessa.
— Se precisar de ajuda pra descer com as coisas, só chamar — meu
senhorio oferece.
— Pode deixar — digo, me virando e seguindo para as escadas.
Subo os degraus já decidindo a ordem com que meus pertences serão
encaixotados. Livros, minhas roupas e o que tiver de comida na geladeira
quando já souber onde vou passar os próximos dias.
O choque de ver minha casa inundada é menor dessa vez, mas ainda
assim doloroso. Olho em volta memorizando as minhas partes favoritas que
eu provavelmente irei reproduzir na versão 2.0.
— Você realmente é o menino que sobreviveu — murmuro para a
edição especial de Harry Potter que Brooke me deu no meu aniversário do
ano passado antes de colocá-la na caixa. Agradeço mentalmente por tratar
meus livros como itens de decoração e deixar sempre os mais bonitos e
favoritos nas prateleiras superiores.
Foi assim que as coleções da Sarah J Maas ficaram a salvo, junto com
os quadrinhos de capa dura de Lore Olympus e tantos outros.
Montar as caixas e preenchê-las é um processo mecânico, o que é
bom por ser rápido, porém isso deixa a minha mente desocupada para
pensar em tudo que aconteceu e como em menos de 24 horas a minha vida
ficou de ponta-cabeça, a parte boa é que nada mais pode me surpreender.
Assim que termino de encher todas as caixas que dona Mayara
conseguiu para mim e minha mala de viagem, chega o terrível momento de
descer tudo para o carro. Só de pensar em subir e descer os vários lances de
escada inúmeras vezes já quero me sentar e chorar, mas isso vai ter que
esperar.
Minhas coxas doem, meus braços parecem ser feitos de chumbo e
sinto uma pontada na base da minha coluna. Eu só preciso sentar um
minutinho, penso, mas não o faço, ao invés disso pego a última caixa e me
preparo para descer mais uma vez.
— Senhorita Jones — um homem me chama assim que saio do prédio
e eu congelo no lugar enquanto tento me convencer de que o homem de
meia idade, vestido de terno, parado ao lado de um Lexus LS preto com
vidro fumê que eu sabia ser à prova de balas não passava de uma ilusão.
Depois de piscar algumas vezes e Ian Brown, o motorista particular e mais
confiável do meu pai, não desaparecer, tenho a certeza de que eu devo ter
cometido atrocidades nas minhas vidas passadas para estar sendo castigada
dessa forma. 
— O que você está fazendo aqui, Ian? — pergunto, passando por ele e
encaixando a caixa em meus braços no porta-malas já cheio do meu carro.
— Seu pai quer falar com você — ele responde, mas tem aquela
inclinação no seu tom que parece estar me repreendendo como se eu ainda
fosse uma adolescente imprudente.
— Ele veio com você? — Eu finjo tentar olhar dentro do Lexus,
mesmo sabendo que o governador do estado da Califórnia não está sentado
ali. — Porque se não veio, eu receio que ele vai ter que esperar, já que eu
estou com problemas mais urgentes que demandam a minha atenção.
— Essa não é uma opção, senhorita Jones.
— Se ele queria tanto me ver, deveria ter vindo pessoalmente —
declaro e lhe dou as costas caminhando com passos decididos para o meu
apartamento.
— Olivia — tem qualquer coisa em seu tom que me faz hesitar. — É
importante.
— Sempre é algo sério quando é para ele — a amargura em minha
voz não passa despercebida por mim. — O que é dessa vez, Ian? —
pergunto, virando meu rosto em sua direção.
— Minhas ordens foram para levá-la para casa, apenas isso. Não fui
informado do motivo. E, você sabe tão bem quanto eu que descumprir uma
ordem direta de seu pai não é algo que eu vá fazer, se for necessário, vou
segui-la até que concorde.
Eu me viro para ele que continua em sua pose estoica ao lado do
carro. Eu conheço Ian Brown desde que era uma criança por isso sabia que
ele estava falando sério. Uma vez quando eu tinha 15 anos eu testei a sua
determinação e ele passou o dia inteiro como uma sombra colada a mim,
nem mesmo entrar na Victoria’s Secret [1]foi suficiente para tirá-lo da minha
cola. Ele bem que podia ter chegado há uma hora, teria feito com que me
ajudasse a carregar as malas escada a baixo, pelo menos teria sido útil antes
de me forçar a ir para São Francisco.
— Me leve ao seu mestre — ironizo.
 
Ian abre a porta de trás do Lexus e gesticula para que eu entre, o que
eu faço contrariada e ele fecha a porta assim que me acomodo. Gostaria de
me impedir de relaxar, mas depois de subir e descer escadas pela última
hora, meu corpo parece derreter contra o banco macio e luxuoso feito de
couro preto.
Ele contorna o carro e assume seu lugar ao volante, dando partida
imediatamente, se mesclando com os outros veículos que tomam as ruas
buscando escapar da hora do rush do fim de tarde. Percebo que Ian só
apareceu agora porque assumiu que eu estaria chegando do trabalho nesse
horário e me forço a engolir a risada seca em resposta ao pensamento.
Apoio a cabeça contra o encosto e fico observando a cidade passar no
silêncio completo em que é feita a viagem. Ian, como sempre, não tenta
puxar assunto e nem mesmo liga o rádio, deixando minha mente
inteiramente livre para remoer minhas emoções. Em pouco tempo, já
estamos na rodovia que nos levará para São Francisco e a casa dos meus
pais, que um dia eu também considerei como minha, mas isso acabou há
anos. 
Conforme nos aproximamos do nosso destino uma memória de anos
atrás toma a minha mente, me levando de volta ao passado.
 
O alarme no meu celular soou pela sexta vez, me fazendo suspirar já
que eu sabia que não poderia apertar soneca outra vez, porque estava
atrasada para me vestir para o aniversário da minha mãe. 
Fechei o livro que tinha nas mãos e tentei, em vão, não imaginar
como Katniss faria para conseguir sobreviver à sua segunda rodada nos
Jogos Vorazes, esse livro tinha tantas reviravoltas que me deixavam tonta.
A conversa sussurrada em vozes apressadas no escritório do meu pai
atraiu a minha atenção, hesitei do outro lado da porta entreaberta para
entender o motivo da discussão dos meus pais. 
— Pode, por favor, deixar essa conversa para amanhã, Grant? —
minha mãe pediu com o tom cansado. — É meu aniversário e preferia
celebrá-lo sem brigas.
— Já esperei tempo demais, Cecille. Olivia está finalmente se
formando e irá se casar com o herdeiro dos Fontineli.
Me casar? Senti como se alguém tivesse puxado o tapete sob meus
pés. Ele não podia estar falando sério, depois de todos esses anos, eu achei
que estava prestes a mostrar o meu valor, provar o quanto eu posso ser útil
para a minha família, mesmo que não fosse seguindo o plano inicial deles.
Minha mente viaja até o meu dormitório, onde um plano de campanha e
decoração para o gabinete do Governador da Califórnia estão sendo
montados e a percepção de que todo esse tempo foi em vão me atingiu
como um soco na boca do estômago. 
— Eu sei, mas uma discussão é inevitável, você sabe como Olivia é,
você já esperou até agora, o que custa esperar até amanhã? — minha mãe
suplicou. 
— Eu acho que concordo com o papai, é melhor tirarmos isso do
caminho logo — disse entrando na sala. — Eu não vou me casar.
Os dois se viraram para mim, já vestidos para a festa que
aconteceria mais tarde, minha mãe com seus cabelos loiros presos em um
coque na altura da nuca e um vestido preto que se moldava ao seu corpo
esguio com um decote modesto em V e meu pai com um dos seus clássicos
ternos.
— Você parece ter a impressão de que isso é algo que você pode
escolher não fazer — meu pai começou com uma expressão firme.  — Mas
posso garantir que não é o caso. 
— Eu entendo o meu papel como sua filha, pai, e posso cumpri-lo
sem ser usada como mero peão de troca. Não quero me casar apenas por
ser conveniente — repeti pela milésima vez, como eu pude ser tão burra de
achar que algo teria mudado?
As feições de Grant Jones se fecharam quando ele espalmou as duas
mãos sobre a mesa, seu olhar inteiramente focado em mim, reconheci a
expressão do político que substituiu a do pai que dialogava comigo
segundos antes.
— Você vai fazer o que eu disser, eu fui extremamente paciente,
esperei que realizasse seu sonho de ir para a faculdade, ser casada não
significa que não poderá continuar brincando de decoradora.
Suas palavras me atingiram como socos, uma após a outra, meus
olhos começaram a arder e mordi o interior da bochecha numa tentativa de
impedir as lágrimas de caírem. Era isso que ele realmente pensava de mim,
que isso não passava de uma brincadeira, que os meus sonhos e metas não
eram nada além de uma distração. Todas as noites em claro, os projetos e
designs que eu criei, não significavam nada para ele, porque não podiam
ser usados a seu favor. 
— Eu sei que você acha que todos esses casamentos arranjados são
sem amor, mas não foi o caso comigo e seu pai — minha mãe interveio.
— Claro, mas vocês não são a regra, pelo contrário, ou vamos
ignorar o que aconteceu com os Finnigan? Ou com a mulher do Jeffords?
— rebati, notando a veia na têmpora da minha mãe pulsar com raiva
conforme jogava os casos de casamentos que não deram tão certo assim em
sua cara. 
— Isso nunca aconteceria com você — ela declarou.
— Quem me garante? — perguntei, cruzando os braços na altura do
peito, tentando em vão acalmar o misto de emoções que me dominava, não
sei a qual delas eu deveria dar força, se a raiva, frustração ou a mágoa por
mais uma vez ter que discutir o mesmo assunto. 
— Eu garanto, você é minha filha e as pessoas te devem respeito —
meu pai respondeu, certeza aparecia em todas as suas feições.
Soprei uma risada antes de lhe responder.
— Você não respeitou, por que elas fariam?
—Basta — vociferou. — Eu sempre fiz tudo o que você pediu, mas
não se engane, Olivia, você irá se casar assim que se formar. — Seu tom
deixou o ultimato claro.
— E se eu me recusar? — perguntei e vi minha mãe balançando a
cabeça com um olhar suplicante em minha direção.
— Não me teste, Olivia. — Foi a sua única resposta. 
— Isso não é um teste, Grant. — Seus olhos se arregalaram
ligeiramente quando me dirigi a ele usando seu nome, algo que eu nunca
tinha feito antes e passaria a fazer daquele momento em diante. — Eu não
vou me casar, então estarei esperando pela punição que achar mais
adequada.
Girei nos meus calcanhares e segui pelo corredor, decidida a sair
daquela casa de uma vez por todas, a conversa se repetia em minha
cabeça, o espanto no rosto da minha mãe, a expressão séria de Grant Jones
e a certeza de que ele nunca me entenderia e aceitaria as minhas decisões. 
Senti as lágrimas que eu me esforcei tanto para segurar escorrerem
pelas minhas bochechas.
— Olivia — minha mãe me chamou, seus passos apressados se
aproximando e me virei para encará-la.
— Feliz aniversário, mamãe, aproveite sua festa — disse,
envolvendo-a em um abraço apertado. 
Essa seria a minha despedida, ela tinha deixado claro de que lado
estava, de qualquer forma.
Depois de pegar minha bolsa no quarto, saí em direção à garagem,
passando pelo jardim ricamente decorado. Tudo em tons de branco e
dourado, exceto os arranjos centrais de cada mesa, onde belas orquídeas
roxas — as flores favoritas de mamãe — se encontravam em vasos de
cristal. Tudo isso não passava de uma ilusão, um disfarce para o que
verdadeiramente significava fazer parte dessa família. Para o Governador
Jones, eu não era mais importante do que um dos pratos que ostentava o
brasão dos Jones.
Acompanhei como a mansão diminuía no meu espelho retrovisor,
sentindo meu coração se apertar ao saber que aquela construção nunca
mais voltaria a representar o meu lar.
Na manhã seguinte, eu e Brooke estávamos em nossa cafeteria
favorita no campus e quando fui pagar o meu café, meu cartão não passou,
dando a informação diversas vezes de que o pedido foi negado. Quando
liguei para o banco fui informada que meu cartão tinha sido cancelado, e
minha conta tinha apenas U$ 53,18 centavos. 
Essa seria a minha punição, aparentemente meu progenitor
acreditava que se tirasse meu dinheiro poderia me controlar, dominar,
manipular e eu teria muito prazer em provar que estava errado. Naquele
mesmo dia consegui um emprego no bar do campus e comecei a trabalhar
como garçonete. No fim de semana, dirigi até São Francisco e deixei o
carro estacionado na garagem, as chaves na ignição e voltei para a
Stanford de ônibus. 
 
Eu reconheço os jardins primeiro, muito bem-cuidados com o
caminho ladeado por rosas vermelhas, é a visão deles que me tira dos meus
devaneios. A fonte em frente aos degraus da mansão parece menor do que a
minha lembrança de infância, mas a mansão continua tão opulenta quanto
antes, as colunas brancas que lembram templos gregos ladeiam a porta de
entrada. 
Saio do carro sem esperar por Ian, mas antes que eu possa bater na
porta a mesma se abre, Yanne arregala os olhos, claramente surpresa de me
ver aqui.
— Oh, Liv, quanto tempo! —  Seus braços me envolvem e o seu
perfume me leva de volta no tempo. Para as tardes em que ela ficava de
babá, para as noites que meus pais iam a eventos de gala e ela me deixava
assistir desenhos até tarde.
— Yanne, como você está?
— Bem, é tão bom te ver! 
— Senhorita Jones, por aqui — Ian fala as minhas costas e eu
suspiro. 
— Vou colocar um lugar à mesa para você — Yanne avisa.
— Não se dê ao trabalho, Yanne, não ficarei para o jantar.
Sigo Ian pelos corredores conhecidos que nos levarão ao escritório de
Grant Jones, ignoro as coleções de arte cuidadosamente expostas que
costumavam me impressionar, afinal, foram cuidadosamente planejadas
para causar tal efeito.
As portas duplas de madeira estão entreabertas e Ian meneia a cabeça
em direção a ela antes de se virar e voltar pelo caminho que viemos.
Suspiro, me preparando para enfrentar o que tenho certeza de que será mais
um embate com meu pai pelo meu futuro. Mesmo depois de tanto tempo ele
parece ainda cultivar uma esperança de que eu acorde um dia e decida
esquecer os últimos anos, todas as brigas e discussões, e simplesmente
aceite fazer aquilo que me pede. 
Eu empurro a porta e nada tinha me preparado para o que eu
encontraria, nem mesmo o dia de merda que eu tive, mas eu deveria saber,
coisas ruins sempre vêm em trios. Meu pai está sentado atrás da imponente
mesa de mogno esculpida com intrincadas formas, mas não é ele que atrai a
minha atenção, não é a visão dele que rouba o ar dos meus pulmões, mas
sim, o homem loiro sentado à sua frente. 
  O terno molda um corpo que eu sei por experiência própria que é
feito inteiramente de músculos, eu conheço o som dos seus gemidos, o
sabor da sua pele, a intensidade da sua pegada. Afinal, ele é o homem que
eu venho tentando esquecer há meses.
Ethan Hart.
 
 
O som irritante do meu despertador me arranca do sono e não consigo
me lembrar exatamente do sonho que estava tendo, mas sei que devo ter
visto meus pais quando uma dor incômoda aperta o meu coração e a
saudade me machuca mais uma vez.
Suspiro, me sentando na cama e me espreguiçando antes de conferir
as notificações do meu celular. Nada de importante, mas isso não é
surpreendente considerando que não são nem sete da manhã ainda.
Depois de fazer minha higiene pessoal, vestir um conjunto de
moletom cinza sobre a camiseta branca, eu caminho até a cozinha do
apartamento de dois quartos em um dos bairros residenciais de San Jose, e
enquanto tomo meu café da manhã, meu olhar recai sobre a porta
entreaberta do outro quarto. Sinto meus lábios formarem um sorriso
enquanto pego meu celular para mandar uma mensagem para a pessoa que
até uma semana atrás o ocupava. Minha irmã caçula, Lilly.
Ethan: Bom dia, maninha! Como estão as
aulas? Já se adaptou ao dormitório? Está
precisando de alguma coisa?
Ethan: Vem para casa nesse fim de semana?
Abro o meu aplicativo de e-mail, atualizando-o algumas vezes como
se pudesse apressar a resposta que estou esperando desde ontem à tarde
quando decidi finalmente enviar o meu pedido de retorno ao trabalho ativo
na Hades’ Men Corp, a melhor empresa de segurança privada do país.
Bloqueio o motivo que me levou a pedir o afastamento há quase dez meses,
fechando os olhos.
Estou seguindo em frente.
Termino meu café e pego minha mochila de treino, os fones de
ouvido e as chaves do carro.
— Bom dia, Raabe! — cumprimento a recepcionista quando cruzo as
portas duplas de vidro e passo meu cartão de sócio na catraca que libera o
meu acesso.
A academia está praticamente vazia a essa hora do dia, o que a torna
quase perfeita. Odeio ter que revezar máquinas, meu instinto é pular aquela
até que a pessoa termine de usar, mas quando a academia está cheia isso é
impossível porque tem sempre alguém esperando a sua vez.
— Oi, Ethan, tudo bem? — ela pergunta, se apoiando sobre o balcão,
fazendo com que suas tranças deslizem sobre o ombro.
— Tudo e com você?
— Melhor agora. — Ela sorri e sou salvo de ter que responder ao
flerte descarado quando o telefone toca e ela atende.
Coloco meus fones, dando play na minha playlist criada
especialmente para treinos e “Believer” do Imagine Dragons começa a
tocar em meus ouvidos assim que piso na esteira para dar início ao meu
aquecimento.
Cada sequência de exercícios funciona como uma espécie de terapia,
me concentrar em cada movimento, no tensionar dos músculos e na minha
respiração, me faz focar no presente e minha mente está tranquila quando
me despeço de Raabe uma hora depois.
Meu celular toca enquanto caminho em direção ao meu carro. O
nome no identificador de chamadas faz uma onda de adrenalina percorrer
meu corpo, me deixando ainda mais animado.
— Hart — atendo meu empregador, esperando o tom firme de Kyle
Thorne em resposta.
— Tão sério ele. — O deboche me confunde e levo um segundo para
conectar a voz ao seu dono. Rafael Martinez, um dos donos da Hades’ Men.
— Oi, chefe, tudo bem? — cumprimento, destravando o carro e
entrando.
— Bem, bem não está, que eu estou preso a essa mesa pelas próximas
duas semanas, já que Thorne tem que ministrar o treinamento antibombas e
aparentemente a empresa não pode ficar sem alguém a administrando por
esse período. — Isso explica o porquê é ele quem está me contactando. O
tempo que passei sendo o segurança pessoal de sua esposa me ensinou
muito sobre meus chefes e Raffi odeia trabalho administrativo. — E o
caçula não tem tempo porque quando não está em uma sala de aula, tá no
estúdio — acrescenta distraidamente.
— Duas semanas passam rápido — comento, porque não sei como
responder ao seu desabafo.
— Não rápido o suficiente, mas não foi por isso que te liguei. Recebi
o seu e-mail, você tem certeza de que já quer voltar?
— Tenho — respondo prontamente.
— Sabe que não precisa se apressar.
— Fiquei dez meses de licença, chefe, nem os Fuzileiros seriam tão
compreensíveis quanto vocês foram. Eu agradeço a preocupação, mas estou
pronto, não arriscaria voltar se não estivesse.
— Eu sei, mas precisava me certificar, vejo que você encaminhou a
avaliação do seu terapeuta em anexo e que ele também te liberou para o
retorno. Ótimo então, porque surgiu um trabalho perfeito para você.
Um calafrio percorre a minha coluna com suas palavras.
— O que você quer dizer com perfeito para mim?
— Um trabalho simples, algo para facilitar o seu retorno, sabe? —
Ele sopra uma risada.
— O que é exatamente? — indago.
— Guarda-costas da filha de um político — ele declara, a minha
cabeça já imagina mil cenários e meu coração se aperta com a possibilidade
de ter que passar um tempo indeterminado longe de Lilly enquanto ela se
adapta à universidade.
— Para onde vou?
— Essa é a melhor parte, vai ficar no estado, acho que é até possível
que continue em San Jose.
— Sério? — Parece bom demais para ser verdade.
— Sim, é um trabalho urgente, o pai da garota ligou hoje de manhã e
quer que mandemos alguém no fim da tarde para São Francisco a fim de se
apresentar para o cargo, quer explicar os detalhes do trabalho e insiste em
ser ele mesmo a apresentar a filha.
— Hoje mesmo?
— Você disse que estava pronto pra voltar — Raffi rebate em um tom
como se estivesse se divertindo com a situação.
— Me mande o endereço e eu estarei lá.
— Esse é o espírito, Ethan, sabia que podia contar com você! —
Ouço o som das teclas ao fundo quando ele acrescenta: — Mandarei tudo
em seu e-mail.
— Obrigado, chefe.
— Não me agradeça ainda — responde e encerra a ligação antes que
eu possa perguntar o que ele quer dizer.
 

 
A rodovia US-101 que conecta San Jose a São Francisco flui
facilmente, o que provavelmente se deve ao fato de que ainda falta algum
tempo para a hora do rush, porém já consigo ver as pistas contrárias
começarem a encher conforme me aproximo do meu destino.
O toque do meu celular interrompe a música e vejo o nome de minha
irmã no painel multimídia. Aceito a chamada e a voz doce de Lilly
preenche o carro.
— Desculpa não ter respondido a sua mensagem mais cedo. Acordei
atrasada e tive que correr para a aula, passei o dia indo de uma para a outra
— ela se explica e parece ainda estar correndo se a sua respiração ofegante
servir de indicativo.
— Não tem problema. Tá tudo bem?
— Está sim, tinha esquecido um dos meus livros na sala e precisei
correr para ir buscar antes da próxima aula começar.
— Só não esquece a cabeça porque está grudada no seu pescoço —
provoco e ela ri, o som trazendo um sorriso para o meu rosto.
— Ha.Ha. Muito engraçado, Ethan — ironiza. — Alguma resposta do
seu trabalho? — pergunta e seu tom se torna mais sério.
— Sim, estou indo agora mesmo me apresentar para o cliente.
— Ai, que ótimo! — ela comemora no outro lado da linha.
— Dependendo de como for não estarei em casa no fim de semana,
pelo que Raffi me falou vou ser o guarda-costas da filha de um político,
ainda não sei que dias terei livre — explico.
— Tudo bem, eu não devo voltar tão cedo, só estou aqui há uma
semana e já tenho uns três livros para ler só das poucas aulas que tive.
Tenho a sensação de que estou quatro meses atrasada e a universidade mal
começou — ela reclama, seu tom cheio de indignação me faz gargalhar. —
Isso não tem graça nenhuma, Ethan.
— Eu discordo.
— Você é insuportável.
— E você me ama mesmo assim, maninha — o GPS alerta que tenho
que pegar a próxima saída. — Preciso ir, Lilly, se precisar de alguma coisa é
só me avisar.
— Tá bom, se cuida, te amo!
— Eu também.
Ela encerra a ligação e “Sail” do AWOLNATION volta a tocar
enquanto eu obedeço às instruções do GPS, me mesclando ao trânsito do
bairro residencial de alta classe, vislumbro jardins enormes, atrás dos
portões ainda maiores conforme me aproximo do endereço que Raffi me
enviou mais cedo.
— Seu destino está à direita — a voz computadoriza alerta.
Viro o carro em direção à guarita e pego a minha identificação na
carteira para mostrar ao guarda que se aproxima da minha janela.
— Acredito que o Governador esteja à minha espera — anuncio, com
um sorriso para o homem de meia idade que repete meus dados pelo rádio e
assente, antes de me devolver meus documentos e o portão se abre.
Os jardins bem-cuidados oferecem uma vista praticamente
desimpedida da guarita até a casa principal, impossibilitando que algum
invasor possa se esconder no espaço.
Enquanto contorno a fonte em frente à mansão, noto as câmeras
posicionadas nas colunas brancas que formam a fachada da construção.
Sigo o caminho à esquerda que leva a uma área aberta que eu assumo ser
usada como estacionamento.
Saio do carro e ajeito o meu terno, apertando a gravata antes de seguir
em direção à entrada, observo meus arredores, notando a patrulha ao redor
da casa, por instinto ou treinamento, calculo quanto tempo o segurança
levaria para chegar até mim. Ao subir os degraus, meu cérebro já está
catalogando as possíveis saídas, os passos dados, não é algo que eu preste
atenção ativamente, é um hábito, é automático, tão fácil quanto respirar.
Assim que meu punho toca a porta de madeira ela é aberta por uma
mulher na faixa dos seus 50 anos vestindo um uniforme elegante.
— Boa tarde, eu tenho uma reunião com o Governador Grant — eu a
cumprimento e ela sorri calorosamente antes de abrir a porta para que eu
entre.
— Por aqui, sr. Hart.
O foyer é um salão amplo, com escadas duplas na extremidade oposta
à entrada, as câmeras estão dispostas de forma a cobrir cada centímetro e
acopladas a pilares de mármore.
A mulher que eu assumo ser a governanta da casa me conduz pelo
corredor da direita que é equipado com o mesmo tipo de vigilância, seis
portas depois nos encontramos em frente a portas duplas.
Ela bate duas vezes na madeira e informa:
— Sr. Grant, o sr. Ethan está aqui.
— Pode deixá-lo entrar — o governador responde e ela abre a porta,
me indicando com a mão que entre. — Obrigado, Yanne — ele a dispensa e
ela meneia a cabeça antes de se retirar.
O escritório de Grant Jones é uma sala ampla com móveis em uma
madeira escura e esculpida. A única saída parece ser as portas por onde
acabei de passar, já que as duas paredes laterais contam com estantes até o
teto repletas de volumes com aparência antiga, com lombadas de couro
quebradas pelo uso, uma fileira colorida na base de uma delas chama a
minha atenção, uma camada de poeira cobre os livros finos.
— Boa tarde, sr. Hart, agradeço a sua disponibilidade imediata para
me atender, o senhor Martinez o tem em alta consideração e ele me
assegurou que você era o melhor para o cargo — o governador me
cumprimenta, interrompendo a minha análise do cômodo atraindo a minha
atenção para si e para a janela que eu aposto ser à prova de balas e
impossível de abrir. Ele estende a mão em minha direção, seu aperto é
firme. — Sente-se, por favor, sr. Hart.
— Pode me chamar de Ethan, Governador — digo, me acomodando
na poltrona de couro castanho-escuro, analisando o homem de 54 anos, mas
que ainda aparenta estar na casa dos 45. O terno de risca de giz se encaixa
com precisão aos ombros largos, a gravata vermelha se destaca contra a
camisa branca. Seu rosto é longo, com traços fortes, os cabelos grisalhos na
altura das têmporas, duas entradas proeminentes no topo da cabeça, mas é o
tom do azul dos seus olhos que prende a minha atenção. Como se eu já os
tivesse visto antes. — O sr. Martinez me falou que o senhor me informaria
os detalhes do trabalho pessoalmente, a única coisa que disse é que vou ser
o segurança pessoal de sua filha, é isso?
— Isso mesmo, ela deve estar chegando a qualquer momento, a
minha filha é... — ele pausa como se não soubesse a palavra certa, balança
a cabeça e continua: — Ela não sabe que está prestes a ter um segurança
pessoal, mas estou enfrentando alguns problemas na Câmara dos
Representantes[2], a oposição está determinada a me fazer desistir do novo
projeto de lei.
— Entendo, senhor.
— Eu e minha esposa já temos os nossos seguranças, mas Olivia... —
Olivia? Meu cérebro parece ter sido atingido por um raio, meus
pensamentos disparam. Uma memória de anos atrás quando eu ainda era o
guarda-costas de Brooke ressurge, ela e Olivia conversando numa cafeteria,
a morena reclamando do pai. Minha atenção se volta para o homem à minha
frente que continua falando, mas não consigo me forçar a entendê-lo. Outra
memória da morena se sobrepõe à primeira, os cabelos espalhados sobre o
travesseiro, a cabeça jogada para trás, olhos fechados e a boca aberta em um
gemido de prazer. Não posso pensar nisso, não posso me lembrar da
sensação de estar enterrado em Liv enquanto estou em frente ao seu pai,
me recrimino. Mas meus próximos pensamentos servem como um banho de
água fria.
Ela está vindo.
Vou ser seu guarda-costas.
E tenho quase certeza de que ela me odeia.
— Então existe um grande potencial para ser complicado — o
governador conclui seu pensamento e eu nem faço ideia do que ele estava
falando, mas complicado me parece a descrição correta.
A porta às minhas costas se abre, e eu giro meu corpo, me preparando
para vê-la depois de quase dez meses.
Olivia Jones está ainda mais linda do que eu me lembrava. Seu olhar
recai sobre mim e consigo ler as expressões que passam por seu rosto como
se estivessem escritas em uma folha de papel. O choque inicial, dá lugar à
incredulidade, sendo substituído pela mágoa e, por fim, a raiva.
Ela desvia a atenção de mim para o pai e é como se vestisse uma
armadura, seus ombros se endireitam, sua expressão que antes era um livro
aberto se torna dura, fechada, inalcançável.
— O senhor me convocou — ela diz como forma de cumprimento,
sua voz num tom frio que eu nunca ouvi antes.
— Sente-se, por favor, Olivia — o Governador pede.
— Não tenho intenção de ficar um segundo a mais do que o
estritamente necessário, só estou aqui porque mandou seu cão atrás de mim
e ele ameaçou me seguir por tempo indeterminado. — Liv dá de ombros.
— Você não me deixa muitas opções quando recusa todas as minhas
ligações.
— A maioria das pessoas entende o recado quando alguém lhe dá o
tratamento silencioso — rebate, seu olhar se desviando para mim por um
segundo antes de voltar ao seu pai.
— Eu não sou a maioria das pessoas — o Governador Jones declara e
noto uma veia em sua têmpora pulsar.
— De que maneira eu posso ser útil ao Governador da Califórnia? —
ela pergunta, cinismo escorrendo de cada palavra.
— Olivia, por favor — ele pede, um certo cansaço na voz. — Eu te
chamei aqui para te apresentar a Ethan Hart, seu novo guarda-costas.
— Oh, nós nos conhecemos — ela responde e sua atenção retorna
para mim. — Ele não te contou que foi o segurança pessoal de Brooke
Roberts? Ah, é claro, como você saberia quem é a minha melhor amiga? —
Ela cruza os braços na altura dos seios e engulo em seco quando sou
nocauteado com a lembrança do seu gosto. Foco, Ethan. — Eu não preciso
de um guarda-costas, eu não faço mais parte desse circo. — Ela move a
mão como se para englobar todo o escritório.
— Só porque você se recusa a aceitar o seu lugar por direito de
nascimento...
— Você chama de direito e eu chamo de jaula — ela o interrompe.
Eu nunca tinha visto este lado da morena, ela sempre foi amável,
risonha e carismática, mas não podia negar que Olivia Jones com raiva era
algo a ser admirado.
— Não quer dizer que os outros pensem da mesma forma — o
governador continua, ignorando a declaração de Liv. — As coisas na
Câmara dos Representantes estão complicadas e a oposição parece disposta
a me fazer recuar a qualquer custo.
— Isso soa como um problema seu.
Grant Jones abre uma gaveta, tira um envelope pardo de dentro e o
oferece para a morena.
— Isso chegou hoje de manhã. — Quando ela não se move para tirá-
lo de sua mão ele vira os conteúdos sobre a mesa que se enche de
fotografias de Olivia, saindo do supermercado, sentada numa cafeteria com
um livro em mãos, entrando em seu apartamento, na frente de um prédio
empresarial, todas pela mira de um fuzil.
 
— Isso foi ontem — Olivia declara segurando uma das fotografias. —
O que é isso? — Olivia pergunta, sua voz tremendo levemente e ela
endireita os ombros antes de voltar a olhar para o pai.
— Uma tentativa de intimidação — o governador responde, um
músculo em sua mandíbula tensionando.
— Tentando intimidar a mim? Por quê? — pergunta e seu pai coça o
pescoço antes de responder.
— Como eu estava dizendo. — Seu tom é calmo, como o que eu já o
vi usar ao dar declarações para a TV. — Alguns membros do partido da
oposição estão obstinados a me fazerem desistir do projeto de lei que quero
implementar no estado.
— Por que não é você na mira de uma arma, então? — Olivia sacode
a foto que ainda está em sua mão.
— Porque eu ando com uma equipe de segurança assim como sua
mãe. — A frustração na voz do governador faz suas palavras subirem de
tom.
Sinto-me em uma partida de tênis, olhando de um para o outro, que
parecem ter esquecido que eu estou aqui.
— Eu não preciso de um segurança — Olivia afirma mais uma vez,
mas sua voz já não tem a mesma intensidade de antes quando ela devolve a
foto à mesa, juntando-a com as outras. — Provavelmente é só mais um jogo
político para te convencer.
— É possível, mas eu não estou disposto a arriscar a sua segurança.
— Claro, como ficaria a sua reputação se alguém atacasse um de seus
peões — Olivia rebate e os dois trocam um olhar carregado.
— Olivia, agora não é o momento para você me testar. Mesmo que
isso tenha sido apenas um jogo político, como você o chama, alguém ainda
chegou perto o suficiente para tirar essas fotos, te seguiu por dias e apontou
uma arma para a sua maldita cabeça.
Olivia se encolhe diante dessas palavras, como se a verdade delas
estivesse finalmente fazendo sentido. O desconforto da morena parece
emanar de seu corpo em ondas e me sinto tentado a confortá-la, tirá-la dali.
Digo a mim mesmo que é só porque sei que meu novo trabalho é protegê-la
e nada além.
— Parece que está começando a entender a gravidade da situação. E,
se, por ventura isso for realmente uma ameaça, não vou permitir que você
ande por San Jose sem um guarda-costas até que isso seja resolvido — o
governador completa.
— E nem um segundo a mais. — Olivia suspira e seus ombros cedem,
antes de acrescentar a contragosto. — Tudo bem.
— Ótimo, você irá se mudar para um apartamento seguro...
— Não pode me tirar da minha casa — Olivia protesta interrompendo
o pai.
— Sua casa é um aquário, janelas para todos os lados, você estará
totalmente vulnerável — o sr. Grant rebate.
— Mas...— ela parece hesitar como se tivesse lembrado de algo ou
não soubesse como argumentar contra os fatos e seu pai aproveita para
continuar.
— São só alguns meses, tudo o que você precisar, pode ser levado
para o novo, mas este conta com mais segurança do que o seu prédio atual.
Além do mais, precisa ter espaço para o seu guarda-costas.
Como se Olivia finalmente lembrasse que eu estava sentado ao seu
lado, ela se vira para mim e me olha de cima a baixo antes de voltar a
encarar o pai.
— Ele não vai morar comigo.
— Não, ele e o parceiro terão um apartamento em frente ao seu.
— Qual a previsão para isso acabar? — Olivia pergunta.
— A votação está marcada para daqui a dois meses, então acredito
que em no máximo três tudo estará resolvido.
— Ótimo, quanto antes melhor. — Ela se vira para mim. — Podemos
ir?
Eu olho dela para o governador em busca da resposta, ele balança a
cabeça em descrença, puxa uma pasta da mesa e me entrega, dentro dela
estão um par de chaves, cartão magnético e o endereço de um prédio no
centro de San Jose.
E, aparentemente, isso era tudo que Olivia precisava, sem nem
mesmo se despedir do pai, ela se vira e caminha pelo corredor com passos
rápidos.
— Muito obrigado, Governador. Eu darei o meu melhor.
— Se não correr, ela vai embora sem você — é sua única resposta e
quando me viro, Olivia já desapareceu.
Caminho pelo corredor me controlando para não praguejar, mas assim
que alcanço o amplo hall de entrada a morena está conversando com a
mulher que me recebeu mais cedo.
— Tem certeza? — a mulher pergunta.
— Sim, não se preocupe, Yanne — ela responde e sua voz e postura
voltaram a ser da jovem calorosa e carismática que eu conheço. — Diga a
Daisy que estou muito orgulhosa por ter se qualificado para as finais de
handebol.
— Pode deixar, ela sempre fala que você curte as fotos dela. — As
duas se abraçam. — Acho que sua carona está te esperando, Liv.
Quando elas se separam, a morena se vira para mim.
— Já não era sem tempo. — Sua postura volta a ser a fechada de
antes, o sorriso sumindo de seu rosto.
‘Isso vai ser ótimo’, minto para mim mesmo.
— Meu carro está logo ali, senhorita Jones — comento e seus olhos
se arregalam com o tratamento formal que eu tinha parado de usar quando
deixei de ser o guarda-costas de Brooke Roberts.
Ela gesticula para a porta, num sinal claro para que eu indique o
caminho.
— Até a próxima, Yanne — ela se despede e me segue.
Assim que pisamos do lado de fora da mansão é como se alguém
tivesse ativado a função ‘segurança’ no meu cérebro, minha atenção parece
crescer e observo os meus arredores procurando possíveis ameaças, mesmo
que dentro do terreno fortemente guardado seja pouco provável que algo
aconteça.
Uma consequência da minha atenção redobrada é que meu corpo se
torna extremamente consciente da mulher que caminha ao meu lado até o
carro. E a minha mente faz questão de me açoitar com memórias da nossa
noite juntos há quase um ano. Um dia antes da minha vida mudar para
sempre.
Abro a porta traseira do meu carro e gesticulo para ela entrar:
— Por favor, senhorita Jones. — Ela revira os olhos, mas se acomoda
no banco e eu fecho a porta, assumindo meu lugar ao volante. — Gostaria
de ouvir alguma coisa, senhorita Jones?
— Você nunca mais me chamando de senhorita Jones é uma opção?
— pergunta debochadamente.
— Eu receio que não, senhorita Jones — respondo, lutando para não
esboçar um sorriso. Preciso me lembrar de que ela agora é a minha cliente,
meu trabalho e tudo que vivemos tem que ser deixado para trás.
— Então o silêncio está ótimo — comenta e vejo pelo retrovisor ela
pegar o celular da bolsa e começar a digitar enquanto dou partida no carro e
deixamos a residência do governador, seguindo para San Jose.
Olivia não diz uma palavra o caminho inteiro, mas a flagrei me
olhando algumas vezes durante o trajeto. Seu perfume doce já se espalhou
por todo o veículo, se impregnando nos bancos e na minha roupa.
Ela está tão absorta em seu celular que nem repara quando estaciono
em frente ao seu prédio, só quando abro sua porta é que nota onde estamos.
— O que estamos fazendo aqui? Pelo que eu tinha entendido
ficaríamos em outro apartamento.
— Achei que gostaria de buscar suas coisas, senhorita Jones —
declaro com um sorriso de canto, girando meu corpo para que ela saia.
Mas ao contrário do que eu esperava, a morena não vai para a entrada
do prédio, e sim para o seu carro estacionado duas vagas à frente. Ela abre o
porta-malas e vejo algumas caixas e malas ali.
— Por que suas coisas estão no carro?
— Porque eu iria me mudar temporariamente — é a sua resposta, ela
não entra em detalhes, nem explica o que aconteceu, só pega uma das
caixas e começa a levar até o meu carro.
Eu a ajudo e em poucos minutos terminamos e estamos de volta às
ruas de San Jose.
O prédio residencial fica no centro da cidade, conta com uma
garagem subterrânea e um esquema de vigilância desde a entrada, onde os
residentes são obrigados a usar um cartão para abrir o portão.
— Eu venho buscar as suas coisas depois, senhorita Jones — aviso.
— Tudo bem. — Ela dá de ombros e sai do carro.
Assim que as portas do elevador se fecham, o ar parece ficar pesado
com todas as palavras não ditas entre nós. O calor de seu corpo parece
viajar o pequeno espaço entre nossos corpos, penetrando o tecido do meu
terno. Olho para a morena absorvendo seus traços delicados. Como se
sentisse meu olhar, ela desvia a atenção da porta e me encara por alguns
segundos antes de balançar a cabeça negativamente e desviar os olhos mais
uma vez.
O elevador para no décimo terceiro andar e encontramos os
apartamentos 1301 e 1302 com facilidade, já que são os únicos do andar.
Olivia segue para o que estava designado como seu e eu abro a porta com a
chave antes de lhe entregar.
— Fique atrás de mim, senhorita Jones — peço.
— Por quê?
— Porque não posso te deixar sozinha no corredor, mas preciso
confirmar se o apartamento está seguro — explico. Ela suspira, mas acena.
A sala de estar é ampla, sem móveis nos quais alguém pudesse se
esconder atrás, as janelas parecem ser à prova de balas, confiro a cozinha, o
quarto e o banheiro, assim como o segundo quarto que parece servir como
escritório e quarto de hóspedes.
— Já acabou? — Olivia pergunta quando voltamos para a sala.
— Sim, senhorita Jones, eu vou buscar as suas coisas agora. Por
favor, não abra a porta para ninguém além de mim.
— Eu não sou uma imbecil, eu sei disso — reclama se jogando no
sofá de três lugares.
— Não quis insinuar isso, senhorita Jones. — Eu a vejo travar o
maxilar antes de desviar a atenção para o seu celular.
Acho um carrinho de compras e em três viagens termino de levar
todas as suas coisas para o apartamento.
— Essa foi a última, senhorita Jones — eu a informo, colocando a
caixa relativamente pesada no chão.
— Sabe o que eu acho engraçado? — ela pergunta, parando de
guardar livros na estante de cubos e apoiando as mãos nos quadris. —
Como agora é só senhorita Jones pra cá, senhorita Jones pra lá — continua
sem esperar uma resposta e dando um passo em minha direção. — Quando
eu me lembro perfeitamente o quanto você gostou de gemer o meu nome na
última vez em que estivemos juntos.
Ah, então nós iriamos abordar a nossa noite juntos, ótimo.
— Acredite em mim. — Dou um passo em sua direção, ficando tão
perto que conseguia sentir a sua respiração tocar a minha pele. — Se eu não
estivesse na posição de seu guarda-costas e não precisasse ser profissional.
— Meu olhar desce para seus lábios e umedeço os meus antes de
acrescentar. — Eu ia amar repetir a nossa noite juntos, senhorita Jones.
— Ah, é? — pergunta e eu assinto. — E pra quê?
Antes que eu possa responder a morena aponta o dedo para o meu
peito.
— Para eu acordar sozinha na manhã seguinte? — Ela pontua a
pergunta batendo com o dedo contra o meu peito. — Sem uma mensagem?
— Outra batida e eu recuo um passo, mas ela me acompanha e continua. —
Ou uma ligação por meses? — Ela bate contra o meu peito outra vez e seus
olhos azuis estão tomados de raiva.
Ela abre a porta do apartamento e gesticula para que eu saia.
— Obrigada pela oferta, mas uma vez foi suficiente. — Ela fecha a
porta bruscamente na minha cara assim que eu passo por ela.
Levanto a mão para bater na madeira, para chamá-la e explicar o que
aconteceu, que tudo na minha vida mudou naquela noite e levou tempo
demais para eu conseguir me reorganizar, que eu pensei em ligar inúmeras
vezes, mas antes que meu punho toque na superfície da porta eu paro e
abaixo a cabeça.
Não importa o que eu tinha para lhe dizer, as minhas justificativas,
nossas circunstâncias mudaram e é tarde demais.
As palavras de Raffi mais cedo ecoam em minha mente “Não me
agradeça ainda” o filho da mãe sabia o que estava fazendo e armou pra
mim.
Encaro mais uma vez a porta com uma misto de sentimentos, mas a
certeza de que meu trabalho seria tudo, menos fácil.
 
