Ilustrações: Cacu Ilustra Diagramação: Hayesha Di Maffei Revisão: Juliana Mangi e Ana Luiza Tinoco Betagem: Jennifer Fógos
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Primeira edição, 2022
https://www.instagram.com/haaydimaffei/ Índice Sinopse Nota da Autora Dedicatória Playlist Capítulo 01 – Brooke Roberts Capítulo 02 - Kyle Thorne Capítulo 03 - Brooke Roberts Capítulo 04 - Rafael Martinez Capítulo 05 - Brooke Roberts Capítulo 06 - Brooke Roberts Capítulo 07 - Brooke Roberts Capítulo 08 - Seth Donahue Capítulo 09 - Seth Donahue Capítulo 10 - Brooke Roberts Capítulo 11 - Seth Donahue Capítulo 12 - Kyle Thorne Capítulo 13 - Brooke Roberts Capítulo 14 - Brooke Roberts Capítulo 15 – Rafael Martinez Capítulo 16 – Brooke Roberts Capítulo 17 – Seth Donahue Capítulo 18 – Brooke Roberts Capítulo 19 – Kyle Thorne Capítulo 20 – Brooke Roberts Capítulo 21 – Rafael Martinez Capítulo 22 – Kyle Thorne Capítulo 23 – Brooke Roberts Capítulo 24 – Brooke Roberts Capítulo 25 – Seth Donahue Capítulo 26 – Brooke Roberts Capítulo 27 – Rafael Martinez Epílogo – Brooke Roberts Ei, você Agradecimentos Conheça a Autora Conheça: A Singularidade de Nós Todo mundo sonha em encontrar um amor para toda vida. Brooke Roberts encontrou três. Kyle a amou desde criança. Seth desde o primeiro sorriso e Raffi desde o primeiro abraço. Na continuação da Duologia Hades' Men, Brooke ainda está se recuperando dos eventos traumáticos que se infiltram em suas noites e assombram seus dias enquanto explora sem reservas a dinâmica do seu novo relacionamento. Kyle, Seth e Raffi não desistiram de caçar o stalker misterioso que os mantém em alerta ganhando mais terreno a cada dia. E não deixam a namorada sozinha um minuto sequer. Até que ponto cuidado pode se tornar sufocante? E se for triplicado? Quatro entram, quatro saem, mas alguém pode sair diferente daquilo que entrou. Por quanto tempo Seth será capaz de lidar com suas feridas sendo expostas e espelhadas na mulher que aprendeu a amar? Até quando Kyle suportará em silêncio a espera tortuosa de ver sua melhor amiga e mulher definhando na sua presença? Será que Raffi pode aceitar que todos os anos se tornando o melhor atirador de longa distância e especialista em armas não foram suficientes para garantir que a pessoa mais importante da sua vida nunca descobrisse o que é a dor de viver com medo? Brooke tem nas mãos o poder de os guiar à salvação ou perdição. Qual chegará primeiro?
Gatilhos: violência, estresse pós traumático, menções a abuso
infantil e suicídio (sem detalhes gráficos), ataques de pânico, morte, mais de um interesse amoroso. Atração Mortal é a continuação de Atração Fatal, para poder aproveitar essa história da melhor forma e em toda a sua complexidade a leitura do primeiro volume é imprescindível. Olá, tudo bem? Primeiramente, eu quero agradecer do fundo meu coração você ter escolhido Atração Mortal para ser a sua próxima leitura, mas antes de deixar você mergulhar de volta na história desse quarteto, acho importante esclarecermos algumas coisas. Atração Mortal é a continuação de Atração Fatal. Para poder aproveitar essa história da melhor forma e em toda a sua complexidade a leitura do primeiro volume é imprescindível. (Atração Fatal está disponível na Amazon e KindleUnlimited). Atração Mortal é sobre amor, em todas as suas formas e não apenas da maneira que a sociedade nos ensina desde crianças. Se você não concorda ou não acredita neste tipo de relacionamento, este livro não é recomendado para você. A protagonista NÃO escolherá entre seus interesses amorosos, todos os protagonistas se envolverão em um relacionamento poliamoroso. Além deste tema, haverá outros gatilhos como violência, estresse pós traumático, menções a abuso infantil e suicídio (sem detalhes gráficos), ataques de pânico, morte. Se em algum momento durante a leitura você se sentir desconfortável, peço que pare. Sua saúde mental e emocional devem ser prioridade. Este livro é destinado a maiores de 18 anos por conter conteúdo explícito, tais como palavras de baixo calão e sexo. Se esse não é o seu estilo, aconselho que não leia Atração Mortal. Porém, caro leitor, se você está ciente disso e preparado para reembarcar nessa jornada com esse Harém Reverso, sugiro que se acomode e tenha à disposição muita água gelada e lenços. Vai precisar! Esse livro é dedicado à todos aqueles que lutam batalhas invisíveis todos os dias. Eu vejo você. Você não está sozinho. O cheiro pútrido agride minhas narinas. Fecho meus olhos com força quando sinto o toque da mão do meu captor subindo pela minha nuca, seus dedos se emaranhando no meu pescoço para puxar a minha cabeça violentamente para trás. As lágrimas que eu achava que haviam esgotado queimam conforme forçam passagem pelas minhas pálpebras cerradas. Não. Isso não é real. Não pode ser. O pensamento é como uma âncora jogada ao mar, afundando dentro de mim, e me puxando com ela para o mundo real onde meus músculos tensos me aguardam. Desperto com o coração martelando no peito, o maxilar dolorido, e instintivamente sei que meu inconsciente conteve os gritos que muitas vezes teimam em rasgar minha garganta. O braço forte que abraça a minha barriga colando minhas costas a um corpo firme, me aperta ainda mais contra ele, como se mesmo dormindo ele soubesse que preciso dele. Inspiro profundamente deixando que o cheiro amadeirado de Raffi purificar os vestígios do pesadelo. Me viro em seus braços, seus olhos azuis vibrantes encontram os meus, escaneando meu rosto rapidamente sob a luz amarelada do abajur que agora vive constantemente aceso. — Quer falar sobre ele hoje, babygirl? — sua voz é rouca quando repete a pergunta de todas as noites em que dividimos a cama e eu acordo de um pesadelo, o que já é a minha nova rotina. Eu não tinha dormido sozinha nem mesmo uma noite desde que os rapazes me resgataram. Não entendia como eles definiam quem dormiria comigo e suspeitava que era algum tipo de jogo da sorte, pois não havia um padrão que eu pudesse distinguir. — Não foi nada de novo — murmuro, abraçando sua cintura com uma das mãos, meus dedos explorando a pele quente enquanto cubro suas pernas com uma das minhas. — Brooke... Subo uma das mãos pelo seu abdômen sarado até alcançar um de seus mamilos, local que descobri ser extremamente sensível para Raffi, e provoco com a ponta dos dedos contornando-o antes de apertá-lo. — Não quero falar sobre meu pesadelo, não quero falar sobre o que aconteceu, prometi a mim mesma enquanto saíamos de lá que não deixaria que ele tomasse mais do meu tempo. — A mentira misturada com a verdade escorre facilmente de meus lábios, tenho esperança de que se repeti-la o suficiente vou parar de reviver aqueles dias, parar de me assustar com qualquer sombra ou barulho repentino, parar de acordar no meio da madrugada com o coração disparado e uma sensação gelada na boca do estômago. — Quero esquecer — declaro. Um sorriso malicioso se forma em seus lábios quando ele gira o corpo me trazendo com ele. Suas mãos deslizam pelas minhas costas até alcançarem a minha bunda e a apertam, fazendo meu corpo esquentar ao sentir seu pau endurecer contra a minha barriga. — Então me deixa exorcizar seu pesadelo, babygirl. Inclino meu rosto e tomo seus lábios, sentindo aquele sabor único que é todo Rafael Martinez. Sua língua explora a minha boca com avidez, como se ele quisesse decorar o meu gosto, mas o tempo fosse curto. O beijo é faminto, e nós o alimentamos com nosso desejo e tesão. É um beijo de corpo inteiro, cada ponto onde minha pele toca a dele é como uma pequena explosão que se espalha por meu corpo apenas para se concentrar no meu ventre, que parece derreter. Suas mãos ágeis se livram dos meus shorts de pijama e calcinha rapidamente, apenas para retornar ao meu centro e encontrar com o polegar meu clitóris, esfregando-o com movimentos circulares que fazem meus dedos dos pés se contorcerem, enquanto meu gemido é engolido por sua boca que ainda devora a minha. Raffi me penetra com dois dedos de uma vez, sem aviso, me fazendo arfar e arquear as costas. Apoio as mãos em seu peito, cavalgando seus dedos que me fodem sem piedade, exatamente como preciso. Ele inverte nossas posições mais uma vez e coloca a camisinha que pega da mesinha de cabeceira antes de me preencher gloriosamente arrancando outro gemido alto de mim. — Você é tão gostosa — ele grunhe no meu ouvido, começando a estocar, aumentando o ritmo a cada vez que se retira. Raffi se afasta ligeiramente, seu olhar descendo para o ponto onde nossos corpos se encontram. — Olha como a sua boceta abraça meu pau, babygirl. Gostosa demais! E então sua boca está sobre a minha mais uma vez, e a luxúria toma o controle da minha mente, apagando todo o resto. Cada investida me leva para mais perto do orgasmo e me distancia dos horrores da minha mente. Nesse momento só existe nós dois, esse quarto e o prazer que damos um ao outro. Já é de manhã quando acordo novamente, me estico na cama e Raffi me aperta contra ele, seu rosto se afundando em meus cabelos e sinto ele deslizar o nariz na minha nuca, fazendo um arrepio delicioso percorrer a minha coluna. — Tá cedo ainda — ele murmura sonolento. Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, e constato que ele está certo: não são nem sete da manhã ainda. — Eu sei — respondo no mesmo tom. — Mas você não precisa levantar só porque eu vou — declaro, entrelaçando meus dedos com os seus antes de escapar de seu abraço. Raffi se remexe na cama, resmungando enquanto procura uma nova posição confortável. — Prefiro dormir te abraçando — confessa e quase não consigo decifrar suas palavras que são abafadas pelo travesseiro. Levanto e caminho até a poltrona no canto do meu quarto, pegando o tubarão de pelúcia de 1 metro de comprimento que Olivia me deu na primeira vez que veio me visitar há quase um mês e meio atrás. — Abraça o Bruce — digo entregando-o e beijando sua têmpora, mas ele segura minhas pernas antes que eu consiga dar um passo para longe. — Quero um beijo decente, Brooke — reclama e eu me inclino, beijando seus lábios rapidamente. — Primeiro, me deixa sozinho depois quer sair sem me beijar. Vê se isso é coisa que se faça? — reclama, mas quando saio do banheiro alguns minutos depois o encontro abraçado ao tubarão e dormindo tranquilamente. Não consigo resistir à cena e pego o celular na mesinha, tirando uma foto do homem de mais de 1,80m, tatuado, abraçado ao bichinho de pelúcia. Fico tentada a mandar a foto no grupo, mas penso melhor e guardo para usar no futuro quando Rafael me irritar. Fecho o aplicativo de câmera e vejo uma notificação no meu e-mail que escolho a ignorar. Semana passada todos os professores da escola Greenbriar receberam o novo calendário acadêmico. E eu enviei o meu pedido para tirar um ano sabático no mesmo dia, a diretora foi relutante em me dar esse período até porque não lhe expliquei o motivo, só disse que precisava desse tempo. Porém, acho que ela acredita que se continuar a me mandar os boletins informativos vai me fazer mudar de ideia. Eu até gostaria de mudar, queria conseguir sentir aquela ansiedade gostosa de início de ano letivo, me preparar para receber meus alunos e passar os dias rodeada por sua energia borbulhante. Mas não sinto nada. Me sinto oca, como se os acontecimentos do começo do verão tivessem retirado uma parte de mim que ficou no chão daquele armazém junto com o corpo do meu carcereiro. Balanço a cabeça tentando espantar a memória, mas ela está sempre ali. Uma companheira constante. Desço as escadas terminando de amarrar meu cabelo em um rabo de cavalo, assim que piso na cozinha Apolo e Cérbero aparecem. — Se os pais de vocês sonharem que eu fico dando biscoito logo cedo, eles vão brigar comigo — aviso, abrindo a dispensa e pegando os petiscos. — De novo. — Como se a gente não soubesse. — A voz de Seth soa às minhas costas e me viro para encontrá-lo sorrindo. As covinhas nas bochechas em evidência, ele está suado e sei que acabou de chegar da corrida. Meus olhos descem por seu corpo e sinto minha boca secar enquanto memorizo a forma como a camiseta molhada se molda aos seus músculos. Meus dedos coçam para sentir sua pele. Levo um minuto para me lembrar que agora posso, para lembrar que Seth não me mantém mais a um braço distância como antes. Não que nosso relacionamento tivesse evoluído para algo além de amassos ou daquela uma única vez em que ele me levou ao delírio apenas com os dedos. Mas mesmo assim sentia que ele estava mais perto, menos reservado, como se uma das muralhas que existiam entre nós tivesse ruído. Fecho a distância com um passo e abraço sua cintura, apoiando meu queixo em seu peito e o fazendo inclinar a cabeça para me olhar. — Bom dia, Abelhinha — me cumprimenta antes de me dar um selinho. — Pronta para o seu treino? — Quase — afirmo, me esticando e tomando seus lábios, minha língua invadindo a sua boca e engatando naturalmente no ritmo que pertence somente a mim e Seth. Um de seus braços enlaça a minha cintura enquanto a outra mão segura meu pescoço, movendo-o para lhe dar mais espaço para aprofundar o beijo. A mão que estava na minha cintura desce para minha bunda e no momento em que ele a aperta um latido ecoa na cozinha. — Desculpa, garoto, me distraí — Seth fala com Banguela que está parado do lado de seu pote de água vazio. Ele beija minha boca e minha testa antes de se afastar e ir tratar do cão. Eu o observo pelo canto do olho enquanto preparo dois shakes de proteína, um para mim e um para Seth, para não irmos treinar de estômago vazio. Me pego pensando nos outros dois homens que dormem no andar de cima. Nesses últimos dois meses, os três foram imprescindíveis para a minha recuperação, talvez até demais. Eles estavam sempre presentes. Kyle checando a todo momento se eu tinha tomado meus remédios, se tinha me alimentado, me obrigando a não me esforçar demais. Raffi era sempre como um sopro de ar fresco, toda vez que sentia que estava me afundando em um dos abismos da minha cabeça ele falava algo, ou fazia uma brincadeira que me trazia de volta para o presente. E Seth, não sei explicar, mesmo sem dizer nada ele parecia entender tudo que se passava na minha mente. Ainda não conseguia definir a minha relação com eles, mas sabia que os queria na minha vida para sempre, só não tinha conseguido lhes dizer isso ainda. E talvez, o mais importante tenha sido no momento em que recebi o ok do médico, Seth retomou meu treinamento. Antes mesmo que fosse preciso eu pedir, tão determinado quanto eu a recuperar a minha força. Porque em meio a todas as incertezas na minha vida no momento, uma coisa era certa: Eu nunca mais quero estar à mercê de alguém. E eu sentia uma satisfação e uma quietude mental inacreditável ao socar um saco de areia até não sentir os braços. E ultimamente, eu fazia o possível para não pensar. O toque gentil sobre a minha mão me tira dos meus pensamentos e percebo que nem vi Seth se mexer, até ele estar ao meu lado. — Vamos? Passo a mão pelos cabelos pela décima vez nessa última hora, lendo os relatórios enviados por Paula, minha nova assistente. Durante o processo de recuperação de Brooke passei a trabalhar do escritório de casa, precisando estar perto dela tanto quanto possível. Seth e Raffi também acabaram diminuindo suas turmas e passamos o primeiro mês praticamente intocados em casa. Dividimos nosso tempo entre cuidar da nossa mulher e caçar os cretinos que a feriram. Infelizmente, para nós, eles continuam se mantendo além do nosso alcance, mas não desistiríamos até fazê- los pagar. Porém com o passar do tempo, nossas obrigações começaram a cobrar seu preço e Raffi teve que retomar suas aulas, já que não tínhamos um substituto à altura para o curso de atirador de elite. A frustração de nossas buscas levou Seth de volta ao estúdio de tatuagem de Tristan quase todas as tardes. Meu telefone toca, me puxando para longe da espiral de preocupações que vive constantemente no meu cérebro. — Thorne. — Oi, chefe — Paula me cumprimenta do outro lado da linha. — Você pediu para eu te lembrar da reunião com os acionistas na quinta-feira. — Já é essa semana? — questiono, checando o calendário. — Sim, às 14:00h. O sargento Jefferson ligou mais uma vez, aparentemente ele está sob a impressão que você está o ignorando, eu expliquei que o senhor está muito ocupado e que vai retornar suas ligações tão cedo quanto possível. Sopro uma risada antes de lhe responder. Imaginando a expressão de meu antigo superior ao ser dispensado sem cerimônias. — E ele aceitou isso? — Não lhe dei espaço para protestar. — Como filha de militares, Paula cresceu rodeada de homens acostumados a serem obedecidos, mas com três irmãos mais velhos que também seguiram carreira nas Forças Armadas, ela tinha aprendido a lidar com eles com excelência. — Eu imagino —respondo, balançando a cabeça e vendo o texto pela metade na tela do meu computador. — Eu estava prestes a te enviar um e-mail com as instruções para os novos recrutas e com os selecionados para aqueles três novos trabalhos que começam na próxima semana. — Prefere me passar por telefone? — ela pergunta, ouço o som de teclas. — Não, não. Já está quase pronto — informo. — Tem alguma coisa na minha agenda pra hoje? — Hoje não, senhor. — Ótimo — declaro, checando as horas e vendo que não passam das 13:30. — Estarei te enviando o e-mail nos próximos minutos e vou tirar o resto da tarde de folga, sabe como me encontrar em caso de emergências. — Sim, senhor — ela responde prontamente. — Tenha um bom dia. Assim que aperto “enviar” no e-mail para minha assistente, a tela de meu celular se ilumina com notificações no que costumava ser o grupo administrativo da Hades’ Men, mas recentemente tinha se tornado onde meus irmãos e eu conversávamos sobre Brooke. Raffi tinha mandado um print da previsão de marés para Pleasure Point. Seguido de uma mensagem. Raffi: As ondas vão estar boas hoje. Raffi: É um bom dia para convencer a B. a sair de casa. Seth: Faria bem para ela. Raffi: Leva ela, Kyle! Põe ela no carro e leva pra praia. Digito a resposta, sentindo minha irritação aumentar com cada letra. Todo dia era a mesma ladainha. Kyle: Ela não quer ir! Ela não quer sair de casa. E se ela não quer, não vai. Simples assim. Eu não duvidava nem mesmo por um segundo da profundidade dos sentimentos que eles nutriam por ela, mas não conseguia entender como, nem porquê estavam se esforçando tanto em tirá-la de casa. Ela estava segura aqui. Nada pode alcançá-la dentro desses portões. Nossa segurança triplicou nos últimos dois meses, tudo para garantir sua proteção. Não que Brooke fosse uma prisioneira, longe disso, ela era livre para fazer o que bem entendesse. Mas depois de tudo que sofreu, a última coisa que consigo pensar em fazer é forçá-la a algo que não queira. É claro que o fato de que a loira tem preferido se manter em casa, acalma minha ansiedade. Nas noites em que eu perco o “pedra, papel, tesoura”[1] e sou forçado a dormir sozinho, sempre acordo em pânico que ela tenha sido tirada de mim mais uma vez. Como se isso não fosse estressante o suficiente, havia o maldito stalker e seu silêncio ensurdecedor. Desde o bilhete, logo que Brooke voltou pra casa, não houve novo contato, ou tentativa de entregar mais presentes. Não sabia se a pausa era por estar dando tempo para que ela se recuperasse, ou algum sinal milagroso de que tinha desistido. O que não parecia provável. Estávamos passando um pente fino por todas as pessoas na vida de Brooke, me sentia um canalha por suspeitar até de Olivia, mas não estava disposto a correr riscos. Checamos todos os colegas de trabalho de Brooke, nossos funcionários, todo mundo com quem ela já tenha tido contato estava sendo checado. A mensagem em tom acusatório chega. Raffi: Você nem mesmo perguntou pra ela. Kyle: Não preciso. O dia que ela quiser, ela vai pedir. Seth: Kyle... Kyle: Ela está se recuperando, no tempo dela, quando estiver pronta, simplesmente irá. Não adianta tentarmos apressá-la. Respondo e bloqueio o celular, vendo o rosto sorridente da minha loira preencher a tela. É uma foto de antes. Antes do seu sorriso fácil ter sido roubado. Antes de ela ter ido ao inferno e voltado. Antes de eu não ter sido capaz de protegê-la. A necessidade de tê-la em meus braços me faz levantar e procurá-la pela casa. Depois de checar que Brooke não está na cozinha, caminho até a sala, seus fiéis protetores, levantam a cabeça ao ouvir meus passos e me olham antes de voltar a observá-la. Ela ainda não notou minha presença, lendo alguma coisa em seu kindle. Sua distração me proporciona uma oportunidade rara de vê-la sem que ela se sinta analisada. Catalogo rapidamente como as suas olheiras estão mais pronunciadas, como seu rosto parece mais fino, mas são seus olhos, como sempre, que fazem meu coração se apertar. Existe uma devastação neles que me dilacera, porque, por mais que eu tente, não consigo expulsá-la, não definitivamente. Achei que tinha conhecido a dor na guerra, quando tinha sido baleado, esfaqueado e surrado, mas quando Brooke foi levada me deparei com um novo tipo de dor. Algo que parecia me gelar por dentro, era uma agonia que me impelia a agir. — Qual a leitura do dia? — pergunto, sobressaltando-a, fazendo com que largue o aparelho no colo e segure o peito. Cérbero late como se estivesse me repreendendo, sendo seguido pelos outros dois cães. — Que susto, Ky! Nem te ouvi chegar — ela reclama e sorri, ou tenta, seus lábios se curvam, mas o sentimento não alcança seus olhos. Eu me inclino beijando sua têmpora antes de sentar ao seu lado no sofá passando um braço por seus ombros e a puxando para mim, precisando do contato para me lembrar que isso é real, ela está realmente em casa. Brooke se encaixa com perfeição nos meus braços, como se tivesse sido feita para caber ali. — Mas então, que livro é esse? — repito, indicando o aparelho que mostra a capa com um jogador de futebol. — Ainda estou na metade, foi a Liv quem recomendou. É de uma autora brasileira, Camila Cocenza, sobre um jogador de futebol e uma jornalista. — Ela dá de ombros. — E tá gostando? — Estou aprendendo algumas coisas — diz, desviando o olhar, um rubor leve cobrindo suas bochechas e atiçando a minha curiosidade. — Sobre futebol? — questiono, arqueando uma sobrancelha em sua direção. — Não exatamente. — Ah, é? — seguro sua cintura e a puxo para meu colo, suas pernas abraçando meu quadril. — E o que exatamente você está aprendendo? Brooke levanta o olhar e com um sorriso travesso cola os lábios nos meus. O beijo começa calmo, porém o primeiro toque de sua língua contra a minha é o suficiente para libertar o desejo que sinto por ela. Minhas mãos descem até sua bunda apertando e pressionando seu corpo contra mim, nossas línguas em uma batalha em que os dois sairão vencedores. Brooke morde e suga meu lábio inferior, rebolando sobre meu pau de forma lasciva. Apagando todo e qualquer pensamento além da necessidade visceral de possui-la. — O que acha de me ensinar o que aprendeu? Ela segura a barra da camiseta mordendo o lábio inferior antes de retirar a peça expondo o sutiã preto que eu me adianto em retirar. Minha boca se fecha ao redor do mamilo rosado e Brooke arfa, empurrando o corpo ainda mais em minha direção, uma de minhas mãos massageia o outro seio e o gemido que deixa seus lábios só me deixa ainda mais duro. As mãos de Brooke tiram a minha camiseta, traçando o contorno dos meus músculos em uma carícia leve que causa arrepios pela minha pele. Volto a buscar sua boca, mas a loira se afasta, ficando de pé em minha frente, seus dedos trabalham no botão do seu short jeans, mas o rosnado baixo de um dos cães nos relembra de suas presenças. — Um segundo — ela me pede, antes de virar para eles e apontar para a porta, e simples assim os três se levantam e deixam a sala. Impressionante, eles parecem estar sempre sintonizados com ela. — Onde eu estava? — pergunta se voltando para mim e minhas mãos seguram seu quadril trazendo-a para mais perto, meus dedos deslizando pelo cós de seus short. — Ah, sim. Ela desce o zíper lentamente, meus olhos atentos aos seus movimentos, Brooke não prolonga meu sofrimento e retira a calcinha, chutando as duas peças para longe. Minha ereção exige libertação e eu não perco tempo ao me livrar da minha calça e cueca. A loira observa o meu corpo com tesão claro em sua expressão, ela lambe os lábios quando seu olhar recaí sobre meu pau. Puta que pariu, como a minha mulher é linda. — Vem cá — chamo, me deitando no sofá. Brooke se aproxima da minha cintura quando eu puxo sua mão, ela me olha confusa. — Senta aqui — peço, sorrindo. — Kyle... — Quero sentir seu gosto, Sunshine. Suas bochechas tingem de vermelho, mas ela se aproxima e parece estar pensando como atender o meu pedido, por isso seguro seus quadris e a puxo para cima de mim. Seus joelhos um de cada lado da minha cabeça. Deslizo a minha língua entre seus lábios, seu gosto doce preenche minha boca e seu gemido faz o meu pau latejar. Meus braços abraçam suas coxas a fazendo sentar na minha cara direito. Alterno entre lamber e chupar, dando atenção especial para seu clitóris do jeito que eu sei que ela gosta. Brooke começa a rebolar na minha cara, sua excitação escorrendo pela minha barba, seus gemidos se tornando mais altos conforme ela se aproxima do seu clímax. — Eu vou gozar — anuncia, como se eu não estivesse percebendo pela forma como suas coxas estão pressionando a minha cabeça, como se quisessem me impedir de sair, mas não existe outro lugar que eu gostaria de estar. Brooke explode sobre mim e eu bebo até a última gota de sua lubrificação. Quando eu sinto sua respiração acalmar, solto suas pernas e ela desliza pelo meu corpo, deixando um rastro de molhado pelo caminho. Ela para sobre meu abdômen, tão perto, mas ainda tão distante do meu pau que anseia por sua boceta. — Isso foi ainda melhor do que o normal — sussurra se inclinando e me beijando cheia de desejo. — Concordo e fico feliz, já que a minha função é te agradar — declaro, e é a mais pura verdade. — Mas eu ainda não terminei com você. — Achei que era pra eu te ensinar hoje — rebate. — O dia mal começou. Kyle me abraça, desenhando círculos preguiçosos na pele nua das minhas costas, nossas respirações desacelerando conforme os resquícios de prazer depois da terceira rodada vão se esvaindo. Ele beija meus cabelos e viro minha cabeça que repousava em seu peito para encará-lo. Sou recebida por seus olhos azuis escuros me fitando intensamente. — Gosto desses seus livros — ele me provoca. — Ah, é? — me estico, beijando seu queixo. — Qual seu trecho favorito? Ele abre a boca para responder, mas o toque do meu celular preenche o cômodo com sua melodia clássica. Procuro a fonte da melodia clássica e meu coração dá um mortal twist carpado digno das olimpíadas, no mesmo momento em que meu estômago parece afundar no meu corpo. Pois os rostos sorridentes de meus pais iluminam a tela me chamando em uma ligação de vídeo. — Merda. Merda. — Pulo do sofá revirando as roupas jogadas no chão em busca da minha blusa e de uma calcinha. Puta merda. — Kyle! — ralho com ele que continua deitado, rindo do meu desespero. — Você não precisa atender agora — diz condescendente. — Você conhece minha mãe. Helen Roberts não vai parar de me ligar até eu atendê-la e depois vai me interrogar pela demora — falo, achando a blusa e vestindo com pressa. Penteio meus cabelos com os dedos, mas decido que é mais seguro prendê-los em um coque. — Você precisa ir. — Eu moro aqui, Sunshine. — Ha Ha. — Rio sem humor. — E essa casa é uma mansão, então vaza. Eu não estou pronta para explicar sobre nós. — O toque pausa por poucos segundos antes de recomeçar. — Explicar o que? — ele pergunta se fazendo de desentendido, colocando um braço atrás da cabeça, flexionando o bíceps musculoso. — Você sabe muito bem. — Aponto do seu corpo deliciosamente nu para o meu. — Eles me conhecem, Brooke. Seus pais me adoram — o loiro responde, mas finalmente se senta. — E você acha que vão continuar assim depois que descobrirem que você está transando com a filha deles? — Sinceramente? — rebate, buscando a cueca boxer cinza e vestindo. — Acho que sim, mas como eu sou muito generoso... — Kyle se aproxima, apoiando as duas mãos no meu quadril e me puxando em sua direção, contornando minha boca com a língua antes de me beijar com rapidez e se afastar segurando meu lábio inferior com os dentes. — Essa é a terceira ou quarta chamada? — pergunta, um sorriso presunçoso no rosto, indicando o celular ainda no chão. — Sai daqui — reclamo dando um tapa em seu ombro e me abaixando para pegar o aparelho e me preparando psicologicamente para o interrogatório, e para fingir que tudo estava bem. Respiro fundo três vezes, antes de aceitar a chamada. — Oi, mamãe! — cumprimento-a. — Oi, papai! — adiciono quando o vejo entrar no frame do celular. — Onde você estava? Por que suas bochechas estão coradas? — ela começa desconfiada e eu reviro os olhos. Seu cabelo cai em ondas perfeitas e planejadas sobre os ombros, os olhos castanhos me olham de cima a baixo, seus lábios finos cobertos pelo seu clássico batom nude. — Deixa a menina, Helen. Como você está se sentindo, minha filha? — William Roberts, meu pai, interfere, passando um braço pelos ombros da esposa. Seus cabelos estão cada vez mais grisalhos e seus olhos do mesmo tom de verde dos meus se destacam na pele bronzeada por horas jogando golfe. — Eu estava na cozinha, preparando um sanduíche e me apressei quando ouvi o toque do celular, deve ser isso — respondo, checando que a bagunça no sofá ao meu lado não pode ser vista na câmera. — Estou melhor, papai, obrigada — forço um sorriso a se abrir em meus lábios. — Você não acha que seria uma boa ideia vir passar essa semana em casa? — minha mãe me pergunta. Meu pai concorda enfaticamente ao seu lado na sala de estar da minha casa de infância, seus olhares preocupados e a forma como procuram algo em meu rosto que os alerte para qualquer problema, me deixa tensa. O sorriso congelado em meus lábios chega a fazer minhas bochechas doerem. — Logo, vai voltar ao trabalho e não veio para Palo Alto nem uma vez. — Ela põe uma mecha de cabelo tão loiro quanto o meu atrás da orelha. Não a corrijo, ainda não lhe contei que não pretendo trabalhar esse ano. Não contei a ninguém, na verdade. — Essa semana não posso, mamãe — minto. — Ainda tenho retorno no médico — invento uma desculpa. — Eu sempre disse que aquele seu esporte era perigoso — ela comenta, torcendo os lábios, desgostosa. — Acidentes acontecem, Helen — meu pai rebate, sempre o pacifista. Acidentes, claro. Era isso que eles achavam que tinha acontecido, um simples acidente de surfe. Não tinha sido minha intenção mentir, mas quando minha impulsiva mãe decidiu fazer uma visita surpresa no meu primeiro fim de semana de férias e me encontrou cheia de hematomas, com costelas quebradas e os dedos arrebentados, não consegui pensar em outra coisa e quando vi já estava contando. O medo descrito era real, só não era real a sua fonte. — Papai, está certo. Prometo me cuidar de hoje em diante. — Era uma promessa, tanto para ela quanto para mim. Talvez ainda mais para mim. — Vou tentar me organizar para ir para casa em breve. Como está a dona Clotilde? — pergunto, mencionando uma das vizinhas que mora três casas depois da nossa. — Ah, você sabe como ela é — mamãe começa e meu pai rola os olhos. — Por algum acaso decidiu que mudaria seu jardim, e te dou três chances de adivinhar qual a flor escolhida — propõe. — Hortênsias — respondo com um sorriso de canto. Desde que me lembro minha mãe e Dona Clotilde parecem viver em um tipo de guerra fria. Qual das duas tem o jardim mais bem decorado para o natal? Para o Halloween? Era só uma delas decidir fazer algo que a outra logo mudava também. — Roxas! — minha mãe completa, indignada. — Nem mesmo mudou a cor. — Você deveria ver como uma forma de elogio, ela gostou tanto de ver as suas que colocou em frente a própria casa. — É o que eu tento dizer para ela todos os dias, Brooke — meu pai se pronuncia. — Vocês dois não entendem! — ela reclama e disparata a recontar todos os causos de que se lembra, meu pai e eu trocamos um olhar cúmplice. Mamãe está se recordando do fatídico dia de Ação de Graças há oito anos, quando Apolo pula no sofá, empurra a cabeça na frente da tela e lambe meu rosto, me desequilibrando com sua investida. Meu coração dispara quando checo a pequena caixa no canto do celular verificando que meus pais não viram que estou só de camiseta e calcinha no meio da sala. — O que foi, Apolo? Tá com fome? — pergunto para o cão em meu colo, acariciando seu pelo cinza. — Preciso desligar, mamãe. Eu amo vocês! Espero que eles me respondam e encerro a ligação, o sorriso falso evaporando do meu rosto. — Bom trabalho, garoto — elogio, afundando a minha cabeça em seu pescoço, abraçando seu tronco e me segurando ali, por um segundo. Me sinto exausta, somente falar com meus pais por telefone é o suficiente para drenar as minhas energias. Meu maior desejo é me enrolar no sofá e dormir, mas sei o que me espera quando fechar os olhos. Então suspiro profundamente antes de me levantar e arrumar a bagunça em que se encontra a sala. Quando tudo está de volta aos seus devidos lugares, me acomodo novamente em meu lugar, pegando meu celular e o meu kindle, ansiosa para retornar a minha leitura. Mas quando checo minhas notificações vejo quase dez mensagens da minha melhor amiga. Liv: Vamos ao shopping essa semana? Liv: Você não pode me ignorar pra sempre, sabe? Exagerada, eu nem estava a ignorando. Nos falávamos todos os dias, mas como ela é ansiosa e eu não a respondi nos primeiros dez minutos depois que me mandou mensagem, já parte pro surto. Liv: Todas as nossas lojas favoritas estão com promoção! Liv: Eu sei que você não acha que está pronta para sair de casa ainda, mas só vai saber se tentar. Liv: Prometo que voltamos a qualquer momento. Liv: Sem perguntas, sem cobranças, sem expectativa. Olivia Jones me conhece tão bem que ela sabe que meu medo não é apenas sair de casa, mas sair e falhar. Não conseguir lidar com o mundo além dos portões da minha casa, da minha fortaleza. Liv: Você é mais forte do que imagina. Liv: Pelo menos me promete que vai pensar? Isso eu podia fazer, podia pensar sobre o assunto, podia tentar. Assim que entro em casa ouço o som inconfundível de patas correndo para me receber. Nossos três cachorros aparecem no segundo seguinte e depois de se empurrar para ganhar carinho atrás das orelhas. voltam para a cozinha de onde vieram. Caminho em seu encalço sabendo que onde quer que eles estejam indo, Brooke estará. A melodia melancólica me alcança antes de eu vê-la. A loira tem os cabelos presos em um rabo de cavalo e balança a corpo ao compasso da música, cantarolando enquanto mexe algo em uma panela de costas para mim. A tristeza em sua voz estilhaça algo em mim, é a dor pura que ela só se permite expressar quando acredita estar completamente sozinha. A necessidade de lhe arrancar um sorriso, de curar seu coração, de fazê-la esquecer a dor nem que seja por apenas um segundo é tudo em que consigo pensar enquanto me aproximo. — Vai queimar nosso jantar de novo, babygirl? — brinco antes de subir a mão por sua nuca vendo sua pele se arrepiar. — Foi uma vez, Rafael! — protesta, se virando com a colher de pau na mão. — E se eu bem me lembro a culpa foi inteiramente sua, que me distraiu — ela me acusa, apontando com a colher em minha direção, respingando molho vermelho em minha camiseta. — Você não reclamou da distração quando a minha cara estava enfiada entre as suas pernas — provoco vendo suas bochechas enrubescerem com a resposta, apoio as mãos em sua cintura e a puxo para mim, depositando um beijo na ponta de seu nariz. — Sai daqui, sai — ela dá um tapa no meu ombro, mas não se afasta, pelo contrário seu corpo se molda ao meu. — Tem certeza que você não precisa se distrair hoje também? — murmuro com minha boca pairando sobre a dela. Ela fecha os olhos, e seus lábios se partem em um suspiro que é o único convite que eu preciso para acabar com a mínima distância entre nós. Chupo seus lábios antes de deixar minha língua livre para explorar cada canto de sua boca. O primeiro toque de sua língua contra a minha acende meu corpo, incendiando o meu tesão por ela. Brooke chupa meus lábios com luxúria, inclinando o rosto para aprofundar o beijo, mas eu quero mais. Preciso de mais dela, da sua pele, do seu gosto. Minhas mãos encontram sua bunda com facilidade e a aperto, puxo Brooke para meu colo, suas pernas se enrolando ao redor da minha cintura antes de apoiá-la contra a bancada da cozinha. Ouço o barulho da colher caindo contra o granito quando ela a larga, para agarrar minha nuca e puxar meus cabelos soltos. A pontada de dor desce pela minha coluna se acumulando no meu pau que já endurece e demanda a sensação de estar completamente enterrado nela. Começo a trilhar beijos por seu pescoço, descendo para seu colo. Agradecendo aos deuses por ela estar usando uma das blusas de alcinha que não oferecem nenhuma obstrução. Seu corpo se contorce de prazer sob meus dedos. Nesses momentos em que a tenho nos meus braços, quase consigo fingir que ela nunca foi arrancada deles. Me afogo na sensação de sua pele macia contra a minha, no seu perfume floral, nos sons de prazer deliciosos que escapam sua garganta. Mordo sua clavícula de leve, antes de levantar meu rosto e encarar a imensidão verde de seus olhos enebriados de tesão. — Achei que não iria se distrair — provoco, sem conseguir me conter e me esquivo do tapa que vem em minha direção. — E eu falei que sempre que me distraio a culpa é sua — salienta, antes de puxar minha cabeça de volta para a sua, nossos lábios se chocam, mas antes que eu possa aprofundar o beijo, ela me empurra e pula da bancada. Quando me viro, vejo a nuvem de fumaça branca saindo da panela. — Isso é culpa sua! — ralha comigo. — Deixa isso de lado, babygirl, podemos sempre pedir uma pizza — declaro, abraçando sua cintura e esfregando minha ereção contra sua bunda, enquanto espio o conteúdo da panela que ela mexe fervorosamente. — Não, eu consigo consertar — ela baixa o fogo e se vira nos meus braços, erguendo a cabeça para me encarar. — Mas não se você ficar aqui me atiçando, então vai caçar o que fazer. — Ela me expulsa da cozinha com um gesto das mãos. — Mas e se eu quiser caçar você? — provoco, me inclinando e sugando seu lábio inferior, mordendo-o em seguida. — Vai ficar sem jantar — ela rebate prontamente. — Tenho minhas dúvidas quanto a isso — ela ergue uma sobrancelha, como se me desafiasse a continuar. Ela já deveria me conhecer melhor do que isso. — Você é uma refeição completa, babygirl. — Você é impossível — ela reclama, desviando o olhar. — E você está queimando a comida de novo — debocho. — Merda, que inferno, puta que pariu também… —A atenção da loira se volta para o fogão com rapidez, a mudança em seu tom atraindo a atenção dos cães que levantam as cabeças olhando dela para mim. Começo a rir e recebo um olhar mortal em resposta, levanto as mãos em rendição e deixo a cozinha. Ajusto meu pau frustrado nas calças, suas reclamações me acompanham até a metade do corredor, e posso jurar que ela fala com os cães algo parecido com: “depois a culpa é minha, mas quem consegue se concentrar com um homem daqueles tocando na gente?”