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Copyright © 2022 de Hayesha Di Maffei

Capa: Lucas Bernaliel


Ilustrações: Cacu Ilustra
Diagramação: Hayesha Di Maffei
Revisão: Juliana Mangi e Ana Luiza Tinoco
Betagem: Jennifer Fógos

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação


pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma
ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros
métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por
escrito do autor, exceto no caso de breves citações incluídas em
revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos
pela lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares,
negócios, eventos e incidentes são ou os produtos da imaginação
do autor ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos reais é mera
coincidência.
Neste livro foram utilizadas muitas abreviações como o “tá”,
“tô” e “pra”, de forma que o texto fique o mais caracterizado possível
com o estilo dos personagens.

Primeira edição, 2022


https://www.instagram.com/haaydimaffei/
Índice
Sinopse
Nota da Autora
Dedicatória
Playlist
Capítulo 01 – Brooke Roberts
Capítulo 02 - Kyle Thorne
Capítulo 03 - Brooke Roberts
Capítulo 04 - Rafael Martinez
Capítulo 05 - Brooke Roberts
Capítulo 06 - Brooke Roberts
Capítulo 07 - Brooke Roberts
Capítulo 08 - Seth Donahue
Capítulo 09 - Seth Donahue
Capítulo 10 - Brooke Roberts
Capítulo 11 - Seth Donahue
Capítulo 12 - Kyle Thorne
Capítulo 13 - Brooke Roberts
Capítulo 14 - Brooke Roberts
Capítulo 15 – Rafael Martinez
Capítulo 16 – Brooke Roberts
Capítulo 17 – Seth Donahue
Capítulo 18 – Brooke Roberts
Capítulo 19 – Kyle Thorne
Capítulo 20 – Brooke Roberts
Capítulo 21 – Rafael Martinez
Capítulo 22 – Kyle Thorne
Capítulo 23 – Brooke Roberts
Capítulo 24 – Brooke Roberts
Capítulo 25 – Seth Donahue
Capítulo 26 – Brooke Roberts
Capítulo 27 – Rafael Martinez
Epílogo – Brooke Roberts
Ei, você
Agradecimentos
Conheça a Autora
Conheça: A Singularidade de Nós
Todo mundo sonha em encontrar um amor para toda vida.
Brooke Roberts encontrou três. Kyle a amou desde criança. Seth
desde o primeiro sorriso e Raffi desde o primeiro abraço.
Na continuação da Duologia Hades' Men, Brooke ainda está se
recuperando dos eventos traumáticos que se infiltram em suas
noites e assombram seus dias enquanto explora sem reservas a
dinâmica do seu novo relacionamento.
Kyle, Seth e Raffi não desistiram de caçar o stalker misterioso
que os mantém em alerta ganhando mais terreno a cada dia. E não
deixam a namorada sozinha um minuto sequer.
Até que ponto cuidado pode se tornar sufocante? E se for
triplicado?
Quatro entram, quatro saem, mas alguém pode sair diferente
daquilo que entrou.
Por quanto tempo Seth será capaz de lidar com suas feridas
sendo expostas e espelhadas na mulher que aprendeu a amar?
Até quando Kyle suportará em silêncio a espera tortuosa de
ver sua melhor amiga e mulher definhando na sua presença?
Será que Raffi pode aceitar que todos os anos se tornando o
melhor atirador de longa distância e especialista em armas não
foram suficientes para garantir que a pessoa mais importante da sua
vida nunca descobrisse o que é a dor de viver com medo?
Brooke tem nas mãos o poder de os guiar à salvação ou
perdição.
Qual chegará primeiro?

Gatilhos: violência, estresse pós traumático, menções a abuso


infantil e suicídio (sem detalhes gráficos), ataques de pânico, morte,
mais de um interesse amoroso.
Atração Mortal é a continuação de Atração Fatal, para poder
aproveitar essa história da melhor forma e em toda a sua
complexidade a leitura do primeiro volume é imprescindível.
Olá, tudo bem?
Primeiramente, eu quero agradecer do fundo meu coração
você ter escolhido Atração Mortal para ser a sua próxima leitura,
mas antes de deixar você mergulhar de volta na história desse
quarteto, acho importante esclarecermos algumas coisas.
Atração Mortal é a continuação de Atração Fatal. Para poder
aproveitar essa história da melhor forma e em toda a sua
complexidade a leitura do primeiro volume é imprescindível.
(Atração Fatal está disponível na Amazon e KindleUnlimited).
Atração Mortal é sobre amor, em todas as suas formas e não
apenas da maneira que a sociedade nos ensina desde crianças. Se
você não concorda ou não acredita neste tipo de relacionamento,
este livro não é recomendado para você.
A protagonista NÃO escolherá entre seus interesses
amorosos, todos os protagonistas se envolverão em um
relacionamento poliamoroso. Além deste tema, haverá outros
gatilhos como violência, estresse pós traumático, menções a abuso
infantil e suicídio (sem detalhes gráficos), ataques de pânico, morte.
Se em algum momento durante a leitura você se sentir
desconfortável, peço que pare. Sua saúde mental e emocional
devem ser prioridade. Este livro é destinado a maiores de 18 anos
por conter conteúdo explícito, tais como palavras de baixo calão e
sexo.
Se esse não é o seu estilo, aconselho que não leia Atração
Mortal.
Porém, caro leitor, se você está ciente disso e preparado para
reembarcar nessa jornada com esse Harém Reverso, sugiro que se
acomode e tenha à disposição muita água gelada e lenços. Vai
precisar!
Esse livro é dedicado à todos aqueles que lutam batalhas
invisíveis todos os dias. Eu vejo você.
Você não está sozinho.
O cheiro pútrido agride minhas narinas. Fecho meus olhos com
força quando sinto o toque da mão do meu captor subindo pela
minha nuca, seus dedos se emaranhando no meu pescoço para
puxar a minha cabeça violentamente para trás. As lágrimas que eu
achava que haviam esgotado queimam conforme forçam passagem
pelas minhas pálpebras cerradas.
Não. Isso não é real. Não pode ser. O pensamento é como
uma âncora jogada ao mar, afundando dentro de mim, e me
puxando com ela para o mundo real onde meus músculos tensos
me aguardam.
Desperto com o coração martelando no peito, o maxilar
dolorido, e instintivamente sei que meu inconsciente conteve os
gritos que muitas vezes teimam em rasgar minha garganta. O braço
forte que abraça a minha barriga colando minhas costas a um corpo
firme, me aperta ainda mais contra ele, como se mesmo dormindo
ele soubesse que preciso dele. Inspiro profundamente deixando que
o cheiro amadeirado de Raffi purificar os vestígios do pesadelo.
Me viro em seus braços, seus olhos azuis vibrantes encontram
os meus, escaneando meu rosto rapidamente sob a luz amarelada
do abajur que agora vive constantemente aceso.
— Quer falar sobre ele hoje, babygirl? — sua voz é rouca
quando repete a pergunta de todas as noites em que dividimos a
cama e eu acordo de um pesadelo, o que já é a minha nova rotina.
Eu não tinha dormido sozinha nem mesmo uma noite desde
que os rapazes me resgataram. Não entendia como eles definiam
quem dormiria comigo e suspeitava que era algum tipo de jogo da
sorte, pois não havia um padrão que eu pudesse distinguir.
— Não foi nada de novo — murmuro, abraçando sua cintura
com uma das mãos, meus dedos explorando a pele quente
enquanto cubro suas pernas com uma das minhas.
— Brooke...
Subo uma das mãos pelo seu abdômen sarado até alcançar
um de seus mamilos, local que descobri ser extremamente sensível
para Raffi, e provoco com a ponta dos dedos contornando-o antes
de apertá-lo.
— Não quero falar sobre meu pesadelo, não quero falar sobre
o que aconteceu, prometi a mim mesma enquanto saíamos de lá
que não deixaria que ele tomasse mais do meu tempo. — A mentira
misturada com a verdade escorre facilmente de meus lábios, tenho
esperança de que se repeti-la o suficiente vou parar de reviver
aqueles dias, parar de me assustar com qualquer sombra ou
barulho repentino, parar de acordar no meio da madrugada com o
coração disparado e uma sensação gelada na boca do estômago.
— Quero esquecer — declaro.
Um sorriso malicioso se forma em seus lábios quando ele gira
o corpo me trazendo com ele. Suas mãos deslizam pelas minhas
costas até alcançarem a minha bunda e a apertam, fazendo meu
corpo esquentar ao sentir seu pau endurecer contra a minha barriga.
— Então me deixa exorcizar seu pesadelo, babygirl.
Inclino meu rosto e tomo seus lábios, sentindo aquele sabor
único que é todo Rafael Martinez. Sua língua explora a minha boca
com avidez, como se ele quisesse decorar o meu gosto, mas o
tempo fosse curto.
O beijo é faminto, e nós o alimentamos com nosso desejo e
tesão. É um beijo de corpo inteiro, cada ponto onde minha pele toca
a dele é como uma pequena explosão que se espalha por meu
corpo apenas para se concentrar no meu ventre, que parece
derreter.
Suas mãos ágeis se livram dos meus shorts de pijama e
calcinha rapidamente, apenas para retornar ao meu centro e
encontrar com o polegar meu clitóris, esfregando-o com movimentos
circulares que fazem meus dedos dos pés se contorcerem,
enquanto meu gemido é engolido por sua boca que ainda devora a
minha.
Raffi me penetra com dois dedos de uma vez, sem aviso, me
fazendo arfar e arquear as costas. Apoio as mãos em seu peito,
cavalgando seus dedos que me fodem sem piedade, exatamente
como preciso. Ele inverte nossas posições mais uma vez e coloca a
camisinha que pega da mesinha de cabeceira antes de me
preencher gloriosamente arrancando outro gemido alto de mim.
— Você é tão gostosa — ele grunhe no meu ouvido,
começando a estocar, aumentando o ritmo a cada vez que se retira.
Raffi se afasta ligeiramente, seu olhar descendo para o ponto onde
nossos corpos se encontram. — Olha como a sua boceta abraça
meu pau, babygirl. Gostosa demais!
E então sua boca está sobre a minha mais uma vez, e a
luxúria toma o controle da minha mente, apagando todo o resto.
Cada investida me leva para mais perto do orgasmo e me distancia
dos horrores da minha mente. Nesse momento só existe nós dois,
esse quarto e o prazer que damos um ao outro.
Já é de manhã quando acordo novamente, me estico na cama
e Raffi me aperta contra ele, seu rosto se afundando em meus
cabelos e sinto ele deslizar o nariz na minha nuca, fazendo um
arrepio delicioso percorrer a minha coluna.
— Tá cedo ainda — ele murmura sonolento.
Olho para o relógio na mesinha de cabeceira, e constato que
ele está certo: não são nem sete da manhã ainda.
— Eu sei — respondo no mesmo tom. — Mas você não
precisa levantar só porque eu vou — declaro, entrelaçando meus
dedos com os seus antes de escapar de seu abraço.
Raffi se remexe na cama, resmungando enquanto procura uma
nova posição confortável.
— Prefiro dormir te abraçando — confessa e quase não
consigo decifrar suas palavras que são abafadas pelo travesseiro.
Levanto e caminho até a poltrona no canto do meu quarto,
pegando o tubarão de pelúcia de 1 metro de comprimento que Olivia
me deu na primeira vez que veio me visitar há quase um mês e
meio atrás.
— Abraça o Bruce — digo entregando-o e beijando sua
têmpora, mas ele segura minhas pernas antes que eu consiga dar
um passo para longe.
— Quero um beijo decente, Brooke — reclama e eu me inclino,
beijando seus lábios rapidamente. — Primeiro, me deixa sozinho
depois quer sair sem me beijar. Vê se isso é coisa que se faça? —
reclama, mas quando saio do banheiro alguns minutos depois o
encontro abraçado ao tubarão e dormindo tranquilamente.
Não consigo resistir à cena e pego o celular na mesinha,
tirando uma foto do homem de mais de 1,80m, tatuado, abraçado ao
bichinho de pelúcia. Fico tentada a mandar a foto no grupo, mas
penso melhor e guardo para usar no futuro quando Rafael me irritar.
Fecho o aplicativo de câmera e vejo uma notificação no meu e-mail
que escolho a ignorar. Semana passada todos os professores da
escola Greenbriar receberam o novo calendário acadêmico. E eu
enviei o meu pedido para tirar um ano sabático no mesmo dia, a
diretora foi relutante em me dar esse período até porque não lhe
expliquei o motivo, só disse que precisava desse tempo. Porém,
acho que ela acredita que se continuar a me mandar os boletins
informativos vai me fazer mudar de ideia.
Eu até gostaria de mudar, queria conseguir sentir aquela
ansiedade gostosa de início de ano letivo, me preparar para receber
meus alunos e passar os dias rodeada por sua energia borbulhante.
Mas não sinto nada. Me sinto oca, como se os acontecimentos do
começo do verão tivessem retirado uma parte de mim que ficou no
chão daquele armazém junto com o corpo do meu carcereiro.
Balanço a cabeça tentando espantar a memória, mas ela está
sempre ali. Uma companheira constante.
Desço as escadas terminando de amarrar meu cabelo em um
rabo de cavalo, assim que piso na cozinha Apolo e Cérbero
aparecem.
— Se os pais de vocês sonharem que eu fico dando biscoito
logo cedo, eles vão brigar comigo — aviso, abrindo a dispensa e
pegando os petiscos. — De novo.
— Como se a gente não soubesse. — A voz de Seth soa às
minhas costas e me viro para encontrá-lo sorrindo. As covinhas nas
bochechas em evidência, ele está suado e sei que acabou de
chegar da corrida. Meus olhos descem por seu corpo e sinto minha
boca secar enquanto memorizo a forma como a camiseta molhada
se molda aos seus músculos. Meus dedos coçam para sentir sua
pele. Levo um minuto para me lembrar que agora posso, para
lembrar que Seth não me mantém mais a um braço distância como
antes. Não que nosso relacionamento tivesse evoluído para algo
além de amassos ou daquela uma única vez em que ele me levou
ao delírio apenas com os dedos. Mas mesmo assim sentia que ele
estava mais perto, menos reservado, como se uma das muralhas
que existiam entre nós tivesse ruído.
Fecho a distância com um passo e abraço sua cintura,
apoiando meu queixo em seu peito e o fazendo inclinar a cabeça
para me olhar.
— Bom dia, Abelhinha — me cumprimenta antes de me dar um
selinho. — Pronta para o seu treino?
— Quase — afirmo, me esticando e tomando seus lábios,
minha língua invadindo a sua boca e engatando naturalmente no
ritmo que pertence somente a mim e Seth. Um de seus braços
enlaça a minha cintura enquanto a outra mão segura meu pescoço,
movendo-o para lhe dar mais espaço para aprofundar o beijo. A
mão que estava na minha cintura desce para minha bunda e no
momento em que ele a aperta um latido ecoa na cozinha.
— Desculpa, garoto, me distraí — Seth fala com Banguela que
está parado do lado de seu pote de água vazio. Ele beija minha
boca e minha testa antes de se afastar e ir tratar do cão.
Eu o observo pelo canto do olho enquanto preparo dois shakes
de proteína, um para mim e um para Seth, para não irmos treinar de
estômago vazio. Me pego pensando nos outros dois homens que
dormem no andar de cima. Nesses últimos dois meses, os três
foram imprescindíveis para a minha recuperação, talvez até demais.
Eles estavam sempre presentes. Kyle checando a todo momento se
eu tinha tomado meus remédios, se tinha me alimentado, me
obrigando a não me esforçar demais. Raffi era sempre como um
sopro de ar fresco, toda vez que sentia que estava me afundando
em um dos abismos da minha cabeça ele falava algo, ou fazia uma
brincadeira que me trazia de volta para o presente. E Seth, não sei
explicar, mesmo sem dizer nada ele parecia entender tudo que se
passava na minha mente. Ainda não conseguia definir a minha
relação com eles, mas sabia que os queria na minha vida para
sempre, só não tinha conseguido lhes dizer isso ainda.
E talvez, o mais importante tenha sido no momento em que
recebi o ok do médico, Seth retomou meu treinamento. Antes
mesmo que fosse preciso eu pedir, tão determinado quanto eu a
recuperar a minha força. Porque em meio a todas as incertezas na
minha vida no momento, uma coisa era certa: Eu nunca mais quero
estar à mercê de alguém. E eu sentia uma satisfação e uma
quietude mental inacreditável ao socar um saco de areia até não
sentir os braços. E ultimamente, eu fazia o possível para não
pensar.
O toque gentil sobre a minha mão me tira dos meus
pensamentos e percebo que nem vi Seth se mexer, até ele estar ao
meu lado.
— Vamos?
Passo a mão pelos cabelos pela décima vez nessa última
hora, lendo os relatórios enviados por Paula, minha nova assistente.
Durante o processo de recuperação de Brooke passei a trabalhar do
escritório de casa, precisando estar perto dela tanto quanto
possível. Seth e Raffi também acabaram diminuindo suas turmas e
passamos o primeiro mês praticamente intocados em casa.
Dividimos nosso tempo entre cuidar da nossa mulher e caçar
os cretinos que a feriram. Infelizmente, para nós, eles continuam se
mantendo além do nosso alcance, mas não desistiríamos até fazê-
los pagar. Porém com o passar do tempo, nossas obrigações
começaram a cobrar seu preço e Raffi teve que retomar suas aulas,
já que não tínhamos um substituto à altura para o curso de atirador
de elite. A frustração de nossas buscas levou Seth de volta ao
estúdio de tatuagem de Tristan quase todas as tardes.
Meu telefone toca, me puxando para longe da espiral de
preocupações que vive constantemente no meu cérebro.
— Thorne.
— Oi, chefe — Paula me cumprimenta do outro lado da linha.
— Você pediu para eu te lembrar da reunião com os acionistas na
quinta-feira.
— Já é essa semana? — questiono, checando o calendário.
— Sim, às 14:00h. O sargento Jefferson ligou mais uma vez,
aparentemente ele está sob a impressão que você está o ignorando,
eu expliquei que o senhor está muito ocupado e que vai retornar
suas ligações tão cedo quanto possível.
Sopro uma risada antes de lhe responder. Imaginando a
expressão de meu antigo superior ao ser dispensado sem
cerimônias.
— E ele aceitou isso?
— Não lhe dei espaço para protestar. — Como filha de
militares, Paula cresceu rodeada de homens acostumados a serem
obedecidos, mas com três irmãos mais velhos que também
seguiram carreira nas Forças Armadas, ela tinha aprendido a lidar
com eles com excelência.
— Eu imagino —respondo, balançando a cabeça e vendo o
texto pela metade na tela do meu computador. — Eu estava prestes
a te enviar um e-mail com as instruções para os novos recrutas e
com os selecionados para aqueles três novos trabalhos que
começam na próxima semana.
— Prefere me passar por telefone? — ela pergunta, ouço o
som de teclas.
— Não, não. Já está quase pronto — informo. — Tem alguma
coisa na minha agenda pra hoje?
— Hoje não, senhor.
— Ótimo — declaro, checando as horas e vendo que não
passam das 13:30. — Estarei te enviando o e-mail nos próximos
minutos e vou tirar o resto da tarde de folga, sabe como me
encontrar em caso de emergências.
— Sim, senhor — ela responde prontamente. — Tenha um
bom dia.
Assim que aperto “enviar” no e-mail para minha assistente, a
tela de meu celular se ilumina com notificações no que costumava
ser o grupo administrativo da Hades’ Men, mas recentemente tinha
se tornado onde meus irmãos e eu conversávamos sobre Brooke.
Raffi tinha mandado um print da previsão de marés para
Pleasure Point. Seguido de uma mensagem.
Raffi: As ondas vão estar boas hoje.
Raffi: É um bom dia para convencer a B. a sair
de casa.
Seth: Faria bem para ela.
Raffi: Leva ela, Kyle! Põe ela no carro e leva
pra praia.
Digito a resposta, sentindo minha irritação aumentar com cada
letra. Todo dia era a mesma ladainha.
Kyle: Ela não quer ir! Ela não quer sair de
casa. E se ela não quer, não vai. Simples
assim.
Eu não duvidava nem mesmo por um segundo da
profundidade dos sentimentos que eles nutriam por ela, mas não
conseguia entender como, nem porquê estavam se esforçando tanto
em tirá-la de casa. Ela estava segura aqui. Nada pode alcançá-la
dentro desses portões. Nossa segurança triplicou nos últimos dois
meses, tudo para garantir sua proteção.
Não que Brooke fosse uma prisioneira, longe disso, ela era
livre para fazer o que bem entendesse. Mas depois de tudo que
sofreu, a última coisa que consigo pensar em fazer é forçá-la a algo
que não queira. É claro que o fato de que a loira tem preferido se
manter em casa, acalma minha ansiedade. Nas noites em que eu
perco o “pedra, papel, tesoura”[1] e sou forçado a dormir sozinho,
sempre acordo em pânico que ela tenha sido tirada de mim mais
uma vez.
Como se isso não fosse estressante o suficiente, havia o
maldito stalker e seu silêncio ensurdecedor. Desde o bilhete, logo
que Brooke voltou pra casa, não houve novo contato, ou tentativa de
entregar mais presentes. Não sabia se a pausa era por estar dando
tempo para que ela se recuperasse, ou algum sinal milagroso de
que tinha desistido. O que não parecia provável.
Estávamos passando um pente fino por todas as pessoas na
vida de Brooke, me sentia um canalha por suspeitar até de Olivia,
mas não estava disposto a correr riscos. Checamos todos os
colegas de trabalho de Brooke, nossos funcionários, todo mundo
com quem ela já tenha tido contato estava sendo checado.
A mensagem em tom acusatório chega.
Raffi: Você nem mesmo perguntou pra ela.
Kyle: Não preciso. O dia que ela quiser, ela vai
pedir.
Seth: Kyle...
Kyle: Ela está se recuperando, no tempo dela,
quando estiver pronta, simplesmente irá. Não
adianta tentarmos apressá-la.
Respondo e bloqueio o celular, vendo o rosto sorridente da
minha loira preencher a tela. É uma foto de antes. Antes do seu
sorriso fácil ter sido roubado. Antes de ela ter ido ao inferno e
voltado. Antes de eu não ter sido capaz de protegê-la.
A necessidade de tê-la em meus braços me faz levantar e
procurá-la pela casa. Depois de checar que Brooke não está na
cozinha, caminho até a sala, seus fiéis protetores, levantam a
cabeça ao ouvir meus passos e me olham antes de voltar a
observá-la. Ela ainda não notou minha presença, lendo alguma
coisa em seu kindle.
Sua distração me proporciona uma oportunidade rara de vê-la
sem que ela se sinta analisada. Catalogo rapidamente como as
suas olheiras estão mais pronunciadas, como seu rosto parece mais
fino, mas são seus olhos, como sempre, que fazem meu coração se
apertar. Existe uma devastação neles que me dilacera, porque, por
mais que eu tente, não consigo expulsá-la, não definitivamente.
Achei que tinha conhecido a dor na guerra, quando tinha sido
baleado, esfaqueado e surrado, mas quando Brooke foi levada me
deparei com um novo tipo de dor. Algo que parecia me gelar por
dentro, era uma agonia que me impelia a agir.
— Qual a leitura do dia? — pergunto, sobressaltando-a,
fazendo com que largue o aparelho no colo e segure o peito.
Cérbero late como se estivesse me repreendendo, sendo seguido
pelos outros dois cães.
— Que susto, Ky! Nem te ouvi chegar — ela reclama e sorri,
ou tenta, seus lábios se curvam, mas o sentimento não alcança
seus olhos. Eu me inclino beijando sua têmpora antes de sentar ao
seu lado no sofá passando um braço por seus ombros e a puxando
para mim, precisando do contato para me lembrar que isso é real,
ela está realmente em casa.
Brooke se encaixa com perfeição nos meus braços, como se
tivesse sido feita para caber ali.
— Mas então, que livro é esse? — repito, indicando o aparelho
que mostra a capa com um jogador de futebol.
— Ainda estou na metade, foi a Liv quem recomendou. É de
uma autora brasileira, Camila Cocenza, sobre um jogador de futebol
e uma jornalista. — Ela dá de ombros.
— E tá gostando?
— Estou aprendendo algumas coisas — diz, desviando o olhar,
um rubor leve cobrindo suas bochechas e atiçando a minha
curiosidade.
— Sobre futebol? — questiono, arqueando uma sobrancelha
em sua direção.
— Não exatamente.
— Ah, é? — seguro sua cintura e a puxo para meu colo, suas
pernas abraçando meu quadril. — E o que exatamente você está
aprendendo?
Brooke levanta o olhar e com um sorriso travesso cola os
lábios nos meus.
O beijo começa calmo, porém o primeiro toque de sua língua
contra a minha é o suficiente para libertar o desejo que sinto por ela.
Minhas mãos descem até sua bunda apertando e pressionando seu
corpo contra mim, nossas línguas em uma batalha em que os dois
sairão vencedores. Brooke morde e suga meu lábio inferior,
rebolando sobre meu pau de forma lasciva. Apagando todo e
qualquer pensamento além da necessidade visceral de possui-la.
— O que acha de me ensinar o que aprendeu?
Ela segura a barra da camiseta mordendo o lábio inferior antes
de retirar a peça expondo o sutiã preto que eu me adianto em retirar.
Minha boca se fecha ao redor do mamilo rosado e Brooke arfa,
empurrando o corpo ainda mais em minha direção, uma de minhas
mãos massageia o outro seio e o gemido que deixa seus lábios só
me deixa ainda mais duro.
As mãos de Brooke tiram a minha camiseta, traçando o
contorno dos meus músculos em uma carícia leve que causa
arrepios pela minha pele. Volto a buscar sua boca, mas a loira se
afasta, ficando de pé em minha frente, seus dedos trabalham no
botão do seu short jeans, mas o rosnado baixo de um dos cães nos
relembra de suas presenças.
— Um segundo — ela me pede, antes de virar para eles e
apontar para a porta, e simples assim os três se levantam e deixam
a sala. Impressionante, eles parecem estar sempre sintonizados
com ela. — Onde eu estava? — pergunta se voltando para mim e
minhas mãos seguram seu quadril trazendo-a para mais perto,
meus dedos deslizando pelo cós de seus short. — Ah, sim.
Ela desce o zíper lentamente, meus olhos atentos aos seus
movimentos, Brooke não prolonga meu sofrimento e retira a
calcinha, chutando as duas peças para longe. Minha ereção exige
libertação e eu não perco tempo ao me livrar da minha calça e
cueca. A loira observa o meu corpo com tesão claro em sua
expressão, ela lambe os lábios quando seu olhar recaí sobre meu
pau.
Puta que pariu, como a minha mulher é linda.
— Vem cá — chamo, me deitando no sofá. Brooke se
aproxima da minha cintura quando eu puxo sua mão, ela me olha
confusa. — Senta aqui — peço, sorrindo.
— Kyle...
— Quero sentir seu gosto, Sunshine.
Suas bochechas tingem de vermelho, mas ela se aproxima e
parece estar pensando como atender o meu pedido, por isso seguro
seus quadris e a puxo para cima de mim. Seus joelhos um de cada
lado da minha cabeça.
Deslizo a minha língua entre seus lábios, seu gosto doce
preenche minha boca e seu gemido faz o meu pau latejar. Meus
braços abraçam suas coxas a fazendo sentar na minha cara direito.
Alterno entre lamber e chupar, dando atenção especial para
seu clitóris do jeito que eu sei que ela gosta. Brooke começa a
rebolar na minha cara, sua excitação escorrendo pela minha barba,
seus gemidos se tornando mais altos conforme ela se aproxima do
seu clímax.
— Eu vou gozar — anuncia, como se eu não estivesse
percebendo pela forma como suas coxas estão pressionando a
minha cabeça, como se quisessem me impedir de sair, mas não
existe outro lugar que eu gostaria de estar. Brooke explode sobre
mim e eu bebo até a última gota de sua lubrificação.
Quando eu sinto sua respiração acalmar, solto suas pernas e
ela desliza pelo meu corpo, deixando um rastro de molhado pelo
caminho. Ela para sobre meu abdômen, tão perto, mas ainda tão
distante do meu pau que anseia por sua boceta.
— Isso foi ainda melhor do que o normal — sussurra se
inclinando e me beijando cheia de desejo.
— Concordo e fico feliz, já que a minha função é te agradar —
declaro, e é a mais pura verdade. — Mas eu ainda não terminei com
você.
— Achei que era pra eu te ensinar hoje — rebate.
— O dia mal começou.
Kyle me abraça, desenhando círculos preguiçosos na pele nua
das minhas costas, nossas respirações desacelerando conforme os
resquícios de prazer depois da terceira rodada vão se esvaindo. Ele
beija meus cabelos e viro minha cabeça que repousava em seu
peito para encará-lo. Sou recebida por seus olhos azuis escuros me
fitando intensamente.
— Gosto desses seus livros — ele me provoca.
— Ah, é? — me estico, beijando seu queixo. — Qual seu
trecho favorito?
Ele abre a boca para responder, mas o toque do meu celular
preenche o cômodo com sua melodia clássica. Procuro a fonte da
melodia clássica e meu coração dá um mortal twist carpado digno
das olimpíadas, no mesmo momento em que meu estômago parece
afundar no meu corpo. Pois os rostos sorridentes de meus pais
iluminam a tela me chamando em uma ligação de vídeo.
— Merda. Merda. — Pulo do sofá revirando as roupas jogadas
no chão em busca da minha blusa e de uma calcinha. Puta merda.
— Kyle! — ralho com ele que continua deitado, rindo do meu
desespero.
— Você não precisa atender agora — diz condescendente.
— Você conhece minha mãe. Helen Roberts não vai parar de
me ligar até eu atendê-la e depois vai me interrogar pela demora —
falo, achando a blusa e vestindo com pressa. Penteio meus cabelos
com os dedos, mas decido que é mais seguro prendê-los em um
coque. — Você precisa ir.
— Eu moro aqui, Sunshine.
— Ha Ha. — Rio sem humor. — E essa casa é uma mansão,
então vaza. Eu não estou pronta para explicar sobre nós. — O
toque pausa por poucos segundos antes de recomeçar.
— Explicar o que? — ele pergunta se fazendo de
desentendido, colocando um braço atrás da cabeça, flexionando o
bíceps musculoso.
— Você sabe muito bem. — Aponto do seu corpo
deliciosamente nu para o meu.
— Eles me conhecem, Brooke. Seus pais me adoram — o loiro
responde, mas finalmente se senta.
— E você acha que vão continuar assim depois que
descobrirem que você está transando com a filha deles?
— Sinceramente? — rebate, buscando a cueca boxer cinza e
vestindo. — Acho que sim, mas como eu sou muito generoso... —
Kyle se aproxima, apoiando as duas mãos no meu quadril e me
puxando em sua direção, contornando minha boca com a língua
antes de me beijar com rapidez e se afastar segurando meu lábio
inferior com os dentes. — Essa é a terceira ou quarta chamada? —
pergunta, um sorriso presunçoso no rosto, indicando o celular ainda
no chão.
— Sai daqui — reclamo dando um tapa em seu ombro e me
abaixando para pegar o aparelho e me preparando
psicologicamente para o interrogatório, e para fingir que tudo estava
bem.
Respiro fundo três vezes, antes de aceitar a chamada.
— Oi, mamãe! — cumprimento-a. — Oi, papai! — adiciono
quando o vejo entrar no frame do celular.
— Onde você estava? Por que suas bochechas estão
coradas? — ela começa desconfiada e eu reviro os olhos. Seu
cabelo cai em ondas perfeitas e planejadas sobre os ombros, os
olhos castanhos me olham de cima a baixo, seus lábios finos
cobertos pelo seu clássico batom nude.
— Deixa a menina, Helen. Como você está se sentindo, minha
filha? — William Roberts, meu pai, interfere, passando um braço
pelos ombros da esposa. Seus cabelos estão cada vez mais
grisalhos e seus olhos do mesmo tom de verde dos meus se
destacam na pele bronzeada por horas jogando golfe.
— Eu estava na cozinha, preparando um sanduíche e me
apressei quando ouvi o toque do celular, deve ser isso — respondo,
checando que a bagunça no sofá ao meu lado não pode ser vista na
câmera. — Estou melhor, papai, obrigada — forço um sorriso a se
abrir em meus lábios.
— Você não acha que seria uma boa ideia vir passar essa
semana em casa? — minha mãe me pergunta. Meu pai concorda
enfaticamente ao seu lado na sala de estar da minha casa de
infância, seus olhares preocupados e a forma como procuram algo
em meu rosto que os alerte para qualquer problema, me deixa
tensa. O sorriso congelado em meus lábios chega a fazer minhas
bochechas doerem. — Logo, vai voltar ao trabalho e não veio para
Palo Alto nem uma vez. — Ela põe uma mecha de cabelo tão loiro
quanto o meu atrás da orelha.
Não a corrijo, ainda não lhe contei que não pretendo trabalhar
esse ano. Não contei a ninguém, na verdade.
— Essa semana não posso, mamãe — minto. — Ainda tenho
retorno no médico — invento uma desculpa.
— Eu sempre disse que aquele seu esporte era perigoso —
ela comenta, torcendo os lábios, desgostosa.
— Acidentes acontecem, Helen — meu pai rebate, sempre o
pacifista.
Acidentes, claro. Era isso que eles achavam que tinha
acontecido, um simples acidente de surfe. Não tinha sido minha
intenção mentir, mas quando minha impulsiva mãe decidiu fazer
uma visita surpresa no meu primeiro fim de semana de férias e me
encontrou cheia de hematomas, com costelas quebradas e os
dedos arrebentados, não consegui pensar em outra coisa e quando
vi já estava contando. O medo descrito era real, só não era real a
sua fonte.
— Papai, está certo. Prometo me cuidar de hoje em diante. —
Era uma promessa, tanto para ela quanto para mim. Talvez ainda
mais para mim. — Vou tentar me organizar para ir para casa em
breve. Como está a dona Clotilde? — pergunto, mencionando uma
das vizinhas que mora três casas depois da nossa.
— Ah, você sabe como ela é — mamãe começa e meu pai rola
os olhos. — Por algum acaso decidiu que mudaria seu jardim, e te
dou três chances de adivinhar qual a flor escolhida — propõe.
— Hortênsias — respondo com um sorriso de canto. Desde
que me lembro minha mãe e Dona Clotilde parecem viver em um
tipo de guerra fria. Qual das duas tem o jardim mais bem decorado
para o natal? Para o Halloween? Era só uma delas decidir fazer algo
que a outra logo mudava também.
— Roxas! — minha mãe completa, indignada. — Nem mesmo
mudou a cor.
— Você deveria ver como uma forma de elogio, ela gostou
tanto de ver as suas que colocou em frente a própria casa.
— É o que eu tento dizer para ela todos os dias, Brooke —
meu pai se pronuncia.
— Vocês dois não entendem! — ela reclama e disparata a
recontar todos os causos de que se lembra, meu pai e eu trocamos
um olhar cúmplice.
Mamãe está se recordando do fatídico dia de Ação de Graças
há oito anos, quando Apolo pula no sofá, empurra a cabeça na
frente da tela e lambe meu rosto, me desequilibrando com sua
investida. Meu coração dispara quando checo a pequena caixa no
canto do celular verificando que meus pais não viram que estou só
de camiseta e calcinha no meio da sala.
— O que foi, Apolo? Tá com fome? — pergunto para o cão em
meu colo, acariciando seu pelo cinza. — Preciso desligar, mamãe.
Eu amo vocês!
Espero que eles me respondam e encerro a ligação, o sorriso
falso evaporando do meu rosto.
— Bom trabalho, garoto — elogio, afundando a minha cabeça
em seu pescoço, abraçando seu tronco e me segurando ali, por um
segundo. Me sinto exausta, somente falar com meus pais por
telefone é o suficiente para drenar as minhas energias. Meu maior
desejo é me enrolar no sofá e dormir, mas sei o que me espera
quando fechar os olhos. Então suspiro profundamente antes de me
levantar e arrumar a bagunça em que se encontra a sala.
Quando tudo está de volta aos seus devidos lugares, me
acomodo novamente em meu lugar, pegando meu celular e o meu
kindle, ansiosa para retornar a minha leitura. Mas quando checo
minhas notificações vejo quase dez mensagens da minha melhor
amiga.
Liv: Vamos ao shopping essa semana?
Liv: Você não pode me ignorar pra sempre,
sabe?
Exagerada, eu nem estava a ignorando. Nos falávamos todos
os dias, mas como ela é ansiosa e eu não a respondi nos primeiros
dez minutos depois que me mandou mensagem, já parte pro surto.
Liv: Todas as nossas lojas favoritas estão com
promoção!
Liv: Eu sei que você não acha que está pronta
para sair de casa ainda, mas só vai saber se
tentar.
Liv: Prometo que voltamos a qualquer
momento.
Liv: Sem perguntas, sem cobranças, sem
expectativa.
Olivia Jones me conhece tão bem que ela sabe que meu medo
não é apenas sair de casa, mas sair e falhar. Não conseguir lidar
com o mundo além dos portões da minha casa, da minha fortaleza.
Liv: Você é mais forte do que imagina.
Liv: Pelo menos me promete que vai pensar?
Isso eu podia fazer, podia pensar sobre o assunto, podia
tentar.
Assim que entro em casa ouço o som inconfundível de patas
correndo para me receber. Nossos três cachorros aparecem no
segundo seguinte e depois de se empurrar para ganhar carinho
atrás das orelhas. voltam para a cozinha de onde vieram.
Caminho em seu encalço sabendo que onde quer que eles
estejam indo, Brooke estará. A melodia melancólica me alcança
antes de eu vê-la. A loira tem os cabelos presos em um rabo de
cavalo e balança a corpo ao compasso da música, cantarolando
enquanto mexe algo em uma panela de costas para mim. A tristeza
em sua voz estilhaça algo em mim, é a dor pura que ela só se
permite expressar quando acredita estar completamente sozinha.
A necessidade de lhe arrancar um sorriso, de curar seu
coração, de fazê-la esquecer a dor nem que seja por apenas um
segundo é tudo em que consigo pensar enquanto me aproximo.
— Vai queimar nosso jantar de novo, babygirl? — brinco antes
de subir a mão por sua nuca vendo sua pele se arrepiar.
— Foi uma vez, Rafael! — protesta, se virando com a colher
de pau na mão. — E se eu bem me lembro a culpa foi inteiramente
sua, que me distraiu — ela me acusa, apontando com a colher em
minha direção, respingando molho vermelho em minha camiseta.
— Você não reclamou da distração quando a minha cara
estava enfiada entre as suas pernas — provoco vendo suas
bochechas enrubescerem com a resposta, apoio as mãos em sua
cintura e a puxo para mim, depositando um beijo na ponta de seu
nariz.
— Sai daqui, sai — ela dá um tapa no meu ombro, mas não se
afasta, pelo contrário seu corpo se molda ao meu.
— Tem certeza que você não precisa se distrair hoje também?
— murmuro com minha boca pairando sobre a dela.
Ela fecha os olhos, e seus lábios se partem em um suspiro que
é o único convite que eu preciso para acabar com a mínima
distância entre nós. Chupo seus lábios antes de deixar minha
língua livre para explorar cada canto de sua boca.
O primeiro toque de sua língua contra a minha acende meu
corpo, incendiando o meu tesão por ela. Brooke chupa meus lábios
com luxúria, inclinando o rosto para aprofundar o beijo, mas eu
quero mais. Preciso de mais dela, da sua pele, do seu gosto.
Minhas mãos encontram sua bunda com facilidade e a aperto,
puxo Brooke para meu colo, suas pernas se enrolando ao redor da
minha cintura antes de apoiá-la contra a bancada da cozinha. Ouço
o barulho da colher caindo contra o granito quando ela a larga, para
agarrar minha nuca e puxar meus cabelos soltos.
A pontada de dor desce pela minha coluna se acumulando no
meu pau que já endurece e demanda a sensação de estar
completamente enterrado nela.
Começo a trilhar beijos por seu pescoço, descendo para seu
colo. Agradecendo aos deuses por ela estar usando uma das blusas
de alcinha que não oferecem nenhuma obstrução. Seu corpo se
contorce de prazer sob meus dedos. Nesses momentos em que a
tenho nos meus braços, quase consigo fingir que ela nunca foi
arrancada deles. Me afogo na sensação de sua pele macia contra a
minha, no seu perfume floral, nos sons de prazer deliciosos que
escapam sua garganta.
Mordo sua clavícula de leve, antes de levantar meu rosto e
encarar a imensidão verde de seus olhos enebriados de tesão.
— Achei que não iria se distrair — provoco, sem conseguir me
conter e me esquivo do tapa que vem em minha direção.
— E eu falei que sempre que me distraio a culpa é sua —
salienta, antes de puxar minha cabeça de volta para a sua, nossos
lábios se chocam, mas antes que eu possa aprofundar o beijo, ela
me empurra e pula da bancada. Quando me viro, vejo a nuvem de
fumaça branca saindo da panela.
— Isso é culpa sua! — ralha comigo.
— Deixa isso de lado, babygirl, podemos sempre pedir uma
pizza — declaro, abraçando sua cintura e esfregando minha ereção
contra sua bunda, enquanto espio o conteúdo da panela que ela
mexe fervorosamente.
— Não, eu consigo consertar — ela baixa o fogo e se vira nos
meus braços, erguendo a cabeça para me encarar. — Mas não se
você ficar aqui me atiçando, então vai caçar o que fazer. — Ela me
expulsa da cozinha com um gesto das mãos.
— Mas e se eu quiser caçar você? — provoco, me inclinando e
sugando seu lábio inferior, mordendo-o em seguida.
— Vai ficar sem jantar — ela rebate prontamente.
— Tenho minhas dúvidas quanto a isso — ela ergue uma
sobrancelha, como se me desafiasse a continuar. Ela já deveria me
conhecer melhor do que isso. — Você é uma refeição completa,
babygirl.
— Você é impossível — ela reclama, desviando o olhar.
— E você está queimando a comida de novo — debocho.
— Merda, que inferno, puta que pariu também… —A atenção
da loira se volta para o fogão com rapidez, a mudança em seu tom
atraindo a atenção dos cães que levantam as cabeças olhando dela
para mim.
Começo a rir e recebo um olhar mortal em resposta, levanto as
mãos em rendição e deixo a cozinha. Ajusto meu pau frustrado nas
calças, suas reclamações me acompanham até a metade do
corredor, e posso jurar que ela fala com os cães algo parecido com:
“depois a culpa é minha, mas quem consegue se concentrar com
um homem daqueles tocando na gente?”. Pelo menos é isso que eu
entendo e o sorriso orgulhoso que se espalha por meus lábios só
deixa meu rosto quando me acomodo na minha cadeira no
escritório, onde meus irmãos já estão. A tensão é palpável e tão
logo eu entro ela me contamina, meu corpo enrijece como se
estivesse se preparando para a próxima batalha.
Kyle acena com a cabeça em minha direção e volta a encarar
o caçula que está sentado na poltrona ao meu lado, lendo algum
documento com a testa franzida.
— Isso não pode estar certo — Seth murmura, colocando o
papel sobre a mesa.
— Já chequei três vezes — o loiro declara, cruzando as mãos
sobre a mesa. Seu olhar recai sobre mim, seu tom duro quando
continua: — Patrick não aparece no trabalho há dois meses. O
apartamento que ele e Brooke dividiam está vazio e não há
atividade em seus cartões.
— Você não acha mesmo que o stalker pode ser o Patrick? —
pergunto, incredulidade colorindo a minha voz. Num primeiro
momento, quando ficou claro que o perseguidor de Brooke não
estava ligado com os nossos ex-funcionários, Patrick passou pela
minha cabeça, claro que sim, mas havia uma razão para eu tê-lo
descartado.
— Gostaria de poder afirmar com absoluta confiança que ele
não é, mas essa é a primeira pista concreta que temos em meses —
Kyle me responde.
— Mas nós investigamos seus antecedentes quando eles se
envolveram — protesto.
A pesquisa tinha coberto até mesmo os nomes de suas
professoras do jardim de infância. Ele não era uma ameaça, não a
merecia, mas nem por um momento consideramos que pudesse lhe
fazer algum mal.
— Eu sei, Raffi — Kyle responde, a frustração evidente na
cadência de suas palavras. — Mas é extremamente suspeito que
ele tenha sumido logo após a última carta do stalker. E registros
podem ser alterados, tem algo extremamente errado aqui.
— Nunca fui com a cara de mierda dele mesmo — declaro.
Minha mente repassando todas as memórias que tenho do cretino,
sinto meu estômago embrulhar quando lembro das mãos imundas
dele sobre Brooke.
Seth esfrega uma mão sobre o rosto, exalando ruidosamente.
— É isso, precisamos contar para ela — seu tom é digno de
um enterro.
— Nem pensar — Kyle protesta antes mesmo do caçula
terminar a frase.
— Seja racional, irmão — Seth rebate.
— Por mais que me doa concordar, ele está certo — declaro.
A ideia de fazer Brooke revisitar os acontecimentos do início
do verão, fazem meu estômago revirar. Uma mistura de culpa,
preocupação e insuficiência se mesclando dentro de mim até formar
um nó na minha garganta. Porém, se isso for lhe dar uma proteção
e segurança maior, preciso engolir meu orgulho e colocar o seu
bem-estar em primeiro lugar.
— Vocês perderam a noção — o loiro esbraveja. — Ela não sai
de casa, está perfeitamente segura, ninguém pode feri-la aqui. —
Ele abre os braços com violência, englobando a sala. — Não existe
razão para preocupá-la, nem mesmo temos certeza que é ele. Nós
três podemos resolver isso — conclui, suas palavras se atropelam,
sua ansiedade em nos convencer, ou talvez convencer a si mesmo.
— Foi o que dissemos dois meses atrás, e não estamos mais
perto hoje do que estávamos naquele dia — Seth diz, seus punhos
se abrindo e fechando. — Se o stalker for mesmo Patrick e Brooke
encontrá-lo, ela pode baixar a guarda. Até agora ele não
demonstrou tendências violentas, mas isso não é garantia que
depois de tanto tempo esperando, observando, não evoluirá para
tal.
— Fora que ela precisa começar a sair de casa, Kyle —
reforço. — Brooke precisa recuperar sua independência, não
estamos ajudando ao confiná-la nessa casa.
— Ela não quer sair, porra!
— Quando foi a última vez que perguntou? — Seth questiona.
— Ela está por um fio, Thorne. Ela não dorme por mais do que
poucas horas, seus pesadelos são constantes. Ela mal está
conseguindo se manter funcionando. O verão praticamente acabou
e ela não surfou nenhuma vez, quando foi a última vez que isso
aconteceu? — A impotência me corta como navalha, a mulher que
eu amo está sofrendo e não posso fazer nada, meu olhar recai
sobre Seth. — Como você conseguiu? — pergunto, encarando seus
olhos azuis confusos. — Depois de Kandahar... — esclareço e a
culpa me preenche quando vejo seu olhar endurecer, o maxilar
travar, seus braços caem ao seu lado, inertes.
Pelas últimas semanas debati sobre fazer essa pergunta,
sobre arrastar o caçula para esse inferno de memórias. Mas,
infelizmente, nosso irmão é o único que entende realmente o que
Brooke está passando. O que ele viveu foi exponencialmente pior, é
claro. Ao contrário dos três dias que a loira sofreu, o caçula tinha
ficado em cativeiro por 97 dias. Seth respira profundamente
algumas vezes.
Meu instinto é pedir desculpas, dizer que ele não precisa
contar se não estiver pronto, lhe dar espaço como tenho feito por
todos esses anos. Kyle o observa em silêncio, a veia em sua
têmpora saltando como se ele enfrentasse o mesmo dilema.
— Brooke — ele sussurra por fim, reverência em sua voz, sua
expressão perdida em memórias. — Vocês me deixaram em paz,
me deram espaço porque foi isso que eu pedi, mas não era o que
eu precisava — começa, a voz distante. — Brooke, não. Eu também
não sabia que essa seria a chave, até acontecer.
Ele abre a boca como se fosse continuar, algo em seus olhos
muda, como se ele reconsiderasse, o início de um sorriso aparece
no canto de seus lábios, mas ele não divide o que quer que seja que
passou pela sua cabeça, pelo contrário se volta para Kyle e declara:
— Uma hora ou outra, ela vai precisar sair.
— Vou retomar seu treinamento de tiro — digo e Seth meneia
a cabeça concordando. Ela voltou aos poucos ao treinamento físico
com o caçula, mas como não temos um ambiente controlado dentro
de casa para a prática com armas, esse ficou em suspenso. Se for
honesto comigo mesmo, tive medo de levá-la de volta, a última vez
que atirou foi quando matou aquele hijo de puta que a tinha
torturado. Não queria forçá-la a confrontar aquela lembrança.
Minha atenção vai para Kyle que balança a cabeça
ligeiramente e sorrio, passei os últimos dias reclamando de como
ele vem agindo e, a minha maneira, tenho feito o mesmo.
— E nós não poderemos sempre estar com ela — Seth
continua, olhando de mim para nosso irmão. — No fundo você sabe
que estamos certos, pode não querer admitir. Não gosto disso tanto
quanto você, mas é melhor estarmos preparados, do que viver
numa ilusão.
Os ombros do loiro cedem, não sei se é a revelação de Seth,
ou a verdade por trás de suas palavras que finalmente o
convencem.
— Não posso perdê-la de novo — confessa em um sussurro
que quase não escuto. O sentimento ecoa em mim.
— Não vamos — respondo, por fim. A convicção em minha voz
surpreende até mesmo a mim. — Seth está certo, nem sempre um
de nós poderá estar com ela, afinal, temos os nossos trabalhos e ela
tem o dela, mas nós somos donos da melhor empresa de segurança
do país. Com certeza, um dos nossos homens pode assumir o posto
de sombra dela, quando não pudermos.
— Temos tudo preparado para as turmas que começam na
próxima semana? — Kyle pergunta olhando para Raffi.
— Quase tudo. Paula veio me falar que dois dos novos
recrutas ainda não fizeram os exames admissionais, mas se você
está perguntando das instalações, tudo está em ordem, a última
inspeção de segurança foi hoje e tudo foi aprovado.
— Eles instalaram o equipamento novo na academia? — Seth
questiona.
— Eu acho que sim, não desci para conferir.
— Tudo bem, eu passo na sede amanhã antes de ir pro
estúdio. Tenho alguns clientes marcados para tatuar na quinta-feira.
É uma cena tão cotidiana, tão normal vê-los discutindo sobre o
trabalho. Mas sinto meu coração se encher até doer, mas é uma dor
boa, um lembrete de que estou aqui com eles, podendo curtir um
jantar quase tranquilo na nossa casa. Esses três homens são os
pilares da minha vida há tanto tempo. Nem nos sonhos mais
absurdos da Brooke de 14 anos eu me imaginei em uma relação
com os três, mas aqui estamos quase cinco meses depois do dia
em que me mudei, e não consigo nem mesmo visualizar algo
diferente do que vivo com eles.
O mesmo reconhecimento do dia em que eles me buscaram
me preenche, a sensação de que cada passo que eu dei sempre foi
para me trazer para cá, para eles.
E é por isso que você tem mentido para eles? o pensamento
cruel me corta. Não estou mentindo, estou esperando o momento
certo. Justifico para mim mesma. Meu olhar vai de Seth para Raffi e
então Kyle, rindo sobre alguma piada que eu não ouvi enquanto
estava perdida em pensamentos.
O loiro inclina a cabeça, me olhando com atenção, como se
pudesse perceber a diferença em meu humor.
— O que foi, Sunshine?
— Preciso contar algo para vocês. — Minha declaração é
recebida pelo som dos talheres batendo na cerâmica, e sinto seus
olhares sobre mim. — Não é nada sério — aviso.
Meu coração começa a acelerar e não sei porque estou tão
nervosa.
— Eu decidi tirar um ano sabático, não voltarei a escola
Greenbriar em setembro — declaro pela primeira vez em voz alta,
as palavras parecem retirar toneladas dos meus ombros.
— Acho que é uma ótima decisão, Abelhinha — Seth diz, sua
mão envolvendo a minha sobre a mesa.
— A sua saúde sempre será a prioridade — Raffi concorda.
— Realmente depois de tudo que aconteceu, você merece tirar
o tempo que precisar — Kyle adiciona. — Já informou à escola?
— Sim, na semana passada — respondo, desviando o olhar
para o meu prato. — Não sabia como contar para vocês, mas não
queria ter uma mentira entre nós — declaro e os três se entreolham.
O clima na sala de jantar muda em um instante, uma tensão
parece tomar todos eles, que se reacomodam em suas cadeiras
como se estivessem subitamente desconfortáveis. Eles continuam
sua conversa silenciosa só com olhares, uma angústia inquietante
começa a se espalhar pelo meu corpo e só percebo que comecei a
tremer quando a mão de Seth aperta a minha atraindo minha
atenção para ele. Seus olhos cheios de preocupação encontrando
os meus.
— O que foi? — pergunto.
É Kyle que responde e me viro para ele.
— Brooke, lembra os presentes que você estava recebendo?
— Seu tom é o mesmo que ele tinha quando eu era criança e ele
veio me contar que tinha atropelado minha boneca favorita com sua
bicicleta cheia de lama. Já sabia que, o que estava prestes a me
contar não era coisa boa, como se toda a tensão que poderia ser
cortada com uma faca não servisse de indicação suficiente.
— O que tem eles? — minha perna começa a balançar
involuntariamente. — Eram pegadinhas dos caras que... — meus
olhos ardem e sou obrigada a piscar várias vezes para espantar as
lágrimas.
— Essa tinha sido a nossa primeira impressão também — Kyle
continua, ele parece engolir em seco antes de continuar. — Mas a
última carta nos fez perceber que tínhamos errado.
Meu coração começa a martelar.
— Que carta? — pergunto.
— Depois que você voltou pra casa, recebeu mais uma carta,
um bilhete na verdade — Raffi explica.
— Ficou claro que os presentes não tinham sido das mesmas
pessoas que orquestraram o seu... — Seth hesita, respirando fundo
antes de completar. — Sequestro.
Aquela palavra me transporta de volta ao armazém fedido e
quase sinto minhas costelas se quebrando novamente, cerro meus
punhos por instinto, tentando proteger meus dedos de uma ameaça
que já não existe mais. Eu tinha garantido isso, não tinha?
Balanço a minha cabeça espantando a memória e tento dar
sentido as suas palavras.
— Outra pessoa?
Os três meneiam a cabeça.
— Quem? Por quê? — As perguntas deixam a minha boca na
mesma velocidade em que as penso. — O que essa pessoa quer de
mim? Por que eu?
Sinto o ar começar a faltar, as paredes parecem estar se
fechando ao meu redor, e o tecido macio da minha blusa começa a
me pinicar. Não lembro de dar o comando ao meu cérebro para que
eu me levantasse, mas quando me dou conta já estou de pé e me
afastando da mesa. Nem sei para onde pretendia ir, mas minha
mente finalmente compreende o que eles estão dizendo e eu
paraliso no lugar. Preciso perguntar, só para o caso de estar errada.
Por favor, Deus, que eu esteja errada.
— Eu estava sendo seguida? — o pavor em minha voz me
assusta, Seth aperta a minha mão mais uma vez, me ancorando no
presente, me lembrando sem usar quaisquer palavras que estou
segura, estou em casa.
— Não sabemos o motivo, Sunshine. Mas acredite em mim,
estamos fazendo tudo ao nosso alcance para descobrir quem está
por trás disso. — Kyle se levanta, contornando a mesa para me
abraçar, assim que seus braços me envolvem sinto uma parte da
aflição me deixar e meus pulmões parecem se encher de ar
finalmente.
— Temos um suspeito — Raffi diz, também se levantando e se
aproximando. Os três me rodeiam e a inquietação que estava
prestes a me dilacerar parece evaporar. — O que você sabe sobre
Patrick?
— O Patrick? Não — descarto rapidamente, mas aquela voz
que sempre duvida de tudo me lembra que os presentes eram
extremamente pessoais. Indicando que a pessoa me conhecia muito
bem, mas não pode ser. Patrick era um péssimo namorado, consigo
enxergar isso agora, mas ele não é esse tipo de homem— Ele
nasceu aqui em San Jose, os pais morreram em um acidente no
verão antes de começar a universidade, não tem irmãos e tem um
tio que mora longe com quem ele não tem contato — respondo, com
tudo que eu me lembro. Ignoro as coisas que não são relevantes e
que ainda não esqueci como a sua cor favorita é vermelho, seu
prato preferido é yakissoba e como ele adorava assistir filmes de
suspense em tardes chuvosas.
— Bate com o que temos em sua ficha — Seth diz, virando o
rosto para encarar Kyle.
— Peraí, vocês têm fichas? — dou um passo para trás, me
afastando do peito do loiro.
— Falei que estávamos fazendo tudo para descobrir quem
está por trás disso, então enquanto seguimos na busca pelos
culpados pelo que aconteceu — seu olhar endurece, deixando claro
a que se refere. — Também estamos investigando todo mundo que
pode ser o seu perseguidor.
— Todo mundo, quem, exatamente?
— Todo mundo com quem você tem ou teve contato nos
últimos cinco anos — É Raffi quem me responde.
— Não podem estar falando sério. Isso cobriria meus anos na
universidade, são centenas de pessoas. — Dou um passo para trás
incrédula.
— Por isso está levando mais tempo do que tínhamos
antecipado. Nossa esperança era resolver tudo sem ter que
preocupá-la — Kyle diz, suas mãos sobem pelos meus braços até
parar nos meus ombros. — Eu sei que antes você sempre foi contra
ter um segurança, mas...
— É necessário, eu entendo — interrompo-o. Afinal, sempre
soube que essa conversa chegaria, e se for honesta depois da
informação dramática de que eu estava sendo seguida por meses,
me sentirei mais segura se não estiver sozinha. — Mas achei que
vocês fariam esse papel.
Raffi ri e suas mãos envolvem a minha cintura me puxando
para mais perto dele.
— Achou foi? — indaga ainda rindo.
— Claro. De que adianta eu ter três n... ex-fuzileiros de elite
por perto? — corrijo rapidamente, dando de ombros como se não
tivesse quase deixado escapar a palavra namorados. Nunca demos
um nome para o que somos um para o outro, mas em algum
momento eles deixaram de ser apenas meus amigos e essa foi a
única forma que encontrei para descrever o que eles são para mim.
Por favor, Deus, que eles não tenham notado a minha
hesitação.
— A ideia é que seu segurança seja o nosso reserva, ele vai te
acompanhar quando um de nós não puder estar com você — Kyle
me explica.
— E já tem alguém em mente? — pergunto.
— Sim, Ethan Hart. Ele é um dos nossos melhores
funcionários, seu histórico é exemplar. Amanhã ele virá se
apresentar — o caçula me conta.
Tento lembrar se já conheci algum Ethan, mas não consigo
ligar o nome a nenhum rosto.
— Ele também é um como você nos chamou — Kyle brinca. —
Ah, ex-fuzileiro de elite, mas ele é mais novo do que nós. Acho que
ele é só um ou dois anos mais velho do que você, Brooke.
— Sim, sim, ele é ótimo. Não é melhor do que nós, claro —
Raffi diz, cheio de si e dá um passo para trás me levando com ele.
— Quem chegar primeiro na sala escolhe o filme hoje — anuncia,
me soltando.
Os outros dois se adiantam para o corredor, o alvoroço
agitando os cães que dormiam pacificamente no canto fazendo com
que corram para se juntar aos donos.
Ethan Hart é lindo. Esse é o primeiro pensamento que cruza
minha mente quando o homem entra na sala, o cabelo loiro raspado
quase rente a sua cabeça e a barba curta e bem cuidada
emolduram seu rosto, mas o que captura a minha atenção são seus
olhos verdes, ou eles eram azuis? A cor era tão clara que
dependendo de como a luz da sala refletia neles, eles pareciam
mudar de tom.
Largo meu kindle no sofá e me levanto relutante dos braços de
Seth que pausa o episódio da série que estava assistindo e também
fica de pé. Sua mão repousando na base da minha coluna, me
reassegurando de sua presença, da minha segurança.
— Brooke, esse é Ethan Hart — Kyle o apresenta, como se eu
não soubesse que ele viria hoje, ou não tivessem me mostrado sua
ficha de manhã. — Ethan, essa é Brooke, minha namorada.
Namorada? Meu cérebro fica repetindo essa palavra sem parar
e só me dou conta de que Rafael se juntou a nós quando ele toca
de leve meu braço, me trazendo de volta ao presente, apenas para
me tirar do eixo novamente com suas próximas palavras:
— Nossa namorada — corrige, meu olhar dispara para ele que
sorri piscando um olho em minha direção, e a mão de Seth me
aperta em resposta, como se concordando.
Meu coração parece dar três saltos no peito, sinto minhas
bochechas corarem com a forma casual como eles me chamam de
namorada, como se fosse óbvio. Ontem mesmo eu fiquei insegura
de me referir à eles dessa forma. Tento ficar chateada, nem conheço
o homem à minha frente e sei que a sociedade não aceita muito
bem relacionamentos fora do padrão, porém é impossível quando a
alegria abafa qualquer outro sentimento e sinto meus lábios se
abrirem em um sorriso.
Mas, apesar do meu medo, meu novo segurança sorri em
resposta e estica o braço para me cumprimentar.
— É um prazer conhecê-la, Brooke.
— O prazer é meu — aperto sua mão. — O que fez para ser
castigado sendo minha sombra?
— Não é um castigo, é uma honra — Seu olhar se desvia para
os meus namorados, minha eu interno bate palmas por poder usar
com confiança o termo e vejo na expressão de Ethan toda a
admiração que tem por eles. Ainda com a atenção sobre os seus
chefes ele continua: — Prometo guardá-la com a minha própria vida.
— Sabemos disso, Ethan — Kyle aperta o ombro dele.
— Não esperávamos nada diferente — Seth acrescenta.
— Mas, como vamos te explicar, vai ser um trabalho bem
tranquilo — Raffi diz, passando um braço pelos ombros de Ethan e
o guiando para o cômodo adjacente, oferecendo uma das cadeiras
em volta da longa mesa.
— Namorada, é? — indago em um sussurro quando ficamos
só eu, Seth e Kyle.
O loiro se vira para mim e arqueia uma sobrancelha.
— Errei?
Torço os lábios, fingindo pensar.
— Só fui pega de surpresa — respondo, virando o rosto para
encarar Seth. — Você está de acordo com isso?
Sua resposta é subir a mão pela minha coluna, me causando
calafrios até alcançar minha nuca e me puxar para ele. Sua boca se
choca contra a minha e sua língua força passagem por entre meus
lábios, sinto meu corpo inteiro explodir em calor com o simples
toque da sua língua contra a minha. É um beijo rápido, mas
avassalador, com Seth explorando cada canto de minha boca antes
de se afastar, trazendo meu lábio inferior entre seus dentes e
mordendo-o em seguida até que eu sinta uma pontada de dor que
viaja diretamente até meu ventre.
— Vou aceitar isso como um sim — murmuro e seu lábio se
curva ligeiramente.
— Deveria. — Seth me dá mais um selinho. — Vamos? —
convida, segurando a minha mão e me acompanhando até a sala.
Ele puxa uma cadeira e espera que eu me sente ao lado de
Kyle antes de tomar seu lugar do meu outro lado.
Raffi está resumindo os acontecimentos do início do verão e
me forço a respirar normalmente. O ar entra. Sai. Entra. Sai. Estou
em casa, repito mentalmente. A mão quente de Kyle aperta o meu
joelho sob a mesa e instantaneamente me sinto relaxada.
Eles conversam sobre os presentes, as suspeitas, e o motivo
pelo qual decidiram que eu precisava de um segurança. Ouvir as
coisas que me aconteceram pela perspectiva deles torna tudo mais
ameaçador, e, de alguma forma, mais real. É libertador ter meus
medos e sentimentos validados.
Não é de se admirar que eu não consiga dormir.
Eles continuam discutindo as tarefas que seriam a
responsabilidade de Ethan e sua atenção e determinação é visível.
Assim como os rapazes, ele também vivenciou o combate, seu
histórico é exemplar e ele recebeu muitas honrarias quando se
afastou do exército.
O toque do celular de Kyle me faz pular na cadeira,
sobressaltada.
— Desculpem, é trabalho, eu preciso atender — ele diz, se
levantando e beijando minha têmpora antes de aceitar a chamada.
— Thorne.
— Alguma pergunta? — Seth questiona.
— Quando eu começo?
Raffi e Seth me olham, mas um outro celular tocando me salva
de ter que responder. Levo alguns segundos para perceber que é o
meu. O identificador de chamadas diz que é a guarita.
— Desculpem. — Me levanto, aceitando a chamada. — Alô?
— Boa tarde, senhorita Brooke — Cumprimenta Damien, um
dos guardas. — A senhorita Jones está aqui para vê-la.
— Olívia?
— Sim, senhorita. — Já pedi mil vezes para me chamar de
Brooke, mas ele insiste na formalidade. — Ela disse que veio buscar
a senhorita, que vocês têm planos para hoje, posso deixá-la entrar?
Consigo ouvir minha melhor amiga gritar ao fundo: — Era
surpresa, Damien, meu deus! — ela continua reclamando, mas seu
som fica abafado, como se o guarda tivesse se afastado dela.
— Deixe-a entrar, Damien — respondo, mas minha mente
tenta lembrar de ter marcado algo com Olívia, mas não consigo
recordar de nada, a não ser o dia em que disse que concordei em
pensar em ir com ela para o shopping.
Ela não viria me buscar pessoalmente, quem eu queria
enganar? É claro que ela viria.
— O que foi, babygirl? — Raffi pergunta, preocupação em seu
tom.
— Quem era? — Seth pressiona.
— Liv. Acho que ela cansou das minhas desculpas e falsas
promessas e veio me arrastar para longe de casa — informo.
— Pode ser uma boa ideia, Brooke — Raffi diz, me
encorajando. — Vou ligar para a sede e pedir para alguém cobrir as
minhas aulas de hoje — adiciona já retirando o celular do bolso.
— Eu falo com o Tristan, tenho certeza que ele consegue
remarcar meus horários de hoje — Seth acrescenta.
— Ficaram doidos? É claro que não vão cancelar nada,
acabaram de me apresentar meu novo segurança precisamente
para situações como essa, eu vou com a Liv e vocês dois vão
trabalhar.
— Tatuar é um hobby, não preciso ir hoje — Seth protesta.
— Você tem clientes marcados? — Ele meneia a cabeça. —
Tristan está contando com você? — Ele concorda mais uma vez,
resignado. — E você vai deixá-lo na mão para ir passear no
shopping por horas com a Olivia?
— Por você? Vou a qualquer lugar, Abelhinha.
Meu coração chega a errar a batida com a convicção em suas
palavras, em sua expressão, me levando de volta ao dia do meu
resgate e a promessa que ele me fez naquele dia: “A partir de
agora, sempre que se sentir perdida na escuridão, estenda a mão e
eu estarei lá”.
Me viro para Ethan antes que meus namorados consigam me
fazer mudar de ideia, sei que preciso fazer isso. — O que você acha
de começar hoje, Ethan?
— Minha agenda está livre, Senhorita Roberts.
— Brooke, só Brooke — corrijo. — Agora, se me dão licença,
preciso receber minha melhor amiga.
Sigo para o hall de entrada, ouvindo os latidos dos cães que
ficaram do lado de fora para que pudéssemos receber Ethan,
parece que eles encontraram Liv antes de mim. Quando abro a
porta ela está agachada, os cabelos escondendo seu rosto
enquanto tenta dar carinho para os três ao mesmo tempo.
Apolo é o primeiro a notar a minha presença e correr ao meu
encontro.
— Oi, garoto.
— Aí está ela! Já tinha até me esquecido da sua aparência —
Liv me cumprimenta, ficando de pé e vindo me abraçar ao mesmo
tempo em que Cérbero e Banguela vem cheirar minhas pernas.
— Exagerada, nos falamos por chamada de vídeo ontem. —
Meus braços a envolvem e me dou conta do quanto senti falta da
morena.
— Não é a mesma coisa — ela resmunga contra meu cabelo.
— Eu sei — concordo, apertando-a ainda mais.
— Suas costelas já estão curadas, então? — pergunta quando
nos afastamos e meneio a cabeça, entrando em casa.
Ela suspira e segura a minha mão.
— Eu sei que você está insegura de sair, mas não pode fugir
do mundo para sempre, B. Vamos dar uma volta, prometo que se a
qualquer momento você quiser voltar, entramos no carro e voltamos.
Sem julgamentos, sem cobranças, podemos só ir ao drive thru
daquela cafeteria no centro. O que você quiser!
Seu olhar está cheio de determinação, mas além disso vejo
aceitação e amor.
— Tudo bem — concordo, e ela se mostra surpresa com a
rapidez com que aceitei A verdade é que eu realmente passei os
últimos dias contemplando como disse que faria. E o fato de que ela
veio até aqui... não consigo decepcioná-la. E saber que eu tenho a
opção de voltar a qualquer momento é um alívio. — Mas não iremos
sozinhas.
— Tá, quanto mais melhor. Qual dos seus protetores vai nos
acompanhar?
Sorrio, sem responder, ansiosa por ver a reação dela ao meu
novo segurança.
A cada poucos passos, Liv se vira para encarar Ethan que
caminha atrás de nós. Ela enlaça o braço no meu e se aproxima,
sussurrando:
— O que é que eles comem na Hades’ Men? Ou ser gostoso é
algum pré-requisito para ser contratado?
Começo a rir e me viro para ela no mesmo instante que um
grupo de homens sai de uma loja de artigos esportivos esbarrando
em nós. Mal registro seus pedidos educados de desculpas, o som
dos meus batimentos cardíacos acelerados abafando tudo ao meu
redor e minha respiração fica presa na garganta. É claro que o
shopping estaria lotado, todas as lojas estão com promoções de fim
de verão e as pessoas estão aproveitando o ar condicionado para
se refrescar do calor que não dá trégua do lado de fora.
Talvez esse não tenha sido o melhor lugar para ir na minha
primeira vez fora de casa.
Liv esfrega meu braço chamando a minha atenção, me viro
para ela encontrando seus olhos azuis cheios de preocupação. Ela
meneia a cabeça como se perguntasse se estou bem.
— Brooke? — Ethan se aproxima e minha amiga o olha de
relance, como se não conseguisse se conter.
— Tudo certo — minto, e enquanto Ethan meneia a cabeça
voltando a se colocar a um passo de distância, minha amiga arqueia
a sobrancelha deixando claro que não a enganei. — Só me
assustei, onde você quer ir primeiro?
— Preciso comprar roupas novas pra combinar com meu novo
cargo de designer!
— Está falando sério? Eles finalmente te contrataram? —
pergunto enquanto a abraço, um sorriso tão grande em meu rosto
que minhas bochechas doem.
— Não. — ela se afasta, torcendo os lábios antes de continuar.
— Eles nunca me contratariam. Isso ficou evidente quando, ao invés
de me promoverem, eles contrataram outro cara recém-formado.
Então comecei a mandar currículos, ontem fui a uma entrevista, e
me ligaram hoje avisando que consegui a vaga.
— Estou tão feliz por você! — Abraço-a novamente. — Tenho
certeza que você vai arrasar.
— Obrigada, quando recebi a notícia só consegui pensar em te
contar, você sempre me apoiou e incentivou. Foi por isso que fui te
buscar, queria você comigo para celebrar! — Ela enlaça meu braço
mais uma vez. — Isso me lembra que vamos poder almoçar juntas
todos os dias! O escritório fica a poucas quadras da escola.
— Não vou trabalhar esse ano, Liv, pedi para tirar um ano
sabático.
— É uma decisão inteligente — ela responde. — Você já se
decidiu sobre a terapia?
— Ainda não. Um passo de cada vez, Liv — declaro. Liv não
sabe os detalhes do que aconteceu, mas quando ela me visitou
meus ferimentos e a mentira dos rapazes não batiam, então lhe
contei uma versão resumida. Naquela noite ela me mandou o
contato de uma psicóloga, uma tal de doutora Luana Masseria que
atendia remotamente, e desde então volta e meia ela toca no
assunto.
— Tudo bem, por hora um pouco de terapia em forma de
compras vai ter que servir!
Voltamos a caminhar, e Liv olha para trás mais uma vez e
suspira.
— Às vezes é difícil ser sua amiga, sabia? — comenta em tom
acusatório. — É injusto que agora você tenha mais um homem
gostoso só pra você. É até egoísta se pensar bem!
— Mas ele não é meu — justifico. — Sinta-se à vontade para
tentar a sorte.
— Gosto desse plano — ela diz e começa a rir. Sua risada é
tão contagiante que me junto a ela.
Olivia Jones não perde tempo antes de colocar o seu plano em
ação. Em cada loja que entramos ela escolhe as roupas, e faz
questão de provar e exibir o seu outfit com a desculpa de estar
pedindo a minha opinião, mas seus olhos estão sempre focados no
segurança. Que por sua vez mantem a postura séria, mas posso
jurar que vejo algo faiscar em seu olhar com algumas das peças que
minha amiga prova. Faço questão de incentivá-la a comprar essas.
Conforme o tempo passa me dou conta de como senti falta de
Liv e de dias assim. Sua amizade me deixa leve, a ansiedade que
eu senti quando entrei no shopping se dissipou quase por inteiro, e
sei que isso é por causa da morena. Eu sempre quis uma irmã
quando era criança, alguém para brincar, contar meus segredos,
reclamar da escola, mas meus pais estavam felizes com uma única
filha. Porém o destino me trouxe Olivia, a irmã que eu nunca tive.
Nós dividimos o quarto no dormitório da Stanford e nossa
amizade foi instantânea, era aquele tipo que todo mundo sempre lê
sobre ou vê em seriados. Ela era a Blair para a minha Serena[2], a
Brooke Davis para a minha Haley James [3].
— Ah! Estou cansada — declara se sentando ao meu lado no
sofá da loja depois de pagar pelas suas mais novas compras. —
Vamos comprar um café?
— A temporada de Pumpkin Spice já começou?
— Acho que na segunda passada.
— E você me fez entrar em loja após loja sem me dizer isso?
Eu poderia estar tomando um frappuccino de Pumpkin Spice
enquanto espero a senhorita provar todas as roupas do shopping?
— pergunto, fingindo indignação e me levantando.
— Desculpa, eu tinha esquecido que você é um monstro
viciado — ela levanta as mãos em sinal de rendição. — De qualquer
forma, você não tem uma máquina de expresso em casa?
— Não, quem tem é o Rafael e ele ainda não achou o xarope
certo.
— Isso me parece um problema inteiramente seu. Mas, vamos
embora encontrar seu café antes que você vire um gremlin
enlouquecido. — Ela se levanta e eu a ajudo a carregar as sacolas
para fora da loja.
— E você, Ethan, também tem algum vício que nós
deveríamos saber? — minha amiga pergunta.
Não escuto a sua resposta porque um estrondo como um tiro
preenche o ar, meu corpo entra em estado de alerta, começo a
tremer e minha respiração falha. O som continua ecoando na minha
cabeça, pânico me domina e começo a correr.
Eles não podem me pegar de novo, não posso ser levada.
As lágrimas queimam meus olhos e embaçam a minha visão,
entro em uma porta qualquer tentando encontrar algum lugar
seguro, algum lugar para me esconder. Meu peito arde enquanto
tento fazer com que ar o suficiente preencha meus pulmões.
Quando me deparo com várias portas enfileiradas percebo que devo
ter entrado em alguma loja, me escondo em um dos provadores.
Meus joelhos perdem a força e me encolho no chão, a potência de
meus soluços sacode meu corpo. Esfrego meus braços tentando
espantar o frio que se espalha por mim.
O som do tiro continua repassando na minha mente, me
levando de volta praquele armazém imundo, revivendo o momento
em que ouvi a porta de ferro ser aberta, meus homens estavam lá
para me buscar, e tudo que sucedeu até os últimos tiros, aqueles
que eu mesma disparei. Vejo a bala perfurando a pele do meu
torturador, seus olhos sem vida encarando o teto. De novo, e de
novo. Um pesadelo que nunca tem fim.
A sineta toca quando abro a porta e Tristan levanta o rosto do
computador para me cumprimentar.
— E aí, cara? Tudo bem?
— Tudo — respondo caminhando para a minha estação de
trabalho.
Tristan Cox era um dos meus poucos amigos fora Thorne e
Martinez. Meu tempo nos Fuzileiros e minha função como
interrogador deixaram certos vestígios que eu só conseguia
trabalhar quando estava tatuando. Raffi foi minha cobaia enquanto
eu aprendia e Tristan me ensinou o básico quando eu ainda estava
alistado, sempre que eu estava de férias acabava vindo pra cá,
exorcizar o que tinha visto e feito através da arte e...
— Ótimo, porque adivinha quem tem horário marcado hoje —
seu tom debochado me tira dos meus pensamentos e me faz virar
para vê-lo com um sorriso debochado contornando o balcão da
recepção. — Sua maior fã.
— Quem?
— Você sabe, sua admiradora nem um pouco secreta.
— O que ela quer fazer dessa vez? — pergunto, sabendo a
quem ele se refere.
Eu estava trabalhando quando ela veio acompanhar uma
amiga que ia colocar um piercing, foi sua primeira vez no estúdio.
Mas durante todo o tempo em que esteve aqui eu conseguia sentir o
peso de seu olhar sob mim, e desde então a ruiva vem a cada
poucos meses fazer uma tatuagem pequena, delicada.
— Não sei direito. Ela só ligou para marcar e exigiu que fosse
com você.
— E você não se preocupou em perguntar?
— E faz diferença? — Ele dá de ombros. — Contanto que
você seja o artista, ela não se importa com o preço.
— Melhor eu começar a arrumar as minhas coisas então —
respondo.
Checo meu celular para ver se Brooke ou Ethan mandaram
mensagem. Sei que é importante que ela saia de casa, passei as
últimas semanas a incentivando para isso, mas saber que ela não
está a salvo em casa me deixa nervoso, ansioso. Nada vai
acontecer, me reasseguro. Ethan é bom, Brooke está segura, não
vai baixar a guarda.
Volto a higienizar a cadeira me concentrando na tarefa física e
tentando bloquear todos os cenários caóticos que minha mente
insiste em conjurar e quando termino de preparar a máquina de
tatuar ouço a sineta na porta. A ruiva entra e como se seus olhos
fossem treinados ela me encontra no segundo seguinte, abrindo um
sorriso sensual e caminhando em minha direção, ignorando Tristan
por completo.
— Oi Seth, quanto tempo — ela me cumprimenta, tocando
meu braço com muito mais intimidade do que deveria.
Eu me afasto ligeiramente.
— Oi. Pois é, tirei uns meses de férias. O que você quer fazer
hoje? — pergunto, indicando a cadeira.
Ela se senta e puxa o celular do bolso, virando-o para mim e
me mostrando a sua escolha.
— Onde você vai ser?
Suas bochechas coram e ela desvia o olhar antes de me
responder.
— Na bunda, do lado direito.
— Tudo bem, pode mandar para o WhatsApp do estúdio pro
Tristan imprimir e eu fazer o decalque, ou prefere que eu desenhe?
— Eu mando.
Me levanto e vou pegar a impressão e preparar o material.
Quando eu volto, ela já está de bruços na cadeira.
— Pode me indicar onde exatamente quer o desenho?
Ela se vira com um sorriso e desliza o short de malha quase
por inteiro o que é muito mais do que seria necessário para uma
tatuagem desse tamanho.
— Bem aqui — ela indica com o dedo.
— Tudo bem. — Coloco as luvas, faço a transferência do
desenho para sua pele, e pego o espelho para que ela possa checar
se está como ela quer. — Assim?
Ela concorda.
— Vai querer nessas mesmas cores, certo?
— Sim, eu amo esse tom de azul.
— Tudo bem. Pode ficar confortável e se doer me avise. —
Testo a máquina algumas vezes, o zumbido reconfortante
preenchendo o ar e relaxando os meus músculos instantaneamente,
puxo o short dela mais para cima, deixando só a área onde vou
tatuar visível e começo a traçar o contorno do desenho.
A ruiva parece relaxar ao meu toque, mas permanece parada
enquanto me concentro em seguir as linhas. Ver o sangue brotar de
sua pele alimenta uma parte obscura dentro de mim, uma parte que
é sedenta por dor, violência e destruição. Não é o suficiente para
aplacar sua fome, seria como dar ração para um leão. Ele pode não
morrer de fome, mas não está saciado.
E é por isso que eu amo tatuar, porque eu preciso tatuar.
As pessoas tem reações diferentes é claro. Tem aquelas que
sofrem cada segundo em que estão sob a agulha, tem aquelas que
parecem relaxar e quase dormem, e então tem pessoas como a
ruiva que parecem sentir prazer.
Já estou colorindo a tatuagem quando a minha mesa de aço
inox portátil começa a vibrar, desvio o olhar e vejo o nome de Ethan
na tela do meu celular. Num instante eu desligo a máquina, tiro a
luva e levo o aparelho ao ouvido aceitando sua chamada. Nem
registro os protestos da minha cliente.
Porque assim que a ligação conecta ouço a voz desesperada
de Olivia chamando por Brooke e meu sangue gela. Aperto o celular
contra meu ouvido, tentando entender o que está acontecendo.
— Ethan! — vocifero quando ele não parece perceber que já
atendi a ligação.
— Seth, Brooke estava bem num segundo e no outro saiu
correndo pelo shopping e se escondeu num provador — é então que
eu ouço os soluços dela. Nem ouço o resto do que ele está dizendo,
não importa. Nada mais importa.
Brooke está chorando.
— Onde vocês estão? — pergunto, arrancando a outra luva.
Ele diz o nome do shopping e quase suspiro de alívio por ser o que
fica a apenas cinco quadras daqui. — Tristan, preciso que você me
substitua, eu preciso ir! — grito, saindo correndo. — Estou indo,
Ethan, me mande o nome da loja — comando antes de desligar.
Passo pelo meu carro estacionado do lado de fora do estúdio e
nem mesmo perco tempo em pegar chave e cogitar dirigir, ter que
lidar com trânsito e achar um lugar para estacionar levaria tempo
demais. Brooke precisa de mim e cada segundo que eu demoro é
um segundo a mais em que ela está sofrendo.
Amaldiçoo cada um dos carros que cruza a rodovia, me
fazendo esperar, mas assim que uma brecha aparece atravesso a
rua. As buzinas soam, mas as ignoro, agradeço por todas as
corridas noturnas que me prepararam para esse momento. Estou
quase no shopping quando checo meu celular e vejo a mensagem
de Ethan.
Ethan Hart: Abercrombie & Fitch, segundo
andar.
Sei qual é a loja e subo correndo as escadas, ainda consigo
ouvir os soluços de Brooke na minha cabeça, eles são a trilha
sonora agoniante que acompanha cada passo que dou. Não é difícil
localizar os provadores já que algumas pessoas se aglomeram do
lado de fora, uma moça que eu acredito ser uma atendente está
falando com Ethan quando eu passo por ele. Olívia está agachada
do lado de fora de um provador, lágrimas descem por suas
bochechas.
— Brooke, por favor, fala comigo — a morena fala para a
porta, mas a única resposta é o soluçar contínuo.
Toco seu ombro, atraindo sua atenção que ainda nem tinha
percebido minha presença. Seus ombros parecem relaxar e ela
suspira, meneando a cabeça e se levantando, abraçando o próprio
corpo e olhando apreensiva para a porta.
— Abelhinha, sou eu, abra a porta — peço.
Brooke parece não me ouvir e minha ansiedade dobra, minha
vontade é arrombar a porta e a tirar dali, mas não sei que pesadelo
ela está vivendo e não posso arriscar piorar. Bato na porta e os
soluços param, o som de movimento cessa e tenho quase certeza
que ela prendeu a respiração.
— Brooke, Abelhinha, sou eu, abre a porta pra mim? —
suplico, só preciso segurá-la. Meu coração quase salta do peito
quando ouço o som da trava sendo aberta.
Abro a porta e a loira está no chão, abraçando os joelhos e se
balançando para a frente e para trás. O rosto escondido nos braços,
seu corpo sacode com um soluço silencioso. Sua dor irradia e
parece pinicar a minha pele. Se fosse possível matar uma pessoa
mais de uma vez, eu me divertiria em destruir todos que a
machucaram mais uma e outra vez. Afasto todos os pensamentos
de raiva antes de me sentar à sua frente.
— Abelhinha? — sussurro, afagando seu braço. — Eu estou
aqui, você está segura.
Ela levanta o rosto manchado pela maquiagem que escorreu
marcando o trilho de suas lágrimas, quando seu olhar encontra o
meu, seu choro se intensifica e ela se joga nos meus braços. Eu sou
seu porto seguro. A realização faz um nó se alojar em minha
garganta. Brooke se encolhe em meu colo e meus braços a
envolvem, apertando-a enquanto murmuro em seu ouvido.
— Você está segura, eu estou aqui — repito, beijando o topo
de sua cabeça. Uma de suas mãos agarra o tecido da minha
camiseta. A cada convulsão de seu corpo eu a aperto ainda mais. —
Nada pode te acontecer, meu amor. Está tudo bem, estou aqui.
Não tenho ideia de quanto tempo passa enquanto ficamos
sentados ali, mas eu não paro de reassegurá-la de sua segurança
ou de acariciar seus braços, suas costas. Aos poucos Brooke
começa a se acalmar, seu choro gradualmente diminuindo até parar
por completo. Minha namorada ainda fica em silêncio no meu colo
por tanto tempo que estou quase achando que ela adormeceu
quando a loira fala com a voz rouca.
— Casa. Eu quero ir pra casa.
Ainda ficamos mais um tempo sentados no chão antes de sair
do provador, apenas quando Brooke decide se levantar é que eu a
acompanho. Sinto sua mão tremer contra a minha quando abro a
porta. Seguimos para a porta da loja, só percebo que Olivia e Ethan
ainda estavam ali quando ouço a voz da morena às nossas costas,
quando já estávamos no corredor.
— Brooke — Olivia chama num suspiro oscilante antes de
envolver a loira em um abraço apertado. As duas conversam tão
baixo que não consigo distinguir as suas palavras.
Ethan nos observa apreensivo, seus olhos indo das mulheres
abraçadas para mim. Ainda não sei o que desencadeou o ataque de
pânico de Brooke, mas tenho quase certeza de que não existia nada
que ele pudesse ter feito para impedir.
Meneio a cabeça em sua direção e ele abre a boca para dizer
algo, mas Olivia se afasta nesse momento.
— Me avisa quando chegar em casa — Brooke pede,
buscando a minha mão mais uma vez.
— Claro, você também. Te amo, B.! — Ela pega as várias
sacolas do chão e segue para um lado do corredor, olhando para
nós uma vez antes de sumir de vista.
— Onde está o carro? — pergunto a Ethan.
— Na rua lateral — ele anuncia.
— Ótimo, vamos — digo.
— Não queria ter que passar por um estacionamento —
Brooke murmura. É claro, mesmo sendo outro shopping ainda seria
um gatilho enorme.
— Fez muito bem, não tem nada de errado em conhecer e
respeitar os seus limites — elogio.

