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Copyright © 2023 Maria Isabel Mello

Todos os direitos reservados.


É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer meio
eletrônico, mecânico e processo xerográfico, sem a permissão da autora.
(Lei 9,610/98)
Esta é uma obra literária de ficção. Todos os nomes, lugares e
acontecimentos retratados aqui são frutos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real é
mera coincidência.

Autora: Maria Isabel Mello


Revisão de texto: Camille Gomes
Capa: Brooke Mars
Ilustração: @anemonaii
Diagramação: Vitória Mendes
SUMÁRIO
NOTAS DA AUTORA
CADERNINHO DO AUSTIN
PARTE I
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
PARTE II
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
PARTE III
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
A DESPEDIDA
Se você me acompanha no Instagram e está lendo este conto em
uma data próxima a do lançamento, provavelmente foi pego de surpresa ao
descobrir que Me Ame ou Me Odeie Fora do Eixo ganhariam esta curta
continuação. A verdade é que eu tinha planos de trazer o futuro dos
personagens em algum momento, e existe uma data melhor para lançar esta
história do que próximo ao aniversário de um ano de MAOMO na
Amazon? Com certeza não.
Então, sejam bem-vindos de volta ao universo de Me Ame ou Me
Odeie e Fora do Eixo! Bem-vindos ao futuro dos casais mais caóticos de
Washington, D.C. E bem-vindos ao final feliz que eles tanto merecem.
Antes de dar início à leitura, preciso que saiba que a leitura de Me
Ame ou Me Odeie e Fora do Eixo é obrigatória para o entendimento
deste conto. E que em uma ordem cronológica, a história que encontrará
aqui se passa depois do spin-off dos Red Tigers, mas que não terão
spoilers aqui (além dos óbvios).
Sem mais, desejo que aproveite muito o livro! E espero que a
história de Caden, Avery, Ruby, Michael, Austin, Riley e a mais nova
Baby Crawford se torne a sua VERDADE FAVORITA...
Não se esqueça de me seguir no Instagram!
@belautora
Para vocês, por me permitirem viver fazendo aquilo que mais amo.
Obrigada por terem se tornado a minha verdade favorita.
“Riley Weston tem 21 anos, um péssimo senso de direção, o sorriso mais
bonito da porra do mundo e um corpo esculpido pelos deuses.
E eu sempre soube que acabaria me apaixonando por ela.”
— CADERNINHO DO AUSTIN, FORA DO EIXO.
Janeiro de 2027.

Querida Riley,

É quase meia-noite e eu estou deitado na nossa cama, com um


caderninho novo no meu colo. Você está me encarando desconfiada,
deitada de bruços ao meu lado enquanto praticamente implora para que eu
te mostre o que estou escrevendo aqui, mas, como aconteceu antes, sabe
que não vai descobrir tão cedo.
Estamos juntos há quase 4 anos, desde que deixamos oficialmente
de ser um segredo, e eu nunca esqueci da vez em que me disse que depois
que me conheceu de verdade, a vida passou a ser tão perfeita, que se
questionou o porquê de já ter acreditado que merecia menos do que o
mundo. E sendo bem sincero, Baby Weston, nosso mundo ainda não estava
completo. Foram anos lindos, cheios de momentos, aprendizagens e muito,
mas muito amor. Mas faltava algo. Sempre faltou. Eu só não sabia o que
era.
Hoje de manhã, porém, quando me acordou com a notícia mais
incrível que eu poderia receber na vida, eu entendi. E como em um passe de
mágica, nosso mundo se completou.
Seremos papais, Baby Weston. Você e eu.
O nosso amor se expandiu.

Austin.
Abril de 2027.

Querida Riley,

Nós ouvimos.
Ouvimos os batimentos do coração do bebê.
Enquanto estávamos naquela sala, fui preenchido por tantas
emoções, que sequer saberia nomeá-las. Você estava linda para caralho. E
sei que sempre digo isso e que essa minha frase meio que se transformou
em uma piada interna entre nós, mas é a verdade. Um brilho novo tomou
seu rosto quando ouviu o som mais lindo do mundo. O som da vida. E foi só
quando vi a primeira lágrima escorrendo pelo seu olho, atingindo sua
bochecha, que percebi que também estava chorando.
Deitada naquela maca, você olhou para mim, abriu um sorrisinho,
apertou a minha mão, e eu senti meu coração explodir. Senti meu peito
inchar de uma forma que nunca experimentei antes. Porque no instante em
que te encarei nos olhos e enxerguei aquela imensidão de azul que tanto
amo, a médica disse: “É uma menina”.
E acho que meus batimentos até pararam um pouquinho.

Austin.
Maio de 2027.

Querida Riley,

True. Decidimos que esse será o nome dela.


Tem um significado gigante para nós dois, afinal. Significa verdade.
E você conhece a nossa história. Sabe muito bem que fomos um segredo no
início do nosso relacionamento. O meu segredo favorito. Você teve o
coração partido, começou a morar no seu carro feito uma adolescente
rebelde, eu apareci, te resgatei, te levei para a masmorra (que hoje é
conhecida como o nosso apartamento), você foi estúpida comigo porque
achava que me odiava, bateu no meu carro na manhã seguinte e, oops,
passou a morar comigo e se apaixonou perdidamente pelo garanhão aqui.
Ainda acho que meu querido sogrinho George Weston teria surtado
se descobrisse sobre tudo isso no começo, então tenho certeza de que ter
mantido isso escondido dele foi uma boa ideia.
Mas agora não é mais necessário. Porque, por algum motivo muito
louco e que ainda me confunde, ele confia em mim, assim como você
confia. E vê potencial em quem eu sou.
Não apenas como meu treinador, mas como meu sogro também.
E como o avô da nossa filha.
Da nossa verdade favorita.
George não se preocupou em esconder isso quando contamos a ele
e à Susan sobre a gravidez. Nunca vi o treinador chorar tanto na vida, mas
também me surpreendi com a velocidade em que as lágrimas passaram a
escorrer pelo meu rosto quando ele me deu um tapinha nas costas e disse,
com a voz carregada de uma certeza absurda: “você será um ótimo pai,
Crawford”.
E eu prometo, com todo o meu coração, Riley, que tentarei mesmo
ser.

Austin.
Junho de 2027.

Querida Riley,

True está com quase cinco meses e perfeitamente saudável, você


está comendo como nunca, a minha mãe e a sua mãe estão nos visitando
toda semana, mais ansiosas do que jamais as vimos. Seu pai já está dizendo
que vai encomendar um uniforme dos Capitals na menor versão possível
(com o meu nome e número nas costas, óbvio) e que vai levá-la à Capital
One Arena e apresentá-la tudo e todos, Ruby está empolgada para nos
ajudar com a decoração do quarto, Dilan e Cooper estão fazendo visitas
sempre que podem, Avery está em Nova Iorque por dois meses, mas ainda
assim se mantém presente através das ligações e mensagens, e Caden e
Michael...
Bom, eles estão meio insuportáveis.
Juro, nunca quis tanto socar a cara dos dois em toda a minha vida.
E é impossível que eles ainda não tenham notado isso, já que até o Dilan
percebeu.
Acontece que, há algumas semanas, Michael resolveu trazer o
assunto “padrinho” à tona. E foi a PIOR COISA que ele poderia ter feito.
Você não estava presente, já que estávamos no vestiário, depois de tomar
nossas duchas pós-treino, mas eu já te contei tudo.
Caden disse:
— Eu serei o melhor padrinho que a True poderá ter.
E Michael arregalou os olhos no mesmo instante.
— Como tem tanta certeza de que será você? Austin já te falou
alguma coisa? — A atenção dele correu em minha direção.
Eu neguei com a cabeça sem hesitar, sendo sincero. Ainda não tinha
conversado com o Caden, porque achava que isso já era meio óbvio. Quer
dizer, Prescott é o meu irmão. Ele faz parte da minha família particular,
assim como a Ruby faz parte da sua. Então, na minha cabeça, já estava
claro para todo mundo quem seriam as escolhas de padrinho e madrinha.
Mas para Michael não estava, por isso ele fechou a cara quando eu
revelei:
— Ainda não conversamos, mas o padrinho será mesmo o Caden.
E depois disso passou cinco dias sem falar comigo, incorporando a
criança birrenta que ele sabe bem ser quando se esforça.
Pode passar o tempo que for, mas Michael Parker nunca vai mudar.
E pode parecer loucura pensar assim, mas ainda bem que não. Porque eu
amo esse idiota do jeitinho que ele é.
E sei que ele me ama também, porque no sexto dia, quando
estávamos entrando no gelo antes de um jogo, ele me cutucou e disse:
— O Caden pode ser o padrinho, mas eu ainda serei o tio mais
legal.
E rindo, eu respondi:
— Tenho certeza que sim.

Austin.
Julho de 2027.

Querida Riley,

Demos um jantar esta noite.


Todo mundo apareceu, até mesmo o Cooper, que veio com a
namorada dele, a Maeve, para Washington apenas porque fez questão de
estar presente. Ele está brilhando na NFL, mas isso não chega a ser uma
surpresa para nenhum de nós. A gente sempre soube do tamanho do
potencial dele. Até mesmo eu, que demorei para gostar dele (e vice-versa).
Me promete que nunca vai me lembrar do que vou confessar aqui e
que vai fingir que nunca disse isso, mas estou orgulhoso dele. Cooper Buck
merece tudo o que tem alcançado.
Caden e Avery foram os primeiros a chegar. Eles trouxeram a
sobremesa, e aproveitaram para conhecer o quarto da True, que já está
ganhando forma. Ruby é quem está te ajudando com a decoração, já que,
de acordo com vocês, eu “não sei combinar cores”. Concordo em partes
com isso, mas, qual é! Não sou tão idiota ao ponto de achar que móveis
roxos combinariam com paredes pretas, como a Ruby apontou. Não quero
que minha filha durma em um quarto estilo punk.
Dilan trouxe algumas roupinhas de recém-nascido que a mãe dele
tricotou para a True. Ele disse que ela está tão ansiosa para que ele dê um
netinho a ela, que aproveitou a oportunidade para enchê-lo com esse
assunto, mesmo que ele e a Sarah, a nova namorada, estejam juntos há
apenas poucas semanas.
Espero que agora dê certo. É meio deprimente que ele seja o único
com uma vida amorosa complicada do grupo.

Austin.
Agosto de 2027.