. Pelo menos é isso que eu entendo e o sorriso orgulhoso que se espalha por meus lábios só deixa meu rosto quando me acomodo na minha cadeira no escritório, onde meus irmãos já estão. A tensão é palpável e tão logo eu entro ela me contamina, meu corpo enrijece como se estivesse se preparando para a próxima batalha. Kyle acena com a cabeça em minha direção e volta a encarar o caçula que está sentado na poltrona ao meu lado, lendo algum documento com a testa franzida. — Isso não pode estar certo — Seth murmura, colocando o papel sobre a mesa. — Já chequei três vezes — o loiro declara, cruzando as mãos sobre a mesa. Seu olhar recai sobre mim, seu tom duro quando continua: — Patrick não aparece no trabalho há dois meses. O apartamento que ele e Brooke dividiam está vazio e não há atividade em seus cartões. — Você não acha mesmo que o stalker pode ser o Patrick? — pergunto, incredulidade colorindo a minha voz. Num primeiro momento, quando ficou claro que o perseguidor de Brooke não estava ligado com os nossos ex-funcionários, Patrick passou pela minha cabeça, claro que sim, mas havia uma razão para eu tê-lo descartado. — Gostaria de poder afirmar com absoluta confiança que ele não é, mas essa é a primeira pista concreta que temos em meses — Kyle me responde. — Mas nós investigamos seus antecedentes quando eles se envolveram — protesto. A pesquisa tinha coberto até mesmo os nomes de suas professoras do jardim de infância. Ele não era uma ameaça, não a merecia, mas nem por um momento consideramos que pudesse lhe fazer algum mal. — Eu sei, Raffi — Kyle responde, a frustração evidente na cadência de suas palavras. — Mas é extremamente suspeito que ele tenha sumido logo após a última carta do stalker. E registros podem ser alterados, tem algo extremamente errado aqui. — Nunca fui com a cara de mierda dele mesmo — declaro. Minha mente repassando todas as memórias que tenho do cretino, sinto meu estômago embrulhar quando lembro das mãos imundas dele sobre Brooke. Seth esfrega uma mão sobre o rosto, exalando ruidosamente. — É isso, precisamos contar para ela — seu tom é digno de um enterro. — Nem pensar — Kyle protesta antes mesmo do caçula terminar a frase. — Seja racional, irmão — Seth rebate. — Por mais que me doa concordar, ele está certo — declaro. A ideia de fazer Brooke revisitar os acontecimentos do início do verão, fazem meu estômago revirar. Uma mistura de culpa, preocupação e insuficiência se mesclando dentro de mim até formar um nó na minha garganta. Porém, se isso for lhe dar uma proteção e segurança maior, preciso engolir meu orgulho e colocar o seu bem-estar em primeiro lugar. — Vocês perderam a noção — o loiro esbraveja. — Ela não sai de casa, está perfeitamente segura, ninguém pode feri-la aqui. — Ele abre os braços com violência, englobando a sala. — Não existe razão para preocupá-la, nem mesmo temos certeza que é ele. Nós três podemos resolver isso — conclui, suas palavras se atropelam, sua ansiedade em nos convencer, ou talvez convencer a si mesmo. — Foi o que dissemos dois meses atrás, e não estamos mais perto hoje do que estávamos naquele dia — Seth diz, seus punhos se abrindo e fechando. — Se o stalker for mesmo Patrick e Brooke encontrá-lo, ela pode baixar a guarda. Até agora ele não demonstrou tendências violentas, mas isso não é garantia que depois de tanto tempo esperando, observando, não evoluirá para tal. — Fora que ela precisa começar a sair de casa, Kyle — reforço. — Brooke precisa recuperar sua independência, não estamos ajudando ao confiná-la nessa casa. — Ela não quer sair, porra! — Quando foi a última vez que perguntou? — Seth questiona. — Ela está por um fio, Thorne. Ela não dorme por mais do que poucas horas, seus pesadelos são constantes. Ela mal está conseguindo se manter funcionando. O verão praticamente acabou e ela não surfou nenhuma vez, quando foi a última vez que isso aconteceu? — A impotência me corta como navalha, a mulher que eu amo está sofrendo e não posso fazer nada, meu olhar recai sobre Seth. — Como você conseguiu? — pergunto, encarando seus olhos azuis confusos. — Depois de Kandahar... — esclareço e a culpa me preenche quando vejo seu olhar endurecer, o maxilar travar, seus braços caem ao seu lado, inertes. Pelas últimas semanas debati sobre fazer essa pergunta, sobre arrastar o caçula para esse inferno de memórias. Mas, infelizmente, nosso irmão é o único que entende realmente o que Brooke está passando. O que ele viveu foi exponencialmente pior, é claro. Ao contrário dos três dias que a loira sofreu, o caçula tinha ficado em cativeiro por 97 dias. Seth respira profundamente algumas vezes. Meu instinto é pedir desculpas, dizer que ele não precisa contar se não estiver pronto, lhe dar espaço como tenho feito por todos esses anos. Kyle o observa em silêncio, a veia em sua têmpora saltando como se ele enfrentasse o mesmo dilema. — Brooke — ele sussurra por fim, reverência em sua voz, sua expressão perdida em memórias. — Vocês me deixaram em paz, me deram espaço porque foi isso que eu pedi, mas não era o que eu precisava — começa, a voz distante. — Brooke, não. Eu também não sabia que essa seria a chave, até acontecer. Ele abre a boca como se fosse continuar, algo em seus olhos muda, como se ele reconsiderasse, o início de um sorriso aparece no canto de seus lábios, mas ele não divide o que quer que seja que passou pela sua cabeça, pelo contrário se volta para Kyle e declara: — Uma hora ou outra, ela vai precisar sair. — Vou retomar seu treinamento de tiro — digo e Seth meneia a cabeça concordando. Ela voltou aos poucos ao treinamento físico com o caçula, mas como não temos um ambiente controlado dentro de casa para a prática com armas, esse ficou em suspenso. Se for honesto comigo mesmo, tive medo de levá-la de volta, a última vez que atirou foi quando matou aquele hijo de puta que a tinha torturado. Não queria forçá-la a confrontar aquela lembrança. Minha atenção vai para Kyle que balança a cabeça ligeiramente e sorrio, passei os últimos dias reclamando de como ele vem agindo e, a minha maneira, tenho feito o mesmo. — E nós não poderemos sempre estar com ela — Seth continua, olhando de mim para nosso irmão. — No fundo você sabe que estamos certos, pode não querer admitir. Não gosto disso tanto quanto você, mas é melhor estarmos preparados, do que viver numa ilusão. Os ombros do loiro cedem, não sei se é a revelação de Seth, ou a verdade por trás de suas palavras que finalmente o convencem. — Não posso perdê-la de novo — confessa em um sussurro que quase não escuto. O sentimento ecoa em mim. — Não vamos — respondo, por fim. A convicção em minha voz surpreende até mesmo a mim. — Seth está certo, nem sempre um de nós poderá estar com ela, afinal, temos os nossos trabalhos e ela tem o dela, mas nós somos donos da melhor empresa de segurança do país. Com certeza, um dos nossos homens pode assumir o posto de sombra dela, quando não pudermos. — Temos tudo preparado para as turmas que começam na próxima semana? — Kyle pergunta olhando para Raffi. — Quase tudo. Paula veio me falar que dois dos novos recrutas ainda não fizeram os exames admissionais, mas se você está perguntando das instalações, tudo está em ordem, a última inspeção de segurança foi hoje e tudo foi aprovado. — Eles instalaram o equipamento novo na academia? — Seth questiona. — Eu acho que sim, não desci para conferir. — Tudo bem, eu passo na sede amanhã antes de ir pro estúdio. Tenho alguns clientes marcados para tatuar na quinta-feira. É uma cena tão cotidiana, tão normal vê-los discutindo sobre o trabalho. Mas sinto meu coração se encher até doer, mas é uma dor boa, um lembrete de que estou aqui com eles, podendo curtir um jantar quase tranquilo na nossa casa. Esses três homens são os pilares da minha vida há tanto tempo. Nem nos sonhos mais absurdos da Brooke de 14 anos eu me imaginei em uma relação com os três, mas aqui estamos quase cinco meses depois do dia em que me mudei, e não consigo nem mesmo visualizar algo diferente do que vivo com eles. O mesmo reconhecimento do dia em que eles me buscaram me preenche, a sensação de que cada passo que eu dei sempre foi para me trazer para cá, para eles. E é por isso que você tem mentido para eles? o pensamento cruel me corta. Não estou mentindo, estou esperando o momento certo. Justifico para mim mesma. Meu olhar vai de Seth para Raffi e então Kyle, rindo sobre alguma piada que eu não ouvi enquanto estava perdida em pensamentos. O loiro inclina a cabeça, me olhando com atenção, como se pudesse perceber a diferença em meu humor. — O que foi, Sunshine? — Preciso contar algo para vocês. — Minha declaração é recebida pelo som dos talheres batendo na cerâmica, e sinto seus olhares sobre mim. — Não é nada sério — aviso. Meu coração começa a acelerar e não sei porque estou tão nervosa. — Eu decidi tirar um ano sabático, não voltarei a escola Greenbriar em setembro — declaro pela primeira vez em voz alta, as palavras parecem retirar toneladas dos meus ombros. — Acho que é uma ótima decisão, Abelhinha — Seth diz, sua mão envolvendo a minha sobre a mesa. — A sua saúde sempre será a prioridade — Raffi concorda. — Realmente depois de tudo que aconteceu, você merece tirar o tempo que precisar — Kyle adiciona. — Já informou à escola? — Sim, na semana passada — respondo, desviando o olhar para o meu prato. — Não sabia como contar para vocês, mas não queria ter uma mentira entre nós — declaro e os três se entreolham. O clima na sala de jantar muda em um instante, uma tensão parece tomar todos eles, que se reacomodam em suas cadeiras como se estivessem subitamente desconfortáveis. Eles continuam sua conversa silenciosa só com olhares, uma angústia inquietante começa a se espalhar pelo meu corpo e só percebo que comecei a tremer quando a mão de Seth aperta a minha atraindo minha atenção para ele. Seus olhos cheios de preocupação encontrando os meus. — O que foi? — pergunto. É Kyle que responde e me viro para ele. — Brooke, lembra os presentes que você estava recebendo? — Seu tom é o mesmo que ele tinha quando eu era criança e ele veio me contar que tinha atropelado minha boneca favorita com sua bicicleta cheia de lama. Já sabia que, o que estava prestes a me contar não era coisa boa, como se toda a tensão que poderia ser cortada com uma faca não servisse de indicação suficiente. — O que tem eles? — minha perna começa a balançar involuntariamente. — Eram pegadinhas dos caras que... — meus olhos ardem e sou obrigada a piscar várias vezes para espantar as lágrimas. — Essa tinha sido a nossa primeira impressão também — Kyle continua, ele parece engolir em seco antes de continuar. — Mas a última carta nos fez perceber que tínhamos errado. Meu coração começa a martelar. — Que carta? — pergunto. — Depois que você voltou pra casa, recebeu mais uma carta, um bilhete na verdade — Raffi explica. — Ficou claro que os presentes não tinham sido das mesmas pessoas que orquestraram o seu... — Seth hesita, respirando fundo antes de completar. — Sequestro. Aquela palavra me transporta de volta ao armazém fedido e quase sinto minhas costelas se quebrando novamente, cerro meus punhos por instinto, tentando proteger meus dedos de uma ameaça que já não existe mais. Eu tinha garantido isso, não tinha? Balanço a minha cabeça espantando a memória e tento dar sentido as suas palavras. — Outra pessoa? Os três meneiam a cabeça. — Quem? Por quê? — As perguntas deixam a minha boca na mesma velocidade em que as penso. — O que essa pessoa quer de mim? Por que eu? Sinto o ar começar a faltar, as paredes parecem estar se fechando ao meu redor, e o tecido macio da minha blusa começa a me pinicar. Não lembro de dar o comando ao meu cérebro para que eu me levantasse, mas quando me dou conta já estou de pé e me afastando da mesa. Nem sei para onde pretendia ir, mas minha mente finalmente compreende o que eles estão dizendo e eu paraliso no lugar. Preciso perguntar, só para o caso de estar errada. Por favor, Deus, que eu esteja errada. — Eu estava sendo seguida? — o pavor em minha voz me assusta, Seth aperta a minha mão mais uma vez, me ancorando no presente, me lembrando sem usar quaisquer palavras que estou segura, estou em casa. — Não sabemos o motivo, Sunshine. Mas acredite em mim, estamos fazendo tudo ao nosso alcance para descobrir quem está por trás disso. — Kyle se levanta, contornando a mesa para me abraçar, assim que seus braços me envolvem sinto uma parte da aflição me deixar e meus pulmões parecem se encher de ar finalmente. — Temos um suspeito — Raffi diz, também se levantando e se aproximando. Os três me rodeiam e a inquietação que estava prestes a me dilacerar parece evaporar. — O que você sabe sobre Patrick? — O Patrick? Não — descarto rapidamente, mas aquela voz que sempre duvida de tudo me lembra que os presentes eram extremamente pessoais. Indicando que a pessoa me conhecia muito bem, mas não pode ser. Patrick era um péssimo namorado, consigo enxergar isso agora, mas ele não é esse tipo de homem— Ele nasceu aqui em San Jose, os pais morreram em um acidente no verão antes de começar a universidade, não tem irmãos e tem um tio que mora longe com quem ele não tem contato — respondo, com tudo que eu me lembro. Ignoro as coisas que não são relevantes e que ainda não esqueci como a sua cor favorita é vermelho, seu prato preferido é yakissoba e como ele adorava assistir filmes de suspense em tardes chuvosas. — Bate com o que temos em sua ficha — Seth diz, virando o rosto para encarar Kyle. — Peraí, vocês têm fichas? — dou um passo para trás, me afastando do peito do loiro. — Falei que estávamos fazendo tudo para descobrir quem está por trás disso, então enquanto seguimos na busca pelos culpados pelo que aconteceu — seu olhar endurece, deixando claro a que se refere. — Também estamos investigando todo mundo que pode ser o seu perseguidor. — Todo mundo, quem, exatamente? — Todo mundo com quem você tem ou teve contato nos últimos cinco anos — É Raffi quem me responde. — Não podem estar falando sério. Isso cobriria meus anos na universidade, são centenas de pessoas. — Dou um passo para trás incrédula. — Por isso está levando mais tempo do que tínhamos antecipado. Nossa esperança era resolver tudo sem ter que preocupá-la — Kyle diz, suas mãos sobem pelos meus braços até parar nos meus ombros. — Eu sei que antes você sempre foi contra ter um segurança, mas... — É necessário, eu entendo — interrompo-o. Afinal, sempre soube que essa conversa chegaria, e se for honesta depois da informação dramática de que eu estava sendo seguida por meses, me sentirei mais segura se não estiver sozinha. — Mas achei que vocês fariam esse papel. Raffi ri e suas mãos envolvem a minha cintura me puxando para mais perto dele. — Achou foi? — indaga ainda rindo. — Claro. De que adianta eu ter três n... ex-fuzileiros de elite por perto? — corrijo rapidamente, dando de ombros como se não tivesse quase deixado escapar a palavra namorados. Nunca demos um nome para o que somos um para o outro, mas em algum momento eles deixaram de ser apenas meus amigos e essa foi a única forma que encontrei para descrever o que eles são para mim. Por favor, Deus, que eles não tenham notado a minha hesitação. — A ideia é que seu segurança seja o nosso reserva, ele vai te acompanhar quando um de nós não puder estar com você — Kyle me explica. — E já tem alguém em mente? — pergunto. — Sim, Ethan Hart. Ele é um dos nossos melhores funcionários, seu histórico é exemplar. Amanhã ele virá se apresentar — o caçula me conta. Tento lembrar se já conheci algum Ethan, mas não consigo ligar o nome a nenhum rosto. — Ele também é um como você nos chamou — Kyle brinca. — Ah, ex-fuzileiro de elite, mas ele é mais novo do que nós. Acho que ele é só um ou dois anos mais velho do que você, Brooke. — Sim, sim, ele é ótimo. Não é melhor do que nós, claro — Raffi diz, cheio de si e dá um passo para trás me levando com ele. — Quem chegar primeiro na sala escolhe o filme hoje — anuncia, me soltando. Os outros dois se adiantam para o corredor, o alvoroço agitando os cães que dormiam pacificamente no canto fazendo com que corram para se juntar aos donos. Ethan Hart é lindo. Esse é o primeiro pensamento que cruza minha mente quando o homem entra na sala, o cabelo loiro raspado quase rente a sua cabeça e a barba curta e bem cuidada emolduram seu rosto, mas o que captura a minha atenção são seus olhos verdes, ou eles eram azuis? A cor era tão clara que dependendo de como a luz da sala refletia neles, eles pareciam mudar de tom. Largo meu kindle no sofá e me levanto relutante dos braços de Seth que pausa o episódio da série que estava assistindo e também fica de pé. Sua mão repousando na base da minha coluna, me reassegurando de sua presença, da minha segurança. — Brooke, esse é Ethan Hart — Kyle o apresenta, como se eu não soubesse que ele viria hoje, ou não tivessem me mostrado sua ficha de manhã. — Ethan, essa é Brooke, minha namorada. Namorada? Meu cérebro fica repetindo essa palavra sem parar e só me dou conta de que Rafael se juntou a nós quando ele toca de leve meu braço, me trazendo de volta ao presente, apenas para me tirar do eixo novamente com suas próximas palavras: — Nossa namorada — corrige, meu olhar dispara para ele que sorri piscando um olho em minha direção, e a mão de Seth me aperta em resposta, como se concordando. Meu coração parece dar três saltos no peito, sinto minhas bochechas corarem com a forma casual como eles me chamam de namorada, como se fosse óbvio. Ontem mesmo eu fiquei insegura de me referir à eles dessa forma. Tento ficar chateada, nem conheço o homem à minha frente e sei que a sociedade não aceita muito bem relacionamentos fora do padrão, porém é impossível quando a alegria abafa qualquer outro sentimento e sinto meus lábios se abrirem em um sorriso. Mas, apesar do meu medo, meu novo segurança sorri em resposta e estica o braço para me cumprimentar. — É um prazer conhecê-la, Brooke. — O prazer é meu — aperto sua mão. — O que fez para ser castigado sendo minha sombra? — Não é um castigo, é uma honra — Seu olhar se desvia para os meus namorados, minha eu interno bate palmas por poder usar com confiança o termo e vejo na expressão de Ethan toda a admiração que tem por eles. Ainda com a atenção sobre os seus chefes ele continua: — Prometo guardá-la com a minha própria vida. — Sabemos disso, Ethan — Kyle aperta o ombro dele. — Não esperávamos nada diferente — Seth acrescenta. — Mas, como vamos te explicar, vai ser um trabalho bem tranquilo — Raffi diz, passando um braço pelos ombros de Ethan e o guiando para o cômodo adjacente, oferecendo uma das cadeiras em volta da longa mesa. — Namorada, é? — indago em um sussurro quando ficamos só eu, Seth e Kyle. O loiro se vira para mim e arqueia uma sobrancelha. — Errei? Torço os lábios, fingindo pensar. — Só fui pega de surpresa — respondo, virando o rosto para encarar Seth. — Você está de acordo com isso? Sua resposta é subir a mão pela minha coluna, me causando calafrios até alcançar minha nuca e me puxar para ele. Sua boca se choca contra a minha e sua língua força passagem por entre meus lábios, sinto meu corpo inteiro explodir em calor com o simples toque da sua língua contra a minha. É um beijo rápido, mas avassalador, com Seth explorando cada canto de minha boca antes de se afastar, trazendo meu lábio inferior entre seus dentes e mordendo-o em seguida até que eu sinta uma pontada de dor que viaja diretamente até meu ventre. — Vou aceitar isso como um sim — murmuro e seu lábio se curva ligeiramente. — Deveria. — Seth me dá mais um selinho. — Vamos? — convida, segurando a minha mão e me acompanhando até a sala. Ele puxa uma cadeira e espera que eu me sente ao lado de Kyle antes de tomar seu lugar do meu outro lado. Raffi está resumindo os acontecimentos do início do verão e me forço a respirar normalmente. O ar entra. Sai. Entra. Sai. Estou em casa, repito mentalmente. A mão quente de Kyle aperta o meu joelho sob a mesa e instantaneamente me sinto relaxada. Eles conversam sobre os presentes, as suspeitas, e o motivo pelo qual decidiram que eu precisava de um segurança. Ouvir as coisas que me aconteceram pela perspectiva deles torna tudo mais ameaçador, e, de alguma forma, mais real. É libertador ter meus medos e sentimentos validados. Não é de se admirar que eu não consiga dormir. Eles continuam discutindo as tarefas que seriam a responsabilidade de Ethan e sua atenção e determinação é visível. Assim como os rapazes, ele também vivenciou o combate, seu histórico é exemplar e ele recebeu muitas honrarias quando se afastou do exército. O toque do celular de Kyle me faz pular na cadeira, sobressaltada. — Desculpem, é trabalho, eu preciso atender — ele diz, se levantando e beijando minha têmpora antes de aceitar a chamada. — Thorne. — Alguma pergunta? — Seth questiona. — Quando eu começo? Raffi e Seth me olham, mas um outro celular tocando me salva de ter que responder. Levo alguns segundos para perceber que é o meu. O identificador de chamadas diz que é a guarita. — Desculpem. — Me levanto, aceitando a chamada. — Alô? — Boa tarde, senhorita Brooke — Cumprimenta Damien, um dos guardas. — A senhorita Jones está aqui para vê-la. — Olívia? — Sim, senhorita. — Já pedi mil vezes para me chamar de Brooke, mas ele insiste na formalidade. — Ela disse que veio buscar a senhorita, que vocês têm planos para hoje, posso deixá-la entrar? Consigo ouvir minha melhor amiga gritar ao fundo: — Era surpresa, Damien, meu deus! — ela continua reclamando, mas seu som fica abafado, como se o guarda tivesse se afastado dela. — Deixe-a entrar, Damien — respondo, mas minha mente tenta lembrar de ter marcado algo com Olívia, mas não consigo recordar de nada, a não ser o dia em que disse que concordei em pensar em ir com ela para o shopping. Ela não viria me buscar pessoalmente, quem eu queria enganar? É claro que ela viria. — O que foi, babygirl? — Raffi pergunta, preocupação em seu tom. — Quem era? — Seth pressiona. — Liv. Acho que ela cansou das minhas desculpas e falsas promessas e veio me arrastar para longe de casa — informo. — Pode ser uma boa ideia, Brooke — Raffi diz, me encorajando. — Vou ligar para a sede e pedir para alguém cobrir as minhas aulas de hoje — adiciona já retirando o celular do bolso. — Eu falo com o Tristan, tenho certeza que ele consegue remarcar meus horários de hoje — Seth acrescenta. — Ficaram doidos? É claro que não vão cancelar nada, acabaram de me apresentar meu novo segurança precisamente para situações como essa, eu vou com a Liv e vocês dois vão trabalhar. — Tatuar é um hobby, não preciso ir hoje — Seth protesta. — Você tem clientes marcados? — Ele meneia a cabeça. — Tristan está contando com você? — Ele concorda mais uma vez, resignado. — E você vai deixá-lo na mão para ir passear no shopping por horas com a Olivia? — Por você? Vou a qualquer lugar, Abelhinha. Meu coração chega a errar a batida com a convicção em suas palavras, em sua expressão, me levando de volta ao dia do meu resgate e a promessa que ele me fez naquele dia: “A partir de agora, sempre que se sentir perdida na escuridão, estenda a mão e eu estarei lá”. Me viro para Ethan antes que meus namorados consigam me fazer mudar de ideia, sei que preciso fazer isso. — O que você acha de começar hoje, Ethan? — Minha agenda está livre, Senhorita Roberts. — Brooke, só Brooke — corrijo. — Agora, se me dão licença, preciso receber minha melhor amiga. Sigo para o hall de entrada, ouvindo os latidos dos cães que ficaram do lado de fora para que pudéssemos receber Ethan, parece que eles encontraram Liv antes de mim. Quando abro a porta ela está agachada, os cabelos escondendo seu rosto enquanto tenta dar carinho para os três ao mesmo tempo. Apolo é o primeiro a notar a minha presença e correr ao meu encontro. — Oi, garoto. — Aí está ela! Já tinha até me esquecido da sua aparência — Liv me cumprimenta, ficando de pé e vindo me abraçar ao mesmo tempo em que Cérbero e Banguela vem cheirar minhas pernas. — Exagerada, nos falamos por chamada de vídeo ontem. — Meus braços a envolvem e me dou conta do quanto senti falta da morena. — Não é a mesma coisa — ela resmunga contra meu cabelo. — Eu sei — concordo, apertando-a ainda mais. — Suas costelas já estão curadas, então? — pergunta quando nos afastamos e meneio a cabeça, entrando em casa. Ela suspira e segura a minha mão. — Eu sei que você está insegura de sair, mas não pode fugir do mundo para sempre, B. Vamos dar uma volta, prometo que se a qualquer momento você quiser voltar, entramos no carro e voltamos. Sem julgamentos, sem cobranças, podemos só ir ao drive thru daquela cafeteria no centro. O que você quiser! Seu olhar está cheio de determinação, mas além disso vejo aceitação e amor. — Tudo bem — concordo, e ela se mostra surpresa com a rapidez com que aceitei A verdade é que eu realmente passei os últimos dias contemplando como disse que faria. E o fato de que ela veio até aqui... não consigo decepcioná-la. E saber que eu tenho a opção de voltar a qualquer momento é um alívio. — Mas não iremos sozinhas. — Tá, quanto mais melhor. Qual dos seus protetores vai nos acompanhar? Sorrio, sem responder, ansiosa por ver a reação dela ao meu novo segurança. A cada poucos passos, Liv se vira para encarar Ethan que caminha atrás de nós. Ela enlaça o braço no meu e se aproxima, sussurrando: — O que é que eles comem na Hades’ Men? Ou ser gostoso é algum pré-requisito para ser contratado? Começo a rir e me viro para ela no mesmo instante que um grupo de homens sai de uma loja de artigos esportivos esbarrando em nós. Mal registro seus pedidos educados de desculpas, o som dos meus batimentos cardíacos acelerados abafando tudo ao meu redor e minha respiração fica presa na garganta. É claro que o shopping estaria lotado, todas as lojas estão com promoções de fim de verão e as pessoas estão aproveitando o ar condicionado para se refrescar do calor que não dá trégua do lado de fora. Talvez esse não tenha sido o melhor lugar para ir na minha primeira vez fora de casa. Liv esfrega meu braço chamando a minha atenção, me viro para ela encontrando seus olhos azuis cheios de preocupação. Ela meneia a cabeça como se perguntasse se estou bem. — Brooke? — Ethan se aproxima e minha amiga o olha de relance, como se não conseguisse se conter. — Tudo certo — minto, e enquanto Ethan meneia a cabeça voltando a se colocar a um passo de distância, minha amiga arqueia a sobrancelha deixando claro que não a enganei. — Só me assustei, onde você quer ir primeiro? — Preciso comprar roupas novas pra combinar com meu novo cargo de designer! — Está falando sério? Eles finalmente te contrataram? — pergunto enquanto a abraço, um sorriso tão grande em meu rosto que minhas bochechas doem. — Não. — ela se afasta, torcendo os lábios antes de continuar. — Eles nunca me contratariam. Isso ficou evidente quando, ao invés de me promoverem, eles contrataram outro cara recém-formado. Então comecei a mandar currículos, ontem fui a uma entrevista, e me ligaram hoje avisando que consegui a vaga. — Estou tão feliz por você! — Abraço-a novamente. — Tenho certeza que você vai arrasar. — Obrigada, quando recebi a notícia só consegui pensar em te contar, você sempre me apoiou e incentivou. Foi por isso que fui te buscar, queria você comigo para celebrar! — Ela enlaça meu braço mais uma vez. — Isso me lembra que vamos poder almoçar juntas todos os dias! O escritório fica a poucas quadras da escola. — Não vou trabalhar esse ano, Liv, pedi para tirar um ano sabático. — É uma decisão inteligente — ela responde. — Você já se decidiu sobre a terapia? — Ainda não. Um passo de cada vez, Liv — declaro. Liv não sabe os detalhes do que aconteceu, mas quando ela me visitou meus ferimentos e a mentira dos rapazes não batiam, então lhe contei uma versão resumida. Naquela noite ela me mandou o contato de uma psicóloga, uma tal de doutora Luana Masseria que atendia remotamente, e desde então volta e meia ela toca no assunto. — Tudo bem, por hora um pouco de terapia em forma de compras vai ter que servir! Voltamos a caminhar, e Liv olha para trás mais uma vez e suspira. — Às vezes é difícil ser sua amiga, sabia? — comenta em tom acusatório. — É injusto que agora você tenha mais um homem gostoso só pra você. É até egoísta se pensar bem! — Mas ele não é meu — justifico. — Sinta-se à vontade para tentar a sorte. — Gosto desse plano — ela diz e começa a rir. Sua risada é tão contagiante que me junto a ela. Olivia Jones não perde tempo antes de colocar o seu plano em ação. Em cada loja que entramos ela escolhe as roupas, e faz questão de provar e exibir o seu outfit com a desculpa de estar pedindo a minha opinião, mas seus olhos estão sempre focados no segurança. Que por sua vez mantem a postura séria, mas posso jurar que vejo algo faiscar em seu olhar com algumas das peças que minha amiga prova. Faço questão de incentivá-la a comprar essas. Conforme o tempo passa me dou conta de como senti falta de Liv e de dias assim. Sua amizade me deixa leve, a ansiedade que eu senti quando entrei no shopping se dissipou quase por inteiro, e sei que isso é por causa da morena. Eu sempre quis uma irmã quando era criança, alguém para brincar, contar meus segredos, reclamar da escola, mas meus pais estavam felizes com uma única filha. Porém o destino me trouxe Olivia, a irmã que eu nunca tive. Nós dividimos o quarto no dormitório da Stanford e nossa amizade foi instantânea, era aquele tipo que todo mundo sempre lê sobre ou vê em seriados. Ela era a Blair para a minha Serena[2], a Brooke Davis para a minha Haley James [3]. — Ah! Estou cansada — declara se sentando ao meu lado no sofá da loja depois de pagar pelas suas mais novas compras. — Vamos comprar um café? — A temporada de Pumpkin Spice já começou? — Acho que na segunda passada. — E você me fez entrar em loja após loja sem me dizer isso? Eu poderia estar tomando um frappuccino de Pumpkin Spice enquanto espero a senhorita provar todas as roupas do shopping? — pergunto, fingindo indignação e me levantando. — Desculpa, eu tinha esquecido que você é um monstro viciado — ela levanta as mãos em sinal de rendição. — De qualquer forma, você não tem uma máquina de expresso em casa? — Não, quem tem é o Rafael e ele ainda não achou o xarope certo. — Isso me parece um problema inteiramente seu. Mas, vamos embora encontrar seu café antes que você vire um gremlin enlouquecido. — Ela se levanta e eu a ajudo a carregar as sacolas para fora da loja. — E você, Ethan, também tem algum vício que nós deveríamos saber? — minha amiga pergunta. Não escuto a sua resposta porque um estrondo como um tiro preenche o ar, meu corpo entra em estado de alerta, começo a tremer e minha respiração falha. O som continua ecoando na minha cabeça, pânico me domina e começo a correr. Eles não podem me pegar de novo, não posso ser levada. As lágrimas queimam meus olhos e embaçam a minha visão, entro em uma porta qualquer tentando encontrar algum lugar seguro, algum lugar para me esconder. Meu peito arde enquanto tento fazer com que ar o suficiente preencha meus pulmões. Quando me deparo com várias portas enfileiradas percebo que devo ter entrado em alguma loja, me escondo em um dos provadores. Meus joelhos perdem a força e me encolho no chão, a potência de meus soluços sacode meu corpo. Esfrego meus braços tentando espantar o frio que se espalha por mim. O som do tiro continua repassando na minha mente, me levando de volta praquele armazém imundo, revivendo o momento em que ouvi a porta de ferro ser aberta, meus homens estavam lá para me buscar, e tudo que sucedeu até os últimos tiros, aqueles que eu mesma disparei. Vejo a bala perfurando a pele do meu torturador, seus olhos sem vida encarando o teto. De novo, e de novo. Um pesadelo que nunca tem fim. A sineta toca quando abro a porta e Tristan levanta o rosto do computador para me cumprimentar. — E aí, cara? Tudo bem? — Tudo — respondo caminhando para a minha estação de trabalho. Tristan Cox era um dos meus poucos amigos fora Thorne e Martinez. Meu tempo nos Fuzileiros e minha função como interrogador deixaram certos vestígios que eu só conseguia trabalhar quando estava tatuando. Raffi foi minha cobaia enquanto eu aprendia e Tristan me ensinou o básico quando eu ainda estava alistado, sempre que eu estava de férias acabava vindo pra cá, exorcizar o que tinha visto e feito através da arte e... — Ótimo, porque adivinha quem tem horário marcado hoje — seu tom debochado me tira dos meus pensamentos e me faz virar para vê-lo com um sorriso debochado contornando o balcão da recepção. — Sua maior fã. — Quem? — Você sabe, sua admiradora nem um pouco secreta. — O que ela quer fazer dessa vez? — pergunto, sabendo a quem ele se refere. Eu estava trabalhando quando ela veio acompanhar uma amiga que ia colocar um piercing, foi sua primeira vez no estúdio. Mas durante todo o tempo em que esteve aqui eu conseguia sentir o peso de seu olhar sob mim, e desde então a ruiva vem a cada poucos meses fazer uma tatuagem pequena, delicada. — Não sei direito. Ela só ligou para marcar e exigiu que fosse com você. — E você não se preocupou em perguntar? — E faz diferença? — Ele dá de ombros. — Contanto que você seja o artista, ela não se importa com o preço. — Melhor eu começar a arrumar as minhas coisas então — respondo. Checo meu celular para ver se Brooke ou Ethan mandaram mensagem. Sei que é importante que ela saia de casa, passei as últimas semanas a incentivando para isso, mas saber que ela não está a salvo em casa me deixa nervoso, ansioso. Nada vai acontecer, me reasseguro. Ethan é bom, Brooke está segura, não vai baixar a guarda. Volto a higienizar a cadeira me concentrando na tarefa física e tentando bloquear todos os cenários caóticos que minha mente insiste em conjurar e quando termino de preparar a máquina de tatuar ouço a sineta na porta. A ruiva entra e como se seus olhos fossem treinados ela me encontra no segundo seguinte, abrindo um sorriso sensual e caminhando em minha direção, ignorando Tristan por completo. — Oi Seth, quanto tempo — ela me cumprimenta, tocando meu braço com muito mais intimidade do que deveria. Eu me afasto ligeiramente. — Oi. Pois é, tirei uns meses de férias. O que você quer fazer hoje? — pergunto, indicando a cadeira. Ela se senta e puxa o celular do bolso, virando-o para mim e me mostrando a sua escolha. — Onde você vai ser? Suas bochechas coram e ela desvia o olhar antes de me responder. — Na bunda, do lado direito. — Tudo bem, pode mandar para o WhatsApp do estúdio pro Tristan imprimir e eu fazer o decalque, ou prefere que eu desenhe? — Eu mando. Me levanto e vou pegar a impressão e preparar o material. Quando eu volto, ela já está de bruços na cadeira. — Pode me indicar onde exatamente quer o desenho? Ela se vira com um sorriso e desliza o short de malha quase por inteiro o que é muito mais do que seria necessário para uma tatuagem desse tamanho. — Bem aqui — ela indica com o dedo. — Tudo bem. — Coloco as luvas, faço a transferência do desenho para sua pele, e pego o espelho para que ela possa checar se está como ela quer. — Assim? Ela concorda. — Vai querer nessas mesmas cores, certo? — Sim, eu amo esse tom de azul. — Tudo bem. Pode ficar confortável e se doer me avise. — Testo a máquina algumas vezes, o zumbido reconfortante preenchendo o ar e relaxando os meus músculos instantaneamente, puxo o short dela mais para cima, deixando só a área onde vou tatuar visível e começo a traçar o contorno do desenho. A ruiva parece relaxar ao meu toque, mas permanece parada enquanto me concentro em seguir as linhas. Ver o sangue brotar de sua pele alimenta uma parte obscura dentro de mim, uma parte que é sedenta por dor, violência e destruição. Não é o suficiente para aplacar sua fome, seria como dar ração para um leão. Ele pode não morrer de fome, mas não está saciado. E é por isso que eu amo tatuar, porque eu preciso tatuar. As pessoas tem reações diferentes é claro. Tem aquelas que sofrem cada segundo em que estão sob a agulha, tem aquelas que parecem relaxar e quase dormem, e então tem pessoas como a ruiva que parecem sentir prazer. Já estou colorindo a tatuagem quando a minha mesa de aço inox portátil começa a vibrar, desvio o olhar e vejo o nome de Ethan na tela do meu celular. Num instante eu desligo a máquina, tiro a luva e levo o aparelho ao ouvido aceitando sua chamada. Nem registro os protestos da minha cliente. Porque assim que a ligação conecta ouço a voz desesperada de Olivia chamando por Brooke e meu sangue gela. Aperto o celular contra meu ouvido, tentando entender o que está acontecendo. — Ethan! — vocifero quando ele não parece perceber que já atendi a ligação. — Seth, Brooke estava bem num segundo e no outro saiu correndo pelo shopping e se escondeu num provador — é então que eu ouço os soluços dela. Nem ouço o resto do que ele está dizendo, não importa. Nada mais importa. Brooke está chorando. — Onde vocês estão? — pergunto, arrancando a outra luva. Ele diz o nome do shopping e quase suspiro de alívio por ser o que fica a apenas cinco quadras daqui. — Tristan, preciso que você me substitua, eu preciso ir! — grito, saindo correndo. — Estou indo, Ethan, me mande o nome da loja — comando antes de desligar. Passo pelo meu carro estacionado do lado de fora do estúdio e nem mesmo perco tempo em pegar chave e cogitar dirigir, ter que lidar com trânsito e achar um lugar para estacionar levaria tempo demais. Brooke precisa de mim e cada segundo que eu demoro é um segundo a mais em que ela está sofrendo. Amaldiçoo cada um dos carros que cruza a rodovia, me fazendo esperar, mas assim que uma brecha aparece atravesso a rua. As buzinas soam, mas as ignoro, agradeço por todas as corridas noturnas que me prepararam para esse momento. Estou quase no shopping quando checo meu celular e vejo a mensagem de Ethan. Ethan Hart: Abercrombie & Fitch, segundo andar. Sei qual é a loja e subo correndo as escadas, ainda consigo ouvir os soluços de Brooke na minha cabeça, eles são a trilha sonora agoniante que acompanha cada passo que dou. Não é difícil localizar os provadores já que algumas pessoas se aglomeram do lado de fora, uma moça que eu acredito ser uma atendente está falando com Ethan quando eu passo por ele. Olívia está agachada do lado de fora de um provador, lágrimas descem por suas bochechas. — Brooke, por favor, fala comigo — a morena fala para a porta, mas a única resposta é o soluçar contínuo. Toco seu ombro, atraindo sua atenção que ainda nem tinha percebido minha presença. Seus ombros parecem relaxar e ela suspira, meneando a cabeça e se levantando, abraçando o próprio corpo e olhando apreensiva para a porta. — Abelhinha, sou eu, abra a porta — peço. Brooke parece não me ouvir e minha ansiedade dobra, minha vontade é arrombar a porta e a tirar dali, mas não sei que pesadelo ela está vivendo e não posso arriscar piorar. Bato na porta e os soluços param, o som de movimento cessa e tenho quase certeza que ela prendeu a respiração. — Brooke, Abelhinha, sou eu, abre a porta pra mim? — suplico, só preciso segurá-la. Meu coração quase salta do peito quando ouço o som da trava sendo aberta. Abro a porta e a loira está no chão, abraçando os joelhos e se balançando para a frente e para trás. O rosto escondido nos braços, seu corpo sacode com um soluço silencioso. Sua dor irradia e parece pinicar a minha pele. Se fosse possível matar uma pessoa mais de uma vez, eu me divertiria em destruir todos que a machucaram mais uma e outra vez. Afasto todos os pensamentos de raiva antes de me sentar à sua frente. — Abelhinha? — sussurro, afagando seu braço. — Eu estou aqui, você está segura. Ela levanta o rosto manchado pela maquiagem que escorreu marcando o trilho de suas lágrimas, quando seu olhar encontra o meu, seu choro se intensifica e ela se joga nos meus braços. Eu sou seu porto seguro. A realização faz um nó se alojar em minha garganta. Brooke se encolhe em meu colo e meus braços a envolvem, apertando-a enquanto murmuro em seu ouvido. — Você está segura, eu estou aqui — repito, beijando o topo de sua cabeça. Uma de suas mãos agarra o tecido da minha camiseta. A cada convulsão de seu corpo eu a aperto ainda mais. — Nada pode te acontecer, meu amor. Está tudo bem, estou aqui. Não tenho ideia de quanto tempo passa enquanto ficamos sentados ali, mas eu não paro de reassegurá-la de sua segurança ou de acariciar seus braços, suas costas. Aos poucos Brooke começa a se acalmar, seu choro gradualmente diminuindo até parar por completo. Minha namorada ainda fica em silêncio no meu colo por tanto tempo que estou quase achando que ela adormeceu quando a loira fala com a voz rouca. — Casa. Eu quero ir pra casa. Ainda ficamos mais um tempo sentados no chão antes de sair do provador, apenas quando Brooke decide se levantar é que eu a acompanho. Sinto sua mão tremer contra a minha quando abro a porta. Seguimos para a porta da loja, só percebo que Olivia e Ethan ainda estavam ali quando ouço a voz da morena às nossas costas, quando já estávamos no corredor. — Brooke — Olivia chama num suspiro oscilante antes de envolver a loira em um abraço apertado. As duas conversam tão baixo que não consigo distinguir as suas palavras. Ethan nos observa apreensivo, seus olhos indo das mulheres abraçadas para mim. Ainda não sei o que desencadeou o ataque de pânico de Brooke, mas tenho quase certeza de que não existia nada que ele pudesse ter feito para impedir. Meneio a cabeça em sua direção e ele abre a boca para dizer algo, mas Olivia se afasta nesse momento. — Me avisa quando chegar em casa — Brooke pede, buscando a minha mão mais uma vez. — Claro, você também. Te amo, B.! — Ela pega as várias sacolas do chão e segue para um lado do corredor, olhando para nós uma vez antes de sumir de vista. — Onde está o carro? — pergunto a Ethan. — Na rua lateral — ele anuncia. — Ótimo, vamos — digo. — Não queria ter que passar por um estacionamento — Brooke murmura. É claro, mesmo sendo outro shopping ainda seria um gatilho enorme. — Fez muito bem, não tem nada de errado em conhecer e respeitar os seus limites — elogio.
Ethan se senta ao volante enquanto eu e Brooke nos
acomodamos no banco de trás, ela se aconchega a mim, fazendo meu peito se aquecer e não tem nada a ver com sua cabeça repousando nele, mas sim com a intensidade dos meus sentimentos por ela. — Desculpe, Ethan. Seu primeiro dia foi caótico — Brooke diz. — Já se arrependeu de aceitar o trabalho? — Não tem motivos para pedir desculpas, Brooke — o segurança responde, tirando as palavras de minha boca. — Se sua intenção era me assustar para se livrar de mim, vai ter que se esforçar mais da próxima vez — ele brinca e ela ri. O som da sua risada acalma minha alma, olho para a loira em meus braços e me pergunto como ela não percebe quão forte ela é. Hoje, ela enfrentou seus traumas, seus gatilhos, acabou de ter uma crise e ainda consegue sorrir. No dia em que foi liberada para retomar o treinamento físico não hesitou em voltar para academia. Sua dedicação ainda mais forte do que antes. A respiração de Brooke aprofunda, seu corpo relaxando contra mim e sei que adormeceu. Ela deve estar exausta. — O que aconteceu? — pergunto em voz baixa para não acordá-la. Ethan olha pelo retrovisor antes de responder. — Elas estavam rindo e conversando quando alguém deixou cair uma caixa de copos de vidro no chão. — Ele faz uma pausa, seus olhos encontrando os meus no reflexo. — Foi em um instante, seu semblante inteiro mudou e ela começou a correr, nem percebeu que ainda estava segurando a mão de Olivia e que estava praticamente carregando a amiga que não conseguia acompanhá- la. Olivia soltou sua mão e ela continuou, entrou na loja e se escondeu no provador, ela não respondia a nenhum de nós. Foi quando eu te liguei. Acaricio seus cabelos e ela empurra o rosto contra mim. Como imaginei não tinha nada que pudesse ter sido feito para impedir, o som alto foi o gatilho. Deus sabe que eu sei bem como é, especialmente nos primeiros anos depois de Kandahar. O problema é que eu passava boa parte do meu tempo em uma zona de guerra, onde os gatilhos eram constantes e eu não podia perder o controle ou acabaria matando um dos meus amigos. — Você agiu certo, Ethan. Obrigado por me chamar e por não ter tentado entrar no provador — respondo. — Achei que poderia piorar a situação, um dos caras no meu esquadrão sofria de TEPT[4]...— ele começa, os segundos se estendem enquanto espero que ele continue, mas ele apenas desvia o olhar, suas mãos apertam o volante e ele continua a prestar atenção na estrada. — Sinto muito. — Obrigado, ele está em paz agora — responde. — Mas, de qualquer forma, foi isso que aconteceu. O resto do trajeto é silencioso e logo Ethan está estacionando em frente a nossa casa. Nos despedimos e ele vai até seu carro enquanto eu pego Brooke no colo, seu corpo se moldando perfeitamente ao meu, e a carrego para dentro de casa. Ela nem mesmo se mexe de tão profundo que é seu sono. Como de costume assim que entro em casa os cães aparecem, mas eles notam Brooke no meu colo e não pulam, não pedem carinho, só caminham comigo para a escada. — O que aconteceu? — Kyle pergunta, descendo as escadas de dois em dois degraus. — O que ela tem? —Ele a analisa de cima a baixo, provavelmente procurando por ferimentos. Eu fiquei tão focado nela que esqueci de informá-los o que aconteceu e nem pensei em como pareceria eu chegar carregando-a desacordada para dentro de casa. — Ela teve um ataque de pânico no shopping e pegou no sono no caminho pra casa — explico. — Ela está bem, Ky, se assustou e isso desencadeou a crise. Ethan me ligou porque eu era o que estava mais próximo. — Eu não deveria ter concordado com isso. — Se ela fosse hoje ou daqui a 10 anos ainda iria acontecer, infelizmente é normal. Ela não nasceu para ficar enjaulada e você sabe disso — digo, e a verdade de minhas palavras me atravessa. — Acredite em mim, queria que esse não fosse o caso. Ele acaricia o rosto dela. — Vou levá-la para o quarto e ficar com ela até que acorde. — Certo — concorda, meneando a cabeça. Começo a subir as escadas quando ele me chama. — Seth, que bom que você estava lá por ela, irmão — declara. Meneio a cabeça sem saber como responder e continuo para meu quarto. Deito Brooke na cama, cobrindo-a com o edredom e me acomodando ao seu lado, o céu claro do fim de tarde ainda visível pela janela sem cortinas. Checo meu celular e respondo as mensagens de Tristan, que me informa que minha cliente se recusou a ser tatuada por ele e remarcou para que eu termine o seu desenho dentro de um mês. Respondo agradecendo a ele por ter tentado, e explico que tive uma emergência familiar. Aproveito que estou com o celular para mandar uma mensagem explicando mais detalhadamente o que aconteceu para Raffi e Kyle. Brooke se mexe, passando uma perna sobre a minha e usando meu peito como travesseiro, meu corpo inteiro instantaneamente ciente de cada ponto de contato. Meus braços a envolvem e tento igualar nossas respirações, me concentrando nisso e sufocando meu desejo.