Ethan se senta ao volante enquanto eu e Brooke nos


acomodamos no banco de trás, ela se aconchega a mim, fazendo
meu peito se aquecer e não tem nada a ver com sua cabeça
repousando nele, mas sim com a intensidade dos meus sentimentos
por ela.
— Desculpe, Ethan. Seu primeiro dia foi caótico — Brooke diz.
— Já se arrependeu de aceitar o trabalho?
— Não tem motivos para pedir desculpas, Brooke — o
segurança responde, tirando as palavras de minha boca. — Se sua
intenção era me assustar para se livrar de mim, vai ter que se
esforçar mais da próxima vez — ele brinca e ela ri.
O som da sua risada acalma minha alma, olho para a loira em
meus braços e me pergunto como ela não percebe quão forte ela é.
Hoje, ela enfrentou seus traumas, seus gatilhos, acabou de ter uma
crise e ainda consegue sorrir. No dia em que foi liberada para
retomar o treinamento físico não hesitou em voltar para academia.
Sua dedicação ainda mais forte do que antes.
A respiração de Brooke aprofunda, seu corpo relaxando contra
mim e sei que adormeceu. Ela deve estar exausta.
— O que aconteceu? — pergunto em voz baixa para não
acordá-la.
Ethan olha pelo retrovisor antes de responder.
— Elas estavam rindo e conversando quando alguém deixou
cair uma caixa de copos de vidro no chão. — Ele faz uma pausa,
seus olhos encontrando os meus no reflexo. — Foi em um instante,
seu semblante inteiro mudou e ela começou a correr, nem percebeu
que ainda estava segurando a mão de Olivia e que estava
praticamente carregando a amiga que não conseguia acompanhá-
la. Olivia soltou sua mão e ela continuou, entrou na loja e se
escondeu no provador, ela não respondia a nenhum de nós. Foi
quando eu te liguei.
Acaricio seus cabelos e ela empurra o rosto contra mim. Como
imaginei não tinha nada que pudesse ter sido feito para impedir, o
som alto foi o gatilho. Deus sabe que eu sei bem como é,
especialmente nos primeiros anos depois de Kandahar. O problema
é que eu passava boa parte do meu tempo em uma zona de guerra,
onde os gatilhos eram constantes e eu não podia perder o controle
ou acabaria matando um dos meus amigos.
— Você agiu certo, Ethan. Obrigado por me chamar e por não
ter tentado entrar no provador — respondo.
— Achei que poderia piorar a situação, um dos caras no meu
esquadrão sofria de TEPT[4]...— ele começa, os segundos se
estendem enquanto espero que ele continue, mas ele apenas
desvia o olhar, suas mãos apertam o volante e ele continua a
prestar atenção na estrada.
— Sinto muito.
— Obrigado, ele está em paz agora — responde. — Mas, de
qualquer forma, foi isso que aconteceu.
O resto do trajeto é silencioso e logo Ethan está estacionando
em frente a nossa casa. Nos despedimos e ele vai até seu carro
enquanto eu pego Brooke no colo, seu corpo se moldando
perfeitamente ao meu, e a carrego para dentro de casa. Ela nem
mesmo se mexe de tão profundo que é seu sono.
Como de costume assim que entro em casa os cães
aparecem, mas eles notam Brooke no meu colo e não pulam, não
pedem carinho, só caminham comigo para a escada.
— O que aconteceu? — Kyle pergunta, descendo as escadas
de dois em dois degraus. — O que ela tem? —Ele a analisa de cima
a baixo, provavelmente procurando por ferimentos. Eu fiquei tão
focado nela que esqueci de informá-los o que aconteceu e nem
pensei em como pareceria eu chegar carregando-a desacordada
para dentro de casa.
— Ela teve um ataque de pânico no shopping e pegou no sono
no caminho pra casa — explico. — Ela está bem, Ky, se assustou e
isso desencadeou a crise. Ethan me ligou porque eu era o que
estava mais próximo.
— Eu não deveria ter concordado com isso.
— Se ela fosse hoje ou daqui a 10 anos ainda iria acontecer,
infelizmente é normal. Ela não nasceu para ficar enjaulada e você
sabe disso — digo, e a verdade de minhas palavras me atravessa.
— Acredite em mim, queria que esse não fosse o caso.
Ele acaricia o rosto dela.
— Vou levá-la para o quarto e ficar com ela até que acorde.
— Certo — concorda, meneando a cabeça.
Começo a subir as escadas quando ele me chama.
— Seth, que bom que você estava lá por ela, irmão —
declara.
Meneio a cabeça sem saber como responder e continuo para
meu quarto. Deito Brooke na cama, cobrindo-a com o edredom e me
acomodando ao seu lado, o céu claro do fim de tarde ainda visível
pela janela sem cortinas.
Checo meu celular e respondo as mensagens de Tristan, que
me informa que minha cliente se recusou a ser tatuada por ele e
remarcou para que eu termine o seu desenho dentro de um mês.
Respondo agradecendo a ele por ter tentado, e explico que tive uma
emergência familiar. Aproveito que estou com o celular para mandar
uma mensagem explicando mais detalhadamente o que aconteceu
para Raffi e Kyle.
Brooke se mexe, passando uma perna sobre a minha e
usando meu peito como travesseiro, meu corpo inteiro
instantaneamente ciente de cada ponto de contato. Meus braços a
envolvem e tento igualar nossas respirações, me concentrando
nisso e sufocando meu desejo.