Querida Riley,

O quartinho da True está finalmente pronto e não posso deixar de


dizer que você e Ruby fizeram um ótimo trabalho.
Sei que sempre digo que está linda para caralho, mas juro por Deus
que nunca te vi tão maravilhosa em toda a minha vida quanto agora, com
um barrigão e carregando o fruto do nosso amor.
Às vezes me questiono se eu te mereço mesmo, porque te ter ao meu
lado parece um sonho daqueles bem malucos.

Austin.
Dezembro de 2027.

Querida Riley,

True nasceu há alguns meses.


E agora nós somos oficialmente três seres humanos que habitam o
mesmo apartamento.
Ela é linda. Linda demais. Tão linda que simplesmente não consigo
entender como fui capaz de participar da “fabricação” de uma coisinha
tão delicada e preciosa. (Perdão pela palavra “fabricação”, inclusive.
Falei para você uma vez e levei uma bronca, mas não consigo pensar em
outra melhor para usar).
Os olhos dela são azuis, como os nossos, mas ainda mais intensos.
Eles gritam vida, Baby Weston. Uma vida que surgiu de nós.
E sempre que olho para eles e toda a imensidão que carregam, me
sinto o cara mais sortudo e privilegiado do mundo todo.
Ontem à noite, quando True já estava dormindo e você foi tomar
banho, eu entrei no quarto dela na ponta dos pés, me sentei na sua poltrona
de amamentação e fiquei apenas encarando-a por vários minutos em
silêncio.
Ela estava vestindo um body de girafinhas e eu observei seu peito e
sua barriguinha, que subiam e desciam, acompanhando a sua respiração.
E foi então que lágrimas passaram a escorrer pelos meus olhos, de
uma forma quase automática. Minha cabeça estava a mil. E enquanto a
olhava, me agarrei ao pensamento de que eu vou fazer diferente.
Você conhece a minha história, Riley. Sabe que um dos meus medos
era não conseguir ser o suficiente para você e nossa família. Sabe que eu
nunca tive um bom exemplo como figura paterna, e que a ideia de não
saber como agir era algo que me aterrorizava.
Mas eu estou me saindo bem. E pretendo me sair bem pelo resto da
minha vida.
E foi pensando nisso, que enxuguei as lágrimas com o dorso da mão
e me levantei, parando ao lado do berço da True. E observando o rostinho
mais delicado do mundo, eu sussurrei:
— Eu nunca tive um pai, sabia? Não sei quase nada sobre
paternidade, apesar de todos os livros que li, e muito provavelmente vou
cometer alguns deslizes pelo caminho, mas prometo me esforçar para ser
bom para você e nunca sair do seu lado. Quero te ensinar a patinar, te
apresentar o meu mundo, dar uma de pai superprotetor quando chegar em
casa com o seu primeiro namorado, ir à sua formatura e entrar com você
no seu casamento. Quero estar presente na sua vida, Baby Crawford. Em
cada momento dela. Porque você sempre foi o que eu mais sonhei, mesmo
sem saber.

Austin.
“Você é a melhor coisa que já foi minha
O tempo passou e estamos conquistando o mundo juntos.”
— Mine, Taylor Swift

2 anos depois

— Nem acredito que você vai mesmo se casar! — É o que exclamo,


me recostando na cadeira.
É surreal pensar que essa conversa realmente está acontecendo. E
um pouco estranho, apesar de ser completamente natural. É o que a grande
maioria das pessoas costuma fazer ao crescer e amadurecer, certo? Se casar,
planejar uma família, ter filhos...
Mas ainda é estranho pensar que Caden e eu, aqueles mesmos dois
caras que ganharam uma Stanley Cup juntos pela primeira vez em 2018,
realmente conseguiram chegar até aqui e estão construindo um futuro lindo
com as mulheres que amam.
— Para ser sincero, nem eu. — Sentado à minha frente, meu melhor
amigo solta uma risada fraca, pousando sua xícara de café sobre a estrutura
da mesa, bem ao lado do convite de casamento que me entregou há alguns
minutos.
É de manhã e estamos na sala do meu apartamento, tomando nossos
cafés antes de irmos para o Centro de Treinamento do time, prontos para
passar mais um dia fazendo o que nascemos para fazer. Prescott escolheu
este horário porque sabia que encontraria Riley e eu em casa, e poderia nos
entregar o convite em mãos, mas True resolveu acordar chorando bem na
hora e minha namorada teve que pedir licença, indo até o quarto dela.
— Quer dizer, eu amo a Avery. Você sabe disso. Eu amo mesmo —
Caden continua. — Mas ela não foi uma pessoa muito fácil de conquistar.
Foi difícil para caralho, para ser sincero. Acho que se o Caden daquela
época fosse capaz de ver o nosso futuro, ele se impressionaria um pouco
com o fato de que tudo acabou mesmo bem.
Solto um riso fraco, minha mente sendo teletransportada para seis
anos atrás, quando Caden Prescott e Avery Lakeland foram obrigados a
inventar uma mentira e atuar para o mundo todo.
— Um namoro falso entre um jogador de hóquei engraçadinho e a
atriz ranzinza que o odiava? — digo em um tom de pergunta, arrancando
um sorrisinho dos lábios do meu melhor amigo. — Ah, qual é, cara? Vocês
eram um clichê ambulante! Simplesmente estavam destinados a dar certo.
— Não mais do que a filha do treinador e o jogador que viveram sob
o mesmo teto e em um relacionamento secreto, eu aposto — devolve ele,
trazendo à tona o meu passado com a Riley.
Meus lábios se curvam um pouco.
— Nossas histórias poderiam muito bem estar em um livro.
— Se estiverem, espero que a autora continue escrevendo sobre o
que vai acontecer a partir de agora, porque o titio Caden está prestes a
entrar em ação. — Os olhos de Caden se fixam em um ponto atrás de mim e
ele se levanta de repente, sua cadeira ecoando um ranger baixinho ao ser
arrastada pelo chão.
Giro a cabeça, encontrando Riley vindo em nossa direção, com uma
True sorridente no colo. Um gritinho escapa pela garganta da minha filha no
instante em que seus olhos se conectam aos de Caden, e Riley mal chegou
perto dele quando True ergue os bracinhos no alto, praticamente se jogando
no colo do meu amigo, que a segura sem hesitar.
É inevitável sentir o meu coração se amolecer diante da cena.
Eu sou sortudo para caralho. Não só pela família que construí, mas
por ter o melhor amigo que tenho também.
— Meu Deus, como você consegue ficar cada dia mais linda, True?
— Caden questiona, a encarando do modo mais bobo possível. — É alguma
mágica ou algo assim? Precisa me contar o segredo. Sabe, eu meio que já
estou ficando velho...
True solta a risada mais adorável do mundo, negando com a cabeça
várias vezes.
— Não está nada — diz ela.
— Sabe como é, Caden, temos uma genética boa por aqui — entro
na conversa, atraindo a atenção de Prescott para mim. Enrugo o nariz antes
de brincar. — Você não entenderia.
— Ah, é? Me lembra mesmo quem foi considerado o jogador mais
bonito da Conferência Leste no ano passado, por favor?
— John Walter, do New York Islanders — respondo prontamente,
sem sequer precisar pensar.
Uma careta toma o rosto do meu melhor amigo no mesmo instante.
—Tudo bem, mas ele tem 22 anos. Dos mais velhos, eu fui o eleito
— ele é realista, me fazendo rir.
A verdade é que toda essa pesquisa é a coisa mais ridícula do
mundo. Um grupo de adolescentes fazendo enquetes no Twitter, buscando
julgar e ranquear jogadores de hóquei pela sua aparência? Não é para isso
que jogamos, afinal. Muitos de nós nem todos os dentes temos — o que,
graças a Deus, não é o meu caso.
— Austin ficou em qual posição? — Riley questiona, parando atrás
da minha cadeira. Ela apoia as mãos nos meus ombros, estalando um beijo
no topo da minha cabeça.
Odeio essa pergunta.
— Em quarto — Caden revela, e suas palavras são como um soco
no meu ego, assim como aconteceu em todas as outras vezes em que ouvi a
minha posição.
— Disseram que eu fiquei “menos bonito” quando virei pai — digo,
odiando cada palavra.
Ergo a cabeça, encontrando o rosto da minha namorada. Riley
morde o lábio inferior, se contendo para não rir. E quando a lanço um olhar
indignado, ela se apressa em exclamar, fingindo ser o maior absurdo do
mundo:
— O quê? Isso não é verdade!
Sua voz aguda demais deixa claro que está mentindo.
— Meu Deus do céu! — exclamo de volta. — Você está me achando
feio!
— É claro que não, Austin.
— O papai é bonitão! — uma True indignada me defende, atraindo
minha atenção.
— Obrigada, Baby Crawford — a agradeço antes de voltar meus
olhos para Riley. — Mas a mamãe não pensa mais assim.
Weston afasta as mãos dos meus ombros, soltando uma pesada
lufada de ar pelos lábios antes de sair de trás da minha cadeira e se sentar
no meu colo, passando um dos seus braços por trás do meu pescoço.
— Eu nunca disse isso. — Ela se inclina para frente, colando sua
boca à minha, em um selinho rápido. E mesmo que eu esteja no meu
momento dramático, não faço nada para afastá-la. Porque, pelo amor de
Deus, eu não sou nenhum maluco. — Foram as adolescentes do Twitter. E
se quiser a minha opinião, eu acho que elas são umas idiotas.
— Não pode falar essa palavra — True vai contra a mãe pela
segunda vez, arrancando uma risadinha dos lábios de Riley.
— Tem razão, querida. Me desculpe.
— Quem você acha mais bonito, True? O papai ou o titio Caden? —
Prescott questiona, aproveitando que está com a minha filha no colo.
Meus lábios se curvam antecipadamente, pois já sei a resposta.
Ela com certeza vai dizer que sou eu, não é?
Eu sou o pai dela. Sou o super-herói, quem ela tem como espelho
e...
— O titio Caden. — Minha filha simplesmente estraçalha o meu
coração em mil pedaços.
Meu queixo cai. E de repente nem mesmo sei se estou respirando.
— HAHA! — solta Prescott, se vangloriando. Ele saltita com True
pela sala, arrancando risadinhas dela.
Ainda em meu colo, Riley me lança um olhar coberto de
divertimento, por mais que o sorriso contido em sua boca mostre que ela
não queria estar achando graça de toda essa situação.
— Ótimo. Primeiro, as adolescentes do Twitter e a minha própria
namorada começam a me achar feio. Depois, é a minha própria filha que me
trai. — Dou continuidade ao meu drama. — O que vai acontecer agora,
Deus? Alguém vai passar por aquela porta com fotos minhas de alguns anos
atrás, dizendo que eu mudei e que agora estou “menos bonito” porque virei
pai?
— Não estamos no programa do Jimmy Cazz — comenta Riley,
ainda mordendo um sorriso. Ela se levanta do meu colo, estalando um beijo
na minha bochecha logo em seguida.
— Ainda bem que não — diz Caden, colocando True sentada no
sofá.
No início do seu relacionamento com Avery, a atriz participou do
Not My Business, programa apresentado por Jimmy Cazz. Foi
extremamente desconfortável para ela ter que fingir que amava o Caden de
verdade naquela época, mas esse nem foi o maior dos problemas.
Jimmy Cazz é um babaca. Juro. Ele sempre foi e sempre continuará
sendo o pior apresentador dos Estados Unidos. Seu objetivo parece ser
deixar seus convidados desconfortáveis, e ele sempre cumpre isso com
êxito.
— Temos que ir, Crawford. Não podemos nos atrasar para o treino,
ou seu sogrinho vai arrancar nossas cabeças — Caden fala, voltando em
direção à mesa onde ainda estou sentado.
Ele tem razão. A próxima temporada da NHL está chegando, e essa
é a data em que George Weston gruda nos nossos pés feito um imã.
— Vejo você hoje à noite? — pergunto para Riley ao me levantar, a
puxando pela cintura para um beijo rápido.
Sorrindo, ela faz que sim com a cabeça.
— Bom trabalho.
— Para você também — retribuo antes de pegar as chaves do meu
carro e correr até a minha filha no sofá.
Então, simples assim, a dou um amasso apertado e, juntamente ao
meu melhor amigo, deixo a melhor família que eu poderia ter para trás por
algumas horas, apenas para ir para o melhor trabalho que eu poderia ter.
Nunca vou cansar de dizer o quanto sou sortudo para caralho.
“Meu coração já foi emprestado e o seu já ficou triste
Tudo está bem quando termina bem se o final for com você.”
— Lover, Taylor Swift

