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A CHAMA ENTRE NÓS

CHAMAS NA ESCURIDÃO
CHAMAS DA LIBERDADE
AVISO DE GATILHOS
HIERARQUIA DO CLUBE
GLOSSÁRIO
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Epílogo
Agradecimentos
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
Copyright © 2023 por Tamires Barcellos

Todos os direitos reservados.

Revisão: Tamires Barcellos


Capa: Tamires Barcellos
Diagramação: Tamires Barcellos

É proibida a reprodução de parte ou totalidade da obra


sem a autorização prévia da autora.

Todos os personagens desta obra são fictícios.


Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera
coincidência.
Leia aqui

Criado desde os cinco anos de idade por Bruce Harlow, o Vice-Presidente dos Flame Wolves
MC, Damon Christ cresceu aprendendo a amar, proteger e lutar pelo moto-clube que o acolheu
quando ainda era uma criança. Sua lealdade para com o patch que carregava era inabalável, só não
era maior do que uma única coisa: o seu amor por Madison, filha de Bruce.
Dez anos mais nova do que ele, Damon viu Maddy nascer e se tornou o seu protetor e melhor
amigo. O sentimento genuíno que nutriam um pelo outro servia de porto seguro para a vida violenta
que Damon levava dentro do moto-clube e era na companhia de Madison que ele conseguia encontrar
o seu equilíbrio, até começar a perceber que o amor que sentia pela princesinha dos Flame Wolves
estava se transformando em um sentimento proibido.
Dividido entre a culpa por estar apaixonado pela filha do homem que considerava como seu
pai de coração e o desejo de assumir o que verdadeiramente sentia por Madison, Damon se vê
acorrentado pelo medo de perder as duas coisas que mais importavam em sua vida: o clube e sua
garota.
Quando uma onda de ataques ao MC se inicia e uma guerra se instaura entre os Flame Wolves
e seus inimigos, Damon tem sua lealdade posta em prova e se vê prestes a lutar a maior batalha da
sua vida, da qual tinha certeza de apenas uma coisa: ele sairia como um vencedor pelo clube e pela
sua garota. Ou morreria tentando.
- "A Chama Entre Nós" é o primeiro livro da série Flame Wolves MC. Cada livro
contará a história de um casal, no entanto, é aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e palavras de baixo calão. Não
recomendada para menores de 18 anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book.
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Christian Wolf foi criado pelo seu pai para se tornar o Prez dos Flame Wolves MC, perdendo
boa parte da sua infância para a violência e sendo moldado para lidar e exterminar qualquer tipo de
ameaça que pudesse colocar o seu clube em risco. Convicto de que sabia exatamente como seria o
seu futuro, Christian vivia para proteger o seu MC, seus irmãos de patch, sua avó e Connor, seu
irmão caçula, até Maya Cooper aparecer em sua vida e despertar sentimentos que ele não sabia e não
queria lidar.
Mesmo sabendo que poderia ser um risco se envolver com qualquer pessoa próxima aos Flame
Wolves, Maya não consegue se afastar de Connor, seu melhor amigo da faculdade. E, em um piscar
de olhos, o que era para ser apenas uma amizade entre ela e o caçula dos Wolf, se transforma em uma
teia quando ela se vê dentro do moto-clube, próxima de todos os irmãos e, principalmente, de
Christian, o Vice-Presidente do MC.

Christian não queria romance e Maya também não, no entanto, o desejo intenso que começa a
os envolver se torna mais forte do que tudo e logo se transforma em uma paixão avassaladora e
incontrolável, que poderia ser vivida intensamente se Maya não carregasse um segredo que pode
transformá-la em uma traidora perante o moto-clube.
Em meio a uma guerra travada entre os clubes rivais, segredos do passado que podem destruir
tudo o que conhecem e a iminência de uma traição, seria o amor de Christian e Maya forte o bastante
para resistir?
É chegada a hora do MC travar mais uma batalha, onde a vitória pode custar um preço mais
alto do que qualquer um poderia imaginar.
- "Chamas na Escuridão " é o segundo livro da série Flame Wolves MC. Cada livro
contará a história de um casal, no entanto, é aconselhável que leia na ordem de lançamento;
- A história contém linguagem gráfica de violência, sexo e palavras de baixo calão. Não
recomendada para menores de 18 anos;
- Leia a nota da autora no início do e-book e atente-se aos gatilhos.
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Rejeitado pelo pai desde a infância, Connor Wolf cresceu cercado


pela violência física e psicológica, tendo a certeza de que nunca se
encaixaria no mundo machista e preconceituoso do moto-clube fundado
pelo seu avô.
Isso muda quando o seu talento para tecnologia o ajuda a tomar um
lugar dentro do MC. O único problema de estar vivendo diariamente com
os Flame Wolves , é ter que conviver com o homem por quem ele é
apaixonado desde a adolescência.
Oliver é antissocial, dono de um temperamento difícil e violento.
Como Executor dos Flame Wolves MC, ele é letal, como irmão de patch,
é uma incógnita. Ainda assim, Connor sempre o viu, mesmo que Oliver
insistisse em manter a distância entre os dois.
Agora, vivendo sob o mesmo teto, Oliver não conseguiria mais fugir
e seria obrigado a encarar não apenas os seus sentimentos por Connor,
como o seu passado sombrio, que estava prestes a voltar para atormentá-lo.
Oliver seria capaz de vencer os seus fantasmas para viver a sua
história de amor com Connor?
Até que ponto os traumas do passado podem ditar o futuro de duas
almas apaixonadas?
A maior luta de Connor e Oliver começa agora.
“Chamas Proibidas” não é uma história dark, porém, contêm cenas de
violência explícita, relacionamento abusivo, violência doméstica e
gordofobia. Há menções ao uso de drogas. Nenhuma cena é romantizada.
Inseridos nesse contexto, os personagens possuem uma linguagem
vulgar.
Há também cenas de sexo sem o uso de preservativo.
Se algum desses temas for um gatilho para você, peço para que
priorize a sua saúde mental e não leia este romance.
Presidente: Líder do clube, o que propõe caminhos a serem
seguidos. Comanda o clube, porém, suas ideias precisam passar por uma
votação com os principais membros.
Vice-Presidente: Segundo em comando, coordena todas as
comissões e supervisiona todos os eventos do clube. É a ponte entre o
Presidente e os membros atuais e potenciais do MC. Quando o Presidente
estiver ausente, ele assume todas as responsabilidades.
Sargento de Armas: Mantém a ordem nas reuniões e cuida da
segurança do clube. Também lidera o clube nos ataques durante a guerra,
identificando os membros considerados desleais. É responsável por garantir
que as normas e regras permanentes do clube não estão sendo violadas.
Capitão de Estrada: Organiza as rotas do clube, planejando e
organizando cada corrida ou entrega e garante a segurança na estrada.
Executor: O algoz do clube. Faz a segurança do Presidente e do V.P.
e organiza as missões.
Secretário: Responsável por manter todos os registros do clube,
também cuida da segurança interna e externa através da tecnologia. É
considerado um hacker.
Membro: Todos os participantes do clube, também conhecidos como
“irmão”. Participa de algumas reuniões do clube, porém, não tem direito a
voto, exceto em ocasiões especiais.
Nômade: Membro que viaja nos diferentes chapters do clube. Ele
vai onde é solicitado.
Prospecto: Membro não-oficial do clube, recebe ordem e não tem
direito a votação ou a dar opinião. Usa colete sem o símbolo, apenas com o
seu nome e a localização do seu chapter.
Recruta: Aquele que deseja integrar o MC. Se aceito pelos membros
do clube, passa por um período de iniciação que pode durar de 3 a 6 meses.
Condado de San Martínez: Cidade fictícia, localizada na
Califórnia, EUA.
Chapter original: Local de fundação do moto-clube.
Chapter: Sedes do MC em outras localizações. Cada um tem os seus
membros, como Presidente e Vice-Presidente, mas todos respondem ao
Chapter original.
Covil do Lobo: Sala de reunião do moto-clube.
Patch: Bordado no colete que identifica o membro e informa a sua
função no clube.
Apadrinhamento: O recruta precisa ser apadrinhado por um
membro do clube. O padrinho se torna responsável pelo recruta até o
momento de ele ser votado para se tornar membro do clube (após se tornar
prospecto). Se nenhum recruta for apadrinhado ao final do período de
iniciação, significa que ele não possui características para fazer parte do
clube e será retirado do MC pelo Presidente.
Old-Lady: Esposas dos membros do clube, responsáveis pelas
reuniões em família do MC.
Docinhos: Mulheres do clube, que moram na sede e servem aos
irmãos. Cuidam do clube como um todo, desde a comida até a limpeza, em
troca, recebem proteção, alojamento e dinheiro. Não são prostitutas, no
entanto, atendem às necessidades sexuais dos irmãos.
Hoje, minha mãe estaria completando trinta e cinco anos.
A vida de Melissa Auburn não foi nada fácil. Nascida em uma
família pobre, ela aprendeu desde muito cedo que ganhar dinheiro era muito
difícil. Por isso, aos treze, começou a se prostituir com o aval do próprio
pai, meu avô, que era viciado em jogos de azar. Foi em um dos cassinos
clandestinos onde ele jogava e ela trocava sexo por dinheiro, que Dean a
conheceu. Desde então, ele nunca mais a deixou.
Aos quatorze, ela já morava com ele, aos quinze, engravidou de mim.
Seu vício em drogas deve ter começado nessa passagem curta de tempo,
pois, quando eu nasci, ela já era dependente química. Sua gravidez foi de
risco, inclusive, mas Dean gostava de falar que seu sangue era forte e que
foi ele que me manteve vivo. Já eu pensava que era um azar não ter morrido
ainda na barriga dela.
Eu amava a minha mãe e, apesar de quando mais novo eu não
entender o porquê de, às vezes, ela parecer me odiar, agora eu compreendia.
Ela era apenas uma criança, que viveu toda a sua vida sendo abusada e
negligenciada. Quando nasci, já estava envolvida com as drogas e o vício
era o que a mantinha viva. Não tinha como exigir dela o amor que uma mãe
deveria sentir por um filho. Mesmo assim, em seus poucos momentos de
lucidez, ela era capaz de me olhar com carinho e me abraçar como se me
amasse. Como se realmente se importasse comigo.
“Quero que você seja um bom homem, Drew. Quero que você seja
capaz de viver uma vida melhor do que essa. Há um mundo incrível lá fora,
meu bebê. Se você acreditar, será capaz de encontrar.”
Aos quatro anos, eu acreditava. Antes de chegar ao meu quinto
aniversário, eu passei a odiar aquele mundo sem nem mesmo o conhecer,
porque o meu mundo havia ido embora em uma tarde fria, com os lábios
roxos, os ossos pontudos nos ombros e os olhos fixos no teto. Fui eu que
encontrei a minha mãe morta no quarto onde dormíamos. Havia agulhas
espalhadas pelo colchão e pó branco na mesinha de cabeceira. Chorei tanto
naquele dia, que pensei que a minha cabeça ia explodir. Gritei para que ela
acordasse e depois gritei pelo meu pai até perder a voz, mas, como sempre,
ele não estava em casa e nós dois estávamos sozinhos.
Sem ninguém para ajudá-la, eu cobri o corpo frio da minha mãe e me
deitei em cima do seu peito, que já não subia com a sua respiração e nem
tremia com os seus batimentos cardíacos. Fiquei ali até ela começar a feder.
Até Dean se lembrar de que tinha um filho dentro daquele apartamento
enorme e aparecer dias depois.
Melissa Auburn morreu em uma tarde fria de novembro, aos
dezenove anos. Minha mãe partiu e eu nunca consegui odiá-la por ter me
deixado sozinho, mesmo quando eu era criança e não entendia muitas das
coisas que aconteciam naquele apartamento. Mas de uma coisa eu sabia.
Não queria mais que a minha mãe sofresse. Não queria mais vê-la se
humilhando pelo pó branco, nem observar seu desespero ao chupar o pau de
Dean no meio da sala, na minha frente, apenas para ter mais uma dose
garantida. Não queria mais vê-lo bater em seu rosto ou chutar as suas
costelas. Não queria mais ter que limpar o sangue no canto dos seus lábios a
cada surra que ele dava nela.
Então, mesmo triste, eu não a odiei por ter partido. E não a odiava
agora, enquanto visitava o seu túmulo e deixava um ramo de girassóis sobre
a sua lápide. Uma vez, enquanto estava muito chapada, ela sorriu e me disse
que girassóis eram as suas flores preferidas. Nunca tinha me esquecido
disso. Agachei-me e passei a mão sobre o seu nome na pedra, tirando
qualquer resquício de sujeira que o escondia.
— Feliz aniversário, mamãe — sussurrei. Queria ter uma foto dela,
qualquer coisa, mas não tinha nada, e a sua fisionomia na minha mente
ficava cada vez mais distante. Agarrei-me ao pouco que me lembrava. Seus
cabelos loiros muito claros e os olhos azuis. — Espero que você esteja bem
e em paz.
“E que se lembre de mim”, pensei, mas não disse em voz alta, porque
achava muito injusto cobrar qualquer coisa dela. Exigir que se lembrasse de
um filho que, com certeza, ela nunca quis ter.
— Eu amo você — falei rapidamente antes de me erguer e sair dali.
Eu visitava aquele túmulo apenas em duas ocasiões: no seu
aniversário de vida e no seu aniversário morte. Dean não me levou ao
enterro — acreditava que nem mesmo ele havia ido ao enterro de Melissa
—, mas exigi saber onde ela estava enterrada quando completei treze anos.
Ele me contou como se não entendesse o porquê de aquela informação ser
tão importante para mim e eu não esperava que ele entendesse. Quando
mais novo, eu gostava de pensar que Dean não era totalmente mau, mas que
apenas passava por dias ruins.
Ele era rude comigo e impaciente, me batia quando eu era criança,
mas eu aprendi a lidar com ele ao longo dos anos. A necessidade de ter
qualquer tipo de atenção me moldou para ser o que Dean esperava que eu
fosse: um filho leal e disposto a tudo para ter a sua confiança. Durante
muito tempo, foi o que fiz. Eu queria que ele me olhasse e realmente me
visse, queria que sentisse orgulho de mim. No entanto, nunca me esqueci de
tudo o que ele fez com a minha mãe. Do que ele fazia com as meninas que
levava para o nosso apartamento conforme fui crescendo.
O filho da puta tinha uma predileção inata por adolescentes. Na
época, eu não sabia que aquilo era errado, mas hoje eu sei o que Dean
realmente era. Um pedófilo. Um desgraçado que tirava a inocência de
garotinhas e que as descartava quando elas ficavam mais velhas, da mesma
forma que ele fez com a minha mãe. Levei um tempo para entender o
porquê de as meninas desaparecerem quando atingiam a faixa dos dezessete
ou dezoito anos, mas finalmente descobri o destino delas quando já estava
infiltrado no MC.
Ou iam para um prostíbulo do qual Dean era sócio, ou morriam.
Senão por overdose, pelas mãos dos capangas daquele desgraçado.
Esse foi só um dos motivos que me fez virar as costas para aquele
filho da puta. O primeiro deles, foi o meu irmão.
Descobri sobre Damon quando completei dezessete anos. Ouvi uma
conversa de Dean ao telefone com um cara chamado Jason O’Hurn, que
agora eu sabia que era o Prez dos Outlaws MC. Dean foi bem claro ao dizer
que tinha um trunfo dentro dos Flame Wolves — que na época eu não sabia
se tratar de um moto-clube — e que tinha certeza de que, com o plano certo,
poderia ter um grande aliado lá dentro. Em seguida, disse o nome de
Damon e deixou bem claro que ele era o seu filho mais velho.
Fiquei obcecado ao ouvir aquilo. Assim que Dean deixou o
apartamento, eu revirei todo o seu quarto, até encontrar algumas fotografias
antigas. Em uma delas, havia uma mulher loira com um bebê no colo.
Aquela mulher não era a minha mãe e, obviamente, aquele bebê não era eu.
Algo dentro de mim me disse que aquele bebê era Damon, eu só precisava
descobrir onde ele estava e o que significava aquele tal de Flame Wolves.
A primeira vez que vi Damon não teve nada a ver com os planos de
Dean. Descobrir sobre os Flame Wolves foi fácil e chegar à San Martinez
foi mais fácil ainda. Eu não fazia ideia de como Damon poderia ser
fisicamente, mas, usando um dos carros de Dean, estacionei próximo ao bar
do MC e fui descartando os homens que foram aparecendo aos poucos na
entrada do bar. Parecia estar rolando uma festa naquela noite e muitos
adolescentes entravam e saíam pelos portões que davam aos fundos moto-
clube. Resolvi ir até lá de carro, mas parei assim que vi uma Harley enorme
estacionar em frente ao bar.
Instintivamente, soube que era Damon. Não apenas por ele ser
fisicamente parecido comigo, apesar de ser anos mais velho, mas porque
algo dentro do meu peito me alertou. Ele era alto e parecia perigoso usando
aquele colete com o lobo saltando do fogo às suas costas. Parte de mim quis
se aproximar dele e contar quem eu era, mas o medo de ser repelido por ele
me manteve no lugar. Não saberia lidar com a sua rejeição. Eu era só um
garoto na época, ainda não sabia nada sobre a vida, apenas que Dean era um
homem muito rico e que fazia coisas ruins para ter tanto dinheiro.
Apenas meses depois foi que descobri que os Flame Wolves era um
moto-clube fora da lei e que comecei a acreditar que Damon e Dean eram
mais parecidos do que eu poderia imaginar. Os dois cometiam crimes, ainda
que Damon fosse completamente ignorante sobre o próprio pai. Ainda
assim, eu queria estar mais perto dele. Queria conhecer aquele motoqueiro
com pinta de perigoso. Foi por isso que comecei a me aproximar ainda mais
de Dean, até conquistar a sua confiança e ser o escolhido, junto com Zyan,
para ser um infiltrado dentro do MC.
Estar tão perto de Damon pela primeira vez foi surreal. Ele nem
olhava na minha direção, mas eu mal conseguia desviar os meus olhos dele.
Queria aprender tudo sobre ele. Queria falar com ele, mas o que eu poderia
dizer? Eu era só um recruta e Damon mal dava atenção para os meninos
mais novos do moto-clube. Foram semanas intensas até me tornar prospecto
e entender como funcionava a dinâmica daqueles homens de colete.
Eu nunca tinha visto algo parecido em lugar algum do mundo.
Aqueles homens cometiam crimes, aquilo era um fato, mas eles agiam
como se fossem uma grande família. E isso, para um garoto que perdeu a
mãe aos quatro anos e que teve um pai violento e ausente, era algo
completamente diferente, quase irreal.
O meu objetivo, no início, era realmente descobrir o maior número
de informações e passar tudo para Dean, não porque queria que ele tomasse
para si a liderança do tráfico de armas na Califórnia, mas porque eu tinha
esperanças, assim como ele, de que Damon viesse para o nosso lado, pois
queria ter mais contato com o meu irmão. Levei poucos meses para
entender que aquilo jamais aconteceria.
Damon era leal ao seu moto-clube acima de qualquer coisa. E como
poderia não ser, quando aqueles homens com pose de malvados o
acolheram quando ele ainda era uma criança e cuidaram dele como se fosse
um membro da família? E Damon realmente era, porque o sangue pouco
importava ali. A ligação entre os membros do moto-clube não tinha nada a
ver com a genética e eu senti inveja da sorte que Damon teve ao ser criado
por um homem como Bruce e não por alguém como Dean.
O sentimento, no entanto, durou muito pouco, porque eu gostava do
meu irmão. Gostava de verdade, mesmo quando ele queria socar a minha
cara ao ver o meu interesse por Madison.
Um sorriso surgiu em meus lábios enquanto eu dava partida na minha
moto. Agora eu via Maddy como uma irmã mais nova, mas, naquela época,
eu fiquei um pouco obcecado por ela — talvez com uma intensidade
parecida com a minha obsessão por Damon. Só isso poderia explicar o
porquê de eu ter batido de frente tantas vezes com o meu irmão por causa
daquela garota. No começo, realmente acreditei que ele nutria um ciúme
fraternal por ela, o que me deixou com um pouco de raiva, tinha que
confessar, pois eu era o seu irmão de verdade, mas quando entendi que o
que ele sentia era algo completamente diferente, tudo começou a se
encaixar.
E percebi que, se eu quisesse chamar a atenção de Damon, era só
estar perto de Madison.
Claro que esse não foi o único motivo para eu ter investido nela —
realmente queria ter um lance com Maddy —, mas com certeza foi o que
me fez mergulhar de cabeça na atração que eu sentia. De certa forma, deu
certo. Chamei a atenção de Damon e, de quebra, ainda dei uns beijos em
Madison. Esperava que meu irmão não se lembrasse disso com muita
frequência.
Afastei-me do cemitério sentindo o meu peito mais leve depois de ter
visitado o túmulo de Melissa. Nosso próximo encontro seria apenas em
novembro, mas, às vezes, quando a saudade apertava, eu dava um jeito de
ao menos passar em frente ao cemitério para me sentir um pouco mais perto
dela. Esses momentos vinham se tornando mais raros nos últimos anos.
Deixei Los Angeles e pilotei sob o sol mais forte do meado da
primavera até San Martínez. Estar em cima daquela Harley me trazia a
sensação de liberdade que sempre almejei enquanto ainda estava sob as
garras de Dean. Conseguia entender por que os irmãos eram tão
apaixonados por essas máquinas de duas rodas.
Cheguei à San Martinez com o sol se pondo. Era o meu dia de folga
no MC, portanto, eu poderia ficar afastado se quisesse, mas acabei
pilotando direto para lá, pois, assim com os outros irmãos, viver dentro do
moto-clube era a minha rotina. Mesmo em dias de folga, eu sempre
procurava algo para fazer. Para encurtar o caminho, acabei entrando na área
mais residencial da cidade, passando pela casa da vovó Mag e virando em
ruas calmas demais, que nunca diriam a um turista que aquela era uma
cidade comandada por um moto-clube fora da lei.
Foi em uma dessas ruas que eu notei uma picape e uma mulher
lutando para equilibrar uma caixa em seus braços. Diminuí a velocidade,
olhando rapidamente para a casa bonita, com a grama aparada e a porta
principal aberta, antes de voltar os meus olhos para a mulher baixinha e
com os quadris largos cobertos por um vestido.
— Essa caixa vai cair — pensei em voz alta.
Dois segundos depois, foi exatamente isso que aconteceu. Mesmo
distante, consegui ouvir a mulher soltar um gemido de lamento ao olhar
para os itens espalhados pela calçada. Eu estava bem longe de ser um
exímio cavalheiro, mas, assim que ela se ajoelhou para começar a colocar
tudo de volta na caixa, eu parei a moto e desci, me aproximando em passos
rápidos. Assim que me agachei ao seu lado, ela arregalou os olhos
castanho-claros e me encarou com os lábios rosados entreabertos.
— Posso te ajudar?
A mulher abriu e fechou a boca três vezes, como se estivesse sem
palavras, e eu arqueei uma sobrancelha, lutando para conter o sorrisinho
que queria nascer no canto dos meus lábios enquanto gravava os seus traços
em minha mente. Cabelos longos e castanhos, com finas mechas loiras,
sobrancelhas bem-feitas e levemente arqueadas, rosto redondo e bochechas
muito coradas. Lábios perfeitos.
E agora ela morava aqui, a pouquíssimos minutos de distância do
MC. Que sorte a minha.
— Ah, hm... Eu... Na-não. Não preci-cisa — gaguejou, fugindo do
meu olhar e pegando um porta-retratos com vidro rachado do chão. Seus
olhos voltaram para o meu rosto quando eu peguei um outro porta-retratos e
o coloquei dentro da caixa ao nosso lado. — Realmente não precisa...
— Não custa nada. Quer dizer, custa sim. Quero algo em troca. —
Finalmente dei o sorrisinho que eu queria, observando seu peito subir e
descer com a respiração pesada.
— O... O que vo-você quer?
— Saber o nome da mulher bonita nessa fotografia. — Apontei para
o porta-retratos ainda em sua mão. Mesmo com o vidro rachado, pude ver
que era ela na foto, ao lado de um casal mais velho. Seus pais, talvez?
Segurei-me para não perguntar.
Para a minha surpresa, um pequeno sorriso se abriu nos lábios dela e
suas bochechas ficaram mais vermelhas.
— Há duas mulheres nessa foto.
— Mas apenas a mais bonita me interessa.
Bati com o dedo em cima dela na fotografia, ignorando o vidro
quebrado. Seus lábios se separaram quando ela respirou fundo e um
segundo inteiro se passou antes que ela me respondesse. Desviando os
olhos dos meus, ela enfiou o porta-retratos dentro da caixa e respondeu sem
me encarar:
— Rachel Marie.
— Prazer, Rachel Marie. Eu me chamo Drew.
Rachel apenas assentiu e voltou a guardar tudo em silêncio. Eu a
ajudei, mantendo um olho nela enquanto guardava os itens espalhados pela
calçada. Seu vestido tinha um decote comum em V que não me dava
qualquer vislumbre dos seus seios, mas o comprimento era um pouco mais
justo do que o esperado e moldava muito bem as suas coxas grossas. Ela era
voluptuosa e o fato de não ser magra ou tão alta quanto alguma das
docinhos do MC só me deu mais vontade de tirar a sua roupa e deixá-la
apenas de lingerie na minha frente.
— Obrigada pela ajuda. Eu... Eu vou entrar agora — disse ela,
totalmente alheia aos rumos dos meus pensamentos.
Percebi que havíamos guardado tudo na caixa enquanto eu a despia
com o olhar e sentia o início de uma ereção. Porra, Drew! Controle-se!
— Vou te ajudar a descarregar a picape — falei, pegando a caixa e
me erguendo antes que ela pudesse dizer qualquer coisa.
Seus olhos voltaram se arregalar enquanto ela se erguia. Rachel deu
uma olhada a nossa volta, como se a qualquer momento alguém pudesse
nos pegar no flagra — sendo que nada de mais estava acontecendo entre
nós dois ainda.
— N-não! Não precisa, eu dou conta de tudo sozinha e...
— Há pelo menos quinze caixas nessa picape e, pelo que posso ver,
todas são tão pesadas quanto essa. Não duvido da sua capacidade de
descarregar tudo sozinha, mas, se pode receber ajuda, por que recusar?
— Por que... Eu não te conheço? — Ela parecia em dúvida e eu sorri.
— Me conhece, sim. Sabe até o meu nome.
Rachel bufou e, caralho, eu queria morder aqueles lábios só para
puni-la pelo atrevimento.
— Isso não quer dizer nada. E eu já sei o que esse... essa sua roupa
significa.
— Que roupa? — Olhei para mim mesmo com a caixa ainda em
meus braços, sem entender nada. Eu estava vestido com as minhas roupas
do dia a dia. Calça jeans preta, coturnos, regata cinza e o... Ah, sim. Levei
menos de meio segundo para entender o que ela queria dizer. — Está
falando do colete? — Rachel passou a língua pelos lábios e assentiu,
parecendo mais insegura do que antes. — Não precisa temer, somos apenas
um grupo grande de babacas que curte motos. Nada mais do que isso.
Era uma mentira, mas por uma boa causa. Rachel, aparentemente,
estava se mudando para San Martínez e já tinha ouvido falar do MC. Não
queria que ela decidisse sair correndo só porque estava com medo da gente.
Não mexíamos com inocentes, muito menos com os moradores da cidade.
Que perigo poderíamos oferecer para uma mulher como ela? Ao observar a
insegurança ainda em seu olhar, voltei a colocar a caixa no chão, próxima
aos meus pés, e me ergui, colocando a mão direita sobre o lado esquerdo do
meu peito.
— Sei que não nos conhecemos direito ainda e que alguns boatos
sobre o MC podem ter te assustado, mas, nesse momento, Rachel Marie, eu
prometo para você que nunca te darei qualquer motivo para que sinta medo
de mim ou do meu moto-clube.
Damon arrancaria as minhas bolas se me ouvisse falar em nome dos
Flame Wolves, mas ele não estava ali e jamais iria descobrir aquilo. No
entanto, era uma promessa verdadeira. Eu nunca assustaria uma mulher
intencionalmente e se visse qualquer membro do MC fazer isso, eu cortaria
as bolas do filho da puta, fosse ele um recruta ou o Prez.
Rachel arquejou baixinho com os lábios bonitos entreabertos e olhou
para mão em meu peito, antes de voltar a encarar os meus olhos. Eu sentia
que ela ainda estava insegura e que queria negar qualquer aproximação da
minha parte, por isso, já estava me preparando para continuar a insistir. O
que me motivava a simplesmente não virar as costas e ir embora, era algo
que eu deixaria para analisar depois.
— Tudo bem. — Rachel praticamente sussurrou, mas eu ouvi
perfeitamente.
Não consegui conter o sorriso que nasceu no cantinho da minha boca,
muito menos o movimento dos meus olhos pelo seu corpo quando ela se
virou e pegou uma caixa menor na picape. O vestido moldava a sua bunda
grande e bonita e eu senti a palma da minha mão formigar para tocá-la. Ao
invés de fazer qualquer ação impensada e que poderia ofendê-la, me abaixei
e peguei a caixa, seguindo logo atrás dela para o interior da casa. Subimos
os quatros degraus de pedra que levavam à porta principal e passamos pelo
hall, indo em direção à sala já mobiliada.
— Pode deixar a caixa aqui, por favor. — Apontou para o tapete
felpudo na frente do sofá.
Fiz como pediu e voltamos para a picape. Usei aqueles segundos para
tentar pensar em algum assunto que poderíamos conversar.
— Está se mudando definitivamente para San Martínez ou vai ficar
apenas por um tempo?
— Não sei dizer. — Uma resposta vaga, mas válida.
Pegamos mais uma caixa — eu uma maior e ela uma menor — e
voltamos para o interior da casa.
— E com o que você trabalha?
— No momento, não estou trabalhando.
— E quer arrumar um emprego? Posso te ajudar com isso. Qual é a
sua área?
O MC tinha muito contato, seria fácil arrumar alguma coisa para ela.
— Eu não sou formada em nada, mas gosto de cozinhar. — Ela me
deu um sorriso singelo e rápido demais, que logo desapareceu dos seus
lábios enquanto deixava a caixa menor sobre o sofá.
— Talvez o MC esteja precisando de uma chef. Nós temos um bar,
você deve saber disso, e servimos algumas comidas... Vou ver com o Prez
e...
— Ah, não! Realmente, não precisa fazer isso, acho que eu não vou
conseguir trabalhar com nada agora, preciso organizar toda a mudança
primeiro — disse muito rápido, me interrompendo, antes de franzir
levemente as sobrancelhas. — E o que é um Prez?
— Abreviação de Presidente. Bruce Harlow é o nosso Prez, ele é
quem comanda o moto-clube.
— Oh. — Seus lábios se abriram em surpresa e eu imaginei... Bem,
imaginei aqueles lábios em um lugar específico e duro demais do meu
corpo. Porra! — Eu não sabia que existia uma espécie de hierarquia dentro
de um moto-clube.
— Imagino que seja um mundo completamente novo para você. Era
para mim também, até o ano passado.
— Mesmo? Eu pensei que... Deixa pra lá.
— Não, por favor, fale.
Rachel era tímida e aparentemente insegura. Aquela era a primeira
vez que estava, de fato, conversando comigo e eu não queria que parasse
ainda. Após alguns segundos, ela continuou:
— Pensei que os membros de um moto-clube fossem criados dentro
do moto-clube. Sabe, desde crianças.
— Alguns realmente são, como os filhos dos membros ou
fundadores, mas o MC abre as portas para quem é de fora. Há uma espécie
de seleção para novos membros de tempos em tempos. — Era a forma mais
simples de explicar sem ter que dar detalhes.
— E você se tornou um membro após passar por essa seleção —
concluiu.
— Exatamente.
Aquele sorriso singelo apareceu em seus lábios mais uma vez antes
de ela dar um passo para trás, impondo uma distância ainda maior entre nós
dois.
— Não consigo imaginar o que você teve que fazer para passar nessa
seleção.
— Um monte de coisas, eu teria que te levar para sair para poder te
contar tudo.
— Então acho que eu nunca vou descobrir.
Tímida, insegura, mas com a língua afiada. Antes que eu pudesse
responder, Rachel voltou a caminhar em direção à porta e eu fui atrás a
passos largos, querendo continuar com aquela conversa e fazer o convite
novamente. Decidi recuar um pouco, pois sentia que meu jeito direto
poderia assustá-la. Pegamos mais caixas e levamos para dentro da casa.
Assim que voltamos para o lado de fora, perguntei:
— De onde você está vindo, Rachel Marie?
— Condado de Piece of Sky.
Piece of Sky. Sabia quase nada sobre o lugar, apenas que ficava ao
sul da Califórnia, poucas horas de distância de San Martínez.
— Eu sou de Los Angeles.
— E por que um garoto de Los Angeles veio parar em um moto-
clube em San Martínez?
— Um garoto? — Eu ri e Rachel me encarou com uma sobrancelha
arqueada enquanto caminhávamos de volta para a sala. — Nós dois
sabemos que eu não sou um garoto.
— Quantos anos você tem? Dezessete? Dezoito, no máximo?
— Dezenove. — Talvez eu tenha falado com mais petulância do que
pretendia, mas não consegui evitar.
— É um garoto para mim.
Rachel deixou a caixa e fugiu das minhas vistas ao voltar para o lado
de fora. Eu fiquei por um momento parado no meio da sala lotada de caixas,
tentando entender o que ela quis dizer com aquilo.
“É um garoto para mim.”
No sentido de eu ser aparentemente mais novo do que ela? Aquilo
não me incomodava em nada, na verdade, foi uma questão que sequer
passou pela minha cabeça. Eu daria para Rachel algo entre vinte e quatro e
vinte e cinco anos. Mesmo se ela tivesse quarenta, cinquenta, eu não
poderia me importar menos.
“É um garoto para mim.”
Ou ela havia dito aquilo apenas para deixar claro que não se envolvia
com homens mais jovens? Que, para ela, eu realmente era um garoto?
— Última caixa! — anunciou ao voltar para a sala. Eu a acompanhei
com o olhar e esperei que deixasse a caixa no chão e se virasse para mim
antes de eu começar a falar.
— Saia comigo.
Os olhos de Rachel pareciam prestes a saltar das órbitas de um
segundo para o outro.
— O... O quê?
— Saia comigo — pedi mais uma vez, dando um passo longo em sua
direção e estendendo a minha mão. — E me deixe te mostrar que eu sou
muito mais do que um garoto.
Fechei mais a nossa distância e pude sentir o cheiro floral do seu
perfume. Era mais cítrico do que eu esperava, mas parecia combinar com
ela.
— Você... É louco — ela sussurrou e deu um passo para trás, me
fazendo dar outro em sua direção.
— Sei que está preocupada com a nossa diferença de idade, mas
saiba que eu não dou a mínima para isso. Sou maior de idade e dono do
meu próprio nariz. Também estou longe de ser virgem, se isso te preocupa
de alguma forma...
— O quê? Não! — As bochechas de Rachel ficaram em um tom
muito acima do vermelho e eu sorri por um momento, antes de ver as suas
sobrancelhas se franzirem em irritação. — Acho que você não notou algo
muito importante enquanto me ajudava, garoto. — A forma como me
chamou de garoto foi quase um insulto, mas eu ignorei.
— Notei o principal. Que você é linda e que eu quero te conhecer
melhor.
Rachel revirou os olhos e ergueu a mão esquerda para mim. Eu
demorei alguns segundos mais longos do que o normal para finalmente
entender o verdadeiro motivo para a sua recusa.
Ah, não.
Puta que pariu.
— Eu sou casada! E é exatamente por isso que me mudei para San
Martínez. — Rachel não parou por aí. Ela soltou a bomba no meu colo
antes mesmo que eu pudesse piscar. — Meu marido é o novo Xerife. Espero
que essa resposta seja convincente o suficiente para que você nunca mais
ouse olhar para mim de novo! — Ela passou por mim feito um raio e
atravessou o hall, parando ao lado da porta. — Obrigada pela ajuda, mas
agora você já pode ir embora.
Poucas vezes na vida eu me senti tão desnorteado quanto naquele
momento. Caminhei em direção à Rachel no automático e só consegui
voltar a pensar com um pouco mais de clareza quando parei entre ela e a
porta da sua casa.
— Eu realmente não percebi que você usava uma aliança, Rachel, me
desculpe. Não foi a minha intenção te ofender.
— Tudo bem, agora eu preciso que você vá embora.
— Talvez nós possamos ser amigos — falei antes mesmo de pensar.
Eu não tinha problema algum em ser amigo de uma mulher, mas,
porra, ser amigo da esposa do novo Xerife da cidade? Seria o mesmo que
apontar uma arma na minha cabeça e na cabeça dos meus irmãos de patch!
— Meu marido jamais permitiria isso. Ele sequer pode sonhar que
tive contato com qualquer um de vocês.
Franzi o cenho ao ouvir aquilo. Que merda era aquela?
— Como assim? O que ele tem contra o meu moto-clube?
— Eu... Eu não sei. — Rachel estava nervosa, mas seus olhos eram
claros como cristal. Eu sabia que ela não estava mentindo e aquilo apenas
me intrigou ainda mais. — Por favor, vá embora, Drew. E nunca mais fale
comigo de novo. Esse momento entre nós dois foi um erro que não vai se
repetir.
Foi a primeira vez que ela falou o meu nome. Isso foi tudo o que
registrei enquanto concordava com a cabeça e me afastava da porta. Rachel
estava prestes a fechá-la quando falei:
— Não sei se esse momento entre nós dois foi um erro ou não,
Rachel Marie, mas saiba que ele vai se repetir.
— Nunca. — Ela tentou soar firme, mas a sua voz bonita só me deu
vontade de sorrir.
Pisquei para ela e saí da frente da sua casa, vendo-a fechar a porta
rapidamente. Não havia qualquer sinal do Xerife por ali, o que me fez
pensar que, ou Rachel tinha chegado na cidade antes dele, ou o filho da puta
a deixou sozinha para lidar com a mudança e foi conhecer o seu novo
departamento de polícia.
Iria descobrir agora mesmo qual das duas hipóteses estava correta.
Encostei-me contra a porta, pressionando a mão sobre o lado
esquerdo do meu peito. Meu coração parecia que ia saltar da caixa torácica
a qualquer momento, de tão forte que batia.
— Meu Deus... O que foi que eu fiz? — As palavras saíram da minha
boca em um sussurro assustado.
Conscientemente, eu sabia que não tinha feito nada de errado. Ok,
nada de tão errado assim. Tinha apenas aceitado a ajuda de um rapaz gentil.
Isso seria passível de qualquer peso na minha consciência, se eu não
soubesse o que aquele colete significava e se eu não sentisse... coisas
enquanto aquele garoto olhava para mim e falava comigo.
Caminhei em direção à cozinha e enchi um copo com água, bebendo
quase todo o líquido em um único gole. Minha garganta estava seca e um
suor gelado e pegajoso cobria as palmas da minha mão e a minha nuca. Eu
não conseguia tirar os olhos dele da minha mente. Ou o seu sorrisinho de
lado. O corpo musculoso e todo tatuado. Seu cheiro de couro e alguma
outra coisa que não consegui definir.
“Saia comigo. E me deixe te mostrar que eu sou muito mais do que
um garoto.”
Uma risada incrédula escapou do fundo do meu peito enquanto suas
palavras se repetiam em minha cabeça. Aquilo só podia ser uma
brincadeira. Era tão irreal, que eu ainda custava a acreditar que realmente
tinha acontecido — que ele tinha me feito aquele convite.
Havia tanta coisa errada naquelas dezesseis palavras que saíram da
sua boca. Tanta coisa errada. Eu nem conseguia começar a enumerar.
Dei um pulo e quase deixei o copo cair no chão quando ouvi o toque
do meu celular. Corri até a sala e levei alguns minutos para encontrar o
aparelho em cima do sofá, debaixo de uma das caixas que eu havia
colocado ali. Soltei um suspiro pesado ao ver o nome da minha mãe na tela.
— Oi, mãe. Tudo bem com a senhora?
— Rachel, por que não atendeu às minhas ligações? Estou tentando
falar com você há mais de quarenta minutos!
Ela estava? Droga. No meio de toda a confusão com o motoqueiro,
eu sequer ouvi o meu celular tocar.
— Desculpa, mãe. Acabei deixando o meu celular dentro de casa
enquanto descarregava a picape.
— Sua sorte é que fui eu quem te ligou. E se fosse Lincoln? Sabe que
ele não tem muita paciência com a sua demora em fazer as coisas.
Suprimi um suspiro. Lincoln não tinha muita paciência para nada,
essa era a verdade.
— Prometo ficar mais atenta.
— Ótimo! Já começou a arrumar a casa? Lincoln não vai gostar se
encontrar tudo bagunçado quando chegar à San Martínez, Rachel. — Seu
suspiro, ao contrário do meu, foi audível do outro lado da linha. — Ainda
acho um absurdo toda essa história de mudança. Lincoln sabe que você
não funciona direito quando está longe de mim! Sempre preciso manter um
olho em tudo o que você faz, do contrário, sua vida vira uma bagunça.
Como vou fazer isso com vocês morando do outro lado do país?
— Nós ainda estamos na Califórnia, mãe.
— E faz alguma diferença? Continua longe de mim! Não acredito
que vou ter que começar a pegar a estrada, nessa altura da minha vida,
para ter que olhar por você, Rachel...
Demorei muitos anos para conseguir silenciar a voz da minha mãe
em minha cabeça, fosse estando em sua presença, ou distante, enquanto
suas ordens ainda ecoavam em minha mente. Já havia presenciado muitos
filhos baterem de frente com os seus pais. Mesmo em uma cidadezinha
pequena como Piece of Sky, onde a maioria dos habitantes era religiosa,
sempre havia uma família ou outra que tinha filhos rebeldes.
Ou corajosos.
Corajosos o suficiente para lutarem pelo direito de fazer suas próprias
escolhas, de fazer a sua voz ser ouvida, de sair daquela cidade presa ao
século passado e viver de forma livre.
Eu não fazia parte dos corajosos, pelo contrário. Estava acorrentada
ao lado dos covardes.
— Você está me ouvindo, Rachel?
— Sim, mãe. Não precisa se preocupar, ok? Estou dando conta de
tudo e Lincoln vai encontrar a casa organizada quando chegar na cidade.
— Hum. Eu duvido muito, mas o que posso fazer? Tenho as minhas
obrigações com a igreja, não posso deixar tudo aqui para ir para a sua
casa e ficar de olho em você.
— Mãe... —
­ “Eu não sou mais uma criança. Quando vai passar a me
enxergar como uma mulher adulta de vinte e seis anos, casada com um
monstro desde os dezoito?” — Eu vou ficar bem e fazer tudo como me
ensinou.
— Vamos fazer uma chamada de vídeo, assim eu posso ir te guiando
e...
— Não. — Quase um minuto de completo silêncio se passou e eu
senti o meu coração voltar a ficar acelerado. Podia contar nos dedos de uma
única mão quantas vezes eu tinha dito não para a minha mãe. — Eu... Eu
não quero atrapalhar a senhora e... Se eu sentir alguma dúvida, faço a
chamada de vídeo.
Não era aquilo que eu queria dizer, mas uma vida inteira suprimindo
a vontade de falar o que eu pensava e o que sentia, havia me moldado na
mulher patética que eu era hoje. Uma pessoa que não conseguia ser sincera
nem consigo mesma e que sentia medo de tudo.
— Ok. Eu peguei uma nova dieta para você e passei o link pelo
WhatsApp. Promete a perda de quatro quilos por semana. Se você seguir
tudo direito e não comer chocolate escondido, com certeza vai emagrecer
tudo o que precisa em pouco tempo.
Estremeci apenas em ouvir aquela palavra que me perseguia durante
toda a vida. Dieta.
— Tudo bem, eu vou dar uma olhada e comprar tudo o que preciso
no mercado.
— Precisa de pouca coisa, é isso que você tem que ter em mente,
Rachel! Já falei como você deve fazer. Um armário da cozinha tem que ser
seu e os outros, de Lincoln. Ele pode comer os chocolates e os biscoitos
recheados que você tanto adora. Você tem que manter o foco na dieta,
senão, nunca vai perder todos os quilos que precisa!
Por um lado, eu sabia que minha mãe tinha razão, por outro, eu
estava tão... Cansada. Tão, tão cansada de sempre ouvir aquilo, de começar
uma nova dieta a cada dois meses, de me sentir culpada quando não
conseguia perder nem duzentas gramas, quanto mais quatro quilos em uma
única semana. Sentando-me no sofá, finalmente soltei o suspiro que eu
tanto queria — bem baixinho para que minha mãe não ouvisse — e falei:
— Vou fazer isso, mãe. Preciso desligar agora.
— Certo, não vou mais te atrasar. Mais tarde eu te ligo.
Nós nos despedimos rapidamente e eu respirei fundo assim que o
silêncio voltou a reinar entre as paredes da minha nova casa.
Sentia-me culpada, mas, quando Lincoln me comunicou que ele
havia sido transferido e que precisaríamos mudar de cidade, eu fiquei feliz.
Sair de Piece of Sky sempre foi um sonho. As pessoas daquela cidade
pareciam não ver como estavam contaminadas pelo discurso deturpado que
ouviam na igreja a cada novo culto e como disseminavam a arrogância e o
preconceito entre si. Não havia nenhum senso de comunidade naquela
cidadezinha pequena. Tudo o que eu via era opressão e uma subserviência
que passavam de geração para geração.
Eu era fruto daquele lugar, daquela criação que podava filhos e os
transformava em pais rígidos e autoritários. Ainda assim, sempre houve
uma parte de mim que lembrava aos filhos rebeldes.
Aquela parte que queria fugir para bem longe das garras de Piece of
Sky.
Bem longe das garras da minha mãe.
Ainda que não fosse mérito meu, eu consegui sair de lá. E mesmo
sabendo que, provavelmente, eu teria que retornar para aquela cidade um
dia — quando Lincoln cumprisse seu dever em San Martínez ou se
aposentasse —, faria de tudo para aproveitar o pouco da liberdade que eu
teria na casa onde estava agora, no novo lugar onde eu moraria por um
tempo. Logicamente, seria uma liberdade do meu jeito, mas, ainda assim,
ela existiria.
Eu poderia fazer amizade com vizinhos que não conheciam os meus
pais, o meu marido e que não me viram crescer. Poderia ouvir histórias
diferentes das que sempre ouvi em Piece of Sky. Poderia visitar novos
lugares, absorver novas culturas. Poderia ir à praia pela primeira vez,
quando Lincoln estivesse de plantão.
Poderia me aventurar, mesmo escondida.
Um sorriso pequeno se abriu em meus lábios e, daquela vez, eu não o
contive. Nem mesmo quando a minha mente trouxe de volta a imagem do
garoto bonito e tatuado, que usava aquele colete assustador.
Eu o vi pela janela quando subiu em sua moto e partiu. Aquilo
parecia liberdade. Liberdade de verdade. Fiquei feliz por ele ser livre e torci
para que um dia eu também pudesse ser.

