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1. Romance de Época
2. Literatura Brasileira
1ª edição / 2021.
Esta obra segue as Regras ao Novo Acordo Ortográfico
________________________
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº 9.610./98 e punido pelo artigo
184 do Código Penal.
Você vai me destruir, eu sei...
É quase como suicídio em câmera lenta...
Posso ver seu lado ruim tomar conta de mim...
Então me diga o que eu preciso fazer...
Para me afastar de você, para não me viciar em você.
Para me impedir de desmoronar quando a dor surgir.
Porque agora é tarde, eu quero você...
Não pelo lado bom, não, eu amo seu jeito ruim, sua vida
assombrada, sua mente perigosa...
Eu tentei sufocar esse amor, matá-lo, afogado, mas foi em
vão...
Com apenas um olhar, eu desmorono e me entrego...
Aqui estou eu, sendo arrastado pelo corredor da penitenciária
por doze policiais, com minhas mãos, assim como minhas pernas,
algemadas. Sorrio, olhando para esses bostas, pensando no quão
patéticos eles são. O medo de mim é tão grande que, para me
levarem até o tribunal foi preciso mais de trinta policiais federais.
— Vamos, Rinna — fala o chefe dos guardas, evitando olhar
em meus olhos, sabendo o quanto odeio que façam isso. Ele se
mantém a um passo atrás, checando se estou bem preso e sem
chances de escapar.
Causar medo nessas pessoas me dá tanto prazer. Eles nem
imaginam o quanto gosto de vê-lo aterrorizados.
Fui levado pelos policiais até o carro blindado da polícia, dois
helicópteros nos seguem para assegurar que não haveria chances de
fuga. No carro, meus pensamentos vão para ela, Katharina, bella
rosa. Meu advogado insiste para que eu faça um acordo para reduzir
a sentença. Eu poderia sair com pouco menos de trinta anos, como
se fosse aceitar fazer acordos com esses figlio di puttana. Perder
trinta anos da minha vida dentro de uma cela está fora de cogitação.
Não quero envolvê-la com a polícia, mas só a mínima chance
de a ver já faz a besta em mim rugir, a falta dela é pior que qualquer
maldita prisão.
"Eu vou esperar você, custe o tempo que custar". Suas
palavras são como uma maldição gravada em minha mente.
— Chegamos Rinna. — Fala o policial, abrindo a porta. Só
agora me dou conta que chegamos ao tribunal.
Uma chuva de flashes começa a pipocar. Levanto meu rosto e
olho para eles como os seres desprezíveis que são.
— A Besta, é verdade que o senhor é assassino em série e
está por trás das mortes das dezesseis mulheres? — Pergunta um
repórter que ignoro, sendo escoltado.
— Senhor Rinna, onde está Katharina Castelaresi, sua
esposa? — pergunta outro, porém me limito a controlar meu ódio por
esses cagna e entro no tribunal onde o maxi julgamento de Palermo
irá acontecer.
Lá dentro, agentes da força nacional estão posicionados,
preparados para uma tentativa minha de fuga. Mal sabem eles que
meu plano é sair pela porta da frente e não como um rato, fugindo.
Sorrio, olhando para o capitão da polícia federal italiana. Ostentando
uma medalha de honra ao mérito no peito por ter capturado a terrível
Besta.
— Seu advogado aguarda na antessala para se prepararem
para o julgamento. — Fala Vitório, o tão famoso capitão.
— Na Cosa Nostra se paga com sangue o peso da traição! —
Falo friamente, jogando sua sentença e ele sabe que quando a
sentença é dada, ela é comprida.
Me levam até a sala, um policial abre a porta para mim e eu
entro, vendo meu advogado e Vicenzo. Katharina não veio e isso me
deixa em alerta de que algo possa ter acontecido com ela e com
nosso filho.
— Onde está Katharina? — Pergunto de uma vez.
— Como você está, irmão? — Ele pergunta, preocupado.
— Onde está Katharina? — Pergunto novamente, ignorando
totalmente sua pergunta e indo direto ao que importa.
— Calma, sente-se, senhor Rinna. — Fala o advogado,
apontando para a cadeira em frente ao dois.
— Não vai demorar muito para me levarem para o julgamento,
então é melhor vocês dois irem direto ao que importa. Você
conseguiu pegar o dinheiro para comprar a porra do júri? —
questiono sobre a missão que dei a Vincenzo, para que pegasse uma
parte do dinheiro que guardo no meu cofre e subornasse o júri,
dessa forma sairei daqui como um homem livre.
— Não, Boss, eu falhei, não cumpri a minha missão. Quando
cheguei ao cofre era tarde demais, não tinha mais um euro se quer.
— Vicenzo fala baixando a cabeça, envergonhado por ter falhado e
pior, ter perdido a fortuna que guardei para esse tipo de situação de
emergência.
— Como seis bilhões de euros desaparecem?! — Falo
enfurecido, sem entender como conseguiram descobrir sobre esse
dinheiro se apenas Katharina e eu sabíamos, só contei a Vicenzo
agora que estou preso.
— Eu sinto muito, irmão, foi Katharina que levou todo o
dinheiro. E não foi só isso, ela fugiu, já mandei procurar em toda a
Itália, mas ela desapareceu com o dinheiro. Meus infiltrados estão na
Rússia para ver se ela vai até o irmão. Mas, por hora, ela não foi
para a Rússia.
Em choque eu paraliso, sem entender direito as palavras que
saem de sua boca. Não é possível, sorrio amargo pensando que não
pode ser possível. Ela não pode ter feito isso, não comigo, me traído
dessa forma, não Katharina. Minha própria esposa, a única mulher
que fui capaz de amar, La mia bella rosa. A dor é intensa, como
nunca imaginei sentir. Todavia, Katharina acaba de provar que ela é
capaz, sim, de me ferir da pior maneira possível.
— Como ela tirou tanto dinheiro sem ser vista, sem ser pega
por nenhum dos nossos?
— Ela usou seu helicóptero, levou tudo, todo o dinheiro, até
mesmo as joias, seus relógios, não sobrou nada. — Diz ele,
revoltado.
Ela me traiu, traiu a minha confiança e fugiu com meu filho na
barriga, levando todo o dinheiro. Ela conseguiu o que queria. No final
a promessa que ela fez lá atrás se cumpriu, ela acaba de arrancar
meu coração do meu peito.
Katharina acabou comigo, conseguiu me destruir, me derrotar,
o dinheiro não é tão importante e sim o fato dela ter mentido para
mim e fugido com meu filho.
— Nós vamos dar um jeito, eu vou te tirar daqui! — Fala
Vicenzo, desesperado.
— Quais são as chances de escapar dessa sentença agora?
— Pergunto ao melhor advogado criminalista de toda a Europa.
— Nenhuma, não vou te dar falsas esperanças, as provas são
concretas, a principal testemunha foi imprescindível e o júri é
composto na maioria por mulheres que provavelmente se
compadecerão das famílias das vítimas.
— Então serei condenado!?
— Provavelmente — fala o advogado, tenso.
— Você ficará no comando da família Vicenzo, um leão caiu,
mas isso não significa que a selva está a salvo. Faça-os entenderem
que a Cosa Nostra comanda a Itália, e jamais seremos subjugados,
quero a morte do traidor. Mostre a ele o que se acontece quando se
quebra a omertà!
Os policiais vêm me buscar e sou encaminhando para a sala
de julgamento. Os familiares das vítimas já estavam todos sentados,
só esperando a minha entrada, e como imaginei, estavam todos
apavorados, com medo da Besta.
Uma cela foi posta no meio do tribunal, onde fui levado, uma
cadeira e quatro paredes gradeadas e é assim que a terrível Besta
será julgada.
— Todos de pé para darmos início ao último dia de julgamento
do senhor Dimitri Salvatore Rinna.
O julgamento começa e o promotor começa a refazer todas
as acusações, porém minha mente está longe, em Katharina.
— Onde você está, bella mia? — Me pergunto em
pensamentos.
— Estamos aqui, senhores, em frente ao maior criminoso de
toda Itália, "A Besta" como é chamado, não só é um assassino cruel
como também um psicopata frio, sem sentimentos e capaz de tudo
para sair daqui. Senhores do júri, "A Besta" como prefiro chamá-lo,
foi responsável pelo homicídio de mais de cento e cinquenta
pessoas, quarenta delas morta por ele mesmo.
— Também foi o mandante direto da morte do juiz Falcone e
do magistrado Paolo Bocelino. Ele orquestrou, em nome da Cosa
Nostra, vários atentados à bomba por toda Itália. Mandou matar
Ignácio Salvo, influente membro da máfia por não ter conseguido
impedir as condenações de vários membros da Cosa Nostra.
— Também não podemos esquecer do massacre na avenida
Lazio em Palermo, onde foram eliminados mais de trinta criminosos
de uma máfia rival, assim como o Michele Calvatário, líder da facção
rival. Não suficiente, ainda mandou matar o general Carlos Alberto
Dalla Chiesa. Nosso general que tinha sido nomeado seis meses
antes como encarregado de acabar com toda a máfia siciliana, a
Cosa Nostra. Sem deixar de contar o fato desse homem aqui ter sido
o assassino de dezesseis jovens. Jovem essas que foram seduzidas
pelo charme da Besta e mortas por ele de maneira cruel,
interrompendo não só dezesseis vidas, mas também seus sonhos
por conta das atrocidades desse homem.
— Quero alertar aos senhores do júri que Dimitri Salvatore
Rinna, El capi del capo não pode ser inocentado hoje. A máfia é um
câncer sugando nosso país, movimentando cerca de cento e
cinquenta bilhões de euros por ano publicação do relatóriodo DIA -
Direção Investigativa Antimáfia, da Itália, precisamos estancar a
sangria e acabar com essa organização. Agora, o poder está nas
mãos dos senhores, a decisão de salvar nossas crianças de
crescerem em uma Itália refém da máfia e de homens como
Salvatore Rinna!
O promotor é bom, sabe bem quais palavras usar a seu favor,
sorrio friamente quando seu discurso acaba. Eles foram espertos em
ter chamado Andreotti para ser o promotor. Não é à toa que ele é
conhecido como o melhor da promotoria.
Meu advogado, em minha defesa, tenta reverter às alegações
e fazer um acordo, mas durante suas alegações, quando chega a
hora do traidor falar, eu sei que será difícil conseguir escapar da
condenação.
— Senhor juiz, eu peço a palavra. — Digo, olhando nos olhos
do juiz e percebo a tensão em sua fronte, como também que suas
mãos tremem sobre sua mesa.
— Com a palavra, o acusado.
— Eu não matei aquelas mulheres, mas eu sou culpado, é
isso que tenho certeza que querem ouvir. — Sorrio olhando para o
júri. Aqui, diante de mim, vejo um bando de hipócritas, eu estou
sendo julgado por um promotor assassino, um juiz viciado e um júri
corrupto. E as testemunhas não passam de traidores.
— Excelência, pela ordem, o acusado está fazendo injúrias a
respeito da minha pessoa. — Fala o promotor enfurecido.
— Podem cortar o microfone do acusado — diz o juiz me
impedindo de contar todos os podres que eles escondem. — Nesse
momento iremos nos reunir para chegar ao veredito. — Fala o juiz e
fico aguardando o resultado das votações.
Eu já sabia que não sairia livre, todavia a minha cabeça
trabalhava em várias hipóteses de matar Vitório, o promotor e o juiz,
até mesmo os vinte e um membros do júri. A Besta dentro de mim
estava enfurecida e transbordando ódio, não só deles, mas de mim
mesmo, por ter sido burro de acreditar em Katharina. Agora ela está
longe daqui com meu filho na barriga e desfrutando do meu dinheiro,
mas isso não ficará assim, sairei daqui ou não me chamo Dimitri
Salvatore Rinna.
— Todos de pé para ouvir a sentença do excelentíssimo
senhor Juiz. — Fala o orador quando todos voltam para a sala.
Me levanto olhando para ele e para todo o júri que parece
com medo de dar a sentença. Eles sabem que mexer com a máfia é
colocar suas cabeças a prêmio.
— Esse júri reconhece Dimitri Salvatore Rinna como culpado
pelos totais de cento e cinquenta assassinatos, como também
atividades criminosas como lavagem de dinheiro, formação de
quadrilha, extorsão, ameaça, sequestro, sequestro agravado de
morte e tortura. A pena fica vinculada a vinte e seis prisões
perpétuas, sem direito de recorrer dessa sentença, valendo partir do
momento dessa condenação. — Fala, batendo o martelo e
declarando a minha sentença.
Meu irmão grita enfurecido com o resultado da sentença e
meu advogado tenta contê-lo, a plateia comemora com o resultado
do julgamento. Eu não digo nada, apenas mantenho meus olhos fixos
em todos os presentes pensando que eles não perdem por esperar,
pois no momento em que estiver fora dessas grades, toda a Itália irá
sangrar.