Se existe algo que aprendi sobre o destino é que o espertinho não


brinca mesmo em serviço. E que quando algo está destinado a acontecer, ele
quebra todas as barreiras possíveis e estilhaça todas as dificuldades que
aparecem pelo caminho feito um martelo batendo contra uma janela de
vidro, deixando então o trajeto livre.
Foi assim com Austin e eu, com Avery e Caden, Ruby e Michael, e
com a inauguração da Weston´s, o meu sonho em formato de confeitaria.
Foi assim com a minha surpresa mais recente: Anne, minha antiga amiga e
ex-colega de trabalho na Bloom Café, e Oscar, também conhecido como o
meu irmão mais velho.
Não vou mentir, nunca imaginei que algo pudesse verdadeiramente
rolar entre eles. E olhando para trás agora, me sinto uma tremenda idiota
por não ter tentado unir os dois antes.
Sabe aquele papo de que os opostos se atraem? Bom, ele não faz o
menor sentido quando se trata de Anne e Oscar.
Ela é mãe solteira, ele é pai solteiro, os dois trouxeram ao mundo
duas garotinhas lindas, que se uniram feito irmãs de verdade e agora são
como carne e unha, têm corações lindos e são pessoas que sei que posso
confiar de olhos fechados. Além de, claro, o estilo radical que ambos
compartilham, com seus braços fechados de tatuagens e roupas ousadas.
Parece que foram desenhados um para o outro. E acompanhando de
perto como estão mais felizes do que nunca nos últimos cinco meses, posso
afirmar que talvez tenha sido isso mesmo o que aconteceu.
— Bom dia, chefinha! — É o que uma Anne radiante cantarola ao
passar pela porta do meu restaurante, me lançando o sorriso mais doce
possível, repleto de uma felicidade genuína. — True deu trabalho para ficar
com a babá hoje?
A cumprimento com um beijo na bochecha quando ela para em
frente e se debruça sobre o balcão do caixa onde estou.
Faz uma semana que Austin e eu contratamos a Maya, uma jovem
de dezenove anos que estava precisando de dinheiro para pagar a faculdade.
Ela fica com a True em dias corridos, como o de hoje.
Na verdade, quase todos os dias têm sido corridos desde que resolvi
passar mais tempo na confeitaria. Maya apareceu no momento perfeito,
como um anjo enviado diretamente do céu.
— Hoje não — finalmente respondo à pergunta de Anne. Um leve
sorriso toma meus lábios. — Caden estava lá em casa. True ficou de bom
humor. Sabe, ela é meio grudada no padrinho.
Anne me devolve o sorriso.
— Vocês não poderiam ter escolhido alguém melhor.
Meu coração se aquece com suas palavras.
— Não mesmo.
A verdade é que nunca vai deixar de ser meio louco pensar em toda
a reviravolta que minha vida teve. Austin Crawford e Caden Prescott foram
de, apenas jogadores que eram treinados pelo meu pai, para o meu
namorado e o padrinho da minha filha. E tudo bem que muita coisa
aconteceu até chegarmos no que somos hoje, mas parece que nossa história
se passou em um passe de mágica. Em um estalar de dedos. E sou grata por
cada momento dela.
Mal posso esperar para passar o resto da vida junto ao homem que
ganhou meu coração enquanto tirava minhas roupas no chão da sacada e
bebia cerveja comigo, anos atrás.
E pensar que foi tudo graças à minha teimosia e uma batida de
carro...
— Abriremos em meia hora, certo? O pessoal da cozinha já chegou?
— Anne quer saber.
Faço que sim com a cabeça.
— Sim, todos.
— Perfeito. — É a última coisa que minha gerente responde antes
de dar as costas e seguir em direção ao quartinho dos funcionários, na área
dos fundos da confeitaria.
Da minha confeitaria.
Ainda é um sonho poder finalmente dizer isso. E posso afirmar que,
para quem quer que esteja escrevendo a minha história, sou grata para
caralho pelo rumo que ela está tomando. E por cada pedacinho que já se
passou.

— Shhh. Ela dormiu. — A voz baixinha de Austin é a primeira coisa


que escuto ao chegar em casa, várias horas mais tarde.
A tela da televisão é a única luz responsável por iluminar a sala, que
está completamente apagada. Peppa Pig está passando e o som está baixo.
Bem baixo. O nível perfeito de volume para fazer uma garotinha de dois
anos pegar no sono no sofá, com a cabeça apoiada no peito do pai, que a
envolve com um dos seus braços fortes e a faz se sentir segura.
É uma visão linda. Sempre é.
— Faz tempo que ela dormiu? — sussurro, fechando a porta do
apartamento com o maior cuidado do mundo, fazendo o menor barulho
possível.
Austin nega com a cabeça.
— Só alguns minutos.
Sorrio para ele, deixando minha bolsa e chaves sobre o balcão da
cozinha. Tiro minhas sapatilhas com um pouco de pressa e sequer espero
mais um único segundo antes de me juntar a eles.
Austin entende o recado assim que me sento ao seu lado no sofá,
levantando o braço livre para que, assim como a nossa filha, eu também
apoie minha cabeça em seu peito. Seu perfume invade minhas narinas
quando seu braço me envolve com força, e um pesado suspiro me escapa.
— Como foi o seu dia, Baby Weston? — sussurra ele, estalando um
beijo silencioso no topo da minha cabeça.
Meus lábios se curvam em um leve sorriso diante do apelido de
anos.
— Bom. Bem corrido, mas bom. E o seu? Papai pegou pesado com
vocês hoje?
Crawford solta uma risadinha.
— Sempre.
— Precisamos visitar ele e a mamãe. Está tudo tão corrido na
confeitaria, que não estou nem lembrando de ligar para ela para
planejarmos isso.
— Quer que eu fale com o seu pai? Podemos marcar no final de
semana que vem. True está com saudade deles.
Sorrio como uma verdadeira mãe coruja ao analisar o rostinho lindo
da bebê à minha frente, que dorme com uma respiração pesada, como se
estivesse completamente descansada em seus sonhos mais profundos.
— Seria perfeito — respondo. — E liga para a sua mãe também.
Falei com ela pelo telefone ontem. Kleah disse que quer me mostrar as
plantas que comprou para a casa nova.
Austin solta uma risadinha. E por mais que não possa ver seu rosto,
pelo modo como seu corpo se move sob mim, sei que foi sincera.
— Nunca pensei que Kleah Crawford fosse virar uma avó das
plantas.
Agora é a minha vez de rir.
— E eu nunca pensei que ela fosse namorar um hippie, mas a vida é
cheia de surpresas.
Há alguns meses, quando se mudou para a casa nova, Kleah foi
surpreendida com a chegada de John Oliver à sua vida. No início, ela não o
queria. Nos contou que todas as manhãs, quando saia para trabalhar, o via
na casa ao lado, molhando o jardim, e que sabia que ele não precisava de
tanta água assim, porque... quem em sã consciência molha o jardim todos os
dias, às cinco e meia da manhã?
Ela sabia que era uma desculpa que John tinha arrumado para vê-la
e a cumprimentar com um bom dia sorridente. E depois, quando ele passou
a tentar conversar com ela todas as manhãs, Kleah não se mostrou muito
interessada.
Ela fez anos de terapia, afinal. Depois de tudo o que passou, pela
primeira vez estava entendendo que não precisava de um homem em sua
vida para se sentir suficiente. Não queria mesmo entrar em um
relacionamento.
Mas John foi insistente. E ainda bem, porque ele a faz feliz. E ela
merece ser feliz.
Todos nós merecemos.
— Acho que todo mundo finalmente está tendo o seu final feliz —
comenta Austin, após um tempo em silêncio, quase como se pudesse ler
meus pensamentos. Sinto quando seus dedos passam a fazer um carinho
preguiçoso no meu braço. — Quer dizer, olha só para nós dois! Temos uma
filha de dois anos! Isso nunca vai deixar de ser meio doido para mim. E
olha só o Caden e a Avery... Meu Deus, eles vão se casar, Riley! Se casar!
Sorrio diante da sua voz animada.
Ele tem razão. Tudo isso ainda é muito louco. Sempre vai ser.
Quando era mais nova, eu costumava ter medo do futuro. Mas
olhando para tudo o que tenho hoje, me sinto uma verdadeira boba por isso.
É a vida dos sonhos. Quer dizer, uma vida que vai além deles.
Porque nem nos meus mais profundos sonhos eu poderia imaginar
uma família tão perfeita assim.
— Crawford? — incapaz de deixar de sorrir, o chamo.
— Hã?
Me afasto do seu peito, voltando a encarar seus olhos. E a
intensidade do azul deles é a mesma de sempre. Uma tão grande, que faz
com que eu sinta que pudesse facilmente me afogar.
— Eu sou meio maluca por você. Sabe disso, não sabe?
Ele sorri, aproximando seu rosto do meu.
— Eu também sou malucão por você, Baby Weston.
E então, simples assim, seus lábios se chocam aos meus.
“Eu gosto de coisas brilhantes,
mas com você eu me casaria com anéis de papel.”
— Paper Rings, Taylor Swift