Ando pelo corredor em direção à cozinha e o cheiro de café recém-
passado preenche o ambiente. Pego a caneca e dou o primeiro gole na
bebida fumegante, sentindo meu corpo inteiro acordar definitivamente. Eu
não era ninguém sem minhas doses recorrentes de cafeína.
Confiro a agenda do dia enquanto como um misto-quente e termino
meu café. Sorrio ao pensar em terminar a tatuagem da Amanda, essa seria a
nossa segunda sessão para finalizar o trabalho nas suas costelas, o design
intricado conta com vários elementos de seus livros favoritos e a
harmonização ficou muito boa, os outros trabalhos são mais simples o que é
bom porque meu pescoço vai estar me matando no fim do dia.
Caminho as poucas quadras de distância do meu apartamento até o
estúdio, aproveitando a manhã ensolarada. Assim que destranco a porta e
desativo o alarme, me permito olhar em volta da ampla sala como todas as
manhãs, saboreando a vitória de ter realizado um dos meus maiores sonhos
da adolescência, abrir o meu próprio estúdio de tatuagem. Um espaço para
poder dar vazão à minha criatividade e ao meu amor pelo oficio. 
Consigo ouvir a voz do meu pai em minha cabeça, me lembrando que
todas as conquistas devem ser celebradas, dessa forma quando as
inseguranças batem à nossa porta temos vivo na memória tudo o que já
conseguimos e ganhamos força para correr atrás dos nossos próximos
objetivos.
A sineta da porta toca me tirando das minhas lembranças e levanto o
olhar para ver Narjara entrando com um sorriso no rosto e a mão sobre a
barriga.
— Bom dia, chefe — ela acena, caminhando até a bancada da
recepção.
— Bom dia, como estão vocês duas? — pergunto quando ela liga as
luzes e o computador.
Ela acaricia a barriga redonda com um olhar carinhoso.
— Estamos bem, essa mocinha passou a noite me chutando, mas
agora parece finalmente estar dormindo.
— Se precisar de alguma coisa, é só avisar — eu relembro.
O estúdio vinha crescendo de forma orgânica desde a inauguração, eu
era capaz de organizar e controlar sozinho tanto a minha agenda quanto a
do meu parceiro de trabalho, Seth Donahue-Roberts, que vinha apenas
quando tinha uma marcação ou precisava descansar a mente. Tudo mudou
há um ano e meio quando ele estabeleceu um horário fixo para trabalhar no
estúdio, foi então que nosso trabalho decolou e nossas agendas lotaram.
Narjara foi nossa salvação, além de monitorar nossos agendamentos
ela ainda cuidava das redes sociais.
— Eu preciso de algo, Tristan — ela responde e eu me viro pronto
para ajudar. — Preciso que você encontre quem vai cobrir a minha licença-
maternidade.
— Eu sei, eu sei, você não conhece ninguém que esteja precisando de
um trabalho temporário?
— Infelizmente não, eu não quero deixar vocês na mão, se conseguir
alguém até o fim da semana eu consigo treiná-lo até sair de licença na sexta
que vem — ela explica.
— Certo, vou resolver isso hoje — prometo e espero conseguir
cumprir.
A sineta toca e é o meu primeiro cliente do dia, eu o cumprimento
com um aceno antes de ir conferir se a minha estação de trabalho está em
ordem para hoje, costumo deixar tudo pronto antes de ir embora para não
ter que correr de manhã.
— Oi, Conrado, tudo certo?
— Tudo, cara — ele responde, apertando a minha mão e se sentando
na cadeira à minha frente. — Então, eu quero fazer aquela arte que a gente
tinha conversado.
— Acrescentar o Aizawa[3] à sua tatuagem do Jiraya[4], certo? —
confirmo, pegando o iPad com os esboços que tinha feito para ele.
— Isso. — Ele olha os designs que preparei e vira o aparelho para
mim. — Prefiro essa, mas com esse efeito nos olhos que tem nessa aqui. —
Ele me mostra o esboço anterior.
— Beleza, vou arrumar isso rapidinho e já trago pra você aprovar e
aplicarmos o decalque.
Ele assente e eu pego a caneta para mesclar os designs. Tem gente
que tem medo de pedir para o profissional mudar algo no desenho, como se
fossem nos incomodar, mas a verdade é que o nosso desenho ficará
marcado permanentemente na pele do cliente, então tem que ficar
exatamente como ele idealizou. Além disso, nada é mais gratificante que o
olhar de adoração quando um cliente vê a tatuagem pronta pela primeira
vez.
Depois de aprovado começo a trabalhar. O som da maquininha é um
bálsamo para a minha alma, minha mente se aquieta e tudo que existe são
linhas e pontos, nem noto o tempo passar até terminar os últimos detalhes e
descartar as luvas descartáveis. Estico-me e meus músculos protestam
depois de tanto tempo na mesma posição.
Conrado se levanta e vai conferir o meu trabalho no espelho de corpo
inteiro, vejo o sorriso de aprovação em seu rosto conforme gira o braço
tentando ver todos os ângulos.
— Ficou insano, valeu, Tristan, você é o cara — diz, vindo me
agradecer com um tapinha no ombro.
— Que bom que gostou — respondo sinceramente.
— Já vou deixar a próxima marcada — me avisa e vai em direção a
Narjara.
— Até a próxima, então. — Rio e começo a arrumar a minha estação
de trabalho para o próximo cliente, desinfetando tudo e descartando as
agulhas usadas no recipiente apropriado.
 

 
Seth entra depois do almoço com uma bandeja de cafés da cafeteria
no fim da rua, um sorriso nos lábios e a postura relaxada, a vida de casado
fez muito bem ao meu amigo.
— Boa tarde, Narjara — ele a cumprimenta, entregando-lhe a bebida
descafeinada antes de se virar para mim e me entregar o outro copo de
papel. — E, aí, T? Manhã tranquila?
— Tudo certo. — Dou um gole na bebida.
— Obrigada, chefe dois — Narjara agradece antes de beber seu suco,
seus olhos arregalam e ela acaricia a barriga.
— Tudo bem? — Seth e eu perguntamos ao mesmo tempo.
— Sim, parece que alguém gosta de smoothie de manga e maracujá
— ela explica.
— Isso me lembra — começo. — Seth, nossa adorada recepcionista
relembrou que ela estará nos abandonando semana que vem.
Ele aperta o peito e se vira para ela com cara de indignação.
— Já?
— É a hora, ou vocês querem que eu entre em trabalho de parto aqui
mesmo?
— Eu acho melhor não.
— Realmente, ir para casa e estar descansada antes do bebê chegar é
o melhor — concordo.
Ela começa a rir e nos juntamos a ela.
— Vocês são impossíveis e eu vou sentir falta de vocês, mas precisam
arranjar alguém para ficar no meu lugar.
— Eu acho que conheço alguém — Seth diz, mas a sineta da porta
toca e a sua cliente chega. Ele vai atendê-la e logo depois Amanda entra e
me cumprimenta se aproximando.
Faço uma nota mental para perguntar mais ao moreno antes de me
perder em ampulhetas, dragões, fênix e varinhas.
 
 
O cheiro de café e doces dentro da Happy Coffee Hour é como um
abraço quente e aconchegante, algo que eu preciso depois dos últimos
quatro dias.
 
No primeiro dia, Ethan me acordou antes das 9 da manhã, batendo
incansavelmente na porta do meu apartamento.
— Você vai se atrasar para o trabalho, senhorita Jones — ele
anunciou assim que abri a porta. E eu não deixei de perceber a maneira
como seus olhos passearam pelo meu corpo, nem mesmo a engolida em
seco que ele deu quando notou meu conjuntinho de seda verde-escura.
— Eu discordo — respondi, já fechando a porta, porém ele me
impediu colocando o seu pé para dentro do meu apartamento.
— Eu sei que você não gosta da ideia de ter um guarda-costas, no
entanto eu não vou a lugar algum e você precisa ir trabalhar.
— Eu até poderia concordar com você, mas aí nós dois estaríamos
errados — respondi, dando-lhe as costas e indo para a cozinha, não existe
um universo onde eu possa lidar com essa conversa sem uma dose de
cafeína e açúcar.
Ethan suspirou e me seguiu para dentro de casa.
— Você já está atrasada — ele afirmou e eu parei no meio da cozinha
segurando a ponte do meu nariz antes de me virar para ele.
— Eu não estou atrasada, Hart. — Ele engoliu em seco quando usei o
seu sobrenome. — Porque eu não tenho um trabalho, então se você puder
me fazer o favor de parar de ficar me relembrando deste fato, eu
agradeceria.
Girei meu corpo para os armários abrindo as portas, tínhamos
chegado tarde ontem e depois de terminar de desempacotar meus pertences,
tomei um banho e os eventos do dia cobraram o seu preço, por isso eu me
afundei na cama nova e dormi até o ser insuportável de 1,85m me acordar.
Nos armários eu encontrei: pão, manteiga, uma geleia, cereal, arroz,
massa e molhos. Na geladeira tinha um litro de leite e uma garrafa d’água e
na bancada, algumas frutas na fruteira. Tinha tudo que uma pessoa poderia
precisar imediatamente, menos o mais essencial: café.
— Você foi demitida, por quê? — Ethan perguntou e é a sua
curiosidade genuína que me impede de arremessar uma das maçãs na
direção da sua cabeça loira.
— De acordo com o discurso robótico do meu ex-chefe, corte de
custos — respondi, me virando e indo de volta para o meu quarto. — Ou
qualquer merda parecida.
— Sinto muito — ele disse, segurando o meu braço quando passei por
ele. Nossos olhares se cruzaram e o ar ficou carregado. O toque de sua mão
na minha pele nua me despertou mais rápido que qualquer fonte de cafeína.
— É bom, facilitará o seu trabalho — disse, dando de ombros. —
Mas já que insiste tanto em sair, estarei pronta em dez minutos — eu o
informei.
Fomos ao mercado e quando voltei para casa, fiz exatamente o que
tinha planejado: atualizei o meu currículo e o enviei para todas as vagas e
empresas da região. Depois, me entupi de sorvete enquanto terminava o
livro e preparava as minhas anotações para discutir no próximo encontro da
Sociedade dos Viradores de Página.
Os dias seguintes foram mais do mesmo: e-mails, li outros quatro
livros e maratonei a nova série de ação da Netflix. Ethan vinha checar se eu
estava bem a cada poucas horas e quando viu qual série eu tinha na TV, se
juntou a mim. E por mais que eu gostasse de poder negar, sua companhia
foi muito bem-vinda, não que eu fosse admitir isso a ele.
Eu não parava de atualizar a minha caixa de entrada esperando ser
chamada para uma entrevista, não me lembro de ter ficado assim desde a
última turnê da Ariana Grande e o surto que foi para conseguir um ingresso
VIP.
Eu já estava enlouquecendo, por isso quando Brooke me convidou
para um café eu aceitei prontamente. Precisava da companhia da minha
melhor amiga.
 
Olho em volta da cafeteria procurando por Brooke, mas não vejo a
cabeça loira em lugar nenhum.
— É melhor não se sentar em frente às janelas, senhorita Jones —
Ethan me avisa e eu reviro os olhos, mas faço o que ele diz, me
acomodando em uma das cabines confortáveis para esperar minha amiga.
Enquanto ele se senta às minhas costas, me dando um pouco de
privacidade.
Confiro que ela não me mandou mais nada antes de abrir o Instagram
e me perder na rede social. Vejo duas postagens de minhas autoras favoritas
anunciando livros novos e reviro os olhos para a última foto do meu primo,
posando para alguma marca de perfumes ou algo do tipo, é estranho pensar
que o menino que tinha medo de borboletas e corria comigo no jardim de
casa hoje é Trey Jones, o quarterback[5] do New England Patriots e um dos
solteiros mais cobiçados do país.
Sorrio enquanto digito um comentário, três emojis de borboletas
azuis.
— O que você está fazendo? Esse sorriso só pode significar que está
aprontando — minha melhor amiga diz, sentando-se à minha frente.
— Não estou fazendo nada. — Pressiono os lábios para esconder o
sorriso, mas não aguento mais do que dois segundos. — Só estou
implicando com o Trey.
— Ainda não me acostumei com o fato de que vocês são parentes —
ela comenta, pegando o menu e correndo os olhos por ele, puramente por
força do hábito porque sempre escolhe a mesma coisa aqui: um caramel
macchiato e uma fatia de cheesecake de limão.
— Imagina como eu me sinto — reclamo, ela sorri e eu espelho o
movimento.
Meu coração parece bater mais aliviado só por vê-la bem, já se
passaram quase dois anos desde que tentaram lhe roubar os sorrisos,
derrubá-la, mas minha melhor amiga é uma das mulheres mais resilientes
que eu conheço.
Ela fecha o cardápio e a luz reflete em suas alianças e a memória da
cerimônia intimista que os quatro escolheram toma a minha mente, o
sorriso no rosto de cada um dos noivos quando minha melhor amiga
percorreu o caminho ao altar. E no fim da troca de votos não tinha nem
mesmo um convidado que não estivesse com lágrimas nos olhos, mas
ninguém fungava mais alto que a mãe do Raffi, a mulher era tão
extrovertida quanto o filho.
— Você já sabe o que vai querer? — Brooke pergunta, me trazendo
de volta de minhas lembranças.
— Já, o de sempre — respondo.
— É, eu também — ela comenta, estendendo o braço e chamando a
atenção da Suzan, a garçonete, que se aproxima com o bloquinho em mãos.
— Como vocês estão? Já se decidiram? — pergunta com um sorriso
caloroso no rosto.
—  Eu estou ótima — minha amiga responde e eu aperto os lábios em
um sorriso. Ótima parece um pouco demais para minha atual situação. —
Ainda tem cheesecake de limão? — Suzan se vira para checar o balcão e
volta sua atenção para nós acenando que sim com a cabeça, os cabelos azuis
balançando com o movimento. — Então vou querer um caramel macchiato,
extra caramelo e uma fatia do cheesecake.
— E você, Olivia? — Suzan pergunta sem levantar o rosto do
bloquinho onde anota o pedido de Brooke.
— Uma fatia generosa de bolo de chocolate e um chai latte com...
— Calda de chocolate branco — ela completa.
— Ei, está insinuando que eu só peço isso? — reclamo, fingindo
indignação, quando é a mais pura verdade.
— Nunca, mas é o meu trabalho antecipar as necessidades das minhas
clientes favoritas. — Ela pisca em minha direção e se vira para pegar o
pedido de Ethan, um expresso, antes de se afastar e acompanho o
movimento de seus quadris até ela desaparecer atrás do balcão.
Quando me viro para a loira, ela me observa com atenção.
— O que foi? Ela é o meu tipo. — Dou de ombros e ouço Ethan
pigarrear atrás de nós.
— Liv, não tenta me enrolar. — Ela desconsidera minha declaração
com um movimento da mão. —Como você está? — Brooke pergunta.
— Versão longa ou curta? — Ela arqueia uma sobrancelha e espera.
Suspiro ruidosamente e esfrego meu rosto. Lembrando-me no segundo
seguinte que devo ter espalhado delineador e agora devo estar fazendo um
cosplay de panda. — Merda — reclamo, pegando meu celular para checar o
estrago.
— Não borrou muito — Brooke me avisa e ela está certa, só estraguei
a ponta do gatinho, limpo o borrado com o indicador antes de lhe responder.
— Bom, como você sabe eu fui demitida, meu apartamento alagou e
tive que encontrar o governador tudo no mesmo dia — informo de uma vez,
as palavras têm gosto de vinagre ao deixar a minha boca. — E ganhei uma
sombra — adiciono, indicando com o polegar o homem sentado atrás de
mim.
— Oi, Ethan — ela o cumprimenta e ele inclina o corpo para
respondê-la com um sorriso.
— Oi, Brooke, é bom te ver.
— É verdade, Raffi disse que você tinha voltado ao trabalho...
— Sim, já estou de volta, tudo certo — ele a interrompe e volta ao seu
lugar. Ele tinha parado de trabalhar? Quando? Guardo essa informação e
todos os meus questionamentos para analisar mais tarde.
— Precisa de algo pro apê novo? — minha amiga me pergunta.
Antes que eu possa responder Suzan está de volta com nossos
pedidos.
— Aqui está, meninas, precisam de mais alguma coisa?
— Por enquanto não — Brooke responde.
— A não ser que você conheça alguma maldição para arruinar a vida
do meu ex-chefe — respondo desviando o olhar para a garçonete e
admirando o jeito como o rosto dela se ilumina com a gargalhada que não
consegue conter.
— Desculpa. — Ela cobre a boca. — Eu não estava esperando essa
resposta e sinto muito sobre seu trabalho, Olivia.
— Tudo bem, não foi você quem me demitiu.
Algum outro cliente a chama e ela se afasta.
— Você é impossível — Brooke comenta, balançando a cabeça, antes
de dar um gole em sua bebida e uma garfada em sua torta.
— Eu gosto do sorriso dela. — Dou de ombros. — Voltando a sua
pergunta: não, ele já veio todo decorado, inclusive o sofá azul Tiffany é
algo que eu estou pensando em levar comigo quando for embora.
— Eu ajudo a carregar — ela comenta.
— O que você quer dizer é que seus maridos vão carregar — eu a
corrijo e nós duas rimos.
— Mas sério. — Ela estica a mão sobre a mesa para segurar a minha.
— Sabe que se precisar de qualquer coisa é só me pedir, Liv.
Meu coração se enche de amor pela loira, nossa amizade sempre foi
fácil, nos conhecemos no primeiro ano da faculdade de Stanford, dividindo
o mesmo dormitório. Em menos de um mês éramos inseparáveis, e isso não
mudou nos anos que se seguiram.
— Não estou desesperada ainda, minhas contas desse mês já estão
todas quitadas e agora que estou morando no apartamento designado pelo
governador já não tenho essas despesas, então é menos isso. Além do mais,
devo receber pelo que trabalhei naquela semana e com as minhas
economias acredito que tenho uns dois meses antes da situação se tornar
crítica. — Dou de ombros. — Mas se você souber de alguma vaga, me
avisa. Não sei quanto tempo ainda vou aguentar ficar presa em casa.
—  Claro, vou ver com o Zach — ela deve notar a confusão
estampada no meu rosto porque acrescenta. — Um dos seguranças da sede
da Hades’ Men Corp. — A melhor empresa de segurança privada do país da
qual Brooke é sócia junto com seus maridos. — Ele deve saber se algum
dos escritórios do prédio está contratando, ou algum dos outros complexos
comerciais por perto. Deve existir algum tipo de grupo de WhatsApp entre
eles.
Dou um gole em minha bebida, o líquido doce aquecendo meu corpo
e trazendo a sensação de que tudo vai ficar bem.
— Me parece um bom plano, já atualizei o meu currículo e o mandei
para todos os escritórios que eu conheço, mas sem resposta — a frustração
transparece na minha voz e eu como um pedaço do bolo de chocolate digno
da própria Matilda[6].
— Você não quer nada fora da sua área? — Brooke pergunta e
alguma coisa em sua entonação me faz pensar que a loira já tem outro plano
se formando.
— Não quero me comprometer com algo fora da área de design de
interiores — respondo, minha mente voltando para o meu caderno de metas.
— É a minha paixão — admito.
— Eu sei, Liv, mas eu estava pensando em um emprego temporário,
só para ajudar a te manter ocupada enquanto o emprego certo não aparece.
— Ela dá um gole na sua bebida antes de continuar: — E dessa forma você
não precisaria mexer nas suas economias, ainda conseguiria juntar mais e
quem sabe realizar uma certa meta mais cedo?
Brooke Roberts conseguia me ler como um livro, ela era uma das
poucas pessoas para quem eu tinha mostrado os meus sonhos e desde então
ela faz de tudo para que eu consiga. No dia das vendas do ingresso da
Ariana Grande, ela estava ao meu lado, usando seu celular, computador e
iPad para tentar conseguir e no dia do show, estávamos juntas, gritando e
pulando.
Então ela sabia que um dos itens na lista era abrir o meu próprio
escritório de design de interiores e conseguir ter uma estabilidade financeira
para nunca precisar depender da minha herança ou família.
— O que você tem em mente? — pergunto e ela sorri radiante.
— Então, você se lembra do Tristan?
Como se fosse possível esquecer aquele deus Grego todo tatuado,
dono dos olhos cinza mais lindos que eu já vi na minha vida.
— Óbvio.
— Ele tá precisando de alguém para cobrir a licença-maternidade da
recepcionista, logo é um contrato temporário. Seth disse que eles precisam
de alguém até o fim da semana.
— Me parece uma ótima ideia, eu topo!
Trabalhar diariamente com aquele gostoso, o que pode dar errado?
 
O estúdio de tatuagem – Rebel Ink – fica praticamente ao lado da
Happy Coffee Hour, o que significa que eu preciso me cuidar para não
gastar todo o meu salário em café. O espaço é amplo e bem-iluminado, a
área de espera tem poltronas pretas e confortáveis e uma mesinha de centro
com várias revistas e portfólios. E é em uma dessas poltronas que meu
guarda-costas está agora sentado, com uma perna dobrada sobre o outro
joelho e acompanhando cada um dos meus movimentos. Consigo sentir seu
olhar sobre a minha pele, um formigamento na minha nuca, como se seus
dedos estivessem me acariciando ali.
— Esse será o seu cantinho — Narjara me orienta apontando para o
balcão branco, com um computador e algumas outras coisas. — Aqui é
onde guardamos todos os materiais que os rapazes usam diariamente. —
Indica a porta do almoxarifado e dentro dele, organizadas e etiquetadas
estão: caixas de luvas, lâminas de barbear, plástico filme e muitas outras
coisas. — Nós temos pedidos recorrentes, por isso não precisa se preocupar
muito com isso, mas é sempre bom checar no meio da semana como está o
estoque — ela me avisa.
E eu anoto no meu caderno, assim como fiz com todas as dicas que
ela me deu desde que cheguei aqui às 9 da manhã.
— Tudo tem uma planilha e é fácil de se manter organizada. — Ela
sorri.
— Você é muito eficiente.
— Eu bem que queria levar o crédito por todo o sistema, mas é tudo
coisa do Tristan, ele montou tudo e só me mostrou como usar e atualizar.
Meu olhar desvia para onde meu novo chefe está trabalhando.
Curvado sobre a perna de um cliente, completamente focado no que está
fazendo e os músculos das suas costas mexendo sob a camiseta conforme
ele se movimenta.
Ela me mostra o banheiro e a pequena cozinha antes de voltarmos
para a recepção a fim de poder me explicar o funcionamento da agenda e as
siglas usadas, também me mostra onde ficam guardados os lembretes dos
cuidados necessários com a tatuagem que cada cliente recebe depois da sua
sessão e onde temos as pomadas.
Parece um trabalho fácil, mas com muitos detalhes para serem
lembrados. O próximo passo é me mostrar as redes sociais e me dar as
senhas.
A porta se abre e um entregador de aplicativo se aproxima da
bancada:
— Olivia Jones? — ele pergunta e no segundo seguinte, Ethan está
atrás dele.
— Quem te enviou? — Hart pergunta encarando o rapaz.
— Quê? Ei, cara, eu só tô entregando o pedido. — Ele levanta a
sacola de papel pardo com a logo da Happy Coffee Hour.
— Desculpe, ele foi criado por lobos, eu sou a Olivia — interfiro,
pegando a sacola de seus dedos.  — Muito obrigada.
— Tanto faz — ele murmura e sai.
— Não pode beber isso — Ethan diz, puxando a sacola para ele.
— Claro que posso, é pra mim — respondo e Narjara nos olha
curiosa. Ela não me perguntou em nenhum momento porque ele tinha vindo
comigo nem o que ele estava fazendo, mas eu podia ver as perguntas em
seu olhar cada vez que ela o encarava.
— Não é seguro.
Tiro a sacola da sua mão enquanto ouço seus protestos. E encontro
uma nota em um post-it laranja:
“Tenha um ótimo primeiro dia! Te amo, Liv
-B”
Eu viro o bilhete pra ele.
— É da Brooke, seu surtado. — Balanço a cabeça em descrença e
pego o copo, ansiosa para sentir o gostinho do meu chai latte.
Ethan segura meu pulso, o contato da sua pele na minha fazendo uma
corrente elétrica percorrer meu braço.
— Qualquer pessoa pode ter visto vocês duas ontem, essa não é a
letra dela, você não pode simplesmente tomar algo que pode estar
envenenado — ele murmura, não querendo chamar atenção para nossa
discussão, como se isso fosse possível.
— Deve ser a letra da Suzan — rebato no mesmo tom, ainda que uma
semente de dúvida tenha sido plantada e eu agora esteja segurando o copo
mais cautelosamente. — Posso ligar pra ela?
— Senhorita Jones — seu tom é inflexivo, mas já puxei meu celular
do bolso e estou chamando a loira.
— Oi, Liv, recebeu seu presente de boa sorte? — ela me cumprimenta
alegremente.
— Sim, você só esqueceu como Hart lida com encomendas. — Ouço
minha melhor amiga grunhir do outro lado.
— Droga, ele já jogou fora?
— Não, mas só porque eu não larguei o copo ainda, tenta convencê-
lo? — peço e ele arqueia a sobrancelha.
— Tento, mas Liv, pela sua segurança tenho quase certeza de que ele
não vai deixar.
— Mas... — começo a protestar e ela me interrompe.
— Vou tentar, amiga, mas não faço promessas.
Eu entrego o aparelho ao meu segurança e encaro ansiosa o
desenrolar da conversa.
— Oi, Brooke. — Ele escuta o que ela tem a dizer e me arrependo de
não ter colocado no viva-voz. E outra, por que ela é sempre Brooke, e eu
tenho que ser senhorita Jones? Sinto uma pontada no peito, que só pode ser
irritação, mesmo quando ele era o guarda-costas dela, sempre a chamou
pelo primeiro nome. Por que eu não tenho o mesmo direito? — Mas alguém
pode ter alterado o pedido no caminho até aqui — ele rebate, sinto minhas
esperanças murcharem e já começo a me despedir mentalmente da bebida.
— É impossível garantir, você sabe disso. — E então ele faz a pergunta que
eu sei que vai fazer minha amiga desistir. — Você está disposta a arriscar a
vida dela?
Ele sorri presunçoso quando me devolve o celular.
— Ele tem razão — minha amiga me diz e eu o fuzilo com o olhar,
não me importa que ele está certo.
— A intenção é o que conta, não é? — comento, forçando um sorriso.
— A gente se fala depois.
— Vai lá, te amo.
— Também te amo.
Eu encerro a ligação e solto o copo com um suspiro, antes de me virar
para Narjara com um sorriso falso nos lábios.
— Então, sobre isso...
— Não precisa explicar se não estiver confortável, deu pra entender o
contexto. E, se a ameaça é real, ele está certo.
Franzo os lábios e aceno com a cabeça. Eles estão certos, eu sei, mas
que desperdício.
Passo o resto da manhã observando Narjara recepcionar os clientes,
confirmando seus nomes antes de Tristan os receber. Atendeu algumas
ligações, respondeu e-mails e criou um post para o Instagram. Tudo parecia
bem simples, ela me disse que o meu tempo era livre para fazer o que eu
quisesse enquanto não tivesse ninguém para atender e já estava atualizando
a minha lista mental de livros para ler.
Esse emprego parecia melhorar a cada minuto.
No início da tarde, Seth chega, vestindo uma calça de moletom preta
e uma camiseta chumbo, ele cumprimenta Ethan assim que passa por ele
antes de se aproximar da recepção.
— Boa tarde, como estão hoje? — pergunta e se inclina sobre a mesa,
puxando o iPad em sua direção e analisando sua agenda com atenção. —
Como está a pequena, Narjara?
— Tudo certo, chefe — Narjara responde e ele balança a cabeça.
— Oi, Seth, obrigada de novo pela indicação.
— Não precisa agradecer, Liv, você está nos salvando. — Ele sorri
para mim e mais uma vez penso em como minha melhor amiga é sortuda de
tê-lo como um de seus maridos. — O Alex deve estar chegando daqui a
pouco, vou conferir se preciso de alguma coisa. — Ele dá dois passos antes
de se virar. — As agulhas que eu pedi, já chegaram?
— Já estão na sua bancada — minha mentora responde.
— Valeu.
Seth começa a organizar a sua estação e Ethan caminha até ele.
Observo a interação deles com atenção, eles falam em vozes sussurradas e
não consigo entender, mas Seth se vira para mim e meneia a cabeça em
concordância com o que quer que o loiro tenha dito. Meu guarda-costas dá
as costas a um de seus chefes, “meu deus nós meio que trabalhamos para a
mesma pessoa agora”, penso, e o loiro sai do estúdio sem me dizer nada.
Eu fico encarando a porta por onde ele saiu, confusa. Ele não deixou
o meu lado em nenhum momento desde que assumiu seu posto como meu
segurança, mesmo dentro do meu apartamento ele acha motivos para estar
lá, e agora ele simplesmente foi embora.
Menos de quinze minutos depois, ele retorna e caminha com passos
determinados até a recepção, colocando um copo de café sobre a bancada.
Olho da bebida para ele e não consigo identificar o que sinto.
— Obrigada — digo e ele concorda com a cabeça.
Ethan volta para o seu lugar na área de espera e eu dou um gole na
bebida, um chai latte com chocolate branco, ele decorou meu pedido.
Olho para o homem de terno sentado, me perguntando mais uma vez
desde que ele voltou à minha vida, o que aconteceu naquela noite, por que
ele simplesmente sumiu? Eu tinha chegado à conclusão de que ele só queria
uma noite de diversão, afinal nunca tínhamos prometido nada um ao outro,
mas isso não explica o que ele falou naquela primeira noite: “Acredite em
mim, se eu não estivesse na posição de seu guarda-costas e não precisasse
ser profissional, eu ia amar repetir a nossa noite juntos, senhorita Jones.”
Também não sei o que pensar quando ele faz algo como agora. E ainda tem
o distanciamento que ele insiste em colocar entre nós quando eu me lembro
da sua amizade com Brooke, então é algo em relação a mim
especificamente.
Narjara me chama para me mostrar algo me tirando dos meus
devaneios.
 

 
A sineta na porta toca atraindo a minha atenção e meu coração
dispara quando Narjara aperta o meu ombro e diz baixinho:
— Sua vez. — Desvio meu olhar para ela que sorri. — Não se
preocupe, vou estar aqui se precisar.
A moça baixinha, curvilínea e com os braços cobertos de tatuagens,
tem os cabelos curtos e coloridos, e quando ela sorri em minha direção
covinhas aparecem em suas bochechas.
— Boa tarde — eu a cumprimento e seu sorriso se alarga.
— Ficando cada vez melhor, eu tenho uma hora marcada com o Seth
— ela comenta, indicando com a cabeça onde meu amigo termina de
arrumar sua estação de trabalho.
— Ah, claro. — Abro a agenda e vejo que o resto da tarde de Seth
está reservado para uma cliente. — Francielle? — confirmo.
— Eu mesma, mas você pode me chamar como quiser. — Ela
umedece os lábios antes de apoiar as mãos na bancada. — Eu não te
conheço.
— Eu sou nova aqui, comecei hoje, sou a Olivia.
— É um bonito nome, combina com você.
Fico um pouco perdida em como responder, mas Seth me salva
chamando-a para a cadeira e ela o segue.
— Se saiu muito bem. — Narjara ri.
— Você armou pra mim?
— Fran é uma paqueradora sem uma gota de vergonha e você é o tipo
dela, não pude resistir. — Ela desce a mão pela barriga redonda. — Não
pode brigar com grávida que faz mal pro bebê.
É nessa hora que meu chefe se aproxima em toda a sua glória com seu
cliente.
— Não acredito que você entregou a Liv de bandeja pra Fran —
repreende a Narjara, balançando a cabeça.
Minha mentora entrega a lista de cuidados para o cliente e ele sai.
— É a sua influência sobre mim — ela se defende.
— Agora tudo é culpa minha — reclama, antes de se virar para mim.
Os olhos cinza prendendo a minha atenção. — Se você ficou desconfortável
é só me avisar que eu falo com ela, a Fran é uma cliente antiga e uma
amiga, mas ela respeita os limites.
— Não tem problema, foi um elogio. — Desvio meu olhar de Tristan
para Fran, que está deitada de lado na maca enquanto Seth cola o decalque,
tenho quase certeza de que é esse o termo, em suas costelas, o desenho vai
pegar quase toda a lateral de seu corpo.
— Qualquer coisa é só me avisar. — Ele dispara abrindo um sorriso
capaz de incendiar calcinhas antes de voltar à sua mesa e começar a limpar
tudo se preparando para o seu próximo atendimento.
Fico olhando meu chefe trabalhar e todos os livros que eu li começam
a criar cenários na minha cabeça. Desvio meu olhar quando percebo que já
estou há tempo demais babando por ele e meu olhar cruza com o de Ethan
que me observa com o queixo apoiado na mão. Porra, onde foi que eu me
enfiei?
 
 
É o primeiro dia de trabalho de Olivia e tirando o incidente com o
entregador, ele parece correr sem problemas. Ela anota todas as
informações que a recepcionista passa e já até atendeu a sua primeira
cliente.
Porém conforme a tarde progride, cada vez que seu olhar cruza com o
meu ela parece mais chateada.
— Você está se sentindo bem? — pergunto quando Narjara vai ao
banheiro deixando-a sozinha.
Ela me olha com uma sobrancelha arqueada.
— Por que não estaria? — responde, voltando sua atenção para o
computador e digitando algo.
— Não sei, parece que tem algo te incomodando.
— E tem — concorda, se vira para mim e seus olhos azuis estão tão
frios que são dignos do iceberg do Titanic. —Você.
Eu? Ela só pode estar brincando. Eu passei as últimas quatro horas
sentado sem dizer uma única palavra.
Antes que eu possa perguntar, no entanto, a jovem que estava sendo
atendida pelo Tristan se aproxima da bancada com um sorriso no rosto e
Olivia se vira para ela com uma expressão amável que não estava ali antes.
— Ficou como você queria? — pergunta, a jovem sorri e levanta a
camiseta expondo as costelas onde intrincados desenhos se complementam.
— Melhor do que eu esperava.
— É um prazer ouvir isso — Tristan comenta. — Lembra o que eu te
falei, tem que manter coberta principalmente quando estiver dormindo,
porque pode acabar coçando sem querer.
Ela bate uma continência.
— Pode deixar, vou cuidar dela direitinho — ela responde baixando a
blusa.
— Ei, pera, é o pomo de ouro? — Olivia pergunta contornando a
bancada, curiosa e a jovem sorri ainda mais.
— É sim, Tristan mesclou elementos de todos os meus livros
favoritos. — Ela mostra a tatuagem de novo e Olivia começa a enumerar os
livros claramente impressionada.
— Esse é o meu favorito — ela comenta. — Você tem um ótimo
gosto, o que tem lido recentemente?
— Eu terminei ontem um sobre vampiros e uma ilha mística com
todo tipo de criaturas.
— Eu adoro esse, preciso convencer as meninas do meu clube do
livro para lermos uma fantasia logo. Tô com saudades — Liv confessa e
volta para o computador.
— O meu só lê fantasia, é raro escolhermos outro gênero — a cliente
responde pegando a carteira.
Eu retomo a minha posição e desisto de entender o que eu fiz para
deixar Olivia chateada hoje, já que aparentemente, para ela, tudo que eu
faço a incomoda. São dois trabalhos que ela vai ter, porque eu não irei a
lado algum. Desvio a minha atenção para meu chefe que está há umas três
horas tatuando a mesma mulher, Francielle, que flertou descaradamente
com Olivia, não que a morena tenha parecido desconfortável com isso.
Narjara, Olivia e Tristan continuam conversando tranquilamente
quando a cliente vai embora. A postura da morena é completamente
relaxada. Seu novo chefe se apoia com os cotovelos na bancada
evidenciando os músculos de seus braços cobertos por tatuagens. Nós já
tínhamos nos conhecido quando acompanhei Brooke há alguns anos e ele
continua tão atraente quanto da última vez que nos vimos, até porque seus
olhos têm uma tonalidade marcante.
Ele retorna para sua área de trabalho e antes de voltar a trabalhar
Olivia lança um olhar gélido na minha direção e eu suprimo a vontade de
revirar os olhos em resposta.
Pouco tempo depois, a cliente de Seth deixa o estúdio satisfeita e eles
se ocupam de preparar tudo para o dia seguinte, enquanto Narjara explica os
procedimentos de fim do expediente para a morena que, mais uma vez,
anota tudo. Sua dedicação é impressionante, mesmo que esse seja só um
trabalho temporário, Olivia parece determinada a dar o seu melhor.
A mentora de Liv é a primeira a ir embora.
— Até amanhã, Ethan — ela se despede ao passar por mim com
passos lentos.
— Até.
Olivia se aproxima, com a bolsa sobre o ombro e se vira para se
despedir dos seus patrões e eu faço o mesmo.
— Cuidem-se — Tristan responde.
— É o meu trabalho — afirmo e ele ri ao passo que Olivia rola os
olhos.
Durante todo o trajeto a morena se mantém calada e sua irritação
parece crescer dentro do carro o que só piora quando chegamos ao elevador
e eu não consigo mais me conter.
Toco o seu braço sentindo a eletricidade costumeira atravessar meu
corpo.
— O que aconteceu?
— Nada — ela responde, mas seus dedos começam a tamborilar na
tela do celular.
— Se não me disser o que eu fiz não posso me esforçar para evitar
chateá-la outra vez, senhorita Jones — digo e Olivia se vira para mim. Sua
respiração se acelerando ao me olhar com raiva.
— Não é nada de novo, Hart — ela quase cospe meu sobrenome de
novo. Dando um passo em minha direção com o dedo apontado para o meu
peito outra vez. — É só que seu comportamento é impossível de decifrar,
uma hora você está me afastando e na outra me trazendo café, você diz que
me quer, mas fica mantendo uma distância entre nós e eu simplesmente não
consigo acompanhar todas as suas mudanças de humor.
Abro a boca para responder, mas ela balança a cabeça em negativa,
deixando a mão cair ao lado do corpo e se virando de volta para a frente.
— Não sei por que eu ainda me importo, não é mesmo? — murmura
mais para si mesma do que como se ainda estivesse falando comigo. — 
Você já deixou claro mais de uma vez que eu não passo de um trabalho. —
A mágoa em sua voz é que me faz agir.
Eu dou um passo entrando no espaço pessoal dela, seu perfume doce
atacando os meus sentidos e ela recua. Será que ela não consegue ver o
quanto me afeta? O quanto eu gostaria de poder sentir o seu gosto outra
vez?
— Eu sou obrigado a manter uma distância entre nós — digo e me
aproximo, me contradizendo. É esse o efeito que ela tem sobre mim, me
confundindo e se eu não for cauteloso, eu acabarei sucumbindo aos meus
desejos. Olivia precisa entender. Ela recua outra vez e suas costas tocam a
parede do elevador. — Eu não posso usar o seu nome, senhorita Jones. —
Ela desvia o olhar e eu seguro seu queixo virando-a de volta para mim. —
Porque eu e você sabemos quando foi a última vez que eu o usei e porque
se eu não tomar cuidado, se eu baixar a minha guarda é a sua vida na linha. 
“E eu não posso arriscar te perder também.” Completo mentalmente
e sei que estou mais fodido do que eu já imaginava.
Merda. Fecho os olhos tentando me controlar, me relembrando tudo
que está em jogo, suspiro. Antes de voltar a encarar seu rosto delicado com
as bochechas rosadas.
— Eu me lembro com exatidão a sensação da sua pele contra a
minha, a maciez dos teus lábios e o seu gosto delicioso — confesso. Meu
polegar acariciando a pele macia do seu rosto. — Mas eu estou trabalhando
e a sua segurança tem que ser a minha prioridade.
Olivia engole em seco e sua língua umedece os lábios, meu olhar
segue o movimento como se ela fosse um ímã e eu não passasse de um
pedaço de ferro atraído por ela.
Inclino-me em sua direção, seu olhar preso ao meu, ela morde o lábio
inferior e eu consigo sentir seu hálito quente em minha pele. A mão que
estava em seu queixo, desliza para segurar a lateral de seu pescoço, o
polegar acariciando sua bochecha. O ar ao nosso redor se torna carregado.
As portas do elevador se abrem e é como se eu tivesse levado um
banho de água fria, eu me afasto rapidamente, Olivia se endireita e passa
por mim sem dizer uma palavra.
Eu a sigo pelo corredor e ela erra a chave algumas vezes antes de
conseguir abrir o seu apartamento.
— Boa noite, senhorita Jones.
Consigo ver a confusão em seu rosto se transformar em raiva antes de
bater a porta na minha cara. Dessa vez, eu mereci.
Viro-me e entro em meu próprio apartamento. Jack, meu parceiro,
está sentado no sofá vendo algum programa em uma das telas ao mesmo
tempo que com a outra ele monitora o corredor e a porta da morena.
— É com você, agora — falo, dando um tapinha em seu ombro. —
Eu vou sair.
Entro no meu quarto e troco o terno por uma calça jeans e camiseta.
— Tá tudo bem, cara? — Jack pergunta se levantando. — Tem algo a
ver com o que for que aconteceu entre vocês ainda agora?
Ótimo, ele tinha visto. É claro, é o trabalho dele.
— Tudo certo. Só preciso pegar um ar fresco — digo e ele assente,
dando de ombros e voltando ao seu lugar antes de desligar o seu programa
de TV.
Ele abre uma latinha de energético e me saúda.
— Até mais tarde, então.
— Até.
Saio do prédio, e o ar frio do início da noite ajuda a clarear meus
pensamentos. Olho para os céus em um pedido de ajuda enquanto penso em
como quase coloquei tudo a perder.
A imagem de Olivia quando nos afastamos toma a minha mente e
sinto a maciez de sua pele sob meus dedos outra vez.
Puta que pariu.
É isso, eu tô fodido.
O letreiro do The Barrel chama a minha atenção e sorrio ao notar que
mesmo sem decidir um destino, acabei vindo para um dos meus bares
favoritos.
Entro e peço uma cerveja a um dos bartenders.
O líquido gelado começa a relaxar meus músculos e eu sei que é
efeito do álcool. Mas minha cabeça ainda parece ferver com tudo que
acabou de acontecer.
— Oi, Ethan.
 