O Xerife ainda não estava na cidade. Foi à essa conclusão que


cheguei após passar alguns dias acompanhando a rotina de Rachel e
especulando pela cidade sobre a chegada da nova autoridade policial de San
Martínez.
O clima no MC estava tenso com a iminente chegada do filho da
puta. Tudo o que sabíamos, era que Lincoln Sullivan não fazia parte do
seleto grupo de homens da lei que faziam parte do nosso esquema e que,
segundo a sua incrível reputação, ele odiava qualquer tipo de corrupção.
Não acreditava naquilo nem por um segundo, principalmente depois de
saber sobre a reação de Oliver ao descobrir que ele seria o substituto de
Scott, nosso atual Xerife.
Eu não fazia parte das reuniões da diretoria do MC, pois era apenas
um membro, mas Damon era o Sargento de Armas e confiava em mim. Em
muitas das nossas conversas, ele me dava detalhes dos próximos passos do
moto-clube e das pautas das reuniões antes que Bruce convocasse todos os
membros para fazer qualquer anúncio. Foi por isso que soube o motivo pelo
qual Oliver saiu correndo do Covil no meio de uma reunião a portas
fechadas.
Se o Executor, que era o cara mais frio e letal que eu conhecia, havia
ficado apavorado quando ouviu o nome do Xerife, era porque a índole do
filho da puta não era tão boa quanto todo mundo acreditava.
Parei com a minha Harley logo atrás da moto do Prez, observando
rapidamente o entra e sai de clientes do bar. Era noite de sexta-feira e o
movimento estava tão intenso quanto de costume, o que me fez sentir o
início de uma dor de cabeça. Havia uma parte ruim em morar no moto-
clube. Todo final de semana a música tocava alta até tarde e dormir se
tornava um pouco difícil. Não era sempre que aquilo me incomodava, mas,
depois de passar horas na estrada, vindo do chapter de Tucson ao lado de
Bruce, tudo o que eu queria era tomar um banho quente, me deitar na minha
cama e apreciar o silêncio.
— Foi uma viagem longa, Drew. Quero que tire o dia de folga
amanhã — disse o Prez assim que desmontou da moto.
— Não precisa, Prez. Só algumas horas de sono e eu tô novo.
— Não seja um teimoso como o seu irmão e me obedeça.
Eu sorri ao ouvir aquilo. Às vezes Bruce falava que, ao olhar para
mim, conseguia ver nitidamente Damon na minha idade. Aquilo não me
incomodava em nada, pelo contrário. Tinha orgulho em saber que eu era
mais parecido com o meu irmão do que com qualquer um dos meus pais.
— Acho que a teimosia está no nosso sangue — falei, vendo-o
revirar os olhos, uma mania que Madison parecia ter passado para todos os
machos daquele moto-clube. Senti que Bruce estava prestes a se afastar
para entrar no bar, por isso, falei antes que ele pudesse ir: — Obrigado por
ter me chamado para acompanhá-lo na estrada, Prez.
Após a visita nada agradável da ATF, Bruce decidiu encaminhar toda
a nossa carga de armas para o chapter de Tucson, por isso, suas viagens até
o Arizona estavam cada vez mais frequentes. Eu sabia que ele poderia ter
chamado algum membro mais antigo, até mesmo alguém da diretoria do
MC, mas o fato de ter me convidado era muito importante. Mostrava que eu
havia conquistado um lugar no moto-clube por merecimento e não apenas
porque eu era irmão de Damon. Dava-me a sensação de que não apenas
Bruce, mas todo mundo, confiava em mim.
— Você é um Flame Wolves agora, filho. Precisa se acostumar a ser
convocado para qualquer missão, em qualquer momento.
— Eu sei e me sinto honrado por isso.
— Você é um bom garoto, Drew, e não digo isso porque é irmão de
Damon. Sinto que vai muito longe aqui dentro.
— É o meu objetivo, Prez.
Bruce me deu um olhar orgulhoso, de quem havia gostado da minha
resposta, e logo se despediu. Eu o observei entrar no bar e decidi dar uma
volta pelas ruas de San Martínez. Pelo menos essa foi a desculpa que dei
para mim mesmo, quando, minutos depois, eu entrei na rua de Rachel. Eu
não era a porra de um perseguidor, mas sentia como se aquela mulher
tivesse um imã que me atraía e que me deixava levemente irracional.
Diminuí a velocidade quando passei em frente à sua casa, observando
que a sua sala de jantar estava com a luz acesa. Aquela era a única janela
que dava para a rua e as cortinas estavam afastadas. Dei a volta no
quarteirão, apenas para que não ficasse óbvio que eu estava olhando demais
para a casa da mulher do Xerife e, quando retornei, senti algo sofrer um
baque dentro do meu peito. Recusei-me a pensar que era o meu coração,
porque nunca senti nada parecido com aquilo.
Em frente à janela, estava Rachel, com o celular na orelha e a
expressão levemente contorcida em tensão.
Eu deveria ter passado direto. Se o meu objetivo era apenas ter um
vislumbre dela, eu tinha conseguido, portanto, deveria ir embora. Mas não
fui. Talvez, eu fosse mesmo tão teimoso quanto meu irmão, e imprudente,
também, pois nutrir qualquer tipo de interesse por uma mulher como Rachel
era encrenca na certa. Conscientemente, eu sabia disso. O problema, era que
havia alguma veia muito errada em meu corpo, porque eu simplesmente não
ligava muito para o perigo. Provavelmente, eu gostava um pouco demais
dele para o meu próprio bem.
Parei com a moto do outro lado da rua, metros a frente de um poste
para que a falta de luz pudesse me camuflar um pouco. Obtive sucesso por
alguns minutos, até que Rachel ergueu os olhos e deu de cara comigo. Ela
me reconheceu imediatamente. Mesmo à distância, pude ver os seus olhos
se arregalarem, seu peito subir e descer com a respiração agitada e a mão
subir até os seus lábios separados. Não sabia dizer se ela estava assustada
ou apenas em choque, mas era lógico que não esperava me ver àquela hora
da noite em frente à sua casa, como a porra de um stalker.
“Tenho que parar com isso.”
O pensamento surgiu em minha cabeça e a maior parte de mim
concordou. A maior parte, mas não tudo.
Rachel Marie piscou forte umas duas vezes, como se quisesse ter a
certeza de que eu não era uma assombração, e deu um passo para mais perto
da janela. Aquilo me fez inclinar a cabeça de lado, surpreso e confuso com
o seu gesto. Ela não deveria me dar as costas e sair dali? Um sorrisinho
surgiu em meus lábios e eu ergui a mão, acenando para ela depois de tomar
o cuidado de observar se a rua ainda estava deserta. Rachel tocou o vidro da
janela com os lábios ainda separados em choque e o celular contra a orelha
direita.
Uma sensação ruim tomou conta de mim. Observá-la ali de fora deu-
me a nítida impressão de que Rachel parecia viver presa. Sua casa era muito
bonita, mas me lembrava a uma gaiola. A porra de uma gaiola dourada, de
onde ela só saía para fazer as coisas mais básicas, como ir ao mercado ou à
farmácia. Essa era a rotina dela. Eu sabia, porque vinha acompanhando tudo
de longe, com a desculpa de tentar descobrir se Lincoln já havia chegado à
San Martínez.
Ele não havia chegado e Rachel vivia naquela redoma de vidro,
aparentemente intocável. E sozinha. Sempre sozinha.
Eu sabia como a solidão poderia doer.
Foi por isso que desci da minha moto, atravessei a rua e apertei a
campainha da casa dela.
Pude ouvir os passos de Rachel assim que ela se aproximou da porta
de casa. O barulho da chave girando na fechadura fez com que as palmas
das minhas mãos ficassem suadas de repente. Consegui secá-las em meu
jeans antes que a porta se abrisse e revelasse a mulher que não saía dos
meus pensamentos há quase uma semana.
— Mãe, eu... Eu preciso desligar. — Rachel fez uma pausa,
parecendo ouvir a sua mãe do outro lado da linha. Seus olhos arregalados
não deixaram os meus nem por um segundo. — Foi uma vizinha que tocou
a campainha. Preciso atender. Até mais.
Rachel afastou o celular da orelha e eu acompanhei o gesto,
observando que ela usava um vestido florido que terminava poucos
centímetros acima do joelho e moldava o seu quadril e a curva feminina da
sua cintura. Minha garganta ficou seca.
— O... O que você está fazendo aqui? — Sua voz soou ofegante.
Rachel estava visivelmente nervosa e eu quis me xingar. Não queria
assustá-la, porra!
— Eu só estava passando aqui pela sua rua e observei a luz acesa...
Fiquei me perguntando se você estava bem.
— Eu estou bem. Por que eu não estaria bem?
Agora as palavras saíram rápidas demais. As bochechas de Rachel
ficaram vermelhas e eu dei um passo para trás, apenas para que ela pudesse
visualizar que não era a minha intenção ser invasivo. Quer dizer, ser ainda
mais invasivo.
— Sei que seu marido ainda não chegou na cidade. Se você precisar
de alguma coisa...
— Eu não preciso de nada. — Seus olhos correram pela rua
rapidamente. — Você deveria ir embora.
— E você deveria anotar o número do meu celular.
— Eu... O quê?
Os olhos de Rachel se arregalaram ainda mais e sua boca voltou a
ficar entreaberta. Minha imaginação voou para bem longe enquanto eu
observava seus lábios levemente rosados, sem um resquício de batom ou
qualquer outro tipo de maquiagem.
— Você é nova na cidade, ainda não conhece ninguém e está sozinha.
Precisa ter o contato de alguém conhecido caso aconteça alguma coisa e
você precise de ajuda.
Rachel piscou duas vezes, parecendo não estar certa do que havia
acabado de ouvir.
— Você se esqueceu do que conversamos naquele dia em que me
ajudou a descarregar a picape?
— Não. Para falar a verdade, eu penso naquele dia com muita
frequência, talvez até mais do que deveria.
Suas bochechas voltaram a ficar vermelhas enquanto Rachel sacudia
de leve a cabeça.
— Pois é melhor que pare com isso.
— Com isso o quê?
— Isso! — Ela apontou para mim e depois para si mesma. — Pare de
pensar em qualquer coisa que remeta a você e eu. Esqueça aquele dia e, por
favor, esqueça que eu existo!
Ela ia fechar a porta na minha cara. Eu sabia disso antes mesmo que
desse um passo para trás e apertasse a maçaneta com mais força, no entanto,
agi mais rápido e me coloquei entre o batente e o seu corpo, sentindo o seu
cheiro me golpear e deixar os meus sentidos desnorteados. Aquele perfume
floral e levemente cítrico despertou coisas em mim. Coisas impróprias pra
caralho para se sentir por uma mulher que era casada com a porra do novo
Xerife de San Martínez.
— E se eu não quiser esquecer? — Minha voz soou mais rouca do
que eu pretendia, mas não fiz qualquer esforço para limpar a garganta. — E
se eu quiser conhecer você melhor?
O que eu estava fazendo?
Puta merda, que porra eu estava fazendo?
— Quantas vezes vou ter que repetir que sou uma mulher casada?
— Não estou vendo o seu marido por aqui.
— Isso não quer dizer que ele não exista e que eu não deva respeito a
ele.
Meus olhos se estreitaram enquanto suas palavras atravessavam o
meu cérebro. Sim, eu sabia que, em um casamento, o respeito deveria
existir, mas, geralmente, casais falavam primeiro em amor. Damon falava
em amor e Christian também. Aquilo acendeu um novo alerta em minha
cabeça.
— E ele respeita você? — Nós estávamos próximos demais, por isso,
vi nitidamente quando Rachel pareceu engolir em seco. — Se sim, por que
não está aqui, ao seu lado? É sexta-feira, Rachel. Uma noite em que os
casais gostam de sair para jantar e se divertir. Onde está o seu marido
agora?
Segundos longos demais se passaram até Rachel encontrar uma
resposta.
— Ele é um homem ocupado e está cuidando de uma série de
burocracias em Piece of Sky, por isso que ainda não veio. Meu marido é um
homem da lei. Ele não é um... Um arruaceiro que fica trepado em uma moto
o tempo inteiro, perseguindo mulheres casadas!
Eu sorri, nem um pouco afetado por aquela merda.
— Isso não é a única coisa que eu faço.
— Não?
A pitada de sarcasmo em sua voz me divertiu. Eu gostava daquilo.
Algo me dizia que Rachel era o tipo de pessoa que engolia e camuflava
tudo o que sentia, mas comigo ela não precisava ser assim.
— Não. Quer saber mais sobre a minha rotina?
— Não estou interessada.
Uma risada escapou do fundo da minha garganta e Rachel me deu um
olhar surpreso, como se não esperasse aquela reação da minha parte. Era
uma surpresa para mim também, se eu fosse sincero comigo mesmo.
— Bom saber que eu te divirto. Agora, você precisa ir embora.
— Eu vou.
— E não volte mais!
— Isso eu já não posso prometer.
Por que eu deveria mentir? Rachel me intrigava e algo me fazia
querer ficar próximo a ela, ainda que distante fisicamente.
— Não me obrigue a contar para o meu marido o que você está
fazendo, Drew.
— Gosto de quando você fala o meu nome.
— Você não ouviu nada do que eu disse? — Rachel soou irritada e eu
voltei a sorrir.
— Ouvi o meu nome, isso é o suficiente.
— Você é... — Ela parou, parecendo procurar pelo termo perfeito. —
É imprudente!
— Eu sou, sim.
— E imoral!
— Talvez.
— Abusado!
— Isso, eu sou com certeza. — Rachel ofegou quando eu dei mais
um pequeno passo em sua direção, praticamente entrando em sua casa. Seus
olhos voltaram a se arregalar quando toquei em seu queixo com o meu dedo
indicador. — Esqueceu de falar que eu sou obstinado, Rachel Marie.
Dificilmente eu abro mão do que quero.
— E você me quer? — Sua voz ainda saiu irritada, mas levemente
ofegante e insegura.
— Ainda não sei. Vai depender de uma única coisa.
— O quê?
— Se a porra do seu marido sente por você o mesmo respeito que
você sente por ele.
Toquei seu lábio inferior levemente com o meu polegar, observando a
enxurrada de sentimentos que tomou conta dos seus olhos naqueles poucos
segundos em que ficamos olhando um para o outro. Não consegui
identificar a maior parte deles, mas me agarrei ao fato de que Rachel
pareceu não nutrir nenhum tipo de aversão severa a mim. Ela estava
irritada, era óbvio, mas não desconfortável, o que me intrigou ainda mais.
Dei um passo para trás, vendo-a engolir em seco mais uma vez e voltar a
agarrar a maçaneta da porta.
— Até logo, Rachel Marie.
Afastei-me completamente, sem dar a ela a chance de falar que não
queria me ver mais. Para a minha surpresa, Rachel continuou na porta
enquanto eu subia na minha Harley e girava a chave na ignição. Ela só
começou a fechar a porta quando dei partida, saindo da frente da sua casa.
Sorri, ainda sentindo o seu cheiro sob o meu nariz, mesmo com o vento
fresco da noite batendo contra o meu rosto.
Não menti para Rachel. Eu realmente não me afastaria e ficaria de
olho quando o filho da puta do Xerife chegasse à cidade. Se o respeito que
ele sentisse por ela fosse um por cento menor do que ela nutria por ele,
porra alguma no mundo seria capaz de me manter longe daquela mulher.
Assim que cheguei ao MC, dei de cara com Damon no balcão do bar,
bebendo uma cerveja. Ele me deu um abraço rápido quando encurtei a
nossa distância e xingou baixinho quando tirei a garrafa da sua mão, dando
um gole generoso na cerveja gelada.
— Onde você estava?
— Em algum lugar onde eu não poderia roubar a cerveja do meu
irmão.
Ele revirou os olhos e tirou a garrafa da minha mão.
— Jeff, traz uma cerveja para esse garoto, antes que eu dê um soco
nele. — Jeff riu, mas logo trouxe uma cerveja para mim. — Bruce chegou
tem quase uma hora e não vi você em lugar algum. O que você tá
aprontando, Drew?
Damon parecia ter um faro. Só isso explicava como ele sempre
desconfiava de que alguma coisa estava acontecendo, fosse dentro do MC
ou na porra da minha vida.
— Não estou fazendo nada. — Ainda. — Só quis dar uma volta antes
de entrar no MC e ter que aturar essa música alta.
— Sabe que pode dormir lá em casa enquanto o bar estiver cheio.
— E ter que ouvir você e a Maddy gemendo a noite toda? Não,
obrigado.
O filho da mãe riu, mas logo me deu um tapinha na lateral da cabeça.
— Tenha mais respeito, seu merdinha.
— Eu não menti em nada.
— Mentiu sobre o quê? — Madison surgiu de repente, vindo de trás
de mim e me dando um abraço apertado. — Como foi na estrada? Meu pai
judiou muito de você?
— Não, mas ficou me contando umas histórias suas de quando você
era criança.
— A viagem foi tão entediante assim para vocês precisarem
conversar sobre mim? — perguntou ela enquanto se afastava e ia para perto
de Damon.
Meu irmão a acomodou entre as suas coxas, encostando as costas
dela em seu peitoral. Observei de relance ele beijar o seu pescoço e parecer
sussurrar algo em seu ouvido que fez Maddy soltar uma risadinha. Era
impressionante como assistir aquilo não me deixava desconfortável. Minha
mente foi muito rápida em se desapegar da ideia de que eu queria ter
Madison para mim quando cheguei ao MC e eu agradecia por aquilo todos
os dias. Seria terrível se eu continuasse a desejar a mulher do meu irmão.
— Não dentro do chapter de Tucson, mas na estrada, sim. Bruce é
muito bom em contar histórias.
— Ele é, sim. Bruce é praticamente uma enciclopédia do MC... —
Damon parou de falar quando ouviu Christian o chamando nos fundos do
bar. Soltando um suspiro, ele se levantou e deu um beijo na boca de
Madison. — Chris não dá um passo sem mim, puta merda. Já volto, baby.
Ele se afastou e Madison sentou-se em seu lugar, bebendo o restinho
da cerveja que ele deixou na garrafa. Seus olhos espertos me fitaram por um
tempo longo demais.
— O que foi?
— Você.
— O que tem eu?
— Está diferente. — Maddy pousou a garrafa sobre o balcão sem
deixar de me olhar.
— Diferente como?
— Não sei explicar, mas já têm uns dias que estou percebendo que
você está aqui, mas a sua cabeça, não.
— Não tem como relaxar com todos esses problemas rondando o
MC, Maddy.
— Não estou falando sobre o MC. — Sua sobrancelha esquerda se
arqueou ligeiramente. — Você está conhecendo alguém, Drew?
Como ela poderia saber? Virei praticamente a cerveja toda, pensando
em uma forma de fugir daquele interrogatório. Eu conhecia Madison muito
bem, um simples “não” jamais a convenceria.
— Por que você acha que estou conhecendo alguém? Estou com cara
de cachorro babão como o Damon ou alguma merda assim?
Madison riu, mas a sua risada já não deixava o meu coração
acelerado como antes. A risada de Rachel faria aquilo comigo? Não sabia se
eu queria descobrir.
— Ainda não chegou nesse estágio, mas o fato de estar com a cabeça
tão aérea significa que, em algum momento, você vai chegar lá. — Maddy
aproximou o banco um pouco mais do meu e me olhou de forma ansiosa. —
Quem é ela?
— Não sei do que você está falando.
— Não se faça de inocente, Drew! Nós somos praticamente irmãos,
pode confiar em mim!
Eu sabia que podia, mas, ao mesmo tempo, sabia que Madison não
escondia nada de Damon. Se ele sequer desconfiasse que eu estava de olho
na mulher de Lincoln, era capaz de arrancar as minhas bolas com uma
navalha.
— Ela é nova na cidade, você não a conhece.
— Então eu não estava errada! Sabia que você tinha conhecido
alguém! Qual é o nome dela? Quando irei conhecê-la?
— Não sei se irá conhecê-la. Acho que não vai acontecer nada entre
nós dois.
— Impossível. Já se olhou no espelho? Você é irmão do Damon, ou
seja, é um gostoso! — Eu revirei os olhos e ri, porque era lógico que, para
me elogiar, a garota doida ia me comparar com o meu irmão. — Ela só não
vai ficar com você se, um, ela não gostar de homens — Maddy começou a
enumerar, usando os dedos para fazer a contagem —, dois, se ela tiver
muito medo do MC, mas isso a gente pode resolver quando ela conhecer a
nossa família, ou, três, se ela for casada.
Eu precisava de algo mais forte para beber, aquela era a única certeza
que eu tinha, no entanto, terminei de secar a cerveja de uma vez. Maddy
cruzou os braços e estreitou os olhos para mim.
— Acho que podemos descartar o número um, pois uma mulher
lésbica não te deixaria tão abalado assim. O número dois também não seria
algo que fosse fazer você ficar na dúvida se iria ou não conquistar essa
mulher, então, só nos resta o número três.
— Quem disse que qualquer uma dessas opções é algo real, Maddy?
— Você está interessado por uma mulher casada, Drew?
Graças a Deus a música estava bem alta, do contrário, todo mundo na
porra daquele moto-clube teria ouvido a pergunta estridente de Madison.
Sua boca caiu aberta em choque diante do meu silêncio, antes de ela
começar a rir. Maddy gargalhou, jogando a cabeça para trás.
— Não entendi a graça — murmurei, azedo. Aquela merda não era
nada engraçada.
— Não acredito! Você e Damon realmente não negam que são
irmãos! — Ela limpou a lágrima que escorreu pela lateral do olho esquerdo.
— Só querem mulheres difíceis e complicadas.
— No meu caso, eu gosto de mulheres impossíveis.
— Alguns casamentos não duram para sempre. — Ela deu de
ombros. — Claro que não é o meu caso, mas...
— Maddy, eu não tenho qualquer interesse por você. Não mais.
— É claro que eu sei disso! O que quero dizer, é que talvez essa
mulher possa se divorciar um dia. Talvez, o marido dela seja um cuzão e
você possa mostrar a ela o que é um homem de verdade. — Ela se levantou
e apertou a minha bochecha como se eu fosse uma criança. — Saiba que eu
torço pelo time Drew, mesmo quando ele quer comer uma mulher casada.
Foi a minha vez de rir e Madison me seguiu, soltando um gritinho de
susto quando Damon se aproximou e a abraçou por trás.
— Posso saber o que é tão engraçado?
Senti meus olhos quase se arregalarem e um frio descer pela minha
espinha. Se Madison contasse para Damon sobre aquela história, ele não
iria descansar até descobrir quem era a mulher por quem eu estava
interessado e, diferente de Madison, não acharia graça alguma em eu estar
interessado por alguém que usava uma aliança dourada no dedo anelar
esquerdo.
— Nada de mais, Drew estava me falando sobre as histórias que meu
pai contou a ele sobre mim enquanto viajavam.
— Ela era uma peste quando criança — complementei a mentirinha,
apesar de saber que o fato de ela ser uma peste não era realmente uma
mentira.
— Ei, isso não é verdade. Diz a ele, Damon.
— Baby, você realmente não foi uma criança fácil.
Madison estreitou os olhos para o meu irmão.
— É mesmo? Também não vou ser fácil para você hoje à noite,
então.
— Ok, acho que essa é a minha deixa. Vou subir, estou morto da
viagem. — Dei um abraço rápido nos dois e me virei para Madison. — Dê
uma canseira nele, Maddy.
— Pode deixar comigo.
— Vai se foder, Drew.
Ri para o dedo que Damon ergueu para mim e fui em direção à
escada, minha mente se apegando às palavras de Madison.
“Talvez, o marido dela seja um cuzão e você possa mostrar a ela o
que é um homem de verdade.”
Peguei-me torcendo para que Madison estivesse certa.
Parei em frente à janela da minha sala de jantar, observando a rua
calma naquele final de manhã. Uma senhora passou pela minha calçada,
caminhando com o cachorro, um grupo de adolescentes logo a seguiu,
animados demais, e, do outro lado da rua, uma moto preta estacionou. Meu
coração deu um salto no peito e temi me engasgar com o café. Demorei
exatamente meio segundo para reconhecer que aquela moto não era do
mesmo modelo que a de Drew e que o homem que a pilotava não era ele.
Ainda assim, meu coração continuou a bater bem forte.
Pois, no fundo, eu sabia que estava em frente à janela porque queria
ter ao menos um vislumbre daquele garoto de sorriso bonito e debochado e
o colete com aquele lobo assustador.
— Estou ficando maluca — murmurei para mim mesma, obrigando-
me a sair de perto da janela. — Estou ficando completamente maluca.
Havia se passado dois dias desde a visita inesperada de Drew em
minha casa e, desde então, minha cabeça não me dava um minuto de paz.
Eu não conseguia parar de pensar nele ou de ver os seus olhos castanhos e
abusados na minha frente. O som da sua voz ficava se repetindo em minha
mente. Suas palavras ficaram marcadas como ferro em brasa em meu
cérebro.
Nada daquilo era bom, muito menos normal. Eu era uma mulher
casada e alguns anos mais velha do que ele. Para Drew, tudo aquilo poderia
ser apenas uma brincadeira, afinal, ele era jovem e os jovens eram
irresponsáveis, mas, para mim, poderia custar a minha vida, tudo o que lutei
para construir ao longo dos últimos anos. Não poderia permitir que um
garoto abusado como ele me perturbasse daquela forma.
Lavei a xícara na pia da cozinha e fui para o andar de cima. Estava
com fome, mas a nova dieta que minha mãe me mandou seguir deixava
bem claro que, pela manhã, a única coisa que eu poderia tomar era uma
xícara pequena de café preto. Minha próxima refeição seria apenas o
almoço, mas eu suportaria. Já havia enfrentado dietas bem mais rigorosas
do que aquela.
Passei direto pelo espelho de corpo inteiro que ficava no quarto e
entrei no chuveiro. A água quente logo relaxou a minha musculatura tensa,
mas o nervosismo e a ansiedade não me deixaram em paz por muito tempo.
Enquanto passava o sabonete pelo corpo, não pude deixar de me perguntar
o que um garoto como Drew poderia ver em mim. Como justamente eu
poderia despertar o seu interesse? Ele era lindo, forte, todo tatuado e jovem.
Com certeza, poderia ter a mulher que quisesse, mas, aparentemente, era eu
que despertava a sua atenção.
Comecei a rir e o som de desespero ecoou pelo banheiro fechado.
Sempre sofri com a pressão da minha mãe sobre o meu corpo. Nunca
consegui chegar ao padrão que ela estabeleceu para mim desde pequena.
Durante a minha adolescência, sempre estive alguns quilos acima do meu
peso e aquilo a frustrava e desapontava de uma forma que me fazia sentir
vontade de me esconder do mundo. Pois eu sabia que minha mãe realmente
queria fazer aquilo. Ela queria me esconder, pois sentia vergonha de mim.
Ser pedida em casamento por Lincoln pareceu trazer a ela a paz que
tanto procurava. Cresci a ouvindo dizer que eu jamais conseguiria um
casamento decente por ser gorda. Que homem algum no mundo iria querer
passar o resto da vida ao lado de uma mulher preguiçosa e desleixada com a
própria aparência — sendo que sempre fiz pelo menos uma atividade física
e me esforçava para cuidar da pele e dos cabelos. Quando Lincoln apareceu
em nossa casa, no meu aniversário de dezessete anos, e fez a proposta para
o meu pai, minha mãe tomou a frente da conversa e aceitou na hora.
“Vou fazer de Rachel a esposa perfeita para você, Lincoln!”
Eu fiquei em choque. Lincoln era um conhecido dos meus pais, mas
nunca passou pela minha cabeça que um dia eu me tornaria a sua esposa.
Sempre acreditei que o casamento era um ato de amor, mas descobri da pior
forma que, para algumas pessoas, o casamento era apenas uma transação de
negócios.
Lincoln já estava viúvo há muito tempo, mas era uma figura
conhecida em Piece of Sky e não podia permanecer solteiro. A ideia de
constituir uma família era muito sólida naquela cidade pacata e a falecida
esposa de Lincoln não havia dado a ele um herdeiro, portanto, ele precisava
investir em um novo casamento e dar exemplo para a sociedade. Não sabia
dizer o que o fez me escolher, mas minha mãe sempre deixou bem claro que
eu deveria agradecer por ser tão abençoada.
Passei a madrugada inteira chorando depois que ele saiu da minha
casa.
Sentia-me tudo, menos abençoada. Lincoln sempre me pareceu um
homem frio e autoritário demais. Nada nele me atraía. Como eu poderia me
tornar a sua esposa? Ao longo daquele ano, minha mãe foi incutindo em
minha cabeça que eu não deveria reclamar, que eu deveria apenas abraçar
aquela oportunidade e fazer de tudo para que Lincoln não desistisse.
Uma semana depois de eu ter completado dezoito anos, estava
entrando na igreja da nossa cidade, de braços dados com o meu pai, e sendo
entregue a um homem por quem eu não nutria qualquer tipo de amor.
O respeito que a minha mãe queria que eu sentisse, havia nascido a
partir do medo. O medo de desapontá-la e desapontar o meu pai e
envergonhá-los. Medo do que poderia esperar por mim quando saísse
daquela igreja depois de me tornar esposa de um homem que eu mal
conhecia, apesar de ser amigo da minha família.
Oito anos se passaram desde o dia do nosso casamento e eu ainda me
sentia como a garotinha que foi levada até o altar pelo pai. Perdida,
insegura, aprisionada pelas garras da mãe e com medo de falar mais alto e
ser repreendida. A diferença, era que agora não era apenas a minha mãe que
me prendia. Lincoln também me mantinha presa com uma maestria que
chegava a superar a mulher que me colocou no mundo e me criou.
Saí do chuveiro e observei a aliança dourada em meu dedo assim que
terminei de me secar. O que aconteceria se eu a arrancasse dali? Se eu
fugisse para bem longe, onde ninguém poderia me encontrar? Eram
perguntas que eu me fazia com uma frequência cada vez menor. Os últimos
oito anos pareceram sufocar a garota que tinha sonhos e só deixaram uma
mulher fraca para trás, que havia se conformado com a vida que levava.
Talvez, fosse por isso que eu estava tão deslumbrada com a atenção
de Drew. Quem o correspondia, ainda que silenciosamente, era a menina de
dezoito anos que entrou calada, porém revoltada, naquela igreja, com uma
vontade imensa de gritar e sair correndo. Só que eu não era mais jovem e o
meu tempo de rebeldia havia passado. Eu não podia ficar dando corda para
Drew, ou ele acabaria me enforcando e eu perderia o pouco que tinha, o que
eu acreditava que ainda era seguro para mim.
Voltei para o andar debaixo já vestida e com o cabelo penteado e
parei no meio da escada quando vi a porta da sala se abrindo em um
safanão. Lincoln entrou de repente, usando uma calça social preta e uma
blusa de botões azul-marinho, que parecia apertada demais em sua barriga
proeminente. Seus olhos se chocaram com os meus e eu engoli em seco,
apertando o corrimão da escada entre os meus dedos.
— Eu avisei que chegaria hoje. Espero que o almoço esteja pronto.
Sua voz continuou a ecoar pelas paredes enquanto ele deixava uma
mala perto da porta e se virava para voltar ao carro. Meu coração sofreu um
novo solavanco, completamente diferente do que senti quando vi Drew pela
janela duas noites atrás.
Havia me esquecido de que Lincoln chegaria hoje. A única coisa que
eu tinha na geladeira, era a salada que havia preparado para mim na noite
passada.
— O que você está fazendo parada aí que nem a porra de uma
estátua, Rachel? — Lincoln vociferou, me fazendo piscar. Ele fechou a
porta atrás de si em um baque que pareceu estremecer os alicerces da casa.
— Vai colocar a comida na mesa! Foram horas de viagem até aqui, estou
com fome!
— Eu... Eu havia me esquecido de que você chegava hoje... —
Comecei a explicar enquanto descia as escadas. Lincoln me acompanhou
com o olhar severo e os lábios contorcidos em desgosto. — Mas eu posso
preparar algo rápido para você...
— Algo rápido? — Sua voz soou rouca e amargurada. — Eu faço
tudo por você. Sou um ótimo marido, apesar de você não merecer, não te
deixo faltar nada, e é isso que mereço? Algo rápido?
— Apenas porque você disse que está com muita fome, mas, se
quiser, eu posso preparar o almoço agora mesmo e...
Só senti o impacto do porta-retratos contra a minha testa. Ao menos
consegui perceber o momento em que Lincoln o tirou de cima do aparador
que ficava perto da porta e o jogou em minha direção. Um grito de susto e
dor escapou do fundo da minha garganta, enquanto eu pressionava o local
atingido e sentia o líquido quente contra os meus dedos. Meu sangue.
— Você é uma completa inútil — disse ele sem sequer sair do lugar.
Eu o olhei, sentindo a respiração ficar engatada na garganta e o sangue
correr por entre os meus dedos. — Não consigo entender o que eu tinha na
cabeça quando decidi escolher você para ser a minha esposa. Com tantas
garotas lindas e mais interessantes naquela cidade, eu optei justamente pelo
patinho feio, acreditando que você daria valor ao presente que lhe dei ao
pedir a sua mão em casamento. Eu deveria saber que fazer caridade era uma
perda de tempo. Vou comer na rua.
Lincoln se virou e saiu, voltando a bater a porta. Daquela vez, não
senti o tremor que deveria ao ouvir o impacto da madeira contra a parede,
porque eu já estava tremendo com o impacto causado em mim. Não apenas
por causa do porta-retratos que me atingiu, mas pelo pedacinho da minha
dignidade que eu senti se desgarrando da minha alma. Mais um pedacinho.
Quantos mais eu iria perder?
Em choque, peguei meu celular do bolso e pedi um carro de
aplicativo. Precisava ir ao hospital levar alguns pontos na testa.

Drew
Eu adorava a adrenalina do MC, viajar ao lado do Prez e participar
das missões, mas estar dentro da oficina, aprendendo sobre a parte
mecânica das motos, suas peças mais singulares, a diferença em cada
modelo, também estava se tornando uma paixão. Qualquer brecha que eu
tinha, acabava parando na oficina ao lado dos funcionários e absorvendo o
maior número possível de informações.
Estava ao lado de Bill Brayne, o principal restaurador dos Wolves,
aprendendo com ele como polir uma Harley de 1980, quando Pike entrou
de repente na oficina, chamando por mim. Nossa relação era de amizade e
parceria agora, mas ele demorou a me perdoar por eu ter entrado como um
infiltrado no MC, já que fui apadrinhado por ele quando deixei de ser
recruta e me tornei prospecto.
— O que houve?
— O filho da puta do novo Xerife acabou de chegar. Bruce quer
todos os membros no bar.
Trinquei a mandíbula, pensando em Rachel. Eu sabia que o babaca
havia chegado, pois vi um carro estacionado atrás da picape dela na noite
passada, mas as cortinas da sala de jantar estavam fechadas, me impedindo
de ter qualquer vislumbre do que poderia estar acontecendo lá dentro.
Cheguei a pensar em contar a novidade para Damon, mas ele com certeza
iria me fazer um monte de perguntas, querendo saber como eu obtive aquela
informação, por isso, fiquei na minha. Algo me dizia que o Xerife iria nos
fazer uma visita em breve. Eu não estava errado.
Segui com Pike até o bar, observando como Oliver estava afastado
dos demais, praticamente protegido pelos outros irmãos de patch. Lembrei-
me da sua reação quando soube que Lincoln era o novo Xerife e como
ameaçou ir embora. Aquele homem o afetava, por isso, me juntei aos outros
membros e fortaleci a barreira que separava o Executor do filho da puta.
Meus olhos bateram em Lincoln e eu tentei imaginá-lo ao lado de
Rachel. O novo Xerife era um homem alto, com uma constituição larga,
fios grisalhos nos cabelos castanho-claros e olhos frios, apesar do sorriso
forçado que ostentava nos lábios. Infelizmente, consegui assimilar
nitidamente que ele era marido daquela mulher tímida e envergonhada, que
mal saía de casa. Lincoln me lembrava Dean. A mesma expressão fria e
sardônica, os mesmos olhos analíticos, a mesma postura superior. O tipo de
homem que passava por cima de uma mulher como um rolo compressor.
Ele começou a se apresentar e a sua voz grave entrou por um dos
meus ouvidos e saiu pelo outro. Não consegui prestar atenção em qualquer
palavra, enquanto meu cérebro registrava cada um dos seus gestos. Connor
logo chegou ao MC e se juntou a Oliver, Christian pareceu rebater algo que
o Xerife disse e o babaca sorriu.
— Vim aqui apenas para me apresentar e dizer que estou na cidade.
Vou cuidar de San Martínez com a mesma dedicação com a qual sempre
cuidei da minha cidade natal, enquanto o Xerife Lawson está de licença.
Podem contar comigo para o que precisarem. Espero poder conhecer
melhor cada um de vocês no tempo em que eu estiver aqui.
Dissimulado. Aquele filho da puta era tão dissimulado quanto Dean
era e acho que todo mundo naquele bar percebeu isso. As palavras que
saíam da sua boca tinham uma nota decadente de falsidade e eu senti meus
dedos se contraírem até minhas mãos se fecharem em punhos. Lincoln sabia
sobre a verdadeira face do nosso moto-clube, isso estava claro. Só nos
restava descobrir o porquê de ele estar fingindo aquela ignorância.
O novo Xerife se despediu e um burburinho começou dentro do bar,
até a voz de Bruce se elevar:
— Filho da puta prepotente! Quero que mantenham um olho nele,
entenderam? Esse merdinha veio até aqui para passar um recado. Ele vai
tentar de tudo para foder com a nossa vida enquanto estiver no lugar de
Scott.
— Tentar e conseguir são duas coisas bem diferentes — disse
Christian.
Pensei em levantar a mão e deixar claro que eu poderia ficar de olho
em Lincoln, mas resolvi ser mais discreto quanto aquilo. Percebi que eu
poderia unir o útil ao agradável naquele momento: manter um olho em
Lincoln e em Rachel ao mesmo tempo.
Se ele fizesse qualquer mal a ela, eu iria descobrir.
Senti vontade de seguir Lincoln assim que ele deixou o MC, mas me
segurei. Eu queria ser discreto, portanto, ir atrás do filho da puta tão rápido
poderia chamar a sua atenção. Observei Oliver sair correndo em direção à
escada e Connor ir atrás dele, enquanto os irmãos se dispersavam. Damon
parou em um canto para conversar com Chris e eu fui direto ao bar, pedindo
uma cerveja para Jeff.
— Duas cervejas, Jeff! — Ralph sentou-se ao meu lado e Jeff
concordou com a cabeça, afastando-se do balcão. — Estou te achando tão
calado nesses últimos dias, Drew. O que tá pegando?
Jeff voltou com as cervejas e Ralph encostou a dele na minha antes
de dar um gole. Eu sabia como o Secretário era observador. Ele tinha olhos
de falcão e parecia estar sempre um passo a frente de todo mundo dentro do
MC.
— Só estou preocupado com tudo o que anda acontecendo, a ATF no
nosso pé, jogando essa sombra sobre o moto-clube.
— Não é a primeira vez que uma merda assim acontece, é bom que
você se acostume com isso. Sabe quando temos paz aqui dentro?
— Quando?
— Quando estamos fodendo. E, mesmo assim, é bom não relaxar
totalmente, porque uma bomba pode explodir a qualquer momento.
Eu ri, apesar de saber que Ralph não estava brincando.
— Obrigado pelo conselho, vou ficar mais atento quando estiver
entre as pernas de alguma mulher.
— Sabe que é um desperdício você ser hétero, não sabe?
— É mesmo?
— Se você me desse uma chance, eu poderia te mostrar o que dois
homens juntos são capazes de fazer em uma cama. — O idiota piscou para
mim e eu quase me engasguei com a cerveja, não por estar assustado, mas
porque sentia vontade de rir.
— Eu poderia te dar essa chance se me sentisse atraído por homens,
mas não é esse o caso, Ralph. Sinto muito.
— Sim, eu sei. Você é hétero demais, parece o seu irmão.
— Tira o meu nome da boca, porra! — Damon deu um soquinho no
ombro de Ralph assim que se aproximou de nós dois com Christian ao seu
lado. — Isso deve ser paixão encubada.
— Paixão? Madison vem enchendo muito a sua bola ultimamente,
Damon. — Ralph riu, virando-se para Christian. — E então, o que vamos
fazer em relação ao Xerife?
— Por enquanto, vamos seguir com a ordem de Bruce. Ficar de olho
nele é o melhor que podemos fazer agora. — Seus olhos seguiram até a
escada e um suspiro escapou da sua boca. — Estou preocupado com Oliver.
— Ele ainda não disse de onde conhece o Xerife? — perguntei a
Christian.
— Não. Vocês sabem que Oliver é como a porra de um túmulo.
— Tudo o que sabemos, é que Lincoln já o machucou no passado,
mas só teremos mais detalhes se Oliver nos contar — disse Damon e Ralph
soltou uma risadinha sem humor.
— Acho difícil que isso aconteça um dia.
Queria muito que Oliver se abrisse e nos dissesse de onde conhecia
aquele homem. Eu não conhecia muitos detalhes sobre o que aconteceu no
dia em que o Executor descobriu que Lincoln seria o novo Xerife e tentou
fugir, mas tinha certeza de uma coisa: um homem como Oliver jamais
demonstraria medo por alguém que não oferecesse real sentimento de
perigo para ele. E se Lincoln poderia fazer com que o nosso Executor
sentisse vontade de desaparecer, era porque boa coisa o filho da puta não
era.
Minha mente foi logo para Rachel. Era lógico que eu estava atraído
por ela, mas o fato de ser casada com um homem como Lincoln me deixava
preocupado. Minha intuição geralmente não falhava e, dessa vez, ela estava
insistindo para que eu não lhe desse as costas. E eu não daria.
Assim que anoiteceu e terminei com as minhas obrigações no MC,
fui direto tomar um banho em meu quarto. Já devidamente arrumado, desci
a escada e fui sorrateiramente até o galpão que ficava do lado do MC, onde
guardávamos os carros e as motos reservas. Peguei um dos carros e saí sem
chamar a atenção dos irmãos. Dois prospectos que faziam a segurança do
lado de fora me viram dentro do carro, mas não me preocupei com eles.
Eles poderiam dar com a língua nos dentes para algum membro da diretoria,
mas eu arrumaria uma desculpa para ter pegado o carro sem avisar.
O que me fez optar pelo automóvel, foi a discrição. Lincoln jamais
poderia ver um motoqueiro dos Flame Wolves parado em frente à sua casa,
principalmente se a nossa suspeita estivesse correta e ele soubesse que nós
cometíamos crimes. O carro iria me proteger das vistas do filho da puta e
também me permitiria ficar parado perto da sua casa por mais tempo.
Dirigi até a sua rua, parando do outro lado da calçada, metros depois
de um poste para não chamar tanto a atenção. Os vidros das janelas eram
protegidos por uma película escura, o que ajudava bastante a me camuflar.
Naquela noite, as cortinas estavam afastadas e o binóculo que levei comigo
me dava uma visão ampla da sala de jantar vazia.
Meia hora se passou até eu ter o primeiro vislumbre de Rachel.
Assim que a vi entrar na sala de jantar, usei o binóculo e observei o
momento em que colocou uma travessa na mesa. Ela estava linda com os
cabelos soltos e usando um vestido verde-água. Em poucos segundos ela se
afastou, mas logo apareceu de novo trazendo mais uma travessa e eu pude
observá-la melhor. Meus olhos se estreitaram quando percebi que havia
algo em sua testa, bem próximo a raiz dos seus cabelos do lado esquerdo do
rosto. Parecia um curativo.
Fiquei tenso e senti os meus dedos protestarem quando apertei o
binóculo com força. Logo Lincoln apareceu e se sentou à cabeceira da
mesa, de costas para mim. Rachel se sentou do seu lado direito e percebi
que começou a servi-lo, enquanto o babaca abria o que parecia ser um
guardanapo de pano. Em que século ele vivia, porra?! Rachel colocou o
prato na sua frente e logo começou a se servir.
Em poucos segundos, ele começaram a comer. Rachel estava sentada
como uma tábua, reta, mexendo apenas as mãos e a boca ao mastigar. De
repente, seus olhos se voltaram para Lincoln e, mesmo de longe, pude
perceber que eles estavam arregalados. Um momento depois, ela deu um
salto sobre a cadeira quando o punho de Lincoln se chocou contra a mesa.
Ele se levantou e ela também. Rachel pareceu abrir a boca, como se
estivesse tentando se defender, mas mal teve tempo de falar alguma coisa
quando o punho dele se chocou contra a sua bochecha.
Eu estremeci. O binóculo caiu no assoalho do carro quando levei
meus dedos da mão direita à arma que enfiei em minha calça antes de sair
do MC. Um sinal de alerta explodiu em minha cabeça e eu saí do carro sem
pensar, só então me dando conta de que eu não poderia fazer nada. Não
naquele momento, ainda que cada nervo dentro do meu corpo me
implorasse para arrombar a porta daquela casa e meter uma bala na cabeça
daquele filho de uma putinha.
Minha frustração foi tão grande, que só percebi que eu havia dado
um soco na porta do carro, quando a dor irradiou pelo meu braço até o
ombro, mas nem isso diminuiu a minha fúria. Lincoln jogou o guardanapo
sobre a mesa e saiu da sala de jantar, deixando Rachel sozinha, com uma
mão sobre o local onde havia sido atingida. Flashes da minha mãe passando
pela mesma situação explodiram na minha mente. Dean gritando e a
esmurrando, enquanto ela chorava e implorava para que ele parasse, só que
ele nunca parava.
Ele só parava quando sentia vontade. Ou quando se cansava.
Pisquei bem forte e fechei as mãos em punhos, sentindo a dor
provocada pelo soco no carro. Ela foi essencial naquele momento. Trouxe-
me de volta ao presente e me fez voltar a entrar no veículo e tatear o
assoalho até encontrar o binóculo. Minhas mãos tremiam quando voltei a
posicioná-lo na frente do meu rosto. Rachel ainda estava parada no mesmo
lugar, só que se apoiando no encosto da cadeira onde estava sentada
minutos antes.
Seus olhos estavam fixos na mesa. Ela mal parecia respirar. Pude
perceber que não chorava, mesmo com o canto dos lábios sangrando.
Aquele filho da puta havia arrancado sangue dela.
— Vamos lá, Rachel, reaja — pedi entredentes, apertando o binóculo
com força. — Saia dessa casa... Deixe-me tirá-la dessa casa.
Deixe-me fazer por você o que não pude fazer pela minha mãe.
Como se estivesse me ouvindo, Rachel reagiu. Só que não do jeito
que eu queria. Do jeito que deveria. Ela começou a tirar as travessas da
mesa, depois a jarra de suco, os pratos e talheres. Em momento algum
parou para estancar o sangue ou se olhar no espelho. Era como se ela já
estivesse acostumada com aquilo e eu senti dentro do meu peito que ela
estava. Como a minha mãe se acostumou a ser o saco de pancadas de Dean.
Após limpar a mesa, Rachel apagou as luzes da sala de jantar e sumiu
do meu campo de visão.
Foi daquele jeito que a noite terminou para mim. Testemunhando
mais uma mulher sofrer nas mãos de um homem covarde.
Só que daquela vez, eu não ficaria quieto.
Eu salvaria Rachel Marie.

Despertei de repente, ouvindo o toque estrondoso do meu celular.


Senti minha coluna protestar quando me sentei no susto, xingando ao abrir
os olhos e ser atacado pelo sol. Levei um minuto inteiro para entender onde
eu estava e o que precisava fazer.
Atender o celular.
Tateei o meu bolso e encontrei o aparelho, vendo vagamente o nome
de Damon na tela.
— Oi. — Minha voz saiu rouca pelo sono e pela garganta seca.
— Drew, posso saber onde você se enfiou, porra?!
Olhei a minha volta, vendo a rua de Rachel. Um vizinho saiu de casa
com uma bicicleta e o carro de Lincoln ainda estava estacionado atrás da
picape.
— Eu dormi com uma garota.
— Você usou um carro do moto-clube para sair com uma garota?
Prospectos fofoqueiros!
— Ela tem medo de moto.
— Puta merda, Drew! Custava avisar? Você saiu sem o colete, ou
seja, sequer conseguimos rastrear a sua localização!
Logo percebi que a irritação de Damon era proveniente da
preocupação e senti algo se retorcer em meu peito. Eu gostava quando meu
irmão se preocupava comigo.
— Desculpa. Eu não achei que ia passar a noite fora. — Pelo menos
aquela parte era verdade.
Eu sabia que deveria voltar para o moto-clube, mas não consegui.
Senti medo de que Lincoln continuasse a brigar com Rachel e decidi passar
a noite ali. Se eu ouvisse qualquer grito dela, invadiria aquela casa sem
pensar duas vezes. Acabei pegando no sono sem perceber.
— Tudo bem. Da próxima vez, me manda pelo menos uma
mensagem.
— Pode deixar, papai.
— Vai se foder, moleque.
Eu ri e Damon encerrou a ligação. Espreguicei-me, sentindo cada
músculo do meu corpo protestar pela noite mal dormida, e voltei a usar o
binóculo. Para a minha surpresa, Lincoln e Rachel estavam tomando café da
manhã. Eu queria ficar ali e esperar uma oportunidade para poder bater na
porta e pedir para que Rachel conversasse comigo, mas achei prudente ir
embora antes que Lincoln saísse para trabalhar. Se ele tivesse observado o
carro parado na rua ontem à noite e desse de cara com ele naquela manhã,
com certeza poderia suspeitar de alguma coisa.
Dei partida e saí dali com o coração apertado, mas prometendo a
mim mesmo que eu voltaria muito em breve.