Meus músculos relaxam no instante em que solto a barra de ferro no


chão, ouvindo o estrondo dos pesos se chocando a ele.
Estou com metade do time na academia do Centro de Treinamento
dos Capitals. Sons ofegantes, xingamentos em sussurros e os barulhos dos
aparelhos funcionando preenchem o lugar, se misturando a uma música
pop, que ecoa baixinho por todos os cantos.
— Sabe de uma coisa? — A voz de Dilan chama a minha atenção.
Me viro para ele, esperando pelo desenrolar da sua fala. Meu amigo se senta
em um banquinho, enxugando o suor que escorre em sua testa com uma
toalhinha antes de continuar. — Nós meio que estamos virando os vovôs
deste time.
Solto uma risada fraca, mesmo que considere isso um tanto
deprimente.
É a verdade. Todos nós sabemos disso.
— Quer dizer, olha só para aqueles caras! — continua Dilan,
apontando para os últimos dois jogadores draftados pelo Washington, que
se revezam entre as séries do supino. — A pele deles parece bumbum de
neném!
— Saudade de quando era eu quem não tinha idade para beber
legalmente nos lugares — resmunga Michael, se aproximando de nós e se
infiltrando na conversa.
— Como se isso fosse capaz de te impedir de algo naquela época —
Dilan devolve, fazendo Michael rir baixinho.
Sei que estou no esporte faz muito tempo e que respiro o hóquei
durante toda a minha vida, mas nunca vou me acostumar totalmente com a
ideia de que um time possa ser composto por homens com cara de 13 anos e
brutamontes, barbudos e sem dentes que com certeza assustariam qualquer
criança que passasse pela frente. Isso sempre vai ser cômico.
— A gente tá mesmo ficando velho, cara — Michael lamenta,
percebendo que o olhar de Dilan ainda está focado nos jogadores novos. Ele
se aproxima do amigo, dando alguns tapinhas reconfortantes em seu ombro.
— Não tem o que fazer.
— Do que estão falando? — Caden aparece, saindo diretamente de
uma corrida na esteira.
Levo meus olhos ao meu melhor amigo quando ele para ao meu
lado.
— Dilan e Michael estão se lamentando pelo tempo ter passado e
nós termos envelhecido.
Caden ri.
— Em algum momento, vamos ter que superar isso.
— Impossível — Dilan sopra, determinado a dar continuidade ao
seu período obscuro de aceitação da realidade.
— Pensem pelo lado bom, ainda somos os melhores do time. — Me
esforço para ser positivo, mas logo meus olhos são desviados para Arton
Lyon, que passa ao nosso lado. Murcho no mesmo instante. — Depois dele,
obviamente.
Atualmente, Arton é a grande revelação da NHL. Nossos torcedores
foram à loucura quando anunciamos que ele estará conosco durante a
próxima temporada. O cara é um astro. Não consigo nem me lembrar qual
foi a última vez que nossa torcida ficou tão empolgada com uma
contratação antes.
— Esse moleque é uma máquina — comenta Caden. — Viram o
primeiro gol dele no treino de ontem? Soup nem teve a chance de defender!
— Eu fiquei desconcertado com o lance — digo, sendo sincero.
Arton é mesmo surreal.
— Acho melhor mudarmos de assunto, antes que o Dilan entre em
um estado profundo de tristeza — sugere Michael, analisando nosso amigo,
que continua observando os dois caras no supino como se eles fossem
lembranças distantes dos seus dias de glória. Parker encara Caden antes de
questionar. — Como estão os preparativos para o casamento? Avery está
surtando?
Prescott sorri, puxando dois banquinhos. Ele me entrega um antes
de se sentar no outro, e o agradeço baixinho.
— Mais do que eu, por incrível que pareça. Avery sempre é bem pé
no chão e decidida, mas ela meio que está descontrolada. Ontem, tive que
acalmá-la porque não conseguia parar de chorar diante da dúvida de um
buquê de rosas brancas ou vermelhas.
— Qual ela escolheu? — questiono, curioso.
— As brancas — meu melhor amigo esclarece.
— Sabe de uma coisa? Depois que o Austin tomou jeito, eu jurava
que ele seria o primeiro entre nós a se casar.
A revelação de Michael me pega de surpresa. Minha testa se franze.
— Por quê?
Parker dá de ombros.
— Porque você é mais velho que o Caden, está em um
relacionamento sério e duradouro, tem uma filha... Não sei. Parecia certo
acontecer com você antes, e só então com o restante de nós.
Sei que não foi a intenção de Michael, mas suas palavras me
atingem como uma pontada forte de incômodo no peito. Quer dizer, será
que era isso o que Riley pensava também? Será que ela estava esperando
durante esse tempo todo, e ficou chateada quando viu que as coisas estavam
acontecendo mais rápido entre Caden e Avery do que com a gente?
Será que eu a decepcionei?
— Eu... — Separo os lábios, tentando pensar no que dizer, perdido
em meus próprios pensamentos, mas nada sai.
Fecho a boca, agradecendo mentalmente quando ouço as vozes da
equipe técnica do time nos chamando ao longe, dizendo para irmos ao
vestiário, colocarmos nossos uniformes e nos encontramos no gelo. Meus
amigos se levantam e passam a seguir em direção à saída da academia, mas
eu continuo congelado.
— Você não vem, Austin? — Caden questiona.
— Eu... Ah, claro! — Sou obrigado a retornar ao presente,
chacoalhando minha cabeça ao mandar os pensamentos embora pelos ares,
feito fumaça.
E então, me levanto.

— Aconteceu alguma coisa? — Ouço a voz de Riley perguntar.


É quase uma da manhã e estamos no sofá da sala, assistindo ao
quinto episódio de Brooklyn Nine-Nine, enquanto dividimos a segunda
garrafa de long neck da noite. True está dormindo desde às 21 horas, então
o volume baixinho da televisão tem sido o único som a preencher a sala
escura.
— Ai! — resmungo de dor no momento em que sinto um chute ser
acertado em minha coxa.
Levo meus olhos até Riley, a encarando boquiaberto. Estou sentado
no sofá, e suas pernas estão esticadas sobre mim enquanto ela encosta a
cabeça no travesseiro, deitada.
— Isso doeu, sabia? — pergunto.
Weston dá de ombros.
— Era a intenção. Você não me respondeu.
— Responder o quê, exatamente? — Me faço de desentendido.
Eu sei o que ela perguntou. Ela está ao meu lado, afinal, não tinha
como não ouvir. Apenas não estou a fim de entrar no assunto do porquê
parece que um alienígena me abduziu durante o dia todo, me tirando de
órbita.
Me conhecendo como ninguém, Riley solta uma pesada lufada de ar
pelos lábios, se sentando ao meu lado. Ela recolhe suas pernas desnudas
pelo short do pijama de cima de mim, pausa a série no meio de uma fala do
Jake Peralta e me encara com a maior seriedade do mundo antes de dizer:
— Você está estranho, Austin. Estamos aqui sozinhos há horas e
você nem me olhou direito. Nem mesmo cantou Backstreet Boys junto com
a série. Sei que há algo errado. Vai, pode começar a falar.
Observando pelos seus olhos que não terei outra saída a não ser
obedecer, me ajeito no sofá, arrumando a postura. Então, após uma
respiração profunda, a questiono:
— Você se incomoda por eu não ter te pedido em casamento ainda?
Me sinto um idiota ao proferir as palavras. Já Riley, é pega de
surpresa. Ela pisca algumas vezes, deixando claro que não esperava que o
motivo do meu comportamento estranho fosse relacionado a isso.
— O quê? — questiona, com a voz mais aguda do que o habitual.
Respiro fundo mais uma vez, pousando a long neck sobre o braço do
sofá antes de focar meus olhos nos seus novamente.
— Estava falando com os meninos hoje e... Nós dois temos uma
filha. Nós moramos juntos, estamos namorando há anos, fazemos parte da
rotina um do outro durante todas as vinte e quatro horas do dia, mesmo que
somente por mensagens, e sabemos que compartilhamos o mesmo desejo de
passar o resto da vida juntos — digo tudo tão rápido, que fico sem ar. Dou
uma breve pausa antes de continuar. — Eu só... não sei. Quer dizer, eu
tenho certeza de que quero me casar com você. Porra, eu sempre tive.
Sempre fui louco por cada pedaço seu. Mesmo quando me odiava. Mas as
coisas foram tão corridas ultimamente, que acabei esquecendo que tinha
que te pedir em casamento em algum momento. Digo, você teve que
terminar a faculdade, depois descobriu que estava grávida, nós dois
começamos a ficar focados demais em tentar ser bons pais de primeira
viagem, você abriu a Weston´s e ficou ocupada demais em cuidar do lugar...
Eu simplesmente não me toquei que o tempo estava passando. Não tinha me
tocado até hoje.
Só percebo que um sorrisinho tomou os lábios de Riley quando
termino de falar. Ela busca a minha mão com a sua, a apertando forte antes
de soltar:
— Não precisa se preocupar com isso. Sabe, se formos mesmo
entrar no assunto de “seguir a ordem das coisas”, nossa história já teria
começado de forma errada. Ou você esqueceu que me convidou para morar
com você antes mesmo de me beijar? — Ela solta uma risadinha, e eu a
acompanho. — Sei que vai me pedir em casamento. Nunca duvidei disso. E
que vai ser na hora certa, do seu jeitinho, mas agora temos que esperar,
porque é o momento da Avery e do Caden.
Solto outra risadinha diante da sua preocupação.
— Linda, eu posso ser bobo, mas não sou sem noção. — Riley
arqueia uma sobrancelha, e eu volto atrás no mesmo instante. — Tudo bem,
talvez às vezes eu seja um pouquinho sem noção, mas não é como se eu
fosse pedir a sua mão no meio do casamento do meu melhor amigo.
Ela ri.
— Seria péssimo.
Rio também.
— É, seria horrível.
Riley suspira, voltando a se deitar no sofá. Suas pernas voltam a
estar esticadas em cima de mim, e meu coração amolece por completo
quando ela sopra, de um modo extremamente bobinho, como se estivesse
sonhando:
— Riley Weston Crawford. Acho que posso me acostumar com isso.
Sorrio, passando a massagear seus pés.
— É, eu também.
“Quero usar suas iniciais
em uma corrente no meu pescoço.”
— Call It What You Want, Taylor Swift