Os cabelos loiros curtos, as costas e ombros largos envoltos pela
camiseta branca, me fazem sorrir ao me lembrar da vez em que ele esteve na
minha cama.
— Oi, Ethan — chamo sua atenção e ele se vira. Seus olhos azuis
intensos me encarando surpresos ao passo que seus dedos tamborilam sobre
o balcão e seu joelho se move no mesmo ritmo, tudo nele irradia ansiedade.
— Tudo bem?
— É… — ele hesita. — Poderia estar melhor.
Interessante. Será que isso é uma indireta? Eu me endireito no meu
assento e apoio meu cotovelo no balcão.
— Você parecia bem mais cedo, aconteceu alguma coisa?
Ethan passa a mão no rosto, esfrega os cabelos curtos e termina o copo
de cerveja antes de me responder. 
— Como você sabe eu sou o guarda-costas da Olivia. — Assinto, Seth
tinha me informado, até porque eu estava contratando apenas uma nova
recepcionista e ela viria acompanhada.
— Eu estou falhando em ver o problema, passar os seus dias
acompanhado de uma mulher gostosa, inteligente e divertida, deve ser
mesmo um sacrifício. — Seguro seu ombro e faço uma cara de falsa
compaixão. — Força, guerreiro!
— Cala a boca, essa não é a parte difícil. Ela é tudo isso e ainda é
generosa, dedicada e completamente obstinada em transformar a minha vida
num inferno — ele confessa.
— E se vocês se pegarem? — pergunto, a imagem dos dois juntos
atiçando minha imaginação e mandando uma mensagem para o meu pau.
A risada seca de Ethan me tira das minhas fantasias.
— O quê?  — pergunto, dando de ombros. — Resolve vários
problemas.
— Acho que nosso problema começou assim.
Peraí, será que é indelicado eu pedir detalhes? Só pra eu poder
imaginar com precisão.
— Agora, você me perdeu, se vocês já se pegaram e você é a fim dela,
qual o problema?
— Eu sou seu guarda-costas — responde como se fosse óbvio.
— E tem alguma regra na empresa do Seth que eles vão cortar seu pau
se você o enfiar nos clientes? — pergunto confuso com essa conversa.
— Nem tudo pode se resolver com sexo, Tristan.
Eu arqueio a sobrancelha diante da sua declaração.
— Depende de quão bem você sabe foder — respondo.
É a sua vez de me encarar com a sobrancelha arqueada e um sorriso de
canto.
— Isso é um desafio? — pergunta e fico tentado a provocá-lo ainda
mais, minha mente trazendo à tona a memória de seus lábios grossos
envolvendo meu pau. — Deprimente — ele anuncia, indicando com a
cabeça dois caras jogando sinuca.
— Vamos mostrar a eles como se faz? — pergunto, tocando seu
joelho.
Ele ri e se levanta.
— Podemos jogar com vocês? — Ethan pergunta quando nos
aproximamos, os dois concordam rapidamente e escolhemos nossos tacos
enquanto terminam a partida ridícula e depois eles preparam a mesa.
— Vocês primeiro — um deles anuncia.
Ethan se curva sobre a mesa e levanta o olhar para mim. E puta merda,
depois de ter passado o dia sendo metralhado pelos olhos azuis de Olivia e
ser obrigado a me controlar, pois sem conhecê-la direito poderia acabar
achando que eu a estava assediando, ter sua atenção sobre mim é um
bálsamo.
Não me concentro muito no jogo, focado demais em acompanhar a
forma como os músculos de Ethan se movem sob a camiseta. Em algum
momento, ele passa a vez e se apoia na mesa, virado para mim.
Não sei quanto tempo passamos ali, apenas olhando um para o outro
até que um dos caras com quem estamos jogando limpa a garganta,
chamando nossa atenção.
— É a vez de vocês.
— Desculpe, achei que demoraria mais — comento, em tom de
provocação fazendo com que Ethan sorria e balance a cabeça.
Posiciono-me para acertar meu alvo e viro a minha cabeça levemente,
apenas o suficiente para notar onde exatamente está a atenção de Ethan.
— Apreciando a vista? — pergunto antes de empinar um pouco mais a
bunda em sua direção e jogar.
— É uma visão e tanto — responde e dá um gole em sua cerveja.
Acerto uma das bolas e ao contornar a mesa para a minha próxima
jogada, esbarro nele propositalmente. Quando volto a me posicionar noto os
olhares consternados de nossa oposição. As perguntas em suas expressões
são claras me fazendo rir e errar meu alvo.
— Tá distraído, T? — Ethan provoca.
— Nos seus sonhos — respondo, empurrando meu ombro contra o
dele.
Ele me olha de canto e murmura:
— Nos meus você tá sempre concentrado e com a boca ocupada.
Sem me dar chance de responder ele se vira e joga, eliminando bola
atrás de bola fazendo parecer fácil. Ele erra a última ao acertá-la com mais
força do que seria necessário.
— Às vezes, com jeito é melhor do que com força — comento.
— Eu discordo, com força é sempre melhor — ele declara e arqueia a
sobrancelha.
Vejo pelo canto do olho um dos rapazes cutucar o outro e indicar nossa
interação. Reviro os olhos e eles erram a sua vez. Miro em nossa última bola
e pisco para Ethan antes de acertá-la.
— Bom jogo, rapazes — digo, me levantando. — Outra cerveja, Hart?
— ofereço.
— Claro, mas antes preciso lavar minhas mãos.
— Se importa se eu te acompanhar? — pergunto, agradecendo por
estarmos indo a um lugar mais reservado. Pois ainda existe uma chance de
ser rejeitado e prefiro guardar isso para mim. — Também estou com as mãos
sujas de giz.
Mostro minhas palmas e indico com a cabeça a direção dos banheiros,
já que não sei se ele já veio ao The Barrel antes. 
— Sem problema algum — responde e segue por onde eu indiquei. 
Enquanto lavamos nossas mãos, começo a pensar em como dar o
próximo passo. Seria uma merda ter que vê-lo todos os dias pelo futuro
próximo sabendo que fui rejeitado, mas quando seu olhar encontra o meu no
espelho, noto seu pomo de adão engolir em seco e a forma como seus lábios
se abrem ligeiramente e é como dizem, o não eu já tenho. 
— Olha, não sei se... — começo e me viro, apoiando minha cintura
contra a pia e o encarando. — Você está... — hesito. 
Ethan se volta para mim, a postura relaxada me acalma, se eu o
estivesse ofendendo sua resposta seria diferente. Ele dá um passo na minha
direção, se aproximando com um sorriso no rosto.
— Use suas palavras, campeão — ele me provoca e a forma como me
olha faz parecer que ele consegue ler meus pensamentos. — O que você
quer?
Umedeço os lábios com a minha língua, mantendo o contato visual.
Ele queria que eu fosse direto? Eu seria!
— Você.
Minha atenção está voltada para o seu rosto, absorvendo cada uma de
suas expressões e o sorriso satisfeito que ele abre, é toda a resposta que eu
preciso. 
Por isso, me aproximo dele, excluindo o pouco de espaço que existia
entre nós, e sem hesitar, empurro seu corpo contra a parede, louco para
finalmente sentir sua boca na minha.
Sua barba curta arranha a minha, mas seus lábios são macios contra os
meus. Ethan invade minha boca com sua língua e sinto o gosto da cerveja
que ele tinha bebido misturando-se em minha boca. Uma de suas mãos
agarra minha nuca, me puxando ainda mais contra ele ao mesmo tempo que
seus dedos se enroscam nos meus cabelos, puxando-os levemente. 
Enquanto isso a minha mão desce por seu corpo, acariciando os
músculos definidos pelo caminho, até alcançar o cós da sua calça. Espero
por sua reação, mas quando ele não me impede aceito como um incentivo
para continuar. Espalmo minha mão contra seu pau que começa a endurecer,
massageio sua ereção e sinto seu gemido contra a minha boca. 
— Se você não me pedir para eu parar agora, só vou parar quando
você gozar na minha boca.
— Isso nem passou pela minha cabeça. Até onde vi, foi você quem
parou pra conversar — ele rebate e puta merda só de ouvir a sua voz ainda
mais grossa que o normal sinto meu próprio pau endurecer. Ethan me
empurra para um dos reservados, sem rodeios, fechando a porta atrás de nós,
já levando as mãos ao botão da calça.
Me ajoelho e afasto suas mãos, me encarregando de abrir seu zíper e
puxar sua calça para baixo. O volume na sua cueca boxer faz minha boca
salivar.  Não perco tempo e retiro a última peça que nos separa, seu pau
grosso e com veias cobrindo a extensão preenche a minha visão.
— Porra! — Ethan geme quando seguro a base de sua ereção.
Meu olhar busca o dele, e sua mão não demora para voltar aos meus
cabelos, me guiando em direção ao seu pau. 
Lambo a sua glande devagar, sem perder o momento em que seu
maxilar se contraía com a visão privilegiada que tinha ali de cima.
Sem desviar os olhos da imensidão azul que me fita com atenção,
envolvo a cabeça de seu pau com a minha boca, sugando sem muita pressa,
começando a levá-lo para o fundo da minha garganta.
— Não precisa ir devagar. Lembra o que eu falei sobre força? —
Ethan pergunta, estocando seu pau na minha boca.
Puta que pariu, esse homem.
Como não obedeço de imediato, Ethan decide começar a mover minha
cabeça um pouco mais rápido deixando claro o que queria, e eu não perco
mais tempo, ignorando a minha cabeça que quer racionalizar cada momento
e deixo apenas o instinto me guiar. Alterno entre chupadas e lambidas,
abocanhando seu pau até atingir o fundo da minha garganta, antes de retirá-
lo com um estalo e bater com ele na minha bochecha.
— Porra, que delícia, T.
Minha mão começa a bater uma punheta pra ele enquanto desço com
minha língua para as suas bolas, lambendo-as.
— Não para… — geme, se apoiando na divisória.
Sinto seu pau latejar e seus dedos puxarem os meus cabelos com mais
força. Quando meu olhar encontra o seu ele avisa:
— Vou gozar.
Apoio-me nos meus calcanhares antes de abrir a minha boca.
— Estou pronto. — Ponho a minha língua pra fora e o grunhido que
sai de Ethan é quase animal. 
Ele enfia o pau na minha garganta de uma só vez, se esvaziando dentro
de mim. Assim que ele termina de gozar, me puxa pelo colarinho, colando
sua boca na minha e me beijando vorazmente. E tenho certeza de que ele
pode sentir seu próprio gosto em minha língua enquanto me devora.
— Isso foi muito bom…
Suas mãos descem pelo corpo, esfregando meu pau duro contra sua
palma. Ele morde meu lábio inferior, sugando-o para a sua boca antes de o
soltar.
— Minha vez — anuncia, abrindo o botão da minha calça.
A porta da entrada do banheiro se abre e um grupo de caras entra
falando alto, nos lembrando exatamente de onde estamos.
Inclino meu rosto para sussurrar em seu ouvido:
— Tem gente vindo.
— Eu ouvi — diz, mas se ajoelha, seus dedos abrindo a minha calça
com agilidade. — Seu punho envolve meu pau deslizando para cima e para
baixo, enquanto um sorriso se forma em seus lábios e eu mordo o meu para
segurar o gemido e não sermos descobertos. — Meu treinamento me permite
ser silencioso quando eu quero.
Se o céu não for assim, eu vou ter algumas reclamações.
 
Depois de ter me deixado no meu apartamento com nada além de um
maldito “boa noite, senhorita Jones”, Ethan não voltou a mencionar nossa
conversa no elevador, enquanto eu fiquei repassando a noite inteira como a
sua proximidade transformou meus joelhos em gelatina. No dia seguinte,
ele me esperou com um sorriso e me acompanhou até o trabalho como se
nada tivesse acontecido.
O que, é claro, só serviu para me irritar profundamente.
— Bom dia, Tristan — cumprimento ao entrar no estúdio, meu patrão
se vira com um sorriso deslumbrante e se apoia na bancada da recepção. A
camiseta cinza-escura parece combinar perfeitamente com as tatuagens que
cobrem os seus braços fortes.
— Bom dia, Liv, tudo bem? — Seu olhar se desvia para o homem às
minhas costas. — Ethan, noite foi boa?
Meu guarda-costas pigarreia antes de responder.
— Terminou melhor do que eu esperava. E a sua?
Ele estava se referindo ao nosso momento no elevador? Giro meu
corpo para tentar ler sua expressão, mas seu rosto não entrega nada.
— Tão boa que já quero repetir.
— Esse é o melhor tipo — Ethan responde e se acomoda em uma das
poltronas enquanto eu me aproximo do meu chefe.
— Espero que você esteja pronta para trabalhar algumas horas
sozinha, Narjara tem uma consulta agora pela manhã — Tristan me
informa.
— Acho que sim — confirmo.
— Se precisar de ajuda com alguma coisa. — Ele pisca em minha
direção. — É só me chamar.
A manhã corre sem incidentes, Tristan tem três atendimentos, eu
respondo algumas DMs e filmo um stories dele trabalhando, algo que eu
tinha notado que Narjara não costumava fazer, mas que achava que poderia
ajudar o estúdio a crescer ainda mais.
Meu celular vibra com uma notificação e sorrio ao ver que são as
meninas da Sociedade dos Viradores de Páginas.
Camila: Todas confirmadas para hoje?
Bruna: Você sabe que eu não perco um encontro
nem se estiver morrendo.
Alice: Estou terminando o livro agora, por favor,
não me matem, essa semana na faculdade foi um
inferno.
Hope: Já estou fazendo os cupcakes inspirados no
livro.
Sinto minha boca salivar com a mensagem de Hope, seus doces eram
sempre uma perdição, o que era de se esperar considerando que ela era a
dona de uma confeitaria.
Olivia: Eu vou, mas tenho que avisar que terei que
ir acompanhada.
Camila: Como assim?
Bruna: Tá grávida?
Hope: Quem?
Alice: Brooke?
Olivia: É uma longa história, eu explico mais tarde.
Mas não posso me livrar da minha sombra,
infelizmente.
Levanto os olhos para a sombra em questão, encontrando sua atenção
sobre meu chefe antes de desviá-la para mim, como se sentisse meu olhar
sobre ele.
Instantaneamente, estou de volta ao elevador, sentindo o calor do seu
corpo tão próximo do meu, suas palavras ecoam em minha memória me
fazendo suspirar.
As meninas já me responderam com inúmeros questionamentos, mas
meu próximo cliente acaba de entrar por isso digito uma mensagem rápida
de “conto depois” e coloco um sorriso no rosto para atendê-lo.
Mais tarde, enquanto gravo outro stories do estúdio, focando na logo
pintada na parede, percebo que o rolo de papel-toalha na estação de trabalho
de Tristan está quase no fim e ele está no meio de uma tatuagem.
Sigo para o almoxarifado e me arrependo de ter usado tênis para o
trabalho ao invés dos meus sapatos de salto alto, pois aqueles centímetros a
mais realmente iriam ser úteis para que eu conseguisse alcançar a prateleira
mais alta sem dificuldade. Estico-me na ponta dos pés e meus dedos
resvalam contra o rolo de papel, mas ele afunda na prateleira ao invés de
cair e me ajudar.
— De quem foi a brilhante ideia de colocar um dos itens mais usados
tão alto? — reclamo, me apoiando na estante metálica e tentando
novamente.
Sinto um corpo se colar ao meu, um braço tatuado cobre a minha pele
e alcança sem esforço o rolo de papel.
— Eu receio que a culpa seja minha — Tristan responde e eu giro
meu corpo para me explicar.
Mas a sua proximidade e a intensidade de seu olhar sobre mim,
roubam-me as palavras.
Os lábios de Tristan se curvam em um sorriso malicioso, seus olhos
cinza passeiam pelo meu rosto até focarem em meus lábios e ele passa a
língua pelos próprios atraindo a minha atenção para o movimento.
Seu calor parece emanar para a minha pele, fazendo a minha mente
comparar o agora com o ontem em que eu estive em uma situação
semelhante, mas o homem que mexia com meus sentidos era outro. 
— Só vou te perdoar porque você é o chefe. — Dou de ombros.
— Só por isso? — ele pergunta, seu rosto se inclinando em minha
direção. — E eu achando que era porque eu sou bonito e cheiroso.
— Isso também conta — respondo, eu estou mesmo flertando com o
meu chefe no almoxarifado?
Foi ele quem começou, me defendo mentalmente.
— Bom saber, adoraria ficar conversando, mas acredito que o Leo já
deve estar se perguntando onde estou.
Tristan se vira, sai do almoxarifado e eu fico ali, parada, olhando para
o espaço por onde ele passou tentando entender o que acabou de acontecer.
Quando finalmente consigo sair, encontro Ethan me observando com um
olhar curioso.
 

 
— Você precisa mesmo entrar? — pergunto uma última vez. Afinal,
esperança é a última que morre.
— Sabe que sim, o meu dever é protegê-la, senhorita Jones — Ethan
me responde, seu olhar encontrando o meu no retrovisor.
— Não é como se tivesse um atirador no meio da sala da Camila —
protesto.
— Você pode garantir com absoluta certeza? — Ethan rebate,
impassível. Estacionando o carro em frente ao prédio da minha amiga.
— Claro, eu tenho 95% de certeza que nenhuma das minhas amigas
está pensando em me matar — afirmo, antes de acrescentar. — Pelo menos
não literalmente.
— E são por causa dos outros cinco por cento que devo acompanhá-la
— ele diz. — Prometo não ficar em cima de vocês, só vou fazer a varredura
do apartamento e depois posso ficar no cômodo ao lado, desde que você
fique na minha linha de visão.
Como que é suposto discutirmos as cenas de sexo do livro como
sempre fazemos sabendo que ele está ouvindo tudo? Fora que eu tenho
certeza de que as minhas amigas não me deixarão em paz assim que
puserem os olhos nele.
Eu sei bem o quão difícil é para mim manter o meu olhar afastado.
— É que é bem invasivo ter a presença de um desconhecido.
— Você pode sempre cancelar e voltamos para casa. — É a solução
mágica que meu guarda-costas propõe, me fazendo revirar os olhos.
— Você é insuportável. — Checo as horas no meu celular e noto que
já estamos atrasados. Ótimo. — Se não tem outro jeito — comento, notando
o sorriso de canto que se forma no rosto de Ethan.
Ele contorna o carro e se junta a mim, enquanto andamos até a
portaria do prédio.
— Oi, Pedro — cumprimento ao passar pelo senhor de meia idade
que trabalha ali desde que conheci Camila há alguns anos.
— Boa tarde, Liv, como está? — Seu olhar desvia para o homem atrás
de mim.
— Atrasada. — Sorrio e sigo para os elevadores.
— É verdade, todas já chegaram — ele comenta. — Até mesmo a
Hope. — Ele ri.
Perfeito, então eu consegui chegar depois da minha amiga que era
conhecida por sempre chegar por último.
Eu e Ethan entramos no elevador e antes que eu possa pressionar o
botão do número três, ele o faz. Viro meu rosto para ele surpresa, não me
lembro de ter lhe dito em qual andar Camila mora.
— Como você sabia?
— Faz parte do meu trabalho conhecer as pessoas com que você
convive — Ethan responde condescendente.
— Você checou as minhas amizades?
— Sim — responde, meneando a cabeça. — Eu sei que você não
acredita na ameaça feita ao seu pai, mas na minha experiência, ela pode vir
dos lugares mais inesperados.
Mordo meu lábio, porque ele está certo, de novo.
— Você não poderia ter se vestido mais casualmente?
— O que tem de errado com o meu terno? — ele pergunta, olhando
para suas roupas.
E a verdade é que não tem nada de errado, mas ele conseguia ficar
mais gostoso quando estava de terno e eu não queria as meninas babando
ainda mais nele. Mas eu não diria isso a ele.
— Nada, você só parece um garçom. — Um garçom extremamente
gostoso. Dou de ombros e saio quando a porta se abre, mas sua mão segura
meu cotovelo e ele passa por mim, me posicionando às suas costas.
— Acredite, minha vida seria muito mais fácil se eu estivesse
servindo bebidas — murmura.
Ethan segue para o apartamento de minha amiga, sem confirmar
comigo o número, ele tinha realmente pesquisado sobre todas elas.
Ele toca a campainha e aguarda.
— Eu vou precisar explicar a situação antes de você sair andando
pelo apartamento dela.
— Enquanto você explica, eu confiro o espaço, é mais eficiente.
Reviro os olhos no instante em que a porta se abre.
Os olhos de minha amiga se arregalam ao notar meu guarda-costas
que a cumprimenta com um menear da cabeça, as expressões das outras três
mulheres são praticamente espelhos da nossa anfitriã.
— Podem entrar — Camila diz com a voz trêmula.
Ethan aceita o convite rapidamente e passa por todas elas, seguindo
para dentro do apartamento como se conhecesse a planta de cor e agora que
eu sei que ele investigou todas as integrantes do meu clube do livro, essa
possibilidade me parecia inteiramente plausível.
— Quem é ele?
— O que ele está fazendo?
— Socorro, Deusa, de onde ele surgiu?
— O que tá acontecendo?
Todas perguntam ao mesmo tempo e nem consigo identificar quem
perguntou o quê.
— Ele é Ethan Hart, meu guarda-costas. No momento, ele está
confirmando que o apartamento está seguro. Como ele surgiu é uma história
complicada e eu preferia não falar sobre isso. — Afinal, isso significaria
revelar que o governador do estado é o meu pai.
— Que gostoso — Bruna comenta, esticando o pescoço para tentar
encontrá-lo.
— Você está vivendo o seu próprio romance com segurança — Alice
adiciona, batendo palmas ao se sentar no sofá e fazendo com que seus
cachos loiros balancem com o movimento.
— Não exagere. — Reviro os olhos, me acomodando ao seu lado. —
Não existe romance algum.
— Ele está morando com você? — Camila pergunta num sussurro.
— Ai, meu deus, o trope do só tem uma cama é o meu favorito —
Hope declara com os olhos verdes brilhando.
— Ele tem a própria cama. E o próprio apartamento, graças a deusa.
Ethan aparece no corredor nesse instante e sinto minhas bochechas
aquecerem.
— Tudo certo, senhorita Jones. Eu vou esperá-la na cozinha — ele me
informa.
— Senhorita Jones, eu acho que vou derreter — Bruna diz, cobrindo a
boca com a mão.
— Gente, dá pra sentir a tensão da proximidade forçada daqui —
Hope fala assim que ele se afasta.
— E o jeito que ele olha pra Liv? — Camila pergunta em tom de
conspiração e todas concordam.
— Chega, vamos ao que interessa — interrompo-as antes que entrem
em uma espiral de teorias e a busca infindável por um romance igual aos
que lemos em qualquer oportunidade. E acabem me fazendo acreditar que
possa existir algo entre Ethan e eu, mesmo que ele já tenha deixado claro
que isso não está no nosso futuro. — Quem quer Victoria Thompson como
sua melhor amiga?
 
 
— Outro cacto? — Tristan pergunta pra Liv ao se sentar no braço da
minha poltrona, encarando o vaso azul que adorna a mesa de centro da área
de espera.
— É uma suculenta — a morena rebate apoiando os punhos na
cintura.
— É a quinta planta essa semana — ele reclama, movendo os braços
para englobar o estúdio.
— E está muito melhor, você não acha? — Olivia dá de ombros,
arrumando o vaso de tulipas que enfeita a bancada da recepção.
— Duas semanas! — Tristan exclama. — Você só está aqui há duas
semanas e já tá mudando tudo. — Ele se vira para mim. — Você não acha
que isso já foi longe demais?
— Eu não vou me meter nisso. Você. — Eu aponto para o peito dele.
— É o responsável por isso, ela pediu permissão e se me lembro bem suas
palavras exatas foram: claro, faça o que você achar melhor, linda —
debocho.
— Eu não imaginava que ela iria transformar o meu estúdio em uma
floricultura — responde exasperado, mas eu noto o divertimento em seu
olhar e ele pisca em minha direção de forma que Olivia não veja.
— Parece um problema seu.
— Eu fiz um juramento quando me formei de que se eu visse um
ambiente que precisava melhorar a decoração, eu o faria.
Ela fala isso com tanta convicção que não consigo segurar a risada,
mas quando seu olhar mortal se desvia em minha direção eu a disfarço com
uma tosse.
— Você não deveria ser o segurança? — ele me questiona,
empurrando meu ombro, seu toque queimando a minha pele e me
lembrando da nossa noite juntos semanas atrás.
— E eu sou, dela. Meu trabalho não é te proteger de um vaso de
plantas.
Ele revira os olhos enquanto Olivia cruza os braços sobre o peito e o
encara com uma expressão vitoriosa.
A sineta na porta toca quando uma cliente entra, meus olhos
percorrem o seu corpo, procurando por uma ameaça, mas nada parece estar
oculto pela camiseta verde e leggings. Acompanho conforme ela se
aproxima da recepção.
— Nossa, eu adorei as flores — ela comenta e se vira para olhar em
volta. — E a Jiboia ficou perfeita — elogia, apontando para o vaso
pendurado na parede oposta com as folhas verdes caindo para fora e
formando uma espécie de cachoeira vegetal.
— Alana, por favor, não a encoraje — Tristan provoca, se
aproximando. — Ela quer transformar o meu estúdio em uma floresta.
— Eu apoio. — Ela pisca para Liv. — Trouxe mais vida pra cá e
harmonizou bem com as ilustrações na parede.
— Obrigada. — Olivia sorri e olha para seu chefe gostoso. — Viu?
Ele dá de ombros e acompanha Alana até a sua estação de trabalho.
 
 
— Um latte de caramelo — Suzan confirma o pedido da morena e se
volta para mim. — Ethan, vai querer um café hoje?
— Não, obrigado — respondo, como todos os dias. — Já estou indo
para casa e vou jantar.
— Ele é esquisito mesmo, Suzan, não dá bola — Olivia comenta com
um movimento displicente da mão. — Como se tomar um café fosse tirar o
apetite de alguém.
— As versões extremamente doces que você toma, sim — rebato e
ela revira os olhos enquanto Suzan só ri e se afasta para preparar a bebida.
— Mas sério, qual o seu problema com café? — Liv pergunta me
encarando.
— Nenhum, eu tomo um de manhã antes de sairmos, eu só não tomo
o dia inteiro, prefiro água.
— Água? — ela repete com cara de nojo.
— É, aquele líquido transparente que faz muito bem pro seu
organismo.
— Café é feito com água. — Reviro os olhos e ela se vira para pegar
seu pedido.
Meu olhar inspeciona os clientes da cafeteria mais uma vez, até que
um reflexo no telhado de um prédio do outro lado da rua chama a minha
atenção. Continuo olhando atentamente para identificar se foi uma ilusão de
ótica ou outra coisa, meu coração acelerando com a adrenalina que bombeia
instantaneamente em minhas veias.
Quando Olivia passa por mim em direção à saída e o reflexo na
vitrine a segue, meus instintos assumem o controle.
— Pro chão! — grito, avisando aos outros clientes que se protejam
enquanto cubro o corpo de Olívia com o meu, derrubando-a no processo.
O som da vitrine se estilhaçando preenche os meus ouvidos, deixando
um zumbido neles à medida que o som do tiro reverbera pelo espaço.
Agarro sua cintura com uma das mãos e uso meus joelhos e o outro braço
para arrastá-la até estarmos escondidos atrás de uma das cabines quando
outro tiro atinge o local onde estávamos segundos antes.
A respiração de Liv sai em lufadas rápidas, seu corpo tremendo
contra mim, um soluço irrompe de seus lábios.
— Está ferida? — pergunto quando a viro para mim.
Ela nega com a cabeça, mas não fala nada, seus olhos azuis
arregalados brilhando com as lágrimas que correm livremente por suas
bochechas e o lábio inferior tremendo.
— Vai ficar tudo bem — sussurro. — Fica atrás de mim.
Ela agarra a minha camisa.
— Não levanta, e se tentarem de novo? — pergunta com a voz
trêmula.
— Preocupada comigo, senhorita Jones? — eu a provoco, tentando
impedir que seu corpo entre em choque, preciso que ela se mantenha
presente no momento, acordada e alerta.
— Claro, se você morrer quem vai me proteger? — rebate por instinto
me fazendo sorrir.
Olho para o local onde estava o atirador e não consigo mais encontrá-
lo, com certeza já fugiu para não ser apanhado.
— Isso não vai acontecer, não posso morrer sem viajar ao Brasil —
declaro, mencionando um dos meus destinos dos sonhos ao passo que me
agacho à sua frente.
O som das sirenes começa a se aproximar.
— Não acho que possa controlar isso — ela diz e se senta, os dedos
indo paras os cabelos molhados. — Meu café — choraminga olhando para a
bebida espalhada no chão e que agora pinga em sua blusa.
Em poucos minutos a polícia chega e depois de tomar nossos
depoimentos, somos liberados e voltamos para casa.
Olívia está silenciosa, e não como de costume quando está me dando
o tratamento de rainha do gelo, ela está estática, não está lendo, nem
sorrindo para o celular enquanto conversa com suas amigas. Mas encara o
vazio com um olhar perdido, sentada na mesma posição em que a deixei
quando a ajudei a entrar no carro.
Estaciono na garagem e saio do carro para abrir sua porta, ela
continua sentada, tão perdida em seus pensamentos que nem notou que já
chegamos.
— Senhorita Jones? — chamo-a em um sussurro.
Ela pula no assento, sua mão segurando o peito e a respiração
acelerando.
— Já chegamos — eu a informo e ela olha em volta e meneia a
cabeça antes de sair do carro.
Ela me segue até o elevador e ainda tem os dedos trêmulos ao tentar
acertar a chave na fechadura de seu apartamento. Ela entra e solta a bolsa
sobre o sofá, mas fica parada no meio da sala, como se não soubesse o que
fazer.
 — Senhorita Jones, o que acha de tomar um banho e eu encomendo
algo para você jantar? — pergunto tocando seu ombro gentilmente, notando
a sua pele fria. Ela concorda com a cabeça. Espero até ouvir o som do
chuveiro para sair.
Cruzo o corredor e explico a situação para Jack que desbloqueia uma
das telas do computador e começa a tentar encontrar o atirador pelas
câmeras de segurança ao mesmo tempo que peço uma pizza para Olivia.
Pensar na morena traz de volta a imagem de seu rosto em pânico, a
vulnerabilidade em suas feições e a forma como ela está se comportando
como uma casca de si mesma. Se eu não estivesse ao seu lado ela poderia
ter sido atingida. Se eu não estivesse alerta ela poderia ter sido ferida. Se eu
não estivesse lá, ela poderia estar morta.
Todos os “se” passam pela minha cabeça e não me lembro de tomar a
decisão, mas quando percebo já tenho minha mala sobre a cama e estou
empacotando os meus pertences.
Meu celular vibra com uma mensagem e olho para o visor para ver o
nome do meu melhor amigo, Dean Ashford.
— Depois eu respondo — murmuro para mim mesmo.
Meu celular começa a tocar no segundo seguinte.
— Lilly, o que aconteceu? — pergunto alarmado.
— O que aconteceu? — ela repete exasperada. — Você apareceu na
TV, foi de relance, mas eu reconheço a sua cabeça enorme em qualquer
lugar, você esteve em um tiroteio? — ela fala tão rápido que as palavras se
embolam umas nas outras.
— Calma.
— Calma, o caralho, como que você não me fala uma coisa dessas,
Ethan?
— Acabou de acontecer e você sabe que esse é o meu trabalho.
— Você está bem?
— Claro, sou muito bom no que faço — brinco.
— Isso não é hora pras suas palhaçadas, Ethan, eu não posso te
perder, acho que não quero mais que você trabalhe — reclama.
— Lilly, eu estou bem, não sofri nem mesmo um arranhão, algo que
você sempre consegue fazer quando me estapeia com essas suas garras
enormes. Não tem razão para se preocupar, eu tomo cuidado, sou cauteloso
e tenho treinamento — explico com a voz séria. — Eu estou bem — reitero.
— Promete?
— De dedo mindinho.
— Tá bom, e a sua cliente, ela está bem?
— Está um pouco abalada, mas ela vai ficar bem. — Eu me
certificaria disso. — Olivia é uma mulher forte.
— Está apaixonado pela sua cliente, maninho? — provoca.
— Claro que não, por que diria um absurdo desses?
— Porque a sua voz mudou ao falar dela e eu te conheço.
— Sempre soube que aquela sua queda do berço quando era bebê
tinha afetado seu cérebro, eu falei pra mamãe.
A ligação fica em silêncio por alguns segundos.
— Sinto falta deles — Lilly murmura.
Suspiro, sentindo o aperto familiar no peito.
— Eu também.
Meu celular apita avisando que o entregador já está chegando.
— Preciso ir, Lilly, se cuida, eu te amo.
— Também te amo.
Fecho a minha mala e a deixo em frente à porta de Liv antes de descer
para buscar a pizza.
Bato na porta antes de entrar e a encontro sentada no sofá, olhando
fixamente para a TV que está desligada.
Ela só nota a minha presença quando eu coloco a caixa na mesinha de
centro.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu vim jantar — respondo e sigo para a cozinha pegando dois
copos e um refrigerante da geladeira. Eu me sento ao seu lado, sirvo um
copo e lhe entrego. — Precisa beber alguma coisa — digo.
Ela dá um gole e eu lhe entrego um guardanapo com uma fatia de
pizza. Ligo a TV e coloco um filme qualquer para passar.
Observo-a com o canto dos olhos, ela parece exausta, o que era de se
esperar depois do evento traumático pelo qual passou.
Na metade do filme, ela apoia a cabeça em meu ombro, sua
respiração se aprofunda e sei que ela adormeceu. Acaricio seus cabelos
úmidos até muito tempo depois dos créditos do filme aparecerem e a tela se
apagar. Só quando sinto meus olhos cansados é que eu a pego no colo e a
carrego até o seu quarto. Acomodo-a no colchão, puxando seu edredom
sobre ela e fechando as cortinas do seu quarto.
A água quente do chuveiro relaxa meus músculos e lava os
acontecimentos do dia, mas não faz nada para acalmar a minha mente que
parece andar em círculos criando novas estratégias para manter Olivia
segura. Mesmo tendo prometido a mim mesmo que não baixaria a minha
guarda, foi exatamente isso que eu fiz.
Deitado na cama, encarando o teto o mesmo pensamento se repete na
minha cabeça: “Deixei que Olivia e eu entrássemos em uma rotina e isso
quase custou a vida dela.” Suspiro e me viro na cama tentando achar uma
posição confortável no colchão novo quando ouço o som que faz meu peito
se apertar. Ele começa baixinho, mas conforme os segundos passam os
soluços se tornam mais altos.
Levanto-me da cama de ímpeto, seguindo o som do choro até
encontrar Olivia sentada na cama, os braços envolvendo os joelhos com a
cabeça apoiada sobre eles. Seu corpo inteiro se movendo com os soluços, os
nós dos dedos brancos sob a luz amarelada do abajur.
Contorno a cama para me sentar ao seu lado e ela levanta a cabeça
rapidamente, me encarando com uma expressão alarmada.
— Sonhei que estavam aqui, que tinham me levado — murmura, as
palavras saindo com dificuldade em meio ao choro que não para.
— Ninguém vai levar você.
Minha promessa tem o efeito oposto do que eu esperava quando ela
nega com a cabeça.
— Você não conseguiu impedir — ela adiciona em um fio de voz,
escondendo o rosto nas mãos e entendo o que ela quis dizer.
— Foi um pesadelo, hoje foi um dia tumultuoso, é uma reação normal
— digo, apoiando minha mão em suas costas e acariciando a sua pele fria
em movimentos circulares. — Mas eu não vou deixar nada te acontecer,
vamos fazer algumas mudanças para aumentar a sua segurança, vai ficar
tudo bem.
— Não tem nada normal sobre o que aconteceu — Olivia declara,
seus olhos azuis como safiras voltando a me encarar.
— Você está certa — respondo. — Você deveria dormir, vai se sentir
melhor pela manhã.
— Tenho medo de fechar meus olhos e... — ela deixa a frase no ar.
— Eu fico aqui até você dormir — ofereço e Olivia aceita sem
protestos.
Começo a me mover mais para a beirada do colchão, lhe dando mais
espaço para se acomodar e adormecer, quando seus dedos seguram meu
braço. Nossos olhares se cruzam por alguns segundos carregados e eu volto
a me sentar no meio da cama antes de puxar seu corpo contra o meu,
acomodando-a nos meus braços e deixando nossos corpos deslizarem pela
cama até que ela esteja deitada. Minha mão encontra seus cabelos outra vez
e ela suspira satisfeita logo que começo a lhe fazer cafuné.
Olivia levanta o rosto e me encara outra vez.
— Por que está me olhando assim?
— Assim como? — pergunta.
— Como se eu fosse desaparecer.
— Bom, você vai? Porque dá última vez...
— Eu não vou a lugar algum, Liv, eu prometo.
 
Segura.
É assim que me sinto quando desperto sem mesmo abrir os olhos.
Estou tão confortável e quente que tento me forçar a voltar a dormir só para
curtir essa sensação por mais tempo, mas não consigo. Suspiro me
alongando e é nesse momento que o braço que envolve a minha cintura me
aperta ainda mais e todas as memórias do dia anterior voltam como uma
avalanche.
O tiro.
O vidro estilhaçando.
O corpo de Ethan me protegendo.
O medo paralisante.
O entorpecimento que me dominou.
O pesadelo.
E, por fim, Ethan me consolando no meio da noite.
Nossa conversa à luz do abajur retorna, mas não tenho certeza se não
sonhei a última parte em que ele me chamou pelo meu nome.
A confusão que me toma é imensa, sinto como se durante as últimas
vinte e quatro horas tivessem puxado o meu tapete e eu acabei passando por
uma chave de portal[7] e caindo com a minha cara no chão em outro lugar só
para perceber que não tinha ido a lado algum.
Meu corpo se torna extremamente consciente de todos os pontos que
encostam em Ethan, a perna que ele tem repousando entre as minhas, seu
braço ao redor da minha cintura, seu abdômen musculoso contra às minhas
costas e o perfume amadeirado que preenche meus pulmões a cada
respiração.
Será que ele faz isso para todas as suas clientes? O pensamento deixa
um gosto amargo em minha boca.
Não importa sua motivação, foi por causa de sua presença que eu
pude dormir tranquilamente o resto da noite, deixo um sorriso se abrir em
meus lábios à medida que tento rolar para longe de Ethan sem o acordar,
preciso de alguns segundos sem a sua presença açoitando os meus sentidos
para colocar a minha cabeça em ordem.
— Bom dia — ele murmura com a voz sonolenta e eu me viro em sua
direção.
— Oi — respondo enquanto ele se estica no colchão, colocando uma
das mãos atrás da cabeça, fazendo seu bíceps definido ficar em evidência.
Seria mais fácil odiá-lo se meu corpo não respondesse tão
prontamente à sua mera presença. “Ele já deixou claro que nada vai
acontecer”, lembro a mim mesma mais uma vez, mas uma mulher ainda
pode sonhar, não é? E os meus sonhos têm sido povoados pelo loiro cada
dia mais desde que ele voltou para minha vida.
— Como você está se sentindo?
— Mais eu mesma do que ontem, mas ainda parece que não processei
todas as coisas que aconteceram, foi tudo tão rápido. — Dou de ombros.
— Infelizmente, é assim mesmo, cada pessoa tem o seu próprio
tempo para se recuperar.
— Não achei que fosse sério, sabe? Na minha cabeça era só mais um
dos jogos de poder dele, mas ontem tudo se tornou mais real — comento,
mordendo o interior da minha bochecha, levantando-me do colchão e
caminhando para o banheiro da suíte, sentindo sua atenção sobre mim a
cada passo.
Paro na porta e me viro para ele que levanta rapidamente o olhar das
minhas pernas para o meu rosto e suprimo um sorriso. Gosto de saber que
eu não sou a única afetada pela nossa proximidade.
— Obrigada.
— Pelo quê?
— Ter salvado a minha vida.
— O mundo é melhor com Olivia Jones nele. — Ele se levanta da
cama e é a minha vez de admirar seu corpo, os gominhos de sua barriga
malhada, o V que desaparece dentro de suas calças. — Além do mais, a
Happy Coffee Hour vai precisar de sua cliente mais assídua para recuperar
o prejuízo — brinca saindo do quarto, me dando privacidade e
provavelmente retornando para o seu lado do corredor.
Saio do banho e agradeço mentalmente por ser fim de semana e eu
não precisar trabalhar e enfrentar o mundo lá fora.
Deixo meu quarto, me atualizando nas mensagens que eu não checava
desde o ocorrido ontem quando o cheiro de café recém-passado e bacon
chama a minha atenção e eu o sigo até a cozinha. Onde Ethan, ainda sem
camisa, está parado em frente ao fogão, cantarolando alguma música que eu
não consigo identificar.
A imagem tão cotidiana me paralisa e fico admirando como os
músculos de suas costas se movem sob a pele até que meu cérebro consegue
sair do transe e volta a trabalhar normalmente.
— O que você está fazendo aqui?
— Café da manhã — responde, colocando ovos mexidos sobre um
prato e mexendo em outra panela.
— Eu quis dizer no meu apartamento — explico, colocando as mãos
na cintura.
— Agora é nosso — ele me informa, dando de ombros e desligando o
fogão antes de se virar para mim.
— Você só pode ter batido a cabeça ontem ou algo assim, deveria ir
para o hospital checar isso o quanto antes — reclamo, mas minha voz não
sai tão mordaz como eu pretendia. Ele serve um prato com ovos e bacon e o
coloca na bancada em minha frente.
— Eu posso te assegurar que não tem nada de errado com a minha
cabeça.
— Duvido muito — contesto, me sentando na cadeira. O cheiro do
café da manhã está impossível de resistir.
— Se eu não estivesse ao seu lado ontem o resultado poderia ter sido
diferente e é meu dever garantir a sua segurança — ele explica e um
calafrio percorre minha pele ao imaginar o que teria acontecido se ele não
estivesse comigo.
— Eu pensei que o apartamento fosse seguro — rebato.
— E é, tanto quanto possível, mas ainda assim se algo acontecer eu
estaria a 58 segundos de distância, isso se as duas portas estiverem
destrancadas, se não o tempo aumenta para 89 segundos.
— Você cronometrou? — pergunto perplexa e ele arqueia a
sobrancelha como se fosse óbvio.
— E muita coisa pode acontecer nesse tempo — ele continua
ignorando minha interrupção. — Não estou disposto a apostar sua vida,
além do mais eu te disse ontem que não iria a lugar algum.
Foi real, então. Não consigo analisar as emoções que essa informação
causa, por isso a arquivo para analisar mais tarde. Quem sabe perguntar pras
meninas o que elas acham? Pondero.
Dou uma garfada na minha comida, me dando tempo para organizar
os meus pensamentos. Não que tivesse muito que eu pudesse fazer, se eu
reclamasse demais era capaz de conseguir o que queria e ele voltaria para o
lado dele do corredor. Eu já estava me acostumando a tê-lo por perto, já que
mesmo quando eu me encontrava de folga Ethan acabava aparecendo por
aqui de qualquer forma. Além do mais, não podia negar o quanto sua
presença era reconfortante e a sensação de segurança que eu senti ao
acordar era algo que eu não estava disposta a abrir mão tão cedo, não
quando a memória da tentativa de assassinato permanecia tão fresca em
minha mente.
— Existe algo que eu possa dizer que vai te convencer que isso é uma
péssima ideia?
— Não — responde e dá um gole em sua xícara.
— Ok, então — respondo dando de ombros e voltando a comer.
— Sério? — ele pergunta com a sobrancelha arqueada.
— Sim, de acordo com o governador isso aqui. — Gesticulo entre nós
dois. — Não deve passar de três meses e o primeiro já está quase no fim. —
Por alguma razão que eu não conseguia identificar as palavras me encheram
de melancolia. Eu devia estar sofrendo algum tipo de estresse pós-
traumático, melhor pesquisar mais tarde.
Dou um gole na minha caneca e quase cuspo em cima de Ethan.
— Quem que bebe café sem açúcar? — Meu rosto se contorce em
uma careta.
— A maioria das pessoas — responde com um sorriso cínico.
— A maioria das pessoas está claramente maluca — rebato, puxando
o pote de açúcar e adoçando minha bebida. — Pelo menos você colocou
leite — adiciono.
— E por isso achei que mais açúcar era desnecessário.
— Você toma sem? — pergunto incrédula.
Ele vira sua xícara para mim me mostrando o líquido preto fumegante
e balanço a cabeça em descrença.
— Volto a dizer que você tem que ir checar se está tudo certo com a
sua cabeça — provoco e ele ri, uma risada sincera que tira um sorriso de
mim.
Conversamos amenidades pelo resto do café e eu o ajudo a arrumar a
cozinha quando terminamos.
— Você está me zoando agora? — pergunto, girando meu corpo no
sofá para encarar Ethan que finalmente decidiu colocar uma camiseta, para
a minha tristeza, mas para o bem da minha sanidade.
— Não, eu nunca assisti.
— Como que é possível que você nunca assistiu Piratas do Caribe? —
viro-me para a TV abrindo o serviço de streaming e colocando o primeiro
filme. — Isso precisa ser remediado imediatamente. Todo mundo precisa
conhecer o Capitão Jack Sparrow.
— Se você diz — ele me fala.
— Elizabeth Swann foi meu despertar bissexual — comento sem
pensar.
— Interessante, o meu foi o Will, capitão do time de basquete do
ensino médio.
Quê? Minha mente fica em branco.
— Você deveria ver a sua cara agora — ele debocha rindo.
— Eu fui pega de surpresa, só isso — respondo com a minha
curiosidade aflorada.
— Só isso? — pergunta desconfiado e inclina a cabeça. A expressão
divertida em seu rosto o faz parecer mais jovem ainda por cima com a
covinha na bochecha direita aparecendo. — Eu consigo ver as perguntas em
seus olhos. — Ethan empurra o ombro contra o meu, enviando uma
corrente elétrica pela minha pele. — Não sabia que Olivia Jones tinha um
lado tímido.
— Isso é porque você não me conhece tão bem quanto acha —
rebato.
— Ainda — ele declara, como se fosse só uma questão de tempo e
quando seu olhar encontra o meu, eu acredito. — Mas se você não tem
perguntas vamos assistir ao filme.
— Will retribuiu seus sentimentos?
Ethan me olha com seu sorriso vitorioso e coça o queixo com uma das
mãos.
— Um cavalheiro não beija e conta.
— E desde quando você é um? — provoco com a sobrancelha
arqueada.
— Desde sempre.
Reviro os olhos e dou início ao filme.
Seus comentários durante o filme são hilários e unidos à
personalidade divertida de Jack Sparrow, quando o primeiro filme chega ao
fim minha barriga dói de tanto que eu ri.
— O filme é muito bom.
— Fico feliz que gostou. — Sorrio, buscando o controle e colocando
o segundo filme. — Porque tem mais quatro.
— Então acho que precisamos de pipoca — ele declara e se levanta
indo para a cozinha. — Onde tem o milho? — pergunta.
— No armário do meio, na prateleira de cima, deve estar bem na sua
cara — grito de volta.
— Doce ou salgada?
— O que você acha, Ethan?
— Que você vai acabar tendo diabetes.
— Fique sabendo que meus exames estão ótimos — declaro.
A atmosfera amigável que se instala durante a tarde me lembra que
conhecer mais sobre Ethan é perigoso. Quando o assunto é o loiro ao meu
lado, meu coração não está seguro.
 