O medo tem um cheiro distinto, algo que pertence apenas a
ele. Pungente, ácido, e ao mesmo tempo, doce. Fascinante. Ou,
talvez apenas doce e atraente para um doente como eu. De qualquer
maneira, a garota encolhida no canto do quarto tinha medo saindo
dela em ondas.
— Onde ela está? — Pergunto com a voz baixa.
— Eu não sei, eu não sei... eu juro! — Diz ela aterrorizada.
— Ah, querida, você é tão linda, tem certeza que quer me
desafiar? É mais fácil me dizer para onde a minha noiva foi? — Digo
com a voz tranquila, o que a deixa mais aterrorizada — Eu não gosto
de torturar mulheres, isso não me atrai, porém Augustos não se
importa de você ser uma. Ele vai arrancar a informação de você por
bem ou por mal. Seria tão mais fácil me dizer para onde ela foi. Nos
pouparia tempo e seu precioso rostinho ficaria intacto.
Vejo que ela engole em seco, com dificuldades para respirar.
Augustos dá um passo em sua direção e ela se encolhe mais na
parede, em seu rosto posso ver o medo e o pavor. Lágrimas
escorrem pela sua face e suas mãos tremem sem parar.
Faço um sinal para que Augustos se aproxime e ela grita em
pânico.
— Eu vou dizer, eu vou dizer, mas não vai adiantar, já é tarde
demais. Katharina já deve estar longe daqui ela conseguiu fugir de
você, eu posso até morrer, mas ela está livre. — Me desafia.
O irmão de Katharina olha para a tal Ana e grita, irritado.
— Fala logo onde eles estão, já sabemos que ela fugiu com
Ivan, não deixe isso se transformar em um escândalo!
— Eles iam até a fronteira da Finlândia e lá alguém ia ajudar
eles a atravessar, é tudo que sei, ela não me disse mais nada.
— Boa garota, poderia ter evitado todo esse constrangimento
se tivesse contado no começo.
— Vamos Augustos, chame Luca e Fabrícios, quero um
helicóptero, eu mesmo vou buscar a noiva fujona. — Digo, sem
paciência.
Saio daquele quarto com minhas mãos coçando para
machucar uma certa loira. Não tenho tempo para isso, uma porra de
uma princesinha russa.
Antes que eu possa começar a descer as escadas sou
interrompido por Natasha, e me arrependo amargamente de a ter
trazido para ser minha distração durante a viagem.
— É verdade que sua noiva fugiu? — Pergunta ela com um
sorriso contente no rosto.
Pobre Natasha, realmente acredita que um dia ela será minha
esposa.
— Sim, mas isso não é da sua conta! — Digo friamente.
— Como não, Dimitri? Essa é a oportunidade que nós
precisávamos, amor, agora nada pode te obrigar a casar com essa
loira sem sal.
Me viro para ela, olhando diretamente em seus olhos, e posso
sentir ela estremecer e abaixar os olhos amedrontada.
— Acho que não deixei claro seu papel aqui, não é, cadela?
Escuta bem o que eu vou dizer. Você não passa de uma boceta e eu
não te devo satisfações da minha vida, nunca te dei esperanças de
que teria algo a mais do que meu pau entrando em você. É melhor
usar essa boquinha apenas para me satisfazer ou terei que
dispensá-la. — Falo e vejo seu rosto cheio de lágrimas, que ela trata
de limpar rapidamente, sabendo que odeio essas demonstrações de
fraqueza.
— Me perdoe, "senhor", não cometerei o mesmo erro
novamente.
Ignoro seu pedido de desculpas, não tenho tempo para
castigá-la agora.
Desço as escadas com pressa, pois tenho uma reunião ainda
nesta tarde e odeio ter que perder meu tempo, Katharina pagará
caro por sua transgressão.
— O que vai fazer com a minha filha? — Pergunta a mãe de
Katharina.
Seu rosto está coberto de lágrimas, ela sabe que a punição
da sua filha pode ser terrível.
— Não machuque minha filha, por favor. — Súplica a pobre
senhora.
É uma pena que não tenho piedade por ninguém, muito
mesmo na ragazza fujona.
— Cecília, o deixe!! — Grita Andrei, pai de Katharina,
entrando na sala. — Seja lá o que for acontecer com Katharina,
agora a culpa será toda dela, ela sabia as consequências quando
decidiu fugir e humilhar nossa família!
Viro as costas, indo em direção à porta, nem me dignando a
responder aos dois. Se a pequena trapaceira pensa que pode fugir
de mim, está muito enganada. Ela não conheceu a Besta que está
prestes a caçá-la. O helicóptero pousa no jardim da casa dos
Castelaresi trazendo um vento frio. Me irrito, lembrando do porquê
odeio a Rússia, preferia estar em casa, resolvendo os assuntos da
família e não nesse maldito lugar frio, tendo que aturar os
Castelaresi e sua princesinha mimada.
— Eu vou junto com vocês! — Diz Aslan, atrás de mim.
— Senhor, alguma coisa está errada! — diz meu soldado,
correndo em minha direção.
— Acredito que não. — Digo olhando para Aslan, que não
consegue disfarçar que não aceita o fato da sua irmãzinha ser dada
a mim.
— Conseguimos rastrear o carro que eles usaram, estão indo
em direção à Finlândia.
— Todos os carros são equipados com GPS, acho que os
dois esqueceram esse detalhe. — Fala o irmão de Katharina, um
tanto ingênuo. Ou, quem sabe, esteja a protegendo.
Contudo, eu sei que a ragazza é muito esperta, para usar um
carro rastreável.
— Nós vamos para o leste, ela não foi para Finlândia.
Katharina está tentando nos despistar e provavelmente pagou
alguém para ser isca, pois sabia que sua prima seria interrogada.
Vejo o irmão de Katharina ficar calado, provavelmente já entendendo
para onde a irmã deve ter ido.
— Eles estão indo para Novogárdia e de lá, provavelmente
vão em direção à fronteira para a Suécia. — Fala Aslan.
— Avise nossos homens para fechar a fronteira com a Suécia,
ninguém sai.
Entramos no helicóptero e Aslan vem junto. Não falo nada, fico
concentrado em meu celular, resolvendo todos os preparativos para
a minha volta à Itália.
— Não machuque Katharina, ela errou, mas não merece ser
castigada, ela ainda deve ser sua esposa, só está com medo.
— Você será o chefe dos Bratvas logo, mas é um fraco. Se
fosse minha irmã, eu mesmo a castigaria, mas você está aqui
pedindo clemência pela sua! — Digo, com raiva.
— Pode pensar o que quiser, mas não vou deixar machucar
minha irmã. — Aslan diz.
— Sua irmã traiu sua família, desonrou o compromisso com a
Cosa Nostra. A decisão do que fazer com ela é minha, não pense
que sua presença aqui vai protegê-la das consequências de seus
atos.
— Katarina está confusa, aposto que foi enganada por Ivan,
ela não sabe o que descobrimos.
— Isso não importa mais. — Corto a conversa, pois não nos
levará a lugar algum.
O resto do percurso é feito em silêncio. Cada segundo que
sobrevoamos em direção a Novogárdia, minha raiva pela ragazza
aumentava. Uma coisa eu não podia negar, ela tem mais coragem
que metade dos homens do seu pai.
Seis carros com homens meus nos acompanham em terra. De
longe posso ver a Ferrari preta que os dois usam. Estamos fora da
rodovia, em uma estrada com gelo e terra, na saída da cidade.
Logo, eles percebem que estão sendo seguidos e aceleram, em alta
velocidade, tentando escapar. Sorrio, me divertindo, pois, a caça
acaba de ficar mais atrativa.
— Ivan, não adianta mais, eles vão nos pegar, é melhor nos
rendermos!
— Não, Katharina, eu nunca vou desistir, falta pouco para
chegarmos à fronteira, não vê que eles vão me matar?
— Ivan, por favor, ele vai te matar se não parar, é melhor
desistirmos! — Imploro.
— Não, Katharina! Eu não vou te entregar nas mãos da Besta,
jamais!! — Ele fala, enfurecido.
— Eu suplico, eles estão nos perseguindo, é tarde demais. Se
nos rendermos, eles podem nos deixar vivos.
— Para esse carro, Katharina!!! — Ouço a voz de Aslan no
alto falante com a cabeça para fora do helicóptero.
— Nós não podemos parar, você não entende, é tarde
demais, eu já sou um homem morto! — Fala pegando sua arma e
atirando contra os carros que nos perseguem.
— Precisamos atrasá-los — me entrega uma pistola. Tento
atirar nos carros, mas sei que é inútil, já estamos perdidos.
— Não há saída, jamais conseguiremos fugir dele!
O helicóptero ainda sobrevoa nosso carro, outros dois carros
colados no nosso, tentando nos fazer parar, batendo contra a lateral.
— Me escuta, Ivan, é tarde demais, para esse carro!!! —
Falo, desesperada, porém antes que ele possa fazer qualquer coisa,
meus olhos vão à nossa frente, onde o helicóptero pousou e lá está
ele. A Besta, descendo da aeronave junto com meu irmão e mirando
em nossa direção.
Com ódio, tremendo, eu coloco meu rosto e parte do braço
para fora da janela e olho em sua direção, atirando. Erro o tiro ao
sentir o impacto de um carro batendo contra nós, quase derrubando
minha arma no chão. Eu errei, mas ele não, e seu tiro acertou no
ombro de Ivan.
— Você está ferido, ele vai te matar!! — Grito, desesperada,
vendo o sangue escorrendo do ombro de Ivan, que geme de dor.
Ivan dá uma freada brusca e meu corpo é arremessado para
frente. Sinto um corte arder na minha testa e o sangue escorrer pelo
meu rosto. Ivan pega duas pistolas e sai do carro. Eu tento impedi-
lo, mas é tarde demais, ele já está lá fora e leva um tiro na perna.
Corro em sua direção com a minha Glock na mão, a adrenalina
percorre meu corpo, mas o pavor é maior que tudo, e tenho medo
desse ser o nosso fim.
Meus olhos estão presos nele, no monstro que me persegue,
não só na vida real, como até mesmo em meus pesadelos. Se ele
soubesse que prefiro a morte a ser dele, não estaria aqui. Paro ao
lado de Ivan, com a arma apontada para Dimitri. Ivan, mesmo ferido
ainda tenta manter a mira em direção a eles. Está claro para mim
que não há escapatória, estamos em desvantagem. Ivan está ferido
e o olhar assassino da Besta fixo em mim, demonstrando que ele
não terá piedade.
— Katharina, abaixe essa arma e venha comigo. — Fala
Aslan, aflito.
— Eu não vou, não aceitei acordo nenhum, eu não vou me
casar com esse homem.
Minhas palavras tiveram um efeito sombrio na feição da
Besta, que antes me olhava com raiva, agora me assombra com
puro terror. Meus olhos não saíram dos dele um segundo se quer, e
a cada passo que ele dava em minha direção, sentia meu coração
bater mais e mais acelerado.
— Nos deixe ir, por favor! — Eu suplico quando os dois estão
em nossa frente.
— Ragazza burra, pensou que ia conseguir fugir e desfazer o
compromisso? — Dimitri fala friamente, apontando a arma na minha
cara.
— Não machuque a minha irmã — rosna Aslan, mas
rapidamente é contido por homens de Dimitri.
— O que pensou, que ia fugir com seu amante e ter uma vida
tranquila fora da máfia? Subestimei você, bella mia. Você deveria
saber que uma vez na máfia, a única forma de sair dela é morta. —
Ele fala, mantendo a arma apontada para mim e seus homens na
direção de Ivan.
Eu não me amedronto com suas palavras e muito menos
abaixo a minha arma da sua mira.
— Não aponte uma arma para mim se não estiver pronta para
atirar, Principessa. — Fala, com um desafio no olhar.
— Eu não tenho medo de você, se for preciso eu te mato para
ter a minha liberdade!!
— Atire nele, Katharina! Mata esse desgraçado!! — fala Ivan,
do meu lado, me deixando nervosa e minhas mãos tremem.
— Nós dois sabemos o que acontece se você atirar em mim,
meus homens atiram no meio da testa do seu irmão, depois em você
e nesse merda do seu lado. Uma guerra entre os Bratvas e a Cosa
Nostra começa e nós sabemos qual lado da moeda tem mais poder.
Então, seja uma garota sensata e abaixe a sua arma, antes que eu
perca a pouca paciência que tenho.
Olho para Aslan, que está imobilizado por quatro homens. Eu
sei que ele poderia se desvencilhar dos quatro facilmente, mas o
desgraçado não quer. O que me faz pensar que ele está tentando
me proteger, evitando um confronto.
— Não escuta ele Katharina, atira de uma vez nesse
desgraçado, mata ele — fala Ivan.
Olho para ele e em seu olhar vejo algo que não tinha notado
antes, raiva e ódio.
— Eu sinto muito, Ivan. — Falo abaixando a arma, sem saída.