— Sabe o que é isso? Favoritismo! — A voz de Cooper sai alta pelo


celular no viva-voz, alcançando meus ouvidos.
Parada em frente ao espelho do banheiro, reviro os olhos no mesmo
instante, mesmo ciente de que ele não pode ver.
É terça-feira, no meio da tarde, e hoje um grande evento irá
acontecer na Weston´s, para apresentar aos clientes mais fiéis o nosso novo
cardápio, com dezenas de receitas nunca vistas por aqui antes. Organizar
tudo tem me dado um trabalhão, e ontem quase tive um ataque do coração
quando Maya, a babá da True, me ligou e disse que não poderia ficar com
ela durante o evento.
— Por quê? Eu estava com Ruby ontem, quando soube que a Maya
estaria ocupada e não poderia ficar até mais tarde. Foi ela quem se ofereceu
para ficar com a bebê. Não é nada demais, Buck. True pode te ver outro dia,
quando você voltar à Washington.
— Não é nada demais? Sabe-se lá Deus quando eu terei tempo para
voltar. Vou perder meu posto de tio favorito!
Solto uma risada, tomando o cuidado necessário para não borrar o
rímel que passo. O resmungo que Cooper solta sai diretamente do celular
posicionado sobre a pia, alcançando meus ouvidos.
Aqui vai uma coisa que aprendi tendo dois melhores amigos que são
como irmãos: eles são família. Sempre serão. E sempre vão se comportar
como uma. Mesmo depois de todos esses anos e da distância em relação a
Cooper e nós duas, seremos o mesmo trio para sempre.
— Quem te garante que você é o tio favorito, hein, quarterback? —
questiono.
— Ah, qual é! Eu sou o mais bonito e divertido — Coop devolve, e
pelo seu tom de voz, sei que está sorrindo.
— Michael e Caden são concorrentes com muito potencial. E
Caden, além de tudo, ainda é o padrinho dela.
— Aposto que se eu visse a True com mais frequência, deixaria
todos eles sem chance alguma.
Sou incapaz de afastar a linha feliz dos meus lábios enquanto guardo
minhas maquiagens.
— Se você diz...
Se o amor é mesmo capaz de completar alguém, então posso afirmar
que minha filha, mesmo apenas com dois anos, já é uma pessoa completa.
Porque ela é cercada pelo amor. Pelo mais puro e sincero tipo dele. Não
apenas dado por Austin e eu, mas por todas as pessoas que nos cercam.
Porque de alguma forma, mesmo com todas as nossas imperfeições, a vida
nos presenteou com seres humanos extraordinários.
E agora podemos presentear nossa filha com eles também.
— Preciso desligar, Buck. Tenho que sair de casa em cinco minutos,
para levar a True na casa da Ruby antes de ir para a confeitaria.
— Certo. Boa sorte lá. Me atualiza sobre tudo depois.
Meu coração se amolece um pouco ao ouvir o tom de voz do meu
melhor amigo. Um tom de voz que deixa implícito algo do tipo: “você vai
arrasar!”.
É importante saber que ele confia no meu potencial.
— Pode deixar.
Saio em passos apressados até a sala após encerrar a ligação.
Sentada no chão, junto à True, Maya sorri para mim assim que me
aproximo. O carrinho de bebê já está posicionado em frente à porta, ao lado
da grande bolsa cor-de-rosa, com tudo o que True vai precisar para passar
um tempinho na casa da tia Ruby.
— Chegou uma encomenda para você, enquanto estava no banho —
Maya avisa, me pegando de surpresa. Minha testa se franze de imediato. —
Deixei em cima do balcão.
Movo os olhos até a ilha de mármore da cozinha, me deparando com
um grande buquê de girassóis, ao lado de uma pequena caixa. Um sorriso
rasga meu rosto, aumentando a cada passo que dou até o presente. E no
momento em que pego o bilhete sobre a caixinha e leio o que está escrito,
sinto como se pudesse derreter de amor.

Para te dar sorte na noite de hoje, aqui está o meu primeiro nome,
até que eu possa te dar o meu sobrenome.
Te amo para sempre, Baby Weston.

Crawford.

Levo meus dedos até a caixinha, a abrindo com cuidado. Há um


colar prateado dentro dela, com o nome “Austin” no pingente. Sem hesitar
sequer um único segundo, o pego e afasto meu cabelo das costas.
— Maya, será que você pode me ajudar aqui?
A adolescente não pensa duas vezes antes de se levantar do chão
com um sorriso, como se o nosso amor tivesse a contagiado, e se aproximar,
me ajudando a colocar o colar.
— Prontinho — avisa ela, ao terminar.
— Obrigada — agradeço, me virando de frente para ela, sem deixar
de sorrir também. — Agora, vamos logo! Já deveria ter saído de casa.
É o que eu digo, apesar de que tudo em mim grite para que eu caia
no choro neste momento. Não por tristeza, mas por gratidão. Porque, meu
Deus do céu, eu tenho o cara mais incrível do mundo ao meu lado.
Sempre terei.
“Tudo que sei é que fiquei
Encantada em te conhecer.”
— Enchanted, Taylor Swift

Afundo os dedos nas teclas do piano, tocando a música que se


tornou a minha favorita desde a universidade. A letra da abertura de People
Watching, do Conan Gray, passa a sair pelos meus lábios, em uma altura
boa o suficiente para alcançar todos os cômodos do apartamento que
recentemente passou a ser meu e de Michael.
Há seis anos, no auditório da Washington Burney University, eu
apresentei essa mesma música. E por tudo o que aconteceu naquele dia, ela
ganhou um valor especial para mim.
É a minha música e do Michael. A música que marcou o momento
exato em que assumimos nosso relacionamento para o mundo e
amanhecemos com nossos nomes circulando por todas as redes sociais e
tabloides possíveis.
O momento em que eu me tornei “a universitária loira misteriosa,
com a voz bonita e que puxou o jogador de hóquei famoso pelo colarinho,
apenas para beijá-lo sobre o palco”.
O momento em que nos tornamos realidade. Para todo mundo ver.
— Nunca vou me cansar de te ouvir tocando essa. — É o que diz a
voz atrás de mim, assim que chego ao fim da música.
Ainda sentada no banquinho do piano, abro um sorriso no rosto e
me viro para trás, encontrando meu namorado de braços cruzados,
encostado no batente da porta que dá acesso ao corredor, me encarando com
o olhar que mais amo no mundo inteiro. Um olhar que deixa explícito que,
mesmo depois de todos esses anos, o coração dele ainda queima da mesma
forma por mim. Que sua chama nunca se apagou, assim como a minha
também não.
— Há quanto tempo está aqui? — questiono, querendo saber.
Michael dá de ombros.
— O suficiente para assistir o show por completo. — Sua fala me
faz sorrir ainda mais. Ele se afasta da porta e entra de vez no quarto, vindo
em minha direção.
Aqui está uma coisa que o fiz prometer quando compramos o
apartamento e decidimos finalmente morar juntos, há dois meses: meu
piano teria que ficar no nosso quarto. Não existia outra opção. Cresci com
ele ao lado da minha cama, e tive que deixar isso de lado durante a
universidade, quando morei na Kappa Beta Zhu, mas nunca mais quero
fazer isso de novo.
Meu piano é como se fosse o meu melhor amigo. Ele até mesmo
compete essa posição com Cooper, mas jamais irei contar isso ao Buck.
— Sabe que horas nossa hóspede vai chegar? — Parker questiona,
parando atrás de mim.
Volto a me sentar de frente para o piano, sentindo quando suas mãos
pousam delicadamente em meus ombros, os apertando um pouco.
— Não sei. Riley me mandou mensagem há quinze minutos. Disse
que já estava saindo de casa.
— Ótimo — Parker solta. — Já deixei tudo organizado lá na sala.
Franzo a testa, inclinando a cabeça para trás, para o lançar um olhar
confuso.
— Tudo o quê?
Seus lábios se curvam um pouco assim que ele dá de ombros.
— Os brinquedos. Comprei Barbies novas. A gente sabe que a True
ama essas bonecas.
Solto uma risadinha, chacoalhando a cabeça lentamente.
Se existe uma criança que vai crescer sendo mimada, essa criança,
sem dúvida nenhuma, é True Crawford. E não apenas pelos seus próprios
pais, mas também por todos os seus tios. Porque desde que ela estava na
barriga da Riley, os garotos decidiram travar uma guerra e passaram os
últimos dois anos competindo pelo posto inexistente de “tio mais legal”.
Teve até uma semana em que Dilan, Michael e Caden ficaram sem
se falar, porque brigaram para ver com quem True passaria o sábado, e
Austin ficou irritado o suficiente para decidir que não seria com nenhum
dos três.
— O que vai acontecer quando a gente tiver a nossa própria filha?
Você vai comprar um brinquedo novo por dia para ela? — questiono,
realmente querendo saber. Porque, atualmente, se depender de Michael,
nosso quarto de hóspedes se transformará na brinquedoteca oficial de True
Crawford, mesmo que ela venha pouquíssimas vezes nos visitar.
Meu namorado arqueia uma sobrancelha em minha direção.
— Ainda tem dúvidas sobre isso?
Solto uma risadinha, negando com a cabeça. E quando separo os
lábios, prestes a dizer “nenhuma”, sou interrompida pelo toque da
campainha, que ecoa por todo o apartamento.
Michael endireita a postura em um pulo, e eu me levanto sem sequer
hesitar. A verdade é que eu o julgo, mas também sou uma tia bem babona.
Uma madrinha babona, para ser mais exata.
— Eu abro! — Parker grita apressado, saindo aos tropeços pela sala,
já com a chave da porta na mão.
Sequer vi o momento em que ele a pegou, mas ao que parece, hoje é
um daqueles dias em que ele decide que eu também estou participando da
“corrida” pelo posto de tio favorito, e que é por isso que está dando a sua
vida para alcançar a porta antes de mim.
O sorriso mais sincero do mundo ganha vida no rosto de True no
instante em que Michael abre a porta, a recebendo. A bebê de dois anos
solta um gritinho, saindo dos braços da mãe ao levantar os bracinhos para
se jogar no colo de Michael, que logo sai pela sala, a mostrando as dezenas
de brinquedos novos que espalhou pelo tapete.
Solto uma risadinha ao assistir a cena, logo movendo meus olhos
para a minha melhor amiga, que continua do lado de fora.
— Quer entrar? — questiono, apesar de já saber a resposta.
Riley está atrasada. Ela deixou isso bem claro nas mensagens que
me mandou, dizendo que teria que se despedir de True rapidamente antes de
correr para o evento na confeitaria.
— Você está maravilhosa! — exclamo, após ela negar com a cabeça,
como eu imaginava.
E é a mais pura verdade. Riley está impecável, como sempre. Ela
usa um longo vestido azul, com uma fenda na lateral de uma das pernas, sua
maquiagem está perfeita, como em todos os dias, e um colar lindo cintila
em seu pescoço.
Sei que é novo e que tem algo gravado nele, mas as letras são tão
fininhas, que não consigo ler da distância que estamos.
— Obrigada, Ruby — Weston agradece, com um sorrisinho. Se
apressando, ela dá os últimos passos em minha direção, me dando um
rápido, mas apertado, abraço. — Obrigada por quebrar esse galho para
mim. Austin vai passar aqui para buscá-la em algumas horas, assim que a
reunião dele com a comissão técnica do time acabar.
— Você sabe que não precisa agradecer. Para mim, é um prazer ficar
com a minha afilhada. E quanto ao Austin, pode dizer para ele que não
precisa ter pressa. — Lanço um olhar para o tapete da sala, onde Michael e
True agora estão envolvidos demais, brincando com as Barbies novas. Riley
segue meus olhos, soltando uma risadinha ao ver a cena. — Ela fica bem
com a gente. E você conhece o Parker. Ele é o cara mais babão do mundo
quando se trata dessa garota, ficando para trás apenas do Crawford.
Minha melhor amiga me dá outro abraço.
— Obrigada mesmo, Rubyzinha. Prometo que vou te mandar foto
de tudo.
Sorrio para ela assim que se afasta.
— Bom evento para você. Não vou nem mesmo te desejar boa sorte,
porque sei que não precisa. Você é a Riley Weston, afinal. Arrasar é um
verbo que está no seu sangue.
Riley solta uma risadinha.
— É o que eu espero.
E então, após uma rápida despedida, ela dá as costas, indo até o
elevador, que por sorte ainda estava parado no nosso andar. Estou trancando
a porta quando escuto Michael dizer:
— Vem, amor! Precisamos de alguém para ser a Barbie de cabelo
roxo!
E com o sorriso mais bobo do mundo tomando meus lábios, giro nos
calcanhares e saio a caminho do tapete, me juntando ao meu namorado na
missão mais divertida da semana: a missão de ser babá da garotinha que, de
algum modo, foi capaz de transformar o nosso grupinho que já era unido,
em ainda mais inseparável.
Porque não sei explicar o que acontece, mas é isso o que somos.
Uma família.
A família.
“Porque nós nunca saímos de moda
Nós nunca saímos de moda.”
— Style, Taylor Swift