Devo ter cochilado porque quando abro os olhos o céu já está
escuro e pontilhado de estrelas. Me espreguiço com cuidado para não acordar Brooke que ainda dorme aconchegada a mim. Acendo o abajur e pego o novo volume da série Jack Reacher da minha mesinha de cabeceira e retomo a minha leitura. Eu adoro esses livros, e dos últimos dez que eu li consegui descobrir o vilão de seis. E se minhas suspeitas estivessem corretas, esse seria o sétimo. Reacher está em meio a uma perseguição quando Brooke começa a se remexer, sua cabeça balançando como se dissesse não contra o meu peito, seu punho se fecha na minha camiseta e sua respiração acelera, antes que eu possa acordá-la ela se senta e escaneia o quarto. — Shh, estamos em casa — digo, esfregando suas costas. — Está tudo bem. Ela se vira para mim e curva os lábios em um sorriso que não alcança seus olhos. — Quanto tempo eu dormi? — pergunta se recostando em mim. — Algumas horas, está com fome? — Ela nega com a cabeça. — Sede? A mesma resposta, ela puxa os joelhos para cima e os abraça, apoiando a cabeça neles virada para mim. Seus olhos verdes parecem perdidos enquanto ela me encara, ela começa a dizer algo, mas se interrompe e volta a fechar a boca. Acaricio sua bochecha e ela se entrega ao toque fechando os olhos. Me inclino, tomando seu rosto em minhas mãos e beijando seus lábios, que se partem me dando acesso completo. Nossas línguas se exploram e o gosto doce de Brooke é viciante, eu não estava errado quando a apelidei de Abelhinha. Colo nossas testas quando o beijo acaba. — Você se lembra do que eu disse naquele dia? — Seus olhos se abrem diante da pergunta. Ela morde o lábio inferior testando meu auto controle, mas sua saúde é mais importante que meu tesão. — Era a verdade e continua sendo. Nada que você possa dizer pode me afastar de você. Seus olhos se enchem d’água e ela desvia o olhar para suas pernas. — Sou uma assassina — murmura em tom de confissão, suas palavras ecoando no cômodo. — Todos nós somos — respondo e ela abraça os joelhos com mais força. Seguro seu queixo e a forço a voltar a olhar para mim. — Mas você, Abelhinha, é uma sobrevivente. Existem pessoas que machucam as outras por puro prazer, você fez o que precisava para sobreviver. — Ele já estava no chão — constata, como se eu não me lembrasse, como se não tivesse sido eu que colocou aquele filho da puta lá. — E se você o tivesse deixasse vivo, passaria todos os dias desde então se preocupando com quando ele voltaria, nunca conseguiria superar o que aconteceu. — Não superei — ela confessa num fio de voz, uma lágrima solitária escorrendo pela bochecha. — Esse tipo de coisa leva tempo, Brooke. — Limpo com o polegar o traço da lágrima. — É completamente normal e razoável que isso ainda lhe aflija, já que nunca poderá esquecer por inteiro. Mas isso não altera, de forma alguma, o seu valor — declaro e espero que ela consiga ouvir a honestidade em meu tom. Se fosse possível voltaria no tempo só para matar aquele cretino mais uma vez, só para poder puni-lo como ele merecia por fazer com que Brooke duvidasse de sua virtude. Me deliciaria em quebrá-lo por dias a fio, tantos quanto fossem necessários para que a dor deixasse os olhos da loira a sua frente. O lábio de Brooke treme. — Não me arrependo de matá-lo — ela confessa em um murmúrio que eu poderia ter descartado como o vento, caso não estivesse completamente focado nos movimentos de seus lábios. Bom, ele mereceu. Mas então noto a sua completa desolação, depois dos acontecimentos do dia Brooke está me mostrando sua alma e ela se encontra em pedaços. Perdida numa escuridão que eu conheço tão bem quanto meu próprio reflexo, e que ameaça me tirar meu bem mais precioso. Não. Só consigo pensar em uma forma de lhe mostrar a saída. Respiro fundo e me preparo para me juntar a ela e caminharmos juntos de volta para a luz. — O que você vê quando olha para mim? A pergunta parece ecoar no quarto. Os olhos azuis de Seth cintilando determinados a luz amarelada do abajur. O que eu via quando olhava para ele? Que tipo de pergunta era aquela? Seth espera paciente pela minha resposta. Sempre paciente, sempre disposto a me dar o tempo necessário para lidar com um novo golpe, um novo exercício ou com meus demônios. Foi o que ele fez hoje à tarde. Ou foi ontem? Não importa. Não faço ideia de quanto tempo passamos sentados no chão frio daquele provador, mas eu estava me afundando numa areia movediça que consistia em desespero e medo. mas quando ouvi sua voz, senti seu calor ao meu redor, aos poucos consegui me ancorar de volta em mim. Sua mudança súbita de assunto me deixa confusa. Como ele pode ouvir minha confissão e não esboçar uma reação de choque? De repulsa? Pelo contrário, ele pareceu aprovar e em seguida a sombra que muitas vezes cobre sua expressão estava de volta. Como se encorajados pela sua pergunta meus olhos passeiam por seu rosto, notando os cabelos castanhos claros e rebeldes indo em todas as direções com algumas mechas caindo sobre sua testa, passando pelos olhos intensos e desviando para a linha do maxilar tão definido que quando eu era mais nova achava que se o tocasse, cortaria meus dedos. Quando meu olhar se detém em seus lábios rosados por tempo demais, balanço a cabeça tentando focar na sua pergunta. A memória de nosso beijo ainda vivida em minha boca. Tento encontrar a resposta que ele quer, mas opto pela verdade. É tudo que eu tenho. — Vejo um homem incrível, leal aos seus amigos, paciente, carinhoso, atencioso — meu olhar desce por seu tronco e lembro das mais variadas cicatrizes espalhadas por sua pele. — Um herói de guerra. A risada que ele sopra por entre os dentes me faz perder a linha de raciocínio e o olhar confusa. — Eu não sou um herói, Brooke — ele diz com um tom sombrio. — Claro que é — protesto. — Você recebeu várias medalhas quando deixou os fuzileiros, eu sei. Eu estava na cerimônia — adiciono, minha mente voltando para aquele dia anos atrás. Todos os meus três homens fardados e sérios sendo reconhecidos por tudo que fizeram pelo país. — As coisas que eu fiz durante a guerra não foram heroicas, mas eu não estava me referindo a isso. — Ele cerra o maxilar e respira profundamente, antes de segurar meu rosto em suas mãos, aflição em toda a sua expressão. — Deixa eu só memorizar a forma como você me olha antes de te contar sobre o meu passado, só guardar isso antes que tudo mude. — Nada que você possa se tornar pode me afastar de você, Seth. Eu confio em você — devolvo suas próprias palavras, vejo o reconhecimento em seu olhar, mas o pesar continua ali. — Eu te a... — Seu dedo cobre meus lábios interrompendo a minha declaração. A primeira vez que eu proferiria essas palavras para ele. — Você não faz ideia do quanto eu quero ouvir essas palavras, mas não sei se consigo fazer o que preciso se você as disser agora. Ele cola seus lábios aos meus demoradamente antes de se afastar até que não esteja mais encostado em mim, sinto falta do seu calor imediatamente. — Eu não sei se o Kyle já te contou algo sobre onde eu cresci — começa. — Acho que falou que você era de Nevada ou algo assim, mas não lembro de mais nada. — Sim, eu cresci lá, em Reno. — Seus olhos ficam distantes. — Não sei se nasci lá, mas fui deixado em uma sede de Bombeiros quando ainda era recém-nascido. Pelo menos é o que dizem os registros. Seth tinha sido abandonado? Como bebê? Como que eu não sabia disso? Esse homem já está na minha vida há uma década. — Foi quando eu entrei pro sistema de adoção. Quando eu tinha uns três anos fui adotado por um casal que já tinha outra filha, também adotada. — Ele abre um sorriso triste e meu coração se enche de esperança. Seth tinha encontrado um lar. No entanto, a semente de esperança é esmagada por suas próximas palavras. — Foi quando o verdadeiro pesadelo começou. — sua voz é desprovida de emoção, fria, como se ele estivesse simplesmente me contando a previsão do tempo. Ele passa uma das mãos pelos cabelos, bagunçando-os ainda mais. — Eu ainda não entendo como o Estado permitiu que eles fossem guardiões. O interesse deles era no pagamento do governo, a casa de madeira ficava em um bairro abandonado. O cara... — Ele faz uma pausa, seus punhos se fechando. — Ele era um verme, da pior espécie. Quando eu tinha seis anos eu já sabia reconhecer os padrões, já sabia me preparar para o tipo de noite que teríamos quando ele chegava do trabalho. Se seria só uns tapas ou se ele iria partir para algo mais pesado. Não. Meu instinto move meus braços para abraçá-lo, protegê- lo, mas ele se afasta. — Desculpe, Abelhinha, — seu olhar suaviza quando foca em mim. — Mas não consigo sentir seu toque enquanto falo disso. Dele. Não é racional e eu sei disso, mas não dá. — Não precisa me contar nada disso, Seth, não precisa reviver essas memórias — suplico. Ele suspira e me olha com tanto carinho que sinto como se ele estivesse acariciando a minha pele. — Preciso, porque você precisa entender que você não é uma assassina, que você não é uma pessoa má. Eu conheço o mal de verdade, convivi com ele a minha vida toda, Brooke, e você está tão longe dele quanto é possível estar. Ele está fazendo isso por mim. A constatação me atinge como uma bola de demolição. — Naquela época, é claro eu não sabia que isso não era o normal. Eu achava que toda família era assim, que todo mundo fazia o mesmo que eu, mas não falava sobre isso. A mulher morreu mais ou menos na mesma época que Abigail, a minha irmã mais nova, — a saudade em seu tom me rasga por dentro. E eu sei que vou odiar o fim dessa história já que antes desse momento eu nem mesmo sabia que Seth teve uma irmã. — completou 13 anos e as coisas pioraram e muito. Eu apanhava, mas o que ela sofria... — sua voz quebra na última palavra. Ele abaixa a cabeça e tenho que segurar os lençóis para me impedir de jogar meus braços ao seu redor e nunca mais largar. — Seus gritos ainda me perseguem, mas eu era muito fraco aos 14 anos para protegê-la, prometi a ela que assim que fizesse 18 anos nos tiraria dali. Eu poderia trabalhar e nos manter, estávamos acostumados a não ter muito, de qualquer forma. Meu Deus, meu coração se parte pela infância roubada de Seth. Enquanto ele lutava para sobreviver, para proteger sua irmã e achar uma saída do inferno que ele conhecia como vida, eu estava aprendendo a surfar e correndo para o colo da minha mãe quando machucava os joelhos. Eu tinha bolos caseiros nos meus aniversários e amigos, eu tinha Kyle. As lágrimas escorrem silenciosas pelo meu rosto. Seth continua seu relato sem levantar a cabeça, perdido em suas lembranças. — Eu tentava impedi-lo de ter forças para ir até ela. Comecei a desafiá-lo quase diariamente, a esperança era que se ele me batesse o suficiente, e ficasse cansado demais para ir até o quarto dela no meio da noite. No começo até funcionou, mas um predador se adapta, eu aprendi isso cedo. — Seu tom agora é distante e não sei se ele se lembra que eu estou aqui, parece estar falando consigo mesmo. — Abigail começou a se retrair, ficar distante, e eu não percebi os sinais até ser tarde demais. Faltava tão pouco, — ele lamenta. — Duas semanas para o meu aniversário de 18 anos, apenas quatorze dias, mas ela não aguentava mais e achou um jeito de ter certeza que o seu pesadelo acabaria. — Seth... — eu o interrompo. — Não sei o que dizer, sinto muito não parece ser suficiente. — Não sinta, ela está em paz. — Ele levanta o rosto para mim e sorri com ternura, seus olhos marejados. Quando ele abre a boca para continuar sua expressão endurece. — Obviamente ele não foi ao funeral, quase ninguém foi. Sabe o que aquele canalha ficou fazendo enquanto eu enterrava a minha irmã? Bebendo. E não porque ele estava de luto por perder a filha, não, seu sofrimento era por ter perdido... — ele parece não conseguir continuar, mas não é preciso. Repulsa e ódio se misturam no meu estômago e eu só quero saber se esse lixo de ser humano ainda vive. Porque tudo que eu sinto é uma ânsia de vingar Abigail e Seth, pela infância perdida, por tudo que sofreram. O desejo de ferir quem machucou o homem a minha frente é tão intenso quanto a minha necessidade de respirar. Como Seth pode me dizer que eu não sou má? — Eu cheguei em casa e o encontrei com uma garrafa de vodka em frente à TV e tudo que conseguia pensar era que a culpa era dele. Ele era a razão pela qual Abigail nunca mais veria o pôr do sol, porque ela nunca teria a chance de ir à praia. Suas primeiras palavras para mim foram para me pedir para ir buscar mais bebida, e eu ri. Ele arremessou a garrafa contra a minha cabeça, só que eu já não tinha 14 anos, eu estava mais forte e com muita raiva. Eu revidei e não parei. Não parei quando ele parou de gritar, nem quando parou de se mexer, só parei quando não conseguia mais levantar o braço. Ótimo, ele merecia morrer. O pensamento se forma e é como um soco. Eu entendi o que Seth quis dizer sobre meu carcereiro, sobre minha motivação para matá-lo ter sido a minha sobrevivência. Estou prestes a responder quando ele continua. — No meio da noite eu sai daquela casa e na manhã seguinte eu me alistava aos Fuzileiros Navais. Nunca mais voltei, não tinha nada lá me esperando. — Ele sorri, felicidade irradiando dele pela primeira vez desde que começou a me contar seu passado. — Conheci Kyle e Raffi na semana seguinte, e descobri que a vida era mais do que eu, alguma vez, tivesse sonhado. Os fuzileiros me deram uma família de verdade, mas depois de entrarmos pros MARSOC[5] recebemos nossa primeira missão, Kandahar. Eu lembrava da primeira missão, foi depois dela que Seth começou a me chamar de Abelhinha, foi quando ele voltou com o braço quebrado. — Não posso entrar em detalhes porque é tudo confidencial, mas eu fui capturado por uma unidade terrorista — Não! Deus, ele já não tinha sofrido o suficiente? Um soluço me escapa. — Eu fiquei em cativeiro por mais de três meses. — TRÊS MESES? Eu tinha ficado três dias e achei que morreria, não conseguia esquecer. Memórias de quando me mudei começam a montar um filme em minha cabeça, como Seth sempre parece estar acordado, como mesmo agora quando eu acordo no meio da noite ele está de pé, ou já saiu para correr. — Eles queriam informações sobre a nossa unidade, sobre nossas fraquezas, qualquer coisa, depois da primeira semana eu perdi a esperança que conseguiria escapar depois de umas três jurava que nunca seria encontrado. Mas Thorne e Martinez vieram. Descobri depois que eles brigaram com os superiores para poder me resgatar. — Seu olhar encontra o meu. — Ninguém nunca tinha lutado por mim antes. — É o que famílias fazem — declaro e ele meneia a cabeça. — Mas eu não conseguia fingir que estava tudo bem. Não eram os ferimentos, de certa forma eu já estava acostumado a eles. Mas eu não conseguia esquecer. Revivia o tempo todo meu tempo preso, às vezes quando acordava suando no meio da noite desejava que tivesse morrido lá. Nós voltamos e eu pedi pros caras me darem um tempo, respeitarem o meu espaço. Porém eu fui pra casa do Kyle como sempre, e você estava lá. Correndo feliz para nos cumprimentar, mas eu não conseguia lidar com a sua felicidade e tentei me afastar. Você não deve se lembrar. — Eu me lembro, você se isolou aquele verão, mais do que o normal — respondo. — Era o que eu achava que eu precisava. Mas você... ah você... — ele diz e sua mão segura a minha, um choque elétrico percorrendo a minha pele com o contato inesperado, mas eu a aperto. — Você sempre foi teimosa, determinada, mesmo depois de Kyle ter te pedido pra me dar espaço. Todos os dias você tentava me incluir em planos, em conversas, jogos, qualquer coisa. Até aquele dia que eu estava jogando sozinho e você foi tentar mais uma vez, parando em frente a tv com aquela blusa listrada amarela e preta. Sorrio com a memória que ganhava novos significados conforme ele me contava tudo que acontecia por trás, tudo que eu não sabia. — Eu briguei com você e a sua resposta foi sorrir — aperto a sua mão ainda mais e Seth sorri em resposta, o sorriso que eu amo, que mostra as covinhas que quase nunca aparecem. — E aquele sorriso abriu uma rachadura no cômodo escuro e fechado em que eu me encontrava e a luz entrou. Você me salvou. E daquele dia em diante eu sempre soube que você era a única para mim. Meu coração erra a batida diante de sua declaração. Não consigo pensar direito, mas me lanço em sua direção, abraçando seu pescoço e enrolando minhas pernas na sua cintura. Seus braços serpenteiam ao meu redor. Colo nossas bocas em um beijo faminto, desejoso, como se pudesse curar cada uma de suas feridas com o meu amor. Eu entendia o que ele queria dizer, foi exatamente o que eu senti quando ele apareceu naquele provador. Ele também me salvou, tantas vezes. Tudo o que ele me contou só serviu para cimentar tudo o que eu já sentia por ele. Minha admiração e orgulho pelo homem que ele se tornou mesmo depois de tudo que a vida lhe entregou só cresceu. — Você disse que não era um herói... — Ainda tem mais, Brooke — ele me interrompe. — Outro dia você me conta se quiser, mas agora é a minha vez. Você... — beijo seus lábios mais uma vez, completamente rendida por seu gosto. — é um herói sim. Você também me salvou, Seth, no momento em que eu te vi naquele armazém eu voltei a respirar, — as lágrimas fazem meus olhos arderem antes de escorrerem. — meu maior medo enquanto estava lá era que nunca voltaria a vê-los, nunca teria a chance de dizer o quanto vocês significam para mim. Você me resgatou aquele dia e hoje me salvou de novo. Você é o meu herói e eu te amo, Seth Donahue! Aperto Brooke em meus braços, meu cérebro ainda processando suas palavras, a forma como ela simplesmente aceitou a minha confissão. Ela ainda não sabe tudo, não é mesmo, Hellhound? O pensamento cruel ironiza. Meu corpo ignora minhas dúvidas e responde instintivamente a proximidade da loira. Minha boca busca a dela, nossas línguas se provando e explorando. Uma de minhas mãos sobe para sua nuca, segurando seus cabelos e puxando-os, seu gemido me atravessa até alcançar meu pau. A loira interrompe o beijo repentinamente e esconde o rosto no vão do meu pescoço. — O que foi? — pergunto confuso. Será que eu a machuquei? Penso com pavor. Não é a primeira vez que as coisas evoluem entre nós, lembro com clareza da noite em que a fiz gozar usando apenas meus dedos, o som de seus gemidos enquanto alcançava o clímax serviram de trilha sonora quando eu me aliviava sozinho mais tarde. Porém quem sempre desacelerava as coisas era eu. — Abelhinha? — chamo sua atenção, esfregando suas costas. — Fala comigo. — Você não ouviu? — ela murmura contra minha pele. — O que? Ela se afasta até conseguir olhar para mim. — Eu achei que você tivesse ouvido o meu estômago roncar — confidencia, desviando os olhos conforme suas bochechas coram. Não consigo segurar a risada de alívio e ela bate no meu braço antes de voltar a esconder o rosto. — Não ri. — Desculpa, não estou rindo de você, estou rindo de mim. Você me assustou, achei que tivesse te machucado — explico. — Você nunca poderia me machucar — ela retruca e ignoro o sentimento de que ela só está dizendo isso porque eu ainda não lhe contei tudo, quando ouço sua barriga. — Quando foi a última vez que você comeu? — pergunto, deveria ter deixado um lanche no quarto para quando ela acordasse. — Acho que foi hoje de manhã, o nosso pós-treino. Porque eu ia comer no shopping com a Liv, mas isso acabou ficando para depois e sabemos o que aconteceu depois. E então voltamos pra casa, o que eu ainda não lembro como aconteceu. Puta merda, além do desgaste emocional e físico que acompanha uma crise de ansiedade e pânico, a loira não se alimentava desde de manhã. Minhas mãos descem para a sua bunda e a seguro firme, me virando e levantando da cama com ela ainda no meu colo. Brooke solta um gritinho de susto. — Seth, eu estou bem... — diz, abraçando meu pescoço e me beijando novamente, chupando e mordendo meu lábio inferior. — Não quero ir comer agora — seu tom é baixo, sedutor. — Abelhinha, temos a noite toda e acredite, você vai precisar de energia — aviso e aperto sua bunda, seu gemido em resposta quase me faz virar e jogá-la na cama para sentir o seu gosto diretamente da fonte dessa vez. Quase. — Promete? — pergunta arqueando a sobrancelha com um sorriso malicioso nos lábios antes de empurrar seu corpo para baixo, sua bunda encontrando meu pau. Colo suas costas contra a parede, meus lábios tomando os dela com uma fome voraz, suas pernas se apertam contra a minha cintura, me dando liberdade para subir uma de minhas mãos pela lateral de seu corpo, deslizando sob o tecido de sua camiseta até alcançar o sutiã de renda. Ela arfa contra meus lábios quando aperto seu seio, meu polegar estimulando o mamilo e fazendo Brooke estremecer em meu colo. Afasto minha boca da dela, trazendo seu lábio inferior preso entre meus dentes e mordendo um pouco mais forte antes de soltá- lo e encostar minha testa na dela. Encarando seus olhos verdes nublados de tesão, meu desejo luta contra meu instinto protetor, mas a saúde da loira sempre vem em primeiro lugar. — Prometo. — Reajusto sua posição em meu colo antes de abrir a porta. — Vou cobrar — diz. — Não vejo a hora de pagar. — Ela deposita um beijo no meu pescoço, logo abaixo da minha orelha que é como em fogo em brasa na minha pele. — Eu posso andar — diz, quando estamos quase na escada. — E eu posso te carregar, qual seu ponto? — respondo e começo a descer os degraus. — Que não precisa. — Mas eu quero — rebato. — Não quero soltá-la, Abelhinha, então me deixe te carregar mais um pouco. — Tudo bem — concorda, descansando sua cabeça contra meu ombro. Chegamos na cozinha eu a apoio na bancada, e sigo para a geladeira para preparar algo. Sei que não estamos mais sozinhos quando ouço ela pular da bancada e sussurrar: — Oi, meu amor, você quer um biscoito, não quer? Não preciso olhar pra saber que é um dos cães, mas quando me viro com os ovos, queijo e presunto em mãos, vejo que é o meu próprio cachorro. — Brooke, dá ração pra ele e não só biscoito — digo, pegando uma frigideira e começando a preparar uma omelete. — Ele já jantou, só quer uma sobremesa, né, Banguela? — ela fala, afagando suas orelhas com carinho e lhe dá quatro biscoitos. Três a mais do que deveria, mas é inútil tentar corrigi-la. Faço sua comida enquanto ela brinca com o pitbull, sentada no chão da cozinha. Estou fazendo a minha omelete quando seus braços serpenteiam ao redor da minha cintura. — O que eu posso fazer para ajudar? — Seguro suas mãos com uma minha. — Já está quase pronto, não precisa fazer nada. Ela não responde, só fica ali, me abraçando. Meu peito parece inflar, uma calmaria que eu só experiencio quando estou com Brooke me domina, até respirar se torna mais fácil quando ela está por perto. Sou obrigado a soltar suas mãos para servir a omelete e carregar os pratos até a bancada, ela abre a geladeira e pega o suco de uva, antes de se sentar. Eu a observo comer, tentando decidir como contar o resto da minha história, a angústia de que seja demais, que isso seja mais do que ela consiga aceitar, ameaça tirar meu apetite. E se eu a perder? Por quanto tempo ainda vou deixar meu passado me impedir de ser feliz? Toda vez que eu e Brooke nos aproximamos e eu parei esse foi o motivo. Por causa do monstro que vive em mim. Falar da minha criação já foi excruciante, voltar àquela casa, lembrar dos últimos dias de Abigail. Fazia tanto tempo que eu não dizia seu nome em voz alta. Ter que voltar aos anos em que trabalhei como interrogador não seria nenhum pouco mais fácil, mas que tipo de relacionamento poderíamos ter se eu sempre manter uma parte de mim escondida? — Por que está me olhando assim? — pergunta, inclinando a cabeça para o lado. — Não posso olhar pra minha namorada? Ela sorri em resposta, um leve rubor em seu rosto. — Ainda não me acostumei com vocês me chamando assim. — É melhor começar, não iremos a lugar nenhum — declaro, sabendo que meus irmãos amam a loira à minha frente tanto quanto eu. Brooke volta a comer com rapidez. — Por que a pressa? — Porque quando você diz coisas assim eu quero continuar nosso assunto inacabado e te conheço o suficiente para saber que preciso terminar de comer antes. — Brooke... Ela dá a última garfada e toma o suco. Quando olha para o meu prato ainda pela metade, arqueia uma sobrancelha. Sopro uma risada e continuo a comer, seus olhos grudados a cada um dos meus movimentos. Eu termino e com sua ajuda limpamos a cozinha. Consigo sentir a ansiedade emanando de seu corpo enquanto voltamos para o quarto e me preocupo com a minha integridade física quando eu disser que ainda precisamos conversar. — Brooke, — eu a chamo, segurando sua mão antes de entrar no quarto. Ela se vira para mim, sorrindo. — eu preciso te contar o resto da história. Preciso que você saiba tudo antes de darmos o próximo passo. — Seth... — ela começa a protestar, mas eu a interrompo. — Não consigo dormir com você sabendo que existe uma chance de você se arrepender depois que souber tudo, — ela abre a boca pronta para rebater. — Não importa quão mínima essa chance possa ser. Faz isso por mim? — Como eu posso negar agora? Mas, Seth, posso te garantir mais uma vez que não tem nada que você possa me dizer que vá mudar o que eu sinto por você. Eu sei quem você é. Me agarro com todas as forças na esperança que suas palavras me dão, no sentimento que vejo refletido em seu olhar. Ela se senta na cama e sinto seus olhos sobre mim até me acomodar ao seu lado. Como começar? Como explicar que depois que ela me tirou da escuridão, as forças armadas acharam um jeito de explorar esse lado, lapidá-lo em uma arma. — Seth, não precisa fazer isso hoje — ela diz. — Se você está fazendo isso porque se sente pressionado por mim, não precisa. E- e-eu sei como é difícil falar sobre certas coisas — ela gagueja um pouco, como se só de mencionar o passado já fosse doloroso. Aquela fúria cega me preenche e não vejo a hora de encontrarmos aqueles três filhos da puta que ordenaram o seu sequestro e fazê- los pagar, lentamente. — Você nunca me pressionou, Abelhinha — afirmo, tomando suas mãos. — Todos esses meses, você sempre respeitou o meu tempo e nunca me pressionou, é só mais uma das razões pelas quais eu te amo. Seus olhos verdes ficam marejados. — Eu também te amo. — Seu olhar recai sobre nossas mãos unidas entre nós. — Tudo bem se continuarmos assim? — Podemos tentar. — Ela aperta a minha mão e se acomoda, cruzando as pernas como buda. Respiro fundo e como antes, jogo todas as minhas emoções para um canto, sufocando-as. Preciso me distanciar o máximo possível do que estou prestes a contar ou não conseguirei. Ela me ama, confia em mim, tudo vai ficar bem. Tento me reassegurar antes de contar a verdade por trás do apelido de Hellhound. — Depois de Kandahar, quando retornamos, meus superiores notaram que eu estava mais agressivo, — Esse era o eufemismo do ano, eu descontava a minha dor e raiva nos inimigos. — Nem tudo que as Forças Armadas fazem é divulgado e quando a segurança do país está em jogo, às vezes, é preciso jogar sob as regras do oponente. Estou enrolando, de novo, meu olhar busca o dela e memorizo a forma como ela me olha, o amor e carinho estampados ali. Guardo cada detalhe, caso essa seja a última vez que eu os veja direcionados a mim. — Nós precisávamos de informação e outra unidade tinha capturado um dos rebeldes. — Bloqueio a lembrança de sua aparência. — Mas eles não conseguiam extrair a informação dele. Depois de uma semana, meu comandante me instruiu a tentar. “Faça com ele o que fizeram com você, dê a ele um gosto do próprio remédio, Donahue.” Suas palavras ecoam em minha mente e consigo sentir o peso da faca que ele me entregou em minha mão. — Em menos de três horas, já tínhamos a informação e conseguimos evacuar a escola que seria atacada em tempo. Mas, minha eficiência se tornou um recurso e quanto mais eu o aprimorava, mais aprendia a gostar disso. — Brooke aperta a minha mão, mas só meneia a cabeça de forma encorajadora quando olho para ela. — Eu me tornei o melhor interrogador, especialista em extrair informações, — desvio o olhar, vergonha e culpa se mesclando e se unindo a angústia que já percorria meu corpo. — Eu aprendi a gostar da dor que era capaz de infligir nos outros, de descobrir como quebrar o outro. Se tornou uma fonte de prazer. Minha confissão é recebida pelo silêncio. Começo a contar os segundos, esperando pela resposta de Brooke, quando chego a dois minutos começo a me preocupar e volto minha atenção para ela. — É por isso que você tatua? — pergunta simplesmente. — É só isso que você tem a dizer? — rebato, incrédulo. — Eu acabo de te contar que sou um monstro que sente prazer em torturar pessoas e... — Você não é um monstro, Seth. — Ela toca meu rosto com carinho. — Você foi treinado e transformado em um por seus superiores. Como você disse, você é um sobrevivente, se adaptou a sua realidade e lidou com ela da melhor forma que foi possível. Eu fiquei presa durante quase quatro dias e quis morrer, — ela admite com a voz firme, mesmo que seus olhos se encham de lágrimas. — Por toda a dor que eu senti, não pensei duas vezes antes de acabar com a vida daquele que me machucou. Não consigo nem imaginar o que você passou por mais de meses, quantas vezes desejou a morte, desejou o fim. O fato de que ainda consegue achar uma razão para levantar todos os dias, para sorrir e continuar é a prova da sua resiliência. — Eu não te mereço — verbalizo o pensamento assim que ele se forma, depois de todos os meus pecados não é possível que eu tenha o direito de ser feliz. De ter Brooke. Só percebo que uma parte de mim acreditava piamente que isso seria o que afastaria Brooke de mim, uma parte que não acreditava que ela me aceitaria se soubesse. — É claro que merece. Depois de tudo que você suportou, depois de todas as merdas que a vida te jogou, você merece mais do que eu, mas vou me esforçar para ser o suficiente — ela diz com convicção. Se esforçar para ser suficiente? Ela é louca. Puxo Brooke para meu colo, abraçando seu corpo, colando-a a mim. — Você é tudo que eu sempre quis, que sempre sonhei, Brooke. — Beijo seus lábios rapidamente. — Nunca mais quero ouvir você duvidando do quão perfeita você é. — Vou tentar, mas você não me respondeu, é por isso que começou a tatuar? — Sim, essa foi a principal razão para eu começar, mas eu acabei gostando da parte criativa também. — Fico feliz que tenha arranjado um modo saudável de lidar com isso. — Ela morde o lábio inferior com uma expressão pensativa e desvia o olhar. — No que você está pensando, Abelhinha? — Hoje em dia — ela começa, hesitante. — tatuar é a sua única fonte de prazer? — pergunta, corando. — Porque, eu já li alguns livros sobre dominadores e submissas... — ela tenta se explicar. — O que você quer saber exatamente? — provoco e ela não recua. — Você curte BDSM? — Meneio a cabeça afirmativamente, curioso para sua reação, quando decidi lhe contar meu passado nem mesmo imaginava que a conversa acabaria com a loira no meu colo indagando sobre minhas preferências sexuais não tão convencionais. — Me ensina a te dar prazer? Batidas fortes na porta me impedem de responder. — Seth? — a voz de Thorne chama do outro lado do pedaço de madeira. Carma é uma coisa maldita mesmo. — O que foi? — Encontramos eles — Brooke se retesa em meu colo. — Precisamos ir agora — ele anuncia. — Já estamos saindo — respondo. A informação chegou há cinco minutos. O sistema de reconhecimento facial de Adonis encontrou Walker entrando em uma loja de conveniência, em um posto de gasolina nos arredores da Cidade do México. Com isso conseguiram segui-lo até uma casa em uma fazenda no meio do nada. Acordei Raffi quando saí do quarto e ele estava agora contatando uma de nossas colegas, Paige O’Leary, que tinha servido ao mesmo tempo que nós e hoje trabalhava como piloto particular. Nós precisaremos de seus serviços se quisermos chegar à Cidade do México antes que os três consigam escapar mais uma vez. Hesito na frente do quarto de Seth, não quero acordar Brooke se ela ainda estiver dormindo, mas quando ouço sua voz, mesmo não conseguindo distinguir o que está dizendo, sinto um peso ser levantado dos meus ombros. Vê-la desacordada nos braços do caçula mais cedo fez todos os meus medos aflorarem. Mesmo depois de entender o que aconteceu, não consegui me livrar da sensação ruim de que eu tinha falhado com ela mais uma vez. Bato na porta e a conversa do outro lado cessa. — Seth? — O que foi? — a impaciência em sua voz me faz pensar que eu estou interrompendo algo e não consigo conter o sorriso debochado. Tá vendo como é ruim, Seth? — Encontramos eles — o sorriso some. — Precisamos ir agora. — Já estamos saindo — ele diz. Brooke é a primeira a sair e meus braços a envolvem, puxando-a para mim. Seu perfume doce é a peça final para acalmar toda a ansiedade que senti mais cedo, ela me abraça de volta e sussurra: — Eu tô bem. — Eu sei, só estava com saudades — respondo. Ela se afasta ligeiramente para que eu possa ver seus olhos revirando. — Você me viu há menos de 12 horas. — E pareceu uma eternidade — rebato, simplesmente. Ela fica na ponta dos pés e me dá um selinho. — Onde? — meu irmão pergunta, e a sensação de urgência volta a me dominar. Todas as vezes que encontramos algum rastro dos três malditos chegamos tarde demais, perdendo-os por uma questão de horas. — México. Raffi já está organizando transporte com O’Leary. Vamos sair daqui a meia hora. — Vou me arrumar — a resposta me surpreende porque vem da loira ao meu lado. Ela deve estar querendo me provocar um ataque cardíaco. — Brooke, você não acha melhor ficar em casa? — Seth diz. — Depois de hoje. — É por causa de hoje que eu quero ir. Não posso ficar em casa mais uma vez, esperando para saber se todos os meus namorados — Meu coração acelera com o título. — Estão bem, vão voltar seguros para mim. Não vou conseguir lidar com o estresse e a angústia de não saber. E, quão seguro é me deixar para trás com um maluco perseguidor atrás de mim? — A casa é segura, Brooke — respondo. — Aumentamos a segurança desde que as ameaças surgiram e depois que ficou claro que você tem um stalker, triplicamos a segurança inicial. Não sei quem de nós dois eu estou tentando tranquilizar e convencer. — Você não entende como é ficar esperando, encarando aquela porta por horas. — Ela gesticula em direção da entrada no andar debaixo. — Cada segundo se torna uma hora, meu cérebro fica conjurando mil cenários, um pior do que o outro. Não vou conseguir suportar dessa vez. Não hoje. Seu olhar encontra o de Seth e um entendimento passa entre os dois fazendo o caçula menear a cabeça concordando. Seguro suas mãos entre as minhas, atraindo sua atenção de volta para mim. — Não posso colocá-la em perigo, Brooke. Não consigo arriscar. — O que te faz pensar que eu estou disposta a arriscar um de vocês? Ou pior os três? Mas eu nunca pedi para que mandassem um time no lugar de vocês — ela rebate prontamente. — E poderiam, certo? A Hades’ Men tem os recursos necessários. Mas é pessoal, não é? — A loira se afasta de mim, apontando de mim para Seth. É claro que é pessoal, os malditos covardes não tiveram a coragem de enfrentar a mim e meus irmãos de frente para conseguir a vingança que achavam que tinham direito. Não. Eles decidiram colocar uma inocente no meio, eles ordenaram o sequestro da mulher que eu amo, torturam-na, e por isso eles pagariam com o próprio sangue. — O’Leary já está a caminho — Raffi anuncia se juntando a nós. — Temos que sair logo. Por que vocês não estão prontos? Como você está, babygirl? — pergunta, se aproximando dela e beijando o topo de sua cabeça. — Estou melhor e já vou me trocar para podermos ir — ela declara e Raffi olha de Brooke pra mim e depois para Seth. — Você vai? — ele pergunta hesitante. — Brooke, eu entendo a sua preocupação — eu começo e sua expressão decidida vacila, e um vislumbre do desespero que ela se esforça tanto para esconder, parece escapar. — Nós somos treinados, ficaremos bem, eles não estão no nosso nível. — Não podem me prender aqui. — Você não é uma prisioneira — Raffi responde. — Então, por que estamos aqui perdendo tempo? Achei que estavam com pressa. — Porque não é assim tão simples, Brooke — Seth explica. Meus irmãos voltam sua atenção para mim, e isso não passa despercebido por nossa namorada. Ela coloca as mãos na cintura e arqueia a sobrancelha. Sinto como se meu corpo estivesse sendo puxado em duas direções: o meu lado protetor quer mantê-la em casa à qualquer custo. Mas o outro, o que sempre lhe dá tudo que ela pede, quer ceder. Esfrego meu rosto. Puta merda, estou mesmo cogitando levar Brooke para o campo de batalha? Não, necessariamente. Ela disse que quer ir, mas ela não necessariamente precisa fazer parte da operação. — Como o Raffi disse você não é uma prisioneira, mas é complicado. A situação exige cautela — Brooke abre a boca para protestar, mas eu levanto a mão pedindo que me deixe continuar. — Mas se você estiver mesmo determinada em ir... — Eu estou — ela me interrompe. — Então tem que prometer que vai fazer tudo que nós dissermos. — Meus irmãos concordam murmúrios de aprovação e meneando a cabeça. — Não importa o que estiver acontecendo, se um de nós disser pra você se esconder, você vai. Se dissermos para fugir, você vai virar as costas e correr o máximo que puder. — Tudo bem — ela concorda com rapidez. — Preciso que você prometa, Sunshine. — Eu prometo. — Então vamos, já estamos atrasados. Corro para o meu quarto, jogo uma água no rosto e paro em frente ao guarda-roupa. Que tipo de roupa se usa em uma perseguição? Sinto os segundos passando por mim como se eu fosse a parte mais estreita de uma ampulheta. Dou preferência para o conforto e mobilidade e escolho leggings pretas e uma camiseta da mesma cor. Com certeza, o ideal é não ser facilmente um alvo. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo firme, a última coisa que eu preciso é que ele fique caindo no meu rosto. Eu realmente não achei que fosse conseguir convencer Kyle a me juntar a eles, em todas as vezes anteriores eu não pedi, só fiquei sentada na escada em frente a porta esperando e me preocupando. Os cães, é claro, se juntaram a mim durante a vigília. Era uma tortura diferente, minha mente não me dava um segundo de descanso. Perdi as contas de quantas vezes eu imaginei mortes diferentes para os homens que eu amo. Mas depois da minha crise durante a tarde, e as confissões de Seth que eu ainda estou assimilando, não consigo nem cogitar ficar para trás dessa vez. Assim que ouvi Kyle dizendo que eles tinham sido encontrados senti um frio se espalhar pelo meu corpo, uma urgência e necessidade de estar com o trio. Sei que não sou treinada e não vou nem tentar ficar no caminho deles, só quero ter certeza que eles estarão bem. Não tenho nenhuma ilusão sobre as minhas habilidades, eu não sirvo nem para ser reforço. Por isso, nem hesitei em aceitar as condições. — Baby girl — Raffi me chama da porta e me viro para ele. Seus cabelos estão presos iguais aos meus, ele veste calças de um tecido grosso e com bolsos em suas coxas e uma camiseta que envolvia seus músculos, mas parecia lhe garantir liberdade de movimentos. — Você tem certeza disso? — pergunta entrando no meu quarto e caminhando até mim. — Tenho, prometo que não vou ficar no caminho. Ele segura meu rosto carinhosamente com uma mão, inclinando-o para cima para que eu olhasse para ele. — É claro que estamos preocupados com a sua segurança, mas é mais do que isso, Brooke. Você ainda está se recuperando do que aconteceu e eu tenho medo que nos acompanhar só vá piorar as coisas. — A preocupação em sua expressão e tom é clara. — Eu sinto que preciso ir, Raffi, não sei explicar. Talvez seja para poder finalmente por um ponto final em tudo que aconteceu, não sei — explico. — Só queria checar. Mas se você tem certeza, não vou tentar convencê-la do contrário. — Ele suspira e encosta a testa na minha, seus olhos azuis claros me olhando tão profundamente que sinto como se ele enxergasse a minha alma. — Não posso te perder, Brooke. — O sentimento é mútuo, grandão. — Elimino a distância entre nossas bocas e a mão que ele tinha no meu queixo desliza até minha nuca, apertando firmemente enquanto ele abre meus lábios com a língua. Percebo que ele está segurando algo quando sua outra mão segura minha cintura para me colar contra seu corpo, mas não consigo identificar o objeto. O beijo é cheio de necessidade, urgência e desejo. Despertando os meus sentidos e me consumindo de tal forma que por alguns segundos tudo em que eu posso me concentrar é Rafael e a firmeza de seu corpo contra o meu. O beijo acaba tão rápido quanto começou e ele se afasta, meu olhar vai para sua mão e vejo um arnês. — Isso é pra mim? — pergunto apontando para sua mão. — Sim, — ele me entrega a peça que parece um short faltando vários pedaços. — Já que você vai entrar, não entrará desarmada. Raffi me observa atentamente enquanto visto o arnês, e quando me endireito seus olhos passeiam por todo o meu corpo. — Vê algo que gosta? — pergunto depois de alguns segundos. — Dios mío. Quando acho que você não consegue ficar mais gostosa, você prova que eu estava errado. — Ele segura as duas tiras laterais, uma em cada lado da minha coxa, e me puxa em sua direção, meu corpo colando contra o dele, sentindo cada parte dele. Inclusive seu pau que começa a endurecer contra minha barriga. — BROOKE! RAFFI! TEMOS QUE IR! — Kyle grita. Rafael solta o ar e juro que parece um rosnado. — Vamos pôr um fim na existência miserável daqueles três hijos de puta, e voltar para casa para que eu possa te mostrar exatamente o quanto eu gostei de ter ver vestida assim, baby girl — diz e sinto meu ventre pulsar em resposta as suas palavras, e a promessa em sua voz. Eu juro que ninguém mais tem o poder de transformar qualquer situação em algo sensual. Rafael Martinez exala sexo, mesmo quando fala sobre caçar os responsáveis pelo meu sequestro. Quando nos juntamos a Kyle no hall de entrada, sinto seu olhar parar nas minhas coxas por um tempo e o loiro umedece os lábios e balança a cabeça com aprovação. — Agora entendi o motivo do atraso — murmura. Seth tem uma reação similar quando chego na garagem onde ele terminava de colocar as coisas no carro. Vou ter que dar um jeito de acrescentar arnês no meu vestuário, penso com um sorriso antes de assumir meu lugar no banco de trás. O trajeto até o aeródromo é feito em quase completo silêncio. O gps sendo o único a se pronunciar para indicar o caminho. A tensão parece aumentar a cada quilômetro, o semblante dos rapazes vai ficando mais sério. Eles não falam, mas se entreolham e assentem, como se conversando apenas através de olhares. Durante a cerimônia de condecorações depois que eles deixaram os fuzileiros navais eu ouvi diversas pessoas, colegas e os seus superiores, discorrendo sobre como durante missões os três se comportavam como um só. Como eles sempre pareciam saber o que o outro estava fazendo ou pensando, agiam guiados por um instinto que os tornava irrefreáveis e letais. Quando eles me resgataram eu tinha visto traços disso, mas olhando para eles agora eu entendia o que tinha sido falado aquele dia. Medo e insegurança começam a me corroer. Eu não deveria estar aqui... e se algo ruim acontecer precisamente porque eu insisti em acompanhá-los? Não. Não posso dar ouvidos a essas dúvidas, já estou aqui e não posso me deixar intimidar. Me concentro em lembrar de todas as minhas aulas de tiro e defesa pessoal. Eu não sou indefesa. — Chegamos — Kyle anuncia, parando o carro ao lado de um Jeep prata. Do outro lado um helicóptero de carga igual aqueles que eu sempre via em filmes, e saindo dele uma mulher ruiva, vestindo uma calça semelhante à dos rapazes e uma camiseta cinza. Ela sorri e acena assim que saímos do carro. Ela cumprimenta Raffi primeiro, abraçando-o e beijando sua bochecha. Seth é o segundo e ela aperta seu ombro antes de se virar para Kyle alargar o sorriso e abraçá-lo. A cada saudação sinto um desconforto enorme na aparente intimidade que eles compartilham. Os rapazes sempre chamaram atenção e isso nunca me afetou antes. Mas agora um único pensamento ecoa em minha cabeça: Meus. — E você deve ser a famosa Brooke — ela se dirige a mim, o mesmo sorriso ainda nos lábios. — Você não faz ideia do quanto eu queria te conhecer. Esses três sempre falaram de você. — Não era sempre — Raffi protesta e ela desvia o olhar pra ele arqueando uma sobrancelha. — Deixa pra mentir perto de quem não te conhece, Martinez — a ruiva o repreende e volta sua atenção para mim. — Eu sou a Paige — se apresenta. — Brooke — estico a mão e ela balança o cabeça e me puxa para um abraço rápido. — O que vocês estão esperando? — Paige se vira para os rapazes, mantendo um braço sobre meus ombros de forma casual. — Carreguem o helicóptero, meninos. Achei que o tempo era essencial. — Eu poderia ajudá-los, sabe? Mas pra que servem todos aqueles músculos? — ela confidencia em um tom conspiratório e pisca em seguida. — Vem, deixa eu te mostrar a cabine! Você já andou de helicóptero antes? — Não, nunca. Eu só viajo de econômica — respondo rindo, o incômodo que eu tinha sentido antes se dissipando com o seu jeito alegre. Ela me indica para subir do lado do copiloto e me mostra tudo, explicando com termos que eu esqueço assim que os escuto. — Pode colocar o cinto e os fones. Olho para ela confusa. — Não é melhor eu sentar lá atrás? — pergunto. — Se você preferir, pode. Mas aqui na frente é mais confortável e você vai poder aproveitar a vista — Paige responde antes de desviar o olhar para onde os rapazes estão. Cada um carrega uma mala daquelas que se leva para academia atravessada no peito. Não consigo desviar a atenção deles, vê-los vestidos para o combate com suas expressões sérias e determinadas faz meu sangue correr mais rápido nas veias e meu ventre se contrair. Puta que pariu como eles são gostosos! — Não garanto que a paisagem lá de cima vai superar a que você está babando agora, mas é uma experiência única. Sinto minhas bochechas corarem e me viro para a ruiva que solta uma risada. — Ei, eu entendo. — Eu arqueio uma sobrancelha. — Não se preocupe, não tenho interesse em nenhum deles. — Por que? — a pergunta escapa contra o meu melhor julgamento. — Porque eles são como irmãos que eu nunca tive. Eles sempre me apoiaram e protegeram — a ruiva responde com sinceridade e desce do helicóptero. Vejo os quatro conversando rapidamente e então os rapazes sobem na parte de trás. Kyle se aproxima da cabine. — Tudo certo, Sunshine? — meneio a cabeça e ele se curva e afivela meu cinto de segurança, testa se está apertado o suficiente. — Ponha os fones de ouvido, o som na cabine fica muito alto e o único jeito de abafar é com eles. — Pisca para mim e me dá um selinho antes de sair. Me viro para vê-lo se sentar entre Raffi e Seth, os dois já com os cintos e fones. Paige entra e se acomoda, afivelando o cinto e mexendo nos botões com precisão e rapidez. Ela coloca os próprios fones e baixa o microfone. — Bom dia, senhoras e senhores, eu sou sua piloto, Paige O’Leary. A previsão do tempo indica que os céus estarão claros até pousarmos no México. No entanto, fui informada que uma tempestade está prestes a chegar na capital e vai chover bala em quem cruzar o caminho da Hades. Ouço a risada dos três homens em meus ouvidos e esse deve ser um dos meus sons favoritos no mundo. Levantamos voo e Paige estava certa, a vista é incrível. Voar em um helicóptero é muito diferente de um avião. Mas ela nos guia pelo céu com tranquilidade, o que acalma o nó de nervos que se formou em meu estômago quando decolamos. — Eles já te contaram quando eu salvei a vida deles? — a piloto pergunta. — Não foi bem assim — Kyle reclama. — Eles não costumam me contar nada sobre as missões — respondo, minha mente voltando para o quarto com Seth. Isso foi há poucas horas, mas parece que já foi em outra vida. — Ah, não, não, quem me dera fosse em uma missão, teria sido menos vergonhoso. Estou falando do dia que esses três — ela aponta com o polegar sobre o ombro para trás. — Estavam atrasados para a apresentação para o comandante, porque passaram a noite toda em um torneio de pôquer com a unidade dos SEALs[6] e perderam a hora. — Valeu a pena, limpamos os bolsos deles — Raffi responde. — E mostramos que os MARSOC são os melhores em qualquer âmbito — Kyle acrescenta. — É, e nós usamos o dinheiro para uma boa causa. Lembra quando você ganhou a prancha nova, Brooke? — Seth pergunta. — Lembro — respondo depois de um tempo, a memória surgindo de uma das férias dos rapazes e eles me levando para escolher uma prancha de surfe nova. — Cortesia dos Navy SEALs. Pelo resto do trajeto, eles trocam histórias divertidas. Meus namorados tentam fazer com que Paige fique constrangida, mas ela sempre tem um relato pior sobre eles. Percebo que meu desconforto inicial a respeito da piloto sumiu por completo diante do claro companheirismo que ela divide com os rapazes e, é claro, o jeito amigável como ela me tratou desde o primeiro segundo. O helicóptero começa a baixar a altitude e é como se puxassem um tapete sob meus pés, toda a diversão que estava sentido é substituída pela sensação de que tem alguém sentado no meu peito, me impedindo de respirar, minha boca fica seca e fecho os olhos para me concentrar no ar entrando e saindo. Não estamos em um passeio. Seco as minhas palmas na calça e só desafivelo o cinto quando Paige desliga a aeronave que ela pousou de tal forma que nem senti. Seth abre a minha porta antes que eu tenha a chance de fazê-lo. — Temos que ir, Abelhinha. Como você está? — Nervosa, — mostro minhas mãos para ele e elas continuam firmes, nenhum tremor. — Mas estou pronta. — Ótimo. — Ele estende a mão para me ajudar a descer. Kyle me espera com um colete em mãos. Todos os três já vestem os próprios. — Você lembra da sua promessa? — pergunta quando eu retiro a peça de suas mãos e começo a vestir, Raffi vem me ajudar e ajustar as abas. — Você vai ficar atrás de nós, guardar a nossa retaguarda e se um de nós disser... — Para fugir, eu corro. Eu lembro — interrompo-o. — Aqui — Raffi me entrega duas pistolas e eu reconheço o modelo, é o mesmo que eu usei nas vezes que treinamos tiro. A primeira coisa que faço é checar o pente de cada uma delas e a trava de segurança. — Bom saber que ainda lembra. — Ele pega dois pentes extras e os coloca nos bolsos laterais do colete, as armas encaixam no arnês que ele tinha me dado antes de saírmos de casa. — Eu tive um bom professor — respondo sentindo o orgulho aquecer o meu peito. — Aqui estão as chaves — Paige diz se unindo a nós e entregando o chaveiro na mão de Seth. — Eu estarei esperando para levá-los de volta. Ela abraça cada um deles antes de se virar para mim e envolver meu pescoço. — Cuide bem deles, Brooke — ela sussurra no meu ouvido e se afasta. — Boa sorte! Meus namorados caminham para uma SUV preta que está estacionada perto da saída do aeródromo. Sei que não deveria, mas não consigo deixar de me impressionar com a rapidez com a qual eles conseguiram organizar tudo. — Ponham os cintos — Seth anuncia, ligando o carro e dando partida, ele não espera por nossas confirmações, colocando o carro em movimento e seguindo o GPS que estima apenas 8 minutos até nosso destino. Oito minutos. Espero o surto de ansiedade, o nervosismo que me acompanhou até aqui, mas não tem nada. Pela primeira vez em meses, meu cérebro está em silêncio. Tudo parece se acalmar ao meu redor, minha respiração estabiliza e quase posso sorrir. Dois minutos. — Adonis confirmou que nenhum deles saiu da fazenda — Kyle diz. — Ótimo, isso termina hoje — Raffi comenta ao meu lado. Seth desliga o carro quando o gps indica que estamos a 150 metros de nosso destino. O carro mal para e os rapazes já estão saindo, me junto a eles. — Sabemos porque estamos aqui, vamos acabar logo com isso e voltar pra casa — Kyle diz com uma mão no ombro de Seth e a outra no de Raffi. Seu olhar encontra o meu. — Quatro entram. — Quatro saem — Raffi e Seth respondem em uníssono, me fazendo sorrir. Os três pegam uma de suas armas e começam a andar, lado a lado, formando uma espécie de escudo para mim ao mesmo tempo em que flanqueiam um ao outro. Eles caminham no mesmo ritmo e é fascinante de observar. O que, é claro, significa que eu fiquei parada quase cinco passos atrás deles, mas me adianto para alcançá-los. Escuto música country vindo de dentro do celeiro, Seth acena com a cabeça e os três se distanciam, Kyle estende o braço para trás me indicando para ficar com ele. Meu coração acelera com cada passo em direção a porta metálica. Meu sangue parece borbulhar em minhas veias, toda a ansiedade e nervosismo volta em uma onda tão forte que pareço sentir seu impacto contra o meu corpo, como se tivesse tomado um caldo[7] no mar. Destravo minha arma quando Raffi segura a maçaneta da porta com uma mão, com a outra ele conta com os dedos. Um. Dois. Três. Ele escancara a porta e ouço a comoção no interior do celeiro. — Walker! — Que porra está acontecendo? — Cadê a droga da minha arma? Todos os gritos acontecem ao mesmo tempo. — Acharam que existia algum lugar seguro depois do que fizeram? — Raffi pergunta e o primeiro disparo ecoa pelo ar. Aperto o cabo da minha arma, não posso me distrair com memórias, não agora. — Carter, não adianta correr. Espero que tenha aproveitado todos os seus dias até hoje, porque este será seu último. — Ouço a voz de Seth declarar. Os tiros não param e meu coração martela em meus ouvidos. Kyle entrou me deixando do lado de fora do celeiro, fora do campo de visão de quem está do lado de dentro. Minha respiração está presa na garganta. Isso foi um erro, eu não deveria estar aqui. Um calafrio percorre a minha coluna, deixando um rastro de desconforto que se espalha pelo meu corpo. Aquela mesma sensação que eu tive quando Kyle anunciou que eles estavam vindo para cá, me dominando. O som dos tiros cessa, e meu coração fica suspenso entre uma batida e outra. — Algum de vocês pegou o Hill? — Ouço Raffi e suspiro de alívio, dando um passo em direção a porta. — Não — responde Seth. — O maldito do Carter correu para a porta traseira e fui atrás dele. — Larguem as armas — uma voz desconhecida diz, meu sangue gela. — Nem pense nisso, Martinez, você acertaria, eu sei, mas tem certeza que seria antes de eu estourar os miolos do seu amigo? Dou mais um passo e tenho certeza que a imagem na minha frente é um pesadelo. Eu vou acordar. Vamos lá, Brooke, acorda! Um homem tem uma arma apontada para a cabeça de Kyle, eles estão de costas para mim. Raffi e Seth tem as mãos levantadas, mas ainda não obedeceram ao pedido do homem. Ele é um dos homens que ordenou o meu sequestro, um dos homens que me mostrou quão vil o ser humano pode ser, que mandou seus capangas me torturarem, me quebrarem. Não posso deixar que ele me tire Kyle, não quando ele já me roubou tanto. Levanto os braços, meu aperto no cabo da pistola firme, eu miro bem meio de suas costas, não querendo arriscar errar e acabar acertando Kyle. — Só tem um problema, Derek — Seth diz e eu desvio meu olhar para ele, meu namorado tem um sorriso sarcástico nos lábios. Seu olhar encontra o meu por apenas um segundo e ele meneia a cabeça ligeiramente, como se aprovando. — É? e o que seria, Hellhound? — Você não estava em Faluja[8]. — Deve ser algum código entre os rapazes, porque Kyle que até então estava imóvel, coloca uma mão atrás das costas, três dedos aparecendo. — E o que isso importa? — Derek indaga, e Kyle abaixa um dedo. Ele está contando. Inspiro profundamente, mirando como Raffi me ensinou, o peso da arma é familiar em minha mão, mas não deixo que isso me distraia. Kyle abaixa outro dedo. Coloco o dedo no gatilho e assim que ele cerra a mão em um punho eu puxo o gatilho, sentindo o coice por todo o meu braço. Eu acerto Derek no meio das costas, a dor o distrai por tempo suficiente para que Raffi o acerte no peito. Ele cai de joelhos e Kyle chuta sua cara antes de disparar contra ela. Kyle corre até mim e me esmaga contra seu peito. — Você acaba de salvar a minha vida, Sunshine — ele murmura contra o topo da minha cabeça. Fico na ponta dos pés, minha boca buscando a dele, o beijo é incandescente, ardente, intenso, guiado pela minha necessidade de sentir seu gosto, sua presença, garantir que ele está aqui. Que isso tudo realmente acabou. Kyle parece sentir o mesmo, suas mãos apertam a minha bunda, me colando ainda mais a ele, como se isso fosse possível. — Você salvou a porra da minha vida de novo, Brooke — diz contra meus lábios. Seus olhos azuis cravados nos meus. — Você sempre foi a minha melhor amiga, a minha confidente, meus amigos no ensino médio não entendiam a nossa amizade, não entendiam a nossa conexão. Ouso dizer que nem eu entendia. Você sempre foi meu porto seguro, eu ansiava pelos dias que voltaria para casa depois de cada missão porque eu sabia que você estaria lá me esperando, pronta para curar feridas que você nem mesmo sabia que existiam. Você sempre foi o meu raio de sol, Brooke Roberts, e caso você não tenha percebido eu estou completamente apaixonado por você. — Eu te amo desde o dia em que te vi, Kyle Thorne. Como já tínhamos contactado a equipe de limpeza antes de sairmos de San Jose não tivemos que esperar muito para que eles nos encontrassem e resolvessem o nosso problema eliminando qualquer evidência que poderia ser ligada a nós. O voo de volta foi tranquilo com Brooke voando na parte de trás conosco. A loira pegou no sono, a cabeça oscilando entre o meu ombro e o de Kyle. Levaria um bom tempo para eu conseguir esquecer o sentimento de impotência que senti quando vi aquela arma apontada para a cabeça de meu irmão. O pânico se instalou assim que me dei conta de que se eu arriscasse disparar, Hill teria tempo de matar Kyle. Estava tão desesperado tentando encontrar uma solução, que nem lembrei que Brooke estava lá até Seth mencionar Faluja. Onde durante uma missão, planejamos uma emboscada para eliminar o líder de uma unidade terrorista. Daquela vez, eu estava a 450 metros, cobrindo a retaguarda da nossa unidade quando Kyle serviu de isca e se deixou ser pego pelo nosso alvo, confiando sua vida a mim, sinalizou o comando para que eu desse o tiro. Nunca poderei agradecer Brooke o suficiente, nunca fui tão grato por ter ensinado alguém a atirar em toda a minha vida. Ela é a razão de nossa família continuar intacta. E como se meus pensamentos a tivessem conjurado a loira entra na cozinha, amarrando os cabelos. Sua camiseta rosa subindo deixando exposta a pele de sua barriga, meus dedos formigam para tocá-la. — Como foi a sua sessão? — pergunto, me levantando e caminhando até ela, envolvendo sua cintura e acariciando a pele macia. No dia seguinte a nossa visita ao México, duas semanas atrás, Brooke nos informou que iria começar terapia. Ela até mesmo já tinha o contato de uma psicóloga que residia em Nova Iorque mas fazia atendimento online. Concordamos, com a condição de vetarmos a sua escolha, mas tanto a doutora Luana Masseria quanto seu assistente Yuri Saito não apresentaram problemas, e ela já teve três consultas desde então. — Foi boa. — Ela se vira e vejo seus olhos avermelhados e sei que chorou de novo. Beijo a ponta do seu nariz. — Quer conversar sobre? — ofereço. — Não tem muito o que falar — responde, dando de ombros e se virando para pegar algo na geladeira. — Já almoçou? — Ainda não. Cheguei agora, eu tinha que levar os cães pra tomar banho, lembra? — Estranhei mesmo que nenhum deles estava na minha porta. Eu vou fazer uma salada, quer? — Claro. Quer ajuda? — ela nega com a cabeça e eu lhe dou espaço. Me encostando na bancada, observo seus movimentos absorvendo mais uma vez que ela está segura e o mais importante, está se curando. Ela separa os ingredientes, tempera o frango, e o coloca pra fritar enquanto pica os vegetais. — Discutimos sobre o dia em que eu fui no shopping com a Liv — Brooke fala baixinho, consigo ver os músculos de suas costas tensionarem sob o tecido fino da camiseta. — Eu achava que tinha sido um fracasso completo, mas a doutora Luana me fez perceber que não. Eu tentei, me expus a algo que me aterrorizava e não é porque não saiu como eu esperava que eu fracassei — adiciona. — Ela sugeriu que eu continue tentando, mas que considere o tipo de ambiente. Talvez seja melhor ir a algum lugar menos movimentado do que um shopping durante uma liquidação. Isso me dá uma ideia, começo a fazer os planos enquanto respondo: — Gosto cada vez mais dessa doutora — declaro, voltando para perto da loira e cobrindo a sua mão com a minha, ela levanta o olhar para mim, a vulnerabilidade cristalina em sua íris verdes. — Ela está certa, você não faz ideia do quanto eu me orgulho de você — falo com sinceridade. — Você é uma força da natureza, babygirl. Seus olhos marejam e ela morde o lábio inferior. — E está prestes a queimar meu almoço, de novo — provoco, só para vê-la sorrir e depois de me dar um tapa e correr para desligar o fogão, seus lábios se curvam. — E mais uma vez seria culpa sua. Vou proibi-lo de me fazer companhia na cozinha. Levo a mão ao peito, fingindo estar ferido. — Você não seria capaz. — Está disposto a apostar? — pergunta, arqueando a sobrancelha e apoiando uma mão na cintura. Elimino a nossa distância com dois passos rápidos, pressionando seu corpo contra a bancada. Uma de minha mãos segura a sua cintura enquanto a outra sobe pelo seu braço numa carícia suave que faz a sua pele se arrepiar até alcançar seu pescoço. Apoio a mão ali, meu polegar massageando o ponto sensível atrás de sua orelha. Seus olhos se fecham e os lábios se partem em expectativa quando inclino minha cabeça em sua direção. — Estou — murmuro contra seus lábios e me afasto e a loira geme de frustração antes de avançar e reivindicar minha boca e morder meu lábio inferior. — Isso que você ganha por me provocar — declara se virando para preparar seu prato. — Quem disse que eu não gosto, babygirl? Você assim, toda violenta? — Dou um tapa em sua bunda. — Mas vamos almoçar que nós vamos sair. — Vamos? — ela pergunta, franzindo o cenho em confusão. — Sim, tem um lugar que eu quero te levar. — Onde? — É surpresa, mas aconselho que use calçados confortáveis. — Pisco para ela e começo a comer.
