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Copyright 2023 Elena Alves

Revisão Nia Antero


Capa: jsummerdesign
Diagramação Elena Alves

A história é uma reescrita do clássico Orgulho e Preconceito de


Jane Austen. A versão nessas páginas pertence a Elena Alves,
qualquer reprodução da obra, parcial ou integralmente é cabível de
punição legal por plágio.
Refrão: Zeus, que guiou os homens para pensar que a sabedoria
vem sozinha através do sofrimento. Ainda pinga no sono contra o
sofrimento do coração da memória; contra o nosso prazer somos
temperados.
Aeschylus
Sumário
Sinopse
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Epílogo
Sinopse

HATERS TO LOVERS + SECOND CHANCE + FORBIDDEN LOVE

Ele é um herdeiro.
Ela é uma assistente.
Ele não acha merecer o amor.
Ela desistiu desse sentimento.
Ele se culpa pela morte da mulher que amava.
Ela o culpa pela morte da irmã mais velha.

Uma aposta obrigará Zeus a repensar sua vida de solteiro


amargurado, o mais velho dos irmãos Andrews precisará se casar
em um ano se quiser manter sua herança. O que Zeus não
esperava era ter sua vida bagunçada com o retorno de uma mulher
a sua vida.

Juliet Jordan odiava Zeus Andrews. Rejeitada a vida inteira por


todos que deveriam amá-la. Ela não estava satisfeita com o fato de
não conseguir se afastar de Zeus.

— Me odeie se isso te fizer viver. Viva para me odiar.


Prólogo

É incrível pensar que passei anos me acostumando com a


ideia de que tinha recebido um nome incomum. Quando mais jovem,
acreditava que ser chamado de Zeus tinha sido uma grande prova
de que minha existência era especial.
Tudo parecia estar à disposição de um estalar de dedos,
desde que eu pudesse adquirir com dinheiro.
Precisei aprender da forma mais amarga que ter o nome de
um deus, não me tornava um. Que apesar de ter recebido esse
nome e ter me tornado um dos herdeiros de uma das maiores
construtoras do mundo, meu poder não ia além da vida. Muito pelo
contrário.
Quando a realidade bateu à minha porta, nada do que eu
pudesse oferecer aos médicos, nada do que tentei barganhar com
os céus pôde trazer as pessoas que eu amava de volta.
É ridículo pensar que alguém chamado Zeus, tem medo de
tempestades, mas elas me apavoram até os dias de hoje. E, nada
poderia mudar esse temor.
Capítulo 1
Zeus

Passei o dia resolvendo os pepinos da empresa, andando por


cada setor em obras, verificando pessoal e equipamentos. Meu dia
só pareceu mais estranho quando recebi uma mensagem no grupo
da família que quase nunca tinha movimentação. Eu, meu pai e
meus irmãos quase não mandávamos mensagens naquele grupo.
“Venham à minha sala.”
Meu pai chamando os três filhos para a sala da presidência da
construtora era a coisa mais estranha ali. A Olympus era a empresa
de construção que mais tinha crescido nos últimos anos, meu velho
a tinha construído do zero, o nome escolhido pela minha mãe tinha
atraído mais pessoas.
— Desculpem, senhores, mas precisamos interromper a reunião
— avisei.
O pessoal do setor de arquitetura me olhou irritado.
— O presidente precisa de mim — expliquei fazendo com que
todos suspirassem.
Me levantei da cadeira que estava ocupando e peguei o meu
blazer, caminhei para fora da sala respondendo a mensagem no
grupo: “Estou a caminho.”
Meus irmãos responderam avisando que também estavam indo,
acabei entrando no carro e jogando o blazer no banco do carona,
dirigi em direção ao prédio no centro de Los Angeles, meu coração
estava acelerado, meu pai quase nunca pedia para encontrar
conosco assim, já que sempre comíamos juntos. Nos chamar no
meio do dia era estranho.
O ar quente do verão entrava pela janela e me vi ajustando os
óculos escuros no rosto, o colete fechado e a gravata pareciam me
sufocar. Questionei a mim mesmo se receberíamos notícias
médicas. Não sabia como me manter firme se fosse o caso. Pior do
que a minha situação seria a de Hades, nosso irmão caçula não
podia suportar mais uma perda.
Entrei no estacionamento da empresa e vi que Poseidon estava
imóvel com o corpo recostado ao jaguar que tinha dirigido até ali.
— Onde está Hades? — perguntei.
— A caminho, pelo que colocou no grupo — esclareceu. — O
que você acha?
Encarei o meu irmão. Nossa mãe tinha sido uma historiadora
apaixonada por mitologias, quando eu nasci, minha mãe decidiu me
chamar com o nome do deus do céu, Poseidon nasceu um ano
depois e como ela quase morreu do parto, decidiu não arriscar e
mesmo assim a mulher sentia que a família não estava completa,
então adotou Hades ainda bebê.
Poseidon me olhou ansioso, esperando uma resposta.
— Não faço ideia.
— É melhor esperarmos por ele — sugeriu.
Sentei ao lado do meu irmão que usava um moletom escuro e
nós encaramos a entrada da garagem.
— Se algo ruim acontecer com o pai, você sabe que teremos
que segurar as pontas — sussurrei.
— Sim, Hades vai precisar de nós — murmurou em resposta.
Ficamos naquele silêncio. Eu tinha vinte anos quando
descobrimos que nossa mãe estava doente, Poseidon tinha
dezenove e Hades dezesseis, a situação tinha sido bem parecida
com aquela em que nos encontrávamos naquele instante.
Meu irmão do meio era quase um espelho de mim, os olhos
verdes e os cabelos castanhos dourados, um espelho da nossa mãe
também. A mulher tinha sido a dona do melhor humor do mundo, ela
sempre tinha uma curiosidade histórica para contar e sua voz
sempre preencheu nossa casa com músicas antigas que nos
contavam lendas.
— Não acho que será algo ruim — tentei confortar meu irmão.
— Se fosse, ele esperaria para nos dizer a noite.
Avistei a BMW de Hades entrando na garagem e respirei fundo
me afastando do carro de Poseidon. O mais novo estacionou o carro
e desceu do veículo usando aquela jaqueta de couro escura.
— É bom que isso seja importante, acabei de perder uma
sessão de fotos — avisou colocando o óculos escuro na cabeça.
Abracei meu irmão mais novo, aquele tinha sido um costume
que nossa mãe tinha nos colocado desde que Hades era um bebê.
Sempre cumprimentá-lo com um abraço, para dar ao mais novo a
necessidade do contato físico.
A pele do nosso irmão adotivo era escura, o cabelo preto era
liso, mamãe nunca procurou as raízes da ancestralidade dele,
sempre disse que não tinha importância, que Hades era nossa
família e que nossos laços seriam maiores que os de sangue.
Poseidon o abraçou depois e tentou beijar o rosto de Hades que se
afastou esboçando um sorriso.
— Vamos logo — o mais novo chamou caminhando para o
elevador.
Nós o seguimos, meu coração estava acelerado com aquela
necessidade de fuga que eu vinha evitando nos últimos anos.
Entramos no elevador juntos e Hades apertou o botão da
cobertura. O elevador subiu, enquanto eu sentia o olhar de
Poseidon sobre mim e Hades permanecia observando o relógio que
marcava os andares do prédio que percorríamos.
Quando as portas se abriram, Marcela, a assistente do nosso
pai, nos recebeu com um sorriso no rosto. A mulher era a nova
assistente, já que a última tinha se demitido há um tempo, para
viajar pelo mundo.
— Bem-vindos — ela disse. — O Sr. Andrews os aguarda na
sala.
— Obrigado, Marcela — Poseidon disse.
Cutuquei meu irmão para que andasse em vez de flertar com a
mulher. Hades abriu a porta da sala sem bater e nosso pai que
estava sentado atrás da mesa escura sorriu quando nos viu
entrando na sala.
— Gosto muito de ver vocês três aqui — comentou.
— O que você queria falar conosco que era tão urgente? —
Hades questionou. — Eu tive que interromper uma sessão.
— Seus modelos estarão esperando por você quando voltar.
— Então? — Poseidon perguntou.
— Vocês estão ficando velhos — falou e Poseidon riu.
— Se nós somos velhos, o que podemos dizer de você? — meu
irmão do meio indagou.
— Olhe o respeito — papai exigiu. — Sentem-se.
Ocupamos as três cadeiras em frente a mesa e o homem levou
as mãos entrelaçadas em frente ao rosto nos observando.
— O que eu disse é real, vocês têm vinte e oito — ele disse
indicando Hades. — Trinta e um e trinta e dois anos.
— Certo, já saímos da adolescência faz uns anos, mas nos
chamar de velhos é um pouco demais — Poseidon falou rindo.
— Sim, mas me preocupa, com as vidas que vocês levam, que
não tenhamos para quem deixar a empresa quando vocês
morrerem.
— Espere, nos chamou aqui no meio da tarde para nos dizer
que você quer netos? — questionei incrédulo.
— Não quero netos — falou e Hades suspirou aliviado. —
Quero ver os três casados antes de morrer.
Troquei um olhar com os meus irmãos e meu pai pegou um
documento que estava em cima da mesa, colocando-o no centro
dela em frente a Poseidon. Nós nos inclinamos para ler o que
estava escrito naquele documento. Meu coração estava acelerado
com o que eu lia, ergui os olhos para o meu pai.
— Está de brincadeira, não está? — perguntei.
— Não, eu nunca brincaria com algo assim.
— Seremos deserdados se não nos casarmos em um ano? —
Poseidon perguntou.
— Os termos no documento são claros, vocês precisam se
casar, ou não poderão herdar a empresa — esclareceu.
— Que tipo de jogo sádico é esse? — Poseidon questionou
levantando a primeira página para avaliar o resto do documento.
O lado advogado do meu irmão do meio estava aflorado ao ler
tudo aquilo.
— Pode me tirar disso? — Hades pediu. — Nunca tive interesse
em comandar a empresa.
— Você ainda assim faz parte da família e se preparou para
comandar a empresa — meu pai respondeu. — Então fará parte
disso. Aquele entre vocês que conseguir se casar primeiro, herdará
a empresa.
— E o que te faz pensar que um de nós não vai conseguir uma
esposa de mentira para fazer isso? — perguntei.
— Ele colocou cláusula que proíbe casamentos falsos —
Poseidon avisou. — Se um de nós fizer um acordo de casamento
para se tornar o herdeiro, perderá todos os patrimônios que possui e
que estejam ligados a empresa.
— Como vocês bem podem ver, o meu contrato de aposta é
infalível — meu pai riu ao declarar.
— Você perdeu o juízo? — Hades perguntou nervoso.
— Não tentem usar isso contra mim, tenho laudos que
comprovam a minha sanidade.
Praguejar mentalmente e Marcela bateu na porta.
— Sr. Andrews — ela disse e todos nós a estudamos. — Sr.
Ryan Andrews, — corrigiu — sua reunião com o grupo HG está para
começar.
Nosso pai se levantou da cadeira e pegou o paletó que estava
sobre ela, ele nos lançou um olhar frio com aqueles olhos escuros,
antes de sorrir e dizer: — Tenham uma boa tarde.
Capítulo 2
Zeus

Poseidon vasculhava o documento que nosso pai nos deu


procurando brechas, enquanto eu andava de um lado para o outro
no escritório e Hades se mantinha imóvel observando a janela. Meu
corpo parecia prestes a explodir com o coração sendo o epicentro
dessa explosão, observei o meu irmão do meio como se ele fosse
uma fonte em meio ao deserto.
Ele terminou de ler as dez páginas do contrato e fechou o
documento, se recostando na cadeira. O homem observou o papel
como se fosse um animal peçonhento.
— Então? — perguntei.
— Não há brechas — sussurrou.
— Como assim não há brechas? — indaguei. — Tem certeza
que leu isso direito? O que o nosso pai pode estar tramando com
isso? Ele realmente pode nos obrigar a casar?
— Tecnicamente falando, ele não está nos obrigando a casar
— Hades falou e nós o encaramos.
— O que você está querendo dizer? — Poseidon indagou.
— Ele disse que ou nos casamos em um ano, ou seremos
deserdados — o caçula lembrou.
— E onde isso não é nos obrigar a casar? — perguntei.
— Bom, não estamos no século dezoito, nosso pai apenas nos
disse que nós temos escolha, casamos e mantemos a herança, ou
não casamos e deixamos que a fortuna fique para outra pessoa.
— Bem lembrado, para quem fica a empresa se nenhum de
nós se casar? — perguntei.
— Para o nosso primo, Mike — Poseidon disse abrindo o
contrato.
— Bom, nem eu quero dar tanto poder aquele imbecil —
Hades disse.
— É simples, só precisamos casar um de nós e está tudo
resolvido. Não acho que ele queira causar uma guerra entre nós —
falei.
Meus irmãos concordaram, nos reunimos ao redor de
Poseidon que ainda estava sentado com o contrato nas mãos. Meu
coração acelerou, eu precisava casar um deles antes que os dois
tentassem me casar.
— Na verdade, existem regras quanto a isso — Poseidon abriu
o contrato outra vez.
— Que porra pode existir nisso? — inquiri irado.
— Aqui — ele indicou um parágrafo do contrato. — Um
casamento, não vai garantir a herança dos outros. E enquanto o
nosso pai estiver vivo, ele pode garantir que aqueles de nós que
violarem esse contrato não recebam um só centavo.
Espalmei as mãos na mesa audivelmente e Hades saltou com
o susto. Me desculpei.
— Não vamos pensar nesse tipo de coisa por agora —
Poseidon pediu. — Um ano é muito tempo. Eu preciso de uma
bebida depois dessa.
Ele reuniu o contrato da mesa e o guardou em uma pasta,
colocando o objeto debaixo do braço. Afrouxei a gravata que vinha
usando e caminhei para a porta com os meus irmãos me seguindo
de perto.
— Você acha que algum de nós consegue se casar em um
ano? — Poseidon me perguntou.
— Nem fodendo — Hades rebateu quando saímos da sala.
Cumprimentamos Marcela que pareceu sorrir mais ao nos ver outra
vez.
— Então de fato, o Mike vai herdar essa merda — falei
socando o botão do elevador que nos levaria para a garagem.
— Vamos pensar… — Poseidon pediu. — O que vocês têm
que está no nome da empresa?
— Até as minhas roupas — sussurrei.
— Idem — Hades respondeu.
— Então seremos três malditos azarados com uma mão na
frente e a outra atrás, se não nos casarmos no ano que vem e, o
demônio chamado Mike receberá nossos bens — Poseidon falou
irritado.
— Ainda temos tempo — lembrei.
— Vamos deixar essa merda de lado e beber, estou
precisando esquecer que isso aconteceu — Hades pediu.
— Não vai voltar para a sessão de fotos? — Poseidon
perguntou.
— Só se for para eu quebrar a câmera na cabeça de alguém
— o caçula rebateu.
Saímos do elevador e nos encaminhamos para o meu carro,
dos três, eu era o menos adepto a bebidas, portanto, seria mais
seguro que eu dirigisse.
Entrei no carro e Hades foi para o banco de trás, Poseidon se
sentou no banco do carona e jogou o contrato para o banco de trás
como se o papel fosse criar vida própria e nos engolir a qualquer
minuto.
— Só por curiosidade, quanto tempo durou o relacionamento
mais longo de vocês? — Poseidon questionou.
— Três semanas — respondi.
— Doze horas — Hades falou.
— E você? — perguntei olhando para o meu irmão enquanto
ligava o meu camaro.
— Seis meses — confessou.
— Ótimo, se case e nos ajude a sair dessa merda — Hades
ordenou batendo com a mão no ombro de Poseidon.
— Tá me achando com cara de homem fiel e amoroso? —
perguntou. — Quem herdou o nome do deus do casamento foi ele.
Poseidon me indicou.
— Zeus é casado com a deusa do casamento.
— Ótimo, vamos procurar sua esposa e ela nos consegue
casamentos — Poseidon disse e Hades riu.
— Suas piadas sobre os nossos nomes deveriam ter acabado
— avisei.
— Minhas piadas sempre tiveram o intuito de impedir que
sofrêssemos bullying — Poseidon disse. — Eu recebi a porra de um
desses nomes e tenho vontade de bater em nós por eles.
Gargalhei dirigindo e mantendo a atenção na estrada.
Estacionei o carro em frente a um dos nossos bares favoritos e
entramos no lugar, ocupando os bancos diante do barman, o
homem apenas preparou nossos drinks, já que já estava
acostumado com a nossa cara por ali.
Olhei ao redor do bar, observando as mulheres que se
sentavam em mesas juntas, aquele clima era realmente favorável a
nós, desde que não estivéssemos com a mente presa em um
casamento. Sexo casual nunca foi problema quando nos
juntávamos para diversão, porém nosso pai tinha batido um martelo
problemático para nós três.
— Como está a sessão de fotos? — perguntei a Hades.
— Uma merda. Você acha mesmo que colocar uma mulher
seminua numa foto para outdoor de obra funciona? — questionou.
— Como vocês pretendem passar uma impressão de segurança no
trabalho com isso?
— Quem disse que a mulher tinha que estar seminua? —
interroguei.
— O engomadinho do setor de marketing — falou segurando o
copo que o barman lhe oferecia.
Hades bebeu aquele drink como se tivesse acabado de
atravessar o Saara. A história do casamento urgente mexeu mais
com o meu irmão caçula do que ele deixava transparecer.
— Se nosso pai quisesse um neto, eu arranjava um para ele
rápido — Poseidon falou. — Sexo produz filhos, isso é fácil de
conseguir, o que ele está exigindo é que não dá para levar a sério.
— Você não vai mesmo esquecer essa história, não é? —
Hades perguntou.
— Caralho, como eu vou esquecer isso? Estamos numa
contagem regressiva do pior pesadelo que já nos atormentou. Ou
você acha que o boa pinta aqui pensa em se casar? — Poseidon
me indicou. — Você, eu sei que nunca pensou e eu nem sei se
acredito em amor.
— Não estava no contrato que precisávamos viver um amor,
só que precisamos nos casar — Hades rebateu.
— Virou advogado agora? — Poseidon retrucou.
— Não comecem. Minha cabeça já está doendo com essa
história de casamento em um ano — avisei.
Eu não podia me casar. Não merecia amar outra vez e não
estava disposto a tentar. Se um dos dois se casasse, ótimo, se não,
eu precisava começar a preparar uns currículos porque as coisas
ficariam feias antes desse maldito ano acabar.
Capítulo 3
Zeus

Depois de muitas bebidas consumidas no bar entre Poseidon e


Hades, ajudei o caçula a carregar nosso irmão do meio de volta
para o carro. Hades e eu o jogamos no banco de trás e o caçula
pegou o contrato do nosso pai antes que Poseidon o destruísse.
— Parece que essa será uma longa noite — comentei
entrando no carro pelo lado do motorista, Hades se sentou ao meu
lado.
— Queria ficar tão bêbado quanto ele, assim não precisava
pensar demais — Hades falou quando colocou o cinto e deixou o
contrato dobrado no porta luvas.
— Eu sei que você vai querer me jogar para fora desse carro,
mas no fundo entendo o que o nosso pai quer com tudo isso —
admiti.
Hades me lançou um olhar esperando que eu esclarecesse.
— Nenhum de nós tem relacionamentos longos, nenhum de
nós teve um filho mesmo que seja fora de um casamento. Ele tem
medo que depois que ele morrer, a empresa se vá com ele, ou pior
seja destruída na nossa geração, sem ter alguém que a leve
adiante. Quantos Mikes podem vir daquele inútil? Se morrermos
sem filhos, a empresa fica para ele e sua prole.
Hades riu.
— Sua prole? Somos cavalos de boa raça? — inquiriu.
— Você entendeu o que eu quis dizer — acusei.
— Sim, eu te entendo. Ele teve um casamento cheio de desejo
e paixão que durou mais de vinte anos, é óbvio que o velho quer
que a gente tenha essa experiência — Hades disse e eu assenti.
— Ele pode ter escolhido a pior maneira possível para nos
obrigar a ter o mínimo interesse em casamentos, mas de certa
forma, eu o entendo.
— Algumas pessoas só não nasceram para encontrar o par
perfeito e viver felizes para sempre — Hades sussurrou.
As palavras do meu irmão caçula estavam entranhadas em
meus pensamentos, respirei fundo tentando não demonstrar o
quanto aquilo me fazia voltar no tempo, me atirando de volta às
piores lembranças da minha vida.
— Ele deveria entender que os três filhos não têm a sorte dele
— Hades murmurou. — Podemos ir para o seu apartamento?
— Não quer voltar para a mansão? — perguntei.
— Essa noite não — avisou.
— Tudo bem, mas vai ter que dividir o quarto de hóspedes
com ele — avisei indicando Poseidon.
— Porra, não posso dormir com você? — questionou me
fazendo rir. — Poseidon morde quando está bêbado.
— Lamento, irmãozinho. Você está cheirando a gambá tanto
quanto ele — falei.
— Eu durmo no seu sofá — rebateu.
Dirigi até o meu prédio e me juntei ao Hades na missão
impossível de tirar Poseidon semiconsciente do carro, nós o
apoiamos nos ombros e eu parei para pegar o contrato no porta
luvas. Caminhamos para o elevador e praguejei enquanto subíamos
para o décimo sétimo andar. Poseidon tentou beijar o rosto de
Hades dizendo que o amava e o caçula quase o socou.
— Mas que inferno de prédio alto — Hades disse.
Assim que as portas se abriram, nós carregamos o nosso
irmão até o meu apartamento, abri a porta e a bati sem trancar,
Hades e eu carregamos Poseidon até o quarto de hóspedes e o
jogamos em cima da cama. Respirei fundo me esticando e tirando a
pasta com o contrato da boca.
Saí do quarto apagando a luz e caminhei pelo apartamento.
— Pode usar o banheiro da sala, vou só trancar a porta e vou
dormir — menti.
Hades concordou com a cabeça e foi para o banheiro. Fechei
a porta do apartamento e caminhei pela casa com o contrato na
mão. Precisávamos de um plano que fosse infalível. Mesmo que
fosse impossível que nós três nos casássemos em um ano, um dos
dois se casando já nos garantia algo quando nosso pai morresse.
Entrei no quarto e tirei a camisa, me sentei na cama e comecei
a ler o contrato, analisando cada ponto, nada de casamentos falsos,
casamentos por contrato estavam fora de cogitação, se nos
casássemos um divórcio seria complicado, pois poderíamos perder
mais da metade dos nossos bens.
Peguei o meu celular quando recebi uma mensagem e
observei a tela: — Vocês merecem a chance de viver uma grande
paixão. Já evitaram isso por tempo demais. Não deixem que os
demônios criados no seu passado governem o seu futuro.
As palavras do meu pai acertaram um ponto sensível no meu
peito, trazendo de volta lembranças que eu me recusava a
vislumbrar. Deixei o contrato e o telefone sobre a cama e fui para o
banheiro. A água escorreu pelo meu corpo me levando para longe,
atormentando meus pensamentos com aquela noite.
Poseidon e Hades deveriam ter aquela chance, meus irmãos
mereciam isso, mas minha vida, a minha oportunidade de amar, já
havia passado. Nada me levaria de volta aquele abismo.
Fechei o chuveiro depois de um longo tempo debaixo da água
corrente e me vi diante do espelho, encarando a tatuagem em
formato de raio no meu peito. Qualquer um que visse aquela
tatuagem, pensaria que era uma associação ao meu nome, eu
jamais me permiti abrir a ferida da minha alma para explicar o que
aquilo realmente significava, e pretendia que as coisas
continuassem assim.

O dia amanheceu sem que eu parasse para cochilar, me vi


vestido assim que o sol entrou pela janela, caminhei pelo
apartamento até a cozinha, Hades ainda dormia sem camisa e
coberto por um lençol que ele devia ter tirado do quarto que
Poseidon usava. Segui pela cozinha fazendo um café forte para
curar a ressaca dos dois quando eles acordassem.
Deixei algumas fatias de bacon assando enquanto pegava os
ovos da geladeira, eu sabia que Poseidon comia como um porco
que vamos abater em breve e Hades não estava em uma situação
diferente, já que vinha se exercitando nos últimos anos.
Se os dois passassem muito tempo no meu apartamento, eu
teria que fazer compras com mais frequência. Liguei o liquidificador
e Hades caiu do sofá nervoso.
— Mas que porra… — ele me olhou com os olhos arregalados.
— Você quer me infartar?
— Bom dia — sussurrei. — Quer café? Ou talvez uma cueca
limpa?
Esbocei um sorriso e o meu irmão se levantou deixando o
lençol no sofá, ele caminhou até a cozinha e se serviu de café.
— Eu te odeio — disse desligando o liquidificador.
— Qual a porra da matéria que formou os seus corpos? Como
conseguem ter tanta energia numa ressaca? — Poseidon perguntou
com o cabelo bagunçado e os olhos vermelhos.
— Zeus não bebeu tanto e eu nunca fico de ressaca — Hades
lembrou.
— As vantagens de ser o deus do submundo — Poseidon
comentou batendo nas costas de Hades com a palma e pegando a
caneca de café do caçula.
— Bom que vocês estão de bom humor — falei colocando os
ovos num prato. — Sentem-se, eu tenho um plano e nós
precisaremos de energia hoje.
— Eu odeio os seus planos — Hades resmungou se sentando
e pegando o bacon com as mãos para comer.
— Meus planos sempre foram bons — avisei.
— Como da vez que você nos convenceu a dar uma festa no
terreno de uma construção? — Poseidon perguntou gargalhando.
— Lembram quanto tempo levou para tirarmos aqueles dois do
buraco da base do prédio? — Hades questionou.
— E a vez que ele fez um plano para nós acamparmos? —
Poseidon indagou.
— Eu estava certo, foi uma ótima lembrança — rebati.
— Isso até descobrirmos que eu tinha alergia a abelhas e
precisarmos de um resgate de helicóptero — Hades lembrou. — Até
hoje eu detesto flores e odeio voar de helicóptero.
— Você já foi mais divertido — avisei ao meu irmão caçula. —
Diferente de todos os meus planos da adolescência, ultimamente eu
sou um homem que resolve pepinos diariamente na nossa empresa.
Então confie em mim, quando digo que um plano é infalível, é
porque nada nesse mundo vai impedi-lo de funcionar.
— Você é louco — Poseidon avisou.
— Comam — ordenei.
Depois de alimentar os meus irmãos deixei que os dois se
sentassem no sofá e me sentei na poltrona em frente aos dois.
— Bom, vamos ao que interessa. Passei a noite lendo e
relendo esse maldito contrato. Se não nos casarmos em um ano,
todas as nossas ligações com a empresa serão cortadas, ou seja,
meu cargo de diretor geral, o seu de advogado e o seu de fotógrafo
principal.
— Acho que já sabemos disso, corte para o seu plano —
Hades disse.
— Nós vamos sair para conhecer mulheres — falei.
Poseidon estourou em uma gargalhada e Hades sorriu
divertido.
— É sério? — o caçula interrogou.
— Sim, mas não vamos a bares e boates como sempre,
nesses lugares só vamos conhecer mulheres interessadas em sexo
ou no nosso dinheiro — avisei.
— Vamos embarcar em aplicativos de namoro? — Poseidon
perguntou incrédulo.
— Não, isso seria muito humilhante e consumiria mais tempo
do que temos.
— Então, qual o plano? — Hades questionou.
— Vamos a um shopping.
Capítulo 4
Zeus

Os meus dois irmãos mais novos vasculharam meu guarda-


roupa procurando roupas para vestirem, se eu os deixasse ir à
mansão, a possibilidade de pelo menos Hades não voltar para ir ao
shopping comigo era grande.
Engoli o meu receio, se aqueles dois descobrissem que eu
planejava casá-los e continuar com a minha vida, eles
provavelmente jamais me perdoariam. Como eu, Poseidon e Hades
tinham seus fantasmas, tormentos que escondiam por trás de todo
aquele bom humor e daquela atitude hostil.
Mesmo assim, nenhum deles tinha cometido um pecado como
o meu, eles sim mereciam uma chance de felicidade.
— Não tem uma camisa preta aqui? — Hades perguntou
depois de verificar todos os armários.
— Deve ter uma social — avisei da porta.
— Estamos indo ao shopping ou à igreja? Por que eu usaria
uma camisa social para ir ao shopping?
— Hades, só escolha uma roupa, não precisa ficar de preto
vinte e quatro por sete — falei impaciente.
— Como se não bastasse me arrastar para o inferno —
resmungou e pegou uma camisa azul escura.
Ergui as mãos e ele me mostrou o dedo do meio enquanto
vestia aquela peça de roupa. Meu irmão colocou a jaqueta de couro
surrada de volta no corpo e me perguntei se ele ia fechar o casaco
para esconder a camisa azul, mas ele não o fez.
Poseidon que já tinha vestido e tirado dez camisas, finalmente
optou por uma camisa verde.
— Vamos torcer para encontrarmos alguém — falei.
— Isso é um plano muito idiota e só podia sair da porra da sua
cabeça — Hades resmungou quando saiu do meu quarto.
Poseidon pegou um dos meus casacos e saiu do quarto,
observei meu reflexo no espelho e minha imagem refletida ali
parecia gritar que eu era um traidor. Fechei a porta para não encarar
aquele rosto cheio de acusação.
Nós saímos do meu apartamento juntos e fomos para o meu
carro. Poseidon ocupou o banco do carona enquanto Hades e eu
entrávamos no carro. O caçula se sentou encostado ao banco de
trás, colocando óculos escuros no rosto, era óbvio que aquilo não
seria fácil para Hades, ele detestava ser pressionado e mesmo que
eu compreendesse meu pai, não conseguia imaginar por que o
colocou naquilo.
— Um de nós podia tentar conquistar a Marcela, acho que ela
ficaria com qualquer um de nós três — Poseidon falou.
Hades bufou.
— Ela está interessada nele — me indicou.

Encarei as pessoas que passavam indo e voltando pelo


shopping percebendo que aquilo não seria tão simples quanto eu
tinha pensado, Poseidon estava sentado observando cada mulher
que sorria para ele e respondendo com seu sorriso cafajeste. Hades
com os óculos escuros era difícil de saber se ele dormia ou para
onde olhava.
— Percebeu que isso não vai dar em nada, não é? — Hades
me perguntou.
— Já estou bem frustrado, não precisa chutar o cachorro morto
— avisei.
— Ótimo — ele rebateu.
— Estou aqui pensando, como vamos chegar numa mulher
numa situação dessa? — Poseidon perguntou parecendo voltar a
postura irritada de antes. — Olha aquela ali, ela está nos olhando há
vários minutos, mas como vou chegar para ela e dizer "oi, gata,
você está a fim de ter uma relação curta que vai acabar em um
casamento com a gente mal se conhecendo?"
Ele fez sinal de aspas e Hades sorriu ao ouvir aquelas
palavras.
— Precisamos de um plano B — rebati.
— Acho que nem o alfabeto tem letras suficientes para a
quantidade de planos que precisamos. Um milagre seria mais
conveniente — Hades disse se levantando. — Podemos ir?
Meu celular sinalizou uma mensagem e eu o puxei do bolso
para ler.
— Vamos para a mansão. Temos que almoçar com o nosso pai
— informei.
Os dois praguejaram enquanto seguiam para fora do shopping.
Por sorte eu tinha um plano B, mas não sabia o que meus irmãos
iam pensar a respeito dele, por isso, resolvi apelar para o plano C:
implorar ao nosso pai que tirasse aquela maldita aposta.
Poseidon pegou a chave do meu carro e disse que ia dirigir.
— Será que o velho mudou de ideia? — Hades perguntou.
— Eu não contaria com isso — Poseidon falou incisivo antes
que eu desse uma resposta.
Me sentei no banco do carona e Hades foi para o banco de
trás, Poseidon ligou o carro e nós começamos uma disputa, com ele
ligando o rádio e eu desligando. Hades esfregou as têmporas,
velhos hábitos nunca morrem.
— Então, se alguém ver que eu estou prestes a destruir a
mansão, por favor, me impeça — Hades disse.
— Sei que está chateado, todos nós estamos, mas nosso pai
me mandou uma mensagem ontem… — Peguei o celular do bolso e
li a mensagem em voz alta: — Vocês merecem a chance de viver
uma grande paixão. Já evitaram isso por tempo demais. Não deixem
que os demônios criados no seu passado governem o seu futuro.
Meus irmãos ficaram calados ao ouvirem a mensagem, o
nosso velho realmente sabia como atingir todos nós com maestria.
Respirei fundo guardando o celular no bolso outra vez e não
desliguei o rádio quando Poseidon o ligou. Naquele instante, tudo
que eu queria era que algo silenciasse meus pensamentos.
Poseidon dirigiu naquele silêncio em que cada um de nós se
enfiou, a mansão já estava a vista quando o meu irmão do meio
sussurrou: — Bem-vindos ao coliseu, onde apenas os gladiadores
mais fortes sobrevivem.
Virei o rosto para olhar meu irmão que tinha um sorriso sádico
no rosto.
— Já sabemos de quem você herdou seu lado maluco —
Hades disse descendo do carro primeiro.
Segui o caçula entrando na mansão, nós cumprimentamos os
seguranças na porta e caminhamos para dentro, com Poseidon nos
alcançando e colocando os braços sobre os nossos ombros.
— Não faça isso, me traz lembranças de ontem a noite. Na
próxima vez deixo você dormir no carro — Hades disse tirando o
braço de Poseidon dele.
Seguimos para a sala onde nosso pai estava sentado
observando um jogo de futebol na TV, assim que entramos,
Poseidon se sentou ao lado dele para ver o jogo, Hades foi para
perto da janela e eu me sentei quase de costas para a TV, encarei o
rosto do meu pai.
— Que bom que vieram — ele falou encarando a tela à sua
frente.
— Pai, reconsidere — pedi.
O homem desligou a TV e me estudou. Poseidon pareceu
irritado por ver que a tela foi desligada, mas prestou atenção ao
clima na sala.
— Não — falou irredutível.
— Não acha que isso é insanidade? — Hades perguntou. —
Como acha que vamos conhecer pessoas e nos apaixonar em um
ano? Estamos conhecendo pessoas sem nos firmar com ninguém
há anos.
— Vocês sequer tentaram se firmar com alguém nesses anos
todos? — nosso pai rebateu.
Ficamos calados observando o rosto do homem, nosso pai
parecia tão cansado naquele instante, que as rugas pareciam mais
evidentes em seu rosto.
— A solidão consegue destruir as melhores partes de uma
pessoa, gentileza, amabilidade, generosidade. Desde que sua mãe
se foi, eu não me liguei a pessoa alguma e nos últimos tempos,
percebo que vocês fizeram o mesmo. Se eu pudesse voltar no
tempo, pudesse enfrentar meu luto de outro modo, talvez
conseguisse ajudá-los a enfrentar seus medos. Fui um pai ruim até
aqui, mas não passará disso.
— Acha que nos negar a herança e nos obrigar a casar é ser
um bom pai? — Poseidon perguntou.
— Fazê-los enfrentar seus medos e buscar a felicidade, isso
sim faz de mim um bom pai. — Aqueles olhos escuros encontraram
os meus e ele sorriu. — Não vou mudar de ideia. Quero os três
construindo suas famílias, quero vê-los felizes.
Poseidon abriu a boca e meu pai apertou o ombro dele.
— Não quero as máscaras que vocês usam para esconder
seus temores, quero felicidade real — ele enfatizou.
Engoli minha resposta para aquilo, não queria e nem podia
dizer para ele que sem minhas máscaras, eu era apenas uma casca
vazia. Sem nada de bonito para observar.
— Vamos almoçar, ainda quero saber como estão seus planos
para um casamento — o velho disse e Hades praguejou.
Capítulo 5
Zeus

Depois do almoço desconfortável com o meu pai, resolvi sair


daquela mansão, precisava urgentemente de algum descanso para
minha mente, dirigi para Venice Beach com uma sensação estranha
no peito. Aquela história de casamento em um ano tinha mexido
comigo de um jeito que eu não saberia explicar.
Meu celular começou a tocar e eu o atendi deixando no viva-
voz.
— Oi, Charlie — falei ao ler o nome do meu melhor amigo da
faculdade na tela.
— Oi, Zeus. Você sumiu nos últimos dias, não apareceu para
beber com o pessoal da faculdade ontem.
— Estou vivendo um pandemônio, amigo — avisei.
— Quer falar sobre isso? — inquiriu. — Podemos nos ver à
noite lá em casa.
— Pode ser.
— Onde você está agora? — perguntou parecendo
preocupado.
— Estou indo para Vanice Beach. Quero colocar as coisas no
lugar — expliquei.
— Qualquer coisa me liga — pediu.
Encerrei a chamada e continuei dirigindo até chegar aquele
lugar, desci do carro o trancando e segui andando até a faixa de
areia, desabei sentado ali e observei a água. Pessoas corriam se
exercitando naquele lugar, casais andavam de mãos dadas
conversando coisas que não diziam respeito a mais ninguém.
Peguei o celular do bolso e abri a tela vendo aquele vídeo
antigo. Aquilo foi pouco antes da faculdade, antes de toda a merda
da minha vida acontecer. Observei a tela e a garota de cabelo loiro
que sorria para a câmera que eu segurava.
— Zeus — ela disse. — Não fique me filmando.
— Preciso filmar. Você precisa se acostumar com isso, Laura,
logo estará rodeada de paparazzis te fotografando aonde quer que
vá — avisei.
— Ter você me filmando me deixa envergonhada — ela
esclareceu.
— Laura Jordan, diga-me por que você quer ser uma musa
pop? — questionei.
— Porque eu preciso que a minha música seja ouvida. Quero
arrastar multidões com a minha voz e inspirar pessoas com as
minhas letras.
— Pode cantar um pouco para o meu vídeo? — perguntei e ela
se aproximou tentando tirar a câmera da minha mão.
— Zeus, para com isso — pediu rindo.
Eu a segurei perto de mim e filmei nossos rostos. Meu próprio
rosto parecia irreconhecível naquela gravação antiga, o sorriso
descontraído, o olhar apaixonado, meus olhos iam para o rosto da
mulher ao meu lado que sorria para a câmera, alheia ao fato de que
eu a observava com tanta adoração.
— Srta. Jordan, cante para marcarmos esse momento — eu
insistia no vídeo.
Ela pigarreou e começou a cantar You are not alone do
Michael Jackson, com aquela voz perfeita tocando meu coração.
Laura não fazia ideia do quanto ouvi-la cantar alegrava o meu
coração, do quanto ela parecia sempre ter a capacidade de me
quebrar e refazer com aquele tom que aquecia o meu coração.
— Está bom assim? — perguntou no meio da música.
— Você não pode começar uma música de Michael Jackson e
não terminar. Continue — pedia.
A mulher prosseguiu, a bateria da câmera tinha acabado antes
que ela terminasse aquela canção, mas meu coração se lembrava
perfeitamente daquela noite, ainda conseguia me lembrar da
sensação dos braços dela ao meu redor pedindo que eu cantasse
junto com ela.
— Anda, Zeus, não pode me obrigar a cantar sozinha — ela
disse.
— Você é a cantora aqui — lembrei.
— Sim, mas eu adoro a sua voz — pedia.
Acabamos cantando o resto da música em coral. E eu ouvia
cada risada dela, que parecia tatuar o meu coração. Um som que
me causava uma emoção que jamais pessoa alguma conseguiu
replicar.
Fechei os olhos contendo aquelas lembranças.
Laura e eu tínhamos nos conhecido ainda na infância, nossas
casas eram a uma quadra de distância, por isso, nós aprendemos a
andar de bicicleta juntos, passamos tanto tempo grudados que
todos apostavam que nos casaríamos. Poseidon teve adoração por
ela, mas Laura nunca escondeu a preferência por mim.
Nossa amizade me levou a passar noites na casa dela e ela a
passar noites na minha casa, mesmo que jamais tivéssemos
oficializado aquilo, eu era completamente dela e achava que nada
nem ninguém me separaria de Laura.
— Senhor? — chamou uma voz infantil.
Abri os olhos e vi uma menina loira me observando com lindos
olhos castanhos.
— O senhor deixou seu telefone cair — ela disse.
Os olhos dela grudaram no meu rosto ao notar que eu estive
chorando. Apanhei o celular da areia e limpei o objeto na minha
roupa. Limpei o rosto na manga da camisa.
— Obrigado — falei.
— Você está bem? — ela me perguntou.
— Só me lembrei de uma coisa ruim — sussurrei.
— Meu pai sempre diz que quando nos lembramos de coisas
ruins, precisamos focar em coisas boas. Fazer algo que nos alegre,
assim a tristeza vai embora.
— É um ótimo conselho — sussurrei sorrindo.
— Lara, venha, pare de incomodar pessoas estranhas — uma
mulher gritou.
A menina me olhou.
— Me desculpe incomodar — pediu e correu pela areia em
direção a mulher.
O destino era uma merda, a menina que parecia um espelho
de Laura, ainda tinha um nome parecido com o dela. A criança
acenou para mim quando se aproximou da mãe e eu retribui seu
aceno.

Observei a tela do celular, vendo que Poseidon estava me


enviando algumas mensagens, meu irmão do meio estava em um
bar com Hades, ele dizia que ia conseguir uma mulher naquela
noite, mesmo que não fosse com as regras do nosso pai. Eu ri ao
ver as fotos do idiota que envolvia os ombros de Hades.
Não respondi ao meu irmão, aquela história de casamento em
um ano mexia com meus pensamentos e eu só conseguia pensar
no quanto aquela ideia tinha reaberto feridas antigas no meu
coração.
Tinha passado tempo demais sentado naquela praia, observei
todo o pôr do sol e a lua tomar o horizonte. Meu coração sempre se
acalmava naquele lugar, como se uma parte do meu passado
estivesse presa ali, pronta para me levar de volta a quem eu era.
Voltei para o carro e me vi dirigindo para a casa de Charlie.
Meu melhor amigo da faculdade vivia em um prédio antigo em
Melrose Avenue, ele e o marido vivem lá desde que saíram da
faculdade e se casaram, há cerca de dois anos. Charlie sempre foi
aquela pessoa que ouve e aconselha todo mundo, o homem tinha
uma vida que muitos julgariam ser perfeita, mesmo que eu
soubesse que não era esse o caso.
Quando cheguei ao prédio, estacionei o carro na calçada e
liguei para o meu amigo liberar minha entrada.
Ele o fez e abri a porta de entrada no prédio, caminhei para o
elevador e observei a escadaria lateral, caminhar talvez
espairecesse minha mente, rumei para a escada começando a subir
os degraus devagar, pensando em cada merda que aconteceu nos
últimos dias.
Cheguei ao quarto andar e bati na porta do apartamento de
Charlie. Ele me observou cauteloso e abriu a porta me abraçando,
antes de me deixar entrar. Caminhei pelo apartamento e me sentei
no sofá brincando com o gato siamês que estava sentado na
almofada favorita de Charlie.
— Então, o que está acontecendo? — meu amigo perguntou,
se sentando na poltrona e cruzando as pernas para me observar.
— Meu pai deu um ultimato — avisei.
— Como assim? Ele te deu um ultimato?
— Não, a mim e aos meus irmãos. Se não nos casarmos em
um ano, seremos deserdados — contei.
— Puta merda! — Charlie disse com os olhos arregalados. —
E você já pensou em um casamento por contrato?
— Foi a primeira coisa que pensei — admiti interrompendo o
carinho no gato que ronronava para olhar para o meu amigo.
O ruivo me olhava curioso e parecendo preocupado.
— Mas tem tantas cláusulas lá que é impossível driblar —
expliquei.
— Como vocês estão com isso? — Charlie perguntou.
O lado psiquiatra do meu amigo nunca morria e às vezes
aquilo era um saco.
— Você deve imaginar como estou. Poseidon e Hades não
estão em situações melhores — expliquei.
— Já tentou conversar com o seu pai sobre o seu receio? —
indagou.
— Não acho que isso vá fazer diferença — sussurrei, voltando
a prestar atenção no gato.
— Os seus sentimentos são importantes, Zeus — Charlie
disse. — Não adianta fugir de tudo que te marcou tão
profundamente. Não importa quão longe seu dinheiro te leve, as
lembranças vão continuar na sua cabeça, já falamos sobre isso,
você precisa retomar a terapia.
— Eu sei — admiti.
— Vou preparar o jantar, Henry chega em poucos minutos,
fique para jantar conosco, podemos pensar em formas de te ajudar
a arranjar uma esposa em um ano.
— Ao menos uma esposa para Poseidon ou Hades —
sussurrei voltando a encarar o meu amigo. — Eu não posso.
Charlie suspirou ao ouvir aquelas palavras, provavelmente
meu amigo revia cada palavra que me disse ao longo dos últimos
doze anos.
Capítulo 6
Zeus

Ajudei o meu amigo com o jantar, enquanto Charlie falava


sobre como estava o andamento do processo de adoção. Ele e
Henry tinham entrado na fila há cerca de um ano, não tinham
exigências, além de quererem uma criança com menos de cinco
anos, para aproveitarem todas as experiências.
— Seu irmão, Hades, já quis investigar sobre a família
biológica dele? — Charlie me perguntou enquanto eu preparava a
carne.
— Hades nunca se importou com isso. Quando Poseidon
perguntou a respeito, ele disse que tudo que importava a respeito do
passado dele estava desde o dia que nossos pais o pegaram no
orfanato — contei.
Charlie e eu nos conhecíamos há uns doze anos e aquela era
a primeira vez que ele me perguntava algo sobre meus irmãos.
Mesmo tendo conhecido os dois, Charlie nunca se meteu na minha
vida ao ponto de perguntar sobre eles. A necessidade de um filho
parecia ter mexido com ele, ainda mais as questões que poderiam
confrontar no futuro.
— Você acha que foi tratado diferente dele, por ele ser
adotado? — perguntou.
Exalei de forma debochada.
— Levamos as mesmas palmadas, ficamos de castigo na
mesma proporção, recebemos os mesmos luxos. Acho que a única
coisa que foi diferente entre nós foi a barriga que nos gerou, mas no
fim, nossos pais não tinham diferença entre nós — expliquei.
— Poseidon também pensa assim?
— Se Hades é uma pedra quando se trata de emoções,
Poseidon é uma fortaleza, tudo que sei sobre meu irmão do meio é
que ele usa o bom humor para disfarçar o que realmente sente —
expliquei.
Encarei Charlie com calma. Observando aquele nervosismo
exagerado do meu amigo.
— Você vai ser um bom pai, não se preocupe tanto — pedi.
— E se eu cometer um erro?
— Bom, torça para que o seu filho venha bem pequeno, assim
ele não vai se lembrar disso — brinquei.
— Você é um ótimo amigo, não sei como não te joguei por
uma janela até hoje — ele comentou voltando a cortar verduras.
— Quando se trata de adoção, parece que existe um tabu
gigante em que falam sobre sangue, mas convivendo com Hades e
Poseidon, eu sei que daria minha vida por ambos sem me importar
com qual deles fosse. Um filho, ou um irmão, não tem que ter nosso
sangue para ser nossa família. Sangue não é sinônimo de família,
mas o amor pode ser um.
Charlie assentiu ao ouvir as minhas palavras. O jantar estava
quase pronto quando Henry chegou, abrindo a porta e jurando que o
cheiro da comida estava na rua.
— Zeus, não sabia que você estava aqui — ele disse.
— Boa noite! Vim encher os ouvidos do seu marido com os
meus problemas — avisei.
— Boa noite — respondeu se aproximando da cozinha.
— Ele estava me ajudando a perder umas paranóias. Você se
lembra do irmão dele, Hades? — meu amigo perguntou.
— Lembro.
— Ele é um filho adotivo, eu estava aproveitando para falar
com Zeus sobre isso — explicou.
— Eu já te disse que os nomes de vocês são muito ridículos?
— Henry perguntou e Charlie ficou pálido ao ouvir as palavras.
Gargalhei ao ouvir as palavras, forçando a risada um pouco
mais para que o meu amigo não ficasse tão nervoso.
— Poseidon jura que quer nos bater por eles — confessei
fazendo os dois rirem.
Henry pediu licença para se preparar para o jantar e eu me vi
ajudando meu amigo a pôr a mesa. Charlie me encarava como se
montasse um plano em sua mente.
— Vamos reunir o pessoal da faculdade e fazer uma sessão de
filmes na sua casa, chame os seus irmãos e vamos ver umas
comédias românticas — avisou. — Quem sabe isso inspire vocês.
Três ogros tentando conquistar esposas em um ano.
— Poderíamos maratonas Shrek — falei.
— Onde vocês vão arrumar princesas em torres vigiadas por
dragões? Além disso, nenhum de vocês é um deus de fato. Vamos
para o mundo real, tentaremos ensinar vocês a conseguirem mais
do que sexo casual — meu amigo esclareceu.
Quando Henry voltou, acabamos nos sentando para jantar,
Charlie atualizou Henry sobre os casamentos em um ano e ele me
olhou incrédulo.
— Não conheço vocês muito bem, mas parece uma missão
impossível — falou.
— Adoro missões impossíveis — Charlie declarou apontando
para o marido com o garfo.
Henry exalou pesadamente ao ouvir aquelas palavras.
— Amor, não estamos falando de pessoas que têm uma
paquera e querem um relacionamento. Estamos falando de três
cafajestes, sem ofensas — ele me disse — que não estão ansiosos
com a ideia de se casar. Algum dos seus irmãos sequer tem uma
namorada?
Fiz que não, tentando não me sentir mais frustrado do que já
estava me sentindo.
— Viu só? — perguntou ao Charlie.
— Então, você acha que eles têm que desistir? — Charlie
perguntou.
— Eu não disse isso — sussurrou. — Só disse que você não
vai conseguir casar os três.
— Você quer apostar? — meu amigo indagou sorrindo.
— Chega de apostas, eu não quero nem ouvir essa palavra
por um bom tempo — declarei. — Sua ideia pode funcionar, vou
pedir a umas amigas nossas para nos ajudarem com isso. Podemos
acabar conseguindo algo.
Os dois riram ao ouvir minhas palavras e me levantei da mesa,
avisando que precisava ir.
— Tenho que dar carona aos meus irmãos no bar — expliquei.
— Você realmente é um irmão mais velho dedicado — Henry
falou.
Charlie me acompanhou até a porta e eu me despedi do meu
amigo por ali, chamei o elevador para descer. Aproveitei para ligar
para Hades que provavelmente era o único, naquela altura da noite,
que conseguiria atender o celular.
— Oi — Hades disse com a voz grogue.
— Ainda estão no bar? — perguntei entrando no elevador.
— Estamos, Poseidon está chorando deitado no balcão — ele
contou. — Pare com isso!
— Eu vou buscar vocês — falei rindo ao apertar o botão do
térreo.
— Talvez você tenha um irmão a menos quando chegar aqui
— Hades retrucou e finalizou a chamada.
— Segura a porta! — ouvi uma voz feminina, mas antes que
eu tocasse na abertura da porta, ela se fechou entre nós.
O elevador desceu e eu caminhei para fora do prédio voltando
ao carro. Dirigi para longe do prédio, vendo pelo retrovisor uma
mulher de cabelo preto saindo do prédio pouco depois de mim.
Continuei seguindo para o bar, sem me preocupar em pedir
desculpas, afinal, eu não tinha culpa de não conseguir manter o
elevador aberto para ela. Cheguei ao bar em poucos minutos
dirigindo, desci do carro e caminhei para o interior do lugar.
Poseidon estava deitado no balcão do bar, aparentemente
apagado e Hades estava conversando com uma mulher negra que
tinha tranças fluorescentes.
— Hades? — chamei.
— Zeus! — ele disse sorrindo em minha direção. — Vamos
beber.
— Eu vim buscar vocês — lembrei.
— Verdade… eu me distraí com a Linda e esqueci — ele falou
indicando a mulher que sorriu me cumprimentando.
— Você vem agora? — questionei.
— Não, eu pego um táxi depois — avisou sem me olhar.
— Pode pelo menos me ajudar com ele? — questionei.
Hades praguejou e veio cambaleando em minha direção, ele
pegou um dos braços de Poseidon e passou sobre os próprios
ombros, em seguida o peguei do outro lado e Poseidon reclamou
que o mundo estava rodando, mas nós continuamos carregando o
idiota.
— Não faça isso! — ordenei quando Poseidon se inclinou e
vomitou nos sapatos de Hades.
— Que inferno! — Hades praguejou largando Poseidon e
sacudindo os sapatos.
Ele até mesmo limpou os coturnos nas pernas de Poseidon.
— Parece que agora você vem junto — falei.
— Vou, me ajude a enterrar o cadáver dele — Hades falou
pegando o braço de Poseidon e me ajudando a levá-lo para o carro.
Quando enfiamos o nosso irmão do meio no carro, Hades me
olhou e disse: — Se ele beber outra vez, eu juro pelos deuses que
costuro a boca dele.
— Pelos deuses? — questionei rindo.
— Achei inadequado jurar por Deus — resmungou entrando no
banco do carona.
Entrei no carro e dirigi de volta para a mansão.
— Onde você esteve hoje? — Hades perguntou.
— Pensando — respondi.
— Eu sei que cada um de nós tem suas razões para estar
odiando o velho por isso, mas não se force a algo que não está
pronto para fazer — pediu.
— Você quer realmente falar sobre isso? — perguntei com um
embargo na garganta.
— Estou bêbado, podemos fingir que não me lembro dessa
conversa amanhã — ele retrucou.
Respirei fundo, entre Poseidon e Hades, o caçula foi o que
mais precisou de ajuda para voltar aos eixos. Os últimos doze anos
foram de recuperação para todos nós, mas parecia que os três
deuses de Alana Andrews tinham perdido seus corações no
caminho até ali.
— Não quero falar sobre isso — avisei.
— Tudo bem — Hades sussurrou.
Meu irmão mais novo sempre teve problemas para expressar o
que sentia, da mesma maneira que tinha dificuldades para entender
os sentimentos dos outros. Ele nos ouvia se quiséssemos falar,
dava conselhos de um ponto de vista racional, mas a melhor parte
da nossa relação, era que Hades não tentava interferir nos meus
limites.
Capítulo 7
Zeus

Ajudei Hades a entrar na mansão com Poseidon e nós


carregamos nosso irmão semiconsciente escada acima, papai
estava no primeiro andar e nos encarou suspirando.
Deixamos Poseidon no quarto dele, em seguida Hades disse
que ia tomar um banho e se afastou no corredor indo direto para o
próprio quarto. Me vi sozinho no corredor, até seguir para a escada
e encarar o meu pai.
— Você estava com eles? — perguntou.
— Não, fui buscá-los no bar antes que algo acontecesse —
admiti, encarando os olhos escuros dele.
— Você está bem, Zeus? — questionou com as mãos dentro
dos bolsos.
— Como acha que estou? — rebati e meu pai suspirou.
O homem segurou meu ombro encarando os meus olhos,
nenhum de nós falava muito sobre sentimentos naquela casa, mas
todos sabíamos da dor do outro e respeitávamos o tempo que
precisávamos para nos curar.
— Você passou por algo que se pudesse arrancar a dor de
você, eu o faria — ele disse.
— Infelizmente, ninguém pode fazer isso — lembrei.
— Zeus… você sabe que eu os amo, não sabe? — indagou.
Assenti, mesmo que uma parte de mim começasse a duvidar
de tudo ao meu redor.
— Nunca fiz nada pensando no mal de vocês — lembrou. —
Sempre penso nos três antes de tomar uma decisão. Seja ela qual
for.
— Nós sabemos disso, mas dessa vez você exagerou — falei.
Ele apenas me estudou e encarou uma janela de vidro atrás de
mim.
— Não vá para casa esta noite, parece que vai cair uma
tempestade a qualquer instante — sussurrou.
Segui o olhar do meu pai e os pelos da minha nuca se
eriçaram quando vi que ele tinha razão sobre a tempestade.
Respirei fundo observando as nuvens pesadas que encobriam cada
pedaço daquele céu noturno.
— Vou para o meu quarto — falei.
— Boa noite, Zeus!
— Boa noite! — respondi enquanto me apressava pelo
corredor.
Fechei a porta do quarto atrás de mim e fechei os olhos, as
cortinas escuras estavam fechadas e o cheiro de produtos de
limpeza me dizia que aquele cômodo ainda era limpo com
frequência. Talvez o nosso velho Ryan ainda acreditasse que eu
voltaria para essa casa.
Deitei na cama observando o teto e sob as cortinas via a luz
dos relâmpagos que cortavam a noite lá fora.
Não havia como as coisas piorarem, pensei cobrindo os olhos
com o braço.
Na manhã seguinte, encontrei os meus irmãos na mesa de
café da manhã com o nosso pai, os dois pareciam estar de ressaca,
Poseidon engolia um café que parecia estar bem forte e Hades
esfregava as têmporas.
Meus irmãos ergueram os rostos surpresos por eu ainda estar
ali.
— Tenho umas coisas para resolver no centro hoje, querem ir
comigo? Podemos ver um filme depois — sugeri.
— Posso ir com você — Poseidon falou.
— Tenho que arrumar minhas malas para uma viagem de duas
semanas — Hades lembrou.
— Ótimo, é nossa despedida — falei me sentando.
— É ótimo vê-los unidos — nosso pai disse e eu o observei.
— Se fôssemos mais unidos, você não ia precisar de uma
aposta para casamento — Poseidon disse e Hades cuspiu o café
que tinha colocado na boca.
Nós terminamos a refeição enquanto meus irmãos mais novos
brigavam, Hades empurrando Poseidon para longe de si,
ameaçando quebrar a xícara na cabeça dele, enquanto o nosso
irmão do meio o agarrava pedindo um beijo.
Depois da refeição, nós deixamos nosso pai na mesa e fomos
para o meu carro. Hades entrou no banco de trás sem brigar com
Poseidon pelo banco do carona.
— Não se preocupe com o que o setor de marketing diz —
falei para o caçula. — Foque apenas em fazer o seu trabalho.
Confio no seu olhar para fotos.
Hades assentiu colocando óculos escuros no rosto e Poseidon
continuou calado no banco do carona. Eu dirigi em direção ao
shopping me perguntando como aquilo poderia ser bom para nós,
meus irmãos tinham mais interesse um no outro que em
relacionamentos. Eu estava fora de questão, talvez nosso primo
imbecil herdasse tudo no fim das contas.
— Ali, tem uma vaga lá na frente — Hades disse indicando as
vagas no estacionamento lotado.
— Ótimo — resmunguei dirigindo para o lugar.
— Por que está emburrado? Foi ideia sua sair — Poseidon
acusou.
— Não estou emburrado, só não estou no clima para tentar
achar mulher hoje — rebati.
— Caiu da cama? — Hades questionou rindo. — Poseidon foi
quem estava desmaiado de bêbado.
— Obrigado por me deixar na ponta da cama, quase parti o
crânio quando acordei — nosso irmão do meio praguejou.
— Sua cabeça é mais dura que rocha, para partir ela
precisaríamos de um quebrador de diamante — Hades falou rindo,
ele abriu a porta do carro e nós ouvimos um grito.
Olhei pelo retrovisor e vi uma mulher sentada no chão, com
alguns brinquedos rolando pelo estacionamento e nos olhando com
olhos furiosos. Meu coração gelou quando vi aqueles olhos
cinzentos.
— Me desculpe, você está bem? — Hades falou pegando os
objetos do chão.
— Você é cego ou o quê? Que tipo de idiota abre a porta do
carro sem olhar se tem alguém por perto? — a mulher de cabelo
preto gritou.
Hades travou no lugar ao ouvir os gritos. Meu irmão ainda
segurava os brinquedos que tinha recolhido e ficou paralidado
observando a mulher que se levantava.
— Não vai me responder? Eu não estou bem, seu imbecil, olhe
só para os meus joelhos — ela exigiu indicando os joelhos ralados.
— Ei — Poseidon falou saindo do carro, ela o encarou inflando
o peito como se estivesse prestes a discutir mais. — Não grite com
ele. Se você gritar, ele trava.
— Mas o que inferno… — ela praguejou com a voz alta e eu
saí do carro respirando fundo ao fazê-lo.
Os olhos da mulher foram de Hades para Poseidon e então se
voltaram para mim, a expressão dela foi de enfurecida para uma
cautela assustadora.
— Oi, Juliet — cumprimentei com a voz rouca.
— Quando eu pensei que meu dia não ficaria pior — ela
sussurrou com a voz igualmente baixa.
— É melhor você se levantar — falei me aproximando com a
mão estendida.
— Não encoste a porra da sua mão em mim! — avisou irritada.
Ela se levantou com os olhos tempestuosos me encarando,
aqueles olhos me deixaram um momento sem fôlego. Juliet me
estudou de cima a baixo.
— Você está velho — ela comentou.
— Os anos foram bons com você — rebati enfiando as mãos
nos bolsos.
— Poupe-me dos seus elogios. Não tenho interesse neles. —
Ela pegou os brinquedos das mãos de Hades. — Me desculpe por
gritar com você.
— De on… — Poseidon começou, mas o interrompi: — Agora
não.
Juliet pegou os brinquedos do chão recusando a minha ajuda,
mas ela pegou os brinquedos que Poseidon recolheu sem
agradecer a ele por isso. Nossos olhos se encontraram mais uma
vez e Juliet parecia conter um choro ao olhar para o meu rosto.
— Sinto muito — sussurrei.
Eu tinha perdido as contas de quantas vezes disse aquelas
palavras para ela e para toda sua família ao longo do tempo, nunca
houve uma palavra em resposta.
— Não sinta. Você está aqui. Não foi a sua vida que acabou —
Juliet disse e ela sorriu maldosa me observando. — E pelo que eu
vejo nas redes sociais, sua vida continuou muito bem. É raro ver
você com a mesma mulher duas vezes.
Ela não esperou uma resposta, apenas jogou a caixa com os
brinquedos no banco de trás do carro ao lado do meu e entrou no
veículo, ligando o motor.
— Vocês estão bem? — Poseidon perguntou.
— Estou — Hades e eu respondemos ao mesmo tempo.
— De onde você conhece aquela mulher? — meu irmão do
meio completou a pergunta que eu tinha interrompido antes.
— Ela é irmã de Laura — expliquei e todo o clima entre nós
mudou completamente.
Capítulo 8
Juliet

Entre todas as pessoas que eu poderia encontrar naquele


maldito shopping pela manhã, não esperava encontrar Zeus
Andrews. Encostei a testa ao volante do carro respirando fundo
algumas vezes, precisava lembrar a mim mesma que tudo aquilo
aconteceu muito tempo antes e mesmo que ainda machucasse, ele
não poderia rastejar para dentro da minha vida familiar outra vez. Eu
tinha passado o dia refletindo sobre tê-lo visto e ainda não parecia
real.
Morávamos na mesma cidade, mas eu quase nunca o via, se
via era de longe, nunca tão perto. O universo parecia estar
conspirando contra mim nos últimos meses.
— Juliet? — Mark me chamou abrindo a porta do carro. — Que
merda você está fazendo?
Encarei o meu namorado, os olhos escuros me encarando com
atenção e a pele clara do rosto se contorcendo. O cabelo cacheado
preso para cima e a barba rala o deixavam com uma aparência que
eu tinha apelidado como “cara de artista”, mas a realidade estava
bem longe disso.
— Só encontrei alguém… — sussurrei.
— Eu só soube que você chegou porque o porteiro me disse
quando entrei. Achei que você já ia estar em casa — falou irritado.
— Desculpe, amor, eu estou cansada.
— Você está cansada e nós ficaremos sem jantar porque você
não está em casa para cozinhar — acusou. — Que porcaria é essa?
— questionou observando a caixa de brinquedos no banco de trás.
— Estava em promoção.
— Por que continuar gastando dinheiro com isso? — indagou.
— Depois reclama que não sobra dinheiro para nada.
Desci do carro fechando a porta e esperei que Mark fechasse
a porta do lado do carona para caminharmos juntos para o interior
do prédio.
O meu namorado envolveu os meus ombros, enquanto
andávamos, nós seguimos caminhando para o elevador e apesar da
demora que me fazia querer subir de escadas, Mark não gostava de
subir de escadas.
— Como foi o seu dia? — perguntei.
— Uma merda, nada está dando certo no estúdio. As
esculturas que eu tinha que entregar estavam quase prontas,
mandei fotos para o cliente e ele disse que não está como queria.
— O que você disse? — inquiri.
Mark era um escultor que até mesmo fez um curso superior
voltado para artes, mas sempre que alguém lhe dava um trabalho
específico, ele deixava o lado artístico falar mais alto e acabava
perdendo o serviço porque ninguém queria pagar por algo que não
pediu.
— Disse que ele não entenderia de artes nem se eu jogasse
uma escultura na cabeça dele. Eu sou um artista, minha visão do
mundo tem que estar nos detalhes do que faço, ou seria só um
trabalho — falou irritado.
— Bom, trabalho paga as contas… — comecei e me arrependi
quando as palavras saíram da minha boca.
O homem tirou o braço dos meus ombros e eu imaginei que
uma cessão interminável de gritos começaria, mas aquilo não
aconteceu, apenas porque as portas do elevador se abriram.
Nossos vizinhos de corredor apareceram. Charlie e Henry sorriram
em cumprimento.
— Boa noite! — falei enquanto entrava no elevador com Mark
me seguindo e os dois descendo.
— Boa noite! — os dois responderam.
Pressionei o número do andar e olhei pelo canto dos olhos
para Mark.
— Você não vai morrer se falar com os vizinhos.
— Nunca se sabe… vai que eles estão brigando e eu acabo no
meio do caos? — perguntou.
Engoli a resposta que queria dar ao homem, lembrando que
nós estávamos no meio de uma discussão que os nossos vizinhos
interromperam.
— Por que não pedimos comida chinesa? — perguntei. —
Trabalhei de pé o dia todo, precisei resolver muitas coisas do
escritório no cartório.
— Se você não gastasse todo nosso dinheiro com brinquedos
para dar a essas crianças, talvez nós não precisássemos
economizar com tanta frequência.
O elevador abriu e o homem saiu andando pelo corredor para
abrir a porta do apartamento que dividimos. Mark o tinha alugado há
muito tempo e quando eu quis sair da casa dos meus pais, ele me
ofereceu um lugar para dividir.
Entrei no apartamento fechando a porta atrás de mim, tirei o
casaco e olhei para os meus joelhos cobertos com curativos. Fechei
os olhos e os esfreguei. Não conseguia acreditar que eu tinha
gritado com Hades Andrews.
— O que aconteceu com os seus joelhos? — Mark perguntou
me fazendo encará-lo.
— Caí no estacionamento do shopping.
— Ainda bem que não estávamos juntos, ou eu teria te
deixado lá, que constrangedor — o homem abriu a geladeira tirando
uma cerveja de dentro.
Respirei fundo, tudo bem, eu podia suportar aquilo.
Caminhei para a cozinha deixando meus joelhos para cuidar
depois, mas antes disso fui preparar o jantar, já que o Mark disse
que não queria comer macarrão com queijo.
Peguei a carne que tinha deixado pronta para preparo mais
cedo e segui pela cozinha.
— Por que você parecia tão estressada no carro? — inquiriu.
— Não importa, só encontrei alguém que não queria ter
encontrado — avisei.
— Alguém? — perguntou.
— O antigo namorado da minha irmã — falei com a voz
ficando imediatamente rouca.
— O viúvo que nunca nem mesmo deu uns pegas nela? —
Mark perguntou e eu apertei a espátula com a qual pretendia virar a
carne com força entre os dedos. Observei a frigideira, o objeto
parecia pesado, se eu acertasse a cabeça dele com ela,
provavelmente aquilo causaria danos.
— Só estou brincando — Mark disse entrando na cozinha. —
Juliet?
Meu nome naquele instante parecia um som de unhas
arranhando a parede. Observei Mark com a mente exausta.
— Lembrei que tenho uma reunião agora à noite, se importa
de terminar aqui? — indaguei.
— Que tipo de serviço te pede para trabalhar a noite? —
inquiriu desconfiado.
— Minha chefe não se prende a horários — lembrei.
— Suma da minha frente — rosnou pegando a espátula da
minha mão.
Fui até o quarto que dividia com Mark e peguei roupas sociais,
precisava passar um tempo longe dele, mas não ia sair confortável,
para não termos outra briga.
Tomei um banho limpando os joelhos e coloquei curativos
limpos, em seguida me vesti e penteei o cabelo. Me preparei de
todas as maneiras como faria para ir a um dia comum de serviço.
Saí do quarto e parei para dar um beijo em Mark antes de sair
do apartamento. Entrei no elevador e refiz meu caminho até o
estacionamento, me sentei no banco do motorista e apesar de
querer ficar ali, imaginei que provavelmente Mark logo saberia que
não saí do prédio.
Liguei para Kate do carro, mas minha amiga não atendeu, só
respondeu por mensagem que estava em um jantar com o
namorado.
Deixando a ideia de ir a algum restaurante com a minha amiga
longe dos meus pensamentos, dirigi para o lugar que sempre
evitava estar.
Capítulo 9
Juliet