Nesse mesmo segundo, Dimitri é rápido, tirando-a das minhas
mãos com uma agilidade que só vi em meu irmão. Aponta para Ivan,
ouço o estampido do tiro e seu sangue cai sobre mim. Com a minha
arma ele o matou, matou bem na minha frente. O corpo de Ivan cai
no chão, eu olho para seu rosto coberto de sangue, com um tiro na
cabeça.
Dor! É o que eu estou sentindo, física e mental, eu sinto como
se minha alma estivesse desabando em um abismo. O meu amor se
foi, está morto. Seu corpo está caído em uma poça de sangue.
Acabou, ele morreu por minha culpa, minha culpa, se não tivesse
fugido após o meu noivado com o chefe da máfia italiana, talvez Ivan
estivesse vivo.
— Não, não! Não, Ivan, não!! — Grito, em choque, com
tamanho horror.
Desabo sobre o seu corpo com lágrimas transbordando pelo
meu rosto, não me importando com minha demonstração de
fraqueza. A dor é tão grande que gemo ao tocar seu corpo sem vida.
Contudo, maior que a minha dor é meu ódio.
Deixo o corpo do meu namorado e me levanto, resignada.
Olho diretamente para ele, o desgraçado que destruiu a minha vida,
o miserável que odeio com todo meu ser.
— Bom, agora que resolvemos tudo que tínhamos para
resolver, você vem comigo, bambina.
— Eu te odeio, Dimitri Salvatore Rinna. Eu nunca vou te
perdoar pelo que acabou de fazer, pode demorar o tempo que for,
mas eu ainda o destruirei, tirarei tudo de você e não terei piedade ao
ver seu coração arrancado por mim.
— Vai ser engraçado te ver tentar, bella mia, tentar arrancar
um coração que não existe! — ele ri, achando graça da minha
promessa.
— Vem, Katharina, vamos sair daqui. — Fala meu irmão, me
puxando em direção ao helicóptero e eu o acompanho, em estado
catatônico tamanha minha dor.
A minha vida agora se transformará em um inferno, mas uma
coisa eu garanto, já que estarei no inferno, farei de tudo para
queimar a Besta junto comigo.
Eu nem quis ouvir o que ele dizia, entrei no banheiro com dor
em meus pulsos. Passei o dia amarrada feito uma vaca. Usei a
meditação, as aulas de ioga para controlar meu corpo e não surtar.
Conseguir controlar a vontade de ir ao banheiro e a sede foi fácil,
mas ficar amarrada com meus movimentos contidos foi terrível; fiz de
tudo para me soltar dos nós, porém o desgraçado sabia bem o que
estava fazendo e por mais que eu lutasse contra as amarras, elas
me mantinham presa e tudo que eu consegui foi esfolar meus pulsos.
Depois trancar a porta e usar o sanitário, coloquei a banheira
para encher. Meu corpo estava todo dolorido pelas horas que passei
na mesma posição e minha pele toda machucada. Dentro de mim o
ódio por esse homem só aumentava. Eu descobrirei algo que a
Besta ame e então farei questão de destruir. Como aprendi com
Aslan, uma guerra é vencida com inteligência e não com sentimentos,
não vou deixar a minha fúria me domar; serei fria, calculista.
Não foi tão fácil como pensei conseguir livrar meu pulso,
porém o som de passos perto da porta me faz parar os movimentos
e enrolar a corda sobre o pulso novamente.
— Sentiu nossa falta, loira? — Ele pergunta, puxando meu
cabelo e erguendo meu rosto para o seu.
— Não — grito de ódio.
— Pois deveria se acostumar, o desgraçado do seu marido
não quer pagar o seu resgate. — Diz com ódio na voz e então meu
corpo paralisa ao me dar conta do que ele disse.
— Você está mentindo para mim, Dimitri não faria isso —
digo, tentando me enganar.
— O maldito Rinna não quer pagar, o desgraçado recusou o
meu pedido pela sua soltura. Pelo visto, você não é tão gostosa
como parece — fala, passando as mãos asquerosas pelos meus
seios.
— Ligue para o meu irmão. Aslan pagará o que quiser —
tento convencê-lo, já que estou sem saída.
— Acha que eu sou idiota, maldita — fala, socando a parede
ao lado do meu rosto. — Me fala por onde o desgraçado do seu
marido está transportando as armas.
— Eu não sei do que está falando — digo séria, tentando
passar confiança.
— Não se faça de inocente, eu sei bem que a Cosa Nostra
recebeu um grande carregamento de armas e seu maridinho não quis
entregar as armas pelo seu resgate.
— Eu não sei onde estão essas armas, se precisar de
dinheiro ligue para o meu irmão e peça o resgate.
— Vadia desgraçada, fala para onde o maldito vai levar as
minhas armas.
Ele dá um tapa forte no meu rosto e eu gemo alto de dor.
— Eu já disse, não sei para onde ele vai levar as armas. —
Falo firme, mesmo lembrando da conversa que ouvi de Dimitri e
Lorenzo no jantar. As armas seriam enviadas pelos navios do meu
pai.
— Desgraçada, até agora eu fui bonzinho com você e mesmo
assim não quer colaborar comigo. — Ele pega um canivete de dentro
do bolso da calça e aponta para mim. — Como eu sou bonzinho eu
vou te dar mais uma chance de me dizer onde o maldito do seu
marido escondeu as minhas armas.
— Eu não sei onde estão essas armas.
— Você fez uma péssima escolha. Eu peguei leve com você e
não quis colaborar, se você não tem serventia para mim, deixarei que
meu amigo Rain se divirta com você. Sabe quanto tempo faz que ele
não tem uma mulher bonita para foder? — Diz enquanto passa o
canivete pela minha blusa, cortando não só ela como fazendo um
risco na minha pele.
— Eu vou te matar, seu maldito! — digo e gemo de dor ao
sentir minha pele sangrar.
— Tudo isso seria evitado se você me dissesse onde estão as
armas.
— Eu já disse que não sei, filho da puta — rosno e em
seguida recebo um tapa certeiro.
— Vadia nenhuma xinga minha mãe, bastarda. — Fala e eu
engasgo com o gosto de sangue em minha boca.
Ele vai até a porta e abre para que o tal Rain passe, meu
corpo treme de pavor ao imaginar o que eles pretendem fazer
comigo e me lembro que tudo isso é culpa do desgraçado do Dimitri,
que não pagou a merda do resgate.
Fico atento a tudo que ele faz e diz a ela. Katharina reclama
de dor quando ele examina seu abdômen, há um hematoma preto em
toda região. O doutor faz curativos em todos os cortes. Observo
quando ele abre o roupão de Katharina e engole seco vendo seus
seios, começando a limpar o corte do seu colo e depois aplicando a
pomada sobre o ferimento.
— O corte foi superficial, a senhora ficará bem, vou aplicar um
sedativo para que descanse e se recupere.
— Eu não quero sedativos, já basta às drogas que usaram em
mim, me dê apenas uns analgésicos que ficarei bem.
O médico olha para mim, eu aceno para que ele a obedeça.
Ele pega os comprimidos na maleta e prescreve uma receita.
— Eu vou precisar que a senhora vá até o meu consultório
para fazermos um raio-x, para ter certeza que não quebrou nada.
— Não se preocupe, doutor Paolella. Eu mesmo levarei a
minha esposa até o hospital para fazer todos os exames
necessários, agora se não precisa examinar mais nada, gostaria que
nos deixasse sozinhos, Lorenzo fará seu pagamento, como foi
combinado.
— Claro, chefe — diz, pegando suas coisas e saindo do
quarto.
— Como se sente? — Pergunto ajudando-a a se sentar
melhor na cama.
— Como acha que me sinto ao ser enganada por você e seus
irmãos? Eu sofri um acidente, fui sequestrada, torturada e tudo não
passou de uma maldita prova.
— Não era minha intenção fazer você passar por isso, não
gosto de vê-la machucada, Katharina.
— Falou o homem que tem um calabouço cheio de chicotes
para torturar mulheres.
— Isso não tem nada a ver com dominação, Katharina —
explico, tocando em seu ombro.
— A cada dia que passa em que estou casada com você,
você me faz sentir mais e mais ódio por ti.
— Não, bella mia, não é ódio o que está sentindo — falo,
tocando em uma mecha do seu cabelo louro, sentido o cheiro doce
de rosas.
Não sei explicar o que acontece quando estou perto de
Katharina, pois a cada segundo em sua presença menos controle eu
tenho da Besta dentro de mim. E a odeio por não conseguir controlá-
la, odeio por me desafiar, odiei por me fazer fraquejar e quase
acabar com a prova quando a vi no chão. Odeio por fazer com que
eu sinta esse desejo descomunal em tê-la. Seja lá que tipo de poder
Katharina tem, ele precisa acabar.
Eu passei a última semana me recuperando da tal prova de
fogo.
Sentada no jardim eu via o sol da manhã banhando toda
Sicília, estou há tão pouco tempo nessa ilha e já estou apaixonada
por esse lugar. Não saí muito do quarto, apenas para ir ao hospital,
onde Dimitri fez questão de me acompanhar. Estranhamente, depois
da tal prova, recebi meia dúzia de rosas brancas, que, segundo
Lorenzo, é uma tradição italiana para demonstrar o valor de uma
mulher, o que é totalmente ridículo.
Não vi Vicenzo, mas não esquecerei que foi por conta da
desconfiança dele que tive que passar pela tal prova. Sozinha aqui
nesse jardim, divido meus dias em ler, meditar, também liguei para
minha prima Ana e ela me disse algumas coisas que me deixaram
pensativa até agora.
— Eu não sei bem o que está acontecendo, mas alguma coisa
grande aconteceu.
— Do que está falando, Aslan está bem? — Pergunto
nervosa.
— Sim, ele está bem, levou um tiro de raspão, mas isso não é
mais importante e sim meu pai e o seu estarem falando sobre Ivan.
— Não estou entendendo, Ivan está morto e eu já estou
casada, por que isso agora?
— Eu não sei, mamãe me viu escutando pela porta enquanto
eles conversavam e eu tive que sair. O melhor é conversar com
Aslan, ele vai saber mais do que eu.
— Eu vou ligar para ele para entender melhor essa história.
Depois disso, liguei para Aslan e foi à sexta vez que liguei
para ele desde que me casei e não obtive resposta, por fim decidi
mandar uma mensagem pedindo que ele retornasse minhas ligações.
Já eram quase seis da tarde quando Aslan me ligou, fiquei com
medo de Dimitri chegar e pegar o celular. Porém, a ansiedade para
falar com meu irmão falou mais alto.
— Katharina? — Perguntou ele ao telefone.
— Aslan, estou quase enlouquecendo sem notícias suas.
— Estou bem, não tem o que se preocupar. — Ele responde
em russo e continua a conversar em nossa língua.
— Como não, Ana me disse que levou um tiro. O que tá
acontecendo aí?!
— Conflitos corriqueiros, mas não te liguei para falar de
problemas, quero saber como você está depois da prova.
— Como sabe da prova de fogo?! — Questionei, confusa.
— Eu disse que tinha um infiltrado cuidando de você. Eu não
estou aí, mas farei o que tiver no meu alcance para protegê-la do
maldito do Rinna.
— Eu não sabia o que eles estavam tramando, mas consegui
mostrar para os membros da família que não sou uma traidora.
— Eu sabia que conseguiria, você é uma Castelaresi e
nenhum italiano pode com você.
— Não está sendo fácil viver aqui, todos me odeiam e Dimitri
faz questão de me humilhar, mantendo a amante dentro da casa. As
únicas pessoas que parecem realmente gostar de mim são os
empregados, nem mesmo Lorenzo, que é mais simpático, não ouso
confiar. Ele pode estar apenas tramando contra mim ao lado do
irmão.
— O que você está fazendo em relação à cyka italiana?
— Ainda não arrumei uma maneira de tirá-la daqui. — Digo,
me lembrando dos planos que estou traçando.
— Tenho certeza que sua cabecinha fértil já deve estar com
várias ideias. Ligue para a mamãe, ela anda aflita sem notícias suas.
— Eu vou pensar bem no que fazer em relação à Natasha,
ainda não tenho acesso a um telefone meu. Não posso ligar para
mamãe desse número e correr o risco do seu pai descobrir.
— Ele também é seu pai Katharina.
— Ele deixou de ser meu pai quando me entregou como uma
égua premiada para um monstro.
— Ele sente sua falta, não quer dar o braço a torcer, mas já o
vi na sala de música olhando para seu retrato.
— Ele não pensou em mim quando fez o acordo, agora é
tarde para querer que eu pense nele. Mas, estamos mudando o foco
da ligação, quero saber o porquê do nome de Ivan estar sendo
citado pelos membros da Bratva!!
— Não quero falar sobre isso com você! O melhor que tem a
fazer é esquecer de uma vez por todas Ivan, você está casada e tem
que se preocupar apenas consigo mesma e com sua vida na Itália.
— Você nunca me escondeu nada, Aslan, por que os
segredos agora?!
— Você também não me escondia nada, Katharina, mas
escondeu que estava se envolvendo com um dos nossos soldados e
pior, que pretendia fugir. Agora preciso desligar, se cuide irmãzinha.