Paro o carro no estacionamento do parque estadual e me viro
para ver Brooke sorrindo. Ela passou todo o caminho cantarolando ao som das músicas da playlist que ela escolheu. — Vamos fazer uma trilha? — pergunta. — Você disse que sua psicóloga tinha sugerido sair para um lugar menos movimentado, e eu sempre quis te trazer aqui. É um dos meus lugares favoritos na Costa Oeste — explico a ideia que se formou no momento em que conversamos na cozinha. — E dizem que estar em meio a natureza ajuda a acalmar a mente. Seus olhos brilham e ela segura a minha camiseta me puxando em sua direção e cola nossos lábios em um beijo rápido. — Obrigada, Raffi. — Veremos se você vai me agradecer quando terminarmos — respondo, sabendo que a trilha para chegarmos à cachoeira leva quase uma hora de caminhada. Saímos do carro e como ainda estamos no início da tarde de uma terça-feira, tem apenas outros três carros ao nosso redor. Jogo a pequena mochila que preparei com barras de cereal e garrafas d’água nas costas, antes de segurar a mão de Brooke e seguir para o início da trilha. Sob a cobertura das árvores, o ar é mais fresco e eu respiro profundamente. Meus músculos relaxam de imediato ao sentir o perfume familiar da natureza. Brooke e eu caminhamos pela trilha de mãos dadas, sempre que nossos olhares se encontram ela sorri e meu rosto espelha o movimento. — Sem querer parecer uma criança de cinco anos, mas estamos chegando? — Quase, estamos na metade, eu acho. — Hmm. E nós vamos subir uma montanha? Ou só caminhar em meio as árvores até voltarmos? — pergunta. — Você vai ver quando chegarmos, a ideia é relaxar, babygirl. Silenciar a mente e as preocupações. Aproveitar o momento. — Certo. Mas falta muito? — pergunta, jogando o ombro contra o meu braço, sua risada se misturando ao canto dos pássaros. — Está entediada com a minha companhia, Brooke? — pergunto. — Nunca — ela responde de imediato. — Quase me convenceu — provoco. — E o que preciso fazer para te convencer. — Consigo pensar em algumas coisas — sugiro com meu melhor tom sedutor. Rubor colore suas bochechas, mas ela não me decepciona com sua resposta. — Ah, é. Alguma em especial? — Ela empurra a bochecha com a língua e seu olhar escurecido de desejo encontra o meu. — Várias — viro-a para mim, uma mão em cada lado de sua cintura, puxando-a para mim. As imagens que meu cérebro conjura são suficientes para fazer meu pau começar a endurecer contra sua barriga. — Mas acho que você de joelhos na minha frente com a boca ao redor do meu… Vozes interrompem a minha frase e um casal com uma criança passa por nós. O vermelho no rosto de Brooke se intensifica e ela me encara com olhos arregalados e pressionando os lábios. Quando a família se distancia, nós dois começamos a rir. — Você acha que eles nos ouviram? — ela pergunta. — Acho improvável, nenhum deles nos olhou de cara feia — respondo, retomando o nosso caminho, felizmente eles seguiram para a direita enquanto nós temos que pegar a esquerda para chegarmos ao nosso destino. — Ainda bem, ou poderíamos ter traumatizado aquela garotinha. — A culpa é toda sua — acuso. — Oi? Como assim? Foi você quem começou. — Quantas vezes eu vou ter que repetir? Você existe, babygirl, isso já é mais do suficiente. — Você é impossível. — E você adora. Começo a ouvir o som da água ficando mais alto a medida em que nos aproximamos da cachoeira, a razão para ter trazido Brooke para essa trilha em específico. Fico observando seu rosto com o canto do olho, vejo o momento em que ela percebe o que nos espera. Sua expressão se ilumina e ela aperta a minha mão na sua, acelerando o passo. Viramos uma curva e a floresta se abre, dando lugar a enorme cachoeira, cercada por grandes rochas. A loira se adianta para o parapeito que fica próximo o suficiente para que a água gelada respingue em nós. — É linda. Eu não acredito que eu nunca vim aqui antes — Brooke declara depois de algum tempo. — Eu morei na Califórnia a minha vida inteira. — Isso não me surpreende. — Ela arqueia uma sobrancelha. — Ah, é? E posso saber o porquê? — Como pode alguém ser tão linda? Sério, até o seu olhar de irritação mexe comigo, Brooke não precisa se esforçar para ser atraente. A loira pode estar usando uma roupa sofisticada e maquiada. ou vestindo uma camiseta rosa e shorts pretos, como agora, e ela continua sendo a mulher mais bonita que eu já vi. — Porque todo o seu tempo livre sempre foi passado no mar, é inclusive por isso que escolhi uma trilha que fosse relacionada com água, ela sempre foi o seu elemento. — Dou de ombros. — O que eu sempre assumi ser uma de suas características de sereia. — Puxo nossas mãos entrelaçadas e voltamos a andar. — Sereia? — É, você sempre exerceu um poder sobre mim, sobre nós — acrescento, lembrando de quando a conheci anos atrás e que mesmo naquela época a loira já tinha exigido seu lugar no meu coração. É claro que o carinho que eu nutria por ela então era diferente do amor que queima em mim hoje. Afinal, eu nunca imaginei que ela seria minha. — Junte isso com sua obsessão pelo mar e a conclusão lógica é que você é uma sereia que nos enfeitiçou. — Sorrio em sua direção. — Você é ridículo. — Mas você não negou, o que significa que eu estou certo. — Me viro para ela e me inclino para sussurrar em seu ouvido: — Não se preocupe, babygirl, seu segredo está seguro comigo. Ela revira os olhos, mas seus lábios estão curvados num sorriso digno do gato da Alice e sei que a leveza em meu peito está integralmente ligada com a sua felicidade. Por ver um vislumbre da alegria que costumava a envolver constantemente. Brooke solta a minha mão para abraçar meu pescoço, seu corpo se colando ao meu, meus braços envolvem sua cintura por instinto. Seu olhar encontra o meu, o verde a nossa volta sonha com o dia que poderá brilhar tão vivo quanto seus olhos. Ela umedece os lábios e minha atenção é atraída para a região, acompanho o movimento da sua língua antes de voltar a encará-la e lentamente eliminar a distância entre nossas bocas. Minha língua encontra a dela e eu juro que a minha intenção era um beijo calmo, mas o seu gosto funciona como uma faísca incendiando o meu desejo. Minhas mãos deslizam até a sua bunda apertando a carne macia e o gemido que Brooke solta contra meus lábios, me faz grunhir em resposta. — Melhor você parar de me atacar, babygirl, antes que sejamos surpreendidos por outra família. — Agora fui eu que te ataquei? — Claro, achei que já tínhamos estabelecido isso. — Tudo bem, tudo bem. — Ela joga os braços para o ar em rendição e dá um passo para trás e eu sinto falta do seu contato imediatamente. Ela apoia os braços no parapeito e eu faço o mesmo. — Obrigada por me trazer, eu amei. Passo um braço sobre seus ombros e beijo o topo da sua cabeça. Ficamos ali, abraçados, observando a cachoeira por um tempo. Eu sempre gostei de vir aqui, me lembra uma das trilhas que eu fazia quando era criança com meus irmãos. Então sempre que a saudade da minha família aperta eu venho para cá. E poder compartilhar esse lugar com a minha loira só o torna mais significativo. — Você lembra o que me disse um dia antes de eu ser levada? — ela pergunta sem me olhar. A mudança de assunto repentina me pega de surpresa, e leva um tempo para que consiga resgatar a memória. Se passaram quase três meses, mas parece que já foram anos, porém eu finalmente consigo lembrar. — Eu disse que estava apaixonado por você. — Achava que estava — ela me corrige se virando para mim e eu enlaço sua cintura. — Não tenho mais dúvidas, babygirl. — Ela sorri, mas seu olhar continua distante. — Eu pensava muito nisso enquanto estava lá, nos momentos em que eles me deixavam sozinha, pensava em como eu nunca teria a chance de te responder, de contar como eu me sinto... — Não precisa falar sobre isso, Brooke. Não foi por isso que te trouxe aqui. — Eu sei, mas a doutora Luana disse que era um passo importante me abrir sobre o que aconteceu, não me forçar a isso, mas se sentisse vontade não me impedir de falar. Fingir que não aconteceu, não torna o meu trauma menos real, só dá mais poder a ele para me manter presa no passado. Preciso dar um aumento para essa psicóloga. — Eu já sabia naquele dia que estava apaixonada por você, Raffi. Mas quando eu voltei não me sentia digna desse sentimento, de você — confessa. Tenho que suprimir a vontade de rir, ela só pode estar brincando. Em que universo essa mulher não seria digna de alguma coisa? Seguro seu rosto em minhas mãos, meu polegar acariciando a sua bochecha. A vulnerabilidade de volta em sua expressão. — Brooke Roberts, você sempre será merecedora do meu amor. Ele é incondicional e todo seu. Entenda isso: você é dona do meu coração, minha alma, meu pau, não existe uma parte minha que não te ame por inteiro... Palavras nunca foram o meu forte, por isso, desisto de tentar explicar como me sinto e decido mostrar, meu corpo sempre conversou melhor com o dela, de qualquer forma. Colo nossos lábios em um beijo ardente que eu espero expressar todo o meu amor, desejo e devoção. Essa mulher é tudo para mim e preciso que ela entenda isso, que aceite que ela é o meu futuro. Nossas línguas se embolam e se exploram. Minhas mãos passeiam por seu corpo, decididas a memorizar todas as suas curvas, quando uma de minhas palmas apalpa seu seio, ela arqueia o corpo, empurrando o contra mim. A loira explora o meu corpo por conta própria, uma de suas mãos sobe por meu braço até alcançar a minha nuca, seus dedos se enfiando entre meus cabelos, segurando os fios e puxando a minha cabeça em sua direção, é como se ela precisasse desafiar a física e fundir nossos corpos. Nosso beijo se intensifica, seu corpo exigindo mais e o meu pronto para atender cada um de seus pedidos. Começo a trilhar beijos por seu maxilar, seu queixo, descendo por seu pescoço, mas ela me puxa de volta para ela. E o desejo que encontro em seus olhos deve ser um espelho dos meus. Não sei se ela pulou no meu colo ou se eu a puxei, tudo que sei é que suas pernas envolvem a minha cintura. Brooke geme quando sente a minha ereção. — Eu preciso sentir você — suplico e ela rebola em meu colo, empurrando o corpo na direção do meu pau. Ela concorda com a cabeça e eu sigo em direção a um aglomerado de árvores que vai nos fornecer algum tipo de privacidade. Sua boca reivindica a minha em outro beijo abrasador que faz meu sangue ferver. Meu pau pulsa em resposta ao gemido que escapa da garganta de Brooke quando apoio as suas costas contra o tronco de uma árvore. — Você não tem ideia do quanto eu te quero, babygirl — murmuro contra seus lábios. — Mas eu tenho toda a intenção de te mostrar — acrescento, roçando meu corpo contra o dela, vendo suas costas arquearem em resposta. — O que você está esperando? — pergunta com a voz rouca de desejo. Ela desliza as pernas da minha cintura ficando de pé. Volto a beijá-la, minha mão descendo pela lateral de seu corpo até alcançar o cós de seus shorts, deslizo um dedo de um lado para o outro pela extensão da peça. Minha atenção no rosto de Brooke que morde o lábio inferior para conter seus gemidos. A loira arfa quando minha mão ultrapassa a barreira do short e de sua calcinha de uma vez, encontrando sua boceta encharcada. Meu pau incha ainda mais quando descubro quão pronta para mim ela está. Meus dedos provocam a sua entrada, deslizando para cima e para baixo algumas vezes. — Raffi — ela choraminga meu nome, sua mão cobrindo a minha e apertando. — Por favor. Sorrio para ela e penetro-a com dois dedos, curvando os dentro dela que deixa a cabeça cair para trás. Uso o polegar para estimular o seu clitóris enquanto meus dedos fodem a sua entrada. Eu amo vê-la assim, entregue ao tesão. Não demora para ela começar a se contorcer na minha mão, cavalgando meus dedos e seus gemidos se tornam cada vez mais ofegantes. Sua mão agarra meu bíceps e ela esmaga a boca contra a minha para conter o grito enquanto ela goza nos meus dedos. Deixo que ela desfrute cada onda de prazer antes de me retirar e sob seu olhar lascivo levo os dedos a minha boca e chupo a sua excitação. — Deliciosa — digo em um grunhido. — Caralho, eu preciso estar dentro de você agora, babygirl. Ela sorri maliciosamente e se vira, empinando a bunda redonda e se apoiando na árvore a sua frente. Me curvo sobre ela, minha ereção acomodada entre suas nádegas e pergunto em seu ouvido: — É assim que você me quer? Sua resposta é esfregar a bunda contra meu pau, me fazendo gemer em seu ouvido e posso jurar que a vejo estremecer ao som. Invisto contra o seu rabo delicioso, provocando-a por cima da roupa enquanto pego minha carteira no bolso em busca do preservativo. Assim que o encontro, prendo ele entre os dentes e deslizo a roupa de Brooke por suas pernas, minhas mãos acariciando a parte interna de suas coxas quando sobem. Me livro das minhas roupas e ela se vira e lambe os lábios enquanto seu olhar acompanha minha mão que desliza a camisinha pelo meu comprimento. Pincelo meu pau na sua entrada, usando sua própria excitação como lubrificante. Ela geme em resposta e tenta jogar o corpo para trás buscando mais atrito. Apoio minhas mãos em seu quadril e penetro-a devagar, desfrutando da sensação de ser abraçado por sua boceta a cada centímetro. — Vê como você é perfeita para mim? — pergunto quando estou totalmente dentro dela. — Como o nosso encaixe é divino? Começo a me movimentar, me retirando quase por inteiro antes de me enterrar nela novamente, aumentando o ritmo gradualmente até que nossos gemidos se misturem ao som da cachoeira. A preocupação que vem com o perigo de sermos pegos só aumenta a minha excitação, a minha urgência de marcá-la como minha assim como eu sou dela. Alterno entre movimentos curtos e rápidos e estocadas longas. Os gemidos de Brooke ficam cada vez mais altos. Sinto minha namorada começar a tensionar, suas paredes esmagando meu pau. — Eu te amo, babygirl — declaro e a sinto se contrair e desfazer em prazer ao meu redor, a forma como seu corpo me aperta, me levando ao limite. — Lembra quando eu disse que esse parque era meu lugar favorito? — pergunto. — Sim — responde em um gemido, suas mãos apertando o tronco enquanto ela vive as últimas ondas de seu prazer. — Eu estava errado, meu lugar favorito é bem aqui — digo, penetrando-a até que meu abdômen esteja colado em seu rabo, sua última contração me fazendo atingir o clímax. — Enterrado em você. O cheiro de pão recém assado me envolve assim que entro na pequena padaria abaixo do apartamento de Liv. Minha melhor amiga me espera sentada numa mesa de vidro perto da vitrine. Ethan, minha sombra, me segue de perto até ela. — Desculpa, pela mudança de planos — ela pede, se levantando para me abraçar. — Mas tenho que entregar o projeto na segunda-feira e nem um terço dele está pronto. — Ela parece prestes a chorar. Seguro sua mão e sorrio. — Não tem problema nenhum. Eu sei como esse projeto é importante, é o primeiro na sua empresa nova que está sob sua completa responsabilidade. Eu teria entendido se precisasse cancelar — afirmo. — Até parece! Eu preciso comer e nunca perderia a chance de te ver — responde, dispensando meu comentário com a mão. Seu olhar passa para o homem às minhas costas e ela sorri. — Oi, Ethan. — Boa tarde, senhorita Jones. — Liv, Olivia ou meu amor, já te disse — ela o corrige. — Liv — eu a censuro, dando um tapa em seu braço. — O que foi? — pergunta, fingindo inocência. — Eu e o Ethan ficamos muito próximos na última vez que nos vimos, sabe? Reviro os olhos e me viro para meu guarda-costas. — Desculpe, é impossível controlá-la. Ele sorri e não consigo julgar minha amiga por insistir em conquistá-lo. — Ei, a culpa não é minha. De qualquer forma, já querem pedir? — Sim, por favor, eu passei os últimos dias pensando no croissant de chocolate que eles vendem aqui. — Dou dois passos antes de me virar para Ethan. — O que você vai querer? — Só um café, por favor. — Tem certeza? Os doces deles são os melhores e são todos feitos aqui. — Tenho, só café. Obrigado, Brooke. Me junto a Liv no balcão, fazemos o nosso pedido e retornamos para a mesa. Ethan não se senta conosco, como sempre. Eu tinha perguntado para ele o motivo na semana passada e sua resposta só fez com que eu gostasse mais dele. “Meu trabalho é garantir a sua segurança e não invadir a sua privacidade, por isso prefiro te dar algum espaço para conversar livremente com a sua amiga”, e deu de ombros como se não fosse nada. — Então, como estão as coisas? — pergunto. — O trabalho está a loucura que eu te falei. Finalmente tenho responsabilidades e estou sendo levada a sério, o que explica o projeto de design, mas você não vai acreditar quem deu as caras — diz, apertando os lábios em desgosto. — Quem? O Nick? — pergunto, me referindo ao advogado com quem ela saiu algumas vezes e acabou em desastre. De novo. — Quem me dera. A garçonete chega com nossos pedidos interrompendo a conversa enquanto entrega meu croissant quentinho com um Pumpkin Spice Latte [9] e um rolinho de canela com cobertura de cream cheese, e um frappuccino[10] de caramelo para Liv. Ela parece confusa com a última xícara nas mãos, olhando de mim para a morena. — É meu — digo e ela me entrega o café preto e sem açúcar que Ethan pediu, me viro e ele já está com a mão esperando. — Obrigado, Brooke. — Por que ela você chama pelo nome, Ethan? — Liv questiona indignada. — Porque ela é minha chefe, senhorita Jones. — Não sou nada — me defendo. — Pede pra ele me chamar de Liv — ela pede, apontando para mim. E ouço a risada baixa de Ethan às minhas costas. — Eu não tenho nada a ver com isso. — Achei que você era minha amiga — reclama, dando um gole em sua bebida. — E eu sou. Mas você estava me falando de uma visita nada agradável? — mudo de assunto. Olivia brinca com o canudo por um tempo e responde sem me olhar. — Meu pai. E não foi bem uma visita, até parece que o governador Jones tem tempo para me ver. — A amargura em sua voz é refletida em sua expressão. — Sua assistente apareceu no escritório com uma carta. — O que ele quer? — pergunto antes de dar a primeira mordida no meu doce sentindo o chocolate derretendo contra a minha língua. — O de sempre. — Ela dá de ombros e desvia o olhar para a vitrine. Desde que eu conheci Liv na faculdade, sua família sempre foi um ponto sensível. Levou um ano até ela me contar quem eram os seus pais e eu nem acreditei no início. Porém, pelo que ela me contou, seus pais não ficaram muito felizes com a sua escolha de carreira e muito menos com a sua decisão de conseguir as coisas por conta própria. — Saber se eu já estou pronta para assumir meu lugar de volta na família, o que em outras palavras quer dizer se estou pronta para ele me casar com o filho de algum dos seus aliados políticos. Eu sou a única filha dele, achei que com o tempo o grande Grant Jones sentiria a minha falta mais do que ele precisa de uma marionete, mas eu estava errada. — Sinto muito, Liv. — Aperto sua mão sobre a mesa. — Tudo bem. Mês que vem é o aniversário de 50 anos da mamãe e não posso perder, então vou ter que enfrentar todas as discussões. — Ela se vira para mim e seca a bochecha abrindo um sorriso. — Mas e você, quais as novidades? Você parece bem. Ela dá uma mordida em seu rolinho de canela. — Estou bem, melhorando. — Sinto meus lábios se curvarem em um sorriso. — Eu comecei a fazer terapia. — Você está falando sério? — Meneio a cabeça, concordando. — Fico tão feliz! Com aquela psicóloga que eu te falei? — Sim, a doutora Luana é sensacional. Muito obrigada por ter me indicado e por sempre me apoiar e querer o meu bem — digo com sinceridade. Olivia sempre me incentivou a ser melhor, a querer mais. Nenhum sonho era grande demais e depois que comecei a me envolver com os rapazes, ela nunca me julgou. Inclusive sempre me aconselhou a seguir meu coração e buscar a felicidade. — Para que servem as melhores amigas? — Você sabe muito bem que é mais do que isso. — Eu sei, e como estão os três gostosos que você chama de namorados? — pergunta mudando de assunto. — Estão ótimos, — nem tento suprimir o sorriso largo que se abre em meu rosto. — É tão extraordinário como tudo parece certo, mesmo com tudo que aconteceu, sinto que meu lugar é com eles, todos eles. É muito clichê dizer que cada um deles me completa de uma forma diferente, mas que sem um deles eu nunca conseguiria estar de fato inteira? — É muito clichê — ela brinca. — Mas não tem nada de errado com clichês. — É, acho que não. Terminamos de comer enquanto Liv me conta mais sobre seu trabalho e seus colegas. O ambiente parece muito menos tóxico que o anterior e fico feliz, aquele lugar estava sugando todas as energias da minha amiga. — Não quero trabalhar — ela reclama quando já estamos na calçada. — Você só está com preguiça, mas sabe que adora seu trabalho. — Não quando ele me faz trabalhar no fim de semana. — Deixa de drama! Quanto antes você fizer, antes termina. — Como se eu tivesse muito tempo. Hoje é sábado e já são... — ela pega o celular no bolso de trás. — três e vinte e sete da tarde. — Hora de trabalhar então — digo, puxando-a para um abraço. — Se cuida, te amo! — Também te amo, se eu não der sinal de vida até segunda é porque eu morri. Por favor, mande flores! — Dramática. Ethan se aproxima assim que a morena entra pela porta lateral do prédio para subir para seu apartamento. — Quer passar em algum lugar antes de voltar pra casa? — pergunta. — Não, já podemos ir. Quando estamos passando por um beco em direção ao carro que está estacionado na outra quadra, ouço um ganido. Me viro buscando a origem do som, mas só vejo uma caçamba de lixo e muita sujeira em volta. — O que foi? — Ethan pergunta. — Eu achei que tinha ouvido alguma coisa, deve ter sido impressão minha. Estou quase voltando a andar quando movimento chama a minha atenção. — Tem algo ali, Ethan — digo. — Onde? — indaga, um de suas mãos tocando as minhas costas e a outra já segurando a pistola que carrega na cintura. — Ali — aponto e me adianto para dentro do beco. — Brooke! — Meu guarda-costas segura meu braço, me impedindo de continuar avançando. — Tem alguma coisa ali. O ganido soa de novo, mais claro agora que estou mais perto. É um filhote. Chuto alguns sacos e encontro uma caixa de papelão toda amassada e uma cabecinha peluda com olhos castanhos suplicantes me encaram. Meu coração quebra, quem é tão cruel a ponto de abandonar um bichinho no meio do lixo? Se não pode cuidar, existem tantos abrigos, não existe desculpa para esse tipo de comportamento. — Está tudo bem, pequeno. Tudo vai ficar bem — falo pegando o filhote no colo. — Você vai adorar a sua nova casa e os seus irmãos vão ficar loucos por ter alguém novo para brincar. O cachorro pula no meu colo e lambe meu rosto várias vezes, como se entendesse cada uma de minhas palavras, talvez ele entenda que eu não vou deixá-lo sozinho. Confiro o relógio mais uma vez. Ela está atrasada. De novo. Saio da academia indo atrás de Brooke para o nosso treino. Chego na sala, e, exatamente como eu esperava, a loira está no chão brincando com a nova cachorrinha. Minha namorada chegou com a filhote mestiça de pastor alemão há alguns dias. Depois de levá-la ao veterinário descobriu que ao contrário do que ela achava, o filhote era uma fêmea. E agora Brooke passa todo o seu tempo atrás da cachorra que é um pequeno furacão. Já destruiu um dos meus tênis, mijou no tapete da entrada, comeu um dos documentos da Hades que Kyle acidentalmente deixou sobre a mesa da sala, e mastigou uma das hastes dos óculos de sol de Raffi. — Como está a destruidora de lares? — pergunto como forma de cumprimento. — Não chama a Perséfone assim. — Ela cobre as orelhas da cachorra. — Ela é um filhote, o que você esperava? — Você na academia há meia hora. Ela se espanta e olha para o relógio na parede, um leve rubor em suas bochechas. — Me distraí. Mas quem consegue resistir a esse rostinho fofo? — pergunta, levantando a cachorra em minha direção. — Ela é linda —admito. — Não vejo a hora de ela ser adestrada e parar de destruir tudo a sua volta. — Você só reclama, mas acha que eu não vi você brincando com ela de madrugada? — É claro, ela estava chorando. Não é como se eu pudesse simplesmente ignorá-la. — Dou de ombros, mas a verdade é que ela me lembra o Banguela quando eu o trouxe pra casa. Cérbero e Apolo já faziam parte da nossa família, eu não tinha intenção de adotar outro cão, mas Adonis descobriu uma rinha de cães [11] em San Jose enquanto estava atrás de algum predador e nos avisou. Contactamos as autoridades locais e como fomos os informantes, acompanhamos o processo. A maioria dos filhotes foram realocados, mas ninguém conseguia chegar perto de um dos filhotes de pitbull, que já é uma raça que sofre muito preconceito, por ele ser completamente preto acreditavam ser um mau agouro. Fiquei sabendo que ele seria sacrificado se não encontrassem uma casa para ele. Naquele mesmo dia, visitei o canil onde ele estava sendo mantido e o cão que todos tinham medo correu em minha direção abanando o rabo e lambendo minha mão. E simples assim, Banguela me adotou. — Mas agora ela vai brincar no jardim — comento. — Eu sei — ela diz se levantando com a filhote no colo, os outros três que estavam deitados no canto afastado se juntam a ela. — Vem, Perséfone, você vai brincar com seus irmãos lá fora agora. Sopro uma risada com o nome escolhido. — O que foi? — É um nome um pouco grande para ela você não acha? — Não, ela vai crescer. Como se você pudesse falar alguma coisa — comenta passando por mim em direção da cozinha e da porta que leva para o quintal. — O que você quer dizer com isso? — Qual o nome da sua empresa mesmo? — ela rebate, arqueando a sobrancelha. — Hades’ Men[12] Corp. — E da boate? — Underworld[13]. — E temos outros três cachorros, dois deles tem nomes de deuses gregos, e Banguela é uma referência a um dragão de um desenho animado. Por isso, Perséfone se encaixa perfeitamente — declara confiante, fechando a porta depois que todos os cães já estão no jardim. — Então o que você está dizendo é que o nome da sua cachorra é uma homenagem a nós? — pergunto com um sorriso convencido. Ela dá um tapa no meu braço e segue para a academia. Ela já está se alongando quando eu chego. Fazemos um aquecimento rápido na esteira antes de nos juntarmos no tatame. — O que acha de começarmos com um sparing[14]? Ver o quanto você assimilou das aulas passadas — sugiro. Ela dá de ombros e se coloca em posição de luta. Os dois braços levantados e protegendo seu corpo e rosto, um pé na frente no outro. O seu progresso e dedicação nunca deixam de me impressionar, durante o último mês ela recuperou a sua resistência e força. Ficamos alguns segundos nos observando, espero que a loira decida se quer começar na ofensiva ou na defensiva. Ela estende um dos braços e sorri enquanto vira a palma para cima e move os dedos num gesto claro de “vem”. — Não me provoque — advirto, avançando. Desferindo uma combinação de socos e chutes, testando os reflexos da loira que consegue defender ou desviar de cada um dos golpes. Brooke se agacha, tentando me dar uma rasteira, e quando eu me esquivo ela parte pra ofensiva, buscando uma brecha que possa explorar em minha defesa. Depois de alguns golpes, deixo meu lado esquerdo exposto, vejo sua atenção ir para o ponto. Ela não perde tempo e me soca nas costelas. Seguro seu braço antes que tenha tempo de puxá-lo de volta. — Boa escolha de alvo —elogio. — Mas precisa melhorar o retorno. Ela sorri, se aproximando e girando seu braço de tal forma que ela se solta e agarra o meu, prendendo-o contra ela. Seus movimentos são fluídos e ela só para quando está colada contra as minhas costas, meu braço em uma posição nada confortável entre nós. É impossível ignorar o volume de seus seios contra as minhas costas, ou o cheiro de seu perfume floral que preenche meus pulmões cada vez que eu respiro, e seu sussurro travesso em meu ouvido só alimenta a fome constante que eu sinto por Brooke. — Você estava dizendo... — Seus lábios resvalam contra o lóbulo da minha orelha e um calafrio me percorre. Levo alguns segundos para me recompor e virar meu corpo para ficar de frente para a loira. Solto meu braço usando o mesmo movimento que ensinei para Brooke em nossas primeiras sessões. Agora que tenho os braços livres, seguro um seu cotovelo direito com uma mão e com a outra agarro a sua camiseta sobre o ombro esquerdo, avançando e trazendo-a para a minha lateral quase nas minhas costas. Sem lhe dar tempo para processar os movimentos, passo uma das minhas pernas entre as suas e a derrubo no chão, caindo sobre ela. Meus braços seguram seus pulsos ao lado de sua cabeça enquanto meus joelhos prendem a sua cintura e mantenho minhas pernas coladas ao seu corpo, Brooke é rápida e dobra os joelhos ganhando certa vantagem com o movimento e me forçando a me apoiar em suas coxas. É minha vez de sorrir. — O que eu te ensinei sobre se vangloriar cedo demais? — Ver Brooke sob mim, com um olhar desafiante mesmo em uma posição submissa, faz meu sangue esquentar e bombear mais rápido em direção ao meu pau. Ela não hesita em usar a manobra que já treinamos diversas vezes. Impulsionando seus quadris para cima ao mesmo tempo em que arrasta seus pulsos em uma meia lua para baixo, se libertando e tirando o meu equilíbrio, sou obrigado a usar meus braços para impedir que minha cabeça bata no tatame. A loira abraça meu tronco, me impedindo de levantar. Seu braço direito serpenteia ao redor do meu esquerdo, puxando-o em direção ao seu peito com firmeza, ela usa seu próprio joelho para guiar o movimento e inverter nossas posições. Brooke está entre minhas pernas, segurando meus braços. Nossos olhares se cruzam e o ar muda, a tensão criada pelo exercício dá lugar a uma energia carregada de desejo. Ela sobe pelo meu colo, sentando sobre meu abdômen, suas mãos nos meus braços sobem até meus pulsos. Ela se inclina devagar, me dando uma visão deliciosa de seu decote, seu rosto paira sobre o meu. Sua atenção desce dos meus olhos para a minha boca antes de retornar. — Quem celebrou antes da hora agora? — pergunta, esfregando seu ventre contra meu pau que já começa a endurecer. Ela abre um de seus sorrisos maliciosos antes de eliminar a distância e me beijar. O toque de seus lábios macios faz com que os resquícios de autocontrole que eu possuo, quando o assunto é a mulher montada em mim nesse momento, evaporem. Sua língua invade minha boca, explorando e se embolando contra a minha. Ela afrouxa as mãos que me seguram e aproveito para me soltar, deslizo meus dedos por seus braços, passando por suas costelas até alcançar sua bunda redonda e empurrá-la em direção à minha ereção. Brooke geme contra a minha boca, rebolando em meu colo e arrancando um grunhido da minha garganta. A loira alcança a barra da minha camiseta e espalma a mão em meu abdômen, contornando os músculos com seus dedos ágeis e me levando ao limite. Minha necessidade de possui-la eliminando todas as minhas convicções do porquê eu não deveria. Estou cansado de esperar, cansado de ter medo de que ela vá fugir. Brooke viu toda a minha escuridão e não se assustou, pelo contrário, ela a abraçou, acolheu e me mostrou uma e outra vez que me ama sem restrições. Ela se afasta, seus olhos escurecidos de desejo, os lábios avermelhados pelo beijo. — Seth — meu nome é como uma oração em seus lábios. — Me mostra como você gosta. Se eu já não estivesse decidido a fazer exatamente isso, suas palavras teriam sido minha ruína. Seguro seus quadris, invertendo nossas posições mais uma vez. — Quarto — ordeno. — Agora. — Quarto. Agora. A minha Brooke interna já está sem camiseta e a rodopiando no ar em celebração enquanto eu ainda duvido dos meus ouvidos por alguns segundos. Seth se levanta e imediatamente sinto falta do seu corpo, de sentir como reage a mim e, se estiver sendo honesta, sentindo falta de como pareço queimar toda vez que ele me toca. Sem olhar para trás ele se afasta, me levanto correndo e o alcanço já no pé das escadas. Ele abre a porta para o seu quarto e faz um gesto para que eu entre primeiro, estou passando por ele quando vejo o músculo de seu maxilar se retesar, como se ele estivesse se controlando. Meu ventre formiga em expectativa de vê-lo abandonar o controle. Não resisto a chance de testar seus limites e me viro, colando meu corpo ao dele, que se choca com a madeira às suas costas. Reivindicando seus lábios mais uma vez em um beijo que consome tudo dentro e ao meu redor, deixando apenas o desejo, o tesão incandescente que faz meu sangue ferver através do meu corpo. Seguro a barra de sua camiseta, puxando-a para cima e roçando as costas de meus dedos contra seu abdômen sarado. Sou obrigada a me afastar para retirar a peça, mas antes que eu volte a beijá-lo, Seth segura meu pescoço com a mão. — Calma, Abelhinha — sua voz tem uma rouquidão que eu nunca ouvi antes que deixa meus joelhos fracos e tenho certeza que minha calcinha está arruinada. — Você vai precisar de uma palavra de segurança — declara. Minha mente fica em branco. Uma palavra de segurança? Quero me chutar, por que eu não decidi isso antes? Não é como se eu não tivesse passado os dias desde a confissão de Seth, imaginando o que ele gosta e eu já tinha lido o suficiente para saber quão essencial é ter uma palavra de segurança. Seth, como sempre, consegue ler minhas emoções como se estivessem escritas em uma folha de papel. — Não se preocupe, acho melhor usarmos o sistema de cores — diz, seu polegar acariciando a lateral do meu pescoço. — Conhece? — Concordo com a cabeça e ele sorri. — Me conta. — Igual as luzes de trânsito. Verde, amarelo e vermelho. — Muito bem. Você entende que quando eu te pedir uma cor, você precisa responder ou eu vou parar? — Sim, senhor. — Porra — exclama em um grunhido, sua mão apertando meu pescoço levemente enquanto me puxa para ele. Esmagando seus lábios contra os meus, engolindo meus gemidos. Sua outra mão desce pela minha coluna até a minha bunda, agarrando-a e pressionando meu corpo contra ele. Sinto sua evidente ereção contra minha barriga e meu ventre se contraí insatisfeito com o vazio que encontra. Seth encosta a testa na minha, suas irises azuis profundas me fitando intensamente. A mão que envolvia meu pescoço sobe para meu rosto e ele acaricia minha bochecha. — Se você precisar, ou quiser parar a qualquer momento, use sua palavra de segurança. — Existe uma pitada de desespero ou súplica em sua voz. — Não importa quando ou porquê. Diga vermelho e vou parar, sem julgamentos. — Tudo bem — respondo prontamente. — Preciso que me prometa, Abelhinha. Não consigo suportar a ideia de que posso te machucar. — Você nunca me machucaria. — Prometa que vai usar a palavra de segurança. — Eu prometo, Seth. Ele fecha os olhos e suspira, quando os abre novamente algo em sua expressão está diferente, mais selvagem, indomável, primitivo. Como se em resposta a mudança meu corpo entra em ebulição, algo que achava impossível quando eu já estava queimando de tesão pelo homem à minha frente. — Boa garota. Meus joelhos quase cedem diante do elogio sussurrado com a voz rouca, mas Seth me pega no colo antes que eu possa fazer isso. Minhas pernas se entrelaçam contra a sua cintura enquanto ele caminha até a cama. Meu namorado me deita no colchão e dá um passo para trás, seu olhar é uma carícia sobre todo o meu corpo. Ele se inclina e meus braços envolvem seu pescoço puxando o para mim, ele se retesa e segura meus punhos, tirando-os de seu pescoço e prendendo-os contra o colchão com apenas uma mão. Com a outra ele segura meu queixo. — Mantenha suas mãos paradas para mim, Abelhinha. — O comando em sua voz atinge diretamente minha boceta, esfrego as pernas uma contra a outra em busca de algum tipo de alívio. Seth mal me tocou e eu já estou no meu limite de tanta antecipação. Seus lábios buscam o meu em outro beijo que tira meu ar. Ele tira a minha blusa e meu top e o ar parece frio contra a minha pele. Seth trilha beijos pela minha mandíbula, descendo pelo meu pescoço, até alcançar meus seios. Contorna um dos mamilos com a língua antes de chupá-lo com força e morder. O gemido que deixa minha garganta é quase um grito. — Cor? — ele demanda contra a pele sensível. — Verde — respondo de imediato. A alusão à dor que a mordida proporcionou apenas elevando o meu prazer. Lambendo o caminho até o outro seio ele repete a sequência, contornando com a língua e mordendo um pouco mais forte do que antes ao mesmo tempo em que belisca o outro mamilo entre o polegar e o indicador. Minhas costas deixam o colchão com a força do prazer que ameaça me rasgar. Meu deus, ele só tocou nos meus seios e eu já estou à beira da loucura, como vai ser quando ele me foder de verdade? — Cor? — o mesmo tom autoritário. — Verde. Seth desenha círculos ao redor de meus seios, seus dedos contornando as extremidades, o limite entre meus peitos e minhas costelas, passando pelo centro do meu tórax, a cada volta os círculos se tornam mais concêntricos, minha pele formiga em resposta e minha respiração ofegante de expectativa faz meu peito subir e descer rapidamente sob suas mãos. Até alcançar os bicos intumescidos, seu olhar encontra o meu no momento em que ele volta a beliscá-los simultaneamente e dessa vez eu grito. A dor se mescla ao prazer e sinto meu clitóris pulsar e exigir atenção. O sorriso malicioso que ele tem nos lábios enquanto se levanta e desliza as mãos pelas laterais de meu corpo, deixa minha pele em brasas pelo caminho. Ele não perde tempo e tira minhas calças, seus dedos acariciando minhas pernas no processo. O olhar de Seth se torna predatório quando se concentra no meio das minhas pernas. Ele desliza o indicador lentamente pela fenda de minha boceta por cima do tecido da minha calcinha e eu me esfrego contra seu dedo. — Seth — choramingo quando ele tira o dedo e o esfrega contra o polegar. Consigo ver a minha excitação reluzindo em seus dedos. Meu namorado se ajoelha em frente a cama e retira a minha calcinha. Suas mãos seguram meus quadris e me puxam para a frente, minhas coxas passando por cima de seus ombros, até meu sexo estar diante de seu rosto, sua respiração diretamente sobre a minha boceta fazendo meu corpo se contorcer. Seus dedos apertam a minha cintura, restringindo meus movimentos e me forçando a ficar parada. Ele lambe a minha abertura, meus gemidos contínuos se tornam cada vez mais altos e minhas costas deixam o colchão, se arqueando enquanto ele desliza a língua intencionalmente devagar debaixo para cima, seu grunhido de aprovação reverbera pelo meu corpo. Sua boca se fecha contra minha boceta, intercalando entre me chupar intensamente ou me castigar com sua língua. O tesão transpassa toda e cada molécula que existe em mim, Seth me chupa como se fosse um homem sedento e eu fosse a única fonte de água que ele encontra em meses. O prazer começa a se acumular em meu ventre, como uma onda se formando no oceano. Os dentes de Seth se fecham contra meu clitóris e a pontada de dor amplia todos os meus sentidos. — Seth — grito seu nome quando o orgasmo arrebatador me dilacera. Ele só para de me chupar quando o último espasmo de prazer deixa meu corpo. Meu namorado se levanta, limpando o queixo com as costas da mão. — Parece que eu acertei em seu apelido. Você é doce igual mel, Abelhinha. Acompanho sua mão reajustar o pau dentro da calça de moletom cinza e sinto minha boca salivar. Eu sei que ele é grande, já o senti contra mim várias vezes, mas o contorno que eu vejo é impressionante. — Pronta para começar? — pergunta caminhando em direção ao seu guarda-roupa. Começar? Esse homem quer me destruir e só posso dizer: — Nasci pronta. — Me apoio nos cotovelos, curiosa para ver o que ele está fazendo. Os músculos de suas costas se mexendo sob a pele conforme ele se movimenta para abrir a porta de canto do seu armário. Levo um tempo para decifrar o que são as tiras de couro de diversas espessuras na prateleira superior. — Por que você tem tantas coleiras para o Banguela se ele sempre usa a mesma? — pergunto. Seth se vira com um brilho malicioso no olhar. — Não são para o Banguela. O entendimento me percorre e meu ventre pulsa, como se batesse palmas para a ideia. Continuo tentando identificar os artigos que ele tem e me surpreendo com a variedade de chicotes, açoites, mordaças e mais. Meu namorado se vira com uma corda vermelha nas mãos. Excitação e antecipação me dominam enquanto ele se aproxima. Ele estica os braços, expondo o fio vermelho. — Cor? — pergunta. E por um segundo quase respondo vermelho apenas por estar olhando para a cor, mas sei o que ele está fazendo. Está me pedindo permissão para usar a corda em mim. — Verde. — Seus ombros relaxam minimamente, como se ele esperasse outra resposta. Como se mesmo agora, depois de tudo que passamos, ele ainda suspeitasse que eu fosse fugir. Nem que me levasse a vida inteira, eu provaria para Seth Donahue que o amor que eu sinto por ele desconhece limites, e que nenhuma parte dele pode me assustar ou afastar. Estou aqui para ficar, para sempre. — Levanta — ordena e meu corpo responde por instinto, nem lembro de ter dado o comando ao meu cérebro. Ele toca a minha mão e um choque elétrico me atravessa. Seth me afasta da cama e se posiciona atrás de mim. O primeiro toque da corda dupla contra a minha pele é estranho, ela é suave ao mesmo tempo em que ainda é áspera e firme contra minhas costas. Seth me rodeia trazendo a corda para a frente, passando por baixo dos meus seios, a aspereza contrastante contra a maciez da minha pele, me faz arfar. Expectativa se mistura ao tesão a cada volta que Seth dá, formando um padrão intrincado com a corda ao redor de meus seios, seus dedos pairando sobre a minha pele em um sussurro de um toque. Começo a ansiar pelo momento em que vou sentir a sua pele contra a minha mais uma vez. Quando Seth para em minha frente, meus seios estão completamente expostos, o fio vermelho que se destaca em minha pele formando uma espécie de sutiã que não cobre nada, mas delineia perfeitamente meu colo. — Cor? — Verde. — A corda é restritiva, mas não sufocante, consigo sentir cada ponto onde ela me aperta, mas não é doloroso. Ele começa a dar nós consecutivos na corda, deixando-a mais grossa e fico confusa com o que ele vai fazer, até que Seth a pressiona contra a lateral do meu corpo, balança a cabeça negativamente e faz mais alguns antes de repetir o movimento e sorrir. Começa a envolver meus quadris com a corda vermelha, cada novo ponto onde a corda se cruza aumentando a pressão e a tensão contra a minha pele. — Abra as pernas pra mim, Abelhinha. — Tesão em seu tom, como se ele estivesse tão desesperado quanto eu, tão necessitado do que vem a seguir, mas suas mãos continuam trabalhando com atenção e paciência. Seth desliza a corda dupla pela minha virilha, os nós de seus dedos tocando a minha boceta e me fazendo gemer. Os olhos de Seth encontram os meus cheios de fome e desejo. Sinto que meu corpo está prestes a sofrer combustão espontânea, preciso dele dentro de mim. Não sei quanto tempo ainda sou capaz de suportar, e quando ele desliza a corda pela outra perna tenho certeza que sou capaz de gozar a qualquer segundo. Ele me contorna mais uma vez ficando atrás de mim e termina de me amarrar. Seth se cola a mim, sua ereção contra a minha bunda enquanto suas mãos serpenteiam ao redor da minha barriga, trilhando o caminho criado pelas cordas até meu sexo e espalma sua mão contra minha boceta. Seguro seus antebraços diante da onda de prazer que me toma por finalmente sentir mais do que um toque fugaz. — Cor? — pergunta contra meu ouvido, o calafrio que me percorre faz meu corpo tremer. — Verde — respondo rápido. — Seth, por favor, — suplico. — Eu preciso sentir você. Ele curva dois dedos me penetrando sem aviso e eu grito em êxtase. — Você não tem ideia de quanto tempo eu esperei pra te ter gritando e implorando por mais. Por isso, vou tomar muito tempo venerando seu corpo delicioso. — Ele morde meu pescoço com força e eu explodo em sua mão. Seth me vira de frente para ele, para que eu veja quando ele leva seus dedos a boca e chupa cada um deles me encarando. — Lembra aquele dia que eu te fodi com meus dedos? — Meneio a cabeça em resposta. — Você voltou a dormir e eu usei a minha mão melada com seu gozo para me masturbar. — Esse homem decidiu que hoje vai me fazer gozar para compensar pelo tempo perdido, só pode. — Você é tudo que eu sempre sonhei e que nunca achei que teria, Brooke. E eu vou te foder como se você fosse minha. — Eu sou sua — declaro e vejo o peito dele subir e descer rapidamente. Ele me joga na cama e se livra das calças e cueca e eu encaro seu pau. Como eu já sabia ele é grande e curvado, a cabeça larga parece um cogumelo e já está molhada com pré-gozo. Seus olhos reviram quando ele desliza a camisinha por toda a extensão. Seth para em frente a cama, entre minhas pernas e escaneia o meu corpo, sua mão masturbando seu pau lentamente. — Cor? — O que você acha? Verde! — exclamo, como se eu pudesse parar agora. — Ponha os pés no colchão — ele ordena e eu obedeço. Sabendo que nessa posição estou completamente exposta. Ele passa a mão pela minha boceta que pulsa em resposta e sorri. — Você é linda, mas toda amarrada, gozada e pronta para mim na minha cama é sem dúvidas uma obra prima. Ele guia seu pau para a minha entrada e eu deixo a cabeça cair no colchão me preparando para senti-lo. — Olha para mim, quero ver cada uma de suas reações quando meu pau entrar nessa boceta deliciosa — pede ou manda, não sei dizer, mas faço e no segundo que nossos olhares se encontram, ele me penetra. Devagar, torturantemente