Me sentei na beira da praia com um cachorro quente na mão,


observando as ondas quebrando na areia, o som do mar preenchia
minha mente, me lembrando da voz de Laura, de como minha irmã
encontrava inspiração em tudo para suas músicas.
Respirei fundo aquele cheiro salgado do mar. Laura e eu
costumávamos vir juntas para Venice Beach, ouvir o mar ou correr
pela areia, aquele era um momento só nosso. Eu evitei essa região
da cidade por anos, apenas porque aquilo me faria ver minha irmã
outra vez, a adolescente cheia de vida e sonhos. Aquela que não
pude ver se formar na universidade, que não gravou o primeiro CD.
Minha irmã mais velha era tudo que eu invejei por anos, como
ela era calorosa e todos pareciam adorá-la. Nossos pais, os colegas
da escola, todos queriam vê-la cantando e dançando. A pop star da
casa, era como meus pais a chamavam.
Perdi tanto tempo invejando minha irmã por ser tão amada,
enquanto eu precisava disputar por migalhas de atenção e afeto,
que só percebi a importância que ela tinha em meu coração quando
a perdi.
Contive o choro e mordi o cachorro quente, tentando empurrar
a comida para dentro do corpo, lembrando a mim mesma que
precisava comer.
Engoli a comida que parecia sem sabor na boca e fiquei
sentada na areia observando o mar.
— Você não tem medo de ficar aqui sozinha? — uma voz
masculina me disse.
Ergui o rosto para ver o homem com roupas sociais que estava
perto de mim. Os olhos de Zeus pareciam apagados, a camisa
social tinha vários botões abertos e ele me estudava com cautela.
— O que você faz aqui? — perguntei irritada.
— Pode abaixar as armas, Juliet, eu sempre venho aqui para
pensar — Zeus sussurrou. — Não estou seguindo você.
— Mesmo que você diga isso… só vá embora — pedi.
— Por que está aqui sozinha? — inquiriu.
Olhei para Zeus outra vez, o homem se sentou, a pouco mais
de um passo de mim, ele observou o mar com os olhos cheios de
tristeza.
— O que eu faço, não te interessa — lembrei.
— Realmente — ele concordou sorrindo de canto.
Quando voltou a me olhar, eu tive um vislumbre do garoto
sorridente que seguia minha irmã pela nossa casa. Só que não
havia mais traços de felicidade no homem perto de mim. O sorriso
que ele me dirigiu não chegava a iluminar os olhos como os que
dava antes da tragédia.
— Encontrar você, me fez pensar nela — admiti, observando o
mar.
— Vocês vinham muito aqui, não é? — questionou com a voz
baixa.
Assenti e mesmo que meus olhos não estivessem sobre Zeus,
eu sabia que ele tinha visto aquela concordância.
— Lamento ter gritado com o seu irmão hoje, eu não o
reconheci por um momento — confessei. — Se tivesse reconhecido
não teria gritado com ele.
— Vocês fizeram aula de fotografia juntos na escola, não
fizeram? — Zeus me perguntou e voltei a assentir.
— Hades era talentoso com a câmera — elogiei.
— Ele ainda é — contou.
Nós ficamos em silêncio outra vez, minha mente se tornava
incapaz de discernir o que o homem ao meu lado poderia estar
pensando.
— Do que você está fugindo? — Zeus me perguntou.
Olhei para o rosto dele, com o sangue fervendo no meu corpo.
— Por que acha que sabe algo sobre mim? Não nos vemos há
anos e de repente você me encontra e acha que me entende? —
questionei irritada.
— Juliet…
— Vá para o inferno, Zeus! — ordenei me levantando. — Você
e toda sua culpa. Vai me dizer o que? Que lamenta? Lamentações
suas não trarão minha irmã de volta!
— Sei que não.
— Ótimo, é bom que saiba, Laura morreu! E morreu por sua
causa. Nada do que você fizer vai trazer minha irmã de volta, você
pode ter toda riqueza desse planeta e até ter o nome de um deus,
mas isso não te adiantou de nada porque você matou a mulher que
dizia amar! — acusei com a voz embargada por lágrimas, Zeus
estremeceu me olhando de onde estava sentado. — Você matou a
minha irmã! E eu nunca vou poder…
Me interrompi sacudindo a cabeça e caminhei de volta para o
carro deixando o homem imóvel na areia. O ar a minha volta se
tornou ainda mais salgado, porque o cheiro das minhas lágrimas se
misturava ao cheiro do mar.
Entrei no meu carro e bati a porta com força, o homem
continuou sentado na areia, sem se virar para observar o meu carro.
Solucei limpando as lágrimas do rosto. Mesmo naquela distância vi
que as mãos de Zeus iam em direção ao rosto dele, secando as
lágrimas que ele derramava.
Talvez eu estivesse apenas procurando alguém para culpar,
não me importava se fosse esse o caso. Zeus nunca foi preso pela
morte da minha irmã. E mesmo que toda aquela baboseira de
perícia, legista e polícia dissessem que a morte da minha irmã foi
uma fatalidade, Zeus nunca negou ser o culpado por ela.
Limpei meu rosto sem conseguir ficar mais um instante sequer
observando aquele homem sentado sozinho na praia e dirigi de
volta para casa.
Mark estava vendo um jogo no sofá quando cheguei em casa,
o homem me olhou, as duas garrafas de cerveja no chão me diziam
o bastante sobre o estado dele. Engoli aquela raiva de Zeus e me
aproximei do homem no sofá, Mark me observou quando chutei os
sapatos para longe e larguei a bolsa no chão.
Ele me puxou para junto de si, me fazendo montar o corpo
dele. A minha boca devorou a dele e Mark apenas retirou o casaco
que eu usava.
Quando puxei a camisa que ele usava para cima, o homem
sorriu.
— Parece que a companhia da sua chefe foi interessante —
ele comentou. — Deveria trabalhar com ela nesse horário mais
vezes.
Colei minha boca a dele impedindo o homem de falar mais
alguma coisa, simplesmente porque não queria dizer o que
precisava. E a minha briga com Zeus me deixou estranhamente
agitada.
Mark abriu minha blusa social e a tirou do meu corpo, o
homem me virou sobre o sofá, abrindo as calças que eu usava e as
puxando para baixo junto com a minha calcinha. Meu coração
acelerou quando ele veio até mim, Mark apenas desceu as calças
que usava, se colocando entre as minhas pernas, o pau dele roçou
minha entrada e me penetrou sem rodeios.
Minha boca devorou a dele sentindo cada parte de mim arder,
com a necessidade de extravasar a raiva que pulsava por minha
pele.
Mark se moveu dentro de mim, segurando meu corpo preso ao
seu. Ignorei o cheiro de álcool que ele exalava, ignorei cada detalhe
que vinha me deixando com raiva dele, apenas porque naquele
instante, eu precisava aliviar a tensão que Zeus parecia ter deixado
no meu corpo.
— Você quer que eu te foda com todas as forças? — Mark
perguntou contra o meu ouvido.
Quando aquiesci ele riu baixo e continuou se movendo dentro
de mim, segurando minha bunda com uma das mãos. A boca dele
tocava a pele do meu pescoço e a sensação de prazer que eu
sentia, parecia tão distante daquela que desejei. Que imaginei ser
capaz de aliviar aquela tensão dentro do meu corpo.
Há algum tempo, o simples fato de Mark tocar o meu corpo
teria me incendiado, o homem era bom de cama, maravilhoso
segundo algumas das mulheres com quem tinha transado antes de
mim, quando nós apenas dividíamos o apartamento e eu ouvia os
gemidos delas através das paredes, mas nos últimos meses as
coisas estavam diferentes.
Quando Mark estava prestes a gozar, ele sussurrou no meu
ouvido para gozar com ele. Aquela ideia parecia tão inalcançável e
eu estava tão cansada de discutir que simplesmente assenti.
Me afastei do homem dizendo que precisava tomar um banho
e me vi trancada no banheiro observando o meu reflexo no espelho.
Um dos meus filmes favoritos diz que nós aceitamos o amor que
achamos merecer. Me observei com cautela, me perguntando se eu
realmente achava que merecia tão pouco.
Mark podia ser um artista e ter uma visão de mundo única,
mas ele estava longe de ser um parceiro para a vida. Nós dois nos
perdemos em algum lugar e ele parecia estar em um mundo
completamente diferente.
Capítulo 10
Juliet

Ajudei Kate com as cópias dos arquivos para a reunião do


escritório, enquanto atualizava minha melhor amiga de tudo que
aconteceu na noite anterior.
— Amiga, eu já te disse, você tem que sair disso — Kate falou
convicta. — Mark continua fazendo dívidas e desistindo de
trabalhos, porque sabe que você vai pagar as contas.
— Eu não posso simplesmente fazer as malas e dizer: adeus,
Mark — argumentei suspirando.
— Por que não? — indagou.
— Não vou voltar para a casa dos meus pais e não dá para
manter uma casa sozinha.
— Já te disse que posso te alugar um quarto no meu
apartamento — Kate disse.
— E quanto o John? Vai dizer a ele “então, amor, vamos ter
uma hóspede atrapalhando nossas fodas?” — fiz sinal de aspas e
Kate riu. — Esquece, eu vou aguentar enquanto economizo mais
um pouco. Mais uns dois meses e posso pular fora.
Kate me olhou com aqueles olhos de coruja que via tudo e eu
tentei não demonstrar minha inquietação por estar sob aquele olhar
dela.
— O que você não está me contando sobre ontem a noite? —
questionou.
— Por que acha que estou escondendo algo? — indaguei
separando as cópias de texto nas pastas.
— Porque você está estranha, sempre fica assim quando quer
esconder algo. Anda logo, desembucha — pediu.
Respirei fundo e observei o rosto dela, amaldiçoando aquela
proximidade que tínhamos.
— Encontrei com Zeus ontem a noite. Eu tinha dito ao Mark
que tinha trabalho e fui para Venice Beach, acabei encontrando
Zeus por lá, mas antes que você pense que ele está me
perseguindo, pareceu mais que eu o seguia. Zeus me disse que
sempre ia lá — sussurrei.
— Meu Deus — Kate falou encarando os papéis.
— O que foi? — perguntei irritada.
— Não… você não acredita nessas coisas.
— Kate, pelo amor de Deus, fale de uma vez! É melhor ouvir
suas besteiras do que você me deixar ansiosa — avisei.
— Já parou para pensar que vocês dois podem ter chegado ao
momento de se reencontrarem? — inquiriu.
— O que você quer dizer com isso?
— E se o universo quis vocês dois juntos, mas deixou que
ficassem separados enquanto se descobriam e se libertavam da sua
dor?
Revirei os olhos ao ouvir as palavras da minha melhor amiga.
— Admita, Juliet! Zeus Andrews é um gostoso, vai dizer para
mim que você nunca sentiu nada por ele? — questionou.
— Você quer parar? — pedi. — Zeus e a minha irmã tiveram
algo.
— Não foi isso que eu perguntei. Não acha estranho que
agora, depois de todo esse tempo, ele simplesmente reapareceu na
sua vida? — Kate perguntou. — Especialmente quando você está
no pior momento da sua vida amorosa. Porque sinceramente,
amiga, se você chama o que sente por Mark de amor, eu vou te
internar em um sanatório e jogar a chave fora.
Exalei um riso ao ouvir as palavras da minha amiga.
— Não, amiga, eu não amo o Mark, gosto menos dele a cada
dia — admiti.
— Não sei como você ainda transa com ele — ela comentou.
— Sexo casual — falei erguendo os ombros e ela riu.
Deixei ela terminando os serviços dela e peguei meu celular, a
chefe estava mandando mensagem, encarei a porta de vidro e vi
quando ela bateu no relógio no pulso me observando.
— Tenho que ir comprar o almoço dela.
— Boa sorte — avisou e eu corri para fora da empresa me
equilibrando nos saltos finos.
A empresa de advocacia que eu trabalhava era uma das
melhores de Los Angeles, mas minha chefe era também uma
megera sem coração. Segui andando pela rua percebendo,
somente, quando o vento me açoitou que esqueci o casaco,
praguejei abraçando o meu corpo e caminhei para o restaurante.
— Um filé mal passado com molho de ervas finas e brócolis —
pedi ao homem à minha frente.
— Para viagem? — questionou e eu assenti.
Balancei meu corpo tentando manter algum calor nele, exalei o
ar nas mãos tentando me aquecer um pouco mais. Senti um casaco
ser colocado nos meus ombros e virei o rosto para ver quem estava
colocando o tecido ao meu redor.
— Zeus — o nome saiu em um sussurro.
— Você parecia estar com frio — avisou.
— Por que você está aqui? — questionei.
— Reunião com um pessoal do trabalho — explicou, indicando
a mesa onde Poseidon estava com alguns outros homens, o irmão
de Zeus acenou para mim.
— Não preciso da sua ajuda — falei com a voz fria encarando
os olhos verdes com firmeza.
— Eu sei que não. Só aceite o casaco.
Ele se afastou antes que eu pudesse responder, se eu não
estivesse congelando, provavelmente teria mandado Zeus engolir o
casaco dele, mas passei os braços pelas mangas e esfreguei os
braços.
— Aqui está o seu pedido — o homem atrás do balcão me
disse. Peguei o pacote pagando pela comida e me aproximei da
mesa de Zeus.
— Boa tarde! — sussurrei para os homens na mesa. — Zeus,
o seu casaco…
— Pode ficar com ele — respondeu me olhando de forma
neutra.
— Devolva algum dia quando se verem de novo — Poseidon
sugeriu me fazendo olhá-lo.
— Pode jogar fora se não quiser guardar — Zeus sugeriu.
Assenti sem demonstrar qualquer incômodo com a situação e
dei as costas ao grupo na mesa saindo do restaurante. Não me
permiti olhar para trás. Não daria aos irmãos o prazer de saber que
ele tinha me afetado.
Eu tinha visto Zeus três vezes em dois dias, ou realmente
havia um de nós perseguindo o outro, ou eu começava a acreditar
na teoria de Kate de que o universo estava nos aproximando. E
mesmo que a segunda teoria estivesse certa eu vinha me policiando
para que não fosse o caso. Tinha brigado com Zeus nas duas
primeiras e sido grosseira na terceira.
Entrei na empresa de advocacia e fui até a sala da minha
chefe com o almoço dela, quando deixei a comida sobre a mesa, ela
me dispensou para almoçar e eu fui até Kate quase voando pelo
prédio.
— Kate? — chamei.
— O que foi? — ela me perguntou assustada. — Parece até
que viu um fantasma.
A mulher me olhou de cima a baixo.
— Eu o encontrei outra vez.
— Esse casaco é do Zeus? — questionou observando a roupa
que eu usava.
— Sim, você não está entendendo, Kate. Como pode ser
possível que eu o encontre por coincidência três vezes em dois
dias? — inquiri. — O que o universo está tentando me dizer?
Kate respirou fundo me olhando com paciência quando
percebeu que eu estava realmente esperando uma resposta.
— Pode ser um jeito do universo dizer que vocês precisam
sentar e conversar. O que aconteceu com Laura foi uma fatalidade e
eu nem consigo imaginar o quanto tudo isso foi e ainda é doloroso,
mas você sempre diz que Zeus e sua irmã tiveram uma história… já
parou para pensar em como isso pode estar sendo doloroso para
ele? — questionou.
Encarei minha melhor amiga tamborilando os dedos na mesa
dela. Kate me olhou esperando que eu dissesse algo, mas apenas
balancei a cabeça em negação, nunca tinha parado para pensar no
quanto aquilo poderia ser doloroso para Zeus.
— Talvez seja hora de olhar além da sua dor, minha amiga —
Kate disse se levantando. — O universo parece estar te dizendo que
você já chegou ao fundo do poço, não adianta mais cavar para ir
mais fundo, sua única opção é começar a subir e se curar.
Observei Kate com os olhos ardendo, mas, eu não me
permitiria chorar ali, não com tantos olhos sobre mim. A parte ruim
de deixar alguém entrar, como eu tinha deixado Kate fazê-lo, é que
a pessoa passa a te conhecer muito melhor do que você se
conhece, porque passamos a vida tentando mentir para nós
mesmos e tentando esconder as piores partes de quem somos,
esconder de nossos pensamentos aquela parte destruída que nunca
conseguimos tocar para reconstruir.
Capítulo 11
Juliet

Ao fim do expediente, eu caminhei para o meu carro com o


casaco de Zeus pendurado no meu braço, apesar do homem ter dito
para que eu o jogasse fora, simplesmente não pude fazê-lo. Com a
frequência que tínhamos nos encontrado nos últimos tempos, eu
não duvidava que em breve nos encontraríamos e poderia devolver
aquela roupa.
Dirigi para o orfanato que frequentava e me vi com uma caixa
enorme de brinquedos nas mãos. Entrei no lugar com várias
crianças me cumprimentando, quando entrei no prédio a
responsável pela administração do lugar, me agradeceu pelos
presentes.
— Você sempre faz a alegria dessas crianças, Juliet — ela
sorriu, observando os brinquedos na caixa.
— Eu queria poder fazer mais por elas — sussurrei.
— A maioria delas não consegue pais adotivos, ficam aqui até
serem adultos, pessoas como você que dedicam um pouco do seu
tempo a elas, fazem uma diferença muito grande em suas vidas.
— Obrigada — respondi.
— Você parece cansada hoje — a mulher mais velha me disse.
— Não é nada demais, foi só um dia puxado no trabalho.
— Então vá para casa descansar, lembre que a exaustão é a
inimiga da perfeição — ela falou me fazendo sorrir.
Concordei com um aceno e passei nas salas comuns do
orfanato cumprimentando as crianças que me abraçaram
empolgadas. Tentei me manter firme nos saltos enquanto várias
delas se jogavam sobre mim.
Cumprimentei os adolescentes sentados nos sofás com livros
velhos nas mãos.
Depois de alguns instantes sendo atualizada sobre quais deles
entraram nos times das escolas, quais estavam entrando para
outras atividades e notas em provas, eu parabenizei as crianças
pelo progresso e avisei que precisava ir.
— Eu prometo que venho no fim de semana para brincar com
vocês — falei para interromper o coral de lamentações.
Voltei para o carro respirando o ar da noite. Observei a minha
respiração condensando a minha frente. Meu dia tinha se resumido
em encarar o casaco de Zeus, me perguntando que tipo de
pegadinha o universo estava me pregando e pensar em tudo que
estava acontecendo com Mark.
Entrei no carro e dirigi até um restaurante de comida
tailandesa, fiz um pedido para viagem e esperei quando a mulher
me pediu para fazê-lo.
Peguei o celular e vi uma mensagem de Mark, ele dizia que ia
ficar no ateliê até mais tarde. Não respondi, apenas enfiei o
aparelho no bolso do casaco e me vi encarando a atendente atrás
do balcão.
Aquele momento constrangedor durou até que o meu pedido
chegou, peguei o pacote e caminhei para fora do lugar, voltei para
casa e me vi entrando no elevador com meu vizinho Henry gritando
para eu segurar a porta.
Impedi as portas metálicas de se fecharem e ele sorriu
agradecendo.
— Chegando do trabalho? — ele me perguntou.
— Sim — falei suspirando para enfatizar o cansaço.
— Eu também.
— Como Charlie está? — inquiri.
— Ele está bem e o Mark?
— Bem também. Trabalhando até tarde.
O elevador abriu e nós nos despedimos, caminhei pelo
corredor em direção a minha casa e abri a porta. Mark sempre saía
de casa mais tarde. Observei o ambiente e imaginei que jogaria tudo
pela janela.
Havia pratos e copos em cima da mesa de centro, lençol no
sofá, respirei fundo colocando a sacola com a comida em cima do
balcão. Voltei para a sala recolhendo o lixo e quando puxei o lençol
para tirá-lo do sofá um pacote aberto de preservativo caiu no chão.
Peguei o pacote e observei o interior, não havia nada dentro.
Joguei as almofadas do sofá no chão e como tinha previsto, o
preservativo usado estava ali, largado entre as almofadas. Observei
aquele sinal de traição e respirei fundo com o sangue fervendo no
meu corpo.
Fui até o armário e peguei uma garrafa de vodka, ignorando a
comida em cima do balcão. Tirei a tampa da bebida e comecei a
engolir o líquido, caminhei até o quarto e abri a minha mala enorme,
deixei o objeto em cima da cama e joguei todas as roupas dentro
dela. Enfiei os sapatos dentro da mala, fechando o objeto.
Coloquei meus demais itens dentro da mochila enorme que
tinha sido minha companheira por muito tempo. Os retratos de
família, meus remédios, secador, escova de dentes e tantos outros
objetos que eu não deixaria para trás.
Joguei tudo na bolsa sem me importar se quebraria algo. Levei
a garrafa à boca e engoli a bebida. A bolsa com a comida tailandesa
em cima do balcão parecia me atrair, eu não ia alimentar alguém
que estava me apunhalando pelas costas. Abri a janela que dava
para a rua e joguei a comida por ela.
Deixei a mala com a mochila perto da entrada e me sentei na
mesa de centro bebendo mais alguns goles da bebida forte.
Observei a porta com calma, tinha muitas coisas naquela casa que
eu tinha comprado, coisas que meu dinheiro foi gasto para arrumar,
mas não ia quebrar tudo aquilo sozinha.
Esperei deixando a bebida de lado, apenas porque queria
estar sóbria o bastante para me defender se a situação exigisse.
Os minutos se arrastavam e mandei fotos de tudo que
encontrei no apartamento para Kate, que me disse para deixar de
bobagem e ir para o apartamento dela que John e ela me
receberiam pelo tempo que eu precisasse.
Agradeci e disse que iria mais tarde. Guardei o celular no bolso
quando a porta do apartamento se abriu e Mark sorriu quando me
viu, o sorriso morreu em seu rosto quando notou que não retribuí.
— Me esperou por muito tempo? — perguntou.
— Na verdade não — respondi esticando o corpo em direção
ao sofá, peguei o preservativo com as pontas dos dedos e joguei em
cima dele.
O líquido escorreu na camisa do homem e Mark praguejou
segurando o objeto.
— Sabe, eu estava sentindo que algo estava errado na nossa
relação há algum tempo, — confessei — mas vinha pensando em
formas fáceis de acabar com isso.
— Juliet… — ele disse meu nome com a voz baixa.
Peguei a garrafa de vodka do chão me levantando e Mark
estagnou a dois passos de distância, o olhar do homem estava fixo
na garrafa, como se ele temesse que eu a quebrasse nele. Atirei o
objeto na tela da TV e o homem xingou correndo até o aparelho
destruído.
— Perdeu a porra do seu juízo? — questionou. — Sabe quanto
isso custou?
— Sei. E você sabe? — perguntei.
— Juliet, foi só uma transa. Era só uma prostituta, há coisas
que você não queria fazer comigo — acusou.
— Ah, é claro! Agora a culpa de você ser um pedaço de bosta
é minha? — exalei um riso e peguei um vaso que ele tinha
esculpido, um vaso que nunca recebeu flores.
Atirei o maldito objeto no aparelho de som que estava perto de
Mark e ele se afastou dos objetos que eu tinha comprado.
— Pare com isso! — ordenou.
— Parar? Eu comprei essas coisas, posso fazer o que quiser
com elas! — lembrei.
— Amor, vamos conversar, acertar as coisas — pediu.
— A única coisa que eu quero acertar agora, é a sua cabeça
com alguma das merdas que você esculpiu, aliás, seu trabalho é um
lixo — avisei. — Minha mãe é uma escultora, você é uma vergonha.
Segurei o pedaço de argila disforme que ele tinha chamado de
monstro do pântano.
— Veja isso? Parece até que você observou um monte de
bosta de algum animal e copiou — falei. — É essa sua visão de
mundo? Uma pilha enorme de merda?
Arremessei o objeto acertando o microondas que quebrou a
porta de vidro.
— Se você não parar com isso agora…
— Vai fazer o quê? — o interrompi. — Sabemos que você é
péssimo de briga. Lembra quando o seu amigo Josh veio aqui te
acertar por não pagar sua dívida?
Peguei outra escultura que estava em cima de uma bancada
na parede.
— Sabe, eu sempre odiei essas coisas. Tive pesadelos com
elas várias vezes — confessei sentindo o peso do objeto.
— Juliet…
Joguei a maldita escultura em direção a cabeça de Mark, mas
ele se jogou no chão e a peça se espatifou na parede.
— Sabe, Mark, eu desejo realmente que você seja muito feliz
aqui. Vamos ver quanto tempo sobrevive sem o meu dinheiro.
Coloquei minha mochila nas costas e peguei a mala para sair
daquela casa, assim que bati a porta do apartamento com força vi
Henry e Charlie me observando.
Ignorei os dois e pressionei o botão do elevador com força
tentando entrar logo naquele lugar claustrofóbico que me levaria ao
carro.
Capítulo 12
Juliet

O maldito elevador parecia tão lento naquele momento e


tudo que eu conseguia pensar, era que não podia chorar na frente
daqueles estranhos.
As portas metálicas se abriram e eu estava prestes a entrar
quando vi quem estava dentro, estagnei encarando Zeus
completamente confusa com aquela aparição do homem, as
perguntas giravam em meus pensamentos.
Ele deu um passo para fora e meu olhar continuou fixo em
seu rosto. Minha visão pareceu captar tudo lentamente, quando o
braço de Zeus me puxou para perto dele, meu corpo se chocou com
o dele e o vi erguer o braço livre.
Girei o rosto vendo-o agarrar um taco de beisebol. Zeus me
afastou de si, me colocando de lado e puxou o objeto das mãos de
Mark, ele o girou e acertou o nariz do escultor com o objeto
metálico.
Meu coração acelerou no peito ao ver aquela ação rápida, o
ar a minha volta se tornou difícil de inalar.
— Filho da puta! — Mark praguejou.
— O que você…? — questionei com a mente trabalhando
de forma lenta por causa da bebida que tomei.
Zeus me ignorou atirando o taco de beisebol pelo chão do
corredor, ele segurou a camisa de Mark pressionando o homem
contra a parede do outro lado do corredor, segurei as portas do
elevador que quase se fecharam e saí dele observando os dois.
— Que tipo de maluco você é? — Zeus perguntou furioso.
— Ia acertar a cabeça dela com um taco de beisebol?
— Ela destruiu a minha casa! — Mark retrucou.
— Eu quebrei tudo que comprei — rebati.
— Sua vadia estúpida! Eu te amei quando ninguém mais te
amava! Te dei as fodas que você queria — Mark praguejou.
— Amor? — questionei. — Você nem sabe o significado
disso seu babaca maldito!
— Zeus, se acalme, deixe esse idiota ir. Você já tem muitos
problemas com os quais lidar — Charlie disse segurando o ombro
de Zeus.
— Vocês se conhecem? — perguntei.
— Amigos de faculdade — Zeus contou.
Meu coração quase errou algumas batidas, me perguntei
quantas vezes Zeus e eu ficamos a apenas alguns metros de
distância um do outro enquanto ele visitava o amigo, quantas vezes
provavelmente, eles ouviram minhas discussões com Mark.
Me afastei de Zeus e dos outros homens, pegando a mala
no caminho, o elevador já estava percorrendo o prédio, então
comecei a descer as escadas ameaçando quebrar as rodinhas da
minha mala, mas sem me importar com isso. Só precisava colocar
distância entre mim e o homem que estava ali.
— Juliet? — Zeus me chamou.
Ignorei a voz dele e continuei descendo as escadas. O
homem me segurou no patamar entre as escadas, e nós nos
encaramos.
— O que aconteceu? — questionou.
— Nada. Isso não te interessa — avisei afastando a mão
dele de mim e voltando a descer as escadas.
— Bom, parece que me interessa, já que eu quebrei o nariz
daquele idiota — rebateu me seguindo.
— Zeus, só me deixe em paz — ordenei e virei o rosto para
observá-lo.
Pisei em falso no degrau com o salto e deixei a mala rolar o
lance de escadas, Zeus me segurou junto a si antes que eu fosse
junto com o objeto. Encarei os olhos dele, aqueles olhos verdes que
pareciam mais bonitos naquele momento. Sacudi a cabeça para me
livrar daquela linha de pensamento.
Vodka estava na lista de bebidas que eu jamais me
permitiria consumir. Me movi, ainda com os braços de Zeus me
segurando e tirei os sapatos dos meus pés, evidenciando aquela
diferença de altura que havia entre nós.
— Você está bem? — ele perguntou.
As três palavras de Zeus me desarmaram completamente,
elas pareceram uma bomba arremessada contra a muralha de papel
que eu passei anos moldando ao meu redor. Meu corpo estremeceu
ao ouvi-las.
Me afastei dele e caí sentada no degrau, com as costas
apoiadas na parede e os saltos caídos pela escada. Minha mala
estava no outro piso. O ar ao redor parecia sufocante e aquele
choro que eu contive por tanto tempo saiu de mim.
— Eu o odeio. Odeio Mark por dizer uma verdade irredutível,
ninguém nunca me amou a vida inteira — Zeus balançou a cabeça e
senti a mão dele envolver o meu joelho. — Eu tenho que ir.
As palavras saíram de forma automática quando notei que
estava prestes a desabafar com Zeus. O homem que eu tinha jurado
odiar enquanto vivesse.
— Para onde você vai? — ele me perguntou.
Zeus me ajudou a levantar do chão e eu o estudei sem
querer me expor mais para ele, já bastava que Zeus fosse a
primeira pessoa a me ver chorar em muito tempo.
— Para casa de uma amiga.
— Eu levo você — sugeriu.
Balancei a cabeça negando.
— Não posso deixar o meu carro aqui — falei convicta.
— Eu não vim com o meu carro, Poseidon o pegou
emprestado, posso dirigir o seu até a casa da sua amiga e depois
pego um táxi — explicou. — É perigoso dirigir com tanta bebida no
corpo.
Concordei com um aceno e senti quando Zeus tirou a
mochila das minhas costas. O homem pegou os sapatos que deixei
caídos na escada e nós descemos juntos os degraus que faltavam
até aquele andar. Observei-o pegar a minha mala e apertar o botão
do elevador.
Nós entramos juntos e Zeus não tentou conversar comigo
outra vez, me senti grata por aquele silêncio, assim eu não
precisava tagarelar sobre a minha vida para ele.
Assim que entramos no estacionamento, entreguei a chave
do meu carro para ele que abriu o porta-malas colocando minha
bagagem dentro do veículo. Meus pés estavam gelados no chão
frio, apenas observei enquanto o homem tirava sapatos de dentro
da minha mala e me entregava.
Abri a porta do carona e entrei no carro, enfiei os pés nos
tênis e esperei que Zeus dirigisse. Quando o homem entrou no
carro, coloquei o cinto de segurança e observei o parabrisa,
tentando não olhar para o rosto dele.
— Você não vai prestar queixa? — Zeus me perguntou
depois de um tempo que saímos do prédio.
— Não. Eu destruí o apartamento dele. Destruí todas as
esculturas que ele tinha lá — expliquei.
— Vocês estavam juntos há muito tempo? — perguntou.
— Comecei a dividir o apartamento com ele quando tinha
vinte e dois anos, dois anos depois nós começamos a namorar. —
Levei um tempo para calcular mentalmente por causa da bebida. —
Ficamos juntos por três anos.
— Lamento que tenha acabado — falou.
— Não lamente, eu vinha empurrando a situação com a
barriga há muito tempo — admiti.
— Por que continuou numa relação assim? — Zeus
indagou.
— Como Mark disse, ele me deu as migalhas de amor e
atenção que ninguém mais deu. Isso foi suficiente por um tempo —
confessei aquela vergonha.
Zeus ficou em silêncio um tempo e eu narrei o endereço de
Kate antes de esquecer completamente o que tínhamos que fazer.
— Você…
— Se importa de não conversarmos? — questionei com a
voz afiada. — Sei que você me ajudou hoje, mas mesmo que eu
seja grata por isso, não somos amigos.
— Tudo bem — Zeus concordou.
O silêncio preencheu o carro e eu me senti mais
desconfortável por estar ali com ele. O tempo de viagem até a casa
de Kate pareceu longo demais, minha amiga provavelmente ia
querer arrancar as bolas de Mark quando soubesse o que tinha
acontecido.
— Vai ficar muito tempo por aqui? — Zeus me perguntou
quando entramos no bairro em que Kate morava.
— Não sei — admiti. — O mínimo que puder.
Zeus murmurou uma concordância e eu me vi grata por
estarmos em silêncio outra vez, com os vidros fechados e o
aquecedor do carro ligado, o único cheiro que eu sentia além da
bebida, era o perfume dele, um cheiro cítrico e refrescante.
Nós dirigimos até o prédio que Kate morava e Zeus
estacionou na rua, perto da calçada.
O rosto do homem se voltou para o meu. Engoli seco ao ter
aquele olhar calmo direcionado a mim, Zeus suspirou e eu notei que
os olhos dele continuavam apagados.
— Obrigada por me trazer — sussurrei.
— Não precisa agradecer — falou.
— Você pode me contar o que aconteceu naquela noite?
Por que vocês dois brigaram? — interroguei.
O olhar de Zeus se desviou do meu rosto e ele encarou as
próprias mãos que estavam no colo dele.
— Quando você estiver sóbria, se ainda quiser saber a
respeito vou te contar — prometeu.
Assenti e desci do carro indo até o porta-malas, Zeus me
ajudou a abrir quando notou que eu estava lutando com aquela
porta. Depois disso, peguei minhas malas garantindo ao homem que
conseguia carregar elas sozinha.
— Boa noite, Juliet! — ele disse.
— Boa noite, Zeus — sussurrei.
Ele travou o meu carro e segurou minha mão fechando os
meus dedos ao redor das chaves. Encarei nossas mãos juntas e
quando ergui os olhos para o rosto dele, Zeus parecia estar com os
olhos marejados. O homem soltou minha mão e sinalizou para um
táxi que vinha percorrendo a rua.
Capítulo 13
Juliet

Kate me deu uma xícara de café bem forte quando cheguei a


casa dela, John e minha melhor amiga me observavam esperando
que eu falasse. Contei aos dois o que tinha acontecido naquele
apartamento, como Zeus tinha me trazido até ali e possivelmente
salvado a minha vida naquela noite.
— Eu acho que você está precisando dormir agora — Kate me
disse.
— Por favor — sussurrei.
— Vou te mostrar o quarto — Kate disse se levantando do
sofá, segui minha amiga pela casa.
Arrastando minha bagagem comigo, me peguei refletindo se
aquela seria a nova etapa da minha vida, se passaria o resto dos
meus dias indo e voltando de lugares.
— Não é grande coisa, nós vamos tirar o resto das caixas
amanhã — prometeu, quando observamos o quarto, a cama parecia
confortável e limpa, mas havia uma pilha de caixas pelo lugar. —
John trouxe tudo isso quando se mudou e como ainda estamos
organizando as coisas, achamos melhor desempacotar com calma.
— Não precisam se apressar por minha causa, prometo que
não mexo nas coisas dele enquanto estiver aqui — sussurrei.
— Não se preocupe com isso. Só tente relaxar. O chuveiro
daqui só tem água fria, mas se você quiser pode usar o do corredor
— avisou.
— Vou ficar bem — garanti forçando um sorriso.
Kate segurou minhas mãos e me estudou com um olhar
cauteloso. Sempre que ela me lançava esse tipo de olhar, havia um
assunto complicado para mim chegando, mas depois de tudo que
aconteceu naquele dia, eu imaginei que nada mais me
surpreenderia.
— Sei que você está cansada, que você provavelmente não
chorou tudo que precisa ainda, mas tente se lembrar que Mark
nunca mereceu você. Aliás, aquele babaca inútil não merece nem
mesmo respirar o mesmo ar que você — sussurrou.
— Está bem — respondi voltando a sorrir.
Kate me abraçou e saiu do quarto, fechando a porta atrás de
si. Observei o cômodo imaginando que provavelmente era melhor
eu me acostumar com aquele caos, porque ali seria meu lar por no
mínimo alguns meses.

De fato havia um contato de Zeus dentro do bolso do casaco


que ele me deu, eu constatei isso quando tirei o casaco do meu
carro, apesar de ter salvo o número dele no meu celular, não tinha
intenção alguma de contatar o homem.
Algo sobre o meu passado que nunca revelei para ninguém é
que de fato, quando eu tinha cerca de doze ou treze anos, tive uma
paixão infantil por Zeus. Ele já era lindo naquela época e os sorrisos
alegres dele contribuíam para torná-lo apaixonante.
Só que quando você tem doze anos, a ideia do amor é
extremamente baseada em contos de fadas, onde um príncipe
bonito resgata a princesa do alto de uma torre e eles vivem felizes
para sempre. A questão é que Zeus deveria ter sido o príncipe de
Laura.
Fechei os olhos naquela cama enquanto observava a tela do
celular.
Nos últimos três dias, desde que me mudei para a casa da
minha amiga, eu passei quase todo o meu tempo livre procurando
um apartamento que eu conseguisse bancar sozinha.
De manhã, Kate e eu íamos ao escritório juntas, eu corria pela
cidade resolvendo cada problema que Emília Turner, minha chefe
diabólica, me dava para resolver. E no fim do dia, quando
chegávamos em casa, eu tomava um banho e saía para “correr”, o
que era minha desculpa para vagar pela cidade, normalmente
perdendo horas em uma cafeteria, ou livraria até que passasse das
dez e eu retornava para o apartamento.
Meus olhos ardiam pelo sono, e pelo relógio do celular era
quase meia-noite, mas continuei observando a tela vasculhando os
anúncios à procura de um apartamento.
Observei o contato de Zeus na minha rede social, observando
a foto do homem, ele estava de costas para a foto e parecia ter sido
tirada há algum tempo. Fui até a página de internet e contive meus
dedos sobre a tela do celular me perguntando se deveria ou não
seguir com aquilo.
Digitei o nome completo de Zeus na página de pesquisa e vi as
fotos dele. Zeus tinha cursado Economia em Harvard, ele foi listado
em várias listas de nomes bem sucedidos e herdeiros promissores.
Na verdade, os três irmãos estavam na maioria das listas. Fui
para a aba de imagens para ver o que Zeus tinha feito nos últimos
tempos. Sites de fofoca com pouca credibilidade tinham dedicado
diversas páginas para listar os casos de Zeus Andrews.
Havia fotos de Zeus com modelos, com mulheres sem fama,
empresárias, e outras profissões comuns, mas todas aquelas
páginas tinham uma coisa em comum, nenhum relacionamento
durava.
Talvez a vida do homem que eu achei que tivesse continuado
de forma tranquila, não estivesse tão bem quanto supus.
Batidas na porta me fizeram travar a tela do celular e vi Kate
enfiando a cabeça pela abertura.
— Trouxe um chocolate quente — ela disse invadindo o
quarto.
— Obrigada — sussurrei segurando uma das canecas que ela
trazia consigo.
— Então, o que você estava pesquisando?
Observei o celular com a tela travada por um instante e levei a
caneca à boca pensando em algo perto da verdade, mas sem
revelar a verdade constrangedora que me perseguia.
— Zeus me disse na noite que me trouxe para cá, que me
contaria o que realmente aconteceu na noite em que Laura morreu,
mas ele disse que eu tinha que estar sóbria para isso — esclareci.
— Isso é bom, não é? Você sempre quis entender o que houve
naquela noite — sussurrou.
— Sim e não — confessei num suspiro. — Enquanto eu tinha a
opção de odiar e culpar Zeus pela morte de Laura, as coisas
pareciam mais fáceis.
Kate exalou pesadamente se sentando perto de mim na cama,
minha amiga deixou a própria caneca na mesa de cabeceira e me
observou esperando que eu falasse. Como já tinha falado tantas
vezes antes.
— Quando Laura estava viva, ela era a estrela da família,
nossos pais sempre tiveram adoração por ela, minha irmã
participava de concursos de canto e dança, ela foi Miss Sunsville
antes de nos mudarmos para Los Angeles. Enquanto eu era a filha
mais nova sem graça que não era particularmente promissora em
nada — lembrei. — Eu invejava a minha irmã. Invejei tantas vezes
que na maior parte do tempo parecia odiá-la, mas Laura ainda era
minha irmã, eu ainda queria que ela tivesse uma vida, que fosse
uma cantora famosa.
— Eu sei que você queria — Kate sussurrou.
Eu tomei um gole do chocolate, sentindo o sabor doce na
minha boca amarga.
— Quando ela morreu, eu me senti vazia, como se algo
importante fosse arrancado de mim. E mesmo que eu não pudesse
explicar como me sentia, mesmo que aquela dor me rasgasse em
pedaços desde o instante em que abria os olhos até o momento em
que os fechava para dormir, eu ainda precisava engolir o choro.
Meus pais estavam devastados, eles nunca deixaram o luto de lado,
não houve uma manhã em que abriram os olhos e perceberam que
eu ainda estava lá e precisava deles. Tudo que importava, era que
Laura já não estava naquela casa. Minha mãe mal me olhava,
porque sempre que via os meus olhos cinzentos e o cabelo loiro
escuro, ela começava a chorar.
— Por isso, você começou a pintar o cabelo de preto — Kate
falou, me lembrando daquela tarde em que entrei no banheiro e
colori o cabelo sozinha.
— Sim, mas isso não adiantou, porque eu simplesmente já não
era vista naquela casa. Fui a gravidez acidental, a criança que
nasceu sem planejamento — repeti a história que meus pais
contavam aos risos quando eu era criança. — Eles estavam
bêbados em um jogo de basquete quando ela engravidou.
— Juliet, você é importante, é uma das pessoas mais
generosas que já conheci na vida. Veja tudo que você suportou e
suporta até hoje. Mesmo nos piores momentos da sua vida, você
sempre continuou em frente e isso é incrível — Kate disse. — Eu
provavelmente não suportaria o que você suportou.
— Obrigada — murmurei.
— Se eu puder te dar um conselho… — começou e eu assenti.
— Se tiver a oportunidade, converse com Zeus, acho que você
ainda está sendo assombrada por causa de tudo que aconteceu
com a sua irmã, justamente por não ter se permitido saber a
verdade por trás da morte dela.
Encarei Kate, sem conseguir responder a minha amiga, ela
sorriu e se levantou da cama murmurando um boa noite ao sair do
quarto levando a própria caneca ainda cheia. Observei o ambiente
onde estava e destravei a tela do celular mais uma vez.
Capítulo 14
Juliet

Quando deixei Kate em casa ao fim do expediente da sexta,


disse à mulher que precisava pensar um pouco e ela não discordou.
Dirigi pela cidade em direção a Venice Beach, torcendo para estar
errada.
Eu tinha a sensação de que poderia encontrar Zeus na praia
naquela noite. Meu coração acelerava no peito conforme dirigia em
direção ao lugar.
A expectativa de saber o que realmente aconteceu na noite em
que minha irmã morreu, estava me deixando inquieta, por mais que
Kate me conhecesse, por mais que a morte de Laura tenha me
afetado por todos esses anos, eu ainda me perguntava se estava
pronta para entender o que houve.
Respirei fundo quando estacionei o carro e vi o homem
sentado na areia. Ele não pareceu notar a minha presença, peguei o
casaco dele que estava no banco do carona e desci do carro
travando as portas do veículo, segui andando lentamente pela
calçada até caminhar pela areia.
— Você deve estar precisando disso — comentei e estendi o
casaco para Zeus.
Ele ergueu o rosto e nossos olhos se encararam por um longo
instante, o homem pegou a peça de roupa com a mão e assentiu em
agradecimento. Observei-o cobrir os ombros com o casaco
deixando a roupa como um casulo ao redor de si.
— Vai me dizer que chegou até aqui por coincidência outra
vez? — ele questionou, erguendo o olhar sem emoção para me
estudar.
Me sentei ao lado do homem, deixando apenas cerca de
quarenta centímetros nos separando.
— Dessa vez eu achei que te encontraria aqui — confessei.
— Por que não me ligou se queria me encontrar? — perguntou
estudando o meu rosto.
Desviei os olhos dos dele e observei as ondas se quebrando
para não encarar o homem ao meu lado.
— Porque eu não queria te encontrar aqui. Quando finalmente
tenho a oportunidade de responder as perguntas que me
atormentaram a vida inteira, acho que estou com medo de ter as
respostas — admiti.
— Então você veio saber o que aconteceu naquela noite —
Zeus disse.
A voz dele parecia um tom mais baixo naquele instante, a
mudança naquele som quase me fez virar para observá-lo, mas me
contive. Se eu encarasse Zeus naquele momento de verdades
dolorosas, talvez na tentativa de fugir delas, eu começasse outra
briga com ele.
— Sua irmã e eu sempre fomos próximos, ela era a pessoa
que eu mais amava no mundo — Zeus disse e finalmente o olhei
pelo canto dos olhos, mas ele não me olhava, em vez disso, sua
atenção estava no mar. — Laura sempre deixou claro que não tinha
interesse romântico em mim. Mesmo assim, ela estava nos meus
pensamentos o dia inteiro e até nos meus sonhos.
Ouvi as palavras de Zeus em silêncio, esfregando meus dedos
das mãos uns nos outros para apenas fazer algo, porque sem
qualquer movimento, eu estaria entregue aquela necessidade de
discussão, porque as emoções ruins que senti com relação ao Zeus
nos últimos dias, foram as coisas mais reais que senti em muito
tempo.
— Naquela noite, a previsão do tempo era de chuva intensa,
mas eu já tinha convidado a Laura para sair. Nós vimos um filme
juntos, um filme que não me lembro qual foi porque eu estava
distraído demais olhando para ela.
— E então? — questionei quando Zeus ficou cerca de um
minuto calado.
— Nós jantamos juntos e no meio do jantar, eu pedi a Laura
em namoro, estava muito nervoso porque a amava tanto que não
conseguia imaginar o que faria se ela me rejeitasse. Foi um dos
momentos mais tensos da minha vida, Laura segurou minha mão e
me disse que não podia entrar em um relacionamento — contou
com a voz ainda mais baixa.
Precisei virar o rosto para olhar para Zeus naquele momento, o
homem falava tão baixo que com o som das ondas e o vento forte,
eu precisava focar toda minha atenção nele.
— Nós saímos do restaurante e eu esperei para implorar
quando estivéssemos sozinhos no carro. Laura me disse que não
queria me magoar, ela falou que estava disposta a tudo para crescer
no meio musical e que faria tudo ao seu alcance, então se
precisasse namorar produtores, ou algum cantor famoso, ela faria
isso.
Meu coração acelerou ao ouvir aquelas palavras, eu era jovem
demais quando Laura morreu, jovem demais para que minha irmã
confiasse aquele tipo de assunto a mim, mas tinha ouvido atrás da
porta do quarto dela, vezes o suficientes para saber que ela não era
uma garota que se guardava para um cara especial.
— Nós dois nunca tivemos nem um beijo, porque Laura e eu
éramos melhores amigos, então nos divertíamos com outras
pessoas, mas naquela noite, eu estava cansado de esconder o que
realmente sentia. Não estava disposto a simplesmente desistir de
nós dois, por isso insisti naquele carro. Chovia muito fora do veículo
e nós nem mesmo tínhamos saído do estacionamento a céu aberto.
Fechei os olhos imaginando a cena dos dois no carro, enterrei
meus dedos na areia sob meu corpo, prendendo alguns punhados
dela nos punhos.
— Laura disse que não dava para argumentar com alguém tão
infantil. Ela falou que não podíamos ficar juntos porque ela não
queria se prender tão rápido, que queria algo maior, quando eu
insisti que não tentaria prendê-la, que eu podia ajudar sua irmã a
conquistar o que ela quisesse no mundo. Seja na música, na dança
ou por qualquer meio, ela chegou ao limite, desceu do carro e disse
que ia para casa de ônibus, eu desci do veículo tentando chamar ela
de volta, mas antes que chegasse perto dela, antes que eu
segurasse sua irmã perto de mim, o raio caiu sobre ela.
Lágrimas rolaram pelas minhas bochechas quando visualizei
aquela cena em meus pensamentos. Abri os olhos observando o
mar que refletia o céu noturno e os dois pareciam um espelho um do
outro à distância.
— Eu me arrependo de ter insistido, me arrependo de não ter
cancelado aquele jantar, me arrependo de não ter seguido ela antes,
se eu tivesse segurado ela e a obrigado a entrar no carro… —
sussurrou até que a voz dele falhou.
Limpei meu rosto na manga do casaco que usava e me voltei
para Zeus que limpava as lágrimas do próprio rosto também.
— Seria mais fácil o raio cair sobre vocês dois do que você
conseguir arrastar minha irmã de volta para o carro — murmurei
com a voz ainda mais rouca.
Meus olhos marejaram outra vez e eu mordi o lábio tentando
conter o choro. Aquela história me fez pensar no quanto eu não
conhecia minha irmã mais velha. Zeus me observou esperando que
eu esclarecesse o que tinha dito.
— Laura estava acostumada a ter as coisas do jeito dela —
sussurrei. — Todos sempre fizeram tudo de acordo com o que era
melhor para ela. Minha irmã não era o tipo de pessoa que se
permite contrariar, quando Laura tomava uma decisão nada podia
alterar sua cabeça.
— Eu sei — Zeus admitiu.
— Sinto muito que você tenha se apaixonado por ela —
sussurrei.
Meu coração acelerou e a emoção ameaçou me sufocar
quando aquela verdade que me destruía por dentro ameaçou me
subir a garganta, contive o choro respirando fundo e sentindo o meu
corpo estremecer ao fazer isso. Zeus observava o mar e meus olhos
estavam sobre ele.
— Não foi sua culpa, Zeus. Você pode ter o nome do deus dos
céus, mas não tem o poder de controlar tempestades — garanti. —
O que aconteceu com Laura foi uma fatalidade.
Os olhos do homem se voltaram para o meu rosto e nos
observamos por um longo e silencioso instante, analisando cada
traço do rosto um do outro.
— Você parece outra pessoa agora — ele disse com a voz
baixa.
— Acho que o universo me acertou com todas as forças e eu
cansei de cavar o fundo do poço tentando ir mais para baixo. Chega
uma hora que a única alternativa é começar a escalar — declarei.
— Você está bem? — perguntou e as lágrimas ameaçaram
deixar meus olhos outra vez.
— Eu vou ficar. E você? Você está bem, Zeus? Ou só tem
fingido todo esse tempo? — interroguei.
O homem esboçou um sorriso de canto que não iluminou os
olhos, ele só continuou observando o meu rosto com aquela
expressão que deveria demonstrar diversão.
— Eu criei uma rede de mentiras e me enrosquei nela. A essa
altura, isso não faz mais diferença — murmurou.
Contive a vontade de dizer ao homem que fazia diferença para
mim. Por mais que eu finalmente estivesse me permitindo libertar
daquelas memórias antigas que me atormentavam, Zeus Andrews e
eu não éramos amigos.
Capítulo 15
Zeus

Juliet Jordan era uma pessoa diferente da garota que gritou


me chamando de assassino quando a irmã morreu, a mulher que
estava sentada ao meu lado naquela praia também era diferente
daquela com quem eu tinha discutido quando nos reencontramos.
Não imaginei o que ela passou com o ex-namorado, mas parecia
que aquilo a havia mudado.
— Vem, nós estamos precisando de uma bebida — avisei, me
levantando.
Estendi a mão para a mulher que encarou minha palma com
cautela e assentiu. Juliet segurou minha mão e a ajudei a levantar,
nós caminhamos juntos até um restaurante à beira-mar, eu a fiz
entrar comigo no lugar e nós nos sentamos em uma mesa.
— Você quer comer alguma coisa? — perguntei. — Ainda não
jantei, então vou aproveitar para comer.
Ela assentiu e quando chamei o garçom, nós pedimos as
bebidas e o jantar, Juliet apesar de ser irmã de Laura e fisicamente
lembrar bastante a outra, era bem diferente dela. Laura era
vegetariana, Juliet tinha pedido um prato com carne para sua
refeição.
— Se você não parar com isso, eu vou acertar sua cabeça
com um prato — ela avisou e eu pisquei os olhos confuso. — Não
sou minha irmã.
— Eu sei que não.
— Mas estava me comparando com ela — constatou.
— Não estava comparando — avisei. — Na verdade, acho que
você nem mesmo precisaria pintar o cabelo, vocês são muito
diferentes.
Juliet me observou com cautela no olhar, então me pediu
licença para ir ao banheiro.
Observei o restaurante enquanto Juliet caminhava pelo lugar,
peguei o celular do bolso para ver que Poseidon e Hades estavam
trocando mensagens no nosso grupo sem o nosso pai. Meus irmãos
mais novos estavam discutindo a possibilidade de precisarem
registrar meu desaparecimento.
“Estou vivo e ocupado agora, falo com vocês depois” — avisei
por mensagem de texto.
“Não me diga que está em um encontro?!” — Poseidon disse.
E continuou na mensagem seguinte: “As coisas já chegaram a esse
ponto com Juliet?”
“Nossa herança está salva!” — Hades respondeu.
Praguejar mentalmente ao ler as mensagens dos dois idiotas e
travei o celular ignorando as demais mensagens. Juliet retornou
sem o casaco que usava antes e com o cabelo solto.
A blusa de mangas longas que ela usava era preta e o rosto
dela parecia vermelho por causa do frio, a mulher pendurou o
casaco na cadeira e se sentou pedindo desculpas pela demora.
— Tudo bem, meus irmãos me fizeram companhia enquanto
esperava por você — expliquei erguendo o celular.
— Eu preciso me desculpar com Hades depois — ela
comentou e eu a olhei confuso. — Por ter gritado com ele naquele
dia.
— Ah! — Esbocei um sorriso. — Ele disse que você sempre foi
do tipo briguenta na escola e que aquilo não era surpreendente.
— Não achei que ele se lembrasse de mim — confessou, com
um sorriso no rosto.
— Hades nunca esquece um rosto — contei.
O garçom voltou com o nosso vinho e Juliet agradeceu quando
ele saiu andando pelo restaurante.
— O que você fez da vida depois que saiu da escola? —
perguntei observando a mulher provar o vinho.
— Eu fui para Princeton, cursei administração, depois que saí
de lá consegui alguns estágios e acabei como secretária de Emília
Turner, a advogada — explicou e eu assenti.
— Ela é uma advogada renomada — comentei.
— E uma megera precisando de uma noite de sexo para
relaxar e esquecer a minha existência — falou me fazendo rir.
— Como conheceu seu ex-namorado? — perguntei curioso.
— Kate me levou a uma exposição de esculturas numa galeria,
ela sabe que minha mãe faz esculturas e eu estava encarando uma
das esculturas dele, pensando “que merda é essa?” quando ele veio
falar comigo. — Ela fez sinal de aspas.
Exalei um riso ao ouvir aquelas palavras, depois de ter deixado
Juliet na casa da amiga, eu tinha pesquisado sobre o namorado
dela, apenas para saber em que tipo de problema estava me
metendo e minha reação ao ver as obras dele foi exatamente a
mesma que a dela.
— Então, você disse isso para ele? — inquiri.
— Não, ele já chegou se exibindo como o artista por trás
daquela expressão de mundo, então eu sorri e fingi que adorei o
trabalho dele — contou.
O garçom retornou com os nossos pratos e nós comemos em
silêncio, Juliet sorria sempre que eu a flagrava me estudando.
Mesmo que eu não quisesse admitir, uma parte minha se sentia leve
depois de ter contado aquela história para Juliet, eu tinha tido pouco
contato com ela no meu tempo de amizade com a irmã dela, mas
desde que Juliet Jordan retornou a minha vida, eu me sentia atraído
para lugares onde ela estava.
— Você está indo bem? — perguntei com calma.
Juliet ergueu os ombros e bebeu um gole do vinho me
estudando.
— Eu sempre soube que minha relação com Mark não ia dar
em nada, mas estava sozinha e ele era bom em aliviar a tensão, de
fato, passei tempo demais apegada a ele porque eu tinha uma
necessidade de atenção — ela comentou antes de entornar o vinho
da taça. — Em algum momento da vida, eu acho que a gente
simplesmente cresce e percebe que migalhas de atenção não
pagam o tempo que perdemos em relações tóxicas.
Assenti servindo mais vinho na taça dela, Juliet agradeceu e
nós voltamos a comer, mesmo que as coisas entre nós estivessem
menos pesadas, ainda sentia que havia uma muralha entre Juliet e
eu.
— Não se preocupe, o seu Romeu deve estar por aí em algum
lugar — comentei e ela exalou um riso.
— Essa piada é muito sem graça — avisou.
— Repita isso sem rir e eu acredito em você — rebati e o
sorriso pareceu iluminar o rosto dela.
Me vi imóvel observando aquela mudança na expressão dela,
a mulher até então sempre parecia carregar uma sombra em sua
expressão, como se a felicidade fosse inalcançável para ela.
— Minha mãe podia ter escolhido um nome melhor — ela
comentou voltando a espetar a comida com o garfo.
— Quer mesmo falar de escolhas ruins para nomes? —
perguntei e Juliet riu outra vez.
— Desculpe, eu sei que vocês sofreram com esses nomes,
mas veja só, vocês têm nomes de deuses, não qualquer deus como
Apolo ou Dionísio, vocês são os três grandes. Se tirarmos a putaria
de Zeus da mitologia grega nem resta nada para estudar — falou
me fazendo exalar uma risada real.
O som daquele riso saindo do meu corpo era diferente, parecia
uma música que eu adorava, mas tinha esquecido da letra por anos
e anos, até que finalmente me lembrei dela.
Juliet se interrompeu me observando com uma expressão
divertida que parecia incerta em seu rosto. Sinalizei para que
continuasse sua linha de raciocínio. Ela pigarreou e voltou a sorrir
quando continuou: — Eu recebi o nome de uma adolescente
emocionada que enfiou uma adaga no próprio coração, porque
simplesmente não conseguia ter uma conversa franca.
— Parabéns você acabou de estragar Romeu e Julieta para
mim — comentei e ela riu ao ouvir as palavras.
— Para, não tem romance ali. Romeu era apaixonado pela
prima dela, ela tinha treze anos na história original. Mesmo aos
padrões medievais onde uma mulher era pouco mais do que uma
moeda de troca, o que ela realmente sabia sobre a vida? —
perguntou ainda parecendo se divertir com o assunto.
Inclinei a minha taça em direção a dela.
— Aos nomes horríveis que recebemos — sussurrei e ela
tocou a minha taça com a dela.
— E as piadas que suportamos por eles. — Juliet tomou um
gole do vinho antes de me dizer: — Sabia que não importa onde eu
vá, se existe um Romeu nesse lugar, as pessoas tentam me
apresentar para ele?
Eu gargalhei ao ouvir aquelas palavras e Juliet assentiu em
confirmação completando: — Não importa se eu sou comprometida
ou se ele é, as pessoas sempre tentam unir casais com esses
nomes. É meio mórbido, na verdade.
Esbocei um sorriso ao ouvir aquela última frase dela.
Capítulo 16
Zeus

Depois do jantar, Juliet e eu caminhamos até o carro dela, a


mulher observou o estacionamento, notando que não havia outros
veículos no lugar.
— Você quer uma carona? — ofereceu.
— Não, vou andar um pouco — expliquei tentando manter
alguma distância.
— Foi uma ótima conversa — Juliet disse.
— Quando quiser conversar sobre nomes estranhos e suas
implicações, pode me chamar — sugeri e ela riu ao ouvir as
palavras.
Observei a mulher afastar o cabelo do rosto, mas o vento
soprava novos fios para seus olhos.
— Boa noite, Zeus!
— Boa noite, Juliet! — sussurrei.
Observei-a entrar no próprio carro e seguir dirigindo, ergui a
mão em despedida. Quando o carro dela já não estava à vista, eu
andei pela calçada observando as ruas, enfiei a mão no bolso e
notei o cartão de visitas que eu tinha deixado ali não estava mais.
Respirei fundo me perguntando se deixar Juliet entrar na
minha vida era algo bom, mas no final, tinha que admitir que não
tivemos escolha naquela situação. A mulher era vizinha do meu
melhor amigo, eu ouvi diversas discussões dela com o namorado
babaca enquanto visitava Charlie.
Juliet Jordan não era uma opção, eu não tinha escolha quanto
a ter ela na minha vida, talvez, depois de todo esse tempo,
estivéssemos prontos para uma amizade.
Meu celular começou a vibrar no bolso e eu peguei o aparelho,
atendendo a chamada de Poseidon.
— Estou atrapalhando? — perguntou com uma voz de riso.
— Não.
— Como foi o encontro? — inquiriu.
— Não podia ser mais longe disso — avisei, respirando fundo
audivelmente.
— Quer conversar? — questionou.
— Venha me buscar e nós conversamos na minha casa —
falei.
— Filho da mãe, me chamando só porque quer carona.
Ri alto ao ouvir as palavras.
— Vai dizer que tem coisa melhor para fazer? — questionei e
Poseidon se despediu me amaldiçoando.
Ouvi o som das ondas se quebrando e observei o mar, mesmo
que daquela distância não conseguisse ver muito dele na escuridão.
Enviei minha localização para Poseidon e deixei o meu irmão
do meio vir me buscar enquanto eu repassava minha noite com
Juliet em minha mente. Cruzei os braços de uma forma que sabia
bem o que significava, eu podia ter Juliet na minha vida se era o que
o mundo parecia obrigar, mas não precisava dela nos meus
pensamentos ou perto do meu coração.
— Zeus Andrews? — ouvi a voz de Poseidon e me virei para
olhar o homem gritando da janela do carro. — Seu motorista
chegou.
Entrei no carro pelo banco do carona e Poseidon sorriu.
— Então, como foi o seu encontro? — perguntou.
— Inferno, eu vou andando — avisei prestes a sair do carro,
mas meu irmão me segurou.
— Não seja imbecil.
Ele começou a dirigir se colocando em uma posição de
seriedade e eu me vi pensando em como contar ao meu irmão
sobre tudo que aconteceu nessa noite.
— Ela queria saber o que aconteceu na noite em que Laura
morreu — expliquei.
— E vocês passaram a noite falando sobre isso? — inquiriu
sem qualquer diversão na voz.
— Não, nós conversamos, jantamos, bebemos um pouco e
falamos dos nossos nomes — contei sentindo aquele misto de
emoções tomando meu corpo.
Poseidon e eu tínhamos conversado sobre a noite em que
Laura morreu algumas vezes, talvez o fato de eu ter dividido os
piores momentos da minha existência com ele, tivesse criado a
minha necessidade de esconder as emoções perto dele porque ele
me conhecia demais para ver quando as coisas estavam fora do
lugar.
— Você acha mesmo que não existe a menor possibilidade de
se envolver com Juliet? — questionou depois de um longo momento
de silêncio.
— Eu não vou entrar numa relação, Poseidon — avisei.
— E o contrato do nosso pai? — inquiriu. — Aquela porra de
testamento vai te deixar sem nada.
— Eu sei — sussurrei.
— Zeus, você dedicou sua vida a essa empresa, vai
simplesmente abrir mão disso? — Poseidon parecia indignado ao
falar.
— Eu não fui feito para o amor, minha oportunidade passou e
ela morreu por causa da minha teimosia, não posso me apaixonar
outra vez.
— Mas Juliet…
— Juliet é irmã mais nova de Laura — enfatizei observando o
rosto do meu irmão. — Ela é a irmã mais nova da mulher que
morreu por minha causa. Além disso, ela acabou de sair de um
relacionamento infernal, não vou arriscar nada com ela. Juliet
merece alguém que possa amá-la por quem ela realmente é.
Poseidon e eu ficamos calados por todo o caminho até o meu
apartamento, meu irmão apenas dirigiu sem tentar retomar o
assunto. Ver Poseidon calado era quase a coisa mais bizarra que já
vi em toda a minha existência, mas ele continuou quieto até
chegarmos ao estacionamento.
Nós descemos do carro e ele me entregou a chave do meu
veículo. Seguimos ainda naquele silêncio carregado até o elevador,
onde entramos e eu apertei o botão do andar.
Quando finalmente entramos no meu apartamento, Poseidon
exalou pesadamente. E como os deuses que nossa mãe
homenageou, percebi que estávamos prestes a ter uma de nossas
brigas que causavam tempestades.
— Eu acho que você tem medo, se acovardou nessa concha
como a porra de um bicho e acha que pode continuar vivendo dessa
forma. Não foi sua culpa, Zeus! Você não controla tempestades,
nenhum de nós tem controle sobre droga nenhuma na vida —
começou.
Deixei meu irmão sem resposta e abri a garrafa de uísque que
estava em cima da mesa, servi uma dose para mim e outra para ele,
Poseidon pegou o copo e se sentou na poltrona.
— Sabemos que nenhum de nós teve sorte no amor nessa
vida, mas entre todos nós, você é o que mais merece uma segunda
chance — sussurrou bebendo o conteúdo do copo.
— Não acho que minha segunda chance estaria em Juliet —
falei.
Se eu tiver uma segunda chance, completei mentalmente.
— E o que você pretende fazer? Ela continua aparecendo
aonde quer que você vá.
— Vou ser o amigo que ela precisa nesse momento, se ela me
quiser como amigo. Acho que nós dois funcionamos melhor como
inimigos — admiti rindo. — Passei metade da noite hoje sem saber
o que dizer para ela.
Poseidon me estudou, esperando que eu esclarecesse o que
queria dizer com aquelas palavras. Contornei o copo com o dedo,
desviando os olhos do meu irmão conforme pensava sobre tudo
aquilo.
— Nem todos os pais são como os nossos — sussurrei. —
Você queria ser atleta e eles te colocaram em todos os esportes que
existem até você encontrar um que gostaria de fazer. Hades queria
ser fotógrafo e eles deram a ele todas as câmeras que precisava.
Eu sempre quis estudar economia, mas mesmo quando pensei que
poderia aprender a tocar algum instrumento, eles me deram alguns.
— Juliet nunca teve esse tipo de apoio? — Poseidon me
perguntou e eu voltei meus olhos para ele.
Balancei a cabeça em negativa.
— Passei muito tempo visitando Laura quando era mais novo,
via todo apoio que ela recebia para a música, mas Juliet não teve
esse apoio. Ninguém nunca deixou ou incentivou que ela
desenvolvesse algum talento, ela simplesmente foi levada a opção
mais fácil para sair de lá — expliquei.
Poseidon suspirou bebendo mais um gole do uísque no copo.
— Bom, nem todos os pais têm o dinheiro que os nossos
tinham — Poseidon sussurrou.
— Sim, mas não se trata apenas de ter dinheiro para investir
no talento do filho, se trata de apoiar. Juliet pinta o cabelo até hoje
para não se parecer com a irmã, para quebrar a semelhança com
ela e mostrar que é uma pessoa diferente. Você imagina como é
viver desse jeito? — questionei.
Meu irmão e eu nos observamos, nossas semelhanças físicas
sempre foram visíveis, mas diferente do que aconteceu com Juliet,
nós dois sempre tivemos apoio nas nossas vidas. Fomos levados
por caminhos diferentes, nossos próprios caminhos e isso fazia
diferença no que sentíamos um pelo outro.
— Entendo porque não quer se envolver com ela — admitiu.
Concordei com a cabeça.
— Mas acho que você não deveria afastá-la. Talvez vocês
funcionem melhor como inimigos, mas neste momento, eu acho que
ter um inimigo por perto pode mantê-la sã — meu irmão sussurrou e
eu assenti.
— Não vou me afastar dela — prometi.
Capítulo 17
Zeus

Quando saí do banheiro depois de um banho longo, vi que


tinha uma mensagem na tela do meu celular. Esfreguei o cabelo
enquanto apanhava o aparelho da cama.
Destravei e vi a mensagem de Juliet no meu celular: “Obrigada
por me contar tudo. Mesmo que as coisas não tenham mudado,
consigo te odiar um pouco menos.”
Talvez Poseidon estivesse certo e Juliet precisasse de alguém
para odiar nesse momento. Esbocei um sorriso de canto e respondi:
“Não se preocupe, você vai encontrar outras razões para me odiar.”
Larguei o celular e me vesti para dormir.

