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TRABALHO DE ANTROPOLOGIA I

Jaqueline Cristienne Melonio Barbosa.

AS DIVERGÊNCIAS ENTRE GERAÇÕES EM FAMÍLIA.


Parte 1.
O tema adolescência é bem polêmico, tendo em vista alguns conflitos gerados nesta fase da vida de
muitas pessoas, Margaret Mead (2015), em seu texto: “Adolescência em Samoa”, suscita alguns
questionamentos a respeito deste tema, em que no último século, pais e professores resolveram adequar a
educação em acordo com as necessidades das crianças, fundamentando-as no conhecimento da psicologia,
como seria o desenvolvimento e as dificuldades provenientes da juventude. “A adolescência foi caracterizada
como a fase em que o idealismo florescia e a rebelião contra a autoridade ganhava força, um espaço de
durante o qual dificuldades e conflitos eram absolutamente inevitáveis.” ( MEAD, 2015, p.18).

Adolescência em Samoa, de Margaret Mead (2015), fez com que eu reflexionasse com mais
profundidade a respeito da ideia de que a maioria das vezes, o comportamento dos jovens e adolescentes é
muito mais uma resposta do ambiente social em que vive, que de fato um fator biológico. Segundo disse:
O antropólogo à medida que refletia sobre seu crescente corpus de material referente aos
costumes dos povos primitivos, começava a compreender o enorme papel desempenhado na
vida do indivíduo pelo ambiente social em que cada um nasce e é criado ( MEAD, 2015,
p.20).

Na época, era comum associar e justificar o comportamento rebelde do adolescente, como sendo uma
característica universal desta fase, mas a contradição fica clara quando a autora resolve confrontar aspectos
comportamentais de adolescentes samoanas e americanas, a fim de embasar seu pensamento a respeito de que o
fator ambiente é preponderante: “o único método é o do antropólogo: ir para uma civilização diferente e fazer
um estudo de seres humanos sob condições culturais diferentes em alguma outra parte do mundo.” ( MEAD,
2015, p.23).
De acordo com a concepção da autora, as adversidades existentes na adolescência americana, não se
evidenciaram com a samoana, que de fato poderia sugerir que características biológicas não atestam atitudes e
comportamentos de todos os adolescentes nessa fase da vida.
O texto “A emergência do conceito de personalidade em um estudo de culturas”, de Edward Sapir (2015),
percebemos que o autor tende a evidenciar a concepção de personalidade, atrelada em um estudo de cultura.
Seu texto me ajudou entender que o fator cultura tem uma ligação evidente na construção da personalidade do
indivíduo: “os interesses conectados pelos termos cultura e personalidade são necessários para o
desenvolvimento inteligente e útil porque cada um se baseia num tipo de participação imaginativa do
observador na vida à sua volta.” (SAPIR, 2015, p. 112)
Sapir (2015, p.16), afirma que as culturas não devem ser analisadas como “entidades objetivas”, tal
passagem do texto também me fez refletir sobre este aspecto, já que a homogeneidade e sua totalidade cultural
seriam representações abstratas com base em padrões idealizados e que sofrem variações nas perspectivas
individuais. Segundo disse:
A cultura, tal como comumente construída pelo antropólogo, é a soma mais ou menos
mecânica dos padrões generalizados de comportamento mais notáveis e ou pitorescos que
ele abstraiu por si mesmo a partir da soma total de suas observações, ou qual foi abstraída
para ele por seus informantes em comunicação verbal. Tal “cultura”, de vez que foi
construída em geral com termos não familiares, reverte-se de uma qualidade pitoresca
quase inevitável, o que sugere uma vitalidade que ela, se nos prendermos estritamente ao
fato psicológico, não encarna. (SAPIR, 2015, p. 116)
Dessa forma, o aprendizado de uma cultura não pode ser encarado como um processo súbito e tão pouco
uniforme sobre os vários indivíduos: “a cultura não é então algo dado, mas algo a ser descoberto aos poucos e
às apalpadelas” (SAPIR, 2015, p. 121). Fica nítida a importância que o autor dá ao desenvolvimento da
personalidade e a relação existente com seu ambiente cultural, em que o estudo do desenvolvimento infantil é
primordial para a compreensão dos símbolos e valores culturais.

Parte 2.

Minha análise será feita baseada na vivência em família entre mim e meu irmão. Em minha casa moramos
meu pai (56 anos), minha mãe (59 anos), eu (34 anos) e meu irmão (22 anos). Entre mim e meu irmão há uma
diferença de 12 anos, porém fomos educados pelos mesmos pais e com os mesmos princípios.
Dentre esses preceitos de educação, uma prática que me foi ensinada desde cedo foi ato de “tomar a
bênção” aos mais velhos, pois essa prática também foi ensinada aos meus pais e lhes foi transmitida também
por seus antepassados. Até hoje, já adulta, eu continuo mantendo essa prática que me foi repassada por meus
pais, que segundo a tradição é uma garantia de respeito às pessoas, principalmente às mais velhas.
No entanto, meu irmão, que também fora educado pelos meus pais, com as mesmas diretrizes não toma a
bênção para ninguém, nem quando era pequeno, tão pouco agora, depois de adulto, aí levantamos um
questionamento pautado no texto de Margaret Mead (2015), em que pudemos evidenciar que o comportamento
do adolescente é resposta ao meio em que vive e não de fatores biológicos. Se meu irmão que foi criado no
mesmo ambiente social que eu, não manteve também a atitude igual a minha?
E a resposta não contraria a ideia da autora, meu irmão não tem a mesma prática que eu, isso é fato, mas
não a tem pela explicação de que ele “passeou” em outros ambientes sociais que o influenciaram, um desses
meios foi a escola, lembro uma vez que em família, nós falávamos sobre esse assunto e ele disse que tomar a
bênção era só besteira, que isso não iria alterar a vida de ninguém, ainda disse mais, que nenhum mortal era
capaz de abençoar alguém.
Minha mãe e eu percebemos que, principalmente depois de adentrar no ensino médio, meu irmão que já
era resistente a alguns ensinamentos que meus pais lhe deram, ficou ainda mais radical, por conviver com
pessoas que também partilhavam de pensamentos iguais aos dele.
Então, o que fica visível, é que não é somente um contexto social que é capaz de moldar o
comportamento e até mesmo a personalidade de alguém, e sim, somos resultados de vários meios aos quais
convivemos.
BIBLIOGRAFIA.
MEAD, Margaret. A adolescência em Samoa. IN: CASTRO, Celso (org.). Ruth Benedict, Margaret Mead, Edward Sapir.
Rio de Janeiro, Zahar, 2015. p. 17-65.

SAPIR, Edward. A emergência do conceito de personalidade em um estudo de culturas. In: IN: CASTRO, Celso (org).
Ruth Benedict, Margaret Mead, Edward Sapir. Rio de Janeiro,
Zahar, 2015. p. 110-123.

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