devagar. Me fazendo sentir cada centímetro até seu quadril colidir contra o meu. —Porra, como você é magnífica! Seth se retira por inteiro e dessa vez me penetra de uma só vez, o som molhado de nossos corpos colidindo ecoando pelo quarto. Ele começa a estocar forte, fundo, a curvatura de seu pau fazendo com que ele atinja um ponto extremamente prazeroso dentro a cada vez que se enfia completamente dentro de mim. Agarro os lençóis e me deixo cair no colchão, tomada completamente pelo tesão irrefreado que me percorre da ponta dos pés até os fios de cabelo. Meu corpo inteiro parece uma árvore de natal iluminada. Ele aumenta o ritmo, segurando meu quadril com força, eu queria vê-lo perder o controle e cada uma de suas investidas violentas demonstram que ele soltou a fera que existe dentro dele. O orgasmo potente me toma sem aviso. Meu corpo inteiro tremendo com as convulsões que o tomam, mas eu ainda quero mais, quero tudo que Seth puder me dar. Como se lesse meus pensamentos uma de suas mãos sobe para meu seio, apertando o mamilo mais intensamente do que antes e eu grito mais uma vez, arqueando as costas sinto seu pau se contorcer dentro de mim. Sua mão sobe ainda mais pairando sobre o meu pescoço, a memória de quando ele me segurou ali mais cedo tomando a minha mente. O olhar de Seth é uma mistura de súplica e luxúria quando ele me pergunta mais uma vez: — Cor? Cubro sua mão com a minha, levando-a até meu pescoço antes de responder entre gemidos: — Verde. Seus dedos apertam meu pescoço e seus movimentos se tornam mais frenéticos, sinto meu prazer como um elástico esticado ao limite prestes a se romper, a pressão no meu pescoço, a sensação das cordas ao meu redor, o pau de Seth entrando e saindo de mim, me levando ao limite e além. Meu corpo inteiro se contrai e ouço o grunhido de prazer de Seth quando minha boceta esmaga seu pau fazendo-o gozar um segundo antes de eu explodir num dos orgasmos mais intensos da minha vida. Seth se deita sobre mim, sua boca buscando a minha num beijo que começa desesperado e vai se acalmando junto com nossos corpos. Ele rola para o lado e me puxa para poder me encarar, seu olhar me escaneia em busca de algo que eu não tenho forças para tentar desvendar. Meu corpo parece pesado, exaustão me tomando, fecho os olhos. Sinto Seth se levantar e ouço o barulho da camisinha sendo descartada antes de ele contornar a cama e começar a me desamarrar, sinto o alívio da corda sendo tirada e quando ele a retira por inteiro, me forço a abrir os olhos e sorrio para o padrão desenhado em minha pele. Não lembro de ter fechado os olhos, mas a voz de Seth me chamando me desperta. — Beba isso aqui — ele pede, sua voz mais suave do que antes quando me entrega um copo d’água e um biscoito. Meu namorado beija a minha testa. — Vou preparar a banheira para você. — Você vai tomar banho comigo? — pergunto, e o sorriso em seus lábios é um dos mais tranquilos e satisfeitos que eu já vi em seu rosto. — Se você quiser. Estou analisando os perfis de seguranças que Paula me enviou mais cedo, já que precisamos que alguém da Hades’ Men cubra a licença paternidade de Damien, um dos guardas de nossa casa. Ainda faltam algumas semanas para que sua esposa tenha o bebê, mas quero que seu substituto já esteja treinado e preparado, em caso de alguma eventualidade. Quando meu celular vibra com uma nova notificação, desbloqueio o aparelho e vejo o novo meme que Raffi mandou no grupo da casa. O grupo foi renomeado há três dias para: “O caçula fez a B gozar 4x”. Eu sempre soube que Seth se vingaria de toda a zoação que fizemos com ele. Só que seu comentário desencadeou uma competição e a pessoa que mais se beneficiou com isso foi a nossa namorada, o que explica porque Brooke não reclamou do novo nome. Ontem, foi a minha vez de alterá-lo. “S&K fizeram a B gozar 4x”, e eu só parei porque a loira implorou, pois estava determinado a bater o recorde de Seth. Raffi ficou tentando renomear o grupo, mas a cada tentativa um de nós ia lá e alterava novamente ao anterior. Volto minha atenção para a ficha de Henry Mitchell. Ele parece promissor, seu treinamento acabou mês passado e ele está aguardando sua próxima missão. Ele é novo na empresa, mas serviu durante 10 anos no exército. Decido mandar um e-mail para o Sargento Jefferson, meu antigo superior, pedindo para checar as credenciais de Mitchell. Nem em um milhão de anos eu deixarei algum desconhecido com acesso a essa casa e Brooke sem checar todas as suas informações diversas vezes. Talvez devesse pedir pro Adonis também, mas o Londrino já estava atrás do perseguidor da loira e ainda tinham todos os seus outros trabalhos. Eu, honestamente, não consigo entender como ele consegue administrar tantas coisas: a empresa de tecnologia, o Nox, seu trabalho clandestino, e ainda ter tempo para se apaixonar. Só lidar com a parte administrativa da Hades’ Men Corp e da Underworld já me deixam louco, isso porque eu tenho uma assistente pessoal e uma equipe extra para gerenciar a boate. Preciso de férias. Uma batida leve na porta interrompe meus pensamentos. — Entra. Brooke abre a porta e se apoia contra a madeira, seu cabelo cascateando sobre seus ombros. — Só pra avisar que já voltamos. — Como foi? — pergunto e seus lábios se curvam. Ela parece tão mais saudável, meus irmãos estavam certos. Ela precisava sair de casa, precisava provar para si mesma que conseguia. O fato de que ela sempre sai acompanhada de Ethan, ajuda a acalmar a minha ansiedade. — O veterinário disse que a Perséfone está crescendo e recuperando a massa muito bem. Ela tomou mais duas vacinas e dormiu no caminho de volta. Coloquei ela na caminha dela lá na sala antes de vir aqui. — Ela olha de mim para o computador, notando os meus dedos pairando sobre o teclado. — Só queria te avisar que já tinha voltado, vou te deixar trabalhar. — Vem aqui, Sunshine — chamo, afastando a minha cadeira da mesa. Ela entra com o kindle em uma das mãos e o vestido azul claro esvoaçando levemente ao seu redor. O aparelho foi o melhor presente que poderíamos ter lhe dado, ela não ia para lado algum sem ele. — Não quero te atrapalhar — ela diz. — Você nunca incomoda, sua companhia só vai me ajudar — declaro, puxando-a para o meu colo, ela se senta meio de lado, seu corpo se encaixando sob um de meus braços e as suas pernas passando para o outro lado. Meus braços envolvem a sua cintura e reivindico seus lábios, antes que possa aprofundar o beijo ela se afasta. — Pensei que você tinha que trabalhar. — E eu tenho, só queria beijar a minha namorada. Brooke sorri e meu coração bate descompassado em ver o sentimento tomar a sua expressão, a terapia tem feito muito bem a ela. Aos poucos ela tem recuperado a leveza e alegria que eram tão presentes em sua vida antes de tudo. Ela cola nossos lábios, sua língua se embolando com a minha, minha mão desce e aperta sua coxa exposta e ela morde meu lábio inferior. — Acho melhor eu ir — ela diz e meus dedos apertam a carne macia de sua perna impedindo que ela se mova. — Fica — peço. Coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha. — Estava com saudades — admito. — Nós almoçamos juntos, Ky — ela responde sorrindo. Como eu amo esse sorriso. — Eu acho que você não entende como eu sou viciado em você, Sunshine. — Desço minha mão pelo seu braço, em uma carícia suave que faz sua pele se arrepiar. — Eu penso em você o tempo todo, eu quero você a cada instante de cada dia. Você dá sentido à minha vida. A loira se reacomoda no meu colo, virando de frente para mim. Seus olhos capturam os meus. Sinto como se estivesse mergulhando na imensidão verde, seu olhar tão intenso que é como se Brooke fosse capaz de ver até a minha alma, falhas e tudo mais. — Você foi meu primeiro amor, Kyle. Quando eu era apenas uma menina, foi com você que eu aprendi o significado desse sentimento em sua versão mais pura. Eu costumava escrever meu nome no meu caderno como Sra. Brooke Thorne. — Ela sopra uma risada e cora e eu sorrio em resposta, nunca suspeitei que seu crush em mim na adolescência tivesse sido tão intenso. — O dia que você partiu para os Fuzileiros, uma parte do meu coração foi com você, e como se para compensar por ter me tirado um pedaço, você me deu o seu e ainda trouxe outros dois. E agora, como adulta, vocês me mostraram o que é o amor de verdade, um amor que não restringe, não controla, que respeita e incentiva. Um amor que simboliza parceria e não propriedade, apreciação ao invés de posse. — Ela segura meu rosto em suas mãos, seus olhos brilhando quando ela acrescenta: — Eu sou a pessoa mais sortuda de todo o universo, a maioria das pessoas passa a vida em busca da sua alma gêmea e eu encontrei três. Sua declaração me deixa sem palavras. Meu coração bate tão rápido e forte que suspeito que vou ter um infarto. Seguro sua mão e trago-a ao meu peito. Seus olhos arregalam. — Esse é o efeito que você tem sobre mim, Sunshine. Brooke fecha a mão em punho, amassando minha camisa e me puxando em sua direção. Sua boca reivindicando a minha, sua língua demandando permissão, entrada, espaço. Sua outra mão segura minha nuca, puxando o cabelo curto e me pressionando mais contra ela. Minha mulher começa a se remexer em meu colo, sua bunda se esfregando em meu pau que começa a endurecer. Uma de minhas mãos desliza pela parte interna de sua coxa até o ápice de suas pernas. Brooke arfa quando a toco sobre a calcinha, provocando seu clitóris em movimentos circulares. Empurro o tecido para o lado, deslizando dois dedos pela fenda de sua boceta, sua lubrificação cobrindo meus dedos. — Sempre tão molhada pra mim — murmuro contra sua boca, chupando seu lábio inferior e a penetrando com meu dedo indicador. Brooke arqueia as costas, empurrando os seios contra o meu peito. — Mais… — ela geme, escondendo o rosto no vão do meu pescoço e rebolando no meu colo. Introduzo outro dedo, meu polegar massageando seu clitóris enquanto movimento meus dedos para dentro e fora dela. Seus gemidos murmurados contra minha pele me deixando ainda mais duro. — Eu quero você, Kyle, dentro de mim — ela diz, buscando a minha boca num beijo desesperado. — Agora. Retiro meus dedos e ela se levanta, apoiando as mãos na mesa e empinando a bunda na altura do meu rosto, incapaz de resistir me inclino, mordendo a carne macia e sendo presenteado por outro gemido delicioso. Abro meu zíper com uma mão e com a outra a segunda gaveta da escrivaninha, buscando um preservativo. Brooke sempre nos zoa por ter camisinhas espalhadas pela casa, mas é para nunca sermos pegos desprevenidos. Ela vira a cabeça para trás, seus olhos acompanhando o movimento da minha mão enquanto coloco o preservativo em meu pau. Seu olhar de tesão e desejo, só aumentando o meu. — Quero ver você cavalgando o meu pau, Sunshine — declaro, segurando seus quadris. A loira senta devagar, sua mão segurando a base da minha ereção e guiando para a sua entrada. Reviro os olhos quando sinto sua boceta quente me envolver, e ela geme alto me sentindo por inteiro. Minhas mãos apertam seus seios quando Brooke começa a rebolar deliciosamente. Usando a mesa de apoio, ela começa a subir e descer no meu pau, subindo até a cabeça e voltando a se sentar enquanto ondula os quadris, provocando uma onda sensações deliciosas. — Você fica tão gostosa sentando no meu pau — falo. Ela aumenta o ritmo e minhas mãos seguram seu quadril para ajudar nos movimentos, apertando quando ela se inclina um pouco para a frente, mudando o ângulo em que meu pau a penetra. Ela está tão molhada que o som de nossos corpos se chocando está cada vez mais alto. — Kyle? — a voz que me chamou é muito mais grossa que a de minha namorada e a porta se abre no segundo seguinte. A atenção de Seth vai primeiro para Brooke que não para de cavalgar meu pau, mas sinto sua boceta me esmagar com mais força sob o olhar do caçula. — Como pode ver estou ocupado, então ou você se junta a nós ou volta mais tarde, caçula! Movo meus quadris para encontrar Brooke no meio do caminho, estocando curto e forte. Seth se aproxima e segura o queixo da loira, inclinando-o para beijá-la com volúpia. Brooke choraminga contra a boca dele quando começo a estocar mais fundo, me aproveitando da sua distração. Seth se afasta e contorna a mesa. Tirando o pau já ereto das calças e se masturbando enquanto me observa penetrar Brooke. — Thorne, virem pra cá — pede e eu passo um braço pelo peito de Brooke, segurando seu corpo antes de nos virar. A loira segura a ereção de Seth e leva à boca. O som de Brooke engasgando com o pau de Seth ao mesmo tempo em que a penetro e sinto sua boceta me esmagando, faz meu tesão triplicar. Seth e eu encontramos um ritmo, intercalando nossas investidas, seus gemidos se misturando com os meus e o som de corpos se chocando. Brooke se apoia nas coxas dele para ajudar a suportar seu corpo entre nós. A visão dela chupando Seth e cavalgando o meu pau ao mesmo tempo, é uma das coisas mais quentes que eu já vi. Seth agarra o cabelo da loira e puxa para trás com firmeza, forçando-a a olhar para ele. — Você fica linda engolindo meu pau, Abelhinha. Você é surreal — declara, encarando a loira e o corpo dela estremece de prazer. Dou um tapa em sua bunda e sua boceta me esmaga quando ela começa a gozar, seu corpo inteiro ondulando. — Eu vou gozar — ele avisa e ela não se afasta. Seth joga a cabeça para trás de olhos fechados e Brooke engole até a última gota. Eu estava errado, essa é a coisa mais quente que eu já vi. Meu prazer se assoma dentro de mim, demandando libertação. Me enterro em Brooke, minhas bolas se contraem e eu explodo dentro de sua boceta. A sineta da loja toca assim que cruzo a porta. Sinto um frio na boca do meu estômago com o que estou prestes a fazer. É permanente, mas o meu amor também é. — Não — reclamo quando vejo Seth apoiado contra o balcão da recepção. Não era para ele estar aqui. — Assim você me machuca, Abelhinha. — Ele segura o peito. Me viro para meu segurança com o que eu espero ser um olhar acusatório. — Você contou pra eles? — indago. Ele levanta as mãos. — Não, Brooke. Você disse que seria uma surpresa e eu guardei o segredo. — Fui eu — o homem atrás do computador confessa. Caminho até eles e Tristan tem uma expressão culpada no rosto. — Não podia esconder isso dele, Brooke. Ele iria me matar e tem o treinamento pra isso. — É um dos melhores — Ethan oferece, não me ajudando de forma alguma. — Como se eu fosse deixar outro cara tatuar a minha Abelhinha — Seth diz, envolvendo a minha cintura e me puxando contra o seu peito. — Era para ser uma surpresa — reclamo contrariada. — E foi, eu jurava que Tristan estava tirando uma com a minha cara. Mas não estava disposto a correr esse risco então vim conferir. E ainda bem, você iria mesmo confiar em outra pessoa para marcar a sua pele para sempre? Quando ele colocava as coisas por essa perspectiva parecia um pouco de falta de visão e planejamento da minha parte, realmente. Mas queria que fosse um presente para os homens da minha vida. Bom, o sentimento ainda existe, só precisa ser ajustado. — Não tinha pensado por esse lado — murmuro. Me viro para Ethan. — Tem certeza que você não se importa de esperar? — Não se preocupe comigo — diz e se dirige para a entrada do estúdio se acomodando em um dos sofás pretos. — Então, Abelhinha, o que você vai querer? — Seth pergunta, me virando de frente pra ele. Desvio o olhar, subitamente constrangida com a minha escolha, mas respiro fundo e pego meu celular na bolsa. Abrindo o Pinterest[15] e mostrando a imagem mais semelhante ao que eu quero. Uma cauda de sereia, com um sol de um lado e um coqueiro saindo do outro lado, com alguns outros traços finos deixando o desenho delicado. — Mas trocaria o coqueiro por uma abelha — comento e os lábios de Seth se curvam num sorriso. Seu olhar busca o meu e tudo que vejo é amor e adoração. — Vai ficar linda. De que tamanho e onde você vai querer? — O tamanho que você achar melhor, mas quero ela no topo da minha coluna. — Indico com a mão as minhas costas. Eu vim preparada para fazer a minha tatuagem, vestindo leggings e uma blusa de alcinha que deixa a área exposta. Seth meneia a cabeça. — Tudo bem, me dê alguns minutos para criar o decalque e já vamos começar. Ele pega meu celular e um papel fino e começa a desenhar. É hipnotizante vê-lo trabalhar, seus traços são precisos e vejo o desenho tomar uma forma ainda mais impressionante do que a versão digital. Ele acrescenta alguns detalhes, pontos contornando o desenho principal em certas partes, para que todos os elementos fiquem conectados. — Existe algo que você não saiba fazer bem? — pergunto admirada. Seth desvia a atenção do desenho para mim. — Eu não sei dobrar lençol de elástico, serve? — Vou ter que aceitar, ninguém pode ser perfeito em tudo — declaro. — Você é — rebate. Seu olhar intenso sobre mim, convicção em cada um de seus traços. Meu coração pula dentro do peito e sinto meus olhos arderem, a potência de seu amor me atingindo como um soco. — Eu te amo — sussurro. Ele solta o lápis e contorna o balcão, me abraçando e beijando rapidamente. — Eu te amo, Abelhinha — murmura, a testa colada na minha. — Ei, ei, sem putaria no meu estúdio — Tristan diz. — Gente, eu nunca imaginei que veria essa cena. — Ele aponta para nós. — Fico feliz por você, Donahue. — Não enche o saco, Cox — Seth reclama, beija o topo da minha cabeça e volta a desenhar. Pouco tempo depois meu namorado me mostra o desenho. E está ainda melhor do que eu esperava. — Perfeito! — Ótimo, vem. — Ele estica a mão e caminha comigo até uma das cadeiras que mais parece uma maca de couro. — Eu já higienizei tudo e estamos prontos para começar, você vai querer ela colorida, Abelhinha? — Sim. — Alguma preferência para a cauda da sereia? Me viro para ele, encarando seus olhos azuis de um tom mais escuro do que de Kyle e Raffi e sei a minha resposta. — Tons de azul. Seth sorri e meneia a cabeça concordando. — Eu vou raspar uma área da sua pele antes de aplicar o decalque e você vai ver onde está e dizer se quer ali ou que mova para algum lado, tá bom? — pergunta, colocando luvas descartáveis pretas. Ele se põe as minhas costas e sinto a lâmina de barbear deslizar sobre o topo da minha coluna, passa álcool no local, pega o papel e o coloca contra a minha pele me causando arrepios apenas por sentir seus dedos me tocando. — Olha aqui — pede, levantando um espelho e vejo o desenho de uns 15 centímetros todo em linhas roxas exatamente onde eu tinha imaginado. — Quer alterar o lugar? Mais para baixo, talvez? — Não, é bem aqui que eu quero. — Então é hora de se deitar, Abelhinha. — Faço o que ele pede, deitando de barriga para baixo, a maca é mais confortável do que eu esperava, ele coloca uma espécie de travesseiro com um furo no meio em minha frente. Apoio a cabeça ali. — As mãos ficam ao lado do corpo, palmas pra cima. — Sim, senhor — murmuro, sabendo a reação que isso vai causar. A mão de Seth aperta a minha bunda com força. — Abelhinha, abelhinha — ele murmura em meu ouvido, estalando a língua em reprovação. — Não me provoque. — Não fiz isso. — O riso em meu tom é claro até para mim. — Continua assim que o acerto de contas chega em casa. — Promete? Ele ri e a mão que continua na minha bunda escorrega para mais perto do meio das minhas pernas. — Eu criei um monstro — confidencia e ouço um zumbido. — Quem ouve você falar é capaz de acreditar que você não ama cada segundo — rebato. — Nunca. Está escrito na minha testa o que eu sinto por você. — Ele toca minhas costas, esticando a minha pele. — Agora, isso pode doer, arder, fazer cócegas ou ser prazeroso, é impossível prever. Se precisar de uma pausa é só me avisar. — Conheço minhas cores — respondo. — Essa é a minha garota. O zumbido fica mais alto e tenho que suprimir a vontade de me virar para vê-lo, fecho os olhos esperando a dor. O primeiro toque das agulhas é estranho e me sobressalto, mas assim que me acostumo percebo que não dói, é só um incômodo, como Seth tinha dito, parece mais com cócegas. — Como você está? — ele pergunta depois de alguns minutos, afastando a máquina. — Bem, não é tão ruim quanto as pessoas dizem, é estranho e não consigo ignorar a sensação, mas dói muito menos do que uma depilação com cera — respondo com sinceridade. Seth ri, ele tem feito isso cada vez mais frequentemente e eu amo cada segundo de felicidade que posso compartilhar com ele. Nem acredito que tinha mesmo cogitado me tatuar sem ser com ele, privá-lo dessa oportunidade. — Pronto, Abelhinha — Seth declara, desligando a máquina e sinto falta do zumbido reconfortante. Me sento, rolando os ombros doloridos de ficar na mesma posição por tanto tempo. Meu namorado me entrega um espelho de mão e eu o uso para ver o reflexo das minhas costas no de corpo inteiro que existe atrás de mim. As cores estão perfeitas, vívidas. A cauda de sereia começa em um azul escuro intenso que suaviza para um azul como o mar e clareia para um tom ainda mais claro, como uma geleira. A cor dos olhos dos meus namorados. O sol e a abelha são delicados, mas se destacam contra a minha pele. — Eu amei! — Me viro e abraço Seth. — Ficou maravilhosa, parece que você leu a minha mente. A sineta toca atraindo minha atenção e uma mulher ruiva entra, seu olhar diretamente sobre mim e meus braços ao redor de Seth, ela fecha o rosto e segue para o balcão para falar com Tristan. — Vou só colocar o adesivo cicatrizante sobre ela e você já vai poder ir, eu ainda tenho outra tatuagem para fazer antes de voltar para casa — Seth comenta e aplica o adesivo quando chegamos a sua estação de trabalho. — Ele vai proteger a sua pele de bactérias e água e não precisa trocar, mas não pode suar excessivamente pelos próximos 3 a 7 dias, para que ele não caia prematuramente. — Não posso suar? — pergunto. Essa informação é nova e nada agradável. — Se cuidar direito, eu checo depois do terceiro dia como está e podemos tirar. Mas por hora seus treinos e outras atividades extracurriculares — ele balança as sobrancelhas sugestivamente. — Estão suspensas. — Tudo bem — respondo resignada. — Te vejo em casa então. Me afasto e ele segura minha mão, me puxando de volta e segurando meu rosto, colando nossos lábios em um beijo apaixonado que faz meu coração saltar dentro do peito. — Até mais tarde, Abelhinha. — Até, te amo! — Seu peito infla ouvindo as minhas palavras. Me viro para sair e Ethan se levanta se espreguiçando. A ruiva sentada no outro sofá me fuzila com o olhar e eu tento me lembrar se a conheço de algum lugar, não a reconheço, mas é evidente que ela não gosta de mim por alguma razão. — Pronta para ir, Brooke? — ele pergunta, abrindo a porta por mim. — Podemos passar no mercado no caminho pra casa? A confusão na expressão da mulher chega a ser engraçada enquanto ela olha de mim para Ethan e então para Seth. — Claro, vamos. Brooke rearranja o vaso de flores no canto da sala pela quinta vez na última meia hora e caminha até o centro do cômodo colocando as mãos na cintura e examinando tudo mais uma vez. O vestido de alças verde-claro abraça sua cintura e cai solto por suas pernas até o meio das coxas. Seu cabelo está solto cobrindo a tatuagem. A maldita tatuagem. Só de lembrar que ela agora carrega uma marca permanente que me representa, sinto vontade de possui-la novamente. Ver a sua pele marcada e saber que ela não podia suar, não me impediu de devorá-la no mesmo segundo. Quando ela caminha até a merda do vaso mais uma vez, me adianto e abraço sua cintura, impedindo-a de movê-lo mais um centímetro para a direita, para depois retorná-lo a posição original. — Calma, babygirl. — Não consigo, ela vai perceber. — Ela vai perceber que estamos namorando pela posição do vaso? — pergunto e ela se vira para mim estapeando o meu braço. — Eu não sei como, mas ela vai saber. — Me lembra de novo porque não queremos que seus pais saibam sobre nós? — pergunto, porque realmente não entendo. Ainda não contei para minha mamá[16], mas é só porque quero fazê-lo pessoalmente e entre tudo que tem acontecido nos últimos tempos ainda não pude voar para Fort Lauderdale nem mesmo trazê-la para cá, quem sabe no natal? — Não é que eu não quero que eles saibam, é só que é estranho pensar como vou apresentá-los para os meus pais. — Ela começa a gesticular, imitando uma conversa. — Oi, pai, oi, mãe, vocês lembram de Seth, Raffi e Kyle, certo? Eles são meus namorados, sim, todos os três. Leva uma mão a testa e solta um riso nervoso. Aperto meus lábios, sabendo que se eu rir agora, não estarei ajudando em nada. — Babygirl, me escuta. — Seguro seus ombros. — Nós vamos agir normalmente, nós sempre fomos amigos, todos nós conhecemos William e Helen, vai ficar tudo bem. — Ainda nervosa? — Kyle pergunta entrando na sala. — É claro que estou nervosa, eu nunca deveria ter concordado com isso. Deveria ter simplesmente dirigido até Palo Alto e jantado com eles em casa. — Tem tanta vergonha assim de nós, Sunshine? — pergunta, se aproximando e tocando a base das costas da loira que vira o rosto pra ele. — Não, claro que não. É só que tenho medo da reação deles. — Ela esconde o rosto nas mãos. — Nosso relacionamento não é convencional, caso vocês não tenham percebido — explica, baixando as mãos e olhando de mim para Kyle. — Mas é verdadeiro — Seth diz se juntando a nós. — E seus pais só querem te ver feliz, — Kyle adiciona, beijando a têmpora de Brooke. — Vai ficar tudo bem. — E não importa o que acontecer, estaremos aqui, enfrentaremos juntos. A campainha soa e a loira estremece. — Quatro entram — digo e ela me olha confusa. Ela só nos viu usar essa frase em momentos de conflito, mas simplesmente simboliza que estamos juntos e ninguém fica para trás. — Quatro saem — Seth e Kyle falam em uníssono e a loira repete. Brooke alisa o vestido algumas vezes, endireita os ombros e abre a porta. — Mamãe! — Envolve Helen em um abraço antes de fazer o mesmo com William. — Papai, como foi a viagem? — São apenas trinta minutos pela rodovia, filha, não é bem uma viagem — ele responde. Passando por ela e estendendo a mão para mim. — Raffi. — Repete o gesto com Seth e abraça Kyle. — O que é algo que deveriam se lembrar, são só trinta minutos, deveriam nos visitar mais vezes — Helen nos repreende. — Todos os quatro. — Abraço minha sogra. Como eu queria poder chamá-la assim! — Tem toda razão, mas se eu for vai ter aquela torta de maçã? — Está insinuando que alguma vez eu deixei de fazer, Rafael? — pergunta, se afastando e me olhando com repreensão. — Não, senhora. Até porque seria mentira. — Seth, meu menino, como você está? Tem se alimentado direito? — Ela abraça e beija o rosto do caçula e tenho que reprimir a vontade de comentar que ele tem sim. Comendo a sua filha. Isso vai ser muito mais difícil do que eu antecipei. — Kyle, — Ela põe as duas mãos na cintura depois de o abraçar e noto a semelhança com a pose em que Brooke estava há alguns minutos. — Sua mãe me pediu pra puxar a sua orelha, aparentemente você não liga pra ela há uma semana. Ela queria vir, mas seu pai tinha um evento no clube de golfe ou algo assim. — Foi uma semana corrida no trabalho, — Kyle levanta os braços em rendição quando ela abre a boca para responder. — Eu sei que não é desculpa. Vou consertar isso, Helen. — Vamos entrar? O jantar está quase pronto. — Se Brooke não o queimar de novo, ela quer dizer — comento e a loira me fuzila com o olhar. Se ela soubesse o esforço que eu estou fazendo para guardar para mim todas as piadas, estaria era me agradecendo. — Boa tarde, senhorita Brooke? — Henry, o segurança que está cobrindo Damien chama a nossa atenção, parado sobre o tapete de entrada. — Chegou uma encomenda pra você agorinha e eu encontrei algumas outras cartas endereçadas à você no fundo de uma das gavetas na portaria. Então aproveitei para trazer todas. Ele anuncia e entrega os pacotes para a loira. Meu estômago afunda como se fosse chumbo, temor percorre meu corpo tensionando meus músculos. — Ganhou presentes? — Helen pergunta. — É acho que sim — Brooke responde com a voz trêmula. — Abre, abre — A matriarca pede, balançando o braço com agitação fazendo suas pulseiras tilintarem. Seth e Kyle encaram as encomendas, nossos olhares se cruzam, nossas expressões espelhos umas das outras. Brooke olha pra mim e meneio a cabeça. Quero tanto abraçá-la, mas pego os envelopes e ela abre o pacote com dedos trêmulos. Ela puxa uma coleira rosa pequena, para um filhote, com uma identificação no formato de coração. Preso a ela tem um bilhete, me aproximo para poder ler. “A filhotinha é linda. Gosto de te ver sorrindo de novo.” — Ah, que bonitinha pra Perséfone, quem mandou? Foi a Liv? — Helen fala e Brooke continua parada, petrificada, encarando o bilhete. Eu e meus irmãos nos entreolhamos, a mensagem clara: passaremos pelo jantar primeiro, sem levantar suspeitas ou preocupações, e depois resolveremos o problema. Por mais que eu queira rasgar todos os envelopes em mil pedaços e descobrir como não recebemos nenhum deles até agora, não podemos fazer isso com os pais de Brooke aqui. Seth começa uma conversa com William, guiando-o para a cozinha. Coloco o resto dos envelopes em cima da mesinha ao lado da porta e forço um sorriso no meu rosto, ao mesmo tempo em que Kyle se aproxima da loira e coloca a mão na base de suas costas. Ela se estica como se tivesse levado um choque. — Vamos ver se sua filha queimou nossa lasanha, Helen? — pergunto, passando um braço pelos ombros de minha sogra e seguindo Seth. Alguns minutos depois Kyle e Brooke se juntam a nós, a loira ainda está visivelmente abalada, mas se esforça para esconder. Nos sentamos ao redor da mesa de jantar, duas travessas de lasanha, salada e vinho de acompanhamento servidos. Seguro a mão de Brooke por baixo da mesa, ela aperta a minha em resposta. — Então como vocês estão? E como está a nossa vizinha favorita? — Kyle pergunta sorrindo para Helen. — Ah, vocês não vão acreditar na última da Dona Clotilde — anuncia antes de começar o seu relato sobre todas as atividades de sua arqui-inimiga. O jantar corre bem, o assunto das encomendas esquecido por nossos convidados, acabamos nos envolvendo nas histórias de Helen, relembrando aniversários e momentos em que todos estivemos juntos. Ela sempre me tratou como uma extensão da família, mal sabe ela o quanto está certa. Ou talvez saiba, noto como ela observa nossas interações, seja quando Seth passou a garrafa de vinho para Brooke sem que ela pedisse, ou a forma como Kyle tocou o ombro da loira pra dizer que buscaria a sobremesa, um mousse de oreo que estava uma delícia. Toda vez que Brooke ri, vejo como sua mãe olha para mim e meus irmãos. Parece que minha namorada estava certa e ela vai descobrir. Será que nosso amor está assim tão evidente? William Roberts dá um aperto no meu ombro e se dirige para a porta de entrada, esperando sua mulher se despedir de nós. Ela abraça Seth e Kyle antes de chegar a mim. — Cuida bem dela, Rafael — murmura no meu ouvido. — Sim, senhora — respondo automaticamente. Ela dá uma tapinha carinhoso no meu rosto e se vira para Brooke. — O jantar de Ação de Graças [17]vai ser lá em casa, sem discussões — Helen anuncia abraçando a filha. — Quero todos os quatro lá! — Ela olha para todos nós. — Estaremos lá, mamãe! — Brooke responde. — Vocês formam um belo casal — Helen declara e fecha a porta atrás de si. Nos entreolhamos completamente surpresos, Brooke é a primeira a rir. A loira esconde o rosto nas mãos. — Acho que ela sabe! Brooke abre mais uma carta, seus dedos tremem enquanto ela lê a mensagem e a descarta com raiva sobre a mesa e pega a próxima. A pilha parece infinita, as mensagens indo de preocupadas com o seu bem estar, a ameaças veladas e acusações como a essa última. “Eu tentei ser legal, e como você me recompensou?” Sinto meu sangue ferver, vê-la estremecendo de medo e não poder protegê-la, me dilacera. Como que esse filho da puta está conseguindo isso? Primeiro, foram os pneus do carro de Brooke meses atrás, depois as flores que ela recebeu no camarim no evento de fim de ano das crianças, dali em diante toda semana ela recebia alguma coisa. Cada presente mais pessoal que o anterior. Todas as compras feitas em dinheiro, os entregadores eram adolescentes contratados via app com contas criadas através de e- mails falsos. Adonis que é o melhor hacker que conhecemos tentou rastrear todas as contas, os IPs[18] e cada um indicava um país diferente, todos ele becos sem saída. — Ele estava no shopping — Brooke declara soltando o papel sobre a mesa. Seus olhos se enchem de lágrimas. — O que? — Seth pega a carta e lê. — Filho da puta. — Meu irmão me entrega o bilhete e se vira para a loira, segurando seu rosto. — Ele não vai te machucar, Abelhinha, eu prometo. “Seu novo segurança é bonito, você está dando pra ele também?” — Nem sabemos quem ele é — ela murmura vacilante e esconde o rosto no peito dele que a envolve. Esse é o problema, não é? Estamos há meses procurando, usando todos os recursos de que dispomos. Adonis colocou uma parte do seu time para desvendar isso, mas até agora nada. Eu e meus irmãos nos entreolhamos e a frustração que vejo neles é igual a impotência que sinto. Mais uma vez nossa mulher está chorando, sofrendo e não podemos fazer nada. Ainda. Preciso de um alvo, preciso de uma direção, alguém que eu possa caçar e eliminar. Libertando Brooke desse inferno de uma vez por todas. Como é que isso é possível? Minha mente repete a pergunta. Além de sermos donos de uma das melhores empresas de segurança privada do país, ainda somos a melhor equipe dos MARSOC, mesmo depois de nos afastarmos, ainda somos considerados os mais letais que já vestiram o uniforme. E mesmo assim, quem quer que seja o perseguidor de Brooke, ele continua a burlar nossas defesas. Seth esfrega as costas de Brooke carinhosamente, mas consigo sentir a tensão emanando dele, enquanto Raffi se levanta e anda com passos duros até o armário no canto retirando quatro copos e os enchendo com uísque. Raffi retorna e coloca os copos sobre a mesa de centro, ignorando completamente as cartas, ele toca o ombro de Brooke. — Beba isso, babygirl, vai ajudar. — Ela dá um gole do copo oferecido. — E não se preocupe, nós vamos descobrir quem é o hijo de puta por trás disso e então eu irei acabar com a vida dele. — A expressão no rosto de meu irmão é a mesma que junto com sua habilidade como atirador de elite lhe garantiu o apelido de Reaper[19] nos fuzileiros. — Não se eu chegar primeiro — Seth rebate. — Vamos acabar com isso de uma vez por todas. — A frieza em seu tom é daquelas que queimam ao toque. — Vamos, e faremos isso juntos. — Brooke se vira para mim e eu me adianto para secar a lágrima que escorre por sua bochecha com o polegar. — Você está segura aqui, Sunshine, não deixaremos ninguém te machucar. Nunca mais. — Quatro entram — ela murmura e meu peito infla com o orgulho que eu sinto de minha mulher. — Quatro saem — respondo em uníssono com meus irmãos. Meu instinto é protegê-la de todo o mal, mas seria um desserviço com a coragem e força que ela sempre demonstra e que me fazem admirá-la ainda mais. Suas cicatrizes e traumas a transformaram em uma guerreira, uma sobrevivente, uma de nós. — Certo, precisamos analisar as informações que temos, desde o começo — afirmo, respirando fundo e passando a mão pelo meu rosto. Buscando no meu treinamento e anos como líder de equipe a clareza mental necessária para lidar com a situação. Não há lugar para medos, incertezas, inquietação. Essa é a missão mais importante de toda a minha vida, alguém está ameaçando a existência da mulher que tem o meu coração. Aperto o copo de uísque em minha mão e pondero por alguns segundos se tomo ou não, mas prefiro manter a mente afiada, coloco o copo na mesa e me viro para minha família. — A pessoa que está por trás disso tem que ser, ou ter sido, próxima a Brooke. — Patrick — Seth e Raffi dizem juntos. — Mas... — Brooke começa a protestar, mas apenas suspira e encara a pilha de papel na mesa de centro, dando mais um gole em seu copo de uísque. — Mas o quê, Sunshine? — encorajo. Ela, além de ser a fonte da obsessão do perseguidor, é a que melhor conhecia Patrick Anderson. — Ele foi um péssimo namorado, mas vamos combinar que ele é idiota demais para arquitetar tudo isso — responde. — Não foi a minha melhor escolha — acrescenta. — Realmente — Raffi concorda e Brooke lhe lança um olhar mortal. — Não precisava concordar tão rápido. — A questão é que ele sumiu, Abelhinha. Sem deixar rastros e isso não seria possível para um idiota. — Seth acena em direção a Brooke. — Desaparecer nesse nível exige recursos, um conhecimento intrínseco do sistema e de como evitá-lo. — Mas ele não é rico, por isso que acabamos morando juntos, ele não conseguiria se manter sozinho — ela rebate. — Seus extratos bancários confirmam isso — concordo. — Ele tem algum amigo com quem poderia ficar por um tempo? — Não. Ele e o colega de quarto da faculdade se odiavam e ele não tinha contato com ninguém. — Você falou que os pais dele morreram? — Raffi pergunta. — Sim, no verão antes de começar a faculdade — explica. — Quem sabe a marca do seu chocolate favorito? — É a vez de Seth perguntar. — Meus pais, vocês, o Patrick e a Liv. — Ela nos olha alarmada. — Não é a Liv, não pode ser, ela é como uma irmã pra mim, nunca faria isso comigo — ela justifica, seu tom aumentando gradualmente com sua agitação. — Olivia não é uma suspeita, nós a investigamos, porque investigamos todo mundo, mas ela não tem nenhuma ligação — explico. Reviramos a vida da morena e até de seus familiares, incluindo o Governador Grant. Brooke suspira aliviada e termina seu copo de uísque. — É possível que algum dos meus colegas de trabalho saiba, mas nenhum deles poderia saber qual a minha marca preferida para roupas de surfe. — Tudo aponta para Patrick — Seth declara. — Como diria Sherlock Holmes[20]: “quando você elimina o impossível, o que restar, não importa o quão improvável, deve ser a verdade” — Brooke responde, assumindo uma postura de derrota com os ombros caídos. — Mas mesmo assim não consigo aceitar que o cara com quem eu namorei quatro anos esteja fazendo tudo isso. Não faz sentido nenhum. — Se for mesmo o Patrick, você ter vindo morar conosco foi o que desencadeou tudo isso — Raffi argumenta. — Mas por quê? — Brooke se vira para ele. — Vocês estão na minha vida há muito mais tempo. E eu só vim para cá porque ele me traiu. — Não temos como adivinhar as motivações quando nem mesmo temos certeza que é ele — declaro. — O que mais você se lembra sobre Patrick? Nada é irrelevante. — Tipo o que? — Onde os pais dele estão enterrados, onde ele cresceu, viagens que fez — Raffi oferece. Brooke torce as mãos sobre o colo e começa a mastigar o lábio inferior. — Ele não falava muito sobre os pais, dizia que isso o deixava triste, e como ele os perdeu pouco tempo antes de nos conhecermos eu não insistia. Mas se eu não me engano, seus pais foram cremados. Sempre que mencionava a sua infância, s dizia que tinha sido pacata e comum. — Ela pausa e seu joelho começa a balançar para cima e para baixo. Apoio minha mão sobre ele, meu polegar acariciando sua pele. — Agora que penso nisso, ele nunca me contou histórias do seu passado, sabe? Tipo detalhadas, com pessoas e lugares. — Ela se vira para Seth e Raffi. — Vocês sabem quem me ensinou a andar de bicicleta? — Thorne — Raffi responde prontamente. — Você com sua teimosia decidiu que tiraria as rodinhas um dia e ele que te ajudou e te levantou quando você caiu — Seth relembra. — Exato, vocês sabem porque nós contamos, em detalhes. Patrick nunca fez isso. — Ela leva as mãos aos cabelos, penteando os para trás. — Como eu nunca percebi isso? — Você não estava procurando anomalias, faz sentido — Seth a tranquiliza, esticando o braço e tocando seu ombro. — Não se culpe. — Quatro anos morando com alguém e eu não sei nada sobre ele. Tudo isso só soma contra Patrick, confirmando nossas suspeitas e consolidando-o como nosso principal suspeito, mas enquanto não encontrarmos o filho da puta ou descobrirmos como ele conseguiu burlar nossas defesas não tem muito que possamos fazer. — Espera, — Brooke se levanta subitamente. — O tio dele, ele só mencionou passageiramente uma vez e eu lembro de falar que poderíamos visitá-lo e Patrick desconversou. Onde que ele morava? — Ela esfrega a testa e exala ruidosamente. — Denver! O tio dele mora em Denver, não sei como isso pode ajudar, mas é alguma coisa, não é? — Em nenhuma de nossas pesquisas encontramos qualquer referência a familiares, todos os registros indicavam que os pais de Patrick eram filhos únicos e que não existia nenhum parente próximo. — respondo, sorrindo enquanto a satisfação de ter um direção me preenche. — É mais do que alguma coisa, Sunshine, é uma pista! — Eu consigo sentir o pânico, como um organismo vivo ao meu redor, pulsando, me cobrindo como uma camada oleosa que me impede de respirar direito. — Esfrego meus olhos antes de voltar atenção para a tela do computador onde a minha psicóloga me observa atentamente. — É como se todo o meu progresso tivesse ido por água abaixo — confesso. — A recuperação não é um caminho linear, Brooke — ela diz com a voz calma, paciente. — Como você tem dormido? — O máximo foi três horas e meia desde que recebemos as cartas — admito. — Isso foi há mais de uma semana — doutora Luana pontua. — Saiu de casa alguma vez? — Uma. Mas eu conseguia sentir alguém me observando todo o tempo e desencadeou outra crise, menos severa que a da última vez, — esfrego meu braço desconfortável com a memória. — E quando voltei tinha a porra de uma nova carta. — A lágrima escorre quente pela minha bochecha. — Algo sobre como ficou feliz que eu finalmente recebi suas cartas, o que significa que ele estava nos vendo no dia em que meus pais estiveram aqui. — Eu entendo o quanto isso tem o potencial para te abalar. — Eu só quero a minha vida de volta — confesso. — E você vai recuperá-la, Brooke — ela diz, sua voz tem um efeito calmante e eu me pergunto mais uma vez se é uma característica dela ou algo que todos os psicólogos tem. Será que é uma disciplina na universidade? — Um dia de cada vez, um passo de cada vez, todo mundo responde ao trauma de formas diferentes, e precisamos encontrar o que funciona para você. — E se eu estiver quebrada demais? E se eu nunca puder voltar ao normal? — Você não está quebrada, Brooke, está se redescobrindo. Recuperar a sua vida não significa apagar o seu trauma, e, sim, não o deixar controlá-la. O que aconteceu com você, o que você sofreu não é algo que você possa esquecer, Brooke, sabe disso. Um evento traumático como o que você passou deixa marcas, cicatrizes... mas elas podem ser curadas. — Então por que parece que isso nunca vai acontecer? — Porque às vezes a cura dói mais do que a ferida. A frase parece ressoar em mim, como se estivesse buscando morada até finalmente se assentar em minha alma, colando dois pedacinhos como um band-aid. — Antes do sequestro, o que você fazia para relaxar? Quando as coisas ficavam demais quais eram as suas formas de extravasar preocupações e o estresse do dia-a-dia? — Surfe e dança — respondo prontamente, um sorriso saudoso se formando em meus lábios. — Acho que você deveria considerar tentar uma dessas opções para lidar com tudo que está acontecendo. Com cuidado, não aja por impulso e leve um ou todos os seus namorados com você. — Ela pisca para mim. — E lembre-se de confiar nos seus instintos, eles existem para te proteger. Se sentir que as paredes estão se fechando, ou que está se sobrecarregando. Pare, respire fundo. — Vou tentar. — Isso, e se precisar sabe como me contactar, se não precisar nos veremos na próxima consulta. Fique bem, Brooke! — Você também, doutora Luana. A chamada de vídeo se encerra e fico alguns minutos encarando a tela do meu computador, precisando desse tempo para me recompor, absorver e processar todas emoções. Pego meu celular e abro a página salva nos meus favoritos que mostra a maré nas praias próximas à San Jose, mas as que são boas para surfar não estão muito propícias hoje, perdi o pico das ondas. Abro o WhatsApp e o nosso grupo me faz rir. Depois que Raffi superou os rapazes e mudou o título do grupo, Kyle e Seth decidiram que poderiam ganhar, então resolvi o problema alterando para “Os homens da B.” Brooke: Vamos à Underworld hoje? Mando a mensagem no grupo e logo aparece que Raffi está digitando. Raffi: Poder finalmente ostentar a minha namorada publicamente? Conta comigo! Seth: Se é o que você quer, Abelhinha. Kyle: Já informei Darius que vamos e nossa mesa na área VIP será separada. Sorrio para as mensagens, com seu apoio constante. Nenhuma hesitação, eles sabem que eu acabei de sair da terapia então provavelmente assumiram corretamente que tinha alguma ligação. Mando a mesma mensagem para a minha melhor amiga e assim que a mensagem aparece como lida meu celular toca. — Você está falando sério? — ela pergunta como forma de cumprimento assim que atendo. — Eu sou cardíaca, não brinca com essas coisas! — Não é nada demais, Liv — respondo. — Poder curtir com a minha melhor amiga não é nada demais? Não poderia discordar mais — responde animada. — E eu tenho a roupa perfeita! — Isso é um sim, então? — pergunto sorrindo. Eu sou realmente sortuda de ter tantas pessoas que me amam e apoiam ao meu redor. — E você tinha dúvidas? — Consigo visualizá-la com a mão na cintura e a sobrancelha arqueada. — Nos vemos mais tarde. Te amo, B! — Também te amo, Liv. A ligação se encerra e pela primeira vez em muito tempo me sinto animada com a ideia de sair de casa.