O som do grave reverbera pelo meu corpo conforme eu sigo para o
elevador que dá acesso à área VIP. A Underworld está lotada, como de
costume para uma sexta-feira. Todo mundo querendo se divertir e curtir
mais uma semana que chegou ao fim.
— Uma cerveja, por favor — peço ao bartender, giro meu corpo
procurando meu amigo pelo mezanino.
No entanto, a minha atenção é capturada por um par de coxas
torneadas, subo meu olhar pelo corpo cheio de curvas envolto por um
vestido de um tom de azul-escuro com pequenos brilhantes que fazem
parecer uma noite estrelada. Os cabelos castanhos estão presos em um rabo
de cavalo e já consigo visualizá-lo enrolado em meu punho.
A morena se vira e eu reconheço o rosto de traços delicados
imediatamente.
Olivia Jones e ao seu lado estão Brooke, Seth, Kyle e Raffi. Meus
olhos procuram o homem que deveria estar com Liv e encontro Ethan
alguns metros atrás, seu olhar treinado em Olivia, a distância me impede de
decifrar precisamente sua expressão, mas considerando sua postura eu diria
que ele está secando a morena como faz todos os dias quando ela não está
olhando.
Aproximo-me do grupo com um sorriso. O primeiro a me notar é
Seth, é claro.
— Tristan, quanto tempo — ele ironiza, dando tapinhas no meu
ombro.
— E aí, T, como está sendo trabalhar com a Liv? — Kyle pergunta,
envolvendo a cintura de sua esposa que está em um sanduíche entre ele e
Raffi.
— Tirando o fato de que ela está tentando transformar o meu estúdio
em uma floricultura — provoco e ela revira os olhos. — Não poderia ter
escolhido melhor. — Pisco em sua direção.
— Todo mundo elogiou a nova decoração. Você deveria me agradecer
por estar recebendo uma consultoria de design de interiores gratuita —
reclama, cruzando os braços e o movimento faz seus seios fartos se
destacarem no decote. Eu a puxo para meu lado abraçando seus ombros e
ela me afasta com os lábios apertados para se impedir de sorrir, mas não
tem sucesso e logo seus lábios vermelhos se abrem em um sorriso. Gosto de
vê-la assim, quando chegou ao trabalho na segunda seus sorrisos estavam
escassos, mas com o passar da semana Liv voltou ao normal.
Ethan realmente tem um autocontrole invejável, porque passar 24
horas ao redor da morena e não cair em tentação é impossível. Além de
linda, ela tem uma língua afiada e devolve na mesma moeda toda e
qualquer provocação e depois do nosso momento no almoxarifado em que
senti sua bunda redonda contra meu pau, Olivia foi protagonista de vários
sonhos sórdidos.
Como se meus pensamentos o tivessem conjurado, sinto a presença de
Ethan ao meu lado e sorrio para ele que me cumprimenta com um aceno de
cabeça.
— Estava me perguntando onde você estava — minto, já que eu sabia
exatamente onde ele se encontrava durante todo o tempo.
— Isso é porque aqui eu posso andar livremente — Olivia responde
assim que Ethan abre a boca.
— Isso significa que você está de folga? — pergunto com um tom
sugestivo, me virando para ele.
— Não — responde, prontamente.
— É uma pena — digo e quando me viro a atenção do grupo está
sobre nós.
— Eu, no entanto, estou de folga — Liv anuncia, sua mão tocando
meu bíceps. — Você gosta de dançar?
— Com você? Sempre — respondo, tocando a pele nua de suas
costas, exposta graças ao padrão trançado do vestido e nós seguimos para as
escadas que descem para a pista de dança.
Chegando lá, a multidão de corpos dançantes não nos permite avançar
muito e acabamos parando em uma das extremidades, olho de relance e
vejo Ethan se mesclar às sombras perto da parede, sua atenção sobre nós.
“Hora de testar seu autocontrole, sr. Hart.”
Minhas mãos envolvem a cintura de Olivia que rebola ao ritmo da
melodia sensual que permeia a boate. Meu corpo se move em sincronia e
aproximo nossos corpos, uma de minhas pernas no meio das suas, ela
envolve meu pescoço com os braços, extinguindo ainda mais o espaço entre
nós.
Meus dedos acariciam sua pele macia, subindo por suas costas e
descendo pela lateral de seu corpo, encostando de leve em seus seios. Sinto
sua pele se arrepiar sob meu toque e a morena morde o lábio enquanto me
encara com desejo nos olhos azuis.
— Não sei se te falei o quão linda está hoje — digo em seu ouvido,
alto o suficiente para ser ouvido sobre a música.
— Não disse — ela responde da mesma forma, um sorriso cheio de
malícia nos lábios.
— Esse vestido te deixou tão gostosa que dá até vontade comer.
— E tem algo te impedindo de provar? — ela rebate, e aí está a língua
afiada que eu passei a adorar.
— Estava esperando a sua permissão.
A morena não responde com palavras, ao invés disso, seus dedos
agarram os cabelos da minha nuca e empurram a minha cabeça em sua
direção. Seus lábios recebem os meus e minha língua invade sua boca,
explorando cada canto.
Nossas línguas continuam se descobrindo com fome, ganância, uma
necessidade intensa.
Minhas mãos apertam sua pele quente, colando seu corpo
definitivamente ao meu, sinto seus seios fartos pressionados contra o meu
peito, o seu ventre quente contra a minha coxa e desço a minha mão para
garantir que seu vestido ainda cobre a sua bunda, aproveitando para apertar
uma de suas nádegas e o gemido da morena é um comando direto ao meu
pau.
Mordo seu lábio inferior, chupando-o antes de soltá-lo e traçar beijos
pelo pescoço de Olivia, recuperando o ar, quando meus lábios alcançam o
ponto entre seu pescoço e clavícula, ela arfa e empurra o peito contra mim.
— Tão gostosa — murmuro contra sua pele, mesmo sabendo que ela
não consegue me ouvir.
Seus dedos que tinham descido para percorrer os meus braços, sobem
e puxam a minha cabeça de volta para a sua. O beijo é ainda mais ardente
que o anterior e a forma como ela roça contra a minha coxa faz meu pau
endurecer e quero levá-la para longe, para qualquer lugar onde possa me
livrar da minha roupa e realmente provar o seu sabor. Realizar alguns dos
sonhos que eu tive.
Nossos olhares se encontram ao nos afastarmos para respirar, o desejo
queimando na imensidão azul é fogo puro e mais uma vez me pergunto
como Ethan consegue ficar longe.
O pensamento me faz lembrar do meu plano inicial e busco pelo
homem em questão, encontrando-o rapidamente. Ele se aproximou o
suficiente para ser iluminado pelas luzes da pista de dança e sua expressão
dura me diz tudo que eu preciso saber.
— Acho que alguém não gostou muito — comento e Olivia vira o
rosto na mesma direção.
— Nem liga, ele só tá com ciúmes — responde, voltando a dançar.
— Eu não sabia que tinha algo rolando entre vocês — digo em seu
ouvido, mordiscando o lóbulo da sua orelha.
— E não tem — ela responde rapidamente, mas seu tom é diferente
de antes.
— E você queria que tivesse, entendi — respondo.
Ela se afasta para me olhar.
— Isso te incomoda? — pergunta.
— Nem um pouco, linda — confesso com sinceridade, mas guardo a
informação de que a ideia de nós três juntos é muito interessante.
Volto a me aproximar e dançamos juntos ao ritmo da música que é
mais agitada que a anterior até que a próxima começa e eu não reconheço a
melodia.
Olivia, no entanto, conhece a música, canta com entusiasmo e
conforme seu corpo se move com as batidas, ela cola nossos corpos como
antes e sussurra uma parte da música em meu ouvido.
— Você pode ficar acordado a noite toda? Me fodendo até o dia
amanhecer.
Porra! Que mulher.
Enrolo seu rabo de cavalo em meu punho, como tinha pensado em
fazer assim que o vi. Puxo seu rosto para trás, encontrando seu olhar
malicioso e cheio de tesão. Mordo o ponto em seu pescoço que a fez arfar
antes e sinto o gemido que deixa sua garganta antes de devorar sua boca.
Olivia se esfrega em mim, os pontos onde nossos corpos encostam
parecem irradiar, meu pau lateja contra o zíper da minha calça jeans. Tão
desesperado quanto eu para se enterrar na morena.
Trilho beijos por sua mandíbula até alcançar seu ouvido.
— Vem pra casa comigo.
Ela meneia a cabeça aceitando e ajeita o vestido. Seguro sua mão e
começo a caminhar em direção à saída quando ela me para.
— Preciso pegar minha bolsa — ela me informa. — Já volto.
— Estarei te esperando — digo e a acompanho até o elevador.
Assim que Olivia desaparece atrás das portas metálicas, sinto uma
mão em meu ombro, me virando bruscamente.
— O que você pensa que está fazendo? — Ethan vocifera.
— Levando a Liv pra casa — respondo e noto a veia em sua têmpora
pulsando.
— O caralho que você vai — ele reclama, fechando a sua mão na
minha camiseta.
— Eu convidei e ela disse que sim. Qual o seu problema?
— O meu problema são vocês. — Ele cutuca meu peito. — Quase se
comendo no meio da pista de dança.
— Ciúmes, Hart?
— Sim. — Raiva concentrada na sílaba.
— De qual de nós dois? — pergunto com um sorriso presunçoso.
A mão livre de Ethan agarra meu pescoço com força, empurrando
meu corpo contra a parede e ele está sobre mim no segundo seguinte.
— Dos dois — ele grunhe e cola a sua boca na minha, invadindo e
lambendo com urgência. Ele explora a minha boca, como se buscasse os
resquícios de Olivia em mim, devorando a nossa mistura e se juntando ao
mesmo tempo.
É impossível não comparar os dois. Onde Liv é macia e cheia de
curvas, Ethan é firme e forte, delicadeza contra violência, suavidade contra
brutalidade e eu estaria mentindo se não estivesse ansioso para prová-los
simultaneamente. O pensamento faz meu pau latejar ainda mais.
Uma de minhas mãos sobe por seu tórax musculoso, apertando seu
mamilo sobre a camisa social, arrancando um gemido de sua garganta que é
engolido pelo nosso beijo.
A mão que ele tem em meu pescoço me aperta ainda mais quando eu
puxo os cabelos curtos de sua nuca e o trago ainda mais para mim.
Quando o ar se torna uma necessidade, Ethan encosta a testa na minha
e logo que olho em seus olhos tão escurecidos de desejo não encontro quase
nada das íris azuis.
Ainda estamos recuperando o fôlego quando sinto alguém parado ao
nosso lado. Viro meu rosto encontrando a morena nos olhando, ela umedece
os lábios antes de morder o canto do inferior e faz a pergunta que tem o
potencial de melhorar essa noite ainda mais.
— Isso aí é exclusivo ou estão aceitando integrantes?
 
Meu cérebro imprimiu a cena de Ethan prensando Tristan na parede,
os dois se agarrando com intensidade. A mão do loiro na garganta do outro
enquanto se devoravam foi uma das coisas mais sexy que eu já vi em toda a
minha vida.
Por isso, não os interrompo, só aprecio a forma como seus corpos se
movem um de encontro ao outro à medida que sinto o tesão de antes com
Tristan na pista de dança evoluir para um vulcão em erupção que deixa
minha calcinha molhada.
— Isso aí é exclusivo ou estão aceitando integrantes?
A simples ideia de estar no meio dos dois faz uma nova onda de
prazer se espalhar por mim.
— Por mim, nós vamos pra minha casa agora — meu chefe responde,
com os lábios inchados pelos beijos.
— Eu estou pronta — respondo me aproximando dos dois.
— Se a senhorita Jones vai, eu também tenho que ir.
Viro-me para meu segurança incrédula.
— Considerando que você está prestes a me foder acho que já pode
voltar a me chamar pelo meu nome.
Ethan sorri e usa a mão que estava no pescoço de Tristan para segurar
meu queixo inclinando a minha cabeça para olhar para ele.
— Já cogitou que eu gosto de te provocar?
Ele não espera por uma resposta e toma meus lábios em um beijo
quente que amolece meus joelhos. Eu tinha repassado nossa noite juntos
tantas vezes que jurava me lembrar com precisão a sensação de sua boca
contra a minha, mas a realidade, às vezes, supera a memória.
Ele invade minha boca, sua língua acariciando a minha, sua mão
descendo para a minha garganta enquanto a outra segura a minha cintura.
Estou perdida nas sensações que Ethan provoca, na sensação de
pertencimento que ele sempre me trouxe quando sinto um corpo se colar às
minhas costas, me pressionando ainda mais contra Ethan.
Mal posso esperar para deixarmos este lugar e eu poder estar nessa
mesma posição sem uma única peça de roupa me separando desses homens
gostosos.
— Precisamos sair daqui — Tristan murmura contra a pele do meu
pescoço. — Ou vou arrastá-los para o banheiro mais próximo.
— Isso é uma ameaça ou uma promessa? — pergunto e sua risada me
causa um arrepio delicioso.
— Vamos, então. — Ethan segura a minha mão e Tristan aperta a
outra enquanto seguimos em direção ao estacionamento.
Cada um me puxa em uma direção antes de se encararem.
— Você bebeu. — Ethan aponta para o peito de Tristan. — Eu dirijo.
— Melhor pra mim — responde, envolvendo a minha cintura e
caminhando comigo em direção ao carro.
Ele abre a porta para mim e eu me acomodo no assento, mas quando
ele começa a se sentar ao meu lado, deslizo pelo banco lhe dando espaço.
— Sério? — Ethan pergunta do banco do motorista.
— Você disse que queria dirigir, então vou fazer companhia para Liv
aqui atrás — o tom sugestivo de sua voz faz meu sangue correr mais rápido
nas minhas veias.
Meu guarda-costas não responde, só dá partida no carro e sai pelas
ruas de San Jose.
— Me conta, Liv, você ficou molhada vendo nós dois juntos? —
Tristan sussurra no meu ouvido.
Viro meu rosto para encontrar o dele.
— O que você acha?
— Eu acho que se eu colocar a minha mão entre as suas pernas nesse
exato momento meus dedos vão voltar ensopados — ele responde alto o
suficiente para Ethan ouvir do banco da frente.
E eu sei que ele ouviu porque seu olhar encontra o meu no retrovisor.
Não desvio os olhos enquanto afasto minhas coxas em um convite para
Tristan. Noto a atenção do loiro descer para o meio das minhas pernas e ele
apertar o volante até os nós dos dedos ficarem brancos.
Tristan toca o meu joelho suavemente, subindo pela parte interna da
minha coxa sem pressa, minha respiração acelera e eu só quero que ele me
toque, eu preciso do seu toque. Seguro seu pulso e ele espalma a mão contra
a minha pele.
— Tira a mão, Liv — ele pede com a voz rouca e eu obedeço.
Ele volta a deslizar a mão até alcançar a minha calcinha, esfregando
minha boceta por cima do tecido ensopado e arrancando um gemido sôfrego
de minha garganta.
— Eu sabia que você era uma safada — Tristan elogia e meu ventre
pulsa em resposta.
Seus dedos afastam a minha calcinha e ele desliza um entre meus
lábios, encontrando meu clitóris sem dificuldade, me fazendo gemer e arcar
as costas no assento. Ethan se vira para nós ao parar em um semáforo.
— Porra — grunhe e volta sua atenção para a estrada.
Tristan continua a estimular meu clitóris com movimentos circulares
e eu começo a rebolar contra sua mão, querendo mais. Como se lesse meus
pensamentos, ele me penetra com dois dedos de uma vez.
— Isso — grito e ele sorri, bombeando os dedos dentro de mim,
enquanto seu polegar ainda rodeia meu feixe de nervos.  — Não para —
choramingo, cavalgando sua mão em busca do orgasmo que se expande em
mim dentro de mim.
— Goza pra mim, Liv — Tristan pede, curvando os dedos em meu
interior e acertando um ponto sensível ao mesmo tempo que o prazer me
atravessa como um raio e eu me desfaço em seus dedos. — Boa garota —
ele me elogia outra vez, antes de me beijar com urgência, seus dedos ainda
dentro de mim.
Tristan se afasta e se inclina entre os bancos da frente, se virando para
Ethan.
— Abre a boca, Hart — ordena.
O loiro obedece e Tristan enfia os dedos que estão cobertos pelo meu
gozo na boca dele, que geme ao chupá-los.
— Deliciosa — ele grunhe, seu olhar faminto encontrando o meu
novamente.
O carro para abruptamente e noto que já estamos na garagem do
nosso prédio. Ethan segura a gola da camiseta de Tristan e o puxa para
beijá-lo outra vez.
Puta merda. Esses dois se pegando serão a razão do meu colapso.
Meu tesão que tinha sido aplacado pelos dedos de Tristan retorna com
força renovada.
Precisamos subir.
 Abro a porta do carro e saio. Não chego ao final do veículo antes de
ouvir as outras portas batendo. Os dois se juntam a mim e seguimos para o
elevador, em silêncio.
O ar parece crepitar com a energia que emana de nós.
Assim que as portas se fecham, Tristan se aproxima de mim, colando
meu corpo contra a parede metálica que se choca com a minha pele quente,
no entanto, antes que ele possa fazer qualquer coisa, Ethan segura seu
braço.
— Não vamos dar um show ao Jack — declara, indicando as câmeras
de segurança.
— Ele pode gostar — o moreno responde, sua boca se aproximando
do meu pescoço e chupando a pele ali, porém quando deixo escapar um
gemido ele se afasta. — Mas vou me comportar. — Ele se endireita e pisca
para Ethan. — Até chegarmos.
Meu corpo parece prestes a entrar em ebulição, tudo o que aconteceu
até agora se misturando com a promessa do que está por vir e eu só quero
chegar em casa.
Deusa protetora das calcinhas encharcadas, esse elevador tá com
algum problema hoje, não é possível, nunca demorou tanto para chegar em
nosso andar.
Meus olhos não desgrudam dos números no painel, que avançam em
passo de tartaruga. Meus batimentos cardíacos aumentam conforme o
número se aproxima do 13. Até que as portas finalmente se abrem.
— Caralho, que elevador demorado — Tristan reclama me fazendo
rir.
— Não costuma ser assim — Ethan concorda com a voz tensa.
Abro a porta sob o olhar atento dos dois e assim que a madeira se
fecha atrás de Tristan, Ethan está em minha frente. Ele acaricia meu rosto
com ternura uma vez e suas mãos descem pelo meu corpo, apalpando meus
seios e descendo para minha bunda.
— Não tem ideia de quantas vezes eu tive que me impedir de fazer
isso nos últimos dias — confessa.
— Nunca pedi que fizesse isso — respondo e ele grunhe, me puxando
para seu colo. Minhas pernas abraçam sua cintura, o vestido subindo e
tenho certeza de que minha bunda está exposta quando sinto um tapa na
minha nádega que me faz arfar.
— Não consegui resistir — Tristan diz.
— Você está segura de que quer isso, Olivia? — Ethan pergunta,
sempre o cavalheiro. Ouvir meu nome em sua voz rouca faz meu corpo
reagir intensamente.
Rebolo em seu colo, me esfregando contra seu pau que começa a
endurecer contra mim.
— Eu quero que vocês me fodam — admito, sem um pingo de
vergonha. — E quero vê-los juntos.
Ethan esmaga meus lábios com os seus em um beijo quase violento, o
desejo tão potente que me tira o ar e faz meu sangue acelerar, sinto a minha
pulsação em todas as partes do meu corpo, minha boceta aperta o vazio
desesperada para ser preenchida.
— Que visão — meu cérebro registra o comentário de Tristan
conforme meu guarda-costas nos conduz para meu quarto.
Ele me apoia no colchão e sobe as mãos puxando meu vestido,
retirando a minha calcinha em seguida. Meus seios pesados de desejo
balançam com a minha respiração no momento em que Ethan e Tristan
param ao pé da cama e me admiram. A fome em suas expressões me faz
pressionar uma coxa contra a outra.
— Linda.
— Gostosa demais — meu chefe elogia e eu sorrio, afastando as
pernas.
— Que eu saiba você ainda não provou pra ter certeza — provoco.
— Não se preocupe, até o final da noite eu vou ter decorado seu gosto
e o som dos seus gritos — avisa, antes de se deitar entre as minhas pernas e
lamber a minha boceta.
Meus dedos agarram seu cabelo, pressionando-o contra meu sexo e
rebolando em sua cara. Ethan se deita ao meu lado e abocanha um de meus
seios enquanto massageia o outro, meu corpo inteiro se acende como uma
árvore de Natal.
Tristan usa seus dedos para me abrir e afunda a sua língua em mim,
me chupando como um homem sedento. Ele mordisca e chupa meu clitóris,
me fazendo gritar e contorcer de prazer na cama.
Puxo o rosto de Ethan, mordendo seu lábio inferior quando Tristan
me penetra com dois dedos. O loiro geme e me beija vorazmente,
devorando a minha boca à medida que o outro devora a minha boceta. O
ataque devastador de sensações transforma meu corpo em brasa, tudo
queima e busca alívio.
O prazer me atravessa e eu grito de prazer outra vez.
Tristan não para de me chupar até que a última onda do orgasmo
deixe o meu corpo que relaxa contra o colchão aproveitando a onda pós-
gozo. Ele sobe pela cama, mas ao invés de me beijar como eu acho que vai
fazer, ele se deita sobre Ethan.
Beijando meu guarda-costas sem delicadeza, ele desce a mão pelo
tronco de Ethan e enfia a mão nas calças do loiro. O grunhido de Ethan
ecoa pelo quarto e reacende meu corpo.
— Ficou duro assim por me ver chupando Olivia? — Tristan provoca,
mordendo o lábio inferior de Ethan com força.
— É uma visão e tanto, você deveria experimentar um dia — ele
rebate, tirando a camiseta do meu chefe, expondo o tórax e o braço cobertos
de tatuagens. — Mas ver você chupando a boceta deliciosa enquanto eu
mamava nos peitos dela foi surreal.
— Surreal vai ser quando estivermos os dois enterrados nela — ele
responde, seu braço ainda dentro das calças de Ethan.
A sua frase é um comando direto para a minha boceta ensopada, que
só falta bater palmas pela graça alcançada.
Os dois se viram para mim e um arrepio delicioso percorre meu
corpo.
Obrigada, deusa!
— Está pronta pra nós, senhorita Jones? — Ethan me pergunta, o
apelido agora soa tão sexy e provocativo que é como se eu nunca o tivesse
ouvido antes.
— Só estou esperando por vocês — declaro e os dois sorriem.
— Me diz, Liv, alguém já comeu seu cu? — Tristan pergunta, seu
braço bombeando o pau de Ethan que geme.
— Uma vez.
— Pena, queria ser o primeiro — ele responde e se levanta, tirando a
mão das calças de Ethan que solta uma lamúria. — Terei que me contentar
em ser o primeiro da noite. — Ele se livra da sua calça jeans e cueca de
uma só vez, seu punho se fechando ao redor da ereção impressionante.
Ethan me beija rapidamente antes de se levantar também.
— Vamos precisar de lubrificante — Tristan diz, enquanto Ethan tira
a blusa, nos presenteando com a visão de seu corpo sarado, ele tira a calça,
ficando apenas com a cueca boxer branca que já está úmida com pré-gozo
onde a cabeça de seu pau grosso e duro estica o pano.
Tristan seca o corpo de meu guarda-costas e se aproxima dele,
deslizando a mão livre por cada gominho do abdômen definido e seguindo
o caminho do V para dentro da cueca, agarrando o pau do loiro e puxando-o
para fora. Como que pode ser tão sensual ver dois homens se tocando dessa
forma?
Ethan joga a cabeça para trás enquanto Tristan o masturba.
— Eu tenho lubrificante— declaro, depois de alguns segundos
quando meu cérebro consegue formar um pensamento coerente e indico a
mesinha de cabeceira.
— É claro que tem — Tristan responde em tom de elogio. — Você
deveria se sentar, gostoso — fala pra Ethan, soltando seu pau e caminhando
para a cômoda.
O loiro obedece e se deita entre as minhas pernas, lambendo a
extensão da minha boceta antes de sorrir para mim, suas mãos segurando a
minha cintura e invertendo as nossas posições para que eu esteja deitada por
cima dele. Sinto seu pau contra a entrada da minha boceta.
— Você é linda, sabe disso, não é? — ele me elogia, com tanta
sinceridade em sua voz que não sei como responder.
— Que rabo delicioso. — Sinto o tapa em minha bunda e me viro
para encontrar Tristan sorrindo para mim, com duas camisinhas e o frasco
de lubrificante nas mãos.
Ele abre uma das embalagens e me empurra ligeiramente para longe
do pau de Ethan, deslizando o preservativo pela ereção do loiro.
Sorrio em antecipação e guio o pau de Ethan até a minha boceta,
sentando-me nele lentamente, sentindo cada centímetro que me preenche
até tê-lo por inteiro dentro de mim.
— Porra, Liv — ele grunhe, seus dedos apertando a minha cintura tão
forte que tenho certeza de que carregarei as marcas por alguns dias.
Espalmo minhas mãos em seu tórax para me dar apoio e começo a cavalgar
seu pau, aumentando o meu ritmo, o prazer se espalhando por todo o meu
corpo.
— Pronta pra mim? — Tristan pergunta e eu viro meu rosto para ele,
que nos observa com o punho bombeando o pau longo e cheio de veias
saltadas coberto pelo preservativo. Sinto um frio na barriga ao imaginar
aquilo tudo no meu cu, ao mesmo tempo que tenho Ethan, mas o tesão logo
esmaga a semente de dúvida.
Inclino-me pra frente, empinando a minha bunda para ele que espalha
o lubrificante e começa a me preparar para recebê-lo, ao passo que Ethan
estoca curto e lento dentro de mim.
Minha coluna arqueia quando Tristan enfia o primeiro dedo e eu me
retraio.
— Respira, Liv — ele comanda e Ethan leva um dedo ao meu clitóris,
me relaxando e Tristan começa a movimentar o dedo, logo adicionando o
segundo e um terceiro, quando já estou acostumada com a sensação ele
retira os dedos.
Ethan segue estimulando meu clitóris, mas suas estocadas param
quando sinto a cabeça do pau de Tristan contra mim, e ele me penetra
devagar.
Um gemido estrangulado deixa a minha garganta e Ethan move os
dedos com precisão. Arqueio as minhas costas outra vez e dessa vez,
Tristan enrola meu rabo de cavalo em seu punho, me segurando no mesmo
lugar ao terminar de se enterrar em mim.
— Porra — Ethan exclama em êxtase. — Eu consigo sentir seu pau
contra o meu, T.
Tristan começa a se retirar e eu grito de prazer, porra, ter dois paus
dentro de mim é melhor do que eu imaginei, é tudo.
É demais, meu corpo parece prestes a explodir, a sensação de
preenchimento aniquila todo o resto, tudo que existe somos nós três, unidos,
nos movendo em sincronia, nossos gemidos reverberando pelo quarto. Os
dois começam a aumentar o ritmo de suas estocadas, me fazendo quicar
entre eles.
— Vou explodir — grito.
— Goza gostoso no meu pau, Liv — Ethan pede e morde meu
mamilo. A pontada de dor me levando ao limite, sinto meu corpo inteiro
estremecer, meus músculos se contraindo no orgasmo mais potente que já
senti na vida.
— Caralho, que delícia, sua boceta está esmagando meu pau — Ethan
grunhe, alcançando seu próprio prazer algumas estocadas mais tarde.
Meu corpo está pesado, mas Tristan ainda não terminou e com a mão
livre ele puxa minha bunda para si, me empalando em seu pau. Ele dá outro
tapa na minha nádega e puxa meu cabelo ao se esvaziar com um grito.
Assim que ele solta meu cabelo, eu me deito sobre Ethan que me
abraça e acaricia minhas costas. Tristan se retira e se deita ao nosso lado.
— É assim que se começa um ótimo fim de semana — declara,
puxando o rosto de Ethan para beijá-lo rapidamente antes de reivindicar
meus lábios.
 
Acordar ao lado de Olivia e Tristan não deveria me causar tanta
felicidade, mas sentir o corpo pequeno e curvilíneo colado ao meu e dois
braços sobre meu tronco tem esse efeito. Abro meus olhos e observo os dois
dormindo tranquilos. Admiro os cílios longos de Olivia que fazem sombra
na maçã do rosto alta, a linha de seu nariz fino e os lábios naturalmente
rosados entreabertos. O maxilar reto e delineado sob a barba densa de
Tristan, o ombro e o braço firme e tatuado que envolve a morena e repousa
sobre mim.
A noite anterior foi incrível, penso enquanto revivo as sensações e as
imagens passam como um filme em minha mente, mas também foi
extremamente antiético. Minha função é proteger Olivia, não me envolver
com ela.
Mas se é errado, por que parece tão certo?
— Para de pensar tão alto — Tristan reclama com a voz sonolenta e
de olhos fechados, com a cabeça afundada nos cabelos de Olivia que dorme
apoiada no meu ombro.
— Você não consegue ouvir meus pensamentos — rebato em um
sussurro para não a acordar.
— Mas consigo sentir a tensão em seus músculos, só volta a dormir,
Hart — ele diz, a mão que estava no meu peito desliza pelo meu abdômen.
— Estou tentando — minto.
— Quer ajuda pra relaxar? — Ele abre os olhos e levanta o rosto com
as marcas do travesseiro na bochecha. Mas sua expressão pode ser qualquer
coisa, menos inocente.
— Você é impossível.
— Impossivelmente gostoso — responde e se afasta de Liv
cuidadosamente, caminhando ao redor da cama só com a cueca preta. E
apenas a visão dele vindo em minha direção é suficiente para afastar todas
as minhas preocupações e inseguranças para um Ethan do futuro, porque o
do presente está sendo agraciado com um Tristan seminu deitando sobre
ele.
Como se sentisse o espaço livre, Liv rola para o outro lado, abraçando
o travesseiro e suspirando satisfeita.
— Já se arrependeu? — Tristan murmura, atraindo a minha atenção
para seus olhos da cor de aço.
— Não — respondo imediatamente. — Não exatamente.
— Ethan, Ethan. — Ele estala a língua. — Por que não pensa assim, a
sua cliente precisava da sua ajuda e você fez tudo que podia e mais para
satisfazer as necessidades dela?
— Parece tão fácil quando você fala dessa forma.
— Porque é, você que está insistindo em complicar. Nós somos três
adultos que estavam conscientes e participando do momento com
entusiasmo, ninguém fez nada que não quisesse.
Ele está certo, eu acho, ou só estou tentando acreditar porque é o que
eu quero escutar?
— Pare de se preocupar. — Ele toca a minha testa com um dedo. —
O vinco entre as suas sobrancelhas se esforça para tentar estragar seu rosto.
— Está dizendo que me acha bonito? — pergunto com um sorriso.
Ele se esfrega contra mim, seu pau roçando no meu.
— Achei que isso já estivesse estabelecido.
Tristan toma meus lábios, sua barba arranhando contra a minha, sua
língua invadindo e explorando a minha boca com determinação. Ao passo
que seus dedos alisam meu corpo, descendo pelo meu abdômen até alcançar
o elástico da minha cueca.
Sua mão se enfia sob o tecido, apalpando minha ereção. Tristan alisa
todo o comprimento, girando a mão ao alcançar a cabeça do meu pau, seu
polegar espalha meu pré-gozo por toda a área, arrancando um gemido da
minha garganta.
Mordo seu lábio com força, fazendo-o grunhir de prazer contra a
minha boca e espalmo a minha mão sobre seu pau duro, esfregando minha
palma sobre a cueca.
— Caralho — ele geme alto e Olivia se mexe ao nosso lado, atraindo
nossa atenção, mas a morena apenas se reacomoda no colchão, continuando
a dormir.
— Tente não a acordar — aviso, giro meu corpo ficando de costas
para a Liv e trazendo Tristan comigo, beijo sua boca outra vez antes de
ordenar. — Vira.
Ele faz o que eu digo. O maldito provocador esfregando sua bunda
ainda coberta pela cueca contra o meu pau, abaixo a peça até que ela não
esteja mais em meu caminho e abraço seu corpo até alcançar a sua ereção.
Eu o masturbo com bombeadas lentas com uma das mãos enquanto deslizo
meu pau no meio da sua bunda no mesmo ritmo.
— Puta merda. — Ele ofega e sinto seu pênis latejar contra a minha
palma.
Tristan se deita mais sobre o colchão, me garantindo melhor acesso ao
seu cu antes de pegar o frasco de lubrificante da cabeceira, passá-lo para
mim e entregar também uma camisinha.
— Para de me provocar, Hart — pede, se virando para que eu possa
ver seu rosto. — E enfia logo esse pau em mim.
Mordo seu ombro com força, sentindo-o se contorcer sob mim.
Deslizo minha mão pelas suas costas até alcançar a bunda dura e provoco
seu cu com meu dedo e a pele de Tristan se arrepia em antecipação.
Coloco o preservativo e espalho o lubrificante por toda a extensão da
minha ereção, passo um pouco em meus dedos e volto a tocar Tristan,
preparando-o para me receber.
— Achei que você preferia com força — ele me provoca.
— Só lembre-se que foi você quem pediu — aviso, e pressiono meu
pau no seu buraco apertado. Tristan morde o travesseiro para abafar seus
gemidos conforme eu o penetro devagar, dando tempo para seu corpo se
acostumar com a invasão até me enterrar por inteiro em seu cu.
Um gemido alto ecoa pelo quarto atraindo a minha atenção e a visão
faz meu pau latejar dentro de Tristan. Liv acordou e nos observa com
atenção, a mão se movendo dentro da calcinha. A ideia de que o nosso
prazer lhe dá tesão só aumenta o meu.
— Que safadinha — Tristan a repreende em tom de brincadeira. — 
Ia ficar vendo Ethan me comendo em silêncio?
— Me pareceu um momento entre vocês, não quis atrapalhar — ela
responde ofegante, o olhar se voltando para o ponto onde meu corpo se
conecta com o do tatuador.
Puxo o quadril de Tristan para cima, pondo-o de quatro antes de me
virar para ela.
— Você está sempre convidada a se juntar a nós, senhorita Jones. —
Pisco em sua direção. — Não é verdade, T? — antes que ele possa
responder, no entanto, começo a foder seu rabo com força.
Metendo com estocadas rápidas e fortes, meus dedos afundando em
sua carne para me ajudarem a penetrá-lo mais fundo, ele corresponde às
minhas investidas com as próprias, rebolando e empinando a bunda para me
receber melhor.
Olho para o lado e Olivia tem a atenção grudada em nós, seus dedos
se movendo no mesmo ritmo em que fodo Tristan. Nossos gemidos ficam
cada vez mais altos e sinto as minhas bolas se contraírem e o meu pau
latejar.
— Vou gozar.
— Ainda não — Tristan vocifera e ajusta sua posição me recebendo
ainda mais fundo e a sensação de seu cu aveludado esmagando meu pau me
leva ao limite, mas é o grito de prazer de Liv que me leva além.
Sinto Tristan se contrair ao meu redor ao gozar com um grunhido de
tesão.
— Puta que pariu — ele xinga se deixando cair no colchão e eu me
retiro, me livrando da camisinha.
— Eu achei que estava sonhando — Liv murmura, deitada lânguida
no meio da cama.
Tristan estende a mão, segura um dos seios da morena e o massageia,
arrancando um gemido dela e eu me deito ao seu lado, levando o outro seio
à boca. Incapaz de resistir ao seu gosto e a sensação de sua pele contra mim.
— Nem nos seus sonhos mais ousados, você conseguiria imaginar as
coisas que eu gostaria de fazer com você.
 
Olivia se inclina para trás, se apoiando contra o meu tórax, dando um
gole em seu café.
— Eu acho que ainda precisamos de um vaso com flores coloridas,
girassóis, talvez? — ela sugere olhando para a bancada entre a minha
estação de trabalho e a de Seth.
— Não, sem mais plantas — manifesto, apertando seus ombros.
— Eu acho que existem formas de você convencê-lo — Ethan insinua
apoiado na mesa da recepção, arqueando uma das sobrancelhas, fazendo
com que Liv levante o olhar para mim e umedeça os lábios com a língua.
— Acho que gosto dessa nova forma de negociação — declaro,
deslizando uma das mãos que repousava nos ombros da morena pela lateral
do seu corpo, tocando um dos seios.
O barulho da sineta da porta nos sobressalta e todos nos endireitamos,
olhando para a entrada do estúdio. Seth entra, arrumando os cabelos
castanhos que estão caindo sobre os olhos.
— Boa tarde — cumprimenta, se aproximando.
Seth olha primeiro para Ethan, depois Olivia e por fim, me encara
com atenção.
— Vocês estão dormindo juntos? — pergunta.
— Como você sabe? — Olivia rebate prontamente.
— Não! — Ethan nega rapidamente.
— Sim — respondo com orgulho, ao mesmo tempo que os dois.
Seth gargalha, balançando a cabeça com um sorriso vitorioso no
rosto.
— Kyle me deve cem dólares, na moral, a grana mais fácil que eu já
ganhei.
— Apostou em mim, Donahue? — pergunto, fingindo indignação.
— É claro, a tensão entre vocês na Underworld estava prestes a
explodir, era só uma questão de tempo e depois que saíram juntos, ficou
óbvio. — Ele dá de ombros. — Mas Kyle achava que Ethan resistiria.
— E o Raffi? — o guarda-costas pergunta com hesitação.
— O idiota perdeu na primeira semana. — Seth olha para Ethan com
os lábios pressionados, como se estivesse prestes a lhe dar uma péssima
notícia. — Ele não acreditou que você aguentaria mais do que uma semana
ao lado de Liv sem se render.
Ethan parece desacreditado, enquanto ele estava se martirizando por
se sentir atraído por sua protegida, os seus chefes estavam apostando quanto
tempo levaria para acabarem na cama. Seria trágico se não fosse cômico,
sofreu à toa.
— Vocês esperavam que eu falhasse — declara, derrotado.
— Não exatamente. Nós acreditamos plenamente em suas
capacidades, mas quando o seu retorno coincidiu com o pedido do
Governador, Raffi interpretou como um sinal e conhecendo a história entre
vocês. — Liv estremece e desvia o olhar para o computador. Estranho a sua
reação, mas a forma como Ethan olha para ela, me faz entender que tem
algo não resolvido entre eles. — Achou que seria uma boa ideia.
— Ele armou pra mim, é o que você está me dizendo? — ele
pergunta, desviando a atenção de Olivia.
Estico o braço sobre a bancada e dou tapinhas em seu ombro.
— Isso que é uma punição decente — comento e ele me olha com
reprovação. — Sempre soube que seu lado sádico ainda me beneficiaria —
digo, meneando a cabeça em direção de Seth que revira os olhos.
— Brooke apostou em quanto tempo? — Liv pergunta.
— Nós a proibimos de participar, ela poderia influenciar o resultado.
Sendo sua melhor amiga e tal. — Seth dispensa o comentário com um
movimento da mão e caminha em direção à sua estação de trabalho.
— Isso é um pouco injusto — Liv reclama.
— É o que é, e do meu ponto de vista você não pode reclamar, Liv —
Seth diz e seu olhar se desvia para mim e depois para Ethan. — Parece que
as coisas estão correndo muito bem para você. — Ele pisca para ela, que
aperta os lábios para esconder o sorriso.
— E vão ficar ainda melhores quando eu arrancar essas suas calças
brancas e saborear sua boceta deliciosa — sussurro no ouvido da morena e
vejo suas bochechas corarem e Ethan ri.
— Não se eu chegar primeiro — ele provoca no mesmo tom e Liv se
ajeita no assento.
A cliente de Seth surge e logo depois um dos meus regulares entra e
as próximas horas são preenchidas com o som reconfortante da maquininha,
linhas e padrões e olhares roubados para Ethan e Olivia.
Acompanho meu cliente até a recepção e fico observando enquanto
Liv passa os cuidados pós-tatuagem para ele, meu olhar se desvia para a
tela do computador. Onde uma aba aberta chama a minha atenção, um edital
para um tal de Ida Design Awards.
Meu próximo cliente chega e acabo não tendo a chance de lhe
perguntar do que se trata.
 