Devo ter cochilado porque quando abro os olhos o céu já está


escuro e pontilhado de estrelas. Me espreguiço com cuidado para
não acordar Brooke que ainda dorme aconchegada a mim.
Acendo o abajur e pego o novo volume da série Jack Reacher
da minha mesinha de cabeceira e retomo a minha leitura. Eu adoro
esses livros, e dos últimos dez que eu li consegui descobrir o vilão
de seis. E se minhas suspeitas estivessem corretas, esse seria o
sétimo.
Reacher está em meio a uma perseguição quando Brooke
começa a se remexer, sua cabeça balançando como se dissesse
não contra o meu peito, seu punho se fecha na minha camiseta e
sua respiração acelera, antes que eu possa acordá-la ela se senta e
escaneia o quarto.
— Shh, estamos em casa — digo, esfregando suas costas. —
Está tudo bem.
Ela se vira para mim e curva os lábios em um sorriso que não
alcança seus olhos.
— Quanto tempo eu dormi? — pergunta se recostando em
mim.
— Algumas horas, está com fome? — Ela nega com a cabeça.
— Sede?
A mesma resposta, ela puxa os joelhos para cima e os abraça,
apoiando a cabeça neles virada para mim. Seus olhos verdes
parecem perdidos enquanto ela me encara, ela começa a dizer algo,
mas se interrompe e volta a fechar a boca.
Acaricio sua bochecha e ela se entrega ao toque fechando os
olhos. Me inclino, tomando seu rosto em minhas mãos e beijando
seus lábios, que se partem me dando acesso completo. Nossas
línguas se exploram e o gosto doce de Brooke é viciante, eu não
estava errado quando a apelidei de Abelhinha.
Colo nossas testas quando o beijo acaba.
— Você se lembra do que eu disse naquele dia? — Seus olhos
se abrem diante da pergunta. Ela morde o lábio inferior testando
meu auto controle, mas sua saúde é mais importante que meu
tesão. — Era a verdade e continua sendo. Nada que você possa
dizer pode me afastar de você.
Seus olhos se enchem d’água e ela desvia o olhar para suas
pernas.
— Sou uma assassina — murmura em tom de confissão, suas
palavras ecoando no cômodo.
— Todos nós somos — respondo e ela abraça os joelhos com
mais força. Seguro seu queixo e a forço a voltar a olhar para mim.
— Mas você, Abelhinha, é uma sobrevivente. Existem pessoas que
machucam as outras por puro prazer, você fez o que precisava para
sobreviver.
— Ele já estava no chão — constata, como se eu não me
lembrasse, como se não tivesse sido eu que colocou aquele filho da
puta lá.
— E se você o tivesse deixasse vivo, passaria todos os dias
desde então se preocupando com quando ele voltaria, nunca
conseguiria superar o que aconteceu.
— Não superei — ela confessa num fio de voz, uma lágrima
solitária escorrendo pela bochecha.
— Esse tipo de coisa leva tempo, Brooke. — Limpo com o
polegar o traço da lágrima. — É completamente normal e razoável
que isso ainda lhe aflija, já que nunca poderá esquecer por inteiro.
Mas isso não altera, de forma alguma, o seu valor — declaro e
espero que ela consiga ouvir a honestidade em meu tom.
Se fosse possível voltaria no tempo só para matar aquele
cretino mais uma vez, só para poder puni-lo como ele merecia por
fazer com que Brooke duvidasse de sua virtude. Me deliciaria em
quebrá-lo por dias a fio, tantos quanto fossem necessários para que
a dor deixasse os olhos da loira a sua frente.
O lábio de Brooke treme.
— Não me arrependo de matá-lo — ela confessa em um
murmúrio que eu poderia ter descartado como o vento, caso não
estivesse completamente focado nos movimentos de seus lábios.
Bom, ele mereceu.
Mas então noto a sua completa desolação, depois dos
acontecimentos do dia Brooke está me mostrando sua alma e ela se
encontra em pedaços. Perdida numa escuridão que eu conheço tão
bem quanto meu próprio reflexo, e que ameaça me tirar meu bem
mais precioso.
Não.
Só consigo pensar em uma forma de lhe mostrar a saída.
Respiro fundo e me preparo para me juntar a ela e
caminharmos juntos de volta para a luz.
— O que você vê quando olha para mim?
A pergunta parece ecoar no quarto. Os olhos azuis de Seth
cintilando determinados a luz amarelada do abajur. O que eu via
quando olhava para ele? Que tipo de pergunta era aquela?
Seth espera paciente pela minha resposta. Sempre paciente,
sempre disposto a me dar o tempo necessário para lidar com um
novo golpe, um novo exercício ou com meus demônios. Foi o que
ele fez hoje à tarde. Ou foi ontem? Não importa. Não faço ideia de
quanto tempo passamos sentados no chão frio daquele provador,
mas eu estava me afundando numa areia movediça que consistia
em desespero e medo. mas quando ouvi sua voz, senti seu calor ao
meu redor, aos poucos consegui me ancorar de volta em mim.
Sua mudança súbita de assunto me deixa confusa. Como ele
pode ouvir minha confissão e não esboçar uma reação de choque?
De repulsa? Pelo contrário, ele pareceu aprovar e em seguida a
sombra que muitas vezes cobre sua expressão estava de volta.
Como se encorajados pela sua pergunta meus olhos passeiam
por seu rosto, notando os cabelos castanhos claros e rebeldes indo
em todas as direções com algumas mechas caindo sobre sua testa,
passando pelos olhos intensos e desviando para a linha do maxilar
tão definido que quando eu era mais nova achava que se o tocasse,
cortaria meus dedos. Quando meu olhar se detém em seus lábios
rosados por tempo demais, balanço a cabeça tentando focar na sua
pergunta. A memória de nosso beijo ainda vivida em minha boca.
Tento encontrar a resposta que ele quer, mas opto pela
verdade. É tudo que eu tenho.
— Vejo um homem incrível, leal aos seus amigos, paciente,
carinhoso, atencioso — meu olhar desce por seu tronco e lembro
das mais variadas cicatrizes espalhadas por sua pele. — Um herói
de guerra.
A risada que ele sopra por entre os dentes me faz perder a
linha de raciocínio e o olhar confusa.
— Eu não sou um herói, Brooke — ele diz com um tom
sombrio.
— Claro que é — protesto. — Você recebeu várias medalhas
quando deixou os fuzileiros, eu sei. Eu estava na cerimônia —
adiciono, minha mente voltando para aquele dia anos atrás. Todos
os meus três homens fardados e sérios sendo reconhecidos por
tudo que fizeram pelo país.
— As coisas que eu fiz durante a guerra não foram heroicas,
mas eu não estava me referindo a isso. — Ele cerra o maxilar e
respira profundamente, antes de segurar meu rosto em suas mãos,
aflição em toda a sua expressão. — Deixa eu só memorizar a forma
como você me olha antes de te contar sobre o meu passado, só
guardar isso antes que tudo mude.
— Nada que você possa se tornar pode me afastar de você,
Seth. Eu confio em você — devolvo suas próprias palavras, vejo o
reconhecimento em seu olhar, mas o pesar continua ali. — Eu te a...
— Seu dedo cobre meus lábios interrompendo a minha declaração.
A primeira vez que eu proferiria essas palavras para ele.
— Você não faz ideia do quanto eu quero ouvir essas palavras,
mas não sei se consigo fazer o que preciso se você as disser agora.
Ele cola seus lábios aos meus demoradamente antes de se
afastar até que não esteja mais encostado em mim, sinto falta do
seu calor imediatamente.
— Eu não sei se o Kyle já te contou algo sobre onde eu cresci
— começa.
— Acho que falou que você era de Nevada ou algo assim, mas
não lembro de mais nada.
— Sim, eu cresci lá, em Reno. — Seus olhos ficam distantes.
— Não sei se nasci lá, mas fui deixado em uma sede de Bombeiros
quando ainda era recém-nascido. Pelo menos é o que dizem os
registros.
Seth tinha sido abandonado? Como bebê? Como que eu não
sabia disso? Esse homem já está na minha vida há uma década.
— Foi quando eu entrei pro sistema de adoção. Quando eu
tinha uns três anos fui adotado por um casal que já tinha outra filha,
também adotada. — Ele abre um sorriso triste e meu coração se
enche de esperança. Seth tinha encontrado um lar. No entanto, a
semente de esperança é esmagada por suas próximas palavras. —
Foi quando o verdadeiro pesadelo começou. — sua voz é
desprovida de emoção, fria, como se ele estivesse simplesmente
me contando a previsão do tempo.
Ele passa uma das mãos pelos cabelos, bagunçando-os ainda
mais.
— Eu ainda não entendo como o Estado permitiu que eles
fossem guardiões. O interesse deles era no pagamento do governo,
a casa de madeira ficava em um bairro abandonado. O cara... — Ele
faz uma pausa, seus punhos se fechando. — Ele era um verme, da
pior espécie. Quando eu tinha seis anos eu já sabia reconhecer os
padrões, já sabia me preparar para o tipo de noite que teríamos
quando ele chegava do trabalho. Se seria só uns tapas ou se ele iria
partir para algo mais pesado.
Não. Meu instinto move meus braços para abraçá-lo, protegê-
lo, mas ele se afasta.
— Desculpe, Abelhinha, — seu olhar suaviza quando foca em
mim. — Mas não consigo sentir seu toque enquanto falo disso. Dele.
Não é racional e eu sei disso, mas não dá.
— Não precisa me contar nada disso, Seth, não precisa reviver
essas memórias — suplico.
Ele suspira e me olha com tanto carinho que sinto como se ele
estivesse acariciando a minha pele.
— Preciso, porque você precisa entender que você não é uma
assassina, que você não é uma pessoa má. Eu conheço o mal de
verdade, convivi com ele a minha vida toda, Brooke, e você está tão
longe dele quanto é possível estar.
Ele está fazendo isso por mim. A constatação me atinge como
uma bola de demolição.
— Naquela época, é claro eu não sabia que isso não era o
normal. Eu achava que toda família era assim, que todo mundo fazia
o mesmo que eu, mas não falava sobre isso. A mulher morreu mais
ou menos na mesma época que Abigail, a minha irmã mais nova, —
a saudade em seu tom me rasga por dentro. E eu sei que vou odiar
o fim dessa história já que antes desse momento eu nem mesmo
sabia que Seth teve uma irmã. — completou 13 anos e as coisas
pioraram e muito. Eu apanhava, mas o que ela sofria... — sua voz
quebra na última palavra. Ele abaixa a cabeça e tenho que segurar
os lençóis para me impedir de jogar meus braços ao seu redor e
nunca mais largar. — Seus gritos ainda me perseguem, mas eu era
muito fraco aos 14 anos para protegê-la, prometi a ela que assim
que fizesse 18 anos nos tiraria dali. Eu poderia trabalhar e nos
manter, estávamos acostumados a não ter muito, de qualquer
forma.
Meu Deus, meu coração se parte pela infância roubada de
Seth. Enquanto ele lutava para sobreviver, para proteger sua irmã e
achar uma saída do inferno que ele conhecia como vida, eu estava
aprendendo a surfar e correndo para o colo da minha mãe quando
machucava os joelhos. Eu tinha bolos caseiros nos meus
aniversários e amigos, eu tinha Kyle. As lágrimas escorrem
silenciosas pelo meu rosto.
Seth continua seu relato sem levantar a cabeça, perdido em
suas lembranças.
— Eu tentava impedi-lo de ter forças para ir até ela. Comecei a
desafiá-lo quase diariamente, a esperança era que se ele me
batesse o suficiente, e ficasse cansado demais para ir até o quarto
dela no meio da noite. No começo até funcionou, mas um predador
se adapta, eu aprendi isso cedo. — Seu tom agora é distante e não
sei se ele se lembra que eu estou aqui, parece estar falando consigo
mesmo. — Abigail começou a se retrair, ficar distante, e eu não
percebi os sinais até ser tarde demais. Faltava tão pouco, — ele
lamenta. — Duas semanas para o meu aniversário de 18 anos,
apenas quatorze dias, mas ela não aguentava mais e achou um jeito
de ter certeza que o seu pesadelo acabaria.
— Seth... — eu o interrompo. — Não sei o que dizer, sinto
muito não parece ser suficiente.
— Não sinta, ela está em paz. — Ele levanta o rosto para mim
e sorri com ternura, seus olhos marejados. Quando ele abre a boca
para continuar sua expressão endurece. — Obviamente ele não foi
ao funeral, quase ninguém foi. Sabe o que aquele canalha ficou
fazendo enquanto eu enterrava a minha irmã? Bebendo. E não
porque ele estava de luto por perder a filha, não, seu sofrimento era
por ter perdido... — ele parece não conseguir continuar, mas não é
preciso.
Repulsa e ódio se misturam no meu estômago e eu só quero
saber se esse lixo de ser humano ainda vive. Porque tudo que eu
sinto é uma ânsia de vingar Abigail e Seth, pela infância perdida, por
tudo que sofreram. O desejo de ferir quem machucou o homem a
minha frente é tão intenso quanto a minha necessidade de respirar.
Como Seth pode me dizer que eu não sou má?
— Eu cheguei em casa e o encontrei com uma garrafa de
vodka em frente à TV e tudo que conseguia pensar era que a culpa
era dele. Ele era a razão pela qual Abigail nunca mais veria o pôr do
sol, porque ela nunca teria a chance de ir à praia. Suas primeiras
palavras para mim foram para me pedir para ir buscar mais bebida,
e eu ri. Ele arremessou a garrafa contra a minha cabeça, só que eu
já não tinha 14 anos, eu estava mais forte e com muita raiva. Eu
revidei e não parei. Não parei quando ele parou de gritar, nem
quando parou de se mexer, só parei quando não conseguia mais
levantar o braço.
Ótimo, ele merecia morrer. O pensamento se forma e é como
um soco. Eu entendi o que Seth quis dizer sobre meu carcereiro,
sobre minha motivação para matá-lo ter sido a minha sobrevivência.
Estou prestes a responder quando ele continua.
— No meio da noite eu sai daquela casa e na manhã seguinte
eu me alistava aos Fuzileiros Navais. Nunca mais voltei, não tinha
nada lá me esperando. — Ele sorri, felicidade irradiando dele pela
primeira vez desde que começou a me contar seu passado. —
Conheci Kyle e Raffi na semana seguinte, e descobri que a vida era
mais do que eu, alguma vez, tivesse sonhado. Os fuzileiros me
deram uma família de verdade, mas depois de entrarmos pros
MARSOC[5] recebemos nossa primeira missão, Kandahar.
Eu lembrava da primeira missão, foi depois dela que Seth
começou a me chamar de Abelhinha, foi quando ele voltou com o
braço quebrado.
— Não posso entrar em detalhes porque é tudo confidencial,
mas eu fui capturado por uma unidade terrorista — Não! Deus, ele
já não tinha sofrido o suficiente? Um soluço me escapa. — Eu fiquei
em cativeiro por mais de três meses. — TRÊS MESES? Eu tinha
ficado três dias e achei que morreria, não conseguia esquecer.
Memórias de quando me mudei começam a montar um filme em
minha cabeça, como Seth sempre parece estar acordado, como
mesmo agora quando eu acordo no meio da noite ele está de pé, ou
já saiu para correr. — Eles queriam informações sobre a nossa
unidade, sobre nossas fraquezas, qualquer coisa, depois da
primeira semana eu perdi a esperança que conseguiria escapar
depois de umas três jurava que nunca seria encontrado. Mas
Thorne e Martinez vieram. Descobri depois que eles brigaram com
os superiores para poder me resgatar. — Seu olhar encontra o meu.
— Ninguém nunca tinha lutado por mim antes.
— É o que famílias fazem — declaro e ele meneia a cabeça.
— Mas eu não conseguia fingir que estava tudo bem. Não
eram os ferimentos, de certa forma eu já estava acostumado a eles.
Mas eu não conseguia esquecer. Revivia o tempo todo meu tempo
preso, às vezes quando acordava suando no meio da noite desejava
que tivesse morrido lá. Nós voltamos e eu pedi pros caras me darem
um tempo, respeitarem o meu espaço. Porém eu fui pra casa do
Kyle como sempre, e você estava lá. Correndo feliz para nos
cumprimentar, mas eu não conseguia lidar com a sua felicidade e
tentei me afastar. Você não deve se lembrar.
— Eu me lembro, você se isolou aquele verão, mais do que o
normal — respondo.
— Era o que eu achava que eu precisava. Mas você... ah
você... — ele diz e sua mão segura a minha, um choque elétrico
percorrendo a minha pele com o contato inesperado, mas eu a
aperto. — Você sempre foi teimosa, determinada, mesmo depois de
Kyle ter te pedido pra me dar espaço. Todos os dias você tentava
me incluir em planos, em conversas, jogos, qualquer coisa. Até
aquele dia que eu estava jogando sozinho e você foi tentar mais
uma vez, parando em frente a tv com aquela blusa listrada amarela
e preta.
Sorrio com a memória que ganhava novos significados
conforme ele me contava tudo que acontecia por trás, tudo que eu
não sabia.
— Eu briguei com você e a sua resposta foi sorrir — aperto a
sua mão ainda mais e Seth sorri em resposta, o sorriso que eu amo,
que mostra as covinhas que quase nunca aparecem. — E aquele
sorriso abriu uma rachadura no cômodo escuro e fechado em que
eu me encontrava e a luz entrou. Você me salvou. E daquele dia em
diante eu sempre soube que você era a única para mim.
Meu coração erra a batida diante de sua declaração. Não
consigo pensar direito, mas me lanço em sua direção, abraçando
seu pescoço e enrolando minhas pernas na sua cintura. Seus
braços serpenteiam ao meu redor. Colo nossas bocas em um beijo
faminto, desejoso, como se pudesse curar cada uma de suas feridas
com o meu amor.
Eu entendia o que ele queria dizer, foi exatamente o que eu
senti quando ele apareceu naquele provador. Ele também me
salvou, tantas vezes. Tudo o que ele me contou só serviu para
cimentar tudo o que eu já sentia por ele. Minha admiração e orgulho
pelo homem que ele se tornou mesmo depois de tudo que a vida lhe
entregou só cresceu.
— Você disse que não era um herói...
— Ainda tem mais, Brooke — ele me interrompe.
— Outro dia você me conta se quiser, mas agora é a minha
vez. Você... — beijo seus lábios mais uma vez, completamente
rendida por seu gosto. — é um herói sim. Você também me salvou,
Seth, no momento em que eu te vi naquele armazém eu voltei a
respirar, — as lágrimas fazem meus olhos arderem antes de
escorrerem. — meu maior medo enquanto estava lá era que nunca
voltaria a vê-los, nunca teria a chance de dizer o quanto vocês
significam para mim. Você me resgatou aquele dia e hoje me salvou
de novo. Você é o meu herói e eu te amo, Seth Donahue!
Aperto Brooke em meus braços, meu cérebro ainda
processando suas palavras, a forma como ela simplesmente aceitou
a minha confissão. Ela ainda não sabe tudo, não é mesmo,
Hellhound? O pensamento cruel ironiza.
Meu corpo ignora minhas dúvidas e responde instintivamente a
proximidade da loira. Minha boca busca a dela, nossas línguas se
provando e explorando. Uma de minhas mãos sobe para sua nuca,
segurando seus cabelos e puxando-os, seu gemido me atravessa
até alcançar meu pau.
A loira interrompe o beijo repentinamente e esconde o rosto no
vão do meu pescoço.
— O que foi? — pergunto confuso.
Será que eu a machuquei? Penso com pavor.
Não é a primeira vez que as coisas evoluem entre nós, lembro
com clareza da noite em que a fiz gozar usando apenas meus
dedos, o som de seus gemidos enquanto alcançava o clímax
serviram de trilha sonora quando eu me aliviava sozinho mais tarde.
Porém quem sempre desacelerava as coisas era eu.
— Abelhinha? — chamo sua atenção, esfregando suas costas.
— Fala comigo.
— Você não ouviu? — ela murmura contra minha pele.
— O que?
Ela se afasta até conseguir olhar para mim.
— Eu achei que você tivesse ouvido o meu estômago roncar
— confidencia, desviando os olhos conforme suas bochechas
coram.
Não consigo segurar a risada de alívio e ela bate no meu braço
antes de voltar a esconder o rosto.
— Não ri.
— Desculpa, não estou rindo de você, estou rindo de mim.
Você me assustou, achei que tivesse te machucado — explico.
— Você nunca poderia me machucar — ela retruca e ignoro o
sentimento de que ela só está dizendo isso porque eu ainda não lhe
contei tudo, quando ouço sua barriga.
— Quando foi a última vez que você comeu? — pergunto,
deveria ter deixado um lanche no quarto para quando ela
acordasse.
— Acho que foi hoje de manhã, o nosso pós-treino. Porque eu
ia comer no shopping com a Liv, mas isso acabou ficando para
depois e sabemos o que aconteceu depois. E então voltamos pra
casa, o que eu ainda não lembro como aconteceu.
Puta merda, além do desgaste emocional e físico que
acompanha uma crise de ansiedade e pânico, a loira não se
alimentava desde de manhã. Minhas mãos descem para a sua
bunda e a seguro firme, me virando e levantando da cama com ela
ainda no meu colo. Brooke solta um gritinho de susto.
— Seth, eu estou bem... — diz, abraçando meu pescoço e me
beijando novamente, chupando e mordendo meu lábio inferior. —
Não quero ir comer agora — seu tom é baixo, sedutor.
— Abelhinha, temos a noite toda e acredite, você vai precisar
de energia — aviso e aperto sua bunda, seu gemido em resposta
quase me faz virar e jogá-la na cama para sentir o seu gosto
diretamente da fonte dessa vez. Quase.
— Promete? — pergunta arqueando a sobrancelha com um
sorriso malicioso nos lábios antes de empurrar seu corpo para
baixo, sua bunda encontrando meu pau.
Colo suas costas contra a parede, meus lábios tomando os
dela com uma fome voraz, suas pernas se apertam contra a minha
cintura, me dando liberdade para subir uma de minhas mãos pela
lateral de seu corpo, deslizando sob o tecido de sua camiseta até
alcançar o sutiã de renda. Ela arfa contra meus lábios quando
aperto seu seio, meu polegar estimulando o mamilo e fazendo
Brooke estremecer em meu colo.
Afasto minha boca da dela, trazendo seu lábio inferior preso
entre meus dentes e mordendo um pouco mais forte antes de soltá-
lo e encostar minha testa na dela. Encarando seus olhos verdes
nublados de tesão, meu desejo luta contra meu instinto protetor,
mas a saúde da loira sempre vem em primeiro lugar.
— Prometo. — Reajusto sua posição em meu colo antes de
abrir a porta.
— Vou cobrar — diz.
— Não vejo a hora de pagar. — Ela deposita um beijo no meu
pescoço, logo abaixo da minha orelha que é como em fogo em
brasa na minha pele.
— Eu posso andar — diz, quando estamos quase na escada.
— E eu posso te carregar, qual seu ponto? — respondo e
começo a descer os degraus.
— Que não precisa.
— Mas eu quero — rebato. — Não quero soltá-la, Abelhinha,
então me deixe te carregar mais um pouco.
— Tudo bem — concorda, descansando sua cabeça contra
meu ombro.
Chegamos na cozinha eu a apoio na bancada, e sigo para a
geladeira para preparar algo. Sei que não estamos mais sozinhos
quando ouço ela pular da bancada e sussurrar:
— Oi, meu amor, você quer um biscoito, não quer?
Não preciso olhar pra saber que é um dos cães, mas quando
me viro com os ovos, queijo e presunto em mãos, vejo que é o meu
próprio cachorro.
— Brooke, dá ração pra ele e não só biscoito — digo, pegando
uma frigideira e começando a preparar uma omelete.
— Ele já jantou, só quer uma sobremesa, né, Banguela? — ela
fala, afagando suas orelhas com carinho e lhe dá quatro biscoitos.
Três a mais do que deveria, mas é inútil tentar corrigi-la.
Faço sua comida enquanto ela brinca com o pitbull, sentada no
chão da cozinha. Estou fazendo a minha omelete quando seus
braços serpenteiam ao redor da minha cintura.
— O que eu posso fazer para ajudar? — Seguro suas mãos
com uma minha.
— Já está quase pronto, não precisa fazer nada.
Ela não responde, só fica ali, me abraçando. Meu peito parece
inflar, uma calmaria que eu só experiencio quando estou com
Brooke me domina, até respirar se torna mais fácil quando ela está
por perto.
Sou obrigado a soltar suas mãos para servir a omelete e
carregar os pratos até a bancada, ela abre a geladeira e pega o
suco de uva, antes de se sentar. Eu a observo comer, tentando
decidir como contar o resto da minha história, a angústia de que
seja demais, que isso seja mais do que ela consiga aceitar, ameaça
tirar meu apetite.
E se eu a perder?
Por quanto tempo ainda vou deixar meu passado me impedir
de ser feliz? Toda vez que eu e Brooke nos aproximamos e eu parei
esse foi o motivo. Por causa do monstro que vive em mim. Falar da
minha criação já foi excruciante, voltar àquela casa, lembrar dos
últimos dias de Abigail. Fazia tanto tempo que eu não dizia seu
nome em voz alta. Ter que voltar aos anos em que trabalhei como
interrogador não seria nenhum pouco mais fácil, mas que tipo de
relacionamento poderíamos ter se eu sempre manter uma parte de
mim escondida?
— Por que está me olhando assim? — pergunta, inclinando a
cabeça para o lado.
— Não posso olhar pra minha namorada?
Ela sorri em resposta, um leve rubor em seu rosto.
— Ainda não me acostumei com vocês me chamando assim.
— É melhor começar, não iremos a lugar nenhum — declaro,
sabendo que meus irmãos amam a loira à minha frente tanto quanto
eu.
Brooke volta a comer com rapidez.
— Por que a pressa?
— Porque quando você diz coisas assim eu quero continuar
nosso assunto inacabado e te conheço o suficiente para saber que
preciso terminar de comer antes.
— Brooke...
Ela dá a última garfada e toma o suco. Quando olha para o
meu prato ainda pela metade, arqueia uma sobrancelha. Sopro uma
risada e continuo a comer, seus olhos grudados a cada um dos
meus movimentos. Eu termino e com sua ajuda limpamos a cozinha.
Consigo sentir a ansiedade emanando de seu corpo enquanto
voltamos para o quarto e me preocupo com a minha integridade
física quando eu disser que ainda precisamos conversar.
— Brooke, — eu a chamo, segurando sua mão antes de entrar
no quarto. Ela se vira para mim, sorrindo. — eu preciso te contar o
resto da história. Preciso que você saiba tudo antes de darmos o
próximo passo.
— Seth... — ela começa a protestar, mas eu a interrompo.
— Não consigo dormir com você sabendo que existe uma
chance de você se arrepender depois que souber tudo, — ela abre a
boca pronta para rebater. — Não importa quão mínima essa chance
possa ser. Faz isso por mim?
— Como eu posso negar agora? Mas, Seth, posso te garantir
mais uma vez que não tem nada que você possa me dizer que vá
mudar o que eu sinto por você. Eu sei quem você é.
Me agarro com todas as forças na esperança que suas
palavras me dão, no sentimento que vejo refletido em seu olhar. Ela
se senta na cama e sinto seus olhos sobre mim até me acomodar
ao seu lado.
Como começar? Como explicar que depois que ela me tirou da
escuridão, as forças armadas acharam um jeito de explorar esse
lado, lapidá-lo em uma arma.
— Seth, não precisa fazer isso hoje — ela diz. — Se você está
fazendo isso porque se sente pressionado por mim, não precisa. E-
e-eu sei como é difícil falar sobre certas coisas — ela gagueja um
pouco, como se só de mencionar o passado já fosse doloroso.
Aquela fúria cega me preenche e não vejo a hora de encontrarmos
aqueles três filhos da puta que ordenaram o seu sequestro e fazê-
los pagar, lentamente.
— Você nunca me pressionou, Abelhinha — afirmo, tomando
suas mãos. — Todos esses meses, você sempre respeitou o meu
tempo e nunca me pressionou, é só mais uma das razões pelas
quais eu te amo.
Seus olhos verdes ficam marejados.
— Eu também te amo. — Seu olhar recai sobre nossas mãos
unidas entre nós. — Tudo bem se continuarmos assim?
— Podemos tentar. — Ela aperta a minha mão e se acomoda,
cruzando as pernas como buda.
Respiro fundo e como antes, jogo todas as minhas emoções
para um canto, sufocando-as. Preciso me distanciar o máximo
possível do que estou prestes a contar ou não conseguirei. Ela me
ama, confia em mim, tudo vai ficar bem. Tento me reassegurar antes
de contar a verdade por trás do apelido de Hellhound.
— Depois de Kandahar, quando retornamos, meus superiores
notaram que eu estava mais agressivo, — Esse era o eufemismo do
ano, eu descontava a minha dor e raiva nos inimigos. — Nem tudo
que as Forças Armadas fazem é divulgado e quando a segurança
do país está em jogo, às vezes, é preciso jogar sob as regras do
oponente.
Estou enrolando, de novo, meu olhar busca o dela e memorizo
a forma como ela me olha, o amor e carinho estampados ali. Guardo
cada detalhe, caso essa seja a última vez que eu os veja
direcionados a mim.
— Nós precisávamos de informação e outra unidade tinha
capturado um dos rebeldes. — Bloqueio a lembrança de sua
aparência. — Mas eles não conseguiam extrair a informação dele.
Depois de uma semana, meu comandante me instruiu a tentar.
“Faça com ele o que fizeram com você, dê a ele um gosto do
próprio remédio, Donahue.” Suas palavras ecoam em minha mente
e consigo sentir o peso da faca que ele me entregou em minha mão.
— Em menos de três horas, já tínhamos a informação e
conseguimos evacuar a escola que seria atacada em tempo. Mas,
minha eficiência se tornou um recurso e quanto mais eu o
aprimorava, mais aprendia a gostar disso. — Brooke aperta a minha
mão, mas só meneia a cabeça de forma encorajadora quando olho
para ela. — Eu me tornei o melhor interrogador, especialista em
extrair informações, — desvio o olhar, vergonha e culpa se
mesclando e se unindo a angústia que já percorria meu corpo. — Eu
aprendi a gostar da dor que era capaz de infligir nos outros, de
descobrir como quebrar o outro. Se tornou uma fonte de prazer.
Minha confissão é recebida pelo silêncio. Começo a contar os
segundos, esperando pela resposta de Brooke, quando chego a
dois minutos começo a me preocupar e volto minha atenção para
ela.
— É por isso que você tatua? — pergunta simplesmente.
— É só isso que você tem a dizer? — rebato, incrédulo. — Eu
acabo de te contar que sou um monstro que sente prazer em
torturar pessoas e...
— Você não é um monstro, Seth. — Ela toca meu rosto com
carinho. — Você foi treinado e transformado em um por seus
superiores. Como você disse, você é um sobrevivente, se adaptou a
sua realidade e lidou com ela da melhor forma que foi possível. Eu
fiquei presa durante quase quatro dias e quis morrer, — ela admite
com a voz firme, mesmo que seus olhos se encham de lágrimas. —
Por toda a dor que eu senti, não pensei duas vezes antes de acabar
com a vida daquele que me machucou. Não consigo nem imaginar o
que você passou por mais de meses, quantas vezes desejou a
morte, desejou o fim. O fato de que ainda consegue achar uma
razão para levantar todos os dias, para sorrir e continuar é a prova
da sua resiliência.
— Eu não te mereço — verbalizo o pensamento assim que ele
se forma, depois de todos os meus pecados não é possível que eu
tenha o direito de ser feliz. De ter Brooke. Só percebo que uma
parte de mim acreditava piamente que isso seria o que afastaria
Brooke de mim, uma parte que não acreditava que ela me aceitaria
se soubesse.
— É claro que merece. Depois de tudo que você suportou,
depois de todas as merdas que a vida te jogou, você merece mais
do que eu, mas vou me esforçar para ser o suficiente — ela diz com
convicção.
Se esforçar para ser suficiente? Ela é louca. Puxo Brooke para
meu colo, abraçando seu corpo, colando-a a mim.
— Você é tudo que eu sempre quis, que sempre sonhei,
Brooke. — Beijo seus lábios rapidamente. — Nunca mais quero
ouvir você duvidando do quão perfeita você é.
— Vou tentar, mas você não me respondeu, é por isso que
começou a tatuar?
— Sim, essa foi a principal razão para eu começar, mas eu
acabei gostando da parte criativa também.
— Fico feliz que tenha arranjado um modo saudável de lidar
com isso. — Ela morde o lábio inferior com uma expressão
pensativa e desvia o olhar.
— No que você está pensando, Abelhinha?
— Hoje em dia — ela começa, hesitante. — tatuar é a sua
única fonte de prazer? — pergunta, corando. — Porque, eu já li
alguns livros sobre dominadores e submissas... — ela tenta se
explicar.
— O que você quer saber exatamente? — provoco e ela não
recua.
— Você curte BDSM? — Meneio a cabeça afirmativamente,
curioso para sua reação, quando decidi lhe contar meu passado
nem mesmo imaginava que a conversa acabaria com a loira no meu
colo indagando sobre minhas preferências sexuais não tão
convencionais. — Me ensina a te dar prazer?
Batidas fortes na porta me impedem de responder.
— Seth? — a voz de Thorne chama do outro lado do pedaço
de madeira. Carma é uma coisa maldita mesmo.
— O que foi?
— Encontramos eles — Brooke se retesa em meu colo. —
Precisamos ir agora — ele anuncia.
— Já estamos saindo — respondo.
A informação chegou há cinco minutos. O sistema de
reconhecimento facial de Adonis encontrou Walker entrando em
uma loja de conveniência, em um posto de gasolina nos arredores
da Cidade do México. Com isso conseguiram segui-lo até uma casa
em uma fazenda no meio do nada.
Acordei Raffi quando saí do quarto e ele estava agora
contatando uma de nossas colegas, Paige O’Leary, que tinha
servido ao mesmo tempo que nós e hoje trabalhava como piloto
particular. Nós precisaremos de seus serviços se quisermos chegar
à Cidade do México antes que os três consigam escapar mais uma
vez.
Hesito na frente do quarto de Seth, não quero acordar Brooke
se ela ainda estiver dormindo, mas quando ouço sua voz, mesmo
não conseguindo distinguir o que está dizendo, sinto um peso ser
levantado dos meus ombros. Vê-la desacordada nos braços do
caçula mais cedo fez todos os meus medos aflorarem. Mesmo
depois de entender o que aconteceu, não consegui me livrar da
sensação ruim de que eu tinha falhado com ela mais uma vez.
Bato na porta e a conversa do outro lado cessa.
— Seth?
— O que foi? — a impaciência em sua voz me faz pensar que
eu estou interrompendo algo e não consigo conter o sorriso
debochado. Tá vendo como é ruim, Seth?
— Encontramos eles — o sorriso some. — Precisamos ir
agora.
— Já estamos saindo — ele diz.
Brooke é a primeira a sair e meus braços a envolvem,
puxando-a para mim. Seu perfume doce é a peça final para acalmar
toda a ansiedade que senti mais cedo, ela me abraça de volta e
sussurra:
— Eu tô bem.
— Eu sei, só estava com saudades — respondo. Ela se afasta
ligeiramente para que eu possa ver seus olhos revirando.
— Você me viu há menos de 12 horas.
— E pareceu uma eternidade — rebato, simplesmente. Ela fica
na ponta dos pés e me dá um selinho.
— Onde? — meu irmão pergunta, e a sensação de urgência
volta a me dominar. Todas as vezes que encontramos algum rastro
dos três malditos chegamos tarde demais, perdendo-os por uma
questão de horas.
— México. Raffi já está organizando transporte com O’Leary.
Vamos sair daqui a meia hora.
— Vou me arrumar — a resposta me surpreende porque vem
da loira ao meu lado. Ela deve estar querendo me provocar um
ataque cardíaco.
— Brooke, você não acha melhor ficar em casa? — Seth diz.
— Depois de hoje.
— É por causa de hoje que eu quero ir. Não posso ficar em
casa mais uma vez, esperando para saber se todos os meus
namorados — Meu coração acelera com o título. — Estão bem, vão
voltar seguros para mim. Não vou conseguir lidar com o estresse e a
angústia de não saber. E, quão seguro é me deixar para trás com
um maluco perseguidor atrás de mim?
— A casa é segura, Brooke — respondo. — Aumentamos a
segurança desde que as ameaças surgiram e depois que ficou claro
que você tem um stalker, triplicamos a segurança inicial.
Não sei quem de nós dois eu estou tentando tranquilizar e
convencer.
— Você não entende como é ficar esperando, encarando
aquela porta por horas. — Ela gesticula em direção da entrada no
andar debaixo. — Cada segundo se torna uma hora, meu cérebro
fica conjurando mil cenários, um pior do que o outro. Não vou
conseguir suportar dessa vez. Não hoje.
Seu olhar encontra o de Seth e um entendimento passa entre
os dois fazendo o caçula menear a cabeça concordando.
Seguro suas mãos entre as minhas, atraindo sua atenção de
volta para mim.
— Não posso colocá-la em perigo, Brooke. Não consigo
arriscar.
— O que te faz pensar que eu estou disposta a arriscar um de
vocês? Ou pior os três? Mas eu nunca pedi para que mandassem
um time no lugar de vocês — ela rebate prontamente. — E
poderiam, certo? A Hades’ Men tem os recursos necessários. Mas é
pessoal, não é? — A loira se afasta de mim, apontando de mim para
Seth.
É claro que é pessoal, os malditos covardes não tiveram a
coragem de enfrentar a mim e meus irmãos de frente para conseguir
a vingança que achavam que tinham direito. Não. Eles decidiram
colocar uma inocente no meio, eles ordenaram o sequestro da
mulher que eu amo, torturam-na, e por isso eles pagariam com o
próprio sangue.
— O’Leary já está a caminho — Raffi anuncia se juntando a
nós. — Temos que sair logo. Por que vocês não estão prontos?
Como você está, babygirl? — pergunta, se aproximando dela e
beijando o topo de sua cabeça.
— Estou melhor e já vou me trocar para podermos ir — ela
declara e Raffi olha de Brooke pra mim e depois para Seth.
— Você vai? — ele pergunta hesitante.
— Brooke, eu entendo a sua preocupação — eu começo e sua
expressão decidida vacila, e um vislumbre do desespero que ela se
esforça tanto para esconder, parece escapar. — Nós somos
treinados, ficaremos bem, eles não estão no nosso nível.
— Não podem me prender aqui.
— Você não é uma prisioneira — Raffi responde.
— Então, por que estamos aqui perdendo tempo? Achei que
estavam com pressa.
— Porque não é assim tão simples, Brooke — Seth explica.
Meus irmãos voltam sua atenção para mim, e isso não passa
despercebido por nossa namorada. Ela coloca as mãos na cintura e
arqueia a sobrancelha. Sinto como se meu corpo estivesse sendo
puxado em duas direções: o meu lado protetor quer mantê-la em
casa à qualquer custo. Mas o outro, o que sempre lhe dá tudo que
ela pede, quer ceder.
Esfrego meu rosto. Puta merda, estou mesmo cogitando levar
Brooke para o campo de batalha? Não, necessariamente. Ela disse
que quer ir, mas ela não necessariamente precisa fazer parte da
operação.
— Como o Raffi disse você não é uma prisioneira, mas é
complicado. A situação exige cautela — Brooke abre a boca para
protestar, mas eu levanto a mão pedindo que me deixe continuar. —
Mas se você estiver mesmo determinada em ir...
— Eu estou — ela me interrompe.
— Então tem que prometer que vai fazer tudo que nós
dissermos. — Meus irmãos concordam murmúrios de aprovação e
meneando a cabeça. — Não importa o que estiver acontecendo, se
um de nós disser pra você se esconder, você vai. Se dissermos para
fugir, você vai virar as costas e correr o máximo que puder.
— Tudo bem — ela concorda com rapidez.
— Preciso que você prometa, Sunshine.
— Eu prometo.
— Então vamos, já estamos atrasados.
Corro para o meu quarto, jogo uma água no rosto e paro em
frente ao guarda-roupa. Que tipo de roupa se usa em uma
perseguição? Sinto os segundos passando por mim como se eu
fosse a parte mais estreita de uma ampulheta. Dou preferência para
o conforto e mobilidade e escolho leggings pretas e uma camiseta
da mesma cor. Com certeza, o ideal é não ser facilmente um alvo.
Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo firme, a última coisa que
eu preciso é que ele fique caindo no meu rosto.
Eu realmente não achei que fosse conseguir convencer Kyle a
me juntar a eles, em todas as vezes anteriores eu não pedi, só fiquei
sentada na escada em frente a porta esperando e me preocupando.
Os cães, é claro, se juntaram a mim durante a vigília. Era uma
tortura diferente, minha mente não me dava um segundo de
descanso. Perdi as contas de quantas vezes eu imaginei mortes
diferentes para os homens que eu amo.
Mas depois da minha crise durante a tarde, e as confissões de
Seth que eu ainda estou assimilando, não consigo nem cogitar ficar
para trás dessa vez. Assim que ouvi Kyle dizendo que eles tinham
sido encontrados senti um frio se espalhar pelo meu corpo, uma
urgência e necessidade de estar com o trio. Sei que não sou
treinada e não vou nem tentar ficar no caminho deles, só quero ter
certeza que eles estarão bem. Não tenho nenhuma ilusão sobre as
minhas habilidades, eu não sirvo nem para ser reforço. Por isso,
nem hesitei em aceitar as condições.
— Baby girl — Raffi me chama da porta e me viro para ele.
Seus cabelos estão presos iguais aos meus, ele veste calças de um
tecido grosso e com bolsos em suas coxas e uma camiseta que
envolvia seus músculos, mas parecia lhe garantir liberdade de
movimentos. — Você tem certeza disso? — pergunta entrando no
meu quarto e caminhando até mim.
— Tenho, prometo que não vou ficar no caminho.
Ele segura meu rosto carinhosamente com uma mão,
inclinando-o para cima para que eu olhasse para ele.
— É claro que estamos preocupados com a sua segurança,
mas é mais do que isso, Brooke. Você ainda está se recuperando do
que aconteceu e eu tenho medo que nos acompanhar só vá piorar
as coisas. — A preocupação em sua expressão e tom é clara.
— Eu sinto que preciso ir, Raffi, não sei explicar. Talvez seja
para poder finalmente por um ponto final em tudo que aconteceu,
não sei — explico.
— Só queria checar. Mas se você tem certeza, não vou tentar
convencê-la do contrário. — Ele suspira e encosta a testa na minha,
seus olhos azuis claros me olhando tão profundamente que sinto
como se ele enxergasse a minha alma. — Não posso te perder,
Brooke.
— O sentimento é mútuo, grandão. — Elimino a distância entre
nossas bocas e a mão que ele tinha no meu queixo desliza até
minha nuca, apertando firmemente enquanto ele abre meus lábios
com a língua. Percebo que ele está segurando algo quando sua
outra mão segura minha cintura para me colar contra seu corpo,
mas não consigo identificar o objeto. O beijo é cheio de
necessidade, urgência e desejo. Despertando os meus sentidos e
me consumindo de tal forma que por alguns segundos tudo em que
eu posso me concentrar é Rafael e a firmeza de seu corpo contra o
meu.
O beijo acaba tão rápido quanto começou e ele se afasta, meu
olhar vai para sua mão e vejo um arnês.
— Isso é pra mim? — pergunto apontando para sua mão.
— Sim, — ele me entrega a peça que parece um short faltando
vários pedaços. — Já que você vai entrar, não entrará desarmada.
Raffi me observa atentamente enquanto visto o arnês, e
quando me endireito seus olhos passeiam por todo o meu corpo.
— Vê algo que gosta? — pergunto depois de alguns segundos.
— Dios mío. Quando acho que você não consegue ficar mais
gostosa, você prova que eu estava errado. — Ele segura as duas
tiras laterais, uma em cada lado da minha coxa, e me puxa em sua
direção, meu corpo colando contra o dele, sentindo cada parte dele.
Inclusive seu pau que começa a endurecer contra minha barriga.
— BROOKE! RAFFI! TEMOS QUE IR! — Kyle grita.
Rafael solta o ar e juro que parece um rosnado.
— Vamos pôr um fim na existência miserável daqueles três
hijos de puta, e voltar para casa para que eu possa te mostrar
exatamente o quanto eu gostei de ter ver vestida assim, baby girl —
diz e sinto meu ventre pulsar em resposta as suas palavras, e a
promessa em sua voz. Eu juro que ninguém mais tem o poder de
transformar qualquer situação em algo sensual. Rafael Martinez
exala sexo, mesmo quando fala sobre caçar os responsáveis pelo
meu sequestro.
Quando nos juntamos a Kyle no hall de entrada, sinto seu
olhar parar nas minhas coxas por um tempo e o loiro umedece os
lábios e balança a cabeça com aprovação.
— Agora entendi o motivo do atraso — murmura.
Seth tem uma reação similar quando chego na garagem onde
ele terminava de colocar as coisas no carro. Vou ter que dar um jeito
de acrescentar arnês no meu vestuário, penso com um sorriso antes
de assumir meu lugar no banco de trás.
O trajeto até o aeródromo é feito em quase completo silêncio.
O gps sendo o único a se pronunciar para indicar o caminho. A
tensão parece aumentar a cada quilômetro, o semblante dos
rapazes vai ficando mais sério. Eles não falam, mas se entreolham e
assentem, como se conversando apenas através de olhares.
Durante a cerimônia de condecorações depois que eles deixaram os
fuzileiros navais eu ouvi diversas pessoas, colegas e os seus
superiores, discorrendo sobre como durante missões os três se
comportavam como um só. Como eles sempre pareciam saber o
que o outro estava fazendo ou pensando, agiam guiados por um
instinto que os tornava irrefreáveis e letais. Quando eles me
resgataram eu tinha visto traços disso, mas olhando para eles agora
eu entendia o que tinha sido falado aquele dia. Medo e insegurança
começam a me corroer. Eu não deveria estar aqui... e se algo ruim
acontecer precisamente porque eu insisti em acompanhá-los? Não.
Não posso dar ouvidos a essas dúvidas, já estou aqui e não posso
me deixar intimidar. Me concentro em lembrar de todas as minhas
aulas de tiro e defesa pessoal. Eu não sou indefesa.
— Chegamos — Kyle anuncia, parando o carro ao lado de um
Jeep prata. Do outro lado um helicóptero de carga igual aqueles que
eu sempre via em filmes, e saindo dele uma mulher ruiva, vestindo
uma calça semelhante à dos rapazes e uma camiseta cinza. Ela
sorri e acena assim que saímos do carro.
Ela cumprimenta Raffi primeiro, abraçando-o e beijando sua
bochecha. Seth é o segundo e ela aperta seu ombro antes de se
virar para Kyle alargar o sorriso e abraçá-lo. A cada saudação sinto
um desconforto enorme na aparente intimidade que eles
compartilham. Os rapazes sempre chamaram atenção e isso nunca
me afetou antes. Mas agora um único pensamento ecoa em minha
cabeça: Meus.
— E você deve ser a famosa Brooke — ela se dirige a mim, o
mesmo sorriso ainda nos lábios. — Você não faz ideia do quanto eu
queria te conhecer. Esses três sempre falaram de você.
— Não era sempre — Raffi protesta e ela desvia o olhar pra
ele arqueando uma sobrancelha.
— Deixa pra mentir perto de quem não te conhece, Martinez —
a ruiva o repreende e volta sua atenção para mim. — Eu sou a
Paige — se apresenta.
— Brooke — estico a mão e ela balança o cabeça e me puxa
para um abraço rápido.
— O que vocês estão esperando? — Paige se vira para os
rapazes, mantendo um braço sobre meus ombros de forma casual.
— Carreguem o helicóptero, meninos. Achei que o tempo era
essencial.
— Eu poderia ajudá-los, sabe? Mas pra que servem todos
aqueles músculos? — ela confidencia em um tom conspiratório e
pisca em seguida. — Vem, deixa eu te mostrar a cabine! Você já
andou de helicóptero antes?
— Não, nunca. Eu só viajo de econômica — respondo rindo, o
incômodo que eu tinha sentido antes se dissipando com o seu jeito
alegre.
Ela me indica para subir do lado do copiloto e me mostra tudo,
explicando com termos que eu esqueço assim que os escuto.
— Pode colocar o cinto e os fones.
Olho para ela confusa.
— Não é melhor eu sentar lá atrás? — pergunto.
— Se você preferir, pode. Mas aqui na frente é mais
confortável e você vai poder aproveitar a vista — Paige responde
antes de desviar o olhar para onde os rapazes estão. Cada um
carrega uma mala daquelas que se leva para academia atravessada
no peito. Não consigo desviar a atenção deles, vê-los vestidos para
o combate com suas expressões sérias e determinadas faz meu
sangue correr mais rápido nas veias e meu ventre se contrair. Puta
que pariu como eles são gostosos! — Não garanto que a paisagem
lá de cima vai superar a que você está babando agora, mas é uma
experiência única.
Sinto minhas bochechas corarem e me viro para a ruiva que
solta uma risada.
— Ei, eu entendo. — Eu arqueio uma sobrancelha. — Não se
preocupe, não tenho interesse em nenhum deles.
— Por que? — a pergunta escapa contra o meu melhor
julgamento.
— Porque eles são como irmãos que eu nunca tive. Eles
sempre me apoiaram e protegeram — a ruiva responde com
sinceridade e desce do helicóptero.
Vejo os quatro conversando rapidamente e então os rapazes
sobem na parte de trás. Kyle se aproxima da cabine.
— Tudo certo, Sunshine? — meneio a cabeça e ele se curva e
afivela meu cinto de segurança, testa se está apertado o suficiente.
— Ponha os fones de ouvido, o som na cabine fica muito alto e o
único jeito de abafar é com eles. — Pisca para mim e me dá um
selinho antes de sair.
Me viro para vê-lo se sentar entre Raffi e Seth, os dois já com
os cintos e fones. Paige entra e se acomoda, afivelando o cinto e
mexendo nos botões com precisão e rapidez. Ela coloca os próprios
fones e baixa o microfone.
— Bom dia, senhoras e senhores, eu sou sua piloto, Paige
O’Leary. A previsão do tempo indica que os céus estarão claros até
pousarmos no México. No entanto, fui informada que uma
tempestade está prestes a chegar na capital e vai chover bala em
quem cruzar o caminho da Hades.
Ouço a risada dos três homens em meus ouvidos e esse deve
ser um dos meus sons favoritos no mundo.
Levantamos voo e Paige estava certa, a vista é incrível. Voar
em um helicóptero é muito diferente de um avião. Mas ela nos guia
pelo céu com tranquilidade, o que acalma o nó de nervos que se
formou em meu estômago quando decolamos.
— Eles já te contaram quando eu salvei a vida deles? — a
piloto pergunta.
— Não foi bem assim — Kyle reclama.
— Eles não costumam me contar nada sobre as missões —
respondo, minha mente voltando para o quarto com Seth. Isso foi há
poucas horas, mas parece que já foi em outra vida.
— Ah, não, não, quem me dera fosse em uma missão, teria
sido menos vergonhoso. Estou falando do dia que esses três — ela
aponta com o polegar sobre o ombro para trás. — Estavam
atrasados para a apresentação para o comandante, porque
passaram a noite toda em um torneio de pôquer com a unidade dos
SEALs[6] e perderam a hora.
— Valeu a pena, limpamos os bolsos deles — Raffi responde.
— E mostramos que os MARSOC são os melhores em
qualquer âmbito — Kyle acrescenta.
— É, e nós usamos o dinheiro para uma boa causa. Lembra
quando você ganhou a prancha nova, Brooke? — Seth pergunta.
— Lembro — respondo depois de um tempo, a memória
surgindo de uma das férias dos rapazes e eles me levando para
escolher uma prancha de surfe nova.
— Cortesia dos Navy SEALs.
Pelo resto do trajeto, eles trocam histórias divertidas. Meus
namorados tentam fazer com que Paige fique constrangida, mas ela
sempre tem um relato pior sobre eles. Percebo que meu desconforto
inicial a respeito da piloto sumiu por completo diante do claro
companheirismo que ela divide com os rapazes e, é claro, o jeito
amigável como ela me tratou desde o primeiro segundo.
O helicóptero começa a baixar a altitude e é como se
puxassem um tapete sob meus pés, toda a diversão que estava
sentido é substituída pela sensação de que tem alguém sentado no
meu peito, me impedindo de respirar, minha boca fica seca e fecho
os olhos para me concentrar no ar entrando e saindo.
Não estamos em um passeio.
Seco as minhas palmas na calça e só desafivelo o cinto
quando Paige desliga a aeronave que ela pousou de tal forma que
nem senti. Seth abre a minha porta antes que eu tenha a chance de
fazê-lo.
— Temos que ir, Abelhinha. Como você está?
— Nervosa, — mostro minhas mãos para ele e elas continuam
firmes, nenhum tremor. — Mas estou pronta.
— Ótimo. — Ele estende a mão para me ajudar a descer.
Kyle me espera com um colete em mãos. Todos os três já
vestem os próprios.
— Você lembra da sua promessa? — pergunta quando eu
retiro a peça de suas mãos e começo a vestir, Raffi vem me ajudar e
ajustar as abas. — Você vai ficar atrás de nós, guardar a nossa
retaguarda e se um de nós disser...
— Para fugir, eu corro. Eu lembro — interrompo-o.
— Aqui — Raffi me entrega duas pistolas e eu reconheço o
modelo, é o mesmo que eu usei nas vezes que treinamos tiro. A
primeira coisa que faço é checar o pente de cada uma delas e a
trava de segurança. — Bom saber que ainda lembra. — Ele pega
dois pentes extras e os coloca nos bolsos laterais do colete, as
armas encaixam no arnês que ele tinha me dado antes de saírmos
de casa.
— Eu tive um bom professor — respondo sentindo o orgulho
aquecer o meu peito.
— Aqui estão as chaves — Paige diz se unindo a nós e
entregando o chaveiro na mão de Seth. — Eu estarei esperando
para levá-los de volta.
Ela abraça cada um deles antes de se virar para mim e
envolver meu pescoço.
— Cuide bem deles, Brooke — ela sussurra no meu ouvido e
se afasta. — Boa sorte!
Meus namorados caminham para uma SUV preta que está
estacionada perto da saída do aeródromo. Sei que não deveria, mas
não consigo deixar de me impressionar com a rapidez com a qual
eles conseguiram organizar tudo.
— Ponham os cintos — Seth anuncia, ligando o carro e dando
partida, ele não espera por nossas confirmações, colocando o carro
em movimento e seguindo o GPS que estima apenas 8 minutos até
nosso destino.
Oito minutos. Espero o surto de ansiedade, o nervosismo que
me acompanhou até aqui, mas não tem nada. Pela primeira vez em
meses, meu cérebro está em silêncio. Tudo parece se acalmar ao
meu redor, minha respiração estabiliza e quase posso sorrir.
Dois minutos.
— Adonis confirmou que nenhum deles saiu da fazenda —
Kyle diz.
— Ótimo, isso termina hoje — Raffi comenta ao meu lado.
Seth desliga o carro quando o gps indica que estamos a 150
metros de nosso destino. O carro mal para e os rapazes já estão
saindo, me junto a eles.
— Sabemos porque estamos aqui, vamos acabar logo com
isso e voltar pra casa — Kyle diz com uma mão no ombro de Seth e
a outra no de Raffi. Seu olhar encontra o meu. — Quatro entram.
— Quatro saem — Raffi e Seth respondem em uníssono, me
fazendo sorrir.
Os três pegam uma de suas armas e começam a andar, lado a
lado, formando uma espécie de escudo para mim ao mesmo tempo
em que flanqueiam um ao outro. Eles caminham no mesmo ritmo e
é fascinante de observar. O que, é claro, significa que eu fiquei
parada quase cinco passos atrás deles, mas me adianto para
alcançá-los.
Escuto música country vindo de dentro do celeiro, Seth acena
com a cabeça e os três se distanciam, Kyle estende o braço para
trás me indicando para ficar com ele.
Meu coração acelera com cada passo em direção a porta
metálica. Meu sangue parece borbulhar em minhas veias, toda a
ansiedade e nervosismo volta em uma onda tão forte que pareço
sentir seu impacto contra o meu corpo, como se tivesse tomado um
caldo[7] no mar.
Destravo minha arma quando Raffi segura a maçaneta da
porta com uma mão, com a outra ele conta com os dedos.
Um.
Dois.
Três.
Ele escancara a porta e ouço a comoção no interior do celeiro.
— Walker!
— Que porra está acontecendo?
— Cadê a droga da minha arma?
Todos os gritos acontecem ao mesmo tempo.
— Acharam que existia algum lugar seguro depois do que
fizeram? — Raffi pergunta e o primeiro disparo ecoa pelo ar.
Aperto o cabo da minha arma, não posso me distrair com
memórias, não agora.
— Carter, não adianta correr. Espero que tenha aproveitado
todos os seus dias até hoje, porque este será seu último. — Ouço a
voz de Seth declarar.
Os tiros não param e meu coração martela em meus ouvidos.
Kyle entrou me deixando do lado de fora do celeiro, fora do campo
de visão de quem está do lado de dentro. Minha respiração está
presa na garganta.
Isso foi um erro, eu não deveria estar aqui.
Um calafrio percorre a minha coluna, deixando um rastro de
desconforto que se espalha pelo meu corpo. Aquela mesma
sensação que eu tive quando Kyle anunciou que eles estavam vindo
para cá, me dominando.
O som dos tiros cessa, e meu coração fica suspenso entre
uma batida e outra.
— Algum de vocês pegou o Hill? — Ouço Raffi e suspiro de
alívio, dando um passo em direção a porta.
— Não — responde Seth. — O maldito do Carter correu para a
porta traseira e fui atrás dele.
— Larguem as armas — uma voz desconhecida diz, meu
sangue gela. — Nem pense nisso, Martinez, você acertaria, eu sei,
mas tem certeza que seria antes de eu estourar os miolos do seu
amigo?
Dou mais um passo e tenho certeza que a imagem na minha
frente é um pesadelo. Eu vou acordar. Vamos lá, Brooke, acorda!
Um homem tem uma arma apontada para a cabeça de Kyle,
eles estão de costas para mim. Raffi e Seth tem as mãos
levantadas, mas ainda não obedeceram ao pedido do homem.
Ele é um dos homens que ordenou o meu sequestro, um dos
homens que me mostrou quão vil o ser humano pode ser, que
mandou seus capangas me torturarem, me quebrarem. Não posso
deixar que ele me tire Kyle, não quando ele já me roubou tanto.
Levanto os braços, meu aperto no cabo da pistola firme, eu
miro bem meio de suas costas, não querendo arriscar errar e acabar
acertando Kyle.
— Só tem um problema, Derek — Seth diz e eu desvio meu
olhar para ele, meu namorado tem um sorriso sarcástico nos lábios.
Seu olhar encontra o meu por apenas um segundo e ele meneia a
cabeça ligeiramente, como se aprovando.
— É? e o que seria, Hellhound?
— Você não estava em Faluja[8]. — Deve ser algum código
entre os rapazes, porque Kyle que até então estava imóvel, coloca
uma mão atrás das costas, três dedos aparecendo.
— E o que isso importa? — Derek indaga, e Kyle abaixa um
dedo.
Ele está contando. Inspiro profundamente, mirando como Raffi
me ensinou, o peso da arma é familiar em minha mão, mas não
deixo que isso me distraia. Kyle abaixa outro dedo. Coloco o dedo
no gatilho e assim que ele cerra a mão em um punho eu puxo o
gatilho, sentindo o coice por todo o meu braço.
Eu acerto Derek no meio das costas, a dor o distrai por tempo
suficiente para que Raffi o acerte no peito. Ele cai de joelhos e Kyle
chuta sua cara antes de disparar contra ela.
Kyle corre até mim e me esmaga contra seu peito.
— Você acaba de salvar a minha vida, Sunshine — ele
murmura contra o topo da minha cabeça.
Fico na ponta dos pés, minha boca buscando a dele, o beijo é
incandescente, ardente, intenso, guiado pela minha necessidade de
sentir seu gosto, sua presença, garantir que ele está aqui. Que isso
tudo realmente acabou. Kyle parece sentir o mesmo, suas mãos
apertam a minha bunda, me colando ainda mais a ele, como se isso
fosse possível.
— Você salvou a porra da minha vida de novo, Brooke — diz
contra meus lábios. Seus olhos azuis cravados nos meus. — Você
sempre foi a minha melhor amiga, a minha confidente, meus amigos
no ensino médio não entendiam a nossa amizade, não entendiam a
nossa conexão. Ouso dizer que nem eu entendia. Você sempre foi
meu porto seguro, eu ansiava pelos dias que voltaria para casa
depois de cada missão porque eu sabia que você estaria lá me
esperando, pronta para curar feridas que você nem mesmo sabia
que existiam. Você sempre foi o meu raio de sol, Brooke Roberts, e
caso você não tenha percebido eu estou completamente
apaixonado por você.
— Eu te amo desde o dia em que te vi, Kyle Thorne.
Como já tínhamos contactado a equipe de limpeza antes de
sairmos de San Jose não tivemos que esperar muito para que eles
nos encontrassem e resolvessem o nosso problema eliminando
qualquer evidência que poderia ser ligada a nós. O voo de volta foi
tranquilo com Brooke voando na parte de trás conosco. A loira
pegou no sono, a cabeça oscilando entre o meu ombro e o de Kyle.
Levaria um bom tempo para eu conseguir esquecer o
sentimento de impotência que senti quando vi aquela arma
apontada para a cabeça de meu irmão. O pânico se instalou assim
que me dei conta de que se eu arriscasse disparar, Hill teria tempo
de matar Kyle. Estava tão desesperado tentando encontrar uma
solução, que nem lembrei que Brooke estava lá até Seth mencionar
Faluja. Onde durante uma missão, planejamos uma emboscada
para eliminar o líder de uma unidade terrorista. Daquela vez, eu
estava a 450 metros, cobrindo a retaguarda da nossa unidade
quando Kyle serviu de isca e se deixou ser pego pelo nosso alvo,
confiando sua vida a mim, sinalizou o comando para que eu desse o
tiro.
Nunca poderei agradecer Brooke o suficiente, nunca fui tão
grato por ter ensinado alguém a atirar em toda a minha vida. Ela é a
razão de nossa família continuar intacta.
E como se meus pensamentos a tivessem conjurado a loira
entra na cozinha, amarrando os cabelos. Sua camiseta rosa subindo
deixando exposta a pele de sua barriga, meus dedos formigam para
tocá-la.
— Como foi a sua sessão? — pergunto, me levantando e
caminhando até ela, envolvendo sua cintura e acariciando a pele
macia.
No dia seguinte a nossa visita ao México, duas semanas atrás,
Brooke nos informou que iria começar terapia. Ela até mesmo já
tinha o contato de uma psicóloga que residia em Nova Iorque mas
fazia atendimento online. Concordamos, com a condição de
vetarmos a sua escolha, mas tanto a doutora Luana Masseria
quanto seu assistente Yuri Saito não apresentaram problemas, e ela
já teve três consultas desde então.
— Foi boa. — Ela se vira e vejo seus olhos avermelhados e sei
que chorou de novo.
Beijo a ponta do seu nariz.
— Quer conversar sobre? — ofereço.
— Não tem muito o que falar — responde, dando de ombros e
se virando para pegar algo na geladeira. — Já almoçou?
— Ainda não. Cheguei agora, eu tinha que levar os cães pra
tomar banho, lembra?
— Estranhei mesmo que nenhum deles estava na minha porta.
Eu vou fazer uma salada, quer?
— Claro. Quer ajuda? — ela nega com a cabeça e eu lhe dou
espaço. Me encostando na bancada, observo seus movimentos
absorvendo mais uma vez que ela está segura e o mais importante,
está se curando.
Ela separa os ingredientes, tempera o frango, e o coloca pra
fritar enquanto pica os vegetais.
— Discutimos sobre o dia em que eu fui no shopping com a Liv
— Brooke fala baixinho, consigo ver os músculos de suas costas
tensionarem sob o tecido fino da camiseta. — Eu achava que tinha
sido um fracasso completo, mas a doutora Luana me fez perceber
que não. Eu tentei, me expus a algo que me aterrorizava e não é
porque não saiu como eu esperava que eu fracassei — adiciona. —
Ela sugeriu que eu continue tentando, mas que considere o tipo de
ambiente. Talvez seja melhor ir a algum lugar menos movimentado
do que um shopping durante uma liquidação.
Isso me dá uma ideia, começo a fazer os planos enquanto
respondo:
— Gosto cada vez mais dessa doutora — declaro, voltando
para perto da loira e cobrindo a sua mão com a minha, ela levanta o
olhar para mim, a vulnerabilidade cristalina em sua íris verdes. —
Ela está certa, você não faz ideia do quanto eu me orgulho de você
— falo com sinceridade. — Você é uma força da natureza, babygirl.
Seus olhos marejam e ela morde o lábio inferior.
— E está prestes a queimar meu almoço, de novo — provoco,
só para vê-la sorrir e depois de me dar um tapa e correr para
desligar o fogão, seus lábios se curvam.
— E mais uma vez seria culpa sua. Vou proibi-lo de me fazer
companhia na cozinha.
Levo a mão ao peito, fingindo estar ferido.
— Você não seria capaz.
— Está disposto a apostar? — pergunta, arqueando a
sobrancelha e apoiando uma mão na cintura.
Elimino a nossa distância com dois passos rápidos,
pressionando seu corpo contra a bancada. Uma de minha mãos
segura a sua cintura enquanto a outra sobe pelo seu braço numa
carícia suave que faz a sua pele se arrepiar até alcançar seu
pescoço. Apoio a mão ali, meu polegar massageando o ponto
sensível atrás de sua orelha. Seus olhos se fecham e os lábios se
partem em expectativa quando inclino minha cabeça em sua
direção.
— Estou — murmuro contra seus lábios e me afasto e a loira
geme de frustração antes de avançar e reivindicar minha boca e
morder meu lábio inferior.
— Isso que você ganha por me provocar — declara se virando
para preparar seu prato.
— Quem disse que eu não gosto, babygirl? Você assim, toda
violenta? — Dou um tapa em sua bunda. — Mas vamos almoçar
que nós vamos sair.
— Vamos? — ela pergunta, franzindo o cenho em confusão.
— Sim, tem um lugar que eu quero te levar.
— Onde?
— É surpresa, mas aconselho que use calçados confortáveis.
— Pisco para ela e começo a comer.