— Aslan.... — Tentei, mas em seguida ele desligou o telefone
na minha cara, me deixando sem respostas e ainda mais confusa.
Não sei quanto tempo se passa, mas não demora muito para
a Besta passar pelas portas do calabouço. Ele ainda não tinha me
visto, então aproveito para analisar bem meu inimigo. Seus cabelos
estavam molhados, a barba por fazer e o costumeiro olhar
inexpressivo que me assustava pairava em seu rosto. Em suas
mãos, uma caixa que não consigo distinguir o conteúdo, pois a luz
está baixa. Ele usa uma camisa social branca, colete preto, calça
social e os pés descalços, poderia jurar que é o homem mais bonito
que já vi, mas para mim isso é apenas um disfarce para esconder
sua verdadeira essência demoníaca.
— Aí está você, bella mia. — Fala, olhando diretamente para
mim.
Seus olhos parecem brasas quentes, queimando a minha pele.
— O que você pretende fazer comigo? — Pergunto de uma
vez, ao mesmo tempo curiosa e amedrontada.
Não sou ingênua de achar que isso nunca aconteceria, mas
agora que estou aqui, pronta para ceder à Besta italiana, um misto
de medo e ansiedade toma conta de mim.
— Ah, bella mia, serei seu predador essa noite, te caçarei e
te comerei viva, como a Besta que sou.
— Eu não tenho medo de você, Dimitri, sou uma mulher de
palavra e cumprirei a minha. Mas, lembre-se, uma noite é tudo que
terá de mim, nada mais.
— Isso é o que veremos, amore mio — instiga ele, colocando
a caixa pequena sobre uma cadeira e caminhando feito um predador
em minha direção.
Em nenhum momento seus olhos saem dos meus, quando ele
para de pé(?), seus olhos passeiam por todo meu corpo.
— Muito bem, levante daí, não quero vê-la sentada num lugar
que não te pertence.
— Ok — digo séria, ficando em pé.
— Quando entrar neste quarto, quero vê-la de joelhos ao lado
da porta, esperando por mim de maneira submissa.
Quase sorrio, debochando do que ele diz, mas me contenho
ao perceber seu olhar duro. É melhor não irritar demais a fera.
— Tire os seus sapatos, não que não esteja linda com eles,
mas esta noite prefiro você sem eles.
Engulo em seco e bem devagar eu tiro o scarpin, ficando
descalça. Dimitri se abaixa e pega os sapatos, os colocando ao lado
da sua cadeira.
— Ótimo, não hesite em me obedecer quando lhe pedir algo,
bella mia, você fica ainda mais bela quando é obediente.
Mordo meus lábios para não soltar um palavrão e ignoro sua
ordem e as besteiras que ele fala. Dimitri avança lentamente em
minha direção, como um predador faminto, com seus olhos fixos na
minha boca e prontamente, ele me beija. Um beijo intenso e
inesperado, ao mesmo tempo arrebatador, sua língua chupa a minha
e eu acabo gemendo quando ele morde meu lábio, para em seguida
voltar a introduzir a língua na minha boca. O gosto do meu sangue
parece apenas deixá-lo mais excitado e só paramos o beijo quando
não havia mais fôlego e precisávamos de ar para respirar. Confusa
eu acabo perguntando:
— Por que me beijou?
— Seus lábios são deliciosos, não poderia deixar de beija-los
— fala com um sorriso predatório.
Dou um passo atrás, confusa com seu comportamento.
— Eu sei que para você tudo isso é novo e estranho. Não
tenho costume de me relacionar com mulheres que não sejam
submissas natas, muito menos de adestrar uma nova submissa,
porém com você, bella mia, tudo será diferente. — Fala, voltando à
postura de mafioso controlador. — Quero que conheça meu mundo,
que desperte a submissa dentro de você. Quero que deseje ser
subjugada, quero que ame isso tanto quanto eu.
— Isso nunca vai acontecer — falo a verdade.
— Uma das primeiras lições que deve aprender é não me
interromper quando eu estiver falando com você!! — diz, irritado —
Precisamos estabelecer limites rígidos, limites esses que você não
aceita que eu ultrapasse. A negociação é uma etapa importante para
quem vai iniciar uma relação de D/S.
— Não é uma relação, Dimitri, não confunda as coisas, é
apenas uma noite e só! — digo irritada, imaginando que claramente
ele pensa que eu serei mais uma das suas cadelinhas.
— Você ainda irá confiar em mim, bella mia, eu posso te
garantir isso. Ainda vai ser você a entrar por aquela porta
procurando por mim, para que eu a domine, para que a castigue
segundo os meus desejos mais obscuros.
Me contenho para não rir da sua cara, pois meu olhar já diz
exatamente o que penso sobre o assunto.
— Teremos tempo futuramente para discutir melhor seus
limites rígidos e limites brandos e negociar passo a passo da nossa
relação de dominador e submissa. Por hoje, apenas preciso que
confie em mim e seja sincera ao dizer se tem algo que não queira
tentar essa noite.
— Não gosto de giletes ou agulhas, nada que corte minha
pele, ou suspensão no ar, contenção da minha respiração ou
grampos na minha intimidade, ou algo desse tipo — digo séria o
olhando.
— Podemos nos preparar para isso mais para frente.
— Nunca! — digo decidida.
— Certo, por hora eu aceito seus limites, mesmo querendo
muito vê-la contida na bondage, suspensa pelas argolas do teto
enquanto eu fodo sua garganta como se ela fosse sua boceta.
Suas palavras têm poderes eróticos inexplicáveis sobre mim.
— Mais alguma restrição, amore mio?
— Você vai me bater? — Pergunto, tomando coragem.
— Vou, mas não vai ser para machucá-la, não quero te
assustar, bella mia, apenas te apresentar o mundo em que vivo.
Quero que você goste disso tanto quanto eu.
O olhar dele é tão intenso que balanço a cabeça,
concordando, mesmo sabendo que jamais vou gostar desse mundo
bizarro que ele diz.
— Preciso que entenda que jamais mudarei, Katharina, esse
sou eu, o homem que está em sua frente. Eu preciso estar no
controle, preciso que você se comporte, se não fizer o que eu
mando, precisarei te educar e ensiná-la a me obedecer.
— Então você sente prazer em me machucar? Isso que é ser
um sádico?
— Um pouco, talvez apenas o bastante para ver até onde
você aguenta, mas não o suficiente para feri-la de verdade. O
sadomasoquismo é sobre a busca pelo prazer através da dor
consensual entre duas pessoas. E a busca por um prazer extremo,
incapaz de ser encontrado em uma relação baunilha.
— Não consigo imaginar prazer em tudo isso.
— Você conseguirá em breve, amore mio. Você sentirá um
prazer inigualável. Até o final desta noite eu te levarei ao céu.
— Achei que o demônio tivesse sido expulso do céu? — Falo,
provocando e me assusto ao ver um sorriso divertido em seus lábios.
É a primeira vez que o vejo sorrir, chega ser bizarro ver as
covinhas em seu rosto.
— Você não imagina o quanto me excita essa sua língua
afiada, uma brat é um deleite a qualquer sádico.
— O que é brat? — Pergunto, confusa, vendo ele ir até o bar
servir um copo de uísque para si.
— Uma brat, nada mais é do que uma submissa rebelde que
sente prazer em provocar seu dominador, ela quer testá-lo e levá-lo
ao seu limite para só então castigá-la.
— Está enganado, querido, eu não tenho uma gota de sangue
submisso em meu corpo, muito menos sou essa tal brat.
— Eu nunca erro, bella mia — fala, abrindo o armário, onde
vários chicotes, chibatas, açoites, entre outros objetos de spanking
estão dispostos.
Engulo em seco, imaginando o que ele vai fazer.
— Tem noção de quanto tempo eu passei desejando estar
aqui com você? — Pergunta, escolhendo alguns objetos.
— Não — respondo e continuo de pé, olhando para ele —
Não vai ter uma palavra de segurança? — pergunto, um tanto
assustada com os objetos que ele separa de dentro dos armários.
— Não vejo necessidade. É muito simples, Katharina, você
confia em mim ou não?!
— É óbvio que não.
— Então, temos um problema aqui — diz, com um olhar
decepcionado e irritado. — A dominação e a submissão precisam ter
base em uma plena confiança. Você tem que confiar que seu
dominador irá saber a hora certa de parar, que vai respeitar seus
limites rígidos e saber a hora certa de te levar ao prazer.
— Pois eu não confio e não vejo como isso vai mudar, afinal é
só uma noite.
Ele sorri novamente e dessa vez, eu temo. Seu sorriso é
predatório e eu percebo que tinha me fodido com a minha resposta.
— Se quer tanto uma safe, você terá uma, mesmo detestando
ver você usá-la. Se for uma boa menina não precisarei castigá-la
duramente, apenas seja obediente. Sua palavra será "meu senhor"
— fala, me provocando, pois ele sabe que jamais o chamarei de meu
senhor, nem nascendo de novo.
— Certo!
Dimitri me leva ao centro da sala, puxa uma corrente que nem
tinha visto, prende as minhas mãos, com os braços abertos, para
cima, em algemas de couro. Meus braços ficam esticados e eu não
tiro os olhos dos seus passos.
— Se você se debater eu amarro seus pés também, se fizer
algum barulho vou amordaça-la.
— Merda — penso comigo mesma e me contenho.
Ele pega o copo de uísque e novamente bebe, sem tirar seus
olhos de mim.
— Você me deixou muito irritado com seu showzinho mais
cedo, ainda mais quando saiu correndo, me deixando sozinho. —
Fala, me queimando com os olhos e caminha em minha direção, me
rodeando até estar atrás de mim, sua respiração choca com meu
pescoço.
Ele toca minha pele com seus dedos frios, fazendo com que
eu receba uma corrente elétrica que passa por seus dedos. A carícia
leve me assusta e me faz arquear, assustada.
— Não se mova — diz com sua voz de aviso e eu sei que se
me mexer novamente, estarei fodida.
Seus dedos deslizam pela base da minha coluna até o fecho
do sutiã, ele desfaz o fecho e o mesmo cai no chão, pois o modelo
não possui alças, meus seios ficam à mostra e os sinto estremecer,
devido à tensão. Dimitri se vira, ficando de frente para mim e olha
para os meus seios como se os estivesse avaliando, sem pressa,
com toda a tranquilidade do mundo, enquanto eu estou angustiada
para que ele se mexa logo. Seus olhos seguem para a cicatriz recém
adquirida na prova de fogo, ela é pequena, quase não dá para
perceber, porém não escapa aos olhares do meu predador.
Dimitri se abaixa ficando na altura da minha cintura, ele é bem
mais alto que eu, por isso seu rosto fica na direção dos meus seios,
enquanto suas mãos vão para as laterais da minha calcinha fio
dental, Ele a rasga, transformando a pequena peça em duas e leva
os trapos ao rosto, se deliciando com o cheiro. Foda-se, não posso
negar que a cena é extremamente excitante, esse homem poderoso
de joelhos, cheirando a minha calcinha me deixa excitada.
— Seu cheiro é tão doce, não vejo a hora de provar da sua
boceta e ter a certeza se ela é tão doce quanto o cheiro.
Dimitri vai até a mesa, onde ele colocou vários objetos
diferentes, pega uma chibata de couro negro e um objeto de metal
que não consigo ver direto em suas mãos, arregaça as mangas da
camisa vindo até mim, beija meu pescoço o chupando e mordendo.
Gemidos sofridos saem da minha garganta, sua barba
arranha minha pele. Ele desliza de forma torturante seus lábios até
chegar aos meus seios pesados, seus dentes beliscam o bico, me
fazendo arquear as costas de dor, em seguida ele o assopra,
admirando a cor avermelhada que o toma. Depois, faz o mesmo com
o segundo, e os dois já estão latejando e ardendo pelas mordidas.
Ele rapidamente sacia a minha curiosidade ao abrir o grampo de
mamilo e o prender em um dos meus seios. A pressão é grande,
porém eu me seguro para não gritar, não darei esse gostinho a ele.
Quando os dois estão presos, ele puxa uma corrente que liga os dois
e sinto meu sangue ferver.
— Você fica tão bela assim, amore mio, contida, com esses
seios inchados.
Fecho os olhos para me concentrar no que ele diz e não na
dor, porém eu logo os abro ao perceber que ele passa lentamente a
ponta da chibata pelo meu pé direito subindo pela minha coxa. Dimitri
desvia da minha boceta, que implora por atenção, indo direto para
minha barriga. A chibata parece acariciar minha pele por onde
desliza. Um golpe surdo chega aos meus ouvidos e minha barriga
queima pelo golpe, mas ele não para aí, o próximo é na minha coxa,
mas não perto o suficiente da minha boceta, ele dá mais dois golpes,
mas nem mesmo a dor impede que eu sinta um tesão inexplicável
pelo que está por vir. Tento apertar minhas coxas e aliviar a tensão,
porém antes que eu faça isso, Dimitri acerta mais uma vez a chibata,
dessa vez em meu pé.