 
— E, é isso — concluo, com um suspiro. Depois de passar a última
meia hora atualizando Brooke sobre tudo que tem acontecido.
— Semanas agitadas na residência Jones. — Minha melhor amiga ri,
dando um gole em seu suco de melancia. — E como você está se sentindo?
Pondero sua pergunta um momento, olhando de relance para Ethan
que está sentado a algumas mesas de distância. Algo que eu tive que lutar
para conseguir, mas precisava de certa privacidade para discutir tudo que
aconteceu.
— Eu não sei. — Dou de ombros. — Confusa, talvez? — Mexo o
canudo do meu Frappuccino de doce de leite. — Eles são tão diferentes,
mas me sinto bem quando estou com eles. Eu sei que é cedo e tudo mais,
mas não consigo me ver abrindo mão de um deles. — Cubro meu rosto com
as mãos. Ali estava a verdade que vinha circulando em minha mente nas
últimas semanas, desde a primeira noite em que me envolvi com Ethan e
Tristan.
— Uma pessoa muito sábia me disse uma vez que não existe uma
forma correta de se apaixonar, que a felicidade vem de formas inusitadas e
se não estamos machucando ninguém, não devemos deixar a oportunidade
passar. — Brooke segura as minhas mãos, puxando-as gentilmente do meu
rosto.
Eu sorrio para minha amiga, fitando seus olhos verdes.
— Essa pessoa parece incrível, quero conhecê-la — brinco.
— Ela é maravilhosa, mas é sério, não se preocupe tanto, essas coisas
têm a tendência de se ajeitarem sozinhas — ela diz e espero que esteja
certa. Afinal, escolher é perder sempre.
— Tudo bem, chega de falar de mim, quais as novidades na
residência Roberts?
Brooke morde o interior da bochecha antes de sorrir.
— Bem, existe uma razão especial para eu querer que nos
encontrássemos hoje — ela começa. — Esperei até ter certeza de que estava
tudo certo e saiba que foi muito difícil não te contar isso desde que comecei
a suspeitar.
Meu coração acelera, do que ela está falando? Nós não guardamos
segredos.
— Você vai ser madrinha — ela anuncia e meu cérebro leva alguns
segundos para processar a informação. Meu olhar desce para a barriga da
minha melhor amiga antes de voltar para seu rosto e sinto minhas
bochechas doerem de tão grande que é o sorriso que se forma em minha
boca.
— Você tá grávida?
Ela assente e minha mente vira uma confusão de perguntas que
deixam meus lábios conforme se formam.
— Quem é o pai? É menino ou menina? Já tem ideia de nomes? Meu
Deus, o quarto vai ser lindo, eu vou poder decorar o quarto, né?
— Calma, uma de cada vez — Brooke pede, rindo do meu
entusiasmo. — Sobre o pai. — Suas bochechas adquirem um tom de
vermelho. — Não sabemos e não queremos descobrir, não faz diferença
para nós. Mas se for necessário por alguma questão médica ou quando ele
ou ela forem adultos para tomar a decisão pode fazer o teste.
— Entendi.
— Ainda não sabemos o gênero, mas temos algumas ideias de nomes,
porém você vai ter que esperar para descobrir.
— Não acho isso justo — reclamo.
— E, é claro que você vai decorar o quarto, pra que serve uma
madrinha design de interiores?
— Meu Deus, você está grávida — repito.
— Sim — ela diz e seus olhos brilham com lágrimas. — Meu Deus,
eu vou ser mãe.
— E será uma ótima mãe, essa criança já é uma sortuda, porque o que
não vai faltar em sua vida é amor! — declaro.
Dou uma mordida no meu muffin de cheesecake de morango,
saboreando o doce e planejando tudo que eu farei por essa criança, levá-la
para a Disney, shows e incentivá-la a ler. Minha cabeça logo começa a
organizar o quarto, tons pastéis e neutros, mobílias claras e que estimulem a
sua independência.
— Liv? — a voz grossa de Ethan me tira dos meus devaneios, me
viro para ele, minha atenção sendo cativada pelos olhos azul-escuros. — O
governador ligou.
— Ele não liga para ninguém — respondo.
— Sua assistente ligou, ele quer vê-la — ele diz.
— E eu presumo que a recomendação seja para irmos o mais rápido
possível? — Ethan assente com resignação. — Já vamos — respondo a
contragosto.
Reviro os olhos e me viro para Brooke.
— Como estão as coisas entre vocês? — minha melhor amiga
pergunta.
— Na mesma, mas acho que ele está começando a aceitar que não irei
ceder.
— E depois de quase cinco anos, ele só entendeu agora? — Dou de
ombros.
 
Encaro a mansão e afasto as memórias, tanto as boas quanto as más,
porém é impossível não sentir o familiar aperto no meu peito.
— Não sei o que aconteceu entre vocês, mas prometo que não
ficaremos mais do que o estritamente necessário, Liv — Ethan diz e me
viro para ele.
— Vamos acabar logo com isso. — Suspiro e abro a porta do carro.
Conforme caminhamos em direção aos degraus da entrada, Ethan
coloca a sua mão nas minhas costas, seu toque é reconfortante, consegue
me ancorar e me acalmar para o encontro com meu pai.
Cumprimentamos Yanne e seguimos para o escritório onde sei que ele
nos espera. Bato na porta, mas não espero pela sua permissão para entrar.
Grant Jones parece ter envelhecido alguns anos desde que nos vimos
há dois meses. Tem uma nova ruga em sua testa e sua calvície parecia estar
mais proeminente.
— Boa noite, Olivia. — Seu olhar se desvia para o homem às minhas
costas. — Ethan.
— Senhor Governador — meu guarda-costas responde, se
aproximando de mim até que seu calor aqueça a minha pele.
— Eu gostaria de falar com Olivia, pode esperar lá fora? — meu pai
pede e suprimo a vontade de revirar meus olhos.
— Com todo o respeito, senhor, fui contratado para proteger Liv e
não a perder de vista.
— Ela está segura — Grant Jones declara com impaciência.
— A não ser que ela me peça para sair, senhor, receio que eu serei
obrigado a ficar.
Pressiono meus lábios para me impedir de sorrir ao ver a veia na testa
do governador pulsar, ele não está acostumado a ser questionado por outra
pessoa que não seja eu.
— Olivia, por favor — ele me pede.
— O que você quer? — pergunto, com a voz fria.
— É sobre a sua mãe.
Isso me faz hesitar. Será que mamãe está doente? Ela teria me falado,
não é? Não éramos próximas, mas ainda tínhamos um relacionamento.
— Sabe o quanto ela fica triste com a sua distância — declara, me
fazendo suspirar.
— Eu sei, mas ela também sabe o quanto me machuca estar nessa
casa sabendo que as minhas escolhas e desejos são ignorados e
desprezados. Eu vi a notícia que o jovem Vanderbilt se casou. — Sorrio
para o governador que arregala os olhos. — Essa convocação repentina não
estaria relacionada ao seu irmão mais velho? Qual é mesmo o nome dele,
Archer?
— É um ótimo partido — ele responde simplesmente e a mão de
Ethan se retesa em minhas costas.
Sorrio sem emoção.
— As coisas nunca mudam por aqui, não importa quantas vezes as
paredes sejam renovadas — murmuro. — Bom, se era só isso, nós já
vamos. — Giro meu corpo, pronta para deixar a mansão para trás.
— Espere, tem mais uma coisa.
— O que é agora? — pergunto, sem me virar, a mão na maçaneta.
— Isso também lhe interessa, sr. Hart.
Nós nos viramos para o governador e sinto o corpo de Ethan tenso ao
meu lado, uma energia nervosa que parece fazer o ar zunir ao nosso redor,
preparado para eliminar qualquer ameaça que meu progenitor esteja prestes
a fazer.
— Precisam estar ainda mais alertas nos próximos dias, a votação foi
finalmente agendada para daqui a duas semanas. O que me faz crer que a
oposição vai estar ainda mais desesperada.
Ah, ótimo, quando eles não estavam desesperados já tentaram colocar
uma bala na minha cabeça, mal posso esperar pelos próximos dias.
 
Olivia lê um livro, com a cabeça deitada em minha coxa, meus dedos
penteiam seus cabelos distraidamente enquanto eu assisto um filme de ação
com Jason Statham.
Liv suspira alto atraindo a minha atenção e a encontro me encarando
com o lábio inferior preso entre os dentes.
— O que foi?
— Nada — ela responde e retoma a sua leitura. Com Olivia, nada
raramente quer dizer nada, por isso espero.
Ela desvia a atenção do livro e nossos olhares se encontram outra vez.
Arqueio uma sobrancelha, incentivando-a a dizer o que quer que esteja
passando em sua cabeça.
— Deixa pra lá — ela diz e torce os lábios para o lado.
— Senhorita Jones — eu a repreendo e ela revira os lindos olhos
azuis.
— É só que... — ela hesita e vira o rosto para a TV, seu
comportamento é tão incomum que pauso o filme para lhe dar toda a minha
atenção.
— Fala de uma vez, sabe que não vai conseguir se concentrar
enquanto não resolver o que está te incomodando — digo, tocando seus
cabelos.
Ela se senta e se vira para mim, seu rosto não entregando nada, como
se ela tivesse erguido as suas proteções para enfrentar o que está por vir e
isso faz meu estômago afundar em preocupação.  
— Só estou tentando entender o porquê, sabe?
— Por que o quê? — rebato e ela se reacomoda sobre os tornozelos.
— Porque você foi embora e nunca ligou — ela responde em um fio
de voz.
Seus olhos me fitam cheios de expectativa e com um vestígio da
mágoa que isso lhe causou, tenho vontade de me chutar outra vez por ter
deixado as coisas entre nós evoluírem sem ter me explicado, mas antes
tarde do que nunca.
— Não teve nada a ver com você, Liv — começo, tocando seu queixo
e acariciando a pele macia da sua bochecha, ela se inclina em direção da
minha palma. — Aquela noite foi uma das melhores e piores da minha vida.
O corpo da morena se retesa e ela me encara alarmada.
— Não por sua causa — apresso-me em explicar. — Quando eu
adormeci tinha planos de te preparar um café da manhã delicioso e depois
eu me afogaria em você outra vez. — Eu a puxo para meu colo,
necessitando da sua proximidade antes de reviver os eventos daquela noite.
Ela se acomoda com uma perna de cada lado das minhas e espera.
Olivia não me apressa, mesmo parecendo que é exatamente isso que
quer fazer, a forma como seus dedos tamborilam contra sua coxa são
indicativos de sua ansiedade.
Tento organizar meus pensamentos de forma coerente, procurando
impedir as emoções de me dominarem e me levarem à beira do precipício
onde me deixaram naquela maldita noite.
— Porém, no meio da noite eu recebi uma chamada da polícia me
informando que meus pais tinham sofrido um acidente de carro. — Olivia
cobre a boca com as mãos. — Eles faleceram antes que eu chegasse ao
hospital.
— Eu sinto muito — Liv murmura, e eu continuo precisando
expurgar tudo de uma vez, passar pelas memórias da forma mais rápida e
indolor possível.
— Nos dias seguintes, eu precisei organizar o velório, ver a questão
do testamento, ser forte pela minha irmã que estava terminando o Ensino
Médio e lidando com a pressão para entrar em uma universidade ao mesmo
tempo que tinha que suportar a dor de perder os pais tão jovens. Eu tinha
toda a intenção de te ligar. — Seguro seu rosto outra vez, esperando que ela
consiga ver a sinceridade em meu olhar. — Mas o tempo foi passando e não
parecia certo mandar apenas uma mensagem, contudo, eu não estava em
condições de fazer mais do que isso.
Suspiro, sentindo a dor familiar tomar meu peito. Todo o amor que eu
não tive a chance de demonstrar aos meus pais, as risadas não dadas e os
momentos que não poderei compartilhar com eles são um peso que eu
carrego todos os dias. Alguns dias são mais fáceis do que outros, porém a
saudade sempre encontra uma forma de aparecer repentinamente. Às vezes,
uma música me leva de volta a uma memória da minha infância e meu
coração se enche de melancolia e desse sentimento agridoce.
— Quando as coisas começaram a retomar algum aspecto de
normalidade, seis meses já haviam se passado e eu só podia imaginar o que
você estava pensando. — Olho para ela, colocando uma mecha de seu
cabelo atrás da sua orelha. — Eu não tinha direito nenhum de me reinserir
na sua vida depois de tanto tempo. — Suspiro. — Eu já aceitara que tinha
perdido a minha chance quando Raffi decidiu dar uma de cupido e me
colocou no seu caminho outra vez.
— Agora eu estou me sentindo uma megera — ela comenta.
— Não se sinta. — Beijo seus lábios.
— Eu te tratei tão mal quando nos reencontramos — ela diz, colando
a sua testa na minha.
— E estava em seu direito, você não tinha como saber — eu a
tranquilizo. — O que importa é que no fim deu tudo certo. — Sorrio.
— Estou feliz que você encontrou seu caminho de volta para mim —
ela murmura.
Seguro seu rosto com as duas mãos, reivindicando seus lábios em um
beijo lento, saboreando seu gosto, a forma como a sua língua desliza sobre a
minha, engolindo o gemido que deixa sua garganta quando meus dedos
descem para envolver seu pescoço. Olivia pressiona o corpo contra mim, e
instantaneamente o clima muda, o beijo se torna urgente, faminto,
necessitado.
— Agora vou ter que comprar um presente especial pro Rafael — ela
reclama quando se afasta para respirar. — Mas preciso agradecê-lo por ter
nos dado outra chance.
— Ei, por que ele ganha o presente? — provoco e ela me olha,
umedecendo os lábios.
— Porque eu te dou algo diferente. — Ela rebola em meu colo e meu
pau começa a endurecer.
— Gosto do jeito que você pensa, senhorita Jones. — Chupo e
mordisco seu lábio.
Minhas mãos descem por seus braços até alcançarem a barra do seu
vestido e tirá-lo em um movimento fluído, minha boca retorna para a sua
assim que me livro da peça e massageio seus seios. Olivia arfa e arqueia as
costas, se esfregando contra a minha ereção com apenas sua calcinha e
minha calça de moletom me separando de sua boceta quente.
Uma de minhas mãos passeia por seu corpo, alisando sua barriga e
descendo para seu ventre, meus dedos afastam o tecido úmido de sua
calcinha e buscam seu clitóris, o estimulando em seguida.
— Ethan — ela geme, chupando o meu pescoço.
— Eu sei, Liv — respondo e deslizo um dedo para seu interior
ensopado. — Tão molhada.
Ela cavalga a minha mão com vontade, me usando para seu prazer.
Insiro mais um dedo, ela geme gostoso contra mim e sinto meu pau latejar.
Retiro meus dedos e ela protesta.
— Preciso sentir essa sua boceta deliciosa esmagando o meu pau.
Olivia concorda com a cabeça e fica de joelhos me dando espaço para
abaixar minha calça e libertar a minha ereção.
— Merda — reclamo.
— O que foi? — Liv pergunta.
— As camisinhas estão no quarto. — Deixo a minha cabeça cair
contra as costas do sofá.
Meu pau é envolto por uma sensação quente e úmida, levanto a
cabeça rapidamente e vejo Liv me posicionando contra a sua entrada.
— Eu tomo anticoncepcional.
Aquelas três palavras reverberam pela minha cabeça, ela estava me
dizendo que eu poderia senti-la por inteiro? Sem nada nos separando?
Puta que pariu.
Seguro seus quadris, usando cada partícula de autocontrole que
possuo para impedi-la.
— Você tem certeza disso? — as palavras saem tensas.
— Me deixa sentir você — suas palavras são a minha ruína,
estilhaçando meu controle e um grunhido deixa a minha garganta.
Meus dedos apertam a carne macia de seus quadris enquanto eu a
puxo para mim, me enterrando dentro dela de uma só vez.
— Porra, caralho — xingo. — Que deliciosa.
Uma de minhas mãos sobe para sua nuca, trazendo seu rosto para
mim e minha boca devora a dela que começa a cavalgar lentamente sobre o
meu colo, sua boceta abraçando a minha ereção.
Seguro seus quadris para auxiliar seus movimentos quando ela
começa a quicar em meu pau, sentir sua boceta sem nada nos separando me
aproxima do limite mais rápido do que o normal. 
Nossos movimentos aceleram gradualmente, os gemidos de Liv se
tornam mais necessitados. Ela morde meu pescoço e se levanta até quase
me retirar de dentro dela para se sentar de uma só vez me esmagando no
processo. 
 — Vou gozar — anuncio.
Ela só me aperta mais contra ela e continua seus movimentos, poucos
segundos antes de estremecer no meu colo, seus espasmos me levam ao
limite e o orgasmo me domina.
Olivia se afasta ofegante, seus olhos encontrando os meus e não sei
quanto tempo ficamos ali, perdidos um no outro. Ponho uma mecha de seu
cabelo atrás da sua orelha antes de puxá-la para mais um beijo. 
Alguém estala a língua e nos afastamos de súbito olhando para o lado
onde Tristan segura dois sacos de compras e nos olha com um ar
desapontado. Eu nem mesmo ouvi a porta se abrindo.
— Tão rude — reclama e se senta no braço do sofá, largando as
compras na mesinha de centro. — Eu fui ao mercado para comprar as
coisas para o nosso jantar e vocês nem tiveram a decência de me esperar
para transarem.
— A culpa foi dele — Liv se defende e Tristan deixa seu olhar descer
pelo corpo seminu da morena montada em mim.
Ele acaricia os lábios inchados dela com o polegar.
— E você caiu pelada no pau dele? Coitada da minha safada. — Ele a
beija, trazendo o lábio inferior de Liv entre os dentes. — Mas eu sei como
vocês podem me recompensar por essa ofensa.
— Ah, é? — pergunto.
E ele desvia seus olhos de aço para mim e a promessa que eu
encontro ali, faz um calafrio de prazer percorrer minha coluna e minhas
bolas se contraírem.
— Pro quarto, os dois — ele comanda.
Minhas mãos agarram a bunda de Olivia e eu me levanto, trazendo-a
comigo. Minha calça cai até meus tornozelos e eu me livro dela antes de
seguir Tristan pelo corredor. Eu a deito no colchão antes de me levantar e
olhar para Tristan.
— De quatro, safada — ele diz, batendo na bunda dela quando ela o
obedece. Ele tira a calcinha dela e a joga no chão antes de se virar em
minha direção.
Tristan se aproxima de mim e segura meu pau, masturbando-o com
força. Ele cola a boca na minha, sua língua me invadindo rapidamente.
— Eu não vou te privar da boceta deliciosa da Liv, não precisa se
preocupar, Hart — ele murmura contra os meus lábios. — Vou te comer
enquanto você fode a nossa garota.
Liv geme alto diante de sua declaração à medida que eu sinto o meu
corpo entrar em ebulição. A mera ideia de sentir os dois ao mesmo tempo,
faz meu pau se contorcer.
Subo na cama, me posicionando atrás de Olivia, minhas mãos
acariciando seu corpo, ela empina a bunda, espalhando sua lubrificação por
meu pau. Enquanto isso, Tristan busca o frasco de lubrificante e o
preservativo.
Pincelo meu pau na entrada de Liv, sentindo-a se contrair e empurrar
o corpo contra mim.
— Tão ansiosa — provoco e a penetro apenas com a cabeça do meu
pau, segurando sua cintura para impedir que ela avance. — Caralho, como
isso é bom — gemo.
— Vai ficar ainda melhor — Tristan promete atrás de mim e sinto o
toque de seus dedos cobertos pelo lubrificante me tocarem.
— Mal posso esperar — Liv diz, rebolando e olhando para trás
tentando ver onde Tristan está prestes a me penetrar.
Sinto a cabeça do seu pau forçar o meu cu e invadi-lo lentamente, me
fazendo penetrar Liv por reflexo. É como se eu tivesse me tornado um
condutor entre eles, a cada centímetro que Tristan me preenche eu faço o
mesmo com Liv. É uma lentidão torturante, o prazer se espalha por todo o
meu corpo, como pequenos choques elétricos.
Nossos gemidos se tornam mais altos e mais urgentes quando sinto
seu abdômen se colar às minhas costas um instante antes de eu me enterrar
em Liv por inteiro e a sensação de sua boceta quente e molhada abraçando
meu pau sem nada entre nós deve ser a definição de divino no dicionário,
aliado ao pau duro e grosso de Tristan no meu cu que torna a experiência
em algo além.
Ele começa a se movimentar, me fodendo com força e eu estoco na
morena no mesmo ritmo. Meu corpo inteiro queimando e explodindo a cada
nova investida.
Uma de minhas mãos sobe pelo corpo da morena, massageando um
dos seios no caminho para o meu destino, sua garganta. Meus dedos
envolvem seu pescoço e ela esmaga meu pau me fazendo contrair o corpo
em resposta e arrancando um grunhido de Tristan.
Nossos movimentos se aceleram até que eu sinta o tesão me
dominando, buscando uma saída.
— Vou gozar — anuncio.
— Isso, enche a nossa safada com a sua porra, Hart.
Liv não responde, mas sinto seu corpo se contrair ao apertar um
pouco os meus dedos em seu pescoço e ela goza em mim, me levando ao
limite.
— Porra! — exclamo soltando seu pescoço e me esvaziando dentro
dela.
— Era isso que eu queria ver — Tristan elogia e alcança o próprio
orgasmo.
Ele se retira e lamento sua ausência automaticamente, deixar a boceta
de Liv é uma tortura diferente. Deito-me ao seu lado e afasto seus cabelos
do rosto, ela me fita com um sorriso satisfeito nos lábios.
Tristan se deita sobre ela, beijando os lábios da morena antes de se
afastar e tomar os meus.
— Estão perdoados — ele diz e trilha beijos pelo corpo da morena até
alcançar o meio de suas pernas. Seu rosto se afunda e Olivia segura os
lençóis com força se contorcendo, as costas arqueando no colchão. —
Agora eu quero experimentar o sabor dos dois misturados. 
 
 
Estico-me no colchão alcançando o peito firme de Ethan, tateio o
outro lado da cama procurando Olivia, mas seu lugar está frio. Abro os
olhos confuso, a morena é a mais dorminhoca de nós três.
Lembro-me das ameaças contra a sua vida e é como se tivessem
jogado um balde de água gelada sobre mim. E se aconteceu alguma coisa?
Mas recordo que estamos no apartamento seguro, com câmeras e um outro
segurança do outro lado do corredor. Eu teria acordado se alguém tivesse
entrado, certo? E, é claro, ela está literalmente dormindo com o guarda-
costas.
Minha atenção vai para o homem dormindo tranquilamente ao meu
lado e meu coração se acalma, ele não deixaria nada acontecer a ela. Ethan
fica tão mais bonito com essa expressão suave, não que eu não ame quando
ele está em seu modo todo sério e protetor, ou quando está com ciúmes.
Porém, existe algo extremamente cativante em seu semblante relaxado.
Passo a mão cuidadosamente pelos cabelos curtos, minha mente
repassando os últimos meses e tudo o que vivemos. É estranho pensar que o
guarda-costas sério e quieto tem um lado brincalhão, sarcástico, que ao
mesmo tempo que é alguém capaz de foder tão violentamente que me faz
ver estrelas também é dono de um coração tão grande.
Caralho. Eu estou apaixonado por ele.
Levanto-me da cama um pouco atordoado com o pensamento.
Sigo pelo corredor em direção à sala, na TV tem uma imagem de uma
biblioteca aparentemente mágica acompanhada de uma melodia suave.
Olivia está sentada de pernas cruzadas tipo buda no meio do sofá, os
cabelos presos por um lápis em um coque. Ela tem o laptop aberto sobre a
mesinha de centro e muitas folhas de papel ao seu redor enquanto murmura
algo pra si mesma.
Apoio meu queixo em sua cabeça, meus braços envolvendo seu
pescoço.
— Boa tarde, dorminhoco — ela me cumprimenta, uma de suas mãos
cobrindo as minhas.
— Essa é a minha frase, estou me sentindo um pouco atacado —
respondo. Olhando os papéis com atenção e percebendo que são plantas de
algum cômodo, cheio de anotações e desenhos.
— Por quê? — Ela vira o rosto para cima tentando me encarar.
— Porque você deveria estar jogada naquela cama, completamente
saciada e exausta depois de ter dois homens te comendo — respondo e ela
ri.
— E se eu disser que eu estava exausta, mas dormir ao lado dos dois
foi rejuvenescedor e acordei inspirada? — pergunta, indicando a bagunça
ao seu redor.
— Acho que ajuda, um pouco.
— Ótimo — ela concorda.
— O que é tudo isso? — questiono, olhando com mais atenção. Meu
foco parando em um caderno com algumas coisas riscadas.
Leva alguns segundos até Olivia notar para onde estou olhando e se
apressar em fechar o caderno, mas não antes que eu terminasse de ler.
 
— As metas da Olivia de 20 anos — ela dispensa, escondendo o
caderno debaixo dos outros papéis. — E um projeto inacabado, nada
demais.
Olho para o computador e é a mesma aba que eu tinha visto antes.
— O que é o IDA Design Awards? — pergunto contornando o sofá
para me sentar ao seu lado.
— É um dos maiores prêmios internacionais para os mais diversos
tipos de design, as inscrições acabam no próximo mês — ela responde e
volta a olhar seus papéis. — Mas tem algo errado com o meu projeto. —
Seus ombros caem derrotados. — Eu já revi tudo mil vezes, até mesmo no
programa de 3D, mas simplesmente não encaixa — reclama.
— Que tal me contar, às vezes, a visão de alguém de fora pode ajudar
— ofereço.
— Tem certeza? — pergunta, mas nem me espera terminar.
Seu rosto inteiro se ilumina e ela começa a pegar planta depois de
planta, mostrando e explicando como imagina cada coisa, as cores e as
inovações para cada ambiente. Olivia parece se transformar diante dos meus
olhos, sua energia é contagiante e eu me pego concordando com a cabeça
para suas observações. Ela está tão animada, tão cheia de vida que sei que
esse é realmente o seu sonho, sua vocação.
Meu coração bate acelerado enquanto a observo, o sorriso
resplandecente, os olhos brilhando de animação e as mãos que não param
de gesticular.
Eu não estava apenas apaixonado por Ethan, mas também por Olivia,
pela sua alma livre e artística que combina com a minha. Porra.
— Mesmo com cada parte perfeita, ainda parecem não fazer parte do
mesmo quebra-cabeça — conclui resignada.
Lembro-me do primeiro item do seu caderno, suas metas de seis anos
atrás e fico orgulhoso da sua resiliência, de não ter desistido e de ainda estar
buscando realizar os seus sonhos.
— Às vezes, quando estou trabalhando em uma arte nova que mescle
diferentes elementos, preciso me afastar para ver o todo e realmente
encaixá-los, porque nem sempre eles combinam entre si de forma
harmônica de primeira — falo.
— PUTA QUE PARIU! — ela grita, se levantando do sofá
subitamente. Ela vai pegando as plantas e colocando-as no chão. Quase dá
pra ver sua mente trabalhando, ela as move de lugar. Mexe no ar, como se
estivesse reorganizando as coisas que só ela pode ver, seu sorriso se
alargando.
Seu olhar encontra o meu e ela pula no meu colo.
— Você é um gênio, Tristan!
— Já ouvi algo similar. — Ela revira os olhos e sua boca toca a
minha.
Ela me beija com urgência, com carinho e agradecimento. Sua língua
dançando com a minha. Ela deixa beijos por todo o meu rosto, murmurando
“obrigada” depois de cada um, antes de pular de volta para onde estão seus
papéis.
— Eu não acredito. — Seus olhos se enchem de lágrimas.
— Que comoção é essa? — Ethan pergunta com a voz sonolenta,
apoiado na parede do corredor.
— Tristan acabou de resolver o meu problema — Liv exclama e corre
para abraçá-lo. O sorriso cheio de admiração que ele dá para a morena, me
diz que eu não sou o único que está caidinho por ela.
Olivia enrola as pernas na cintura dele e o enche de beijos.
— Vem ver — ela chama e Ethan caminha com ela até o sofá.
Ela passa a explicar todo o seu projeto outra vez e eu continuo tão
cativado quanto antes. Ethan passa um braço pelos meus ombros e eu me
acomodo em seu peito para observar a nossa garota brilhar.
 
— Passa a pipoca — Tristan pede, acariciando minha coxa.
Eu me estico, pego o balde na mesinha de centro e passo para ele,
voltando a me acomodar sobre as pernas de Ethan e assistindo o filme que
eles escolheram.
— Você consegue fazer isso? — pergunto pro meu guarda-costas
quando o protagonista do filme consegue matar umas quinze pessoas em
uma sala e ainda proteger a mocinha.
— É literalmente o meu trabalho, Liv — ele diz e eu ouço a risada em
sua voz.
Meu celular apita com uma notificação, mas eu o ignoro, prestando
atenção no filme, mas quando a quinta notificação chega em sequência,
estendo o braço pegando o aparelho.
— O que foi? — Tristan pergunta com a boca cheia de pipoca.
Olho as mensagens, Brooke me mandou um link, assim como as
meninas da Sociedade dos Viradores de Página, elas não param de mandar
mensagem, o próximo alerta é uma notícia do Google com o nome do meu
pai.
Sento-me no sofá, entre Tristan e Ethan, que se curvam para olhar
para o aparelho ao passo que eu leio a notícia.
Governador da Califórnia Celebra Aprovação de
Lei que Garante Direitos das Mulheres ao
Aborto
Em um marco significativo para a saúde das
mulheres e os direitos reprodutivos, o governador
do estado da Califórnia comemorou a recente
aprovação de uma lei histórica na Casa dos
Representantes estadual. A nova legislação,
amplamente aclamada como um passo crucial em
direção à igualdade de gênero e ao acesso à saúde
pública, garante o direito das mulheres ao aborto.
Essa era a lei que ele estava tentando aprovar? Uma memória da
minha adolescência ressurge, de antes de toda a merda que aconteceu, eu e
ele em seu escritório discutindo a importância das clínicas de aborto e de
como era um dever do Estado prover acesso seguro a este tipo de
procedimento. Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto eu continuo a
ler a notícia.
Após acalorados debates e discussões, a Casa dos
Representantes aprovou a lei por uma margem
confortável de votos, refletindo o compromisso do
estado da Califórnia com a proteção dos direitos
reprodutivos das mulheres. O governador expressou
sua satisfação com a aprovação da lei, destacando
que a medida é fundamental para salvaguardar a
saúde e o bem-estar das mulheres californianas.
Essas foram as minhas palavras, ele estava me citando indiretamente.
Saber que ele estava sendo ameaçado por estar lutando por algo tão
importante para mim é estranho. Depois de tanto tempo acreditando que ele
não me respeitava, não aceitava as minhas decisões.
A nova lei reconhece o direito das mulheres de
tomarem decisões sobre seu próprio corpo, ao
mesmo tempo que reconhece a importância da
saúde pública. Defensores da medida argumentam
que, ao garantir o acesso seguro e legal ao aborto,
a Califórnia está dando um passo crucial para
reduzir os riscos associados a procedimentos
clandestinos e não regulamentados.
A aprovação da lei foi recebida com elogios de
organizações de direitos das mulheres, grupos de
saúde pública e cidadãos engajados, que veem isso
como um passo importante para proteger a
autonomia das mulheres e garantir a igualdade de
oportunidades em todos os aspectos da vida.
A nova legislação entra em vigor imediatamente,
marcando uma vitória para aqueles que lutam pela
justiça social e pelos direitos das mulheres no
estado da Califórnia.
 
— Acabou, então? — Tristan pergunta.
Dou de ombros, ainda tentando processar todas as emoções que estou
sentindo. Como ele pode lutar pelo direito das mulheres sobre os próprios
corpos e ainda querer me forçar a me casar? Será que ele não percebe a
hipocrisia nisso tudo? Ou ele simplesmente não se importa com nada além
da sua carreira política?
— Eu acho que sim.
Viro-me para Ethan e ele continua encarando o celular em minhas
mãos, seu olhar distante.
— Ei, você deveria estar feliz — brinco, empurrando seu ombro.
— O que você disse? — ele murmura, balançando a cabeça como se
saindo de um transe.
— Você deveria estar feliz, vai se livrar do seu dever de ser minha
sombra — respondo, ignorando a forma como meu coração se aperta diante
da realidade que Ethan não vai mais dormir na minha cama todas as noites,
que eu não vou mais ouvir o seu ressonar baixinho, que não tomaremos café
da manhã juntos antes de sair para o estúdio, que ele não vai caminhar com
a mão repousando na base das minhas costas para todos os lados porque ele
não vai mais estar ao meu lado.
— Isso é uma merda — Tristan exclama. — Vou sentir falta de ver
essa cara linda todos os dias.
— E se eu não estiver pronto para deixar de vê-los todos os dias?
A sua pergunta faz meu coração se acender com esperança.
— O que você quer dizer?
Sinto os braços de Tristan envolverem a minha barriga e ele apoia a
cabeça no meu ombro, olhando para Ethan.
— Acho que ele está nos pedindo em namoro, gostosa.
Encaro Ethan, minha cabeça pela primeira vez desde que me entendo
por gente em silêncio.
— É isso? — sussurro.
E então Ethan faz algo que me surpreende, ele cora.
— Não sei o que é isso que temos, a única coisa que eu tenho certeza
é de que não estou pronto para abrir mão de nenhum dos dois. — Ele
intercala olhares entre mim e Tristan. — Eu nem acreditava que isso era
possível, quer dizer, todos nós sabemos que é possível, mas eu achava que
era a exceção, mas se vocês me aceitarem, podemos tentar. Não posso fazer
promessas de que tudo vai ser fácil, mas posso garantir que eu estou nesse
relacionamento por inteiro. — Ele esfrega o rosto com uma das mãos. — O
que estou tentando e falhando em dizer é que me apaixonei por vocês.
Tristan segura a gola da camiseta de Ethan e o puxa para a frente,
colando os lábios nos dele, sua língua invade a boca do loiro com lascívia e
eles estão tão perto de mim que consigo ver tudo e meu corpo
automaticamente esquenta.
Tristan segura o lábio de Ethan entre os dentes enquanto se afasta, seu
olhar buscando o meu e ele sorri.
— Eu não posso prometer nada além de orgasmos deliciosos para os
dois. — Ele dá de ombros. — Mas aceito seu pedido, porém, ainda acho
que deveria ter tido flores ou algo mais romântico.
Meu coração dispara e levo alguns segundos para perceber que eles
estão esperando uma resposta. As palavras se acumulam na minha garganta
formando um bolo, mas não consigo ter coragem de confessar a verdade
que eu já sei no meu íntimo.
— Um trisal para chamar de meu? Contem comigo — brinco,
engolindo meus sentimentos e me jogando nos braços dos meus namorados
que me olham com uma adoração que lentamente se transforma em fome e
incendeia o meu corpo.
— Acho que é hora de celebrar — Tristan diz e suas mãos descem
para o botão do meu short. Ele se livra da peça levando a minha calcinha
junto.
— Vai cumprir sua promessa? — provoco.
— Sabe que sim, safada. — Ele se vira para Ethan. — Acho que você
deveria ir buscar camisinhas, a noite vai ser longa.
A promessa em seu tom faz minha boceta pulsar, esmagando o vazio
e me fazendo reclamar. Tristan se abaixa e murmura para meu sexo:
— Não se preocupe, vou cuidar bem de você. — Ele me lambe antes
de se afastar com o sorriso malicioso.
Ele tira a minha camiseta e sua boca encontra meus seios, lambendo e
mordiscando o mamilo. Eu arfo e abraço sua cintura com as minhas pernas,
puxando-o contra mim e xingando mentalmente suas calças por estarem me
impedindo de sentir seu pau duro plenamente.
— Nunca vou me cansar dessa visão — Ethan diz ao se aproximar do
sofá.
Olho para ele mordendo o lábio inferior conforme nosso namorado
chupa meus peitos.
— Você realmente é uma safada — o loiro diz com apreciação e me
sinto ficar ainda mais molhada.
— Eu não posso mais esperar — Tristan avisa, se levantando. Ele
estica a mão para Ethan e pega o preservativo. — É melhor você estar
pronta para mim, namorada — ele avisa e se senta, se livrando da calça e
alisando a sua ereção antes de colocar a camisinha.
— Sempre estou pronta pra vocês — respondo e monto em seu colo,
de costas para ele.
Ele geme quando meus dedos tocam seu pau, guiando-o para a minha
entrada. Eu o provoco, rebolando sobre a cabeça sem deixá-lo me penetrar e
ele grunhe às minhas costas.
— Liv... — pede e suas mãos seguram meus quadris me puxando para
baixo e eu deixo, seu pau grosso me penetrar de uma só vez e nós dois
gritamos em uníssono.
Quando olho para o lado vejo Ethan batendo punheta enquanto me
observa cavalgar Tristan com uma expressão faminta.
— Vem cá, namorado — chamo e ele caminha até estar parado na
minha frente.
Seguro seu pau, babando na cabeça antes de me inclinar e enfiá-lo
fundo na minha garganta e nesse momento Tristan estoca contra mim, me
fazendo engasgar.
— Porra — meu segurança geme.
Ethan segura meus cabelos e começa a foder a minha boca no mesmo
ritmo das investidas de Tristan.
Puta que pariu.
Tristan bate na minha bunda com força, fazendo um espasmo de dor
que se transforma em prazer me percorrer.
O orgasmo me dilacera sem aviso, se espalhando por mim como um
raio, segundos antes de Tristan gozar, mordendo o meu ombro, Ethan
explode na minha boca e eu não desperdiço nem uma gota.
É real, até porque é melhor do que qualquer sonho que eu poderia ter.
Eles são meus e eu estou completamente rendida por eles. 
 
Na manhã seguinte, após a notícia de que a lei do governador tinha
sido aprovada, Kyle ligou para me informar que o contrato tinha terminado.
A ligação foi rápida e direta e quando eu perguntei com apreensão se
já tinha outro contrato planejado para mim, ele me informou que como esse
tinha sido longo me dariam algumas semanas antes da minha próxima
atribuição.
Olivia ligou para seu senhorio e ele informou que o apartamento
ainda estava sendo renovado, pois encontraram algum outro problema na
infraestrutura.
— Parece que eu estou sem-teto, de novo — ela reclamou.
— Seu pai já pediu o apartamento de volta? — Tristan perguntou, eu
sempre ficava admirado em como as coisas pareciam simples na cabeça
dele.
— Não, mas eu assumi que teria que ir embora.
— Se ele quiser que você saia, vai ter que pedir, você tem as chaves e
permissão, não vejo por que se mudar agora — ele respondeu, se
espreguiçando no colchão.
— É um bom ponto, Jack vai voltar para sua casa, mas podemos
continuar aqui — falei.
— Podemos, é? — Ela abraçou a minha cintura e levantou o rosto
para me encarar. Envolvo seu corpo, inclinando meu rosto para dar um
beijo na ponta de seu nariz antes de responder.
— Claro, eu até poderia voltar para o meu apartamento, mas por que
eu faria isso se posso continuar dormindo agarrado com meus namorados?
— Namorados, isso significa que vamos morar juntos? — Tristan
provocou.
— Nós meio que já passamos os fins de semanas juntos de qualquer
forma. Acho que era isso que Ethan estava querendo dizer.
— Vou ter que passar em casa e pegar algumas roupas então —
Tristan concluiu como se não fosse nada demais.
Meus namorados são tão diferentes um do outro que não é surpresa eu
ter acabado apaixonado pelos dois.
Namorados, isso ainda soa tão surreal.
É estranho caminhar de mãos dadas com Olivia pela rua, apenas dois
dias atrás ela ainda era apenas a minha cliente. 
Preciso apresentá-los a Lilly, ela vai ficar feliz por mim. Eu acho.
Espero.
Tento imaginar o rosto da minha irmã os conhecendo, ela e Liv se
entenderiam de cara ao conversarem sobre livros e os filmes que gostam e T
certamente faria alguma piada em um momento inoportuno. A simples ideia
de Lilly Hart na mesma sala que Olivia e Tristan é uma cena tão engraçada
que não consigo suprimir a risada.
— Por que você está rindo? — Liv pergunta me olhando.
— Não posso? — Ela revira os olhos e aperta o botão para
atravessarmos a rua. — Estava pensando que agora que você aceitou ser a
minha namorada...
Ela dá uma cotovelada nas minhas costelas e me olha torto.
— Você soa tão presunçoso — reclama, revirando os olhos.
— É porque eu estou orgulhoso, Olivia Jones é a minha namorada,
considerando tudo que aconteceu, acho justo eu me achar por isso. — Passo
um braço por seu ombro, puxando-a contra mim e beijando o topo da sua
cabeça.
— Você não é o único, sabe? — ela implica.
— Não tenho ciúmes de nosso namorado, não mais.
Ela se vira para mim com um sorriso deslumbrante.
— Finalmente admitiu que sentiu ciúmes! — provoca e a luz fica
verde indicando que podemos atravessar.
Estamos quase no estúdio, será que eu deveria esperar para convidá-
los juntos? Mas se Liv for surtar é melhor ser antes de Tristan ver. Assim
lido com uma crise por vez, será que eles vão achar que estamos indo
rápido demais?
Lilly é a única família que me resta, não consigo pensar em guardar
isso por muito mais tempo dela.
— Como eu estava dizendo antes de ser rudemente interrompido. —
Ela revira os olhos. — Precisa conhe... — as palavras morrem na minha
boca.
O som de um carro desacelerando ao nosso lado chama a minha
atenção e eu me viro a tempo de ver o cano da arma apontado para nós.
Instinto domina o meu corpo, adrenalina percorre meus músculos e as
coisas passam a acontecer em câmera lenta, todo o tempo a mesma palavra
ecoa na minha cabeça.
NÃO.
NÃO.
NÃO.
O único pensamento em minha mente é que não posso viver em um
mundo onde Olivia não exista. O meu mundo é mais brilhante com ela nele.
Ela é o laço que nos une, mas se alguém tiver que partir, serei eu, ao menos
ela terá o Tristan ao seu lado e sei que ele vai cuidar dela por mim.
E com essa certeza cubro seu corpo com o meu, me usando como um
escudo para a ameaça.
O mundo volta a acelerar no segundo em que o som do disparo
preenche o ar.
Não consigo ouvir o grito de Liv por cima da dor que se espalha pelo
meu peito. Ela queima e drena as minhas forças. Meus joelhos falham
primeiro e minha namorada tenta me segurar, vejo a mancha vermelha que
fica em sua camiseta verde-clara quando eu escorrego para o chão duro e
frio.
O céu está azul, sem quase nenhuma nuvem, eu costumava achá-lo
lindo assim, mas quando Olivia ocupa o meu campo de visão que escurece
rapidamente percebo que ele nunca se comparou com a beleza da minha
mulher.
 