Paro o carro no estacionamento do parque estadual e me viro


para ver Brooke sorrindo. Ela passou todo o caminho cantarolando
ao som das músicas da playlist que ela escolheu.
— Vamos fazer uma trilha? — pergunta.
— Você disse que sua psicóloga tinha sugerido sair para um
lugar menos movimentado, e eu sempre quis te trazer aqui. É um
dos meus lugares favoritos na Costa Oeste — explico a ideia que se
formou no momento em que conversamos na cozinha. — E dizem
que estar em meio a natureza ajuda a acalmar a mente.
Seus olhos brilham e ela segura a minha camiseta me
puxando em sua direção e cola nossos lábios em um beijo rápido.
— Obrigada, Raffi.
— Veremos se você vai me agradecer quando terminarmos —
respondo, sabendo que a trilha para chegarmos à cachoeira leva
quase uma hora de caminhada.
Saímos do carro e como ainda estamos no início da tarde de
uma terça-feira, tem apenas outros três carros ao nosso redor. Jogo
a pequena mochila que preparei com barras de cereal e garrafas
d’água nas costas, antes de segurar a mão de Brooke e seguir para
o início da trilha.
Sob a cobertura das árvores, o ar é mais fresco e eu respiro
profundamente. Meus músculos relaxam de imediato ao sentir o
perfume familiar da natureza. Brooke e eu caminhamos pela trilha
de mãos dadas, sempre que nossos olhares se encontram ela sorri
e meu rosto espelha o movimento.
— Sem querer parecer uma criança de cinco anos, mas
estamos chegando?
— Quase, estamos na metade, eu acho.
— Hmm. E nós vamos subir uma montanha? Ou só caminhar
em meio as árvores até voltarmos? — pergunta.
— Você vai ver quando chegarmos, a ideia é relaxar, babygirl.
Silenciar a mente e as preocupações. Aproveitar o momento.
— Certo. Mas falta muito? — pergunta, jogando o ombro
contra o meu braço, sua risada se misturando ao canto dos
pássaros.
— Está entediada com a minha companhia, Brooke? —
pergunto.
— Nunca — ela responde de imediato.
— Quase me convenceu — provoco.
— E o que preciso fazer para te convencer.
— Consigo pensar em algumas coisas — sugiro com meu
melhor tom sedutor.
Rubor colore suas bochechas, mas ela não me decepciona
com sua resposta.
— Ah, é. Alguma em especial? — Ela empurra a bochecha
com a língua e seu olhar escurecido de desejo encontra o meu.
— Várias — viro-a para mim, uma mão em cada lado de sua
cintura, puxando-a para mim. As imagens que meu cérebro conjura
são suficientes para fazer meu pau começar a endurecer contra sua
barriga. — Mas acho que você de joelhos na minha frente com a
boca ao redor do meu…
Vozes interrompem a minha frase e um casal com uma criança
passa por nós. O vermelho no rosto de Brooke se intensifica e ela
me encara com olhos arregalados e pressionando os lábios.
Quando a família se distancia, nós dois começamos a rir.
— Você acha que eles nos ouviram? — ela pergunta.
— Acho improvável, nenhum deles nos olhou de cara feia —
respondo, retomando o nosso caminho, felizmente eles seguiram
para a direita enquanto nós temos que pegar a esquerda para
chegarmos ao nosso destino.
— Ainda bem, ou poderíamos ter traumatizado aquela
garotinha.
— A culpa é toda sua — acuso.
— Oi? Como assim? Foi você quem começou.
— Quantas vezes eu vou ter que repetir? Você existe, babygirl,
isso já é mais do suficiente.
— Você é impossível.
— E você adora.
Começo a ouvir o som da água ficando mais alto a medida em
que nos aproximamos da cachoeira, a razão para ter trazido Brooke
para essa trilha em específico. Fico observando seu rosto com o
canto do olho, vejo o momento em que ela percebe o que nos
espera. Sua expressão se ilumina e ela aperta a minha mão na sua,
acelerando o passo.
Viramos uma curva e a floresta se abre, dando lugar a enorme
cachoeira, cercada por grandes rochas. A loira se adianta para o
parapeito que fica próximo o suficiente para que a água gelada
respingue em nós.
— É linda. Eu não acredito que eu nunca vim aqui antes —
Brooke declara depois de algum tempo. — Eu morei na Califórnia a
minha vida inteira.
— Isso não me surpreende. — Ela arqueia uma sobrancelha.
— Ah, é? E posso saber o porquê? — Como pode alguém ser
tão linda? Sério, até o seu olhar de irritação mexe comigo, Brooke
não precisa se esforçar para ser atraente. A loira pode estar usando
uma roupa sofisticada e maquiada. ou vestindo uma camiseta rosa e
shorts pretos, como agora, e ela continua sendo a mulher mais
bonita que eu já vi.
— Porque todo o seu tempo livre sempre foi passado no mar, é
inclusive por isso que escolhi uma trilha que fosse relacionada com
água, ela sempre foi o seu elemento. — Dou de ombros. — O que
eu sempre assumi ser uma de suas características de sereia. —
Puxo nossas mãos entrelaçadas e voltamos a andar.
— Sereia?
— É, você sempre exerceu um poder sobre mim, sobre nós —
acrescento, lembrando de quando a conheci anos atrás e que
mesmo naquela época a loira já tinha exigido seu lugar no meu
coração. É claro que o carinho que eu nutria por ela então era
diferente do amor que queima em mim hoje. Afinal, eu nunca
imaginei que ela seria minha. — Junte isso com sua obsessão pelo
mar e a conclusão lógica é que você é uma sereia que nos
enfeitiçou. — Sorrio em sua direção.
— Você é ridículo.
— Mas você não negou, o que significa que eu estou certo. —
Me viro para ela e me inclino para sussurrar em seu ouvido: — Não
se preocupe, babygirl, seu segredo está seguro comigo.
Ela revira os olhos, mas seus lábios estão curvados num
sorriso digno do gato da Alice e sei que a leveza em meu peito está
integralmente ligada com a sua felicidade. Por ver um vislumbre da
alegria que costumava a envolver constantemente.
Brooke solta a minha mão para abraçar meu pescoço, seu
corpo se colando ao meu, meus braços envolvem sua cintura por
instinto. Seu olhar encontra o meu, o verde a nossa volta sonha com
o dia que poderá brilhar tão vivo quanto seus olhos. Ela umedece os
lábios e minha atenção é atraída para a região, acompanho o
movimento da sua língua antes de voltar a encará-la e lentamente
eliminar a distância entre nossas bocas.
Minha língua encontra a dela e eu juro que a minha intenção
era um beijo calmo, mas o seu gosto funciona como uma faísca
incendiando o meu desejo. Minhas mãos deslizam até a sua bunda
apertando a carne macia e o gemido que Brooke solta contra meus
lábios, me faz grunhir em resposta.
— Melhor você parar de me atacar, babygirl, antes que
sejamos surpreendidos por outra família.
— Agora fui eu que te ataquei?
— Claro, achei que já tínhamos estabelecido isso.
— Tudo bem, tudo bem. — Ela joga os braços para o ar em
rendição e dá um passo para trás e eu sinto falta do seu contato
imediatamente.
Ela apoia os braços no parapeito e eu faço o mesmo.
— Obrigada por me trazer, eu amei.
Passo um braço sobre seus ombros e beijo o topo da sua
cabeça. Ficamos ali, abraçados, observando a cachoeira por um
tempo. Eu sempre gostei de vir aqui, me lembra uma das trilhas que
eu fazia quando era criança com meus irmãos. Então sempre que a
saudade da minha família aperta eu venho para cá. E poder
compartilhar esse lugar com a minha loira só o torna mais
significativo.
— Você lembra o que me disse um dia antes de eu ser levada?
— ela pergunta sem me olhar.
A mudança de assunto repentina me pega de surpresa, e leva
um tempo para que consiga resgatar a memória. Se passaram
quase três meses, mas parece que já foram anos, porém eu
finalmente consigo lembrar.
— Eu disse que estava apaixonado por você.
— Achava que estava — ela me corrige se virando para mim e
eu enlaço sua cintura.
— Não tenho mais dúvidas, babygirl. — Ela sorri, mas seu
olhar continua distante.
— Eu pensava muito nisso enquanto estava lá, nos momentos
em que eles me deixavam sozinha, pensava em como eu nunca
teria a chance de te responder, de contar como eu me sinto...
— Não precisa falar sobre isso, Brooke. Não foi por isso que te
trouxe aqui.
— Eu sei, mas a doutora Luana disse que era um passo
importante me abrir sobre o que aconteceu, não me forçar a isso,
mas se sentisse vontade não me impedir de falar. Fingir que não
aconteceu, não torna o meu trauma menos real, só dá mais poder a
ele para me manter presa no passado.
Preciso dar um aumento para essa psicóloga.
— Eu já sabia naquele dia que estava apaixonada por você,
Raffi. Mas quando eu voltei não me sentia digna desse sentimento,
de você — confessa.
Tenho que suprimir a vontade de rir, ela só pode estar
brincando. Em que universo essa mulher não seria digna de alguma
coisa? Seguro seu rosto em minhas mãos, meu polegar acariciando
a sua bochecha. A vulnerabilidade de volta em sua expressão.
— Brooke Roberts, você sempre será merecedora do meu
amor. Ele é incondicional e todo seu. Entenda isso: você é dona do
meu coração, minha alma, meu pau, não existe uma parte minha
que não te ame por inteiro...
Palavras nunca foram o meu forte, por isso, desisto de tentar
explicar como me sinto e decido mostrar, meu corpo sempre
conversou melhor com o dela, de qualquer forma.
Colo nossos lábios em um beijo ardente que eu espero
expressar todo o meu amor, desejo e devoção. Essa mulher é tudo
para mim e preciso que ela entenda isso, que aceite que ela é o
meu futuro. Nossas línguas se embolam e se exploram.
Minhas mãos passeiam por seu corpo, decididas a memorizar
todas as suas curvas, quando uma de minhas palmas apalpa seu
seio, ela arqueia o corpo, empurrando o contra mim.
A loira explora o meu corpo por conta própria, uma de suas
mãos sobe por meu braço até alcançar a minha nuca, seus dedos
se enfiando entre meus cabelos, segurando os fios e puxando a
minha cabeça em sua direção, é como se ela precisasse desafiar a
física e fundir nossos corpos. Nosso beijo se intensifica, seu corpo
exigindo mais e o meu pronto para atender cada um de seus
pedidos.
Começo a trilhar beijos por seu maxilar, seu queixo, descendo
por seu pescoço, mas ela me puxa de volta para ela. E o desejo que
encontro em seus olhos deve ser um espelho dos meus. Não sei se
ela pulou no meu colo ou se eu a puxei, tudo que sei é que suas
pernas envolvem a minha cintura.
Brooke geme quando sente a minha ereção.
— Eu preciso sentir você — suplico e ela rebola em meu colo,
empurrando o corpo na direção do meu pau. Ela concorda com a
cabeça e eu sigo em direção a um aglomerado de árvores que vai
nos fornecer algum tipo de privacidade.
Sua boca reivindica a minha em outro beijo abrasador que faz
meu sangue ferver. Meu pau pulsa em resposta ao gemido que
escapa da garganta de Brooke quando apoio as suas costas contra
o tronco de uma árvore.
— Você não tem ideia do quanto eu te quero, babygirl —
murmuro contra seus lábios. — Mas eu tenho toda a intenção de te
mostrar — acrescento, roçando meu corpo contra o dela, vendo
suas costas arquearem em resposta.
— O que você está esperando? — pergunta com a voz rouca
de desejo. Ela desliza as pernas da minha cintura ficando de pé.
Volto a beijá-la, minha mão descendo pela lateral de seu corpo
até alcançar o cós de seus shorts, deslizo um dedo de um lado para
o outro pela extensão da peça.
Minha atenção no rosto de Brooke que morde o lábio inferior
para conter seus gemidos. A loira arfa quando minha mão
ultrapassa a barreira do short e de sua calcinha de uma vez,
encontrando sua boceta encharcada. Meu pau incha ainda mais
quando descubro quão pronta para mim ela está. Meus dedos
provocam a sua entrada, deslizando para cima e para baixo
algumas vezes.
— Raffi — ela choraminga meu nome, sua mão cobrindo a
minha e apertando. — Por favor.
Sorrio para ela e penetro-a com dois dedos, curvando os
dentro dela que deixa a cabeça cair para trás. Uso o polegar para
estimular o seu clitóris enquanto meus dedos fodem a sua entrada.
Eu amo vê-la assim, entregue ao tesão. Não demora para ela
começar a se contorcer na minha mão, cavalgando meus dedos e
seus gemidos se tornam cada vez mais ofegantes.
Sua mão agarra meu bíceps e ela esmaga a boca contra a
minha para conter o grito enquanto ela goza nos meus dedos. Deixo
que ela desfrute cada onda de prazer antes de me retirar e sob seu
olhar lascivo levo os dedos a minha boca e chupo a sua excitação.
— Deliciosa — digo em um grunhido. — Caralho, eu preciso
estar dentro de você agora, babygirl.
Ela sorri maliciosamente e se vira, empinando a bunda
redonda e se apoiando na árvore a sua frente. Me curvo sobre ela,
minha ereção acomodada entre suas nádegas e pergunto em seu
ouvido:
— É assim que você me quer?
Sua resposta é esfregar a bunda contra meu pau, me fazendo
gemer em seu ouvido e posso jurar que a vejo estremecer ao som.
Invisto contra o seu rabo delicioso, provocando-a por cima da roupa
enquanto pego minha carteira no bolso em busca do preservativo.
Assim que o encontro, prendo ele entre os dentes e deslizo a roupa
de Brooke por suas pernas, minhas mãos acariciando a parte
interna de suas coxas quando sobem. Me livro das minhas roupas e
ela se vira e lambe os lábios enquanto seu olhar acompanha minha
mão que desliza a camisinha pelo meu comprimento.
Pincelo meu pau na sua entrada, usando sua própria excitação
como lubrificante. Ela geme em resposta e tenta jogar o corpo para
trás buscando mais atrito.
Apoio minhas mãos em seu quadril e penetro-a devagar,
desfrutando da sensação de ser abraçado por sua boceta a cada
centímetro.
— Vê como você é perfeita para mim? — pergunto quando
estou totalmente dentro dela. — Como o nosso encaixe é divino?
Começo a me movimentar, me retirando quase por inteiro
antes de me enterrar nela novamente, aumentando o ritmo
gradualmente até que nossos gemidos se misturem ao som da
cachoeira. A preocupação que vem com o perigo de sermos pegos
só aumenta a minha excitação, a minha urgência de marcá-la como
minha assim como eu sou dela. Alterno entre movimentos curtos e
rápidos e estocadas longas. Os gemidos de Brooke ficam cada vez
mais altos. Sinto minha namorada começar a tensionar, suas
paredes esmagando meu pau.
— Eu te amo, babygirl — declaro e a sinto se contrair e
desfazer em prazer ao meu redor, a forma como seu corpo me
aperta, me levando ao limite.
— Lembra quando eu disse que esse parque era meu lugar
favorito? — pergunto.
— Sim — responde em um gemido, suas mãos apertando o
tronco enquanto ela vive as últimas ondas de seu prazer.
— Eu estava errado, meu lugar favorito é bem aqui — digo,
penetrando-a até que meu abdômen esteja colado em seu rabo, sua
última contração me fazendo atingir o clímax. — Enterrado em você.
O cheiro de pão recém assado me envolve assim que entro na
pequena padaria abaixo do apartamento de Liv. Minha melhor amiga
me espera sentada numa mesa de vidro perto da vitrine. Ethan,
minha sombra, me segue de perto até ela.
— Desculpa, pela mudança de planos — ela pede, se
levantando para me abraçar. — Mas tenho que entregar o projeto na
segunda-feira e nem um terço dele está pronto. — Ela parece
prestes a chorar.
Seguro sua mão e sorrio.
— Não tem problema nenhum. Eu sei como esse projeto é
importante, é o primeiro na sua empresa nova que está sob sua
completa responsabilidade. Eu teria entendido se precisasse
cancelar — afirmo.
— Até parece! Eu preciso comer e nunca perderia a chance de
te ver — responde, dispensando meu comentário com a mão. Seu
olhar passa para o homem às minhas costas e ela sorri. — Oi,
Ethan.
— Boa tarde, senhorita Jones.
— Liv, Olivia ou meu amor, já te disse — ela o corrige.
— Liv — eu a censuro, dando um tapa em seu braço.
— O que foi? — pergunta, fingindo inocência. — Eu e o Ethan
ficamos muito próximos na última vez que nos vimos, sabe?
Reviro os olhos e me viro para meu guarda-costas.
— Desculpe, é impossível controlá-la.
Ele sorri e não consigo julgar minha amiga por insistir em
conquistá-lo.
— Ei, a culpa não é minha. De qualquer forma, já querem
pedir?
— Sim, por favor, eu passei os últimos dias pensando no
croissant de chocolate que eles vendem aqui. — Dou dois passos
antes de me virar para Ethan. — O que você vai querer?
— Só um café, por favor.
— Tem certeza? Os doces deles são os melhores e são todos
feitos aqui.
— Tenho, só café. Obrigado, Brooke.
Me junto a Liv no balcão, fazemos o nosso pedido e
retornamos para a mesa.
Ethan não se senta conosco, como sempre. Eu tinha
perguntado para ele o motivo na semana passada e sua resposta só
fez com que eu gostasse mais dele. “Meu trabalho é garantir a sua
segurança e não invadir a sua privacidade, por isso prefiro te dar
algum espaço para conversar livremente com a sua amiga”, e deu
de ombros como se não fosse nada.
— Então, como estão as coisas? — pergunto.
— O trabalho está a loucura que eu te falei. Finalmente tenho
responsabilidades e estou sendo levada a sério, o que explica o
projeto de design, mas você não vai acreditar quem deu as caras —
diz, apertando os lábios em desgosto.
— Quem? O Nick? — pergunto, me referindo ao advogado
com quem ela saiu algumas vezes e acabou em desastre. De novo.
— Quem me dera.
A garçonete chega com nossos pedidos interrompendo a
conversa enquanto entrega meu croissant quentinho com um
Pumpkin Spice Latte [9] e um rolinho de canela com cobertura de
cream cheese, e um frappuccino[10] de caramelo para Liv. Ela parece
confusa com a última xícara nas mãos, olhando de mim para a
morena.
— É meu — digo e ela me entrega o café preto e sem açúcar
que Ethan pediu, me viro e ele já está com a mão esperando.
— Obrigado, Brooke.
— Por que ela você chama pelo nome, Ethan? — Liv
questiona indignada.
— Porque ela é minha chefe, senhorita Jones.
— Não sou nada — me defendo.
— Pede pra ele me chamar de Liv — ela pede, apontando para
mim. E ouço a risada baixa de Ethan às minhas costas.
— Eu não tenho nada a ver com isso.
— Achei que você era minha amiga — reclama, dando um gole
em sua bebida.
— E eu sou. Mas você estava me falando de uma visita nada
agradável? — mudo de assunto.
Olivia brinca com o canudo por um tempo e responde sem me
olhar.
— Meu pai. E não foi bem uma visita, até parece que o
governador Jones tem tempo para me ver. — A amargura em sua
voz é refletida em sua expressão. — Sua assistente apareceu no
escritório com uma carta.
— O que ele quer? — pergunto antes de dar a primeira
mordida no meu doce sentindo o chocolate derretendo contra a
minha língua.
— O de sempre. — Ela dá de ombros e desvia o olhar para a
vitrine. Desde que eu conheci Liv na faculdade, sua família sempre
foi um ponto sensível. Levou um ano até ela me contar quem eram
os seus pais e eu nem acreditei no início. Porém, pelo que ela me
contou, seus pais não ficaram muito felizes com a sua escolha de
carreira e muito menos com a sua decisão de conseguir as coisas
por conta própria. — Saber se eu já estou pronta para assumir meu
lugar de volta na família, o que em outras palavras quer dizer se
estou pronta para ele me casar com o filho de algum dos seus
aliados políticos. Eu sou a única filha dele, achei que com o tempo o
grande Grant Jones sentiria a minha falta mais do que ele precisa
de uma marionete, mas eu estava errada.
— Sinto muito, Liv. — Aperto sua mão sobre a mesa.
— Tudo bem. Mês que vem é o aniversário de 50 anos da
mamãe e não posso perder, então vou ter que enfrentar todas as
discussões. — Ela se vira para mim e seca a bochecha abrindo um
sorriso. — Mas e você, quais as novidades? Você parece bem.
Ela dá uma mordida em seu rolinho de canela.
— Estou bem, melhorando. — Sinto meus lábios se curvarem
em um sorriso. — Eu comecei a fazer terapia.
— Você está falando sério? — Meneio a cabeça, concordando.
— Fico tão feliz! Com aquela psicóloga que eu te falei?
— Sim, a doutora Luana é sensacional. Muito obrigada por ter
me indicado e por sempre me apoiar e querer o meu bem — digo
com sinceridade. Olivia sempre me incentivou a ser melhor, a querer
mais. Nenhum sonho era grande demais e depois que comecei a
me envolver com os rapazes, ela nunca me julgou. Inclusive sempre
me aconselhou a seguir meu coração e buscar a felicidade.
— Para que servem as melhores amigas?
— Você sabe muito bem que é mais do que isso.
— Eu sei, e como estão os três gostosos que você chama de
namorados? — pergunta mudando de assunto.
— Estão ótimos, — nem tento suprimir o sorriso largo que se
abre em meu rosto. — É tão extraordinário como tudo parece certo,
mesmo com tudo que aconteceu, sinto que meu lugar é com eles,
todos eles. É muito clichê dizer que cada um deles me completa de
uma forma diferente, mas que sem um deles eu nunca conseguiria
estar de fato inteira?
— É muito clichê — ela brinca. — Mas não tem nada de errado
com clichês.
— É, acho que não.
Terminamos de comer enquanto Liv me conta mais sobre seu
trabalho e seus colegas. O ambiente parece muito menos tóxico que
o anterior e fico feliz, aquele lugar estava sugando todas as energias
da minha amiga.
— Não quero trabalhar — ela reclama quando já estamos na
calçada.
— Você só está com preguiça, mas sabe que adora seu
trabalho.
— Não quando ele me faz trabalhar no fim de semana.
— Deixa de drama! Quanto antes você fizer, antes termina.
— Como se eu tivesse muito tempo. Hoje é sábado e já são...
— ela pega o celular no bolso de trás. — três e vinte e sete da tarde.
— Hora de trabalhar então — digo, puxando-a para um abraço.
— Se cuida, te amo!
— Também te amo, se eu não der sinal de vida até segunda é
porque eu morri. Por favor, mande flores!
— Dramática.
Ethan se aproxima assim que a morena entra pela porta lateral
do prédio para subir para seu apartamento.
— Quer passar em algum lugar antes de voltar pra casa? —
pergunta.
— Não, já podemos ir.
Quando estamos passando por um beco em direção ao carro
que está estacionado na outra quadra, ouço um ganido. Me viro
buscando a origem do som, mas só vejo uma caçamba de lixo e
muita sujeira em volta.
— O que foi? — Ethan pergunta.
— Eu achei que tinha ouvido alguma coisa, deve ter sido
impressão minha.
Estou quase voltando a andar quando movimento chama a
minha atenção.
— Tem algo ali, Ethan — digo.
— Onde? — indaga, um de suas mãos tocando as minhas
costas e a outra já segurando a pistola que carrega na cintura.
— Ali — aponto e me adianto para dentro do beco.
— Brooke! — Meu guarda-costas segura meu braço, me
impedindo de continuar avançando.
— Tem alguma coisa ali.
O ganido soa de novo, mais claro agora que estou mais perto.
É um filhote. Chuto alguns sacos e encontro uma caixa de papelão
toda amassada e uma cabecinha peluda com olhos castanhos
suplicantes me encaram. Meu coração quebra, quem é tão cruel a
ponto de abandonar um bichinho no meio do lixo? Se não pode
cuidar, existem tantos abrigos, não existe desculpa para esse tipo
de comportamento.
— Está tudo bem, pequeno. Tudo vai ficar bem — falo
pegando o filhote no colo. — Você vai adorar a sua nova casa e os
seus irmãos vão ficar loucos por ter alguém novo para brincar.
O cachorro pula no meu colo e lambe meu rosto várias vezes,
como se entendesse cada uma de minhas palavras, talvez ele
entenda que eu não vou deixá-lo sozinho.
Confiro o relógio mais uma vez. Ela está atrasada. De novo.
Saio da academia indo atrás de Brooke para o nosso treino. Chego
na sala, e, exatamente como eu esperava, a loira está no chão
brincando com a nova cachorrinha.
Minha namorada chegou com a filhote mestiça de pastor
alemão há alguns dias. Depois de levá-la ao veterinário descobriu
que ao contrário do que ela achava, o filhote era uma fêmea. E
agora Brooke passa todo o seu tempo atrás da cachorra que é um
pequeno furacão. Já destruiu um dos meus tênis, mijou no tapete da
entrada, comeu um dos documentos da Hades que Kyle
acidentalmente deixou sobre a mesa da sala, e mastigou uma das
hastes dos óculos de sol de Raffi.
— Como está a destruidora de lares? — pergunto como forma
de cumprimento.
— Não chama a Perséfone assim. — Ela cobre as orelhas da
cachorra. — Ela é um filhote, o que você esperava?
— Você na academia há meia hora.
Ela se espanta e olha para o relógio na parede, um leve rubor
em suas bochechas.
— Me distraí. Mas quem consegue resistir a esse rostinho
fofo? — pergunta, levantando a cachorra em minha direção.
— Ela é linda —admito. — Não vejo a hora de ela ser
adestrada e parar de destruir tudo a sua volta.
— Você só reclama, mas acha que eu não vi você brincando
com ela de madrugada?
— É claro, ela estava chorando. Não é como se eu pudesse
simplesmente ignorá-la. — Dou de ombros, mas a verdade é que
ela me lembra o Banguela quando eu o trouxe pra casa.
Cérbero e Apolo já faziam parte da nossa família, eu não tinha
intenção de adotar outro cão, mas Adonis descobriu uma rinha de
cães [11] em San Jose enquanto estava atrás de algum predador e
nos avisou. Contactamos as autoridades locais e como fomos os
informantes, acompanhamos o processo. A maioria dos filhotes
foram realocados, mas ninguém conseguia chegar perto de um dos
filhotes de pitbull, que já é uma raça que sofre muito preconceito,
por ele ser completamente preto acreditavam ser um mau agouro.
Fiquei sabendo que ele seria sacrificado se não encontrassem uma
casa para ele. Naquele mesmo dia, visitei o canil onde ele estava
sendo mantido e o cão que todos tinham medo correu em minha
direção abanando o rabo e lambendo minha mão. E simples assim,
Banguela me adotou.
— Mas agora ela vai brincar no jardim — comento.
— Eu sei — ela diz se levantando com a filhote no colo, os
outros três que estavam deitados no canto afastado se juntam a ela.
— Vem, Perséfone, você vai brincar com seus irmãos lá fora agora.
Sopro uma risada com o nome escolhido.
— O que foi?
— É um nome um pouco grande para ela você não acha?
— Não, ela vai crescer. Como se você pudesse falar alguma
coisa — comenta passando por mim em direção da cozinha e da
porta que leva para o quintal.
— O que você quer dizer com isso?
— Qual o nome da sua empresa mesmo? — ela rebate,
arqueando a sobrancelha.
— Hades’ Men[12] Corp.
— E da boate?
— Underworld[13].
— E temos outros três cachorros, dois deles tem nomes de
deuses gregos, e Banguela é uma referência a um dragão de um
desenho animado. Por isso, Perséfone se encaixa perfeitamente —
declara confiante, fechando a porta depois que todos os cães já
estão no jardim.
— Então o que você está dizendo é que o nome da sua
cachorra é uma homenagem a nós? — pergunto com um sorriso
convencido.
Ela dá um tapa no meu braço e segue para a academia.
Ela já está se alongando quando eu chego. Fazemos um
aquecimento rápido na esteira antes de nos juntarmos no tatame.
— O que acha de começarmos com um sparing[14]? Ver o
quanto você assimilou das aulas passadas — sugiro.
Ela dá de ombros e se coloca em posição de luta. Os dois
braços levantados e protegendo seu corpo e rosto, um pé na frente
no outro. O seu progresso e dedicação nunca deixam de me
impressionar, durante o último mês ela recuperou a sua resistência
e força.
Ficamos alguns segundos nos observando, espero que a loira
decida se quer começar na ofensiva ou na defensiva. Ela estende
um dos braços e sorri enquanto vira a palma para cima e move os
dedos num gesto claro de “vem”.
— Não me provoque — advirto, avançando. Desferindo uma
combinação de socos e chutes, testando os reflexos da loira que
consegue defender ou desviar de cada um dos golpes.
Brooke se agacha, tentando me dar uma rasteira, e quando eu
me esquivo ela parte pra ofensiva, buscando uma brecha que possa
explorar em minha defesa. Depois de alguns golpes, deixo meu lado
esquerdo exposto, vejo sua atenção ir para o ponto. Ela não perde
tempo e me soca nas costelas. Seguro seu braço antes que tenha
tempo de puxá-lo de volta.
— Boa escolha de alvo —elogio. — Mas precisa melhorar o
retorno.
Ela sorri, se aproximando e girando seu braço de tal forma que
ela se solta e agarra o meu, prendendo-o contra ela. Seus
movimentos são fluídos e ela só para quando está colada contra as
minhas costas, meu braço em uma posição nada confortável entre
nós.
É impossível ignorar o volume de seus seios contra as minhas
costas, ou o cheiro de seu perfume floral que preenche meus
pulmões cada vez que eu respiro, e seu sussurro travesso em meu
ouvido só alimenta a fome constante que eu sinto por Brooke.
— Você estava dizendo... — Seus lábios resvalam contra o
lóbulo da minha orelha e um calafrio me percorre. Levo alguns
segundos para me recompor e virar meu corpo para ficar de frente
para a loira.
Solto meu braço usando o mesmo movimento que ensinei para
Brooke em nossas primeiras sessões. Agora que tenho os braços
livres, seguro um seu cotovelo direito com uma mão e com a outra
agarro a sua camiseta sobre o ombro esquerdo, avançando e
trazendo-a para a minha lateral quase nas minhas costas. Sem lhe
dar tempo para processar os movimentos, passo uma das minhas
pernas entre as suas e a derrubo no chão, caindo sobre ela. Meus
braços seguram seus pulsos ao lado de sua cabeça enquanto meus
joelhos prendem a sua cintura e mantenho minhas pernas coladas
ao seu corpo, Brooke é rápida e dobra os joelhos ganhando certa
vantagem com o movimento e me forçando a me apoiar em suas
coxas.
É minha vez de sorrir.
— O que eu te ensinei sobre se vangloriar cedo demais? —
Ver Brooke sob mim, com um olhar desafiante mesmo em uma
posição submissa, faz meu sangue esquentar e bombear mais
rápido em direção ao meu pau.
Ela não hesita em usar a manobra que já treinamos diversas
vezes. Impulsionando seus quadris para cima ao mesmo tempo em
que arrasta seus pulsos em uma meia lua para baixo, se libertando
e tirando o meu equilíbrio, sou obrigado a usar meus braços para
impedir que minha cabeça bata no tatame.
A loira abraça meu tronco, me impedindo de levantar. Seu
braço direito serpenteia ao redor do meu esquerdo, puxando-o em
direção ao seu peito com firmeza, ela usa seu próprio joelho para
guiar o movimento e inverter nossas posições.
Brooke está entre minhas pernas, segurando meus braços.
Nossos olhares se cruzam e o ar muda, a tensão criada pelo
exercício dá lugar a uma energia carregada de desejo. Ela sobe
pelo meu colo, sentando sobre meu abdômen, suas mãos nos meus
braços sobem até meus pulsos.
Ela se inclina devagar, me dando uma visão deliciosa de seu
decote, seu rosto paira sobre o meu. Sua atenção desce dos meus
olhos para a minha boca antes de retornar.
— Quem celebrou antes da hora agora? — pergunta,
esfregando seu ventre contra meu pau que já começa a endurecer.
Ela abre um de seus sorrisos maliciosos antes de eliminar a
distância e me beijar.
O toque de seus lábios macios faz com que os resquícios de
autocontrole que eu possuo, quando o assunto é a mulher montada
em mim nesse momento, evaporem. Sua língua invade minha boca,
explorando e se embolando contra a minha.
Ela afrouxa as mãos que me seguram e aproveito para me
soltar, deslizo meus dedos por seus braços, passando por suas
costelas até alcançar sua bunda redonda e empurrá-la em direção à
minha ereção. Brooke geme contra a minha boca, rebolando em
meu colo e arrancando um grunhido da minha garganta.
A loira alcança a barra da minha camiseta e espalma a mão
em meu abdômen, contornando os músculos com seus dedos ágeis
e me levando ao limite. Minha necessidade de possui-la eliminando
todas as minhas convicções do porquê eu não deveria. Estou
cansado de esperar, cansado de ter medo de que ela vá fugir.
Brooke viu toda a minha escuridão e não se assustou, pelo
contrário, ela a abraçou, acolheu e me mostrou uma e outra vez que
me ama sem restrições.
Ela se afasta, seus olhos escurecidos de desejo, os lábios
avermelhados pelo beijo.
— Seth — meu nome é como uma oração em seus lábios. —
Me mostra como você gosta.
Se eu já não estivesse decidido a fazer exatamente isso, suas
palavras teriam sido minha ruína.
Seguro seus quadris, invertendo nossas posições mais uma
vez.
— Quarto — ordeno. — Agora.
— Quarto. Agora.
A minha Brooke interna já está sem camiseta e a rodopiando
no ar em celebração enquanto eu ainda duvido dos meus ouvidos
por alguns segundos. Seth se levanta e imediatamente sinto falta do
seu corpo, de sentir como reage a mim e, se estiver sendo honesta,
sentindo falta de como pareço queimar toda vez que ele me toca.
Sem olhar para trás ele se afasta, me levanto correndo e o alcanço
já no pé das escadas.
Ele abre a porta para o seu quarto e faz um gesto para que eu
entre primeiro, estou passando por ele quando vejo o músculo de
seu maxilar se retesar, como se ele estivesse se controlando. Meu
ventre formiga em expectativa de vê-lo abandonar o controle.
Não resisto a chance de testar seus limites e me viro, colando
meu corpo ao dele, que se choca com a madeira às suas costas.
Reivindicando seus lábios mais uma vez em um beijo que consome
tudo dentro e ao meu redor, deixando apenas o desejo, o tesão
incandescente que faz meu sangue ferver através do meu corpo.
Seguro a barra de sua camiseta, puxando-a para cima e
roçando as costas de meus dedos contra seu abdômen sarado. Sou
obrigada a me afastar para retirar a peça, mas antes que eu volte a
beijá-lo, Seth segura meu pescoço com a mão.
— Calma, Abelhinha — sua voz tem uma rouquidão que eu
nunca ouvi antes que deixa meus joelhos fracos e tenho certeza que
minha calcinha está arruinada. — Você vai precisar de uma palavra
de segurança — declara.
Minha mente fica em branco. Uma palavra de segurança?
Quero me chutar, por que eu não decidi isso antes? Não é como se
eu não tivesse passado os dias desde a confissão de Seth,
imaginando o que ele gosta e eu já tinha lido o suficiente para saber
quão essencial é ter uma palavra de segurança.
Seth, como sempre, consegue ler minhas emoções como se
estivessem escritas em uma folha de papel.
— Não se preocupe, acho melhor usarmos o sistema de cores
— diz, seu polegar acariciando a lateral do meu pescoço. —
Conhece? — Concordo com a cabeça e ele sorri. — Me conta.
— Igual as luzes de trânsito. Verde, amarelo e vermelho.
— Muito bem. Você entende que quando eu te pedir uma cor,
você precisa responder ou eu vou parar?
— Sim, senhor.
— Porra — exclama em um grunhido, sua mão apertando meu
pescoço levemente enquanto me puxa para ele. Esmagando seus
lábios contra os meus, engolindo meus gemidos. Sua outra mão
desce pela minha coluna até a minha bunda, agarrando-a e
pressionando meu corpo contra ele. Sinto sua evidente ereção
contra minha barriga e meu ventre se contraí insatisfeito com o
vazio que encontra.
Seth encosta a testa na minha, suas irises azuis profundas me
fitando intensamente. A mão que envolvia meu pescoço sobe para
meu rosto e ele acaricia minha bochecha.
— Se você precisar, ou quiser parar a qualquer momento, use
sua palavra de segurança. — Existe uma pitada de desespero ou
súplica em sua voz. — Não importa quando ou porquê. Diga
vermelho e vou parar, sem julgamentos.
— Tudo bem — respondo prontamente.
— Preciso que me prometa, Abelhinha. Não consigo suportar a
ideia de que posso te machucar.
— Você nunca me machucaria.
— Prometa que vai usar a palavra de segurança.
— Eu prometo, Seth.
Ele fecha os olhos e suspira, quando os abre novamente algo
em sua expressão está diferente, mais selvagem, indomável,
primitivo. Como se em resposta a mudança meu corpo entra em
ebulição, algo que achava impossível quando eu já estava
queimando de tesão pelo homem à minha frente.
— Boa garota.
Meus joelhos quase cedem diante do elogio sussurrado com a
voz rouca, mas Seth me pega no colo antes que eu possa fazer
isso. Minhas pernas se entrelaçam contra a sua cintura enquanto
ele caminha até a cama.
Meu namorado me deita no colchão e dá um passo para trás,
seu olhar é uma carícia sobre todo o meu corpo. Ele se inclina e
meus braços envolvem seu pescoço puxando o para mim, ele se
retesa e segura meus punhos, tirando-os de seu pescoço e
prendendo-os contra o colchão com apenas uma mão. Com a outra
ele segura meu queixo.
— Mantenha suas mãos paradas para mim, Abelhinha. — O
comando em sua voz atinge diretamente minha boceta, esfrego as
pernas uma contra a outra em busca de algum tipo de alívio. Seth
mal me tocou e eu já estou no meu limite de tanta antecipação.
Seus lábios buscam o meu em outro beijo que tira meu ar. Ele
tira a minha blusa e meu top e o ar parece frio contra a minha pele.
Seth trilha beijos pela minha mandíbula, descendo pelo meu
pescoço, até alcançar meus seios. Contorna um dos mamilos com a
língua antes de chupá-lo com força e morder. O gemido que deixa
minha garganta é quase um grito.
— Cor? — ele demanda contra a pele sensível.
— Verde — respondo de imediato. A alusão à dor que a
mordida proporcionou apenas elevando o meu prazer.
Lambendo o caminho até o outro seio ele repete a sequência,
contornando com a língua e mordendo um pouco mais forte do que
antes ao mesmo tempo em que belisca o outro mamilo entre o
polegar e o indicador. Minhas costas deixam o colchão com a força
do prazer que ameaça me rasgar. Meu deus, ele só tocou nos meus
seios e eu já estou à beira da loucura, como vai ser quando ele me
foder de verdade?
— Cor? — o mesmo tom autoritário.
— Verde.
Seth desenha círculos ao redor de meus seios, seus dedos
contornando as extremidades, o limite entre meus peitos e minhas
costelas, passando pelo centro do meu tórax, a cada volta os
círculos se tornam mais concêntricos, minha pele formiga em
resposta e minha respiração ofegante de expectativa faz meu peito
subir e descer rapidamente sob suas mãos. Até alcançar os bicos
intumescidos, seu olhar encontra o meu no momento em que ele
volta a beliscá-los simultaneamente e dessa vez eu grito. A dor se
mescla ao prazer e sinto meu clitóris pulsar e exigir atenção.
O sorriso malicioso que ele tem nos lábios enquanto se levanta
e desliza as mãos pelas laterais de meu corpo, deixa minha pele em
brasas pelo caminho. Ele não perde tempo e tira minhas calças,
seus dedos acariciando minhas pernas no processo. O olhar de
Seth se torna predatório quando se concentra no meio das minhas
pernas.
Ele desliza o indicador lentamente pela fenda de minha boceta
por cima do tecido da minha calcinha e eu me esfrego contra seu
dedo.
— Seth — choramingo quando ele tira o dedo e o esfrega
contra o polegar. Consigo ver a minha excitação reluzindo em seus
dedos.
Meu namorado se ajoelha em frente a cama e retira a minha
calcinha. Suas mãos seguram meus quadris e me puxam para a
frente, minhas coxas passando por cima de seus ombros, até meu
sexo estar diante de seu rosto, sua respiração diretamente sobre a
minha boceta fazendo meu corpo se contorcer. Seus dedos apertam
a minha cintura, restringindo meus movimentos e me forçando a
ficar parada.
Ele lambe a minha abertura, meus gemidos contínuos se
tornam cada vez mais altos e minhas costas deixam o colchão, se
arqueando enquanto ele desliza a língua intencionalmente devagar
debaixo para cima, seu grunhido de aprovação reverbera pelo meu
corpo. Sua boca se fecha contra minha boceta, intercalando entre
me chupar intensamente ou me castigar com sua língua.
O tesão transpassa toda e cada molécula que existe em mim,
Seth me chupa como se fosse um homem sedento e eu fosse a
única fonte de água que ele encontra em meses. O prazer começa a
se acumular em meu ventre, como uma onda se formando no
oceano. Os dentes de Seth se fecham contra meu clitóris e a
pontada de dor amplia todos os meus sentidos.
— Seth — grito seu nome quando o orgasmo arrebatador me
dilacera.
Ele só para de me chupar quando o último espasmo de prazer
deixa meu corpo. Meu namorado se levanta, limpando o queixo com
as costas da mão.
— Parece que eu acertei em seu apelido. Você é doce igual
mel, Abelhinha.
Acompanho sua mão reajustar o pau dentro da calça de
moletom cinza e sinto minha boca salivar. Eu sei que ele é grande,
já o senti contra mim várias vezes, mas o contorno que eu vejo é
impressionante.
— Pronta para começar? — pergunta caminhando em direção
ao seu guarda-roupa.
Começar? Esse homem quer me destruir e só posso dizer:
— Nasci pronta. — Me apoio nos cotovelos, curiosa para ver o
que ele está fazendo. Os músculos de suas costas se mexendo sob
a pele conforme ele se movimenta para abrir a porta de canto do
seu armário.
Levo um tempo para decifrar o que são as tiras de couro de
diversas espessuras na prateleira superior.
— Por que você tem tantas coleiras para o Banguela se ele
sempre usa a mesma? — pergunto.
Seth se vira com um brilho malicioso no olhar.
— Não são para o Banguela.
O entendimento me percorre e meu ventre pulsa, como se
batesse palmas para a ideia. Continuo tentando identificar os artigos
que ele tem e me surpreendo com a variedade de chicotes, açoites,
mordaças e mais.
Meu namorado se vira com uma corda vermelha nas mãos.
Excitação e antecipação me dominam enquanto ele se aproxima.
Ele estica os braços, expondo o fio vermelho.
— Cor? — pergunta.
E por um segundo quase respondo vermelho apenas por estar
olhando para a cor, mas sei o que ele está fazendo. Está me
pedindo permissão para usar a corda em mim.
— Verde. — Seus ombros relaxam minimamente, como se ele
esperasse outra resposta. Como se mesmo agora, depois de tudo
que passamos, ele ainda suspeitasse que eu fosse fugir. Nem que
me levasse a vida inteira, eu provaria para Seth Donahue que o
amor que eu sinto por ele desconhece limites, e que nenhuma parte
dele pode me assustar ou afastar. Estou aqui para ficar, para
sempre.
— Levanta — ordena e meu corpo responde por instinto, nem
lembro de ter dado o comando ao meu cérebro.
Ele toca a minha mão e um choque elétrico me atravessa. Seth
me afasta da cama e se posiciona atrás de mim. O primeiro toque
da corda dupla contra a minha pele é estranho, ela é suave ao
mesmo tempo em que ainda é áspera e firme contra minhas costas.
Seth me rodeia trazendo a corda para a frente, passando por baixo
dos meus seios, a aspereza contrastante contra a maciez da minha
pele, me faz arfar.
Expectativa se mistura ao tesão a cada volta que Seth dá,
formando um padrão intrincado com a corda ao redor de meus
seios, seus dedos pairando sobre a minha pele em um sussurro de
um toque. Começo a ansiar pelo momento em que vou sentir a sua
pele contra a minha mais uma vez.
Quando Seth para em minha frente, meus seios estão
completamente expostos, o fio vermelho que se destaca em minha
pele formando uma espécie de sutiã que não cobre nada, mas
delineia perfeitamente meu colo.
— Cor?
— Verde. — A corda é restritiva, mas não sufocante, consigo
sentir cada ponto onde ela me aperta, mas não é doloroso.
Ele começa a dar nós consecutivos na corda, deixando-a mais
grossa e fico confusa com o que ele vai fazer, até que Seth a
pressiona contra a lateral do meu corpo, balança a cabeça
negativamente e faz mais alguns antes de repetir o movimento e
sorrir.
Começa a envolver meus quadris com a corda vermelha, cada
novo ponto onde a corda se cruza aumentando a pressão e a
tensão contra a minha pele.
— Abra as pernas pra mim, Abelhinha. — Tesão em seu tom,
como se ele estivesse tão desesperado quanto eu, tão necessitado
do que vem a seguir, mas suas mãos continuam trabalhando com
atenção e paciência.
Seth desliza a corda dupla pela minha virilha, os nós de seus
dedos tocando a minha boceta e me fazendo gemer. Os olhos de
Seth encontram os meus cheios de fome e desejo. Sinto que meu
corpo está prestes a sofrer combustão espontânea, preciso dele
dentro de mim. Não sei quanto tempo ainda sou capaz de suportar,
e quando ele desliza a corda pela outra perna tenho certeza que sou
capaz de gozar a qualquer segundo.
Ele me contorna mais uma vez ficando atrás de mim e termina
de me amarrar. Seth se cola a mim, sua ereção contra a minha
bunda enquanto suas mãos serpenteiam ao redor da minha barriga,
trilhando o caminho criado pelas cordas até meu sexo e espalma
sua mão contra minha boceta. Seguro seus antebraços diante da
onda de prazer que me toma por finalmente sentir mais do que um
toque fugaz.
— Cor? — pergunta contra meu ouvido, o calafrio que me
percorre faz meu corpo tremer.
— Verde — respondo rápido. — Seth, por favor, — suplico. —
Eu preciso sentir você.
Ele curva dois dedos me penetrando sem aviso e eu grito em
êxtase.
— Você não tem ideia de quanto tempo eu esperei pra te ter
gritando e implorando por mais. Por isso, vou tomar muito tempo
venerando seu corpo delicioso. — Ele morde meu pescoço com
força e eu explodo em sua mão.
Seth me vira de frente para ele, para que eu veja quando ele
leva seus dedos a boca e chupa cada um deles me encarando.
— Lembra aquele dia que eu te fodi com meus dedos? —
Meneio a cabeça em resposta. — Você voltou a dormir e eu usei a
minha mão melada com seu gozo para me masturbar. — Esse
homem decidiu que hoje vai me fazer gozar para compensar pelo
tempo perdido, só pode. — Você é tudo que eu sempre sonhei e
que nunca achei que teria, Brooke. E eu vou te foder como se você
fosse minha.
— Eu sou sua — declaro e vejo o peito dele subir e descer
rapidamente.
Ele me joga na cama e se livra das calças e cueca e eu encaro
seu pau. Como eu já sabia ele é grande e curvado, a cabeça larga
parece um cogumelo e já está molhada com pré-gozo. Seus olhos
reviram quando ele desliza a camisinha por toda a extensão.
Seth para em frente a cama, entre minhas pernas e escaneia
o meu corpo, sua mão masturbando seu pau lentamente.
— Cor?
— O que você acha? Verde! — exclamo, como se eu pudesse
parar agora.
— Ponha os pés no colchão — ele ordena e eu obedeço.
Sabendo que nessa posição estou completamente exposta. Ele
passa a mão pela minha boceta que pulsa em resposta e sorri. —
Você é linda, mas toda amarrada, gozada e pronta para mim na
minha cama é sem dúvidas uma obra prima.
Ele guia seu pau para a minha entrada e eu deixo a cabeça
cair no colchão me preparando para senti-lo.
— Olha para mim, quero ver cada uma de suas reações
quando meu pau entrar nessa boceta deliciosa — pede ou manda,
não sei dizer, mas faço e no segundo que nossos olhares se