Com Hades fora da cidade, Poseidon me enchendo o saco por


causa da noite que conversei com Juliet e a impossibilidade de
visitar Charlie sem dar de cara com o ex-namorado da mulher, eu
finalmente notei que minha vida estava bem solitária.
Resolvi ficar em casa maratonando alguma série idiota que me
fizesse esquecer o pandemônio ao meu redor. Quando liguei a TV,
meu corpo afundou mais no sofá. Passei os canais procurando
alguma coisa para ver.
Quando a porta do apartamento abriu, virei a cabeça para ver
quem estava invadindo meu dia solitário e vi Poseidon entrando com
um sorriso enorme no rosto.
— Eu tenho a solução para os nossos problemas — meu irmão
falou.
— Você vai se casar? — perguntei.
Ele afundou no sofá e pegou o controle da TV da minha mão,
desligou o aparelho e me encarou ainda com o sorriso vitorioso no
rosto.
— Veio aqui com uma solução, ou somente para me
enlouquecer? — perguntei irritado.
— Eu estava conversando com Damon ontem ao telefone. Se
lembra dele, né? — inquiriu e eu assenti. — Então, ele e a esposa
têm uma relação incrível, aí resolvi pedir uns conselhos para ele.
— E? — questionei começando a perder a paciência com o
meu irmão.
— E que ele me disse que nós três não sabemos nada sobre
como conquistar uma mulher — explicou.
Encarei Poseidon repetindo a mim mesmo que amava o meu
irmão, apenas para não atirá-lo pela varanda do apartamento que
dava para a rua. Levei uma das mãos ao queixo e apoiei o cotovelo
na perna, Poseidon me observava com aquele sorriso como se ele
fosse um gênio.
— Pode esclarecer como isso nos ajuda? — questionei.
— Já resolvi tudo. Disse para Hades vir correndo porque você
está com problemas, Damon e Ellie vêm esta noite para cá, também
falei com Charlie, ele e Henry também virão — explicou, apoiando
os pés na minha mesa de centro.
— Se você não começar a explicar direito, eu juro por Deus
que te jogo por aquela varanda — avisei.
Poseidon riu ao ouvir minhas palavras.
— Vamos transformar esse apartamento em uma escola,
Damon, Ellie, Charlie e Henry vão nos ensinar a arte da conquista.
Ellie também vai nos dizer tudo que uma mulher quer em um
homem ideal — explicou.
— Esse é o seu plano? — perguntei incrédulo.
— E nós vamos passar o fim de semana vendo filmes de
romance — contou e foi minha vez de rir.
— Você vai ver filmes de romance? — questionei. — Você me
disse que preferia nadar em um rio com piranhas a ver um filme de
romance.
— E ainda prefiro, mas veja essa enquete que coloquei na
minha rede social — ele disse pegando o celular.
Poseidon abriu a rede social me mostrando a interação com
sua enquete, várias mulheres responderam que o homem ideal é o
fictício. Observei as respostas e sorri ao ver aquelas palavras.
— Nomes de seres mitológicos nós já temos, resta sabermos
como agir perto de uma mulher sem parecer que estamos
interessados em apenas transar — Poseidon comentou erguendo os
ombros.
— Não podemos fingir sermos iguais aos homens fictícios para
conseguirmos um casamento. E depois, como ficamos? —
perguntei.
— Quem disse que vamos fingir? — indagou e eu respirei
fundo observando o meu irmão.
— Você acha mesmo que algum de nós faz o estilo homem
fictício? — indaguei, tentando entender o que o meu irmão estava
pensando.
— O que eu sei é que nós três tivemos nossas merdas no
passado, sei que estamos tão fodidos mentalmente que pode não
ter volta, mas ainda somos pessoas legais. A vida é uma escola
eterna, o que nós não sabemos, podemos aprender enquanto
vivermos.
— Quanto tempo você passou conversando com Charlie? —
questionei e Poseidon riu.
— Tempo suficiente.
Respirei fundo observando o meu apartamento e imaginei que
seria melhor preparar as coisas se íamos receber convidados.
Expulsei Poseidon para que ele fosse ao mercado comprar comida
e bebida para a noite. Aproveitei para organizar o lugar. Não ia
atrapalhar a folga da minha faxineira para pedir que viesse arrumar
minha bagunça, então comecei a limpar tudo por conta própria.
Quando terminei de limpar o lugar, meu corpo suava, então fui
em direção ao quarto para tomar banho e vi que tinha esquecido o
celular em cima da cama, abri a tela e observei o chat com Juliet
sem qualquer novidade. Acabei abrindo a conversa com ela e
perguntando: “Vai fazer algo amanhã?”
Tirei a camisa que usava e caminhei em direção ao banheiro,
ouvindo uma mensagem entrar no meu celular. Esbocei um sorriso,
mas fui me livrar do suor que grudava no meu corpo, depois do
banho, enrolei a toalha no quadril e voltei para o quarto.
Peguei o celular desbloqueando-o outra vez e vi a resposta de
Juliet: “Vou dar uma olhada em alguns apartamentos.”
Ela devia estar muito desesperada para ver isso no domingo,
respirei fundo e comecei a digitar: “Quer me encontrar para um
almoço?”
“Claro” — respondeu.
Deixei o celular de lado e me vesti, Poseidon voltou com
algumas sacolas de supermercado, nós colocamos as bebidas na
geladeira e guardamos os petiscos que ele tinha comprado.
— Se tudo der errado, você pode fazer faxina, olhe só para
este lugar — ele provocou observando o apartamento.
— E você pode ser entregador — falei indicando as compras
que ele tinha trazido consigo.
— Minha gorjeta, por favor, Sr. Andrews. Não aceito nota
menor que cem dólares.
Empurrei o idiota para longe de mim e antes que eu dissesse
alguma coisa, a porta do meu apartamento bateu na parede, soltei a
garrafa de cerveja que estava prestes a oferecer a Poseidon e ela
se espatifou no chão.
Hades estava na porta ofegante, observei meu irmão mais
novo que parecia prestes a ter um infarto.
— Você está bem? — ele perguntou invadindo o apartamento.
— Estou? — rebati incerto.
— Que porra é essa, Poseidon? — questionou.
Nosso irmão do meio ergueu as mãos e nós o observamos
com atenção, esperando que o idiota falasse.
— O que houve? — inquiri quando ele ficou calado e foi pegar
um rodo para limpar a cerveja do chão.
— Esse imbecil disse que você estava doente, que podia
morrer a qualquer segundo — Hades contou mostrando as
mensagens de Poseidon no próprio celular.
Encarei meu irmão do meio prometendo que ia matá-lo e
Poseidon sorriu ao pedir que nos afastássemos enquanto ele
limpava tudo.
— Você enlouqueceu? Eu perdi uma sessão de fotos
importante por sua causa — Hades disse.
— Temos um assunto mais importante — Poseidon lembrou.
— Mais importante? — Hades avançou e eu o segurei para
que não socasse o rosto de Poseidon.
— Se perdermos a empresa, nada disso terá importância.
Você gostando ou não, nossas vidas foram moldadas ao redor da
Olympus — Poseidon disse. — Vamos encarar os fatos, nenhum de
nós quer se casar, mas estamos todos aqui nesse mesmo barco. Se
não temos outra solução, vamos ter que enfrentar isso juntos.
Hades ainda encarava Poseidon como se fosse matá-lo, mas o
soltei e ele não se moveu.
— Poseidon tem um plano — contei. — Um que parece mais
promissor do que o meu de ficar indo ao shopping.
— Estou ouvindo — Hades sussurrou cruzando os braços.
Nosso irmão do meio sorriu e começou a narrar a ideia que
teve enquanto falava com Damon. Hades não parecia convencido,
mas foi até a minha geladeira e pegou uma cerveja enquanto ouvia
o resto da ideia de Poseidon.
Capítulo 18
Zeus

Depois de uma hora de Hades mandando Poseidon se foder e


o meu irmão do meio se desculpando pelo susto que deu nele,
nossos amigos chegaram na minha casa. Nós começamos a servir
os petiscos e as bebidas enquanto eles falavam: — Nós
conhecemos vocês há tempo suficiente para saber que são bons em
compromisso — Ellie disse.
— E eu convivi com vocês enquanto estava solteiro, vi que
vocês não têm habilidade para conversar com uma mulher quando
se trata de compromisso — Damon disse.
— Você concorda com isso? — perguntei ao Charlie.
— Você é teimoso, Poseidon é impulsivo e Hades é fechado —
ele disse e Hades contorceu o rosto observando o meu melhor
amigo. — Três desastres para o romance, mas estamos aqui para
tentar ajudar.
— Que consolador — Hades resmungou e se afastou de
Charlie.
Nós três nos sentamos lado a lado enquanto nossos amigos
nos rodeavam, e um filme foi escolhido por Ellie, dizendo que aquele
era um bom filme para começar.
— A Bela e a Fera? — Poseidon perguntou.
— Sim, é um ótimo começo. Vocês parecem feras para mim —
ela sussurrou.
— Acho que eu prefiro assistir uma comédia romântica —
Hades respondeu.
— Calem a boca e vejam o filme — Ellie ordenou.
Me calei observando a tela da TV, minha mente latejava com o
barulho das músicas cantadas altas. Por que todos aqueles filmes
de romance clássicos tinham que ser musicais? Me perguntei
enquanto assistia ao filme.
Hades e Poseidon pareciam confusos com o filme, Damon
mexia no celular sempre que pensava que alguém não estava
olhando para ele.
— Ela vai mesmo se apaixonar por isso? — Poseidon
questionou. — Ele está trancando ela num castelo e dizendo que ela
vai viver ali para sempre.
— Bela nunca teve liberdade para pensar na aldeia, todo
mundo achava ela estranha, no castelo ela tem livros e liberdade
para pensar — Hades disse.
— Ah, certo. Vou te dar uns mil modelos de câmera e te
trancar num castelo para o resto da vida. Sua única companhia
serão os potes e as panelas! — Poseidon rebateu.
— Como vocês vão entender o filme se não calarem a boca?
— Henry perguntou.
— Charlie, diz para o seu marido que isso é Síndrome de
Estocolmo? — Poseidon pediu.
— Não estou aqui como psiquiatra, Poseidon — Charlie
avisou.
Todos ficaram calados mais alguns segundos até que
Poseidon rompeu o silêncio: — Potes e panelas não falam, ela
enlouqueceu rápido.
— Os potes e panelas são pessoas amaldiçoadas — falei
pegando alguns salgadinhos do pote na mesa de centro.
— Pessoas amaldiçoadas? A xícara é uma criança! Como uma
criança sobreviveu por vinte anos sendo feita de porcelana? —
Poseidon indagou.
— Pacto ficcional, Poseidon. Não seja chato. Não seria num
filme infantil que eles matariam uma criança que está amaldiçoada
em formato de xícara — Ellie rebateu.
Contive a vontade de rir da voz irritada de Ellie, a mulher
estava prestes a entender que nós éramos tempo perdido. Meus
irmãos continuaram com os comentários cada um com a lógica mais
bizarra que o outro.
Quando o filme acabou, Ellie acendeu a luz e nos perguntou o
que tínhamos aprendido com o filme.
— As mulheres gostam de homens problemáticos? —
Poseidon perguntou.
— Se isso fosse verdade, haveria uma fila na porta de vocês
— a mulher rebateu.
— Temos que aprender sobre o que a mulher gosta — Hades
falou e Ellie aplaudiu empolgada.
A esposa de Damon beijou a cabeça de Hades e o meu irmão
pareceu inquieto com o gesto de carinho súbito.
— Ainda há esperança para você — a mulher sussurrou.
— É mais do que isso — falei e Ellie me estudou ansiosa. —
Para entrar em uma relação, nós temos que deixar a pessoa ver o
que está por baixo de toda a aparência assustadora. Temos que
saber o que ela gosta, mas também estarmos dispostos a curar
nossas feridas para amar.
Ellie me estudou com os olhos marejados e Charlie pigarreou.
— Então, acho que vocês todos passaram por coisas ruins em
relações anteriores, traumas que só a terapia pode ajudar a curar,
mas pelo que vejo não são um caso completamente perdido.
— Obrigado, eu acho — Poseidon falou.
— Acho que o mais básico de uma boa relação é vocês
entenderem que antes de um amante, a pessoa é sua amiga —
Damon sussurrou encarando a esposa.
— Somos mundos opostos tentando coexistir em uma relação,
então vocês precisam entender que vão errar e mesmo assim as
coisas podem dar certo, desde que reconheçam seus erros e tentem
se desculpar com sinceridade — Henry completou.
— Vamos ver mais um filme — Poseidon pediu.
Dessa vez escolhi um filme que não tinha a ver com romances
clássicos. Nós assistimos em silêncio, vendo a maneira como a
relação era construída e as semelhanças entre aquela história e a
anterior.
— Sinceridade parece ser a chave de tudo — sussurrei.
— Sim, quando encontramos alguém e queremos construir
uma vida juntos, temos que lembrar que a pessoa vai nos aceitar
com cada ferida — Damon falou.
Hades e Poseidon pareciam dispostos a aprender com os
filmes que estávamos vendo, me senti aliviado por constatar isso, ao
menos os meus irmãos poderiam construir uma relação sólida com
alguém.
Passava das dez quando nossos amigos foram embora,
encarei os dois que ainda estavam no sofá e me sentei na poltrona.
— Você acha mesmo que isso vai ajudar? — Hades
perguntou.
— Bom, mal não fará. Essa noite foi bem instrutiva —
comentei.
— Ellie deixou livros para lermos — Poseidon disse mostrando
os três exemplares que estavam em cima da mesa. Meu irmão riu
ao me estender um dos livros. — Acho que você deveria ler esse.
Observei o título: Romeu e Julieta.
— Já estragaram a história para mim — falei entregando o livro
a Hades.
— Como estão as coisas com Juliet? — Hades me perguntou.
— Ela me pediu para contar sobre a noite em que a irmã dela
morreu, nós acertamos essa parte do passado — expliquei, sem
olhar para o meu irmão caçula.
— Vai vê-la de novo? — questionou.
— Vamos almoçar amanhã.
O silêncio na sala me fez tirar os olhos da sinopse do livro que
estava na minha mão, e observar meus irmãos que trocavam um
olhar confidente.
— Vocês deviam ter alguma coisa para ocupar a mente —
sugeri. — Nada vai acontecer entre Juliet Jordan e eu.
Os dois assentiram e baixaram os olhos para os livros que
estavam segurando.
— Eu só acho que se você está interessado nela, poderia dar
uma chance — Hades avisou. — Quem sabe o que pode
acontecer?
— Não estou interessado nela, além disso, Juliet sempre vai
pensar que eu estou procurando a irmã dela nela — expliquei.
— E você está? — o caçula indagou.
— Não, Laura está morta e nada vai mudar isso — minha voz
embargou.
— O que Juliet está fazendo da vida? — Hades perguntou me
encarando.
— Ela é assistente de uma advogada — contei.
— Que pena — ele sussurrou.
Observei Hades esperando que ele esclarecesse, mas meu
irmão ficou calado voltando a olhar para o livro, ele o abriu me
deixando imóvel estudando-o.
— Por quê? — perguntei.
— Porque ela tirava fotos muito boas.
Poseidon largou o exemplar do livro que tinha nas mãos de
lado e procurou na TV um filme que fosse menos meloso.
Capítulo 19
Zeus

Acordei no domingo com Poseidon e Hades discutindo, saí do


quarto esfregando os olhos e vi os dois na cozinha, a discussão
parecia ter sido uma conversa empolgada dos dois, a respeito de
alguma série que ficaram vendo quando me deitei depois da uma da
madrugada.
— Admiro a energia que vocês têm depois de uma péssima
noite de sono — avisei entrando na cozinha e caminhando até a
cafeteira.
— Você é um ano mais velho do que eu, mas age como se
fossem décadas de diferença — Poseidon me disse.
— Eu tenho alma antiga — falei servindo uma boa caneca de
café e inalando o cheiro.
Peguei algumas fatias de bacon parcialmente torrado que
Hades estava preparando e mastiguei sem me importar com o gosto
amargo.
— Tudo certo para o seu almoço? — Poseidon perguntou.
— Acho que sim — falei observando o celular.
Juliet não tinha mandado mensagens desde que combinamos
de almoçar.
— Espero que dê tudo certo — Hades comentou.
— O que teria para dar certo? — questionei.
— Não sei o que está acontecendo entre vocês, mas espero
que as coisas aconteçam como você está querendo que aconteçam
— explicou.
— Certo — rebati.
Nossos celulares sinalizaram uma mensagem ao mesmo
tempo, olhei para os dois, e nós pegamos os aparelhos para ler as
mensagens, o grupo com nosso pai estava sinalizando uma
mensagem nova.
— Ah, Deus, que não seja mais tragédia — Poseidon falou
abrindo a mensagem antes de nós.
Encarei o meu aparelho curioso demais sobre o que nosso pai
poderia estar querendo, para simplesmente esperar Poseidon dizer
o que estava na mensagem.
“Venham jantar na mansão. Seu primo Mike está de passagem
na cidade e quero os três aqui para um jantar com ele.”
— Velho caduco — Poseidon resmungou.
— Ele vai nos torturar — Hades completou e eu simplesmente
travei o celular sem dar aos meus irmãos mais novos o comentário
que se formou em meus pensamentos.
Mike Andrews é o único filho do irmão mais novo do nosso pai,
um irmão que faleceu há alguns anos, a mãe dele, é uma viúva
desmiolada que gasta mais do que tem, os dois sobrevivem graças
a uma pensão mensal que meu pai lhes dá para cobrir seus luxos.
— Esqueçam a putrefação, esses abutres vão tentar nos
devorar vivos — Hades disse.
— Vou sair e encontro vocês na mansão — avisei.
— Está muito ansioso para esse encontro — Poseidon disse
abrindo a boca pela primeira vez.
Ignorei a piada que ele fez para não mandá-lo se foder.
— Quando vocês saírem da minha casa, deixem tudo limpo e
tranquem a porta — lembrei.
— Quando saímos da casa do Mike, pelo visto — Hades
sussurrou e eu contive a vontade de xingar o meu irmão mais novo.
— Ainda nos restam mais de onze meses, Hades, muita coisa
pode acontecer em onze meses — rebati saindo da cozinha.
Caminhei para o quarto e escolhi uma roupa para sair de casa,
não queria parecer formal, nem desleixado. Respirei fundo
lembrando a mim mesmo que independente do que estava fazendo
naquele dia, eu estava me encontrando com Juliet no intuito de ser
um objeto de ódio para ela. Deixar a mulher descarregar suas
emoções negativas em mim parecia uma ideia idiota, mas aquilo
parecia o melhor que eu podia fazer por ela.

Ocupei a mesa para dois no restaurante italiano que tinha


escolhido e Juliet me avisou que estava a caminho. Me obriguei a
relaxar na cadeira.
Desde que encontrei Juliet naquele estacionamento, eu tinha
tentado evitar a mulher de todas as formas possíveis, e ainda assim,
parecia que sempre nos encontrávamos, então eu simplesmente
desisti de mantê-la afastada, se o mundo queria que aquela mulher
estivesse por perto, tudo bem, eu podia aceitar isso, mas seria de
acordo com os meus termos.
Acenei para ela quando entrou no restaurante e a mulher se
aproximou ocupando a cadeira em frente a minha. A luz do dia,
reparei que boa parte do cabelo dela, perto da cabeça, já não era
preto, como se os fios tivessem crescido e ela talvez estivesse
desistindo de retocar a pintura.
— Fiquei surpresa com o seu convite — ela admitiu.
— Eu não sou o tipo de pessoa que acredita em destino, ou
conspirações do universo, mas nos encontramos tantas vezes por
acaso que imagino que seja melhor marcar os encontros, ao menos
assim o universo pode procurar o que fazer da vida.
Juliet exalou um riso.
— Kate está garantindo que isso não foi apenas uma
coincidência, que nós dois temos que estar na vida um do outro —
ela contou me fazendo rir.
— Como está a busca por apartamentos? — perguntei.
— Mais ou menos, acabei de descobrir uma mulher não muito
longe daqui que está procurando uma colega de quarto, vou até lá
ver o apartamento depois daqui. É o mais barato que devo achar
perto do trabalho — contou.
— E por que você não parece empolgada com isso? — inquiri.
— Ela é atriz — contou e eu sorri ao ouvir as palavras.
— E onde exatamente é esse apartamento? — inquiri.
— É em um condomínio aqui perto, no prédio Edson — ela
disse e meu coração acelerou.
A olhei boquiaberto e Juliet me encarou parecendo nervosa.
— O que foi? — questionou.
— Eu moro nesse prédio — avisei.
Juliet me estudou com o próprio queixo caindo, em seguida a
mulher sorriu.
— Isso não quer dizer nada, estamos em Los Angeles, é só
um apartamento vago. Vou continuar procurando — sussurrou.
— Não se sinta pressionada a desistir do apartamento por
minha causa, vá olhar, se você gostar e for um bom acordo não tem
porque desistir dele — lembrei.
— Tem certeza? — questionou.
— Sim.
— Não vai te incomodar me ter tão perto? — indagou.
— Por que me incomodaria? Não é como se eu conhecesse os
meus vizinhos — falei.
O garçom se aproximou da mesa quando Juliet sinalizou para
ele, a expressão dela se fechou outra vez, mas avistei aquela
centelha de luz nos olhos da mulher. Respirei fundo e pedi a
primeira coisa que vi no cardápio.
Juliet fez o pedido dela e nós encaramos um ao outro quando
o garçom saiu andando pelo restaurante.
— Por que você quis me ver hoje? — perguntou.
— Não tinha nada para fazer e imaginei que você também não
— expliquei erguendo os ombros.
— É claro — ela comentou.
Nossas bebidas chegaram e vi Juliet entornar o copo.
— Me traz outra, por favor — ela pediu.
— É um pouco cedo para beber tanto — sussurrei, levando
meu vinho à boca.
— Não pedi a sua opinião — avisou.
— Tudo bem, só estava comentando.
Juliet me olhou de forma fuzilante. Aquela mulher estava
começando a parecer que sentia alguma coisa outra vez, levei a
taça à boca apenas para esconder o sorriso que ameaçou torcer os
meus lábios.
O garçom retornou com o segundo copo e Juliet o segurou
sem entornar, ela agradeceu ao homem e me estudou.
— Você é uma pessoa que eu simplesmente não consigo
entender — a mulher falou sorrindo e levando o copo aos lábios
tomando um gole.
— A maioria das pessoas não me entende — avisei. — Isso
não é uma surpresa.
— Já parou para pensar que talvez você devesse procurar um
terapeuta para falar sobre isso? — indagou bebendo um gole maior
dessa vez.
— Meu melhor amigo é um psiquiatra, acho que estou bem o
suficiente.
Juliet riu apoiando o queixo com a mão e colocando o cotovelo
na mesa.
— Parece que você desistiu de pintar o cabelo — comentei.
Ela ergueu os ombros e pegou o copo outra vez, mas não
bebeu.
— Eu costumava pintar o cabelo para não me parecer com ela,
quando ainda via meus pais com frequência, depois continuei
pintando porque Mark gosta de morenas, mas estou de saco cheio.
— Não vale a pena mudar quem você é para se encaixar na
vida de alguém. Quando é para ser, tudo parece fácil, certo —
sussurrei.
Comecei a me perguntar o teor de álcool do vinho que estava
tomando. O sorriso de Juliet diminuiu e a luz anterior nos olhos dela
desapareceu.
— É, eu acho que sim — concordou.
A nossa comida chegou e fizemos aquela refeição em silêncio,
a mulher observou o lugar, porém a atenção dela não estava mais
sobre mim. Fechei os olhos com força me perguntando que tipo de
idiota eu tinha me tornado depois de uma noite vendo filmes
românticos.
Quando terminamos a refeição, Juliet pagou a parte dela, se
recusando a me deixar pagar e eu paguei a minha parte. Nós
saímos do restaurante juntos e a estudei.
— Quer ir comigo para o prédio? — perguntei.
— Vamos — falou.
Juliet começou a caminhar pela rua e eu indiquei o meu carro,
ela assentiu entrando no veículo pelo lado do carona.
Capítulo 20
Zeus

Observei o rosto de Juliet enquanto ela olhava pela janela, a


mulher parecia presa em seu próprio mundo, meu coração acelerou
ao pensar naquela possibilidade. Entrei no prédio e Juliet observou
a garagem.
A mulher passou tanto tempo observando os carros
estacionados, apenas para não me olhar, que precisei provocar
alguma emoção nela.
— É uma ótima garagem, não é? — questionei e ela me
lançou um olhar irritado.
— Sim, a melhor que já vi na vida — sussurrou sarcástica.
Esbocei um sorriso quando indiquei o caminho para o elevador
e Juliet seguiu caminhando à minha frente.
Nós entramos juntos na caixa metálica e a mulher apertou o
andar do meu apartamento. Só melhora, pensei com o peito
carregado de sarcasmo.
— Não vai colocar seu andar? — perguntou.
— Adivinhe — pedi.
— Só pode ser piada — resmungou.
— Pode aparecer quando precisar de uma xícara de açúcar —
sussurrei dando uma piscadela.
Juliet torceu os lábios em desgosto e o elevador abriu, a
mulher caminhou para o apartamento ao lado do meu, ela bateu na
porta me olhando por cima do ombro. Não fiquei para ver o que
aconteceria, apenas entrei na minha casa me recostando a porta.
Eu tinha visto outra vez enquanto conversava com Juliet
naquele dia, ela estava se apagando. Qualquer emoção que
iluminasse a vida dela, estava sendo apagada pouco a pouco. A
mulher tinha sido obrigada a se esconder e submeter ao que os
outros queriam a vida inteira e naquela altura, ela já não sabia como
andar com as próprias pernas.
O único instante em que a vi realmente despertando alguma
emoção no nosso almoço, foi quando ficou com raiva de mim.
Respirei fundo outra vez, lembrando a mim mesmo que raiva e ódio
também são emoções, também são capazes de tirar alguém do
fundo do poço emocional. Se isso pudesse tirá-la da escuridão e
fazê-la enxergar a própria luz, eu podia continuar com aquele jogo.
Ter o ódio de Juliet era fácil, eu o tive por metade da minha
vida, podia continuar alimentando essa emoção. O que eu não
conseguia imaginar, era ver a desistência que vi naquela noite na
escada. A lembrança da mulher vazia e tão frágil diante de mim,
tinha me instigado a continuar o jogo de gato e rato com ela.
Resolvi fazer algo com o meu tempo até a hora de ir para a
mansão do meu pai, duvidava que Juliet fosse passar na minha
casa antes de ir embora, então apenas segui com a tarde solitária
de domingo.
Tomei um banho tentando relaxar os músculos tensos das
minhas costas, manter aquela pose de quem quer machucar alguém
não é fácil, mas mesmo que eu quisesse parar, não podia. Se
voltasse a afastar Juliet de mim, tudo só me arrastaria de volta para
ela, como sempre vinha acontecendo.
Depois do banho, eu me vesti e deitei no sofá ligando a TV,
Poseidon e Hades tinham deixado uma série pela metade no
streaming, acabei colocando para rodar, mesmo sem entender o
que estava passando aquela altura do décimo episódio.
Minha mente revia os detalhes dos meus encontros com Juliet,
os sorrisos, as palavras que sempre pareciam espontâneas e
aquele olhar perdido. Eu queria ajudar Juliet a se encontrar. A voltar
e encontrar a si mesma onde ela se perdeu dentro de si.
Esse tinha se tornado o propósito do momento, mais
importante do que encontrar uma maneira de driblar a aposta do
meu pai, mais importante do que casar Poseidon ou Hades. Por
algum motivo, Juliet Jordan tinha se tornado minha necessidade
mais urgente.
Observei o celular que tocava e pausei a série que rolava na
TV sem que eu conseguisse me ater as cenas que passavam pela
tela. Respirei fundo controlando meus pensamentos confusos para
não demonstrar o que sentia.
— Oi, Charlie — sussurrei.
— Como estão as coisas? — perguntou.
— Estão indo — comentei tentando não alterar minha voz.
— O que houve? — questionou.
— Por que acha que aconteceu algo?
— Quando você diz que as coisas estão indo nesse tom de
voz, algo está estranho. Fala — exigiu parecendo ansioso.
— Maldita faculdade de psiquiatria — resmunguei e meu
amigo riu. — Juliet está olhando um apartamento ao lado do meu,
estão alugando um quarto.
— E isso incomoda você? — indagou.
— Não.
Charlie ficou em silêncio e eu respirei fundo.
— Se você estiver anotando coisas enquanto falamos, eu vou
fazer você engolir esse papel — ameacei e Charlie riu.
— Só estava atualizando Henry. Então você estava dizendo
que não quer que Juliet seja sua vizinha — sussurrou.
— Eu não disse isso.
— Claro que não. Você já reparou no quanto é estranho vocês
dois estarem sempre se esbarrando? — perguntou parecendo
manter uma calma na voz.
— Estranho… eu acho que estranho não chega nem perto
dessa situação — admiti. — Tentei, quando a vi pela primeira vez no
estacionamento do shopping, imaginei que ela estivesse perto
daquele lugar, evitei ao máximo aquela região, então a revi na praia,
no restaurante…
Deixei as palavras morrerem. Eu simplesmente desisti de me
afastar de Juliet, porque não importava quão longe fosse, nós
parecíamos sempre atrairmos um ao outro.
— O que você está pensando em fazer? — questionou.
— Vou ficar por perto, ela precisa de alguém — contei.
Mesmo que seja alguém para odiar, completei mentalmente.
— Tenha cuidado com isso — pediu. — Se não conseguir estar
perto dela sem pensar em Laura, então se afaste, isso será melhor
para vocês dois.
— Eu sei — sussurrei.
— O que você vai fazer mais tarde?
— Ah, tenho planos esplêndidos. Mike está na cidade, meu pai
quer reunir os filhos e ele para um jantar. Ele quer nos mostrar o que
vai acontecer se falharmos na missão de casarmos em um ano —
expliquei.
— Isso é cruel — Charlie comentou.
— Nada que eu não esperasse — sussurrei.
— Como estão os planos de casamento? — perguntou.
— Não poderiam estar piores, Poseidon e Hades são piores
que eu nisso — falei e Charlie riu.
— Se você pudesse casar por contrato, todos os seus
problemas estariam resolvidos.
— Nem me fale, mas Ryan Andrews é esperto demais, sabia
que nós pensaríamos nisso — expliquei.
— Bom, só posso desejar sorte para vocês três. Vão precisar
disso.
Agradeci ao meu amigo antes de finalizar a chamada.
Anos de dedicação a Olympus estava sendo jogado pelo ralo,
mesmo o meu salário estava investido na empresa, eu praticamente
tirava o básico dele para contas mensais e reinvestia tudo na
empresa. Ninguém compreenderia o que meus irmãos e eu
estávamos sentindo, não éramos herdeiros que esbanjavam a
fortuna dos pais, nós dedicamos nossas vidas à empresa.
Mike cobrou um pagamento maior que qualquer modelo do
mercado para fazer uma campanha para a empresa anos atrás, o
filho da puta que estava na linha de sucessão daquela empresa
tinha sugado dela a vida inteira, sem nunca nos oferecer uma
mísera ajuda.
Aquele era outro ponto no qual nosso pai pensou quando nos
mostrou o documento que bloqueava nossa herança, ele sempre
soube da nossa aversão ao nosso primo e sabia que a ideia de Mike
ser o herdeiro, mexeria mais conosco do que nossa própria falta de
herança.
Fechei os olhos deitado naquele sofá e cochilei pelas horas
que antecederam aquele jantar, tendo meus sonhos invadidos por
uma mulher que a princípio achei ser Laura, mas quando ela se
virou para me olhar, era Juliet com aquele sorriso cheio de malícia
que a vi abrir algumas vezes.

Como eu tinha previsto, Juliet não bateu na minha porta, nem


me mandou mensagem quando falou com a minha vizinha. A mulher
simplesmente foi embora sem se despedir. Observei a tela do meu
celular, mas não havia qualquer novidade sobre ela. Então digitei
uma mensagem para a mulher enquanto me vestia para ir a
mansão: “Gostou da vizinhança?”
Não houve resposta, então só respirei fundo e continuei me
arrumando para ir à mansão. Poseidon e Hades estavam enchendo
nosso grupo com mensagens sobre qual seria o melhor jeito de
sumir com nosso primo.
Quando saí do prédio, me vi dirigindo pela cidade, com os
ouvidos atentos a qualquer toque do celular, mas não recebi
mensagens, talvez eu tenha exagerado um pouco em como
desenvolver ódio em Juliet.
Respirei fundo e segui em direção a casa da minha família.
Capítulo 21
Zeus

Meu carro entrou na propriedade da mansão e eu observei o


de Mike estacionado ali. Me mantive dentro do veículo, observando
a entrada da casa. Não sabia se estava pronto para ver Mike
naquele dia.
Eu tinha bagunçado a minha vida ainda mais depois que meu
pai veio com aquela aposta, não estava nos planos ter Juliet atirada
no meu caos. Respirei fundo batucando no volante do carro.
Estava frustrado por saber que Poseidon, Hades e eu
tínhamos problemas emocionais gigantescos que não seriam
simplesmente curados do dia para a noite. E se não nos
curássemos milagrosamente, Mike herdaria a empresa e
provavelmente destruiria tudo pelo que batalhamos a vida inteira.
— Pretende jantar dentro do carro? — Poseidon me perguntou
surgindo ao lado da janela.
— A ideia parece mais atrativa — admiti. — Como está o show
de horrores lá dentro?
— Não sei, deixei Hades lá dentro e fugi quando tive uma
oportunidade, isso foi quando Mike chegou com a mãe.
— Debbie está aqui? — inquiri irritado.
— Você acha que ela perderia? — Poseidon rebateu.
— Espero que Hades não jogue a mulher pela janela dessa
vez — sussurrei, me lembrando que meu irmão caçula quase fez
isso um tempo atrás.
— Não acho que ela vai insultar Hades falando de sangue
hoje, não quando ela provavelmente sabe sobre a brincadeira do
nosso pai — retrucou.
Desci do carro trancando o veículo e afrouxei a gravata no
meu pescoço.
— Temos que descobrir quem é o espião dessa mulher, antes
que eu comece a demitir pessoas em massa até descobrir — avisei.
Poseidon segurou o meu ombro e sorriu ao dizer: — Vamos
atuar, Zeus.
Nós caminhamos para o interior da casa e eu podia ouvir a voz
estridente da mulher já na entrada, ao entrar na sala, vi que ela
estava sentada no sofá ao lado do filho. Hades estava perto da
janela quando entramos e nos lançou um olhar que dizia claramente
que éramos dois traidores.
— Desculpem o atraso — sussurrei abrindo um sorriso.
— Ele estava em um encontro — Poseidon falou como um
traidor.
— Encontro? — nosso pai perguntou com um sorriso no rosto.
— Ah, Zeus não para de falar na mulher misteriosa — Hades
disse atraindo os olhares para ele.
O sorriso do caçula era de puro veneno, ele estava se
vingando por ter sido largado sozinho com os abutres. Lancei um
olhar de ameaça para ele e o mesmo para Poseidon, ninguém
mencionaria o nome de Juliet naquela casa.
— Está namorando, Zeus? — Debbie perguntou com um
sorriso falso vacilando.
Observei a mulher, o cabelo ruivo tingido, a maquiagem forte
apesar de ainda nem ser noite e o vestido que tinha um decote
expondo até o umbigo, aquela parecia mais uma tentativa da mulher
de conseguir fisgar o nosso pai que qualquer outra coisa.
— Estamos nos conhecendo — sussurrei.
Me sentei no sofá com Poseidon afundando ao meu lado
completamente confortável no móvel. Hades se aproximou se
sentando à minha esquerda, o mais longe possível da viúva do
nosso tio.
— Eu soube que você deixou uma sessão de fotos importante
em Nova Iorque pela metade, Hades, alguma coisa aconteceu? — a
mulher perguntou.
— Voltei mais cedo porque achei que algo tinha acontecido
com Zeus — meu irmão mais novo contou a contragosto.
— Parece meio problemático deixar o trabalho assim — ela
disse e estudou o meu pai.
— Minha esposa e eu sempre valorizamos a importância da
família, nunca colocamos nada acima disso. Se algo está errado
com um de nós, é a decisão mais sábia deixarmos o trabalho de
lado para cuidar da pessoa — ele contrapôs nos observando.
A mentira sobre o meu namoro parecia ter animado o meu pai,
e apesar de não ser uma história real, eu me senti feliz por ver o
rosto dele tão animado quando me observou.
— Podemos jantar? Tenho algo para resolver hoje — Mike
disse.
Nosso primo tinha passado o tempo todo daquela conversa
com o celular na mão, pelo que eu consegui ver a distância, ele
parecia estar mexendo numa rede social.
— Não vamos prolongar demais isso — nosso pai prometeu.
— Só gosto de ver a família reunida de vez em quando.
— Sempre que estou viajando, sinto falta disso, tio — Mike
falou sorrindo.
— Alguma boate nova vai inaugurar hoje, Mike? — Poseidon
perguntou.
— Lembra que ele mandou aquele convite para a inauguração
de um clube de stripp há umas semanas? — Hades indagou e
Poseidon assentiu.
— É isso? — meu irmão do meio inquiriu.
Nosso primo ficou pálido, observando a mãe que sorriu
tentando disfarçar aquele momento constrangedor e perguntou ao
Poseidon como estavam as competições.
— Eu não participo de competições há alguns anos, Debbie,
você sabe bem disso — ele retrucou.
— Ah sim, tinha me esquecido disso. Ainda não se recuperou?
— ela perguntou e eu me inclinei no sofá encarando o rosto da
mulher que desviou o foco do meu irmão para me olhar.
— Você pode cuidar da sua própria vida? — inquiri. — Mike e
você têm uma dívida em cartão de crédito que se não for controlada
com a nossa empresa, vocês perdem tudo em poucos meses. Não
acho que seja uma boa ideia morder quem está alimentando vocês.
— Eu tenho um trabalho, Zeus — Mike disse me encarando.
— Sério? Ainda é possível trabalhar como modelo sem uma
agência? Quanto você tira por ano com esses bicos que faz como
modelo? Vamos ser honestos, Mike, ninguém te paga o que a
Olympus pagou… você nem é grande coisa como modelo para ser
honesto — avisei, voltando a me recostar no sofá e cruzando as
pernas.
— Zeus — meu pai chamou em tom de repreensão.
Desviei os olhos dos nossos parentes para olhar para o
homem mais velho que parecia prestes a me estrangular.
— Não se preocupe, pai, estou apenas lembrando nossos
parentes que eles dependem muito mais de nós do que nós deles. E
lembrando que nossas vidas não são do interesse deles. Seria
interessante também parar de ter fofocas sobre nós em sites,
Debbie, isso está virando uma criancice sem precedentes.
O silêncio na sala só foi interrompido, porque Poseidon fingiu
se engasgar para esconder uma risada e eu bati nas costas do meu
irmão, Hades colocou uma das mãos sobre a boca para esconder o
próprio sorriso.
A governanta chegou à sala nos chamando para a sala de
jantar e nosso pai se levantou, lançando um olhar de aviso para nós
enquanto seguia a governanta pela casa. Me levantei com Poseidon
e Hades me seguindo, Mike e Debbie vinham atrás de nós.
Meu coração acelerou no peito quando nos sentamos à mesa
para a refeição, os olhos da víbora com quem meu tio se casou
estavam sobre mim, como uma promessa silenciosa de batalha, eu
sustentei aquele olhar.
— Então, Mike, como está a faculdade? — meu pai perguntou.
— Eu tive alguns problemas com o curso tio — Mike
respondeu.
— Parece que meu filho não conseguiu se adaptar à
graduação em administração — Debbie avisou.
— Estranho, ele tinha jurado que conseguiria dessa vez,
porque sempre foi o sonho dele cursar economia em Stanford,
parece que mexer uns pauzinhos para ele entrar não foi suficiente já
que você não pode mexer para que o aprovem em cada disciplina
— comentei.
— Você está me investigando? — Mike me perguntou.
Os olhos escuros dele me encararam com um ódio
incontrolável. Meu primo estava prestes a perder o controle na
frente do nosso pai, talvez aquilo pudesse fazer com que ele
percebesse o quanto era imprudente deixar a Olympus com o Mike.
— Mantenha seus amigos perto, primo — sussurrei sorrindo.
— E não é como se eu tivesse tempo a perder observando cada
aspecto das vidas de vocês, só que eu lido com os gastos da
empresa.
— Ryan? — Debbie chamou meu pai como se esperasse que
ele dissesse algo a respeito disso.
Os dois se encararam por um instante, ambos deixando as
comidas de lado no prato. Hades me cutucou tentando atrair minha
atenção, mas me mantive quieto observando o caos que estava
causando.
— Ele se formou para lidar com essa parte da empresa,
Debbie, quando prometi que ajudaria você e seu filho, devia saber
que tudo isso passaria pelas contas da empresa — lembrou.
— Não pensei que precisaria dessa humilhação — a mulher
retrucou me encarando.
— É simples, Debbie, lide com seus gastos e nós não
precisaremos saber o que você faz com o dinheiro que gasta —
sugeri.
— Com sorte, não precisaremos lidar com isso por muito
tempo — Mike sussurrou e eu o observei.
— O que você quer dizer com isso? — Poseidon perguntou.
— Algo que o preocupa, primo? — Mike provocou. — Se tiver
algum problema, por favor, sinta-se à vontade para dividir comigo.
Como seu primo mais velho, estou disposto a ser seu confidente.
— Eu acho que prefiro trocar confidências com uma naja
venenosa, mas obrigado pela oferta — Poseidon falou.
— Já chega! — o patriarca da família pediu.
Nosso silêncio preencheu a sala, deixando que o único som no
ambiente fossem os talheres nos pratos. Deixei aquela discussão
morrer, já tinha conseguido o que queria naquela reunião de família.
Quando meu pai pediu licença para ir ao banheiro, levantei da
cadeira e o segui, ele estava imóvel no fim do corredor que dava
para a sala de estar, observei-o e caminhei até ele.
— Viu só o que pode acontecer com a empresa se continuar
com sua aposta idiota? — perguntei.
— Vi, mas o mais importante aqui não é o que eu vi e, sim o
que você conseguiu ver nessa situação.
— O que quer dizer com isso? — questionei confuso.
— O relógio está contra vocês, Zeus, Mike pode ser a pior
catástrofe que pode recair sobre a nossa empresa, sobre o império
que nós criamos. Acha que o quero como meu herdeiro? —
interrogou. — Se esforcem.
Contive a vontade de gritar com o homem e meu celular
sinalizou uma mensagem, apanhei o aparelho e vi que era de Juliet:
“Acabei de trazer meus pertences para o apartamento novo.”
— Parece que eu não vou precisar me preocupar demais com
isso — meu pai falou me fazendo observá-lo.
Capítulo 22
Juliet

Eu não sabia se me mudar para o prédio que Zeus morava era


uma boa ideia. Tinha certeza de que o detestava na maior parte do
tempo que passávamos juntos, mas uma parte de mim, uma parte
irracional e inconsequente de mim, sempre se sentia melhor quando
estávamos brigando.
Talvez isso tivesse me movido a estar naquele quarto, minha
nova colega de apartamento era uma aspirante a atriz com vinte e
sete anos, e está brigando com unhas e dentes por uma grande
chance; a mulher chamada Joana, tinha um metro e setenta de
altura, e longos cabelos vermelhos que ela jurava ser natural. Ela
também tinha uma risada estridente que me incomodava um pouco
e se vestia como se estivesse pronta para dormir a qualquer hora do
dia.
O lado bom é que Joana não tinha um namoro fixo, o que me
deixava livre para chegar em casa cedo e aproveitar minhas noites à
vontade na casa.
Aquilo poderia funcionar, imaginei enquanto desfazia minha
mala no quarto.
— Toc, toc — a voz da mulher disse ao aparecer na frente da
porta.
— Oi — sussurrei.
— Eu comprei pizza — falou. — Você quer?
— Claro.
— Deixa isso aí, depois você arruma — sugeriu.
Coloquei as roupas que segurava de volta na mala e a segui
pela casa até a cozinha, nos sentamos perto do balcão.
— Quer vinho? — ofereceu uma taça.
— Obrigada.
Tomei um gole do vinho e observei Joana abrir a caixa de
pizza de mussarela, nós pegamos fatias da pizza e a mulher me
observou como se esperasse que eu falasse algo, segurei o olhar
dela.
— Então, qual a sua história? — perguntou.
— Nada demais, eu precisei me mudar porque descobri que o
meu ex-namorado estava levando prostitutas para o apartamento
que dividíamos.
— Caralho — Joana riu. — Essa é pesada.
Confirmei com a cabeça enquanto mastigava. Engoli o pedaço
de pizza que estava na boca antes de continuar a história: — Mark
era um babaca, eu já estava infeliz há algum tempo, mas não
conseguia dar um pé na bunda dele. Só que essa foi a gota d'água.
Quebrei todos os eletrônicos que comprei para casa dele, com as
esculturas que ele fez e dei no pé.
Joana gargalhou cuspindo o vinho na mesa.
— Mulher, você é louca, já vi que vamos nos dar bem.
Esbocei um sorriso ao ouvir as palavras. Encarei Joana, ela
era uma mulher linda, com certeza morando no prédio há algum
tempo, já devia ter cruzado com Zeus pelos corredores.
— Você mora aqui faz tempo? — perguntei.
— Uns dois anos.
— Você conhece o Zeus Andrews? — inquiri e a mulher sorriu.
— O vizinho que mora aqui do lado? — ela questionou com um
sorriso malicioso no rosto.
— Ele mesmo. Vocês se conhecem?
— Nos falamos umas três vezes — contou. — Quando me
mudei, acabaram trocando algumas das nossas correspondências e
ele resolveu isso muito rápido para que nunca mais acontecesse.
Depois nos esbarramos no elevador e eu pedi umas taças para ele.
Essa foi uma tentativa frustrada de conseguir sexo casual com o
vizinho gostoso.
Forcei uma risada para tentar não demonstrar que o
comentário me afetou.
— E você? Como conhece ele? — questionou.
Respirei fundo pensando numa forma de explicar minha
situação com Zeus para uma mulher estranha, que me olhava como
um animal observando a presa.
— Transaram e ele é ruim de cama? — chutou e eu ri.
— Nunca tive nada com ele — garanti.
— Então como o conhece?
— É uma longa história — sussurrei. — Nos conhecemos
quando éramos adolescentes, minha irmã mais velha era amiga
dele.
— Ah, você era apaixonada pelo amigo da sua irmã mais velha
— Joana comentou.
— Não, eu não era apaixonada por ele. Só tive uma paixonite
infantil, mas isso acabou há muito, muito tempo.
— E vocês são amigos? — perguntou.
— Não sei dizer. Sempre que estou com ele, nós brigamos —
admiti.
— Isso parece mais tesão acumulado que qualquer outra coisa
— Joana comentou.
— Não — sussurrei.
— Se você diz — falou levando o copo à boca.
— Obrigada pela pizza — sussurrei me levantando do banco.
— E pelo vinho.
— Sem problemas — respondeu.
— Vou terminar de organizar as minhas coisas.
Fui em direção ao quarto olhando por cima do ombro para a
mulher ainda sentada junto ao balcão comendo a pizza. Afastei
aquela ideia que Joana deixou pairando no ar, antes que aquilo
criasse raízes em meus pensamentos.
“Bem-vinda à vizinhança” — a mensagem de Zeus chegou ao
meu celular.

Me mudei há alguns dias e até então, não tinha cruzado


caminho com Zeus desde que vi o apartamento no domingo. Como
estava morando mais perto do trabalho, eu estava aproveitando
para dormir um pouco mais. Enquanto me vestia naquela manhã,
acabei recebendo uma ligação, observei a tela “Pai” estava escrito
ali.
Respirei fundo antes de atender a ligação e deixar o celular no
viva-voz.
— Oi, pai — falei.
— Oi, Juliet. Como estão as coisas? — perguntou.
— Eu ia mesmo ligar para vocês, tive que me mudar, vou
mandar o endereço novo caso precisem mandar algo para mim —
expliquei.
— Se mudou? Por quê? — interrogou.
— Terminei com o Mark — contei.
— Diga a ela que tem que chegar aqui cedo no sábado — ouvi
a voz da minha mãe no fundo.
— Por que tenho que ir aí no sábado? — inquiri confusa
enquanto abotoava a blusa.
— Esqueceu o casamento da sua prima Mandy que vai ser no
nosso quintal? — meu pai inquiriu.
Ouvi um barulho no telefone e imaginei o que estava por vir.
— Juliet, diga ao seu namorado que não traga uma escultura
de presente para sua prima — mamãe ordenou.
— Não se preocupe, mãe, Mark e eu terminamos — contei.
— Por quê? Aconteceu alguma coisa?
— É uma longa história e eu vou me atrasar para o trabalho.
Não se preocupem, vou chegar mais cedo aí no sábado — prometi.
— Tenha um bom dia — ela desejou.
— Vocês também — respondi finalizando a chamada.
Observei o meu reflexo no espelho, eu tinha que dar um jeito
no cabelo, não podia aparecer em um casamento sozinha e com
uma aparência tão desleixada.
Saí do apartamento e me atrapalhei com as chaves enquanto
marcava uma hora com o cabeleireiro, deixei o molho cair e respirei
fundo observando-o no chão, ao passo que digitava que era urgente
e precisava ir arrumar o cabelo essa semana de todo jeito.
— Parece que você não está tendo um dia muito bom — Zeus
disse pegando a chave do chão.
Ele estava tão próximo que o cheiro cítrico me envolveu. Perdi
um instante observando o rosto dele sem pegar as chaves que me
entregava. Minha mente demorou para lembrar que ele era meu
vizinho e mais ainda para me recordar o que Joana tinha me dito na
noite anterior.
— Você está bem? — ele perguntou sacudindo as chaves.
Peguei o objeto das mãos dele agradecendo.
— Estou bem. Só tive uma notícia horrível — falei.
— O que aconteceu? — Zeus me perguntou conforme
caminhávamos em direção ao elevador juntos.
A diversão tinha deixado o rosto do homem.
— Minha prima vai se casar, tenho que ir ao casamento na
casa dos meus pais no sábado e para piorar, meu cabelo está
parecendo a pele de um gambá que coloquei na cabeça.
Zeus aproximou o rosto do meu quando apertei o botão ao
lado da porta. Meu coração acelerou no peito ao vê-lo tão próximo
de mim.
— Na verdade, você cheira muito bem — elogiou.
Voltei a respirar quando o homem se afastou de mim.
— Eu estava falando da cor do meu cabelo. Não consigo
convencer a atendente do salão que é urgente, para que eu seja
atendida essa semana.
— Por que não tenta outro salão? — inquiriu.
— Medo de terminar indo a festa careca — falei e o homem riu
entrando no elevador.
Eu o segui e recebi uma mensagem da atendente dizendo que
podia me agendar para o último horário, da sexta a noite.
— Ótimo, vou ser um zumbi, ao invés de um gambá —
resmunguei, respondendo que ia estar lá.
Travei a tela do celular e observei o rosto do homem que me
encarava com atenção.
— Por que vocês, mulheres, se incomodam tanto com
casamentos? — inquiriu.
— A família da minha mãe é irlandesa e católica, eu estou com
vinte e sete anos, tem noção do quanto sou atormentada nessas
festas? Quando estava com Mark era por não ter conseguido um
pedido de casamento, agora vão me infernizar porque minha última
prima solteira está casando e eu estou sozinha — expliquei.
Encarei Zeus com atenção e estalei a língua.
— Não sei porque estou falando disso com você. Não é como
se isso fosse do seu interesse — comentei com ironia.
— Não se preocupe, adoro ver as pessoas sofrendo com
problemas tolos pela manhã.
Ergui uma sobrancelha e Zeus sorriu, aquele sorriso que não
chegava aos olhos e me deixava estranhamente irritada.
— Problemas tolos? — repeti.
— Sim, com o mundo caótico em que vivemos, comentários
maldosos de tias velhas em um casamento não são um problema
real.
— Você é impossível — avisei sentindo meu coração acelerar
outra vez.
— Falei algo errado?
— Por que tem essa necessidade de me irritar sempre que nos
encontramos? É algum tipo de bipolar sádico? — questionei
sentindo o sangue ferver em minhas veias.
Saí do elevador com passos largos e fui em direção ao carro
sem dar chance ao homem de me responder.
Bati a porta do motorista com força e Zeus gritou: — Bate com
mais força, a porta do carona ainda está presa no seu carro.
O grito ecoou pela garagem, eu abri a janela e mostrei o dedo
do meio para ele antes de ligar o carro.
Capítulo 23
Juliet

Kate me olhava como se eu tivesse dado um soco nela,


durante o tempo em que contava sobre a situação com Zeus logo
pela manhã. Minha amiga pigarreou afastando o choque inicial.
— Você parece gostar de estar andando nessa corda bamba
com ele — ela comentou.
— O que você quer dizer? — questionei.
— É óbvio que vocês estão no meio de uma tensão enorme,
normalmente eu diria: pula em cima dele e alivia logo isso, mas eu
sei o que você pensa a respeito. Só que você está morando
literalmente ao lado da casa dele, vão se ver com frequência —
lembrou.
— Não dá para eu me mudar outra vez por causa de Zeus. E
não está rolando tensão nenhuma entre nós. A única tensão que
existe é eu querendo pisar na cabeça dele sempre que estamos
próximos.
Cruzei os braços defensiva. Kate me observou estreitando os
olhos.
— Claro, não tem tensão nenhuma acontecendo — sussurrou
sarcástica.
Encarei o teto tentando ignorar o que ela estava sugerindo.
— Zeus deveria ser meu cunhado, Kate — lembrei sem
encarar a minha amiga.
— Você mesma disse que Laura não ia aceitar o pedido de
namoro dele — relembrou fazendo com que eu baixasse os olhos
para estudar seu rosto. — Laura estava disposta a tudo para chegar
ao topo, sabemos o que isso quer dizer. Ela se envolveria com
qualquer um que pudesse levantar ela um degrau acima.
Apoiei a mão no queixo observando Kate, minha amiga estava
certa, eu tinha pensado a respeito disso várias vezes desde que
ouvi a história que Zeus me contou, mas não conseguia ver Zeus
com outros olhos, ao menos não quando estávamos longe um do
outro.
— Seja honesta comigo, o que você sente quando está com
ele? — Kate me perguntou.
— Não sei, sempre que estou com ele vamos de oito a oitenta
em um segundo. Num instante tudo que consigo fazer é tagarelar
tudo que estou passando e ele ouve tudo, no segundo seguinte ele
me insulta e nós brigamos. — minha amiga me olhou confusa. —
Agora você está entendendo.
— Que você precisa de terapia eu sempre soube, mas ele
parece estar numa situação bem parecida — ela comentou me
fazendo rir.
Meu celular vibrou em cima da mesa e eu olhei para a tela.
— Cruella está me chamando — avisei me levantando e
caminhando até a sala da minha chefe.
— Juliet, eu preciso… — A mulher se interrompeu me
encarando. — Que merda de cabelo é esse?
— Vou ao salão na sexta para arrumar — avisei.
— É bom mesmo, porque trabalhando para mim, as pessoas
chegam a mim através de você e que impressão passamos se você
andar por aí parecendo um gambá? — questionou.
Assenti deixando de lado o que ela dizia. Eu não podia perder
o emprego a essa altura também.
— Enfim, preciso que você vá até a Olympus e procure
Poseidon Andrews — falou me estendendo uma pasta.
— O quê? — indaguei nervosa.
— Juliet, eu preciso de uma assistente que me escute com
atenção. Pode fazer isso ou vou ter que procurar uma assistente
nova? — questionou.
— Claro, me desculpe — sussurrei pegando a pasta da mão
dela.
— O que você vai fazer? — perguntou.
— Ir até a Olympus, entregar essa pasta ao Poseidon
Andrews.
— Isso, faça aquele idiota preguiçoso ler o documento na sua
frente e levar ao irmão dele para assinar. Estamos quase fechando
uma parceria comercial para um cliente importante, é melhor não
estragar tudo — avisou.
— Sim, Emília, não vou estragar.
De todas as empresas de construção de Los Angeles, por que
tinha que ser justo a Olympus? Me perguntei enquanto caminhava
para fora da sala de Emília. Zeus não ia assinar aquele documento
depois da nossa discussão da manhã, eu tinha certeza absoluta
disso.
— Parece que ela te bateu — Kate me disse.
— Seria melhor se tivesse batido — resmunguei pegando o
meu casaco.
— O que aconteceu? — ela me perguntou apavorada.
— Tenho que ir a Olympus. E convencer Zeus a assinar isso —
falei erguendo a pasta. — Parece que o seu universo está sempre
me atirando no colo desse homem, figurativamente.
Completei meu pensamento quando Kate sorriu, mas a palavra
não arrancou o sorriso do rosto da minha amiga, então a ignorei,
peguei minha bolsa e fui até o elevador. Enquanto descia, imaginei
uma forma de falar com Zeus depois de ter mostrado o dedo do
meio para ele.
Respirei fundo acalmando meus pensamentos e lembrando a
mim mesma que eu estava indo falar com Poseidon Andrews e não
com o irmão dele, se estivesse certa sobre minhas lembranças dos
irmãos, Poseidon era menos sério que o mais velho, isso me daria
uma vantagem para conseguir a assinatura naquele documento.
Cheguei ao exterior do prédio e sinalizei para um táxi, ditei o
endereço da Olympus para o motorista que dirigiu para lá. Me
perguntei se deveria mandar uma mensagem para Zeus dizendo
que estava a caminho da empresa da família dele, mas pareceu
uma ideia ruim, então resolvi chegar lá sem aviso prévio,
provavelmente Emília já havia informado que um representante ia
até lá.
Tamborilei os dedos na pasta respirando fundo algumas vezes
para acalmar as batidas do meu coração. Torcia para que Zeus
Andrews não fosse uma pessoa rancorosa, se eu perdesse aquela
negociação, Emília me demitiria.
O motorista do táxi parou em frente a Olympus e eu paguei ao
homem com as mãos trêmulas, desci do veículo arrumando a roupa
social que usava. O vento açoitava meu cabelo solto, mas coloquei
as mechas atrás das orelhas e atuei, erguendo a cabeça como se
aquilo fosse uma transação comercial com pessoas completamente
desconhecidas.
Segui para o interior do prédio com um segurança abrindo a
porta de vidro, sorri curvando a cabeça em agradecimento e
caminhei até a recepcionista que me olhou dos pés a cabeça,
demorando um pouco o olhar no meu cabelo de gambá.
— Bom dia! Eu sou Juliet Jordan, estou aqui representando
Emília Turner, da Turner and Jared, vim para ver Poseidon Andrews.
— Pode me mostrar seu documento, por favor? — pediu.
Entreguei minha carteira de motorista para a mulher que sorriu
ao confirmar minha identidade.
— Vou acompanhar você — avisou.
— Obrigada.
Caminhei pela empresa com a mulher observando a
movimentação de pessoal, gente em ternos e pessoas com roupas
comuns, a agitação me deixou nervosa a princípio, mas continuei
andando atrás da recepcionista.
A mulher bateu em uma porta de madeira, na qual uma
plaquinha tinha o nome de Poseidon.
— Entre — a voz do homem gritou do interior da sala.
A recepcionista abriu a porta apenas o bastante para passar a
cabeça para dentro. Suspirei aliviada por não ver Poseidon de
imediato. Mesmo que eu precisasse me esconder para sempre, logo
estaria trancada numa sala com o irmão de Zeus.
— Sr. Andrews, a representante da Turner and Jared está aqui
para vê-lo.
— Mande-a entrar — ouvi-o dizer.
A mulher me olhou e ordenou que eu entrasse, agradeci e abri
a porta da sala, Poseidon usava uma camisa social parcialmente
aberta e estava sentado atrás da mesa observando alguns
documentos.
— Bom dia, Sr. Andrews! — Quando ouviu minha voz a cabeça
do homem se ergueu.
Capítulo 24
Juliet

Poseidon e eu nos encaramos por um instante longo e


silencioso. Pensei em algo para dizer que rompesse o silêncio, mas
nada vinha aos meus pensamentos.
— Juliet! — ele disse e sorriu. — Não sabia que você
trabalhava para Emília. Se soubesse não teria evitado me reunir
com aquela megera com tanto entusiasmo.
Exalei um riso constrangido.
— Como vai? — perguntei.
— Estou bem, sente-se — pediu.
Obedeci e entreguei a pasta que trazia comigo. O homem a
pegou, mas deixou o objeto de lado enquanto observava o meu
rosto.
— Então, como estão as coisas com Zeus? — questionou
curioso.
— Não muito boas, eu imagino — comentei.
— O que aconteceu? — inquiriu parecendo ainda mais curioso
com aquela conversa.
— Nós estamos nos desentendendo um pouco — admiti.
— Isso é a cara daquele idiota — confessou suspirando.
Ele abriu a pasta e começou a ler o conteúdo do contrato ali
dentro. Me mantive imóvel observando a sala dele, havia fotos nas
paredes de Poseidon com medalhas nas mãos e piscinas ao fundo.
Observei o homem com atenção reparando no porte atlético do
corpo dele.
— Parece que Emília redigiu o contrato como tínhamos
acertado com o cliente — avisou, me estudando e flagrando-me
olhando para ele.
— Eu não sabia que você nadava — falei indicando as fotos
nas paredes antes que ele pensasse algo.
Poseidon olhou para as fotos nas paredes e sorriu.
— Isso foi há muito tempo — comentou.
— Parece que você era bom nisso — sussurrei e ele meneou a
cabeça.
— Havia atletas melhores — rebateu. — Bom, vamos levar
isso para sala do meu irmão.
— Vamos? — questionei e ele sorriu de maneira angelical.
— Assim poupamos o seu tempo — lembrou. — Você vem
comigo até lá e quando sair da sala já pode seguir seu caminho.
Assenti imaginando que estar na mesma sala que Zeus e
Poseidon não seria tão ruim quanto estar naquela sala apenas com
Zeus. O segundo Andrews me guiou pela empresa até um elevador,
eu entrei naquela caixa fechada com ele e o homem sorriu inocente
enquanto apertava o botão para o décimo andar.
— Então, você gosta de trabalhar como assistente de uma
advogada sem coração? — me perguntou.
— Não muito, mas quando não temos sonhos sobre o que
queremos ser quando crescermos, acho que acabamos sem
opções. Nunca fui particularmente boa em algo — confessei.
— Todo mundo é bom em algo — retrucou.
— Não, Laura era uma ótima cantora, eu sempre fui só a
garota sem talentos — expliquei, percebendo que não devia ter dito
aquilo.
Forcei um sorriso tentando deixar aquilo de lado. Agradeci aos
céus quando o elevador abriu e nós saímos dele com Poseidon me
guiando pelo andar até a sala do irmão. Ele bateu na porta de
madeira e a abriu sem se importar em perguntar se estava tudo bem
fazer isso.
— Eu ia mesmo chamar você aqui… — as palavras de Zeus
morreram quando ele me viu.
— Olhe quem se perdeu por aqui — Poseidon disse.
— Juliet, o que faz aqui? — Zeus perguntou parecendo incerto.
— Só vim trazer um documento — falei tentando não parecer
nervosa.
— Ela veio como representante de Emília Turner — Poseidon
disse.
O irmão de Zeus desabou em uma cadeira em frente a
escrivaninha e observou o outro assento em um convite silencioso,
eu praguejei mentalmente e ocupei o lugar, cruzando as pernas
apenas para fazer algo com o meu corpo.
Os olhos de Zeus estavam sobre o meu rosto e o silêncio
naquela sala se tornou perturbador.
— Parece que estamos sempre topando um com o outro —
Zeus comentou. — E isso vai acontecer com mais facilidade pelo
visto, já que somos vizinhos.
— Vocês são vizinhos? Desde quando? — Poseidon
perguntou.
— Domingo à noite — contei.
Poseidon lançou um olhar para Zeus que eu não consegui
compreender e o irmão do meio sorriu voltando a olhar para mim.
— Vamos sair para almoçar? — questionou.
— Poseidon… — Zeus falou em tom de repreensão.
— Bom, isso é praticamente um almoço de negócios, você
ainda não assinou o contrato — ele pegou a pasta da mesa do
irmão e o mais velho suspirou.
Observei Zeus enquanto Poseidon mexia em algo no celular e
o homem sorriu quando leu algo na tela.
— Um dia Hades vai fazer você engolir esse aparelho — Zeus
avisou.
— Não posso ficar para almoçar com vocês — sussurrei
apressada.
— Vamos, sua chefe espera que a gente assine o contrato,
diga a ela que nós te arrastamos para o nosso almoço enquanto
discutíamos o contrato — o homem sugeriu e eu olhei para Zeus
desesperada.
— Desista, ele vai insistir até você vir conosco — falou.
— Sim, é isso mesmo — Poseidon confessou.
Algum tempo se passou e eu mantive meus olhos sobre Zeus,
durante o tempo em que o irmão dele mexia no celular, não
consegui encontrar minha voz para romper o silêncio e o homem
atrás da mesa também não tentou fazer isso.
— Se você estiver mentindo para mim outra vez, Poseidon, eu
juro que vou partir seu crânio ao meio — Hades falou invadindo a
sala.
— Oi — falei para o irmão mais novo de Zeus.
— Oi.
— Parece que reunimos todos, vamos comer — Poseidon
respondeu se levantando.
— O que você disse para ele dessa vez? — Zeus perguntou.
Poseidon sorriu e respondeu de forma inocente: — Nada
demais.
Hades era o único ali que não usava roupas sociais claras.
Enquanto Poseidon usava uma calça azul escura e uma camisa
branca, com um paletó azul marinho; Zeus usava uma calça preta
com camisa branca e colete cinza, a gravata do mais velho era
escura e o paletó também. Hades entrou na sala usando uma
camisa social preta, com calças da mesma cor, mas ele não tinha
paletó, apenas a jaqueta de couro escura que ele usava desde o fim
do colegial.
Zeus e Poseidon saíram da sala primeiro e eu esbocei um
sorriso constrangido para Hades.
— Eu queria me desculpar com você pelo estacionamento —
avisei.
— Não se preocupe com isso. Como estão os joelhos? —
perguntou passando pela porta ao meu lado.
— Estão melhores — sussurrei.
— Um conselho, não deixe Poseidon arrastar você por aí. E,
se puder te dar outro, nunca dê o número do seu celular para ele —
falou observando o irmão que caminhava à nossa frente
conversando aos sussurros com o mais velho.
— Parece que vocês são bem próximos — comentei e Hades
inclinou a cabeça para o lado.
— Na maior parte do tempo eles dois tentam me enlouquecer,
mas se eu precisar esconder um cadáver posso contar com eles.
Observei o homem em choque e ele sorriu de canto
esclarecendo que era uma brincadeira, ao menos eu esperava que
fosse.
— Juliet, o que você quer comer? — Poseidon perguntou me
olhando por cima do ombro.
— Desde que não tenha morangos na receita — sussurrei.
— Ela é alérgica a morangos — Zeus esclareceu e me vi
surpresa por ele se lembrar daquele detalhe.
— Parece que você sabe bastante sobre, Juliet — Poseidon
comentou.
— Ele estava na casa dos meus pais quando tive meu primeiro
ataque anafilático — contei com o coração acelerado.
Nós entramos no elevador juntos, me vi presa entre Zeus e a
parede ao meu lado. Tentando não pensar que estava indo almoçar
com os três irmãos que foram bem disputados na escola.
Mesmo que Hades fosse mais novo que os dois, ele também
era disputado junto com os irmãos. A beleza dos três apenas tinha
aumentado com o passar dos anos e eu quase me sentia como o
patinho feio da escola outra vez, nervosa por estar presa com
pessoas bonitas.
Capítulo 25
Juliet

Nós caminhamos pela rua em direção a um restaurante não


muito longe da Olympus, meu coração não se acalmou
completamente nem quando já estava sentada naquela mesa ao
lado de Zeus e de frente para Poseidon, e Hades ao lado dele.
O garçom se aproximou anotando os pedidos e prometendo
voltar com o vinho que pedimos.
— Você ainda tira fotos? — Hades perguntou e me senti grata
por termos rompido o silêncio na mesa com um assunto confortável.
— Só por hobby, não tenho muita habilidade para fotos
profissionais — respondi.
— Eu gostaria de ver suas fotos depois, se você quiser mostrar
— ele disse.
— Claro, mas não tenho muita coisa desde que me mudei —
expliquei.
— Eles estão morando juntos — Poseidon falou e Hades olhou
de Zeus para mim.
— Somos vizinhos — Zeus esclareceu. — Você tem que
aprender o significado de limite urgentemente.
Poseidon riu ao ouvir a repreensão do irmão mais velho.
Quando o vinho chegou, eu levei o meu copo com a bebida à boca,
os irmãos mais novos de Zeus me estudaram enquanto bebia e
quando repousei a taça quase vazia Poseidon suspirou.
— Você é boa de copo — elogiou.
— Acho que ela deve ser melhor que você — Hades sussurrou
com um sorriso divertido no rosto.
— Não exagerem vocês dois, lembrem que ainda temos que
voltar ao trabalho — Zeus avisou.
— Ele é tão sério, não é? — Poseidon sussurrou me olhando.
Assenti concordando e olhei para Zeus, o homem me estudava
com atenção.
— Então, parece que vocês dois têm se encontrado muito por
acaso — Poseidon sussurrou me fazendo desviar os olhos de Zeus.
— Nem me fale — comentei.
— Parece até que as costureiras do destino estão enroscando
os fios das vidas de vocês — ele disse fazendo Hades cuspir a
bebida.
— Costureiras do destino? — perguntou o mais novo.
— Você sabe… da mitologia grega — ele explicou.
— Nossa mãe ficaria tão orgulhosa — Zeus comentou
tomando um gole do próprio vinho.
— Acho que Zeus e eu só nos encontramos porque
frequentamos os mesmos lugares, não é como se algum de nós
estivesse evitando o outro — sussurrei.
— Estamos na cidade mais populosa da Califórnia, a segunda
mais populosa do país, então não é tão simples dizer que tudo é
uma enorme coincidência — Poseidon disse.
Quando o garçom chegou com os nossos pratos, nós
comemos em silêncio e eu tentei não me incomodar com os olhares
direcionados a nossa mesa. Assim que acabamos a refeição, Zeus
assinou o contrato que Poseidon entregou a contragosto e me
estendeu o documento.
— Com isso resolvemos nossa pendência — ele me disse.
— Obrigada — falei pegando a pasta.
— Nos vemos por aí — ele sussurrou sem soltar a pasta.
— Seria um prazer — respondi forçando um sorriso.
— Até mais, Juliet, vou te chamar para beber na casa de Zeus
qualquer dia — Poseidon avisou.
Assenti sorrindo apenas para me livrar daqueles homens e
acenei para um táxi. Entrei no veículo respirando fundo quando me
sentei no banco de trás, falei o endereço do escritório para o
motorista e enquanto folheava o documento senti o cheiro cítrico do
perfume de Zeus nele.
Encostei minha cabeça na janela de vidro, dizendo a mim
mesma que Zeus Andrews era o canalha arrogante que vinha me
enlouquecendo nos últimos dias, e muito provavelmente, ele teria
sido meu cunhado.
As palavras de Kate se repetiram em meus pensamentos, eu
sabia que minha melhor amiga estava certa, o próprio Zeus tinha me
dito que Laura o rejeitou. Mesmo assim, um receio tomava o meu
peito sempre que estava com aquele homem, o medo de que Zeus
visse minha irmã em mim.
Ao chegarmos ao prédio de advocacia, eu paguei ao motorista
agradecendo o serviço e desci do táxi entrando no lugar. Emília me
olhou como se pudesse me fuzilar com os olhos.
— Não sabia que tinha mandado você cortar a árvore e
fabricar o papel para imprimir um contrato novo — ela disse.
— Tive que participar de uma reunião de almoço deles,
enquanto eles liam o documento e viam se estava tudo de acordo
para assinar — avisei.
A mulher se recostou na cadeira estudando o meu rosto, o
sorrisinho no canto dos lábios de Emília dizia claramente que ela
sabia que eu não estava dizendo a verdade completa, mas minhas
mentiras pareciam divertí-la.
— Como você conhece os Andrews? — questionou.
Ergui os ombros em um gesto casual.
— Fui colega de classe do mais novo — expliquei por alto.
Emília Turner não era o tipo de pessoa com quem eu gostaria
de abrir feridas do passado para explicar minhas relações com Zeus
Andrews.
— Apenas isso? — ela inquiriu.
— Sim.
— Vá comprar o meu almoço — ordenou.
Saí da sala dela antes que Emília me perguntasse algo mais,
Kate estava vestindo o casaco para sair para almoçar, aproveitei
isso e agarrei minha melhor amiga pelo braço a puxando comigo.
— Parece que sua ida a Olympus foi melhor do que você
poderia imaginar.
— Você nem faz ideia — avisei.
A porta do elevador fechou nos selando dentro do lugar,
observei o relógio acima da porta impacientemente enquanto nós
descíamos os andares em silêncio. Kate e eu ficávamos informadas
das fofocas do prédio graças as coisas que eram ditas naquele
elevador, então nenhuma de nós falava coisa alguma ali dentro.
Quando saímos do elevador, me vi caminhando pela rua com o
braço enlaçado ao de Kate.
— Bom, o que aconteceu na Olympus? — questionou.
— Poseidon me arrastou junto com Zeus e Hades para um
almoço.
— Você indo almoçar com os três? — Kate parecia empolgada
com a informação. — Como foi ter aqueles três aos seus pés?
Sacudi a cabeça em descrença, agradeci a Deus por ter tido a
ideia de só contar a minha amiga sobre aquelas horas fora da
empresa, com a discrição de Kate, logo eu seria colocada no top um
das fofocas do dia no prédio.
— Não exagere. Poseidon e Hades falaram mais comigo do
que Zeus, ele parecia uma estátua ao meu lado — comentei.
— Eu não perguntei como foi com Zeus — lembrou, me
fazendo olhá-la.
— Estou dizendo que eles falaram comigo, mas ninguém
estava aos meus pés — repliquei.
Kate ficou quieta conforme andávamos e eu me vi respirando
fundo controlando meu temperamento para o que minha melhor
amiga poderia me dizer a partir daquele silêncio.
— Eu acho que você tem algo com Zeus que não pode negar.
É quase o negócio do akai ito.
— O negócio do quê? — questionei confusa ao ouvir as
palavras.
— A lenda japonesa do fio vermelho do destino.
— Ham? — rebati ainda mais perdida no que ela estava
falando.
Kate suspirou segurando meus braços e apertando-os.
— Ah, amiga, você é um caso perdido — sussurrou. — O que
estou dizendo é que vocês são atraídos um para o outro e só pelo
que me diz, pelo jeito que você fica quando fala dele, é nítido que
está atraída por ele.
— Zeus deveria ser…
— Seu cunhado, eu sei — Kate respirou fundo. — Pare de se
prender ao passado e ao que deveria ter sido, Juliet. O futuro do
pretérito é uma brincadeira sem graça com as palavras. Não dá para
voltar e mudar tudo que aconteceu. A questão é daqui para frente,
você vai continuar presa ao passado sem de fato viver?
Engoli seco ao ouvir aquelas palavras da minha amiga. Kate
sempre era cirúrgica no que me dizia, para me fazer repensar cada
aspecto da minha vida.
— Eu te odeio — falei.
— Eu sei, mas me ama por me odiar — ela rebateu me
empurrando para o interior do restaurante.
Capítulo 26
Juliet