Tirei o salmão do forno e observei a tela do meu celular. Havia cinco


ligações perdidas da minha mãe e pelo menos vinte notificações de
mensagens que eu não estava com a menor disposição para ler. Eu queria
me libertar, pelo menos por um tempo, das amarras que me prendiam, e
minha mãe era uma das minhas carcereiras mais fiéis. Ela não me deixava
respirar nunca, ainda que estivesse a quilômetros de distância.
Meu celular voltou a tocar enquanto eu preparava a salada. Quis
bufar em frustração, mas meu maxilar ainda estava dolorido pelo que havia
acontecido na noite anterior e me poupei de sentir dor. Podia imaginar que
minha mãe ia querer fazer uma chamada de vídeo assim que eu atendesse, o
que me fez apertar o botão lateral do celular para silenciar a ligação. Não
queria ter que inventar que caí e bati com o rosto na maçaneta da porta,
apesar de eu achar que minha mãe não acreditava em nenhuma das minhas
desculpas.
Ela sabia a verdade e simplesmente não se importava.
— Rachel! Cadê o jantar? Estou faminto!
Estremeci ao ouvir a voz de Lincoln e precisei respirar fundo para
não seguir a minha intuição e sair correndo. Por um momento, cheguei a
pensar que a mudança para San Martínez o deixaria mais maleável, mas
estava acontecendo justamente o contrário. Lincoln estava mais nervoso e
impaciente do que o normal. Eu sabia o que acontecia quando ele ficava
assim. Meu rosto era a prova viva do que a sua explosão era capaz de
causar.
Ao invés de responder, entrei na sala de jantar com o salmão,
observando-o já em seu lugar à mesa. Infelizmente, Lincoln era apegado
demais aos bons costumes e raramente jantava fora. Ele parecia nutrir
algum tipo de prazer mórbido em se sentar à mesa à noite e compartilhar
uma refeição. Eu teria apresso por esses momentos se ele ao menos fosse
educado comigo. Eu não esperava receber ou nutrir amor por ele quando
nos casamos, mas fui ingênua ao pensar que, como sua esposa, receberia o
seu respeito.
Lincoln nunca me respeitou. Em seus olhos, sempre vi certo
desgosto, que foi aumentando ao longo dos anos. Minha mãe acreditava que
era porque eu era gorda, meu pai achava que era porque eu ainda não tinha
dado a Lincoln um filho. Eu achava que era porque ele me odiava, o que
sempre me fazia questionar — apenas para mim mesma, logicamente — o
porquê de ele ter insistido para se casar comigo. E porque ele nunca tinha
falado a palavra divórcio a cada vez que gritava ou erguia a mão para mim.
Terminei de colocar as travessas na mesa e comecei a servi-lo.
Minutos depois, estávamos comendo em silêncio, como na noite passada.
Eu sabia que o salmão estava delicioso, mas, na minha boca, ele tinha gosto
de papel. Meu coração estava disparado e as palmas das minhas mãos
suavam. Eu odiava perder o controle de mim mesma, mas sentia a tensão de
Lincoln me atingir em ondas invisíveis. Só podia torcer para ele não
descontar em mim a frustração que parecia estar sentindo.
— Sua mãe me ligou.
O filé de salmão não tinha espinha. Ainda assim, senti como se uma
espinha enorme tivesse acabado de se alojar em minha garganta. Consegui
engolir a comida com muito esforço conforme erguia meu rosto para
Lincoln e encontrava seu olhar severo sobre mim.
— Ela me perguntou se você esteve ocupada hoje, pois não atendeu
nenhuma das suas ligações. Confesso que fiquei intrigado.
— Com o quê?
— Com o que poderia estar ocupando tanto o seu tempo, já que você
é claramente uma inútil. — Lincoln pousou os talheres sobre o prato e me
olhou sem piscar. — Sua mãe me ligou no meio do meu horário de
expediente, Rachel. Você imagina um homem na minha posição, tendo que
deixar de proteger os habitantes dessa cidade, para ter que atender o
telefonema de uma sogra descontente por não ser atendida pela própria
filha?
— Eu... Eu ia retornar as ligações dela antes de dormir. Não imaginei
que minha mãe o perturbaria com isso...
— Ela não precisaria me perturbar se você atendesse a porra do
celular! — Sua voz grave ecoou pela sala de jantar e eu ofeguei.
— Eu sinto muito, Lin...
As palavras ficaram presas em minha garganta quando ele se esticou
sobre a mesa e pegou a minha mandíbula entre os dedos. O lado machucado
pelo soco da noite anterior doeu como o inferno, mas eu não soltei nem um
gemido.
— Esse é o seu problema, Rachel! Você sempre “sente muito”, mas
nunca se empenha o suficiente para fazer qualquer coisa direito! Não serve
para fazer uma comida decente, para deixar a casa limpa, para atender às
ligações da sua mãe ou para me dar a porra de um filho!
— Como quer... Que eu engravide se ao menos... toca em mim?
Eu sabia que não deveria falar nada, mas toda vez que Lincoln jogava
em minha cara a minha incompetência em lhe dar um filho, eu não
conseguia me conter. Até onde eu sabia, só havia duas formas de
engravidar: através do sexo ou de uma inseminação artificial. O segundo
modo estava fora de cogitação para Lincoln e o primeiro, bem... O primeiro
simplesmente não acontecia entre nós dois há anos. Eu agradecia por isso
silenciosamente todas as noites antes de dormir.
— Como quer que eu toque em você quando está toda gorda desse
jeito? Homem algum sente tesão por isso! — Ele me largou com violência e
minha cabeça ricocheteou para trás.
Eu senti um calor bem no centro do meu peito. Uma chama que
sempre se acendia quando falavam sobre a minha aparência. Geralmente,
ela perdia a força com muita facilidade, mas algo estava diferente dentro de
mim naquela noite. Talvez, porque eu estivesse cansada de ser tratada
daquele jeito por Lincoln. Ou, talvez, por eu ter sonhado com Drew naquela
madrugada. No sonho, ele sorria daquele jeito arrogante para mim e me
olhava como se quisesse me deixar nua e me devorar. Era como se eu fosse
a mulher mais bonita da face da Terra.
Ele não via a Rachel gorda e desleixada. Ele via uma pessoa
diferente. Ele via quem eu queria ser. Estava cansada demais de ser essa
Rachel presa, agredida e silenciada. Estava cansada de ser a mulher que
minha mãe havia me criado para ser.
— Às vezes, fico me perguntando se você realmente sente atração
por mulheres, Lincoln. Depois que o peguei se masturbando enquanto
assistia um pornô gay, comecei a me questionar se o problema está em você
e não em mim.
Aquele era um assunto proibido entre nós dois. Meses após o nosso
casamento, flagrei Lincoln dentro do seu escritório em nossa casa, se
masturbando enquanto assistia dois homens transando pela tela do
computador. Foi uma cena que nunca esqueci e que me fez entender
algumas coisas. Como, por exemplo, o fato de ele só ter me tocado na noite
de núpcias até então. O sexo durou exatamente quatro minutos e quarenta
segundos. Foi o tempo de ele me penetrar, eu sentir uma dor horrível, e ele
ejacular dentro de mim. Foi traumatizante e nada parecido com as cenas que
eu lia em livros de romance.
“Isso nunca aconteceu, você ouviu, Rachel? Se um dia você contar
para alguém o que viu aqui, vai se arrepender.”
Eu nunca contei, mas também nunca me esqueci. Pela vermelhidão
que tomou conta do rosto de Lincoln agora, ele também não havia se
esquecido. Eu sabia o que viria antes mesmo de ele se levantar da cadeira e
estalar um tapa dolorido na minha cara. Talvez, por estar preparada, não
doeu tanto quanto deveria. Ele parecia saber disso, pois me deu um novo
tapa do outro lado do rosto, e então, mais um na área já terrivelmente
dolorida pelo soco da noite anterior. Lincoln tomou meus cabelos perto da
nuca e apertou com força, ao ponto de eu perder a visão por um segundo.
— Eu deveria te arrastar pelos cabelos e te dar uma surra da qual
você jamais se esqueceria, Rachel! — Sua saliva espirrou em minha
bochecha e os meus olhos se encheram de lágrimas. Não pisquei. Não
deixaria que elas escorressem pelo meu rosto enquanto eu estivesse em sua
presença. — Mas não quero me cansar, não hoje à noite. Considere-se com
sorte, mas não pense que vou me esquecer dessa afronta. Você vai pagar
caro por ter me desafiado, Rachel. Tenha isso em mente.
Lincoln me largou e voltou a se sentar à mesa. Lentamente, ele
cortou um pedaço do salmão e voltou a comer. Eu já não tinha qualquer
apetite e sabia que não conseguiria mastigar por conta da dor, por isso,
apenas aguardei em silêncio ele terminar a refeição. Horas pareceram se
passar até Lincoln limpar o prato, terminar de tomar o vinho em sua taça e
se levantar da mesa. Só consegui voltar a respirar quando me vi sozinha.
Ao invés de chorar, eu tive vontade de rir. O desespero se misturou
ao alívio, pois, pela primeira vez em anos, eu realmente me senti leve,
apesar de ter apanhado mais uma vez. Estava leve por ter falado o que
estava entalado há anos em minha garganta. Em minha alma. Todos me
culpavam por não ter dado um filho àquele homem, mas eu apenas
agradecia.
Não seria justo colocar no mundo uma criança fruto daquela relação
terrível. Eu poderia suportar qualquer coisa — surras, humilhações,
privação de liberdade —, mas jamais conseguiria suportar a dor de ver o
meu filho ou filha, passar por algo parecido com o que eu passava dentro
daquela casa. E eu sabia que Lincoln não pensaria duas vezes em fazer
daquela criança um novo saco de pancadas.
Levantei-me devagar e cambaleei um pouco devido a dor. Uma brisa
leve soprou pela janela aberta e eu respirei fundo, me aproximando sem
pensar muito, apenas para sentir o vento fresco em meu rosto, pois a pele
ainda pegava fogo devido aos tapas. Apoiei-me no batente da janela e
fechei os olhos por um momento, mentalizando o que eu faria se pudesse
sair daquela casa e não voltar nunca mais. Eu aproveitaria a minha
liberdade. Faria de tudo para continuar a sentir aquele vento em meu rosto
sem ter qualquer peso em meu peito, qualquer amarra que pudesse me
prender. Eu faria tanta coisa... Ao mesmo tempo, não faria nada.
Eu deixaria a Rachel para trás.
Seria Marie, uma mulher diferente. Uma mulher livre.
Abri os olhos, voltando ao mundo real e dando de cara com o
sinônimo de liberdade bem ali, a poucos metros de distância de mim. Sob a
sombra, em sua moto aterrorizante, estava Drew. Mesmo de longe, eu podia
ver seus olhos sérios sobre mim, sem aquela leveza e ousadia que lhe eram
características. Bem no fundo do meu ser, eu sabia o motivo para ele estar
daquele jeito.
Ele tinha visto o que Lincoln havia feito comigo. Não era uma
dúvida. Ele sabia.
A leveza que eu estava sentindo foi embora sem que eu percebesse e
o peso que tomou conta do meu peito, afundou o meu coração. Senti meu
rosto voltar a pegar a fogo, mas, dessa vez, por um motivo diferente. A
vergonha se infiltrou pelo meu sangue e me fez dar um passo para trás. Vi o
momento em que Drew saiu da moto e pareceu querer atravessar a rua, mas,
antes que eu pudesse testemunhar aquilo, fechei a janela e puxei as cortinas.
Escondi-me dele e voltei a me esconder de mim mesma.
Nunca mais queria olhar para Drew de novo.
Observei o saco de pancadas na minha frente e visualizei o rosto de
Lincoln. Suas sobrancelhas levemente franzidas, a expressão debochada, os
olhos dissimulados. Meus punhos se chocaram contra o couro com a mesma
força que eu queria golpear a sua cara. A sucessão de socos e chutes não
tiraram nem meio por cento da minha frustração, mas serviu para limpar um
pouco a minha mente e clarear as minhas ideias.
Conversar com Oliver no dia anterior não tinha adiantado de nada.
Pensei que, ao contar para ele que Rachel sofria nas mãos daquele Xerife
desgraçado, o Executor soltaria algum podre sobre ele, mas citar o nome do
infeliz só fez com que Oliver surtasse e sumisse das minhas vistas. Isso não
me faria desistir, no entanto. Eu ia partir para cima daquele filho da puta e
ajudaria Rachel a se livrar daquele espancador de merda.
Por isso, antes de vir para a academia, resolvi conversar com Connor.
Ele, talvez acima de qualquer pessoa naquele MC, era o mais interessado
em se livrar de Lincoln por causa do Oliver, portanto, sabia que aceitaria a
minha ajuda para pegarmos o Xerife. Apesar da surpresa em descobrir que
eu estava atraído por Rachel, Connor foi compreensivo quando contei sobre
a agressão que ela sofria e aceitou a minha oferta sem maiores
questionamentos.
Ralph aparecer no meio da nossa conversa foi só um desvio de
percurso. Esperava que o Secretário conseguisse guardar aquela informação
para si mesmo, pois a sua fama de fofoqueiro era bem conhecida dentro do
MC.
— Posso saber o que o pobre coitado do saco de pancadas fez contra
você?
Só percebi que Maddy estava na academia, quando parou ao meu
lado com um sorrisinho desconfiado. Percebi de relance que ela usava
roupas próprias para fazer exercícios físicos e que segurava uma garrafa de
água. Golpeei o saco mais uma vez, sentindo meus músculos pegarem fogo.
— Infelizmente, não posso socar a cara do filho da puta que está me
irritando, então, o saco de pancadas vai ter que sofrer por ele.
— Parece que essa pessoa fez alguma coisa muito grave contra você.
— Ela deixou a garrafa no chão e se aproximou por trás do saco,
segurando-o. Precisei diminuir a pressão do soco, pois senti medo de que
ela perdesse o controle do saco de pancadas e acabasse sendo atingida por
ele. — Às vezes, conversar também ajuda a liberar a frustração.
— Tentei conversar ontem... E não deu em nada.
Obviamente, eu não podia chamar o que tive com Oliver de conversa,
mas eu realmente tentei. Achei que poderia sair algo dali.
— Mas não tentou conversar comigo. Eu sou uma ótima ouvinte e
dou conselhos incríveis, sabia?
Observei Maddy atrás do saco, sentindo o suor pingar pelo meu rosto
e banhar a minha camiseta. Eu sabia que ela era mesmo uma boa ouvinte,
mas nada me tirava da cabeça que era um risco envolver Madison naquela
história. Se ela desse com a língua nos dentes perto de Damon, eu estaria
fodido.
Afastei-me do saco de pancadas e puxei o velcro da luva com os
dentes, livrando-me delas. Com a respiração ofegante, peguei a minha
garrafa de água e dei um gole, tentando me livrar da secura na garganta.
— Posso adivinhar o motivo de você estar assim?
— Se eu disser que não, vou te impedir? — Arqueei uma sobrancelha
e Madison riu, sacudindo a cabeça. — Então, não precisava nem ter me
feito essa pergunta.
— Eu sei que não, só queria soar educada. — Maddy era mesmo uma
figura. — O motivo é uma mulher. Acertei?
Eu não achava que era possível esconder qualquer coisa da esposa do
meu irmão.
— Talvez.
— Ok, é uma mulher. — Ela sorriu ainda mais, satisfeita por ter
acertado. — Por que ela te deixou assim? Não quer mais sair com você?
Lembro que Damon disse que você pegou o carro do MC para sair com
uma garota essa semana... É ela?
— Por que Damon é tão fofoqueiro?
— Ele não é fofoqueiro, apenas não existe segredo entre nós dois.
— E é por isso que eu não vou te falar nada. — Deixei bem claro,
vendo a surpresa em sua expressão. — Porque eu sei que você vai contar
tudo para o meu irmão.
— Por que Damon não pode saber sobre a sua vida amorosa? Está
querendo alguma mulher proibida, Drew? — Ela sorriu, mas, ao receber o
meu silêncio como resposta, voltou a ficar surpresa. — Quem é ela?
— Não vou dizer.
— Vai dizer, sim! Que mulher seria essa? Não consigo pensar em
ninguém que seja proibida para você, além de mim, é claro. Ou a Maya.
Meu Deus, você está apaixonado pela Maya?
Madison praticamente gritou. Graças a Deus a academia ficava na
parte de trás do MC.
— Lógico que não. De onde você tirou isso?
Maya era realmente uma mulher linda, mas era noiva de Christian.
Eu jamais a olharia de forma desrespeitosa ou nutriria por ela qualquer
sentimento além de amizade e respeito. Eu tinha muito amor à minha vida.
Christian cortaria a minha cabeça se eu olhasse de forma errada para a
mulher dele.
— Estou indo por eliminação. Se não sou eu ou a Maya, quem
poderia ser? — Madison ficou em silêncio por alguns segundos, enquanto
eu terminava de secar a minha garrafa de água. — A mulher de algum dos
nossos inimigos? Estou indo pelo caminho certo?
— Por que quer tanto descobrir sobre isso, Maddy?
— Porque é algo que está te afetando e eu me importo com você!
Percebi como está tenso nesses últimos dias, desaparecendo do nada,
passando a noite fora... Damon também está preocupado.
— Avise ao Damon que eu deixei de ser uma criança há muito
tempo.
— Ele sabe disso, por isso que não está em cima de você, não quer se
intrometer demais na sua vida, mas ele se preocupa mesmo assim. — Não
podia julgar o meu irmão, pois eu também me preocupava e me importava
demais com ele. — Se você não quer que ele saiba, é porque Damon
realmente tem razão em ficar preocupado.
— Ele não tem. Não estou fazendo nada.
Ainda.
Bom, tecnicamente, eu realmente não estava fazendo nada. Observar
a interação de Rachel e Lincoln durante duas noites não poderia ser
considerado como um ato grave. E agora ela mantinha as cortinas fechadas,
o que me impedia até mesmo de bisbilhotar enquanto eles jantavam.
Percebi que Madison ainda estava tentando adivinhar quem ela era, quando
voltou a pesar as opções em voz alta.
— Apenas dois inimigos vieram à minha cabeça agora. Jason e o
Xerife. Não acredito que você esteja a fim da tal da Cindy, amante de Jason,
porque nem ao menos sabemos em que buraco ela se enfiou, então, só resta
o Xerife. Sei que ele é casado, mas nunca vi a esposa dele em lugar algum...
Você já a viu?
— Maddy... Deixa isso para lá, sério.
— Você já a viu, não viu? — Vi o momento em que a desconfiança
em seu olhar se transformou em uma certeza. — Meu Deus, você já a viu!
Drew, não me diga que...
— Eu não estou dizendo nada — falei, já me afastando. Precisava
sair dali, ou Madison arrancaria uma confissão minha na marra. — Só
esqueça isso, Maddy.
— Não, nem pensar! — Ela correu e parou na minha frente, me
impedindo de chegar na porta. Seus olhos se arregalaram. — Meu Deus! É
ela! A mulher casada sobre a qual conversamos naquela noite no bar.
Quando Damon me disse que você tinha passado a noite com uma garota,
achei que tinha deixado a mulher casada de lado, mas vejo que me enganei.
Você está a fim da mulher do Xerife, Drew? É isso?
Havia um sorriso em seu rosto, o que me deixou surpreso pra
caralho.
— Por que está sorrindo desse jeito? Se o que está dizendo for
verdade, você deve imaginar o quanto eu estarei fodido.
— Ah, eu estou imaginando, sim, pode ter certeza. — Ela riu e deu
um tapinha em meu ombro. — Não acredito, Drew! Por que você não pode
escolher uma mulher livre e desimpedida para se interessar?
Eu sabia que não conseguiria fugir. Madison era inteligente e
insistente, ela me faria falar de uma forma ou de outra.
— Eu não sei, juro que não sei.
— Meu Deus, então é isso! Você quer mesmo a mulher do Xerife.
Drew, você é doido?
— Talvez eu seja.
— Talvez? — Maddy agora estava boquiaberta. Ainda havia um
traço de diversão em seu olhar, mas a incredulidade e a preocupação eram
maiores. — Se envolver com a mulher do Xerife é como pegar uma arma e
apontar para a cabeça de todos os membros do moto-clube.
— Calma, eu não estou me envolvendo com ela.
— Ainda. Sei como você é persistente, não vai desistir até ela cair
nos seus braços.
— Não é tão simples assim, Maddy...
— Connor leu uma matéria sobre o Xerife uns dias atrás. Já sabemos
que ele é casado com uma mulher bem mais nova, então, eu acho que ela
não vai lutar muito antes de se deixar ser seduzida por você. Aquele velho
asqueroso deve ser muito ruim de cama, Drew.
Eu sacudi a cabeça, pensando que, se eu não soubesse sobre a
realidade de Rachel, provavelmente estaria rindo das palavras de Madison.
— Ela não vai cair nos meus braços tão fácil assim, Maddy.
— Sim, talvez demore um pouco, mas...
— Ele bate nela. — A boca de Madison voltou a se abrir assim que
joguei a bomba em seu colo. — Eu testemunhei o filho da puta socando a
cara dela em uma noite e dando tapas nela em outra. Ela sente medo dele e
tem se escondido de mim. Rachel Marie é uma vítima daquele desgraçado.
Madison apoiou a mão sobre o peito e deu um passo para mais perto
de mim, usando a mão livre para apertar o meu ombro.
— Drew... Eu nem sei o que dizer. Claro que todos nós
desconfiávamos de que o Xerife não valia nada pela reação do Oliver, mas
bater na própria esposa? Isso é muito grave.
— Eu sei. — As palavras saíram por entre os meus dentes, pois
precisei apertar a mandíbula para diminuir a minha raiva. — Preciso fazer
alguma coisa para tirar Rachel das mãos dele, Maddy.
— Nós vamos fazer. — Ela me olhou bem sério, como naquela noite
em que estava decidida a matar Dean. — Vamos acabar com o Xerife e
livrar Rachel desse relacionamento abusivo, Drew.
— É a única coisa que eu quero. Não me importo se vou conseguir
beijar a boca dela depois disso, o que importa, é livrá-la dele.
Madison finalmente voltou a sorrir, mas foi de uma forma diferente.
— Você não está apenas atraído por ela, não é?
— Como assim?
— Não se faça de desentendido! Você está gostando dela de verdade,
Drew.
— Não sei se estou. Só sei que me sinto muito atraído e que ver
Rachel nessa situação me lembra muito da minha mãe. Ela também sofreu
demais nas mãos de Dean e eu não pude fazer nada para ajudá-la. Quero
ajudar Rachel a se ver livre daquele espancador de merda.
— É muito nobre da sua parte. Rachel tem muita sorte de você ter
entrado no caminho dela.
Eu senti meu rosto ficar quente, mas fiz de tudo para pensar que era
por causa dos socos que dei no saco de pancadas e não por estar
envergonhado.
— Por favor, não conte nada para o Damon. Sei que é injusto pedir
isso a você, mas com certeza meu irmão não será tão compreensivo quanto
você está sendo.
— Realmente, ele não será. — Maddy soltou um suspiro. — Não
gosto de esconder nada do Damon, mas é por uma boa causa, então, não
falarei nada, só quero te dar um conselho. Não demore muito a falar com
ele. Sei que Damon é cabeça-dura, mas vai entender a sua posição quando
você contar o que Rachel passa nas mãos de Lincoln.
Sabia que meu irmão jamais seria indiferente à situação de Rachel,
mas não acreditava que ele entenderia a minha atração por ela, por isso,
apesar de concordar silenciosamente com Madison, continuei firme na
minha decisão de manter Damon alheio à toda aquela história.
Passei a tarde liderando os prospectos que desovaram o corpo de um
filho da puta que escondeu informações importantes do MC. Taylor era
dono de um motel onde funcionava um cassino clandestino.
Estabelecimentos do tipo pagavam uma taxa por mês ao MC para
continuarem em funcionamento e recebendo a nossa proteção, mas o babaca
achou que seria prudente não enviar o dinheiro naquele mês. Christian,
Ralph e Oliver foram cobrar a dívida e o idiota acabou soltando uma
informação importante.
Ele sabia que a ATF ia bater no MC, mas não nos contou. De um
simples devedor, o babaca passou a ser um traidor e agora estava sendo
desovado no meio da mata, em um buraco fundo demais para que fosse
descoberto algum dia.
Assim que os meninos terminaram, já com a noite alta no céu,
voltamos para a estrada. O sinal de celular se restabeleceu e percebi que
Damon havia me enviado uma mensagem há quarenta minutos.
“Vamos nas docas. Quero que fique no MC e ajude Pike no que
precisar.”
Damon não precisava me dar mais detalhes do que aquilo. Sabia que
iriam atrás do babaca que vendeu informações para o agente da ATF. Enviei
um “ok” para o meu irmão e pedi para que tomasse cuidado, mesmo
sabendo que ele era o melhor no que fazia. Voltei ao MC com os meninos,
percebendo que o bar estava em pleno funcionamento. Alguns clientes
bebiam em mesas e outros no balcão. Depois de pegar uma cerveja, sentei-
me em um canto e fiquei observando as docinhos passando de um lado para
o outro com bandejas cheias de cerveja, uísque e tequila.
Não me lembrava da última vez que havia trepado. Com certeza, foi
antes de Rachel chegar à cidade, e aquilo me assustou. Estava tão obcecado
por ela, que simplesmente não tinha olhos para outras mulheres, e eu vivia
cercado por elas dentro do MC.
“Você está gostando dela de verdade, Drew.”
As palavras de Madison voltaram à minha mente e eu tomei um
longo gole de cerveja para dissipar a sensação estranha que tomou conta do
meu peito. Será que eu estava mesmo gostando de Rachel de verdade?
Como, se eu ao menos tinha tocado nela ou dado um beijo em sua boca? Eu
estava atraído, claro, mas não ao ponto de estar apaixonado... Certo?
Observei Jess parar ao meu lado e entregar uma comanda para Jeff.
Ela se virou para mim, sorrindo animada. Estava bem gostosa usando um
shortinho curto e um top que valorizava os seus seios e deixava a barriga de
fora.
— Por que está tão desanimado, Drew?
— Não estou desanimando, apenas preocupado.
Seu sorriso enfraqueceu enquanto ela olhava rapidamente à nossa
volta. Assim que percebeu que não havia nenhum desconhecido perto o
suficiente de nós dois, se inclinou em minha direção e disse com a voz
baixa:
— Sabemos que os irmão saíram em uma missão decisiva hoje, mas
não se preocupe, vai dar tudo certo.
A lealdade das docinhos foi algo que me surpreendeu muito quando
cheguei ao MC. Demorei a entender como funcionava aquela dinâmica
entre elas e os irmãos e me surpreendi ao perceber que o respeito que
nutriam por eles não era proveniente do medo. Pelo contrário. O MC salvou
aquelas mulheres de uma vida cruel e as protegiam de verdade. Por isso elas
eram tão leais ao lobo de fogo.
— Vai, sim. Eles vão voltar inteiros.
E com uma informação de quem estava querendo foder com a gente.
Jess sorriu e voltou a pegar a bandeja, agora cheia de pedidos.
— Se quiser relaxar depois que eles voltarem, é só falar comigo.
Após me dar uma piscadela, a docinho se afastou, rebolando
discretamente a bunda conforme andava. Eu jamais seria indiferente a uma
mulher bonita, mas percebi que havia algo de errado comigo quando não
senti qualquer entusiasmo em transar com ela. Já havia ido para cama com
Jess, sabia como ela era quente e receptiva, mas não era aquilo que eu
queria.
A imagem de Rachel Marie invadiu a minha mente pela milésima vez
naquele dia, fazendo o meu pau se contorcer de leve dentro da calça. O
filho da mãe, ao contrário de mim, não tinha a menor dúvida quando aquela
mulher atravessava os meus pensamentos. Meu peito poderia estar dividido,
mas meu pau, que parecia ter vida própria, sabia muito bem o que queria.
Ele queria Rachel Marie, mesmo que nós dois soubéssemos que não
poderíamos tê-la.
Ainda.
Não foi uma surpresa descobrir que era Lincoln quem estava por trás
da visita da ATF ao MC. Foi a sua ousadia de se meter conosco que deixou
cada um dos irmãos furiosos. Naquela manhã de domingo, após fazerem o
funcionário das docas confessar para quem tinha dado com a língua nos
dentes, o clima no moto-clube estava tenso. Meu irmão tomava um copo
grande de café em silencio, mas estava escrito em sua cara que preferia
estar tomando uma dose de uísque.
— Agora que sabemos que aquele filho da puta está por trás de tudo,
quais serão os próximos passos? — perguntei a ele, aproveitando que
estávamos sozinhos em uma mesa do bar.
— Vamos ter uma reunião no Covil daqui a pouco para definir isso,
mas espero que o próximo passo seja matar o imbecil.
Senti minhas mãos coçarem. Queria muito participar daquilo.
— Pode contar comigo para isso — falei, tentando não soar ansioso
demais. — Eu vou adorar me divertir um pouco com aquele desgraçado.
— Imagino que sim. — Por um momento, achei que meu irmão ia
falar que sabia exatamente o porquê de eu querer tanto pegar Lincoln, mas
ele logo completou: — É o desejo de todo mundo aqui. Nossa hora vai
chegar, Drew.
— Vamos derrotar esse desgraçado. — A certeza em minha voz fez
Damon dar um sorrisinho.
— É bom ver que você se tornou um Flame Wolves de verdade,
irmão.
Sim, eu havia mesmo me tornado, ainda que meu desejo de matar
Lincoln não tivesse a ver apenas com o MC.
— Sou leal ao lobo de fogo assim como você, Damon.
— Eu sei, moleque. — Ele se esticou e deu um aperto em meu
ombro. — Amo você. Só queria que soubesse disso.
Senti a minha garganta comichar, mas logo ignorei a sensação.
— Também amo você.
“Mesmo sabendo que você iria me matar se soubesse como estou
envolvido pela esposa de Lincoln.”
Damon me deu um olhar orgulhoso e logo se levantou quando ouviu
Bruce convocar todo mundo para o Covil. O bar ficou relativamente vazio e
eu me segurei para não pegar a minha moto e dar uma volta pela redondeza
até parar na casa de Rachel. Era domingo de manhã e seria arriscado demais
montar acampamento em frente à sua residência, mesmo se eu fosse de
carro. Lincoln poderia estar de folga naquele dia ou ir mais tarde para o
departamento de polícia. Era melhor não arriscar.
Madison logo apareceu no bar junto com Maya e acenou para mim
com um sorriso. Sentia que queria falar alguma coisa, mas acabou
desistindo e indo se sentar com a noiva de Christian, que também me
cumprimentou de longe. Tentei evitar, mas acabei me questionando se
Rachel se daria bem com as duas. Se Maya e Maddy a acolheriam.
Provavelmente sim, dado ao seu histórico com Lincoln.
Balancei a cabeça, tirando aquilo da minha mente. Seria impossível
ter Rachel dentro do MC, a não ser que eu realmente quisesse que Lincoln
declarasse uma guerra escancarada contra os Flame Wolves.
— Drew! Drew, seu filho da puta!
Eu me levantei assim que o grito do meu irmão ecoou pelo bar. Ele
apareceu de repente, com o rosto vermelho e as mãos fechadas em punhos.
Sem que eu esperasse, seus dedos agarraram o meu colete e me puxaram
para frente, quase colando os nossos rostos.
— Eu não acredito que você fez isso! Não acredito que está se
envolvendo com a mulher do Xerife, porra!
— Damon! Solta o seu irmão!
Pude ver Madison se aproximando, mas isso não fez com que Damon
diminuísse o aperto em meu colete. Seus olhos pareciam prestes a pegar
fogo, mas eu não recuei nem parti para cima dele. Acho que ainda estava
choque, tentando entender como ele havia descoberto sobre aquilo.
— O que você tem na cabeça, porra?! Me diz! Seu moleque!
— Me solta — pedi, mas ele pareceu ficar mais furioso.
— Te soltar? Eu deveria colocar a porra de uma coleira em você, para
impedir que cometa uma merda atrás da outra!
— Eu não sou criança, Damon.
— Não é? Mesmo? Então me explica por que age como um garotinho
mimado, que vive desejando a mulher dos outros!
— Você não sabe o que está falando...
— Sei muito bem o que estou falando! Você é um irresponsável, que
parece ter um fetiche esquisito em querer aquilo que não pode ter! Primeiro
a Madison, agora a esposa do Xerife? Qual é o seu problema, garoto?!
— Damon, solta ele! Não é bem assim. Deixa o Drew explicar!
Damon estreitou os olhos e virou o rosto na direção da Madison, sem
deixar de agarrar o meu colete.
— Você sabia disso?
Fechei os olhos por um segundo, pensando se valeria a pena
empurrar ou não o meu irmão. Se o fizesse, pelo menos seu foco voltaria
para mim e ele deixaria Madison em paz. Por isso, aproveitando a sua
distração, meti minhas mãos em seus ombros e o empurrei, obrigando-o a
soltar o meu colete.
— Chega! — Falei mais alto, vendo sua atenção voltar para mim.
Pude ver que Bruce, Christian e Pike estavam por ali. Os três me
observavam com atenção e um pouco de raiva. — Não vou ficar aqui
ouvindo sermão como se eu fosse uma criança, Damon! Sei que Rachel está
fora do limite para mim...
— Isso não o impediu de tentar meter a porra do seu pau dentro da
calcinha dela! — Acusou meu irmão, finalmente me deixando com raiva.
— Não é isso!
— Não é isso? Ralph deixou bem claro que você quer comer a
mulher do Xerife — disse o Prez. Seu olhar era uma incógnita, apesar das
feições endurecidas pela raiva.
Nem consegui me concentrar no fato de que Ralph havia dado com a
língua nos dentes. Algo me dizia que aquele babaca não conseguiria ficar
quieto por muito tempo.
— Sim, eu realmente quis... Ainda quero. — Fui sincero, observando
Madison segurar um sorrisinho e Damon passar as mãos pelos cabelos, puto
comigo. — Mas o meu interesse vai além disso! Vocês acham que Lincoln é
um filho da puta? Pois saibam que, além disso, ele é um covarde! Ele
espanca a Rachel praticamente todos os dias! — Virei-me para Damon,
vendo-o me encarar com o cenho franzido. — Acha mesmo que eu poderia
ficar indiferente a isso? Principalmente depois de tudo o que a minha mãe
passou nas mãos de Dean?
— Que desgraçado! — Pike grunhiu ao lado de Bruce e pude ouvir
Christian fazer o mesmo.
— Como você sabe disso? — Bruce perguntou.
— Eu vi pela janela da casa deles. Testemunhei aquele filho da puta
batendo nela duas noites seguidas!
— Em que momento você conheceu essa mulher, Drew? — Damon
questionou.
— Isso não importa.
— É claro que importa! Esse filho da puta está armando para o MC,
quem pode garantir que essa merda não é uma encenação para atrair um de
nós? — Christian perguntou.
Eu sabia que ele tinha razão em criar teorias loucas como aquela. Em
um mundo como o nosso, tudo era possível, mas eu não acreditava que
Rachel Marie seria capaz de fingir os sentimentos que vi em seus olhos a
cada interação que tivemos. Ou no medo estampado em seu olhar quando
me flagrou a observando naquela noite, depois de Lincoln bater várias
vezes na sua cara.
— Eu sei reconhecer uma mulher que sofre abusos quando vejo uma,
V.P.. Era eu quem cuidava da minha mãe depois das surras que ela levava
de Dean. Eu tinha apenas quatro anos na época, mas certas coisas a gente
não esquece nunca.
Christian recuou, talvez se lembrando do próprio passado. Era de
conhecimento de todo mundo no moto-clube como o relacionamento dos
seus pais foi conturbado.
— Eu entendo que isso gere empatia em você, Drew — meu irmão
voltou a falar. Ainda podia sentir a sua raiva, mas pelo menos ele não estava
mais gritando. — Mas isso não significa que você deve tentar se aproximar
dessa mulher. Se Lincoln sequer desconfiar que um de nós está interessado
nela, ele vai vir com tudo para cima do moto-clube. Nós não conseguimos
abraçar o mundo e você, como um Flame Wolves, deveria saber o que MC
sempre vem em primeiro lugar! É irresponsabilidade demais da sua parte
colocar a nossa segurança em risco por causa dessa tal de Rachel.
— Eu sei que o MC vem em primeiro lugar, assim como você sabia
quando estava se envolvendo com a Madison escondido do Bruce. Mesmo
assim, você não hesitou em ficar com ela.
A expressão de Damon se transformou e acho que ele só não avançou
sobre mim, porque realmente me amava demais — ou porque Madison
parou na sua frente e Christian tocou em seu ombro. Do contrário, com
certeza acertaria aquele punho fechado na minha cara.
— Você está se ouvindo, porra?! — Seu amor não impediu que ele
gritasse comigo, no entanto. — São situações completamente diferentes,
seu moleque abusado do caralho! Eu amo a Madison, ela é a mulher da
minha vida! O que sinto por ela não tem nada a ver com um tesão pelo que
é proibido!
— Ele sabe disso, Damon. Calma — Maddy pediu, mas eu sacudi a
cabeça, incrédulo.
Pensei que Damon veria que entre nós dois havia mais semelhança
do que diferença, mas eu estava enganado. Estava estampado na cara dele o
que ele pensava, ainda assim, precisei perguntar:
— Acha mesmo que eu colocaria o moto-clube em risco por causa de
um tesão reprimido? Por que sinto desejo por uma mulher proibida?
— Acho! Está no seu histórico, Drew!
Não pude acreditar que estava ouvindo aquilo. Não do meu irmão, o
único cara ali dentro que eu pensei que me conhecia de verdade. Dei um
passo para trás, abalado demais para continuar na presença dele ou de
qualquer pessoa ali.
— Então, todo esse tempo que passamos juntos não serviu de nada.
Você não sabe quem eu sou de verdade, Damon. — Ele ficou pálido, mas
não disse nada enquanto eu me virava para Bruce. — Prez, em nome do
moto-clube, eu posso continuar a manter um olho em Lincoln? Dou a minha
palavra de que não colocarei o MC em risco.
Se Bruce não permitisse, eu ia entender que ninguém ali confiava
plenamente em mim. E isso ia doer pra caralho, ainda que eu jamais fosse
admitir em voz alta.
— Não acho que o fato de eu proibir vai te impedir. Você e seu irmão
podem estar brigando agora, mas são mais parecidos do que gostam de
admitir, começando por se interessarem por mulheres não são para o bico de
vocês. — Bruce fez uma careta e Pike riu baixinho. Percebi naquele
momento que Connor também estava por ali, perto do irmão. — Sendo
assim, você pode continuar.
— Não! Bruce, você perdeu a cabeça? — Damon questionou,
parecendo dividido entre a raiva e o choque. Bruce endureceu ainda mais a
expressão.
— Acho que foi você quem perdeu a porra da sua cabeça, garoto!
Não sei se você percebeu, mas eu ainda sou o Presidente desse moto-clube.
Sendo assim, nunca mais ouse questionar dessa forma qualquer uma das
minhas decisões.
— Mas...
— Você quer mesmo insistir?
Bruce não gritava, mas a sua voz baixa e grave era capaz de fazer
qualquer homem barbado abaixar a cabeça e ficar quieto. Foi o que
aconteceu com o meu irmão. Ele nitidamente não estava feliz, mas se calou
e respeitou o Prez.
— Obrigado, Prez. Você não vai se arrepender.
— Espero mesmo que eu não me arrependa.
Concordei com a cabeça e saí do MC, finalmente podendo respirar,
apesar da mágoa em meu peito após a discussão com meu irmão.