Entro na Underworld rodeada por meus namorados, usamos a
porta lateral que dá acesso ao clube através da garagem exclusiva e seguimos diretamente para as escadas que levam ao mezanino na área VIP. Nos aproximamos da mesa central com vista para a pista de dança e rodeada por sofás confortáveis com uma placa de “Reservado” em letras elegantes. Noto que a quantidade de pessoas passeando pelo mezanino é muito menor do que de costume e agradeço mentalmente o cuidado dos rapazes. Raffi toca a base das minhas costas, atraindo a minha atenção para seus olhos azuis claros. — Vai querer beber algo, babygirl? — Aquele suco maravilhoso de manga e maracujá — peço, sorrindo. — Vou pedir. — Ele se inclina e me dá um selinho antes de se virar para os rapazes e ver o que eles querem. Fecho os olhos por uns segundos, me deixando ser envolvida pela música e sinto braços abraçarem a minha cintura, o perfume cítrico invade meus pulmões e sorrio antes mesmo de Kyle falar: — Tudo bem, Sunshine? — Sim, tudo bem, eu gosto desse DJ, — falo, indicando com a cabeça o palco no andar debaixo. Ele era um dos profissionais que tocavam regularmente no clube. — Mas precisam chamar a DJ Blue outra vez. — Verei o que posso fazer. — Ele beija o topo da minha cabeça. — Vamos sentar e esperar Raffi voltar com as bebidas? — ele convida e concordo. Me sento ao lado de Seth, sua mão repousando no meu joelho enquanto Kyle se acomoda do outro lado, passando o braço sobre meus ombros. O toque deles me acalma e me mantém ancorada ao presente. Uma nova música começa e parece ecoar pelo meu corpo, meu coração se igualando ao seu ritmo. Raffi retorna, me entregando o suco e as bebidas dos rapazes. Seth pega a sua água, já que é o motorista da noite, e Kyle e Raffi suas cervejas. Consigo sentir meu corpo relaxando aos poucos, rodeada pelos homens da minha vida, aqueles que me ensinaram o verdadeiro significado de amar. Fecho os olhos, apoiando a cabeça contra o braço de Kyle e me deixo mergulhar nesse sentimento, na sensação do polegar de Seth acariciando a parte interna do meu joelho. O perfume almiscarado dele, que de alguma forma me lembra o ar salgado da praia, se misturando com o cítrico de Kyle e o amadeirado de Raffi, que ainda está de pé conversando com o loiro, me envolve e só existe uma palavra para descrever essa combinação: casa. — Vocês combinam mesmo. Abro os olhos e minha melhor amiga está em pé do outro lado da mesa, com um sorriso exuberante no rosto. Ela olha em volta com atenção antes de se voltar para mim: — Não esqueceu de alguém? — Quem? — provoco, sabendo exatamente a quem ela se refere. — Seu guarda-costas. — Ela apoia a mão na cintura. — Ela tem nós três, Liv — Raffi responde. — Exato, ela já tem vocês três, custava me ajudar? — reclama, emburrada. E alisa o vestido curto de paetês pretos que se molda ao seu corpo. — Até vim com meu vestido novo. — E está linda — elogio. — Eu posso ligar para ele, se você quiser, Liv — Kyle oferece. — E vai dizer o quê? — ela pergunta. — Que você quer vê-lo – Seth diz, rindo. Ela se vira para ele, abrindo os braços incrédula com o que meu namorado acabou de sugerir. — Claro que não, pela deusa! Tinha que ser uma desculpa plausível, Seth! — Não temos nenhuma — Kyle explica. — O contrato dele é para proteger Brooke quando um de nós não puder fazer isso e como você pode perceber, isso não se aplica a hoje. — Deus tem seus preferidos, eu sei — ela vira o rosto para o teto. — Devo estar pagando por alguma coisa, ou sou a piada favorita da divindade que nos observa, só pode! — Tão dramática — digo e ela revira os olhos. — Vamos dançar! — falo, apoiando as mãos nas pernas de Seth e Kyle para me levantar. — Achei que nunca fosse pedir. — Liv passa um braço pelo meu e caminhamos juntas para as escadas. Seguimos para o meio da pista e as pessoas se afastam para nos deixar passar, o que não é comum. Entendo o motivo um segundo depois, quando uma mão toca a base das minhas costas, me viro e Raffi me olha com um sorriso travesso nos lábios. Seth e Kyle ao seu lado. — Vocês vão dançar? — pergunto alto o suficiente para ser ouvida sobre a música. — É claro, precisamos deixar claro que você é nossa. Nossa. A palavra reverbera por mim, fazendo meu ventre contrair com aquelas cinco letras. O tom possessivo mexendo comigo mais do que eu esperava. Sua mão desliza pela minha cintura até a minha barriga e me puxa contra ele, meu corpo se moldando ao dele que se mexe ao ritmo da música. Kyle se coloca a minha frente, sua perna se enfiando no meio das minhas e sua mão repousa na outra lateral do meu corpo. Meus braços envolvem seu pescoço e dançamos em sintonia. A música é envolvente, quente, sensual. Sentir seus corpos gostosos me pressionando e se movendo contra mim, está me trazendo memórias da primeira vez que eles me dividiram. Kyle sorri e inclina a sua cabeça, seus lábios pairando sobre os meus por um segundo antes de eliminar a distância e reivindicá-los. Sua língua explora a minha boca com fervor. O beijo é rápido, mas intenso o suficiente para que eu sinta meu corpo começar a arder. Mas meu coração sente falta da quarta peça desse quebra- cabeças, meu olhar procura Seth, encontrando-o ao nosso lado, perto o suficiente para que eu estenda o meu braço e segure a sua camiseta. Ele arqueia a sobrancelha, mas se aproxima. Sem que nenhum de nós diga qualquer coisa, Kyle se afasta o suficiente para que Seth possa me puxar para ele. Colando nossos lábios em um beijo que incendeia todo o meu corpo. Sua mão segura a minha garganta e as memórias preenchem a minha mente. Assim que Seth se afasta, Raffi gira meu corpo para que eu fique de frente para ele, o sorriso malicioso em seus lábios contém tantas promessas que meu ventre formiga em antecipação. Ele me beija, sua mão apertando a minha bunda. — Caraca, Beyblade[21] Roberts! — Liv exclama, rindo. Eu tinha esquecido completamente que estava em meio a uma pista de dança lotada e que minha melhor amiga estava a menos de um metro de distância. — Umas com tanto, outras com tão pouco — ela brinca. Sinto o rubor tomar minhas bochechas e escondo meu rosto no peito de Raffi que vibra com sua risada. — Acho que temos um nome novo pro nosso grupo, babygirl — provoca. — Não se atreva — rebato, mas posso ver em seus olhos que a minha reação teve o efeito contrário. — Se eu vou ficar interpretando papel de candelabro a noite toda, eu preciso de uma bebida — Liv anuncia e segura a minha mão, me puxando com ela e sussurrando: — Eu não sei como você consegue se manter sã com aqueles três, só de ver vocês eu fiquei com calor. Olho para trás e meus três namorados nos seguem, me viro para minha amiga e passo um braço por seus ombros. — Cada um com a sua vida ruim. — Ela me empurra com o ombro e sorrio. — Eu sei que sou sortuda... — Sortuda é a última ganhadora da mega-sena, Brooke, você tá em outro nível, né, gata? — ela me interrompe. — Eu só consegui me manter sã por causa deles — confidencio. — Eu não teria conseguido sem eles — paro de andar e abraço a minha amiga. — Sem vocês. — Ah, não inventa de tentar me fazer chorar, minha cara vai ficar toda cagada de maquiagem, tá doida. — Ela volta a caminhar em direção ao bar. — E, eu estou sóbria demais pra esse papo. — Vou esperar você tomar o seu primeiro drinque então. — A humilhação não tem fim — reclama e tentamos nos esgueirar para perto do balcão do bar. — O que vocês querem? — Kyle pergunta, tocando a minha cintura. — Um daqueles azuis — Liv diz. — Nunca lembro o nome. — Lagoa azul? — Esse! — E você, Sunshine? — O arco-íris — peço. — Certo. — Ele levanta o braço e o bartender se vira para ele imediatamente, uma das vantagens de ser o dono do clube. Ele faz o nosso pedido. — Deveríamos aproveitar que estamos aqui e ir no banheiro antes de voltar para a pista — Liv sugere. E ela tem razão, depois temos que cruzar todo o caminho de novo e agora estamos do lado do corredor. — Vão, nós cuidaremos de suas bebidas — Raffi diz. — Obrigada. — Pego a mão de Olivia e caminhamos juntas pelo corredor. Quando chegamos no banheiro nos deparamos com a fila gigantesca, deveríamos ter ido no reservado para a área VIP, mas a preguiça de subir as escadas nos venceu e acabamos ficando ali mesmo. — Acho que você precisa convencer seus namorados a colocar um elevador privado de um andar para o outro — Liv comenta enquanto voltamos para o bar. — Teríamos levado apenas dois minutos para ir no banheiro e voltar. — Claro, porque a justificativa para construir um elevador é a nossa preguiça de subir um lance de escadas. — Eu acho mais do que justo — responde rindo. — Você é impossível. — Eu sou uma visionária. Meus pés travam há alguns passos do bar. Meus olhos nos meus namorados e nas mulheres que os rodeiam, uma loira e a mesma ruiva do estúdio de Tristan flertam descaradamente com Seth, que parece buscar uma forma de saída. Raffi e Kyle tem sua própria legião de fãs que sorriem para eles enquanto conversam. Eles sempre chamaram atenção, e como poderia ser diferente? Eles são os homens mais gostosos que eu já vi, e os mais gentis, carinhosos, atenciosos, a lista de qualidades é infinita. O que eles viram em você? A voz ácida pergunta em minha mente. Eles me amam, respondo. Mas a incerteza e dúvida me dominam. Não acho que eles algum dia me trairiam, mas e se eu não for suficiente? Claro, agora tudo é novo, excitante, divertido. Mas e se for só isso? E se um dia, um deles ou todos decidirem que não querem ter que ficar dividindo, que podem ter outra mulher só para eles. E se eu não for suficiente? A pergunta se repete na minha cabeça. Toda a animação e leveza que estava sentindo, se esvaí. — Coitadas, tão iludidas — Liv comenta e passa o braço pelo meu. — Vem, vamos salvar seus machos antes que uma das doidas tente arrancar um pedaço. Não consigo me livrar da incerteza, a semente de dúvida que surgiu ao ver meus namorados rodeados por outras mulheres e a sensação de insuficiência estragaram a minha noite. Depois que pegamos nossas bebidas, inventei uma desculpa que meus pés estavam doendo e retornamos ao mezanino, tentei melhorar, disfarçar, mas não consigo pensar em outra coisa. A mesma pergunta se repete em um loop eterno na minha cabeça. E se eu não for suficiente? E a pior parte era saber que nenhum deles sequer prestou atenção em qualquer uma das mulheres lindas que os rodearam, não olharam para elas como olham para mim. Nenhuma delas conhece o sorriso de Seth, o gosto de Raffi, o calor do abraço de Kyle e mesmo assim, algo me diz que isso vai acabar. Quando Kyle sugeriu que voltássemos para casa, não protestei. Só queria dormir e apagar essa sensação. Passo todo o trajeto olhando pela janela, a paisagem da cidade passando e mesclando. Seth apoia a mão na minha coxa e aperta-a gentilmente quando paramos em um semáforo. Ele me observa atentamente sob as luzes da rua, sorrio tentando disfarçar meus sentimentos. Vejo ele apertar o maxilar e sei que falhei, Seth sempre consegue ver através de todas as minhas máscaras. Assim que o carro para, eu saio. Caminhando para dentro de casa, tentando evitar a conversa que sinto estar prestes a acontecer. — Sunshine, o que aconteceu? — Kyle pergunta, sendo o primeiro a me alcançar no hall de entrada. Seth e Raffi em seu encalço. — Nada, só estou cansada — desconverso e dou de ombros. Como que posso explicar? E se eu disser as palavras e eles perceberem a verdade. E eu perdê-los para sempre, cada um deles é uma peça vital para a minha existência. — Abelhinha... — É sério, não foi nada. Acho que só fiquei sobrecarregada. — Você parecia bem até ir ao banheiro, algo aconteceu que roubou o seu sorriso, babygirl. — Raffi me abraça e me afundo em seus braços, querendo me afogar em seu calor.— Achei que tínhamos combinado não manter segredos uns dos outros. Merda. Eu tinha mesmo dito isso não tinha. — É estúpido — confesso. — Nada que te incomoda é estúpido, Sunshine — Kyle diz. Respiro fundo, como minha psicóloga vive me pedindo e busco a coragem para explicar. — Nada aconteceu, eu só... — suspiro, decidindo acabar com isso de uma vez. Como se fosse um band-aid. — Quando eu estava chegando perto do bar, vi a quantidade de mulheres que estavam flertando com vocês... — Seth abre a boca para protestar imediatamente, mas levanto a mão pedindo que espere. — E fiquei insegura, tá bom? Porque vocês podem ter a mulher que quiserem e se um dia acordarem e perceberem que eu não sou suficiente? Que me compartilhar não vale o esforço? — Você está certa, — Kyle começa e meu coração afunda no meu peito, sinto meus olhos arderem. — Nós podemos ter a mulher que queremos, sabe por quê? — Porque é você, Brooke — Seth responde antes que eu tenha a chance de dizer alguma coisa. — E está na hora de te mostrar exatamente o quanto não nos importamos em compartilhar você entre nós para te venerar, babygirl — Raffi diz, suas palavras fazendo um arrepio percorrer minha coluna e meu ventre se contrair de prazer. Suas mãos descem para minha bunda e ele me puxa para o seu colo, minhas pernas se enrolam em sua cintura. Raffi sobe as escadas comigo em seu colo, mas meus olhos estão fixos em Kyle e Seth que nos seguem, uma expressão faminta em seus rostos. O caçula nota meu olhar e o sorriso que enfeita seus lábios é cheio de promessas indecentes. Raffi me deita em seu colchão, suas mãos deslizam em uma carícia leve começando pelos meus ombros, passando pelos meus seios, minha pele queima no rastro de seus dedos arrepiando-se e implorando por mais. Minhas preces são atendidas quando o colchão afunda ao meu lado, meu olhar encontra o do meu amigo de infância, sua mão aperta meu seio e ele toma a minha boca em um beijo avassalador. Outro par de mãos toca o meu corpo e a sobrecarga sensorial é tão intensa que sinto minha calcinha ficando encharcada só de imaginar o que está prestes a acontecer. Estaria mentindo se dissesse que não tinha imaginado, desejado ter os três ao mesmo tempo dentro de mim. Ver como o estilo individual de cada um interagiria em conjunto, todas as experiências à três só me deixaram mais curiosa. Kyle trilha beijos pelo meu pescoço, descendo para onde sua mão ainda apalpa meu peito. Ele desliza a alça do meu vestido e do sutiã, expondo o seio e sua boca substituindo a mão. Um gemido longo deixa a minha garganta enquanto sua língua circula meu mamilo. — Está pronta para nós? — Seth pergunta quando a mão de Raffi sobe por baixo do meu vestido. Ele esfrega o dedo contra a minha calcinha, sem dúvidas sentindo quão molhado o tecido já está e sorri, se virando para Seth. — Sinta você mesmo, irmão. Seth umedece o lábio inferior, meu olhar preso ao seu enquanto ele desliza a mão pelo interior da minha coxa até a minha calcinha, mas ao contrário de Raffi, ele a empurra para o lado e seu indicador esfrega meu sexo, fazendo minhas costas arquearem no colchão. — Sempre tão molhada e pronta para nós, Abelhinha. — Ele leva o dedo a boca e chupa minha excitação com uma expressão de deleite. Raffi segura a barra do meu vestido e eu me sento para que ele possa tirá-lo, Kyle se ocupa de meu sutiã enquanto Seth se livra da minha calcinha. Os três param por um segundo e seus olhos percorrem meu corpo completamente nu e exposto para eles, suas expressões uma mistura de devoção, adoração e amor que me excitam ainda mais. — Maravilhosa — Kyle diz em tom de reverência. — Perfeita — Seth concorda. — Gostosa — Raffi acrescenta. Raffi se ajoelha na beirada da cama e puxa meu corpo em sua direção, passando minhas pernas por cima de seus ombros, sua língua contornando a minha boceta, abrindo os grandes lábios e me chupando como se fosse um homem no deserto. Meus gemidos preenchem o ar e Seth abocanha um de meus seios, mordendo o meu mamilo, a pontada de dor percorrendo meu corpo como uma flecha até meu ventre. Kyle se ocupa do outro e é difícil me concentrar em o que cada um está fazendo quando meu corpo está sendo estimulado de vários pontos ao mesmo tempo. Nem percebo o orgasmo se formando até que ele se estilhace na boca de Raffi, sinto sua risada contra mim e então um de seus dedos me penetra de uma só vez. Ele o retira e desliza para baixo circulando meu cu, usando o meu gozo como lubrificante para me preparar. Sinto seu dedo me pressionar e meu corpo responde automaticamente se contraindo. — Relaxa para mim, babygirl — pede com a voz rouca e faço o que ele pede. Kyle ainda chupa meu peito, alternando entre mordidas, lambidas e chupadas. Enquanto Seth reivindica minha boca com paixão, sua língua dançando com a minha. A voracidade do beijo transforma meus joelhos em gelatina. Ele chupa o meu lábio inferior para sua boca e o morde com força, como adora fazer e a dor se mistura com o prazer da maneira que eu aprendi a amar. É nesse momento que sinto o dedo de Raffi penetrar meu cu, tenho que me forçar a me manter relaxada, a sensação é estranha, mas prazerosa e fica ainda mais quando ele estimula meu clitóris com a outra mão. Sinto Kyle e Seth se afastarem e meu olhar acompanha seus movimentos enquanto eles tiram suas roupas. O loiro caminha até a cômoda pegando a caixa de camisinhas e um frasco de lubrificante. Ele volta e toca o ombro de Raffi que meneia a cabeça concordando. Alguma parte do meu cérebro acha espaço suficiente para admirar a forma como meus namorados se comunicam sem usar nenhuma palavra. Kyle se senta na quina da cama e segura a minha mão. — Vem cá, Sunshine. — Obedeço e ele segura meus quadris, me puxando para seu colo a cabeça de seu pau provocando a minha boceta. Suas mãos deslizam pelas minhas costas me empurrando em sua direção e ele me beija com desejo enquanto eu sento em seu pau. Sentindo ele me preencher deliciosamente a cada centímetro, ele geme contra meus lábios quando seu pau está completamente enterrado em mim, rebolo uma vez arrancando outro gemido dele. — Porra, que gostosa — o loiro diz. Sinto outra mão descer por minhas costas e olho para trás encontrando Raffi, completamente nu, seu pau grosso e cheio de veias completamente ereto. Ele espalha lubrificante por toda a extensão. Seth se posiciona do outro lado, se masturbando no mesmo ritmo em que cavalgo Kyle, sinto minha boceta apertar o pau de Kyle diante da visão. A noção de que todos esses três homens gostosos estão duros e excitados por minha causa é um afrodisíaco por si só, mas o amor que sinto acompanhando a luxúria só torna tudo mil vezes mais intenso. Algo molhado e gelado encosta na minha bunda, desvio meu olhar por reflexo. Vendo Raffi com os dedos cobertos de lubrificante voltar a tocar meu cu, ele me penetra com o indicador de novo e minhas costas arqueiam, minha respiração sai entrecortada. A sensação do pau de Kyle em minha boceta e do dedo de Raffi me levando à beira do precipício. Um segundo dedo se junta ao primeiro e prendo a respiração. — Respira, Brooke, precisa relaxar — Raffi pede e eu solto o ar ruidosamente. — Isso bem assim. Ele retira os dedos e sinto a cabeça de seu pau encostar em meu cu, receio me percorre, não vai caber. — Babygirl, relaxa pra mim — ele comanda e sinto ele colocar mais lubrificante na região. — Kyle. Os dedos do loiro buscam o meu clitóris, estimulando-o e me ajudando a relaxar, enquanto seu pau continua dentro de mim. Seth só observa tudo, seu olhar faminto sobre mim, enquanto continua a se masturbar lentamente. Sinto uma pressão no meu cu, mas com os estímulos de Kyle, consigo me manter relaxa para receber Raffi por inteiro. Ele não tem pressa, me penetrando pouco a pouco, dando tempo ao meu corpo para se acostumar. A sensação de preenchimento é surreal, não existem palavras para descrever. O prazer que me rasga quando Raffi se enterra por inteiro em meu cu me faz explodir no pau de Kyle, esmagando-o dentro de mim no processo, um grito sufocado escapando a minha garganta. — Puta que pariu, babygirl, você é tão gostosa — Raffi geme, colado na minha bunda. Ele se retira só um pouco para socar seu pau de volta e o prazer faz meu corpo estremecer. — Não existe ninguém como você, Sunshine. Kyle se inclina para trás e Seth se aproxima, apoiando um joelho na cama. Seth segura meu rosto, seu polegar acariciando o meu lábio inferior. — Você fica tão sexy com dois paus enterrados em você, Abelhinha. Me conta, era assim que você achava que seria? — É melhor — consigo dizer. — Mas... — hesito em continuar e ele sorri. — Mas? — Seth me encoraja. — Me diz o que você quer. — Eu quero todos vocês, ao mesmo tempo — declaro. E sinto Kyle e Raffi estremecerem dentro de mim. — Hoje, seu desejo é uma ordem, Abelhinha — afirma e sua mão escorrega pelo meu pescoço apertando de leve antes de segurar meu cabelo com firmeza na altura da nuca e guiar a minha cabeça até seu pau. Abro minha boca, lambendo a cabeça de sua ereção, sentindo o gosto do seu pré-gozo antes de engoli-lo até a base. — Quando eu acho que você não pode ficar mais sensual, você vai e prova que eu estava errado — diz Raffi. Meu namorados começam a se mexer dentro de mim, cada um me fodendo em um ritmo que logo entra em sincronia e meu corpo se acende como uma árvore de natal. Cada ponto onde nossos corpos se encontram é brasa, é lava, queima e me leva ao limite, sei que não vou aguentar muito tempo, não com todos eles dentro de mim. Com o que tudo isso significa, não tem volta. Cada investida, cada gemido é uma reivindicação. Seth, Raffi e Kyle estão me marcando como deles e não tem nada que eu queira mais do que isso para o resto da minha vida. — Eu não vou aguentar muito mais — Kyle anuncia. — Nem eu, não com o jeito como Brooke está me esmagando. — Goza para nós, Abelhinha — Seth pede, fodendo a minha boca com mais urgência, buscando o próprio prazer. Como se ele precisasse pedir, me sinto em queda livre, como se a gravidade não se aplicasse mais a mim quando explodo novamente. O prazer vem em ondas, cada uma mais intensa que a anterior, espalhando-se por cada canto do meu corpo. — Porra, um squirting[22] é demais para mim, babygirl — Raffi segura meus quadris, estocando tão fundo quanto possível e gozando em meu cu ao mesmo tempo em que Seth enche a minha boca, engulo sua porra por instinto. — Tão linda — afirma antes de limpar o canto da minha boca com o dedo e se afastar. Kyle morde meu ombro, sua respiração ofegante contra meu pescoço, ele investe contra mim duas vezes antes de alcançar o próprio clímax. Seus braços serpenteiam ao meu redor assim que Raffi se retira e sou assolada pela sensação de vazio repentino. Ele se deita comigo ainda em seu colo. Meu corpo está completamente exausto, não sou capaz de me mover nem mesmo um milímetro, mas todas as minhas inseguranças e dúvidas deram lugar para o amor e alegria que só os meus namorados são capazes de me proporcionar. Começo a recobrar os meus sentidos, despertando devagar. Brooke está deitada com as costas contra o meu corpo, um braço pesado que não é o meu está sobre o meu peito. Imagens da noite passada repassam como um filme e aperto a cintura da minha namorada. Começo a ficar inquieto e sei que preciso levantar. Abro os olhos e Brooke tem a cabeça sobre o braço dobrado de Kyle, as pernas entrelaçadas com ele, o que significa que o braço sobre mim é de Raffi, sua mão tocando o ombro de Brooke, como se mesmo dormindo buscasse pela loira. O fato de que ela achou que não era suficiente para nós, me ofende, mas também serve como lembrete de que preciso me esforçar mais para assegurá-la que não vou a lugar algum. Nenhum de nós vai. Ninguém nunca teve medo de me perder como ela, não dessa forma. Ninguém nunca me amou ao ponto de que a mera ideia da minha ausência em sua vida pudesse lhe causar sofrimento.É absurdamente ridículo que ela cogite tal hipótese. Sempre soube que se algum dia eu cruzasse a linha da nossa amizade, não teria volta. Eu estava certo. Tento sair sem acordar nenhum deles, mas Raffi resmunga alguma coisa ininteligível quando mexo seu braço. Me levanto e ele logo toma o meu lugar, abraçando Brooke e enfiando a cabeça em seus cabelos. Passo pelo meu quarto, vestindo uma calça de moletom antes de descer para a cozinha. — Oi, Banguela — cumprimento o pitbull que vem me receber, em seu encalço vem Perséfone. — Oi, pequena, tão com fome, né? Sirvo suas tigelas e ao som da ração Cérbero e Apolo entram na cozinha. — Desculpem a demora, dormi mais do que de costume — falo e começo a preparar um café. O relógio no micro-ondas indica que já são quase sete da manhã, realmente, eu dormi demais. Mas isso sempre acontece quando tenho Brooke em meus braços, é como se a sua luz afastasse os meus pesadelos. Pego minha xícara de café preto e sem açúcar e sigo para a sala pegando meu celular na mesinha do hall. Tem 25 chamadas perdidas de várias pessoas, o único número que eu tenho salvo é o de Darius, o chefe da segurança da Underworld. Aperto seu número e ele atende no terceiro toque. — Finalmente. — Fico confuso com o cumprimento, nós estávamos no clube menos de dez horas atrás. — Estou tentando falar com vocês há horas. — O que aconteceu, Darius? — A Underworld — ele pausa. — Não tem um jeito fácil de dizer isso, — um arrepio gelado desce pela minha coluna como se fosse um cubo de gelo. Algo em seu tom disparando todos os meus alarmes mentais. — Ela foi incendiada. — O quê? — Aperto o aparelho contra o meu ouvido como se pudesse ter entendido errado. — Ela pegou fogo, literalmente. Isso não pode ter acontecido. Nós estávamos lá essa noite. Uma sensação de pavor me toma enquanto me preparo para minha próxima pergunta e a sua resposta. — Algum ferido? — Isso é o que mais importa. — Não, conseguimos evacuar com sucesso, — Graças a Deus. — Mas o filho da puta por trás do incêndio tentou impedir que isso acontecesse. — Seu tom é frenético. — Todas as saídas de emergência estavam bloqueadas e a porta não abria para fora, mas como instalamos as portas anti-barricadas e nossos funcionários estão sempre em posse de uma das chaves, conseguiram reverter as portas e abri-las para o lado de dentro. Os bombeiros conseguiram conter o fogo antes que ele se alastrasse para os prédios vizinhos, mas, Chefe... — O que foi? — Eles disseram que a estrutura está completamente comprometida. Em outras palavras, o prédio está condenado. É o fim da Underworld. Respiro fundo. — Eles iam contactar vocês, mas me deixaram com o número deles. As instruções que me passaram foi que deveríamos ligar para eles, para pegar os relatórios da inspeção e como foi um ato criminal a polícia vai investigar, provavelmente vocês vão ter que dar algum tipo de depoimento. E também falou para ligar para a seguradora. — Pode me passar o número? — Sim, só um minuto. Pego um bloco de anotações e a caneta e anoto o telefone que ele me passa. — Obrigado, Darius. Nós vamos resolver. Fico feliz que todos estão bem. — Não fiz nada, chefe. — Fez. Você salvou inúmeras vidas essa noite. Você está bem? Precisa de algo? — Não vou mentir, estou um pouco nervoso, achei que tinha deixado toda a ação no oriente médio, sabe? — Entendo perfeitamente. Se precisar de qualquer coisa, não hesite em pedir. — Obrigado, Seth. — Vá descansar, avisaremos qualquer novidade. Obrigado. Encerro a ligação e fecho os olhos, respirando fundo. Agradeço mais uma vez que ninguém se feriu gravemente. Podemos reconstruir o prédio, fazer reparos, o que for, mas não sei como lidaria com o fato de que pessoas morreram no meu clube. Vou para o escritório e ligo para os bombeiros e marco uma reunião para hoje à tarde, garantindo que eu e meus irmãos estaremos lá. Agora é só falar com a seguradora, que eu não tenho o número. Procuro por uma agenda na mesa, mas só encontro várias pastas e algumas armas nas gavetas. Suspiro resignado, fazendo uma lista mental de todo mundo com que preciso falar: a seguradora, nossa equipe legal e relações públicas, precisamos nos colocar a frente de tudo isso. Quanto antes, melhor. Sei que não devo tirar conclusões precipitadas, mas me parece que o perseguidor de Brooke elevou o nível de violência e sua raiva por nós. Incendiar nosso estabelecimento, é uma declaração, um desafio, uma provocação. E ela tem que ser respondida a altura. Estou cansado dessa brincadeira, ele teve a sua diversão e quando eu o encontrar, será a minha vez. E ele vai se arrepender de algum dia ter ameaçado a minha família. Me concentrar na leitura hoje está difícil, já li essa página umas três vezes e nem é culpa do livro, que é incrível. Uma fantasia com uma pegada quente e a luta pelo trono de Altera. Porém minha mente fica imaginando o que teria acontecido se não tivéssemos voltado para casa cedo. Se não tivessem conseguido evacuar todo mundo em segurança. E saber que alguém está por trás disso me deixa ainda mais ansiosa. Cogitei marcar uma sessão de emergência com a doutora Luana, mas não posso depender dela pra enfrentar qualquer coisa que acontecer na minha vida. Fecho os olhos e respiro fundo pela... já perdi a conta de quantas vezes hoje. — Sunshine? — Kyle me chama e abro os olhos, vendo meu namorado que se aproxima. Ele trocou a calça jeans e camiseta pelo terno e meu coração se aperta. — Vai sair também? Seth saiu logo após o café da manhã, precisando resolver as coisas com o departamento de polícia e o corpo de bombeiros. Raffi levou os cães pra tomar banho como todo sábado e depois tinha algo para fazer com a equipe de relações públicas. — Infelizmente, preciso ir. Tenho que lidar com a seguradora, não devo demorar. — Ele beija a minha testa. — Tudo bem — concordo, resignada. — Traz pizza pro jantar? — peço e me dá um selinho. — Vou ver o que eu consigo. Eu te amo, Brooke. — Eu também te amo, Ky. Acompanho com o olhar até ele sumir pelo corredor e consigo ouvir a porta da frente bater quando ele sai. O silêncio que se instala é carregado, esmagador, opressor. Respiro fundo e coloco uma playlist aleatória para tocar no YouTube da TV, precisando do ruído de fundo para afastar a paranoia que ameaça se instalar. Volto a atenção para o meu livro, finalmente conseguindo me concentrar nas aventuras da família Tormenti depois que Kassius ganha uma coleira tatuada como símbolo da parceria. O que é claro me lembra da coleção de coleiras que Seth guarda no seu quarto, ele ainda não usou nenhuma delas em mim, mas a curiosidade e antecipação estão quase me matando. Será que ele está esperando que eu peça?, me pergunto. Percebo que a música parou, olho para a TV e vejo a clássica notificação se eu quero que continue a tocar, nunca entendi o propósito disso, se eu liguei a TV e não desliguei, por que eu iria querer que parasse? Começo a tatear o sofá em busca do controle remoto. — Perdeu alguma coisa? — Essa voz. Me sobressalto, levando a mão ao peito e minha respiração fica presa na minha garganta, meu coração martela contra as minhas costelas. O medo me paralisa, preciso sair daqui, preciso correr, mas não tenho para onde ir, pois parado na única porta está meu ex-namorado. Patrick Anderson. — C-como você entrou aqui? — minha voz falha. Ele sorri e o gesto faz minha pele arrepiar, tem algo de muito errado em sua expressão. Uma perversão fria que eu nunca tinha visto antes. — Com a ajuda dos seus amiguinhos, ou eu deveria chamá-los de namorados, agora? — Seu tom é carregado de repulsa. Ele inclina a cabeça e a luz reflete em algo em suas mãos quando ele a levanta. Usando a ponta da lâmina longa para limpar sob as unhas, disparando outra onda de pânico pelo meu corpo. — Veja bem, eu estava esperando pelo momento certo, mas como eles não estavam te deixando sozinha, por isso precisei resolver as coisas por conta própria. Ele dá um passo para dentro da sala, diminuindo a distância entre nós, mas ao mesmo tempo se distanciando da porta. Essa pode ser a minha chance, se eu conseguir distrai-lo por tempo suficiente, fazê-lo falar, talvez eu consiga fugir. Afasto qualquer dúvida, medo ou insegurança. Não tenho tempo para isso. — O que você quer dizer com isso? — pergunto, minha voz um pouco mais firme. Para onde eu iria? Cozinha? Não, muito aberta. Academia é muito longe. O escritório, se eu não me engano vi uma arma em uma das gavetas, se eu conseguir chegar até lá, talvez eu tenha uma chance. — O incêndio, é claro. — Você quase matou centenas de pessoas — rebato, em choque. Aproveitando para levantar. Quem é esse homem? Como pude estar tão errada ao seu respeito. O cara com quem eu morei, nunca poderia ter incendiado um clube. — Por que o espanto? — ele pergunta, arqueando as sobrancelhas. — Seus namorados mataram milhares de pessoas. — Eles estavam lutando pelo país, são heróis de guerra. — Heróis, certo — ele zomba. — Por que não diz isso para as famílias das pessoas que eles mataram? Patrick dá mais um passo em minha direção e eu me esquivo para a lateral. Me forço a manter a minha atenção nele e não desviar o olhar para a porta. Não posso entregar meu plano, não posso arriscar. — Por que você se importa? — Nada disso faz sentido, o desdém com que Patrick se refere aos rapazes, o ódio que vejo em seu olhar. — Porque uma dessas pessoas era o meu irmão! — vocifera, avançando contra mim tão rápido que não consigo recuar, ele segura meus braços com força, sinto seus dedos afundando em minha pele, o cabo da faca me machucando. Preciso controlar a náusea, afastar as memórias da última vez que me tocaram com tanta agressão. Eu sobrevivi daquela vez e sobreviverei agora. — Me solta, você tá doido! — Luto para me libertar de seu aperto. — Você não tem irmãos, é filho único. — Não tenho por causa deles. Meu irmão morreu por culpa dos seus namoradinhos. — Ele me joga no sofá com hostilidade. — O plano nunca foi te machucar, eu só precisava de uma forma de me aproximar, mas por causa de uma coisinha de nada... — Coisinha de nada? Você me traiu! — interrompo-o. Ele se vira para mim, a mão com a faca levantada e eu me encolho. — E por causa disso você me deixou e foi morar com eles — ele praticamente cospe a última palavra. — Me conta, você já estava dando pra eles enquanto estávamos juntos, né? — Eu nunca te traí — declaro, me levantando e dando dois passos para trás, para mais perto da saída. — Claro, claro. Mas mesmo depois de você me trocar eu tentei te mostrar que eles não eram quem você achava, que eles não poderiam te manter segura. E eu estava certo, mas mesmo assim você ficou, mesmo depois de ter sido sequestrada e torturada, por causa deles! — ele grita, gesticulando para a sala. — Você ainda assim os escolheu. — E escolheria de novo — declaro, confiante. Todas as luzes se apagam subitamente e agradeço aos deuses pela queda de energia. Não perco tempo e me viro, saindo correndo pela casa pouco iluminada pela luz do fim de tarde. Mas poderia estar um breu completo, essa é a minha casa e eu a conheço de olhos fechados. Estou quase no escritório, minha mão avança para a maçaneta, mas sou parada por algo. Não, por alguém. Uma mão cobre minha boca e me puxa para trás me colando ao corpo do desconhecido e me debato contra meu captor, desespero preenchendo cada uma de minhas moléculas. Não. — Shhhhhhh, babygirl. Estou terminando de vestir o colete à prova de balas quando a porta abre e Kyle entra. — Vamos terminar isso de uma vez por todas — declara e se vira para Seth, que está sentado em frente ao computador com o sistema de vigilância que foi instalado e configurado em nossa casa, no dia seguinte ao resgate de Brooke. O sistema de câmeras é obra de Adônis, é claro. Funciona independente de todas as outras redes, e é completamente impenetrável. Nem mesmo Adônis poderia hackeá-la de forma remota, a única maneira seria se estivesse dentro da nossa casa. — Deveríamos ter feito isso há muito tempo — digo. — Brooke não estava pronta, ela precisava se recuperar, lembrar de sua própria força — Seth contrapõe. — Ainda não gosto de termos que fazer isso pelas suas costas. — O plano foi seu — Kyle adiciona. — Não quer dizer que eu goste disso, mas era necessário. — Ele vira o rosto para onde Kyle veste o colete. — Avisou os guardas? — Eles estão preparados. Quando Seth nos acordou hoje de manhã com a notícia de que a Underworld tinha sido incendiada era evidente que tinha sido obra de quem quer que estivesse atrás de Brooke pra nos separar dela. Nosso primeiro instinto, é claro, foi não sair de perto da loira. Mas era a isca perfeita, seu perseguidor estava claramente aumentando o nível de violência o que o tornava perigoso, mas também o tornava descuidado, propenso a cometer erros. E a oportunidade de encontrar Brooke sozinha seria tentadora demais para que o hijo de puta deixasse passar. O que ele não sabe é que ela não estará sozinha. Compramos a casa vizinha a nossa sob o nome da minha mãe, uma semana depois do resgate de Brooke, quando ficou claro que estávamos lidando com um stalker. E estamos nos preparando desde então. — Alguma coisa? — pergunto a Seth. — Ainda não, mas Thorne acabou de sair, se Patrick for esperto, vai esperar pelo menos uma meia hora, ter certeza que ela está sozinha. Essa era a outra coisa que o dia de hoje trouxe. A certeza da identidade do perseguidor. Em meio a nossa reunião enquanto traçávamos o plano e a melhor forma de executá-lo. Adônis ligou. — Boa noite, Thorne. — Bom dia, Adônis, você está no viva-voz — Kyle anunciou. — Ótimo, ia mesmo pedir para chamar seus irmãos. A informação do tio do ex da sua garota era o que precisávamos. Finalmente descobri porque não conseguíamos encontrar nada sobre Patrick Anderson. — Eu aprecio um ótimo suspense como qualquer pessoa, — respondi. — Mas estamos no meio de uma crise, incendiaram a Underworld e temos quase certeza que o responsável é o perseguidor de Brooke. — Pode retirar o quase, Raffi — Adônis me corrigiu. — O motivo de não termos nada sobre ele é porque até 12 anos atrás ele não existia. — Como é que é? — Kyle pergunta. — O governo dos Estados Unidos deu uma identidade nova para toda a família. — Serviço de proteção às testemunhas? — Seth perguntou, se inclinando para mais perto do aparelho. A intensidade com que o caçula encara o celular é tanta que se Adônis surgisse na mesa eu não me surpreenderia. — Exatamente, Seth. A questão é que Patrick era filho de um dos braços direitos da máfia italiana de Denver. E pelo que eu entendi a mulher do cara, mãe do Patrick, foi morta em algum conflito. E então o pai, Marco, fez um acordo com o governo e entregou um dos mandantes, o consigliere[23] em troca de identidades novas para ele e os dois filhos. — Dois filhos? — Sim, Patrick tinha um irmão. Aparentemente, Marco treinou os filhos como se ainda fizessem parte da máfia, mas o mais velho não queria levar uma vida criminal e se juntou aos Fuzileiros Navais. — Ele era um de nós? — Kyle ecoou em voz alta a pergunta que meu cérebro fez. — Sim, ele morreu em ação. Era uma missão de resgate, mas a equipe responsável não chegou em tempo. Meu estômago pareceu afundar como se fosse feito de chumbo, sabendo instintivamente o que Adônis diria a seguir. Olhei para meus irmãos e em suas expressões encontrei espelhado ali os meus sentimentos. Eu lembrava daquela missão, a única vez em que falhamos. — Missão Blackbird? — Seth perguntou. — É, de alguma forma, Patrick conseguiu descobrir quem eram os responsáveis pelo resgate. Ao que me parece, ele se aproximou de Brooke com o intuito de conhecê-los, não sei o que o fez esperar quase cinco anos para agir. — Ela — nós três respondemos em uníssono. Seria engraçado se não fosse tão perturbador. — Ele ativou os sensores da entrada pela piscina — Seth anuncia, me tirando de minhas memórias. Ele se levanta e estende a mão, abro minha carteira e tiro uma nota de dez dólares. — É uma ideia estúpida, a entrada pela garagem faz muito mais sentido — rebato chateado. — Hora de ir — Kyle diz. Colocando o comunicador bluetooth no ouvido. Eu e Seth fazemos o mesmo. Thorne abre a porta de casa e entramos pelo portão, nos separando. — Checagem de comunicação — Kyle pede. — Reaper, na escuta — respondo. — Hellhound. Alto e claro. — Ok, vamos acabar com esse filho da puta. — Um sorriso se abre em meu rosto em antecipação. Estou na porta que liga o jardim com a cozinha, Seth, vai entrar pela outra enquanto Kyle desliga a energia. — O primeiro golpe é meu — Seth dispara, a tensão em sua voz me informa que algo aconteceu no vídeo que ele ainda acompanha pelo celular. O ódio me consome, se esse arrombado tocou na minha mulher, eu juro que vou quebrar todos os dedos da mão dele. — Doomshade[24], agora! — Seth comanda e Kyle obedece, a casa fica escura e eu já estou do lado de dentro. — Hellhound, cadê ela? — A minha prioridade é a segurança dela e Seth já reivindicou o primeiro golpe de qualquer forma. — Correndo