A semana passou sem que eu tivesse mais encontros com


Zeus, por algum motivo, os dias foram estranhamente solitários.
Joana e eu vínhamos revezando as compras de jantar, a minha
colega de quarto era uma pessoa bem ativa, o que me garantia
noites bem desconfortáveis ouvindo ela com o peguete da vez em
seu quarto.
Na sexta à noite, agradeci aos céus por ter um compromisso,
me vesti com roupas quentes e encontrei Zeus no elevador, o
homem vinha chegando ao prédio e pareceu surpreso ao me ver de
saída.
— Parece que nós estamos nos vendo menos recentemente
— comentou.
— É, estamos — respondi sem tentar soar amigável.
— Está indo a um encontro? — questionou me fazendo sorrir.
— Ah, Zeus, quando você vai lembrar que isso não é da sua
conta? — inquiri.
Ele franziu o cenho.
— Você não parece vestida para um encontro — falou me
fazendo estalar a língua.
— A lingerie sexy está por baixo — avisei passando por ele.
Apertei o botão do andar inferior no elevador e vi o homem me
estudando ainda com o cenho franzido, acenei com a mão livre
enquanto as portas se fechavam.
Eu ainda sorria quando entrei no carro e dirigi em direção ao
salão. Era quase seis horas, talvez conseguisse sair do lugar antes
da meia-noite. Estacionei perto do salão e entrei cumprimentando a
recepcionista.
— Juliet Jordan — eu disse para a mulher que verificou o
agendamento.
— Pode ir, a cliente antes de você não veio — ela avisou com
um sorriso no rosto.
Olhei para ela imaginando se perdia meu tempo discutindo o
porquê não me ligaram para pedir que viesse mais cedo, mas
acabei desistindo, tirei o cachecol do pescoço e fui em direção ao
espaço do salão, Esther me cumprimentou animada quando
cheguei. A cabeleireira vinha domando meu cabelo há alguns anos,
então éramos quase amigas.
— Quando eu soube que você queria tirar o preto, fiquei bem
empolgada — a cabeleireira me disse.
— Faça o melhor que puder — pedi.
— Faz algum tempo que eu fico querendo te dizer, a cor
natural do seu cabelo é linda. O preto está te apagando
completamente — ela comentou.
Esbocei um sorriso me sentando na cadeira. Esther começou a
cuidar do meu cabelo tagarelando sobre o filho dela que está
impossível nos últimos tempos. Eu conheço a mulher há alguns
anos e sei tudo sobre o Dominic, ele tem dez anos, adora
matemática, mas vem se dando mal na escola porque está andando
com colegas problemáticos. O menino se parece com o pai, o que é
uma decepção para Esther.
— Então, por que do nada você quis tirar o preto? —
perguntou.
— Eu tinha pintado para tentar ser uma pessoa diferente e
para agradar meu ex-namorado — expliquei.
— Você terminou com o Mark? — questionou.
— Sim.
— Maravilha, ele era um babaca. Você ia terminar igual a mim,
criando um filho sozinha enquanto ele curte a vida — falou.
Exalei uma risada tentando disfarçar o quanto que estava
constrangida. Todos pareciam notar que Mark era uma decepção e
sugava minhas energias, menos eu, aparentemente.
— E qual a sua emergência? Kath me disse que você pediu
um agendamento de emergência — ela sussurrou enquanto
aplicava o produto no meu cabelo mecha por mecha.
— Casamento da minha prima amanhã. Sou a única solteira
da família agora, imagine o inferno que vai ser — comentei.
— Então, vamos caprichar para você chegar nesse casamento
como uma deusa — ela disse me fazendo sorrir. — Vai sozinha?
— Sim.
— Não, isso é uma péssima ideia, se você quer provocar sua
família de verdade, apareça com alguém, não tem um amigo ou
vizinho gostoso que aceitaria ir com você por um pagamento? —
questionou e eu gargalhei me desculpando quando a mecha fugiu
da mão dela.
— Você precisa me dar mais conselhos, Esther — sussurrei e
a mulher sorriu.
— Bom, eu já passei por uma quantidade de perrengues
grande o bastante para ter um conselho para tudo na vida. Mas
mais importante que ir acompanhada, é estar linda. Se não quer
ninguém te enchendo o saco, fique mais bonita até do que a noiva,
todos estarão tão horrorizados que nem vão chegar perto de você
— sugeriu.
— Esse é um bom conselho — falei.
Enquanto o produto reagia no meu cabelo, Kath perguntou se
eu queria um pedaço de pizza, agradeci recusando e a mulher
trouxe café para mim.
Bebi o café quente enquanto a cabeleireira comia a pizza com
a recepcionista.
— Parece que somos só nós a essa hora — comentei.
— Sim, o pessoal já foi. É sexta à noite afinal. E tem uma
boate inaugurando a algumas quadras daqui — Kath contou.
Depois que Kath e Esther conversaram por vários minutos a
respeito da agenda para o sábado, eu me vi olhando para o celular,
estava com uma sensação estranha de que algo estava faltando.
Acabei criando coragem para tirar uma foto escondendo o rosto e
coloquei-a no chat com Zeus com a legenda “estou deixando de ser
um gambá”.
— Para quem você está mandando a foto? — Kath perguntou
me fazendo clicar em enviar no susto.
— Para um amigo, na verdade, esse está mais para arqui-
inimigo — comentei.
— Esses são os melhores — Kath disse.
— Você não presta — Esther avisou.
— Todo mundo gosta de um malvadão — ela rebateu. — Toda
mulher já conheceu alguém que despertava aquela sensação de
“quero matar ou pular em cima?”
Esther gargalhou ao ouvir aquelas palavras e as duas
começaram a trocar histórias de bad boys com quem se
envolveram, mas minha mente se desconectou da conversa.
Observei a tela e vi que Zeus tinha visto a foto antes que eu
tivesse a chance de apagar. Ele digitou algumas vezes e não
chegou mensagem alguma, encarei a tela do celular escondendo o
conteúdo para as duas mulheres não verem com quem eu falava.
— Vamos ver como estão as coisas? — Esther perguntou.
Travei o celular sem esperar pela resposta de Zeus e me
ajeitei na cadeira, a mulher começou a soltar as mechas cobertas e
me disse para ir ao lavatório. Obedeci me sentando lá, Esther
começou a lavar meu cabelo e a água fria me fazia estremecer.
— Casamento da última prima solteira numa família católica,
só posso sugerir que você esteja deslumbrante — Kath disse. —
Vista seu melhor vestido, de preferência um que ninguém viu,
aposte em um decote e perna à mostra.
— Kath, nem todo mundo é como você — Esther avisou me
fazendo rir.
Esther terminou de lavar meu cabelo com Kath tagarelando
sobre o que eu deveria vestir na festa. Eu assentia para a
recepcionista tentando não demonstrar que me importava tão pouco
com o que dizia.
— Está melhor do que eu pensei que ficaria — Esther disse
observando os fios ao secar meu cabelo com a toalha.
Suspirei aliviada e a mulher voltou a trabalhar nos meus fios,
prometendo que eu ficaria deslumbrante nesse casamento, exalei
um riso e apenas evitei encarar o espelho enquanto ela cuidava do
meu cabelo.
Com Kath e Esther atentas ao meu celular, não tive coragem
de voltar a pegar o aparelho para ver se Zeus respondeu minha
mensagem.
Minha mente trabalhou nas lembranças do dia em que joguei a
tinta preta no cabelo pela primeira vez, e nesse instante eu me
lembrei de Kate me criticando por me esconder de quem era. Ela
sempre me disse que se alguém não estivesse confortável comigo
sendo quem era, que fechasse os olhos, mas nunca ouvi minha
amiga. Kate surtaria quando visse que eu tinha mudado o cabelo.
Esther secou meu cabelo com um secador e escova, meu
coração acelerava a cada vez que sentia uma mecha ser solta da
minha cabeça. A curiosidade não vencia a minha covardia, portanto
mantive o olhar baixo, observando as botas nos meus pés.
Quando a última mecha foi solta, levantei meu olhar, mas
Esther estava na minha frente secando minha franja.
— Então, o que acha? — ela perguntou saindo da frente do
espelho.
Observei meu reflexo, há tanto tempo não tinha o cabelo
natural que pareceu estranho ver a cor dos fios, ainda estavam
escurecidos pela tintura, mas Esther lembrou que tentou danificar o
mínimo possível.
— Ficou ótimo! — sussurrei olhando para o espelho e não era
minha irmã que eu via naquele reflexo.
Abracei Esther que me acompanhou até a entrada, paguei pelo
serviço e me vi saindo do salão com o coração acelerado. Não
conseguia imaginar como me olhariam quando eu chegasse ao
casamento.
Capítulo 27
Juliet

Dirigi de volta para casa sem me importar de verificar o celular


no caminho, quando deixei o carro na garagem e entrei no elevador,
finalmente peguei o aparelho do bolso do casaco, destravei a tela e
vi a resposta de Zeus: “Me mande uma foto depois.”
Esbocei um sorriso e digitei uma mensagem de volta para ele:
“Acho que vou deixar você curioso até nos encontrarmos por acaso
outra vez.”
“Não seja má comigo” — respondeu um instante depois.
“Qual seria a diversão entre nós se eu não fosse má com
você?” — perguntei.
“Eu poderia ser seu amigo, mas você é uma megera” —
rebateu.
Fotografei meu dedo do meio e mandei para ele. O elevador
abriu e eu corri para o apartamento antes que Zeus resolvesse me
encontrar no corredor.
— Jesus! — Joana falou saltando de cima do colo do homem
que estava sentado no sofá.
Ao menos a mulher estava vestida.
— Caramba, Juliet, ficou incrível o seu novo visual.
— Obrigada — sussurrei. — Eu vou dormir agora, boa noite!
Os dois me responderam e eu segui para o quarto fechando a
porta atrás de mim. Só por garantia passei a chave na porta e
respirei fundo tirando o casaco que estava usando.

O celular alarmou me enlouquecendo, às seis da manhã. A


cerimônia começava às nove da manhã, mas com o pedido da
minha mãe para que eu chegasse mais cedo, o despertador já me
enlouquecia, me levantei da cama a contragosto e peguei o
aparelho que tinha deixado na cômoda longe de mim.
Encarei meu reflexo no espelho, ignorei a camisa de flanela e
a calcinha boxer que usava, focando apenas no cabelo, ainda não
conseguia acreditar que fiz mesmo isso. Respirando fundo caminhei
para o banheiro para tomar um banho.
Quando saí do banho enrolada em uma toalha, observei os
vestidos no armário. Um casamento durante o dia, repeti
mentalmente observando as peças. Peguei um vestido longo lilás,
com um decote que era ao mesmo tempo sensual, mas comportado
e a fenda na lateral do vestido começava no meio da coxa.
Observei o vestido na frente do meu corpo e assenti. Comecei
a me vestir e quando já estava com a roupa, vasculhei meus saltos
procurando algo que pudesse usar com aquele vestido.
Os saltos brancos que tinha ali seriam perfeitos, peguei o par e
os calcei, observei meu reflexo no espelho segurando a bolsa onde
já estava enfiando as chaves e o celular.
Respirei fundo escolhendo brincos pequenos e um colar com
pingente de rosa. Meu coração acelerou quando soltei o cabelo e
penteei os fios, peguei o casaco branco dentro do armário e saí do
quarto, Joana estava no balcão tomando café da manhã, quando
me viu, a atriz me olhou dos pés à cabeça.
— O que você acha? — perguntei.
— Eu pegaria você — ela disse me fazendo rir. — Quem vai
fazer sua maquiagem?
— Não ia usar maquiagem — admiti.
— Espera aí, amiga, você vai linda desse jeito sem colocar
uma maquiagem? — questionou e mandou que eu me sentasse no
sofá.
Apesar de me sentir desconfortável com o que vi naquele sofá
na noite anterior, eu obedeci deixando o casaco e a bolsa de lado,
Joana retornou à sala com uma mala de maquiagem.
— Isso é muita maquiagem — comentei.
— Eu sou uma atriz, tenho que ter maquiagem suficiente para
ter o rosto que preciso em um teste — respondeu se sentando na
mesa de centro e observando o meu rosto.
Joana começou a passar os produtos na minha pele e eu
resmungava que tinha que chegar lá cedo.
— Não vou fazer uma maquiagem profissional. Se acalme,
você ainda vai chegar lá mais cedo — avisou.
Quando ela terminou de cobrir minhas pálpebras com sombra,
abri os olhos observando a mulher que parecia decidir qual batom
colocar na minha boca. Ela acabou escolhendo um tom de rosa
entre os vários que tinha na maleta e cobriu minha boca.
— Dê uma olhada — pediu me oferecendo um espelho.
Observei meu reflexo e quase não me reconheci.
— Obrigada — sussurrei.
— De nada, agora corra, Cinderela, você não pode se atrasar
— ela disse rindo.
Me levantei pegando o casaco e a bolsa, fui até a porta com
Joana gritando um “boa sorte”, fechei a porta atrás de mim e peguei
a chave na bolsa. Meu celular sinalizou uma mensagem, então abri
a bolsa e peguei o aparelho. Ergui a perna esquerda para pegar a
saia do vestido e levantá-la, prendendo o tecido entre os dedos
enquanto lia a mensagem da minha mãe: “Onde você está?”
“Estou chegando” — respondi.
Respirei fundo para conter os palavrões que ficaram na minha
mente e ergui os olhos para o corredor, Zeus estava imóvel com a
mão na maçaneta da porta dele. Nossos olhos se encararam por um
longo tempo.
O homem usava um terno e eu não tinha certeza se ele estava
saindo de casa ou se estava chegando, mas vê-lo arrumado
daquele jeito fez o meu coração acelerar. Caminhei em direção a ele
tentando esconder o meu nervosismo com um sorriso cheio de
deboche.
— Bom dia! — falei ao passar por ele.
— Bom dia! — A voz de Zeus parecia rouca.
Me aproximei do elevador e só então notei que ele me seguia.
— Você está linda — elogiou.
— Obrigada — respondi pressionando o botão ao lado da
porta e evitando encarar o homem ao meu lado. — Por que está de
terno em pleno sábado? Vai me acompanhar ao casamento?
Me arrependi assim que falei aquelas palavras, mas já era
tarde demais, voltei meus olhos para o rosto de Zeus e o sorriso de
canto que curvava os lábios dele parecia diferente dos que eu via
normalmente.
— Sabe que não é uma má ideia — comentou.
— Perdeu o que te resta de noção? — questionei e Zeus riu.
— O casamento é na casa dos meus pais.
— Mais um motivo para eu ir com você — respondeu entrando
no elevador.
Fiquei parada observando Zeus no elevador, o homem
segurou a porta sustentando meu olhar surpreso.
— Você não tem um acompanhante e provavelmente vai
chamar muita atenção chegando lá desse jeito, comigo por perto
provavelmente nem seus pais vão falar com você para te criticar —
lembrou.
Esbocei um sorriso caminhando para o interior do elevador.
— Parece que você ainda tem boas ideias — sussurrei.
— Você deveria prestar mais atenção ao que eu digo,
normalmente, tenho ideias excelentes.
Estalei a língua ao ouvir aquelas palavras e nossos olhos se
encontraram mais uma vez.
— Irritante e convencido, que combinação. Quase a receita de
um babaca — comentei fazendo Zeus rir.
— Você adora me ter por perto — rebateu.
Engoli seco ao segurar aquele olhar. Aquela era uma das
poucas vezes em que vi os olhos de Zeus brilhando nas nossas
conversas, normalmente o homem não tinha luz naqueles olhos
verdes.
Tentei não pensar na mudança que fiz no meu cabelo, nem
pensar demais que talvez aquela alteração no humor dele fosse a
semelhança com a Laura que eu estava expondo.
— Aonde você estava indo de verdade? — questionei.
— Tinha uma reunião chata com meu primo e a mãe dele,
como não gosto muito dos dois e nosso último encontro foi um
desastre, não é um compromisso urgente — contou e eu sorri.
— Que bom que vai me acompanhar então — sussurrei.
Fui vestir o casaco e Zeus me ajudou a fazer isso, agradeci
respirando fundo o cheiro cítrico do perfume dele.
Nós saímos do elevador e caminhamos para o carro dele,
voltei a erguer o vestido e notei que os olhos de Zeus
acompanhavam o movimento.
— Jeito estranho de segurar a saia — comentou.
— Eu vi isso num vídeo uma vez e achei interessante.
Entrei no lado do carona do carro dele e o homem começou a
dirigir, ele disse que ainda se lembrava do caminho para a casa dos
meus pais quando passei o endereço.
Capítulo 28
Juliet

Zeus estava estranhamente quieto enquanto dirigia, meu


coração acelerou e eu quase pedi para ele parar o carro algumas
vezes, mas repetia mentalmente que não o pressionei para vir
comigo.
— Obrigada por vir comigo — sussurrei.
— Não precisa agradecer — respondeu com a voz baixa.
— Por que resolveu vir? — inquiri e o olhar de Zeus se moveu
para o meu rosto por um instante.
— Bom, você parecia preocupada com o que falariam por ir
sozinha, eu estava indo para um lugar que não queria, achei que ia
ser mais divertido ir com você.
— Basicamente está aqui porque ficou com pena de mim —
comentei.
— Não colocaria dessa forma — ele disse me fazendo rir.
— Tudo bem.
Quando o homem estacionou o carro, e meu coração acelerou,
Zeus desceu do veículo, ajustando o sobretudo preto que usava e
eu abri a porta do carona para descer do carro, ele chegou ao meu
lado e caminhamos juntos pela entrada da casa.
Segurei a saia do vestido para não arrastar no caminho úmido
de cascalhos. Abri a porta de entrada da casa e entrei com Zeus me
seguindo de perto, percebi a forma como o olhar do homem
percorreu a casa.
— Está exatamente igual — comentou.
— Eles não costumam reformar — sussurrei.
Zeus assentiu voltando os olhos para mim. Tentei não pensar
nas fotos de Laura espalhadas pela sala, nos prêmios dela que
ainda estavam por ali, o lugar inteiro parecia um santuário dedicado
à minha irmã. Quando os olhos de Zeus repousaram no meu rosto,
comecei a me perguntar se ele via Laura em mim, como minha irmã
seria se tivesse envelhecido aqueles anos.
— Finalmente você… — ouvi a voz da minha mãe e me virei
para encará-la.
A mulher olhava de mim para Zeus, ela estava pronta para a
festa, impecável em um vestido azul, com o cabelo preso em um
belo penteado. Os olhos da minha mãe marejaram ao olhar para
mim.
Fechei os olhos contendo a irritação por ver a forma como ela
me olhava, como provavelmente imaginava Laura ao olhar para
mim.
— Você está linda, Juliet — ela disse com a voz embargada.
— Obrigada.
— Como vai, Sra. Jordan? — Zeus perguntou como
cumprimento.
— Oi, Zeus — mamãe respondeu contendo o choro. — Vocês
vieram juntos?
— Sim, nós somos vizinhos — contei.
— Certo — a palavra saiu seca pela boca da minha mãe. —
Fiquem à vontade.
— Por que me pediu para vir mais cedo? — questionei
ansiosa.
— Não era nada, queria sua ajuda, mas dê atenção ao seu
convidado — ela respondeu e pediu licença subindo as escadas
antes que eu dissesse alguma coisa mais.
O silêncio deixado pela minha mãe pareceu sufocar, e estar no
interior dessa casa piorava tudo, observei o rosto de Zeus que ainda
encarava as costas da minha mãe.
— Acho melhor eu ir — ele sussurrou. — Está claro que vir
aqui foi um erro.
Encarei os olhos do homem, sentindo aquela força que tinha
me preenchido se esvaindo, engoli seco afastando aquele choro.
— Se você acha melhor ir — falei em um sussurro.
Zeus e eu encaramos um ao outro por um longo tempo, até
que o homem sorriu sem que o sorriso chegasse aos olhos e disse.
— Vamos lá para fora — chamou segurando a minha mão e
me puxando consigo para o jardim onde a festa aconteceria.
Tinham instalado uma tenda enorme, para proteger a festa
caso chovesse. Ocupei meu lugar marcado e joguei a plaquinha
com o nome de Mark no lixo quando Zeus se sentou ao meu lado.
— Juliet? — minha tia Maggie que estava na mesa perguntou
me observando.
— Oi, tia — falei com um sorriso que não me pertencia.
— É o seu namorado? — ela perguntou observando Zeus.
— Somos só amigos — avisei.
— Ah, sua mãe me disse que você terminou com o seu
namorado — ela disse.
— Vai começar — resmunguei e Zeus exalou um riso.
— Você já tem vinte e sete anos, Juliet, deveria parar de se
distrair e conseguir um casamento. Seus pais se casaram quando
sua mãe tinha vinte anos — ela lembrou.
— É tia, e veja como estão felizes — respondi grosseira.
Depois de horas em uma tortura sem fim de comentários
maldosos, os noivos fizeram seus votos e a festa começou.
Enquanto eles tinham sua primeira dança, minha tia voltou a chamar
minha atenção para me perguntar se eu não queria aquela
felicidade.
— Você quer dançar? — Zeus me chamou.
— Quero — falei deixando a bolsa e o casaco sobre a mesa, o
homem sorriu ao segurar minha mão e me guiar pela pista de dança
improvisada.
— Não devia se incomodar com o que elas dizem —
aconselhou.
— Eu sei — garanti.
Senti a mão de Zeus tocando a pele despida das minhas
costas, a palma dele estava quente e eu tentei não estremecer ao
sentir o toque quente contra minha pele fria. Um arrepio percorreu o
meu corpo e notei que os olhos de Zeus foram para o meu busto.
Sem um sutiã, o vestido fazia pouco para esconder meus mamilos
rígidos.
Envolvi o pescoço dele com um dos braços atraindo os olhos
do homem para o meu rosto, meu olhar se prendeu naquela boca
tão próxima dele, na forma como os lábios se curvaram apenas um
pouco ao notar que estava sendo flagrado observando os meus
seios.
— Seu cabelo está muito melhor assim do que pintado —
sussurrou.
Minha boca se curvou em um sorriso mínimo ao ouvir aquelas
palavras.
— Obrigada — falei.
Meu corpo estava tão próximo ao de Zeus que tudo que eu
conseguia sentir era o cheiro dele me rodeando, o hálito quente do
homem tocava o meu rosto e aquelas mãos no meu corpo me
deixavam acesa.
Eu precisava parar de beber quando Zeus Andrews estava por
perto, porque isso era como jogar álcool na faísca que sempre
parecia acender com ele por perto.
— Gostei de te acompanhar — sussurrou.
— Gostei que você me acompanhou — admiti, fazendo o
homem sorrir.
Quando a dança acabou, eu me vi diante do homem que
estava incendiando a minha sanidade, transformando meu lado
racional em cinzas que voavam para longe de mim com um fôlego
dele.
Meu pai se aproximou de nós, pela primeira vez desde que a
festa começou e o homem me abraçou.
— Ficou muito melhor desse jeito — elogiou o meu cabelo e
sorri. — Zeus, faz um tempo que não te vejo.
Ele estendeu a mão para o meu acompanhante.
— Estive muito ocupado nos últimos anos — Zeus respondeu.
— Eu acompanho as notícias, seu pai deve estar bem
orgulhoso — papai disse.
— Ele está sim.
— Querido? — minha mãe chamou meu pai para tirarem
algumas fotos e ele sorriu em despedida ao sair de perto de nós.
— Acho que podemos ir — falei.
— Não vai ficar para o buquê? — Zeus me perguntou e eu ri
ao me aproximar da mesa e voltar a vestir o casaco.
— Não ia entrar nessa nem se minha vida dependesse disso
— avisei.
O homem gargalhou quando caminhamos para fora da festa,
com cada olhar nos acompanhando, a mão de Zeus ainda estava na
minha cintura, só deixando o meu corpo quando ele pegou a saia do
meu vestido e a ergueu para que eu segurasse.
Esbocei um sorriso em agradecimento. Nós caminhamos
juntos até o carro dele e eu entrei no banco do carona agradecendo
pelo calor no veículo. Zeus ligou o motor e começou a dirigir.
— Parece que não foi tão ruim quanto você estava prevendo
— ele declarou me fazendo rir.
— Você pode ter razão — respondi.
— Então, — ele pigarreou — para onde quer ir?
— Para casa, esses sapatos estão acabando com os meus
pés — comentei.
Zeus dirigiu e eu me mantive calada para não quebrar o clima
ameno que tínhamos deixando entre nós naquele dia. Peguei o
celular na minha bolsa e observei a tela, Joana tinha me mandado
uma mensagem dizendo que ia aproveitar o apartamento já que eu
não estava em casa.
— Mas que inferno — comentei e observei que Zeus já estava
entrando na garagem.
— O que foi? — perguntou.
— Minha colega de quarto me mandou mensagem mais cedo,
parece que ela está aproveitando a minha ausência — falei. — Acho
que vou passar na casa de Kate.
— Pode ficar na minha casa se quiser — ofereceu.
— Tem certeza? — questionei.
— Claro — sussurrou.
— Então vou aceitar o convite.
Caminhamos pelo estacionamento até o elevador e eu me
desequilibrei tentando tirar os sapatos, Zeus me segurou quando
quase caí e nós rimos. Segurei o braço dele enquanto tirava um
sapato e depois o outro.
— Parece que você bebeu demais — comentou. — Vou fazer
um café bem forte quando chegarmos.
— Eu não bebi nem metade do que consigo — avisei.
— Por que Hades e você não foram amigos no colégio? — ele
me perguntou me fazendo sorrir.
— Seu irmão vivia em dois extremos, atormentado pelos
garotos da escola e rodeado pelas garotas, eu não gostava de
nenhuma dessas atenções — confessei.
Soltei o braço de Zeus quando segurei os sapatos e o elevador
abriu. Nós caminhamos até o apartamento dele, observei enquanto
o homem o abria e ele entrou deixando a porta aberta para que eu
também o fizesse.
— Não achei que sua casa seria tão organizada — comentei.
— Começamos bem esse tempo aqui — ele rebateu e eu me
desculpei pelo comentário. — Fique à vontade, vou fazer o café.
Tirei o casaco deixando a roupa pendurada perto da dele e
pendurei a bolsa ali também, deixei os saltos perto da porta e
caminhei pela casa até me sentar no banco perto do balcão da
cozinha observando o homem preparar o café.
— Seus irmãos ainda estão morando com o seu pai? —
questionei.
— Sim, meu pai gosta de nos ter por perto, eu me acostumei a
morar sozinho na época da faculdade, então quando voltei para
cidade, ele não implicou muito quando eu quis ter meu próprio
apartamento — contou.
— Isso explica muita coisa.
Cruzei as pernas fazendo com que ambas as minhas pernas
ficassem à mostra por causa da fenda do vestido. Zeus me lançou
um olhar calmo e observei-o sem conseguir desviar o olhar à
medida que ele se livrava do terno e afrouxava a gravata. Ele
caminhou pela casa até jogar as peças de roupa que tirou em cima
do sofá.
Zeus ficou de pé perto de mim com o corpo apoiado no balcão
enquanto ele desabotoava as mangas da camisa social e as puxava
para cima expondo os antebraços. Minha boca secou e me
amaldiçoei por não conseguir desviar os olhos dos movimentos
dele.
— Tem certeza que não estou incomodando você? —
perguntei tentando romper o silêncio tenso que tinha se formado
entre nós.
Meu corpo latejava e tudo que eu conseguia era repetir
mentalmente ordens para o meu nariz inalar oxigênio.
— Não, eu ia passar o resto do dia vendo algum seriado idiota
na TV — avisou.
— O.K.
Zeus me estudou em silêncio, meu coração acelerou quando
ele se inclinou aproximando o rosto do meu.
— O que foi? — questionei ansiosa.
— Tem um cílio quase caindo no seu olho — comentou.
O homem se inclinou levando a mão ao meu rosto e tirando o
cílio que mencionou. Zeus sorriu de canto e meu coração acelerou
quando os dedos dele percorreram minha bochecha. Aqueles olhos
fixos na minha boca. Estávamos tão próximos que tudo que meu
corpo parecia gritar era a necessidade de quebrar aqueles
centímetros de distância e envolver os lábios dele com os meus,
mas minha covardia falou mais alto e eu me vi incapaz de me
mover.
Ele respirou fundo e se afastou, me levantei do banco, com o
corpo quente, aquele desejo latejando em cada parte de mim, virei
as costas para o homem e consegui sussurrar com a voz frágil: — É
melhor eu ir.
Antes que desse um passo para longe, Zeus me puxou pelo
braço girando o meu corpo que se chocou com o dele, uma das
mãos dele se enterrou no meu cabelo e a boca quente repousou
contra a minha. Meu coração acelerou ainda mais no peito, em um
instante, minhas mãos envolviam o pescoço dele e a boca dele
abria a minha.
Aquela língua quente percorreu o interior da minha boca com
calma, até que a minha foi ao encontro dela. Zeus me segurou mais
contra si, os dedos se prendendo ao redor dos fios que segurava na
minha cabeça.
A mão esquerda dele segurando minhas costas com firmeza,
me mantendo presa ao corpo dele conforme nossos lábios se
moviam juntos. Nossa calmaria desapareceu completamente, dando
lugar ao desejo que me fazia arder por ele.
Capítulo 29
Zeus

Meu corpo pulsava com um desejo que eu nunca imaginei que


sentiria, cada parte de mim latejando quase dolorosamente. Juliet
Jordan se tornou minha desordem quando a vi no estacionamento,
mas ver a mulher naquela manhã, tão sexy e angustiada, aquilo
tinha destruído qualquer sensatez que me prendesse longe dela.
Aqueles seios rígidos evidentes naquele vestido tinham me
enlouquecido o dia inteiro e as pernas dela. Céus, eu estava
completamente fodido.
Minha boca devorava a dela sem que eu me preocupasse com
o que aconteceria quando rompesse o beijo. O mundo ao meu redor
se tornava insignificante, meu braço a rodeou e eu ergui o corpo
dela até que estivesse sentada no balcão. As pernas de Juliet se
abriram me encaixando entre elas.
O desejo que me fazia latejar, também era claro no corpo dela,
em cada som que exalava e cada gemido que fazia meu corpo
estremecer.
Quando nós interrompemos aquele beijo ofegantes, meu olhar
se prendeu ao rosto dela, a boca vermelha pelo beijo, o batom
manchado ao redor. Os olhos brilhavam naquela emoção que eu
gostava de buscar em seu olhar.
— Juliet… — sussurrei o nome fechando os olhos.
— Você não esperava que eu fosse retribuir? — questionou
ofegante.
— Achei que fosse me dar um tapa — respondi, exalando um
riso baixo.
— Não te daria um tapa — admitiu.
— Você é linda, Juliet — elogiei.
Tirei minha mão do cabelo dela, afrouxando o aperto nos fios,
aquele cabelo claro deslizou pelos meus dedos e os olhos dela
acompanharam o movimento. Eu tinha prometido a mim mesmo que
não ia chegar aquele ponto, jurado que estava me aproximando
apenas porque Juliet precisava de alguém, porque ela estava
afundando, e eu não conseguia ficar parado observando, mas vinha
notando que a mulher mexia comigo, por isso, a estava evitando.
— Não acredito nisso — ela disse em um sussurro.
— O quê? — inquiri.
— Você está pensando nela — comentou.
Olhei para a mulher confuso por um momento, até que as
lágrimas nos olhos dela me fizeram entender do que estava falando.
Juliet me empurrou e saltou do balcão, me vi dividido entre a
necessidade de segui-la e a angústia de não me sentir digno dela.
— Sinto muito — sussurrei.
— Engula suas lamentações! — ela disse. — Você só aceitou
ir a essa festa comigo porque eu te lembrei dela, não é?
Não me virei para olhá-la e não consegui mentir, não podia
abrir minha maldita boca para concordar com aquilo e dizer que a
beijei porque pensei em Laura, porque essa mentira era cruel
demais e não podia dizer a verdade, isso implicaria em precisar
revelar que ela mexia comigo.
— Justo quando eu pensei que você era meu amigo — ela
falou com a voz embargada.
Finalmente observei-a, mas a mulher estava de costas e se
afastava em direção a porta. Ela não se virou quando pegou o
casaco e a bolsa, Juliet se abaixou para pegar os sapatos no chão e
saiu do apartamento fechando a porta atrás de si.
Soquei o balcão com as mãos fechadas em punhos.
Eu sempre soube que era uma péssima ideia bancar o herói,
mas não imaginei que aquilo acabaria daquela maneira tão
desastrosa. Tinha quebrado o coração da mulher de um jeito que
talvez fosse irreparável e imediatamente quando a porta se fechou
entre nós, me arrependi da decisão.
O ar naquela cozinha ainda tinha o cheiro da pele dela, minha
mão ainda sentia a textura da pele lisa, minha boca ainda ardia da
intensidade daquele beijo. Me vi questionando se aquilo era tudo
que restaria daquele momento entre nós. O gosto amargo de um
beijo inesquecível.
Como ela pôde pensar que eu estava pensando em Laura
naquele momento? Por um momento, esqueci até mesmo o meu
nome enquanto beijava aquela boca.
Observei a cafeteira cheia e desliguei a máquina, meu coração
acelerou de frustração e atirei o objeto no chão da sala, estourando
o vidro e derramando café para todos os lados.
— Jesus Cristo! — Poseidon falou da porta do apartamento.
— O que foi? — questionei irritado. — Por favor, se eu fiz mais
alguma merda hoje, me diga de uma vez, ainda restam muitos
objetos que amo nesse lugar para quebrar.
— Que merda aconteceu com você? — meu irmão indagou
fechando a porta atrás de si.
— Eu sou um idiota sem conserto, foi isso que aconteceu
comigo — avisei.
— Zeus, nós falamos sobre isso várias vezes, você precisa me
dizer o que está acontecendo para eu poder te ajudar — rebateu
caminhando pelo apartamento.
Desabei no banco junto ao balcão.
— Era para ser uma ajuda, eu deveria canalizar a raiva dela,
devia ser aquele que ia despertar as piores emoções para fazer ela
simplesmente sentir — comentei.
Poseidon pegou uma pá para limpar o vidro do chão e reunir
os restos mortais da minha cafeteira.
— Deixe-me adivinhar — pediu começando o trabalho no
chão. — As coisas entre você e Juliet saíram do controle.
— Saíram e eu me atirei na boca de um vulcão em erupção
com o coração dela nas mãos — falei.
Poseidon ficou calado esperando que eu falasse, observei meu
irmão limpar o café do chão com um pano e me levantei do banco.
— Está limpando desse jeito para eu fazer? — questionei
pegando o pano das mãos dele.
— Então, o que houve? — meu irmão perguntou parecendo
preocupado.
— Quando eu estava saindo de casa para ir encontrar Mike e
Debbie, a vi saindo da casa dela, ela estava tão linda que fiquei em
choque por um momento e antes que pudesse controlar o que
estava fazendo, me ofereci para ir com ela ao casamento.
Detalhei o casamento para Poseidon, talvez porque eu
precisasse urgentemente falar a respeito de tudo que estava
sentindo. De tudo que aquela mulher despertou no meu corpo
naquelas horas em que estivemos juntos. Flertar era muito diferente
do que tinha acontecido naquele dia, Juliet me despertou, ela me
trouxe de volta para um mundo luminoso e eu me apavorei com a
ideia de deixar a segurança da minha escuridão.
— Nós voltamos para cá e ela estava sentada ali — falei
indicando o balcão.
— E? — Poseidon perguntou.
— Eu a beijei, não consegui me controlar e quando voltei a
mim já estava com ela sentada nesse balcão. O problema é que eu
esqueci que não podia fazer isso, esqueci que matei a irmã dela —
minha voz falhou e antes que meu corpo tivesse qualquer reação,
meu irmão me abraçou.
Segurei aquele desespero que não foi tão intenso quanto em
outros momentos, aquele choro que me subiu aos olhos, não foi
derramado em lágrimas, aquela dor que eu sentia sempre que
pensava em Laura, aquela sensação de ter meu coração destroçado
não estava ali. A ausência da dor era muito mais assustadora do
que encarar a realidade de que Juliet mexia comigo.
— Você não a matou — Poseidon sussurrou.
— Eu não mereço um amor, tive essa chance e não deveria
existir segundas chances. Se existe, que tipo de crueldade é essa
que me atirou direto para irmã dela? — indaguei com a voz rouca.
— Você precisa desapegar da ideia de que Laura foi o grande
amor da sua vida, ela não ia aceitar seu pedido — lembrou. — Ela
enfatizou isso tantas e tantas vezes. Laura estava disposta a dormir
com qualquer um para subir na carreira.
Me afastei do meu irmão travando a mandíbula.
— O que aconteceu com Juliet? — questionou, tentando
desviar o foco daquela conversa que tivemos tantas vezes antes.
— Ela achou que eu a beijei porque estava pensando na irmã
dela — sussurrei.
— Você disse que nem se lembrou de Laura — meu irmão
retrucou.
— Sim, eu te disse isso — enfatizei.
— Não falou para ela? — perguntou incrédulo e eu balancei a
cabeça em negação.
— Não posso fazer isso — sussurrei. — Não quero quebrar o
coração dela. Se continuar com isso, vou acabar destruindo ainda
mais a vida dela.
— Não pode estar falando sério. Acha mesmo que você é tão
destrutivo? — inquiriu.
Observei o rosto do meu irmão em silêncio, deixando que ele
visse o que quisesse ver. Estava cansado de usar máscaras. Brigar
com Juliet tinha me despertado para sentimentos que eu tinha
aprisionado no coração há muitos anos.
— Vai mesmo só desistir dela? — perguntou. — E toda aquela
conversa de fazer com que ela se sentisse viva?
— Se Juliet ainda quiser olhar para minha cara, não vou
desistir disso — sussurrei deixando o pano sujo no chão. — Vou
tomar um banho.
Me afastei do meu irmão, caminhando em direção ao meu
quarto, tirei a camisa e observei meu reflexo no espelho com os
dedos tocando a tatuagem em formato de raio no meu peito. Aquela
vergonha e terror que assombrava minha mente todos os dias,
desde aquela maldita noite, como podia ter simplesmente
desaparecido em algumas horas que passei ao lado daquela
mulher?
Capítulo 30
Zeus

Deixei a água cair sobre a minha cabeça, enquanto meu


coração repassava cada toque de Juliet no meu corpo, cada fôlego
roubado. Como um beijo podia ser tão destrutivo? Como algo tão
simples que trocamos com tantas pessoas ao longo da vida podia
ter um significado tão pesado em meu coração? Me interroguei
enquanto sentia o meu corpo arder por lembrar claramente da
sensação daquelas pernas ao meu redor.
Antes que eu desse por mim, estava com a mão em volta do
meu pau com uma urgência agonizante, como se meu corpo
precisasse daquele alívio enquanto a sensação do beijo dela ainda
estava clara na minha boca.
Engoli em seco quando ejaculei na parede. Eu precisava
urgentemente resolver minha situação com a mulher, porque estava
velho demais para ficar me masturbando em um banheiro pensando
em garotas que beijava.
Fechei os olhos tentando relaxar.
Quando voltei para a sala, vi Poseidon sentado no sofá
vasculhando minha TV procurando algo para assistir.
Desabei ao lado do meu irmão e encarei a tela, deixando
minha mente se perder entre os cartazes de filmes e seriados que
passavam, à medida que ele rolava a plataforma procurando.
Peguei meu celular, observando aquele chat com Juliet, cuja
última troca de mensagens foi na noite anterior e respirei fundo
quando comecei a digitar: “Eu não estava pensando em Laura
quando beijei você, mas acho que isso não devia ter acontecido.
Nós temos coisas demais no nosso passado, coisas que pesam
contra uma relação entre nós. Tudo que estou disposto a oferecer é
a minha amizade. Sinto muito por ter deixado aquele momento
estragar as coisas entre nós.”
Respirei fundo e enviei as palavras para a mulher. Observei a
tela em silêncio, esperando por uma resposta de Juliet, consegui
ouvir quando Poseidon colocou algo para assistir na TV.
Me levantei do sofá para pegar algo para beber e meu celular
vibrou na minha mão. Abri a tela com expectativas e vi a mensagem
de Hades.
“Vou demorar para chegar aí, encontrei alguém na escada.”
Olhei para a tela confuso ao ler as palavras do meu irmão
caçula. Poseidon ficou confuso quando caminhei para fora do
apartamento, mas o meu irmão do meio me seguiu e quando abri a
porta que dava para a escada, sinalizei que ele ficasse calado.
— Você pode vestir isso, por favor? — ouvi a voz de Hades.
Me aproximei do parapeito vendo meu irmão mais novo
indicando o casaco na mão de Juliet.
— Não está frio aqui — ela argumentou.
— Não, mas não vou me concentrar nessa conversa se ficar
olhando para os seus peitos — avisou. — Desculpe.
Juliet riu, mas eu observei quando a mulher vestiu o casaco.
— O que aconteceu? — ele perguntou.
— Acho que as coisas entre o seu irmão e eu se confundiram
— sussurrou. — Talvez voltar a cor de cabelo antiga tenha sido um
erro, isso aqui pode fazer os outros pensarem em como Laura teria
sido com a minha idade.
— Não acho que vocês sejam tão parecidas — Hades disse.
— Talvez não sejamos, — ela falou — mas para muitas
pessoas que a amavam, eu vou ser sempre uma parte da minha
irmã.
— O que aconteceu entre Zeus e você? — Hades questionou.
— Nós nos beijamos — Juliet contou.
Poseidon me tocou e mostrou a tela do próprio celular, onde
havia uma mensagem escrita: “Acha mesmo que devíamos estar
ouvindo isso?”
Ignorei as palavras do meu irmão e continuei imóvel.
— E então? — Hades questionou. — O que aconteceu?
— Quando ele me olhou, eu senti que não era a mim que
estava vendo, parecia que o seu irmão estava perdido. Aí eu surtei e
comecei a gritar com ele acusando de ter me beijado por pensar em
Laura — explicou.
Hades bufou e ergueu os olhos, ele olhou para o meu rosto
escondendo o susto por eu estar ali ouvindo aquela conversa, ou
talvez meu irmão tivesse me dado aquele aviso porque esperava
que eu fosse até ali.
— Muitas pessoas acham que eu não entendo muito de
emoções, que vivo minha vida baseando tudo por lógica, mas isso
não é verdade. Eu só não demonstro como todo mundo, mesmo
sem demonstrar, ainda posso sentir — Hades falou, Poseidon se
apoiou no corrimão ao meu lado ao ouvir as palavras do nosso
irmão mais novo. — Isso faz com que meus irmãos não pensem em
mim quando se trata de falar sobre os problemas ou o que sentem.
As palavras de Hades me fizeram sentir culpado, desde que
éramos crianças, nós baseamos nossa vida em proteger Hades. E
isso sempre fez com que Poseidon e eu sempre procurássemos um
ao outro para dividir os problemas raramente deixando o caçula
saber das merdas que aconteciam em nossas mentes.
— Eu posso não saber tudo sobre como Zeus ou você se
sentiram quando perderam sua irmã, mas pelo que conheço do meu
irmão, ele nunca beijaria você por pensar nela. Se Zeus te beijou é
porque você o atraiu, não por uma vaga lembrança dela. Ele não é
esse tipo de pessoa.
— Não consigo pensar desse jeito — Juliet comentou.
— Por que não? — A voz de Hades parecia confusa.
— Porque Laura era a filha preciosa, a estrela da família.
Minha irmã ia ser a pessoa linda e talentosa que conquistaria o
mundo.
— Você também é muito bonita — Hades disse. — E não
estou dizendo isso porque seus peitos estão maravilhosos nesse
vestido, mas sempre achei você bonita, mesmo na escola.
Juliet riu ao ouvir as palavras do meu irmão.
— Já parou para pensar que sua tentativa de tentar se
destacar, de tentar se desligar dela e o seu medo de ser comparada
a sua irmã é na verdade, o seu jeito de não desapegar dela? —
questionou.
— O que você quer dizer? — Juliet perguntou.
— Não sei como é perder um irmão, não posso dizer que
compreendo a sua dor, mas eu acho que você se deixou assombrar
pelo que sua irmã foi quando estava viva e agora não sabe como se
libertar desse tormento que você mesma se colocou.
— Faz sentido — Juliet sussurrou.
Me afastei do corrimão, puxando Poseidon comigo e nós
retornamos pelo corredor até o meu apartamento. Meu irmão do
meio me olhou cauteloso, como se ponderasse o que eu estava
pensando a respeito da conversa que ouvimos.
— Parece que o nosso irmãozinho cresceu — Poseidon falou
enfiando as mãos nos bolsos da calça e indo até a minha geladeira.
Ele pegou algumas cervejas e me indicou o sofá. Me sentei ao
seu lado e segurei uma das garrafas, nós bebemos em silêncio
enquanto eu sentia que minha mente me atormentava revivendo o
beijo que troquei com aquela mulher que estava conversando com o
meu irmão mais novo.
— Talvez eu devesse simplesmente ser um cupido para ela e
Hades — comentei e Poseidon cuspiu a cerveja em cima de mim.
Encarei o meu irmão mais novo incrédulo e ele praguejou me
xingando com todos os palavrões que conhecia.
— Que tipo de babaca insensível você é? — questionou por
fim.
— Eles parecem se dar bem — retruquei tirando a camisa
molhada com cerveja e deixando a roupa no chão.
— Você e eu nos damos bem, vamos nos casar também? —
rebateu irritado. — Não se joga com as vidas dos outros desse jeito,
Zeus.
Os olhos de Poseidon se estreitaram e meu irmão deixou a
garrafa na mão de lado ao encarar o meu rosto, praguejei
mentalmente por ter deixado aquela ideia escapar, Poseidon podia
ser lento para algumas coisas, mas captou o que eu estava
tentando fazer.
— Você não está…
— Não é desse jeito — avisei, cortando o que ele estava
prestes a falar.
— Então me explique, irmão — pediu. — Me diga como
exatamente não é o que estou pensando. Não ouse mentir para mim
e dizer que você não está todo esse tempo pensando em casar
Hades e eu e ficar livre com a porra dos seus problemas.
— Poseidon…
— Vá para o inferno! — ele desejou. — Eu apoiei a droga dos
seus traumas, te ajudei com todos os seus problemas e na minha
vez você pensa que os meus problemas são menores do que os
seus?
Ele se levantou do sofá e me preparei para segui-lo.
— Ei, me escute, não acho seus problemas menores que os
meus, só acho que vocês merecem a chance de felicidade —
esclareci.
— É claro, enquanto você se afunda nas suas merdas, vai
tentar limpar a fossa dos outros. Faça um favor, Zeus — ele gritou
ao abrir a porta do apartamento. — Vá se foder!
Quando vi que Poseidon ficou parado ao olhar o corredor,
fechei os olhos respirando fundo, dei um passo para fora do
apartamento e vi Poseidon passar marchando por Hades e Juliet.
— Que merda você fez agora? — Hades me perguntou e eu só
exalei pesadamente.
— Vá com ele — pedi.
Hades deu as costas e seguiu Poseidon que desistiu de
apertar o botão do elevador e foi para as escadas. Juliet e eu
ficamos parados no meio daquele corredor encarando um ao outro.
Entrei no apartamento deixando a porta aberta.
Capítulo 31
Zeus

Me sentei no sofá e fechei os olhos encostando a cabeça no


encosto, a porta do meu apartamento foi fechada e não me
preocupei em me virar para olhar se estava sozinho.
— Parece que estamos tendo um dia difícil — Juliet falou. — E
por mais que eu odeie isso, aparentemente, só me resta você para
falar a respeito.
Abri os olhos observando o rosto da mulher que se sentou ao
meu lado.
— Onde você estava todo esse tempo? — inquiri mesmo que
já soubesse a resposta.
— Como Joana está com alguém, eu não queria atrapalhar,
então me sentei na escada. Estava conversando com Hades —
contou.
Aquiesci ao ouvir aquelas palavras e Juliet sorriu.
— Não quer saber sobre o que falamos? — perguntou.
— Agora não — comentei.
— Hades estava babando os meus peitos — Juliet disse
arrancando um riso do meu corpo.
— São seios muito bonitos — falei.
— Você está bem? — inquiriu.
Observei o rosto de Juliet sem responder aquela pergunta,
porque simplesmente era difícil imaginar uma resposta para ela.
— Eu vou ficar.
— Poseidon parecia bem chateado — comentou.
— Fiz uma coisa ruim com uma intenção boa.
— O caminho para o inferno está pavimentado com boas
intenções — Juliet citou e eu sorri.
— Sabia que não foi Marx quem criou essa citação? —
perguntei e ela me olhou com uma sobrancelha erguida. — Mesmo
estando no livro dele, fontes dizem que essa frase já estava em
circulação na época.
— Nada se cria, tudo se copia — ela rebateu e ri ao acenar
com a cabeça.
Juliet suspirou voltando a tirar o casaco e se ajeitando no meu
sofá para ficar de frente para mim.
— Eu li a sua mensagem — avisou. — Li quando Hades me
encontrou na escada. Me desculpe pela reação que eu tive, acho
que depois de tudo, não consigo acreditar que alguém realmente se
sentiria atraído por mim. Mesmo com Mark, sempre tive a impressão
de que ele era areia demais para o meu caminhão. Claro que ele
era um babaca, sei disso, mas nunca achei que fosse
particularmente bonita.
— Se eu te dizer que você é bonita não te convenceu, pode
levar o elogio de Hades a sério — falei e ela sorriu.
— Ele disse que meus peitos desconcentraram ele da nossa
conversa — contou e eu sorri.
— Hades tem um super foco, se ele disse isso, é porque
realmente foi difícil para ele se concentrar — expliquei.
— Eu ainda quero ser sua amiga, Zeus — falou. — Talvez nós
tenhamos confundido as coisas, mas estar com você me faz querer
continuar.
Assenti ao ouvir aquelas palavras.
— Não estou dizendo isso porque quero pedir para ficar no seu
sofá hoje — avisou me fazendo rir.
— Tudo bem.
— Tudo bem o que eu disse, ou tudo bem eu ficar no seu
sofá? — questionou.
— As duas coisas.
Juliet e eu nos estudamos por um tempo e ela mordeu o lábio
me fazendo reviver a sensação de ter aquela boca quente contra a
minha.
— Você jura? — inquiriu e pisquei os olhos confuso. — Jura
que não estava pensando nela?
Respirei fundo observando a sala com calma. Meus dedos
foram até a tatuagem no meu peito.
— Eu tenho me culpado pela morte dela todos os dias desde
que aquilo aconteceu, passei muito tempo imaginando como seria
se ela ainda estivesse aqui. Acho que eu precisei ouvir mil vezes por
várias bocas que ela nunca seria minha para finalmente aceitar isso
— expliquei, afastando a mão da tatuagem, mas sem coragem para
olhar para Juliet. — Ainda me culpo pela morte dela, mas juro que
não estava pensando nela quando beijei você.
— Por que disse que aquilo foi um erro? — inquiriu.
A pergunta era perigosa e eu respirei fundo pensando numa
resposta para dar, que não me comprometesse.
— Acho que eu estou sozinho há muito tempo e ver você hoje
vestida como está mexeu com o meu corpo.
— Tudo bem — sussurrou.
— Por que não me deu um tapa? Isso teria facilitado as coisas.
— Porque talvez o fato de você ser um idiota que me deixa
com raiva tenha mexido comigo. Ultimamente parece que estou
sempre me equilibrando em uma corda bamba — esclareceu. —
Beijar você fez tudo desaparecer.
Esbocei um sorriso ao ouvir aquelas palavras. Estender aquela
conversa era perigoso, percebi, já estava sendo trabalhoso manter
meus olhos no rosto dela quando as pernas dobradas sobre o sofá
me chamavam atenção e aqueles seios empinados pareciam um
convite.
— Vou conseguir algo para você vestir, mas não precisa ficar
no sofá, tem um quarto de hóspedes.
— Obrigada — ela disse com a diversão deixando seu rosto.
Me levantei do sofá e fui até o meu quarto pegando uma das
minhas camisas. Aquilo devia servir bem. Retornei a sala e vi que
Juliet estava com o celular no ouvido, a expressão no rosto dela
estava fechada, ergui a camisa e ela assentiu concordando que era
suficiente.
— Não, mãe, eu não estou dormindo com Zeus — ela falou
desviando os olhos do meu rosto. — Ele não era namorado dela.
A voz de Juliet pareceu fraca ao dizer aquelas palavras, ela
fechou os olhos e eu me vi questionando se aquilo era algo que eu
devia estar ouvindo. A mulher pareceu inquieta ao ouvir o que a
mãe dizia.
— Não é a cor do cabelo de Laura, é a cor do meu cabelo. O
que você queria? Eu não vou passar a vida inteira pintando o cabelo
só para vocês se sentirem melhor! — ela disse alto, imaginei que
estava repetindo aquelas palavras pelo tom que usou.
Deixei a camisa no sofá e me afastei da sala dando
privacidade para a mulher.
— Você pode ficar — Juliet avisou e eu me virei para ver que
ela já tinha finalizado a chamada e encarando a tela, percebi que ela
tinha desligado o celular.
— As coisas estão ruins? — inquiri.
— Nada novo — ela retrucou suspirando.
— Sinto muito por ter causado problemas — falei.
— Acredite em mim, se eu tivesse ido a esse maldito
casamento sozinha, as coisas estariam piores — retrucou se
sentando outra vez. — Obrigada por me deixar ficar aqui hoje.
— O quarto é a segunda porta à esquerda, o banheiro fica em
frente a ele — avisei. — Boa noite!
— Boa noite!
Juliet encarou a minha sala e não se moveu, imaginei que ficar
perto dela naquele instante era uma péssima ideia, então me movi
para o quarto.
Se eu me sentasse perto dela, se a abraçasse como estava,
provavelmente aquilo terminaria em mais um beijo, ou até mais que
isso, então era melhor não confundir e piorar as coisas entre nós.
Juliet Jordan já tinha muito com que se preocupar, eu tinha um
propósito em estar por perto e apenas um.
Fechei a porta do quarto atrás de mim e guardei o meu
arrependimento quando me deitei naquela cama fria e observei a
porta de madeira, mesmo sabendo que Juliet não entraria ali.
Capítulo 32
Zeus

Minha noite de sono foi inquieta, mas na manhã seguinte


quando me levantei lembrando que Juliet tinha passado a noite no
apartamento, a mulher não estava no quarto de hóspedes, segui
para a sala e vi um prato em cima do balcão com ovos e bacon.
Havia um bilhete no caderno sobre o balcão que dizia: Não
encontrei sua cafeteira, então só coloquei suco no copo, espero que
você goste do café da manhã. Obrigada por me deixar passar a
noite.
Me aproximei do balcão e comecei a comer a comida que ela
tinha preparado, não consegui identificar o que ela usou para
temperar os ovos, mas me vi curioso com o sabor. Como Poseidon
estava puto comigo, aquela altura Hades também devia estar e eu
não queria Charlie analisando o meu comportamento recente,
resolvi passar o dia sozinho.

Na segunda, eu saí de casa mais cedo para não topar com


Juliet quando a mulher saísse para trabalhar, me vi andando pela
empresa recebendo reclamações sobre prazos e problemas com
licenças.
Eu queria dar um tempo a Poseidon para se acalmar, mas não
podia resolver alguns daqueles problemas sem a ajuda do
advogado da empresa.
Respirei fundo antes de bater na porta da sala de Poseidon
ouvindo um grito: — Pode entrar!
Abri a porta e meu irmão suspirou quando me olhou deixando
os papéis de lado.
— Olhe só quem desceu do Olimpo para brincar com os
irmãos menores — Poseidon falou.
— Sem tempo para suas piadas.
— Eu nem comecei com elas. Acho que nossa mãe escolheu
muito bem nossos nomes, você é o Zeus, um traidor igual ao deus
mitológico — comentou.
— Realmente, combinamos muito com nossos nomes. Um
Zeus que tem medo de tempestades, um Poseidon que tem medo
de água e um Hades com medo de escuro. Ótimas escolhas —
rebati irritado.
Joguei o tablet para ele que o segurou antes que o aparelho
caísse no chão.
— Levante essa bunda daí, temos coisas para resolver —
ordenei.
— É claro, grande deus — Poseidon falou se levantando.
— Se você não parar com isso…
— Não se preocupe, estou de ressaca demais para começar
uma guerra que destrua o mundo — rebateu.
— O que contou para Hades ontem? — questionei.
— A verdade. Ele pegou um avião hoje cedo para outra sessão
de fotos, disse que quer ficar longe de você por alguns dias —
contou.
— Você não podia manter isso entre nós, não é?
— Desculpe, mas cansei de ser a sua lixeira emocional, a
partir de agora se não quiser que Hades saiba de algo, não me
conte. Aliás, não me conte nada — pediu.
— Poseidon, eu sinto muito — falei, elevando a voz ao mesmo
tom que ele usava.
— Não me venha com essas merdas — avisou, caminhando
pelo corredor em direção a saída do prédio.
Segui o meu irmão até o carro dele e entrei no banco do
carona.
— Não vou com você a lugar algum — falou. — Desce do
carro.
— Só quando você me ouvir.
— Desce da porra do meu carro, agora! — ordenou.
— Eu sei que você está com raiva de mim, mas ao menos
tente me ouvir — pedi.
Poseidon cruzou os braços me olhando, respirei fundo.
— Quando nosso pai jogou a bomba no nosso colo, eu pensei
que precisava casar vocês. Estava disposto a não herdar nada, mas
ajudar vocês dois a formarem uma família.
— E então nós teríamos que abrir mão da vida que temos e
sacrificar tudo por você e pela Olympus? — Poseidon rebateu.
— Não tem a ver só com a empresa e menos ainda comigo.
Meu irmão me olhou confuso e eu suspirei desviando os olhos
dele.
— Eu não achei que algum dia ia entender o que sentia por
Laura — expliquei. — Ver vocês dois vivendo como estão vivendo
me dói, como seu irmão mais velho, eu quero vê-los felizes e isso
inclui algumas vezes tentar forçar a barra.
— Você podia ter sido honesto desde o começo — falou.
— Honesto? Vamos ser honestos por um instante — pedi. —
Como se sente vendo Hades sozinho, usando preto o tempo todo e
tendo relacionamentos que duram menos de um dia?
— Me sinto mal por ele — admitiu.
— E se você achasse que podia reverter isso, achasse que
podia mexer uns pauzinhos e ajudá-lo a encontrar alguém legal com
quem dividir a vida, jura que não tentaria? — questionei.
Poseidon ficou calado, então voltei a encarar meu irmão do
meio, os olhos dele encontraram os meus e nós suspiramos ao
mesmo tempo.
— Tudo que você sente com relação a Hades, eu sinto com
relação aos dois. Sempre achei e ainda acho que minha chance
passou, mas vocês dois ainda podem ter essa chance. Se o nosso
pai não tivesse criado essa aposta ridícula, nós íamos passar o
resto das nossas vidas bebendo e lidando com a empresa, no fim
estaríamos os três num asilo com um parente distante herdando a
empresa e estranhos limpando nossos traseiros.
Poseidon riu ao ouvir aquelas palavras.
— Eu entendo o que você quer dizer, mas isso não significa
que estou com menos raiva.
— Tudo bem — respondi.
— Não me preocupo só com Hades — ele disse me fazendo
respirar fundo. — O fato de você não deixar outras pessoas
entrarem na sua vida também me preocupa. Além de Charlie, Hades
e eu, você não tem mais ninguém. Juliet foi a primeira pessoa que
de algum modo atravessou essa casca grossa que te cobre.
— Eu sei — sussurrei.
— Então por que está fugindo? — indagou.
— Porque ela sempre vai se manter à sombra de Laura e
achar que estou próximo dela por causa da irmã dela. Não quero
magoá-la ainda mais.
— Mas você não está…
— E se for isso? — inquiri. — E se inconscientemente, Juliet
me atrair porque é parecida com ela? Não quero causar esse tipo de
confusão.
— Se você prefere continuar com essa loucura entre vocês,
andando nesse penhasco de ódio, vá em frente, não vou mais me
meter — avisou.
— Vamos resolver o que precisamos da empresa — sussurrei.
Poseidon dirigiu para a prefeitura. Eu mantive minha boca
fechada, sem abri-la para ferrar com algo mais. Enquanto Poseidon
brigava com o pessoal pela permissão da construção, me vi preso
no meu mundo.
Desde que reencontrei Juliet, estive preso naquele tormento,
como se meu coração estivesse em cabo de guerra com o meu
cérebro, eu tinha comparado Juliet com a irmã no começo, notado
suas diferenças.
Laura estava disposta a tudo para chegar no topo, ela era
enérgica, alegre, nada puritana e tinha passado a adolescência
bebendo com os amigos e transando com os nossos colegas de
turma, a mulher tinha um senso de liderança e conseguia tudo que
queria.
Juliet era o oposto disso, ela era melancólica, cheia de
sarcasmo e respostas afiadas, pelo que Hades havia me dito, Juliet
tinha passado a adolescência arrumando confusão para proteger
pessoas de bullying e ela não tinha metade do poder de sedução da
irmã, mas mesmo assim, ela tinha uma beleza que me encantou,
aquela língua afiada pareceu saber exatamente o que fazer quando
estava na minha boca e eu me vi ansioso para saber o que mais ela
sabia fazer.
Respirei fundo, como saber se a atração que eu sentia era
mais do que isso? Como saber se inconscientemente eu não estava
preso a ideia de ter a mulher que nunca tive? Juliet não merecia isso
e eu não estava disposto a deixar que chegasse a um ponto sem
retorno.
Capítulo 33
Zeus

Estava sentado na minha sala na sexta perto do fim do


expediente, pensando a respeito de ter me afastado de Juliet por
toda aquela semana. Aqueles dias foram estranhamente quietos e
solitários, mas eu tinha cumprido o que disse a Poseidon, pois não
podia magoar Juliet.
Batidas na porta da minha sala me fizeram voltar a realidade e
abri os e-mails que ainda precisava verificar.
— Entre — avisei.
— Sr. Zeus — Marcela falou entrando na sala. — O Sr.
Andrews pediu para eu te entregar isso.
Ela me estendeu quatro pastas bem fechadas e eu as peguei.
— Mais alguma coisa? — questionei.
— Ele disse que o senhor pode ir até sua sala caso tenha
alguma questão a respeito dos documentos — explicou.
— Obrigado! — falei.
— Precisa de mais alguma coisa? — a mulher apoiou as mãos
na minha mesa e ergui o rosto para encarar os olhos dela.
— Não, obrigado, você já pode ir.
Tive a impressão de que a assistente do meu pai pareceu
decepcionada, mas ela sorriu e saiu da minha sala me desejando
boa noite. Apenas quando a mulher saiu da sala peguei a primeira
pasta e a abri.
Li o testamento do meu pai com o coração pesado, aquele
documento deixava tudo para mim. Guardei o documento na pasta e
abri a seguinte, era outro documento deixando tudo para Poseidon,
o terceiro deixava tudo para Hades e por fim o documento que
deixava tudo para Mark.
Quase rasguei aquele quarto testamento, mas não o fiz. Enfiei
os papéis de volta na pasta e saí da minha sala com as quatro
pastas nas mãos.
Afrouxei a gravata no caminho para o elevador e abri os
botões superiores da camisa que pareciam me sufocar. Dentro do
elevador, eu apertei o botão para o andar superior do prédio e
esperei enquanto subia.
Minha mente parecia uma bomba relógio à beira de sua
explosão e tudo que eu conseguia pensar era em como meu pai
parecia estar nos desestruturando. Assim que cheguei ao andar
superior andei em direção a sala do meu pai e abri a porta.
— O que você quer de mim? — questionei, jogando as pastas
na mesa.
— Não entendi sua pergunta — avisou.
— Que porra é essa? — questionei.
— Um testamento? Bom, quatro versões dele — meu pai
respondeu.
Encarei o meu pai, sem esboçar qualquer mudança naquela
expressão enfurecida no meu rosto.
— Você acha que isso é justo? — indaguei.
— Justiça — meu pai resmungou. — Achei que tivéssemos
passado desse ponto há muito tempo, Zeus.
— Nós três dedicamos nossas carreiras a essa empresa,
estudamos para administrá-la. Nós mergulhamos nela e em fazê-la
prosperar, como pode simplesmente cogitar deixar a empresa para
o Mark?
— Zeus, sente-se — pediu com a voz calma.
Desabei na cadeira em frente a mesa dele e estudei o rosto do
homem que tinha sido meu exemplo de vida.
— Eu não quero deixar a empresa para Mark, odeio isso tanto
quanto vocês — explicou.
— Duvido muito disso — retruquei.
— Seja honesto comigo, mesmo com tudo que fiz naquele
contrato, você ainda conseguiu uma forma de driblar tudo e
permanecer exatamente como está, não é?
Assenti fazendo o homem sorrir de forma paciente.
— Zeus, meu objetivo com essa aposta, nunca foi a empresa,
acha mesmo que me importo tanto assim com essa empresa? —
questionou e eu neguei com a cabeça. — Posso não me importar
com o que acontece aqui, mas me incomoda a forma como vocês
têm vivido. Meus filhos foram tão feridos nesta vida e eu não pude
fazer nada para ajudar a curar. Mesmo assim, não posso permitir
que vocês vivam em função desses traumas.
Ao ouvir o meu pai falando aquelas palavras, me vi diante de
tudo que tinha acontecido comigo desde que Laura morreu, as
noites em que eu só dormia depois de ingerir muito álcool, as
manhãs que não conseguia levantar da cama. Lembrei de cada
momento daquele tormento que me impediu de levar uma vida
normal, cada instante em que a ferida no meu coração se abriu, de
novo e de novo, me fazendo lembrar que minha insistência a matou.
— Não é tão simples — sussurrei com a voz rouca.
— Sei que não é simples. — Os olhos do meu pai perderam o
brilho e ele apoiou as mãos na mesa para me estudar. — Zeus, eu
perdi a única mulher que amei na vida, a vi definhar numa cama e
morrer. Aquela que apoiou os meus sonhos e me deu as maiores
alegrias da minha existência. Sei que não é simples e que posso
estar exigindo demais de vocês três, mas eu não quero que vocês
cheguem a minha idade sem experimentar o que eu tive com a sua
mãe. Vocês merecem isso.
Balancei a cabeça em negação aquilo. Mesmo que eu
enxergasse aquela verdade para os meus irmãos, mesmo que
Poseidon e Hades estivessem feridos ou mesmo carregando
arrependimentos, nenhum deles causou a morte de alguém como
eu tinha feito. Nada jamais se compararia aquilo.
— Está na hora de aceitar que fatalidades acontecem, aceitar
que você não controla o mundo. Fomos gerados do caos, meu filho,
como espera ter algum controle sobre a vida? — indagou.
Me levantei da cadeira e olhei meu pai de cima. O homem me
estudou com calma.
— Não pode fugir para sempre, Zeus. Não importa para onde
vá, seu coração está vivo, ele ainda bate dentro de você. Por mais
que esteja sempre repetindo na sua cabeça sobre sua culpa ou seu
coração partido, você é jovem demais. Feridas são curadas com o
tempo, você querendo isso ou não.
Observei o rosto do meu pai em silêncio, processando aquelas
palavras e tentando achar uma explicação lógica por trás do que ele
estava me dizendo.
— O que você quer dizer com isso? — questionei.
— Já parou para pensar que seu coração pode estar pronto
para amar outra vez? — perguntou diretamente.
Engoli a resposta para aquela pergunta, apenas para não soar
grosseiro com o homem que respeitava tanto.
— Pode conter a sua réplica, pode engolir o seu orgulho e a
mastigar a sua culpa por mais alguns anos, mas no fundo você sabe
disso. Sabe que está vivo, hoje mais do que esteve há alguns anos.
— O que Poseidon te contou? — questionei irritado.
— Nada, mas eu sou o seu pai. Conheço vocês três melhor do
que vocês se conhecem — avisou.
— Você está errado sobre mim — sussurrei.
— Estou? — rebateu sorrindo outra vez.
Assenti e dei as costas para o homem, saindo da sala dele
com as mãos nos bolsos, meu pai tinha conseguido me afetar, mais
do que eu pensei que o faria com aquelas palavras sem sentido.
Desliguei o telefone quando saí da sala do meu pai, não queria
meus irmãos me enlouquecendo nem aquele homem me dizendo o
que fazer ou não. Deixei o carro na garagem da empresa e peguei
um táxi para um bar.
Capítulo 34
Zeus