— Não ouse apertar as pernas, bella mia. Nós estamos só
começando e você só irá gozar quando eu estiver dentro de você.
Ele gira o pulso e passa a chibata por meu ventre até chegar
a minha boceta. Vai passando pelos lábios da minha boceta até o
meu clítoris. O chicote acerta um golpe seco naquele ponto, meu
corpo e mente entram em pura contradição, não sei se é dor ou
prazer que eu sinto. Porém, ele não para aí, sobe a chibata pela
minha cintura e volta a me golpear.
Chaise reluta um pouco quando digo onde quero ir, mas por
fim concorda em me levar até a casa de Rebeca, que até então não
sabia onde era. Claro, sou obrigada a ir no banco de trás enquanto
ele dirige. O meu outro segurança ainda estava se recuperando do
acidente, sendo substituído por Ruggero, um cara fechado que não
esboçou uma mínima expressão facial enquanto percorríamos o
caminho até a casa de Dante Bruschetta, capo da Cosa Nostra.
Segundo Karlene, um dos mais próximos de Dimitri.
Ao chegar no portão, somos barrados pela segurança,
aparentemente, Rebeca está proibida de receber visitas. Chaise me
avisa que teríamos que voltar, porém eu não vim aqui para desistir.
Saio do carro sem paciência nenhuma com o brutamonte em minha
frente.
— Abra o portão, eu quero ver Rebeca.
— Não podemos, senhora, estamos apenas cumprindo
ordens.
— Você sabe quem eu sou?! — Questiono de maneira fria e
vejo os dois ficarem amedrontados. — Espero que não se
arrependam por terem proibido a minha entrada, serei obrigada a
contar ao meu marido, no caso o Capo di tutti capi, que sua esposa
foi barrada na entrada da casa de sua amiga, provavelmente vocês
terão uma bela conversa com ele. — Falo olhando para os dois, que
ficam nervosos.
Chaise e Ruggero se mantêm atrás de mim, enquanto os dois
homens que fazem a segurança abrem o portão, para que eu possa
passar.
— Bem, ser a senhora da máfia tem lá suas vantagens —
penso comigo ao passar pelo portão, em direção à entrada do local.
A casa é muito bonita, com uma fachada original italiana e um
jardim lateral bem cuidado. É realmente encantadora, mesmo tão
escondida.
Na entrada, sou recebida por uma empregada com uma cara
nada simpática.
— Em que posso ajudá-la?
— Vim vera senhora Rebeca, pode avisar que Katharina
Castelaresi Rinna está aqui.
— Claro, aguarde na sala de visitas — fala, me levando até a
bela sala.
Enquanto aguardo, outra empregada vem me trazer um chá e
não demorou muito para Rebeca aparecer, descendo as escadas
com um vestido simples de flores e a grande barriga aparente.
— Katharina, que surpresa vê-la aqui.
— Desculpe, vir sem avisar, mas estava entediada em casa e
quis vim conversar um pouco com você.
— Claro, sente-se — diz educada, se sentando em uma das
poltronas.
— Você parece cansada, a gravidez está te sugando muito?!
— Quisera eu fosse isso, meu anjinho não me dá nenhum
trabalho — fala sorrindo enquanto acaricia a barriga.
— Bem, vou ser sincera com você, eu vim aqui porque fiquei
preocupada com o que Priscila disse, sobre você estar sumida e não
poder receber visitas e nem ligações.
— Não queria preocupar vocês, meus Deus, estou me
sentindo culpada agora. Diga para ela e para Karlene que estou
bem, Dante só é um pouco controlador, mas logo eu vou poder sair
novamente, você vai ver — tenta dar um sorriso, mas ele não chega
aos seus olhos, posso ver claramente o quanto esta jovem está
sofrendo.
— Eu estou aqui para te ajudar, Rebeca, pode contar comigo.
— Ninguém pode me ajudar, Katharina, você, como uma
mulher criada dentro da máfia, deveria saber disso.
— O que quer dizer, Rebeca, o que estão fazendo com você?!
— Digo, pegando sua mão e tentando passar a ela confiança.
— Bem, eu não sei se devo confiar em você, mas segurar
tudo isso dentro de mim está me matando e eu sinto dentro de mim
que você tem um bom coração.
— Saiba que tem em mim uma boa ouvinte e confidente, estou
aqui apenas para te ajudar.
— Você não pode me ajudar, ninguém pode, na máfia não
existe divórcio e só terei paz quando estiver morta. Por muitas vezes
eu desejei que isso acontecesse, mas, desde que fiquei grávida, tudo
o que eu quero é que minha filha não passe pelo que eu passei.
— É uma menina, você já sabe?!
— Ainda não, mas eu tenho certeza que é e isso que vem me
atormentando, não sei o que Dante fará comigo quando descobrir
que é uma menina.
— Ele não pode te fazer mal, isso é um absurdo, você é
esposa dele, merece respeito.
— Ah, se você soubesse a minha história, saberia que
respeito e amor é tudo que eu não tenho de Dante Bruschetta.
— Eu tenho tempo, então me conte o que aconteceu.
— Bem, não sei bem por onde começar, mas talvez deva ser
no nosso noivado, ou melhor, como ficamos noivos, assim você vai
entender melhor seu ódio por mim. Dante nunca gostou de mim, na
verdade, ele já se apaixonou, até amou uma mulher, mas ela não era
eu, nunca fui. Mesmo que secretamente eu o admirasse e me
encantasse com seus olhos azuis, assim como todas as
adolescentes da minha época, ele era prometido da minha irmã,
Giuliana, os dois foram prometidos desde criança, eu cresci dentro
da máfia e já sabia desde sempre que aqui os casamentos só
serviam para unir família e conseguir ainda mais poder. Pois bem,
Giuliana, no começo, até gostava da atenção que Dante dava a ela,
minha irmã sempre foi mimada, a filha de ouro, perfeita, loira de
olhos claros e eu sempre fui a sem sal, a segunda filha. Puxei os
olhos castanhos do meu pai, meus cabelos não estão tão brilhantes
e cheios de vida como os da minha irmã, até mesmo a minha pele
sempre foi desbotada.
— Não diga besteiras, você é linda Rebeca.
— Obrigada, mas, como eu ia dizendo, Giuliana não era
apaixonada por Dante, não como ele. Dava para ver que ela fazia um
esforço enorme para se manter perto dele, até mesmo para aceitar
as carícias do noivo. Quando a data do casamento foi marcada eu
tinha apenas 17 anos, naquele dia eu chorei tanto que prometi a mim
mesma que tiraria Dante Bruschetta do meu coração. Mas, foi na
manhã seguinte que um golpe atingiu a minha família. Giuliana tinha
fugido com um dos subchefes de Dante. Ela estava tendo um caso
com ele há bastante tempo e ninguém tinha percebido. Aquilo foi
como uma bomba na minha família, uma guerra seria travada
enquanto Giuliana não aparecesse. Dante prometeu vingança contra
a minha família, pela desonra. Meu pai conseguiu localizá-los, mas já
era tarde demais. Ela mesma já se encontrava grávida, ainda me
lembro como se fosse ontem o olhar que Dante deu a ela quando ela
desceu daquele carro, sendo arrastada pelo meu pai. Não era um
olhar de ódio como eu pensei. Não, era dor, tristeza, ela havia
quebrado o coração dele. Giuliana viu o homem que ela amava ser
morto em sua frente, porém, por estar desonrada, não poderia se
casar com Dante, então uma substituta foi escolhida, aquela que
serviria apenas para tapar o buraco que a filha perfeita ocupava.
Eu fico olhando para ela, chocada, vendo lágrimas silenciosas
descendo por seu rosto.
— Exatamente, eu fui dada a Dante como uma mercadoria e
desde esse dia, minha vida tem se ornado um verdadeiro inferno. Ele
me odeia porque eu o faço lembrar dela, às vezes eu acho que ele
me odeia ainda mais por eu não ser ela. Vivo uma vida infeliz, com
um homem agressivo, que me trai com todas as putas da máfia, que
me humilha e faz questão de dizer todos os dias que tenho sorte,
porque se não fosse o acordo com meu pai, provavelmente eu nunca
conseguiria um marido com a minha falta de atributos.
— Ele é um verme miserável, como ele pode te tratar assim?
Você é esposa dele, se ele não queria se casar com você deveria ter
negado, mas ele preferiu fazer da sua vida um inferno ao dar o braço
a torcer.
— Eu até tentei, no começo, entender o que se passa na
cabeça do Dante, mas cheguei à conclusão que é impossível. Tem
horas que eu tenho tanto medo dele, seu olhar é de um assassino
sem coração. Ele nunca me amou ou um dia irá amar, eu só peço
que Deus proteja a minha filha, porque ele já deixou claro em várias
vezes que quer um filho homem, e que essa é a única coisa que
tenho que fazer direito, já que para o resto eu não sirvo de nada —
diz, chorando e eu não aguento vou até ela abraçá-la.
— Não se preocupe, eu prometo que ele não machucará sua
filha.
— Ninguém pode garantir isso — fala tirando os cabelos do
rosto e eu não consigo entender como Dante Bruschetta pode ser
tão cego que não vê a beleza dessa mulher.
— Eu vou te ajudar, Rebeca, não sei como, nem quando, mas
eu farei tudo ao meu alcance para te ajudar.
Não consigo saber que horas são, mas no que pareceu ser o
meio do dia, Lorenzo apareceu. Ele caminhava devagar pelo
corredor escuro até chegar na minha cela.
— Como você está? — Ele pergunta, preocupado.
— Estou bem, pode me tirar daqui? — Pergunto de uma vez.
— Infelizmente não, Dimitri ainda não voltou para casa,
passou a noite na clínica com a leoa. As coisas estão feias aqui na
fortaleza, Hades acordou da sedação e conseguiu escapar.
— Ele está bem? — Pergunto nervosa, imaginando um leão
de quase 300 quilos furioso escapando.
— Ele está bem, mas não posso dizer o mesmo de dois dos
nossos homens. Estão vivos, mas muito feridos. Vicenzo atirou nele
com tranquilizantes, ele está agitado sem Perséfone. Eu trouxe isso
para você, precisa comer rápido, e paralisei as câmeras para Dimitri
pense que está sentada no canto.
— Obrigada. — Agradeço ao receber o sanduíche que ele
traz, junto com suco de laranja — Me tira daqui, Lorenzo — falo
quando termino de comer a comida.
— Eu queria, mas não posso, não sem saber primeiro quem
fez isso.
— Foi Natasha, ela esteve aqui e falou com uma das
empregadas, eu não lembro qual era, mas Luigi deve saber. Ela não
subiu para o terceiro andar, mas a empregada pode ter colocado o
veneno nas minhas coisas.
— Eu vou investigar e prometo que logo você estará fora
daqui.
Katharina fica irritada por ter que voltar antes do fim da festa,
nona não nos deixa sair antes do almoço. Porém sou irredutível
sobre nosso retorno para Palermo, a volta é rápida e já estamos
ultrapassando os portões da fortaleza no fim da tarde.
Chaise abre a porta para Katharina e ela caminha na minha
frente para dentro de casa, quando dá um grito alto no meio da sala.
Entro logo atrás dela, tentando entender o motivo do seu
escândalo, quando noto ela abraçada o maledeto do Aslan no meu
sofá.
— Oh, meu Deus, eu senti tanta a sua falta — aperta o irmão,
chorando desesperada.
— Não sabia que vinha, Castelaresi!! — Digo ironicamente
para a visita indesejável ao lado da prima dela, que mandei buscar.
— Achei um gesto muito amigável da sua parte, pedir para
trazer Ana para ficar uns dias com a minha irmã, então pensei;
porque não vir também?! Afinal, meu cunhado é tão gentil. — Ele
debocha e eu travo os dentes para não mandá-lo se foder.
Era só o que me faltava, uma casa cheia de Castelaresi.
Aslan fica de pé, olhando pela janela que dava para refúgio de
Hades e Perséfone. Luigi havia trazido um lanche para nós três
enquanto eu fui contando cada detalhe de tudo que aconteceu
comigo, claro, evitando os detalhes desnecessários para os ouvidos
do meu irmão.
Aslan já estava enfurecido quando falei da torre, por fim contei
da trégua entre mim e Dimitri na Calábria e que ele pediu desculpa e
eu decidi perdoar.
— Não acredito que perdoou esse miserável depois do que
ele fez.
— O que quer que eu faça, Aslan? Estou aqui foi por conta da
porra desse acordo. As cartas foram postas na mesa e não por mim.
O que me resta é jogar.
— Ela tem razão, primo, não dá para ficar nesse pé de guerra
— fala Ana.
— O miserável não pode achar que vai machucar minha irmã
e ficar por isso mesmo, ah, isso não. — Fala Aslan com os punhos
serrados, andando pelo quarto.
— Precisa se acalmar, não é hora de explodir, Aslan, eu
preciso de você agora. — Falo firme, ficando de pé e indo até ele.
— O que mais aconteceu que ainda não tenha falado?! —
Questiona, bravo.