Caden te adicionou ao grupo “Sem despedida de solteiro porque a


minha mulher não quer”
Caden adicionou Dilan
Caden adicionou Austin bananão

Caden: Seguinte, Avery acabou de decidir a cor do terno dos


padrinhos.

Dilan: É sério mesmo que a gente vai continuar com essa


palhaçada de criar um grupo para cada ocasião? Já temos uns 70 grupos
diferentes.

Caden: É rosa.
Dilan: O QUÊ? POR QUÊ?

Eu: Ave Maria...

Austin bananão: Ué, que masculinidade frágil é essa? 2029, gente.


Nem parece que acabei de receber uma foto do Michael brincando de
Barbie com a minha filha.

Eu: Cala a boca, Austin bananão

Austin bananão: Não mudou meu contato ainda?

Eu: E nem vou.

Dilan: Não é masculinidade frágil, eu só fiquei surpreso. Sabe,


geralmente os ternos são pretos...

Caden: Quer conversar com a Avery sobre isso?

Dilan: Prefiro a morte.

Caden: Certo. Então, vai continuar sendo como sempre foi. A


esquentadinha manda e a gente obedece.
Eu: Quando foi que a gente perdeu o controle e permitiu que cada
uma das nossas namoradas passasse a mandar no grupo todo?

Caden: A gente nunca esteve no controle.

Austin bananão: I <3 ser pau mandado de mulher que me dá medo.

Dilan: Mas é sério, qual é a do rosa?

Caden: Não faço ideia. Avery simplesmente encanou que se o nosso


amor tivesse uma cor, ele seria cor-de-rosa.

Austin bananão: Riley falou algo parecido há alguns dias. Ela


disse que acha que nós dois combinamos com o azul. Não entendi nada,
mas concordei.

Caden: A melhor coisa que a gente faz é concordar. Sempre.

Austin bananão: Até porque elas sempre têm razão.

Dilan: Meu Deus! Vocês são muito frouxos.

Caden: Frouxos não, inteligentes.

Austin bananão: Dilan diz isso, mas na semana passada foi com a
Sarah em nove restaurantes, até encontrar o que tinha o drink que ela
queria.
Dilan: O que eu posso fazer? Demorei anos até encontrar uma
namorada que não me colocasse chifre ou não me desse um pé na bunda.
Tenho que me esforçar.

Eu: True e Ruby estão fazendo a Barbie se casar com o Ken agora.
Será que ela vai encontrar um namorado decente quando for mais velha?

Austin bananão: Só deixo minha filha encostar em um homem


depois dos 25 anos.

Caden: E eu como padrinho, só deixo depois que o cara passar por


um interrogatório com todos nós.

Dilan: Que Deus abençoe a alma do escolhido.

Eu: Amém.

Austin bananão: Estou saindo da reunião na arena agora, Michael.


Devo chegar aí daqui uns vinte minutos. Você consegue separar as
coisinhas da True para mim?

Eu: Pode deixar, chefia.

— O titio sabe, princesa... O titio sabe que você gosta muito mais
dele do que do papai, mas o papai veio aqui só para te levar para casa e
você precisa ir, está bem? Outro dia você volta. — É o que eu digo para
uma True sonolenta em meu colo, assim que abro a porta. Austin me lança
um olhar raivoso ao escutar minhas palavras, e abro um sorrisinho cínico
em sua direção, apenas brincando.
Não é como se True estivesse acordada o suficiente para processar
minhas palavras, afinal. E muito menos como se elas fossem verdade.
— Me lembre de nunca mais deixar a minha filha com você —
Crawford brinca, me arrancando uma risadinha.
Ele pega a bebê do meu colo, e ela não hesita antes de encostar a
cabeça no ombro largo do pai, caindo no sono de uma vez, como se aquele
fosse o lugar mais seguro do mundo. Meu coração se amolece diante da
cena.
Austin Crawford é um pai extraordinário. Isso ninguém pode negar.
Riley e ele são a dupla perfeita, e a pequena True tem muita sorte
em tê-los.
— Aqui, as coisinhas dela — Ruby fala, parando ao meu lado.
Minha namorada entrega a grande bolsa amarela que Riley trouxe para
Austin, que a agradece com um sorrisinho.
— Obrigado por terem ficado com ela hoje. Tenho certeza de que
True adorou.
— Juro que se você ou a Riley nos agradecerem mais uma vez, vou
bater em vocês dois — Ruby rebate, arrancando um riso fraco do Austin. —
Eu sou a madrinha dela, e Michael é o tio...
— O tio mais legal — corrijo a tempo.
— ..., nossa obrigação é cuidar dela sempre que pudermos. Não é
um favor a vocês, mas sim um presente para nós dois.
— Exatamente — concordo com minha namorada. Porque é como
falamos no grupo mais cedo. Somos tremendos paus mandados. E não há
nada de errado com isso.
— Certo, foi mal — Austin volta atrás, ainda sorrindo. — Não vou
mais agradecer, mas saibam que sou grato. Agora tenho que ir, antes que a
mocinha aqui caia em um sono profundo o suficiente para dar trabalho na
hora de ser colocada na cadeirinha do carro.
Nos despedimos dele e o assistimos dar as costas em direção ao
elevador. Quando a caixa metálica chega ao nosso andar e a pesada porta
dupla se abre, Austin a atravessa, levando a pequena Ruby em um dos
braços, e a sua grande bolsa no outro. Meio sem jeito, ele usa a mão que
segura a bolsa para acenar, e Ruby e eu retribuímos.
— Será que quando for a nossa vez, vamos fazer tudo certo, assim
como eles, ou vamos ser dois atrapalhados? — questiono, voltando para
dentro do apartamento.
Ruby fecha a porta, a trancando em seguida.
— Acho que um pouco das duas opções.
Sorrio para ela, me empolgando com o pensamento que acabou de
cruzar minha mente, e então questiono:
— Se o nosso filho for menino, podemos chamá-lo de Michael
Júnior?
Minha namorada me encara animada, um grande sorriso se
formando em seu rosto e seus olhos ganhando vida. E por um instante, meu
peito se enche em expectativa, imaginando que ela adorou a ideia, mas
Ruby faz com que eu murche no instante em que transforma sua expressão,
permitindo que uma feição entediada tome seu rosto, e diz:
— De jeito nenhum.
“Eu não quero olhar para mais nada agora que te vi
Eu não quero pensar em mais nada agora que pensei em você.”
— Daylight, Taylor Swift