O bar estava praticamente vazio, provavelmente por conta do


horário, a maioria das pessoas ainda estava saindo do trabalho, ou
de seus afazeres do dia a dia. Me sentei junto ao bar e pedi uma
garrafa de uísque.
Uma mulher loira se aproximou de mim e sentou no banco ao
meu lado pedindo um martini, observei o meu copo, lembrando da
conversa com o meu pai.
— Hoje o bar está bem vazio, não é? — ela perguntou e eu a
estudei quando notei que estava falando comigo.
— Acho que sim.
— Daphne — ela estendeu a mão.
— Zeus — apertei a mão dela e logo me livrei daquele toque
para entornar a bebida do copo.
— Zeus? — inquiriu rindo. — Se queria dar um nome falso
podia ter inventado tantos nomes…
Revirei os olhos e bati o copo no balcão de madeira.
— Meu anjo, eu não te conheço, não estou interessado em
nada que possa ter com você hoje, por que eu perderia meu tempo
inventando um nome para você? Não sou o tipo de canalha que
inventa um nome para fugir depois de uma noite de sexo casual.
Meu nome é Zeus, queria que fosse um nome comum como Tom ou
Harry, mas é Zeus, como o deus da mitologia grega, meus irmãos
se chamam Poseidon e Hades — falei irritado.
A mulher se levantou do banco e caminhou para longe de mim,
o barman me olhava como se eu fosse louco.
— Nunca vi ninguém dispensar uma mulher como aquela —
comentou.
— Acabou de ver — sussurrei.
— Dia difícil? — perguntou enquanto preparava um drink.
— Vida difícil — corrigi ele voltava a encher o copo.
Ao longo daquela noite, minha garrafa ia secando e meu corpo
ficando leve, como se os problemas se tornassem um sonho
distante. A ideia de ir para casa se tornava cada vez menos
preocupante.
Assim que coloquei a última dose da bebida no meu copo,
observei a garrafa vazia, há alguns anos eu não bebia tanto, percebi
com a visão embaçando. Encarei o barman e paguei pela garrafa de
bebida. O bar já estava barulhento naquela altura e a mulher que eu
dispensei no início da noite não foi a única que se aproximou de
mim.
Me levantei do lugar e caminhei para fora do bar observando a
rua, vesti o casaco e sinalizei com a mão para um táxi que estava
vindo pela rua. Entrei no veículo e ditei meu endereço para o
motorista.
A viagem do táxi serviu apenas para me deixar com a mente
menos leve, com os problemas voltando a atormentar meus
pensamentos.
— Já parou para pensar que seu coração pode estar pronto
para amar outra vez? — A pergunta do meu pai se repetia nos meus
pensamentos, como se o homem tivesse me lançado uma praga.
Fechei os olhos e podia ter cochilado por uns minutos, porque
senti alguém balançando meu braço e abrir os olhos parecia uma
tarefa difícil.
— Chegamos, senhor — o homem falava e eu quase saltei do
banco do táxi sem saber onde estava.
Entreguei o dinheiro para o homem que agradeceu e eu abri a
porta do carro tropeçando no meio-fio.
— Inferno! — praguejei cambaleando.
Esbarrei em uma mulher na entrada do prédio e ela me
segurou antes que eu caísse de verdade.
— Zeus, que merda está acontecendo com você? — ela
perguntou.
Os olhos cinzentos de Juliet me estudaram.
— Tive um dia ruim — respondi.
— Um dia ruim? — questionou com a voz cheia de sarcasmo,
passando meu braço pelos ombros dela.
— Sou um mimado que não sabe lidar com a frustração —
falei e Juliet riu.
A mulher e eu entramos no prédio juntos, ela me guiou até o
elevador, nós cambaleamos para dentro, com Juliet praguejando os
saltos.
— Você é um homem enorme, dá para me ajudar? —
perguntou estudando o meu rosto.
Encarei o dela com o coração acelerando no peito ao ver
aquela boca coberta por batom vermelho, Juliet percebeu meu olhar
e desviou os olhos observando as portas do elevador. Ela tirou os
saltos e me apoiou descalça.
— Esquece — falou.
Quando finalmente chegamos ao andar e as portas do
elevador se abriram, ela chutou os sapatos para fora do elevador e
me ajudou a caminhar de volta para o meu apartamento.
— Onde estão as suas chaves? — questionou tateando os
bolsos do meu casaco.
— Juliet… — sussurrei o nome abaixando a cabeça para sentir
o cheiro do perfume dela.
— Zeus, fica quieto — ordenou.
Fiquei imóvel e a mulher tateou os bolsos de trás da minha
calça até que finalmente achou a chave no bolso da frente.
— Só pode ser piada — ela comentou enfiando a mão no meu
bolso, passando os dedos perigosamente perto do meu pau que
começava a ficar duro.
Ela afastou a mão do meu bolso com a chave presa entre os
dedos e abriu o meu apartamento, nós entramos juntos e Juliet
chutou a porta que bateu com força.
— Chuta com mais força, quase arrancou ela das dobradiças
— comentei.
— Estou quase chutando algo com força — rebateu me
jogando no sofá. — Você está entregue.
Ela estava prestes a sair de perto de mim quando a segurei
pela mão puxando a mulher para o sofá. Minha mão envolveu o
rosto dela, e meu nariz roçou a pele dela inalando o perfume.
— Juliet… não me deixe sozinho — pedi.
— O que você quer de mim, Zeus? — inquiriu com o cenho
franzido e a voz ríspida.
— Quero você — sussurrei. — Estou desejando você desde
que nos vimos outra vez. Não consigo parar de pensar nessa boca
quente.
— Zeus, você está bêbado — ela falou.
— Sinto que não sou honesto comigo mesmo há muito tempo
— sussurrei.
Minha boca se aproximou da dela e Juliet se afastou de mim.
— Vamos te dar um café — avisou.
A mulher caminhou pela casa me deixando imóvel no sofá, eu
tinha a sensação de que precisava segui-la, tocar o seu corpo
parecia mais do que um desejo, minha mente parecia insistir nisso.
Esfreguei o rosto pensando no que estava fazendo. Não sabia
quanto tempo se passou enquanto minha mente visualizava aquela
mulher usando o vestido que usou naquele casamento, fantasiando
com o que devia ter acontecido da última vez.
— Aqui, bebe tudo — Juliet ordenou me entregando uma
xícara.
— Tem veneno aqui? — perguntei sorrindo.
— Você me pegou de bom humor — ela retrucou.
Gargalhei colocando a xícara na boca e queimei minha boca, o
gole que dei no café pareceu acelerar o meu corpo, contorci o rosto
e Juliet riu ao ver minha reação. Coloquei a xícara na mesa de
centro.
— Isso está horrível — falei.
— Tão ruim quanto o seu cheiro — avisou. — Bebe mais.
Ela pegou a xícara me estendendo a bebida quente e eu pelo
menos raciocinei o bastante para soprar o líquido antes de beber. O
café quente parecia limpar minha mente e desembaçar minha visão.
Juliet tinha tirado o casaco que usava, revelando um vestido
justo preto, meus olhos encararam o decote dela e a mulher
suspirou.
— Cafajeste — acusou.
— Parece que você está tentando seduzir sua chefe —
comentei e Juliet riu.
— Isso nunca funcionaria com ela.
— E o que você fez para se vestir desse jeito? — perguntei.
— Tinha um encontro — contou e meu coração pareceu virar
chumbo no peito.
Capítulo 35
Zeus

As palavras de Juliet pareceram ter mais efeito para me livrar


do álcool do que o café forte que ela fez. Meu coração acelerou no
peito e eu olhei para o rosto da mulher à medida que terminava de
beber o conteúdo da xícara.
— Preciso tomar banho — falei e me levantei tropeçando em
algo.
Juliet praguejou ficando de pé para me segurar antes que eu
caísse.
— Melhor você dormir e depois você toma banho —
aconselhou.
— Não, vou tomar banho — rebati.
— E se você cair no banheiro? — inquiriu, me levando para o
meu quarto.
— Não vou cair — assegurei.
— Você mal está ficando em pé — Juliet avisou impaciente.
— Fique no banheiro se está tão preocupada.
Me afastei dela quando tentou me colocar naquela cama.
— Eu devia deixar você cair aí e morrer sozinho — falou
parecendo irritada.
Entrei no banheiro me livrando dos sapatos, joguei o casaco
no chão, tirei o paletó e a camisa, arrancando a gravata e também
jogando aquela tortura em cima das roupas no chão.
— Ah, caralho — Juliet disse entrando no banheiro no exato
instante em que puxei a calça com a cueca para o chão.
Abri o box e abri o chuveiro, meu corpo pareceu relaxar
quando a água quente caiu sobre mim. Minha mente se tornou
menos confusa com o banho e enquanto eu tentava tirar o cheiro de
álcool do meu corpo, as palavras de Juliet se repetiram nos meus
pensamentos.
Um encontro. Um maldito encontro.
Do jeito que Juliet estava vestida, eu sabia bem o que ela
estava esperando desse encontro.
— Você está vivo aí dentro? — perguntou encarando o vidro
fumê.
Esbocei um sorriso ao fechar o chuveiro, voltei a abrir o box e
ao menos mantive o corpo atrás do vidro.
— Pode me dar a toalha, por favor? — pedi.
Juliet me encarava imóvel e eu ameacei sair do box como
estava, ela engoliu seco e se afastou pegando a toalha que estava
pendurada, me entregando. Envolvi o quadril com o tecido e saí do
box penteando o cabelo molhado com os dedos.
— Então você tinha um encontro — sussurrei, passando por
ela para fora do banheiro.
— Tinha — respondeu com a voz rouca.
— Desculpe ter atrapalhado isso — falei indo até o armário.
— Você parece menos bêbado agora.
— O café ajudou — avisei.
— Então, eu já vou indo — sussurrou.
— Espere! — Segurei a mão dela.
Juliet ficou imóvel, seus olhos passeavam pelo meu corpo
exposto, a mulher ergueu o olhar para o meu rosto. Sustentei aquele
olhar, dizendo a mim mesmo que não podia simplesmente deixar
que ela se fosse.
— O que foi? — questionou.
— Não vá — murmurei.
— Você não me dá ordens, Zeus — avisou.
— Não foi uma ordem, foi um pedido. Fique. Fique comigo
essa noite — voltei a pedir.
— Eu tenho um encontro — lembrou.
— Se fosse tão importante, você não teria ficado aqui —
retruquei.
— Por que você se aproximou de mim, Zeus? Seja honesto
comigo, por favor. Estamos sempre discutindo, sempre nesse jogo
de cão e gato, por que você continua sendo um saco de pancadas
emocional para mim? — inquiriu com a voz ainda mais baixa que
antes.
— Porque na noite que eu salvei sua vida, naquela noite que
você estava bêbada, frustrada e exausta. Eu olhei nos seus olhos e
vi que você estava desistindo, vi que você estava no seu limite, mas
não tinha a ver com Mark, tinha a ver com toda sua vida. Amor é
importante, mas sentir qualquer coisa é melhor que sentir nada.
Quando entramos naquele carro e você me disse que ainda me
odiava, eu vi uma centelha de vida nos seus olhos, então se o que
te mantém de pé, é o seu ódio por mim, tudo bem, eu posso ser o
seu saco de pancadas. Me odeie se isso te fizer viver. Viva para me
odiar — pedi.
— Você não me deve esse tipo de submissão — Juliet disse
com a voz embargada.
— Não tem a ver com submissão, tem a ver com o fato de eu
não conseguir te afastar. Tem a ver com o mundo sempre te
trazendo para perto, mesmo quando eu tentava te jogar para longe
de mim. Quando eu estive no fundo do poço, desejei ter alguém
para odiar e não havia ninguém além de mim mesmo.
Juliet observou nossas mãos entrelaçadas e eu me aproximei,
fazendo a mulher erguer os olhos para o meu rosto, talvez numa
necessidade de simplesmente afastar os olhos do meu quadril.
— Você está bêbado, Zeus — sussurrou.
— Estou, mas estou sóbrio o bastante para dizer a verdade e
saber o que estou te dizendo. Quando nos reencontramos, eu soube
que precisava afastar você de mim, mas quando te vi naquela noite,
quando aquele babaca quase te matou, eu não pude simplesmente
aceitar ir embora e deixar você mergulhar mais fundo nesse seu
tormento.
— Zeus…
— Juliet… eu não estou te pedindo nada além do que você
possa me oferecer, não quero implorar ou fazer com que se sinta
pressionada, estou sendo honesto com você.
— Não estou pronta para uma relação — avisou.
— Nem eu — admiti. — Mas isso não muda o fato de que você
está sempre mexendo com o meu corpo. Diga que não me deseja e
eu deixo você ir ao seu encontro e foder com quem quer que seja.
— Você é muito incoerente — acusou.
— Eu sei que sou, mas estou deixando todas as cartas na
mesa nesse momento. Porque mesmo que eu esteja apavorado
com a ideia de deixar você sair por aquela porta, sem provar o seu
corpo esta noite, preciso ser sincero e dizer a você que entrei nesse
jogo porque queria te proteger de si mesma, mas acabei
percebendo que não conseguia me afastar. Se você for, vai estar
livre para ir porque não me deve nada.
— E como você se sentiria se eu simplesmente decidisse ir
embora? — questionou.
— Me sentiria frustrado e talvez não consiga estar com outra
mulher, porque sempre que alguém se aproxima de mim, eu penso
em você e não sou canalha ao ponto de ficar com uma mulher
pensando em outra.
Juliet fechou os olhos com força, os lábios vermelhos se
entreabrindo como se respirar fosse algo difícil naquele momento.
— Zeus, se eu dormir com você hoje e você não se lembrar
disso amanhã, juro que te mato — alertou e eu ri segurando o rosto
dela com uma das mãos.
— Nunca poderia esquecer uma noite com você — respondi
convicto e aqueles olhos cinzas magníficos se abriram para encarar
o meu rosto.
Minha boca se aproximou da dela lentamente, meu corpo
latejando de desejo por aquela mulher, os braços de Juliet
envolveram o meu pescoço me puxando para mais perto dela, eu
engoli aquele som que escapou dela quando nossas línguas se
tocaram.
Capítulo 36
Juliet

Não dava para negar o quanto que Zeus me atraía, dizer o


contrário seria mentira, puxei o rosto dele mais para mim e
aprofundei aquele beijo, deixando escapar um gemido quando a
língua dele tocou a minha.
As mãos de Zeus agarraram o meu corpo possessivamente, o
homem me ergueu do chão e caminhou comigo até a cama dele.
Interrompi aquele beijo deixando que ele puxasse o vestido que eu
usava.
— Parece que alguém não está tão bêbado quanto aparenta
— sussurrei.
— Talvez eu tenha fingido um pouco — respondeu, me
fazendo sorrir.
Senti a mão dele deslizar pelo meu corpo, os dedos
passeando entre os meus seios até que sua mão voltou ao meu
rosto com o polegar acariciando minha bochecha.
— Você quer mesmo fazer isso? — perguntou sério.
Tudo que minha mente conseguia processar nesse momento
era no corpo seminu acima do meu, naquele cheiro que me envolvia
e no quanto meu corpo pulsava, enchendo minhas veias de desejo
por ele.
— Quero — garanti com a voz rouca.
— Não espere grandes poemas, ou juras nessa noite, Juliet,
eu não sou um Romeu — falou me fazendo rir.
— Nunca quis um Romeu — lembrei.
Zeus esboçou um sorriso malicioso quando seus dedos foram
para o fecho do meu sutiã e ele o abriu, meu corpo ferveu ao ter
aqueles olhos astutos me percorrendo, o homem explorou a pele do
meu pescoço com os lábios sem qualquer pressa.
Suas mãos ainda me tocavam com uma calmaria lenta.
Enterrei meus dedos nos ombros dele, arqueando o corpo, mas
aquilo não o afetou, a boca de Zeus percorreu meu peito até agarrar
meu seio direito. Uma das mãos dele agarrava minha coxa,
enterrando os dedos na minha pele, a outra envolvia meu seio livre,
mordi o lábio para conter o som que me subiu a garganta ao sentir
aquela língua contornando meu mamilo.
Os olhos dele se ergueram para encarar meu rosto e Zeus
mordiscou meu seio me fazendo exalar um grito abafado. Os lábios
dele estavam curvados em um sorriso travesso quando levou a boca
para meu seio esquerdo.
— Zeus — sussurrei.
— O quê? — ele questionou, afastando a boca do meu corpo.
— Vai me torturar por quanto tempo? — inquiri.
— Tem algum lugar para estar essa noite? — perguntou e eu
fiz que não. — Estou desejando você há semanas, se só teremos
essa noite, não me peça para ter pressa.
Assenti quando notei que ele esperava por uma resposta e
aquele sorriso retornou a boca dele.
Meu coração saltou no peito quando aquela boca retornou a
minha pele, com a língua deslizando pela minha barriga, meus
dedos agarraram o lençol e fechei os olhos aproveitando cada toque
dele.
Os dedos de Zeus contornaram minha calcinha, a renda preta
não fazia muito para afastar a sensação daquele toque na minha
pele.
Abri os olhos observando-o e notei que Zeus me olhava
enquanto seus dedos percorriam o cós da minha calcinha, meu
corpo reagiu ansioso por ele, confirmei com a cabeça e o homem
puxou aquela peça de roupa restante para longe do meu corpo.
A mão que retirou a peça do meu corpo, explorou minhas
pernas de maneira lenta, enquanto os olhos dele estavam vidrados
observando o meu corpo completamente despido, o homem voltou o
olhar para o meu rosto, notando que eu o observava.
— Você é linda, Juliet — sussurrou.
O elogio com aquela voz baixa e sedutora fez o meu corpo
inteiro arrepiar, me vi ainda mais ansiosa para ter aquele homem de
volta em mim.
— Zeus — falei de forma ameaçadora e ele sorriu.
A boca dele voltou ao meu corpo, afastando as minhas pernas
e se colocando entre elas, meu fôlego se perdeu quando a língua
dele me tocou, qualquer sensação de urgência, qualquer
repreensão ou medo desapareceu da minha mente.
A língua dele me percorria e no pouco tempo que consegui
sustentar seu olhar, percebi que Zeus me olhava, esperando ver
cada reação minha. Meu corpo se contorcia e arrepiava, meus seios
se tornavam ainda mais rígidos e pesados.
Os sons que eu vinha reprimindo escaparam da minha boca
quando ele mergulhou os dedos no meu interior.
Zeus puxou os dedos e mergulhou outra vez, cada movimento
firme aumentando a umidade em meu interior, o ar parecia ter se
impregnado com aquele cheiro cítrico do corpo dele e a cada vez
que eu inalava, mais o meu corpo parecia desejar o dele.
Segurei o cabelo dele, afastando seu rosto de mim, Zeus
permaneceu calmo, me observando com os lábios brilhando. Me
sentei na cama e agarrei a tolha precariamente presa ao corpo dele,
afastando o tecido.
Meu corpo ardeu ainda mais quando vi o pau dele duro, meus
dedos o envolveram e Zeus encarou o meu rosto com a própria face
contorcida em desejo. Minha boca foi até sua glande. Meus lábios o
percorreram lentamente, mesmo que estivesse salivando de desejo.
Senti os dedos de Zeus envolvendo o meu cabelo, prendendo
os fios entre os dedos, enquanto ele guiava minha cabeça em um
movimento lento, minha língua deslizava ao redor dele e pude sentir
o corpo dele estremecer em contato com o toque.
— Juliet… — murmurou meu nome, afastei a boca do pau
dele, lambendo o canto dos lábios.
Zeus me atirou na cama se colocando entre as minhas pernas
em um instante, senti o pau dele tocando minha entrada, o homem
encarou os meus olhos e segurou meu quadril entre os dedos,
apertando os músculos com força ao me penetrar sem qualquer
delicadeza.
Exalei um gemido alto ao senti-lo inteiro no meu interior.
Minhas unhas se enterraram nas costas dele, rasgando sua pele,
Zeus gemeu contra o meu ouvido e aqueles lábios quentes voltaram
a explorar meu pescoço.
— Juliet, eu te desejei tanto — sussurrou contra a minha pele.
— Prove — pedi.
Os olhos dele se voltaram para o meu rosto, com um
sentimento que nunca vi estampado no rosto dele, Zeus desceu a
boca em direção a minha, com os lábios envolvendo os meus com
aquela selvageria urgente. Minhas pernas o envolveram
acomodando mais o homem enorme entre elas, enquanto ele
aumentava suas estocadas no meu interior.
Arquejei ao sentir cada estocada forte, me fazendo gritar o
nome dele. Meus gemidos se perdiam em meio aqueles beijos, com
sua língua explorando minha boca. Ele me segurou firme contra si e
nos girou, tentei esconder a surpresa quando me vi montada nele.
O corpo de Zeus ainda estava preso ao meu e suas mãos
moviam o meu quadril. A boca dele estava na altura certa para
explorar os meus seios, me agarrei aos ombros dele, apoiando os
joelhos na cama.
Um grito baixo escapou da minha boca quando senti os dentes
dele no meu seio esquerdo.
Meu corpo estremeceu com o calor que se acumulava no meu
interior. Zeus não se deitou, não se moveu daquela posição sentado
enquanto eu o cavalgava. Os dedos dele agarraram o meu cabelo
junto à nuca, puxando os fios com um toque firme.
— Me desafie outra vez, Juliet — pediu.
— Zeus — soltei o nome em um aviso, sentindo aquele calor
no meu interior contorcendo os músculos.
Zeus gemeu ao sentir o pau ser apertado por mim, mas o
homem não interrompeu as estocadas, suas mãos agarravam meu
quadril com força, movendo meu corpo para cima e para baixo em
movimentos rápidos que mal me permitiam inalar.
— Zeus! — gritei o nome sentindo o prazer se acumulando.
Meu corpo estremeceu e a voz dele saiu rouca quando disse:
— Pode gozar.
Meu orgasmo foi intenso, me fazendo estremecer e o meu
coração disparar no peito, Zeus girou meu corpo com o dele, a boca
dele deslizando pelo meu pescoço, provando o suor da minha pele.
Engoli em seco com as pernas trêmulas e envolvi o pescoço
dele com braços fracos, o homem continuou se movendo,
arrancando outros sons da minha boca. Cada movimento dele me
fazendo estremecer.
— Eu aproveitaria seu corpo por horas sem me cansar, Juliet
— sussurrou no meu ouvido.
Zeus estremeceu e um som rouco saiu da garganta dele, o
homem enterrou o rosto no meu pescoço e meu coração acelerou
quando o senti gozar. A boca dele voltou a minha, aproveitando
aquele beijo lento que estávamos trocando.
Quando ele se deitou ao meu lado, observei seu rosto.
— Com quem você ia sair hoje? — perguntou com a
expressão séria no rosto.
— Um idiota que conheci num aplicativo — contei fazendo-o
rir.
— Ia mesmo sair com alguém que conheceu em um
aplicativo?
Ergui os ombros e Zeus me puxou para perto dele.
— Não ia namorar com ele, só ia conhecê-lo e ver o que rolava
— expliquei.
— Não vou pedir desculpas por atrapalhar seu encontro —
sussurrou deslizando os dedos pela minha pele molhada pelos
nossos suores.
— Não vou te perdoar por isso — rebati fazendo-o sorrir. —
Vou tomar banho.
Zeus assentiu e me afastei do seu corpo levantando da cama.
Capítulo 37
Juliet

Encostei minha testa na parede do box enquanto a água


quente lavava o meu corpo, eu tinha sucumbido, tinha feito aquilo
que passei a semana jurando para Kate que não faria. Caí na
tentação que tinha dito a minha mãe que não cairia.
Zeus e eu passamos dias sem nos ver, para evitar a tentação e
tentar conter o calor que me ardia sempre que estávamos juntos, eu
tinha baixado um aplicativo de namoro e conversado durante a
semana com um dos homens que me mandou mensagem.
O único que não mandou foto do pau na primeira hora de
conversa.
Terminei de me lavar e me enrolei na toalha quando notei que
todas as minhas roupas ficaram no quarto, quando saí do banheiro,
Zeus estava dormindo na cama, coberto por um lençol fino.
Observei o quarto, apanhei o vestido do chão, assim como
minhas roupas íntimas, as vesti com calma, esperando para ver se
ele acordava, mas não houve qualquer sinal de que ele acordaria.
Respirei fundo, me vi imóvel observando-o dormir, me
aproximei da cama e depositei um beijo nos lábios dele. Zeus não
se moveu, apenas continuou dormindo. Peguei o celular e pensei
numa mensagem para deixar para ele.
“Isso foi divertido, obrigada pela noite.”
Peguei o resto das minhas coisas antes de sair do
apartamento dele. Olhei o corredor e vi meus sapatos perto do
elevador, fui até lá e os peguei.
As portas metálicas deslizaram quando eu estava abaixada e
ergui o rosto para ver Poseidon saindo do elevador.
— Juliet? — falou meu nome como se visse um fantasma.
— Eu moro aqui — lembrei me levantando.
— Você sabe do meu irmão? — perguntou com o celular na
mão. — Ele não está atendendo e o celular está desligado desde
que saiu da empresa.
— Eu estava de saída quando ele chegou, estava muito
bêbado, então deixei ele no apartamento — expliquei.
— Ele estava bêbado? — Poseidon perguntou e saiu andando
pelo corredor sem se despedir.
Caminhei passando pelo irmão de Zeus e indo até o meu
apartamento. Joana tinha me dito mais cedo que conseguiu um
papel e ia sair para comemorar, por isso, abri a porta sem me
importar em bater.
Acendi a luz do apartamento e fechei a porta atrás de mim. Me
deitei no sofá observando o teto.
— Juliet, você é muito impulsiva — falei para mim mesma
cobrindo os olhos com o braço.
Meu celular começou a vibrar no bolso do casaco, peguei o
aparelho e vi que minha mãe me ligava, passava das dez, então não
era comum que ela me ligasse naquele horário. Atendi
imediatamente.
— Mãe? — sussurrei me sentando.
— Juliet, o seu pai… — ela disse e um choro a deixou rouca.
— O que houve com ele? — perguntei nervosa.
— Ele desmaiou e estamos no hospital — contou.
— Que hospital? — inquiri me levantando do sofá e arrumando
os saltos nos pés.
Minha mãe falou o nome do hospital e eu me vi correndo para
o elevador. Meu coração batia forte no peito, minha mente estava
um caos enquanto eu observava o relógio do elevador que parecia
lento ao descer.
Corri em direção ao carro e entrei no veículo sem me dar o
trabalho de tirar os saltos para dirigir.
Eu não falava com os meus pais direito há anos, mal ligava
para os dois, só procurava saber sobre sua saúde, meu pai vinha
tomando medicamentos para controlar a pressão e minha mãe
controlava diabetes há algum tempo, mas não tinha ideia do que
mais podia estar acontecendo com os dois.
Estacionei o carro de qualquer jeito no hospital e corri para o
interior do lugar, prendendo o cabelo em um nó no meio da cabeça.
Parei na recepção dando o nome do meu pai e a mulher me disse
que estava na emergência.
Me apressei pelo lugar sentindo todos os olhares sobre mim,
conforme corria com os saltos fazendo barulho no piso branco.
Assim que vi minha mãe, a mulher se levantou da cadeira em que
estava e me abraçou.
O ar pareceu escasso no meu corpo quando senti o corpo
trêmulo da minha mãe contra o meu.
— O que houve? — perguntei ao enfermeiro que esteva
aferindo a pressão da minha mãe.
— Você é parente dela? — ele questionou.
— Filha — falei.
— A pressão dela está um pouco alterada, o seu pai chegou
aqui desmaiado, estamos fazendo alguns exames. Eu vou procurar
notícias dele para você.
— Obrigada — sussurrei.
Assim que o homem saiu de perto, fiz minha mãe se sentar
outra vez e me agachei na frente dela.
— O que houve? — perguntei.
— Ele estava cozinhando, caiu na cozinha do nada, mal
consegui chamar a ambulância — contou.
Respirei fundo acariciando as mãos dela com as minhas.
— Juliet, feche o casaco — ordenou.
Olhei para baixo e vi que o vestido estava encolhido, todas as
pessoas que passavam por nós encaravam minhas pernas, fiquei de
pé arrumando o vestido e fechei o casaco cobrindo minhas pernas.
Me sentei ao lado da minha mãe que me segurou junto a si. Respirei
fundo passando o braço sobre os ombros dela.
— Ele tomou os remédios nos horários certos? — perguntei.
— Sim, ele nunca esquece de tomar os remédios — avisou.
— Está bem — sussurrei. — Vamos esperar.
Minha mente entrou em um looping de pensamentos, me
relembrando as vezes que inventei desculpas para não ir a casa dos
dois, nos meus aniversários, nos aniversários deles. Fechei os olhos
me perguntando se precisaria carregar aquele arrependimento
comigo pelo resto da vida.
— Srta. Jordan? — ouvi uma voz masculina que não conhecia
e abri os olhos.
Minha mãe estava dormindo com a cabeça no meu ombro,
observei-a assustada.
— Ela tomou um calmante leve — o enfermeiro explicou. — Os
exames do seu pai revelam que ele teve uma queda de pressão, a
pressão sanguínea dele caiu demais, tem ideia do que pode ter
acontecido?
Observei o rosto do homem, me perguntando como responder
aquela pergunta.
— Ele toma os remédios de pressão na hora — contei. — Não
há doces na casa porque minha mãe faz tratamento de diabetes.
— Mais alguma coisa? — perguntou.
— Chá — sussurrei, lembrando que meu pai sempre tomou
muito chá.
O homem era o oposto de um adulto viciado em café, ele
sempre tinha uma garrafa térmica por perto para preparar uma boa
xícara de chá.
— Alguns chás podem baixar a pressão. Ele vai ficar aqui em
observação por algumas horas, quer levar sua mãe para uma cama
no mesmo quarto? — questionou e eu assenti. — Vou pegar uma
cadeira de rodas.
— Obrigada — falei.
O homem se afastou e eu virei para a minha mãe tentando
acordá-la. Quando finalmente consegui, o enfermeiro já tinha
voltado com a cadeira de rodas, convenci mamãe a se sentar e ele
a empurrou pelo hospital.
— Eu acho que te conheço de algum lugar — ele comentou.
Observei o rosto do homem negro, ele era bonito, tinha uma
boca carnuda e olhos castanhos-claros. Eu provavelmente não
esqueceria um rosto como o dele.
— Jordan — ele disse sorrindo. — Você é aquela cantora?
Meu coração se apertou no peito e eu agradeci a Deus por
mamãe estar cochilando na cadeira.
— Laura Jordan? — questionei e ele assentiu. — Era minha
irmã mais velha.
— Eu não costumo pesquisar muito sobre as vidas das
pessoas famosas, me desculpe por isso — sussurrou.
— Não tem problema — falei com a voz seca.
— Gosto das músicas dela — sussurrou.
— Ela era muito talentosa — eu disse tentando não ser mal
educada com o homem que estava sendo tão prestativo.
— Sim, eu conheci as músicas dela por causa da minha ex-
namorada, ela ouvia o tempo todo — contou e eu sorri.
O meu sorriso foi sem emoção e imagino que o enfermeiro
percebeu que o assunto me incomodava, porque sorriu sem graça e
me ajudou a colocar minha mãe numa cama no mesmo quarto que
meu pai.
— Obrigada — murmurei para o homem quando ele sorriu me
observando.
— A gente podia jantar um dia? — perguntou.
— Claro — concordei tentando não ser grosseira.
— Pode me dar seu telefone? — inquiriu, me estendendo um
celular.
Sorri ao segurar o aparelho e digitar meu número.
Capítulo 38
Juliet

Enquanto meus pais dormiam, eu peguei meu celular para


contar a Kate o que aconteceu, observei o contato para quem
estava digitando e reparei que estava com o chat de Zeus aberto.
Apaguei o texto que vinha digitando e me vi imóvel observando a
foto do homem.
Aquela noite tinha bagunçado algo no meu coração, eu ia sair
de casa com o intuito de ter uma noite de sexo casual com alguém,
mas acabei na cama de Zeus, o homem que vinha despertando
emoções no meu corpo vazio.
Estar com Zeus era sempre como andar numa montanha-
russa, a primeira emoção era o medo, a raiva por estar no brinquedo
contra sua vontade, em seguida aquela sensação de calma
enquanto seguia por uma parte calma do trajeto, eu sempre me
sentia ansiosa quando percebia que íamos discutir. E quando
finalmente chegávamos à briga, eu sentia um desejo insano de pular
no corpo dele.
— Juliet — a voz da minha mãe me trouxe de volta àquele
quarto, segurei a mão dela.
— Estou aqui — sussurrei.
— Por que você estava usando essas roupas? — questionou.
Exalei um riso.
— Eu tinha um encontro — confessei.
— Ia sair com Zeus? — perguntou.
Eu estava prestes a afastar minha mão da dela, mas a mulher
prendeu meus dedos entre os dela, observei seu rosto com calma,
tentando esconder aquela ansiedade por ter transado com Zeus
antes de ir até ali.
— Sei que tenho sido dura com você por causa dele — ela
falou me fazendo desviar os olhos do rosto dela. — Eu sei que Zeus
era um bom garoto, sempre disse isso a Laura, que ela deveria dar
mais valor a ele, porque mesmo com a pouca idade, ele já parecia
alguém que almejava um futuro importante.
— Não estou entendendo onde quer chegar — admiti.
— Quando Laura morreu, Zeus nos pediu desculpas tantas
vezes, nós vimos as imagens das câmeras do carro, vimos das
câmeras de segurança da rua, sempre soube que ele não tinha
culpa, mas mesmo assim, acho que eu precisava de alguém para
culpar.
— Zeus e eu somos só amigos — falei. — Eu ia a um encontro
esta noite, mas não era com ele.
— Sei que nós passamos tempo demais focados em Laura,
sem levar sua opinião em consideração, depois no nosso luto por
ela.
— Não vamos falar sobre isso — pedi.
Mamãe pressionou meus dedos fazendo com que eu olhasse
para o seu rosto outra vez.
— Quando você partiu, as coisas ficaram ainda mais difíceis
para nós. Tínhamos perdido Laura e de certo modo, senti que
perdemos você também.
— Vocês nunca me perderam — sussurrei com a voz
embargada.
— Exigi demais de você, Juliet, exigi que amadurecesse muito
rápido e você abriu mão de tantas coisas por ela. Eu sinto muito por
isso. Sei que provavelmente nunca teremos uma amizade em que
você confiará em mim completamente para se abrir. E sei que isso é
culpa minha, mas quero que saiba que ainda sou sua mãe, ainda
quero que você me procure quando precisar de colo.
Meus olhos embaçaram por causa das lágrimas ao ouvir
aquelas palavras e minha mãe levou a minha mão aos lábios
beijando o dorso.
— Mesmo quando fizer algo estúpido, ainda vou estar aqui
para te apoiar — avisou. — Fiquei feliz quando te vi com o cabelo
natural, foi chocante ver você assim e não pude deixar de pensar
em como ela estaria se tivesse chegado a sua idade, mas mesmo
que isso aconteça, Juliet, não significa que eu não te ame por quem
você é. Me machucou ver você aceitando migalhas de uma relação
destrutiva com Mark e eu não sabia como falar com você sobre isso,
porque era minha culpa.
Neguei com a cabeça e minha mãe sorriu em meio ao choro.
— Sim, querida, foi minha culpa. Você sempre viu nossa
atenção voltada para Laura e as necessidades dela, nunca
realmente parei para ouvir as suas. Hoje, enquanto trazia seu pai
nessa ambulância, me perguntando se perderia mais uma pessoa
que amo. Pensei em você e em todas as nossas falhas com relação
a você. Se puder nos dar uma chance, prometo que tentaremos ser
seus pais de verdade, mesmo que nada apague o que passou.
Aquiesci contendo o choro que travava minha garganta e
minha mãe sorriu limpando as lágrimas do próprio rosto com as
costas da mão livre.
— Ainda vai estar aqui quando eu acordar? — perguntou e eu
assenti.
Quando minha mãe voltou a dormir, eu peguei o celular e vi
que Zeus tinha visualizado a mensagem que mandei para ele, mas
não houve resposta.
Continuei algumas leituras digitais enquanto ficava naquele
quarto com os meus pais adormecidos. Quando o dia já tinha
amanhecido há algumas horas, recebi uma mensagem de Zeus:
“Onde você está? Passei no seu apartamento e a sua colega disse
que você não voltou para casa.”
“Estou no hospital, nos falamos mais tarde.” — respondi.
“Você está bem?”
“Meus pais precisaram de atendimento.”
Guardei o aparelho descarregado na bolsa e ergui os olhos
para a porta do quarto que se abriu, uma médica entrou e foi
verificar o meu pai.
— Bom dia! — ela desejou.
— Bom dia! — respondi esperando que ela falasse.
— Parece que o Sr. Jordan vai ter alta — contou.
Respirei aliviada.
— É bom cuidar da quantidade de chás que ele toma
diariamente — ela falou e esbocei um sorriso.
— Vamos ter cuidado — prometi.
— Vou preparar os papéis da alta deles — avisou.
Quando a mulher saiu do quarto eu respirei fundo e observei-
os me perguntando se deveria ou não acordar os dois, mas antes
que eu fosse até o meu pai, o homem se mexeu na cama cobrindo
os olhos com o braço.
— O quê…? — Ele olhou ao redor e me viu. — Juliet.
— Bom dia, papai — falei me aproximando da cama.
— Passou a noite toda acordada? — perguntou, segurando
meu braço.
— Passei. Alguém tinha que garantir que você não ia se
envenenar com chá — comentei fazendo o homem rir.
— O que houve com a sua mãe? — inquiriu erguendo a
cabeça para ver minha mãe dormindo.
— Ela ficou nervosa por você e acabou precisando de um
calmante — expliquei.
— Podemos ir para casa? — inquiriu e eu assenti.
— A médica foi preencher sua alta.

Ajudei meu pai a se vestir e nós fomos para o meu carro, com
minha mãe com o braço enlaçado ao dele. Nós entramos no veículo
e mamãe me disse para tirar os saltos para dirigir. Obedeci sem
discutir com ela naquele momento.
Segui o caminho até a casa dos meus pais e estacionei na rua
em frente a propriedade, nós descemos do veículo e eu entrei com
os dois.
— Vou tomar banho e preparo algo para comermos — ofereci.
— Ainda tem roupas suas no armário do seu antigo quarto —
minha mãe avisou e agradeci.
Subi as escadas deixando meus pais no sofá e caminhei até o
meu quarto, o lugar estava exatamente como sempre. Cheio de
pôsteres de bandas de rock. Abri o armário e peguei uma camiseta
cinza, a calça jeans escura era de anos atrás, mas provavelmente
serviria.
Coloquei o celular no carregador, antes de vasculhar o quarto,
vendo se dava para usar as roupas íntimas que ainda estavam por
ali. Minha mãe provavelmente lavava aquelas roupas com
frequência, percebi quando retirei algumas peças da gaveta.
Caminhei até o banheiro do corredor e tomei um banho, me
vesti com as roupas antigas e observei meu rosto destruído pelas
olheiras no espelho e sacudi a cabeça saindo do cômodo em
seguida.
Coloquei as roupas da noite anterior numa sacola e deixei tudo
em cima da cama coberta com um lençol escuro.
Desci as escadas e caminhei em direção a cozinha expulsando
minha mãe do cômodo quando a vi colocando o café na cafeteira.
— Meu coração não aguenta outro susto, pode se sentar, por
favor? — pedi.
— Eu estou bem, Juliet — falou, mas eu peguei a espátula da
mão dela e a expulsei da cozinha.
Terminei de preparar as panquecas que ela tinha começado
enquanto eu estava no banheiro e servi a comida junto com o café,
meu pai reclamou da ausência do chá, mas eu respirei fundo para
não começar a gritar com o homem.
Capítulo 39
Juliet

Depois de passar o sábado com os meus pais, voltei para o


quarto à noite e peguei o celular que esteve carregando, tirei o
objeto do carregador e vi que tinha algumas chamadas não
atendidas.
Kate tinha ligado algumas vezes, mas havia dez chamadas de
Zeus, junto com várias mensagens perguntando sobre os meus
pais.
Como sabia que ver Kate provavelmente não afetaria os meus
pais, acabei ligando para Zeus primeiro.
— Oi — sussurrei.
— Oi, te liguei o dia todo — falou.
— Meu celular estava carregando — expliquei.
— Você está bem? — perguntou, me fazendo suspirar.
— Estou, só estou cansada, não dormi nada — esclareci.
— Você volta para casa amanhã? — inquiriu.
— Sim.
— Podemos conversar amanhã? — questionou e eu concordei
com um murmúrio.
— Até amanhã, Zeus — sussurrei.
— Até.
Me deitei na cama observando o teto, pintado com uma
tempestade, eu tinha pintado aquele teto quando era adolescente,
porque parecia combinar com a minha vida. Estava quase
cochilando quando senti o celular vibrar.
— Já disse que conversamos amanhã — falei ao atender a
chamada.
— Para mim você não disse nada — Kate avisou e eu exalei
um riso.
— Desculpe.
— O que houve com você? — perguntou preocupada.
— Meu pai desmaiou — contei. — Passei a noite no hospital.
Expliquei para Kate o que tinha acontecido e minha amiga riu
ao pensar que nós quase morremos por causa de chá. Respirei
fundo e fechei os olhos ouvindo a risada de Kate.
— Com quem você vai conversar amanhã? — indagou curiosa.
— Zeus — respondi com a voz baixa.
— O que vocês vão falar? — perguntou.
— Falo com você depois. Estou quase cochilando — avisei.
Finalizei a chamada com minha melhor amiga e acomodei a
cabeça no travesseiro.

Me despedi dos meus pais no domingo à tarde, prometendo


aos dois que voltaria durante a semana para ver como estavam as
coisas. Minha mãe me entregou um saco de papel cheio de cookies,
como se eu fosse uma criança que vai à escola pela primeira vez.
Eu dirigi de volta para casa com um aperto no peito, um fim de
semana tinha me atirado em meio a um tornado de emoções e
passei tanto tempo sem me importar com nada ou ninguém, que era
estranho e sufocante ter todas essas emoções pulsando no meu
corpo de uma só vez.
Quando estacionei o carro na garagem reparei que o carro de
Zeus estava no estacionamento, eu tinha prometido conversar com
ele, mas não tinha certeza se estava pronta para fazer isso naquela
tarde. Zeus e eu tínhamos concordado que não estávamos prontos
para relacionamentos, então me perguntava o que mais poderíamos
falar sobre a noite de sexta.
Respirei fundo e deixei nas mãos do universo, já que
estávamos sempre nos encontrando ao acaso. Caminhei pela
garagem em direção ao elevador e quando as portas metálicas se
abriram, eu gargalhei ao ver Zeus dentro.
O homem me olhou como se eu tivesse enlouquecido.
— Desculpe — sussurrei entrando no elevador.
— Eu estava indo até a casa dos seus pais — contou.
— Estacionei o carro deixando o universo decidir se eu ia ou
não falar com você hoje — confessei.
Zeus pressionou o botão do nosso andar e eu o observei, ele
usava uma calça escura, camisa de manga longa branca e um
sobretudo bege. Aquela casualidade era estranha no homem.
Ficamos calados por todo o caminho até o apartamento dele,
quando entramos, eu deixei a bolsa e a sacola perto da porta,
coloquei o saco de papel com os biscoitos em cima da mesa de
centro e me sentei no sofá.
O homem se sentou ao meu lado e nos encaramos por um
longo momento de silêncio, minha mente recriava o que aconteceu
na sexta, me deixando inquieta com as lembranças vividas.
— Você está bem? — Zeus perguntou.
— Estou, meu pai foi parar no hospital porque tomou chá
demais — contei e os cantos da boca dele se ergueram em um
sorriso mínimo.
Outra vez mergulhamos no silêncio e Zeus me estudava o
rosto com uma atenção predatória.
— Se está preocupado por não termos usado preservativo na
sexta… eu tenho um diu — avisei. — E fiz exames médicos depois
que me separei do meu ex, não tenho nada que possa te
contaminar.
— Também estou limpo — falou respirando fundo. — Não era
apenas sobre isso que eu queria falar.
— Estou ouvindo — sussurrei.
— Juliet, eu gosto muito de você e tudo que te disse bêbado é
verdade, você me atrai demais, começou como um jogo para te
fazer sentir algo, eu não podia só ficar parado quando vi a sua
desistência, então tentei ajudar.
— E nesse processo você ficou atraído por mim — murmurei e
ele acenou com a cabeça.
Respirei fundo me recostando no sofá e cruzando as pernas,
os rasgos no jeans escuro deixavam meus joelhos à mostra, Zeus
acompanhou o movimento com os olhos.
— Zeus, nós somos adultos, você tem relações casuais o
tempo todo e apesar de eu ter me envolvido em relacionamentos, no
fim deles, era quase sexo casual — expliquei. — Não temos porque
fazer um alarde por causa do que aconteceu na sexta. Na verdade,
eu acho que te devo um pedido de desculpas, você estava bêbado,
devia ter te trazido para cá e ido embora.
— Você não me deve nada, Juliet — falou. — O que aconteceu
naquela noite ia acontecer mais cedo ou mais tarde, a bebida só me
deu coragem de fazer algo que estava desejando há muito tempo.
— Então estamos acertados — sussurrei. — Você queria isso
e eu também. Não temos que mudar as coisas entre nós por termos
dormido juntos.
— Você está mesmo bem com isso? — questionou.
Exalei o ar e observei o rosto dele sem me mover daquela
posição em que estava.
— Nesse momento, eu estou com um furacão na minha
cabeça, esse fim de semana me derrubou em muitos sentidos. Eu
sei que você não quer um relacionamento e eu também não, vamos
apenas voltar a ser só amigos — sugeri.
— Está bem — concordou.
— Minha mãe me deu esses biscoitos, pode ficar com eles —
ofereci e me levantei do sofá.
— Posso te perguntar algo? — questionou e eu assenti.
— O que aconteceu com o homem que você ia encontrar na
sexta.
— Ele me mandou um texto, parei de ler quando me disse que
eu era só uma vadia interesseira. Nunca o vi na vida e cansei
desses aplicativos de namoro — contei e Zeus riu. — Vou para casa
agora.
— Está bem — sussurrou.
Me abaixei para pegar as sacolas no chão e antes que eu
abrisse a porta, senti uma mão agarrando meu cotovelo e me
virando. O corpo de Zeus se recostou ao meu, prendendo-me na
porta.
— O que você me diria se eu te dissesse que não estou
satisfeito com apenas aquela transa? — questionou com a voz baixa
e meu coração saltou.
— Zeus — sussurrei deixando as sacolas caírem.
— O quê? — perguntou aproximando o rosto do meu.
— Só com uma condição — sugeri, envolvendo o pescoço dele
com os braços.
— Qualquer coisa.
— Não se apaixone por mim e não faça eu me apaixonar por
você — falei.
Os olhos verdes encararam os meus e meu coração saltou
ainda mais no peito. Eu sabia que estava na beira do precipício,
mas não podia recuar, não quando meu corpo clamava pelo dele.
— Não posso te prometer isso — avisou.
— Seu canalha desgraçado, vai tentar partir o meu coração?
— inquiri.
— Talvez você parta o meu — retrucou deslizando a mão sob
a minha blusa e abrindo o sutiã que eu usava.
Colei minha boca a dele e Zeus ergueu meu corpo do chão,
envolvi seu corpo com as pernas.
Capítulo 40
Juliet

Zeus me segurou contra si e nos chocamos contra o móvel ao


lado da porta, derrubando o pote de vidro que ele colocava as
chaves. Me afastei do beijo observando o chão de onde estava
presa ao homem.
— Quebrou algo — sussurrei.
— Deixe para lá — pediu.
A boca dele voltou a minha, devorando meus lábios com os
próprios, minha mente explodiu em um big bang próprio quando
nossas línguas se chocaram, Zeus me carregou pelo apartamento
interrompendo a caminhada em direção ao quarto, para chocar meu
corpo contra a parede do corredor, o homem afastou a boca da
minha devorando o meu pescoço.
Minhas mãos arrancaram o sobretudo que ele usava e Zeus
voltou a tocar o meu corpo com suas mãos, forçando-secontra o
meu quadril, ele puxou a minha blusa para cima e me livrei do sutiã
que usava.
Deixei os sapatos caírem no corredor e ele me prendeu ao
próprio corpo outra vez, com a boca voltando a minha, o meu
coração disparou no peito quando nos afastamos o suficiente para
que eu o observasse.
Zeus me deitou na cama e eu agarrei a base da camisa dele,
puxando-a para cima. Meus dedos percorreram seus músculos,
enquanto os dele percorriam minha barriga até tirar a calça que eu
usava.
— Você está mesmo sóbrio? — brinquei fazendo o homem rir.
Ele voltou a inclinar o corpo sobre o meu, devorando minha
boca com a dele, cada pedaço de mim ardia ao contato daqueles
lábios. Entrelacei meus dedos ao cabelo dele, sentindo aquele
desejo incendiar meu coração.
— Zeus — sussurrei e ele ergueu aqueles olhos cheios de
malícia para me observar. — Não quero delicadeza. Quero tudo que
você tiver para me oferecer.
— Juliet — disse meu nome como um aviso.
— Eu quero você, Zeus, sem o cuidado de te matar ou violar
como tive da última vez — expliquei e ele riu.
Os dedos dele brincaram com o cós da calcinha que eu usava,
segurando o tecido entre os dedos e tocando minha pele sensível
com aquela carícia provocante.
— Quer mesmo isso? — inquiriu.
— Sim.
Zeus abriu a calça que usava, puxando-a para baixo com um
movimento rápido. Ele agarrou aquela calcinha e eu o ajudei a
arrancar o tecido do meu corpo. Quando o homem se inclinou sobre
mim outra vez, minhas pernas o envolveram, ansiosa por sentir
aquele pau duro mergulhando no meu corpo com força.
— Sem delicadeza? — perguntou novamente e eu assenti.
Ele se enterrou em mim com um movimento que me fez exalar
um grito. Zeus sorriu ao ver a minha reação e puxei o rosto dele
para um beijo, ele se moveu no meu interior, cada estocada mais
forte e rápida que a anterior, tornando impossível manter o contato
de nossas bocas.
Meus dedos se enterraram nas costas dele, voltando a
arranhar a pele que ainda tinha traços de cicatrização dos meus
últimos arranhões.
— Assim está bom para você? — ele me perguntou com a voz
grave.
— Sim — sussurrei em resposta.
Os dedos de Zeus se enterraram no meu cabelo, prendendo
os fios com força, exalei pesadamente com o corpo estremecendo
ao sentir aquela estocada no meu interior.
Forcei meu corpo contra o dele e Zeus se deitou de costas na
cama. Apoiei meus joelhos no colchão cavalgando ele com o desejo
corroendo meu interior. Aquela era uma sensação diferente de tudo
que já senti na vida, meu corpo parecia atraído pelo daquele
homem, como se fossemos imãs de pólos opostos.
Segurei meus seios pesados que estavam doloridos com
aquela velocidade, os dedos de Zeus deslizaram pela minha barriga
exposta até que tocaram meu clitóris, cada parte do meu corpo se
acendeu com aquele toque e o gemido alto que eu vinha contendo
escapou pela minha boca.
Zeus segurou meu quadril movendo meu corpo sobre o dele.
Me inclinei sobre ele, deslizando minha língua pelo peito dele,
mordiscando o mamilo direito. O cheiro daquela pele fez meu corpo
mergulhar mais no desejo, afastando quaisquer pensamentos da
minha cabeça que não fossem relacionados ao homem que atacava
o meu interior.
— Sai de cima — pediu.
Me afastei do corpo dele ofegante e encarei o homem
estampando minha confusão.
— Fica de quatro — Zeus ordenou.
Cada parte de mim arrepiou ao ouvir o tom de voz, mas
obedeci aquele pedido, enterrei os dedos no lençol e senti-o segurar
meu quadril, aquela penetração fez o meu corpo tremer e exalei um
gemido alto, contive a vontade de apoiar os cotovelos na cama.
Zeus me segurou enquanto aumentava suas investidas, me
fazendo arfar. Meus braços tremiam e o calor se acumulava rápido
demais no meu interior.
— Zeus! — Soltei o nome ofegante.
A mão dele envolveu meu cabelo e senti seu corpo se
inclinando sobre o meu, o contato daquela pele quente contra a
minha fez com que tudo dentro de mim explodisse em prazer e não
consegui me equilibrar nos braços, afundei o rosto no colchão
enquanto meus cotovelos atingiam a cama.
Meu corpo arrepiou durante o orgasmo, os músculos do meu
interior se contraíram tantas vezes que meu coração parecia
confuso entre acelerar ou errar as batidas.
O ar do quarto estava quente e tudo tinha o cheiro do homem
que continuava estocando o pau no meu interior, com uma
determinação que arrancava cada som que podia escapar da minha
boca.
Zeus apertou meu quadril quando ele mesmo gozou e me vi
deslizando pela cama até me deitar de bruços, o homem se deitou
ao meu lado com um baque e senti os dedos dele percorrendo a
pele úmida das minhas costas.
— Nunca mais duvide do meu desejo — falou.
— Está bem — sussurrei, tentando acalmar o meu coração.
— Essa amizade colorida entre nós, vai continuar exatamente
igual? — questionou me fazendo rir.
— Podemos continuar com isso — avisei. — Essa é a primeira
vez que tenho uma amizade colorida.
— Sério? — inquiriu.
— Sim, eu tive dois relacionamentos longos, mesmo que no
final tudo parecesse sexo casual, nunca tive uma relação
completamente casual — confessei.
— Se não estiver confortável com isso… — sussurrou e se
interrompeu.
— Não quero um relacionamento sério, pelo menos não agora
e sei que você foge de compromissos, então não vou forçar nada,
não se preocupe — esclareci.
Ele sorriu voltando a deslizar os dedos pelas minhas costas,
espalhando arrepios pelo meu corpo.
— Quero tomar um banho — avisei.
— Agora não — sussurrou.
Estava prestes a perguntar o motivo quando a boca de Zeus
agarrou a minha, os dentes dele agarrando meus lábios antes de
sua língua invadir minha boca, me virei no colchão deixando o
homem se deitar sobre o meu corpo.
Uma de suas pernas abriu as minhas, e ele encaixou-se entre
elas, minhas coxas o prenderam pelo quadril, os braços dele
envolveram minha cintura e a boca não se afastou da minha. Cada
parte do meu corpo parecia ter sido projetada para se encaixar no
daquele homem enorme que me segurava com tanta firmeza.
Meu coração voltou a acelerar, quando aquele pau voltou ao
meu interior, com movimentos lentos dessa vez, sem que seus
lábios se afastassem dos meus. Engoli o sabor da boca dele, com
cada toque espalhando um calor confortável pelo meu corpo.
Minha mente se perdeu. Me perdeu de tudo que eu tinha
prometido a mim mesma naquela manhã. Me perdeu
completamente das minhas inseguranças e receios, cada pedaço do
meu corpo apenas clamava pelo dele e o meu coração parecia
ressoar nos meus pensamentos, gritando o nome daquele canalha
idiota.
Capítulo 41
Juliet

Meu corpo estremecia, ainda preso ao de Zeus, nosso suor se


misturava grudando em mim, os olhos verdes dele pareciam mais
acesos do que nunca, o homem beijou o meu rosto, cada toque
daqueles lábios fazendo o meu corpo arder.
Ele se afastou me puxando para o seu peito, enterrei o rosto
no peito dele, meus dedos tocaram a tatuagem em formato de raio
na sua pele. Zeus não se moveu como pensei que faria, não disse
nada sobre o assunto.
Um trovão soou e senti os dedos de Zeus interromperem o
movimento no meu corpo. A mão dele agarrou o meu braço e meu
coração acelerou no peito ao ver como o homem estava ofegante.
— Zeus? — chamei. — O que foi?
Outro trovão soou e ele pareceu ainda mais distante ao ouvir
os sons. Me levantei da cama e os olhos dele encontraram os meus,
aquelas sombras que tinham desaparecido instantes antes estavam
de volta.
— Só vou fechar a porta do quarto — sussurrei.
Ele me soltou e fechou os olhos com força. Fechei a porta
tentando diminuir o barulho daqueles trovões dentro do cômodo. Eu
conseguia sentir a vibração deles no chão, os dedos de Zeus
estavam agarrados ao lençol e o homem estava imóvel despido na
cama.
Engoli seco e estudei o quarto dele, abri uma gaveta de
cuecas, e continuei vasculhando o cômodo, até achar um par de
fones de ouvido. Me enfiei na camisa dele que estava no chão e
corri até a sala fechando a porta do quarto atrás de mim, peguei
meu celular na bolsa e voltei para perto do homem.
Conectei os fones ao aparelho nas minhas mãos e os coloquei
nos ouvidos dele. Zeus abriu os olhos me estudando, o barulho dos
trovões fez o corpo dele tremer outra vez, então liguei uma música
nos fones. Observei-o sentar e puxar um lençol para cobrir o próprio
corpo.
— Me desculpe — falou alto.
Sacudi a cabeça deixando claro que não havia motivo para
desculpas. Indiquei o banheiro e Zeus assentiu. Segui para o
cômodo e abri as torneiras enchendo a banheira no canto, abri o
armário ali dentro e achei algumas velas, os objetos nem mesmo
pareciam ter sido usados alguma vez na vida. Peguei um isqueiro
no próprio armário e acendi algumas.
O isolamento acústico no banheiro parecia melhor que no
quarto, voltei para o outro cômodo e observei que Zeus ainda estava
sentado com o lençol ao redor da própria cintura. Estendi a mão
para ele e Zeus me estudou, o homem segurou a minha mão se
levantando da cama.
A palma dele estava fria contra a minha, peguei o celular da
mesa de cabeceira e guiei o homem para o banheiro. Fechei a porta
atrás de nós e me vi de frente para ele, Zeus me estudou quando
tirei os fones de ouvido dele.
— O isolamento acústico aqui parece melhor — sussurrei.
Desativei o bluetooth do celular e a música preencheu o
banheiro. Ele respirou fundo, soltando nossas mãos e se recostando
a porta.
— Sinto muito que você tenha visto isso — falou.
— Não se desculpe, todos temos medo de algo — lembrei. —
Entre ali.
Meu pedido soou mais como uma ordem e Zeus sorriu ao
caminhar para a banheira, ele se sentou na água, eu caminhei até
lá, parando apenas para pegar a esponja, me sentei atrás dele,
esfreguei as costas dele com o objeto enquanto sentia minhas
pernas tocarem seu corpo sob a água.
— Isso acontece desde aquela noite? — perguntei.
— Sim — respondeu.
— Lamento que algo assim tenha acontecido, não só pela
morte dela, mas pelo que causou a você. Pela culpa que você tem
carregado.
Zeus encostou o corpo no meu, utilizei a esponja úmida para
esfregar o peito e a barriga dele. Nosso silêncio só era rompido pela
música que tocava no meu celular, o homem de quase dois metros
que tinha me enlouquecido e atormentado, tinha se tornado refém
de um medo naquele instante.
— Essa é uma fraqueza que eu tento esconder das pessoas —
avisou. — Ninguém fora da minha família sabe sobre isso.
— Não precisa se envergonhar por eu saber disso —
comentei. — Quer saber do que eu tenho medo?
Ele assentiu e recostou a cabeça no meu ombro direito.
— Tenho pavor a pássaros — confessei. — Entro em pânico
perto deles.
— Como isso começou? — questionou e eu exalei um
murmúrio.
— Você vai rir de mim se te contar — falei e ele riu baixo.
— Prometo que seu segredo ficará seguro comigo.
— Quando eu tinha cinco anos, fui a um parque com a minha
família, alguém me deu um saco de migalhas de pão para jogar para
os pássaros. Pombos — esclareci e meu corpo estremeceu ao
lembrar desses pássaros. — Lembro que abri o saco para jogar as
migalhas e aquelas coisas voaram em cima de mim.
Zeus segurou minha perna, deslizando o polegar pelo meu
joelho enquanto eu deslizava a esponja pela perna dele.
— O que aconteceu depois? — inquiriu.
— Meu pai levou vinte minutos para afastar os pombos de mim
e eu estava com vários machucados pelo corpo, por causa das
garras e bicos. Desde então tenho medo de pássaros.
— Lá se vai a minha ideia de te dar um papagaio de presente
— comentou me fazendo rir.
— Eu jogo você de cima desse prédio — ameacei.
— Estou só brincando — garantiu. — Eu não te daria um
papagaio de presente.
— E eu não te jogaria desse prédio — sussurrei.
Zeus virou o rosto em direção ao meu, me olhando pelo canto
dos olhos. Aquele brilho mínimo estava de volta aqueles olhos
verdes magníficos e eu sorri ao ver aquela luz.
— Obrigado, por ficar aqui comigo — falou com a voz baixa.
— Não vou a lugar algum — prometi.
Zeus se afastou do meu corpo e me puxou para o seu colo,
envolvi o pescoço dele com os braços observando seus olhos,
enquanto as mãos do homem passeavam pelo meu corpo molhado
pela água quente.
Aproximei meu rosto do dele até unir nossos lábios em um
beijo lento, Zeus abriu minha boca com a dele, explorando-me com
aquela língua astuta. Meu coração se aquietou nesse momento,
aproveitando a sensação dos lábios dele nos meus.
O toque dele era gentil, como se não houvesse preocupações
no mundo além de nós dois. Como se seu maior medo não
estivesse partindo o mundo fora daquele banheiro. Zeus me beijou
com calma mesmo quando o celular parou de tocar as músicas.
Minha boca explorava a dele, minha língua percorria o céu de
sua boca arrancando gemidos baixos, o pau duro dele tocava o meu
corpo, mas naquele instante, a calmaria que se instalou em meus
pensamentos não me deixavam focar a atenção naquele detalhe.
A mão molhada dele desfez o coque que eu tinha feito no
cabelo antes de entrar na água, os dedos molhados agarraram os
fios da minha cabeça, acariciei o pescoço dele deslizando minhas
mãos por cada parte do corpo que não estivesse em contato com o
meu.
As pontas dos meus dedos tocaram os arranhões que
cicatrizavam nas costas dele. Contando cada marca que minhas
unhas deixaram naquele corpo que fazia o meu latejar com o
mínimo olhar.
Interrompi o beijo recuperando o fôlego e percebi que os olhos
de Zeus estavam no meu rosto, mais luminosos que antes, cheios
de sentimentos que eu não conseguia ler.
— Você é a melhor pessoa que já conheci, Juliet — sussurrou.
Esbocei um sorriso tímido.
— Você também.
— Fica comigo esta noite? — pediu.
Assenti observando-o com mais atenção.
— Quantas noites quiser — prometi.
Meu coração estúpido acelerou com aquele pedido e a minha
promessa. Eu me senti desestabilizada quando vi Zeus devastado
pelo medo e mesmo que soubesse que em breve ele estaria de
volta a posição irritante, não consegui deixá-lo sozinho. E a ideia de
permitir que ele mergulhasse de volta no pânico me deixava
assustada.
Eu estava brincando com fogo, dançando sobre brasas que
talvez me queimassem antes que me desse conta, mas não
consegui pensar em proteger meu tolo coração, não quando Zeus
se aproximou outra vez para me beijar.
Capítulo 42
Juliet

Zeus dormiu abraçado ao meu corpo e na manhã seguinte


quando o despertador dele tocou, meu coração acelerou assustado.
Abri os olhos e vi a bagunça que tínhamos feito naquele quarto.
— Bom dia! — Zeus sussurrou.
— Bom dia — falei me afastando do homem. — Tenho que me
aprontar para o trabalho.
— Eu também.
Ele afastou os braços de mim e segurou meu quadril com uma
das mãos. Observei o rosto dele, aproveitando aquele olhar sobre
mim, levei a mão ao rosto dele, tocando seu rosto.
— Nos falamos depois — falei me levantando da cama.
Catei as minhas roupas do chão enquanto Zeus continuava
deitado, me enfiei nas calças e peguei a calcinha do chão, caminhei
para fora do quarto ainda usando a camisa de Zeus, calcei os saltos
e peguei o sutiã e a blusa no chão do corredor, estava prestes a
vestir as minhas roupas quando vi que havia alguém na sala.
— Bom dia, Juliet! — Poseidon falou com um sorriso largo no
rosto.
Se houvesse uma janela próxima, talvez eu tivesse pulado por
ela. Observei o quarto e vi que Zeus se levantou da cama correndo,
voltei a olhar para Poseidon.
— Bom dia! — sussurrei, tentando manter alguma compostura
e esconder a vergonha que podia me fazer cavar um buraco
naquele piso.
Desfiz aquele movimento de tirar a camisa de Zeus que estava
usando e caminhei para a sala, passei os olhos no ambiente
constatando que estava apenas ele ali.
— Eu tenho que ir trabalhar — avisei e Poseidon assentiu.
— Tenha um bom dia — falou.
Concordei com a cabeça e fui até a porta praticamente
correndo, amaldiçoei aquele momento de constrangimento, peguei
minha bolsa e sacola com roupas sujas do chão antes de sair do
apartamento sem olhar para trás.
Respirei fundo dizendo a mim mesma para não surtar naquele
corredor e caminhei para o apartamento ao lado, fechei a porta e vi
Joana de pé atrás do balcão. Ela me olhou dos pés à cabeça e
sorriu.
— Parece que alguém teve uma noite louca — comentou com
um sorriso. — Quer um café?
— Quero, só preciso de um banho primeiro.
Me apressei para o banheiro com a mente ansiosa, depois de
um banho longo e de todos os cuidados com a minha aparência
para o trabalho, saí do quarto e caminhei até a cozinha, Joana que
já tinha tomado café da manhã, estava mexendo no celular e largou
o aparelho quando me aproximei.
— Então, por que você chegou aqui parecendo que brigou com
felinos selvagens e viu um fantasma no caminho para cá? —
indagou e eu ri me sentando perto do balcão.
— Para resumir, esse foi o fim de semana mais louco da minha
vida — expliquei.
Servi uma caneca de café enquanto resumia para ela o meu
quase encontro da sexta e como recebi uma ligação dos meus pais
sobre a emergência médica, em seguida resumi que acabei na
cama com alguém.
— Esse alguém é o nosso vizinho, Zeus? — perguntou e eu
cuspi o café no balcão.
— Inferno! — praguejei.
Peguei alguns guardanapos para limpar o balcão e minha
colega de quarto riu.
— Por que acha que foi ele? — questionei.
— No sábado de manhã, Zeus bateu aqui perguntando se
você estava, quando olhei para ele, pensei que tinha sido largado
por uma mulher na noite anterior. O homem parecia meio
transtornado — explicou.
Exalei um riso e engoli o que restou de café na minha xícara.
— Tenho que trabalhar, depois continuo a história da minha
briga com gatos — avisei, Joana gargalhou me desejando bom dia.
Segui até a porta do apartamento e abri-a apenas o suficiente
para ouvir o corredor. Não havia qualquer sinal de vozes, então saí
de casa e me apressei em direção ao elevador. Pressionei o botão
ao lado da porta atenta ao corredor atrás de mim, temendo que
Zeus e Poseidon ficassem presos naquele elevador comigo.
Meu celular vibrou no bolso e o peguei, havia uma mensagem
de Zeus: “Estou prendendo Poseidon no apartamento, pode ir
sossegada.”
Esbocei um sorriso enviando um agradecimento em resposta.