Apenas Rachel estava em casa. Soube disso, porque o carro de


Lincoln não estava atrás da picape dela. Aquela também era a primeira vez
que ela deixava as cortinas da sala de jantar abertas. Meu coração disparou
quando ela apareceu em meu campo de visão e usei o binóculo para poder
observá-la melhor.
Estava distraído, observando-a passar um pano sobre a mesa, quando
duas batidas no vidro do carro me sobressaltaram. Sob a luz fraca do poste,
pude ver Ralph fazendo gestos para que eu destravasse a porta do carro.
Assim que o fiz, ele deu a volta e ocupou o banco do carona ao meu lado.
— Que porra você está fazendo aqui?
— Ok, já sei que você está puto comigo. — Ele soltou um suspiro e
cruzou os braços. — Não tenho muito o que dizer em minha defesa, apenas
que eu não contei de propósito.
Eu tinha me esquecido completamente que Ralph havia contado
sobre Rachel para todo mundo dentro do Covil. Passar a tarde tendo que
ignorar Damon — e vendo-o me ignorar de volta — foi desgastante o
suficiente para me impedir de pensar no Secretário fofoqueiro.
— Uma hora ele ia ficar sabendo. — Foi tudo o que eu disse, porque
era verdade.
Eu não conseguiria esconder aquela história de Damon para sempre
e, no fundo, eu sabia que a reação dele seria ruim. Só não pensei que seria
tão ruim.
— Eu sei disso, ele só não precisava saber agora e nem do jeito que
falei. A informação acabou escapando sem que eu pensasse antes, por isso,
peço desculpas, principalmente pela briga de vocês dois.
— Isso não é culpa sua.
— Talvez seja, sim. Se Damon soubesse de outra forma, poderia ter
uma reação diferente. Aquele idiota! Parece que esqueceu que tirou o
cabaço da Maddy escondido do Bruce! — Ralph revirou os olhos e eu
quase ri. Se tivesse com um pouco mais de ânimo, eu teria reagido. — Ele
tem teto de vidro.
— E foi o primeiro a apontar o dedo para mim.
— Sim, mas ele vai cair em si. Damon é cabeça-dura, mas te ama.
Fiquei sabendo detalhes sobre a briga, saiba que ele disse muita coisa da
boca para fora.
— Não me importo — menti e Ralph bufou.
— Claro que você se importa! Damon é seu irmão.
— Um irmão que me conhece há pouco menos de um ano. No fundo,
não sabemos quase nada um do outro.
— Isso é besteira. A ligação que há entre vocês dois é genuína. Não
se esqueça de que a única coisa que Dean fez de bom nessa vida, foi gerar
vocês.
Eu engoli o nó que surgiu em minha garganta e resolvi não responder
nada sobre aquilo, porque, até hoje de manhã, era daquele jeito que eu
pensava. Podia odiar Dean, mas agradecia por ele ter me dado um irmão
mais velho. Um irmão que eu pensei que me conhecia melhor e que sabia
sobre o meu caráter.
— Então, aquela é a famosa Rachel Marie. — Voltei a minha atenção
para Rachel quando ela apareceu na janela. Ralph soltou um assovio. —
Caramba, ela é bonita mesmo.
— É, sim.
— E parece estar procurando por alguma coisa. Ou alguém. — O
Secretário me encarou com um sorriso sacana. — Ela deve estar querendo
ver um certo motoqueiro que cheira a leite materno.
— Cala a boca, idiota! — murmurei, dando um sorriso a contragosto.
Observei Rachel e, realmente, ela estava parada na janela, olhando
atentamente para a rua. — Acha mesmo que ela está procurando por mim?
— Você deve ser o único novinho de colete que ela conhece. Vai lá
falar com ela.
— O quê?
— Você me ouviu muito bem, Drew.
— Mas eu prometi ao Prez que não colocaria o MC em risco.
— Tecnicamente, você não está colocando o moto-clube em risco.
Rachel parece estar sozinha em casa e eu estou aqui, de olho em tudo. Se eu
vir qualquer movimentação suspeita, te dou um toque no celular.
— Tem certeza disso?
— Você quer ou não quer conquistar aquela mulher gostosa pra
cacete?
— Eu quero. E para de falar assim dela.
Ralph revirou os olhos e deu um soquinho em meu ombro.
— Não seja um ciumento insuportável como o seu irmão. Vai logo
bater na porta de Rachel ou eu vou fazer isso. Você sabe que se ela olhar
para mim uma única vez, você vai perder qualquer chance com ela.
— Nunca, seu babaca! — Eu ri, batendo o meu punho no dele. —
Fico te devendo uma.
— Uma mamada? Foi isso que eu ouvi? Ótimo!
— Só nos seus sonhos — falei já saindo do carro.
Antes que eu pudesse fechar a porta, Ralph disse:
— Ok, não precisa me pagar um boquete, pode só deixar eu
participar do sexo com vocês dois...
Bati a porta do carro e o silenciei, antes que as putarias que saíam da
sua boca afetassem o meu cérebro.
Eu o vi sair de um carro. Por um momento, achei que estava tendo
uma alucinação, mas, quando ele começou a atravessar a rua, com os olhos
fixos em mim, soube que eu não estava delirando. Drew estava mesmo ali
e, dessa vez, ele não estava fazendo a menor questão de se esconder.
Assim que ele pisou na calçada, eu comecei a sacudir a cabeça,
sentindo meu coração disparar feito um louco no peito. Estava tentando
avisá-lo, através de sinais, que não deveria se aproximar mais. Que
precisava ir embora naquele momento, mesmo que eu soubesse que Lincoln
estava de plantão naquela noite e que só retornaria para casa no dia
seguinte. Drew pareceu não me entender — ou apenas fingiu que não
entendeu —, pois se aproximou da minha janela e, sem hesitar, colocou as
duas mãos sobre as minhas no batente. Seu toque enviou um choque
elétrico pelo meu corpo.
— Posso entrar?
Tentei encontrar a minha voz, mas foi difícil. Havia uma secura em
minha garganta que me impedia de falar.
— Não — sussurrei.
— Eu sei que ele não está em casa, Rachel. Deixe-me entrar, por
favor. Quero apenas conversar.
Olhei sobre o seu ombro, observando a rua deserta. Deserta naquele
momento. Um vizinho poderia sair, um carro poderia passar, um ciclista
poderia virar a esquina do nada e ver Drew ali. Era mais arriscado falar com
ele pela janela do que dentro da minha casa. Essa foi a desculpa que dei
para mim mesma enquanto tirava minhas mãos debaixo das dele e dava um
passo para trás, concordando com a cabeça, já pensando em ir até a porta e
deixá-lo entrar.
Não foi necessário. Drew simplesmente passou uma perna longa e
musculosa pela minha janela, pulando graciosamente dentro da minha sala
de jantar, apesar de ser forte como um touro e alto como um poste. Eu
ofeguei, pensando que ele poderia ter feito aquilo antes, em qualquer
momento durante o dia ou a noite, mas nunca fez, porque, ao contrário do
meu marido, aquele garoto, que fazia parte de um moto-clube violento e
fora da lei, me respeitava.
Ele, que não devia nada a mim, me respeitava.
Eu não queria chorar, mas lágrimas rasas encheram os meus olhos do
mesmo jeito. Pisquei rapidamente para que elas desaparecessem.
Drew fechou as cortinas e deu dois passos em minha direção, ficando
próximo o suficiente para que eu precisasse erguer o rosto para olhar em
seus olhos. O calor do seu corpo quase me envolveu e o cheiro de couro do
seu colete invadiu as minhas narinas.
— Como você está?
Sua voz grave me fez estremecer. Sob seu olhar atento e meticuloso,
senti uma vontade irresistível de me esconder, mas não consegui. Fiquei
paralisada, sentindo cada pelo do meu corpo ficar arrepiado.
— Você não deveria estar aqui. — Foi o que eu disse ao invés de
responder a sua pergunta.
— Eu não poderia estar em qualquer outro lugar.
Sacudi a cabeça, dando um passo para trás, apenas para que ele desse
outro em minha direção.
— Drew, você não pode fazer isso. Não pode ficar todas as noites em
frente à minha casa, é perigoso demais.
— Para quem? Para mim ou para você? — Ele fechou
completamente a nossa distância e eu respirei fundo, precisando passar a
língua pelos meus lábios para tentar diminuir o ressecamento em minha
boca. Drew acompanhou o movimento com os olhos. Sua mandíbula ficou
tensa e os meus músculos ficaram rígidos quando seus dedos tocaram a
minha bochecha com delicadeza. — Eu vi o que ele faz com você, Rachel.
Sim, eu sabia que ele tinha visto. A vergonha que isso me causava
quase me impedia de respirar.
— Aquilo não... Não acontece com frequência...
— Não tente arranjar desculpas para aquele espancador de merda! —
A rouquidão em sua voz me fez estremecer, mas não de um jeito ruim. Não
como Lincoln me fazia reagir. — Ele não merece a sua defesa, Rachel.
— Não o estou defendendo — murmurei, sentindo minhas bochechas
ficarem quentes sob a carícia do seu polegar. Eu não estava defendendo
Lincoln, mas era o que parecia. Eu só não queria que Drew me enxergasse
como uma mulher abusada e reprimida, apesar de eu ter consciência de que
eu era exatamente isso. Eu era apenas isso. — Só estou dizendo que você
não precisa se preocupar comigo. Que deve se proteger, porque se Lincoln
imaginar que nós nos conhecemos, se ele souber que você está nos
espionando... Ele vai se voltar contra você e o seu moto-clube.
Eu não deveria me preocupar com o moto-clube, mas, se lá tinha
homens como Drew, então, eu poderia imaginar que nem todos eram tão
ruins quanto Lincoln havia afirmado antes de nos mudarmos para San
Martínez, certo? Eu já não sabia mais o que pensar.
— Ele já se voltou contra a gente.
Senti o impacto das palavras de Drew e arregalei os olhos.
— O que quer dizer?
— Não posso dar detalhes, mas Lincoln é um inimigo do MC agora e
nós vamos caçá-lo.
— Caçá-lo? Como?
Algo brilhou nos olhos de Drew. Eu vi nitidamente e reconheci,
porque era o mesmo sentimento que me invadia quando eu sentia muita
raiva de Lincoln. Sede de vingança. A vontade de pegar seu pescoço em
minhas mãos e apertar até ele perder o ar. De fincar uma faca em seu peito e
vê-lo sangrar. Mas aquilo era loucura, certo? Eles não matariam um homem
como Lincoln. Seria como criar um alvo na cabeça de cada integrante
daquela gangue de motoqueiros.
— Vocês não podem fazer isso — falei, dando mais alguns passos
para trás e parando ao sentir a parede em minhas costas. Drew se
aproximou e apoiou as mãos na parede, uma de cada lado da minha cabeça.
— Isso o quê?
— Matar Lincoln.
— Por quê? Você sente algo por ele? É apaixonada por aquele
merda?
— Não! — A resposta escapou sem que eu precisasse perder um
segundo pensando sobre ela. E percebi que foi a primeira vez que falei
aquilo em voz alta. Primeira vez em anos.
— Então por que está tão preocupada sobre a possibilidade de ele
morrer?
— Não estou preocupada com ele, eu só... — Não podia falar sobre a
minha preocupação por Drew ou por homens que eu sequer conhecia.
Homens perigosos e assassinos. Sacudi a cabeça e pousei minhas mãos
sobre o peitoral surpreendentemente firme de motoqueiro, ficando surpresa
ao sentir o batimento forte e acelerado do seu coração. — Você precisa ir
embora.
— Você quer que eu vá?
Abri a boca para responder, mas precisei fechá-la, chocada ao
perceber que eu não queria que Drew fosse embora. Aquele sentimento era
ainda mais louco do que a minha preocupação com ele. Drew pressionou o
peitoral contra as minhas mãos e abaixou um pouco a cabeça, ocupando
todo o meu campo de visão. Seu rosto bonito e aqueles olhos intensos me
deixaram sem ar.
— Se quer mesmo que eu vá embora, diga, Rachel. Empurre-me.
Não precisa ser com força, apenas pressione o meu peito e eu vou entender.
Agora, se quiser que eu fique, é melhor que esteja preparada, porque eu vou
te beijar.
Eu deveria gritar para ele ir embora. Deveria empurrá-lo com força,
mesmo sabendo que eu jamais conseguiria mover por completo um corpo
musculoso como aquele. A questão era que eu não queria. Eu não queria
que Drew se afastasse. Não queria parar de sentir aquela chama em meu
peito, que havia se acendido por um motivo completamente diferente do
que quando Lincoln me agrediu.
Drew passou os olhos lentamente por cada centímetro do meu rosto,
descendo pelo pescoço até o meu peito ofegante. Quando voltou a subir o
olhar, me deu aquele sorrisinho arrogante e senti as minhas pernas ficarem
bambas. Minhas mãos subiram pelos seus ombros para eu poder me apoiar
e aquele foi o meu fim. Sem dizer uma única palavra, Drew abaixou o rosto
em direção ao meu e tomou os meus lábios em sua boca sem qualquer
gentileza, mergulhando a língua até tocar a minha.
Acho que eu gemi, mas não podia ter certeza. Eu não tinha certeza de
nada naquele momento, apenas de que eu nunca havia sido beijada daquele
jeito tão... selvagem. Impetuoso. Proibido. Drew tomou a minha nuca em
sua mão grande e passou o outro braço pela minha cintura, colando o corpo
forte ao meu bem menor e eu perdi completamente a minha capacidade de
compreensão.
Aquele era um beijo como o que eu lia nos livros. Algo que acreditei
que eu jamais experimentaria.
Drew voltou a me pressionar contra a parede e investiu mais pesado
no beijo, descendo as duas mãos pela minha cintura até chegar na lateral
dos meus quadris. Minha vagina pulsou em desejo quando seus dedos
longos encontraram a minha bunda. Ele apertou com força, me arrancando
um gemido abafado e pressionando a ereção contra a minha barriga.
Arregalei os olhos, ficando chocada ao sentir aquilo. Como parecia ser
grande. Uma coluna maciça escondida pelo jeans grosso.
Seus dentes mordiscaram o meu lábio inferior com uma delicadeza
que eu não esperava e as suas mãos firmes continuaram em minha bunda
enquanto ele abaixava o rosto. Fechei os olhos em deleite quando senti sua
língua em meu pescoço, lambendo a pele, até sua boca alcançar o lóbulo da
minha orelha. Seu nome escapou dos meus lábios em um sussurro e Drew
gemeu rouco, pressionando a ereção com mais força em meu corpo.
— Deixa eu te comer sobre aquela mesa? — pediu baixinho em meu
ouvido e eu estremeci, voltando a arregalar os olhos. Ironicamente, a mesa
de jantar foi a primeira coisa que eu vi sobre o seu ombro e flashes das
últimas noites surgiram em minha memória.
Lincoln me agredindo.
Deixando bem claro como eu era inútil.
Demonstrando claramente o seu descontentamento comigo e com o
meu corpo.
“Como quer que eu toque em você quando está toda gorda desse
jeito? Homem algum sente tesão por isso!”
— Pare.
Os lábios de Drew paralisaram sobre o meu pescoço e seus dedos
firmes pararam de apertar a minha bunda. Senti seus ombros ficarem tensos
sob as minhas mãos e um aperto horrível tomou o meu peito. As palavras de
Lincoln esmurraram o meu cérebro, me fazendo estremecer e empurrar
Drew para longe.
Ele deu um passo para trás e senti falta do seu calor imediatamente.
Meus olhos percorreram cada detalhe do seu rosto jovial, os lábios
levemente inchados pelo nosso beijo, a respiração ofegante, seu peitoral
firme e desceram. Desceram mais, até chegarem àquela ereção enorme que
marcava a sua calça jeans.
“Homem algum sente tesão por isso!”
Eu estava vendo o desejo de Drew, mas, mesmo assim, não conseguia
acreditar. Não conseguia assimilar que era para mim, porque, no fundo,
Lincoln tinha razão. Homens gostavam de mulheres magras, com corpos
perfeitos, seios duros, sem estrias ou celulites. Eu não era assim. O que
havia em mim que poderia atrair um homem como aquele à minha frente?
Nada.
— Vá embora. — Quis muito que minha voz soasse mais firme do
que aquilo, mas não consegui.
Drew me olhou por um segundo que pareceu durar a minha vida
inteira. Era como se ele visse algo que eu não conseguia ver.
— Por que quer que eu vá embora?
— Porque tudo isso é errado! — Afastei-me da parede e fui para
perto da mesa de jantar, querendo impor uma distância maior entre nós dois.
Entre mim e aquele pau duro sob o seu jeans. — Eu sou uma mulher casada
e...
— Casada com um homem que não te respeita. E eu disse que viria
atrás de você se descobrisse que ele não te respeitava.
— Sim, você disse, mas...
— O quê? — Drew deu um passo em minha direção, mas parou antes
de me alcançar. — Mas o quê, Rachel? Dê-me pelo menos um motivo
plausível para me fazer desistir de voltar a beijar a sua boca e comer a sua
boceta. E não diga que é porque você não quer ou porque é casada com
aquele filho da puta, pois sei que estará mentindo.
Ah, meu Deus.
Pensei que eu poderia entrar em combustão bem ali, na frente dele.
— Você é... vulgar.
— É esse o motivo que tem para me dar? Se for, saiba que não é o
suficiente para me fazer desistir de você.
Suas palavras me fizeram voltar ao foco. Tentando soar bem firme,
deixei claro:
— Você nem deveria olhar para mim, Drew! Olhe para você! É um
homem lindo, jovem, que pode ter a mulher que quiser... E o que eu sou?
Eu não sou nada! Não há nada aqui que deveria atraí-lo!
— Se eu posso ter a mulher que quiser, por que não posso ter você?
Eu quis rir e não pude controlar aquela reação. A risada histérica
escapou da minha boca enquanto eu olhava para aquele garoto lindo, alguns
anos mais novo do que eu, com pinta de perigoso e que ainda ostentava uma
ereção. Uma ereção que surgiu enquanto ele me beijava. Demorou poucos
segundos para que a minha gargalhada se transformasse em lágrimas.
— Por que você iria me querer? Eu me casei aos dezoito anos e sabe
quantas vezes o meu marido me tocou? Três! Estamos casados há oito anos,
Drew! E ele não sente nada por mim, porque eu sou assim! — Apontei para
o meu corpo, o mesmo que sempre envergonhou a minha mãe, que causava
repulsa em Lincoln, que não mudava nunca, mesmo quando eu fazia dietas
e passava fome. — E eu não consigo mudar, por mais que eu tente! E eu
tento todos os dias! Mesmo quando minha mãe diz que sou desleixada ou
quando Lincoln me chama de preguiçosa. Se todos eles veem defeitos em
mim, por que você veria algo diferente?
Minha voz estremeceu quando um soluço escapou do fundo da minha
garganta. Tentei limpar minhas lágrimas, mas não tive muito sucesso, pois
outras começaram a molhar as minhas bochechas. Senti-me uma idiota
enquanto olhava para Drew depois de ter falado tudo aquilo. Palavras que
sempre guardei para mim, porque eu sabia que iria doer muito quando eu as
dissesse em voz alta.
Envergonhada, tampei meu rosto com as mãos e tentei respirar fundo.
Eu só precisava me controlar e logo pararia de chorar. Eu não chorava há
anos, mesmo quando Lincoln erguia a mão para mim ou quando minha mãe
falava algo que me machucava. Por que o beijo daquele garoto havia me
deixado tão desestabilizada?
— Todos eles estão errados. — Sobressaltei-me ao ouvir a voz grave
de Drew. Seus dedos tocaram os meus pulsos e, delicadamente, ele me fez
destampar o rosto. Enxerguei raiva em sua expressão e aquilo, de certa
forma, me acalmou. Eu não sabia o que iria sentir se visse pena em seus
olhos. — Você é uma das mulheres mais lindas que já vi na minha vida,
Rachel Marie.
— Pare com isso! — Tentei dar um novo passo para trás, mas, dessa
vez, Drew me segurou. Não pelos pulsos, mas tomando o meu rosto em
suas mãos. — O que está fazendo?
— A minha mãe era viciada em drogas. — A revelação escapou dos
seus lábios do nada, me deixando chocada. Senti minha boca se abrir sem
que eu pudesse me conter. — E o meu pai a estuprava e espancava quase
todos os dias na minha frente, porque sabia que ela aceitaria qualquer coisa
para ter a próxima dose.
— Meu Deus... Drew...
Eu toquei em seus pulsos, sentindo um aperto ruim em meu peito.
— Ainda assim, havia momentos, bem raros, devo salientar, em que
ela conseguia ficar parcialmente sóbria. Em um desses momentos, minha
mãe me ensinou uma coisa que eu nunca esqueci, Rachel.
— O quê? — perguntei baixinho, com medo de descobrir o que era.
— Ela me disse que a boca poderia mentir o quanto quisesse, mas
que os olhos quase nunca mentiam. Ela me disse isso porque eu perguntei
se ela me amava e, naquele momento, ela disse que sim. Quando estava
chapada demais, minha mãe raramente conseguia responder alguma coisa
que eu perguntava. Por isso, ela disse que eu sempre deveria olhar nos olhos
dela quando quisesse sentir o seu amor por mim.
Eu não sabia o que dizer. Queria chorar por ele e abraçá-lo. Perguntar
se sua mãe havia conseguido se recuperar, se estava viva. Eu esperava que
sim. Torci muito para que sim.
— Estou te dizendo isso, porque não quero que você acredite apenas
no que a minha boca diz, mas no que os meus olhos mostram para você.
Desde a primeira vez que te vi, eu fiquei paralisado. Encantado com você,
com o seu sorriso tímido, seus olhos curiosos, seu corpo maravilhoso. Não
há nada em você que eu mudaria, Rachel. Cada centímetro seu me atrai e se
estou aqui agora, dentro da casa da porra do Xerife que é um dos maiores
inimigos do meu moto-clube, beijando a sua boca e ficando de pau duro, é
porque eu te desejo e não quero qualquer outra mulher que não seja você.
Entendeu?
Seu cenho se franziu, tamanho a profundidade do sentimento em seu
olhar. Cheguei a ficar sem fôlego, impressionada com as suas palavras, a
sua história, o que ele parecia sentir por mim.
— Eu entendi — murmurei, sentindo seu polegar acariciar a minha
bochecha molhada por lágrimas. — Mas é difícil aceitar.
Vivi toda a minha vida acreditando que havia algo de muito errado
comigo, lutando para atingir a perfeição que minha mãe exigia, tentando me
encaixar no padrão de beleza que a sociedade impôs. Não acreditava que
Drew fosse conseguir destruir tão facilmente aquele muro que construí ao
longo dos anos.
— Não preciso que você aceite nada agora, só preciso que confie em
mim.
— Nós mal nos conhecemos, Drew.
— Eu sei, mas eu quero te conhecer. Eu quero estar perto de você,
Rachel, o máximo que eu puder.
Eu também queria. E aquilo era uma loucura sem tamanho.
— Se Lincoln descobrir...
— Eu vou cuidar de tudo, ele não vai descobrir.
Eu não deveria confiar tão facilmente naquele garoto abusado de
colete, mas como eu poderia agir de forma diferente, quando o meu coração
parecia estar prestes a explodir em meu peito, implorando para que eu
aceitasse a sua proposta?
— Tudo bem, podemos fazer isso. Só tenho um pedido. — Drew me
olhou com atenção, esperando que eu continuasse. — Não quero que me
chame de Rachel. Se vamos fazer isso, não quero que a sombra da esposa
de Lincoln nos persiga.
“Ou que a filha que a minha mãe criou esteja perto de nós dois.”
Eu sempre quis me livrar da Rachel e ser uma mulher livre. Uma
mulher que eu poderia me orgulhar algum dia.
— A partir de agora, você é Marie para mim. — Drew me deu aquele
sorrisinho de lado que mexia com cada nervo desconhecido em meu corpo.
— Posso beijá-la, Marie?
Eu concordei com a cabeça, soltando um suspiro quando seus lábios
se encontraram novamente com os meus.
Aproveitaria ao máximo cada momento com Drew, pois não sabia até
quando eles iriam durar.
O beijo de Rachel... De Marie era viciante.
Apesar das suas palavras ainda se repetirem em minha cabeça e a sua
vulnerabilidade ser a responsável pela vontade quase irresistível de sair da
sua casa e ir até o Xerife para matá-lo com as minhas próprias mãos, seu
gosto, seu corpo colado ao meu, conseguiu suplantar tudo.
Eu sabia o que o desejo sexual significava. Conhecia até mesmo o
poder irresistível da atração — algo que nutri por Madison quando nos
conhecemos —, mas aquilo entre mim e Marie era diferente. Eu não
conseguia encontrar um termo certo. Visceral, provavelmente, era o que
definia melhor, mas eu ainda achava que era mais intenso, cru, irresistível.
Seu gemido ecoou abafado em meus ouvidos conforme a pressionei
contra a mesa de jantar, fazendo-a se sentar e me acomodar entre as suas
coxas grossas. Meu pau doía, louco para conhecer o calor apertado da sua
boceta, mas me segurei. Não queria pressioná-la e sentia que Marie se
soltaria aos poucos. Eu não me importava, contanto que me permitisse fazê-
la gozar naquela noite.
— Drew... — Sua mão segurou o meu pulso quando comecei a subir
o seu vestido pelas coxas macias. — O que está fazendo?
— Conhecendo você. — Seus olhos pesados de desejo encontraram
os meus por um segundo, antes de eu enfiar meu rosto em seu pescoço e
mordiscar a pele arrepiada e cheirosa perto da sua clavícula. — Quero te
livrar desse vestido, Marie.
— Não. — Seu sussurro inseguro tocou profundamente em meu
peito. — Por favor.
Afastei-me do seu pescoço e voltei a tomar seu rosto em minhas
mãos. Precisei desviar a atenção dos seus lábios inchados pelos meus
beijos, ou iria enlouquecer.
— Você não precisa implorar nada para mim, Marie. Jamais vou
fazer algo que você não queira.
Ela mordeu o lábio inferior, visivelmente mexida pelas minhas
palavras. Seus olhos desceram pelo meu corpo até chegarem ao meu pau
duro marcado pelo jeans.
— Mas você... Você quer fazer sexo comigo e, para isso, eu preciso
estar sem roupa.
Eu sorri, vendo as suas bochechas ficarem vermelhas sob o meu
toque.
— Eu quero muito mais do que fazer sexo com você. Eu quero beijar
cada canto do seu corpo, conhecer o seus peitos com a minha língua e
dedos, lamber cada centímetro da sua boceta, que eu tenho certeza de que
está molhada agora. — Seus olhos se arregalaram e os lábios se abriram à
procura da próxima respiração. Aproveitei para acariciá-los com o meu
polegar, apenas imaginando como aquela boca ficaria linda mamando no
meu pau. — Mas eu vou esperar até que você esteja pronta.
— Vai mesmo?
A surpresa em seu tom de voz me fez sentir um pouco mais de raiva
pelo filho da puta do Lincoln.
— Claro que sim. Talvez, você esteja pronta para fazer alguma coisa
hoje e apenas não sabe disso.
— Não quero ficar nua.
— Não precisa ficar nua. — Deixei o seu rosto e desci minhas mãos
até as suas coxas, ouvindo o seu suspiro quando voltei a subir o seu vestido.
— Só precisa me deixar tirar a sua calcinha.
Um sorrisinho ansioso se abriu em seus lábios antes de ela concordar
com o meu pedido. Senti meu coração bater forte no peito e o meu pau
pulsar de forma dolorosa, melando a minha cueca. Apesar da insegurança,
Marie era claramente uma mulher curiosa e estava aprendendo a confiar em
mim. Era exatamente aquilo que eu queria. Que sua confiança começasse a
ultrapassar a insegurança que sentia com o próprio corpo.
Voltei a beijá-la, ficando surpreso ao sentir suas mãos me explorarem
timidamente enquanto eu levantava seu vestido. Seus dedos delicados
desceram pelo meu pescoço e percorreram o meu peitoral sob o colete, me
fazendo gemer quando tocaram meus mamilos sobre a camisa que eu usava.
Eu era bastante sensível ali e Marie sorriu entre os meus lábios ao perceber
isso, criando círculos devagar em volta do mamilo duro e arrepiado e me
fazendo estremecer.
— Você gosta disso — sussurrou quando me afastei da sua boca.
Mordisquei seu ombro, querendo deixar minha marca em sua pele,
apesar de saber que eu ainda não poderia fazer aquilo por causa da porra do
seu marido.
— Eu gosto — respondi baixinho, antes de colocar o lóbulo da sua
orelha em minha boca. Marie gemeu e abriu mais as coxas quando enrolei o
vestido na altura do seu quadril. — Sempre gozo mais forte quando belisco
meus mamilos. O que te faz gozar bem gostoso, Marie?
— Eu... Eu não sei.
Sua resposta não me surpreendeu. Se Lincoln a havia tocado apenas
três vezes desde que se casaram, Marie com certeza sequer sabia o que era
um orgasmo.
— Vamos descobrir juntos?
Foi uma pergunta, mas meus dedos já estavam tocando o centro da
sua calcinha enquanto eu falava. Precisei respirar fundo de encontro ao seu
pescoço. Porra, ela estava encharcada! O tecido fino mal conseguia conter a
sua lubrificação. Suas coxas afastadas deixavam a bocetinha bem aberta
para mim, por isso, foi fácil encontrar o clitóris inchado entre os seus lábios
vaginais. O gemido de Marie ecoou pela sala de jantar, quase me fazendo
gozar na calça.
— Posso descer a sua calcinha e tocar você aqui? — Pressionei o
clitóris delicadamente enquanto erguia meu rosto para olhar em seus olhos.
Marie estava com os lábios inchados entreabertos e os olhos
levemente arregalados. Como se não conseguisse formular uma frase
coerente, ela apenas concordou com a cabeça, soltando um gemidinho
entrecortado no fundo da garganta conforme massageei o grelinho
escondido pela lingerie que usava.
Voltei a beijá-la e enfiei os dedos nas tiras da calcinha, sentindo-a
arquear os quadris para que eu conseguisse tirar a peça do seu corpo.
Afastei-me para descer a lingerie pelas suas pernas, observando-a fechar as
coxas rapidamente antes que eu pudesse ter um vislumbre da sua boceta.
Tentei me aproximar, mas ela colocou as mãos por cima das coxas, bem na
altura da virilha, arregalando os olhos.
— Não estou depilada!
Eu sorri, tocando em seus joelhos.
— Eu também não.
Minha resposta pareceu confundi-la.
— Como?
— Não tenho medo de pelos corporais, Marie. — Subi meus dedos
por suas coxas até chegar em suas mãos. — Não me importo com isso.
— Mas... É uma questão de higiene.
— Tomar banho todos os dias é uma questão de higiene. Ter pelos é
algo completamente natural. — Curvei meu corpo sobre o dela para tocar
seu nariz com o meu. — Deixe-me mostrar como o fato de você não estar
depilada não me afeta em nada.
Suspirando baixinho, Marie me deixou beijá-la enquanto tirava as
mãos sob as minhas e afastava as coxas. Senti que ela tremia levemente,
mas logo voltei a tomar a sua atenção ao puxá-la pelo quadril para mais
perto da beirada da mesa e encaixar o meu pau coberto pelo jeans em sua
bocetinha nua. Gememos juntos com o contato, principalmente quando
pressionei mais forte a minha ereção, roçando em seu clitóris.
Queria descer pelo menos a minha calça para que o contato se
tornasse mais intenso, mas me segurei, com medo de que Marie começasse
a pensar que eu não cumpriria com a minha promessa de ir devagar com
ela. Ao invés disso, para não cair em tentação, afastei meus quadris e
substituí meu pau pelos meus dedos, tocando a boceta ensopada com
delicadeza. Marie jogou a cabeça para trás, estremecendo quando massageei
o grelinho inchado com os dedos médio e indicador.
— Ah, Drew...
Aproveitei para olhar para baixo, salivando ao ver a boceta com pelos
curtos, os lábios delicados afastados e os meus dedos entre eles. O barulho
de coisa molhada pareceu ecoar pela sala de jantar quando desci o dedo
médio até à sua entrada melada, sentindo-a pulsar.
— Quero muito comer você. — Deixei bem claro enquanto penetrava
apenas a primeira falange em seu canal vaginal. Ela era apertada. Apertada
demais. — Vou fazer por merecer ter essa boceta, Marie.
Um sorriso surpreso tomou a sua expressão conforme me inclinei
para beijá-la. Queria fodê-la com o meu dedo, mas preferi voltar a tocar o
clitóris, que era onde eu sabia que Marie sentiria mais prazer. Ela se abriu
ainda mais para mim, gemendo entre os meus lábios e voltando a explorar o
meu corpo. Foi mais ousada daquela vez. Seus dedos curiosos tocaram meu
abdômen e pararam sobre a minha ereção, o polegar contornando a cabeça
sensível sobre a calça jeans. Foi a minha vez de gemer mais alto, ficando
ainda mais excitado ao perceber a sua inexperiência.
Rachel Marie poderia ser alguns anos mais velha, mas era eu que iria
ensiná-la sobre o sexo. Aquilo me deixou entusiasmado e com o pau
pulsando de desejo. Eu poderia gozar apenas sentindo as suas carícias, no
entanto, queria enfiar minha cara entre as suas coxas bonitas e meter a
língua naquela boceta melada. Peguei seu cabelo próximo a nuca e mordi de
leve lábio superior, depois o inferior, antes de me afastar do seu rosto e
olhar para baixo.
— Quero te chupar aqui — falei, deslizando meu dedo entre o seu
clitóris e a entrada apertadinha. Voltei a olhar em seu rosto, encontrando a
sua expressão surpresa. — Posso?
— Eu não sei... Lincoln nunca fez isso comigo.
Aquele filho da puta gostava mesmo de mulher? Eu não podia
acreditar. Preferi deixar um pouco a raiva de lado e olhar pelo lado positivo.
— Que bom, vou ser o primeiro a meter a língua nessa boceta linda.
Marie riu baixinho, ficando com o rosto vermelho.
— Você é impossível, Drew! — Seus olhos focaram em meus dedos
entre as suas pernas. — Acho que eu quero experimentar isso.
Dei um beijo rápido em seus lábios antes de descer pelo seu corpo
coberto pelo vestido até para entre as suas coxas. Segurei a parte de trás de
cada joelho, deixando-a mais aberta para mim, e olhei-a lá de baixo.
— Vou te deixar viciada na minha chupada, Marie — prometi,
respirando fundo o perfume da sua excitação antes de passar a minha língua
entre os lábios delicados.
Marie soltou um ofego alto de surpresa e segurou a beirada da mesa
entre os dedos, ficando rígida por um momento. Eu podia imaginar que ela
devia estar se sentindo como eu me senti quando recebi o meu primeiro
boquete. Hipersensível, chocada com as reações do próprio corpo, assustada
com o golpe de prazer repentino. Por isso, não tive a menor pressa, apesar
de estar com fome dela e querer possui-la.
Observando seus olhos arregalados, levei os dedos da mão direita até
a sua boceta e separei bem os lábios maiores entre o polegar e o indicador,
deixando-a completamente exposta para mim. Lentamente, passei a minha
língua entre os pequenos lábios, desde a sua abertura apertadinha até o
grelinho vermelho e pulsante, sentindo seu sabor levemente salgado e
viciante. Marie estremeceu violentamente quando rodeei o clitóris,
aplicando mais pressão na lambida, e gemeu alto o meu nome quando
finalmente fechei meus lábios sobre ele.
Chupei de leve e aumentei a intensidade conforme percebi a tensão
diminuir em seus músculos e o corpo dela se contorcer sobre a mesa. A
mesma mesa que, até ontem, provavelmente só despertava lembranças ruins
em sua cabeça. Estávamos dando um novo sentido a ela naquele momento.
Seus dedos se infiltraram em meus cabelos quando soltei o clitóris e desci a
língua enrijecida até a sua entrada, penetrando a pontinha.
— Ah, minha nossa, Drew... Eu vou... Parece que vou explodir.
Eu também iria. Sentia meu pau doer de verdade, por isso, levei a
mão esquerda à minha calça e abri o botão, descendo o zíper em tempo
recorde e a cueca logo em seguida. Voltei a dar atenção ao seu clitóris ao
mesmo tempo em que me tocava desajeitadamente com a mão esquerda,
gemendo com o golpe de prazer. Marie percebeu o que eu estava fazendo,
pois arregalou um pouco mais os olhos e a boceta babou em minha boca e
meu queixo conforme eu a lambia e chupava.
Quando decidi penetrar o dedo médio em sua entradinha apertada, ela
perdeu completamente a cabeça. Surpreendendo-me, Marie apoiou os pés
na beirada da mesa e ficou totalmente aberta para mim, movendo os quadris
em direção ao meu rosto e esfregando a bocetinha melada na minha boca.
— Drew, não para... Não para nunca.
— Não vou parar — murmurei de encontro aos seus pequenos lábios,
sugando primeiro um e depois o outro enquanto a comia com o dedo. —
Você vai gozar na minha boca, Marie. Depois, eu vou gozar sobre a sua
boceta tocando o meu pau. Só vou sair daqui depois que te deixar melada
com a minha porra.
De alguma forma, eu teria que marcá-la.
Marie ofegou e explodiu quando eu voltei a sugar o seu clitóris entre
os meus lábios. Ela rebolou contra minha boca, apoiou-se em um cotovelo e
pressionou o meu rosto entre as suas pernas, gemendo alto o meu nome
enquanto estremecia. Eu não parei até ter o gosto do seu orgasmo na ponta
da minha língua e continuei até perceber que ela estava sensível demais
para aguentar mais uma chupadinha.
Ergui-me e passei três dedos no meio dos lábios inchados da sua
boceta, recolhendo a sua lubrificação apenas para passar na cabeça do meu
pau. Marie ficou boquiaberta, com a respiração ofegante e os olhos
arregalados quando comecei a me masturbar. Eu estava muito perto de
gozar. A visão dela daquele jeito, suada, com a boca vermelha pelos meus
beijos, as coxas abertas e a boceta gozada, com a entradinha ainda piscando,
me enlouqueceu de vez.
— Vou gozar — avisei, levando o polegar da mão esquerda até o seu
clitóris. Marie gemeu baixinho e rebolou, sem tirar os olhos do meu pau. —
Puta merda, Marie!
O palavrão escapou da minha boca junto com o primeiro jato de
porra. Só tive tempo de afastar o meu dedo para que o sêmen pousasse
diretamente em sua boceta. Marie gemeu junto comigo conforme eu
esporrava em grande quantidade, melando-a com a porra grossa e
branquinha, que começou a escorrer entre os seus lábios vaginais. Era uma
cena que eu nunca mais iria esquecer. Só perderia para o momento em que
eu fosse gozar enterrado dentro dela.
Porque esse momento chegaria, eu tinha certeza.
Meu pau continuou a sofrer espasmos mesmo depois de eu parar de
tocá-lo e tomar a boca de Marie em um beijo profundo. Pude sentir quando
a cabeça sensível resvalou em sua boceta melada. A sensação quase me
deixou duro de novo em tempo recorde. Ouvi o suspiro de Marie quando
finalmente me afastei o suficiente para que pudéssemos respirar.
— Isso foi...
— Bom? — completei por ela, mas Marie sorriu e sacudiu a cabeça.
— Incrível. Eu nunca tinha sentido nada parecido... Nunca tinha
chegado ao orgasmo — confessou.
— Pois saiba que essa foi a primeira vez de muitas — falei, tocando
seu nariz com o meu. — Em breve, você vai gozar no meu pau.
Marie sorriu e eu a beijei de novo, sentindo tesão e vontade de
recomeçar. O toque do meu celular me impediu. Precisei levantar a minha
cueca e a calça para poder enfiar a mão no bolso traseiro e puxar o
aparelho.
— Alô?
— Drew, o carro do maldito acabou de estacionar em frente à casa.
Acho bom você dar um jeito de sair daí!
Olhei para Marie, que me encarou franzindo o cenho. Antes que eu
pudesse responder ao Ralph, ouvimos o barulho da porta da casa se abrindo.
Marie arregalou os olhos e me empurrou, saltando da mesa em um pulo.
— Porra! Estou saindo — falei baixinho antes de desligar.
— Rachel, faça um sanduíche de rosbife para mim enquanto procuro
uma pasta no escritório! — A voz de Lincoln ecoou pela casa e Rachel
ficou pálida.
— Ok! — Ela gritou e me empurrou de leve pelo ombro em direção à
janela. — Você precisa sair daqui!
Ouvimos os passos de Lincoln se afastando, por isso, tomei a cintura
de Marie em minhas mãos e dei um beijo rápido em sua boca.
— Nós nos vemos em breve. — Abaixei-me rapidamente e peguei a
sua calcinha do chão. — Isso vai comigo.
Ela me encarou boquiaberta, mas eu já estava afastando as cortinas e
pulando a janela antes que pudesse falar alguma coisa. Atravessei a rua
rapidamente e tomei o lugar do motorista, dando a partida no carro para
poder sair dali.
— Puta merda, você cheira a sexo, prospecto! — Ralph praticamente
gritou.
— Não sou mais um prospecto — murmurei, observando a casa de
Marie pelo retrovisor.
O Secretário gargalhou ao meu lado, jogando a cabeça para trás.
— Não acredito que você plantou um chifre na cabeça do Xerife!
Você é o meu novo ídolo, Drew! — Eu sorri, me dando conta de que havia
feito mesmo aquilo. O filho da puta merecia. Na verdade, ele merecia algo
muito pior, mas cuidaríamos daquilo em breve. — Pode me convidar mais
vezes para fazer a segurança de vocês dois, eu vou adorar. Só deixa a janela
aberta da próxima vez, eu gosto de observar.
— Cala a boca, idiota. — Eu ri de verdade, imaginando a cara de
Marie se alguém estivesse observando nós dois. — E obrigado por ter me
alertado sobre a chegada de Lincoln.
— De nada, comedor de mulher casada.
— Não qualquer mulher casada — ressaltei.
Ralph sorriu sem falar mais nada, porque ele sabia que eu tinha
razão.
Demorei para reagir depois que Drew fugiu pela janela da sala de
jantar. Minha mente e o meu corpo estavam de lados opostos — o primeiro
ainda pulsava pela sensação do orgasmo e o segundo estava em choque pela
chegada repentina de Lincoln.
Se ele entrasse na sala de jantar e pegasse Drew ali… Minha mente
fez o trabalho completo de imaginar o que aconteceria e isso me fez
despertar. Sabia que eu deveria ir direto para a cozinha fazer o sanduíche de
Lincoln, mas precisei correr até o banheiro para me livrar da bagunça
causada por mim e por Drew. Sentia seu sêmen descer lentamente até o
início das minhas coxas, me fazendo sentir um frio na barriga e um novo
frisson em minha… Em minha boceta, como ele disse tantas vezes naquela
noite.
Drew era obsceno. Sua boca era suja, mas fazia coisas tão
maravilhosas. Eu ainda não conseguia acreditar que ele havia feito tudo
aquilo comigo.
Minhas pernas ainda estavam bambas quando entrei na cozinha.
Aérea, comecei a pegar todos os ingredientes para o sanduíche e só me dei
conta de que Lincoln havia entrado no cômodo, quando sua voz profunda
invadiu os meus ouvidos:
— O sanduíche ainda não está pronto, Rachel?
Virei-me para ele, observando-o abrir a geladeira. Senti uma vontade
enorme de sorrir. De gargalhar, ao me lembrar do que eu havia acabado de
fazer com Drew pelas costas do meu marido. Aquele ser violento,
mesquinho e odioso, que me tratava como um lixo desde o dia em que nos
casamos. Em que me obrigou a me casar com ele.
— Qual é a porra do seu problema? Por que está me olhando ao invés
de terminar a porcaria do sanduíche?
“Está sentindo o peso do chifre que acabei de colocar em sua
cabeça, seu maldito?”
Eu queria perguntar, mas não iria. Não apenas porque eu não tinha
coragem, mas porque sabia que não valeria a pena alimentar ainda mais a
raiva que Lincoln parecia sentir por mim.
Mas eu queria falar umas verdades na sua cara. Queria deixar bem
claro que, naquela noite, eu fui tocada, beijada, chupada, por um homem de
verdade. Que ele olhou para mim e não viu uma gorda desleixada. Ele viu
uma mulher que despertava o seu desejo. Eu fui capaz de fazer um homem
como Drew sentir tesão por mim. Queria que Lincoln soubesse disso, mas
sabia que não podia falar nada.
— Já estou quase terminando — respondi, voltando a minha atenção
para o sanduíche.
Minutos se passaram, mas eu podia sentir os olhos analíticos de
Lincoln em minha nuca. Era como se ele soubesse que havia acontecido
alguma coisa.
— Você está estranha — disse ele. Consegui disfarçar a tensão que se
instalou em cada músculo do meu corpo.
— Impressão sua. — Terminei de embalar o seu lanche e me virei em
sua direção. Seu olhar desconfiado acompanhou cada passo que dei até
chegar perto dele. — Pronto. Tem alguma preferência para o almoço de
amanhã?
— Não vou almoçar em casa. Vou até Los Angeles amanhã me
encontrar com um antigo amigo. Devo pegar uma diária em um hotel e
voltar apenas na terça-feira.
“Graças a Deus”, pensei, aliviada. Dois dias sem Lincoln por perto
era realmente uma dádiva.
“Vou poder ver Drew mais vezes.”
Precisei reprimir um sorriso.
— Tudo bem. Tenha uma boa noite então, Lincoln.
Ele estreitou os olhos por um segundo, observando-me atentamente,
antes de concordar com a cabeça e sair da cozinha. Fiquei parada no
cômodo até ter a certeza de que realmente havia partido, seguindo para a
sala de jantar minutos depois. Meu coração disparou no peito enquanto eu
afastava a cortina e dava de cara com a rua vazia. O carro de Drew não
estava mais lá. Eu sabia que ele tinha agido certo em ir embora o mais
rápido possível, mas senti a sua falta imediatamente.
Queria poder avisar a ele que Lincoln só voltaria na terça-feira, mas
como não era possível, só pude torcer para que ele viesse me visitar no dia
seguinte.
Meu irmão foi a primeira pessoa que encontrei assim que estacionei o
carro em frente ao MC. Ele estava conversando com dois prospectos, que
logo se afastaram quando Ralph e eu saímos do carro. As sobrancelhas de
Damon se franziram quando ele viu o Secretário ao meu lado.
— O que vocês dois estavam fazendo em frente à casa de Lincoln?
— Foi a primeira coisa que meu irmão perguntou assim que nos
aproximamos. Eu fiquei surpreso por ele saber exatamente onde nós dois
estávamos.
— É sério que você vai ficar rastreando o seu irmão como a porra de
um stalker?
Ah, sim. O rastreador que Connor colocou em nossos coletes. Até
onde eu sabia, os irmãos só usavam o aplicativo quando estávamos em
alguma missão, mas claro que Damon não respeitaria aquilo quando o
assunto era eu.
— É sério que você vai ficar alimentando a loucura dele, Ralph?
— Eu alimentei a sua. Por que não posso alimentar a dele?
— É completamente diferente!
— Não é, não. — Ralph se aproximou de Damon e tocou o ombro do
meu irmão. — Quando você precisou, a gente te apoiou, Damon. Sei que o
nosso lado racional quer que a gente obrigue o moleque a se afastar da
esposa do Xerife, mas nem sempre a razão está correta e você, mais do que
ninguém, sabe disso. Não vire as costas para Drew agora.
Sem esperar uma resposta de Damon, Ralph acenou para mim e
entrou no bar. Eu sabia que deveria fazer o mesmo, afinal, não adiantaria de
nada ficar ali, olhando para a expressão contrariada do meu irmão, mas o
seu olhar sério me manteve no lugar.
— Eu me preocupo com você, Drew…
Damon parou de falar quando eu ri baixinho. Foi impossível me
conter ao ouvir aquilo.
— Não, Damon, você não está preocupado comigo. Está preocupado
com o moto-clube, afinal, é o MC que sempre vem em primeiro lugar.
— Isso não é verdade! — Disse entredentes, se aproximando de mim.
— Você é meu irmão! Como acha que eu fico em saber que está se
colocando em risco por causa de uma mulher que mal conhece, Drew? Você
não sabe quem é essa tal de Rachel! Entendo que a violência que ela passa
nas mãos de Lincoln tenha tocado em você, mas não pode ignorar o fato de
que se meter com ela pode colocar um alvo na porra da sua cabeça!
— Eu sei sobre os riscos, Damon! — falei, mal conseguindo conter a
minha raiva. Meu irmão realmente achava que eu era tão idiota assim? —
Não coloque a minha inteligência em xeque!
— A partir do momento em que você ignora o fato de que aquela
mulher é esposa de Lincoln, eu coloco, sim!
— Você ignorou o fato de que Madison era filha de Bruce!
— Vou precisar dizer de novo que a minha história com a Maddy é
completamente diferente da sua? Eu conheço a Madison a minha vida
inteira, Drew, tinha plena consciência do porquê de estar arriscando tudo
quando escolhi ficar com ela, diferente de você, que está se arriscando por
uma mulher que conheceu ontem.
— Tempo é relativo, Damon. Eu também o conheci ontem e isso não
me impediu de amar você. — O vinco entre as sobrancelhas de Damon
desapareceu assim que me calei. Não tinha falado aquilo para lhe causar
algum impacto, só falei porque era verdade.
— Nós somos irmãos — disse ele já sem a raiva de antes.
— E ela pode ser a mulher da minha vida, assim como Madison
significa para você.
Damon respirou fundo e coçou a testa, olhando para mim como se
não soubesse o que fazer comigo. Eu também não sabia o que fazer com
tudo o que estava sentindo, por isso estava agindo daquela forma. Seguindo
a minha intuição e me mantendo cada vez mais perto de Marie.
— Eu ainda não sei o que pensar sobre tudo isso, Drew.
— Não preciso que você tenha alguma opinião sobre o que está
acontecendo, só quero que pare de agir como se eu fosse um garoto
inconsequente. Já provei para você e para esse moto-clube como sou
responsável! Estou tomando todo o cuidado possível a cada vez que me
aproximo de Marie. Não vou me afastar dela, Damon.
— Eu sei que não vai. Teimosia deve ser algo genético — debochou,
descontente, enquanto se aproximava um pouco mais de mim. Meu coração
bateu mais forte quando meu irmão pousou as mãos em meus ombros. —
Só quero que você se cuide, entendeu?
— Eu faço isso desde que nasci, Damon.
Aquela era uma verdade incontestável. Com uma mãe viciada e
morta enquanto eu ainda era uma criança e um pai ausente, eu tive apenas a
mim mesmo durante toda a minha vida.
— Mas agora você não está mais sozinho. Se não quer que eu me
meta nessa história e estoure os miolos de Lincoln, é melhor que tenha
cuidado ao se aproximar de Rachel.
— Marie — salientei, vendo-o me olhar de forma confusa. — Ela
prefere ser chamada de Marie.
— Que seja. — Ele me puxou para um abraço apertado. — Amo
você, moleque. Desculpa se peguei pesado mais cedo, eu estava nervoso.
— Está tudo bem. E eu também amo você.
— Eu sei, só não me obedece, como um irmão mais novo precisa
fazer.
Eu ri e me afastei, vendo Madison sair do bar. Ela abriu um sorriso
enorme ao se aproximar de nós dois.
— Estou vendo que fizeram as pazes! Que orgulho!
— Fiz as pazes com Drew, mas não com você, que me escondeu essa
história toda — disse Damon, agindo de forma contraditória ao puxar
Maddy para os seus braços. Pelo sorriso dela, pude ver o quanto estava
preocupada com aquilo.
— Em minha defesa, eu só soube de tudo ontem e Drew implorou
para que eu guardasse segredo. Sou uma cunhada fiel.
— Vamos ver se você vai continuar com esse sorriso abusado depois
que chegarmos em casa, diabinha.
Ok, aquele era o momento perfeito para me despedir deles e sair de
perto dos dois. Foi o que fiz. Em poucos minutos, estava em meu quarto,
livrando-me da minha roupa e encarando a calcinha ainda úmida de Marie
em minhas mãos. Um sorriso se abriu em meus lábios e meu pau ficou duro
em ansiedade.
Assim como eu, ele estava louco para chegar perto dela de novo.
Eu não deveria estar ali.
Com toda a certeza do mundo, eu não deveria estar em frente ao
moto-clube dos Flame Wolves, mas era onde eu estava agora, do outro lado
da rua, protegida pelos vidros escuros da minha picape.
Acordei com uma sensação estranha no peito naquela segunda-feira.
Sem ter Lincoln ao meu lado e sabendo que ele só voltaria para San
Martínez no dia seguinte, acabei me sentindo subitamente corajosa, o que
era uma tremenda estupidez. O que eu pretendia fazer ao estacionar em
frente ao moto-clube e ficar dentro do meu carro que nem uma idiota?
Eu com certeza não teria coragem de sair e entrar no que parecia ser
um bar. Garotos de colete — garotos muito jovens, alguns até mais do que
Drew — perambulavam pela calçada, com uma expressão típica de bad
boys, enquanto alguns homens mais velhos entravam e saíam, alguns já
subindo naquelas motos perigosas e outros entrando na oficina que
funcionava ao lado do bar.
Batuquei o volante, sentindo a ansiedade me atacar. Eu deveria ir
embora, antes que um daqueles meninos começassem a desconfiar da minha
presença ali. E se eles soubessem quem eu era? Logo tirei isso da cabeça,
pois a película dos vidros me protegiam, mas eles podiam conhecer o meu
carro. Drew conhecia o meu carro.
— E é por isso que você está aqui — murmurei para mim mesma,
mordendo meu lábio com força e quase quicando sobre o banco. — Você
quer que ele apareça e reconheça a porcaria da sua picape.
Pelo menos para mim, eu não precisava mentir.
Queria que Drew me visse ali.
Queria que ele reconhecesse meu carro e se aproximasse. Queria
contar para ele que Lincoln não retornaria para casa até o dia seguinte.
Apertei as coxas uma na outra, sentindo minha calcinha ficar
molhada. No fundo da minha mente, uma voz baixinha, que sempre foi uma
velha companheira, me julgava. Deixava bem claro que o que eu estava
fazendo não era certo. Apesar de ter sido criada dentro da igreja, nunca
permiti que fizessem em mim a mesma lavagem cerebral que era feita nos
outros habitantes de Piece of Sky — apenas fingia que eu seguia a doutrina
para satisfazer meus pais —, mas sabia que traição era pecado, não
importava se, muitas vezes, o pastor deturpava as passagens bíblicas
durante o culto.
No entanto, violência também era uma forma de pecado e Lincoln
sempre foi violento comigo.
Ele era um péssimo marido. Egoísta, insensível, arrogante e vil.
Sempre lutei para ser a melhor esposa possível, tentando me encaixar nos
moldes estabelecidos por ele e por minha mãe, mas nem um deles
reconheceu o meu esforço. Lincoln nunca me deu valor, enquanto Drew,
que mal me conhecia, parecia não apenas me ver, mas me enxergar. Ele via
além da Rachel. Ele se importava comigo. E ainda que fosse apenas desejo
sexual, já era muito mais do que Lincoln havia me dado em todos aqueles
anos.
Era por isso que eu estava em frente ao moto-clube, encarando de
relance a imagem do lobo assustador saltando do fogo na porta do bar.
Queria ter pelo menos um pouco mais de contato com aquele garoto
abusado e irresistível, que fazia o meu coração disparar apenas ao sorrir
para mim. Drew me despertava emoções que eu não conhecia e que ainda
não sabia nomear, mas apenas pelo fato de serem boas emoções, eu sabia
que não podia abrir mão dele ainda.
Precisava viver aquela aventura pelo tempo que eu pudesse.
Precisava ser Marie por um pouco mais de tempo, antes de me prender de
novo à Rachel.
Duas batidas na janela do meu carro me fizeram dar um pulo no
banco e afundar o pé no acelerador. Por sorte, eu havia desligado o carro
assim que estacionei, ou teria enfiado a frente da picape na traseira do Jeep
que estava estacionado alguns metros à frente. Com o coração quase saindo
pela boca, virei o rosto em direção à janela e vi um homem alto, muito
forte, com o braço direito tatuado e cabelos longos presos em um coque. Ele
já era assustador por si só, mas o colete que usava quase me fez desmaiar.
Pensei em dar partida no carro e fugir dali, mas quem poderia me
garantir que ele não pegaria uma daquelas motos estacionadas em frente ao
bar e me seguiria até em casa, segurando uma pistola e pronto para meter
uma bala na minha cabeça? O pensamento me deixou tão apavorada, que
temi perder o controle da bexiga.
Tremendo violentamente, desci o vidro do carro e observei sua
expressão desconfiada, com uma sobrancelha arqueada e um traço bem leve
de sorriso nos lábios.
Ele iria me matar? Meu Deus, com certeza ele iria me matar.
— Oi! Eu, é... eu já esta-tava de saída... É...
Eu estava gaguejando como uma idiota, sentindo a garganta seca e os
olhos prestes a se encherem de lágrimas. Meu estômago deu um nó e senti
dor de barriga quando o motoqueiro se inclinou e apoiou os braços muito
musculosos em minha janela, praticamente enfiando o rosto dentro do meu
carro.
— Rachel Marie, é um prazer finalmente conhecê-la.
Ele sabia o meu nome.
Aquele homem enorme com colete do moto-clube sabia o meu nome.
Eu com certeza estava prestes a desmaiar. Para a minha surpresa, ele
riu. Estava tão nervosa, que só consegui distinguir duas coisas: o homem
era lindo e assustador até mesmo quando sorria.
— Você está branca feito um papel. Fica calma, eu não sou um
fantasma ou alguma merda parecida.
— É, eu estou ve-vendo que não é um fantasma.
Ele era real. Real até demais.
— E eu estou vendo por que Drew está com os quatro pneus
arreados. — E ele também sabia sobre Drew. Senti o sangue descer até os
dedos dos meus pés. Sua mão enorme entrou em meu carro, apontando em
minha direção. — Meu nome é Ralph. Eu sou aquele que ligou para Drew
ontem, avisando que o merdinha do Xerife tinha chegado em casa.
Minha boca caiu aberta com a lembrança que atingiu a minha mente.
Drew havia mesmo recebido uma ligação, mas eu fiquei tão assustada ao
ouvir a voz de Lincoln, que não me dei conta de que alguém havia avisado
a ele que meu marido tinha chegado. Se a pessoa tinha visto aquilo, era
porque estava ali por perto. Provavelmente, dentro do carro que Drew havia
usado para ir à minha casa. Se eu não tinha desmaiado até aquele momento,
com certeza desmaiaria agora.
— Não sei como é a educação na cidadezinha de onde você veio,
mas, aqui em San Martínez, nós apertamos as mãos das pessoas quando as
conhecemos — Ralph insistiu, empurrando a mão um pouco mais em
minha direção. — Pode tocar em mim, Marie. Eu sei que pareço um lobo
gostoso e sensual, mas não mordo.
— Só morde quando pedem — murmurei o óbvio, arregalando os
olhos assim que me calei.
O que eu estava fazendo?
Meu Deus, me mate agora! Surpreendendo-me mais uma vez, Ralph
riu mais alto e puxou a minha mão do volante, dando um aperto amigável.
— É exatamente isso, gatinha, mas, por favor, não espalhe o meu
segredo por aí.
Senti o meu coração desacelerar aos poucos enquanto via o seu
sorriso e retribuía o aperto de mão. Havia algo naquele motoqueiro
chamado Ralph que era... reconfortante. Talvez esse não fosse o termo mais
correto para se usar ao pensar em um homem como ele, mas foi o que me
veio à cabeça naquele momento. Eu ainda estava me borrando de medo,
mas menos nervosa do que antes.
— Deixe-me adivinhar, está procurando pelo Drew. — Não foi uma
pergunta. Notei isso enquanto ele soltava a minha mão.
Eu poderia mentir, mas, de que adiantaria? Ralph claramente sabia
que Drew e eu conhecíamos um ao outro. Eu só esperava que ele não
soubesse nada mais do que isso. Só de imaginar, senti o meu rosto pegar
fogo. O motoqueiro notou, pois abriu um sorriso mais largo e cheio de
dentes.
— Sim. — Precisei limpar a garganta para que a minha voz saísse
mais firme. — Mas não precisa se preocupar em avisar a ele que estou aqui.
Eu já estou de saída.
— Na verdade, eu já avisei. Sou conhecido por não fazer nada pela
metade. Marie é um nome francês?
A pergunta aleatória me deixou um pouco confusa, pois minha mente
ainda estava processando a informação de que Ralph já havia falado com
Drew sobre a minha presença ali. Então, onde ele estava? Será que não
queria me ver? A insegurança apertou o meu peito.
— Sim. Minha avó paterna era francesa e meus pais quiseram
homenageá-la.
— Minha mãe era mexicana. Poucas pessoas sabem, mas eu sei fazer
um chilli de carne que é de comer rezando. Gosta de comida apimentada,
Marie?
— Um pouco. — Sorri ao saber que um homem como ele entrava na
cozinha para fazer algo além de pegar uma água ou deixar o prato sujo na
pia. — Eu gosto de cozinhar, na verdade, mas nunca fiz nenhuma comida
mexicana.
— Precisamos mudar isso! Vamos fazer um trato, eu te ensino a fazer
o chilli e você me ensina a cozinhar alguma dessas comidas frescas da
França. O que acha?
Fiquei tentando imaginar quando eu poderia cozinhar com um
homem como aquele. Talvez só mesmo em meus sonhos, onde eu era uma
mulher livre e fazia o que queria da minha vida. Ainda assim, ao ver o
entusiasmo no rosto de Ralph, acabei sorrindo um pouco mais e
concordando com a cabeça.
— Eu aceito.
— Muito bem, Marie! — Ralph voltou a tocar em minha mão e, me
pegando de surpresa, deu um beijo no dorso. — Vou te fazer pegar fogo
com o chilli.
Não tive tempo de responder, pois o barulho de uma moto soou perto
demais do meu carro e observei pelo retrovisor o momento em que Drew
parou aquela monstruosidade e desmontou com certo desespero. Só então
eu entendi o porquê de ele ainda não ter aparecido. Drew não estava no
moto-clube. Senti meu coração disparar ao perceber que ele havia saído
correndo de onde estava apenas para vir me ver. Ralph se afastou um pouco
quando Drew se aproximou da porta do motorista.
— Marie e eu vamos fazer um chilli juntos! — Ralph anunciou e o
motoqueiro mais jovem olhou para ele com o cenho franzido, antes de
voltar a olhar para mim.
— O quê? O que é um chilli?
— Como assim “o que é um chilli?”? Tem noção de que você acabou
de ofender um país inteiro com uma única frase, seu merdinha?
Arregalei os olhos, sem saber como reagir. Eles iriam brigar? Eu teria
que tentar apartar a briga? Chamar alguém? E se apontassem a arma um
para o outro?
— Por que eu deveria saber o que é isso?
— Porque é uma das melhores comidas que existem! Sinceramente,
Drew! O que adianta saber comer boceta, se não sabe nem o que é um chilli
de carne? Estou decepcionado! — Ralph se virou para mim e me deu um
sorriso muito indecente. — Acho que você deveria trocar ele por mim,
Marie. Eu sou mais experiente, com certeza sou melhor na cama e ainda sei
cozinhar. Só vejo vantagens.
— Vai se foder, seu babaca! — Drew o empurrou de leve pelos
ombros e Ralph riu mais alto. Senti meu coração voltar a bater. Eles não
pareciam estar bravos um com o outro, apesar de Drew estar com o
semblante carregado. Ele ocupou o lugar do Ralph em frente à minha
janela, mas logo fez uma careta quando o motoqueiro mais velho passou o
braço pelo seu ombro e sacudiu seu cabelo. — Para com isso, porra!
— Eu só estava brincando, você sabe, não sabe?
— Claro que eu sei. Se sentisse que era verdade, já tinha metido uma
bala na sua cabeça.
— Uau, como você é violento, Drew! Assim vai assustar a Marie. —
Ralph piscou para mim e deu um passo para trás. — Foi muito bom te
conhecer. Quando vir o seu marido de novo, dê um chute nas bolas dele por
mim.
Ralph atravessou a rua, mas, ao invés de entrar no bar, ficou
conversando com os meninos mais novos que usavam colete. Drew tomou
todo o meu campo de visão ao se inclinar na janela, como Ralph havia feito
antes, e aproximar um pouco o rosto do meu.
— Tomei um susto quando Ralph me ligou, avisando que você estava
aqui. Aconteceu alguma coisa? — Seus dedos tocaram o meu queixo,
virando meu rosto para um lado e depois para o outro. — Aquele filho da
puta machucou você?
Minha garganta pinicou, como se mil agulhas estivessem a
perfurando, ao notar a preocupação no tom de voz e no olhar de Drew. Para
disfarçar a emoção, forcei um sorriso e sacudi a cabeça.
— Não, ele não fez nada comigo. Eu só... Bem, eu não pensei direito
antes de vir aqui. Foi arriscado e imprudente. Não vou fazer isso de novo.
— Foi arriscado sim, mas eu gostei. Veio porque está com saudade
de mim? — Ele finalmente me deu aquele sorrisinho de lado que me
deixava com as pernas trêmulas e o coração batendo forte.
— Não vou ficar alimentando o seu ego. Algo me diz que ele já é
grande o suficiente.
— Sim, talvez ele seja grande como o meu pau. Você o viu ontem, já
sabe exatamente como ele é.
— Drew!
Senti meu rosto pegar fogo e precisei olhar por cima do seu ombro só
para ter a certeza de que os outros motoqueiros ainda estavam longe o
suficiente. Drew riu baixinho e voltou a tocar o meu queixo com
delicadeza.
— Você fica linda quando está com vergonha, Marie.
— Não estou com vergonha.
— Mentirosa. — Ele sorriu abertamente, ficando muito mais
parecido com um garoto do que com um homem. O contraste das suas
feições com o seu corpo era algo que eu ainda precisava me acostumar. —
Sabe onde eu estava?
— Em algum lugar importante, eu acho. E te atrapalhei ao vir aqui —
afirmei, porque aquilo parecia óbvio.
— Não me atrapalhou. Na verdade, talvez você possa me dar uma
resposta. Posso entrar? — Apontou para o banco do carona e eu concordei
com a cabeça, fechando rapidamente o vidro enquanto Drew dava a volta
no carro. Assim que ele entrou, senti seu cheiro gostoso misturado ao couro
do colete tomar conta da picape. — Eu estava desde cedo em frente ao
departamento de polícia.
— Estava observando Lincoln? — Drew apenas concordou com a
cabeça. — Por quê? Isso pode ser perigoso, Drew! Se ele o vir lá, com esse
colete... Não quero nem imaginar o que pode fazer.
— O colete estava no alforje da moto e eu estava a uma distância
segura, não precisa ficar preocupada com isso.
— Claro que eu me preocupo! — falei, tomando a sua mão grande e
calejada na minha. — Por que estava observando Lincoln?
— Já disse que ele é um inimigo do MC, precisamos ficar de olho
nele.
Engoli em seco e olhei para o outro lado da rua, observando o bar do
moto-clube e pensando em algo pela primeira vez.
— Mais alguém, além de Ralph, sabe que você me conhece?
— Todo mundo sabe que eu te conheço. — Sua resposta me pegou
desprevenida e o meu primeiro impulso foi tirar a minha mão da dele, mas
Drew foi mais rápido e a segurou, entrelaçando os dedos nos meus. — Não
pense nenhuma besteira, ok?
— Você não sabe o que eu estou pensando — falei na defensiva, mas
a minha mente já estava trabalhando.
Se todos no moto-clube sabiam que Drew me conhecia e não tinham
feito nada sobre isso, era porque ter acesso a mim era benéfico a eles, de
alguma forma? Fazia parte de alguma vingança contra Lincoln? Drew
estaria me usando em nome do MC para poder se aproximar do meu
marido? Tudo o que havia acontecido entre nós dois... era uma mentira?
Tentei tirar minha mão da dele de novo, mas Drew a puxou para os seus
lábios, dando um beijo em cada um dos meus dedos.
— É verdade, não sei o que você está pensando, mas posso imaginar
— disse baixinho, olhando em meus olhos. — E garanto para você que não
é nada disso. Tudo isso que está acontecendo entre nós dois não tem nada a
ver com o moto-clube. Pelo contrário, quando eles descobriram, quase
arrancaram o meu pescoço.
Não consegui esconder o meu susto e os meus olhos se arregalaram.
— Quando eles descobriram?
— Ontem.
— Ontem? — Talvez eu tenha falado um pouco mais alto do que o
normal. Drew concordou com a cabeça, ainda sério. — Antes ou depois da
gente... De você ter ido à minha casa?
— Antes.
— E mesmo assim, você foi até lá me ver? — Drew voltou a
concordar com a cabeça. Pelo visto, dentro dela só havia vento, já que ele
era imprudente o bastante para ir até à minha casa depois de os membros
daquele moto-clube terem ameaçado “arrancar o seu pescoço”. — Você é
louco, Drew!
— Sou, sim. E estou te contando tudo isso para você não duvidar das
minhas intenções em relação a nós dois, Marie. Eu não me importo se você
é esposa daquele filho da puta. Essa merda aqui — ele tocou a minha
aliança — não significa nada para mim.
— Para mim também não. — Fui sincera, vendo o semblante de
Drew desanuviar um pouco. — Mas isso não quer dizer que o moto-clube
vai aceitar o que está acontecendo entre a gente.
— Eles não precisam aceitar nada. É a minha vida, Marie.
Apertei a sua mão com força entre as minhas, ficando nervosa de
novo.
— Eles são perigosos! Podem fazer alguma coisa contra você!
— Eles não fariam nada comigo e nem com você.
Eu ri, apesar de não estar achando graça alguma em tudo aquilo.
— Lincoln pode ser um filho da puta, como você vive dizendo, mas
sei que ele não mentiu quando me disse que os Flame Wolves era um moto-
clube fora da lei.
— Sim, ele não mentiu. Isso não significa que a gente mata qualquer
um que atravessar o nosso caminho.
— Eu não sou qualquer uma. Sou esposa do homem que, segundo
você, é o novo inimigo do moto-clube.
— E daí? Acha que tocaríamos em você para atingir Lincoln? — O
cenho de Drew se franziu e eu não consegui identificar se estava confuso ou
com raiva.
— Se forem fazer isso, já adianto que será uma perda de tempo. É
capaz de ele agradecer por vocês o livrarem de mim.
Drew apertou a mandíbula e sacudiu a cabeça, soltando um suspiro
forte pelo nariz. Ok, ele estava com raiva, e eu me senti uma idiota por
achar aquilo tão sexy. Eu deveria estar com medo, mas não era aquele
sentimento que Drew me causava.
— Esse é um dos motivos pelo qual ele deve morrer, Marie. — Seus
olhos castanhos e sérios voltaram a se chocar com os meus. — E também é
um dos motivos que nos difere dele. Nosso moto-clube não toca em
mulheres inocentes. Nunca vi um homem lá dentro levantar a mão para a
sua companheira ou ser agressivo de qualquer forma. Entendo a forma
como você nos enxerga, pois também acreditei que encontraria situações
assim quando entrei para os Flame Wolves. Acho que nunca te disse isso,
mas meu pai me usou e me fez entrar no moto-clube como um infiltrado.
Meu objetivo era colher informações e passar para ele, além de tentar fazer
o meu irmão vir para o nosso lado.
— Você tem um irmão? — Fiquei surpresa. Quem seria? Ralph?
Não. Pensando bem, eles não tinham nada em comum fisicamente, apesar
de serem altos e fortes.
— Sim. O nome dele é Damon e somos filhos apenas do mesmo pai.
Não fomos criados juntos e, até pouco tempo, ele nem sabia da minha
existência. — Drew limpou a garganta, parecendo emocionado e eu apertei
a sua mão. Ele retribuiu o aperto e logo voltou ao foco. — Eu achei que
encontraria apenas homens parecidos com o meu pai aqui. Já disse como ele
era para você, então, imagina do que estou falando, mas me surpreendi ao
ver como eles eram diferentes e decidi que me tornaria um deles. Sei que
cometemos crimes, mas somos uma grande família e protegemos uns aos
outros, Marie. Apesar de tudo, temos alguns princípios. Sei que pode ser
difícil para eles aceitarem que estou com você, mas não farão nada que
possa te prejudicar.
Eu vi a certeza nos olhos de Drew e aquilo desafrouxou, um pouco, o
aperto em meu peito. Apesar de estar com medo e nervosa, fiquei feliz por
ele ter encontrado um lar de verdade entre aqueles homens violentos.
“Violentos com quem mereciam”, pensei melhor, pois Drew nunca havia
agido de forma violenta comigo e Ralph parecia ser um homem incrível.
— Eu acredito em você — falei, deixando a sua mão para poder tocar
em seu rosto. — Eu confio em você, Drew. Acho que foi isso que me fez vir
aqui, acima de qualquer outra coisa.
Ele me deu um sorriso amplo, que maltratou o meu coração.
— É muito bom ouvir isso. — Drew tomou o meu pulso e beijou a
palma da minha mão, me encarando com os olhos risonhos e mais calmos.
— E qual foi o segundo motivo que a trouxe até aqui?
Senti meu rosto pegar fogo, mas segui em frente apesar da vergonha.
— Queria dar um jeito de te contar que Lincoln vai para Los Angeles
hoje e só volta amanhã.
As sobrancelhas de Drew se arquearam, mas logo se abaixaram
quando seus olhos se estreitaram.
— Por isso que ele pegou a estrada ao invés de ir para casa quando
saiu do departamento de polícia? — Eu apenas confirmei com a cabeça. —
Era isso que eu queria te perguntar, se você tinha conhecimento do lugar
para onde ele estava indo. Sabe me dizer o que ele foi fazer em Los
Angeles?
— Não. Lincoln não me explica nada nem me passa detalhes da sua
rotina, ele só disse que se encontraria com um antigo amigo e pegaria uma
diária em um hotel.
— Se importa se eu contar isso para os membros do MC?
Achei bonitinho da parte dele me perguntar, quando poderia apenas
passar a informação sem se preocupar comigo.
— Não me importo. E vou tentar ficar mais atenta sobre Lincoln. Se
eu descobrir alguma coisa, te aviso.
— Marie, não quero que se sinta pressionada a nada...
— Não estou me sentindo pressionada, estou fazendo isso porque
quero. Porque também quero me ver livre de Lincoln. — Observei as
nossas mãos unidas em seu colo e senti que poderia desabafar. — Talvez
isso me transforme em uma pessoa ruim, mas, muitas vezes, eu desejei que
Lincoln morresse, apenas para que eu parasse de sofrer nas mãos dele.
— Isso não faz de você uma pessoa ruim — Drew disse, erguendo o
meu rosto ao tocar em meu queixo. — Sentir algo assim por uma pessoa
que nos maltrata é normal, Marie. Eu prometo que esse inferno em que você
vive vai acabar em breve e as suas mãos continuarão limpas. Mesmo se me
der alguma informação, tudo o que Lincoln for sofrer, será apenas a
consequência para os atos dele e não os seus, entendeu?
Eu confirmei com a cabeça, pois senti a minha garganta ficar
embargada de repente. Como se não se importasse por estarmos em frente
ao moto-clube, Drew tomou o meu rosto com as duas mãos e aproximou o
rosto do meu.
— Vou mais tarde na sua casa — sussurrou com a boca muito perto
da minha. — Espere por mim.
— Vou esperar.
Ele me deu aquele sorrisinho de lado e tomou a minha boca em um
beijo profundo, que me deixou excitada e com o coração disparado no
peito.
Esperei o momento exato em que um vizinho entrou com o seu carro
na garagem e um ciclista virou a esquina, para poder me aproximar da casa
de Marie. Havíamos trocado nossos números de celular, por isso, mandei
uma mensagem falando que estava a caminho e ela respondeu dizendo que
deixaria a porta destrancada. Entrei rapidamente, antes que algum vizinho
ou pedestre aparecesse na rua, e tranquei a porta atrás de mim.
Um cheiro muito bom tomava conta da casa e me lembrava a
camarões. Como a sala estava vazia, tomei a liberdade de atravessar a sala
de jantar e chegar à cozinha, onde encontrei Marie tomando uma taça de
vinho e mexendo em uma panela.
— O cheiro está delicioso.
Ela se virou rapidamente ao ouvir a minha voz, com os olhos
arregalados e um sorriso se abrindo na boca bonita. Deixando a taça sobre a
pia, Marie se aproximou e eu a ajudei a encurtar completamente a nossa
distância, tomando sua cintura em minhas mãos e os lábios sedosos nos
meus. O gosto de vinho em sua língua quase me deixou de pau duro em
tempo recorde. O filho da mãe pulsou dentro da calça, mas fiz de tudo para
me controlar, pois não queria parecer tão depravado na presença de Marie.
Liberei os seus lábios ouvindo seu gemido baixinho, que se tornou
um suspiro entrecortado quando dei um beijo na pele arrepiada do seu
pescoço.
— Preciso dar uma olhada nos camarões. Não quero queimar o nosso
jantar — ela murmurou e eu deixei que se afastasse depois de mordiscar o
lóbulo da sua orelha. — Na verdade, só agora que pensei em perguntar se
você gosta de camarão ou se tem alguma restrição. Se tiver, eu posso
começar a fazer algum outro prato agora mesmo e...
— Marie. — Aproximei-me dela perto do fogão e tomei seu rosto em
minhas mãos. — Não precisa se preocupar com isso. Não precisava nem
mesmo cozinhar para mim, não quero dar trabalho para você.
Suas bochechas rosadas pelo nosso beijo ficaram um pouco mais
vermelhas.
— Não é trabalho algum, eu gosto de cozinhar. Já te disse isso,
lembra?
— Sim, eu me lembro, mas não quero que pense que precisa ficar
cozinhando para mim como faz para Lincoln.
— Para ele, eu faço por obrigação — disse ela, virando-se para
mexer uma frigideira cheia de camarões limpos e descascados. Percebi que
havia alho ali dentro, junto com um ramo verde que deveria ser algum tipo
de tempero que eu desconhecia. — Mas, para você, estou cozinhando
porque quero. Então, me diz, gosta de camarão?
Marie estava focada na frigideira, por isso, só percebeu quando eu saí
do seu lado e parei às suas costas, quando dei um beijo em sua nuca. Seu
cabelo estava preso em um coque charmoso e bem alto, deixando toda a
parte do pescoço exposta para mim. Ela estremeceu e inclinou o rosto para
o lado quando passei meu nariz pela pele arrepiada e cheirosa até chegar à
sua orelha.
— Eu gosto. Tenho certeza de que estará delicioso.
— Drew... — Ela gemeu baixinho quando toquei sua cintura e a
puxei em minha direção, pressionando o início da minha ereção em sua
bunda. Precisei inclinar um pouco os joelhos para que o encaixe ficasse
perfeito. — Assim eu vou me distrair e queimar tudo.
Sorri, colocando o lóbulo da sua orelha entre os meus dentes e
mordiscando devagar, até ele escapar do cativeiro da minha boca. Desci
minha língua pelo seu pescoço e corri até a nuca, ouvindo-a xingar baixinho
quando a mordi ali também, um pouco mais forte.
— Drew! Por favor! — choramingou. Puxei seu rosto em minha
direção, tomando-a pelo pescoço. Gostei de ver a forma como seus olhos
estavam pesados e os lábios separados para que conseguisse respirar.
— Se eu colocar a minha mão dentro da sua calcinha agora, como
vou encontrar essa bocetinha, Marie?
Ela passou a língua pelos lábios e eu salivei para beijar a sua boca.
— Depilada.
Eu ri baixinho, vendo-a engolir em seco enquanto abaixava o meu
rosto em sua direção. Passei meus lábios entre os dela e respirei o ar que
soprou em direção à minha boca ao expirar.
— Apenas depilada? Será que não vou encontrá-la nem um pouco
molhada para mim?
— Sim. — Suspirou, fechando os olhos quando pousei minha outra
mão na parte de trás da sua cabeça e a fiz se inclinar, deixando-a em uma
posição melhor para beijá-la.
— Muito molhada ou pouco molhada?
— Muito.
Porra. Meu pau babou no tecido da cueca, já imaginando o momento
em que entraria naquela boceta apertadinha e a encheria de porra. Para
tentar me conter, beijei a sua boca com força, tomando a sua língua na
minha e maltratando os seus lábios bonitos e macios. Marie gemeu junto
comigo, ficando na ponta dos pés e sarrando a bunda gostosa na minha
ereção, quase me fazendo perder a cabeça.
Por mim, a deitaria na ilha da cozinha e meteria meu rosto entre as
suas coxas, mas sabia que ela havia preparado aquele jantar para mim e não
queria desapontá-la apressando as coisas, por isso, diminuí a intensidade do
beijo e chupei de leve a sua nuca. Era um local que eu exploraria naquela
noite, pois sabia que seus cabelos esconderiam qualquer marca que eu
deixasse.
— Os camarões — sussurrei em seu ouvido, voltando a colocar a sua
cabeça na posição de antes. — Eles não podem queimar.
Marie piscou e fingiu me dar uma cotovelada na altura das costelas
quando comecei a me afastar.
— Se eles ficarem borrachudos, saiba que a culpa será toda sua!
— Ok, eu assumo essa responsabilidade. — Sorri, me aproximando
da pia e servindo um pouco mais de vinho na taça.
— Tem uma outra taça na cristaleira da sala de jantar.
— Não preciso de outra taça, essa aqui vai deixar o vinho com um
sabor especial. — Ela sacudiu a cabeça quando pisquei, sorrindo enquanto
eu tomava um gole do vinho tinto e suave, com um leve sabor frutado. —
No que eu posso te ajudar?
Marie olhou à nossa volta e apontou para uma panela média que
estava ao lado da garrafa de vinho.
— Coloque essa panela no fogão e despeje um fio de azeite nela.
Fiz o que pediu, encontrando o azeite e colocando uma quantidade
pequena. Vi quando desligou o fogo que aquecia a frigideira e ligou o outro
onde estava a panela.
— Só preciso temperar o macarrão, colocar o molho bechamel e logo
o jantar estará pronto.
— Sem pressa. Posso ajudar em algo mais? Não gosto de ficar
parado.
Marie sorriu e sacudiu a cabeça.
— Não precisa. Para falar a verdade, eu não gosto muito de
compartilhar a cozinha.
— Ok, capitei a mensagem. — Bati continência para ela e ouvi a sua
risadinha. Resolvi mudar de assunto. — O que você achou do Ralph?
Encontrar os dois conversando em frente ao MC foi algo que me
pegou de surpresa. Para falar a verdade, quando o Secretário me ligou,
avisando que Marie estava lá, eu quase não acreditei. Estava seguindo
Lincoln e prestes a ligar para Connor, informando que o babaca ia sair da
cidade, quando o meu celular tocou. Precisei mudar de rota e voltar ao MC,
pois sabia que, apesar de achar inacreditável que Marie estivesse lá, Ralph
não pregaria aquela pegadinha em mim.
Ver os dois juntos conversando e ela rindo para ele me deixou ainda
mais confuso. Era uma cena tão atípica, que nem nos meus sonhos mais
loucos ela havia passado pela minha cabeça.
— Fiquei morrendo de medo dele quando bateu na janela da picape.
— Sua sinceridade me fez sorrir por trás da taça, enquanto tomava mais um
gole do vinho. — Achei que iria me matar.
— O Ralph? — Eu ri mais alto e Marie jogou o pano de prato que
estava ali perto em minha direção. Agarrei-o no ar, ainda rindo.
— Você não pode me julgar! Tudo o que eu conhecia sobre o moto-
clube até então, é que os membros são perigosos e cometem crimes.
— Eu também sou um membro. — Aproximei-me dela e ofereci a
taça, vendo-a beber um pouco antes de me entregar de volta. — E, sim,
somos perigosos e cometemos crimes, mas não agimos como loucos, disse
isso para você.
— Agora eu sei. Quer dizer, ainda é um pouco difícil assimilar tudo,
mas consigo compreender que pode ter mais pessoas parecidas com você do
que com Lincoln lá dentro.
— Ninguém lá dentro é parecido com aquele filho da puta.
— E eu não desacredito da sua palavra. — Ela foi até a ilha da
cozinha e pegou uma tábua de vidro onde estavam picados alho e alguma
folha verde. Colocou apenas o alho na panela e o cheiro logo perfumou o ar.
— Só que eu acho que preciso de um tempo para tirar a imagem que
Lincoln plantou em minha cabeça.
— Conhecer a mim e ao Ralph está ajudando nisso?
— Com certeza. Você é maravilhoso e o Ralph é... Surpreendente.
— Surpreendente como?
— O bom-humor dele me surpreendeu.
Eu sorri ao ouvir aquilo, surpreso por estar com um pouco de ciúmes,
mas não muito. O fato de Ralph ser um cara tão expansivo poderia ajudar
Marie a se sentir mais confortável com os irmãos no futuro.
— Ralph é mesmo um cara muito legal.
— E o seu irmão? Como é?
Levei um tempo para pensar em como responder aquilo, porque não
queria falar para Marie que Damon não nos queria juntos. Isso com certeza
a faria se retrair ainda mais.
— Meu irmão é foda. — Fui sincero, vendo Marie sorrir para mim
enquanto tirava a massa da outra panela e a jogava na que estava com o
alho refogado. — Ele é um cara extremamente leal, que com certeza daria a
vida por qualquer pessoa dentro do MC. Também é apaixonado pela esposa
e só falta abanar o rabo quando ela está por perto.
— Meu Deus! — Marie riu mais alto, sacudindo a cabeça. — E como
é a relação entre vocês?
— A melhor possível. Às vezes a gente briga, porque ele sabe me
irritar como ninguém, mas tenho certeza de que eu não sei mais viver sem o
meu irmão. Só lamento por não ter o conhecido antes. Seria incrível se eu
tivesse crescido ao lado dele.
— O que importa, é que vocês estão juntos agora e que nunca mais
vão se separar — disse ela e eu concordei com a cabeça. Aquela era a única
coisa da qual eu tinha certeza. — Eu não tenho irmãos. Na verdade, meus
únicos parentes vivos são os meus pais e isso é... solitário.
— Eu sei como é.
Trocamos um olhar confidente, porque Marie tinha conhecimento
sobre parte da minha infância e sabia que eu não estava falando aquilo da
boca para fora.
— Mesmo assim, quando Lincoln disse que nos mudaríamos para
San Martínez, eu fiquei aliviada. — Ouvir aquilo me surpreendeu. —
Minha mãe sempre lutou para me colocar em um molde onde eu não cabia,
literalmente. — Marie riu baixinho, mas foi aquele tipo de risada anasalada
e sem humor. — Eu nunca consegui alcançar a perfeição que ela almejava
para mim. Sempre fui uma menina acima do peso e isso a enfurecia.
Quando cresci, nada mudou, como você pode perceber.
Apontou para si mesma e eu senti vontade de pegar a minha Harley e
ir até Piece of Sky ter uma conversa com aquela velha maldita.
— Meu pai nunca ligou muito para mim, ele só queria que eu tivesse
um bom casamento, para que não precisasse me sustentar para sempre.
Então, Lincoln surgiu um dia em minha casa, quando eu ainda tinha
dezessete anos, e disse que queria se casar comigo quando eu completasse a
maioridade. Minha mãe ficou exultante, meu pai aceitou na hora. E foi
assim que eu vim parar aqui.
Ela ergueu a mão esquerda e apontou para a aliança dourada, que
mais parecia a porra de uma algema. Sem paciência para aquela merda,
tomei sua mão na minha e tirei o anel, vendo Marie arregalar os olhos.
— Drew! O que você...
— Hoje, você não está presa à essa porcaria — falei, colocando a
aliança no bolso da minha calça jeans. — Somos só nós dois essa noite,
Marie. Pode desabafar comigo e contar toda a sua história, mas não quero
que fique olhando para essa aliança. Quero que olhe apenas para mim,
porque, em breve, Lincoln fará parte do seu passado e eu serei o seu futuro.
Ela ofegou e eu aproveitei o momento para beijar a sua boca mais
vez, sentindo-a se derreter em meus braços. O beijo não durou tempo
suficiente — percebi que com Marie eles nunca duravam, porque eu sempre
queria mais dela —, mas serviu para acalmar um pouco o ódio que eu sentia
por Lincoln e, agora, pelos seus pais. Dois babacas omissos, que entregaram
a filha em uma bandeja de prata para um filho da puta como o Xerife.
O jantar logo ficou pronto — fettuccine Alfredo com camarão — e
nós resolvemos comer na sala, sentados no chão em frente à mesa de centro.
Estava delicioso demais e precisei repetir o elogio algumas vezes, pois
Marie era insegura e ficou nítido que não acreditou de primeira em meu
elogio. Eu fiz questão de lavar a louça após insistir muito e pedir para que
me aguardasse na sala, mas Marie logo surgiu na cozinha com a desculpa de
que pegaria uma segunda garrafa de vinho.
Ela mesmo abriu a bebida e eu terminei rápido com a louça, antes
que ela insistisse em tomar o meu lugar. Fiquei um pouco chocado ao
perceber que não ficamos momento algum em silêncio. Eu não era a pessoa
mais extrovertida do mundo, mas conversar com Marie era fácil. Em pouco
tempo, contei quase toda a minha vida, inclusive sobre o meu breve
envolvimento com Madison, o que deixou Marie com uma expressão
diferente no rosto e um olhar levemente desconfiado. Estávamos sentados
lado a lado quando percebi o sentimento diferente em seu olhar e precisei
segurar um sorriso.
— Por que está me olhando assim? — perguntei e ela tentou
disfarçar, tomando o restinho do vinho na taça em que compartilhávamos. A
segunda garrafa já estava vazia sobre a mesinha de centro.
— Assim como?
— Assim, desse jeito. — Apontei para o seu rosto com o queixo,
sentindo minhas mãos comicharem para tocar nela.
— Que jeito?
— Como se estivesse com ciúmes.
Marie arregalou os olhos e sacudiu muito rápido a cabeça, ficando
com as bochechas vermelha. Ela não estava embriagada, mas com certeza
estava mais solta por causa do vinho que compartilhamos.
— Não estou com ciúmes!
— Tem certeza?
— Claro que sim! Por que eu ficaria? Madison agora é esposa do seu
irmão.
— Sim, ela é.
— Então, eu não preciso sentir ciúmes.
— Mas sentiria ciúmes se ela não fosse esposa de Damon?
Seus olhos pararam em meu rosto antes de se estreitarem. Suas
bochechas ainda estavam vermelhas e Marie nunca esteve tão linda antes
aos meus olhos.
— Não!
— Agora você está com raiva — constatei, sentindo graça e me
inclinando um pouco em sua direção.
— Não estou com raiva. Para falar a verdade, eu não estou sentindo
nada!
Ela se esticou para deixar a taça vazia sobre a mesinha de centro e eu
aproveitei o seu momento de distração para tomar a sua nuca em minha
mão e me inclinar de vez sobre o seu corpo, fazendo-a se deitar no tapete
felpudo da sua sala. Marie soltou um gemidinho de susto, mas logo lambeu
os lábios e respirou fundo quando parei sobre o seu corpo, sem apoiar o
meu peso sobre ela.
— Eu senti ciúmes de você hoje com o Ralph — confidenciei,
vendo-a arregalar os olhos.
— Sen... sentiu? — Sua voz saiu entrecortada e o meu pau voltou a
endurecer enquanto eu sentia o seu cheiro tão de perto.
— Sim, senti.
— Mas... Por quê?
— Porque eu sei como Ralph pode ser... convincente com as
mulheres. E até com alguns homens.
— Homens? Você quer dizer que ele é gay? — Marie ficou tão
surpresa quanto eu fiquei quando vi Ralph beijar um cara pela primeira vez,
em uma das missões que fizemos juntos.
— Ele é bissexual.
Sua boca se transformou em um O perfeito e eu não pude me segurar,
precisei sugar o lábio inferior entre os meus, ficando duro de uma vez ao
sentir o seu sabor.
— E todo mundo sabe? — Marie perguntou baixinho, soltando um
suspiro de deleite quando enfiei meu rosto em seu pescoço e passei a língua
em sua pele.
— Sim. Ralph não se esconde de ninguém. Ele não se importa com a
opinião alheia e eu concordo com o posicionamento dele. Gosto da
liberdade que ele imprime.
Mordisquei sua orelha e Marie estremeceu, afastando um pouco as
pernas. Foi a minha vez de gemer, pois ela usava vestido novamente
naquela noite e o movimento me permitiu ficar no meio das suas coxas.
Passei de leve a minha ereção em sua boceta coberta pela calcinha,
ouvindo-a gemer e passar as unhas em minha nuca.
— Isso é... surpreendente. — Voltei a olhar em seu rosto e encontrei
um sorrisinho em seus lábios. — E isso aqui — suas mãos desceram até a
minha cintura — é gostoso demais.
— Eu sei que é.
— O quê? Ralph ser bissexual ou o que você está fazendo comigo?
Eu ri baixinho, usando um braço para me apoiar e o outro para descer
a mão pelo seu corpo até chegar no vestido. Subi lentamente, torcendo para
que Marie não me impedisse daquela vez.
— As duas coisas.
Ela mordeu o lábio quando rocei meu pau na sua bocetinha,
pressionando um pouco em cima do clitóris. Continuei a subir o seu
vestido, passando da linha da cintura e quase chegando em sua barriga.
— E você já fez alguma coisa com Ralph?
Parei ao ouvir a sua pergunta, vendo a curiosidade misturada com
tesão em seu olhar. Seus dentes voltaram a morder o lábio inferior e o meu
pau pulsou quando a imagem deles em volta da minha glande toda babada
atravessou a minha mente.
— Nunca, mas não por falta de tentativa da parte do Ralph.
— Ele já deu em cima de você?
— Ralph dá em cima de todo mundo. Ele fez isso com você hoje.
— Mas era brincadeira.
— Sempre é uma brincadeira... — Abaixei meu rosto até roçar meus
lábios nos dela. — Até deixar de ser.
Engoli o seu suspiro surpreso com um beijo, explorando bem a sua
boca com a minha língua enquanto descia minha mão pelo seu quadril
arredondado e chegava à bunda. Não havia sinal da sua calcinha ali, o que
me fez pensar que, ou Marie havia enfiado o tecido entre as nádegas, ou a
lingerie era fio dental. De qualquer forma, eu só queria explorar cada
pedacinho dela que eu pudesse alcançar.
Suas mãos puxaram meus quadris para mais perto e eu simulei o
movimento de penetração, roçando bem gostoso em sua boceta enquanto
ouvia seus gemidinhos abafados pelos meus beijos. Só deixei sua boca
quando realmente precisei respirar, mas logo me ocupei com o seu pescoço,
explorando bem a região onde percebi que Marie era mais sensível.
— O que vai me deixar fazer com você hoje? — perguntei baixinho
em seu ouvido, sentindo-a estremecer a cada golpe dos meus quadris.
— Tudo.
Precisei me afastar para olhar em seus olhos, pois, apesar de querer
muito, aquela não era a resposta que eu esperava receber.
— Tudo?
— Sim. — Marie tocou em meu rosto com os dedos levemente
trêmulos. Percebi uma certa vulnerabilidade em seu olhar, que era diferente
da noite passada. — Eu não sei até quando a nossa história vai durar, Drew,
e decidi que não quero perder tempo me agarrando às inseguranças ou ao
medo. Quero viver tudo com você, pelo tempo que a gente tiver.
Eu entendi o que ela quis dizer, mas preferia não ter entendido.
Porque compreender significava que, no fundo da minha mente e do meu
peito, aquele era um pensamento que me visitava com frequência. Nosso
objetivo no MC era acabar com Lincoln, mas, e se não conseguíssemos? E
se ele saísse de San Martínez e levasse Marie consigo? E se eu nunca mais a
visse?
— Eu só quero que tenha certeza de que está fazendo isso porque
quer.
— Eu quero. Eu passei o dia todo pensando nisso, Drew. — Suas
mãos desceram pelo meu peito e se infiltraram em meu colete. — Eu não
comecei a me sentir a mulher mais linda e sexy do mundo do dia para noite.
Ainda acho que há partes de mim que você não vai gostar e...
Toquei em seus lábios com os meus dedos apenas para silenciá-la.
— Eu adoro cada parte sua e vou mostrar isso a você, Marie.
Ela me deu um sorriso emocionado e meio triste, que fez com que o
meu coração batesse mais forte.
— Não quero decepcionar você — sussurrou. — Talvez eu não seja
tudo aquilo que você está esperando encontrar em mim.
— Você é muito mais do que eu esperava encontrar. — Fui
brutalmente sincero, até comigo mesmo. — Deixe-me mostrar isso para
você.
Marie concordou com a cabeça e se entregou quando eu a beijei.
Senti duas lágrimas escorrerem pela lateral do seu rosto quando toquei a
pele macia da sua bochecha e decidi que, a partir daquela noite, Rachel
Marie nunca mais choraria por insegurança com o próprio corpo.
Eu mostraria a ela como era a mulher mais desejada do mundo para
mim.
Meu coração ameaçou sair pela boca quando Drew deslizou as alças
do meu vestido pelos meus braços, desnudando meus seios. Talvez aquela
fosse a única parte do meu corpo que eu admirava, pois gostava do formato
dos meus seios e o fato de não serem grandes, apesar de não serem tão
firmes como eu sabia que a maioria dos homens gostavam. Por isso, foi
impossível conter o nervosismo conforme os olhos ávidos de Drew desciam
pelo meu colo e chegavam a eles.
Respirei fundo, tentando diminuir a sensação de frio na barriga e a
vontade de sair correndo. Não queria agir como a covarde que eu
geralmente era, mas precisei fechar os meus olhos quando o senti deslizar o
vestido pelo meu corpo, passando pela barriga, os quadris e as minhas
pernas, até tirá-lo completamente e me deixar apenas de calcinha.
As palavras rudes que Lincoln jogou em minha cara na nossa noite
núpcias quase voltaram a minha mente. Por um momento, me vi novamente
na casa em que moramos juntos em Piece of Sky, naquele quarto escuro e
com móveis velhos, eu deitada em sua cama e o seu corpo pesado e com
pele flácida em cima do meu. Sua expressão de desgosto era tudo o que eu
conseguia ver e um nó se formou em meu estômago.
— Marie. — A voz de Drew soou em meus ouvidos e eu abri os
olhos, encontrando os dele bem ali, pertinho do meu rosto. — Quero que
fique de olhos abertos para ter certeza de quem está aqui com você.
Abri minha boca em choque, sentindo o peso das suas palavras.
— Eu falei alguma coisa em voz alta? Chamei o nome dele?
Drew sabia quem era ele. Senti o meu coração disparar.
— Não, mas acho que já conheço algumas das suas expressões e
percebi quando pareceu ir para bem longe daqui. — Seus dedos tocaram a
minha bochecha com delicadeza e eu temi começar a chorar bem ali, na
frente dele. — Sou eu que estou com você e eu jamais vou te machucar.
— Eu sei. Me desculpe, eu não queria pensar em Lincoln agora, eu
só... Ele foi o único homem com quem eu já estive e sei o quanto odiou me
tocar.
— Não se desculpe por algo que não culpa é sua. Hoje você vai
descobrir que o problema não está no seu corpo ou em quem você é. O
problema está nele. Dê-me a sua mão. — Fiz o que pediu e engoli em seco
quando se ajoelhou na minha frente e pousou os meus dedos em sua ereção,
que marcava o tecido da calça jeans. Minha boceta piscou e senti os meus
mamilos ficarem mais duros e sensíveis. — Você é a responsável por isso.
Eu nunca menti para você, mas não precisa acreditar nas palavras que saem
da minha boca. Acredite nisso aqui. — Drew pressionou minha mão com
mais força em sua ereção. — Um pau duro sempre é sincero.
Mesmo sabendo que era inapropriado, eu ri, sentindo parte da minha
tensão ir embora e uma onda de desejo tomar conta do meu corpo. O corpo
que sempre repudiei, mas que parecia despertar o tesão daquele garoto...
Daquele homem lindo na minha frente. Resolvi lutar contra a insegurança e
me sentei, começando a despir Drew.
Tirei o seu colete e ele me ajudou a livrá-lo da blusa, me fazendo
perder o fôlego com a visão do seu peitoral enorme, a barriga trincada e
toda aquela tatuagem. Eu sabia que havia muita tinta em sua pele, afinal, até
mesmo o seu pescoço era tatuado, mas vê-lo com o torço nu era uma visão
e tanto. Um gemido meio rouco escapou da sua boca quando desci meus
dedos pela sua pele, passando pelos mamilos durinhos até chegar em sua
calça jeans. Eu já sabia o que encontraria ali debaixo, mas, mesmo assim,
tomei um susto quando sua ereção saltou para fora da cueca quando Drew
me ajudou a abaixar a calça junto com a sua roupa íntima.
Ele se livrou das duas peças e ficou completamente nu. Suas coxas
eram extremamente grossas e combinavam perfeitamente com o seu corpo
largo e musculoso e com aquele pau monstruoso que ele tinha. Podendo ver
tão de pertinho, pude perceber que o comprimento era cheio de veias e a
cabeça rosada expelia um líquido transparente em abundância. Drew estava
muito excitado e eu estava curiosa. Nunca tinha tocado em um pênis na
vida. Lincoln nunca havia me permitido chegar muito perto das suas partes
íntimas e eu também nunca tive o ímpeto de tocá-lo. Com Drew, tudo era
diferente.
— Eu... Eu posso? — Apontei para a sua ereção e o motoqueiro me
deu aquele sorrisinho de lado que acabava com a minha sanidade.
— Você pode fazer o que quiser comigo, Marie.
Sorri, sentindo um certo nervosismo enquanto descia minha mão pela
sua barriga chapada e chegava abaixo do umbigo. Havia um caminho de
pelos escuros e sedosos ali, que levavam até a sua ereção. Sem saber muito
o que fazer, fechei minha mão direita em seu pau, me assustando ao
perceber que meus dedos não se encontravam ao redor do seu pênis. Drew
era mesmo muito grosso. Precisei engolir em seco ao constatar o que
parecia ser bem óbvio para mim.
— Drew, eu acho que não vou conseguir, sabe... Deixar você entrar
em mim. — Ele riu baixinho e eu estreitei os olhos, apertando um pouco o
seu pau e arrancando um gemido grave em meio a sua risada. — Não estou
brincando!
Ainda rindo, Drew colocou a mão sobre a minha e fez os meus dedos
deslizarem pelo seu pau, subindo e descendo devagar e constante. Apesar
de estar bem duro, a pele era suave e quente.
— Com jeitinho, vai caber. — Ele deixou a minha mão sozinha sobre
o seu pau e se inclinou sobre mim, quase ficando de quatro e me fazendo
jogar o corpo um pouco para trás. Soltei um gemido quando senti seus
dedos invadirem o meio das minhas coxas e colocarem a minha calcinha de
lado, tocando diretamente em meu clitóris. — Você está toda melada para
mim, Marie. Vou deslizar bem devagar dentro dessa boceta. — Seu dedo
me penetrou e eu pisquei, tanto em cima quanto embaixo, fazendo-o gemer
junto comigo. — Sei que você é apertadinha, mas nosso encaixe vai ser
perfeito.
Drew parecia ter muita certeza daquilo, então, confiei nele, fechando
os meus olhos quando seus lábios pousaram sobre os meus, engolindo os
meus gemidos. Ele me comeu devagar com o dedo, entrando e saindo,
circulando meu clitóris com o polegar, enquanto eu o masturbava meio sem
jeito. Arrisquei acariciar a cabeça larga com os meus dedos e ele pareceu
gostar, por isso, repeti o movimento antes de voltar a descer pelo
comprimento grosso, aplicando um pouco mais de força.
— Porra, você é boa nisso — ele sussurrou em minha boca, me
fazendo estremecer ao enfiar dois dedos em meu interior.
Precisei jogar a cabeça para trás e gemer, pois me sentia cheia e
muito excitada, palpitando ao seu redor. Drew aproveitou para jogar o corpo
sobre o meu e me fazer deitar no chão, para poder meter os dedos
profundamente em uma velocidade muito rápida e depois devagar,
arrancando um gritinho do fundo da minha garganta enquanto o polegar
trabalhava incessantemente em meu clitóris. Sentia como se eu fosse
explodir a qualquer momento, do mesmo jeito que na noite passada quando
ele me chupou.
— Meu Deus, Drew... — choraminguei, abrindo os olhos e
encontrando o seu sorriso. Minha boca se abriu em choque quando ele tirou
os dedos do meu interior e os chupou devagar, sem tirar os olhos de dentro
dos meus.
— Você é deliciosa — disse depois de tirar os dedos da boca.
Ainda molhados pela sua saliva e pela minha própria lubrificação,
Drew os levou ao meu mamilo direito, pressionando o biquinho duro entre
os dedos médio e indicador. Meu corpo pareceu sofrer um choque com o
raio de prazer que me invadiu quando ele o pressionou.
— E é linda — ele continuou a falar, descendo os olhos pelo meu
corpo. — Não há nada em você que eu mudaria, Marie. — Sua mão pesada
desceu pelo vale entre os meus seios até a minha barriga. Eu sabia que tinha
algumas poucas estrias na região da cintura, mas Drew sequer pareceu
incomodado com elas. Havia um brilho em seu olhar que ia além do desejo.
Era como se ele me admirasse. Como se me venerasse. — Cada parte sua
mexe comigo e me deixa louco. Seu cheiro, seu gosto, sua boca, seus olhos,
seus seios, seu corpo, sua bocetinha molhada... Você é perfeita para mim.
Seus olhos voltaram a encontrar os meus, mas a sua mão continuou a
descer, até entrar novamente em minha calcinha. Seu dedo médio acariciou
o meu clitóris com muita delicadeza e eu fiquei suspensa entre o prazer e a
emoção que me invadia enquanto meu cérebro processava as suas palavras.
— Você nasceu para ser minha — Drew sussurrou com os lábios bem
perto dos meus. — E não importa o que aconteça, nós vamos ficar juntos.
Não vou desistir de você.
— Não vou desistir de você — respondi de volta, com muita certeza.
Eu sabia que nos conhecíamos há pouco tempo, mas isso não queria
dizer nada. Eu era casada há anos com Lincoln e sentia que mal o conhecia.
Tempo era uma coisa tão relativa e eu sentia que precisava aproveitar cada
minuto que tinha ao lado de Drew. Era por isso que tinha decidido que eu
seria dele naquela noite. Eu o queria como nunca quis nada em toda a
minha vida e lutaria contra a minha insegurança e o meu medo para estar
com ele.
Tomei seu rosto em minhas mãos e o beijei com força, sentindo um
resquício do meu gosto mais íntimo em sua boca, enquanto ele me despia
da calcinha. Cada parte do meu corpo pulsava em ansiedade e desejo e a
minha mente finalmente se desligou de qualquer questionamento. Drew me
admirava do jeito que eu era. Não havia qualquer sentimento negativo em
seu olhar e senti em minha alma que eu poderia — que eu deveria —
confiar nele.
Sua boca deixou a minha conforme ele foi descendo, mordiscando e
beijando a minha pele, até chegar em meus seios. Eu nunca havia sido
acariciada ou beijada ali, portanto, foi uma surpresa descobrir como era
gostoso receber atenção naquela parte do meu corpo quando Drew enfiou
um mamilo na boca.
Ele me olhou nos olhos ao chupar o biquinho duro, enquanto passava
o polegar sobre o outro e me fazia ficar perdida em meio às reações que
invadiam o meu sistema nervoso. Sabia que ele me queria de olhos abertos,
mas não consegui evitar fechá-los quando me mordiscou, abrindo-os apenas
quando senti sua língua rodear a aréola arrepiada, antes de partir para o
outro seio e repetir o mesmo processo.
Eu sentia a minha boceta pulsar desenfreadamente e escorrer sem
controle conforme Drew mamava em meu seio e deslizava as mãos pelo
meu corpo, contornando a minha cintura e descendo até a minha bunda.
Precisei arranhar seus ombros quando uma dorzinha intensa tomou conta do
meu clitóris excitado e Drew gemeu, me pegando de surpresa ao descer o
quadril entre as minhas coxas e roçar o pau no meio dos meus lábios
vaginais.
— Ah, Drew... — Pressionei os lábios um no outro, sentindo cada
músculo do meu corpo tremer sem controle. — Eu acho... Acho que vou
gozar...
Estava em dúvida, mas Drew parecia saber que era exatamente aquilo
que estava prestes acontecer. Ele moveu o quadril para frente e para trás,
sarrando a cabeça grande do seu pau bem em meu clitóris, que pulsava sem
controle. Um arrepio intenso me invadiu e eu explodi sem conseguir me
segurar, gozando apenas com o roçar do seu pau em minha boceta e a sua
boca ainda castigando o meu seio. Drew gemeu comigo, como se me fazer
gozar o deixasse embevecido, e desceu de repente pelo meu corpo,
mordendo a minha barriga até chegar no meio das minhas pernas e começar
a me chupar.
Uma nova onda de choque me invadiu. Eu ainda estava gozando
quando o motoqueiro fechou os lábios em volta do meu clitóris e meteu
dois dedos em meu interior com uma precisão impressionante. Drew
pareceu curvá-los dentro de mim e tocar um ponto em específico que me
fez gemer alto até perder o fôlego, prolongando aquela sensação de
explosão e me fazendo gozar mais uma vez.
Eu não conseguia pensar, mal conseguia respirar, só tremia e
chamava por ele, erguendo meu quadril do chão e esfregando a boceta em
sua boca, até jogar a cabeça para trás, praticamente desmaiada, fechando as
minhas coxas em volta do seu rosto para que parasse de me chupar e comer
com os dedos.
Drew deixou meu clitóris escapar da sua boca e tirou os dedos do
meu interior, mas não saiu de lá debaixo. Senti sua língua dar batidinhas em
minha entrada, enquanto ele soltava um gemido de deleite e afastava os
lábios da minha boceta com os dedos. Ofeguei quando sua língua subiu
lentamente até o meu clitóris sensível. Ele me lambeu com calma,
encontrando os meus olhos e levando a mão esquerda ao meu seio e depois
até a minha boca.
— Chupa — pediu com a voz rouca, passando o polegar pelos meus
lábios.
Eu me apoiei nos cotovelos e chupei o seu dedo, me sentindo piscar
lá embaixo ao notar a expressão excitada de Drew. Ele já não sorria mais e
me olhava como se estivesse com fome. Fome de mim. Passei a língua na
pontinha do seu polegar e o enfiei novamente em minha boca, ouvindo o
seu gemido rouco e segurando um sorriso quando subiu de pressa pelo meu
corpo.
Drew sequer me deu tempo de respirar. Com certa violência, tirou o
dedo da minha boca, segurou a minha nuca e me beijou com força, enfiando
a língua a entre os meus lábios e me fazendo perder o fôlego. Foi um beijo
completamente diferente de tudo o que já trocamos. Aquele beijo era...
Possessivo. Carregado de luxúria, como se Drew quisesse me marcar como
dele. Gememos juntos e eu me perdi em meio à sensação, abrindo bem as
minhas pernas quando o senti pressionar a cabeça do pau em minha entrada
escorregadia.
— Vou te fazer minha agora, Marie — ele sussurrou, mas era como
se estivesse gritando. Senti suas palavras ecoando em meu interior enquanto
olhava em seus olhos. — Não vai ter uma única parte do seu corpo que não
vai cheirar a mim ou que não vai me pertencer. Está pronta para isso?
Toquei em sua nuca e rebolei de leve o quadril, sentindo seu pau
pulsar entre os meus lábios mais íntimos.
— Só se você prometer que também será meu.
Eu sabia que não tinha direito algum de pedir aquilo, afinal, eu era
uma mulher casada, mas estava agindo além da racionalidade naquele
momento. Tudo o que eu queria, era pertencer apenas a Drew e que ele
pertencesse a mim também.
— Eu sou seu — disse com muita certeza e com os olhos sérios.
— Eu sou sua.
Era tudo o que Drew precisava ouvir.
Delicadamente, ele voltou a me deitar no chão e, então, me penetrou.
Foi exatamente como disse que seria: devagar. Muito devagar. E intenso.
Precisei segurar a respiração por um momento, pois ele era muito grande e
grosso e eu era pequena demais naquela região, mas ele teve paciência
comigo. Me beijou, acariciou o meu corpo, tocou suavemente em meu
clitóris e enfiou o pau até o fim, me causando uma dorzinha incômoda e a
sensação de que eu estava preenchida até o limite. E eu realmente estava.
Completamente enterrado em mim, Drew olhou em meus olhos e
rebolou. Literalmente rebolou, pressionando o pau duro em cada partezinha
desconhecida dentro da minha vagina. Eu ofeguei, surpresa com a sensação
de prazer que praticamente substituiu a dor, e Drew sorriu. Bem devagar,
ele afastou o quadril e saiu um pouco de dentro de mim, voltando
lentamente e roçando o osso púbico em meu clitóris excitado. Apertei o seu
ombro e fechei os olhos para gemer, sentindo o meu corpo corresponder
prontamente conforme ele me comia.
— Como é bom estar dentro de você — Drew sussurrou no pé do
meu ouvido, completamente deitado sobre mim, mas sem soltar o seu peso.
Eu me sentia acolhida sob aquele corpo grande e musculoso e bem cheia
com o seu pau enorme me comendo devagar. — Está sentindo isso, Marie?
Como somos perfeitos juntos?
— Sim... Isso é tão gostoso, Drew.
— Você é gostosa. — Ele mordeu o lóbulo da minha orelha e meteu
com mais força, me fazendo ofegar e arranhar sua nuca. — Toda
apertadinha em volta do meu pau... Hoje, não vou te comer com tanta força,
mas, em breve, vou te colocar de quatro e te foder até você perder a voz.
Eu estremeci e minha boceta o apertou dentro de mim, tão ansiosa
quanto eu para aquele momento. Drew sentiu, pois o seu sorriso safado e
arrogante logo ocupou todo o meu campo de visão.
— Você é lindo demais. — Precisei falar, sentindo meu coração
disparar no peito. O sorriso de Drew estremeceu, principalmente quando
acariciei o seu rosto. — E muito gostoso.
Dessa vez, ele soltou uma risadinha e me arrancou um gemido ao
meter mais forte.
— Não mais do que você.
Ele se abaixou para me beijar e saiu quase completamente do meu
interior, apenas para entrar forte e começar, definitivamente, a me comer. A
dor da penetração era apenas uma mancha em minha memória naquele
momento e eu me entreguei, sentindo algo completamente diferente de
quando estava com Lincoln. Aquilo, sim, era fazer amor de verdade. Era
mais do que o receber dentro de mim. Era uma conexão, uma entrega que
eu nunca pensei ser possível existir de verdade.
Drew voltou a chupar os meus seios e eu comecei a mover o quadril
junto com ele, aumentando a fricção do meu clitóris contra o seu osso
púbico e vendo estrelas. Literalmente. Pontinhos brilhantes eram tudo o que
eu conseguia ver quando fechava os olhos, notando que aquela sensação de
explosão e descontrole estava crescendo novamente em meu interior, se
espalhando pela minha vagina e se alojando em meu baixo ventre. Drew
gemeu comigo, metendo mais rápido, sem tirar muito do pau de dentro da
minha boceta, e enfiou a mão entre os nossos corpos até tocar o meu clitóris
com os dedos.
— Goza pra mim, Marie — pediu entre os meus lábios e eu
choraminguei, sentindo que estava muito perto. — Me deixa sentir essa
bocetinha melando e apertando o meu pau enquanto você goza.
Seus dedos médio e indicador rodearam o meu clitóris com uma
precisão impressionante e o seu pau me comeu mais rápido, mais forte, me
fazendo perder completamente o controle e gozar de um jeito diferente, mas
intenso e único. Eu mal consegui gemer, pois Drew me engoliu em um
beijo enquanto aumentava o ritmo do quadril e estocava em meu interior,
forte e rápido, fazendo o barulho do choque do seu quadril contra a minha
carne ecoar pela sala e explodir em meus ouvidos.
— Vou gozar — avisou com a boca colada na minha e os olhos
intensos dentro dos meus. — E vai ser dentro de você. Vou encher essa
bocetinha com a minha porra e ela vai engolir cada gota, entendeu?
Eu não pensei em nada, só senti um tesão tão intenso ao ouvir aquilo,
que senti que poderia gozar de novo junto com ele.
— Sim. Goza pra mim, Drew — repeti o seu pedido em um sussurro.
— Dentro de mim. — Ele gemeu rouco, metendo muito forte e
estremecendo quando começou a ejacular.
A cada metida de seu pau, eu me sentia ficar mais quente e pegajosa
lá embaixo, literalmente preenchida com o seu sêmen. A sensação me fez
explodir em um novo orgasmo e Drew pareceu adorar me sentir gozar junto
com ele, pois meteu com mais força e me beijou sem controle, pressionando
minha cabeça com as duas mãos e forçando o quadril entre as minhas
coxas. Ele estava tão dentro de mim quanto era possível estar, mas eu ainda
queria mais.
Eu queria tudo com aquele garoto.
Com aquele homem que me fez sentir verdadeiramente desejada e
venerada pela primeira vez na vida.
Senti meu pau voltar a endurecer enquanto Marie me beijava, sentada
em meu colo e com a bocetinha ainda melada com a minha porra se
esfregando de leve no início das minhas coxas. Só tinha dado tempo de ir
pegar um pouco de água para nós dois na cozinha e esperar ela beber um
copo inteiro, antes de me sentar com as costas pressionadas no sofá e puxá-
la para cima de mim.
Seu corpo delicioso em cima do meu me dava vontade de fazer com
que se deitasse de novo só para que eu pudesse explorá-lo mais uma vez
com as minhas mãos e a minha língua, mas tê-la sobre mim estava tão
gostoso, que a única coisa que fiz, foi agarrar a sua bunda e a puxar para
mais perto do meu pau, ouvindo o seu suspiro de surpresa ao sentir como eu
estava duro para ela mais uma vez.
— Já? — Seus olhos arregalados encontraram os meus antes de
descerem até a minha ereção, que apontava orgulhosamente para o meu
umbigo. — Meu Deus, Drew! — Uma risada nervosa escapou da sua boca
quando puxei seu rosto para cima segurando o seu queixo.
— Você me enche de tesão, Marie. Já disse que um pau duro não
mente nunca.
Ela mordeu o lábio inferior, parecendo excitada, mas ainda levemente
insegura.
— Parece que eu estou vivendo um sonho. Nunca pensei que um
homem pudesse me desejar como você faz.
— Tenho certeza de que eu não sou o único homem a ficar de pau
duro para você — falei, subindo minhas mãos até os seus seios enquanto ela
revirava os olhos. — Estou falando sério. Lincoln te enfiou em um buraco e
impediu que você olhasse de verdade ao seu redor durante muitos anos,
Marie. Sei que ele entrou em sua cabeça e que fez você acreditar na visão
deturpada que ele tem sobre o seu corpo, mas, a verdade, é que ele é um
filho da puta e que você é uma mulher linda e gostosa pra caralho. Eu te
provei isso agora pouco, não provei?
Ela concordou com a cabeça, ficando com as bochechas vermelhas.
Seus olhos curiosos voltaram para o meu pau e eu estremeci quando o
pegou em sua mão direita.
— Quero te tocar um pouco. Você me ensina?
Senti na ponta da língua a vontade de perguntar se nunca tinha batido
uma punheta antes, mas me segurei. Pelo seu olhar curioso, a resposta já era
óbvia, e um lado meu — aquele predador e obcecado por ela — gostou de
saber que o meu pau era o primeiro a estar naquela mão. Provavelmente, ele
também seria o primeiro a estar naquela boca. Quis matar Lincoln por ele
ter tirado a minha chance de eu ser o primeiro a estar em sua boceta.
— Está vendo como a cabeça está melada? — perguntei, vendo-a
concordar com a cabeça sem tirar os olhos do meu pau. — Faça o que você
fez mais cedo. Passe o polegar sobre ela e espalhe a minha lubrificação o
máximo que conseguir.
Voltando a morder o lábio, Marie deixou a mão esquerda segurando a
base do meu pau e passou o polegar pela glande, soltando um risadinha
nervosa ao tocar a frestinha, por onde havia acabado de escapar mais uma
gota incolor. Ela afastou de leve o polegar, esfregando a bocetinha melada
em minha coxa ao ver a minha lubrificação formar um fio entre o seu dedo
e a cabeça babada do meu pau. Suguei uma respiração forte quando levou o
polegar até a boca e o chupou, soltando um gemidinho.
— É meio salgado — sussurrou, em seguida, lambeu o dedo
lentamente. — Mas é bom.
— Não me provoca assim — pedi, enfiando meus dedos entre os seus
cabelos. O coque havia se desfeito enquanto eu a comia no tapete. Marie
sorriu, voltando a passar o polegar em minha glande. — Ou eu juro que vou
te colocar de quatro agora e te comer da forma que prometi.
— Acho que eu iria gostar.
— Gostar é muito pouco. — Puxei seu lábio entre os meus dentes e
mordi com um pouco mais de força do que ela estava acostumada, sentindo-
a estremecer. — Você vai ficar viciada. Vai implorar pelo meu pau todos os
dias. Sempre que o babaca do seu marido estiver na rua, eu vou vir aqui te
comer e você vai dormir com a bocetinha cheia da minha porra ao lado
dele. Entendeu, Marie?
Ela estremeceu e sorriu entre os meus lábios, começando a espalhar a
minha lubrificação pelo meu pau.
— É tão errado ficar excitada ao ouvir isso...
— Seria errado se o seu marido fosse um bom homem, mas ele é um
merda, Marie — falei, afastando meu rosto do dela para poder olhar em
seus olhos. — Ele merece muito mais do que um chifre por todo o inferno
que fez você viver durante esses anos.
— Eu sei. Não estou arrependida por estar aqui com você.
Fiquei tranquilo ao ouvir aquilo e a beijei, encerrando o assunto. A
última coisa que eu queria, era falar sobre a porra do Xerife naquele
momento. Marie ficou toda mole durante o beijo, mas sua mão logo se
fechou em torno do meu pau e ela começou a me tocar delicadamente.
Pousei minha mão sobre a dela e deixei sua boca escapar da minha para
poder falar:
— Gosto que aperte o meu pau. Assim. — Fechei minha mão sobre a
dela e a fiz aumentar a intensidade da pegada e também a velocidade da
punheta. — E pode explorar as minhas bolas também, segurar, apertar um
pouco... Sentir um pouco de dor me deixa com tesão.
Marie concordou com a cabeça e deixei que fizesse o trabalho
sozinha, gemendo ao sentir como aprendia rápido. Sua mão esquerda
acolheu minhas bolas pesadas e as apertou de leve, enquanto a direita subia
e descia pelo meu pau. Um fio da baba que escapava desceu pelo meu
comprimento e Marie logo a espalhou pela minha pele quente e sensível, o
que a ajudou a bater a punheta com mais precisão. Eu aproveitei para voltar
a tocar em seus peitos fantásticos, já sentindo a falta deles em minha boca.
— Acho que você vai gostar de uma coisa que eu quero fazer —
disse ela, chamando a minha atenção. Meu pau pulsava de tesão, mas eu
não queria gozar ainda.
— Pode fazer o que quiser. — Deixei claro e Marie sorriu.
— Isso é bem abrangente. E se eu quisesse enfiar um dedo na sua
bunda?
Eu ri, vendo suas bochechas ficarem mais coradas. Marie era como
uma caixinha de surpresas, qualquer coisa poderia sair daquela sua boca
bonita.
— Eu deixaria. — Minha resposta a pegou de surpresa. — Minha
mente é aberta quando o assunto é sexo, Marie.
— Você é depravado — disse em tom de risada, mas vi que estava
brincando. — O que você não faria de jeito nenhum?
— Acho que eu não deixaria um homem me comer. Não sinto tesão
ao pensar nisso. — Belisquei o seu mamilo e ela gemeu, esfregando um
pouco mais a boceta em minha coxa. — Mas um dedo no cu é diferente,
principalmente se você enfiar enquanto eu estiver te comendo. — Meu pau
pulsou com o pensamento e Marie sentiu, pois me deu um sorrisinho
animado.
— Acho que um dia eu vou tentar fazer isso. — Ela se aproximou um
pouco mais de mim e deu um beijo em meu pescoço, em seguida, chupou a
pele com força, me fazendo trincar a mandíbula com o arrepio intenso que
me fez sentir. — Mas, agora, eu só quero tocar você e fazer isso aqui...
Seus lábios desceram pelo meu peitoral até alcançarem o meu
mamilo esquerdo, onde sua língua rodeou lentamente antes de sua boca me
chupar. Eu tremi e precisei apertar a sua bunda para poder controlar o
espasmo que a chupada me causou. Não havia mentido quando disse que
era sensível ali e Marie se lembrou. Ela me olhou e uma sombra de sorriso
apareceu em seus lábios quando foi para o outro mamilo e repetiu o gesto,
aumentando a pressão da punheta.
— Porra! — Xinguei, puxando-a pelo quadril e fazendo com que se
levantasse. Tomei meu pau da sua mão e passei a cabeça babada por toda a
sua boceta melada, desde o clitóris até a entrada. — Se vai mesmo
continuar a fazer isso, eu preciso te comer. Quero gozar dentro de você de
novo, Marie. Senta no meu pau.
Seus olho se arregalaram de leve e sua boca deixou o meu mamilo.
— Eu nunca fiz nessa posição.
— Vai fazer agora. — Acomodei-a melhor e suspirei com o contato
do meu pau na sua boceta. — Você está meladinha e a sua boceta não está
tão contraída mais, não deve doer. Mas se for demais, a gente muda a
posição.
Marie concordou com a cabeça e me deixou guiá-la, sentando-se
sobre o meu pau. A pressão em minha cabeça foi absurda e ela fez uma
careta, mas seguiu em frente, rebolando aos poucos e gemendo com a boca
colada na minha até ter todo o meu pau dentro da boceta.
— Parece que eu vou explodir. Você é muito grosso, Drew —
reclamou baixinho em minha boca, me arrancando um sorriso.
— Não vou me desculpar por isso.
Acariciei as suas costas e a sua bunda, começando a beijar a sua boca
lentamente, enquanto esperava que se acostumasse com o meu pau. Bem de
leve, Marie começou a mexer o quadril para frente e para trás, fodendo
comigo e esfregando o grelinho inchado a cada movimento que fazia. Em
pouco tempo, estava gemendo em minha boca e arranhando de leve a minha
nuca ao aumentar a velocidade em meu colo.
— Gostosa! — Dei um tapa em sua bunda e ela deu um pulinho de
susto, rindo com os lábios colados aos meus. — Rebola no meu pau, Marie.
Me fode bem gostoso.
Ela rebolou, mordendo a minha mandíbula, meu pescoço, até voltar a
tomar o meu mamilo em sua boca. Eu senti de novo aquele arrepio, a
intensidade do prazer se espalhando pelo meu corpo e inchando meu pau
dentro da sua boceta. Marie aumentou a velocidade e eu a acompanhei, até
que precisei segurar o seu quadril um pouco afastado do meu e comecei a
meter rápido em sua boceta, ouvindo seu gemido abafado.
— Vou gozar — avisei, sentindo minhas bolas pulsarem de tesão.
Marie começou a chupar o meu outro mamilo e eu ofeguei, prestes a
explodir. — Depois eu vou chupar essa bocetinha até você gozar de novo na
minha boca.
Comecei a gozar com força enquanto metia em sua boceta, sentindo
seu canal apertado pulsando ao meu redor e aumentando a pressão em meu
pau. Foi uma delícia sentir cada jato inundando a sua bocetinha e me senti
ainda duro quando saí de dentro dela, a deitei novamente no tapete e me
meti entre as suas pernas, recolhendo minha porra com a língua antes de
começar a mamar em seu grelinho gostoso.
Marie gritou pelo meu nome e enfiou os dedos em meus cabelos,
arranhando meu couro cabeludo enquanto se esfregava em minha boca. Não
a controlei. Deixei que se contorcesse e que abrisse bem as coxas, enquanto
eu passava a língua pelo seu clitóris e voltava com o dedo a meter a minha
porra que ainda escorria de dentro da sua boceta, bombeando o canal
apertado até ela gozar.
Levei o meu tempo deixando a sua bocetinha toda limpa. Meu sabor
misturado ao dela era como o uísque mais raro em minha língua. Eu estava
viciado. Poderia ficar ali pelo resto da minha vida e jamais iria reclamar.
— Drew... — Marie me chamou com a voz trêmula e eu me ergui,
subindo pelo seu corpo e espalhando beijos até chegar à sua boca. Ela me
encarou com um sorriso lindo e os olhos mais brilhantes que eu já tinha
visto. — Promete para mim que o que aconteceu hoje à noite vai se repetir.
Havia uma nota de insegurança em sua voz, apesar do semblante
calmo pós-orgasmo e do sorriso bonito que emoldurava o seu rosto.
— Eu prometo. — Afastei os fios de cabelo grudados em sua testa
suada. — Você ainda vai entrar no moto-clube ao meu lado, como minha
mulher, Marie. Tenha isso em mente.
— Você acha que eles vão me aceitar?
— Se eu tenho alguma importância para aquele moto-clube, eles vão
te aceitar.
E se não aceitassem, eu deixaria o meu colete e iria embora para
sempre daquele lugar.