— Acha que essa coisa aterrorizante combina mais com um papel


para presentes azul ou amarelo com bolinhas? — É a pergunta que Michael
me faz, em plenas oito horas da manhã.
Estamos no nosso quarto, organizando algumas coisas. Eu estou
arrumando as malas, já que em poucas horas estarei em um avião, rumo à
Los Angeles, e meu namorado... Bom, ele está segurando aquele maldito
quadro com a pintura da esposa assassina, que aproxima uma faca das
costas do marido inocente.
Bufo no instante em que me dou conta disso.
— Para quem você vai mandar o quadro agora? — questiono,
fingindo ter um interesse que não existe de verdade.
Acontece que há sete anos, Caden Prescott e Avery Lakeland
resolveram travar uma briga em uma exposição beneficente por essa pintura
horrível. Avery acabou gastando oitenta mil dólares nele. E o quadro que
foi responsável pela linda história de amor dos dois, hoje é o nosso pior
pesadelo.
Porque, anos depois, nossos namorados com síndrome de crianças
atentadas, decidiram iniciar uma brincadeira: mandar o quadro de presente
um para o outro, apenas para causar irritação.
— Prescott — Michael esclarece, sorrindo. — Ele vai se casar. Nada
mais justo do que receber o presente que o uniu à sua futura esposa de
volta, não é?
Solto um riso nasalado, voltando a guardar as roupas dobradas sobre
a cama na mala.
— Vocês são impossíveis... — solto. — Mas tudo bem, eu voto na
embalagem amarela com bolinhas.
— Boa escolha, amor! — Michael exclama, todo animado. Pelo
canto do olho, vejo quando ele deixa o quadro no chão, encostado na
parede, e passa a se aproximar de mim. Sinto suas mãos na minha cintura
quando ele se posiciona atrás do meu corpo, me dando um beijo na
bochecha. — Está ansiosa para hoje à noite? Tenho certeza de que você vai
arrasar.
Guardo a última camiseta na mala antes de girar nos calcanhares,
me virando de frente para ele.
— Ansiosa, nervosa, com medo... Tenho uma lista longa de
adjetivos.
Ele deixa um beijo delicado na minha testa. E quando se afasta, está
com um sorrisinho nos lábios. E por algum motivo, isso me reconforta.
— Vai ser incrível, está bem? Los Angeles não está preparado para
ouvir a sua voz.
Sorrio de volta para ele, porque eu realmente não sei se teria dito
sim à essa oportunidade se não fosse por Michael.
Acontece que há alguns meses, a equipe de Damian Bale[1], um
cantor de quem sou fã, entrou em contato comigo, me convidando para
abrir um dos seus shows aqui nos Estados Unidos, mais especificamente em
Los Angeles. Eles viram um vídeo meu, que acabou viralizando nas redes
sociais, e ficaram interessados.
Damian nasceu na Inglaterra, e atualmente vive na Austrália, onde
ganhou a sua fama. Todos os shows durante sua curta passagem pelos
Estados Unidos foram esgotados, e eu gelei quando descobri que a
oportunidade de cantar em um deles estava totalmente entregue em minhas
mãos.
Eu poderia aceitar ou não.
E me conhecendo bem, sei que se não fosse por todos os empurrões
da minha assessoria, de Riley e principalmente de Michael, eu
provavelmente teria fugido.
Porque desde que me conheço por gente, tenho mania de me
autossabotar quando se trata do meu sonho. Mania de nunca me sentir boa o
suficiente. Mas, se é disso que eu realmente quero viver, preciso agarrar
todas as oportunidades que aparecem.
E sei que sou boa. Sei de verdade. Mas às vezes minha cabeça tenta
me convencer do contrário, e essa voz acaba falando mais alto do que todo
o resto.
— Sabe que estou saindo da minha zona de conforto, não sabe? —
pergunto para Michael, que assente sem sequer hesitar.
— Sei, e estou orgulhoso de você por isso — ele diz, com um
sorrisinho tomando os lábios. Michael aproxima seu toque da lateral do
meu rosto, varrendo uma das mechas loiras teimosas do meu cabelo para
trás da orelha. — Queria estar lá para ver tudo de perto.
— Você tem treino — retomo a conversa que já tivemos bilhares de
vezes. — Sabe que a temporada está chegando. George Weston não vai
permitir que falte.
— O que é uma merda, porque sei que é um dia especial para você.
Na tentativa de aliviá-lo, aperto meus lábios em um quase sorriso.
— Vou sentir sua presença comigo de qualquer forma. Você estando
lá ou não. Sei que estará torcendo por mim e assistindo tudo da tela do seu
celular.
Michael sorri de volta.
— Sempre — ele devolve. — Eu sou o seu fã número um,
esqueceu? Vou ser para sempre. Até quando você se tornar mais famosa do
que todos os jogadores dos Capitals juntos e tiver fãs malucos correndo
atrás de você pelas ruas. Ainda assim, eu serei o principal deles.
Com o coração derretido, colo meu peito ao seu, passando meus
braços ao redor do seu pescoço, e aproximo nossos narizes antes de,
finalmente, colar nossos lábios.
— Não tenho dúvidas disso — é o que sopro.
Porque é a verdade.
Não tenho nenhuma dúvida sobre nós. Nunca tive. Desde que o
conheci. Desde que passamos o primeiro Dia de São Valentim juntos e nos
escondemos de todo mundo. Desde que o puxei para aquele maldito palco e
o beijei em frente a toda a universidade, anos atrás. Desde que viramos
fofoca para todos os fãs de hóquei. Desde que nos tornamos Michael e
Ruby.
E pode ser extremamente clichê, mas não me importo. Mesmo que o
tempo passe, nunca terei dúvidas de que esse homem, mesmo com seus
milhares de neurônios faltantes, é o amor da minha vida.
É o cara com quem quero envelhecer junto e ter um Michael Júnior
para chamar de nosso.
EXCLUSIVO! NOVAS INFORMAÇÕES SOBRE A
CERIMÔNIA DE CASAMENTO DE CADEN PRESCOTT E AVERY
LAKELAND SÃO REVELADAS AO PÚBLICO!

Por Mia Rivis


Washington News.

Vocês queriam uma data? Então lá vem!


Nossa equipe entrou em contato com a atriz Avery Lakeland na
tarde de ontem, e ela nos revelou que o casamento está bem mais perto do
que esperávamos. De acordo com Avery, a cerimônia e a festa acontecerão
na semana que vem, na quinta-feira à tarde, no Plaza Hotel em Nova
Iorque.
Descobrimos que a cerimonialista Mônica Guiller é a profissional
por trás da organização de tudo, e que a principal cor do evento será o rosa.
Tenho certeza de que a decoração estará bombástica, afinal, estamos
falando de um dos nomes mais conhecidos de todo os Estados Unidos.
PADRINHOS E MADRINHAS REVELADOS! QUEM SERÁ
QUE FORAM OS ESCOLHIDOS POR CADEN PRESCOTT E
AVERY LAKELAND?

Por Jonas Edward


Just Like That.

Que Caden Prescott não deixaria Austin Crawford de fora da sua


lista de padrinhos todo mundo já tinha certeza absoluta, mas quais serão os
nomes que irão, junto a ele, completar esse elenco?
Nossa equipe entrou em contato com a estrela dos Capitals, Caden
Prescott, apenas para procurar saber!
Riley Weston será a madrinha que irá acompanhar Austin. Junto a
eles, o casal Michael Parker e Ruby Pike, e Dilan Clanton e sua namorada,
Sarah Jules. Caden confirmou que para fechar essa lista com chave de ouro,
a irmã de Avery, Raven Lakeland, o seu marido e cirurgião plástico,
Thomas, e a dupla Savannah Gray e Paxton River também estão
convocados.
Grandes nomes estarão presentes na cerimônia, para unir
oficialmente “CAVERY”, o casal que fez história, e prometemos que iremos
acompanhar tudo de perto, trazendo todas as novidades para vocês.
“Achava que o amor seria preto e branco
Mas é dourado.”
— Daylight, Taylor Swift

Eu me caso em menos de vinte e quatro horas.


E diferente do que eu pensei que aconteceria, não estou surtando. É
claro que estou ansiosa e até um pouco nervosa, mas nada fora do normal
para uma noiva. E pensando em toda a minha história com Caden, isso me
impressiona bastante.
Porque é mais uma prova de que eu mudei.
De que na noite em que corri atrás dele pelos mesmos corredores do
hotel onde estamos hospedados neste momento e o alcancei em frente à
entrada, vestindo um blazer e um boné, há anos, e o disse que quebraria
minhas regras por ele, eu não estava mesmo mentindo. E que em meio a
toda a chuva que caia naquela noite, eu o entreguei o meu coração e permiti
que o amor me fisgasse.
Permiti que o que pensei ser falho por muito tempo, me preenchesse
por inteira. E a partir dali, tudo mudou. Meus dias ganharam novas cores, a
vida ficou mais emocionante, passei a incluir Caden em todos os meus
planos e passei a experimentar uma felicidade que não tem preço.
Tudo isso porque me permiti sair da minha zona de conforto,
mandei meu medo de me machucar para o inferno e, criando uma coragem
que até hoje não sei de onde veio, disse para o jogador de hóquei
egocêntrico e incrivelmente apaixonante que eu o amava.
— Estou aqui, Prescott. Por nós. Após correr o hotel inteiro à sua
procura. Embaixo da chuva, como se fosse a atriz principal de um filme
dramático. — Foi o que falei naquela noite. — Sei que sou confusa. Que
sou intensa, estranha e difícil de lidar. E sinto muito por ser assim e ter
estragado tudo até aqui... Mas eu quero você. Eu quero ter você, Caden
Prescott. Cada pequena parte sua. Porque eu te amo.
Em toda a minha vida, acho que nunca fui tão vulnerável quanto
naquele dia.
Porque, de verdade, eu estava aterrorizada. Estava aterrorizada
porque cheguei a pensar que o perderia para sempre. E sei que a culpa seria
totalmente minha. Sabia naquela época, e continuo tendo a completa ciência
disso até os dias de hoje.
A verdade é que minha visão sobre o amor sempre foi distorcida.
Fosse ele o amor próprio, o amor que eu via entre os meus pais, e o amor
romântico.
E foi um longo caminho até finalmente conseguir mudar meus
pensamentos. Até finalmente conseguir me abrir e apenas… deixar que me
amassem.
Caden sempre fez isso sem esforço. Para ele sempre foi fácil,
mesmo quando eu tentava estragar tudo.
— Não desisto de quem amo. Nem dele, nem de você. — Foi o que
me disse aquela noite, após me contar sobre o significado a sua tatuagem.
1997, o ano em que o sonho dos gêmeos Prescott nasceu, junto a eles. 2018,
o ano em que Caden o realizou por eles. — Eu também quero ter você,
Avery Lakeland. A cada maldito minuto do dia. A cada batida do meu
coração e respiração que meu corpo solta para sobreviver. E se estiver
disposta a quebrar suas regras por mim, estou aqui.
E foi assim, após essas palavras, que eu me entreguei. Para todo o
sempre. Para o homem que eu amo. O homem que me fazia e sempre fará
queimar. O homem que mesmo tendo tido todos os motivos do mundo para
desistir de mim, não desistiu. Porque, por alguma razão, ele viu algo
diferente em mim. Uma Avery Lakeland que estava apagada e que eu fazia
questão de esconder. E após a enxergar, ele a acendeu.
E a manteve acesa até hoje.
Manterá para todo o sempre.
E é com todas essas lembranças e pensamentos que, com lágrimas
nos olhos, observo meu reflexo no espelho à minha frente, em meio ao
quarto vazio do hotel onde entreguei meu coração, anos atrás. O mesmo
hotel onde em poucas horas, irei me casar.
E vestindo o vestido de casamento que demorei meses para escolher,
encaro o fundo dos meus olhos, sussurrando para mim mesma:
— Hora de ter o seu próprio final feliz, esquentadinha.
“Case-se comigo, Julieta, você nunca terá que ficar sozinha
Eu amo você e isso é tudo o que realmente importa.”
— Love Story, Taylor Swift