para o escritório. — O orgulho em sua voz é tão claro que me faz voltar a sorrir. Ela não ficou paralisada, aproveitou a oportunidade para fugir como esperávamos que fizesse. Essa é a minha garota. Sigo pelo corredor e a vejo, ela está quase na porta quando eu a seguro. Cubro sua boca, porque sei que no momento seu primeiro instinto será gritar e não podemos chamar a atenção. Seth está em silêncio e não sei se já pegou Patrick ou não. Brooke se debate contra mim. — Shhhh, babygirl — sussurro e ela relaxa instantaneamente. — Vem comigo. Solto seu corpo e seguro sua mão, guiando-a para o porão. Começo a ouvir sons de coisas se quebrando e quero correr para ajudar meus irmãos, mas primeiro preciso garantir que Brooke estará segura. Abro a porta e a luz de emergência ilumina os degraus. Descemos em silêncio, a loira aperta a minha mão algumas vezes. Quando chego no andar debaixo, abro a porta do quarto e gesticulo para que ela entre. Fecho a porta atrás de mim e ligo a luz. — Achei que estávamos sem energia — ela sussurra. — Estamos, esse quarto é alimentado por um gerador. — O quarto não tem decoração, é simples, funcional. Uma mesa e cadeira, uma tela de televisão que funciona como monitor e um teclado. — Você vai ficar aqui até um de nós voltar. — Desde quando isso existe? — pergunta incrédula gesticulando para o quarto. Mas meus olhos percorrem seu corpo, procurando por algum ferimento, minha atenção fixa nas marcas vermelhas em seus braços que não tenho dúvidas estarão roxas em poucas horas. Caso restassem dúvidas de que hoje seria o último dia de vida de Patrick, elas acabam de se tornar certezas. — Desde sempre, só foi adaptado com o novo sistema de vigilância — explico. Ligo a tela e as câmeras surgem. Vejo Seth e Kyle carregando Patrick para a garagem. Ótimo, isso já está resolvido. — O que eles vão fazer? — ela pergunta acompanhando os dois. — Descobrir se ele está trabalhando sozinho. Esclarecer algumas coisas. — Me viro para sair e ela segura meu pulso. — Vou com você. Pego o comunicador extra do meu bolso. — Aqui, coloque isso, você vai conseguir ouvir tudo e acompanhar enquanto fica em segurança. — Raffi — ela reclama, quando me viro. — Não é negociável, babygirl. — Seguro seu rosto com carinho e colo nossos lábios em um beijo rápido. — Não dessa vez, temos contas a acertar e você não precisa de combustível novo para seus pesadelos. Ela arregala os olhos e confirma com um movimento de cabeça e se senta, cruzando as mãos sob o queixo e encarando o monitor. — Tomem cuidado — ela diz e sorrio. — Sempre. Eu já volto. Subo as escadas correndo e sigo para a garagem. Patrick está atado a uma cadeira de metal, no meio do cômodo, seu lábio está sangrando e seu olho já está inchado devido a um corte na sobrancelha. O fato de que nós três saímos de casa com os carros liberou muito espaço. — Devo te agradecer, Patrick — Seth diz, seu tom frio arrepia os pelos do meu braço, faz anos que eu não escuto essa voz. — Seu trabalho exímio em desaparecer vai garantir que ninguém faça perguntas. — Grandes heróis que vocês são, realmente. Não passam de assassinos! — ele cospe uma mistura de saliva e sangue no chão. Kyle nota a minha presença e arqueia uma sobrancelha. — Segura e com olhos e ouvidos presentes — informo. Esperamos que o choque de ver pela tela seja menor do que se estivesse aqui. Pelo menos o som dos ossos se partindo ficará abafado. — Está vendo, Brooke? — ele grita para o ar. — Eu tentei te proteger. Avanço até ele, dando um tapa em seu rosto com as costas da mão, sua cabeça gira com a violência do impacto. — Você não se dirige a ela. Achei que tinha deixado isso claro meses atrás. — Seguro seus dedos nojentos, os que usou marcar a pele da minha mulher. — E você, com certeza, não põe as suas mãos imundas nela. Viro dois de seus dedos na direção contrária, ouvindo o estalar satisfatório dos ossos sob seus gritos agonizantes. Kyle se põe ao meu lado e tenho quase certeza que desse ângulo o corpo de Patrick está fora do campo de visão de Brooke. — Ele a machucou? — Kyle pergunta, seu tom duro como aço. — Ele a segurou e a jogou no sofá — É Seth quem responde. Então foi isso que ele viu. Kyle saca a pistola da cintura e atira no joelho de Patrick tão rápido que só processo o que aconteceu quando sinto o sangue cobrir meus braços. O grito atormentado de Patrick tem o sabor de um vinho caro, algo que você esperou por muito tempo para provar. Esse é o homem que aterrorizou por meses a minha mulher, que a perseguiu e ofendeu. Não consigo encontrar espaço para empatia pelo que ele perdeu. Se ele tivesse vindo atrás de nós diretamente, ao invés de envolvê-la em seus planos de vingança, talvez eu pudesse entender, aceitar, ter misericórdia. Não é esse o caso. — Nós entendemos a sua motivação, Matteo. — Os olhos de Patrick se arregalam quando Seth usa seu verdadeiro nome. — Sim, nós sabemos quem você é. Demorou, é verdade, mas conseguimos. — Seu plano era bom... — Kyle diz. — Mas ele tinha uma falha desde o princípio... — adiciono. — Usar Brooke para se aproximar de nós, nos conhecer, foi inteligente, tenho que admitir — Seth diz, polindo uma de suas adagas enquanto encara Patrick. — Mas se envolver com ela, machucá-la e toda a obsessão que se sucedeu, é no mínimo, patética. Seth desliza a ponta da lâmina sobre a pele exposta do antebraço de Patrick, fazendo-o estremecer. Ele nos encara com tanto ódio, como que nunca notamos? — Quem mais está trabalhando com você? — pergunto. — Porque eu sei que você não seria capaz de orquestrar tudo isso sozinho. Apelar para o seu orgulho é um golpe certeiro, todo o seu comportamento até aqui descreve um homem com um senso de importância exagerado, a narrativa de herói que criou em sua cabeça para justificar seus atos, a forma como sempre tratou Brooke. — Vocês sempre se acharam tão superiores — ele desdenha. — Andando por aí com sua pose de herói, os melhores do mundo. Seth corta o braço dele, uma linha horizontal profunda, fazendo o sangue jorrar e empoçar aos seus pés. — Meu irmão te fez uma pergunta — adiciona. — Sabemos que você não tem a capacidade necessária, Matteo — Kyle provoca. — É realmente uma pena que Carlo tenha morrido na guerra, ele era o melhor, o orgulho do seu pai, não é. Ira renovada toma as feições de Patrick e ele se debate contra as amarras. — Não fale o nome dele. Ele está morto pela sua incompetência. — Quem está trabalhando com você? — Seth repete, cortando o outro braço. Patrick grita e luta contra as amarras. — Deve estar matando vocês que eu consegui enganá-los, que eu me infiltrei tão facilmente na vida de vocês, na sua casa. E nem foi difícil, sabe? — Ele tenta arrumar a postura, se endireitar. — Foi fácil depois de conseguir acesso ao arquivo dos fuzileiros, quando eu descobri seus nomes, comecei a procurar um ponto fraco, vocês sentiriam a mesma dor que eu. Ele sorri com malícia. — Foi quando eu encontrei Brooke, depois de subornar o escritório de admissões eu estava na sua faculdade e ela era tão ingênua, tão fácil. — Ele olha de Kyle, para mim e então para Seth. — Mas vocês já sabiam disso — seu tom não deixa dúvidas para o significado por trás de suas palavras. Meu punho colide com a lateral da sua cara, derrubando-o com a cadeira. Antes que um de nós possa se mexer para levantá-lo do chão, um tiro acerta o meio do seu peito, o som ecoa pela garagem e me viro com a minha arma engatilhada e pronta. Brooke está parada na porta, o sol a iluminando pelas costas e puta que pariu essa mulher armada e com cara de irritação é gostosa demais. — Já ouvi o suficiente, — declara caminhando em nossa direção. — Não há razão para prolongar o inevitável até porque nenhuma tortura supera a morte. — Ela para sobre o corpo de Patrick que respira com dificuldade. —Deveria ter te matado quando tive a chance, te poupar foi um erro. —Ele tosse sangue com o esforço de falar. — É, foi. — Ela dispara novamente. Implacável. Fatal. Mortal. O tiro acerta o meio da testa desfigurando o rosto com a proximidade. Brooke se vira para nós travando a arma e oferecendo o cabo, eu tomo a pistola de suas mãos. — E da próxima vez que vocês planejarem me usar com isca, me informem. — Ela nos dá as costas e segue para o interior da casa. Eu e meus irmãos nos entreolhamos antes de segui-la. Kyle a puxa contra seu peito e eu e Seth nos juntamos ao abraço, envolvendo-a em uma espécie de casulo. — Não vai existir próxima vez — afirmo. — Nunca mais — meus irmãos concordam. Me olho no espelho e aliso o meu vestido, a seda verde musgo abraçando meu corpo e caindo até a metade das minhas coxas. Prendo as mechas superiores do meu cabelo e deixo o resto caindo em ondas pelos meus ombros. — Abelhinha, já está pronta? — desvio meu olhar do meu reflexo para o homem esperando na porta do quarto. — Só passar o batom e já desço — eu o informo. Ele caminha até mim e me deixo observar meu namorado. Ele está vestindo um terno chumbo, algo raro para Seth e se você me perguntar uma pena. Ele consegue ficar ainda mais gostoso e imponente de roupa formal. A quem eu quero enganar? Seth Donahue consegue comandar qualquer cômodo apenas com sua presença. — Você está deslumbrante — diz, tocando a minha cintura de leve. A intensidade de seu olhar sobre mim, me faz enrubescer. Como que é possível que eu ainda não tenha me acostumado a ser o alvo de seu amor depois de um ano? — Você também não está nada mal, deveria usar ternos mais vezes. — Seguro sua gravata usando-a para puxá-lo para baixo e colar nossos lábios. Sua língua acaricia a minha em um beijo terno. — E roubar o look de Kyle? — ele me pergunta assim que se afasta. Sentando na beirada da cama.— Não, e roupas formais são muito restritivas. — Ele passa os dedos pela colarinho da camisa como se para enfatizar suas palavras. — Você fica extremamente gostoso com calças de moletom também. — Dou de ombros e me viro para o espelho para passar o batom. — Ah, é? Só de moletom? — provoca, pelo reflexo vejo seu olhar passear por meu corpo aquecendo a minha pele e me dando todo tipo de ideias que eu não deveria ter agora. Me viro para ele quando já estou pronta. — Prefiro você sem nada, — pisco para ele. — Mas temos compromisso e não podemos nos atrasar. Ele puxa minha cintura, me acomodando entre as suas pernas. — Eu discordo, a festa é nossa, lembra? Inclino meu rosto em direção ao seu, minha boca pairando sobre a dele por alguns segundos, antes de puxar seu lábio inferior com os dentes e morder de leve. — Exatamente. Vamos? — Me afasto e ele balança a cabeça. Ele dá uma tapa na minha bunda quando se levanta. — Vai pagar por isso mais tarde, Abelhinha. — Mal posso esperar. Confiro se tenho tudo que preciso para hoje à noite na minha bolsa. Quando Raffi aparece na porta. — Pela demora, achei que encontraria os dois sem roupa — comenta se apoiando contra o batente. — É decepção que eu escuto em sua voz? — provoco. — Talvez. — Ele sorri e meu coração erra uma batida. — Você está deliciosa, babygirl. Raffi veste um terno azul claro que complementa o seu tom de pele. Os cabelos longos estão soltos e ele não é apenas um pedaço de mal caminho, mas o caminho inteiro. — Você também está muito bem. — Olho para trás para onde Seth ainda espera na cama e de volta para Raffi. — Acho até que vou ser ofuscada. — Isso nunca seria possível — Raffi declara, dando um passo em minha direção, sua mão deslizando pela lateral do meu corpo. Abaixa a cabeça e beija meu pescoço, o ponto sob meu maxilar e faz minha pele arrepiar. — Honestamente, eu esperava isso de Raffi, mas você também, Seth? — Kyle reclama quando chega no quarto. Sinto seu olhar sobre mim, seu rosto suaviza e ele sorri. Seth levanta as mãos em sinal de rendição. — Não posso ser responsabilizado quando nossa namorada decide me seduzir. — Como é que a culpa acaba sendo sempre minha? — reclamo. — Fácil, babygirl, somos três contra um. — Vocês são impossíveis! — Caminho para a porta. — Mas você nos ama mesmo assim — Kyle declara, envolvendo minha cintura e me fitando profundamente. Um meio sorriso nos lábios. — Você está ainda mais linda hoje, Sunshine. Ele me dá um selinho e se afasta, os olhos escurecidos de desejo. — Realmente, é impossível resistir ao seu charme — confidencia. Por um segundo penso em desistir dos planos que tenho para hoje, posso fazê-los aqui mesmo em casa e aproveitar a celebração que espero que aconteça. Mas essa noite é importante, por diversas razões e não quero perder o meu primeiro evento público como sócia da Hades’ Men. — Pois terão que fazer um esforço, temos uma inauguração para fazer.
A construção da nova Underworld levou um ano para ser
terminada. Mas hoje, finalmente, ela estava sendo aberta ao público. A estrutura é muito similar a anterior, porém agora com dois bares no térreo um em cada lateral. A pista de dança ocupa todo o restante do espaço. Todo o ambiente é iluminado por luzes azuis e roxas, mantendo a identidade visual. O mezanino da área privada continua tendo acesso por escadas, porém, agora, os membros VIP do clube tem acesso a um elevador exclusivo. — Sejam bem-vindos à Underworld 2.0.!— Darius nos cumprimenta assim que entramos pela porta lateral. O clube já está a todo vapor, mas eu vi a multidão que ainda esperava nas portas por uma chance de entrar. Sorrio para ele. — Algum problema? — Nenhum, chefe. Chefe. Seis meses atrás eu me tornei sócia da Hades Men’ Corp, com poder igual ao dos rapazes. Ainda não consegui voltar ao meu trabalho como professora de educação infantil e talvez nunca volte, alguns dias eu sentia falta da energia contagiante que as crianças me passavam, mas achei outra forma de canalizar a minha vocação para ensinar. Duas vezes por semana eu dou aulas de defesa pessoal para mulheres de forma gratuita na sede corporativa da nossa empresa. Ajudar mulheres a se sentirem seguras, fortes e confiantes tinha se tornado uma missão para mim. — Fez um ótimo trabalho, parabéns — Kyle elogia e indica o caminho para mim. As batidas da música reverberam pelo meu corpo e observo a confusão de corpos se movendo em sincronia. Sorrio quando tudo que sinto é orgulho e alegria, nem mesmo uma pitada de medo, ansiedade por estar entre tantas pessoas. A minha recuperação ainda não terminou, provavelmente nunca irá e está tudo bem. Mas os pesadelos são cada vez menos frequentes e me afetam menos. Aprendi a não me culpar pelos meus traumas, a não deixá-los me controlarem e novas formas de me manter ancorada ao presente. Raffi tira o cartão preto com a logo da Underworld em roxo do bolso e aciona o elevador nos levando ao mezanino. Assim que as portas se abrem vejo minha melhor amiga em um vestido vermelho conversando com meu ex-guarda-costas. Ela nota a minha presença um segundo depois e corre para me abraçar, abandonando Ethan que meneia a cabeça em nossa direção em forma de cumprimento. — Vamos buscar as bebidas, o de sempre, Abelhinha? — Seth pergunta tocando meu braço e atraindo a minha atenção. — Sim, por favor. Os três saem e Liv me envolve em um abraço apertado. Nunca poderei expressar com palavras o quanto ela significa para mim, o quanto a sua amizade é imprescindível. Como todo o seu apoio, carinho e amor incondicional me ajudaram a chegar até aqui. — Ficou tão perfeito, estou tão orgulhosa de você. A ideia dos dois bares é genial, já consigo notar a diferença, as filas estão menores e mais eficientes. — Ela dá um tapa no meu braço. — E você os convenceu a colocar o elevador, tudo bem que é só para os sócios, mas eu ainda vou dar um jeito de roubar um desses cartões. — Fico feliz que você gostou. — Abro minha bolsa e retiro um dos cartões de acesso. — Você quer dizer um desses? — Sim, exibida. Deixa, eu vou ter um. Estendo a mão para ela. — Não! — ela grita e me abraça mais uma vez. — Eu não acredito. — Ela encara o cartão mais uma vez e dá de ombros. — Nunca duvidei. — Eu percebi. Ela olha em volta antes de falar em meu ouvido. — Vai mesmo fazer isso hoje? Meu coração acelera e sinto um frio na barriga em antecipação e meneio a minha cabeça concordando. — Que bom, vocês merecem. — Merecemos o que? — Raffi pergunta, envolvendo a minha cintura e me entregando um copo com a bebida de três cores. — O sucesso da Underworld. Kyle e Seth já estão em nossa mesa, Ethan conversando com eles quando nos juntamos. A conversa flui facilmente em nosso grupo, os rapazes discutindo os possíveis vencedores da próxima temporada de futebol americano e Liv torcendo o nariz toda vez que mencionam seu primo, o quarterback do Patriots, Trey Jones. Meu nervosismo vai aumentando gradualmente conforme a noite avança, termino meu segundo drinque buscando um pouco de coragem líquida. Liv aperta a minha mão e chama Ethan para dançar. — Tudo bem, Sunshine? — Kyle pergunta, seus olhos me analisando, sem dúvidas notando a minha inquietação. — Sim, está tudo ótimo — afirmo. — É cedo demais para estrearmos o escritório? — pergunto, meu tom sugestivo. — Achei que nunca ia pedir — Raffi comenta. Meus namorados se levantam imediatamente. Seth estende a mão para mim e caminhamos para o elevador. Assim que as portas se fecham, a atmosfera muda. Meu corpo se tornando super consciente do espaço ao meu redor e dos três homens que o dividem comigo. As portas se abrem no terceiro andar e Kyle destrava a porta do escritório. No segundo que cruzo o batente, suas mãos estão sobre mim, Ele segura meus quadris e reivindica meus lábios em um beijo abrasador. Alguém se cola as minhas costas e sinto a barba de Raffi contra meu pescoço quando ele lambe a pele ali. Seth está do meu lado, sua mão subindo pela minha perna e se infiltrando por baixo do meu vestido até o ápice das minhas coxas, minha buceta pulsa em resposta. Me perco para as sensações que eles me proporcionam, meu corpo é um vulcão em erupção e levo alguns minutos para me lembrar o motivo para tê-los trazidos aqui. — Espera — balbucio e Kyle se afasta minimamente. Raffi mordisca o lóbulo da minha orelha. A mão de Seth paralisa sobre a minha calcinha, seu polegar pressionando meu clitóris e fazendo com que manter uma linha de raciocínio coerente exija toda a minha capacidade cerebral. — Eu preciso falar algo. — Pode esperar? — Raffi pergunta, esfregando sua ereção contra a minha bunda. — Não. Ele suspira, mas se afasta e Seth retira sua mão e me arrependo imediatamente de minhas decisões. — Você tem um minuto — o caçula adverte e ajeita o pau nas calças. — Você está brincando. — 59, 58, 57... — Tá bom. — Dou um passo para o lado, precisando da distância física antes de me render a perdição personificada que são os meus homens. Respiro fundo e aperto a minha bolsa que ainda carrego no meu ombro. É isso. — Vocês sempre fizeram parte da minha vida, foram meus amigos durante anos e depois me mostraram o que é o amor, o que significa ser amada incondicionalmente, com todas as minhas falhas. Vocês me salvaram de tantas formas, me ajudaram quando eu mesma duvidei ser possível. — Engulo o nó que se forma em minha garganta. — Cada um de vocês me completa de uma maneira única e eu não consigo imaginar a minha vida sem que vocês estejam nela. — Sinto meus olhos arderem ao ver o amor e devoção em suas expressões. Busco a caixinha de veludo que carrego na minha bolsa e estendo a mão. — Por isso a minha pergunta é: querem casar comigo? — Você roubou a nossa fala — Raffi reclama e tira uma caixinha do próprio bolso. Seth e Kyle fazem o mesmo. — Isso é um sim? — pergunto. — Você tinha dúvidas? — Kyle pergunta e se aproxima, mostrando a aliança delicada com um diamante no centro. — Eu te amo, Abelhinha, eu sempre soube que você era a minha salvação, não posso pensar em um jeito de melhor de passar o resto da minha vida do que ao seu lado. — Seth segura a minha mão esquerda e desliza a aliança coberta de pequenos diamantes em um formato curvado pelo meu dedo anelar. Kyle toma a minha mão em seguida, seu olhar encontra o meu e um mundo de emoções me percorre. — Nunca vou poder agradecer aos meus pais o suficiente por terem decidido sair de São Francisco e ir para Palo Alto, foi por causa deles que eu te conheci e encontrei a minha alma gêmea, mas não tenho dúvidas que teríamos nos encontrado de qualquer forma, Sunshine, a minha vida não faz sentido sem você. Meus olhos estão marejados quando ele desliza a aliança no meu dedo e ela se encaixa sobre a de Seth. Raffi assume seu lugar e segura a minha mão. Meu coração bate tão rápido que tenho certeza que eles conseguem ouvir. — Babygirl, um dia eu te disse que você era dona do meu coração, da minha alma, de tudo que eu sou. Quando eu disse isso achava que era impossível te amar mais do que eu amava naquele momento, eu estava errado. Cada dia ao seu lado eu me apaixono ainda mais e mal posso esperar para te amar ainda mais no dia seguinte pelo resto da minha vida. — Ele desliza a aliança que é o espelho da de Seth, encaixando sobre as outras duas perfeitamente. Encaro a minha mão e parece que o ditado estava certo, a felicidade só é verdadeira quando é compartilhada e mal posso esperar para dividir a minha vida com esses três. Muito obrigada por ter chegado até aqui! Você não sabe o quanto isso significa para mim! Se você gostou da história, poderia me ajudar a levá-la a outros leitores? Isso é super importante para mim como uma autora independente que acabou de começar a se aventurar nesse mundo maravilhoso da escrita. Você sabe como pode me ajudar? É muito fácil, rápido e de graça! Vou deixar abaixo algumas coisas que são super simples e podem contribuir muito:
1. Aproveita que você finalizou o livro para deixar sua
avaliação sobre a história na Amazon! Além de ser um feedback e ser um termômetro para continuações, você pode acabar incentivando outros leitores a ler! Diga-me tudo o que você achou, eu adoro a opinião de vocês, as reações, tudo mesmo. 2. Que tal fazer um post em uma das suas redes sociais sobre o livro? E pode ficar à vontade para me marcar, eu amo acompanhar as leituras de vocês! Assim posso compartilhar com todos os meus leitores! 3. Obrigue (gentilmente e com muito amor) aquela sua amiga literária a ler “Atração Mortal” para que ela também se apaixone por Seth, Kyle e Raffi, é sempre bom ter alguém para surtar sobre o livro que acabamos de ler, né? Se possível indique também para seus amigos e familiares! Fique à vontade para me seguir nas minhas outras redes sociais: Facebook: Haay Di Maffei Twitter: @HaayDiMaffei Instagram: @HaayDiMaffei
Te vejo nas próximas histórias!
À minha família, que sempre me apoiou e acreditou: Eu amo vocês, cada um de vocês. Jen, aqui estamos de novo, e eu sinceramente não sei como teria chegado até aqui sem você. Obrigada por apontar todos os pontos fracos e me ajudar a consertá-los. Obrigada por ser apenas a melhor! Fran, minha Ohana, você sempre esteve ao meu lado, me encorajando e impulsionando. Obrigada, por todas as mensagens em que você perguntava como eu estava. “I love you in case I die.” Nathália, minha gêmea, por todo seu apoio. “Enquanto houver você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar.” Bruna, obrigada por todo o apoio, por ser minha amiga antes de ser a minha SM! Julie e Ana, minhas revisoras, muito obrigada por embarcar nessa missão. As minhas parceiras, vocês são mulheres incríveis e eu tenho muita sorte de ter vocês junto comigo durante esse lançamento. Obrigada pelas mensagens de apoio e compreensão, vocês não fazem ideia do quanto isso me ajudou e motivou. (@hobbitnaestante, @Bookgram_das_gurias, @leitoraa.compulsiva, @foradacaixinhaliteraria, @natyleitora, @_estantedamari_, @louca_porromances, @loucaporconteudo, @thairead_, @clau.repaginando, @jkbobao, @alinelebooks, @ruiva.dobook, @ceumaradesilva, @maislidos.books, @umalinhaemeia, @leviantread, @leiturasdamota, @capiturandoleituras, @estantedaraabe, @em.cada.ponto.um.conto, @Oficial.filosofando, @fofoliterando, @Anny_booksread, @sobrelivroscomamor, @ruivaniggaliteraria, @secretbookbr, @leiturasdamara, @Mirach_Book, @leiturasemais_, @brielaoteca, @_bookstan_bea, @umaquarianalendo, @_escritasanonimas, @umcafenaestante,@books_sstones) Para as minhas ADMs do Harém, o que seria de mim sem vocês? Sério, obrigada por tudo e se preparem que vem mais! Para as minhas leitoras do grupo do WhatsApp, obrigada por me aturarem e apoiarem incondicionalmente. Kel, Glei, Luiza, Thata, Cris, Fla, eu amo vocês. Obrigada por todo o amor e carinho, e pelo companheirismo de todos os dias. Ao 9:05, vocês sempre torcem por mim, me apoiam e querem o melhor para mim. No meu coração nós sempre seremos “The Three Big Ones”, então, Carlos e Helton, muito obrigada. Léo, meu eterno Boy, você é especial e seu apoio significa muito, obrigada por tudo. Amo você. Às minhas lindas dos Calos Fofos, obrigada por todo o apoio, carinho e conversas no meio da noite. Rafa, obrigada por ser sempre uma voz amiga, um abraço apertado, ou uma palavra de conforto quando eu mais preciso. Você é uma mulher incrível e o mundo é seu! “I’m with you till the end of the line!” À você, leitor, que acreditou nesta estória, me acompanhou nesta jornada e me apoiou: Obrigada! Como sempre, eu quero pedir desculpas se eu esqueci de mencionar alguém. São tantas as pessoas que participaram da criação desse livro, que fizeram a diferença na minha vida, então um obrigada a todos. "Sonhadora criatura tem mania de leitura."
Hayesha Di Maffei é catarinense de nascimento e hoje vive na
Inglaterra, mas se considera uma filha do mundo e deseja explorá-lo por inteiro, realizando seu sonho de criança. O amor pela leitura se tornou combustível para a imaginação que se diluiu nas palavras que você encontra em seus trabalhos. Escreve desde que se lembra, mas só dividiu com o mundo em 2020, quando publicou seu primeiro conto “Através do Tempo”. Hoje, já tem mais livros na Amazon como: “A Singularidade de Nós”, “A Arte do Roubo” e a continuação de seu primeiro conto “Além do Tempo”, e segue trabalhando nos próximos lançamentos. UM JOGADOR MULHERENGO. UMA EDITORA DETERMINADA. ELE NUNCA NAMORA, ELA NÃO ACEITA SER APENAS MAIS UMA EM SUA CAMA. Jasmine Bianchi, uma brasileira morando em Boston esbarra em Christopher Jensen, o astro do time de futebol americano. O encontro se transforma numa troca de farpas que deixa o atleta momentaneamente atordoado, mas interessado na morena aparentemente imune ao seu charme. Quando Jasmine se vê no papel da protagonista de um dos seus adorados romances, só tem duas opções e já leu livros o suficiente para saber que a vida real não é um conto de fadas. Regra de ouro do manual básico de qualquer mulher: não tente converter um cafajeste. A decisão mais lógica é sufocar seus sentimentos para não perdê-lo. A amizade deles se torna importante demais para misturar com as incertezas de um relacionamento. O único problema é que talvez Chris possa ter algo a dizer a respeito. "A Singularidade de Nós" vem para mostrar que as mais belas histórias de amor, podem ou não, surgir de um simples e casual encontro de vulnerabilidades. Se existe uma sensação melhor do que chegar em casa depois de um longo dia de trabalho, eu desconheço. Poder tirar os sapatos de salto alto, tirar a roupa social e tomar um banho relaxante, vestir uma roupa confortável e finalmente descansar no seu sofá é divino. Ainda melhor se incluir um bom livro a tudo isso. Ler sempre foi a minha paixão. Desde menina, os melhores presentes sempre foram livros, então não foi surpresa para ninguém quando ingressei no mercado editorial. Foi um longo caminho, mas hoje sou paga para ler livros. Brilhante! Não fosse o fato de ler o mesmo livro apenas algumas centenas de vezes, ter que argumentar com autores, negociar mudanças e tentar chegar a um acordo, o que pode ser bem cansativo. Não me entenda mal, eu amo meu trabalho, mas em dias como hoje eu só quero chegar em casa e desligar um pouco. Pego meu celular da mesinha de centro para checar as horas: seis da tarde, então são onze da noite em Londres, o que significa que há uma pequena chance de minha amiga de infância ainda estar acordada. O meu amor pela leitura não me trouxe apenas um trabalho incrível, mas me trouxe Laura ainda nos tempos de colégio. Nossa paixão pela literatura nos uniu e acabamos trabalhando juntas por muitos anos no Brasil, onde nascemos. Até nos candidatarmos para vagas em uma grande editora internacional, achávamos que moraríamos juntas, porém as vagas eram para filiais diferentes e acabamos com o Atlântico nos separando, ela em Londres e eu em Boston. Jasmine: Está acordada? Envio uma mensagem enquanto escolho algo na televisão e a resposta chega em um instante. Laura: Mais ou menos. Jasmine: Como está o manuscrito do Escocês? Meu celular toca em resposta. Já atendo rindo me preparando para a revolta. — Olha, nem me lembre! Ele não quer mudar aquele capítulo por nada, não consigo chegar em um consenso — ela fala e a irritação é palpável em sua voz. — Ah, sei bem como é. Por incrível que pareça, consegui convencer Melissa a arrumar aquele prólogo hoje! — É para glorificar de pé! — ela exclama em concordância, até porque já deveria estar exausta de me ouvir reclamar, foram duas semanas muito longas. É maravilhoso o quanto conversar com a minha amiga de infância me ajuda a desestressar depois de um dia longo. — Tirando o trabalho, como estão as coisas? E o Theo? — mudo de assunto. Theo é o namorado de Laura, um professor de literatura em uma universidade em Londres. — Theo está ótimo, muito feliz com a turma nova! — O que será que os alunos pensam do Professor Watson? — questiono com um ar de deboche. A primeira vez que eu vi Theodore eu acabei rindo muito. Ele é muito bonito, mas não é meu tipo. Com seu cabelo loiro encaracolado, uma barba por fazer e um estilo casual. Mas depois de conhecê-lo e ver o quanto faz Laura feliz eu só implico com ele por pura diversão. — Jazz, não fale assim do meu namorado! — reclama. — Uh, olha ela defendendo o amorzinho. — Você é tão ridícula. E você? Novos amores? — Lá vamos nós. — Nada de novo. Seguimos com a programação normal — digo calmamente. — Jasmine, você precisa deixar as pessoas entrarem na sua vida. E não, eu não estou falando do Traste. — Reviro meus olhos, mesmo sabendo que ela não pode ver. — Para de revirar os olhos. Eu não preciso te ver pra saber que você está revirando os olhos pra mim. Pega no flagra. — Ele não é um traste e somos só amigos. — Traste era o jeito carinhoso de Laura se referir a Christopher, um dos meus maiores amigos desde que havia me mudado para Boston. — Sei. — Escuto uma voz ao fundo antes dela completar — Jazz, tenho que ir. Boa noite — Sem problemas. Noite, Laura. Amo você. — Eu também. Beijo e tchau! — A ligação se encerra. Levanto do sofá e contorno a bancada que divide a cozinha e a sala. O apartamento é pequeno, mas eu o acho aconchegante. Preparo uma xícara de chá antes de voltar ao sofá e ao meu programa. Acordo assustada com o toque do meu celular, não tinha percebido que estava tão cansada. Ainda com o coração aos pulos vejo o nome de Christopher na tela antes de atender. — Que foi? — falo um pouco irritada. — Nossa, que brava! — ele ri. — O que você quer, Chris? — Só liguei pra saber se queria pizza…da Santarpio’s. — ele comenta, com um tom de divertimento. Santarpio’s é a melhor pizza da cidade, talvez do país. Eu nunca negava pizza do Santarpio’s. Nunca. — É claro que sim, amanhã? — A perspectiva de pizza no dia seguinte já foi o suficiente para me acalmar. A campainha do meu apartamento soou naquele momento. — Só um minuto, Chris, a campainha tá tocando. Abro a porta do apartamento esperando que fosse algum vizinho que tivesse recebido uma encomenda minha por engano. — Eu estava pensando em hoje mesmo! — Chris fala assim que me vê. Lá estava ele segurando a caixa de pizza e o celular equilibrado no ombro musculoso. O sorriso dele me faz sorrir, e o cheiro da pizza é um bônus. — Eu vou poder entrar ou vamos comer no corredor? — brinca e eu reviro os olhos, mas me afasto dando passagem para ele. — Eu não acredito que você estava dormindo no sofá como uma velha! — meu amigo comenta com uma expressão divertida assim que entra no apartamento, vendo minha manta favorita sobre o sofá. — E eu não acredito que você achou uma hora vaga na sua agenda para vir me ver! O que foi? Não tinha nenhuma modelo disponível hoje? — rebato sarcasticamente antes de me sentar no sofá e abrir a caixa de pizza. — Para sua informação, eu privei uma arquiteta de sair comigo para vir aqui. Achei que estava em tempo de uma noite de filmes — disse tranquilamente, tão cheio de si quanto sempre. Chris senta-se ao meu lado, mas me adianto e pego a primeira fatia. Ele sorri e se serve. — O que, em outras palavras, significa que o treino hoje foi mais pesado devido à alguma besteira que você fez, e você está sem energia e vontade de ter que lidar com toda a burocracia de um encontro. — Eu brinco, dando de ombros. Ele quase se engasga de rir. — Você me conhece demais. — Não, você é previsível. Se alguém nos visse hoje nunca acreditaria em como foi quando nos conhecemos. O salão do hotel estava cheio de pessoas vestidas elegantemente. Garçons com travessas de champanhe e canapés circulavam entre os convidados. Não era a minha primeira festa de lançamento de um livro, mas era a primeira em Boston, com a editora nova, e eu queria desesperadamente causar uma boa impressão. Me aproximei da autora para parabenizá-la. A mulher era linda, uns dez centímetros mais alta que meus 1,70m e seu corpo esbelto estava envolto por um terninho rosa pink justo que destacava seus olhos claros. — Parabéns pelo lançamento, o livro é inspirador. Ela abriu um sorriso exuberante, digno de um comercial de pasta de dentes. — Muito obrigada, foi muito difícil o processo de me expor e dividir algo que sempre foi tão privado. Meus romances sempre foram meu tesouro — Caroline Diaz respondeu humildemente. — Sério? Eu achei que teria sido fácil, que já estaria acostumada a estar sob o olhar do público — comentei. — Por causa do meu marido? — perguntou calmamente, o sorriso ainda presente, mas um brilho nos olhos surge quando fala do marido. — É, não deve ser fácil ser casada com o melhor running back da liga — eu falei com um sorriso. Passei tanto tempo na adolescência lendo romances que tinham o futebol americano como um elemento da narrativa que eu havia ficado curiosa e decidi assistir a um jogo. Acabei me apaixonando pelo esporte, para desgosto de meu pai que, como bom brasileiro, ama o “verdadeiro futebol”, como ele costuma dizer. — Livros e futebol? — indagou e eu acenei em concordância. — Você vai se dar bem com ele — ela comentou, o sorriso lindo ainda em seus lábios. E, como se fosse a deixa, um burburinho começou entre os convidados e então uma grande parte do New England Patriots entrou no salão. A atenção de Caroline foi totalmente roubada ao ver o marido e se despediu rapidamente, indo em sua direção. Meu chefe, Brian O’Neil, se aproximou. — Caroline Diaz pareceu bem feliz com a conversa de vocês, o que disse a ela? — Ele parecia genuinamente intrigado. — Nada demais. Só nos falamos brevemente sobre o livro e a liga. — Que liga? — perguntou confuso. — A NFL? Ela é a esposa de um dos running backs do Patriots — eu respondi um tanto incrédula, olhando de Brian para o aglomerado de homens altos que agora rodeavam Caroline. — Ah sim, nunca achei que você gostasse de futebol, pelo menos não do americano. No Brasil, o futebol é sagrado, por isso... — Brian, eu entendo, mas eu gosto de futebol americano. Nunca fui muito fã de esportes, mas o futebol americano conquistou meu coração logo no primeiro jogo que assisti. — eu o interrompi, tentando falar da forma mais educada possível já que, se tem uma coisa que me incomoda, é quando as pessoas fazem suposições sobre mim, sejam elas devido a de onde eu vim, ou o fato de ser mulher, ou o que for, apenas me tira do sério. — Oh, eu entendo, me desculpe. — Vou ver se acho algum daqueles garçons com canapés, com licença, sr. O’Neil — falei já me distanciando. Eu ainda vi quando o camisa 28 dos Patriots pegou Caroline no colo e rodou com ela nos braços. Eu estava longe demais para ouvir sua gargalhada, no entanto. Quando James nos chamou para a festa de lançamento do livro da Carol, eu fui o primeiro a dizer que iria. Nunca que eu recusaria uma festa! Como estávamos no meio da temporada sabíamos que o treino não podia ser adiado, nem mesmo pela esposa do running back, então acabamos nos arrumando no ginásio e indo direto. Logo que chegamos Carol nos viu e veio cumprimentar, assim que ela estava ao alcance de seus braços James a rodopiou no ar como se estivéssemos em um daqueles filmes românticos. Foi então a vez de cada um de nós parabenizá-la pelo livro e, logo após, saí em busca de algo para beber. “Por que todo garçom só tem comida na bandeja?” Eu pensei quando passei pelo terceiro e nada de bebidas. Foi quando longos cabelos cacheados e negros chamaram a minha atenção. Eu realmente preciso achar bebidas agora. Andei entre os convidados em busca de um garçom, sempre que avistava um, alguém me chamava. Quando você joga para o time da cidade acaba sendo reconhecido o tempo todo. Não que eu me importe, nunca tive problemas com a atenção. Amo minha carreira, amo o jogo e amo os fãs. Porém, a moça de cabelos cacheados estava se distanciando cada vez mais. Tirei mais uma foto e, assim que os rapazes saíram, um garçom passou por mim. Um com bebidas, até que enfim! — Eu preciso de duas, tudo bem? — Ah, c-claro. Sou seu fã! — o rapaz, que não deveria ter mais que 19 anos, falou corando. — Obrigado — respondi, já escaneando o salão em busca dela. — Você deve estar cansado disso, mas você poderia tirar uma selfie comigo? Meus amigos nunca vão acreditar — ouvi ele falar, mas meu foco ainda estava dividido entre o rapaz e a busca pelos cabelos cacheados. Ela havia se perdido no meio da multidão. — Claro. Cadê seu celular? Com a foto tirada e as duas taças em mãos, eu voltei a procurá-la. Ela não poderia ter ido embora, Deus não seria tão cruel. Alguém esbarrou em mim e, para minha surpresa, quando me virei, lá estavam os cachos negros. Claro que não pude deixar de perceber o vestido azul escuro acinturado que delineava seu corpo e deixava um dos ombros desnudos, mas foi o rosto que me chamou a atenção. Bom, depois dos cabelos, é claro. Seus olhos me encararam, eram pretos tal qual as mechas, tinha uma covinha no queixo e lábios carnudos cobertos por um batom vermelho. Notar isso foi rápido, então antes que ela pudesse se desculpar por ter esbarrado em mim, eu me antecipei. — Champanhe? — Não, obrigada, eu estou dirigindo — ela respondeu e pude notar um sotaque leve, mas não consegui identificá-lo. — Oi, eu sou Christopher Jen… — Jensen, o Wide Receiver culpado por não termos nenhum touchdown no primeiro quarto do jogo de domingo. Eu sei quem você é. Você está se sentindo melhor? — Uau. Quem é essa garota? E ela está mesmo me atacando, isso é sério? — Eu estou bem — respondi um tanto atordoado com a ousadia. — Ah que bom, achei que iria sair no Injury Report dessa semana que você estava no banco devido a performance fraca — Ela cruzou os braços, enfatizando os seios, e parecia genuinamente chateada. Mas peraí, performance F-R-A-C-A? Respirei fundo. — Ninguém sai no Injury Report por performance fraca, não que eu tenha... — Pois deveria — ela me interrompeu, de novo. Fiquei em silêncio processando o que tinha acabado de acontecer. Quem essa mulher acha que é? Devo ter ficado quieto por tempo demais, pois ela acenou com a cabeça como se a conversa tivesse acabado. Dei um gole no champanhe que eu tanto desejava, mas ela estava se afastando. Eu precisava ser rápido, deixei as taças em uma das mesas e a segui. — Então você é uma fã? — perguntei quando me aproximei o suficiente. Ela se virou para mim. — Do jogo? Sim. Do time? Claro! Sua? Não muito. — Conforme ela falava, ela enumerava os pontos com os dedos e terminou com um sorriso triunfante. Os dentes brancos contrastando com o vermelho do batom. — Ai! Essa doeu — falei apertando o peito como se tivesse levado uma facada. — É assim que eu me sinto quando você não pega a bola — ela falou e pude ver o divertimento em seus olhos negros. Não conseguia entender como essa mulher parecia tão imune a mim, não era normal e eu não gostei nada disso. Ela deve estar fingindo. — De qualquer forma, boa sorte no jogo de segunda! — Ela sorriu e covinhas se formaram em suas bochechas, fazendo companhia para a do queixo. — Você já assistiu a um jogo no Gillette Stadium? — perguntei com um sorriso presunçoso.