Sangue.
Tem tanto sangue.
É o que eu penso enquanto aperto com as minhas mãos o peito de
Ethan. Seus olhos azuis estão fixos em mim, cheios de dor e agonia.
— Te...amo..., senhorita Jones. — Seus lábios tentam forçar um
sorriso, mas cada palavra parece exigir toda a sua força e seus olhos se
fecham. Sinto as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Era para ter
acabado, penso apertando ainda mais o seu peito e sentindo o sangue cobrir
a minha pele. Não era para isso ter acontecido.
— Não se atreva a me deixar agora, Hart — brigo com ele, mas ele
não volta a abrir os olhos. Meu coração martela no meu próprio peito, como
se pudesse bater por nós dois, compensar o ferimento que ele recebeu. Ouço
a movimentação ao nosso redor, mas não consigo me concentrar em nada
além do homem que se jogou em frente a uma bala por mim. O maldito
idiota. — Siri, ligue para a emergência — grito para o meu celular jogado
na calçada ao meu lado.
— 911, qual a sua emergência? — a voz parece vir de uma realidade
paralela.
As coisas perdem o foco, então, se misturando e distorcendo em um
borrão, o barulho das sirenes, os comandos dos paramédicos, o percurso na
ambulância, os médicos puxando a maca. A única constante é o corpo
inconsciente de Ethan que continua a me assombrar muito depois das portas
terem se fechado e me separado dele quando foi levado para a cirurgia de
emergência.
Meu coração parece se estilhaçar no meu peito com a voz nojenta que
sussurra em minha mente que eu o perdi, que desperdicei todo o tempo que
tínhamos juntos por um desentendimento, por causa de algo tão pequeno,
mesquinho, ridículo. Deusa, por favor, não me deixe perdê-lo.
Esse não pode ser o fim, não vou aceitar, não agora que estamos tão
bem, fazendo planos.
Meu celular vibra no meu bolso e eu nem sequer me lembro de tê-lo
tirado do chão, ou foi um dos socorristas que me entregou? Não consigo
recordar com precisão das coisas que aconteceram desde o disparo até ser
guiada para essa sala de espera pessimamente decorada.
O nome do identificador de chamadas faz meu peito se apertar ainda
mais.
Chefe Gostoso.
Aceito a chamada e a voz grave de Tristan serve como um bálsamo
temporário, me ancorando ao momento.
— Onde vocês estão? — pergunta. Não sei como ele sabe e para ser
sincera não me importo, só quero que ele esteja aqui. Preciso de Tristan
para esperar comigo pela última peça do nosso quebra-cabeça. Ethan não
pode nos deixar, não assim.
— Hospital O’Connor — respondo e as palavras arranham minha
garganta.
— Já estou indo, Liv — promete.
Tento me sentar em uma das poltronas cinzas da sala de espera, mas
minha pele formiga, não consigo achar uma posição confortável. Caminho
pelo cômodo, meu foco na mesa das enfermeiras, na esperança de ver
alguma das pessoas que estavam atendendo Ethan.
Volto para o meio da sala e organizo as revistas sobre a mesinha. Tem
um vaso de flores falsas no canto de uma prateleira cheia de brinquedos
infantis e passo os próximos minutos organizando todos em seus devidos
potes, enfileirando as bonecas e carrinhos na estante, ao lado dos livros
coloridos.
— Parece melhor — murmuro para mim mesma.
Olho para as paredes vazias e dou de ombros, não tenho como
resolver isso.
Não tenho como resolver nada.
A sensação de impotência me domina e me sento, enfiando o rosto
nas mãos quando um novo soluço chacoalha meu corpo. Quanto tempo leva
para tirar a bala de uma pessoa? E se atingiu o coração? Ou o pulmão?
Não lembro de me levantar, mas num segundo estava sentada e no
outro estou no balcão das enfermeiras.
— Oi, já tem alguma informação sobre Ethan Hart? — minha voz
falha ao dizer seu nome. — Ele levou um tiro. — Uma nova onda de
lágrimas escorre pelo meu rosto.
— A senhorita é o quê dele? — pergunta a mulher de meia idade.
— Eu sou a namorada, por favor, eu só preciso saber se ele está vivo
— imploro.
— Infelizmente, só podemos dar esse tipo de informação para
familiares.
— Não tem nada que você possa fazer, por favor? 
Será que ela não entende? Não consegue notar o desespero em minha
voz?
— São as regras, querida, assim que um parente chegar pode pedir a
eles.
Suas palavras provocam uma avalanche nova de dor e pânico. Lilly,
meu deus, Ethan é a única família que lhe resta. Preciso ligar para ela, mas
como?
— Liv? — a voz de Tristan me envolve e sinto meus joelhos
fraquejarem.
Ele me abraça e suas mãos tocam o meu rosto, os polegares secando
as lágrimas que continuam a escorrer. Seu olhar percorre todo o meu corpo.
— Você está bem?
— Não.
— Onde você foi atingida?
— Não, não, eu tô bem, mas eles não me falam sobre ele.
Ele me puxa contra o peito dele e me abraça forte. Seu coração bate
acelerado contra o meu ouvido e de alguma forma aquilo me acalma, a sua
presença me reassegura que vai ficar tudo bem. Eu me agarro a isso, mesmo
sabendo que não passa de uma ilusão, mas não aguento mais o meu lado
racional gritando na minha cabeça que vou perder Ethan para sempre.
Soluço em seus braços, esmagando sua cintura.
— Ele vai ficar bem, Liv, não existe homem mais durão que Ethan
Hart.
— Foi minha culpa.
Tristan se afasta, suas mãos voltando ao meu rosto, ele acaricia as
minhas bochechas.
— Não foi você quem disparou a arma, você não é a culpada e não
vou admitir que pense assim.
— Mas eles estavam atrás de mim.
— E você acha que se estivesse no lugar dele seria melhor? Acha
mesmo que não estaríamos aqui sofrendo por você? Desesperados para
termos notícias suas? Com nossos corações dilacerados porque uma parte
crucial de nós foi levada?
Seus olhos brilham cheios de lágrimas a cada palavra dolorida que ele
profere.
— Nem cogite uma imbecilidade dessas.
Ele me abraça de novo, com ainda mais força do que antes.
— Ele vai ficar bem, Ethan lutou na guerra, ele não vai ser derrubado
indo comprar café, não aceito isso — ele murmura e não sei quem ele quer
reconfortar, mas deixo que as suas palavras encontrem morada no meu
coração.
— Ele vai voltar para nós — respondo.
Ethan Hart vai voltar porque não posso aceitar a alternativa.
 
Eu realmente odeio hospitais.
Odeio o cheiro de produto de limpeza, odeio a falta de cor e
principalmente odeio o desespero que esse ambiente parece carregar. Como
se as paredes armazenassem toda a dor que já presenciaram.
Mas hoje, o que eu mais odeio, é a forma como minha mulher não
consegue parar de chorar em meus braços. Sua dor me dilacera, porque não
posso fazer nada para resolver nosso problema. Se eu pudesse, entraria
naquela sala de cirurgia e gritaria até Ethan voltar para nós.
Afago os cabelos castanhos de Liv, murmurando palavras de consolo
onde imprimo todos os meus desejos de que sejam verdade.
— Shhh, ele vai ficar bem. — Beijo o topo da sua cabeça. — Nós
vamos ficar bem.
Eu não tenho direito de fazer essa promessa, assim como não tenho
permissão de me sentar nesse chão e deixar a agonia e o pânico dançarem
em meu peito como querem fazer, mais tarde quando tudo estiver resolvido
e Olivia estiver bem, talvez eu deixe isso acontecer. Mas agora? Agora ela
precisa que eu seja forte por nós dois.
— Olivia — alguém a chama, e assim que me viro todos os meus
instintos entram em ação. Puxo minha namorada para mais perto de mim
como se a pudesse proteger do homem engravatado que possui os mesmos
olhos azuis que ela e o encaro, pronto para tirá-la dali se ele ousar magoá-la
outra vez.
Aparentemente, o governador Grant Jones ficou sabendo do
acontecido e veio acompanhado de alguns de seus lacaios. Vejo como seus
ombros relaxam ao vê-la, aliviado.
Olivia afasta o rosto do meu peito e eu a sinto estremecer antes de se
dirigir a ele.
— A culpa é sua. — Ela cospe, mas sua voz sai fraca e rouca. — Era
pra ter sido eu. — A dor em sua voz rasga meu peito com garras de aço,
meus braços a apertam outra vez, tentando aliviar seu sofrimento. — Ele se
jogou na minha frente. — Seu corpo chacoalha quando outro soluço
irrompe de sua garganta. — Você disse que tinha acabado. — Sua voz falha
na última palavra.
— Acabou e quem quer que tenha feito isso irá pagar — ele promete
e não me engano por um segundo em achar que ele está se referindo aos
meios legais. — Como ele está? — pergunta se aproximando um passo.
E Olivia explode.
— Eu não sei! Ninguém me diz nada — ela reclama exasperada,
olhando de forma acusatória para as enfermeiras. — Dizem que como eu
não sou um familiar não podem me dar essas informações — repete.
As lágrimas escorrem pelo seu rosto e ela se vira, escondendo o rosto
no meu peito outra vez, afago suas costas. Impotente para fazer qualquer
outra coisa.
— Entendo — o governador responde. — Espere aqui.
— Não me dê ordens — Liv vocifera e uma parte de mim fica
admirado com o nível de raiva que ela consegue atingir mesmo com tudo
que está acontecendo e depois murmura contra meu peito. — Como se eu
fosse a algum lugar.
Acompanho o Governador se aproximar da estação das enfermeiras e
como elas se agitam ao perceber quem está ali.
Não presto atenção no que dizem, por mim podiam todos desaparecer.
Toda a minha atenção está na mulher em meus braços.
Seguro seu rosto em minhas mãos e beijo suas lágrimas.
— Quer se sentar? — ofereço e ela nega.
— Não vou sair daqui até descobrir como ele está — declara. — Era
tanto sangue, T.
Olho para suas mãos ainda sujas e a roupa manchada que ela parece
não notar.
— Eu sei, meu amor, eu sei. Mas ele vai ficar bem — prometo outra
vez, trazendo-a contra meu peito.
Estou decidindo a melhor forma de convencê-la a ir comer alguma
coisa ou quem sabe achar um café para ela quando uma mulher de jaleco
branco se aproxima de nós.
— Boa tarde, eu sou a doutora Jenkins, vocês que estão
acompanhando o senhor Hart? — A mão de Olivia esmaga a minha, ou é ao
contrário?
Meu coração pausa no peito, a expressão neutra da médica me causa
calafrios, ela não poderia estar sorrindo? Ou ela não está porque algo está
errado...
— Sim, somos nós.
— A cirurgia correu como esperado e retiramos os fragmentos da bala
— ela explica com a voz treinada. — Ele está sendo encaminhado para o
quarto, seu corpo permanecerá ligado a aparelhos para lhe permitir tempo
para se recuperar, mas como ele sofreu um dano à sua aorta...
Ela não pode só dizer se ele está bem?
— Doutora, eu não entendo nada do que você está dizendo — Olivia
a interrompe e agradeço mentalmente, já que estava prestes a fazer o
mesmo. — Ethan vai ficar bem?
— Esperamos que ele tenha uma recuperação completa, mas vamos
mantê-lo sob observação pelos próximos dias. 
— Ai, que bom — minha namorada exclama. — E quando
poderemos vê-lo?
— Então, ele vai permanecer em coma induzido enquanto se recupera
dos efeitos da cirurgia, quando estiver pronto e sem riscos iremos retirar a
sedação e poderemos ligar para informá-los e estarão aqui quando ele
acordar. No momento, a presença de vocês não é necessária e nem
permitida no quarto — ela explica com a voz calma como se já tivesse feito
isso milhares de vezes. — Hoje foi um dia traumático, deveriam ir para casa
e descansar, prometo que ligo assim que o senhor Hart estiver pronto para
receber visitas. Posso lhes assegurar que ele está sendo bem-cuidado e
monitorado.
— Entendo, muito obrigada, doutora Jenkins — Liv concorda
prontamente e eu a encaro confuso. Até agora ela se recusava a sair do
hospital sem pôr os olhos em Ethan e vai acatar as palavras da médica sem
reclamações?
Assim que a doutora nos deixa a sós, Olivia se vira e segue com
passos firmes para a sala de espera, eu a sigo, tentando decifrar o que passa
dentro da sua cabeça. Quando chegamos lá e encontro seu pai sentado em
uma das poltronas mexendo em seu iPad as peças começas a se encaixar.
— Olivia — ele diz surpreso. 
— Eu quero que você arranje uma autorização para que eu e Tristan
possamos ficar com Ethan, não quero saber como você vai fazer, não me
importo — ela declara, cada palavra soando como uma ordem. — Dê seu
jeito. — Ele abre a boca para responder, mas ela levanta um dedo. Não sei
os detalhes de sua relação conturbada, porém a forma como Olivia fala me
faz acreditar que está esperando que o governador rejeite seu pedido. —
Não terminei, não me interessa como isso vai repercutir na sua reputação
impecável, você paga milhares de dólares para seus assistentes de relações
públicas lidarem com escândalos, eles que se virem. 
Ela pausa para respirar.
— Tristan e eu... — ela segura a minha mão. — Ficaremos aqui até
que Ethan acorde e você vai fazer isso acontecer.
O governador se levanta e Olivia se endireita, toda a sua postura está
tensa, como se ela estivesse pronta para entrar num ringue.
— Será feito, Olivia. Você terá tudo que precisar, no momento que
precisar. — Ele abotoa o terno, acena para seu segurança e os dois deixam a
sala.
No momento em que estamos sozinhos, viro Olivia nos meus braços
para que ela possa ver o orgulho estampado em meu rosto.
— Você lidou com a situação como uma rainha. — Ela começa a
respirar fundo, seu peito se movendo. — Estou admirado com seu sangue-
frio, sei que não é o momento nem o lugar, mas foi sexy para caralho vê-la
ordenando um dos homens mais poderosos do país.
— Eu nem acredito que fiz isso — ela confessa em um fio de voz. —
Falar com ele sempre me faz lembrar de quando eu era uma criança, quando
sua aprovação era tudo que eu queria, buscava, uma parte minha sentia
como se eu estivesse falhando outra vez.
Seus olhos se enchem de lágrimas e fico tentado a ir socar a cara do
pai da minha namorada por algum dia tê-la feito se sentir inferior. O idiota
claramente tem algum problema se não conseguia ver o quão incrível é a
filha. 
Seguro seu rosto em minhas mãos, com cuidado e delicadeza.
— Você não falhou, Liv.
Colo meus lábios nos seus, e seu gosto é como as primeiras flores da
primavera, uma pincelada de cor no mundo cinza deixado pelo inverno. Eu
me afogo nessa sensação e em como ela acalma parte de mim. Enfio meus
dedos em seus cabelos, puxo-a ainda mais para mim e sinto Olivia se
moldar a mim.
Alguém limpa a garganta ao nosso lado e nos afastamos.
Uma enfermeira de cabelos vermelhos nos encara e pergunta:
— Hm, você é a namorada do senhor Hart? — incerteza em sua voz.
Olivia se afasta de mim e se vira para ela.
— Sim, sou eu.
A enfermeira arregala os olhos e desvia a atenção para mim antes de
voltar a fitar Olivia incrédula. 
— Hm, é… eu sou a enfermeira Gabriella, responsável pelo seu é…
namorado, o senhor Hart, e vim informá-la que o seu quarto está sendo
providenciado.
— Muito obrigada, Gabriella, pode nos chamar quando estiver
pronto? — minha namorada pergunta.
— Nos chamar? Os dois? — ela parece tão confusa. — Ah, sim,
claro, pode deixar. 
A enfermeira se retira da sala de espera com a mesma rapidez que
chegou sem dúvida indo contar para as colegas que Olivia está traindo o
namorado que foi baleado para protegê-la dentro do hospital em que ele se
recupera.
— Parece que seu pai não é o único a criar comoções neste hospital
hoje — provoco, envolvendo a cintura de Olivia. 
Minha namorada dá de ombros antes de se esticar para me beijar
rapidamente.
— Não me importo, que pensem o que quiserem, hoje o único que
importa é ele. — Ela franze as sobrancelhas e desvia o olhar. — Isso soou
tão estranho, há tantos anos eu não o considero uma parte relevante da
minha vida que lhe dar importância é bizarro, para dizer o mínimo. 
— É por uma boa causa. — Beijo sua testa. — Estou orgulhoso de
você, Liv. — Eu a abraço forte, inspirando o seu perfume. — Vamos ver
nosso namorado em breve. — 
Nem acredito que isso vai mesmo acontecer.
 
Meu corpo se sobressalta e esfrego os olhos percebendo que cochilei
na poltrona, ergo meu olhar e encontro Olivia parada no mesmo lugar de
antes. Em pé, olhando através da parede de vidro que separa o nosso quarto
do de Ethan.
Eu diria que ela não se moveu durante todo esse tempo, mas a caneca
fumegante em sua mão diz que ela foi atrás de café, de novo. 
— Alguma novidade? — pergunto, inutilmente enquanto espreguiço e
me levanto para me juntar a ela.
— Aparentemente, eu sou uma vaca mimada e cruel que está traindo
o segurança que foi baleado ao me proteger e trouxe meu amante para
esperar sua recuperação.
— Fui promovido a amante — digo a abraçando. Desde que
chegamos aqui há três ou quatro dias, já nem sei, as fofocas sobre nós estão
espiralando sem controle. Cada uma mais absurda que a anterior. Sempre
que um de nós sai do quarto escuta uma nova versão.
— Pois é. — Ela se vira para mim e noto as olheiras sob seus olhos
azuis. — Trouxe café pra você.
Ela indica a mesinha ao lado da cama de hospital que temos usado.
— Você comeu alguma coisa enquanto eu dormi? — pergunto,
sabendo a resposta pela forma como ela torce os lábios e desvia o olhar.
— Não tô com fome, Tristan — ela me dá a mesma resposta dos
últimos dias. Olivia não come desde o café da manhã que dividimos antes
do tiroteio. 
Na primeira noite, eu a ajudei a tomar banho, e enquanto a água
lavava o sangue seco de Ethan ela chorava em meus braços. Vestimos as
roupas limpas que Brooke trouxe quando veio nos visitar. Mas ela não
comeu nada no jantar, alegando que estava sem fome, e não se alimentou
desde então.
— E você fechou os olhos por 20 minutos, no máximo. Deveria
dormir — ela me aconselha, acariciando meu rosto antes de voltar a encarar
o vidro que nos separa do nosso namorado e dar um gole no café. A única
coisa que a mantém de pé. 
Deixo meu olhar seguir o dela por um segundo. A quantidade de
aparelhos ligada a ele é um pouco alarmante, mas seu corpo está sempre
coberto e seu rosto parece bem, só cansado.
Entrelaço nossos dedos e caminho em direção à porta puxando-a
comigo.
— Aonde você tá indo? — ela reclama tentando me soltar.
— Eu vou jantar e você vai me fazer companhia. — Viro-me para ela
e faço minha melhor imitação do gato de botas do Shrek. — Sabe o quão
deprimente é comer sozinho na cafeteria enquanto todo mundo acha que eu
sou seu amante?
Ela revira os olhos.
— Mas o Ethan…
— Vai continuar aí, os médicos ainda não retiraram os sedativos,
certo? — Ela concorda com a cabeça. — Tenho certeza de que eles irão nos
avisar depois de estarem lidando conosco esse tempo todo. Vem, por favor
— imploro.
Mas estou pronto para pegá-la no colo e carregá-la até lá se for
preciso. 
— Seja rápido — ela avisa e caminha comigo. 
— Escolhe uma mesa para nós — peço e sigo para o balcão para fazer
nosso pedido.
Obviamente, Liv escolheu a mesa mais próxima das janelas, onde
temos uma vista incrível do sol se pondo sobre a cidade. 
Coloco seu prato de massa com molho de queijo, um pote de salada e
um suco de laranja em sua frente e ela me encara.
— Eu disse que não queria comer, T.
— Eu sei, mas você não tem que querer, você precisa comer e isso é
diferente — esclareço.
— Estamos perdendo tempo, não vou comer.
Seguro sua mão com carinho enquanto me sento à sua frente.
— Liv, nós só vamos sair daqui quando você se alimentar, não me
importo com quanto tempo vai levar. Você vai comer, nem que eu tenha que
te segurar aqui até que isso aconteça. — Dou de ombros. — Vai até ser
bom, imagina a fofoca que vai rolar depois de mais um alvoroço
envolvendo nós dois.
— A doutora Jenkins falou que vão parar os sedativos hoje — ela
argumenta.
— E você realmente acredita que Ethan vai ficar feliz de saber que
levou um tiro pra você ficar dias sem cuidar de si mesma, sem comer? — É
um golpe baixo, mas momentos desesperados, pedem medidas drásticas.
Seus olhos se enchem de lágrimas e eu quase cedo, só para não ter
que assisti-la chorar mais uma vez, mas ela se endireita e suspira pegando o
garfo. 
— Tudo bem — concorda resignada.
Olivia começa a comer como se ela estivesse participando de uma
competição, cada garfada é com intuito, ela não para um segundo. Nem
mesmo olha para mim, o prato à sua frente é o que a está separando de
Ethan e ela vai ganhar essa disputa na força do ódio, aparentemente. 
Se tem algo que essa experiência terrível me ensinou é que Olivia
Jones é uma força da natureza e você não quer estar no seu caminho.
Ela deixa os talheres caírem no prato e bebe o copo de suco de uma só
vez. Levanta o rosto para mim e limpa a boca com as costas da mão. 
— Estou pronta para voltar. — Seu olhar desafiador me dá vontade de
beijá-la aqui mesmo. As enfermeiras que pensem o que quiserem.
Antes que eu possa me mover, no entanto, alguém se aproxima e
reconheço a médica responsável por Ethan.
— Boa noite, nós paramos os sedativos do senhor Hart, gostariam que
ele fosse transferido para o quarto de vocês? Agora, que ele já não está
quase ligado a máquina alguma, podem ficar todos juntos. 
— Sim, por favor — peço. Afinal, todas as nossas coisas já estão lá.
— Será feito. — Ela pega seu celular e digita algo rapidamente antes
de acenar com a cabeça para que a acompanhemos.
Nós seguimos a médica pelos corredores até voltarmos ao nosso
quarto 2438. A doutora para com a mão na maçaneta e se vira para nós.
— Ele ainda está ligado a algumas máquinas, mas elas são apenas
para o monitorar. Eu lhes asseguro que ele não sente nenhuma dor e está
apenas se recuperando da cirurgia.
— Eu entendo, quanto tempo vai levar para ele acordar, doutora? —
Olivia pede impaciente.
— Isso vai depender dele, mas ainda deve levar algumas horas para o
sedativo deixar o sistema dele. — A médica sorri antes de abrir a porta.
Entramos no quarto e eu realmente não estava preparado para ver
Ethan naquela cama, tubos e fios parecem sair de todo o seu corpo. Isso são
menos máquinas? Como ele esteve coberto durante todo o tempo, só
conseguíamos ver seu rosto de perfil, quando as enfermeiras realizavam a
sua higiene pessoal eles fechavam a cortina. Então, agora é a primeira vez
que estou realmente podendo vê-lo por inteiro. Sua pele está mais pálida do
que o normal. E, ainda assim…
— Só ele pode parecer tão gostoso depois de ser baleado e ficar dias
em coma — comento e isso tira um sorriso de Olivia.
E o sorriso se torna uma gargalhada, ela se dobra sem conseguir
conter o riso histérico e eu me junto a ela.
— Ele vai ficar bem — ela anuncia entre risadas, secando as lágrimas
que ainda escorrem por seu rosto.
— Eu disse que iria.
Toneladas parecem ter sido tiradas no meu peso enquanto eu observo
com prazer minha namorada rindo e o monitor cardíaco mostrando as
batidas do coração de nosso namorado atrás dela.
As horas se arrastam à medida que esperamos Ethan acordar sentados
na poltrona ao lado de sua cama. Olivia está no meu colo e meus dedos
desenham círculos preguiçosos em sua coxa.
— Acho que você precisa de uma tatuagem — comento.
Ela sorri para mim.
— Tem algo em mente?
— Meu nome ficaria lindo — brinco e ela revira os olhos. — Algo
especial para você, suas flores e livros entrelaçados talvez, algo que
representasse seu espírito livre e guerreiro.
— Você só está com vontade de rabiscar alguém — ela responde.
— Também. — Beijo seu nariz. — Mas realmente acho que
combinaria com você, pense que sua pele é como um dos cômodos que
você decora, mas nesse caso eu sou o especialista. 
— Nunca tinha pensado assim — ela diz e seu olhar se desvia para a
cama ao nosso lado. — Ethan!
Ela pula do meu colo e se joga em cima dele que grita de dor.
— Ei, não estraga meu namorado, nosso, sei lá, cuidado, porra! —
reclamo, me levantando.
A porta atrás de nós abre e duas enfermeiras entram, mas não ligo
para elas. Não quando meu namorado finalmente acordou.
— Se queria ser paparicado, era só pedir, não precisava se jogar na
frente de uma bala, sabia? — provoco.
Inclino-me sobre a cama e beijo seus lábios, e se Olivia são as
primeiras flores, Ethan é outono, transformando tudo em diversos tons de
laranja e vermelho, tão poderoso que nada resiste. E ele voltou para mim.
Assim que me afasto, Olivia reivindica os lábios dele com lágrimas
escorrendo pelo rosto.
— Você me assustou, idiota.
Ela se vira para mim, me abraça e eu giro seu corpo no ar conforme a
beijo, o alívio, felicidade e paixão em cada carícia de nossas línguas.
Quando eu a solto no chão e ela volta a olhar para Ethan, me viro para
as enfermeiras que nos encaram boquiabertas, quase consigo ver a lâmpada
se acendendo sobre suas cabeças.
— Érr, nós só precisamos de alguns minutos para checarmos os sinais
vitais e já vamos dar privacidade para vocês — a enfermeira ruiva diz,
enquanto a outra parece esconder o sorriso.
Como prometido elas levam poucos minutos para fazer o que
precisam e deixam o quarto. 
Ethan toma um gole de sua água usando o canudo antes de dizer suas
primeiras palavras.
— Fui eu quem pediu vocês em namoro — sua voz está rouca pela
falta de uso e o tubo que colocaram em sua garganta. — Então, não os
pedirei em casamento, mas saibam que quando acordei e vi os dois, foi o
que eu tive vontade.
Suas palavras se assentam em mim, se encaixando num espaço no
meu coração que eu nem sabia que estava vago. 
— Ainda bem, você não pode ter todo o protagonismo — respondo.
— Não se preocupe, esse pedido será meu, algum dia.
Liv me encara e seus olhos azuis brilham.
— Algum dia — ela ecoa.
Sim, porque agora temos o nosso futuro juntos de volta. 
— Precisamos ver com a doutora Jenkins que tipo de mudanças
precisamos fazer em casa — Liv diz.
— Sim, e sobre a alimentação.
— Vou ligar para a Brooke para avisar.
— Isso e pede pra alguém trazer um carro pra quando a gente for
embora.
— Quando será que vai ser isso?
— Vocês dois estão bem? — Ethan pergunta e nos viramos para ele.
— Agora sim — respondemos em uníssono e voltamos a organizar as
coisas.
 
Não aguento mais este hospital e suas paredes monocromáticas, mas a
doutora Jenkins disse que hoje Ethan receberia alta, então estamos todos
ansiosos para nos livrarmos daqui.
Desvio meu olhar de Ethan para Tristan que está segurando a mão de
nosso namorado com uma das suas e com a outra segura a minha coxa. Ele
sorri e meneia a cabeça como tem feito todas as vezes que isso acontece.
Não sei como teria suportado as horas de espera sem a sua presença
reconfortante.
Quando os pertences de Ethan foram devolvidos consegui ligar para
sua irmã que estava a caminho e então, como diria Jon Snow[8], a nossa
vigia começou.
— Esse filme é muito chato — Ethan reclama e me viro para ele.
— Como é? — Tristan pergunta indignado já que foi ele quem
escolheu. — A sua audácia não tem fim. — Ele balança a cabeça.
— Eu acho que como eu sou o paciente eu deveria escolher.
Tristan se vira para mim.
— Eu não disse que ele nunca ia parar de jogar na minha cara que
quase morreu para te proteger?
— Contra fatos não há argumentos, T. — Ethan rebate com um
sorriso e só de vê-lo assim meu coração bate mais forte.
— Vou ter que achar um jeito de superar isso.
— Você nem se atreva a me fazer passar por algo remotamente
parecido! — reclamo, batendo em seu braço. — Era só o que me faltava.
— Mas, Liv...
— Nada de mas, acabou. Não sei se você tinha planos de saltar de
paraquedas, bungee-jumping ou outra palhaçada qualquer, acabou. Pros
dois, ouviram bem? — Aponto para Ethan e depois para Tristan que sorri
vitorioso.
— Isso serve pra você também — rebate.
— Eu por acaso tenho cara de quem fica escalando montanhas? A
minha ideia de diversão é uma tarde na praia com um livro, ou fazendo
compras, ou jogada no meu sofá lendo e vendo tv.
Tristan leva a mão livre ao peito como se eu o tivesse atingido.
—  O que foi? — pergunto alarmada.
— Eu não estou em nenhum desses, achei que você se divertia
comigo, safada — ele sussurra o meu apelido e sinto minhas bochechas
corarem.
— Incorrigível.
Ele abre um de seus sorrisos sacanas e eu reviro os olhos.
— Gostaria de dizer que eu também não fui incluso em nenhuma
atividade de lazer e prazer — Ethan comenta.
— Ok, vou reformular. Minhas ideias de diversão incluem tudo que já
foi mencionado anteriormente e quando vocês dois me fazem sentir prazer
de uma forma que nunca antes eu tinha vivenciado.
E, é claro, que eu sendo eu, foi nesse exato momento que a doutora
Jenkins entrou no nosso quarto.
Ela limpa a garganta, torcendo os lábios como se estivesse tentando
esconder um sorriso.
— Sinto informar que o senhor Hart tem que ficar de repouso por
mais algumas semanas — ela começa e consigo ouvir o riso em sua voz. —
Aqui está a receita de medicamentos e os cuidados alimentares — informa,
entregando alguns papéis que Tristan se apressa em pegar. — E estão livres.
— Muito obrigada, doutora, de verdade — agradeço.
— É o meu trabalho.
— Muito obrigado — Tristan agradece e a abraça.
Ethan também agradece antes de ela nos deixar a sós.
Pego meu celular e ligo para Lilly.
— Oi, Lilly — eu a cumprimento quando ela atende no segundo
toque.
— Estão vindo? — ela pergunta.
— Sim, somos elfos livres, devemos chegar em casa em uma meia
hora.
— Ok, dirijam com cuidado — ela aconselha antes de desligar.
Nós nos conhecemos há alguns dias, não foi sob as melhores
circunstâncias considerando que seu irmão estava internado, mas ela é uma
menina tão doce e gentil que é impossível não se encantar, fora que ela
compartilha a beleza da família.
A viagem de carro é rápida e nunca imaginei que ficaria tão feliz de
ver a porta do meu apartamento na vida. Antes que eu possa colocar a
chave, ela se abre e Lilly nos recebe.
— Oi, maninho. — Ela o abraça cuidadosamente.
— Você não deveria estar na universidade?
— E perder o retorno do filho pródigo? — ela rebate enquanto ele
caminha lentamente até o sofá.
Tristan entra com nossas malas e eu fecho a porta.
— Expliquei aos meus professores a situação e eles me deixaram
participar das aulas de forma remota, você ficaria surpreso como a
tecnologia avançou desde a sua época — ela conta, arrumando as almofadas
e pegando uma das mantas para entregar para ele.
É adorável observar a sua interação, sendo filha única sempre achei
interessante a relação de amor e ódio entre irmãos.
— Eu acho que você está fugindo do... — Ethan estala os dedos como
se tentasse lembrar. — David? Ou era Victor? — ele pergunta.
— Nunca mais eu te conto nada. — Ela desvia o olhar para mim. —
Até porque você tentou esconder seus namorados incríveis de mim.
— Eu ia contar — ele murmura contrariado.
Tristan entra na sala nesse momento e se aproxima de Lilly, passando
um braço por seus ombros.
— Acho que ele estava com medo de que se te conhecêssemos,
iríamos te preferir e ele ficaria sem namorados. — Ele beija sua bochecha e
ela ri.
— Era bem possível — concordo, indo me sentar ao lado de Ethan.
— Não sei se gosto de vocês todos amiguinhos — meu namorado
reclama.
— Problema seu, dá próxima vez desvia da bala — Lilly reclama,
mas suspira olhando para o irmão com preocupação em sua expressão. — É
sério, mano, eu só tenho você.
Sinto o estremecer de Ethan.
— Não vou a lugar algum, pequena — ele a assegura o que me parece
imprudente considerando que ele acabou de literalmente voltar do hospital.
— E você não está sozinha, agora tem a nós — Tristan declara e eu
concordo com a cabeça.
Ela sorri e vejo as lágrimas que se formam em seus olhos.
— Bom, o jantar está no forno, todas as plantas foram regadas e estou
levando o livro que você me recomendou, porque preciso saber o que
acontece, prometo que eu devolvo até o fim da semana — ela informa, se
abaixando e pegando sua bolsa da mesa.
— Você vai amar. — Levanto-me e a abraço apertado. — Obrigada
por tudo.
— De nada, Liv. Cuida dele por mim, tá? — ela murmura antes de dar
um beijo em minha bochecha.
Abraça o Tristan e repete o pedido.
— Você já vai? — Ethan questiona.
— Já, vocês todos precisam descansar e Dean pediu para dormir no
nosso apartamento, então preciso ir abrir a porta para ele já que perdeu a
chave de novo.
— Ele que durma na casa dele — Ethan resmunga, contrariado.
— Também amo você, amanhã eu volto — ela promete e abraça o
irmão. Ethan beija sua testa.
— Cuidado e compartilha a viagem do Uber.
Ela revira os olhos.
— Pode deixar.
— Tchau, Lilly — despeço-me, voltando a sentar e Tristan a
acompanha até a porta.
Acomodamo-nos no sofá e Ethan escolhe algo para assistirmos, mas a
minha cabeça continua repassando aqueles momentos traumatizantes em
que passei com ele sangrando na calçada. No medo que eu senti de ter
perdido a minha chance de contar a ele como eu me sentia.
Não percebo que estou balançando meu joelho até Tristan colocar a
mão sobre ele. Só então noto que o filme foi pausado e que os dois estão me
encarando.
— O que foi Liv? — Ethan pergunta.
— Não consigo parar de pensar no que aconteceu, em como quase te
perdemos.
— Eu estou aqui agora — ele diz, segurando a minha mão.
— Mas quase perdi a minha chance. Eu sempre lutei pelo meu direito
de escolher com quem eu me relacionaria, até porque eu sempre soube que
o que considerado normal não era para mim e estou incrivelmente feliz em
enfrentar o que estiver por vir ao lado de vocês dois — digo, me virando
para poder olhar para Tristan. — Eu sempre li romances, de todos os tipos,
e para mim, aquele tipo de amor era fictício, não era possível para pessoas
como eu — confesso e a mão de Tristan aperta meu joelho. — Quando eu
perdi meu emprego e a minha casa na mesma tarde não estava esperando
me apaixonar, mas eu acho que o amor é assim mesmo. Imprevisível,
arrebatador e repentino.
— Vem aqui — Ethan pede e no momento em que me inclino ele
segura meu queixo como ama fazer antes de colar nossos lábios.
É um beijo diferente, libertador, onde nossos sentimentos se fazem
presentes e aquecem meu coração. Ele me solta e fico presa em seu olhar
por alguns segundos.
— Vocês e seus discursos — Tristan reclama e me viro para ele,
encontrando-o sorrindo para nós. — Mas se esse é o momento para
confessar... — Ele se curva sobre mim para poder se aproximar de Ethan.
— Eu amo você, Hart. — Ele beija nosso namorado com devoção,
venerando os lábios grossos do loiro antes de se afastar e se virar para mim,
seus dedos envolvendo meu pescoço. — Eu amo você, safada.
Ele me beija da mesma forma e meu corpo esquenta sob seu toque.
— A médica disse que eu não podia participar, não disse nada sobre
olhar — Ethan diz se reacomodando e eu monto no colo de Tristan.
— Então se prepare para o melhor show da sua vida — Tristan
promete e morde meu lábio.
 
— E o prêmio de Melhor Design de Interiores vai para... — a
apresentadora pausa para abrir o envelope preto e minha namorada prende a
respiração ao meu lado. — Olivia Jones!
— Não acredito! — ela exclama.
Enquanto nossa mesa explode de aplausos e assovios, principalmente
meus e de Ethan.
— Você precisa ir lá, amor — Ethan a lembra, beijando seu rosto.
— Já vou.
Ela se levanta e admiro o vestido vermelho que escolheu para essa
noite, o tecido abraça suas curvas deliciosamente e a fenda lateral que vai
até o alto da sua coxa direita tem me levado ao delírio toda a noite, mas esse
momento é dela e eu não poderia estar mais orgulhoso.
Desvio o olhar para Ethan e encontro a mesma emoção em seu rosto.
Aperto sua mão e continuamos a observar nossa mulher conquistar o
mundo.
E pensar que seis meses atrás ela quase perdeu as inscrições por
estarmos no hospital, mas no meio da nossa primeira noite em casa, ela
pulou da cama, correu para o computador e fez a inscrição, mas na hora de
apertar o botão para concluir, hesitou e começou a duvidar de si mesma. Por
isso, eu o fiz e depois de me estapear pela audácia, pulou no meu colo e me
beijou, agradecendo.
Brooke e seus maridos completam nossa mesa e nenhum outro
participante foi tão celebrado quanto Liv.
Ela pega o troféu e se vira para a plateia, vejo seu peito subir e descer
quando a ficha cai da enormidade do que está acontecendo lhe atinge.
Busco seu olhar e o seguro.
— Somos só nós, safada — murmuro sem fazer nenhum som, não
tenho certeza se ela entendeu, mas ela abre um sorriso e sua respiração
normaliza.
— Senhoras e senhores, estimados membros do comitê do IDA
Design Awards, colegas designers e ilustres convidados. — Ela olha para
todos os presentes, altiva e dona de si, recitando as palavras que escreveu
para seu discurso. — Estou profundamente honrada por estar diante de
vocês esta noite como ganhadora do IDA Design Awards por Design de
Interiores. Este reconhecimento ocupa um lugar especial no meu coração,
pois simboliza as inúmeras horas de dedicação, criatividade e paixão
investidas no meu trabalho. Estou verdadeiramente grata por este
reconhecimento e gostaria de expressar a minha mais profunda gratidão a
todos aqueles que me apoiaram ao longo desta incrível jornada. — Quero
agradecer a comissão e toda a organização do IDA Design Awards, mas eu
não estaria aqui sem a minha família. — Seu olhar passeia por nossa mesa.
— Em primeiro lugar, devo agradecer aos meus queridos amigos, que
se tornaram mais como uma família para mim. Seu apoio inabalável,
incentivo e crença em minhas habilidades foram minha força motriz. Entre
eles, uma pessoa se destaca como estrela-guia da minha vida - Brooke. Para
mim, Brooke não é apenas uma amiga; ela é uma irmã do coração. Seu
amor incondicional, incentivo inabalável e inspiração infinita têm sido
meus pilares de força. Brooke, sua presença em minha vida é um presente
sem medida, e estou eternamente em dívida com você.
A loira funga e enxuga os olhos, Seth e Raffi rapidamente a abraçam.
— Mas o círculo de gratidão não termina aí. Tenho muita sorte de ter
duas pessoas excepcionais ao meu lado, Ethan e Tristan. — Ela olha para
nós e Ethan esmaga minha mão, essa parte do discurso ela não nos mostrou.
Sinto meu coração acelerar e quero correr no palco e abraçá-la. Puta que
pariu como eu amo essa mulher. — Seu apoio inabalável e sua crença em
meu potencial têm sido o vento sob minhas asas. Com eles, encontrei um
amor que não só inflama minha alma, mas também nutre minha
criatividade. Ethan e Tristan, vocês me mostraram o verdadeiro significado
da parceria e abraçaram todas as facetas de quem eu sou. O amor de vocês é
minha âncora, e é com vocês que espero passar o resto da minha vida.
Ela continua a agradecer e enaltecer a importância do design que vai
além da estética, está também nos sentimentos que provocam nas pessoas e
volta a agradecer aos presentes antes de deixar o palco. Sendo ovacionada
de pé por todos os convidados.
— Estou tão orgulhoso de você, senhorita Jones. — Ethan a abraça
primeiro, mas eu me junto ao abraço.
— Você escondeu parte do seu discurso, safada — sussurro e seu
sorriso é mais brilhante que o sol.
— Não podia entregar tudo antes da hora.
— É minha vez — Brooke choraminga ao nosso lado.
Assim que nos separamos, a loira envolve Liv, as duas ficam
abraçadas for um longo tempo, murmurando coisas ininteligíveis, seus
ombros balançando com seus soluços.
— Mais uma meta riscada — Brooke comenta quando se afastam.
Kyle, Raffi e Seth a parabenizam e voltamos a nos sentar, esperando
pelo fim da cerimônia para irmos para o jantar de celebração, onde será o
meu momento de brilhar.
 