encontram, ele me penetra. Devagar, torturantemente devagar. Me
fazendo sentir cada centímetro até seu quadril colidir contra o meu.
—Porra, como você é magnífica!
Seth se retira por inteiro e dessa vez me penetra de uma só
vez, o som molhado de nossos corpos colidindo ecoando pelo
quarto. Ele começa a estocar forte, fundo, a curvatura de seu pau
fazendo com que ele atinja um ponto extremamente prazeroso
dentro a cada vez que se enfia completamente dentro de mim.
Agarro os lençóis e me deixo cair no colchão, tomada
completamente pelo tesão irrefreado que me percorre da ponta dos
pés até os fios de cabelo. Meu corpo inteiro parece uma árvore de
natal iluminada. Ele aumenta o ritmo, segurando meu quadril com
força, eu queria vê-lo perder o controle e cada uma de suas
investidas violentas demonstram que ele soltou a fera que existe
dentro dele.
O orgasmo potente me toma sem aviso. Meu corpo inteiro
tremendo com as convulsões que o tomam, mas eu ainda quero
mais, quero tudo que Seth puder me dar.
Como se lesse meus pensamentos uma de suas mãos sobe
para meu seio, apertando o mamilo mais intensamente do que antes
e eu grito mais uma vez, arqueando as costas sinto seu pau se
contorcer dentro de mim.
Sua mão sobe ainda mais pairando sobre o meu pescoço, a
memória de quando ele me segurou ali mais cedo tomando a minha
mente. O olhar de Seth é uma mistura de súplica e luxúria quando
ele me pergunta mais uma vez:
— Cor?
Cubro sua mão com a minha, levando-a até meu pescoço
antes de responder entre gemidos:
— Verde.
Seus dedos apertam meu pescoço e seus movimentos se
tornam mais frenéticos, sinto meu prazer como um elástico esticado
ao limite prestes a se romper, a pressão no meu pescoço, a
sensação das cordas ao meu redor, o pau de Seth entrando e
saindo de mim, me levando ao limite e além. Meu corpo inteiro se
contrai e ouço o grunhido de prazer de Seth quando minha boceta
esmaga seu pau fazendo-o gozar um segundo antes de eu explodir
num dos orgasmos mais intensos da minha vida.
Seth se deita sobre mim, sua boca buscando a minha num
beijo que começa desesperado e vai se acalmando junto com
nossos corpos. Ele rola para o lado e me puxa para poder me
encarar, seu olhar me escaneia em busca de algo que eu não tenho
forças para tentar desvendar.
Meu corpo parece pesado, exaustão me tomando, fecho os
olhos. Sinto Seth se levantar e ouço o barulho da camisinha sendo
descartada antes de ele contornar a cama e começar a me
desamarrar, sinto o alívio da corda sendo tirada e quando ele a
retira por inteiro, me forço a abrir os olhos e sorrio para o padrão
desenhado em minha pele.
Não lembro de ter fechado os olhos, mas a voz de Seth me
chamando me desperta.
— Beba isso aqui — ele pede, sua voz mais suave do que
antes quando me entrega um copo d’água e um biscoito. Meu
namorado beija a minha testa. — Vou preparar a banheira para
você.
— Você vai tomar banho comigo? — pergunto, e o sorriso em
seus lábios é um dos mais tranquilos e satisfeitos que eu já vi em
seu rosto.
— Se você quiser.
Estou analisando os perfis de seguranças que Paula me
enviou mais cedo, já que precisamos que alguém da Hades’ Men
cubra a licença paternidade de Damien, um dos guardas de nossa
casa. Ainda faltam algumas semanas para que sua esposa tenha o
bebê, mas quero que seu substituto já esteja treinado e preparado,
em caso de alguma eventualidade.
Quando meu celular vibra com uma nova notificação,
desbloqueio o aparelho e vejo o novo meme que Raffi mandou no
grupo da casa. O grupo foi renomeado há três dias para: “O caçula
fez a B gozar 4x”. Eu sempre soube que Seth se vingaria de toda a
zoação que fizemos com ele. Só que seu comentário desencadeou
uma competição e a pessoa que mais se beneficiou com isso foi a
nossa namorada, o que explica porque Brooke não reclamou do
novo nome. Ontem, foi a minha vez de alterá-lo. “S&K fizeram a B
gozar 4x”, e eu só parei porque a loira implorou, pois estava
determinado a bater o recorde de Seth. Raffi ficou tentando
renomear o grupo, mas a cada tentativa um de nós ia lá e alterava
novamente ao anterior.
Volto minha atenção para a ficha de Henry Mitchell. Ele parece
promissor, seu treinamento acabou mês passado e ele está
aguardando sua próxima missão. Ele é novo na empresa, mas
serviu durante 10 anos no exército. Decido mandar um e-mail para o
Sargento Jefferson, meu antigo superior, pedindo para checar as
credenciais de Mitchell. Nem em um milhão de anos eu deixarei
algum desconhecido com acesso a essa casa e Brooke sem checar
todas as suas informações diversas vezes. Talvez devesse pedir pro
Adonis também, mas o Londrino já estava atrás do perseguidor da
loira e ainda tinham todos os seus outros trabalhos.
Eu, honestamente, não consigo entender como ele consegue
administrar tantas coisas: a empresa de tecnologia, o Nox, seu
trabalho clandestino, e ainda ter tempo para se apaixonar. Só lidar
com a parte administrativa da Hades’ Men Corp e da Underworld já
me deixam louco, isso porque eu tenho uma assistente pessoal e
uma equipe extra para gerenciar a boate. Preciso de férias.
Uma batida leve na porta interrompe meus pensamentos.
— Entra.
Brooke abre a porta e se apoia contra a madeira, seu cabelo
cascateando sobre seus ombros.
— Só pra avisar que já voltamos.
— Como foi? — pergunto e seus lábios se curvam. Ela parece
tão mais saudável, meus irmãos estavam certos. Ela precisava sair
de casa, precisava provar para si mesma que conseguia. O fato de
que ela sempre sai acompanhada de Ethan, ajuda a acalmar a
minha ansiedade.
— O veterinário disse que a Perséfone está crescendo e
recuperando a massa muito bem. Ela tomou mais duas vacinas e
dormiu no caminho de volta. Coloquei ela na caminha dela lá na
sala antes de vir aqui. — Ela olha de mim para o computador,
notando os meus dedos pairando sobre o teclado. — Só queria te
avisar que já tinha voltado, vou te deixar trabalhar.
— Vem aqui, Sunshine — chamo, afastando a minha cadeira
da mesa.
Ela entra com o kindle em uma das mãos e o vestido azul claro
esvoaçando levemente ao seu redor. O aparelho foi o melhor
presente que poderíamos ter lhe dado, ela não ia para lado algum
sem ele.
— Não quero te atrapalhar — ela diz.
— Você nunca incomoda, sua companhia só vai me ajudar —
declaro, puxando-a para o meu colo, ela se senta meio de lado, seu
corpo se encaixando sob um de meus braços e as suas pernas
passando para o outro lado.
Meus braços envolvem a sua cintura e reivindico seus lábios,
antes que possa aprofundar o beijo ela se afasta.
— Pensei que você tinha que trabalhar.
— E eu tenho, só queria beijar a minha namorada.
Brooke sorri e meu coração bate descompassado em ver o
sentimento tomar a sua expressão, a terapia tem feito muito bem a
ela. Aos poucos ela tem recuperado a leveza e alegria que eram tão
presentes em sua vida antes de tudo.
Ela cola nossos lábios, sua língua se embolando com a minha,
minha mão desce e aperta sua coxa exposta e ela morde meu lábio
inferior.
— Acho melhor eu ir — ela diz e meus dedos apertam a carne
macia de sua perna impedindo que ela se mova.
— Fica — peço. Coloco uma mecha de seu cabelo atrás da
orelha. — Estava com saudades — admito.
— Nós almoçamos juntos, Ky — ela responde sorrindo. Como
eu amo esse sorriso.
— Eu acho que você não entende como eu sou viciado em
você, Sunshine. — Desço minha mão pelo seu braço, em uma
carícia suave que faz sua pele se arrepiar. — Eu penso em você o
tempo todo, eu quero você a cada instante de cada dia. Você dá
sentido à minha vida.
A loira se reacomoda no meu colo, virando de frente para mim.
Seus olhos capturam os meus. Sinto como se estivesse
mergulhando na imensidão verde, seu olhar tão intenso que é como
se Brooke fosse capaz de ver até a minha alma, falhas e tudo mais.
— Você foi meu primeiro amor, Kyle. Quando eu era apenas
uma menina, foi com você que eu aprendi o significado desse
sentimento em sua versão mais pura. Eu costumava escrever meu
nome no meu caderno como Sra. Brooke Thorne. — Ela sopra uma
risada e cora e eu sorrio em resposta, nunca suspeitei que seu
crush em mim na adolescência tivesse sido tão intenso. — O dia
que você partiu para os Fuzileiros, uma parte do meu coração foi
com você, e como se para compensar por ter me tirado um pedaço,
você me deu o seu e ainda trouxe outros dois. E agora, como
adulta, vocês me mostraram o que é o amor de verdade, um amor
que não restringe, não controla, que respeita e incentiva. Um amor
que simboliza parceria e não propriedade, apreciação ao invés de
posse. — Ela segura meu rosto em suas mãos, seus olhos brilhando
quando ela acrescenta: — Eu sou a pessoa mais sortuda de todo o
universo, a maioria das pessoas passa a vida em busca da sua
alma gêmea e eu encontrei três.
Sua declaração me deixa sem palavras. Meu coração bate tão
rápido e forte que suspeito que vou ter um infarto. Seguro sua mão
e trago-a ao meu peito. Seus olhos arregalam.
— Esse é o efeito que você tem sobre mim, Sunshine.
Brooke fecha a mão em punho, amassando minha camisa e
me puxando em sua direção. Sua boca reivindicando a minha, sua
língua demandando permissão, entrada, espaço. Sua outra mão
segura minha nuca, puxando o cabelo curto e me pressionando
mais contra ela.
Minha mulher começa a se remexer em meu colo, sua bunda
se esfregando em meu pau que começa a endurecer. Uma de
minhas mãos desliza pela parte interna de sua coxa até o ápice de
suas pernas. Brooke arfa quando a toco sobre a calcinha,
provocando seu clitóris em movimentos circulares.
Empurro o tecido para o lado, deslizando dois dedos pela
fenda de sua boceta, sua lubrificação cobrindo meus dedos.
— Sempre tão molhada pra mim — murmuro contra sua boca,
chupando seu lábio inferior e a penetrando com meu dedo indicador.
Brooke arqueia as costas, empurrando os seios contra o meu peito.
— Mais… — ela geme, escondendo o rosto no vão do meu
pescoço e rebolando no meu colo.
Introduzo outro dedo, meu polegar massageando seu clitóris
enquanto movimento meus dedos para dentro e fora dela. Seus
gemidos murmurados contra minha pele me deixando ainda mais
duro.
— Eu quero você, Kyle, dentro de mim — ela diz, buscando a
minha boca num beijo desesperado. — Agora.
Retiro meus dedos e ela se levanta, apoiando as mãos na
mesa e empinando a bunda na altura do meu rosto, incapaz de
resistir me inclino, mordendo a carne macia e sendo presenteado
por outro gemido delicioso. Abro meu zíper com uma mão e com a
outra a segunda gaveta da escrivaninha, buscando um preservativo.
Brooke sempre nos zoa por ter camisinhas espalhadas pela casa,
mas é para nunca sermos pegos desprevenidos.
Ela vira a cabeça para trás, seus olhos acompanhando o
movimento da minha mão enquanto coloco o preservativo em meu
pau. Seu olhar de tesão e desejo, só aumentando o meu.
— Quero ver você cavalgando o meu pau, Sunshine —
declaro, segurando seus quadris. A loira senta devagar, sua mão
segurando a base da minha ereção e guiando para a sua entrada.
Reviro os olhos quando sinto sua boceta quente me envolver, e ela
geme alto me sentindo por inteiro.
Minhas mãos apertam seus seios quando Brooke começa a
rebolar deliciosamente. Usando a mesa de apoio, ela começa a
subir e descer no meu pau, subindo até a cabeça e voltando a se
sentar enquanto ondula os quadris, provocando uma onda
sensações deliciosas.
— Você fica tão gostosa sentando no meu pau — falo.
Ela aumenta o ritmo e minhas mãos seguram seu quadril para
ajudar nos movimentos, apertando quando ela se inclina um pouco
para a frente, mudando o ângulo em que meu pau a penetra. Ela
está tão molhada que o som de nossos corpos se chocando está
cada vez mais alto.
— Kyle? — a voz que me chamou é muito mais grossa que a
de minha namorada e a porta se abre no segundo seguinte.
A atenção de Seth vai primeiro para Brooke que não para de
cavalgar meu pau, mas sinto sua boceta me esmagar com mais
força sob o olhar do caçula.
— Como pode ver estou ocupado, então ou você se junta a
nós ou volta mais tarde, caçula!
Movo meus quadris para encontrar Brooke no meio do
caminho, estocando curto e forte.
Seth se aproxima e segura o queixo da loira, inclinando-o para
beijá-la com volúpia. Brooke choraminga contra a boca dele quando
começo a estocar mais fundo, me aproveitando da sua distração.
Seth se afasta e contorna a mesa. Tirando o pau já ereto das
calças e se masturbando enquanto me observa penetrar Brooke.
— Thorne, virem pra cá — pede e eu passo um braço pelo
peito de Brooke, segurando seu corpo antes de nos virar.
A loira segura a ereção de Seth e leva à boca. O som de
Brooke engasgando com o pau de Seth ao mesmo tempo em que a
penetro e sinto sua boceta me esmagando, faz meu tesão triplicar.
Seth e eu encontramos um ritmo, intercalando nossas
investidas, seus gemidos se misturando com os meus e o som de
corpos se chocando. Brooke se apoia nas coxas dele para ajudar a
suportar seu corpo entre nós. A visão dela chupando Seth e
cavalgando o meu pau ao mesmo tempo, é uma das coisas mais
quentes que eu já vi.
Seth agarra o cabelo da loira e puxa para trás com firmeza,
forçando-a a olhar para ele.
— Você fica linda engolindo meu pau, Abelhinha. Você é
surreal — declara, encarando a loira e o corpo dela estremece de
prazer. Dou um tapa em sua bunda e sua boceta me esmaga
quando ela começa a gozar, seu corpo inteiro ondulando. — Eu vou
gozar — ele avisa e ela não se afasta. Seth joga a cabeça para trás
de olhos fechados e Brooke engole até a última gota.
Eu estava errado, essa é a coisa mais quente que eu já vi.
Meu prazer se assoma dentro de mim, demandando libertação.
Me enterro em Brooke, minhas bolas se contraem e eu explodo
dentro de sua boceta.
A sineta da loja toca assim que cruzo a porta. Sinto um frio na
boca do meu estômago com o que estou prestes a fazer. É
permanente, mas o meu amor também é.
— Não — reclamo quando vejo Seth apoiado contra o balcão
da recepção. Não era para ele estar aqui.
— Assim você me machuca, Abelhinha. — Ele segura o peito.
Me viro para meu segurança com o que eu espero ser um
olhar acusatório.
— Você contou pra eles? — indago.
Ele levanta as mãos.
— Não, Brooke. Você disse que seria uma surpresa e eu
guardei o segredo.
— Fui eu — o homem atrás do computador confessa. Caminho
até eles e Tristan tem uma expressão culpada no rosto. — Não
podia esconder isso dele, Brooke. Ele iria me matar e tem o
treinamento pra isso.
— É um dos melhores — Ethan oferece, não me ajudando de
forma alguma.
— Como se eu fosse deixar outro cara tatuar a minha
Abelhinha — Seth diz, envolvendo a minha cintura e me puxando
contra o seu peito.
— Era para ser uma surpresa — reclamo contrariada.
— E foi, eu jurava que Tristan estava tirando uma com a minha
cara. Mas não estava disposto a correr esse risco então vim conferir.
E ainda bem, você iria mesmo confiar em outra pessoa para marcar
a sua pele para sempre?
Quando ele colocava as coisas por essa perspectiva parecia
um pouco de falta de visão e planejamento da minha parte,
realmente. Mas queria que fosse um presente para os homens da
minha vida. Bom, o sentimento ainda existe, só precisa ser ajustado.
— Não tinha pensado por esse lado — murmuro. Me viro para
Ethan. — Tem certeza que você não se importa de esperar?
— Não se preocupe comigo — diz e se dirige para a entrada
do estúdio se acomodando em um dos sofás pretos.
— Então, Abelhinha, o que você vai querer? — Seth pergunta,
me virando de frente pra ele.
Desvio o olhar, subitamente constrangida com a minha
escolha, mas respiro fundo e pego meu celular na bolsa. Abrindo o
Pinterest[15] e mostrando a imagem mais semelhante ao que eu
quero. Uma cauda de sereia, com um sol de um lado e um coqueiro
saindo do outro lado, com alguns outros traços finos deixando o
desenho delicado.
— Mas trocaria o coqueiro por uma abelha — comento e os
lábios de Seth se curvam num sorriso. Seu olhar busca o meu e
tudo que vejo é amor e adoração.
— Vai ficar linda. De que tamanho e onde você vai querer?
— O tamanho que você achar melhor, mas quero ela no topo
da minha coluna. — Indico com a mão as minhas costas. Eu vim
preparada para fazer a minha tatuagem, vestindo leggings e uma
blusa de alcinha que deixa a área exposta.
Seth meneia a cabeça.
— Tudo bem, me dê alguns minutos para criar o decalque e já
vamos começar.
Ele pega meu celular e um papel fino e começa a desenhar. É
hipnotizante vê-lo trabalhar, seus traços são precisos e vejo o
desenho tomar uma forma ainda mais impressionante do que a
versão digital. Ele acrescenta alguns detalhes, pontos contornando
o desenho principal em certas partes, para que todos os elementos
fiquem conectados.
— Existe algo que você não saiba fazer bem? — pergunto
admirada.
Seth desvia a atenção do desenho para mim.
— Eu não sei dobrar lençol de elástico, serve?
— Vou ter que aceitar, ninguém pode ser perfeito em tudo —
declaro.
— Você é — rebate. Seu olhar intenso sobre mim, convicção
em cada um de seus traços. Meu coração pula dentro do peito e
sinto meus olhos arderem, a potência de seu amor me atingindo
como um soco.
— Eu te amo — sussurro.
Ele solta o lápis e contorna o balcão, me abraçando e beijando
rapidamente.
— Eu te amo, Abelhinha — murmura, a testa colada na minha.
— Ei, ei, sem putaria no meu estúdio — Tristan diz. — Gente,
eu nunca imaginei que veria essa cena. — Ele aponta para nós. —
Fico feliz por você, Donahue.
— Não enche o saco, Cox — Seth reclama, beija o topo da
minha cabeça e volta a desenhar.
Pouco tempo depois meu namorado me mostra o desenho. E
está ainda melhor do que eu esperava.
— Perfeito!
— Ótimo, vem. — Ele estica a mão e caminha comigo até uma
das cadeiras que mais parece uma maca de couro. — Eu já
higienizei tudo e estamos prontos para começar, você vai querer ela
colorida, Abelhinha?
— Sim.
— Alguma preferência para a cauda da sereia?
Me viro para ele, encarando seus olhos azuis de um tom mais
escuro do que de Kyle e Raffi e sei a minha resposta.
— Tons de azul.
Seth sorri e meneia a cabeça concordando.
— Eu vou raspar uma área da sua pele antes de aplicar o
decalque e você vai ver onde está e dizer se quer ali ou que mova
para algum lado, tá bom? — pergunta, colocando luvas descartáveis
pretas.
Ele se põe as minhas costas e sinto a lâmina de barbear
deslizar sobre o topo da minha coluna, passa álcool no local, pega o
papel e o coloca contra a minha pele me causando arrepios apenas
por sentir seus dedos me tocando.
— Olha aqui — pede, levantando um espelho e vejo o desenho
de uns 15 centímetros todo em linhas roxas exatamente onde eu
tinha imaginado. — Quer alterar o lugar? Mais para baixo, talvez?
— Não, é bem aqui que eu quero.
— Então é hora de se deitar, Abelhinha. — Faço o que ele
pede, deitando de barriga para baixo, a maca é mais confortável do
que eu esperava, ele coloca uma espécie de travesseiro com um
furo no meio em minha frente. Apoio a cabeça ali. — As mãos ficam
ao lado do corpo, palmas pra cima.
— Sim, senhor — murmuro, sabendo a reação que isso vai
causar.
A mão de Seth aperta a minha bunda com força.
— Abelhinha, abelhinha — ele murmura em meu ouvido,
estalando a língua em reprovação. — Não me provoque.
— Não fiz isso. — O riso em meu tom é claro até para mim.
— Continua assim que o acerto de contas chega em casa.
— Promete?
Ele ri e a mão que continua na minha bunda escorrega para
mais perto do meio das minhas pernas.
— Eu criei um monstro — confidencia e ouço um zumbido.
— Quem ouve você falar é capaz de acreditar que você não
ama cada segundo — rebato.
— Nunca. Está escrito na minha testa o que eu sinto por você.
— Ele toca minhas costas, esticando a minha pele. — Agora, isso
pode doer, arder, fazer cócegas ou ser prazeroso, é impossível
prever. Se precisar de uma pausa é só me avisar.
— Conheço minhas cores — respondo.
— Essa é a minha garota.
O zumbido fica mais alto e tenho que suprimir a vontade de me
virar para vê-lo, fecho os olhos esperando a dor. O primeiro toque
das agulhas é estranho e me sobressalto, mas assim que me
acostumo percebo que não dói, é só um incômodo, como Seth tinha
dito, parece mais com cócegas.
— Como você está? — ele pergunta depois de alguns minutos,
afastando a máquina.
— Bem, não é tão ruim quanto as pessoas dizem, é estranho e
não consigo ignorar a sensação, mas dói muito menos do que uma
depilação com cera — respondo com sinceridade.
Seth ri, ele tem feito isso cada vez mais frequentemente e eu
amo cada segundo de felicidade que posso compartilhar com ele.
Nem acredito que tinha mesmo cogitado me tatuar sem ser com ele,
privá-lo dessa oportunidade.
— Pronto, Abelhinha — Seth declara, desligando a máquina e
sinto falta do zumbido reconfortante.
Me sento, rolando os ombros doloridos de ficar na mesma
posição por tanto tempo. Meu namorado me entrega um espelho de
mão e eu o uso para ver o reflexo das minhas costas no de corpo
inteiro que existe atrás de mim.
As cores estão perfeitas, vívidas. A cauda de sereia começa
em um azul escuro intenso que suaviza para um azul como o mar e
clareia para um tom ainda mais claro, como uma geleira. A cor dos
olhos dos meus namorados. O sol e a abelha são delicados, mas se
destacam contra a minha pele.
— Eu amei! — Me viro e abraço Seth. — Ficou maravilhosa,
parece que você leu a minha mente.
A sineta toca atraindo minha atenção e uma mulher ruiva
entra, seu olhar diretamente sobre mim e meus braços ao redor de
Seth, ela fecha o rosto e segue para o balcão para falar com Tristan.
— Vou só colocar o adesivo cicatrizante sobre ela e você já vai
poder ir, eu ainda tenho outra tatuagem para fazer antes de voltar
para casa — Seth comenta e aplica o adesivo quando chegamos a
sua estação de trabalho. — Ele vai proteger a sua pele de bactérias
e água e não precisa trocar, mas não pode suar excessivamente
pelos próximos 3 a 7 dias, para que ele não caia prematuramente.
— Não posso suar? — pergunto. Essa informação é nova e
nada agradável.
— Se cuidar direito, eu checo depois do terceiro dia como está
e podemos tirar. Mas por hora seus treinos e outras atividades
extracurriculares — ele balança as sobrancelhas sugestivamente. —
Estão suspensas.
— Tudo bem — respondo resignada. — Te vejo em casa
então.
Me afasto e ele segura minha mão, me puxando de volta e
segurando meu rosto, colando nossos lábios em um beijo
apaixonado que faz meu coração saltar dentro do peito.
— Até mais tarde, Abelhinha.
— Até, te amo! — Seu peito infla ouvindo as minhas palavras.
Me viro para sair e Ethan se levanta se espreguiçando. A ruiva
sentada no outro sofá me fuzila com o olhar e eu tento me lembrar
se a conheço de algum lugar, não a reconheço, mas é evidente que
ela não gosta de mim por alguma razão.
— Pronta para ir, Brooke? — ele pergunta, abrindo a porta por
mim.
— Podemos passar no mercado no caminho pra casa?
A confusão na expressão da mulher chega a ser engraçada
enquanto ela olha de mim para Ethan e então para Seth.
— Claro, vamos.
Brooke rearranja o vaso de flores no canto da sala pela quinta
vez na última meia hora e caminha até o centro do cômodo
colocando as mãos na cintura e examinando tudo mais uma vez.
O vestido de alças verde-claro abraça sua cintura e cai solto
por suas pernas até o meio das coxas. Seu cabelo está solto
cobrindo a tatuagem. A maldita tatuagem. Só de lembrar que ela
agora carrega uma marca permanente que me representa, sinto
vontade de possui-la novamente.
Ver a sua pele marcada e saber que ela não podia suar, não
me impediu de devorá-la no mesmo segundo.
Quando ela caminha até a merda do vaso mais uma vez, me
adianto e abraço sua cintura, impedindo-a de movê-lo mais um
centímetro para a direita, para depois retorná-lo a posição original.
— Calma, babygirl.
— Não consigo, ela vai perceber.
— Ela vai perceber que estamos namorando pela posição do
vaso? — pergunto e ela se vira para mim estapeando o meu braço.
— Eu não sei como, mas ela vai saber.
— Me lembra de novo porque não queremos que seus pais
saibam sobre nós? — pergunto, porque realmente não entendo.
Ainda não contei para minha mamá[16], mas é só porque quero
fazê-lo pessoalmente e entre tudo que tem acontecido nos últimos
tempos ainda não pude voar para Fort Lauderdale nem mesmo
trazê-la para cá, quem sabe no natal?
— Não é que eu não quero que eles saibam, é só que é
estranho pensar como vou apresentá-los para os meus pais. — Ela
começa a gesticular, imitando uma conversa. — Oi, pai, oi, mãe,
vocês lembram de Seth, Raffi e Kyle, certo? Eles são meus
namorados, sim, todos os três.
Leva uma mão a testa e solta um riso nervoso. Aperto meus
lábios, sabendo que se eu rir agora, não estarei ajudando em nada.
— Babygirl, me escuta. — Seguro seus ombros. — Nós vamos
agir normalmente, nós sempre fomos amigos, todos nós
conhecemos William e Helen, vai ficar tudo bem.
— Ainda nervosa? — Kyle pergunta entrando na sala.
— É claro que estou nervosa, eu nunca deveria ter concordado
com isso. Deveria ter simplesmente dirigido até Palo Alto e jantado
com eles em casa.
— Tem tanta vergonha assim de nós, Sunshine? — pergunta,
se aproximando e tocando a base das costas da loira que vira o
rosto pra ele.
— Não, claro que não. É só que tenho medo da reação deles.
— Ela esconde o rosto nas mãos. — Nosso relacionamento não é
convencional, caso vocês não tenham percebido — explica,
baixando as mãos e olhando de mim para Kyle.
— Mas é verdadeiro — Seth diz se juntando a nós.
— E seus pais só querem te ver feliz, — Kyle adiciona,
beijando a têmpora de Brooke. — Vai ficar tudo bem.
— E não importa o que acontecer, estaremos aqui,
enfrentaremos juntos.
A campainha soa e a loira estremece.
— Quatro entram — digo e ela me olha confusa. Ela só nos viu
usar essa frase em momentos de conflito, mas simplesmente
simboliza que estamos juntos e ninguém fica para trás.
— Quatro saem — Seth e Kyle falam em uníssono e a loira
repete.
Brooke alisa o vestido algumas vezes, endireita os ombros e
abre a porta.
— Mamãe! — Envolve Helen em um abraço antes de fazer o
mesmo com William. — Papai, como foi a viagem?
— São apenas trinta minutos pela rodovia, filha, não é bem
uma viagem — ele responde. Passando por ela e estendendo a mão
para mim. — Raffi. — Repete o gesto com Seth e abraça Kyle.
— O que é algo que deveriam se lembrar, são só trinta
minutos, deveriam nos visitar mais vezes — Helen nos repreende.
— Todos os quatro. — Abraço minha sogra. Como eu queria poder
chamá-la assim!
— Tem toda razão, mas se eu for vai ter aquela torta de maçã?
— Está insinuando que alguma vez eu deixei de fazer, Rafael?
— pergunta, se afastando e me olhando com repreensão.
— Não, senhora. Até porque seria mentira.
— Seth, meu menino, como você está? Tem se alimentado
direito? — Ela abraça e beija o rosto do caçula e tenho que reprimir
a vontade de comentar que ele tem sim. Comendo a sua filha.
Isso vai ser muito mais difícil do que eu antecipei.
— Kyle, — Ela põe as duas mãos na cintura depois de o
abraçar e noto a semelhança com a pose em que Brooke estava há
alguns minutos. — Sua mãe me pediu pra puxar a sua orelha,
aparentemente você não liga pra ela há uma semana. Ela queria vir,
mas seu pai tinha um evento no clube de golfe ou algo assim.
— Foi uma semana corrida no trabalho, — Kyle levanta os
braços em rendição quando ela abre a boca para responder. — Eu
sei que não é desculpa. Vou consertar isso, Helen.
— Vamos entrar? O jantar está quase pronto.
— Se Brooke não o queimar de novo, ela quer dizer —
comento e a loira me fuzila com o olhar. Se ela soubesse o esforço
que eu estou fazendo para guardar para mim todas as piadas,
estaria era me agradecendo.
— Boa tarde, senhorita Brooke? — Henry, o segurança que
está cobrindo Damien chama a nossa atenção, parado sobre o
tapete de entrada. — Chegou uma encomenda pra você agorinha e
eu encontrei algumas outras cartas endereçadas à você no fundo de
uma das gavetas na portaria. Então aproveitei para trazer todas.
Ele anuncia e entrega os pacotes para a loira. Meu estômago
afunda como se fosse chumbo, temor percorre meu corpo
tensionando meus músculos.
— Ganhou presentes? — Helen pergunta.
— É acho que sim — Brooke responde com a voz trêmula.
— Abre, abre — A matriarca pede, balançando o braço com
agitação fazendo suas pulseiras tilintarem.
Seth e Kyle encaram as encomendas, nossos olhares se
cruzam, nossas expressões espelhos umas das outras. Brooke olha
pra mim e meneio a cabeça. Quero tanto abraçá-la, mas pego os
envelopes e ela abre o pacote com dedos trêmulos.
Ela puxa uma coleira rosa pequena, para um filhote, com uma
identificação no formato de coração. Preso a ela tem um bilhete, me
aproximo para poder ler.
“A filhotinha é linda. Gosto de te ver sorrindo de novo.”
— Ah, que bonitinha pra Perséfone, quem mandou? Foi a Liv?
— Helen fala e Brooke continua parada, petrificada, encarando o
bilhete.
Eu e meus irmãos nos entreolhamos, a mensagem clara:
passaremos pelo jantar primeiro, sem levantar suspeitas ou
preocupações, e depois resolveremos o problema. Por mais que eu
queira rasgar todos os envelopes em mil pedaços e descobrir como
não recebemos nenhum deles até agora, não podemos fazer isso
com os pais de Brooke aqui.
Seth começa uma conversa com William, guiando-o para a
cozinha. Coloco o resto dos envelopes em cima da mesinha ao lado
da porta e forço um sorriso no meu rosto, ao mesmo tempo em que
Kyle se aproxima da loira e coloca a mão na base de suas costas.
Ela se estica como se tivesse levado um choque.
— Vamos ver se sua filha queimou nossa lasanha, Helen? —
pergunto, passando um braço pelos ombros de minha sogra e
seguindo Seth.
Alguns minutos depois Kyle e Brooke se juntam a nós, a loira
ainda está visivelmente abalada, mas se esforça para esconder.
Nos sentamos ao redor da mesa de jantar, duas travessas de
lasanha, salada e vinho de acompanhamento servidos. Seguro a
mão de Brooke por baixo da mesa, ela aperta a minha em resposta.
— Então como vocês estão? E como está a nossa vizinha
favorita? — Kyle pergunta sorrindo para Helen.
— Ah, vocês não vão acreditar na última da Dona Clotilde —
anuncia antes de começar o seu relato sobre todas as atividades de
sua arqui-inimiga.
O jantar corre bem, o assunto das encomendas esquecido por
nossos convidados, acabamos nos envolvendo nas histórias de
Helen, relembrando aniversários e momentos em que todos
estivemos juntos. Ela sempre me tratou como uma extensão da
família, mal sabe ela o quanto está certa. Ou talvez saiba, noto
como ela observa nossas interações, seja quando Seth passou a
garrafa de vinho para Brooke sem que ela pedisse, ou a forma como
Kyle tocou o ombro da loira pra dizer que buscaria a sobremesa, um
mousse de oreo que estava uma delícia.
Toda vez que Brooke ri, vejo como sua mãe olha para mim e
meus irmãos. Parece que minha namorada estava certa e ela vai
descobrir. Será que nosso amor está assim tão evidente?
William Roberts dá um aperto no meu ombro e se dirige para a
porta de entrada, esperando sua mulher se despedir de nós.
Ela abraça Seth e Kyle antes de chegar a mim.
— Cuida bem dela, Rafael — murmura no meu ouvido.
— Sim, senhora — respondo automaticamente.
Ela dá uma tapinha carinhoso no meu rosto e se vira para
Brooke.
— O jantar de Ação de Graças [17]vai ser lá em casa, sem
discussões — Helen anuncia abraçando a filha. — Quero todos os
quatro lá! — Ela olha para todos nós.
— Estaremos lá, mamãe! — Brooke responde.
— Vocês formam um belo casal — Helen declara e fecha a
porta atrás de si.
Nos entreolhamos completamente surpresos, Brooke é a
primeira a rir. A loira esconde o rosto nas mãos.
— Acho que ela sabe!
Brooke abre mais uma carta, seus dedos tremem enquanto ela
lê a mensagem e a descarta com raiva sobre a mesa e pega a
próxima. A pilha parece infinita, as mensagens indo de preocupadas
com o seu bem estar, a ameaças veladas e acusações como a essa
última.
“Eu tentei ser legal, e como você me recompensou?”
Sinto meu sangue ferver, vê-la estremecendo de medo e não
poder protegê-la, me dilacera. Como que esse filho da puta está
conseguindo isso? Primeiro, foram os pneus do carro de Brooke
meses atrás, depois as flores que ela recebeu no camarim no
evento de fim de ano das crianças, dali em diante toda semana ela
recebia alguma coisa. Cada presente mais pessoal que o anterior.
Todas as compras feitas em dinheiro, os entregadores eram
adolescentes contratados via app com contas criadas através de e-
mails falsos.
Adonis que é o melhor hacker que conhecemos tentou rastrear
todas as contas, os IPs[18] e cada um indicava um país diferente,
todos ele becos sem saída.
— Ele estava no shopping — Brooke declara soltando o papel
sobre a mesa. Seus olhos se enchem de lágrimas.
— O que? — Seth pega a carta e lê. — Filho da puta. — Meu
irmão me entrega o bilhete e se vira para a loira, segurando seu
rosto. — Ele não vai te machucar, Abelhinha, eu prometo.
“Seu novo segurança é bonito, você está dando pra ele
também?”
— Nem sabemos quem ele é — ela murmura vacilante e
esconde o rosto no peito dele que a envolve.
Esse é o problema, não é? Estamos há meses procurando,
usando todos os recursos de que dispomos. Adonis colocou uma
parte do seu time para desvendar isso, mas até agora nada.
Eu e meus irmãos nos entreolhamos e a frustração que vejo
neles é igual a impotência que sinto. Mais uma vez nossa mulher
está chorando, sofrendo e não podemos fazer nada. Ainda. Preciso
de um alvo, preciso de uma direção, alguém que eu possa caçar e
eliminar. Libertando Brooke desse inferno de uma vez por todas.
Como é que isso é possível? Minha mente repete a pergunta.
Além de sermos donos de uma das melhores empresas de
segurança privada do país, ainda somos a melhor equipe dos
MARSOC, mesmo depois de nos afastarmos, ainda somos
considerados os mais letais que já vestiram o uniforme. E mesmo
assim, quem quer que seja o perseguidor de Brooke, ele continua a
burlar nossas defesas.
Seth esfrega as costas de Brooke carinhosamente, mas
consigo sentir a tensão emanando dele, enquanto Raffi se levanta e
anda com passos duros até o armário no canto retirando quatro
copos e os enchendo com uísque. Raffi retorna e coloca os copos
sobre a mesa de centro, ignorando completamente as cartas, ele
toca o ombro de Brooke.
— Beba isso, babygirl, vai ajudar. — Ela dá um gole do copo
oferecido. — E não se preocupe, nós vamos descobrir quem é o hijo
de puta por trás disso e então eu irei acabar com a vida dele. — A
expressão no rosto de meu irmão é a mesma que junto com sua
habilidade como atirador de elite lhe garantiu o apelido de Reaper[19]
nos fuzileiros.
— Não se eu chegar primeiro — Seth rebate. — Vamos acabar
com isso de uma vez por todas. — A frieza em seu tom é daquelas
que queimam ao toque.
— Vamos, e faremos isso juntos. — Brooke se vira para mim e
eu me adianto para secar a lágrima que escorre por sua bochecha
com o polegar. — Você está segura aqui, Sunshine, não deixaremos
ninguém te machucar. Nunca mais.
— Quatro entram — ela murmura e meu peito infla com o
orgulho que eu sinto de minha mulher.
— Quatro saem — respondo em uníssono com meus irmãos.
Meu instinto é protegê-la de todo o mal, mas seria um
desserviço com a coragem e força que ela sempre demonstra e que
me fazem admirá-la ainda mais. Suas cicatrizes e traumas a
transformaram em uma guerreira, uma sobrevivente, uma de nós.
— Certo, precisamos analisar as informações que temos,
desde o começo — afirmo, respirando fundo e passando a mão pelo
meu rosto. Buscando no meu treinamento e anos como líder de
equipe a clareza mental necessária para lidar com a situação. Não
há lugar para medos, incertezas, inquietação. Essa é a missão mais
importante de toda a minha vida, alguém está ameaçando a
existência da mulher que tem o meu coração. Aperto o copo de
uísque em minha mão e pondero por alguns segundos se tomo ou
não, mas prefiro manter a mente afiada, coloco o copo na mesa e
me viro para minha família. — A pessoa que está por trás disso tem
que ser, ou ter sido, próxima a Brooke.
— Patrick — Seth e Raffi dizem juntos.
— Mas... — Brooke começa a protestar, mas apenas suspira e
encara a pilha de papel na mesa de centro, dando mais um gole em
seu copo de uísque.
— Mas o quê, Sunshine? — encorajo. Ela, além de ser a fonte
da obsessão do perseguidor, é a que melhor conhecia Patrick
Anderson.
— Ele foi um péssimo namorado, mas vamos combinar que ele
é idiota demais para arquitetar tudo isso — responde. — Não foi a
minha melhor escolha — acrescenta.
— Realmente — Raffi concorda e Brooke lhe lança um olhar
mortal.
— Não precisava concordar tão rápido.
— A questão é que ele sumiu, Abelhinha. Sem deixar rastros e
isso não seria possível para um idiota. — Seth acena em direção a
Brooke. — Desaparecer nesse nível exige recursos, um
conhecimento intrínseco do sistema e de como evitá-lo.
— Mas ele não é rico, por isso que acabamos morando juntos,
ele não conseguiria se manter sozinho — ela rebate.
— Seus extratos bancários confirmam isso — concordo. — Ele
tem algum amigo com quem poderia ficar por um tempo?
— Não. Ele e o colega de quarto da faculdade se odiavam e
ele não tinha contato com ninguém.
— Você falou que os pais dele morreram? — Raffi pergunta.
— Sim, no verão antes de começar a faculdade — explica.
— Quem sabe a marca do seu chocolate favorito? — É a vez
de Seth perguntar.
— Meus pais, vocês, o Patrick e a Liv. — Ela nos olha
alarmada. — Não é a Liv, não pode ser, ela é como uma irmã pra
mim, nunca faria isso comigo — ela justifica, seu tom aumentando
gradualmente com sua agitação.
— Olivia não é uma suspeita, nós a investigamos, porque
investigamos todo mundo, mas ela não tem nenhuma ligação —
explico. Reviramos a vida da morena e até de seus familiares,
incluindo o Governador Grant.
Brooke suspira aliviada e termina seu copo de uísque.
— É possível que algum dos meus colegas de trabalho saiba,
mas nenhum deles poderia saber qual a minha marca preferida para
roupas de surfe.
— Tudo aponta para Patrick — Seth declara.
— Como diria Sherlock Holmes[20]: “quando você elimina o
impossível, o que restar, não importa o quão improvável, deve ser a
verdade” — Brooke responde, assumindo uma postura de derrota
com os ombros caídos. — Mas mesmo assim não consigo aceitar
que o cara com quem eu namorei quatro anos esteja fazendo tudo
isso. Não faz sentido nenhum.
— Se for mesmo o Patrick, você ter vindo morar conosco foi o
que desencadeou tudo isso — Raffi argumenta.
— Mas por quê? — Brooke se vira para ele. — Vocês estão na
minha vida há muito mais tempo. E eu só vim para cá porque ele me
traiu.
— Não temos como adivinhar as motivações quando nem
mesmo temos certeza que é ele — declaro. — O que mais você se
lembra sobre Patrick? Nada é irrelevante.
— Tipo o que?
— Onde os pais dele estão enterrados, onde ele cresceu,
viagens que fez — Raffi oferece.
Brooke torce as mãos sobre o colo e começa a mastigar o
lábio inferior.
— Ele não falava muito sobre os pais, dizia que isso o deixava
triste, e como ele os perdeu pouco tempo antes de nos
conhecermos eu não insistia. Mas se eu não me engano, seus pais
foram cremados. Sempre que mencionava a sua infância, s dizia
que tinha sido pacata e comum. — Ela pausa e seu joelho começa a
balançar para cima e para baixo. Apoio minha mão sobre ele, meu
polegar acariciando sua pele. — Agora que penso nisso, ele nunca
me contou histórias do seu passado, sabe? Tipo detalhadas, com
pessoas e lugares. — Ela se vira para Seth e Raffi. — Vocês sabem
quem me ensinou a andar de bicicleta?
— Thorne — Raffi responde prontamente.
— Você com sua teimosia decidiu que tiraria as rodinhas um
dia e ele que te ajudou e te levantou quando você caiu — Seth
relembra.
— Exato, vocês sabem porque nós contamos, em detalhes.
Patrick nunca fez isso. — Ela leva as mãos aos cabelos, penteando
os para trás. — Como eu nunca percebi isso?
— Você não estava procurando anomalias, faz sentido — Seth
a tranquiliza, esticando o braço e tocando seu ombro. — Não se
culpe.
— Quatro anos morando com alguém e eu não sei nada sobre
ele.
Tudo isso só soma contra Patrick, confirmando nossas
suspeitas e consolidando-o como nosso principal suspeito, mas
enquanto não encontrarmos o filho da puta ou descobrirmos como
ele conseguiu burlar nossas defesas não tem muito que possamos
fazer.
— Espera, — Brooke se levanta subitamente. — O tio dele, ele
só mencionou passageiramente uma vez e eu lembro de falar que
poderíamos visitá-lo e Patrick desconversou. Onde que ele morava?
— Ela esfrega a testa e exala ruidosamente. — Denver! O tio dele
mora em Denver, não sei como isso pode ajudar, mas é alguma
coisa, não é?
— Em nenhuma de nossas pesquisas encontramos qualquer
referência a familiares, todos os registros indicavam que os pais de
Patrick eram filhos únicos e que não existia nenhum parente
próximo. — respondo, sorrindo enquanto a satisfação de ter um
direção me preenche. — É mais do que alguma coisa, Sunshine, é
uma pista!
— Eu consigo sentir o pânico, como um organismo vivo ao
meu redor, pulsando, me cobrindo como uma camada oleosa que
me impede de respirar direito. — Esfrego meus olhos antes de voltar
atenção para a tela do computador onde a minha psicóloga me
observa atentamente. — É como se todo o meu progresso tivesse
ido por água abaixo — confesso.
— A recuperação não é um caminho linear, Brooke — ela diz
com a voz calma, paciente. — Como você tem dormido?
— O máximo foi três horas e meia desde que recebemos as
cartas — admito.
— Isso foi há mais de uma semana — doutora Luana pontua.
— Saiu de casa alguma vez?
— Uma. Mas eu conseguia sentir alguém me observando todo
o tempo e desencadeou outra crise, menos severa que a da última
vez, — esfrego meu braço desconfortável com a memória. — E
quando voltei tinha a porra de uma nova carta. — A lágrima escorre
quente pela minha bochecha. — Algo sobre como ficou feliz que eu
finalmente recebi suas cartas, o que significa que ele estava nos
vendo no dia em que meus pais estiveram aqui.
— Eu entendo o quanto isso tem o potencial para te abalar.
— Eu só quero a minha vida de volta — confesso.
— E você vai recuperá-la, Brooke — ela diz, sua voz tem um
efeito calmante e eu me pergunto mais uma vez se é uma
característica dela ou algo que todos os psicólogos tem. Será que é
uma disciplina na universidade? — Um dia de cada vez, um passo
de cada vez, todo mundo responde ao trauma de formas diferentes,
e precisamos encontrar o que funciona para você.
— E se eu estiver quebrada demais? E se eu nunca puder
voltar ao normal?
— Você não está quebrada, Brooke, está se redescobrindo.
Recuperar a sua vida não significa apagar o seu trauma, e, sim, não
o deixar controlá-la. O que aconteceu com você, o que você sofreu
não é algo que você possa esquecer, Brooke, sabe disso. Um
evento traumático como o que você passou deixa marcas,
cicatrizes... mas elas podem ser curadas.
— Então por que parece que isso nunca vai acontecer?
— Porque às vezes a cura dói mais do que a ferida.
A frase parece ressoar em mim, como se estivesse buscando
morada até finalmente se assentar em minha alma, colando dois
pedacinhos como um band-aid.
— Antes do sequestro, o que você fazia para relaxar? Quando
as coisas ficavam demais quais eram as suas formas de extravasar
preocupações e o estresse do dia-a-dia?
— Surfe e dança — respondo prontamente, um sorriso
saudoso se formando em meus lábios.
— Acho que você deveria considerar tentar uma dessas
opções para lidar com tudo que está acontecendo. Com cuidado,
não aja por impulso e leve um ou todos os seus namorados com
você. — Ela pisca para mim. — E lembre-se de confiar nos seus
instintos, eles existem para te proteger. Se sentir que as paredes
estão se fechando, ou que está se sobrecarregando. Pare, respire
fundo.
— Vou tentar.
— Isso, e se precisar sabe como me contactar, se não precisar
nos veremos na próxima consulta. Fique bem, Brooke!
— Você também, doutora Luana.
A chamada de vídeo se encerra e fico alguns minutos
encarando a tela do meu computador, precisando desse tempo para
me recompor, absorver e processar todas emoções.
Pego meu celular e abro a página salva nos meus favoritos
que mostra a maré nas praias próximas à San Jose, mas as que são
boas para surfar não estão muito propícias hoje, perdi o pico das
ondas.
Abro o WhatsApp e o nosso grupo me faz rir. Depois que Raffi
superou os rapazes e mudou o título do grupo, Kyle e Seth
decidiram que poderiam ganhar, então resolvi o problema alterando
para “Os homens da B.”
Brooke: Vamos à Underworld hoje?
Mando a mensagem no grupo e logo aparece que Raffi está
digitando.
Raffi: Poder finalmente ostentar a minha
namorada publicamente? Conta comigo!
Seth: Se é o que você quer, Abelhinha.
Kyle: Já informei Darius que vamos e nossa
mesa na área VIP será separada.
Sorrio para as mensagens, com seu apoio constante.
Nenhuma hesitação, eles sabem que eu acabei de sair da terapia
então provavelmente assumiram corretamente que tinha alguma
ligação. Mando a mesma mensagem para a minha melhor amiga e
assim que a mensagem aparece como lida meu celular toca.
— Você está falando sério? — ela pergunta como forma de
cumprimento assim que atendo. — Eu sou cardíaca, não brinca com
essas coisas!
— Não é nada demais, Liv — respondo.
— Poder curtir com a minha melhor amiga não é nada demais?
Não poderia discordar mais — responde animada. — E eu tenho a
roupa perfeita!
— Isso é um sim, então? — pergunto sorrindo. Eu sou
realmente sortuda de ter tantas pessoas que me amam e apoiam ao
meu redor.
— E você tinha dúvidas? — Consigo visualizá-la com a mão na
cintura e a sobrancelha arqueada. — Nos vemos mais tarde. Te
amo, B!
— Também te amo, Liv.
A ligação se encerra e pela primeira vez em muito tempo me
sinto animada com a ideia de sair de casa.