— Não acredito que você transou com Zeus Andrews! — Kate


me disse quando contei sobre o meu fim de semana para ela.
— Grite um pouco mais, Kate, acho que ninguém da empresa
ouviu — rebati sarcástica, observando a praça onde nos sentamos.
— Vocês estão saindo? Vão começar a sair? — questionou.
— Não, é só casual — contei.
— Juliet, meu anjo, você não sabe ser casual — falou.
Respirei fundo para não bater com a garrafa de suco na
cabeça dela.
— Eu não quero um relacionamento agora, não sei se Zeus e
eu somos compatíveis para isso — expliquei.
— Então você só está cedendo ao desejo? — perguntou e
assenti.
Nós ficamos caladas por um tempo até que Kate suspirou
pesadamente.
— Amizade colorida sempre acaba em corações partidos,
Juliet.
— Você me incentivou a ficar com ele, estava falando desse
negócio do universo e tudo mais — lembrei.
— Sim, mas eu não estava falando para você ir contra os seus
princípios e ter uma relação casual com ele — contrapôs.
Fechei a garrafa de suco e me levantei do banco que tínhamos
ocupado. Kate me olhou de baixo tentando pensar em como
sustentar seu argumento.
— Eu sei que você está tentando me proteger, — comecei —
mas há coisas demais entre Zeus e eu, coisas que pesam contra
uma relação, nós dois sabemos disso e nenhum de nós está pronto
para um relacionamento. O que estamos fazendo é tudo que
podemos oferecer um ao outro.
— Como você se enfiou nisso? Como Zeus conseguiu se
aproximar tanto?
— Ele salvou minha vida quando terminei com Mark e tem
salvado desde então — admiti. — Você provavelmente notou que eu
estava afundando, percebeu que tinha chegado a um limite
perigoso. Ele viu isso, viu e percebeu que odiá-lo era algo que eu
ainda conseguia sentir, por isso, Zeus me incentivou a continuar
odiando.
— Por quê? — questionou.
— Porque ele disse que raiva e ódio também são sentimentos,
que era melhor sentir isso do que não sentir nada — expliquei.
— Não, isso eu entendi. Quero saber por que ele fez algo
assim por você? — esclareceu.
— Quanto mais tentamos nos afastar, mais parecíamos ser
atraídos um pelo outro. Eu morei por anos no mesmo andar que o
melhor amigo dele e nunca nos vimos no prédio, apesar de Zeus
visitar Charlie com alguma frequência, nos reencontramos no
momento certo — sussurrei. — Tantas coincidências não são
comuns, nós dois achamos que deveríamos dar atenção um ao
outro.
— E você não acha que foi por causa de Laura? — inquiriu.
Eu amaldiçoava a forma como Kate me conhecia, aquela
mulher sempre cutucava as feridas certas.
— Acho que pode ter começado por causa de Laura, mas não
acho que tudo que tem acontecido entre nós tem a ver com a
atração que ele sentia por ela.
— Só proteja seu coração, está bem? — pediu.
— Eu vou — prometi.
Nós caminhamos de volta para o trabalho encerrando o
assunto naquele banco. Eu não arriscaria que outras pessoas
soubessem que estava dormindo com alguém tão importante.
Capítulo 43
Zeus

Enquanto almoçava com Poseidon na minha sala, precisei


ouvir uma sessão interminável de perguntas que já tinha ignorado a
manhã inteira.
— Não estou acreditando que Zeus Andrews está namorando
— ele disse, me fazendo erguer os olhos da pizza que comia para
observar o rosto dele.
— Não estou namorando — avisei. — Eu tenho que pegar de
volta a chave extra que você tem do meu apartamento.
Meu irmão riu e engoliu mais uma fatia de pizza me dando
alguns instantes de silêncio finalmente.
— Lá estava eu, um irmão preocupado indo até o seu
apartamento para ver se você estava encolhido no banheiro com
fones de ouvido por causa da tempestade, chego lá, tem um caos
de roupas pelo corredor. Quando espio o seu quarto, vejo você
abraçado a uma mulher que imediatamente reconheci.
— E você não podia simplesmente ter ido embora nesse
momento, não é? — questionei irritado.
— Claro que não! Não me ouviu dizer que sou um irmão
preocupado? — inquiriu.
Revirei os olhos e deixei o que me restava de pizza de lado,
encostei o corpo na cadeira.
— Tire a sua bunda preocupada daqui antes que eu dê um
chute nela — falei.
Meu irmão riu e se levantou da cadeira, ao invés de caminhar
para a porta, ele ficou imóvel e me estudou por um momento longo.
— Sabe o que eu vi quando observei vocês dois dormindo
naquela cama? — perguntou e eu ergui os olhos.
— Jesus, será que eu quero saber? — questionei encarando
meu irmão que não sorriu.
— Eu vi algo que pode durar, vi um companheirismo que dizia
respeito apenas a vocês. Se você não se vê em um relacionamento
com ela, tudo bem, mas eu vejo e tenho certeza que qualquer um
que visse o que eu vi concordaria.
Poseidon me encarou esperando por uma resposta que eu não
estava disposto a oferecer, então meu irmão suspirou apoiando as
mãos na minha mesa.
— Se você desistir dela, vai se arrepender mais do que já se
arrependeu em toda a sua vida — avisou. — Você perdeu a Laura
sem sequer ter tido algo com ela e veja a merda em que afundou.
Se perder Juliet depois do que ela se tornou para você, esse sim
será o fel que vai descer pela sua garganta.
Nos observamos deixando aquelas palavras preencherem
cada espaço vazio daquela sala.
— Não quero precisar te dizer que avisei.
Com essas palavras, Poseidon saiu da sala, me deixando
sozinho com o eco de seus conselhos atormentando meus
pensamentos.
Respirei fundo me levantando da cadeira e fiquei imóvel em
frente a parede de vidro observando o movimento caótico da rua
abaixo. Poseidon sabia bem do que estava falando quanto aquele
conselho.
Tudo ou nada, lembrei a mim mesmo.
Mesmo que eu não conseguisse cogitar um relacionamento e
soubesse que Juliet também não queria um, meu coração se
agitava com a possibilidade de ser afastado dela. Quando cheguei
em casa bêbado na sexta, tinha fingido muito mais do que sentido
aquela bebida, apenas para evitar que a mulher linda que me levou
para casa saísse com um idiota qualquer.
Eu preferia mil vezes que Juliet partisse meu coração do que
vê-la sofrer por um idiota que não valorizaria o dela.
De um jeito ou de outro, aquela relação casual levaria a um
tudo ou nada. Ao fim dela eu podia ter tudo que sempre quis, uma
amizade sincera e sexo enlouquecedor com uma mulher que
adorava, ou poderia ter meu coração partido e destruir tudo aquilo.
No pior dos cenários, Juliet teria o coração partido.
— Sr. Andrews? — ouvi uma voz feminina entrando na minha
sala.
Me virei para ver Marcela na porta.
— Seu pai está esperando por você no terraço, vocês têm que
ir pessoalmente a uma obra — lembrou.
— Estou indo — avisei.
Peguei o celular em cima da mesa e li uma mensagem de
Juliet: “Obrigada por me dar cobertura hoje cedo.”
Esbocei um sorriso enquanto digitava uma resposta: “Tem
planos para mais tarde?”
“O que você tem em mente?” — perguntou.
“Podemos jantar juntos.”
“Tudo bem.” — Foi tudo que ela respondeu.
Caminhei para o elevador, vestindo o paletó e o casaco,
Marcela sorriu quando a estudei.
— Algo errado? — perguntei.
— Não, só estava pensando em algo — respondeu.
Ela pareceu inquieta ao dizer aquelas palavras e respirou
fundo ao sussurrar: — Como secretária do seu pai, eu sei de todos
os movimentos dele… Sei da aposta que ele promoveu entre vocês.
— É bom que ninguém saiba sobre isso — lembrei apagando a
expressão tranquila do rosto e assumindo uma postura de ameaça.
— Por mim ninguém vai saber. O que estou dizendo é que se
você quiser sair algum dia, para vermos se existe alguma chance
entre nós — sugeriu e eu me mantive quieto.
— Desculpe, Marcela, mas eu estou em um relacionamento —
falei.
— É um relacionamento sério? — perguntou, a observei com
um sorriso calmo no rosto.
— Isso é um pouco pessoal demais, não acha? — questionei.
— Claro, me desculpe.
Nós chegamos ao terraço e meu pai estava esperando no
helicóptero que nos levaria a obra em questão. Assim que entramos
no veículo, voltei a pegar o celular e digitei uma mensagem para
Juliet: “O jantar não vai ser na minha casa.”
“Posso saber para onde vai me levar?”
“Vista-se como na sexta e vai ficar tudo certo.” — garanti.
— Você parece animado hoje — meu pai comentou me
fazendo bloquear a tela do celular.
— Descansei bem no fim de semana — sussurrei.
— Depois do que conversamos na sexta, achei que você não
ia querer me acompanhar hoje — falou me sondando.
— Não tenho catorze anos. Posso separar nossa relação
familiar do fato de dirigirmos a empresa juntos.
— Isso é muito bom — sussurrou folheando alguns
documentos. — Tem notícias dos seus irmãos?
— Hades está trabalhando fora da cidade, há algo sobre
Poseidon que não sei? — questionei.
— Ele passou o fim de semana fora, achei que estivesse com
você — falou.
— Não, ele não estava comigo — admiti.
Observei o celular outra vez e abri a tela, vendo que Juliet
confirmou que estava tudo bem para ela, saí do chat com ela e
digitei uma mensagem para Poseidon: “Em que buraco você se
enfiou no fim de semana?”
“Estava entediado e precisei de um tempo, conto os detalhes
depois.” — respondeu, meu irmão não parecia pronto para falar
sobre o assunto, pois logo em seguida começou a me mandar
inúmeras mensagens perguntando sobre meu fim de semana com
Juliet.
— Parece que a nossa aposta tem mexido com vocês — o
homem à minha frente falou e voltei a observá-lo.
— Você nos atirou do penhasco sem saber se os paraquedas
estavam funcionando — acusei. — Lógico que isso mexeria
conosco.
Ele suspirou e eu resolvi conferir os documentos antes que o
nosso assunto familiar estragasse aquele trabalho.
Capítulo 44
Zeus

Depois de passar a tarde resolvendo alguns atrasos na obra


com o meu pai, acabei chegando em casa empoeirado e lembrando
a mim mesmo que não podia me atrasar. Liguei para o restaurante
vendo se havia mesas disponíveis.
Confirmei uma reserva e fui para o banheiro tomar banho,
aquele quarto ainda estava uma bagunça completa, graças ao que
tínhamos feito na noite anterior. Sorri com aquela lembrança.
Eu estava terminando de abotoar a camisa quando alguém
bateu na porta do meu apartamento. Caminhei até lá e abri para ver
Juliet usando um vestido escuro justo, um pouco maior do que
aquele que ela usou na sexta, ela sorriu ao perceber cada
movimento dos meus olhos.
— Estou quase pronto — avisei.
— Tudo bem — ela disse, entrando na minha casa.
— Como foi o seu dia? — perguntei, terminando de abotoar a
camisa, percebendo o olhar fixo dela no meu peito.
— Um caos completo — sussurrou com a voz rouca.
Caminhei pelo apartamento pegando o casaco, minha carteira
e chaves. Juliet sorriu quando finalmente saímos do lugar.
— Você está linda — elogiei e ela esboçou um sorriso.
— Então, aonde vamos?
— Você vai adorar — prometi.
— Zeus — falou.
— Juliet — respondi e ela riu.
— Para onde vamos? — perguntou novamente.
— Confie em mim — pedi.
— Para você saber… eu não gosto muito de surpresas —
avisou.
— Tudo bem, mas eu sou teimoso — retruquei.
Nós entramos juntos no elevador e quando descemos,
coloquei minha palma nas costas dela, guiando a mulher para o
carro. Juliet sentou no banco do carona e eu fechei a porta antes de
dar a volta no carro.
Dirigi para o restaurante e ela não fez outras perguntas no
caminho.
— Qual perfume você usa? — perguntei quando o cheiro
pareceu preencher o carro.
— Não uso perfume. O cheiro que você sente é um hidratante,
não gosto de cheiros fortes — explicou.
— Então você deve odiar o meu — falei e ela exalou uma
risada baixa.
— Eu gosto do seu cheiro — avisou.
Dirigi por algum tempo e reparei na forma como Juliet parecia
inquieta no banco do carona, estiquei minha mão para segurar a
dela, a mulher me olhou e sorriu.
— Desculpe — sussurrou.
— Tudo bem.
— Estamos chegando — avisei.
Juliet assentiu e continuei dirigindo até entrar naquele terreno
enorme, o restaurante que aparecia diante de nós, era um dos
projetos mais bonitos em que nossa empresa trabalhou. O jardim
tinha mesas espalhadas, com alguns casais conversando apesar do
frio. O lago artificial que projetamos tinha algumas iluminações que
deixava o lugar mais encantador, eu tinha ido até ali a noite poucas
vezes, mas adorava o restaurante.
— Esse lugar é incrível — Juliet disse.
— A Olympus projetou há uns dois anos — contei. — Vem,
reservei uma mesa no interior, você vai adorar.
Nós descemos do carro juntos e Juliet caminhou ao meu lado,
jogando o cabelo sobre o ombro esquerdo, observei o movimento e
precisei desviar o olhar dela para não focar minha atenção de
enterrar o rosto no pescoço exposto dela.
— Zeus Andrews — falei para o homem na recepção.
— Por aqui — ele respondeu nos guiando pelo interior do
lugar.
As mesas de madeira continuavam tão impecáveis quanto
antes, segurei a mão de Juliet e ela me olhou, indiquei o teto, a
mulher ergueu o rosto e viu o desenho tridimensional ali, milhares
de pequenas estrelas desenhadas em camadas.
— É como se estivéssemos olhando para o céu — ela
sussurrou. — De um lugar sem tanta poluição luminosa, claro.
Guiei-a até a mesa que o homem nos mostrava e ele me disse
que traria o vinho que pedi assim que nos sentamos.
— Como pensaram nisso? — perguntou.
— O quarto de Laura tinha uma pintura semelhante no teto,
quando o dono deste lugar nos disse que queria que seus clientes
tivessem a impressão de estar do lado de fora o tempo todo, eu me
lembrei do quarto dela e sugeri isso — expliquei observando a
pintura. — Nunca conseguiria pintar o céu do quarto de Laura, então
contratamos um artista para fazer o desenho.
— Você gostava tanto assim da pintura no quarto dela? —
Juliet inquiriu e eu a observei.
— Sempre achei muito bonito — admiti.
A mulher sorriu e eu a olhei confuso.
— Fui eu que pintei aquele céu no quarto dela — confessou.
— Quando era mais nova eu gostava de pintar. Pintei o céu noturno
no quarto da minha irmã e pintei uma tempestade no teto do meu
antigo quarto.
— Você fez mais trabalhos? — perguntei com o coração
acelerado.
Me lembrei da coleção de desenhos que Laura me deu na
adolescência.
— Eu fazia desenhos para minha irmã, ou para outros
conhecidos, mas nunca estudei desenho, só gostava de usar pincéis
— contou.
— Laura também pintava? — questionei e ela fez que não.
— Acho que ninguém pode fazer tudo. Minha irmã mal
conseguia fazer desenhos de boneco palito — falou e seu olhar se
ergueu outra vez.
O garçom trouxe o nosso vinho e Juliet agradeceu ao pegar a
própria taça, nós pedimos o jantar, mas a mulher não voltou a falar.
— Desculpe ter mencionado ela — falei e Juliet sorriu.
— Não tem problema — comentou.
— Só perguntei se ela sabia desenhar, porque ela me deu
algumas pinturas quando éramos jovens, sempre pensei que ela
tinha pintado — admiti.
Juliet sorriu outra vez.
— Ela gostava de impressionar as pessoas com seus múltiplos
talentos — explicou.
— Zeus? — sussurrou uma voz feminina e um arrepio de mau-
presságio percorreu o meu corpo.
Virei o rosto para ver a mulher que estava de pé perto da
mesa.
— Gisele, oi, quanto tempo — falei me levantando para
cumprimentá-la.
A mulher beijou o meu rosto.
— Minha mãe estava jurando que não era você, mas eu te
reconheceria em qualquer lugar — tagarelou.
Baixei os olhos para Juliet que me olhava confusa com a
mulher que ainda estava segurando o meu braço.
— Gisele, essa é Juliet — apresentei e a mulher se levantou
para apertar a mão da outra.
— Sua amiga? — a cantora perguntou.
— Minha namorada — falei, Juliet ergueu uma sobrancelha
sorrindo de maneira forçada.
— Desculpe atrapalhar o seu encontro. Acho que nem vai rolar
o jantar que minha mãe acabou de sugerir — Gisele disse.
— Não, sinto muito — avisei e ela sorriu ao se afastar, a
mulher nos lançou alguns olhares sobre o ombro.
— Agora virei sua namorada, é? — perguntou. — Não me
lembro de ter aceitado um pedido.
Respirei fundo quando nos sentamos outra vez e notei que a
postura de Juliet se tornou rígida, como se a mulher estivesse na
defensiva.
— Essa mulher saiu comigo uma noite, só saí com ela porque
meu pai insistiu já que ela é filha de um velho amigo, na semana
seguinte, os sites de fofoca noticiaram o novo romance dela.
— Não me use dessa forma outra vez — Juliet pediu.
— Me desculpe, foi insensível — admiti.
Ela aquiesceu e voltou a beber do vinho que estava sobre a
mesa.

Tinha me arrependido da ideia de levar aquela mulher a um


restaurante, aquilo podia ter arruinado as coisas entre nós, quando
eu entrei em pânico, disse a primeira coisa que me ocorreu, mas se
tivesse dito que Juliet era só minha amiga, aquela mulher teria me
arrastado para falar com a mãe dela.
Caminhamos até o lago artificial depois do jantar e Juliet
observou os peixes coloridos que nadavam por ali.
— Parece que eu estraguei as coisas hoje — comentei e ela
me olhou.
— Não, não estragou — respondeu em um suspiro.
— Então, pode me explicar o que está acontecendo? —
perguntei. — Sei que não devia ter falado de Laura…
— Não tem a ver com ela. Você e Laura eram muito próximos,
Zeus. E ela era minha irmã mais velha, mesmo que não a
conhecêssemos tão bem quanto julgamos, ela sempre vai ser um
assunto entre nós. Faz parte do nosso passado — ela disse me
observando com aquele brilho se apagando outra vez dos olhos
dela.
— Sei que eu não devia ter dito que você é minha namorada,
mas entrei em pânico — expliquei e Juliet sorriu.
— Acho que o problema fui eu — sussurrou.
A observei confuso e ela se aproximou enfiando as mãos nos
bolsos do casaco.
— Talvez as coisas entre nós não possam funcionar como eu
estava imaginando — admitiu. — Posso ter superestimado minha
capacidade de estar com alguém de forma casual.
— Ficou com ciúmes dela? — questionei e Juliet ergueu os
ombros.
— Não tenho certeza — sussurrou.
Contive a vontade de sorrir ao ouvir aquelas palavras, apenas
porque a mulher parecia realmente lutar para conseguir explicar
aquilo tudo.
— Talvez seja melhor a gente parar com isso — falou e eu
respirei fundo me aproximando dela.
Segurei o rosto de Juliet entre as mãos e beijei a testa dela, a
mulher me estudou por um momento.
— O que eu disse sobre não querer um relacionamento é real
e acho que você também precisa de um tempo, a ideia de me
afastar de você parece insuportável nesse momento. Então vou te
fazer uma proposta: Vamos continuar com isso, eu prometo não me
relacionar com outras pessoas se me prometer o mesmo, não
vamos dar um nome ao que temos, vamos só continuar, se algum
dia você ou eu notarmos que não dá mais ou que as coisas se
confundiram, podemos desistir de tudo.
— Se confundirem mais? — ela perguntou sorrindo. — Nem
temos um nome para esse nosso lance.
— Algumas coisas não precisam de palavras para serem ditas,
por que o que temos precisa de um nome para ter algum
significado?
Juliet me olhou séria ao ouvir as minhas palavras e eu inclinei
o rosto para beijá-la, ciente de cada olhar que estava sendo
direcionado a nós nesse momento.
Capítulo 45
Zeus

Juliet e eu caminhamos pelo corredor que nos levaria ao meu


apartamento lado a lado, com aquele silêncio pesado pairando entre
nós. Antes que nós alcançássemos a minha casa, no entanto, ela
recebeu uma mensagem e disse que a melhor amiga dela estava
chegando.
— Nos falamos depois? — perguntou ao se afastar de mim.
Segurei a mão dela impedindo-a de sair sem se despedir.
Juliet sorriu quando a puxei para perto de mim.
— Vai me beijar aqui? Tem câmeras nesse corredor —
lembrou.
— Acha mesmo que sou o tipo de homem que faz algo em
segredo? — inquiri.
Juliet sorriu ao ouvir essas palavras e minha boca desceu ao
encontro da dela, senti os dedos frios dela tocando meu pescoço e
meu corpo estremeceu ao sentir aquele toque. Abri seus lábios com
os meus aprofundando aquele beijo, segurei o corpo da mulher junto
ao meu, minha língua tocou a dela e Juliet interrompeu nosso beijo.
— Pare de jogar com o meu corpo — pediu em um sussurro.
— Eu nem comecei a jogar com o seu corpo — avisei,
encarando seus olhos.
A mulher me estudou com um sorriso malicioso repuxando
seus lábios.
— Vá para casa, Zeus — ordenou.
— Antes que você acabe me seguindo? — questionei sem
soltar o corpo dela.
Juliet riu baixo.
— Seu babaca arrogante — xingou se afastando de mim.
Observei aquela mulher caminhando pelo corredor antes de
entrar na minha casa. Quando peguei o celular do bolso, vi que
havia algumas ligações não atendidas e resolvi retornar a chamada
em grupo de Poseidon e Hades antes de verificar as demais
mensagens.
— Sim? — falei quando Poseidon atendeu.
— Espere por Hades — avisou.
— Por que você não veio para cá? — perguntei ao meu irmão.
— Porque você mandou mensagem mais cedo dizendo que se
eu aparecesse ia me esfolar vivo — lembrou.
Servi um copo de suco enquanto ouvia e sorri ao me lembrar
da mensagem que mandei para ele mais cedo.
— Ainda estou puto com você — falei.
— Sei, sei, só não me odeie como Juliet te odeia — pediu
rindo.
— É bom que isso seja importante — Hades disse entrando na
chamada.
— Por quê? — questionei. — Encontrou a possível Sra. Hades
Andrews?
— Pirou? — ele perguntou me fazendo rir.
— Nosso irmão mais velho está encantado, Hades, dê um
desconto — Poseidon disse.
— Eu saio da cidade por uns dias e você começa a namorar
na minha ausência? — inquiriu.
— Não estou namorando — avisei.
— Então o que eu vi na sua casa? E onde você estava hoje?
— Não preciso te dizer o que você viu, já está bem
crescidinho. E eu estava em um jantar, vocês não precisam de mais
detalhes — respondi evasivo.
Meus irmãos ficaram calados e eu terminei o meu suco
aproveitando aquele silêncio. Peguei o celular e caminhei até o sofá
me deitando ali.
— Então Juliet e você estão saindo? — Hades perguntou.
— Estamos mantendo as coisas na calma — sussurrei
observando o corredor me lembrando claramente o que aconteceu
antes.
— Você gosta dela? — Hades me perguntou.
— Não estou olhando para o meu coração no momento, ele só
vai me confundir e complicar as coisas entre nós — confessei.
— Se você gosta dela, devia conversar a respeito, ser honesto
— Poseidon sugeriu.
— Claro, porque é muito simples entrar em um
relacionamento, vou fingir que não estou tendo essa conversa com
vocês dois — avisei.
— Você sabe que normalmente eu não concordo com ele, —
Hades disse — mas dessa vez, Poseidon pode estar certo. Vai
arriscar perder Juliet para outra pessoa? Se você disser que poderia
deixá-la comigo, eu juro por Deus que corto fora suas bolas.
— Não, eu não posso fazer isso. E eu aprendi a minha lição —
completei antes que os dois começassem a me enlouquecer.
— Aposto que esse relacionamento casual não dura nem um
mês e ele pede ela em namoro — Poseidon falou.
Hades gargalhou.
— Um mês? Eu acho que não dura nem duas semanas! — o
mais novo rebateu.
— Eu ainda estou aqui, seus idiotas arrogantes.
Nosso silêncio se tornou quieto, sem qualquer humor como
antes, até que Hades pigarreou fazendo-me olhar para o rosto dele
que aparecia na tela.
— Como estão lidando com a questão de Laura? — perguntou.
— Acho que finalmente entendi que o que houve com Laura foi
uma fatalidade, talvez uma parte de mim sempre se culpe pelo que
aconteceu, mas não dá para voltar e mudar as coisas. Percebi que
tenho mentido para mim mesmo há muito tempo — sussurrei as
palavras, ponderando sobre como terminar aqueles pensamentos
que vinham rondando a minha mente sempre que estava com Juliet.
— Mesmo que Laura estivesse viva, provavelmente nunca teríamos
ficado juntos. Eu tenho me agarrado à culpa nos últimos anos
porque era um jeito de tentar me proteger de outra grande
decepção.
Meus irmãos ficaram calados, como se cada um de nós
refletisse a respeito dos próprios fantasmas. Fechei os olhos por um
momento até que os abri mais uma vez.
— Laura sempre vai ser uma parte significativa do meu
passado com Juliet. Acho que estamos lidando melhor com isso —
comentei.
— Acho que vocês dois estão precisando se curar de tudo
isso, pelo que vi naquele dia que conversei com Juliet, o medo dela
de você espelhar a irmã nela tem sufocado ela — Hades disse. —
Entendo que Laura sempre fará parte do seu passado, mas vocês
precisam tentar focar no que tem agora e tentar deixar o passado
para trás.
— Sei o que quer dizer — admiti.
— Não estou dizendo para você ir contra todos os seus
bloqueios emocionais e pedir ela em casamento, não estou aqui
como o herdeiro desesperado prestes a perder a herança — Hades
sussurrou. — Se as coisas estão funcionando para vocês desse
jeito, vá no seu tempo. Só tenha cuidado para não perder essa
mulher.
— Nós te aturamos a vida inteira, sabemos como isso é uma
tarefa árdua. Se ela está se mostrando capaz de fazer isso, meu
irmão, agarre essa mulher com unhas e dentes — Poseidon falou
me fazendo rir.
— Você é o pior conselheiro do mundo — Hades avisou e
Poseidon gargalhou.
— Vai me dizer que esse engomadinho arrogante não é um pé
no saco? — questionou.
Parei de focar minha atenção no que os meus irmãos diziam e
pensei naquela noite, em tudo que Juliet fez, a forma como ela
parecia estar em conflito. Talvez nós já estivéssemos fodidos um
pelo outro no fim das contas e a ideia de proteger o coração fosse
apenas uma desculpa esfarrapada.
A verdade é que ver a tristeza no olhar de Juliet mexeu com o
meu coração, imaginar o fim daquele “lance” tinha sido uma das
piores coisas que cogitei recentemente. Mesmo se comparado a
maldita aposta do meu pai.
Capítulo 46
Zeus

Acordei na manhã seguinte com o celular despertando e uma


dor no pescoço insuportável por ter dormido no sofá, me levantei do
lugar desligando o alarme.
Tomei um banho e me vesti pensando no que tínhamos dito
um ao outro na noite anterior, ouvi batidas na porta e me aproximei
para abrir enquanto amarrava a gravata no meu pescoço.
— Bom dia — Juliet desejou com um sorriso. — Sua vizinha
apareceu para te pedir um café.
— Bom dia! — falei beijando o rosto dela. — Pode ficar à
vontade.
— Joana e eu ainda não decidimos como fazer as coisas, ela
não parece ser muito fã de cozinhar, e acabei não tendo tempo no
fim de semana de ir ao mercado — explicou enquanto caminhava
para a cozinha.
Observei a mulher que seguia pela minha casa usando uma
blusa social branca e uma saia preta justa, os saltos dela a
deixavam dez centímetros mais alta e o cabelo estava preso em um
rabo de cavalo. Estudei seus movimentos lembrando a mim mesmo
que tínhamos trabalhos a fazer e não podia despir aquelas roupas
naquele instante.
— Como foi a sua noite? — perguntei indo até a geladeira.
— Foi boa, Kate sempre tagarela o tempo todo, então eu
praticamente dormi a maior parte do tempo — falou me fazendo rir.
— Você quer comer? — inquiri e ela assentiu enquanto
soprava o café para beber.
— E a sua? — questionou.
— Poseidon e Hades me ligaram, acabei dormindo enquanto
eles faziam apostas às minhas custas — contei.
— Poseidon contou para Hades sobre nós?
— Ele é um intrometido, a essa altura até meu pai deve saber
sobre isso — avisei colocando fatias de bacon para fritar.
— Joana descobriu sobre nós quando você apareceu lá no
sábado, Kate e ela me enlouqueceram ontem falando sobre as
possibilidades do que acontecerá entre nós. Elas apostaram que eu
vou partir seu coração, estão convictas disso — falou e eu ri baixo.
Aquele era o cenário mais provável, cogitei mentalmente. Juliet
observou meu rosto em silêncio por um longo instante, antes de
dizer: — Eu estava com medo de me mudar para cá. Pensei que
estar tão perto de você seria a pior coisa do mundo.
— E agora? — perguntei, virando as fatias de carne sem olhar
para ela.
— Agora acho que foi uma das melhores decisões que tomei
nos últimos anos. Você está se tornando um amigo muito
importante, Zeus — sussurrou.
— Você também — admiti, me virando para beijar o rosto dela.
A boca de Juliet se uniu à minha em um beijo lento, a boca
dela explorava a minha com calma e nós interrompemos o beijo
quando me lembrei que o bacon queimava e ela estava com uma
caneca de café quente nas mãos.
Observamos um ao outro por um momento antes que eu
retornasse ao trabalho, quando o café da manhã improvisado ficou
pronto, Juliet e eu comemos falando sobre os nossos trabalhos.
Aquele clima agradável sem tantos pesos sobre minha mente durou
até que nós saímos do apartamento para irmos até os carros.
Os momentos juntos estavam tendo uma importância maior do
que eu gostaria de pensar que tinham. Juliet sorriu ao acenar para
mim antes de entrar no próprio carro. Ela ligou o veículo e saiu da
garagem primeiro.
Eu estava disposto a isso, me convencia mentalmente, se
podia fazê-la me odiar, podia suportar ter meu coração partido por
Juliet, quando ela percebesse que era boa demais para perder
tempo comigo.

Sem que eu me desse conta, duas semanas tinham se


passado, enquanto Juliet e eu dividimos quase todas as noites na
minha cama. A mulher estava sempre com aquele sorriso que
arrasava com o meu coração, em noites de tempestade, ela não
voltava para casa, apenas deitava comigo até o amanhecer.
Observei minha sala com a mente muito longe daquela
empresa, os papéis sobre a mesa estavam intocados e Poseidon
tentava chamar minha atenção, mas eu estava focado nas
memórias recentes.
— Zeus? — Meu irmão bateu com a pasta na mesa e eu
quase pulei da cadeira assustado.
— Quer me matar, seu inútil? — questionei.
— Você parecia distraído, tem algo errado? — ele perguntou.
— Juliet — sussurrei o nome.
— Vocês brigaram?
— Não. Está tudo bem — confessei.
— O que está errado? — Poseidon parecia confuso.
— Acho que não estou sendo sincero com ela, nem comigo —
admiti me encostando na cadeira e desviando os olhos do rosto do
meu irmão.
Poseidon largou o tablet em cima da mesa e eu o encarei outra
vez.
— O que você sente por ela? — questionou.
— Não sei.
— Então talvez esteja na hora de descobrir — sugeriu. —
Juliet é uma mulher incrível pelo que pude observar, se você a
perder, as chances de encontrar outra como ela são de uma em um
milhão.
— Nós dois estamos bem agora — lembrei. — Nosso
relacionamento sem nome tem funcionado bem. Podemos
conversar como amigos, sair juntos sem ficar com a pressão pelo
romantismo e o sexo é incrível.
— Sei que você está bem com o rumo dessa situação, mas ela
está? — questionou. — Nas poucas vezes que a vi nas últimas
semanas, pude perceber que ela gosta mesmo de você.
— Podemos voltar ao trabalho? — pedi.
— Você fala que nós não sabemos lidar com mulheres, mas
tem se olhado no espelho esses dias?
Ignorei a pergunta dele e observei os documentos que
vínhamos observando, as permissões para a construção de um
condomínio nos limites da cidade finalmente saíram. Então a
construção começaria em alguns dias, assinei os documentos que
precisava.
Passei o resto do dia imerso em trabalho, observando o rosto
de Poseidon tentando não pensar demais no que o meu irmão tinha
dito. Talvez a minha relação com Juliet não estivesse tão boa para a
mulher quanto estava para mim e se isso fosse real, em breve ela
romperia tudo comigo.
Quando finalmente terminei de repassar os documentos com
Poseidon, observei o rosto do meu irmão caçula.
— Onde você tem passado seu tempo livre? — questionei.
— Tenho bebido com Hades, dormido e praticado alguns
esportes — explicou. — Aliás, você devia experimentar.
— Eu herdei a boa genética da família — lembrei com um
sorriso debochado no rosto.
— É, eu sei disso. — Revirou os olhos. — Não muda o fato de
que fazer atividade física pode relaxar sua mente.
— Vou pensar no assunto. Quer ir à sala do presidente
atualizar tudo junto comigo? — perguntei.
— Não, obrigado, eu convivo com o nosso pai o suficiente em
casa, quanto menos vê-lo nesse lugar melhor. A última vez que
entrei na sala dele já foi traumática o suficiente para o resto da
minha vida — Poseidon falou se levantando e pegando o tablet que
tinha deixado na mesa.
— Para onde vai agora? — perguntei.
— Exercícios, Zeus — sussurrou com um sorriso cínico no
rosto.
O idiota estava mentindo para mim, percebi com um sorriso no
meu rosto, se eu pudesse, ia segui-lo para ver o que estava
aprontando, mas aquilo não parecia certo. Respirei fundo e peguei
tudo que precisaria para atualizar meu pai.
Quando o elevador abriu, eu me vi diante da última pessoa que
pensei que veria naquela empresa.
— O que você está fazendo aqui? — inquiri sentindo meu
corpo ficar rígido pela raiva.
— Calma, primo, só vim visitar meu tio e dar uma olhada na
nossa propriedade — as palavras fizeram minha mente se inquietar.
Entrei no elevador, dizendo a mim mesmo que não podia
estrangular aquele cretino metidinho ali.
Capítulo 47
Zeus

Entrei na sala do meu pai com Mike no encalço, meu primo


nunca ia a empresa, eu conseguia contar nos dedos de uma das
mãos a quantidade de vezes que ele pisou naquele lugar. O intuito
sempre era pedir dinheiro ou pedir que meu pai o tirasse de alguma
enrascada.
— Atualizações sobre as obras — avisei, erguendo o tablet.
— Boa tarde, tio! — Mike disse com um sorriso no rosto.
Me sentei em uma cadeira em frente a mesa e observei a cena
que se desenrolou: meu primo contornando a mesa para abraçar o
meu pai, o homem mais velho se levantando para retribuir ao
abraço.
— O que faz aqui, Mike? — perguntei interrompendo aquele
longo momento de questionamentos sobre Debbie.
— Só passei para dar um oi, vocês sempre falam que eu não
me interesso pela empresa — ele disse sorrindo.
Meu pai indicou o lugar ao meu lado e meu primo se sentou,
Mike sorriu para mim enquanto esperava que eu falasse.
— Pode falar, Zeus — o presidente instruiu.
Pigarreei, comecei a atualizar meu pai sobre as obras em
andamento e a licença que acabamos de conseguir. O homem
assentiu verificando os documentos no tablet que entreguei, quando
finalizei minhas atualizações, ele me estendeu o aparelho.
— Não vai ler os documentos com calma? — perguntei.
— Confio no seu trabalho, se Poseidon e você verificaram tudo
com calma, não preciso me preocupar com outras leituras — falou.
— Você deve ter ficado entediado com essa reunião, Mike,
posso sair para que fale com o meu pai o que veio falar — sugeri.
— Não, primo, como eu disse, passei só para dar um oi e ver a
empresa — comentou.
O sorriso de canto dele exibia claramente o que ele estava
realmente fazendo, meu pai não o chamaria ali para me dar uma
lição, mas podia aproveitar de uma visita inesperada do meu primo
para me dar uma lição.
— Me conte sobre sua vida, Mike, está namorando? — meu
pai perguntou.
— Sempre, tio — o cretino respondeu com outro sorriso que
expunha uns cinquenta e quatro dentes.
— Acho que ele está perguntando sobre namoros sérios, com
mulheres que não são caçadoras de fortuna — sussurrei.
— E você, Zeus, como está a sua vida amorosa? — Mike
perguntou.
— Não poderia estar melhor — respondi, apoiando o queixo
com a mão e o cotovelo na mesa.
— Quando posso conhecer sua namorada, Zeus? — meu pai
perguntou.
— Vou falar com ela a respeito — menti.
— Bom, eu tenho que ir, tenho uma sessão de fotos daqui a
pouco — Mike falou.
— Também vou, tenho que jantar com a minha namorada —
eu disse.
Mike e eu saímos da sala do meu pai em silêncio e quando
chegamos às portas do elevador meu primo exalou uma risada.
— Algo engraçado? — questionei.
— A tentativa dos três de impedir que eu herde essa empresa
vai ser frustrada em pouco tempo — ele sussurrou.
Observei seu rosto, o sorriso de Mike se alargou quando
entrou no elevador e eu o segui pressionando o botão para o
décimo andar.
— Mike, nós temos grande capacidade de nos moldar a novas
realidades — avisei. — Eu não ficaria tão empolgado para herdar a
empresa.
— Zeus, você deixou sua antiga namorada morrer, não acho
que esse tipo de merda seja fácil de desfazer. Não se preocupe,
posso te dar um emprego — falou e eu soltei o tablet que vinha
carregando.
O aparelho caiu no chão e antes que meu primo se movesse,
prendi-o pelo pescoço contra a parede.
— Mike, não teste a minha paciência — pedi.
— Enlouqueceu? — questionou, tentando se livrar do meu
antebraço que estava no pescoço dele.
— Não, mas estou quase. Não chegue na nossa empresa
agindo como se você tivesse alguma importância aqui — avisei.
Soltei o homem antes que as portas do elevador se abrissem,
peguei o tablet do chão e afrouxei a gravata ao caminhar para
minha sala.
Se eu deixasse Mike me tirar do sério, ele venceria. Meu primo
inútil venceria se me deixasse irritado, disse a mim mesmo.

Dirigi para casa ouvindo uma música baixa. Quando estacionei


no prédio, reparei que o carro de Juliet não estava na garagem,
desci do meu veículo e peguei as compras no banco do carona,
caminhei para o elevador.
Segurei o celular com uma das mãos, equilibrando o aparelho
para ver se tinha notícias dela. A mulher tinha me mandado uma
mensagem há alguns minutos.
“Minha chefe me prendeu com uma papelada, vou me atrasar
um pouco.”
“Tudo bem, vou preparar o jantar.” — Respondi.
Entrei no elevador e pressionei o botão vendo as mensagens
de Hades e Poseidon no nosso grupo. De algum modo os dois
souberam que tive um desentendimento com Mike no elevador, me
lembrei das câmeras naquele lugar e fechei os olhos pensando em
como responder os meus irmãos mais novos.
“Não ameacei a vida de Mike, só conversei com ele.”
“Claro, porque você é uma pessoa perfeitamente equilibrada.
Qual foi mesmo o motivo de você ser expulso do karatê?” —
Poseidon respondeu.
“Ele quebrou o meu braço.” — Hades lembrou.
“Foi um acidente.” — Enviei para os dois e travei o celular
colocando o aparelho no bolso.
Quando entrei no meu apartamento vi Juliet na cozinha e
minha expressão se abriu em um sorriso. A mulher usava um short
que ia até o meio das coxas e uma blusa larga.
— Achei que estava presa com a papelada — comentei
fechando a porta atrás de mim.
— Eu menti — ela retrucou erguendo uma colher coberta de
molho.
— A chave de emergência tinha o intuito de você fugir da sua
casa, quando sua colega estivesse transando com algum
desconhecido — lembrei colocando as compras no balcão.
— Foi uma emergência — ela rebateu e eu me aproximei da
mulher provando o molho que ela fazia. — Está bom?
Assenti segurando a cintura dela.
— Qual a emergência? — perguntei.
— Você sempre cozinha para mim, era urgente que eu
cozinhasse algo para você — falou me fazendo rir.
Beijei o pescoço exposto dela e Juliet exalou pesadamente. A
mulher desligou o fogo e se virou, abandonando a colher na panela.
— O que você pretende fazer hoje, Zeus? — inquiriu.
— Tenho algumas coisas em mente — respondi aproximando
meu rosto do dela.
Juliet envolveu meu pescoço com os braços e sorriu, esperei
pelo humor sarcástico daquela mulher.
— Espero que uma dessas coisas seja jantar, porque eu estou
faminta — avisou.
Gargalhei alto arrancando uma risada dela.
— Posso jantar antes.
— Está quase pronto aqui — ela falou voltando a se virar para
as panelas.
— Eu vou tomar um banho e já volto.
Me virei para caminhar em direção ao quarto e tentei focar na
noite que me esperava com Juliet, ao invés de pensar que o meu
primo estava se sentindo proprietário da empresa pela qual dediquei
minha vida.
Capítulo 48
Zeus

Quando retornei a sala depois do banho, estava usando


apenas uma calça de moletom, Juliet me observou de cima a baixo
e sorriu.
— Sempre sutil — comentou.
— Você tirou de mim essa capacidade há muito tempo —
revidei.
Nós nos sentamos à mesa e jantamos enquanto Juliet falava
sobre o trabalho dela. Eu sempre me divertia com suas histórias e
aquilo pareceu tirar um pouco do peso das minhas costas.
— Aconteceu algo com você hoje? — perguntou brincando
com a comida que ainda restava em seu prato.
— Por que acha que algo aconteceu? — retruquei.
— Você está estranho, parece distante hoje — explicou.
Respirei fundo deixando o prato vazio de lado e observei o
rosto dela.
— Meu primo foi a empresa hoje — contei. — É um babaca
mimado que só aparece quando precisa que meu pai o tire de uma
enrascada.
— Mike Andrews — Juliet disse o nome e eu assenti. — Kate
tinha uma coleção de fotos indecentes do seu primo antes de
começar a namorar.
Sorri sem me surpreender com aquelas palavras e segurei a
mão de Juliet deslizando meus dedos pelas marcas das articulações
dela.
— Ele está em cima da empresa como um abutre nos últimos
tempos — expliquei.
— E isso incomoda você? — ela perguntou.
— Meu pai ainda não decidiu para quem vai ficar a herança —
contei. — Mike é um dos possíveis herdeiros.
— Eu sinto muito — comentou. — Ele vai incluir seu primo,
mesmo quando têm três filhos?
Confirmei com um aceno de cabeça e a mulher me estudou
com calma.
— Não parece muito justo — sussurrou.
— E não é, mas eu não quero falar sobre isso — admiti.
Juliet envolveu minha mão com a dela, me puxou consigo para
o sofá, eu me sentei e a mulher se sentou no meu colo observando
o ambiente.
— Você está praticamente se tornando parte desse lugar —
comentei e Juliet sorriu.
— Acho que tenho passado mais tempo aqui do que na minha
casa — falou observando meu rosto.
Os dedos de Juliet traçaram o contorno da tatuagem de raio
sobre o meu peito e os olhos dela perderam um pouco a diversão de
antes.
— Acha que ela ficaria feliz por estarmos nesse lance? —
questionou.
— Eu não sei, nas últimas semanas, venho questionando o
quanto realmente conhecia ela — respondi. — Quero te mostrar
uma coisa.
Juliet se levantou do meu colo e me acompanhou pela casa
até o meu quarto, abri o closet espaçoso e peguei a caixa de
madeira que estava ali no fundo.
— Eu mantenho isso escondido porque se Hades ver vai
querer roubar o conteúdo — expliquei voltando para o quarto e me
sentando na cama.
A mulher me acompanhou e se sentou no colchão estudando a
caixa que eu trazia comigo. Abri a tampa e tirei as fotos que
estavam em cima, junto com o CD que eu tinha conseguido com as
músicas de Laura. Embaixo de tudo estavam os desenhos e
pinturas que Laura tinha me dado quando éramos adolescentes.
Tirei-os da caixa e os estendi para Juliet. A mulher os pegou
com receio e folheou. Havia várias paisagens do céu em
tempestade, que Laura tinha me dito que me representava já que eu
era o “deus do céu”, havia desenhos do céu noturno, e em vários
momentos do dia, desde o alvorecer ao crepúsculo. Havia até
mesmo um desenho do meu rosto com uma coroa na cabeça e raios
nos olhos.
— Eu sempre adorei os seus desenhos, era a coisa que eu
mais elogiava Laura, o talento para desenhar — confessei. — Eles
pareciam ter paixão de verdade, inclusive falei para ela investir na
arte se a música não desse certo.
Juliet ergueu o rosto dos desenhos com lágrimas nos olhos,
meu coração acelerou ao ver aquela mulher demonstrando aquela
emoção.
— Eu não sei o que amei nela, não sei o que era verdade e o
que foi invenção, não tenho mais certeza de coisa alguma a respeito
dela, mas não faz diferença para mim agora. Se eu não insistisse,
ela não teria saído do carro, mas se nós tivéssemos demorado
alguns minutos no restaurante, ou existem tantas possibilidades de
nada daquilo ter acontecido — comentei. — Tenho consciência da
minha parte nisso, porém não me culpo como antes, sei que coisas
acontecem e estão além do nosso controle. Sei disso porque tentei
afastar você da minha vida muitas vezes. Tentei tanto que fiquei
exausto por lutar contra essa corrente, mas aqui estamos.
— Há coisas que não controlamos — ela concordou.
— Naquela época, eu era apaixonado pelo seu talento, me
encantava ver sua dedicação nesses desenhos, hoje sei que eram
seus trabalhos. Nunca vi Laura com um lápis e papel na mão, então
é até ilógico que eu tenha acreditado nisso, mas me lembro de
sempre ver você sentada com um caderno na mão. Mesmo que
nunca estivesse perto o suficiente para eu ver.
— E mesmo quando estava perto, você só tinha olhos para ela
— Juliet comentou e eu exalei um riso baixo.
— Sim, sou culpado — rebati e ela sorriu.
Limpei as lágrimas do rosto dela e a mulher continuou me
olhando esperando que eu falasse. Quando não disse mais, Juliet
suspirou.
— Laura era boa em fazer amigos, ela era boa em muitas
coisas que eu não tinha ideia de como ser. Eu tentava grudar nela,
para aprender a ser como ela. Queria cair nas graças da minha
irmã, por isso, fazia os desenhos que ela pedia — confessou.
— Eu gostava de receber os desenhos — contei.
— Eu sei, ver a forma como você falava sobre eles, me fazia
continuar. Naquela época eu tinha uma paixãozinha por você —
confessou.
Puxei o rosto da mulher para beijá-lo e Juliet observou os
desenhos enquanto mantinha o corpo recostado ao meu.
— Obrigada por me mostrar isso — sussurrou.
— Você ainda desenha? — perguntei curioso para ver como os
traços poderiam ter evoluído.
— Não, parei com isso na época da faculdade. Depois estava
com Mark, ele era artista e eu tinha medo de mostrar meus
desenhos e não parecerem bons aos olhos de alguém profissional
— explicou.
— Hades roubou alguns quando éramos adolescentes —
confessei.
— A fênix e a sereia — Juliet disse e eu assenti.
— Ele os guarda até hoje, estão em quadros no quarto dele —
contei e Juliet voltou a sorrir.
Segurei o rosto de Juliet e a beijei, a mulher interrompeu o
beijo para colocar os desenhos na caixa e eu joguei as outras coisas
lá dentro, deixando a caixa no chão. Puxei a blusa dela para cima e
Juliet sorriu quando aproximei o rosto para beijar o pescoço dela.
Meus dedos foram até o fecho do sutiã dela e quando o abri, a
mulher em meus braços suspirou. Inclinei meu corpo sobre o dela,
me encaixando entre suas pernas, Juliet olhou nos meus olhos,
envolvendo meu pescoço com uma das mãos, minha boca desceu
sobre a dela e sua língua percorreu minha boca.
Eu sentia o meu pau latejando na calça, desesperado para
estar dentro dela. Afastei meus lábios dos dela, provando cada
pedaço de pele até seus seios. As pernas de Juliet me apertaram,
tentando conseguir atrito, roçando o corpo contra o meu.
— Ansiosa — critiquei e ela sorriu.
Minha boca devorou um dos seios dela, enquanto eu segurava
o outro com a mão, massageando o seio, meus dedos pressionaram
o mamilo esquerdo e a mulher arqueou mais o corpo em direção ao
meu.
Afastei a boca do seio direito e fui para o esquerdo, sentindo
aquele latejar do meu pau se espalhando por cada parte do meu
corpo, como se o desejo que se acumulava estivesse grande
demais para ficar preso a uma parte de mim.
Mordisquei o mamilo ouvindo Juliet me xingar e sorri ao afastar
a boca dali.
— Você está destruindo cada gota de sanidade que me resta
— avisou.
— Isso é muito bom, porque você ocupa meus pensamentos
vinte e quatro horas por dia. Quando não estou com você, estou
pensando em você e até nos meus sonhos você aparece —
sussurrei.
Minhas mãos deslizaram pelo corpo dela, sentindo a pele lisa e
quente nos meus dedos. Juliet era sempre tão mandona e cheia de
ideias que às vezes eu me esquecia o quanto ela era pequena. As
palmas das minhas mãos seguravam o corpo dela do quadril às
costelas.
— O que você tem sonhado comigo, Zeus? — perguntou
maliciosa.
— Quer que eu te mostre? — inquiri estudando o rosto dela.
— Quero — desafiou e um dos cantos da minha boca se
ergueu.
Abri o short que ela estava usando e puxei-o para baixo, a
calcinha dela foi junto com a roupa e Juliet se moveu para tirar a
minha calça. A segurei pelo pulso impedindo-a de tirar a minha
roupa.
— Não se mexa — pedi.
— O que você pretende fazer? — inquiriu.
Os lábios dela estavam entreabertos e eu observava o seu
peito subir e descer, os seios estavam rígidos, as pernas dela
estavam de cada lado do meu corpo.
— Realizar o meu sonho — sussurrei. — O sonho que você
tem atormentado nas minhas noites.
— Zeus — ofegou meu nome e eu mantive os braços dela
imóveis ao lado do corpo.
Capítulo 49
Juliet

Não estar no controle era enlouquecedor, percebi quando os


olhos de Zeus me estudaram com uma calma que me deixava
louca. Cada parte do meu corpo parecia ressoar o nome dele, como
se eu estivesse refém do desejo que ardia no meu interior.
Acabei prendendo meus braços embaixo de mim e encarando
os olhos dele. Zeus voltou a curvar o corpo sobre o meu, tocando
minha barriga com os lábios quentes, era difícil não mover as mãos
para tocar nele, difícil sentir seu toque sem me deixar instigar para
tocá-lo.
O babaca ainda estava usando aquela calça de moletom e
sem usar minhas mãos, não me restavam muitas opções quando
ele segurou minhas pernas, enterrando os dedos nas minhas coxas.
— Está me castigando por sempre assumir o controle? —
perguntei.
Ele riu contra a minha pele e minha boceta latejou, Zeus
estava tão perto, mas mantinha aquela boca astuta no pé da minha
barriga.
— O que você acha? — inquiriu deslizando a língua pela
minha pele lentamente.
— Acho que você é um babaca arrogante que precisa sofrer —
avisei sem fôlego e ele riu.
— Quanto carinho, minha linda — sussurrou.
— Zeus, eu sou sempre gentil com você — falei e ele riu
afastando a boca do meu corpo. — Tudo bem, não sou sempre
gentil.
— Você não é gentil comigo. É uma sádica que adora me
torturar — acusou.
— E o que você está fazendo agora? — retruquei ofegante
quando o babaca me mordeu.
— Estou te dando o troco — sussurrou.
Aquela boca desceu sobre minha boceta com ansiedade, Zeus
me atacou com aquela língua ágil e aqueles lábios quentes,
arrancando a minha sanidade e me fazendo ofegar. Meu corpo se
contorcia a cada toque dele.
Ele soltou minha perna esquerda, mas a prendeu entre o braço
e o corpo enquanto seus dedos deslizavam pela minha umidade,
meu coração saltava no peito e eu ofegava desejando agarrar o
cabelo dele, ou fazer qualquer coisa além de continuar imóvel ali.
Zeus enterrou os dedos no meu interior, me fazendo sufocar
um palavrão. Aquela respiração ofegante tocando a minha pele
estava me deixando completamente focada nele, no quanto o
homem parecia ofegante.
Soltei o ar que vinha segurando em um grito baixo, Zeus
continuou me incentivando até que me contorci, sentindo os
músculos do meu interior se apertando, então os dedos saíram de
dentro de mim e ele se afastou.
Observei o rosto do homem demonstrando minha decepção e
Zeus sorriu.
— Se esse era todo o seu sonho, ele não é tão divertido
quanto você fez parecer — avisei e o homem pareceu ainda mais
divertido.
— Não acabamos por aqui — lembrou.
Ele retirou a calça que usava, deixando que eu encarasse o
pau duro que parecia latejar dolorosamente. Me sentei na cama,
pronta para segurá-lo e o homem negou com a cabeça.
— Eu estou no controle hoje, Juliet — sussurrou me fazendo
engolir a saliva que se acumulou na minha boca.
Zeus enterrou os dedos no meu cabelo e guiou minha cabeça
até o seu membro, minha boca deslizou por ele, engolindo boa parte
e o homem ofegou. Ele segurou meu cabelo com firmeza, guiando
minha cabeça com movimentos lentos, nada parecidos com a
urgência que eu usava sempre que o chupava.
Me deixei guiar por ele, deslizando minha língua naqueles
movimentos lentos, os sons que escapavam da boca de Zeus
faziam meu coração acelerar, cada estocada era enlouquecedora,
meu corpo estremecia com a necessidade de montar nele.
— Porra… — Zeus sussurrou e senti o corpo dele estremecer,
o pau ficou mais rígido na minha boca e me afastei.
Nossos olhos se encontraram, minhas mãos ainda estavam
longe do corpo dele, Zeus mantinha o punho fechado ao redor do
meu cabelo e o corpo estremecia. Esbocei um sorriso.
— Isso deve doer — comentei.
— Gentileza é o caralho — comentou me fazendo segurar o
pescoço dele com as mãos e mover minha boca para a sua.
As mãos de Zeus pareciam em chamas quando tocou a minha
pele, cada parte do meu corpo arrepiou com aquele toque, o homem
me segurou pelo quadril e desceu da cama, me apoiei em seus
ombros enquanto ele me erguia do chão me encaixando no seu
corpo.
Exalei um gemido ofegante quando o senti mergulhar
lentamente para o meu corpo, Zeus me carregou até a mesa de
trabalho no quarto, derrubando as coisas que estavam em cima dela
e empurrando a cadeira para longe.
Meu corpo ardeu quando segurei a borda da mesa e senti a
mão dele segurando as minhas costas. Zeus aumentou suas
investidas, atacando o meu interior com uma necessidade urgente.
Prendi minhas pernas ao redor dele e enterrei minhas unhas
em suas costas. O homem grunhiu com a pele sendo ferida. Meu
coração acelerava mais no peito, puxei o rosto dele beijando-o na
tentativa de conter os gritos que ameaçavam subir pela minha
garganta.
Cada vez que Zeus deslizava para fora do meu corpo era
como uma tortura lenta, que ameaçava tirar qualquer resquicio de
sanidade em minha mente, a cada vez que ele mergulhava para
dentro outra vez, com mais força e velocidade, me deixava
completamente presa aquela necessidade de atingir o orgasmo, de
sentir o poder que ele tinha sobre o meu corpo.
— Zeus — sussurrei o nome quando senti meu interior se
contorcendo.
— Não vou te torturar — avisou com a voz rouca.
Zeus mordeu meu ombro arrancando um grito surpreso de
mim e eu me derramei em um orgasmo que pareceu durar tempo
suficiente para me deixar sem fôlego. O homem segurou minhas
pernas mantendo-as firme em seu corpo enquanto ele continuava
suas investidas.
Quando Zeus gozou, soltando um gemido alto, ele enterrou o
rosto no meu pescoço, segurando aquele momento de prazer por
quanto tempo fosse possível.
Cada toque meu na pele dele, fazia seu corpo estremecer,
Zeus afastou o rosto do meu pescoço e moveu-o até conseguir
beijar minha boca, de forma lenta. Meu coração estava preso
naquele momento de prazer, aquela calmaria que tínhamos atingido
naquele instante.
Zeus me carregou ainda presa ao corpo dele de volta para a
cama, o homem se deitou me deixando sobre o seu corpo. Aquela
parte de mim que dizia para manter distância daquele homem,
parecia ter desaparecido completamente.
Minha língua tocava a dele, misturando nossos sabores e
deixando meu corpo aquecido. Zeus deslizava as mãos pela minha
pele úmida pelo suor, meu coração acelerava no peito. Como se o
órgão estúpido batesse em sincronia com aquele toque.
Repousei minha mão no peito dele, sentindo o coração que
pulsava ali, tão rápido quanto o meu. O homem segurou meu rosto e
interrompeu o beijo.
— Você tem se tornado alguém que não consigo me imaginar
perdendo — admiti.
— Juliet…
— Eu sei que você não quer um relacionamento — falei
apressada, antes que ele dissesse algo, deslizei meus dedos pelo
rosto dele, marcando cada traço, se eu quisesse, conseguiria
desenhar Zeus sem precisar observá-lo. — Só estou sendo honesta,
se fosse arriscar um relacionamento, seria com você. Porque como
você disse, estamos dominando a mente um do outro e meus
sonhos são invadidos por sua imagem sempre que fecho os olhos.
— Juliet — sussurrou e meus olhos se voltaram para os dele.
— Também não consigo me imaginar sem você. Não posso
prometer muito, mas quero namorar com você, quero fazer gestos
românticos e ser o seu Romeu se você aceitar ser minha Hera.
Esbocei um sorriso sem acreditar completamente no que
estava ouvindo, Zeus se sentou comigo ainda presa ao seu corpo,
com cada parte do meu corpo se aquecendo outra vez.
— Você aceita ser minha namorada? — perguntou. — Mesmo
que eu não saiba se isso vai durar uma vida, ou se durará apenas
alguns meses ou anos, ainda quero arriscar meu coração por você.
Estou disposto a deixar que parta o meu coração, porque prefiro
sofrer a ver algum idiota ferindo você.
— Claro que eu aceito ser sua namorada — sussurrei,
beijando-o outra vez.
Capítulo 50
Juliet

Enquanto dirigia para o trabalho, eu me perguntava como falar


com Kate sobre a minha situação com Zeus, minha amiga vinha me
dizendo que aquela situação estava com cara de que estávamos
caminhando para um precipício. Desde que Zeus e eu começamos
a nos envolver, Kate tinha dito para satisfazer os desejos e fugir
antes que as coisas dessem mortalmente errado.
Quando entrei na empresa, me vi diante de uma pilha de
documentos que me obrigaria a rodar a cidade inteira.
Então antes de sair, caminhei até a mesa de Kate e bati na
madeira, minha amiga ergueu os olhos para mim.
— Eu estou namorando com Zeus — contei em um sussurro e
acenei para ela caminhando para o elevador.
— Juliet! Juliet Jordan, me explique como isso aconteceu? —
ela pediu correndo atrás de mim depois de perder dez segundos
imóvel paralisada pelo choque.
— Estou atrasada — avisei mostrando as pastas. — Podemos
sair mais tarde?
— Noite das meninas? — perguntou empolgada.
— Não temos nada assim desde que você começou a namorar
— lembrei.
— Vou comprar um vestido novo na hora do almoço — ela
comentou.
— Ótimo, compre um vestido novo e nos arranje bebidas de
graça, agora eu tenho que correr — enfatizei.
Corri para o elevador e segui para o estacionamento. Passei o
dia percorrendo a cidade de carro resolvendo cada problema que
Emília me deu para resolver. Sentei numa cadeira dentro de uma
lanchonete na hora do almoço e peguei o celular. Mordisquei
algumas batatas fritas enquanto lia as mensagens de Zeus: “Você e
eu precisamos resolver umas coisas sobre nossas ações ontem à
noite.”
“Estamos namorando há menos de um dia e eu já não sei
como localizar você.”
“Não há nada que você tenha que resolver para sua chefe na
Olympus? Tenho alguns sonhos que gostaria de realizar.”
“Você vai ter que atrasar o seu sonho por um tempo. Corri a
manhã toda. E mais tarde vou ter uma noite de meninas.” —
respondi.
“Noite de meninas?” — a resposta dele chegou enquanto eu
tirava o sanduíche da embalagem de papel.
“Sim, nós vamos beber, conversar e eu vou tentar esquecer
que trabalho para uma versão feminina do diabo.”
“Vamos adiar meus sonhos, você está almoçando?”
Enviei uma confirmação e nós nos despedimos, mordi o
sanduíche e ouvi risadas alegres por perto, observei a mesa ao lado
e vi duas garotas lindas, adolescentes, elas riam enquanto trocavam
segredos sobre alguns garotos que estavam algumas mesas para
longe, eles usavam casacos de times esportivos.
Mordi o sanduíche que não parecia muito saboroso naquele
instante, minha mente me levou de volta a momentos com Laura,
me perguntei pela milésima vez se minha irmã estaria feliz por Zeus
e eu estarmos juntos.
Tinha aceitado a ideia de que ela e Zeus não eram um casal,
aceitei a ideia de que eu mal a conhecia e também percebi que
Zeus não foi responsável pela morte dela, de algum modo, Laura
tinha sido o ponto de virada do meu relacionamento com Zeus. Se
eles não tivessem sido amigos, seríamos estranhos.
Não haveria razões para Zeus Andrews me olhar.
Engoli a comida na boca me fazendo desanuviar minha mente
daqueles pensamentos. Afinal, minha irmã mais velha era uma
pessoa que eu não compreenderia jamais. Terminei o sanduíche e
comi o que ainda restava das batatas.
Devolvi a bandeja e caminhei para fora do lugar, entrei no
carro e antes de ligar o motor, recebi uma ligação.
— Como estão as reuniões? — Emília perguntou.
— Já passei em sete dos dez escritórios — avisei.
— Muito bem, parece que você vai poder sair mais cedo hoje.
Bom trabalho, Juliet — ela disse.
Antes que eu agradecesse pelo elogio, minha chefe desligou o
telefone. Liguei o carro e quando saí da vaga, meu celular tocou
outra vez, atendi a chamada no viva-voz.
— Oi, Joana — sussurrei.
— Sua amiga Kate me mandou mensagem, ela me chamou
para uma noite de meninas — explicou.
— Não é nada demais, só vamos beber um pouco e conversar
— avisei.
— Não vou atrapalhar vocês se aparecer? — questionou.
— Imagina, Kate adorou você — falei. — Eu tenho que correr
agora, Joana, vou chegar em casa mais cedo, podemos ir juntas
para o bar.
— Tudo bem, espero que eu não acabe deixando todo mundo
deprimido. Patrick e eu terminamos — contou.
— Lamento muito por isso, Ana, mas você vai superar.
Nos despedimos e eu dirigi para o próximo cliente de Emília,
pelo endereço na pasta, soube que seria uma reunião mais longa
que as outras. Já passava um pouco das duas, então imaginei que
não ia sair tão cedo do trabalho quanto Emília fez parecer.
Estacionei no empório de vestidos de Jack Donovan, um
estilista que tinha um problema jurídico de ordem de restrição, ele
pediu mais algumas ordens de restrição contra ex-ficantes.
Desliguei o motor, me observei no espelho, joguei o cabelo
para as costas e respirei fundo para tentar acalmar meus nervos,
peguei a pasta do homem e desci do veículo segurando a pasta nas
mãos. Travei o carro quando segui pelo estacionamento com os
saltos batendo com força no piso.
— Boa tarde! — cumprimentei o segurança com um sorriso. —
Eu me chamo Juliet Jordan da Turner and Jared, estou aqui para
uma reunião com o Jack.
— Só um minuto que vou confirmar — pediu.
Ele repetiu as informações para um rádio e me estudou
enquanto esperava a resposta, quando me liberaram, ele abriu a
porta de vidro para que eu passasse.
Caminhei pelo interior da loja de três andares observando os
detalhes do lugar. Jack era um estilista famoso, então a decoração
estava sempre mudando, flores da temporada sempre frescas em
cima de cada superfície, poltronas confortáveis e vestiários.
Havia roupas espalhadas por todos os lugares, roupas que eu
me perguntava onde alguém as usaria.
Uma atendente usando um vestido azul justo se aproximou de
mim sorrindo, quando expliquei o motivo da minha visita ela me
guiou para o andar onde a equipe de Jack desenhava aquelas
roupas.
Assim que coloquei os pés no último andar, ouvi os gritos de
Jack, ele repreendia um funcionário. Sempre que Emília me fazia ter
pesadelos, eu visitava Jack e percebia que minha chefe podia ser
um anjo.
— Jack, uma funcionária de Emília Turner está aqui — a
mulher ao meu lado disse ao abrir uma porta.
Ouvi passos em direção a porta e vi um homem vestido com
roupas finas, o sorriso dele era tão branco que me deixava nervosa,
esbocei um sorriso e estendi a mão.
— Juliet Jordan, meu colírio para os olhos neste dia caótico —
ele sussurrou segurando minha mão e a levando aos lábios.
— Sr. Donovan, é sempre um prazer — comentei.
— Por favor, me chame de Jack — pediu. — Só um minuto,
que eu vou me livrar de alguns incompetentes para termos um lugar
tranquilo para conversar.
Ele se virou de volta para a sala e disse: — Fora, retornem
quando tiverem ideias dignas do meu nome — ordenou.
Ele observou a atendente que ainda estava ao meu lado e
falou: — Paty, querida, está recebendo bem o bastante para perder
seu tempo e ficar sem comissão?
— Desculpe, senhor, já estou indo — ela correu pelo corredor
se equilibrando nos saltos tão bem que me surpreendi.
— Entre, Juliet.
Me sentei em uma cadeira colorida que estava em frente a
uma mesa de vidro. A sala de Jack era decorada com quadros
enormes dele ao lado de modelos que usavam suas roupas,
recortes de jornais com matérias a seu respeito e desenhos de
roupas extravagantes.
— A que devo o prazer? Adoraria que dissesse que finalmente
vai usar uma das minhas roupas em uma campanha — comentou.
— É lisonjeiro, Jack, mas não sou modelo — lembrei como em
todas as vezes que ele me fazia o convite. — Estou aqui porque
conseguimos suas ordens de restrição, vou listar as regras para
você…
— Não precisamos disso, Juliet. Eu conheço as regras e por
mais que adore ouvir sua voz, prefiro ouvir você falando de coisas
relevantes.
Engoli a réplica de que falar sobre as restrições era relevante e
na verdade o único motivo que me levava até ali.
— Aceita jantar comigo? — perguntou.
— Desculpe, Jack, mas eu tenho planos para a noite.
— Mas eu soube que você terminou com o seu namorado —
sussurrou.
— Como soube disso? — questionei nervosa.
— Redes sociais, amor, você apagou todas as fotos com o seu
namoradinho de lá — comentou.
— Tenho planos para a noite — contei.
— JJ, se eu não soubesse que você é uma mulher muito
empenhada, diria que está me dando desculpas. Sempre que te
convido para algo, você diz que está ocupada — avisou. — Ao
menos tome um café comigo, aqui mesmo.
Estava prestes a recusar quando Jack pegou o telefone e falou
com alguém pedindo o café. Não pude dizer para ele que odiava ser
chamada de JJ, Emília me mataria se eu ferrasse o trabalho dela
com Jack, então eu apenas respirei fundo e cruzei as pernas.
— Como está sua vida agora? Já tem alguém ocupando a sua
cama? — questionou e eu sorri.
— Na verdade, tem sim — avisei.
— Droga, parece que estou sempre atrasado quando se trata
de você… — ele se interrompeu ao pegar o celular do bolso. — Só
um minuto.
Jack se levantou e caminhou para janela.
— Oi, amor — falou.
Sorri ao ouvir aquilo, o canalha flerta com qualquer mulher pelo
visto. Quando uma atendente usando uniforme entrou na sala
servindo duas xícaras de café, eu agradeci e ela saiu.
— Onde estávamos? — o estilista questionou quando se
sentou.
— Eu estava dizendo que preciso ir — sussurrei antes de levar
a xícara aos lábios. — Ainda tenho mais duas reuniões hoje.
— Isso é uma pena, se você quiser repensar sua ideia de não
ser modelo, por favor, me avise, eu tenho uma coleção de lingeries
em breve e adoraria ver você nelas.
— Por favor, me avise quando saírem, comprarei uma de cada
modelo para me divertir com o meu namorado — sussurrei e Jack
sorriu.
Me levantei da cadeira e ele também o fez, o homem beijou
minhas bochechas e eu saí de lá antes que precisasse lidar com
mais um elogio nada bem-vindo no momento, segui para o carro
ansiosa para acabar aquelas reuniões.
Capítulo 51
Juliet