— Acho que vou fazer xixi na calça — Michael solta de repente, um


tanto nervoso por algum motivo.
— E eu vou morrer sufocado por essa gravata — Dilan reclama ao
meu lado, tentando afrouxar o pano branco em volta do seu pescoço pela
milésima vez.
— Será que os queridos podem, por favor, calar a boca? — Austin
dispara, atraindo o olhar de todos os padrinhos, que se espalham pela
pequena sala onde estamos. — Se tem alguém aqui que tem o direito de
surtar neste momento, esse alguém é o Caden. E ele sequer está dando
trabalho!
Solto uma risada fraca, dando de ombros quando a atenção de todos
passa a ser entregue a mim.
— Como é que você está tão calmo, cara? Quando foi a minha vez,
eu não parava de suar — questiona Thomas, o marido da irmã da Avery,
bebendo mais um gole da taça do espumante que a equipe da cerimonialista
nos permitiu tomar antes da cerimônia.
— Para ser sincero, não faço a menor ideia — revelo. — Acho que
estou mais emocionado do que nervoso.
— Se você chorar, eu posso gravar? — pergunta Michael, rindo
quando o mostro o dedo do meio em resposta.
— Não pode, mas saiba que isso provavelmente vai acontecer —
respondo, sendo completamente sincero, arrancando risadas dos meus
amigos.
Já imaginei o dia de hoje várias vezes. E em todas elas, Avery
entrava no altar e eu caia no choro, completamente sem controle, feito um
bebê que acabou de chegar ao mundo. Ela estava linda. Não apenas pela
dezena de vestidos diferentes que usava em cada vez que a imaginava, mas
pelo brilho que tomava seu rosto enquanto caminhava em direção a mim,
com o sorriso mais genuíno possível.
E não tenho dúvidas de que hoje ela estará ainda mais perfeita.
— Quem diria, hein? — Sou fisgado para longe dos meus
pensamentos quando sinto dois leves tapinhas no meu ombro. Me viro,
encontrando Paxton. — Nosso plano de namoro falso levou mesmo para um
relacionamento de verdade...
Meus lábios se curvam no instante em que ouço suas palavras.
— Você e Savannah foram nossos cupidos. Acho que merecem um
mérito por isso.
Meu agente sorri para mim.
— Estou orgulhoso, Prescott. Você tem se tornado um bom homem.
Aceno com a cabeça, em forma de agradecimento.
— Valeu, River. Com você no meu pé o tempo todo, é meio
impossível fazer besteira — brinco, arrancando de Paxton um riso fraco.
Ele aponta para Austin com o polegar. No canto da sala, meu melhor
amigo agora ri de alguma das gracinhas que Michael diz.
— Austin me tem no pé dele há seis anos, e ainda continua sendo...
você sabe, o Austin.
Solto uma risada, sem conseguir me conter.
— Ele é um caso à parte.
— Atenção, todos vocês! — grita Mônica Guiller, nossa
cerimonialista, ao abrir a porta da salinha. De repente, o silêncio preenche o
lugar e o ar se torna pesado, em uma mistura perfeita de ansiedade e
nervosismo. Os olhos azuis de Mônica varrem o espaço, à procura dos
meus. E quando eles finalmente me encontram e ela sorri, não demoro para
perceber o que está prestes a acontecer. — Hora de casar!

Tudo bem, finge que eu nunca disse que estava tranquilo. Isso era
verdade naquela hora, mas agora estou prestes a ter um colapso.
Estou em meio ao altar improvisado, montado em um dos jardins do
Plaza Hotel. Ao meu lado direito, meus pais e os de Avery se posicionam. E
ao esquerdo, todos os padrinhos e madrinhas, vestindo seus ternos e
vestidos cor-de-rosa, também esperam pela entrada de Avery.
Com o braço enganchado ao de Riley, Austin abre um largo sorriso
em minha direção, dando uma piscadinha e fazendo um sinal positivo com
uma das mãos.
— Estou nervoso — mexo os lábios, sem emitir nenhum som.
De alguma maneira, seu sorriso se alarga ainda mais.
— Eu sei — Crawford devolve, da mesma maneira. — Te conheço.
Sou impedido de dar qualquer resposta no momento em que ouço o
pianista tocar os acordes iniciais de Love Story, da Taylor Swift. O mar de
convidados se levanta nos bancos, e endireito minha postura, ficando tenso
de repente, levando os olhos até o final do jardim, por onde Avery irá
aparecer.
E então, toda a nossa história passa em minha mente feito um filme.
O quadro de oitenta mil dólares.
Meu cancelamento no Twitter.
O acordo do namoro falso.
Todas as provocações, beijos, eventos e vezes em que Avery parecia
estar louca para arrancar meu pescoço fora.
Nossa viagem às Maldivas.
Nossa primeira vez.
As mentiras contadas ao mundo todo.
Brigas, xingamentos e todos os conflitos que enfrentamos.
Todas as vezes em que Avery se mostrou verdadeiramente vulnerável
aos meus olhos, e foi em sua vulnerabilidade, quando ela era capaz de
afastar a máscara de durona, que eu a conhecia e me apaixonava por ela
cada vez mais.
Cada toque.
A estreia do seu primeiro filme como protagonista, quando, mesmo
em meio ao caos, eu a aplaudi de pé.
Quando, neste mesmo hotel, eu pensei que nossa história estava
perdida e fui surpreendido por uma Avery desesperada, correndo em meio a
uma tempestade, para me encontrar e me entregar seu coração.
E tudo o que vivemos a partir desse dia. Tudo de bom e tudo de
ruim.
Porque o amor não é uma linha tênue. Não é mágico. E muito menos
simples. Ele muitas vezes é confuso, avassalador, dilacerante, mas vale a
pena. Porque Avery Lakeland vale a pena. E nossa história, o que
conquistamos e o que ainda vamos conquistar juntos, vale a pena.
Sempre valerá.
É por isso que no instante em que ela finalmente aparece em meu
campo de visão, a primeira lágrima cai pelos meus olhos, escorrendo por
minhas bochechas. E assim como na minha imaginação, eu choro. Porém,
Avery me surpreende. Sorrindo em minha direção, com seu olhar fixo ao
meu, ela consegue estar ainda mais linda do que em todos os meus sonhos.
Há um brilho forte em seu rosto, que parece cintilar junto ao brilho
do colar com um pingente de claquete em seu pescoço. O mesmo colar que
a dei anos atrás, quando passamos o nosso primeiro Natal juntos.
— Sei que não combinamos de trocar presentes, mas não quero
receber nada em troca. Se você acordar todos os dias e olhar para este
colar, se lembrando do quanto é uma mulher forte pra caralho, com
capacidade de ser e fazer o que quiser, para mim já é o suficiente. E, com
certeza, o melhor presente de Natal que poderia ganhar. — Foi o que eu
disse a ela naquela noite. E o que fiz questão de relembrar durante todos
esses anos.
Porque é a mais pura verdade. Avery Lakeland é sinônimo de força.
E, meu Deus, eu estou mesmo prestes a me casar com essa mulher!
— Oi. — Ela sorri para mim assim que para à minha frente, sua voz
saindo trêmula, em um misto de emoções, onde a felicidade é a que
prevalece.
— Oi, esquentadinha — devolvo, enxugando meus olhos com o
dorso da mão mais uma vez, me esforçando para impedir que as lágrimas
teimosas insistam a cair.
Raven se aproxima para pegar o buquê de rosas brancas da mão da
irmã. E quando uma nova música começa e todos nós lançamos nossos
olhares para o fim do jardim, meu coração se amolece imediatamente e
minhas emoções ficam ainda mais fortes.
Porque aparecendo em meio ao corredor de vasos de flores e
carregando uma cestinha com as nossas alianças, True Crawford aparece,
vestindo o vestidinho mais lindo do mundo. E andando meio desengonçada,
a pequena que tem sido motivo de tanta felicidade ao nosso grupo nos
últimos dois anos, se aproxima de nós, trazendo consigo o nosso final feliz.
O nosso ponto final, e ao mesmo tempo uma página em branco, para
que uma nova história possa começar.
E não sei o que irá acontecer a partir de agora, mas tenho certeza de
que será incrível. Porque tenho o amor da minha vida e as pessoas mais
maravilhosas do mundo todo ao meu lado.
E isso basta. Sempre bastará.
FIM
Agora para sempre.
Para quem jurava que Me Ame ou Me Odeie seria um livro único,
acho que chegamos longe demais, não?
Eu poderia começar esses agradecimentos fingindo que sei o que
estou fazendo, mas a verdade é que, mais uma vez, eu não faço ideia.
Retornar a esse mundo e a cabeça desse grupinho tão especial foi
um presente. E o fato de ter levado a escrita desse conto de uma maneira tão
leve, só me fez lembrar do quanto esses personagens são especiais para
mim e o quão conectada com eles eu sou.
Eles foram o começo de tudo, afinal. Não tinha como ser diferente.
Há quase dois anos, Caden Prescott apareceu na minha cabeça para
me ensinar que devemos lutar por aqueles que amamos.
Avery Lakeland surgiu para que, através dela, eu pudesse me
entender um pouquinho mais.
Austin Crawford apareceu para lembrar que nós nem sempre
precisamos ser as nossas raízes. Podemos e devemos mudar o ciclo. Colocar
um ponto final. Ser quem queremos ser de verdade, e não quem fomos
ensinados a ser.
Riley Weston veio para me mostrar que o amor é leve e
surpreendente.
Ruby Pike, para me mostrar que devo acreditar mais em meus
planos e sonhos.
Michael Parker, para me ensinar que pessoas mudam pessoas, e que
quando a pessoa certa aparecer, é preciso esforço para não a deixar escapar.
Dilan Clanton, para provar que o amor é paciente.
E True Crawford, em meio a uma noite qualquer, surgiu na minha
cabecinha para me lembrar que sou verdadeiramente amada por aqueles que
me cercam. E que sou importante para eles, assim como são para mim.
Por isso, apesar de saber que esse é o ponto final desse universo,
também sei que aqui sempre será o meu lugar. Porque, de verdade, essas
histórias foram as mais bonitas que já escrevi. E não importa o tempo que
passe, esse grupinho (de agora oito pessoas) sempre terá um lugar especial
no meu coração e na minha história.
Por tudo o que me trouxeram, mostraram e fizeram sentir.
Para sempre.

Com todo o amor do mundo,


Bel.
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[1]
Damian Bale é um personagem fictício e principal da obra Misbehave escrita por Brooke Mars.

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