Chegamos em casa e Liv logo tira os sapatos de salto alto,
massageando os pés antes de colocá-los na sapateira e se jogar no sofá,
abraçada ao seu troféu. Ethan afrouxa a gravata e se junta a ela. Tiro um
segundo para gravar esse momento na minha memória.
É agora ou nunca. Toco o bolso do meu terno, sentindo a caixinha ali
e caminho até eles.
Encarando os donos dos olhos azuis que eu me acostumei a ser a
primeira coisa que vejo ao acordar e a última antes de adormecer.
— Um dia, eu fiz uma promessa e chegou a hora de cumpri-la. —
Viro-me para minha namorada. — Olivia, desde que você entrou na minha
vida como um raio de energia criativa, tudo ganhou mais cor e significado,
você me mostrou que a vida é uma tela esperando para ser preenchida com
cores ousadas. Você redecorou o meu estúdio e sem que eu percebesse se
instalou no meu coração.
— Tristan — ela me interrompe e eu a silencio antes de me virar para
o homem da minha vida.
— Ethan, você trouxe estabilidade e amor como ninguém mais
poderia. Você é força. — Pisco em sua direção. — E paixão, você ama com
tudo que tem e tudo que é, até carrega uma maldita cicatriz no peito como
prova disso. Você é a peça que completa esse quebra-cabeça insano que é o
nosso amor, ele não seria completo sem você.
Respiro fundo e me ajoelho, tirando a caixa do meu bolso, onde duas
alianças que eu mesmo desenhei esperam.
— A promessa de orgasmos deliciosos continua. — Eles riem e
Olivia já tem os olhos marejados. — Mas gostaria de acrescentar uma vida
cheia de aventuras, risos e cores, com quantas plantas você quiser, Liv, e
posso até te deixar ganhar alguns jogos de sinuca, Ethan. E aí, o que acham
de passar o resto da sua vida comigo?
— Sim! — Olivia grita e me puxa para ficar de pé. Ela cola nossos
lábios em um beijo que carrega tanto amor e desejo que sinto meu pau se
preparar para se juntar à comemoração. — Mil vezes sim!
Nós nos viramos para Ethan.
Ele segura meu pescoço e me puxa para ele.
— Eu aceito, mas quem te deixa ganhar sou eu. — Ele me beija,
apertando o meu pescoço e eu definitivamente estou pronto para celebrar o
nosso noivado cumprindo a minha promessa favorita.
Minhas mãos trabalham em desabotoar a camisa de Ethan, sentindo
sua pele quente por baixo do tecido. Sinto Liv tirar meu cinto e desabotoar a
minha calça.
— Acho melhor irmos para o quarto, para que eu possa foder meus
noivos.
 
— Duas linhas querem dizer o quê? — Tristan pergunta do meu lado
no banheiro enquanto meu coração parece ter decidido sair do meu corpo.
— Amor, duas linhas, cadê a caixa dessa merda?
Ele começa a revirar o lixo procurando a caixa azul, mas eu não
consigo fazer nada a não ser encarar as duas linhas vermelhas.
— Achei, aqui, duas linhas é...
— Grávida — digo com ele.
— Puta merda, como você está? — ele me pergunta, me segurando
com delicadeza como se eu estivesse prestes a quebrar agora.
— Eu sei lá — respondo. — Eu sempre quis ser mãe, mas e se for
cedo demais?
— Vai ficar tudo bem — ele me garante, mas seu tom não é nada
tranquilizador.
— Temos que descobrir um jeito de contar pro Ethan — eu recordo e
penso que acabamos de comprar uma casa.
— E se a gente mandar uma mensagem? — ele sugere e eu o encaro.
— Eu tô nervoso — ele se justifica.
— Esse não é o tipo de coisa que podemos contar por mensagem —
eu o lembro.
— Me contar o que exatamente? — Ethan pergunta se apoiando no
batente da porta do banheiro e olhando de mim para Tristan.
— Você está grávido — meu marido declara. — Não, quer dizer, Liv
tá grávida, nós estamos grávidos. — Ele esfrega a cabeça. — Vamos ter um
filho. Sim, é isso.
Ethan me abraça e me pega no colo.
— Que notícia maravilhosa.
A calma que suas palavras me trazem, só me lembram mais uma vez
que eu escolhi os homens certos para dividir o resto da minha vida.
 

 
A médica passa a máquina pela minha barriga que já começou a
despontar, o som dos batimentos cardíacos preenche o quarto e Ethan e
Tristan apertam minhas mãos.
Meus olhos se enchem de lágrimas, é sempre incrível ouvir o coração
do meu filho ou filha.
— Ah, aqui está — a doutora Paula diz e o som dos batimentos muda,
como se tivesse um eco. — Parabéns, papais, são gêmeos.
GEMÊOS?
— Gêmeos? Tipo, duas crianças? — Tristan confirma e eu juro que
parece que às vezes nós dividimos o mesmo cérebro.
— Isso mesmo, não tínhamos conseguido ver antes, porque um deles
sempre se escondia atrás do outro, mas os seus exames indicavam que eram
dois fetos — ela explica. — Querem saber o sexo?
Eu olho para meus maridos, eles assentem e me viro para a médica.
— Sim, por favor.
— Vocês estão esperando dois meninos e considerando que um deles
estava brincando de esconde-esconde, eu diria que pelo menos um deles vai
ser extremamente travesso. — Ela ri.
Meu coração parece triplicar de tamanho, eu vou ser mãe. De gêmeos.
E eu já sei que não existe nada nesse mundo que eu vá amar mais. O olhar
no rosto de Ethan e Tristan me confirma que eles se sentem da mesma
forma.
 
As crianças correm no jardim enfeitado de balões das mais diversas
cores. Com castelos de ar, pula-pula e alguém para pintar seus rostos.
— É quase hora do parabéns — Tristan anuncia, seus braços
envolvendo a minha cintura e repousando a cabeça em meu ombro.
— Eu nem acredito que eles estão fazendo três anos — confesso.
— Eu não acredito que sobrevivemos esses três anos — Ethan
adiciona, passando um braço pelas costas de Tristan.
— Liv, quer que eu leve o bolo pra fora? — Brooke pergunta
entrando na cozinha.
— Por favor, nós vamos chamar as crianças.
Reunimos todos e os aniversariantes ficam em frente ao bolo.
— É hora de cantar parabéns para o Rowan e Logan — Tristan grita e
puxa o parabéns.
— Façam um pedido, meninos — aviso, abraçando meus filhos e os
ajudando a soprar suas velas. Corto e sirvo o primeiro pedaço. — Agora
vocês escolhem para quem dar.
Eles se entreolham e respondem em uníssono.
— Aurora.
Eu entrego o pratinho de papel para minha afilhada que está
parecendo uma princesinha com seus cabelos loiros cacheados e os olhos
azuis grandes ao receber sua fatia de bolo de chocolate.
— Obrigada, Tia Liv — ela diz com sua voz suave. A cada dia mais
ela se parece com Brooke.
Servimos as outras crianças e os pais se servem, logo os pequenos já
voltaram a correr pelo jardim.
Observo a cena e meu coração se enche de felicidade, eu tenho a
família que eu sempre quis, na casa dos meus sonhos e os melhores maridos
do mundo.
 

A maioria dos convidados já se foram e a equipe de limpeza está


terminando tudo à medida que relaxamos dentro de casa com a nossa
família.
Ethan, Tristan e os maridos de Brooke conversam e bebem ao redor
da mesa enquanto minha amiga me abraça e olhamos nossos filhos sentados
no sofá vendo um filme da Disney.
— Eu acho que esses três ainda vão acabar juntos — ouço Tristan
provocar.
— Só se você tiver perdido a sua maldita cabeça — Kyle protesta.
— É melhor você manter os seus pirralhos longe da minha princesa,
Cox — Seth ameaça.
E Raffi só ri, balançando a cabeça.
Essa é a felicidade que eu passei a vida buscando nos livros, agora ela
é a minha realidade, e pela primeira vez em, estou ansiosa para os meus
próximos capítulos.
 
 

FIM
 
Muito obrigada por ter chegado até aqui! Você não sabe o quanto isso
significa para mim!
Se você gostou da história, poderia me ajudar a levá-la a outros
leitores? Isso é super importante para mim como uma autora independente
que acabou de começar a se aventurar nesse mundo maravilhoso da escrita.
Você sabe como pode me ajudar? É muito fácil, rápido e de graça!
Vou deixar abaixo algumas coisas que são super simples e podem contribuir
muito:
 
1. Aproveita que você finalizou o livro para deixar sua avaliação
sobre a história na Amazon! Além de ser um feedback e ser um termômetro
para continuações, você pode acabar incentivando outros leitores a ler!
Diga-me tudo o que você achou, eu adoro a opinião de vocês, as reações,
tudo mesmo.
2. Que tal fazer um post em uma das suas redes sociais sobre o livro?
E pode ficar à vontade para me marcar, eu amo acompanhar as leituras de
vocês! Assim posso compartilhar com todos os meus leitores!
3. Obrigue (gentilmente e com muito amor) aquela sua amiga literária
a ler “Rendida Por Eles” para que ela também se apaixone por Tristan, Liv
e Ethan, é sempre bom ter alguém para surtar sobre o livro que acabamos de
ler, né? Se possível, indique também para seus amigos e familiares!
 
Fique à vontade para me seguir nas minhas outras redes sociais:
Facebook: Haay Di Maffei
Twitter: @HaayDiMaffei
Instagram: @HaayDiMaffei
 
Te vejo nas próximas histórias!
 
 
 
À minha família, que sempre me apoiou e acreditou: Eu amo vocês,
cada um de vocês.
Jen, obrigada por tudo, por sempre me incentivar a fazer o melhor.
Sabemos que o seu amor pela Liv foi uma das razões para esse livro ser
começado e o amor pelo Tristan que foi a motivação para terminá-lo.
Obrigada por tanto.
Fran, minha Ohana, você sempre esteve ao meu lado, me encorajando
e impulsionando. Obrigada, por todas as mensagens em que você
perguntava como eu estava, por se oferecer pra achar coca-cola para mim
no meio da noite. “I love you in case I die.”
Nathália, minha gêmea, por todo seu apoio e a felicidade pelas
minhas conquistas. “Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu
consigo me orientar.”
Antonella, você chegou do nada e veio de mala e cuia, literalmente, e
se instalou na minha vida. Obrigada por ser minha parceira de surtos, meu
despertador e minha amiga.
Binha, amiga, por todos os sprints e risadas, por ser parceira na
loucura que é ser autora.
Monique, amiga, você ainda vai tão longe, estou ansiosa por te ver
ganhar o mundo. E muito obrigada por ser o meu google sobre como as
coisas funcionam nos Estados Unidos.
As lindas do Sprint das Gatas, obrigada por todo apoio, carinho e
surto. Estamos juntas!
Raquel, um dos melhores presentes que a FLUC me deu, obrigada
pela companhia, por me cobrar, por ficar acordada comigo até as 4 da
manhã para garantir que eu não estava sozinha e nem me distraindo. És tão
parva, mas sou grata por te ter na minha vida.
Gaby, minha assessora linda, obrigada por tudo. Obrigada por
respeitar meu tempo, me lembrar de me cuidar, puxar minha orelha para eu
comer, mas obrigada por acreditar em mim.
Bruna, achou que eu não ia te mencionar? Se não fosse por você me
ajudando a manter a minha sanidade, eu não sei o que seria de mim.
Obrigada por embarcar em todos os meus surtos.
Sônia, minha revisora, você foi um achado, você é perfeita e eu sou
extremamente grata de ter te conhecido.
As minhas parceiras, vocês são mulheres incríveis e eu tenho muita
sorte de ter vocês junto comigo durante esse lançamento. Obrigada pelas
mensagens de apoio, surto e compreensão, vocês não fazem ideia do quanto
isso me ajudou e motivou.
Laryssa e Camila, obrigada por todo o apoio e compreensão, eu amo
vocês! Vocês são incríveis!
Kel, Glei, Luiza, Thata, Cris, Fla, eu amo vocês. Obrigada por todo o
amor e carinho, e pelo companheirismo de todos os dias.
Ao 9:05, vocês sempre torcem por mim, me apoiam e querem o
melhor para mim. No meu coração nós sempre seremos “The Three Big
Ones”, então, Carlos e Helton, muito obrigada. Em breve, vamos estar
jogando cartas e comendo pizza, regadas a muita risada!
Léo, meu eterno Boy, você é especial e seu apoio significa muito,
obrigada por tudo. Amo você.
Às minhas leitoras do grupo do whatsapp, vocês são a minha
inspiração, é por vocês que eu continuo, pelo carinho e apoio que vocês me
dão diariamente.
Rafa, obrigada por ser sempre uma voz amiga, um abraço apertado,
por sempre acreditar em mim, ou ter uma palavra de conforto quando eu
mais preciso. Você é uma mulher incrível e o mundo é seu! “I’m with you
till the end of the line!”
À você, leitor, que acreditou nesta estória, me acompanhou nesta
jornada e me apoiou: Obrigada!
Como sempre, eu quero pedir desculpas se eu esqueci de mencionar
alguém. São tantas as pessoas que participaram da criação desse livro, que
fizeram a diferença na minha vida, então um obrigada a todos.
"Sonhadora criatura tem mania de leitura."
 
Hayesha Di Maffei é catarinense de nascimento e hoje vive na
Inglaterra, mas se considera uma filha do mundo e deseja explorá-lo por
inteiro, realizando seu sonho de criança.
O amor pela leitura se tornou combustível para a imaginação que se
diluiu nas palavras que você encontra em seus trabalhos. Escreve desde que
se lembra, mas só dividiu com o mundo em 2020, quando publicou seu
primeiro conto “Através do Tempo”. Hoje, já tem mais livros na Amazon
como: “A Singularidade de Nós”, “A Arte do Roubo” e a continuação de
seu primeiro conto “Além do Tempo”, e segue trabalhando nos próximos
lançamentos.
TRÊS HOMENS GOSTOSOS.
UMA MULHER FORTE.
A MESMA CASA.
Kyle Thorne conheceu Seth e Raffi quando se alistou aos Fuzileiros
Navais. Juntos, eles se tornaram a equipe de operações mais letal, ficando
conhecidos como os Hades Men. As coisas que enfrentaram na guerra
transformaram a amizade entre eles em uma irmandade. Agora, de volta à
vida civil, são os CEOs de uma das melhores empresas de Segurança
Privada dos Estados Unidos.
Brooke Roberts é uma professora recém-formada. Ela acredita que
sua vida está toda encaminhada: trabalho, namorado e amigos, porém
quando seu relacionamento desaba diante dos seus olhos, irá precisar
reavaliar tudo em que acredita e conhece sobre amor e união, e isso,
enquanto convive com Kyle e seus amigos.
A proximidade desperta antigas e novas paixões. E dúvidas começam
a surgir. É errado estar atraída por seus três amigos?
Eles já estão acostumados a dividir tudo na vida: a empresa, a casa, as
mulheres. Mas Brooke é diferente, certo?
Um caso de fraude e uma nova ameaça podem colocar a vida de
Brooke em risco, e Kyle, Seth e Raffi não vão parar até que ela esteja
segura.
“Atração Fatal” é o primeiro volume da duologia de harém reverso
Hades’ Men.
 
 
Eu marquei esse dia no meu calendário, e todos os dias quando olhava
para o círculo vermelho sentia um aperto em meu peito. Achei que
demoraria mais para chegar, mas parece que pisquei e o fatídico dia chegou.
Hoje é o dia do alistamento do Kyle, vou dar adeus ao meu melhor amigo.
Minha paixão secreta.
E não podia ser em pior momento, como ele espera que eu sobreviva
ao ensino médio sem ele? Sempre achei que ele estaria aqui durante essa
transição, mas quando completou 19 anos tomou a decisão de se juntar aos
Fuzileiros Navais.
Afinal Kyle Thorne esteve presente em todos os momentos marcantes
da minha vida. No dia que eu decidi que aprenderia a andar de bicicleta sem
rodinhas, foi ele quem me ajudou a tirá-las e me encorajou a levantar todas
as vezes que eu caí. Como nossos quartos ficavam diretamente um de frente
para o outro, costumávamos escrever em folhas de papel e colocar na
janela. Chegou um dia que mamãe se cansou de gastar com cadernos todos
os meses e nos deu dois quadros brancos. Gostávamos de deixar recados um
para o outro, quando um de nós estava de castigo passávamos o dia
trocando mensagens, e esse nosso vício continuou mesmo depois que eu
ganhei meu celular…
A campainha soou me tirando das lembranças e levantei os olhos da
minha tigela de cereal, praticamente intocada.
Caminhei devagar para a porta, como se eu pudesse impedir o que
estava para acontecer. Minha mão se fechou na maçaneta fria e senti meus
olhos arderem. Respirei fundo algumas vezes para me recompor, coloquei
meu melhor sorriso nos lábios e abri a porta.
Kyle Thorne estava ainda mais bonito do que em todos os outros dias.
Seus olhos azuis brilhavam com determinação, seu cabelo loiro tinha sido
cortado conforme os requisitos do US Marines[9] e ele já estava vestido com
o uniforme.
— Prometeu que não ia chorar — falou, me puxando para seus braços
em um abraço apertado e tudo que eu queria era me fundir a ele.
— Não estou chorando. — Minha voz saiu embargada, devido ao nó
que tinha se alojado em minha garganta desde que acordei. — Vou sentir
sua falta.
— Eu também, mas você sabe que eu preciso fazer isso. — Afastou-
se o suficiente para poder olhar nos meus olhos, suas mãos subiram para
segurar meu rosto, e o polegar dele acariciou minha bochecha. — O tempo
vai passar rápido, você vai na cerimônia de graduação, não vai? —
confirmo apenas com um menear de cabeça.
Quando os recrutas terminam as 13 semanas do Boot Camp[10] existe
uma formatura, sendo este um dos poucos eventos abertos ao público.
— Não perderia por nada, já falei pra mamãe — digo, depois de um
tempo olhando pra ele.
— Nos vemos em treze semanas, Brooke. — Ele me envolveu em
mais um abraço e eu agarrei sua cintura. — Se mantenha longe de
problemas, escute seus pais e se divirta!
Ele precisava ir e eu precisava soltá-lo. Estava a poucos minutos de
não conseguir mais segurar o choro que ameaçava me despedaçar.
— Kyle, se cuida e volta logo, vou sentir saudades — murmurei
contra seu peito, o apertando mais uma vez antes de soltá-lo.
— Pode deixar. — Ele inclinou o rosto até beijar minha testa. — Até
logo, Brooke.
Ele se virou e desceu os três degraus da minha varanda até chegar ao
carro onde seus pais o esperavam. Antes de entrar se voltou para mim mais
uma vez e acenou com um sorriso orgulhoso, cumpri meu papel e acenei de
volta prendendo o soluço que já ardia na minha garganta.
Segui com os olhos até o carro desaparecer na rua e entrei em casa,
logo subi as escadas, correndo para o meu quarto, as lágrimas desciam
quentes por meu rosto, meu corpo inteiro chacoalhava com os soluços.
Involuntariamente minha atenção foi para a janela, aquela que dava
diretamente para o quarto de Kyle, ele tinha escrito algo novo no quadro.
Levei alguns minutos para parar de chorar o suficiente e conseguir ler
sua mensagem.
“Pare de chorar, B. Te amo e já volto!”
 
O burburinho das conversas à minha volta servem de plano de fundo
para o meu almoço. A sala dos professores da escola primária Greenbriar é
simples, paredes em um tom de off-white e um grande quadro de anúncios,
que está abarrotado de papéis fixados com tachinhas coloridas. Quatro
mesas circulares ladeadas por cadeiras de plástico, extremamente
desconfortáveis devo acrescentar, uma geladeira, micro-ondas e uma
cafeteira que devia estar ali desde que eu frequentei o jardim de infância.
Meu celular vibra na mesa me alertando da chegada de uma nova
mensagem.
Liv: Quais as chances de você conseguir
ingressos para a Underworld amanhã?
Reviro meus olhos quando vejo a mensagem de Olivia Jones, minha
melhor amiga desde a universidade, quando dividimos um dos dormitórios
em Stanford logo em nosso primeiro ano.
Brooke: Oi, Liv. Tudo bem por aqui e contigo?
Brinco e sorrio quando vejo que ela já está digitando uma resposta.
Consigo imaginar seu suspiro resignado quando viu que não respondi o que
perguntou. Olivia não gosta de perder tempo, por que enrolar com conversa
fiada quando ir direto ao assunto é muito mais prático?
Liv: Oi, oi. Entendi, educação e tal, mas e os
ingressos?
Liv: Vai ter um DJ incrível na Underworld
amanhã. E, antes que você me pergunte, sim eu
só soube agora, aparentemente eles anunciaram
hoje de manhã.
Underworld é o nome de uma das melhores e maiores boates de San
Jose, é o lugar onde todos querem estar, principalmente numa sexta-feira. A
razão para Liv estar me pedindo para conseguir ingressos é muito simples.
Um dos donos da Underworld é Kyle Thorne, meu melhor amigo desde a
infância, meu ex-vizinho, meu primeiro amor.
Liv: Por favor, B. Coloca a gente na lista.
Liv: Eu nunca te pedi nada.
Solto uma risada com o argumento ridículo, o que atrai a atenção de
dois professores sentados na mesa ao meu lado, balanço a cabeça enquanto
digito a resposta.
Brooke: Você quer dizer que nunca pediu nada
HOJE, né?
Liv: Eu prometo não pedir nada por uma
semana, que tal?
Brooke: Nada disso, você fica me devendo mais
uma.
Brooke: Eu pretendia planejar as aulas da
semana que vem e talvez fazer um jantar especial
para o Patrick, quase não estamos nos vendo.
Liv: Ao invés de ficar em casa cozinhando
podemos agitar a pista de dança, pode até
chamar o Patrick para se juntar a nós.
Brooke: Que atencioso da sua parte,
considerando que você está me usando para
conseguir entrar na Underworld de última hora.
Brooke: Vou tentar conseguir os ingressos, mas
não se anima, não é garantia de nada.
Liv: Até parece que ele alguma vez te disse não.
Liv: Ah, você sabe que eu te amo.
Brooke: Eu também, te aviso depois de falar com
Kyle.
Liv: Boa sorte com os pestinhas!
“Pestinhas” é a forma carinhosa com que Liv se refere aos meus
alunos. Ela não é a maior fã de crianças e acha um absurdo que eu tenha
escolhido uma carreira que me faça passar grande parte dos meus dias em
uma sala fechada com eles, mas eu amo a minha profissão.
Ser professora da primeira série não era meu sonho, até meu
penúltimo ano no ensino médio não tinha a mínima ideia de qual carreira
escolheria, eu tinha apenas 16 anos. Como poderia escolher o que fazer pelo
resto da vida? Naquela época,só queria que as aulas do dia acabassem e
pudesse pegar umas ondas antes do fim da tarde, o que era raro. Mas depois
de infindáveis horas com a conselheira vocacional,os milhares de testes
apontavam apenas uma característica em comum: o trabalho com crianças.
Comecei a imaginar como seria passar meus dias em uma sala de aula
rodeada pela energia caótica de crianças entre 5 e 10 anos. E, ao contrário
do que eu imaginava, não me sentia apavorada ou irritada, mas ansiosa e
com grandes expectativas. Estava no meu segundo ano, como professora da
primeira série na escola Greenbriar e me sentia realizada profissionalmente.
Checo o relógio e tenho quinze minutos antes de precisar retornar
para minha sala, digito uma mensagem rápida para Kyle.
Brooke: Oi, Ky! Preciso de um favor.
Mal coloquei o celular na mesa e ele começou a tocar.
— Não precisava ligar — atendo, rindo.
— O que você precisa, Sunshine? — Kyle é a única pessoa no mundo
que me chama de “Brilho do Sol” sem qualquer tom de ironia ou sarcasmo.
Normalmente, esse apelido vem acompanhado de um deles, mas desde a
primeira vez que se referiu a mim dessa forma nunca ouvi qualquer vestígio
de outra coisa que não fosse carinho.
— Nada demais, quais são as chances de eu conseguir alguns
ingressos para a Underworld amanhã? — questiono, enquanto vou
guardando meus potes na mochila.
— Sabe que não precisa pedir, Brooke. Você tem entrada garantida
sempre — responde com a voz séria.
— Fiquei sabendo que tem algum evento, pensei que pudesse estar
esgotado. — Dou de ombros, sabendo que ele não pode ver.
— Pra você? Nunca. Não vendemos a área VIP, é só com convite e o
seu é vitalício.
— Você é o melhor, Kyle!
— Quem mais vai com você?
— Ah, você sabe só meus amigos mais íntimos, umas 37 pessoas —
brinco e ouço sua risada.
— Olivia e Patrick então, sem problemas. Vejo você amanhã,
Sunshine, me liga se precisar de alguma coisa.
— Até amanhã. Se cuida, Ky.
A ligação se encerra e antes que eu me esqueça, mando uma
mensagem para meu namorado perguntando se ele quer ir. Quando estou
voltando para a sala confirmo que ele leu a mensagem, mas não me
respondeu. Ah, ele deve estar ocupado no escritório.
Já estou na sala quando meus pequenos furacões retornam. Suas
vozes preenchem o ambiente, enquanto guardam suas lancheiras nas
gavetas designadas para suas coisas, nos fundos da sala, esse processo
geralmente leva em torno de quinze minutos.
Suas energias sempre parecem recarregadas depois de passarem quase
uma hora brincando no pátio. A pequena Madelaine se aproxima da minha
mesa com um sorriso largo, seus cabelos loiros presos em marias-
chiquinhas balançam com seus passos.
— Miss Roberts?
— Sim, Maddie.
— É agora que vamos pintar? — questiona.
— Sim, quer me ajudar a separar as tintas? — pergunto, já me
levantando e contornando a mesa, lhe estendo a mão que ela pega
prontamente, praticamente me carregando até a área onde ficam guardados
os materiais de trabalhos manuais. — Muito obrigada, Maddie — agradeço
quando ela pega uma das caixas e leva para o meio da mesa e logo mais
dois alunos estão ao meu lado, seus pequenos braços estendidos, esperando
sua vez de poder ajudar.
Depois que todos os materiais são distribuídos, dou as instruções
sobre a temática dos desenhos de hoje.

Josh e Lucas, são os últimos alunos em sala, a aula acabou há dez


minutos, mas seus pais estão atrasados para buscá-los. Os meninos brincam
com os dinossauros da caixa de brinquedos, pulando em pedaços do tapete
que aparentemente são um rio, uma piscina com peixes e uma poça de lama.
Duas batidas na porta quebram o encanto de suas imaginações e eles
correm para os braços do pai.
— Até amanhã, Miss Roberts! — Josh grita da porta, enquanto seu
irmão acena entusiasticamente.
— Até amanhã, meninos.
— Algum problema hoje? — pergunta o pai.
— Nenhum, eles são uns anjos, amanhã é dia de Show and Tell[11],
eles tem que trazer algo — lembro de avisar, ele acena com a cabeça e se
vira, com os meninos um de cada lado e falando ao mesmo tempo, enquanto
se distanciam pelo corredor.
Me espreguiço e arrumo as últimas cadeiras de volta em seus devidos
lugares. A aula acabou, mas o trabalho do professor vai além das horas
passadas com os alunos e, é por isso que retorno para minha mesa e corrijo
os exercícios do dia, depois separo os que preciso fazer cópias e deixar na
recepção, no fim do expediente. Essa última hora passa rapidamente
enquanto mergulho em notas e planejamentos. Já estou a caminho do carro
quando percebo que Patrick ainda não me respondeu. Seu novo emprego
numa agência de seguros tem tomado muito do seu tempo, ele tem
trabalhado tanto que está sempre exausto quando chega em casa.
Quando me dou conta já estou checando como está a maré em
Steamer Lane, uma das melhores praias para surfar na região, e como
esperado está incrível. Meu coração anseia pelo mar, a adrenalina e euforia
que sinto quando estou numa prancha é incomparável, mas é uma viagem
de 45 minutos se o transito estiver colaborando, o que é improvável e
chegar lá para ter hora para voltar seria um tipo diferente de tortura.
Só mais dois dias, prometo a mim mesma. Sábado, passarei o dia no
sol, um dia longe da cidade vai ser bom para Patrick e eu, podemos fazer
alguns passeios pela orla, quem sabe, um piquenique na praia. Sorrio com a
ideia e começo a listar o que preciso comprar no mercado para colocar meu
plano em ação.

Estou checando o salmão no forno quando ouço a porta da frente se


abrir. Não demora para Patrick aparecer em nossa pequena cozinha. Seu
cabelo está todo bagunçado, os pequenos cachos pretos indo para todas as
direções e sei que teve outro dia atarefado no escritório.
— O cheiro está uma delícia, amor — comenta, contornando a
bancada que serve como divisória entre a cozinha e a sala e beijando minha
bochecha. — Vou só tomar um banho rápido e já volto.
Como se tivéssemos combinado no momento em que termino de
servir o segundo prato, meu namorado voltou vestindo apenas as calças do
pijama. Meus olhos percorrem seu corpo esguio até alcançar seu rosto e
noto sua expressão cansada. A imagem de nós dois sentados na praia
preenche a minha mente e sorrio, nós dois precisamos disso.
— Vamos jantar — anuncio.
Ele leva nossos pratos para a sala e os posiciona na mesinha de
centro. Nosso apartamento é pequeno tendo apenas um quarto, banheiro e a
cozinha/sala, era o que um casal recém-formado podia pagar, então não
temos uma mesa de jantar e acabamos adquirindo o costume de assistir
televisão enquanto comíamos.
Assim que estamos acomodados no sofá, cada um com seu prato no
colo, coloco a série que estamos acompanhando e jantamos. Comentando
aqui e ali sobre a história e o que imaginamos que vá acontecer, entre um
episódio e outro, checo meu celular e vejo a mensagem de Liv festejando
que consegui nos colocar na lista da Underworld, o que me lembra que
Patrick não me respondeu.
— Amor?
— Hm? — resmunga enquanto digita algo em seu celular.
— Não sei se você chegou a ver a mensagem que eu te mandei mais
cedo, mas a Liv nos chamou para ir numa festa na Underworld amanhã à
noite — comento, pausando o episódio na abertura.
— Acho que eu vi. — Ele desvia os olhos da tela para mim. — Mas
eu não tenho forças para sair, amor. Essa semana me quebrou, estou
exausto.
— Vai ser bom sair e se divertir, sem ter que pensar no trabalho —
tento convencê-lo.
— Eu sei, Brooke, mas não tô afim. Só quero poder chegar em casa e
ficar vegetando no sofá. — Ele deve notar a decepção em minha expressão
porque acrescenta: — Mas vai com a Olivia, uma noite de garotas, você
merece!
— Tem certeza?
— Claro, confio em você — declara.
— Queria que você fosse, faz tempo que não fazemos nada juntos. —
Ele suspira e baixa os olhos para o prato vazio ainda em seu colo. — Mas
eu sei como seu trabalho está puxado, então vou direto pra Liv quando
acabar a aula de teatro e me arrumo lá, assim você pode chegar e
descansar.             
— Você é a melhor — se inclina e me beija rapidamente antes de me
puxar para seus braços e reiniciar a série. Na metade do episódio sinto seus
braços pesarem ao meu redor e a sua respiração aprofundar, espero alguns
minutos antes me mexer e ver que ele dormiu, de novo. Com todo o
cuidado saio do sofá sem perturbar seu sono, limpo a cozinha, arrumo
minha muda de roupas e maquiagem em uma bolsa que levarei comigo pela
manhã, para poder ir direto da escola para o apartamento de Liv, do outro
lado da cidade.
Quando estou prestes a me deitar, volto para a sala e tento acordar
Patrick gentilmente, mas ele se vira no sofá e vou para o quarto sabendo por
experiência que em algum momento durante a noite ele acordará e virá para
a cama.

O som estridente do despertador me tira do aconchego do sono, uma


fresta das cortinas mostra que o sol na Califórnia hoje está imperdoável, o
que é esperado na alta primavera. Meu cérebro ainda está nublado com
vestígios de sono e por isso leva alguns segundos para eu perceber que está
muito mais claro do que deveria estar às 6h da manhã, quando meu
primeiro alarme desperta.
Checo meu celular já com o coração batendo freneticamente e vejo
que eu não acordei com o primeiro, nem com o segundo, muito menos com
o terceiro, mas com o quarto que é o que me informa que é hora de sair de
casa, não da cama. “PUTA QUE PARIU, BROOKE!”, repreendo-me
mentalmente.
Pulo da cama e Patrick resmunga sem abrir os olhos, os benefícios de
trabalhar num escritório e começar às 9h, não às 7h e meia.
Visto-me correndo, escolho um vestido solto e um par de sandálias,
que foram as primeiras peças que meus olhos acharam, junto meus cabelos
loiros em um rabo de cavalo, penteando os fios com os dedos, enquanto
caminho em passos rápidos para o banheiro. Jogo uma água no rosto e
escovo os dentes, pego minha bolsa do seu lugar, no cabideiro ao lado da
porta, e saio apressadamente. Só me dou conta de que nem um copo de
água bebi quando já estou estacionando na ala reservada aos professores, na
escola. Estou apenas três minutos atrasada, sorrio antes de sair do carro e
chegar na minha sala, um minuto antes do primeiro aluno cruzar a porta
aberta correndo para me abraçar.
Sabe quando o dia começa do jeito errado e parece que tudo só
continua indo ladeira abaixo? Um dos meus alunos caiu durante a aula de
educação física e aparentemente quebrou o pulso, outros cinco brigaram
durante Show and Tell porque um queria o brinquedo do outro, cinco potes
de glitter foram derrubados durante a aula de artesanato e tenho certeza que
estarei limpando seus vestígios pelos próximos dez anos. E então chegou a
hora da aula de teatro, que temos toda sexta-feira depois do horário regular
e Madelaine passou o tempo inteiro chorando em meus braços, pois Leanne
pegou as asas azuis de fada antes dela. A pequena Leanne tentou devolver,
mas o estrago já estava feito, não sei como conseguiremos terminar a peça
para a apresentação no final do ano letivo.
— Eu espero que seu final de semana seja melhor do que essa aula —
diz Trevor com um sorriso em minha direção, ele é o professor de Artes das
turmas acima do quinto ano, e que divido as responsabilidades das aulas de
teatro.
— Se meus planos correrem como planejado, serão — respondo,
guardando as fantasias.
— Ah, é? Vai surfar?
— Pretendo, semana passada choveu o fim de semana inteiro e não
consegui ir, meu coração já está implorando para sentir a leveza que o mar
me traz. E você, tem planos?
— Millie e eu vamos levar o Drake para visitar os avós em San
Francisco. — Ele dá de ombros. Drake é seu filho recém-nascido.
— Que ótimo, tenha um bom fim de semana, Trevor, até semana que
vem! — me despeço, pegando minhas coisas e seguindo para o meu carro.
Finalmente a semana tinha acabado. Liv tinha razão, eu precisava
disso. Estava quase em sua casa quando parei em um semáforo e meus
olhos se fixaram no meu banco de trás pelo espelho retrovisor. Mais
exatamente, em meu banco completamente vazio.
— Merda! — exclamo, batendo com a mão no volante do meu Ford
Focus.
Assim que o sinal fica verde, faço o contorno voltando pra casa, para
buscar minha bolsa com a muda de roupas que está no chão, ao lado do
cabideiro, mas na minha pressa esta manhã, esqueci completamente.
Assim que estaciono em frente ao meu prédio, percebo que o carro de
Patrick já está na nossa vaga, deve ter conseguido sair mais cedo do
trabalho hoje, isso é bom. Assim amanhã estará descansado e poderemos
aproveitar o dia em Steamer Lane.
Meu celular toca enquanto subo as escadas até o terceiro andar.
— Cadê você? — É a forma como Liv me cumprimenta assim que eu
atendo.
— Tive que voltar em casa pra buscar roupa, o dia hoje foi um caos,
mas eu te conto tudo quando chegar — falo, equilibrando o celular entre o
ombro e o ouvido enquanto destranco a porta. — Vou só pegar minhas
coisas e dar um oi para o Pat, já que estou aqui.
— Me conta agora, tô esperando meu esmalte secar.
— Tudo bem, então… — começo, abrindo a porta e minha mente fica
em branco. Pois no meu sofá está meu namorado nu com uma mulher
desconhecida. — VOCÊ SÓ PODE ESTAR BRINCANDO COMIGO! —
Ele se vira em busca da origem do grito e o sorriso que tinha parece derreter
para longe dos seus lábios.
— Achei que você tinha dito que ela não estaria em casa — a mulher
reclama, enquanto ele se afasta dela.
Eu vejo vermelho, minhas mãos começam a suar e as chaves
escorregam pelos meus dedos. Meu coração bate na garganta e quero socar
alguma coisa, mas estou paralisada, minhas pernas parecem raízes que me
impedem de sair, de reagir. Como que ele pôde? Há quanto tempo? As
dúvidas me preenchem, deixando um gosto amargo em minha boca. Sinto
uma miríade de emoções, começando por tristeza, vergonha por ter sido
feita de idiota, mas a que se sobressaí é a raiva, esse filho da puta!
— Brooke, amor… — ele começa, vestindo a cueca e vindo em
minha direção, mas não quero ouvir nada do que ele tem a dizer. Não tem
nada que ele possa falar que vá mudar ou melhorar a situação.
— B, o que foi? — A voz de Liv no meu ouvido me tira do estupor e
me abaixo, pegando as chaves e minha muda de roupa e saio batendo a
porta.
Eu estava errada, parece que o dia podia piorar.
 
Meu alarme soa pontualmente às sete horas, como todas as manhãs.
Assim que abro meus olhos instintivamente escaneio meu quarto, iluminado
pelo sol que se filtra pelas janelas. Sei que não existem ameaças em minha
casa que conta com portões altos, um sistema de câmeras e um esquema de
segurança com guardas, mas quando você passa anos em território inimigo
se torna um hábito.
Quando chego na cozinha, Cérbero vem me receber e me agacho para
afagar suas orelhas macias.
— Bom dia, garoto. Tá com fome? — pergunto e ele se encaminha
para o seu pote como se dissesse: o que você acha?, encho seu pote com a
ração e ele espera obedientemente que eu lhe dê permissão para comer.
Cérbero foi a primeira adição à minha vida, assim que meu tempo
ativo com a Corps chegou ao fim. Passei por um pet shop, por acaso,
enquanto esperava por um consultor imobiliário e lá estava ele, na vitrine
com uma placa que dizia “me adote”, ele pareceu sorrir para mim e me vi
cativado por seus olhos castanhos. Naquela mesma noite, Cérbero já estava
mijando no tapete da minha sala.
Depois de ter frequentado uma escola canina que treinava cães
policiais, o rottweiler respondia a todos os comandos e não estragava mais
nenhuma das mobílias. Enquanto ele come, faço um café e um shake de
proteínas, antes de vestir uma calça de moletom e uma camiseta e me dirigir
à academia no térreo.
O treino é pesado, trabalho meus músculos até que eles peçam
misericórdia. Existe um tipo de consolo na quietude mental que acompanha
os exercícios físicos, é um dos poucos momentos em que consigo espantar
as memórias nefastas das missões. Corro por quarenta e cinco minutos na
esteira antes de dar como terminado meu tempo na academia hoje.
A porta abre quando estou descendo da esteira e sinto um sorriso se
formar em meu rosto.
— Está atrasado, Raffi — repreendo.
— Não, você que está adiantado, só tenho uma aula na sede na parte
da tarde, o que significa que não existe razão alguma para eu acordar cedo
— rebate, prendendo os cabelos em um coque.
— Sabe que o Sargento Washington discordaria… — começo.
— Se o sol raiou já é razão para estar de pé — completamos juntos e
ele começa a rir.
— Poder acordar tarde é uma das maiores vantagens da vida civil —
comenta.
Raffi serviu comigo, nos conhecemos no primeiro dia de Boot Camp.
Eu, ele e Seth nos tornamos amigos instantaneamente, era como se sempre
tivéssemos trabalhado juntos, e por obra do destino todos os nossos
posicionamentos durante os primeiros anos foram para as mesmas bases,
navios. Nós três estávamos sempre juntos, para o bem ou para o mal.
Treinamos incansavelmente quando decidimos que nos juntaríamos
aos MARSOC[12], a tropa de elite dos Fuzileiros Navais, a unidade de
operações especiais. O processo de seleção é brutal, apenas os melhores dos
melhores podem participar e as chances de refazer o teste é quase
inexistente, você tem uma chance e nós não a desperdiçamos.
Durante as missões no Oriente Médio, salvamos as vidas uns dos
outros inúmeras vezes e foi assim que Raffi e Seth se tornaram meus
irmãos. Lutamos lado a lado e eu sempre soube que eles me davam
cobertura, que podia confiar minha vida a eles, assim como eles a mim. Os
laços formados através de sangue e sofrimento são forjados do mais duro
titânio e praticamente inquebráveis.
— Mesmo um ano depois de termos voltado, ainda não consigo
dormir além das sete — admito.
— Se você desligar seu despertador fica mais fácil.
— Alguns de nós precisam trabalhar, Raffi.
— Antes você do que eu. — Ele dá de ombros. — E eu trabalho, mas
tente se lembrar que somos donos da empresa, o que significa que podemos
fazer nossos próprios horários, Thorne.
Rio e dou um tapa em seu ombro tatuado como despedida.
— Te vejo no escritório.
 

 
A sede da Hades’ Men Corp fica no centro de San Jose, um arranha-
céu empresarial, onde os últimos oito andares foram remodelados para
atender às nossas necessidades. Muitos veteranos sofrem para se readaptar à
vida civil e não foi diferente para nós. Depois de termos sido treinados e
moldados para sermos protetores, para sermos os melhores, era
extremamente complicado pensar em trabalhar em empregos
convencionais, então decidimos abrir uma empresa de segurança privada.
Nossa antiga unidade de operações especiais era apelidada Hades’
Men e nós fazíamos jus ao nome, éramos os cavaleiros do Hades, o Deus da
Morte, e nós servíamos como sua mão direita. Nossas missões nos
colocavam cara a cara com grupos terroristas, e seguíamos nossas ordens
para proteger a segurança nacional. A minha unidade era mandada quando
não havia mais opções. As coisas que fui obrigado a fazer e ver, ficariam
comigo para sempre. Meu arquivo no Corpo de Fuzileiros Navais é
praticamente todo redigido com fita preta. Confidencial.
Quando chegou a hora de nomear nossa corporação foi fácil,
aproveitamos a fama que conseguimos entre as diferentes divisões militares
para solidificar nossa posição como uma empresa de respeito, ficando no
top 3 do ranking nacional de segurança privada. Nosso objetivo é oferecer
oportunidades para homens e mulheres como nós e continuar a usar nossas
habilidades para proteger aqueles que precisam.
— Bom dia, Sr. Thorne — Zach, o segurança, me cumprimenta
enquanto espera que eu passe meu crachá para liberar a catraca no amplo
salão principal.
— Bom dia, como está a pequena Isabella?
— Muito melhor, a febre baixou ontem à noite e quando saí pela
manhã já estava deixando a mãe doida.
— Que bom, se precisar de alguma coisa, sabe como me chamar —
despeço-me e sigo para os elevadores.
— Tenha um bom dia, senhor.
Subo direto para o último andar onde está localizada a parte
administrativa, que conta com três escritórios, duas salas de conferência e o
departamento de recursos humanos.
Assim que entro em minha sala o telefone toca, me adianto
rapidamente contornando a mesa longa de madeira escura e atendendo.
— Thorne.
— Bom dia, Sargento Thorne. — Reconheço o tom grave do Sargento
de Artilharia Jefferson e sinto que meus ombros se endireitaram por conta
própria. — Encaminhei cinco perfis para que sejam analisados.
— Sim, senhor. — É impossível mudar a forma de se dirigir a um dos
meus antigos superiores, mesmo que eu não fosse mais seu subordinado,
porém é o que dizem: não existe algo como um ex-Fuzileiro Naval, uma
vez que você é um, você sempre o será. — Que horas chega o entregador?
— Deve chegar na próxima meia hora. Os candidatos têm o perfil da
Hades’ Men e o seu tempo de serviço ativo está chegando ao fim. —
Meneio a cabeça, mesmo sabendo que ele não pode ver. Só contratamos
veteranos, porém checamos seus antecedentes para que só os melhores
estejam sob nosso comando.
— Entendido, muito obrigado, senhor. Precisa de mais alguma coisa?
— Que você, Donahue e Martinez voltem a trabalhar.
— Estamos trabalhando, senhor — sorrio, sabendo que se ele
estivesse aqui eu nunca arriscaria.
Ouço-o suspirar antes de responder.
— Insolente. — Percebo um sorriso em sua voz. — Nem sei porque
ainda os quero de volta.
— Somos os melhores, senhor.
— Os melhores em acabar com a minha paciência. Espero uma
posição sobre os candidatos até amanhã.
— Sim, senhor. Tenha um bom dia, senhor.
— Até amanhã, Thorne.
 