Fui embora pouco antes do amanhecer, pois Marie não sabia que
horas Lincoln poderia chegar em casa e não queríamos ser surpreendidos
por ele. Foi difícil deixá-la, pois meu corpo cansado pela noite agitada só
queria ficar agarrado a ela por mais um tempo, mas seria imprudente da
minha parte ficar até mais tarde. Não queria colocar Marie em risco e eu
sabia que era isso que aconteceria se o filho da puta descobrisse que
estávamos juntos.
Fui direto para o meu quarto quando cheguei ao MC e acordei com
uma mensagem de Marie, antes das dez da manhã, me avisando que
Lincoln havia chegado por volta das oito horas. Saber disso me fez
despertar completamente e questioná-la se ele ainda estava em casa ou se já
tinha saído para o trabalho. Caso ela respondesse sim para a segunda
pergunta, eu iria direto para o departamento de polícia ficar de olho no
desgraçado, mas logo soube que ele ainda estava em casa e que havia tirado
o dia de folga.
Aquilo me deixou puto. Significava que Marie teria que passar as
próximas horas ao seu lado, correndo todo tipo de risco. Não confiava em
Lincoln perto dela. Como se soubesse que eu estava pensando em ir até a
sua rua, ficar de prontidão em frente à sua casa, Marie me pediu para que eu
não fizesse qualquer loucura, pois tinha medo de que Lincoln começasse a
suspeitar de alguma coisa. Meu lado racional sabia que ela tinha razão, mas
o passional era difícil de controlar.
Acabei indo para a academia me livrar da frustração e passei o resto
do dia fazendo pequenos trabalhos no MC. Sentia os olhos de Damon
atentos sobre mim, mas quando percebeu que eu não sairia do moto-clube
naquele dia, ele relaxou. Passei a noite no bar e, durante a madrugada,
fiquei trocando mensagens com Marie. Consegui pegar no sono depois de
ela ter me garantido que Lincoln não havia sido agressivo naquele dia e
prometi que daria um jeito de vê-la no dia seguinte.
A quarta-feira foi tediosa pra caralho. Lincoln passou o dia no
departamento de polícia e eu só consegui ver Marie rapidamente.
Combinamos de nos encontrar na entrada da floresta que cobria parte da
cidade, mas ficamos apenas alguns minutos juntos, pois o expediente de
Lincoln estava prestes a se encerrar. Depois que o filho da puta foi para
casa, eu voltei para o MC e passei um tempo conversando com Connor e o
atualizando sobre o dia enfadonho do Xerife.
Foi apenas no dia seguinte, quando recebi um telefonema de Damon
e descobri que ele, Christian e Oliver haviam sido emboscados na estrada e
que homens encapuzados sequestraram o Executor, que percebi que aquela
seria uma tarde diferente. Avisei a Marie por mensagem que não era para
ela sair de casa em hipótese alguma e fiquei de prontidão em frente ao
departamento de polícia. Era óbvio para todos os irmãos que Oliver havia
sido sequestrado a mando de Lincoln, portanto, eu sabia que em algum
momento o filho da puta encerraria o expediente e sairia dali. E não seria
para ir direto para casa jantar com Marie.
Minha intuição estava correta. Lincoln logo apareceu em meu campo
de visão, sem estar trajando o seu uniforme de Xerife. Assim que ele entrou
em seu carro pessoal, eu dei partida na moto e comecei a segui-lo
discretamente, percebendo que o idiota estava indo em direção à estrada
que o levaria para a saída de San Martínez. Rapidamente liguei para Drew e
o informei. Falei com ele e com Christian, pois os dois estavam juntos no
carro, seguindo o rastro de Oliver pelo GPS em seu colete, e me mantive
atento em seguir o babaca sem que ele conseguisse me notar.
A tensão fazia os meus ombros doerem, mas eu estava focado demais
para ligar para aquilo. Se Lincoln nos levasse para o local que Oliver
descreveu para os irmão em uma das reuniões da diretoria, aquilo
significava que estávamos prestes a descobrir o grande segredo que o Xerife
renomado escondia. Eu só podia torcer para que aquele fosse o seu último
dia respirando. Queria iniciar aquela noite com Lincoln morto e eu sabia
que Connor e todos os membros do MC estavam com sangue nos olhos para
que aquilo acontecesse.
Ele havia mexido com um dos nossos. Aquilo não o faria sair
impune.
Lincoln seguiu em direção à Lake California, uma cidadezinha que
ficava no Condado de Tehama. O local era coberto por uma floresta densa e
praticamente deserto, do jeito que um filho da puta como ele devia gostar
para cometer todas as atrocidades que queria. Meu sinal de celular estava
muito fraco, mesmo assim, quando Lincoln pegou a entrada 28 na estrada e
entrou em uma bifurcação na floresta, consegui receber uma ligação de
Drew e passar todas as coordenadas para ele e para Ralph.
A ligação caiu e eu tentei ligar para o Wolf mais novo novamente,
mas não completou. Desisti quando a floresta se tornou mais densa e eu
precisei desacelerar e desligar o farol da moto para que Lincoln não
percebesse que eu estava logo atrás dele. Não parecia existir qualquer
monitoramento por ali, mas aquilo não me deixou tranquilo, apenas mais
atento, principalmente quando consegui ver a porra de um muro enorme de
concreto no meio da floresta.
Lincoln virou para a esquerda e eu fui logo atrás, precisando parar
quando notei dois portões enormes alguns metros a frente. Ele pareceu
digitar algo em um painel eletrônico e os portões se abriram, permitindo a
sua entrada. Quis muito aproveitar aquela brecha e entrar logo atrás dele,
mas sabia que seria burrice da minha parte, pois com certeza devia haver
seguranças armados dentro daquele mausoléu e eles me derrubariam antes
mesmo de perguntar o meu nome.
A única coisa que eu poderia fazer no momento, era torcer para que
Connor e Ralph tivessem entendido as instruções que passei e
conseguissem me encontrar ali junto com os outros irmãos.
Mil anos pareceram se passar até que ouvi alguns passos. Vi a
silhueta de um homem alto e forte e logo reconheci Pike caminhando em
minha direção. Seus olhos arregalados e a boca aberta mostravam como
estava surpreso por encontrar um lugar como aquele no meio do mato.
— Que porra é essa, cara?
— Eu não sei. Todo mundo conseguiu chegar?
— Sim. — Ele ainda estava olhando para o portão enquanto as
árvores nos camuflavam. — Como vamos entrar nesse lugar?
— Não faço ideia. — E não fazia mesmo. — Quer tentar se
aproximar um pouco? Não vi nenhum segurança perto dos portões.
— Isso não quer dizer que eles não existem — Pike salientou. —
Mas não temos muito o que fazer além de arriscar, não é mesmo?
Eu concordei com a cabeça e nos aproximamos sorrateiramente. Pike
segurava uma lanterna, mas não a ligou. Já havia anoitecido, mas as luzes
fracas que vinham de dentro daquele lugar iluminavam um pouco o nosso
caminho. Assim que chegamos perto suficiente do portão, nos esgueiramos
pelo muro e ouvimos um clique que nos fez parar até mesmo de respirar e
levar a mão à pistola em nossa cintura. Olhamos um para o outro e
esperamos. Ninguém apareceu e os portões não se abriram.
— Vou voltar até onde os irmãos estão e contar que achamos a
entrada — Pike sussurrou.
— Ok. Não vou sair daqui.
— Se vir algum segurança, não atire! Você está sozinho por
enquanto, não se esqueça disso.
Senti vontade de revirar os olhos, mas apenas falei um novo “ok” e
Pike sumiu do meu campo de visão. Continuei de olho nos portões,
tentando enxergar alguma coisa, mas não parecia haver uma única viva
alma por ali. Longos minutos se passaram até eu ouvir passos de novo,
dessa vez, mais rápidos e em maior quantidade. Vi Pike liderando o grupo e
ele fez um gesto que deixava claro que iria direto para os portões. Quando
vi que todos estavam com armas em punho, até mesmo Connor, entendi que
iríamos atacar.
Foi Pike quem empurrou o portão e Bruce quem deu o primeiro tiro,
derrubando dois seguranças que apareceram do nada. A arma do Prez
estava com um silenciador, portanto, o tiro não alertou sobre a nossa
presença, mas logo mais um segurança surgiu bem perto de Christian e ele
precisou atirar. Foi o estopim.
Homens armados surgiram do nada e nós revidamos os tiros,
avançando um pouco mais até a mansão enorme, sem ter ideia do que
encontraríamos de fato dentro daquelas paredes. Perdi a conta de em
quantos seguranças atirei e de quantas balas consegui desviar, até
finalmente invadirmos aquele lugar.
Pike e eu trabalhamos juntos, eliminando os filhos da puta e
percebendo que, ali dentro, parecia haver menos homens do que do lado de
fora. A sala era enorme e com móveis luxuosos, mas não perdemos tempo
ali. Assim que Connor gritou que ele e Ralph iriam atrás de Oliver, nós
focamos em matar o máximo possível, pois era uma questão de “nós ou
eles”. Se não atirássemos para matar, seríamos nós que morreríamos.
Pike e eu atravessamos uma segunda sala e subimos as escadas assim
que vimos dois homens descendo. Dei um tiro na cabeça de um e senti
quando uma bala passou raspando pelo meu braço, causando uma
queimação filha da puta. Xinguei e vi Pike eliminar o outro, pulando em
cima do seu corpo para continuar a subir. No segundo andar, encontramos
um corredor enorme, com muitas portas fechadas. Mais dois homens saíram
de um cômodo nos fundos do corredor e Pike e eu atiramos antes que eles
pudessem tomar a próxima respiração.
— Estou ficando sem munição — falei, avançando junto com Pike.
Ele me passou um novo pente de balas e abriu uma porta,
encontrando um quarto vazio. Aproveitei o momento para guardar o pente e
abrir uma segunda porta. Parei ainda em frente ao batente, tomando um
susto com o que encontrei lá dentro.
— Que porra é essa?
Ouvi um tiro praticamente ao meu lado e só olhei para trás para ver
se Pike ainda estava inteiro. Ele estava e logo parou perto de mim ao lado
da porta, arregalando os olhos ao ver o mesmo que eu estava vendo.
— Puta merda.
Encolhidos nos fundos do quarto apertado e sem qualquer móvel,
estavam três meninos nus. Muito magros e machucados, eles olhavam para
mim e para Pike como se fôssemos dois monstros. Eu não me considerava
um homem sensível, mas ver aqueles três garotos agarrados uns aos outros
quebrou algo no fundo do meu ser.
— Não vamos machucar vocês — garanti, mesmo tendo certeza de
que eles não confiariam em qualquer palavra que saísse da minha boca. —
Eu prometo. Vamos tirar vocês daqui.
Não sabia como faríamos aquilo, muito menos o que aconteceria com
aquelas crianças, mas senti que eu precisava falar aquilo para aqueles
garotos. Precisava passar qualquer esperança para eles. Ouvi Pike
reforçando que não os machucaríamos, mas logo se calou quando ouvimos
passos no corredor.
— Não saiam daqui — pedi para eles e me afastei.
Um homem armado surgiu correndo no corredor e quando apontou a
pistola para mim, Pike meteu um tiro na cabeça dele. O homem caiu para
trás como um saco de batatas, com os miolos se espalhando pelo carpete.
— Não precisa agradecer — Pike disse para mim.
Um novo babaca surgiu, abrindo uma porta do lado esquerdo do
corredor, já com a arma apontada e o dedo no gatilho. Percebi que atiraria
em Pike e fui mais rápido dessa vez, eliminando-o com um tiro no peito.
— Não precisa me agradecer por isso também — falei.
O babaca riu e fechou a porta do cômodo onde os meninos estavam.
— Vamos precisar checar cada quarto daqui de cima. Quero ter
certeza de que eliminamos todos os ratos e salvamos as vidas desses
garotos.
Eu concordei, me preparando para encontrar mais meninos
machucados e assustados dentro daquele lugar.
Christian logo se juntou a mim e a Pike e conseguimos eliminar
todos os capangas de Lincoln que estavam espalhados pelo segundo andar
daquele mausoléu. Apenas quando tivemos a certeza de que a área estava
limpa, conseguimos juntar os meninos que estavam espalhados pelos
cômodos e levá-los para o andar debaixo, onde mais alguns estavam
encolhidos e sentados um ao lado do outro na sala.
Era nítido o medo no olhar de cada um e a raiva nas expressões dos
meninos mais velhos, que abraçavam os mais novos como se quisessem
escondê-los. Não era preciso ser muito inteligente para entender que eles
agiam como um grupo e um tentava proteger o outro. Eu só podia imaginar
o que aqueles meninos já haviam passado nas mãos de Lincoln e de todos
os filhos da puta que frequentavam àquela mansão.
— Vou atrás do Oliver e do meu irmão. Quer ir comigo? — Christian
perguntou ao meu lado, me pegando de surpresa. — Sei que você é um dos
maiores interessados em ver o filho da puta do Xerife ser enviado para o
inferno.
Sim, eu era mesmo, mas não imaginei que Christian se importasse
com isso. Sem palavras, apenas concordei com a cabeça e fui com ele até
onde Lincoln estava. Era uma espécie de sala de tortura e, apesar de gostar
de ver o estrago que Oliver, Connor e Ralph haviam feito com ele, fiquei
chocado ao perceber que o babaca ainda estava vivo. Com dedos faltando,
muito sangue e vômito espalhado pelo seu corpo, mas ainda vivo.
— Puta merda! O que vamos fazer com ele? — perguntei.
Uma parte de mim queria terminar o serviço e matar Lincoln de uma
vez. Aquela vingança também era minha, afinal, aquele desgraçado havia
maltratado durante anos a mulher por quem eu estava apaixonado, mas não
sabia o que mais eu poderia fazer para que o filho da puta sofresse. Ele
parecia estar apenas respirando e não mais sentindo dor alguma. Vivo,
porém, desmaiado no chão, sangrando feito um porco.
Pensei rapidamente em Marie. No fundo, tudo o que eu queria, era
livrá-la logo daquele merda, por isso, corri para perto de Connor quando ele
pediu ajuda para carregar o Xerife. O filho da puta era como um peso
morto, mas Christian e Ralph me ajudaram na missão de tirá-lo daquela sala
e levá-lo escada acima. Na sala, Connor e Oliver pararam ao perceberem os
meninos encolhidos e machucados. Senti alívio quando o Prez deixou bem
claro que levaríamos os garotos conosco para o MC.
Eu sabia que não éramos os mocinhos. Cometíamos crimes,
matávamos filhos da puta e passávamos por cima daqueles que traziam
qualquer risco para o moto-clube, mas não éramos como Lincoln. Não
maltratávamos ou abandonávamos crianças a própria sorte. Poderíamos não
saber o que fazer com aqueles garotos, mas com certeza não daríamos a eles
o mesmo futuro que Lincoln daria, mantendo-os presos naquele lugar.
Após a breve conversa com o Prez, seguimos com o peso morto que
era o Xerife para fora da mansão. Passamos pelos portões de ferro e
voltamos a ouvir a voz de Connor quando entramos na floresta:
— Acredito que quando vazar a informação de que a mansão foi
invadida, os poderosos vão mexer seus pauzinhos para que ninguém venha
investigar nada, portanto, acho que não tem problema se o deixarmos aqui.
— Aqui? Tipo, apenas jogar o corpo dele e ir embora? — Ralph
perguntou.
— E ele ainda está vivo. Querem que eu dê um tiro nele? —
perguntei. — Estou louco para fazer isso e ir contar para Rachel Marie que
ela está livre. A propósito, pode deixar que vou cuidar muito bem dela —
falei em direção ao merda do Xerife, que sequer resmungou.
Não sabia se ele havia ouvido e se apenas não se importava, mas
caguei para aquilo. Tudo o que eu queria, era que aquele filho da puta
parasse de respirar de uma vez por todas e que Marie ficasse livre.
— Pode deixá-lo aí — Connor apontou para o chão. — Vivo, por
favor.
— O que pretende fazer, Connor? — Christian perguntou, enquanto
largávamos o corpo de Lincoln no chão como se fosse um saco de lixo.
— Vocês vão ver. Alguém pode segurar a lanterna para mim?
Eu fiz o que Connor pediu e o segui junto com Oliver até uma árvore.
Só naquele momento percebi que os dois carregavam uma pá e fiquei
boquiaberto quando começaram a cavar. Às minhas costas, Ralph
perguntou:
— Porra, vocês não vão fazer o que estou pensando, certo? Vão
enterrá-lo vivo?
Connor e Oliver não responderam, mas a pergunta de Ralph pareceu
ter acordado o filho da puta do Xerife, pois ele começou a resmungar e
implorar para que não fizessem aquilo. Sem paciência, deixei a lanterna
apontada para onde Oliver e Connor cavavam e fui até Lincoln, chutando a
sua cara. Ele gemeu mais alto e se encolheu em uma bola.
— Cala a boca, porra! — Agachei-me e o puxei pelos cabelos,
sentindo a mistura de suor e sangue em seus fios. Estava escuro demais,
ainda assim, fiz de tudo para olhar bem para a cara deformada daquele
desgraçado. — Hoje você vai pagar por tudo de ruim que já fez nessa vida,
tanto contra Oliver, contra aqueles meninos lá dentro e contra Rachel Marie.
— O que... O que a minha esposa tem... a ver com... isso?
— Ela não é sua esposa! — Falei entredentes, fincando minhas unhas
em seu couro cabeludo. Lincoln ofegou e cuspiu sangue, murmurando algo
incompreensível. — Você nunca foi um marido de verdade para ela e sabe
disso! Mas não se preocupe... Assim que enviarmos você para o colo do
capeta, Marie vai ter ao seu lado um homem de verdade, que vai tratá-la da
forma como ela merece.
Eu não sabia se Lincoln estava ouvindo ou não, mas não me
importava. Tudo que eu queria, era me livrar logo do peso morto que ele era
e esquecer que, um dia, aquele filho da puta já havia cruzado o meu
caminho ou o caminho de Marie.