Ao fim da última reunião, liguei para Emília confirmando que


tinha feito a entrega de todos os documentos pessoalmente e lidado
com os parceiros de negócios de forma amigável. Me despedi da
minha chefe e dirigi para casa.
Eu sabia que Zeus não estava em casa naquele horário, por
isso, segui direto para o apartamento que dividia com Joana, a
mulher pareceu empolgada quando me viu. Ela vestia um mini-
vestido provocante em um tom de vermelho-vinho.
— Caramba, você e Kate são muito parecidas — avisei.
— Você gostou? — perguntou e eu assenti. — Só preciso de
um banho e me vestir para irmos.
— Tudo bem — respondi.
Segui pelo apartamento até o meu banheiro, depois de um
banho, eu me vi vasculhando o armário procurando que roupa
usaria, acabei pegando um vestido curto, mas resolvi colocar uma
calça legging por baixo e calcei botas com saltos confortáveis.
Me livrei do coque que vinha usando e arrumei o cabelo como
consegui, peguei o casaco e fui até a sala. Joana me olhou de cima
a baixo e levou a mão até a testa.
— Sério, Juliet? Vai mesmo se vestir desse jeito para ir a uma
boate? — questionou.
— Nós vamos a um bar — falei.
— Não, um amigo me mandou convites VIP para uma boate
que inaugurou agora pouco e Kate ficou empolgada em ir para lá.
— Está bem! — sussurrei voltando para o quarto.
Tirei as calças e aquelas botas, calcei um par de saltos que
destruiriam os meus pés e voltei para a sala.
— Agora está perfeito — Joana disse e eu revirei os olhos.
— Podemos ir? — questionei e ela enlaçou o braço ao meu,
prometendo que a noite seria incrível.
Quando saímos do apartamento, avistei Zeus na porta do
apartamento dele, Joana bateu à nossa porta com força e eu a
observei, mas a mulher estava trancando o lugar. Zeus sorriu me
olhando de cima a baixo e eu caminhei até ele contendo o meu
sorriso.
— Como foi o seu dia? — perguntei.
— Longo e a noite promete ser tão longa quanto — avisou. —
Poseidon e Hades estão vindo para cá.
Joana passou por nós indo até o elevador e ela apertou o
botão ao lado das portas de metal.
— Você está tão linda que me sinto tentado a sequestrar você
— Zeus disse me fazendo rir.
— Talvez eu passe por aqui quando voltar para te dar um oi —
sugeri e ele sorriu.
— Eu vou adorar isso.
— E se seus irmãos estiverem aqui? — perguntei.
— Jogo os dois da varanda — sussurrou segurando o meu
rosto.
Zeus beijou os meus lábios e se afastou rápido demais.
— Divirta-se — falou e eu assenti.
Me afastei de Zeus e corri para o elevador que Joana segurava
as portas, vesti o casaco, cobrindo o vestido preto curto.
— Se alguém me contasse, eu não acreditaria — ela disse. —
Estou vendo e ainda não acredito completamente.
— Do que está falando? — inquiri.
— Você sabe qual o apelido deles nos sites de fofoca? — ela
me perguntou e eu fiz que não. — Irmãos glaciais. Dizem que Zeus
nunca fica com ninguém por mais que algumas semanas, que
Hades só tem casos de uma noite e Poseidon nunca ficou com
ninguém por um ano.
— Bom, Zeus e eu estamos juntos há algumas semanas —
lembrei e ela suspirou.
— Juliet, meu anjo, eu tenho alguma experiência com homens
a mais que você — ela começou e eu contive um sorriso ao pensar
que Joana provavelmente tinha muita experiência a mais que eu. —
Zeus está louco por você, aquele olhar que ele te deu, não foi um
olhar de: eu vou arrancar esse vestido e foder até o meu pau não
aguentar mais. Aquele foi um olhar de: eu vou arrancar esse
vestido, foder até o meu pau não aguentar mais e depois me deitar
com você.
— Não é a mesma coisa? — perguntei confusa.
— Não. Um cara que só quer sexo vai embora assim que
acaba, ele te olha como se quisesse ficar um bom tempo te
abraçando depois do sexo. Ele está apaixonado de verdade! O mais
velho dos irmãos glaciais está realmente apaixonado! — ela disse
como se estivesse chocada.
Quando saímos do prédio, acabamos pegando um carro de
aplicativo que passou pelo prédio de Kate para pegá-la. Minha
amiga entrou no banco de trás, parecendo empolgada com a ideia
de irmos na área VIP de uma boate.
Assim que descemos do carro, Joana nos colocou para dentro
da boate e quando chegamos a área VIP do lugar o segurança nos
deixou subir, Kate arrancou o meu casaco de mim enquanto
subimos as escadas.
Joana encontrou o amigo que a convidou e ele nos chamou
para sentar perto dele.
— Essas são Kate e Juliet, este é meu amigo Fred — Joana
apresentou.
Nós apertamos a mão do homem.
— Vocês também atuam? — Fred perguntou.
— Só se você considerar atuação lidar o dia todo com clientes
de um escritório de advocacia — Kate falou rindo.
— Achei que toda garota bonita em Los Angeles quisesse uma
vida de glamour e holofotes — ele disse sorrindo.
— Juliet Jordan — sussurrou uma voz masculina que fez meu
corpo estremecer.
Me virei para encarar Mark que estava parado me encarando.
Observei o rosto do meu ex-namorado com o corpo gelando no
processo.
— Dê um tempo, Mark, vá ser um babaca arrependido em
outro lugar — Kate falou.
— Não estou falando com você, Kate — ele retrucou.
— Nem comigo — avisei. — Suma da minha frente.
— Você ainda me deve, destruiu meu apartamento, minhas
esculturas e meus eletrodomésticos — acusou irritado.
— Era meu apartamento também, destruí aquele monte de
lama que não servia para nada e eu destruí os eletrodomésticos que
eu comprei.
Observei em choque o movimento do braço de Mark que
estava prestes a jogar aquela bebida em mim, mas uma mão
segurou o antebraço dele.
— Que tipo de homem, briga com uma ex-namorada por
eletrodomésticos? — Jack questionou segurando o braço de Mark.
— Roupas falsas, couro sintético, relógio falso e um ego maior do
que sua capacidade real de ser um homem.
Jack avaliou tudo que Mark estava usando e quando soltou o
braço do meu ex-namorado, observei que Mark não moveu o braço,
mesmo um imbecil como ele sabia quem era Jack Donovan naquela
cidade.
— Saia de perto, antes que eu tire você da área VIP — Jack
falou.
Mark se afastou de nós e Jack sorriu.
— Não esperava ver você aqui — Jack disse.
Me levantei do lugar em que estava sentada e observei o
estilista.
— Obrigada, pela ajuda — sussurrei.
— Pode me acompanhar numa bebida como agradecimento?
— questionou.
— Claro — falei.
Ele me pediu para esperar e eu voltei a me sentar, Jack foi até
ao bar e falou algo com uma mulher que estava lá, ele pegou duas
bebidas iguais e as trouxe em minha direção.
— Aqui está — ele disse me entregando um dos copos.
Jack tocou o copo dele no meu e engoliu um longo gole da
própria bebida. Assim que ele o fez, colocamos nossos copos sobre
a mesa, e o homem estava prestes a falar algo quando Joana disse:
— Jack, eu sou Joana, adoro seu trabalho.
— É um prazer conhecê-la — ele respondeu apertando a mão
dela.
Acabei trocando nossos copos enquanto Jack dava atenção às
pessoas na mesa.
Depois de tomar apenas aquela bebida, eu me levantei da
mesa e disse a Kate que precisava ir ao banheiro. Peguei o celular
na bolsa quando entrei no cômodo e mandei uma mensagem para
Zeus: “Acho que você está se divertindo mais do que eu.”
“Algo aconteceu?” — ele perguntou de volta.
“Encontrei Mark aqui.”
“Quer que eu vá te buscar?” — questionou.
“Não, vou pegar um táxi para voltar.”
Saí do banheiro e quando retornei à mesa vi que Jack não
estava nela, Kate me lançou um olhar de aviso e eu me aproximei
delas antes que o homem retornasse.
— Estou com uma dor de cabeça horrível, por isso, já vou
indo. Joana, você vai embora agora? — perguntei.
— Não, mais tarde — avisou.
Assenti e me despedi de Kate antes de caminhar para longe
daquela área VIP, saí da boate antes que Jack me visse outra vez e
segui para longe do lugar chamando um carro de aplicativo.
O meu casaco ainda estava aberto, mas eu não me importava
com isso no momento, só conseguia pensar na coincidência
gigantesca de estar no mesmo lugar que Mark e Jack, respirei fundo
quando chegamos ao prédio, paguei ao homem e desci do carro.
Eu me vi seguindo para o elevador e assim que as portas se
fecharam, recebi uma mensagem de Kate dizendo que Jack estava
puto por eu ter ido embora daquele jeito.
Respirei fundo e assim que as portas se abriram me vi
andando pelo corredor, apesar de querer ir para casa, bati na porta
do apartamento de Zeus.
— Oi — ele disse quando abriu.
— Zeus, onde está o bacon? — Hades perguntou.
— Não quero atrapalhar, só passei para dizer oi — avisei.
— O bacon acabou, Poseidon comeu quando chegou — Zeus
avisou ao caçula e me observou. — Quer entrar?
— Como você me deixou sem bacon, o que eu vou comer
agora? — Hades gritou e Poseidon riu dentro do apartamento.
— Tem bacon na minha casa, vou buscar um pouco — falei e
Zeus agradeceu. — Vou vestir uma roupa confortável e trago. Não
vou atrapalhar a noite de vocês.
Capítulo 52
Juliet

Quando entrei no apartamento de Zeus usando uma roupa


confortável, vi que os três usavam camisa. Provavelmente Zeus os
tinha forçado a usar aquelas roupas.
— Aqui está — falei erguendo o pote com a carne fatiada.
— Obrigado, Juliet, você salvou minha vida — Hades disse se
levantando.
Exalei um riso.
— Não, você não vai preparar isso, não posso receber os
bombeiros na minha casa porque você queimou bacon — Zeus
avisou pegando o pote que estava nas mãos do irmão.
— Eu vou indo então — avisei.
— Pode ficar se quiser — meu namorado me disse.
Observei a tela da TV e vi que eles estavam vendo uma
comédia romântica. Franzi a testa e encarei Zeus.
— Nem pergunte — pediu caminhando para a cozinha.
Caminhei atrás dele enfiando as mãos nos bolsos do short.
— Por que voltou mais cedo da boate? — perguntou
parecendo curioso enquanto colocava uma frigideira no fogão.
— Você sabe quem é Jack Donovan? — inquiri.
— Nossa empresa faz vários serviços para ele todo ano —
contou.
— Emília e ele costumam trabalhar juntos. E eu sempre tenho
que me encontrar com ele para entregar documentos, pegar
assinaturas. Jack tem insistido para eu ser modelo de uma coleção
de lingeries que ele está produzindo…
Hades cuspiu a bebida em Poseidon que praguejou.
— É a minha camisa favorita! — o irmão do meio disse.
— Modelo de lingerie? — Hades questionou.
— Vocês dois deviam parar de ouvir a conversa dos outros —
Zeus avisou parecendo irritado.
— Não tem problema, não estou contando nenhum segredo —
falei sorrindo. — Eu não vou ser modelo.
— Encontrou com ele hoje? — Zeus me perguntou.
— Sim, mais cedo tivemos uma reunião, ele me chamou para
jantar e eu disse que já tinha planos. Aparentemente, Jack andou
olhando minhas redes sociais, sabe que terminei com Mark e
perguntou se tinha alguém ocupando a minha cama — contei.
Hades cuspiu em cima de Poseidon outra vez.
— Agora chega, seu imbecil! Está fazendo de propósito —
Poseidon disse arrancando a bebida da mão do irmão mais novo.
— Isso não é assédio? — Hades questionou encarando
Poseidon.
— Claro que é assédio! — ele respondeu tirando a camisa.
Voltei a olhar para Zeus que fritava o bacon em silêncio.
— Você pode processá-lo se quiser, pedir uma ordem de
restrição — Poseidon falou enquanto andava pelo apartamento. —
Vou pegar uma das suas camisas.
— A questão é que não posso processá-lo. Emília me mataria
se perdesse um cliente como ele — falei.
Os três ficaram em silêncio, me sentei perto do balcão e
observei durante o tempo em que Zeus tirava bacon frito da
frigideira, Hades se aproximou pegando algumas fatias ainda
quentes da carne.
— Você devia ter cuidado, Jack Donovan não é o tipo de
sujeito que aceita um não como resposta — Hades disse.
— O que você quer dizer? — questionei.
— Trabalho com modelos o tempo todo, as pessoas falam todo
tipo de coisa na frente de um estranho, desde que ele seja
silencioso — Hades esclareceu. — Ouvi histórias sobre Jack de
algumas modelos. Ele é insistente e sempre acaba conseguindo a
modelo que quer, seja por insistência ou por assédio, por isso há
tantas ordens de restrição contra ele.
— Emília sempre diz que ele pede as ordens de restrição —
comentei.
— Você lê os documentos? — Zeus me perguntou e fiz que
não.
— Não posso ler nada do que ela me entrega para passar aos
clientes. É tudo tão confidencial que ela não confia em entregadores
para fazerem o serviço.
Hades continuou mastigando o bacon até que Poseidon voltou
usando uma camisa de Zeus. Ele foi até o prato com a comida e
também pegou algumas fatias enquanto me estudava.
— Se você não quer processá-lo, ao menos fique atenta.
Hades provavelmente está certo sobre ele — Poseidon avisou.
Assenti e observei o filme que passava na TV.
— Eu soube que vocês são considerados os irmãos glaciais
nos blogs de fofoca. Qual a explicação para vocês assistirem
comédias românticas?
— Zeus não quis ver Romeu e Julieta — Hades disse.
Exalei um riso ao ouvir o nome do filme.
— Acho que eu estraguei a história para ele — admiti.
— Eu li o livro — Hades falou. — É uma história bem…
— Idiota? — completei quando o irmão de Zeus se
interrompeu.
— Eu ia dizer superestimada — ele esclareceu.
— Acho que não se pode amar daquela maneira apenas com
um olhar, o que Romeu e Julieta sentiram um pelo outro foi pura
atração física misturada com os efeitos catastróficos da puberdade,
os dois tinham tudo para sobreviver. Se contassem às famílias que
estavam casados e que tinham consumado o casamento, o que eles
fariam? No século XVI as pessoas eram religiosas, um casamento
consumado pesaria sobre eles, mas o fato de eles acharem que
forjar mortes para ficarem juntos seria uma saída racional foi
realmente estupidez.
— Ela é a primeira mulher que conheço que não gosta de
Romeu e Julieta — Poseidon falou.
— Provavelmente você nunca conheceu outra Juliet na vida —
rebati e ele sorriu. — Aliás, já que estamos falando de nomes
estranhos, sempre tive curiosidade sobre algo. De acordo com a
mitologia Hades era o mais velho dos três grandes deuses, depois
viria Poseidon e só então Zeus. Por que os seus nomes não
seguem a ordem?
— Zeus era o deus dos deuses, rei do Olimpo, por isso, nossa
mãe colocou o nome no filho mais velho. Poseidon era o deus dos
mares e foi o segundo a nascer, por isso ela colocou esse nome em
mim — contou.
— E quando eles visitaram o orfanato pela primeira vez, eu
tinha sido abandonado lá há pouco tempo, estavam sem vaga no
lugar e iam me transferir para outro orfanato. Ainda estava enrolado
no tecido preto que me enrolaram para largar lá, então nossa mãe
disse que eu era o Hades dela. Nosso pai diz que ela chorou
quando me viu e jurou que só sairia de lá comigo. Advogados e
muita complicação depois, eu estava indo para casa com eles —
Hades completou com a voz em uma calma que me perguntei se
era forçada.
Percebendo que aquela conversa tomou um rumo triste, eu
tamborilei os dedos no balcão e disse: — Mas vocês ainda não me
responderam. Por que estão vendo comédia romântica?
— Sabe, JJ, nós somos caras bem boa pinta, temos dinheiro e
muitas coisas chegam até nós de maneira fácil — Poseidon falou
apoiando os braços no balcão. — Mas não somos bons quando se
trata de romance.
— Não gosto desse apelido — avisei.
— São suas iniciais — ele retrucou e eu assenti.
— Não gosto — comentei. — E vocês acham que podem
aprender sobre romance com esse tipo de filme?
— A alternativa seriam aplicativos de namoro — Hades disse.
— E é muito humilhante.
— Eu já usei aplicativos de namoro — contei e ele mordeu o
bacon tentando disfarçar o constrangimento.
— O que você sugere, JJ? — Poseidon perguntou me fazendo
encará-lo com os olhos estreitos.
— Que tal vocês serem nossos exemplos? — Hades sugeriu
olhando de mim para Zeus.
— Não somos bom exemplo — avisei e os dois nos
estudaram.
— Nós agimos como cão e gato na maior parte do tempo —
Zeus completou.
— Acho que vocês estão pensando demais sobre isso, quando
encontrarem uma mulher e se apaixonarem, vai ser instintivo tentar
conquistá-la e fazer tudo por ela. Sobre conversas, mulheres
conversam sobre tudo, desde que vocês se interessem pelos
assuntos delas também — expliquei.
— É um ponto de vista interessante — Poseidon comentou. —
Alicia e eu falávamos sobre tudo.
— Quem é Alicia? — questionei.
— Minha melhor amiga de infância — explicou. — Nós
conversávamos até sobre nossas relações casuais. Ela me pedia
opinião sobre quais roupas pareciam deixar o corpo dela mais
sensual.
Observei Poseidon incrédula e ele sorriu como se sua mente
vagasse pelas memórias, mas havia uma tristeza no sorriso dele.
Zeus me lançou um olhar de aviso para que eu não perguntasse a
respeito, por isso, me calei.
Zeus começou a preparar alguns sanduíches e eu o observei
em silêncio, enquanto Poseidon e Hades começaram a discutir as
próprias vidas amorosas, falando sobre quem era pior em romance
entre eles.
Meu namorado colocou dois sanduíches em um prato e o
colocou no balcão à minha frente.
— Acho que você não jantou. E como esses dois comeram os
últimos pedaços de pizza — explicou.
— Obrigada — sussurrei com um sorriso no rosto.
Percebi os olhos dos dois Andrews mais novos nos estudando
enquanto Zeus me dava uma taça de vinho. Eles retornaram ao sofá
nos deixando sozinhos outra vez.
Capítulo 53
Juliet

Depois de comer, eu acabei dizendo ao Zeus que deixaria ele


e os irmãos aproveitando a noite juntos, caminhei até o meu
apartamento e quando abri a porta, meu coração pareceu parar no
peito. Aquele homem com cabelo iluminado por luzes seminu no
sofá fez com que eu recuasse para fora do apartamento.
Eu não conseguia acreditar que Joana levou Jack para a
nossa casa. Fechei a porta sem fazer barulho e caminhei de volta
para a casa de Zeus, bati na porta envergonhada por ter que voltar
ao lugar.
— Algo aconteceu? — Zeus me perguntou quando me viu na
porta.
— Minha colega de quarto está acompanhada — expliquei.
— Entre, você pode dormir comigo. Poseidon e Hades vão
dividir o quarto de hóspedes — falou.
— JJ, a sua colega de quarto está acompanhada de quem?
Você parece até que viu o Hades nu — Poseidon disse.
— Ei! — o caçula respondeu.
— Estou falando do Hades original — Poseidon falou com um
sorriso cínico no rosto.
— Joana trouxe Jack para casa — falei fechando a porta atrás
de mim.
— Vamos, suas dicas são valiosas, sente-se e nos diga o que
assistir — Poseidon respondeu. — Nossas vidas dependem disso.
— Poseidon, não seja idiota — Zeus ordenou.
— Vou para cama, não quero atrapalhar a sessão de filmes de
vocês — falei caminhando pela casa.
Assim que entrei no quarto, Zeus me seguiu fechando a porta
atrás de si.
— Você está bem? — perguntou.
— Estou, só foi um pouco assustador ver aquele homem na
minha casa — admiti.
— Quer que eu fique aqui com você? — questionou e eu sorri.
— Não precisa, vou tomar um banho e dormir, fique com os
seus irmãos um pouco — sugeri.
— Está bem — sussurrou.
Zeus se aproximou e me beijou rapidamente, interrompi o beijo
e o deixei voltar para os irmãos. Caminhei para o banheiro tomando
um banho que precisava para limpar a minha alma. Fim de semana,
lembrei a mim mesma, era fim de semana, eu ia poder ficar livre de
Emília Turner por dois dias.

Acordei no sábado com o braço de Zeus me rodeando, me


aconcheguei mais ao corpo do meu namorado ignorando o barulho
na casa, provavelmente Poseidon e Hades já estavam destruindo a
cozinha, mas eu continuei imóvel junto ao homem que me segurava
perto de si, o cheiro cítrico dele invadia o meu nariz me fazendo
enterrar mais o rosto em sua pele.
— Eles vão destruir minha cozinha — Zeus comentou me
fazendo notar que estava acordado.
— É só me soltar e ir até lá olhar — lembrei.
— Não quero sair daqui — sussurrou. — Deixe eles destruírem
tudo.
— Que horas são? — perguntei encarando as cortinas
fechadas.
— Deve passar das nove — falou.
Me levantei da cama em um salto e Zeus abriu os olhos me
encarando nervoso. Ele se sentou na cama, me observando pegar o
celular.
— O que aconteceu? — questionou — Tenho que ir à casa dos
meus pais — expliquei.
Me aproximei da cama para beijar o meu namorado.
— Falo com você mais tarde — avisei e corri para fora do
quarto já com o celular nas mãos abrindo o chat com a minha mãe.
— Bom dia, JJ! — Poseidon falou e eu soltei o celular no chão
com o susto.
— Você quer me matar? — perguntei nervosa, abaixando para
pegar o celular.
— Vai tomar café da manhã? — Hades perguntou, indicando
uma pilha de panquecas com aparência duvidosa.
— Não dá, tenho que ir à casa dos meus pais — falei
estudando a tela enquanto esperava a resposta da minha mãe. —
Bom dia para vocês!
Saí do apartamento de Zeus correndo, enfiei o celular no bolso
do short e prendi o cabelo para cima. Quando abri a porta da minha
casa, levei um segundo para entender o que estava vendo.
— Oi, Juliet — Jack falou.
Um grito saiu da minha garganta e fechei a porta com força, o
homem estava nu na cozinha. Respirei fundo acalmando minha
mente e quando virei o rosto para o corredor, vi Poseidon e Hades
na porta do apartamento de Zeus, meu namorado se juntando aos
irmãos depois.
— O que houve? — Zeus perguntou passando pelos irmãos.
— Eu estou bem, só tenho que correr para a casa dos meus
pais, Jack está nu no meu apartamento e a chave do meu carro aqui
dentro.
Esfreguei a testa pensando que as coisas estavam começando
a me irritar.
— Toma, usa o meu — Hades ofereceu a chave. — Posso ir
de carona com Poseidon e depois Zeus me devolve.
— Não se importa mesmo? — questionei me aproximando.
— Não, só tenha cuidado com o meu carro — avisou.
Esbocei um sorriso pegando a chave do carro.
— Não se preocupe, eu vou tentar causar acidentes leves ou
moderados — falei e Hades me olhou confuso. — É brincadeira.
Me apressei pelo corredor, prometendo a mim mesma que me
arrumaria na casa dos meus pais. Quando cheguei à garagem
pressionei o alarme procurando o carro de Hades e meu queixo caiu
ao ver o BMW preto que estava estacionado.
— Deus, por favor, que eu não sofra um acidente nesse carro
— pedi enquanto entrava no veículo.
Liguei o motor e respirei fundo ao dirigir para fora da garagem,
meu coração saltava no peito a cada quilômetro rodado, não tive
coragem de ligar o rádio e me vi mil vezes mais atenta naquele
carro do que quando dirigia o meu. Nunca deixaria Poseidon saber
sobre aquela paranóia.
Estacionei na frente da casa dos meus pais e travei o carro
antes de seguir para dentro da construção.
— Mãe? — chamei.
— Estamos na cozinha — ela respondeu.
Caminhei para lá ignorando todos os quadros na parede e
quando me aproximei do cômodo quase tive um infarto, meu pai
estava em cima de uma escada trocando uma lâmpada.
— O que você está fazendo aí? — questionei.
— Trocando a lâmpada — ele falou como se eu estivesse com
algum problema.
— Desça e me deixe fazer isso — pedi.
— Juliet, eu terminei isso — ele desceu da escada com um
sorriso no rosto. — Não se preocupe tanto.
Meu pai me abraçou e riu da minha preocupação.
— Você saiu de casa vestida desse jeito? — mamãe
perguntou.
— Saí — admiti. — Vou tomar um banho e trocar de roupa lá
em cima.
Saí da cozinha antes que minha mãe começasse a me criticar
mais, depois do meu banho, de passar uma escova nos dentes,
vesti uma roupa do meu antigo armário, eu finalmente desci as
escadas, meu pai estava na janela, olhando o carro de Hades.
— Você veio naquele carro? — questionou.
— Sim — respondi tentando ficar calma.
— Está namorando?
— Estou.
— Você está? — mamãe perguntou. — Quando vamos
conhecer seu novo namorado?
— Ainda é bem recente — avisei seguindo de volta para a
cozinha.
— Mesmo assim, Juliet, queremos conhecê-lo — meu pai
disse.
Respirei fundo imaginando como sair daquela saia justa, eu
não tinha ideia de como meus pais reagiriam quando soubessem
que o meu namorado atual era Zeus Andrews. Os dois
provavelmente me matariam ou no mínimo teríamos uma nova
briga, observei os rostos dos dois enquanto empilhava comida em
um prato.
— Vou tentar trazê-lo comigo na próxima vez que vier — falei.
— No próximo fim de semana — papai disse. — É nosso
aniversário de casamento, traga ele. Não vamos chamar parentes,
nem fazer festa, só almoçamos juntos.
— Está bem.
Minha mente parecia girar e eu podia jurar que ia vomitar no
chão impecavelmente limpo da minha mãe. Respirei fundo e me
sentei à mesa para enfiar aquela comida goela abaixo antes que
questionassem porque perdi o apetite.
Capítulo 54
Juliet

Voltei da casa dos meus pais no meio da tarde, estava no


elevador quando perguntei a Zeus por mensagem se Hades ainda
estava na casa dele, o meu namorado respondeu que sim.
Saí do elevador e encontrei Jack na entrada, esbocei um
sorriso forçado que ele respondeu com entusiasmo.
— Juliet Jordan, parece que vamos sempre nos esbarrar —
sussurrou.
— Sr. Donovan, não sabia que ainda estava aqui.
— Sua amiga é uma companhia agradável — ele comentou
entrando no elevador e eu saí do lugar rápido. — Nos vemos por aí,
Juliet.
Bati na porta do apartamento de Zeus tentando dar tempo dos
irmãos dele estarem apresentáveis quando eu entrasse e assim que
passei da porta, estendi a chave para Hades.
— Obrigada, como prometido sem grandes problemas — falei
e ri quando o homem me olhou preocupado. — Está do jeito que
você me emprestou.
— Zeus está tomando banho — Poseidon avisou do sofá.
— Depois eu venho aqui, tenho que ir em casa — expliquei.
— Trocar a fantasia de adolescente punk? — o irmão do meio
de Zeus questionou rindo ao olhar para minhas roupas e eu revirei
os olhos.
— Sabe, Poseidon, seu senso de humor é irritante — avisei.
— Já me disseram que é minha melhor característica —
retrucou, com um sorriso no rosto.
— Mentiram para você — rebati cruzando os braços.
— Poxa, JJ, está magoando meus sentimentos — sussurrou
com aquela diversão ainda dançando no rosto dele.
— Você não tem cobras venenosas com quem brincar? —
perguntei.
— Estou brincando com a minha favorita — ele disse
alargando o sorriso.
Saí do apartamento fechando a porta atrás de mim. Quando
entrei no apartamento do lado, Joana estava usando um robe roxo e
sorriu ao me cumprimentar.
— Por onde esteve? — questionou me estudando.
— Estava em Zeus e depois na casa dos meus pais. Você não
podia ter ido com Jack para a casa dele? — perguntei tentando
conter aquele tom afiado que ameaçava chegar a minha voz.
— Você teve algo com ele?
Minha colega de quarto me olhou como se tentasse me
analisar.
— Não, não tive, mas ele é um homem complicado — avisei.
— Minha chefe tem negócios com ele, ela pode não gostar de saber
que ele está vindo para a minha casa e dormindo com a minha
colega de quarto.
— Ah, desculpe se eu te causar algum problema — Joana
falou com uma expressão calma no rosto.
Quando voltei ao apartamento de Zeus, meu namorado tinha
expulsado os irmãos no tempo em que fiquei em casa e nós
finalmente tivemos algumas horas juntos naquele sábado. Depois
de uma tentativa de ver um filme que acabou comigo em cima de
Zeus, minha mente ainda estava processando tudo que aconteceu
no dia quando nos deitamos no sofá.
— Meus pais querem que eu leve meu namorado na casa
deles no fim de semana — contei deslizando os dedos pela
tatuagem dele.
— Eles sabem que eu sou seu namorado? — perguntou.
— Não, resolvi deixar para jogar a bomba de uma vez —
expliquei e ele sorriu.
— Isso vai ser realmente chocante para eles — avisou.
— Talvez, mas acho que desde que fomos juntos ao
casamento, eles estão esperando uma confirmação de que algo
está acontecendo entre nós — sussurrei.
Zeus deslizou a mão pelo meu braço observando o meu rosto,
aquela barba por fazer no rosto dele, lhe dava um aspecto mais
adulto, os olhos verdes que me encaravam, sempre pareciam
dispostos a me prender na selvageria que eu passei a vida
contendo.
— Você me enlouquece, sabia? — sussurrou roçando o nariz
no meu rosto.
— Enlouqueço?
— Sim, que tipo de mulher consegue deixar um homem com a
mente focada exclusivamente nela com tanta facilidade? —
questionou se deitando sobre o meu corpo.
Abri minhas pernas encaixando-o entre elas e Zeus sorriu
afastando o cabelo grudado no suor do meu rosto.
— Estou atrapalhando seu sono, Zeus Andrews? — perguntei
deslizando os dedos pelo rosto dele.
— Você nem imagina o quanto, Juliet Jordan — respondeu me
penetrando outra vez.
Ofeguei encarando o rosto dele, sentindo os dedos dele
percorrendo a minha pele lentamente.
— Atrapalha o meu sono — sussurrou beijando meu pescoço.
— Atrapalha o meu trabalho.
Sua língua percorreu minha pele me fazendo forçar o corpo
contra o dele, com aquela necessidade de atrito me percorrendo.
— Atrapalha até o meu banho — completou mordendo minha
pele e arrancando um grito da minha boca.
— Fica pensando em maneiras de me torturar quando está
nesses momentos? — perguntei sentindo meu corpo estremecer
sob o dele.
— Tenho que te punir de alguma forma por não sair da minha
cabeça — respondeu se movendo lentamente no meu interior.
Cada estocada longa e firme me fazia agarrar mais os ombros
dele, aquela lentidão que ele mantinha, era a pior de todas as partes
daquela relação.

Depois de passar o resto do fim de semana com Zeus, eu me


sentia mais calma na segunda quando voltei ao trabalho, Kate se
sentou perto de mim enquanto nós conversávamos sobre meu
namoro com Zeus. Minha amiga parecia ainda mais interessada no
assunto, depois do fiasco da nossa noite de meninas.
— Sobre Joana e Jack, eu juro que tentei avisar para ela que
não era boa ideia ela levá-lo para sua casa — minha amiga
sussurrou.
— Eu ainda tive que topar com o cara nu na minha cozinha
quando fui para casa — contei e Kate deixou o queixo cair.
— Como ele é por baixo daquelas roupas finas? Deve ser um
deus — ela disse como se sonhasse acordada.
— Kate, não viaja, você tem um namorado. E eu já tenho um
deus grego na minha cama, não preciso admirar outro.
Minha amiga estalou a língua e eu a estudei, conhecia Kate,
havia algo que ela queria saber, mas estava evitando perguntar. E
como eu gostava de deixar minha amiga pisando em ovos, me
mantive calada sobre ter notado aquela questão que parecia girar
em seus pensamentos.
— Os seus pais sabem sobre ele? — perguntou.
Respirei fundo, desviando os olhos das pastas de documentos
que organizava enquanto anotava os compromissos de Emília na
agenda dela.
— Não. Eles querem que eu leve o meu namorado no próximo
fim de semana — confessei.
— E você não os deixou avisados? — questionou surpresa.
— Não. De um jeito ou de outro eu serei levada à loucura
pelos dois, então vou deixar que saibam quando chegarmos lá.
— Posso falar com a minha advogada? — uma voz perguntou
me fazendo estremecer naquela mesa.
Virei o rosto para Jack que sorria para nós.
— Sr. Donovan, não está agendado — lembrei.
— Se Emília puder me atender eu agradeceria muito, é uma
questão urgente e se ela não puder, vou ter que encontrar alguém
que possa — falou.
— Vou ver se ela consegue um tempo — avisei, me
levantando da cadeira.
Caminhei em direção a sala de Emília e bati na porta, minha
chefe estava com o telefone no ouvido e parecia mais brava que o
normal. Ela me encarou como se pudesse arrancar minha pele com
os olhos.
— Jack Donovan está aqui para vê-la, ele disse que é urgente
e que se você não puder falar com ele, vai ter que procurar outro
advogado — expliquei e ela bateu o telefone sem se despedir da
pessoa com quem falava.
— Mande ele entrar — ordenou.
Saí da sala e caminhei até Jack que estava sorrindo enquanto
conversava com Kate, esbocei um sorriso forçado.
— Ela vai te receber — falei guiando o homem para a sala.
— Jack — Emília sussurrou o nome com tanta alegria que me
perguntei se era o amor da vida dela que entrava naquela sala.
— Emília — Jack cumprimentou com a mesma alegria e beijou
ambos os lados do rosto dela. — É sempre um prazer ver você.
— Juliet, traga café — minha chefe ordenou enquanto eu saía
de fininho da sala.
— Volto em um instante — prometi.
Quando saí da sala e me aproximei da sala anexa, Kate correu
até mim, minha amiga esticava o pescoço como uma girafa para ver
o que estava acontecendo na sala de Emília longe de nós.
— Ele estava perguntando sobre você. O que gosta de comer
e beber — falou. — Perguntou se você estava mesmo séria com o
seu namorado e até questionou se vocês tinham uma relação
aberta.
Estremeci ao ouvir aquelas palavras e Kate me olhou nervosa.
— Juliet, ele está fascinado por você — ela disse.
— O problema é que eu acho que esse fascínio todo pode não
ser mera atração física. Está começando a me assustar, na verdade
— confessei.
— Quer que eu leve o café na sala?
— Se você for, Emília me mata — lembrei. — Estamos em um
escritório de advocacia, não acho que ele vai tentar algo.
Kate me desejou sorte, eu caminhei em direção a sala da
minha chefe, bati na porta antes de entrar e só abri a sala quando
ela me deu permissão. Não precisava ver Jack nu outra vez se ele
estivesse tendo outros tipos de reuniões com minha chefe.
Servi o café na mesa diante dos dois e ouvi quando Jack
disse: — Emília, se um dia for demitir Juliet, me avise porque eu vou
contratá-la imediatamente.
— Não vou demitir minha assistente, Jack, apesar de ser meio
irritadiça e desastrada, Juliet é uma ótima assistente.
Perfeito, falem de mim como se eu não estivesse aqui, pensei
observando os dois.
Tentei aproveitar aquela conversa animada dos dois para sair
sem ser notada, mas o desgraçado falou: — Juliet, tem planos para
o jantar? Abriu um restaurante italiano que acho que você vai gostar
dele.
— Desculpe, Sr. Donovan, tenho que trabalhar até mais tarde
— sussurrei.
— O que é isso, Juliet? Jack vai achar que eu estou te
mantendo aqui até mais tarde de propósito. Sou sua chefe, estou
dispensando você mais cedo.
— Emília, sua agenda…
— Pode esperar, você tem feito um bom trabalho, precisa
descansar um pouco — falou.
— Então você e eu podemos ter um bom jantar juntos — Jack
disse e sorriu ao me estudar.
— Ótimo, divirtam-se — minha chefe falou.
Encarei o homem que ainda estava sentado e murmurei que ia
pegar minha bolsa e encerrar o expediente. Corri até a minha mesa
e peguei o celular, Kate me observou nervosa.
— Você está pálida como um morto — ela disse.
— A morte seria uma companhia agradável — respondi
desviando os olhos para a sala que esqueci aberta.
Digitei uma mensagem para Zeus, avisando ao meu namorado
o que estava acontecendo só para o caso de eu precisar de um
advogado, e o irmão dele estar a postos.
— Vamos, Juliet? — Jack chamou me fazendo prender o
celular entre os dedos.
— Claro — sussurrei encarando Kate.
Minha amiga me olhou desesperada, aparentemente, Kate
podia ser a última pessoa amiga a me ver com vida, pelo olhar que
ela me dirigiu.
Capítulo 55
Juliet

Saí do prédio tentando me manter afastada de Jack, assim que


chegamos ao carro dele, fiquei grata por ter um motorista no banco
da frente, o homem desceu do carro e abriu a porta de trás para
entrarmos, me vi dentro do carro, com Jack sentado do outro lado
do banco de trás.
— Você está quieta demais hoje, Juliet — ele comentou,
observando o meu rosto.
Notei sua atenção em mim pelo canto dos olhos.
— Só estou cansada — retruquei me virando para encarar o
rosto dele.
— Soube que você gosta de comida italiana — avisou. — E
quando me chamaram para a inauguração desse restaurante,
pensei que você devia me acompanhar.
Respirei fundo evitando dizer para o homem ao meu lado que
nós mal nos conhecíamos e que eu não tinha concordado em sair
com ele, se Jack cortasse relações com minha chefe, ela me
mataria, porque Jack era uma máquina de processos e gerava boa
parte da renda do escritório.
— Tenho que voltar para casa cedo — avisei, olhando a tela do
celular.
— Algo urgente para essa noite? — perguntou.
— Segunda é a noite em que eu lavo as minhas roupas, faço
as unhas, organizo a agenda da minha chefe e dou um jeito no
cabelo.
— Então não teria tempo nem mesmo para o seu namorado —
ele disse pressionando os lábios.
— Exatamente — respondi.
O motorista estacionou o carro e passou as chaves para Jack,
observei o homem ao meu lado quase implorando ao motorista que
não me deixasse sozinha com ele.
— Chris terminou o expediente — explicou. — Seremos só nós
dois a partir daqui.
Desci do carro ignorando o que o homem insinuava e caminhei
apressada em direção ao restaurante, mas com saltos enormes e
uma saia justa aquela caminhada não me deu muita vantagem, pois
Jack me alcançou com alguma facilidade.
— Juliet, se continuar com esse mau humor, vou achar que
minha companhia é um incômodo — falou.
— Só estou cansada, Sr. Donovan — sussurrei.
— Me chame de Jack — ele disse.
Não pareceu um pedido, apenas uma ordem impaciente,
assenti quando ele me olhou completamente imóvel.
O estacionamento do restaurante era grande, mal iluminado e
havia poucos carros ali, talvez pelo horário.
— Como está o seu namoro, Juliet? — perguntou.
— As coisas estão maravilhosas — respondi olhando ao redor.
— Há espaço para explorar essas maravilhas? — Jack
questionou estendendo a mão para tocar o meu rosto.
Dei um passo atrás me afastando dos dedos dele, o que fez o
homem sorrir ao me estudar.
— Meu namoro está firme, Jack, não tenho relações abertas —
avisei.
— Eu não conto se você não contar — sussurrou dando uma
piscadela.
— Você se lembra que há poucos dias estava enfiado no meu
apartamento transando com a minha colega de quarto? — perguntei
estreitando os olhos.
Jack sorriu cruzando a distância entre nós outra vez, os olhos
escuros dele encaravam o meu rosto, o observei em silêncio,
pensando se devia ou não fugir dali ou gritar ajuda naquele instante.
— Então se importou com aquilo — sussurrou.
— Me incomoda ver homens nus andando pela minha casa
livremente — respondi.
A mão de Jack chegou rápido ao meu rosto, antes que eu
pudesse desviar uma segunda vez. Os dedos frios percorreram
minha pele, afastei o rosto o melhor que consegui daquele toque.
— Por que tem que ser tão linda e tão teimosa? — questionou.
— Por que está insistindo tanto em mim? — perguntei irritada
com o toque.
Segurei o antebraço dele, afastando-o do meu rosto.
— Porque eu não costumo receber um não como resposta —
avisou.
— Recebeu o meu — lembrei cruzando os braços sobre o
peito.
— Isso está me enlouquecendo, você não parece real. Talvez
seja por isso que a quero tanto.
— Esqueça, Sr. Donovan — falei. — Estou em um
relacionamento, ainda que não estivesse, não me envolveria com
você.
Jack segurou o meu rosto entre os dedos, observei os olhos
dele, enquanto os dedos frios pressionaram minhas bochechas.
Meu corpo estremeceu com aquele toque.
— Você é só uma mulher comum, Juliet, não se sinta melhor
do que realmente é — avisou.
Tentei tirar a mão dele do meu rosto e o toque se tornou mais
firme. Arregalei os olhos com medo do que ele estava fazendo. Um
segundo depois a boca dele estava na minha, com aquela língua
forçando passagem para o interior da minha boca.
Estávamos tão próximos que eu não tive dificuldade em fazer o
que precisava para me livrar dele. Meus dentes se enterraram na
língua dele e meu joelho acertou seu saco.
Quando o homem caiu aos meus pés, eu me afastei e corri
para longe dele o mais rápido que os saltos estúpidos me
permitiram, saí do estacionamento e sinalizei para um táxi, me enfiei
no banco de trás e passei o endereço ao motorista que me olhava
nervoso.
Fechei os olhos com força, tentando apagar aquela imagem
dos meus pensamentos. Assim que entrei no prédio de advocacia,
meu coração disparou no peito tomado por fúria. Ignorei o
segurança que me cumprimentou e caminhei até o elevador,
pressionei o botão com força. Para me liberar mais cedo, Emília
teria que trabalhar até mais tarde, então eu sabia que ela ainda
estaria naquela sala quando chegasse lá.
Entrei no elevador, pressionei o botão do décimo andar e
encarei as portas se fechando, era possível que Emília já soubesse
a versão de Jack da história, era possível que o homem já tivesse
dito o que queria a minha chefe para que ela me matasse por ele.
Tirei o crachá da bolsa e observei meu celular no fundo,
lembrei a mim mesma que não podia contar aquilo para Zeus
daquela maneira. Não por telefone, com as mãos tremendo e a voz
embargada.
Respirei algumas vezes, tentando afastar aquele choro, afastar
aquela lembrança da voz do homem e do gosto horrível de cigarro
que eu ainda sentia na minha boca.
Assim que o elevador abriu, eu marchei para a sala de Emília,
com a mente em um turbilhão. Abri a porta da sala sem me importar
com batidas.
— Que merda aconteceu na sua cabeça? — perguntou
irritada.
— Que merda aconteceu na sua cabeça? — rebati irada. — Se
você foi a uma faculdade para passar o resto da vida livrando a
bunda desses imbecis de levarem alguns chutes por aí, ótimo, é um
direito seu!
— Do que é que você está falando? — questionou confusa e
visivelmente irritada.
— Da porra do seu cliente que pensou que podia se aproveitar
de mim porque você não ia cortar relações com ele.
— Acalme-se, Juliet.
— Não diga para eu me acalmar! — alertei. — Não me peça
para ficar calma. Não sou sua prostituta de luxo, sou sua assistente.
Se você quer dar aos seus clientes algo além de apoio jurídico, vá
você jantar com eles e deixe que façam o que quiserem com você.
— Fale baixo, Srta. Jordan, ou eu vou ser obrigada a…
— Obrigada a quê? Me processar? Ou demitir? — questionei
jogando o crachá no peito da mulher que ficou de pé. — Não precisa
se dar o trabalho. Eu me demito. Aproveite que você é tão boa em
conseguir ordens de restrição para aquele canalha e consiga uma
para ele não chegar perto de mim, porque eu juro por Deus, se Jack
Donovan chegar perto de mim outra vez, ele vai sair com bem mais
do que uma língua ferida e um chute no saco.
Emília e eu nos encaramos, o telefone dela começou a tocar,
assim que a mulher pegou o celular com as mãos tremendo,
observei a tela e vi o nome de Jack ali. Me afastei da sala da mulher
e a ouvi se desculpando, segui até a minha mesa e peguei uma
sacola que estava na lata de lixo. Joguei os papéis inúteis no chão e
joguei as coisas da minha mesa dentro do saco.
— Juliet — Kate chamou, estalando os dedos a minha frente e
finalmente notei que tinha me trancado na minha mente. — Você
está bem?
— Não — avisei terminando de juntar os meus pertences
daquela mesa.
— O que aconteceu?
— Aquele filho da puta me assediou — contei.
— Juliet? Não me use como referência — Emília falou. — Não
vai querer que eu escreva uma carta de recomendação sua.
Minha antiga chefe vestia um terninho e tinha a bolsa
pendurada no ombro, o celular grudado no ouvido enquanto
caminhava para o elevador.
— Você precisa processar ela e esse imbecil também — Kate
disse tentando me fazer sentar.
— Eu só quero ir para casa e esquecer que esse dia
aconteceu — admiti.
Todo mundo do escritório tinha parado para observar aquela
cena que eu tinha feito no lugar. Fechei o saco com as minhas
coisas entre os dedos e me afastei da minha antiga mesa.
— Juliet? — Kate me chamou, mas apenas continuei andando
em direção ao elevador.
Capítulo 56
Zeus

Juliet tinha me enviado uma mensagem avisando que a chefe


fez com que ela saísse para jantar com Jack, mesmo que ela
tivesse me dito que estaria sempre em contato, ela não respondia
minhas mensagens e eu sabia que algo tinha acontecido.
— Poseidon, eu preciso que você me encontre na Turner and
Jared, posso precisar de um advogado — avisei.
— Alguma coisa aconteceu com Juliet? — meu irmão
questionou.
— Não tenho certeza — falei saindo de casa, ouvi o elevador
se abrindo e virei para olhar.
Juliet vinha dele, com o rosto vermelho e um saco de lixo nas
mãos.
— Eu te ligo depois — eu disse ao Poseidon e finalizei a
chamada. — Juliet? Você está bem?
Minha voz estava rouca de preocupação, me aproximei da
minha namorada com medo ao ver o estado dela. O cabelo preso
para cima, o rosto vermelho e os olhos molhados.
— Eu estou bem — sussurrou ao ver a preocupação no meu
rosto.
— O que aconteceu? — questionei, segurando-a pelos braços.
Juliet tremia e meu coração acelerava mais no peito.
— Está tudo bem — ela repetiu.
— Venha, vamos entrar um pouco — pedi guiando a minha
namorada para dentro, peguei o saco que ela carregava e a bolsa.
Ela entrou no meu apartamento e desabou no sofá encarando
a sala como se sua mente não estivesse exatamente ali.
— Juliet — chamei me sentando na mesa de centro a sua
frente. — O que houve?
— Jack apareceu no escritório hoje, ele disse que queria
resolver algo urgente, enquanto ele se entendia com Emília, acabou
me chamando para jantar e ela disse que eu podia sair mais cedo
para ir com ele. Emília faz qualquer coisa para não perder Jack
como cliente — contou colocando mechas do cabelo atrás das
orelhas. — Quando estávamos no estacionamento do restaurante,
Jack me beijou à força, eu mordi a língua dele e chutei o saco dele.
Voltei para o escritório e me demiti.
— Você está mesmo bem? Quer ir à delegacia? — questionei
nervoso.
— Não, eu não quero falar sobre isso com mais ninguém que
vá me dizer alguma coisa inútil.
Segurei as mãos dela e Juliet esboçou um sorriso observando
nossas mãos juntas.
— Vá tomar banho, eu vou fazer o jantar — sugeri.
Juliet concordou com a cabeça e caminhou para longe de mim,
observei-a seguir me perguntando como faria Jack Donovan pagar
por aquilo. Peguei o celular para falar com meu irmão do meio.
“O que está acontecendo?” — Poseidon perguntou por
mensagem.
“Vamos parar de trabalhar com Emilia Turner” — respondi.
Travei a tela do celular e caminhei para a cozinha, como tinha
prometido para Juliet, precisava preparar algo para comer. Mesmo
que qualquer apetite tivesse desaparecido completamente do meu
corpo, preparei a comida de forma automática, provando tudo
sempre para ter certeza de que estava cozinhando direito, minha
mente não conseguia deixar de imaginar aquele babaca tocando a
minha namorada. Não consegui deixar de lado como ela queria
fazer, Jack Donovan tinha assediado Juliet e eu não conseguia
suportar que alguém a ferisse daquela forma.
— Parece que você está nervoso — a voz de Juliet soou baixa.
Virei para encará-la e vi-a usando uma camisa minha, com o
cabelo ainda molhado solto nas costas. A boca dela estava
vermelha, bem como boa parte da pele exposta, suspirei ao ver
aquilo, ver como se esforçou para se limpar.
— Claro que estou nervoso — sussurrei. — Prometi a mim
mesmo que não deixaria ninguém te machucar e aqui estamos.
— Zeus — ela disse meu nome parecendo forçar um riso na
voz. — Não tinha como prever que isso aconteceria.
— Eu devia ter ido até lá quando você me disse que ia sair
com ele — falei.
— Não ia adiantar, ele me tirou de lá em minutos — Juliet
explicou.
Ela se aproximou e abraçou o meu corpo de forma calma.
Envolvi o corpo dela com carinho tentando não falar mais, apenas
deixá-la sentir que não estava sozinha.
— O que você fez para comer? — perguntou com o rosto
enterrado no meu peito.
— Macarrão com queijo.
— Perfeito, eu estou faminta — avisou se afastando de mim
para espiar a panela.
Coloquei dois pratos sobre a mesa e abri uma garrafa de vinho
enquanto Juliet servia o macarrão.
— Poseidon e Hades ainda não apareceram? — questionou,
ela espalhava o macarrão com o garfo no prato.
— Eu disse que se passassem mais um dia na minha casa iam
ter que limpar o lugar e eles fugiram daqui — expliquei e Juliet riu.
Em parte aquilo era verdade, a segunda razão para eu ter
expulsado os meus irmãos, foi a insistência dos dois sobre eu fazer
um pedido de casamento a Juliet, Hades achava que eu devia
contar para ela da aposta, meu irmão caçula jurava que ela
entenderia e se casaria comigo para me ajudar, mas Poseidon
achava que aquilo era ainda mais problemático e os dois me usaram
de cabo de guerra até me deixarem com enxaqueca e eu expulsá-
los da minha casa.
— Se você quiser denunciar Jack, ou processar Emília,
Poseidon pode te ajudar com isso — falei.
— Sabe, por mais que a gente saiba que esse tipo de coisa é
muito comum, por mais que não deva ser, nunca pensamos
realmente que pode acontecer conosco, mas sabe a parte mais
bizarra? Quando ele estava com a língua enfiada na minha
garganta, eu agi, simplesmente o ataquei, como se de alguma forma
tivesse me preparado para isso.
Aproximei minha mão do rosto dela e Juliet fechou os olhos,
mas ela não se afastou quando meus dedos percorreram o seu
rosto.
— Não quero me sentir incapaz de te ajudar. Me diga como
posso te ajudar — sussurrei.
Juliet abriu os olhos, me olhando com alguma luz retornando
ao olhar dela.
— Você está me ajudando — falou. — Eu sempre lidei com as
coisas sozinha, Zeus. E agora você está aqui comigo.
Suspirei sentindo que não poderia fazer apenas isso, não
ficaria bem comigo mesmo se apenas preparasse um jantar e
pedisse para ela falar a respeito.
— Só não me deixe sozinha — pediu. — Fique comigo esta
noite.
— Quantas você quiser — prometi.
Juliet se aproximou beijando o meu rosto, ela tomou a taça de
vinho e se serviu de mais, observei-a comer antes de eu mesmo
começar a forçar aquele macarrão para dentro do estômago.
Quando terminamos de comer, Juliet colocou os pratos no
lava-louça e eu levei a garrafa com o resto do vinho e as taças para
a mesa de centro, me sentei no sofá e ela se sentou ao meu lado
com o corpo grudado no meu. Ela me segurou junto a si colocando
ambas as pernas no meu colo.
A boca de Juliet tocou a minha, com os lábios se movendo nos
meus, a língua dela invadiu minha boca e eu acariciei seu corpo
com as mãos, notando que ela não usava roupas de baixo.
A mulher interrompeu o nosso beijo e encostou a testa na
minha.
— Eu precisava confirmar — sussurrou.
— O quê? — perguntei segurando o corpo dela junto ao meu.
— Que o que eu sinto quando você me beija não mudou —
explicou.
Esbocei um sorriso e encarei os olhos cinzentos dela. Juliet
beijou meus lábios outra vez apenas por um instante curto, então
seu corpo se aconchegou ao meu, ela pegou o controle da TV e
começou a estudar o streaming procurando algo para assistir.
Nós assistimos a série até que ela começou a cochilar sentada
ao meu lado, desliguei a TV e peguei a mulher no colo para levá-la
para o quarto.
— Eu ainda estou acordada — sussurrou com a voz rouca.
— Estou vendo — respondi, igualmente baixo.
Ela enterrou mais o rosto no meu peito e eu abri a porta do
quarto para entrar com a mulher parcialmente desperta.
— Seu cheiro me faz sentir em casa — ela disse com os olhos
fechados.
Deitei o corpo de Juliet na cama e a cobri com o lençol,
apaguei o abajur do lado dela da cama e me enfiei sob o cobertor do
outro lado, quando desliguei aquela luz, meu braço envolveu o
corpo dela e Juliet me segurou junto a si.
Capítulo 57
Zeus

Assim que acordei, senti o corpo de Juliet ainda preso ao meu


e aquele cheiro doce da pele dela me envolvendo, abracei-a com
mais força sem me permitir abrir os olhos por algum tempo mais.
Apenas para aproveitar a companhia dela.
— Bom dia! — Juliet sussurrou.
— Ainda estou dormindo — falei pressionando o corpo dela
mais junto ao meu.
— Você tem que trabalhar — ela lembrou rindo.
Estava prestes a responder quando ouvi algo caindo na minha
cozinha e Juliet se sentou na cama assustada. Segurei a mão dela
antes que saísse correndo pelo quarto.
— Relaxe, Poseidon e Hades devem ter discutido com meu pai
ontem e vieram para cá passar a noite. Provavelmente chegaram
tão bêbados que não se preocuparam em ver se eu estava sozinho.
— Vamos levantar, você tem que trabalhar — falou.
Me sentei observando o rosto de Juliet.
— Não quero que eles saibam — avisou, desviando os olhos
do meu rosto.
— Nenhum deles vai te julgar, eles provavelmente vão querer
quebrar a cara de Jack, mas não vão julgar você.
— Eu prefiro não falar nada por enquanto — sussurrou.
— Vou ter que explicar uma parte para Poseidon, porque eu
estava falando com ele ontem quando você chegou — confessei e
ela assentiu.
Nós saímos do quarto antes que meus irmãos mais novos
destruíssem minha cozinha, Poseidon sabia cozinhar, mas sempre
deixava por conta de Hades que conseguia queimar qualquer coisa
que tentava fazer.
— Parece que teremos ovos queimados e pão tostado para o
café da manhã — Juliet disse entrando na sala antes de mim.
— Bom dia, JJ — Poseidon falou e vi minha namorada suspirar
ao ouvir o apelido que ela já tinha dito que odiava.
— Ao menos o café, eu não queimei — Hades confessou
sorrindo.
Juliet caminhou até a cafeteira e se serviu de uma caneca da
bebida quente enquanto meu irmão mais novo tentava controlar o
fogo sob a frigideira.
— Você não está sempre correndo de manhã para se arrumar
para o trabalho? — Poseidon questionou e Juliet ergueu os ombros.
— Pedi demissão.
— Por que, JJ? Vai mesmo virar modelo de lingerie? — meu
irmão questionou e Juliet ergueu uma sobrancelha.
— Se você tem algum apreço pela sua vida, não fale sobre
esse assunto outra vez — avisei.
— Está indo para outro emprego? — Hades perguntou e Juliet
balançou a cabeça negativamente.
Ela se sentou perto do balcão e bebericou o café.
— Aconteceram umas merdas — Juliet falou. — Tenho que
começar a imprimir currículos.
— Se você quiser, tenho uma vaga de fotógrafo no trabalho,
acabei de demitir um idiota que estava se envolvendo com as
modelos do último projeto — Hades ofereceu.
Juliet piscou surpresa com a oferta. Meu irmão caçula desistiu
de tentar se entender com a comida e desligou o fogo, ele observou
o rosto de Juliet esperando que a minha namorada respondesse.
— Hades, eu agradeço a oferta, mas não tiro fotos
profissionais, nunca trabalhei com fotografia — sussurrou.
— Mas você é boa e sei que não vai se envolver com modelos.
Posso fazer um teste com você hoje, dar umas dicas — ele
explicou.
— Ela também desenha, seria uma ótima aquisição para o seu
setor — avisei e Hades olhou de Juliet para mim.
— Você desenha? — questionou surpreso com as palavras.
— Um pouco — admitiu.
— Os desenhos que você sempre tentava roubar de mim,
foram feitos por ela — contei ao meu irmão que olhou para Juliet
surpreso.
— Vamos, venha conosco para a empresa hoje, pelo menos
tente — Hades pediu.
Juliet suspirou ouvindo as palavras dele.
— Eu agradeço a oferta, mas não acho uma boa ideia ir
trabalhar em uma empresa quando estou dormindo com o chefe
dela — ela falou me indicando e Poseidon praguejou tossindo
depois de se engasgar com o café.
— Bom, eu sou o chefe do setor de fotografia da empresa, até
onde sei você não está dormindo comigo — Hades disse. —
Trabalhando lá, você vai se reportar a mim ou ao nosso pai. Zeus e
você mal vão se ver.
Juliet mordeu uma das torradas que Hades fez e contorceu o
rosto com o gosto amargo de queimado, a mulher olhou para todos
nós como se pensasse a respeito de trabalhar conosco.
— Uma vantagem de ser fotógrafa, você não vai precisar usar
salto e uma saia que mal te deixa respirar — Hades falou me
fazendo rir.
— Me convenceu — Juliet disse, com um sorriso repuxando os
lábios.
— Eu vou com Zeus na prefeitura fazer uma pressão para
liberarem nosso próximo projeto mais rápido, então Hades e Juliet
vão juntos para a empresa.
— Deixei meu carro no bar ontem — o caçula lembrou.
— Sim, mas eu tenho um carro — Juliet sussurrou. — Vou no
meu apartamento me aprontar e já volto.
— Hades, você está a um passo de voltar ao seu reino —
Poseidon disse, fazendo com que Juliet jogasse a torrada queimada
na cabeça do meu irmão do meio.
Ela caminhou para o meu quarto e eu suspirei observando a
cozinha, peguei uma caneca para beber café, não falamos nada até
que ela saiu do apartamento, mandando Poseidon ir para o inferno
quando meu irmão a chamou de JJ.
— Você suspirou tantas vezes que estou me perguntando se
está faltando oxigênio nesse lugar — Hades comentou me
estudando.
— Algo aconteceu? — Poseidon perguntou e eu assenti. —
Vamos ter que te torturar para saber o que houve?
— Não posso contar — admiti.
— Por que não? — o caçula quis saber observando meu rosto.
— Ela pediu para eu não contar.
Meus irmãos encararam a porta por onde minha namorada se
foi e eu me perguntei o que exatamente se passava na cabeça
deles. Respirei fundo e avisei que ia me aprontar para o trabalho.
Depois de um banho rápido e de vestir as roupas sociais, voltei para
a sala e vi Hades cochichando com Poseidon no sofá. O mais novo
sussurrava e o nosso irmão do meio tentava.
— Vocês estão juntos há quase dois meses — Poseidon falou
desistindo de fofocar com Hades.
— Estamos — respondi observando os dois.
— Por que não contou para ela? — Hades me perguntou. —
Acho que Juliet ia querer te ajudar.
— Não quero que ela saiba. Juliet é muito paranóica, se
souber da aposta vai achar que eu me aproximei dela de propósito
para conseguir a herança — expliquei.
— Acha mesmo que ela ia pensar isso? — Poseidon
questionou com a voz preocupada.
— Levei quase todo esse tempo para convencê-la de que não
me interessei por ela por causa de Laura — confessei. — Se ela
souber sobre a aposta…
— Pode pensar que você está com ela por ser parecida com a
irmã e ser a única mulher no mundo que você pediria em casamento
— Hades sussurrou e Poseidon e eu o encaramos surpresos por ele
ter chegado àquela conclusão.
— Basicamente — concordei.
Quando Juliet retornou ao meu apartamento, ela usava uma
blusa lisa escura e uma calça jeans comum, os pés dela estavam
calçados com botas escuras com saltos baixos e largos. Ela deixou
o casaco em cima do balcão enquanto prendia o cabelo em um rabo
de cavalo.
— Bom primeiro dia — sussurrei beijando o rosto dela.
Nós quatro saímos do apartamento juntos e Poseidon falou
mais algumas piadas sobre Hades indo de carona com Juliet. Minha
namorada ameaçou passar por cima dele com o carro e Poseidon
parou de falar.
Capítulo 58
Zeus

Passei a manhã na prefeitura impedindo Poseidon de socar


alguém, durante o tempo em que tentávamos conseguir as licenças
da reforma. Quando chegamos a empresa, minha mente estava
prestes a explodir e o imbecil ainda estava rindo da cara do
funcionário da prefeitura. De como o sujeito se assustou quando
meu irmão bateu com as mãos no balcão.
— Você podia ter feito a gente perder um bom tempo lá —
lembrei. — É o advogado mais temperamental que conheço.
— Zeus, eu não gosto de enrolação, se o cara estava com as
licenças, por que demorar tanto para nos entregar?
— Burocracia, meu irmão — falei observando a tela do celular
preso ao painel do carro.
— Por que está olhando tanto para o celular? — perguntou
irritado.
— Estou esperando Hades me dar notícias sobre Juliet, se ele
vai mesmo contratá-la.
Poseidon bufou audivelmente e pegou meu celular. Ele digitou
o dia do aniversário da nossa mãe na tela e conseguiu desbloquear
o aparelho.
— Você é muito previsível — resmungou abrindo o chat com
Hades. — Como está indo o progresso da minha linda namorada?
Narrou enquanto digitava a mensagem para Hades, me contive
para não dar um peteleco no meu irmão. Não tínhamos mais idade
para esse tipo de comportamento.
— Ele disse que os peitos da sua namorada são tão bonitos
que ele não consegue se concentrar no trabalho — Poseidon falou.
— Vocês precisam parar com essas brincadeiras — avisei
revirando os olhos.
— Foi o que ele disse mesmo — retrucou mostrando a tela do
celular.
— Só evitem esse tipo de piada por enquanto — pedi.
Poseidon me encarava, eu conseguia sentir o olhar do meu
irmão sobre mim como se tentasse entender o que estava
acontecendo.
— Ontem a noite, você me ligou dizendo que a sua namorada
podia estar em perigo e nós dois íamos ao escritório porque você
podia precisar de um advogado… — Poseidon se interrompeu.
Encarei meu irmão quando estacionei o carro na garagem do
prédio da Olympus.
— Onde Juliet estava ontem? — perguntou.
— Ela foi jantar com Jack Donovan — falei.
— Aquele filho da puta! — Poseidon praguejou observando
meu rosto com aquela raiva descontrolada contorcendo suas
feições.
— Juliet não quer que ninguém saiba — avisei.
— O que exatamente aconteceu? — Poseidon perguntou. —
Ou você me conta, ou vou perguntar direto para ela.
Suspirei irritado por Poseidon ser sempre astuto. O grande
problema era que o meu irmão do meio era um cabeça quente que
não se importava com consequências. Ele apenas agia em prol das
pessoas que amava.
— Jack a agarrou no estacionamento de um restaurante. Juliet
mordeu a língua dele e lhe deu um chute no saco antes de fugir de
lá. Ela se demitiu porque a chefe dela, bem como todo mundo
naquela merda de lugar, já tinha notado que ela estava sendo
assediada por ele — contei.
— Não se preocupe, não vou contar nada para ninguém, nem
mencionar que foi fácil arrancar a informação de você — avisou,
esboçando um sorriso de canto.
Descemos do carro juntos e Poseidon avisou que ia direto para
a própria sala, assenti deixando que ele fizesse o que quisesse e
caminhei pelo térreo até o estúdio de Hades.
Observei pelas paredes de vidro, eles tinham colocado uma
maquete em uma mesa, os painéis atrás eram escuros, Hades
estava parado perto de Juliet enquanto minha namorada fotografava
algumas vezes a maquete, os dois estudaram as fotos juntos e ele
passava algumas instruções que ela assentia ao ouvir.
Permaneci parado com a bolsa pendurada na mão
observando-a fotografar, Juliet sorria para o meu irmão sempre que
ouvia as palavras dele. Quando ela voltou a fotografar, Hades
passou os olhos pela sala e me viu, ele sorriu sinalizando para que
eu entrasse.
Abri a porta cumprimentando os poucos funcionários do lugar.
Hades continuou instruindo Juliet que não tinha notado a minha
presença.
— Eu disse que não fotografava há muito tempo — Juliet
lembrou.
— Mas você se saiu bem — Hades disse. — Vou dar uma
olhada no material e vejo se podemos usar na campanha de hoje.
— Espere aí, você disse que era só um teste — Juliet falou
nervosa.
— Hades sempre faz isso — comentei e a mulher se virou me
observando surpresa com a minha presença. — Ele diz que é só um
teste para você não ficar nervosa e depois usa como seu primeiro
trabalho na empresa.
Juliet olhou meu irmão mais novo como se esperasse uma
confirmação do que eu estava dizendo e Hades sorriu pegando a
câmera das mãos dela.
— Se eu tivesse dito que seria seu primeiro trabalho, só ia te
deixar mais nervosa.
Hades caminhou pelo estúdio, indo até um dos funcionários
que estava sentado em frente a um computador, observamos meu
irmão por um instante.
— Então, o que está achando? — perguntei curioso.
— Eu adorei o estúdio — Juliet falou com um sorriso no rosto.
Os olhos da minha namorada brilhavam como eu nunca vi
antes.
— Fico feliz que você tenha gostado — sussurrei.
— Hades tem uma visão única de fotos, cada ângulo e luz.
Como tudo reflete nos objetos — comentou com um sorriso largo no
rosto.
Precisei conter aquela necessidade de abraçar a mulher à
minha frente, os olhos de Juliet permaneceram brilhando, mesmo
quando ela parou de sorrir e me encarou.
Aqueles olhos cinzentos parecendo guardar promessas, nas
entrelinhas daquela conversa silenciosa que estávamos tendo.
— Parabéns, Juliet, está contratada — Hades gritou.
Esbocei um sorriso e estendi a mão para ela, Juliet apertou
minha mão.
— Parabéns, Srta. Jordan — falei.
— Obrigada, Sr. Andrews — respondeu com aquele sorriso de
canto que sempre me fazia perder a compostura.
Meu polegar acariciou a mão de Juliet e ela para crédito
próprio sustentou o meu olhar. Aquele instante de silêncio foi
rompido quando Hades se aproximou.
— Qual dessas fotos você mais gosta? — meu irmão me
perguntou.
— Essa — indiquei a foto à esquerda e Hades sorriu.
— Você está aprendendo, Zeus — ele disse.
Apesar das similaridades entre as fotos, havia uma sombra na
foto da direita, uma que algumas pessoas não notariam, mas Hades
tinha me infernizado tanto para prestar atenção aos detalhes.
— As fotos ficaram muito boas, depois quero ver seus
desenhos — Hades sussurrou.
— Claro, vou deixar alguns no apartamento de Zeus e depois
você vê — Juliet sugeriu em voz baixa.
— Ou você pode trazer amanhã quando vier trabalhar —
Hades respondeu igualmente baixo.
— Ah, é — Juliet riu.
Hades lançou um olhar sutil para as nossas mãos
entrelaçadas, Juliet e eu soltamos as mãos e eu ergui as pastas.
— Tenho que voltar ao trabalho. Mais uma vez, bem-vinda a
Olympus, Srta. Jordan — falei e Juliet agradeceu.
Saí daquele estúdio com um sorriso no rosto que não se
desfez durante o resto do dia. Juliet Jordan estava trabalhando a um
elevador de distância e isso me dava algumas ideias de sonhos
novos para realizar.
Capítulo 59
Zeus

Na sexta à noite, eu tinha combinado um jantar com Juliet no


meu apartamento, mas fiquei preso em uma reunião com meu pai e
já passava das sete quando finalmente cheguei ao prédio. Entrei no
elevador e vi a colega de quarto de Juliet lá dentro, ela sorriu.
— Boa noite, vizinho! — cumprimentou animada.
— Boa noite! — respondi.
Ela correu para sair do elevador antes que as portas se
fechassem e segurou as portas metálicas apenas o suficiente para
dizer: — Juliet e você estão brigados?
— Não — falei confuso.
— Ela está em um humor de cão essa semana, sempre que
nos encontramos parece que vai arrancar a cabeça de alguém.
Pensei que tinham brigado — comentou.
— Estamos bem — avisei e ela sorriu.
— Bom.
A mulher soltou a porta e eu notei que me olhou de cima a
baixo enquanto o elevador se fechava. Quando cheguei em casa, vi
Juliet sentada na poltrona, com as costas apoiadas em um dos
braços e as pernas jogadas sobre o outro. O cabelo louro escuro
dela estava preso em um coque e os pés estavam inquietos
enquanto a mão traçava contornos no desenho. Ela não pareceu
notar minha presença.
Aproximei meu rosto do dela e sussurrei: — No que está
trabalhando?
Juliet me olhou surpresa, fechou o caderno de desenhos e
segurou o meu rosto entre as mãos me puxando para um beijo.
— Você está atrasado — acusou ao interromper o beijo.
— Tive uma reunião urgente no fim do dia — expliquei.
— Está perdoado — ela sussurrou.
— Agora me deixe ver no que você está trabalhando — pedi,
pegando o caderno, mas Juliet o puxou de volta.
— Não. Tenho que mostrar ao meu chefe primeiro — avisou.
— Confidencialidade é tudo nesse setor.
Esbocei um sorriso ao ouvi-la dizer essas palavras.
— Vou tomar um banho e podemos jantar juntos, quer pedir
algo para comer? — perguntei.
— Eu cozinhei.
— Isso é ainda mais atrativo — admiti. — Adoro a sua comida.
— Eu acho que você está apaixonado por mim, então sua
opinião não é confiável — retrucou me fazendo rir.
— Estou apaixonado, mas você é boa em tudo que faz —
avisei.
— Vai logo tomar banho — pediu se levantando com um
sorriso no rosto.
Entrei naquele quarto e tirei aquele terno que me sufocou o dia
inteiro. Depois do banho, voltei para a cozinha e vi Juliet servindo a
comida nos pratos, enquanto ela se sentava, peguei o vinho que
tínhamos deixado pela metade dias antes e despejei a bebida nas
taças.
— Amanhã é o dia — sussurrei quando me sentei ao lado da
mulher.
— Sim — ela respondeu pegando o vinho para beber.
— Sei que provavelmente os seus pais não ficarão contentes
em me ver com você, — comentei enquanto brincava com a comida
no prato — mas não vou desistir dessa relação.
— Eu também não — Juliet falou começando a comer.
Acariciei a bochecha dela com o polegar e os lábios dela se
curvaram em um sorriso. Comecei a comer antes que o nervosismo
com o dia seguinte me fizesse perder o apetite.