Entro na Underworld rodeada por meus namorados, usamos a


porta lateral que dá acesso ao clube através da garagem exclusiva e
seguimos diretamente para as escadas que levam ao mezanino na
área VIP.
Nos aproximamos da mesa central com vista para a pista de
dança e rodeada por sofás confortáveis com uma placa de
“Reservado” em letras elegantes. Noto que a quantidade de
pessoas passeando pelo mezanino é muito menor do que de
costume e agradeço mentalmente o cuidado dos rapazes.
Raffi toca a base das minhas costas, atraindo a minha atenção
para seus olhos azuis claros.
— Vai querer beber algo, babygirl?
— Aquele suco maravilhoso de manga e maracujá — peço,
sorrindo.
— Vou pedir. — Ele se inclina e me dá um selinho antes de se
virar para os rapazes e ver o que eles querem.
Fecho os olhos por uns segundos, me deixando ser envolvida
pela música e sinto braços abraçarem a minha cintura, o perfume
cítrico invade meus pulmões e sorrio antes mesmo de Kyle falar:
— Tudo bem, Sunshine?
— Sim, tudo bem, eu gosto desse DJ, — falo, indicando com a
cabeça o palco no andar debaixo. Ele era um dos profissionais que
tocavam regularmente no clube. — Mas precisam chamar a DJ Blue
outra vez.
— Verei o que posso fazer. — Ele beija o topo da minha
cabeça. — Vamos sentar e esperar Raffi voltar com as bebidas? —
ele convida e concordo.
Me sento ao lado de Seth, sua mão repousando no meu joelho
enquanto Kyle se acomoda do outro lado, passando o braço sobre
meus ombros. O toque deles me acalma e me mantém ancorada ao
presente.
Uma nova música começa e parece ecoar pelo meu corpo,
meu coração se igualando ao seu ritmo.
Raffi retorna, me entregando o suco e as bebidas dos rapazes.
Seth pega a sua água, já que é o motorista da noite, e Kyle e Raffi
suas cervejas. Consigo sentir meu corpo relaxando aos poucos,
rodeada pelos homens da minha vida, aqueles que me ensinaram o
verdadeiro significado de amar. Fecho os olhos, apoiando a cabeça
contra o braço de Kyle e me deixo mergulhar nesse sentimento, na
sensação do polegar de Seth acariciando a parte interna do meu
joelho. O perfume almiscarado dele, que de alguma forma me
lembra o ar salgado da praia, se misturando com o cítrico de Kyle e
o amadeirado de Raffi, que ainda está de pé conversando com o
loiro, me envolve e só existe uma palavra para descrever essa
combinação: casa.
— Vocês combinam mesmo.
Abro os olhos e minha melhor amiga está em pé do outro lado
da mesa, com um sorriso exuberante no rosto. Ela olha em volta
com atenção antes de se voltar para mim:
— Não esqueceu de alguém?
— Quem? — provoco, sabendo exatamente a quem ela se
refere.
— Seu guarda-costas. — Ela apoia a mão na cintura.
— Ela tem nós três, Liv — Raffi responde.
— Exato, ela já tem vocês três, custava me ajudar? —
reclama, emburrada. E alisa o vestido curto de paetês pretos que se
molda ao seu corpo. — Até vim com meu vestido novo.
— E está linda — elogio.
— Eu posso ligar para ele, se você quiser, Liv — Kyle oferece.
— E vai dizer o quê? — ela pergunta.
— Que você quer vê-lo – Seth diz, rindo.
Ela se vira para ele, abrindo os braços incrédula com o que
meu namorado acabou de sugerir.
— Claro que não, pela deusa! Tinha que ser uma desculpa
plausível, Seth!
— Não temos nenhuma — Kyle explica. — O contrato dele é
para proteger Brooke quando um de nós não puder fazer isso e
como você pode perceber, isso não se aplica a hoje.
— Deus tem seus preferidos, eu sei — ela vira o rosto para o
teto. — Devo estar pagando por alguma coisa, ou sou a piada
favorita da divindade que nos observa, só pode!
— Tão dramática — digo e ela revira os olhos. — Vamos
dançar! — falo, apoiando as mãos nas pernas de Seth e Kyle para
me levantar.
— Achei que nunca fosse pedir. — Liv passa um braço pelo
meu e caminhamos juntas para as escadas.
Seguimos para o meio da pista e as pessoas se afastam para
nos deixar passar, o que não é comum. Entendo o motivo um
segundo depois, quando uma mão toca a base das minhas costas,
me viro e Raffi me olha com um sorriso travesso nos lábios. Seth e
Kyle ao seu lado.
— Vocês vão dançar? — pergunto alto o suficiente para ser
ouvida sobre a música.
— É claro, precisamos deixar claro que você é nossa.
Nossa.
A palavra reverbera por mim, fazendo meu ventre contrair com
aquelas cinco letras. O tom possessivo mexendo comigo mais do
que eu esperava.
Sua mão desliza pela minha cintura até a minha barriga e me
puxa contra ele, meu corpo se moldando ao dele que se mexe ao
ritmo da música. Kyle se coloca a minha frente, sua perna se
enfiando no meio das minhas e sua mão repousa na outra lateral do
meu corpo. Meus braços envolvem seu pescoço e dançamos em
sintonia.
A música é envolvente, quente, sensual.
Sentir seus corpos gostosos me pressionando e se movendo
contra mim, está me trazendo memórias da primeira vez que eles
me dividiram. Kyle sorri e inclina a sua cabeça, seus lábios pairando
sobre os meus por um segundo antes de eliminar a distância e
reivindicá-los. Sua língua explora a minha boca com fervor.
O beijo é rápido, mas intenso o suficiente para que eu sinta
meu corpo começar a arder.
Mas meu coração sente falta da quarta peça desse quebra-
cabeças, meu olhar procura Seth, encontrando-o ao nosso lado,
perto o suficiente para que eu estenda o meu braço e segure a sua
camiseta. Ele arqueia a sobrancelha, mas se aproxima.
Sem que nenhum de nós diga qualquer coisa, Kyle se afasta o
suficiente para que Seth possa me puxar para ele. Colando nossos
lábios em um beijo que incendeia todo o meu corpo. Sua mão
segura a minha garganta e as memórias preenchem a minha mente.
Assim que Seth se afasta, Raffi gira meu corpo para que eu
fique de frente para ele, o sorriso malicioso em seus lábios contém
tantas promessas que meu ventre formiga em antecipação. Ele me
beija, sua mão apertando a minha bunda.
— Caraca, Beyblade[21] Roberts! — Liv exclama, rindo. Eu tinha
esquecido completamente que estava em meio a uma pista de
dança lotada e que minha melhor amiga estava a menos de um
metro de distância. — Umas com tanto, outras com tão pouco — ela
brinca.
Sinto o rubor tomar minhas bochechas e escondo meu rosto
no peito de Raffi que vibra com sua risada.
— Acho que temos um nome novo pro nosso grupo, babygirl
— provoca.
— Não se atreva — rebato, mas posso ver em seus olhos que
a minha reação teve o efeito contrário.
— Se eu vou ficar interpretando papel de candelabro a noite
toda, eu preciso de uma bebida — Liv anuncia e segura a minha
mão, me puxando com ela e sussurrando: — Eu não sei como você
consegue se manter sã com aqueles três, só de ver vocês eu fiquei
com calor.
Olho para trás e meus três namorados nos seguem, me viro
para minha amiga e passo um braço por seus ombros.
— Cada um com a sua vida ruim. — Ela me empurra com o
ombro e sorrio. — Eu sei que sou sortuda...
— Sortuda é a última ganhadora da mega-sena, Brooke, você
tá em outro nível, né, gata? — ela me interrompe.
— Eu só consegui me manter sã por causa deles —
confidencio. — Eu não teria conseguido sem eles — paro de andar
e abraço a minha amiga. — Sem vocês.
— Ah, não inventa de tentar me fazer chorar, minha cara vai
ficar toda cagada de maquiagem, tá doida. — Ela volta a caminhar
em direção ao bar. — E, eu estou sóbria demais pra esse papo.
— Vou esperar você tomar o seu primeiro drinque então.
— A humilhação não tem fim — reclama e tentamos nos
esgueirar para perto do balcão do bar.
— O que vocês querem? — Kyle pergunta, tocando a minha
cintura.
— Um daqueles azuis — Liv diz. — Nunca lembro o nome.
— Lagoa azul?
— Esse!
— E você, Sunshine?
— O arco-íris — peço.
— Certo. — Ele levanta o braço e o bartender se vira para ele
imediatamente, uma das vantagens de ser o dono do clube. Ele faz
o nosso pedido.
— Deveríamos aproveitar que estamos aqui e ir no banheiro
antes de voltar para a pista — Liv sugere. E ela tem razão, depois
temos que cruzar todo o caminho de novo e agora estamos do lado
do corredor.
— Vão, nós cuidaremos de suas bebidas — Raffi diz.
— Obrigada. — Pego a mão de Olivia e caminhamos juntas
pelo corredor.
Quando chegamos no banheiro nos deparamos com a fila
gigantesca, deveríamos ter ido no reservado para a área VIP, mas a
preguiça de subir as escadas nos venceu e acabamos ficando ali
mesmo.
— Acho que você precisa convencer seus namorados a
colocar um elevador privado de um andar para o outro — Liv
comenta enquanto voltamos para o bar. — Teríamos levado apenas
dois minutos para ir no banheiro e voltar.
— Claro, porque a justificativa para construir um elevador é a
nossa preguiça de subir um lance de escadas.
— Eu acho mais do que justo — responde rindo.
— Você é impossível.
— Eu sou uma visionária.
Meus pés travam há alguns passos do bar. Meus olhos nos
meus namorados e nas mulheres que os rodeiam, uma loira e a
mesma ruiva do estúdio de Tristan flertam descaradamente com
Seth, que parece buscar uma forma de saída. Raffi e Kyle tem sua
própria legião de fãs que sorriem para eles enquanto conversam.
Eles sempre chamaram atenção, e como poderia ser diferente? Eles
são os homens mais gostosos que eu já vi, e os mais gentis,
carinhosos, atenciosos, a lista de qualidades é infinita.
O que eles viram em você? A voz ácida pergunta em minha
mente.
Eles me amam, respondo. Mas a incerteza e dúvida me
dominam. Não acho que eles algum dia me trairiam, mas e se eu
não for suficiente? Claro, agora tudo é novo, excitante, divertido.
Mas e se for só isso? E se um dia, um deles ou todos decidirem que
não querem ter que ficar dividindo, que podem ter outra mulher só
para eles. E se eu não for suficiente? A pergunta se repete na minha
cabeça.
Toda a animação e leveza que estava sentindo, se esvaí.
— Coitadas, tão iludidas — Liv comenta e passa o braço pelo
meu. — Vem, vamos salvar seus machos antes que uma das doidas
tente arrancar um pedaço.
Não consigo me livrar da incerteza, a semente de dúvida que
surgiu ao ver meus namorados rodeados por outras mulheres e a
sensação de insuficiência estragaram a minha noite.
Depois que pegamos nossas bebidas, inventei uma desculpa
que meus pés estavam doendo e retornamos ao mezanino, tentei
melhorar, disfarçar, mas não consigo pensar em outra coisa. A
mesma pergunta se repete em um loop eterno na minha cabeça.
E se eu não for suficiente?
E a pior parte era saber que nenhum deles sequer prestou
atenção em qualquer uma das mulheres lindas que os rodearam,
não olharam para elas como olham para mim. Nenhuma delas
conhece o sorriso de Seth, o gosto de Raffi, o calor do abraço de
Kyle e mesmo assim, algo me diz que isso vai acabar.
Quando Kyle sugeriu que voltássemos para casa, não
protestei. Só queria dormir e apagar essa sensação.
Passo todo o trajeto olhando pela janela, a paisagem da
cidade passando e mesclando. Seth apoia a mão na minha coxa e
aperta-a gentilmente quando paramos em um semáforo. Ele me
observa atentamente sob as luzes da rua, sorrio tentando disfarçar
meus sentimentos. Vejo ele apertar o maxilar e sei que falhei, Seth
sempre consegue ver através de todas as minhas máscaras.
Assim que o carro para, eu saio. Caminhando para dentro de
casa, tentando evitar a conversa que sinto estar prestes a
acontecer.
— Sunshine, o que aconteceu? — Kyle pergunta, sendo o
primeiro a me alcançar no hall de entrada. Seth e Raffi em seu
encalço.
— Nada, só estou cansada — desconverso e dou de ombros.
Como que posso explicar? E se eu disser as palavras e eles
perceberem a verdade. E eu perdê-los para sempre, cada um deles
é uma peça vital para a minha existência.
— Abelhinha...
— É sério, não foi nada. Acho que só fiquei sobrecarregada.
— Você parecia bem até ir ao banheiro, algo aconteceu que
roubou o seu sorriso, babygirl. — Raffi me abraça e me afundo em
seus braços, querendo me afogar em seu calor.— Achei que
tínhamos combinado não manter segredos uns dos outros.
Merda. Eu tinha mesmo dito isso não tinha.
— É estúpido — confesso.
— Nada que te incomoda é estúpido, Sunshine — Kyle diz.
Respiro fundo, como minha psicóloga vive me pedindo e busco
a coragem para explicar.
— Nada aconteceu, eu só... — suspiro, decidindo acabar com
isso de uma vez. Como se fosse um band-aid. — Quando eu estava
chegando perto do bar, vi a quantidade de mulheres que estavam
flertando com vocês... — Seth abre a boca para protestar
imediatamente, mas levanto a mão pedindo que espere. — E fiquei
insegura, tá bom? Porque vocês podem ter a mulher que quiserem e
se um dia acordarem e perceberem que eu não sou suficiente? Que
me compartilhar não vale o esforço?
— Você está certa, — Kyle começa e meu coração afunda no
meu peito, sinto meus olhos arderem. — Nós podemos ter a mulher
que queremos, sabe por quê?
— Porque é você, Brooke — Seth responde antes que eu
tenha a chance de dizer alguma coisa.
— E está na hora de te mostrar exatamente o quanto não nos
importamos em compartilhar você entre nós para te venerar,
babygirl — Raffi diz, suas palavras fazendo um arrepio percorrer
minha coluna e meu ventre se contrair de prazer. Suas mãos
descem para minha bunda e ele me puxa para o seu colo, minhas
pernas se enrolam em sua cintura.
Raffi sobe as escadas comigo em seu colo, mas meus olhos
estão fixos em Kyle e Seth que nos seguem, uma expressão faminta
em seus rostos. O caçula nota meu olhar e o sorriso que enfeita
seus lábios é cheio de promessas indecentes.
Raffi me deita em seu colchão, suas mãos deslizam em uma
carícia leve começando pelos meus ombros, passando pelos meus
seios, minha pele queima no rastro de seus dedos arrepiando-se e
implorando por mais.
Minhas preces são atendidas quando o colchão afunda ao meu
lado, meu olhar encontra o do meu amigo de infância, sua mão
aperta meu seio e ele toma a minha boca em um beijo avassalador.
Outro par de mãos toca o meu corpo e a sobrecarga sensorial
é tão intensa que sinto minha calcinha ficando encharcada só de
imaginar o que está prestes a acontecer. Estaria mentindo se
dissesse que não tinha imaginado, desejado ter os três ao mesmo
tempo dentro de mim.
Ver como o estilo individual de cada um interagiria em
conjunto, todas as experiências à três só me deixaram mais curiosa.
Kyle trilha beijos pelo meu pescoço, descendo para onde sua
mão ainda apalpa meu peito. Ele desliza a alça do meu vestido e do
sutiã, expondo o seio e sua boca substituindo a mão. Um gemido
longo deixa a minha garganta enquanto sua língua circula meu
mamilo.
— Está pronta para nós? — Seth pergunta quando a mão de
Raffi sobe por baixo do meu vestido. Ele esfrega o dedo contra a
minha calcinha, sem dúvidas sentindo quão molhado o tecido já está
e sorri, se virando para Seth.
— Sinta você mesmo, irmão.
Seth umedece o lábio inferior, meu olhar preso ao seu
enquanto ele desliza a mão pelo interior da minha coxa até a minha
calcinha, mas ao contrário de Raffi, ele a empurra para o lado e seu
indicador esfrega meu sexo, fazendo minhas costas arquearem no
colchão.
— Sempre tão molhada e pronta para nós, Abelhinha. — Ele
leva o dedo a boca e chupa minha excitação com uma expressão de
deleite.
Raffi segura a barra do meu vestido e eu me sento para que
ele possa tirá-lo, Kyle se ocupa de meu sutiã enquanto Seth se livra
da minha calcinha.
Os três param por um segundo e seus olhos percorrem meu
corpo completamente nu e exposto para eles, suas expressões uma
mistura de devoção, adoração e amor que me excitam ainda mais.
— Maravilhosa — Kyle diz em tom de reverência.
— Perfeita — Seth concorda.
— Gostosa — Raffi acrescenta.
Raffi se ajoelha na beirada da cama e puxa meu corpo em sua
direção, passando minhas pernas por cima de seus ombros, sua
língua contornando a minha boceta, abrindo os grandes lábios e me
chupando como se fosse um homem no deserto.
Meus gemidos preenchem o ar e Seth abocanha um de meus
seios, mordendo o meu mamilo, a pontada de dor percorrendo meu
corpo como uma flecha até meu ventre. Kyle se ocupa do outro e é
difícil me concentrar em o que cada um está fazendo quando meu
corpo está sendo estimulado de vários pontos ao mesmo tempo.
Nem percebo o orgasmo se formando até que ele se estilhace
na boca de Raffi, sinto sua risada contra mim e então um de seus
dedos me penetra de uma só vez. Ele o retira e desliza para baixo
circulando meu cu, usando o meu gozo como lubrificante para me
preparar.
Sinto seu dedo me pressionar e meu corpo responde
automaticamente se contraindo.
— Relaxa para mim, babygirl — pede com a voz rouca e faço o
que ele pede.
Kyle ainda chupa meu peito, alternando entre mordidas,
lambidas e chupadas. Enquanto Seth reivindica minha boca com
paixão, sua língua dançando com a minha. A voracidade do beijo
transforma meus joelhos em gelatina. Ele chupa o meu lábio inferior
para sua boca e o morde com força, como adora fazer e a dor se
mistura com o prazer da maneira que eu aprendi a amar.
É nesse momento que sinto o dedo de Raffi penetrar meu cu,
tenho que me forçar a me manter relaxada, a sensação é estranha,
mas prazerosa e fica ainda mais quando ele estimula meu clitóris
com a outra mão.
Sinto Kyle e Seth se afastarem e meu olhar acompanha seus
movimentos enquanto eles tiram suas roupas. O loiro caminha até a
cômoda pegando a caixa de camisinhas e um frasco de lubrificante.
Ele volta e toca o ombro de Raffi que meneia a cabeça
concordando. Alguma parte do meu cérebro acha espaço suficiente
para admirar a forma como meus namorados se comunicam sem
usar nenhuma palavra.
Kyle se senta na quina da cama e segura a minha mão.
— Vem cá, Sunshine. — Obedeço e ele segura meus quadris,
me puxando para seu colo a cabeça de seu pau provocando a
minha boceta. Suas mãos deslizam pelas minhas costas me
empurrando em sua direção e ele me beija com desejo enquanto eu
sento em seu pau.
Sentindo ele me preencher deliciosamente a cada centímetro,
ele geme contra meus lábios quando seu pau está completamente
enterrado em mim, rebolo uma vez arrancando outro gemido dele.
— Porra, que gostosa — o loiro diz.
Sinto outra mão descer por minhas costas e olho para trás
encontrando Raffi, completamente nu, seu pau grosso e cheio de
veias completamente ereto. Ele espalha lubrificante por toda a
extensão.
Seth se posiciona do outro lado, se masturbando no mesmo
ritmo em que cavalgo Kyle, sinto minha boceta apertar o pau de
Kyle diante da visão. A noção de que todos esses três homens
gostosos estão duros e excitados por minha causa é um afrodisíaco
por si só, mas o amor que sinto acompanhando a luxúria só torna
tudo mil vezes mais intenso.
Algo molhado e gelado encosta na minha bunda, desvio meu
olhar por reflexo. Vendo Raffi com os dedos cobertos de lubrificante
voltar a tocar meu cu, ele me penetra com o indicador de novo e
minhas costas arqueiam, minha respiração sai entrecortada.
A sensação do pau de Kyle em minha boceta e do dedo de
Raffi me levando à beira do precipício. Um segundo dedo se junta
ao primeiro e prendo a respiração.
— Respira, Brooke, precisa relaxar — Raffi pede e eu solto o
ar ruidosamente. — Isso bem assim.
Ele retira os dedos e sinto a cabeça de seu pau encostar em
meu cu, receio me percorre, não vai caber.
— Babygirl, relaxa pra mim — ele comanda e sinto ele colocar
mais lubrificante na região. — Kyle.
Os dedos do loiro buscam o meu clitóris, estimulando-o e me
ajudando a relaxar, enquanto seu pau continua dentro de mim.
Seth só observa tudo, seu olhar faminto sobre mim, enquanto
continua a se masturbar lentamente.
Sinto uma pressão no meu cu, mas com os estímulos de Kyle,
consigo me manter relaxa para receber Raffi por inteiro. Ele não tem
pressa, me penetrando pouco a pouco, dando tempo ao meu corpo
para se acostumar.
A sensação de preenchimento é surreal, não existem palavras
para descrever. O prazer que me rasga quando Raffi se enterra por
inteiro em meu cu me faz explodir no pau de Kyle, esmagando-o
dentro de mim no processo, um grito sufocado escapando a minha
garganta.
— Puta que pariu, babygirl, você é tão gostosa — Raffi geme,
colado na minha bunda. Ele se retira só um pouco para socar seu
pau de volta e o prazer faz meu corpo estremecer.
— Não existe ninguém como você, Sunshine.
Kyle se inclina para trás e Seth se aproxima, apoiando um
joelho na cama. Seth segura meu rosto, seu polegar acariciando o
meu lábio inferior.
— Você fica tão sexy com dois paus enterrados em você,
Abelhinha. Me conta, era assim que você achava que seria?
— É melhor — consigo dizer. — Mas... — hesito em continuar
e ele sorri.
— Mas? — Seth me encoraja. — Me diz o que você quer.
— Eu quero todos vocês, ao mesmo tempo — declaro. E sinto
Kyle e Raffi estremecerem dentro de mim.
— Hoje, seu desejo é uma ordem, Abelhinha — afirma e sua
mão escorrega pelo meu pescoço apertando de leve antes de
segurar meu cabelo com firmeza na altura da nuca e guiar a minha
cabeça até seu pau. Abro minha boca, lambendo a cabeça de sua
ereção, sentindo o gosto do seu pré-gozo antes de engoli-lo até a
base.
— Quando eu acho que você não pode ficar mais sensual,
você vai e prova que eu estava errado — diz Raffi.
Meu namorados começam a se mexer dentro de mim, cada um
me fodendo em um ritmo que logo entra em sincronia e meu corpo
se acende como uma árvore de natal.
Cada ponto onde nossos corpos se encontram é brasa, é lava,
queima e me leva ao limite, sei que não vou aguentar muito tempo,
não com todos eles dentro de mim.
Com o que tudo isso significa, não tem volta. Cada investida,
cada gemido é uma reivindicação. Seth, Raffi e Kyle estão me
marcando como deles e não tem nada que eu queira mais do que
isso para o resto da minha vida.
— Eu não vou aguentar muito mais — Kyle anuncia.
— Nem eu, não com o jeito como Brooke está me esmagando.
— Goza para nós, Abelhinha — Seth pede, fodendo a minha
boca com mais urgência, buscando o próprio prazer.
Como se ele precisasse pedir, me sinto em queda livre, como
se a gravidade não se aplicasse mais a mim quando explodo
novamente. O prazer vem em ondas, cada uma mais intensa que a
anterior, espalhando-se por cada canto do meu corpo.
— Porra, um squirting[22] é demais para mim, babygirl — Raffi
segura meus quadris, estocando tão fundo quanto possível e
gozando em meu cu ao mesmo tempo em que Seth enche a minha
boca, engulo sua porra por instinto.
— Tão linda — afirma antes de limpar o canto da minha boca
com o dedo e se afastar.
Kyle morde meu ombro, sua respiração ofegante contra meu
pescoço, ele investe contra mim duas vezes antes de alcançar o
próprio clímax. Seus braços serpenteiam ao meu redor assim que
Raffi se retira e sou assolada pela sensação de vazio repentino. Ele
se deita comigo ainda em seu colo.
Meu corpo está completamente exausto, não sou capaz de me
mover nem mesmo um milímetro, mas todas as minhas
inseguranças e dúvidas deram lugar para o amor e alegria que só os
meus namorados são capazes de me proporcionar.
Começo a recobrar os meus sentidos, despertando devagar.
Brooke está deitada com as costas contra o meu corpo, um braço
pesado que não é o meu está sobre o meu peito. Imagens da noite
passada repassam como um filme e aperto a cintura da minha
namorada.
Começo a ficar inquieto e sei que preciso levantar. Abro os
olhos e Brooke tem a cabeça sobre o braço dobrado de Kyle, as
pernas entrelaçadas com ele, o que significa que o braço sobre mim
é de Raffi, sua mão tocando o ombro de Brooke, como se mesmo
dormindo buscasse pela loira.
O fato de que ela achou que não era suficiente para nós, me
ofende, mas também serve como lembrete de que preciso me
esforçar mais para assegurá-la que não vou a lugar algum. Nenhum
de nós vai.
Ninguém nunca teve medo de me perder como ela, não dessa
forma. Ninguém nunca me amou ao ponto de que a mera ideia da
minha ausência em sua vida pudesse lhe causar sofrimento.É
absurdamente ridículo que ela cogite tal hipótese. Sempre soube
que se algum dia eu cruzasse a linha da nossa amizade, não teria
volta. Eu estava certo.
Tento sair sem acordar nenhum deles, mas Raffi resmunga
alguma coisa ininteligível quando mexo seu braço. Me levanto e ele
logo toma o meu lugar, abraçando Brooke e enfiando a cabeça em
seus cabelos.
Passo pelo meu quarto, vestindo uma calça de moletom antes
de descer para a cozinha.
— Oi, Banguela — cumprimento o pitbull que vem me receber,
em seu encalço vem Perséfone. — Oi, pequena, tão com fome, né?
Sirvo suas tigelas e ao som da ração Cérbero e Apolo entram
na cozinha.
— Desculpem a demora, dormi mais do que de costume —
falo e começo a preparar um café.
O relógio no micro-ondas indica que já são quase sete da
manhã, realmente, eu dormi demais. Mas isso sempre acontece
quando tenho Brooke em meus braços, é como se a sua luz
afastasse os meus pesadelos.
Pego minha xícara de café preto e sem açúcar e sigo para a
sala pegando meu celular na mesinha do hall.
Tem 25 chamadas perdidas de várias pessoas, o único número
que eu tenho salvo é o de Darius, o chefe da segurança da
Underworld. Aperto seu número e ele atende no terceiro toque.
— Finalmente. — Fico confuso com o cumprimento, nós
estávamos no clube menos de dez horas atrás. — Estou tentando
falar com vocês há horas.
— O que aconteceu, Darius?
— A Underworld — ele pausa. — Não tem um jeito fácil de
dizer isso, — um arrepio gelado desce pela minha coluna como se
fosse um cubo de gelo. Algo em seu tom disparando todos os meus
alarmes mentais. — Ela foi incendiada.
— O quê? — Aperto o aparelho contra o meu ouvido como se
pudesse ter entendido errado.
— Ela pegou fogo, literalmente.
Isso não pode ter acontecido. Nós estávamos lá essa noite.
Uma sensação de pavor me toma enquanto me preparo para minha
próxima pergunta e a sua resposta.
— Algum ferido? — Isso é o que mais importa.
— Não, conseguimos evacuar com sucesso,
— Graças a Deus.
— Mas o filho da puta por trás do incêndio tentou impedir que
isso acontecesse. — Seu tom é frenético. — Todas as saídas de
emergência estavam bloqueadas e a porta não abria para fora, mas
como instalamos as portas anti-barricadas e nossos funcionários
estão sempre em posse de uma das chaves, conseguiram reverter
as portas e abri-las para o lado de dentro. Os bombeiros
conseguiram conter o fogo antes que ele se alastrasse para os
prédios vizinhos, mas, Chefe...
— O que foi?
— Eles disseram que a estrutura está completamente
comprometida.
Em outras palavras, o prédio está condenado. É o fim da
Underworld. Respiro fundo.
— Eles iam contactar vocês, mas me deixaram com o número
deles. As instruções que me passaram foi que deveríamos ligar para
eles, para pegar os relatórios da inspeção e como foi um ato
criminal a polícia vai investigar, provavelmente vocês vão ter que dar
algum tipo de depoimento. E também falou para ligar para a
seguradora.
— Pode me passar o número?
— Sim, só um minuto.
Pego um bloco de anotações e a caneta e anoto o telefone que
ele me passa.
— Obrigado, Darius. Nós vamos resolver. Fico feliz que todos
estão bem.
— Não fiz nada, chefe.
— Fez. Você salvou inúmeras vidas essa noite. Você está
bem? Precisa de algo?
— Não vou mentir, estou um pouco nervoso, achei que tinha
deixado toda a ação no oriente médio, sabe?
— Entendo perfeitamente. Se precisar de qualquer coisa, não
hesite em pedir.
— Obrigado, Seth.
— Vá descansar, avisaremos qualquer novidade. Obrigado.
Encerro a ligação e fecho os olhos, respirando fundo.
Agradeço mais uma vez que ninguém se feriu gravemente.
Podemos reconstruir o prédio, fazer reparos, o que for, mas não sei
como lidaria com o fato de que pessoas morreram no meu clube.
Vou para o escritório e ligo para os bombeiros e marco uma
reunião para hoje à tarde, garantindo que eu e meus irmãos
estaremos lá. Agora é só falar com a seguradora, que eu não tenho
o número. Procuro por uma agenda na mesa, mas só encontro
várias pastas e algumas armas nas gavetas.
Suspiro resignado, fazendo uma lista mental de todo mundo
com que preciso falar: a seguradora, nossa equipe legal e relações
públicas, precisamos nos colocar a frente de tudo isso. Quanto
antes, melhor.
Sei que não devo tirar conclusões precipitadas, mas me
parece que o perseguidor de Brooke elevou o nível de violência e
sua raiva por nós. Incendiar nosso estabelecimento, é uma
declaração, um desafio, uma provocação. E ela tem que ser
respondida a altura. Estou cansado dessa brincadeira, ele teve a
sua diversão e quando eu o encontrar, será a minha vez. E ele vai
se arrepender de algum dia ter ameaçado a minha família.
Me concentrar na leitura hoje está difícil, já li essa página umas
três vezes e nem é culpa do livro, que é incrível. Uma fantasia com
uma pegada quente e a luta pelo trono de Altera. Porém minha
mente fica imaginando o que teria acontecido se não tivéssemos
voltado para casa cedo. Se não tivessem conseguido evacuar todo
mundo em segurança. E saber que alguém está por trás disso me
deixa ainda mais ansiosa.
Cogitei marcar uma sessão de emergência com a doutora
Luana, mas não posso depender dela pra enfrentar qualquer coisa
que acontecer na minha vida. Fecho os olhos e respiro fundo pela...
já perdi a conta de quantas vezes hoje.
— Sunshine? — Kyle me chama e abro os olhos, vendo meu
namorado que se aproxima. Ele trocou a calça jeans e camiseta
pelo terno e meu coração se aperta.
— Vai sair também?
Seth saiu logo após o café da manhã, precisando resolver as
coisas com o departamento de polícia e o corpo de bombeiros. Raffi
levou os cães pra tomar banho como todo sábado e depois tinha
algo para fazer com a equipe de relações públicas.
— Infelizmente, preciso ir. Tenho que lidar com a seguradora,
não devo demorar. — Ele beija a minha testa.
— Tudo bem — concordo, resignada. — Traz pizza pro jantar?
— peço e me dá um selinho.
— Vou ver o que eu consigo. Eu te amo, Brooke.
— Eu também te amo, Ky.
Acompanho com o olhar até ele sumir pelo corredor e consigo
ouvir a porta da frente bater quando ele sai.
O silêncio que se instala é carregado, esmagador, opressor.
Respiro fundo e coloco uma playlist aleatória para tocar no YouTube
da TV, precisando do ruído de fundo para afastar a paranoia que
ameaça se instalar.
Volto a atenção para o meu livro, finalmente conseguindo me
concentrar nas aventuras da família Tormenti depois que Kassius
ganha uma coleira tatuada como símbolo da parceria. O que é claro
me lembra da coleção de coleiras que Seth guarda no seu quarto,
ele ainda não usou nenhuma delas em mim, mas a curiosidade e
antecipação estão quase me matando.
Será que ele está esperando que eu peça?, me pergunto.
Percebo que a música parou, olho para a TV e vejo a clássica
notificação se eu quero que continue a tocar, nunca entendi o
propósito disso, se eu liguei a TV e não desliguei, por que eu iria
querer que parasse?
Começo a tatear o sofá em busca do controle remoto.
— Perdeu alguma coisa? — Essa voz.
Me sobressalto, levando a mão ao peito e minha respiração
fica presa na minha garganta, meu coração martela contra as
minhas costelas. O medo me paralisa, preciso sair daqui, preciso
correr, mas não tenho para onde ir, pois parado na única porta está
meu ex-namorado.
Patrick Anderson.
— C-como você entrou aqui? — minha voz falha.
Ele sorri e o gesto faz minha pele arrepiar, tem algo de muito
errado em sua expressão. Uma perversão fria que eu nunca tinha
visto antes.
— Com a ajuda dos seus amiguinhos, ou eu deveria chamá-los
de namorados, agora? — Seu tom é carregado de repulsa. Ele
inclina a cabeça e a luz reflete em algo em suas mãos quando ele a
levanta. Usando a ponta da lâmina longa para limpar sob as unhas,
disparando outra onda de pânico pelo meu corpo. — Veja bem, eu
estava esperando pelo momento certo, mas como eles não estavam
te deixando sozinha, por isso precisei resolver as coisas por conta
própria.
Ele dá um passo para dentro da sala, diminuindo a distância
entre nós, mas ao mesmo tempo se distanciando da porta. Essa
pode ser a minha chance, se eu conseguir distrai-lo por tempo
suficiente, fazê-lo falar, talvez eu consiga fugir. Afasto qualquer
dúvida, medo ou insegurança. Não tenho tempo para isso.
— O que você quer dizer com isso? — pergunto, minha voz
um pouco mais firme.
Para onde eu iria?
Cozinha? Não, muito aberta. Academia é muito longe. O
escritório, se eu não me engano vi uma arma em uma das gavetas,
se eu conseguir chegar até lá, talvez eu tenha uma chance.
— O incêndio, é claro.
— Você quase matou centenas de pessoas — rebato, em
choque. Aproveitando para levantar.
Quem é esse homem? Como pude estar tão errada ao seu
respeito. O cara com quem eu morei, nunca poderia ter incendiado
um clube.
— Por que o espanto? — ele pergunta, arqueando as
sobrancelhas. — Seus namorados mataram milhares de pessoas.
— Eles estavam lutando pelo país, são heróis de guerra.
— Heróis, certo — ele zomba. — Por que não diz isso para as
famílias das pessoas que eles mataram?
Patrick dá mais um passo em minha direção e eu me esquivo
para a lateral. Me forço a manter a minha atenção nele e não
desviar o olhar para a porta. Não posso entregar meu plano, não
posso arriscar.
— Por que você se importa? — Nada disso faz sentido, o
desdém com que Patrick se refere aos rapazes, o ódio que vejo em
seu olhar.
— Porque uma dessas pessoas era o meu irmão! — vocifera,
avançando contra mim tão rápido que não consigo recuar, ele
segura meus braços com força, sinto seus dedos afundando em
minha pele, o cabo da faca me machucando. Preciso controlar a
náusea, afastar as memórias da última vez que me tocaram com
tanta agressão.
Eu sobrevivi daquela vez e sobreviverei agora.
— Me solta, você tá doido! — Luto para me libertar de seu
aperto. — Você não tem irmãos, é filho único.
— Não tenho por causa deles. Meu irmão morreu por culpa
dos seus namoradinhos. — Ele me joga no sofá com hostilidade. —
O plano nunca foi te machucar, eu só precisava de uma forma de
me aproximar, mas por causa de uma coisinha de nada...
— Coisinha de nada? Você me traiu! — interrompo-o. Ele se
vira para mim, a mão com a faca levantada e eu me encolho.
— E por causa disso você me deixou e foi morar com eles —
ele praticamente cospe a última palavra. — Me conta, você já
estava dando pra eles enquanto estávamos juntos, né?
— Eu nunca te traí — declaro, me levantando e dando dois
passos para trás, para mais perto da saída.
— Claro, claro. Mas mesmo depois de você me trocar eu tentei
te mostrar que eles não eram quem você achava, que eles não
poderiam te manter segura. E eu estava certo, mas mesmo assim
você ficou, mesmo depois de ter sido sequestrada e torturada, por
causa deles! — ele grita, gesticulando para a sala. — Você ainda
assim os escolheu.
— E escolheria de novo — declaro, confiante.
Todas as luzes se apagam subitamente e agradeço aos
deuses pela queda de energia. Não perco tempo e me viro, saindo
correndo pela casa pouco iluminada pela luz do fim de tarde. Mas
poderia estar um breu completo, essa é a minha casa e eu a
conheço de olhos fechados.
Estou quase no escritório, minha mão avança para a
maçaneta, mas sou parada por algo. Não, por alguém. Uma mão
cobre minha boca e me puxa para trás me colando ao corpo do
desconhecido e me debato contra meu captor, desespero
preenchendo cada uma de minhas moléculas.
Não.
— Shhhhhhh, babygirl.
Estou terminando de vestir o colete à prova de balas quando a
porta abre e Kyle entra.
— Vamos terminar isso de uma vez por todas — declara e se
vira para Seth, que está sentado em frente ao computador com o
sistema de vigilância que foi instalado e configurado em nossa casa,
no dia seguinte ao resgate de Brooke.
O sistema de câmeras é obra de Adônis, é claro. Funciona
independente de todas as outras redes, e é completamente
impenetrável. Nem mesmo Adônis poderia hackeá-la de forma
remota, a única maneira seria se estivesse dentro da nossa casa.
— Deveríamos ter feito isso há muito tempo — digo.
— Brooke não estava pronta, ela precisava se recuperar,
lembrar de sua própria força — Seth contrapõe. — Ainda não gosto
de termos que fazer isso pelas suas costas.
— O plano foi seu — Kyle adiciona.
— Não quer dizer que eu goste disso, mas era necessário. —
Ele vira o rosto para onde Kyle veste o colete.
— Avisou os guardas?
— Eles estão preparados.
Quando Seth nos acordou hoje de manhã com a notícia de que
a Underworld tinha sido incendiada era evidente que tinha sido obra
de quem quer que estivesse atrás de Brooke pra nos separar dela.
Nosso primeiro instinto, é claro, foi não sair de perto da loira.
Mas era a isca perfeita, seu perseguidor estava claramente
aumentando o nível de violência o que o tornava perigoso, mas
também o tornava descuidado, propenso a cometer erros. E a
oportunidade de encontrar Brooke sozinha seria tentadora demais
para que o hijo de puta deixasse passar.
O que ele não sabe é que ela não estará sozinha. Compramos
a casa vizinha a nossa sob o nome da minha mãe, uma semana
depois do resgate de Brooke, quando ficou claro que estávamos
lidando com um stalker. E estamos nos preparando desde então.
— Alguma coisa? — pergunto a Seth.
— Ainda não, mas Thorne acabou de sair, se Patrick for
esperto, vai esperar pelo menos uma meia hora, ter certeza que ela
está sozinha.
Essa era a outra coisa que o dia de hoje trouxe. A certeza da
identidade do perseguidor.
Em meio a nossa reunião enquanto traçávamos o plano e a
melhor forma de executá-lo. Adônis ligou.
— Boa noite, Thorne.
— Bom dia, Adônis, você está no viva-voz — Kyle anunciou.
— Ótimo, ia mesmo pedir para chamar seus irmãos. A
informação do tio do ex da sua garota era o que precisávamos.
Finalmente descobri porque não conseguíamos encontrar nada
sobre Patrick Anderson.
— Eu aprecio um ótimo suspense como qualquer pessoa, —
respondi. — Mas estamos no meio de uma crise, incendiaram a
Underworld e temos quase certeza que o responsável é o
perseguidor de Brooke.
— Pode retirar o quase, Raffi — Adônis me corrigiu. — O
motivo de não termos nada sobre ele é porque até 12 anos atrás ele
não existia.
— Como é que é? — Kyle pergunta.
— O governo dos Estados Unidos deu uma identidade nova
para toda a família.
— Serviço de proteção às testemunhas? — Seth perguntou, se
inclinando para mais perto do aparelho.
A intensidade com que o caçula encara o celular é tanta que
se Adônis surgisse na mesa eu não me surpreenderia.
— Exatamente, Seth. A questão é que Patrick era filho de um
dos braços direitos da máfia italiana de Denver. E pelo que eu
entendi a mulher do cara, mãe do Patrick, foi morta em algum
conflito. E então o pai, Marco, fez um acordo com o governo e
entregou um dos mandantes, o consigliere[23] em troca de
identidades novas para ele e os dois filhos.
— Dois filhos?
— Sim, Patrick tinha um irmão. Aparentemente, Marco treinou
os filhos como se ainda fizessem parte da máfia, mas o mais velho
não queria levar uma vida criminal e se juntou aos Fuzileiros Navais.
— Ele era um de nós? — Kyle ecoou em voz alta a pergunta
que meu cérebro fez.
— Sim, ele morreu em ação. Era uma missão de resgate, mas
a equipe responsável não chegou em tempo.
Meu estômago pareceu afundar como se fosse feito de
chumbo, sabendo instintivamente o que Adônis diria a seguir. Olhei
para meus irmãos e em suas expressões encontrei espelhado ali os
meus sentimentos. Eu lembrava daquela missão, a única vez em
que falhamos.
— Missão Blackbird? — Seth perguntou.
— É, de alguma forma, Patrick conseguiu descobrir quem
eram os responsáveis pelo resgate. Ao que me parece, ele se
aproximou de Brooke com o intuito de conhecê-los, não sei o que o
fez esperar quase cinco anos para agir.
— Ela — nós três respondemos em uníssono.
Seria engraçado se não fosse tão perturbador.
— Ele ativou os sensores da entrada pela piscina — Seth
anuncia, me tirando de minhas memórias. Ele se levanta e estende
a mão, abro minha carteira e tiro uma nota de dez dólares.
— É uma ideia estúpida, a entrada pela garagem faz muito
mais sentido — rebato chateado.
— Hora de ir — Kyle diz. Colocando o comunicador bluetooth
no ouvido. Eu e Seth fazemos o mesmo.
Thorne abre a porta de casa e entramos pelo portão, nos
separando.
— Checagem de comunicação — Kyle pede.
— Reaper, na escuta — respondo.
— Hellhound. Alto e claro.
— Ok, vamos acabar com esse filho da puta. — Um sorriso se
abre em meu rosto em antecipação.
Estou na porta que liga o jardim com a cozinha, Seth, vai
entrar pela outra enquanto Kyle desliga a energia.
— O primeiro golpe é meu — Seth dispara, a tensão em sua
voz me informa que algo aconteceu no vídeo que ele ainda
acompanha pelo celular.
O ódio me consome, se esse arrombado tocou na minha
mulher, eu juro que vou quebrar todos os dedos da mão dele.
— Doomshade[24], agora! — Seth comanda e Kyle obedece, a
casa fica escura e eu já estou do lado de dentro.
— Hellhound, cadê ela? — A minha prioridade é a segurança
dela e Seth já reivindicou o primeiro golpe de qualquer forma.
— Correndo para o escritório. — O orgulho em sua voz é tão
claro que me faz voltar a sorrir.
Ela não ficou paralisada, aproveitou a oportunidade para fugir
como esperávamos que fizesse. Essa é a minha garota.
Sigo pelo corredor e a vejo, ela está quase na porta quando eu
a seguro. Cubro sua boca, porque sei que no momento seu primeiro
instinto será gritar e não podemos chamar a atenção. Seth está em
silêncio e não sei se já pegou Patrick ou não.
Brooke se debate contra mim.
— Shhhh, babygirl — sussurro e ela relaxa instantaneamente.
— Vem comigo.
Solto seu corpo e seguro sua mão, guiando-a para o porão.
Começo a ouvir sons de coisas se quebrando e quero correr para
ajudar meus irmãos, mas primeiro preciso garantir que Brooke
estará segura.
Abro a porta e a luz de emergência ilumina os degraus.
Descemos em silêncio, a loira aperta a minha mão algumas vezes.
Quando chego no andar debaixo, abro a porta do quarto e gesticulo
para que ela entre. Fecho a porta atrás de mim e ligo a luz.
— Achei que estávamos sem energia — ela sussurra.
— Estamos, esse quarto é alimentado por um gerador. — O
quarto não tem decoração, é simples, funcional. Uma mesa e
cadeira, uma tela de televisão que funciona como monitor e um
teclado. — Você vai ficar aqui até um de nós voltar.
— Desde quando isso existe? — pergunta incrédula
gesticulando para o quarto. Mas meus olhos percorrem seu corpo,
procurando por algum ferimento, minha atenção fixa nas marcas
vermelhas em seus braços que não tenho dúvidas estarão roxas em
poucas horas.
Caso restassem dúvidas de que hoje seria o último dia de vida
de Patrick, elas acabam de se tornar certezas.
— Desde sempre, só foi adaptado com o novo sistema de
vigilância — explico.
Ligo a tela e as câmeras surgem. Vejo Seth e Kyle carregando
Patrick para a garagem. Ótimo, isso já está resolvido.
— O que eles vão fazer? — ela pergunta acompanhando os
dois.
— Descobrir se ele está trabalhando sozinho. Esclarecer
algumas coisas. — Me viro para sair e ela segura meu pulso.
— Vou com você.
Pego o comunicador extra do meu bolso.
— Aqui, coloque isso, você vai conseguir ouvir tudo e
acompanhar enquanto fica em segurança.
— Raffi — ela reclama, quando me viro.
— Não é negociável, babygirl. — Seguro seu rosto com
carinho e colo nossos lábios em um beijo rápido. — Não dessa vez,
temos contas a acertar e você não precisa de combustível novo
para seus pesadelos.
Ela arregala os olhos e confirma com um movimento de
cabeça e se senta, cruzando as mãos sob o queixo e encarando o
monitor.
— Tomem cuidado — ela diz e sorrio.
— Sempre. Eu já volto.
Subo as escadas correndo e sigo para a garagem.
Patrick está atado a uma cadeira de metal, no meio do
cômodo, seu lábio está sangrando e seu olho já está inchado devido
a um corte na sobrancelha. O fato de que nós três saímos de casa
com os carros liberou muito espaço.
— Devo te agradecer, Patrick — Seth diz, seu tom frio arrepia
os pelos do meu braço, faz anos que eu não escuto essa voz. —
Seu trabalho exímio em desaparecer vai garantir que ninguém faça
perguntas.
— Grandes heróis que vocês são, realmente. Não passam de
assassinos! — ele cospe uma mistura de saliva e sangue no chão.
Kyle nota a minha presença e arqueia uma sobrancelha.
— Segura e com olhos e ouvidos presentes — informo.
Esperamos que o choque de ver pela tela seja menor do que se
estivesse aqui. Pelo menos o som dos ossos se partindo ficará
abafado.
— Está vendo, Brooke? — ele grita para o ar. — Eu tentei te
proteger.
Avanço até ele, dando um tapa em seu rosto com as costas da
mão, sua cabeça gira com a violência do impacto.
— Você não se dirige a ela. Achei que tinha deixado isso claro
meses atrás. — Seguro seus dedos nojentos, os que usou marcar a
pele da minha mulher. — E você, com certeza, não põe as suas
mãos imundas nela.
Viro dois de seus dedos na direção contrária, ouvindo o estalar
satisfatório dos ossos sob seus gritos agonizantes.
Kyle se põe ao meu lado e tenho quase certeza que desse
ângulo o corpo de Patrick está fora do campo de visão de Brooke.
— Ele a machucou? — Kyle pergunta, seu tom duro como aço.
— Ele a segurou e a jogou no sofá — É Seth quem responde.
Então foi isso que ele viu.
Kyle saca a pistola da cintura e atira no joelho de Patrick tão
rápido que só processo o que aconteceu quando sinto o sangue
cobrir meus braços. O grito atormentado de Patrick tem o sabor de
um vinho caro, algo que você esperou por muito tempo para provar.
Esse é o homem que aterrorizou por meses a minha mulher,
que a perseguiu e ofendeu. Não consigo encontrar espaço para
empatia pelo que ele perdeu. Se ele tivesse vindo atrás de nós
diretamente, ao invés de envolvê-la em seus planos de vingança,
talvez eu pudesse entender, aceitar, ter misericórdia.
Não é esse o caso.
— Nós entendemos a sua motivação, Matteo. — Os olhos de
Patrick se arregalam quando Seth usa seu verdadeiro nome. — Sim,
nós sabemos quem você é. Demorou, é verdade, mas conseguimos.
— Seu plano era bom... — Kyle diz.
— Mas ele tinha uma falha desde o princípio... — adiciono.
— Usar Brooke para se aproximar de nós, nos conhecer, foi
inteligente, tenho que admitir — Seth diz, polindo uma de suas
adagas enquanto encara Patrick. — Mas se envolver com ela,
machucá-la e toda a obsessão que se sucedeu, é no mínimo,
patética.
Seth desliza a ponta da lâmina sobre a pele exposta do
antebraço de Patrick, fazendo-o estremecer. Ele nos encara com
tanto ódio, como que nunca notamos?
— Quem mais está trabalhando com você? — pergunto. —
Porque eu sei que você não seria capaz de orquestrar tudo isso
sozinho.
Apelar para o seu orgulho é um golpe certeiro, todo o seu
comportamento até aqui descreve um homem com um senso de
importância exagerado, a narrativa de herói que criou em sua
cabeça para justificar seus atos, a forma como sempre tratou
Brooke.
— Vocês sempre se acharam tão superiores — ele desdenha.
— Andando por aí com sua pose de herói, os melhores do mundo.
Seth corta o braço dele, uma linha horizontal profunda,
fazendo o sangue jorrar e empoçar aos seus pés.
— Meu irmão te fez uma pergunta — adiciona.
— Sabemos que você não tem a capacidade necessária,
Matteo — Kyle provoca. — É realmente uma pena que Carlo tenha
morrido na guerra, ele era o melhor, o orgulho do seu pai, não é.
Ira renovada toma as feições de Patrick e ele se debate contra
as amarras.
— Não fale o nome dele. Ele está morto pela sua
incompetência.
— Quem está trabalhando com você? — Seth repete, cortando
o outro braço.
Patrick grita e luta contra as amarras.
— Deve estar matando vocês que eu consegui enganá-los,
que eu me infiltrei tão facilmente na vida de vocês, na sua casa. E
nem foi difícil, sabe? — Ele tenta arrumar a postura, se endireitar. —
Foi fácil depois de conseguir acesso ao arquivo dos fuzileiros,
quando eu descobri seus nomes, comecei a procurar um ponto
fraco, vocês sentiriam a mesma dor que eu.
Ele sorri com malícia.
— Foi quando eu encontrei Brooke, depois de subornar o
escritório de admissões eu estava na sua faculdade e ela era tão
ingênua, tão fácil. — Ele olha de Kyle, para mim e então para Seth.
— Mas vocês já sabiam disso — seu tom não deixa dúvidas para o
significado por trás de suas palavras.
Meu punho colide com a lateral da sua cara, derrubando-o com
a cadeira.
Antes que um de nós possa se mexer para levantá-lo do chão,
um tiro acerta o meio do seu peito, o som ecoa pela garagem e me
viro com a minha arma engatilhada e pronta.
Brooke está parada na porta, o sol a iluminando pelas costas e
puta que pariu essa mulher armada e com cara de irritação é
gostosa demais.
— Já ouvi o suficiente, — declara caminhando em nossa
direção. — Não há razão para prolongar o inevitável até porque
nenhuma tortura supera a morte. — Ela para sobre o corpo de
Patrick que respira com dificuldade.
—Deveria ter te matado quando tive a chance, te poupar foi
um erro. —Ele tosse sangue com o esforço de falar.
— É, foi. — Ela dispara novamente.
Implacável.
Fatal.
Mortal.
O tiro acerta o meio da testa desfigurando o rosto com a
proximidade.
Brooke se vira para nós travando a arma e oferecendo o cabo,
eu tomo a pistola de suas mãos.
— E da próxima vez que vocês planejarem me usar com isca,
me informem. — Ela nos dá as costas e segue para o interior da
casa.
Eu e meus irmãos nos entreolhamos antes de segui-la.
Kyle a puxa contra seu peito e eu e Seth nos juntamos ao
abraço, envolvendo-a em uma espécie de casulo.
— Não vai existir próxima vez — afirmo.
— Nunca mais — meus irmãos concordam.
Me olho no espelho e aliso o meu vestido, a seda verde musgo
abraçando meu corpo e caindo até a metade das minhas coxas.
Prendo as mechas superiores do meu cabelo e deixo o resto caindo
em ondas pelos meus ombros.
— Abelhinha, já está pronta? — desvio meu olhar do meu
reflexo para o homem esperando na porta do quarto.
— Só passar o batom e já desço — eu o informo.
Ele caminha até mim e me deixo observar meu namorado. Ele
está vestindo um terno chumbo, algo raro para Seth e se você me
perguntar uma pena. Ele consegue ficar ainda mais gostoso e
imponente de roupa formal. A quem eu quero enganar? Seth
Donahue consegue comandar qualquer cômodo apenas com sua
presença.
— Você está deslumbrante — diz, tocando a minha cintura de
leve.
A intensidade de seu olhar sobre mim, me faz enrubescer.
Como que é possível que eu ainda não tenha me acostumado a ser
o alvo de seu amor depois de um ano?
— Você também não está nada mal, deveria usar ternos mais
vezes. — Seguro sua gravata usando-a para puxá-lo para baixo e
colar nossos lábios. Sua língua acaricia a minha em um beijo terno.
— E roubar o look de Kyle? — ele me pergunta assim que se
afasta. Sentando na beirada da cama.— Não, e roupas formais são
muito restritivas. — Ele passa os dedos pela colarinho da camisa
como se para enfatizar suas palavras.
— Você fica extremamente gostoso com calças de moletom
também. — Dou de ombros e me viro para o espelho para passar o
batom.
— Ah, é? Só de moletom? — provoca, pelo reflexo vejo seu
olhar passear por meu corpo aquecendo a minha pele e me dando
todo tipo de ideias que eu não deveria ter agora.
Me viro para ele quando já estou pronta.
— Prefiro você sem nada, — pisco para ele. — Mas temos
compromisso e não podemos nos atrasar.
Ele puxa minha cintura, me acomodando entre as suas pernas.
— Eu discordo, a festa é nossa, lembra?
Inclino meu rosto em direção ao seu, minha boca pairando
sobre a dele por alguns segundos, antes de puxar seu lábio inferior
com os dentes e morder de leve.
— Exatamente. Vamos? — Me afasto e ele balança a cabeça.
Ele dá uma tapa na minha bunda quando se levanta.
— Vai pagar por isso mais tarde, Abelhinha.
— Mal posso esperar.
Confiro se tenho tudo que preciso para hoje à noite na minha
bolsa. Quando Raffi aparece na porta.
— Pela demora, achei que encontraria os dois sem roupa —
comenta se apoiando contra o batente.
— É decepção que eu escuto em sua voz? — provoco.
— Talvez. — Ele sorri e meu coração erra uma batida. — Você
está deliciosa, babygirl.
Raffi veste um terno azul claro que complementa o seu tom de
pele. Os cabelos longos estão soltos e ele não é apenas um pedaço
de mal caminho, mas o caminho inteiro.
— Você também está muito bem. — Olho para trás para onde
Seth ainda espera na cama e de volta para Raffi. — Acho até que
vou ser ofuscada.
— Isso nunca seria possível — Raffi declara, dando um passo
em minha direção, sua mão deslizando pela lateral do meu corpo.
Abaixa a cabeça e beija meu pescoço, o ponto sob meu maxilar e
faz minha pele arrepiar.
— Honestamente, eu esperava isso de Raffi, mas você
também, Seth? — Kyle reclama quando chega no quarto. Sinto seu
olhar sobre mim, seu rosto suaviza e ele sorri.
Seth levanta as mãos em sinal de rendição.
— Não posso ser responsabilizado quando nossa namorada
decide me seduzir.
— Como é que a culpa acaba sendo sempre minha? —
reclamo.
— Fácil, babygirl, somos três contra um.
— Vocês são impossíveis! — Caminho para a porta.
— Mas você nos ama mesmo assim — Kyle declara,
envolvendo minha cintura e me fitando profundamente. Um meio
sorriso nos lábios. — Você está ainda mais linda hoje, Sunshine.
Ele me dá um selinho e se afasta, os olhos escurecidos de
desejo.
— Realmente, é impossível resistir ao seu charme —
confidencia.
Por um segundo penso em desistir dos planos que tenho para
hoje, posso fazê-los aqui mesmo em casa e aproveitar a celebração
que espero que aconteça. Mas essa noite é importante, por diversas
razões e não quero perder o meu primeiro evento público como
sócia da Hades’ Men.
— Pois terão que fazer um esforço, temos uma inauguração
para fazer.