Marie

Eu não deveria, mas, depois de quase vinte e quatro horas sem ter
qualquer notícia de Drew, liguei para ele. A ligação caiu direto na caixa
postal, afundando o meu coração no peito. Ele havia me enviado uma
mensagem na tarde seguinte, pedindo para que eu não saísse de casa em
hipótese alguma, pois o MC estava atrás de Lincoln. Eu não sabia ao certo o
que isso significava, mas o medo que eu senti era muito real.
E se algo acontecesse com Drew? Ou com um dos membros do
moto-clube? E se Lincoln descobrisse que estava sendo perseguido e
acionasse seus amigos policiais? Minha cabeça girava com todas as
possibilidades e o medo só alimentava a minha angústia e o nervosismo.
Fui novamente até a janela da minha sala de jantar e espiei a rua. Já
havia anoitecido e não vi qualquer sinal da moto de Drew ou do carro de
Lincoln. Já não sabia mais o que pensar. O moto-clube havia capturado
Lincoln? Ou o contrário havia acontecido?
No meio de toda aquela história, não me surpreendi por estar do lado
daqueles que agiam contra a lei. Lincoln era um Xerife respeitado, mas eu
sabia quem ele era de verdade. Poderia ser mantida de fora da sua vida e
não saber o que ele fazia quando saía de casa, mas sabia muito bem o que
eu vivia com ele dentro daquelas paredes. Portanto, não iria me opor ao que
o moto-clube quisesse fazer com ele.
Foi apenas no começo daquela madrugada, quando eu já estava
vestida com um pijama e preparada para passar mais uma noite em claro no
sofá, que ouvi duas batidas na porta da minha casa. Quase tropecei
enquanto corria pela sala e atravessava o hall, sentindo o meu coração
prestes a sair pela boca quando vi que era Drew pelo olho mágico.
Assim que abri a porta, ele me agarrou, segurando-me pela nuca e
dando um beijo em minha boca que me fez perder o pouco fôlego que eu
ainda tinha em meus pulmões. Consegui bater a porta antes que o
motoqueiro me encostasse contra a parede e afundasse a língua entre os
meus lábios.
O beijo serviu para que eu conseguisse acalmar, pelo menos um
pouco, o meu coração. Drew estava bem ali, vivo, engolindo a minha boca e
pressionando o corpo enorme contra o meu. Nada de ruim havia acontecido
com ele. No fundo, isso era tudo o que importava para mim. Derreti-me em
seus braços e retribuí o beijo, gemendo baixinho quando ele mordiscou o
meu lábio inferior e pressionou o início da ereção em minha barriga.
— Drew... — Seu nome saiu como um novo gemido do fundo da
minha garganta, mas logo procurei agir de forma racional quando abri os
olhos e dei de cara com ele. Fiquei assustada quando percebi que havia um
curativo em seu braço, bem perto do ombro. — Meu Deus! O que foi isso?
— Toquei de leve, sentindo meus dedos trêmulos e ficando nervosa com o
seu silêncio. — Drew, fale alguma coisa! Quer me matar do coração?!
— Ele nunca mais vai tocar em você.
Foi tudo o que saiu daquela boca bonita e úmida pelo nosso beijo.
Minha mente deu um nó, tentando processar a informação.
— O quê? Ele quem?
— Lincoln. — Os dedos de Drew tocaram meu rosto, afastando os
fios do meu cabelo para longe da minha bochecha. Aquele sorrisinho de
lado em sua boca me deixou com as pernas bambas e o coração acelerado.
— Aquele filho da puta nunca mais vai tocar em você, Marie, porque ele
está morto. — Minha boca caiu aberta e minhas pernas realmente perderam
a força. Drew precisou me segurar pela cintura enquanto reafirmava: —
Lincoln está morto.
Minutos se passaram. Soube disso porque Drew, de alguma forma,
conseguiu me pegar em seus braços, se sentar comigo no sofá e me abraçar
bem forte, enquanto o choque causava o seu efeito em minha cabeça e em
meu corpo. Sentia meus músculos estremecerem enquanto Drew acariciava
as minhas costas, em silêncio, deixando que eu processasse aquela
informação.
Eu sabia que o moto-clube queria matar Lincoln. E eu sentia que, em
algum momento, eles conseguiriam fazer aquilo, mas agora que tinha
acontecido, eu não sabia como reagir. Parte de mim estava assustada e a
outra estava aliviada. Eu não sabia como lidar com nenhuma das duas
emoções.
— Como... Como vocês conseguiram...
— Não vou te dar os detalhes de como ele morreu, apenas tenha em
mente que aquele crápula mereceu cada surra que levou até o seu coração
parar de bater — Drew disse bem sério, tomando meu rosto em suas mãos e
olhando em meus olhos arregalados. — Lincoln era um monstro ainda pior
do que imaginávamos, Marie. Ele fazia coisas... Coisas horríveis com
meninos.
— Com... meninos? — Tentei me levantar do colo de Drew, mas ele
não deixou, passando um braço forte pela minha cintura. — O que quer
dizer? Que meninos são esses?
Havia uma espécie de temor nos olhos de Drew que eu nunca tinha
visto até então. E raiva, também. Uma raiva que não havia passado nem
mesmo com o fato de Lincoln estar morto. Ele começou a me contar tudo o
que sabia e eu senti um bolo se formando em meu estômago a cada palavra
que saía da sua boca. Uma mansão no meio da floresta, meninos
machucados e usados como escravos sexuais, pessoas ricas e influentes
participando de tudo. Lincoln como o chefe e o antigo pastor da igreja de
Piece of Sky como amante do meu marido antes de nos casarmos.
Nem mesmo Drew conseguiu me segurar quando o empurrei e saí
correndo em direção ao banheiro. Tudo o que eu havia ingerido durante o
dia foi parar no vaso sanitário. A onda de horror que eu sentia era tão forte,
que temi desmaiar quando parei de vomitar, minha mente jogando de um
lado para o outro as informações que Drew havia acabado de me contar.
— Marie. — Drew estava atrás de mim, segurando o meu cabelo e
me puxando de encontro ao seu peito. De alguma forma, ele conseguiu
acionar a descarga e fechar a tampa do vaso antes de me abraçar por trás. —
Sinto muito. Eu realmente sinto muito por tudo isso, meu bem.
Lágrimas invadiram os meus olhos conforme Drew me abraçava
mais apertado. Eu queria poder dizer a ele que não acreditava em nada do
que tinha acabado de falar, que Lincoln era sim um homem agressivo e
rude, mas não era cruel daquele jeito. Ele não era um monstro que estuprava
e torturava meninos. No entanto, bem no fundo, eu sabia que Drew não
estava mentindo.
Sempre desconfiei de que a maldade de Lincoln não tinha limites,
mas fui omissa demais. Nunca quis olhar mais a fundo dentro do ser odioso
que ele era, pois tinha medo do que iria encontrar. Ser mantida na
ignorância durante todos aqueles anos, foi o modo que encontrei para
sobreviver ao lado daquele homem, com quem eu precisei dividir anos da
minha vida.
— Tem certeza de que ele... sofreu o suficiente antes de morrer? —
perguntei baixinho de encontro ao peito de Drew, soluçando em meio ao
choro. Meu peito doía, mas não por estar decepcionada. Doía de ódio.
Ódio de mim mesma, por não ter tido coragem de dar um basta
naquele casamento. Ódio dos meus pais, por terem me entregado em uma
bandeja de prata nas mãos daquele monstro. Ódio de Lincoln por não ter
machucado apenas a mim, mas a tantas outras pessoas. Crianças. Meninos
que mereciam ser protegidos de homens como ele.
— Ele foi enterrado vivo. — Drew soltou a bomba e eu arregalei os
olhos, precisando me afastar do seu peito para poder olhar para ele. Vi em
sua expressão que não estava mentindo. — Isso é sofrimento suficiente para
você?
Eu só pude concordar com a cabeça, enquanto me dava conta de que
o mundo de Drew — e de Lincoln — era completamente diferente do que
eu conhecia. A violência era extrema e o ódio, também. Ainda assim, eu
não me arrependia por estar nos braços de Drew agora. Não me arrependia
por estar aliviada por Lincoln ter sofrido tanto antes de dar o seu último
suspiro e desparecer para sempre da minha vida.
— E as crianças? O que aconteceu com elas?
— Estão todas no MC. Algumas estão bem debilitadas e precisaram
ficar no soro, outras tinham os braços quebrados, mas a maioria tem apenas
machucados superficiais e estão desnutridas. — Fechei os olhos ao ouvir
aquilo e Drew tocou em meus cabelos. — Eu sei que você não estava
preparada para ouvir algo assim, Marie...
— Não, eu realmente não estava. — Voltei a abrir os olhos, me
sentindo pegajosa por conta do suor frio que cobria o meu corpo e as
lágrimas que ainda escorriam pelas minhas bochechas. — Mas quem está
preparado para ouvir tudo isso? Nenhuma mulher, por mais consciente que
seja sobre o tipo de marido que tem em casa, está preparada para descobrir
que ele não machuca apenas ela. Eu trocaria de lugar com todos aqueles
meninos, Drew. Eu suportaria tudo por eles, para que o ódio de Lincoln
fosse dirigido apenas para mim. Não consigo aceitar que ele cometeu tanta
crueldade contra crianças. Sinto nojo de mim mesma por ter dormido e
acordado ao lado dele todos esses anos, por ter deixado que ele tocasse em
meu corpo... Se eu ao menos suspeitasse do que ele era capaz, acho que eu
mesma o teria matado.
— Eu acredito em você, sei que não suspeitava de nada, Marie.
Ninguém no MC acredita que você desconfiava de alguma coisa.
Apesar de ter concordado com a cabeça ao ouvir aquilo, eu não me
sentia aliviada, pois deveria ter desconfiado, apesar de ter certeza de que
Lincoln não havia deixado qualquer brecha para que eu suspeitasse de
alguma coisa. Ele sabia muito bem como esconder os crimes que cometia,
afinal, sempre agiu como um marido exemplar quando estávamos em
público na nossa antiga cidade. Da mesma forma que as pessoas não
desconfiavam que ele era um agressor, eu também não desconfiava que ele
era um pedófilo que torturava menininhos.
— O que vai acontecer agora, Drew? Vocês não têm medo de que a
polícia descubra que foi o moto-clube que o matou?
— A gente acredita que isso não vai acontecer. Fomos cuidadosos,
Marie. Destruímos o carro de Lincoln, queimamos seus documentos e
celulares. A localização da mansão é afastada e, pelo que sabemos, homens
influentes participavam das atrocidades que aconteciam lá. Assim que
souberem que Lincoln desapareceu, eles serão os primeiros a tentar abafar o
caso.
— Meu Deus... — Passei as mãos pelo cabelo, exasperada. — Parte
de mim queria ser mantida na ignorância, sabe? Eu preferia não ter
descoberto nada disso.
— Eu imagino que sim, mas você precisava saber, Marie. Precisava
conhecer, de fato, quem era aquele filho da puta.
— Eu sei disso e agradeço por você ter me contado — falei, tocando
em seu rosto com meus dedos trêmulos. — E agora que eu sei sobre tudo
isso, quero ajudar de alguma forma, principalmente em relação aos
meninos.
— Por que isso não me surpreende? — Drew sorriu, fazendo o meu
coração disparar por um motivo completamente diferente. — Vou conversar
com Bruce, o nosso Presidente, sobre isso, ok? Agora que Lincoln está
morto, não acredito que ele ou qualquer membro do MC vai ter alguma
objeção sobre nós dois.
— Será?
Eu não acreditava muito naquilo. De alguma forma, eu sentia que a
sombra de Lincoln sempre estaria sobre mim. Drew apenas concordou com
a cabeça e me ajudou a levantar do chão. Ele me deu alguns minutos
sozinha para que eu pudesse escovar os dentes e tirar o gosto de azedo da
boca, depois me acompanhou até a sala. Seu celular estava em meu sofá e
nós dois vimos quando ele recebeu uma nova mensagem.
— Preciso voltar para o moto-clube — disse ele depois de pegar o
aparelho. — Vamos manter contato por mensagem, ok? A polícia deve vir
te interrogar quando souberem do desaparecimento de Lincoln. É só você
dizer que não sabe de nada. Que ele saiu para trabalhar na quinta-feira e que
não voltou para casa.
— Claro, não vou falar nada além disso.
Drew se aproximou de mim e me puxou de encontro ao seu corpo
com as mãos em minha cintura, encostando a testa na minha.
— Prometo que nada mais vai ficar entre nós dois, Marie. Em breve,
vamos poder gritar para todo mundo que você é minha.
Apesar de tudo o que eu havia descoberto na última hora, consegui
sorrir.
— Estou ansiosa para isso.
Tirei os meus fones de ouvido assim que terminei a minha série de
exercícios. Estava fazendo de tudo para distrair a minha mente dos últimos
acontecimentos, principalmente depois de saber que a polícia já havia
batido na porta de Marie dias atrás, querendo que ela contasse sobre os
últimos momentos que passou ao lado de Lincoln. A investigação agora
consistia em tentar reconstituir os últimos passos do filho da puta, para
tentar encontrar o seu paradeiro.
Por conta da visita da polícia à casa de Marie, achei melhor ficar um
pouco afastado dela e esperar a poeira abaixar. Não estava sendo fácil
aguentar a distância, por isso, descontar a frustração no saco de pancadas e
nas abominais estava sendo providencial.
Fui direto para o meu quarto tomar um banho e desci minutos depois,
passando rapidamente na cozinha para pegar alguma coisa para comer. As
docinhos estavam entretidas enquanto preparavam um lanche para os
meninos, que até então se recusavam a sair do quarto e ter qualquer contato
com os irmãos. Roubei um sanduíche e uma lata de Coca-Cola e dei de cara
com Damon assim que saí da cozinha. Seu olhar analítico encontrou o meu.
— Por que eu estou com a impressão de que você está fugindo de
mim, Drew?
— Porque você é neurótico — respondi, dando uma mordida no
sanduíche. Meu irmão cerrou os olhos.
— Neurótico é o caralho. O que está acontecendo?
Eu não estava fugindo de Damon, apenas não queria conversar com
ele, pois sabia que não me apoiaria em relação a Marie. Não brigamos mais
desde aquela última vez, mas isso não queria dizer que meu irmão estava do
meu lado.
— Não está acontecendo nada. — Dei de ombros, terminando de
devorar o sanduíche e passando pelo meu irmão.
Precisava descobrir uma forma de conversar com o Prez sobre mim e
Marie. Eu não precisava da aprovação de Damon, mas precisava da de
Bruce se quisesse que Marie entrasse pela porta do MC ao meu lado.
— Você está assim por causa da tal Rachel Marie, não é? Por que
você simplesmente não esquece essa mulher?
— Vou fingir que não ouvi isso, Damon — respondi, entrando no bar.
Percebi de relance que Connor e Oliver estavam ali, mas não parei para
falar com eles.
— Estou falando para o seu bem, Drew! A polícia ainda está à
procura de Lincoln, se os virem juntos, podem ligar o desaparecimento dele
ao MC!
— Então, não, você não está falando isso para o meu bem! — Virei-
me para Damon, deixando a lata de Coca sobre uma mesa e cruzando os
braços. — Está pensando mais no moto-clube do que em mim.
— Claro que não!
Prendi um palavrão, sentindo a irritação voltar com tudo enquanto
encarava o meu irmão. Decidi encerrar aquela conversa por ali.
— Não vou mais falar sobre isso com você.
Virei-me em direção à porta do bar, já tirando a chave da moto do
meu bolso, enquanto ouvia Damon xingar e vir atrás de mim.
— Drew, volta aqui! Nós ainda não terminamos essa conversa!
— Vai à merda, Damon!
— O quê? Seu filho da puta, vem aqui! — Ele me puxou pelo ombro
quando comecei a descer os degraus de madeira que me levariam à calçada.
— Pare de agir feito uma criança, Drew!
— Para você de me tratar como se eu fosse uma criança, porra! —
Xinguei, desvencilhando-me do seu aperto em meu ombro. — Que tipo de
perigo Marie pode oferecer ao MC agora que aquele filho da puta não está
mais respirando?
— Fala baixo! — Damon mandou entredentes, se aproximando de
mim. — Não ouviu o que eu disse? Qualquer envolvimento entre vocês dois
pode despertar a suspeita da polícia!
— E daí? Eles com certeza já suspeitam do MC, Damon! Marie e eu
estarmos juntos não vai dar a eles a prova de que precisam para prender
qualquer um de nós e você sabe disso!
— Posso saber que porra de gritaria é essa em frente ao meu moto-
clube?
Bruce surgiu do nada com Christian e Ralph ao seu lado, vindos da
oficina. Eu respirei fundo, tomando uma decisão. Se queria abrir o jogo
com o Prez, aquele, provavelmente, era o melhor momento. Nunca fui do
tipo que enrolava quando precisava resolver alguma situação e passar todos
aqueles dias longe de Marie, sem poder me certificar pessoalmente de como
ela estava após descobrir tudo sobre Lincoln, estava me matando.
— Não está acontecendo nada, Bruce. Só estou tentando abrir a
cabeça da porra do meu irmão! — Damon grunhiu ao meu lado, mas eu o
ignorei.
— Prez, você já sabe que eu e Marie estamos juntos...
— Para falar a verdade, eu não sei. — Bruce disse, passando o
polegar pelo queixo e estreitando os olhos. — Em nenhum momento você
me comunicou que estava com ela, Drew.
Parei por um segundo, me dando conta de que aquilo era verdade.
Bruce sabia apenas do meu interesse por Marie e não que ela e eu
estávamos juntos.
— Nós oficializamos tudo antes de Lincoln... Você sabe — falei,
olhando a nossa volta.
Conversar sobre aquilo em frente ao MC não era o lugar ideal e acho
que Bruce pensava o mesmo, pois apontou para o bar e fez com que todos
nós entrássemos. Connor e Oliver já não estavam mais por ali, mas algumas
docinhos andavam para lá e para cá, dando olhares curiosos para todos nós.
— Então, você se tornou amante dela — Bruce concluiu e eu cerrei a
mandíbula.
— Não. Aquele casamento era apenas uma fachada, Prez! Lincoln
usava Marie para fingir que era um homem íntegro, todos nós aqui sabemos
disso.
— Ele era um filho da puta — Christian praticamente cuspiu. — Mas
o que Damon disse é verdade, Drew. Vocês dois juntos pode levantar
alguma suspeita da polícia.
— E que crime contra Lincoln eles vão ter cometido? — Ralph
questionou. — Vai fazer uma semana que esse filho da puta desapareceu, a
polícia não vai encontrar nada de concreto que possa nos incriminar.
Deixem Drew viver a vida dele em paz com a esposa do Xerife.
— Ela não é mais esposa dele — alertei e Ralph riu.
— Verdade. O babaca está morto e você — Ralph apontou para
Damon. — Só está dando motivos para que o seu irmão se afaste ainda mais
com toda essa palhaçada. Eu conheci a Marie e posso falar que ela parece
ser uma mulher muito tranquila, apesar de tímida e de morrer de medo da
gente.
— Por que ela teria medo da gente? — Damon perguntou.
— Quer mesmo que eu comece a enumerar os motivos, babaca? —
Ralph questionou e Damon revirou os olhos.
— Só não quero que Drew corra nenhum tipo de risco. — Damon
voltou a apertar o meu ombro e senti que sua raiva havia diminuído
consideravelmente. — Ao contrário do que pensa, para mim, você está em
primeiro lugar. Tem certeza de que quer mesmo viver um relacionamento
com essa mulher? Tem certeza do que sente por ela?
— Claro que eu tenho certeza! Antes, eu realmente achava que era só
desejo, mas agora eu sei que não é. Preciso que você confie em mim,
Damon!
Meu irmão me encarou por alguns segundos. Era como se ele não
soubesse o que fazer comigo, já que com certeza não poderia me obrigar a
ficar longe de Marie por mais tempo. Por fim, ele suspirou e concordou de
leve com a cabeça.
— Eu confio em você, irmão.
Eu quase sorri. Aquilo era tudo o que eu precisava ouvir de Damon.
À minha frente, Bruce voltou a passar o dedo pelo queixo e me analisou
mais abertamente.
— Preciso que seja claro comigo sobre o que pretende fazer, Drew.
Quer assumir um relacionamento com essa mulher e colocá-la aqui dentro?
— Se você permitir, sim, Prez.
— E se eu não permitir?
Olhei para Bruce, então para Christian, Ralph e Damon. Eu sabia que
as minhas próximas palavras poderiam chocá-los, mas jamais mentiria para
o Prez.
— Então, eu vou ter que deixar o meu colete e seguir o meu caminho
longe do moto-clube.
— Como é que é? — Damon gritou, me fazendo estremecer. Ele
tomou a minha frente e segurou o meu rosto com as duas mãos, olhando-me
como se quisesse bater com a minha cabeça na parede. — Você tá ficando
maluco, porra?! Quer desistir do moto-clube por causa de uma mulher?
— Você também escolheu a Madison acima do moto-clube —
respondi, segurando os pulsos largos do meu irmão. — E antes que diga que
a situação era diferente, eu preciso dizer que concordo. Realmente, era uma
situação diferente, mas o meu sentimento pela Marie se tornou tão profundo
quanto o seu pela Maddy. Então, antes que me dê um soco, se coloca no
meu lugar agora, Damon. Se você tivesse que escolher entre o MC e a
Madison, o que faria?
As sobrancelhas do meu irmão estavam tão franzidas, que pareciam
prestes a se unir em uma só. Eu podia sentir o meu coração pulsar em meus
ouvidos e as mãos de Damon tremerem ao redor do meu rosto conforme
esperava pela sua resposta. E eu sabia qual era a sua resposta, só não tinha
certeza se ele havia conseguido entender a profundidade dos meus
sentimentos por Marie.
— Você sabe que eu escolheria a Maddy — disse entredentes,
apertando o meu rosto. — Mas você é meu irmão! Se Bruce não permitir
que Marie esteja entre nós, eu vou perder você! E eu não posso te perder,
Drew!
Minha garganta ficou apertada quando finalmente entendi o que
aquele sentimento nos olhos de Damon significava. Meu irmão estava com
medo e eu nunca me senti tão amado antes.
— Você não vai me perder — garanti, puxando-o para um abraço
bem forte. — Mesmo se eu tiver que sair do MC, sempre estarei por perto
e...
— Cala a boca! — Damon mandou, dando um soquinho em minhas
costas. — Não quero ouvir essa merda, entendeu? Não quero pensar nisso.
— Mas isso pode acontecer, Damon. E se acontecer...
— Parem com esse dramalhão vocês dois! — Bruce ordenou e
Damon parou de me apertar, dando um passo para o lado. Seu braço
permaneceu sobre o meu ombro, me mantendo perto do seu corpo. —
Estava lendo esses dias que a ansiedade é o mal do século e agora eu vi que
é verdade. Vocês estão se lamentando por algo que nem sabem se vai
acontecer ou não!
— Podia ter deixado eles continuarem, Prez. Eu estava ficando
emocionado com todo esse amor entre os irmãos — Ralph murmurou e
Christian riu.
— Bruce, nunca pensei que justo eu estaria aqui te pedindo isso, mas,
por esse moleque, eu faço qualquer coisa — Damon sacudiu meu cabelo,
me irritando. — Deixa ele ficar com a esposa do Xerife, pelo amor de Deus.
— Ela não é mais esposa dele! Que merda, Damon! — Empurrei
meu irmão, ouvindo a risada de Ralph.
— Antes de eu dar qualquer resposta definitiva, quero conhecê-la
pessoalmente — Bruce disse e eu soltei o ar que nem sabia que estava
prendendo. — Traga-a aqui na semana que vem, Drew.
— Claro, Prez! Com certeza! — Talvez eu não tenha conseguido
esconder a minha euforia.
— Ótimo. Agora parem de chorar como dois menininhos órfãos e
vão caçar o que fazer.
— Mas eles são órfãos, Prez — Ralph lembrou.
— Vai arrumar algo para fazer também, Ralph!
Bruce saiu junto com Christian e Damon me puxou para um novo
abraço antes de me dar um tapa dolorido na nuca.
— Porra, Damon!
— Isso é para você aprender a nunca mais ameaçar que vai deixar o
moto-clube. Eu costuro a porra desse colete no seu corpo se você falar essa
merda de novo, entendeu? — Eu concordei com a cabeça, me sentindo um
garoto tomando um sermão do pai. — Acho bom ter entendido. Agora eu
preciso de uma bebida.
Damon passou por mim e por Ralph, já gritando para que Jeff o
servisse uma dose dupla de uísque. Ao meu lado, o Secretário riu.
— Damon só tem pose de durão, puta merda. — Ralph cruzou os
braços e me encarou. — Está esperando o que para ir comunicar a Marie
que ela tem um compromisso na próxima semana?
— Vou falar com ela agora mesmo.
Deixei Ralph para trás e fui correndo para pegar a minha moto e ir
contar tudo para Marie.
Olhei-me no espelho e soltei um suspiro de desespero enquanto
arrancava o vestido do meu corpo. Era o quarto que eu vestia nos últimos
dez minutos. Não fazia a menor ideia de que roupa poderia usar para ir até
um bar de motoqueiros, mas com certeza aqueles vestidos de dona de casa
recatada não eram os ideais.
Voltei para o closet e analisei as minhas roupas. As de Lincoln eu já
havia separado e colocado em caixas de papelão para poder doar em breve,
só estava esperando que a polícia o desse como morto. Nos últimos dias,
tive que aguentar visitas constantes das autoridades em minha casa,
inclusive de policiais de Piece of Sky, que haviam se oferecido para ajudar
nas buscas. Precisei declinar ligações e mensagens da imprensa, que queria
que eu desse uma declaração oficial, e quis sumir a cada ligação que recebia
da minha mãe.
Em uma delas, quando não vi outra saída a não ser atender, ela
deixou bem claro que estava prestes a arrumar as suas malas e viajar para
San Martínez, para, segundo as suas próprias palavras, “ficar ao meu lado
nesse momento tão difícil”. Precisei listar uma série de motivos para negar
a sua ajuda, mas foi só citar a incapacidade do meu pai de viver sozinho
como um adulto independente, que minha mãe sossegou.
Sem ela ao seu lado, eu acreditava que meu pai não conseguiria nem
mesmo achar as suas próprias cuecas. Os dois ainda viviam presos no
século passado, onde a mulher fazia tudo dentro de casa e o homem apenas
entrava com o dinheiro. Nunca pensei que em algum momento essa
dinâmica deles me ajudaria em alguma coisa, mas estava enganada.
Bem escondida dentro do closet, vi uma calça jeans que eu havia
comprado há quase dois anos. Era a única que eu tinha, pois Lincoln dizia
que uma mulher de verdade usava apenas vestidos e não calças. Havia
comprado a peça escondida dele, mas nunca tive a oportunidade de usar,
pois sempre saíamos juntos. Senti minhas mãos tremerem enquanto pegava
a calça, com uma onda de insegurança me deixando arrepiada.
E se não coubesse em mim? E se eu ficasse ridícula usando aquilo? A
peça era justa e eu tinha quadris largos demais. Nem ao menos sabia se
tinha uma blusa para combinar com ela.
— Não vou usar isso — decidi, jogando a calça no chão, mas sem ter
coragem de tirar os meus olhos de cima dela.
Foi o barulho da campainha que me tirou do torpor. Fiquei assustada
ao olhar no relógio na tela do meu celular e me dar conta de que estava
atrasada. Joguei um roupão sobre o meu corpo e saí correndo até a porta da
minha casa, abrindo-a depois de me certificar que era Drew quem estava do
outro lado. Ele entrou e arqueou uma sobrancelha ao ver como eu estava
vestida.
— Desculpa, vou só terminar de me vestir!
Passei correndo por ele, me sentindo uma adolescente idiota que não
sabia agir depois de receber um convite para um primeiro encontro. Na
verdade, aquele convite de Drew era ainda pior do que um primeiro
encontro amoroso. Eu estava prestes a conhecer todos os membros de um
dos moto-clubes mais perigosos dos Estados Unidos. Pensar nisso só me
deixou mais nervosa. Entrei em meu closet e soltei um gritinho ao me virar
e perceber que Drew havia me acompanhado até ali. Ele sorriu de lado.
— Se quiser, posso te esperar lá fora.
Uma parte de mim queria, pois eu não gostaria que ele visse que eu
estava insegura sobre o que vestir, mas a outra parte, a maior e que estava
cheia de saudades dele, só queria que o motoqueiro bonito permanecesse
exatamente onde estava.
— Pode ficar — falei, tirando o roupão. Drew soltou um assobio e
me olhou de cima a baixo, me deixando com um frio na barriga. — Para
com isso — pedi, sentindo minhas bochechas pegarem fogo.
Drew entrou em meu closet e pulou a calça jeans jogada no chão, me
alcançado em menos de um segundo. Suas mãos tocaram a minha cintura e
eu perdi o fôlego quando ele me puxou para si, colando o corpo no meu.
— Não pode me pedir para ficar indiferente a você, Marie.
Principalmente quando está usando apenas calcinha e sutiã. — Seus lábios
tocaram o meu ombro direito, bem em cima da alça da lingerie, e trilharam
um caminho até o meu pescoço. — Estou morrendo de saudade.
Eu também estava. A saudade era tão grande, que às vezes o meu
peito doía, mesmo quando eu falava com Drew por mensagem. Nunca me
senti daquele jeito e parte de mim ainda achava que tudo aquilo entre nós
dois era uma loucura. Drew era um homem jovem e eu, agora, era viúva.
Apesar de ter sido casada por tantos anos, eu não tinha muita experiência
em relacionamentos e a intensidade com a qual Drew me afetava me
deixava assustada. E excitada. E com muita vontade de me entregar a ele
sem pensar nas consequências.
— Drew...
Gemi baixinho quando ele me empurrou contra uma das prateleiras
do closet e tomou o lóbulo da minha orelha em sua boca. Suas mãos
subiram pela lateral do meu corpo até tocarem a meia taça do meu sutiã de
renda. Precisei morder o lábio para não gemer de novo e tentar encontrar
uma forma de colocar para fora o que eu estava sentindo. Tomei seu rosto
em minha mão e o afastei um pouco quando ele se inclinou em minha
direção, prestes a me beijar. Suas sobrancelhas se franziram em dúvida
quando percebeu a minha recusa.
— O que houve?
— Eu preciso falar uma coisa — murmurei, sentindo suas mãos
descerem de volta para a minha cintura. — Sei que aceitei ir com você até o
moto-clube hoje, mas, antes de ir até lá, preciso ter certeza do que significa
tudo isso que está acontecendo entre nós dois.
— Achei que você soubesse o que tudo isso significa.
Desci minhas mãos do seu rosto e toquei em seu peitoral firme,
conseguindo sentir o batimento acelerado do seu coração.
— Eu só quero ter certeza do que sentimos um pelo outro. Não quero
soar tão insegura, mas eu tenho medo de que tudo isso seja apenas desejo
para você, enquanto para mim está se tornando algo maior. Você é jovem,
Drew, tem uma vida inteira pela frente, enquanto eu sou...
— Você é a mulher por quem eu estou apaixonado, Marie. — Ele me
cortou. Não só as minhas palavras, mas o meu fôlego também. — Eu não
me importo se é alguns anos mais velha do que eu, se já foi casada com um
inimigo do meu moto-clube, nem com nada disso. Só me importo com
quem você é e eu sei quem você é.
— Sabe?
Nem eu mesma sabia quem eu era. Até pouco tempo atrás, eu era só
uma marionete nas mãos dos meus pais e depois nas mãos de Lincoln.
Nunca fui uma pessoa de verdade, com voz para dizer o que pensava ou o
poder de fazer suas próprias escolhas, mas Drew parecia não enxergar isso
quando me via.
— Sim, eu sei. Você é altruísta e corajosa.
— Corajosa? — Eu precisei rir, mas Drew não me acompanhou. —
Acho que eu sou a pessoa mais covarde que conheço, Drew.
— Não. Lincoln era covarde. Ele usava do poder que tinha para
subjugar você e todas as pessoas que queria, inclusive crianças. Você é
corajosa, Marie. Mesmo casada com ele, se permitiu me conhecer, ficou
comigo. Ainda está comigo e aceitou conhecer o meu moto-clube, mesmo
sabendo que não estamos do lado da lei. Como pode dizer que não é uma
pessoa corajosa?
Eu respirei fundo, impactada com as suas palavras. Não sabia dizer
se eu era corajosa ou apenas uma mulher impulsiva, mas preferi, mais uma
vez, acreditar nas palavras de Drew e aceitar a forma como ele me via. Ele
ainda era a primeira pessoa que parecia enxergar algo além do que eu via
quando me olhava no espelho. Senti seu polegar em minha bochecha,
recolhendo uma lágrima que eu nem senti cair.
— Gosto da forma como você me vê quando olha para mim —
sussurrei, voltando a subir minhas mãos pelo seu peitoral até o seu pescoço
largo e tatuado. — Eu estou apaixonada por você, Drew, e quero não apenas
conhecer o seu moto-clube. Eu quero você. Eu nunca tive o direito de
querer nada, nunca tive o poder de escolha, mas agora eu quero e escolho
você.
Um sorriso bonito se abriu em seus lábios, fazendo meu coração
disparar. Aquele brilho em seus olhos aqueceu o meu peito. Foi a primeira
vez que vi, refletido no olhar de outra pessoa, os mesmos sentimentos que
explodiam dentro de mim.
— Eu também quero e escolho você. — Drew repetiu as minhas
palavras, finalmente encostando os lábios nos meus.
Não sei se fui eu que tirei o seu colete primeiro ou se foi ele quem
desabotoou o sutiã em minhas costas. Só tive real consciência do que
estávamos fazendo, quando Drew ergueu a minha coxa e passou a cabeça
larga do seu pau pela minha boceta, pincelando-a antes de começar a me
penetrar. Gemi abafado em sua boca com a pressão que me invadiu, a
sensação gostosa de me sentir totalmente preenchida quando ele foi até o
fundo e parou.
Drew parou dentro de mim, literalmente. Sua língua na minha boca,
seu pau dentro da minha boceta e o seu coração dentro do meu.
Eu não conseguia acreditar que tinha vivido até aquele momento sem
saber como era ser verdadeiramente amada daquele jeito. Venerada. Era
sempre assim que eu me sentia desde o primeiro momento que Drew olhou
em meus olhos.
Era por isso que eu sabia que ele estava sendo verdadeiro ao dizer
que estava apaixonado por mim. Não havia qualquer brilho dissimulado em
seu olhar ou mentira em seu toque. E a forma como ele me enlouquecia...
Era como se minha alma tivesse encontrado a pecinha que faltava em meu
interior.
Drew começou a mover o quadril lentamente, roçando a cabeça
gorda do seu pau em cada terminação nervosa dentro da minha vagina e o
osso púbico em meu clitóris. Eu sabia que estávamos mais do que atrasados
para o compromisso no moto-clube, mas não o impedi de continuar, apenas
gemi e me entreguei, matando a saudade que estava sentindo do seu cheiro,
do calor do seu corpo, da sua pele na minha e do seu pau dentro de mim.
— Hoje eu vou te comer assim, devagar — sussurrou de encontro a
minha boca enquanto beliscava o meu mamilo e erguia um pouco mais a
minha coxa. Em momento algum Drew aumentou o ritmo e aquilo estava
me enlouquecendo. — Mas, em breve, eu vou cumprir com a minha
promessa, Marie. Você se lembra dela? — Eu apenas concordei com a
cabeça e Drew sorriu. — Então diga para mim em voz alta.
Engoli em seco e precisei apertar os seus ombros para conseguir ter
um pouco mais de equilíbrio e pensar com clareza.
— Vai me colocar de quatro... E me foder até eu perder a voz.
Seus dedos se fecharam em torno do meu pescoço, sem apertar
demais, e Drew sorriu mais abertamente.
— É exatamente isso que vou fazer, em breve. Hoje, quero apenas
matar a saudade de você.
Ele abaixou a cabeça e colocou um mamilo duro em sua boca, me
fazendo estremecer ao ponto de eu pensar que iria cair. Mas não caí. Drew
me pressionou com o seu quadril e a mão em meu pescoço, me mantendo
no lugar e me comendo devagar, metendo e tirando o pau sem sair
completamente, fazendo minha boceta ficar inchada e apertada demais.
Assim que senti seus dentes mordiscando o biquinho saliente do meu seio, o
mundo começou a desabar.
Não sabia explicar como gozei tão rápido, muito menos a intensidade
com a qual o orgasmo me atingiu, mas aconteceu e eu desmoronei. Drew
precisou passar um braço pela minha cintura e me manter no lugar, tomando
a minha boca e gemendo rouco enquanto me seguia e gozava dentro de
mim, me deixando toda melada com a sua porra quente. Ele só parou de
meter quando o tremor deixou os nossos músculos e o meu coração
começou a desacelerar.
— Quero que você vá para o moto-clube assim — sussurrou de
encontro a minha boca enquanto saía do meu interior. Estremeci quando
seus dedos tocaram minha boceta sensível, espalhando seu sêmen pelos
meus lábios e o clitóris. — Meladinha com a minha porra. Quero que os
filhos da puta que estão lá consigam sentir o meu cheiro em você.
Eu ri baixinho, chocada com a sua territorialidade.
— E será que vão sentir o meu cheiro em você também? —
perguntei, mesmo sem saber o porquê.
No fundo, eu sabia sim. Acho que também era um pouco territorial
sobre Drew. Ele sorriu e enfiou os dedos em meus cabelos, enquanto
inclinava o rosto um pouco para o lado.
— Chupa o meu pescoço — pediu e eu arregalei os olhos.
— O quê?
— Chupa o meu pescoço, Marie. Deixe a sua marca bem aqui. —
Apontou para a pele tatuada com a mão livre, me dando aquele sorrisinho
de lado. — Quero que todo mundo saiba que eu tenho dona.
O orgulho em sua voz me fez gargalhar, mas o modo como disse
aquilo me deixou muito excitada. Sem pensar demais, fiquei na ponta dos
pés e passei minha língua pelo seu pescoço, ouvindo o seu gemido rouco,
que ficou mais alto quando chupei a sua pele.
— Mais forte — exigiu e eu aumentei a pressão, sentindo uma onda
de tesão me deixar arrepiada. Drew gemeu mais alto e apertou a minha
bunda, roçando o pau em minha coxa. Ele estava endurecendo mais uma
vez. — Porra, Marie! Que delícia.
Assim que larguei a sua pele — bem avermelhada —, ele me puxou
para um beijo faminto e cheio de desejo, que me deixou tonta e com
vontade de repetir tudo o que fizemos minutos antes. Por sorte, Drew
parecia ter mais consciência do que eu, pois se afastou depois de me deixar
completamente sem fôlego.
— É melhor você se vestir, ou não vamos sair daqui nunca mais.
Eu concordei com a cabeça e fiz o que pediu.

— Eu não sei subir nisso.