— Calma, eu não fiz nada, na verdade preciso que me ajude
em uma missão.
— Katharina Castelaresi, sempre que me olha dessa forma eu
sei que você aprontou ou pretende aprontar.
— Bem, se não fosse importante eu não pediria a você, não
colocaria você em risco, porém, não tenho outra saída. — Falo
olhando pela janela, sentindo um mau presságio quando penso em
Rebeca.
— É melhor falar logo se não seu irmão vai fazer um buraco
no chão — diz Ana já preocupada.
— Aslan, preciso que você me ajude a salvar uma pessoa ou
melhor, duas. — Digo, pensando no bebê.
— Seja clara, pequena. — Fala enquanto se senta na cadeira
à minha frente.
— Tem uma mulher, seu nome é Rebeca, preciso que a tire do
país. Arrume documentos falsos e proteção, leve ela para bem longe
da Itália.
— O que ela fez para precisar fugir?
— Bem, ela não fez nada, na verdade o marido dela que fez,
mas é complicado demais para explicar tudo agora, só que a vida
dela corre risco e se ela não fugir é capaz dele matá-la. Por favor,
me ajude a tirar ela daqui.
— Certo, verei o que posso fazer — diz sério, mas no fundo
eu sei que ele vai ajudar e uma chama de esperança para Rebeca
cresce dentro de mim.
Meu corpo vira gelo puro quando ouço o som da porta abrindo
e a voz de Lorenzo dizendo.
— Achei Dante...
— Fora daqui, maledeto!! — grita Dimitri e eu abaixo me
escondendo atrás da mesa, morrendo de vergonha, até mesmo a
dor na bunda havia passado.
— Meu Deus, meu Deus, que vergonha — sussurro, ouvindo a
porta fechar.
— Desgraçado, não sabe bater na porta?! — fala ele,
pegando a minha blusa no chão. — Vem aqui — Chama e me levanta
do chão.
Dimitri me ajuda a me vestir, eu tento dar um jeito na minha
aparência pós foda, mas está difícil depois de ter sido flagrada pelo
cunhado.
Como vou olhar para a cara de Lorenzo agora?
— Vem, vamos sair daqui — diz firme depois de se arrumar.
— Eu não sei se consigo olhar para o Lorenzo depois disso.
— Você não tem nada com o que se envergonhar. Para o bem
dele, espero que ele não tenha visto nada que pertence a mim.
Saímos do escritório e vejo Lorenzo de costas para nós dois,
olhando para a lareira.
— Eu vou subir para o quarto — falo, subindo a escada.
— Espero que tenha um bom motivo para ter entrado na
minha sala sem bater.
— Sim, desculpe se fui inconveniente não esperava que vocês
dois... Estivessem
— Seja direto.
— Encontrei Dante, ele está no hospital, parece que a esposa
dele não está bem — diz Lorenzo quando eu já estava no topo da
escada, me fazendo paralisar de terror.
— Rebeca, o que aconteceu com ela?! — Pergunto,
descendo.
— Não sei ainda, eles estão no hospital desde ontem, pensei
em mandar alguém ir até lá verificar.
— Eu vou me trocar e então vamos para o hospital, tenho
certeza que aquele bosta feriu a pobre Rebeca — digo para Dimitri.
— Fique aqui, Lorenzo pode ir até lá ver o que aconteceu.
— Nada disso, eu quero vê-la, preciso saber o que esse
babaca fez.
— Tudo bem, seja rápida, e vou mandar preparar o carro.
Tomo um banho aflita, meu medo era que fosse tarde demais.
Torcia para que nada grave tivesse acontecido com Rebeca, não
agora que estou tão perto de tirá-la daqui. Esse verme merece
pagar por todo o mal que fez a ela.
Eu havia avisado Ana que precisaria ir ao hospital ver uma
amiga e pedido para que ela ficasse de olho em Aslan, que qualquer
coisa me ligasse. Meu coração estava acelerado quando Dimitri
estacionou sua Ferrari em frente ao hospital e eu li o letreiro.
Dimitri abre a porta para mim e rapidamente entramos no
hospital. Percebo que vários homens de Dante estão espalhados
pelo lugar.
Corro até o balcão e falo a recepcionista.
— Boa noite, preciso de notícias de Rebeca Bruschetta.
— A senhora é parente?
— Não, eu sou amiga.
— Não podemos dar informações para quem não é da família.
— Eu resolvo isso, bella mia — Dimitri garante e eu me
afasto, sentando na cadeira metálica em frente ao balcão, sentindo
um mau presságio. — Vamos, a enfermeira nos levará até o quarto
de Rebeca. — Diz Dimitri e então eu vejo a enfermeira amedrontada,
nos indicando o caminho.
Assim que passamos pelo corredor que leva os quartos eu
vejo algumas pessoas que imagino ser da família de Rebeca, uma
senhora loira que deve ser a mãe dela chora sendo consolado por
um homem. Mas isso não é tão estranho quando o fato de Dante
Tommaso Bruschetta estar sentado no chão ao lado da porta do
quarto, acabado.
Seu pranto não me convence nem um pouco, apenas me deixa
com mais ódio, pois sei que algo muito grave aconteceu.
— O que aconteceu com Rebeca? — Pergunto diretamente a
ele.
— O que fazem aqui? — Ele pergunta, tentando recuperar a
postura de mafioso fodão, mas tudo que consegue é ficar de pé,
todo abalado.
— Katharina e eu soubemos que Rebeca sofreu um acidente
e viemos ver como estão — responde Dimitri olhando ao redor,
analisando o que pode ter acontecido, mas eu já sei o que esse
desgraçado deve ter feito.
— Rebeca caiu da escada e perdeu o bebê, minha filha está
em estado de choque desde que a trouxeram para o quarto. O,
médico contou da morte da filha e ela não reage mais.
Meu corpo congela, o choque é tão grande que não consigo
respirar. Uma lágrima cai pelo meu rosto.
Caiu, é óbvio que ela não caiu. Imagino a dor que ela está
sentindo, a culpa é minha, eu deveria ter feito algo, eu deveria ter
ajudado ela antes.
Dimitri acaricia meu braço, me trazendo de volta a realidade.
— Eu preciso vê-la.
— Ninguém vai entrar nesse quarto, é melhor irem embora.
— Eu disse que eu quero vê-la — digo, sendo firme,
enfrentando o idiota.
Dante me olha com ódio, mas, quer saber? Foda-se, não
tenho medo do bicho papão há muito tempo.
— Pode ser bom para Rebeca conversar um pouco com
Katharina — diz Dimitri, mas sua postura afirma que isso não foi uma
sugestão e sim uma ordem.
Dante engole seco, apertando o punho, mas sai da porta para
que eu passe. Não espero que ele volte atrás, abro a porta do
quarto, dando de cara com uma Rebeca debilitada, pálida, deitada
na cama, inerte e olhando para a parede.
Caminho até ela e as lágrimas escapam pelo meu rosto.
— Rebeca, sou eu, a Katharina — digo, acariciando seu
rosto.
Ela não se move, seus olhos estão abertos, mas totalmente
sem vida. É como se fosse apenas um cadáver na minha frente.
— Eu vou te tirar daqui, prometo que ele não vai mais te
machucar — afirmo e então ela se vira, olhando para mim sem dizer
nada, mas as lágrimas em seus olhos vermelhos são a resposta que
eu preciso.
Saio do quarto totalmente mortificada, limpo meu rosto
quando vejo o resto de aborto na minha frente.
— Ela disse alguma coisa para você? — Pergunta,
esperançoso.
— Não, ela está totalmente destruída, a filha foi arrancada
dela. — Cuspo as palavras com ódio.
— Eu preciso de ar — digo para Dimitri.
— Eu te levo.
— Não precisa, eu quero ficar sozinha por um segundo. —
Falo, levantando minha mão, me afastando daquele lugar, sentindo
como se as paredes estivessem se fechando ao meu redor.
Do lado de fora do hospital eu ligo para Aslan, desesperada
para salvar Rebeca desse monstro.
— Aslan, pozhaluysta, pomogi mne. U nas bol'she net
vremeni, zaberi Rebeka iz Itália. Aslan preciso de ajuda, preciso que
tire Rebeca da Itália agora!).
Conto a ele meu plano arriscado e por mais louco que pareça,
ele aceita me ajudar. Encerro a ligação com tudo acertado e agora
era só esperar a hora certa para pôr o plano em prática. Tirar ela da
Itália será fácil, o difícil vai ser mantê-la escondida, fora do radar da
Cosa Nostra, talvez eu devesse mantê-la na Rússia até a poeira
baixar e só depois enviá-la para longe.
ALESSO
Saio da fortaleza enfurecido, as coisas estavam saindo do
meu controle, foram anos de planejamento, não posso botar tudo a
perder agora.
Alguém me traiu e me pergunto quem poderia ter sido capaz
de nos entregar.
Entro no meu carro, partindo em direção à antiga casa do
meu sogro, que agora me pertence, como tudo do infeliz desde que
o matei, de lá pra cá venho trabalhando incansavelmente para
conseguir atingir o meu objetivo, que é assumir o controle da Cosa
Nostra. Eu havia me casado com Molly apenas com um único
propósito: me aproximar ainda mais do posto de capo dei capi da
Cosa Nostra.
O atentado com uma bomba no iate do pai dela foi perfeito
para eliminar os três de uma vez. Assim, me tornei o capo da família
Luchese, comandando todo os negócios da América Central, me
mudei para Granada, um país quente do Caribe, de onde comando a
punho de ferro toda a organização. Devagar eu fui conseguindo
contatos aliados e agora estou a um passo de conseguir tirar o trono
do poderoso Salvatore Rinna.
Ela ainda tenta conversar comigo por quase uma hora, quando
percebe que eu não vou responder, então me deixa sozinha para o
meu alívio.
Tranco a porta para que ninguém me incomode e é quando
ouço alguém falar meu nome, alto o bastante para que eu ouvisse
pelo jardim. Caminho até a sacada e vejo Lorenzo segurando uma
guitarra e um microfone, com mais dois homens que nunca tinha
visto.
Me assusto por um segundo ao reparar que todos olham para
mim.
— Princesa, lembra que você me fez prometer que um dia
tocaria pra você, então chamei meus antigos colegas de banda para
uma apresentação exclusiva.
Ele começa a tocar uma música da banda Maroon Five -
"Memories"
A música é linda, mas toda vez que eu olho para baixo me
sinto exposta, sinto como se eles soubessem quem eu sou.
Memórias, as únicas memórias que tenho são aquelas, que não
quero lembrar nunca mais. Meus olhos se arregalam e começo a
tremer. Um pavor horrível toma conta de mim, tento falar para que
parem, mas não consigo, é como se não conhecesse as palavras. É
nessa hora que Dimitri aparece no gramado, todo de preto e dá um
tiro para cima, fazendo Lorenzo parar de tocar e seus amigos
arregalarem os olhos, em pânico.
— Caiam fora daqui vocês dois e você, Lorenzo, no meu
escritório!!! — Ele diz e eu me afasto da sacada com medo.
Os soluços rasgam minha garganta quando a porta se abre e
Dimitri passa por ela, sua fisionomia fica preocupada quando me vê
chorando.
— Calma, respira, eu estou aqui, amore mio, você vai ver,
aos poucos tudo voltará ao normal. — Diz, tocando meu rosto com
sua mão quente, que me causa um arrepio.
Não sei por quanto tempo fico chorando com Dimitri ao meu
lado, só me dou conta que acabei dormindo quando acordo sentindo
um cheiro familiar no quarto. Confusa, abro os olhos e tento entender
de onde vinha o cheiro.
Do lado da cama vejo mamãe, sentada, com seus cabelos
loiros presos em um coque e seus olhos azuis vermelhos de
lágrimas. Sinto braços ao meu redor e respiro fundo, inalando seu
cheiro doce, sentindo uma sensação boa de estar em casa.
— Minha princesa, eu sinto muito, meu amor, não sabe o
quanto eu queria tirar essa dor de dentro de você e aliviar seu
sofrimento. —Ela fala, me abraçando forte e eu acabo relaxando e
correspondendo seu abraço. — Eu estou aqui, minha menina, eu
prometo que essa dor irá passar, querida, você é tão forte, muito
mais forte do que eu jamais fui. — Fala, acariciando meu cabelo e eu
me entrego às lágrimas, sendo acalentada por ela.
Então percebo que Aslan também está no quarto, assim como
meu pai, uma mistura de sensações toma conta de mim.
— Eu estou aqui, irmãzinha, prometo que ninguém mais vai te
machucar — diz Aslan, se ajoelhando do lado da cama. Ele tenta
pegar minha mão, porém eu me esquivo, não quero que ele me
toque, que se contamine com a minha imundice, que sinta o cheiro de
Alesso em mim. Nojo, vergonha, culpa, tudo se mistura na minha
cabeça, meu pai sabe, Aslan sabe, Lorenzo, Vicenzo e Dimitri, todos
eles sabem o quanto eu não valho mais nada, porque agora eu estou
podre por dentro.