A construção da nova Underworld levou um ano para ser


terminada. Mas hoje, finalmente, ela estava sendo aberta ao
público.
A estrutura é muito similar a anterior, porém agora com dois
bares no térreo um em cada lateral. A pista de dança ocupa todo o
restante do espaço. Todo o ambiente é iluminado por luzes azuis e
roxas, mantendo a identidade visual. O mezanino da área privada
continua tendo acesso por escadas, porém, agora, os membros VIP
do clube tem acesso a um elevador exclusivo.
— Sejam bem-vindos à Underworld 2.0.!— Darius nos
cumprimenta assim que entramos pela porta lateral. O clube já está
a todo vapor, mas eu vi a multidão que ainda esperava nas portas
por uma chance de entrar.
Sorrio para ele.
— Algum problema?
— Nenhum, chefe.
Chefe. Seis meses atrás eu me tornei sócia da Hades Men’
Corp, com poder igual ao dos rapazes. Ainda não consegui voltar ao
meu trabalho como professora de educação infantil e talvez nunca
volte, alguns dias eu sentia falta da energia contagiante que as
crianças me passavam, mas achei outra forma de canalizar a minha
vocação para ensinar.
Duas vezes por semana eu dou aulas de defesa pessoal para
mulheres de forma gratuita na sede corporativa da nossa empresa.
Ajudar mulheres a se sentirem seguras, fortes e confiantes tinha se
tornado uma missão para mim.
— Fez um ótimo trabalho, parabéns — Kyle elogia e indica o
caminho para mim.
As batidas da música reverberam pelo meu corpo e observo a
confusão de corpos se movendo em sincronia. Sorrio quando tudo
que sinto é orgulho e alegria, nem mesmo uma pitada de medo,
ansiedade por estar entre tantas pessoas.
A minha recuperação ainda não terminou, provavelmente
nunca irá e está tudo bem. Mas os pesadelos são cada vez menos
frequentes e me afetam menos. Aprendi a não me culpar pelos
meus traumas, a não deixá-los me controlarem e novas formas de
me manter ancorada ao presente.
Raffi tira o cartão preto com a logo da Underworld em roxo do
bolso e aciona o elevador nos levando ao mezanino.
Assim que as portas se abrem vejo minha melhor amiga em
um vestido vermelho conversando com meu ex-guarda-costas. Ela
nota a minha presença um segundo depois e corre para me abraçar,
abandonando Ethan que meneia a cabeça em nossa direção em
forma de cumprimento.
— Vamos buscar as bebidas, o de sempre, Abelhinha? — Seth
pergunta tocando meu braço e atraindo a minha atenção.
— Sim, por favor.
Os três saem e Liv me envolve em um abraço apertado. Nunca
poderei expressar com palavras o quanto ela significa para mim, o
quanto a sua amizade é imprescindível. Como todo o seu apoio,
carinho e amor incondicional me ajudaram a chegar até aqui.
— Ficou tão perfeito, estou tão orgulhosa de você. A ideia dos
dois bares é genial, já consigo notar a diferença, as filas estão
menores e mais eficientes. — Ela dá um tapa no meu braço. — E
você os convenceu a colocar o elevador, tudo bem que é só para os
sócios, mas eu ainda vou dar um jeito de roubar um desses cartões.
— Fico feliz que você gostou. — Abro minha bolsa e retiro um
dos cartões de acesso. — Você quer dizer um desses?
— Sim, exibida. Deixa, eu vou ter um.
Estendo a mão para ela.
— Não! — ela grita e me abraça mais uma vez. — Eu não
acredito. — Ela encara o cartão mais uma vez e dá de ombros. —
Nunca duvidei.
— Eu percebi.
Ela olha em volta antes de falar em meu ouvido.
— Vai mesmo fazer isso hoje?
Meu coração acelera e sinto um frio na barriga em antecipação
e meneio a minha cabeça concordando.
— Que bom, vocês merecem.
— Merecemos o que? — Raffi pergunta, envolvendo a minha
cintura e me entregando um copo com a bebida de três cores.
— O sucesso da Underworld.
Kyle e Seth já estão em nossa mesa, Ethan conversando com
eles quando nos juntamos.
A conversa flui facilmente em nosso grupo, os rapazes
discutindo os possíveis vencedores da próxima temporada de
futebol americano e Liv torcendo o nariz toda vez que mencionam
seu primo, o quarterback do Patriots, Trey Jones.
Meu nervosismo vai aumentando gradualmente conforme a
noite avança, termino meu segundo drinque buscando um pouco de
coragem líquida. Liv aperta a minha mão e chama Ethan para
dançar.
— Tudo bem, Sunshine? — Kyle pergunta, seus olhos me
analisando, sem dúvidas notando a minha inquietação.
— Sim, está tudo ótimo — afirmo. — É cedo demais para
estrearmos o escritório? — pergunto, meu tom sugestivo.
— Achei que nunca ia pedir — Raffi comenta.
Meus namorados se levantam imediatamente. Seth estende a
mão para mim e caminhamos para o elevador. Assim que as portas
se fecham, a atmosfera muda. Meu corpo se tornando super
consciente do espaço ao meu redor e dos três homens que o
dividem comigo.
As portas se abrem no terceiro andar e Kyle destrava a porta
do escritório.
No segundo que cruzo o batente, suas mãos estão sobre mim,
Ele segura meus quadris e reivindica meus lábios em um beijo
abrasador. Alguém se cola as minhas costas e sinto a barba de Raffi
contra meu pescoço quando ele lambe a pele ali. Seth está do meu
lado, sua mão subindo pela minha perna e se infiltrando por baixo
do meu vestido até o ápice das minhas coxas, minha buceta pulsa
em resposta.
Me perco para as sensações que eles me proporcionam, meu
corpo é um vulcão em erupção e levo alguns minutos para me
lembrar o motivo para tê-los trazidos aqui.
— Espera — balbucio e Kyle se afasta minimamente. Raffi
mordisca o lóbulo da minha orelha. A mão de Seth paralisa sobre a
minha calcinha, seu polegar pressionando meu clitóris e fazendo
com que manter uma linha de raciocínio coerente exija toda a minha
capacidade cerebral. — Eu preciso falar algo.
— Pode esperar? — Raffi pergunta, esfregando sua ereção
contra a minha bunda.
— Não.
Ele suspira, mas se afasta e Seth retira sua mão e me
arrependo imediatamente de minhas decisões.
— Você tem um minuto — o caçula adverte e ajeita o pau nas
calças.
— Você está brincando.
— 59, 58, 57...
— Tá bom. — Dou um passo para o lado, precisando da
distância física antes de me render a perdição personificada que são
os meus homens.
Respiro fundo e aperto a minha bolsa que ainda carrego no
meu ombro. É isso.
— Vocês sempre fizeram parte da minha vida, foram meus
amigos durante anos e depois me mostraram o que é o amor, o que
significa ser amada incondicionalmente, com todas as minhas
falhas. Vocês me salvaram de tantas formas, me ajudaram quando
eu mesma duvidei ser possível. — Engulo o nó que se forma em
minha garganta. — Cada um de vocês me completa de uma
maneira única e eu não consigo imaginar a minha vida sem que
vocês estejam nela. — Sinto meus olhos arderem ao ver o amor e
devoção em suas expressões. Busco a caixinha de veludo que
carrego na minha bolsa e estendo a mão. — Por isso a minha
pergunta é: querem casar comigo?
— Você roubou a nossa fala — Raffi reclama e tira uma
caixinha do próprio bolso. Seth e Kyle fazem o mesmo.
— Isso é um sim? — pergunto.
— Você tinha dúvidas? — Kyle pergunta e se aproxima,
mostrando a aliança delicada com um diamante no centro.
— Eu te amo, Abelhinha, eu sempre soube que você era a
minha salvação, não posso pensar em um jeito de melhor de passar
o resto da minha vida do que ao seu lado. — Seth segura a minha
mão esquerda e desliza a aliança coberta de pequenos diamantes
em um formato curvado pelo meu dedo anelar.
Kyle toma a minha mão em seguida, seu olhar encontra o meu
e um mundo de emoções me percorre.
— Nunca vou poder agradecer aos meus pais o suficiente por
terem decidido sair de São Francisco e ir para Palo Alto, foi por
causa deles que eu te conheci e encontrei a minha alma gêmea,
mas não tenho dúvidas que teríamos nos encontrado de qualquer
forma, Sunshine, a minha vida não faz sentido sem você.
Meus olhos estão marejados quando ele desliza a aliança no
meu dedo e ela se encaixa sobre a de Seth.
Raffi assume seu lugar e segura a minha mão. Meu coração
bate tão rápido que tenho certeza que eles conseguem ouvir.
— Babygirl, um dia eu te disse que você era dona do meu
coração, da minha alma, de tudo que eu sou. Quando eu disse isso
achava que era impossível te amar mais do que eu amava naquele
momento, eu estava errado. Cada dia ao seu lado eu me apaixono
ainda mais e mal posso esperar para te amar ainda mais no dia
seguinte pelo resto da minha vida. — Ele desliza a aliança que é o
espelho da de Seth, encaixando sobre as outras duas
perfeitamente.
Encaro a minha mão e parece que o ditado estava certo, a
felicidade só é verdadeira quando é compartilhada e mal posso
esperar para dividir a minha vida com esses três.
Muito obrigada por ter chegado até aqui! Você não sabe o
quanto isso significa para mim!
Se você gostou da história, poderia me ajudar a levá-la a
outros leitores? Isso é super importante para mim como uma autora
independente que acabou de começar a se aventurar nesse mundo
maravilhoso da escrita.
Você sabe como pode me ajudar? É muito fácil, rápido e de
graça! Vou deixar abaixo algumas coisas que são super simples e
podem contribuir muito:

1. Aproveita que você finalizou o livro para deixar sua


avaliação sobre a história na Amazon! Além de ser um feedback e
ser um termômetro para continuações, você pode acabar
incentivando outros leitores a ler! Diga-me tudo o que você achou,
eu adoro a opinião de vocês, as reações, tudo mesmo.
2. Que tal fazer um post em uma das suas redes sociais sobre
o livro? E pode ficar à vontade para me marcar, eu amo acompanhar
as leituras de vocês! Assim posso compartilhar com todos os meus
leitores!
3. Obrigue (gentilmente e com muito amor) aquela sua amiga
literária a ler “Atração Mortal” para que ela também se apaixone por
Seth, Kyle e Raffi, é sempre bom ter alguém para surtar sobre o livro
que acabamos de ler, né? Se possível indique também para seus
amigos e familiares!
Fique à vontade para me seguir nas minhas outras redes
sociais:
Facebook: Haay Di Maffei
Twitter: @HaayDiMaffei
Instagram: @HaayDiMaffei

Te vejo nas próximas histórias!


À minha família, que sempre me apoiou e acreditou: Eu amo
vocês, cada um de vocês.
Jen, aqui estamos de novo, e eu sinceramente não sei como
teria chegado até aqui sem você. Obrigada por apontar todos os
pontos fracos e me ajudar a consertá-los. Obrigada por ser apenas
a melhor!
Fran, minha Ohana, você sempre esteve ao meu lado, me
encorajando e impulsionando. Obrigada, por todas as mensagens
em que você perguntava como eu estava. “I love you in case I die.”
Nathália, minha gêmea, por todo seu apoio. “Enquanto houver
você do outro lado, aqui do outro eu consigo me orientar.”
Bruna, obrigada por todo o apoio, por ser minha amiga antes
de ser a minha SM!
Julie e Ana, minhas revisoras, muito obrigada por embarcar
nessa missão.
As minhas parceiras, vocês são mulheres incríveis e eu tenho
muita sorte de ter vocês junto comigo durante esse lançamento.
Obrigada pelas mensagens de apoio e compreensão, vocês não
fazem ideia do quanto isso me ajudou e motivou.
(@hobbitnaestante, @Bookgram_das_gurias, @leitoraa.compulsiva,
@foradacaixinhaliteraria, @natyleitora, @_estantedamari_,
@louca_porromances, @loucaporconteudo, @thairead_,
@clau.repaginando, @jkbobao, @alinelebooks, @ruiva.dobook,
@ceumaradesilva, @maislidos.books, @umalinhaemeia,
@leviantread, @leiturasdamota, @capiturandoleituras,
@estantedaraabe, @em.cada.ponto.um.conto, @Oficial.filosofando,
@fofoliterando, @Anny_booksread, @sobrelivroscomamor,
@ruivaniggaliteraria, @secretbookbr, @leiturasdamara,
@Mirach_Book, @leiturasemais_, @brielaoteca, @_bookstan_bea,
@umaquarianalendo, @_escritasanonimas,
@umcafenaestante,@books_sstones)
Para as minhas ADMs do Harém, o que seria de mim sem
vocês? Sério, obrigada por tudo e se preparem que vem mais!
Para as minhas leitoras do grupo do WhatsApp, obrigada por
me aturarem e apoiarem incondicionalmente.
Kel, Glei, Luiza, Thata, Cris, Fla, eu amo vocês. Obrigada por
todo o amor e carinho, e pelo companheirismo de todos os dias.
Ao 9:05, vocês sempre torcem por mim, me apoiam e querem
o melhor para mim. No meu coração nós sempre seremos “The
Three Big Ones”, então, Carlos e Helton, muito obrigada.
Léo, meu eterno Boy, você é especial e seu apoio significa
muito, obrigada por tudo. Amo você.
Às minhas lindas dos Calos Fofos, obrigada por todo o apoio,
carinho e conversas no meio da noite.
Rafa, obrigada por ser sempre uma voz amiga, um abraço
apertado, ou uma palavra de conforto quando eu mais preciso. Você
é uma mulher incrível e o mundo é seu! “I’m with you till the end of
the line!”
À você, leitor, que acreditou nesta estória, me acompanhou
nesta jornada e me apoiou: Obrigada!
Como sempre, eu quero pedir desculpas se eu esqueci de
mencionar alguém. São tantas as pessoas que participaram da
criação desse livro, que fizeram a diferença na minha vida, então um
obrigada a todos.
"Sonhadora criatura tem mania de leitura."

Hayesha Di Maffei é catarinense de nascimento e hoje vive na


Inglaterra, mas se considera uma filha do mundo e deseja explorá-lo
por inteiro, realizando seu sonho de criança.
O amor pela leitura se tornou combustível para a imaginação
que se diluiu nas palavras que você encontra em seus trabalhos.
Escreve desde que se lembra, mas só dividiu com o mundo em
2020, quando publicou seu primeiro conto “Através do Tempo”. Hoje,
já tem mais livros na Amazon como: “A Singularidade de Nós”, “A
Arte do Roubo” e a continuação de seu primeiro conto “Além do
Tempo”, e segue trabalhando nos próximos lançamentos.
UM JOGADOR MULHERENGO. UMA EDITORA
DETERMINADA. ELE NUNCA NAMORA, ELA NÃO ACEITA SER
APENAS MAIS UMA EM SUA CAMA.
Jasmine Bianchi, uma brasileira morando em Boston esbarra
em Christopher Jensen, o astro do time de futebol americano. O
encontro se transforma numa troca de farpas que deixa o atleta
momentaneamente atordoado, mas interessado na morena
aparentemente imune ao seu charme.
Quando Jasmine se vê no papel da protagonista de um dos
seus adorados romances, só tem duas opções e já leu livros o
suficiente para saber que a vida real não é um conto de fadas.
Regra de ouro do manual básico de qualquer mulher: não tente
converter um cafajeste. A decisão mais lógica é sufocar seus
sentimentos para não perdê-lo. A amizade deles se torna importante
demais para misturar com as incertezas de um relacionamento. O
único problema é que talvez Chris possa ter algo a dizer a respeito.
"A Singularidade de Nós" vem para mostrar que as mais belas
histórias de amor, podem ou não, surgir de um simples e casual
encontro de vulnerabilidades.
Se existe uma sensação melhor do que chegar em casa
depois de um longo dia de trabalho, eu desconheço. Poder tirar os
sapatos de salto alto, tirar a roupa social e tomar um banho
relaxante, vestir uma roupa confortável e finalmente descansar no
seu sofá é divino. Ainda melhor se incluir um bom livro a tudo isso.
Ler sempre foi a minha paixão. Desde menina, os melhores
presentes sempre foram livros, então não foi surpresa para ninguém
quando ingressei no mercado editorial. Foi um longo caminho, mas
hoje sou paga para ler livros. Brilhante! Não fosse o fato de ler o
mesmo livro apenas algumas centenas de vezes, ter que
argumentar com autores, negociar mudanças e tentar chegar a um
acordo, o que pode ser bem cansativo. Não me entenda mal, eu
amo meu trabalho, mas em dias como hoje eu só quero chegar em
casa e desligar um pouco.
Pego meu celular da mesinha de centro para checar as horas:
seis da tarde, então são onze da noite em Londres, o que significa
que há uma pequena chance de minha amiga de infância ainda
estar acordada. O meu amor pela leitura não me trouxe apenas um
trabalho incrível, mas me trouxe Laura ainda nos tempos de colégio.
Nossa paixão pela literatura nos uniu e acabamos trabalhando
juntas por muitos anos no Brasil, onde nascemos. Até nos
candidatarmos para vagas em uma grande editora internacional,
achávamos que moraríamos juntas, porém as vagas eram para
filiais diferentes e acabamos com o Atlântico nos separando, ela em
Londres e eu em Boston.
Jasmine: Está acordada?
Envio uma mensagem enquanto escolho algo na televisão e a
resposta chega em um instante.
Laura: Mais ou menos.
Jasmine: Como está o manuscrito do
Escocês?
Meu celular toca em resposta. Já atendo rindo me preparando
para a revolta.
— Olha, nem me lembre! Ele não quer mudar aquele capítulo
por nada, não consigo chegar em um consenso — ela fala e a
irritação é palpável em sua voz.
— Ah, sei bem como é. Por incrível que pareça, consegui
convencer Melissa a arrumar aquele prólogo hoje!
— É para glorificar de pé! — ela exclama em concordância, até
porque já deveria estar exausta de me ouvir reclamar, foram duas
semanas muito longas. É maravilhoso o quanto conversar com a
minha amiga de infância me ajuda a desestressar depois de um dia
longo.
— Tirando o trabalho, como estão as coisas? E o Theo? —
mudo de assunto. Theo é o namorado de Laura, um professor de
literatura em uma universidade em Londres.
— Theo está ótimo, muito feliz com a turma nova!
— O que será que os alunos pensam do Professor Watson? —
questiono com um ar de deboche.
A primeira vez que eu vi Theodore eu acabei rindo muito. Ele é
muito bonito, mas não é meu tipo. Com seu cabelo loiro
encaracolado, uma barba por fazer e um estilo casual. Mas depois
de conhecê-lo e ver o quanto faz Laura feliz eu só implico com ele
por pura diversão.
— Jazz, não fale assim do meu namorado! — reclama.
— Uh, olha ela defendendo o amorzinho.
— Você é tão ridícula. E você? Novos amores? — Lá vamos
nós.
— Nada de novo. Seguimos com a programação normal —
digo calmamente.
— Jasmine, você precisa deixar as pessoas entrarem na sua
vida. E não, eu não estou falando do Traste. — Reviro meus olhos,
mesmo sabendo que ela não pode ver.
— Para de revirar os olhos. Eu não preciso te ver pra saber
que você está revirando os olhos pra mim.
Pega no flagra.
— Ele não é um traste e somos só amigos. — Traste era o
jeito carinhoso de Laura se referir a Christopher, um dos meus
maiores amigos desde que havia me mudado para Boston.
— Sei. — Escuto uma voz ao fundo antes dela completar —
Jazz, tenho que ir. Boa noite
— Sem problemas. Noite, Laura. Amo você.
— Eu também. Beijo e tchau! — A ligação se encerra.
Levanto do sofá e contorno a bancada que divide a cozinha e a
sala. O apartamento é pequeno, mas eu o acho aconchegante.
Preparo uma xícara de chá antes de voltar ao sofá e ao meu
programa.
Acordo assustada com o toque do meu celular, não tinha
percebido que estava tão cansada. Ainda com o coração aos pulos
vejo o nome de Christopher na tela antes de atender.
— Que foi? — falo um pouco irritada.
— Nossa, que brava! — ele ri.
— O que você quer, Chris?
— Só liguei pra saber se queria pizza…da Santarpio’s. — ele
comenta, com um tom de divertimento. Santarpio’s é a melhor pizza
da cidade, talvez do país. Eu nunca negava pizza do Santarpio’s.
Nunca.
— É claro que sim, amanhã? — A perspectiva de pizza no dia
seguinte já foi o suficiente para me acalmar. A campainha do meu
apartamento soou naquele momento. — Só um minuto, Chris, a
campainha tá tocando.
Abro a porta do apartamento esperando que fosse algum
vizinho que tivesse recebido uma encomenda minha por engano.
— Eu estava pensando em hoje mesmo! — Chris fala assim
que me vê. Lá estava ele segurando a caixa de pizza e o celular
equilibrado no ombro musculoso. O sorriso dele me faz sorrir, e o
cheiro da pizza é um bônus. — Eu vou poder entrar ou vamos
comer no corredor? — brinca e eu reviro os olhos, mas me afasto
dando passagem para ele.
— Eu não acredito que você estava dormindo no sofá como
uma velha! — meu amigo comenta com uma expressão divertida
assim que entra no apartamento, vendo minha manta favorita sobre
o sofá.
— E eu não acredito que você achou uma hora vaga na sua
agenda para vir me ver! O que foi? Não tinha nenhuma modelo
disponível hoje? — rebato sarcasticamente antes de me sentar no
sofá e abrir a caixa de pizza.
— Para sua informação, eu privei uma arquiteta de sair comigo
para vir aqui. Achei que estava em tempo de uma noite de filmes —
disse tranquilamente, tão cheio de si quanto sempre. Chris senta-se
ao meu lado, mas me adianto e pego a primeira fatia. Ele sorri e se
serve.
— O que, em outras palavras, significa que o treino hoje foi
mais pesado devido à alguma besteira que você fez, e você está
sem energia e vontade de ter que lidar com toda a burocracia de um
encontro. — Eu brinco, dando de ombros.
Ele quase se engasga de rir.
— Você me conhece demais.
— Não, você é previsível.
Se alguém nos visse hoje nunca acreditaria em como foi
quando nos conhecemos.
O salão do hotel estava cheio de pessoas vestidas
elegantemente. Garçons com travessas de champanhe e canapés
circulavam entre os convidados. Não era a minha primeira festa de
lançamento de um livro, mas era a primeira em Boston, com a
editora nova, e eu queria desesperadamente causar uma boa
impressão.
Me aproximei da autora para parabenizá-la. A mulher era linda,
uns dez centímetros mais alta que meus 1,70m e seu corpo esbelto
estava envolto por um terninho rosa pink justo que destacava seus
olhos claros.
— Parabéns pelo lançamento, o livro é inspirador.
Ela abriu um sorriso exuberante, digno de um comercial de
pasta de dentes.
— Muito obrigada, foi muito difícil o processo de me expor e
dividir algo que sempre foi tão privado. Meus romances sempre
foram meu tesouro — Caroline Diaz respondeu humildemente.
— Sério? Eu achei que teria sido fácil, que já estaria
acostumada a estar sob o olhar do público — comentei.
— Por causa do meu marido? — perguntou calmamente, o
sorriso ainda presente, mas um brilho nos olhos surge quando fala
do marido.
— É, não deve ser fácil ser casada com o melhor running back
da liga — eu falei com um sorriso.
Passei tanto tempo na adolescência lendo romances que
tinham o futebol americano como um elemento da narrativa que eu
havia ficado curiosa e decidi assistir a um jogo. Acabei me
apaixonando pelo esporte, para desgosto de meu pai que, como
bom brasileiro, ama o “verdadeiro futebol”, como ele costuma dizer.
— Livros e futebol? — indagou e eu acenei em concordância.
— Você vai se dar bem com ele — ela comentou, o sorriso lindo
ainda em seus lábios.
E, como se fosse a deixa, um burburinho começou entre os
convidados e então uma grande parte do New England Patriots
entrou no salão. A atenção de Caroline foi totalmente roubada ao
ver o marido e se despediu rapidamente, indo em sua direção.
Meu chefe, Brian O’Neil, se aproximou.
— Caroline Diaz pareceu bem feliz com a conversa de vocês,
o que disse a ela? — Ele parecia genuinamente intrigado.
— Nada demais. Só nos falamos brevemente sobre o livro e a
liga.
— Que liga? — perguntou confuso.
— A NFL? Ela é a esposa de um dos running backs do Patriots
— eu respondi um tanto incrédula, olhando de Brian para o
aglomerado de homens altos que agora rodeavam Caroline.
— Ah sim, nunca achei que você gostasse de futebol, pelo
menos não do americano. No Brasil, o futebol é sagrado, por isso...
— Brian, eu entendo, mas eu gosto de futebol americano.
Nunca fui muito fã de esportes, mas o futebol americano conquistou
meu coração logo no primeiro jogo que assisti. — eu o interrompi,
tentando falar da forma mais educada possível já que, se tem uma
coisa que me incomoda, é quando as pessoas fazem suposições
sobre mim, sejam elas devido a de onde eu vim, ou o fato de ser
mulher, ou o que for, apenas me tira do sério.
— Oh, eu entendo, me desculpe.
— Vou ver se acho algum daqueles garçons com canapés,
com licença, sr. O’Neil — falei já me distanciando.
Eu ainda vi quando o camisa 28 dos Patriots pegou Caroline
no colo e rodou com ela nos braços. Eu estava longe demais para
ouvir sua gargalhada, no entanto.
Quando James nos chamou para a festa de lançamento do
livro da Carol, eu fui o primeiro a dizer que iria. Nunca que eu
recusaria uma festa! Como estávamos no meio da temporada
sabíamos que o treino não podia ser adiado, nem mesmo pela
esposa do running back, então acabamos nos arrumando no ginásio
e indo direto.
Logo que chegamos Carol nos viu e veio cumprimentar, assim
que ela estava ao alcance de seus braços James a rodopiou no ar
como se estivéssemos em um daqueles filmes românticos. Foi
então a vez de cada um de nós parabenizá-la pelo livro e, logo
após, saí em busca de algo para beber.
“Por que todo garçom só tem comida na bandeja?” Eu pensei
quando passei pelo terceiro e nada de bebidas.
Foi quando longos cabelos cacheados e negros chamaram a
minha atenção. Eu realmente preciso achar bebidas agora.
Andei entre os convidados em busca de um garçom, sempre
que avistava um, alguém me chamava. Quando você joga para o
time da cidade acaba sendo reconhecido o tempo todo. Não que eu
me importe, nunca tive problemas com a atenção. Amo minha
carreira, amo o jogo e amo os fãs. Porém, a moça de cabelos
cacheados estava se distanciando cada vez mais.
Tirei mais uma foto e, assim que os rapazes saíram, um
garçom passou por mim. Um com bebidas, até que enfim!
— Eu preciso de duas, tudo bem?
— Ah, c-claro. Sou seu fã! — o rapaz, que não deveria ter mais
que 19 anos, falou corando.
— Obrigado — respondi, já escaneando o salão em busca
dela.
— Você deve estar cansado disso, mas você poderia tirar uma
selfie comigo? Meus amigos nunca vão acreditar — ouvi ele falar,
mas meu foco ainda estava dividido entre o rapaz e a busca pelos
cabelos cacheados. Ela havia se perdido no meio da multidão.
— Claro. Cadê seu celular?
Com a foto tirada e as duas taças em mãos, eu voltei a
procurá-la. Ela não poderia ter ido embora, Deus não seria tão cruel.
Alguém esbarrou em mim e, para minha surpresa, quando me
virei, lá estavam os cachos negros. Claro que não pude deixar de
perceber o vestido azul escuro acinturado que delineava seu corpo
e deixava um dos ombros desnudos, mas foi o rosto que me
chamou a atenção. Bom, depois dos cabelos, é claro. Seus olhos
me encararam, eram pretos tal qual as mechas, tinha uma covinha
no queixo e lábios carnudos cobertos por um batom vermelho.
Notar isso foi rápido, então antes que ela pudesse se
desculpar por ter esbarrado em mim, eu me antecipei.
— Champanhe?
— Não, obrigada, eu estou dirigindo — ela respondeu e pude
notar um sotaque leve, mas não consegui identificá-lo.
— Oi, eu sou Christopher Jen…
— Jensen, o Wide Receiver culpado por não termos nenhum
touchdown no primeiro quarto do jogo de domingo. Eu sei quem
você é. Você está se sentindo melhor? — Uau. Quem é essa
garota? E ela está mesmo me atacando, isso é sério?
— Eu estou bem — respondi um tanto atordoado com a
ousadia.
— Ah que bom, achei que iria sair no Injury Report dessa
semana que você estava no banco devido a performance fraca —
Ela cruzou os braços, enfatizando os seios, e parecia genuinamente
chateada. Mas peraí, performance F-R-A-C-A?
Respirei fundo.
— Ninguém sai no Injury Report por performance fraca, não
que eu tenha...
— Pois deveria — ela me interrompeu, de novo.
Fiquei em silêncio processando o que tinha acabado de
acontecer. Quem essa mulher acha que é? Devo ter ficado quieto
por tempo demais, pois ela acenou com a cabeça como se a
conversa tivesse acabado. Dei um gole no champanhe que eu tanto
desejava, mas ela estava se afastando. Eu precisava ser rápido,
deixei as taças em uma das mesas e a segui.
— Então você é uma fã? — perguntei quando me aproximei o
suficiente. Ela se virou para mim.
— Do jogo? Sim. Do time? Claro! Sua? Não muito. —
Conforme ela falava, ela enumerava os pontos com os dedos e
terminou com um sorriso triunfante. Os dentes brancos contrastando
com o vermelho do batom.
— Ai! Essa doeu — falei apertando o peito como se tivesse
levado uma facada.
— É assim que eu me sinto quando você não pega a bola —
ela falou e pude ver o divertimento em seus olhos negros.
Não conseguia entender como essa mulher parecia tão imune
a mim, não era normal e eu não gostei nada disso. Ela deve estar
fingindo.
— De qualquer forma, boa sorte no jogo de segunda! — Ela
sorriu e covinhas se formaram em suas bochechas, fazendo
companhia para a do queixo.
— Você já assistiu a um jogo no Gillette Stadium? — perguntei
com um sorriso presunçoso.