Apontei para a sua moto assim que saímos. Um vizinho curioso
olhou para nós dois enquanto entrava em casa e aquilo me deixou nervosa,
mas depois que o homem desapareceu das nossas vistas, finalmente vi a
moto monstruosa de Drew e fiquei nervosa de verdade.
Ele havia me convencido a provar a calça jeans, que, para minha
surpresa, serviu perfeitamente. A peça moldava demais o meu quadril na
minha opinião, mas Drew praticamente me comeu com os olhos quando me
viu vestida com ela, portanto, acreditei na sua opinião sobre eu estar bonita.
O motoqueiro gostoso me fazia sentir bonita e essa também era uma
emoção que eu estava aprendendo a lidar.
— É muito simples — disse ele e eu revirei os olhos.
— Claro que para você é muito simples, Drew.
Ele sorriu e passou uma daquelas pernas enormes por cima da moto,
montando-a, em seguida, me estendeu a mão.
— Vem aqui. — Eu fui, olhando para aquela monstruosidade como
se ela fosse me atacar. Segurei a sua mão e Drew levou a minha até o seu
ombro. — Apoie-se em mim e passe uma perna por cima do banco, como
eu fiz.
— É muito larga e alta.
Eu estava surpresa com o fato de a moto ser realmente alta. O banco
batia acima da minha cintura.
— Você não vai cair, eu juro.
Mordi o lábio, nervosa, e fiz como ele pediu. Senti um medo terrível
de cair, ou pior, de a minha calça rasgar bem no meio da minha bunda, mas
não foi tão ruim assim. Meio desajeitada, consegui me sentar e logo agarrei
a cintura de Drew com medo de cair de cara no chão. Ele riu baixinho e
depois gargalhou quando dei um tapa em seu abdômen duro.
— Não ria de mim!
— Você é muito fofa, Marie — declarou ele, olhando rapidamente
para trás. Quis bufar em frustração quando meu coração acelerou. Parecia
ser impossível sentir raiva de Drew. — Quer o capacete ou prefere sentir o
vento no rosto? Prometo que não vou muito rápido.
Aquela era a minha primeira vez andando de moto e eu sabia que o
ideal era usar o capacete, mas, desde quando eu agia de forma prudente
depois que Drew entrou em minha vida?
— Não quero o capacete.
O garoto imoral e sedutor sorriu e piscou para mim.
— Ótima escolha.
— Você é imprudente, Drew... Qual é mesmo o seu sobrenome?
— Reed, mas ele me lembra ao meu pai e você deve imaginar que eu
odeio aquele filho da puta.
— Desculpa — pedi, beijando o seu ombro. Senti sua mão sobre a
minha em sua barriga.
— Não precisa se desculpar, está tudo bem. Acho que posso gostar
de ser chamado de Drew Reed por você.
Eu sorri, me sentindo uma boba ao ouvir aquilo. O ronco do motor da
moto me deixou tensa por um segundo, mas assim que Drew a colocou em
movimento, eu me obriguei a relaxar um pouco e aproveitar a sensação do
vento no rosto. Por um minuto, eu fechei os olhos e apenas me permiti
sentir aquela nova experiência. Foi quase como ser beijada por Drew pela
primeira vez. Uma amarra se desfez em meu peito e eu tive a sensação de
que estava começando a voar.
— Acho que você está gostando. — Ouvi a voz de Drew e abri os
olhos, tomando um susto ao ver que ele estava com o rosto voltado para
mim.
— Olhe para frente, pelo amor de Deus, Drew!
Ele gargalhou, mas me obedeceu, acelerando um pouco mais e me
deixando com o coração batendo na garganta. Tinha que confessar: morri de
medo, mas foi libertador. E quando chegamos ao moto-clube, lamentei
interiormente pela nossa viagem ter acabado rápido demais. Drew me
ajudou a desmontar e ajeitou os fios bagunçados do meu cabelo, me dando
um sorriso.
— Preparada?
— Não. — Fui sincera, vendo o seu sorriso se transformar em uma
risada curta. — Mas já que você garantiu que ninguém vai me matar, vou
fingir que sou corajosa e entrar nesse bar ao seu lado.
— Eles vão adorar você — garantiu, passando o nariz sobre o meu.
— Assim como eu.
Só pude torcer para que Drew estivesse certo.
Drew acenou para dois garotos que estavam em frente ao bar do MC
conforme subíamos os degraus de madeira. Percebi que eles usavam colete,
mas sem o lobo assustador nas costas.
— Por que o colete deles é diferente?
— Porque eles são prospectos. — Ao perceber que eu não tinha
entendido nada, Drew continuou: — Eles ainda não são membros oficiais,
por isso não usam o patch do MC. De uma forma grosseira, eles estão
passando pela fase de experiência.
— Não sabia que isso existia. O que eles precisam fazer para se
tornarem membros?
— Precisam mostrar que serão uma boa adição ao moto-clube, ou
seja, que respeitam a hierarquia, cumprem com as ordens que recebem e são
leais ao lobo de fogo. Depois, eles vão passar por uma votação e assim irão
descobrir se vão se tornar membros ou não.
— Você passou por tudo isso?
Lembrava de Drew contar que era irmão de um membro da diretoria
do MC, mas não sabia dizer se isso dava a ele alguma regalia ou não.
— Sim. Ter Damon como irmão não abriu nenhuma porta para mim.
Quer dizer, estou sendo injusto. Entrei como um infiltrado no MC e sei que
se eu não fosse irmão dele, com certeza estaria morto. — Estremeci ao
ouvir aquilo e empaquei perto da porta, prestes a entrar no bar. Drew me
olhou, como se soubesse que a minha insegurança estava começando a falar
mais alto. — Não leve para o lado pessoal, Marie. O moto-clube tem regras
e a maior delas, é que não perdoamos traidores e eu, de certa forma, traí o
moto-clube ao entrar como um infiltrado. Eles me perdoaram quando
descobriram que mudei de ideia e que não passei informações para o meu
pai, mas estavam no direito de retaliar. Eu sabia dos riscos quando aceitei o
plano de Dean e entrei no MC.
— Mesmo assim... Eles poderiam ter matado você.
— Mas não mataram. — Ele tocou em meu rosto com carinho. — E
isso diz muito mais sobre quem eles são, não é verdade? Todos os
membros, principalmente o Prez, poderiam ignorar o meu arrependimento e
o fato de eu ser irmão de Damon, mas não foi isso que fizeram. Eles me
perdoaram e permitiram que eu permanecesse no MC.
Toda aquela violência ainda me assustava, mas eu sabia que Drew
tinha razão. Não fizeram nada contra ele e pensar nisso — apenas nisso —,
me deixou um pouco mais aliviada.
— Você está certo — respondi, tomando um impulso e beijando
rapidamente a sua boca. Drew pareceu surpreso, mas logo sorriu. — Vamos
entrar logo, antes que eu saia correndo daqui.
Rindo, Drew concordou com a cabeça e abriu a porta vai-e-vem do
bar. A primeira pessoa que vimos, foi Ralph. Ele estava perto de uma garota
que usava um short jeans muito curto e um top que deixava a sua barriga
toda de fora. Ela ria de alguma conversinha que o motoqueiro forte estava
sussurrando em seu ouvido, mas sua expressão logo mudou quando viu
Drew de mãos dadas comigo. Seu sorriso malicioso se transformou em um
bem aberto e muito honesto, o que me surpreendeu. Ralph acompanhou o
seu olhar e sorriu abertamente assim que nos viu.
— Finalmente! Achei que não chegariam nunca!
A voz alta de Ralph sobressaiu à música alta que tocava no bar e
chamou atenção de todos. Havia pessoas sem colete por ali, mas a maioria
parecia ser membro do MC. Ralph se aproximou e me puxou para um
abraço de urso, que quase esmagou as minhas costelas.
— Sorria, Marie! Você está em família aqui. Prometo que ninguém
vai assustar você — garantiu ele, dando um beijo estalado em minha
bochecha antes de se afastar. Eu realmente sorri, recuperando o fôlego após
o seu abraço. Ralph se aproximou de Drew e passou o braço pelo ombro
dele. — Tô orgulhoso de você, prospecto.
— Não sou um prospecto há muito tempo, idiota! — Drew riu e deu
um soquinho na altura das costelas de Ralph, que xingou e se afastou, rindo
também. — E obrigado por ter me apoiado desde sempre.
— Estou sempre ao lado do amor, mesmo sabendo que eu nunca vou
me apaixonar.
— Cuidado, quem diz isso, geralmente é o primeiro a se apaixonar
— falei, porque, segundo os livros que eu lia, aquilo sempre acontecia.
Ralph pressionou o peito e sorriu para mim.
— Aqui dentro existe um coração enorme, Marie. Sabe o que isso
significa? — Eu sacudi a cabeça e ele prosseguiu: — Que tem espaço
suficiente para caber um campo de futebol lotado. Como vou me apaixonar,
se não consigo sentir interesse por uma pessoa apenas? É uma questão de
lógica.
Quis dizer para Ralph que lógica e sentimentos geralmente
caminhavam em lados opostos, mas não tive oportunidade, pois um casal
logo se aproximou de onde estávamos. Na mesma hora eu tive certeza de
que o homem alto e forte, tatuado também, que segurava a mão de uma
garota de cabelos loiros, era irmão de Drew. Os dois tinham traços muito
parecidos e os olhos eram idênticos. Tanto o homem quanto a mulher
usavam o colete do MC e eu fiquei subitamente nervosa, pois ele parecia
ser sério demais. A mulher sorria e logo soltou a mão dele para poder
chegar perto de mim e me puxar pelos ombros.
— Marie, finalmente estou te conhecendo! Drew fala tanto de você!
— Eu retribuí o abraço, um pouco sem graça, mas sentindo o frio na barriga
diminuir um pouco. A garota se afastou, mas manteve as mãos em meus
ombros. — Prazer, eu sou a Madison, cunhada do Drew.
“E a garota por quem ele se interessou quando chegou ao MC”.
Logo afastei o pensamento, pois não tinha o menor cabimento sentir ciúmes
do passado de Drew. Sem contar que Madison agora era casada e o carinho
que eu via em seu olhar enquanto falava de Drew, era o mesmo que uma
irmã sentiria por um irmão mais velho.
— É um prazer te conhecer também, Madison. Drew também já me
falou sobre você e sobre Damon. — Virei-me para o irmão mais velho de
Drew e fiquei um pouco aliviada ao perceber que a sua expressão tão séria
havia mudado um pouco. Ele parecia estar prestes a sorrir, não para mim,
mas para a esposa. — É um prazer conhecer você, Damon.
Ele me estendeu a mão e eu a apertei, sentindo seu toque firme.
— Também é um prazer te conhecer, Marie. Não sei se Drew já
conversou sobre isso com você, mas fiquei um pouco receoso sobre esse...
relacionamento.
— Damon! — Drew e Madison falaram ao mesmo tempo, mas
Damon os ignorou, continuando a olhar para mim. Eu mal respirava
naquele momento.
— Mas consigo ver que meu irmão realmente gosta de você e
acredito que ele não iria se apaixonar por uma mulher que não valesse a
pena. Sendo assim, quero que se sinta bem-vinda ao meu moto-clube e que
saiba que, se essa relação realmente der certo, você fará parte da nossa
família.
Eu limpei a garganta, finalmente voltando a respirar.
— Eu agradeço por vocês estarem me dando uma chance. Sei que ter
sido esposa de Lincoln pode ser algo difícil de ser aceito, mas preciso que
saiba que eu nunca compactuei com nada do que ele fazia, pelo contrário.
Ele nunca foi um bom marido para mim, mas nunca suspeitei de todos os
seus... crimes. Foi Drew quem me contou tudo. Eu apoio o que vocês
fizeram com ele. — Pude ver a surpresa nos olhos de Damon e o sorriso
ainda maior que se abriu nos lábios de Madison. — Se tivesse
conhecimento do ser odioso que Lincoln era, acho que eu mesma o teria
matado.
— Marie, você é das minhas! — Madison comemorou, batendo
palminhas. Damon riu baixinho e ele ficou ainda mais parecido com Drew
naquele momento. — Acho que vamos nos dar muito bem!
— Eu espero que sim — torci.
Logo mais membros do moto-clube se aproximaram e Drew me
apresentou a todos. Eram muitos nomes e posições, mas consegui gravar o
nome de Bruce, que era o Presidente, Christian, o Vice-Presidente, Maya,
sua esposa, e Pike, o Capitão de Estrada. Não sabia ainda o que cada
posição significava, mas tinha certeza de que em breve Drew tiraria todas as
minhas dúvidas.
Nós nos sentamos em uma mesa e Maya e Madison logo puxaram
assunto comigo. Elas eram simpáticas e muito divertidas. Me explicaram
sobre as docinhos e me atualizaram sobre o estado de saúde dos meninos
resgatados da mansão de Lincoln. Quando deixei claro que gostaria de
ajudar, elas ficaram animadas e disseram que toda ajuda era bem-vinda,
principalmente porque os meninos não gostavam da presença dos irmãos —
que descobri que eram como os membros do MC eram chamados entre si.
Em certo momento da noite, enquanto eu estava terminando o meu
segundo drinque, Drew me puxou para os seus braços e me beijou. Eu
travei por um segundo, porque não estava esperando por uma demonstração
de afeto na frente de todo mundo, mas logo relaxei ao sentir o sorriso dele
em meus lábios. Drew se afastou e me encarou uma sobrancelha arqueada.
— Estou indo rápido demais?
— Não. Eu só... Eu nunca fui beijada na frente de ninguém —
confessei e Drew me deu um olhar carinhoso. — Acho que o selinho em
frente ao altar depois de eu ter dito “sim”, não conta, certo?
— Lincoln era um filho da puta que não merecia sequer um olhar
seu, muito menos um beijo. Fico feliz por ele não ter te tocado além do
necessário — disse ele, me puxando para mais um beijo e depois mais
outro, só me deixando escapar quando fiquei sem fôlego. — Gostou de
conhecer os meus irmão de patch?
— Sim, principalmente as meninas. Você acha que eles gostaram de
mim? Quer dizer, eu sei que eles não vão gostar de verdade apenas porque
fui apresentada a todo mundo, mas...
— Eles gostaram de você — Drew garantiu e a certeza em sua
expressão me fez dar uma olhada a nossa volta. Os irmãos riam e
conversavam e já não me olhavam mais como se eu fosse tão... estranha.
Nas primeiras duas horas em que estive no bar, ainda recebia um olhar
analítico vindo deles, mas agora tudo havia se acalmado. Drew puxou meu
rosto em sua direção com os dedos sob o meu queixo. — Estou falando
sério, meu bem. Não há qualquer motivo para eles não gostarem de você.
Lincoln está morto e o MC não tem o costume de ficar revisitando o
passado. Temos inimigos demais para perdermos tempo com quem já foi
aniquilado.
Eu estremeci, mas sabia que Drew não estava falando aquilo para me
assustar. E, se eu quisesse mesmo ficar com ele, era melhor me acostumar
logo com aquele estilo de vida. Observei quando dois homens entraram
juntos no bar, de mãos dadas. Ambos usavam o colete do MC e o loiro
parecia ser alguns anos mais velho do que o moreno.
— Quem são eles? — perguntei para Drew.
— O mais baixo é Connor, irmão de Christian Wolf, e o mais velho
se chama Oliver, o Executor do MC. Eles são um casal.
Eu arregalei os olhos, apesar de ter notado que estavam de mãos
dadas. Percebi quando Christian, Maya e Maddy se aproximaram dos dois.
— Isso é... Surpreendente.
— Muitas coisas que acontecem nesse moto-clube são
surpreendentes — Drew riu. — Mas há algo sobre Oliver que você precisa
saber. — Voltei a olhar para Drew. — Ele foi uma das vítimas de Lincoln.
Senti meu estômago despencar, junto com o meu coração. Meus
olhos bateram novamente no casal e percebi que o loiro, Oliver, olhava
diretamente para mim. Quis me encolher. Senti vergonha e culpa, mesmo
sabendo que aquela história não tinha nada a ver comigo, pelo menos não
diretamente.
— Lincoln o machucou quando ele era criança? — perguntei
baixinho, apesar de saber a resposta.
— Sim. Você nasceu em Piece of Sky, certo? — Eu concordei com a
cabeça, desviando o olhar de Oliver para poder prestar atenção em Drew. —
Então deve saber que o antigo pastor da igreja de lá era casado e tinha um
enteado.
— Sim, mas o enteado do pastor Gardner morreu há muitos anos —
falei. A morte daquele menino mexia comigo de uma maneira muito
particular, apesar de não ter tido qualquer contato com ele quando ainda era
vivo. — O que isso tem a ver com Oliver?
Drew sacudiu a cabeça e eu soube em meu íntimo que o que sairia da
sua boca iria me chocar.
— Oliver é o enteado daquele filho da puta. Lembra quando eu disse
que ele e Lincoln eram amantes? — Eu apenas concordei com a cabeça,
chocada demais para falar alguma coisa. — Parece que eles sempre
desconfiaram que Oliver era gay, por isso, o enviaram para aquela mansão
onde matamos Lincoln. Eles armaram tudo, Marie. A falsa morte de Oliver,
o enterro... Tudo. Oliver conseguiu fugir daquele inferno quando se tornou
adolescente e, de alguma forma, veio parar no MC. Ele não é a pessoa mais
sociável do mundo e só agora nos contou sobre o seu passado. Ele fez isso
para que pudéssemos pegar Lincoln, porque aquele desgraçado veio para
San Martínez apenas por causa do nosso Executor.
— Meu Deus. — Afastei-me de Drew e passei a mão pelos cabelos,
estarrecida, completamente em choque. Eu não sabia o que falar, nem
mesmo o que pensar, só sentia uma angústia tremenda em meu peito, que
me impedia de respirar. — Drew... Isso tudo é horrível...
— Eu sei, mas não é culpa sua, Marie — disse ele, tomando meu
rosto em suas mãos.
— Pode não ser culpa minha, mas, ao olhar para mim, Oliver vai se
lembrar dele — sussurrei, sem querer falar em voz alta o nome do monstro
que foi o meu marido. — E eu não posso culpá-lo por isso. — Olhei
rapidamente para trás, observando que Oliver estava no mesmo lugar, ainda
de mãos dadas com o namorado e olhando para mim. Ele mal parecia
piscar. — Eu quero ir até lá pedir perdão para ele.
— Marie, você não precisa fazer isso, porque não fez nada contra o
Oliver.
— Mas Lincoln fez e ele era meu marido. Tenho certeza de que
ninguém nunca pediu perdão para Oliver, mas eu quero fazer isso. Eu
preciso fazer isso, Drew.
Talvez Drew não conseguisse me entender — eu mesma mal
conseguia compreender tudo aquilo —, mas era o que eu sentia. Eu
precisava me desculpar com Oliver de alguma forma. Ele provavelmente
não conseguiria olhar para a minha cara por muito tempo, mas eu não
mudaria de ideia.
— Tudo bem. Vamos até ele, mas tenha em mente o que eu disse.
Oliver não é alguém sociável, ele quase não fala com as pessoas. Se agir
assim, provavelmente não será algo pessoal.
Drew só queria aliviar a situação, pois nós dois sabíamos que seria,
sim, algo pessoal. Eu sentia na forma como Oliver olhava para mim. Sua
expressão era ilegível, assim como os seus olhos, mas eu sentia. Nós nos
aproximamos de onde os dois estavam. Maya e Christian já não estavam
mais ali, mas Maddy conversava com Connor, que só percebeu a nossa
presença quando chegamos perto o bastante dos três. Pude ver a tensão
tomar a expressão do irmão mais novo de Christian e a forma como apertou
a mão de Oliver na sua.
— Oi, eu sou Marie — falei antes que Drew pudesse me apresentar a
eles. Connor desviou os olhos de Oliver e me deu um meio sorriso.
— É bom te conhecer, Marie — disse ele. Não sabia se estava sendo
verdadeiro ou apenas gentil.
— Marie é uma mulher incrível! — Madison disse, parando ao meu
lado e me abraçando pelos ombros. — Juro! Maya e eu conversamos com
ela por boa parte da noite e descobrimos várias coisas em comum! Ela vai
nos ajudar com os meninos.
— Isso... Isso é muito bom. De verdade. Os meninos não confiam
muito na gente — disse Connor. — O que é compreensível, por tudo o que
eles passaram.
— Eu não fazia ideia de que Lincoln era uma pessoa tão horrível. —
A tensão na mandíbula de Oliver ficou explícita, mas eu não recuei, apesar
do coração acelerado e do suor gelado que cobria as minhas mãos. —
Nunca suspeitei de nada do que ele fazia, eu juro.
— Nós acreditamos em você, Marie — Maddy garantiu e eu sorri de
leve para ela, logo voltando meu olhar para Oliver.
— Mesmo sem saber de nada, eu sinto que preciso fazer alguma
coisa por esses meninos que foram tão machucados por aquele infeliz.
Também sinto que preciso pedir perdão para você, Oliver. — Eu quis me
aproximar dele, quis tocar em seu braço ou em sua mão, mas me contive.
Não queria ser ainda mais invasiva. — Drew me contou que você foi uma
das vítimas de Lincoln. Preciso que você saiba de uma coisa. Talvez não
seja importante, mas sinto que eu preciso contar.
— Talvez você possa fazer isso depois, Marie... — Connor disse, mas
Oliver apertou a mão dele e sacudiu a cabeça.
— Está tudo bem — garantiu ele e a sua voz soou menos dura do que
eu esperava. — Pode continuar.
Não precisei puxar a lembrança em minha memória. Ela estava bem
vívida naquele momento, por isso, prossegui.
— Eu fui ao seu enterro. — A cor sumiu do rosto de Oliver, mas
como ele não me pediu para parar, continuei. — Eu era adolescente na
época, mas fiquei impactada com a notícia de que você havia morrido.
Lembro que poucas pessoas compareceram e aquilo me fez chorar, porque
eu sabia que você também era muito jovem e achava horrível o fato de
poucas pessoas se importarem com a morte de alguém que tinha a idade
parecida com a minha. Eu me coloquei em seu lugar, porque sentia que se
acontecesse o mesmo comigo, praticamente ninguém se importaria. Depois
daquele dia, passei a visitar a sua lápide todos os anos. Eu levava flores
para você e gostava de pensar que você estava em um lugar melhor. Não sei
ao certo porque estou te contando isso, Oliver, mas quero que saiba que,
mesmo sem te conhecer pessoalmente, eu pensava em você. E que, mesmo
sabendo que ninguém ia até aquela lápide, eu ia. Você nunca esteve sozinho
lá.
Ouvi Madison murmurar alguma coisa e Drew ficar estático ao meu
lado, olhando para mim. Não desviei os olhos de Oliver, nem quando seu
queixo tremeu ou seus olhos ficaram marejados, assim como os meus.
— Eu queria poder voltar no tempo e ter sido uma pessoa mais forte.
Eu poderia ter me aproveitado do casamento com Lincoln para descobrir
quem ele era de verdade, assim, eu poderia tentar impedir que ele
machucasse mais crianças... Que ele voltasse à sua vida para te machucar.
Não sei se alguém já te pediu perdão por você ter encontrado pelo caminho
pessoas tão ruins, mesquinhas e cruéis, mas eu peço perdão pela minha
covardia. Peço perdão por ter permitido que Lincoln e meus pais me
prendessem e colocassem uma venda sobre os meus olhos. Se eu tivesse
sido um pouco mais corajosa, Lincoln não teria te machucado ainda mais.
Muitos minutos se passaram. Eu podia sentir o choque de Madison e
Connor, a tensão em Drew, mas só conseguia olhar nos olhos de Oliver, que
agora estavam tempestuosos. Havia lágrimas neles, mas elas não caíram, ao
contrário das minhas, que molhavam as minhas bochechas. No fundo, eu
queria dar um abraço naquele homem alto à minha frente, mas como não
sabia se ele havia aceitado as minhas palavras, jamais tentaria algum
contato físico.
— Acho que eu quero ir embora agora — pedi baixinho para Drew,
limpando rapidamente as minhas lágrimas.
Drew concordou com a cabeça e passou um braço pela minha cintura,
prestes a me levar dali, mas Oliver deu um passo a frente, fazendo com que
o motoqueiro parasse. Eu o encarei sem saber o que esperar ou o que ele
poderia fazer.
— Você não precisa me pedir perdão por nada. — As palavras de
Oliver saíram em um sussurro, mas foram poderosas e me deixaram sem
fôlego. — Eu sei que você também foi uma vítima dele, Marie. Eu jamais
jogaria em você uma culpa que não é sua. Confesso não estava animado
para te conhecer, mas não imaginava que você me falaria tudo isso. Eu não
pensei... Não acreditei que alguém naquela cidade se importava comigo.
Achei que todos me ignorassem, como Paul e Dorothy fizeram.
Eu conheci Dorothy Gardner. Ela era esposa do pastor, uma mulher
muito respeitada em Piece of Sky e amiga da minha mãe. Havia morrido há
alguns anos, mas sempre senti nela algo ruim. Achei melhor não comentar
nada sobre aquilo, pois imaginava como deveria machucar Oliver.
— Eu nunca ignorei você e, neste momento, estou começando a
acreditar que, mesmo não sendo uma pessoa religiosa, Deus me ouviu. Eu
pedia para que Ele o tivesse enviado para um lugar melhor, porque aquela
cidade... Aquela cidade é atolada em podridão até o pescoço. Te encontrar
aqui, rodeado de pessoas que gostam de você, me faz pensar que Deus é
bom e que atende aos desejos mais puros do nosso coração.
— Obrigado por isso. — Oliver quase me deu um sorriso. Acreditava
que eu poderia considerar aquele erguer de lábios como um sorriso. — Seja
bem-vinda à nossa família, Marie. É bom ter você aqui.
Eu poderia ouvir aquelas palavras de todas as pessoas do moto-clube,
mas, de alguma forma, ouvi-las vindas de Oliver tornou tudo mais especial.
Eu me emocionei e não consegui conter as lágrimas conforme sentia o
impacto daquela conversa em meu peito.
— Muito obrigada.
Ele concordou com a cabeça e depois olhou para Drew. Senti como
se tivesse dizendo a ele, silenciosamente, que aprovava o que acontecia
entre nós dois e aquilo deixou o meu coração em paz. Sem que eu
esperasse, Connor se aproximou e me deu um abraço muito rápido,
sussurrando em meu ouvido:
— Obrigado por ter contado tudo isso para Oliver. Você não imagina
como é importante para ele saber que alguém daquele lugar se importava
com quem ele era. — Connor se afastou e apertou de leve o meu ombro. —
Acho que vamos ser grandes amigos, Marie.
Só então eu percebi que ninguém ali me chamou de Rachel, nem
mesmo uma vez. Finalmente entendi que, naquele momento, eu estava
iniciando um novo capítulo da minha vida. Um onde a sombra de Rachel
não me perseguia nem sufocava. Sorri para Connor, feliz por tudo aquilo, e
observei quando ele, Maddy e Oliver se afastaram. Ainda emocionada,
afundei meu rosto no peito de Drew e senti suas mãos enormes em minhas
costas e seus lábios em minha testa.
— Ainda quer ir embora ou prefere ficar um pouco mais? — Ele se
afastou apenas para olhar em meus olhos. — Você pode dormir comigo
aqui, se quiser. Tenho um quarto só meu.
Não queria mais fugir. Queria começar aquela nova fase da minha
vida sem ter qualquer preocupação.
— Quero ficar.
Passei a frequentar o MC todos os dias. Depois de ter expressado o
meu desejo de ajudar a cuidar dos meninos resgatados, recebi o aval de
Bruce, o Presidente do moto-clube, para tentar me aproximar dos garotos.
Deu certo.
Eram quinze no total e o mais falante de todos, um menino chamado
Will, que tinha quatorze anos, conseguiu me apresentar ao restante do
grupo. Gravei rapidamente o nome de cada um e resolvi deixar de lado,
pelo menos naquele primeiro momento, a informação de que eu havia sido
esposa de Lincoln. O objetivo de todos dentro do MC não era fazer com que
os garotos nos contassem sobre o horror que viveram em cativeiro, mas,
sim, fazer com que eles entendessem que ali era o seu novo lar, caso
quisessem permanecer conosco, e que poderiam confiar em cada pessoa ali
dentro.
Eles realmente não confiavam nos homens — tirando Will, que havia
permitido que Damon e outros irmãos se aproximassem um pouco —, mas
davam certa abertura para as mulheres. Os que precisaram ficar em
observação, com acesso intravenoso, já haviam sido liberados, e os que
precisaram engessar o braço ainda precisavam de um pouco mais de
cuidado.
No geral, eles quase não saíam do quarto. Os mais velhos
praticamente não abriam a boca e os mais novos estavam começando, aos
poucos, a confiar na gente. Por eu ser um rosto novo, sabia que demoraria
um pouco mais para me aceitarem, mas não iria desistir.
Não sabia dizer se a minha ida regular ao moto-clube estava ou não
chamando a atenção da polícia. Em breve, completaria um mês do
desaparecimento de Lincoln e as buscas por ele não estavam trazendo
qualquer resultado. Finalmente tive coragem para me livrar das suas roupas
e permiti que Ralph e Connor pegassem o seu computador depois que a
polícia não manifestou interesse em apreender o aparelho para investigação.
Os dois membros do MC queriam passar um pente fino nos arquivos
de Lincoln e eu os apoiei. Se havia mais alguma coisa que aquele
desgraçado mantinha em segredo, era melhor que descobrissem logo.
Estava terminando de pentear os cabelos para poder ir ao moto-clube,
quando ouvi o barulho da campainha. Achei estranho, pois havia dado a
cópia da chave para Drew há alguns dias e sabia que ele não hesitava em
usar. Receosa, deixei o meu quarto e parei em frente à porta da minha casa,
tomando um susto ao ver quem estava do outro lado pelo olho mágico.
Minha mãe.
E a sua expressão não era a mais animada de todas.
Eu vinha ignorando as suas ligações, pois me sentia cada vez mais
sufocada com a pressão que fazia sobre mim. Na última vez em que nos
falamos, ela deixou bem claro como a minha reação ao desaparecimento de
Lincoln não estava sendo “condizente” com o que era esperado de uma
esposa dedicada e aquilo me enfureceu. Precisei desligar antes que acabasse
explodindo e dizendo por telefone tudo o que estava engasgado. Desde
então, eu evitava falar com ela e precisava ser muito sincera comigo
mesma.
Não ter a presença maçante de minha mãe em minha vida estava me
fazendo experimentar algo completamente novo. A minha independência.
Como sabia que não poderia mais fugir, abri a porta antes que ela
apertasse novamente a minha campainha e recebi o seu olhar crítico antes
mesmo que qualquer palavra saísse da sua boca.
— Que espécie de roupa é essa, Rachel?!
Minha mãe passou por mim, mas logo se virou em minha direção
assim que entrou em minha sala. Eu respirei fundo e fechei a porta, ficando
surpresa por não estar sentindo o nervosismo que sempre me atingia quando
recebia uma visita sua. Em Piece of Sky, eu a via praticamente todos os dias
e a sua presença sempre deixava um rastro de insegurança e inquietude para
trás, que me perturbavam mesmo quando ela ia embora.
— Não há nada de errado com a minha roupa, mãe.
— Tem mesmo coragem de falar isso? Olhe para você! — Ela
apontou para mim, me encarando como se não me conhecesse. — Desde
quando usa roupas justas assim? Acha que tem corpo para isso?
Eu poderia me encolher diante das suas palavras, mas decidi que
seria forte daquela vez. Depois de ter sido tão elogiada por Drew ao usar
aquela calça jeans, resolvi jogar metade das minhas roupas fora e comprar
algumas peças novas. Peças bonitas e, pela primeira vez, escolhidas
unicamente por mim. Apostei em novas calças jeans, blusas com um pouco
mais de decote e lingeries mais sensuais. Não foi fácil, eu precisava admitir.
Ainda no caixa, senti vontade de largar tudo e ir embora, mas uma vozinha
em minha mente me lembrou que eu não precisava mais ser tão insegura
como a Rachel era. A minha nova versão seria mais livre e confiante.
Receber o olhar de admiração de Drew me encheu de orgulho de
mim mesma. Não seriam as palavras duras da minha mãe que voltariam a
me derrubar.
— Estou me sentindo bonita assim. Isso é tudo o que importa.
O rosto da minha mãe se tornou mais severo, a ponto de um vinco se
formar entre as suas sobrancelhas sempre bem-feitas.
— Isso é tudo o que importa? O mundo está desabando sobre as
nossas cabeças e se vestir como uma meretriz é tudo o que importa? — Sua
voz ecoou pelas paredes da sala e machucaram os meus ouvidos. — O que
está acontecendo com você, Rachel?! Essa não é a filha que eu criei!
— Tem razão, mãe. Essa aqui — apontei para mim mesma, sentindo
o meu coração ficar acelerado — realmente não é a filha que a senhora
criou. Sou uma mulher diferente agora e gosto muito mais de mim assim.
Seus olhos se arregalaram e a bolsa que havia trazido consigo caiu no
chão. Boquiaberta, minha mãe olhou novamente para mim, de cima a baixo,
e sacudiu a cabeça, horrorizada.
— Então, o que me disseram é verdade...
— O que disseram para a senhora?
— Que você está se envolvendo com bandidos! — Eu franzi o cenho
ao ouvir aquilo, preparada para perguntar quem havia falado qualquer coisa
para minha mãe, mas ela respondeu antes que eu precisasse abrir a boca. —
Ethan me ligou essa semana, dizendo que viu você frequentando um bar de
motoqueiros! Ele me disse que todos aqueles homens são bandidos
perigosos, traficantes da pior espécie! Eu não quis acreditar nele, mas,
diante disso... — Ela apontou novamente para mim, me olhando com
desgosto. — Não tenho como falar que ele estava mentindo.
Ethan era um dos policiais de Piece of Sky que havia se prontificado
em ajudar a polícia de San Martínez a encontrar Lincoln. Ele havia me
visitado na primeira semana do desaparecimento e feito perguntas junto
com a equipe que estava comandando a investigação. Não sabia que ainda
estava na cidade, mas aquilo não me importava mais.
— Eles não são traficantes. — A mentira saiu com muita facilidade
da minha boca, mas não fiquei surpresa.
Eu sabia muito bem que aquele era um moto-clube fora da lei, mas,
agora, eu fazia parte daquele lugar. Ainda não oficialmente, mas estava com
Drew e eles haviam aceitado a minha presença lá. Protegê-los era a minha
obrigação.
— Então admite que está frequentando aquele lugar? — Minha mãe
gritou, revoltada.
— Sim, admito. — Não havia motivos para mentir sobre aquilo.
Minha mãe voltou a arregalar os olhos, completamente horrorizada.
Era como se não me conhecesse e, no fundo, ela realmente não me
conhecia. Mamãe conhecia apenas a Rachel, a mulher que ela moldou para
ser a esposa perfeita, que aguentava tudo calada e que sofria para se
encaixar em um padrão onde ela sabia que eu jamais caberia. Quem eu era
de verdade, minha mãe nunca tinha visto. E eu não podia ser injusta com
ela, pois eu também não me conhecia de fato.
Agora, eu estava descobrindo quem eu era, a força que eu tinha. E
gostava muito mais da minha verdadeira versão.
— Ethan viu você beijando — ela praticamente cuspiu a palavra, em
voz baixa, dessa vez — um daqueles bandidos. Isso também é verdade,
Rachel?
— Sim. É verdade.
Foi muito rápido. Minha mãe avançou sobre mim e ergueu a mão em
direção ao meu rosto, mas, pela primeira vez na vida, eu tive o impulso de
contê-la. Não de fugir ou me encolher, mas de impedi-la. Meus dedos
agarraram o seu pulso no ar, centímetros antes das costas da sua mão se
chocarem contra a minha bochecha. Os olhos dela se arregalaram
novamente, de surpresa dessa vez, e o meu coração ameaçou saltar pela
garganta. Ainda assim, minha voz saiu surpreendentemente firme:
— Eu nunca a desrespeitei. Nunca fiz nada para merecer as suas
agressões, a vergonha que sempre pareceu sentir de mim ou o seu desprezo.
Lutei durante anos para ser a filha perfeita que você tanto queria! Fui
obrigada a me casar com um homem que eu praticamente não conhecia, que
tinha quase o triplo da minha idade e que sempre, desde o primeiro dia em
que me levou para morar junto com ele, me tratou como um lixo! Sabe o
quanto eu sofri nas mãos de Lincoln, mãe? Sabe quantas vezes eu apanhei
dele? Quantas vezes fui humilhada e maltratada? A senhora sabe? — Foi a
minha vez de gritar, ainda segurando o seu pulso. — Sim, a senhora sabe. A
senhora sempre soube!
Eu a soltei e minha mãe cambaleou para trás, segurando o pulso e me
olhando como se eu fosse um animal selvagem. E acho que eu realmente
era. Eu era um animal selvagem, que havia sido preso em uma gaiola
durante anos e sofrido todo tipo de tortura, vindo das mãos daqueles que
deveriam apenas me amar e proteger. Aquela foi a primeira vez que tive
uma visão real de tudo o que sofri durante toda a minha vida. E senti parte
do meu coração — da minha alma — se quebrar.
— A senhora nunca se importou comigo! — Berrei, me aproximando
dela. Minha mãe deu um passo para trás, com medo de que eu partisse para
a violência, da mesma forma que sempre fez comigo desde que eu era
pequena. — A única coisa que interessava para senhora... Para você, era a
imagem que a nossa família passava para aquela cidade infeliz! Você tinha
que ter o marido perfeito, a vida perfeita, a filha perfeita, mas eu nunca
consegui atingir às suas expectativas, não é mesmo? Sempre fui gorda
demais, desleixada demais, inútil demais. Mesmo depois de ter me obrigado
a me casar com aquele monstro, você não conseguiu me deixar em paz!
— Eu só queria que você tivesse uma boa vida! É verdade que você
sempre foi uma garota acima do peso, que não conseguia fechar a porcaria
da boca nem fazer uma dieta de forma correta...
— Eu passei fome por sua causa! — Minha voz falhou no final, mas
não deixei que as lágrimas em meus olhos caíssem. — Essas suas dietas me
enlouqueciam! Eu quase fiquei doente por causa delas!
— Quase ficou doente porque não conseguia se controlar! O que
você queria que eu fizesse, Rachel? Queria que eu ficasse de braços
cruzados e esperasse um bom marido cair dos céus para você? O casamento
com Lincoln era sua salvação!
— Não, o casamento com Lincoln era a sua salvação! — Acusei,
vendo minha mãe engolir a saliva com dificuldade. — Foi o modo que você
encontrou de passar para a cidade a imagem de “família perfeita” que tanto
lutou para construir. A ideia de que vocês eram pais íntegros e preocupados,
que haviam entregado a sua única filha nas mãos do homem mais
respeitado de Piece of Sky. O fato de ele fazer de mim o seu saco de
pancadas particular nunca a afetou. O fato de eu ter passado os últimos anos
da minha vida sendo infeliz nunca a fez perder uma única noite de sono.
Porque tudo o que importa é a forma como as pessoas nos veem do lado de
fora de casa, não é? O que acontece entre quatro paredes é irrelevante. Eu
sempre fui irrelevante para você.
O queixo da minha mãe tremeu e seu rosto ficou vermelho, mas não
havia lágrimas em seus olhos. Nem um pingo de arrependimento.
— Isso não é verdade! Falar toda essa baboseira para mim, é pegar
anos de dedicação a você e a nossa família e jogar tudo no lixo, Rachel!
Você está sendo ingrata!
— Pelo que eu deveria ser grata? Por não ter tido uma mãe decente,
que deveria me amar e proteger? Por ter sido obrigada a ficar noiva quando
tinha dezessete anos e me casar quando completei dezoito? Por ter sido
entregue de bandeja nas mãos de um agressor, que fez da minha vida um
inferno? — Eu ri e minha mãe ficou com o rosto mais vermelho ainda. —
Não sabia que você tinha tanto talento em contar piadas.
— Já eu sempre soube que você era um caso perdido! Olha como
está agora! Seu marido está desaparecido e você está agindo como se fosse
uma vadia, andando e se relacionando com bandidos, vestida com roupas
justas, agindo como se nada estivesse acontecendo!
— Quer saber de uma coisa, mamãe? — Ela trincou a mandíbula ao
ouvir o meu tom de deboche. — Não faço a mínima ideia do que aconteceu
com Lincoln, mas estou dando graças a Deus por ele ter desaparecido da
minha vida. Espero que não volte nunca mais! E eu não me importo se isso
a afeta ou envergonha. A partir de hoje, do mesmo jeito que você nunca se
importou comigo, eu também nunca mais vou me importar com você.
A porta da minha casa se abriu e minha mãe ficou pálida ao olhar
para a pessoa às minhas costas. Por um milésimo de segundo, algo irreal
passou pela minha cabeça. A imagem de Lincoln chegando em casa, bem
naquele momento, quase me paralisou, mas eu me virei mesmo assim e
tudo o que senti foi um alívio imenso ao me deparar com Drew bem ali, na
minha frente. Sem pensar direito, corri em sua direção e o abracei com
força, sentindo seus braços ao meu redor e seus lábios em meus cabelos.
“Lincoln está morto.” Precisei lembrar a mim mesma. “Ele nunca
mais vai voltar.”
— O que está acontecendo? — Drew perguntou, mas percebi que não
estava falando comigo. — Quem é você?
— Então é mesmo verdade! Oh, Deus! — Desvencilhei-me dos
braços de Drew a tempo de ver minha mãe se sentar no sofá e esconder o
rosto entre as mãos. Ela balançou a cabeça, incrédula e desolada. — Onde
foi que eu errei? O que fiz para merecer tanto desgosto assim?
Percebi que tudo o que eu havia falado para ela, não tinha servido de
nada. Ou melhor, havia, sim, servido de algo. Serviu para me deixar mais
leve. Apesar da mágoa que ainda machucava o meu peito, ter colocado para
fora tudo o que estava engasgado durante tantos anos, havia, de certa forma,
reconstruído uma parte da minha alma.
— Essa é a minha mãe — falei para Drew, mas não consegui tirar os
meus olhos da mulher à minha frente, que começou a chorar. — E esse é o
desespero dela ao descobrir que não serei mais uma marionete nas suas
mãos.
Ela ergueu a cabeça e me encarou com o rosto magro e repleto de
lágrimas. Havia rugas em torno dos seus olhos e da sua boca. Minha mãe
nunca foi uma mulher muito bonita, mas o tempo não estava ajudando em
nada a manter o pouco da beleza que tinha.
— Eu quero que você escolha agora, Marie! — Ela se levantou,
olhando rapidamente para Drew antes de voltar a me encarar. — Escolha
entre mim, que sou sua mãe, a mulher que te deu à luz e que sempre lutou
para fazer de você uma pessoa digna, e esse... Esse bandidinho que deve te
trocar por um novo rabo de saia na próxima semana! Porque, se acredita
que um homem como ele é capaz de sentir algo por você, está
completamente enganada.
Senti Drew ficar rígido ao meu lado, com o braço ainda ao redor da
minha cintura. Meu coração disparou e percebi que não foi por insegurança.
Se minha mãe tivesse me dito essas mesmas palavras semanas atrás, eu com
certeza me deixaria ser influenciada, mas ela já não tinha mais esse poder
sobre mim. Eu confiava em Drew. Acreditava nos seus sentimentos. Tudo o
que senti ao ouvir aquilo, foi raiva. Raiva por minha mãe realmente achar
que eu jamais seria digna do amor e do desejo de um homem de verdade.
— Você tem razão — Drew disse de repente, apertando a minha
cintura bem forte e me pressionando contra o seu corpo largo. — Um
homem como eu tem algumas preferências, sim. Quer que eu cite alguns
exemplos?
— Quero que largue a minha filha! — Minha mãe ordenou
entredentes e Drew deu aquele sorrisinho de garoto marrento que me
deixava de pernas bambas. Minha mãe ficou pálida.
— Um homem como eu é atraído por uma mulher de verdade. —
Senti a mão livre de Drew tocar em meu rosto e a ponta dos seus dedos
inclinar o meu queixo em sua direção. Percebi, então, que ele não olhava
mais para minha mãe e, sim, para mim. — E Marie é uma mulher de
verdade. Uma mulher linda, forte, resiliente, que apesar de ter crescido com
pais inúteis e ter sido entregue a um filho da puta, não perdeu a sua
essência. Um homem como eu, fica louco por uma mulher como ela.
Completamente louco. — Ele sorriu mais amplamente, me fazendo ofegar.
— Com o pau doendo de tão duro e um tesão que não passa nem mesmo
depois de gozar durante a madrugada inteira.
— Meu Deus! Que coisa... Horrível!
— Um homem como eu, quer colocar o mundo aos pés de uma
mulher como Marie. Quer que ela tenha certeza de que será amada e
cuidada e que nunca mais vai sofrer qualquer tipo de ameaça ou dor, seja
ela física ou emocional. — Drew perdeu o sorriso e voltou a olhar para
minha mãe, que nos encarava completamente horrorizada. — Um homem
como eu, não tem medo de eliminar qualquer pessoa que ouse machucar
uma mulher como Marie. Consegue entender isso?
Minha mãe voltou a ficar pálida. Sua pele passou do branco e ficou
praticamente cinza.
— Está... Está me ameaçando? — Ela me encarou com os olhos
esbugalhados. — Ele está me ameaçando, Rachel?
— O nome dela agora é Marie e, sim, eu estou te ameaçando.
Deveria agradecer por isso, pois, geralmente, eu não perco tempo falando.
Eu apenas faço. — Minha mãe estremeceu e até mesmo eu fiquei arrepiada.
Nunca tinha ouvido aquele tom de voz vindo de Drew antes nem mesmo
toda aquela violência em seu olhar. — Agradeça a sua filha por eu ainda me
manter a poucos metros de distância de você, é em respeito a ela que eu
faço isso.
Minha mãe deu alguns passos para trás, até as suas panturrilhas
tocarem o meu sofá. Sem tirar os olhos de cima de Drew, ela se abaixou e
tateou pelo chão até encontrar a sua bolsa, agarrando-a na frente do corpo
como se fosse um colete de salva-vidas enquanto voltava a se erguer.
— Eu... Eu nem sei o que dizer diante de tudo isso...
— Não deveria dizer nada. Acho melhor aproveitar que ainda está
respirando e voltar para aquela merda de cidade, de onde você nunca
deveria ter saído! — Drew aconselhou, ácido.
— Isso é um absurdo, Rachel! Vai mesmo deixar esse... esse bandido
falar assim comigo?
— O nome dele é Drew e ele não é um bandido — falei,
desvencilhando-me dos braços dele e dando um passo a frente. — E você
deveria seguir o conselho dele e ir embora.
A mandíbula da minha mãe ficou cerrada e ela intercalou o olhar
entre mim e Drew.
— Então é isso? Você vai mesmo escolher ficar com esse marginal?
— Já disse que o nome dele é Drew — repeti, surpreendentemente
calma.
— E se Lincoln voltar? O que vai ser da sua vida? Ele nunca vai
perdoar uma traição.
Meu Deus, eu senti vontade de rir. Minha mãe não era uma pessoa
lúcida. Ela havia se inserido tanto na fantasia que havia criado em sua
mente, que agora não conseguia mais voltar ao mundo real.
— Se Lincoln voltar, eu peço o divórcio. Estamos no século vinte e
um e ninguém pode me obrigar a permanecer casada.
— Divórcio é pecado!
— Acredito que agressão dentro de um casamento deve ser um
pecado pior — respondi, mesmo sabendo que minha mãe não merecia nem
mais um segundo do meu tempo. — Por favor, vá embora.
— Rachel, se eu passar por aquela porta... — Ela apontou para algum
lugar às minhas costas. — Você nunca mais vai receber qualquer notícia
minha ou do seu pai! Nunca mais será bem-vinda em nossa casa. Eu vou
esquecer que tenho uma filha!
Não poderia mentir, doeu ouvir aquilo, mas não tanto quanto
imaginei que doeria. Não tanto quanto deveria doer. Porque, no fundo, eu já
sabia que meu pai não se importava comigo e que minha mãe não ligava se
tinha ou não uma filha. Tudo o que importava para ela, era a imagem que eu
representava em sua vida.
— Fique à vontade para fazer o que quiser, apenas vá embora.
Minha mãe voltou a ficar boquiaberta. Ela realmente não tinha
entendido, até aquele momento, que eu estava colocando um ponto-final na
nossa relação tóxica e conturbada. Assim que a ficha finalmente caiu, ela
ergueu o queixo e apertou firmemente a bolsa contra o seu corpo.
— Você não terá uma nova chance, Rachel. — Seus olhos pararam
em Drew e ela engoliu em seco. — Espero que você não venha bater na
minha porta quando esse marginal te abandonar!
Eu não respondi e Drew também não. Ao receber apenas o nosso
silêncio, minha mãe passou por mim, de cabeça erguida, e saiu da minha
casa, batendo a porta atrás de si. Eu senti meus ombros caírem com a tensão
indo embora do meu corpo e uma vontade muito grande de chorar. Drew
logo me abraçou, bem forte, e amparou o meu corpo até se sentar no sofá e
me colocar sentada de lado em seu colo, com a cabeça pressionada em seu
peitoral.
— Sinto muito por isso, meu amor. Ela já estava aqui há muito
tempo?
— Não muito. — Funguei baixinho, me sentindo meio idiota por
estar chorando. Drew pareceu não pensar o mesmo, pois em momento
algum reprimiu o que eu estava sentindo. — Estou aliviada por finalmente
ter dito a ela tudo o que eu pensava.
— Eu ouvi parte da discussão quando cheguei. Você foi muito forte,
Marie. — Ele tomou meu rosto em suas mãos e passou os polegares em
minha bochecha. — Você é muito forte. Eu sei que não é fácil ir contra os
nossos pais. Durante muitos anos, eu também lutei para ser aceito por Dean,
mas chega um momento em que nos afastar deles se torna algo inevitável.
Ou fazemos isso, ou nos tornamos pessoas parecidas com eles. Eu nunca
me perdoaria se me tornasse alguém parecido com Dean.
— Você não é nada parecido com ele — falei, beijando rapidamente
a sua boca. — Você é o melhor homem que eu já conheci, Drew. —
Encostei minha testa na dele e tomei coragem para contar o que vinha
guardando há algumas semanas em meu peito. — Eu amo você.
Ele havia sido o primeiro a declarar que estava apaixonado por mim e
eu tinha sido a primeira a falar que o amava. E algo dentro do meu coração
me dizia que aquele sentimento não iria embora. De alguma forma, Drew
invadiu não só a minha vida com toda aquela sua impetuosidade, mas
também a minha alma.
— Marie... — Ele afastou o rosto do meu, ainda com as mãos em
minhas bochechas. — Você... Está falando sério?
— Eu jamais brincaria sobre isso, Drew. Eu amo você. E não quero
que me diga a mesma coisa apenas porque eu disse...
— Eu nunca faria isso. Eu amo você e não estou falando isso da boca
para fora. — Ele me deu o seu sorrisinho de lado, charmoso e irresistível.
— Eu ia me declarar hoje, depois de pedir para que você fosse morar
comigo no moto-clube.
— Co-como? — Gaguejei, como na primeira vez em que nos
conhecemos. Meu coração deu um solavanco no peito, me fazendo perder o
ar. — Morar com você?
Drew me deu um sorriso completo e pensei que eu fosse desfalecer.
— Sim. Não faz sentido você continuar morando sozinha aqui,
quando poderia morar comigo. Nós dois sabemos que Lincoln não vai
voltar nunca mais. Uma hora, a polícia vai encerrar a investigação e o dar
como morto, mas você já pode viver como uma mulher livre agora. Quero
que viva essa liberdade comigo... Se você também quiser.
Eu mordi o lábio, nervosa, olhando rapidamente a minha volta.
Aquela nunca foi a minha casa verdade, assim como a residência onde
morei com Lincoln. Nem mesmo na casa dos meus pais eu sentia que tinha
um lar. Deixar tudo aquilo para trás e viver uma nova vida com Drew era
tudo o que eu nem sabia que precisava.
— Os irmãos vão me aceitar no moto-clube? Bruce sabe desse seu
plano louco?
— Eu conversei com ele antes de vir para cá. Todos lá gostam de
você, Marie. Ainda não percebeu isso?
Eles me tratavam bem, era verdade, mas achei que demoraria mais
para me verem como parte da família. Fiquei feliz por estar enganada.
— Eu também gosto de todos eles.
— Mas gosta um pouco mais de mim...
— Gosto muito mais de você! — Ri, ouvindo-o me acompanhar.
— E então? Aceita vir morar comigo? Não tenho uma casa grande
como essa, tenho apenas um quarto, mas tenho um dinheiro bom no banco,
que herdei depois que Dean foi dado como morto. Nada me impede de
comprar uma casa e...
— Nada nos impede — corrigi, interrompendo-o. — Passei a minha
vida toda dependendo de Lincoln. Eu amo você, Drew, mas nunca mais vou
depender de homem algum.
Ele sorriu e concordou com a cabeça, me deixando aliviada.
— Tem razão. Vamos fazer tudo juntos e sem pressa. Não é como se
Bruce fosse nos expulsar do moto-clube, lá é a nossa casa.
Eu concordei com a cabeça, subitamente animada. Minha experiência
no moto-clube estava sendo repleta de emoção, cada dia eu aprendia algo
novo. Morar lá, mesmo que fosse por pouco tempo, com certeza seria
incrível. Morar com Drew, seria incrível.
— Eu aceito.
Chamei Ralph para me ajudar com a mudança de Marie no dia
seguinte à visita da cobra que era a sua mãe. Encontrar aquela mulher
confrontando-a quase me fez perder a cabeça. Era nítido como ela afetava a
filha e como sabia que suas palavras iriam machucá-la. Consegui ver
naquela mulher alguém semelhante a Dean, tão egoísta e mesquinha, que
nunca priorizou qualquer outra pessoa que não fosse ela mesma. Sua saída
da vida de Marie seria um presente.
— Quem diria que um prospecto tão novinho iria se amarrar desse
jeito em uma mulher? — Ralph disse assim que estacionei o carro do MC
em frente à casa de Marie.
Eu revirei os olhos, dividido entre rir ou dar um soco na sua cara.
— Já falei que não sou mais um prospecto.
— Mas é novinho.
— Não posso fazer nada se você é um velho.
— Velho? — Ralph gargalhou enquanto saía do carro. Eu fiz o
mesmo e dei a volta, encontrando-o na calçada. ­— Tenho apenas vinte e
oito anos. Inclusive, meu aniversário está chegando. Se eu fizer uma
festinha no MC, será que a Marie vai ficar chocada?
Aquela era uma boa pergunta e eu não soube exatamente como
responder.
— Acho que só vamos descobrir na hora que a festa começar.
— Você não vai contar para ela antes? ­— Ralph me encarou
boquiaberto antes de voltar a sorrir. — Você é malvado, Drew.
— Sobre o que Drew não vai me contar? — Marie surgiu de repente,
abrindo a porta de casa e quase me matando do coração.
Ela usava um short jeans preto e uma blusa de alcinha da mesma cor.
Meu pau pulsou na cueca com a visão das suas pernas grossas de fora e os
seios deliciosos escondidos atrás do sutiã e da blusa.
— Já nem sei mais sobre o que estávamos falando. — Ralph secou
Marie com o olhar, literalmente, e soltou um palavrão quando eu finalmente
dei nele o soco que queria. Uma pena que foi no braço e não na cara. —
Que porra é essa?
— Eu que pergunto. Tira os olhos da minha mulher, filho da puta —
avisei, arqueando uma sobrancelha para ele enquanto ia até Marie. Puxei-a
para os meus braços e beijei a sua boca, agindo quase como um lobo faria
para marcar território.
Pude ouvir a risada de Ralph e fiquei puto comigo mesmo por não
conseguir sentir raiva de verdade do Secretário. Ele se aproximou de nós
dois quando tirei minha boca da de Marie e apertou o meu ombro.
— Drew, você sabe que o mesmo tesão que eu sinto por Marie,
também sinto por você, não sabe? — Ele me olhou nos olhos sem deixar de
sorrir, antes de dar um tapinha amistoso em meu peito. — Não leve para o
lado pessoal. Agora, vamos trabalhar, pois não quero ficar parado assistindo
vocês dois se beijarem, quando sei que não vão me deixar participar da
brincadeira.
O Secretário passou por nós dois, comemorando sobre o fato de ter
um vinho aberto sobre a mesinha de centro. Com as bochechas vermelhas,
Marie me olhou com um sorriso incrédulo.
— Ralph acabou de dizer que... Hm... Sente desejo sexual por nós
dois? — Ela perguntou em um sussurro, como se falar aquilo em voz alta
fosse meio absurdo.
Eu ri, porque, no fundo, a entendia. Parecia mesmo algo absurdo, no
entanto, era de Ralph que estávamos falando. O babaca parecia disposto a
comer qualquer coisa que se movia e não tinha vergonha em admitir isso.
Nunca conheci alguém como ele e acreditava que jamais fosse conhecer.
— Eu disse que ele era bissexual, lembra?
— Sim, mas... Isso é diferente. Eu não esperava. Ralph sempre foi
muito simpático comigo, não achei que estivesse dando em cima de mim.
— Mas ele não está — afirmei, vendo-a franzir o cenho em dúvida.
— Quer dizer, não da forma como está pensando. Ralph realmente dá em
cima de todo mundo, mas é em tom de brincadeira. Se a pessoa levar a
sério, então, ele com certeza vai investir, mas ele entende os limites.
Os olhos de Marie brilharam em compreensão e eu decidi mudar de
assunto. Sem me preocupar se algum vizinho poderia estar observando nós
dois, pressionei-a contra o batente da porta e toquei a sua cintura, descendo
meus dedos até a curva do seu quadril.
— Eu nem posso julgar o filho da puta do Ralph, sabia? Você está
deliciosa, Marie — sussurrei e ela sorriu, passando a mão pelo meu peitoral.
— Está muito calor hoje e pensei... Não sei o que pensei. Comprei
esse short tendo a certeza de que nunca iria usá-lo, mas ter a consciência de
que estou deixando essa casa pareceu me dar coragem e resolvi vesti-lo.
— Você está linda. — Passei meu nariz pela lateral do seu rosto e
desci até o pescoço, ouvindo sua risada baixinha ao ficar arrepiada. —
Deveria comprar mais uns dez shorts desse. Só vou precisar andar com uma
arma a mais na cintura, mas vai ser apenas um detalhe.
— Pare com isso. — Ela me empurrou de leve, bem de leve, e eu
sequer saí do lugar. — Não quero você arrumando briga por aí, ainda mais
por minha causa. Nós dois sabemos que não tem qualquer necessidade...
— Nós dois sabemos que você é gostosa pra caralho e que tem
macho no moto-clube que parece não ter amor pela vida — afirmei, me
afastando um pouco apenas para poder olhar nos olhos dela. Apesar das
minhas ameaças, Marie sorria. Acho que ela gostava do meu ciúme.
— Isso é verdade. — Ralph apareceu ao nosso lado segurando uma
garrafa de vinho e uma taça cheia pela metade. — Você é gostosa, Marie,
mas vou proteger a sua integridade junto com Drew, não se preocupe.
— Eu não preciso de ajuda para isso.
— Bobagem. — Ele deu um gole no vinho e soltou um gemido. —
Vamos poder levar os vinhos também? Dei uma olhada naquela miniadega
na cozinha e vi que tem pelo menos quinze garrafas. Lincoln tinha bom
gosto, aquele filho da puta.
— Na verdade, era eu quem comprava os vinhos — Marie disse, me
pegando pela mão e finalmente fechando a porta. Fiquei triste. Estava
gostando de fazer um show para os vizinhos. — Lincoln nunca se
preocupou em estudar sobre isso e eu sempre gostei de harmonizar a
comida com a bebida.
Ralph pressionou a garrafa sobre o peito e soltou um suspiro audível.
— Acho que estou apaixonado.
— E eu acho que estou arrependido por ter trazido você para nos
ajudar — brinquei, tomando a taça da sua mão e dando um gole.
O vinho era mesmo delicioso, suave na medida certa e com um toque
meio amadeirado. Eu não entendia nada sobre a bebida, mas qualquer um
poderia identificar um bom vinho quando o degustava.
— Assim você magoa os meus sentimentos, prospecto. — Ralph
sorriu quando eu estreitei os olhos. — Ele fica irritadinho quando o chamo
assim, Marie, só que não entende que é um apelido carinhoso.
— Eu acho fofo — disse Marie, pegando a taça da minha mão e
tomando um gole. Íamos compartilhar, pelo visto.
Ralph se aproximou de Marie e passou o braço pelos ombros dela.
Sua mão grande acariciou o seu ombro.
— Viu? Eu sou fofo, Drew! Você vai ter que aceitar que Marie gosta
de mim também.
— Mas ele sabe que eu gosto de você. E, respondendo a sua
pergunta, sim, vamos levar todas as garrafas de vinho. Quero deixar apenas
o que não me interessa nesse lugar.
Eu me aproximei com um sorriso orgulhoso e dei um beijo em sua
boca.
— Você está certa — falei.
— Sim, continuem fazendo isso, podem fingir que não estou aqui —
Ralph resmungou e se afastou, fazendo Marie rir com a boca perto da
minha. — Poderiam pelo menos me devolver a taça? Acho que o vinho será
a minha única companhia hoje.
— Não sabia que você era tão dramático, Ralph — disse Marie,
entregando a taça para ele.
— Meu pau e eu ficamos tristes quando não recebemos atenção.
— Você ficou com a Jess ontem à noite — lembrei.
— Ontem à noite. Isso já faz muito tempo.
— Se menos de doze horas é muito tempo, coitado de mim, que tive
que dormir sozinho ontem — falei e Marie beliscou o meu braço de leve,
me arrancando uma risada.
— Eu falei que ia passar a noite toda arrumando as coisas aqui, por
isso não fui dormir com você.
— Poderia ter me deixado ajudar.
— Não tinha necessidade. Você já está me ajudando agora. — Marie
olhou para Ralph. — Vocês estão. Obrigada por ter vindo, Ralph.
— Aceito um boquete como forma de agradecimento. — O babaca
riu. — De qualquer um dos dois.
— Vai se foder, idiota. — Tomei a mão de Marie e saí de perto de
Ralph, ouvindo a sua risada atrás de mim.
— Desculpa, mas eu não chupei nem o Drew ainda.
Parei no meio do caminho e olhei para Marie. Aquela expressão
tímida ainda estava em seu rosto, mesmo assim, fiquei surpreso por ela ter
dito aquilo. Ou tinha tomado muito vinho antes de chegarmos, ou realmente
ficava à vontade na frente de Ralph para falar sobre sexo.
— Como assim? — Ralph pousou a garrafa e a taça na mesinha de
centro. — É sério?
— Acho que não vou ser muito boa nisso. — Marie deu de ombros e
eu sacudi a cabeça, trazendo-a para perto de mim. Toquei em seu queixo
com os meus dedos para poder olhar em seus olhos.
— Isso não é verdade.
— Por que você acha isso?
Surpreendentemente, não havia nenhum tom de zombaria na voz de
Ralph. Ele estava sério e parecia querer entender Marie.
— Porque eu nunca fiz sexo oral antes.
Ralph estalou a língua.
— Aquele Xerife era mesmo um filho da puta, mas acho que não te
obrigar a fazer isso foi um presente. Você tem uma boca muito bonita para
encostar no pau daquele merda.
— Concordo — falei.
— Sem contar que Drew é um sortudo, vai poder te ensinar a pagar
um boquete. — O idiota sorriu e uma de suas sobrancelhas começou a se
arquear. — Na verdade, se vocês quiserem, eu posso ser o professor. Adoro
ensinar tudo referente a sexo.
— Vou fingir que não ouvi isso, Ralph. — Revirei os olhos, já
preparado para dar às costas ao Secretário e começar, de fato, a levar a
mudança de Marie para o carro, mas os passos rápidos de Ralph em nossa
direção me detiveram.
— Estou falando sério. Sabia que eu ensinei à Madison como fazer a
chuca?
Aquilo me pegou completamente de surpresa e Marie franziu o
cenho.
— O que é a chuca?
— É uma limpeza na região anal, que as pessoas geralmente fazem
quando querem dar o cu — Ralph disse simplesmente e Marie arregalou os
olhos.
— Uau! Isso é... interessante.
— Sim, mas não é correto fazer sempre, pois mexe com a flora
intestinal.
— É, acho que você é um bom professor mesmo — Marie disse,
impressionada, e Ralph sorriu.
— Eu sou o melhor. Posso te passar umas dicas de como chupar um
pau, o que você acha?
Marie olhou para mim e vi aquele brilho em seus olhos, o mesmo que
vislumbrei quando ela tomou a decisão de passar a primeira noite comigo.
Eu era realmente muito cadelinha dela, como o próprio Ralph gostava de
chamar os homens apaixonados do moto-clube, pois fiquei interessado em
ver como ela ficaria ao receber as “dicas” de Ralph.
— O que você acha? — ela perguntou para mim e percebi que queria
mesmo saber a minha opinião.
Tive vontade de falar que ela não precisava do meu aval para nada,
pois era uma mulher independente. A fase submissa havia ficado no
passado. No entanto, percebi que aquele assunto envolvia nós dois como
um casal, o que também era novo para mim, pois nunca me relacionei com
ninguém daquele jeito. Procurei algum tipo de desconforto em meu peito,
mas não encontrei nada. No fundo, só queria que Marie se libertasse cada
vez mais no sexo e eu confiava em Ralph. Ele era um dos meus melhores
amigos dentro do moto-clube e eu sabia que, apesar de ser um safado,
jamais faria algo para deixar Marie desconfortável.
— Acho que você pode aproveitar as dicas que o Ralph quer passar.
Marie sorriu abertamente e se virou para Ralph. Eu a abracei por trás,
vendo o Secretário ficar muito animado com a sua nova missão.
— Ok, eu preciso de uma... — Ele olhou a nossa volta e, por fim,
mirou os olhos em direção à cozinha. — Banana. Ou um pepino. Qualquer
coisa que se assemelhe a uma piroca.
— Você é um porco, Ralph — resmunguei, mas queria rir.
— Tem bananas na ilha da cozinha — Marie comentou e Ralph nos
deixou sozinhos para pegar a fruta. Os olhos dela se encontraram com os
meus quando ergueu o rosto e suas bochechas coraram enquanto ria. — Nós
vamos mesmo fazer isso?
— Acho que sim, mas, se você quiser parar, é só falar.
— Não quero. Estou... curiosa. E ansiosa para poder chupar você —
sussurrou e eu estremeci, sentindo o meu pau querer endurecer só com a
imagem que minha mente criou da sua boca chupando a cabeça e descendo
até o talo.
— Espero que Ralph seja um bom professor — respondi, levando
minha boca até a dela. Rocei os nossos lábios, sentindo sua respiração se
misturar com a minha. — Mas se ele não for, não tem problema. Vou deixar
você brincar com o meu pau até atingir à perfeição.
Marie riu baixinho, mas calei o som com o meu beijo, enfiando
minha língua em sua boca. Estava ficando excitado com todo aquele papo
sobre boquete e, pelo gemido baixinho que ela soltou, podia jurar que ela
também estava. Ouvi os passos de Ralph se aproximando, mas só deixei
seus lábios escaparem quando ele pigarreou, chamando a nossa atenção.
— Já vi o seu pau antes e sei que essa banana não chega nem perto
do tamanho, mas é o que temos — Ralph deu de ombros e Marie olhou para
mim e depois para ele.
— Você já Drew nu?
Ralph deu um sorrisinho sorrateiro.
— Acho que já vi todos os machos daquele moto-clube como vieram
ao mundo. Nós fazemos uma festinha de vez em quando, sabe? Então, todo
mundo fica pelado e... transa.
A boca de Marie caiu aberta e eu quis dar um soco em Ralph. Eu
falaria com ela sobre a festa em algum momento, de um jeito bem menos
impactante, mas o babaca estragou tudo.
— Não é como você está pensando, Marie...
— É exatamente como você está pensando — Ralph me interrompeu.
— Somos todos adultos, Marie, e somos livres. Quer dizer, há casais no MC
e, geralmente, eles participam transando apenas entre si, mas o resto se
diverte como sente vontade.
— Todo mundo participa? Até a Madison? — Eu franzi o cenho ao
ouvir a pergunta de Marie. Tinha percebido que ela sentiu um pouco de
ciúmes da Maddy quando contei sobre o meu passado com ela na noite em
que passamos juntos, mas não pensei que o sentimento ainda existia. —
Estou perguntando por que, bem, ela é filha do Bruce e seria muito
esquisito se um presenciasse o outro fazendo sexo.
Ah, era isso. Eu quase soltei um suspiro de alívio.
— Nossa, não! Madison não participa. Isso seria nojento de verdade.
— Ralph fez uma careta. — E mesmo se ela não fosse filha do Bruce, acho
que não participaria. Damon é louco de ciúmes. Sério, louco mesmo. Ele
atiraria em qualquer um que olhasse na direção dela. O único que escapou
foi o Drew, mas acho que o sangue falou mais alto.
— Que bom — Marie acariciou o meu braço ao redor da sua cintura
e percebi que não parecia nem um pouco abalada com o fato de eu já ter
ficado com Madison. Beijei o seu pescoço e ela ficou toda arrepiada. —
Achei essa festa interessante — disse ela bem baixinho, mas nós dois
conseguimos ouvir.
— Você ia querer participar? — perguntei, curioso pela sua resposta.
— Não sei. Quer dizer, acho que eu gostaria apenas de permanecer lá
e ver. Só para saber como é.
— Meu aniversário está chegando — anunciou Ralph. — Vou fazer
uma festinha “interessante”. Espero que vocês participem.
Pensei em Marie e eu no meio do bar, sob a penumbra. Ela usando
um vestido bonito e sentada em meu pau, de costas para mim, enquanto
observávamos todo mundo se divertindo. Eu colocaria apenas a sua
calcinha de lado e a foderia daquele jeito, sussurrando muita putaria em seu
ouvido, sem deixar que ninguém visse muito do seu corpo, porque ele era
apenas meu. Meu pau ficou tão duro, que senti uma fisgada em minhas
bolas. Marie ofegou quando o pressionei em sua bunda e me deu um olhar
meio arregalado, com as bochechas coradas.
— Minha imaginação foi para bem longe — expliquei e precisei
limpar a garganta, porque minha voz saiu rouca demais.
Vi quando Ralph estreitou os lábios e sorriu daquele jeito predador.
Já tinha visto aquela expressão muitas vezes em seu rosto, às vezes até
mesmo dirigida para mim.
— Estou começando a achar que não vou precisar dessa banana. —
Ele olhou para mim e depois para Marie, dando dois passos em nossa
direção. Ficou bem perto da gente. Perto demais. — Por que eu usaria uma
fruta, quando posso demonstrar de forma real?
— Real... Como?
A voz de Marie saiu levemente entrecortada e sua bunda sarrou com
mais precisão em meu pau. Eu observei Ralph e ele olhou para mim, me
sondando. Acho que queria saber até onde poderia ir e eu fiquei surpreso
por não sentir o ímpeto de simplesmente mandar ele ir para puta que o
pariu, pois sabia exatamente qual era a sua intenção naquele momento. Ele
não estava brincando apenas. Estava jogando de verdade.
— Imagino que Drew seja quase tão ciumento quanto Damon, mas,
se você não for tão ciumenta quanto ele, acho que nós vamos poder brincar
um pouco — disse ele, intercalando o olhar entre mim e Marie. — Posso
chegar mais perto?
Marie olhou para mim, com o lábio inferior preso entre os dentes e a
respiração ofegante. Eu sabia que ela estava excitada de verdade agora e
aquilo me deixou ainda mais duro. Ver o seu tesão sempre me deixaria
daquele jeito e percebi que eu aceitaria qualquer coisa que Marie quisesse.
Quer dizer, não qualquer coisa. Não suportaria ver Ralph comendo ela, mas
o resto... O resto me excitava pra caralho e aquilo me deixou surpreso.
— Você quer? — perguntei.
— Vocês dois querem? — Ralph perguntou, atraindo a nossa atenção.
— Nesse momento, importa apenas o que vocês dois quiserem, não o que
um ou outro quer.
Não precisei perguntar novamente a Marie. Eu a conhecia muito bem
e vi a resposta em seu olhar.
— Sim, nós dois queremos.
Ralph fechou completamente a nossa distância, parando tão perto de
Marie, que o seu nariz poderia se encostar ao dela, caso ela fosse alta o
suficiente. Como não era, seu rosto ficou muito próximo do meu e o calor
do seu corpo pareceu envolver tanto a mim quanto a ela.
— Vamos falar sobre limites — Ralph murmurou, passando a língua
pelos lábios ao olhar para Marie e depois para mim. Suas mãos não se
mexerem para tocá-la ou me tocar e imaginei que era porque ele queria
descobrir o que poderia fazer. Até onde poderia ir. — O que eu não posso
fazer com Marie de jeito nenhum, Drew?
— Meter o seu pau nela. — Fui bem claro e Marie ofegou. — Só eu
entro na boceta dela.
— Certo. E o que eu não posso fazer com Drew de jeito nenhum,
Marie?
Ela ficou alguns segundos em silêncio, suas mãos subindo e
descendo pelos meus braços em volta da sua cintura.
— Transar com ele. Drew me disse que não sente tesão por isso.
Ela se lembrou e eu sorri, dando um beijo em sua têmpora.
— Tudo bem — Ralph concordou.
— Você não se importa em não... Sabe, entrar na gente? — Marie
perguntou e depois bufou. — Eu sou péssima em falar esse tipo de coisa...
— Há muito mais no sexo do que penetração, Marie — Ralph a
interrompeu e tocou de leve em seu rosto. Esperei sentir aquela onda
territorial de ciúme, mas acho que eu estava ligado demais ao tesão para
sentir algo assim. O clima entre nós três havia mudado drasticamente e eu
resolvi parar de procurar por qualquer desconforto e apenas curtir o
momento. — Posso mostrar isso para você?
Marie apenas concordou com a cabeça e soltou um suspiro audível
quando Ralph me puxou pela nuca e me beijou. Nenhum de nós dois
esperava por isso. Eu realmente acreditei que ele faria alguma coisa com ela
primeiro, no entanto, logo senti a sua língua pedindo passagem por entre os
meus lábios e me vi correspondendo ao beijo com Marie entre nós dois,
meu pau duro pra caralho pressionando a bunda dela e a pegada firme de
Ralph em meu pescoço.
O beijo dele era... Exigente. E sensual, também. Nunca antes havia
pensado em beijar um homem, mas ter a boca de Ralph na minha naquele
momento estava mexendo com a minha libido de uma forma que não pensei
que aconteceria. Ele prendeu o meu lábio inferior entre os seus dentes e
soltou devagar, soltando um gemido baixinho e rouco. Senti Marie
estremecer contra nós dois e meus olhos desceram logo para ela. Suas
pupilas estavam dilatadas e os seus dentes massacravam o próprio lábio,
quase como Ralph fez comigo.
Não consegui me conter. Precisei tomar a sua boca na minha com
toda a fome que estava sentindo, obrigando-a a receber a minha língua e
retribuir o meu desejo. Marie correspondeu à altura. Seu corpo se virou de
frente para o meu e um gemido escapou da sua boca diretamente dentro da
minha quando a puxei para mais perto pela bunda, obrigando-a a ficar na
ponta dos pés para que eu pudesse sarrar o meu pau na junção das suas
coxas.
Senti uma terceira mão em mim. As de Marie estavam minha nuca e
a de Ralph subiu pelo meu braço até chegar ao meu pescoço. Precisei abrir
os olhos e o encontrei com a boca na orelha de Marie, sua língua escapando
dos lábios para poder lamber a pele delicada do seu pescoço. Eu sabia como
ela era gostosa e cheirosa ali e como era sensível, também. Fiquei ansioso
pela sua reação e quando ela estremeceu, deixei que tirasse a boca da minha
para poder gemer mais alto. Sua cabeça caiu para trás, na direção da mão de
Ralph em sua nuca e ele se aproveitou disso para beijá-la.
Não me importei com o fato de ele estar praticamente engolindo a
boca dela. O contrário aconteceu e tudo o que senti foi um tesão absurdo,
que me fez subir os lábios pelo pescoço de Marie até chegar à boca dos
dois. Ralph sabia exatamente o que eu queria. Ele pressionou o meu
pescoço, me levou para mais perto e comecei a participar daquele beijo
cheio de língua, mordidas e saliva, sentindo as pernas de Marie ficarem
bambas e o corpo de Ralph pressionar o dela contra o meu. Tinha certeza de
que o filho da puta estava com aquele pau duro roçando na bunda de Marie
e senti o meu pau sofrer um espasmo doloroso enquanto eu roçava em sua
boceta.
Já havia participado de sexo a três antes, mas nunca tive sentimento
envolvido. Ser tão louco por Marie só deixava a experiência mais intensa.
Meu maior desejo naquele momento nem tinha tanto a ver comigo, mas
com ela. Queria que a minha mulher ficasse bêbada de tanto gozar e sabia
que Ralph me ajudaria com aquilo.
Eu fui o primeiro a começar a despi-la quando Ralph deixou a nossa
a boca e começou a chupar a sua nuca. Pensei que Marie poderia ficar
tímida, mas acho que ela estava excitada demais para pensar em qualquer
insegurança com o seu corpo, pois ergueu os braços rapidamente quando
puxei sua blusa para cima, revelando o sutiã preto de renda que usava. Não
tinha bojo e eu conseguia ver os bicos duros por trás do tecido delicado, me
enchendo de tesão. Ralph abriu o fecho da lingerie em suas costas e eu corri
para colocar um mamilo na boca quando ela finalmente ficou nua da cintura
para cima.
— Ah, Drew...
Ela se escorou em Ralph e fechou os olhos, estremecendo e gemendo
quando mordisquei o biquinho e bati com a minha língua sobre ele, para
cima e para baixo, do jeito que eu sabia que ela gostava. Ralph chupou o
seu pescoço e tomou o outro seio dela em sua mão, fazendo Marie arquear o
tronco em direção ao nosso toque.
— Você é gostosa pra caralho — ele sussurrou em seu ouvido e
Marie abriu os olhos. Uma mão sua estava em minha nuca e a outra estava
na nuca de Ralph, mantendo nós dois no lugar. — Entende isso, Marie?
Tudo em você é perfeito. Drew é um sortudo por ter uma mulher como
você.
De alguma forma, Ralph sabia sobre as inseguranças dela. Pode ter
sido pela conversa que ouviu mais cedo, quando Marie disse que eu não
precisava me preocupar com os olhares de outros homens, ou apenas por a
ter observado nas últimas semanas. A questão, era que ele sabia, e o fato de
estar reafirmando o que eu dizia para ela todos os dias, era muito
importante. Comecei a enxergar aquele momento entre nós três como algo
além de uma simples putaria. Era, também, um momento para que Marie
percebesse o quanto era linda e desejada. Que não havia nada de errado
com o seu corpo ou com quem ela era.
Percebi que ela ficou emocionada quando a pontinha do seu nariz
ficou vermelha. Eu me ergui e beijei o cantinho da sua boca, sentindo-a
sorrir.
— Obrigada — ela disse, virando o rosto rapidamente para Ralph e
dando um beijo em sua bochecha, antes de voltar a olhar para mim. — Eu
também sou muito sortuda por ter um homem como Drew. — Ela olhou
para Ralph novamente. — E um amigo como você.
— Não me faça chorar enquanto estou de pau duro, Marie — Ralph
resmungou, arrancando uma risada dela e um novo gemido quando tomou
seus dois seios em suas mãos. — Se você não der atenção a eles, prospecto,
eu vou dar.
— Vai se foder, babaca — xinguei, mas logo voltei a chupar os peitos
mais deliciosos que já tinha conhecido.
Marie voltou a se entregar e Ralph beijou a sua boca enquanto eu
mamava bem gostoso. Aproveitei a posição para poder desabotoar o seu
short e descer a peça junto com a calcinha. O cheiro da excitação de Marie
chegou ao meu nariz como uma brisa e eu precisei enfiar um dedo em sua
boceta só para ter a confirmação de que ela estava tão melada quanto eu
esperava. Marie gemeu com a boca ainda na de Ralph, afastando as coxas
para receber o meu toque.
— Porra! — Subi pelo seu pescoço até chegar em sua orelha, falando
alto para que os dois ouvissem. — Preciso chupar você. Quero melar a
minha boca nessa boceta, Marie.
Ela abriu os olhos e Ralph parou de beijá-la, descendo o olhar até
onde minha mão se escondia entre as suas pernas.
— Ela está molhada?
— Pra caralho.
— Deixa eu ver. — Tirei meu dedo do interior de Marie e acariciei o
clitóris rapidamente com o médio e o indicador, antes de erguer a minha
mão. Ralph passou a língua pelos lábios ao ver como meus dedos brilhavam
com a lubrificação que escorria da boceta dela. Um fio grosso se esticou
entre os dois quando os separei e depois os juntei, imitando o movimento de
uma tesoura. — Vem aqui, me deixa sentir o sabor dela.
A boca de Marie formou um O perfeito quando levei meus dedos até
a boca de Ralph e ele começou a chupá-los. Eu estremeci, pois o filho da
puta era mesmo muito bom em fazer aquilo. Ele enfiou meus dois dedos em
sua boca e passou a língua entre eles, recolhendo a lubrificação de Marie,
antes de sugá-los e mamar nos dois. Pensei que eu fosse gozar, tamanha a
intensidade, mas ele logo deixou os dois escaparem e sorriu.
— Porra, que delícia, Marie. Acho que vou desistir da aula e começar
a chupar você. Imagina só... Eu e Drew ajoelhados entre as suas pernas,
disputando quem te chupa mais...
A imagem que se formou em minha mente quase me fez pegar Marie
nos braços e levá-la até o sofá.
— É tentador, mas eu quero aprender a chupar o Drew — disse ela,
levando os dedos ansiosos até o botão da minha calça. O volume da minha
ereção quase arrebentava o fecho e a braguilha.
— Eu entendo, ele tem um pau de dar água na boca mesmo — Ralph
murmurou, dando um beijo em seu pescoço e arrancando uma risada curta
do fundo da sua garganta. — Tire a roupa dele — pediu baixinho e eu me
aproximei um pouco mais de Marie.
Ela tirou o meu colete e eu a ajudei a me despir, tirando a minha
blusa e chutando os meus coturnos. Ralph manteve os olhos em mim o
tempo todo, sem deixar de acariciar os seios de Marie ou lamber e chupar o
seu pescoço. Ele se afastou quando eu fiquei completamente nu e precisei
puxar Marie para um beijo.
Ela tomou o meu pau nas mãos, me fazendo gemer. Eu estava muito
excitado e sensível, com o pau todo melado pela baba que escapava da
minha glande, mas Marie não acelerou demais a punheta. Ela deu atenção
ao comprimento e as minhas bolas, me fazendo estremecer quando passou o
polegar pela cabeça. Deixei a sua boca escapar da minha e Marie se virou,
encontrando Ralph sem camisa e descalço, bebendo o vinho direto da taça.
— Eu gosto de assistir — explicou ele, dando de ombros e abrindo
um sorriso. — E vocês dois juntos são bonitos pra caralho.
— Eu sei — afirmei, dando um passo em sua direção e pegando a
taça. Terminei o resto de vinho que tinha ali e vi Marie dar um passo em sua
direção.
— Posso terminar de te despir?
Ralph concordou com a cabeça e Marie fechou completamente a
distância entre os dois, desabotoando a sua calça. O pau de Ralph saltou,
duro e tão melado quanto o meu. O Secretário não usava cueca, mas aquilo
não me surpreendia, porque já o tinha ouvido dizer que odiava a peça
íntima. Marie arregalou os olhos e me encarou rapidamente.
— Vocês passaram na fila do pau grande quantas vezes antes de
nascer?
Sua pergunta genuína me fez gargalhar bem alto e Ralph me
acompanhou. As bochechas dela ficaram coradas e precisei puxá-la para os
meus braços, dando um beijo em sua boca.
— Você gosta do meu pau grande — murmurei entre os seus lábios e
senti quando Ralph se aproximou dela novamente por trás.
— O meu também é incrível, mas não vai ser nessa vida que você vai
se sentar nele. Isso não importa, porque meus dedos e minha boca também
são maravilhosos.
Marie sorriu entre os meus lábios ao ouvir as palavras de Ralph e
depois gemeu, estremecendo contra mim. Quando me afastei, encontrei os
dedos dele entre as pernas dela, tocando seu clitóris com delicadeza.
— Vem cá — ele pediu, tocando em minha nuca de repente com a
mão livre. — Quero beijar vocês de novo antes de começar a nossa lição de
casa.
Não me opus e beijei os dois, aproveitando o momento para poder
penetrar um dedo em Marie enquanto Ralph a masturbava. Ela gemeu mais
alto, afastando mais as coxas e rebolando contra as nossas mãos. Senti
Ralph deixar a nossa boca e, de repente, seus lábios estavam em minha
orelha.
— Vamos fazer ela gozar — sussurrou bem baixinho, mordendo o
lóbulo da minha orelha antes de descer a língua pelo meu pescoço.
O filho da puta era bom demais naquilo. Eu fiquei arrepiado com o
chupão que deu em minha pele de repente e muito excitado com a ideia de
nós dois darmos um primeiro orgasmo a Marie. Enfiei mais um dedo nela e
intensifiquei o meu toque, formando um leve gancho em seu interior para
poder tocar o seu ponto G. Marie soluçou e arregalou os olhos, fincando a
unha em meus ombros e ficando tensa com a iminência do orgasmo. Eu
sabia que ela gozaria rápido. Estava excitada demais, qualquer toque a faria
explodir.
— Goza gostoso, meu bem — pedi entre os seus lábios. Ralph
deixou o meu pescoço para poder lamber o dela e sussurrar em seu ouvido:
— Não segura. Estou sentindo você pulsar no meu dedo, Marie.
Goza pra gente.
Marie mordeu o meu lábio inferior com uma força que eu não
esperava e franziu o cenho, fechando os olhos bem forte quando começou a
gozar. Eu senti vontade de esporrar bem ali, na barriga dela, enquanto sentia
sua bocetinha apertada pulsando ao redor dos meus dedos, liberando mais
lubrificação em meio ao seu orgasmo.
Tomei sua boca na minha em um beijo e acelerei os movimentos,
querendo prolongar o máximo possível a sensação para ela. Ralph fez o
mesmo, tocando em seu clitóris e sussurrando mais putaria em seu ouvido,
até Marie cair sobre o meu peito, sem fôlego, e suas pernas ficarem bambas.
Ralph a segurou pela cintura e eu a abracei, dando um beijo em sua testa e
deixando que curtisse aquele pós-orgasmo, enquanto o Secretário erguia o
seu cabelo e beijava a sua nuca.
— Você é linda até gozando, puta que pariu — Ralph disse e eu senti
o sorriso de Marie contra o meu peito.
— Ela é mesmo, por isso sou viciado em fazer ela gozar — falei e
Ralph riu.
— Você é o meu orgulho, garoto!
— Vocês são dois bobos.
Marie finalmente ergueu a cabeça e olhou para nós dois. Não deixei
que ela falasse mais nada. Tomei a sua boca na minha e Ralph logo se
aproximou, entrando no meio do beijo, enquanto caminhávamos, de forma
meio desengonçada, até o sofá. Senti a parte de trás das minhas pernas tocar
o tecido e a mão de Ralph em meu pescoço, dando um aperto leve. Ele se
afastou e eu curti a boca de Marie por mais alguns segundos antes de olhar
para ele.
— Sente-se. Chegou a hora de ensinar algumas coisas para Marie.
Drew se sentou no sofá e eu ofeguei com a visão que ele era. Um
homem forte, todo tatuado, com o pau duro e enorme e completamente
meu. Ele não tirou os olhos de mim enquanto eu tomei coragem para me
inclinar e beijar a sua boca inchada e avermelhada, ficando embriagada pelo
seu sabor. Suas mãos cercaram o meu rosto e senti outras duas mãos em
minhas costas, descendo até a minha bunda. Dois dedos passaram entre as
nádegas e me penetraram de repente, me fazendo arquear a coluna e morder
o lábio de Drew.
— Essa bocetinha melada estava pedindo pelos meus dedos de novo
— Ralph sussurrou e sua voz estava bem perto do meu ouvido. Percebi que
ele também havia se inclinado sobre Drew.
Afastei meu rosto apenas para poder olhar para o outro motoqueiro.
Ralph também era lindo. Ele havia refeito o coque no cabelo,
provavelmente enquanto eu beijava Drew, e agora seu rosto estava livre dos
fios de novo. Seus lábios, assim como os de Drew, estavam inchados, e ele
não tirava aquele sorriso safado do rosto, nem mesmo quando me beijava.
Ou quando beijava Drew, como estava prestes a fazer naquele momento.
Minha boceta pulsou, melada e excitada como se eu não tivesse
acabado de gozar nos dedos dos dois, quando eles voltaram a se beijar.
Nunca imaginei que a visão de dois homens juntos poderia ser tão excitante.
Muito menos que eu não enlouqueceria de ciúmes ao ver Drew com a boca
na de outra pessoa, mas Ralph... Ele era como uma força da natureza. Havia
um magnetismo naquele homem que atraía qualquer pessoa, inclusive um
homem como Drew ou uma mulher como eu, que até ontem, sequer sabia o
que era um orgasmo.
Ele acelerou os dedos em meu interior, me arrancando um gemido
mais alto, e eu tomei o pau de Drew em minha mão, apoiando a outra em
seu ombro. Seus quadris saltaram quando ele sentiu o meu toque e eu senti
a minha boca salivar ao observar como a sua glande estava vermelha e
muito inchada, brilhando com a sua lubrificação, que escorria lentamente
pela pele sedosa que revestia o seu comprimento. Ele gemeu na boca de
Ralph e apertou a minha nuca, abrindo as pernas grossas e musculosas para
aproveitar ainda mais a punheta que eu tocava.
Ralph deixou a boca dele escapar por entre os seus dentes e olhou
para baixo, onde eu o masturbava. Ele voltou a sorrir e tirou os dedos meu
interior, lambendo-os daquele jeito obsceno, antes de se ajoelhar entre as
pernas de Drew e tocar a parte de trás das minhas coxas.
— Vem aqui do meu lado, Marie. — Eu obedeci, ajoelhando-me e
olhando para Drew lá de baixo. Ele mordeu o lábio inferior e não tirou a
mão da minha nuca. — Quando você olha para o pau de Drew, o que sente
vontade de fazer?
Eu já nem sentia vergonha mais. Depois de tudo o que havia
acontecido na última hora, as palavras simplesmente escaparam pela minha
boca.
— Sinto vontade de lamber, principalmente aqui. — Passei meu dedo
indicador em sua glande e Drew estremeceu, apertando a minha nuca.
— Então faça. — Ralph tomou o pau de Drew da minha mão e o
tocou bem de leve, para cima e para baixo, antes de o deixar parado para
mim. — Sinta o sabor dele, Marie, e me diga se é tão bom quanto estou
pensando.
Olhei para Ralph, vendo o desejo em seu olhar, e depois encarei
Drew. Ele nunca havia me encarado com tanta intensidade antes e aquilo
me fez perder o fôlego. Sem conseguir tirar os meus olhos dos dele, abaixei
a cabeça e coloquei a língua para fora, golpeando suavemente a cabeça
bruta e melada do seu pau. Drew soltou um gemido rouco e estremeceu e eu
senti o seu gosto explodir na minha língua. Era salgado e levemente cítrico.
Tinha a espessura um pouco mais grossa do que eu esperava e me deu
vontade de sentir mais. Lambi novamente, bem devagar, e senti a mão livre
de Ralph afastando o cabelo do meu rosto.
— É bom?
— Muito. — Olhei para o motoqueiro ao meu lado e tomei coragem
para perguntar: — Não quer provar?
Ralph sorriu e olhou rapidamente para Drew. Os lábios dele estavam
separados, sua respiração estava ofegante e eu podia apostar que estava se
segurando para não gozar. Fiquei ainda mais ansiosa para que ele
explodisse em minha boca. Ralph abaixou o rosto e fez o mesmo que eu.
Passou a língua pela glande desenhada de Drew, mas fez um movimento de
vai-e-vem apenas na frestinha onde ele expelia a lubrificação. Minha boceta
pulsou. O tesão me deixou trêmula e com muita vontade de gozar.
— Que sorte a sua que vai poder chupar esse pau todos os dias,
Marie — Ralph disse com a voz rouca e eu concordei com a cabeça,
ouvindo-o rir. — Você não precisa ter medo de chupá-lo, entende? O seu
corpo e as reações de Drew sempre irão te guiar. Só precisa ter cuidado com
duas coisas. Seus dentes e o seu entusiasmo, que pode fazer com que você
queira engolir mais do que consegue. — Ele piscou para mim e eu entendi o
que quis dizer.
— E se eu quiser fazer uma garganta profunda? — perguntei e Drew
pareceu se engasgar com a saliva. — É assim que se fala, não é?
— Você não precisa fazer isso — Drew disse, levando a mão até a
minha bochecha. — É sério. Eu sou muito grande, Marie. Vai ser
desconfortável.
— Drew tem razão, mas, se você realmente quiser, não é impossível.
Só vai precisar de calma, paciência e muita prática. Você não vai conseguir
enfiar esse pau de vinte e três centímetros na sua garganta de um dia para o
outro.
— Como sabe que ele tem vinte e três centímetros? — questionei,
curiosa.
— Eu não sei, só chutei um número alto para esse pau monstruoso.
— O seu também não fica muito atrás — falei. O pau de Ralph
perdia pouca coisa em centímetros, mas era mais grosso do que o de Drew.
— Eu tenho vinte e um centímetros — disse com orgulho, mas logo
voltou ao foco. — Vou te mostrar como você pode começar a brincar com
tudo isso aqui.
E ele realmente mostrou. Ralph voltou a abaixar o rosto e fechou os
lábios apenas na cabeça de Drew, sugando delicadamente. Eu senti meus
seios ficarem mais pesados e um fio de lubrificação descer pelo meu canal
vaginal pulsante, enquanto Drew estremecia e levava sua outra mão até a
nuca do motoqueiro. Ralph não desceu a boca, apenas se afastou e voltou a
lamber, antes de chupar mais uma vez e descer alguns poucos centímetros.
Eu salivei, querendo fazer o que ele fazia. Como se soubesse disso, ele se
afastou e tocou em meu pescoço.
— Sua vez.
Olhei para Drew e tomei o seu pau da mão de Ralph, repetindo o
gesto que o vi fazer. Drew abriu a boca e um gemido rouco escapou. Sua
reação a mim foi ainda mais intensa do que quando Ralph o chupou e eu me
senti poderosa, sentindo sua mão em minha nuca e a de Ralph em minhas
costas, subindo até prender o meu cabelo em um rabo de cavalo. Suguei a
cabeça gorda de Drew, tomando cuidado com os dentes e sentindo mais
uma gota escapar da frestinha e inundar a minha língua, me deixando
ansiosa por mais.
— Desce um pouco mais a boca. — A voz de Ralph soou bem perto
do meu ouvido. Estremeci quando seus dentes mordiscaram o meu ombro.
— Sinta o pau dele deslizando pela sua língua, Marie.
Eu senti e quase gozei quando Drew tirou as costas do sofá e se
sentou bem na ponta, com as pernas totalmente abertas e o saco pesado
entre as coxas grossas. Ralph pegou a minha mão e a levou até as bolas de
Drew. Ele as massageou comigo e a reação de Drew foi impressionante. Ele
mordeu o lábio com força e jogou a cabeça para trás, chamando o meu
nome como se eu fosse uma deusa.
— O saco é um lugar sensível, não hesite em tocar, e se Drew
permitir, leve o dedo até o períneo. — Ralph guiou o meu dedo indicador
rapidamente até o espaço entre o saco escrotal e o ânus de Drew. — Há
muitas terminações nervosas aqui.
— Pode tocar — Drew respondeu com a respiração ofegante. —
Você sabe que pode fazer o que quiser comigo, Marie.
Tivemos aquela conversa antes e eu sabia que poderia mesmo.
Aquilo me deixou ainda mais animada. Ralph riu baixinho e levou minha
mão até a sua boca, lambendo meu dedo médio e indicador, antes de voltar
a colocá-los naquele local muito perto do ânus de Drew. Eu o toquei ali,
bem de leve, e as pernas de Drew tremeram como se ele tivesse levado um
choque. Seus olhos se arregalaram e sua pegada em minha nuca se tornou
mais firme.
— Acho que ele gostou — Ralph disse e eu deixei pau de Drew
escapar pela minha boca. Tinha visto um filme pornô uma vez e a mulher
tinha feito algo que, agora, eu queria fazer também, por isso, não hesitei em
pressionar o pau de Drew de encontro a sua barriga e passar a língua por
todo o seu comprimento, da cabeça inchada às bolas. Ele gemeu e Ralph me
impulsionou. — Isso, Marie. Agora chupe as bolas dele. Uma de cada vez.
Coloquei seu testículo direito em minha boca e assim que o soltei,
Ralph tomou o pau de Drew nos lábios. Diferente de mim, que fui
cautelosa, o Secretário praticamente engoliu a ereção enorme, me deixando
momentaneamente sem reação.
— Porra, Ralph! — Drew quase gritou, pressionando a nuca de
Ralph e empurrando o pau por completo na sua boca. — Puta que pariu!
Drew fodeu a boca de Ralph, literalmente. Ele apoiou os pés no chão
e começou a erguer os quadris, metendo no fundo da garganta do
motoqueiro enorme. Precisei apertar as minhas coxas, pois a visão era
pornográfica e fazia o meu clitóris pulsar, implorando por atenção.
Pressionei o períneo de Drew e ele voltou a estremecer, respirando fundo
apenas quando Ralph o tirou da sua boca e apontou o seu pau molhado de
saliva para mim.
— Vem cá, chupa ele. Seu garoto está quase gozando.
— Não empurra na minha garganta, por favor — pedi, tomando seu
pau entre as mãos.
Drew arregalou os olhos, parecendo mesmo prestes a gozar só com o
meu toque, e se abaixou para beijar a minha boca com intensidade.
— Eu nunca faria isso, agora vem cá, me deixa gozar na sua boca.
Eu sorri entre os seus lábios e me abaixei, tomando seu pau melado
de saliva e lubrificação em meus lábios. Senti quando Ralph saiu do meu
lado e parou atrás de mim. Suas mãos tocaram os meus seios por alguns
segundos, antes de a direita descer entre as minhas pernas e os seus dedos
começarem a acariciar o meu clitóris. Seu pau pressionou a minha bunda
por trás, melando a minha pele e sarrando bem devagar.
Eu gemi, dividida entre o prazer que Ralph me dava e o que eu
oferecia para Drew com a minha boca. Desci um pouco mais pelo seu pau e
chupei mais forte, sendo guiada pelos seus gemidos roucos e o seu toque
firme em minha nuca. Não parei de tocar o seu períneo e, quando o
pressionei um pouco mais, o pau de Drew sofreu um espasmo.
— Vou gozar — ele avisou com a voz muito rouca, mas nem
precisava. Eu sabia que iria acontecer.
Mesmo assim, foi um susto quando o primeiro jato saiu com muita
força, atingindo o céu da minha boca. Drew gemeu coisas sem sentido e
Ralph enfiou dois dedos em minha vagina, quase me fazendo gozar
também. Lutei para engolir tudo e continuar a chupar, enquanto abria as
pernas para o Secretário me tocar com mais intensidade.
O sabor de Drew era amargo e salgado ao mesmo tempo. Já tinha
ouvido algumas pessoas falarem que odiavam o gosto de sêmen, mas eu
amei o gosto de Drew, e só o deixei escapar da minha boca, quando ele me
puxou para cima e tomou meus lábios nos seus. Ele ainda estava duro como
uma rocha, assim como Ralph atrás de mim, que estava quase me fazendo
gozar com os seus dedos habilidosos.
— Vem aqui, senta no meu pau, preciso comer você — Drew pediu
em desespero e Ralph tirou os dedos de dentro de mim, tomando a minha
cintura em suas mãos.
Ele me ajudou a subir no sofá e beijou a minha boca enquanto Drew
posicionava o pau entre as minhas pernas e me fazia sentar. Gemi com a
penetração tão intensa. Drew foi até o fundo sem cuidado. Doeu, mas foi
tão gostoso, que nem pensei em reclamar. Ele tomou os meus seios em sua
boca e eu me apoiei em seus ombros, começando a quicar.
— Porra! — Ralph xingou entre os meus lábios e se afastou um
pouco. — Acho que posso gozar só olhando vocês dois foderem.
Eu deixei meus olhos caírem para o seu pau duro, com a cabeça
quase arroxeada. Eu já havia gozado e Drew também, mas Ralph até aquele
momento não teve a atenção que merecia. Por isso, tomei o rosto de Drew
em minhas mãos e sussurrei com a minha boca perto da dele.
— Posso chupar o Ralph?
Drew me agarrou pela cintura e me manteve parada. Ele meteu tão
forte dentro de mim que, por um momento, achei que não tinha me ouvido e
eu teria que repetir a pergunta de novo em meio aos gemidos que
escapavam da minha boca.
— Pode — respondeu com a voz rouca. — Mas só quem goza na sua
boca sou eu.
Concordei com um sorriso e o beijei rapidamente, antes de me virar
para Ralph. Ele observava nós dois enquanto se tocava. O homem era lindo
e eu me vi ansiosa para retribuir todo o prazer que havia dado para mim e
para Drew.
— Vem aqui, Ralph. Eu quero chupar você.
Ele arqueou uma sobrancelha e olhou para Drew. Senti os lábios do
meu motoqueiro favorito em minha bochecha, mas seus olhos estavam no
Secretário.
— Sem gozar na boca dela — avisou.
— E na sua boca? Posso gozar? — Ele perguntou, sabendo que
perturbaria Drew. Ralph gargalhou quando Drew ergueu o dedo do meio em
sua direção. — Não precisa mandar eu ir me foder em voz alta, já entendi
que o seu limite com homens é só beijo na boca. E eu gostei bastante de
beijar você. Com todo o respeito, Marie, mas eu queria provar a boca desse
babaca há muito tempo.
— Eu entendo. Também fiquei fascinada pela boca dele quando o
conheci.
E aquilo era verdade. Além de ter uma boca linda, que sempre me
dava aquele sorriso de lado que roubava o meu fôlego, era dali que vinham
as palavras que me encantaram e mexeram comigo desde o primeiro dia em
que nos vimos. Drew me beijou lentamente, em um contraste gritante com a
forma como me comia, e se afastou quando Ralph se aproximou
completamente, ainda se masturbando.
Eu peguei seu pau em minha mão e o toquei, vendo o motoqueiro
cerrar a mandíbula. Quando o coloquei em minha boca, Ralph gemeu. Ele
não era o tipo de homem que reprimia o que sentia e eu gostava muito
daquilo. Parecia Drew, que sempre gemia quando eu o tocava. Seu gosto era
levemente mais salgado e eu fiquei excitada quando me dei conta de que
estava com um pau em minha boca e outro entre as pernas, algo que nunca
passou pela minha cabeça que poderia acontecer um dia.
Ralph tocou a minha nuca e se inclinou, beijando Drew na boca
enquanto eu o chupava e era fodida com tanta intensidade. Senti a onda
poderosa do orgasmo querendo me alcançar e quiquei de encontro aos
movimentos de Drew, enquanto descia os meus lábios pelo pau muito
grosso de Ralph e o chupava da forma como me ensinou, sentindo-o
deslizar pela minha língua e pulsar no céu da minha boca.
— Vocês não usam camisinha? — Ralph perguntou de repente, com a
boca muito perto da de Drew, que murmurou um “não”. Ralph riu. — Você
é muito louco, prospecto. — Ouvi um novo barulho de beijo e chupei Ralph
com mais força, tendo em minha mente a imagem dos dois com os lábios
unidos. — Então enche a bocetinha dela de porra. Estou doido para ver isso.
Eu pulsei, perdendo completamente o controle sobre mim mesma
conforme começava a gozar. Ralph tirou o seu pau da minha boca e Drew
me puxou para um beijo, sem se importar se eu estava com o gosto do outro
motoqueiro na língua, e começou a gozar em meu interior, metendo com
muita força em minha boceta. Eu estremeci, sentindo meu orgasmo se
prolongar e parecer que não ia ter fim nunca. Cada músculo pulsava, meu
clitóris doía, e eu me sentia quente e melada demais com o pau de Drew
dentro de mim.
Ele parou bem fundo e se afastou no momento em que Ralph
começou a gozar. Seu sêmen pousou em meus seios e eu gozei de novo,
muito rápido, ao sentir o polegar de Drew em meu clitóris inchado e
sensível. Acho que choraminguei e implorei para que parasse, mas ele
continuou até eu perder as forças e cair sobre o seu corpo. A porra de Ralph
ficou entre nós, em meus seios e seu peitoral, mas Drew não se importou.
Ele caiu de volta no sofá, com as mãos abertas em minhas costas, e vi pela
frestinha de um olho aberto quando Ralph se jogou ao nosso lado.
Senti o mundo rodar muito rápido e, depois, desacelerar. Minha
respiração foi voltando ao normal e eu senti o meu cérebro finalmente
processar o que havia acabado de acontecer. Procurei pela vergonha ou pela
culpa, mas não senti nada. Também não senti um pingo de ciúmes, mesmo
sabendo que Drew tinha gostado muito dos beijos de Ralph e do seu
boquete. Tudo o que senti, foi uma paz surpreendente e uma imensa
vontade de sorrir.
— Nem vou perguntar se está tudo bem. Esse sorriso já diz tudo —
Ralph disse ao meu lado. Senti seus dedos passarem pela minha bochecha e
depois bagunçarem os cabelos de Drew, que reclamou, mas riu baixinho. —
Quero ser padrinho do bebê.
— Que bebê? — perguntei, ainda me sentindo meio aérea.
— Do bebê que vocês devem estar fazendo desde a primeira noite
que passaram juntos. A não ser que você esteja se prevenindo? — A
pergunta de Ralph ficou no ar e eu paralisei. Meu cérebro congelou. Acho
que nem consegui respirar. Ainda assim, o motoqueiro voltou a sorrir. —
Foi o que eu pensei.
Eu me ergui do peito de Drew, ainda sentindo-o em meu interior.
Seus olhos encontraram os meus, mas, ao contrário de mim, ele parecia
ainda estar preso no torpor do orgasmo.
— Drew, nós nunca usamos camisinha!
— Eu estou limpo e você também, já que, graças a Deus, Lincoln não
te tocava.
Meu Deus, eu não havia parado para pensar nem mesmo naquilo!
Senti-me uma garotinha burra e inconsequente e não uma mulher adulta de
vinte e seis anos.
— Mas eu não tomo anticoncepcional!
— Quero deixar claro que estou cansado demais para sair desse sofá
agora — anunciou Ralph, completamente nu e jogado ao lado de Drew. —
Se forem ter uma DR, vai ter que ser na minha frente.
— Não vamos brigar — Drew respondeu, finalmente se erguendo do
encosto do sofá e tocando em meu rosto. — Sei que nunca conversamos
sobre prevenção...
— O que é uma tolice — emendou Ralph e Drew estreitou os olhos
em sua direção.
— Fique quieto, porra!
— Ralph tem razão. Fomos descuidados demais, Drew!
Eu tentei me erguer, sentindo seu pau já sem ereção sair de dentro de
mim e deixar um rastro de sêmen para trás. Sêmen que poderia me deixar
grávida. Como não pensei nisso antes? Drew me segurou no lugar.
— Eu não me importo de ser pai de um filho seu — Drew declarou,
me deixando sem fôlego. — Se acontecer, vou ficar feliz.
— Garoto... Você é mais emocionado do que o seu irmão — Ralph
murmurou e sorriu de lábios fechados ao receber um novo olhar de Drew.
— Ok, vou ficar quieto agora.
— Mas é muito cedo. Você só tem dezen...
— Não. — Ele pousou dois dedos sobre a minha boca. — Minha
idade não importa, Marie. Nós estamos juntos agora, não há mais nada que
possa nos separar, portanto, se tivermos um filho, vamos fazer dele a
criança mais feliz do mundo.
Senti meu coração acelerar no peito. Estava assustada e me sentindo
burra por ter sido tão irresponsável, mas, ao mesmo tempo, a emoção e a
certeza nos olhos de Drew me deixaram sem fôlego. Eu não tinha qualquer
dúvida sobre o que ele sentia por mim, mas, se tivesse, ela morreria naquele
momento.
— Você é louco — sussurrei, tomando seu rosto em minhas mãos.
— Ele é — Ralph concordou.
— Sim, eu sou. Sou louco por você e vou ser louco pela criança que
vamos ter um dia. Nada mais importa para mim.
Drew me beijou e ouvi a risada de Ralph ao nosso lado.
— Que droga, vocês são muito fofos juntos. Quase me dá vontade de
juntar as escovas de dentes também. — Drew deixou a minha boca de
supetão e nós dois olhamos para Ralph. Ele ergueu as mãos e riu um pouco
mais. — É brincadeira, podem voltar a se beijar, vou me vestir e pegar mais
vinho. Para mim. Você provavelmente não pode beber pelos próximos
meses — disse ele, apontando em minha direção ao se levantar.
Tentei fazer algumas contas na minha cabeça. O tempo que Drew e
eu estávamos juntos e a minha última menstruação, mas desisti quando ele
voltou a colar os lábios nos meus e sussurrou:
— Não fique surtando com isso, ok? Se você realmente estiver
grávida, vai ficar tudo bem, se não estiver e quiser começar a prevenir,
vamos atrás disso. O que importa é que estamos juntos, Marie.
Eu concordei e o beijei. Realmente, aquilo era a única coisa que
importava.
Os próximos dias foram de adaptação, mas Marie já era bem-vinda
por todo mundo no moto-clube, inclusive por Oliver, que, apesar de não ter
se aproximado muito, às vezes olhava para Marie com um sentimento
parecido com gratidão. Pelo menos, era isso que eu conseguia decifrar em
seu semblante quase inexpressivo. Ele já não era tão inalcançável quanto
antes de assumir o seu relacionamento com Connor, mas eu sabia que não
podia esperar uma mudança radical vinda do Executor.
Aquela semana, inclusive, girou em torno dele e de Connor. Eles
resolveram oficializar a união naquele final de semana e as meninas
estavam correndo com os preparativos. Marie se prontificou em ajudar e se
ofereceu para fazer o bolo de casamento. Em um primeiro momento,
Connor e Oliver negaram, pois não queriam que Marie tivesse trabalho, mas
ela insistiu. Eu sabia que ela amava cozinhar e que seria um prazer dar
aquele presente para os dois. Eles acabaram aceitando e ela passou parte da
noite de sexta e o início da manhã de sábado na cozinha.
O bolo ficou incrível, de dois andares, todo branco. Madison
providenciou os bonequinhos sentados em uma Harley, o que arrancou uma
risada de todos os irmãos e a fez xingar todo mundo. Era fofo, mas
engraçado. Até Oliver riu e aquilo acabou derretendo o coração da garota,
que agarrou o noivo mesmo sob os seus protestos. Não acreditava que
alguém conseguiria impedir Madison de fazer algo que ela quisesse, nem
mesmo Oliver.
— É tão bonito ver os dois juntos — Marie murmurou quando a
puxei para os meus braços.
A cerimônia simbólica havia acabado há algumas horas e, agora, o
cheiro de churrasco dominava a parte de trás do MC. Connor e Oliver
estavam em um canto mais afastado, sorrindo um para o outro e de mãos
dadas. Nunca imaginei que veria o Executor demonstrar tanto afeto em
público por alguém, mas o amor era algo surpreendente. Tendo Marie agora
em meus braços, eu tinha ainda mais certeza disso.
— É mais bonito ainda ver como todo mundo aqui aceita o
relacionamento deles — ela continuou. — Em Piece of Sky, eles seriam
crucificados em praça pública.
— Essa cidade tinha que ser excluída do mapa.
— Concordo. É triste pensar que há mais pessoas lá como minha mãe
do que como eu ou Oliver. Espero que a próxima geração consiga estourar a
bolha que os mais velhos criaram em torno daquele lugar e abram os olhos
para o absurdo que eles fazem.
— Eu também — concordei, apesar de saber que seria difícil.
Marie e Oliver não se encaixavam naquele lugar, mas eu poderia
imaginar que a maior parte da população se sentia muito confortável na
posição de julgadores. Tomei seu rosto em minhas mãos e Marie sorriu para
mim, sem um pingo de tensão no corpo. Ela estava, literalmente, se
sentindo em casa ali e eu estava muito feliz por isso. Nosso relacionamento
era perfeito e nossa intimidade parecia ter crescido depois daquela última
tarde em sua casa, quando transamos com Ralph.
O Secretário, inclusive, vivia jogando piadinhas sobre um suposto
bebê que nós nem sabíamos se existia de fato. Marie havia marcado uma
consulta com a mesma ginecologista de Madison e Maya para poder fazer
alguns exames. Se o de gravidez desse negativo, ela começaria a tomar o
anticoncepcional. Eu realmente não me importava em ser pai agora —
talvez, no fundo, eu quisesse isso —, mas concordei quando ela disse que
um bebê precisaria de muito mais do que um quarto dentro do moto-clube.
Quando ele viesse, era melhor que já tivéssemos uma casa de verdade para
morar.
A voz de vovó Mag nos chamando para cortar o bolo acabou
despertando a minha atenção. Ela e Marie haviam se conhecido naquela
manhã e eu fiquei feliz por ver que se deram bem. Ao contrário dos outros
membros do MC, eu não tinha tanto contato com a matriarca dos Wolf, mas
gostava muito dela e a respeitava. Achava que ela merecia mais do que
carregar o fardo de cuidar de Luke, mas vovó Mag era uma mulher forte e,
naquele dia, estava genuinamente feliz pelo neto mais novo.
Nos aproximamos da mesa do bolo e uma docinho ajudou a vovó
Mag servir os pratos. Fiquei surpreso quando Oliver surgiu em nossa
direção, caminhando com um pedaço nas mãos. Connor estava conversando
com Maddy e pareceu não ter visto que o marido saiu do seu lado.
— Quis trazer um pedaço pessoalmente para você — disse Oliver
para Marie, que se desvencilhou dos meus braços para poder pegar o prato
com o bolo. Os olhos dela estavam arregalados de surpresa e acho que os
meus também. — Para agradecer por sempre ter pensado em mim, mesmo
sem saber quem eu era, e por ter se oferecido para dar o bolo de presente
para mim e para Connor. Eu realmente estou feliz por ter conhecido você,
Marie, e por saber que sempre a terei por perto. Sei que não sou a pessoa
mais simpática do mundo, mas quero que saiba que pode contar comigo
para o que precisar.
— Oliver... — O queixo de Marie tremeu e seus olhos ficaram
marejados. — Eu nem sei o que dizer. Muito obrigada por ter me recebido
tão bem aqui, mesmo sabendo quem eu sou e...
— Você não é ele. — Foi tudo o que Oliver disse e Marie concordou
com a cabeça depois de alguns segundos. — Isso é tudo o que importa para
mim. — Ele ia se afastar, mas acabou me olhando com bastante atenção. —
É melhor cuidar bem dela, entendeu?
Estreitei os olhos, pronto para dizer a ele que aquela era minha maior
prioridade, mas Oliver foi mais rápido e se afastou. Executor abusado!
Marie fungou e entrou em meu campo de visão, secando as lágrimas com
uma mão.
— Ele é tão fofo.
— Fofo? O Oliver?
— Sim. — Ela fungou um pouco mais e novas lágrimas caíram pelas
suas bochechas. — O que ele disse foi lindo. Que droga, não aguento mais
chorar! Acredita que eu chorei enquanto fazia o bolo? E chorei hoje,
quando eles assinaram os papéis... Estou muito emotiva esses dias.
— Meu bem, vem aqui. — Puxei-a para perto de mim e dei um beijo
na pontinha vermelha do seu nariz. — Está tudo bem, casamento mexe
mesmo com as pessoas.
— Mas você não chorou.
— Talvez eu seja insensível.
— Duvido. Você é um homem incrível. — Ela fungou de novo e se
afastou para comer um pedaço de bolo. — E eu sou... — Marie parou por
um momento. Olhou para o prato em sua mão e então, olhou para mim,
arregalando os olhos. — E eu sou uma doceira horrível, meu Deus...
Ela empurrou o prato contra o meu peito saiu correndo em direção à
porta que levava ao bar. Assustado, deixei o prato sobre uma mesa e fui
atrás dela, passando por Damon e por Ralph, que me olharam sem entender
nada. Encontrei Marie entrando no banheiro e fui atrás dela, prestes a
perguntar sobre o que estava acontecendo, quando ela entrou em um
reservado e começou a vomitar.
— Marie! — Fui rapidamente até ela e segurei os seus cabelos,
vendo-a colocar para fora tudo o que tinha comido no casamento. Minutos
se passaram até ela parar e se erguer. Eu a amparei, passando um braço pela
sua cintura e acionando a descarga. — Meu Deus, Marie! O que você está
sentindo?
— Aquele bolo... Está horrível. Avise para os convidados, eles não
podem comer aquilo.
Ela tropeçou para fora dos meus braços e saiu do reservado, indo em
direção à pia. Assim que girou a bica e começou a lavar a boca, a porta do
banheiro se abriu, revelando Damon, Ralph e Madison.
— O que houve? — Maddy perguntou, aproximando-se de Marie. —
Você está se sentindo mal?
— Marie disse que o bolo está ruim e pediu para os convidados não
comerem —avisei, apesar de achar aquilo muito estranho. Marie cozinhava
muito bem, era impossível que tivesse errado ao fazer o bolo.
— O bolo não está ruim, eu acabei de comer e estava delicioso —
disse Damon. — Tem certeza de que não foi outra coisa que te fez mal,
Marie?
Ele e Marie agora se davam muito bem e fiquei feliz por ver meu
irmão preocupado com ela.
— Eu tenho certeza de que é outra coisa — anunciou Ralph,
chamando a nossa atenção. — Querem que eu vá buscar o teste de gravidez
agora ou preferem esperar até os peitos da Marie jorrarem leite?
Marie ficou pálida e eu senti um estalo em meu cérebro. Porra! Eu
estava há menos de meia hora pensando sobre a suposta gravidez! Como
não associei uma coisa a outra? Aproximei-me de Marie, que estava com os
olhos arregalados, e ouvi o meu irmão xingar baixinho.
— Gravidez? É sério?
— É bem sério — respondeu Ralph. — É o que acontece quando um
homem e uma mulher não se previnem de jeito algum.
— Ah, meu Deus. Eu vou ser titia? — Madison gritou com
entusiasmo e eu ignorei todo mundo, tomando o rosto de Marie em minhas
mãos.
— Ei, olhe para mim — pedi, dando em um beijo em seus lábios. —
Vou comprar o teste, ok? Vamos tirar logo a dúvida.
— Meu Deus, Drew... E se eu estiver mesmo grávida? — sussurrou
um pouco desesperada.
— Já conversamos sobre isso, lembra?
— A gente vai precisar de uma casa.
— Sim.
— Uma casa com dois quartos!
— Eu sei. — Ri. Acho que estava um pouco nervoso também. —
Mas vamos fazer dar certo, é o que importa.
Marie concordou com a cabeça e eu a beijei mais uma vez, ouvindo a
voz atordoada de Damon atrás de mim.
— Eu vou... Eu vou comprar o teste.
— Por favor, Damon, compre no máximo dois de marcas diferentes
— Madison pediu e olhou rapidamente para Marie. — Porque teve uma vez
que eu pedi para que ele comprasse absorventes para mim e ele comprou
duas caixas com vinte e quatro unidades cada.
— Você vai ficar jogando isso na minha cara até quando? — Damon
resmungou, puto.
— Sempre, meu amor — Madison sorriu e correu rapidamente para
os braços dele. — Eu te amo e amo o seu excesso de cuidado. Agora vai
logo, quero saber se vou ser tia ou não.
Damon saiu do banheiro e resolvemos esperar pelo seu retorno no
bar. Precisei ouvir Ralph e Maddy embarcarem em uma discussão acalorada
sobre quem seria o melhor padrinho para o bebê, sem eles sequer levarem
em consideração que, em momento algum, haviam recebido um convite.
Minutos longos se passaram até Damon voltar com os benditos testes e
Marie se trancar novamente no banheiro. Dessa vez, ela não me deixou
entrar com ela.
Fiquei andando de um lado para o outro no bar, ansioso. Ela parecia
estar há mil anos lá dentro e Damon acabou me segurando pelo ombro em
dado momento.
— Para com isso, está me deixando tonto.
— Desculpa — pedi, sem assimilar direito o que ele havia dito. Meu
irmão me segurou de verdade, pousando as duas mãos em meus ombros
daquela vez, e me olhou nos olhos.
— Não vou te dar o sermão que eu quero, porque você é adulto e
sabe muito bem como se previne bebês. Só quero que você saiba que não
está sozinho, ok? Se uma criança estiver a caminho, eu estarei ao seu lado,
te apoiando em tudo o que precisar.
Senti minha garganta ficar embargada e puxei meu irmão para um
abraço muito forte. Dean podia ter sido um dos maiores filhos da puta que
eu já tive o desprazer de conhecer, mas eu sempre seria grato por ele ter me
dado Damon como irmão. Senti seus braços fortes ao meu redor e precisei
respirar fundo para não chorar.
— Obrigado. O seu apoio é sempre muito importante para mim,
irmão. Eu amo você.
— Também amo você, moleque. — Ele se afastou e sacudiu o meu
cabelo. — Não acredito que vai ser pai antes de mim.
— Ainda não sabemos o resultado.
— Você sabe muito bem qual será o resultado.
Sim, eu sabia. Por isso, quando Marie abriu a porta do banheiro com
os olhos cheios de lágrimas e um sorriso imenso no rosto, nem esperei que
me falasse nada, apenas a tomei em meus braços e beijei a sua boca,
sentindo uma euforia que não imaginei que pudesse existir de verdade.
— Vamos ter um bebê — ela anunciou em meio às lágrimas e eu ri,
chorando também.
— Eu sei, meu bem.
— Você não está desesperado?
— Não.
— Ne-nem um pouquinho? — soluçou.
— Nem um pouquinho.
— Tem certeza de que você é mesmo mais novo do que eu?
— Idade é uma coisa relativa — falei, emocionado, tocando a sua
barriga e olhando em seus olhos. — Eu amo você e amo essa criança.
Vamos ser para ela os pais que sempre sonhamos em ter, Marie.
O queixo dela tremeu e eu beijei cada uma das suas lágrimas
delicadamente. Talvez, fosse por isso que eu queria tanto ser pai. Queria ser
um homem completamente diferente de Dean em tudo e honrar aquela
criança, era parte fundamental disso.
— Você vai ser o melhor pai do mundo — disse ela, tomando meu
rosto em suas mãos. — Você foi a melhor coisa que aconteceu na minha
vida. Eu te amo, Drew. Vou te amar para sempre!
— Eu também vou te amar para sempre.
Beijei a sua boca por segundos curtos demais, pois logo senti Damon,
Madison e Ralph se aproximarem. Em poucos minutos, todos no MC já
sabiam da novidade e, para a minha surpresa, ficaram felizes por saber que
uma criança estava a caminho.
Meu filho.
Ele teria a mãe e o pai que eu não tive. Teria a família que eu sempre
sonhei em ter, com pessoas que dariam a vida por ele e que nunca o
deixariam desprotegido.
Eu me certificaria de fazer dele e de Marie as pessoas mais felizes do
mundo.
Sempre começo agradecendo a Deus, porque sei que sem Ele, eu
jamais teria conquistado tudo o que tenho hoje e tudo o que terei amanhã.
Obrigada por tudo, Deus!
Agradeço também a minha mãe, por todo seu apoio e amor. E a
minha família também.
As minhas amigas, meu muito obrigada! Principalmente a Luana, que
está sempre ao meu lado, surtando com cada linha escrita.
Um agradecimento especial para todas as minhas leitoras,
principalmente as que são fãs dessa série e que amam cada personagem.
Sem vocês, nós não teríamos chegado tão longe. Obrigada por fazerem
parte dessa grande família que se chama Flame Wolves.
Nos vemos no livro do maior de todos, ele mesmo, o Ralph!
Um beijo!
Com amor, Tamires Barcellos.
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Uma aspirante a escritora de romances e um astro do basquete universitário.