Desde que Rebeca fugiu, minha vida tem se tornado um
martírio, um verdadeiro inferno, estou a ponto de enlouquecer sem
ela. Cada canto da nossa casa me lembra seus olhos azuis e seus
sorrisos doces, sinto saudade de quando chegava e a via na sala
para me receber, sinto falta do seu cheiro nos meus lençóis, sinto
falta do sabor da sua boca e do seu corpo. Ainda não posso
acreditar que ela escapou de mim, que me deixou aqui, sofrendo,
sentindo sua falta.
Minha boneca me enganou também, não consigo tirar da
minha cabeça aquele enfermeiro de merda. Será que eram amantes
e ele a ajudou a fugir?! Não, não pode ser, ela não faria isso, mas o
que esperar de uma mulher que vem daquela família? A cada dia
ando mais descontrolado, acabei descontando toda minha frustração
na fábrica de sal, porém, isso já perdeu a graça e agora minha nova
vítima é Giuliana. Não esqueci que ela foi à culpada pela minha
boneca ir parar no hospital. Se Rebeca não tivesse nos flagrado
naquela tarde ela não teria me enfrentado, muito menos eu teria me
exaltado e a machucado. Minha filha estaria aqui, nós continuaríamos
felizes, mas a vadia mais uma vez atrapalha minha vida.
Não desisti de encontrar minha boneca, coloquei os melhores
detetives atrás dela, uma hora ou outra eu irei encontrá-la e ela
voltará para mim e dessa vez não a deixarei escapar nunca mais.
Chego em minha casa e não encontrei a cadela na porta me
esperando do jeito que deveria, o que já me deixa puto, subo as
escadas, enfurecido e a encontro usando as roupas de puta que ela
tem.
— Eu não ordenei que vestisse as roupas que deixei separado
e me aguardasse todos os dias na porta quando eu chegasse?!
— Eu não aguento mais, eu não sou a Rebeca, eu não sou a
sonsa da minha irmã. Eu não aguento mais as surras que me dá, eu
quero ir embora, quero ir pra minha casa.
— Sua casa, vadia, acha que depois do que fez vai escapar
assim? Você merece pagar caro por todo mal que fez a minha
bonequinha. Por sua culpa ela perdeu minha filha e fugiu, eu tenho
certeza que você sabe onde ela está.
— Eu já disse que não sei onde ela está, nunca pensei que
Rebeca fosse tão corajosa a ponto de fugir.
— Está mentindo, desgraçada — falo tirando o cinto da minha
cintura, me preparando para castigá-la.
— Por favor, me deixe ir.
— Ir por que, não era isso que queria desde que me casei
com sua irmã? Você vem me provocando, dando em cima de mim,
agora eu sou todo seu, vadia, vou te mostrar o meu melhor lado. —
Digo, acertando a primeira cintada nela.
— Eu preciso que veja algo, talvez isso faça você voltar a ser
a Katharina de antes. — Digo com a esperança que esse seja o
gatilho que a doutora me falou.
Caminho ao lado dela até a torre da agonia, seguro a sua
mão e fico surpreso por ela não me rechaçar. Ela está tensa, sua
mão transpira conforme nos aproximamos das celas que antes
abrigava os prisioneiros, mas que agora é ocupada apenas por um.
A levo até a cela, a maior daqui, onde tudo está preparado
para o que irá acontecer.
— Venha comigo, meu amor, hoje você terá sua vingança!
Coloco a cadeira bem de frente para Alesso, que está
acorrentado pelos braços e de joelhos no chão.
— Você traiu a família, Alesso, passou por cima da confiança
que lhe foi entregue. Você armou, manipulou para tomar o meu
cargo, dando um golpe na Cosa Nostra. Mas nada disso chega perto
do que fez à minha mulher. Você não só a sequestrou, como a
machucou e colocou suas mãos imundas sobre ela. Eu poderia ter
lhe dado uma morte rápida se tivesse apenas me traído, mas não,
você foi mais longe e agora vai sentir o peso da própria besta sobre
você! — Dou então a minha sentença.
Katharina olha para ele com nojo e ódio. Meu desejo pela
tortura, pela morte estava no extremo. Nos últimos dias, meu
controle estava se esvaindo, saber que ele a machucou, que ele a
tocou, que a feriu me faz querer machucá-lo da pior maneira
possível.
Me desfaço do paletó e da camisa, ficando apenas de calça,
deixando-os sobre a mesa de madeira, Lorenzo já tinha preparando
todos os brinquedos quando trouxe Alesso, as correntes estão
presas no teto e ele está nu. Paro em frente a ele e olho em seus
olhos com nojo, com desprezo, dou um soco no seu olho com todos
meus anéis, fazendo seu corpo balançar para trás.
— Foi assim que você bateu no olho dela? — pergunto e dou
outro soco no olho esquerdo. — Você gostou de bater na minha
mulher?!
O soco novamente, dessa vez em seu estômago, fazendo-o
cuspir sangue no chão. Pego o alicate de corte e me lembro das
mãos nojentas dele sobre a minha mulher. Vou até ele, puxo as
correntes que o prendem e seguro sua mão esquerda.
— Não, por favor, acaba com isso de uma vez — ele implora
quando corto o primeiro dedo, com brutalidade.
Sangue escorre pelo chão e seus gritos suplicantes são como
música para mim, Katharina observa a cena e se deleita ao ver o
sofrimento dele. Destruo todos os dedos das mãos, assim suas
mãos imundas estão decepadas. Pego à estaca, um dos meus
brinquedos favoritos, pois tem pregos na ponta.
— Traidor maledeto — bato com a estaca nas suas pernas e
ele se encolhe de dor. — Você é bosta, preferiu atacar uma mulher a
me enfrentar cara a cara — digo, cuspindo na sua cara. — Agora eu
vou te mostrar o que acontece com quem toca a minha mulher. —
Falo, pegando o meu punhal de prata.
Pego um par de luvas e ele começa a tremer de dor e medo.
Me baixo, seguro aquela merda que ele tem entre as pernas e em
um golpe só eu arranco seu pau e suas bolas fora. Ele começa a
vomitar, eu olho para Katharina, que continua vidrada no rosto dele.
— Não ouse desmaiar, quem vai terminar com a sua vida será
ela, a minha mulher. Vem aqui, amore mio. Você tem o direito de
acabar com esse bastardo de uma vez por todas — falo, segurando
o punhal para ela.
— Por favor, Dimitri, me mate de uma vez! — Ele implora,
com medo do olhar que Katharina direciona a ele.
Katharina vem até mim, segura o punhal e para em frente a
ele.
— Você vai pagar por tudo que fez a mim — ela fala.
Olho-a, então eu percebo que ela está de volta, a minha
Katharina, a guerreira imbatível.
— Pensou que poderia acabar comigo, que iria tomar o poder
de Dimitri, mas você não passa de um fraco — fala com asco e
desprezo. — Levanta essa cabeça, Gambino, a senhora da máfia
fala com você. — Acha que por ser uma mulher, eu sou fraca e
despreza tanto os russos, pois saiba que vai morrer pelas mãos de
uma.
— Me mata de uma vez então, Bratva. — Ele tenta provocá-la
para ter uma morte rápida.
— Não, nada disso, primeiro tenho que te contar que nós,
russos, somos descendentes dos vikings.
— Me mata de uma vez, caralho!!! — ele grita para Katharina.
— Os vikings tinham um ritual especial para tratar de homens
como você, traidores e covardes que não merecem piedade. Aqueles
que enfureciam a ira dos deuses.
— Me mata, porra!!! Vamos, Dimitri, me mata, você tem que
me matar — ele implora enquanto eu solto as correntes e o amarro
de joelhos, com os braços abertos sobre uma coluna de concreto.
— Vou desenhar uma águia de sangue em suas costas e suas
costelas vão se abrir como asas, vai ser lindo ver você morrer
lentamente conforme tenta respirar e a dor te consume — fala
Katharina, de pé em frente a ele.
— Não, não, por favor!! — ele grita, desesperado quando
entende o que ela pretende.
Ela sorri e caminha até parar atrás dele. Um corte é feito pelo
tórax e com a ajuda do meu punhal, com uma pressão que nunca vi
nem mesmo em cirurgiões. O sangue começa a escorrer pelo chão e
as mãos dela estão sujas de sangue.
— Haaaa! — Ele grita, tentando se debater, mas eu o seguro
no lugar, impedindo que Katharina acabe acertando algum órgão
vital.
Ela lentamente separa as costelas da coluna vertebral e eu
não consigo enxergar seu rosto, ela está concentrada no que faz e
vai abrindo cortes como se fossem asas de uma águia, de maneira
que não deixe ele morrer fácil. Eventualmente ele morreria pela
hemorragia, pela dor, mas seria uma morte lenta. Nós dois ficamos
assim, olhando para ele até perceber que ele está morto. Katharina
desaba e começa a chorar. Vou até ela e a abraço forte, tentando
consolá-la.
— Acabou, acabou, ele nunca mais vai tocar em você, meu
amor.
— Eu precisava fazer isso, eu precisava me limpar — ela diz,
tremendo.
— Ele mereceu, ele mereceu isso e muito mais. — Digo,
confortando-a
Ela me abraça forte enquanto eu acaricio suas costas.
— Não quero que chore mais, amore mio, acabou, eu estou
aqui por você.
— Eu amo você, Dimitri. — Ela fala em meio ao choro e eu
olho para seu rosto, tentando confirmar o que ela acabou de dizer.
— O que disse, Katharina?! — Questiono, confuso.
— É difícil ter que fingir ser forte o tempo todo e tentar
enganar a todos e o pior enganar a mim mesma, mas já não dá mais
para me enganar, eu amo a besta, eu amo o monstro, eu amo você,
Dimitri Salvatore Rinna.
— Você me ama, tem certeza do que está dizendo, bella
mia?! — Pergunto em choque.
— A verdade é que o monstro em mim ama a besta em você!
— Fala, tocando meu rosto cheio de sangue.
— Eu não mereço seu amor, Katharina, mas sou egoísta
demais para recusá-lo, eu quero tudo de você, bella mia — falo,
puxando-a para mim e a beijo com saudade e desespero, a maneira
como eu a amo chega a ser insana.
Estamos cobertos por sangue, mas a fome, a saudade e a
angústia são maiores que tudo.
— Me toque, aperte um pouco mais, até não podermos nos
soltar — ela fala, gemendo e morde meu lábio, eu sinto meu corpo
todo pegar fogo.
— Eu amo você, bella mia, amo cada pedacinho seu, nada
em você é sujo ou errado, você é perfeita, perfeita para mim. —
Falo, beijando seu pescoço, sentindo o cheiro de sangue ao nosso
redor, mas nada disso importa.
A besta dentro de mim implora para que eu a tome. Katharina
está com o rosto cheio de lágrimas, assim como o meu. O beijo se
torna profundo, nós dois estamos desesperados um pelo outro, é
como se uma barreira tivesse caído. Seus lábios devoram os meus
com saudade e com paixão, ela arranha meu braço e eu mordo seu
queixo, sentindo o gosto amargo de ferrugem.
— Me mostre a quem eu pertenço, quem é o único a ter meu
corpo, a me sentir. — Ela pede olhando em meus olhos e eu entendo
o que ela precisa.
— Ah, amore mio, vou te mostrar exatamente a quem você
pertence, que cada célula do seu corpo tem dono! – Ameaço.
Agarro-a pela cintura e deslizo as alças do vestido longo, seus
braços estão sujos de sangue, assim como meu peito.
Ela está linda e a besta dentro rugi com a visão. Tiro os
sapatos e volto a abraçá-la.
— Você me enfeitiçou desde o primeiro beijo que eu roubei.
— Toda noite brigamos e é quente como um inferno, mas em
seus braços, na nossa cama, me sinto no paraíso — ela fala, me
puxando para outro beijo.
— Vou te mostrar quem você verdadeiramente é, Katharina,
nada do que aconteceu mudou o existe dentro de você!! — Digo,
mordendo seu pescoço, olhando em seus olhos.
Ela abre o zíper da minha calça e toca meu pau, deslizando a
calça para baixo, então eu não perco tempo, puxo seu sutiã branco
com força, arrebentando-o. Olho para os seus seios, os devorando
apenas com o olhar, meu corpo treme de ansiedade, puxo seu
cabelo com força, em um rabo de cavalo e forço sua cabeça para
trás, me aproximando mais e digo.
— Eu amo você, Katharina, você é minha, só minha e de mais
ninguém! — Beijo seu pescoço exposto, mordo e chupo todo o
caminho até seus seios fartos, sujando toda sua pele branca de
sangue.
— Eu quero seu pau em mim, Boss. — Ela fala, massageando
meu pau.
— Não brinca com fogo.
— Toda vez que me toca eu sinto como se tivesse caindo em
brasas. Nós dois somos a própria chama que alimenta o inferno. —
Fala, esfregando sua boceta na cabeça do meu pau enquanto eu
chupo seus seios.