 
Como esperado, o mensageiro chegou no período determinado, ele
me entregou as pastas e me fez assinar antes de se retirar. Queria entender
como que eu acabei encarregado de toda a parte administrativa da
Hades’Men Corp, Raffi só aparece para as aulas e treinamentos, para as
reuniões aparece apenas depois de muita encheção de saco. Seth está aqui
todos os dias, desde muito cedo até o fim do dia, mas seu foco também é
nas aulas. De nós três, ele é o que tem mais turmas e as mais diferenciadas.
Meus olhos já estão ardendo de tanto ler quando meu celular vibra
com uma mensagem.
Sunshine: Oi, Ky! Preciso de um favor.
Confirmo as horas e constato que ela deveria estar na escola. Será que
aconteceu alguma coisa? Nem mesmo concluo o pensamento e já estou
ligando para ela.
Ela atende rindo e sorrio em resposta, giro a cadeira encarando a vista
da cidade pelas janelas panorâmicas do meu escritório, enquanto ouço sua
voz doce.
— O que você precisa, Sunshine? — pergunto curioso. Sempre que
uso o apelido lembro da primeira vez que o usei. Eu tinha acabado de voltar
do meu primeiro tour, nove meses em um navio e Brooke estava sentada
nos degraus em frente à sua casa, no momento em que saí do táxi ela correu
em minha direção e me abraçou com o sorriso mais resplandecente que já
tinha visto.
E foi assim todas as vezes que eu voltava de uma tour, ela estava lá.
Não importava o dia, o horário. Brooke Roberts sempre estava me
esperando, sentada no mesmo lugar e assim que eu saia do carro seus
braços me envolviam e tudo valia a pena. Tudo que eu tinha feito e visto.
Porque ela estava segura. Brooke era o raio de sol na minha escuridão. E, eu
tinha jurado protegê-la. A única vez que ela não estava me esperando foi
quando eu consegui voltar mais cedo para surpreendê-la, mas assim que me
viu correu para meus braços.
Ela me diz que quer ingressos para a Underworld e reviro os olhos.
Ela sabe que não precisa pedir, ou pelo menos eu achava que sim. A boate é
uma das maiores da cidade, e surgiu da necessidade da Hades’ Men Corp de
ter um local discreto para encontrar clientes que precisavam de discrição.
Alguns clientes que contratam nossos serviços preferem que as razões para
buscarem proteção não saibam que providências estão sendo tomadas.
Então, o clube conta com uma pista de dança ampla e um mezanino onde
fica a área VIP e três salas privadas para reuniões.
— Ah, você sabe só os meus amigos mais íntimos, umas 37 pessoas
— ela debocha e sei instantaneamente quem vai com ela. Sua melhor amiga
Liv e Patrick, o namorado, por alguma razão eu não vou com a cara do
sujeito. Até onde eu sei, ele nunca fez nada para desencadear o ranço que
sinto por sua existência, mas tem algo sobre a forma como ele fala que me
faz pensar em uma cobra rastejando.
Ela se despede e sorrio mais uma vez, antes de retornar ao trabalho.
Falar com Brooke foi como recarregar minhas baterias e me sinto com
disposição suficiente para analisar o resto dos relatórios.
 

 
— Kyle? — Levanto os olhos dos documentos do último candidato da
lista, e me deparo com Seth, que devia estar a caminho de sua sala para
tomar banho depois de uma aula de artes marciais, isso se suas roupas e o
suor que escorre pelo rosto servem de indicativo. — Está ocupado, cara?
— Só vendo os possíveis novos recrutas que o Sargento Jefferson
recomendou.
— Já temos lista nova? — pergunta entrando na minha sala e
puxando uma das pastas creme, seus olhos azuis correm pelo documento.
— Interessante, ela seria uma ótima adição ao time — comenta, devolvendo
o arquivo da recruta do exército à mesa.
— Como foi a aula? — pergunto.
— Foi boa, sem incidentes, mas lembra dos três caras que chegaram
há alguns meses? Na sessão de hoje tivemos treino livre, e eu lutei com
eles. Percebi que eles têm muita raiva acumulada.
— O que quer dizer? — pergunto franzindo a testa, não é incomum
que militares que estiveram em combate tenham raiva, faz parte do estresse
pós-traumático.
Seth levanta a blusa e já tem um hematoma preto se formando nas
suas costelas.
— Você está bem? — Contorno a mesa para olhar de perto.
— Estou. — Ele dá de ombros sem nem ao menos vacilar com o
movimento. — Um deles me imobilizou e deu três socos no mesmo lugar
esperando que eu desistisse. — O sorriso malicioso de Seth indicava o erro
deles. — Mas eu reverti a posição e o coloquei num mata-leão que o fez
bater no tatame instantaneamente. Acho que eles precisam de
acompanhamento com a equipe de psicólogos.
— Vou passar seus contatos para o time e pedir que façam uma
análise preliminar, mas não lembro de nada em seus históricos que poderia
indicar a necessidade.
— Posso estar errado, Ky.
— Acredito em seus instintos, Seth. Você é o melhor de nós em ler as
pessoas — admito, bloqueando as imagens de porquê e como ele tinha
adquirido essa habilidade.
— Bom, vou te deixar voltar pra suas coisas, tenho uma aula prática
de facas em… — ele tira o celular do bolso antes de continuar. — 20
minutos e prefiro não chegar todo suado. Até depois.
— Tenta não usar nenhum aluno como alvo, temos os manequins pra
isso.
— Não faço promessas. — Ele sai rindo.
Volto para o computador e abro as fichas dos homens que Seth
mencionou, relendo e tentando achar algo que posso ter deixado passar
anteriormente.
 
Me concentrar em dirigir é praticamente impossível quando minha
mente insiste em ficar repassando os últimos meses em um loop, tentando
encontrar as pistas de quando foi que Patrick começou a me trair.
Lembro de todas as noites que ele trabalhou até tarde, seu
distanciamento e como achei que nosso relacionamento tivesse caído na
rotina e estivesse numa das fases baixas, afinal não éramos mais jovens
despreocupados na faculdade, mas adultos com responsabilidades, então
achei que fosse normal.
Como eu pude ser tão burra?
— Pera aí, a culpa não é minha — repreendo-me em voz alta, parando
num sinal vermelho. Estou quase no apartamento de Liv e mal posso
esperar para ver minha amiga.
A expressão do Patrick quando me viu toma a minha mente, sinto a
bile subir na minha garganta em resposta à raiva que parece percorrer meu
corpo. Soco o volante e fecho os olhos por um segundo, respirando fundo.
Uma buzina soa atrás de mim e aperto meus dedos no volante para me
impedir de xingar a pessoa, já que ela não tem culpa do meu dia estar uma
merda. Como esperado, o sinal já está verde, então ponho o carro em
movimento.
Estaciono o carro em frente ao pequeno prédio de quatro andares em
que Olivia mora. Saio do carro apressadamente, pegando minhas coisas
antes de entrar pela porta ao lado da padaria, que ocupa o térreo da
construção antiga. Assim que alcanço o último andar já estou ofegante de
ter subido as escadas praticamente correndo.
Não chego a bater na porta e ela se abre. Olivia Jones me espera
vestindo um roupão, segurando um pote de sorvete e uma colher, que ela
me entrega enquanto tira minhas bolsas dos meus braços.
— Aquele filho da puta estava me traindo, Liv — declaro explicando,
já que mesmo presente de certa forma quando descobri, para sua sorte não
viu o que eu vi. Abro o pote de sorvete e me sirvo de uma colherada, antes
mesmo de entrar no estúdio que foi convertido em apartamento.
Eu amo a originalidade do lugar. As únicas paredes na parte interna
são as do banheiro, o resto é todo aberto, mas a melhor parte é que as
janelas cobrem todas as paredes, o que faz com que o espaço pareça maior.
Os móveis são todos em cores claras, dando destaque para as plantas e
almofadas que colorem o ambiente.
— O que você vai fazer? — pergunta, caminhando para o sofá que
serve como divisória entre o quarto e a sala. Consigo ver as diversas
combinações de roupa jogadas em cima do colchão.
— Como assim, o que eu vou fazer? — dou de ombros, me jogando
no sofá ao seu lado e apoiando minha cabeça em seu ombro. — Acabou,
não existe a menor condição de eu ficar com aquele traste.
Pego mais uma colherada do sorvete, deixando que derreta em minha
boca. É de cheesecake de morango, meu favorito.
— Sabe o que é pior? — Ergo meu rosto para poder encarar minha
amiga, que arqueia uma sobrancelha, me incentivando a continuar. Coloco o
sorvete sobre a mesinha de centro, precisando das mãos livres para poder
liberar a frustração que se acumula em mim. — Eu desperdicei quatro anos
da minha vida. Quatro malditos anos. Com um cara que não me respeita o
suficiente para terminar comigo antes de se enfiar entre as pernas de outra
mulher, dentro da casa que nós dividíamos.
Sinto meus olhos arderem e pisco rapidamente, me recuso a derramar
uma lágrima sequer por aquele babaca. Levanto e começo a caminhar em
frente ao sofá, enquanto expulso todos os sentimentos que estão no meu
coração.
— Eu o amo, amava — corrijo. — pelo menos eu acho que sim. Eu
achava que ia me casar com ele, Olivia. Como que eu pude estar tão errada?
— Amiga, para. — Ela se junta a mim e me abraça. Olivia segura
meus ombros antes de continuar: — Não existe uma justificativa para o que
ele fez. Você não tem que tentar achar os sinais, não é a sua função. Ele é
um filho da puta que não te merece, é tão simples quanto isso.
Seus olhos azuis me encaram com firmeza, como se para enfatizar o
que ela está me dizendo.
— Eu sei que dói, você investiu nesse relacionamento, mas quando
foi a última vez que você se sentiu feliz nele? — pergunta indo direto ao
ponto, como sempre.
Meus olhos voltam a arder porque não sei dizer e isso é assustador.
— Se me perguntarem, diria que o que ele te fez foi um favor, sabe?
Você está livre — declara e sua expressão se ilumina.
Ela me solta e contorna o sofá para chegar na parte do quarto e abre
uma das gavetas, voltando correndo com uma mão escondida atrás do
corpo. Seu sorriso é contagiante e me vejo sorrindo em resposta antes
mesmo que ela estenda a mão que tem uma meia listrada.
— Brooke é uma elfa livre — brinca, fazendo referência a Harry
Potter, a saga de filmes do bruxo que fez parte das nossas maratonas nos
tempos de faculdade e podíamos recitar passagens de cabeça até hoje.
É impossível resistir, começo a gargalhar e ela me acompanha.
— Assim é bem melhor — elogia. — Mas se você quiser ficar em
casa hoje, vou entender, pedimos uma pizza e vemos filmes de comédia
romântica dos anos 90.
Meus ombros cedem e volto a me sentar, considerando a oferta. Se
ficar aqui vou ficar remoendo tudo que aconteceu e sentindo pena de mim
mesma. Faz semanas que não saio para me divertir e é por este motivo que
digo:
— Eu me recuso a desperdiçar mais um minuto da minha vida
pensando em Patrick Anderson.
Liv bate palmas e sorri.
— Ótimo, agora vai tomar banho, temos que nos arrumar. Minha
melhor amiga está solteira novamente e vamos causar estrago naquela boate
hoje — declara.

A fila em frente à Underworld é tão longa que parece chegar na


esquina do quarteirão. Nosso uber nos deixa na entrada do clube e assim
que nos aproximamos sou recebida com um sorriso por Darius, o segurança.
— Brooke, quanto tempo. — Ele nos dá passagem e consigo sentir os
olhares como adagas sobre nós. — Olivia — ele a cumprimenta com um
meneio de cabeça, que ela responde mandando um beijinho no ar.
— Oi, Darius, tudo bem?
— Melhor agora, o chefe sabe que você tá aqui?
— Eu avisei.
— Divirtam-se, meninas — ele se despede e volta a encarar um grupo
de homens que aparentemente não têm ingressos.
Assim que cruzamos as portas duplas Liv segura a minha mão, com
medo de me perder em meio à confusão de corpos ao nosso redor, e já
consigo sentir o reverberar das batidas da música em meu corpo. O bar no
térreo está parecendo um formigueiro de tantas pessoas que se acumulam
ali, para cada uma que saí, duas tomam seu lugar. A ampla pista de dança,
que ocupa todo o restante do espaço, já está lotada também e as luzes em
tons azuis e roxos criam uma atmosfera interessante e atraente.
Estou me movendo no ritmo da música, a sentindo conforme
avançamos lentamente até as escadas que levam ao mezanino onde a área
VIP está localizada.
— Nomes? — o segurança pergunta, não o reconheço então ele deve
ser novo aqui.
— Olivia e Brooke — minha amiga declara com um sorriso. Ele
checa o celular e volta a nos olhar.
— Desculpe, não estão na lista.
Liv olha pra mim, com a sobrancelha perfeitamente desenhada
formando um arco.
— Eu pensei que Kyle tinha dito que estava tudo certo.
— Ele disse, fica calma, Liv. — Me viro para o segurança. — Pode,
por favor, conferir novamente? Brooke Roberts e Olivia Jones.
— Desculpa, moça, mas se o nome não está na lista não podem entrar.
— Liga pro Kyle — minha amiga pede e eu nego com a cabeça.
— Pergunta no rádio pro Darius se a gente pode subir? — peço e ele
me olha com atenção, percebendo que eu conheço um dos seus colegas pelo
nome, o que se levar em consideração que nenhum deles anda por aí
ostentando um crachá, só pode significar que eu o conheço. Com uma
expressão contrariada, o segurança faz o que eu pedi.
— Você barrou elas? Tá maluco? Brooke tem entrada vitalícia, cara.
Ela é amiga dos chefes. — Conforme as palavras de Darius são gritadas
pelo rádio, vejo-o empalidecer.
— Desculpe, podem subir — ele libera a passagem para nós.
— Qual o seu nome? — Liv pergunta, olhando-o de cima a baixo.
— Gary Fanning.
— Hm, vou perdoar seu erro porque você é gostoso, mas só dessa vez
— fala, acariciando o bíceps dele e piscando.
— Você é incorrigível — reclamo, empurrando-a para que comece a
subir.
O ar parece mais fresco aqui em cima, longe da massa dançante de
corpos na pista. Além de ser uma área exclusiva que conta com vários
sofás, tem também um bar próprio, o que significa que não teremos que
esperar nem um pouco para conseguir nossos drinques.
— Brooke, você veio — chama uma voz grossa que reconheço no
mesmo instante. Me viro para encarar o homem de um metro e oitenta que
veste um jeans escuro e uma camiseta do Guns’n’Roses, ele sorri antes de
envolver minha cintura e me puxar para um abraço, sua barba arranha meu
rosto quando ele beija minha bochecha. Assim que se afasta, se vira para
minha amiga e a cumprimenta: — Liv, bom te ver.
— Oi, Raffi. Você sabia que fomos barradas? — ela pergunta
colocando as mãos na cintura, fazendo Raffi voltar a me olhar.
— Foi um mal-entendido, só isso. Aparentemente, Ky não colocou
meu nome na lista — explico. Rafael Martinez, ou Raffi, é um dos melhores
amigos de Kyle e, por consequência, acabou se tornando parte da minha
vida. Há uns nove anos, numa das vezes em que Kyle voltou para casa de
férias de um dos longos períodos que ele passou servindo, trouxe seus
novos amigos, Seth e Raffi. Depois de passarem um mês morando na casa
ao lado, eles já eram quase tão importantes para mim quanto o Kyle. Já,
hoje em dia, não consigo imaginar minha vida sem eles.
— Ah, o novato.
— Ele é solteiro, Raffi? — Liv pergunta.
— Que eu saiba. — Ele dá de ombros. — Não perco meu tempo
sabendo o estado civil dos meus funcionários, Liv, isso é trabalho pro
Thorne.
— Assim você não me ajuda — ela reclama, me fazendo sorrir.
— Falando nisso — Raffi olha em volta antes de se voltar para mim.
— Cadê a sua sombra? — Seus olhos azuis da cor de geleiras percorrem
meu rosto com atenção e tento esconder tudo que aconteceu.
— Eles terminaram — Liv explica, me puxando pela mão para um
dos sofás.
— Já não era sem tempo, ele era um idiota.
— Você fala isso de todos os meus namorados, Raffi. — Reviro os
olhos, me acomodando ao lado de Olivia, e ele se senta do meu outro lado.
— E até hoje nunca errei, babygirl. — Pisca em minha direção antes
de passar a mão pelos cabelos longos que caiam em seu rosto, penteando-os
para trás e os jogando para o outro lado do rosto.
A música muda e gritos de viva seguem os primeiros acordes. Liv dá
tapinhas na minha coxa, coloca sua bebida na mesa e se levanta.
— É a sua música, vem.
Então, finalmente identifico a canção, é “abcdefu” da GAYLE, mas a
batida está diferente, mais cheia de raiva e conforme ela proclama seu ódio
pelo ex, me sinto validada até que chega o refrão e estou gritando junto com
a multidão lá de baixo.
Outra música começa, mas não paramos de dançar. Deixo que as
batidas guiem meus movimentos e com cada um deles vou deixando que as
merdas que aconteceram escorram para longe do meu corpo, me
desprendendo do dia terrível que tive. Meus músculos parecem relaxar
enquanto me divirto com a minha melhor amiga.
Meu celular vibra no bolso do meu vestido e quando vejo o nome no
visor, tenho vontade de jogar o aparelho no meio da pista de dança, mas sou
uma professora trabalhando com salário mínimo e não posso me dar esse
luxo, então volto para a mesa onde Raffi está tomando sua cerveja e o deixo
lá.
— Não atenda — aviso.
— Não tinha intenção alguma de fazer isso — responde. — Você está
bem?
Sua pergunta é sincera e é só por isso que paro para pensar.
— Eu estou puta com o que aconteceu, no momento só consigo sentir
raiva de tudo, mas vai passar e vou ficar bem, não se preocupa, grandão!
— Sempre me preocupo, babygirl. — O celular volta a vibrar sobre a
mesa e Raffi levanta o olhar para mim. — Se precisar que alguém converse
com ele para que entenda que acabou, me avise.
Instantaneamente lembro da vez que Rafael Martinez “conversou”
com um menino da minha turma, que estava espalhando boatos sobre mim
durante o ensino médio. Nunca soube exatamente o que aconteceu, mas o
olho roxo do garoto na segunda-feira explicou o suficiente.
— Acho que é só porque foi hoje, ele deve achar que ainda tem volta
— respondo, dando de ombros.
— Olivia está te chamando — Raffi muda de assunto e vejo minha
amiga balançando os braços, pedindo que volte para o seu lado. Sorrio e
dou dois passos antes de voltar.
— Pede dois daiquiris de morango, por favor? — peço-lhe,
entregando meu cartão.
— Peço — responde, ignorando minha mão estendida. Eu que não
vou reclamar.
— Obrigada, Raffi — agradeço e me despeço, voltando para onde Liv
dança despreocupadamente.
Algumas músicas depois, vejo um garçom se aproximando da mesa
com as bebidas vermelhas e puxo Liv, que choraminga até notar a razão da
mudança.
— Um brinde aos amigos de verdade — anuncio levantando minha
taça, Olivia levanta a dela e Raffi levanta a sua cerveja.
— Um brinde a sua recém liberdade! — Liv completa e toma um gole
antes de sentar e começar a se abanar com uma das mãos.
Raffi se levanta e sacode a garrafa de cerveja vazia.
— Vou buscar outras, querem alguma coisa? — oferece. Eu e minha
amiga nos entreolhamos e sacudimos a cabeça em concordância.
— Por favor, Raffi!
O suor escorre pela minha nuca e sinto a base das minhas costas
molhada, uma sensação de euforia me preenche e me lembra do quanto eu
gosto de dançar. Só não é meu passatempo preferido, pois existe o surfe na
minha vida.
— Aí está você. — O sorriso em meu rosto congela.
Merda. Merda. Eu não avisei Darius, é claro que ele achou que
Patrick tinha vindo nos encontrar e o deixou passar.
— Perdeu seu celular? — Patrick pergunta e me viro para encará-lo.
— Não, está bem ali. — Aponto para o centro da mesa.
— Por que não me atendeu?
— Olha a cara de pau do cara — Liv acusa, em seu lugar no sofá e
Patrick a fuzila com os olhos. — Ela não atendeu porque ninguém
importante estava ligando.
— Brooke, amor. — A risada de Olívia preenche o ar, queria
acompanhar, mas a simples visão de Patrick embrulhou meu estômago e
levou embora toda a leveza que eu tinha alcançado.
— Não temos nada pra conversar, Patrick — falo.
— Claro que temos, você não me deixou explicar.
— Explicar o que? Como você acabou nu sobre outra mulher no meu
sofá? Não precisa ser um gênio para entender.
— Não é o que você pensa.
— Ih, a lá, agora vai tentar justificar — Liv diz, num tom debochado.
— Vem, precisamos conversar a sós. — A mão de Patrick aperta meu
braço enquanto ele tenta me puxar para longe da mesa.
— Me solta — peço, tentando me desvencilhar dele.
— Não vamos conseguir nos acertar enquanto não conversarmos.
— Larga o meu braço, Patrick, tá machucando — reclamo.
— Tira a mão dela — ordena uma voz às minhas costas, o tom
dominante como um sussurro da morte faz um arrepio delicioso descer por
minha espinha até meu ventre.
— Isso não tem nada a ver com você. É entre eu e a Brooke —
Patrick rebate apertando ainda mais meu braço e faço uma careta.
Seth passa por mim e fica frente a frente com Patrick, e o sorriso em
seu rosto promete violência. Seth tem pelo menos uns 15 centímetros a mais
que meu odiado ex-namorado e seus 1,70m, o que o faz ter que olhar para
cima para poder encarar o meu amigo. Outra coisa que ele tem que Patrick
apenas pode sonhar é o porte atlético, mesmo sendo esguio, o corpo de Seth
é constituído apenas de músculos, todos cultivados por anos de treinamento
na unidade especial dos Fuzileiros Navais.
— Você não está entendendo. Você tem duas opções, ou tira as mãos
imundas de cima dela e sai daqui inteiro, ou sai daqui com uma ou mais
partes do corpo quebrada. — Seth se aproxima dele e só consigo ouvir o
que ele sussurra sob a música alta por estar tão perto deles. — Eu,
sinceramente, espero que você escolha a segunda opção.
Patrick me solta rapidamente como se tivesse levado um choque, ao
perceber que Seth não está brincando, porém não vai embora.
— Foi um erro. Me perdoa, Brooke, nunca mais vou fazer algo assim.
Ela não significou nada pra mim — ele implora, num tom suplicante.
— Claramente nem eu — respondo, sentindo meus olhos arderem,
com a verdade das minhas palavras me machucando.
A expressão de remorso do Patrick é substituída num piscar de olhos
por raiva. Quem ele achava que era para estar chateado?
— Você não pode fazer isso. Não pode jogar fora o que nós temos.
— Foi você que jogou fora, seu idiota — Liv o interrompe.
— Brooke — Patrick ignora minha amiga. — Nós temos um
apartamento juntos, pelo amor de Deus. Onde você vai morar?
Não é como se eu não tivesse pensado nisso desde que o deixei só de
cueca na entrada do nosso apartamento, mas eu voltaria para a casa dos
meus pais em Palo Alto se fosse preciso, antes de voltar para ele.
— Ela vai morar comigo, babaca — Liv declara.
— Naquela caixa de sapato que você chama de apartamento? —
Patrick debocha e me enfurece não poder rebater, porque é impraticável
morar com Liv. Seu estúdio é ótimo para uma pessoa, mas eu e minhas
coisas, infelizmente, não caberíamos lá.
— Não é problema seu, e o mais importante, nós — aponto de mim
para ele. — não temos um apartamento. Você insistiu em colocar só o seu
nome no contrato, lembra?
— Mas é nosso — Patrick insiste.
— Deixou de ser a minha casa no momento em que você decidiu
foder outra garota no sofá que eu escolhi!
— Eu não consigo arcar com ele sozinho — ele argumenta irritado,
como se eu estivesse sendo absurda e nossa atual situação fosse minha
culpa.
Liv começa a gargalhar, desvio o olhar de Patrick e vejo minha amiga
segurar a barriga, de tanto que ri do ridículo da situação.
— Me parece um problema inteiramente seu. Chama a… qual o nome
dela? Não importa — dispenso o pensamento com um movimento das
mãos. — Chama ela para morar contigo. Amanhã eu estarei buscando as
minhas coisas.
— Ah, é? — pergunta cruzando os braços sobre o peito. — E vai
levar pra onde? — seu tom arrogante me deixa com vontade de socá-lo.
Eu queria ter uma resposta, só para apagar o sorriso presunçoso do
seu rosto. Como que eu pude um dia amá-lo? Olhando para ele agora, não
consigo me lembrar.
— Eu sei quem encheu sua cabeça com essas ideias — ele desvia o
olhar para Liv que tinha se levantado. — Deixa de ser teimosa, eu sei que
errei, já pedi desculpas, já prometi que nunca mais vai voltar a acontecer.
Vem — ele faz menção de segurar meu braço mais uma vez, mas Seth se
aproxima e ele repensa. — Vamos embora, vamos pra casa. Podemos
resolver isso.
— Você não está entendendo, já está resolvido. Acabou, Patrick.
Meu ex-namorado dá um passo em minha direção e ouço Raffi bufar
atrás de mim.
— Ela deixou claro que não está a fim, tá na hora de você vazar.
— Isso não tem nada a ver com vocês, caralho! Me deixem falar com
a minha namorada.
— Ué, ninguém tá te impedindo de falar com a sua namorada — Seth
fala, ironia colorindo sua voz, enquanto olha em volta. — Mas onde que ela
está?
Tudo acontece ao mesmo tempo, Liv ri e depois grita, quando Patrick
avança na direção de Seth, um sorriso rasga o rosto do último que segura e
vira o braço que meu ex usou para tentar socar seu rosto. Em um piscar de
olhos, Patrick está ganindo de dor enquanto Seth segura o braço virado nas
costas dele.
Finalmente, a confusão foi o suficiente para atrair a atenção dos
seguranças, que se aproximaram rapidamente. A expressão no rosto de Seth
é quase triste quando tem que soltar Patrick, mas ele ainda empurra o braço
dele em um ângulo completamente errado, o que faz meu ex-namorado
gritar.
— Brooke, eu sei que você está chateada e tem todo o direito de estar.
Quando você se acalmar a gente conversa. Podemos dar um jeito nisso —
ele grita, enquanto é levado embora pelos seguranças.
— O idiota é insistente mesmo — Liv declara.
— Eu preciso de uma bebida — anuncio quando sinto meus braços
começarem a tremer, agora que a adrenalina começou a deixar meu sistema.
 
O carro para em frente à Underworld, o letreiro preto iluminado com
luzes néon roxas por trás são a única indicação necessária do clube noturno.
Achei que se chegasse mais tarde a fila estaria menor, mas Raffi tinha
razão, trazer o DJ do momento só trouxe mais atenção e clientes.
— Oi, Darius! Algum problema por aqui hoje? — pergunto, assim
que me aproximo do meu chefe de segurança.
— Nada por enquanto, chefe — afirma checando a identidade e
ingressos de duas moças que me olham de cima a baixo antes de seguirem
para as portas.
— Qualquer coisa, é só me chamar — aviso, dando um tapinha em
seu ombro e me encaminhando para a entrada.
Assim que cruzo as portas duplas noto uma comoção, dois dos meus
seguranças trazem entre eles um homem que tenta se desvencilhar, acredito
que devem ter parado alguma briga. Apenas quando eles passam por mim é
que o identifico, é o Patrick, namorado de Brooke. Os meus olhos correm
pelo caminho que eles fizeram e não a vejo em lugar algum.
Sinto meu coração acelerar, se esse filho da puta fez alguma coisa pra
ela, não me responsabilizo… tenho certeza que se ele tivesse brigado com
qualquer outra pessoa, ela estaria seguindo-o, mas como ela não está, algo
não está certo. Continuo procurando em meio a multidão, mas a boate está
cheia e mal iluminada.
Ali. Na área VIP. Ela parece bem, constato, mas é a visão dos meus
irmãos ao seu redor que afrouxam o aperto que tomou meu peito. Se eles
estão ali, Brooke está segura.
Subo as escadas para o mezanino de dois em dois degraus, seguindo
em linha reta para onde eles estão. Que porra aconteceu?
Olivia está segurando as mãos de Brooke nas suas, já estou próximo o
suficiente para ouvir o que ela está dizendo:
— Brooke, vamos dar um jeito, eu sei que meu estúdio é pequeno,
mas a gente se vira. — A morena parece tentar convencer e tenho vontade
de rir. Eu ajudei na mudança das duas para seus respectivos apartamentos
quando saíram da faculdade, e não existe a menor condição de todas as
tralhas da minha amiga caberem no pequeno estúdio da Olivia, por mais
que a Liv quisesse, a única forma seria um passe de mágica.
Mas peraí, Brooke precisa de um apartamento? Ela finalmente meteu
o pé na bunda daquele cretino?
Tanto Raffi quanto Seth notam minha presença, e é o primeiro que se
aproxima e segura meu braço em um cumprimento e sussurra no meu
ouvido:
— Brooke e o idiota terminaram, aparentemente ele a traiu. Ele veio
aqui encher o saco e tentar convencê-la a voltar, mas ela não quis nem
ouvir, só que está nervosa porque acha que não tem para onde ir. Até falou
em voltar para Palo Alto.
Ele sorri e eu começo a rir, atraindo a atenção das duas que se viram
para mim. Me abaixo para ficar frente a frente com a Brooke. Seus cabelos
loiros estão ondulados e emoldurando seu rosto em formato de coração.
Preciso controlar a vontade de revirar os olhos diante da sua expressão
preocupada. Honestamente, chega a ser ultrajante que ela ache que não tem
uma casa.
— Você sempre teve onde ficar, a nossa casa é enorme e sempre teve
um quarto para você — declaro e seus olhos verdes se arregalam,
disparando de mim, para Seth que está ao seu lado e Raffi, logo em seguida.
— Não, não, eu vou dar um jeito.
— Brooke, já está resolvido. Você vai morar com a gente — repito.
— Também quero ficar sem-teto se puder morar com vocês. — Liv
bate palmas, desvio meus olhos para a morena que tem um sorriso largo em
seu rosto.
— Liv, não tem graça — Brooke a repreende, mas ela só arqueia uma
sobrancelha e dá de ombros. Minha amiga volta sua atenção para mim. —
Você não acha que deveria falar com seus colegas de casa antes de me
convidar para morar com você? — ela pergunta com aquele tom que usa
quando acha que tem razão.
— Pergunte a eles — respondo, despreocupado.
Eu conheço meus irmãos melhor do que ninguém e no dia que
compramos a casa, sabíamos que tinha um quarto extra e a quem ele
pertencia, e ela só não sabia porque no dia que fomos contar, ela anunciou
que estava indo morar com o idiota do Patrick.
Brooke se vira para Seth.
— Seth, o que você acha disso tudo? — A resposta do meu amigo é
dar de ombros. — Raffi?
— Acho que você tem que parar de fazer cu doce, Babygirl. É a sua
casa e ponto final.
Ela abre um sorriso e seus braços envolvem meu pescoço.
— Obrigada! Obrigada!
A loira se levanta e vai abraçar meus amigos, repetindo os
agradecimentos.
— É temporário, eu juro. É só até eu conseguir me organizar e achar
um lugar que possa bancar com meu salário. Nem vão notar que estou lá.
Isso é algo que eu duvido. Brooke é uma estrela, ela tem luz própria e,
não importa onde esteja, é impossível não notá-la.
— Se deu bem, piranha — Olivia diz e a abraça. — Largou o macho
escroto e vai se enfiar numa casa com esses três gostosos. — Acho que ela
pretendia sussurrar, mas já deve ter bebido. Liv sempre foi fraca para
álcool.
— Shhhh. Vem, vamos dançar. — Brooke parece decidir que é mais
seguro levar a amiga para longe e as duas descem para a pista de dança.
Meus olhos as acompanham por todo o percurso, observo o vestido azul
claro, que a loira veste, ondulando conforme seus movimentos.
— O que diabos aconteceu? — pergunto quando me acomodo no
sofá. Raffi e Seth sentam ao meu lado.
— Brooke não entrou em detalhes, mas Patrick apareceu aqui e estava
tentando puxá-la para longe quando eu cheguei — Seth começa. — Ele
falou várias merdas, mas pelo que eu entendi a Brooke pegou ele comendo
uma qualquer e acabou tudo. Acredito que ele achou que ela voltaria para
ele se aparecesse aqui como cão arrependido, mas quando viu que ela não
cedeu, ficou puto e eu intervi.
— O que ele não está contando é que ele provocou o cara até que ele
achou ser uma boa ideia partir pra cima, e aí quase deslocou o ombro dele
no processo — Raffi acrescenta e eu volto a olhar para Seth que bebe seu
uísque tranquilamente.
— Como ela está? — pergunto, indicando com a cabeça para a pista
de dança.
— Você sabe como ela é, melhor do que nós até. Ela tá chateada,
irritada, mas vai ficar bem. Ela não me pareceu triste — Raffi comenta
antes de sinalizar para uma garçonete que se aproxima. Fazemos nossos
pedidos e ela retorna ao bar. — E estaremos por perto se ela precisar de
alguma coisa, qualquer coisa — acrescenta com um sorriso sacana.
— Mantenha nas suas calças — advirto.
— E se ela quiser que eu tire? — Ele rola os olhos em minha direção
e dá um tapa na minha nuca. — Você é tão fácil de provocar. Só estou
dizendo que vamos todos estar morando sob o mesmo teto, não seria a
primeira vez que dividimos.
— Cala a boca, Raffi. Ela é diferente. — É Seth quem responde
contrariado.
— Vai dizer que vocês nunca pensaram nisso?
Meus olhos encontram Brooke no meio da pista, com os braços para o
ar enquanto ela rebola ao ritmo da música e não posso responder. Não sem
mentir. Quando eu me juntei aos fuzileiros ela ainda era uma criança e
nunca tinha sequer cogitado tal coisa, mas ela já era uma mulher linda
quando voltei de uma das missões. Lembro de estar em casa de licença
entre uma missão e outra, quando a vi beijando um dos seus namorados nas
férias do seu primeiro ano de faculdade, quase cruzei os jardins para chegar
na sua varanda e quebrar os dedos do maldito que apertava sua bunda.
— Então tá, vou fingir que acredito.
— Para de falar merda, Martinez — reclamo.
 

 
— Podemos deixar a Liv em casa primeiro? — Brooke pergunta. Ela
se pendura em meu ombro para sussurrar: — Não confio em deixar que ela
vá de Uber sozinha, ela tá meio bêbada, sabe?
Sorrio, pois Olivia não é a única que se excedeu na bebida.
— Vamos fazer isso — digo e Brooke se vira sorrindo e levantando os
polegares afirmativamente para a morena. — Seth, você e o Raffi vão direto
e nos encontramos em casa.
— Tá bom, até daqui a pouco — fala e se vira para avisar Raffi da
mudança de planos.
— Ei! — Brooke chama e ele se vira. — Vai embora sem se despedir?
— Você vai me encontrar em casa, Brooke.
— Ah, é. Esqueci. — A loira fica na ponta dos pés e beija sua
bochecha. — Até daqui a pouco.
Os dois carros chegam ao mesmo tempo. Temos o costume de usar o
serviço de transporte privado quando visitamos a Underworld para não
corrermos o risco de precisar deixar um dos carros para trás, caso
bebermos. Vou com Brooke e Olivia, elas vão conversando e rindo até o
endereço da morena.
— Boa noite, Liv. Vamos marcar de tomar café semana que vem —
Brooke se despede.
— Noite, amo você! — Ela já está fechando a porta quando a abre
novamente, colocando a cabeça para dentro do carro e apontando para a
loira. — Não faça nada que eu não faria. Tchau, Kyle!
Ela bate a porta, Brooke se ajeita no assento e apoia a cabeça em meu
ombro. Em menos de um minuto sua respiração se acalma, me inclino
ligeiramente para checar e como imaginei, ela está dormindo.
O percurso até a minha casa parece levar uma eternidade e já estou
com cãibra no braço por ter passado esse tempo sem me movimentar, mas
finalmente chegamos.
— Pode entrar, senhor — peço para o motorista quando ele desliga o
carro ao se aproximar do portão principal. Abaixo a minha janela e um dos
guardas libera a passagem.
O carro para em frente à porta e aperto o braço de Brooke
gentilmente.
— Sunshine, chegamos.
— Hm? — ela resmunga e esfrega os olhos, espalhando maquiagem
preta por eles.
— Vamos entrar, chegamos em casa.
Ela meneia a cabeça em concordância e me segue para fora do carro.
— Ah, é. Eu moro aqui agora — ela murmura.
— Vem, vou te mostrar seu quarto, amanhã vamos buscar suas coisas.
Cruzamos o hall e guio Brooke, com uma mão na base das suas costas
pelas escadas, até o segundo andar.
— Seu quarto é o segundo à direita — digo, abrindo a porta. O
cômodo é decorado em um tom de azul pastel com pequenas ondas perto do
rodapé.
— É lindo, Ky! Como que eu nunca tinha visto?
— Não estava pronto quando você o viu pela primeira vez e depois eu
esqueci, mas é seu. Amanhã vou te apresentar a todos os guardas, te
entregar seus códigos de segurança e tudo o que você precisar.
— Obrigada. — Ela se vira para mim com um dos seus sorrisos
resplandecentes, fazendo com que suas maçãs do rosto fiquem ainda mais
evidentes.
— Agora está na hora de dormir — aviso.
— Sempre imaginei como seria — fala com ar distraído.
— O que?
— Dormir com você. — Ela entra no quarto como se não tivesse
acabado de soltar uma bomba em meu colo. E eu estou acostumado a lidar
com bombas, porra!
Fico sem reação, encarando-a enquanto ela caminha pelo quarto e
para na frente do armário, virando-se para mim alarmada.
— Não tenho roupas limpas, Ky.
Fecho os olhos tentando limpar a minha mente que decidiu me
mostrar exatamente como seria ter Brooke, como eu iria me banquetear
entre as suas pernas antes de me enterrar fundo. “Para com essa merda,
caralho. É a Brooke, a porra do seu raio de sol!” me repreendo
mentalmente.
— Vai tomar banho. — Indico o banheiro da sua suíte. — Quando
sair, vai ter uma roupa pra você dormir.
— Tá, obrigada, Ky.
Forço minhas pernas a se moverem e saio dali, primeiro o Raffi com
aquele papo ridículo de dividirmos e agora a Brooke com essa revelação.
Eu sou apenas um cara normal, há limites até mesmo para mim.
Pego uma camiseta e uma cueca boxer do meu armário e volto pro
quarto dela. A desgraçada esqueceu a porta aberta e consigo ouvir o barulho
do chuveiro, largo as roupas sobre a cama e saio dali o mais rápido possível.
— Isso é um teste, Deus? — murmuro, olhando para o teto do meu
quarto.
Quando me deito, depois de tomar banho, ainda estou pensando no
que Brooke disse e eu precisava parar com isso, e logo. Pra início de
conversa ela é o meu Sunshine, minha melhor amiga e outra, ela deveria
estar mais bêbada do que eu achava. Acabou de sair de um relacionamento
e não sabe o que está falando, certo? Certo! Porém não consigo espantar a
sensação de orgulho por saber que ela está dormindo com as minhas roupas.
 
 
 
 
 
[1]
Victoria's Secret (em português: "Segredo de Victoria") é uma marca de lingerie e produtos de
beleza fundada em 1977 por Roy Raymond com a sede em Ohio, Estados Unidos.
[2]
House of Representatives, em inglês, é uma das câmaras do congresso do Estados Unidos,
equivalente a câmara dos deputados brasileira.
[3]
Personagem do anime Boku no Hero
[4]
Personagem do anime Naruto
[5]
Quarterback: Normalmente o jogador mais famoso e importante do time. É o cérebro da equipe.
Orienta todo o sistema ofensivo, posiciona os companheiros, chama as jogadas, lê a defesa adversária
e é o responsável por entregar a bola ao corredor, lançá-la ou correr ele mesmo com ela.
[6]
Personagem de Roald Dahl, que tem um bolo de chocolate muito famoso e supostamente
delicioso.
[7]
Uma Chave de Portal é um objeto encantado do universo de Harry Potter para levar
instantaneamente qualquer um que a toque para um local específico. A sensação de viajar de Chave
de Portal é universalmente aceita como sendo desconfortável, se não francamente desagradável, e
pode levar a náuseas, tonturas, e pior.
[8]
Jon Snow é um personagem fictício da série de livros de fantasia A Song of Ice and Fire, escrita
pelo autor norte-americano George R. R. Martin.
[9]
US Marine Corps (USMC) – O Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos é o braço da força
marítima terrestre das Forças Armadas dos Estados Unidos responsável pela condução de operações
expedicionárias e anfíbias. Muitas vezes referidos apenas como Corps.
[10]
O treinamento de recrutamento do Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos é um
programa de 13 semanas, incluindo processamento interno e externo, que cada recruta deve concluir
com êxito para servir no Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos.
[11]
Show and Tell - é um exercício comum nas escolas estadunidenses em que as crianças levam
brinquedos/animais de estimação ou alguma outra coisa para mostrar para os colegas e contar o
motivo que os levou a escolher aquele item naquele dia.
[12]
MARSOC – United States Marine Forces Special Operations Command – é um comando
componente do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (SOCOM).

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