Respirei fundo enquanto vestia roupas casuais, tinha


prometido a Juliet na noite anterior que esclareceria as coisas com
os pais dela, deixaria tudo claro sobre o que não aconteceu entre
Laura e eu. Observei meu rosto no espelho e vesti a camisa sem
olhar para a tatuagem no peito.
Assim que botei os pés na sala vi Juliet usando uma calça
jeans comum e tênis, ela usava uma blusa de lã vermelha com
mangas longas e o cabelo estava solto.
— Está pronta? — perguntei.
— Estou e você? — Concordei com a cabeça.
— Você está muito bonita hoje.
— Deve ser a minha cara de quem está prestes a vomitar e as
olheiras por não dormir, elas dão um toque especial.
Exalei um riso e esfreguei os braços dela.
— Independente do que acontecer lá, eu ainda vou estar ao
seu lado essa noite — lembrei e Juliet assentiu.
Nós saímos do apartamento juntos e eu vesti o casaco no
caminho para o elevador, Juliet suspirou quando entramos e ela
apertou o botão do térreo.
— Acho que no fundo, eles já sabem — sussurrou. — Nunca
exigiram conhecer meus namorados antes.
— Então não corremos o risco de um deles infartar — falei e
Juliet riu.
— É, temos essa vantagem — concordou.
Quando chegamos à garagem, nós seguimos para o meu carro
e Juliet entrou no lado do carona. Liguei o motor e comecei a fazer
aquele caminho em direção a casa dos pais dela.
— Você não precisa aguentar as grosserias deles, se disserem
algo que te incomode, vamos embora na mesma hora — Juliet
disse.
— Está tudo bem. Relaxe um pouco — pedi.
Assim que estacionei o carro em frente a casa dos Jordan,
Juliet suspirou antes de sair do veículo. Eu segui travando as portas
antes de caminharmos juntos em direção a porta de entrada.
Juliet abriu a porta da casa dos pais e nós entramos, tirei o
casaco e a ajudei a tirar o dela.
— Mãe? — Juliet chamou.
— Na cozinha! — a mulher gritou em resposta.
Minha namorada me olhou e eu assenti, ela seguiu andando
para o cômodo e respirei fundo ao segui-la, tentando não olhar as
paredes cheias de memórias de Laura. Juliet entrou primeiro na
cozinha.
— Está tudo pronto, só tenho que levar para… — A Sra.
Jordan se calou quando me viu, deixando cair uma vasilha de vidro
com salada.
Ela estava sorrindo antes, sorriu até que seus olhos
encontraram o meu rosto e notou que eu era o namorado de Juliet.
— Não se mexa, querida, você vai se cortar no vidro. — O
marido falou e correu pela cozinha para pegar vassoura e pá.
— Juliet? — a mãe chamou. — Onde está o seu namorado?
— Ele é o meu namorado, mãe. Zeus Andrews — Juliet falou.
Observei as mãos da mulher de meia idade se fechando com
força, o pai de Juliet limpou o vidro do chão.
— Juliet, você pode levar a comida para a mesa com Zeus? —
perguntou.
— Claro — ela respondeu e pegou duas travessas de comida,
peguei os objetos das mãos dela e Juliet demorou um pouco mais
na cozinha.
Quando ela finalmente chegou à sala de jantar onde eu estava,
Juliet me estudou sem expressão alguma no rosto, segurei a mão
dela e apertei-a com a minha.
— Eu estou bem — ela disse. — Não é como se isso fosse
algo inesperado.
Os pais dela demoraram um pouco mais na cozinha, Juliet e
eu nos sentamos lado a lado enquanto esperávamos, ignorei as
paredes da casa, ignorei a mesa e apenas estudei o rosto dela.
— Se você quiser ir — sussurrei.
— Está tudo bem — Juliet garantiu e sorriu para confirmar.
Os pais dela entraram na sala de jantar e a Sra. Jordan se
sentou em frente a Juliet, a mulher mais velha evitava nos olhar, por
isso, enquanto nos servimos com a comida, um silêncio
desconfortável preencheu a mesa.
— Eu soube que a empresa do seu pai cresceu muito nos
últimos anos — o Sr. Jordan comentou.
— Cresceu sim, estamos fazendo as coisas funcionarem —
respondi.
— Como herdeiro dele, você deve estar feliz com isso — a
Sra. Jordan disse sem me olhar.
— Não sou o único herdeiro do meu pai — lembrei.
— Juliet, como está indo o trabalho? — o homem mais velho
perguntou.
— Pedi demissão na segunda, mas comecei um novo emprego
na terça — ela contou.
— O que você faz no novo emprego? — o pai questionou
parecendo visivelmente interessado.
— Trabalho no setor de marketing — Juliet contou.
— E onde exatamente é esse setor de marketing? Em que
empresa? — a Sra. Jordan perguntou.
— Na Olympus, trabalho com o Hades Andrews — minha
namorada falou com um tom afiado na voz.
As duas trocaram um olhar irritado e o Sr. Jordan olhava da
filha para mim.
— O que você faz na empresa, Juliet? — ele perguntou.
— Eu tiro fotos e estamos trabalhando em um projeto usando
os meus desenhos — Juliet disse.
— Então agora você também é artista? — Sra. Jordan
questionou, parecendo transtornada.
— Maggie — o marido chamou.
— Não! Juliet, você sempre invejou os talentos da sua irmã e
agora está tentando viver a vida dela! Olhe para você, o cabelo está
na mesma cor do dela, você namora Zeus Andrews e está sendo
fotógrafa e desenhando. Por que saiu do seu antigo emprego? — a
mãe perguntou.
— É o meu cabelo — Juliet falou. — É a maldita cor do meu
cabelo!
— Nunca fui namorado de Laura, Sra. Jordan — interferi antes
que aquilo se tornasse pior. — Sua filha não aceitou o pedido de
namoro que fiz.
— Quer saber por que eu saí do meu emprego? — Juliet
indagou se levantando. — Porque a minha antiga chefe me fez sair
para jantar com um homem que todos sabiam que me assediava,
ele me beijou à força e eu tive que me livrar da situação. Sempre
gostei de fotos e de desenhar, mas você estava ocupada demais
aprimorando os talentos de Laura para notar.
— Juliet… — o pai chamou.
— Não, eu estou cansada! Tudo que tenho feito desde a morte
de Laura é mostrar ao mundo que não sou ela, que não estou
tentando viver a vida dela e a pior parte é me colocar de lado para
fazer vocês se sentirem bem comigo. Eu também sou sua filha,
posso ter sido uma gravidez indesejada, mas estou aqui, não pedi
para nascer. Se for ficar me acusando sempre que venho a essa
casa, prefiro voltar a aparecer uma vez por mês — Juliet disse para
a mãe e se caminhou para fora da sala de jantar.
— Obrigado pela refeição, vou atrás dela antes que se
machuque — avisei e o pai de Juliet assentiu enquanto a mãe
escondeu o rosto nas mãos e chorou.
Segui minha namorada para fora da casa, parando apenas
para pegar nossos casacos. Quando finalmente a alcancei perto do
carro, cobri seus ombros com o casaco e ela me olhou com os olhos
marejados.
— Sinto muito — falei.
— Não precisa lamentar. Isso é normal — avisou, abri a porta
do carona e Juliet entrou no veículo.
Fechei a porta e dei a volta no carro para entrar no lado do
motorista, quando o fiz, Juliet estava limpando os olhos com as
mangas do casaco.
— Você não devia se acostumar com esse tipo de situação —
falei em um sussurro.
— Kate e você são a única coisa estável na minha vida nesse
momento, Zeus, nada do que aconteceu nessa casa hoje me
surpreendeu.
Capítulo 60
Zeus

Quando chegamos ao apartamento, eu pedi uma pizza


enquanto Juliet e eu nos deitamos juntos no sofá, a mulher
observou o meu peito em silêncio, mesmo que estivéssemos
vestidos, eu adorava a sensação de ter o corpo dela contra o meu.
— Obrigada por ter ido lá comigo — sussurrou.
— Você sabe que não está cometendo nenhum crime, Juliet —
lembrei.
— Eu sei — ela disse fechando os olhos. — Acho que nunca
tentei seguir uma carreira com arte porque sabia que isso ia
acontecer.
— Quando vi você naquele estúdio na terça, eu soube que
pela primeira vez você tinha se encontrado de verdade. Nunca te vi
sorrir tanto.
— Eu sorrio o tempo todo quando estou com você — retrucou
me fazendo rir baixo.
— Sim, mas foi diferente ali. Eu sou uma pessoa que te faz
feliz, mas trabalhar com o que você ama tem feito você ser feliz
consigo mesma. Quando comecei com o jogo de te fazer me odiar,
queria que você desviasse o foco da sua raiva de si mesma. Fiquei
hipnotizado quando te vi no estúdio, aquela alegria que você estava
tendo era diferente.
Juliet me olhou e sorriu de canto.
— Pensar em desenhar para um projeto real de trabalho me
fez sentir completa, pela primeira vez na vida — admitiu. — Não me
importo com o que a minha mãe disse, eu realmente gosto de
trabalhar na Olympus.
— Isso é muito bom, porque eu tenho alguns sonhos a realizar
que precisaria de você por perto.
Juliet sorriu ao ouvir as minhas palavras.
— Você só pensa sem sexo — acusou rindo.
Enterrei os dedos na barriga dela e Juliet gargalhou ao sentir
as cócegas.
— Não faça isso — pediu em meio aquela risada livre de
qualquer problema.
— Você acabou de me chamar de pervertido — lembrei.
— Não chamei você de pervertido — rebateu soltando uma
risada. — Eu disse que você só pensa em sexo, mas eu estou
errada, você pensa em outras coisas também. Isso só não acontece
quando eu estou por perto.
Meneei a cabeça em concordância e segurei-a pela cintura,
Juliet me olhou com os olhos brilhando em expectativa.
— Você e eu estamos perdidos, sabia disso? Você ocupa todo
o meu dia com pensamentos a seu respeito e aparentemente a
recíproca é a mesma — falei.
Segurei aquela blusa de lã que ela usava e a puxei para cima,
deixando o corpo exposto, com os seios cobertos pelo sutiã preto
que ela usava.
— Você está se dando muito crédito, Zeus Andrews —
sussurrou.
— Não ocupo seus pensamentos o dia todo? — perguntei,
deslizando meus dedos pelo corpo dela.
— Não, ocupa meus sonhos por seis ou oito horas — falou
deslizando a perna pela minha.
O telefone do apartamento tocou e eu me estiquei para pegar
o aparelho, com a mulher deslizando as unhas pelo meu peito.
— Zeus, sua pizza chegou — avisaram.
— Ok, pode mandar subir — falei encarando o corpo da
mulher que sorria deitada no sofá.
— Se você me despir agora, o entregador vai se sentir bem
desconfortável quando chegar aqui — ela disse me fazendo sorrir.
Deixei que Juliet tirasse a minha camisa e a mulher a vestiu,
inalando o perfume no tecido.
— É mais confortável — explicou.
— Claro — sussurrei me levantando do sofá para ir até a porta.
Quando finalmente comemos a pizza, Juliet me estudou e
disse: — Quer jantar comigo? Um encontro, que me obrigue a vestir
uma roupa bonita e fazer uma maquiagem.
— É a primeira vez que uma mulher me chama para sair —
sussurrei com um sorriso de canto.
— Não me faça jogar essa pizza em você — Juliet disse.
Exalei um riso e corrigi:
— É a primeira vez que uma mulher me chama para sair e
aceito o convite.
— Ótimo.
— Está chateada com a brincadeira? — perguntei, segurando
o joelho dela.
— Não gosto de mentiras — avisou.
Pressionei o joelho de Juliet e foi difícil sustentar o sorriso no
rosto, eu vinha mantendo segredo sobre a aposta do meu pai, mas
isso não era uma mentira. Tentei convencer a mim mesmo de que
Juliet não me odiaria se soubesse, o segredo tinha sido mais fácil de
guardar, antes dela me dizer que eu era uma das poucas coisas
estáveis na sua vida.
Me vesti com calma naquela noite tentando não pensar demais
no que aquele segredo estava fazendo comigo, Juliet e eu tínhamos
passado uma tarde ótima juntos, mas sempre que a olhava e suas
palavras se repetiam na minha cabeça, me sentia culpado.
Respirei fundo observando o terno que usava e percebi que
tinha vestido quase toda aquela roupa preta, saí do quarto e me
sentei na sala servindo um copo de uísque.
Enquanto tomava a bebida, minha mente continuou me
torturando com aquele maldito contrato que meu pai fez, continuei
trabalhando na possibilidade de como Juliet reagiria se soubesse.
— Parece que você está bem perdido na sua mente. — A voz
da minha namorada chegou aos meus ouvidos e ergui os olhos para
observá-la.
Ela usava um vestido vermelho longo e tinha brincos longos
pendurados nas orelhas, um colar fino estava em seu pescoço e eu
observei aquele decote profundo na roupa, as alças finas pareciam
desnecessárias, já que o vestido parecia se prender bem ao corpo
dela.
— Você está linda — elogiei.
— Você também, apesar de parecer que assaltou o guarda-
roupa do seu irmão — comentou me fazendo sorrir.
Fiquei de pé segurando a mão dela e deixei o copo de lado, os
olhos dela me estudaram, esperando que eu explicasse aquela
situação.
— Parece que tem alguma coisa incomodando você — avisou
e eu sorri.
— É só a empresa — falei.
— Algo em que eu possa ajudar? — questionou e eu a estudei.
Balancei a cabeça negativamente e resolvi mudar o rumo da
conversa: — Onde pretende me levar? Do jeito que está vestida
parece que vamos assistir uma ópera.
— Está fazendo referência ao filme Uma Linda Mulher? —
perguntou parecendo surpresa.
— Andei assistindo alguns filmes de romance com os meus
irmãos — admiti.
— Zeus Andrews precisando de dicas de como pegar mulher?
Essa é uma ideia interessante — falou.
Juliet cutucou minha barriga e segurei o rosto dela com uma
das mãos.
— Vamos sair daqui antes que eu destrua sua maquiagem —
pedi.
— Vamos a um restaurante que tem uma musicista incrível, ela
toca piano quase a noite toda.
Juliet e eu caminhamos pelo prédio, atraindo a atenção das
pessoas que passavam por nós, minha mão continuou na cintura
dela, mantendo a mulher perto de mim.
— Não sabia que você é ciumento — ela disse quando notou
que eu encarava um dos vizinhos dos andares abaixo que entrou no
elevador e a olhou de cima a baixo.
— Não sou — falei e os lábios dela cobertos por um batom
vermelho se curvaram em um sorriso malicioso.
Nós caminhamos até o meu carro quando chegamos à
garagem e Juliet estendeu a mão pedindo a chave.
— É uma surpresa — lembrou e eu entreguei a chave do carro
para ela.
A mulher sorriu ao entrar no lado do motorista e eu me senti
desconfortável por estar no banco do carona, mas me mantive
calado, ela dirigiu pela cidade, com o rosto concentrado.
— Você dirige muito bem — comentei.
— Aprendi muito nova — ela contou.
— Dirigiu antes de ter licença? — perguntei e ela sorriu.
— Todos temos um passado. Se um dia conseguir uma moto,
podemos viajar para qualquer lugar — falou.
Juliet contou algumas histórias sobre quando era adolescente,
depois da morte da irmã e quando ela começou a se envolver com
um grupo bem complicado na escola. Assim que chegamos ao
restaurante, nós descemos do carro e Juliet envolveu o meu braço
me devolvendo a chave do carro.
— Reserva de Juliet Jordan — ela disse à mulher na entrada.
— Por aqui — a recepcionista chamou.
Nós a seguimos e eu conseguia ouvir uma das sinfonias de
Beethoven tocando no piano. Puxei a cadeira para Juliet e ela
agradeceu ao se sentar e observar a mulher que tocava.
Me sentei à sua frente e nós pedimos um vinho quando o
garçom se aproximou, depois que escolhemos os pratos, Juliet
voltou sua atenção para a mulher ao piano.
— Sabia que Beethoven perdeu a audição ao longo da vida?
— perguntei e ela me olhou surpresa.
— É sério? — questionou.
— Quando não conseguia ouvir, ele sentia as vibrações das
notas para fazer as composições — expliquei e Juliet pareceu ainda
mais emocionada com a música.
Meu celular sinalizou uma mensagem e eu o apanhei para ver:
“Lembre que amanhã à noite é a nossa festa beneficente, apareça e
traga sua namorada.”
— Meu pai está te convidando para uma festa na mansão
amanhã à noite — contei e Juliet me observou.
— Parece que nossos laços estão se estreitando nesse fim de
semana, Zeus — sussurrou com os lábios voltando a se curvarem
naquele sorriso malicioso.
— Isso assusta você? — perguntei.
— Nenhum pouco — sussurrou, encarando os meus olhos
com aquela faísca entre nós pronta para devorar cada combustível
que carregamos.
Capítulo 61
Zeus

No domingo de manhã, as roupas que usamos na noite do


encontro estavam espalhadas pelo quarto, Juliet ainda dormia ao
meu lado, respirei fundo observando o rosto dela, a maquiagem
estava borrada e o cabelo bagunçado, mas mesmo assim, eu a
achava a mulher mais linda do mundo.
Continuei encarando a mulher enquanto ela permanecia imóvel
adormecida, não conseguia imaginar como ela conseguia lidar com
todas as críticas dos pais e permanecer como sempre.
Menos de vinte e quatro horas antes, Juliet e a mãe estavam
brigando sobre ela estar ou não tentando viver a vida da irmã e
naquele instante, ela dormia profundamente, sem qualquer indício
de que aquele encontro com os pais a tinha afetado.
— Não fique me encarando enquanto durmo — pediu
esboçando um sorriso.
— Está me vendo através das pálpebras? — perguntei e Juliet
riu finalmente abrindo os olhos.
— Não — sussurrou. — O que está te atormentando?
— Você não parece incomodada com o que sua mãe falou —
falei e Juliet suspirou.
Ela se sentou na cama e pegou a caixa de lenços na mesa de
cabeceira. Observei enquanto ela limpava uma parte da maquiagem
borrada com o lenço.
— Por mais difícil que seja de imaginar, eu tenho enfrentado
esse tipo de situação a vida inteira, desde que Laura morreu,
qualquer coisa que eu faça é apontada como se eu a estivesse
copiando. E quando não ajo como ela agiria, eu sou apontada por
forçar diferenças entre nós — explicou.
— Não há um modo de agradar, não é? — questionei com a
voz baixa.
— Só se eu levasse aquele raio na cabeça no lugar dela —
murmurou sem me olhar.
O tom de voz seco de Juliet ao dizer essas palavras, me fez
perceber que ela tinha pensado a respeito daquela ideia várias
vezes antes. Envolvi a cintura dela com o braço e a mulher
finalmente me olhou.
— Juliet, — sussurrei e ela me estudou esperando que falasse
— você é uma pessoa importante nesse mundo. Este mundo
pareceria menos quente se você não estivesse nele. Sem você, a
música não tocaria tanto a minha alma, a luz não me permitiria
enxergar tanto e o meu coração não saberia o que é estar agitado.
Nunca antes, nenhuma mulher nesse mundo mexeu com o meu
coração como você mexe.
Ela segurou o meu rosto com uma das mãos e deixou os
lenços sujos de lado quando me beijou. Eu estava prestes a puxar a
mulher para o meu colo quando alguém bateu na porta do quarto e
Juliet cobriu os seios com o lençol ao se afastar de mim. Cobri o
meu corpo com o tecido e vi Poseidon invadir o quarto.
— Jesus Cristo! Que furacão passou por esse quarto? — ele
perguntou caminhando pelo quarto.
— O que diabos você está fazendo aqui? — perguntei irado.
— Desculpe atrapalhar sua manhã interessante, ó grandioso
Zeus, mas eu preciso de uma roupa emprestada e Hades também.
— Por que vocês não alugam um smoking como qualquer
pessoa normal? — questionei.
— Porque é domingo e o idiota aí passou a noite bêbado —
Hades contou aos berros de algum lugar do apartamento.
— Pode esperar a gente se vestir? — pedi e Poseidon sorriu.
— Vou ajudar Hades com o café da manhã — falou saindo do
quarto. — Aliás, JJ, linda lingerie.
Meu irmão indicou as peças pretas jogadas no chão, ele
fechou a porta quando Juliet jogou a caixa de lenços em sua direção
e eu me levantei para trancar o quarto.
— Preciso pegar a chave que dei a ele — comentei e Juliet
sorriu. — Vou quebrar os dentes de Poseidon enquanto você toma
banho.
Peguei uma calça no closet aberto e vi a mulher se levantar da
cama para andar até o banheiro. Assim que Juliet entrou no outro
cômodo fechando a porta, eu destranquei o quarto e saí fechando a
porta atrás de mim.
Encontrei Hades brigando com a cafeteira e Poseidon
vasculhando a minha geladeira.
— Eu sei que vocês entravam e saíam daqui sempre que
queriam, mas aquilo foi um pouco demais, não acha? — perguntei.
— Eu tinha que fazer Juliet se afastar um pouco — ele falou.
— Mike vai estar na festa hoje à noite — Hades avisou em um
sussurro. — Você contou para ela?
Encarei a porta do quarto a distância e neguei com a cabeça,
meus irmãos mais novos trocaram um olhar.
— Você sabe que Mike é uma cobra traiçoeira, ele vai tentar
de todo jeito acabar com o seu relacionamento — Hades disse
convicto.
— Acho que nem ele desceria tão baixo — falei.
— Você realmente deve ser muito inocente, Zeus — Poseidon
rebateu. — Ou muito burro.
Respirei fundo esfregando a testa e prometi que não deixaria
Juliet sozinha perto de Mike.
Quando a minha namorada saiu do quarto usando uma das
minhas camisas, Hades e Poseidon invadiram o lugar, que ela já
tinha tirado as roupas do chão, os dois foram para o meu closet
procurando algo para vestirem à noite e eu observei minha
namorada enquanto nos servia de café.
— Você acha mesmo que é uma boa ideia deixar eles
sozinhos no seu quarto? — ela me perguntou e eu fui para o
cômodo observando-os vasculhar minhas roupas.
— Se veio nos impedir de ver as roupas de Juliet, chegou
tarde. Hades até abriu a gaveta de calcinhas dela — Poseidon falou
enquanto pegava um terno cinza escuro.
— Eu estava procurando as gravatas — Hades se defendeu.
— Claro, claro, que tipo de maluco estaria procurando as
roupas íntimas da cunhada? — Poseidon disse.
— Agora que assaltaram meu closet, deem o fora — ordenei.
Eles saíram do quarto e eu os segui, fechando a porta atrás de
mim, Juliet estava fritando bacon e os dois se sentaram perto do
balcão observando-a.
— Vocês não parecem animados para a festa — ela disse,
observando-nos.
— É porque a casa vai estar cheia de cobras traiçoeiras —
Poseidon falou.
— Achei que eu fosse a única da sua vida, Poseidon — ela
rebateu.
— Você é a minha favorita, mas temos muitas nos rodeando.
A mulher riu enquanto tirava algumas fatias de bacon da
frigideira e colocava no prato.
— Se não gostam das festas, por que participam?
— Arrecadamos fundos para doar para caridade — Hades
explicou. — Orfanatos, abrigos e hospitais.
Juliet desligou o fogo e pegou algumas fatias de bacon, ela
voltou a pegar a caneca de café que servi mais cedo e disse: — Vou
para casa, tenho que limpar o meu quarto.
— Nos vemos mais tarde — sussurrei.
Quando a mulher saiu da minha casa, eu voltei a discutir com
os meus irmãos minhas razões para não correr para uma joalheria.
— Ela merece pelo menos saber porquê você não quer pedi-la
em casamento — Hades disse.
— Juliet e eu estamos muito bem, não é como se ela estivesse
esperando por uma aliança — afirmei.
— Será? Vocês estão claramente apaixonados, ela deve estar
esperando que você a peça em casamento em algum momento —
Poseidon falou.
— Mas não quero que ela pense que estou pedindo por causa
da herança — expliquei.
— Espero mesmo que você saiba o que está fazendo —
Hades sussurrou.
— Eu também — respondi em um suspiro.

Juliet tinha me dito por mensagem que ia fazer as unhas e


cuidar do cabelo, por isso passaríamos o resto do dia separados.
Troquei mensagens com Charlie que me disse que não poderia ir à
festa beneficente nesta noite, mas me pediu para visitá-lo em breve.
Me vesti para aquela festa com uma roupa elegante e penteei
o cabelo para trás, assim que me vi pronto, saí do quarto e dessa
vez fui até a casa de Juliet para buscá-la.
Assim que ela abriu a porta, o meu fôlego se perdeu, Juliet
usava um vestido longo azul escuro, o tecido parecia brilhar
conforme a luz batia nele, o pescoço dela ainda estava vazio e ela
tinha brincos nas orelhas, a mulher tinha feito vários cachos nos
cabelos e estava com uma maquiagem que a deixava ainda mais
deslumbrante e realçava os olhos.
— Não consigo achar algo que combine com esse vestido —
falou deixando a porta aberta para que eu entrasse.
— Como assim? — perguntei.
— Um colar — explicou.
Me aproximei dela tirando uma caixinha larga do bolso do
casaco que estava na minha mão. Juliet se virou observando a
caixa, eu a abri expondo o colar fino com diamantes que tinha
comprado há alguns dias.
— Eu estava pensando em te dar depois da festa, mas acho
que ele combina com o seu vestido — confessei.
— É lindo, Zeus — ela disse, observando o meu rosto. — Não
posso aceitar um presente tão caro.
— Pare de ser teimosa — pedi deixando o casaco de lado e
virando o corpo dela para que se olhasse no espelho.
Juliet manteve os olhos no meu rosto através da superfície de
vidro, eu afastei o cabelo dela e ela segurou os cachos para cima,
observei-a com calma e meus dedos percorreram a pele lisa do
pescoço dela quando coloquei a joia em seu pescoço.
— Eu amei — ela falou observando meu rosto enquanto levava
a mão livre ao colar já preso ao pescoço.
— Estou pensando que talvez a gente se atrase um pouco —
falei aproximando meu nariz do pescoço dela e sentindo aquele
cheiro doce da pele.
— Não, nós não vamos nos atrasar — avisou se afastando de
mim.
— Como pode ficar tão linda e querer que eu tenha alguma
compostura? — perguntei nervoso e Juliet riu.
— Você consegue — ela garantiu dando dois tapinhas no meu
peito. — Quando voltarmos você realiza suas fantasias.
Eu dirigi para a mansão com Juliet ao meu lado parecendo se
divertir com a tensão que ela tinha deixado no meu corpo, o ar no
carro parecia preenchido pelo cheiro dela, o que só me fazia
imaginar aquele corpo sobre o meu naquele banco.
Assim que estacionei o carro na propriedade do meu pai, Juliet
e eu caminhamos para o interior da casa. Ela estava parecendo
animada com a festa, mesmo que eu soubesse que a maioria
daquelas pessoas só estava ali por interesse nos benefícios da
amizade do meu pai.
— Zeus! — chamou uma mulher mais velha, esbocei um
sorriso quando me aproximei dela com Juliet ao meu lado. — Como
é bom ver você! Lembra do meu filho, Romeu?
Ela indicou um rapaz ao seu lado e eu apertei a mão dele.
— Essa é a minha namorada, Juliet — apresentei e a mulher
segurou a mão de Juliet com um sorriso largo no rosto.
— Ah, se você não estivesse acompanhada! Eu sou
apaixonada por Romeu e Julieta, sempre quis que meu filho
encontrasse sua Juliet — ela comentou.
— Essa aqui é minha, procure a sua, Romeu — falei
envolvendo a cintura de Juliet e a minha namorada riu.
— Foi um prazer conhecê-la — ela disse aos dois e nós
seguimos pela festa.
— Ela provavelmente vai mandar o fedelho te chamar para
dançar — avisei e Juliet riu.
— Não vai ser surpresa.
Nós caminhamos pela festa, cumprimentando algumas
pessoas, Juliet já parecia irritada quando alguém perguntava se ela
sabia que tinha um Romeu na festa, mas minha namorada sorria e
dizia que quem precisava de um Romeu quando tinha um Zeus.
— Preciso de um ar — ela me disse quando um grupo de
homens começou a falar de negócios comigo. — Vou até aquela
varanda.
— Está bem — falei.
Ela pediu licença e saiu de perto de nós, os homens
rapidamente perguntaram sobre as obras e as licenças, tentei ser
breve e explicar como tudo estava indo. Minha cabeça já latejava
quando meus irmãos se aproximaram, Poseidon lembrando aos
nossos clientes que aquilo não era uma noite de negócios e Hades
parecendo afugentar os homens com os olhos.
Ele usava uma roupa preta completa e tinha as mãos enfiadas
nos bolsos.
— Vocês me livraram de uma grande dor de cabeça — falei.
— Acho que uma pior te espera — Hades avisou e eu segui
seu olhar. Juliet estava na varanda com o celular de Mike nas mãos
e o meu primo parecia satisfeito ao olhar para ela.
A mulher me olhou, o rosto dela estava tomado por uma
expressão dolorosa. Caminhei até a varanda com Hades e Poseidon
me seguindo.
— Juliet? — chamei, enquanto meus irmãos impediram Mike
de sair da varanda.
— Isso é verdade? — ela perguntou me mostrando a tela do
celular.
Observei a tela, estava ali o contrato que tinha mudado e
desesperado nossas vidas.
— Juliet, me escute — pedi.
— Como pôde não me contar? — questionou.
— Eu não sabia como te dizer — falei.
Poseidon pegou o celular de Mike da mão dela e eu vi quando
Hades arrastou nosso primo para longe dos vidros que davam para
o salão de festas. Nosso irmão os seguiu, deixando Juliet e eu a sós
naquela varanda, com alguns olhares se direcionando a nós.
— Não existia um jeito simples de te contar isso…
— Era isso que você vinha escondendo? — perguntou me
interrompendo. — Só estava comigo porque precisava…
— Não, isso nunca aconteceu! — falei.
— Como vou acreditar em você agora, Zeus? — indagou com
lágrimas rolando pelo rosto. — Como posso simplesmente aceitar
qualquer coisa que você me disser neste momento?
— Juliet, espere — pedi quando ela começou a se afastar e a
mulher acertou meu rosto com um tapa.
Ela saiu andando pelo salão passando por pessoas que
filmavam nosso desentendimento. Eu me vi perdido observando-a
por um instante. A segui, mas Juliet desviou do meu toque, ela tirou
os sapatos dos pés e correu para fora da mansão sem se importar
com o casaco.
Enquanto eu parava para pegar o casaco dela, para finalmente
segui-la, ela entrou em um táxi.
— Meu carro — falei para o segurança. — Preciso do meu
carro.
Havia tantos carros no estacionamento, que seria impossível
tirar o meu dali.
— Zeus — Hades me jogou a chave da moto dele e eu
agradeci correndo para a garagem particular.
Capítulo 62
Zeus

Eu tinha pilotado aquela moto até o meu prédio, entrei em


casa, mas Juliet não estava, bati no apartamento dela e quando não
houve resposta abri a porta com a minha chave, mas estava vazio.
Saí do apartamento voltando a trancar o lugar.
— Onde você se enfiou? — perguntei em voz alta.
Peguei o celular do bolso e liguei para ela, mas Juliet não me
atendeu, quando tentei ligar outra vez, o número estava desligado,
quase joguei o celular na parede ao ouvir que deveria gravar um
recado.
— Juliet, sei que errei em não te contar, sei que deveria ter te
falado, mas nunca foi por causa da aposta. Sempre foi sobre você
— falei para a gravação.
Desci de volta para a garagem e montei na moto do meu
irmão, liguei o motor mais uma vez e pilotei até a praia, mas ela
também não estava lá. Quando me vi sem opções, fiquei sentado na
areia observando o mar.
Eu tinha fodido com tudo, tinha destruído a melhor coisa que já
me aconteceu, aquela dor no meu peito era diferente de tudo que já
senti na vida, pensei que estava acostumado com o sofrimento, mas
aquele era um tipo diferente de dor. Juliet Jordan, a mulher que eu
amava, me odiava e não havia nada bom naquele sentimento dessa
vez.
Voltei a ligar para o número dela e ouvi sua voz: — Oi, aqui é a
Juliet Jordan, eu provavelmente estou atolada com alguma coisa no
momento, deixa um recado que ligo de volta.
Desliguei e abri o chat de mensagens que estava abarrotados
de piadas e fotos indecentes trocadas entre nós. Comecei a gravar
uma mensagem para ela: — Juliet, sei que não devia estar dizendo
isso desse jeito, mas estou com medo de você nunca falar comigo
outra vez. Quero que saiba que tudo começou porque eu queria que
você vivesse, de algum modo fomos sempre puxados um para o
outro e eu nunca quis enxergar isso, eu a via em multidões e dava
as costas, você morou perto do meu melhor amigo por anos e eu
fugia de encontrar você. Sempre tinha a sensação de que não devia
esperar um elevador, ou que não devia subir de escada aquele
prédio. Todos os nossos encontros e desencontros serviram apenas
para me mostrar que você estava em tudo na minha vida e agora
que não está mais, eu me sinto vazio. Amar você foi uma coisa
simples, tão simples quanto respirar, mas saber que eu te perdi é
tão doloroso que respirar se tornou uma tarefa complicada.
Finalizei aquele áudio.

Depois de procurar por Juliet durante toda a noite, voltei para o


apartamento e o lugar pareceu me sufocar, porque cada cômodo me
lembrava momentos com ela. Momentos que talvez jamais se
repetissem já que a mulher estava com tanta raiva de mim.
Quando me deitei naquela cama, fui embalado pelo cheiro dela
que ainda permanecia preso aos lençóis.
Acordei com um gosto na boca, o sabor de uma mulher que
talvez nunca mais pudesse sentir outra vez. Fechei os olhos
respirando com calma, eu ainda podia encontrar com Juliet no
trabalho, lembrei a mim mesmo e me levantei da cama rápido.
Me aprontei para o trabalho às pressas e peguei a chave da
moto de Hades, saí do prédio pilotando aquela moto que atraía
atenção demais na rua. Ao chegar a Olympus, acabei seguindo
direto para o estúdio onde meu irmão mais novo trabalhava, mas
quando cheguei ao lugar, Hades era o único que estava ali.
— Hades? — chamei e ele se virou para me olhar. — Ela te
mandou alguma notícia?
Meu irmão suspirou e fez que não com a cabeça.
— Não conseguiu encontrá-la? — perguntou.
— Não — admiti.
— Se ela vier trabalhar, eu te mando uma mensagem —
avisou. — Vá para sua sala Zeus, tente focar em outra coisa por
algumas horas.
Já que eu não tinha seguido o conselho do meu irmão antes e
os resultados foram catastróficos, acabei assentindo, entreguei a
chave da moto e ele me devolveu a chave do meu carro.
Segui para a minha sala, mas o resto do dia foi improdutivo,
não havia nada mais que eu pudesse fazer além de esperar que
Juliet falasse comigo. Liguei para o número dela tantas vezes que já
nem conseguia contar, talvez com o passar das horas, eu estivesse
ligando apenas para ouvir a voz dela naquela gravação.
— Zeus? — Poseidon me chamou da porta da minha sala, virei
o rosto para ver o meu irmão.
— O quê? — perguntei quando ele ficou calado.
— Temos que ir a um dos locais de construção, disseram que
é urgente — explicou.
Respirei fundo me levantando da cadeira e meu celular vibrou
na mão, observei a tela, Charlie estava me mandando uma
mensagem pedindo para eu visitá-lo urgentemente.
— Você pode ir sem mim? Leve Hades com você, tenho que ir
à casa de Charlie, ele disse que era algo urgente também — pedi.
— Você está bem? — questionou e eu assenti. — Sabia que
você mente mal para caralho?
— Sim, eu sei. O que quer que eu diga? Não, eu não estou
bem e não sei se vou ficar porque fodi com tudo, e agora essa
mulher se enraizou tão fundo no meu coração que não sei se
consigo tirar a essência dela de mim.
— Eu sei como se sente — Poseidon sussurrou.
Encarei meu irmão e suspirei, claro que ele me entenderia,
Poseidon mais que qualquer pessoa no mundo sabia como era
foder uma situação e perder a pessoa que mais ama.
— Boa sorte com Charlie — ele disse com a voz rouca.
— Obrigado — falei ao passar pela porta e seguir para o
elevador.
Poseidon ficou imóvel perto da minha porta, ele parecia
perdido nas próprias lembranças, pressionei o botão para o térreo
deixando as portas do elevador se fecharem, todos tínhamos
fantasmas e algumas vezes não suportávamos companhiar além
deles.
Saí do elevador e caminhei até o meu carro, passei os olhos
pela garagem, mas não vi o carro de Juliet ali, havia veículos
parecidos, mas nenhum deles tinha um chaveiro enorme de dragão
pendurado no vidro. Entrei no meu veículo e comecei a dirigir.
As ruas estavam movimentadas naquele horário e eu me vi
encarando o céu escuro apesar de ainda ser cedo.
Estacionei perto do prédio de Charlie e travei o carro antes de
seguir para o lugar, esperei o elevador e acabei vendo o ex de Juliet
abraçado com uma garota de cabelo preto que sorria de algo que
ele tinha dito, nossos olhos se encontraram e o homem fingiu não
me ver quando caminhou para longe de mim.
Segui para o apartamento do meu amigo, assim que bati na
porta ouvi um barulho de choro, Henry abriu a porta e sorriu ao me
ver, entrei no lugar e vi Charlie sentado no sofá com um bebê no
colo.
— Por que você não me contou antes? — perguntei ao meu
amigo que sorria como quem ganhou na loteria.
— Porque ele chegou aqui hoje — explicou.
— Charlie não queria criar expectativas porque já passamos
por algumas adoções que não deram certo — Henry esclareceu.
— Como ele se chama? — questionei me sentando no sofá.
— Kevin — Charlie disse.
— Ele é muito fofo — sussurrei observando o bebê que
finalmente parou de chorar.
— E acho que ele precisa de uma fralda limpa — Charlie
sussurrou e Henry o pegou.
— Eu faço isso, conversem um pouco — o marido do meu
amigo disse.
Henry pegou o bebê e saiu da sala nos deixando sozinhos.
— Por que sinto que você está sendo torturado? — Charlie
perguntou.
— Eu estraguei tudo com Juliet — contei com a voz rouca.
— O que houve?
— As coisas estavam ótimas, mas eu achei melhor não contar
para ela sobre a aposta do meu pai pela herança e meu primo
contou antes de mim. Juliet se sentiu traída. Desde que tudo
começou entre nós, sempre tivemos uma barreira enorme, por
causa do que aconteceu com a irmã dela, Juliet e ela tinham muitas
semelhanças e a mãe de Juliet sempre colocou como se ela
quisesse viver a vida da irmã — expliquei.
— E nesse momento, Juliet pode estar pensando que você só
se aproximou dela por causa dessas semelhanças — Charlie
percebeu.
— Sim — sussurrei.
— Por que você se aproximou dela, Zeus? Entre tantas
mulheres, por que ela?
— No começo, eu só não conseguia me afastar dela e quando
vi a forma como ela estava afundando na própria angústia, tudo que
eu queria era ajudá-la a sair de lá, mas enquanto me aproximava,
conhecia Juliet de verdade. A força de alguém que precisou
enfrentar a vida sozinha e ainda conseguia sorrir — expliquei. — Eu
me apaixonei por ela de uma forma tão espontânea que foi fácil
como respirar, e agora respirar se tornou difícil sem ela por perto.
— Já falou com ela sobre isso? — perguntou e eu assenti.
— Ela sabe como me sinto, mas neste momento, ela deve
estar questionando tudo. Tentei ligar para ela, procurei em todos os
lugares — expliquei.
Charlie me observou com paciência e disse: — Zeus, eu vi
você tentar se afastar dela por algum tempo, vi você lutando contra
a ideia de se apaixonar por anos, mas vocês dois parecem sempre
serem atraídos um pelo outro. Independente de não saber onde
Juliet está, provavelmente você vai encontrar com ela, vocês dois
precisavam desse tempo longe. Para colocarem as ideias no lugar.
— Você é um psiquiatra e está mesmo acreditando que o
universo está me atraindo para ela? — perguntei rindo e o meu
amigo estreitou os olhos me encarando.
— Vai ficar aqui parado questionando minhas crenças, ou vai
atrás da mulher que está causando esse furacão no seu coração?
— retrucou e eu sorri.
— Acho que sei onde encontrá-la nesse momento — sussurrei.
Me levantei abraçando meu amigo e prometendo visitá-los de
novo em breve, então saí do apartamento correndo para o meu
carro.
Capítulo 63
Juliet

As roupas de Kate eram largas demais no meu corpo, mas


aqueciam o suficiente para que eu me sentasse naquela praia. Eu
tinha passado o dia numa cama sentindo pena de mim mesma, até
que Kate e o namorado estivessem de volta em casa e menti para
minha amiga dizendo que ia voltar para casa.
Não podia suportar a ideia de me encontrar com Zeus, ou de
ouvir suas palavras, isso tinha me obrigado a sentar ali e olhar o
mar agitado pelas ondas, as palavras do primo de Zeus se repetiam
na minha cabeça como se o canalha as tivesse tatuado no meu
cérebro.
— Ele só está com você, porque você se parece com ela. Zeus
precisa se casar, Juliet, ou perderá a herança, por isso que ele
reapareceu na sua vida agora.
Aquela voz irritante, eu ainda conseguia ouvir nos meus
pensamentos. Mike Andrews tinha se mostrado o arrogante que
sempre pensei ser, mas foi o único que me contou sobre a aposta
na qual fui arremessada.
Tudo sempre levava de volta a Laura, cada segundo de cada
briga que eu tinha com Zeus levava a ela, como se de fato eu fosse
nada mais que uma imagem distorcida da minha irmã mais velha
que ele nunca pôde ter.
Observei o mar em silêncio, me lembrando de estar com a
minha irmã naquela praia, enquanto ela bebia e eu observava o mar.
Laura sempre me chamou para entrar na água com ela, minha irmã
mais velha tirava as roupas e corria para a água de lingerie me
deixando sentada na praia sozinha.
Eu tinha medo da escuridão no mar, tinha medo de ser
atacada por algo e não ver o que se aproximava de mim. Respirei
fundo e fechei os olhos enterrando os dedos na areia.
Aquela covardia que me consumia em cada fôlego parecia
sempre me deixar presa ao meu passado. E, eu estava cansada
disso. Cansada de ficar para trás assombrada demais com o
fantasma da minha irmã para seguir em frente.
Fiquei de pé na praia e tirei o casaco que usava, o sobretudo
caiu na areia e eu tirei os tênis grandes demais para os meus pés
sem muito esforço, um trovão soou ao longe, mas eu estava com a
atenção focada no mar. Focada naquela água escura que sempre
me acovardou. Se eu ia enfrentar meus medos, aquele deveria ser o
meu pontapé inicial.
Pensei em tirar o resto das roupas, mas estava frio demais
para eu fazer isso, então caminhei para o mar usando a blusa e a
calça que ainda estava vestindo. Trovões soavam ao redor e Zeus
me veio à mente enquanto a água fria tocava os meus pés.
Continuei andando para dentro do mar, com o corpo estremecendo
pelo frio.
A água já passava da minha cintura quando mergulhei, ondas
quebravam acima da minha cabeça, ergui o rosto para respirar, e a
correnteza tinha me puxado para longe, mergulhei outra vez para
fugir de uma onda e quando emergi, meus pés não encontraram o
chão, olhei ao redor e comecei a nadar em direção a praia, mas a
correnteza me puxava cada vez mais para o fundo.
Ondas me faziam afundar outra vez e tudo que conseguia
pensar era na estupidez que tinha cometido, voltei a emergir
respirando fundo, cada braçada que me levava um pouco mais para
a margem era dolorosamente difícil, quando outra onda me engoliu,
fechei os olhos sob a superfície.
Tinha brigado com Zeus, destruído o que poderia haver para
nós no futuro sem sequer ouvi-lo, talvez o grande problema da
minha existência não fosse minha irmã, percebi, ele estava apenas
na minha cabeça. Aquela ideia que foi implantada ali que não
poderia existir outra Jordan talentosa além de Laura, a ideia de que
eu deveria ter morrido no lugar dela, cada detalhe pareceu passar
diante dos meus olhos e meus pulmões arderam com o esforço de
me manter prendendo a respiração.
Me forcei a emergir outra vez, sentindo meu corpo inalar pouco
ar antes de ser engolido pela próxima onda e não consegui mais
conter aquela necessidade de respirar.
Um momento de ardor em meu nariz e eu apaguei.

A primeira sensação que tive foi dor, algo pressionava o meu


peito com força, afundando meu tórax e o ar era forçado na minha
garganta.
— Juliet… — a voz estava longe, tão longe, que eu queria
correr em direção a ela. — Por favor…
Aquela boca retornou a minha, forçando o ar para dentro e eu
senti a água subindo, tossi tentando respirar, senti um braço me
segurando sentada enquanto eu cuspia a água que me afogou.
— Graças a Deus! — Zeus me puxou contra o próprio corpo.
Tremi violentamente com o frio que me contorcia de dentro
para fora.
— Aqui, o seu casaco — ele disse colocando a roupa nos
meus ombros. — Tenho que te levar para um hospital.
Zeus se levantou me pegando nos braços antes que eu
dissesse algo para ele, o homem me colocou no banco do carona
do próprio carro e correu para o lado do motorista.
— O que você estava pensando? — perguntou com a voz
rouca.
Ele ligou o aquecedor do carro e continuou dirigindo.
— Juliet! — gritou me fazendo piscar os olhos.
— Eu estou bem — falei levando a mão ao peito para
massagear o lugar que doía.
— Você quase morreu — sussurrou.
Olhei para o rosto de Zeus e vi que uma lágrima caía pela
bochecha direita dele.
— Me desculpe — pedi.
— Por que você fez isso? — questionou. — Por que tentou…
— Eu não tentei — o interrompi apressada. — Não era o que
eu queria.
Zeus me lançou um olhar, com os olhos vermelhos.
— Eu estava enfrentando meus medos — sussurrei. — Só
queria enfrentar algo do passado.
Ele ficou calado segurando o volante com força, observei o
clima ao redor do carro, estava chovendo, os trovões eram altos e
relâmpagos clareavam o interior do veículo.
— Uma tempestade — falei em voz baixa.
— Eu notei — Zeus disse ainda rouco.
O observei quando finalmente parou o carro, Zeus desceu do
veículo, dando a volta para abrir a porta do carona para mim. Ele me
tirou do lugar e fechou com força aquela peça de metal. Nós
caminhamos para o interior do hospital.
— Ela quase se afogou no mar, eu fiz massagem cardíaca —
ele disse a recepcionista da emergência.
— Sente-se — a mulher me ordenou.
Zeus me fez sentar numa cadeira enquanto um homem
chegava com uma maca. Meu corpo estremecia e logo que me
obrigaram a deitar na maca, meu coração acelerou.
— Senhor? Preciso que me dê algumas informações — a
recepcionista disse.
— Zeus… — chamei ansiosa por estar sendo levada para
longe.
— Vamos te examinar primeiro — o homem que me levava
falou.
Encarei Zeus nervosa ao passo que ele assentiu para mim, em
confirmação que ainda estava ali. Fechei os olhos por um instante,
afastando as lágrimas. Eu tinha feito algo idiota.
— Precisamos tirar essas roupas molhadas — uma médica
avisou quando entramos em um consultório fechado.
— Posso fazer isso — avisei, me levantando.

Depois de passar por vários exames e finalmente estar deitada


em uma maca no quarto, ouvindo a médica perguntar pela milésima
vez se eu tinha algum quadro de depressão.
— Vamos deixar você aqui esta noite para observação e pela
manhã terá alta — avisou.
Assenti e a mulher saiu do quarto me deixando sozinha com
Zeus. Respirei fundo ao observá-lo. O homem segurou minha mão
com sua palma quente rodeando a minha mão inteira.
— Me desculpe — sussurrou. — Eu te deixei alguns recados,
mas acho que você não ouviu. Juliet, sei que nós dois nos
aproximamos de uma forma estranha e que não existe explicação
lógica para nos encontrarmos com tanta frequência, não sei se foi o
universo como dizem, ou se realmente você e eu somos pólos
opostos de um imã que atraíram um ao outro. Nada disso me
importa no momento, tudo que importa é o fato de eu não conseguir
ficar sem você. Nenhuma das minhas razões para não te contar
sobre a aposta parece lógica o suficiente na minha cabeça agora,
então eu te peço perdão, por não ter confiado no que nós tínhamos.
— Nós dois erramos nesse sentido — sussurrei. — Eu
exagerei, Zeus, não devia ter agido como se fosse uma traição. Sei
que você não queria se casar, sabia disso desde o início e não
estava esperando que me desse uma aliança. Me desculpe
também.
— Sobre hoje. Tem certeza de que está bem? — perguntou.
— Tenho — falei e sorri. — Quando eu era mais nova, sempre
ia aquela praia com ela, minha irmã bebia e entrava no mar de
lingerie e eu era covarde demais para segui-la. Então quis fazer isso
hoje.
Zeus respirou fundo parecendo aliviado ao ouvir aquelas
palavras.
Capítulo 64
Juliet
Uma semana depois

Zeus e eu tínhamos evitado a companhia um do outro desde


que saí do hospital na terça de manhã, nós trocávamos mensagens
sobre tudo que acontecia no nosso dia e mesmo que estivéssemos
a uma parede de distância em casa, eu não tinha ido até ele, nem
ele vindo até mim.
Dirigi para casa depois de um longo dia fotografando e
desenhando no estúdio com Hades dando suas opiniões a respeito
dos projetos. Minha mente girava com uma necessidade urgente de
ter Zeus por perto.
Quando desci do carro na garagem do prédio e caminhei para
o elevador girando as chaves no dedo distraidamente, me vi imóvel
esperando pelo transporte, mas alguém parou ao meu lado. Virei o
rosto para ver Zeus parado observando as portas fechadas.
— Parece que sempre seremos atraídos um para o outro —
sussurrou.
— Parece que sim — respondi, igualmente baixo.
Nós entramos no elevador juntos e minha mão tocou a dele
quando fomos pressionar o botão do nosso andar. Os dedos dele
estavam quentes contra os meus e aquela sensação do toque das
nossas peles fez meu corpo se arrepiar. Instintivamente, meus olhos
foram para a boca do homem.
— Podemos conversar? — perguntou com a voz baixa.
Assenti e os dedos dele entrelaçaram os meus, segurando
minha mão com a sua. Esbocei um sorriso ao sentir a mão dele na
minha, encarei o relógio que marcava os andares e mantive o foco
ali, até que nós caminhamos para fora do elevador.
Zeus tateou o próprio bolso.
— Droga, eu esqueci as chaves em cima da minha mesa no
escritório — falou e eu sorri.
Usei minha chave para abrir a porta dele e o homem pareceu
relaxar. Tiramos os casacos junto à porta e eu arregacei as mangas
da blusa que usava.
— Quer beber um vinho? — perguntou e eu concordei com a
cabeça.
— Parece que um furacão passou por este lugar — comentei
observando a sala.
— Dois — Zeus respondeu pegando as taças na cozinha e
uma garrafa de vinho fechada.
Caminhei até a cozinha e peguei o abridor de garrafa na
gaveta.
— Poseidon e Hades estão evitando nosso pai, por isso, eles
têm passado tanto tempo por aqui — explicou.
— Imaginei que fosse o caso — admiti. — Hades me disse que
você estava chorando muito arrependido de não ouvir o que ele te
aconselhou.
Zeus soltou uma risada baixa que fez meu corpo estremecer
de leve. A sensação daquela risada na minha pele ainda era tão
clara que fazia com que o meu coração se agitasse de uma forma
descontrolada.
Nós abrimos o vinho e Zeus serviu as duas taças, caminhamos
em direção a sala e eu tirei um lençol do sofá enquanto me sentava,
jogando o tecido em cima da poltrona.
— Acho que agora, eu te devo uma explicação melhor de tudo
que está acontecendo — Zeus sussurrou, concordei colocando o
cabelo atrás das minhas orelhas.
Os olhos dele acompanharam aquele movimento. Ele se virou
no sofá para ficar de frente para mim, apoiando uma perna dobrada
sobre o assento.
— Meus irmãos e eu tivemos problemas no nosso passado,
não vou contar as histórias deles porque não são minhas para falar,
mas você sabe o que passei com Laura. Por conta do nosso
passado, nós três desistimos do amor. Isso nos levou a
relacionamentos casuais que não duravam muito e a muitos
momentos de solidão. Dedicamos os últimos anos das nossas vidas
a Olympus e apesar da empresa estar prosperando muito, nosso pai
percebeu que nenhum de nós era feliz.
Respirei fundo me virando de frente para ele, observando seu
rosto e deixando nossos joelhos se tocando. Zeus observou o
contato entre nós e levou alguns segundos para erguer os olhos
para o meu rosto outra vez.
— Ele estava preocupado que nós perdêssemos todas as
oportunidades que a vida nos desse de construirmos uma família.
Meu pai sempre desejou que nós tivéssemos o que ele teve com a
nossa mãe. Então ele fez um contrato, como tem nossas
assinaturas no computador para facilitar os documentos, colocou
todas elas no contrato e autenticou tudo. O acordo ali era como uma
aposta, Ryan Andrews nos deu um ano, para encontrarmos uma
mulher por quem nos apaixonássemos e nos casar.
— Ou então vocês perderiam a empresa — completei com a
informação que o primo dele me deu.
— Não se trata só da empresa, se trata de tudo que nós
temos, este apartamento, nossos carros, contas bancárias, até
nossas roupas serão do nosso primo se não nos casarmos em um
ano — contou.
— E vocês não pensaram em um casamento por contrato? —
perguntei curiosa.
— Acredite, a ideia ocorreu quando vimos o documento, mas
meu pai colocou cláusulas sobre tudo lá — explicou. — Juliet, eu
queria casar os meus irmãos, queria que Poseidon e Hades fossem
felizes com alguém, estava disposto a construir tudo do zero,
trabalhar em outra empresa e recomeçar com uma vida modesta,
porque eu não achava que merecia o amor.
— Então você me encontrou — sussurrei.
— Sim, quando nos vimos, percebi que você me odiava e
quando as coisas entre nós foram acontecendo, tudo que eu mais
queria era manter você viva. Me odiar parecia te fazer sentir algo,
conheço a sensação de não sentir nada e não queria deixar que
você afundasse sozinha. Então jurei para mim mesmo que ia me
aproximar para que você continuasse me odiando, apenas porque
não havia possibilidade de eu te deixar cair se pudesse ajudar —
falou com a voz embargada.
— Pensou em me pedir em casamento por causa dessa
aposta? — perguntei.
— Quando meu pai me fez essa proposta, muitas coisas
passaram pela minha cabeça e pensei na possibilidade de me casar
para salvar o que meus irmãos e eu sacrificamos para construir,
lógico que pensei.
Deixei a taça sobre a mesa de centro e observei o rosto de
Zeus sentindo cada pedaço de mim lutar contra as lágrimas nesse
instante.
— Você estava certo, se tivesse me contado logo no começo,
eu não teria acreditado que estava apaixonado por mim,
provavelmente teria fugido na primeira oportunidade.
— E agora?
— Quando eu estava me afogando, minha mente só conseguia
pensar em você no final. Pensei em como deixei que Laura se
tornasse um fantasma que me assombrava a cada escolha e não
precisava ser assim. Ela me amava e amava você também, tenho
certeza de que estaria feliz se nos visse juntos — confessei. — Eu
amo você, Zeus. Acho que uma parte de mim sempre foi
apaixonada por você, desde que era nova demais para você sequer
olhar para mim.
— Juliet, não me importo com a fortuna do meu pai, não me
importo de precisar recomeçar do zero e morar em um apartamento
alugado, precisando economizar para sempre para pensar em ter
uma vida melhor, nada disso me assusta, apenas uma coisa no
mundo me causa medo real.
— Tempestades — falei e ele fez que não.
— Quando eu cheguei aquela praia, vi você entrando na água,
eu desci do carro e nem mesmo conseguia ouvir os trovões quando
vi você na água, meu corpo entrou em pânico verdadeiro no instante
em que te vi afundar no mar, simplesmente corri para a água e
nadei com cada força do meu corpo para te tirar de lá — a voz de
Zeus falhou. — Assim que deitei você desacordada na areia,
percebi que não estava respirando, eu aprendi reanimação anos
atrás e acabei usando isso para te salvar. A cada vez que minhas
mãos afundaram o seu peito, a cada vez que empurrei ar para os
seus pulmões, o medo de perder você me destruía. Nada nunca me
machucou tanto quanto a ideia de você morrer nos meus braços e
ainda estar me odiando. Você criou raízes no meu coração e
sempre que se move para longe essas raízes permanecem firmes
me lembrando que nunca haverá espaço para ninguém mais. Eu te
amo, Juliet Jordan, amo todos os seus talentos e os seus momentos
de estresse, amo cada cicatriz que marcou seu coração e sou triste
por não poder limpar isso de você, mesmo que tudo tenha
contribuído para você ser quem é. Mesmo que eu fosse o próprio
Zeus do Olimpo e vivesse observando o mundo de cima de uma
nuvem, jamais encontraria neste ou em qualquer outro mundo outra
pessoa tão boa, linda e incrivelmente perfeita quanto você.
Cobri os lábios dele com a mão antes que ele dissesse algo
mais que cobriria minha sanidade com aquele sentimento que
clamava por ele.
— Não me peça em casamento — pedi. — Não faça isso
agora. Eu amo você, Zeus, amo mais do que consigo descrever,
mas quando eu disser sim em um altar, isso vai ser para o resto da
vida. E não sei se estou pronta para um compromisso desses ainda.
— Então deixe eu te fazer uma proposta — pediu beijando
meus dedos e afastando a minha mão da boca dele, com aqueles
olhos verdes brilhando ao me estudar. — More comigo, vamos viver
um dia por vez. Até que você se sinta confortável com a ideia de se
casar comigo, então poderemos decidir juntos.
— Não me acha egoísta por não te ajudar com isso? —
perguntei nervosa.
— Como eu poderia? — questionou sorrindo. — Você é a
melhor pessoa que já conheci, Juliet, mas também é humana, tem
seus medos e traumas para superar como qualquer pessoa. Você
aceita?
— Claro que eu quero morar com você — falei com a voz
rouca.
Zeus segurou meu rosto com uma das mãos e me puxou para
um beijo, o toque dos lábios dele contra os meus fez meu corpo ser
percorrido por um choque, cada parte de mim se incendiou ao sentir
aquela boca devorando a minha, a língua dele invadiu minha boca,
reivindicando a minha para si.
Meu fôlego se perdeu entre nós dois e meu coração acelerou
quando o homem me puxou para o próprio colo. Montar o seu corpo
me permitiu sentir o pau duro que empurrava aqueles tecidos que
nos separavam. As mãos dele puxaram minha blusa para cima e os
olhos predatórios me observaram.
Os dedos de Zeus percorreram minhas costas nuas até
encontrar o fecho do meu sutiã. Ele o abriu, cada parte de mim
parecia ansiar por sentir aqueles lábios provando o meu corpo, a
boca do homem deslizou pelo meu pescoço, com a língua quente
percorrendo minha pele.
As mãos dele foram até os sapatos que eu usava, e ele desfez
os nós tirando os calçados dos meus pés. Zeus me deitou no sofá
mordiscando a minha pele em um caminho interminável até os meus
seios enquanto os lábios dele brincavam com os meus mamilos,
meus dedos seguraram sua gravata, puxando o rosto para o meu.
— Sem joguinhos dessa vez — pedi sem fôlego.
Afrouxei a gravata dele tirando-a do pescoço, em seguida abri
a camisa dele com um puxão fazendo alguns botões voarem para
longe, Zeus afastou a roupa jogando-a no chão e minhas mãos
envolveram o pescoço dele, puxando seu corpo para o meu, minha
boca envolveu a de Zeus com ansiedade. Minha língua percorreu a
boca dele deixando que os gemidos altos escapassem de nós dois.
Com sons tão roucos e parecidos que se misturavam nos ouvidos.
Zeus abriu a minha calça com os dedos apressados e se
afastou de mim, puxando o tecido pelas minhas pernas, as mãos
dele deslizaram pelas minhas pernas até segurarem a calcinha que
me cobria o corpo, Zeus a puxou para longe de mim e eu o observei
enquanto baixava as calças que usava junto com a cueca, ele abriu
minhas pernas com as mãos e sua boca desceu em direção a minha
boceta com sua língua úmida percorrendo minha entrada, ofeguei
entredentes ao sentir aquele toque e o corpo dele se inclinou sobre
o meu, abri mais as pernas para encaixá-lo, o pau dele pressionou
minha entrada e ele me penetrou em uma estocada.
Exalei um gemido quando toda sua extensão se enterrou no
meu corpo quase dolorosamente.
— Você está bem? — perguntou, com um sorrisinho irritante
no rosto.
— Cale a boca! — ordenei.
Zeus aproximou o rosto do meu, envolvendo minha boca com
a dele, meu fôlego se perdeu, bem como qualquer percepção que
não tivesse a ver com ele quando o homem começou a se mover,
cada movimento rápido e profundo me fazendo gemer na boca dele.
Meu namorado envolveu minha cintura com o braço segurando
meu corpo com força contra o dele, os dedos da mão livre
agarraram o cabelo junto a minha cabeça interrompendo nosso
beijo, enquanto a boca do homem distribuía beijos pelo meu rosto
até encontrar o meu pescoço, não contive os sons que saíram da
minha garganta de forma rouca quando ele atacou o meu pescoço,
com sua língua e dentes.
Cada movimento de Zeus em meu interior, fazia com que
minhas unhas se enterrassem com mais força em sua pele, me
deixava mais ardente por ele e logo eu movia o quadril em sincronia
com ele, engolindo lufadas de ar que tinham o cheiro amadeirado da
sua pele contra a minha.
Meu corpo estava coberto por uma camada fina de suor, mas a
umidade na minha pele, apenas se misturava com aquela que o
cobria. Zeus moveu nossos corpos com força e nos girou para me
colocar sobre sim, sentando-se no sofá, minhas pernas o rodearam
e meus seios estavam pressionados contra o corpo dele.
Zeus agarrou o meu quadril com ambas as mãos movendo o
meu corpo para cima e para baixo com mais velocidade do que eu
conseguiria, segurei o rosto dele entre as mãos encarando os olhos
verdes que me estudaram de volta. Céus, eu amava aquele homem.
Meu interior se contraiu com força e Zeus parecia ter visto isso
no meu rosto porque sorriu malicioso, movendo meu corpo com
mais velocidade, arrancando gemidos mais altos da minha boca,
enterrei os dedos nos ombros dele, com os olhos lacrimejando com
a sensação de prazer que me percorria, mesmo quando o orgasmo
me atingiu, Zeus continuou se movendo no meu interior, arrancando
cada prazer possível do meu corpo, me fazendo dissolver naquele
momento.
Ele continuou se movendo naquela velocidade até que senti-o
estremecer e ouvi seus dentes travando, apoiei meus joelhos no
sofá e cavalguei o corpo dele com uma velocidade que ele não
conseguia mais manter, Zeus ofegou contra a minha pele,
agarrando minha bunda com as mãos e pude senti-lo se derramar
no meu interior.
Meu corpo estremeceu com aquela sensação e não me movi
um centímetro para longe dele, não quando podia sentir aquele
ponto de prazer no meu interior sendo atingido com força.
Exalei pesadamente ao sentir que meu interior se contraia
novamente, se preparando para derramar outro orgasmo, Zeus
afastou o rosto do meu ombro e seus lábios agarraram meu mamilo
rígido, a língua dele deu voltas cuidadosas, arrancando um gemido
baixo de mim, mas sentir aqueles dedos circulando meu clítoris
úmido foi o suficiente para me fazer explodir outra vez.
Epílogo
Zeus

Dirigi para casa com o carro em um silêncio desconfortável,


nos últimos dias, ter sempre Juliet por perto conversando no
caminho de volta, me fazia sentir que o trajeto da Olympus ao nosso
prédio era menor, a ausência daquela mulher no carro me deixava
inquieto.
Quando estacionei o carro na garagem, acabei notando os
carros dos meus amigos e a moto de Hades ali. Eu já tinha me
esquecido do jantar que tínhamos planejado para a noite, uma
comemoração pelo projeto novo.
Corri para o elevador e quando finalmente abri a porta do
apartamento, vi Juliet sentada no sofá bebendo vinho enquanto Kate
conversa com ela, as duas parecem interessadas no que Charlie
está falando, Hades, Henry e John conversavam na cozinha
enquanto bebiam cerveja.
— Desculpem o atraso — falei fechando a porta atrás de mim.
— Onde Poseidon está?
— Disse que ia sair com uma amiga — Juliet contou.
— Você precisa ver os desenhos que ela fez para o projeto —
Hades disse pegando uma pasta que estava em cima do balcão.
— Hades, não faça isso de novo — Juliet pediu.
Abri a pasta e observei os desenhos, eram desenhos de
casas, ela tinha misturado elementos naturais como animais e flores
aos desenhos criando artes que nunca vi antes. As casas dos
desenhos pareciam vivas, seres de contos infantis que atraíam
atenção de adultos.
— São incríveis — Hades elogiou.
— São, e são do projeto novo — lembrei antes que o meu
irmão resolvesse roubar os desenhos para si.
— Ela me deu esses que fez a mão — ele retrucou erguendo
os ombros.
Folheei os desenhos até que vi uma casa cujo teto era
formado por nuvens e havia raios por entre as nuvens, esbocei um
sorriso ao ver aquela homenagem sutil que minha namorada fazia,
lembrando a mim mesmo que aquele desenho Hades não roubaria
de mim.
— Como estão as coisas entre vocês? — Charlie perguntou
quando devolvi o material para o meu irmão e ele começou a
guardar os desenhos de volta na pasta.
— Muito boas — admiti.
— Estamos conseguindo conviver no mesmo teto melhor do
que eu esperava — Juliet falou, arrancando algumas risadas no
lugar.
Me sentei ao lado da minha namorada envolvendo os ombros
dela com o meu braço.
— Ela está me suportando — sussurrei. — O que não é uma
tarefa fácil. Por isso, sempre digo que essa mulher é um anjo.
Juliet me beliscou ao ouvir as palavras.
— Onde está o Kevin? — perguntei ao meu amigo.
— Dormindo no nosso quarto — Juliet avisou.
— Por isso que esse apartamento está tão silencioso —
constatei e ela assentiu.
— Você tem falado com os seus pais? — Kate perguntou a
Juliet.
— Meu pai me mandou algumas mensagens, perguntando
como nós estamos e falando sobre como estão as coisas, mas disse
que minha mãe precisa de um tempo, ela voltou para terapia —
Juliet contou com a voz calma. — Um passo por vez, eu acho. Não
vai ser da noite para o dia que ela vai aceitar essa situação.
— Vocês estão bem com isso? — Charlie perguntou.
— Estamos. Não há nada nesse mundo que me afastaria dela,
posso suportar qualquer obstáculo se Juliet estiver comigo — falei
convicto.
Nós observamos um ao outro, com aquela promessa
silenciosa entre nós, uma que ninguém testemunhou. Não importava
se seria naquele apartamento, ou em um lugar menor e alugado,
nada era mais importante do que o que nós estávamos construindo
juntos.
Juliet Jordan foi a faísca de luz que me tirou da escuridão em
que estive preso, a pessoa por quem desci ao fundo do poço para
escalarmos juntos e nada no mundo separa uma ligação como a
que nós construímos.

Quando nossos amigos se foram, Juliet e eu nos sentamos no


sofá, deixando a bagunça a ser limpa depois, aproveitando o
momento de calmaria entre nós. Meu coração se acalmava com o
cheiro dela junto ao meu corpo. A mulher enterrou a cabeça em meu
peito.
— Gosto dessa sensação — sussurrou. — Estar apenas com
você nesse lugar, eu não poderia escolher uma maneira melhor de
passar o tempo.
Deslizei meus dedos entre as mechas do cabelo dela, sentindo
os fios macios tocando a minha pele de forma confortável.
— Eu também não — admiti, beijando a cabeça dela.
— Você está feliz desse jeito? — questionou. — Mesmo com a
possibilidade de perder sua herança?
Esbocei um sorriso ao pensar na ideia e Juliet se afastou o
suficiente para estudar o meu rosto, a mulher parecia ansiosa pela
resposta àquela pergunta.
— Juliet, não há fortuna, empresa ou bens materiais no mundo
que sejam mais importantes para mim que você. Quero ter uma vida
ao seu lado e dividir todas as experiências de uma vida juntos, mas
quero fazer isso tudo no seu tempo, não quero que você faça nada
por mim que não seja confortável para você.
— E se eu não me sentir pronta para me casar até o fim do
seu tempo? Restam menos de dez meses — lembrou.
— Então nós vamos recomeçar juntos. Não quero me casar
com você por uma herança ou por causa da aposta do meu pai.
Concordo com o que você disse antes, quero dizer um aceito, mas
que será até que a morte nos separe — sussurrei. — Quero tudo ao
seu lado, Juliet, mas quero tudo no seu tempo, não saltando
degraus apenas para garantir um futuro confortável.
— Você é a única pessoa no mundo que me fez cogitar entrar
em um vestido branco e caminhar em direção ao altar — falou e eu
sorri ao ouvir aquelas palavras.
— E eu tenho certeza que quando acontecer você será a noiva
mais linda do mundo — garanti.
— Eu te amo, Zeus. Amo cada parte de quem você é. Amo sua
calmaria e adoro a sua tempestade, nada nesse mundo vai me
afastar porque nenhum lugar no mundo me fez sentir mais bem-
vinda do que o seu coração.
Uni meus lábios aos dela, prolongando aquele beijo carregado
de emoções e sentimentos que não conseguia descrever em
palavras.
— E eu também amo você. Amo sua visão do mundo e amo
sua força. Posso ter demorado um pouco mais para te enxergar,
mas sinto que finalmente abri os olhos para o mundo e a visão de
você é linda demais para que eu me permita fechar os olhos outra
vez. Posso não prometer o mundo a você, mas prometo o meu
mundo — sussurrei aquelas palavras que pareciam tentar me
sufocar se contivesse por mais tempo.
Juliet soluçou e encostou a testa na minha, segurando nossos
rostos juntos, respirei fundo segurando o corpo dela junto ao meu,
mantendo meus olhos abertos enquanto minha mão esquerda
limpava as lágrimas do rosto dela.
— Zeus Andrews, você aceita se casar comigo, quando eu
estiver pronta para me casar? — ela questionou me fazendo rir.
— Não, Srta. Jordan, eu tenho que fazer esse pedido de
casamento — avisei fazendo com que ela risse junto comigo.
Os olhos dela se abriram para me encarar outra vez e meu
mundo pareceu explodir em um milhão de estrelas. Respirei fundo e
sussurrei: — Juliet, você aceita ser minha noiva? Me pegue pela
gravata e arraste até Las Vegas quando você quiser se casar
comigo.
Ela riu ao ouvir as palavras.
— Eu aceito — sussurrou. — Se você for sequestrado no meio
do trabalho algum dia, provavelmente, sou eu te levando para
Vegas.
Exalei um riso voltando a beijar os lábios da minha noiva
secreta.
A Paixão de Poseidon
Prólogo

Enfiei os pés na água da piscina sentindo a água fria


envolvendo meus tornozelos, balancei os pés na água, aquilo era o
máximo que eu me permitia chegar perto de uma piscina.
Respirei fundo, se eu tivesse realmente herdado os poderes do
deus do mar, aquele medo que me pressionava o peito não me
atormentaria. Porque nada daquilo teria me acontecido.
Meus traumas eram apenas meus e esconder que tudo me
feria com comentários sarcásticos era mais fácil do que encarar o
fato de que eu me perdi de quem era em duas ocasiões diferentes.
Abri mão da minha chance de ter um amor para viver o meu
sonho e no final, veio algo que cravou garras afiadas na minha alma
e a partiu em pedaços tão pequenos que terminei sem a chance de
amar e sem o sonho para continuar vivendo.
Ninguém precisava lidar com aquilo além de mim, Zeus tinha
uma namorada agora, aquilo devia ser suficiente para o nosso pai
romper aquela aposta e deixar que vivêssemos como quiséssemos,
mesmo que isso nos acorrentasse aos medos dos nossos erros do
passado.

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