— Vamos nos queimar, querida.
Me abaixo, abocanhando sua boceta, que está pingando,
chupando-a com gula. Lambo de cima a baixo, sugando o clitóris e
puxando-o com os dentes, mordendo de leve.
— Dimitri, eu vou gozar assim! — ela grita, extasiada.
Eu aproveito e acelero ainda mais os movimentos da língua,
ela se arreganha mais para mim, abrindo mais as pernas e puxando
meu cabelo por trás.
— Eu sei do que você precisa — digo, mordiscando de cima a
baixo. — Sei o que você quer.
Penetro ela com a língua e a fodo por uns bons minutos,
observando seu rosto em êxtase, a maneira como ela treme quando
goza me deixa ainda mais louco. Ela choraminga, quase gozando,
fodo-a ainda mais rápido com a boca, ela começa a gritar,
ensandecida e quando está quase gozando novamente, eu paro.
— Não para! – Katharina suplica – Eu vou gozar de novo,
assim isso, isso!
Com a mão direita, seguro seus braços atrás, levando até a
mesa, pressiono seu corpo ainda mais na mesa e pincelo meu pau
na sua bocetinha, deslizando de cima a baixo, sem entrar. Katharina
geme desesperada e se esfrega em mim, se contorcendo, louca,
implorando para que eu a foda. Eu meto de uma vez só na sua
boceta, fazendo-a se inclinar para tentar encaixar melhor, sinto como
se estivesse no paraíso, sua boceta esmaga meu pau feito uma luva,
me apertando, ela está encharcada.
Seus olhos se fecham em êxtase, aproveito e mordo seu seio
esquerdo, ela rebola no meu colo, gemendo. Soco com força,
metendo com vontade, dá para escutar o som dos nossos corpos se
chocando.
— É assim que você quer, bella mia?! — Estoco sem parar,
fodendo sua boceta com força.
— Isso, Boss, mais rápido, me faça sua apenas – Diz entre
gemidos.
— Fala pra mim quem você é, Katharina, a quem você
pertence?!
— A você.
— Eu não ouvi, não entendi o que disse. Anda, fala! — Dou
um tapa em sua bunda.
Tiro meu pau todo, apenas para meter mais forte de novo e
de novo...
— Eu sou Katharina Peskov Castelaresi Rinna, eu sou a
senhora da máfia e pertenço a você, Boss, eu pertenço à besta! —
Grita, chorando quando o orgasmo a domina, só então eu gozo,
rugindo, a acompanhando.
Levanto seu rosto pra mim, puxo seus cabelos e beijo sua
boca lentamente. Vou beijando seu rosto com carinho, limpando suas
lágrimas, olhando em seus olhos azuis, os mais lindos que já vi, me
dando conta que jamais vou conseguir viver sem essa mulher.
— Nunca mais você vai passar novamente pelo que
aconteceu, eu prometo que irei protegê-la até o fim da minha vida,
está ouvindo!? — Falo sério para ela, que balança a cabeça e sorri
para mim. E o seu sorriso é como o sol, iluminando as trevas que
vivem em mim.
O frio da Rússia é formidoloso, odiei esse lugar desde que
coloquei meus pés aqui.
Após descobrir que Aslan Castelaresi foi o mesmo que pegou
Rebeca no hospital, eu comecei a investigar onde ele poderia estar
escondendo a minha mulher, ela não veio com ele para Palermo, isso
estava claro, já que o mesmo não saiu da fortaleza de Dimitri e foi
direto do aeroporto para ela. O palácio onde ele e sua família moram
estava sendo monitorado por meus homens, mas por enquanto nem
sinal de Rebeca, o que começa a me desesperar. Usando meu
charme e carisma eu consigo convencer uma das funcionárias do
palácio a ser meus olhos lá dentro. O lugar é tão grande que,
segundo ela, há muita gente que ela não conhece. Dou uma foto de
Rebeca para que ela investigue se ela estava escondida lá. Agora
aguardo dentro do meu carro, fora do território vigiado pelos Bratva,
para que ela me informe o que descobriu.
— Senti a sua — Ela fala ao entrar no carro, tentando me
beijar, porém eu me afasto, sem nenhum pingo de paciência.
— Vamos, querida, me diga o que descobriu, estou
preocupado com minha sobrinha, ela é muito jovem e pode estar
sendo enganada pelo Castelaresi.
— Bem, tudo bem, eu sei que você é um tio dedicado, mas
jovem não está no palácio. Na verdade, ninguém a viu, mas rola um
boato entre os funcionários.
— Boato? — Questiono, colocando a mão no queixo.
— Sabe como é, muitos empregados, a fofoca rola solta.
— Seja mais clara.
— Estão falando que o jovem Aslan está apaixonado por uma
estrangeira. Parece que ele até se afastou da Bratva para ficar com
ela por um tempo.
Seguro o volante do carro com tanta força que sinto o couro
romper.
— Será que ela é a minha sobrinha?!
— Acho que sim. — Ela diz, olhando para mim.
— Onde ele pode estar mantendo-a? — Pergunto nervoso.
— Não sei, talvez em alguma outra propriedade que seja tipo
um ninho de amor.
Não a deixo terminar de falar, saco a minha arma e disparo
contra ela, silenciando-a de uma vez.
— Maldita, maldita.
Ligo para o detetive e peço que ele descubra possíveis
propriedades que o desgraçado do Castelaresi possa ter.
— Se ele tocou em um fio de cabelo dela eu o mato!
— Digo retirando o corpo da garota do meu carro e jogando
dentro do rio.
— Ainda não acredito que você está bem, minha filha — fala
mamãe, contente, enquanto somos servidos por Luigi.
— Já não há nada o que temer, nem o que me envergonhar,
eu não me sinto mais suja. — Falo, abaixando o olhar, triste.
— Não há nada de sujo em você, pequena. — Afirma Aslan,
me consolando.
Dimitri se mantém calado, assim como Vicenzo, que está
visivelmente contando os segundos para o jantar acabar, Lorenzo
conversa com meu pai sobre os negócios.
É a primeira vez eu que realmente me sinto em família, uma
grande família, toda torta, mas a minha família.
— Já que você está melhor, vamos voltar para a Rússia
amanhã de manhã — fala meu pai.
Dimitri só falta sorrir de felicidade e nem mesmo disfarça.
— Eu gostaria que ficassem mais, quase não pude aproveitar
vocês aqui.
— Os negócios não podem esperar, não podemos nos
ausentar por muito tempo. — Fala meu pai, decidido.
— Tem razão, tenho muito a fazer na Rússia — diz Aslan,
lembrando de Rebeca.
— Não fique triste, bella mia, podemos ir à Rússia em breve
— fala Dimitri, segurando minha mão sobre a mesa.
Todos, menos Vicenzo, olham para o gesto de carinho com
certa estranheza. Talvez seja inacreditável demais para eles
perceberem que a rosa conquistou a besta.
ANTES
Após falar com Daniela tudo que eu queria era ir até
Katharina, o medo que algo acontecesse com ela me deixou a ponto
de cometer uma loucura. Uma multidão de repórteres atrapalhava a
minha saída da sede e foi preciso a chegada de vários homens meus
para afastar os abutres. O tempo estava correndo e a cada segundo
minha mulher corria mais risco nas mãos de um assassino em série.
Ao chegar ao local onde o esconderijo do assassino fica, vejo o carro
de Daniela estacionado do lado de fora, a metros do prédio que ela
me falou. Estaciono atrás dela e logo percebo que alguma coisa
estava errada. Faço um gesto para que meus homens e os
seguranças de Katharina fossem na frente e com a minha arma em
mãos eu observo o momento em que Paolo abre a porta do
motorista e o braço de Daniela pende, à mostra. Há muito sangue
saindo do seu abdômen.
— Ela está morta? — Pergunto, me aproximando e tendo uma
visão completa do seu estado lastimável, provavelmente ela lutou
muito.
— Não, ela ainda tem batimentos
— Chamem uma ambulância e a levem para o hospital o mais
rápido possível.
Seu estado me faz ficar ainda mais alerta, o temor de antes
se transforma em puro pânico e desespero, imaginando que
Katharina está sozinha nas mãos desse serial killer.
Rapidamente invadimos o prédio onde ele se esconde. O
carro de Lorenzo no estacionamento me faz ficar um pouco mais
tranquilo, penso que se ele chegou primeiro irá proteger Katharina.
Nos dividimos para poder vasculhar todo o prédio, porém algo me diz
que ele estaria na cobertura. Subo pela escadaria com o coração
acelerado, pedindo que nada de mau aconteça com Katharina até eu
chegar.
Há apenas um apartamento na cobertura, a porta está
encostada, em passos rápidos e silenciosos eu entro no apartamento
aparentemente normal e nada me chama a atenção, porém ouço um
som rouco de um gemido, dou dois passos em direção ao corredor
então eu ouço a voz de Katharina atrás da porta.
— Você quer me matar como fez com todas elas, é isso?!
Alguém diz algo, mas não consigo entender, o medo de perder
a minha mulher é tão grande que eu tento abrir a porta, mas ela está
trancada.
Com uma força sobre-humana eu dou um chute, abrindo a
porta. Meus olhos vão direto para Katharina, amarrada na cama,
mas não é isso que me choca e sim Lorenzo, sentado no chão do
quarto com as mãos sangrando e chorando. Eu não tenho tempo
para raciocinar sobre o que está acontecendo, corro até Katharina,
tocando seu rosto cheio de lágrimas.
— Eu estou aqui, meu amor, tudo vai ficar bem. — Prometo,
desamarrando as cordas.
Quando seus braços estão livres, ela se joga em mim, me
abraçando forte e em prantos.
— Onde está o assassino, onde está o serial killer? —
Pergunto a Lorenzo, que olha para Katharina nos meus braços.
— Ele está... ele está aqui — fala minha mulher com a voz
embargada pelo choro.
— Onde? — Pergunto confuso, sem entender onde o corpo
do desgraçado está, pelo estado de Lorenzo deve ter entrado em
luta corporal com ele.
Katharina se afasta de mim, levanta o braço e aponta para
Lorenzo, que mantém a cabeça baixa enquanto chora. Olho para ela
confuso, porém a dor em seus olhos me faz ficar estático, olho para
Lorenzo tentando entender o que Katharina quis dizer, porém a
realidade começa a ficar clara quando eu observo todo o quarto.
Fotos de Katharina por toda a parte, o punhal de Katharina
caído no chão. As peças do quebra cabeça começam a se encaixar
e com ela um ódio amargo toma conta do todo meu corpo. Tudo
agora faz sentido, a fúria dentro de mim é tão absurda que avanço
em direção a Lorenzo pegando-o pelo colarinho e o jogando na
parede.
— Dimitri!!! — Grita Katharina.
Mas eu não a ouço, avanço em direção a ele e soco seu peito
com ódio, Lorenzo me acerta com um chute na perna.
— Seu bastardo de merda! — Grito, socando-o com todo
meu ódio.
— O que foi irmão, não consegue aceitar que você, o todo
poderoso capo dei capi, não percebeu quem era seu irmão?! — Ele
grita e limpa o nariz, que sangra.
— Eu fiz tudo por você, seu maldito desgraçado, eu te dei
tudo que você tem, se não fosse por mim ainda seria o merda que
era! — Falo enquanto acerto ele novamente.
Lorenzo ri, mesmo com o rosto todo quebrado.
— Parem, por favor! — grita Katharina.
— Você sempre teve tudo que me foi negado, foi amado pelo
meu pai, teve uma mãe. Teve tudo que jamais tive.
— O pobrezinho do Lorenzo teve um passado traumático,
foda-se, todos que entramos nessa vida temos cicatrizes, mas isso
não significa que pode me trair, me trair dessa forma. Você tentou
me culpar pelos seus assassinatos, pelos seus crimes! — digo, cheio
de ódio.
— Você nunca a quis, mas eu a amei assim que a vi! — grita,
me acertando.
Então eu perco a fina barreira que mantinha meu lado animal
sob controle e avanço, socando seu rosto com toda minha fúria.
— Dimitri!!!
— Ela é minha, miserável, sempre foi, ela é minha mulher!! —
Digo enquanto soco seu rosto sem parar, mesmo vendo que ele já
está desfalecido no chão eu não paro de socar.
— Você vai matar ele! — grita Katharina, puxando meu braço.
Meu ódio é tão grande que me faz cego, só paro meus golpes
quando ela entra na frente do seu corpo.
— Para, por favor, não faça isso! — ela suplica, chorando e
então eu me dou conta do quanto ela está mal.
Abraço Katharina sentindo a dor terrível da traição do meu
irmão, aquele que entreguei a minha confiança, àquele que protegi
desde que o conheci e agora vejo que ele não passa de um doente.
A verdade é amarga e corre como veneno pelo meu coração, eu não
percebi, todos os sinais estavam claros. Lágrimas que nem
imaginava ter escorrem pelo meu rosto, me deixando amortecido
enquanto Katharina me abraça apertado e eu olho para Lorenzo no
chão desse quarto imundo.
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