“Você já assistiu a um jogo no Gillette Stadium?” A frase ecoou


em meu cérebro. Eu entendi perfeitamente, mas me pareceu tão
surreal que por um momento achei que estava dormindo.
Minha confusão devia estar estampada em meu rosto já que o
sorriso dele se alargou. Christopher era muito mais bonito ao vivo do
que na TV, muito mais imponente também. Seu rosto é longo, assim
como seu nariz, o maxilar é tão marcado que a barba curta não
consegue esconder sua forma. Os cabelos são do mesmo tom de
castanho claro que a barba.
Encarei os olhos azuis e ele arqueou a sobrancelha esperando
uma resposta.
— Não, eu não posso dizer que já fui — eu admiti finalmente.
— Você gostaria de ir?
Ah, então essa era a cartada final, o último golpe de
Christopher Jensen, a cantada infalível, mas estávamos falando do
Gillette, não é um cafezinho na esquina.
— Eu..ér...bem, sim! — eu me atrapalhei um pouco.
— Ótimo — ele respondeu. — Para você entrar é só você me
dar seu nome que eu ponho na lista e pronto!
— Sútil! — comentei, franzindo os lábios.
Ele piscou antes de responder.
— Eu sei, mas é assim que funciona. — Acabei balançando a
cabeça em descrença.
— Meu nome é Jasmine Bianchi.
Ele estendeu uma mão que eu envolvi com a minha e
começamos a rir.
— Eu sabia que você tinha um sotaque, Bianchi é italiano,
não? — ele me questionou, ficando ainda mais perto do que antes,
e eu pude sentir seu perfume cítrico.
— Sim, Bianchi é italiano, mas eu não sou, não diretamente
pelo menos.
— Como assim? — indagou inclinando a cabeça, como
geralmente acontece com as pessoas quando eu me apresento
assim.
— Eu sou brasileira, meus avós eram italianos.
— Brasileira? Interessante! — Deus realmente tem seus
favoritos, pois, para minha sorte, alguém chamou por ela, a fazendo
virar de costas, abandonando nossa conversa, mas me dando total
oportunidade de conferir o material. E, nossa, realmente ela tem a
famosa bunda das brasileiras. Murmurei um parabéns ao
acompanhar o rebolar enquanto ela se afastava de mim.
Que mulher displicente. Ela só podia estar se fazendo de
difícil, afinal sou eu! Quem não se interessaria? Eu conhecia esse
jogo dela e estava disposto a jogar. Quando ela se virou em minha
direção novamente, já estava escrito “modo caça” na minha
expressão e tenho certeza que ela notou.
— Você está bem? Está com fome? — ela perguntou.
— Estou ótimo. — Abri um sorriso pensando que estava
mesmo com fome, mas de um tipo diferente de comida, antes de
pedir por seu número para poder avisá-la onde buscar seu ingresso
para o jogo. Ela pareceu relutante, mas acabou me dando o
número. Ponto para mim!
— Então tudo bem, aproveite sua noite Christopher e bom jogo
segunda. Obrigada pelo ingresso — agradeceu e se virou, indo
embora, sem nem mesmo me dar tempo de me despedir.
E ela já estava envolvida em outra conversa no minuto
seguinte.
— Oi, você não é o Christopher Jensen? — Uma voz fina falou
atrás de mim e me virei para encarar um par de olhos azuis me
devorando.
— Sou sim! — falei com um sorriso e sua mão já estava
apoiada em meu bíceps.
Quando finalmente chegou a segunda-feira do jogo dos
Patriots, o tal jogo que Chris me convidou, eu estava em um estado
de absoluta alegria e nervosismo. Ironicamente eu tenho duas
jerseys e ambas são do mesmo jogador: número 80, Christopher
Jensen, e eu não ia ao jogo com o nome dele nas minhas costas.
Ele já parecia ter um ego impressionante e eu decidi não adicionar
nada a isso, portanto resolvi que passaria em uma loja quando
saísse do trabalho a caminho do estádio.
Meu celular apitou com uma nova mensagem.
Número desconhecido: Oi, ansiosa para o
jogo? Quando chegar ao estádio é só se
encaminhar para a bilheteria, dar seu nome e
eles irão te levar ao seu lugar. Espero que você
dê sorte!
Número desconhecido: Ah, é o Chris!
Dei uma risada e revirei os olhos.
— O que foi? — perguntou Sarah, minha colega de trabalho,
que estava passando pelo meu cubículo.
— Nada de importante, lembra que eu falei que ia ao jogo
hoje? Pois era só a confirmação de que tenho ingresso mesmo —
comentei dando de ombros como se não estivesse super
empolgada para ir.
— Olha, eu até poderia ter me esquecido, mas você
mencionou esse jogo umas 7 vezes só na última meia hora — ela
debochou.
— Existe alguma razão para você vir aqui além de me
importunar? — questionei encarando minha amiga.
Sarah Hamilton é linda: olhos escuros, nariz curto e
arredondado e seus cabelos castanhos escuros estão normalmente
em box braids. Ela começou na mesma semana que eu, então
criamos logo um laço por estarmos as duas nos sentindo
deslocadas na nova editora.
— Chegaram três novos manuscritos, Brian pediu que eu os
deixasse com você. — Ela os colocou em minha mesa, indicando
que eu teria muito o que fazer pela próxima semana.
Ao sair do trabalho, consegui passar em uma loja de artigos
esportivos e comprar uma nova Jersey, dessa vez com o número 28
e o nome do running back, Diaz. Muito melhor.
Quando cheguei ao estádio, que era uma construção gigante,
vendo as multidões se aglomerando, todo aquele barulho e o lugar
inteiro pulsando de euforia, por um momento, foi como voltar ao
Brasil, aquela energia de pessoas, os sons e as cores, igual em dia
de jogo no Maracanã.
Segui as direções que Chris me deu e fui atendida por uma
moça simpática, mas que sorria como se soubesse de algum
segredo. Quando cheguei ao meu lugar, tive que me controlar para
não chorar: eu estava sentada nas primeiras fileiras logo atrás do
banco onde o time ficaria.
Eu conseguia ver tudo!
Peguei meu celular e mandei uma foto do local para Laura,
sabendo que ela estaria dormindo, mas que veria quando
acordasse.
Já que estava com o celular achei melhor mandar uma
mensagem de boa sorte para Christopher e aproveitar para
agradecer pelo lugar incrível, mesmo achando que ele não fosse
ver. Eu estava enganada, no entanto, já que uma mensagem com
uma carinha piscando chegou logo em seguida.
Quando o time entrou em campo as arquibancadas explodiram
em aplausos e gritos. A sensação crescente de que o jogo seria
eletrizante passava de espectador para espectador e logo eu me
senti parte da massa de corpos que me cercava, como se fossemos
um.
O jogo estava acirrado, mas nossa defesa estava incrível e
mantinha a ofensiva do time de Nova Iorque longe da zona de
Touchdown. Já estávamos na metade do primeiro quarto quando a
ofensiva do Patriots começou a avançar incontrolavelmente. Trey
Jones, o quarterback, continuava a achar alguém livre e estávamos
já muito próximos de conquistar o primeiro touchdown do jogo.
Minha respiração ficou presa na garganta quando eu vi a bola
voar da mão de Jones em direção a Jensen e, quando ele a agarrou
e caiu dentro da área de touchdown, eu gritei. Meu grito se
misturando com os dos milhares de fãs.
Ganhamos o jogo, com Christopher batendo o próprio recorde
da temporada ao marcar três touchdowns na mesma partida. Meu
corpo inteiro vibrava ainda com a adrenalina de toda aquela
atmosfera, eu sempre me alterava quando assistia às partidas em
casa, mas estar no estádio elevou isso a outro nível.
Eu ainda não queria ir embora, então mesmo com todo mundo
correndo para as saídas, eu me sentei e aproveitei para tentar
acalmar meu coração, deixando que a adrenalina saísse do meu
corpo com respirações profundas, enquanto eu guardava cada
segundo das últimas três horas na memória.
Jasmine: Parabéns pelo jogo, parece que você
foi liberado do injury report da próxima semana!
Eu estou brincando, você jogou muito bem
mesmo!
Eu mandei a mensagem para Chris, ainda sentada na
arquibancada.
Meu celular tocou em resposta.
— Parabéns! — Foi a minha forma de atender.
— Obrigada e tenho que te agradecer por me trazer bons
ventos, acho que você é meu amuleto da sorte. Eu até falei para os
rapazes isso e eles querem te ver. Vai ter uma festa para
comemorar a vitória, quer ir?
— Eu sou o seu o que? — Eu sei que ele disse algo sobre uma
festa, mas não consegui me concentrar em nada.
— Amuleto da sorte. Você veio e eu joguei super bem! — ele
falou como se fosse a coisa mais normal do mundo.
— Só porque você criou vergonha na cara e jogou direito, não
quer dizer que eu tenha feito algo — respondi, me levantando e
começando a caminhar para a saída. O estádio ainda não estava
vazio, mas a grande maioria já devia estar enfrentando filas para
sair do estacionamento.
— Isso foi um elogio. Nossa. De qualquer forma, vem pra
festa, vai ser legal! Eu te levo. — Revirei os olhos.
— Não vou, eu trabalho amanhã.
— E daí? — Suspirei buscando paciência.
— E daí que eu não estou a fim de ir trabalhar sem dormir
direito e eu não tenho que me explicar pra você, Christopher.
— Não precisa ficar nervosa, só achei que você fosse gostar
de ir a uma festa do time — Ele soou chateado e isso me irritou, ele
não deveria ficar chateado com a minha recusa, nem nos
conhecemos.
— Boa festa, Christopher e parabéns pelo jogo de novo! —
falei tentando soar menos irritada e falhando. Não dei tempo para
que ele respondesse e encerrei a ligação. Isso não era saudável
para minha sanidade.
Já estava no amplo corredor do estádio, perto de um dos bares
que ficam à disposição, quando ouvi alguém me chamar. Procurei
quem poderia estar me chamando, já que não conhecia muitas
pessoas na cidade, e quando localizei a pessoa que me chamou,
um sorriso se formou em meu rosto.
— Caroline! Dê parabéns ao James por mim, que jogo! — eu
falei assim que me aproximei.
— Eu não sabia que estaria aqui, se eu soubesse teria te
convidado para ir para a área VIP comigo — ela falou me
abraçando.
Era engraçado o quanto ela me lembrava Laura. Mesmo não
sendo nada parecida fisicamente com a minha amiga de infância,
tinha alguma coisa nela que me fazia pensar que seríamos ótimas
amigas.
— Ah, não tem problema, fiquei num local ótimo, vendo tudo,
logo atrás do banco do time — eu respondi já me virando para
seguir meu caminho. — Foi muito bom te ver, mas eu já vou indo.
— Espera — ela pediu segurando meu braço. — Vai ter uma
festa para comemorar a vitória, vem comigo. Eu sempre fico
entediada nessas festas.
— Eu até gostaria de ir — eu menti com um sorriso —, mas eu
trabalho amanhã e não quero chegar muito cansada.
— Por favor! Só um pouquinho. — Eu suspirei, mas como
sentia essa conexão com ela, ficou mais difícil inventar uma
desculpa.
— Tá bem! Mas vou ficar por no máximo meia hora. Onde é?
— Eu perguntei já pensando que, se fosse muito longe, não
conseguiria chegar de trem, e seria uma ótima desculpa.
— Não se preocupe com isso, vem comigo e vamos juntas! —
Que sorte a minha.
Na festa de lançamento do livro de Carol eu não tinha tido a
chance de conhecer James Diaz, mas na viagem de carro com o
casal tive o privilégio de o conhecer e desmistificar o homem que,
para mim, era o melhor de todos os tempos. Foi como ver o meme
“ele é gente como a gente” diante dos meus olhos.
A festa era na casa de um dos jogadores, um dos linebackers.
Ao chegarmos, me senti extremamente deslocada quando vi o
tamanho da mansão, como se eu não pudesse estar ali, não
conhecia ninguém.
“Só trinta minutos, Jasmine, você consegue.” Eu repeti para
mim mesma, tentando me acalmar.
A sensação só piorou quando entramos e parecia uma
daquelas casas que vemos em filmes. Uma linda escada em espiral
era vista logo depois do amplo hall de entrada, mas seguimos na
direção dos sons de conversa e música, entrando em uma sala
grande com sofás espalhados e uma mesa de tênis de mesa, que
no momento servia para algum jogo envolvendo bebidas.
Assim que os colegas de time viram James entrar, os gritos de
viva começaram e demoraram alguns minutos até gradualmente
diminuírem. Carol me puxou pela mão em direção a cozinha depois
de James lhe beijar o rosto e ir ao encontro dos amigos.
Pegamos nossas bebidas e quando me virei, um par de olhos
azuis estava sobre mim.
— Pensei que você não fosse vir, que tinha que trabalhar,
Amuleto da Sorte. — Ele piscou para mim.
— Carol me convenceu a vir, só por alguns minutos e depois
vou pra casa. E não sou um amuleto.
— Veremos sobre a questão do amuleto, mas estou feliz que
veio — ele falou e senti seus olhos passearem por meu corpo.

Essa mulher me tirava do sério! Uma de suas sobrancelhas se


arqueou quando notou meu olhar sobre seu corpo, mas ela estava
linda, diferente das outras mulheres da festa: uma calça jeans e a
Jersey do time. Infelizmente não era a com o meu número, ela bem
que disse que não era minha fã. “Mas vai ser.”
— Oi Carol — eu falei e beijei-lhe o rosto. — Obrigada por
convencer meu amuleto a vir!
Ela era meu amuleto sim, essa temporada estava sendo muito
difícil para mim e por alguma razão desta vez eu joguei como na
temporada passada, conseguindo achar aberturas na defesa, pegar
bolas que no jogo passado eu não teria conseguido.
— Chris, comporte-se — ela sussurrou. Os olhos verdes
analisando meu rosto.
— Sempre me comporto — eu falei fingindo estar ofendido.
— Carol, vamos. — Jasmine a puxou pela mão, evitando me
olhar.
Ela saiu, os cachos negros balançando no ritmo de seus
quadris e eu me perdi admirando a paisagem até que Jones me
chamou para a mesa de jogos. O segui por vários motivos, um deles
era que eu queria beber, o outro era que a mesa de jogos dava uma
vista privilegiada do meu amuleto da sorte.

Decidi que a melhor forma de agir era ignorar a criança no


corpo de homem chamada Christopher Jensen e dar atenção a
Caroline. Nossa conversa fluía fácil, logo percebemos ter várias
coisas em comum e, quando me dei conta, meia hora já havia vindo
e ficado para trás por quase uma hora.
Comecei a me despedir, mas ela pediu que eu ficasse, que me
levaria em casa logo, pois já estava cansada e logo diria ao James
que estávamos indo, só mais alguns minutos. Fiz meus cálculos
mentais de quantas horas de sono eu precisava de verdade antes
de trabalhar. Se formos em meia hora ainda conseguiria fingir ser
um ser humano racional na editora.
— Então sobre o que estamos conversando? — perguntou
alguém com uma voz conhecida se sentando ao meu lado. Revirei
meus olhos e me adiantei em responder antes que Carol tivesse
chances.
— Carol estava me contando como é ser mãe, sabe, todas as
coisas que envolvem gerar um ser humano e, é claro,
amamentação. — Não era esse o assunto, obviamente, já que
estávamos discutindo os últimos filmes que vimos no cinema,
apenas pensei que o assunto o deixaria desconfortável e ele iria
embora, mas meu plano falhou miseravelmente quando os olhos de
Chris se fixaram em meu peito.
— Ah, interessante. — Seus olhos conseguiram voltar a
encarar os meus e ele deu uma piscadinha, antes de virar para
Carol e perguntar das crianças.
Uma piscadinha.
Deus, dai-me paciência!
Ele esticou o braço casualmente e o descansou nas costas do
sofá, nos meus ombros. Eu tinha que admitir que ele era bom no
que fazia, pois só percebi que ele tinha feito isso quando senti seu
calor envolver minhas costas, era reconfortante e irritante.
Eu precisava andar.
— Carol, já volto! — Eu me levantei e fui em busca de um
banheiro ou qualquer outro lugar, precisava recuperar minhas
forças.
Christopher tinha uma fama e eu não seria mais uma
conquista. Ele é lindo, tem um corpo musculoso devido a todo o
treinamento para ser um Wide Receiver, olhos tão azuis que
lembram o mar e um sorriso que enfraquece as pernas.
Onde eu queria chegar? Sacudi minha cabeça como se isso
fosse ajudar a colocar meus pensamentos em ordem. Christopher
Jensen estava fora de cogitação. Eu não me deixaria levar por um
sorriso lindo, ou olhos que me davam vontade de mergulhar.
“Jasmine Bianchi, se controle, você não é uma adolescente”, eu me
repreendi mentalmente.
Acabei em uma varanda com vista para a piscina no quintal da
casa, o ar frio da noite me acalmou e me distraí olhando o horizonte.
— Não lembro de ter te visto em nenhuma dessas festas
antes. — Uma voz masculina soou atrás de mim. Quando me voltei
em direção a voz, me deparei com um rapaz de olhos castanhos,
cabelo escuro e um sorriso brincalhão.
— É a primeira vez que eu venho, fui convidada pela Caroline.
— Eu imaginei, eu me lembraria de você. Sou o Peter.
— Jasmine — falei enquanto apertava a mão que ele
estendeu.
— Belo nome.
— Obrigada, e como você acabou aqui? — eu perguntei, sabia
que ele não era um dos jogadores.
— Eu sou Peter Jones, eu sou irmão do Trey Jones. — O
quarterback, eu não sabia que ele tinha irmãos, nem que um deles
era tão bonito.
— O camisa 13. Sei quem é — eu falei com um sorriso.
Uma brisa passou pela varanda e um calafrio me percorreu,
automaticamente fazendo meus braços me envolverem tentando
manter o frio longe, o que não passou despercebido por Peter, que
sugeriu que voltássemos para dentro da casa. Eu concordei e assim
que passamos pelas portas duplas de vidro uma mão segurou meu
braço.
— Aí está você, Carol está preocupada.
Olhei para o sofá onde eu estava sentada minutos antes e
Carol estava em uma conversa com uma das líderes de torcida. Eu
não a conhecia, mas ela ainda vestia o uniforme.
— Sério? Ela não parece preocupada, ela parece ocupada na
verdade, igual a mim — respondi a Christopher, retirando sua mão
do meu braço. Seus olhos seguiram o movimento e algo que não
consegui distinguir passou por seus olhos.
— Oi, Little Jones — ele falou, cumprimentando Peter com um
aceno da cabeça. Achei um pouco absurdo chamar de “pequeno”
um homem que tem quase a mesma altura que ele, mas ele era o
irmão mais novo de Trey, o que me fez crer que eles se conheciam,
e pelo jeito, Christopher tinha mania de dar apelidos para as
pessoas.
— E aí, Chris. Jogou bem hoje — Peter respondeu
calmamente.
— Tive alguém pra me dar sorte, não é, Jasmine? — Chris
respondeu me cutucando o ombro.
— Como você é irritante — falei exasperada. — Acho que tem
alguém te chamando, Chris! — Eu apontei alguém às costas dele e,
quando ele virou para procurar, eu sai andando com Peter me
acompanhando.
— Então você e o Jensen... — ele começou a frase e a deixou
no ar esperando que eu preenchesse as lacunas.
— Nos conhecemos, mas nada mais do que isso. Como eu
disse, eu sou convidada da Carol.
— Que bom — ele respondeu com um tom de alívio.
— Por quê?
— Porque eu não poderia competir com ele, e eu quero muito
te beijar — ele falou indo direto ao ponto, decidido. Gosto disso.
— E o que te impede? — perguntei encarando seus olhos cor
de chocolate e abrindo um sorriso.
Ele deu um passo para mais perto e suas mãos abraçaram
minha cintura. Ele estava tão perto que sua respiração fazia
cócegas em minha testa. Olhei para cima para poder continuar
vendo seu rosto, ele devia ter mais de 1,80m.
— Só precisava da sua permissão — ele falou antes de colar a
boca na minha.
Seu beijo era quente, suas mãos percorreram minhas costas
me causando arrepios enquanto as minhas subiram por seus braços
sentindo os músculos por baixo da camiseta. Não sei quanto tempo
se passou enquanto fomos nos conhecendo, mas precisamos de ar
e nos separamos.
Seu sorriso passou de brincalhão a malicioso e me percebi
mordendo o lábio inferior em resposta.
— Jasmine... — Peter sussurrou, mas foi interrompido por
Carol.
— Jazz, eu estou indo, acabei me perdendo em uma conversa
e não percebi que já havia passado em muito o horário que
combinamos — ela falou, já se desculpando. Eu tinha esquecido
completamente que trabalhava no dia seguinte. Chequei meu celular
e me xinguei mentalmente, eu estaria um zumbi no trabalho.
Suspirei e passei as mãos pelo cabelo, eu estava tão ferrada.
Olhei para Peter, ainda parado ao meu lado, uma mão na base das
minhas costas.
— Peter… eu adoraria ficar, mas eu trabalho amanhã e preciso
ir. — Me inclinei e beijei seus lábios rapidamente. — Foi um prazer
te conhecer — eu falei com um sorriso, me virei para Carol e
indiquei o caminho.
Começamos a sair e James apareceu ao lado de Carol, um
braço a envolvendo instantaneamente, completamente sóbrio e
fiquei feliz em saber que ele era um motorista consciente. Ao
passarmos pelo sofá onde antes eu estava sentada com Carol, vi
Chris com a líder de torcida no colo e revirei os olhos com o clichê
da situação.
Estávamos quase à porta quando ouvi Peter me chamar.
— Você não me deu seu número, como que eu vou te chamar
para um encontro de verdade sem ter seu número? — ele falou com
o sorriso divertido de volta ao rosto.
Ele me estendeu o celular e eu adicionei meu número. Mais
um beijo rápido e nos despedimos. Laura vai surtar quando eu
contar.
Como previsto eu fui completamente inútil no trabalho e o
máximo que consegui fazer foi fingir trabalhar durante o dia
enquanto me mantive acordada à base de cafeína, no entanto, o
resto da semana fluiu e já me via entrando em uma rotina no novo
emprego.
Na sexta eu tive um encontro com Peter que foi, para minha
surpresa, muito romântico e atencioso. As coisas esquentaram e
acordei na manhã de sábado em sua cama. Após o café da manhã,
encontrei uma desculpa para voltar para casa.
Quando cheguei em casa, fiz uma chamada de vídeo com
Laura para contar sobre o encontro e ela já aguardava ansiosíssima
por detalhes, porém quando contei que sai de manhã ela me
repreendeu.
— Jazz, você tem que aprender a deixar as pessoas entrarem
na sua vida, se o rapaz é um fofo, por que não passar o dia com
ele? Ele não te expulsou da cama dele — ela me repreendeu.
— Porque eu não tive vontade, e muito engraçado você me dar
lição de moral para deixar as pessoas entrarem na minha vida
quando eu dei o mesmo discurso há três meses em relação ao
Theo. — Eu mudei de assunto, eu sei que ela entende o porquê,
mas ela quer me ver feliz como ela é.
— Mas eu ouvi e olha como eu estou agora. — Eu
simplesmente dou risada.
— Laura, eu vou pensar nisso, tá? Da próxima vez eu espero
ele me expulsar — falei e pelo sorriso dela sei que ela entendeu o
sarcasmo.
— Você é ridícula.
— Também te amo.
— Jazz, eu vou desligar que Theo quer ir passear no parque
— ela comenta.
— Vai lá.
— Te amo, tchau — ela se despede e a ligação se encerra
antes de eu responder.
O dia estava bonito em Boston e, mesmo estando frio, decidi ir
ao parque também.
É um dos meus passeios favoritos na cidade, andar por um
dos inúmeros parques e, quando o clima permite, achar um banco
ou uma árvore e ler.
O dia estava muito frio para ler, mas o passeio valia a pena,
Boston é linda no outono.
Na quinta-feira daquela semana, meu celular tocou e o nome
de Chris surgiu na tela.
— Oi? — eu atendi surpresa, o que será que ele queria?
— Jasmine, você vai no jogo amanhã? — ele falou à guisa de
cumprimento.
— Não. Chris, o jogo é em Miami e mesmo que fosse aqui eu
tenho um manuscrito para ler e revisar até segunda, vai me tomar o
fim de semana inteiro.
— Mas... eu preciso de você, eu sei que você não levou a sério
o que eu disse a respeito de você me dar sorte, mas eu realmente
joguei melhor no último jogo e única diferença foi você — explicou e
seu tom de voz era diferente, não tinha o toque de brincadeira que
coloria sua voz como na última vez que nos falamos, estava sério.
Ele realmente acreditava que eu tinha lhe dado sorte.
— Eu vou estar torcendo de casa, prometo. Eu sei que você
vai jogar bem — falei tentando acalmá-lo, o motivo eu não sabia já
que ele tinha o costume de me irritar.
— Não é suficiente, voa com a gente hoje à noite.
— Eu não posso, Christopher, eu tenho um prazo a cumprir,
não posso simplesmente largar tudo pra assistir a um jogo — eu
falei, decidida.
— Por favor, Jasmine. — Seu tom de voz transmitia agonia e
me percebi apertando o celular em minhas mãos.
— Não posso, vai dar tudo certo, você vai jogar bem e vai ver
que só está sendo supersticioso.
Ouvi seu suspirar, mas ele não falou nada.
— Christopher, me escuta, eu não sou um amuleto da sorte,
você jogou bem porque você treina incessantemente, porque é um
bom jogador. — Deus, eu esperava que isso não inflasse o ego dele
mais do que o necessário.
— Veremos. — Ele desligou.
Na minha cara.
Esse homem me tirava do sério, como assim ele desligou na
minha cara depois de praticamente me implorar pra ir assistir ao
jogo dele?
No dia do jogo, eu estava nervosa, angustiada, mais do que o
meu normal para um dia de jogo. O jeito de Chris no telefone havia
me deixado desconcertada. Quando o jogo começou, apesar do
time estar fazendo um trabalho incrível, Christopher não estava
conseguindo se livrar da defesa, não conseguia pegar a bola.
Metade do jogo e estávamos perdendo, mas ainda dava pra
recuperar. Eu imaginei que ele não fosse ver, mas mandei uma foto
minha com a Jersey do time, só depois de enviar que lembrei que
estava usando a dele.
Quando o último quarto começou, a diferença já era grande,
precisávamos de um milagre para ganhar. De alguma forma Jones
encontrou um Tight End e conseguiu avançar até a metade do
campo do oponente, mas a defesa deles era muito boa e o jogo
acabou com o nosso lado perdendo.
Meia hora depois meu telefone tocou.
— Eu falei que você me dava sorte. — A derrota era tão
gritante em sua voz que eu me senti mal.
— Não tinha como eu ir, eu te falei — respondi me justificando.
— Perdemos.
— Mas a temporada não acabou, vocês ainda estão no topo
da divisão, no próximo vocês recuperam — eu falei tentando de
alguma forma animá-lo. Era estranho ficar tão preocupada com uma
pessoa que eu mal conhecia, mas seu tom mexeu comigo.
— Nós voltamos pra Boston amanhã e eu sei que você tem o
prazo, mas tem tempo pra tomar um café?
— Tenho — eu falei, eu não sabia naquele momento que esse
café seria o que mudaria tudo.

Desde o momento que o jogo acabou eu me sentia mal, em


algum nível de consciência eu sabia que Jasmine não era a
culpada, mas a maior parte de mim nunca foi racional então eu tinha
a sensação que se ela estivesse no estádio, teríamos ganhado.
Além da bronca do treinador e da cara de decepção do Trey,
eu ainda precisava lidar com a minha própria cabeça e isso nunca
dava certo. Futebol era a minha paixão, minha vocação. Eu não sou
particularmente bom em nada, tirando os momentos em que estou
em campo... ou num quarto. O sentimento de ter decepcionado não
apenas os meus colegas de time, mas os fãs, me dilacerava.
Ainda não sei o que me levou a ligar, mas estava feito.
Cheguei mais cedo do que o combinado no café, que ela
escolheu por ser mais perto da casa dela, e me sentei em uma das
mesas afastada das janelas. A sineta na porta da cafeteria soou
cinco minutos depois, ainda faltavam quinze para o horário
combinado, mas eu olhei em direção a porta mesmo assim e lá
estava ela.
Os cabelos estavam presos, mas alguns cachos que eram
mais curtos escapavam e emolduravam seu rosto. Seus olhos
negros como pedras obsidianas observaram o lugar e, quando me
encontrou sentado aos fundos, um sorriso se formou nos lábios
deliciosos (pelo menos era o que eu achava que eles eram. Não
podia ter certeza, já que não os tinha provado).
Ela caminhou em minha direção com passos decididos que
faziam seu quadril oscilar com um balanço hipnótico.
— Oi — eu falei simplesmente.
— Oi, Chris. Já pediu? — ela perguntou, o sorriso cauteloso.
— Ainda não, estava te esperando.
— O que você quer? Eu faço nossos pedidos.
Depois que eu escolhi, ela saiu. E mesmo em meio a toda a
minha frustração com o jogo e com o meu desempenho, ao vê-la se
afastar eu me perguntei qual seria o motivo dela ser tão imune a
mim. A atração que eu senti no primeiro dia ainda estava presente,
que corpo escultural!
Ela voltou com nossos pedidos e se sentou à minha frente.
Seus dedos ficaram tamborilando na caneca, ela parecia inquieta,
mas sua postura era firme. Se não fossem os dedos a mexer
ritmicamente eu não suspeitaria de nada.

O Christopher à minha frente era tão diferente do que eu tinha


passado a esperar. O sorriso sarcástico e sedutor tinha
desaparecido, seus olhos azuis como o mar não tinham o mesmo
brilho que tinham na última vez que nos vimos.
Ele não falava nada e como foi ele quem me chamou, também
fiquei calada. O único som em nossa mesa era o de minhas unhas
traiçoeiras que não paravam de bater na cerâmica quente. Depois
que dei o primeiro gole, senti o calor preenchendo meu corpo e o
gosto adocicado do chocolate branco da minha mistura com café
favorita, eu inclinei minha cabeça ainda o observando.
— O livro é bom? — ele perguntou.
— Cabe correção, mas tem potencial. Ainda estou na metade,
tenho até amanhã de manhã para terminar e escrever minha revisão
para apresentar na reunião — respondi, o livro era mesmo muito
bom, sobre uma garota que se apaixona por gêmeos, um homem e
uma mulher, ainda não o havia terminado e não tinha me decidido
sobre quem do casal de irmãos merecia mais a protagonista.
— Pelo menos algo deu certo — ele falou e a frustração era
clara em sua expressão.
— Christopher Jensen — eu falei, talvez um pouco dura, pois
seus olhos encararam os meus. — Não é o fim do mundo, a
temporada não acabou.
— Você fala assim porque não foi você que decepcionou uma
legião. — Seus olhos desviaram dos meus, seus ombros largos se
curvaram e me perguntei como seria carregar esse peso. Ele
realmente se importava com como os fãs se sentiam, ele sentia que
os tinha decepcionado.
De certa forma, sim. Quando eu não o conhecia e ele era
apenas um dos jogadores na TV, eu o xingava e provavelmente
estaria muito chateada com a derrota de ontem.
Minha mão segurou a dele e ele voltou a me olhar. Aquela
sombra ainda estava em seus olhos, como uma tempestade
chegando no litoral. O calor de sua pele contra a minha, causou
espasmos na minha barriga.
— Eles são fãs, podem estar chateados, mas eu prometo que
no próximo jogo eles estarão torcendo por você de novo, clamando
seu nome e você vai mostrar que vale a pena continuar a torcer por
você, pelo seu time, não é a primeira vez que perdem. — Eu apertei
sua mão. — Mas quando importa, vocês jogam como gladiadores e
nada pode pará-los. Perderam ontem, mas ainda estão liderando a
divisão. E no próximo jogo eu tenho certeza que você não vai
decepcionar ninguém.
— Como você pode ter certeza? — ele questionou ainda
desconfiado.
— Simples. — Eu dei de ombros. — Lembre-se de como você
se sente neste exato momento enquanto estiver em campo e faça
de tudo para não ter que sentir novamente.
Ele sorriu, a primeira vez que sorriu desde que eu cheguei.
Seu rosto se suavizou e seus ombros voltaram a postura normal. E
assim o Chris que tinha conhecido há poucas semanas parecia
estar de volta.
— O que em outras palavras significa que o treino hoje foi mais
pesado devido à alguma besteira que você fez e você está sem
energia e vontade de ter que lidar com toda a burocracia de um
encontro. — Eu brinco.
Ele quase se engasga de rir.
— Você me conhece demais.
— Não, você é previsível.

Enquanto comemos a pizza com que Chris me surpreendeu,


tentamos decidir que filme vamos ver, eu quero algo calmo e
tranquilo e ele quer ação, tiros, porrada.
— A casa é minha, eu escolho — argumento decidida.
— Eu trouxe a pizza — ele desafia.
Continuamos assim até que por fim concordamos em uma
mistura de ação com comédia, assistindo a um desses filmes de
heróis.

Na metade do filme que ela escolheu e me forçou a ver, ela


pega no sono. E eu nem posso brigar com ela, ela parecia exausta
quando cheguei, mas o dia tinha sido difícil e não consegui me
forçar a ir no encontro com a arquiteta loira. Eu queria paz, mas
quando cheguei em casa estava quieto demais.
Então entrei no meu carro, comprei uma pizza e bati na porta
do apartamento da única pessoa que conseguia me irritar e me
trazer paz ao mesmo tempo.
Agora ela estava apoiada contra meu peito, sua respiração
estava tão calma e eu não estava pronto para ir embora ainda.
Então continuei a assistir ao filme enquanto passava a mão por seus
cabelos. Volta e meia eu me pegava observando-a dormir, tão plena
que me fazia sorrir.
Quando o filme acabou, levantei cuidadosamente para não
acordá-la enquanto limpava a bagunça na mesa de centro. Eu havia
cometido o erro uma vez de deixar a bagunça para ela no dia
seguinte e por semanas tive que ouvi-la reclamar. Nunca mais!
Depois de colocar tudo no lugar voltei ao sofá, a pegando no
colo, e o suspiro que ela soltou me fez sorrir. Ela é sempre decidida,
cheia de ideias, teimosa, mas dormindo ninguém diria isso.
Dormindo ela parecia um anjo.

O suave balançar me acordou, eu devia estar mesmo cansada


para dormir durante o filme. Quando abri os olhos e me deparei com
o maxilar definido coberto pela barba que começava a crescer, ele
sorriu.
— Achei que já tínhamos passado dessa fase em que você
quer me levar pra cama — brinco.
— Nunca. — Empurro seu ombro e seus olhos me encaram
com uma emoção que, em meu estado sonolento, não consigo
discernir. — Calma Jazz, eu nunca faria nada com você
inconsciente. Ou com qualquer outra, por sinal. E eu já sei que você
só quer minha amizade — ele fala.
Sinto aquele aperto no meu peito, aquele aperto que era
familiar pelos últimos 8 meses. Não é mentira, mas também não é a
verdade. Não toda ela pelo menos.
— E sabemos que eu não durmo com ninguém — ele
comenta, rindo, fazendo meu corpo reverberar.
— Ah, é claro, o mantra de Christopher Jensen! Como eu
poderia me esquecer: se acordar com elas em sua cama, elas
inevitavelmente vão achar que estão namorando. Você é tão
ridículo. — Minha voz é sonolenta, mas essa frase foi marcada em
mim logo no começo de nossa amizade. Ele gosta de lembrar a
todos dela.
— Isso mesmo! — Ele me deita em minha cama. — Boa noite,
Jazz. — Um beijo em minha têmpora e sai.
Ainda escuto a porta do apartamento fechar e o barulho da
chave passando por baixo da porta. Sorrio antes de voltar a
adormecer: Ele lembrou que tenho medo de dormir com a porta
destrancada.

Acordo em minha cama e me espreguiço lentamente. Pego


meu celular para checar as horas e ver se alguém mandou
mensagens. Ainda está cedo para encontrar os rapazes na
academia, não temos treino hoje, mas gostamos de malhar juntos.
Jasmine: Obrigada por limpar tudo e trancar a
porta!
Um sorriso surge em meus lábios ao ler a mensagem, ela fica
feliz com coisas tão pequenas. O que é uma diferença enorme das
outras mulheres que eu conheço. Para alegrar Jasmine Bianchi
você precisa de um bom livro, um bom filme, comida ou apenas a
presença. Ela adora conversar, bom, com quem ela conhece e
gosta. Não é que ela não goste de joias, flores ou roupas, ela adora.
Mas quando você a ver com um livro novo, a felicidade genuína em
seus olhos é contagiante.
Christopher: Tudo para não ser forçado a ouvir
suas reclamações.
Há também uma mensagem de meu irmão mais velho dizendo
que Colin, seu filho, sente minha falta. Respondo dizendo que
passarei para ver o pequeno no fim da semana.
Por fim, três mensagens da arquiteta que eu deveria ter
encontrado na noite anterior.
Audrey: Chris, que pena que não pudemos
nos ver.
Audrey: Espero que tenha conseguido
resolver o problema que surgiu.

Ih, o que que eu falei pra ela? Não faço ideia.

Audrey: Quem sabe possamos nos ver uma


outra hora.

Isso. Boa ideia. Sexo é sempre uma ótima ideia.


Christopher: Bom dia, linda, consegui resolver
tudo. Sobre nos vermos, quais seus planos pra
hoje?
Levanto e vou tomar um banho. Jazz vive implicando com o
que ela chama de meu mantra, mas eu sou feliz com a minha vida
de solteiro, e em todas as poucas vezes em que eu cometi o erro de
acordar na mesma cama com a mulher com quem eu dormi na noite
anterior, foi difícil explicar que eu não queria nada sério, que a noite
tinha sido ótima, talvez pudéssemos repetir, mas eu não lido bem
com exclusividade. O mundo não pode ser privado dessa obra prima
que meus pais fizeram! Por isso a regra é clara, eu vou pra casa
delas e assim que todo mundo está feliz e satisfeito, eu volto para
minha.
Nos encontramos em um restaurante da cidade à noite, um
dos bons, a decoração em diferentes tons claros, os lustres de
cristais iluminam bem o ambiente, mas mantém uma aura
confortável com as luzes amarelas.
Eu, como bom cavalheiro que sou, já aguardava na mesa
quando Audrey apareceu. Seu corpo esguio delineado por um
vestido preto que destacava sua pele clara, seus olhos verdes se
iluminaram quando me viram. Porém foram seus cabelos que me
chamaram a atenção, pois hoje diferente da vez em que nos
encontramos seus cabelos exibiam cachos. Não cachos naturais,
mas, ainda assim, cachos.
A conversa fluía e eu fazia um esforço de me manter presente,
de me interessar pelo assunto. No entanto, enquanto a loira falava
sobre sua profissão, sobre seu trabalho, não havia paixão em sua
voz, o que tornava o assunto um tanto enfadonho. Mas eu não
estava aqui pela conversa, não é mesmo?
— E o que você vai querer, Audrey? — eu pergunto enquanto
escolhemos a sobremesa, um sorriso em meus lábios e arqueio
uma sobrancelha sugestivamente e ela entende. Ela volta o olhar
para o menu, mordendo o lábio inferior e lançando um olhar sedutor.
— Acho que eu tenho um pote de sorvete em casa... — ela
fala.
— Eu amo sorvete. — E pago a conta antes de sairmos.
Mal passamos pela porta do seu apartamento e minhas mãos
a envolvem, a puxando para mim, e eu a beijo. Em poucos passos
suas costas já estão contra a parede, minhas mãos passeando por
ela, descobrindo os pontos sensíveis. Um gemido escapa de seus
lábios quando minha boca passa para seu pescoço, queixo, uma
mordida leve em sua orelha antes de voltar a seus lábios.
Sem que eu me dê conta, suas mãos já tiraram minha camisa
e sobem por meus braços até minha nuca.
— Quarto? — eu murmuro contra seus lábios e uma de suas
mãos solta meu pescoço e indica a direção. Minhas mãos descem
pelo seu quadril e a levantam do chão, suas pernas abraçam minha
cintura e então eu acho o quarto.
Os poucos passos até a cama são suficientes para que as
peças de roupa fiquem pelo caminho.
Nossos corpos unidos e os movimentos rítmicos, nos
aproximando da tão almejada libertação. Já conseguia sentir o
orgasmo se formando, abri os olhos para observar Audrey enquanto
estimulava aquele ponto sensível entre suas pernas, sentindo-a se
contrair ao meu redor. Um segundo antes de alcançar o clímax seus
cachos pareceram negros e a visão deles me fez ultrapassar aquele
limite.
Assim que pisquei, eram loiros novamente.
“Que merda foi essa, Christopher?” pensei, mas deixei para
refletir a respeito mais tarde.
Ainda ofegante, me deitei ao lado de Audrey, uma de minhas
mãos ainda acariciando preguiçosamente seu torso enquanto
nossas respirações se normalizavam, preparando para a próxima
rodada. A conversa era superficial, mas mantinha o toque sensual,
de flerte.
Horas mais tarde enquanto eu dirigia pra casa fiquei
repassando o momento em que os cabelos de Audrey pareceram
negros, deve ter sido algum efeito da luz, afinal o quarto estava
escuro e a luz vinha da porta aberta no corredor. É, deve ter sido
isso, era a única explicação. E eu não gozei por causa disso, eu já
estava quase lá. Uma coisa não está relacionada com a outra, ainda
mais se levar em consideração que nas outras duas vezes isso não
aconteceu.
Quando me deitei para dormir, estava satisfeito com minhas
conclusões e pronto para uma boa noite de sono, ou manhã.
[1]
Pedra, papel e tesoura, também chamado em algumas regiões do Brasil de jokenpô é
um jogo de mãos recreativo e simples para duas ou mais pessoas, que não requer
equipamentos nem habilidade.
[2]
Personagens da série de televisão norte-americana de drama adolescente chamada
Gossip Girl, baseada na série literária homônima da escritora Cecily von Ziegesar.
[3]
Personagens da série de televisão One Tree Hill, criada por Mark Schwahn, exibida
entre 23 de setembro de 2003 e 04 de abril de 2012, inicialmente transmitida pela The WB.
[4]
Transtorno de estresse pós-traumático.
[5]
MARSOC – United States Marine Forces Special Operations Command – é um comando
componente do Comando de Operações Especiais dos Estados Unidos (SOCOM).
[6]
O United States Navy's SEAL Teams, possuí sua sigla (Sea, Air, and Land) derivada de
sua capacidade em operar no mar (SEa), no ar (Air) e em terra (Land). Comumente
chamados de Navy SEALs, são uma das principais Forças de Operações Especiais da
Marinha dos Estados Unidos e um componente do Comando Naval de Operações
Especiais (NSWC), bem como também um componente marítimo do Comando de
Operações Especiais (USSOC).
[7]
Levar um caldo, tomar um caldo ou caixote significa bater de frente com uma onda no
mar. É uma expressão comum para surfistas.
[8]
Faluja é uma cidade do Iraque, localizada na província de Ambar, a cerca de 69
quilômetros a oeste de Bagdá, às margens do Eufrates.
[9]
O Pumpkin Spice Latte é uma bebida de café feita com uma mistura de sabores
tradicionais de especiarias de outono, leite vaporizado, café expresso e muitas vezes
açúcar, coberto com chantilly e especiarias de torta de abóbora.
[10]
Frappuccino é uma bebida preparada com café, servida bem gelada com chatilly no
topo.
[11]
Luta de cães (em inglês: Dog-baiting; ou Dog fighting), rinha de cães ou briga de cães,
é uma luta entre cães especialmente criados ou treinados para tal.
[12]
A tradução de Hades’ Men é os homens do Hades que é o Deus grego do mundo
inferior.
[13]
Underworld é mundo inferior em inglês.
[14]
Sparring é um termo inglês utilizado no ocidente que se refere a uma forma de treino
comum a vários desportos de combate. Apesar do diversificado tipo de sparring que cada
tipo de arte marcial emprega, a sua constância em treinos de combate é frequente.
Geralmente, o sparring consiste num forma livre de combate, com o mínimo de regras ou
arranjos informais, evitando o número de lesões. Este tipo de sparring é considerado como
o método mais eficaz de aplicar as técnicas aprendidas anteriormente em teoria.
[15]
Pinterest é uma rede social de compartilhamento de fotos. Assemelha-se a um quadro
de inspirações, onde os usuários podem compartilhar e gerenciar imagens temáticas, como
de jogos, de hobbies, de roupas, de perfumes, de animes, etc.
[16]
Mamá – mamãe em espanhol
[17]
O Dia de Ação de Graças, conhecido em inglês como Thanksgiving Day, é um feriado
celebrado sobretudo nos Estados Unidos, no Canadá e nas ilhas do Caribe, observado
como um dia de gratidão a Deus, com orações e festas, pelos bons acontecimentos
ocorridos durante o ano.
[18]
Um Endereço de Protocolo da Internet (Endereço IP), do inglês Internet Protocol
address (IP address), é um rótulo numérico atribuído a cada dispositivo (computador,
impressora, smartphone etc.) conectado a uma rede de computadores que utiliza o
Protocolo de Internet para comunicação.[1] Um endereço IP serve a duas funções
principais: identificação de interface de hospedeiro ou de rede e endereçamento de
localização.
[19]
Reaper - ceifador em inglês.
[20]
Sherlock Holmes é um personagem de ficção da literatura britânica criado pelo médico
e escritor Sir Arthur Conan Doyle.
[21]
Beyblade, também conhecido como Bakuten Shoot Beyblade ( 爆転シュート ベイブレ
ード Bakuten Shūto Beiburēdo?), é uma série de mangá escrita e ilustrada por Takao Aoki,
encomendada para promover a então nova linha de brinquedos da Takara, produzida com
base em uma espécie de pião tradicional japonês. No anime e mangá, os piões são
chamados de Beyblade.
[22]
Ejaculação feminina. A palavra "squirting" vem do inglês "squirt", que significa esguicho.
O “squirting” acontece quando a mulher tem a sua ejaculação e esguicha líquido ou fluidos
da sua vagina, num momento de prazer. Não tem cor nem cheiro e não dever ser
confundido com a lubrificação natural da vagina.
[23]
O Consigliere é o membro de uma Máfia siciliana-italiana que serve como o conselheiro
do Don, e uma das três posições mais prestigiosas na hierarquia da Máfia, junto com o
Don, e o Sottocapo ou Subchefe.
[24]
Doomshade: sombra da perdição em inglês.

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