O que eu e Raymond King tínhamos em comum?
Isso mesmo que você pensou, nada.
Além de ele ser o popular da faculdade e eu ser uma estudante que gostava de passar
despercebida — apesar de fazer parte de uma fraternidade —, Ray King se achava a última
garrafinha de água do deserto e fazia questão de alimentar a fama de pegador.

Eu só queria distância de caras assim.


O problema, é que o destino sempre gostou de brincar com a minha cara e acabou me fazendo
acordar na cama de King, no dia do almoço de Ação de Graças. Como se isso não fosse a pior coisa
que poderia ter acontecido comigo, nossos pais nos flagraram juntos naquela situação
constrangedora.
Agora, por causa de uma impressão errada, eu estava no meio de uma mentira, com Raymond
King fingindo que era o meu namorado.
Tinha como piorar? Claro que sim, afinal, meu nome é Chloe Davidson, sou uma azarada de
marca maior e, talvez, eu esteja me apaixonando por Ray King.
E esse era o pior — ou o melhor — erro que eu poderia cometer.
- Best Mistake é um livro único
- Romance para maiores de dezoito anos;
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Eu precisava de dinheiro.
Logan Miller III, o quarterback do Alabama Crimson Tide, precisava melhorar a sua imagem.
Nós não tínhamos absolutamente nada em comum — tirando o fato de que cursávamos Direito
— e odiávamos um ao outro desde a nossa primeira troca de olhares, portanto, é até meio difícil
começar a explicar essa história.

Arrogante e prepotente, o jogador vinha passando por uma fase ruim, onde os olhos de todos
os alunos, da comissão técnica do time e dos profissionais do esporte estavam sobre ele.
Eu estava perdida em meio a uma dívida enorme e não sabia como faria para me livrar dela.
A ideia de Logan era uma loucura, mas bem simples: nós fingiríamos que estávamos
apaixonados por dois meses, ele pagaria a minha dívida e eu o ajudaria a mudar a imagem de
irresponsável e festeiro que ele tinha.

Nada poderia dar errado — a não ser, claro, que eu estrangulasse o seu pescoço bonito nas
vezes em que me irritava.
Era o acordo perfeito.
Pelo menos, foi o que pensei até começar a me dar conta de que a sua arrogância era só uma
máscara e que, na verdade, Logan era muito mais profundo e especial do que eu poderia imaginar.

Eu não iria me apaixonar. Sentimentos não faziam parte do acordo.


O problema, é que o coração é um órgão teimoso que nunca segue um roteiro definido e algo
me dizia que ele me colocaria em maus lençóis no meio de toda essa história.
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À Sua Espera
Dono de uma das maiores fazendas de criação de cavalos do Brasil, Ramon Baldez estava
acostumado a comandar o seu império com punhos de ferro. Reconhecido como um profissional
sério e respeitado, pensava que tinha todos os âmbitos da sua vida sob controle, até descobrir que o
seu sócio, Abraão Rodrigues, havia sofrido um grave acidente de carro.

Com o sócio em coma, Ramon se vê diante de um enorme dilema: tomar para si a


responsabilidade de lidar com Gabriela, a filha de Abraão, que se vê sem o pai, seu único parente
vivo. Sabendo que não poderia dar às costas para a jovem de dezenove anos, ele a acolhe em sua
fazenda, enquanto Abraão está em estado grave no hospital.
Ramon acreditava que cumpriria o papel de amigo da família ao estar ao lado de Gabriela
naquele momento tão difícil para a menina. O que ele não poderia imaginar era que, ao assumir a
responsabilidade de cuidar dela, iria descobrir que esteve durante toda a sua vida à espera de
conhecê-la, para encontrar o seu verdadeiro amor.
Mas como ele poderia aceitar que estava perdidamente apaixonado por uma menina? Seria ele
capaz de se entregar a esse sentimento, sendo quase dezenove anos mais velho do que ela.
E o mais importante: conseguiria lidar com o fato de Gabriela reascender um passado que, para
ele, já estava enterrado?
Ramon irá descobrir que, às vezes, a vida toma caminhos inexplicáveis para juntar dois
corações que se amam.
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Todas as Suas Cores


Advogado renomado e muito conhecido no território nacional, Caio Alcântara leva uma vida
sem complicações. Acostumado a enxergar o lado bom e simples de tudo, tem como lema aproveitar
cada oportunidade que a vida estiver disposta a lhe dar e isso reflete, também, no modo como
enxerga as pessoas ao seu redor.

Ao perceber que o seu melhor amigo está apaixonado, mas que não quer dar o braço a torcer
por conta de segredos do passado, Caio coloca na cabeça que fará de tudo para que ele não perca a
oportunidade de se entregar a esse sentimento. É então que, por um acaso do destino, seu caminho se
cruza com o de Luna, uma jovem cheia de vida, que começa a despertar a sua curiosidade.
O que era para ser apenas uma conversa para armarem um presente surpresa para a mulher por
quem o seu melhor amigo está apaixonado, se transforma em algo mais, depois que Caio presencia
uma conversa em que Luna deixa bem claro que o vê como algo além do advogado e amigo do
patrão da sua mãe.
Conhecido por nunca deixar de lado algo que desperte a sua atenção e o seu sorriso, Caio se
aproxima de Luna e uma grande amizade nasce entre eles, mas ele logo perceberá que o seu coração
clama por algo mais e fará de tudo para conquistar a menina de cabelos coloridos, olhar intenso e
personalidade forte, que esconde parte da sua alma por trás de todas as suas cores.
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Rage

Amber Bloom só tem um objetivo na vida: destruir o seu pai.


Filha de um dos empresários mais prestigiados e ricos do mundo, Amber foi criada sob regras
rígidas, consciente de que seu futuro estava nas mãos de seu pai, um homem frio e arrogante, que
nunca fez questão de lhe demonstrar carinho ou afeto.
No entanto, quando começa a desconfiar de que a fortuna e o poder de seu pai não são
provenientes apenas da empresa que havia fundado décadas atrás, Amber decide começar a investigá-
lo e o que o descobre a faz conhecer um homem que desperta e rouba completamente o seu coração.
Rage só tem uma coisa em mente: matar o homem que é obrigado a chamar de Mestre.
Sequestrado ainda na infância e jogado em um quarto escuro, Rage vê sua vida passar em meio
a torturas, enquanto é obrigado a se submeter a um homem que o humilha de todas as formas.
Completamente destruído, sem saber há quantos anos está preso, ele só pensa em uma coisa, matar o
Mestre. As consequências que encararia depois não lhe faria a mínima diferença; ele não se
importava, pois sabia que já estava morto por dentro.
Pelo menos era o que pensava, até uma mulher com olhos de anjo aparecer em seu caminho.
A vida une uma alma corrompida pela maldade humana a uma alma com sede de justiça e o
amor nasce entre eles.

Mas seria o amor forte o suficiente para derrotar um inimigo impiedoso, que fará de tudo para
destruí-los?
- "Rage" é um romance dark;
- Contém cenas sensíveis como violência e estupro sem romantização;
- Proibido para menores de 18 anos.
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A Morte de um Solteirão

Gosto de pensar que sou um homem livre, um verdadeiro solteirão e nada nunca abalou essa
minha convicção. Veja bem, aos trinta anos, bem-sucedido, com tempo livre para sair, curtir e transar,
a palavra “relacionamento” pode ser tão fria quanto um iceberg ou tão ruim quanto a própria morte.
Sem contar que, sabemos, romance, amor e paixão, são verdadeiras baboseiras. Um casamento
é muito lindo na hora do sim, mas, depois do sim? A palavra “divórcio” brilha tão forte quanto o sol
no verão do Rio de Janeiro. Sem contar as traições, que, convenhamos, não existiriam se as pessoas
não se escondessem atrás de um amor falso.
É por isso que sou totalmente contra a qualquer tipo de relacionamento sério. Sexo é muito
bom, mas fica melhor ainda quando se pode ir embora na manhã seguinte sem ressentimentos ou
cobranças. Foi para isso que nasci — sim, nasci, pois se falar que fui criado para isso, mamma me
corta a cabeça — e estava muito bem com a minha vidinha do jeito que era, até Alice Carvalho
aparecer em meu caminho e me desestabilizar completamente. Nem se eu pudesse, conseguiria
explicar o que senti quando a vi pela primeira vez e quando, inesperadamente, ela reapareceu em
minha vida.
Por isso, soube que precisava tê-la em minha cama, mas ela disse “não”. E persistiu no “não”.
Mas eu estava louco para ouvir um “sim” e, em meio ao desespero, fiz algo impensável: prometi a ela
que, se aceitasse ficar comigo, poderíamos passar um tempo tendo sexo casual, sem nos envolvermos
com outra pessoa. “Ficantes fixos”, nomeei.
Não, não era um relacionamento. Não tinha nada de romantismo. Era apenas dois adultos se
encontrando algumas vezes por semana para fazerem sexo.
Mesmo assim, nunca pensei que essa inocente proposta poderia promover uma morte...
A minha morte.
A morte de um solteirão.
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A Voz do Silêncio

A vida simples que Marina Alencar levava sendo professora, muda drasticamente em uma
tarde que deveria ter sido normal como todas as outras. Ao ser atropelada, Marina é socorrida por um
homem que havia testemunhado o acidente. Mas ele não era um homem comum.

Alto, bonito e com lindos olhos azuis, ele era encantador. Bem-humorado e com um coração
enorme, o homem que a ajudou no momento em que ela mais precisou, acabou se tornando o centro
do seu mundo.
Apaixonar-se por ele foi inevitável, assim como entregar o seu coração em suas mãos e confiar
em cada uma de suas palavras.
Marina nunca acreditou em contos de fadas, mas quando se viu vivendo um, achou que
príncipes encantados realmente existiam.

Mas quando o amor começa a ser sufocado pela dor e pelo medo, tudo muda de figura e resta
apenas o silêncio.
Um silêncio ensurdecedor.
Um silêncio que precisa ser ouvido.
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O Astro Pornô

Emma Glislow é uma mulher de vinte e dois anos. Cursa faculdade de odontologia, ama ler e é
apaixonada por seu noivo, Frederick. Tudo em sua vida sempre foi perfeito e em ordem, até que seu
noivo a trai de forma descarada.
Seu mundo magnífico é destruído em um segundo, enquanto ela passa uma semana inteira
trancada no quarto, sem falar ou ver ninguém.

Quando finalmente resolve sair da fossa, uma noite de bebedeira e balada com sua melhor
amiga parecia ser o lance perfeito para tirar da cabeça, a cena de seu noivo trepando com uma vadia.
Mas o que ela não sabia, era que em meio a essa noite super divertida, uma proposta lhe seria
feita e em meio a todas as tequilas e margaritas ingeridas por ela e sua amiga, ela aceitaria e assinaria
um contrato.
O contrato que a colocaria de cara com o maior astro pornográfico do momento.
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A Paixão do Rei
O misterioso Dominick Andrigheto Domaschesky, Príncipe de Orleandy, país que se estende
por boa parte da Europa, se vê diante do trono de Rei muito mais cedo do que gostaria.

Com o falecimento de seu pai, o Rei Patrick, Dominick com seus trinta anos de idade, assume
o reinado como principal sucessor ao trono. Se sentia preparado e firme para assumir o poder, seu pai
o havia preparado para aquilo e ser Rei já estava em seu sangue.
Se sentia confiante para tudo, menos para o que seus conselheiros lhe propuseram: achar a Rainha
ideal.
Totalmente adverso a relacionamentos, Dominick tinha colocado em sua cabeça que jamais se
casaria. Tinha gostos diferentes, não tinha paciência para cortejar uma mulher fora da cama e ao
menos pensava em colocar uma aliança no dedo, mas, segundo a filosofia de seu pai, "um Rei não é
nada perante a sociedade, sem uma Rainha ao seu lado".
Com tudo conspirando contra seu favor, Dominick chega à conclusão de que sim, iria se casar,
mas seria do seu jeito. Com a ajuda de seu melhor amigo e conselheiro, Dimir, ele entra em um
mundo diferente, desaparece por algumas semanas e volta com a Rainha perfeita ao seu lado.

Kiara Neumann era uma mulher sem opções na vida. Em um dia não tinha nada, não tinha uma
história para contar e nem um futuro para imaginar. No outro, havia se tornado noiva do Rei de
Orleandy e era amada e ovacionada por todo um povo que amava seu país.
Mas como ela era noiva se ao menos se lembrava de sua vida? Poderia confiar na palavra de
Dominick, que não fazia a mínima questão de ser cortês com ela? Como poderia se casar se ao menos
o amava? Ou melhor... Seria ela capaz de amar um homem tão frio quanto aquele Rei? Em meio a
segredos, sedução e todo um reino a ser comandando, Dominick seria capaz de se apaixonar por sua
doce esposa? Talvez sim, mas se segredos do passado começassem a rondar o casal, o mundo frágil
de contos de fadas seria abalado para sempre.

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