“Você já assistiu a um jogo no Gillette Stadium?” A frase ecoou
em meu cérebro. Eu entendi perfeitamente, mas me pareceu tão surreal que por um momento achei que estava dormindo. Minha confusão devia estar estampada em meu rosto já que o sorriso dele se alargou. Christopher era muito mais bonito ao vivo do que na TV, muito mais imponente também. Seu rosto é longo, assim como seu nariz, o maxilar é tão marcado que a barba curta não consegue esconder sua forma. Os cabelos são do mesmo tom de castanho claro que a barba. Encarei os olhos azuis e ele arqueou a sobrancelha esperando uma resposta. — Não, eu não posso dizer que já fui — eu admiti finalmente. — Você gostaria de ir? Ah, então essa era a cartada final, o último golpe de Christopher Jensen, a cantada infalível, mas estávamos falando do Gillette, não é um cafezinho na esquina. — Eu..ér...bem, sim! — eu me atrapalhei um pouco. — Ótimo — ele respondeu. — Para você entrar é só você me dar seu nome que eu ponho na lista e pronto! — Sútil! — comentei, franzindo os lábios. Ele piscou antes de responder. — Eu sei, mas é assim que funciona. — Acabei balançando a cabeça em descrença. — Meu nome é Jasmine Bianchi. Ele estendeu uma mão que eu envolvi com a minha e começamos a rir. — Eu sabia que você tinha um sotaque, Bianchi é italiano, não? — ele me questionou, ficando ainda mais perto do que antes, e eu pude sentir seu perfume cítrico. — Sim, Bianchi é italiano, mas eu não sou, não diretamente pelo menos. — Como assim? — indagou inclinando a cabeça, como geralmente acontece com as pessoas quando eu me apresento assim. — Eu sou brasileira, meus avós eram italianos. — Brasileira? Interessante! — Deus realmente tem seus favoritos, pois, para minha sorte, alguém chamou por ela, a fazendo virar de costas, abandonando nossa conversa, mas me dando total oportunidade de conferir o material. E, nossa, realmente ela tem a famosa bunda das brasileiras. Murmurei um parabéns ao acompanhar o rebolar enquanto ela se afastava de mim. Que mulher displicente. Ela só podia estar se fazendo de difícil, afinal sou eu! Quem não se interessaria? Eu conhecia esse jogo dela e estava disposto a jogar. Quando ela se virou em minha direção novamente, já estava escrito “modo caça” na minha expressão e tenho certeza que ela notou. — Você está bem? Está com fome? — ela perguntou. — Estou ótimo. — Abri um sorriso pensando que estava mesmo com fome, mas de um tipo diferente de comida, antes de pedir por seu número para poder avisá-la onde buscar seu ingresso para o jogo. Ela pareceu relutante, mas acabou me dando o número. Ponto para mim! — Então tudo bem, aproveite sua noite Christopher e bom jogo segunda. Obrigada pelo ingresso — agradeceu e se virou, indo embora, sem nem mesmo me dar tempo de me despedir. E ela já estava envolvida em outra conversa no minuto seguinte. — Oi, você não é o Christopher Jensen? — Uma voz fina falou atrás de mim e me virei para encarar um par de olhos azuis me devorando. — Sou sim! — falei com um sorriso e sua mão já estava apoiada em meu bíceps. Quando finalmente chegou a segunda-feira do jogo dos Patriots, o tal jogo que Chris me convidou, eu estava em um estado de absoluta alegria e nervosismo. Ironicamente eu tenho duas jerseys e ambas são do mesmo jogador: número 80, Christopher Jensen, e eu não ia ao jogo com o nome dele nas minhas costas. Ele já parecia ter um ego impressionante e eu decidi não adicionar nada a isso, portanto resolvi que passaria em uma loja quando saísse do trabalho a caminho do estádio. Meu celular apitou com uma nova mensagem. Número desconhecido: Oi, ansiosa para o jogo? Quando chegar ao estádio é só se encaminhar para a bilheteria, dar seu nome e eles irão te levar ao seu lugar. Espero que você dê sorte! Número desconhecido: Ah, é o Chris! Dei uma risada e revirei os olhos. — O que foi? — perguntou Sarah, minha colega de trabalho, que estava passando pelo meu cubículo. — Nada de importante, lembra que eu falei que ia ao jogo hoje? Pois era só a confirmação de que tenho ingresso mesmo — comentei dando de ombros como se não estivesse super empolgada para ir. — Olha, eu até poderia ter me esquecido, mas você mencionou esse jogo umas 7 vezes só na última meia hora — ela debochou. — Existe alguma razão para você vir aqui além de me importunar? — questionei encarando minha amiga. Sarah Hamilton é linda: olhos escuros, nariz curto e arredondado e seus cabelos castanhos escuros estão normalmente em box braids. Ela começou na mesma semana que eu, então criamos logo um laço por estarmos as duas nos sentindo deslocadas na nova editora. — Chegaram três novos manuscritos, Brian pediu que eu os deixasse com você. — Ela os colocou em minha mesa, indicando que eu teria muito o que fazer pela próxima semana. Ao sair do trabalho, consegui passar em uma loja de artigos esportivos e comprar uma nova Jersey, dessa vez com o número 28 e o nome do running back, Diaz. Muito melhor. Quando cheguei ao estádio, que era uma construção gigante, vendo as multidões se aglomerando, todo aquele barulho e o lugar inteiro pulsando de euforia, por um momento, foi como voltar ao Brasil, aquela energia de pessoas, os sons e as cores, igual em dia de jogo no Maracanã. Segui as direções que Chris me deu e fui atendida por uma moça simpática, mas que sorria como se soubesse de algum segredo. Quando cheguei ao meu lugar, tive que me controlar para não chorar: eu estava sentada nas primeiras fileiras logo atrás do banco onde o time ficaria. Eu conseguia ver tudo! Peguei meu celular e mandei uma foto do local para Laura, sabendo que ela estaria dormindo, mas que veria quando acordasse. Já que estava com o celular achei melhor mandar uma mensagem de boa sorte para Christopher e aproveitar para agradecer pelo lugar incrível, mesmo achando que ele não fosse ver. Eu estava enganada, no entanto, já que uma mensagem com uma carinha piscando chegou logo em seguida. Quando o time entrou em campo as arquibancadas explodiram em aplausos e gritos. A sensação crescente de que o jogo seria eletrizante passava de espectador para espectador e logo eu me senti parte da massa de corpos que me cercava, como se fossemos um. O jogo estava acirrado, mas nossa defesa estava incrível e mantinha a ofensiva do time de Nova Iorque longe da zona de Touchdown. Já estávamos na metade do primeiro quarto quando a ofensiva do Patriots começou a avançar incontrolavelmente. Trey Jones, o quarterback, continuava a achar alguém livre e estávamos já muito próximos de conquistar o primeiro touchdown do jogo. Minha respiração ficou presa na garganta quando eu vi a bola voar da mão de Jones em direção a Jensen e, quando ele a agarrou e caiu dentro da área de touchdown, eu gritei. Meu grito se misturando com os dos milhares de fãs. Ganhamos o jogo, com Christopher batendo o próprio recorde da temporada ao marcar três touchdowns na mesma partida. Meu corpo inteiro vibrava ainda com a adrenalina de toda aquela atmosfera, eu sempre me alterava quando assistia às partidas em casa, mas estar no estádio elevou isso a outro nível. Eu ainda não queria ir embora, então mesmo com todo mundo correndo para as saídas, eu me sentei e aproveitei para tentar acalmar meu coração, deixando que a adrenalina saísse do meu corpo com respirações profundas, enquanto eu guardava cada segundo das últimas três horas na memória. Jasmine: Parabéns pelo jogo, parece que você foi liberado do injury report da próxima semana! Eu estou brincando, você jogou muito bem mesmo! Eu mandei a mensagem para Chris, ainda sentada na arquibancada. Meu celular tocou em resposta. — Parabéns! — Foi a minha forma de atender. — Obrigada e tenho que te agradecer por me trazer bons ventos, acho que você é meu amuleto da sorte. Eu até falei para os rapazes isso e eles querem te ver. Vai ter uma festa para comemorar a vitória, quer ir? — Eu sou o seu o que? — Eu sei que ele disse algo sobre uma festa, mas não consegui me concentrar em nada. — Amuleto da sorte. Você veio e eu joguei super bem! — ele falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. — Só porque você criou vergonha na cara e jogou direito, não quer dizer que eu tenha feito algo — respondi, me levantando e começando a caminhar para a saída. O estádio ainda não estava vazio, mas a grande maioria já devia estar enfrentando filas para sair do estacionamento. — Isso foi um elogio. Nossa. De qualquer forma, vem pra festa, vai ser legal! Eu te levo. — Revirei os olhos. — Não vou, eu trabalho amanhã. — E daí? — Suspirei buscando paciência. — E daí que eu não estou a fim de ir trabalhar sem dormir direito e eu não tenho que me explicar pra você, Christopher. — Não precisa ficar nervosa, só achei que você fosse gostar de ir a uma festa do time — Ele soou chateado e isso me irritou, ele não deveria ficar chateado com a minha recusa, nem nos conhecemos. — Boa festa, Christopher e parabéns pelo jogo de novo! — falei tentando soar menos irritada e falhando. Não dei tempo para que ele respondesse e encerrei a ligação. Isso não era saudável para minha sanidade. Já estava no amplo corredor do estádio, perto de um dos bares que ficam à disposição, quando ouvi alguém me chamar. Procurei quem poderia estar me chamando, já que não conhecia muitas pessoas na cidade, e quando localizei a pessoa que me chamou, um sorriso se formou em meu rosto. — Caroline! Dê parabéns ao James por mim, que jogo! — eu falei assim que me aproximei. — Eu não sabia que estaria aqui, se eu soubesse teria te convidado para ir para a área VIP comigo — ela falou me abraçando. Era engraçado o quanto ela me lembrava Laura. Mesmo não sendo nada parecida fisicamente com a minha amiga de infância, tinha alguma coisa nela que me fazia pensar que seríamos ótimas amigas. — Ah, não tem problema, fiquei num local ótimo, vendo tudo, logo atrás do banco do time — eu respondi já me virando para seguir meu caminho. — Foi muito bom te ver, mas eu já vou indo. — Espera — ela pediu segurando meu braço. — Vai ter uma festa para comemorar a vitória, vem comigo. Eu sempre fico entediada nessas festas. — Eu até gostaria de ir — eu menti com um sorriso —, mas eu trabalho amanhã e não quero chegar muito cansada. — Por favor! Só um pouquinho. — Eu suspirei, mas como sentia essa conexão com ela, ficou mais difícil inventar uma desculpa. — Tá bem! Mas vou ficar por no máximo meia hora. Onde é? — Eu perguntei já pensando que, se fosse muito longe, não conseguiria chegar de trem, e seria uma ótima desculpa. — Não se preocupe com isso, vem comigo e vamos juntas! — Que sorte a minha. Na festa de lançamento do livro de Carol eu não tinha tido a chance de conhecer James Diaz, mas na viagem de carro com o casal tive o privilégio de o conhecer e desmistificar o homem que, para mim, era o melhor de todos os tempos. Foi como ver o meme “ele é gente como a gente” diante dos meus olhos. A festa era na casa de um dos jogadores, um dos linebackers. Ao chegarmos, me senti extremamente deslocada quando vi o tamanho da mansão, como se eu não pudesse estar ali, não conhecia ninguém. “Só trinta minutos, Jasmine, você consegue.” Eu repeti para mim mesma, tentando me acalmar. A sensação só piorou quando entramos e parecia uma daquelas casas que vemos em filmes. Uma linda escada em espiral era vista logo depois do amplo hall de entrada, mas seguimos na direção dos sons de conversa e música, entrando em uma sala grande com sofás espalhados e uma mesa de tênis de mesa, que no momento servia para algum jogo envolvendo bebidas. Assim que os colegas de time viram James entrar, os gritos de viva começaram e demoraram alguns minutos até gradualmente diminuírem. Carol me puxou pela mão em direção a cozinha depois de James lhe beijar o rosto e ir ao encontro dos amigos. Pegamos nossas bebidas e quando me virei, um par de olhos azuis estava sobre mim. — Pensei que você não fosse vir, que tinha que trabalhar, Amuleto da Sorte. — Ele piscou para mim. — Carol me convenceu a vir, só por alguns minutos e depois vou pra casa. E não sou um amuleto. — Veremos sobre a questão do amuleto, mas estou feliz que veio — ele falou e senti seus olhos passearem por meu corpo.
Essa mulher me tirava do sério! Uma de suas sobrancelhas se
arqueou quando notou meu olhar sobre seu corpo, mas ela estava linda, diferente das outras mulheres da festa: uma calça jeans e a Jersey do time. Infelizmente não era a com o meu número, ela bem que disse que não era minha fã. “Mas vai ser.” — Oi Carol — eu falei e beijei-lhe o rosto. — Obrigada por convencer meu amuleto a vir! Ela era meu amuleto sim, essa temporada estava sendo muito difícil para mim e por alguma razão desta vez eu joguei como na temporada passada, conseguindo achar aberturas na defesa, pegar bolas que no jogo passado eu não teria conseguido. — Chris, comporte-se — ela sussurrou. Os olhos verdes analisando meu rosto. — Sempre me comporto — eu falei fingindo estar ofendido. — Carol, vamos. — Jasmine a puxou pela mão, evitando me olhar. Ela saiu, os cachos negros balançando no ritmo de seus quadris e eu me perdi admirando a paisagem até que Jones me chamou para a mesa de jogos. O segui por vários motivos, um deles era que eu queria beber, o outro era que a mesa de jogos dava uma vista privilegiada do meu amuleto da sorte.
Decidi que a melhor forma de agir era ignorar a criança no
corpo de homem chamada Christopher Jensen e dar atenção a Caroline. Nossa conversa fluía fácil, logo percebemos ter várias coisas em comum e, quando me dei conta, meia hora já havia vindo e ficado para trás por quase uma hora. Comecei a me despedir, mas ela pediu que eu ficasse, que me levaria em casa logo, pois já estava cansada e logo diria ao James que estávamos indo, só mais alguns minutos. Fiz meus cálculos mentais de quantas horas de sono eu precisava de verdade antes de trabalhar. Se formos em meia hora ainda conseguiria fingir ser um ser humano racional na editora. — Então sobre o que estamos conversando? — perguntou alguém com uma voz conhecida se sentando ao meu lado. Revirei meus olhos e me adiantei em responder antes que Carol tivesse chances. — Carol estava me contando como é ser mãe, sabe, todas as coisas que envolvem gerar um ser humano e, é claro, amamentação. — Não era esse o assunto, obviamente, já que estávamos discutindo os últimos filmes que vimos no cinema, apenas pensei que o assunto o deixaria desconfortável e ele iria embora, mas meu plano falhou miseravelmente quando os olhos de Chris se fixaram em meu peito. — Ah, interessante. — Seus olhos conseguiram voltar a encarar os meus e ele deu uma piscadinha, antes de virar para Carol e perguntar das crianças. Uma piscadinha. Deus, dai-me paciência! Ele esticou o braço casualmente e o descansou nas costas do sofá, nos meus ombros. Eu tinha que admitir que ele era bom no que fazia, pois só percebi que ele tinha feito isso quando senti seu calor envolver minhas costas, era reconfortante e irritante. Eu precisava andar. — Carol, já volto! — Eu me levantei e fui em busca de um banheiro ou qualquer outro lugar, precisava recuperar minhas forças. Christopher tinha uma fama e eu não seria mais uma conquista. Ele é lindo, tem um corpo musculoso devido a todo o treinamento para ser um Wide Receiver, olhos tão azuis que lembram o mar e um sorriso que enfraquece as pernas. Onde eu queria chegar? Sacudi minha cabeça como se isso fosse ajudar a colocar meus pensamentos em ordem. Christopher Jensen estava fora de cogitação. Eu não me deixaria levar por um sorriso lindo, ou olhos que me davam vontade de mergulhar. “Jasmine Bianchi, se controle, você não é uma adolescente”, eu me repreendi mentalmente. Acabei em uma varanda com vista para a piscina no quintal da casa, o ar frio da noite me acalmou e me distraí olhando o horizonte. — Não lembro de ter te visto em nenhuma dessas festas antes. — Uma voz masculina soou atrás de mim. Quando me voltei em direção a voz, me deparei com um rapaz de olhos castanhos, cabelo escuro e um sorriso brincalhão. — É a primeira vez que eu venho, fui convidada pela Caroline. — Eu imaginei, eu me lembraria de você. Sou o Peter. — Jasmine — falei enquanto apertava a mão que ele estendeu. — Belo nome. — Obrigada, e como você acabou aqui? — eu perguntei, sabia que ele não era um dos jogadores. — Eu sou Peter Jones, eu sou irmão do Trey Jones. — O quarterback, eu não sabia que ele tinha irmãos, nem que um deles era tão bonito. — O camisa 13. Sei quem é — eu falei com um sorriso. Uma brisa passou pela varanda e um calafrio me percorreu, automaticamente fazendo meus braços me envolverem tentando manter o frio longe, o que não passou despercebido por Peter, que sugeriu que voltássemos para dentro da casa. Eu concordei e assim que passamos pelas portas duplas de vidro uma mão segurou meu braço. — Aí está você, Carol está preocupada. Olhei para o sofá onde eu estava sentada minutos antes e Carol estava em uma conversa com uma das líderes de torcida. Eu não a conhecia, mas ela ainda vestia o uniforme. — Sério? Ela não parece preocupada, ela parece ocupada na verdade, igual a mim — respondi a Christopher, retirando sua mão do meu braço. Seus olhos seguiram o movimento e algo que não consegui distinguir passou por seus olhos. — Oi, Little Jones — ele falou, cumprimentando Peter com um aceno da cabeça. Achei um pouco absurdo chamar de “pequeno” um homem que tem quase a mesma altura que ele, mas ele era o irmão mais novo de Trey, o que me fez crer que eles se conheciam, e pelo jeito, Christopher tinha mania de dar apelidos para as pessoas. — E aí, Chris. Jogou bem hoje — Peter respondeu calmamente. — Tive alguém pra me dar sorte, não é, Jasmine? — Chris respondeu me cutucando o ombro. — Como você é irritante — falei exasperada. — Acho que tem alguém te chamando, Chris! — Eu apontei alguém às costas dele e, quando ele virou para procurar, eu sai andando com Peter me acompanhando. — Então você e o Jensen... — ele começou a frase e a deixou no ar esperando que eu preenchesse as lacunas. — Nos conhecemos, mas nada mais do que isso. Como eu disse, eu sou convidada da Carol. — Que bom — ele respondeu com um tom de alívio. — Por quê? — Porque eu não poderia competir com ele, e eu quero muito te beijar — ele falou indo direto ao ponto, decidido. Gosto disso. — E o que te impede? — perguntei encarando seus olhos cor de chocolate e abrindo um sorriso. Ele deu um passo para mais perto e suas mãos abraçaram minha cintura. Ele estava tão perto que sua respiração fazia cócegas em minha testa. Olhei para cima para poder continuar vendo seu rosto, ele devia ter mais de 1,80m. — Só precisava da sua permissão — ele falou antes de colar a boca na minha. Seu beijo era quente, suas mãos percorreram minhas costas me causando arrepios enquanto as minhas subiram por seus braços sentindo os músculos por baixo da camiseta. Não sei quanto tempo se passou enquanto fomos nos conhecendo, mas precisamos de ar e nos separamos. Seu sorriso passou de brincalhão a malicioso e me percebi mordendo o lábio inferior em resposta. — Jasmine... — Peter sussurrou, mas foi interrompido por Carol. — Jazz, eu estou indo, acabei me perdendo em uma conversa e não percebi que já havia passado em muito o horário que combinamos — ela falou, já se desculpando. Eu tinha esquecido completamente que trabalhava no dia seguinte. Chequei meu celular e me xinguei mentalmente, eu estaria um zumbi no trabalho. Suspirei e passei as mãos pelo cabelo, eu estava tão ferrada. Olhei para Peter, ainda parado ao meu lado, uma mão na base das minhas costas. — Peter… eu adoraria ficar, mas eu trabalho amanhã e preciso ir. — Me inclinei e beijei seus lábios rapidamente. — Foi um prazer te conhecer — eu falei com um sorriso, me virei para Carol e indiquei o caminho. Começamos a sair e James apareceu ao lado de Carol, um braço a envolvendo instantaneamente, completamente sóbrio e fiquei feliz em saber que ele era um motorista consciente. Ao passarmos pelo sofá onde antes eu estava sentada com Carol, vi Chris com a líder de torcida no colo e revirei os olhos com o clichê da situação. Estávamos quase à porta quando ouvi Peter me chamar. — Você não me deu seu número, como que eu vou te chamar para um encontro de verdade sem ter seu número? — ele falou com o sorriso divertido de volta ao rosto. Ele me estendeu o celular e eu adicionei meu número. Mais um beijo rápido e nos despedimos. Laura vai surtar quando eu contar. Como previsto eu fui completamente inútil no trabalho e o máximo que consegui fazer foi fingir trabalhar durante o dia enquanto me mantive acordada à base de cafeína, no entanto, o resto da semana fluiu e já me via entrando em uma rotina no novo emprego. Na sexta eu tive um encontro com Peter que foi, para minha surpresa, muito romântico e atencioso. As coisas esquentaram e acordei na manhã de sábado em sua cama. Após o café da manhã, encontrei uma desculpa para voltar para casa. Quando cheguei em casa, fiz uma chamada de vídeo com Laura para contar sobre o encontro e ela já aguardava ansiosíssima por detalhes, porém quando contei que sai de manhã ela me repreendeu. — Jazz, você tem que aprender a deixar as pessoas entrarem na sua vida, se o rapaz é um fofo, por que não passar o dia com ele? Ele não te expulsou da cama dele — ela me repreendeu. — Porque eu não tive vontade, e muito engraçado você me dar lição de moral para deixar as pessoas entrarem na minha vida quando eu dei o mesmo discurso há três meses em relação ao Theo. — Eu mudei de assunto, eu sei que ela entende o porquê, mas ela quer me ver feliz como ela é. — Mas eu ouvi e olha como eu estou agora. — Eu simplesmente dou risada. — Laura, eu vou pensar nisso, tá? Da próxima vez eu espero ele me expulsar — falei e pelo sorriso dela sei que ela entendeu o sarcasmo. — Você é ridícula. — Também te amo. — Jazz, eu vou desligar que Theo quer ir passear no parque — ela comenta. — Vai lá. — Te amo, tchau — ela se despede e a ligação se encerra antes de eu responder. O dia estava bonito em Boston e, mesmo estando frio, decidi ir ao parque também. É um dos meus passeios favoritos na cidade, andar por um dos inúmeros parques e, quando o clima permite, achar um banco ou uma árvore e ler. O dia estava muito frio para ler, mas o passeio valia a pena, Boston é linda no outono. Na quinta-feira daquela semana, meu celular tocou e o nome de Chris surgiu na tela. — Oi? — eu atendi surpresa, o que será que ele queria? — Jasmine, você vai no jogo amanhã? — ele falou à guisa de cumprimento. — Não. Chris, o jogo é em Miami e mesmo que fosse aqui eu tenho um manuscrito para ler e revisar até segunda, vai me tomar o fim de semana inteiro. — Mas... eu preciso de você, eu sei que você não levou a sério o que eu disse a respeito de você me dar sorte, mas eu realmente joguei melhor no último jogo e única diferença foi você — explicou e seu tom de voz era diferente, não tinha o toque de brincadeira que coloria sua voz como na última vez que nos falamos, estava sério. Ele realmente acreditava que eu tinha lhe dado sorte. — Eu vou estar torcendo de casa, prometo. Eu sei que você vai jogar bem — falei tentando acalmá-lo, o motivo eu não sabia já que ele tinha o costume de me irritar. — Não é suficiente, voa com a gente hoje à noite. — Eu não posso, Christopher, eu tenho um prazo a cumprir, não posso simplesmente largar tudo pra assistir a um jogo — eu falei, decidida. — Por favor, Jasmine. — Seu tom de voz transmitia agonia e me percebi apertando o celular em minhas mãos. — Não posso, vai dar tudo certo, você vai jogar bem e vai ver que só está sendo supersticioso. Ouvi seu suspirar, mas ele não falou nada. — Christopher, me escuta, eu não sou um amuleto da sorte, você jogou bem porque você treina incessantemente, porque é um bom jogador. — Deus, eu esperava que isso não inflasse o ego dele mais do que o necessário. — Veremos. — Ele desligou. Na minha cara. Esse homem me tirava do sério, como assim ele desligou na minha cara depois de praticamente me implorar pra ir assistir ao jogo dele? No dia do jogo, eu estava nervosa, angustiada, mais do que o meu normal para um dia de jogo. O jeito de Chris no telefone havia me deixado desconcertada. Quando o jogo começou, apesar do time estar fazendo um trabalho incrível, Christopher não estava conseguindo se livrar da defesa, não conseguia pegar a bola. Metade do jogo e estávamos perdendo, mas ainda dava pra recuperar. Eu imaginei que ele não fosse ver, mas mandei uma foto minha com a Jersey do time, só depois de enviar que lembrei que estava usando a dele. Quando o último quarto começou, a diferença já era grande, precisávamos de um milagre para ganhar. De alguma forma Jones encontrou um Tight End e conseguiu avançar até a metade do campo do oponente, mas a defesa deles era muito boa e o jogo acabou com o nosso lado perdendo. Meia hora depois meu telefone tocou. — Eu falei que você me dava sorte. — A derrota era tão gritante em sua voz que eu me senti mal. — Não tinha como eu ir, eu te falei — respondi me justificando. — Perdemos. — Mas a temporada não acabou, vocês ainda estão no topo da divisão, no próximo vocês recuperam — eu falei tentando de alguma forma animá-lo. Era estranho ficar tão preocupada com uma pessoa que eu mal conhecia, mas seu tom mexeu comigo. — Nós voltamos pra Boston amanhã e eu sei que você tem o prazo, mas tem tempo pra tomar um café? — Tenho — eu falei, eu não sabia naquele momento que esse café seria o que mudaria tudo.
Desde o momento que o jogo acabou eu me sentia mal, em
algum nível de consciência eu sabia que Jasmine não era a culpada, mas a maior parte de mim nunca foi racional então eu tinha a sensação que se ela estivesse no estádio, teríamos ganhado. Além da bronca do treinador e da cara de decepção do Trey, eu ainda precisava lidar com a minha própria cabeça e isso nunca dava certo. Futebol era a minha paixão, minha vocação. Eu não sou particularmente bom em nada, tirando os momentos em que estou em campo... ou num quarto. O sentimento de ter decepcionado não apenas os meus colegas de time, mas os fãs, me dilacerava. Ainda não sei o que me levou a ligar, mas estava feito. Cheguei mais cedo do que o combinado no café, que ela escolheu por ser mais perto da casa dela, e me sentei em uma das mesas afastada das janelas. A sineta na porta da cafeteria soou cinco minutos depois, ainda faltavam quinze para o horário combinado, mas eu olhei em direção a porta mesmo assim e lá estava ela. Os cabelos estavam presos, mas alguns cachos que eram mais curtos escapavam e emolduravam seu rosto. Seus olhos negros como pedras obsidianas observaram o lugar e, quando me encontrou sentado aos fundos, um sorriso se formou nos lábios deliciosos (pelo menos era o que eu achava que eles eram. Não podia ter certeza, já que não os tinha provado). Ela caminhou em minha direção com passos decididos que faziam seu quadril oscilar com um balanço hipnótico. — Oi — eu falei simplesmente. — Oi, Chris. Já pediu? — ela perguntou, o sorriso cauteloso. — Ainda não, estava te esperando. — O que você quer? Eu faço nossos pedidos. Depois que eu escolhi, ela saiu. E mesmo em meio a toda a minha frustração com o jogo e com o meu desempenho, ao vê-la se afastar eu me perguntei qual seria o motivo dela ser tão imune a mim. A atração que eu senti no primeiro dia ainda estava presente, que corpo escultural! Ela voltou com nossos pedidos e se sentou à minha frente. Seus dedos ficaram tamborilando na caneca, ela parecia inquieta, mas sua postura era firme. Se não fossem os dedos a mexer ritmicamente eu não suspeitaria de nada.
O Christopher à minha frente era tão diferente do que eu tinha
passado a esperar. O sorriso sarcástico e sedutor tinha desaparecido, seus olhos azuis como o mar não tinham o mesmo brilho que tinham na última vez que nos vimos. Ele não falava nada e como foi ele quem me chamou, também fiquei calada. O único som em nossa mesa era o de minhas unhas traiçoeiras que não paravam de bater na cerâmica quente. Depois que dei o primeiro gole, senti o calor preenchendo meu corpo e o gosto adocicado do chocolate branco da minha mistura com café favorita, eu inclinei minha cabeça ainda o observando. — O livro é bom? — ele perguntou. — Cabe correção, mas tem potencial. Ainda estou na metade, tenho até amanhã de manhã para terminar e escrever minha revisão para apresentar na reunião — respondi, o livro era mesmo muito bom, sobre uma garota que se apaixona por gêmeos, um homem e uma mulher, ainda não o havia terminado e não tinha me decidido sobre quem do casal de irmãos merecia mais a protagonista. — Pelo menos algo deu certo — ele falou e a frustração era clara em sua expressão. — Christopher Jensen — eu falei, talvez um pouco dura, pois seus olhos encararam os meus. — Não é o fim do mundo, a temporada não acabou. — Você fala assim porque não foi você que decepcionou uma legião. — Seus olhos desviaram dos meus, seus ombros largos se curvaram e me perguntei como seria carregar esse peso. Ele realmente se importava com como os fãs se sentiam, ele sentia que os tinha decepcionado. De certa forma, sim. Quando eu não o conhecia e ele era apenas um dos jogadores na TV, eu o xingava e provavelmente estaria muito chateada com a derrota de ontem. Minha mão segurou a dele e ele voltou a me olhar. Aquela sombra ainda estava em seus olhos, como uma tempestade chegando no litoral. O calor de sua pele contra a minha, causou espasmos na minha barriga. — Eles são fãs, podem estar chateados, mas eu prometo que no próximo jogo eles estarão torcendo por você de novo, clamando seu nome e você vai mostrar que vale a pena continuar a torcer por você, pelo seu time, não é a primeira vez que perdem. — Eu apertei sua mão. — Mas quando importa, vocês jogam como gladiadores e nada pode pará-los. Perderam ontem, mas ainda estão liderando a divisão. E no próximo jogo eu tenho certeza que você não vai decepcionar ninguém. — Como você pode ter certeza? — ele questionou ainda desconfiado. — Simples. — Eu dei de ombros. — Lembre-se de como você se sente neste exato momento enquanto estiver em campo e faça de tudo para não ter que sentir novamente. Ele sorriu, a primeira vez que sorriu desde que eu cheguei. Seu rosto se suavizou e seus ombros voltaram a postura normal. E assim o Chris que tinha conhecido há poucas semanas parecia estar de volta. — O que em outras palavras significa que o treino hoje foi mais pesado devido à alguma besteira que você fez e você está sem energia e vontade de ter que lidar com toda a burocracia de um encontro. — Eu brinco. Ele quase se engasga de rir. — Você me conhece demais. — Não, você é previsível.
Enquanto comemos a pizza com que Chris me surpreendeu,
tentamos decidir que filme vamos ver, eu quero algo calmo e tranquilo e ele quer ação, tiros, porrada. — A casa é minha, eu escolho — argumento decidida. — Eu trouxe a pizza — ele desafia. Continuamos assim até que por fim concordamos em uma mistura de ação com comédia, assistindo a um desses filmes de heróis.
Na metade do filme que ela escolheu e me forçou a ver, ela
pega no sono. E eu nem posso brigar com ela, ela parecia exausta quando cheguei, mas o dia tinha sido difícil e não consegui me forçar a ir no encontro com a arquiteta loira. Eu queria paz, mas quando cheguei em casa estava quieto demais. Então entrei no meu carro, comprei uma pizza e bati na porta do apartamento da única pessoa que conseguia me irritar e me trazer paz ao mesmo tempo. Agora ela estava apoiada contra meu peito, sua respiração estava tão calma e eu não estava pronto para ir embora ainda. Então continuei a assistir ao filme enquanto passava a mão por seus cabelos. Volta e meia eu me pegava observando-a dormir, tão plena que me fazia sorrir. Quando o filme acabou, levantei cuidadosamente para não acordá-la enquanto limpava a bagunça na mesa de centro. Eu havia cometido o erro uma vez de deixar a bagunça para ela no dia seguinte e por semanas tive que ouvi-la reclamar. Nunca mais! Depois de colocar tudo no lugar voltei ao sofá, a pegando no colo, e o suspiro que ela soltou me fez sorrir. Ela é sempre decidida, cheia de ideias, teimosa, mas dormindo ninguém diria isso. Dormindo ela parecia um anjo.
O suave balançar me acordou, eu devia estar mesmo cansada
para dormir durante o filme. Quando abri os olhos e me deparei com o maxilar definido coberto pela barba que começava a crescer, ele sorriu. — Achei que já tínhamos passado dessa fase em que você quer me levar pra cama — brinco. — Nunca. — Empurro seu ombro e seus olhos me encaram com uma emoção que, em meu estado sonolento, não consigo discernir. — Calma Jazz, eu nunca faria nada com você inconsciente. Ou com qualquer outra, por sinal. E eu já sei que você só quer minha amizade — ele fala. Sinto aquele aperto no meu peito, aquele aperto que era familiar pelos últimos 8 meses. Não é mentira, mas também não é a verdade. Não toda ela pelo menos. — E sabemos que eu não durmo com ninguém — ele comenta, rindo, fazendo meu corpo reverberar. — Ah, é claro, o mantra de Christopher Jensen! Como eu poderia me esquecer: se acordar com elas em sua cama, elas inevitavelmente vão achar que estão namorando. Você é tão ridículo. — Minha voz é sonolenta, mas essa frase foi marcada em mim logo no começo de nossa amizade. Ele gosta de lembrar a todos dela. — Isso mesmo! — Ele me deita em minha cama. — Boa noite, Jazz. — Um beijo em minha têmpora e sai. Ainda escuto a porta do apartamento fechar e o barulho da chave passando por baixo da porta. Sorrio antes de voltar a adormecer: Ele lembrou que tenho medo de dormir com a porta destrancada.
Acordo em minha cama e me espreguiço lentamente. Pego
meu celular para checar as horas e ver se alguém mandou mensagens. Ainda está cedo para encontrar os rapazes na academia, não temos treino hoje, mas gostamos de malhar juntos. Jasmine: Obrigada por limpar tudo e trancar a porta! Um sorriso surge em meus lábios ao ler a mensagem, ela fica feliz com coisas tão pequenas. O que é uma diferença enorme das outras mulheres que eu conheço. Para alegrar Jasmine Bianchi você precisa de um bom livro, um bom filme, comida ou apenas a presença. Ela adora conversar, bom, com quem ela conhece e gosta. Não é que ela não goste de joias, flores ou roupas, ela adora. Mas quando você a ver com um livro novo, a felicidade genuína em seus olhos é contagiante. Christopher: Tudo para não ser forçado a ouvir suas reclamações. Há também uma mensagem de meu irmão mais velho dizendo que Colin, seu filho, sente minha falta. Respondo dizendo que passarei para ver o pequeno no fim da semana. Por fim, três mensagens da arquiteta que eu deveria ter encontrado na noite anterior. Audrey: Chris, que pena que não pudemos nos ver. Audrey: Espero que tenha conseguido resolver o problema que surgiu.
Ih, o que que eu falei pra ela? Não faço ideia.
Audrey: Quem sabe possamos nos ver uma
outra hora.
Isso. Boa ideia. Sexo é sempre uma ótima ideia.
Christopher: Bom dia, linda, consegui resolver tudo. Sobre nos vermos, quais seus planos pra hoje? Levanto e vou tomar um banho. Jazz vive implicando com o que ela chama de meu mantra, mas eu sou feliz com a minha vida de solteiro, e em todas as poucas vezes em que eu cometi o erro de acordar na mesma cama com a mulher com quem eu dormi na noite anterior, foi difícil explicar que eu não queria nada sério, que a noite tinha sido ótima, talvez pudéssemos repetir, mas eu não lido bem com exclusividade. O mundo não pode ser privado dessa obra prima que meus pais fizeram! Por isso a regra é clara, eu vou pra casa delas e assim que todo mundo está feliz e satisfeito, eu volto para minha. Nos encontramos em um restaurante da cidade à noite, um dos bons, a decoração em diferentes tons claros, os lustres de cristais iluminam bem o ambiente, mas mantém uma aura confortável com as luzes amarelas. Eu, como bom cavalheiro que sou, já aguardava na mesa quando Audrey apareceu. Seu corpo esguio delineado por um vestido preto que destacava sua pele clara, seus olhos verdes se iluminaram quando me viram. Porém foram seus cabelos que me chamaram a atenção, pois hoje diferente da vez em que nos encontramos seus cabelos exibiam cachos. Não cachos naturais, mas, ainda assim, cachos. A conversa fluía e eu fazia um esforço de me manter presente, de me interessar pelo assunto. No entanto, enquanto a loira falava sobre sua profissão, sobre seu trabalho, não havia paixão em sua voz, o que tornava o assunto um tanto enfadonho. Mas eu não estava aqui pela conversa, não é mesmo? — E o que você vai querer, Audrey? — eu pergunto enquanto escolhemos a sobremesa, um sorriso em meus lábios e arqueio uma sobrancelha sugestivamente e ela entende. Ela volta o olhar para o menu, mordendo o lábio inferior e lançando um olhar sedutor. — Acho que eu tenho um pote de sorvete em casa... — ela fala. — Eu amo sorvete. — E pago a conta antes de sairmos. Mal passamos pela porta do seu apartamento e minhas mãos a envolvem, a puxando para mim, e eu a beijo. Em poucos passos suas costas já estão contra a parede, minhas mãos passeando por ela, descobrindo os pontos sensíveis. Um gemido escapa de seus lábios quando minha boca passa para seu pescoço, queixo, uma mordida leve em sua orelha antes de voltar a seus lábios. Sem que eu me dê conta, suas mãos já tiraram minha camisa e sobem por meus braços até minha nuca. — Quarto? — eu murmuro contra seus lábios e uma de suas mãos solta meu pescoço e indica a direção. Minhas mãos descem pelo seu quadril e a levantam do chão, suas pernas abraçam minha cintura e então eu acho o quarto. Os poucos passos até a cama são suficientes para que as peças de roupa fiquem pelo caminho. Nossos corpos unidos e os movimentos rítmicos, nos aproximando da tão almejada libertação. Já conseguia sentir o orgasmo se formando, abri os olhos para observar Audrey enquanto estimulava aquele ponto sensível entre suas pernas, sentindo-a se contrair ao meu redor. Um segundo antes de alcançar o clímax seus cachos pareceram negros e a visão deles me fez ultrapassar aquele limite. Assim que pisquei, eram loiros novamente. “Que merda foi essa, Christopher?” pensei, mas deixei para refletir a respeito mais tarde. Ainda ofegante, me deitei ao lado de Audrey, uma de minhas mãos ainda acariciando preguiçosamente seu torso enquanto nossas respirações se normalizavam, preparando para a próxima rodada. A conversa era superficial, mas mantinha o toque sensual, de flerte. Horas mais tarde enquanto eu dirigia pra casa fiquei repassando o momento em que os cabelos de Audrey pareceram negros, deve ter sido algum efeito da luz, afinal o quarto estava escuro e a luz vinha da porta aberta no corredor. É, deve ter sido isso, era a única explicação. E eu não gozei por causa disso, eu já estava quase lá. Uma coisa não está relacionada com a outra, ainda mais se levar em consideração que nas outras duas vezes isso não aconteceu. Quando me deitei para dormir, estava satisfeito com minhas conclusões e pronto para uma boa noite de sono, ou manhã. [1] Pedra, papel e tesoura, também chamado em algumas regiões do Brasil de jokenpô é um jogo de mãos recreativo e simples para duas ou mais pessoas, que não requer equipamentos nem habilidade. [2] Personagens da série de televisão norte-americana de drama adolescente chamada Gossip Girl, baseada na série literária homônima da escritora Cecily von Ziegesar. [3] Personagens da série de televisão One Tree Hill, criada por Mark Schwahn, exibida entre 23 de setembro de 2003 e 04 de abril de 2012, inicialmente transmitida pela The WB. [4] Transtorno de estresse pós-traumático. [5] MARSOC – United States Marine Forces Special Operations Command – é um comando componente do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (SOCOM). [6] O United States Navy's SEAL Teams, possuí sua sigla (Sea, Air, and Land) derivada de sua capacidade em operar no mar (SEa), no ar (Air) e em terra (Land). Comumente chamados de Navy SEALs, são uma das principais Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos e um componente do Comando Naval de Operações Especiais (NSWC), bem como também um componente marítimo do Comando de Operações Especiais (USSOC). [7] Levar um caldo, tomar um caldo ou caixote significa bater de frente com uma onda no mar. É uma expressão comum para surfistas. [8] Faluja é uma cidade do Iraque, localizada na província de Ambar, a cerca de 69 quilômetros a oeste de Bagdá, às margens do Eufrates. [9] O Pumpkin Spice Latte é uma bebida de café feita com uma mistura de sabores tradicionais de especiarias de outono, leite vaporizado, café expresso e muitas vezes açúcar, coberto com chantilly e especiarias de torta de abóbora. [10] Frappuccino é uma bebida preparada com café, servida bem gelada com chatilly no topo. [11] Luta de cães (em inglês: Dog-baiting; ou Dog fighting), rinha de cães ou briga de cães, é uma luta entre cães especialmente criados ou treinados para tal. [12] A tradução de Hades’ Men é os homens do Hades que é o Deus grego do mundo inferior. [13] Underworld é mundo inferior em inglês. [14] Sparring é um termo inglês utilizado no ocidente que se refere a uma forma de treino comum a vários desportos de combate. Apesar do diversificado tipo de sparring que cada tipo de arte marcial emprega, a sua constância em treinos de combate é frequente. Geralmente, o sparring consiste num forma livre de combate, com o mínimo de regras ou arranjos informais, evitando o número de lesões. Este tipo de sparring é considerado como o método mais eficaz de aplicar as técnicas aprendidas anteriormente em teoria. [15] Pinterest é uma rede social de compartilhamento de fotos. Assemelha-se a um quadro de inspirações, onde os usuários podem compartilhar e gerenciar imagens temáticas, como de jogos, de hobbies, de roupas, de perfumes, de animes, etc. [16] Mamá – mamãe em espanhol [17] O Dia de Ação de Graças, conhecido em inglês como Thanksgiving Day, é um feriado celebrado sobretudo nos Estados Unidos, no Canadá e nas ilhas do Caribe, observado como um dia de gratidão a Deus, com orações e festas, pelos bons acontecimentos ocorridos durante o ano. [18] Um Endereço de Protocolo da Internet (Endereço IP), do inglês Internet Protocol address (IP address), é um rótulo numérico atribuído a cada dispositivo (computador, impressora, smartphone etc.) conectado a uma rede de computadores que utiliza o Protocolo de Internet para comunicação.[1] Um endereço IP serve a duas funções principais: identificação de interface de hospedeiro ou de rede e endereçamento de localização. [19] Reaper - ceifador em inglês. [20] Sherlock Holmes é um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico e escritor Sir Arthur Conan Doyle. [21] Beyblade, também conhecido como Bakuten Shoot Beyblade ( 爆転シュート ベイブレ ード Bakuten Shūto Beiburēdo?), é uma série de mangá escrita e ilustrada por Takao Aoki, encomendada para promover a então nova linha de brinquedos da Takara, produzida com base em uma espécie de pião tradicional japonês. No anime e mangá, os piões são chamados de Beyblade. [22] Ejaculação feminina. A palavra "squirting" vem do inglês "squirt", que significa esguicho. O “squirting” acontece quando a mulher tem a sua ejaculação e esguicha líquido ou fluidos da sua vagina, num momento de prazer. Não tem cor nem cheiro e não dever ser confundido com a lubrificação natural da vagina. [23] O Consigliere é o membro de uma Máfia siciliana-italiana que serve como o conselheiro do Don, e uma das três posições mais prestigiosas na hierarquia da Máfia, junto com o Don, e o Sottocapo ou Subchefe. [24] Doomshade: sombra da perdição em inglês.